Capítulo 1
SETE DIAS ATRÁS...
estava linda, ele tinha que admitir. Ela estava em um vestido solto de algodão azul, uma rasteirinha e com os cabelos presos no top da cabeça. A única coisa que o incomodava naquela visão toda, eram aquelas risadinhas entre ela e . Ele não entendia como alguém que diz amar outra pessoa consegue ter uma conversa tão íntima com outra.
— Do que estão falando? — chegou abraçando por trás.
— De nada em especial, amor. — respondeu dando um beijo leve no rosto dele.
— Nada, ? — não conseguia parar de rir. — COMO AQUILO NÃO ERA NADA DEMAIS?!
— Cala a boca, — deu um tapa no braço dele rindo junto.
fechou a cara, não estava entendendo nada. Não estava gostando daquilo. Nunca gostou de conversando com outros homens. Nem que esses homens fossem seus amigos de longa data, ela só conhecia ele há dois anos. Pra que aquela intimidade toda? Não era de hoje que ele notava toda aquela conversinha entre eles.
— Eu vou embora então, já que estou sobrando. — disse num tom áspero, largando .
— Espera, amor, eu vou com você. Tchau, — se despediu do amigo e saiu correndo atrás de .
Conseguindo chegar até ele, ela o segurou pelo braço com uma cara de confusa meio ofegante pela corrida. Ele não acreditava naquela cara sínica dela. Por que ela veio atrás dele se tava toda cheia de segredinhos com há dois minutos atrás?
— O que está acontecendo, ? Que coisa gratuita foi aquela? Por que você fez uma cena daquele jeito? Você sabe que isso é a coisa mais infantil que eu já vi? Eu não to acreditando nisso.
— No que você não credita, ? — ele começou a se exaltar — É serio mesmo essas perguntas? DESCULPA SE EU ACHO ESTRANHO MULHER MINHA DE CONVERSINHA FIADA COM OUTRO HOMEM, CHEIA DE RISADINHAS E DE SEGREDINHOS! — ele estava praticamente berrando as palavras no estacionamento da gravadora.
— Primeiro que EU NÃO SOU MULHER SUA. Sou sua namorada, mas isso não te dá o direito de se sentir dono da minha vida. Segundo, ELE É MEU AMIGO, ELE É SEU AMIGO, VOCÊ ESTÁ FICANDO LOUCO DE INSINUAR QUE TEM ALGO ACONTECENDO ENTRE A GENTE! — odiava brigar em público, ele sabia disso, sabia também que para ela estar gritando com ele desse jeito, deveria estar muito irritada.
— Eu quero que se foda que ele é meu amigo. Não entendo como você se diz amiga dele. Esse negocinho de amizade entre homem e mulher não existe. ALGUÉM SEMPRE ESTÁ INTERESSADO.
— EU NÃO ACREDITO QUE ESTOU OUVINDO TANTA ASNEIRA, QUE DISCURSO MAIS MACHISTA. NÃO É PORQUE VOCÊ SÓ SE APROXIMA DE MULHERES COM SEGUNDAS INTENÇÕES QUE TODOS OS HOMENS NA TERRA SÃO ASSIM! — estava gritando e batendo o dedo indicador no peito dele.
— Para de ser ingênua com tudo, . Se é que essa gritaria toda é porque você está irritada e não porque eu estraguei o seu papinho. — ele tinha abaixado o tem de voz, mas a ironia estava ali presente.
— VAI SE FODER, ! — virou as costas pra ele e saiu do estacionamento.
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Com as mãos tremulas, ele tirou o celular do bolso. Não sabia porque estava fazendo aquilo, sabia que iria se arrepender no momento que desbloqueasse a tela. A foto dela na praia da última viagem deles com o sorriso aberto estava estampada em seu papel de parede. Sentia as lágrimas quentes descerem por todo seu rosto e pescoço deixando a gola de sua camisa molhada. Em meio a soluços, ele acessou a galeria, passando foto por foto, sua mente estava escurecendo. Como ele tinha sido tão idiota aquela maneira? Idiota, era isso que ele era. IDIOTA ERA POUCO, ele era desprezível. Ele não tinha forças direito para deslizar seus dedos pela tela. Parou em uma foto de com uma blusa cinza, fazendo uma carinha de bebê, ele amava aquela foto. Sentiu o corpo todo fraquejar, seu celular caiu no chão, ele focou em um ponto da sala, sua visão estava ficando turva, não podia desmaiar, não ali, não agora.
CINCO DIAS ATRAS...
Dois dias tinham se passado depois aquela discussão idiota. Ele conseguiu falar com . Ele vinha ligando pra ela desde o momento que ele chegou em casa aquele dia, mas ela não atendia suas ligações. Provavelmente tinha mudado seu turno para os horários que ele estava no estúdio, ele foi atrás dela no serviço, mas não a encontrou. Ela agia dessa forma infantil e depois julgava as atitudes dele.
— Alô? — A voz de parecia fraca.
— ? Sou eu, .
— Eu sei, , o que você quer?
— Eu quero saber como minha namorada está. Faz dois dias que não nos falamos.
— Sério mesmo? Achei que dando esse tempo pra você pensar, ia me ligar pelo menos com um pedido de desculpas.
— Eu não tenho porque me desculpar, e não preciso de suas desculpas também. Eu já deixei essa historia pra lá, não consigo ficar longe de você.
— Me escuta, . Como você não consegue enxergar a forma que vem agindo, que vem me controlando, que vem me diminuindo? Eu não nasci para ser tratada assim. — A voz dela estava extremamente séria. — Eu... Eu preciso de um tempo, por favor, me dê um espaço, eu preciso respirar. Eu preciso me encontrar e eu acho que você também precisa.
— Não, , essa coisa de tempo não funciona comigo. Você quer tempo pra quê? Poder ficar com vários homens, aí quando cansar voltar para o trouxa aqui?
— Eu não te reconheço mais, . — disse com a voz embargada — Eu me apaixonei por um homem, decidido, fofo, presente, carinhoso, companheiro. Mas hoje tudo que eu vejo é esse poço de escrotisse. Você está louco, possessivo, eu nunca te dei motivos pra isso. Estou esgotada de verdade.
— Você sempre foi uma piranha rodeada de amiguinhos. Você acha que eu sou tudo isso, deve ser porque você me tornou assim. — ele respirou fundo — você está é querendo dá pro que eu sei. Você acha que eu não conheço a vadia que você é?
ficou muda por uns dois minutos. Ele estava extremamente irritado com aquele papo de tempo. Pode ser que ele tenha exagerado, mas era orgulhoso demais para voltar atrás agora.
—Eu estou chocada — ela falou em um tom baixo quase inaudível — EU ESTOU CHOCADA, VOCÊ ESTÁ SE ESCUTANDO? SE EU ESTOU TE TORNANDO UMA PESSOA RUIM DESSE JEITO, ESSE TEMPO É A MELHOR ESCOLHA MESMO!! — estava gritando do outro lado da linha agora, ele conseguia notar seus soluços de choro também. — JÁ QUE EU SOU ESSA VADIA TODA, POR QUE AINDA ESTÁ COMIGO? NÃO FODE, , NÃO ME PROCURE MAIS, NÃO ME LIGUE MAIS, EU PRECISO DESSE TEMPO, NÃO INSISTA, NÃO ME FAÇA PEGAR ÓDIO DE VOCÊ. — encerrou a ligação.
Ele jogou o celular com força na parede, espatifando o aparelho. Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Onde que tudo aquilo era culpa dele, se ele só a queria sendo totalmente dele, não queria dividir com ninguém, o que havia de errado nisso?! Pegou o porta-retratos que estava do lado de sua cabeceira com a foto dos dois em NY, jogou na parede como fez com celular. Ele achava mesmo que ela queria esse tempo pra poder dar para todos os amiguinhos dela. Ele odiava toda aquela atenção que ela recebia, era linda, todo mundo ficava babando nas curvas dela. Ela também usava aquelas roupas provocante, milhares de vezes ele reclamava e ela o ignorava. Ele nunca tinha se sentido tão inseguro antes, ela tinha uma coisa que o deixa louco e se ele ficava assim, imagina os outros homens.
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Conseguiu se levantar de onde estava com dificuldade. Precisava lavar o rosto, precisava de ar, sentia que fosse cair no chão. Foi andando pelo corredor que parecia não ter fim, se escorando nas paredes. Não sabia como ia encontrar mais motivos para querer viver depois daquela tarde. Ao se olhar no espelho, viu um semblante meio desfigurado. Seus olhos estavam inchados, seus lábios rachados e pálidos, cabelo bagunçado, olhar vazio. Estava se sentindo pior que aquela aparência. Aquilo tudo era culpa dele, ele merecia toda aquela dor, mas ela não merecia aquilo. Ela só merecia o melhor, ela só merecia alguém que a amasse e confiasse nas palavras dela. Ele não deveria ter ido atrás dela, como ela pediu. Ele não devia ter falado àquelas palavras, o que estava acontecendo com ele? Atormentado com os pensamentos voltou a chorar desesperadamente. Segurando as bordas da pia de louça para não cair no chão, sentiu seus joelhos fraquejarem. Só queria sumir, só queria que tudo aquilo fosse um pesadelo, daqueles que a gente acorda chorando por parecer tão real. Mas não era, infelizmente aquilo realmente estava acontecendo.
TRÊS DIAS ATRÁS...
Ele tentou contato com por quase dois dias. Ela não respondia suas mensagens, nem atendia suas ligações. Ela não podia estar falando sério naquele lance de tempo. Ele não ia deixar que ela fizesse aquilo sem nenhum motivo aparente. Ele queria uma explicação verdadeira dela. Jogar a culpa nas costas dele não era o suficiente, não pra ele.
Após um banho longo ele resolveu ir até a casa dela. Ele sentia que precisava olhar nos olhos dela. Só assim ele iria saber a verdade sobre aquela atitude dela. Pegou as chaves e um casaco, esperou o elevador um pouco impaciente. Já era tarde, mas sabia que essa hora ele a encontraria em casa. Dirigiu até a casa dela que ficava uns 20 minutos do seu apartamento, quando já estava na esquina avistou um carro parado na frente do portão, não podia ser de , ela não sabia dirigir. Esperou uns minutos com o carro desligado meio escondido para que ninguém o visse. Sentiu como um soco no estômago quando viu abrir a porta, e sair de dentro da casa dela. Eles se abraçaram, um abraço longo e apertado, ele foi embora.
COMO NÃO EXISTE NADA ENTRE ELES? O QUE ELE ESTAVA FAZENDO NA CASA DELA ÀS ONZE DA NOITE, ELA NÃO ACHA CEDO ESTAR ASSIM, COM OUTRO HOMEM? Os pensamentos explodindo na cabeça o deixaram cego, quando ele viu, já estava esmurrando a porta dela. Parecia que a porta iria desabar a qualquer momento.
— Calma, quem é? — gritou vindo até a fechadura.
Ele estava todo vermelho, com a mandíbula travada. Ela abriu a porta com uma das trincas ainda fechada, deixando o acesso ao local limitado. Olhou pela fresta da porta, quando viu quem era, destrancou totalmente a porta abrindo ela mais.
— O que está fazendo aqui, ? — ela perguntou olhando para os olhos dele segurado no batente da porta.
— O QUE AQUELE FILHO DA PUTA ESTAVA FAZENDO AQUI?! — Ele gritou com ela, arregalou os olhos
— Eu não acredito que você está me espionando! — fez menção que ia fechar a porta — Você só pode estar louco mesmo.
segurou a porta com a mão abrindo ela de novo, pegou pelo braço apertando, ela fez uma cara contorcida de dor.
— ME RESPONDE, SUA VAGABUNDA, O QUE ELE ESTAVA FAZENDO SAINDO DA SUA CASA UMA HORA DESSAS?
— ME SOLTA, , VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO, EU NÃO DEVO SATISFAÇÃO DA MINHA VIDA PRA VOCÊ — gritava a plenos pulmões, tentando se soltar dele. — ME SOLTA, SEU DESGRAÇADO, QUEM VOCÊ PENSA QUE É?
O Vizinho do lado saiu correndo em direção ao casal. Parou um pouco atrás de olhando diretamente para .
— Está Tudo bem aí, ? — O vizinho perguntou com a voz num tom seguro.
— Quem é esse babaca, outro cara com quem você anda dormindo pelas minhas costas? – estava com um risinho na voz que era detestável.
não pensou duas vezes, juntou todas as forças que tinha e tacou um tapa na cara dele. Não esperando aquilo, ele a soltou e deu um passo para trás, em um impulso, ele levantou a mão para acertá-la e sentiu alguém segurar seu braço.
— Acho melhor você ir embora, antes que eu chame a polícia — o vizinho disse com o outro punho já fechado para acerta ele se fosse preciso. tinha corrido para longe em prantos.
— Me solta, eu vou embora— ele disse, soltando seu braço da mão do rapaz, se virou e sumiu na escuridão.
tremia o corpo todo, não conseguia para de chorar, estava chocada com aquilo, nunca tinha visto tão transtornado.
— , você está bem?
— Eu vou ficar bem, Max, obrigada. — ela disse recuperando o fôlego — Muito obrigada mesmo, e desculpe o incomodo.
— Não quer passar essa noite lá em casa, a Jinie estava preocupada com você, ela me mandou vir aqui ver como as coisas estavam.
— Me desculpem mesmo pelo transtorno, Max, eu vou ficar bem em casa, qualquer coisa eu ligo para vocês, melhor entrarmos. — Ela tentou sorrir, acenou para a vizinha que estava observando da porta e se despediu do rapaz.
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De volta pra sala, ele se sentia sem energia para qualquer coisa que não fosse ficar sentado. Estava de volta no chão no canto, dessa vez ele estava escutando o som da chuva, fazia dois dias que chovia grosseiramente sem parar. Juntou os joelhos e descansou a testa sobre eles. Fechou os olhos buscando alguma força dentro de si, mas a única coisa que conseguia fazer era repensar como ele tinha sido um babaca com ela. Tudo o que ele mais queria era voltar no tempo e nunca ter entrado na vida dela. Nunca ter a chamado para sair, nunca se apaixonar por ela, a vida dela poderia ter sido de outra forma, a alegria dela poderia contagiar muito mais pessoas por esse tempo que esteve com ele. A culpa e a consciência do que tinha acontecido o pegaram de jeito naquele momento, sentiu como se estivesse queimando por dentro, seu corpo todo doía.
DOIS DIAS ATRÁS...
estava mais um dia sem dormir direito, tinha acabado de chegar à porta da gravadora. Estava respirando fundo, pois o dia seria longo, e ainda tinha que olhar para a cara do “amigo” fingindo que nada aconteceu até o final do dia. Ele viu vir em sua direção apressado.
— HEY, SEU COVARDE — chegou gritando com ele, desferindo um soco em sua boca. Surpreso com o ato, cambaleou para trás. —O QUE ACHA DE BATER EM ALGUÉM DO SEU TAMANHO?! — Ainda gritando, deu mais um soco, dessa vez mais próximo do olho. — Você acha que o fato dela estar sozinha na Coréia te dá o direito de fazer esse tipo de coisa? Ela tem quem a defenda, seu filho da puta. — Outro soco foi acertado em alguma parte do rosto.
Alguns seguranças acompanhados de chegaram para segurar , que estava prestes a dar outro soco. Eles foram levados para dentro da gravadora, estavam começando a chamar a atenção das pessoas e isso era tudo o que eles menos queriam, tanto para o grupo quanto para a garota que seria exposta demais. Todos foram para uma sala que estava vazia. Alguns seguranças ainda seguravam que estava com os punhos fechados.
— Não é da sua conta o que acontece entre mim e minha namorada. — começou a falar olhando para o outro lado da sala.
— É da minha conta quando uma das minhas amigas é agredida, física e verbalmente por um filho da puta. — retrucou se segurando para não voltar a socar ele.
— O que aconteceu? — perguntou, arregalando os olhos, não estava acreditando no que acabara de escutar.
— Pergunta pro seu amiguinho o que ele anda fazendo com , todas as risadinhas e visitas íntimas que anda dando para minha mulher. — deu uma risada sarcástica se levantando de onde estava encostado.
— Caralho, , e eu somos amigos. Como você pode pensar uma coisa dessas da mulher que você diz amar? — Toda a raiva percorria o corpo de como uma corrente elétrica —Como você pode ir até a casa dela ofendê-la, como pode machucar ela daquela forma. — Ele fechou os olhos cerrando os dentes. —Achou que ninguém ia ficar sabendo sobre isso?
—Espera um pouco, você bateu na ? — perguntou direcionando seu olhar duro para .
— Eu não bati nela, eu só a segurei pelo braço... — foi interrompido por que tinha se aproximado dele e o pego pelo colarinho da camisa.
— Você deixou um hematoma no braço dela — ele apertou mais os punhos no colarinho —Você fez um escândalo na frente da casa dela, você levantou a mão pra ela. — Ele tinha encostado na parede com tanta força que sentiu o baque no próprio corpo.
afastou que estava com o olhos que pareciam brasas e o retirou do local antes que ele voltasse a socar , que mesmo merecendo mais uns socos, ainda estava sangrando muito ambos deviam esfriar a cabeça.
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De repente a sala se encheu do perfume de flores dela. não conseguia se mover, talvez estivesse em uma espécie de paralisia do sono. Sentiu o toque das mãos dela passar pelas suas costas, ouviu a voz dela o chamando. Só podia estar delirando, tudo parecia tão real. Ele ainda estava com a testa nos joelhos sem conseguir se mover, ou falar. De repente ele despertou num salto que levantou alguns centímetros sua bunda do chão. Sua respiração estava ofegante e seu coração acelerado. Ali sentado naquele chão frio ao som da chuva ele percebeu que nada mais na vida dele fazia sentido. Ele conseguia ver nitidamente o rosto dela quando fechava os olhos, ele podia sentir as curvas do corpo dela nas pontas de seus dedos. Não acreditava que nunca mais ia poder tocá-la de novo, beijá-la de novo.
UM DIA ATRÁS...
Abriu os olhos, ao sentir o celular vibrar no bolso de sua calça. Estava deitado no sofá da sala, não tinha se trocado ainda desde que chegou em casa. Quem poderia ser? Mais alguém dando sermão pelo acontecido há um dia, algum fã doido que tinha descoberto seu número pessoal pela milésima vez. Tirou o aparelho do bolso, respirou fundo, olhou as mensagens.
De Minha Gata: Precisamos conversar como adultos. Toda essa situação comigo e com seus amigos está me incomodando. Encontre-me no café de sempre às 20:00.
Olhou para o celular por mais algumas vezes relendo. Já estava na hora de sentarem, tomarem um chá e conversarem. Ele estava cansado daquela situação, uma relação não terminava até que ele decidisse aquilo, e definitivamente não ia deixar livre dessa forma.
Arrumou-se, olhou pela janela, chovia muito forte, quase não teve ânimo de sair de casa, mas já tinha confirmado que ia e nada no mundo fazia com que não aparecesse nos encontros. Entrou no carro, dirigiu com certa dificuldade, a chuva estava realmente forte, conseguiu um lugar para estacionar e correu até a calçada para se proteger da chuva. De onde estava, tinha a visão do andar de cima do café, a grande janela de vidro deixava parte do local exposto. Avistou sentada em uma das mesas rindo. Conseguiu ver também que tinha mais alguém com ela. O que significava aquilo? Ela disse que queria conversar e vem com junto? Que espécie de conversa eles iriam ter, iriam assumir o romance deles? Ele tirou o celular do bolso e começou a digitar uma mensagem com as mãos tremendo de raiva.
Para Minha Gata: , eu estou te esperando do outro lado da rua, se não quiser ver seu rosto estampado em todos os veículos de informação na internet amanhã com o escândalo que eu vou fazer se eu entrar nesse café, é melhor você vir até aqui!
Ainda não acreditada no que estava vendo, continuou olhando para a janela. Viu quando ela recebeu a mensagem, se levantou apressada se curvando levemente em sinal de desculpas e saindo da área visível. Ele abaixou o olhar da janela olhando para os pés, a raiva estava o consumindo, qual seria a desculpinha dela dessa vez? Voltou o olhar quando ouviu alguns passos se aproximarem.
— Qual é o seu problema? — correu para onde ele estava protegido debaixo de um alambrado. — Eu falo que quero ter uma conversa de adultos e você me manda uma mensagem daquelas?!
— Eu te vi com ele, o que vocês vão me dizer? — ele disse começando a se exaltar já estava com os punhos fechados. — Que estão juntos há muito tempo e que não podem mais esconder essa relação.
— Como você pode ser desse jeito, ? Como pode criar essas coisas dentro da sua cabeça?
— Não sou cego, eu vi vocês dois juntos mais de uma vez, sorrisos, encontros, o que quer que eu pense?
— Eu te chamei aqui para explicarmos para você o que está acontecendo, tirando o fato de sermos amigos e esse tipo de relação ser normal entre amigos, nos estávamos ... — Ela interrompeu seu raciocínio quando sentiu a mão dele apertando seu pulso.
— AMIGOS QUE DORMEM JUNTOS? AMIGOS QUE RIEM DA CARA DO OTÁRIO AQUI PELAS COSTAS, VOCÊ NÃO PASSA DE UMA VADIA CHEIA DE AMIGUINHOS. — Ele estava gritando com o rosto bem próximo do dela. Os olhos de estavam arregalados, cheio de medo.
— , me solta, por favor, você está me machucando — disse com a voz meio tremula, porém a mais calma que ela pode. — não é nada disso que você fantasiou na sua cabeça. — Ela puxava seu braço tentando se soltar. Ele parecia ter ignorado as palavras dela.
— VOCÊ É UMA VADIA, VOCÊ ESTÁ ME OUVIDO? — Ele gritava mais alto colando seu nariz no dela.
— ME SOLTA, SEU... SEU DESGRAÇADO, ME ESCUTA VOCÊ — Ela arrumou forças de onde não tinha, conseguiu soltar seu pulso e gritava também. — EU NÃO SOU NENHUMA VADIA, NÓS ESTAVAMOS ESSES DIAS JUNTOS PORQUE ELE VAI SER PAI, E ANTES QUE VOCÊ VENHA COM ESSAS SUAS NOIAS, EU NÃO SOU A MÃE, ESTAVA COM MEDO, ESTAVA PRECISANDO DE UMA VISÃO FEMININA — ela respirou pela primeira vez desde começou a gritar. — ELE NÃO FALOU NADA PARA VOCÊS PORQUE ELE QUERIA CONFIRMAR TUDO, PROCESSAR TODA AQUELA NOVIDADE E VOCÊ VINHA SENDO UM ESCROTO ESSES DIAS.
Ele não podia acreditar no que acabou de ouvir. Que papo era aquele, ele estava confuso, paralisado. Ao vê-la gritando com ele no meio da rua daquela maneira se deu conta que ele nunca tinha dado espaço pra ela se explicar. Há tempos não sentavam e conversavam, se aproximou dela que já estava longe dele se protegendo de qualquer ação que ele pudesse ter.
— , eu... — ele estava quase abraçando ela.
— VOCÊ O QUÊ, , NÃO ME TOQUE — Ela ainda gritava, dessa vez as lágrimas acompanhavam a voz — EU ESTOU POUCO IMPORTANDO SE VOCÊ ACREDITA OU NÃO, EU NÃO QUERO MAIS ESSE TIPO DE RELAÇÃO ABUSIVA, ACABOU, VOCÊ ME OUVIU? – finalizou a conversa ali e saiu correndo para atravessar a rua queria ficar o mais longe possível dele.
Chovia muito, ele sentiu seus pés presos no chão, não conseguiu correr atrás dela. Ainda estava absorvendo aquelas palavras, estava virado para onde ela estava há um segundo. Ouviu uma buzina alta, barulho de rodas tentando frear, o impacto de uma coisa batendo na outra, uma claridade. Não conseguia se mover. Escutou ao longe a voz de gritando por . Naquele momento ele desligou, sentiu como se todo o sangue do seu corpo tivesse se esvaído , sentiu o corpo todo gelado. As próximas cenas passaram pelos seus olhos em câmera lenta.
— Alguém chama uma ambulância — estava desesperado, ajoelhado no não com o corpo da garota nos braços.
se virou, correu em direção à cena, mas parecia mesmo que tudo estava em câmera lenta, ele sentiu uma eternidade se passar dos passos da calçada até a garota, pegou ela dos braços do amigo, abraçou forte seu corpo, chorando desesperadamente.
— Não me deixe, , não faça isso comigo, aguenta firme, o socorro já está chegando. — ele passou uma das mãos na cabeça dela que sangrava muito, havia muito sangue pelo chão, ficou ali no meio da chuva, no meio da rua com em seus braços, ouviu ao longe o som das sirenes.
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— , está na hora. — disse entrando na sala.
levou o olhar ao encontro do rosto do amigo, respirou fundo.
— Eu sei que é difícil, irmão, mas precisamos fazer isso agora. — foi até o amigo o ajudou a levantar. — Estão nos esperando para levar o caixão.
Fim
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