Finalizada Em: 07/04/2020

Capítulo Único

Promise me you won't be gone too long, my dear.
Promise me you won't belong anywhere else but here… With me.


Era o primeiro dia de verão quando acordou às oito da manhã com o toque estridente do celular. Atendeu às cegas e ainda sonolento, sem saber ao certo o que estava acontecendo ao redor já que não havia dormido quase nada naquela noite… Mais uma vez.
Fazia cerca de um ano que o jovem artista não descansava de verdade. No auge dos vinte e três anos, já tinha responsabilidades demais e isso refletia em seu sono e seu trabalho. Ainda assim, pulou da cama ao ouvir as palavras certeiras e sérias de seu agente:
Você foi convidado para realizar a abertura dos shows de uma cantora famosa. Venha para a agência agora.
sequer quis ouvir algo além daquelas palavras, murmurou qualquer coisa que seu cérebro conseguiu reproduzir e correu para o banheiro, sem nem mesmo sentir a dor ao chutar um móvel pelo caminho. Arrumou-se em tempo recorde e seguiu em direção à agência completamente ansioso. Seu coração batia acelerado e seu estômago revirava, deixando-o zonzo e enjoado — e tudo o que não precisava, naquele momento, era passar mal de nervoso, literalmente.
Conseguiu controlar-se durante o caminho, ignorando o balançar do ônibus, e suspirou aliviado ao adentrar o prédio mediano que sediava a gravadora que pertencia. Não precisou caminhar muito nem subir dois lances de escada, como sempre fazia, para encontrar seu agente, Robert Clint.
— Bom dia, , espero que saiba que vestiu a camisa ao avesso — Robert cumprimentou com uma falsa gentileza, fazendo com que o rapaz revirasse os olhos. Óbvio que ele tinha se vestido de forma errada; era distraído naturalmente, sob o efeito de ansiedade e curiosidade conseguia ser ainda pior.
— Bom dia, Robert, eu espero que ninguém além de você repare que estou com a camisa ao contrário — murmurou um tanto sem jeito, sentindo as bochechas corarem. — Estou ansioso para saber quem é a tal cantora famosíssima que abrirei os shows.
— Todo mundo vai perceber sua camisa ao contrário, garoto, não sei se percebeu, mas ela é estampada e está meio… Óbvio — o mais velho riu. — Bom, você abrirá os shows caso se saia bem nessa reunião. Para isso, arrume essa camisa e me encontre na sala de reuniões em, no máximo, cinco minutos.
assentiu e correu para o banheiro do primeiro andar. Após se trocar, aproveitou para dar uma última checada em si mesmo para ter certeza de que não tinha mais nada esquisito ou fora do lugar e lavou o rosto uma última vez, a fim de acordar e tomar coragem para seguir com aquele dia tão importante e que poderia causar uma grande reviravolta em sua vida.
Exatos cinco minutos depois, chegou em frente à sala de reuniões e Robert o aguardava do lado de fora. Com apenas um aceno, soube que a tal artista e seus responsáveis já se encontravam por ali.
— Vai dar tudo certo, nós confiamos em você e por isso o indicamos para essa oportunidade. Você é um artista de ouro e completo, esse é o seu momento e em breve estaremos no topo do mundo. Certo? — Robert o encarou nos olhos, tentando passar confiança.
— Certo — sussurrou, mas sabia que não acreditava totalmente naquelas palavras. Ainda era um homem inseguro, no fim das contas. Sentia medo demais, e fazia pouco tempo que estava sozinho naquela jornada. Era difícil, muito difícil. Não sabia lidar com a perda tão recente da mãe, tampouco com o descaso do pai em relação à sua carreira. Vivia sozinho em um apartamento minúsculo há pouco mais de um ano e ainda não conseguia se acostumar com a solidão que o assolava, e isso refletia diretamente em seu desempenho na agência — sabia que só continuava ali porque cantava muito bem e porque Robert fazia questão de mantê-lo ali, alegando para seus superiores que ele estava passando por uma fase difícil (e isso o resultou em consultas semanais com um psicólogo que ele nem gostava tanto assim, mas que mantinha seu trabalho e sonho a salvos).
Quando finalmente entraram na sala, sentiu a alma deixar seu corpo. Suas mãos começaram a suar instantaneamente, o coração acelerou ainda mais e sua cabeça girou. Por um segundo chegou a pensar que desmaiaria feito um boneco na frente de todos. Logo à sua frente, com duas mulheres ao lado, estava ninguém mais, ninguém menos que , sua ex-melhor amiga de infância e atual maior artista solo do mundo.
Robert havia tomado a frente e falava sem parar com as mulheres que cercavam , mas permanecia em completo choque, paralisado, encarando como se ela fosse um fantasma — e em sua cabeça, de fato era; a pior das assombrações que havia visto na vida. O cenário à sua volta estava no mudo e em câmera lenta, seus ouvidos zumbiam e, mesmo contra sua vontade, seus olhos encheram de lágrimas. Céus, como era um fraco quando se tratava de !
.
A voz de o tirou do devaneio, fazendo-o piscar os olhos rapidamente para espantar as lágrimas e encará-la de forma receosa. A voz continuava suave e firme, e ainda tinha certo efeito sobre seu coração bobo e apaixonado. O olhar ainda era charmoso, embora parecesse um bocado triste naquele momento. A boca ainda tinha um formato perfeito. A pele ainda reluzia sob a luz. Os cabelos ainda permaneciam bonitos e cheios de cachos, pintados num tom chamativo de rosa que ela sempre tivera vontade de fazer. ainda era . Agora, no entanto, mais velha, mais madura e mais marcante. Não tinha mais traços da de cidade pequena. Era a da Califórnia, a que havia nascido lá, quando pisou na universidade de Stanford pela primeira vez. Era a que o havia deixado para trás.
sussurrou de volta, ignorando o bolo que se formava em sua garganta.
— Vocês se conhecem? — quem perguntou foi uma das mulheres que estava com . Ela usava o cabelo com grandes tranças pintadas de azul e branco, sua pele negra parecia brilhar de tão lisa e bonita, e os olhos castanhos pareciam enfeitiçar qualquer um que os encarasse.
— Sim — respondeu rápido, tentando conter um sorriso. Também estava chocada e com o coração martelando no peito com força. — Crescemos juntos. Ele é o amigo que sempre falei para vocês. Fico feliz por reencontrá-lo, , e por ver que não desistiu dos seus sonhos.
— Também fico feliz em reencontrá-la, forçou-se a responder, tentando ser educado, porém seu desconforto não passou despercebido por ninguém. Era transparente demais para esconder suas mágoas e o susto de estar ali, frente a frente com e contra sua vontade, por um acaso.
— Bom, já que estamos entre amigos, que tal começarmos a reunião? — Robert sugeriu de forma polida e simpática, e todos concordaram.
Não tiveram problemas para fechar negócio e assinar os contratos necessários. era oficialmente um artista em turnê, mesmo que ainda não fosse sua própria. Faria a abertura de quinze shows e teria de passar cerca de dois meses ao lado de praticamente todos os dias, rodando os Estados Unidos. Suas aberturas teriam, em média, duração de 45 minutos à uma hora completa, e seu repertório seria majoritariamente composto por suas próprias músicas, a fim de divulgá-lo ao máximo.
Os detalhes foram acertados em pouco mais de uma hora. Quando acabou, suspirou aliviado e foi o primeiro a se levantar, estendendo a mão para as duas agentes que cuidavam de para cumprimentá-las com o máximo de educação que conseguisse — precisava sair daquela sala urgentemente, ou iria surtar. Cumprimentou também e pediu licença, retirando-se em seguida. Perdeu alguns segundos naquele corredor, mas ao perceber a movimentação na sala e as mulheres a caminho da porta, correu para o banheiro do andar como se fosse um menininho amedrontado.
A verdade era que não queria encarar , não naquele momento. Talvez só tivesse coragem de encará-la quando a turnê começasse, dali duas semanas. Talvez nem durante a turnê conseguiria encará-la. Talvez não a encarasse nunca mais. Não tinha forças, não conseguia esconder e disfarçar seus sentimentos magoados, não conseguia esquecer como fora deixado de lado, não conseguia apagar as memórias que tinha com aquela mulher. Não conseguia deixá-la para trás, não conseguia fingir o suficiente para dizer que estava bem com aquele reencontro. Simplesmente não conseguia.
E quando menos esperou, as lágrimas estavam ali — escorrendo livres pelas bochechas coradas e embaçando os óculos de grau que usava. caiu sentado no chão do banheiro e permitiu-se chorar copiosamente pela primeira vez em meses, e inevitavelmente caiu em um mar de memórias que compartilhava com .

sorria de forma triste, tentando manter-se firme para que o melhor amigo — sempre muito sensível — não caísse no choro outra vez. Era sua despedida. Estava partindo para a Califórnia, enquanto era obrigado a ficar na cidadezinha de Fredericksburg, no Texas, para cuidar da mãe doente. Doía em ter de abrir mão de tudo e seguir sozinha aquele sonho que traçaram juntos, porém, não tinha o que fazer a não ser arriscar. Era sua vida, e não podia prender-se ali só por causa de por mais que o amasse mais que tudo.
— Eu não vou esquecer de você, murmurou encarando-o nos olhos. — Prometo te ligar todos os dias e tirar fotos de tudo para que você conheça a Califórnia também. Quando começarmos a ganhar grana cantando, vamos poder nos encontrar sempre, até ficarmos famosos e viajar o mundo inteiro em uma turnê juntos.
— Promete mesmo? — se aproximou mais da amiga. — De dedinho?
— De dedinho
riu baixinho, erguendo o dedo mindinho e cruzando-o ao do amigo. — Eu te amo, .
— Também te amo, . Não se esqueça de mim quando conhecer outras pessoas.
— Você é único, bebê, jamais irei esquecê-lo.
— Também jamais irei esquecê-la. Nem mesmo se eu conhecer uma pessoa incrível e que seja minha alma gêmea para substituir você.
riu e abraçou o amigo com força. O choro foi inevitável naquele momento, para ambos. Estavam se separando pela primeira vez em quinze anos e doía como um inferno. Mas, tinham uma promessa… Precisavam cumpri-la por mais difícil que fosse. tinha certeza que conseguiriam, a conexão que possuíam ia muito além da distância.

— Mentira! — exclamou para si mesmo enquanto puxava os cabelos com força, querendo sair daquele momento doloroso. Precisava se recompor e ir conversar com seu agente para explicar a situação. Precisava aprender a lidar com a dor da perda e encará-la de frente, precisava conseguir deixar tudo para trás e passar por cima, resolver o problema e não o esconder à sete chaves. Precisava agir feito o adulto que era, não sofrer por um coração partido.
Determinado, levantou e seguiu até à torneira, lavando o rosto com certa violência. Ao sentir-se melhor, disfarçou da forma que pôde, fingindo um sorriso, e saiu do banheiro de uma vez por todas.
— Pensei que fosse ficar trancado aí dentro para sempre — murmurou de maneira calma, fazendo com que desse um pulo de susto no meio do corredor. — Desculpe, não queria te assustar.
— Céus, há quanto tempo está aí? — perguntou, virando-se para o lado e fitando com curiosidade.
— Desde que você saiu correndo da sala de reuniões. Podemos conversar?
— Eu precisava usar o banheiro, não aguentava mais segurar — deu de ombros. — Não sei se consigo hoje, , tenho um monte de coisas para fazer no estúdio e à noite vou me apresentar em uma festa.
— Robert disse que você não tinha compromisso nenhum hoje — sorriu tristemente. — Não precisa inventar desculpas para me afastar, . Nós não somos assim.
— E como nós somos, ? — rebateu automaticamente. — Quero dizer… Não existe mais “nós”, não é? Estamos há tanto tempo sem nos falar… Acabei ficando sem saber como recusar o convite. E preciso ensaiar, de todo modo.
— Olha… Eu sei que errei em sumir, ok? — começou. — Mas eu não queria te explicar tudo na porta do banheiro da sua gravadora. Acho que temos idade o suficiente para conversar de forma madura e tomando um café, ou uma cerveja. O que você preferir, desde que tenhamos essa conversa.
— Não sei se quero ter essa conversa, . Sinceramente… Não sei nem se isso é de fato necessário.
— Não quero que nossa relação seja apenas profissional, . Nós somos amigos.
— Nós éramos amigos, , agora eu sou só o cara que vai abrir os seus shows e precisa demais aproveitar essa oportunidade para crescer.
— Sabe que não te vejo só dessa forma.
— Mas eu me vejo dessa forma. Não quero arruinar tudo voltando no passado. Acho que não precisamos disso, está tudo bem. Podemos só seguir em frente?
— Não vou desistir de você, , sei que está magoado comigo mas…
— Você já desistiu uma vez, , e está tudo bem se desistir de novo — a cortou. — A única diferença entre antes e agora, é que não me importo. Vamos focar em nossos trabalhos, sim? Você é uma artista brilhante e precisa manter seu nome, enquanto eu preciso criar o meu.
engoliu a seco e fingiu que aquilo não machucou. Assumindo sua postura de mulher forte e inabalável, perguntou:
— Posso ao menos saber como estão as coisas com sua família? Seus pais…?
— Se tivesse ao menos lido as mensagens que te enviei no começo do ano passado, você saberia — a fitou nos olhos. — Desculpe, , nós não vamos voltar a ser o que éramos antes. Então, não, você não pode nem deve me perguntar sobre minha família. Eu sequer tenho uma agora.
abriu e fechou a boca algumas vezes, sem saber o que responder. Sentia-se culpada e uma amiga negligente, mas tinha seus motivos. Jamais sumiria da vida de se não fosse obrigada. Precisava cuidar de sua carreira e alavancá-la, suas agentes haviam lhe prometido o mundo, mas ela que precisava buscá-lo. Sabia que a entenderia se contasse em detalhes como se sentia e tudo o que estava acontecendo, mas não quis preocupá-lo sabendo como as coisas andavam complicadas para ele. Além do mais, sentia-se sozinha e indesejada por todos ao seu redor, seu primeiro álbum não tinha sido o sucesso que esperavam e as turnês ainda não esgotavam nem em shows locais, pressionava-se mais do que o normal, não precisava ser mais uma preocupação para e para si mesma — foi um ato de desespero afastar-se do melhor amigo e deixá-lo de fora de sua vida. Fora uma decisão ruim e machucara por muito tempo, entretanto, fora o motivo perfeito para a criação de seu segundo álbum de estúdio e que a fez um grande sucesso estadunidense. Depois, confessava, havia se rendido às tentações californianas e acabara esquecendo alguns detalhes da antiga vida numa cidadezinha no Texas, mas nunca, nunca tinha tirado de seus pensamentos. Afinal, era impossível esquecer seu primeiro amor.
Por isso havia voltado, por isso estava ali, criando uma turnê em seu país para que tivesse a chance de passar por sua cidadezinha e matar as saudades, quiçá pedir desculpas àqueles que magoou pelo caminho. Só não esperava que fosse ser tudo tão difícil e doloroso. Também não esperava que fosse tão duro e lhe virasse as costas quando só queria acertar as coisas. Mas, no fundo, sabia que o amigo não estava errado em tudo. Ela não estava ali para ajudá-lo nos momentos difíceis, nem nos fáceis. Nem para ouvir sobre as conquistas alheias, tampouco para compartilhar suas próprias. Havia negligenciado e tudo o que viveram juntos.
Ainda assim, vê-lo caminhar a passos largos e sem olhar para trás, doía.


Já era fim de tarde quando fechou a porta num baque baixo. Estava exausto. Além de ter reencontrado de forma surpreendente, ainda precisou explicar toda a história para Robert enquanto preparavam todos os detalhes para o pocket show do dia seguinte.
Estar em casa após um dia daqueles era como estar novamente entre os braços da mãe. Era aconchegante e lhe trazia um alívio fora do comum — embora a angústia ainda estivesse ali, porque sua parte racional lhe gritava que não estava sob um abraço caloroso da mãe, que sequer ainda tinha uma; e sua vida fora daquele apartamento ainda estava uma grande bagunça.
Após um banho relaxante, se permitiu aproveitar a dor que sentia para produzir. Sentou-se em frente aos computadores e aparelhos de produção e gravação que havia comprado com muito suor, e começou a trabalhar. Criou batidas, letras avulsas, gravou alguns trechos de músicas antigas, um cover de algum cantor da atualidade que não lembrava o nome e aproveitou a distração momentânea. Interagiu um pouco na internet com as pessoas que o seguiam, postou fotos no Instagram e publicou um vídeo novo no Youtube com uma música autoral e recém gravada, tendo pouco mais de um minuto e meio chamada “Gone 2 Long”.
O que não esperava, no entanto, era que por volta das onze da noite, quando já estava prestes a dormir um pouco, seu celular quase explodisse de tantas notificações. Curioso, pegou o aparelho e começou a observar o que estava acontecendo, acabando completamente confuso, porque não conseguia entender nada. Contudo, conseguiu pontuar algumas coisas:

1. Robert havia enviado um punhado de áudios parabenizando-o pelas postagens do dia e a publicação da música;
2. estava seguindo-o em todas as redes sociais com sua conta pública e verificada, além de tê-lo marcado em publicações sobre a nova turnê e informando que ele abriria seus shows;
3. havia dado RT em sua postagem com o link do vídeo no Youtube;
4. estava propagando-o por toda a internet;
5. Ficou feliz com a repercussão, porém irritado com a forma que fora feita (mesmo que fosse apenas por paranoia sua).

Certo. Respondeu Robert, explicou o porquê de estar tão ativo nas redes, falou sobre a música nova e que pretendia terminá-la em um futuro próximo.
Seguiu de volta (pois, antes, se recusava a vê-la nas redes sociais públicas fingindo que ele não existia), tentando enganar a si mesmo que era por pura conveniência. Deu RT nas postagens que falavam sobre ele, “quotou” um dos tweets agradecendo os elogios e o apoio, ainda usou alguns emojis para soar mais verdadeiro. Conveniência. Profissionalismo.
Depois, permitiu-se ficar irritado 100%. Não que fosse o correto, não era, tinha noção de que aquilo era importantíssimo para sua carreira, que o ajudaria e que conseguiria atingir parte dos seus objetivos ainda naquele ano. Mas, ainda assim, não conseguia ficar totalmente feliz. Sentia que fazia aquilo para mostrá-lo seu poder, além de querer chamar sua atenção — mesmo que, no fundo, soubesse que não era nada daquilo. Era importante ter aquele empurrão, claro que era, mas queria conseguir tudo aquilo sozinho mesmo sabendo que era impossível nos dias atuais conseguir algo sem um bom contato e ajuda — ele era um maldito orgulhoso que não conseguia aceitar ajuda de ninguém.
Contudo, ao parar para ler as mensagens que recebia e os comentários no vídeo — além do número de visualizações ter crescido consideravelmente nas últimas horas —, sentiu-se bem, querido e… amado. Amado por pessoas que sequer o conheciam, que só haviam escutado sua música. ainda se encantava com a forma que a arte conectava as pessoas, como conseguia se expressar através de poesias, às vezes, rasas, que só narravam como se sentia. Estava chocado com a repercussão daquilo tudo, e então caiu em si. Não precisava irritar-se com . Talvez ela quisesse se redimir e estava usando a visibilidade que tinha para ajudá-lo. Não se tratava de caridade, como chegara a pensar por alguns segundos, se tratava de apenas… Ajuda. Uma divulgação que precisava, uma chance que recebera para mostrar seu valor, seu talento e seu amor pela arte como um todo. E embora ainda estivesse triste com o rumo de sua vida pessoal, via uma chance na profissional e ficava animado com isso.
Tão animado que sequer notou quando enviou um tweet para .

@_: Fico feliz por ter curtido meu som, @Real! ❤️

Conveniência e profissionalismo, foi o que pensou ao reler seu próprio tweet. Era melhor acreditar na própria mentira do que assumir que ainda se sentia encantado por e toda sua força de vontade — ela continuaria investindo nele e em seu trabalho mesmo depois da grosseria com que fora tratada. não queria assumir, mas, na verdade, queria escrever um tweet pedindo desculpas pela forma que agira — mas não tinha coragem, claro que não; estava tão magoado que tudo o que queria era ter razão.
Naquela noite, respondeu as pessoas até que seus dedos doessem e nem mesmo percebeu quando pegou no sono, com o celular nas mãos e um sorriso esperançoso no rosto. Ainda tinha chance de traçar um caminho bom e de sucesso.

Na manhã seguinte, acordou mais tarde que o habitual e com um peso extra sobre seu corpo. Não precisava nem mesmo abrir os olhos para saber quem se encontrava sobre ele e quase sufocando-o. O abraço delicado e ao mesmo tempo firme de o entregava completamente.
— Sai de cima de mim, pediu em um murmúrio. — Já estou acordado, caramba, sai!
— Bom dia, florzinha — respondeu enquanto ria. — Como se sente em ser a mais nova celebridade da internet? ‘Digital influencer’ que fala, né? Agora você já pode me ajudar a ficar famoso também.
— Que horas são e por que você invadiu meu apartamento?
— São onze da manhã e a donzela está prestes a perder a hora para o almoço com Robert. E, amigo, a partir do momento que você me dá a chave da sua casa por livre e espontânea vontade, não é uma invasão — finalmente saiu de cima do amigo, jogando-se no canto da cama. — Vim ver como você está, cara. Acompanhei todo o alarde entre você e a no twitter. Preferi vir conversar pessoalmente que enviar uma mensagem, você costuma mentir quando está digitando.
bufou e revirou os olhos, rolando na cama e parando de barriga para cima.
— Está tudo certo, não se preocupa, — deu de ombros. — E não estou atrasado para almoço nenhum, consegui convencer o Robert de fazermos essa reunião aqui mais tarde, antes de irmos para o pocket show. Aliás, sua participação está confirmada, né? Você pode se arrumar aqui, bater um papo com o Robert e ver se ele aceita te agenciar também.
— Claro que estou confirmado, mesmo se não precisasse cantar eu estaria lá — sorriu. — Nunca perdi um show seu, não seria agora que o faria. Conversamos sobre Robert depois. Diz a verdade, como é que você está com essa história toda da ?
— É o que te contei no Whatsapp, bro… Vou abrir os shows dela nessa turnê nova, os ensaios começam em duas semanas que é quando minhas atividades acabam — deu de ombros outra vez. — Sinceramente… Não sei se vou conseguir ser profissional e não confundir as coisas em algum momento. Por isso, pensei em perguntar se tem alguma chance do Robert deixar que você viaje com a gente.
— O que seria de você sem mim, hein? — sorriu. — Se te conforta, eu já planejava assistir alguns shows da nessa turnê, eu curto a garota. Então, mesmo que o Robert não me libere como parte da sua equipe, estarei em algumas cidades com vocês.
— Queria ser burguês como você.
— Não sou burguês, meus pais são e eu me aproveito dessa condição com a promessa de um dia ser um astro da música e poder retribuir meus gastos.
Ambos riram com o comentário e continuaram conversando normalmente. No fundo, sabia que o amigo não estava tão bem quanto tentava mostrar, mas daria o tempo que ele precisava para desabafar. Por enquanto se contentaria em fazer o papel de melhor amigo que ajuda na distração, entendia completamente que era um assunto doloroso e complicado.
e haviam se conhecido na faculdade, ambos cursavam música. A amizade veio automaticamente, quando precisaram fazer um trabalho de produção musical nos primeiros meses. Juntaram-se e nunca mais se afastaram, tinham milhares de coisas em comum e amavam cantar, então a irmandade fora instantânea. Formaram-se juntos e com honras, e estavam ali mesmo depois de quatro anos. Sempre um apoiando o outro, ouvindo desabafos e chorando. esteve ao lado de em seu momento mais complicado: quando sua mãe falecera e seu pai fora embora de uma vez por todas, deixando-o sozinho e sem apoio algum. fora seu pilar, além de tê-lo ajudado financeiramente por um período, até que ele conseguisse se estabilizar. E foi nesse momento que se sentiu à vontade para falar sobre e tudo o que tinham, a amizade, os sentimentos que nutria pela melhor amiga, como se orgulhava por ela ter chegado aonde sempre quis e como estava triste e magoado por sequer receber um “oi” quando tentava fazer contato.
secou as lágrimas de , o ajudou a se reerguer e tentou amenizar a mágoa que o amigo carregava em relação à cantora — não que tivesse adiantado tanto, ainda estava muito magoado e triste, além de ser extremamente orgulhoso e não aceitar que poderia tentar ouvir a outra; sentia-se abandonado.
— Você trouxe seu violão? — perguntou enquanto terminava de lavar a louça. As horas tinham passado e eles ficaram apenas conversando enquanto cozinhavam um almoço ruim (bem ruim, diga-se de passagem).
— Não, por quê? — perguntou da sala, onde terminava de varrer. Após comerem a comida ruim, decidiram deixar o apartamento mais apresentável para a visita de Robert dentro de algumas horas.
— Queria gravar alguma coisa com você, aproveitar esse hype que tive ontem — explicou, enquanto seguia até onde o amigo estava. — O meu está um pouco desafinado mas acho que a gente consegue arrumar rapidinho, dá tempo de gravar um cover e upar até o Robert chegar aqui.
— Por mim beleza, cara, só escolher a música — sorriu. — Isso vai ser bom para divulgar seu pocket show. Você viu como estavam as vendas para a festa depois da divulgação da ?
— Robert me falou que já estava prestes a esgotar — deu de ombros. — O pessoal daqui já me conhece, então não dá para sabermos se é apoio ou se foi a magia da .
— Pode ser um pouco dos dois — se jogou no sofá. — Agora, vem cá, não foge de mim. Você parece um pouco chateado com essa situação. É só seu orgulho falando ou tem mais alguma coisa?
— Acho que é só o orgulho, cara — suspirou. — Eu não queria aceitar nenhuma migalha da
— Isso não é migalha, . É seu talento sendo reconhecido, você foi o primeiro artista que sua gravadora pensou em indicar para a abertura dos shows dela. Não é porque você é você; é por causa do seu talento, sua força de vontade e seu currículo, cara. Ser a foi apenas uma coincidência que está te enlouquecendo, mas, ainda assim, uma coincidência. Não quero te ver desse jeito. Agradeça ao Robert por ainda acreditar em você, e segue seu rumo.
— Eu sei, mas…
— ‘Mas’ nada, bro. Sei que será difícil, mas estou aqui para você. De verdade. Você não está sozinho, , não está.
— Obrigado, , não sei o que seria de mim sem você — murmurou um tanto quanto tocado, erguendo o punho para que o amigo batesse em um “toque” especial.
— Eu também não sei, viu? Sou o melhor amigo perfeito, prestativo, incrível, bonito... você não conseguiria viver sem mim.
riu e chutou a perna do amigo sem muita força.
— Cala a boca, vamos gravar!


estava em um dos camarins improvisados da boate onde faria o pocket show dentro de alguns minutos. Já estava devidamente vestido e maquiado, enquanto aquecia a voz junto com , que participaria do show quando chegasse à metade. Robert também estava por ali e não largava o celular, parecia trocar mensagens e ligações desde a hora que a “reunião” fora encerrada no apartamento de .
— Com quem você tanto fala? — arriscou perguntar, segurando um sorriso malicioso.
Robert o encarou com uma das sobrancelhas erguidas e riu do jovem artista — e seu mais novo artista, já que havia aceitado a agenciá-lo.
— Estou trabalhando, — respondeu tranquilo. — As agentes da tinham algumas dúvidas sobre o pocket de hoje.
— E por que elas se interessariam pela minha agenda? — se intrometeu, parando de cantar abruptamente. — Não me diga que…
— Sim, elas virão assistir ao show — Robert respondeu, encarando-o com curiosidade. não tinha contado todos os detalhes para ele sobre sua situação com (na verdade, havia sido bem raso e resumido), mas era tudo óbvio demais e o agente se preocupava com o artista. era um garoto de ouro e não podia perdê-lo. — A também vem. Elas querem te ver no palco para entenderem sua energia, seu estilo, como você se comunica com público, presença de palco, essas coisas básicas e que você já é muito bom. Não precisa nem se preocupar.
— Não estou preocupado, mas você poderia ter me avisado antes… — comentou como quem não queria nada, dando de ombros. — Mas, tudo bem. Vou dar o meu melhor de qualquer forma. Já está quase na hora, acho melhor eu ir para o palco.
Robert apenas assentiu e voltou a atenção para o celular, tentando não se preocupar com o rapaz. , no entanto, seguiu o melhor amigo e o parou pelos ombros no meio do corredor apertado que dava acesso ao palco da boate.
— Ei, não fique assim — disse um pouco mais alto que desejava devido ao som alto que já invadia o local. — É o seu momento, não se esqueça. Finja que a não existe, assim como as agentes dela e essa turnê. Foque no show de hoje e não se esqueça de que estou aqui para o que precisar. Vamos fazer isso funcionar. Juntos. Certo? — ergueu o punho para .
— Certo, bro, certo — respondeu mais tranquilo, dando um sorriso grato para o amigo e chocando seu punho no dele. — Obrigado por tudo, . Vamos trilhar esse caminho incrível juntos. De verdade.
— É claro que vamos! — concordou e o empurrou para que voltasse a andar. — Vou ficar na lateral te olhando de pertinho e pronto para puxar suas orelhas caso cometa algum erro. Quando chegar minha vez, vou fazer com que todos esqueçam de você.
— Até parece, essa galera toda está aqui por minha causa. Vai sonhando em apagar meu brilho, idiota.
riu e voltou a caminhar ao lado de , ambos rindo e brincando para aliviar a tensão pré-show. E resolveu, já que, assim que pisou no palco, sentiu-se mais leve e com a cabeça vazia. Encarou o público e sorriu abertamente.
Era o seu momento, e não importava se estava na área VIP apoiada contra a grade o olhando atenção.

A apresentação de acabou durando mais do que esperavam por conta da resposta positiva do público, principalmente depois da participação de em um dueto cheio de sensualidade e dança, que fez com que todos os presentes na pista gritassem e tentassem chegar ao palco. Foi uma loucura e a certeza que precisava para continuar naquela carreira. Era apaixonado pela arte, pela música, pela conexão que criava com cada pessoa a cada show; nascera para os palcos, para cantar e dançar, para ser simplesmente ele, um cara apaixonado por música e todas as suas formas.
Assim que desceu do palco, banhado em suor, não teve tempo para respirar e descansar como desejava. Robert, e suas agentes aguardavam-no logo no início do corredor que daria para o camarim. , seu maior apoio naquela noite, provavelmente estava tirando fotos com suas seguidoras e demoraria a voltar para apoiá-lo naquela tortura mascarada de boa educação. Teria de lidar sozinho com aquela situação, infelizmente.
— O show foi incrível, — Lauren, uma das agentes de , disse. — Você é realmente bom, e seu amigo também. Vocês têm uma sintonia e tanto.
— Obrigado — sorriu feliz, usando a toalha pendurada em seu ombro para secar o suor da testa. — É sempre muito bom me apresentar com o , ele é incrível.
— É, eu percebi — Lauren sorriu. — Fizemos uma boa escolha ao chamá-lo para abrir os shows da … E seria interessante se pudesse levar o dueto com para fechar sua abertura. O que acha? Robert comentou que acabou de aceitar agenciá-lo também.
— Seria incrível! Céus, realmente incrível! — sorriu mais verdadeiramente e logo avistou o amigo no início do corredor. — ! — gritou. — Corre aqui, cara!
— Opa, opa, pela animação já vi que recebeu notícias boas — disse assim que se aproximou. — Olá, meninas, eu sou , amigo desse paspalho aqui.
Melhor amigo — o corrigiu com carinho e abraçando-o. — Meu melhor amigo, meu irmão, meu parceiro de palco… E, agora, meu parceiro de turnê, se você aceitar…
E a conversa seguiu, mas , que apenas observava tudo, parou de escutar logo após a declaração de para . Ela não tinha o direito de sentir-se mal ou triste, mas, ainda assim, seu coração doía. Ouvir que agora tinha um outro melhor amigo, outro parceiro de palco, a deixava triste por não ter mais tais títulos direcionados a ela. Ficava feliz por saber que não esteve sozinho nos últimos quatro anos? Claro que sim, mas a dor de ver que não fora ela ao seu lado durante todo o tempo era inevitável. Sonharam desde crianças com uma oportunidade daquelas, onde poderiam seguir juntos a vontade de serem artistas. No entanto, ela conseguiu oportunidade primeiro e foi embora sem ao menos olhar para trás, precisava conseguir sua própria carreira. Nunca esquecera de e todas as promessas que fizeram um para o outro, pelo contrário: lembrava-se todos os dias e queria perguntar como as coisas andavam, ligar como nos velhos tempos, um facetime que fosse; mas não conseguia, não tinha tempo e, quando tinha, não tinha coragem. Era difícil ver como as coisas haviam mudado entre eles, como estava feliz sem ela, como ela não passava de uma artista grande que estava dando uma oportunidade para ele e o melhor amigo… Sentia tantas saudades que chegou a pensar que quando voltasse para o Texas tudo estaria do mesmo jeito que antes, mas, era óbvio que não estariam. Eram adultos e com responsabilidades, já estavam com vinte e poucos anos, não tinham mais tempo para se preocuparem com besteiras de “melhores amigos de infância”.
? — Robert a chamou com cuidado.
— Sim? — respondeu devagar, piscando os olhos. — Desculpe, me distraí um pouco.
— Tudo bem — Robert sorriu. — Os meninos ficarão para aproveitar o restante da noite, já que é fim de semana. Você gostaria de ficar também? Para, sei lá, matar as saudades da cidade natal…
— Ah, sim, eu adoraria — sorriu simpática, desviando o olhar discretamente para que a sequer olhava, enquanto ria e brincava pendurado nos ombros de . — Mas acho melhor eu voltar para casa, estou um pouco cansada da viagem ainda. Sem contar que temos os detalhes da turnê para resolver e eu gostaria de separar as músicas que mais gosto logo…
— Ah, tudo bem se quiser ficar, querida — Colbie, a outra agente, disse com carinho, enquanto ajeitava as longas tranças sobre os ombros. — Nós podemos resolver tudo isso na segunda, você precisa se divertir um pouco antes de voltarmos à correria.
— Muito obrigada, gente, mas acho melhor ir embora mesmo — foi mais firme e convincente, finalmente desviado o olhar de e . — Quero manter meu sono regulado.
Robert deu de ombros e as outras duas mulheres apenas suspiraram. Os três tinham noção do que havia acontecido entre e e queriam ajudar, no entanto, não poderiam se eles mesmos não quisessem ser ajudados. Se queria ir embora, tudo bem, que fosse e pensasse em suas escolhas e próximos passos; não podiam se meter, estavam ali apenas para cuidar da vida profissional dos artistas.
— Boa noite, Robert, obrigada pelo convite — sorriu e o abraçou rapidamente. — Diga ao que ele fez um show incrível e eu tirei algumas fotos que farei questão de publicar nas redes sociais.
— Tudo bem, , ficaremos de olho nas suas publicações. Tenham uma ótima noite! — Robert acenou para as mulheres que já se distanciavam. Olhou para o outro lado e continuava pendurado nos ombros de enquanto conversava e tirava fotos com algumas garotas.
Suspirou. Ah, os jovens…


As duas semanas seguintes logo passaram. não tinha muitas lembranças vivas dos últimos quinze dias por conta de toda a correria que fora submetido. Durante aquele período, precisou gravar um segundo EP para divulgá-lo melhor durante a turnê de . Sendo assim, ficou trancado no estúdio da gravadora e em seu apartamento escrevendo e produzindo por mais tempo que poderia contar. No meio tempo, quando conseguia uma folga, gravava alguns vídeos com — que também estava muito enrolado resolvendo os detalhes para iniciar a gravação de seu primeiro EP — e interagir com os seguidores nas redes sociais. As pessoas pareciam ansiosas para ver o que ele tinha a oferecer, e outras só queriam saber se ele era um “artista à altura” de . E ele era, de fato, provara seu valor quando liberou o primeiro single do EP, este que se tornou seu maior sucesso desde que começara a carreira de cantor. Era a música que ele lançara sem pretensão alguma no Youtube no começo daquilo tudo: ‘Gone 2 Long’. Os elogios eram muitos, além de estar sendo convidado para algumas entrevistas locais e para shows fora do Texas, estava tudo caminhando bem.
O primeiro show da turnê seria em Fredericksburg mesmo, dentro de dois dias. Seria em uma casa de show pequena que havia na cidade — igualmente pequena — e apenas para introduzir a nova parceria entre e — e a participação de . Estavam todos na casa de show passando o som, ajustando palco, iluminação e todos os detalhes para que pudessem descansar um pouco antes de iniciarem a correria. Os ingressos para o show já estavam esgotados e não teriam tempo de acrescentar uma nova data, o que fazia com que alguns fãs precisassem sair do estado caso quisessem assistir os artistas locais juntos.
Àquela altura, a internet inteira já sabia que e foram melhores amigos de infância e que tiveram um afastamento doloroso. Entretanto, ambos tentavam parecer naturais juntos, faziam algumas coisas que pareciam de amigos, postavam fotos e tentavam interagir online para que não ficassem perguntando muito sobre os detalhes de suas vidas, mesmo que fosse impossível evitar todas as teorias e perguntas inadequadas. Estavam fazendo o possível para viverem em paz e em sintonia. Porém, era óbvio para ambos — e para , que acompanhava toda a situação de fora — que aquilo não duraria muito. As letras novas de claramente eram sobre o relacionamento entre ele e a ex-melhor amiga, não tinha nem como negar, principalmente o single promocional.
— Você sabe que vai ter que conversar com ela — murmurou enquanto almoçavam juntos num canto da casa de show. — As pessoas estão comentando, , essa aproximação é claramente forçada.
— Eu não quero falar sobre isso, cara — deu de ombros. — O que eu posso fazer? É a nossa carreira, infelizmente vamos ter que forçar algumas coisas.
— Você sabe que não precisa ser assim, vocês eram amigos — rebateu. — Só precisam conversar e acertar as coisas. Todo mundo já tomou o próprio tempo, acredito que ambos tenham capacidade de falar sobre as coisas que machucaram naquela época. Até quando espera que vão ficar de indiretas através de músicas?
— Não é indireta, largou o garfo sobre a mesa. — Minhas músicas são sobre o que eu sinto e uma simples conversa não vai mudar isso. Eu entendo o que quer dizer, sei que a internet está um grande caos de teorias da conspiração sobre todos nós, mas não posso fazer nada além de cantar o que sinto no meu coração.
— Só seja sincero, tudo bem? Consigo mesmo, com o público e com ela. Vocês precisam desse momento, pensa nisso.
— Tudo bem, fica tranquilo. Eu vou voltar a passar o som agora — se levantou. — Não me olha assim, , está tudo bem de verdade.
— Se você diz… — deu de ombros, voltando a comer. — Você vai mesmo cantar aquela música do Lauv?
— Vou, e é essa que vou repassar agora — piscou um dos olhos. — Eu mudei algumas coisas e fiz um arranjo legal, fica de olho e aprende com o mestre!
riu e revirou os olhos; seu melhor amigo era um grande cabeça dura.

observava de longe a relação entre e um tanto incomodada. Havia tentado se reaproximar do amigo várias e várias vezes, mas não tinha abertura. Queria poder falar sua versão na história, explicá-lo que acabou ficando um pouco fora de si por conta do sucesso, além do medo de não conseguir mais ser quem era. Existia toda uma espiral psicológica que havia entrado além da falta de tempo e coragem para retomar o contato. Mas, mesmo assim, não parecia querer ouvi-la. Conversavam sobre música, tiravam fotos e postavam alguns vídeos cantando juntos no Instagram, mas era explícito que tudo que fazia era para o entretenimento do público e em prol de sua carreira, não porque a admirava e queria tê-la por perto de novo, como amiga.
Quando os novos acordes de ‘Who’ do Lauv (e com participação de dois integrantes do BTS, o grupo sul-coreano de grande sucesso) começaram a ecoar pela casa de show vazia, sentiu-se travar.
estava sentado em um banco baixo, com o microfone colocado à sua frente e uma “caixa” entre suas pernas, onde tamborilava a batida da música no ritmo que queria. Sua voz estava suave e as feições pareciam plenas. Seus olhos, porém, estavam escuros e nublados, sem vida, sem cor. Ele encarava diretamente, sem fingir que não a via dessa vez, sem fingir que não era ele ali. Era como um desabafo, como a conversa que precisavam ter.
O refrão foi cantado com força e vontade, as notas altas sendo executadas com perfeição, e podia jurar que viu um par de lágrimas rolar pelas bochechas coradas de antes dele fechar os olhos com força.
Foi como levar um soco no estômago. Os sons pareciam distantes e as poucas pessoas ao redor pareciam não existir mais. estava paralisada, e tudo que conseguia pensar e ouvir era o refrão da música, onde parecia falar diretamente com ela — mesmo que não quisesse acreditar nisso.

“Who are you?
'Cause you're not the girl I fell in love with, baby
Who are you?
'Cause something has changed, you're not the same, I hate it
Oh, I'm sick of waiting for love, love
Oh, I know that you're not the one, one.

(Quem é você?
Porque você não é a garota pela qual me apaixonei, amor
Quem é você?
Porque algo mudou, você não é a mesma, eu odeio isso
Ah, eu estou cansado de esperar por amor, amor
Ah, eu sei que você não é ela, ela.)”

— Vai continuar fingindo que não está acontecendo nada e que ainda somos amigos? — murmurou ao aproximar-se de , que estava sentado em um canto afastado enquanto dedilhava um violão.
— Oi, — foi o que respondeu, sem sequer encará-la. Não tinha forças nem coragem; sentia-se cada vez mais fraco na presença da mulher incrível que havia se tornado. Queria ceder, dizer que a amava de um jeito diferente e por isso estava tão magoado, queria poder gritar que a queria em seus braços e sentia sua falta.
— Oi, suspirou e sentou ao lado do amigo. — Nós podemos conversar? Mas dessa vez de verdade e com sinceridade. Em respeito aos velhos tempos. Não quero iniciar uma turnê tão longa estando tão mal contigo.
— Não sei se conversar agora é uma boa ideia, para te falar a verdade — deixou o violão de lado. — Ainda mais aqui onde estamos.
— O que acha de jantarmos juntos, então?
— Você é uma figura pública, . Nós somos — corrigiu-se. — E não quero jantar na casa dos seus pais, não os vejo desde que você foi embora. Por que não podemos deixar as coisas como estão?
— Porque eu não aguento mais fingir que somos amigos quando sei que não somos! — respondeu firme. — E você sabe disso também, você percebe. Não quero fazer as coisas voltarem a ser como antes, , pois sei que isso jamais vai acontecer. Só que não aguento mais esse clima contigo, como se tivéssemos que ser profissionais o tempo inteiro quando na verdade temos uma conexão pessoal. Eu sei o quanto te magoei, o quanto me magoei, com o afastamento repentino, mas só quero uma chance de te explicar o meu lado. Eu preciso falar, , preciso te fazer entender tudo o que aconteceu. Por favor.
suspirou e bagunçou os cabelos. Também não aguentava mais todo aquele clima e fingir que não sentia nada com tudo o que estava acontecendo; precisava falar o que estava entalado dentro de si, precisava desabafar e deixar claro para que, apesar de magoado, ainda a amava muito, jamais conseguira superá-la — tanto em relação à amizade quanto em relação ao sentimento que ia além; mesmo que tivesse se relacionado com inúmeras outras pessoas durante aqueles longos quatro anos, era o sabor que ele queria provar; e dormir entre seus braços como quando eram adolescentes; olhar em seus olhos, partilhar músicas e sonhos… Ele a amava mais do que poderia colocar em palavras.
— Tudo bem — cedeu, por fim. — Podemos ir para o meu apartamento depois daqui.
— O não vai estar lá? — perguntou receosa, o que fez soltar uma risada fraca.
— Nós não moramos juntos, — explicou. — Ele só passa muito tempo comigo porque trabalhamos juntos.
— E são melhores amigos…
— Sim, e somos melhores amigos. É natural que fiquemos juntos a maior parte do tempo.
— Pensei que eu fosse insubstituível — murmurou enciumada.
— Você é, todas as pessoas são — explicou com calma. — Acontece que nos afastamos e isso é normal, . Acontece. As amizades mudam, as relações mudam. Você foi minha melhor amiga durante grande parte da minha vida e o é agora, desde o início da faculdade. Não troquei um pelo outro, só… Aconteceu. Nós dois nos afastamos e eu conheci . E as circunstâncias ajudaram.
— Eu sei — respondeu um tanto sem jeito. — Está tudo bem. Quando estiver indo embora, me avise.
As horas seguintes se arrastaram — cada segundo que passava, encontravam algo para ajustar na casa de show; fosse um microfone, uma caixa de som ou alguma parte do palco. Quando a noite, enfim, caiu por completo e todos os materiais e instrumentos foram guardados, os artistas foram liberados.
observava e se despedirem de forma calorosa e carinhosa quando Robert parou ao seu lado.
— Tenha paciência com o , — o agente pediu num tom de voz baixo e calmo, chamando a atenção da cantora.
— Eu tenho, Rob — sorriu. — Nós vamos jantar juntos hoje. Acredita?
Robert apenas sorriu e assentiu. Ao longo dos últimos dias, acabara se aproximando muito de — assim como de suas agentes também. Após as atividades de sempre e quando preferia ir embora, ficavam conversando até altas horas, se conhecendo melhor e compartilhando coisas cotidianas. Quando notaram, estavam todos falando de seus passados mesmo que sem muitos detalhes, e os agentes puderam finalmente entender parte daquela história acerca dos dois artistas — e como havia caído de paraquedas ali. Então estavam ansiosos para o momento em que e iriam finalmente conversar e ajustar a situação caótica em que se encontravam. E finalmente havia chegado a hora! Seria naquela noite.
não conseguia disfarçar a ansiedade, tampouco o medo. Ainda estava apreensiva e sem saber o que dizer exatamente para que acreditasse em seu arrependimento. Tudo o que menos queria era deixar o clima ainda mais estranho e desconfortável — a ideia de passar o resto da vida lidando com como se ele fosse um simples conhecido a apavorava; ele era muito além disso.
— Tenham um bom jantar, espero que dê tudo certo — Robert murmurou próximo ao ouvido de ao notar que se aproximava.
— Vamos? — perguntou para que apenas assentiu, ainda nervosa. — Boa noite, Rob.
— Boa noite, garotos, até depois de amanhã! — Robert se despediu e logo saiu de perto.
Não demorou muito para e saírem da casa de show. Era pouco mais de oito da noite e as ruas da cidade já estavam começando a ficar vazias, mas, mesmo assim, não tinham pressa enquanto caminhavam em direção ao prédio que morava — não tinha necessidade de irem de carro ou ônibus por ser bem próximo. A brisa fresca de verão jazia presente, bagunçando os cabelos de ambos. Os cachos rosas de estavam uma completa bagunça e isso fazia com que se perdesse todas as vezes que a olhava não tão disfarçadamente.
— Pare de ficar me olhando assim — pediu. — Eu sei que meu cabelo está uma completa bagunça.
— Está bonito — murmurou e deu de ombros, ajustando os óculos no rosto em seguida. — Eu senti falta de caminhar pela cidade com você.
— Eu também, , eu também — respondeu baixinho. — Eu senti falta de muitas coisas relacionadas a você nesses últimos anos.
— Eu sei — parou de andar de repente. — É aqui, vem.
Adentraram o prédio pequeno com calma e seguiram diretamente para as escadas, subindo em passadas lentas.
A verdade era que nenhum dos dois tinha coragem o suficiente para encarar a conversa que teriam em breve. Sentiam medo do que ouviriam e falariam; sentiam medo de como poderiam agir diante das confissões que tinham para fazer. Era como andar em uma corda bamba; as pernas tremiam, as mãos suavam e caminhavam devagar, com medo de cair e se machucar. No entanto, a ansiedade estava ali, gritando e implorando para que resolvessem tudo o que precisavam, para colocarem tudo a pratos limpos e finalmente poderem seguir a vida de forma mais leve e tranquila, como desejavam desde o início. Não tinha a menor condição de continuarem como estavam no início de toda aquela aventura, não podiam continuar fingindo ser o que não eram.
Ao chegarem no apartamento de , foi como se desse um estalo no interior de cada um — havia chegado a hora. A porta foi trancada com tranquilidade, as mochilas foram largadas no canto do sofá, foram até à cozinha, beberam água e voltaram para a sala — ninguém sabia como iniciar a conversa.
— Você quer tomar um banho? — perguntou baixinho enquanto encarava o chão à sua frente. Estava parecendo um adolescente e não um homem feito e já na porta dos 24 anos.
— Só se eu puder usar suas roupas velhas depois — respondeu também em um tom baixo, um pouco mais confiante e encarando-o com intensidade.
— Você sabe que sempre vai poder usar o que quiser — ergueu o olhar, fitando-a nos olhos. — Você não perdeu o seu lugar como acha que perdeu, .
— Você também não perdeu o seu, .
Ficaram em silêncio por alguns segundos, apenas encarando um ao outro, como se tentassem gravar no fundo da memória os novos traços e expressões. Estavam mais velhos, mais maduros, era óbvio; mas diante do olhar de ambos, parecia haver algo diferente, que não se lembravam; ou um detalhe recém descoberto.
— Por que não me conta um pouco sobre você, ? — perguntou quase num sussurro, mordendo o lábio inferior em seguida.
— Por que não tentamos começar isso enquanto tomamos um banho? Como nos velhos tempos — sugeriu. — Eu tenho uma banheira agora, não é tão grande como a que costumava ter na sua casa, mas ainda é uma banheira aconchegante e fora do box. Você pode ficar nela, e eu na ducha.
— Como quando éramos crianças… — completou sorrindo mais abertamente. — Acho que é uma boa ideia. Vai nos ajudar a ficar mais à vontade. Você sabia que quando recriamos memórias ficamos mais tranquilos?
— Não sabia, mas posso descobrir agora enquanto tentamos — riu sem jeito e se levantou, estendendo uma das mãos para que não demorou a entrelaçá-la na sua.
Caminharam de mãos dadas até o banheiro e ficaram de costas um para o outro, numa falsa privacidade. Nenhum dos dois tinha problema em ficar nu perto um do outro, tampouco de outras pessoas em geral — não eram tímidos, além de serem artistas; a exposição fazia parte. Conheciam o corpo humano e ainda tinham lembranças vivas dos corpos alheios — seria uma grande mentira se dissessem que nunca pensaram nessas lembranças em momentos mais íntimos; tinha ombros largos e costas marcadas, assim como um abdômen bonito e coxas grossas; jamais esqueceria disso; e tinha o corpo curvilíneo, além de marcas naturais e algumas estrias na região das coxas grossas e próximo ao glúteo, tão natural e verdadeira que era impossível para esquecer quaisquer que fossem os detalhes; podia até mesmo sentir-se reagir com as lembranças.
adentrou o box e fechou a porta de vidro escuro, ao mesmo tempo em que deitou na banheira vazia e abriu a torneira na água morna.
— Quando decidi ir embora — começou em um tom de voz alto, já que havia ligado o chuveiro —, pensei que você iria em seguida. Também pensei que sua mãe ficaria bem. Eu esperava que coisas boas acontecessem. Mas… Bem, a vida não é feita só de coisas boas. Tive que tomar decisões difíceis, . Quando cheguei na Califórnia foi um choque muito grande. Veja bem, além de sermos do Texas, somos de uma cidade pequena. Pense em tamanho choque quando cheguei em Stanford e as pessoas eram totalmente diferentes, maldosas e a concorrência no meio artístico chegava a beirar à insanidade. Foi uma adaptação difícil e falar com você todos os dias me confortava. Acontece que a faculdade era pesada, você sabe, também foi universitário…
“Mais ou menos na metade do segundo período, que foi quando nos afastamos de verdade, eu consegui os contatos da Lauren e da Colbie e resolvi tentar a sorte. Enviei um vídeo cantando uma música original e outro cantando um cover de ‘You Don't Know My Name’ da Alicia Keys. Funcionou. Me chamaram para uma entrevista, fiz alguns testes e consegui um desconto legal para tê-las como agentes no começo da carreira. Foi instantâneo. Confiei no meu talento e nelas duas, consegui repor o meu gasto com elas em pouco tempo. Quando percebi, eu já não tinha mais tempo nem coragem de falar com vocês daqui. Confesso que tiveram momentos que eu não quis responder e dar sinal de vida. Não foi por mal, foi porque todo mundo passa pelo momento de negação, aceitação e adaptação ao meio artístico. Tive meu momento. Fiz algumas besteiras depois de lançar o primeiro álbum, virei notícia pelo país, e depois esqueceram de tudo. Foi quando veio o segundo álbum e meu sucesso. E foi aí que… Bem, foi quando eu percebi que estava tudo dando certo, eu tinha uma carreira sólida, músicas boas e turnês esgotadas… Mas não sabia mais quem eu era. Não lembrava minhas origens, mal falava com meus pais, tinha perdido meu melhor amigo da vida, não vi minha irmã crescer, não soube da sua vida como antes, nunca mais tive contato com ninguém da escola, não quis saber das pessoas da faculdade também. Entrei em um universo que só existia na minha cabeça. Não me importava com mais nada que não fosse minha carreira, porque ela se tornou tudo o que eu tinha. Fiquei esses quatro anos estudando e cantando como se não houvesse amanhã, sem graça demais para te procurar outra vez, sem perspectivas boas para a vida, sem vontade de fazer qualquer coisa que não fosse estar sobre um palco para amenizar a dor que eu sentia. Transformei-me em um robô da mídia, como acontece com todo artista. Passei a me odiar como ser humano e me culpei todos os dias por te fazer sofrer desse jeito. Acho que de todas as minhas perdas, perder você foi a pior e mais dolorosa. Eu te amo, , sempre amei. Você é meu melhor amigo, mesmo que não me considere mais sua melhor amiga.”
parou de falar por uns segundos, soltando um suspiro e afundando na banheira. esperou em silêncio, se contentando em apenas desligar o chuveiro e enrolar-se em uma toalha que já estava por ali. Saiu do box e caminhou até à banheira, onde já voltava à superfície.
— Eu…
— Shhh — pediu e estendeu a mão para ele, que não demorou a entrelaçar seus dedos. — Senta aqui comigo e me escuta. Por favor.
engoliu a seco e fitou os olhos pedintes de ; não conseguiu dizer ‘não’ — nunca conseguia. Ainda enrolado na toalha, invadiu a banheira cheia e sentou-se de frente para , ambos com as pernas encolhidas e com os joelhos encostados no peito.
— Talvez eu realmente não seja mais sua melhor amiga desde aquela época — voltou a falar. — Mas nunca esqueci de você e todos os nossos momentos incríveis. Você faz parte de mim, , de quem eu sou. Viver longe de você foi uma tortura. Não só por te considerar meu melhor amigo ou depender tanto da sua presença. Eu… Como posso dizer? — passou a língua sobre os lábios fartos. — Acho que… Vivi um clichê adolescente com você e nunca tive coragem de assumir. Dizer que me apaixonei por você durante a adolescência talvez seja pouco. Eu te amei durante a nossa infância, a adolescência, o início da vida adulta; eu te amo agora. E não é só como um amigo, mas tive que aprender a lidar com isso e aceitar que não tenho como correr atrás disso agora.
“O tempo passou e eu permiti que nos afastássemos, permiti que você escapasse por entre meus dedos e tudo que consigo pensar agora é no quanto fui idiota em negar todos os meus sentimentos por causa do medo. Eu poderia ter te contado desde o início, poderia ter… Feito muitas coisas, mas não consegui, porque sou covarde. Eu não tenho a coragem que vocês acham que eu tenho, e não é só relacionado ao amor que sinto por você e carrego há tantos anos. É num geral, eu não sou a mulher forte e corajosa que tento parecer o tempo inteiro. Eu sinto medo, eu me deixo de lado, finjo que não sinto nada de bom pelas pessoas, sou uma grande covarde que demora anos para assumir uma coisinha mínima. Estou dizendo tudo isso agora porque me sinto sufocada e não consigo olhar para você sabendo que menti por tantos anos e continuei mentindo nestas últimas semanas. Você não merece mentiras, , não merece; e isso foi tudo o que te dei nos últimos tempos. Eu quero te pedir perdão por ter te deixado para trás, por não ter estado aqui quando mais precisou, por não ter tentado manter contato e fazer alguma coisa mesmo de longe. Desculpe por todo mal que causei, por não ter acreditado em você o suficiente para voltar na primeira oportunidade, por ter não ter cumprido nossa promessa, por ter sido uma pessoa falha quando você só fez ser um homem incrível para mim em todos os momentos, me desculpe por ter te feito sofrer tanto, por ter te feito esperar por mim quando nem mesmo eu tinha certeza se um dia voltaria, me desculpe por tudo, eu não tinha a intenção de ser esse tipo de amiga para você. Eu só queria ter tido a coragem de voltar antes, para poder te abraçar enquanto chorava por conta da sua família, ou por um filme de romance bobo que você sempre adorou. Não posso voltar no tempo e fazer todas essas coisas, também não posso fazer com que você me perdoe em um estalar de dedos, mas estou aqui, e eu não quero mais ir embora.”
continuou em silêncio após ouvir o monólogo de . Ele a encarava nos olhos — ou ao menos tentava, já que estava sem os óculos e via tudo um pouco embaçado — enquanto as palavras sambavam em sua cabeça, tentando fazer sentido. Seu coração estava acelerado e ele perdeu a noção quando a ouviu dizer que era apaixonada desde quando eram menores — ele também era, e era igualmente covarde por nunca ter falado.
— Eu queria poder te responder à altura — murmurou, por fim. — Mas não sei o que dizer, . E para ser sincero, acho que eu fingia para mim mesmo que ainda estava magoado. Eu não conseguia aceitar que você estava de volta na minha vida e eu teria que participar de todos os seus shows no país. Acontece que… Nunca consegui ficar bravo com você por muito tempo. Quando te vi pela primeira vez desde a sua partida, foi um baque e tanto. Fiquei chateado, feliz, triste, magoado e mais um milhão de coisas que eu jamais vou conseguir te explicar. Mas te olhar de novo… Te ouvir de novo… Tudo me fez perceber que não importava o tempo que passasse, eu continuaria sendo inteiramente seu. O que quero dizer, , é que sempre te amei também. Não só como minha melhor amiga. Sempre fui completamente apaixonado por você. Desde criança. Eu não conseguia ver o seu sorriso sem derreter, não conseguia sentir seu cheiro sem ficar embriagado e imaginando como seria tê-la em meus braços de outra maneira todos os dias… Eu sequer consegui dormir direito quando você partiu. Eu só conseguia pensar “quando irei vê-la de novo?”. Eu senti sua falta. De cada mínimo detalhe seu. Você está perdoada desde quando tentou falar comigo pela primeira vez e eu fui um completo estúpido; e também te devo um pedido de desculpas por isso. Não consigo seguir a vida sem você do meu lado, . E eu sempre soube que em algum momento os nossos caminhos se cruzariam novamente. Fico feliz que tenha sido agora, quando estamos mais maduros, e aqui, na nossa cidade natal e onde tudo aconteceu. Estamos tendo a chance de recomeçar, não vamos jogar isso fora outra vez.
sentiu o corpo inteiro arrepiar ao perceber que ficava de joelhos no meio da banheira e vinha em sua direção devagar. Seu coração palpitava e as lágrimas surgiram em seus olhos automaticamente; estava imensamente feliz e aliviada. A apreensão de dias atrás já não estava mais ali, dando espaço apenas para o alívio de ser correspondida.
— Eu te amo — sussurrou bem pertinho de seu rosto; e foi o momento em que fora desarmada por inteira. Os lábios bonitos estavam próximos aos seus, o cheiro de sabonete exalava por todos os cantos, e tudo parecia ainda mais intenso dado ao momento que presenciavam.
— Eu também te amo — sussurrou de volta e não perdeu tempo em avançar sobre a boca do melhor amigo, finalmente provando do beijo que sempre ouvira elogios pela escola.
O encaixe parecia perfeito, um completo clichê, como se tivessem sido feitos um para o outro. As línguas dançavam juntas, numa sincronia jamais vista e sentida, causando arrepios intensos toda vez que esbarrava uma na outra.
Não demorou muito para o beijo intensificar ainda mais, arrancando suspiros de ambas as partes. E foi nesse momento que conseguiu realizar sua maior fantasia: espalmar as mãos nas costas largas e bonitas de , puxando-o para si. Não eram mais crianças e sabiam da vontade que sentiam um pelo outro — o tesão era quase palpável, assim como a intensidade de cada sentimento que compartilhavam naquele beijo alucinante. Nenhum dos dois queria sair dali — e nem iriam, de fato; a certeza firmou-se entre eles no momento em que a toalha soltou do quadril de .
Bastou uma troca intensa de olhares para saberem que pertenciam um ao outro. Quando se deram conta do caminho que estavam seguindo, a água já transbordava da banheira e os corpos já se encaixavam perfeitamente e os gemidos, inevitáveis, ecoavam pelo banheiro — quiçá por todo o apartamento.


abriu os olhos e um sorriso tomou seus lábios automaticamente. Ao seu lado, quietinho e encarando-a com carinho, estava . Seus corpos ainda estavam próximos e nus, ambos na mesma cama depois de horas botando o assunto em dia e aproveitando as novas descobertas.
Após o episódio na banheira, tentaram se concentrar em consertar as coisas e não se deixar levar pelos hormônios e pela saudade outra vez, mas não dera muito certo. Acabaram jogados na cama, mesmo molhados, e recomeçaram tudo com menos pressa, tentando manter uma conversa íntima durante o ato — o que, obviamente, não funcionou tão bem. Algum tempo depois da segunda rodada, acabaram pegando no sono do jeito que estavam. No entanto, não parecia ter dormido tanto quanto . Seus olhos ainda tinham um ‘quê’ de curiosidade misturado ao medo, além de uma nítida dúvida em relação a veracidade de tudo o que viveram nas últimas horas — parecia surreal.
, por outro lado, parecia mais tranquila. Seu coração ainda pesava, mas o alívio já estava ali quase o tomando totalmente. O sono lhe fora de grande ajuda, fez com que relaxasse mais do que o normal, lembrando-a como era gostoso dormir sentindo o cheiro e os braços de à sua volta. Ainda assim, seria mentira dizer que não havia sequer uma sombra de dúvidas em seu olhar também. Para ela era tudo muito novo, já que tomara a iniciativa e normalmente não era assim; sempre foi muito contida e tentava tomar a frente de alguma investida quando tinha certeza que seria correspondida para evitar confusões e decepções. Com a declaração saiu tão natural que não soube como agir num primeiro momento. E depois, porém, entendeu o porquê. Era , seu melhor amigo. Tudo com ele era natural e espontâneo, não precisava medir suas palavras, suas ações e reações; eram apenas os dois e um punhado de sinceridade já que a intenção da conversa era abrir o jogo sobre tudo o que passaram nos últimos anos. Apesar de ter sido um pouco confuso e com falhas no começo, deu certo. Conseguiram se entender, deixar tudo a pratos limpos e acabaram realizando a maior vontade que tinham desde adolescentes.
— Acordado há muito tempo? — perguntou baixinho.
— Acho que sim — respondeu no mesmo tom. — Gosto de te olhar enquanto dorme.
— Sempre gostou.
— É… — deu uma risada fraca. — A diferença entre antes e agora é que eu posso dizer claramente que é porque sou apaixonado por você. Por mais estranho que seja poder assumir isso abertamente.
— É estranho para mim também — riu. — Eu sonhei com esse momento por muito tempo… É muito, muito estranho saber que éramos correspondidos e nunca dissemos nada um para o outro. Quero dizer… Isso já é o esperado porque melhores amigos apaixonados, além de clichês, são burros e não enxergam quando são correspondidos porque estão sempre muito ocupados com as próprias inseguranças para achar que é possível acontecer alguma coisa…
— O ser humano é burro, riu. — Não estamos fora dessa estatística.
— Definitivamente, não estamos. Enfim, o que temos para hoje, gatinho?
— Além de ficarmos na cama o dia inteiro? — perguntou retoricamente. — Podemos tentar compor algo, estou inspirado.
— Eu também estou inspirada hoje, mas não sei se é para compor… — murmurou e rolou o corpo para frente, deixando-se cair sobre que não hesitou em agarrá-la pela cintura e firmá-la sobre seu colo.
— Não sabia que você era tão insaciável assim.
— Provavelmente é a única coisa que você não sabia sobre mim. Mas tenho certeza que está adorando descobrir na prática.
— Isso você pode ter certeza que sim — respondeu em um sussurro, enquanto erguia o tronco para que pudesse alcançar a boca bonita de , sem se importar se ela tinha acabado de acordar.
— Você também não é tão saciável quanto aparentava ser…
— Quando se trata de você, realmente; não sou.
não o respondeu, apenas juntou suas bocas outra vez, iniciando um beijo intenso e gostoso — e que, por eles, não teria fim.

Quando a tarde enfim chegou, levou para conhecer o outro lado de seu quarto, fora da cama. Colocou-a sentada na cadeira grande e confortável, em frente aos aparelhos que tinha para produzir suas músicas. Ao lado da mesa repleta de computadores e caixas de som, tinha um microfone e um teclado — o que realmente chamou a atenção de , que adorava vê-lo tocar teclado enquanto ela cantava alguma coisa aleatória, dando vida à uma composição sem pé nem cabeça e improvisada.
acompanhou o olhar brilhante de em direção aos itens e riu baixinho, puxando o teclado para si e fazendo um sinal para que ela pegasse o microfone. Após ajustar os aparelhos, começou a dedilhar o teclado devagar e com calma, deixando que a inspiração de surgisse em seu próprio tempo — e não precisou esperar muito. Logo começou a cantar frases soltas e um tanto quanto desconexas, apenas para ver até onde conseguia ir com o improviso e acostumando-se com a melodia que criava com suavidade. No início, narrou como sentia falta de estar ao lado de alguém que a amasse de verdade, como sempre quis voltar para casa ao mesmo tempo que realizava seu sonho mundo afora. Depois, cantou como era difícil lidar com a dor da perda (tanto de si mesma quanto de alguém importante). Sempre com uma verdade quase palpável, além de seu talento explícito para a música — era inegável sua perfeição.
sorriu com o rumo da música e aproveitou-se da pausa que fizera para respirar e pensar em mais alguma coisa, para começar a cantar seus próprios sentimentos. Cantou com suavidade e vontade o quanto era apaixonado por alguém e como doera guardar segredo; também cantou o quanto havia sido covarde por longos anos em sua vida, como fora difícil negar seus sentimentos e ignorar a volta de uma pessoa importante para sua vida. Cantou sobre suas mudanças, sobre seu humor e repetiu algumas frases que sua mãe costumava dizê-lo entre seus desabafos adolescentes e imaturos. Quando chegou ao fim de sua parte, permitiu-se repetir a palavra “desculpe” baixinho, enquanto repetia seu próprio refrão e encaixava-o com o backing vocal do melhor amigo.
Terminaram de cantar entre risadas e cochichos que acabaram sendo gravados também, e que dava um ar diferente para a canção. Era íntimo e real, de uma forma que as pessoas nunca haviam visto. Com isso em mente, sentou-se ao lado de de maneira mais confortável e começou seus trabalhos nos computadores, passando e repassando trechos das canções, acrescentando batidas e mesclando ambas as vozes. Serviria como uma demo para um trabalho futuro, ele esperava.
Sem ao menos perceberem, passaram o resto do dia compondo e produzindo músicas que, inconscientemente, pretendiam usar no futuro — além, é claro, de trocarem alguns beijos nos intervalos.
— Você é muito bom nisso — murmurou enquanto circulava as pernas e os braços em torno do corpo de , que agora estava sentado no chão cercado de papéis e seu fiel notebook. — Espero um dia ser uma produtora tão incrível assim.
— Você já é uma produtora incrível — sorriu. — Na verdade, você é incrível em tudo, . Cantando, escrevendo, produzindo…
— E você é um puxa-saco — sussurrou no ouvido alheio, sentindo-se levemente envergonhada; embora fosse uma figura pública, não sabia lidar tão bem com os elogios (tampouco com as críticas).
— Eu sou mesmo — deu de ombros e virou o pescoço o suficiente para encará-la, logo formando um biquinho na boca bonita como se pedisse por um beijo. riu de sua infantilidade e cedeu à sua vontade, selando seus lábios algumas vezes com carinho.
— Nós podemos acrescentar uma dessas músicas em algum show — sugeriu.
— Está me convidando para cantar com você além da abertura, é?
— Basicamente… Sim — deu de ombros. — Poderíamos chamar o também e fazer um ‘threesome musical’.
— Podemos pensar nisso mais tarde e tentar encaixar amanhã antes do show para vermos se realmente funciona — concordou e voltou a atenção para o notebook. — Aliás, gosto de ver como você e o se dão bem. Tinha medo dele não conseguir enxergar a mulher incrível que você é por causa das minhas choradeiras.
— Você chorava por minha causa no ombro dele, é? Aposto que falava mal de mim também.
— Chorava, literalmente chorava, riu. — Tudo bem, culpado — ergueu as mãos na altura do ombro. — Eu falei mal de você várias vezes. Te xinguei, também. E acabei chorando ainda mais porque sentia sua falta e sabia que você não era nada do que eu queria que fosse para te odiar verdadeiramente.
— Se te conforta, também chorei por você e te xinguei — comentou. — Mas, no meu caso, foi nos ombros das minhas agentes. Eu não tinha amigos… Não verdadeiros, pelo menos.
parou de digitar ao ouvir aquilo, virando-se totalmente para .
— E como foi para você ter de lidar sozinha com tudo isso?
— Normal…? — deu de ombros. — Quer dizer… É ruim a gente guardar tudo para si mesmo, não é? Mas eu passo por uma psicóloga da gravadora pelo menos uma vez na semana, então me ajudava a não pirar totalmente de novo.
— Fico feliz em saber que você estava se cuidando apesar de tudo — murmurou. — E espero que saiba que não está mais sozinha, eu estou aqui para o que precisar.
— Eu sei disso, também estou aqui para o que você precisar — sussurrou e juntou suas bocas novamente.
Era bom estar de volta ao lar.


O grande dia havia chegado, finalmente aconteceria o primeiro show da nova turnê da cantora e justamente em sua cidade natal. Todos estavam ansiosos e a casa de show estava lotada, provando, mais uma vez, que seria capaz de encher qualquer lugar do mundo tamanho seu sucesso e talento.
A correria dos últimos ajustes antes do show começar de fato não permitiu que e interagissem muito. Sendo assim, subiu no palco sozinho e sem o abraço de boa sorte que desejava, para realizar a abertura daquele momento marcante — passando por cima do própria insegurança e medo. Assim que fitou o público à sua frente, espiando através da cortina, e reconheceu alguns rostos, sorriu de forma boba e alegre. Pertencia àquela cidade, de fato; mas, também aos palcos. Estava em seu habitat natural.
O instrumental de sua primeira música ecoou pela casa de show e ele se permitiu deixar-se levar pela melodia e a vontade que tinha de cantar — e ao vê-lo, logo que as cortinas caíram, o público gritou e todos foram à loucura. Era hora do show.

terminou sua performance ao lado de , assim como no pocket show da boate há algum tempo, ambos suados e animados com o retorno do público. Surpreendentemente, ou não, o público soube cantar a maioria das músicas que apresentou, assim como souberam cantar cada palavrinha de sua parceria com o melhor amigo. Havia sido um grande acerto colocar aquele número no show; o público estava devidamente aquecido e em chamas, prontos para aproveitarem o show principal de — e o que não sabiam, porém, é que teriam mais duas surpresas: uma música do trio, ela, e , e, por último, como um “bis”, um dueto com .
Como já era esperado, assim que a voz de ecoou pela casa de show, o público explodiu em gritos; fãs apoiados na grade pulavam antes mesmo de vê-la por trás das grandes cortinas vermelhas e o choro foi inevitável quando a experiência de show se tornou real. Ao lado do palco, enquanto performava de maneira incrível e insana, filmava trechos e colocava nos stories no Instagram, deixando claro a visão privilegiada que tinha do momento — estava tão orgulhoso que sequer sabia como colocar em palavras. Ao seu lado, o fitava encantado e igualmente orgulhoso; o amigo tinha parado de ser um grandíssimo babaca — e a sensação de calmaria e que tudo estava bem era boa demais para ser ignorada.
A cada música que cantava no palco, um filme passava em sua mente — e tinha certeza que conseguia assisti-lo assim como ela. As lembranças da infância e adolescência de ambos naquela cidadezinha eram inevitáveis; as descobertas, os segredos compartilhados, as primeiras experiências, brigas; tudo. Suas músicas, de ambos, eram sobre a vida e as aventuras pessoais; os choros de alegria e de tristeza, as perdas, o aperto no coração, os afastamentos, os caminhos diferentes; tudo, absolutamente tudo o que viveram era cantado em visões diferentes. E a cidade inteira — na verdade, o mundo — finalmente estava podendo ver aquilo. Os fãs de cada canto do planeta estavam sendo inseridos numa intimidade jamais mostrada, estavam ouvindo coisas que nem mesmos seus pais sabiam — e, quando ouviam as músicas, não entendiam completamente. O mundo estava tendo a chance de entrar naquela história e fazer parte dela, mesmo que ainda não estivesse finalizada — pelo contrário, parecia ter acabado de começar.
Pouco mais de uma hora e meia depois, o show já estava chegando ao fim. A performance ao lado de e já havia sido apresentada, e o grande momento do espetáculo estava prestes a acontecer.
As longas e grossas cortinas vermelhas já estavam de volta em seus lugares, dando a entender que o show tinha acabado. O burburinho dos fãs ainda se fazia presente, todos aguardavam por uma volta surpresa da querida . O que não esperavam, porém, é que ela subiria ao palco com uma segunda pessoa. Mesmo que fosse ali, ninguém esperava que ele fosse voltar ao palco, principalmente para encerrar o show ao lado de — o que foi uma surpresa até mesmo para seus agentes que não faziam ideia do que os dois jovens estavam aprontando. Os gritos eufóricos faziam com que ambos os corações ficassem cada vez mais acelerados tamanha a ansiedade e felicidade. Estavam juntos diante à uma plateia enorme, como sempre sonharam.
Encararam-se nos olhos, sorriram e deram as mãos. As cortinas à frente caíram, revelando-os juntos como era para ser. A plateia gritou mais no momento exato que introdução de ‘Gone 2 Long’ — a única música que não havia sido performada na abertura — explodiu nas caixas de som dispostas no local, e começou a cantar. Era como se estivesse deixando seu coração falar sinceramente outra vez, para e para o mundo; e sabia que seria retribuído quando fosse o momento de sua amada deixar a canção escapar por seus lábios; insistia em dizer que aquela era sua música favorita e sempre a cantaria com amor, fosse durante um show ou ao seu lado.
Ainda se encaravam nos olhos quando o refrão chegou, assim como as mãos seguiram firmes uma contra a outra. Demonstravam toda a emoção que sentiam por estarem lado a lado outra vez, mesmo que a música narrasse os momentos de solidão e as saudades que sentiram durante os últimos quatro anos. O sentimento não havia mudado.
Ainda se amavam de todo coração.
Ainda eram melhores amigos.
O beijo no fim da performance teve como missão anunciar para o público e familiares que estavam juntos; sempre estiveram; e não haveria tempo que fosse capaz de mudar aquilo. Era real, forte, palpável; era singular, era deles; ia além de qualquer coisa um dia já vista ou sentida; era verdadeiro.
Afastaram-se e deixaram as testas coladas. Os gritos ao fundo, agora, jaziam mudos, o público não existia mais; eram apenas os dois, os corações acelerados e o palco. As mãos se ergueram automaticamente e os dedos mindinhos enrolaram-se um no outro, deixando à mostra para todos que estariam juntos para sempre — não importava o quanto esse ‘para sempre’ durasse; e juravam ‘de dedinho’.
Ainda tinham uma promessa.


Fim.



Nota da autora: Oi, gente! Espero que tenham gostado, porque me esforcei bastante pra escrever essa fanfic e ela saiu beeeem maior do que eu esperava, e, ainda assim, tiveram alguns trechos que fiquei meio em dúvida se narrava ou não hahahah. Enfim! Ultimamente tô muito viciada em PRETTYMUCH e acho que me rendi totalmente, mais uma boyband pra minha coleção de dor e sofrimento. Não deixem de comentar, isso é muito importante pra quem escreve! Aproveitem e vão dar uma chance pro PRETTYMUCH também porque os meninos são muitos talentosos e apaixonantes. Até a próxima! <3



Outras Fanfics:
» Pull Me In [Restrita - Original - Finalizada]
» Supernova [Especial Fim do Mundo - Shortfic - Finzalizada]
» O Último Coração Partido [Restrita - Original - Em Andamento]


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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