It Was Meant to Be

Capítulo 01

“The broken clock is a confort, it helps me sleep tonight. Maybe it can stop tomorrow from stealing all my time.” Broken – Lifehouse.

Nova York – 11 de julho de 2015 – 18:54 pm.

Está escuro, minha mente está completamente vazia, até que um som distante começa a soar. Meu corpo continua pesado e, antes de tudo ficar nítido, apago de novo.

Não sei quanto tempo se passou, mas o som irritante que a vibração do meu celular exercia na madeira do criado mudo ao lado da minha cama não podia mais ser ignorado, e muito a contragosto estico o braço, mas ao pegar o aparelho ele parou de tocar – “Maravilha!”. Comecei uma lista mental de xingamentos, e antes que pudesse desligá-lo, ele voltou a tocar. Mantendo meus olhos fechados, o atendi.

- , ONDE PORRA VOCÊ SE METEU? berrou, piorando ainda mais o timbre agudo e irritante de sua voz.
- Fala baixo, , você vai estourar meus tímpanos. – Minha voz soou rouca graças às 2 horas de sono durante aquela tarde.
- Ótimo, talvez assim eles funcionem! Eu estou te ligando o dia inteiro!
- Eu estava dormindo, para de drama.
- COMO VOCÊ PODE DORMIR?! – Aquela gritaria já estava me irritando ainda mais.
- Hoje é sábado e eu não trabalho.
- NÓS ESTAMOS NO MEIO DE UMA CRISE E VOCÊ ESTAVA DORMINDO?!
- Para de gritar, pelo amor de Deus! – ouvi-a bufar do outro lado da linha e prosseguir. – O Peter me ligou e nós íamos almoçar, mas...
- Mas então vocês transaram o dia inteiro, você ficou muito cansada e dormiu.
- É. – Falei, um pouco constrangida.
- Ok. Não quero saber da sua vida promíscua. Deixa-me falar. – O mundo só poderia estar sob algum tipo de ataque alienígena pra justificar o comportamento rude de .
- Estou ouvindo. – Se fosse um leão, teria rugido, odiava ser acordada, não importava a hora, e ainda por cima pra ser tratada mal.
- A ligou pra você, e como a senhorita não atendeu, ela ficou me alugando por mais de uma hora.
- Qual o problema em falar com ela? Brigaram novamente?
- Ela vai se casar! – Sua voz soava cada vez mais desesperada. – CASAR! E nós seremos as madrinhas, claro!
- Casar? Pra quê? Eles estão juntos há séculos.
- O idiota do quer oficializar tudo e a Jazzy também está pressionando.
- Awn, que lindo. – Minha voz soou como uma completa apaixonada. – Incrível como minha mente já criou um vestido pra ela. Acho que azul seria uma bela cor pras madrinhas, mas...
- VOCÊ SÓ PODE ESTAR DORMINDO AINDA! Não entende o que isso significa?

De imediato meu sistema parou, aquilo não podia estar acontecendo. Sentei-me rapidamente na cama, jogando o lençol pra longe de mim. Naquele momento tudo me sufocava, mas eu ainda me forçava a não acreditar.

- OMFG! NÃO! – Tinha sido a minha vez de gritar, sem me incomodar com o fato do Peter estar dormindo.
- Sim! – Podia jurar que minha amiga chorava do outro lado da linha.
- Vamos ter que voltar pra Londres. – Aquela era uma afirmação que imaginei que só faria depois de muito mais tempo.
- É. Vamos ter que encarar do que fugimos por seis anos.
- PORRA, ! Você só me diz isso agora? – Depois daquela crise o homem ao meu lado me encarava assustado. Dei um sorriso amarelo em sua direção, na intenção de tranquilizá-lo. Parece ter funcionado, já que o mesmo beijou a minha mão e voltou a deitar.
- Oh, sim. Será que foi por você ter passado a tarde transando com o gostoso do advogado da nossa empresa e ter ignorado minhas ligações? – Perguntou transbordando ironia.
- Droga. – Rezei pra que aquilo fosse uma brincadeira de muito mau gosto. Esperei por isso e, como não obtive nada, eu continuei. – Já marcaram uma data? Quanto tempo nós temos, exatamente?
- Marcaram pra novembro.
- Então temos uns 100 dias, aproximadamente.
- Alguém já te disse que você tem problemas?– Estava atordoada demais pra responder às provocações da .
- Agora irei tomar um banho e em seguida vou até ai. Vamos pensar em algo. – Tentei transparecer conforto e segurança, mas falhei consideravelmente.
- Ok. Vem logo! – Bradou imperativa.
- , eu moro no apartamento em frente ao seu. – Disse em tom de obviedade e como resposta eu ouvi o barulho que indicava que a mesma havia desligado o telefone na minha cara. – Que saco! – Disse enquanto olhava irritada pra o celular.
- Tá tudo bem? – Peter havia se sentado de novo e alisava os meus ombros.
- Tá sim. – Senti um beijo plantado na minha nuca, e nem aquele gesto havia feito o meu corpo se arrepiar. – Preciso encontrar a , você tem que ir embora.
- Por que eu não faço o jantar e te espero? – Perguntou esperançoso, enquanto procurava o meu olhar. – Amanhã será domingo e eu posso muito bem passar a noite aqui.

Peter e eu já estávamos juntos há um ano, e o que fazia a nossa relação ser duradoura era a impessoalidade. Não que eu não o considerasse um amigo e gostasse de verdade dele, mas aquilo era só sexo e eu não queria perder a minha privacidade. Tudo ia bem, até que nas últimas semanas ele insistia em ultrapassar barreiras, como querer dormir comigo, ou me ver todos os dias. O que viria depois? Uma viagem romântica? Noivado?

- Já conversamos sobre isso, não acho legal você dormir aqui.
- Por que não? , nós estamos...
- Peter, por favor, eu não quero discutir sobre isso. – O interrompi, já cansada daquilo. – Não hoje. – Cobri o meu rosto com as duas mãos em sinal claro de frustração.
- Ei, calma. Olha pra mim. – e sua voz doce me fez obedecê-lo. – Tudo bem, eu não durmo aqui, mas vou fazer um jantar pra gente, vejo que essa conversa com a é séria e estarei aqui te esperando pra fazer você relaxar, ok?

Foi então que me dei conta de que nós dois dávamos certo muito mais pela impessoalidade ou as regras idiotas que eu cismava em impor. Nós dávamos certo porque Peter era mais do que qualquer outro. Ele cuidava de mim, sem ser inconveniente, me dava a segurança que eu tanto buscava, tinha uma paciência sem limites, enquanto eu permanecia o afastando.

- OK. Eu sinto muito, Peter. – Subi em seu colo e o abracei forte, me sentindo uma bruxa por tê-lo tratado mal. O olhei e vi-o concordar com a cabeça. – Volta a dormir, eu vou tomar um banho e, quando voltar, cozinhamos juntos.
- Estarei aqui, pronto pra ser usado. – Disse divertido, dissipando aquela tensão há pouco instalada, pelo menos entre nós.

Levantei da cama e entrei no banheiro, coloquei a banheira pra encher e voltei para encarar meu reflexo no espelho, me deparando com uma garota de 24 anos que havia envelhecido pelo menos uns cinco anos nos últimos cinco minutos. Não sei quanto essa reflexão durou, pois tudo em mim estava oco.

Depois de retirar a lingerie que cobria meu corpo, entrei na banheira sem me importar com a água mais quente do que deveria. Aquele era o meu momento de pensar nos últimos minutos, ou, pior, nos últimos seis anos? Pra mim, esse espaço não tinha diferença, não havia passagem de tempo.

Tempo. Tempo. Tempo. O tempo pra mim realmente foi relativo, seis anos se passaram. Foram exatos 1876 dias desde que partimos de Londres, mas há momentos em que no mais escuro da minha mente eu volto, volto para o começo de tudo, e é como se nenhum desses dias tivessem existirdo e nada tivesse passado, mas passou.

Encarar a passagem de tempo é mais uma questão de percepção. Se está no meio de um beijo incrível, os minutos passam ávidos e imperceptíveis, mas se estamos aprisionados na nossa própria dor um segundo pode parecer um século.

A água continuava a me abraçar, quente e serena, e eu não me mexia, era uma confusão de sentimentos e o futuro nunca me pareceu tão assustador como agora. Eu só me lembrava da minha avó, que dizia: “a coisa mais deprimente que se deve encarar é aquilo que se poderia ter sido”, por isso que, como uma boa covarde, eu decidi fugir. Fugir de um lugar que me remetia à amizade, alegria, amor e música. Infelizmente, como já havia dito, o tempo passa, mas volta, continua vivo, e enquanto eu me afundava na banheira e encarava o teto branco do meu banheiro sob a água que flutuava acima dos meus olhos, o maldito e traiçoeiro me levou até o início, o momento que minha amiga previu e o chamou de eventualmente.

FLASHBACK ON:

Londres – 08 de Setembro de 2008 – 09:03 am.

O nosso treino de líderes de torcida havia acabado, e somente aquilo me fazia acordar extremamente cedo. Meu corpo estava desacostumado depois de passar as férias de verão fazendo absolutamente nada, e ainda perdi uma semana de aula, porque minha mãe insistiu que eu deveria ajudá-la a comprar roupas de inverno.

Eu e íamos ao vestiário enquanto ela conversava mais que uma matraca. Eu finalmente consegui assistir um pouco do treino de futebol, melhor dizendo, observar todos os caras novatos ou veteranos exibindo seus corpos invejavelmente atléticos.
- Nossa, você está vendo como o Jason voltou um gato nessa nova temporada? – Jason era apenas um ano mais novo que a gente, mas pela forma física provavelmente havia passado suas férias trancado numa academia.
- ! – Revirei os olhos, claramente já entediada com o que estava por vir. – Você sabe que se pegar o Jason, oficialmente você ficou com... – ela parou e olhou pra cima, contando algo nos dedos. – dois terços do time de futebol, e isso contando com os reservas!

podia ser minha melhor amiga, mas era recatada quando o assunto era garotos; na verdade, ela só tinha olhos pra um. Eu até entendia toda aquela obsessão, o era um gato, mas pra quê tanto? Ela só tinha 17 anos e uma vida inteira pela frente pra perder com uma única pessoa. Pra não entrar em uma nova discussão na qual nenhuma iria concordar com o argumento da outra, eu havia aprendido a sempre mudar de assunto ou descontrair de alguma maneira, e, adivinhem? Aquilo sempre funcionava.

- E daí? Quem está contando? – Dei um leve empurrão nela com o ombro e logo começamos a fazer cócegas uma na outra, rindo como idiotas.
- Safada. – me acusou, mas parecia estar de bom humor naquela manhã.
- Eu bem que tento, mas não dá pra competir com você ou a . – Disse ao paramos ao lado do bebedouro.

Abaixei-me pra beber água enquanto se prostrou ao lado, colocando uma perna flexionada na parede enquanto olhava fixamente para o chão, provavelmente estava pensando alguma besteira que ela considerava importante.

- Você é a pessoa mais ambígua que conheço. – Ela finalmente externou seus pensamentos enquanto permanecia na mesma posição.
- Hã?
- Você deve ter saído com metade do colégio, namorado com mais garotos do que eu irei e...
- Você só irá namorar o . – A interrompi, mas ela pareceu não se importar e continuou seu quase monólogo.
- E ainda é a virgem do nosso grupo. Eu realmente me sinto bastante biscate falando das minhas noites com o .
- Só nunca estive pronta. – Dei de ombros um pouco cabisbaixa, já que aquele era outro assunto o qual eu não me sentia confortável em discutir.
- Vou ter pena de você quando se apaixonar por alguém. – Riu sem humor, parecendo prever um destino triste pra mim, ou melhor, como se aquilo realmente fosse acontecer um dia.
- Nem se preocupe com isso. – Não consegui reprimir uma boa gargalhada ao me imaginar ao lado de uma pessoa, uma única pessoa. Credo!
- Vai acontecer, eventualmente, e você será a mais bobona de nós. – Inimaginavelmente, ela falou séria enquanto me olhava nos olhos. O olhar de sempre me intimidava, porque, por mais que eu jamais fosse assumir isso, ela conseguia me ler.
- Você também é ambígua, sabia?
- Eu? Por quê? – Agora eu era quem a tinha surpreendido.
- Você é meio roqueira, tem um senso de moda um pouco questionável, mas ainda assim é líder de torcida comigo. Juro que isso era uma coisa totalmente a cara da .
- Ela é falsa, deixou essa responsabilidade ridícula pra mim. – Revirou os olhos, entediada, e eu logo a abracei, sabendo que ela odiava muito contato físico.
- Por isso que te amo.

E enquanto saíamos dos vestiários, aconteceu não um amor à primeira vista (isso jamais), mas um novo garoto na escola com o qual valia a pena me envolver naquela primeira semana. Meus olhos se focaram num banco que ficava embaixo de uma enorme árvore, onde nosso grupo de amigos costumava ficar, mas se meu irmão, , a , , ou o estavam ali, eu não saberia responder, porque um cara extremamente gato e introspectivo fazendo a linha “eu possivelmente tenho um segredo, posso até ser um vampiro” estava ali, e todas as minhas atenções foram direcionadas a ele. Meus pés fincaram no chão.

O garoto com uma franja que quase cobria suas sobrancelhas ria um pouco tímido de alguma idiotice que dizia, e vez ou outra dava atenção a algo que estava em suas mãos. Mas, como se tivesse sentido alguém o olhando, seus olhos castanhos se cruzaram com os meus, e, como se estivéssemos assinando um acordo, nenhum de nós quebrou aquele contato visual.

- O que foi? – parou na minha frente, me impossibilitando de continuar com aquilo. – Ain, não, você está mordendo o lábio, quem é a vítima?! – Perguntou de maneira completamente exagerada.
- Aquele é o novo amiguinho de vocês? O que veio de Wolverhampton? – Manejei com a cabeça em sua direção, voltando a encará-lo.
- . – Ela começou, ponderando. – Ele não é desse jeito.
- Que jeito? – Mantinha o meu olhar enquanto o garoto parecia estar surpreso, tornando aquilo muito mais interessante.
- Ele parece se envolver de verdade, é bem calado e ...
- Para. – Finalmente voltei a encarar minha amiga, colocando as mãos no meu coração. – Eu já estou apaixonada. – Usei todo o meu sarcasmo.
- ...
- O quê? Você mesma disse que ia acontecer eventualmente. – Pisquei pra ela. – O show vai começar.
Corri saltitante, tentando equilibrar minha bolsa no meu ombro enquanto ainda segurava os pompons na outra.

FLASHBACK OFF.

Emergi ao senti meus pulmões implorarem por ar, mas a falta dele vinha da lembrança que sempre reprimia do olhar que trocamos naquele dia e de tudo que veio junto com esse ato. Quem poderia prever que aquela brincadeira iria sair tanto do eixo e se transformaria em algo tão forte?

Quase nunca me permitia, mas em raras ocasiões, como a de hoje, o meu passado arremete de forma tão vívida e clara que parece ter ocorrido há horas, mas quase sempre pareciam ser as memórias de outra pessoa. E na minha cabeça só me vinham gritos desesperados em dúvida do que fazer a seguir.


Capítulo 02

Maybe surrounded by a million people, I still feel all alone. I just wanna go home .Oh,I miss you, you know". Home - Michael Bublé.

A revista de estilo do New York Times passou um dia com a estilista mais cotada do momento, em seu incrível escritório em Nova York, e o resultado foi uma entrevista divertida, engrossando o coro de elogios a jovem britânica de apenas 24 anos. E pra quem pensa que o sucesso vem por sua pouca idade, ou por ser irmã de uma das boys band do momento se engana. ) está com tudo pelo incrível talento, generosidade e humildade. Os louvores não partem apenas da nossa repórter, mas dos colegas de Jéssica, como Marc Jacobs e Valentino, que ao serem questionados sobre a jovem londrina afirmam categoricamente “Em um mundo de Kardashians, onde as pessoas são famosas apenas por serem famosas, o renome de ) é raro nos dias de hoje, proveniente de um trabalho sério e muito bem feito” escreveram a revista.

Ironicamente, , como gosta de ser chamada, não anda desfilando por ai como uma boneca, ela afirma que não gosta de usar maquiagem todos os dias, mas que não vive sem seus saltos altíssimos. “Não é porque sou uma estilista, que tenho que parecer uma modelo de passarela, eu sou humana, tenho os meus dias pra andar por ai só com moleton, então não gosto de me entregar a modismo.”

Quando foi questionada, sobre ter usado o mesmo vestido, em dois eventos diferentes, ela usou o bom humor e foi categórica “Qual é? Quem disse que não se deve repetir uma roupa? Eu devo usá-las e depois jogar fora? Sempre achei que chique é reciclar”.

A grande grife Meant to be, surgiu ainda enquanto Jéssica estava no colegial, e cresceu ao longo desses quatro anos com lojas e escritórios espalhados por todo o globo, mas estranhamente não há uma sede em Londres, sua cidade natal, perguntamos o motivo e após uma pausa de reflexão ela disse “Sai de lá há alguns anos, e acabei não voltando, não há uma razão concreta, talvez a resposta esteja na falta de tempo, vou questionar sobre isso com ” riu por fim.

é sua melhor amiga de infância e comanda o marketing e o lado comercial da empresa, onde executa muito bem seu trabalho. “A é tudo pra mim, e não falo isso só por conta da nossa amizade, mas também da empresa, nós a criamos juntas e acho que não seria um sucesso sem ela.”

Ainda sobre o tema amizade, , que cresceu com os meninos do One Direction, fala sobre os sucessos dos amigos. “Eles são incríveis e eu morro de orgulho.“, o favorito não poderia ser outro. “Meu irmão, né? E meu melhor amigo ), e o ). Ah, e o também.” O gato ) não foi citado, será que foi um lapso de memória, ou tem mais historia ai?

A britânica chama atenção pela sua beleza, e jeito extrovertido, muitos fãs da moça esperam que ela seja o rosto de sua própria grife.

diz rindo: “Eu como modelo? Acho que não sou bonita o suficiente, prefiro deixar isso aos profissionais e conseguir vender algumas roupas. Mas eu adoro os meus fãs e o carinho que recebo nas redes sociais, são eles que me incentivam e foram eles que me colocaram aqui”.

Toda a marca é inovadora, a começar pelas lojas que tem um ambiente diferente e jovem. “Eu vivia comprando em lojas que eram sempre iguais e aquilo me trazia certa monotonia, me cansava só de pensar em encarar um dia de compras, então assim que começamos a pensar num conceito pras lojas, eu fui direta e disse que queria algo jovem e divertido, com cara de festa, e acho que quem entra numa loja da Meant to be, sente isso.” Com certeza os clientes sentem.

A Meant to be, tem características muito interessantes do varejo que proporciona entretenimento. Letreiros luminosos gigantes na frente da loja tornam-na impossível de não ser notada. Você entra e já percebe a loja com pouca iluminação, mas focada nos produtos. A decoração é uma mistura de vintage com tecnologia, mas no contexto, criando um espaço harmônico. E é impressionante, como você vai andando pela loja e vai se surpreendendo com cada canto cheio de detalhes e informações. No meio da loja, tem uma espécie de gaiola aberta com acessórios expostos em cúpulas de vidro, deixando os parecerem verdadeiras jóias.

E o atendimento então, de um jeito profissional e displicente ao mesmo tempo faz você achar que está em um clube noturno. O atendente conhece “de cor e salteado” a história e a proposta da marca, conhece todos os produtos e preços, e ao mesmo tempo parece seu amigo de décadas, deixando você à vontade para explorar a loja. Realmente perfeito.

Mas quem acha que a irmã de está satisfeita com o patamar que suas grifes (que incluem jeans, óculos escuros, bolsas, uma linha principal de roupas e uma secundária) alcançaram, está enganado, ainda tem muito mais cartas na manga: “Em algum momento adoraria fazer sapatos, um perfume da grife, revista de moda e entretenimento, lingerie e maquiagem”, lista , confessando que seu objetivo é crescer mais e mais: “Eu quero construir um império”, anuncia, e nós acreditamos.



Nova York – 28 de outubro de 2015 – 11:35 am.

Terminei de ler o exemplar de mais uma revista na qual meu rosto estava estampado, até que não havia me saído tão mal, já que proibiu permanentemente qualquer pergunta sobre as festas e os relacionamentos no qual me envolvia. Olhando através da enorme janela do meu escritório eu via o outono se anunciando, deixando as folhas do Central Park no chão, enquanto as pessoas faziam seus passeios, turistas tiravam fotos e artistas de rua se apresentavam. Tudo parecia tão mais fácil lá de cima, mas eu sabia que estava onde eu queria. Em apenas poucos anos eu estava conquistando tudo o que eu sempre sonhei. A jornada até ali não foi fácil, agradecia quando tinha quatro horas de sono, estudei, fiz intermináveis cursos e deixei o lado criativo agir.

Nos poucos intervalos eu me permitia chorar, depois de muito me sentir culpada por isso, eu decidi explorar o mundo. Executei tudo o que o medo me impossibilitava de fazer, me desafiando ao máximo, na tentativa de amenizar aquela ausência e aquela dor. Saltei de bungee jump na Austrália, mesmo morrendo de medo de altura, nadei com os tubarões nas Ilhas Maldivas, fiz carinho numa cobra naja supostamente hipnotizada na Índia, e entrei em incontáveis romances onde o lado apaixonado nunca era o meu, colocando assim meu nome e o de em todos os tablóides. “It girl’s britânicas aprontam novamente.” A única vantagem daquela fama foi o aumento considerável da nossa clientela devido a nossa exposição excessiva na mídia. E não posso esquecer o fato de ser irmã de ) ) e ter crescido junto dos meninos do 1D, mesmo lutando aquela ligação existia e era difícil de ser quebrada.

Meu celular vibrou e eu identifiquei a mensagem do Peter.

“Almoço?”

“Por que não partimos logo pra diversão?”

“Por que comer é importante.”

“Você está falando serio?”

“Não fica bravinha, estou na porta do seu escritório.” – Eu mal terminei de ler sua mensagem, e o vi levantando o celular, enquanto entrava em meu escritório.

- Boa tarde Sr. Mills, pode fechar a porta, por favor. – Assim ele o fez, com um enorme sorriso no rosto.
- Ficar trancado com a Senhorita, nunca é um bom sinal. – Levantei-me da minha mesa, indo ao seu encontro no meio da sala. – Pretende abusar de mim?
- E torná-lo meu escravo sexual. – Ele não conseguiu reprimir uma boa gargalhada. – Mas acho que pra isso. – Falei já desatando o nó de sua gravata e retirando em seguida seu paletó. – Nós estamos muito vestidos.
- Eu meio que concordo com você. – Segurou firme, as minhas duas coxas, me dando impulso pra subir em seu colo, enquanto começava a me beijar ferozmente.

Peter me imprensou na parede mais próxima, descendo os beijos agora para o meu colo, eu tentava de maneira desajeitada abrir sua camisa, ate que desistir e a tirei de dentro da calça passando as unhas por sua barriga, e ouvindo-o gemer no meu ouvido. Ainda com sua pélvis encostada na minha, ele levantou meus braços para que eu tirasse a blusa, e com incrível habilidade ele achou o fecho frontal do meu sutiã, tomando meu seio esquerdo em sua boca.

Foi a minha vez de gemer alto, arrancando um grunhido dele de satisfação. Eu precisava de mais, e enquanto ele me trazia aquelas sensações, eu abrir sua calça e senti através da sua boxer o quanto ele já estava excitado, invadi a peça de roupa e quando comecei a masturbá-lo ele me encarou com os olhos faiscando de desejo, mordendo minha mandíbula em seguida.

Nossos corpos se moviam na direção um do outro. Ainda em seu colo, Pet nos conduziu a um sofá que havia ali, me colocou de maneira delicada e me encarou sorrindo.

- Você é linda.
- E você está muito vestido. – Ele riu enquanto retirava a camisa, a calça e o sapato.
- Acho que você não vai precisar disso também. – Disse olhando pra minha saia, retirando-a e deitando sobre mim.

Os beijos começam no meu queixo, sua língua desliza pelo meu pescoço, garganta e o vão entre os meus seios. Começo a perder os sentidos, e o autocontrole se vai se esvaindo. A trilha de beijos e fracas mordidas é dolorosamente lenta, e vai seguindo a rota para as partes mais baixas, onde antes as suas mãos já estavam.

Ao chegar a minha barriga, ele passa a língua ao redor do meu umbigo, e eu me contraio já em expectativa pelo que estava por vim.

- Isso também não será necessário. – Sua voz era arrastada e um sorriso safado surgiu em seu rosto, enquanto retirava com paciência minha calcinha. Peter abre minhas pernas e ajoelha-se no meio delas, e iniciando sua tortura.

Os beijos molhados começam a ser plantados em minha virilha direita, depois na esquerda, ao chegar bem no meio delas, passa o nariz de cima a baixo, bem devagar, com extrema delicadeza, me deixando completamente a mercê dos seus desejos. Passa a língua em volta do meu clitóris em movimentos circulares, enquanto alisa minhas coxas.

Eu sempre estive no controle durante o sexo, mas em alguns momentos Peter conseguia me surpreender, e esse era um deles, eu estava totalmente entregue, não conseguia pensar em mais nada, alem das sensações que ele me proporcionava naquele ponto.

Minha respiração estava irregular, e meu corpo já estava arqueado, eu precisava de mais. E como se ouvisse os meus pensamentos, Peter enfiou dois dedos em mim, enquanto a sua boca fazia o seu trabalho. Ouvi os meus gemidos aumentarem.

Ele movia os seus dedos de dentro pra fora de mim variando a velocidade para me mortificar, enquanto com a outra mão apertava meus seios com força, e assim quando iria aliviar toda a tensão do meu corpo, Peter para e me lança um olhar de completa luxuria.

- Você está pronta. – Seu tom é malicioso, e meu corpo vibra sabendo que a hora havia chegado.

Abaixou a boxer segurou seu membro e logo estava dentro de mim, me fazendo gemer, enquanto ele fez uma careta de prazer sem emitir nenhum som.

Os movimentos eram lentos, ritmados e cuidadosos, e mesmo sentindo que podia gozar a qualquer momento eu não queria todo aquele carinho, queria mais, eu sempre iria querer mais.

Segurei os seus ombros fazendo-o ficar por baixo, ele me olhou com uma cara não muito boa, por está perdendo o controle da situação. Aquilo foi ignorando assim que em um único movimento me enterrei nele, a sensação foi incrível, deixei minha cabeça cair em seu peito e comecei a impulsionar meus quadris pra frente e pra trás, rebolando, sentindo cada centímetro dele dentro de mim. Pet se limitou a gemer, segurei sua mão em minha bunda, na intenção de que ele me pegasse mais forte ou me desse um tapa, mas ele só alisou a região, apertando-a vez ou outra. Levantei meu tronco, me segurando em suas coxas e aumentando consideravelmente o ritmo, a cada encontro de nossos corpos, a pressão aumentava, então ele também se levantou me agarrando, beijando cada centímetro do meu corpo, chupando e mordendo.

- Eu vou gozar, . – Ele gemeu.
- Só mais um pouco, por favor.

Pet aumentou a velocidade das estocadas, já chegando ao seu ápice, e justo quando eu achei que ele iria me deixar na mão, literalmente, ele mordiscou o bico do meu seio, fazendo o meu corpo se contorcer e desencadear um orgasmo.

Ainda ofegantes ele se deitou de novo, me levando junto. Eu sabia que depois que nossas respirações normalizassem, teríamos que conversar, não poderia mais fugir, mesmo assim tentaria. Como se lesse os meus pensamentos afagou os meus cabelos que caiam molhados de suor pelas minhas costas e começou.

- Sério, nós precisamos conversar.
- Não precisamos, não.
- Eu vim aqui dizer que vou sentir sua falta .
- Pet, são só três semanas. Depois podemos retomar as coisas de onde paramos, sempre foi assim.
- E porque dessa vez eu tenho a sensação de que você não será mais minha?
- Para com essa coisa machista de posse, eu não sou uma propriedade. – Era impossível não comparar, mesmo que com tanto tempo, como eu era diferente com ele. Não sei se isso era bom ou ruim, mas se aquelas palavras viessem de certo britânico, eu prontamente responderia com um “sempre sua”.
- , enquanto você estiver nua, abraçada a mim, você é sim, minha. – Ia me levantando de brincadeira, mas num susto ele me manteve em seus braços. – Nem pense nisso. – Disse um pouco bravo.
- Calma gatinho, precisava ver a sua cara.
- HÁ-HÁ-HÁ, estou morrendo de rir.
- Já que a gente ta aqui mesmo, e você não vai me deixar sair, que tal se a gente matasse logo essa saudade? – Mordi o seu queixo, e depois comecei a beijar sua mandíbula.
- , alguém já te disse que você é o diabo na terra?

FLASHBACK ON:

Londres – 03 de Outubro de 2008 – 08:52 am.

- Ei . – Sentei ao lado do meu amigo, enquanto ele terminava de devorar um muffin.
- Olá sunshine, dormiu comigo? Cadê meu beijo? – Ele estendeu o rosto pra que eu pudesse beijá-lo.
- Sunshine? – Passei as mãos sob os seus olhos. – Ta enxergando direito? Aqui é a e não o .
- É por que sinto falta dele o tempo todo. – Deu de ombros, ignorando minha gargalhada.
- Você acorda muito feliz. – Disse já sendo contagiado por sua animação.
- Eu sou feliz. – Estufou o peito, indo até uma lixeira próxima, para descartar o lixo.
- Devo concordar. – Esperei que ele voltasse e quis saber. – Vai à festa, certo?
- Claro, né ? Vai ter bebida de graça e mulher. – Falou como se aquilo fosse obvio, e era.
- E o Estranho, vai? – Perguntei, apontando discretamente para , que conversava animadamente com minhas colegas cheerleaders.
- Tem um mês que o cara ta aqui, você já devia ter começado a chamá-lo de .
- Vinte e cinco dias que eu o conheço, qual o problema dele hein? Não, qual o meu problema? Eu to tentando chegar nele esse tempo todo e no máximo que consegui foi uma aulinha particular de química, na qual a gente realmente estudou. – Desabafei minhas frustrações, estava realmente cansada de correr atrás de , ele era do interior, deveria se impressionar comigo e não me esnobar.
- Calma princesa, o é assim mesmo.
- Não é não, olha lá . – Apontei pra corja de maneira exagerada, sem me importar se algum deles notaria ou não. – Ele todo de sorrisinhos com aquelas lideres de torcidas fúteis. – olhou sugestivamente para a roupa que eu estava vestindo, o uniforme dos Sharks. – Ei, eu não sou fútil! – Dei um tapa estalado no seu ombro.
- Talvez o problema esteja ai. – massageava o local onde eu havia batido. Mulherzinha.
- Eu vou ter que agir como uma idiota? Fala a verdade , eu sou insuportável? Eu engordei demais nessas férias, né? Eu sabia que devia ter cortado um pouco o cabelo mas... – Do jeito delicado de ser, ele enfiou a mão na minha boca pra que eu parasse de falar. Olhou-me como se questionasse a permanência do meu silencio e quando confirmei com a cabeça ele riu e me soltou.
- você podia ser uma autista, careca ou está acima do peso, que mesmo assim o ia está aos seus pés, como metade dessa escola. – Depois de ter dito aquilo ele parecia nervoso, e eu já conhecia suas razões. com certeza sabia mais do que havia dito e estava travando uma batalha pra manter o segredo, era só apertar mais um pouco que ele soltava.
- Então, qual o pro... – Ele não me deixou concluir, e disparou a falar.
- O ! – Falou baixo em tom conspiratório, bem próximo a mim. – O acha que se ficar com você está traindo o cara, por que todos aqui sabem que ele é apaixonado por você e que vocês mantêm algum tipo de relacionamento esquisito. – Falou numa rapidez impressionante e antes que pudesse piscar ele prosseguiu. – Ele me fez jurar não contar nada pra ninguém, mas eu não agüentava mais, confio em você, . Tchau. – E saiu correndo pra sala, me deixando com mil coisas pra processar.

A resposta estava em . Eu não tinha nada com o ele. Ok, nós sempre ficávamos, nossas mães praticamente planejam o nosso casamento, mas é só, tudo não passava de uma brincadeira. Nunca achei que nutrisse algum tipo de sentimento por mim maior do que proteção e amizade, até porque ele ficava com diversas garotas, e nunca se importou com o fato de eu fazer o mesmo com os garotos do time.

Agradecendo a boca grande do , eu segui pra sala, sabendo exatamente o que fazer.

- Fiona! – me surpreendeu por trás, assim que ia entrando na minha aula de física.
- Que susto . – O repreendi de todas as maneiras possíveis, odiava levar susto. Só me acalmei quando ele me abriu o sorriso mais charmoso de toda a Londres.
- Tenho uma má noticia. – Disse agora, fazendo uma carinha triste. Cruzei os braços e esperei. – Vou viajar com meus pais, não estarei aqui na sua festa.
- O que? Mas isso é... – “Perfeito!” eu pensei. –... uma droga.
- Não sinta muito a minha falta. – Ele gritou, já indo em direção a sua sala.
- Bom dia, bruxa. – e todo o seu mal humor matinal passaram por mim, mas eu a impedi.
- , eu preciso de você depois da aula.
- Pra que?
- Nós vamos às compras, eu preciso arrasar nessa festa hoje.

Londres – 03 de Outubro de 2008 – 21:23 pm.

- Uou, pra onde você pensa que vai?
- Pra festa da Anne, obvio! Está sabendo de alguma outra por acaso?!
- Com essa roupa? – gargalhou. – Não era nem pra você ter saído do banheiro com isso. Ou melhor, a falta disso.

Analisei-me no enorme espelho que ficava no meu quarto e estava exatamente do jeito que eu queria. O vestido que havia comprado essa tarde era justo, tomara que caia com uma abertura que valorizava os meus seios e não passava da metade das minhas coxas, simples e competente como todo vestidinho preto deve ser. Meus cabelos estavam em um rabo de cavalo bagunçado propositalmente, calçava um lamborghini preto com solado vermelho, maquiagem pesada nos olhos e nude na boca, e pra completar um brinco prata e delicado.

já havia se deitado folgadamente na minha cama, provavelmente esperando eu ir me trocar.

- Para de bancar o ciumento comigo e se preocupa com a sua namorada.
- Eu e a não...
- Namoram? Vocês são um casal, assim como a e o , agora levanta daí e vamos logo.
- De jeito nenhum. Isso tudo é pra fazer ceninha pra o ?
- Não interessa.
- Jéss ele não é tão bobinho como você imagina. E ainda tem o .
- Então foi você que disse a ele que eu e o tínhamos algo?
- Mas não tem? E outra, o próprio percebeu o jeito que o baba por você.
- Não! Urgh, você faz tudo errado , você é meu irmão tem que ficar do meu lado.
- Se eu fizer alguma merda, você vai ficar do meu lado ou do da ? – Arregalei os olhos, assustada mais com a resposta obvia do que com a pergunta. – Bom ai esta sua resposta. Toma, coloca isso e vamos. – Me jogou sua jaqueta de couro e passou por mim, com a mesma calma de sempre, enquanto tudo que eu queria era esganá-lo.
- Idiota. – Disse enquanto vestia aquela maldita coisa que me cobria inteira.
- Mimada. – E a sua paciência ainda estava ali, me irritando ainda mais.

Fomos o caminho inteiro em silencio, nem o som do carro ele ligou e não seria eu a pessoa a fazer isso. Assim que estacionamos seguiu na frente e logo nos perdemos. O clima estava frio naquela noite e pela primeira vez apreciei o ciúme fraterno.

A festa estava realmente bombando, na sala havíamos montado uma boate itinerante, onde o DJ fazia lindamente o seu trabalho, animando uma quantidade realmente grande de pessoas que dançavam, bebiam e se pegavam. Havia um bar do lado oposto a cabine do Dj, mas em meio aos comprimentos daquele povo puxa saco da escola, eu segui direto pra cozinha em busca de algo melhor e caro pra beber.

Abri o freezer e retirei uma garrafa de heineken de lá e me sentei no balcão, apreciando a bebida e balançando os pés, já que aquela não era a hora de aparecer ou fazer meu showzinho, se eu tinha alguma virtude era a paciência. Cinco cervejas depois e conversas chatas com alguns carinhas que passaram por ali, um rosto amigo surgiu.

- ! – Gritei, mesmo sabendo que ele vinha ao meu encontro.
- Estão todos te procurando! E você escondida aqui bebendo?
- Cadê o Estranho?
- Para de chamar ele assim. – estava bêbado, e ria sem parar. – O está lá na sala com a , dois chatos. – Pra chamar a de chata, ele deveria está muito, muito doido. – Me acompanha?
- Quem recusaria uma rodada de tequila com um ?
- Essa é minha garota. – Ele me mostrou um sorriso estupidamente feliz.

Depois de algumas doses, que sinceramente eu não contei, nós fomos pra sala antes que desse um ataque pela demora do namorado.

Ao nos aproximarmos do nosso sempre e eterno grupo, pude ver a cara de poucos amigos de , provavelmente meu amigo não teria um fim de noite muito bom. Já e pareciam se divertir bastante enquanto dançavam abraçados e se beijavam o tempo inteiro, - revirei os olhos para aquela cena patética – pulava e girava embalado na melodia da música e ? Bom ele estava encostado no balcão do bar e incrivelmente mais bonito, ou era a bebida?

Quando já estava chegando perto dele, ele pareceu me notar e me deu um sorriso de canto, digno de rock star. O que está acontecendo comigo? Controle seus hormônios adolescente , controle.

- Ei Estranho. – Apoiei meus cotovelos no balcão enquanto olhava pra pista de dança.
- Você não vai mesmo parar com isso? – O olhei de canto e percebi que ele ainda ria.
- Força do habito. E eu sei que você gosta que eu te chame assim. – Pisquei pra ele.
- Ah é? – Ele disse se aproximando, demais.
- Cadê seu copo? – Perguntei pra desviar do assunto e ignorar o perfume dele. Então ele pegou uma garrafa de água em cima do balcão e levantou.
- Não bebe? – Questionei incrédula, arrancando uma boa gargalhada dele.
- Nada alcoólico.
- É agora que você me conta que ao se formar vai entrar no celibatário? Por que se for eu adoraria te mostrar o bom da vida antes.
- Então talvez eu diga, só pra conhecer o seu mundo.
- Você está flertando comigo, ?
- Você esta se aproveitando de mim porque seu namorado não está aqui, ? – Desfiz o meu sorriso de imediato, já estava ficando irritada com aquela historia.
- O não é meu namorado.
- Eu nem citei nomes e você já sabia quem era. – Falou como se aquilo fosse o assunto mais divertido pra ele.
- Acredite no que quiser, Estranho. Mas essa noite eu só quero uma coisa com você. – Tirei aquela jaqueta, terrivelmente quente, e depois de analisar cada centímetro do meu corpo exposto vi o garoto prender o ar. Sorri e levantei sugestivamente a sobrancelha, me aproximei do seu ouvido e sussurrei. – Dançar. – Ele soltou o ar. – Vem dançar comigo .

E como nos clichês das historias, minha musica favorita daquele ano começou a tocar, estimulando ainda mais os meus sentidos. Se quiser ouvir a música clique aqui!

Segurei a sua mão e o puxei pra o meio da sala. Ao contrario do que eu pensei, tratou logo de segurar minha cintura e começou a dançar. Virei-me de costas pra ele, mas o garoto não me soltou. Desci até o chão, me esfregando propositalmente nele, subi rebolando mais ainda e levantei os meus cabelos presos e joguei a cabeça no seu ombro, dando a ele total acesso ao meu pescoço. Suas mãos percorriam dos meus quadris até abaixo dos meus seios.

- Devia ser proibido você andar por ai assim. – Sussurrou com a voz rouca, transbordando desejo, e eu senti os beijos que começaram atrás da minha orelha e foram por todo o meu pescoço. As coisas estavam indo longe demais e eu estava simplesmente adorando, mas ai a musica acabou e senti os braços de me soltarem aos poucos.

Tudo bem, a noite só estava começando. Depois daquela dança ele faria o que eu quisesse, mas precisava ter certeza.

- Nossa eu to morrendo de sede. – E como eu previa, ele prontamente me atendeu.
- Fica aqui que vou buscar algo pra você beber. – Ponto pra mim, ele estava aos meus pés.
- , você está incrivelmente gostosa hoje, não devia esta dando atenção a um caipira.
- E pra quem eu deveria Jason?
- Alguém como eu. – Era hora do teste numero dois, e obrigada Jason por ser tão babaca e aparecer na hora certa.

Coloquei meus dois braços em volta do pescoço de Jason e logo começamos a dançar. Não que ele soubesse e eu num estado alto de álcool pudesse conduzi-lo, mas o fato de Jason está a todo o momento querendo me beijar era perfeito. Fiz com que nos virássemos e assim eu pudesse ficar de costas pra direção de onde viria, então depois de mais alguns segundos eu senti algo me puxar. Era agora que eu veria o irritadinho.

Virei-me rindo, mas não foi uma cara enfurecida que eu vi, ele sorria sarcástico, estendeu a garrafa de cerveja que havia trazido pra mim e disse no meu ouvido.

- Espero que aproveite essa dança. Está tudo bem, porque eu vou te levar pra casa hoje. – Deu um tapa de leve no ombro de Jason, como se o tivesse incentivando a continuar e voltou pra o lugar onde estava antes de ir dançar comigo.

Gargalhei diante de tamanha coragem e continuei a dançar não só com o Jason, mas com outros garotos que sinceramente nem lembro quem eram. Os olhos de não perderam um só movimento do meu corpo e ele parecia bastante entretido.

Quando não agüentei mais beber e dançar, resolvi me juntar aos meus amigos, mas só restavam ali , e .

- Cadê o resto do pessoal?
- foi embora, disse que eu tinha bebido demais. Ela me odeia. – Ele ria mais do que falava. O era o bêbado mais divertido que eu conhecia.
- Foi sozinha?
- Não, seu irmão foi passar a noite com e a deixaram em casa.
- E com quem eu vou? – Só agora havia percebido que havia me largado ali.
- Comigo. – Disse tentando falhamente se levantar, sentando novamente no banco.
- , meu querido, nós dois não temos condições de nada.
- Quem não tem é o que já apagou no sofá. – Apontou pra nosso amigo, que dormia com a boca aberta, mas ainda segurava uma garrafa de vodca.
- Vamos bêbados, eu vou levar vocês. – se prontificou indo acordar o .
- O Estranho vai levar a gente. – Provoquei.
- Estranho mesmo. – achou aquilo realmente engraçado e durante todo o trajeto não parou de rir. acordou magicamente bem, mas pediu pra ser o primeiro a ser deixado em casa, o que só fariam as coisas darem certo, já que também ficaria lá, me fazendo ser a última.
- Vem pra frente, . – me chamou, depois de levar nossos amigos até a porta e verificar se iam ficar bem.
- pra você, e eu não vou não. – Fiz birra, igual uma garotinha de seis anos.
- Eu vou de motorista seu?
- Eu aposto que você gostaria de fazer muitas coisas pra mim hoje, não é ? – Suavizei meu tom de voz, reduzindo a quase um sussurro.
- Você adora provocar, não é? – Os olhos de me perfuravam através do retrovisor do carro.
- Eu adoro provocar você. Falando nisso, o que foi aquilo na pista de dança? – Me desencostei do assento em que estava e me aproximei do dele, o cheiro que ele exalava era muito, muito bom.
- Aquilo o que? – Perguntou franzindo a testa, mas pude perceber que seus olhos ardiam agora, esperando o meu próximo passo.
- Algo parecido com isso. – E então eu fiz o que eu desejei fazer desde o dia em que o vi. Mordi o lóbulo de sua orelha e fui descendo beijos languidos no seu pescoço, o corpo de estava todo tenso, e eu senti ele engoli em seco. Me curvei ainda mais, até que cheguei onde queria, um sinal que tinha um pouco abaixo da garganta, e ao dar uma leve mordida no local, ouvi um suspiro pesado dele e parei. – Acho melhor a gente ir agora.

Ele virou visivelmente irritado, mas não questionou minha decisão, ligou o carro e seguiu até minha casa.

- Pronto, , está entregue. – Agradeci, mas antes que pudesse abrir a porta pra sair, eu o questionei.
- Você quer entrar ? – Ele ficou assustado com a pergunta.
- Tem certeza? – Apenas dei de ombros e desci, se tudo estivesse ao meu favor em 10 segundos eu ouviria a porta do carro batendo.

Ouvi o barulho que eu queria e os passos de atrás de mim, esperei até segurar a maçaneta da porta de minha casa, o olhei completamente perplexa, tudo parte do plano.

- O que você pensa que está fazendo? – Usei uma voz teatralmente afetada.
- Você me convidou pra entrar. – Ele fez a cara mais fofa do mundo, de quem não estava entendendo nada, juro que de todos, ele foi o que me deu mais dó.
- Não convidei não. – permaneci firme na atuação. – Eu perguntei se você queria entrar. – Eu tinha certeza que ele queria me matar naquele momento. – Obrigada pela carona, boa noite .

Ergui-me um pouco pra dar um beijo em sua bochecha, mas antes de processar qualquer coisa, eu já estava sendo imprensada na porta, enquanto segurava os meus pulsos, de um maneira até rude, ao lado da minha cabeça.

- Eu não sei o que você estava pretendendo pra o fim da sua noite, mas definitivamente ela não termina aqui. – E mais uma vez, eu nem pude pensar, ele soltou meus braços, uma de suas mãos apertaram com força a minha cintura, enquanto a outra se embrenhou no meu cabelo puxando-o pra baixo, deixando o meu rosto levantado para finalmente colar nossos lábios. Sua língua forçava uma passagem e quando abro a boca ela entra habilmente, explorando todos os cantos, a minha língua afaga a dele um tanto receosa, mas quando se uniram, eu senti todo o meu corpo reagi e involuntariamente solto um gemido baixo, acompanhado pelo dele. Nunca havia sido beijado daquela maneira urgente, mas carinhosa, que faziam os sentidos se esvaírem. Aos poucos ele foi parando o beijo, deu uma leve mordida no meu lábio inferior, eu ainda estava de olhos fechados procurando por ar, quando ele colou nossas testas e sua risada me fez despertar pra realidade.

- Alguém já te disse que você é diabo na terra, ? – Sua pergunta me fez abrir os olhos e encará-lo. – Agora sim. Boa noite babe. – Me deu um ultimo selinho e me deixou ali parada, sem olhar pra trás uma única vez.

Londres – 09 de Outubro de 2008 – 08:45 am.

Já haviam se passado seis dias, seis dias desde o beijo, e mais uma vez estava mudando as regras do meu próprio jogo. Claro que o beijo foi uma audácia, mas quem sou eu pra negar que foi bom?

Só que desde o acontecido ele simplesmente passou a me ignorar, mas em um nível bem elevado, parecendo que eu tinha algum tipo de doença contagiosa ou algo assim. Será que tinha sido tão ruim assim pra ele? Qual o problema comigo? Ei, porque estou me importando com o que ele pensa?

Levantei naquela manhã obstinada a saber o que ele pensava, odiava mal entendidos e ia me livrar logo daquele e partir pra outro.

Entrei no colégio e as únicas no nosso lugar em baixo da arvore eram e .

- Bom dia princesas do mal humor.
- Bom dia – Responderam mal humoradas e em uníssono.
- Cadê os meninos? – Cadê o , era isso que eu queria saber na verdade.
- Ainda não chegaram, quer dizer só o . – deu de ombros, enquanto lixava uma unha.
- E onde ele está? – Não agüentei, eu precisava mesmo esclarecer as coisas.
- Com a namorada. – havia desligado o Ipod e agora interagia como gente normal.
- Namo o que? – Tinha certeza que meus olhos estavam arregalados.
- Ele e a Lily estão namorando desde a festa no sábado. – Não contive uma gargalhada, o novato de Wolverhampton acha mesmo que sabe jogar?
- Que bacana. – Minha voz ainda estava em choque, assim como eu. Lily fazia parte das cheerleaders, mas sempre almejou o cargo de capitã, que de verdade nem sei por que pertencia a mim.
- Só eu acho que o está muito ferrado, por algo que provavelmente aconteceu entre ele e a , que nós não sabemos? – começou a falar como se eu nem estivesse ali.
- Não, eu também acho. – foi rápida em responder, então as duas me olharam esperando uma explicação.
- Sem encher o saco, ok? Vou indo pra aula. – Estava irritada demais com aquela noticia, mesmo sem entender muito bem do por que daquilo me afetar tanto.

Entrei na sala e lá estava a Barbie de plástico e o Estranho caipira. Ele estava de costas pra entrada, escrevendo algo no caderno, enquanto a namoradinha falava sem parar tentando inutilmente roubar sua atenção.

- Ah, bom dia . – Aquela voz aguda e irritante chegou aos meus ouvidos e eu quis vomitar.
- Bom dia, Lily. – Abri o meu maior sorriso ao casal. – Bom dia, Estranho. – Prontamente ele se arrumou na cadeira e colocou uma mexa do cabelo platinado da garota atrás da orelha. Revirei os olhos pra cena, me sentei e comecei a colocar meu plano em pratica. Peguei meu celular e comecei a digitar uma mensagem.

“Vem a aula?”

“Já to no colégio”

“Heaven?”

“Indo.”

Sorri pra tela e logo me levantei, pegando minha bolsa e fugindo daquela aula horrível de química.
- A aula já vai começar . – O senhor Morris me alertou enquanto retirava o material de sua pasta.
- Não estou me sentindo muito bem professor, posso ir até a enfermaria? – E mais uma vez as aulas de atuação que havia feito até os 13 anos, me davam uma vantagem enorme na vida.
- Claro, espero que melhore. – Disse visivelmente preocupado. Quando ia saindo, ele me parou novamente. – E o ?
- Como vou saber? Eu estava aqui dentro o tempo inteiro. – E antes de ir, lancei o meu melhor olhar pra o , ergui a sobrancelha esquerda e ele sabia muito bem o que aquilo queria dizer. Ele acabava de retroceder três casas no jogo.


FLASHBACK OFF.

Nova York – 29 de outubro de 2015 – 07:15 pm.

- eu não acredito que você ainda não fez sua mala. – entrou como uma alma silenciosa pelo quarto, me assustando. Estava sentada no meio da minha cama, com as pernas cruzadas em posição de índio, olhando diretamente pra minha mala vazia, que mesmo depois de duas horas, não me davam a mínima idéia de por onde começar.
- Me lembre de pegar de volta a minha chave. – Retruquei seca, voltando minha atenção para o objeto em minha frente.
- Seu vôo sai às nove. – Estava de braços cruzados, provavelmente esperando uma resposta convincente pra está tão atrasada para aquela viagem, mesmo já sabendo as razões.
- Odeio viajar sozinha. – Bufei, jogando o corpo na cama e os braços em volta dos olhos.
- Mas eu só posso ir hoje à noite. – Suas palavras soaram como uma desculpa sincera. Ela afastou a mala e se sentou na cama. – Vai ficar tudo bem, eu também não queria ir, mas não temos escolhas, às vezes temos que passar por cima da nossa dor, em beneficio do outro, e você mais do que ninguém sabe que a e o merecem isso.
- Eu sei, eu estou contente em ir, mas você também sabe que o problema não é esse. - Olhava diretamente pra , ambas buscando, com aquele contato, uma solução para o problema da outra.
- Não estou nada contente em ver o e sei que você não é muito fã do , mas somos adultas agora, vamos ignorá-los. – Deu de ombros como se fosse a pessoa mais incrível por ter tido aquela idéia. - E desde quando ignorar alguém é sinal de maturidade? – Indaguei frustrada.
- Sabe o que mais me doeu do lixo todo que passamos ? Foi o fato de termos que nos afastar pra superar.
- Mas, conseguimos, não é? Olha só pra gente, quem nos via naquele primeiro ano aqui acreditava numa invasão zumbi. – Sorri, tentando acreditar na minha própria mentira.
- Acho que o aumento de água nos oceanos, não foi causado pelos derretimentos das geleiras e sim por nossas lagrimas. – Rimos, tentando conter as emoções que aquelas lembranças causavam.
- E eu sou a exagerada? Preciso me lembrar de contar isso a .
- Nossa como eu sinto falta dela, tudo teria sido mais divertido com ela aqui. – Suspirou saudosista.
- O jamais faria qualquer coisa parecida, ela tem sorte, ta casando com sua alma gêmea.
- Onde será que está a nossa?
- Se analisarmos os últimos anos, a nossa metade foi reduzida a vários cacos e cada um pegou um pedaço. – Falei de maneira maliciosa, e me acompanhou, mas ainda soávamos tristes. Acho que nós duas sabíamos o que aquela viagem poderia fazer conosco. As vertentes estavam nos esmagando, a ambigüidade de sentimentos, felicidade em voltar se misturava ao medo e insegurança.
- Você não poderia resumir melhor a nossa vida amorosa.
- Você é feliz aqui? Nos refizemos nesse lugar, temos uma à outra, mas você está feliz?
- Eu acho que sim, mas só o fato de não ter certeza, já responde sua pergunta?
- Nós temos tudo, conquistamos o mundo, fazemos o que mais amamos e porque eu sinto que nada disso faz sentido? O que nos falta, ? – O desespero era explicito em minha pergunta.
- Amor. – Ela me encarou séria, e vi uma lagrima solitária escorrer pelo seu rosto. – Amor de amigos verdadeiros, de família. – Agora o rosto claro e franzino de minha amiga estava molhado pelas emoções. – Amor que só encontramos no nosso lar.

Levantei-me e depois de pegar uma caixa de madeira branca, que nunca havia tocado desde que chegara à América, eu a abri. Várias fotos estavam empilhadas ali e a primeira me fez derramar lagrimas. Aquela era a minha vida, nossa turma reunida num dos raros dias de sol de Londres, tomando banho de piscina na minha casa.

O e tinham garotas em cima de seus ombros, que sinceramente não lembro os nomes, segurava a cintura de por trás, enquanto esta mantinha a cabeça em seu ombro seus cachos loiros e compridos pareciam iluminar o seu rosto, enquanto ela dava língua pra foto. e estavam ao lado, ele beijando sua barriga de oito meses, já eu e estávamos no canto direito, fazendo uma espécie de guerrinha porque ele queria me “afogar”. Eram dias como aqueles, sem preocupações, responsabilidades ou horários que eu não me permitia recordar, pra não enxergar a droga que era minha vida atualmente. Nós nos perdemos tanto durante esses anos, e se aquela foto fosse tirada hoje, o amor de e seria reafirmado ainda mais com a presença de Jazzy ali, certamente novas garotas estariam com o e , e também teriam novas companhias. Enquanto e eu nos resignamos a manter distancia.

- Sinto falta de tudo. Eu olho pra o passado e as coisas eram tão mais fáceis, como se o “felizes para sempre” existisse. – Limpei lagrimas que insistiam em cair, sentei novamente na cama recebendo o abraço de . – Eu sinto saudades de casa.
- Às vezes eu tenho a sensação de que nunca saímos de lá. Pelo menos não os nossos corações.

E mais uma vez naquele dia ela tinha razão.

- Será que exageramos?
- Absolutamente não, nós precisávamos disso. Você mais do que ninguém precisava sair daquela cidade, principalmente depois do... – Imediatamente a interrompi.
- Mais uma vez quero te pedir pra que nunca mais toque nesse assunto. – Soou mais como uma ameaça. – Por favor.
- O precisa saber .
- Nunca, me ouviu bem? – Fingi não escutá-la. – E eu não vou ter essa conversa com você de novo.
- Tudo bem. – Levantou os braços em sinal de rendição. – Vamos deixar as frustrações e mágoas pra trás e vamos casar nossos melhores amigos. Então ela se levantou, colocando roupas na minha mala.

Sorri de lado, não conseguindo sentir raiva daquela loira chata, que fora tudo pra mim nos últimos anos. Amiga, irmã, empresária, mãe... Havia sido incrível tê-la comigo todos aqueles anos em que eu mais precisei, e sabendo dos esforços que ela já fez pra não voltar e me deixar sozinha. O fardo de seu passado era bem mais leve que o meu afinal de contas.

- Eu te amo, . – Não éramos muito disso, mas estávamos fechando um ciclo, eram somente três semanas e mesmo não querendo admitir, assim que colocasse meus pés em Londres tudo iria mudar.
- Ta bêbada? – Questionou falsamente surpresa me fazendo revirar os olhos. Depois sorrio sincera pra mim. – Eu também te amo, e nem sei o que seria de mim sem você.

Londres – 29 de outubro de 2015 – 22:22 pm.

Depois de 1986 dias, há exatas 1 hora e 17 minutos eu estava em Londres. Ao desembarcar, peguei minhas duas malas, enfrentei alguns paparazzi na saída, eles nunca se cansavam, e mesmo cega pelos flashes um dos seguranças do aeroporto, que me acompanhava, me conseguiu um taxi.

Durante o trajeto para aquele apartamento, eu não quis fazer nenhum tipo de analise da cidade, nem mesmo o clima eu me permiti pensar. Hoje eu só precisava vê-lo.

O porteiro, um senhor de uns 50 anos, mas com conservadorismo de 90, não me permitia subir sem avisá-lo e assim conseguir fazer uma surpresa, então tive que apelar para uma ligação, pra que alguém de sua família me autorizasse ao tal senhor.

Feito isso, agora estava perto. Encarei a porta do apartamento 803, e senti um suor gelado escorrer pela minha testa. Apertei a campainha, uma, duas, três vezes, na quarta eu ouvi um resmungo lá de dentro e a porta se abriu.

- Entrega especial direto de New York City! – Dei um gritinho histérico e levantei uma garrafa de vinho que estava em minha mão direita abrindo o meu maior sorriso, ao ver sua cara de espanto e sono.
- Só uma garrafa? – Me questionou rindo e se refazendo do susto. Então levantei a garrafa que estava na mão esquerda e o sorriso dele se alargou. – Cara como eu senti a sua falta.

Pegou-me pela cintura e me rodou, enquanto eu tentava não quebrar as bebidas e abraçá-lo o suficiente pra mandar embora aquela tristeza que estava sentindo, agora eu sabia que ficaria bem, eu havia voltado pra casa.


Capítulo 03

There’s a fire starting in my heart. Reaching a fever pitch, it’s bringing me out the dark." Rolling in the deep – Adele.

FLASHBACK ON:

Londres – 10 de outubro de 2008 – 16:22 pm.

Havia chamado pra irmos até uma cafeteria e de imediato ele aceitou, eu estava nervosa com a conversa que teríamos uma parte de mim, a racional, sabia que por nós dois, eu deveria confrontá-lo e se o que tinha me dito fosse verdade, tudo acabaria ali; mas a outra parte, a emocional e egoísta, sabia que se afastaria e de maneira nenhuma queria isso.

Estávamos em seu carro, indo pra minha casa, rindo das bobagens que criávamos sobre as pessoas que passavam na rua, mas meu sorriso se desfez assim que paramos e eu sabia que não poderia mais fugir.

- Nós precisamos conversar. – Falei de uma vez antes de desistir.
- Depois do ensaio eu subo até o seu quarto. – se esticou no banco e me deu um beijo casto nos lábios, mas eu o puxei pelo pescoço e intensifiquei o beijo, meu coração estava apertado, eu sentia que aquele seria o ultimo. Ele sorriu assim que partimos o beijo, e quando fez menção em sair do carro, parou ao me ouvir falar.
- Não. Precisa ser agora. – Adotei uma postura séria e pelo semblante de , ele estava preocupado.
- Aconteceu alguma coisa?
- , nós somos amigos há 15 anos, eu sempre confiei em você, provavelmente você sabe mais a meu respeito do que qualquer outro do nosso grupo de amigos e isso incluem e a . – Eu estava enrolando, buscando as palavras certas, eu não queria magoá-lo ou causar uma impressão errada. assentiu me encorajando a continuar. – Mas eu preciso saber de você. – Engoli em seco. – Você só gosta de mim como amigo não é? Essa história de que está apaixonado por mim é tudo mentira, certo?
- Que tipo de pergunta é essa?
- Só me responde , você sente algo a mais por mim?
- Olha ... – Ele passou as mãos pelo cabelo, puxando alguns fios e eu sabia que ele iria mentir pra mim.
- Só seja sincero comigo. – Pedi e a respiração de ficou pesada, ele segurou a minha mão e olhou no fundo dos meus olhos.
- Eu te amo. Estou completamente apaixonado por você, e acho que sempre estive. – Riu nervoso, mas pela expressão dele, estava tirando um piano das costas ao assumir tudo aquilo. Já eu estava sem palavras, não sabia como agir naquela situação, se fosse um cara qualquer eu tinha o discurso perfeito, saberia como enrolá-lo, mas ali não era um cara qualquer. Era . Meu melhor amigo. Eu o amava e não queria vê-lo longe de mim.
- Mas... – Tentei dizer alguma coisa, assim que reparei que estava muda o encarando a tempo demais.
- Agora é a sua vez de jogar limpo aqui. Por que me perguntou isso? – Ele sorria lindamente pra mim, provavelmente achando que aquela seria uma conversa positiva, onde eu revelaria que também estava apaixonada e viveríamos felizes pra sempre. Mas eu não estava apaixonada, até gostaria de está naquele momento, já que eu sabia que a mulher que amasse seria a mais sortuda do planeta, infelizmente eu não era essa mulher.
- isso está errado. – O sorriso dele morreu. – Nós somos só amigos e ...
- Aonde você quer chegar ? – estava começando a se exaltar e foi direto ao ponto, então eu também iria.
- Nós temos que parar de ficar, isso não vai ser bom pra nenhum de nós dois.
- É por cauda dele? – apontou pra que estava com um violão nas costas entrando em minha casa. – Ele não esta caindo no seu jogo por minha causa e você esta me dispensando? É isso?
- Para de ser ridículo, eu não tenho e nem quero ter nada com o . Isso aqui não é um jogo , eu jamais faria isso com você, por isso acho melhor acabar aqui e não destruir nossa amizade. – não tinha absolutamente nada haver com nossa história, pra falar a verdade eu já havia desistido de jogar com ele. que fizesse bom proveito de sua namorada.
- Você já esta fazendo isso. – berrou e eu me encolhi no banco.
- Eu não quero que você saia da minha vida , você é o meu melhor amigo.
- Para de me chamar de amigo, eu to cansado! Cansado de ter que fingir que não me incomodo em ver você com outros! Cansado de ouvir você falando sobre eles! Eu to apaixonado por você, porra! – Bateu a mão direita com força exagerada no volante, e olhou pra mim, esperando uma resposta.
- É complicado, eu...
- Me dá uma chance? – Sua voz agora era doce e esperançosa. – Vamos ficar juntos de uma vez Jéss.
- Eu não posso, será que você não entende que eu estaria te magoando bem mais? – Agora era a minha voz que estava alta.
- Então por hora nós realmente acabamos aqui. – Gritou em resposta.
- ? – Aquela era um pergunta subliminar a minha incredulidade diante dos fatos: Ele ia mesmo deixar a nossa amizade de lado.
- É melhor você ir agora. – Respondeu, assumindo uma postura rígida, olhando pra frente, enquanto esperava que eu saísse do carro.
- Eu sinto muito. – E realmente sentia. não ficaria pra o ensaio e vê-lo se afastar da musica, mesmo que por uma tarde fazia meu remorso aumentar consideravelmente. Assim que ia fechando a porta, ele me encarou e disse:
- Não pense que eu estou desistindo de você. Eu acho que vou te amar pra sempre .

Londres – 19 de outubro de 2008 – 09:59 am.

Nossa primeira competição de líderes de torcida começava em duas semanas, e como nada estava certo com a coreografia, marquei ensaios todos os dias da semana, era um sacrifício, que seria recompensado quando ganhássemos o terceiro troféu consecutivo de campeãs estaduais. Mas no primeiro domingo a minha melhor amiga não apareceu e foi praticamente impossível ensaiar uma coreografia dolorosamente criada pra dez garotas, quando só nove aparecem. Era bom que tivesse uma boa desculpa pra ter faltado – como sua morte prematura aos 17 anos – ou eu mesma a mataria.

- Mirr é bom que você já esteja acor... – Deixei minha frase morrer ao encontrar minha amiga sentada numa poltrona que havia em seu quarto, toda encolhida encarando seriamente a parede à frente. – Você estava acordada esse tempo inteiro, porque não foi ao treino?

Quando ela finalmente virou seu rosto em minha direção, eu vi que algo de muito grave tinha acontecido, abaixo dos seus olhos havia enormes olheiras, seu semblante era uma mistura de dor e decepção, e um choro silencioso lhe escapava.

- Amiga o que aconteceu? – Me aproximei dela e ela me abraçou forte, chorando tanto que parecia que ela só estava esperando por alguém ali pra ela. Afagava seus cabelos, e aos poucos os soluços que acompanhavam o seu desespero foram cessando.
- Obrigada. – Sua voz quase não reverberou.
- O que aconteceu? – Ela respirou fundo, se preparando pra começar.
- Os meninos tocaram ontem naquele pub, e eu voltei cedo por causa do treino. – Concordei com a cabeça, esperando que ela continuasse. – Então nessa madrugada eu recebo um telefonema do , claramente bêbado, chorando e dizendo... – Ela não conseguiu terminar e aquilo já estava me deixando preocupada de verdade.
- Ele está bem? Aconteceu alguma coisa com ele ou com os meninos? Fala !
- Ele me disse que tinha ficado com a Lily. – Dei risada, aquilo só podia ser alguma brincadeira.
- O que? Deu pra usar as drogas do agora? Que história é essa?
- Quando ele me contou, eu achei que fosse algum tipo de aposta idiota que eles sempre fazem, até o mandei ir pra casa, mas ele passou a manhã inteira na minha varanda pedindo perdão. Ele me traiu .
- Mas... – Eu ainda não conseguia acreditar, aquilo não era do feitio de , eu via que ele amava mais do que tudo.
- Ele é um idiota! Eu só queria tirar essa dor que eu estou sentindo aqui dentro. Me faz esquecer ele , por favor. – A abracei de lado, sem saber direito o que dizer, odiava ver qualquer amiga minha daquele jeito, já estava sentindo a sua dor também.
- Calma. Vocês precisam conversar.
- Eu nunca mais quero olhar pra cara daquele menino. – Falou com raiva e mágoa.
- Ei, o errou feio, mas eu sei que ele te ama, dá pra ver, dá pra sentir.
- Ama? Me traindo? Me poupe , nem você acredita nesse discurso, certa estava você em não se apaixonar. – Ignorei a fúria das palavras de , aquele era o momento dela.
- E acabo perdendo toda a diversão, certo? – Me levantei indo até o seu closet e procurando algo que prestasse ali dentro. – Eu vou saber dessa história direito, e você vai conversar com o , ok?
- Eu não quero.
- Não estou negociando. – Ela bufou irritada, mas eu não me importei, precisava animá-la. – Nós vamos sair, e se vocês não conseguirem se acertar, vai ter um monte de garotos lindos lá pra você. – Coloquei a cabeça pra fora do closet e a olhei sorrindo. – Bom... pra nós duas.
- Eu não estou a fim de sair. – Se jogou em sua cama.
- Isso também não é negociável. E pode deixar que eu trago uma roupa minha pra você. – Disse desistindo de achar algo que uma garota normal vestiria, digo desistindo de achar algo que não fosse preto.
- Qual o problema das minhas? – Ela estava levemente ofendida.
- Você precisa está fazendo a linha “eu sou muito sexy, se continuar sendo um idiota vai me perder”, e não “eu sou uma roqueira, ouvindo músicas sem sentido em busca de salvação”. – Ela riu.
- Só você pra conseguir me animar.
- Vamos ligar pra e ...
- Não! Não fala nada pra ela ainda. – Eu entendia a , quando soubesse de toda essa confusão, iria exigir o termino imediato desse namoro. Ela sempre era dura e justa, era oito ou oitenta.
- Tudo bem, quando você achar melhor, você mesma conta. – Pisquei pra ela, e a vi esmorecer novamente, então sentei ao seu lado.
- , você acha que o só estava comigo por que meu pai é produtor musical, e seria mais fácil pra lançar a banda deles?
- Para de ser ridícula, você sabe que não só o como qualquer um dos garotos, não iriam se submeter a isso.
- Eu sei, mas, meu Deus , eu não sei mais o que pensar. – Puxou os cabelos e balançou a cabeça frustrada.
- Não precisa amiga, eu nunca me apaixonei antes, mas eu acho que vale a pena lutar por aquilo que amamos, tenta se acertar com o , não estaria incentivando se achasse que não valesse a pena.
- Eu sei, obrigada.
- Agora levanta, sai dessa bad, toma um banho, e às 18 horas eu venho pra gente se arrumar, ok?
- Ok.
- Amo você. – Dei um beijo estalado em sua bochecha, a abracei e sair.

Londres – 19 de outubro de 2008 – 11:11 am.

Cheguei em casa, e por azar os meninos não estavam ensaiando lá, depois de andar em círculos no meu quarto por uns minutos, eu decidi tomar as rédeas da situação, então liguei pra .

- ! – Quase rosnei pra ele.
- Ah... oi . – Ele tentou parecer animado, mas só o remorso deu o ar da graça. – Você está no viva voz, estamos tentando escrever uma música, quem sabe você não nos inspira.
- Hum... espero que ajude. – Ouvi o murmurinho de uma sala cheia de babacas, meu sangue estava fervendo e se eu visse na minha frente eu o esganaria. – VOCÊ É UM COMPLETO IDIOTA! – Berrei. – Que porra você estava pensando quando ficou com a Barbie do satanás? Só vou te dar um aviso , ou você conserta essa merda toda com a , ou eu juro por Deus que MATO você.
- Mas ...
- Nem tente defende-lo , e cala a boca que eu ainda não terminei. – Do outro lado eu só escutei silencio, conferir pra ver se não havia desligado e como eu queria todos ainda estavam me ouvindo. – Hoje à noite eu vou levá-la numa festa da Morley College, trate de aparecer lá e ser gentil, ou seu assassinato será o mais horripilante desde a era Jack o estripador, e é bom que eu esteja no viva-voz pra que seus amiguinhos possam testemunhar a minha ameaça. – pigarreou, então voltei pra minha voz doce de sempre. – Pronto, era só isso, voltem pra música, amo vocês.

Londres – 19 de outubro de 2008 – 23:44 pm.

Eu estava parada ali no meio do nada, e me sentia um completo lixo. Eu estava conduzindo a minha vida do modo mais descuidado e egoísta possível. A festa tinha sido legal até certo ponto, havia aparecido e saído pra conversar com , pelo menos acho que eles iriam se acertar. Eu não havia bebido muito, mas quando comecei a ver tudo embaçado, pedi ao Nick, um estudante do terceiro semestre de engenharia, pra me levar pra casa, não iria provocá-lo, sem jogos essa noite, só precisava dormir. Tentei impedi-lo quando percebi que não estávamos indo pra casa, tentei impedi-lo de me beijar, tentei impedido de passar a mão nas minhas pernas e levantar a minha saia, e quando conseguir socá-lo, ele me empurrou pra fora de seu carro, me largando ali.

Talvez a proteção que construir pra não desmoronar diante do mundo, era justamente o que estava me destruindo, eu não queria mais me sentir perdida ou sozinha, eu queria ser encontrada, mais do que isso eu precisava ser salva, do meu próprio ego, precisava sentir o amor que nunca me foi dado.

O fato de não sermos uma família de verdade há alguns anos poderia ser justificativa. Minha mãe não se preocupava com nada além de gastar futilmente o dinheiro, meu pai mesmo amoroso e protetor só vivia para o trabalho e também poderia ficar mais perto, não, o problema estava em mim, e minha incrível habilidade de afastar as pessoas.

Quem olhava a minha vida a enxergava perfeita, eu era popular, tinhas os melhores amigos que alguém poderia querer, tinha dinheiro suficiente pra umas duas gerações futuras, era saudável, mas algo me faltava, era alguma coisa que nada dos itens citados foi capaz de me proporcionar. Eu não tinha as respostas que todos esperavam, eu não era perfeita, eu cometia erros como todo mundo, e sinceramente com os meus 17 anos, eu queria continuar cometendo.

Sempre achei que se apegar a alguém pra algo além de amizade sincera era uma burrice, pois quando você se apaixona você não consegue escolher o que é melhor pra você, você se torna fraca, indigna, pra não dizer no mínimo boba. Mas não minto que receber um sentimento protetor era algo que invejava, às vezes.

Depois de caminhar um pouco, minhas pernas falharam rendendo-se finalmente ao cansaço, encostei-me em uma arvore, segurei o meu joelho na altura do meu rosto e me permitir chorar, o máximo que eu podia, meus soluços rasgavam a minha garganta e eu não me importava, desejava ser outra pessoa, ter um porto seguro, alguém no mundo pra mim.

Um trovão estrondou no céu no instante em que uma chuva grossa começava a cair também não me importei com aquilo e me mantive no mesmo lugar, até o momento em que percebi o meu queixo bater incontrolavelmente de frio, não consegui me levantar, estava tonta, fraca e sozinha, peguei meu celular e liguei pra , sabia que ele estava chateado pela nossa discussão, mas sabia que me atenderia. Considerei isso, até o momento em que o mesmo rejeitou minha ligação pela terceira vez, prova de mais uma coisa que destruir. e como previsto estavam com seus celulares desligados, não saberia dizer se por estarem no meio de uma briga acalorada, ou de sexo por reconciliação. Liguei pra e depois do quinto toque ele atendeu.

- Oi chata.
- , será que você...
- O que você tem? Está com uma voz estranha.
- Eu prec...
- Você acredita que o meu pai vai finalmente me financiar aquele curso de música? Estou indo falar com ele agora, posso te ligar depois?
- Mas é que...
- Sabia que iria entender. Beijos e fica bem.

Ficar bem? Mas como porra eu vou ficar bem, nessa droga de tempestade? Liguei pra e pra o e seus celulares chamavam, mas eles não atendiam, considerei por segundos engolir o meu orgulho e ligar pra , mas como o pensamento surgiu, ele se esvaiu. Não tinha mais ninguém a recorrer, e depois de insistir finalmente atendeu.

A voz que ouvi me deixou confusa, não imaginaria que logo ele fosse me atender.

- ?
- ?
- Você está com o ? Preciso falar com ele.
- Não, ele saiu com a e com o , e acabou deixando o celular aqui. Que voz é essa? Onde você está?
- Eu precisava que ele viesse me buscar, se você o ver pode pedir pra ele retornar minha ligação?
- Onde você está? – Ele ignorou o meu pedido.
- Em algum lugar do Parque St. James.
- O que está fazendo ai em uma tempestade? Ficou maluca?
- Só passe o meu recado se o ver, certo? Obrigada .
- Esper...

Não esperei pra ouvir o que ele disse, naquele instante eu não me importava se fosse morrer naquele lugar, abaixei a minha cabeça e esperei o meu destino. Alguns minutos ou horas, não saberia dizer, um farol alto de carro se sobrepôs em meio a toda aquela escuridão.

- ?

Levantei minha cabeça me deparando com um aparentemente nervoso, descendo correndo do carro. Uma paz me abateu ao ouvir uma voz conhecida e só de encarar seus olhos o meu corpo se aqueceu.

- Por Deus, você está bem? – Ele se agachou encarando meu semblante com preocupação. Eu apenas neguei com a cabeça.
- Alguém te machucou? – Novamente neguei enquanto ele analisava o meu corpo tentando entender o que me levaria àquela situação. – Vem, vou cuidar de você. – Aquilo saiu em um sussurro, ele me pegou nos braços e me levou até o carro, ao entrar ligou o aquecedor e se virou pra mim. – Retire a maior parte dessas roupas molhadas, eu tenho uma manta aqui no fundo.

Obedeci ao que ele disse, retirando o meu casaco e uma blusa mais grossa que usava, ficando somente de saia e regata.

- Estou com muito frio. – Disse enquanto tremia e tentava inutilmente me aquecer.
- Vem, deixa eu te esquentar. – Me envolveu com uma manta grossa, segurando minhas duas mãos esfregando uma na outra e depois beijando delicadamente cada um dos meus dedos. – Está melhor? – Perguntou preocupado.

Eu só me aninhei mais ainda em seus braços segurando firme a gola de sua camisa e chorei. estava ali cuidando de mim, me protegendo de uma maneira que ninguém nunca o fez. Eu estava segura e não sabia por que, mas ele me confortava muito.

Enquanto chorava ele não disse absolutamente nada, só afagava os meus cabelos me abraçando apertado e esperando o meu momento passar pacientemente. Ficamos daquele jeito por um tempo até que eu me acalmei e me afastei.

- Desculpe.
- Não se desculpe. Você está melhor?
- Estou. Obrigada . – Ele assentiu e ligou o carro. – ?
- Oi.
- Não quero ir pra casa.
- Tudo bem, não irá. – Sorri e me recostei no banco, sentindo meu corpo implorar por descanso, minhas pálpebras pareciam pesar toneladas, segurou minha mão pra me mostrar que estaria ali quando eu acordasse e então eu apaguei.

(...)

- Está tudo bem mãe, é só uma amiga, ela vai passar a noite aqui.
- Tome cuidado . – A voz tranquila de uma mulher reverberou, mas eu não a conhecia.
- Não se preocupe, eu tomarei.
- ? – Juntei todas as forças que consegui, mesmo com os olhos fechados podia senti-lo me carregando no colo.
- Shiiii. – Apaguei de novo.

(...)

Quando abrir os olhos estava num lugar que eu nunca havia ido, a porta se abriu e eu logo vi o olhar preocupado de .
- Como está se sentindo?
- Bem melhor. – Tentei me levantar, mas desistir da ideia, meu corpo inteiro doía. – Onde estamos?
- Você disse que não queria ir pra sua casa, então te trouxe pra minha, espero que não se importe.
- Não me importo.
- Você precisa tirar essas roupas e tomar um banho. – Sentou-se ao meu lado na cama, retirando uma mecha do meu cabelo do rosto. – Já coloquei toalha limpa no banheiro e aqui tem uma roupa minha pra você se trocar. – Assenti aproveitando o carinho que ele fazia na minha cabeça. – Tome esse remédio, alguém deve ter batizado a sua bebida e amanhã você não acordará com muita dor de cabeça. – Me entregou um comprido médio e azul. – E esse aqui pra não ficar resfriada. – Me entregou um comprimido pequeno e branco.
- Você já tomou?
- Não preciso. – Quis bancar o durão, típico dos homens.
- ... – Eu não ia me aquietar enquanto ele não tomasse o remédio, era o mínimo de cuidado que poderia ter com ele naquele momento.
- Tudo bem, eu irei tomar. – Sorri, tomei os remédios, esperei que ele fizesse o mesmo e só depois entrei no banheiro.

O banho estava quente do jeito que eu amava, mas fui rápida, pois eu ainda me sentia indisposta e sonolenta. Quando saí estava sentando em uma poltrona ao lado da cama.

- Estava te esperando, precisa de alguma coisa? – Mantinha um sorriso tão terno no rosto que me senti abraçada.
- Não. – Dei risada e ele ficou confuso, mas riu junto.
- Do que está rindo?
- Um suéter e uma cueca?
- Não tinha nenhuma outra coisa, e a minha boxer ainda estava com a etiqueta.
- Eu sei, só estou brincando com você. Está perfeito.
Senti o garoto me avaliar, estava apenas de boxer, sutiã e um suéter que cobria só metade das minhas coxas, depois de um suspiro, ele finalmente disse alguma coisa.
- Realmente. Está perfeito. – Levantei uma sobrancelha, sem entender o tom que ele havia usado. – Bom, – Disse se levantando. – durma bem, se precisar de mim estarei na última porta a esquerda.
- Onde você vai dormir? – Eu quis saber enquanto me deitava na cama, e tentava me aquecer entre as cobertas.
- No quarto de hospedes, aproveita que hoje eu estou bonzinho e vou te deixar dormir na minha cama. – Quando ele tocou a maçaneta da porta, parou com o meu chamado, virando-se pra mim.
- Fica comigo? Não quero ficar sozinha.
- Tem certeza? – Ele estava em algum tipo de conflito.
- Claro, e assim você não precisa sair do conforto de sua cama.
Ele riu um pouco sem jeito e começou a tirar sua roupa, ignorei completamente o fato dele está só de boxer e esperei ele se deitar ao meu lado.
- Boa noite .
- Estranho? – Me virei pra ele e encarei seus olhos. – Obrigada por tudo, eu não queria chorar, é só que...
- Shiii, já disse que não precisa agradecer. E chorar não é sinal de fraqueza, não.
- Eu me sinto perdida. – Novamente eu estava chorando, encarar aquilo tudo era frustrante e mesmo com todo o apoio eu ainda me sentia sozinha.
- Vem cá. – Ele nos aproximou, me colocando eu seu peito enquanto me abraçava. – Não precisa se sentir assim, eu estou aqui agora pra você, e sempre que se sentir sozinha vai ser uma honra se você lembrar-se de mim.
- Eu irei. – Ele beijou minha testa.
- Dorme, esquece tudo e dorme. – Fechei os olhos, ignorando as lagrimas e inalando o perfume maravilhoso que vinha de , que me acalmava tanto, quando já estava quase dormindo, o ouvi sussurrar uma música.

When your day is long
Quando seu dia é longo
And the night the night is yours alone
E a noite - a noite é solitária,
When you're sure you've had enough of this life
Quando você tem certeza de que já teve o bastante desta vida,
Hang on
Continue em frente

Don't let yourself go
Não desista de si mesmo,
'Cause everybody cries
Pois todo mundo chora
And everybody hurts, sometimes
E todo mundo se machuca, às vezes.

- Eu adoro sua voz.
- Então, eu irei sempre cantar pra você.

Sorri agradecida e foi então que comecei a enxergar uma saída, uma direção pra minha vida, o que havia acontecido mais cedo era irrelevante agora, diante desse momento. Ali nos braços de o ouvindo cantar pra mim, o mundo parecia que ganhava cor.

- Agora dorme. – Sussurrou, e sucumbi ao seu pedido.

Londres – 20 de outubro de 2008 – 09:54 am.

Estava com os olhos fechados, mas já havia acordado, a sensação de ter alguém me encarando era algo que já estava me incomodando, abrir os olhos e estava parado com um sorriso tímido nos lábios.
- Bom dia, .
- Bom dia. – Minha voz saia rouca e entrecortada. Além de estar morrendo de sono ainda, morria de vergonha pela noite passada. – Que horas são?
- Quase 10. Você parecia cansada, então vamos deixar pra ir somente à segunda aula, tudo bem?
- Por mim eu nem ia. – Me espreguicei, mas acabei caindo na cama novamente.
- Para a rainha da popularidade, você falta muito à escola. – estava com os braços cruzados, encostado à porta do banheiro e não conseguia conter um sorriso. Ele parecia estar de bom humor, o cabelo estava perfeitamente bagunçado, agora vestia uma calça de moletom e seu rosto mesmo tranquilo parecia cansado, os olhos totalmente pregados em cada movimento meu. estava mais lindo do que nunca, precisava ficar sem camisa o tempo inteiro?
- Viu? Mesmo na ausência sou a atração principal. – Fiz uma cara de superioridade, tentando disfarçar o nervosismo e os pensamentos impróprios. – Preciso ir pra casa, tomar um banho, devolver suas roupas. – Emendei saindo relutante da cama mais confortável da Inglaterra.
- Fica com elas, está bem melhor em você. – Percebi um tom considerável de malicia no seu comentário, mas não deixaria transparecer.
- Obrigada. – Sarcasmo mode on. – Você é bem gentil quando quer, Estranho
- Sabe que estava pensando a mesma coisa da senhorita? – Dei língua pra ele, e comecei a admirar seu quarto. – O deixou uma roupa aqui pra você.
- Ele sabe que eu dormir aqui? – Arregalei os olhos assustada, claro que eu sabia que iam dar falta de mim, mas a desculpa de dormir na casa de uma das meninas ainda colava.
- Claro, eu liguei pra ele ontem avisando. – Falou como se estivesse comentando sobre o clima.
- Droga! – Bati o pé no chão e mais uma vez me joguei em sua cama.
- Fica tranquila, eu não falei muito sobre o que aconteceu, porque bom, eu não sei o que aconteceu. – Reprimir todas as imagens da noite anterior, antes da chegada do , e tentei parecer calma. – Ele ficou preocupado, mas entendeu a situação e disse que depois vocês conversariam. – Assenti. – Mas talvez seu namorado se importe.
- Eu não tenho namorado. E se você está falando do seu melhor amigo , eu nem o vi durante essa semana.
- Se você diz. – Ele parecia estar me desafiando ou me perguntando com o olhar o que havia entre e eu, mas porque aquilo o interessava tanto? Vendo que nada sairia da nossa troca ferrenha de olhares ele continuou. – Bom, a toalha que usou ainda está no banheiro, e sua roupa também já está lá.
- Obrigada. – E dessa vez não estava só agradecendo pela comodidade de seu lar, mas também de sua atenção, sua amizade, e ele pareceu entender.
- Sempre que precisar lembra? – E eu também havia entendido que ele já não me deixaria mais sozinha.

Entrei no banheiro, tomei banho, me troquei e quando saí fiquei analisando cada centímetro daquele quarto, tudo tinha sua cara, seu cheiro, era simples, mas acolhedor e imponente. As paredes eram pintadas de um azul não muito escuro. Tudo estava meticulosamente no lugar, seus CDs, coleções de livros que pareciam entediantes de tão grandes, revistas em quadrinho do Batman, e uma coleção de bonecos de toy story, eu rir alto com aquilo. Não saberia dizer se esse cômodo era sempre assim, mas a organização era algo admirável, principalmente por não ter nascido com essa qualidade.

Deparei-me com uma salinha, um tanto escondia, onde pude ver dois violões e uma guitarra, adentrei sem me importar em parecer muito intrometida. Então seguindo o cheiro maravilhoso que se instalou, olhei pra trás e lá estava já arrumado pra escola.

- Você tem um Taylor? – Ele assentiu com a cabeça, rindo da minha expressão de espanto. – Posso? – Mais uma vez ele concordou. Peguei o violão e fiquei impressionada por ainda conseguir tirar umas notas.
- Você toca bem. – Sua confusão era evidente, acho que ele não imaginava que a fútil da escola soubesse algo sobre música.
- Não precisa me bajular, Estranho.
- Sei disso. – Senti uma ironia em sua frase, mas ignorei.
- Você tem um tesouro aqui, é rico e eu não sabia?
- Só faço bons investimentos com a minha pequena mesada. – O olhar dele era impassível, ele queria dizer mais alguma coisa. – Qual é , vai me dizer que você não gastaria até toda a sua vasta fortuna com alguma coisa que signifique bastante pra você, mas que seja completamente supérfluo se compararmos com aqueles que passam fome? – “Claro que tinha, roupas!”

document.write(Liam) me deixava mais sincera do que era habitualmente.
- E o que seria? – Perguntou curioso, mas era como se ele já soubesse.
- Talvez um dia eu te conte. – Provoquei.
- Talvez nem precise. – Rebateu.

Londres – 20 de outubro de 2008 – 10:22 am.

Não havia ninguém na casa de , além de nós dois, ao sairmos não conversamos muito, mas talvez não fosse preciso, era fácil está em sua presença e ser eu mesma sem constrangimentos ou palavras entrecortadas. Paramos numa cafeteria próxima ao colégio e tivemos que correr pra nos livrarmos da fina chuva que começara a cair.

- Bom dia, gato, vai querer o de sempre? – Uma garçonete morena, com uniforme dois números menores que o ideal, veio nos atender com um sorriso sínico no rosto, mascava um chiclete e se balançava provocante, enquanto segurava o bloco de pedidos.
- Oi Tara, sim eu vou querer o mesmo e... – Quando o garoto não definiu quem eu era, o sorriso da tal Tara cresceu tanto que parecia que ia rasgar sua face. Aquilo me incomodou, nem o meu nome ele havia mencionado, tudo bem que aquilo entre nós era novo, mas ele poderia ter me apresentado como a amiga que estava me tornando.
- Só quero um chá de maracujá e um muffin salgado. – A garota que nem me olhava, piscou pra e se retirou. Já ele me encarava rindo.
- O que foi?
- Não te imaginava bebendo chá. Você tem mais cara de...
- De... – O incitei a terminar.
- Café forte e sem açúcar. – Disse divertido tamborilando na mesa.
- Eu deveria me ofender? – Já estava ficando ofendida, até a resposta dele.
- Não, só fiz uma idiota relação com a sua determinação. – A sinceridade estava implícita no seu olhar.
- Pois saiba meu caro amigo , eu amo chá, qualquer um deles, desde que não tenha açúcar.
- Sabia! – Gritou, batendo as duas mãos no alto, enquanto gargalhava. Acho que nunca o tinha visto daquele jeito descontraído e alegre, pelo menos não na minha presença. – Acertei! Você não toma açúcar.
- Só não tomo no chá. – Sem tirar o sorriso convencido dos lábios, ele deu de ombros.

A garçonete que nos atendeu e que despencava de um penhasco por , retornou com os nossos pedidos e o mesmo sorriso safado pra ele, não consegui evitar revirar os olhos. O garoto mais uma vez foi indiferente as investidas nada gentis da garçonete, e depois de provar seu cappuccino, ele começou a rir, mas rir muito.

- Posso saber do que está rindo? – Perguntei já me contagiando.
- Você me chamou de amigo e ainda me chamou de . – Meu semblante logo esmoreceu e eu voltei a me proteger.
- Deu pra delirar agora?
- Rum, rum. – Ele fingiu limpar a garganta. – “Pois saiba meu caro amigo , eu a...” – Ele afinou a voz pra tentar me imitar.
- Primeiro, eu não falo assim. – Listei com o dedo. – Segundo... – Droga tinha que admitir, e pra piorar ria ladino, me provocando. – Ok, foi força de expressão. – Comecei a mexer na borda da xícara com o indicador, tentando disfarçar a vermelhidão das bochechas que sentia pegar fogo.
- Você sabe mesmo como destruir o coração de um cara. – Falou fingindo uma falsa expressão de tristeza, colocando as mãos sobre o coração, me fazendo rir, trazendo novamente o clima de descontração.
- Eu gosto de você. – Disse simplesmente e percebi sua surpresa. – Acho que suportaria ser sua amiga.
- Seria uma honra, babe.
- Amigos? – Estendi minha mão direita pra ele.
- Os piores! – Retribuiu, e esse gesto simples causou um choque em meu corpo.

Londres – 20 de outubro de 2008 – 11:04 am.

- , onde você se meteu ontem? – Ouvir aquela voz de taquara logo cedo, fez minha cabeça doer.
- Bom dia pra você também Lily. – O tom de demonstrava sua impaciência.
- Por que você chegou agora? – Lily indagou colocando as duas mãos na cintura. – E ainda mais com essa criatura? – Finalmente minha colega estava mostrando a verdadeira face e não fazia mais questão de esconder que sempre me odiou. Depois que a mesma direcionou um olhar cheio de nojo pra mim, eu sai dali pra não quebrar a cara dela.
- Essa é minha deixa. Até mais . – Senti a mão dele envolver meu braço, então parei de andar.
- Ei, me espera, nós temos aula juntos, eu vou com você! – Lily segurou pela gravata do uniforme, e gentilmente, ou não, me soltei do garoto, seguindo meu caminho.
- Você passou a noite com ela?
- Me solta, não te devo satisfação. – Ele quase berrou de tanta raiva.
- Ah não? Você é meu namorado.
- Nós não temos mais nada. – Sua voz agora saia com aquele tom sarcástico e impaciente já conhecido por mim. – Olha, eu não quero ser grosso...

Não ouvi mais o que ele falou, já havia me afastado o suficiente, não estava com a mínima vontade de presenciar a “Barbie de Taiwan” e o “Galã da fazenda” discutindo. Dei uma última olhada pra trás ao parar diante da sala e eles pareciam ter resolvido os seus problemas, já que um quase engolia o outro.

Senti uma vontade enorme, graças a Deus controlável, de vomitar. era o típico babaca incorrigível, egocêntrico, canalha e lindo. “Para , ele pode ser assim, afinal vocês são só amigos, lembra?”, minha consciência me alertou.

Quando eu disse que não estava a fim de assistir aula era verdade, percebi que a aula já havia começado, estava incrivelmente atrasada, culpa do longo café da manhã, então, resolvi que não iria arriscar receber nenhum comentário sarcástico do Sr. Anderson.

Segui direto e fui pra o campo de futebol, mais precisamente pra debaixo da arquibancada, local onde qualquer aluno entediado daquele colégio fugia pra conseguir cabular aula.

Ao abrir minha bolsa eu percebi o tamanho da minha fúria, frente aos meus movimentos nada delicados, retirei o meu caderno e um lápis pra começar a desenhar, toda a raiva aumentou ao perceber que meu fone de ouvido não estava lá me impedindo de ouvir música e fugir desse mundo também. Não sabia bem o que estava desenhando, mas era algo pesado e negro como o que eu sentia.

O garoto, fonte desse meu novo estado emocional, apareceu logo em seguida apertando os lábios inferiores, limpando sua boca, andava com as mãos no bolso tranquilo e completamente distraído ouvindo alguma música bem alta no Ipod. - Os fones dele me causaram inveja. – Sentou-se ao meu lado. Eu o olhava de canto, fingindo ignorar a sua presença, ele continuava concentrado na canção que escutava, os joelhos estavam dobrados enquanto ele batucava os mesmos acompanhando a batida.

Sua “tranquilidade” e seu jeito “não estou nem ai pra vida” já me irritavam, mas naquele momento tudo que ele fizesse era como se fosse potencializado dentro de mim pra algo negativo, depois de revirar os olhos e bufar pela décima vez, ele tirou os fones e passou a me olhar.

- Nossa, a Lily é realmente irritante. – Falou divertido, me lançando um dos seus tentadores sorrisos. Eu apenas balancei a cabeça assentindo direcionando um olhar nada bom pra ele. – Me desculpa por aquilo. Você está bem? – Agora ele parecia um pouco confuso, mas não pareceu sentir minha raiva, e após eu concordar novamente, ele colocou os fones recostando as costas na parede.

Não sabia por que ainda estava tão irritada com , não queria sequer olhá-lo ou dirigir a minha palavra a ele. Tudo bem que ele havia sido incrível nas últimas horas, mas o que eu detestava estava de volta e dominava a maior parte de sua personalidade.

O que eu estava pensando? NÓS NÃO SOMOS AMIGOS! E não é porque eu compartilhei algo, extremamente intimo da minha vida com ele que seríamos BFF, afinal é bem mais fácil se abrir para um desconhecido, do que compartilhar sua dor com um amigo. Esse era o caso em questão.

Estava tão nervosa que meu lápis rosa já estava completamente mordido e só “acordei” ao sentir a mão de tocar a minha.

- Preciso salvá-lo. – Disse rindo, referindo-se ao lápis, tirando-o do meu poder.
- Claro você adora bancar o herói, certo? – Perguntei ríspida e com desdém, mesmo ainda sendo um mistério o fato de estar tratando-o assim.
- Calma. O que houve babe?
- Já lhe disse que o meu nome é !
- Por que está me tratando assim?
- Você se acha não é? Tem que ser o centro do mundo. – Vi que ele ia retrucar, mas continuei, ignorando sua expressão de perdido. – Quer saber? Essa coisa de amigos pode esquecer. Nós não somos e nunca seremos.

Esperei uma resposta, mas ele nada disse me encarou mais um pouco como se buscasse uma razão no meu olhar, em seguida virou novamente para frente e deixou o seu corpo afundar e relaxar. Eu permaneci no mesmo lugar, não iria sair dali, ele que o fizesse.

Segundos depois, ele apareceu, o remorso era tudo o que eu sentia, afinal, eu queria ser amiga dele, mas tinha orgulho o suficiente pra continuar com aquilo.

Quando o sinal do intervalo soou, me senti aliviada por sair um pouco da presença de dele, mas a verdade era que a gente não ia se afastar, nós tínhamos os mesmos amigos. Seguimos lado a lado, sem trocar uma palavra, como se não nos conhecêssemos, e nos dirigimos à mesa de sempre, todos estavam ali, menos , e .

- Bom dia. – cumprimentou a todos se sentando ao lado de , que pela cara triste, também não havia tido uma boa noite. Eu apenas sorri pra todos e ao sentar do lado de , cutuquei seu ombro com o meu.
- Onde vocês estavam? – questionou, já que havíamos faltado às primeiras aulas de história onde todos nós estudávamos juntos.

Antes que pudéssemos pensar em responder, um com uma face bem vermelha vinha praticamente marchando, enquanto corria apressado tentando alcançá-lo.

- O que você estava pensando ao levar minha namorada pra passar a noite em sua casa? – Gritou furioso. Mas o que tinha de mal nisso? Espera ele falou namorada?
- Cara eu encontrei com ela... – não pode falar mais nada, o soco de o pegou de surpresa, assim como a todos nós.
- Você está maluco? – Tentei intervir ainda incrédula com os atos dele.
- Nunca mais chega perto de , entendeu? – Só depois de olhar o sorriso sarcástico de Lily, eu pude perceber que ela o tinha envenenado.
- Quem é você pra dizer isso? Se enxerga babaca. – ia tentar revidar o murro, mas tinha as mãos espalmadas no seu peito e pedia chorosa pra que ele se acalmasse. – Não se preocupe, eu não vou tocar nesse otário. – Se desvencilhou dela e olhou com indignação. – Ele só está agindo assim porque sabe que sou muito mais homem do que ele e parece que precisa marcar seu território.
- Você vai se arrepender por isso. – ainda tentava avançar em , mas e o impediam.
- Não, você é quem vai, nossa amizade acabou aqui.
- Ainda se acha certo? Você dormiu com a ...
- CHEGA! Não vou ficar aqui ouvindo isso! – Berrei exasperada com aquela discussão incabível, e eles ainda falavam de mim como se eu não estivesse presente, pior, como se eu fosse uma propriedade. Olhei furiosa pra e comecei. – Eu não sou a porra da sua namorada, e o só me ajudou por que ontem eu quase fui estuprada. – Não só ele como todos ali estavam surpresos. – Está surpreso com o que ? Há cinco segundo eu era a vadia que seu melhor amigo podia levar pra cama, não era? Para de bancar o idiota e fica bem longe de mim. – estava completamente sem palavras, olhando estático pra mim, o olho arregalado, boca levemente aberta, antes de se recuperar e pensar em dizer alguma coisa, Lily se adiantou.
- É ruim ser pega traindo, não é? – Aquela voz irritante soou novamente e eu não pude deixar de revirar os olhos.
- Não se mete garota, minha paciência com você já esgotou. – Apontei o dedo pra ela.
- Ah é? E o que a coitadinha vai fazer? – A voz dela era irônica, o sorriso sarcástico. Mas eu iria me controlar, não seria uma bitch que iria me tirar do eixo.
- Você não vai conseguir me irritar, você pra mim não passa de uma qualquer. – Nesse momento os ânimos dos meninos já haviam se acalmado e eles focavam suas atenções a minha discussão com Lily.
- Faça-me o favor. Todo mundo sabe a vadia que você é se fazendo de pobre menina rica pra dar pra qualquer um. – Ela já fazia um escândalo, gesticulava como atriz de circo, tentando chamar ainda mais atenção. – Você acredita nessa história de estupro, ? – Perguntou a ele. – Ela deve ter provocado o cara, e ele só cobrou o que ela prometeu. Sua mamãezinha deve se orgulhar bastante não é? A filha consegue ser tão vagabunda quanto ela. Só falta agora a traição. – Lily estava expondo minha família. – Ops, isso já aconteceu não é mesmo? Já contou pra o papaizinho o quanto ele é corno? – Colocou falsamente a mão na boca rindo e depois me encarando, esperando a minha reação.

E tudo naquele instante parou, ela não iria se utilizar da minha dor, não iria usar os erros da minha mãe. “A filha consegue ser tão vagabunda quanto ela”, isso girava em minha cabeça, levando minha mente a um lugar obscuro, meu corpo inteiro tremia, mas não era fraqueza, a raiva estava me dando uma força que nem eu mesmo sabia que existia.

- CALA SUA BOCA LILY! Você nunca vai ser metade da mulher que é. – interveio.
- Você só está falando isso porque comeu ela ontem à noite!

Já não enxergava ninguém, não tinha senso de localização, só aquelas malditas coisas rondando minha cabeça. O que aconteceu a seguir foi extremamente involuntário, dei um tapa estalado naquela cara horrorosa, vendo seu sorriso debochado desaparecer, Lily revidou puxando o meu cabelo e me dando um tapa, senti minha bochecha esquentar e algo escorrer por ela. De imediato a empurrei caindo em cima dela e a esmurrando onde podia, até que ela conseguiu se soltar e me empurrou. Ela me levantou pelo cabelo e na tentativa de me esquivar rasguei sua blusa e arranhei toda a área do seu colo e pescoço, e ela me soltou. Desejei que estivesse ali porque aquele seria por ela, aproveitando o momento de distração da garota pela falta do uniforme eu dei um murro no nariz falsificado dela. Vê-la caída ali com a mão no local atingido que não parava de jorrar sangue, não me fez sentir melhor, eu queria mais, queria fazer ela engolir cada palavra que me doía ainda mais naquela hora. Mas quando ia fazer mais alguma coisa, senti alguém me abraçar.

- Chega você já descontou, temos que te tirar daqui, o inspetor está vindo. – disse me abraçando firme.
- Você quebrou o nariz dela. – Uma das seguidoras de Lily dizia completamente histérica, ameaçando vim pra cima de mim.
- E advinha Lily, eu posso fazer muito pior se você ou qualquer uma do seu grupinho sequer sonhar em falar, tocar ou olhar pra minha irmã ou algum de nós, ouviu bem? – A voz imperativa e imponente de reverberou e o olhar assustado dela, só aumentou.

Continuava aérea a tudo a minha volta, aquela dor no peito voltara com uma intensidade torturante. Percebi que meus amigos tentavam dispersar as pessoas pra que não percebessem a briga de agora a pouco. Um dos jogadores de futebol havia pegado aquela piranha e provavelmente estavam tomando o mesmo rumo que eu e : o estacionamento.

Andávamos apressados, quando eu senti alguém me segurar.

- , me desculpa a Lily me dis... – Retirei o meu pulso rudemente de suas mãos e lancei o meu melhor olhar de decepção e nojo pra .

De todas as maneiras ele havia me traído nessa manhã, a cena ridícula que ele fez não tinha nada de romântico no estilo ciúme de amor, ele a havia feito por não acreditar em mim, na sua amiga de anos, que sempre esteve ali pra apoiá-lo no que fosse preciso, nos erros e nos acertos. Ele ainda jogou sua amizade com no lixo.

- Você terá que ir sozinha, eu tive uma reunião com o diretor hoje cedo e se sair ele vai suspeitar. – Balancei a cabeça concordando, sabia que mesmo num estado mais deplorável do que o meu, Lily jamais iria me delatar pra o diretor que tinha uma norma rígida quanto a brigas, e essa era a sua quarta, só este ano, então sem mais tolerância pra ela. Contudo o boato iria se espalhar como rastro de pólvora, levando o Sr. Morrison a me procurar imediatamente, mas como não havia assistido aula era como se não estivesse estado naquele lugar. Ponto pra mim, mas ainda tinha a ligação que o mesmo faria pra minha casa, e diante de tanto sentimento me atingindo, medo ou culpa não eram um deles, portanto não me importava.
- Não me importo em sair, posso ir com ela? – perguntou inseguro e eu quis socá-lo.
- EU NÃO VOU A LUGAR NENHUM COM VOCÊ! – Eu gritei, sem me incomodar com nada, a minha mágoa por ele era enorme.
- Eu terei que sair mesmo, ela vai comigo. – pegou minha mão e me deu um olhar cúmplice, não questionou, sabia que eu iria com ele.
- Vai , leva ela e cuida desse machucado também.
- Pode deixar. Valeu mate.
- Nos vemos mais tarde, ok? – segurou meus ombros e eu não pude deixar de sorrir. – Eu cubro sua barra por aqui e lá em casa também, não se preocupe. – Assenti balançando a cabeça e mesmo com os olhos com lagrimas que ameaçavam cair, eu sorria agradecida a proteção e cuidado do meu irmão. – Eu te amo! – Beijou minha testa e esperou que eu entrasse no carro.

FLASHBACK OFF.


Capítulo 04

And just like them old stars. I see that you’ve come so far to be right where you are. How old is your soul?" I won’t give up – Jason Mraz.

Londres – 29 de outubro de 2015 – 22:23 pm.

- seu pinguço! Como senti a sua falta! – O garoto me abraçou mais forte ainda.
- Eu também, minha Fiona. – Me soltou e ficou me encarando, incrédulo com minha presença.
- Para de me chamar assim. – Como estava com as mãos impossibilitadas, trombei meu ombro no dele, falsamente afetada.
- Você sabe que vai ser sempre a minha Fiona. – Disse obvio. Pegou as garrafas da minha mão e adentrou o apartamento, me deixando ali parada, admirando tudo. Claramente, o local havia sido decorado pela mãe dele, mas seus vestígios, digo bagunça, estavam presentes em todos os lugares.

A cor branca das paredes fazia contraste com um grande, e aparentemente confortável, sofá preto, próximo havia alguns violões e folhas de papel jogadas num tapete. A sala era enorme, janelas de vidro ajudavam na iluminação, ao lado havia uma escada com corrimão de vidro, que provavelmente dava acesso aos outros cômodos.

- Para de examinar a bagunça e vem logo pra cá.
- Ok Shrek!
- Eu prefiro ser o Burro. – gritou, e eu segui o som de sua voz, chegando até a cozinha.

A cozinha era ampla e aberta, dispondo de uma enorme mesa de centro, com cadeiras brancas.

- Realmente ele é mais a sua cara, só que pra mim, você é o meu Shrek. – Provoquei e me olhou intrigado.
- Tem três anos que não te vejo, e vamos mesmo falar sobre isso?
- Não! – Rimos, enquanto eu ainda bisbilhotava sua casa.
- Pensei que você só chegaria amanhã. – Comentou enquanto tentava erroneamente abrir a garrafa de vinho.
- Queria te fazer uma surpresa, quase ninguém sabe que estou aqui. – Cansada de ver o seu ato falho, tomei o serviço pra mim, e logo a abrir, fazendo me olhar admirado. – Onde estão as taças?
- Pra que taças? – Levantei a sobrancelha, mostrando o quanto a minha resposta seria obvia e ele continuou. – Até parece que já precisamos disso. Abre a outra. – Sem querer questionar, abrir a segunda garrafa, e o vi pegar a outra e levantar para um brinde. – Agora sim vamos beber no estilo e de sempre.
- A vida! – Brindei batendo minha garrafa na dele.
- A sua volta! Pensei que nunca mais te veria em Londres.
- Culpe a e o . – Seguimos pra sala e como eu havia previsto o sofá era realmente aconchegante. Sentamos de frente um para o outro e eu logo coloquei as minhas pernas em cimas das dele, pra que ele pudesse me fazer uma massagem. Ele logo entendeu, tirou os meus sapatos e mostrou que não havia perdido a prática.
- Cadê as suas malas?
- Estão com o seu simpático porteiro. – Ironia mode on. – Espero que ele não mexa em nada.

deu um apertão no meu pé esquerdo e fez uma cara de espanto.

- O Sr. Holt é tarado, já foi preso por tentativa de estupro, não era nem pra você ter falado com ele sozinha.
- O QUE?! – Dei um pulo no sofá, abismada com aquela revelação, principalmente quando o assunto se tratava de estupro. Mas aquilo não durou muito, logo estava caído no chão, com as mãos na barriga, rindo mais do que deveria.
- Vai até um espelho. – O imbecil não parava de gargalhar, e se a situação fosse outra eu já teria me contagiado. – Você precisava ver a sua cara.
- Você é um idiota! – Sentei novamente no sofá, com os braços cruzados e com um bico que demonstrava toda a minha raiva. – Sabe que não deve brincar com isso. – A cara dele de remorso já foi um grande pedido de desculpas.
- , me perdoa, eu nem pensei no que estava dizendo, não me lembrei que...
- Tudo bem, só perdoou porque é você. – Sorri de canto pra mostrar que já estávamos bem.
- E você me ama. – disse malicioso e eu resolvi brincar um pouco com ele. Levantei novamente me sentando no colo dele e o abracei pelo pescoço.
- Amo mesmo. – Sussurrei no seu ouvido, sentindo os pelos de sua nuca de arrepiarem.
- E você me quer. – Dei alguns beijos em sua mandíbula, e ficou completamente sem reação, o corpo todo tensionado.
- Quero mesmo. – Depois de dizer isso, eu fiquei calada, e o silencio que se seguiu foi constrangedor. – Te peguei! – me empurrou de seu colo, e agora era eu que não parava de rir.
- Garota insuportável. – Resmungou pegando a garrafa e dando um enorme gole em seu vinho.
- Já fui rejeitada por você, lembra. – Comentei, não pra deixá-lo mal, mas porque eu sentia que desde o momento em que isso aconteceu, minha admiração por cresceu tanto, que eu tive a certeza que jamais o deixaria sair de minha vida.
- ...
- Está tudo bem agora. – Cutuquei ele rindo, e ele percebeu que estava tudo mais do que bem entre nós dois.
- É, você perdeu a sua chance. – Levantou o nariz, e estufou o peito fazendo pose de galã.

FLASHBACK ON:

Nova York – 01 de Dezembro de 2012 – 21:19 pm.

- Você veio! – levantou-se de uma das mesas do Naked Lunch com um enorme sorriso em seu rosto, e tratou logo de me abraçar apertado.
- está em Nova York, fugindo de milhares de fãs, mas me convida pra jantar e eu não vou aceitar? Não sou tão maluca assim.

Sentamo-nos, e mesmo com a iluminação baixa do ambiente, eu podia ver cada traço do seu rosto mais marcado com o tempo, mas o sorriso de menino ainda estava ali.

- Como você está? Deveria atender ou pelo menos retornar minhas ligações. – Havia magoa em seu discurso.
- Pra que? Você só iria me perguntar como eu estava, me dar broncas e mandar eu me cuidar.
- , é sério, como você está?
- Viva, e não pretendo morrer antes de você.
- Engraçadinha, eu quero saber do seu psicológico, você não deixa ninguém chegar perto de você e se tranca, desde o...
- Isso é passado. – Segurei a sua mão tentando dissipar aquela onda de tensão que havia se instaurado. – Vamos lá, estamos na América, somos lindos, saudáveis e nos amamos, vamos aproveitar essa noite, ok? – Ele apenas concordou com a cabeça, me dando um sorriso lindo, que eu tanto amava.

O garçom chegou pra anotar os nossos pedidos, dispensei a comida, então se pronunciou.

- Duas cervejas.
- E quatro shots de tequila. – me olhou intrigado, como se tivesse me investigando.
- Estamos esperando mais alguém?
- Não, hoje seremos só você e eu, lindo. – Ele então percebeu o quanto eu precisava fugir dos problemas naquela noite, e usaria sua presença e bastante álcool para isso.
- Cara, eu te amo. Você é a única amiga minha que aguenta beber comigo.

Alguns minutos depois o garçom apareceu com as nossas bebidas, e um sorriso nada profissional pra cima do , que logo entrou na defensiva.

- Obrigado. – Meu amigo engrossou a voz, e segurou a minha mão, já pra não dar espaço pra qualquer cantada barata daquele homem loiro de uns 2 metros de altura. Assim que o garçom nos serviu e se retirou, revirou os olhos, realmente chateado. Peguei um dos shots de tequila e quando ia virando, parei ao perceber que ele também iria virar um.
- O que está fazendo? – Questionei, fazendo o parar o ato. – Os shots são pra mim, peça os seus. – Rimos, e a atmosfera havia mudado de novo. Coloquei o sal em entre o polegar e o dedo indicador, chupei a região, bebi rapidamente o liquido amarelo e mordi a rodela de limão, tendo o olhar fixo de em cima de mim, não sei como seria, mas aquela noite tinha tudo pra ser interessante.

Nova York – 02 de Dezembro de 2012 – 00:08 pm.

Ao sairmos do restaurante, já ébrios por não ter ingerido nada além de tequila e cerveja, o ar gelado de Nova York nos acometeu, passei as mãos em meus braços pra me esquentar, mas logo me abraçou, e seu calor me aqueceu.

- Eu adorei essa noite. – Comentou enquanto ainda caminhávamos pelas ruas da 13th street, claro que com seu segurança atrás de nós.
- Realmente senti sua falta Shrek. – Levantei meu olhar para encará-lo.
- Dois anos sem me ver, eu te entendo. – Dei um empurrão nele, saindo de seu abraço e já me arrependendo, estava realmente frio naquela noite.
- Nossa, seu ego me sufoca. – Simulei uma ridícula falta de ar, arrancando gargalhada de nós dois, até que cheguei onde queria. – Vem, vamos entrar nesse karaokê.
- Agora? – Sai puxando-o pela mão.
- Sim, querido!

Nova York – 02 de Dezembro de 2012 – 04:31 am.

- PARE DE ME ASSEDIAR, NÓS JÁ ESTAMOS CHEGANDO AO QUARTO. – berrava no hall do meu prédio, fazendo os porteiros e os seguranças nos olhar abismados.
- Eu sei o que você é! – Gritei e seus olhos brilharam quando ele percebeu que eu também estava brincando.
- Fala em voz alta. – Sua voz soou rouca e seu semblante era falsamente assustador.
- Você é um vampiro, e o seu nome é Shrek. – Não sei como eu conseguir segurar a risada diante de nossa enorme idiotice. veio correndo até mim e me puxou pela mão.
- Pra onde está me levando? – Protestei, até pararmos em frente aos elevadores.
- Vou te mostrar como eu realmente sou no seu quarto. – Disse transbordando de malícia.
- OH MY GOD ! – Dei um gritinho afetado quando ele me deu um tapa em minha bunda e duas senhoras que haviam acabado de chegar de viagem, desistiram de pegar o mesmo elevador que nós dois.

Quando as portas se fecharam, nós olhamos um para o outro e caímos na gargalhada.

- Tinha mesmo que citar crepúsculo. – Ele tentou parecer chateado, mas eu era a única pessoa que sabia que era fã da saga e claro que sempre que tinha a oportunidade zoava com ele.
- Relaxa não vou contar pra ninguém que esse é o seu filme favorito. – Enquanto eu gargalhava e ele apenas revirou os olhos.

Entramos em meu apartamento aos tropeços, entorpecidos pela grande quantidade de álcool ingerida naquela noite. Ao tentar achar o interruptor de energia, acabei esbarrando num vaso e o baque do mesmo quebrando no chão, parece ter despertado .

- , você está muito bêbada. – rindo, segurou as minhas pernas e me colocou no seu ombro, mesmo estando de cabeça pra baixo, eu não conseguia parar de rir e ainda dei uma mordida na bunda dele, que gritou surpreso. – Se me morder de novo, eu vou acabar te dando uma surra.
- Eu ia adorar. – Ele riu, mas dessa vez seu riso era nervoso. Depois de subi as escadas, logo encontrou meu quarto e me jogou em cima de um pequeno sofá que havia ali, caindo ao meu lado.
- Você se arrepende de algo? Você mudaria alguma coisa do seu passado?
-, você assistiu efeito borboleta comigo, isso nunca acaba bem. – Ele quis brincar, mas claramente estava fugindo da pergunta.
- Sério, . – O encarei esperando uma resposta. Depois de passar as mãos pelo cabelo ele resolveu responder.
- Não. – Disse simplesmente. – Por que? Você mudaria?
- Claro! Eu tinha você e fui burra demais pra deixar escapar.
- ...
- eu senti sua falta, eu senti falta de nós. – Fui com a intenção de beijá-lo, mas ele segurou meu rosto me dando um longo beijo na testa. – Por favor, não me ignore.
- Você sabe que não quer isso. Você sabe que só está magoada.
- Não me venha com desculpas. Você não me ama mais?
- Claro que eu amo, e me odeio às vezes porque eu sempre vou amar, mas nós dois sabemos que um amor unilateral não da certo.
- Mas eu amo você.
- Eu sei que ama, mas nunca esteve apaixonada por mim. – A verdade daquelas palavras foi como um soco no meu estomago. Será que e eu teríamos dado certo se eu ao menos considerasse lhe dar uma chance? Eu sabia que “não” era a resposta para essa pergunta, mas ali em meio àquela tristeza era algo que me perturbava. – Para com essa carinha, você está bêbada e vai ver que isso foi melhor, eu nunca vou me aproveitar de você.
- Eu sinto muito.
- Xiii... Está tudo bem linda. – Levantou e estendeu sua mão pra mim. – Vem, eu vou colocar você na cama. – Lancei meu melhor olhar sugestivo pra ele e comecei a rir. – Nem tente me provocar mocinha, eu ainda sou um homem.
- Vem ser meu homem, !
- , você é impossível!
- Ei, eu não sou... – A bebida não me permitiu completar a frase, então comecei a gargalhar. – Isso não é justo, eu bebi a mesma quantidade que você. – Falei, parando em frente ao closet, retirando as peças de roupa que me cobriam, mas a calça foi realmente um problema, e ao tentar me desequilibrei, por sorte me segurou antes que eu caísse.
- Primeira regra da vida: Nunca saia pra beber com quem tem costume. – Falou numa seriedade, como se estivesse recitando os 10 mandamentos. Quando só o que restava em meu corpo eram uma calcinha e um sutiã minúsculo, vi lutar para não me analisar, mas algo o fez desistir, engoliu em seco e vi sua íris queimar em luxúria, então ele me afastou.
- pinguço! – Rir, fingindo não notar a tensão sexual instalada e fui vestir mais alguma coisa, ao sair do closet, ele me encarou novamente, mas dessa vez foi pela minha roupa.
- Esse suéter é do... – Me amaldiçoei por ter vestido aquilo. Mesmo depois daqueles anos, mesmo não assumindo nem pra mim mesma, dormir com aquela roupa me dava a sensação de... paz.
- Não! – Disse até um pouco brava, mas sabia que não havia acreditado em minha mentira.
- Se você diz... – Deu de ombros, enquanto observava eu me aconchegar em minha enorme cama. – Precisa de mais alguma coisa?
- Dorme comigo? – Pedi manhosa, dando leves batidinhas no colchão indicando onde ele deveria ficar.
- Fiona...
- É só dormir, Shrek.
- Você sabe que consegue tudo o que quer, com esse dengo, né? – ficou apenas de camiseta e assim que deitou, eu me aninhei em seus braços. Enquanto sua mão passeava delicadamente em meu braço, eu sentia meu coração se comprimir mais e mais, já não estava aguentando.
- ?
- Oi...
- Como ele está? – E então a pergunta foi feita, e o meu orgulho havia sido rompido, meu coração estava aberto e sangrando de novo, só por me permitir sentir a falta dele naquele instante.
- Quem?
- Ele. – Minha voz estava baixa e serena, e logo percebeu a quem eu me referia, seus braços me apertaram mais forte, pois ele sabia o quanto aquilo me doía.
- O se faz de durão, mas ainda sente sua falta, vira e mexe nós pegamos ele te stalkeando na internet. A verdade é que ele não anda bem há muito tempo, como se estivesse sempre faltando algo. Está faltando você, .
- Por que ele fez aquilo?
- Vocês dois erraram, cada um tem sua mágoa, mas está na cara que vocês ainda se amam.

“Se amam”, que tipo de amor faz o outro sofrer? Que tipo de amor te afasta de tudo? havia sido o melhor e o pior em minha vida, e mesmo lutando o que eu sentia por ele simplesmente não diminuía, era como se meu coração tivesse petrificado todo aquele amor e só pra ele se quebraria, eu tinha uma doença, precisava me tratar. Não acreditava mais em e algum tempo eu cheguei à conclusão de que pra ele eu havia sido um amor do colégio e nada mais. Ser só nada pra quem lhe é tudo dói mais do que qualquer outro incidente.

- Eu não o amo. – Naquele momento era melhor mentir, do que ter que conversar a respeito da minha burrice, em ainda amar .
- ...
- Eu to bêbada, nem acredito que perguntei por aquela pessoa, só em saber que ele está na mesma cidade que eu já me sinto sufocada. – Esbravejei, irritada mais comigo do que com a desconfiança de .
- Você não vai ao show amanhã? – Balancei a cabeça negando. – Poxa , é o MADISON SQUARE GARDEN, você tem noção disso? A gente precisa de você! É importante te ver lá!
- Desculpa, mas eu não consigo. – Mesmo soando chorosa, nenhuma lagrima havia sido derramada.

Depois de chorar todo o primeiro mês em que eu havia chegado à Nova York, num dia simples, dentro da minha rotina de ir até o curso e chorar dentro do metrô eu presenciei uma criança de uns sete anos perdida no meio da estação. Diversas pessoas passavam por ele compadecidas pela sua busca em encontrar a mãe, mas eram incapazes de ajudá-lo. Ele chorava tanto, o desespero era de partir o coração, então me senti tão ridícula de está chorando, respirei fundo, limpei minhas lagrimas e fui ajudá-lo. Menos de dez minutos depois encontramos sua mãe, fui pra casa naquela noite com a mesma dor que senti ao acordar, mas não iria mais ser fraca, eu não iria mais chorar.

- Ei, não chora. – Ele limpou as minhas lágrimas que achou que estariam ali, preocupado com meu estado, mas com um sorriso querendo aparecer no canto de seus lábios.
- Não ri de mim. – Dei um tapinha em seu peito.
- Você é mais bipolar quando está bêbada. – E então nós dois começamos a rir.
- Estou com sono. – Falei de repente, confirmando a teoria de acerca da minha bipolaridade.
- Dorme Fiona. – Ele me aconchegou mais em seus braços.
- Já dormiu? – Perguntei um tempo depois.
- Não. – Respondeu, mas eu sabia pela sua respiração lenta que ele estava quase dormindo.
- Eu amo você.
- Eu também amo você, e vou ta aqui sempre pra te ligar todos os dias, mesmo você não me atendendo.

Nova York – 02 de Dezembro de 2012 – 10:32 am.

- Bom dia! – Levantei animada e fui até a sala, me deparando com jogado num sofá encarando o celular.
- Você não tem ressaca?
- Não, só preciso de água. – Me encaminhei até a cozinha, matando a minha sede. Ao passar pela sala, ainda estava entretido, mas percebeu minha presença e me olhou.
- Eu estou com uma ressaca daquelas. – colocou a mão na cabeça e fez uma careta de dor.
- Bem feito. – Falei rindo e me deu língua, mostrando sua chateação. – Vou tomar um banho e esperar pra ver os meninos. Pena que só vou ver o na hora do almoço, já que irá participar do nosso café da manhã e provavelmente iria afogar meu irmão numa xícara de chá.
- Menos quatro na nossa reunião. – Disse se referindo ao meu irmão, a com a Jazzy que só chegariam a tarde e claro, a .
- Sempre! – Dei risada e subi as escadas me encaminhando pra o quarto.

Já pronta, fui ao encontro de , esperando que ele fizesse alguma piada, sobre eu usar salto alto o tempo inteiro, mas a expressão dele era de incredulidade.

- O que houve?
- Veja isso. – Me entregou o celular, revelando uma reportagem com letras chamativas, e uma foto minha e do , ainda na escola.

FLAGRA: ESTÁ NAMORANDO!

O astro da boy band One Direction, estaria namorando amiga de infância, por quem sempre nutriu sentimentos genuínos, mas parece que só agora ambos decidiram ficar juntos.

Com a turnê de sua banda pelos EUA, foi visto na ultima noite, com a fashionista inglesa . Os dois estavam sozinhos e se divertiam enquanto faziam vários passeios românticos pela Big Apple. Mas um dos pontos ápices da noite foi quando ambos fizeram um dueto num karaokê, os pombinhos cantaram Luck do cantor Jason Mraz, letra bastante sugestiva por sinal. Presentes afirmam que o casal não se desgrudou depois disso, protagonizando cenas pra lá de quentes. Resta saber se , o irmão de , companheiro de banda de , já aprovou a relação.
Assistam ao vídeo aqui.

- Mas... – Eu ainda estava em choque com o tamanho da criatividade alheia. – A gente não ficou.

Disse, enquanto assistia ao vídeo feito por alguma fã. Nele eu e realmente cantávamos animados, próximos um do outro, fazendo caretas afetadas e apaixonadas, dancinhas bobas, mas quem nos conhecia bem sabia que aquilo não passaria de uma brincadeira.

- Você conhece a imprensa. – Havia um toque de irritação em sua voz.
- Desculpa, seus agentes vão te matar, né? – Mordi o lábio, tamanho era o meu remorso. se levantou, dando uma risada nasalada e passou a mão pelo cabelo, sinal claro de nervosismo.
- Não são eles que me preocupam,
. Que se danem. – Falou exasperado jogando as mãos pra o alto, me deixando confusa por todo aquele ataque de nervos. não era inconsequente, mas nunca fora de se importar com a opinião dos outros, principalmente quando o que dizem não é verdadeiro.
- Mas então... Você está namorando e não me contou?
- Claro que não. Só que o vai me matar. – Sério? Tinha que pensar no ? Claro que como ele reagiria a tudo aquilo, foi à primeira coisa que passou pela cabeça, mas eu jamais assumiria isso. Então, apenas revirei os olhos e quando ia retrucar a campainha tocou.
- Também queremos um encontro romântico com você, !
e gritaram em uníssono, estavam parados na porta fazendo biquinhos, olhinhos apaixonados e coraçãozinhos com as mãos.
- Cachorros, como eu senti a falta de vocês. – Pulei no colo de , que me abraçou apertado.
- E , se prepara que o vai te matar. – comentou casualmente antes de vir me abraçar.


FLASHBACK OFF.

- Ainda me sinto dolorido pelos murros no estomago, acho que até ganhei uma gastrite.
- Não exagera.
- O fazia boxe, sabia? E eu sou fraco. – Choramingou. O clima estranhamente mudou, logo depois que aquele nome foi mencionado, e os primeiros capítulos do meu passado vinham à tona. Eu mal podia acreditar que estava de volta a Londres.
- Como você está ? – Olhei para o relógio constatando que estava ali há 27 minutos, demorou todo esse tempo pra me fazer essa pergunta? Aquilo era um recorde. Bebi uma enorme quantidade de vinho e respondi, sem encará-lo.
- Eu estou ótima. A grife está cada dia mais famosa, temos expandido bastante e já temos lojas em quase todos os continentes, mês passado... – Havia disparado a falar, mas colocou o dedo indicador sobre os meus lábios para que eu me calasse, depois segurou meu queixo, obrigando-me a olhá-lo.
- , eu quero saber como você está! – Suspirei pesado, sabendo que pelo menos alguma coisa eu deveria lhe dizer.
- Eu... Estou bem. Digo, estou viva, certo? – Tentei parecer animada, mas falhei completamente, havia dor em cada palavra que havia saído da minha boca.

segurou firme a minha mão, me abraçando em seguida.

- Eu deveria ter ficado mais próximo de você, depois do acidente, mas...
- Relaxa, eu não teria deixado. – Me desvencilhei do abraço, olhando para meu amigo e dando-lhe o sorriso que ensaiei por anos, e ele pareceu está se convencendo que eu estava bem, então prossegui. – E você bonitão? Conte-me tudo sobre a sua escolhida.

Dessa vez eu havia conseguido mudar o foco do assunto, e só em mencionar sua namorada, abriu um sorriso, o dele era sincero, e então esqueceu todo o passado. Era incrivelmente bom vê-lo apaixonado e feliz.

- A Elle é incrível! Já estamos juntos há dois anos e meio. E , ela entende toda essa loucura de trabalho, sem contar que é gostosa pra caralho.

Rimos juntos e aquela instante seria só o começo da nossa noite juntos.

Londres – 30 de outubro de 2015 – 09:47 am.

Minha cabeça parecia que ia explodir, sabia que era devido a bebida, mas isso não explicava a dor que sentia em todo o meu hemicorpo esquerdo, só depois de abrir os olhos e ver deitado em cima de mim, aquilo passou a ter sentido. O empurrei desajeitadamente e mesmo em meio a resmungos desconexos ele não acordou. Me ajeitei procurando uma posição confortável, já pensando em dormir novamente, até que me lembrei que havia prometido a que levaria a Jazzy pra escola. Olhei pra o relógio e quis me matar, antes que o fizesse, ao constatar que estava atrasadíssima.

- Droga! Droga! Droga!
Levantei aturdida, procurando o meu vestido e o encontrei cobrindo a televisão de plasma que tinha no quarto de , faltavam os meus sapatos, e naquele cômodo definitivamente eles não estavam.

Desci as escadas correndo, tentando domar meu cabelo e fechar o zíper lateral do vestido ao mesmo tempo, me agachei ao pé do sofá, procurando em meio às almofadas jogadas, enquanto Jazzy parava de jogar alguma coisa num notebook e me olhava divertida.

- Jazzy, você viu o meu sapato? Eu preciso achar, pra ir buscar a... Jazzy? – Olhei assustada pra garotinha que agora gargalhava da minha falta de atenção. Eu só pareci acordar, quando a garotinha de cabelos castanhos e olhos cor de mel, esticou os bracinhos e me abraçou apertado.
- Dinda, você é doidinha. – A apertei com mais força ainda, e senti os meus olhos lacrimejarem de tanta felicidade.
- Eu senti muito a sua falta princesa.
- Também, mas eu estou ficando sem ar. – Rir, da sua fala exagerada e a soltei.
- E a escola?
- Hoje não teve aula, só vou pra o balé às 11 horas.
- Ah, que ótimo. – Minha ressaca voltou com força total e fui até a cozinha beber um pouco de água. Sentei-me ao seu lado.
- Você já teve ressaca Jazzy? – Massageei as minhas têmporas, tentando amenizar aquela dor.
- Uma vez eu comi muito sorvete de chocolate escondido, ai minha cabeça doeu, e depois a cabeça do meu Dindo que doeu. – Estava maravilhada em ver o quanto Jazmyn estava crescida, inteligente e linda.
- Ele também tomou muito sorvete? – Quis saber, não pelo Dindo dela, mas pra vê-la conversando mais.
- Não, a mamãe bateu nele por me dar muito sorvete. – Gargalhei imaginando a cena, mas parei assim que minha cabeça voltou a latejar.
- Sua mamãe é brava, não é?
- É sim, mas o Dindo é forte. – Disse orgulhosa e eu fiz uma força sobre-humana pra não revirar os olhos.
- Nossa eu queria poder dormir o dia inteiro. – Peguei uma almofada acomodando a minha cabeça e fechando os meus olhos.
- Vamos brincar de boneca mais tarde comigo? – Questionou super animada.
- Claro que sim. Eu estou até com saudades da Dorothy. – Sorri.
- Ela anda muito rebelde, mas talvez eu deixe ela te ver.
- Quem te trouxe aqui?
- O papai. Ele disse pra eu não acordar nem você e nem o tio , e esperar aqui em baixo. – Concordei com a cabeça, vendo- a mexer no notebook. – Hoje você vai conhecer o meu dindo, você vai adorar ele.

Dei um sorriso sem graça, mal sabia Jazzy que eu conhecia bem até demais o padrinho dela, e não estava nada confortável em reencontrá-lo.


Capítulo 05

And somebody told me that this is the place. Where everything’s better and everything’s safe." Walk on the ocean – John Mayer.

Londres – 30 de outubro de 2015 – 11:30 am.

Havia deixado Jazzy no balé há alguns minutos, e com o carro emprestado de eu comecei a percorrer Londres. Eu também sentia falta do meu berço, mesmo em meio ao caos do transito e o movimento acelerado das pessoas, eu sentia uma paz arrebatadora. O clima estava ameno e o sol brilhava, cenário completamente diferente do habitual, mas mesmo assim, era até surreal está ali.

Desde o momento em que eu entrei no avião vindo pra cá, eu fiz uma preparação emocional pra tudo o que pudesse me acontecer. Decidi esvaziar a minha mente pra conseguir enxergar tudo sob uma nova perspectiva, mas sabia que pra isso funcionar, eu também precisava encarar as memórias do passado que eu tanto repudiava.

Coisas ruins aconteceram comigo, mas coisas boas também, e Londres seria sempre o meu lar, era aqui onde eu queria correr feito uma criança com medo do escuro. O problema nunca esteve na minha Londres, passou a ser problema quando ela deixou de ser só minha e passou a ser nossa. Por todos os lugares que eu passava, eu fechava rapidamente os olhos e ao abrir, eu conseguia ver aquele casal de 17 anos, sorrindo, planejando, brigando, se amando incondicionalmente. Essa ultima parte eu falo por mim.

Parei num semáforo e como um imã, meus olhos se prenderam num enorme outdoor que anunciava a turnê do One Direction. Uma foto enorme dos meninos sorridente e fazendo bagunça estava ali. Era a primeira vez que eu não ignorava uma propaganda que envolvesse a banda e me permitir analisar a foto. Mesmo mais velhos, eles continuavam com o brilho nos olhos dos mesmos meninos sonhadores que tocavam naqueles pubs pequenos e mal freqüentados. . Falei seu nome mentalmente repetidas vezes, enquanto sua foto parecia está olhando pra mim sorridente e abobalhado, meu coração disparou ao lembrar que nosso reencontro estava cada vez mais perto. Eu sentia medo. Uma buzina me fez despertar e perceber que o sinal já abrira e eu estava atrapalhando o fluxo de carros. Pedi desculpas, mesmo sabendo que o motorista irritado não ouviria, e segui em frente.

Olhei para o relógio e constatei que estava rodando há quase duas horas, eu ainda tinha um tempo antes de ir buscar no aeroporto. Parei numa Starbucks e pedi um café preto, forte e sem açúcar, rir do habito adquirido naqueles últimos anos. Entrei no carro e meu inconsciente sabia pra onde me levar, havia um lugar fundamental a visitar.

Cheguei aquele bairro, tranquilo e afastado de Londres, a minha postura era rígida, minhas mãos apertavam o volante com força desnecessária, havia um enjôo no meu estomago de ansiedade. Ao parar em frente aquela casa, percebi que agora ela estava bem conservada, o jardim tão lindo e bem cuidado que deveria causar inveja aos vizinhos, mas o engraçado é que mesmo arrumada e provavelmente habitada, parecia sem vida pra mim. Não sabia se ainda pertencia a sua família, se novas pessoas moravam ali, só que aquelas paredes guardavam meus segredos, meus planos, nessa casa eu me apaixonei pela primeira e única vez em minha vida.

FLASHBACK ON:

Londres – 20 de outubro de 2008 – 13:07 pm.

Toda aquela raiva estava sendo liberado em forma de lagrimas que escorriam sem um motivo aparente, assim como os pingos de chuva desciam fazendo desenhos desconexos no vidro do carro. dirigia tranquilamente, seu olho direito estava vermelho pelo murro que recebeu, sua expressão ainda era perturbada, eu voltei a olhar pela janela, as paisagens que passavam como borrões, e me permitir chorar.

Sabia que evitava me olhar por está muito nervoso, então dei seu espaço e não tentei puxar nenhum assunto, estávamos bem e seguros no nosso próprio mundo.

Não fazia ideia de onde ele iria me levar, já que fazíamos o caminho contrario de sua casa, mesmo curiosa não ousei perguntar, nem mesmo quando vi que nos afastávamos do centro da cidade. Fiquei um pouco desconfortável, a adrenalina estava se esvaindo e meu rosto começava a doer, percebeu e então quebrou o silencio.

- Vai ficar tudo bem, eu prometo. – Me olhou ternamente e acariciou minha bochecha próximo ao meu machucado. – Dói? – Questionou com mágoa e remorso na voz.
- Não isso. – voltou sua atenção para a estrada e eu acariciei o seu rosto, que a cada minuto parecia mais inchado. Ele inclinou mais a cabeça ao meu toque. – Eu sinto muito.
- Você não tem culpa nisso. – Paramos em um sinal, me olhou e segurou firma a minha mão. – Eu vou cuidar de você. – Então levou minha mão até a sua boca e a beijou suavemente.
- Eu confio em você. – Foi tudo que eu conseguir dizer, porque era a maior verdade ali, eu já não me sentia tão sozinha tendo perto de mim.

Poucos minutos depois estávamos parados num bairro modesto e afastado de Londres, onde casas sem muros e com jardins bem tratados estavam dispostas lado a lado, dando mais tranquilidade aquela rua. desceu do carro, abriu a porta pra mim e esperou que eu descesse. A casa que ele estava me levando, diferente das outras tinha uma pintura descascada, o jardim estava completamente morto, tirando algumas ervas daninhas que cresceram e já tomara quase toda a entrada, dando-lhe um ar de casa mal assombrada.

Segurei o antebraço de , assim que percebi que ele queria que entrássemos ali.

- Você não espera que eu entre ai não é? – Mesmo com a voz roupa pelo choro, eu soei imperativa.
- Para de bobagem, aqui tem tudo que a gente precisa.
- Isso se estivermos atrás de um contato com o mundo dos mortos, não é? – Debochei e o garoto revirou os olhos.
- Eu prometo que não tem fantasma, agora vem. – Colocou as mãos nos bolsos tentando parecer paciente.
- Não! Ai deve está sujo, ou ter qualquer réptil ou anfíbio e eu odeio todos eles.
- Você sabe que tartaruga é um réptil, não é? – Perguntou irônico, prendendo o riso.
- Sei e morro de medo também.
- Droga, queria que as minhas não estivessem mortas, ia ser legal provocar você com elas. – Ele ria, provavelmente imaginando mil maneiras de me torturar.
- Você criava tartarugas? – Não escondi a repulsa.
- Criava, mas isso não vem ao caso agora, vamos entrar, vai começar a chover de novo. – Segurou a minha mão tentando me fazer ir mais rápido.
- Mas... – Parei de novo, analisando o lugar e querendo correr dali.
- Você não disse que confiava em mim? – Concordei com um aceno de cabeça. – Então... – Voltou a me puxar e eu deixei ser guiada.

Depois de subir os três degraus que rangeram ao suportarem o nosso peso, abriu a porta da casa e pra minha surpresa ela não estava suja ou empoeirada, mas o cheiro de mofo estava lá. Aquele lugar era como uma viagem no tempo, móveis antigos estavam espalhados ali, um enorme relógio de pendulo ficava ao lado de uma lareira, com diversos porta-retratos em cima.

- E então?
- É incrível. – Comentei admirada. – É como uma cápsula do tempo. De quem é essa casa?
- Depois eu te conto. - Piscou pra mim, fazendo um suspense que eu julguei desnecessário. –Agora vem até aqui e vamos fazer um curativo nesse rosto.

Fomos até a cozinha, nela além de eletrodomésticos que provavelmente não funcionavam, tinha uma enorme bancada, uma pequena mesa, armários e azulejos com cores estranhas.

- Senta aqui mocinha. – Me indicou o balcão e eu o obedeci, logo encontrou um kit de primeiros socorros. – Me deixe cuidar disso aqui. – Embebedou um algodão com alguma substancia de cheiro forte e começou a limpar em volta do local.
- Aquela filha da mãe! Se ficar alguma marca em mim, eu juro que vou desfigurar o rosto dela. – parou o que estava fazendo e me encarou sério.
- Eu tenho medo de você sabia? – Um sorriso bobo surgiu logo em seguida.
- Engraçadinho. – Me fiz de brava, mas meu sorriso entregava a encenação. – Quem vai cuidar desse ferimento? – Toquei de leve com as pontas dos meus dedos, a região machucada em seu rosto.
- Aqui é só colocar gelo, e vai ficar tudo bem. – Deu de ombros. – , eu sinto muito.

Eu senti que suas palavras eram verdadeiras. Era eu quem deveria está de joelhos pedindo desculpas a ele. havia me ajudado, estava sendo paciente, estava cuidando de mim, e tudo que recebeu foi um murro e ingratidão. Eu não iria permitir que ele se abalasse, ou que essa ultima hora estragasse o resto do seu dia, estragasse esse instante.

- Pode parar. Agora me fala de quem é essa casa?
- Dos meus avôs. – Revelou orgulhoso. – Desde que minha avó morreu ano passado, o Alzheimer do meu avô piorou e achamos melhor interna-lo numa clínica onde pudesse se socializar melhor. Por isso eu e minha família viemos pra Londres. – Disse tranqüilo, mas eu notei a tristeza e delicadeza do assunto.
- Então a teoria de que seu pai havia roubado um banco era mentira? – gargalhou e eu me senti bem por ter conseguido fazê-lo rir, pelo menos algum de nós deveria ficar bem hoje.
- Completamente. Eu estou andando excepcionalmente hoje com o carro da minha mãe e você viu a minha casa, eu não tenho grana.
- O dinheiro só traz tristeza , foi isso que ele fez com a minha família. – Abaixei minha cabeça, querendo não parecer tola por ainda ter as palavras da Lily assombrando os meus pensamentos.
- Não fica assim pelas mentiras que a Lily inventou.
- Não são mentiras. – O garoto me encarou assustado, mas agora que eu havia começado iria até o fim, estava cansada de guardar todo aquele segredo e naquele instante me pareceu um bom ouvinte.
- , não precisa falar nada.
- Eu quero. Só me escuta, por favor? – Ele se sentou ao meu lado no balcão, segurou a minha mão e me encarou, me dando total atenção. Respirei fundo.
- e meu pai haviam viajado e eu fui obrigada a ir a mais uma festa chata com a minha mãe. O pai da Lily é um cirurgião plástico influente, então a família dela sempre está presente nesses eventos. Como estávamos entediadas, demos em cima do cara das bebidas que nos conseguiu uma garrafa de vodca, nós subimos pra o terraço, mas quando chegamos lá encontramos minha mãe praticamente transando com um cara qualquer. Ela não nos viu, e a Lily prometeu não contar a ninguém.

Fiz um resumo sucinto da noite em que minha vida levou um baque me levando finalmente a perceber que a perfeição não existe, e o quanto o amor pode doer.

- Você acha que seu pai sabe?
- Se sabe, finge não saber, e eu...
- Ei. – Me interrompeu. – Não é obrigação sua se meter nisso, independente do que você decida fazer com essa informação, não significa que você está escolhendo um lado, significa que você está preservando a sua família.
- Mas eu sinto. Eu vejo meu pai se sacrificando naquele escritório, até proibi-lo de fazer coisas simples como tocar ela proibiu, e simplesmente... O trai?
- As pessoas se perdem durante o caminho, todos cometem erros babe, você só tem que aproveitar o intervalo entre eles. Sua mãe deve amar o seu pai, só está perdida.
- Ela deve amar o conforto que ele proporciona a ela. – Tentei controlar a minha raiva, mas falhei.
- Conversa com ela, isso é um assunto deles, você não deve carregar todo esse fardo. – Me aconselhou gentilmente, enquanto sua mão fazia um carinho leve na minha.
- Obrigada.
- Foi com seu pai que você e o aprenderam a tocar? – desviou o assunto, assim que percebeu que eu estava ficando abalada de novo.
- Ele tinha uma banda na época da faculdade, mas acabou abdicando do sonho quando descobriu que minha mãe estava gravida e percebeu que tinha que ser um bom advogado pra me sustentar.
- Eu pensei que o fosse mais velho.
- A minha mãe biológica morreu no parto, e um ano depois meu pai encontrou a minha mãe Anne com e somos uma família desde então.
- Seu pai deve ser um cara bacana, abdicar de um sonho não deve ser fácil. – Concordei com a cabeça e um sorriso nos lábios. E de repente eu percebi que eu queria saber mais sobre ele.
- Qual o seu maior sonho ? – Perguntei um pouco sem graça, e deu um enorme sorriso que deixava seus olhos quase fechados, e meu coração se aqueceu.
- Viver de música, é isso que eu amo fazer. Não é pelo dinheiro ou fama, mas pra tentar ser uma inspiração, poder proporcionar esperança, mudar a vida de alguém por pelo menos 5 minutos enquanto a minha arte está tocando. Mas também penso em proporcionar uma vida mais fácil pra minha família, um tratamento melhor pra o meu avô.
- Que lindo. - Disse completamente encantada.

era um garoto muito maduro e responsável pra sua idade. Diferente de qualquer um que eu havia conhecido, ele não se importava com dinheiro ou fama, ele só queria trazer acalanto para as pessoas, ele queria cuidar delas, assim como cuidava de sua família, seus amigos, isso era admirável. Em poucas horas eu havia conhecido , e estava amando cada detalhe. O que eu estou pensando? Devo está louca.

- E o seu maior sonho ? – Arregalei os olhos assustada com seu confronto e neguei com a cabeça. – Ah, qual é...
- Ser mãe. – Disse de uma vez, e sem rodeios, fechando os olhos e esperando ouvir sua gargalhada irritante, sabendo que iria ser zoada pelo resto da vida. Mas como o silencio reinou eu abrir os olhos e parecia extasiado.
- Uooou! Por essa eu não esperava.
- E o que você esperava? – Franzi o cenho, enquanto ele parecia formular uma resposta.
- Não se ofenda, mas eu te achava independente demais pra casar.
- E desde quando é preciso de marido pra ser mãe ? Encontrar uma pessoa que te ame genuinamente de volta é quase como ganhar na loteria, mas o amor de um filho é terno e sincero, você não precisa jogar, ou tentar ser o que não é, você só precisa amar.
- Isso é... – parecia mais abismado ainda com o que eu havia falado, e parecia tentar absorver cada palavra dita.
- Idiota e utópico eu sei. – Dei uma risada de deboche pra mim mesma, e desci do balcão, ele me acompanhou e segurou de leve o meu braço me virando pra ele.
- Não. – Os olhos dele tinham um brilho tão puro e sincero. – É incrível que você pense assim. Você será uma ótima mãe .
- Obrigada. – Minha voz saiu falhada, pela falta repentina de ar que aquela aproximação me acometeu.
- Você tinha razão, nós não podemos ser amigos, porque eu sempre vou querer mais. – Uma de suas mãos segurou a minha cintura colando os nossos corpos, enquanto a outra fazia um carinho em minha bochecha. me encarou mais profundamente, como se esperasse uma aprovação. Sorrindo ao consegui-la, ele enfim me beijou, um beijo lento, calmo, diferente de qualquer outro que já havia recebido, esse tinha mais alguma coisa que eu não sabia o que era. Ele nos afastou e voltou a me olhar meio inseguro. – Eu sei fazer melhor do que isso, é que eu estou... – Dei um selinho nele e sorrir.
- Assim está perfeito. – Ele pareceu convencido e voltou a me beijar.


FLASHBACK OFF.

Londres – 30 de outubro de 2015 – 14:41 pm.

- Amiga que saudades. – Quase gritei assim que vi . Minhas palavras eram irônicas, já que havíamos nos visto ontem, mas meu abraço foi sincero, eu sabia o quanto era difícil está de volta. Depois de se desfazer do abraço, me lançou um olhar inquisidor.
- É impressão minha ou você está com a mesma roupa que saiu de Nova York? – Sabia que ela iria reclamar.
- Tive um problemão com as minhas malas, o porteiro do prédio as despachou Deus sabe pra onde. A companhia de taxi ficou de me ligar ainda hoje.
- E daí? – Ela ignorou completamente a minha história triste. – Você é fashionista, não fica bem aparecer todo dia com a mesma roupa, sem contar nas fofocas que isso pode gerar. Assim que chegar à casa de trate de pegar alguma roupa dela e vá se trocar. – Revirei os olhos e ela percebeu seu exagero. – Ok, por que se atrasou tanto? Não que não seja normal você se atrasar, mas...
- Só estava dando uma volta por ai. – Disse enquanto esperava os seguranças colocarem as malas de no carro.
- De quem é esse carro? – Ela questionou assim que entrou no Aston Martin preto que cheirava a novo. O nervosismo dela era tão evidente, que eu sabia que ela não pararia um minuto de me bombardear de questões fúteis, pra desviar o foco do que realmente importava.
- Você é da policia agora?
- Só queria saber se você já havia ido às compras. – Deu de ombros.
- Não, nem tive tempo ainda. E você sabe que eu não ligo pra carros, esse é do .
- Você dormiu com o ? Por que nada no mundo faria ele te emprestar o carro dele. – Homens e sua adoração por carros. No caso de era obsessão mesmo, e só sai com o seu favorito, porque não achei a chave da Land Rover. Hoje, muito provavelmente ele iria me matar.
- Dormi. – Respondi sem rodeios.
- ! – gritou em represália, sem me deixar explicar.
- Não desse jeito! Nós só passamos a noite bebendo, e, além disso, ele está namorando e de acordo com o próprio ela parece ser uma boa pessoa.
- Então gostamos da namorada do ?
- Até agora sim, ele realmente está apaixonado. – Ela balançou a cabeça e começou a mexer nas unhas, sabia que ela ia perguntar.
- E o ...
- Ainda não o vi. – Tentei parecer indiferente. – Mas vamos buscar a Jazzy no balé agora, ela está linda e bem mais esperta do que no começo do ano, nem parece ser filha do lerdo do . – Brinquei e nem assim, tirava aquele semblante incomodado do rosto. – Vai, pergunta logo.
- O que? Eu não quero saber mais nada. – Ela tentou parecer ofendida ou afetada com a minha pergunta, mas eu iria respondê-la mesmo assim.
- O e meu pai estão viajando, só voltam amanhã, então relaxa, ok? – O telefone dela tocou e com um sorriso sem graça ela me encarou.
- Acho que você terá que enfrentar o seu passado antes de mim afinal. – Me mostrou o visor do celular, e pude ler uma mensagem animada de , convocando todos para um jantar em sua casa.

FLASHBACK ON:

POV .

Londres – 08 de Setembro de 2008 – 09:08 am.

Faziam duas semanas que havia me mudado pra Londres com minha família, meu avô precisava de um tratamento melhor e minha mãe fazia questão de estar presente. Apesar das circunstancias, não era ruim estar ali, finalmente eu tentaria realizar meu sonho de viver de música.

Me enturmar no novo colégio, não havia sido difícil, já que eu conhecia há alguns anos, e ele me apresentou a sua galera. Todos foram bastante receptivos, e as garotas daquele lugar eram gatas o suficiente pra me fazer acordar cedo no frio de Londres, e ir feliz pra o colégio.

Eu só faltava conhecer uma tal de , irmã do , e que pelo visto havia namorado todos os garotos do time de futebol. As amigas dela, e , diziam que íamos nos dar bem, mas sinceramente pelo que eu ouvia sobre ela, eu não achava isso possível. Ela com certeza devia ser aquelas líderes de torcida gostosa, loira e com tanta maquiagem que parece estar usando máscara, sem contar o jeito esnobe e fútil. Não sou preconceituoso, longe disso, também não deixo de ficar com uma garota assim, mas só pra pegar mesmo, mas daí se apaixonar? Esses garotos são acéfalos? Como meu amigo pode cair na dela? Como tal de Benjamim, pelo que eu soube nos corredores, se tornou um viciado após ser rejeitado por essa garota? Come on, odeio beleza artificial, o que essa podia ter de tão especial?

Mais uma segunda-feira começava, mas diferente das outras, o dia estava ensolarado e não fazia tanto frio. Estávamos sentados no lugar de sempre, esperando o sinal tocar, estava numa discussão com sobre quem havia comido mais fatias de pizza na noite anterior, enquanto eu olhava o encarte de um CD novo que comprei antes de ir ao colégio, tive a sensação de alguém estar me olhando e quando levantei a cabeça... PUTA QUE PARIU!

Uma garota ao lado de , namorada de , estava parada e me encarando? Ela era líder de torcida e nunca na minha vida vi aquela roupa cair tão bem em alguém, ela era gostosa pra caralho. Tinha uns cabelos pretos e compridos que estavam presos num rabo de cavalo desalinhado. Não estava maquiada, mas seu rosto era lindo, e quando ela sorrio de canto vi covinhas se formando, seus olhos verdes me prenderam e ... ela está mesmo mordendo o lábio?

Não tinha a menor ideia de quem ela era só a certeza de que ela iria ser minha, iria pra minha cama.

ficou em sua frente e nosso contato foi quebrado, elas conversaram alguma coisa e a garota começou a correr em nossa direção? Ela vinha falar comigo? Eu como bom idiota que sou já ia levantando os braços e então ela se jogou no colo de, ?

- querido! – Deu um beijo estalado em seu rosto. – Aposto que morreram de saudades de mim, mas não precisam chorar mais, eu estou aqui. – Falou numa confiança invejável, que a deixava mais incrível ainda, depois que cumprimentou todos, menos o , ele se pronunciou.
- . – ? Que porra estava acontecendo aqui. – O carro está na oficina, vamos ter que pegar carona com o .
- Sem problemas irmãozinho. – Então aquela era realmente a tal ? Ela era linda, sua descrição física não condizia com nada do que eu imaginei, mas acho que acertei no seu temperamento, eu tinha que ter acertado, ninguém poderia ser tão... tão... ah.
- Adoraria ficar mais e matar essa saudade, mas ainda tenho que passar na secretaria e pegar o meu horário.

Eu ainda permanecia na inercia, como uma enorme estátua caipira, e então ela pareceu me notar.

- Ah, oi Estranho! – Me deu um beijo na bochecha, segurou meus ombros e pareceu me analisar. Engoli uma pedra por aquele contato inesperado, até que ela observou o papel em minhas mãos. Qual é , vai virar bicha agora? Fala alguma coisa, não deixa essa patricinha mexer com você. – Only by the Night do King of Leon? – Ela parecia surpresa. – Você até que tem um bom gosto, Estranho.

A afastei de mim delicadamente e também a avaliei. Coloquei a melhor cara sarcástica que consegui e finalmente saí do transe.

- E você tem pelas pernas. – deu uma pequena gargalhada, pela minha tentativa falha de atrevimento, mandou um beijo no ar pra os amigos, mas antes de ir sussurrou em meu ouvido.
- Você não viu nada. Ainda! – E finalmente se foi em direção à secretaria, falando com todo mundo, recebendo olhares de admiração ou inveja, enquanto eu voltei pra maior expressão de bobo do Reino Unido. Gay!


FLASHBACK OFF.

POV . Londres – 30 de outubro de 2015 – 18:33 pm.

Desci as escadas correndo e rindo, há quantos anos eu não vestia aquele uniforme de líderes de torcida? Nem eu acreditei que a ainda guardava aquilo.

- ! Olha só o que achei! GOOOO SHAAAARKS! – Levantei os pompons que estavam em minhas mãos rindo, até que parei abruptamente no início da escada. Automaticamente o meu sorriso se desfez e senti o meu rosto empalidecer, a náusea me acometeu, meu coração disparou, larguei os pompons e a minha mão esquerda segurou firme o corrimão não me permitindo cair. Assim como da primeira vez, seu olhar pareceu penetrar a minha alma.

Ele fechou a porta atrás de si, e retirou uma jaqueta de couro preta que usava, a barba em seu rosto dava-lhe um ar de mais velho, ele estava mais bonito, bem mais forte, seus olhos ainda tinham o mesmo brilho, aquele que me remetia ao medo de ficar sozinha, pior, eles me lembravam o que era amar e ser amada. Foi desse brilho que eu fugi.

abriu seu maior sorriso, se aproximando de mim. O cheiro, dele continuava o mesmo, não, o cheiro dele estava melhor, quando senti sua mão segurar a minha cintura, todo o meu sistema falhou e eu instantaneamente fechei os olhos, ao sentir o beijo molhado que ele me deu na bochecha, um tremor doloroso se espalhou por todo o meu corpo. me soltou e ao abrir os olhos o vi me encarando, com um sorriso enorme, mas maquiavélico.

- Oi, Estranha. – Eu nada respondi, ainda estava tentando saber se estava viva. – Você continua com belas pernas. – Sussurrou em meu ouvido e foi em direção a cozinha. Anos depois era a minha vez de ficar parada ali, como uma completa idiota.

Eu não me lembrava sempre da minha antiga vida, eu consegui petrificar o amor, as mágoas e lembranças do passado, e esconde-los numa parte escura e profunda da minha alma, mas só em ter estado tão perto de novamente, fez tudo se desfazer tão facilmente como uma onda encontrando um castelo de areia.

Capítulos 2 a 5 betados por Julianne Floriano



Capítulo 06

"We clawed, we chained, our hearts in vain. We jumped, never asking why. We kissed, I fell under your spell, a love no one could deny". Wrecking Ball - Miley Cyrus.



Londres – 30 de outubro de 2015 – 06:40 pm.

Vesti um vestido de , de minha coleção, mas que ela nunca havia usado. Soltei meus cabelos, escovei novamente os dentes e quando passei a primeira camada de rímel nos meus cílios esquerdos, eu parei e me olhei no espelho. Por que eu estava me arrumando, afinal? Minha imagem não importava, não seria uma aparência saudável e bem cuidada que provaria a que eu estava bem. Espera. Eu não preciso provar nada a ele, isso era uma total falta de maturidade, eu havia seguido em frente, a opinião dele não importava. Passei a camada no outro olho só pra igualar e desci do jeito que estava mesmo. Todo mundo tem um passado, e o meu estava bem enterrado.

Antes de seguir até a área externa da casa, onde todos estavam, eu chequei o meu celular, mecanismo inconsciente da minha mente pra adiar o momento. Havia diversas ligações perdidas da minha mãe, provavelmente ela já sabia que eu estava em Londres, e passaria horas me julgando pelo simples fato de não tê-la avisado. Ignorei e pulei para as mensagens.

“Você está mesmo em Londres?”

“É bom você me atender, mocinha.”

, eu já estou furiosa.”

Há alguns anos mamãe morava na Alemanha com seu novo marido. Não havíamos nos distanciado, e eu a visitava todo ano, assim como ela sempre passava o Natal comigo. Mas claro que o fato de estar em Londres sem tê-la avisado ou ido visitá-la primeiro a deixou possessa de ciúme, principalmente porque iria me hospedar na casa de meu pai e sua noiva de 30 anos.

Respondi simplesmente “Estou em Londres, sim, e estou bem, mais tarde te ligo.” e cheguei até uma mensagem de Peter, que me arrancou um sorriso de verdade.

“Como estão sendo as férias? Não se esquece dos meus autógrafos! Não se esquece de mim! Love, Peter.”

“Sem autógrafos, já disse. Aqui está tudo bem, e por aí? Ps: Jamais vou esquecer. xX .”

Eu e Peter preferimos deixar tudo como estava, não havíamos conversado sobre o nosso pseudo-relacionamento, mas ambos sabíamos que aquele momento no escritório havia sido o fim, mas a amizade e as boas lembranças ficariam conosco pra sempre.

Assim que me aproximei da cozinha, eu o vi se atrapalhando para pegar algumas cervejas e colocá-las no balcão. Sorri ao ver o quanto ele continuava desajeitado e lindo.

- , que saudade. – Corri e me atirei nos seus braços, absorvendo todo o calor e alegria que emanava dele. segurou a minha mão e me fez dar uma volta.
- , você está... PUTA QUE PARIU, !
- Estou o quê, garoto? – Empurrei o seu ombro, e ainda me analisando ele abriu um sorriso malicioso pra mim.
- Digamos que se você fosse uma pizza, seria a fatia mais recheada.
- Ei. – Dei um empurrão mais forte. – Eu não estou gorda!
- Não te chamei de gorda, te chamei de gostos... , meu caro, como está? – Cumprimentou , que passou correndo atrás de Jazzy para o jardim.

O sol já havia ido embora e todos estavam sentados em poltronas confortáveis de vime branco, enquanto bebiam e esperava o jantar ficar pronto, ou melhor, a pizza chegar, já que era um desastre na cozinha.

Me sentei no braço da poltrona de e recusei a cerveja que me ofereceu. Por sorte, corria na grama, próximo à enorme piscina, atrás de Jazzy, que gritava pedindo ajuda. Não pude deixar de sorrir com a cena.

logo me abraçou.

- E então? O disse que você estava vestida como uma cheer. – Disse zombando de mim. E deixei bem claro com meu olhar que não havia gostado daquilo.
- Era uma brincadeira, não esperava encontrar justo com ele.
- Pare de ser boba. – Seu olhar era maternal e sincero. – Você vai ver como vai se sair bem.
- Eu não sou hipócrita, não sei fingir uma falsa diplomacia.
- Ele também não, só da um tempo, isso ta sendo difícil pra ele também. – Não pude conter girar os olhos pra ela. Até parece que alguma coisa foi difícil pra .
- Vem, Dinda! Vem me salvar! – Jazzy vinha correndo em nossa direção, enquanto fingia correr ao máximo para alcançá-la. Ele ficava tão lindo quando ria daquele jeito, todo relaxado e... E nada. Balancei a cabeça bloqueando qualquer pensamento impróprio.
- Outra hora, querida. – Jazzy fez um bico fofo, abaixou a cabeça decepcionada e deu as costas, bem triste. Não era justo eu fazer isso com ela, não iria mais privar aquela criança da minha ausência.
- Outra hora eu salvo, porque agora eu vou te pegar também. – Disse rindo assim que me levantei e corri atrás dela. Ela gritou e saiu correndo em direção a .
- Vem, princesa, eu te salvo. – Ele disse pegando a menina no colo e rindo enquanto eu os seguia. Logo consegui acompanhar e fiz cócegas em Jazzy, que ria escandalosamente enquanto se debatia. – Eu disse, princesa, você não devia se meter com uma . – disse completamente irônico, me lançando um olhar frio, e eu sabia que ele não se referia à brincadeira, e sim à vida que um dia compartilhamos.

FLASHBACK ON:

Londres – 29 de outubro de 2008 – 07:57 am.

Acordei às seis e meia da manhã, assim que meu celular tocou. Meu corpo implorou pra ficar ali, quentinho, mas minha mente já estava trabalhando a mil por hora, tinha diversos problemas pra resolver e o treino de líderes de torcida seria intenso, já que tínhamos jogo no sábado. Eu, que não era muito de me maquiar, vinha recorrendo ao recurso pra esconder o estrago que a vadia da Lily havia feito, mas que por sorte estava quase sumindo. Enfrentei o mau humor matinal de , que iria treinar com o time, e assim que chegamos ao colégio ele seguiu para o campo enquanto eu fui para o ginásio.

Ao entrar, ainda um pouco aturdida pelo sono e frio, senti meu braço ser puxado bruscamente, e não gritei, pois logo reconheci o perfume dele. segurou firme minha cintura e me beijou.

- O que está fazendo aqui? – Questionei sorrindo. Por que diabos eu estava sorrindo? Eu estava de mau humor, lembra, cérebro?
- Estou no time de futebol, esqueceu?
- Verdade. – Lembrei que havia entrado no time e parecia ter virado a sensação; jogando como atacante ao lado de Jason e era a aposta pra vencermos o campeonato. – E como você está lidando com o... – Deixei o nome no ar.
- ? – Concordei. – Ele me procurou no fim de semana, e resolvi ouvir seus argumentos, e depois de uma tarde brigando...
- Vocês brigaram de novo?
- No Playstation. – Revirei os olhos. – Garotos se resolvem assim, .
- Então vocês se entenderam?
- É, ta tudo numa boa. – parecia considerar alguma coisa, até que resolveu perguntar. – E vocês?
- Nós conversamos ontem, e acho que vamos ficar bem. – Ele abaixou o olhar concordando, mas algo claramente o incomodava. – Eu preciso ir.
- Ok. – Ele voltou a me encarar.
- O é só meu amigo estranho. – recuperou a postura de machão, como se tivesse sido flagrado. – Mas vamos continuar evitando que ele ou qualquer outro nos veja juntos.
- Claro. – Me lançou um sorriso, mas a frustração ainda estava presente em seus olhos.
- Tchau.
- Calma. – Ele segurou minha mão, me impedindo de sair. – Pra sair tem que pagar. – Disse juntando os nossos corpos com um sorriso digno de um cafajeste.
- Por que você sempre fala isso, é realmente irritan... – Antes que pudesse iniciar qualquer discussão, ele voltou a me beijar.

Assim que o beijo terminou, ainda mantínhamos os nossos lábios juntos, apreciando o gosto um do outro.

- Você não devia mexer com uma . – Sussurrei, mordi o seu lábio inferior e mesmo sem nenhuma vontade sai dali.

Não sei como consegui recuperar o fôlego, mas assim que cheguei à quadra fui arrumar os materiais necessários para o ensaio. Aos poucos as garotas foram chegando, bastante adiantadas, por sinal, fruto da minha ameaça de jogá-las da Tower Bridge.

- Bom dia, bitches! – Lily apareceu sorridente, com sua voz mais afônica que o normal, já que estava usando uma atadura no nariz. Eu tinha feito um bom trabalho.
- Como só está faltando a Molly, vamos iniciar o ensaio e deixamos a parte das acrobacias e da pirâmide pra quando a IRRESPONSÁVEL chegar.
- E-e-é . – Emma levantou a mão e eu já fiquei furiosa com ela, estava realmente sem paciência. – N-nós te-te. – Ótimo, agora ela ia começar a gaguejar.
- Fala logo, garota.
- A Molly saiu do time, ela teve uma contusão no pé andando de patins ontem.
- Você está de brincadeira. – Gargalhei.
- Não. – Ela disse rápido olhando pra o chão.
- Onde você ouviu isso? – Fui até ela levantando o seu queixo e a obrigando a me encarar.
- , se acalma. – , minha suposta amiga, resolveu falar comigo.
- Fala, Emma. – Gritei sem me importar com mais nada.
- Ela mandou um atestado. – Puxei o papel das mãos trêmulas de Emma.
Assim que comecei a ler, Lily se aproximou, tendo acesso ao conteúdo do documento.

- Não parece ser grande coisa. – Lily desdenhou. – Mas definitivamente ela não estará pronta pra sábado.
- Cala boca, Lily.

Aquele ser humano irritante apenas levantou as mãos em sinal de rendição. Mas aquele sorriso dizia tudo, ela estava envolvida nisso, já que Molly era uma espécie de escrava sua.

- Minha prima estuda na St. Johns e disse que a Amanda vem com tudo esse ano, já que não querem sofrer a mesma humilhação do ano passado. – Eva apressou-se em dizer, com os olhos apavorados como o de todas ali, exceto Lily, claro.
- Isso não está acontecendo. – Murmurei com as mãos nas têmporas e fechei os olhos. Assim que os abri, percebi que as garotas me encaravam, esperando uma solução. Droga!
- Não vamos mais participar? – Eva questionou e então começaram os comentários.
- Claro que vamos. – Disse convicta, mesmo sem saber como desenrolar a situação.
- O que vai fazer, capitã? – Lily me perguntou esbanjando um sorriso cínico, pedindo pra apanhar novamente.

Cerrei os olhos em sua direção, mas então uma ideia genial surgiu. Abri o meu maior sorriso e observei o de Lily morrer aos poucos, e agora tinha certeza de que a desistência de Molly tinha sido influência sua.

- O treino está suspenso por hoje, mas amanhã voltamos com força total e uma nova integrante. – Garanti, e mesmo com expressões incrédulas as garotas concordaram e se dispersaram.

Fui até o vestiário, tinha que manter o uniforme de cheerleader, mas jamais ia ficar de tênis, odiava ficar sem salto, então logo coloquei meus coturnos de saltos médios.

Assim que sai do vestiário, vi se afastar de mim como se eu tivesse uma doença contagiosa. Não me importei, porque precisava lidar com um problema de cada vez. Depois de procurar por quase todo o colégio, a avistei no início do enorme corredor que dava acesso às salas. Estava conversando animadamente com . Ultimamente eles haviam ficado bem amigos, praticamente inseparáveis. Não que eu me importasse, mas o idiota do não iria roubar minhas amigas de mim.

- Fica longe dela, estranho. – Gritei assim que cheguei perto dos dois. , sem se importar com meu surto, só deu de ombros, já , pela expressão, havia ficado sem graça.
- Calma, mas a gente só estava...
- Vem logo, preciso conversar urgente com você. – Disse a , arrastando-a pelo braço e ignorando completamente o que estava dizendo.
- Tchau, , a gente se vê. – disse enquanto eu puxava o seu braço.
- “Tchau, , a gente se vê.” – Assim que assumimos uma distância segura eu repeti aquela frase com uma voz birrenta, que se assemelhava bastante com a voz da minha amiga. – O que deu em você? Deu pra virar amiguinha do agora?
- Olha só, já está com ciúme?

No mesmo instante em que perguntou com aquele sorriso petulante o celular em minha bolsa tocou. Ao retirar, constatei que era uma mensagem do próprio assunto em questão.

“Você fica tão linda com ciúme de mim, babe.”

- Eu não estou com ciúme de ninguém. – Disse praticamente gritando enquanto olhava pra o celular.
- Eu sei, relaxa. – disse, e só então percebi que havia respondido suas provocações também.

Respirei fundo procurando achar calma, já que tinha uma enorme missão naquela quarta-feira nublada, como o meu humor.

- Então, o que tanto quer comigo? – Me lembrei do que se tratava e logo abri o meu maior sorriso pra , já na intenção de convencê-la. – Ai, meu Deus, você está sorrindo, vem desgraça por aí.
- Não mesmo. – Tentei soar convincente. – Primeiro, pra te lembrar sobre a intervenção, a . – Ela concordou. – E segundo... Sóprecisoquevocêvolteatorcer. – Disse o mais rápido que conseguir.

Depois de gargalhar por uns dois minutos, pareceu se recuperar.

- Desculpa, , eu pensei que você tivesse dito que queria que eu voltasse a ser cheerleader.
- Por favor, . – Ela começou a balançar negativamente a cabeça. – Pelo menos só pra o jogo de sábado.
- Não! – Ela exclamou decidida.
- Você treina essa semana e, além do mais, você torcia no primeiro ano.
- Porque perdi aquela aposta pra você. – Ela disse o óbvio, mas eu ignorei.
- Olha só, a Molly, uma das amigas da idiota da Lily, teve algum tipo de acidente muito suspeito, por sinal, e sábado vai ter jogo em Oxford, você sabe o que significa.
- Amanda Smith. – Afirmou.

Amanda era a pior vadia que eu tive o desprazer de conhecer na minha vida, de modo que até mesmo Lily tinha certo receio dela. Ela era capitã do St. Johns High School, e que ela nunca ficasse sabendo disso, mas era muito boa dançando. Todos os anos a competição entre os nossos colégios era acirrada, isso incluía o jogo de futebol.

- Isso. Não podemos aparecer na cidade daquela víbora com um desfalque. – Choraminguei.
- Não. – Cruzou os braços e balançou a cabeça.
- Por favor. – Juntei as mãos implorando.
- Já disse que não.
- Eu faço o que você quiser durante essa semana.
- Não. – Dito isso, se virou e entrou na sala.
- Urgh! Eu te odeio. – Me virei pra ir até a sala ao lado. Só teria aula com no segundo tempo, mas antes eu ainda pude ouvir sua resposta sarcástica.
- Também te amo, .

Ao entrar na sala me deparo com uma cena patética, onde e estavam sentados e diversas garotas se ofereciam sem o menor pudor. Claro que aquilo não ia ficar assim, não que eu me importasse, mas não permitiria que meus amigos ficassem ali, tendo que suportar o papo daquelas biscates.

- Bom dia. – Usei o meu sorriso mais cínico e saí empurrando aquelas garotas, sentando entre os dois.
- Mas eu estava sentada aí. – Uma delas exclamou irritada e eu pouco me importei.
- Que bom que usou o verbo no tempo correto. Agora, sai da minha frente que eu quero assistir à aula.

Ela saiu bufando de raiva enquanto os meninos riam.

- Adoro como a sabe ser grossa usando essa voz doce. – comentou ainda rindo, depois se ajeitou em sua carteira e logo começou a dormir.

A aula começou e se escorou em minha carteira disfarçadamente.

- Ciumenta linda.
- Sonha.

Respondi irritada com a petulância dele e não conseguiu reprimir uma boa gargalhada, recebendo um olhar de repreensão do professor.

Durante aqueles 50 minutos de aula que os meninos tinham comigo, eu resolvi prestar atenção e copiar tudo o que estava na lousa, e o tempo passou tão rápido que nem percebi quando eles saíram.

Assim que entrou na sala, acompanhada da professora de literatura e outros alunos, lancei mais uma vez o meu melhor sorriso e ela apenas revirou os olhos e se sentou longe de mim, pois sabia que eu iria insistir no pedido a aula inteira.

A senhorita Morgan apagou as luzes, pois iríamos assistir a um filme, “Tristão e Isolda”. Já tinha visto e chorado feito uma boba e não ia pagar esse mico na frente da minha turma, então ajeitei o caderno e o livro, colocando minha cabeça sobre eles, até que não ouvi mais nada.

Senti algo chacoalhando o meu braço e acordei assustada sem ter a mínima ideia de onde eu estava. Minhas costas doíam e tinham certeza de que meu rosto estava marcado pelo contato direto com o livro de literatura. me olhava de braços cruzados e ria com gosto.

- A aula acabou, queridinha. – Maravilha! Nem mesmo me lembrava do que a Senhorita Morgan havia dito após cumprimentar a turma. Não que eu não gostasse de literatura ou da professora, mas eu sempre dormia em suas aulas, já que sua voz era tão doce e fleuma que produzia em mim o mesmo efeito que uma canção de ninar a um bebê.
- To encrencada?
- Uma olhada feia e indignada, mas você continua sendo sua aluna favorita, então relaxa.
- Menos mal. – Me espreguicei, mas minha vontade era de permanecer ali dormindo e nem sair pra o intervalo.
- Só te acordei porque precisamos falar com a , já estou preocupada.
- Também. Já têm dias e, sinceramente? Ela está sendo dura demais com o .
- Concordo.
- Você o quê? – Tenho certeza de que meus olhos estavam arregalados como os de um mangá.
- Todo mundo merece uma segunda chance, ele estava bêbado, tem 17 anos, quem sou eu pra julgar?
- Isso é pegadinha, não é? – Olhei pra todos os lados procurando as câmeras escondidas. Tudo bem que orgulho não era um defeito que possuía, ela sempre conseguiu perdoar as pessoas mais facilmente, mas ao mesmo tempo ela era extremamente inflexível e não admitia erros.
- Cala a boca e vamos logo.

Assim que saímos enfrentando aquela enorme quantidade de alunos, vi Molly com uma bota ortopédica no pé esquerdo, conversando sorridente com Lily, e me lembrei do meu problema numero um.

- , por favor. – Apelei pra minha cara fofa.
- Já disse que não! E eu não vou olhar pra essa sua cara do gato de botas do Shrek. – Droga, eu precisava arrumar uma nova abordagem.

nem parecia morar na mesma cidade que a gente ou sequer habitar no nosso planeta. Desde que chegara pra estudar no nosso colégio, há cinco anos, nós nunca ficamos separadas dessa maneira.

Até nas aulas que tínhamos juntas ela ficava por perto, mas não conversava muito e eu sabia que era pra não ficar sabendo sobre o que fizemos no fim de semana, ou qualquer novidade que envolvesse .

agora, quando não sentava sozinha, estava rodeada de pessoas que ela sempre repudiou, desde as meninas que torciam com a gente até um grupo de missionárias que aboliam todas as atividades que jovens normais praticavam, e, o pior, achavam que rock era uma música satânica e todas essas bobagens que não me importariam muito, mas que , ou pelo menos sua versão antiga compraria uma enorme briga. Já a versão atual, mesmo discordando, ouvia aqueles comentários ofensivos – pelo menos pra ela – e se mantinha ali, tudo pra se afastar de e consequentemente de nós também.

- Bom dia. – Eu e falamos em uníssono. Duas dessas missionárias nos olhavam com escárnio e, após se despedirem de , se afastaram.
- Bom dia. – Resposta desanimada como sempre.
- Como vai, sumida? – Perguntei tentando parecer animada e quebrar toda aquela formalidade.
- Só ando estudando, você sabe, as provas estão chegando. – Deu de ombros e e eu nos sentamos, cada uma ao seu lado num banco.
- As provas só começam daqui a duas semanas, e isso vai além da sua atitude habitual de nerd. – Brinquei novamente. mantinha seu olhar de desprezo para as missionárias.
- Mas eu preciso...
- Serio isso? – apontou para as meninas. – Vai virar amiguinhas delas agora e abandonar a gente?
- Eu só não ando mais com os meninos.
- Mas a gente anda com eles.
- Se não vão parar eu não posso fazer nada. – Ela estava sugerindo que eu e também parássemos de falar com nossos amigos? Ela estava ficando louca?
- Quantos anos você tem? – parecia tão chocada quanto eu.
- Não estou a fim de discutir com você, .
- Você só pode ter começado a usar as ervas do .
- Não fala no nome desse garoto. – rosnou e o olhar de fúria que ela lançou pra me assustou, e antes que a discussão se acalentasse mais eu resolvi intervir.
- Da pra parar, vocês duas? , para de ser ridícula e conversa com o , ele tá sofrendo tanto quanto você e, sinceramente, essa coisa toda de se manter “longe e pura” não combina contigo.
- Não mesmo. – concordou rindo e parece que esse gesto irritou , mas do que as minhas palavras.
- Cala essa boca, , você acha que eu preciso resolver os meus problemas? Por que você não resolve os seus com o ?
- Eu não tenho problemas com o . Nós somos...
- Ah, por favor, essa história de “não temos nada sério” de novo? Vocês são um casal! NA-MO-RAM, e se não colocarem isso nesses termos, um dos dois vai acabar sofrendo. – Disse impaciente.
- Que ótimo conselho, , por que não o segue e se assume com o ?
- Tá louca? – Quase gritei.
- Poupe o seu discurso, vocês podem até enganar os meninos, mas eu sei muito bem que todo intervalo ou depois dele vocês vão se pegar na sala do zelador.
- HAHAHAH. – ironizou. – A vida de vocês está uma zona e vieram até aqui achando que podem questionar a minha? Me deixem em paz.
- Vai ser a melhor coisa me afastar de vocês duas. – Eu disse me virando.
- Odeio vocês. – Foi a vez de externar sua raiva.

Ficamos as três sentadas no banco com os braços cruzados, pernas balançando e resmungando, sem nenhuma querer ceder e sair dali primeiro, já que logo faríamos as pazes. Assim que cedesse, ela era sempre a primeira a baixar a guarda, enquanto eu era a última.

- Ok, vamos parar com isso? – pediu com a voz suave.
- Ok. – disse e as duas se voltaram pra mim. Depois que revirei os olhos teatralmente, eu também cedi.
- Ok. – Gargalhamos, provavelmente todas pensando a mesma coisa que eu: “éramos patéticas e em todas as brigas esperávamos o momento do ‘ok’, minutos depois”.
- Não consigo mais perdoar . – disse com uma dor perceptível no olhar, abrindo a sessão desabafo. – Eu o amo demais, por isso não suporto ficar perto, é como se a dor que eu tento esquecer e anestesiar voltasse com força total quando eu o vejo.
- Eu acho mesmo difícil perdoar, mas se você o ama como diz, acho que o merece pelo menos que você tente. – segurou a sua mão a fim de lhe confortar.
- Faz isso aos poucos, encare-o, fique perto, não mude sua vida, então uma hora você vai estar confortável na presença dele de novo, e, se não estiver, nós estaremos aqui. – Garanti pra com um sorriso, que ela logo retribuiu.
- Acho que vocês têm razão, e eu também não suporto mais aquelas missionárias xingando os maiores guitarristas da historia, Jimi Hendrix? Jimmy Page? São praticamente deuses. Como alguém pode não amar Led Zepplin?

Eu não havia entendido nada, já que rock clássico não era um assunto que eu dominava, mas precisava ser educada.

- Até gosto desse cara.
- Qual deles? – Ela quis saber, animada.
- O Led. – Respondi na maior cara de pau.
- Você está falando sério? – Confirmei.
- Led Zepplin é uma banda, , e não um cantor. – disse já roxa de tanto rir.
- Não conta isso pra ninguém, por favor! – Implorei, rindo da minha total ignorância no quesito mundo do rock.
- Quando o ficar sabendo, ele... – parou abruptamente de falar.
- Tudo bem você sentir falta dele. – Falei a abraçando. respirou fundo com os olhos marejados.
- Ele era meu melhor amigo. – Se lamentou num sussurro.
- Nós te entendemos, querida. – Apertei mais o meu abraço, ouvindo um suspiro pesado vindo de .
- Eu gosto do . Na verdade, eu o amo, mas tenho medo de nomear o que temos e ele perceber o quanto isso é serio e querer cair fora.
- Você não tem curiosidade pra saber o que ele sente? – se adiantou, e como se tivesse lido os meus pensamentos fez a pergunta que eu queria.
- Ele já me disse uma vez. – E eu pensei “só uma?”. Meu irmão era um imbecil e compartilhávamos os mesmos problemas de envolvimento. – Mas ele mostra, já que está sempre cuidando de mim, não fica com outras garotas na minha frente, então é tudo que eu possa querer.
- Não, , você merece mais. – Ela colocou a cabeça no ombro de e parecia esta absorvendo o que eu havia dito. – Você não tem vontade de gritar pra o mundo que ele é seu?
- Tenho, mas não quero arriscar as outras coisas, entendem? – Talvez eu fosse possessiva demais pra entender, mas não disse isso a ela. Concordei e vi que era a minha vez de desabafar.
- Sim, eu estou ficando com o Estranho, mas pela primeira vez não é um jogo, eu gosto de ficar com ele e nós estamos nos tornando bons amigos.
- Você está fazendo o mesmo que fazia com o , . Está repetindo o seu erro. – foi curta e categórica.
- É diferente.
- Se é diferente, por que você não aceitou sair com ele pra um encontro decente das últimas, sei lá, dez vezes que ele te chamou? – A pergunta dela soou mais como uma acusação.
- Foram vinte e uma vezes, e como você sabe disso? – Eu estava completamente perplexa.
- Ah, só estava perdido e precisava de uma confidente, já que o e a estão um lixo, o não serve porque é seu irmão, o não conta e o nem precisa dizer, então sobrou pra mim. Mas fala, por que não aceitou?
- Não sei, eu nunca fui num encontro. – Respondi um pouco envergonhada.
- Tá de brincadeira? Você provavelmente deve ser a rainha dos encontros dessa escola. – disse.
- O quer mesmo me levar pra um encontro. – Elas ainda pareciam perdidas. – Não pra um cinema ou uma festa com a desculpa de me levar pra um canto escuro pra dar uns amassos. E ainda tem o .
- Primeiro – começou a listar com os dedos. – Justamente por ser diferente você deveria ir, se dar essa oportunidade, sai do almoxarifado e dar uma chance ao Estranho. – Acho que o apelido estava pegando. – Segundo, você já não se resolveu com o ?
- Não exatamente. Depois dele me abordar por todos os meios possíveis ou não, eu resolvi perdoá-lo, mas não estamos ainda cem por cento, sabe? E tenho medo de que ele descubra e acabe de vez com nossa amizade e com a dele com . Tudo que eu não quero é criar problema pra eles de novo.
- Ah, mas não se preocupe, se o te chamar pra sair de novo me prometa que vai aceitar, que ninguém nessa cidade vai saber sobre o encontro.
- Eu não vou. A gente nem deve ter assunto pra isso, e também não vou me rebaixar a ele. – Definitivamente eu precisava arrumar desculpas melhores. – Vamos mudar de assunto.
- Você está sendo injusta com o , ele é um cara legal.
- Me poupem. Eu não vou e pronto.
- Sabe o que eu vejo estampado na sua cara? – Levantei a sobrancelha, encorajando a falar. – Medo. O foi o único garoto que mexeu de verdade com você, por isso está fugindo. Você está com medo.
- E-Eu nem vou te responder. – Disse irritada pela capacidade que tinha de enxergar a verdade e esfregar na minha cara.
- Claro que você está com medo. – Afirmou novamente rindo. – E aposto que esse medo vai impedir de você sair com ele algum dia.
- Posso sair, sim.
- Quero só ver. – E uma luz divina se acendeu.
- Quer apostar? – nunca recusava uma aposta.
- Quero.
- Eu saio com o e você torce no sábado.
- Como vou saber que saiu mesmo com ele?
- Ela tira uma foto. – respondeu o óbvio.
- Não. Eu vou querer três fotos em momentos distintos.
- E além de se apresentar, você vai ficar na beira do campo.
- Fechado. – Ela estendeu a mão pra mim.
- Fechado. – Apertei firmemente, selando o nosso acordo.

Suspiramos contentes, mas ainda restava uma coisa.

- Saindo dessa questão de aposta, eu realmente quero que você, , me prometa que vai tentar conversar com a toupeira do meu irmão. E, , prometa que vai voltar a se aproximar.
- Só prometo porque você está dando uma chance ao . – Preferi concordar naquele momento com pra não começarmos uma nova briga.
- Prometo. – não parecia tão animadoa mas sabia que aquilo era o certo a se fazer. Colocamos as mãos uma em cima da outra, num gesto infantil que selava as nossas promessas.

Nesse momento Lily e Molly passaram por nós e cumprimentaram . Vi minha amiga fechar as mãos em punhos, mas não disse nada.

- Relevem, elas são acéfalas. – disse com enorme naturalidade.

Em meio aos risos, ouvimos o sinal irritante soar indicando o fim do intervalo.

- Quão clichê isso é? O intervalo acaba assim que encerramos e resolvemos nossos assuntos.
- Talvez a gente esteja num filme ou série adolescente.
- Vou ao banheiro, e quem sabe quando eu estiver saindo de lá eu esbarre no meu futuro marido?
- Pra quem não quer um namorado você até que já está pensando longe, hein, ?
- Uma garota pode sonhar.

E parecendo que havia previsto o momento, assim que sai do banheiro senti alguém segurar meu antebraço.

- ? – Assim que me virei vi um garoto me encarando tímido e em expectativa.
- Oi... – Respondi pra ser educada, mas realmente não me lembrava desse garoto. Seu uniforme estava do jeito que todas deveriam estar, gravata arrumada, camisa por dentro da calça e blazer alinhado, mesmo assim a roupa comportada não escondia um corpo considerável, nem os grandes óculos escondiam penetrantes olhos azuis. Ele podia querer bancar o nerd, mas era um cara bonito.
- Eu sou o Andrew. – Disse ainda inseguro.
- Oi! – Fingi uma falsa animação, como se o tivesse reconhecido.
- Seu parceiro de biologia. – Ele logo acrescentou assim que percebeu minha desatenção. E estendeu a mão para que eu pudesse saudá-lo.
- Ah, oi, Andy, posso te chamar assim, não é? Pode me chamar de .
- Vamos nos ver bastante nas próximas semanas. – Comentou mais descontraído.
- É... Eu sinto muito por você, já que eu odeio biologia. Na verdade eu odeio qualquer disciplina desse colégio, mas vou tentar ser uma boa parceira, ok? – Olhei para o lado e vi saindo da sala. Assim que nos viu, parou, me encarou de maneira esquisita. Maneou a cabeça para o lado, indicando que eu deveria segui-lo.
- Já vou! – Sibilei sem emitir som algum, enquanto o tal Andy falava como deveríamos produzir o trabalho.
- Podemos começar hoje à noite?

continuava parado com os braços cruzados e batendo o pé como uma garotinha, seria engraçado se ele não parecesse furioso. Ele estava com ciúme de mim e eu estava adorando aquilo.

- Podemos? – Andy perguntou novamente.
- Sim... – Voltei minha atenção para o garoto, peguei uma caneta que estava estrategicamente em seu bolso, segurei sua mão e anotei meu número. – Me manda um SMS com seu endereço que estarei lá. – Dei um beijo estalado em sua bochecha e saí.

Assim que me aproximei do Estranho, ele segurou firme meu cotovelo esquerdo e saiu me puxando sem dizer nada.

- O que você tá fazendo? – Perguntei já irritada com aquele comportamento irracional. E ele só me olhou como se a resposta fosse óbvia. – Por que está me levando pra trás da arquibancada?
- A sala do zelador está fechada. – Me encostou na parede e me encarou com uma expressão não muito boa, me fazendo sorrir abertamente.
- Hum... Já tinha checado, era?
- Quem era aquele cara?
- Que cara? – Me fiz de desentendida.
- Você sabe muito bem. O que estava falando com você.
- Era só o... Você está com ciúme de mim, Estranho? – Assim que perguntei, se afastou como se tivesse levado um choque.
- O quê? Não! Eu só não queria ter atrapalhado.
- Sabe, Estranho, o jeito possessivo como você segurou em meu braço foi até sexy. – Disse e mordi o lábio, gesto que causou algum efeito positivo nele.
- Não foi possessivo. – Falou completamente inseguro.
- Não estrague o momento. – Segurei as lapelas do seu blazer que, diferente do de Andrew, estava todo desalinhado, assim como a camisa e a gravata.

logo segurou firme em minha cintura e me beijou como se sua vida dependesse disso. Talvez a de nós dois realmente dependesse. Logo eu senti meu corpo ser batido, sem muita delicadeza, contra a parede, e as mãos de fazendo uma viagem da minha cintura até a minha coxa, vez ou outra levantando a minha saia. O puxei pela gravata na tentativa de juntar ainda mais os nossos corpos, e ele agarrou firme minha bunda, me levantando um pouco do chão. Aquilo estava indo longe demais, então puxei um pouco o seu cabelo, quebrando o beijo e fazendo-o encarar o meu olhar reprovador. Sua mão permaneceu em minha bunda, mas agora de uma maneira mais suave. Sua testa estava unida à minha enquanto nos olhávamos e tentávamos recuperar o fôlego.

- Você é tão linda. – Passou o polegar pela minha bochecha e depois fez o contorno dos meus lábios. – Menina, eu acho que você esta me enlouquecendo.

Eu apenas fechei os olhos e voltei a beijá-lo, tinha que manter minha boca ocupada pra não falar as inúmeras coisas que insistiam em sair. Como o quanto ele estava me fazendo perder toda minha sanidade. Era esquisito as sensações dúbias que me despertava, uma hora sendo bruto e na outra completamente carinhoso.

As mãos de voltaram a fazer um tour por todo o meu corpo, despertando sensações jamais sentidas por mim antes, os beijos foram até o meu pescoço e contive, com muito esforço, um grito sôfrego que queria sair. Mas em meio àquela loucura que meu corpo estava sentindo, eu comecei a ouvir um barulho estranho e abafado. Ignorei de início, mas a constância me fez despertar.

- ...
- Hum. – Ele entendeu o chamado como um incentivo e apertou ainda mais minha bunda e mordeu meu pescoço.
- Está ouvindo isso? – Tentei soar firme, mas os toques dele em mim não me permitiram.
- Não. – Disse em meio a mais uma mordida leve, agora próxima ao meu seio direito.
- É sério, . – Usei toda a minha força de vontade e o empurrei.
- O que foi?
- Escuta. – O som continuava, mas agora que não estava mais tão próximo, eu conseguia ouvir nitidamente.
- Parece um choro. – Disse tranquilo, mas eu já estava apavorada.
- Ai, meu Deus, deve ser algum ninho de cobra, vamos sair daqui. – Segurei sua mão na tentativa de tirá-lo dali, mas não consegui nem movê-lo.
- Para de ser boba. – Ele riu me soltando gentilmente e seguindo o som, que vinha de um monte de caixas entulhadas que havia ali.
- Não encosta aí. – Pedi chorosa e se virou pra mim com um sorriso de enorme satisfação.
- Tá preocupada com minha segurança, babe?
- Não! – Meu orgulho jamais permitiria assumir isso a ele. – Quer saber? Pode olhar. – Dei de ombros, vendo se aproximar daquele possível monstro, e quando ia cedendo e dizendo que eu me importava, eu ouvi sua risada.
- Oi, garoto.

Garoto? O que diabos havia encontrado? Ele voltou sua atenção a mim e me chamou. Pela sua expressão eu provavelmente não corria perigo ao meu aproximar mais.

- Que garot... Oh, meu Deus, que fofo.

Me abaixei e pude ver melhor um filhote de cachorro, ele estava tremendo, provavelmente de frio.

- A gente tem que tirá-lo daqui. – disse assim que o peguei no colo.
- Vamos levar no veterinário, será que a gente consegue passar pela inspetora?
- Isso é fácil pra gente. – Me deu um beijo suave na bochecha, pegou o cachorro de minhas mãos e o colocou escondido em seu blazer.

Duas horas depois saímos do veterinário com aquela bola de pelo amarelo, saudável e cheirosa. andava tranquilamente ao meu lado enquanto eu conversava com o cachorrinho, que descobrimos ser da raça Golden Retriever. Me sentia uma garotinha ganhando o melhor presente do mundo. Eu e sempre quisemos criar algum animal, com a velha promessa de que arcaríamos com todas as responsabilidades, mas a alergia – frescura da minha mãe – sempre foi uma barreira intransponível.

Já estávamos próximos à minha casa, numa pracinha que ficava na esquina e resolvemos nos sentar e esperar o carro de aparecer para que assim eu pudesse entrar também. Coloquei o cachorrinho no chão pra brincar, mas não sei se por medo ou preguiça ele voltou para os meus braços, e depois de várias fungadas que me fizeram cócegas, ele dormiu.

- Meu amoooor lindo, eu vou cuidar tão bem de você e... Droga! Minha mãe não vai me deixar ficar com ele, ela odeia animais.
- Sem problemas, ele fica comigo. – me olhava com um sorriso tão bobo que sentia minhas bochechas pegarem fogo.
- Mas ele vai ser meu.
- Nosso... Ele sempre vai ser nosso.
- Há-Há-Há. Vai sonhando. – Segurei o cachorro na altura dos meus olhos. – Você é só meu, não é? – Esfreguei meu nariz no seu e falava com uma voz ridiculamente infantil. – É, eu sei, eu também te amo.
- Nós precisamos arranjar um nome pra ele. – ria, provavelmente me achando louca.
- Sou péssima pra isso. – Desanimei.
- Ele devia se chamar dorminhoco, já que só dorme.
- Não...
- Batman. – falou como se fosse a ideia mais genial do mundo.
- Sério? Por que Batman?
- Meu personagem favorito, eu assisti umas...
- Já sei... – O interrompi ansiosa pra dizer logo a minha ideia. – Vai se chamar Simba, igual ao Rei Leão Simba.
- Por quê?
- Era meu personagem favorito.
- Mas eu...
- Eu o quê, ? – Olhei pra ele fingindo irritação e ele encolheu os ombros intimidado, gesto super fofo, por sinal.
- Eu ainda prefiro dorminhoco.
- Seria melhor se fosse soneca. Como o anão da Branca de Neve. Eu adorava a Branca de Neve. – Olhei pra o filhotinho e, pelo jeito que se remexeu, parecia ter gostado. – Simba Soneca ! – Dei o ultimato.
- Não mesmo! – Agora parecia não ter gostado. – Simba Soneca . Você sabe que o sobrenome é o do pai.
- Machista. – Acusei e ele deu de ombros.
- Isso é o normal, e além do mais eu deixei você escolher dois nomes.
- Ok, é justo... – Comecei a rir.
- Do que tá rindo?
- “Sobrenome do pai”... Meus filhos também terão meu sobrenome.
- Não mesmo. – Disse com uma confiança que me assustou.
- Anham, pai deles. – Debochei.
- Claro que vai ser eu... – Falou mais uma vez convicto, como se acreditasse em suas palavras. – Olha bem pra mim, ninguém irá fazer filhos tão bonitos em você quanto eu. – Estufou o peito e fez uma cara que julgou ser sexy, e, por Deus, ele era muito sexy.
- Já está falando no plural?
- Vamos ter cinco filhos.
- Três. – Resolvi entrar na brincadeira e se empolgou.
- E vamos morar nos EUA.
- Aqui em Londres, não os quero com aquele sotaque horrível.
- Bem pensado. – Apontou o dedo pra mim, como se eu tivesse dito algo brilhante. – E vamos viajar sem destino com eles nas férias.
- E aos domingos faremos grandes almoços e convidaremos todos os nossos amigos. – Agora era eu quem estava empolgada.
- Mas só vamos chamar o se formos ricos, senão vamos à falência. – Dei uma risada alta que acabou despertando Simba por uns instantes.
- E no Natal vamos montar a árvore e passar a madrugada embrulhando os presentes e esperando as crianças acordarem.
- Vou me fantasiar de Papai Noel, você de Mamãe Noel, e eu com certeza vou te obrigar a fazer uma apresentação exclusiva pra mim como presente.
- ! – Dei um tapa estalado em seu braço enquanto ele ria pra valer. Existiam muitas facetas de que eu não conhecia, e vê-lo ali rindo de banalidades comigo era algo interessante, bom.

Um silêncio confortável se instalou. Desde o dia em que eu e ficamos na casa de seu avô, nada havia ficado esquisito entre nós, pelo contrário, nos tornamos bons amigos e eu sentia que ao lado dele eu podia ser eu mesma e isso bastava, não existia nenhum tipo de julgamento ou cobrança, tudo era simples.

- Ele é lindo, não é? – Falei olhando pra o cachorro, que continuava dormindo.
- É. – Ele acariciou o filhote e depois voltou sua atenção pra mim. – Posso te fazer uma pergunta?
- Não. – Dei de ombros e, quando vi que ele não havia percebido a ironia, eu prosseguir. – To brincando, pode sim.
- Por que você não aceita sair comigo? – Não havia mágoa em sua sentença, era mais uma dúvida.
- Estranho, não é que eu não queira, é só complicado.
- Já entendi. O famoso jogo dos irmãos . – Voltou a encarar algum ponto fixo à sua frente, e não sei por que me senti mal pela quebra do contato.

Eu e não fazíamos de tudo um jogo, mas tínhamos problemas em nos comprometer. Quando você se compromete e baixa a guarda, o outro cria expectativas a seu respeito, você acaba tendo que fazer de tudo pra supri-la, você acaba se perdendo.

- Você não é um jogo pra mim. – Disse convicta. – No começo pode até ter sido, hoje não é mais.
- Tudo bem. – Continuou sem me encarar.

E lá estava o silêncio de novo, mas dessa vez não havia nada de reconfortante nele.

- Por que você quer tanto sair comigo? Eu te afastei do , fiz vocês brigarem, eu sou uma confusão e... Só me diz o porquê? – Segurei de leve o seu ombro, fazendo-o olhar pra mim, e quando assim o fez senti meu corpo se aquecer.
- Você vale a pena. Eu meio que gosto de ouvir sua risada de criança de cinco anos. – Balancei a cabeça e olhei pra ele ainda incrédula. – Ah, qual é? Essa deve ser a décima vez que eu te convido.
- Vigésima segunda. – Pelo olhar que ele me lançou, até ele estava impressionado com sua determinação.
- Viu só? Do que você tem tanto medo? É só um encontro, não é como se a gente fosse casar.
- Eu nunca saí pra um encontro. – Já estava me odiando por ser sempre tão sincera na presença dele.
- Fala sério.
- Os garotos no máximo me levam a uma festa e me exibem como prêmio. – O olhar dele pra mim naquele momento foi como o de remorso, o que me incomodou bastante. – Não precisa fazer essa cara.
- , você é muito mais do que imagina. – Ele se curvou, segurou o meu queixo e me beijou como se quisesse reafirmar o que tinha acabado de dizer.

Ouvi buzinar e sabia que tinha que entrar, bloqueei todos os meus pensamentos, não queria ouvir nem razão, nem emoção, só queria viver, e naquele momento eu sentia uma vontade arrebatadora de sair com .

- Cuida bem do Simba. Que horas você passa aqui? – Ele pareceu aturdido por uns instantes, até que entendeu o que eu queria dizer e abriu um enorme sorriso.

- Às dezessete, e, por favor, não venha de salto, nós realmente vamos andar.

Abaixei-me pra me despedir mais uma vez de Simba e continuava me olhando com um sorriso idiota na cara.

- É só um encontro, Estranho, nós não vamos casar.

Dei as costas pra ele ouvindo sua gargalhada, parece que eu também gostava da risada dele.

FLASHBACK OFF.

Londres – 30 de outubro de 2015 – 07:25 pm.

Ouvi gargalhar me fez lembrar do quanto eu fui viciada naquele som.

A pizza finalmente chegou, e sentamos em volta da enorme mesa redonda da sala de jantar. Claro que sentou-se bem de frente pra mim, me fazendo olhar constantemente pra o meu prato. Eu não ia conseguir comer nada, também não aceitei o vinho pra não correr o risco de ficar bêbada e falar alguma besteira. Eu precisava está sóbria e lúcida na frente dele.

- Boa noite, galera. – entrou segurando Jazzy pelas pernas assim que havíamos nos sentado à mesa pra jantar.
- Quer matar minha filha, ? Solte-a! – berrou, fazendo revirar os olhos e colocar a menina no chão, que pareceu não estar tão contente assim.
- Vem assistir um pouco, filha, que daqui a pouco você vai dormir. – pegou Jazzy no colo e a levou até a sala.
- , minha linda, senti sua falta! – abraçou fortemente , que logo depois o empurrou e voltou a sentar em sua cadeira, ao meu lado.
- Eu sei, . – Olhou para as unhas e soprou fingindo indiferença. – Todos sentem.
- Ferrou, a passou tanto tempo com a que virou uma esnobe. – disse e joguei o guardanapo nele.
- Ei! Me esquece, . – Ele mandou um beijo no ar pra mim, que retribuí dando língua.
- Dormiu com a , ? Não vai cumprimentá-la? – Idiota perguntou, mas pareceu não se abalar.
- Na verdade, dormi sim. – fez graça sentando ao lado de . – Ela sabe que foi caso de uma única noite, não merece minha atenção.
- ! – Coloquei a mão no coração, em falso ultraje.
- Ué, deu pra pegar mulher casada agora, ? – A brincadeira de me fez engasgar com a própria saliva.
- Nem teve graça, era pra eu ser a primeira noiva do grupo. – ainda incentivou a palhaçada.
- , você poderia nos dar uma dica de como é a vida de casado? – disse rindo, já com a boca cheia de pizza.
- Posso te mostrar a de divorciado, . – Lancei meu olhar mortal pra ele. – pode ser bastante influenciável. – Sorri cínica sem mostrar os dentes.
- A Estranha deve ter sido uma esposa tão frustrada, que o marido correu dela.

Eu tinha uma lista de respostas que iam da mais inteligente à mais mal educada, mas eu simplesmente não conseguir dizer nenhuma, e, magoada, encarei e seu sorriso brincalhão.

Todos me olhavam incrédulos, provavelmente pelo fato de ter sido tão reticente a um comentário de mau gosto vindo de .

- Não vejo a frustrada faz anos, talvez ela fosse se tivesse se casado com o homem errado. – entrou em minha defesa e eu quis abraçá-la.
- Outch! – deu três socos na mesa enquanto gargalhava, assim como todos, inclusive , que diferente do que eu imaginei, ou esperava, não se incomodou.
- Um brinde às péssimas escolhas. – levantou sua cerveja e nós o acompanhamos no brinde.

, que não bebeu álcool em quase todo o colegial, parece ter aprendido e gostado, já estava na quinta cerveja. Não que eu estivesse controlando, só tinha mania de números e datas.

- Falando em divórcio, está tudo certo pra sua despedida de solteiro, dude. – confirmou com um sorriso não muito puro.
- Não vai ter nada de stripper ou algo parecido, certo? – O tom de foi ameaçador.
- Só pra quem é idiota de estar casando. – Apontou pra . – Ou idiota por esta namorando. – Direcionou o dedo em sua direção e logo quis saber se ele estava incluindo .
- Vai sobrar tudo pra mim. – disse eufórico, alisando as palmas de suas mãos.
- Não se esqueça de mim, garanhão. – Assim que eu ouvi , senti asco.
- Mas você tem a Chloe. – disse algo que parecia óbvio, e apenas revirou os olhos.
- Você sabe que aquilo foi mais forçado pra mídia.
- Pra não descobrirem que você é gay. – As palavras de não me permitiram reprimir a risada, mas apenas prosseguiu como se não tivesse sido interrompido.
- Então, eu resolvi terminar tudo com ela essa semana, e pra não precisar levá-la para o casamento do .
- Maravilha, já que ela não seria bem-vinda. – claramente não gostava dessa garota, e a curiosidade de saber o motivo começou a me corroer.
- Onde vocês vão comemorar?

se interessou e logo piscou o olho pra mim. Aquilo significava que teria a despedida de solteira mais badalada de Londres.

- Só vamos numa boate amanhã à noite, nada demais.
- Então, , providencia tudo para o chá de amanhã também.
- Por que logo a ? – quis saber com uma cara não muito boa.
- E por que não eu? – Rebati levemente ofendida.
- Porque você transforma até primeira comunhão em uma balada digna de príncipe.
- É um dom. E prometo que vou cancelar com os atores que contratei.
- Ah, não. – e fingiram estar chateadas, e eu vi ficar roxo.
- Minha mãe me disse que ainda mantém a casa no lago, podíamos nos encontrar lá no domingo, o que acham? – Comentei mais pra quebrar o clima.
- Ótima ideia. – Todos pareceram concordar.

E naquele momento meu olhar cruzou com o de e dessa vez não recuei. Encará-lo fazia meu coração disparar, mas eu já estava aprendendo a lidar com isso também. Percebi que a dor e a mágoa que eu sentia não haviam morrido dentro de mim, assim como, infelizmente, aquela excitação, aquela chama que voltou a acender assim que eu o vi.

Pude enxergar as mudanças significativas em nós dois, ambos estávamos mais maduros, vividos e marcados por novas lembranças e relacionamentos. O que será que sentia? A minha curiosidade era tanta que fiquei com inveja da antiga , que podia simplesmente perguntar isso a ele.

- E você, , está solteira? – quis saber.
- Yep. – Falou um tanto empolgada.
- ?
- Idem.
- E o Peter? – tinha uma expressão abismada, como se tivesse ficado sabendo do assassinato da rainha.

Me limitei a balançar a cabeça negativamente, pois não queria falar sobre nosso relacionamento na frente dos meninos, sobretudo na presença de . Não sabia ao certo porque aquilo me incomodava, mas não achava legal falar de um na presença do outro.

- Ount. – colocou a mão sobre o queixo e suspirou chateada. – Eu gostava do Peter.
- Quem é esse tal Peter? – parecia perdido. – E por que você gostava dele? – Perguntou com uma pontada de ciúme.

Suspirei pesado, porque sabia que aquela história não acabaria ali. Quando começava a falar de Peter ela simplesmente não parava, acho que se pudesse ela já tinha me enfiado num vestido de noiva e me colocado lado a lado com Peter no altar e me obrigado a dizer “sim”. Quando nos visitou no verão passado, falou tanto dele que logo ela quis conhecê-lo, e para o meu azar o charme de Peter encantou minha outra melhor amiga, assim como Jazzy, que o chamava de Tio Dindo.

- Um dos advogados mais gatos e bem sucedidos de Nova York, um verdadeiro lorde. – Se explicou rapidamente, e logo voltou pra mim com uma cara nada boa. – Por que diabos vocês não estão mais juntos?
- Nós nunca estivemos, . – Comentei e dei de ombros, rezando pra que aquilo parasse ali.
- Ah, me poupe, você esta falando como se fosse eu mesma no colegial. – parecia uma mãe brigando com a filha pequena. – Vocês estavam juntos, sim. – Encolhi os ombros sem realmente responder aquilo.
- Ele até conheceu a Jazzy, você nunca apresentava seus namorados pra ela. – ÓTIMO! Até iria me encher a paciência. Não olhava pra , mas senti o seu olhar pesado em cima de mim, como se buscasse nas minhas reações cada detalhe da minha vida.
- Por que o Peter era diferente, ele é meu melhor amigo. – Me defendi.
- Devo me preocupar? – questionou com gozação.
- Ninguém jamais ficará no seu lugar. – Garanti, e já que ia ter que falar dos meus relacionamentos, me arrependi de não estar bebendo nada alcoólico naquela noite. – Mas é que Peter estava sempre disponível e...
- Ele fazia o impossível pra estar disponível, se sacrificava. – Mais uma vez, me acusou.
- Ok, . – Revirei os olhos pra ela e fiz a minha melhor expressão de entediada. – Eu reconheço tudo que ele fazia por mim, mas não deu certo, eu vinha pra Londres e... Vamos pensar no presente e esquecer esse assunto, ok?
- Ele era mais um “amigo colorido”, certo? – me perguntou e confirmei. – Então por que uma viagem de tão pouco tempo te fez terminar isso?

Por que eu tinha terminado com meu amigo colorido, meu sexo casual? A pergunta de foi como um soco no estômago. Meu subconsciente havia ligado uma grande placa com letras visíveis e iluminadas com luzes de neon "por ele”. Claro que meu subconsciente estava errado, e eu tinha muito mais planos em Londres do que qualquer um naquela mesa sabia, na verdade o único que sabia era Peter.

- Talvez eu não tenha vindo só por três semanas. – Minha resposta pareceu ter assustado a todos, inclusive .
- Como assim? – perguntou. !
- Talvez eu fique até o Natal. – Dei de ombros e vi o garoto soltar o ar que parecia preso.

O nome de não foi citado no jantar, e acho que foi como um pacto silencioso de todos, pra não estragar aquele dia pra . Uma pessoa perdida naquele jantar era o suficiente, e no momento certo iria se deparar com o passado dela.

Todos aqueles sorrisos, euforia e gentileza não eram verdadeiros e não condiziam com as ofensas veladas que direcionava pra mim. Eu sabia disso porque ele estava jogando, ele estava jogando o meu jogo. Talvez os outros não percebessem, mas por trás do grande sorriso eu enxergava fantasmas em seus olhos.

estava muito mais desenvolto, seguro e confiante, me fazendo retrair ainda mais. Passei o resto do jantar olhando para o prato, dando respostas vagas e curtas e rindo quando necessário pra não parecer chata e mal educada; já ele ria, contava piadas e sorria. Como ele podia agir assim? "E por que ele não agiria, ?" Minha consciência rebateu com outra pergunta, e a resposta eu já sabia, por mais que fosse dolorosa. nunca se importou comigo, deve até ter rido do fato de eu ter ido embora por tanto tempo. Pra ele eu não passava de uma menina fútil e mimada. Olhei ao redor e nada fazia mais sentido, era como se estivesse dentro de um filme onde eu não era mais um personagem.

- Com licença.
- Tudo bem, ? – prontamente quis saber.
- Sim. – Sorri fraco e fui até o banheiro. Abri a torneira, mesmo sabendo que não faria barulho, e escorreguei até o chão. A minha respiração era pesada e descompassada, meu corpo tremia, eu não derramava lágrimas, mas meu coração estava chorando.

O barulho da porta me assustou, assim como o olhar de ao me observar.

- Cópia de segurança. – Disse me mostrando a chave, dando um sorriso carinhoso enquanto se sentava ao meu lado. – Você vai ficar bem. – Repetiu as palavras que me disse mais cedo e fiquei na dúvida se ela acreditava realmente nisso ou se repetia para acreditar.
- Não vou não. Eu não consigo. – Segurei os meus cabelos e abaixei a minha cabeça até os joelhos.
- Claro que consegue. Você é invencível, , nem posso imaginar que acreditou em toda aquela autoconfiança do .
- Eu não...
- Levanta e vamos voltar pra mesa, você nunca foi de baixar a cabeça pra ninguém e não vai ser hoje que isso vai acontecer.

Respirei fundo e voltei, eu estava sendo patética e isso precisava mudar.

- Nossa, você está pálida. – se acercou de mim, preocupado.
- Eu to bem, é só o efeito do álcool de ontem à noite.
- HÁ-HÁ-HÁ! – A risada irônica de ecoou pelo ambiente. – Por um acaso está grávida, Estranha?

Automaticamente eu prendi minha respiração e senti meu corpo entrar em choque, consumido pela dor.

- Não teve graça, . – foi rápido em dizer.
- Mas eu só... – Ele não teve tempo de retrucar, já que já estava ao seu lado quase batendo nele.
- Chega, ! – Disse mostrando certo descontrole. Ele não entendeu aquela reação, claro que não entenderia. Mas também não questionou nada, apenas deixou seu sorriso morrer e abaixou a cabeça.
- Vou ajeitar essas coisas na cozinha. – Falei já recolhendo os pratos da mesa.
- Eu te ajudo. – colocou a mão sobre os meus ombros. – Sabia que eu também estou solteiro? – Falou mais pra fazer graça e dispersar o ar ruim que se instalou.
- Você não quer se envolver com uma . – Usei a mesma frase de , olhando diretamente pra ele, que se recusou a me encarar, e foi onde eu vi sua primeira fraqueza explícita daquele dia.

falou algo que eu não entendi. Logo que chegamos à cozinha, ele assumiu a pia, lavando a louça, mas parou e se apoiou na bancada, me olhando.

- Ta tudo bem mesmo? Porque eu nunca vi você recusar pizza.
- Claro, eu só bebi demais ontem.
- Não é disso que estou falando. Você sabe, essa coisa toda com o e...
- Não está cem por cento, mas vai ficar. – Fui completamente sincera. – Espero manter uma relação diplomática com até o dia do casamento, porque depois não serei obrigada a compartilhar da sua companhia.
- Vem cá. – me abraçou apertado e me deu um beijo no alto da minha cabeça. – Eu estarei aqui pra garantir sua felicidade, . Pode contar comigo sempre.
- Eu sei disso, obrigada. – Mais um abraço que me deixava em paz. Mais um abraço que me fez sentir tanta falta de Londres.
- Viu só como eu sou um cavalheiro? – Segurou minha mão e plantou um beijo nela. – Agora já posso ter minha chance? – Começou a rir, e era completamente impossível não acompanhar aquela risada. exalava uma alegria contagiante, era a pessoa mais feliz que eu conhecia.
- Palhaço. – O empurrei, e ele voltou ao trabalho.

Ao sair da cozinha no encalço de , ouvi um latido estridente, vi o cachorro correndo em minha direção um segundo antes de ser nocauteada e cair no chão.

- Simba! – O cachorro enchia minha bochecha de lambidas quentes.
- Calma aí, garoto. – segurou sua coleira e o tirou de cima de mim.

Me sentei na posição de índio e olhei aquela cabeça grande e peluda, os olhos brilhantes e a língua pra fora. Simba sorria pra mim.

- Vem cá, meu amor. – o soltou, e depois de fazer uma nova festa ele se acalmou e deitou ao meu lado, colocando sua cabeça em minha perna. Fiquei fazendo um carinho em suas orelhas. – Também senti sua falta, amigão.
- É impressão minha ou a ficou mais feliz em ver o pulguento do que a mim? – questionou fazendo todos rirem.

Os meninos foram para o estúdio resolver algumas questões pendentes para o último show da turnê que fariam em poucos dias, e sem a presença de o clima ficou ameno.

Jazzy havia pegado no sono no meu colo minutos depois de forçar eu e a assistir Dora, a Aventureira. Então ficamos conversando ali mesmo, até que anunciou que iria embora. Olhei cúmplice para , que entendeu e pegou Jazzy, levando-a lá pra cima. O segui até o jardim, onde os carros estavam estacionados.

- ! – Chamei, mas ele não se virou. – , espera! – Ele com certeza estava ouvindo, mas não parava de caminhar. – , espera, por favor. – Não sei se foi pelo “” ou pelo ”por favor”, mas eu consegui fazer com que ele parasse.

E como eu imaginava aquela cordialidade toda não passava de uma encenação. Ali só havia nós dois, seus olhos encarando duramente os meus, sem máscaras.

- Deixa o Simba ficar comigo hoje? – Recorri à lisura que ele usava há minutos atrás, tudo pra conseguir ficar um pouco mais com o meu cachorro.
- Não mesmo. Vem, Simba!
- Para com isso, , ele também é meu...
- Seu o quê? Você não tem direito de vir ate aqui requerer nada, você o abandonou, lembra?
- Eu só me mudei e...
- Para de se fazer de cínica e dê a nomenclatura correta às coisas.
- Você não tem o direito de me acusar de nada.
- Adivinha, Estranha? Eu não estou nem aí. Vem, Simba! – Ouvi-lo me chamar de Estranha tão sarcasticamente fez a raiva me consumir por dentro.
- Para de ser idiota.
- Não me chame de idiota! – Ele avançou em minha direção com o dedo apontado pra mim e eu instantaneamente me encolhi. – Porque desde que eu percebi o quanto tinha me enganado com você eu deixei de ser um.

Simba começou a latir na direção dele e depois na minha, como se estivesse intervindo na discussão.

Aquelas palavras eram como milhares de facas invadindo grosseiramente o meu corpo, e tive que respirar fundo pra não desabar ali mesmo, em sua frente.

- Acha que só você tem motivos pra ter raiva? – Minha voz saia baixa e entrecortada. – Você me destruiu, !
- Bom saber. – O imbecil começou a rir, e se não tivesse um alto controle absurdo eu voaria nele até tirar aquele sorriso debochado de seu rosto.
- Eu desisto. – Joguei os braços ao lado do meu corpo em sinal de cansaço. – Vim aqui pela e o , eu não vou ficar discutindo com você feito uma criança.
- Ótimo, se limite a nem falar comigo.
- Ótimo. – Me abaixei e alisei o cachorro, que não sabia se seguia ou ficava. – Tchau, meu bebê fofo.
- Vem, Simba. – Chamou novamente já impaciente, então incentivei o cachorro a ir.

Ele já ia se virando pra entrar no carro quando eu o chamei.

- Se foda o que você pensa! Amanhã eu vou pegar o Simba!

entrou no carro e, pela maneira como bateu a porta, estava furioso. Girou a chave na ignição, jogou os dois braços sobre o volante e abaixou a cabeça. Ao levantar seus olhos vi suas íris faiscando, sua respiração estava completamente irregular se igualando ao ritmo da minha. Num instante algo havia mudado, como se uma nevoa pairasse sobre nós.

Numa fração de segundos ele desceu do carro, marchando decidido até a mim. Segurou firme meu rosto com as duas mãos, sua expressão parecia tão surpresa quanto a minha. Assim como no nosso primeiro beijo ele não me pediu permissão, ajustou o ângulo da minha cabeça e me beijou violentamente com todos os sentimentos bons e ruins que nutria por mim. Minha mente girava, atormentada, mas nada importava ou fazia sentindo. Eu agarrei sua jaqueta, aprofundando o beijo e me entregando àquele momento, onde o passado havia se tornado apenas passado.


Capítulo 07

“Don't speak. I know what you're thinking, I don't need your reasons. Don't tell me 'cause it hurts.” Don't Speak. – No Doubt.


Tudo tem a ver com palavras. A primeira coisa coerente que saiu da minha boca foi chuva, e eu só tinha nove meses, desde então falo mais do que eu deveria, mas tomo um cuidado especial pra dizer aquilo que estou sentindo, e quando digo é por que é real...

Londres – 30 de outubro de 2015 – 11:05 pm.

Senti meu corpo ser chocado contra alguma superfície dura, mas não me importei, o beijo de era ainda melhor do que minha mente se lembrava, as mãos dele passeavam meu corpo deixando-o quente como brasa. Ele mordeu meu lábio inferior e depois o meu queixo e saiu distribuindo chupões pelo meu pescoço, seu membro duro roçava em mim, e sua mão apertava rudemente o meu seio por cima do vestido, me deixando ainda mais louca e entregue, joguei a cabeça pra trás e não conseguir reprimir um gemido, era como se aquilo estivesse dentro de mim por anos, e realmente estava.

- !

Como se tivesse levado um choque, ele se afastou, me deixando atônita pela abrupta falta de contato.

Me olhou com tamanho desprezo que o véu das muralhas que erguemos pra nos proteger do nosso passado estava de volta. Enquanto eu ofegava e tentava arrumar meu vestido, ele limpou sua boca e riu como se tivesse conquistado um prêmio, sem dizer nada, foi embora.

Estava completamente dominada pela raiva, em questão de instantes eu me deixei levar e quase destruir todas as minhas fortalezas. Corri para o quarto, as cicatrizes que carregava voltaram a doer, me lembrando de que eu não poderia ser fraca. Pensava que era invencível, mas não me dei conta do perigo que era estar perto de .

Londres – 31 de outubro de 2015 – 10:20 am.

Não sei em qual momento havia sucumbido ao sono, mas quando acordei me sentindo cansada, por conta do meu emocional abalado, me martirizei novamente por ter sido tão idiota. Depois de me arrumar e espantar minha cara de mau humor, eu desci e encontrei e tomando café.

- Bom dia, bruxas. – Expressei todo meu furor.
- É halloween, mas eu ainda não estou fantasiada. – sorriu amarelo e voltou a encarar sua xícara.
- Dormiu bem? – parecia empolgada, me deixando ainda mais pra baixo.
- Não. – Me sentei à mesa e esquecendo as regras idiotas de etiqueta, apoiei minha cabeça na mão. – Cadê o e a Jazzy?
- Foram pra casa do . – respondeu e eu concordei com um aceno de cabeça, servindo uma xícara de chá. – Suas malas apareceram, estão no meu quarto.
- Legal. – Continuava desanimada, tentava esquecer o que havia acontecido na noite anterior, mas meu corpo me traia e eu ainda sentia os toques de , como se estivéssemos acabado de ficar juntos.
- Ok. Da pra parar e dizer o que aconteceu ontem à noite? – , como sempre, foi invasiva e impaciente, mas eu não queria falar sobre aquilo.
- Nada. – Menti e rezei pra que elas não me perguntassem mais nada, mas se tratando das minhas melhores amigas, isso não iria acontecer.
- Você pode mentir até pra você mesma, mas pra nós não. – revirou os olhos, como se estivesse entediada, e continuou me encarando, me encurralando com o olhar.
- O jeito que você entrou aqui não pareceu que “nada” tinha acontecido. – ajudou, e sabia que aquilo era o fim da linha. Abaixei minha cabeça, porque não queria mostrar fraqueza pra elas.
- Eu e o ... – Me remexi desconfortável na cadeira. – E-Ele me beijou!
- Há! – bateu palmas e começou a gargalhar, enquanto ficava enfezada! Eu estava assustada com aquela reação. – Pode subir e ir buscar o meu dinheiro. – Ao dizer isso praticamente empurrou da cadeira.
- Dinheiro? – Não estava entendendo nada daquela cena de empurra-empurra entre elas.
- Apostamos em quanto tempo vocês iriam ficar. – falou reluzindo de felicidade.
- E você apostou que nos pegaríamos na mesma noite?! – Perguntei num tom de voz controlado, mas meus punhos cerrados demonstravam que eu queria matar alguém, e começaria por elas.
- Claro. – Jogou a mão para o ar como se fosse superior e disse numa naturalidade que me deixou ainda mais furiosa.
- Custava ter sido hoje? – Inacreditavelmente estava com raiva de mim.
- Não acredito que vocês brincaram assim com a minha vida!
- Para de drama, e conta logo tudo. – Mesmo incrédula com elas, detalhei nossa discussão e o momento impulsivo no qual resolveu me agarrar.
- Acho que vocês ainda se amam. – sorriu e fez uma carinha apaixonada, como se eu tivesse contado uma historia de amor.
- E eu te acho uma idiota. – Retruquei com raiva. – Você esqueceu o que eu passei?
- Só vou te dizer uma coisa, . – Tudo que eu não queria era mais um conselho de , mas não iria impedi-la de falar. – Se amando ou não, tendo uma historia ou não, vocês têm que parar de agir como crianças.
- Ele faz isso! – Me defendi. – Eu estou quieta, não quero entrar no jogo dele e me descontrolar.
- se tornou você, a do colegial. – Assim que disse isso, ela e começaram a gargalhar, e me sentia como uma garotinha indefesa sofrendo bullying no jardim da infância.
- Pega a pipoca, , a historia vai ser boa.
- Insuportáveis! – Joguei o guardanapo na mesa, e sai pra não cometer nenhum assassinato.

Encarei o dia frio e chuvoso de Londres e sai da casa de , e como eu havia dito, fui até a casa de buscar o Simba, ele sabia que eu não iria desistir e assim que dei meu nome na portaria, um segurança desceu trazendo o cachorro. Não poderia negar que achei que iríamos brigar por conta disso, e até torci pra que acontecesse, mas a sua indiferença foi gritante e dolorosa.

Entrei no carro e coloquei Simba no banco ao meu lado, quando liguei o rádio, uma música do One Direction tocava, nunca tinha ouvido a música, mas sabia que eram eles pelas vozes inconfundíveis, o cachorro latiu e eu pude notar que ele era realmente fã da banda.

Liguei o carro e nos deparamos com um enorme tráfico, que nos fazia andar lentamente.

- Como está o ? – Perguntei a Simba e como se tivesse me entendido ele inclinou a cabeça para o lado, colocou a língua pra fora e parecia que sorria, enquanto seus olhos ficavam apertados. Ele estava idêntico ao seu dono, parecia ter adquirido suas características físicas. – Então ele está feliz? – Considerei seu latido animado como um sim. – Bom pra ele, acho que eu nunca mais vou ficar bem. – Recebi uma lambida no rosto e sentir o animal me reconfortar, fiz um carinho em sua cabeça e quando uma música animada da Katy Perry soou comecei a cantar junto, assim como Simba, que não parava de latir.

Segui direto para casa do meu pai, algo que perdemos depois da crise que passamos, mas que eu e , graças ao esforço do nosso trabalho, conseguimos recuperar. Vê-la praticamente igual ao que era me trouxe uma nostalgia boa, fui invadida por inúmeras lembranças, ao menos elas não eram somente sobre ele, ali existia muito da que o tempo apagou.

Desci do carro e Simba saiu em disparada ao quintal, peguei minhas malas e, assim que entrei em casa, não encontrei ninguém. A sala agora era decorada de maneira mais neutra e não tão exagerada e exuberante como quando mamãe era a dona dali.

- Tem alguém em casa?! – Gritei. – Pai?! ?! Vika?!

De repente sinto uma respiração ricochetear o meu pescoço, me causando um calafrio, e escuto um sussurro próximo ao meu ouvido.

- Bú!
- AAAAHHHHHHHHHHHHHAAAHH! – Meu grito foi proporcional ao susto que havia levado, e só quando me recompus pude ver gargalhando, jogado ao chão com as mãos na barriga. – Eu vou te matar. – Disse me jogando em cima dele e o enchendo de tapas. – Eu odeio levar susto. – tentava se defender, mas não parava de rir.
- Para e vem cá. – Conseguiu me conter e me abraçou. – Senti sua falta.
- Você me viu há duas semanas. – Me livrei do seu abraço e me levantei.
- Credo. – Fingiu está afetado e eu ri, estendendo minha mão para que ele também se levantasse.
- Tô brincando. – Nos abraçamos novamente e depois do momento de afeto ele me olhou empolgado.
- Tenho que te apresentar uma pessoa.
- Sabia que tinha alguma coisa ai, quem é?
- Nos conhecemos quando estava fugindo de umas fãs no hotel em Los Angeles, sexta passada. O nome dela é Rebecca e eu estou apaixonado.
- Apaixonado? – Gargalhei incrédula. – , essa palavra nem sai de sua boca, o que você ta armando?
- Nada. – Me garantiu, mas eu ainda não estava convencida. – A menina é incrível.
- Não duvido que ela seja, mas isso não tem a ver com o fato de que você vai ver a depois de tantos anos?
- Eu nem estava me lembrando da . – Levantei a sobrancelha esquerda sem acreditar em nada do que ele disse. – E você?
- Eu o que?
- O que aconteceu quando você viu o ?
- Não aconteceu nada.
- Sei. – Debochou. – Como se ele já não tivesse contado.
- O que ele contou? – Praticamente gritei, mas negou com a cabeça.
- Cadê a minha pequena? – Ouvi a voz grave do meu pai e uma onda de felicidade me abateu.
- Pai! – Ele irrompeu a sala, me abraçando e me girando no ar, como costumava fazer quando eu era criança.
- Você está linda. – Me analisou e o mesmo fiz com ele. Seus cabelos, agora grisalhos, não o deixava com aparência de velho e sim de um daqueles artistas hollywoodianos. - Você pretende entrar numa garrafa? Naquela cidade de loucos não tinha comida não?
- Vika! – Minha “babá”, mal me cumprimentou, e eu sabia que ela iria me empanturrar de comida.
- Menina , você precisa comer. – Sorri com aquele cuidado, sempre desmedido e beijei suas bochechas grandes e rosadas.
- É melhor não recusar a comida da Vika. – A voz branda de Elena ressoou.
- Oi, Elena. – Ao me virar pra cumprimentar minha madrasta eu me assustei. – Você está...
- Grávida? – Sorriu e veio me envolver num abraço apertado. – Estou sim! Surpresa!
- Isso é maravilhoso. – Estava feliz por eles, estava feliz em ter um irmão ou irmã, mas meu coração se comprimiu num misto de inveja e remorso. Acaricie sua barriga e vi o quanto Elena estava linda grávida. – Pra quando é?
- Daqui a quatro meses, iremos saber o sexo na próxima semana.
- Posso ir à consulta com você? – Questionei radiante com a ideia de descobrir junto com eles o sexo do bebê.
- Claro que pode, querida. – Elena começou a chorar e eu me assustei e não soube como agir. – Está tudo bem, eu só estava com medo de como você iria reagir a isso, principalmente depois de... – Segurei firme a sua mão e a interrompi.
- Estou amando essa novidade e quero estar mais do que presente na vida dessa criança. – Disse sincera, recendo mais um abraço apertado dela.

Elena era uma mulher que já havia passado dos 30 anos, mas que estranhamente aparentava ter menos ainda, entretanto sua áurea era tão maternal, que nos sentíamos acolhidos perto dela. Eu a adorava por diversas razões, mas principalmente por fazer o meu pai imensamente feliz e estar com ele pelo que ele era, e não pelo que possuía.

- Vou fazer algo pra senhorita comer. – Vika com seu tom repreensivo disse e sumiu pra cozinha.

Todos nós fomos até a sala, me sentei no sofá menor abraçada ao meu pai, buscando cada vez mais o seu calor e sua proteção, que eu tanto sentia falta.

- Tem falado com a sua mãe? – Papai despretensiosamente quis saber.
- Se ela ter me ligado para perguntar se iria ficar aqui e depois de ouvir meu sim, ela gritou tanto que desliguei, for uma conversa, então sim, eu tenho falado com a mamãe. – Respondi e não consegui esconder minha mágoa.
- Não se preocupe, um dia ela vai se acostumar. – Quis me confortar, mas a essa altura do campeonato as coisas que mamãe fazia já não me afetavam tanto.
- Não vou expressar minha opinião, pra não ser mal educado. – se manifestou e, mesmo sem dizer nada, sabíamos que compartilhávamos do mesmo julgamento. – A última dela foi ligar para Elena desejando que o filho dela seja hermafrodito.
- Que horror! – Estava espantada. – Ela precisa de um tratamento, juro que desisti de entender a mamãe.
- Vou ver se as coisas no seu quarto estão prontas. – Elena se retirou, era uma estratégia adotada, desde que mamãe resolveu infernizar a vida amorosa de meu pai.
- Como estão as coisas na empresa? – Papai mudou de assunto, e só com o olhar todos nós agradecemos por isso.
- Melhor impossível. – Respondi, orgulhosa por realizar meu sonho e ainda ganhar muito bem pra isso.
- Isso tem a ver com o Peter? – Perguntou malicioso, me fazendo revirar os olhos.
- Você também está torcendo para o Peter? – Ri ao me lembrar do quanto ele e meu pai se deram bem, claro que isso significou uma exclusão total da conversa sobre fusões e aquisições que os dois mantiveram.
- Acho o Peter legal, mas ainda prefiro o...
- Nem complete essa frase. – O repreendi e ele deu de ombros.
- Tudo bem. Pensei que a viria nos ver.
- Ela está um pouco ocupada, mas vai vir assim que possível. – Menti e ele sabia que só estava evitando .
- ? Aaaah! Que incrível te conhecer! Eu sou sua fã. – Uma garota desvairada veio pulando em cima de mim no sofá e levei um enorme susto. Depois de um abraço desajeitado ela se levantou e ficou me olhando com um sorriso tão grande que a qualquer momento poderia rasgar seu rosto.

Eu sabia que essa era a tal Rebecca, não pela obviedade dela ser a única ali que eu não conhecia, mas porque fisicamente ela lembrava muito dos tempos do colegial. Tinham o mesmo tom anêmico de pele, olhos azuis e cabelos loiros curtos e cacheados.

- Estou vendo que é minha fã. Você está usando uma das minhas roupas. – Tentei ser simpática, sorrindo e apontando o tricot estampado que ela usava.
- Eu adoro tudo que você desenha, eu quase não acreditei quando o me falou que a gente ia se conhecer.
- Acho que dispensamos as apresentações, então. – Zombou meu pai, se levantando do sofá, dando espaço para garota se sentar ao meu lado. Ela era tão entusiasmada que até me dava medo.
- Cunhada – meus olhos se arregalaram com aquela palavra e eu absorvi a dor que iria sentir ao descobrir isso – eu preciso saber tudo sobre o meu docinho.
- Depois, Rebecca. – Elena interveio, me puxando pela mão. – Agora a vai ver seu quarto.

Sibilei “obrigada”, recendo uma piscadinha como resposta. Rebecca pareceu se conformar e foi atrás de , já eu e Elena subimos enquanto conversávamos, e eu estava empolgada para ver as mudanças que ela havia feito, mesmo tendo planos de não ficar por muito tempo, me sentia agradecida por ainda ter um quarto só para mim na casa de meu pai.

- Espero que goste. – Disse abrindo a porta. – O Robert queria que tudo ficasse perfeito.
- Sei que vou adorar. – Ao ouvir minha resposta ela saiu para me proporcionar um momento intimo.

Assim que entrei fiquei estática, e segui involuntariamente. Não havia uma nova decoração, eles haviam recriado todo o meu antigo quarto. Continuava enorme, duas paredes tinham o mesmo tom de fúcsia, e as outras brancas, minha cama king size estava posicionada no centro do quarto, próximo à varanda, e matinha em segredo varias noites de amor, os outros moveis também estavam lá, mas o que mais me impressionou é que todas as minhas fotos estavam novamente coladas em uma das paredes do quarto. Aquilo era um verdadeiro relicário, a fonte de quem eu era e deixei de ser.

Como que por ironia do destino, a primeira foto que eu vi revelava o começo de tudo, era uma selfie minha rindo em uma feira de natal, ao fundo fazendo uma careta enquanto segurava um presente que eu havia acabado de lhe dar, completavam a foto.

FLASHBACK ON:

Londres – 29 de outubro de 2008 – 05:21 pm.

Havia revirado todo o meu closet, mas parecia que roupa nenhuma era apropriada, ou ao menos apresentável. Claro que sempre me preocupava com o que vestir, mas hoje estava exagerando, e me irritei por não ter ido fazer compras. Por fim, optei por uma calça skiny preta, uma blusinha leve vermelha, e para me proteger do frio coloquei um cardigan, também preto. Como os saltos estavam “proibidos”, calcei pela primeira vez um par de sapatilhas vermelhas. Soltei os cabelos, alonguei os cílios com rímel escuro e após passar perfume pela quarta vez, vi que estava exagerando e sai antes que repetisse o processo.

- Menina ! – Ouvi o grito de Vika, e sai apressada antes que ela brigasse comigo pela bagunça que deixei no meu closet e por não avisar que estava saindo.

Vika era uma senhora com uma aparência dura, mas com o maior coração que eu já vi, sua família veio da antiga União Soviética assim que a Segunda Grande Guerra acabara, ela nasceu e foi criada com nossa família e sempre fez parte das nossas vidas, ajudando a criar meu pai, eu e meu irmão, todos nós a consideramos como uma mãe, e era bem isso que ela era para mim, já que ultimamente a minha só pensa nela.

O sol já havia ido embora, mas o crepúsculo no céu o deixava num tom surreal de púrpura digno de ser lembrado para o resto da vida. me esperava na esquina e assim que nossos olhares se cruzaram, eu senti uma euforia e involuntariamente prendi minha respiração até me aproximar dele.

- Me desculpe pelo atraso. – Estava pateticamente envergonhada, algo novo pra mim, assim como esse encontro.
- Tudo bem. – Ele ia falar mais alguma coisa, mas o meu nervosismo me fez interromper.
- É quase uma mania não conseguir chegar no horário.
- Isso faz de você uma péssima londrina. – Brincou.
- Eu sei, vivo dizendo isso. – Falei um tanto surpreso por ele ter usado uma das minhas frases.
- Espero que não se importe de ir a pé, como você sabe, eu não tenho carro.
- Sem problemas, também não tenho carro, mas porque não sei dirigir.
- Nunca quis aprender?
- Ninguém tem paciência pra me ensinar. – Sua expressão de “isso é obvio” me ofendeu, mas eu resolvi ignorar. – Mas um dia vou aprender, só pra testar uma teoria do meu pai.
- Que teoria?
- É uma longa história, talvez um dia eu te conte.
- Talvez?
- É, talvez.

Ele riu e encurtou nossa distância, segurou minha cintura e me deu um beijo no rosto.

- Babe, você está linda, e bem pequena sem os saltos. – O empurrei rindo.
- Como está meu cachorro? – Sim, essa foi a minha resposta ridícula ao seu elogio.

Começamos a caminhar, e notei veladamente o quanto ele estava lindo. Mantinha as duas mãos no bolso de uma calça jeans clara, vestia uma camisa branca, com uma xadrez branca e azul por cima e calçava um par de all star branquíssimos.

- O nosso cachorro está ótimo e se adaptando. – Assenti. – E mandou um beijo pra você.
- Manda mil de volta. – O seu olhar fez parecer que havia dito algo malicioso e promiscuo, fazendo minhas bochechas corarem instantaneamente.

Andávamos calmamente agora, sem trocar nenhuma palavra, eu estava num território novo, e realmente não sabia como agir. parou de repente e se abaixou para pegar algo.

- Olha isso. – Me entregou uma pulseira dourada, com um pingente de coração.
- Que linda. – Disse admirando o objeto e já pensando em comprar um parecido. – Melhor deixarmos ai, a dona pode voltar e encontrar.
- Não está lendo? – Só depois que virei o pingente, vi que havia uma inscrição nele. – “Meant to be”, você vai ficar com ela, estava destinado. – Ele segurou gentilmente o meu pulso e colocou a pulseira. – Pronto, nunca diga que não te dei nada. – Piscou pra mim, rindo de sua bobagem.
- Ah claro, adorei o presente e vou fingir que você comprou e não que está privando o dono de encontrá-la.
- Era pra ser sua mesmo. – Deu de ombros.
- Você acredita mesmo nisso?
- No que?
- Destino.
- Não exatamente. Acredito que certas coisas são tão inevitáveis que ultrapassam a barreira do livre arbítrio.
- Estranho, você faz uma escolha e tem que arcar com ela, não é porque você esta predestinado a ganhar na loteria que vai torrar todo o seu dinheiro, esperando a dita hora chegar.
- Concordo, mas o que eu quero dizer é o seguinte. – Ele tomou fôlego ou coragem. – Digamos que estávamos predestinados a nos conhecer, as circunstancias não foram tão favoráveis para mim – ele se referia à doença do avô – mas quem garante que esse encontro não deveria ter acontecido há dois anos, quando eu vim para Londres e estava tão frio que eu não quis sair de casa? Ou você ficou por mais tempo fazendo compras e a gente não se esbarrou na lanchonete do shopping?
- E se nos encontrarmos significar que estamos quebrando o que nos estava destinado, e não seguindo essa ordem cósmica?
- Te conhecer pode ter sido inevitável, é ate aqui que acredito em destino, você ter permanecido na minha vida foi uma escolha, minha escolha. O destino rege o permissivo e invade o resistente.

Em meio a toda aquela loucura que saia da boca de , eu sentia que havia lógica e razão. Mesmo ele acreditando no destino, ele não era escravo dele, isso o tornava mais interessante ao revelar o quanto ele era forte, determinado e nobre.

- Viu? Eu te convenci.
- Talvez. – Levantei uma sobrancelha e resolvi arriscar com minha pergunta. – E esse encontro?
- No final da noite a gente decide se foi uma péssima decisão, ou se foi feito pra ser.
tocou na pulseira em meu braço com um sorriso bobo e depois segurou minha mão, entrelaçando os nossos dedos, enquanto o seu polegar me fazia carinho. Seguimos assim, sem nada ser dito, aquele gesto me pareceu mais invasivo do que quando suas mãos apertavam a minha bunda.

- Está preparada para competição sábado? – Me perguntou quando o silencio começou a ser grande demais.
- Eu nasci preparada. – Dei de ombros e ele riu.
- Fiquei sabendo da Molly, sinto muito. Por falar nisso, como você conseguiu convencer a a participar? Ela vive dizendo que odeia torcer. – A culpa me atingiu em cheio, me lembrando de que tinha que mandar as fotos pra , peguei o celular e disfarçadamente tirei uma foto de nossas mãos entrelaçadas e enviei. Tinha que ser justa, e admitir que estava ali por mim também, estava sendo bom dar uma chance ao .
- Eu sou muito boa em conseguir coisas impossíveis.
- Disso não tenho dúvidas.
- Você e a estão bem amiguinhos ultimamente. – Não consegui mostrar que me não importava com aquilo e riu.
- E isso te incomoda, babe? – era o tipo de pessoa que com pouca conversa explorava ao máximo de você, te deixando exposta.
- Talvez. – Usaria sempre essa palavra para conseguir fugir de suas investidas.
- Você adora usar essa palavra. – Me acusou descaradamente entendendo minha fuga.
- Gosto mais de , esse nome é lindo. – Riu se divertindo, e a forma como seus olhos praticamente fechavam quando ele fazia isso era encantador.
- Eu posso discordar?
- Claro que não! – Exclamei, já sendo contagiada pela sua risada. – Você não me disse para onde nós estamos indo.
- Eu sei. E nem vou dizer. – Assumiu propositalmente uma postura misteriosa, e antes de descermos as escadas, que davam acesso à estação de metrô eu perguntei.
- Por que vamos ter que pegar o Underground?
- Sem chances, eu não vou contar.

Mergulhamos no mar de gente e confusão que havia ali, principalmente naquele horário. segurava firme a minha mão enquanto eu admirava tudo aquilo ali, havia anos que não ia até o Underground, e de certa forma me senti mimada por conta disso.

- Você parece perdida.
- Só tem muito tempo que não ando de metrô. – Disse assim que as portas se abriram, nós entramos e nos sentamos próximos. E, só para ressaltar, “com as mãos entrelaçadas”.
- Que alivio. – Ele suspirou falsamente. – Achei que teria que falar como funciona o transporte público mais utilizado pelos londrinos.

Esbarrei meu ombro no seu enquanto ele ainda ria.

- Eu costumava vir até aqui com meu pai, só para dançar. – Confessei e sua testa enrugou em confusão. Outro gesto involuntário que o deixava ainda mais lindo.
- Dançar?
- É. Os amigos dele tocavam aqui, às vezes, então nós vínhamos e aproveitávamos o espetáculo.
- Parecia divertido. Por que não vem mais?
- Não sei, essa é uma boa pergunta. – Dei de ombros e não questionou mais nada.

Assim que chegamos ao Hyde Park nos deparamos com uma enorme placa, cheia de luzes e desenhos natalinos, indicando a entrada do Winter Wonderland.

- Achei que o Winter só abriria em algumas semanas. – Sorri maravilhada.
- Fiquei sabendo que começaria mais cedo este ano, mas nem todas as barracas estão aqui, a pista de patinação também não está pronta, e o papai Noel só estará aqui em dezembro, sinto muito.
- Que droga! Eu queria fazer meus pedidos.
- Você tem sido uma garota má. – Ele disse transbordando malicia, e eu semicerrei os olhos em sua direção. – Não acho que seria atendida.
- Eu sempre consigo o que eu quero. – Levantei a sobrancelha esquerda sugestivamente. – Melhor você tomar nota disso.
- Anotado. – Ele sorriu divertido.
- O que nós vamos fazer primeiro, estranho?
- Conseguir ingressos para a roda gigante.

parecia bem empolgado, até eu começar a gargalhar. Em hipóteses nenhuma eu iria arriscar a minha vida num brinquedo como aqueles. Eu tinha pavor de altura, mas claramente ele não sabia disso.

- Nunca. Eu morro de medo de altura.
- Mais um motivo para ir comigo. – Sorriu convencido. – Faço você esquecer que está fora do chão num instante.
- Querido, acho que nem Danny Jones, Brad Pitt ou Adam Lavine, podem me acalmar quando não estou em terra firme.
- Mas sou muito melhor, acredite. – Piscou pra mim.
- Vou te explicar com calma. – Falei como se estivesse conversando com uma criança de três anos. – Só existem três coisas nesse mundo que me apavoram. – Listei com os dedos. – Cobra, altura e o Barney. E nada pode me acalmar estando em alguma situação que os envolve. - gargalhou.
- Você tem mesmo medo do Barney?
- Jura que você só absorveu isso?
- I love you. You love me, we're a happy family. – Olhei com uma expressão assassina para , que ignorou e continuou a cantarolar a música daquele bicho horripilante, roxo e feliz. – With a great big hug, and a kiss from me to you, won't you say you love me TOO! Aiii! – Eu mordi seu ombro e depois dele gritar, finalmente parou. – Eu odeio mordidas.
- Sério? – Perguntei dando outra, e pela primeira vez ele fez cara de bravo para mim. – Para de ser fresco, vamos fazer compras. – O arrastei e ele me acompanhou sem hesitar.

Todos os anos, no meio do Hyde Park, a feira de natal era instalada, havia um circo, diversas barracas, que vendiam desde bugigangas natalinas e souvenir para turistas, a comidas típicas de toda a Europa, mas o que diferenciava a Winter Wonderland das demais feiras espalhadas por Londres era o parque de diversões e o ringue de patinação.

Paramos em diversas barracas, experimentamos gorros, óculos coloridos, perucas estranhas, então eu resolvi comprar um presente para ele. Pedi que ele me esperasse e entrei na loja, ao sair com uma sacola, o seu olhar era questionador.

- Nunca diga que não te dei nada. – Estendi a sacola e abrir um enorme sorriso para ele.
- O que é isso? – Lá estava a testa enrugada de novo e eu quis mordê-lo por ser tão fofo.
- Você só pode abrir em casa, certo?
- Que escolha eu tenho?
- Bom menino.

Meu celular apitou e era uma mensagem de , querendo saber do encontro. Revirei os olhos e tirei mais uma foto minha com ao fundo.

- Não sabia que gostava tanto de tirar fotos.
- Só gosto de registrar os bons momentos. – Me senti mal por aquilo e resolvi mudar de assunto, para não estragar nosso encontro. – Então, você esta aproveitando enquanto é anônimo para fazer esse passeio? – Brinquei, arrancando uma risada dele. – Porque você sabe que quando for famoso não vai mais poder sair assim, sem ter que parar pra dar autógrafo e essas coisas.
- Você acredita mesmo na nossa banda? – parecia maravilhado.
- Claro. E estarei em todos os shows. Vou ate levar tomates.

Agora gargalhava a ponto de jogar a cabeça pra trás, e eu ver os seus olhos espremidos, eu nunca tinha visto alguém tão lindo assim.

- E você, , o que pretende fazer da vida? – Perguntou assim que se recuperou e eu agora olhava uns vestidos que, mesmo não sendo de grife, eram maravilhosos.
- Eu sou irmã de , se vocês forem famosos eu não vou precisar fazer nada. – Respondi sem olhá-lo, dando toda a minha atenção a maneira como foi costurado e cortado um vestido azul que segurava.
- Ate parece que você nasceu pra viver a sombra de alguém.

Ele estava completamente correto, jamais aceitaria viver da minha poupança, feita pelos meus pais, quem dirás do meu irmão. Resolvi comprar o tal vestido para analisá-lo melhor ao chegar em casa.

- Quem te influenciou na musica? Digo, seus pais trabalham com isso?
- Não. A música é só uma paixão antiga.
- Eu tenho inveja disso, sabe? – Confidenciei. – Você tem apenas 17 anos e já sabe o que quer e, por saber, pode ir atrás disso.
- Você não tem nenhum sonho? Ou alguma paixão que te motive? – Eu tinha? Na duvida era melhor negar. parecia ter certeza disso, era a segunda vez que conversávamos sobre isso, mas eu continuava perdida.
- Não.
- Eu acho que tem. – Eu neguei balançando a cabeça. – Talvez você só esteja com medo de falar isso em voz alta e soar patética.
- Odeio quando você tem razão. – Antes que ele falasse eu prosseguir. – E nem adianta perguntar o que seria, que eu não vou te dizer. – Não quando eu ainda não tenho certeza, mas não disse isso a ele, porque queria parecer autossuficiente e não uma patricinha boba.
- Chata. – Soltei sua mão que ele insistia em segurar, e disparei na frente falsamente emburrada. – Chata e linda. – me abraçou por trás e me deu um beijo na bochecha, eu já estava cedendo, mas não mostraria isso a ele. – Chata, linda, independente.
- Só isso? – Usei um tom de voz meloso, ouvindo a risada de ricochetear no meu ouvido.
- Chata, linda, independente, amiga, brava e linda. – Me deu outro beijo na bochecha. – Linda. – Foi me virando, enquanto ia distribuindo beijos pelo meu rosto. – Já disse linda? – Outro beijo. – Muito linda. – Sussurrou com seus lábios já esbarrando nos meus. Aquilo fez o meu corpo flutuar em meio à tremedeira que foi acometido.
- Acho que foi o suficiente. – Disse, dando um beijo estalado em sua bochecha, segurando a sua mão e continuando o nosso passeio.

Centenas de pessoas andavam ali, contagiadas pelo clima natalino, mesmo nem estando em novembro ainda, a magia daquela época do ano dava a sensação de que todos eram felizes, sem problemas, ou obrigações. E por todo o tempo que estava ali, criei um universo onde minha vida era perfeita, em todos os aspectos, e segurar a mão de era uma prova concreta de que eu poderia amar e ser amada um dia.

- Vamos parar aqui. – Ele disse diante de uma barraca de tiro ao alvo, cheias de ursos de pelúcia. – Quer um urso?
- Você sabe que eu vou querer o maior, e você também sabe que não vai conseguir?
- Porque está dizendo isso? Devia confiar mais em mim.
- Primeiro, que esses patinhos horrorosos ficam em locais estratégicos pra que você não consiga acertá-los. – Disse baixo só pra ele ouvir. – E segundo, você não parece ter uma boa pontaria.

Ele riu e ignorou o que havia dito, comprando o bilhete para jogar.

- Quantas fichas eu tenho?
- 10 fichas. – Um homem alto, com idade pra ser meu avô, mas que tinha dezenas de tatuagens espalhadas pelo corpo, respondeu de maneira arrogante e impaciente.
- Ok. – segurou a arma e analisou suas opções, então virou-se pra mim. – Obviamente você vai querer o urso maior. – Confirmei.
- Quantos patos eu preciso derrubar pra conseguir o urso? – Perguntou apontando para um enorme panda que ficava exposto.
- Seis. – O senhor mau humor se pronunciou.
- Eu aposto que só precisarei de seis tentativas para conseguir.
- Duvido. – Era impossível, ele não poderia errar nada.
- Quer apostar?
- Claro. – Disse obvia, duvidando plenamente do feito.
- Se você perder, vai ter que ir à roda gigante comigo. – Nem me incomodei com isso, essa era uma aposta que ganharia fácil.
- E se eu ganhar?
- Leva o urso.
- Não me parece justo.
- Tá, escolhe mais alguma coisa.
- Você vai ter que escrever uma carta de amor em seu nome para Travis Parker.
- Enlouqueceu? Ele me mataria! Agora essa aposta não esta me parecendo justa. – Ele apontou para si com um olhar assustado.

Travis Parker era da nossa turma, mas já havia competido em campeonatos de MMA e era bastante esquentado e intolerante, de maneira que recebia o respeito – medo – de todos do colégio, incluindo o corpo docente.

- E você acha que eu andar nesse treco alto, correndo o risco de morrer, é legal? – Falei histérica, enquanto gesticulava.
- Ok. – Meu showzinho havia funcionado. – Mas já vou avisando, nada de dar para trás, fechado? – Estendeu a mão, que eu apertei firme.
- Fechado.

sorriu assim que selamos o nosso acordo, e se virou caminhando até um pato que estava à esquerda, atirou e vi o pato cair, assim como aconteceu com os outros cinco. Aquilo não podia estar acontecendo! Com um sorriso de satisfação, ele pegou o urso e me entregou.

- Tudo bem? – Ele notou a minha cara de espanto.
- Estranho, não podemos mudar o brinquedo? – Disse manhosa, para tentar convencê-lo.
- Não, .
- Por favor, a gente pode ir ao carrossel. – Apontei pra o brinquedo, onde várias crianças brincavam entediadas.
- Eu nem estou te obrigando a ir num desses brinquedos malucos. – Ele indicou com o polegar, a montanha russa e o elevador da morte. – É só uma roda gigante, que nem pode ser comparada a London Eye.
- E você realmente acha que eu já subi naquela coisa? – Berrei nervosa, apontando para o monumento imponente que estava a nossa esquerda.
- Você chega atrasada, não anda de metrô faz anos, e nunca foi na London Eye? – Ele riu debochado. – Babe, acho que sou mais londrino que você.
- Tanto faz. – Disse emburrada.
- Essa carinha fofa e chateada não vai fazer você se livrar da aposta. Vem!

Grunhi em desgosto, sendo puxada por ele até aquele brinquedo maligno. A roda gigante era altíssima, na minha concepção amedrontada, era toda iluminada por luzes azuis e só de estar parada diante dela, para poder subir, me batia um enorme desespero.

- Vai ser divertido. – tentou me passar segurança, o que, claro, não funcionou.

Não respondi, na verdade, nem olhei pra sua cara, era minha ultima tentativa de fazê-lo desistir, quem sabe ele não teria piedade? Mas não teve.

Depois de nos acomodarmos no acento, só restava a mão de para apertar, já que tivemos que deixar meu urso no guarda volumes. O brinquedo ligou, e o tranco junto com o balanço da cadeira me assustou, e eu sabia que aquilo não ia ser nada bom. Minha mente apavorada conseguia prever nossa morte ali, nossos funerais na semana seguinte, e eu indo até o inferno para matar de novo, ou melhor, atormentá-lo mais do que o capeta.

A medida que íamos subindo, eu ignorei os conselhos de e olhei pra baixo, ver as pessoas tão pequenas me causou náuseas, entrecortando minha respiração, então rapidamente fechei os olhos e me aninhei nos braços dele.

- Você não me parece bem, está suando frio.
- Ah jura? – Não tentei ser educada, afinal, eu queria matá-lo, e se saísse viva dessa iria fazer isso assim que chegássemos num lugar seguro.
- Babe, olha pra mim.
- Não me chama de babe! Não me chame de ! Não fale comigo! – Rosnei pra ele.
- Olha pra mim, por favor. – Relutante, fiz o que ele pediu, e vi seu semblante preocupado. – Você está encarando seu medo, e eu tô aqui com você. – Passou o polegar por minha bochecha. – Se você cair, eu caio também.
- Eu não consigo ficar aqui. – Choraminguei sendo patética, mas não podia mais ficar ali, e como se estivesse sendo castigada por todos os meus pecados, o brinquedo simplesmente parou. – PORQUE PAROU?!
- Calma. Eles pararam para outras pessoas subirem, não devem demorar.
- Eu quero descer, , você tem que me tirar daqui! Eu odeio você!
- Tenta se acalma, olh...
- Não mande mais olhar para você, porque senão eu sou capaz de te jogar daqui!
- Shiii. – Ele me abraçou apertado e aquilo me confortou mesmo em meio ao pânico. – Me conta uma história, assim você esquece onde está.
- Que história?
- Pode ser do Barney. – Gozou com a minha cara, e como resposta dei uma mordida em seu braço. – Agora que você sabe que eu odeio mordida, vai fazer isso sempre, não é? - Claro! – Inspirei mais profundamente em busca de ar e voltou a me abraçar forte.
- Me conta porque você quer tanto dirigir, acho que temos um tempo aqui.

Respirei fundo, tentando me acalmar, então me imaginei sentada no banco da praça com , num dia bastante ensolarado, e afastei a realidade.

- Um pouco antes de minha mãe ficar grávida, meu pai a traiu numa festa estúpida de sua fraternidade. Quando ele contou, ela ficou devastada e terminaram o namoro. – Ele alisava o meu braço e mantinha o queixo no alto da minha cabeça. – Meu pai, como é completamente obstinado, praticamente sequestrou minha mãe e eles viajaram o final de semana inteiro, conhecendo novos lugares, novas pessoas e redescobrindo um ao outro.
- Deve ser incrível fazer uma viagem dessas.
- Assim que ela morreu, ele percorreu o mesmo caminho, não teve mais a mesma graça, mas a magia de novos ares, o calor emanando do asfalto, sua música favorita tocando no radio e uma novidade a cada quilômetro com a promessa de que tudo ia ficar bem ainda estavam ali. Palavras dele, não minha.
- Seu pai descobriu uma maneira de trazer vida a eles, de recuperar o amor que não haviam perdido.
- Exatamente. Você mesmo me disse que tudo tinha uma razão para ser, eu fui concebida durante essa viagem.
- Para minha sorte. – As palavras dele me chocaram um pouco, mas eu as coloquei junto com a realidade.

O tempo passou rápido com me perguntando todo o tipo de trivialidade, que no fim me distraíram. Quando descemos, ele teve que segurar em minha cintura, já que minhas pernas bambas não sustentavam o meu corpo, fomos até uma barraca de comida que tinha ao lado, e quando ele chegou com uma garrafa de água, que só consegui beber poucos goles, eu segurei o seu braço e mordi descontando toda a minha frustração ali.

- AI! – Ele gritou massageando o braço, enquanto eu ria satisfeita. – Eu não merecia essa, eu te distrair. – Falou magoado, me deixando arrependida. Peguei novamente o seu braço e dei uns beijos no mesmo local.
- Pronto, babe, passou. – Disse num tom maternal, mas o sorriso dele revelou que eu tinha falado demais.
- Sou o seu babe agora?
- Foi só uma expressão. – Revirei os olhos pra ele, mas sua satisfação não havia ido embora. – Não se empolgue.
- Vamos comer alguma coisa? – Perguntou, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto.
- Estou faminta. – Ele se levantou, me deixando confusa. – Aonde você vai?
- Achei que quisesse comer em algum restaurante, ou algo assim. – podia disfarçar, mas ele me achava completamente mimada, o tipo de garota que só come em restaurantes caros e se importa com toda essa bobagem. Contudo, era bom ver o quanto ele queria me agradar e aquela era uma ótima oportunidade para mostrar de verdade quem eu era. Porque eu me importava tanto com isso?
- Aqui está ótimo, e tem pizza. – Sorri animada, e num misto de surpresa e admiração, ele sorriu pra mim e chamou o rapaz pra fazermos os pedidos.

A temperatura parecia ter caído e no trajeto até o metrô nós fomos abraçados com a desculpa de nos mantermos aquecidos. Ele então desatou a rir.

- Nunca poderia imaginar que você comesse tanto. – Não me sentia culpada por ter comido quatro fatias de pizza, mas senti a necessidade de me explicar.
- Eu adoro pizza, ok? – Falei também rindo.
- Eu percebi, já que praticamente tive que brigar com você pra conseguir comer.
- Bobo. – Bati meu cotovelo em suas costelas.

Chegamos a Underground com um bastante exultante, carregando meu urso enorme, enquanto esperávamos para embarcar, fiquei parada admirando uma banda independente que tocava o cover de How to save a life, do The Fray, e foi impossível não sorrir e cantar junto.

- Você conhece essa música?
- Claro! Uma das minhas favoritas de The Fray! – Ele continuava absorto ao que eu dizia. – Eu simplesmente adoro essa banda, se não tivesse tão viciada no cd, até te emprestaria.
- Egoísta. – Ele apertou meu nariz e rimos. – E eu não ia querer ouvir, deve ser uma banda de mulherzinhas.
- Fala o garoto que tem uma banda com , , e . – Debochei.
- Nós nos amamos, tá legal! – Fez uma voz bastante feminina, enquanto fingia jogar o cabelo pra trás.

Quando os acordes da nova música se iniciaram, puxei , chegando mais perto das pessoas que estavam aglomeradas observando a banda, e quando peguei o enorme urso de sua mão e depositei no chão sorrindo cresta, ele entendeu o que eu tinha em mente.


Tudo tem a ver com palavras. Algumas podem te excitar e fazer você cometer loucuras, podem te assustar por terem o poder de derrubar muralhas que você passou a vida inteira construindo...

Para ouvir a música clique aqui!

Beauty queen of only eighteen
Rainha da beleza de apenas 18 anos
She had some trouble with herself
Não se aceitava muito bem
He was always there to help her
Ele sempre estava perto para ajudá-la
She always belonged to someone else
Ela sempre pertenceu a outro


- No way. – Disse tímido enquanto negava com a cabeça.
- Para de ser bobo, vamos dançar.
- Aqui? – Perguntou hesitando.
- Esquece todo mundo. Fecha os olhos e se concentra no momento. – Segurei seu ombro, e me permitir ser conduzida.



I drove for miles and Miles
Eu viajei muitos quilômetros
And wound up at your door
E vim parar na sua porta
I've had you so many times but somehow
Eu tive você tantas vezes
I want more
Mas, por algum motivo, eu quero mais


- Obrigada. – Ele riu, mas parecia não entender.
- Pelo que?

I don't mind spending everyday
Não me importo de ficar todo o dia


- Tudo isso, eu realmente me diverti.
- A noite ainda não acabou. – Agora ele se divertia e arriscou me girar.

Out on your corner in the pouring rain
Na sua esquina debaixo de chuva
Look for the girl with the broken smile
Procure a garota do sorriso partido
Ask her if she wants to stay awhile
E pergunte se ela quer ficar um pouco

And she will be loved
E ela será amada
She will be loved
Ela será amada


Era engraçado estar ali com , eu me senti tão segura como quando dançava sob os pés do meu pai. Naquele instante, resolvi encarar minha realidade, e assumir pra mim mesma tudo o que se passava comigo. Sem mais mentiras.

Embalávamo-nos sem nos importar com o ritmo da musica, enquanto a mão de repousava suavemente em minha cintura e a outra estava entrelaçada a minha. Retirei meu rosto de seu peito, que batia acelerado, com a necessidade de olhar nos seus olhos. Assim como eu, ele mantinha um sorriso bobo nos lábios.

Tap on my window knock on my door
Toque na minha janela bata na minha porta
I want to make you feel beautiful
Eu quero fazer você se sentir linda
I know I tend to get so insecure
Sei que eu tendo a ser inseguro
It doesn't matter anymore
Mas isso não importa mais


Meu estomago dava voltas, eu sabia o motivo, e precisava admitir.

It's not always rainbows and butterflies
Nem tudo são arco-íris e borboletas
It's compromise that moves us along, yeah
São as concessões que nos impulsionam
My heart is full and my door's always open
Meu coração está cheio e minha porta está sempre aberta
You can come anytime you want
Venha sempre que quiser


Em minha mente, eu já havia gravado cada detalhe do rosto dele, suas expressões, a maneira como cuidava de mim e tentava me agradar. era um garoto incrível e merecia o mundo, será que eu seria suficiente?

I don't mind spending everyday
Não me importo de ficar todo o dia
Out on your corner in the pouring rain
Na sua esquina debaixo de chuva
Look for the girl with the broken smile
Procure a garota do sorriso partido
Ask her if she wants to stay awhile
E pergunte se ela quer ficar um pouco

And she will be loved
E ela será amada
And she will be loved
E ela será amada
And she will be loved
E ela será amada
And she will be loved
E ela será amada


Num movimento involuntário, meus braços rodearam o seu pescoço, massageando seus cabelos com as pontas dos meus dedos. As mãos de se firmaram em minha cintura, e mais uma vez eu estava à mercê dos seus toques.

I know where you hide
Eu sei onde você se esconde
Alone in your car
Sozinha no seu carro
Know all of the things that make you who you are
Eu sei todas as coisas que fazem você ser quem você é
I know that goodbye means nothing at all
Sei que adeus não significa nada
Comes back and begs me to catch her every time she falls
Ela volta e me implora para segurá-la toda vez que cair


Assim como em vários outros momentos, eu o desejava tanto, queria poder ler os seus pensamentos, entender suas ações e ser coordenada por elas. Queria ser beijada, ser dele.

Tap on my window knock on my door
Toque na minha janela bata na minha porta
I want to make you feel beautiful
Eu quero fazer você se sentir linda.


, de alguma maneira, e dentro de um curto espaço de tempo, havia me marcado, deixando em minha vida um misto de prazer e agonia. Aquilo que estava sentindo não poderia ser classificado em tamanho ou quantidade, mas estava crescendo, e estava me perseguindo, me enlouquecendo.

I don't mind spending everyday
Não me importo de ficar todo o dia
Out on your corner in the pouring rain
Na sua esquina debaixo de chuva


- Eu adoro o seu cheiro. – Sussurrou, fazendo cada parte do meu corpo se arrepiar. – Acho que to ficando viciado nele.

Look for the girl with the broken smile
Procure a garota do sorriso partido
Ask her if she wants to stay awhile
E pergunte se ela quer ficar um pouco
And she will be loved
E ela será amada
And she will be loved
E ela será amada
And she will be loved
E ela será amada
And she will be loved
E ela será amada




- Isso não é bom. – Eu retruquei o que não queria.
- Eu sei, mas não posso evitar.

Please don't try so hard to say goodbye
Por favor, não se force tanto a dizer adeus
Please don't try so hard to say goodbye
Por favor, não se force tanto a dizer adeus


- ... – Arfei, e ele me lançou um olhar corajoso e determinado.
- Eu adoro seu cheiro, adoro sua risada, adoro o fato de você ser impulsiva, carinhosa, ciumenta e divertida. Eu acho que adoro tudo em você. – Me senti acuada e assustada. – , eu acho que estou apaixonado por você.

I don't mind spending everyday
Não me importo de ficar todo o dia
Out on your corner in the pouring rain
Na sua esquina debaixo de chuva


Senti-me inerte diante de sua revelação, não conseguia dizer absolutamente nada.

Try so hard to say goodbye
Se esforce para dizer adeus


Quando a música acabou, as pessoas reapareceram, o ruído dos trilhos se fez presente, e só então me lembrei da existência do mundo, estava fora da bolha mágica onde só cabia eu e . Ao olhar pra os seus olhos, vi o brilho dos meus sendo refletidos com uma pureza e verdade jamais notados. Ele segurou delicadamente o meu queixo, fazendo com que eu o olhasse. Era a primeira vez que me pedia permissão para um beijo, e foi a primeira vez que recusei. Droga! Eu estava irrevogavelmente apaixonada por .


FLASHBACK OFF.

Londres – 31 de outubro de 2015 – 8:59 pm.

Não planejei nada grandioso pra despedida de solteira de , seu chá de cozinha seria em alguns dias e sei bem que ela não ia querer badalação essa noite. Mesmo com a insistência descabida de para eu levar a atual namorada para jantar com a ex, eu obvio fui categórica ao dizer não, e ele teve que levar a garota pra tal festa em comemoração ao fim da solteirice de .

Usei o nome e consegui fazer uma reserva de última hora para um restaurante japonês bem famoso em Londres. havia deixado a Jazzy com a sogra dela e estava liberada pra uma farra de garotas, naquela noite eu só queria matar a saudade das minhas duas melhores amigas, na minha cidade favorita.

Já estávamos no restaurante há duas horas, falando bobagens, como costumávamos fazer quando não tínhamos problemas ou responsabilidades, bebíamos saquê e já estávamos um tanto altas.

- Então onde será a festa? – pergunto,u batendo as mãos agitadas.
- Que festa? – Perguntei sem entender nada, e vi o sorriso dela e o de esmorecer.
- Você só programou isso aqui?
- , você disse que não ia querer nada e o ...
- Não acredito, ! – furiosa, começou a revirar sua bolsa e ficou alheia ao que estava acontecendo ao seu redor.
- , desde que você chegou a Londres parece ter envelhecido quarenta anos. – me acusou, mas eu não podia me opor a isso, eu só não queria badalar e parecer aquela menina vulnerável dos tempos do colégio.
- Eu não quero e não posso errar. – Respondi, sem a menor contrição.
- Então está na espécie errada, tenta reencarnar como um pato da próxima vez. – Usou todo o deboche que conseguia e como resposta mostrei a língua para ela, que me jogou um guardanapo, e nossa guerra só parou com um grito de .
- Ah, graças a Deus.
- O que foi? – Eu e perguntamos juntas, querendo saber o que tanto digitava e ria no celular.
- Os meninos estão numa festa a fantasia na boate do , e querem que a gente vá pra lá.
- Ele tem uma boate? – Mais uma coisa que não sabia sobre .
- É sócio. – Respondeu já se levantando da mesa, sendo seguida por . – Vamos.
- Para onde? – Elas não podiam estar querendo ir até essa festa, não podiam.
- Bateu a cabeça em algum lugar? – me perguntou impaciente. – Porque essa sua lerdeza não é normal.
- Não vou para essa festa. – Disse convicta, não me importando se elas saíssem e me deixassem ali sozinha.
- Tem uma loja de fantasias na Kings Road, a gente deve conseguir alguma coisa. – não prestava atenção na minha resistência e continuava a mexer no celular, provavelmente já estava bêbada.
- Não vou para essa festa. – Dessa vez soei mais ríspida e se sentou choramingando.
- , por favor. É a minha despedida de solteira.
- E você quer passar a noite com seu noivo?
- Claro que não, melhor ficar aqui nesse japonês contando a vocês há quanto tempo não vou para uma boate.
- Vai ser legal, como nos velhos tempos. – incentivou.
- vai estar lá. – Usei o ponto fraco de pra tentar fazê-la desistir, sendo mais fácil convencer .
- Azar o dele de ter que me encontrar. E quer saber? Eu quero vê-lo, .
- Você o que? – Eu e perguntamos chocadas.
- Eu perguntei três vezes por ele essa noite e você não me deu nenhuma informação, e não vou ser hipócrita como você em negar o que eu to sentindo.
- E o que você está sentindo? – questionou, enquanto eu ainda estava estática.
- A falta dele. – Respondeu sincera e eu não conseguia sair do transe. Havia evitado falar sobre o porque sabia que ela não ficaria nada contende em saber que ele estava com outra pessoa, e sinceramente eu não queria me meter nisso, tinha meus próprios problemas, e mesmo tendo errado bastante no passado, ele ainda era meu irmão.

Respirei fundo e deixei que o próprio se encarregasse de contar a novidade para , e esperava sinceramente que ela não me matasse. Eu conhecia e sabia que essa paixão que ele dizia estar sentindo era uma desculpa para encarar de um jeito superior, e fazê-la pagar por não ter permitido que ele continuasse a fazer parte da vida dela.

- Vou logo avisando, não fico lá por mais de uma hora. – Me levantei demonstrando todo o meu mau humor, as meninas pareciam satisfeitas por terem me convencido.

Como previsto, na tal loja de fantasia que nos levou não tinha mais nada que nos servisse, o mesmo aconteceu nas outras quatro lojas que entramos, na última conseguimos encontrar acessórios para fantasias e fomos pra casa nos arrumar.

estava com um vestidinho preto colado no corpo, mas que tinha leves babados na saia, colocamos um véu rasgado e de cor cinza em seu cabelo que compramos na loja, e complementamos com uma meia arrastão preta que rasgamos, para dar o ar de noiva cadáver que ela precisava. Achei a escolha da fantasia bastante sugestiva e apropriada.

estava com um vestido curto e vermelho e só colocou uma longa capa vermelha, pegou uma cesta e estava linda como chapeuzinho vermelho. Tinha diversas fantasias em mente, mas a que escolhi chocou até as minhas amigas, mas se era halloween, a diversão estava justamente em sair completamente da sua personalidade e literalmente se fantasiar. Então estava satisfeita com meu micro vestido branco, quase indecente, sapatos Charllotte Olympia prata e, para contrastar com a falta de pudor da roupa, usava um par de asas pequenas e auréola, que me deixaram com um ar angelical que nunca possui.

- Nós somos convidadas de .

Dissemos juntas, para um segurança que ficava nos fundos da boate, onde fomos instruídas pelos meninos para entrar sem ser vista pelos paparazzi.

O rapaz forte, mal encarado, mas com ar de bad boy irresistível, conferiu a lista, e voltou a nos encarar com seus enormes olhos castanhos. - e , certo? – Perguntou e obteve sua resposta com acenos positivos das minhas amigas.
- E . – Disse e sorri sínica, me esgueirando pra ver a tal lista, mas fui impedida.
- A senhorita também está aqui. – Disse num ponto de comunicação. Depois de ouvir algum comando, voltou a se pronunciar. – Vocês duas podem entrar – abriu a porta dando passagem para as meninas – o gerente já vem falar com a senhorita.

Eu não podia acreditar que estava sendo barrada de entrar numa festa. Eu tinha quase vinte e cinco anos e isso NUNCA me aconteceu.

- Elas vão me esperar. – Disse convicta e já destilando veneno pra o segurança, que agora não me parecia mais tão atraente.

Depois de três minutos e trinta e dois segundo, um homem mais baixo do que eu, asiático, numa fantasia de zorro, que deixava o seu corpo mais magro do que deveria ser, surgiu com um sorriso estampado no rosto, que obviamente não foi correspondido por mim.

- Boa noite, senhorita.
- Só vou te dar um aviso, porque você não me conhece. – Me aproximei dele e vi seus olhos se arregalaram. – Se o imbecil do acha que pode aprontar comigo, que venha ele pessoalmente fazer isso, porque caso contrário eu mato você e antes de matá-lo, e o obrigo a engolir seus órgãos.
- E-e... por... são ordens da casa. – Ele não ia se referir a ninguém, por isso soou impessoal. – Eu só posso deixar à senhorita entrar mediante um pagamento pré-estabelecido.
- Sério isso? – sempre impaciente. – , paga logo e vamos entrar.
- Não vou pagar nada pra entrar nesse lugar, que mais parece um circo de horrores. – Coloquei o maior desprezo que consegui em minhas palavras, e quando ia me virando pra ir embora, me impediu.
- , está todo mundo ai, faz isso por mim? – Respirei mais uma vez derrotada, e sorri falsamente para o homem.
- Ok. Quanto é o acesso à área vip? Quinhentas libras?
- Houve uns reajustes e a noite de hoje esta saindo por cinco mil libras.
- O QUE? ISSO É ALGUM TIPO DE BRINCADEIRA?
- Me desculpe, mas são...
- Já entendi. – O interrompi entendendo que queria jogar, na verdade isso era tudo que ele fez desde que pôs os olhos em mim de novo, e saber que o nosso beijo estava incluído nisso me deu um choque de realidade, dor e raiva. – Agora para de falar e pode passar no débito dez mil libras. – Entreguei meu cartão prateado ao tal gerente e ele arregalou os olhos assustado.
- Isso é demais.
- Deixa o restante de gorjeta para ele. – Dei leves batidas no peito super musculoso daquele segurança gato e sorri propositalmente maliciosa. Agora ele estava tão surpreso quanto seu patrão.
- Obrigada. – Sorriu sincero, me aproximei, segurei seu rosto e o beijei com toda vontade e raiva que sentia, e sem parecer se importar, ele me abraçou e correspondeu o beijo com enorme intensidade, até que me soltou. Limpei meus lábios e sorri pra ele, já entrando na tal boate.
- Agora eu que agradeço. – Sussurrei assim que passei por ele.
- Aleluia. – gritou tentando se fazer ouvir através da música alta. – A antiga está voltando.

Ainda não me sentia segura ou confiante, mas foi bom saber que havia um pouco da garota que deixei em Nova York há alguns dias. O som do DJ já me embalava e me fazia esquecer qualquer chateação que tive. O lugar estava lotado de gente bonita e com fantasias incríveis. A decoração toda branca dava um ar clean, novo e requintado ao local, a mistura de metais polidos e madeira escura, com luzes de diversas tonalidades tornavam o ambiente sedutor. Havia um enorme bar no centro dando acesso a todos.

Não caminhamos muito e conduzidas pelo gerente, paramos em frente a uma escadaria, entrada pra uma enorme área vip que percorria toda a boate. Dois seguranças controlavam o acesso, e mais uma vez fui barrada e aquela palhaçada de já estava saindo de controle e me deixando num estágio altamente furiosa, se fosse antes ia adorar entrar nessa briga, mas hoje eu só queria voltar pra casa e ir dormir.

As meninas subiram e eu permaneci ali, com os braços cruzados, irritadíssima, até que apareceu, assim que eu o vi o desejei, e observei o seu visual com água na boca. Diferente de mim, ele resolveu mostrar sua personalidade – pelo menos a nova – através de sua fantasia. Vestia uma calça preta, um regata branca propositalmente suja, que destacavam cada músculo de sua barriga e tinha uma arma de plástico pendurada em seu ombro, diversos hematomas espalhados pelo rosto e corpo, um cigarro atrás da orelha e sua barba grande o tornava um perfeito e sexy guerrilheiro.

- Estranha, que honra ter você aqui. – Seu sorriso era enorme, assim como seu cinismo. Tentei me recompor do estupor que era tê-lo daquela maneira na minha frente.
- , eu tenho certeza que a minha expressão vazia reflete muito bem a minha vontade de não esta aqui. – Ele se aproximou mais ainda, colocando as duas mãos pra trás e sussurrou.
- Você ta com uma carinha de menos rica essa noite ou é impressão minha?
- Pra você não morrer sentindo minha falta, eu gasto até meu último centavo. – Usei o mesmo tom que ele, mas não o vi se abalar.
- Esnobe.
- Idiota.
- Linda. – Ao dizer isso, ele riu sarcasticamente, como se estivesse mentindo, e me senti ridícula e pequena na frente dele.
- Deus, como todo cara é previsível. – Fui passar, mas ele não permitiu.
- Confessa que eu não sou qualquer cara, sou aquele por qual você ainda morre de paixão. – Sua confiança era quase palpável e importuna.
- Pretensioso. – O acusei.
- Mentirosa. – Rebateu, me levando a participar desse jogo ridículo.
- Insuportável.
- Monossilábica.
- Vai pra o inferno. – Gritei completamente alterada, enquanto ele se divertia com meu descontrole e se mantinha no mesmo lugar.
- Estranha, você pode até estar vestida de anjo, mas eu ainda vejo os demônios em seus olhos. – Colocou uma mecha do meu cabelo para trás, e num ato involuntário prendi a respiração. – Então acho que não seria uma má ideia ir para o inferno e abraçar o capeta.

Grunhi em frustração e o empurrei pra sair da minha frente enquanto subia as escadas de metal. A área vip tinha a mesma decoração, mas conseguia ser mais intimista e luxuosa, numa mesa privilegiada no meio do camarote, estavam os meus amigos, e sorri ao vê-los tão animados, mas quando vi com quem conversava animosamente eu soube que havia cometido um erro gravíssimo.

Ao me aproximar de e de Rebecca, vi que elas comentavam sobre a desagradável coincidência de terem escolhido a mesma fantasia, que havia caído muito melhor no corpo esguio de minha amiga.

- ! – A minha “cunhada” fez um verdadeiro escândalo vindo me abraçar, e eu quis quebrar a cara dela por fazer todos acreditarem que nós éramos intimas. – Pensei que não viesse.
- Mudança de planos. – Sorri amarelo.
- Tivemos que arrastá-la, mas essa chata não fica sem me obedecer. – disse contente. – Ah, nem nos apresentamos.
- ... – Tentei intervir, mas ela não me deu ouvidos.
- Eu sou , mas pode me chamar de , sou melhor amiga dessa daí.
- Eu sou a Rebecca, cunhada dessa daí. – Riu como se tivesse contado uma piada, mas no mesmo instante o sorriso de congelou, e seus olhos faiscaram de raiva em minha direção.
- Agora entendi porque vocês se conhecem. – De imediato, aumentou a distancia entre nós duas. – Foi um prazer conhecê-la, Rebecca, com licença. – Saiu sem me olhar e foi em direção ao bar.

O mais coerente naquela situação era deixar esfriar a cabeça, e assim eu fiz. Ao chegar à mesa, encontrei vestido de príncipe, e quando me viu seu sorriso aumentou e ele me entregou uma rosa.

- Um verdadeiro príncipe. – Cheirei a rosa e o abracei.
- De anjo? – Me perguntou num tom sôfrego. – De todas as fantasias que eu tive com você todos esses anos, eu nunca te imaginei assim, mas já to começando a ter varias ideias. – Disse malicioso, fechando os olhos e sorrindo.
- Eca, ! – Entortei a boca, fazendo uma careta.

, que estava fantasiado de padre, estendeu um crucifico na direção de e gritou:

- A bíblia diz... – Ele pensou um pouco e depois de rir continuou com uma voz dramática. – Não despejai semente no solo.

Não sabia se estava rindo daquela piada tosca ou da cara de , ambos eram coisas impagáveis de se ver.

- Você diz isso porque ela é sua irmã!
- Deixa de ser pervertido. – riu e depois de me abraçar me estendeu um copo, que não fiz questão de saber o que era e virei, sentindo minha garganta queimar e meus sentidos se esvaírem. – Vai com calma, Fiona. – Me advertiu.
- Você está lindo. – estava fantasiado de policial, e o que o fato de usar óculos estilo aviador o deixava ainda mais sexy. – Acho que vou cometer algum crime, só para ser presa por você.
- Só não vai matar ninguém. – Dei risada, e disse que iria ao banheiro.

Comecei a procurar , quando a vi pedindo tequila ao barman sabia que tinha que agir rápido. Me sentei num banco ao seu lado, com ela ignorando a minha presença, e depois que ela virou o quarto short de tequila eu resolvi falar.

- Cuidado, da última vez em que eu bebi assim, acordei com um anel no meu dedo anelar esquerdo. – Brinquei, tentando desanuviar aquela tensão entre nós, mas não adiantou. Ela nem ao mesmo se virou pra falar alguma coisa. – , tenta me entender.
- Você não podia ter me escondido isso. – Virou-se bruscamente, com ressentimento na voz.
- Mas...
- Não quando eu me abro e digo o quanto sentia falta dele.
- Eu só não quis me meter nisso, soube hoje de manhã e ele que deveria te contar.
- Ah, você não quis se meter nisso? Você, mais do que ninguém, deveria entender minha situação. Era para estarmos juntas nisso, mas claramente você está do outro lado. – Desdenhou, pedindo outra dose.
- Não estou no lado de ninguém, só não me envolvi. – Queria que ela me compreendesse também, mas no estado em que ela se encontrava, sabia que não iríamos a lugar nenhum.
- Ai está o problema, , nesse jogo, ficar parada pode ser tão perigoso quanto avançar.
- Me perdoa, . – Falei sincera, enquanto ela negava com a cabeça, até olhar por cima do meu ombro e sorrir.
- O está me chamando. – Fez menção em sair, mas antes que pudesse, eu segurei seu braço.
- Jura que você vai fazer isso?
- Isso o que? – Se fez de desentendida, me provocando.
- Ir para o lado do ?
- Se acalma, não estou do lado de ninguém, só vou me divertir. – Levantou de maneira elegante, mas sem esconder o quanto estava bêbada. – Mas eu acho que você está começando a me compreender, não é? – Sorriu e foi ao encontro de do outro lado do bar. Sabia que vinha mais, estava magoada e bêbada, uma combinação quase letal.

Pedi que me trouxessem uma taça de champanhe e resolvi me aproximar de painéis de vidro para poder ver a pista de dança abaixo de nós, assim que comecei a beber, vi uma garota com longos cabelos pretos, e vestindo uma fantasia de mulher maravilha se aproximar de mim com um sorriso simpático, mas eu não havia gostado dela logo de cara.

- Oi, eu sou Mia. – Estendeu a mão para que eu a cumprimentasse, e assim fiz. – Amiga de . – Ela claramente afirmou que eles estavam transando, e eu passei a repugná-la mais ainda. nos observava rindo, satisfeito, com a ilusão de que eu me alteraria com a garota, então tratei logo de ser a mais agradável possível.
- Prazer, eu sou .
- Eu sei, fala muito bem de você. – Isso era algo quase impossível e eu tratei de dizer isso a ela.
- Duvido. – Ela parecia absorta a nossa conversa e olhava interessada para pista.
- Aquele gato ali não tira os olhos de você. – Sabia exatamente de quem ela estava falando, um garoto fantasiado de arqueiro verde fazia sinais e pedia pra subir, ele era interessante, mas não gostava de pessoas desesperadas.
- Ele não me parece interessado. – Fingi não perceber para conseguir entender o que aquela garota queria comigo.
- Como não? Ele esta de quatro por você, porque não desce e vai falar com ele? – Me incentivou e por alguns segundos eu considerei sua ideia.
- Talvez mais tarde, agora eu... – Antes que eu pudesse responder, estava atracado na garota, beijando-a da maneira mais escrota que conseguia, e a vontade de vomitar foi quase que incontrolável. Sai de perto dos dois, descendo as escadas do camarote e procurando me afastar ao máximo dele.

Logo tudo fez sentindo, a tal Mia se aproximou de mim para que eu pudesse ter uma visão privilegiada do showzinho ridículo de . Ele estava jogando sujo e tudo que eu desejava era conseguir jogar também, mas aquilo era quase impossível quando o adversário era ele.

O barulho alto e a agitação das pessoas me deixaram mais tonta do que já estava, precisava de uma bebida ou ir pra um sanatório, onde pudesse esquecer o que havia acabado de ver. Direcionei-me ao bar, e depois de algumas doses de tequila e taças de champagne, senti algo tocar meu ombro, e me virei pronta pra expulsar mais algum cara idiota que me chamava pra dançar, assim como havia feito com tantos outros na noite, mas os olhos azuis que me encararam me fez abrir um sorriso e ver que ele sim valia a pena.

- Oi. – Disse bem próximo ao meu ouvido e eu me senti zonza pelo seu perfume.
- Oi. – Respondi, segurando o ombro do rapaz, e olhando-o de cima a baixo.

Ele era moreno, muito mais alto do que eu. Sua barba estava por fazer, e seu sorriso era tão tentador que me levaria a qualquer lugar.

- Acho que a gente já se conhece. – Até essa cantada ridícula, vinda dele, parecia encantadora.
- Provavelmente não. – Ergui uma sobrancelha e mordi propositalmente meu lábio inferior. – Se você tivesse me conhecido, não se esqueceria de mim.
- Disso eu não tenho dúvidas. – Estávamos flertando descaradamente, e eu estava amando aquilo. – E se eu te disser que tudo que eu quero é ser marcado por você?
- Eu te diria... – Mãos envolveram minha cintura e fui puxada.
- Que é comprometida. – estava me abraçando e falando entre dentes, como um verdadeiro namorado ciumento. – Certo, babe?
- Não! – Disse alto, mas segurou meu rosto e novamente eu estava perdida, lambi os lábios, ansiosa pelo seu toque, mas quando nossas bocas iam se esbarrar, ele se afastou gargalhando.
- O imbecil já foi. – Ria apoiando as mãos no joelho, me senti tão humilhada, que se conseguisse chorar, as lágrimas já estariam escorrendo pelo meu rosto.
- Você é louco? – Questionei indignada, vendo aquele sorriso sínico aumentar. – Eu juro que se sair alguma nota num jornal, revista, blog ou qualquer outro lugar, dizendo que estamos namorando, a próxima coisa a sair será o seu obituário. – Tentei soar rude, mas falhei completamente.
- Ele devia me agradecer por tê-lo livrado de um problemão.
- Por que você não pode me deixar em paz?
- Por que você está me infernizando desde que voltou.
- Fique bem longe de mim, , bem longe. – Como se tivesse exigido o contrário, segurou meu braço, nos aproximando.
- Ta irritada assim por causa daquele cara? Ta baixando tanto o nível assim?
- Então porque você, homem de bem, astro mundial, não volta para sua namorada, que tem como ofício a primeira profissão do mundo?
- Ela não é minha namorada e também não é prostituta!
- Eu pensei em esposa, então é você que está querendo dizer alguma coisa.
- Você está brincando com fogo, , e estou com a sensação de que você quer se queimar.
- Quero sim. – Falei me aproximando dele, encontrando uma força que nem sabia que ainda existia. – Mas quero me queimar numa fogueira e não numa chama de vela. – riu alto na minha cara e finalmente me soltou, indo decidido ao bar.

Voltei ao camarote e resolvi me sentar com os meninos e me manter segura ali, sem mais dramas, eu não estava aguentando mais aquilo.

- Soube que sua festa não deu certo, sinto muito. – me abraçou assim que coloquei minha cabeça em seu ombro.
- Ta tudo bem, mas quem poderia imaginar que perderia o posto de party girl justo para ? – Falei magoada, fazendo um bico que costumava fazer quando era criança e meu pai me castigava por alguma coisa.
- Também fiquei sabendo do beijo. – começou a rir malicioso, e eu o encarei incrédula.
- Esse garoto é muito fofoqueiro, e além do mais foi só um beijo idiota, que eu não correspondi. – Claro que eu menti, principalmente depois da palhaçada de minutos atrás.
- Eu vi você praticamente arrancando os cabelos dele.
- M-Mas era para ele me soltar. – Como uma grande mentirosa eu me enrolei em minha resposta.
- Interessante seu jeito de se livrar das pessoas, eu costumo afastá-las, mas acho que vou adotar seu estilo. – Já disse encolhido, sabendo que eu iria enchê-lo de tapas, e ele estava certo. – Você está com raiva de mim? Devia me beijar também.
- Para de me zoar, . – Choraminguei. – Aquilo não deveria ter acontecido, e não vai se repetir.
- Eu já disse o que penso disso tudo, conta pra ele o que aconteceu, deixa ele explicar o lado dele, superem isso e vão ser felizes. – Parecia algo tão simples e eficiente, mas na prática era algo quase impossível.
- As coisas não são fáceis assim.

Parei de falar assim que , fantasiado de vampiro, me mordeu com seus dentes falsos e me puxou.

- Vamos dançar, anjinha do mal.
- Sou do bem. E antes, vamos beber tequila, pelos velhos tempos.

Ele de imediato concordou, e assim que a garçonete chegou com a garrafa de tequila, foi mais rápido e a pegou antes que outro o fizesse.

- BODY SHOT BITCHES! – Gritou com uma voz feminina e já modificada pelo álcool.
- VOU MANDAR O DJ ANUNCIAR. – logo imitou e saiu em direção à cabine do DJ.
- Eu saio por seis anos e isso aqui vira spring breakers? – Brinquei, ao me sentar ao lado de e .
- Não enche, , você sempre fazia isso no colegial. – disse ríspida, e dançando foi em direção a . Sabia que ela estava magoada comigo, e a raiva que ela sentia de não seria mais guardada, estava pronta pra explodir.

Ao ver se aproximar, lhe direcionou um sorriso completamente malicioso e abriu a garrafa de vodca lentamente, depois pegou no colo e a colocou deitada numa mesa.

- O que eles estão fazendo? – A voz estridente de demonstrava a aflição e o ciúme que as batidas do meu coração descompassadas também queriam dizer.
- Body shot. – respondeu cauteloso e agora nenhum de nós tirava os olhos daquela cena, esperando o que estava por vim.

se inclinou rindo e dizia alguma coisa a , que também parecia se divertir, ele se inclinou sobre ela e depois de despejar um pouco de tequila abaixo de seu pescoço, sugou o liquido que escorria. A respiração de era alta e ruidosa, principalmente quando se inclinou ainda mais aos toques de .

passou o dedo indicador sobre os seus lábios de num pedido mudo para que ela os abrisse, assim que o fez, ele pegou novamente a garrafa que estava nas mãos de e despejou o liquido em sua boca, chupou um pedaço de limão, olhou no fundo dos meus olhos e quando percebi que ele ia beijá-la pra assim consegui beber a tequila, eu instantaneamente fechei os olhos e desejei sumir dali.

- Eu vou matar o filho da puta do ! – grunhiu num tom que parecia calmo, mas era mortal, e saiu marchando em direção ao espetáculo, que eu me proibia ver. Na tentativa de evitar maiores confusões, os meninos o acompanharam, restando eu e .
- ? – O chamado desesperado de me despertou. – Precisamos fazer alguma coisa, a ta descontrolada. – Eu encarava meus pés. – Não briga com ela, por favor.

já estava tentando mediar uma briga que não existia e nem iria existir. Claro que eu estava com ciúmes e com uma vontade enorme de bater em , mas outra parte de mim não se sentia no direito de questionar nada. Eu sabia que aquilo era a maneira estúpida de me punir por ter sido negligente com ela, deveríamos nos manter unidas, como tínhamos feito durante todos esses anos, e eu falhei assim que cheguei a Londres.

- Olha o estado dela, só fez isso pra provocar o , amanhã provavelmente ela nem irá se lembrar disso.

Ouvir a confusão que havia se formado, mas ainda assim não quis me intrometer.

- Meu Deus, o vai matar o . – falou horrorizada, e quando enfim olhei, vi que , e um segurança seguravam , enquanto parecia estar se explicando. Dei de ombros, me levantando.
- Alguém da família tem que fazer algo decente. – Então fui embora, ignorando qualquer coisa ao meu redor.

Londres – 01 de novembro de 2015 – 6:22 am.

O sol ainda não havia aparecido, mas já passava das seis da manhã quando eu recebi uma ligação de , extremamente bêbado, me pedindo pra ir buscá-lo na boate. O estado alcoólico dele o impossibilitou de responder o porquê dele não ter ligado para um de seus seguranças, ou produtores da banda, e resolvi não me importar com isso e fui de bom grado, já que não havia conseguido dormir.

Como havia feito mais cedo, parei numa rua ao fundo da boate e assim conseguir despistar os paparazzi. Logo que entrei, vi e dormindo desajeitadamente em cima de um dos bancos da boate agora vazia. Ela estava deitada sobre ele, que a abraçava, se uma foto daquele momento caísse na internet, seria impossível não dizer que eles tinham algo, mas aos meus olhos, mesmo depois daquela cena do body shot, aquilo era tão fraternal quanto minha relação com .

Procurei mais um pouco, até que o vi mais afastado, sentado no balcão, olhando para o casal, os olhos deles denunciavam que ele ainda sentia algo por , e não parecia ser algo inerme.

- Ei, bêbado. – Me sentei ao seu lado, pegando a garrafa de vodca que estava ao seu lado e bebi um longo gole.
- Valeu por ter vindo. – Ele não parecia mais tão bêbado assim. – insistiu que só queria ir embora com você.
- Está tudo bem. – Ele concordou, ainda olhando pra e . – Vamos direto para casa do lago?
- Pensei nisso. O difícil vai ser acordar aqueles dois.
- Onde está a Rebecca?
- Quem? – Ele me olhou confuso e não pude deixar de rir.
- Sua namorada, por quem você estava supostamente caindo de amores.
- Não vai rolar. – Sem dar mais nenhuma explicação, ele se levantou e pegou no colo. – Acorda ele. – Disse indicando .
- ? – se remexeu no colo de e estendeu a mão, procurando a minha.
- Estou aqui. – Ela apertou forte minha mão. – Está tudo bem.
- Eu amo você, mesmo você sendo uma .
- A vadia hoje foi você, mas eu ainda te amo. – Ela riu e apagou completamente.

Depois de alguns minutos tentando acordar e sem obter sucesso, um dos seguranças o pegou no colo, deixando-o no banco de carona do meu carro, não tive tempo de questionar os atos do rapaz, que deveria ter colocado no carro do motorista de .

Tudo tem a ver com palavras. Algumas delas podem te ferir como uma adaga envenenada pela dor do passado, mas ainda assim, as palavras são preferíveis ao silêncio...

Assim que entrei e coloquei o cinto de segurança em , ele se remexeu e abriu os olhos. Quando foi capaz de me focalizar, fez uma careta de dor e melancolia.

- ? – Sussurrou, e eu percebi o quanto havia sentido falta do som do meu apelido em sua voz.
- Oi, . – Não consegui controlar a minha mão, e ela foi até o seu cabelo, fazendo um carinho leve, que me causou arrepios e me fez fechar os olhos. – Tá tudo bem? Precisa de alguma coisa?

Ele segurou a minha mão, tirou de seu rosto e a levou até sua boca, onde beijou os meus dedos.

- E-Eu... – parecia tomar coragem pra dizer o que quer que fosse. – Seu cheiro continua o mesmo. – Fechou os olhos, respirou fundo e suas palavras perfuraram minha alma.
- ... – Tentei impedi-lo, mas eu precisava ouvir algo sincero vindo dele.
- Eu te odeio. – Soltou um soluço, devido a grande ingestão de álcool. – Eu te odeio, !

Tudo tem a ver com palavras, mas na maior parte do tempo, o amor não fala.


Capítulo 08

"Everything's wrong since you've gone away... I tried to follow my dreams, but they're all about you". No good without you - Tyrone Wells.


O que a fazia rir assim? Ela ainda tinha os mesmos sonhos? Eu ainda fazia parte de algum deles? Se eu não podia tocá-la, porque vê-la? Por que ela havia se perdido de mim? Será que ela não sentia frio? Eu estava congelando sem ela.

Londres – 01 de novembro de 2015 – 10:21 am.

Entrei cambaleando no meu apartamento e me atirei no sofá da sala, minha cabeça doía, assim como minhas pernas. entrou logo em seguida, fantasiada de anjo, aquela roupa era uma afronta pessoal, principalmente depois que ela beijou aquele segurança da boate. O sol iluminou seu rosto, e eu pude ver um enorme sorriso em seu rosto, ela piscou pra mim e foi até a cozinha. Não sei exatamente como aconteceu, mas estava sentada no meu colo com aquele vestido minúsculo, minhas mãos tocavam o seu corpo lembrando que cada detalhe daquilo que já foi meu. Ela pegou uma garrafa de vodca e pediu para que eu abrisse a boca.

- Se derramar você perde, e hoje eu quero ser sua. – Sussurrou no meu ouvido, me deixando ainda mais louco.
- Você já é minha. – Ela riu divertida da minha convicção e começou a despejar a bebida em minha boca.

Me concentrei no liquido caindo na minha boca, mas se mexia no meu colo, me fazendo perder totalmente o foco, até que não resisti mais e quando fui beijá-la derramei a bebida. Numa fração de segundo, já estava na porta, sendo acompanhada por meus olhos assombrados, que desejavam que ela ainda estivesse perto de mim.

- Aonde você vai? – Estava aflito e não me importa de demonstrar.
- Embora! – Respondeu rindo, mas o que mais me incomodou foi sua naturalidade. – Você perdeu, Estranho.
- Não vai! – Implorei, tentava me levantar, mas simplesmente não conseguia. – Babe, fica comigo.

Sem me dar maiores satisfações ela se foi, e uma angustia conhecida se apossou de mim.

Eu acordei completamente duro por ela, e com a dor de mais uma vez perdê-la.

Não tinha ideia de onde estava, mas, como sempre acontecia, meu primeiro pensamento foi pra ela. estava de volta, não era mais um sonho, era uma realidade, tão palpável e próxima que havia me enlouquecido de vez. Desde que ela voltou, como que por direito, roubou meu silêncio, minha dor de cabeça, minha identidade, e no momento que sucumbi ao desejo de beijá-la, perdi minha paz.

Ao perder , senti uma dor tão grande e física no peito que achei que estivesse sofrendo um infarto, apesar da pouca idade. Com o tempo, a dor foi passando e eu achei que já havia superado, mas tê-la ali de novo me fez perceber que a dor ainda estava ali, não mais concentrada no peito, ela havia se espalhado.

Durante tantos anos ela tentou manter-se longe, mas como um grande imbecil eu acompanhei sua vida como eu pude. Sabia pelos sites de fofocas o quanto ela se divertia e tinha uma infinidade de namorados. Tive tanta inveja de sua disposição que decidi não ser pequeno, eu tinha o mundo aos meus pés, e não encarei isso de maneira arrogante, mas quando se esta numa posição favorável é mais fácil se reerguer. Tive todas as mulheres que eu quis, experimentei das mais loucas aventuras, conheci ídolos e me tornei amigo deles, mas ela sempre se mantinha ali, de alguma maneira os olhos dela continuavam aparecendo quando ia dormir, e quando estava cansado demais poderia jurar que sonhava com eles.

Quando soube que íamos finalmente nos encontrar de novo, um misto patético de alegria e medo se apossou de mim e eu não sabia como reagir a isso, mas sempre facilitou as coisas para mim e dessa vez não foi diferente. Vê-la seminua na cama do meu melhor amigo era tudo que eu precisava para manter minha postura de ultimamente. Levantei e procurei no bolso do meu jeans minha carteira de cigarros, péssimo hábito que adquirir junto da ausência dela. Fui até a varanda e, sem me importar com o frio cortante, protegi o filtro com a mão e o acendi, inalando rapidamente a nicotina e me sentindo mais calmo. Após tragar algumas vezes, vi o carro de parando, não seu super Austin, porque esse estava com , claro que ele cedeu pra ela à única coisa que não dava nem a namorada. Assim que ele desceu, , segurando alguma coisa em mãos, se jogou em seus braços enquanto ele a girava.

FLASHBACK ON:

Londres – 30 de outubro de 2008 – 11:34 am.

Só tinha dezessete anos, mas já tinha uma certeza na vida: Eu estava completamente apaixonado por , não sabia se era por seu sorriso, sua alegria contagiante, ou o mau humor toda manhã, o jeito como suas regras ditadas pareciam música. Talvez fosse o jeito que ela me olhava, que eu podia jurar ser exclusividade minha, a maneira como ela era mimada e ao mesmo tempo altruísta, hot mas tímida. era uma série de mistérios e dualidades que me deixaram caído de amor por ela.

Eu havia ficado tão nervoso com o nosso encontro que eu decidi ser eu mesmo, foi divertido ver à vontade, compartilhando histórias e medos, até o silêncio ao lado dela era incrivelmente bom. Adorava vê-la falando bobagens por estar nervosa. Ou apenas levantando a sobrancelha esquerda quando queria me provocar, questionar, ou só me matar mesmo.

Quando o despertador tocou, percebi que não havia conseguido dormir, havia sido completamente reticente a minha declaração (gay). Não sei como eu ainda tinha ouvido os conselhos do e do . Silêncio, o silêncio dela me matou, e eu não podia fazer nada, a não ser esperar. No treino de hoje cedo eu havia sido um completo desastre e o técnico ameaçou me colocar no banco de reservas, ela não poderia me afetar tanto, mas enquanto eu não falasse com ela não sossegaria. Até o momento do intervalo não havia conseguido, não sabia se o tal destino estava conspirando para isso ou se ela continuava a fugir. Duvidava bastante da segunda hipótese, já que não fazia o feitio de .

Nos reunimos no lugar de sempre, embaixo de uma árvore, e o dia nos remetia a preguiça. A lassidão daquela quinta-feira, junto com o campeonato de sábado, acabou sendo o temo central de nossa conversa, naquele primeiro e pequeno tempo perto de , eu tentei ler suas expressões e decifrar seus sentimentos, mas não consegui, ela, que revelava tanto com os olhos, naquela manhã estava ilegível, enquanto ria de piadas aleatórias.

veio correndo na nossa direção e eu já fechei os olhos imaginando a briga que viria entre ela e . Não sabia como ele havia sido idiota de ter perdido alguém tão incrível quanto a , mas como mesmo ele havia me dito, a tentação falou mais alto e ele pagaria o preço por isso, ficando longe dela.

- Se prepara, gatão, lá vem encrenca. – debochou e a tensão que se apoderou do corpo de era perceptível até da lua.
- Parem ok? Ela prometeu se aproximar de novo. – defendeu.
- Acabei de receber uma ligação do meu pai. – disparou a falar empolgada, mas percebendo a falta de interesse coletiva revirou os olhos e prosseguiu. – Vocês foram chamados pra tocar no Disco Lion, semana que vem!

Todos começaram a comemorar, e mesmo sorrindo, ainda não acreditava que aquilo estava acontecendo. O Disco Lion era o pub do momento, e só as melhores bandas conseguiam se apresentar lá, e quando isso acontecia, o primeiro passo para o sucesso era inevitável!

- Podem me agradecer, porque consegui esse contrato sozinha! Sou a melhor produtora que vocês poderiam querer. – Se gabou, mas ninguém discordaria dela. Desde que começamos com a história da banda, tinha nos apoiado e conseguia que cantássemos em lugares notórios.

Vi todos abraçarem , mas quando foi fazer isso, ela se esquivou sem o menor remorso, ele então saiu acendendo um cigarro e indo de encontro a Lily, mesmo tendo perdido a mulher que amava ele continuava errando e ninguém conseguia fazê-lo enxergar isso.

se limitou a abaixar a cabeça e sentou ao lado de , onde estava a pouco.

- Pequenos passos, amiga! – Fez um carinho em seu cabelo, recebendo um sorriso forçado dela. Ser amiga e leal era outra qualidade que possuía e que me deixava fascinado.
- Mas nós não temos uma banda. – lembrou, nos levando à instantes de desespero.
- Já resolvi isso também, só estejam lá sexta as oito, ok? – ainda olhava para conversando com Lily, e sinceramente, até eu me incomodava com o comportamento estúpido do meu amigo.
- Vocês não estavam atrás do que fazer? Todo mundo lá em casa depois da aula. – Determinei, pois sabia que teríamos muita coisa para ensaiar.
- Não, vamos para minha, meu pai vai ta lá. – sugeriu.
- Ele vai dar ótimas dicas para vocês. – Os olhos de brilhavam quando ela falava do pai, sentir o orgulho e o amor que ela nutria pela família era só mais uma pequena coisa que me deixou apaixonado por ela.

Todos concordaram e logo que o sinal soou fomos um a um enfrentar os últimos tempos de aula. estava a dois passos de entrar na sala quando eu consegui puxá-la para falar a sós comigo, eu queria entender o que houve na noite anterior, queria acreditar que não havia sido rejeitado, mesmo isso tendo ficado claro quando ela recusou o meu beijo.

- Você vai mesmo fingir que nada aconteceu? – Fui o mais direto possível, não queria dar brechas pra más explicações.
- Olha só, Estranho, acho que errei com você. Eu te acho bem legal, mas como um amigo... – Desde que começou a falar, parou de encarar meus olhos se focalizando em algo atrás de mim, eu sabia que ela estava mentindo. – Então desculpas se te fiz achar o contrario. Temos um cachorro em comum e só, ok? – Quis soar divertida, mas eu enxerguei todo o seu nervosismo.
- Ah, é mesmo? – Perguntei já chateado por sua negligencia em relação a tudo. Ela se limitou a confirmar com um aceno de cabeça, mas quando ia saindo eu a impedi.
- Espera, . – Ela parou sem esconder o quanto queria fugir dali, fugir de mim.
- Estranho, eu estou realmente atrasada.
- Eu não posso aceitar. – Entreguei o relógio que ela havia me dado na noite passada.
- É falta de educação recusar um presente. – Respondeu, se recusando a pegar.
- Isso deve ter custado uma nota, e... – Ela se aproximou de mim, evitando que eu prosseguisse.
- Dinheiro não é problema pra mim. E acho super sexy um homem de relógio, não me pergunte o porquê. A gente se vê por ai, Estranho. – Me deu um beijo suave no canto dos meus lábios e saiu como se nada tivesse acontecido.

Eu ia acabar enlouquecendo, na verdade, , com suas mudanças de humor e de atitude, já haviam me levado a esse estado.

Assim que as aulas acabaram, nos encontramos no estacionamento para irmos para casa dos , , que já saiu de dentro da sala nas costas de , avisou que iria com ele. Odiei ver aquela cena, odiei mais ainda a minha condição de não poder fazer nada, pior, tinha que fingir que aquilo não me matava por dentro.

Já conhecia a mansão deles, e o tamanho desnecessário, não me impressionava mais. Desci do carro de , que mantinha um humor sombrio e reservado desde que vira no intervalo. Assim que entramos, uma mulher impecavelmente bem vestida nos recepcionou. Ela não devia ter nem quarenta anos, ou aparentava ter menos, tinha olhos azuis e um cabelo preto que chegavam à altura de seus ombros.

- , querido, você nos abandonou. – Percebi de cara que aquela era a mãe de e de imediato não gostei dela.
- Eu fico esperando o convite de sua filha. – respondeu, dando um abraço caloroso na senhora e a rodando com toda a sua falta de etiqueta, mas para uma mulher que preservava os valores como ela, permitir fazer aquilo mostrava o quanto eles eram íntimos.
- Me deixa fora disso, . – disse rindo da cena dos dois, ter ali parecia algo fácil e que ela apreciava.

Assim que ela voltou a alinhar seu vestido no corpo, e passar as mãos nos cabelos, cumprimentou os outros meninos, até voltar o seu olhar pra mim.

- E você, quem é? – Me perguntou e me senti intimidado.
- . – Foi à única coisa que consegui responder. Percebendo o meu desconforto, interveio.
- , o garoto novo.
- Ah, o que veio do interior? – Concordei. – Bom, seja bem vindo. – O sorriso cordial e as boas palavras não foram capazes de maquiar as mentiras que saíram da boca dela. Eu não era bem vindo ali.

A porta se abriu atrás de nós e o pai de apareceu sorridente, eu já o conhecia, e o achava tão incrível quanto os seus filhos, impressão adquirida da primeira e única vez que havia estado com ele.

- Oi, marmanjos. – Acenou para nós, que ainda estávamos naquela sala como se estivesse compondo a decoração. – Oi, princesa. – Beijou o topo da cabeça de . – Oi, amor. – Tentou se aproximar da senhora , que elegantemente se desfez do carinho. Todos naquela sala retribuímos sua gentileza, mas a mãe de , com um único olhar, o rebaixou a nada, diferente do que havia feito comigo, ela não escondeu o quanto era desagradável para ela ter seu marido por perto, e eu vi o quanto aquilo estava destruindo a filha deles.

Logo em seguida nos dispersamos, e subimos pra o quarto de para ensaiar, ou pelo menos tentamos não jogar tanto vídeo game, até o momento em que Vika apareceu nos chamando para um lanche.

- Alguém vá chamar a menina , por favor. – Pediu um tanto desesperada, em meio à confusão que era servir comida pra seis caras cheios de fome. Robert, pai de , estava incluído.
- Deixa comigo! – como sempre berrou e foi até o jardim, onde Vika disse que estaria.
Não sabia ao certo se havia desenvolvido um transtorno, mas eu passei a contar cada minuto desde que saiu daquela cozinha, passaram se exatos 1023, até que Vika também notou a ausência dos dois, e de maneira impaciente eu me dispus a ir procurá-los.

havia trocado de roupa, e usava um vestido azul, não muito comprido, um cardigã cinza a protegia do frio daquele dia, seus cabelos balançavam com o vento, ela estava parada de costas para mim, conversando animadamente com , que assim como eu a olhava admirado, quase babando. Então ele gargalhou de algo que ela falou, e a rodou no ar, quando os pés de tocaram o chão, os lábios dele encostaram-se aos dela, e um beijo imponderado se iniciou. Todo o meu corpo foi invadido por um fogo, que foi queimando cada músculo, cada raciocínio considerável, até que senti algo tocar o meu ombro, me fazendo parar de olhar aquela cena.

- Melhor você entrar, mate. – mantinha uma cara de piedade, que me deu vontade de esmurrá-lo, mas eu sentia tanta raiva que resolvi obedecê-lo.

e entraram na cozinha acompanhados de , eles pareciam descontraídos, diversos pensamentos me rondavam, e nenhum deles era bom, então preferi manter meus olhos longe de ambos. Não consegui comer mais nada, fiquei ali esperando que todos terminassem pra que pudéssemos retomar o ensaio. Vê-la beijando era algo que eu não iria esquecer por anos. E daí que ele a teve primeiro? E daí que ele era apaixonado por ela? Naquele instante eu sentia o mesmo, e a queria só pra mim.

- Menina , sua visita chegou. – Vika anunciou o nerd que eu havia visto conversando no dia anterior. O que diabos ele estava fazendo ali?

Como uma boa anfitriã, foi até o imbecil e o abraçou, que um tanto tímido retribuiu.

- Galera, esse é o Andy. – Apontou o garoto magricela, que não conseguia tirar o olhar dos próprios sapatos. – Andy, essa é a galera. – Deu um tapinha em seu ombro, o encorajando a nos encarar, e assim ele fez por um breve instante.
- Quem porra é Andy? – lançou a pergunta de um milhão de libras, e se não quisesse matá-lo naquele momento, conseguiria agradecê-lo, ao menos mentalmente.
- Meu parceiro de biologia. Vamos adiantar nosso trabalho para feira. – Falou animada, passando o braço pelo pescoço do cara. Ela queria me ferrar de vez.
- Que feira é essa? – quis saber.
- A de biologia, você é parceiro da .
- Ah, então estou salvo. – Deu de ombros e voltou a se concentrar em comer seu terceiro sanduiche.
- Bom, nós vamos subir.
- , meu amor, seja gentil! – brincou transbordando malicia, sem se importar com a presença de Robert ali.
- Sherek, você sabe que eu sou selvagem, está na minha natureza, não posso mudar. – Piscou para e saiu puxando o tal Andy, que havia ficado tenso com a brincadeira de .

Aquilo foi uma brincadeira, certo?

Londres – 31 de outubro de 2008 – 08:11 am.

Estava em modo zumbi, era a segunda noite em que tirava o meu sono, me sentia um gay patético por isso, mas eu não conseguia evitar. Eu disse que estava apaixonado, como ela poderia fazer pouco caso disso? Talvez eu devesse encarar a realidade e pensar como um homem, que ao menos deveria ser, de maneira prática e objetiva. estava jogando comigo, eu só precisava descobrir mais sobre isso.

O nerd foi até o ginásio onde estava tendo o treino das cheerleaders e esperou ficar pronta, assim que os dois saíram, senti um perfume enjoado predominar o ambiente, me virei vendo Lily se sentar ao meu lado na beira do campo.

- Levou um toco da namoradinha?
- O que você quer, Lily? – Estava completamente impaciente, e não aguentaria conversar nem meio minuto com aquela garota.
- Você não percebe? – Ela começou a rir escandalosamente na minha cara. – Você consegue ser mais marionete dela do que o, .
- Eu não vou cair no seu jogo. – Lily era o ser humano mais infernal e invejoso que eu tive o desprazer de conhecer.
- Claro, já caiu no dela. – Apontou para com a cabeça.
- Me esquece, Lily. – Me levantei pegando uma toalha e desejando um banho quente.
- Gostou do encontro? – Antes que pudesse perceber, já havia parado. Eu sabia que meu encontro com era um segredo por diversas razões, mas era o mais significante deles.
- Como você sabe disso? – Ela pareceu mais satisfeita ao notar minha preocupação e riu ainda mais contente.
- Só pergunta para porque ela se tornou líder de torcida.
- Como assim?
- Não vou me envolver nisso, gatinho. – Levantou as mãos em forma de rendição e saiu com o maior e mais diabólico dos sorrisos estampado no rosto, me deixando com uma desconfiança que não duraria muito tempo.

Um mau pressentimento me apossou e foi se confirmando ao ver saindo do vestiário com a roupa de cheerleader e uma cara nada boa.

- Preciso falar com você. – Impedi sua passagem, fazendo-a revirar os olhos.
- , hoje eu não estou num bom dia.
- Por que resolveu salvar a pele de e aceitou ser cheerleader?
- O que é isso? Virou meu pai?
- . – Respirei fundo, segurando seus ombros e implorando ao máximo com os olhos. – Só me diz.
- Você disse que faria qualquer coisa para sair com ela. – Ela sorriu e o assombro se apoderou de minha expressão. – De nada.
- Ela só saiu comigo para que você fizesse esse favor a ela?
- , a é complicada, eu já te disse, ela precisava desse empurrão, e eu sei que... – Sai sem querer ouvir mais nada. – Ei, pode parar ai. – Me alcançou e segurou meu queixo, me obrigando a olhá-la. – Eu sei que a gosta de você, tenho certeza que ela foi por que quis ir. Fiz isso porque aposto na relação de vocês, mesmo sem ela existir ainda.
- Com certeza, o desastre como acabou a noite mostrou isso muito bem.
- Como assim? – Ela parecia confusa, mas eu não me importei. Estava furioso com o mundo, sobretudo comigo mesmo, por ter sido tão cego.
- Eu sou um imbecil, corre lá pra ela e se divirta rindo as minhas custas.

Me desvencilhei de seus braços e sai de sua presença o mais rápido possível, ignorando o seu chamado. Eu me sentia um verme, um idiota que caiu no jogo da princesa do colégio, tinha raiva de mim por ter me metido no meio dessa história, provavelmente só estava me usando para, de um jeito doentio, fazer ciúmes a . Ele sim era perfeito para ela, tinha dinheiro o suficiente para família dela aceitá-lo, a conhecia como ninguém, tinha um carro. Por Deus! O que merda eu estou pensando? Desde quando eu me tornei essa pessoa que se menospreza e se reduz a nada? Se para eu não era o suficiente, ela que se dane, que se danem todos. Ninguém joga sem um adversário, que estivesse preparada, eu começaria a brincar agora.

- Está doido? – Aquilo só podia ser castigo. – Me pede desculpas, Estranho, você me machucou. – Eu havia esbarrado em e toda a sua imponência e arrogância e tudo que eu pensei foi "que bom que se machucou".
- Você que ficou no meio do meu caminho. – Me aproximei dela e sussurrei. – Eu te desculpo.


FLASHBACK OFF.

POV .

Meu corpo era dominado por todo o álcool e falta de consciência, adquirida por tamanha ingestão, o que era maravilhoso naquela situação. Eu estava de férias, com os meus melhores amigos e tudo que eu precisava era não pensar. Tirar aquele “eu te odeio” da minha cabeça, mas só de tentar esquecer já me fazia lembrar. Que aquela vodca me ajudasse a mascarar toda a gama de sentimentos que aquelas palavras me remetiam.

Eu havia tomado uma decisão, precisava sair da inércia, fazer alguma coisa, então fingiria. Assim simples, eu poderia ser o que não era, poderia sorrir sem querer, dançar sem vontade, declarar uma felicidade inexistente e até fingir que não tenho passado, era assim que ele fazia, mas diferente dele, eu era humana, e sempre que caia eu sangrava.

A vodca que descia rasgando a minha garganta fazia um carinho para uma nova ferida aberta. O carro de parou no jardim e mal esperei ele descer e fui ao seu encontro, me atirando em seus braços.

- Sheeeerek! – Minha fala era grogue, devido a toda a bebida que havia tomado.
- Já está bêbada? O que aconteceu com você, Fiona?
- Eu te amo, ! Espero que você saiba.
- Dizendo que me ama? Você está ultrajantemente bêbada.
- Que gay. – Comecei a rir. – Ult... Ultr... – Minha gargalhada aumentou. – Eu não consigo falar essa palavra gay.
- Cala a boca, .

Nos sentamos na varanda e resolveu começar a beber comigo, talvez impulsionada pela bebida eu acabei contando tudo o que havia acontecido. Como as palavras de haviam me magoado, e como eu havia decidido a retomar o controle da minha vida. Ele ouviu tudo pacientemente como um bom amigo que era, e quando iria dar sua opinião, apareceu.

- Aaah eu to morrendo! – chegou choramingando com a mão na cabeça e se sentou ao meu lado.
- Onde está doendo? – Perguntei falsamente preocupada e pisquei para , que já imaginava o que eu faria.
- Minha cabeça parece que vai explodir. – Peguei a almofada que estava no meu colo e bati com toda força na cabeça de e depois comecei a rir. – AAAAAAIIII, SUA ...
- Ei, você mereceu. – Disse e ri ainda mais, sendo acompanhada por , enquanto ela massageava sua cabeça. – E assim que estiver sóbria, vamos conversar.
- Eu te odeio. – Ela parecia emburrada.
- Eu também te amo. – A puxei para meu colo e comecei a fazer um carinho na sua cabeça.
- Desculpa por ontem, . Você sabe que eu e o ...
- Não me importo! – Era uma mentira. Eu me importava, mas não por ou por ela ter estado envolvida de um jeito bizarro naquilo. Mas me incomodava a forma como vinha me tratando, como ele fazia questão de me destruir ainda mais, como se o que tivesse vivido não fosse o suficiente.
- Te amo um pouco, vadia.
- Vocês são ridículas, ou lésbicas. – falou nos observando.
- é muito hot, e eu muito ciumenta, não daríamos certo. – Disse seria alimentando as fantasias dele, que parou e nos encarou pensativo.
- Você está imaginando nós duas dando uns amassos, não é? – perguntou, já fazendo uma careta imaginado a resposta que receberia.
- Estou! – Ele ainda estava concentrado em alguma cena pervertida formado por sua mente.
- EEEEEWWWW! – Gritei!
- QUE NOJO! – jogou uma almofada nele.
- O que? – se fez de inocente. – Ia ser divertido. – Riu e entramos numa discussão sobre o porquê dos homens sentirem tanto tesão por uma relação homossexual entre mulheres.
- Não acha que está muito cedo para estar bebendo? – , com Jazzy dormido em seu colo, e chegaram e como sempre o lado maternal dela reverberou.
- Para quem ainda não dormiu, está até tarde demais. – Respondi dando de ombros.
- Não dormiu? – Ela colocou a garotinha no sofá e me encarou.
- O disse que odiava ela. – falou por mim, como se estivesse entediado e recebendo a atenção de todos, que logo se voltaram para mim, esperando que revelasse todos os detalhes.
- E sabe de uma coisa? Eu não me importo! Melhor assim.
- Estou vendo que não. – debochou, bebendo um pouco de vodca.
- Ele é um idiota, prepotente, idiota, meio infantil... – Tentei me lembrar do que havia falado há segundos atrás e não consegui. – Já disse idiota?
- Já. – se aproximou de mim, e foi na intenção de pegar a garrafa de minha mão. – Já chega, , me dá isso.
- Eu não sou sua filha, . – Revirei os olhos pra ela e segurei firme a garrafa.
- Mas está agindo pior do que ela.
- Ah é? Até ontem eu parecia uma velha de 40 anos, e hoje eu não posso me divertir. ME DEIXEM EM PAZ! – Disse num misto de raiva e magoa.
- Vem cá, amiga. – se sentou ao meu lado. – Esse ódio todo que o sente é amor. Ele nunca conseguiu superar você, e eu sei muito bem disso, porque estive ao lado dele, aguentando bebedeiras, falsos relacionamentos e crises existenciais.
- Já que tive que voltar, só queria manter diplomacia, ele nem precisava falar comigo.
- Se o disse que te odeia, é porque ele se importa. O silêncio dele é que preocupa . – disse e tinha total razão, no fundo, bem no ínfimo, meu ego havia feito festa por ter ouvido tais palavras.
- E a quem você quer enganar? Vocês são e , sempre haverá um jogo entre vocês. – disse outra verdade, estava participando de um jogo, mesmo contra a minha vontade, mas eu entraria pra ganhar.

FLASHBACK ON:

Londres – 01 de novembro de 2008. – 07:55 am.

Eu que não gostava muito de maquiagem, estava recorrendo a ela nos últimos dias, tudo havia se transformado, desde que me disse aquelas palavras, o sopro de verdade me atingiu em cheio, me empurrando para um labirinto onde só haviam duas saídas, uma me levaria a ele, mas me assustava profundamente, eu não sabia o que encontraria me entregando a ele. O outro caminho me levava a viver sem ele, eu já o conhecia bem, havia percorrido nos últimos anos, mas porque agora eu sentia vazio? O cansaço se apoderou do meu corpo, era como se estivesse correndo uma maratona, onde eu não enxergava a linha de chegada. Precisava tomar uma decisão.

- Você ainda não ta pronta? – invadiu meu quarto com sua calma irritante de sempre.
- Eu não quero ir hoje. – Falei fazendo manha e me enfiando novamente embaixo das cobertas. Eu nunca perderia um campeonato, mas sinceramente, eu não queria sair daquela cama.
- O mundo vai acabar. está fugindo de um problema. – Riu debochado e se deitou do meu lado.
- Não estou fugindo, estou evitando.
- Eu já tomei o super café da manhã da Vika, não me importo de escutar, vai desembucha.
- O que? Não...
- Fala logo.
- Ontem eu saí com o .
- Isso eu sei. – Virei assustada, olhando incrédula para meu irmão.
- Como você sabe?
- Você é minha irmã, mora na mesma casa que eu... – Enquanto ele ia dando aquela desculpa ridícula, eu o encarei e minha cara de deboche o fez parar. – A me contou, ela tava furiosa recebendo as fotos de ontem.
- Bem feito. – Rimos juntos.
- Então, qual o problema? – Havia complacência em sua pergunta.
- O Estranho gosta de mim.
- Certo, agora eu quero a novidade. – Riu sabendo que aquilo me irritaria.
- Como assim?
- Não se faça de boba, desde o primeiro dia que o te viu, tudo que ele faz é idolatrar você. – Revirei os olhos. – Mas agora me diz, qual o problema.
- É bem obvio, .
- Você gosta dele também. – Disse sério.
- O que? – Minha voz saiu esganiçada. – Não!
- Claro que gosta, metade daquele colégio é apaixonado por você, e nem por isso você falta a compromissos ou fica acuada.
- Mas...
- Qual é, , confia em mim. - Eu não sei, ta legal? Eu não deveria sentir essas coisas, nós dois sabemos como funciona.
- , não compare as pessoas com a mamãe, ou todos os relacionamentos com dos nossos pais.
- Eu queria te contar. – Abaixei a cabeça envergonhada por ter escondido algo tão importante, como a traição de nossa mãe, para .
- Está tudo bem, eu também já sabia e também tive medo de te contar. – Ele segurou minha mão e ficou brincando com meus dedos.
- Não consigo mais olhar para o papai sem me sentir condescendente a essa traição.
- Às vezes eu acho que o papai sabe, mas quer salvar o casamento, faz isso pela gente. – Concordei. Papai era altruísta o suficiente para tentar salvar a todos até o último minuto.
- Você acha que se eles se separarem, nós iremos nos separar também?
- Claro que não, , fomos obrigados a conviver juntos desde pequenos, mas não fomos obrigados a sermos amigos, companheiros, e além do mais, eu não vou morar com a mamãe, você vai ter que continuar emprestando o seu pai.
- Nosso pai, sempre foi tudo nosso. – Ele retribuiu o sorriso sincero que eu havia lhe lançado.
- Eu meio que te amo. – Se fez de indiferente.
- É, acho que te amo um pouco. – Debochei e logo em seguida Vika irrompeu no quarto com sua postura quase militar.
- Vocês vão se atrasar. – Ela disse olhando para o relógio. – Menina , ainda não se vestiu?
- Já sim. – Me levantei da cama, e ficou abismado em me ver já pronta.
- Como você é dramática, , e eu sempre caio nessa. Já ia até começar a insistir para você ir.
- Babaca. – O puxei da minha cama, não havia mais tempo para dramas. – Só precisava de um empurrão.

~*~*~*~*~*~


Nosso colégio levava o futebol bastante a sério. Ainda era cedo, mas a movimentação era bastante intensa, tanto de alunos, quanto de pais e professores, todos com bandeiras de cores azul, preto e branco, apitos e todo tipo de apetrecho que fizesse barulho. Organizei todo o material necessário para nossa apresentação no ônibus, assim como coordenei as meninas que se portassem com educação, ao menos. Todos pareciam nervosos e ansiosos, principalmente o time de futebol, que não venciam, em Oxford, o time do St. Johns há uns anos, sorte que na competição de líderes de torcida conseguíamos sempre vantagem.

Peguei minha pequena mala, já que passaria a noite na casa do lago, e enfiei no carro de , sentando no banco do fundo, e assistindo a primeira briga do dia entre ela e , e isso para decidirem qual cantor nos acompanharia até o nosso destino.

- Dá pra vocês pararem? – Já estava cansada de tanta reclamação, e nós ainda nem havíamos saído.
- Avisa pra que o motorista comanda o carro.
- Pede pra ter educação e colocar algo que agrade a todos.
- Vamos ouvir Coldplay. – Determinei como um verdadeiro ditador.
- Ta numa bad tão grande assim, ? - Não. – Desconversei. – Por quê?
- Porque as músicas de Coldplay estão na sua lista "Bad Day".
- Não todas. – Me estiquei para frente, passando pelo banco das duas e selecionando a pasta da banda. Me sentei tranquila assim que “Shiver” soou no carro. – Agora vamos. – Pedi com sorriso forçado e finalmente deu partida no carro, tomando seu lugar na carreata que haveria até chegar a Oxford.

Eu estava assustada e com medo, mas pela primeira vez não era só por mim, existia um futuro e saber que ele estava em minhas mãos não era algo tão legal assim. Não havia visto desde que ele praticamente me atropelou, ele havia sido ríspido com seu jeito e palavra, mas talvez seja uma nova tática para chamar a minha atenção.

- Responde, . – Pelo tom de voz de , elas deveriam está falando comigo há um bom tempo.
- Responder o que? Desculpa, meninas, eu to nervosa com a apresentação.
- Eu jurava que era com a chegada do natal. – Ironizou. – Me poupe , você tem uma viagem de quarenta minutos trancadas num carro com a gente, não da mais pra escapar. Conta como foi o encontro com o .
- Bom... – Suspirei, tentando adiar o momento ao máximo e não revelar o quanto eu havia gostado. – A noite estava incrível, o encontro foi incrível, o Estranho é incrível.
- Eu já entendi o quanto foi “incrível” – fez sinal de aspas com as mãos, para menosprezar ainda mais a palavra. – Mas eu quero saber dos detalhes.
- E além do mais, existem outros adjetivos, .
- Ok. – Me escorei entre os dois bancos para contar, eu precisava compartilhar aquilo com alguém e já não dava mais para esconder minha empolgação. – Ele me deu essa pulseira. – Exibi, orgulhosa, meu presente. – Falamos sobre diversas coisas, na verdade não paramos um minuto sequer de falar, parecia que nos conhecíamos há anos.
- Você já está falando como uma apaixona, que lindo. – , mesmo com o coração partido, ainda acreditava no amor, e eu não sabia se sentia inveja por sua enorme crença, ou agradecia por não ser tão idiota.
- Calada, , não se apaixona. – A afirmação de me confundiu um pouco, e eu não consegui identificar o motivo do seu deboche. – Conta a parte boa, onde vocês se pegaram, já que ele não tem carro?
- Nós não...
- Não? – me olhou pelo retrovisor me incentivando.
- Eu fugi dele, ta legal. – Me encostei novamente em meu acento.
- Nem um beijo.
- Eu fugi dele. – Repeti e cobri os olhos com o antebraço, esperando a gozação delas duas, mas o silêncio que se seguiu me assustou e quando abrir os olhos, vi me olhando como se eu fosse um alienígena, e os olhos incrédulos de pelo retrovisor. – O que?
- Você está apaixonada por ele. – constatou com certo brilho em sua expressão.
- Você definitivamente está apaixonada. – Senti um desespero quando ouvi aquelas palavras saírem da boca de , que era a mais racional de nós três.
- Não estou! Porque vocês estão falando isso? – Choraminguei por está sendo obvia em transparecer para o mundo que eu estava sentindo algo a mais por . – Para de loucura, eu o conheço há pouco tempo.
- Mas é como se vocês se conhecessem há anos, não é?
- Concordo com , se você não estivesse se importando, teria dado ao menos um beijo nele, como faz com todos os outros caras.
- Como fazia com o ... – lembrou, me fazendo revirar os olhos. – Vai continuar tentando mentir pra gente?
- Ok. Eu estou... – Respirei fundo tentando encontrar uma palavra que não me comprometesse tanto. – Encantada! – Eu havia cismado mesmo com esse adjetivo e o usaria. – Isso. Eu estou encantada pelo Estranho.
- Você está apaixonada, sabe disso, mas está com medo.
- Eu diria até que você iria preferir matar alguém a ter que assumir isso pra ele. – disse séria, assim como . As duas me conheciam o suficiente para saberem que irei fazer o impossível para não dizer que estava apaixonada.
- Não seria uma má ideia. – Falei revirando os olhos e entediada com tanta cobrança.
- Só espero que você saiba que o é um ser humano, que sabe impor os seus limites, e que já que está no seu coração seja para cuidar e não para destruir. Se está na chuva, é melhor ficar gripada por ter dançado nela, do que por ter corrido para chegar até em casa.
- Nós moramos em Londres, mas meu coração vive num país tropical, lá não chove. – Rir tentando amenizar, em vão, a tensão que havia se instaurado.
- O problema de países tropicais é que quando chove, não é qualquer chuvinha, são tempestades das grandes, que causam estragos para o resto da vida. – Dito isso, se virou, colocou seus óculos escuros e me ignorou, olhando para estrada, ela sabia que havia me dito algo a se pensar.

Oxford – 01 de novembro de 2008. – 10:01 am.

O St. John era um colégio moderno do interior, era um pouco maior que o nosso, sendo uma réplica bem reduzida, mas quase perfeita da Universidade que havia na cidade. Assim que paramos os carros na parte do estacionamento, que era destinado a visitantes, vi um cabelo vermelho, pintado de um jeito vulgar, e já revirei os olhos sabendo de quem se tratava.

- Olha só as segundas colocadas. – Amanda, acompanhada de sua corja, vieram nos “recepcionar”.
- Ei, vocês não ficam em segundo lugar há três anos seguidos? – Sorri para ela. – E desculpa, mas quem é você mesmo? – Me fiz de desentendida, me divertindo ainda mais com a expressão descrente de Amanda.
- Amanda Smith. – Disse, tentando parecer superior, mas só tentando mesmo. – costumávamos frequentar o mesmo acampamento de verão, acompanhadas dos seus 100 kg.
Falar do meu problema com a balança era algo que não me incomodava mais, estava bem comigo mesma, e me orgulhava da minha evolução estética, mas Amanda sempre insistia em falar disso, tentando me humilhar através de meu passado.

- Só costumo lembrar o que é importante. Nos vemos por ai. – Ia saindo, mas aquele ser detestável tinha uma arma contra mim.
- Soube que um novo jogador, , é alguém para se ficar de olho.
- Fique longe dele, Smith. – A raiva me fez cometer o pior erro, pedir para Amanda se afastar de havia dado a ela um prêmio para nossa disputa individual.
- A questão é... Ele vai me querer longe? – Sussurrou em meu ouvido com aquela voz de vadia enquanto lançava o seu olhar para , e foi ao seu encontro.

Não quis olhar para trás e ver o que iria acontecer, mas a vontade que me consumia era de gritar que ele era meu, que ela devia ficar muito longe, mas o que eu era dele? Nada. Absolutamente nada. O meu medo não permitiria que eu revelasse a ele o que estava sentindo.

Assim que ia entrando no ginásio, senti alguém me puxando, e me decepcionei por não ser .

- , senti sua falta.

Dei um sorriso forçado pra Ethan Hindle. O capitão do time de futebol do St. John era o típico garoto atlético e britânico. Pele bem clara, cabelos loiros e olhos azuis, e um corpo bem considerável, que fazia todas as garotas de seu colégio serem loucas por ele, isso incluía Amanda, por isso havia sido triunfante ter ficado com ele nos últimos campeonatos.

- Ei, Hindle, podemos nos falar depois? Estou atrasada. – Tentei fugir dele. Por mais que fazer ciúmes em Smith era sempre satisfatório, eu havia decidido tentar conversar com , e não haveria espaços para outras pessoas.
- Tudo bem, . Mas hoje à noite eu irei comemorar a vitória do meu time com você. – Tentou sussurrar sedutoramente, mas nada que vinha dele poderia me trazer alguma sensação.

Vi Ethan se afastar rindo, provavelmente achando que havia me ganhado outra vez, mas meu objetivo e pensamentos tinham outro nome.

~*~*~*~*~*~


A nossa competição havia sido um fracasso, e acabamos perdendo. Não sei se parte por eu está distraída, ou se a queda proposital de Lily acarretou isso. O sorriso de vitória no rosto de Amanda me afetou, eu era competitiva e nem o maior problema do mundo faria eu mudar isso em mim, por isso evitei aparecer no refeitório e almoçar. A verdade é que comida era algo que eu não conseguia pensar, eu tinha que conversar com , e decidira fazer isso após o jogo, não sabia ao certo o que diria, mas o próprio havia me mudado em algum momento, e eu sabia que não teria mais volta, o medo que eu sentia iria passar assim que eu encarasse seus olhos, havia escolhido uma saída, na verdade a única, eu seria dele.

As duas torcidas estavam bem agitadas, como sempre acontecia, a rivalidade dos dois colégios davam uma emoção aquele jogo, quase semelhante a final da Champions League. Esqueci do desastre de mais cedo, ignorei o sorriso triunfante e superior que a Smith me lançava e me concentrei no jogo, e principalmente, me concentrei nele. Assim como tudo que fazia, ele estava indo muito bem, parecia bastante focado, o que deixava Ethan bastante nervoso, fazendo errar passes, e deixando sempre alguém do Lambert High na cara do gol, mas ele nunca saia. Depois de vários lances, que ficaram no quase para ambos os lados, o jogo estava quase acabando. Eu havia tentado falar com durante o intervalo, dar ao menos uma palavra de incentivo, mas agora ele parecia estar se esquivando até da nossa pseudo amizade.

No último minuto, último lance, como numa cena clichê de novela, fez o gol que garantiu nossa vitória. Eu não pude conter meu sorriso de felicidade até vê-lo se aproximar da torcida rival e roubar um beijo de Amanda. Ignorei os comentários ao meu redor e sai dali, no caminho até o vestiário senti algo molhar meu rosto, foi a primeira vez que chorei por amor, foi a primeira vez que me fez chorar.


FLASHBACK OFF.

Eu precisava chamar sua atenção, espalhei cartazes pelo mundo, gritei aos quatro cantos, me fantasiei de bad boy só para receber, ao menos, um olhar de reprovação, mas ela parecia tão distraída que simplesmente não via, não ouvia. Olhos de pedra sem nenhuma piedade. De tantas ilusões perdidas nas lembranças, eu a proibia de ter apagado a memória que existia da gente, eu a proibia de não me querer.

Londres – 01 de novembro de 2015 – 12:12 pm.

POV .

Cheguei à cozinha e fui recebido por diversas expressões diferentes, alguns estavam de ressaca, outros felizes, e parecia genuinamente entusiasmada.

- Bom dia, . – me saudou. – Compramos café. – Ela me indicou uma mesa farta de café da manhã.
- O lugar dos castigados pela ressaca é aqui. – disse rindo, me indicando uma cadeira ao lado de , que me olhou compartilhando uma espécie de culpa e piedade. Eu não sentia nenhum dos dois, não havia feito nada errado, só estava me divertindo com uma amiga. Continuei calado e, ao me aproximar dela, dei um beijo em sua cabeça.

, , e conversavam animados e faziam algum tipo de aposta, que jurava já haver cumprido. Algo nela mudou, notei uma mudança quando a vi na casa de dois dias atrás, estava sendo divertido vê-la tão vulnerável, mas ali sentada no balcão, bebendo vodca direto do gargalo, me fez reparar uma nova postura.

Nossos olhares não se cruzaram em momento nenhum, eu sei disso porque passei a maior parte do tempo a encarando, me senti mal porque ela não estava me ignorando, parecia natural eu não estar ali e não fazer parte da vida dela, o que me deixou furioso.

Virei à xícara de café preto e forte e subi para tomar um banho, eu não podia ficar ali sozinho, precisava fazer uma ligação.

~*~*~*~*~*~


O tempo lá fora estava o completo caos costumeiro de Londres, fazia bastante frio, as nuvens escuras e pesadas da chuva encobriam totalmente o sol, mas a família tinham encontrado um jeito de aproveitar um dia de verão sempre que quisessem.

A piscina ficava dentro de uma enorme estufa de vidro, que protegia todos do mau tempo, um enorme aquecedor fazia a temperatura lá dentro ser tão quente quanto em qualquer país tropical, o que era estranho ao se olhar para a verdadeira paisagem ao seu redor, que o vidro não escondia.

Claro que no curto trajeto até o local, eu estava devidamente preparado para a baixa temperatura daquele dia. Assim que cheguei, sentir o calor do ambiente me abater, e retirei minhas roupas de inverno, ficando só de short, as meninas, incluindo Jazzy, dançavam alguma música pop antiga, e até arriscavam coreografias, os meninos conversavam animados perto do bar, e depois de dar um beijo em Jazzy, me juntei a eles, só havia um jeito eficiente de combater a ressaca: beber de novo.

- Boa tarde, linda. – me cumprimentou, jogando uma tampinha de cerveja em mim, que retribuir a gentileza. – Nossa, ficou bem legal essa tatuagem que o fez em você. – Disse e ouvi a risada de todos, incluindo a de .
- Quer uma igual, ? Porque posso resolver isso num instante! – Disse sarcástico, mas sem esconder minha vontade de socá-lo por sua brincadeira idiota.
- Calma, valentão. – apaziguou.
- Foi mal, , mas você mereceu por ontem. – disse calmo e deu de ombros.
- Você e a não tem nada, e a gente só estava se divertindo. – revirou os olhos e quando já ia falando, pulou na minha frente, bastante animado.
- Ah, então eu tenho carta branca para finalmente ficar com a ? – A pergunta de fez meu corpo paralisar, e a única coisa racional para mim naquele momento era quebrar a cara dele, por ser tão imbecil.
- Experimenta. – Me limitei a dizer isso e o empurrei, indo procurar algo mais forte para beber.
- Acho que isso foi um não, . – deu sua opinião rindo e seu olhar para mim era sempre acusador, ou era só uma má impressão produzida por minha mente ciumenta?

falou alguma coisa entre gargalhadas, mas eu não prestei mais atenção, minha convidada havia chegado e eu fui recepcioná-la. Naquele momento, eu faria de tudo para roubar o mínimo de atenção de .

- Pessoal, essa daqui é a Mia. – Apresentei com ego inflado, que logo foi desfeito.
- OMG, Mia! – veio correndo na direção da minha amiga, dando-lhe um abraço tão caloroso, como se a conhecesse há anos. – Que bom que o te trouxe. – Sorriu para mim. Que porra estava acontecendo?
- Foi de última hora, mas eu consegui estar aqui. – Respondeu animada.
- Tira essas roupas de inverno, aqui estamos na temperatura de Bali. – Riram e logo um papo entre as duas sobre roupas se iniciou.

Aquilo não podia está acontecendo, era uma covarde sem coração, mas costumava ser ciumenta, ele deveria ter ficado ao menos afetada, já que Mia estava ali pra isso.

Depois de um tempo, nos sentamos ao redor de uma mesa, e abaixou o som, começando a tocar violão, enquanto iniciávamos uma conversa sobre assuntos aleatórios. , para me irritar, estava sentada no colo de e não parava de beber ou de falar, sempre me ignorando, aquilo tinha que parar.

- Nossa, eu adoro essa casa. – e disseram juntos, o que foi bastante estranho.
- Eu perdi minha virgindade aqui. – disse, mais para si mesma, só que todos ouviram e um coro de “Ew que nojo” foi feito. rapidamente tapou os ouvidos de Jazzy e olhou feio para minha amiga.
- Ah, qual é? A e o deram o primeiro beijo de língua bem aqui. – Apontou pra piscina.

começou a rir, mas fingiu arrumar alguma coisa no cabelo de Jazzy.

- Sério, amor? – parecia genuinamente animada por desvendar um capítulo da vida de , mas para mim, havia algo errado na história. – Que fofo, com quem foi?
- A e o deram o primeiro beijo de língua bem aqui. – repetiu, e todos pareceram entender.
- Como eu nunca soube disso? – , assim como eu, estava chocada.
- Só foi um beijo, . – disse em meio à risada de todos.
- Foram uns beijos. – corrigiu. – Confessa que foi o seu melhor beijo, . – disse, tentando provocar , mal sabia ela que estava me afetando também. E muito.
- Sabe, , eu senti a sua falta. – Disse de repente, cortando o assunto do primeiro beijo, e não só ela, como engasgou, tamanho foi o susto.
- O que? – Sua voz falhou, e sua respiração acelerou, podia jurar que um sorriso iria surgindo no canto de seus lábios.
- Eu adorava os drinks que você fazia. – Meu sorriso aumentou e pisquei pra ela. – Agora você pode levantar e pegar uma bebida para mim. – Seus olhos faiscaram de raiva, mas era do tipo que se recuperava rápido.
- Quer saber? – Se levantou com o maior dos sorrisos. – Vou sim, trago pra todo mundo. – Foi em direção ao bar, tendo Jazzy como companhia.
- Ta pegando pesado, . – sussurrou para mim.
- Não estou fazendo nada.
- Cuidado para não exagerar e se arrepender. – Dei uma gargalhada, evitando que a verdade de suas palavras me afetasse.

Instantes depois, eu vi voltar com uma bandeja repleta de taças de margarita, mas me entregou a única que tinha formato diferente.

- Por que minha taça é diferente? Você colocou algum tipo de veneno ou feitiço? – Debochei, se virou para mim rindo da maneira que eu amava, e depois de dar um longo gole em sua bebida, disse:
- Não, mas coloquei uns comprimidos azuis ai dentro. Vai te ajudar.
Todos explodiram em gargalhadas, me deixando transtornado de raiva, que tentei conter, ela não iria me vencer.

- broxa. – como sempre ria e se batia ao mesmo tempo, como se estivesse convulsionando.
- Dentre tantas, você foi uma das que não reclamava e pedia mais. – Iria jogar sujo, assim como ela.
- Claro que pedia. Afinal, toda garota deseja mais do que um minuto daquilo que acha que é prazer. – Piscou pra mim. – E não reclamava porque não conhecia o mundo, se é que você me entende. – Fez uma falsa expressão inocente, que me deu vontade de matá-la, enquanto um coro ainda ria de mim. Agora a maldita ia questionar minha masculinidade?

, que ainda ria, e fazia aquela cara de “eu te avisei”, se levantou e colocou uma música para tocar, instantaneamente vi os olhos de brilharem e ela se levantar saltitando.

Para ouvir a música clique aqui!

It’s a beuatiful night, we’re looking for something dumb to do
É uma bela noite, estamos à procura de uma besteira para fazer


- Eu adoooooro essa música! – disse com voz alegre e arrastada, estava ainda mais bêbada. – Vem dançar comigo, Shrek! – Puxou , com aquela voz melosa que era capaz de ganhar o que quisesse.
- Não. – Ele se esquivou rindo. – Eu não danço com mulheres casadas.

Ela então bateu os pés no chão, tão birrenta quanto uma criança da idade de Jazzy.

I thing I wanna marry you
Eu acho que quero me casar com você


- Essa piada já está sem graça e voc... – Antes que pudesse retrucar com sua língua afiada, a segurou pela cintura e a girando e dançando.

No one Will know. Oh, come on, girl
Ninguém vai saber, oh, vamos lá, garota


logo se recuperou do susto e começou a dançar junto sensualmente, sem se importar muito com o ritmo da musica. Ela segurava o pescoço de e seus dedos emaranhados no cabelo dele não passaram despercebidos.

FLASHBACK ON:

Melbore – 16 de abril de 2012 – 2:56 pm.

Assim que comecei a ler aquela entrevista, sabia que a dor iria me impedir de chegar até o final.

OMG! pode estar indo muito bem como estilista, sendo uma das it girls mais famosas do mundo, mas agora ela está nos tabloides por usar um novo vestido branco, o de noiva. teria se casado numa pequena capela, em Las Vegas, no último sábado...


FLASHBACK OFF.

Don't say no, no, no, no, no…
Não diga não, não, não, não, não
Just say yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
Basta dizer sim, sim, sim, sim, sim
And we'll go, go, go, go, go
E vamos, vamos, vamos, vamos, vamos
If you're ready like I'm ready
Se você estiver pronta como eu estou pronto


Filha da puta! Quem ela pensava que era dançando com esse biquíni, grotesco de tão pequeno, e ainda por cima enganchada no meu amigo?

sabia me provocar, sabia como ninguém me irritar e estava conseguindo. Mexia nos cabelos enquanto o imbecil do a girava e cantava no seu ouvido.

Just say ‘I do’ ... Tell me right now, baby...
Basta dizer "eu aceito" ...Me diga agora, querida


A letra da musica, o fato de estar mais gostosa do que eu, ridiculamente, me lembrava, e não ser minha me transformava num derrotado. Eu não enxergava mais nada ali, só ela, só ela dançando com outro! Aquilo não podia ficar assim e não iria. Eu era !

Who cares, baby?
Quem se importa, querida?
I think I wanna marry you
Eu acho que quero me casar com você


Aquele show, que mais me pareceu uma tortura, finalmente havia acabado, e todos riam despreocupados, provavelmente tendo adorado me ver naquele estado, mas seria por pouco tempo, afinal, Mia não estava ali à toa.

Depois de puxar a sua mão, me aproximei do som, procurando a música ideal para o momento.

- Minha vez de escolher a música. – Anunciei.

Para ouvir a música clique aqui!

If I don’t say this now I will surely break
Se eu não disser isso agora eu certamente enlouquecerei


Assim que os primeiros acordes daquela música de The Fray começaram a soar, eu segurei firme na cintura de Mia, e eu percebi que aquela melodia, aquela letra só fazia sentido com , só fazia sentido para ela, mesmo assim engoli o meu orgulho e ainda fiz a piada ideal.

- Se hoje for o seu dia de sorte, eu posso até te pedir em namoro cantando essa música.

FLASHBACK ON:

Londres – 24 de Dezembro de 2008 – 01:01 am.

Eu estava ali, na frente de todo mundo, como um idiota com um violão na mão, cantando uma musica da banda favorita da menina que mais me completava no mundo. Eu não me importava de estar sendo gay, só tinha medo de ser rejeitado. Eu queria a confirmação de que ela era minha, assim como o meu coração achava desde o dia em que meus olhos a focalizaram mordendo o lábio pra mim.

FLASHBACK OFF.

Oh, oh, oh... Be my baby"
Oh, oh, oh... Seja minha garota
I'll look after you
Eu cuidarei de você


Ouvi a risada de Mia, mas olhando ao redor percebi que ninguém estava achando graça daquilo. A expressão de foi de dor e eu percebi que havia ido longe demais, o que era ótimo, era isso que eu queria, certo?

Fechei os olhos, não era para absorver a música ou o momento, mas porque eu me senti envergonhado, um idiota por está fazendo aquilo. Apertei mais firme a cintura de Mia ansiando tocar outra, mais fina e curvilínea, inspirei com tanto desejo que senti resquícios de seu cheiro, continuei dançando, com um pedido mais do que secreto de que ali fosse , dançando comigo de novo.

When I'm losing my control the city spins around
Quando eu estou perdendo meu controle, a cidade gira ao meu redor
You're the only one who knows, you slow it down
Você é a única que sabe, você diminui isso


Eu havia manchado um momento importante do nosso do passado e tão de repente quanto eu o fiz, eu desejei com todas as minhas forças não ter feito. , com todo o orgulho que a preenchia, conseguiu dar um sorriso que mostrava todos os seus dentes, mas que não chegava em seus olhos, e saiu em direção a casa, sem nem se importar de colocar uma roupa para enfrentar todo aquele frio.

What's mine is yours to leave or take
O que é meu é seu, aceite ou ignore
What's mine is yours to make your own…
O que é meu é seu para fazer de si mesma


Parei de dançar e fui direto para o bar, precisava beber, antes que pudesse dar mais do que dois passos, se aproximou transtornada.

- Que merda você tem na cabeça? – Ela estava praticamente gritando.
- Eu só quis ouvir uma boa música. – Dei de ombros e quando eu ia saindo, fui impedido por ela.
- Me poupe do seu sarcasmo, .
- Você viu a música que estava tocando? Ela fez de propósito. – Não aceitaria ser acusado de nada. Se tinha suas feridas, eu tinha as minhas, então cada um que aprendesse a lidar com as suas.
- Fui eu que coloquei, é um piada nossa, seu idiota.
- Por que está tão irritada?
- Já faze seis anos, , supera. – Falou alto enquanto se afastava, sem ao menos filtrar as minhas palavras gritei de volta.
- Assim como você superou o ? – se virou com os olhos vermelhos e sua expressão furiosa se tornou decepcionada.
- Não. – Manteve toda a sua compostura pra acabar comigo. – Mas porque eu acreditava que você era um homem e não um moleque.
- , eu sin... – Ela não deixou eu pedir desculpas, saiu apressada tomando o mesmo rumo que .
- veio em minha direção enquanto eu esfriava minha cabeça virando um copo de whisky, já estava preparado para o sermão dela, mas o que recebi foi pior.
- Vem, querida. – Pegou Jazzy que estava no colo de . – Vamos ver se a dinda está melhor. – Passou por mim como se eu não estivesse ali, não existisse.

Mia percebeu o clima pesado e depois de pedir desculpas, pegou suas coisas e foi embora.

- O que foi? Vão me julgar também? – Me voltei para os caras perguntando o obvio.
- Mate, você está agindo como um coleguinha de escola da Jazzy. – disse tranquilamente, com aquele ar paternal que me enlouquecia na maior parte do tempo.
- Acredite, sofreu mais do que qualquer um aqui, e não digo isso para te mostrar o quanto ela é fraca, mas para provar o quanto ela é forte de te encarar de cabeça erguida e ter te proposto uma convivência harmoniosa. – parecia bravo e cansado de toda aquela situação. Falava exaltado e não parava de gesticular.
- Ela não propôs. – Era uma mentira, não precisava abrir a boca para fazermos um acordo.
- Acorda, , você a conhece melhor do que ninguém. – abaixou a cabeça e riu sem humor. – Mas isso não importa mais, você acabou de estragar tudo.
- Conversa com ela, mas lembre de que assim como você, ela também passou por uma mudança. – deu o último conselho e vi todos concordarem.

Ser tão mal nos últimos dias me trazia a uma inconstância entre a dor e a satisfação, o que mais me doía não era o fato de estar em Londres, mas a sua permanência constante e obsessiva em minha mente.

Sentia sua falta, era patético, mas o tempo continuou correndo, ele nunca para, como uma roda gigante, uma hora ele te coloca em cima, uma hora te coloca embaixo. A única coisa que faz a roda parar é a saudade. Meu amor por ela me levou para muito distante, lá para frente, meu amor por ela me levou para muito distante, permanência.

FLASHBACK ON:

A sensação de fazer aquele gol foi a melhor de todas, principalmente depois de ouvir do tal Ethan falar tão bem de , que soava repugnante. Mesmo tendo tomado uma decisão de me livrar de uma vez por todas daquilo que sentia por ela, o sentimento de posse ainda me dominava, sem contar a imensidão do meu respeito.

Eu havia conhecido formalmente, ou nem tanto assim, Amanda Smith, na hora do almoço. Ela era uma garota linda, mas havia algo nela que não me agradava, não sei se era o sorriso calculado, ou as palavras ensaiadas. Quando ela se sentou em meu colo e resolveu me conhecer melhor, eu soube o porquê de a odiar tanto, ela era instigante e determinada, mas diferente de , ela precisava ser vulgar para isso, o que pra mim naquele momento era perfeito.

Beijar Mandy depois de fazer aquele gol foi a melhor maneira de mostrar a que eu não me importava mais com ela, que ela teria que arrumar outro babaca para que a ajudasse a fazer ciúmes em .

Depois de muito comemorar em campo e fora dele, pegamos a estrada e chegamos à casa de lago dos , que já estava com uma decoração assustadora para a festa de halloween, que aconteceria em poucas horas. A casa era enorme e imponente, uma construção toda de pedras e madeira clara, e havia uma enorme porta de entrada no centro. A sala era ampla, e tirando dois enormes sofás brancos, que haviam do lado esquerdo, e uma mesa de sinuca que ficava próxima a uma lareira, não havia mais móveis ali, percebi que a falta deles era proposital para a festa. Vi todos subindo correndo para escolher um quarto legal e fiz o mesmo, dentre os diversos que haviam, eu fiquei em um com , o tempo inteiro me perguntando onde diabos estava .

~*~*~*~*~*~


A festa estava sendo horrível, a Mandy simplesmente grudou em mim, e quando finalmente vi , ela estava atracada com Ethan Hindle, ainda tive que assistir o babaca fazer um body shot nela, bebendo o liquido do vão de seu seio e da sua boca. Cada cena era como se enfiassem uma faca em mim, o olhar que me lançava após o final delas era como se ela pegasse o objeto já dentro de mim e o girasse, cravando ainda mais, causando uma dor maior. não estava numa situação muito diferente da minha, me arrisco a dizer que a dele era pior. Tendo Lily como namorada, ele tinha que suportar ver sua ex-namorada beijando alguns caras do time rival.

- ! Corre, preciso da sua ajuda. – apareceu na varanda da casa, parecendo ter visto um fantasma.
- , eu estou... – sorriu indicando que estava com Hindle, mas o bater de pé de fez com que ela percebesse que havia algo sério, então depois de pedir licença saiu apressada seguindo a amiga.

Fui puxado por e entendi que poderia ser algo com , e quando chegamos à sala ele não podia está mais correto.

estava em cima da mesa de sinuca de feltro vermelho. Suas botas de salto alto preto combinavam com o vestido vermelho super curto dela, e que não fazia o seu estilo. Diferente de , que parecia nervosa, pareceu achar a ideia brilhante, e com a ajuda de um dos caras que babavam e gritavam incentivando , ela subiu na mesa, e as duas começaram a dançar sensualmente. De imediato eu recebi o olhar dela, estava me provocando, eu sabia o texto que se formava em sua cabeça apenas por olhá-la.

Instantaneamente o copo com vodca em minha mão se espatifou, derramando todo o liquido, assim que eu o amassei numa tentativa de descontar minha raiva.

foi mais ousado e fez aquilo que eu queria fazer, pegou , mesmo contra sua vontade, e a jogou em seu ombro a tirando dali. Eu me limitei a continuar olhando ser ainda mais cobiçada enquanto descia e subia rebolando, jogando o cabelo para o lado e mordendo o lábio. Queria tirá-la dali, queria ter esse direito, mas quem eu era? Só mais um fantoche idiota da sua vida, mais um como qualquer outro naquela sala que a queria só pra ele. A raiva e o menosprezo me fizeram sair dali, empurrando aqueles idiotas que haviam se aglomerado pra ver o espetáculo, encontrei Mandy na porta e sem pensar duas vezes a beijei e sai arrastando ela para o andar de cima. Eu teria uma noite de sexo ao menos.

Eu e Mandy entramos num quarto qualquer, completamente às cegas. Ela beijava meu pescoço, arranhava meu peito por cima da camisa, tentando me trazer pra realidade, mas eu simplesmente não conseguia ficar ligado em qualquer caricia que estava recebendo. Um baque na porta assustou a nós dois.

- Sai do meu quarto, Smith. – estava parada na porta, com uma cara ameaçadora.
- Você esta atrapalhando, ! – Amanda disse rindo, enquanto limpava os lábios.
- Eu? – Se conseguisse lançar raios lasers com os olhos, eu e Amanda já estaríamos reduzidos a pó. – Cai fora daqui antes que eu te enxote, acho que você não quer levar outra surra minha.
- Você para mim ainda é a mesma garotinha ridícula daquele acampamento. – Não sabia até então o tamanho da discórdia que havia entre as duas, mas pelos olhares que trocaram percebi a gravidade.
- Ao menos o tempo fez bem para uma de nós! Agora sai, que esse seu perfume barato de piranha me enoja! SAI!
- Vou sim, sua voz é irritante demais. – Mandy segurou a minha mão. – Vem, .
- Você fica. – ordenou a mim, com toda a audácia que possuía.
- Não fica, não. – Acompanhei Mandy, e ouvi um ruído sair dos pulmões de , ela provavelmente achou que sairia dali, mas assim que a garota passou pela porta eu a tranquei. Estar preso no mesmo cômodo que parecia perfeito pra descobrir o que diabos ela ainda queria comigo.

Ignorei os chamados de Amanda e fiz um gesto com a mão indicando que ela podia falar, e como previa ela se impôs, arrumou a postura e começou a falar transbordando ironia.

- Você trouxe um grande questionamento para minha vida, Estranho.
- Qual?
- O que você faz mais rápido... Troca de roupa ou de paixão? – Os olhos delas eram fugazes, havia um brilho diferente neles.
- Talvez eu te responda, quando eu souber se eu só fui mesmo um jogo para você e ainda sou idiota por estar te perguntando, ou se você só tem medo? – Ela pareceu se ofender com o que disse.
- Medo? Você não me conhece mesmo.
- Me fala o que te fez vir conversar comigo... – Dei um passo em sua direção, vendo-a dar um e recuar. – Seu medo ou sua coragem?
- Amanda Smith queria ficar com você para me provocar. – Constatei na hora o seu ciúme.
- Que prepotente. – Disse rindo. – Acha que ela faria isso por você?
- Acho.
- Maravilha! Até sua inimiga enxerga que você esta doida por mim, menos você. – Dei de ombros, sabendo que aquilo a irritaria. Aquela era a minha única chance de saber ao certo o que queria comigo, e estava apostando tudo o que eu tinha naquela conversa.
- Para de loucura, Estranho. – Mais um passo em sua direção, mais um dela pra longe de mim.
- Você fingiu que não ouviu o que eu disse, mas eu aposto que minhas palavras ficaram assustando você durante os últimos dias.
- Foram somente palavras, Estranho.
- Não foram somente palavras, foram os meus sentimentos! Eu nunca digo nada sem ter a plena certeza do que quero. Sabe há quanto tempo eu quis te dizer o quanto você era importante pra mim?
- Estranho... – Não iria mais me calar, iria me ouvir até o fim.
- Eu não aguento mais, estou apaixonado por você e não quero mais brigar contra isso. Eu não posso estar tão louco em enxergar nos seus olhos que você também me quer.
- Você não sabe nada sobre isso. – Avancei dois passos, para ela aqueles eram os últimos, uma parede a encurralava, dentro e fora da conversa ela não poderia mais fugir.
- Babe, eu pretendo ficar com você, basta você dizer o que sente e eu cuidarei de você, não vou te enganar ou fugir. Acredite em mim. – Apesar da minha irritação, eu tentava ao máximo externar os sentimentos bons que eu nutria por ela.
- Eu não... Não acredito. – Disse incerta, e eu encurtei totalmente a nossa distancia.


FLASHBACK OFF.

Através de uma pequena abertura na porta do primeiro quarto, eu percebi que e estavam lá dentro, então fui direto ao quarto de , respirei fundo e com o maior cuidado entrei sem ao menos pedir licença.

Jazzy brincava com sua boneca, ao lado de , que dormia inquieta. Sorri pra minha afilhada e o seu largo sorriso era algo que não cansava de ver, me sentei na ponta da cama, e compartilhei do silêncio do ambiente enquanto observei e conclui que eu havia decorado bem pequenos detalhes de seu corpo e de suas expressões.

- Porque você não gosta da minha Dinda? – A pergunta de Jazzy me assustou, eu não queria que logo ela ficasse no meio de toda aquela carga emocional.
- Eu gosto dela. – Falei um pouco alto demais, tentando refutar sua impressão.
- Mas hoje ela ficou triste por sua causa.
- Eu sei e sinto muito. Às vezes eu sou um bobão. – Eu era muito mais do que isso, mas não iria despejar uma serie de palavrões para uma criança.
- Jazzy? – acordou atordoada e assim que me viu pareceu levar um susto maior ainda.
- Vocês precisam conversar. – Jazzy disse num ato fiel ao de sua mãe e nos deixou ali. A atitude dela tinha sido mais adulta do que a minha nos últimos dias.

se remexeu desconfortável na cama, mas eu não me levantei.

- Eu sinto muito. – Disse antes que desistisse.
- Não, você não sente.
- Eu não te odeio. – Eu comecei a gaguejar como um retardado. – Eu to cansado dessas brigas bobas. – Suspirei exausto. – Tudo que queria era que a gente pudesse viver em paz, ao menos até o casamento.
- Para de ser falso, garoto. – Mexeu no cabelo impaciente e me encarou friamente. – Há uma hora tudo que você queria era guerra.
- Eu to falando serio.
- Ok! – Ela disse sorrindo falsamente. – Quer aplausos? Porque eu estou adorando o show. – Se levantou rindo e batendo palmas, fazendo um espetáculo.

Pronto, novamente estava irritado. Sabia que havia errado, mas vim pedir desculpas, o mínimo que desejava e merecia, era ter uma conversa adulta.

- Você continua a mesma garota mimada de antigamente.
- E você é um completo egoísta! – Rebateu.
- Você foi embora. – Essa continuaria sendo a minha réplica.
- E o que te faz achar que partir é mais fácil que permanecer? – A pergunta dela com encargos de dor não me abateu.
- Esta vendo? Você não consegue aceitar nem que errou, às vezes parece que só eu estive envolvido nisso mesmo.
- Foi aqui, ! Foi nessa droga de casa que tudo começou, como é que você pode me dizer que eu nunca estive ao seu lado?

FLASHBACK ON:

- PARA! – Despejei minha raiva em dois murros na parede que ladeavam a cabeça dela. – PARA DE FUGIR DE MIM! – Contudo, ela não se assustou e se manteve firme, me olhando, me julgando com aquela sobrancelha esquerda levantada. Respirei fundo tentando encontrar a calma. – Para de me chamar de Estranho, quando eu faço mais parte da sua vida e dos seus pensamentos do que você gostaria, assum...

Para ouvir a música clique aqui!

Settle down with me
Se acalme comigo
Cover me up, cuddle me in
Me cubra, me abrace
Lie down with me, yeah
Se deite comigo
And hold me in your arms
E me segure em seus braços


Ela não me deixou terminar e se jogou nos meus braços, me beijando como só ela sabia, suas mãos rodearam meu pescoço e seguraram firme o meu cabelo, fazendo um carinho bruto, em resposta eu a imprensei na parede, apertando firme a sua cintura, sem me importar se a machucaria. me deixava completamente descontrolado. Ela partiu o beijo e sorriu para mim enquanto fazia um carinho no meu rosto e arrumava minha sobrancelha, ali através de seus olhos eu vi uma excitação, com um brilho inocente, vi uma menina, a minha menina.

Sorri junto com ela, e fechei os olhos para receber os beijos que ela distribuía em meu rosto, querendo absorver cada toque de seus lábios, até que um desespero me abateu, segurei o seu cabelo e puxei delicadamente até encaixar nossas bocas num beijo doce e que logo se transformou em um beijo imperioso.

And your heart’s against my chest
E o seu coração está contra o meu peito
Your lips pressed to my neck<
Seus lábios pressionados no meu pescoço
I’m falling for your eyes but they don’t know me yet
Eu estou mergulhando dentro dos seus olhos, mas eles ainda não me conhecem
And with a feeling I’ll forget, I’m in love now
E com um pressentimento que vou desprezar, eu estou me apaixonando agora


Desci minhas mãos ate a base de suas coxas e dei impulso para ela subir em meu colo, sentindo ainda mais sua intimidade roçar em meu membro. Beijei o seu pescoço e a escutei soltar um suspiro ruidoso que me deixou ainda mais duro. Ao perceber que aquilo estava indo longe demais, me fez encará-la novamente e retirou sua blusa, num movimento que assisti em câmera lenta, decorando cada gesto e parte do seu corpo que se descobria, me permitindo ver também seu sutiã delicado e roxo, que a partir daquele momento seria minha cor favorita. Mesmo vislumbrado e morrendo de vontade dela, eu precisava perguntar, e quando iria fazer isso, dois de seus dedos em meus lábios me impediram.

- Eu só quero ser sua. – Sussurrou em meu ouvido e meu coração disparou de alegria e excitação.

Kiss me like you wanna be loved
Me beije como se quisesse ser amada
You wanna be loved, you wanna be loved
Você quer ser amada, você quer ser amada
This feels like falling in love
Isso é como se apaixonar
Falling in love, we're falling in love
É como se apaixonar, nós estamos nos apaixonando


Fiz um carinho em seu rosto, tentando lhe passar confiança com meu olhar, mas não deixei que um sorriso triunfante surgisse, ela ergueu a sobrancelha me instigando a prosseguir, então dei um beijo casto em seus lábios, e com ela ainda em meu colo, fui até a cama, onde carinhosamente repousei o seu corpo. Inclinei-me parcialmente sobre ela e retomei o beijo que havíamos rompido a poucos, mas que eu já sentia falta, necessidade. Lentamente distribui beijos e leves mordidas entre sua mandíbula e pescoço, até finalmente chegar a seu colo, levantei e encarei seus seios, ainda cobertos pela peça intima, e sua barriga lisa, exceto por três pequenos sinais, que haviam um pouco abaixo do seio direito e que fiz questão de fazer o seu contorno com o dedo e depois beijá-los. era linda em todos os aspectos, a mais linda que eu já havia visto.

- Você tem certeza? – Pergunto uma última vez, parte por respeito a suas vontades, e parte para acreditar que aquilo estava realmente acontecendo.
- S- sim. – Sua voz era um tanto falha, mas seus olhos eram determinados. – Eu quero você, .

Settle down with me
Acalme-se comigo
And I’ll be your safety, you’ll be my lady
E eu serei a sua proteção, você vai ser minha dama
I was made to keep your body warm
Eu estou aqui para manter você aquecida
But I’m cold as the wind blows
Mas eu estou frio à medida em que o vento que sopra
So hold me in your arm
Então me segure em seus braços


Sorri e deixei que minhas mãos passeassem por seu corpo, por baixo de sua saia alisei suas pernas, as abri me acomodando no meio delas, minhas mãos fizeram o contorno de suas curvas, até que percebi que minha mão se encaixou perfeitamente em seu seio, eu o apertei de leve e o beijei por cima do sutiã, fazendo o mesmo com o outro. atendeu meu pedido silencioso e arqueou as costas, me dando acesso pra que eu retirasse a peça intima, não conseguia parar de olhar com total admiração seus seios graciosamente redondos, que se intumesceram sob o meu olhar continuo, eles eram meus, só meus e finalmente estavam a minha disposição.

Passei a língua de leve sob seu mamilo rosado e depois chupei delicadamente, sentindo-os ainda mais duro, enquanto meus dedos rodeiam e puxam o outro bico, agarrou com bastante força os lençóis, e sinti o seu corpo tremer em baixo de mim. Meu corpo não estava muito diferente, eu estava com medo, não por falta de experiência da minha parte, mas porque eu queria ser perfeito com ela, queria dar o máximo de amor possível. Fiz o mesmo com o outro seio, sentindo seu gosto incrivelmente doce. gemeu meu nome, o som afetuoso e sexy saiu do fundo de sua garganta, me fazendo ter ainda mais vontade de possuí-la inteira, corpo e alma.

My heart’s against your chest
Meu coração contra o seu peito
Your lips pressed to my neck
Seus lábios pressionados no meu pescoço
I’m falling for your eyes but they don’t know me yet
Eu estou mergulhando nos seus olhos, mas eles ainda não me conhecem
And with this feeling I’ll forget, I’m in love now
E com este sentimento que eu vou esquecer, eu estou apaixonado agora


A garota por quem eu estava apaixonado estava ali, se entregando pra mim, numa experiência completamente nova para ela, mas eu conseguia estar mais nervoso. Com todo o prazer que sempre sonhei e finalmente receberia, viria a maior responsabilidade de todas, eu poderia fazê-la feliz, certo? Era isso que ela queria me dizer? Sim! Eu poderia e faria. Tentei parecer mais confiante, afinal naquela situação eu estava no comando. Voltei a ficar vidrado em cada parte do seu corpo, mas o seu sorriso continuava sendo a minha parte favorita, era como se aquecesse o meu coração, ou algo muito mais profundo do que isso.

Enquanto abaixava sua saia e sua calcinha pequena da mesma cor do sutiã, fui beijando sua barriga, e todas as partes que eu ia revelando e descobrindo, me levantei para tirar minha roupa e admirá-la. mantinha os olhos fechados, sua respiração era acelerada e suas mãos repousavam em sua barriga, era a personificação da beleza para mim.

Kiss me like you wanna be loved
Me beije como se quisesse ser amada
You wanna be loved, you wanna be loved
Você quer ser amada, você quer ser amada
This feels like falling in love
Isso é como se apaixonar
Falling in love, we're falling in love
Se apaixonar, nós estamos nos apaixonando


Dei um beijo abaixo de seu umbigo e ela suspirou, me arrisquei a levar aquele carinho mais para baixo, eu não queria machucá-la. Enquanto abria suas pernas a beijava, passei a língua sobre sua intimidade e ela gemeu soltando o lábio inferior, não conseguia tirar os olhos dela, queria ver e gravar cada expressão do seu prazer. Mordi de leve a parte interna de suas coxas, e logo voltei a sua intimidade, primeiro distribuindo beijos, e depois a invadindo com a língua com movimentos leves e vagarosos, estava mais do que pronta, enfiei a língua o mais fundo que consegui, vendo-a se contorcer e gemer meu nome entre dentes, ela chegaria ao ápice do seu prazer a qualquer momento e eu não me importava, enfiei a língua dentro dela novamente, em resposta ela arqueou um pouco o corpo querendo sentir mais fundo, abaixei seu corpo com a mão, mordi seu clitóris e com o máximo de cuidado dois de meus dedos entraram nela, seus olhos fechados, as mãos agarrando os lençóis, o quadril rebolando e as pernas inquietas, os espasmos e tremores me indicaram que teve o seu primeiro orgasmo. Ela abriu os olhos e me encarou assustada, mas satisfeita, me levantei novamente retirando a boxer preta que usava, pegando o preservativo do bolso da minha calça e me protegendo.

Subi na cama novamente, me acomodando no meio de suas pernas.

- Eu preciso que você relaxe. – Pedi assim que sentir seu corpo mais tensionado. – Eu quero te dar amor. – Passei meu nariz afetuosamente no dela, que suspirou e pareceu relaxar.
- Eu confio em você, babe. – Me olhou confiante e ansiosa.

Yeah I’ve been feeling everything
Sim, eu tenho sentido tudo
From hate to love, from love to lust, from lust to truth
Do ódio ao amor, do amor à luxúria, da luxúria à verdade
I guess that’s how I know you
Eu acho que é assim que eu conheço você
So hold you close to help you give it up
Então eu te abraço apertado para te ajudar a desistir


Beijei sua boca, seu nariz, bochecha, maxilar, queria que ela relaxasse, queria amá-la como ela merecia, na segunda tentativa consegui romper a barreira que nos transformou em um, beijei sua boca com toda vontade, impedindo que seu gemido de dor ecoasse, distraindo-a da consternação, mas seus olhos sofregamente fechados me fizeram parar.

- Não pare, por favor. – Ela sussurrou em meu ouvido.
- Eu não quero machucar você. – Ponderei.
- Você não está. – Disse num fio de voz.
- Se doer muito você pode me morder. – Ela sorriu abertamente e me beijou.

So kiss me like you wanna be loved
Me beije como se quisesse ser amada
You wanna be loved, you wanna be loved
Você quer ser amada, você quer ser amada
This feels like falling in love
Isso é como se apaixonar
Falling in love, we're falling in love
Se apaixonar, nós estamos nos apaixonando


Me movi lentamente dentro dela, suas pernas e braços me envolveram mais e eu conseguia sentir as batidas do seu coração em meu peito.

Segurei a sua perna direita na altura do meu quadril, invadindo-a por inteiro o mais lentamente que o meu controle me permitiu, mordeu o meu lábio inferior, até que nossos gemidos também se ritmaram. Os nossos corpos suados se encaixaram de uma maneira única, nossa cadência se acelerou e os gemidos dela se tornaram mais altos, ela mordia e chupava meu pescoço, voltava dando beijos em meu queixo e me trazendo a melhor das sensações, mas com uma intensidade que eu jamais imaginei existir. Coloquei minha testa na dela e a ouvir gemer longa e profundamente próximo a minha boca, enquanto suas mãos arranhavam as minhas costas, e me levavam ao melhor orgasmo da minha vida, então me entreguei, fazendo o impossível para não fechar os olhos e continuar olhando o mundo através do brilho refletido pelos dela, finalmente havíamos virado um.

Kiss me like you wanna be loved
Me beije como se quisesse ser amada
You wanna be loved, you wanna be loved
Você quer ser amada, você quer ser amada
This feels like falling in love
Isso é como se apaixonar
Falling in love, we're falling in Love
Se apaixonar, nós estamos nos apaixonando


Me deitei ofegante ao seu lado e o sorriso dela, me aqueceu e me deixou ainda mais apaixonado. Ao voltar do banheiro, me deitei novamente e fiz um carinho em seu rosto e a beijei, eu simplesmente não conseguia mais manter meus lábios longe dela.

- Me abraça, fica mais perto de mim. – Pediu manhosa, e eu com todo o prazer atendi o seu pedido, grudando novamente nossos corpos, constatando mais uma vez que eles foram pra estarem sempre assim, juntos.
- Você está bem? – Perguntei preocupado quando tudo que eu podia ouvir naquele quarto era o som das nossas respirações.
- Eu estou ótima, essa foi a melhor noite da minha vida, . – Se aninhou ainda mais em meus braços, procurando proteção.
- Então, sem arrependimentos? – Olho para ela rindo e rezando pra que não fosse mais um dos meus sonhos. - Estou exatamente onde eu deveria estar. – Levantou o rosto para me encarar, ela falava sério, e um beijo em meu pescoço reafirmou isso. – Eu não quero mais sair daqui.
- E nem precisa.

sorriu, veio até mim e me beijou, esse beijo era diferente dos que ela já havia me dado, não senti só paixão, eu sentir algo mais puro e terno, senti amor.

- Babe, eu... – Iria reafirmar que estava ainda mais apaixonado por ela, que a queria pra sempre em meus braços, mas me impediu e com toda a sua confiança, subiu em cima de mim e me beijou sensualmente. Aquilo seria só o começo de uma longa noite.

Kiss me like you wanna be loved
Me beije como se quisesse ser amada
You wanna be loved, you wanna be loved
Você quer ser amada, você quer ser amada
This feels like falling in love
Isso é como se apaixonar
Falling in love, we're falling in Love
Se apaixonar, nós estamos nos apaixonando.


FLASHBACK OFF.

- Sabe, , você acha que só você sofreu, porque você não sabe ao certo o significado da dor.
- E você sabe? Você só pensava, não, você só pensa no próprio beneficio.
- Talvez eu devesse ter feito mais isso, me protegido de gente como você.
- Você fez isso, arranjou um marido, e depois que viu que não era suficiente, resolveu experimentar o mundo, hein?
- Não me venha com seu falso moralismo, você não tem o direito de falar nada a meu respeito, você não sabe o que eu senti e nem o que eu renunciei. Você não sabe de porra nenhuma sobre mim, desde que resolveu sair da minha vida.
- Você que ...
- Fugi? Fui embora? Isso já está ficando chato. Cresce, seu moleque!
- NÃO ME CHAME DE MOLEQUE! – Berrei, já fora de mim, o que claro não assustou , ela simplesmente começou a rir. – EU SEMPRE FUI MUITO HOMEM!
- Você se tornou essa pessoa prepotente por quê? Porque tem um monte de fã apaixonadinha? Porque agora que você é famoso e elas te querem? Fui eu que te amei quando você não tinha nada.
- Que amor você me deu? Você me fazia de idiota.
- Sério isso, ? Vai bancar o esquecido agora e fingir que em nenhum momento foi real? – Abaixei a cabeça e evitei de encará-la, uma tentativa de não me lembrar de mais nada. – Por que nós dois somos reais, Estranho, e se eu chegar bem perto de você, vou sentir seus músculos se contraírem e seus pelos se arrepiarem. – Assim que ela chegou perto de mim, como se tivesse me dito uma profecia, meu corpo me traiu e tudo aconteceu.
- Sempre arrogante. – Sussurro próximo a sua boca, me segurando ao máximo pra não beijá-la.
- Realista, e forte o suficiente para resistir a você, mas é bom saber que ainda mexo com você. – Disse num misto de felicidade e satisfação que me irritaram.
- E parece que o mesmo acontece com você. – Objetei com a primeira idiotice que me veio à cabeça.

Ela sorriu irônica, negando com a cabeça, e me deu dois tapinhas no ombro enquanto chega mais perto de mim e sussurra:

- Sonha que faz bem.

Assim que ela ia saindo, eu seguro seu braço e a imprenso na parede, nossos corpos mais perto ainda.

- Ah é? E seu corpo tremendo, é sonho também? – Se o meu corpo era um traidor, o de , perto de mim, era pior do que Judas, em questão de segundos ela ficava entregue.
- Fala o cara louco para me jogar naquela cama.
- E você está louca para cair. – Ela me empurrou e se afastou rindo.
- Ando bastante criteriosa, Estranho. – Foi a minha vez de gargalhar e receber um olhar indiferente dela.
- Eu sei que você está adorando a minha presença, mas acho que já dei o meu recado, só queria mesmo te pedir minhas sinceras desculpas por ontem.
- Tudo bem, talvez eu tenha merecido. Ou talvez isso estivesse destinado para ser. – Debochou.
- .
- Olha, ele sabe o meu nome. – Disse e começou a procurar algo em sua bolsa.
- . – Insisti e continuei sendo ignorado.

Ela veio em minha direção e me entregou a pulseira que havíamos encontrado anos atrás, vendo que não ia pegar, ela abriu minha mão e colocando o objeto lá, fechou rudemente.

- Eu não te amo mais. – Sua eloquência era convicta, mas quando procurei a verdade nos olhos sempre transparentes dela, eu não encontrei. – Mas eu também não te odeio. E vai ser preciso muito mais do que você – me menosprezou – para destruir .
- , meu pedido para mantermos civilidade até o casamento ainda está de pé. – Riu divertida parecendo que havia contado uma piada.
- Desculpe por ter voltado e estragado a sua vida. – Continuava transbordando ironia.
- Ela não era mais minha vida, sem você fazendo parte dele. – A sinceridade das minhas palavras assustaram , mas ela logo se recompôs.

Antes que pudesse sair, parei com seu chamado.

- Nós maculamos o nosso amor. E eu mal posso esperar para jogar de novo com você.
- Será sempre um prazer, babe. Que os jogos comecem!

Dizem que só temos o amor que merecemos. Porque depois de tudo, depois de tanto tempo, ela ainda me faz perceber que ser apaixonado por ela VALE a pena? Então tudo ficou claro, ela ainda era algo que eu poderia ter de volta.




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Nota da autora: Sem nota.
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