It Was Meant to Be

Capítulo 09

"I figured it out. I figured out from black and white...Seconds and hours. Maybe we had to take some time". You and I - One Direction.




FLASHBACK ON:

Londres – 02 de Novembro de 2008 – 08:33 am.

A gente percebe o quanto está apaixonada quando prefere ficar acordada e encarar a realidade, do que dormir e sonhar. Me declarar apaixonada por havia ficado fácil, ao menos pra mim mesma, o que não significava que iria assumir isso para o resto do mundo, sobretudo para ele. Talvez tenha me achado corajosa, mas me entregar pra ele foi mais uma maneira de fugir e não dizer-lhe o que eu estava sentindo. E que se reafirmava, agora, enquanto o olhava dormir tão tranquilo.

Nunca me senti tão cansada, e tão viva, estava a alguns minutos ou horas, assistindo dormir, seus braços me envolviam e eu nunca havia me sentido tão protegida, seu corpo junto ao meu era uma espécie de complemento, fazendo ser ainda mais dolorosa minha decisão de sair dali.

Procurei a chave do quarto e não encontrei em lugar algum, sabia que iria acordar a qualquer momento, e não sabia como encarar aquela nova realidade, e mais uma vez optei pela alternativa mais fácil, estava fugindo literalmente.

- ? – primeiro me procurou ao seu lado na cama, e depois seus olhos preocupados percorreram o cômodo, até que ele me visse sentada na sacada do quarto.
- Que susto, Estranho! – Falei olhando fixo para ele e esquecendo onde estava.
- Pensei que tivesse medo de altura. – Esfregou os olhos e bocejou, provavelmente porque ainda não estava totalmente acordado.
- E eu tenho. – Aquele não era o momento ideal para ele me lembrar dos meus medos, então acompanhei cada movimento dele, me distraindo do resto.
- A noite foi tão ruim assim que decidiu fugir pela janela? – Sorriu e se sentou na cama com as mãos apoiadas no joelho. Era a coisa mais adorável do mundo, , vestindo apenas uma boxer, cabelos desgrenhado, cara de sono e um sorriso singelo nos lábios.
- Eu não ia fugir. – Mordi o lábio e continue contemplando ele.
- Metade do seu corpo está para fora do quarto.
- Eu só estava tomando um ar. – Cometi o erro de olhar para baixo e o tremor e a vertigem tomaram conta do meu corpo.
- Está tudo bem?
- Me tira daqui, . – Ele se aproximou com semblante preocupado, mas não encostou em mim. Minhas mãos apertando forte o batente.
- Só se você assumir o que sente por mim. – Cruzou os braços e esperou uma resposta.
- O que? – Se meu sistema nervoso não estivesse tão alterado, eu teria conseguido gritar. – , eu vou cair e morrer! Me tira daqui, por favor!
- Então fala. – Me encarou, com um sorriso se formando.
- Por favor. – Ele continuava negando com a cabeça e rindo. – Eu estou ... – Não conseguia dizer que estava apaixonada, nem sob pressão, nem sob tortura.
- Está...
- Estou encantada! – Fechei os olhos e estendi minha mão, rezando para que ele tivesse ficado satisfeito com a resposta. – Agora me tira daqui.

Choraminguei e rindo ele me pegou no colo, depositando meu corpo ainda tremulo na cama. Respirei fundo algumas vezes e quando percebi que estava me sentindo melhor, comecei a estapear , que nem ao menos se defendia, apenas ficava rindo.

- Te odeio! – Subi em cima dele e continuei, não estava brava de verdade, mas ele merecia.
- Não, você está encantada. – Interrompeu sua gargalhada e sua expressão se tornou confusa. – Isso é bom, não é?
- Não, porque você é um idiota. – Ele inverteu nossas posições, me olhou enquanto fazia carinho meu rosto. Acabou. Eu era a grande bobalhona apaixonada por ele de novo.
- Linda. – Abaixei a cabeça constrangida, não queria conversar com ele sobre o que aconteceria no futuro ou sobre o que tínhamos feito na noite anterior. – Como está se sentindo?
- Bem. – Fiz menção em me levantar, mas me impediu, me encaixando em seus braços. – Cadê a chave da porta?
- Não está bom aqui?
- , não quero falar sobre o que fizemos ontem e ... – Parei de falar assim que o vi pegar seu celular e começar a digitar uma mensagem, ficando completamente alheio ao que estava dizendo. – Ei! Isso é falta de educação, eu estava falando, sabia? – Recriminei e ele riu. Senti meu celular, até então sumido, tocar e me levantei para encontrá-lo no pé da cama, embaixo de algumas cobertas. Assim que peguei o aparelho vi que tinha uma mensagem de . Olhei para ele e seu sorriso cresceu.

"O que vai fazer hoje?"

Ele era tão bobo, fofo e apaixonante que resolvi entrar na dele e respondi a mensagem.

"Até agora não tenho planos.”

“Passe o dia comigo?”.


Fui até ele, me sentei em seu colo e o beijei. Aquele era o meu sim. Estava me apaixonando pela primeira vez e torcia para que todo mundo fosse tão inconstante quanto eu, ou iria precisar fazer tratamento para transtorno bipolar. Se em um momento eu queria fugir de , ou deixava que milhões de pensamento negativos sobre ele rondasse minha mente. Em instantes eu precisava estar com ele, como precisava respirar.

- Nem sou tão boa companhia assim.
- Para mim é a melhor.
- Estranho...
- Vamos parar de fingir, babe, se esse quarto estivesse em chamas agora eu nem perceberia, porque você ocupa toda a minha mente, e eu só preciso ter o que é meu.
- Eu não sou de ninguém, , não seja arrogante só porque você foi o primeiro. – Ia sair de seu colo, mas ele me segurou firme e me manteve lá, seus olhos profundos me lendo, seus lábios esbarrando nos meus, suas palavras soprando seus sentimentos.
- Eu não te digo convicto que você é minha porque transou comigo. Mas porque você dormiu comigo, nós trocamos olhares cúmplices e apaixonados antes de dormimos, nos tornamos um casal pelo que compartilhamos depois do sexo, e não por conta dele. – Eu estava sem ar de novo, me deixava sem palavras, sem controle de nada, e ele estava certo, eu era dele, mas não sabia o que fazer, ou como agir.
- O que você quer de mim, afinal? – Meus olhos faiscavam pra ele, numa contestação renovada.
- Hoje, eu só quero sair com você. Te dar um dia digno da sua pessoa. – Brincou e conseguiu amenizar a entonação séria da conversa.
- Tudo bem, eu... – Batidas fortes na porta nos assustou, e por instinto eu me afastei ao máximo dele, definitivamente eu não queria que ninguém soubesse que estava me envolvendo com , muito menos que havia dormido com ele, e quando digo “ninguém”, quero dizer .
- , abre logo isso, preciso falar com você. – sussurrou com voz chorosa, e eu fiz um gesto pedindo para ir para o banheiro, e depois de pegar as suas roupas ele foi. Então me lembrei que a chave provavelmente estava com ele e ainda fazendo mímica descobri que a chave estava caída perto da porta. Como eu não havia enxergado? Antes que eu pudesse girar toda a maçaneta, e invadiram o quarto.
- Temos que ir embora, tipo, agora. – parecia mais aflita do que a sua voz denunciou.
- Por quê? Achei que passaríamos o dia aqui.
- Por que ela precisa conversar. – disse impaciente enquanto parecia inspecionar o quarto, fiz o mesmo, e antes que ela pudesse ver, peguei o relógio, presente meu para , que ele tinha largado em cima da poltrona.
- E por que não conversamos aqui? – Eu não queria ir embora, queria ficar mais um pouco com .
- Que mania irritante esses seus “porquês”. – Bateu na perna de maneira birrenta, e começou a tentar me tirar dali.
- Ela não quer encontrar o . – parecia bastante intrigada com meu estado, ou com o ambiente, e parecia um detetive procurando indícios de um crime. – Por que você dormiu nesse quarto e não no seu? – Colocou a mão na cintura e agora ela me lembrava uma mãe intimidando uma filha. Não tinha uma boa resposta para dar, e não contaria o que se passou ali com o meu cúmplice ouvindo tudo.
- Achei que tínhamos que ir embora logo. – Foi a minha vez de puxar e dali, e sai sem ao menos me despedir de .

Londres – 02 de Novembro de 2008 – 04:59 pm.

Paramos num restaurante para almoçar e só chegamos a minha casa no fim da tarde, e aquele não poderia ser o pior horário, já que tivemos que presenciar uma briga feia dos meus pais. Aquela constante estava acabando comigo, evitava ficar em casa quando eles estavam, e quando estava tarde demais pra sair, os fones de ouvido me salvavam.

Fomos direto para o meu quarto e eu me joguei na cama, constrangida pelas garotas, mas nenhuma das duas pareciam realmente dar importância aquilo.

- Eu odeio seu quarto. – foi categórica enquanto analisava minuciosamente as fotos coladas na parede, como se nunca as tivesse visto, ou não estivesse presente naqueles momentos. – Em todas as fotos eu estou com o e ... Feliz.
- São lembranças... Não dá pra mudar. – Disse tentando apoiá-la, mesmo ainda sem saber os fatos novos daquela história.
- Parece que eu não tinha vida própria, eu to muito melhor sem ele, não é? – Essa era a típica pergunta que você faz, esperando que a outra pessoa negue, ou diga o quanto você está errada por pensar assim.
- É. – sempre clara e objetiva.
- ! – Tive que repreendê-la, aquele não era o momento ideal para julgamentos.
- Deixe ela te contar o que ele fez. – Deu de ombros e se deitou ao meu lado.
- Já desisti de ficar sabendo, desde que nós saímos da casa do lago eu pergunto e vocês não dizem nada.
- Nem eu sei exatamente o que aconteceu. – Nos viramos para , que suspirou fundo.
- O me tirou da mesa de sinuca ontem e estava muito bravo falando que eu estava enlouquecendo e tentando virar a . – Ela me lançou um olhar piedoso, como se eu realmente fosse me incomodar com aquilo. – Sem ofensas.
- Não me ofendi, adoro ser um referencial do mal. – Comecei a rir, sendo acompanhada apenas por . – Vai , continua a relatar sua saga.
- Então ele me levou para um quarto, nós brigamos e ... – Ela abaixou a cabeça ponderando o que diria.
- E? – Encorajei, mesmo estando óbvio o fim daquilo.
- Nós dormimos juntos. – Ela não iria perder a mania de ficar constrangida quando o assunto era sexo?
- Todo esse drama pra você me dizer que fez sexo com o ? – se sentou e parecia irritada. – E que história clichê! – Dizia com gestos exagerados. – Garoto briga com garota, garoto faz sexo com garota. – Comecei a rir das coincidências e tinha que admitir, era uma história um tanto comum, mas diferente de mim, pareceu repensar a noite anterior e começou a chorar.
- Calma, , vocês só dormiram juntos e ... – Ela não me deixou consolá-la.
- Ele me disse que se arrependeu. – Agora que ela havia exposto a raiz do problema, seu choro saia livre e ela se deitou na cama, procurando o meu colo, eu estava bastante surpresa e preferi não falar nada, e apenas afaguei seus cabelos.
- Ele disse que estava com a Lily e que aquilo era traição, e um monte de baboseira sobre eu nunca mais acreditar na fidelidade dele, caso fossemos voltar um dia. – Disse eufórica, em meio ao choro.
- Que filho da puta! – Eu não podia acreditar que o se preocupou com o pseudo relacionamento mantido com a piranha da Lily.
- Ele está certo. – disse num tom de admiração que me assustou.
- Como é? – se levantou rápido e a encarou furiosa. – De qual lado você está?
- Do seu, mas ele está certo, mesmo tendo traído aquela vaca com você, a pessoa que ele deve amar, isso configura traição, e eu mesma, se voltasse com ele um dia, pensaria que ele iria pegar a ex na primeira oportunidade que tivesse. – Aquilo fazia sentindo?
- Você tem razão. – Disse a , mas ainda estava processando aquilo. – Eu acho.
- Quanto você está ganhando para defender ele? – ainda não havia entendido e estava indignada, até voltar às lamentações e choros. – Ele não me ama mais.
- Como não te ama?
- , o gosta de mim, na melhor das hipóteses, eu arrisco dizer que ele continuava apaixonado, mas eu... – Sorriu sem humor procurando as palavras certas. – Eu o amo com todo meu coração, e não suporto nada menos do que amor incondicional. – estava certa, e processei uma nota mental para ter a mesma força de encarar a vida, caso passasse por algo parecido.
- Você não confia mais nele? – Sua resposta para mim foi rompante, segura e consternada.
- Não. Eu não confio nos sentimentos dele por mim.
- Para com isso, ! – parecia estar brigando, e não era esse tipo de tratamento que precisava naquele momento.
- , eu continuo achando que o te ama e que vocês vão ficar juntos. – Era inegável o quanto eu acreditava naquela relação, mais do que o próprio sentimento de fato, e esperava estar certa sobre isso, pois eles dois eram a única esperança que eu tinha. – Você só tem que voltar a confiar nele e deixar de ser orgulhosa, ele se desculpar e deixar de ser babaca. – Ela sorriu desejando que minhas palavras se concretizassem. – E então daqui a uns 10 anos eu estarei bem linda fazendo um discurso no casamento de vocês, ao lado do meu lindo marido Brad Pitt. – Me vangloriei e consegui fazer as duas rirem.
- Vai guardar a virgindade pra ele também? – perguntou debochada, ela sempre me zoava por ser virgem, o que era realmente chato.
- Isso meio que não existe mais. – Continuei sorrindo, tentando esconder minha vergonha.
- Como assim? – As duas perguntaram juntas e mantinham enormes olhos sobre mim.
- Eu fiz... É... Coisas ontem à noite.
- ? – Neguei a reposta de .
- Ai Meu Deus! –Bingo, havia entendido. – Você preferiu se entregar ao à confessar que estava apaixonada por ele! – Afirmou chocada, e colocou as duas mãos sobre a boca.
- Eu só achei que estava na hora, não foi grande coisa. – Havia sido algo muito importante para mim, e de certa forma inconsequente, mas eu não queria pensar nos detalhes, só queria sonhar com mais noites como aquela.
- Isso significa que nós três fizemos sexo ontem à noite. – ostentou como se tivéssemos descoberto um novo planeta do sistema solar. – Somos demais!
- Isso foi brega. – Me levantei e fui ligar o som, aquele ambiente precisava de uma boa música.
- Não finge que não se divertiu. – nem respirou e o dedo acusatório de a impediu. – E você também, .
- Você e o estão namorando?
- Claro que não! – Ri da pergunta tosca de e comecei a dançar, puxei ela e para me acompanhar, mas apenas uma delas se mexia.
- Por que não? – Insistiu, me fazendo revirar os olhos.
- Porque não!
- O sabe de vocês?
- Não! – Segurei a mão de , que continuava parada, e a fiz girar. – E nem pode ficar sabendo, não até eu contar pra ele.
- E quando seria isso? – Parou e cruzou os braços, eu abri os meus e continue dançando.
- Daqui a uns anos.
- Você complica a sua vida. – Joguei um travesseiro nela e fez o mesmo, em questão de instantes estávamos numa guerra.

Londres – 04 de Novembro de 2008 – 03:21 pm.

esmagou o dedo em cima da campainha sem se importar com quem atenderia, estávamos na porta da casa de para ver o ensaio da banda. Eles não haviam concordado com isso, mas obvio que não obedecemos. Meu estômago revirava só em imaginar estar ali. Ter a mínima noção de que estaria perto de me dava uma sensação de estar numa roda gigante, acho que nunca saberei se no nosso primeiro encontro eu estava presa ao meu medo, ou a excitação que sentia ao ficar perto dele.

- Oi, ! – estava de bom humor naquele dia, continuava sem mencionar , e nós respeitávamos aquilo.
- Boa tarde, Estranho. – disse e olhou para mim rindo.
- Esse apelido vai mesmo pegar? – Ele parecia indignado, mas sorria abertamente.
- Já pegou, Estranho. – Foi a vez de zoar ele.

Simba surgiu como uma bola entre as pernas de , e eu me abaixei e o tomei em meus braços, beijando e apertando o filhote, que se divertia com meus carinhos exagerados.

- O que vocês estão fazendo aqui? – ainda mantinha um olhar confuso em nós três paradas no meio de sua sala.
- Viemos assistir ao ensaio. – era a mais empolgada de todas ali.
- E para de fingir que você não está contente em ver a . – Coloquei o indicador na boca e pedi silêncio a inconveniência de .
- Onde estão os meninos? – Ele indicou uma porta e passou a me encarar.
- Estão no porão, fiquem a vontade. – Manteve seu olhar em mim e quando ia seguindo as meninas, ele me impediu. – , preciso falar com você.
- Claro que precisa. – disse se divertindo as nossas custas, pegou Simba de mim e acompanhou .

Finalmente tomei coragem e olhei para , esperando que ele falasse, ansiando que ele usasse beijos e não palavras. Quando percebi que ele não ia parar de gaguejar ao falar algo inteiramente sem importância e sentindo, eu me aproximei dele, o puxei pelo colarinho da camisa e o beijei, estava dizendo por nós dois o quanto sentimos falta um do outro.

- Preciso ver você. – Passei a mão em frente ao seu rosto e comecei a rir.
- Ficou cego, Estranho? – Ele se fingiu de magoado e segurou minhas mãos atrás das minhas costas e me deu um beijo rápido.
- Você entendeu.
- O que você sugere?
- Hoje depois do ensaio?
- Não posso, e o também está aqui e vai querer me levar pra casa. – Ele engoliu o que eu disse e prosseguiu.
- Amanhã?
- Nós temos treino e depois tenho que fazer compras.
- Assim fica difícil eu sugerir alguma coisa. – Me soltou e ia me deixando ali sozinha.
- Ei, não precisa ficar nervoso. – Segurei a mão dele e o fiz me encarar de novo, e quando dei o meu melhor sorriso ele retribuiu, ponto pra mim.
- Eu não estou... – Tive a necessidade de beijar ele novamente e provar que estava mesmo tudo bem. segurou firme a minha cintura e aprofundou o beijo, até que ouvimos um barulho vindo do tal porão e lembramos que não estávamos sozinhos.
- Quinta às cinco horas, no parque perto da minha casa, se prepara que é a minha vez de controlar as coisas. – Brinquei e ele não conteve um sorriso enorme, que fazia os seus olhos parecerem que estavam fechados. Aquela era a expressão que eu mais amava dele. Segurei seu braço e retirei o relógio que estava em minha bolsa, colocando-o ali. – Você esqueceu comigo, babe.
- Do que você me chamou? – começou a rir ainda mais quando percebeu o quanto eu havia me assustado. Dei um soquinho em seu peito, sem conseguir esconder meu sorriso, e sai dali antes que ele percebesse o quanto estava envergonhada.

Quando estávamos no último degrau da escada escutei perguntando por mim e por , e a desculpa esfarrapada, dada por , de que eu estava bebendo água.

- A peça fundamental desse grupo chegou.
- Eu já estava aqui há um tempo, . – escrevia num caderno e disse com seu tédio habitual, continuando seu trabalho.
- Admiro o ego da família . – debochou sentando no colo do seu não namorado, como insistia em rotular a relação.

Depois de me cumprimentar, e voltaram a jogar vídeo game e e eram estátuas compondo aquela cena, um no sul outro no norte, não falavam e permaneciam parados olhando para tudo, menos na direção um do outro.

- Esse lugar é legal, Estranho. – Para ser sincera, o lugar não tinha nada demais. Era um porão pequeno e acarpetado com dois sofás bem confortáveis, uma televisão com vídeo game instalado, um som e uma caixa amplificada.
- Dá pra ensaiar sem incomodar nenhum vizinho. – Ele disse e pegou o caderno que estava com e sem pensar muito escreveu algumas coisas lá, deveriam está escrevendo uma música, ou algo assim.
- E o que vocês ensaiam? Por que eu só estou vendo vocês mofando aqui.
- Demos uma pausa agora, não enche. – e seu amor responderam pelos meninos, que apenas concordaram, fazendo bufar de raiva.

Simba latia e fazia bagunça por todo o ambiente, mas ninguém parecia se importar com isso, me sentei entre os meninos e roubei o controle da mão de assim que vi que eles estavam jogando futebol.

- Já sabem o que vão vestir? – Perguntei depois de ouvir as reclamações de quando resetei o jogo deles e iniciei outro com .
- A gente tá procurando umas roupas iguais. – disse sério, como se estivesse mesmo considerando aquilo. Não mesmo! Minha gargalhada assustou a todos.
- Nem pensem nisso, é tão old fashion, para não dizer repugnante.
- O que você sugere? – Ele rebateu.
- Cada um tem seu estilo, e vocês deveriam trabalhar nisso.
- Nós somos uma boyband. – comentou, achando que isso alteraria alguma coisa.
- Mas não uma boyband normal, vocês nem sabem dançar. – Debochei.
- E isso pode se tornar um diferencial, uma marca de vocês nesse mercado saturado de mesmices.
- Acho que tem razão. – O comentário de fez todos se calarem, e aproveitou minha distração pra marcar o gol de sua vitória.
- Eu disse que ia acabar com você!
- Não valeu! – Fiquei alheia aos comentários que se seguiam enquanto discutia com sobre a validade de seu gol. Odiava perder, ele sabia disso e adorava zombar de mim quando isso acontecia.
- Podem assumir, nós seremos a maior banda britânica desde os Beatles. – subiu no sofá segurando um violão e passou a imitar um astro do rock com uma guitarra.
- E os mais gatos também. – O Estranho disse e achei interessante, era mais um lado dele que eu não conhecia.
- Acho difícil num mundo onde existe o McFly. – O provoquei, fazendo-o revirar os olhos.
- Harry Judd! – gritou o seu amor pelo favorito dela, que não poderia ser outro.
- Tom Fletcher! – O preferido de , também dizia muito sobre o tipo de homem que ela curtia.
- Casaria fácil com Dougie Poynter, mas não sem antes ter um tórrido e longo caso de amor com Danny Jones. – Foi o nosso momento de nos levantar e dançar cantando “Do ya?”, enquanto recebíamos vaias dos meninos.

Londres – 06 de Novembro de 2008 – 02:00 pm.

- Dá pra me ajudar aqui? – Pedi em meio a uma pilha de livros que estavam quase impedindo a minha visão.
- O que é isso, ? – Andrew riu e me ajudou a colocar aquele peso em cima de sua cama, estávamos trabalhando intensamente há alguns dias, que eu já estava familiarizada com a sua casa e com suas manias.
- Tive uma ideia louca para o nosso trabalho, e modéstia à parte é muito melhor do que a sua.
- Desde quando você se importa com isso?
- Desde que percebi que preciso dessa nota mais do que gostaria. – Ele se sentou na cadeira da escrivaninha e esperou que eu começasse. – Bom, pensei em escolhermos um tema e focarmos nele.
- Mas isso nos limitaria, sem tema podemos fazer diversas experiências.
- E nos cansaríamos mais.
- Já tem algum tema em mente?
- Guerra! – Disse animada e presunçosa, mas ele não esboçou reação.
- Como envolveríamos guerra numa feira de química e biologia?
- Serio que você não sabe? – Dei um pulo da cama e me aproximei dele sorrindo. – Me senti genuinamente feliz e inteligente agora. – Bati palmas e Andrew entortou um pouco a boca, escondendo um sorriso. – Você nem ouviu e já está orgulhoso de mim. – Beijei sua bochecha e percebi o seu corpo se tencionar, mas não quis pensar sobre isso.
- Fala logo, . – Ele ajeitou seus enormes óculos e esperou, um tanto cético, que eu falasse.
- O homem descobre coisas em momentos de necessidades, a história das guerras está atrelada a diversas...
- Vamos falar de remédios?
- Não, porque eu estou aqui para facilitar nossa vida, então nós vamos falar de armas químicas e biológicas. – Ele pensou por alguns instantes, até se levantar animado.
- Genial! Você é um gênio, !
- Eu sei. Fiz umas pesquisas e infelizmente existem diversas delas, como gás mostarda e ...
- Como eu não tive essa ideia antes? Ah, ... – Ele me abraçou bem forte e achei graça da sua reação desmedida.
- E sabe o que é melhor? – Me desvencilhei dele. – As nossas roupas ficarão lindas, podemos usar algo de camuflagem e uma jaqueta com um... – Sua gargalhada preencheu o ambiente e ele se sentou, abrindo um dos livros que eu havia trazido.
- Volta ao foco, .


FLASHBACK OFF.

Londres – 05 de Novembro de 2015 – 12:22 pm.

- Eu jurava que ia ter que te arrancar da cama. – e entraram no meu quarto e se assustaram ao me ver sentada na cama, com diversos papéis, canetas, e tudo o que precisava para desenhar. – Que milagre já estar acordada a essa hora em plenas férias? – Ela estava sendo irônica, ou nem tanto.
- Se eu ainda não dormi, conta? – deu de ombros e pegou um dos meus desenhos e analisou.
- Aaah, isso aqui está tão, tão 2008. – parou em frente a parede de fotos que agora eu tanto detestava. – Sempre adorei seu quarto, , minha vida está contada nessa parede.
- Falsa. – Mostrei a língua para , que me ignorou completamente.
- Você passou a noite desenhando?
- Os dois últimos dias. – Aquele olhar de não era de uma empresária analisando os trabalhos de um artista, era de uma amiga me dizendo que vestiria uma das minhas roupas.
- Isso aqui está incrível, nunca te vi tão inspirada desde que nos mudamos para Nova York. – Concordei com um aceno de cabeça enquanto terminava de desenhar a estampa de um vestido. – Vai ficar mesmo assim? Por que não briga comigo ou me castiga de uma vez?
- E por que eu deveria? – Não estava com paciência pra discutir, por isso fugi dela nos últimos dias.
- Eu não fiquei com o , eu nem tenho a intenção disso! Você sabe! – Ela disse meio alterada.
- Mas você deveria colocar um limite no seu nível de infantilidade.
- Para de bancar a puritana, , isso nem combina com você. Você não superou o . – Me acusou e eu comecei a rir, me levantando e ficando cara a cara com ela.
- Mas eu superei o habito ridículo de falar sobre ele, ou sobre nossa história e eu mereço créditos por isso. – Apontei o dedo para ela e a acusei. – Diferente de você.
- Falar de amor não é amar ninguém, . E o hábito de se fechar para tudo você deveria superar. – Ela começou a abaixar a guarda, mas eu mantive minha postura defensiva.
- Não me venha dizer como devo agir, .
- Não estou fazendo isso, só quero que você encare sua realidade, e não vai ser odiando o para sempre que você irá conseguir. – Ela tinha passado dos limites, eu não queria falar sobre a merda da qual eu passei.
- Você sabe que o problema nunca foi ele, o problema sou eu! – Batia forte contra o meu peito reforçando as minhas palavras. – Eu sou a errada de tudo! é apenas a lembrança viva do meu erro!
- Eu só quero o seu bem, . Fui infantil naquela festa? Fui! – Levantou as mãos em rendição. – Aceito o meu erro e espero que me desculpe. – Se aproximou de mim enquanto eu absorvia tudo o que ela dizia. – Eu te amo, você é a minha família, e não quero discutir seja por ou por , por homem nenhum, ninguém é tão importante.
- Eu só... – Estava completamente cansada de ter o meu passado rondando o meu presente, queria seguir em frente, mas não conseguia me mexer.
- Eu sei como você se sentiu, e mesmo se você não sentisse nada pelo , eu jamais ficaria com ele e bancaria a falsa. Eu sei exatamente onde nossos corações estão, , e você também.
- Espalhados por ai. – Brinquei, fazendo referência ao que costumávamos dizer sobre nossas almas gêmeas, mas algo em havia mudado desde que ela voltou para Londres.
- Não. Eles continuaram aqui. – Ainda bem que ela me abraçou depois de dizer isso, porque eu não sabia o que dizer, acreditava naquilo, mas lutaria para estar errada, no final o peso que eu sentia era maior do que qualquer sentimento bom que tivesse restado.
- Ainda bem que vocês já fizeram as pazes, porque não aguentava mais os choros de por isso. Já deram o abraço lésbico de vocês, agora quero ver o meu vestido. – Nos desfizemos do abraço rindo e sendo contagiadas pela animação de , o grande dia estava chegando e eu já havia terminado os ajustes finais do seu vestido e estava torcendo para estar perfeito.

Retirei o vestido do closet e e eu a ajudamos vestir, assim que ela calçou os sapatos, parou na frente do espelho e quando coloquei o véu em seu rosto, ela estava pronta, linda de tirar o fôlego. E sem nenhuma modéstia, o meu trabalho naquela peça tinha sido impecável.

- Você está... – Eu não conseguia conter a emoção. – Sem sombra de dúvidas, esse foi o vestido mais lindo que eu criei.
- E como eu estou? – Ela quis saber enquanto admirava seu reflexo. estava uma típica noiva moderna, simples e perfeita, o vestido era chique, eu havia conseguido extrair o melhor do seu estilo e tornar aquela peça tão ela e tão linda.
- Perfeita. – limpou as lágrimas de seu rosto e sorria feito boba.
- Você será a noiva mais linda de todo o Reino Unido.
- Por que ainda não casamos. – Bati na mão de concordando plenamente, e rindo ainda mais do bico fofo que havia feito.
- Eu odeio vocês. – Nos abraçamos e, no meio de nossas gargalhadas, elas não paravam de chorar. – Ficou incrível, .
- Não tinha outra forma de ser. – Fui até o closet e peguei outro vestido. – E esse aqui é o vestido da Jazzy, uma réplica perfeita e fofa do seu.
- Ela vai adorar, vai parecer uma princesa. – Depois que ela abriu a capa protetora e olhou o vestido, deu início a um surto. – Tira, tira, tenho que buscar a Jazmyn na escola. – Começou a correr pelo quarto enquanto tentava tirar, de qualquer jeito, o vestido que usava.
- Se você rasgar esse vestido eu rasgo você, . – Ameacei indo abrir o zíper e ajudando a se trocar.
- Sempre amorosa, e eu que ganhei a fama desse grupo. – riu e nem pode se sentar, porque a impediu.
- Vamos logo. – Ri das duas, até perceber que ela falava comigo também.
- Eu não vou.
- Vai sim, e depois vamos encontrar a minha sogra.
- E por que nós vamos?
- Porque é a minha sogra. – Aquilo era óbvio. Mesmo parecendo para mídia que a Senhora e faziam parte de uma grande família feliz, elas estavam longe de viver assim. Não brigavam ou tentavam se matar, mas viviam numa espécie de guerra fria.

desceu correndo do carro ao notar que Jazzy e uma mulher eram as únicas ali, nós a seguimos e aquela não podia ser uma professora, parecia mais uma das minhas modelos.

- Uou! Quem é aquela? – perguntou antes que nos aproximássemos.
- É a professora da Jazmyn .
- Pensei que era alguma modelo da Meant To Be. – Disse, vendo a garota esguia de cabelos escuros até a cintura e grandes olhos verdes, vindo na nossa direção enquanto segurava a mão de garotinha.
- Por isso os meninos adoram vim buscar a Jazzy. – Ela pareceu achar graça do seu comentário, diferente de mim e .
- Babacas. – Disse enojada e me imitou.
- Olá, Srt. . – O sorriso estampado no rosto dela era tão falso quanto os cílios que usava, erroneamente.
- Oi, Leah, desculpa o atraso. Essas aqui são minhas melhores amigas, e .
- A Jazzy fala muito da tia e da dinda, então é como se eu já conhecesse vocês. – Estendeu a mão, primeiro para e depois pra mim, claro que eu, como não tinha ido com a cara dela, fingi não perceber e peguei Jazzy no colo para não retribui a gentileza.
- Bom, vamos? – Chamei sem me preocupar se estava sendo ou não educada e esnobe.

Nos despedimos daquela professora boazinha demais para meu bom senso e fomos direto para um restaurante, onde encontraríamos a senhora .

- A minha avó está aqui? – Jazzy perguntou assustada assim que avistou a mulher sentada de costas para nós. Ela estava mais elegante do que me lembrava, e sempre foi simpática conosco, exceto pela antipatia que nutria por , mas que escondia muito bem.
- Nós viemos encontrá-la, não seja mal educada, Jazmyn. – Havia algum tipo de tensão ali, mas eu e preferimos permanecer neutras.
- Mas eu não quero. – Jazzy fez a maior birra, mas simplesmente a puxou mão e a arrastou até a mesa onde a mãe de estava.
- Boa tarde, Loren.
- Oi, . – Ela a cumprimentou brevemente, se abaixando e indo falar com a neta. – Jazmyn, como você está linda. – Jazzy se escondeu atrás das pernas de . – Mas o que é isso? Não vai falar com a vovó? – Brincou e viu a criança se afastar ainda mais.
- JÁ DISSE QUE NÃO QUERO! – Aquilo não me pareceu uma birra, e sim um grito de socorro.
- JAZMYN!
- Ela está cansada, então nós vamos passear um pouco, não é? – Intervi e Jazzy estendeu os braços para subir em meu colo.
- ! – tentou pegá-la de mim, mas eu aumentei o espaço entre nós.
- , por favor. – Ela iria me matar depois, mas eu precisava fazer aquilo, não queria passar por cima das regras dela de mãe, mas entendi as necessidades de Jazzy e iria tirá-la dali.
- Adorei o seu colar, senhora .
- Ah, obrigada .

havia distraído a senhora , e ignorando o olhar de repreensão de , eu sai dali com Jazzy, afinal ela era sempre tão doce, que deveria ter alguma razão coerente pra ter agido daquela maneira, e ainda mais com a avó.

Entramos numa casa de chá. Jazzy adorou o lugar e disse que se sentia uma princesa em seu chá das cinco, e não era para menos. O lugar era super refinado, as paredes cobertas de marrom chocolate e muito ouro e veludo. O cardápio não poderia ser mais parte do meu mundo, as guloseimas tinham formas de itens de moda. Os biscoitos tinham o formato dos sapatos Miu Miu, o bolo de laranja e gengibre lembrava a clutch da Valentino e o pão de ló de amêndoas e creme, um vestido de Sonia Rykiel, dava até pena de comer.

Moda era um assunto que parecia interessar a Jazzy, e ela me perguntava sobre tudo, e me fez prometer desenhar uns modelos para as bonecas dela. Eu havia evitado perguntar sobre a avó dela, até que ela se sentisse mais confortável, e quando ela falou sobre um final de semana na casa dos , vi a oportunidade perfeita.

- Então, porque você não quis ficar um pouco com a sua avó?
- Ela me obriga a comer coisas ruins, e não me deixa fazer nada.
- Mas às vezes é necessário comer coisas saudáveis. – Belisquei o nariz dela, mas o assunto parecia ser sério para ela, já que não esboçou um sorriso.
- Ela não me ama. – Abaixou a cabeça e parecia envergonhada com sua confissão. Me levantei e me sentei numa cadeira ao seu lado.
- Claro que ela te ama, é impossível alguém não amar você. – Fiz carinho em seus cabelos escuros.
- Ela não me ama. – Me encarou com seus olhos verdes brilhando e com a certeza em sua afirmação.
- E como você sabe disso?
- Ela riu de mim, quando meu primeiro dente caiu. – Ri de sua história, mas parei ao notar que ela não havia gostado disso.
- Ela deve ter te achado linda.
- Não, ela riu e disse que eu parecia boba e que não deveria sorrir. – Que bruxa maldita. – E não deve ser assim, não é?
- Não, querida, não deve ser assim. Você é linda do jeito que é e nunca deve se esquecer disso.
- Mas eu sorri e meus amigos de verdade ainda gostaram de mim mesmo faltando uma parte minha, e eu acho que isso é... Como se chama isso? – Sorri para ela e para sua inteligência sem precedente. A pureza e inocência na maneira de ver a vida era algo que me encantava, que eu precisava pra direcionar a minha.
- Amor! – Respondi sem pensar duas vezes. – É a forma mais pura de amor. E você pode fazer o que quiser desde que seja por amor.
- Qualquer coisa? – Jazzy parecia mais empolgada a partir da ideia de viver sem medidas.
- Qualquer coisa.
- O que você já fez por amor? – Claro que ela faria essa pergunta.

Estava conversando com uma criança, então decidi lhe dizer a coisa mais simples e profunda que já tinha feito, tanto no sentido literal da coisa, quanto no emocional.

- Eu corri.

FLASHBACK ON:

Londres – 06 de Novembro de 2008 – 7:01 pm.

- ! , espera! – Ele estava me fazendo correr, literalmente, por ele, sabia que merecia pelas minhas duas horas de atraso, mas num salto 15 era demais, qual o problema dele?
- Qual o seu problema? – Virou tão abruptamente que me assustou.
- Me desculpa, eu... – Coloquei a mão em seu ombro e me curvei um pouco, tentando recuperar o fôlego.
- Deixa eu tentar adivinhar a desculpa da vez. Perdeu a hora enquanto fazia compras no shopping? Ah, já sei! Estava com o nerd.
- Eu tive uma nova ideia pra o trabalho e... – Ele deu as costas para sair. – Ei, para, por favor, eu to tentando, Ok?
- E eu estou cansado de suas desculpas, eu sabia que isso não ia dar certo.
- Não ia dar certo? Poxa, eu também senti a sua falta. – Ele respirou fundo e eu sabia que ele já estava baixando a guarda. – E então, vai me desculpar? – Fiz uma expressão doce e falsamente inocente, esperando que funcionasse.
- Você é terrível.
- Eu sei. – Me aproximei dele, arrumei os fios de sua sobrancelha e lhe roubei um beijo. – Vamos? Ainda dá tempo.
- Para onde você vai me levar?
- Surpresa. – Foi ai que reparei na roupa que ele usava e comecei a rir. – Para onde você acha que vou te levar? – Me afastei analisando a calça e sapatos sociais e camisa xadrex de botão.
- Não sei, mas queria estar preparado. – Falou um tanto constrangido.
- Você é tão fofo, sabia? – Apertei a bochecha dele, as deixando ainda mais rubras.
- Esse é o seu jeito de me chamar de gay?
- Talvez.
- Adoro suas respostas esclarecedoras. – Revirou os olhos ao mesmo tempo em que fiz o mesmo.
- Nós só vamos ao cinema, ok?
- Cinema?
- É. Nesse cinema que vou te levar reprisa filmes, e está passando um dos meus favoritos.
- “As patricinhas de Bevely Hills”?
- Não, mas eu gosto desse, também. – debochou de mais alguma coisa, mas eu não ouvi. – Fica calmo, que acho que você vai gostar desse. – Vamos logo, Estranho.

Saímos andando e dessa vez, eu que procurei a proteção de segurar a sua mão. Claro que discutimos sobre quem pagaria os ingressos, e mesmo insistindo não me deixou pagar. Roubei um beijo dele na fila da pipoca, porque umas garotas estavam puxando assunto com ele, e ele passou os trailers zombando do meu ciúme.

- “Mouling Rouge”? Esse musical é de maricas, . – Reclamou pela terceira vez, e o filme já estava começando.
- Tem músicas contemporâneas e elas se encaixam perfeitamente nessa história, que se passa na Paris do século dezoito, você terá a sensibilidade para gostar, tenho certeza.
- E é seu musical favorito por isso?
- Também, mas os figurinos são incríveis, queria ter nascido na Belle Epoque só para poder usar essas roupas, compraria todas! Na minha opinião, foi o ápice da moda.

Ele riu e depois que deixei claro que não estávamos ali pra namorar ele começou a assistir ao filme.

- O poeta vai pra o cabaret?
- Vai.
- Gostei. – Dei uma cotovelada nele pela provocação, e sua risada reverberou baixa, mas satisfeita.

O filme acabou e mesmo já sabendo o final isso não me impedia de chorar, o que deixou preocupado, afinal, ele não achou que ficava tão vulnerável por conta de um filme. Ele engatou um assunto que sabia que não era do seu interesse, mas que era totalmente do meu, no fundo a curiosidade dele sobre o figurino do filme foi uma maneira que ele encontrou de me fazer falar sem parar, ao invés de chorar pelo fim trágico de Santine.

- O que eu acho mais incrível é que a figurinista não ficou presa ao mundo do can-can na hora de desenhar as roupas, ele ou ela, teve um olhar profundo na época, se inspirando nas divas do cinema, como Greta Garbo, e todo o glamour da era de ouro do cinema. – Continuava meu monologo de longos minutos enquanto entrávamos numa lanchonete, de estilo retrô, que ficava próxima a minha casa. só sorria e concordava, parecendo gostar de tudo aquilo. – Sem contar que a história é simples, mas as músicas que a contam são incríveis.

não me deixou sentar de frente para ele, e nos sentamos num banco lado a lado, e ele logo me abraçou. Fizemos os nossos pedidos e o mundo da música fez o Estranho falar.

- Gostei bastante da seleção das músicas, nunca imaginei que fosse ouvir Nirvana, Beatles ou U2 num musical escolhido por você.
- Ei! – Dei um tapinha eu seu braço. – Mas você gostou, não é?
- Gostei sim. – Revirou os olhos, mas eu sabia que ele tinha adorado.

E como sempre acontecia entre a gente, o papo fluiu e falamos sobre tudo, coloquei uma música de Elvis Presley numa jukebox e fiz largar a timidez e dançar comigo, o que me rendeu boas gargalhadas, já que ele era péssimo. Roubei suas batatas fritas e bati nele quando ele disse que eu ficaria gorda, só para me provocar. Por fim, foi uma ótima noite, onde cada segundo teve um gosto especial, me sentia numa comédia romântica americana, me sentia leve e completa, eu me sentia.

desceu os beijos para o meu pescoço, estávamos há alguns minutos em frente da minha casa, e tudo o que eu queria era levar ele para o meu quarto e ser dele. Procurei a sua boca e o beijei de novo, puxando o seu cabelo, o trazendo para mais perto de mim, tentando fundir o nossos corpos, até que a porcaria do celular no meu bolso começou a vibrar e não parava.

- Preciso atender. – Ele concordou e voltou a mordiscar e beijar o meu pescoço.
- Oi. – Atendi sem ao menos saber quem era, totalmente concentrada nas caricias de .
- Vem logo, nossos pais ainda estão acordados e vão saber que você ainda não chegou. Fiz minha parte. – E assim finalizou sua ligação.
- Preciso ir. – Avisei a , que grunhiu em negação. – Sério, meus pais estão acordados. – Levantei o seu rosto e o fiz me encarar.
- Tudo bem.
- Mas eles viajam amanhã cedo e a Vika dorme bem cedo, então... – Por que ele me intimidava tanto? – Então, se você quiser, sei lá...
- Amanhã depois do show você será minha.

Dei um último beijo em , e assim que ele sussurrou sensualmente um “boa noite” eu entrei, desejando que o show acabasse logo, só para estar com ele novamente.


FLASHBACK OFF.

- Está se divertindo? – Perguntei a Jazzy enquanto ela comia o ultimo pedaço de seu bolo, e ficava ainda mais lambuzada de chocolate.
- Muito. – Riu e mudou drasticamente de assunto. – Dinda, porque você tem que morar tão longe?
- Por causa do meu trabalho.
- Mas você poderia trabalhar aqui. – Tudo era tão simples e fácil para as crianças que eu sentia inveja de toda essa segurança e utopia.
- Não posso, querida.
- Você me disse que eu poderia fazer o que quisesse, desde que fosse por amor, então você também pode.
- Você está me aconselhando a retomar o controle da minha vida? – Disse mais pra mim mesma por receber aquele conselho de uma criança, e ela me olhou sem entender absolutamente nada do que eu disse e apenas deu de ombros.
- Ia ser divertido você morando aqui.
- É... Ia ser mesmo. – Sem ao menos perceber, Jazmyn me deu algo grandioso para pensar.

Continuamos nos empanturrando de doces até que me ligou e disse que deveríamos voltar para o restaurante para irmos embora, claro que Jazzy não gostou da ideia, principalmente por ter alguns paparazzi na porta do local onde estávamos. Se pra mim aquilo era chato e incomodo, eu não podia mensurar a tortura que era para uma criança de seis anos, então peguei Jazzy no colo e saímos tentando afastar aquela chuva de flashes. Em meio a perguntas de todos aqueles fotógrafos, escutei o choro de Jazzy e entrei numa loja onde os funcionários me deram assistência, impedindo outras pessoas de entrarem. O único segurança que estava nos acompanhando foi buscar um carro para que pudéssemos sair escoltadas. Aquilo era uma grande porcaria, ao menos Jazzy ficou encantada ao perceber que estávamos numa enorme loja de brinquedos.

- ? – Um rapaz, que aparentava ter a minha idade e segurava uma réplica enorme do Ursinho Pooh, veio em minha direção, e naquele momento meu instinto era repelir qualquer um, principalmente algum repórter ou blogueiro de plantão.
- Desculpe, não vou dar nenhuma entrevista. – Não me importaria de ser rude, se fosse pra defender Jazmyn.
- Eu sei que você foi uma péssima aluna no colégio. – Aquilo só podia ser algum tipo de piada. – E sei também o quanto é durona, não me arriscaria a apanhar de você.
- Nos conhecemos? Fui grosseira com você e agora você vai contar onde estou me escondendo por vingança? – Ele gargalhou, e quando eu finalmente encarei seus olhos azuis eu o reconheci. – Andrew?
- Bom saber que você ainda se lembra de mim. – Por reflexo eu o abracei forte, ainda sem entender como eu fui me lembrar dele.
- Você está... – Lindo, alto, forte, gostoso, uma tentação. – Ótimo.
- E você linda como sempre. Está fugindo da polícia? – Riu de minha situação embaraçosa e fingiu me esconder atrás do urso.
- Não, tem muitos paparazzi lá fora e a Jazmyn se assustou, então estamos esperando um carro vim buscar a gente.
- Essa é sua filha?
- Não, ela é filha da e do , lembra?
- Ah claro, já li sobre eles. – Se abaixou na altura de Jazzy. – Tudo bem? – Ela apenas sorriu pra Andrew. – Você se parece muito com a sua mãe.
- Você conhece minha mamãe?
- Nós todos estudamos juntos. – Ela ia fazer mais alguma pergunta quando se distraiu com os brinquedos da loja. Andy então me abraçou novamente e disse o quanto havia sentido a minha falta. Nós fomos bons amigos no colegial, mas não achei que ele sentiria saudades de mim, já que ele não era uma recordação constante. – E você, tem filhos?
- Não.
- Você ainda está com o...
- Por Deus! Não! – O cortei, não aguentava mais ter o meu nome associado ao de .
- Dinda, eu posso levar? – Jazzy apareceu com um conversível rosa para suas bonecas, e um olhar piedoso que não te permitia recusar nada. - Claro. – Ela fez festa ao ouvir minha resposta e saiu explorando mais a loja.
- Ela parece ser uma criança encantadora. – Andrew mantinha seus braços cruzados sobre o enorme peitoral dele e... Ele estava malhando? Não me lembrava dele ser tão lindo assim.
- ?
- E é! – Eu praticamente babei em cima dele, que patética. – Às vezes suspeito que ela seja um robô.
- Posso estudá-la, então?
- Vai me dizer que você é algum cientista?
- Mais ou menos, trabalho com pesquisas medicas pra Universidade de Cambridge. – Revelou orgulhoso e eu não esperaria menos de alguém tão inteligente e dedicado.
- Eu adoro como você sempre simplifica coisas complicadas para mim.
- Uma versão modificada e desativada do vírus da AIDS poderia tornar-se a base de um novo tratamento genético pré-natal para a fibrose cística e...
- Chega! – Empurrei seu ombro rindo. – Conseguiu o que sempre quis, fico feliz por você.
- Só falta uma coisa para conquistar.
- O que?
- Janta comigo hoje? – Desde quando Andrew flertava com alguém?
- Hoje não dá, vamos todos para casa de .
- Eu te pego e comemos só a sobremesa, sei que você tem todo esse lance com moda e só deve comer folha, mas você poderia abrir uma exceção.
- Não sou modelo, posso comer o que quiser. – Joguei o cabelo para trás teatralmente e ele riu ainda mais.
- Isso é um sim?
- Porque não pode esperar para outro dia?
- Tenho medo de você fugir. – Levantei a sobrancelha para ele e mordi o lábio contendo um sorriso.
- Bom argumento, as pessoas dizem que eu fujo.
- Eu não te vejo desde a formatura, tenho um pouco de razão.
- Tudo bem, Andrew. – Entreguei meu celular a ele pra que pudesse adicionar o seu número. – Te ligo mais tarde.
- Andy, pode me chamar de Andy. – Ri e ele sem o menor pudor me deu um beijo no canto dos meus lábios, se despediu de Jazzy e foi embora. O que havia acontecido com as pessoas nos últimos anos?

POV. .

Todos nós estávamos na casa de , e comíamos comida chinesa, em meio a bagunça que era uma reunião nossa. parecia inquieta e agitada durante o jantar. Claro que trocamos algumas farpas não tão gentis, afinal nós ainda éramos nós e aquilo significava que estávamos no caminho certo.

Assim que cheguei, a vi conversando despretensiosamente, segurando uma cerveja entre os dedos finos, e mesmo usando calça jeans, camiseta branca e seus saltos, estava completamente sexy, e todos os meus piores instintos ansiavam por ela. Não sabia como ficaria nossa situação, mas eu a queria para mim e a teria. Isso era tudo!

- Quando você vai embora, Estranha? – Lancei a pergunta provocante logo que ela e comentaram sobre como aproveitavam o verão nos Estados Unidos, e as diferenças ou semelhanças com a Inglaterra.
- Não! – Jazmyn fingiu chorar. – A Dinda deve ficar. – Rodeou seus pequenos braços ao redor do pescoço de , como se aquele ato a impediria de ir embora para sempre. Quem me dera.
- Acho que você deveria parar de se preocupar com a minha vida. – deu língua e depois fez uma careta.
- É inevitável. – Escondi minha verdade atrás do meu deboche.

Ter tão perto conturbava a minha vida calma dentro da minha rotina movimentada, e era justamente isso que eu queria. Ela deveria ter dito "ficarei para sempre".

- Sinto muito, . – Rebateu com a mesma ironia. – Bom, eu preciso ir. – Ela anunciou e Jazmyn não ficou muito contente com aquilo e confesso que eu também não.
- Aonde você vai? – quis saber e eu o agradeci mentalmente por realizar a pergunta que eu não podia.
- Ela vai se encontrar com o Andrew. – Foi quem respondeu.
- Quem porra é Andrew? – O guardanapo de papel em minha mão ficou aos frangalhos naqueles breves instantes em que ela pensava no que responder... Não podia ser o mesmo Andrew.
- O do colégio. – Por fim, respondeu a .
- O nerd. – Afirmei o que temia em voz alta e o leve sorriso que perpassou no rosto de denunciou sua satisfação.
- Tá desesperada assim, ? Eu já disse que estou aqui. – brincou, jogando beijos no ar para ela, que fingiu pegá-los e guardar no peito.
- Ainda não entendi porque você aceitou sair com ele, ele era tão esquisito e feio no colegial. – O comentário preconceituoso de pareceu divertir ainda mais .
- Nos encontramos e ele me convidou. – Ela se voltou para mim. – E a propósito, ele não é nerd.
- O que ele faz? – Questionei por estar completamente descrente.
- É cientista. – A campainha soou no instante em que eu a olhei, acusando-o novamente de ser nerd. – Deve ser ele. – Quando ela pegou sua bolsa para sair, a impediu.
- Deixe ele entrar, não me lembro muito bem dele, e preciso dessa imagem mental sua saindo com um cara desses para posteridade. – Ele disse entre risos, e deu um sorriso convencido que me incomodou.
- Parem de implicância com ele. – Começou a dramatizar. – Eu preciso de um homem de verdade na minha vida, os que passaram por ela não serviram. Nada pessoal, Shrek, você será sempre minha exceção. – apenas riu e deu de ombros, mas ela havia conseguido me deixar furioso, ela sempre conseguia isso com um olhar ou poucas palavras. Eu tinha sido o primeiro homem na vida dela e não havia prestado? – Sejam gentis e não se assustem. – Ela riu e mesmo com raiva eu também, até ver que o cara que entrou não condizia em nada com a imagem que eu tinha feito dele de barrigudo, com enormes óculos no rosto e roupas conservadoras e sociais. Mas vinha conversando animadamente com um cara seguro, atlético e com roupas descoladas, até tentou disfarçar, mas estava babando por ele. Ele cumprimentou a todos, elogiou as mulheres gentilmente e comeu com os olhos enquanto ela se derretia por ele.

Naquela noite, só chegou em sua casa as três da manhã, com um andar cambaleante e um sorriso estampado no rosto. Andrew a acompanhou até a porta, mas um arbusto impossibilitou de ver a maneira como se despediram. Quanto a mim, ganharia uma dor nas costas por ter passado todo aquele tempo pateticamente esperando por ela.

LONDRES – 07 de Novembro de 2015 – 07:39 pm.

POV. .

Sai para almoçar com Andrew e acabei me atrasando para o show. Nós dois estávamos nos dando bem, mas o atraso foi proposital, adiei ao máximo o momento em que eu teria que ver os meninos cantando num palco. Me demorei no banho, troquei de roupa umas cinco vezes, para vestir o vestido cinza, opção inicial, e assim, quando cheguei ao estádio Wembley, a banda de abertura já havia se apresentado, e uns seguranças não queriam me deixar entrar, mesmo portando minha credencial. Aquela proibição foi como música para os meus ouvidos, finalmente voltaria para casa, entraria numa banheira, tomaria uma boa taça de vinho e não me culparia pela ausência, afinal a culpa não era minha.

Quando ia dando meia volta para ir embora, um segurança apareceu e disse que eu seria responsabilidade dele, revirei os olhos, mas o segui até um setor próximo ao palco onde e estavam.

- Cheguei. – Anunciei teatralmente, abrindo os braços e mandando beijos no ar, como se aquela multidão estivesse ali pra me ver.
- Achávamos que você não viria, os meninos foram para o palco chateados. – Eu mal havia chegado e já tinha começado a me torrar a paciência.
- Dinda! – Jazzy se jogou em meus braços e eu esmaguei suas bochechas com beijos.
- Oi, minha princesa linda.
- O papai disse que você não vinha. – A soltei quando meu abraço começou a incomodá-la. E vi que ela vestia uma camiseta com a foto estampada do pai nela, e uma badana com o nome da banda estava em sua cabeça.
- Me atrasei um pouco, só isso. – Ri para ela enquanto arrumava o acessório em sua cabeça, deixando o nome em destaque.
- O Dindo disse que você estava com medo. – Revirei os olhos, imaginando sendo um idiota e dizendo isso.
- Ah, claro que ele disse isso. – Antes que eu pudesse começar a xingar nos meus pensamentos, senti uma mão afagar os meus cabelos.
- Como vai a minha nora favorita?
- Lydia! – Abracei forte a mãe de , aproveitando todo aquele aconchego materno. – Deixa seu filho te ouvir falando isso.
- Não me importo. – Ela me abraçou novamente. – Senti a sua falta, .
- Você está maravilhosa desde que te vi ano passado. – Seus cabelos loiros agora chegavam à altura de seus ombros, seus olhos verdes ainda mantinha aquele brilho vivo e jovem, tão acolhedor, e apesar de não se enquadrar na lista de peruas, ela era uma mulher muito bonita.
- E um ano mais velha.
- Para de bobagem, você está ótima.

Se eu sempre quis distancia de , a relação com sua família, sobretudo a sua mãe, foi algo que lutei para não perder. Sem que ele precisasse ficar sabendo, nossa relação se estreitou, e Lydia sempre esteve lá por mim, cuidando como uma verdadeira mãe.

Ela segurou mais firme a minha mão e se voltou para o palco, onde os meninos começariam a cantar em instantes, depois se voltou para mim novamente.

- Eu achei que te veria diferente. – Sua voz tinha um tom adocicado, mas eu não havia entendido o que ela quis dizer.
- Como assim?
- Você sabe que te amo como amo os meus filhos, certo? – Concordei. – Eu só quero enxergar aquele brilho em seus olhos de novo.
- Lydia, eu to bem. – Sorri para reforçar o que estava dizendo.
- Não, ainda não está, mas irá. Sendo meu filho ou não, serei imensamente grata àquele que consegui tirar esse peso de seu coração.
- E porque precisa ser alguém?
- Não precisa, venho tentando te dizer isso há tantos anos, minha querida. Só se permita se apaixonar de novo, seja por uma roupa ou por uma música, mas se permita.

Não queria conversa sobre aquilo, nunca queria, aquele assunto era um terreno intransitável, trancado dentro de mim com todos os sentimentos ruins que vinha cativando durante aqueles anos. Felizmente o pai de , Carl, apareceu e nos cumprimentamos e engatamos um assunto qualquer, era sempre uma festa estar perto dele e eu me realmente me divertia.

- Como o John está? – Percebi o quão estúpida havia sido a minha pergunta, quando a conversa assumiu, novamente, um tom sombrio.
- Do mesmo jeito, minha querida.
- Eu posso visitá-lo? – Lydia considerou sua resposta, e me senti incomodada por sua hesitação.
- Acho que não seria uma boa ideia.
- Como não? Para de bobagem, querida. – Carl disse a sua esposa e depois se voltou para mim. – Ele irá adorar te ver.
- Obrigada. – Lydia me pediu desculpas com o olhar, e no fundo eu entendia as suas razões.
- . – apareceu arrastando uma garota pelo braço. – Essa daqui é a namorada do .
- Oi. – A garota me cumprimentou com sorriso simpático, que de imediato retribui. – Sou a Elle.
- Claro, ele já tinha me mostrado fotos suas, mas você é ainda mais bonita pessoalmente. – Suas bochechas coraram, mas estava dizendo a verdade. Sua pele bem clara contrastava com o verde escuro de seus olhos, e seus cabelos castanhos, mas seu recém-bronzeado mostrava que provavelmente ela estava em alguma praia. Seu sorriso, mesmo tímido e contido, iluminava o ambiente. – Finalmente nos conhecemos, fala tanto de você que já tive até ciúmes.
- Comigo aconteceu à mesma coisa. – Ela me olhou um tanto assustada e eu senti a necessidade de me corrigir. – Oh, mas não assim, ciúmes de irmão como eu sinto pelo , somos amigos há tanto tempo que tenho essa obrigação boba de saber se ele está mesmo bem e...
- Está tudo bem. – Me interrompeu e me tranquilizou assim que percebeu que estava sendo sincera. – Que tal se nós marcássemos de sair um dia desses?
- Eu ia adorar!

Com mais um tempo de conversa descobrir que Elle já havia trabalhado como modelo, mas era tão inteligente e suas participações em diversas causas sociais eram admiráveis. Eu havia "aprovado" ela assim que percebi que ela amava o , meu Shrek e não o cantor lindo e famoso do One Direction.

Mia também estava ali, acompanhada de uma amiga, mas sequer falava com alguém. Desde que a conheci na boate a achei implicante, mas não abertamente hostil, essa era uma nova face dela que havia se revelado.

- O show vai começar. – anunciou por cima da gritaria dos fãs e do som produzido pela banda.
- Quem poderia imaginar que os garotos que tocavam em pubs, lotariam estádios? – Compartilhei meus pensamentos enquanto olhava encantada aquela multidão que gritava pelos meninos. Sentia um orgulho imenso e uma felicidade sem fim por ver a realização de cinco sonhos.
- Principalmente depois de um triangulo amoroso. – me cutucou e disse alto demais, mas não me abalei.
- Sempre soube que você teve um caso com o . – Fingi me espantar com aquilo e empurrei seu ombro rindo enquanto ela empinava o nariz.
- Nós ainda temos. – Rimos de sua bobagem e finalmente nos viramos para ver o primeiro show do One direction.

FLASHBACK ON:

Londres – 07 de novembro de 2008 – 8:12 pm.

Procurei , e o encontrei no fundo do pub, debruçado sobre o corrimão de uma escada, uma fumaça saia por seus lábios e eu percebi que ele estava fumando. poderia ser um adolescente rebelde, afinal de contas.

- O que está fazendo? – Ele sorriu um pouco envergonhado, e levantou o cigarro que estava entre seus dedos. – Desde quando você fuma?
- Só quando estou nervoso. – Peguei o filtro de sua mão e coloquei na minha boca. – Tem que tragar, babe. Você inala a fumaça e... – Parou a explicação quando percebeu que eu sabia muito bem cometer aquele crime a minha saúde.
- É, fofo, você acha que eu não sabia fumar. – Me aproximei dele soltando a fumaça próximo ao seu rosto, ele riu e rodeou a minha cintura segurando firme. – E quanto ao nervoso, eu tenho um jeito melhor e mais saudável de combater ele. – Traguei uma última vez, jogando o cigarro no chão e o apagando com a ponta do meu salto.
- E como seria isso? – Perguntou malicioso, segundos antes de juntar minha boca a dele e iniciar um beijo gostoso e nada puro. Suas mãos percorriam o meu corpo, as misturas de sabores, cigarro, menta e me entorpeceram e tudo o que eu queria era que ele me possuísse ali mesmo. Assim que minhas mãos invadiram a sua camisa e percorreram o seu abdômen, ele percebeu que eu não estava bem intencionada e quebrou o beijo. – Entramos em dez minutos.
- Eu sei. – Falei ainda de olhos fechados, completamente entregue ao momento.
- Posso te levar pra casa hoje? – Os beijos dele desceram para o meu pescoço, me deixando ainda mais louca. O que ele quisesse, o que ele pedisse eu faria, não só naquele instante, onde estava inebriada pela luxúria, mas em qualquer outro, e não estar assustada com isso era indicativo de que estava num grande problema.
- Deve! Meus pais viajaram mesmo. – Não sabia de onde estava tirando forças para formar frases coerentes.
- Já sabia, me contou. – Eu me afastei um pouco, o encarei, levantei a sobrancelha e sorri.
- Isso foi proposital, Estranho?
- Eu também sei provocar quando quero.
- E quando não quer também. – Ah, se soubesse o quanto ele tumultuava meu corpo e meus sentimentos só com um único olhar, sendo ele malicioso ou terno, mas claro que eu não diria isso a ele.

estava me puxando de novo para os seus braços quando o barulho da grande porta de metal se abrindo, atrás de nós, nos assustou e nos repeliu.

- Ai está você, mate! – também deveria estar nervoso com a apresentação, que demorou instantes para me notar ali. – O que vocês estão fazendo?

Prendi a respiração e encarei sem saber o que dizer, passamos alguns segundos constrangedores sob o olhar inquisidor de , até sair da inércia.

- Estava fumando e ela apareceu. – Desdenhou da minha presença e sua mentira me fez rir.
- Quem diria que o Estranho cometia algum erro? – Abracei de lado e ele sorriu, acreditando em nossa pequena mentira. Pisquei para , e com um aceno mínimo e simples de cabeça selamos mais um acordo silencioso, aquilo era mais uma pequena coisa só nossa.
- Já disse a ele para parar com essa merda. Parece o , o pulmão de vocês aos 30 estará fodido. – disse da maneira mais simples e delicada que caracterizava ele. – Bom, subiremos ao palco agora. C’AAAAMON PRINCESS. – Gritou e saiu puxando a mim e o Estranho. Me despedi dos dois com beijos no rosto e desejos de boa sorte.

O pub havia enchido bastante nos últimos minutos e eu não conseguia encontrar ou , então fui me apertando entre as pessoa tentando ficar o mais na frente possível.

Os garotos subiram no pequeno palco do local e eu conseguia notar o nervosismo por cantar para tanta gente, mas o talento deles me dizia que aquele público seria irrelevante quando alcançassem o sucesso.

Eles começaram tão tímidos e atrapalhados na movimentação do palco, que era tão fofo que dava vontade de colocar num potinho e levar pra casa. Aos poucos foram se acostumando e interagiam com o público, brincavam entre eles e o show foi fluindo, era gostoso de assisti-los, não só pela boa escolha do repertório, mas por serem quem são.

Tentei parecer discreta e não encarar a todo o momento, mas era meio impossível, havia sempre alguma coisa que me levava até ele, e passei instantes ouvindo só a sua voz, enxergando só ele ali.

- Te achei! – Andy falou por cima do som e próximo ao meu ouvido, me lembrando de que existia um mundo, afinal de contas.
- Oi, Andy. – O abracei. – O show está quase no final. - Eu estou aqui desde cedo. – Sua voz embolada denunciou que ele estava bêbado. O que estava acontecendo com as pessoas hoje? – Você está muito gostosa, .

Gargalhei do seu atrevimento e disse que ele estava um gato, naquela noite, estava achando engraçada essa mudança de personalidade de Andrew proporcionada pela bebida.

Me voltei para o show e meus olhos brilharam assim que os meninos começaram a cantar um cover de Kings of Leon – “Use Somebody”. Estava sorrindo para , quando os olhos azuis de Andrew invadiram minha paisagem e a pressão de seus lábios contra os meus me assustaram, o empurrei, mas isso não foi suficiente para ele tentar me beijar de novo e de novo.

- Para Andy!
- Eu precisava fazer isso. – Confessou num misto de confiança e tristeza. – Me desculpe.

Odiava pessoas que se desculpavam pelas suas vontades. Claro que eu odiei o ato inconsequente de Andrew, mas ele precisava se impor um pouco, não só pelo que ele sentia, mas para todas as suas decisões. Balancei a cabeça e sem dizer nada o desculpei, mas então me lembrei dele, aquele que até inconsciente rondava meus pensamentos. E as últimas duas músicas não cantou mais pra mim, não olhou mais pra mim, estava me castigando.

O show acabou e como esperava os meninos foram ovacionados, e até ouvir algumas biscates comentando o quanto eles eram bons em outros departamentos que não tinha nada a ver com música, poderia até ficar e dizer poucas e boas, mas pateticamente eu estava preocupada com o que havia achado da cena protagonizada por mim e Andy.

Depois de um tempo, os meninos finalmente conseguiram chegar até o bar e se sentaram numa mesa próxima, não estava e provavelmente havia ido para o mesmo lugar onde eu o havia encontrado mais cedo, ao menos ele iria falar comigo.

Assim que passei pela porta, ele veio furioso na minha direção.

- O que porra foi aquela, ?
- Ei calma, eu não tive culpa, ok? – Riria do seu exagero, mas preferi me manter impassível para não piorar as coisas.
- Você está ficando com ele também? – Cruzou os braços acima do peito que subia e descia freneticamente.
- Isso soa ridículo, principalmente vindo de você, .
- Não me faça de idiota, é esse o tipo de trabalho que vocês fazem?
- Você está começando a me ofender, não me faça sentir raiva, ou...
- Ou o que?! – Gritou contra o meu rosto me fazendo recuar. – Vai correr e ficar com algum babaca para me matar ainda mais de ciúmes?

Aquele definitivamente não era o garoto que achei que fosse, e claramente ele era só mais um naquele colégio que me considerava fácil e indigna de sua confiança.

- Quem você acha que eu sou? – A mágoa ficou estampada em minha voz, e tudo o que eu queria era sumir dali.
- Eu não posso requerer nada, posso? – Levantou os braços e aquela discussão estava fora de controle, eu não conversaria com ele naquele estado, ou até ele está disposto para tal coisa. Quando me virei para ir embora dali, ele segurou, firme demais, o meu braço. – Onde você pensa que vai?

Antes mesmo que pudesse responder, um puxão maior no outro braço me afastou de , e a voz grave de me calou.

- O que está acontecendo aqui? – Ele estava bravo, muito bravo, mesmo sem entender o que de fato se passava. – Você está bem, ? – Se voltou para mim, ignorando completamente a presença de .
- Estou... – Odiava não saber mentir para quem eu amava. – O só ficou irritado porque eu...
- Você...
- E precisa de muito pra me irritar? – Se virou exasperado.
- Controla a TPM, . – Mesmo soando divertido, não estava contente com o que tinha visto e seu tom de voz era controlado. – Vem , vamos entrar e depois te levo para casa. – Me abraçou um tanto protetor e eu concordei e sai sem olhar para trás ou para .

não ficou por muito tempo, e o pouco que ficou me ignorou, ficamos nos tratando como dois alheios. Não vi mais Andrew naquela noite, esperava que ele estivesse bem, mesmo sabendo que uma ressaca no dia seguinte seria inevitável. Tive a certeza que o papel de Andy naquela noite era o de um coadjuvante em um romance água com açúcar, que só aparecem para ferrar com tudo, ele havia conseguindo, por fim.

Londres – 08 de Novembro de 2008 – 12:40 am.

parou o carro em frente à minha casa e me encarou, sabia o que ele queria antes mesmo de se voltar para mim, e eu sabia qual seria a minha resposta antes mesmo da sua pergunta.

- Obrigada pela carona, Sherek.
- Sei que você está sozinha, que tal se a gente assaltar adega do seu pai e fazemos um after party no estilo / ?
- Eu to com sono e com um pouco de dor de cabeça, fica pra próxima?
- Você não precisa ficar me evitando, . – Sua mão tocou delicadamente o meu rosto. – Achei que ainda fossemos amigos.
- E somos. Que tal fazermos esse assalto amanhã? – Sugeri e o vi sorrir de novo.
- Assim que acordar venho pra cá.
- Combinado. – Já ia saindo do carro quando me puxou e me beijou.

Correspondi por costume, ou para acabar logo com aquilo, não sei, mas enquanto estava com os olhos fechados aproveitando aquele beijo, eu só conseguia pensar em e no quanto ele havia sido idiota comigo.

- Boa noite, . – Finalmente sai do carro e corri para casa, para o meu quarto, lá era um território onde eu podia pensar em sem me sentir tão perdida ou culpada.

A última vez em que eu havia olhado para o relógio do meu celular eram 01:34, agora já se passava das 3 e eu continuava sem consegui dormir. Queria ligar para para brigar ou só ouvir a voz dele, mas tinha orgulho suficiente pra não fazer isso.

Ouvi o tilintar no vidro da porta da minha varanda, não dei importância, mas como o barulho permaneceu eu resolvi prestar atenção, o que era aquilo? Pedras? Levantei imaginando que seria mais uma pegadinha de , mas quando cheguei na varanda e olhei pra baixo, congelei com o autor do ato.

- , o que você está fazendo aqui?
- Eu vou subir. – Mal terminou de falar e começou a escalar em direção ao meu quarto, através de uma árvore que havia ao lado.
- Nem ferrando. – Ele continuava ignorando a minha falsa vontade e se esforçava para subir.
- Babe, eu não conseguia dormir e...
- E resolveu vim me acordar?
- Claro. – Respondeu convicto. – Você me causa insônias desde o dia que entrou na minha vida e eu nunca reclamei.
- Sou um pesadelo tão ruim assim? – Naquele momento eu não poderia ficar mais indignada.
- Não. – Ele sorriu e continuava sem me encarar, concentrado em subir nos galhos que aguentariam o seu peso. – Só tenho medo de dormir e descobrir que ter você era só mais um sonho.

Sorri feito uma idiota para aquela frase brega e montada, vendo-o concluir sua escalada, assim que chegou ao batente e ficou de frente para mim, um pé dele escorregou, me assustando, então eu o ajudei e só me acalmei quando ele estava dentro, me abraçando.

- Se machucou? – Analisei o seu corpo em busca de qualquer mínimo ferimento. – Está tudo bem?
- Para quem não queria que eu subisse você até que está preocupada.
- Eu? Não. – Me afastei dele e me lembrei que estava com raiva. – Agora desce.
- O que? – Nem ele havia acreditado no que eu disse.
- Vai embora, Estranho.
- Eu preciso falar com você. – Foi entrando em meu quarto e eu o segui. Fui até o interruptor e assim que acendi as luzes, nós dois demoramos um pouco para nos acostumar com a claridade. me focalizou e ficou mudo.
- Fala.
- Gostei do pijama. – Revirei os olhos e cruzei os braços esperando ele me dizer o que queria. – É... É que...

Jamais poderia imaginar que uma camisola – esse era o termo correto – de seda branca, um pouco acima dos meus joelhos, e com um decote simples, pudesse deixá-lo deslumbrado.

- Vou precisar me trocar? – Levantei uma sobrancelha querendo rir da expressão fofa dele.
- Não, eu só vim te dizer que você estava certa hoje.
- Isso eu já sabia.
- Eu sou um idiota.
- Eu também já sabia. – Olhei pra minhas unhas para mostrar o quanto estava entediada com aquele papo furado, e ele precisaria fazer melhor do que aquilo.
- Eu fiquei com ciúmes, não gostei de ver aquele nerd babaca te beijando.
- Mas você surtou como se eu tivesse feito por que quis.
- E é por isso que eu me desculpo, não queria estragar a noite que estava planejando para nós dois.
- Já estragou.
- Eu sou ciumento, mas não deveria agir assim, só que você coordena cada movimento que eu faço nessa droga de vida e eu estou completamente apaixonado por você, e antes que você fale “” com voz arrastada por não saber o que responder, saiba que não precisa, saber que você é encantada por mim basta. – Meu sorriso parecia que iria rasgar meu rosto.
- Você sabe que eu estou sozinha em casa e você poderia ter me ligado que eu abriria a porta, né? – A cara dele de idiota me fez gargalhar.
- E eu ainda passei uma hora jogando pedra na janela errada. – Ri ainda mais.
- Vem cá, tadinho dele. – O puxei e segurei o seu rosto, dando vários beijos leves, esquecendo completamente o motivo de nossas briga.
- Já disse que gostei do seu pijama? – Sussurrou em meu ouvido, enquanto sua mão desceu até a minha bunda, onde ele apertou sem nenhum pudor.
- Vou ter que tirar pra te entregar?
- Essa seria uma ótima ideia. – Me pegou no colo e me jogou na cama.


FLASHBACK OFF.

Não importava se as músicas eram agitadas ou as inúmeras brincadeiras que eles faziam no palco para entreter o público, se eu conseguisse produzir lágrimas eu estaria chorando desde o começo do show, assim como Lydia, que estava ao meu lado. Em cada música eu enxergava o meu passado, sabia que aquelas letras não haviam sido feitas para mim ou baseadas na minha história com o , mas ouvir ele e meus amigos cantando me faziam sonhar que eram. A química deles era palpável, a amizade e amor que sentiam um pelo outro e pela música era evidente em cada grito e faces lavadas por lágrimas dos fãs.

Ele parecia tão jovem e sem problemas, como todo mundo da nossa idade deveria ser, mas eu era uma exceção, me sentia uma velha de espírito, estava cansada, estava carregando um fardo de culpa que me doíam os ossos.

conseguiu nos localizar e nos mostrou a . Ele estreitou os olhos e seu sorriso iluminou o ambiente assim que focalizou seus pais, mas se apagou ao me ver ao lado deles. E aquele lado direito foi completamente evitado por ele durante o resto do show, nem ao menos olhava para aquela direção, exceto naquele instante, não sabia qual canção eles cantariam, mas quando voltou o pé do microfone na minha direção, soube que iríamos iniciar uma conversa, algo íntimo que só nós dois entenderíamos.

Para ouvir a música, clique em um dos links: Versão estúdio / Versão acústica

You tell me that you're sad and lost your way
Você me diz que está triste e perdeu seu caminho
You tell me that your tears are here to stay
Você me diz que suas lágrimas estão aqui para ficar
But I know you were only hiding
Mas eu sei que você só está se escondendo
And I just wanna see you
E eu só quero te ver

You tell me that you're hurt and you're in pain
Você me diz que você está machucada, e você está sofrendo
But I can see your head is held in shame
E eu posso ver daqui, é assim a vibração
But I just wanna see your smile agai
Mas eu só quero ver o seu sorriso novamente
See you smile again
Ver você sorrir novamente


cantava cada nota de sua parte com uma intensidade desmedida, e quando tecnicamente deveria ficar calado ele sibilava cada palavra, ele estava cantando pra mim, um passado, um presente ou um futuro, isso eu não sabia, mas era a nossa história.

But don't burn out
Mas não se queime
Even if you scream and shout
Mesmo se você gritar e berrar
It will come back to you
Isso vai voltar para você
And I'll be here for you
E eu estarei aqui para você

Oh, I will, carry you over
Oh, vou te levar para longe
Fire and water for your love
Fogo e água para o seu amor
And I will hold you closer
E vou te abraçar mais perto
Hope your heart is strong enough
Espero que o seu coração seja forte o suficiente
When the night is coming down on you
Quando a noite estiver caindo sobre você
We will find a way through the dark
Nós vamos encontrar um caminho através da escuridão


Os gritos ensurdecedores que tanto incomodavam não existiam mais, as vozes dos outros quatro também sumiram, só havia eu e ele ali, ele tinha me colocado de novo em nosso mundo.

I wish that I could take you to the stars
Gostaria de te levar para as estrelas
I'd never let you fall and break your heart
Nunca vou deixar você cair e quebrar seu coração
And if you wanna cry or fall apart
E se você quer chorar ou desmoronar
I'll be there to hold you
Estarei lá te segurando

You tell me that you heard it's all in vain
Você me disse que você ouviu tudo em vão
But I can see your heart can love again
Mas posso ver que seu coração pode amar de novo
And I remember you laughing
E me lembro de você rindo
So let's just laugh again
Então vamos rir de novo


A música tinha um ritmo mais acelerado, os meninos pulavam e chamavam as centenas de directioners para dançar, mas ele permanecia imóvel, ele não se importava com a melodia e sim com a letra. estava estático, com uma mão segurando o microfone, a outra estava sobre seu peito, e seu pé direito era a única parte do corpo que se mexia, seu olhar me penetrava enquanto cantava cada palavra para mim.

But don't burn out
Mas não se queime
Even if you scream and shout
Mesmo se você gritar e berrar
It will come back to you
Isso vai voltar para você
Back to you
Voltar para você

Oh, I will, carry you over
Oh, vou te levar para longe
Fire and water for your love
Fogo e água para o seu amor
And I will hold you closer
E vou te abraçar mais perto
Hope your heart is strong enough
Espero que o seu coração seja forte o suficiente
When the night is coming down on you
Quando a noite estiver caindo sobre você
We will find a way through the dark
Nós vamos encontrar um caminho através da escuridão

And you don't need
E você não precisa
You don't need to worry
Você não precisa se preocupar
And you will see it's easy to be loved
E você vai ver que é fácil amar
I know you wanna be loved
Eu sei que você quer ser amada


A voz de naquela música estava contida, poderosa e enlouquecedoramente sexy, me despertando lembranças, e um desejo que reverberava em meu corpo. Eu queria fechar os olhos e absorver mais da melodia, da letra, do turbilhão de sensações que aquele momento estava me trazendo, mas os olhos de estavam conectados com os meus.

Oh, I will, carry you over
Oh, vou te levar para longe
Fire and water for your love
Fogo e água para o seu amor


Fui invadida por memórias boas, pelas lembranças dos sentimentos de amor e paz que compartilhei com ele, a definição literal para isso era saudade. E esse era o sentimento que eu mais temia sentir.

Oh, I will, carry you over
Oh, vou te levar para longe
Fire and water for your love
Fogo e água para o seu amor
And I will hold you closer
E vou te abraçar mais perto
Hope your heart is strong enough
Espero que o seu coração seja forte o suficiente
When the night is coming down on you
Quando a noite estiver caindo sobre você
We will find a way through the dark
Nós vamos encontrar um caminho através da escuridão


Então aqueles quase quatro minutos passaram e a música acabou, a bateria produziu uma explosão sonora, se virou e não olhou mais pra mim, o seu recado naquela noite já havia sido dado.


Quando o show acabou, precisamos esperar para que a multidão se dispersasse para termos acesso aos bastidores, depois iríamos a uma after party. Fomos guiados por vários seguranças a percorrer um caminho ao lado do palco, quando chegamos a uma sala, os meninos já haviam tomado banho e a adrenalina ainda não havia abandonado seus corpos. A razão da minha ansiedade em ir até os bastidores não estava lá, e ainda estava decidindo se aquilo havia me deixado feliz ou decepcionada. Contudo, eu estava tão orgulhosa de todos ali que logo me esqueci de .

Meu celular vibrou dentro da bolsa, Peter estava me ligando, mas chamada caiu, sabia que ele tentaria de novo e estava certa. Entrei na primeira porta que vi, e assim que ela bateu atrás de mim, os ruídos externos foram abafados e eu consegui ouvir a voz grave dele.

- Oi, Pet!
- To sentindo a sua falta. – Seu choramingo foi direto, me fazendo rir.
- Eu também estou. Como andam as coisas por ai? – Mexi no cabelo esperando sua resposta.
- Tudo escuro, você não está aqui para iluminar o meu dia. – Gargalhou do seu exagero sendo acompanhado por mim.
- Que drama, até parece meus amigos gays. - Ah, se tem uma pessoa que conhece meu lado hetero esse alguém é você. – Não pude deixar de continuar gargalhando. – Falando nisso, estou te ligando agora, porque achei no porta luvas do meu carro um conjunto de lingerie preta, e acho que é sua.
- Minha? Talvez eu tenha esquecido, espero que não se importe. – Mordi o lábio, enquanto percorria aquela sala, analisando uns troféus que tinham ali.
- O que você pretendia com isso, ? – Um barulho atrás de mim chamou minha atenção.
- Esqueci minha lingerie pra você não esquecer de mi... PUTA.QUE.PARIU! – estava parado do outro lado da sala, vestindo apenas uma calça jeans clara enquanto secava seu cabelo numa toalha vermelha.
- Oi, Estranha. – Um sorriso prepotente estampava o seu rosto, que se divertia com meu espanto.
- O que diabos você está fazendo aqui?!
- É o meu camarim, Estranha, eu que deveria está fazendo os questionamentos.
- ? Tá tudo bem? – Pet perguntava assustado do outro lado.
- Sim... Pet, eu posso te ligar depois? – Não esperei sua resposta e desliguei. – Resolveu me matar de susto agora? – Minha mão ainda estava sob o coração, tentando inutilmente normalizar seu compasso.
- Eu não fui homem pra você? – A insegurança dele me fez gargalhar, estava adorando saber que afetava em alguma coisa.
- Talvez. – Ele sempre odiou essa palavra e a minha intenção era torturá-lo.
- Eu tenho certeza que fui. – Sua segurança repentina também me fez gargalhar, mas dessa vez ele me acompanhou, estreitando os olhos e se aproximando de mim. – Basta um centeio para que você se queime. Basta um toque meu para que você se entregue.
- O que você está fazendo? – Meu sorriso já havia morrido ao ler o olhar selvagem que ele me lançava.
- Essa sua inocência não combina com você. – Senti minhas pernas baterem em algo e antes que meu cérebro processasse que ali era um sofá, eu já estava deitada nele com em cima de mim.
- Sai! Para com isso, ! – Comecei a esmurrar o peito dele, mas os beijos que ele estava me dando no pescoço, sua pélvis pressionando a minha e suas mãos segurando firme o meu cabelo me deixavam num estado de total entrega, e a única coisa que conseguia fazer naquele momento era respirar fundo e aproveitar os toques dele. – Melhor você parar.
- Eu cantei pra você. – Seus olhos profundos nos meus, suas palavras me congelaram. – Desde o momento que eu te vi, eu cantei pra você.
- Mentira.
- “And you will see it’s easy to be loved”. – Cantava próximo ao meu ouvido, enquanto distribuía beijos por meu rosto. – “I Know you wanna be loved”.

Joguei o meu pescoço para trás, dando-lhe total acesso, me perdendo naquele momento, onde o que eu mais queria era ser dele. Sua mão livre percorreu o interior da minha coxa, onde ele apertou me fazendo abrir mais as pernas, meu corpo parecia que ia explodir, e me mexi tentando recobrir a sanidade.

- Fique quieta, babe. – Não era uma ordem, era um pedido sôfrego.
- Não!Par... – Gemi quando sua mão atingiu o ponto certo por cima da minha calcinha, e quando a renda não era mais uma barreira, seu toque me roubou a voz.
- Parar é tudo o que você não quer. – Ele riu e assim que seus dentes prenderam meu lábio inferior, a voz de me gritando no corredor me muniu de coragem e eu chutei as bolas de , fugindo dali. – CARALHO, !
- Me desculpe. – O vi retorcendo de dor e percebi que havia exagerado. – Você está bem?
- Você pede desculpas agora? – Mesmo sentido dor, ele conseguiu rir da minha compaixão idiota.
- Não. – Arrumei minha roupa. – Eu ia fazer pior, você teve sorte que o me chamou.
- , no dia que eu ficar com você de novo e te lembrar o que é estar com um homem de verdade, você vai querer matar o por ter nos interrompido hoje.

Não tinha resposta para dar, e na falta delas direcionei o meu maior sorriso e meus dois dedos médios.

Londres – 09 de Novembro de 2015 – 04:04 pm.

estava parada há alguns minutos olhando minuciosamente cada página daquele portfólio, e sorria ao ver cada nova anotação ou foto ali. Eu andava em círculos esperando ansiosa por uma resposta, até que seus olhos ilegíveis me encararam.

- Isso aqui é...? – Me sentei novamente em sua frente e disparei a falar.
- Só um plano no qual venho trabalhando, sei que está incompleto, mas espero que você me ajude com isso. Pode parecer bobo e inconsequente, mas eu estou pronta.
- Não está incompleto. – Finalmente ela sorriu, e percebi que, como sempre, ela embarcaria de cabeça em minha loucura. – Há quanto tempo você vem fazendo isso?
- Desde que nos mudamos para Nova York? – O sorriso dela se alargou. No final das contas, eu não estive tão cética assim a respeito do meu futuro e dos meus projetos, talvez eu só tivesse medo, e ele estava sendo superado.
- Tem certeza disso?
- Sim.
- Então assim será.

Havia muita mudança em tudo e em todos. As paisagens não eram as mesmas, as músicas que faziam sucesso eram outras, mas de alguma maneira eu sentia como se a minha vida estivesse começando. Era tempo de travessia.O


Capítulo 10

"Now, is all we got, and time can’t be bought. I know it inside my heart, forever will, forever be ours. Even if we tried to forget, love will remember". Love Will Remember - Selena Gomez.




FLASHBACK ON:

Londres – 08 de novembro de 2008 – 10:02 am.

O contorno de seu queixo era quadrado, cada traço tão fácil de desenhar, minhas mãos, assim como a minha mente, já haviam decorado. Passei os dedos sobre os lábios, esfumaçando o grafite preto, e o desenho estava pronto. No entanto, eu não conseguia tirar os meus olhos dele, dormia tão calmo e sereno em meio aos meus lençóis coloridos, que era impossível desviar minha atenção.

- Não me encara assim. Você está planejando o meu assassinato? – Disse de repente me surpreendendo, ainda estava com os olhos fechados e expressão serena.
- Não estou encarando, estou contemplando. – Exagerei numa voz melodiosa e abriu os olhos.
- É assustador.
- Não, é compreensível. – Me deitei ao seu lado e distribui beijos por seu rosto, em cada pequeno detalhe dele.
- O que você fez com a minha ?
- Não existe “sua ”.
- Ai está ela. – Rimos e eu sentei em seu colo, estendendo os beijos para seu pescoço até a clavícula, provocando meu corpo no seu. – O que eu criei? – Sua voz já saia falha, suas mãos firmes em meu quadril me fazendo mexer sobre ele.
- Quer que eu saia? – Perguntei fazendo charme, e o beijo que ele me deu, roubando meu fôlego, foi sua resposta.
- Você fica tão gostosa com a minha camisa, mas eu prefiro você sem ela. – Mordeu o lóbulo da minha orelha, meu corpo já estava brando. – Prefiro você sem nada.

Ao tirar a peça, fiquei apenas de calcinha sob o olhar malicioso e examinador dele, mas eu não sentia vergonha, me sentia desejada. Mordi meu lábio inferior esperando a boca de tomar meu seio pra si, até a porta ser aberta rudemente.

- ! Acorda, nós cheg... PUTA QUE PARIU! – Eu e começamos a rir, parecia mais incomodado e tentava esconder o meu corpo.
- Bela performance, mas o está lá embaixo. – Cobriu os olhos, mas para aliviar a tensão de e saiu do quarto rindo.
- Que saco! – Ele disse nervoso, mas eu não conseguia parar de rir. – Da pra parar?
- Ah Estranho, relaxa. – Mordi de leve o seu lábio inferior e sai de seu colo. – Vou tomar um banho e nós podemos descer e dizer que você dormiu no quarto de .
- Não. – Ele olhou para o relógio e pareceu ter se lembrado de um mundo lá fora. – Estou atrasado e preciso ir. Melhor sair sem me ver, assim nós evitamos qualquer pergunta.
- Atrasado pra que? – Involuntariamente minhas mãos foram parar em minha cintura, e eu ergui uma sobrancelha.
- Está tirando satisfações? – Rebateu, sabendo que meu orgulho não permitiria questionar novamente. – Só vou sair com a minha mãe. À noite nos falamos?

Concordei com a cabeça e ele beijou de leve minha boca e se foi. Precisei tomar um longo banho gelado tentando tirar de mim um sentimento novo: Insegurança.

Desci e encontrei na sala, numa conversa acalorada pelo celular. Revirei os olhos para sua burrice, mas não disse nada e fui ao encontro de na sala de mídia. O Som de uma música dos Ramones reverberou assim que eu empurrei a grande porta. estava sentado no sofá, fumando narguilé, e como sempre seu sorriso aqueceu toda tensão de minutos atrás.

- Oi, Sherek!
- Fiona. – Me puxou, fazendo montar em seu colo, e antes de sequer pensar, sua mão estava presa na minha nuca e sua boca colada a minha.

O beijo e o toque de havia se tornado simples demais, não me causava efeitos, o de agora era menos intimo do que o da noite anterior, e eu sabia que aquilo só aumentaria com o passar do tempo, com o passar do meu tempo com .

- Assim fica difícil de conviver com você, .

estava parado na porta, mais uma vez, mesma expressão, outro personagem comigo, nenhuma entrega da minha parte. Estava tão absorta daquela cena que nem havia reparado na mão de dentro da minha blusa, e pulei de seu colo assim que notei.

- Podia ter continuado na sua ligação para Lily. – disse em tom de brincadeira, voltando a fumar.

Troquei o mesmo olhar com . Julgamento. Ambos sendo burros, só agora havia me dado conta.

- Hoje o dia vai ser de chuva, então vamos beber?

Eu e acedemos, e abrimos a primeira garrafa de vinho que eles já haviam pegado da adega do meu pai. Na terceira ou quarta garrafa – não estava mais contando ou usando taças – se deitou ao meu lado no tapete felpudo e macio que havia ali, enquanto eu já ria de qualquer besteira.

- Os outros meninos avisaram que não conseguirão chegar com essa chuva, mas simplesmente desapareceu.
- Será que está bem?
- Segundo a mãe dele, sim. – mentiu pra mim. – E o não é do tipo que se mete em confusões.
- Ele é um cara legal.
- É sim, especialmente com garotas.
- O que você que dizer? – Não consegui esconder minha curiosidade.
- Ele é passional, sempre namora sério, é “gay” e responsável, as garotas devem gostar disso.
- Ele sempre namorou sério?
- Ele teve algumas namoradas. – Mordi o lábio tentando me conter, mas foi impossível.
- E o que aconteceu com elas?
- A última ficou em Wolverhampton.

Aquele capítulo novo na historia não me fez bem. Quem eram essas ex namoradas? me pareceu bastante experiente em diversos aspectos, mas o que me deixou enciumada era o fato dele ser experiente em relacionamentos. Será que ele já se apaixonou como provavelmente estava por mim? Eu seria apenas mais uma na vida dele? Um caso de amor naquela nova vida?

- Qual seu interesse na vida amorosa do ? – Meus pensamentos me levaram para longe e eu demorei a raciocinar a pergunta de . – ?
- Não estou.
- Essa tempestade não vai passar, então acho digno a gente beber algo mais forte. – apareceu com uma garrafa de vodca na mão, mas a minha felicidade provinha da mudança de assunto.
- Acho digníssimo.
- Prefiro beber mais vinho. – era aficionado em vinhos, e eu concordava um pouco com os meninos quando o zoavam dizendo que sua predileção era por ser gay.
- Continua com sua bebida de mulher, que eu e a nos acertamos com esse lindo aqui. – beijou a garrafa, sem se importar com o dedo médio que mostrava para ele, me levantei para pegar uns copos.

Alguns minutos, ou horas, depois, eu estava mais falante do que nunca enquanto dançava uma música indie que havia escolhido. Sem pensar muito bem em nada específico me voltei para e, mesmo sendo uma acusação, meu tom estava debochado.

- Você é um babaca.
- De onde veio isso? – Dei de ombros. parou e me encarou. – Eu não aguento mais.

Tudo mudou. desligou o som e se sentou, recostando seus cotovelos sobre as pernas e mantendo seu rosto entre suas mãos.

- Cara, a só estava brincando. – tentou retomar o clima descontraído de poucos instantes, mas aquele desabafo era necessário.
- Olha pra mim, . – Ele não me obedeceu e então tentei soar mais fria, quando que me agachei em sua frente, finalmente recebi seu olhar. – Por que você está insistindo nessa palhaçada com a Lily?
- ... – começou a me repreender, mas eu o ignorei.
- Por que quero de volta.
- Isso não faz sentido.
- Eu to confuso, me afastou da vida dela, tudo bem que eu ferrei tudo e continuo fazendo isso, mas eu não sei mais o que fazer, e preciso saber se ela ainda se importa.
- , mesmo se você e a não voltarem, a resposta não está em ficar com uma garota como a Lily, você merece mais.
- Você também merece, . – Nós dois sabíamos o que aquilo significava, mas tinha uma terceira pessoa naquela sala, e ela desconhecia tais fatos.
- Eu sei, eu e o Brad estaremos juntos no dia do seu casamento com a .
- Que Brad? – perguntou.
- O Pitt. – Reviraram os olhos e entrou na brincadeira.
- Vou me casar com a cheryl Cole.


FLASHBACK OFF.

Londres – 14 de novembro de 2015 – 09:12 am.

Desci do carro de Andrew a tempo de ouvir o discurso chato que dava sobre como eu sempre me atrasava e arruinava tudo.

- Cheguei! Desculpem o atraso. – Ignorei a reclamação de todos ali por terem me esperado por alguns minutos e me virei para . – Posso ir com você?

Minha pergunta assustou a todos, mas eu estava cansada de me esconder, iria começar a lutar contra os meus monstros, e aquele seria o primeiro passo. Ele permitiu com a voz um tanto falha escondida por seu sarcasmo.

- Eu vou com meus padrinhos. – Jazzy pediu e fomos colocar a cadeirinha dela no carro de . Adorei saber que ela ia conosco, me sentia mais segura sabendo que não iria fraquejar caso tentasse mudar o rumo de nossa conversa, por que eu sei que ele iria.

Eu havia passado a noite com Andrew e não havia dormido nada. Nada também foi o que aconteceu entre nós dois, diferente do que , que parecia muito irritado, estava pensado, aumentando o meu ego a ponto de arrebitar o nariz algumas vezes.

- Então... – iniciou a conversa assim que pegamos a rodovia. Jazzy havia entrado num sono profundo em apenas dezenove minutos de viagem, logo depois que liguei o som. Respirei fundo e optei por falar de uma vez.
- Eu acho que deveríamos manter civilidade. – Ele estreitou os olhos para mim e eu logo acrescentei. – Ao menos por esse fim de semana.
- Por que voltou, ? – A pergunta me pegou completamente de surpresa.
- Como assim?
- Por que está aqui?
- Pelo casamento. – Abriu um sorriso zombador.
- E agora você quer paz? – Me olhou de canto de olho, mantendo a porcaria do sorriso que estava me irritando tanto, a ponto de criar imagens de atos cruéis contra sua integridade física.
- Sim.
- Você não parecia se importar com nada nos últimos anos.

Ali estava o nosso maior embate. Enquanto eu travava uma verdadeira batalha diária para seguir em frente e tentar ao menos não surtar, adorava fazer o inverso. Abusava de todo direito que achava ter sobre os fatos que acreditava serem verdadeiros, bagunçando ainda mais minha mente, me magoando ainda mais.

- Vamos estabelecer algumas regras, ok?
- Não vou acatar suas ordens.
- Será benéfico para nós dois, pode me ouvir? – Fez um gesto de desdenho com a mão, indicando que eu poderia falar. Ignorei sua falta de educação, mantive guardado o meu orgulho e continuei. – Isso é sobre e , então vamos tentar nos divertir sem dramas. – Ele forçou uma risada para me provocar.
- É impossível! Você é a rainha do drama.
- , por favor.
- OK, Estranha. – Voltou sua atenção a estrada enquanto fingia que prendia o riso. Patético.
- Ah, e para de me chamar de Estranha.
- Concordo em não falar do passado, mas continuarei te chamando de Estranha. – Revirei os olhos e não discutiria sobre aquilo. Seria um avanço não carregar os dramas de uma vida pelos próximos dias e eu me empenharia em tentar esquecer tudo. Tinha deixado meus problemas em Londres. – Só isso?
- Quer acrescentar alguma coisa?
- Você quis fazer uma viagem comigo de duas horas e meia, só para me propor isso?
- Não achei que você fosse aceitar tão bem.
- Confessa que você não quer mais ficar longe de mim. – Ele segurou a minha mão e começou a passar o polegar tão suavemente que me deixou... Excitada? Qual era o meu problema? E por que eu não tentei afastar? – Você também está sentindo isso. – Afirmou e levou minha mão a sua boca, beijando todos os nós dos meus dedos.

Depois da nossa conversa cheia de pudores e respeito forçado, por termos uma criança nos acompanhando, o clima entre eu e mudou drasticamente e aquele silêncio estava impregnado de excitação. Ele achava que eu não sentia o peso do seu olhar de canto sobre mim enquanto fingia prestar atenção na estrada, Jazzy continuava dormido, piorando ainda mais a nossa situação, e eu tenho certeza que se ela não estivesse no carro, já teríamos parado e resolvido toda aquela tensão sexual que nutríamos.

- Para com isso.
- Não trave uma batalha com seu corpo, Estranha, você sabe que irá perder. – Vislumbrei sua presunção.
- Numa batalha desse nível, você sabe que ganho fácil. – Reagi me levantando um pouco até chegar próximo ao pescoço dele, onde passei os dentes no sinal que havia ali. Não tinha nada a ver com a guerra que estávamos mantendo e sim com minha necessidade. A maneira como seu corpo se arrepiou ao meu toque e como ele mordeu o lábio inferior, assim como eu estava fazendo, era sinal que se ambos entrassem no campo de batalha, iríamos perder, e o pior de tudo, iríamos apreciar a derrota.

Não posso dizer quando o jogo mudou, ou como permiti isso, nem como o passado parecia bobagem perto da luxúria que me queimava quando estava perto dele, mas se as regras mudaram, estava pronta para me adequar a elas. Saber que me queria me fazia querer ser dele ainda mais, mesmo racionalmente me impondo a isso jamais acontecer, algo dentro de mim zombava e afirmava que à nossa hora estava próxima.

Baildon – 14 de novembro de 2015 – 12:04 pm.

O hotel que estávamos era maior do que a própria cidade, que parecia estar toda reunida aos arredores, esperando um momento para tirar uma foto ou desejar felicidades ao casal. A mansão histórica era rodeada por jardins paisagísticos, que lembravam um dos castelos do país de Gales. O campo de golfe e os lagos que o rodeavam eram ofuscados pela mau tempo, que só piorava.

Fomos recepcionados pelos funcionários do hotel e Gary, o cerimonialista mais irritadiço e fresco que já tinha conhecido. O restante dos poucos convidados ainda não havia chegado, e eu só pensava em dormir, subi para meu quarto com o lembrete do jantar do ensaio.

Nem a fome foi capaz de me acordar, mas as inúmeras ligações de e foram. Depois de muita tentativa, consegui levar o meu corpo para o banheiro e tomei um banho, fiz uma maquiagem leve, arrumei o meu cabelo, mas três batidas na porta e a voz dele chamando o meu nome bastaram para meu coração afundar. Se já era patética minhas reações perto dele nos últimos dias, naquele momento eu estava um caos.

Usei do meu cinismo e vesti o meu melhor sorriso, esperando que a pequena toalha que cobria o meu corpo fosse o suficiente para desviar sua atenção. Seu olhar de surpresa percorreu o meu corpo, seu sorriso ficou nervoso e contido. Eu havia conseguido!

- É...
- Pode entrar, . – Saí da frente e ele olhou para os lados considerando meu convite, até que seu rosto voltou a adotar o sorriso cafajeste e assim o badboy charmoso estava de volta.
- Já vi que o hábito de se atrasar não mudou.
- O seu de se incomodar com isso também não.
- Não. – Ele deu de ombros, os olhos agora fixos no meu lábio inferior preso entre meus dentes. – Qualquer coisa, vindo de você, pra mim é nada. – Sua hostilidade me fez rir, estávamos indo na direção certa. estava parado no meio do quarto agora, evitando a todo custo olhar pra mim. Parecia estar com sede, e as mãos mantidas dentro dos bolsos estavam agitadas. Ele havia parado de jogar, eu iria avançar, usando a minha melhor arma. – O ensaio começa em dez minutos.

E não demorou para tudo mudar, como se tivéssemos embarcado numa cápsula do tempo. estava receoso com as minhas atitudes e eu completamente audaciosa.

- Só vou me vestir, você pode me esperar? Não quero chegar lá sozinha.
- Acho melhor fazer isso lá fora. – Antes mesmo que seus pés acompanhassem as intenções de sua mente, eu o impedi.
- Por favor, . Não a nada aqui que você já não tenha visto. – Disse numa falsa displicência e naturalidade, me virei deixando a toalha cair e fazer um círculo nos meus pés. Caminhei despreocupada até o vestido vermelho que estava alinhado sobre uma poltrona, tinha um decote generoso, dispensava sutiã. Não ousei olhar para , mas estava torcendo infantilmente para que ele ainda me desejasse, e pode ter sido por isso que senti seus olhos me queimarem.
- Não vai vestir a calcinha? – Assim que o vestido estava em meu corpo, engoliu o seu orgulho e com todo esforço me fez essa pergunta, aumentando ainda mais o meu ego.
- Vou, mas é a última peça.

Calcei os saltos, analisei calmamente a maquiagem e por último segurei duas calcinhas entre os meus dedos. Ambas pequenas e de renda, diferentes na cor, branca e roxa. A decisão seria de .

Todos já estavam num salão pequeno do hotel, onde os votos seriam trocados. A maior parte dos presentes era da grande família de . Saí cumprimentando cada primo, tia e pessoas que falavam comigo como se me conhecessem, mas sinceramente eu não me lembrava de quase ninguém.

Fui apresentada a uma amiga de , que também iria ser sua madrinha. Ela tinha um estilo roqueiro, varias tatuagens espalhadas pelo corpo, e um cabelo loiro com as pontas pintadas de roxo. Laura e o namorado trabalhavam para banda desde a primeira turnê, faziam parte da família, aquela que eu não fazia. Senti ciúmes dela, mas estava agradecida por ela ter cuidado tão bem de enquanto estive longe.

Ela era simpática e com pouco tempo de conversa descobrir que estava grávida de três meses, segundo filho, imaginei o tamanho da sorte dela. Sua primeira filha era um pouco maior do que Jazzy, e era uma graça.

Depois de entrarmos no salão umas dez vezes, e pararmos exatamente no lugar estabelecido pelo histérico Gary, o ensaio finalmente haviam acabado, e todos nós fomos jantar.

A irmã mais velha de , Misha, estava grávida de nove meses, com risco de o bebê nascer a qualquer instante, por isso ela não quis ser dama de honra, mas todos nós sabíamos que ela não queria ser destaque com aquele barrigão enorme. Então, além de mim, e Laura, Leigh, irmã mais nova de , assumiu seu posto, empolgando ainda mais , que estava caído por ela. a principio ficou chateada, eu sendo ela agradeceria pelo bom senso de não poluir as fotografias.

- Admirando a grávida?
- Ela está...
- Assustadora? – Confirmei com a cabeça ouvindo a gargalhada de em seguida. - A Misha era uma gostosa, agora só tenho pena do marido dela.
- Como ela se permitiu isso? – Meus olhos estavam presos no desleixo da mulher a minha frente, muitos quilos acima do peso, cabelo e pele sem nenhum tipo de cuidado.
- Cuidado, Estranha, você pode ficar assim quando engravidar. – e suas piadas impertinentes chegaram para me atormentar. Levei um soco no estômago. O mundo parecia estar gerando pessoas, não que isso não acontecesse, mas não com tanta frequência perto de mim. Como ficaria se pudesse? Radiante e linda como Elena e Laura, ou me entregaria à falta de vaidade como Misha? Eu tinha que parar de me fazer perguntas que não teria respostas.

- É impossível deixar de ser gostosa, especialmente quando eu serei o marido dela e vou colocar ela pra fazer bastante exercício. – A malicia estava presente em cada palavra que disse, mas eu sabia que ele estava me salvando, mais uma vez, então sibilei um "obrigada", vendo o piscar para mim e começar um papo com enquanto eu me afastava.

Pouco tempo depois do jantar ser servido, só os mais novos ficaram. Iríamos pra uma balada, mas fomos pegos pelo desanimo de uma chuva forte que caia. Então, só sentamos num lounge e bebemos.

- Sabe o que podíamos fazer agora? – disse por cima do barulho de várias conversas paralelas, recebendo a atenção da maioria.
- Sexo? – comentou casualmente.
- Não. – Fingiu estar afetada, mas ela estava flertando com ele. – Vamos tomar banho de chuva.
- Enlouqueceu? Deve ta fazendo uns três graus lá fora.
- Desde quando o tempo nos impediu de algo, ?

Todos acharam a ideia genial e se levantaram, retirando os sapatos, eu continuei tomando meu vinho tranquilamente.

- Vamos. – Todos insistiram, mas eu realmente não queria.
- Eu não vou.
- Para de ser chata, . – tentou me puxar, mas eu resistir.
- Sério, vão vocês.

E eles foram. Me sentei numa cadeira, abracei os meus joelhos e os observei brincar na chuva como um bando de crianças. Pulando em poças, chutando a água no outro ou só abrindo os braços e recebendo a água que caía fortemente do céu.
Por que eu não conseguia me mexer?

- Por que não foi lá? – sentou ao meu lado com um cigarro aceso entre os lábios.
- Não estou no clima, qual a sua desculpa?
- A regra.
- Regra?
- Se você não se molha, eu não me molho. – Nem se quisesse conseguiria não sorrir. – Você não me parecia tão introspectiva nas fotos.
- Quais fotos?
- As que estampavam notícias sobre você.
- Você lia?
- Todas. – Não perguntei o porquê de sua revelação, e ele também não disse.
- Sair e me relacionar faz parte do meu trabalho, você sabe como funciona. – concordou. – Uma das partes ruins de estar realizando nosso sonho.
- Seu sonho? – Ele riu, confuso e desacreditado.
- Firmar o meu nome no mundo da moda. – Pareci segura, mas me olhava como se estivesse louca, sabia o motivo, mas ele não. Ele não sabia como meu sonho havia chegado ao fim.
- Mas o seu maior sonho não era...
- , por favor, sem falar do passado, lembra? – Apenas concordou e depois de respirar fundo eu voltei a falar. Não queria deixar o silêncio criar lacunas ou estragar aquele momento. – Eu não sou mais aquela garota de dezessete anos que sentava e sonhava. Minha vida agora é prática! Eu quero, eu batalho e não desisto até conseguir.

Havia uma necessidade estampada em sua cara de entender melhor o que eu estava dizendo, mas ele se conteve e enfim encerramos o assunto.

- Até voltarmos para Londres e ficarão. – Olhei para mesma direção que , e vi girando , para eles estava sendo fácil, pra mim eram afortunados.
- Aposto que acontece antes do bolo ser cortado. – Roubei o cigarro de e dei uma tragada.
- 50 libras. – Estendeu a mão direita para mim.
- Para de ser mesquinho.
- O que sugere? – Parei pra pensar e abri um sorriso do gato da Alice.
- Você sendo meu escravo por um dia.
- O mesmo vai valer pra mim?
- Claro.
- Apostado. – Enfim apertamos as mãos e então ele me puxou, quando ia me beijando o impedi.
- O que você está fazendo?
- Selando o acordo. – Começou a rir sendo acompanhado por mim, o empurrei.
- Babaca.
- Linda. – Revirei os olhos e joguei fora o resto do cigarro, bebi mais um gole do vinho.
- Pensando melhor, como vamos saber se eles ficarem?
- vai te contar. – Disse a ele.
- Mais fácil a te contar. – Rir e neguei com a cabeça.
- Ela não vai.
- Por que?
- Ela sabe que não concordaria com sua fraqueza. – Consternei o óbvio, durante todos aqueles anos ao lado de , havia começado a pensar um pouco como ela.
- Fraqueza? – Debochou.
- É.
- As coisas mudam, , a pessoas também. – Se exaltou.
- Mas as feridas permanecem. – Aquela conversa havia se tornado nossa.
- A vontade de perdoar também. – Apenas concordei, querendo desesperadamente que ele mudasse de assunto.
- Topa sair daqui e encher a cara? – A pergunta foi o rompante que eu tanto esperava.
- Ta querendo me embebedar, ?
- Nunca precisei disso, Estranha.
- Até por que eu sempre fiz todo o trabalho. – Pisquei pra ele, que riu. Voltamos às sutilezas.

FLASHBACK ON:

Londres – 10 de novembro de 2008 – 06:20 pm.

Havia chegado do colégio há algumas horas. não havia ido, também não havia dado noticias desde o sábado pela manhã, me fazendo checar o tempo inteiro o meu celular. O engraçado é que no instante em que eu me distrai e consegui esquecer ele um pouco e prestar atenção num reality show na TV, o meu celular tocou. Disse poucas palavras, nenhuma explicação, queria ter recusado seu convite, mas eu já não era tão forte quando se tratava de .

Descemos do carro e corremos até estarmos abrigados sob a varanda da casa do avô de . Não sabia por que estávamos ali, parecia nervoso, então não conversamos muito durante o trajeto. Ele estendeu sua mão pra mim, e diferente da primeira vez, eu aceitei e adentrei a casa, me surpreendendo completamente.

Os móveis da sala estavam afastados, dando espaço apenas para um tapete coberto por almofadas, a iluminação da casa vinha de velas espalhadas por toda a parte. Os braços de envolveram a minha cintura e seu queixo foi apoiado em meu ombro, fechei os olhos sentindo sua respiração ricochetear meu rosto.

- Gostou, babe?
- Mais do isso, eu adorei, Estranho.
- Preparei isso aqui para o final de semana, mas acabamos brigando. – Me virei para ele e o beijei, não queria discutir ou questionar nada. O momento não durou muito, ele mordeu o meu lábio e finalizou o beijo. – Quer beber alguma coisa?

Aceitei, mas estava perdido, não estava naquela casa comigo. Voltou com um copo de vidro com alguma bebida que não identifiquei até provar e descobri que era vodca com energético. Meu indicador contornou a borda do copo algumas vezes enquanto eu e nos encarávamos, levei minha mão por seu rosto e seu cabelo, fazendo-o fechar os olhos para absorver meu carinho.

- , está tudo bem?
- Sim. – Sussurrou, mantendo a preocupação evidente em seu rosto. Olhei através da porta de vidro as gotas grossas de água caindo do céu, agora mais forte, e o chamei pzra tomar banho de chuva.
- Vem, , para de ser bobo. – Corri entre a grama mal cuidada, levantei os braços, deixando que a chuva me abraçasse.
- Não. – Disse rindo, me olhando da varanda.
- Se eu me molho, você se molha, essa é a regra.
- Não conheço essa regra.
- Vem. – Fiz manha. – A chuva tem o poder de lavar qualquer problema. – E eu esperava que os dele fossem ao menos aliviados por aquele breve instante. Eu queria ajudar , mesmo sem saber no que.
- Não vou. – Não havia mais tanta resistência em sua voz, ele só queria que eu insistisse mais. Mesmo distante estendi a mão para ele, que correu até mim, reclamando do frio.
- Você é doida. – Um sorriso sincero partiu dele e me derreti.
- Estranho, a gente tem que aproveitar a vida, cada momento dela. – Coloquei meus braços em volta do seu pescoço. – Fazer loucuras às vezes, ou sempre.
- Mas... – Dei um selinho nele, o impedindo de continuar e disse contra seus lábios.
- Me promete?
- O que?
- Repete comigo. – Ele realmente me achava louca naquele momento, mas resolveu concordar. – Eu, diante dessa chuva e da garota mais linda do mundo, prometo que irei cometer loucuras sempre.
- Convencida. – O repreendi com o olhar e ele riu. – Eu prometo que...
- Diante desta chuva e...
- Diante desta chuva e da garota... – Não dizia para me provocar, mas naquela altura eu já ria junto com ele.
- Fala, Estranho.
- Eu prometo diante dessa chuva e da garota mais linda, linda e linda do mundo, que irei cometer loucuras sempre.
- Agora você me beija e nós selamos a promessa. – E assim ele fez. Não sentia frio, só sentia o calor dele. – Já percebeu que a gente sempre acaba dançando?

Recostei minha cabeça em seu peito e nos movimentávamos, embalados no barulho da chuva, ou das nossas respirações descompassadas quando ficávamos tão perto um do outro.

- Mesmo sem eu saber dançar.
- Você sabe sim. – Nós dois rimos da minha mentira. – Tudo bem que você sempre treme, mas faz parte do seu charme.


FLASHBACK OFF.

Encontramos um pub bem pequeno e resolvemos entrar. Ele tinha paredes pintadas de um amarelo forte, com vários quadros de artistas de rock ou propagandas de bebidas espalhadas. Logo na entrada de frente ao enorme balcão havia duas mesas de sinuca e mais ao fundo um palco pequeno e uma pista de dança.

Não conseguia contar quantas cervejas havia tomado até ali, nem me lembrava de quando tinha sido a última vez em que me divertia tanto com . Ninguém quis enfrentar a chuva e ir até um pub da cidade, então aquilo poderia parecer um encontro, mas repetia para mim o tempo inteiro que não era.

- Acho melhor pararmos de beber.
- Para de ser chato. – Dei um tapa leve em seu ombro. – O me disse que agora você bebe por todo mundo.
- Mas...
- Por Deus, ! – Levantei os braços exagerando minha frustração. – Você estava tão legal bancando o irresponsável, do que tem medo?
- Não posso beber muito com você, não quero acordar casado no dia seguinte. – Abri meu maior sorriso e acompanhei a gargalhada de .
- Esse é o espírito, ! – Olhei para mesa de bilhar e vi que finalmente uma estava vazia. – Vamos jogar?
- Vou adorar vencer de você. – Ele se levantou e estendeu a mão pra mim. Coloquei a minha mão sobre a perna e desci do banco.
- Seu vestido é muito curto, estive vendo sua calcinha o tempo inteiro. – Provocou. - Eu adoro ela, porque é roxa. – Rebati. - Ah, eu odeio essa música. – Disse assim que colocaram uma música do Aerosmith pra tocar.
- Você costumava adorá-la. – Dei de ombros.
- Você não acha isso esquisito?
- Sempre achei você bipolar. – Começou a arrumar as bolas na mesa para podermos jogar.
- Como a música pode ser algo tão pessoal. Você escuta aquela música todo dia, até que por um momento, alguém toma posse dela e aquela letra ou melodia não pertence mais a você, não é mais rotineira, ela é do outro, de quem compartilhou com você aquele momento insignificante no passado, mas cheio de importância no presente. – gargalhou e eu mostrei a língua para ele.
- Como você conseguiu nunca ouvir uma música nossa? – Se debruçou dando a primeira tacada e espalhando as bolas sobre a mesa de feltro verde.
- Eu já ouvi, mas não prestava atenção, me concentrava em qualquer outra coisa. – Riu. – Era uma tortura ir para casa do Peter.
- Ele é nosso fã? – Antes de responder analisei minhas opções, mas meus reflexos comprometidos pela bebida me fizeram errar vergonhosamente.
- Não, mas ele tem a guarda da sobrinha de treze anos e ela era viciada na banda, então era forçada a ouvir vocês ou histórias sobre vocês, principalmente “do ”. – Imitei a forma apaixonada que ela citava o nome dele, mas como não entendeu, prossegui, agora exagerando a lamúria. – Para minha infelicidade, ela era Mrs. ou girl, sei lá como elas dizem.
- Eu sou maravilhoso. – Revirei os olhos, mas na verdade estava me divertindo, ambos estávamos.
- Tentei manchar sua imagem contando e até inventando histórias constrangedoras, mas não funcionou.
- O destino é mesmo foda, não deixou você se afastar de mim.
- Você ainda acredita nessa coisa de destino. – Debochei.
- Sim, só vou esperando um dia de cada vez e mesmo distante ou perdido a gente sempre acaba voltando para o nosso lar. – Balancei a cabeça negativamente e ele continuou. – O mundo é pequeno, afinal.

Passamos a noite jogando, e se provocando, o calendário na parede parecia estar escrito 2008, e era boa a sensação de não ser abraçada por nenhuma mágoa. As cervejas foram substituídas por doses e mais doses de tequila, e quando nenhum dos dois conseguia dar uma tacada digna, decidimos que estava na hora de ir embora.

- Você podia ser divertido sempre. – Levei um tropeço ao sair do elevador e só não cai no chão graças as mãos de envoltas na minha cintura.
- Eu sou. – Ele ainda estava rindo enquanto tentava passar o cartão na porta do meu quarto.
- Mas não comigo. – Continou sorrindo, mas algo na expressão de mudou.

Entramos em silêncio, e quando eu afirmei que estava bem, ouvi ele tirar algo do lugar mais profundo de si.

- Por que você voltou?
- Pelo casamento e...
- Para de mentir! – parecia bravo, o quarto menor, tudo estava se desentoando.
- Não é como se você se importasse. – Recostei meu corpo na parede mais próxima e tentei manter uma postura, não podia fraquejar. Nunca.
- Não fui eu quem resolveu abandonar tudo e todos. – Agora ele estava sorrindo? – Seus amigos precisaram de você, e onde você estava? Curtindo em um país diferente, vivendo uma vida de socialite mimada e burra.
- Você estraga tudo! Achei que fossemos nos divertir, mas você não consegue! – Empurrei meu indicador o mais forte que consegui no peito dele, queria fazer mais, aparentemente ele não estava nem um pouco incomodado.
- Eu não consigo? Não sou eu que nem conseguia escutar a música de um ex namorado.

As acusações tinham começado, mas eu estava tonta e enjoada o suficiente para acompanhar ou me defender.

- Você não sabe o que eu perdi, eu... – Tudo estava ficando escuro.
- Me fala o que você perdeu? O que você perdeu que eu não tenha perdido também?!

Não sei se respondi, me lembro de ter formulado a frase na minha mente, eu finalmente contaria tudo a e compartilharia de toda a desgraça da minha vida. Mas eu consegui?

Meu cabelo era segurado com delicadeza enquanto eu me debruçava sobre o sanitário de porcelana e despejava tudo de ruim que incomodava meu estômago. Depois senti meu corpo ser depositado sobre uma superfície macia enquanto um braço rodeava a minha cintura. Tudo continuava escuro, agora a minha mente também. A última coisa da qual me lembro foi de perguntar o porque de ter me destruído.

Baildon – 15 de novembro de 2015 – 01:59 pm.

- O que está fazendo aqui? – A simples menção ao nome de , e a dúvida sobre o que de fato eu havia dito e acontecido na última noite me deixaram em estado de alerta. Me virei e vi que Gary mantinha suas mãos na cintura e peito estufado, era até engraçado, mas ainda assim fazia se sentir um intruso.

Havia uma confusão de mulheres se arrumando e conversando mais do que um ouvido humano pudesse suportar, mas meus olhos estavam mantidos em . Ele estava mais lindo do que imaginei que ficaria com aquele terno preto. A barba estava feita, deixando ele ainda mais parecido com àquele que um dia foi meu. Investiguei sua postura e expressão, estava vibrante, até um tanto incerto, mas definitivamente ele não conhecia a minha verdade, isso estava mais do que evidente, e agora eu estava mais do que aliviada.

- Tenho um presente para noiva.
- Está tudo bem, Gary! – apareceu acalmando e tentando ver o que ele trazia consigo. – O que é?
- Surpresa para , mais um gesto gay do . – Revirou os olhos e riu, até perceber que aquela frase piorou a situação dele com Gary. – Onde ela está?

Ao procurá-la ele me viu, desconfiava que já tivesse visto, mas só agora ele estava sorrindo para mim, enquanto caminhava em minha direção e na de , que estava sentada terminando de se maquiar.

- Vocês estão muito bonitas. – Disse cortês se referindo a mim e as outras madrinhas, então colocou as mãos nos ombros de e a encarou pelo espelho. – Mas , você sem dúvidas é a noiva mais linda que eu já vi. – As bochechas dela ruborizaram de um jeito adorável.
- Você acha que o vai gostar?
- Acho que quando ele te ver, irá desistir de fugir.
- Então existe essa possibilidade de ser deixada no altar? – Deu de ombros rindo. – Você sempre me tranquiliza, .
- Estou aqui pra isso. – fez um bico, assim como Jazzy fazia, e sorriu ainda mais. – Também vim até aqui te entregar isso. – Estendeu para ela uma caixa azul marinho de veludo, com um laço delicado e dourado em cima.

se levantou animada e desfez o laço sem o menor cuidado, vendo um medalhão de ouro reluzir, ela o abriu e viu que tinha uma foto dela e outra de Jazzy com uma inscrição atrás. "My World" e começou a chorar, recebendo reclamação do maquiador, que teria que refazer seu trabalho. colocou no pescoço dela, e sussurrou algo que a fez chorar mais, em meio ao abraço acalorado e fraterno que eles trocaram.

- Essa chuva não passa, está dando tudo errado. – não se encaixava no perfil de noivas surtadas e controladoras, mas até mesmo as mais tranquilas acabavam ficando nervosas instantes antes da cerimônia. Me aproximei dos dois e tentei tranquilizar ela.

- É o dia do seu casamento, não importa o tempo ou qualquer bobagem, esse já um dia maravilhoso.

Gary nos avisou que estava na hora, e assim como eu, ela puxou todo o ar dos pulmões e o soltou lentamente.

- , eu vou me casar. – Disse baixinho, os olhos grande e brilhantes expressavam o tamanho de sua felicidade.
- E está a noiva mais linda que já vi, mas se chorar de novo vai estragar a maquiagem. – Segurei seu rosto e tentei secar algumas lágrimas.
- Desculpa.
- Tudo bem. – Sorri para ela. – Você vai se casar, . – Foi a minha vez de repetir aquilo, externando ainda mais as emoções daquele momento.
- Eu te amo, obrigada por estar aqui, eu sei o quanto foi difícil.
- Não há lugar no mundo onde eu gostaria de estar a não ser aqui ao seu lado. Eu te amo.
- Eu te amo, .

Ouvimos a gargalhada de e percebemos que o motivo era Jazzy, que não parava de girar em seu vestido.

- Jazzy querida, não corre. Vai sujar todo o vestido. – Pedi pela décima primeira vez, mas era quase impossível controlá-la. Quem estava surtando naquele momento era eu. Queria que tudo estivesse perfeito, que os vestidos que eu havia costurado dolorosamente a mão estivessem impecáveis, até que eu vejo Leigh sentada, feliz, deslumbrante num Meant To Be original, e...

- NÃO! O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – Gritei e Leigh me olhou assustada, enquanto Jazzy voltava a correr, me deixando ainda mais aturdida.
- Eu só estava... – Antes mesmo dela se justificar, eu arranquei aquela maçã de sua mão.
- Nada de comer usando o meu vestido. – Alinhei o corpo dela na cadeira. – E sentada errada você está amassando ele.

Eu sabia que estava exagerando, mas não podia evitar. Estive fora por tempo suficiente para achar que teria que reconquistar meu posto de melhor amiga para .

- É bom ver que a fama e o sucesso não a mudaram. – debochou em sua conversa nem um pouco silenciosa com .
- Não mesmo. Você precisa ver como ela age antes dos desfiles.
- Não falem como se eu não estivesse aqui, meus dias já são estressantes o suficiente.
- Claro que são. – me provocou. – Tenho certeza que você não encontrou nenhum americano bom o suficiente para tirar seu estresse como eu fazia.
- Você acha mesmo que sabe fazer massagens, ?
- Pare de se fazer de boba, você sabe do que eu estou falando. – E ele diria com todo o prazer e riqueza de detalhes, se não fosse a presença de uma criança ali. – E você nunca gostou de massagem.
- As coisas podem ter mudado.
- Mas o jeito que você gosta que eu te pegue não mudou, Estranha.
- Como você pegava ela, Dindo? – A pergunta de Jazzy me deixou constrangida e fez os outros rirem, inclusive .
- Bem assim, princesa.

segurou minha cintura e começou a me girar, sob os meus protestos de que meu vestido estragaria, mas eu estava gargalhando. Um ato simples e natural. A vida tinha me dado uma nova cor aos meus dias preto e branco.

A área reservada à cerimônia nos remetia a sensação de estar numa clareira na floresta, havia flâmulas malhadas de hera, luzes de fadas, folhagens subiam de tocos de árvores retorcidas para a copa com flores de cores em tons lilás, rosa e azul.

Nós, damas de honra, estávamos com longos vestidos azuis, diferentes no decote, expressando um estilo individual. Tanto quanto os padrinhos estavam elegantes em ternos pretos, camisas brancas e gravatas pratas, com uma mini rosa branca preso à lapela.

Assim que todos estavam em seus lugares, o som doce do piano ressoou e todos passaram a prestar atenção na entrada. apareceu estonteante, num modelo tomara que caia simples de renda francesa e todo bordado com detalhes em diamante. Era um vestido sofisticado, mas que manteve um shape tradicional e chique.

Caminhou de braço dado ao seu pai, sob um caminho de pétalas de rosas, mas eu não tirava os olhos de . A maneira como ele prendia a respiração e olhava para reafirmava o que eu sempre soube, o amor e paixão dos dois são incondicionais.

O altar foi decorado com velas, dando um clima ainda mais lúdico e romântico à cerimônia. Depois de uma dúzia de palavras bobas, em minha opinião, ditas por um escrivão, eles estavam liberados para declamar os votos, olhei direto para , mas ele parecia bem tranquilo e não iria ler nada, só diria o que estava sentindo. seria a primeira, e após Jazzy entregar à aliança a mãe, a voz baixa de tremulou.

- , eu só tenho a agradecer por tudo que nos trouxe a esse momento. Sei que achei que não era necessária uma cerimônia, mas agora, olhando você e o seu sorriso, eu percebo o quanto estive errada. – Ela já não conseguia conter suas lágrimas, sendo acompanhada pela maioria dos presentes ali, inclusive e . – Você merece ser amado e admirado, por mim e por nossa filha, por ser esse homem maravilhoso, generoso e um pai perfeito. Não quero dizer que não tenha sido difícil, ou que não será, só quero dizer que encontrei uma paz e uma audácia em mim mesma ao seu lado. E eu estou completamente apaixonada por você, e sempre estarei, essa é a minha promessa hoje.

colocou a aliança no dedo dele, e com a mão livre, limpava algumas lágrimas que escorriam pelo rosto de dela, esquecendo as suas. Chegou à vez dele e ele engolindo sua emoção, pegou a aliança, deu um beijo em Jazzy e começou a declamar seus votos.

- Eu só precisei de dois dias para dizer a você que te amava, mas provavelmente te amei assim que coloquei os meus olhos sobre você. Naquela época, não havia ninguém que acreditasse que isso iria funcionar, nós éramos jovens, mas isso não importava diante do sentimento que compartilhávamos, porque se eles entendessem, nunca teriam duvidado de nós. – Ele sorria tão apaixonado, enchendo ainda mais o meu coração de orgulho e felicidade por eles. – Você me deu as duas coisas mais preciosas da minha vida, o seu amor e Jazmyne, me transformando num homem melhor, e quando eu olho nos seus olhos, meu amor por você só cresce, é até mais forte agora. E esse amor nunca vai passar. É isso que eu prometo, hoje e sempre.

Sem esperar qualquer autorização, desnecessária, ou ouvir as típicas palavras que declaravam que ambos agora eram “marido e mulher” eles trocaram um beijo delicado e apaixonado, sendo aplaudidos por todos.

O salão da recepção era charmoso, com um toque provençal e envidraçado com vista panorâmica para os jardins iluminados. Foi montada uma tenda, com muitas luzes e velas, no teto folhagem e luzes brancas criavam um efeito cascata, muitas azaleias brancas e rosas vermelhas completavam a decoração intimista.

- Eu coloquei vários lenços no bolso para te entregar na hora da cerimônia. – apareceu com aquele sorriso enorme, agitando alguns lenços de papel em sua mão. – Esperava ver você chorando rios.
- Eu chorei. – Devolvi o sorriso.
- Claro. – Revirou os olhos sem acreditar no que eu disse.
- To falando sério, chorei com todo meu coração.
- Que baboseira é essa? – Ele não iria entender e tão pouco eu queria explicar, então tentei ser o mais direta possível.
- Não produzo mais lágrimas, elas simplesmente não descem.
- A rainha do drama não chora mais? – Gargalhou e me encarou, desviei, quanto mais tempo passava com , eu era empurrada para o presente, me perdendo no desejo de ter ele de novo.
- Acredite, eu ainda sei e amo fazer um bom drama, e para isso eu nunca precisei chorar.
- Mesmo assim é incomum, o que aconteceu?
- Não sei, talvez eu tenha desenvolvido uma síndrome rara. – Brinquei, mas continuava sério.
- O que houve?
- Só acho que existem problemas maiores que merecem isso.
- Está guardando suas lágrimas para um momento que você considere importante? – Voltou a rir irônico, me deixando brava.
- Eu não espero nada, . – Passei por ele e fui procurar a mesa em que sentaria.

Quando todos acomodados em suas mesas, o mestre de cerimônias, um primo de , anunciou os discursos. O primeiro foi o pai de , Silas, que disse o quanto estava feliz em entregar sua filha única a um rapaz como , seu filho emprestado. Não se demorou muito, mas disse o quanto estava orgulhoso daquela nova família e, olhando para , afirmou que podia sentir a presença alegre de sua falecida esposa, foi impossível não se emocionar.

Os pais de foram os próximos, com a Loren assumindo a maior parte do discurso, ela foi sincera ao dizer que sentia ciúmes de seu filho, mas que não pensaria em outra pessoa a estar ao lado dele, a não ser .

Misha e Leigh contaram mais histórias constrangedoras da infância delas com , o que foi realmente engraçado e trouxe um ar mais leve à cerimônia. Laura contou detalhes de algumas confusões que eles se meteram nas viagens da turnê da banda, e o quanto não gostou dela de inicio.

Eu e subimos juntas ao palco, acompanhadas por Jazzy, que fez questão de dizer algumas palavras aos pais.

- Eu quero dizer que eu amo meu papai e minha mamãe. Vocês são os melhores pais do mundo inteiro.

O local fez um coro de “awn” pela fofura da pequena, enquanto e mandavam beijos e sorriam bobos pra ela.

- Claro que , sendo , queria fazer o discurso sozinha, mas eu sou um pouco ruim com palavras e ela me deixou participar disso com ela.
- Mas continuem focando em mim. – Dei uma piscadinha e as pessoas riram.
- Nós duas queremos desejar mais do que felicidade a e , vocês são nossos melhores amigos e nós os amamos muito.
- Lembro de dizer que faria um discurso no casamento de vocês e estava certa. – Os dois riram da lembrança. Estava feliz em ter acertado minha previsão.
- Exceto pela parte do Brad Pitt. – me cortou.
- Ele supera. – Fingi olhar as minhas unhas desdenhando enquanto ouvia as risadas dos convidados, voltou a falar.
- Vocês despertam o melhor um do outro, e é empolgante assistir esse amor crescer mais a cada dia.
- Eu sempre tive certeza desse amor que ambos nutriam um pelo outro e isso só foi mais um meio de reafirmar isso. O verdadeiro amor é aquele que não se altera em meio às adversidades da vida, que te faz querer estar com o outro nos momentos bons ou ruins, dando suporte necessário ou só um bom motivo para rir, e eu vejo isso em vocês dois. Vocês foram e continuam sendo a razão de crer no amor, e eu me sinto segura de alguma forma. Sou sortuda por fazer parte disso. – Estendi a taça com champanhe que segurava e os outros me imitaram. – A e a , e ao amor verdadeiro que eles compartilham.

Os meninos foram os próximos e começaram o discurso engraçado e sincero.

- Nós queremos começar parabenizando por ser tão corajosa de se casar com alguém como o . – Só pelo que tinha dito eu já tinha leve ideia do que estava por vir, e gargalhei mesmo sentindo um pouco de pena de .
- Por favor, senhoras e senhores, uma salva de palmas para essa mulher linda. – pediu e assim fizemos. – Agora uma salva de palmas especial para cabeça do . – Todos voltaram a bater palmas enquanto bagunçava o cabelo de , que fingia está bravo.
- Nós amamos você mate, e estamos orgulhosos por finalmente esse dia chegar. – não estava nervoso, mas precisou parar pra respirar fundo. – Alguns amores resistem a tudo, mas não resistem ao tempo, obrigado por cada ensinamento, cada ajuda, cada bronca, mas obrigado principalmente por me fazerem acreditar em amor genuíno.
- só está sendo um amor porque ele é o favorito do . – fingiu desdenho e revirou os olhos.
- Eu não tenho favorito. – gritou em sua defesa.
- Vocês ainda não superou o fato de eu ser o padrinho da Jazzy?
- Claro que não. – disse com obviedade. – Péssima escolha.
- Eu concordo. – disse, olhando para mim, eu continuei gargalhando, troquei um breve olhar com e fingimos bater na mão um do outro.

As pessoas continuavam rindo daquela discussão sem sentido e fora de hora, até que assumiu novamente.

- Continuamos amando você, . Seu talento e paixão são admiráveis. E somos tão sortudos de crescer ao lado de vocês, numa convivência diária e tão louca, que resolvemos fazer uma pequena homenagem em vídeo.
- Como o quem produziu, deve estar péssimo. – protestou de imediato, mas fingiu jogar o cabelo. – Vamos fazer algo que supostamente sabemos, que é cantar.
- E encontramos uma música perfeita para ocasião, ela nos dá apenas uma ideia do que o está sentindo nesse momento. – sorriu ainda mais.

assumiu o piano, , e com seu violão sentaram em pequenos bancos ao lado de um enorme telão, e assim que o vídeo começou a passar, o som de suas vozes preencheu o ambiente.

Para ouvir a música, clique aqui!

So we lie here in the dark
Então nos deitamos aqui no escuro
All the wrong things on fire
Todas as coisas erradas pegando fogo
In sickness and in health
Na doença e na saúde
To be with you, just to be with you
Estar com você, só estar com você

And in your wedding dress, to have and to hold
E no seu vestido de noiva, Te ter e te abraçar
Even at my best, I want to let go
Mesmo o melhor de mim, quero deixar pra lá


As fotos no vídeo corriam em ordem cronológica decrescente, indo de fotos do último show, ou até mesmo da nossa festa na noite anterior, até a foto do primeiro encontro deles, onde todos nós também fomos, a história era engraçada, tínhamos apenas catorze anos.

And you hold me in your arms
E mantenha-me nos teus braços
When all that I can see
Quando tudo que eu consigo ver
Is my future in your hands
É o meu futuro nas suas mãos
And all that I can feel
E tudo que eu posso sentir

Is how long ever after is
É o tempo passando cada vez mais
When it's all that I can do
Quando tudo que eu posso fazer
To be with you, just to be with you
É estar com você, só estar com você

In your wedding dress, to have and to hold
E no seu vestido de noiva, Te ter e te abraçar
And even at my best, I want to let go
Mesmo o melhor de mim, quero deixar pra lá


Mais uma vez eu senti falta da minha própria presença em diversos momentos, as lacunas em branco onde eu não aparecia eram memórias irremediáveis. Senti inveja de quem estava ali, senti inveja de viver uma vida vazia de sentimentos penosos.

Thought I lost you
Pensei que havia te perdido
Thought I lost you, I gave you away
Pensei que havia te perdido, Eu dexei escapar
Thought I lost you
Pensei que havia te perdido
Been jealous of the moon for how it moves the waves
Tendo ciúmes da lua por ela se mover pelas suas curvas

In your wedding dress, to have and to hold
E no seu vestido de noiva, Te ter e te abraçar
Even at my best, I want to let go
Mesmo o melhor de mim, quero deixar pra lá


Os olhos de estavam translúcidos enquanto seguiam os meus. Sorriam. Agora ele cantava para mim, sem borrões ou mensagens subliminares. Era apenas um desejo. O seu desejo.

And I want to be somebody else now
E eu quero ser alguém agora
And I want to thicken my skin
E eu quero arrancar minha pele
And I want to wish it all, just wish it all away again, again, again
E eu quero desejar tudo isso, só desejo tudo de novo, de novo, mais uma vez

And I want to be somebody else
E eu quero ser alguém
And I want to be holding you in
E eu quero te abraçar
And I want to be missing you, love, missing you, love
E eu quero sentir sua falta, amor, sua falta, amor
With all that I have left to give, to give, to give.
Com tudo o que me restou deixo pra você, deixo pra você...


- Hora do buquê! Por favor, todas as moças solteiras venham até aqui. – Foi anunciado, vi varias garotas se aglomerando no local indicado, e toda contente indo cumprir mais uma tradição ridícula.
- Não vai tentar? – sentou ao meu lado com uma taça de champanhe que eu roubei e bebi de uma vez só.
- Não.
- Isso. – Ele concordou rindo. – Pra que casar de novo? – Eu ainda podia sentir resquícios de amargura em sua voz quando ele tocava no assunto do meu “casamento”, mas naquele momento ele só estava brincando, e aquele se parecia muito com o que conhecia, o meu amigo.
- Babaca.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Não. – Revirou os olhos e se calou. – To brincando, faz logo. – Um garçom passou e peguei mais uma taça de champanhe.
- Como foi o seu casamento? – Eu não achei que um dia ele iria me perguntar isso, daí veio o susto.
- ...
- Sério... Me conta. – Segurou a minha mão, transmitindo a mesma tranquilidade de seus olhos. Eu ri um tanto envergonhada e, depois de beber mais um pouco, finalmente disse.
- Eu não lembro. – gargalhou, jogando a cabeça para trás e batendo as mãos como uma criança.
- Eu sabia!
- Ok, chega. – A essa altura eu já estava rindo junto com ele. – Vamos mudar de assunto?

Ele afirmou com a cabeça, mas enquanto dava um gole generoso em sua bebida, passou a me analisar e eu sabia que o assunto ainda perduraria. Eu mesma queria saber o porquê dele se incomodar tanto com o que eu havia feito, mas o medo da sua resposta não me permitia fazer a pergunta.

- Por que você se casou, afinal? – Ele quebrou o silêncio e o clima descontraído. – E não adianta colocar a culpa na bebida.
- Eu só queria me sentir viva, sentir que ainda estava ali, sabe?
- Acho que um dia eu consiga entender.
- Na manhã seguinte, eu só conseguia chorar. – Ele voltou a sorrir. – Não por ter casado, mas pelo vestido horroroso que estava. Eu não tinha nada branco, então dei um jeito num uniforme da camareira, mas por sorte alguém da alta moda disse que era fashion, acabei ganhando milhões pelo modelo.
- Nunca vou perdoar a por não ter me convidado para o casamento dela. – sentou ao meu lado junto com Elle.

- Você será convidado no próximo. – Elle anuviou a falsa tensão entre eu e .
- Não sei se terá um segundo casamento. – Ri. Não sabia se era a presença de ali ou a de , tão bem acompanhado, mas eu podia sentir minhas bochechas queimando.
- Perdeu a chance de ser feliz comigo, Estranha. – Mais uma brincadeira, mais um golpe, queria fugir dali, me sentia uma formiga em terra de gigantes.

Foi anunciado que os noivos teriam sua primeira dança de casados, e eu já estava preparando minha desculpa para correr, me isolar, e beber muito.

Para ouvir a música, clique aqui!

- "Rude" como primeira dança? – Elle fez o mesmo questionamento de muitos ali.
- Alguém está tentando dar um recado à sogra. – Comentei baixo. – Bom, eu...
- Vem, Estranha, dança comigo. – se levantou e estendeu a mão pra mim.
- O que? – Num ato claro de desespero eu escondi minhas mãos. – Não. Eu não danço. Quer dizer, não danço mais.
- Bobagem. – Riu e manteve sua mão estendida. – Ou dança comigo ou afirma que sentiu a minha falta. – Revirei os olhos e cedi.
- Você não sabe dan... – Ele me puxou e me girou como um profissional. Seu encanto havia desaparecido, dando lugar a sua segurança.
- Eu namorei uma dançaria. – não estava tentado me fazer ciúmes, só justificando como havia aprendido a dançar, mesmo assim fui mordida pelo sentimento egoísta. Eu queria ter ensinado.
- Explicado. – Me esforcei pra não demonstrar nada e passei a olhar para os lados.

Jazzy agora estava nos braços de enquanto abraçava as duas e continuavam a dançar. também ria nos braços de , com Elle, se divertia dizendo coisas no ouvido de Leigh. Todos pareciam felizes e em paz, onde deveriam estar. E eu? Era ali no abraço de o meu lugar?

- Why you gotta be so rude... Don´t you know I'm human too. – Cantarolou baixinho em meu ouvido.
- Você me acha mesmo isso? – provavelmente cantou aquela parte para me provocar, mas eu levei aquilo como algo mais profundo, deixando ele um tanto constrangido.
- Só estava brincando, Estranha.
- Me fala de verdade o que você acha de mim. – Ergui uma sobrancelha e encarei a fundo os seus olhos, ele fez o mesmo.
- Eu vejo fuga nos seus olhos. Você voltou a ter medo.

Não comentei para permanecer imersa naquela paz ou felicidade momentânea, então recostei minha cabeça no peito de e deixei que ele continuasse a me guiar.

Ele não disse nada, depois que escutei sua risada acompanhei seu olhar e vi , e Jazzy. Será que, assim como eu, ele se imaginou sendo protagonista daquela cena? Sendo protagonista daquela cena comigo?

- Nós lutamos o suficiente? – Sua pergunta foi minha resposta. Mantínhamos o mesmo pensamento.
- Quero acreditar que sim. Parece mais fácil. – Concordou, mas sei que sua mente trabalhava velozmente, imersa em algum tipo de conflito. Sua testa estava enrugada, a boca fazendo um bico, sobrancelha bagunçada. Eu queria tanto beijá-lo.
- Você acha que consegue mesmo superar?
- O que?
- Nosso passado. Tentar esquecer os erros ao menos por uma noite.

Ainda havia coisas escondidas dentro de mim, eu queria compartilhar com , talvez dividir o fardo fosse mais fácil, ele fazia parte da historia também, era um pedaço dele. A memória ria sarcasticamente para mim enquanto gritava "parte que ele renegou", então as palavras voltam amontoadas e eu só digo:

- Sim, por uma noite.

FLASHBACK ON:

Londres – 14 de novembro de 2008 – 11:05 am.

havia faltado mais um dia naquela semana, nos dias em que foi parecia distante, mal nos falamos, e quando eu tentei levá-lo até a sala do zelador, ele disse que não podia, estava mais uma vez atrasado.

Sentada numa mesa com e , observei conversar com Molly, não poderia dizer que estava empolgado, mas interessado sim.

- Vocês acham que o está ficando com a Molly também? – Só a simples ideia corroeu meu peito.
- Não me parece algo que ele fosse fazer. – correu em sua defesa.
- O também parecia que não ia me trair.
- Não coloca fogo, .
- Antes de se amarrar, , saiba que estar solteira é bem melhor.

revirou os olhos impaciente, mas estava interessada nos argumentos de , aquela era a primeira vez que eu a via tão desiludida.

- Quais as vantagens?
- Você pode ficar com quem quiser, não dar satisfações e não tem que assistir filmes de lutas para agradar. – Eram bons argumentos, tinha que admitir. – Ah, e o melhor, eu parei de tomar pílula e perdi dois quilos.
- Por que parou?
- Não to fazendo sexo, não vejo o por que.
- Isso é completamente arriscado.
- Não quando não se faz sexo.
- Você fez sexo. – não parecia se incomodar.
- Acho que tem razão. – Disse com cuidado, não queria brigar com ela. – Você não deve parar para emagrecer.
- Continue tomando por mais um mês. Quando você ganhar peso não venha surtar.
- Eu não tomo.
- Não? – Perguntaram espantadas e ao mesmo tempo.
- Como vocês estão se protegendo?

Meu silêncio foi involuntário. Eu não havia pensado sobre proteção, era algo completamente estúpido, e ...

- , VOCÊS NÃO ESTÃO SE CUIDANDO?
- , se acalma. – Foi a vez de tentar amenizar as coisas.
- Eu vou resolver isso, não surta. – Tentei mostrar segurança, mas não adiantou muito, afinal, eu estava diante de .
- Você precisa conversar com , já que estão mantendo um relacionamento.
- Não é um relacionamento, assim como o seu e o de . – estreitou os olhos para mim, quase os fechando. Sabia que estava sendo ridícula em usar o relacionamento dela como parâmetro para um descuido meu, mas simplesmente não consegui evitar.
- Eu não tenho um compromisso com o seu irmão, mas temos um relacionamento sim, e conversamos sobre isso agora, para não termos que fazer isso na frente de uma obstetra.

apenas deu de ombros, achando aquilo um exagero, ela estava numa fase onde não se importaria nem com uma guerra nuclear e eu não a julgava por isso. No fundo sabíamos que estava certa.

- Vou conversar com ele. – Falei mais convicta dessa vez e ela sorriu satisfeita, mas eu não iria. Não sentia vergonha de ninguém, mas não queria falar sobre não ter bebês com . Iria procurar um médico, daria o meu jeito.

Quando o intervalo acabou, eu fiquei esperando por , precisava falar com ele, estar perto.

- Você está bem ausente nesse colégio, devo me preocupar? – Perguntei assim que o puxei para um canto, como ele costumava fazer, e o abracei.
- Sabia que sentiria a minha falta. – Dessa vez a sua tática não me impediria de obter respostas.
- O que está acontecendo, ? – Fui tão direta que ele se afastou de mim, poucos centímetros, mas bastaram para eu notar.
- Nada, só precisava resolver algumas coisas. – Mais uma resposta vaga. O que estava escondendo? Ou será que estava fugindo?
passou ao lado de e nos lançou um sorriso complacente, acendendo algo em mim. sabia do beijo entre e eu, e estava me evitando propositalmente.

- Estranho. – Coloquei delicadamente a mão sobre o seu peito e ganhei sua atenção. – me beijou, mas entendeu errado, eu não queria.
- Uou! – Segurou meus ombros e me encarou. – Espera um pouco. – estava surpreso e furioso, ele não sabia, eu que revelei demais. Burra! – Você ficou com ?
- Não, foi só um beijo, e foi ele que me beijou, eu não tive...
- Culpa? – Seu riso misturava decepção e deboche. – pode ter beijado você, te surpreendido, mas ele só fez isso porque achou que ainda tinha esse direito. – Apontou o dedo para me acusar. – Você continuou dando esse direito a ele.

Abaixei meu rosto, atingida por suas verdades. Não durou muito, levantou-o, com a delicadeza que não se notara em sua voz.

- Tudo bem, , nós não temos nada, certo?

Não queria uma resposta, me deixou ali, sentindo pela primeira vez a sua falta.


FLASHBACK OFF.

Antes mesmo que a porta do elevador se fechasse, nos olhamos por dois segundos e não houve mais dúvidas, nem mesmo a dor do passado iria me impedir de ser dele. Em meio a sua maior fraqueza você deve lutar ou falecer, então, como um rompante, meu corpo saiu em disparada ao seu encontro. Aquele não era um gesto imperioso, era necessário, destinado. Meus saltos não me impediam de subir dois degraus de cada vez, e em poucos instantes eu já estava onde queria. Não estava cansada, estava viva.

estava parado, parecia me esperar ou desejar que tomasse aquela atitude, o som de nossas respirações erráticas era o único barulho ali, antes da minha razão se fazer eloquente, fui apressada até ele, e o beijei, seus lábios molhavam os meus me devolvendo paz. Ele correspondeu de imediato e apertou a minha bunda com vontade, em resposta puxei o cabelo de sua nuca, ouvindo-o gemer contra a minha boca. Ele também não estava disposto a abrir mão daquele momento.

Nossos dentes se chocaram durante o beijo, puxou rudemente o meu cabelo, sugando ainda mais forte a minha língua. Sua mão apertou o meu seio esquerdo sem o menor cuidado enquanto eu me movimentava em direção a sua pélvis. A língua dele agora percorria o meu colo, seus dentes me arranhavam, eu nunca havia ficado tão excitada na minha vida.

Mais leve que o ar. Seu olhar doce dentro do meu, o seu cheiro e toque eram tão familiares que pareciam que ele sempre esteve ali. O passado que deveria ser esquecido foi o elo que nos levou até ali, que nos prendeu um ao outro de modo que o tempo não foi suficiente para deter.

segurou minha coxa, me dando impulso para subir em seu colo, o lugar mais longe que conseguimos ir foi para parede atrás de nós, onde ele me colocou em cima de uma mesa, o barulho agudo de algo se quebrando no chão foi misturado ao ofegar de nossas respirações, rimos ao ver o vaso quebrado, mas tínhamos pressa, urgência e nenhum cuidado.

Levantou minhas pernas, nos aproximando ainda mais, meu corpo parecia papel em suas mãos, pronto para ele amassar, dobrar, fazer o que quisesse. Parei o beijo e por instantes ele achou que eu tivesse desistido, dei o pior dos meus sorrisos e tirei o seu paletó, desatei todos os botões de sua camisa, jogando ela para bem longe dele. Aquele corpo, os ombros largos, cada músculos dividido e rígido, o cheiro, tudo era um atrativo que me despertava. Que me fizeram falta.

Quando não conseguiu tirar o meu vestido e se atrapalhou ao tentar, ele me lançou um sorriso maldoso e, segurando o decote, rasgou a peça ao meio. Antes que meus xingamentos ou protestos começassem, senti ele sugar os meus seios com voracidade, como se estivesse com sede, gemendo baixo contra eles, o mundo desapareceu.

- . – Gemi alto quando senti seus dedos invadirem minha calcinha e tocarem o ponto exato.

Ele sorriu pra mim, mas não consegui identificar o que aquele sorriso queria dizer. Meu corpo foi empurrado ainda mais para mesa, suas mãos firmes seguraram minhas coxas quando se ajoelhou, o seu rosto ficou a centímetros do meio de minhas pernas, assim como meu vestido, agora minha calcinha estava aos trapos.

- Sabe o quanto eu sonhei com esse momento? – Senti passar sua língua onde antes estavam seus dedos. – Tem ideia do quanto eu quero você? – Mordeu de leve o interior da minha coxa, lambendo logo em seguida.

parecia descontrolado, os olhos brilhando em prazer e conquista, segurei firme o seu cabelo e continuei observando o que ele fazia. O incentivei a continuar gemendo o seu nome várias e várias vezes enquanto era penetrada por seus dedos e sua língua, me despedacei atingindo um clímax que não havia conseguido em todos aqueles anos sem ele.

Antes mesmo de recobrar a consciência ou recuperar o fôlego, voltou a me beijar, me fazendo querer mais. Meu corpo ainda estava trêmulo, mas em meio ao meu desespero eu abri a sua calça, abaixei a sua boxer e o senti. Grande. Duro. Pulsando sobre a minha mão enquanto eu o masturbava. Sentia os chupões no meu pescoço e o ouvia gemer todo o tipo de coisas no meu ouvido.

- Eu quero você, . – Mordi o seu lábio e o trouxe para mais perto de mim. – Eu quero você agora.

E ele me deu o que eu queria, de uma só vez. A dor prazerosa que senti me fez morder o seu ombro, seu toque era forte, intenso, preciso, como nenhum outro já conseguiu fazer, e aquela movimentação bruta dentro de mim me fazia gritar.

- Isso! Grita pra mim! – Ordenou com a voz rouca, descontrolada.

E assim eu fiz. Obedeci cada comando dele, enlouquecendo e o fazendo enlouquecer, num ritmo brutal e violento, cheio de saudades. Meus saltos batiam em suas nádegas, minhas unhas arranhavam suas costas, me deliciava ao ouvir ele me chamando de linda, gostosa, de sua, seu sussurro não parecia brega ou forçado, era único, entendi que ele dizia para si mesmo, confirmando que aquele momento de fato estava acontecendo. Meus olhos fecharam, tudo se perdeu e voltou a fazer sentindo, quando eu e nos rendemos juntos.

saiu de mim e o vazio que senti foi além das questões físicas, eu permaneci sentada, sem forças, até que depois de pegar nossas coisas espalhadas, eu estava em seus braços de novo, beijava o meu rosto enquanto me conduzia para seu quarto.

- Te deixei cansada? – Sussurrou um pouco ofegante.
- Não.

POV. .

Ela estava aninhada em meu peito, escrevendo qualquer coisa ali, se eu a abraçasse mais poderia quebrar uma costela, mas não me importava, era ela ali de novo, depois de todos aqueles anos, era minha.

- O que está pensando? – Sua voz era calma e divertida.
- No quanto estou feliz. – Ela estava revirando os olhos e eu pedi pra não fazer isso.
- Eu não estou. – Mentiu.
- Está sim.
- Está escuro. – Senti seu corpo levantar minimamente. – E você está de olhos fechados.
- Desde quando eu preciso olhar para você para saber o que está sentindo?

Enquanto ela mantinha um sorriso no rosto, passou a beijar cada parte do meu, sussurrando coisas, finaliza dando uma leve mordida no meu queixo. Eu já estava excitado de novo só em tê-la ali, mas quando ela me encarou, aqueles olhos pretos revelando tanto e nada, e sussurrou contra meus lábios o quanto havia sentido a minha falta, me deixou duro como rocha.

Beijei sua boca sem a menor pressa, ela estava realmente ali e não iria embora, era minha de novo e eu iria aproveitar ao máximo de mais um momento nosso. Minhas mãos passam por seus seios, cintura, até chegarem a sua bunda, onde eu apertei acariciando em seguida, mantendo o mesmo ritmo afável dos nossos beijos. passou as unhas sobre o meu peito, trazendo o ardor prazeroso, gemi. Em seguida ela espalmou suas mãos macias tomando um pequeno impulso e encaixando perfeitamente em mim, deslizou tão suavemente sobre o meu pau que fechei os olhos tentando reprimir um desfecho precoce. Nossos gemidos eram baixos e harmônicos, jogou a cabeça para trás e começou a se movimentar, sempre mantendo a torturante e prazerosa cadência. Segurei suas mãos e ela me fez meu tronco se erguer até se chocar contra o dela, seus seios agora eram comprimidos pelo meu peito, minha boca beijava o seu pescoço, e assim que ela disse em tom sôfrego o meu nome, nossos olhares se encontravam de novo.

- Linda. – Em minha mente eu disse que a amava, havia criado isso anos atrás para não assustá-la, se o que eu sentia não havia mudado aquele código idiota iria continuar me servindo.

Sustentamos o olhar, derrubamos as muralhas, assim nos amamos pelo resto daquela noite.

- ? – me chamou baixo, temerosa.
- Oi, linda.
- Já está quase amanhecendo, o que vamos fazer?
- Vamos tentar ser o que fomos durante essa noite.
- Eu estou com medo, e se a gente não conseguir?
- Depois de hoje, você acha mesmo que um novo dia pode afastar nós dois? – Tinha uma enorme possibilidade, mas eu precisava mostrar segurança para ela. – Nós fazemos burrada, ficamos longe por seis anos e te olhando agora em meus braços, você continua sendo o centro de tudo.

sorriu e segurou o meu rosto, fez o contorno das minhas sobrancelhas com o seu indicador, seus olhos e suas palavras, transparentes, verdadeiras.

- , eu acho que nada do que eu sinto mudou.
- Eu sei, , eu sinto o mesmo. – Manteve o sorriso e voltou a recostar sua cabeça de novo em meu peito.
- Estou com sono, mas não quero dormir. – Me confidenciou seu medo.
- Dorme, babe, amanhã eu ainda estarei aqui.
- E se eu não estiver?
- Eu irei atrás de você. – Ela riu, demonstrando não acreditar muito naquilo, então reafirmei. – Você falou ontem de música e sabe quando escutamos uma canção excitante e que temos certeza que nunca vamos parar de ouvir, mas de repente lançam outra e mais outra e sua música até então favorita fica esquecida?

- Sei sim. – parecia confusa, mas interessada.
- Até que, não sei, você coloca seu playlist no aleatório e lá esta sua música, você sente a mesma excitação da primeira vez e acha que é só saudade, mas você ouve de novo e de novo e tem a certeza que não pode viver sem.
- O que você quer dizer com isso ?
- Você é minha música favorita, .


Capítulo 11

"You’re my end and my beginning… Even when I lose I’m winning, ‘Cause I give you all, all of me… And you give me all, all of you." All of me –John Legend.


Baildon – 16 de novembro de 2015 – 08:01 am.

POV. .

A procurei ao lado na cama, mas não encontrei. Isso não me impressionou, mas sim o fato de estar parada ali no meio do quarto. Só vestia meu paletó, os cabelos bagunçados de um jeito sexy, as pernas e parte dos seios quase a mostra, um sorriso brincava em seu rosto, até que ela mordeu o lábio, daquele jeito simples e único.

- Bom dia, Estranho.
- Ótimo dia. – Veio andando até mim e se sentou no meu colo e me beijou.

havia mudado! Em uma noite eu conseguia enxergar que algumas coisas foram recuperadas nela, mas o segredo estava lá, algo profundo e íntimo que escondia. Sabia que iria levar um tempo até que nossa confiança se restabelecesse, mas minha cabeça trabalhava a todo vapor imaginando um jeito de ter aquela mulher só pra mim de novo, e dessa vez para sempre, dessa vez direito.

- Eu pedi um café da manhã, achei que estaria com fome. – Sorri com todo aquele cuidado vindo dela. Parecia estar num mundo irreal. – O que foi?
- É difícil acreditar que você está aqui. Todos esses anos, eu... – Seus lábios esbarram nos meus, me impedindo de continuar.
- Não quero falar desse tempo, vamos só... – Ela parecia confusa e incrédula sobre o que dizer, mas prosseguiu. – Seguir em frente e esquecer que tivemos toda aquela história errada.
- Tudo bem. – Não era errada para mim, era a nossa história, mas não lhe disse nada, temeroso de estragar aquele momento.

Passei a concordar com ela em partes. Nunca fui capaz de esquecer , nem mesmo quando sentia raiva, nossa história foi o que me mantinha de pé. Contudo, se tinha algo tentando manter longe, eu iria apoiá-la até onde fosse necessário.

A beijei de novo. Poderia fazer isso até ficar sem ar, que iria me sentir o mais vivo dos homens, mas meu celular tocou e nos interrompeu.

"Venha ao saguão, agora! Se estiver com sua 'Estranha' repasse o recado pra ela Hahaha."

Mostrei a a mensagem de , que se não estivesse com risos no final eu acharia que acontecera uma tragédia. Depois de erguer a sobrancelha, ela riu de maneira leve e descontraída. Que saudade eu senti daquela risada.

Tomamos um longo e prazeroso banho juntos, depois de me arrumar fui para o quarto de e esperei ela fazer o mesmo. Num acordo silencioso, nós decidimos que todo tempo era tempo, e que não conseguiríamos mais gastar o nosso separado.

Quando chegamos ao saguão, vimos Jazzy, que corria de um lado para o outro, e se despediam de algumas pessoas. A felicidade deles emanava no ambiente quase que como uma fumaça que poderia ser vista.

- Bom dia, casal. – Eu e a Estranha nos aproximamos dos dois.
- Bom dia, senhora . – beijou a bochecha da amiga, que revirou os olhos assim que foi chamada pelo novo nome. – Nem adianta fazer isso, sei que você está adorando.
- Confesso. – Disse com um sorriso capaz de rasgar seu rosto. – E vocês? – O sorriso agora era malicioso. – Casal?
- O que? Não!
- Eu e essa daí? – Resolvi entrar na brincadeira.
- Eu tenho nome, Estranho. – Entoou um rosnado.
- Engraçado, por que eu também. – Nós parecíamos bravos um com o outro, como se ainda estivéssemos mantendo aquela velha implicância.
- Isso é brincadeira, não é? – quis saber, agora com um olhar inseguro, se voltou para seu marido choramingando. – , eu disse que isso não ia funcionar.
- O que não ia? – Procurei saber.
- Dá pra alguém falar logo?
- Ok. Ok. – começou a falar, lançando um olhar de compaixão para . – Como vocês sabem, nós íamos levar a Jazzy para nossa lua de mel, mas minha linda esposa concordou que essa viagem deveria ser só nossa.
- Você me chantageou. – o acusou.
- Eu concordo com o . – disse admirada. Eu sorri ao ver o bico enorme de . – Há muito tempo vocês são pais, precisam ser apenas um casal, por um tempinho.
- É, . – A abracei de lado. – Relaxa e aproveita, Jazzy vai ficar bem com... – Parei e pensei. – Com quem ela vai ficar?

O casal conversou através do olhar por alguns instantes.

- Vou falar de uma vez. – parecia tirar um band-aid. Seria rápido e eficaz.
- Vocês ficarão responsáveis pela Jazzy durante esses vinte dias. Todas as instruções e tarefas dela já estão na mala. Obrigado pela força. Vocês são os melhores padrinhos do mundo!
- Olha que honra. – bateu palmas e sorriu amarelo. Eu e nos entre olhamos rindo. Ela parecia realizada ou prestes a viver um sonho.

Londres – 16 de novembro de 2015 – 11:21 am.

POV. .

- Você sabe que não vai poder chorar e que vai dormir com a gente por uns dias, certo? – Me virei e disse calma, esperando que já tivesse explicado tudo.
- Sei sim. – Balançou energicamente a cabeça. – A minha mãe disse que vou dormir vinte dias com você e o meu Dindo. Um, dois... – Começou a contar nos dedos, eu e trocamos um breve olhar e rimos.

O dia lá fora estava chuvoso, e fazia um frio bastante considerável, desde que as temperaturas despencaram na última noite, mas dentro daquele carro estava quente como uma praia tropical. Jazmyn cantava as músicas que passavam no rádio, sendo acompanhada por minha voz desafinada, nos reprovava dizendo que não teríamos futuro e ... Segurava a minha mão. Durante todos aqueles cento e trinta e um minutos de viagem, me dando sua segurança, num contraste surreal do que havia sido a viagem de ida.

- Vai para casa do seu pai? – me perguntou assim que chegamos em Londres.
- Não, vou pra meu novo apartamento. Será que dá para você ficar com a Jazzy hoje? Tenho muita coisa para organizar lá.
- Sem problemas. – Notei uma decepção em sua voz, será que ele esperava ficar mais tempo comigo?
- Mas, Dinda, eu queria te ajudar, você disse que ia ter um quarto lá só pra mim. – Discorreu dengosa e eu quis morder sua bochecha. – E eu quero...
- Tudo bem, o que você não pede chorando que eu não faço sorrindo?
- Posso ajudar também. – pareceu mais empolgado do que Jazzy.

Passei o endereço a ele e depois de dizer que eu tinha ido morar perto dele de propósito e se gabar por isso, nós chegamos.

- Você e vão morar juntas?
- Cada uma com sua casa, mas uma do lado da outra. – Respondi rindo. Quantas vezes não havia repetido aquela frase? Desde que nos mudamos para Nova York reconhecemos a importância de nossa individualidade, fazendo nossa relação dar mais certo ainda.

Paramos e instantes depois o carro de também estacionou. Não havia dúvidas, olhei para e ambos concordamos que os dois passaram a noite juntos.

- Pronta para mudança? – Perguntei a , que odiava se mudar.
- Não, hoje eu vou voltar para Nova York.
- O que? – Fiz uma careta. – Eu vou ter que ir também?
- Não, querida, você só deseja e desenha, eu tenho que conseguir os contratos. – Revirou os olhos, fingiu estar magoada, mas na verdade ela adorava seu trabalho. – E assim que chegar lá começo a te mandar uns documentos para você assinar.

Fiquei mais uma vez impressionada com a rapidez com que tinha de realizar as coisas mais simples ou complexas que lhe pedia. Fazia por amor ao seu trabalho e por acreditar no meu. Fazia em nome da nossa amizade. Desejava o melhor pra ela em todos os sentindo, no amor eu esperava que ela já estivesse se resolvendo, e torcia para que meu irmão pudesse consertar as feridas que abrira.

- Tudo bem. – Baguncei o cabelo de Jazzy, que estava próxima a nós. – Jazzy vai me ajudar com o novo lar, não é?
- Claro! Quero meu quarto rosa.
- Vamos ter que comprar tinta, então à pintura fica para amanhã.
- Você pintando um apartamento? – e debocharam em sincronia.
- Uma vez me disseram que isso era uma ótima interação social. – Não ousei olhar para , mas pude ouvir sua risada antes de se pronunciar.
- Podemos comprar agora, eu ajudo vocês. – Se ofereceu com um sorriso cheio de boas vontades.
- Não precisa. – Eu estava tímida?
- Só estou fazendo isso pela Jazzy. – Deu de ombros e riu. – Só vou pintar o quarto dela.
- Que gentil você. – Dei um tapinha em suas costas.

Nos despedimos de e , deixamos nossas malas no saguão e seguimos para uma loja de material de construção. Lá dentro as pessoas pareciam tranquilas e preocupadas com suas reformas que ninguém reconheceu nenhum de nós, facilitando nossa mobilidade.

- Você não queria um quarto rosa? – perguntou a Jazzy vendo a garotinha bastante confusa e mudando de ideia a todo instante.
- Mas eu já tenho um. – Encarou uma parede e sorriu determinada. – Agora quero um roxo, igual o meu Barney.
- Não! – O Barney ainda era um trauma não superado. – Tudo menos o Barney. – Pedi.
- Por que não?
- Porque a sua Dinda tem medo dele. – fingiu cochichar só pra ela, e os dois riram.
- Para de ser boba, Dinda. – Jazzy pediu como um adulto a uma criança.
- É, Dinda, para de ser boba. – Ele replicou.
- Cala a boca, , você tem medo de colher.

A gargalhada tão verdadeira e gostosa de Jazzy aumentou.

- Como você toma sopa, Dindo? – Ri ainda mais de sua pergunta inocente.
- É, Dindo, é com o garfo?
- Você sabe que não é assim. – Quando o chato do iria tentar se explicar, Jazzy cortou o assunto, correndo até um stand todo dedicado a cor amarela.
- Ah! Quero meu quarto amarelo!
- Essa criança é bipolar. – Admirei ela completamente encantada.
- Parece até sua filha. – Deu um sorriso de lado, mantendo sua implicância comigo.
- Você ainda é uma criança. – Bati em sua cabeça.
- Criança é você, e não me bate. – Alisou a cabeça onde eu havia lhe batido. – Vou puxar seu cabelo.
- Nossa, muito maduro da sua parte. – Era impossível conter uma gargalhada diante daquele diálogo ridículo. Ela segurou meus braços para trás e eu tentei morder seu ombro.
- Não me morde.
- Você sempre gostou das minhas mordidas. – O som de nossas risadas se misturava, era uma música que senti falta.
- Vocês formam uma família linda. – Uma senhora que nos observava se aproximou, apoiada em sua bengala.
- Nós não som... – Antes que pudesse negar, resolveu se aproveitar da situação para brincar.
- Obrigado, acabamos de descobrir que seremos pais de novo. – Passou a mão em minha barriga e automaticamente eu me retrair. O coração passou a pesar toneladas.
- Você está me chamando de gorda? – Rosnei só para ele ouvir, tentando mudar o foco do que sentia para mim mesmo.
- Deve estar no comecinho, não é? – Ela se aproximou da minha barriga e eu senti uma vertigem enorme. – Sua barriga está reta.
- Porque sou daquelas que só crescem a barriga. – Tentei fazer uma piada, mas me sentia tonta, não podia viver aquilo, mesmo que por uns instantes. Eu não merecia.
- E o bumbum. – Tentei reclamar com , mas não consegui.
- Mesmo assim, parabéns. – Dito isso ela saiu. Saiu achando que éramos uma família. Saiu achando que era digna de ter tal coisa.
- Por que você fez isso? – Foi apenas um sussurro indignado.
- Foi divertido. Admita. – Seu sorriso ia diminuindo na medida em que me encarava. – Você não viu a cara dela?

Quando percebeu que eu não iria esboçar nenhuma graça, tentou outra abordagem.

- Nunca pensou nisso?
- Em que? – Não pergunta , supliquei em pensamento.
- Ter uma família. – Droga.
- Eu tenho uma. – Tentei me afastar, mas ainda com um sorriso no rosto, ele me impediu.
- Estou falando uma família de verdade, com seus próprios filhos.

Para ele, assim como pra maioria das pessoas, e até mesmo para mim, uma família só estava de fato completa com a chegada de filhos.

- ? – Acordei.
- Não quero falar sobre isso. Vou procurar Jazzy.

Pegamos o que foi necessário sem conversarmos muito. Não havia uma raiva ou tensão entre nós, apenas um respeito mútuo. sabia que eu precisava desse espaço e gentilmente estava me cedendo.

- Podemos passar na casa dos meus pais e pegar o Simba? – me pediu assim que entramos no carro e foi impossível eu e Jazzy não nos alegrarmos e concordarmos com isso. Mesmo longe de , eu sempre me sentiria parte da família, esse seria sempre um desejo.

parou o carro em frente a uma mansão estonteante, um pouco afastada do centro da cidade. Agora os ‘s moravam numa casa enorme, digna de seus corações.

Antes mesmo que pudesse cumprimentar Lydia e Carl, Jazzy correu para abraçar Simba e outro cachorro que havia na casa. Lydia pareceu feliz em me ver junto com e fez questão de não esconder.

- Finalmente minha nora veio me visitar. – Disse, e eu a abracei mais forte, envergonhada ao ouvir suas palavras. Uma rápida olhada para e ele sorria, iluminando a sala, enquanto nos observava.
- Lydia... – Comecei, mas me interrompeu.
- Nem precisa repreender essa daí. – Abraçou a mãe de lado. – Ela se referia a você desse jeito, na frente de quem fosse.

Achei educado da parte dele não mencionar a frase "outras namoradas", e senti uma pontada alegre no peito.

Conheci cômodo por cômodo daquela mansão, com comentários empolgados de Lydia e seus agradecimentos ao filho. Ela sempre teve orgulho dele, e isso se manteve, não por lhe proporcionar uma vida mais confortável, mas por ser o seu . Ela era realmente um espelho de mãe a ser seguido.

Não ficamos por muito tempo, precisávamos encontrar a loja aberta, e mesmo assim, durante nossa visita rápida, Carl não deixou de contar a história de como havia zoado com a minha cara, e todos riram como se tivesse acontecido há poucas horas. Sob protestos e minhas promessas de voltar o mais breve possível, nós pegamos Simba e fomos embora.

FLASHBACK ON:

Londres – 12 de Dezembro de 2008 – 04:00 pm.

- Fica longe desse pote de sorvete. – chegou gritando, mas nem isso me abalou.
- O que houve, ? Você está...

Péssima era uma definição chula para me descrever. não atendia as minhas ligações, desapareceu pelo resto daquele final de semana, assim como os outros três que se seguiram, e mais cedo no colégio não foi nada delicado ao me fazer notar que estava me ignorando. Estava sentada, assistindo One Tree Hill, chorando até nas cenas engraçadas e comendo mais sorvete do que meu corpo suportava.

- O que vocês estão fazendo aqui?
- Vika ligou e contou que você não estava bem. – se sentou ao meu lado, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto.
- Eu não consigo mais. – Revelei entre um suspiro pesado.
- Não consegue o que? – me questionou.
- Me esconder dos meus próprios sentimentos, eu to apaixonada por Idiota , e estraguei tudo.
- Então porque ainda está aqui? E porque está agindo assim? – Pela primeira vez, as verdade rudes de estavam me motivando. – Você nunca foi de se martirizar. Errou? Conserta!
- tem razão, . Vamos sair um pouco, que tal?
- Não quero sair. – Respondi implicante.
- Soube que a nova coleção da Gucci estará nas prateleiras amanhã, isso significa... – Interrompi a fala de no ímpeto.
- Que podíamos fazer comprar hoje e termos peças exclusivas! – Eu já estava animada e com pensamentos funestos afastados, não só por estar indo aproveitar uma tarde de compras com minhas amigas, mas porque sabia que essa era mais uma motivação para conseguir o que eu queria. .

Quando cheguei à loja, não estava tão determinada assim, mas roupas foi sem dúvidas a minha primeira paixão, ter uma saia drapeada em minhas mãos era como um afago na cabeça, o vestido verde de seda pura e saia plissada me abraçava, assim como todas as outras peças que saí experimentando e que diminuíam um pouquinho daquela aflição que estava sentindo.

- Não vai levar nada? – Perguntei a , que fazia cara de paisagem enquanto bebia seu drink e esperava por nós.
- Não sobrou nada na loja. – Debochou.
- Só estou levando um top e uma saia. – se defendeu enquanto entregava seu cartão à moça que lhe atendia.
- Eu estou carente e triste. – Me joguei em seu colo e exagerei com o drama. Também tinha um bom argumento para levar mais de oito peças de roupas, que no fundo eu sabia que não precisava.

Discutimos um pouco sobre isso, até que minha atendente voltou um pouco desconfiada. Ela devia ter a minha idade e mantinha toda uma postura profissional e bem cuidada. Pensei no quanto deveria ser difícil conviver num lugar cheio de peças especiais e não poder levá-las.

- Me desculpe, senhorita . – Limpou discretamente a garganta e continuou um tanto receosa. – O seu cartão de crédito foi recusado, tentei passá-lo três vezes.
- Ah sem problemas. – Abri a carteira e entreguei outro cartão. Achei aquilo estranho, era uma consumista nata, mas nunca precisei usar um segundo cartão, só que agi naturalmente, a garota de cabelos pretos e cortados num chanel reto voltou a sorri para mim e saiu para processar as compras.

Algumas poucas horas depois eu estava deitada em minha cama. Dispensei jantar e presenciar mais uma dança cruzada de palavras mal educadas, mas vestida de seda, que meus pais travavam. Minhas roupas novas já estavam organizadas em meu closet e não afagavam tanto o meu coração. Estava nervosa e com saudades, mas também estava bem irritada com , foi desejando que um novo dia surgisse logo e repassando nossa conversa hipotética que peguei no sono sem reparar.

Londres – 13 de Dezembro de 2008 – 03:32 pm.

POV. .

Apertei os olhos e tive a certeza, estava sentada no meio fio em frente a minha casa. Não sei por quanto tempo, mas assim que agradeci a Molly e desci do seu carro, ela se levantou, sua cabeça baixa e expressão decepcionada revelavam sua desistência.

- Ei, o que você está fazendo aqui?
- Sendo uma idiota. – Riu sem nenhum traço de humor. – Você está com ela, não é? Sempre esteve? – Percebi que ela estava se roendo e já não conseguia esconder seu ciúme.
- Não estou. – Antes que ela pudesse ousar a se sentir melhor, eu acrescentei. – E mesmo se estivesse, isso não seria do seu interesse.
- Estranho...
- Ainda quero saber o que está fazendo aqui. – Estava magoado com ela, mas havia resolvido ser duro e conseguir uma confissão sua, para continuar ou acabar com aquilo de uma vez.
- Eu não merecia ser ignorada assim. – Pensou por um instante e se corrigiu. – Ok, talvez um pouco, mas eu deveria ter o direito de me justificar, .
- Pra que, ? – Tentei encará-la com frieza. – Você está brava comigo, porque eu estou conversando com uma garota que você não gosta e que por isso eu deveria não gostar? – Comecei a rir, provocando seu descontrole. – Pare de ser patética.
- Não! – Ela simplesmente gritou. – Eu estou brava porque não consigo parar de pensar em você, e eu tenho essa necessidade louca de saber o que esta pensando, do que você gosta. Eu nunca senti isso por ninguém. Eu só pensava em mim mesma e eu adorava isso, só que agora. – Respirou fundo, e disse baixinho, como se me revelasse um segredo. – Agora eu estou apaixonada por você.
- Então para de fugir de mim. – Dei de ombros, eu queria torturá-la mais um pouco, ela ficava ainda mais linda quando parecia frustrada e vulnerável.
- Parar você de fugir? Eu estou aqui, não estou?
É, ela estava. era tão alto suficiente e independente que estar ali não era só uma agradável surpresa, era uma declaração silenciosa, então poder ouvir tudo aquilo só me fez tomá-la em meus braços e beijá-la com toda vontade, mas eu conhecia , não me espantei quando ela cortou o beijo logo em seguida.

- O que isso significa? E a Molly? – Batia em meu ombro, mas eu só conseguia rir, a saudade havia acabado. – Responde, Estranho!
- Eu e a Molly não temos nada, ela só está me ajudando. – Sua sobrancelha se ergueu em meio a sua dúvida.
- Em que?
- Cuidar do meu avô. – Ela estava confusa e eu não a culpava. A doença do meu avô havia atingido um novo estágio e a adaptação estava difícil, havia sido um bobo em esconder isso dela. – Ele está numa clinica de cuidados, como já te disse, mas não está bem.

Seu olhar era complacente, refletindo seu coração tão benévolo.

- O que ele tem? Como posso ajudar?
- Vai ficar bem. – Toquei seu rosto com as pontas dos dedos para acalmá-la. – Quer visitá-lo? – Seu rosto inteiro se iluminou, mas ela tentou esconder isso, não queria ser inconveniente.
- Tem certeza?
- Absoluta. Podemos ir amanhã. – Sorriu concordando e continuou me encarando. O vento balançava seus cabelos e ela custava a tirar do seu rosto, deixando aquela cena mais adorável, ela mais linda ainda.

Segurei sua cintura e a trouxe para perto de mim, mordi o lábio que ela estava mordendo e iniciei um beijo calmo, mas tinha urgência. Em questão de segundos estávamos no meu quarto. Suas mãos espalmaram meu peito e me jogaram na cama.

- Sentiu tanto a minha falta assim? – Brinquei, mas ela não estava para brincadeira. Logo ela estava em meu colo, tirando sua própria blusa e chupando forte meu pescoço.
- Você não faz ideia, Estranho.

Apertei forte o seu quadril e encarei seus seios, intumescidos e empinados, convidando minha boca até eles. Mordisquei o mamilo, passando a língua devagar e o tomando para mim com vontade. Ela deixou escapar um gemido sôfrego e mordeu meu ombro antes de juntar novamente nossas bocas para um beijo intenso e urgente. Cada toque e carícia eram precisos, fortes e tão certos. Minhas mãos percorriam todo o seu corpo numa velocidade sobre humana, num desejo irrefreável de tê-la só para mim.

se levantou com uma confiança enorme e me encarou com um sorriso mais sacana que já havia me direcionado. Mordendo seu lábio e mexendo levemente o quadril, numa dança silenciosa e libidinosa, retirou sua calça, ficando apenas com uma calcinha pequena e preta. Caralho, eu estava vidrado e isento de outros sentidos.

Seu dedo indicador me chamou e obedeci de imediato, assim que fiquei em sua frente, suas mãos habilidosas procuraram a barra da minha camisa, e enquanto ela a tirava deixava as marcas de suas unhas ali. Estava me marcando, provando sua necessidade sobre mim. Seu corpo incitava o meu, no ritmo da música que ela criara. Enquanto suas mãos puxaram meu cabelo e ela se inclinava para dizer algo em meu ouvido, meus dedos apertavam suas nádegas e eu a peguei no colo, comprimindo seu corpo na parede mais próxima que encontrei.

- Vou te marcar... – Tentou achar fôlego ou raciocínio. – De um jeito só meu.
- Por que, ? – Meus dedos invadiram sua calcinha, tão úmida que me fizeram respirar fundo, instigando a sua resposta. Depois de soltar um gemido mais longo ela conseguiu falar.
- Porque... Você é só meu, Estranho. – Antes que eu pudesse processar suas palavras, os movimentos dela em busca de mais contato de meus dedos, concentraram todo meu raciocino para região da minha virilha. – E eu quero ser só sua.

Minha boca encontrou a sua num beijo forte e tempestivo, ao passo que suas mãos encontraram o cós da minha calça, que ela tentou tirar com dificuldade. A ajudei com isso enquanto sentava novamente em minha cama e ela cobria meu corpo com o seu. Então parou e me encarou, pediu com os olhos para fazer o que quisesse com ela, meu corpo pareceu queimar ainda mais.

Num ato despretensioso ela segurou a minha mão e se ajoelhou de costas para mim. Não precisava me dizer mais nada.

Beijei seu ombro e suas costas, inclinando seu tronco para o colchão, deixando sua bunda empinada, e meu corpo excitado como nunca antes. Ela voltou seu rosto minimamente para mim, os lábios presos entre os dentes num sorriso ansioso, suas mãos mexiam-se inquietas no colchão por não saber muito bem o que fazer.

Retirei minha boxer e masturbei o meu membro antes de introduzir minimamente em sua intimidade ainda mais úmida, que quase fez eu me adiantar. Passei a mão por sua nádega num último gesto de carinho e cuidado antes de me enterrar de uma vez dentro dela.

Seus dedos apertaram forte o lençol e ela gritou o meu nome, mexendo seu corpo de encontro ao meu. Passei a movimentar meu quadril, a palma de minha mão percorreu seus seios e sua barriga, com a outra eu alisava suas nádegas a pressionando, ou percorrendo o meio delas. A cada novo toque o corpo de reagia e se contraia, me dando ainda mais prazer.

Seu auto controle se desfez e ela relaxou ainda mais o corpo na cama, deixando seu quadril ainda mais empinado e a mercê do meu, rebolando de maneira sinuosa, me fazendo aumentar e intensificar minhas estocadas.

Meus dedos apertaram firme sua cintura, me ajudando a me movimentar mais rápido dentro dela, sentindo ela se contraindo por dentro e me acolhendo a cada penetração. Seus gemidos se misturavam ao ranger de minha cama e da minha respiração alta e descompassada. gemeu coisas desconexas e seu corpo tremeu junto ao meu quando chegamos juntos ao ápice.

Meu corpo caiu relaxado ao seu lado, a abracei e instantes depois ela adormeceu. Não guardava mais semblante preocupado, finalmente estávamos bem.

Londres – 13 de Dezembro de 2008 – 07:22 pm.

POV. .

- Que barulho foi esse? – Acordei assustada e sem muita noção de espaço. Encontrei com um sorriso despreocupado, sentado na beirada da cama e calçando seu sapato.
- São meus pais na cozinha. Já está na hora do jantar. – se levantou e pegou uma camisa vestindo desajeitado. Me levantei num pulo e segurei seu braço.
- Você vai descer?
- É a hora do jantar. – Aquela parecia uma equação simples para ele. Eu estava apavorada, nunca havia conhecido os pais de , ou os de ninguém que me importasse.
- E daí? – Selou nossos lábios rapidamente, como se me acalmasse com isso. – Aqui jantamos todos juntos, é regra...
- Bobagem!
- ... E minha mãe sabe que está aqui, ela está esperando a gente.
- Como assim sabe?
- Liguei para ela. – Naquele momento eu poderia matar ou me matar. Estava completamente tentada a virar assassina e não suicida.
- Que horas?
- Enquanto você dormia e roncava. – Olhei mais brava ainda para , sem deixar de esconder o quanto estava envergonhada.
- Eu não ronco. – Disse incerta.
- Como você sabe? – Me desafiou, mas notei que prendia o riso.
- Eu... – Falhei e ele caiu na gargalhada. – Você estava mentindo! – Acusei.
- Talvez.
- Pare de usar as minhas palavras contra mim, Estranho. – Bati os pés no chão, numa birra de criança e me joguei na cama, afundando o rosto entre os travesseiros.
- Tem quinze minutos para ficar pronta, babe. – Continuava rindo enquanto gritava já fora do quarto. Estava ferrada.

Resolvi ser rápida e não pensar muito sobre a roupa que estava vestindo ou sobre o que a família dele pensaria de mim. Tomei um banho super rápido, dei um jeito no cabelo e desci, dez minutos depois de , alisando minhas roupas e tentando esconder meu nervosismo através desse ato.

Os pais dele me cumprimentaram, não só com educação, mas também com alegria. Sua irmã mais velha, Rachel, não se moveu tanto, não sei se por ser reservada, ou por não ter gostado de mim. Pelo menos ela elogiou o jeans que vestia e conseguimos manter um diálogo breve, mas já era um começo.

Depois da nossa reunião em volta de uma lareira na sala, onde eu tive que aprender a chamá-los pelo nome e não Senhor e Senhora , Lydia disse que poderíamos jantar. Nos sentamos numa mesa que havia próxima a cozinha, numa sala de jantar improvisada, a comida era simples, mas o cheiro e aspecto indicavam que estava maravilhoso. Assim que ia se servindo de batatas, seu pai o impediu. Todos paramos e prestamos atenção nele.

- Não costumamos fazer brindes, mas nossa ilustre visita merece. – O pai de anunciou, já erguendo o seu copo. Senti minhas bochechas esquentarem, e o resto da família se entreolhou, compartilhando algo que obviamente eu não entendia, mas quando todos ergueram seus copos, eu fiz o mesmo. – Quero agradecer por esse jantar, aos filhos do primeiro ministro, pois eu acredito que as taxas das ações da bolsa de Hong Kong vão cair amanhã, e o derretimento...

Meus olhos se arregalavam cada vez mais à medida que as bobagens saiam disformes e incoerentes da boca de Carl, até que me permiti olhar para , ele prendia o riso, mas foi a sua mãe que não conseguiu suportar e soltou uma enorme gargalhada.

- Pare, querido, já assustamos demais a garota.

Continuava sem entender e tive que esperar alguém conseguir conter o riso e me explicar. Rachel, ainda respirando fundo, me explicou que seu pai sempre fazia aquele tipo de pegadinha com os convidados considerados especiais. Morri de alegria em saber que fazia parte daquela seleta lista e no final acabei rindo, imaginando minha própria cara de horror.

As mãos dos pais de estavam sempre conectadas, procurando desculpas para se esbarrarem. O cansaço de um dia inteiro de trabalho não os impedia de sorrir, fazer carinho ou se interessar em saber o que os outros haviam feito. Aquela foi à primeira lição que tive na casa dos : companheirismo e amor verdadeiro.

Estava certa sobre a comida, o resto do jantar seguiu tranquilo, mas alguém sempre lembrava minha reação e todos nós voltávamos a rir. Todos levantaram da mesa após a sobremesa, e levaram seu prato, não estava habituada aquela atitude e achei estranho.

- Vamos, mocinha, nessa casa todos ajudam, e a senhorita vai lavar a louça.

Automaticamente ficou vermelho em constrangimento e encarou sua mãe com raiva, já eu a olhava com admiração. Nunca ninguém havia imposto que eu fizesse nada, muito menos um trabalho doméstico. Assim, impetuosamente eu a abracei, estava lhe agradecendo por mais um valor ensinado, não disse mais nada e a segui alegre para cozinha.

Enquanto lavava, Rachel secava e Lydia organizava as sobras na geladeira, conversávamos sobre tudo. Ri das histórias constrangedoras que contavam sobre , e outros casos de família. A interação daquele momento era tão sublime e mágica que desejei um momento como aquele com a minha mãe, um segundo depois rir ao imaginar Anne estragando as unhas e molhando sua roupa de grife numa pia.

Sabia que eu e não estávamos num relacionamento sério, mas receber a aprovação de sua família, sobretudo de sua mãe, era algo que eu buscava. Estava apaixonada por ele, e não iria negar que criar bases sólidas com aqueles que ele tanto amava era importante e essencial para nós dois naquele momento.

Londres – 14 de Dezembro de 2008 – 01:32 pm.

No dia seguinte, me encontrou na praça perto da minha casa, e no carro de sua mãe, seguimos para encontrar seu avô. Eu estava bastante empolgada e dava pulinhos enquanto caminhava de mãos dadas com . O local era amplo e espaçoso, tinha um jardim grande onde era possível ver outros idosos circulando junto a seus enfermeiros. Então eu entendi que as maiores partes da renda da família de custeavam um tratamento num local tão caro.

Procuramos seu avô, em alguma área externa, mas ele havia preferido passar o dia em seu quarto, esperava que nossa visita o animasse.

- Bom dia, vovô. – entrou e abriu as cortinas, iluminando o ambiente escuro. John estava sentado numa poltrona e encarava a parede.
- Já disse para me chamar de pai, Carl. – me olhou e eu neguei com a cabeça, mostrando que ele não precisaria me explicar aquela pequena confusão. Fiquei parada na porta, um tanto tímida, até que fui apresentada.
- Essa é a . – Os olhos de John eram iguais aos do neto, e passaram a brilhar assim que me enxergaram.
- Que honra ter uma moça tão bonita aqui. – Sorriu e se levantou vindo em minha direção, e me dando um abraço acalorado.
- Muito prazer, senhor .
- Por favor, me chame de John.

Me pediu, e sua mudança abrupta de humor me contagiou ainda mais. Uma enfermeira disse que ele precisava tomar uma medicação, e saímos do quarto por um instante. então me contou que seu avô, na maioria das vezes, achava que ele era seu pai, e que ainda tinha quarenta anos. A julgar pela aparência, ele parecia ter mais do que os seus sessenta anos, a doença o estava consumindo.

Voltamos ao quarto, e o dia no parque que planejava não estava dando certo, porque John não queria sequer cruzar a porta daquele cômodo.

- Mas vovô...
- Eu não quero sair hoje, Carl, não quando uma moça tão linda vem me ver.
- A gente tinha combinado.
- Já disse eu não quero.

A fim de acabar aquele embate, me atrevi e intervi.

- Tive uma ideia, esse quarto é grande o suficiente para fazermos.
- Ah, querida, sinto muito, mas acho que não posso mais te dar o que quer. – Disse completamente malicioso e sorriu.
- VOVÔ! – pareceu se ofender, mas eu caí na gargalhada.
- Além do mais, eu sou casado.
- Ok, garanhão, eu estava pensando em dançar, o que acha?
- Adorei a ideia, sou um ótimo pé de valsa. – Ri de sua expressão antiga.
- Vou pegar o violão, não tem som aqui.

olhou o avô e perguntou com o olhar se seria mesmo aquela música, com um manejo de cabeça ele responde que sim. Parecia óbvia a escolha daquela canção, instigando ainda mais a minha curiosidade pra saber o porque.

Coloquem essa música pra tocar!

John segurou firme a minha cintura e me conduziu em nossa dança. Ele não era muito mais alto que eu, e seu corpo já não era mais tão esguio, pela idade, mas era notável o quanto ele dominava aquilo.

Somewhere over the rainbow
Em algum lugar além do arco-íris
Way up high,
Lá no alto,
There's a land that I dreamed of
Há uma terra com a qual eu sonhei
Once in a lullaby.
Em uma canção de ninar.
Somewhere over the rainbow
Em algum lugar além do arco-íris
Skies are blue,
Os céus são azuis,
And the dreams that you dare to dream
E os sonhos que você ousa sonhar
Really do come true.
Realmente se tornam realidade.


Pela letra da música eu imaginei a história de John com sua esposa. Para mim personificava seus sonhos e esperanças durante a juventude, imaginei suas promessas e como ele imaginava que em algum lugar haveria um mundo sem problemas. Sem chuva, brilhante e ensolarado. Quanto ele lutou para alcançar o fim do arco-íris?

Someday I'll wish upon a star
Algum dia eu vou desejar sob uma estrela
And wake up where the clouds are far behind me.
E acordarei onde as nuvens estão bem atrás de mim.
Where troubles melt like lemon drops
Onde os problemas derretem como balas de limão
High above the chimney tops
Bem acima dos topos das chaminés
That's where you'll find me.
É onde você me encontrará.


Me arrisquei a colocar a cabeça em seu peito e absorver a letra daquela canção, ele pareceu contente com o gesto e me sentia feliz em poder estar mais presente na vida e receios de . Eu faria tudo por ele, e aquelas confianças que ele e sua família me davam eram uma confirmação de que eu estava no caminho certo.

Somewhere over the rainbow
Em algum lugar além do arco-íris
Bluebirds fly.
Pássaros azuis voam.
Birds fly over the rainbow.
Pássaros voam além do arco-íris.
Why then, oh why can't I?
Por que então, por que eu não posso?


- O senhor é um exímio dançarino. – Disse assim que tocou o último acorde e colocou o violão sobre a cama.
- Achei que vocês jovens não usavam mais esses termos. – Rimos. – E você está sendo bondosa, minha querida.
- Estou sendo sincera e sei reconhecer um bom talento.

Fizemos uma breve reverência, como se estivéssemos lidando com alguém da realeza, e ao seguir o olhar de notei uma senhora nos observando com um sorriso tímido nos lábios. Seus cabelos brancos lhe davam um charme, assim como suas bochechas rosadas e rechonchudas se destacavam através dos seus olhos azuis.

- Como vai, Meri? – se levantou contente e foi cumprimentar a senhora, que parecia igualmente entusiasmada por vê-lo.

Percebi John alongar o corpo, e que aquele era um sinal claro de sua tensão.

- Está tudo bem? – Perguntei a ele e isso o fez afastar algum pensamento e não me respondeu.
- Como vai, Meri? – Ele foi até a senhora, fazendo com que ela entrasse no quarto. Ficamos frente a frente e sorrimos uma pra outra. – Meri, essa é a... – Parou buscando na sua memória falha. – , minha nora. – Disse, mas olhou procurando sua confirmação. Quando ele confirmou convicto foi impossível não sorrir. Sim, eu era dele.
- Muito prazer. – Estendi a mão para ela, mas num movimento repentino ela me abraçou.
- Muito prazer, você é muito bonita e eu gostei das suas roupas.
- A senhora se veste muito bem. – Comentei e fui sincera. Enquanto os pacientes usavam uma espécie de uniforme, ela vestia um terno creme, chique e comportado, mas em seu pescoço havia um lenço com uma estampa colorida e atual. Ela conseguia manter-se na moda mesmo com a idade que tinha.
- O que acham de um chá? Poderão servir aqui. – Ela nos convidou, eu e achamos a ideia maravilhosa, mas John não. Enquanto esperávamos ser servidos, ele se afastou, mas eu senti a necessidade de ir atrás dele e conversar.

Puxei um pequeno banco e sentei ao lado da poltrona em que ele estava não muito afastado de Meri e , mas o suficiente para podermos conversar sem sermos ouvidos.

- Você gosta dela, não é? – Algo no meu pouco tempo com John me incentivou a ser atrevida e lhe fazer aquela pergunta.
- Não sei. – Notei sua confusão. – Eu ainda amo minha esposa.
- Se permitir amar de novo, não anula ou mancha de tinta outro amor. Será que só amamos uma única vez? – John ponderou o que iria dizer, notei um lapso de consciência, naquele momento a doença não o acompanhava.
- Quando eu conheci a avó de eu precisei lutar para ficar com ela. – Fiquei ainda mais atenta a suas palavras. – Mas hoje eu vejo que foi tudo tão simples e fácil que o faria sem o menor esforço, por que valeu a pena. – Ele sorriu triste e se corrigiu. – Ainda vale a pena.

Ele estava me dizendo que aquele tipo de amor só acontecia uma vez na vida. E quanto aos outros? Lhe perguntei isso.

- São outros tipos de amor. Uma longa e sincera amizade? Talvez.
- Acho que o senhor tem razão. – Sorri um tanto saudosista e lembrei-me de minha mãe Haley. Que tipo de amor ela e meu pai tiveram? – Não sei muito sobre o amor, na verdade acho que não sei nada.
- O amor nasce com a gente, minha querida. – Segurou minha mão carinhosamente. – Vamos conhecendo pessoas e ligações vão sendo feitas. Podem ser laços de amizades que nunca vão acabar, ou aquele amor à primeira vista. – Ele então encarou , que conversava empolgado com Meri, para depois voltar seu olhar para mim. – A vida acaba nos mostrando as ligações, cabe a nós descobrir e se permitir sentir.

Olhei pra o chão e me fiquei absorvendo sua sabedoria.

- O que a Meri é para o senhor? – Sorriu para mim como se aquilo fosse óbvio. Ela havia se tornado uma grande amiga e sempre seria. Logo os meus pensamentos foram voltados para , eu era covarde até para pensar sobre nossa situação, temia que o peso dos meus sentimentos por nos destruísse.

O dia correu sem que nos déssemos conta. Bebemos chá e pouco tempo depois John cedeu e todos nós sentamos juntos. Meri olhava para ele apaixonada, mas parecia ter noção do seu lugar no coração dele. Triste que, pouco tempo depois, Meri, em meio a uma história que contava, perdeu a noção de seu espaço e ficou nervosa e agitada, logo recebeu um calmante dos enfermeiros e foi levada para seu quarto. O clima descontraído acabou assim como nosso horário lá. Tínhamos que ir embora.

- Foi um prazer te conhecer. – O abracei.
- Mas nos conhecemos há anos, . – Disse como se aquilo fosse óbvio, mas a nossa ligação foi tão forte, que realmente parecia ter anos, por isso não discordei. – Prometa não demorar tanto para vir me ver.
- Eu prometo.
- E você, Carl. – Olhou sério para e deu um ultimato. – Nunca perca essa garota.


FLASHBACK OFF.

realmente me conhecia, e tinha comprado um apartamento sensacional pra mim. Ele era grande, mas não de um jeito exagerado, um pouco maior que o meu de Nova York e com uma vista de tirar o fôlego. Toda a sala era iluminada por enormes janelas de vidro, que deixavam a mostra Tower Bridge e a Torre Velha Castelo de Londres, estava no coração da cidade e assim que entrei lá, me senti novamente em casa. Como eu havia sentido falta.

O apartamento estava todo mobiliado, e mesmo tendo coisas ali que eu gostaria de trocar, era bom e confortável ter tempo para me preocupar com isso. Jazzy correu por todo o lugar, sendo seguida por Simba, observando e comentando tudo, e Simba estarem ali comigo me submergia a um plano onírico que eu escondia tanto de mim mesma que não sabia que o desejava tanto.

Começamos a pintura pelo quarto de Jazzy, que havia se decidido por roxo, cor do Barney, felicidade de , uma tortura para mim. Depois pintamos uma parede de uma sala interligada ao meu quarto, que serviria de ateliê, onde eu desenharia. Ficava bem de frente para varanda e eu esperava me inspirar com a vista, mesmo sem nenhuma necessidade. Desde que vira no pé da escada um dia depois que voltei para Londres, uma onde de criatividade me atingiu.

Por último, pintamos de preto uma parede da sala de jantar, Jazzy e concordaram que estava ridícula e eu era sem noção de decoração, até que peguei uma caixa de giz colorido e expliquei a eles que quem chegasse poderia deixar um recado ali, um lembrete de sua presença. Jazzy logo se animou dizendo que no dia seguinte faria um desenho bem bonito para mim, pareceu admirado com a ideia.

- , eu estou com fome. – reclamou. – Trabalhei o dia inteiro e nem água você me ofereceu. – Seus lábios tocaram minha orelha e ele acrescentou baixinho. – Ou um beijo.
- Também tô com fome, Dinda. – Assim que Jazzy interveio me salvando de responder, o latido de Simba era uma confirmação engraçada de que precisávamos nos alimentar.
- Pede pizza. – Apontei para . – Do que você vai querer? – Perguntei a Jazzy.
- De churrasco. – Se animou e eu olhei confusa para .
- É de calabresa. – Sorriu, já com o celular apoiado no ombro esperando ser atendido pela pizzaria.
- Vou querer de m...
- Mussarela, eu sei. – Ele ainda me conhecia, e algumas coisas em nós dois ainda permaneciam iguais.
- Isso. – Me voltei pra Jazzy, que mexia numa lata de tinta. – Vamos tomar um banho, mocinha.
- Mas eu não quero.
- Que isso? Vai virar uma porquinha agora? – Logo acrescentou meu argumento imitando o animal em questão.
- Não. – Jazzy fez seu bico habitual. – Eu tô com sono. – Claramente não estava.
- Se não tomar banho, sua Dinda não vai deixar você dormir na cama dela.
- Você também vai dormir aqui? – Finalizou sua manha, empolgada com aquela ideia. Vincos surgiram na testa de , ele esperava que eu me pronunciasse, como não me mexi, ele falou.
- Não, princesa.
- Mas por quê?
- Ele vai, agora vamos tomar banho? – Resolvi falar antes que a sessão de "por quês" começasse. – Minha cabeça parece que vai explodir. – Levei os dedos até as têmporas, sentindo uma dor latejante.
- Eu disse pra você usar mascara, mas você é...
- Já sei, sou teimosa. – Revirei os olhos e fiz uma careta sentindo a dor aumentar. se aproximou de mim, levando à costa de sua mão até minha bochecha fazendo um carinho. Por instinto fechei os olhos e aproveitei.
- Sobe, toma um banho com a Jazzy e depois um remédio. – Sorri. – Vou arrumar as coisas aqui embaixo, dar comida a Simba e quando a pizza chegar eu chamo vocês.
- Obrigada. – Foi apenas um sussurro, qualquer aproximação com ainda deixava boba e estática.

Depois de uma bagunça no banheiro com Jazzy e tomar dois comprimidos que fizeram um efeito quase imediato em mim, nós descemos. Os cabelos de molhados e outra roupa revelaram que ele também havia tomado um banho. Simba estava deitado confortável em cima do sofá, e por mais insistente que Jazzy tenha sido, ele não se animou para brincar. Depois que comemos, ligamos para e , que chorou com saudades da filha, Jazzy apenas se divertiu com o desespero dos pais e disse que estava bem contente de estar comigo e .

Para dormir, Jazzy fez com que eu e deitássemos ao seu lado. O “Estanho” ainda chegou a me pedir desculpas e em segundos o do colegial estava ali. O mesmo que tremeu quando me beijou na casa de seu avô e me jurou que poderia fazer melhor. E como fez. Senti meu corpo pesar pela medicação e acho que dormi antes de Jazzy.

FLASHBACK ON:

O natal era sem duvida o meu feriado favorito. Não sabia se eram as luzes que enfeitavam a cidade ou o tempo frio e acolhedor, mas havia uma mágica no ar. As pessoas costumavam ser mais gentis e sorridentes, parecíamos todos uma única família.

Minhas lembranças de natal eram sempre as melhores, e se repetiam a cada ano, numa doce e perfeita rotina. Festa beneficente das famílias do clube no dia 20, viagem à casa do lago no dia 22, passar a noite do dia 23 para 24 assistindo filmes ruins com meus pais e , envolta da lareira, e café da manhã também em família para abrirmos os presentes. O clima mágico do natal era tão forte que meus pais mantiveram a civilidade no último ano e tivemos mais um natal perfeito.

Esse ano tinha , e eu não poderia estar mais empolgada e feliz com isso.

POV. .

Londres – 20 de dezembro de 2008 – 10:21 pm.

passou literalmente uma tarde tentando me convencer a ser seu par numa festa beneficente de natal, organizada pela instituição de caridade que o pai dela patrocinava. Estava disposto a dizer não, e as razões eram óbvias. estaria acompanhada de , ela me contou um tanto receosa que todos os anos eles iam como par, e eu lhe dei um sorriso enquanto dizia que entendia, com o ciúme me corroendo por dentro.

Por outro lado, eu sabia que a insistência de provinha da ausência de ao seu lado, e meu instinto protetor sobre ela me fez aceitar. acabou ficando bastante feliz com a notícia de que iria, e isso acabou anuviando algumas paranoias.

Assim que cheguei à casa de aquela noite, ela me deu um smoking para vestir, me fazendo tirar o melhor terno que tinha no guarda roupa, na verdade era meu único terno.

Um manobrista educado se ofereceu para cuidar do carro, e assim que desci estendi o braço para , exagerei de propósito no gesto cordial a fazendo sorrir.

Entramos juntos no local onde ocorria a festa. Era uma mansão, que parecia ter o dobro da de , que já muito grande para meu conceito. Comecei a analisar o ambiente e notei que por trás de uma requintada e luxuosa decoração natalina havia uma superficialidade na maioria dos convidados. Seus narizes aristocráticos estavam apontados para o alto, mulheres plastificadas exibiam-se umas para as outras, talvez fosse uma implicância minha, mas a mãe de logo me veio a cabeça, era a perfeita garota propaganda daquela vida fútil e vazia.

- Depois do leilão isso aqui fica ótimo. Eu prometo. – sussurrou em meu ouvido, para depois olhar as pessoas em sua volta. Parecia procurar alguém. Parecia procurar .

Não demorou a encontrar, já que assim que ele nos viu se juntou a nós. Estava sozinho, e eu fiquei contente por ele estar tentando. Mesmo assim o ignorou, mas um sorriso escondido no canto de seus lábios indicavam que aquilo não duraria até o fim da noite. e apareceram um ao lado do outro, sem nenhum tipo de contato. Não pareciam nada mais do que um casal de amigos que escondiam sentimentos, eram como eu e , só que sem nenhuma razão aparente para serem. Eles nos contaram que não viria porque havia ficado doente, e repassei na minha cabeça como um lembrete que assim que chegasse em casa ligaria para ele e...

Tudo ficou amarelo. surgiu como uma estrela maior iluminando todo o ambiente. Usava um vestido esvoaçante e amarelo, que me provocavam nos lugares certos, a ponto de não me fazerem reparar que ela estava com o braço entrelaçado ao de .

- Ei, mate. – Abracei , até acho que lhe disse algo, mas como sempre aconteciam ao lado dela, todas as minhas sinapses estavam voltadas para .
- Oi, . – Minha voz soou tensa até mesmo para mim.
- Oi, Estranho. – Ela me abraçou amigavelmente, mas sussurrou só pra mim. – Você está irresistível de smoking. Queria te responder de imediato, mas todos os olhos ali pareciam estar voltados para nós dois, então me contentei em ficar próximo a ela.

Não me senti mal até ver a senhora se aproximar do pequeno grupo que formávamos. Ela vinha com o braço atrelado ao do marido, com um esforço desmedido e notável, não parecia mais satisfeita em ser a esposa troféu de Robert. Ao lado deles estavam os pais de , eram menos hipócritas e mais descontraídos, o humor de certamente era uma mistura dos dois.

- , você está linda. – foi elogiada pelas duas mulheres até me enxergarem. Mesmo sorriso e comprimento gentil, um infinito de falsidade.

Começamos um monte de conversas triviais das quais eu quis me manter alheio, concentrado em trocar olhares discretos com . Depois o pai dela se aproximou de mim, e desatamos a conversar, tínhamos uma afinidade grande e falávamos sobre todo tipo de coisa, mas música era sempre nosso assunto principal. Podia ver o quanto ele desejava voltar a tocar numa banda, o brilho dos olhos dele quando segurava uma guitarra e tentava nos ensinar alguma coisa nos ensaios era impagável e divertido.

O mesmo não acontecia com Anne, o olhar dela parecia me perseguir e era tão firme que me transformavam numa praga infestando o ambiente.

- Não sabia que havia sido convidado, . – Perguntou com a voz tranquila de sempre, com seu veneno escorrendo por sua mandíbula.
- Não fui. – Bebi um pouco de minha água, parecia tomar fôlego para contar a todos uma aventura e assim recebi toda a atenção. – Estava aqui como garçom, mas acabei roubando a roupa de um cara bêbado e resolvi me divertir. – Tentei parecer natural, mas havia sido rude com Anne propositalmente. Por um segundo as pessoas ali se assustaram com a minha resposta, até que a gargalhada de Robert e ecoou no salão.
- Você trabalha, então? – Perguntou sem parecer se abater com meu comentário.
- Claro, eu preciso manter meu alto padrão. – Ela abriu um sorriso enorme, os outros continuaram rindo.
- Um brinde. – Sugeriu erguendo a taça, e eu percebi que nada poderia abater aquela mulher.

Alguns tempo depois, nos sentamos numa mesa e assim que o leilão beneficente começou, fez um gesto com a cabeça para , que sorriu e o acompanhou. Logo eles voltaram com duas garrafas de vodca, que se somaram a mais duas, assim que o último item foi leiloado.

estava certa, aquela festa ficava insana no final. As mesas e cadeiras foram retiradas, e luzes fortes de balada te empolgavam junto à música agitada de dois DJ's.

Bem ao fundo do salão estavam e numa conversa bem acalorada, não saberia dizer se estavam brigando ou se divertindo bastante. Se eu estava bem sóbrio, era meu inverso e o pedido que fazia a era negado por sua cabeça. Como se lesse os meus pensamentos, segurou a minha mão e balançou a cabeça e os ombros, sorri e imitei seu gesto, voltando a curtir a festa.

Todos já estavam bêbados, então me afastei um pouco, não queria ver com , poderia parecer idiota, mas não conseguiria me controlar, e ficar longe era sempre a melhor solução.

Senti um olhar sobre mim, e me virei vendo Anne caminhar em minha direção arrumando o cabelo, parou ao meu lado parecendo procurar alguém. Pensei em comentar alguma coisa, mas resolvi ignorá-la, como ela estava fazendo.

- Não tem nenhum garçom trabalhando? – Perguntou um tanto alto, mas olhando para o salão e não para mim. Não respondi. – Eu quero saber se não tem nenhum garçom aqui para me servir.

Um riso irônico me escapou, e me limitei a isso. Se ela estivesse mesmo falando comigo, que me encarasse. Ela cedeu e seus olhos azuis faiscaram na minha direção.

- Pelo que eu saiba. – Fez um gesto de desdém. – Vocês, garçons, são pagos para trabalhar e não para ficar olhando o lugar.
- Desculpa, a senhora está falando comigo? – Era uma pergunta retórica, mas estava tão incrédulo que precisei fazer.
- Acho que não tem mais nenhum garçom aqui. – Riu e mexeu num colar brilhante que havia em seu pescoço. – Ou você já acha que faz parte dos convidados?
- Acho que agora faço sim. Tenho até um convite por aqui. – Fingir procurar em meus bolsos, mantendo um sorriso cínico no rosto.
- Escuta aqui, mocinho. – Segurou meu braço tão delicadamente que parecia fazer um carinho. A sua rigidez e imponência estavam nas palavras deferidas e no olhar. – O bobalhão do meu marido e a alienada da minha filha podem ter achado graça na sua brincadeira de mais cedo, mas no final você será sempre menor do que qualquer um aqui.
- Por que a senhora se incomoda tanto comigo?
- Eu sei de você e de . – Parei atento. – Você não está na sua casinha, onde pode dar uma de esperto. Eu já tive que aturar sua palhaçada de mais cedo e agora você... – Soltou uma risada achando bastante graça em me humilhar. – ...Logo você que não é nada, inferior a todas essas pessoas, quer dar uma de jovem irônico? Deveria se colocar no devido lugar e parar de ser patético. – Ela estava me afundando cada vez mais, mas havia algo me mantendo firme. Pensar em . – Só porque tem amizade com meus filhos e os amigos deles acha que pode se colocar no mesmo nível?

Senti vontade de responder a todas as suas palavras discriminatórias, ou de até jogar vinho tinto no seu vestido e ter um pouco de prazer ao vê-la descontrolada, mas no fundo ela era a mãe da garota que eu amava, e eu engoli o meu orgulho com um grande gole de água. Arrumei a postura e a encarei.

- O que a senhora deseja? – Seu sorriso foi intenso e satisfeito.
- Quero mais uma taça de champanhe. – Empurrou a vazia na minha mão, mas ela se desfez no chão assim que deferiu um tapa sobre ela.
- Você não vai pegar nada. – Soou firme, mas sua raiva era direcionada a outra pessoa. – , por favor, nos dê licença.

Insisti para ficar, até menti dizendo que iria apenas fazer um favor, mas sabia a mãe que tinha e foi irredutível em sua ordem.

- Primeiro que o trabalho dele é servir, segundo esse são seus tipinhos de amizade? Pelo amor de Deus, filha. – Nem havia saído e ela já arquitetada sua defesa. – Nem modos ou postura têm. Totalmente mal educado, aposto que os pais deixaram o mundo o criar, deveria ter vergonha de andar com uma coisa dessas.
- Cala a boca, mãe! – O descontrole em sua voz era bastante notório. – Ele e a família dele são mais dignas do que qualquer um aqui. – Foi à última coisa que ouvi antes de me afastar completamente.

POV. .

- Estranho? – Tentava fazer o mínimo de barulho possível. Andava a surdina em meio ao estacionamento vazio e assustador. – ?

Chamei já irritada, mesmo mantendo o tom de voz um pouco mais elevado que um sussurro.

- Linda. – Disse de repente atrás de mim. A descrição se foi e eu gritei em meio as gargalhadas de .
- SEU IDIOTA. – Estapeei seu peito, até ele segurar meu pulso. – VOCÊ QUER ME MATAR DO CORAÇÃO? – Usei a outra mão, até ele controlá-la também. – EU TE ODEIO. – Disse por fim, ele continuava rindo.
- Mentira, você está apaixonada por mim.

Grunhi em frustração.

- ERA SÓ ISSO? AGORA ME SOLTA. – Tentei inutilmente me desprender dele.
- Por que você continua gritando comigo? – Sua expressão trazia uma confusão enorme, que logo fez eu me senti uma bruxa. Respirei fundo, tentaria ser honesta com ele.
- E porque eu não estaria? – continuava tentando encontrar uma explicação para minhas palavras e atitudes, e quando percebeu que eu permaneceria ali, enterneceu suas mãos que rodeavam meus pulsos. Agora elas pareciam me acariciar. – Minha vida é uma droga e eu ainda estou te arrastando para ela. Eu vou entender o fato de você sair daqui assustado e nunca mais querer me ver.
- Ei, calma ai. – Voltou a sorri. Acho que ele ficou feliz em saber que eu tinha medo de perder ele e o que estávamos vivendo. – Isso é pelo que sua mãe me disse?
- Você achou pouco? – Eu não poderia estar mais envergonhada.
- Ela foi sim rude. – Manteve toda sua educação e respeito.
- Ela foi uma bitch, , use os termos certos.
- Ela foi rude. – Me corrigiu. – Mas eu não me importo se ela gosta ou não de mim, só me importo com o que a filha dela sente. – Sua mão direita percorreu o meu rosto num carinho que me faria fechar os olhos se eles não estivessem tão conectados aos dele. Eles estavam me dando a certeza de que sempre estaríamos juntos apoiando um ao outro.
- Eu acho que ela gosta um pouco de você.
- Só um pouco?
- Talvez muito, talvez muito mais do que podemos imaginar.
- Nesse caso. – Sua mão desceu para minha nuca, segurando firme e me trazendo para ainda mais perto dele. – Acho que posso aguentar umas ofensas. – Sorri. Acho que era impossível estar mais apaixonada.

tocou minha pele com suas mãos e seus lábios. Logo nosso beijo mostrou-se o que sempre seria. Uma necessidade. Minhas mãos percorriam suas costas, aparentemente mais largas por conta do smoking. Suas mãos fizeram pressão em minha cintura. Mordi o seu lábio e nos encaramos rindo.

O barulho estridente de algo se quebrando nos interrompeu. Era uma garrafa de uísque aos pedaços no chão, pertencia a , que nos encarava com uma fúria desmedida. Tamanha foi a surpresa que eu e prendemos a respiração e não nos movemos. Até que sorriu. O sorriso mais lindo que já tinha visto, agora carregava um sarcasmo, decepção e raiva, muita raiva. Assim ele entrou no seu carro e saiu, seu pneu cantava em contato ao chão, numa velocidade e condição imprudente. Segundos depois eu e o seguimos.


FLASHBACK OFF.

- Aqui dentro também vai aparecer um bebê? – Acordei com a voz de Jazzy, depois de dormir algumas horas ou instantes, não saberia dizer. Permaneci de olhos fechados.
- Não, princesa, só as mulheres que carregam um bebê. – Ela deveria estar cutucando a barriga de , que se mexia ao meu lado.
- Mas por quê?
- Porque só os corpos delas podem. – explicava divertido, numa paciência admirável.
- Mas, por quê? – Ela ainda não estava satisfeita. Ri imaginando a próxima resposta de .
- Por que as mulheres são mais fortes.
- Mas você é bem e meu pai e meus tios, são bem fortes.
- Nem inclua seu tio nisso. – gargalhou em meio a sua fala contida, provavelmente com receio de me acordar. – Ele é um fracote.
- Não é não. – Jazzy replicou.
- Vamos tentar dormir agora, princesa?
- A Dinda tem um bebê na barriga? – A pergunta dela fez um silêncio surgir. Aquilo era demais para um único dia.
- Não, ela não tem. – A voz dele soou triste. Meu coração despedaçou.
- Por que não?
- Porque, para ter, primeiro ela precisa arranjar alguém que ela ame muito, então eles irão ficar juntos e terão um filho, assim como seu pai e sua mãe tiveram você.
- Então um dia ela vai ter um bebê?
- Vai sim. Ela talvez não saiba, mas nasceu pra isso. – Mesmo no escuro de meus olhos fechados eu percebi que Jazzy havia feito seu tradicional bico, sendo seguido de um suspiro bravo. – Ei, não fica assim, você não ia gostar da Dinda ter um bebê?
- Não.
- Por quê? – Agora eu quis rir ao ver ser o questionador da história.
- Porque ela não ligaria mais pra mim.
- Para de ser boba, sua Dinda te ama e você será sempre o primeiro e único bebê dela. – Jazzy parecia não ter concordado, então reclamou.
- Eu tô com sono.
- Vem cá, sua manhosa, deixa eu te cobrir.
- Você e a minha Dinda vão ter um bebê quando? – Essa sem duvida foi a pergunta de maior impacto naquela noite. Um silêncio maior ainda se estendeu.
- O que você perguntou, Jazzy? – Ganhou tempo.
- Você não disse que ela tinha que encontrar alguém que a ame muito?
- Disse. – Sua voz demonstrava receio. Até eu estava com medo do que se passava na cabeça daquela criança.
- Então, Dindo, ela já tem você.
- De onde você tirou isso?
- Você olha pra minha Dinda, como meu pai olha pra minha mãe. – Naquele instante o que eu sentia por se tornou mais real.
- Quantos anos você tem mesmo, pirralha? – Algo em seu tom de voz me confortou, ele havia pensado o mesmo que eu.
- Eu não sou pirralha, já vou fazer seis anos.
- Realmente muito adulta, mas enquanto você não chega a essa maior idade a senhorita vai dormir, se não vou te encher de cosquinhas. – Dito isso as gargalhadas dela ecoaram enquanto eu sentia os dois travarem uma guerra ao meu lado.
- Não, Dindo, para. – Pediu ofegante em meio ao riso. – Eu prometo, vou dormir agora.
- Ok. – Pararam. – Mas antes me dá um beijo de boa noite. – Ouvi o estalar de seu pedido.
- Boa noite, Dindo.
- Boa noite, minha princesa. Eu te amo.

Quando o silêncio se estendeu no quarto, com cuidado, peguei uma caixinha de chá que trazia em minha bolsa e desci até a cozinha. Me sentia sufocada e confusa.

Claramente, o que sentia por ainda era forte demais, arriscava a acreditar que não havia mudado, só que eu havia, assim como ele e nosso mundo. Eu o queria para mim, e apenas num único dia a chama de esperança que isso poderia acontecer voltou a queimar, lenta e discreta, mas então o peso da realidade me caia sobre os ombros. Seria justo acorJohn segurourentá-lo a uma pessoa como eu? O que eu poderia oferecer além do meu coração?

Beberiquei o chá quente, mas isso não me acalmou, eu sentia que deveria me afastar, mas estava cansada demais para fugir, cansada demais para...

Fechei os olhos e reprimir qualquer pensamento assim que deixou o primeiro beijo em meu pescoço, suas mãos seguras em minha cintura e seu carinho ia desde a minha nuca até a mandíbula, sem nenhuma pressa.
- Estranho. – Disse baixinho. – Melhor parar.
- Não. – Me virou e me tomou para si, beijando com vontade. Depois me encarou. Assim como pela manhã, ele estava me pedindo para lhe contar o que trazia comigo, mas eu não podia, não teria coragem de encarar os olhos decepcionados de um dia. Ele entendeu e pareceu se conformar, por hora. – Não vou parar nunca, agora que estamos aqui, não farei menos do que te tornar minha para sempre. – Me pegou em seu colo, colocando sobre a bancada da cozinha e me fez sua, reafirmando as suas palavras ali mesmo.


Capítulo 12

"Your hand fits in mine, like it's made just for me…But bear this in mind It was meant to be." Little Things – One Direction.



FLASHBACK ON:

Londres – 21 de dezembro de 2008 – 03:21 am.

- Para o carro! – Gritei mais uma vez, inutilmente, enquanto tentávamos alcançar o carro de . Parecíamos estar competindo num racha.
- Ele ta descontrolado, não vai parar. – dizia o óbvio, me deixando mais preocupada.

continuava a acelerar, mais e mais, ignorando as minhas súplicas através de gritos ou acenos, assim como ignorava as buzinas incessantes que dava. Já dentro do bairro residencial, um pouco mais afastado do centro de Londres, onde morava, tudo estava calmo e tranquilo nas ruas, agradeci por ser um problema a menos.

Tudo que eu mais temia aconteceu de uma maneira tão rápida e tão fácil, que mal podia acreditar. A cena do perdendo o controle do carro e se chocando com uma árvore se misturou na minha mente ao grito agudo e horrorizado que eu dei.

Desci as pressas e corri até ele. Meu corpo formigava e eu só desejava encontrá-lo bem e vivo. me seguiu e foi mais corajoso, abrindo a porta do carro.

- Aparentemente ele está bem, mas vamos ligar para uma ambulância.

Sabia que isso era o correto a fazer, mas neguei e pedi para que me ajudasse a levá-lo pra dentro de sua casa.

Sabia onde a chave reserva ficava, e se tivéssemos sorte, os seguranças do condomínio não relatariam o acidente. O senhor , para manter uma imagem, poderia afastá-lo de Londres e isso era o que eu menos queria.

Entre resmungos desconexos e soluços de , conseguimos colocá-lo na cama, onde ele logo apagou. Quando a mão de pousou em meu ombro, eu percebi que meu corpo ainda estava tremendo, e as lágrimas eram impossíveis de conter. Ele não disse nada, só se sentou na poltrona, comigo em seu colo e me abraçou, esperando que eu me acalmasse.

- Ele... – Comecei a dizer, e olhei para , e me senti a pior pessoa do mundo. – Ele ainda não acordou?
- Não, eu acho que isso é mais o efeito do álcool do que do acidente. – Me garantiu.
- Ele vai ficar bem, não vai?
- Vai sim. – Fez um carinho leve no meu rosto. – Não faz isso com você, , isso não foi sua culpa.
- Claro que foi. Eu sempre faço tudo errado, eu... – Ele me abraçou e eu me senti segura. – Eu não suporto ver meus amigos assim.
- Quando ele acordar, ele vai te agradecer por estar aqui para ele, por se preocupar. – Concordei com a cabeça, mesmo achando aquilo bem improvável. – Você não quer descansar um pouco?
- Não, está tudo bem. – Riu e me soltou, me tirou do seu colo e então saiu do quarto. Instantes depois, ele voltou com duas xícaras nas mãos.
- Sei que você não gosta de café, então fiz chá pra gente.
- Obrigada. – Provei e vi que ele teve o cuidado de não colocar açúcar. – Está sem açúcar. – Afirmei sorrindo.
- Eu sei do que você gosta.
- Talvez. – Ele revirou os olhos, mas riu junto comigo.
- Tem certeza de que não quer dormir?
- Eu queria conversar, se você não se importasse.
- Seria ótimo. – Dessa vez, se sentou afastado de mim.

O silêncio veio e perdurou um longo tempo. Ficamos apenas nos encarando enquanto bebericávamos a bebida, agora já fria. Sabia que não queria que eu me culpasse, mas seu semblante denunciava que ele também se sentia desse jeito. Estar naquele quarto enquanto dormia nos fazia parecer patéticos. Assassinos que bebem chá ao lado de sua vitima.

- ... – tentou puxar um assunto, mas motivou minha coragem para um desabafo.
- Eu amo o . – Notei estremecer, mesmo estando do outro lado do quarto. – Faria tudo por ele, mas não estou apaixonada, e acho que nunca estarei. – Respirei fundo e fechei os olhos, buscando mais força. – Só que fui uma completa babaca achando que ele sentia o mesmo, porque, de todas as pessoas com que eu já fiquei, ele era o que menos queria magoar. Ele é o meu melhor amigo, melhor parceiro.

esboçou um sorriso e eu soube exatamente que ele tinha entendido o que sentia, mesmo não tendo sido muito clara.

- Eu e o fomos vizinhos, antes dele se mudar para cá aos 10 anos, e sabe a primeira coisa que ele me falou? Ele falou de você, sempre de um jeito devoto e protetor. Esconder o que temos foi errado, mas só ficamos com medo de magoá-lo. Eu também o amo, e não queria machucar ele. Então, por esse amor que nutrimos por ele, só podemos ser os mais honestos possíveis a partir de agora.

Pensei em minhas conversas com , eu não poderia ser honesta com ele sem antes conseguir fazer isso comigo mesma. Encarei os olhos de em meio à penumbra que se desfazia com a noite, dando lugar a manhã, e eu reafirmei o que eu queria. Eu o queria. - Você está certo. – Me levantei e fui até ele. – Acho melhor você ir. – A surpresa do meu pedido o atordoou, mas não o impediu de recuar.
- Vou esperar ele acordar.
- Vai, , quando ele acordar eu preciso falar com ele a sós.
- Mas...
- Por favor. – Pedi fazendo um carinho em seu rosto. – Depois vocês conversam e se resolvem jogando PlayStation ou sei lá. – Concordou com a cabeça e sorriu, mas nós dois sabíamos que dessa vez seria difícil.

pegou as suas coisas e saiu, não ousou me beijar, acho que por respeito a , pelo menos eu esperava que fosse esse seu único motivo.

Voltei a me sentar na cadeira e me perdi em pensamentos, refazendo a trajetória que havia me deixado ali. Fiz isso até o Shrek acordar, um tanto aturdido. Quando me viu ali, seu olhar me destruiu.

- Aceita um chá? Coloquei um reméd...
- O que porra você está fazendo aqui? – Perguntou pausadamente, colocando ainda mais fúria em suas palavras.
- , nós precisamos conversar. Eu sinto muito.
- Ah, você sente muito? – Concordei com a cabeça. – Pelo que, ? Ficar com o filho da puta do meu melhor amigo pelas costas, ou por continuar me dando esperanças quando você queria jogar com nós dois?
- Isso não foi um jogo. – Me sentei ao seu lado na cama, mas ele me olhava com tanto asco que eu me sentia imunda. – Você sabe que eu te a...
- Não ouse falar isso!
- Mas ...
- E não ouse chorar nessa conversa. Seja mulher para assumir a porra dos seus erros.

Não havia reparado que lágrimas escorriam o meu rosto, mas sua ordem foi atendida efetivamente. Engoli o choro, aguando minha dor por dentro.

- Eu não queria que as coisas fossem assim.
- E o que você queria? Eu te conheço e sei que você não ia me contar. – Abriu os braços. – Então ai está seu espetáculo.
- Eu não sabia como contar! Nem eu sei o que está se passando comigo, não é como das outras vezes, eu..
. - Você é um caralho de garota, manipuladora e dissimulada.
- Não fala assim comigo. – Foi um pedido sôfrego.
- Espero que o outro imbecil da história perceba isso e você fique sozinha, sem nenhum dos dois. Porque você é incapaz de nutrir um sentimento por alguém!
- EU ESTOU APAIXONADA POR ELE! EU O AMO! – Gritei a plenos pulmões, mas não foi a altura da minha voz que fez se encolher. – Eu estou apaixonada como nunca estive.

Depois de longos segundos me encarando, ele se levantou e disse olhando no fundo dos meus olhos.

- Espero que ele não te faça sofrer como você me fez. – Entrou no banheiro e bateu a porta com força. Era isso, Shrek e Fiona haviam acabado.

Londres – 21 de dezembro de 2008 – 10:21 am.

Saí do táxi com os sussurros destruidores de me perseguindo, mas não tive tempo de continuar sofrendo com isso. Os gritos vindos de casa me impediram.

- Não me acuse por querer me salvar. – Minha mãe dizia encarando meu pai enquanto caminhava pela sala. Ele que sempre foi calmo e complacente, estava um caos, exalando desespero.
- Nós somos uma família, Anne!
- Nós éramos, mas você fez tudo acabar. – Sua fala carregava um deboche.
- Por falta de dinheiro? – Riu sem humor e olhou na direção de um objeto até então não notado por mim. Uma mala. – Quem vai acabar é você, se for embora.

Minha mãe o ignorou completamente, como havia fazendo por meses. Eu continuava parada, observando tudo desabar.

- ? – Ela se virou para o meu irmão, ele parecia tão furioso quanto meu pai e só negou com a cabeça.
- Você está indo embora? – Minha voz saiu um sussurro em meio aquele silêncio perturbador.
- , eu estava esperando você. – Em seus olhos surgiram uma esperança.
- Nem pense em envenenar minha filha, Anne!
- Ela tem o direito de escolher, Robert. – Agora eu vi uma fúria surgir nela. – E ela também é minha filha!
- Não me venha...
- CHEGA! – Gritei, cansada de tudo aquilo, daquele dia. – Alguém pode me explicar o que significa tudo isso?
- Conversa com a mamãe, ela tem muito a dizer! Pra mim isso já deu! – praticamente gritou, ele nunca gritava, e subiu para seu quarto. Meu pai saiu da sala sem dizer nada, encarei minha mãe e esperei suas respostas.
- Estou indo embora. – Tentou amenizar o ato com um tom de voz calmo.
- Isso eu notei.
- Tive a sorte de conhecer uma pessoa. – Começou a mexer num colar de ouro que trazia eu seu pescoço, ela estava nervosa. Eu estava com repulsa. – Um homem bom e que está disposto a nos ajudar, você pode vir morar conosco e...
- Nunca!
- ... - Isso não está acontecendo. – Me senti tonta, mas procurei me manter firme. - Seu pai está quebrado! F-A-L-I-D-O! – Agora suas palavras tinham um tom irritadiço. – Vamos ter que sair dessa casa antes do natal!
- E você vai largá-lo por causa disso? Nós somos uma família, precisamos ficar unidos.
- Pra que? – Ela pareceu ofendida. – Compartilhar uma lata de sardinha no jantar? Acorda, ! Isso aqui é o mundo real e não uma dessas séries idiotas que você assiste.
- Mas...
- Querida, o foi burro em querer ficar aqui, mas seja inteligente, se você for comigo, não ira precisará baixar seu estilo de vida, ou melhor, não vai precisar... Trabalhar. – Ela disse a palavra com tamanho asco que bem se via que detestava fazê-lo.
- Seja feliz, mamãe. – Eu a abracei com todo o carinho que poderia lhe dar. Eu a amava mesmo com seus defeitos e preconceitos desmedidos ou por estar nos abandonando quando mais precisávamos. Num momento da vida dela, ela escolheu ser a minha mãe, e querer me levar com ela era o seu jeito estranho e absurdo de me dizer que sempre seria.

Senti meu abraço ser retribuído, e quando ela me encarou seus olhos estavam brilhando, mas eu sabia que não veria derramar nenhuma lágrima. Anne jamais chorava.

- Feliz natal. – Me deu um beijo na testa. – Eu te amo.
Eu não sabia que aquela seria a última vez que a veria naquele ano, mas foi.

Eu tinha feito uma promessa para mim de que não choraria, mas assim que minha mãe cruzou aquela porta, fui pra o meu quarto e desabei. Mesmo não tendo conhecido minha mãe Haley, eu passei a vida sentindo sua falta e vivendo seu luto, agora eu sentia algo parecido com minha mãe Anne.

Três batidas em minha porta e meu pai do outro lado me perguntou se podia entrar.

- Claro. – Respondi e me sentei, tentando me recompor.

Sua expressão ao entrar no quarto foi de desolação, nunca havia meu pai tão abatido ou desmotivado. Ele que era um positivista, cheio de sonhos e esperanças, agora andava cabisbaixo.

- Sinto muito. – Foi a primeira e única coisa que ele disse desde que se sentou a minha frente na cama e me encarou.
- Nós vamos ficar bem, papai. – Não era só uma tentativa de me mostrar otimista, eu realmente acreditava naquilo.
- Talvez ela tenha razão, eu não vou poder te dar muito e ... – Interrompi sua fala desesperada.
- Eu só quero seu amor, pai. – As lágrimas agora molhavam nossos sorrisos.
- Sabe , é difícil ser um pai comum para filhos tão extraordinários. – Me acolheu para seu colo. – Eu realmente sinto muito por você estar perdendo tantas coisas. – Me afastei minimamente para poder olhá-lo nos olhos.
- Eu ainda tenho você, certo?
- Sempre.
- Que tipo de exclusão é essa? – invadiu o quarto a fim de acabar com qualquer clima triste.
- Papai estava me dizendo que sou a filha favorita dele. – Menti, limpando meus olhos e jogando o cabelo para o lado, sorrindo da falsa expressão indignada do meu irmão.
- Pai, contou para que o senhor estava ficando careca. – também mentiu e sobre a maior bobagem possível. Meu pai estava longe de ficar careca, acho até que ele não ficaria, mas umas pequenas falhas nas laterais de sua cabeça estavam deixando-o paranoico.
- Ei... – Protestei, e papai fingiu chorar por isso, apoiando seu rosto no ombro de .
- Quem é seu filho favorito agora? – quis saber e nós gargalhamos daquela brincadeira tão boba. Eu realmente tinha razão, nós ficaríamos bem, ficaríamos sempre juntos. Uma família.


FLASHBACK OFF.

Londres – 29 de novembro de 2015 – 01:21 pm.

Para manter a fama, eu estava vinte minutos atrasada para apresentação de Jazzy, não havia sido proposital, só uma sucessão de erros ao longo daquela manhã. devia ter chegado, já que ele levaria Jazzy, só esperava que ele não me enchesse com isso.

A escola não era tão pontual como imaginei e metade dos pais não haviam chegado, , por sua vez, conversava tão animado com a professora de Jazzy que era vergonhoso, senti meu corpo esquentar, mas não admitiria que aquilo era ciúmes. Me mantive longe e procurei um lugar bem na frente para me sentar e gravar toda a apresentação.

- Obrigado por guardar um lugar pra mim. – disse irônico no seu acento atrás de mim.
- Achei que dormir com a professora fosse te garantir um lugar nos bastidores. – Me virei um pouco para encará-lo e, enquanto sorria amarelo, ele sorria satisfeito.
- Não dormi. – Ele não esperou eu tentar esconder um sorriso e disse. – Ainda. – Então não havia mais sorrisos, só uma dor lenta chegando.

Me virei e as cortinas abriram, um garoto com uns dez anos começou a recitar um poema e preferi me concentrar naquilo e esquecer a brincadeira idiota que tinha feito. Talvez a idiota fosse eu, mas também não quis pensar sobre isso.

Aquela peça de natal era bem chata, para ser sincera, até que Jazzy entrou no palco, era um dos anjos e parecia bem tímida até me ver acenando orgulhosa. Pude ouvir os gritos de incentivo de e sua voz transbordava orgulho. Ele era incrível com crianças, sempre foi com qualquer uma delas, com as dele então... O gosto amargo se formou em minha boca.

Quando a apresentação acabou, eu esperei pela saída dela, segurando seu casaco, em meio a tantos outros pais. Era divertido estar ali, esperar pelo seu bem mais precioso vir correndo procurando seu abraço, querendo te contar todos os detalhes. E assim Jazzy fez. Jazzy seria o mais perto que teria disso.

estava tirando algumas fotos e nos olhava ansioso querendo abraçar Jazzy, que tagarelava animada em meu colo.

- Finalmente. – estendeu os braços e Jazzy se jogou. – Você estava linda, princesa.
- Mas eu quase caí no final. – Eu havia ficado preocupada, e todos se espantaram em coro, Jazzy com toda sua graça fez uma piada dela mesmo e se levantou continuando a dançar. Ela era maravilhosa.
- Cair no palco às vezes te dá destaque e você acaba virando estrela. – Tentei desfazer qualquer pensamento derrotista de sua cabeça. – Além do mais, você lidou com isso muito bem.
- Isso mesmo, você foi ótima. – Então ela sorriu abertamente, exalando uma doçura e nos olhou pronta para fazer um pedido.
- Então podemos tomar sorvete?
- Claro. – concordou de imediato. – Na verdade, eu tenho um passeio bem legal programado para nós três. – Gostei de ouvir ele falar aquele número.
- Mas só uma bola, como sua mãe indicou. – Avisei e ficou mexendo a boca para me irritar. O ignorei.

Quando íamos saindo, fomos impedidos pela tal professora.

- Parabéns, Jazmym. – Disse para criança, mas mantinha os olhos na pequena parte do peito de que estava exposta.

Ver conversando tão animado com aquela mulher fez meu estômago revirar, mais do que isso, me instigou a responder no ímpeto uma das várias mensagens que Andrew havia me mandado ao longo daqueles dias, me convidando para sair. Se para o que estávamos "vivendo" não significava muito, eu deveria fazer o mesmo.

Continuei ali, mexendo no meu celular para não ter que encarar os cochichos e risinhos dos dois. A tal professora não parecia ser alguém que só queriam dormir com um astro como , ela parecia decidida a investir para ficar. Já estava prestes a ir ao banheiro vomitar, então apareceu e finalmente podemos sair. Não ousei comentar nada do que estava sentindo, na verdade não ousei falar.

O carro que nos levava parou no Hyde Park e eu não pude conter minha excitação pelo que estava por vir. Tivemos que nos deter lá dentro por uns instantes, até os seguranças acharem que era o momento ideal, eles nos seguiriam a paisana, e assim que colocou uma boné na cabeça, nós finalmente saímos.

- Super star. – Brinquei quando uma fã, que hilariamente devia ter uns 35 anos, o reconheceu, tirou uma foto e prometeu que não contaria, ou a postaria hoje, para que assim ele pudesse desfrutar do passeio.
- Você me disse que isso iria acontecer. Bem aqui. – Dei de ombros, com um ar superior. – É agora que você me diz que é uma vidente?
- Isso não tem nada a ver com previsões. – Jazzy corria em nossa frente, então ele segurou minha mão e me puxou para si, a prendendo em minhas próprias costas. Nos encaramos, os olhos brilhando. – Tem a ver com acreditar.
- Acho que sempre soube disso, por isso não desisti.
- Eu teria voltado só para te dar uma mordida. – Eu ri, e ele fez uma careta ao imaginar.
- Dindooooo! – O grito de Jazzy nos alertou. Suas mãos apontavam freneticamente para uma barraca onde havia diversos ursos. Barraca de tiro ao alvo. – Eu quero um!
- Acho que vamos fazer uma pequena viagem no tempo. – Comentei enquanto íamos ao encontro dela.
- É só o que estamos fazendo desde que você voltou. – Acompanhei sua risada, mas ele havia me dado algo para pensar. – Qual você vai querer? – segurou aquela arma, todo seguro de si, antes que Jazzy respondesse, ele mesmo fez isso. – Te darei o maior.
- Fique olhando Jazzy, o Dindo acerta todos de primeira. – Eu disse exaltando propositalmente o ego de .
- Você consegue, Dindo. – O incentivou, mas , depois de quinze tentativas, só acertou dois patos, ganhando um urso pequeno até pras mãozinhas de Jazzy.

Ela, obviamente, não ficou muito contente, então sugeri que fôssemos comer maçã do amor e esquecer aquele desastre.

- Então, ... – Comecei e prendi o riso. Jazzy acenava contente do carrossel. – Foi sorte de principiante?

Ele me encarou e logo entendeu o que tinha dito. Fez um bico e os vincos em sua testa surgiram.

- Claro que não! Hoje não foi um bom dia. – Respondeu irritado. – Além do mais, eu precisava vencer você ali.
- Para me torturar na roda gigante? – Debochei. – Que inteligente.
- Se eu soubesse que você iria me morder, teria te pedido outra coisa. – Riu malicioso e sugestivo. Eu mordi seu ombro. – Para com isso! – Implicou com a mordida, mas ainda sorria.
- Você mereceu! – Mordi do outro lado. – Seu pervertido insuportável. – Abriu a boca numa falsa careta de ofensa, e então me deu as costas. O abracei por trás e mesmo de salto ainda tive que me esticar um pouco para poder sussurrar em seu ouvido. – Insuportável e lindo. – Ele continuou fazendo seu charme e fui tomada com uma corrente de lembranças.
- Ainda não foi suficiente. – Sua voz trazia uma alegria evidente, claro que também se recordava. Aquela era uma memória boa e gostosa de ser lembrada. Distribui beijos por sua nuca enquanto proferia cada elogio.
- Lindo, inteligente, talentoso, bondoso e lindo. Já disse lindo, não é? – Me virou de uma só vez, segurando minha mão direita, a outra segurou firme minha a parte inferior das minhas costas, juntou nossos corpos e nos embalou numa dança imaginária.
- ! – Falei tomada pela surpresa do seu ato.
- Tudo que eu quero é dançar com você, minha Estranha. – O sorriso dela era enorme, como há muito tempo eu não via, e se refletia tanto ao meu, que desejei congelar nossos corpos assim.
- Não tem música, seu bobo. – Ri enquanto apertava seu ombro, seguindo seus passos.
Coloquem essa música pra tocar!

- Posso resolver isso, dizem que eu sou um cantor de sucesso. – Gargalhei ao seu comentário, e revirei os olhos, fingindo tédio. – Beauty queen of only eighteen... She had some trouble with herself... He was always there to help her…She always belonged to someone else…– Cantou baixinho no meu ouvido, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar.

O encarei extasiada, justamente a reação que ele esperava.

- I drove for miles and miles…And wound up at your door… – Os dedos de percorriam minha espinha, tornando aquele momento mais irreal. – I've had you so many times but somehow… I want more.

Nossas respirações estavam mais pesadas, nossos narizes se acariciavam e eu poderia tomá-lo para mim só por ouvi-lo. – I don't mind spending everyday… Out on your corner in the pouring rain…Look for the girl with the broken smile. – Passava as unhas por sua nuca enquanto nos encarávamos, sendo consumidos por uma paixão que lutava para resistir um passado de dor. – Ask her if she wants to stay a while… And she will be loved… – Seus lábios perigosamente perto dos meus. – And she will be loved.

Não tinha dúvidas de que seria amada ao lado de , mas e ele? Eu poderia amá-lo o suficiente?

Jazzy correu até nós dois, e tivemos que nos afastar.

- Agora quero ir a roda gigante! – logo pareceu tenso, e aquilo era por mim.
- Melhor outro dia. – Ele sugeriu.
- Você não tem medo de ficar lá no alto? – Perguntei e ela riu de mim.
- Não, eu adoooooro o alto. – Levantou os bracinhos e pulou animada.
- Então vamos, princesa. – Disse e segurei a mão dela e sai em direção ao brinquedo girando ela. surgiu atrás de nós ainda incerto sobre aquilo.

- . – Me deteve segurando meu antebraço. – Não precisa ir, eu sei que...
- Está tudo bem, Estranho. – Tentei acalmá-lo.
- Como pode estar? – Foi o que conseguiu perguntar em meio a sua confusão.
- Quando a gente passa a andar na escuridão, passa a não ter mais medo do escuro. Da luz? Talvez, não do breu. – Como eu queria que ele soubesse que aquilo não era só uma metáfora para minha vida, mas ele continuava me olhando confuso. Jazzy se sentou no meio da cadeira e ficou esperando por nós dois, então completei. – Aquele frio paralisante só existe quando se tem algo a perder.
- Você não tem mais? – Não sabia ao certo se ele se referia a algo passivo de perda ou do meu medo. Resolvi responder a mais fácil.
- Não tenho medo de nada, .

Durante nosso passeio naquele brinquedo, que já fora tão apavorante para mim, nós cantamos, observamos a paisagem e rimos. ainda brincou sobre eu continuar tendo medo do Barney. Não lhe disse, mas o Barney não me tirava à vida, e a minha falta de medo era o da morte, já que eu a merecia. Ao fechar meus olhos, senti o vento frio acariciar o meu rosto, me enchendo de paz.

Londres – 29 de novembro de 2015 – 09:44 pm.

Jazzy dormiu assim que tomou um banho. Eu e estávamos bebendo um vinho, nada parecia existir além daquele instante.

Estava com os pés em suas pernas, e ele me olhava sentado confortável do outro lado do sofá. Havia aceitado um jogo proposto por ele. Simples e eficiente, onde perguntaríamos e responderíamos o que quiséssemos sobre nossos anos separados.

Por vezes me sentia caindo numa armadilha, já que ele sabia mais sobre mim do que o contrário, mesmo assim até aquele momento tudo estava funcionando, já havia me dito sobre seu relacionamento com as fãs e a mídia, eu já tinha lhe contando sobre meu processo criativo e como era o meu apartamento em Nova York.

- Quando você passou a beber tanto? – Questionei, lembrando que no começo do nosso relacionamento ele não bebia, e mesmo quando passou a beber, não fazia com tanta frequência como eu e os outros do nosso grupo.
- Qual o problema de beber tanto?
- Responde, Estranho. – Meu tom era de uma falsa ameaça.
- Quando eu notei que eu podia me soltar mais. Ser irresponsável. O resto vem como consequência.
- Do tipo. – Fiz aspas com os dedos. – “Precisamos levá-lo para Rehab"? – Concordou com a cabeça enquanto virava todo o conteúdo da sua taça, imitando fielmente o desespero de um alcoólatra. Tentei não rir de tamanha bobagem, mas era impossível. O sorriso não saía dos meus lábios.
- Como você superou o medo de altura? – Achei que ele nunca fosse fazer aquela pergunta.
- Resolvi fazer um curso que dava dicas para driblar medos. Achei aquilo uma baboseira e saltei de bungee jump numa viagem que fiz para Austrália. – Seu olhar não trazia nenhuma surpresa, apenas orgulho. – Gostei do vento, da liberdade e da adrenalina de poucos segundos achando que aquele era o fim. – parou e analisou meu rosto por alguns minutos, vi sua boca se abrir e palavras que seriam despejadas serem sorvidas de imediato.
- Sua vez. – Saiu apenas isso. Ele encheu nossas taças, bebeu um gole de vinho e esperou minha pergunta.
- Me diz uma famosa que você sempre teve vontade de ficar e ficou. – Ele pensou um pouco, e investigou nos meus olhos se poderia ser sincero, por fim ele disse tentando mascarar um orgulho.
- Leona Lewis. – Torci o nariz e arqueei a sobrancelha.
- Justamente aquela vadia?
- Você vivia dizendo que havia torcido pra ela no The X Factor.
- Claro que não.
- Você está com ciúmes. – Revirei os olhos exageradamente.
- Ridículo. – Ergui um indicador. – E nem comece com piadas. Sua vez.
- Quero saber a mesma coisa.
- Adam Levine. – Disse sem pensar e abriu a boca.
- Tá de brincadeira, não é?
- Estou. – Fiz uma cara de tristeza. – Se um dia eu ficasse com o Adam eu andaria com uma placa anunciando isso. Ah... – Bati palmas animada, só em imaginar essa possibilidade e, claro, para provocar . – ... E na minha lapide teria que ter " , affair de Adam Levine". – Antes que parasse para comentar o quanto eu era idiota, acrescentei. – Mas fiquei com o Jared Padalecki, e não contarei os outros.
- O ator? Sam Winchester? – Confirmei rindo por ele só ter absorvido aquela parte. – Ele é um péssimo ator. – Resmungou.
- Você adora Supernatural, e idolatra o cara. – Mordi o lábio reprimindo uma gargalhada.
- Ele é a ruína da série. – Ainda parecia indignado, eu comecei a gargalhar de sua cara. - Você está com ciúmes. – Se limitou a revirar os olhos e se calou.

Dentre as várias tatuagens que agora trazia consigo, uma em seu braço me chamou a atenção, uma frase, como aquela não chamaria? "It was meant to be", nossa frase. Olhei para meu braço e me lembrei de minha pulseira, mas uma coisa que havia perdido. Resolvi tocar sua tatuagem com o dedo do pé e perguntar.

- Por que essa frase?
- Sim, ela foi feita por sua causa. – Revirou os olhos.
- Mas por quê?
- Lembra que te falei sobre desistir? – Assenti. – Eu precisava me apegar a alguma coisa, o destino era algo que me fazia ter certeza de que um dia você voltaria.
- Bom, eu estou aqui. – Abri os braços e indiquei os dedos para mim.
- Voltaria para mim. – Sorri mordendo o lábio e pisquei pra ele.
- Bom, eu estou aqui. – Ele me deu um sorriso carregado de sentimentos, seus olhos brilhavam para mim. Segurou o meu pé e deu um beijo no dedão, me fazendo cócegas.
- Também notei uma tatuagem em você e estou morrendo de curiosidade. – Neguei com a cabeça enquanto ria. – "Rainbow"?

Já havíamos ficado diversas vezes, era natural que tivesse visto a palavra pequena, escrita na parte superior da minha virilha.

- Esperança. – Completei. – Esperança de escapar da chuva. – Fechei os olhos e me imaginei no fim do meu arco-íris, embalando meu pote de ouro. – Quem sabe um dia eu consiga realizar os meus sonhos?
- O destino está nos nossos corações, confie que você pode chegar ao fim do seu "Rainbow".

Desde o dia em que fiz a tatuagem, aquela foi a primeira vez em que acreditei irrevogavelmente, porque ele havia dito.

- Você se apaixonou por alguém? – estava tenso e atento a minha resposta, preferi ser honesta.
- Acho que sim. Peter mexia comigo e eu sentia ciúmes dele. – Sorri fraco esperando ele fazer o mesmo. E fez. – Sem contar que ele me aguentou. Isso deve dizer alguma coisa.
- Pobre Peter. – Fez uma careta solidária e eu joguei uma almofada nele enquanto ele explodia em risadas e jogava a cabeça pra trás. Ponderei um pouco, eu queria saber sobre como ele se sentiu com outra pessoa? Incerta, o encarei e ergui a sobrancelha tornando a pergunta silenciosa. – Acho que o mesmo aconteceu comigo, você começa um relacionamento sem grandes expectativas, por uma atração física, mas depois você começa a sentir um carinho.

Ele conseguiu descrever exatamente como eu me senti ao longo daqueles anos, e agora eu lhe diria o que estava sentindo.

- Mas nada conseguiu ser tão bom ou tão forte que chega a doer. – Passei os dedos dos pés por seu peito e senti que sua respiração estava presa, depois que ele absorveu minhas palavras a soltou devagar.
- Era assim que você se sentia sobre nós?
- Todos os dias. – Inclinei meu corpo deitando em cima dele e sussurrando em próximo aos seus lábios. – Ainda sinto.

Londres – 04 de dezembro de 2015 – 05:55 pm.

Parece que e estão cada vez mais próximos. O integrante da "boy band" inglesa One Direction e a estilista saíram na tarde do último domingo e fizeram um passeio pela Winter Wonderland, no Hyde Park, em Londres.

Eles estavam acompanhados da filha de , colega de banda de , e nos confundiam com uma família digna dos maiores romances de cinema.

e ficaram o tempo todo abraçados, conversando ao pé do ouvido, ou brincando com a criança, por sinal, afilhada deles. A troca de olhares e sorrisos era percebida de longe.

Os rumores sobre um possível romance surgiram essa semana, quando foi revelado que eles namoraram durante o colégio e por isso evitavam comentar sobre o outro em entrevistas. E seria também o motivo de romper com a modelo Claire Dawson, com quem mantinha um relacionamento por pouco mais de um ano.

Resta agora saber se , também um boy Direction e ex namorado de , está contente com isso, ou todos fazem parte de uma grande salada.

No twitter, muitas fãs estão diferindo palavras odiosas a estilista, que segundo elas, sempre causaram discórdia entre os garotos. O que mais todo esse passado nos trará? É o que todos nós precisamos saber.


Meu humor estava cinza como o céu que havia encoberto Londres hoje. Acordei com uma sensação ruim e, de um jeito estranho, tudo estava dando certo naquele dia, exatamente como foi anos atrás? Não, eu estava errada! Definitivamente! Tentei espantar aquilo do meu coração durante todo o dia.

teve alguns compromissos e a única vez que nos vemos foi rápido e distante. Sentia a sua falta, e depois da nossa última conversa, não tinha mais problema em admitir isso. Mas quando terminei de ler aquela matéria ridícula, assinada por uma tal de Diana Shaw, eu voltei a me enfurecer.

Joguei o celular em cima do sofá com força, especulação era a parte da fama que eu mais detestava. A campainha tocou e fui tomada por um alívio ao ver parado na minha porta. Suas mãos possuíam um enorme buquê de rosas vermelhas.

FLASHBACK ON:

Londres – 22 de dezembro de 2008 – 04:07 pm.

As previsões de mamãe estavam corretas, e há alguns minutos o último caminhão de mudança havia saído com os móveis, não sabia para onde eles iam e já estava feliz em sair dali levando minhas roupas, só que não poderia negar que deixar aquela casa era triste, ela era a única referencia concreta de lar que eu possuía, e assim como meus pais, eu também a estava perdendo. Havia passado a manhã vomitando, e me sentia tonta por isso, meu emocional deveria estar bem abalado. Os braços de rodearam minha cintura e eu me sentir melhor, segura por ainda ter ele.

- Essa casa parece que triplicou o tamanho agora que está sem móveis. – Concordei com um aceno de cabeça, e a recostei no ombro dele fechando os olhos. – Ei, linda, não fica assim, mudanças são necessárias na vida.
- Eu sei, mas é difícil. – Me virei e o abracei tentando sorrir. – E sim, essa casa parece tão grande quanto um circuito de Fórmula 1.

Os olhos dele brilharam e a principio eu achei que tivesse haver com o esporte, mas não, aquilo era por sua ideia.

- Fica aqui que já volto.

Ele não esperou as perguntas que eu faria e instantes depois voltou com duas bicicletas, também não sabia por que não haviam levado junto com as outras coisas, mas não importava.

- Quer apostar corrida? – Perguntei e me aproximei dele e subi na bicicleta.
- Pensei em só andar pela casa e destruir o piso. – Deu um sorriso maldoso. – Mas eu sempre vou querer jogar com você.
- Então tenta me alcançar. – Gritei já saindo da sala principal e indo pra sala de jantar.
- Ah baby, corre porque vou te pegar.

Londres – 24 de dezembro de 2008 – 10:54 am.

A nossa mansão dentro de um condomínio fechado foi substituída por um pequeno apartamento perto da escola. Papai havia se mudado para Bolton logo que conseguiu um emprego numa empresa pequena, que, assim como ele, estava recomeçando.

No dia anterior, eu e conseguimos empregos de meio período, – graças ao período de festas – ele num pub e eu numa das lojas de marca que eu mais consumia. A Old Bond Street era meu lugar favorito em Londres, por estarem lá todas as lojas de grife mais famosas do mundo, agora parecia uma tortura ir até lá. Me sentia indo para uma câmara de gás, que me matava aos poucos, simplesmente odiava ter que vender aquilo que eu desejava comprar. Já se adaptou rápido, e parecia feliz com a nova vida.

- Esse lugar aqui é inabitável. – Era quarta vez que dizia isso em menos de dois minutos em que eu estava no meu “novo” lar. – Olha essas paredes, que nojo.
- Só precisa de uma boa pintura e uma boa limpeza. – Mais uma vez, estava sendo complacente com a minha irritação.
- Alguém conhece uma boa empresa para fazer isso? – Perguntei a e enquanto tentava procurar alguma em minha mente. – Ah, tem aquela que sempre limpava pra gente depois das festas.
- E você pretende pagar como? – perguntou, e eu me lembrei de minha condição.
- Mas assim não dá pra ficar. – Expus minha irritação. Estava ODIANDO tudo aquilo. - , babe, lá em casa sobrou uns galões de tinta, vou pegar e a gente pintar. - O que?!
- Pensa como vai ser divertido. – Cerrei os olhos para , e desejei que eles soltassem laser que o matassem. Como se tivesse entendido ele riu e rodeou minha cintura. Me acalmei.
- Hoje é natal, já vou passar a noite sozinha, não quero perder o resto do meu dia pintando paredes. – Choraminguei e recebi um selinho dele.

Era natal e tudo estava disperso. iria trabalhar a noite, sairia com a mãe. viajaria com pai naquela tarde. e já tinha feito isso no dia anterior. , não precisava citar, e , pelo que havia escutado de uma conversa com Rachel, iria para o interior com o resto de sua família. Todos nós combinamos de passarmos o ano novo juntos, numa festa inaugural daquele apartamento, mas não costumava ficar sozinha no natal, e estava morrendo por isso.

- Vou passar com você. – Me garantiu e senti meus olhos brilharem e meu corpo se arrepiar quando ele passou a deixar beijos no meu pescoço. – E olha quanta interação social podemos fazer enquanto pintamos seu quarto.
- Acho que você está me convencendo. – Quando ia beijá-lo ouvimos reclamar.
- Eca, vocês! – Ignoramos ela de propósito e rimos antes de iniciar um beijo ali, ouvindo seus protestos. Paramos quando uma almofada, jogada por , ficou entre nós.

Londres – 24 de dezembro de 2008 – 02:34 pm.

chegou empolgado, trazendo consigo além das tintas, uns enfeites de natal. Segundo ele, precisávamos entrar no clima. Para mim, do que ele havia trazido, a única coisa capaz de me alegrar era Simba. O apartamento era realmente bem pequeno e logo estávamos pintando a última parede, uma da sala.

- Eu estou cansada.
- Para de reclamar, babe. – continuava sorrindo, e aquilo me deixava ainda mais irritada, por que era tão fácil para ele?
- Eu estou com fome.
- ...
- O cheiro de tinta me deixa com dor de cabeça. – Estava sendo uma chata, reclamona e mimada de propósito, descontando em todo meu descontentamento por estar ali.

Nem mesmo Simba escapou. Gritei com o cachorro só por ele ter puxado a barra do meu jeans, na tentativa de me instigar para brincar.

- Você não quis usar a máscara. – Seu tom de voz não era acusatório, mesmo assim eu quis brigar.
- Elas são horríveis! Você me entende!
- Mas te protegem, babe.
- Ah! Odeio essa vida. – Joguei o pincel de tinta para o lado e me sentei no chão. Simba logo estava no meu colo tentando brincar e me animar, mas as lágrimas vieram.
- Não fica assim, eu termino essa última parede e você decora a casa com as luzes. – Balancei a cabeça mostrando que não se tratava daquilo. – , as coisas vão melhorar. Você vai ver que essa fase ruim só serviu para te deixar maior frente a outros obstáculos da vida.
- Você não entende, babe. Eu amava meu dinheiro e ele era algo bastante importante para mim, não vou saber viver sem ele. – Exagerei na manha e se sentou ao meu lado, me puxando para seu colo e fazendo um carinho no meu rosto, automaticamente fechei os olhos.
- Você também não se apaixonava e olha só.
- Os dois são uma merda. Se apaixonar também é uma merda, mas quando você se apaixona pela pessoa errada. Ser apaixonada por você é tão fácil como respirar e tão bom quanto ter muito dinheiro para gastar. – Ouvir sua risada, e seus braços me apertou mais forte.
- Você ainda tem alguma coisa, então.
- Tenho a melhor coisa, não te trocaria nem por todo o dinheiro do mundo. – Olhei para ele com um sorriso irônico.
- Será que não?
- Por dez por cento eu já trocaria.
- Ah é? Agora você vai ver, mocinha... – Me debati em seu colo, tentando fugir das cócegas que me fazia. Me sentia tonta, mas não disse nada, deveria ser o cheiro da tinta. Quando comecei a ficar sem ar e nem o próprio conseguia rir mais, ele parou.

Simba latia e depois começou a brincar e se enrolou com as luzes coloridas que agora haviam parado de piscar. Observamos a cena e rimos, resolvi deixar o mau humor de lado e ser grata por ter tê-los ali. Peguei outras luzes brancas, passei por sua cabeça e pescoço e trouxe meu Estranho para mais perto de mim, depois passei os outros fios pelo meu próprio corpo, de modo que agora estávamos conectados também por aquelas luzes.

Nossos lábios se esbarravam e ele sussurrou.

- Eu te amo. – Disse pela primeira vez, simples e profundo, me inundando de amor.
- Feliz natal, meu Estranho.


FLASHBACK OFF.

Me esforcei ao máximo para conter um sorriso bobo que estava surgindo em meu rosto, mas algo na expressão de estava errada.

- Flores. – Empurrou rudemente o buquê contra minhas mãos. – Seu amiguinho deve ter mandado.
- Ah. – foi tudo que conseguir dizer, desejando não ter mostrado o meu desapontamento por não ter sido dele aquele presente.
- Não vai ler o cartão? – Abri o pequeno envelope vermelho, e li rapidamente o que estava escrito.
- Ele só quer confirmar o encontro de hoje. – Seus olhos faiscaram para mim.
- Por isso que insistiu tanto para eu poder ficar com a Jazzy? – Riu sem humor e resmungou algo que não compreendi.
- , se você não quiser, tudo bem, eu desmarco.
- Não, faço questão, espero que se divirtam.

esperou eu preparar Jazzy no mais absoluto silêncio, direcionando apenas alguns sorrisos para garota quando ela o chamava.

Aquela atitude dele era ridícula, não havia motivos para sentir raiva de mim, era apenas um jantar, encontro esse que só se confirmou mediante ao seu comportamento. Ergui a sobrancelha para ele, o desafiando a dizer algo, mas ele continuou impassível, revirei os olhos e quis manter o meu orgulho, mas assim que cruzou a porta, meu coração e minhas mãos o impediram. Eu simplesmente me atirei em seus braços e o abracei, a princípio ele recuou, mas algo o fez retribuir com todo vigor. Não trocamos uma palavra, os nossos corpos se falavam de todas as maneiras, não ousei pensar novamente o que eles acabaram de falar.

Jazzy contestou alguma coisa e nos afastamos, ainda imersos um no outro, nós nos encaramos.

- Linda. – Sussurrou com os lábios esbarrando aos meus e se foi, assim como todas às vezes, levando o meu coração junto.

Londres – 04 de dezembro de 2015 – 09:55 pm.

Eu e Andy estávamos num restaurante perto da minha casa. Era um ambiente sofisticado e chique, mas com um ar moderno e jovem.

Ele passou a noite me perguntando sobre o que eu havia feito todos aqueles anos. Me esquivei da maioria de seus questionamentos, queria poder fechar os olhos e me perder num futuro, deixando o passado para trás.

- Você parecia tão feliz em ir para Milão. – Deu de ombros e cortou o filé que comia, levando um pedaço a boca.
- Eu estava. A formatura foi insana, mas não me lembro de ter te visto lá. – Busquei em todas as minhas memórias e não consegui me lembrar da última vez em que vi Andrew no colégio.
- Ah, eu não me formei no Lambert High, acabei indo para Bolton. – Contou aquilo com um humor, mas havia uma nuvem em seus olhos que diziam o contrário.
- Por quê? O que aconteceu?
- Tive um problema. Mas fiquei sabendo que você foi pra Milão, depois pra Nova York, onde você conquistou o mundo. – Riu e eu o acompanhei. – Só que você nunca voltou pra Londres, o que aconteceu?

O ar sério com que Andrew terminou de perguntar aquilo me intimidou.

- Você pareceu um jornalista. – Bebi um gole de vinho.
- Claro, tem um gravador em baixo da nossa mesa. – Zombou rindo, e eu lhe joguei um guardanapo. – Vai, me conta, .
- Também tive alguns problemas, e parecia que a Europa era pequena para eles. – Comecei a dramatizar de propósito, para fazê-lo rir, mas Andy parecia concentrado em minha história. – Então fugi para América.
- Fugiu de quem? ? – Colocou os cotovelos sobre a mesa, e apoiou seu queixo em suas mãos entrelaçadas.

Balancei a cabeça algumas vezes, tentando mandar embora aquelas memórias.

- Não.
- Por que vocês terminaram, afinal?
- Vai mesmo passar a noite me "entrevistando"? – Quis fazer uma brincadeira, mas não cheguei nem perto disso.
- Calma, . – Ele segurou a minha mão e fez um carinho com seu polegar. – Não achei que se incomodasse tanto com o assunto.
- Tudo bem, é só que...
- Não. – Beijou a minha mão. – Quando você se sentir a vontade você me conta, estou aqui para você, pode confiar.

Sorri e o agradeci. Era bom ter Andrew ali, era bom ter mais um amigo.

Londres – 05 de dezembro de 2015 – 01:55 am.

Andrew estava me beijando naquele exato momento, mas eu só conseguia pensar em diversas coisas aleatórias. Como o que vestiria no dia seguinte, ou se Jazzy já havia dormido. Ele me deu um selinho demorado e encerrou o beijo, me encarou por um tempo até que eu falasse alguma coisa. Não tinha o que dizer então...

- Já são duas da manhã, melhor eu subir.
- Não sabia que tinha horário para chegar em casa. – Disse sarcástico, com um leve traço de irritação na voz.
- Claro que não. Só acho melhor ir agora.
- Eu poderia ir com você. – Passou a beijar meu pescoço, certo de que me conquistaria com aquilo, mas não iria num dia normal, quem diria naquele onde eu estava com uma angústia que não sabia de onde vinha.
- Outro dia, talvez. – Minha resposta não lhe agradou em nada. Ele parou o que fazia e voltou a me olhar, agora com os olhos soltando faíscas.
- Do que você tem medo?
- De nada. – Estava começando a me irritar.
- Isso tudo é por causa dele?
- Não! – Minha excitação, só por ser subentendidamente citado na conversa, o fez rir sem humor. – Isso não tem haver com ninguém, nem mesmo com você. Pode parecer clichê, mas o problema aqui sou eu.
- Então me deixa te ajudar. – Segurou minha mão, agora mantendo uma expressão mais serena. – Estou aqui por você, , confia em mim.

Concordei com um aceno de cabeça, mas não com meu coração. Havia alguma coisa errada, eu podia sentir, mas não tinha a mínima noção de onde vinha. Andrew voltou a me beijar, até que finalmente consegui convencê-lo a ir embora.

Eram mais de três horas daquela madrugada, e meu coração continuava com uma dor estranha que só fazia aumentar, mas não deveria ser nada. Não poderia ser nada.

Depois de tomar um longo banho de banheira, beber a segunda taça de vinho, eu me revirei na cama até ver o sol começar a surgir tímido no céu todo encoberto por nuvens pesadas de chuva. Seria mais um dia frio e chuvoso, meu celular tocou, e me virei pra atender com urgência, sem muita noção da minha atitude.

- Oi, , Jazzy te acordou cedo? Está tudo bem? – Um silêncio perdurou tempo suficiente para me apavorar. –? Responde!
- Dinda? – A voz baixinha e rouca de Jazzy foi tudo que escutei. Ela estava chorando fraquinho. – Vem pra cá. – Desespero.
- Oi, meu amor, está tudo bem? – Mais uma pontada no peito. Nada estava bem.
- O meu Dindo morreu.

Então não havia mais um dia.


Capítulo 13

"Stones taught me to fly, love taught me to lie, life taught me to die. So it’s not hard to fall, when you float like a cannonball". Cannonball – Damien Rice.



Londres – 05 de dezembro de 2015 – 06:55 am.

Eu estava vestindo meu melhor vestido preto. Tinha desenhado e costurado na noite anterior só para aquela ocasião bizarra e dolorosa. Era estúpido, mas eu queria estar linda para ele, nem que fosse para me despedir.

As lágrimas ainda não caiam. Entrei no enorme salão onde o corpo dele estava sendo velado. O primeiro que vi foi , chorava capciosamente no colo de sua mãe, assim como suas gargalhadas eram altas e espontâneas, o mesmo era o seu pranto.

estava sentado de cabeça baixa e suas lágrimas desciam silenciosas, as mãos fechadas esmurravam suas próprias coxas. Estava bravo com quem quer que fosse e principalmente com quem levou seu melhor amigo.

parecia forte, mesmo com enormes olheiras que indicavam sua dor, ele deveria se manter firme para e Jazzy. As duas se abraçavam. A mãe chorava, mas Jazzy não. Encarava seus pés e desde o dia em que me ligou e me deu aquela notícia, ela não falara, senti mais uma pontada de dor excruciante por isso.

Me desfiz dos braços cuidadosos de e e em meio a todas aquelas pessoas, familiares, amigos e fãs, eu a encontrei. Lydia estava sozinha num canto, eu a conhecia e sabia que havia pedido por isso, mas precisei ir até lá. Assim que ela me viu, se levantou e me abraçou. Uma tentando dar força para outra, mas sem a mínima condição. Uma parte nossa havia sido levada.

Balancei minha cabeça com força e fechei os olhos, as buzinas estridentes me despertaram e me fizeram ver o que o sinal estava aberto. Segui com o carro, até chegar ao apartamento de . Não sabia o que estava me esperando, mas pensar no pior me dava esperança de que aquilo deveria ser uma pegadinha do destino.

Me arrastava em meio aquele cenário de caos, a cada passo dado sentia o meu coração latejando, provocando uma dor angustiante e precipitada pelo que eu poderia encontrar.

O cenário era um completo caos. Dois amigos de que não conhecia estavam jogados no Hall de entrada, seu segurança dormia sentado com a cabeça apoiada na mesa, garrafas e outros lixos estavam espalhados por todo lugar, mas meus olhos só procuravam por Jazzy.

O choro dela baixinho me guiou até a sala de jantar, estava deitado de bruços e Jazzy chorava ao seu lado. As mexas de seus cabelos colavam no rosto molhado e quando ela me encarou, com aqueles enormes olhos tristes, correu e me abraçou, se agarrando a mim como sua última salvação. Retribui o abraço, dando todo meu conforto para ela, mas mantinha os olhos fechados, com medo de verificar . Quando percebi que ela se acalmou um pouco, segurei seu rosto em minhas mãos e tentei limpar suas lágrimas.

- Vou dar uma olhada no Dindo, enquanto isso você vai virar, fechar os olhos e cantar sua música favorita até que eu chame o seu nome, você pode fazer isso por mim? – Ela confirmou com a cabeça nem um pouco animada com aquele jogo. Jazzy era esperta o suficiente para saber que eu só precisava que ela não se virasse, e mais inteligente ainda para não questionar. Beijei sua bochecha e a coloquei exatamente onde queria, vendo-a fazer o que havia pedido. Reuni forças e me agachei ao lado de .

Uma parte do seu cabelo caia sobre seu rosto, sua boca num tom mais avermelhado estava levemente aberta, e suas bochechas estavam mais coradas que o normal. Estava lindo, parecendo uma pintura. Permiti que meus dedos o tocassem, e quando senti sua respiração, seu sopro de vida, eu soltei o ar preso em meus pulmões, emanando alívio e inspirando raiva.

Abracei Jazzy por trás, querendo sair o mais rápido dali.

- Mas o Dindo está morto. – Ela se virou para ele. – Não quero deixar ele sozinho.

Com cinco anos, Jazzy se mostrou mais altruísta e corajosa do que eu mesma.

- Ele só está dormindo. – Insisti, mas ela não se moveu. Peguei um copo com algum liquido de cheiro acre em cima da mesa e joguei na cara de , sem nenhuma piedade e ressentimento. Ele resmungou alguma coisa e abriu um olho, tentando processar o que havia acontecido. Eu não esperaria por isso. – Viu? Ele acordou.

Antes que Jazzy quisesse falar com seu Dindo, a peguei no colo atravessando aquela pilha de lixo e promiscuidade e entrei no elevador. apareceu se dando conta da imensidão de seu erro, meus olhos se cravaram nos seus lhe inundando acusações. Felizmente as portas se fecharam no instante em que ele iria entrar.

- O Dindo está mesmo bem? – Choramingou baixinho, com o rosto escondido em meu peito.
- Sim, vai ficar tudo bem. – A balancei em meu colo, tentando lhe dar algum conforto. Beijei sua cabeça. – Nós vamos ficar bem.

Chegamos à garagem e acionei o botão que destravava as portas do meu carro. Meus movimentos eram apressados, porque eu não queria encarar ele ou não queria ouvir justificativas intoleráveis e desnecessárias. Quando Jazzy estava presa a sua cadeirinha, saiu do elevador, ainda transbordando toda aquela bagunça.

- Ouve isso e não tira o fone. – Coloquei os fones de meu celular em seu ouvido e uma música, que sabia que Jazzy gostava começou a tocar, torci para que aquilo a distraísse. Fechei a porta e me virei para ele.
- , deixa eu falar com a Jazzy. – Tentou chegar até a porta, mas montei uma barreira intransponível para ele. – Vou explicar a ela o que aconteceu.
- Não se atreva a encostar nela de novo. – Completamente incrédulo, procurou as palavras certas.
- Não é você quem decide isso.
- Jazzy me ligou dizendo que você... – Empurrei ele. – ... Estava morto. – Esmurrei seu peito. – Tem noção do que ela passou? – Me descontrolei ainda mais, passando a lhe bater como uma louca. – Tem noção do que eu passei? – Enquanto continuava com aquilo, parecia uma estátua, absorvendo não só minhas agressões como minhas palavras. As emoções foram de esvaindo e o cansaço foi me abatendo, ele segurou os meus pulsos e me abraçou. Depois de ouvir que ele tinha partido eu realmente precisava daquilo, precisava sentir seu abraço e seu cheiro, qualquer coisa que provasse sua existência no mesmo mundo que o meu.
- Não foi minha culpa. – Negou baixinho me deixando inconformada com sua covardia. Me desfiz de seus braços e lhe afastei o máximo de mim. – , você saiu com o nerd e eu fiquei com raiva e ciú...
- ELA É SÓ UMA CRIANÇA! – Gritei para encerrar aquela chuva de desculpas esfarrapadas. Respirei fundo, tentando manter a calma. Meus olhos transbordavam mágoa, e ao encarar os dele, vi sua culpa se formar. – Só uma criança que ama incondicionalmente você e se preocupa.

Minhas palavras o atingiram com força, seu corpo relaxou e se entregou a derrota.

- Eu sinto muito. – Sabia que era verdade, mas no fundo ele não poderia mudar seu erro, eu também não. – , por favor, não faz isso, não me afasta da Jazzy. – Seu tom de voz carregava o mesmo desespero que sua expressão. Ele respirou fundo. – Não me afasta de você.
- e resolverão sobre Jazzy, quanto a mim... – Neguei com a cabeça, deixando aquele gesto como única resposta. Entrei no carro e pelo retrovisor vi parado, não se moveu e encarava o chão como se procurasse uma saída ali, mas naquele momento só Jazzy importava e eu precisava sair dali, assim eu fiz.

Aquela criança no banco de trás do meu carro me lembrava o que eu tinha perdido, era o mais perto do que eu teria e eu a amava como minha e a protegeria até o fim. Não iria errar, não poderia errar nunca mais. E ver aquelas olheiras ou aquele olhar triste por conta de partiam meu coração e me causavam uma fúria de sentimentos por dentro.

Estava completamente nervosa, minhas mãos tremulavam sob o volante, Jazzy não estava diferente e nós precisávamos de uma distração. Rodamos de carro por toda Londres, aos poucos fomos nos animando, até ouvirmos músicas e cantamos a plenos pulmões enquanto ríamos de quase tudo, mas as perguntas ainda estavam lá, nos olhos dela.

Parei numa lanchonete onde havia me levado pela primeira vez, adorava o chá servido naquele lugar e preferi achar que fui guiada até ali por um instinto do meu estômago e não por uma coincidência proposital.

Quando me virei para Jazzy para anunciar que iríamos tomar um incrível café da manhã, ela perguntou de uma vez, sem nenhum rodeio.

- Dinda? Porque aquelas pessoas estavam mortas? – Seus olhos se arregalaram na simples menção do que ela havia visto. Tentei ser delicada, mas acabei sendo impulsiva.
- Elas estavam chapadas! – Minha resposta sem o mínimo de prudência, trouxeram maiores dúvidas pra ela.
- Chapadas? – Sua mão foi parar em sua boca, num choque inocente de ouvir pela primeira vez aquela palavra.
- Hum... Quando as pessoas comem muito açúcar elas ficam bem felizes. E quando elas não comem elas ficam muito tristes, então elas dormem! – Expliquei tentando sair daquela saia justa. Maldito .
- Tem certeza? – Jazzy era esperta, aquilo não iria convencê-la, a não ser que eu lhe mostrasse. Açúcar! Ótima ideia!
- Vamos ficar chapadas? Chapadas de chocolate? – Seus olhos brilharam, um instante apenas, antes dela fazer sua pergunta. É claro que ela ainda tinha mais uma.
- Nós vamos morrer também?
- Não, claro que não. – Segurei a sua mão e assenti isso. – Vamos ficar muito, muito feliz! - Disse fazendo cócegas nela. Desci do carro e quando ia retirando ela da cadeirinha, sua gargalhada aumentou.
- Dinda, temos que ir embora, estamos de pijama. – Só então me dei conta que vestia uma calça de moletom preta, o velho suéter de e pantufas. O conjunto de Jazzy era todo rosa, e no pé ela mantinha pantufas de coelhinho.
- Nós criamos moda assim. Vamos ser sensação, porque seremos as únicas a fazer isso. – Decidi e vi ela se animar ainda mais.
- As únicas?
- Sim. – Garanti e ela pulou do carro ainda rindo.
- Dinda? – Parou e me encarou incerta. Sorri e demonstrei que ela poderia fazer qualquer pergunta. – Eu vou poder ver o Dindo de novo? – Respirei fundo.
- Jazzy, seu Dindo te ama mais do que qualquer coisa nesse mundo. Você pode vê-lo no instante que quiser.
- Eba! – Aquela animação dela me fez sentir o quão grande é a ligação deles, e o quanto deveria estar sofrendo naquele momento. Meu coração de pedra queria gritar um “Bem feito!”, mas a maior parte de mim queria ligar e chamá-lo para passar o resto da manhã com Jazzy. Por fim, decidi que o tempo era a melhor solução, e que deixaria outra pessoa fazer a ponte entre os dois.

Quando entramos, inúmeros olhares se voltaram para nós, muito mais pelo que vestíamos do que pelo reconhecimento público. Jazzy adorava tudo aquilo e realmente não sabia a quem ela havia puxado. Tirou foto com umas fãs, desenhou no guardanapo para outras, disse que não diria ao pai dela que ele era bonito, mas que falaria ao Tio , porque ele estava precisando de uma namorada. Eu ria e me deliciava com sua risada, invejando o poder que crianças tinham de superar. Parecia que uma manhã louca não existiu, assim como o medo e as incertezas, tudo estava bem no mundo dela, mas o meu permanecia ao contrário.

- Vou querer panquecas, porque eu aaaaamo panquecas! – Disse com os olhinhos brilhando.
- Panqueca de chocolate? – Sugeri e ela se animou ainda mais. – Já que você ama panquecas, e eu amo panquecas e também amo você, você será minha panqueca de chocolate.
- Mas você vai me comer? – Ela fez uma carinha de assustada que me fez rir, a puxei para meu colo.
- Vou só te dar umas mordidinhas. - Fingi ficar mordendo ela e fazendo cócegas enquanto ela ria e se debatia em meu colo.

Quando chegamos em casa, ela ainda estava agitada e brincamos bastante, desconfiei que ela estava temendo dormir e ter que passar por aquilo novamente, e meu coração sentiu mais uma pontada. Até que finalmente ela sucumbiu ao cansaço e dormiu. Assim que a coloquei na cama, fui até a cozinha e preparei uma xícara de chá, me sentei numa poltrona de frente para varanda do apartamento. Lembrei-me de todas as sensações ruins que senti ao ouvir Jazzy dizer que havia morrido. Por mais distante que eu tenha ficado, eu nunca imaginei essa situação como definitiva, eu sabia que um dia iria reencontrar e nunca desejei o seu mal. Em nenhum só dia em minha vida eu imaginei viver num mundo onde ele não fizesse mais parte, e o peso dessa possibilidade me assustou bastante.

Me recostei e deixei que o peso daquele dia me atingisse, então os rios em meus olhos se abriram.

FLASHBACK ON:

Londres – 27 de Dezembro de 2008 – 03:00 pm.

- Onde vocês estavam? – me abraçou assim que entrei no apartamento, sendo seguida por e .
- Numa feira de frutos do mar. – respondeu ainda bastante empolgado. – Comemos camarão de todos os jeitos possíveis.
- O que mais gostei foi do fetuccine. – se sentou perto de , que acabou não aguentando e a puxando para mais perto e dando um beijo em seu pescoço. Ela estava quase no colo dele, assim como estava no de .
- A lasanha. – Decidi. – Não, os camarões empanados.
- A pizza. – nos lembrou e tivemos que concordar, estava uma delícia.
- Tá explicado por que vocês saíram como modelos e voltaram como os personagens de Hairspray. – A gargalhada não foi compartilhada por nós.

De repente, lembrar de todo aquele passeio gastronômico fez o meu estômago revirar, corri para o banheiro e me ajoelhei sobre o vaso, despejando tudo de ruim que estava dentro de mim.

A porta se abriu e logo estava ao meu lado, segurando o meu cabelo e esperando, mesmo contra minha vontade, que aquele mal estar passasse.

Depois de escovar os dentes, lavar o rosto e me recompor, tendo sempre que responder a que já estava me sentindo melhor e ele não precisava se preocupar, nós voltamos para sala, e uma espécie de debate havia se instalado entre nossos amigos.

- O que vocês estão discutindo? – perguntou enquanto segurava minha cintura e me levava até o sofá. Eu ainda me sentia tonta e não me importava com os risos de uns e caras feias de outros.
- Você sendo pai. – apontou para .
- Eu o que? – pareceu levar um choque e me soltou, eu revirei os olhos e me joguei no sofá. – De onde vocês tiraram isso? – Ele continuava pálido e eu o achava mais patético.
- A anda tendo enjoos. – começou a listar como se eu não estivesse ali. – Está mais chata do que nunca.
- E desmaiou ontem na aula de física, me contou. – concluiu a acusação e todos os olhos daquela sala foram direcionados para mim, o de foi o último, ele era o mais receoso.
- Eu tenho gastrite, e sempre tenho essas crises, esqueceram do ano passado?
Eles se acalmaram ao reconsiderar o que eu havia dito. soltou todo o ar de seu pulmão.
- Graças a Deus! – Exagerou no drama. – Caralho, querem me matar?
- Obrigada pelo apoio, Estranho. – Dei uma cotovelada nele. – Muito bom saber que posso contar com você.
- Claro que pode. – Lhe dei outro cutucão só pra deixar claro que não acreditava naquilo.
- Sonhar que tinha uma amiga grávida, conta? Porque dizem que isso é verdade, e que sempre alguém próximo a você fica acaba engravidando.
- Ah, pelo amor de Deus, . – Joguei uma almofada nela, completamente irritada com todos eles. – Pode ser você mesma, ou a . – Antes que a segunda pudesse se defender, fez isso, com uma precipitação enorme.
- Nunca! – Sua voz saiu esganiçada. – Estão doidas?
- O que teria de mais se eu estivesse grávida, ? – Já a voz de soou magoada, mas ele pareceu não notar.
- Nada. – Riu sarcástico. – Só iríamos perder as nossas vidas, para eu não dizer sonhos.
- Uau, isso foi um ótimo resumo, mate. – disse com um ar pensador, como se interpretasse uma filosofia de vida. O resto da testosterona na sala também concordou.
- Cara, vocês são extremamente ridículos. – Disse fazendo cara de nojo para todos eles.
- Gestante!
- Vai se fuder, ! – Levantei o dedo do meio para ele enquanto ouvia sua gargalhada sempre escandalosa.
- Como diz, “melhor comer bala com papel do que colocar um pão no forno”. – Todos nós rimos, mas a simples menção ao nome dele junto a sua ausência ali fez com que todos parassem e fizessem algum tipo de reflexão. Na minha mente e no meu coração só cabiam saudades dele. – Algum de vocês tem falado com ele? – Todos nós negamos com a cabeça, exceto .
- Precisava saber se ele ia fazer o show da próxima semana, eu fui à única que ele atendeu.
- E o que ele disse? – Havia uma ansiedade e receio no tom de voz de .
- Só disse "talvez". Não me deu certeza nenhuma.

A culpa me abateu ainda mais, ninguém ousou dizer nada, mas estava claro que cada um ali também atribuía a mim todos aqueles problemas.

- Vou tomar um remédio para o estômago e descansar um pouco. – Me levantei, mas segurou a minha mão. – Estou bem. – Lhe garanti e fugi o mais rápido que pude de todo aquele silêncio acusatório.


FLASHBACK OFF.

Londres – 08 de dezembro de 2015 – 02:05 pm.

desligou o telefone e voltou a se jogar no sofá, depois de encarar um pouco o teto, olhou para o tapete onde eu estava com Jazzy fazendo uns vestidos para suas bonecas e sorriu. O sorriso lindo, acolhedor de sempre, naquele momento era usado como uma introdução a algo que ele queria dizer, mas não sabia como.

- Quem era? – Perguntei para lhe dar a coragem que ele precisava.
- . – Tremi. – Queria saber se podia buscar Jazzy.
- O Dindo vem me buscar? – Jazzy se animou instantaneamente.
- Vem sim. – Dei a resposta que precisava sem olhar para ele.
- .
- Oi. – Continuei sem olhar.
- . – Me chamou mais firme e acabou ganhando minha atenção. – Ele quer conversar com você. – Neguei com a cabeça e me levantei. – Você está sendo infantil.
- Vou arrumar as suas coisas. – Disse a Jazzy e subi. logo me acompanhou e com a sua calma rotineira começou.
- Quando você vai parar de fazer isso?
- Por que você está tão irritado com isso?
- Porque é realmente cansativo assistir a irmã viver podando a própria felicidade. – Joguei rudemente uma roupa na pequena mala que arrumava para Jazzy e encarei .
- O que você sugere, então?
- Conte a verdade para ele, pare de transformar isso num drama maior do que o que ele é. Essa é a sua vida, quanto tempo mais você quer perder para poder começar a vivê-la?

Depois de jogar o questionamento no ar, ele sorriu, beijou minha testa e me deixou ali, eu realmente tinha o que pensar.

apareceu no final da tarde, mas eu estava trancada do quarto, não consegui encarar ele, era lembrança demais, tristeza demais. Mesmo com saudades, eu o mantinha longe de mim, ou faziam a ponte que ligava ele a Jazzy e seguimos assim por todos aqueles dias.

POV. .

Londres – 13 de dezembro de 2015 – 05:11 pm.

Pausei o vídeo game e vesti uma camisa assim que foi anunciado que eu teria uma nova visita. Robert apareceu em roupas divertidas, que com certeza não usaria em seu local de trabalho. Ele era um roqueiro incurável e por baixo de seu casaco, vestia uma camiseta do Ramones e uma calça jeans rasgada.

- Como vai meu garoto? – Ele me cumprimentou com leves tapinhas nas costas.
- Estou vivo. – Tentei parecer animado com sua vinda, mas estava bastante curioso. – Senta ai, vou pegar uma cerveja pra você.

Voltei segurando duas garrafas verdes, uma de cerveja e outra de água com gás e entreguei a alcoólica ao pai de , sentei numa poltrona a sua frente e o assisti beber metade do líquido num único gole. Não sabia se era sede, ou busca por coragem. – E o novo filho? Já sabem o sexo? – Comecei com a primeira conversa ridícula que eu consegui encontrar.

- Fomos à consulta ontem e o bebê não cooperou e não descobrimos ainda, ficou bastante chateada com isso. – Comentou casualmente, mas só de ouvir o nome dela senti um arrepio na espinha. – Você sabe que eu vim aqui conversar sobre ela, não é?

Concordei com um aceno breve. Talvez nunca soubesse, mas durante nossos anos longes, era Robert quem me mantinha atualizado sobre sua vida, compartilhando suas preocupações e saudades.

- Não sou a pessoa favorita dela nesse momento. – Não contive um sorriso triste.
- Ela me contou sobre tudo. – Virou o resto da bebida e colocou a garrafa em cima da mesa. Em outra ocasião, eu iria buscar mais uma cerveja, mas estava interessado demais no seu discurso. – ama você, mais até do que a teimosia dela pode mostrar, só que... – Tomou fôlego, escolhendo as palavras certas. – Ela passou por muita coisa, e só que ela enxerga, para o seu presente e futuro, é dor.
- Robert, você sabe o quanto me esforcei para ter de novo, o quanto foi difícil engolir minha própria mágoa, mas eu não sou mais o homem que ela precisa. – Enquanto eu falava, ele negava com a cabeça, mas esperando pacientemente o seu momento. Acho que foi essa paciência que o fez se tornar um grande advogado. – Ela me excluiu por um erro e eu sei que ela me esconde coisas de seu passado e até deve me culpar por isso, mas sejamos honestos aqui, aquele casal do colegial ficou lá, talvez a lembrança fosse tão boa que achamos que fosse resistir ao tempo.
- Vocês não são mais as mesmas pessoas, mas o sentimento foi e é real. Quando eu tive que ir para Bolton e deixar duas crianças por conta própria em Londres, eu não me preocupei com , porque sabia que ela tinha você.
- Naquele momento, eu era o que ela precisava, mas agora...
- Garoto. – Me olhou e disse devagar, como se aquelas palavras fossem preciosas. – te afasta com medo de te perder, ela prefere fantasiar que vocês poderiam ficar juntos, do que de fato ficar.
- Isso não faz sentindo. se agarrou ao meu primeiro erro para fugir, ela pode continuar em Londres e não se afastar geograficamente, mas com certeza ela vai me manter longe.
- precisa de alguém que lute por ela, é igualzinha a mãe nesse sentido. – Fechou os olhos por um instante e sorriu com alguma lembrança. – Você pode desistir dela agora, mas você será o único que poderá salvá-la no fim dessa história.

Não tinha mais o que fazer. era incapaz de reconhecer que eu era o sol dela, depois de um dia de tempestade.

- Robert, eu não posso mais. – Decidi ser sincero com ele.
- Eu sei que agora você está desistindo, eu entendo e concordo. – Se levantou e apertou o meu ombro. – No fim você irá fazer a coisa certa, os dois irão. – Antes que pudesse falar mais alguma coisa, ele emendou. – Obrigado pela cerveja.

Robert foi embora deixando o fantasma de ainda mais preso na minha mente, e todas as dúvidas que vinham atreladas a ela cresceram.

POV. .

Londres – 18 de dezembro de 2015 – 04:35 pm.

estava subindo e eu não sabia como agir. Ela e haviam voltado há dois dias, e ter pedido para estar com Jazzy para recebê-los era o indicativo mais forte que ele finamente havia lhes contado o que tinha acontecido.

chegou brincando com Jazzy e indo direto para cozinha, , com um sorriso e um ótimo bronzeado, foi ao meu encontro e me abraçou tão forte que parecia querer me confortar.

- Achei que você estaria no jantar de boas vindas organizado por e Jazzy. também sentiu sua falta.
- Eu... – Balancei a cabeça. – Não pude.
- Eu imaginei. – Havia em seu rosto um sorriso complacente.
- ... – Mordi o lábio, indecisa se deveria falar ou não. – te disse o que houve?
- No instante em que você pegou Jazzy de toda aquela confusão.
- Mas... – Estava ainda mais confusa. – Você ainda continuou lá?
- Nós decidimos continuar confiando em vocês.
- Isso é irracional. – Eu que parecia ofendida agora. – Vocês não tem juízo?
- Dinda, posso desenhar no seu ateliê? – Jazzy havia pulado no meu colo e me enchia de beijos, reforçando seu pedido. Eu ainda mantinha a boca aberta e um olhar incrédulo para mãe dela.
- Claro que ela deixa, vai lá. – tirou Jazzy do meu colo e a garota saiu correndo, deixando nós três sozinhos ali.
- Por que vocês se afastaram de novo? Estavam indo tão bem. – continuava sem fazer sentido para mim.
- Por quê? Você ainda pergunta? Ele destruiu qualquer confiança que estava restaurando, sendo o mesmo idiota de sempre.
- Ele agiu por ciúmes. – interviu em sua defesa.
- E isso quase custou um trauma infantil, para não citar os outros riscos.
- , a Jazmyn está ótima, ela nem lembra do que aconteceu. – me olhou piedosa e eu senti raiva. – Ela só fala que tomou café da manhã de pijama com a Dinda maravilhosa dela. – Continuou sorrindo.
- Não quero que você sinta pena de mim, estamos falando de sua filha e você deveria estar furiosa.
- Ninguém sente pena de você. – Revirou os olhos, ofendida com minha acusação. – Todo mundo está ao seu lado, até mesmo , que é mantido no escuro por você.
- Eu só não consigo. – Levantei exasperada, passando a mão pelos cabelos. – Não consigo reviver isso de novo. Não consigo perder mais nada.
- Mas se você não consegue lidar com seu passado, ou com outras situações que estar com vão te lembrar, deixe ele ir, mas sabendo que está indo. é maravilhoso de diversas formas possíveis e eu só quero que ele seja feliz. Que vocês dois sejam. – As palavras eram duras, mas foram ditas com sutileza.
- ... – Antes que pudesse lhe dizer mais alguma coisa, ela se levantou, segurou minha mão e me fez sentar novamente no sofá. Respirou fundo. Pela sua expressão, o que me diria não seria uma lembrança agradável.
- Quando Jazzy tinha apenas três anos, eu comecei a discutir com . – Sorriu amarga, roubando ainda mais a minha atenção. – Nosso relacionamento vivia abalado por conta de umas fãs intrometidas, e estávamos gritando sobre isso na sala. Foi tudo muito rápido, num instante ela estava brincando de boneca, estava ali, perto o suficiente para que nós a enxergássemos, e no outro minuto não estava mais. – Não queria ouvir mais aquilo, mas além de precisar saber, aquela era uma imposição de . – Jazzy caiu na piscina, e sabe por que não se afogou? – Coloquei a mão na boca e neguei com a cabeça. – , que sempre mantém sua atenção voltada para ela, a viu caindo e pulou logo em seguida, conseguindo salvá-la a tempo. – As lágrimas corriam livres pelo meu rosto. – O que quero dizer é que não existem pais perfeitos, porque não existem pessoas perfeitas. Nenhum amor vem junto com a paz. – Parando satisfeita, se levantou e subiu atrás de Jazzy. Não me abraçou ou me confortou, era sua lição de me fazer enxergar a realidade.

se aproximou sentando ao meu lado e limpando meu rosto.

- , você não pode levar essa mágoa dele para sempre, ou afastá-lo por algo que você considera um segredo. – disse e aquilo parecia uma intervenção para pacientes viciados em droga. Talvez eu fosse mesmo. Viciada em sofrer por .
- Não vou discutir isso de novo, . – Choraminguei, cansada de não ser compreendida.
- As pessoas erram, machucam umas às outras, mas se as amamos, temos que lhes dar ao menos uma segunda chance. – De repente notei que ele falava sobre nós dois, me deixando indignada.
- Não jogue na minha cara.
- Nós sempre amamos quem mais magoamos, lembra? – Confirmei com a cabeça e mantive meus olhos no chão. segurou delicadamente o meu queixo e me fez encará-lo. – Passei muito tempo ressentido por você, algumas vezes eu briguei comigo mesmo por ter perdoado você e , até perceber que aquilo só me destruía. Não iria diminuir o que eu sentia por vocês, e nem iria fazer você se apaixonar por mim. – Sorriu com satisfação. – Então eu compreendi vocês.
- Eu só queria fechar os olhos e sentir que o Estranho era o suficiente.
- , ele é. Nós só passamos a enxergar as qualidades nos outros quando a possuímos.
- Está dizendo que não possuo?
- Muito pelo contrário. – Ele suspirou. – Estou tentando te mostrar o quanto você tem, mas você não enxerga, está tão presa nessa dor que não se reconhece mais, assim não reconhece mais ele.
- Obrigada. – Segurei sua mão e apertei. Estava lhe agradecendo por estar sempre preocupado comigo, e pelo seu sorriso ele havia entendido exatamente.
- Uma vez um cara me pediu para não te castigar com o meu silêncio. – Deu de ombros, ainda mantendo aquele sorriso. – Hoje estou te pedindo o mesmo por ele.

Eu simplesmente não sabia o que fazer. Me sentia no meio de uma decisão crucial da qual eu não queria lidar, como uma personagem patética daqueles romances clichês.

Ficar com implicava ficar ao lado da minha dor e da minha felicidade também. Amar e ser amada são a própria vida, mas como ele poderia me amar quando descobrisse tudo?

Por mais uma noite, eu segui a rotina de ser pega pela insônia e passar horas me revirando na cama, e então algo se tornou diferente. Meu celular tocou, era o chamado de um mesmo número. Não estava mais salvo em minha lista de contatos, mas sabia a quem pertencia. Eu nunca esquecia um número, eu nunca esqueceria nada referente a ele.

Diferente dos últimos tempos, ou das insistentes ligações daquele dia, agora, que já se passavam da uma da manhã e eu estava segura pela madrugada, resolvi atender.

Contei cinquenta e um segundos de silêncio, só a sua respiração de um lado, chocando contra a minha.

- Você vai conseguir me perdoar? – A voz de era esperançosa e paciente. – Por favor, fala comigo. – Permaneci muda, tremendo da cabeça aos pés. Apertei meu lábio inferior com os dedos, mantendo o celular no ouvido e apoiado pelo meu ombro, me virei de bruços. Olhando Londres e desejando que ele não parasse de falar. – Eu fui inconsequente, jamais vou me perdoar por expor a Jazmyn a um risco tão grande. Eu a amo, . – Expirou longamente e eu queria poder lhe dizer que acreditava, que tudo ia se resolver, mas não. – E eu te amo também, não me afasta de você. – Desabei. – Se houver alguma possibilidade de você ainda me querer, fale alguma coisa, caso contrário, eu prometo que vou fazer o que quer e sair da sua vida. Eu te amo tanto que farei isso. – Disse tremulando, mas confiante. – Se for o que você quer. – Um grito tentou escapar e foi só isso que consegui em meio às lágrimas. – Por favor, fala... Por favor...

A inconsciência do meu medo e dúvida me manteve calada.

FLASHBACK ON:

POV. .

Londres – 30 de Dezembro de 2008 – 07:19 pm.

No final daquela tarde, busquei no trabalho para levá-la ao cinema. Ela gostou da surpresa, e aquele sorriso em seu rosto era minha maior recompensa.

Quando voltamos para o apartamento, Simba correu ate nós com um pano verde em sua boca, os olhos de se arregalaram e o grito que ela deu foi tão estridente que desejei estar com os ouvidos tapados.

- Eu não acredito nisso! – Ela correu e segurou o pedaço de pano entre as mãos. – Está destruído. Meu Oscar de La Renta está... – Não conseguiu dizer e seus olhos se encheram de lágrimas.

Achei aquilo um exagero de sua parte, mas não queria vê-la triste. Me aproximei dela e a abracei com cuidado.

- Deixa eu ver. – Peguei o vestido de suas mãos, e havia um enorme rasgo, entre a manga comprida e a parte superior do busto. – Acho que tem conserto e...
- Isso custou uma fortuna, era a última peça inédita e importante que eu tinha, mas claro, isso também está acabado. – O latido de Simba a fez olhar para o cachorro com uma mágoa enorme, então ela correu para o banheiro e se trancou.

Com toda a paciência que vinha do tamanho do meu sentimento por ela, eu bati na porta e esperei alguns minutos, até ela ceder e sair. Nos sentamos no sofá e eu a abracei até ela se acalmar. Não falei nada, dando a ela o controle da situação.

- Eu não tenho mais o que vestir. – Negou com a cabeça enquanto eu limpava suas lágrimas. – Você me acha infantil, mas...
- Não acho. Deixa eu te dizer uma coisa. – Ela aceitou minha oferta e me encarou paciente. – Você me disse uma vez que não sabia qual era a sua paixão, e está claro que a sua paixão é roupa.
- Pode até parecer que o valor material é o que importa aqui, mas não é. – Ela me garantiu, mesmo não sendo necessário. gostava de gastar dinheiro, mas não era esnobe. E aquela situação envolvia algo que, mesmo sem admitir, era profundo demais para ela. Para mim, a música era quem eu era, o que me definia e movia. Para eram as roupas.
- Eu sei, porque quando eu perdi meu primeiro caderno de composições eu fiquei bem bravo.
- E o que você fez? – Seus olhos negros, um tanto vermelhos pelo choro, me encararam curiosos.
- Recomecei. – Sorrimos um para o outro. – Agora você vai pegar isso aqui, e reconstruir algo bem melhor do que esse tal de Oscar. – Ela riu ainda mais, esquecendo sua raiva.
- Oscar de La Renta é um gênio, babe.
- Você será ainda melhor. – Beijei seus lábios e depois ela me abraçou.
- Obrigada. – Seus olhos encontraram os meus e eu desejei que ela dissesse as três palavras, mas não disse.
- Agora vai lá, vou levar o Simba para dar um passeio.
- Você é um cachorro mau! – Apontou para Simba. – Muito, muito mau! – Ele recuou e abaixou a cabeça.
- Ele está se sentindo mal. – Disse rindo.
- Bom mesmo que esteja. – Tirou o vestido de minhas mãos e se enfiou no quarto.

estava tão furiosa e chateada, que saí do apartamento com Simba com medo do que ela poderia fazer ao nosso cachorro.

- Vem, amigão! – Peguei a coleira e Simba logo se prontificou pulando em mim.

Sabia que ela precisava daquele tempo, e sabia exatamente onde deveria ir. Nos últimos dias, vinha perdendo tanta coisa que o surto pelo seu vestido era compreensível, quanto a mim? Eu só queria consertar as coisas para ela.

Quando abriu a porta de sua casa, notei que ele se esforçou ao máximo para não batê-la em minha cara, ou bater na minha cara. Arrumou sua postura e sorriu sarcástico, queria mostrar superioridade e eu me encolhi, tentando mostrar o contrário. Estendendo uma bandeira branca entre nós.

- Estou decidindo se você é burro o suficiente para estar aqui sabendo que estou a um passo de encher sua cara de pancada, ou se você é só louco por achar que eu iria te ouvir.
- Estou aqui por causa de . – Ele gargalhou e segurou a porta, a força era tanta que vi os nós de seus dedos ficarem brancos.
- Sabe uma coisa engraçada? Eu não me importo, nem com você e nem com ela. – Assim que a porta estava sendo fechada, eu coloquei meu pé e impedi também com meu ombro. Como duas crianças, tentamos medir força e fazer aquele pedaço de madeira ficar do lado certo.

jamais cederia, então decidi continuar, de um jeito ou de outro ele me ouviria.

- Você ficou sabendo que a mãe dela a abandonou? – O fato de ceder um pouco provava que ele se afastou tanto de todos que havia perdido os últimos acontecimentos. – O pai dela quebrou, eles estão morando num apartamento do tamanho do antigo quarto dela e...

A porta foi puxada para o lado dele, tão bruscamente que me desequilibrei. estava interessado na história, mas ainda mantinha sua postura defensiva.

- Já disse que não me impor...
- O pior de tudo é que ela sente a sua falta, você precisa estar ao lado dela agora. – pareceu levar um choque.
- Por que você está me dizendo tudo isso?
- Nós dois não queríamos perder a sua amizade, e sentimos muito por isso, mas...
- Cara, isso de sentir muito é uma verdadeira merda! – Explodiu. – No fim, quem se fudeu, se fudeu! Fim de papo. – Tentou fechar a porta mais uma vez, mas faltava uma coisa a ser dita.
- te ama, e eu também. – Disse em tom de voz firme, agora de cabeça erguida. – Tudo bem você me odiar, mas não castigue com a sua indiferença. Ela e o realmente precisam de todos agora. – O encarei no mesmo nível. – E ela, mais do que nunca, precisa do melhor amigo.

Seu olhar se derreteu e sua postura desmoronou. Puxei Simba, indo embora dali.

Depois daquele passeio, eu estava mais animado, sabia que havia tocado , e logo ele iria ceder. Olhei para Simba e parei em frente a porta, assim que ele se sentou.

Era engraçado, o cachorro parecia entender o que havia feito, e estava medo do que o esperava atrás daquela porta. Alisei sua cabeça e entramos.

Acho que eu nunca ia achar feia ou esquisita, dentro da minha cabeça ela era como a personificação de um sonho vivo que eu podia tocar, beijar e cuidar. Ela estava sentada na frente de uma máquina de costura, os cabelos presos com alguns fios escapando, concentrada em seu trabalho que nem nos notou.

- Babe? – A chamei e só quando ela concluiu se voltou para mim.
- Terminei Estranho, espera aqui. – Correu empolgada para o quarto e quando voltou eu perdi o fôlego. Ainda mais linda, com o vestido reformado.
- Parece outro vestido, babe. Você esta ainda mais linda, como fez isso em tão pouco tempo?
- A Vika deixou a maquina dela comigo, o rasgo daquele mocinho. – Apontou para o cachorro, que abaixou a cabeça e ensaiou um choramingo. – Foi bem no ombro, então resolvi retirar as mangas e cortar um pouco mais acima, deixando a área menos coberta.
- Ficou mais provocante.
- O decote me permite roubar sempre a atenção de um cantor de uma promissora boyband ai.
- Sério? Quem seria esse?

me lançou o sorriso malicioso que eu tanto adorava e passou o vestido por seus braços e ele caiu no chão. Minha vida ficou presa em seu corpo, como se o visse sem nada pela primeira vez.

- Tem alguma ideia agora? – Sentou em meu colo usando apenas uma calcinha, que só percebi o tamanho. Pequena.
- Acho que sim. – Disse, deixando minhas mãos percorrerem suas curvas e minha boca investir contra a dela, até pegá-la no colo e a levar para seu quarto, para amá-la de todas as maneiras que tínhamos vontade.


FLASHBACK OFF.

POV. .

Londres – 24 de Dezembro de 2015 – 05:17 pm.

Natal. Havia se tornado mais uma data que passava pelo meu calendário sem muita importância. Mesmo o clima de Nova York me contagiando e impulsionando a sair comprando presentes e uma árvore de natal, faltava alguma coisa. Sempre faltou aquela pessoa para se enrolar em meios às luzes comigo.

Estar de volta a Londres e passar aquela data com meus amigos era um plano inatingível até pouco tempo atrás, mas eu estava feliz, apesar de toda confusão. Eu já tinha me esquecido como tudo nessa época do ano era ainda mais lindo por aqui. O frio, as coroas de papel, a iluminação, até as enormes filas nos supermercados para conseguir um peru parecia surreal para mim. Mesmo tendo me mudado há pouquíssimo tempo, já havia recebido dezenas de cartões de natal, e recusado todas as festas das quais fui convidada ao longo daquele mês.

A festa na casa de seria algo completamente íntimo, restrito ao nosso velho e seleto grupo, por isso fiz questão de almoçar com Andrew e lhe dizer isso, antes que surgisse qualquer convite, como não havia sido o suficiente e ele sugeriu passar aquela noite e o dia de natal comigo, acabei tendo que ser clara em minha recusa.

Assim que cheguei à casa dos , fui recepcionada pelo mais absoluto silêncio, saí em busca de alguém, até encontrar no jardim. Tinha um cigarro na boca e mexia em diversas coisas espalhadas pela grama.

- Ei, mate, o que está fazendo? – Ele se assustou e jogou o cigarro para longe, num típico gesto de ter sido pego em flagrante. Não que o proibia, só não gostava que fizesse na frente de Jazmyn.
- Ei, , você me assustou. – O abracei e peguei um cigarro na carteira que ele mantinha no bolso de seu casaco, traguei um pouco e lhe entreguei.
- O que está aprontando?
- Estou aproveitando que e Jazzy saíram para comprar os últimos presentes e estou montando esse balanço, quero fazer uma surpresa quando a princesinha chegar. Ela insistiu, mesmo com essa temperatura baixa. – Sorri encantada.
- Quando foi que você cresceu e se tornou esse pai de família incrível? – Ele deu de ombros e estufou o peito se exibindo, mas depois retomou sua postura relaxada.
- Anos atrás quem imaginaria?
- Ninguém. – Falamos em uníssono e rimos disso.

Tomei seu cigarro e me sentei nas escadas do deck, limpou as mãos na calça jeans e se sentou ao meu lado. Toquei o seu ombro com o meu.

- Você sabe que eu sinto muito orgulho de você, não sabe?
- Obrigado, , eu também me orgulho de quem você é. – Ri e neguei com a cabeça.
- Não sou digna do orgulho de ninguém.
-Você venceu, fez coisas incríveis, e continua a mesma, não se perdeu. – Me olhou com carinho, tumultuando meus sentimentos. – É claro que me orgulho de você.
- Talvez ser uma pessoa de sucesso não seja o suficiente.
- Concordo. Você merece mais do que uma autoflagelação. Já esta na hora de você ser a mãe e a esposa, ter sua própria família. Você sabe onde está o seu lar. – Ouvir aquelas palavras de eram como um tapa na cara. Talvez porque eu não esperasse que ele pensasse todas aquelas coisas, ou que pudéssemos conversar tão abertamente. Estava grata e surpresa com o seu carinho.
- Você acha mesmo que eu mereço?
- Você não pode lutar contra sua fraqueza, e você sabe qual a sua. Você é , não fica parada sentindo pena de si mesma. Você vai lá e resolve as coisas.

havia feito uma leitura correta de mim. Eu sempre fui prática, eu queria, corria atrás e conseguia, foi assim com meus primeiros namorados, com minha carreira profissional, quando eu queria ir a uma festa e meu pai a principio não permitia, mas se tratando de eu era só indecisão. Parecia estar sempre pisando em ovos, numa duvida crucial de se jogar ou me manter segura ali.

Para todos que assistiam de fora, tudo deveria ser simples, e se listasse no papel o que deveria fazer, de fato parecia. Mas na execução era insuportavelmente complicado. O engraçado é que você tem tantas pessoas ao seu redor para te fazerem se sentir confortáveis e conversar, mas acaba desabafando com o mais improvável. Não que não fosse um grande amigo, mas ele não seria o primeiro com quem conversar ia sobre ter uma família.

- Mesmo com essa distância toda eu não deixei de te amar, viu? – Não consegui mais aguentar e ser forte, ali naquele momento, com o , tudo veio a tona, o meu desabafo, minha dor, tudo que eu vinha fingindo não sentir por seis anos.
– O que foi, Sis?
- Eu não aguento mais. – Falei exasperada em meio aos soluços de um choro necessário. – Será que um dia eu vou conseguir tudo isso? Uma família? Alguém que me ame incondicionalmente assim?
- , esse tipo de amor só encontramos uma vez na vida, e você, assim como eu, encontrou o seu ainda no colégio.
- Não fala isso. ...
- Não, agora vou falar. – Se virou ainda mais para mim, buscando toda a minha atenção. – Você sabe que eu amo você e o , e que não há ninguém nesse mundo em que eu confie mais. E por isso, eu digo que essa coisa de sofrer por orgulho já foi longe demais. Eu acompanhei o , e mesmo ele usando a máscara de fodão ele esteve sofrendo durante todo esse tempo. E sei que você não esteve muito diferente.
- Não sei se o vai me olhar da mesma forma quando souber de tudo que aconteceu.
- Claro que vai. – segurou o meu rosto e disse com uma verdade transparente em sua íris. – O que houve foi uma fatalidade.
- Não, foi minha cul...
- Pare de se culpar e pare de ter medo, você e nem ele podem mudar o que aconteceu, e no final, essa coisa idiota de destino vai te manter aquecida.
- O que eu devo fazer agora?
- Vai pegar o que é seu por direito. – Ri em meio ao meu choro e fechei os olhos com a cabeça recostada ao peito de enquanto ele fazia um carinho nos meus cabelos, tentando me acalmar.
- Eu te amo, bro.
- Eu também te amo, sis.

Fui tomada por uma coragem súbita e eu não iria mais afastar , iria trazê-lo ainda mais para mim e para minha vida, meu orgulho e medo não seriam mais um empecilho.

apareceu depois do jantar, estava estranhamente sóbrio, já que estava com ele e completamente bêbado. Entretanto, ele parecia feliz, ou se esforçando bastante para isso.

O Estranho estava fazendo o que eu tanto pedi. Estava me ignorando. Não estava sendo mal educado, ou não parecia querer me provocar, e foi isso que mais me incomodou. O pouco tempo em que passou ali, brincou o máximo que podia com Jazzy, não para provar que poderia ou para pedir desculpas, mas porque adorava.

Disse que não poderia ficar para dormir, e isso também me incomodou. Alguém o esperava? Prometeu chegar cedo para passar todo o dia de Natal. Tentei dormir naquela noite, mas estava mais ansiosa do que o normal, tinha me guiado para uma nova jornada e nada me impediria. Amanhã eu teria de volta pra mim.

Londres – 25 de Dezembro de 2015 – 10:17 pm.

Todos estavam esperando e para alguém tão pontual aquilo estava esquisito. Jazzy mantinha uma ansiedade exagerada e típica de crianças para abrir todos os seus presentes.

- Eu atendo! – Jazzy se manifestou assim que ouviu o soar da campainha. – Dindo! – A garotinha se enganchou nas pernas dele.
- Oi, minha princesinha, como você está hoje?
- Bem. – Jazzy direcionou o olhar para mais uma pessoa na porta. “ trouxe alguém?” – Olá, senhorita Grant.
- Olá, querida. – A professora de Jazzy apareceu no meu foco e estava próxima demais de .
- Por que você esta segurando a mão dela? – Jazzy perguntou exatamente o que eu queria. Por que porra eles estavam de mãos dadas?
- Por que agora nós estamos juntos. – Antes mesmo de tentar dizer alguma coisa, Leah se pronunciou, nesse momento meu olhar cruzou com o dele e eu tive que abaixar a cabeça para que ele não percebesse os meus olhos, que marejaram instantaneamente. – Acho que fora da escola não vai haver problema de me chamar de Tia Leah. – Ela deu um de Jazzy, me deixando com ainda mais vontade de vomitar.
- Tudo bem para você estarmos namorando? – se abaixou e perguntou com cuidado.
- Tudo sim. – Enquanto aquele diálogo ridículo ia acontecendo, o meu coração já quebrado ia se reduzindo ao pó. me lançou um olhar piedoso, mas eu não podia fraquejar naquela hora. Se a distância e o tempo me serviram de alguma coisa, foi justamente para me ensinar a fingir. Mais uma vez, desprovida de sentimentos estava a tona.
- Bom, já que quem faltava chegou... – Juntei as duas mãos numa falsa palma de empolgação e me levantei. – Vamos comer? Estou faminta. – Ao me pronunciar firme e até mesmo alegre, todos me olharam assustados, como se tivesse desenvolvido mais duas cabeças. acabou me salvando do silêncio, que já estava ficando constrangedor.
- Sua gorda. – Se levantou e me abraçou, dando o sustento que minhas pernas bambas precisavam.
- Ei, eu só estou acima do peso, mas começo a dieta na segunda. – Brinquei.
- Só se for para entrar numa garrafa.
- Você me confunde, , eu estou gorda ou magra morrendo?
- Está gostosa. – disse e todos começaram a rir. – Que foi? Vão fingir que não repararam nas mudanças bem vindas ao corpo da ?
- Vamos parar de falar de mim, ok? – Me virei e apontei para . – Esse seu amor por mim já está virando obsessão.
- Um visco estará sobre nossas cabeças logo mais, e você terá que me beijar, .
- Por Deus, não! – Ri de sua indignação. – Agora eu sou quase americana, não participo mais dessas tradições britânicas.
- Ah, cala a boca, sua metida, nem o sotaque daqui você perdeu. – Revirei os olhos teatralmente e me sentei a mesa junto com todos. - Isso é paixão reprimida, . Ou os hormônios dele de dezessete anos. – disse ao trazer um prato com comida para mesa. De canto de olho, notei que abriu a boca para dizer alguma coisa, mas acabou desistindo.

E assim o dia foi passando. Ficamos comendo, bebendo e brincando. Mesmo tendo construído uma muralha imaginária que não me permitia olhar o mais novo casal, eu já não estava mais conseguindo fingir que não via fazendo carinho na sua nova namorada, ou sendo atencioso e enchendo sua taça de vinho, os cochichos e risinhos dos dois. Aquilo me matava cada segundo mais.

- Eu te ajudo a terminar as sobremesas, . – Leah, a boa samaritana, disse.
- Ah, obrigada.
- Eu também ajudo. – se ofereceu e então a três garotas se voltaram para mim.
- O que? Acho que três na cozinha são o suficiente. – Dei um sorriso amarelo e me encaminhei ao jardim. Precisava gritar, surtar, não sei, mas aquelas emoções tinham que se esvair do meu corpo. Peguei um dos cigarros escondidos de e comecei a fumar, tentando mandar embora os meus piores pesadelos reais.

Mesmo fazendo bastante frio e a piscina estando vazia, eu me sentei na borda e encarei os azulejos, agora brancos pela fina camada de gelo. Meus ossos rangiam e sacudiam meus nervos. Namorando? Como ele podia estar namorando? Eu e seríamos sempre impulsivos, talvez aquele fosse o nosso destino.

- Você está bonita demais para morrer congelada. – sentou ao meu lado e colocou uma manta ao redor do meu corpo, depois me entregou uma xícara fumegante de vinho quente. – Está sem açúcar, indicação de . – Tentei não demonstrar o susto que levei.
- Obrigada. – Bebi um gole e deixei que a bebida queimasse minha língua. – Está uma delícia. – Sorri para ele.
- Mesmo sendo americana, vai ter que participar dessa tradição aqui. – me mostrou o cracker .
- Essa eu adooooro. – Fiz uma voz de criança. Entrelaçamos os braços e estouramos a embalagem, pegando nossas coroas de papel dourado, depois colocamos sobre as nossas cabeças.

Ficamos um bom tempo em silêncio, mas estávamos confortáveis com ele, senti que também precisava pensar.

- Não gosto da namorada do . – Estava tão acostumada com fazendo piadas que comecei a rir, mas ele falava sério e o meu sorriso foi morrendo. – OK, que ela é bem gostosa, mas sou esperto o suficiente para não dizer isso na frente dele. – Revirei os olhos e pensar em direcionando seus ciúmes para outra pessoa aumentou minhas náuseas.
- Eu também não gosto dela. – Forcei um sorriso. – Olha que engraçado.
- Também não gosto do Andrew. – Foi direto e enfático. Balancei a cabeça mais aturdida.
- Não tenho nada com Andrew.
- Pode não ter agora, mas irá, principalmente com sendo precipitado.
- , meu mundo não gira em torno de . – Aquela era em partes mentira, mas tentei soar firme.
- Só não acho que vocês mereçam isso, vocês merecem um ao outro e sempre vou torcer por vocês. – Ótimo, mais um.
- Me desculpe, sei que você já sofre por torcer para o Arsenal, não queria que você torcesse para outro time perdedor. – Brinquei para mudar o foco do assunto e consegui.
- Cala a boca, que você torce pra o Chelsea, e quanto a vocês, eu tenho certeza que vou ser campeão. – O bom humor dele era invejável e contagiante, até mesmo numa conversa tão séria para mim eu conseguia sentir uma pontada de alegria.
- Vamos abrir os presentes! – anunciou e se levantou e estendeu a mão para mim.

Quando chegamos à sala, a televisão ligada mostrava a Rainha fazendo seu típico discurso de natal. Jazzy estava abrindo um enorme pacote de embrulho amarelo e ficou encantada com uma pequena máquina de costura que estava ali.

- Que legal, Jazzy. – Me aproximei dela sorrindo. – Agora podemos trabalhar juntas.
- Eu ameeeei isso. – Se virou para professora e meu sorriso sumiu. – Muito obrigada, Tia Leah.
- disse que ela adora fazer roupas com a Dinda, achei que isso seria legal. – Aquela voz melosa e falsa ecoou, eu só queria arrancar suas cordas vocais. Todos fizeram um coral achando aquilo fofo. Argh, qual era o problema de todo mundo?

As trocas de presente seguiram, o presente de estava guardado e eu planejava dar durante a suposta conversa que teríamos, agora nada mais importava.

- Jazzy, pronta para receber o seu presente? – Perguntei deixando minha pequena tradição com Jazzy por último.
- Siiiiim! – Ela parou em minha frente enquanto eu pegava o talão de cheques.
- Bom. Você passou vinte dias comigo, me ajudou na nova coleção e é a afilhada mais linda do mundo. – Bem empolgada, ela concordou com tudo. – Acho que você merece mais um zero não é?
- Eu sou sua panqueca de chocolate, lembra?
- Verdade, como fui esquecer? – Bati na própria testa. – Vou colocar mais um zero aqui por isso. – Terminei de assinar o cheque de cinco dígitos e entreguei a ela.
- UOOOU – Abriu a boca espantada. – Isso são muitos zeros! – Saiu pulando e mostrando para mãe.
- Caralho, , quer me batizar também? – disse depois de espiar o valor.
- Perdeu sua chance, Shrek. – Pisquei para ele.

se mantinha calado, e parecia não me enxergar, nem mesmo seu olhar foi voltado para mim. Trocou presentes com todos, e mais uma vez me excluiu, me deixando sem cotas de falsas expressões alegres. Por sorte meu celular tocou, e eu saí novamente com uma desculpa melhor.

Falei com Peter, depois com a minha mãe e por último com Andrew. Estava sentada na varanda, agora protegida da temperatura, que havia caído ainda mais.

- Dinda, não vai mais entrar?
- Vou sim, minha panqueca, daqui a pouco, ok? – Ela não achou a resposta satisfatória e então se aproximou e sentou no meu colo.
- Você está triste. – É, ela não fez uma pergunta.
- Só não estou me sentindo muito bem. – Apertei de leve o seu nariz.
- Você não gosta da tia Leah, não é?
- Já está a chamando de tia também é?
- Já. – Jazzy fez uma careta de incompreensão pelo meu surto de ciúmes. – Não pode?
- Estou brincando, claro que pode. – Tentei me retificar com ela. – E eu go... Gosto da sua nova tia. Desculpa por não ter ficado muito com você hoje, mas eu estou com muita dor de cabeça.
- Tudo bem, eu estava brincando com o Tio .
- E sua mamãe chata mandou você vim me vigiar, não é?
- Não foi a minha mamãe.
- Não?
- O Dindo me chamou e pediu para eu vim saber se você estava bem, mas disse que era segredo e eu não podia contar a Sra. Grant, ou... Quero dizer, Tia Leah. E ainda disse para eu te convencer a entrar, por que aqui fora está frio. – Não quis processar isso.
- Tudo bem, vamos entrar. – Nos levantamos e ela começou a bater palmas.
- Obrigada, Dinda, vou ganhar dez libras, e ficar ainda mais rica.
- Você subornou o seu Dindo? – Ela balançou a cabeça afirmativamente, sorrindo sapeca. – Dá próxima vez, peça o dobro do que ele te oferecer. – Jazzy soltou uma gargalhada e foi impossível não rir junto.
- Já ia me esquecendo. Antes ele pediu para te entregar isso. – Jazzy tirou do bolso de seu casaco um pequeno pacote de veludo vermelho, amarrado com uma fita dourada, pelo estado do laço, devia ter feito o embrulho. Encarei estupefata o presente em minha mão e senti medo em descobrir o que tinha dentro.
- Vai indo na frente que antes vou abrir o presente, ok? – Ela concordou e entrou pulando em casa. Voltei a me sentar porque sabia que iria precisar da sustentação de minhas pernas.

Desamarrei o cordão e virei o embrulho, vendo um bilhete e minha pulseira cair em minha mão. A inscrição que havia nela fazia me lembrar do destino, e como nossa relação era atrelado a ele.

“When you lose something you can't replace
Quando você perde algo que não pode substituir
When you love someone, but it goes to waste
Quando você ama alguém, mas é desperdiçado
Could it be worse?
Pode ser pior?
Lights will guide to home
Luzes te guiarão até em casa
And ignite your bones
E aquecerão teus ossos
And I will try, to fix you
E eu tentarei, consertar você ” ??

E por mais um ano, eu senti falta das luzes. Feliz Natal. xX .


Estava perdida e confusa. Aquele era um bilhete de despedida? Ou ele ainda estava tentando? Naquele momento, eu só queria estar enrolada em meio às luzes com ele. Fechei os olhos e de tanto desejar, consegui ouvir nitidamente sua voz sussurrando que me amava.

Londres – 30 de Dezembro de 2015 – 03:21 pm.

- Onde você estava? – Perguntei a , que havia acabado de chegar e ido ao meu encontro na cozinha. – Te liguei o dia inteiro.
- Exagerada. Você ligou das onze as três. – Abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água.
- Isso é muito, você só não me atende se estiver fazendo sexo, está aqui, então... – Coloquei a mão na boca e passei a sussurrar para que meu irmão não escutasse. – Você estava com outro?
- Claro que não. Você sabe que quando estou numa relação eu sou monogâmica.
- Então onde estava?
- Saí para almoçar com a Leah. – Disse receosa e se afastou.
- A professora?
- Por que você ainda a chama assim? – Ignorei sua pergunta, porque “professora” era um termo lindo perto do qual eu gostaria de usar.
- Isso é ser monogâmica para você? – Eu estava me sentindo traída.

Desde o natal, não havia tido notícias de , então encarei o presente como um fim, mas agora – com Leah se tornando amiga de todos – eu tinha certeza.

- , nem começa. O pediu pra gente ser gentil e introduzir ela ao grupo.
- Isso é ridículo. – Levei a xícara de chá, que estava tomando, até a pia.
- Ela é uma boa pessoa.
- Ela é uma fingida, será que vocês não veem? – Me virei para ela ainda mais chateada. – Ela quer a fama e o dinheiro do .
- Você não a conhece. – Revirei os olhos e bufei de raiva. – Ela é doce e economiza cada centavo para comprar as roupas caras que você vende.
- E que não vão pagar mais o seu salário se não escolher o lado certo. – riu e ergueu as mãos.
- Calma aí, gatinha. – Mostrei a língua para ela e acompanhei sua risada. Eu precisava mesmo me acalmar. – O que acha de sairmos? Massagem, fazer as unhas, quem sabe mudar o cabelo.
- Eu não vou mudar meu cabelo.
- Ah, por favor, você usa o mesmo cabelo desde sempre. – Abriu um sorriso malicioso. – Está na hora de mostrar que é ainda mais gostosa.
- Não vou mudar. – Repeti. – E não estou muito sua amiga agora.
- Ok, minha ex melhor amiga, vou falar com o seu irmão por um instante e esteja pronta, porque sairemos em quinze minutos, talvez em vinte. – Mordeu o lábio e piscou para mim enquanto subia as escadas.
Londres – 30 de Dezembro de 2015 – 05:59 pm.

- Você vai mesmo passar o ano novo na boate do ? – Um cabeleireiro de cabelos coloridos penteava meus cabelos, e sua mão era tão leve que parecia que estava me fazendo um carinho ou uma massagem. Enquanto isso, uma manicure estava cuidando das minhas unhas dos pés, me deixando ainda mais relaxada. Como se por prazer, parecia querer estragar o meu momento.
- Vou. Eu fui convidada. – Minha voz saia arrastada, ainda entorpecida com aqueles cuidados. – Andrew aceitou ir comigo, então não ficarei sozinha.
- Você está louca? – O pequeno surto de alarmou todos e sua manicure acabou errando seu trabalho. – Ai! Você quer amputar o meu dedo? – Reclamou exagerando para garota, que se encolheu e depois se virou para mim de novo. – , você vai levar o nerd pra festa do ? Você pirou?
- Eu não vou passar o réveillon sozinha e tendo que encarar com aquela professora, sua nova melhor amiguinha.
- Ah, pelo amor de Deus.
- , tomou uma decisão, encontrou alguém para seguir em frente, e eu devo aceitar isso.
- Você deveria lutar por ele. – Não parei para pensar no que acabara de me dizer, não queria torrar meus neurônios com os mesmos fantasmas. Ali eu só sabia que ela provavelmente estava certa, e que aquele era mais um ato inconsequente da minha vasta lista.
- Como vai você e meu irmãozinho? – Perguntei achando que aquilo a afetaria, mas seu rosto se suavizou e ela sorriu.
- Estamos bem e namorando. – Corações flutuavam por sua cabeça.
- O que? – A olhei extasiada. – Quando você planejava me contar isso?
- Aconteceu ontem à noite, você é a primeira a saber.
- Então agora é pra valer?
- Vamos tentar. – Sorri e segurei sua mão. – Estou tão feliz e apaixonada, , que eu nem acredito.
- Isso é maravilhoso. Vocês dois merecem isso, cunhadinha. – pareceu ainda mais encantada por me ouvir chamá-la assim.
- Essa felicidade não precisa ser só minha, viemos para cá tentar, não deixa uma professora – ela imitou o meu desdém – roubar seu amor, porque quem não sabe o que quer, sempre perde o que tem. – Me encolhi e lhe dei um sorriso. Eu sabia o que eu queria, mesmo que me doesse admitir.

Encarei meu cabeleireiro através do espelho e decidi num surto.
- Eu quero pintar o meu cabelo.

Londres – 31 de Dezembro de 2015 – 09:21 pm.

Vestir branco naquela noite não tinha nada a ver com a tradição, mas porque eu realmente buscava paz para minha vida, precisava de uma maré de calmaria, porque meu coração sentia uma tempestade muito próxima.

A decoração da boate para aquela noite era algo divertido. Panos coloridos pendiam do teto e davam a impressão de estarmos numa grande tenda do circo. Os garçons andavam em pernas de pau e em todos os cantos havia alguém cuspindo fogo ou soltando bolhas de sabão. Mágicos tiraram coelhos de cartolas, ou serravam suas assistentes ao meio, mulheres seminuas se exibiam com suas acrobacias em tecidos, e Andrew fez alguma brincadeira sobre isso, num tom provocativo para me causar ciúmes. Me fiz de magoada só pra causar um frisson em seu ego, mas estava pouco me importando para onde seus olhos estavam.

Hoje não havia me barrado e já estávamos subindo a grande escada que dava acesso ao camarote principal. Foi quando notei que ele não se incomodava com minha presença, não queria me atingir ou ser notado e aquele pensamento claro fez meu estômago embrulhar. Não quanto ter visto abraçar sua namorada e lhe dizer algo que ela fingiu se ofender dando um tapa em seu ombro, antes dele encher o seu rosto de beijos até chegar a sua boca. Eu quis morrer. Talvez se as mãos de Andrew não estivessem segurando a minha cintura enquanto me conduzia onde meus amigos estavam eu teria caído ali mesmo.

Entre as carícias de Andrew e ter que encarar as carícias que fazia em outra, eu decidi beber. O que podia e não podia. Não era só a vodca descendo e esquentando tudo por dentro, ou as doses de tequila. Eu estava bebendo saudade, bebendo minha própria dor.

Me senti sufocada. As paredes daquele lugar pareciam me comprimir, as gentilezas exageradas de Andrew, a bebida, a música alta, todas aquelas pessoas fazendo promessas que não iriam cumprir, com a professora, tudo me fez correr dali. Procurei os banheiros e acabei encontrando uma varanda, com um acesso quase escondido. Fui até lá e me sentei numa cadeira, virei toda a dose de vodca do copo que segurava, deixando que o vento frio daquela noite me castigasse.

POV. .

A música barulhenta ou o copo com água em minha mão me fizeram parar um instante para observar tudo em minha volta e eu só conseguia pensar na coincidência bizzara daquela decoração. havia me cortado ao meio e desaparecido, de novo, como mágica.

Só a simples menção dela em meu pensamento me fazia me apaixonar de novo. A cada instante, todo santo dia. Quando eu a vi chegar, desejei roubar ela pra mim. Foi um daqueles momentos em que tudo acontece em câmera lenta. Ela estava com um vestido branco, curto, decotado e tão provocante que me fizeram salivar e endurecer de imediato. Seus cabelos não estavam mais tão compridos e suas pontas adotaram uma cor dourada, que reluziam com a luz do ambiente, estava tão linda, que nem o nerd filho da puta, ao seu lado, foi capaz de distorcer aquela imagem. Meus olhos ainda capturaram mais um surpresa, o acessório que usava. A pulseira delicada com pingente de coração estava escondida no meio de outras, mas no lugar onde não deveria ter saído. Perdi o fôlego e precisei apertar mais forte a cintura de Leah e esconder meu rosto na curva de seu pescoço para não correr até a Estranha. Só que o meu desejo por aquela noite não era suficiente para mudarem o que eu havia passado a sentir nos últimos dias.

Desde o meu erro estúpido, tudo o que eu sentia era medo. Primeiro eu me senti horrível pelo que havia feito, tanto que não havia bebido desde então, era mais do que justo para mim, por tamanha irresponsabilidade. Com o passar do tempo, o medo foi se tornando uma realidade, eu tinha perdido de novo, e agora eu só conseguia sentir raiva dela. Não. Eu estava furioso com ela, e a porra do seu julgamento exagerado.

As coisas foram ficando claras e eu notei que os dias em que passei tendo para mim foram incríveis e reconfortantes, mas não foram inteiros, como se sempre estivesse assustada, se afastava, como uma ilha, demarcada e intocável. Guardando algo só pra ela, me frustrando, me magoando, me destruindo. Me sentia não só excluindo, mas indigno de tê-la, ou de abrir seu baú de mágoas.

Especialmente hoje, parecia frágil, totalmente vulnerável e sem nenhuma máscara. Estava ao lado do nerd, mas alheia às coisas ao seu redor. Eu tentava me concentrar na tarefa de parecer empolgado ou feliz, deixando à vontade no seu espaço, onde as limítrofes eu não poderia ultrapassar.

Leah estava sempre no meu encalço e minhas mãos em sua cintura, ou os comentários que trocávamos ao pé do ouvido eram suficientes para ela e para qualquer um ali se convencer que eu a queria por perto, e de fato minha razão concordava, mas meu coração não. Essa grande parte pertencente à insistia em querê-la. Leah seria o meu próximo erro, mas eu realmente precisava fingir, até mesmo para mim, que era capaz de seguir em frente.

Notei a sua ausência e olhei pra o relógio em meu pulso, faltavam trinta minutos para um novo ano, o hábito que tinha de se afastar para pensar não havia mudado. Mais um. Eu precisava encontrá-la, continuar com meu plano e dar um fim àquilo.

POV. .

FLASHBACK ON:

Londres – 31 de Dezembro de 2008 – 11:20 pm.

Todos pareciam animados, eu decidi me afastar e fazer uma retrospectiva daquele ano. As mudanças foram tão drásticas, que eu deveria sentir medo, ou tristeza, mas me sentia feliz como nunca havia sido. Óbvio que as lacunas que deixavam ausências em mim me fazia sangrar por dentro, mas ainda assim eu sorria e...

- Heaven? – Meu coração estremeceu por ouvir aquela voz. Fechei os olhos e sorri, torcendo para não ser uma loucura.
- Indo.
- Você nunca vai perder essa mania?
- Todo mundo precisa de um tempo para rever as coisas erradas que fizeram durante o ano, e talvez prometer coisas também. – Abri os olhos e me virei encarando seus olhos.
- Decidi não prometer nada, a gente nunca sabe aonde a vida vai nos levar. – se sentou ao meu lado. Trazia um sorriso ameno e ainda um tanto magoado. Não aguentei e rompi qualquer barreira e o abracei, agradeci aos céus por ter sido correspondida a altura. Depois de um tempo assim, percebi que eu deveria começar.
- Me desculpa, eu nunca quis...
- Não precisa se desculpar. – Segurou meu rosto e secou uma lágrima, que eu nem percebi que havia escapado. – Eu amo você, talvez eu sempre queira mais, só que... – Tomou fôlego. – Sempre fomos amigos e isso não vai mudar.
- Eu não quero te ver longe de mim, ou dos nossos amigos, por favor, não odeie , ele não tem culpa. – Negou com a cabeça então continuei. – Você é o melhor amigo dele, ele te ama e só não foi honesto porque eu fui medrosa.

De repente, abriu um sorriso, foi surgindo conforme minha palavras em defesa de iam surgindo, me deixando ainda mais confusa.

- Vocês se amam mesmo. – Disse como se só naquele momento ele pudesse enxergar algo óbvio, como a cor do meu vestido.
- , por que está dizendo isso?
- me disse a mesma coisa, te defendeu da mesma forma.
- ? O que? Quando?
- Se estou aqui, foi porque ele me encorajou.

Claro, , o meu Estranho estava sempre procurando um novo jeito de me fazer feliz, mas o que me deixava mais impressionada era como ele sabia exatamente o que fazer, e lutava por isso. Quantas pessoas mais na vida lutariam pela minha felicidade?

- Não faça esse sorriso de boba apaixonada perto de mim.
- Muito cedo? – Ele concordou com a cabeça enquanto sorria. Então eu lhe puxei para outro abraço, sendo gratamente correspondida. – Eu te amo, Shrek.
- Eu sei, eu também me amo. – Dei um tapinha em suas costas, fazendo-o se encolher e rir. – Ok, eu também amo você, Fiona. – Se afastou e deixou um beijo na minha bochecha. – Agora vamos beber e esperar esse ano incrível chegar.
- No estilo / ?
- Obviamente.


FLASHBACK OFF.

Um baque na porta e eu soube que não estava sozinha, mas foi meu coração que reconheceu o barulho de seus passos.

- Você vai congelar aqui. – Sua voz tinha um tom distante e congelante, que eu passei a sentir mais frio ao ouvi-la.
- Talvez eu mereça. – Sorri para ele e nossos olhares se encontraram, eles concordavam comigo. Eu merecia.

se sentou ao meu lado e acendeu um cigarro. Tentei aquecer meu corpo e isso foi tudo o que tivemos por alguns instantes. Compartilhando o silêncio e nossas sentenças e acusações. Encarei seu perfil, seu rosto estava tensionado, numa incredulidade e raiva por eu não ter cedido ainda.

- . – Relaxou minimamente, ainda encarando a rua abaixo. – Sinto muito. – Ele apenas negou com a cabeça. – Tudo isso de voltar para Londres e ficar com você de novo foi tão confuso para mim, que tudo que eu mais desejo é poder voltar para o dia em que você me fez aquele pedido em Milão. – Sorri com o rosto amargo daquela lembrança, que não poderia ser alterada. se virou ruidosamente, como se tivesse despertado para uma briga.
- Não minta para mim, não com isso.
- Estou falando, foi quando tudo desandou e eu sonho em não ter tido medo naquele dia e ter feito a coisa certa.
- É só um sonho. – Debochou.
- O meu sonho. – Afirmei com todo meu coração, mas ele simplesmente não acreditava.
- Eu sempre fiz tudo por você e na primeira oportunidade você foge!
- Você fugiu primeiro em Milão! – Rebati. – E eu esperei você voltar, esperei por você durante aqueles meses.
- Só decidi viver como você havia sugerido.
- Por Deus, , podemos conversar como adultos? Para de bancar o moleque. Cresça!
- Eu, crescer? Quem fugiu agora? – Seu dedo acusatório foi apontado para mim. – ME FALA DE UMA VEZ O QUE PORRA VOCÊ ESCONDE! – Gritou dando início a sua crise, mas eu não me encolhi. – É SÓ ISSO QUE PRECISO SABER.
- Você quer mesmo voltar a falar disso? – Mantive meu tom de voz, descontrolando ele ainda mais.
- EU PRECISO SABER DE TUDO! – Atirou o cigarro no chão e passou a mão pelo cabelo, travando ainda mais o maxilar. – VOCÊ ESTÁ ME ENLOUQUECENDO!
- O que aconteceu não importa mais.
- IMPORTA PRA MIM, PORRA!
- Por que, Estranho? – Respirou fundo mais uma vez, seu lábio tremia, tentando conter todos aqueles sentimentos, quando não conseguiu, suas mãos fecharam em punho e ele me deu as costas saindo dali.
- ! ! – Gritei, mas já havia sido deixada ali.

Ele não podia me deixar sem uma resposta. Ele não podia me deixar ali.

Corri atrás dele e o empurrei, seu corpo bateu numa porta, fazendo-a abrir e nós dois entrarmos. Notei rapidamente que estávamos no banheiro, lá não parecia ter ninguém. Meu indicador foi de encontro ao seu peito.

- Não vire as costas para mim. – Exigi, e tudo que recebi foi o seu sorriso de escárnio.
- É você quem faz isso aqui. – Espalmei a mão em seu peito e ele ergueu os braços, mantendo o sorriso e me tirando do sério.
- Você continua o mesmo arrogante e egoísta que vai sempre me culpar por tudo? – Meus olhos começaram a implorar em meio a faísca do momento. – Eu quero tentar, Estranho. – Aquelas palavras haviam assustado nós dois, mas não haviam abalado , que estava irredutível.
- Eu estou cansado de ser seu fantoche para ir e vir quando você decide ser um bom momento.
- Não é assim.
- O que aconteceu, Estranha? – Se aproximou de mim como um animal de sua presa. Me analisando, procurando a verdade. – Você está assim por que está vendo feliz com seu irmão, finalmente casada com , enquanto você parou no tempo? Ou está assim por que nossos amigos foram conversar contigo e lhe fizeram acreditar que isso – apontou pra nós dois – deveria acontecer.
- Deve acontecer. – Contestei e ele negou com a cabeça.

Entre minha vontade de bater nele, até que pudesse entender que eu não ia mais embora, eu me atirei em seus braços e o beijei com vontade. me segurou pelos braços e se afastou de mim. Meu peito arfava, mas eu me mantive ali, assustada com o que viria, tentando encontrar forças para não ser abandonada de novo. Nos olhamos por um segundo, até sair averiguando cada cabine daquele lugar, depois trancou a porta. Éramos os únicos ali, ele voltou e avançou em minha direção.

FLASHBACK ON:

Londres – 31 de Dezembro de 2008 – 11:57 pm.

- Ei, Estranho. – Belisquei sua barriga e o abracei por trás.
- Achei que você estivesse com...
- E estava. – se virou e eu passei meus braços por seu pescoço. – Mas agora eu precisava fazer uma coisa. – Olhei para ele sorrindo, ele usava óculos com o número do ano que estava chegando, e seus olhos pareciam mais apertados e aconchegantes.
- O que?
- Beijar você até o ano que vem. – Ele sorriu e olhou para o relógio.
- Faltam dois minutos pra virada do ano, isso não parece muito.
- Tem razão, vou me retificar, eu preciso beijar você até o ano que vem. – Beijei seus lábios. – E durante o resto dele. – Beijei de novo. – E do próximo e... – Sorrindo satisfeito, acabou com aquilo me beijando de uma vez, doce e viciante como sempre, o barulho dos fogos, a celebração das pessoas ao nosso redor, nada nos incomodou, nada foi percebido por nós, ali era só eu e o Estranho, sem espaço e sem tempo.
- Feliz ano novo. – Dissemos juntos enquanto nossos lábios se esbarravam num toque delicado e macio, iniciamos o ano de nossas vidas.


FLASHBACK OFF.

As mãos dele eram tão conhecidas por mim que meu corpo foi logo flexível e suscetível a seus comandos. beijou minha boca, sugando com urgência a minha língua, a música havia diminuído e o mundo desaparecido.

Ele estava roubando todo o meu fôlego e sentidos, deixando meus ossos moles, e sua raiva extravasar, abandonando qualquer lógica ou cuidado.

Minha mão puxou o seu cabelo e a outra invadiu sua camisa, arranhando forte as suas costas, flexionei meus joelhos e passei a esfregar minha perna na sua. Ele mordeu forte meu lábio inferior, cortando ele e o nosso beijo.

Me encarou e eu soube que ele só planejava me provocar, não iria a fundo com aquilo, mas eu sim. Planejava e ansiava seu toque por todo o meu corpo, não iria perder aquele sentimento, então deixaria que ele queimasse e saísse.

Para ouvir a música, clique aqui!

Did I disappoint you or let you down?
Eu te desapontei ou te decepcionei?
Should I be feeling guilty or let the judges frown?
Eu devo me sentir culpado ou deixar os juízes decidirem?
'Cause I saw the end before we'd begun
Porque eu vi o fim antes mesmo de começarmos
Yes I saw you were blinded and I knew I had won
Sim eu vi que você estava errada e eu havia ganho
So I took what's mine by eternal right
Então peguei o que era meu por direito eterno
Took your soul out into the night
Peguei sua alma dentro da noite
It may be over but it won't stop there
e pode ter acabado, mas não vai parar por aí
I am here for you if you'd only care
Eu estou aqui por você, se você apenas se importasse


- Por favor. – Sorri e passei a língua pelos meus lábios, sentindo o gosto metálico de meu sangue.

Seus olhar se estreitou para mim e ele me tomou de novo para si. Nosso beijo ficou ainda mais ardente, guiei suas mãos até meus quadris e ele me ergueu. Meu corpo se chocou contra o espelho, pelo barulho deveria ter quebrado, mas aceitaria até cem anos de azar só para ter dentro de mim de novo.

Nosso beijo se tornou tão rude que se transformaram em mordidas, onde parecia querer levar uma parte minha consigo, por pura necessidade. Minha bunda foi separada por suas mãos impacientes e desejosas, gemi e rebolei por qualquer contato, seus dedos obedientes encontram meu clitóris e o beliscou.

Meus dentes foram cravados em seu ombro, minha língua percorreu seu pescoço e finalmente retirei sua camisa, para sentir cada centímetro seu.

Nossa necessidade só permitiu retirar a calcinha por um lado de minha perna, deixando tudo claro desde então. Não era um sentimento comum de realização, era o melhor. Era branco e iluminado, estava dentro de mim, investindo fundo, enquanto suas mãos apertavam meus seios cobertos, que não tiveram tempo de serem liberados por tamanha urgência.

Nossos lábios se encontravam, mas o olhar dele fugiu do meu, segurei seu rosto forçando-o a me encarar, e nosso ritmo diminuiu, à medida que nossas íris se reconectavam.

- Isso, Estranho. – Gemi em seu ouvido esperando sua reação. Um sopro rouco e um tranco mais forte foram minhas respostas. Estávamos numa batalha onde seguíamos caminhos opostos.

Sua língua e seus lábios encontraram meu pescoço, clavícula e ombro. Fechei os olhos e joguei a cabeça para trás, aproveitando o seu toque, instigando nossos desejos. Segurei seu dedo médio e levei a minha boca, chupando com vontade.

- Caralho, linda – Disse tão baixo que achei que fosse parte do meu inconsciente de pura luxúria. – Linda. – Repetiu diversas vezes com desespero.

- Meant to be. – Quis dizer a ele que ali era o nosso lugar, mas foi tomado por uma onda de realidade, trazendo a tona tudo naquele instante.

You touched my heart you touched my soul
Você tocou meu coração, tocou minha alma
You changed my life and all my goals
Você mudou minha vida e meus objetivos
And love is blind and that I knew when
O amor é cego e eu só soube disso quando
My heart was blinded by you
Meu coração ficou cego por você
I've kissed your lips and held your head
Beijei seus lábios e segurei sua cabeça
Shared your dreams and shared your bed
Eu compartilhei seus sonhos e a sua cama
I know you well, I know your smell
Eu te conheço bem, eu conheço seu cheiro
I've been addicted to you
Eu estive viciado em você

Goodbye my lover
Adeus, meu amor
Goodbye my friend
Adeus, minha amiga
You have been the one
Você foi a única
You have been the one for me
Você foi a única para mim


A palma de sua mão estalou de encontro a minha bunda, um som agudo, uma dor prazerosa e instigante que me fizeram gritar e buscar mais contato, mais por aquele que era só os ressentimentos dele, que eu tanto estava tentando esquecer.

O descarrego de sua fúria continuou, e investiu tão forte que bati a cabeça. Eu havia excluído ele. mordeu minha mandíbula. Eu havia fugido. Gritei mais uma vez e seu dedo, que estava em minha boca, foi direto para meu clitóris. Eu continuava guardando um segredo. Segurei os seus ombros e me entreguei junto com ele.

Nossos corpos se estabilizaram abraçados, juntos, mas não durou muito. se afastou e manteve seus olhos longe de mim enquanto vestia sua camisa.

I am a dreamer, but when I wake
Sou um sonhador, mas quando eu acordo
You can't break my spirit - it's my dreams you take
Você não pode destruir meu espírito - são meus sonhos que você pega
And as you move on, remember me
E quando você seguir em frente, lembre-se de mim
Remember us and all we used to be
Lembre-se de nós e tudo que costumávamos ser

I've seen you cry, I've seen you smile
Eu te vi chorar, eu te vi sorrir
I've watched you sleeping for a while
Eu te observei dormindo por um instante
I'd be the father of your child
Eu seria o pai do seu filho
I'd spend a lifetime with you
Eu passaria uma vida inteira com você
I know your fears and you know mine
Eu conheço seus medos e você os meus
We've had our doubts but now we're fine
Nós tivemos nossas dúvidas, mas agora estamos bem
And I love you, I swear that's true
E eu te amo, eu juro que é verdade
I cannot live without you>
Eu não posso viver sem você


- . – Ele abotoou suas calças e passou a mão por sua roupa, tentando se livrar dos amarrotados. – , por favor, olha pra mim.
- Eu só queria ser qualquer coisa que você me permitisse, estar ao seu lado sob qualquer circunstancias era tudo o que eu queria, mas você me afastou de novo, fugiu.

De repente, me olhou de forma esquisita, investigando meu rosto, mas só quando eu falei, ouvi através do som da minha voz, que estava chorando. - Essa história de fuga de novo?
- É um tópico recorrente, se tratando de você. – Continuei sentada tentando organizar meu vestido e meus pensamentos.

Goodbye my lover
Adeus, meu amor
Goodbye my friend
Adeus, minha amiga
You have been the one
Você foi a única
You have been the one for me
Você foi a única para mim


- Você já arrumou outra, então, aproveite! – Sua expressão foi de total indignação, como se eu tivesse lhe deferido um tapa.
- Vou sim, e espero tentar ao menos sorrir a cada dia. Sendo bem egoísta, eu quero ser amado sem me preocupar se vou ser bom o suficiente. – Lágrimas pesadas desceram pelos seus olhos. – Quero que seja calmo e sem segredos, cansei de jogos.
- , eu... – Ele esperou, mas eu não completei.
- Você não diz, nunca diz. – Sorriu nostálgico, jogando em minha cara minhas inseguranças do passado. – Eu sei que errei com a Jazmyn, sei que errei com você, mas também sei que sabe o quanto amo vocês, não mereci isso e acho que não mereci seis anos de silêncio.
- Você não sabe o que aconteceu ou o que eu passei. – Meu corpo inteiro tremia, mas depois de seu desabafo, agora parecia calmo, pior, ele estava distante.
- E se depender de você, eu continuarei sem saber. – Constatou com um sorriso indiferente. – Sinto muito por tudo, e sinto muito por ter forçado você a voltar para minha vida. – Se virou, mas parou ao meu chamado.

I still hold your hand in mine
E ainda seguro sua mão na minha
In mine when I'm asleep
Quando estou dormindo
And I will bear my soul in time
E eu conduzirei minha alma através do tempo
When I'm kneeling at your feet
Até o dia em que eu estiver ajoelhando aos seus pés
Goodbye my lover
Adeus meu amor
Goodbye my friend
Adeus minha amiga
You have been the one
Você foi a única
You have been the one for me
Você foi única para mim
I'm so hollow, baby, I'm so hollow
Estou tão vazio, querida, estou tão vazio
I'm so, I'm so, I'm so hollow
Estou tão, tão, tão vazio


- A culpada sou eu. Por favor, acredite que eu só quero o seu bem me afastando de você.
- A decisão deveria ser minha. – Minha boca já estava aberta e as palavras escorregando por elas, quando concluiu. – Agora não importa mais, concordo com sua fuga. Você não sentiu a minha falta, e é por isso que eu vou me obrigar a parar de sentir a sua. – Me encarou com olhos gélidos. – Feliz ano novo, Estranha.

I'm so, I'm so, I'm so hollow
Estou tão, tão, tão vazio


Capítulo 14

"I think I'm gonna lose my mind, something deep inside me, I can't give up. I think I'm gonna lose my mind, I roll and I roll till I’m out of luck". Fireproof - One Direction.


Nova York – 15 de fevereiro de 2016 – 12:11 pm.

“Sob os olhares atentos de sua família, mostrou sua visão sensual do outono/inverno num verdadeiro show irreverente nas passarelas de Nova York, no último domingo.

O irmão da estilista não deixou de prestigiá-la, estava tendo uma folga de quatro dias de sua enorme turnê mundial e estava na cidade gravando músicas para o novo álbum do One Direction, sentou-se ao lado de sua mãe, aplaudindo o sucesso irrevogável da jovem irmã.

Nos bastidores, , deslumbrante como qualquer uma de suas modelos, nos contou que em 2016 planeja se dedicar ao Reino Unido, e que está pronta para abrir sua primeira loja na capital onde nasceu e cresceu, a outra, no segundo semestre, será sediada em Dublin. Revelou também que participará pela primeira vez da semana de moda de Londres, no próximo dia 21. Parece mesmo que voltou para casa, sorte a nossa.”


Londres – 19 de fevereiro de 2016 – 09:48 am.

O primeiro mês daquele novo ano pareceu ter se arrastado, mesmo com toda aquela confusão das semanas de moda. Estava feliz com as críticas acerca do meu trabalho, inundada de cabeça com todos os meus futuros projetos profissionais, mas eu sabia que o motivo para tamanha sensação de leseira era a forma como 2016 havia começado.

Na semana passada, todos os meninos estavam em Nova York, trabalhando num novo CD em estúdio, mas como era previsto, só vi quatro deles. Agora eles estavam na América do Sul, e depois iriam para a do Norte, mais três meses me separavam de e eu deveria me acostumar, já que foi uma decisão minha, uma decisão dele... Uma confusa decisão nossa.

- Pronta pra o ensaio e última prova das roupas? – entrou no meu apartamento, completamente desanimada.
- Sua animação me contagia. – Debochei.
- Estou com saudades do seu irmão. – Me confidenciou.
- Ele viajou há seis dias, dezoito horas e... – Olhei para o relógio em meu pulso. – Quarenta e seis segundos atrás.
- Está contando por saudades do irmão também? – Foi à vez de ela debochar com as palavras transbordando malícia.
- Não comece e nem perca o seu tempo. – Virei o último gole de chá e levei a xícara até a pia.
- Tenho que repetir o quanto você está errada?
- Todos me mandam mensagem e me lembram disso. Já está ficando cansativo.
- Todos querem o seu bem. – Revirei os olhos e fui à busca da minha bolsa. – Contar seria mais fácil, entenderia e...
- CHEGA DESSA PORRA! – Havia avançado em sem ao menos notar, estava próxima a ela, seu olhar imponente, me mostrando que não recuaria, me fez recuar. – Contar pra que? Ver me olhar com nojo e me culpar por ser um mostro? Me desculpe se eu prefiro que ele se decepcione comigo por fugir dele ou por achar que eu não o ame.
- Você subestima demais o . Subestima o que ele sente por você ou como ele encara essa relação.
- , eu não...
- Agora você vai me ouvir! Vai ouvir tudo o que tentei te dizer com delicadeza! – Meu corpo se arrepiou pela sensação antecipada que a sua verdade me traria. – Você se sente culpada pelo que houve e eu entendo sua dor, reconheço sua perda, porque eu perdi também. Eu te amo, , e você sabe que é mais do que uma amiga, é uma irmã. Você é uma ótima pessoa e não tem culpa de nada, tudo aquilo foi uma infeliz coincidência. – Neguei repetidas vezes com a cabeça enquanto sentia meu rosto esquentar pelas lágrimas silenciosas que o moldavam. – Você ter lutado tentando se afastar de por todos aqueles anos e ter sucumbido a esse amor que sempre esteve com você prova que vocês foram feitos um para o outro, só que você age errado com ele, e por isso eu te culpo.
- Estou fazendo o melhor pra ele. – Disse num fio de voz.
- Isso é mentira e você sabe disso. Você vive dizendo que não tem medo de nada, mas morre de medo do .
- Isso é ridículo. – Tentei controlar as lágrimas e arrumar minha postura.
- Isso é a verdade. Você tem medo do amor que sabe que ele vai ter dar, porque você sabe que ele vai te dar. – Ela então segurou minhas mãos e eu vi pela primeira vez uma piedade em seus olhos. – Deixe ele te amar, esclareça as coisas com ele e ele vai cuidar de você.
- Como você pode ter certeza?
- Está nos olhos dele, mesmo quando ele quer se manter distante, ele continua apaixonado. E por mais que vocês não voltem a ser um casal, a ligação que vocês têm é forte demais para separar vocês em polos opostos.
- Não sei o que fazer, eu não quero contar a ele, não quando eu afastei ele desse sofrimento por tanto tempo. – Ela sorriu em compreensão.
- Que não conte, mas não afaste mais ele de você, ele não merece viver no escuro.
tinha razão, eu traria de volta para minha vida, de um jeito ou de outro.
- Obrigada. – Me esforcei para lhe dar um sorriso.
- Sempre que precisar.

Londres – 06 de março de 2016 – 02:18 pm.

Nos sentamos na sala de espera enquanto a ansiedade nos tomava conta. Elena estava ainda mais bonita com sua barriga cada vez maior. Meu pai segurava a sua mão e foi daquilo que senti inveja, ter uma mão para segurar, pra me apoiar e dizer que iria ficar tudo bem. Assim como eu provavelmente não teria uma barriga como a de minha madrasta, também não teria uma mão daquela.

Assim que o nome dela foi chamado nós entramos. Admirava o fato de Elena incorporar a mim e a naquele momento, e de como ela fazia questão de nos ter por perto. Elena era uma pessoa graciosa e generosa.

Ao apertar o tubo de gel que iria para barriga de Elena, eu toquei a minha e como se tivesse levado um choque, eu me lembrei de como aquilo era gelado e fez minha pele pinicar, me causando cócegas.

- Acho que vai ser menina. – Meu pai passou o braço pelos meus ombros e despertei. Sua voz se assemelhando ao de uma criança quando vai ganhar um brinquedo novo. – Preparada para dividir a atenção? – Brincou comigo.
- Vou ser sempre a primeira, tenho isso ao meu favor. – Apertei a bochecha dele.
- Vai ser menino. – Elena disse com a segurança de uma mãe. – Estou sentindo. – Meu pai voltou a segurar a mão dela e me lembrei da mão de na minha, um movimento dinâmico de emoção crua. Ela estava lá, sempre, e de repente aquela inveja passou.
- Acho que a mamãe estava certa. – A médica disse apontando pra tela. – Vocês estão esperando um menino.
Ao dizer isso o som do coração forte e acelerado soou. Era o meu irmão.

Londres – 06 de março de 2016 – 04:45 pm.

Cheguei tão devastada da consulta com meu pai e Elena, que tudo que eu queria era um bom banho e depois me esconder entre as cobertas. Assim que entrei no meu apartamento, fui avisada que Andrew estava me esperando há um bom tempo, e mesmo sem paciência pra nada fui obrigada a recebê-lo.

- Finalmente. – Andrew surgiu na minha sala e como se não estivéssemos nos visto no dia anterior, veio até mim com passos firmes, segurou seu rosto em suas mãos e me beijou com vontade. Retribui o máximo que podia, mas pela maneira como ele parou o beijo e investigou minha expressão, não havia sido suficiente. – Está tudo bem, gatinha? – Concordei com um aceno.
- Só estou um pouco cansada, acabei de chegar da consulta.

Segurei sua mão e o puxei para sentar ao meu lado no sofá, com Andy era tudo excessivo, então fui parar em seu colo, num abraço que era muito bem vindo naquele instante.

Eu estava muito feliz, mas as lembranças do que eu perdi e do que eu não poderia ter eram maiores após revivê-las sob uma nova perspectiva.

- Sua madrasta está bem? E o bebê? – Andy me perguntou com cuidado e carinho. Isso que eu gostava nele. Uma proteção sem muita invasão, ele acabava me deixando a vontade para conversar com ele.
- Estão. Vou ter um novo irmão. – Sorrimos juntos com a novidade.
- Não vai perder o posto de princesinha do papai? – Brincou apertando minha barriga.
- Sou a única. – Continuei rindo, mas se eu não estava convencendo a mim mesmo, também não consegui convencê-lo.
- Então, por que a princesa suprema está me parecendo triste? – Enquanto ele perguntava, eu senti um golpe me sufocar e querer sair. – Tudo isso é ciúmes?
- Não. Eu estou feliz, juro. – Senti meu rosto molhado. Droga de TPM. – É só que...
- Só que...? – Me incentivou e me arrumou em seu colo, de modo que agora os nossos olhares ficassem presos.
- Estou aqui pra você, gatinha. – Limpou minhas lágrimas com seu polegar. – Já te disse que quando se sentir a vontade, pode conversar comigo sobre o que quiser.
- Eu sei, obrigada. – Segurei sua mão em meu rosto e fechei os olhos, absorvendo mais dele.
- Entendo você ser tão fechada comigo, mas converse com outras pessoas, seus amigos, é sempre melhor se abrir com alguém do que viver de acúmulos.
- Você acredita em destino? – Andrew foi pego de surpresa, mas não se abalou.
- Não. Acho que você faz sua própria sorte, você decide como quer viver. – Seu olhar me pareceu duro. – E ninguém ou nada pode alterar o curso de sua obstinação. – Seus olhos se fecharam por um segundo, e quando os abriu, já estavam mais suaves. – Nem mesmo o destino.
- Eu preciso te contar uma história, mas você precisa ouvir até o final.

Andy concordou e ouviu tudo pacientemente. Me questionou pequenos detalhes quando estava confuso, riu junto comigo nos momentos alegres, e limpou as minhas lágrimas quando eu revelei o que de mais doloroso eu carregava. No final, ele me abraçou, me dando acalanto e amor, depois cuidou de mim como se eu fosse inquebrável. Ele não me achou um mostro, nem me deu um olhar piedoso. Ele foi a rocha que eu precisava.

Pensei tanto sobre isso, que naquela noite, com Andrew deitado na minha cama, me impossibilitando de dormir, eu me sentei e o observei, busquei a fundo na minha memória o último momento em que eu o tinha visto.

FLASHBACK ON:

Londres – 09 de janeiro de 2009 – 01:36 am.

Andrew estava sentado na cadeira ao meu lado, três livros grandes e um pequeno copo contendo diversas canetas nos dividiam e demarcavam o nosso espaço, contudo ele se esgueirou na cadeira, só para espiar o que eu estava fazendo.

- Você desenha muito bem. – Avaliou depois de analisar por alguns instantes um dos slogans para nossa barraca da feira.
- Faço muitas coisas "muito bem". – Pisquei e sorri pra ele.
- Não duvido. – Rebateu com uma malícia escondida.

Dei língua para ele e fingi desdém, voltando a desenhar. Meu celular vibrou de novo, anunciando uma nova mensagem de . Era a sétima da noite, e eu já estava começando a ficar incomodada e irritada com toda aquela possessividade.

- Mais uma? – Até Andy quis saber.
- dizendo que o show acabou. – Lhe revelei.
- Vocês estão namorando? – Perguntou cheio de interesse.
- Não. – Antes que o sorriso dele se formasse eu completei. – Mas estamos juntos, é meio confuso. – Se me ouvisse diria que eu estava com aquela voz de boba apaixonada.
- Mas continua livre. – Constatou.
- Isso eu sempre serei. – Prendi o cabelo e depois ergui os braços. – Livre, leve e solta. – Brinquei e ele tomou aquilo como um passe para uma investida.
- Você merece mais do que alguém inseguro e ciumento. – Falou sério.

Eu sabia exatamente como dar em cima de um garoto, e sabia quando eles estavam dando em cima de mim. O toque trêmulo de Andy sobre minha bochecha, seu rosto corado e a boca levemente aberta indicavam que ele queria me beijar, só que não seria correspondido.

Me afastei delicadamente no momento exato em que meu celular tocou. A ligação de me fez levantar e ir até a janela, o mais longe que consegui dentro daquele apartamento minúsculo.

- Oi, Estranho! – Estava mais do que feliz em falar com um ele, mas mantinha meu tom de voz baixo, porque não queria que Andy ouvisse nossa conversa.
- O show foi um puta sucesso. – Entre as vozes entusiasmadas dos meus amigos, e o som do ambiente onde eles estavam, eu tentava ouvir a voz agitada de . – E fomos chamados para tocar em Newcastle também.
- Isso é maravilhoso! – Meu sorriso aumentou ainda mais. – Estou muito orgulhosa de vocês, mal posso esperar para abraçar cada um.
- Por que você está sussurrando? – A confusão em sua voz era nítida.
- Não estou sussurrando, estou falando normal.
- O nerd ainda está ai? – Agora o que estava fulgente era sua raiva.
- ...
- Está?
- Não terminamos o trabalho ainda. – Me justifiquei em vão.
- São quase duas da manhã! – Se exaltou.
- Eu preciso dessa nota para tentar fazer pelo menos a prova, já te expliquei isso. – Ele respira fundo, reconsiderando seu ciúme bobo. – Não fica assim comigo. – Pedi com manha e o ouvi sua respiração profunda. - Ok, mas vê se terminem logo. – Ri. - E essas groupies ai, hein? – Desviei o foco da conversa. – Lembre que sua maior fã está aqui sentindo sua falta. – Ele riu e se derreteu com minhas palavras.
- Também estou sentindo sua falta, queria você aqui.
- Queria estar ai. – Andy fez um gesto com a mão, indicando algo em algum livro. – Volta logo.
- Amanhã antes do almoço estaremos ai.
- Ótimo, é meu dia de folga. Um beijo, Estranho.
- Outro, e na boca. – Ri ainda mais boba e antes de desligar ele concluiu. – Eu amo você.

Agora que finalmente havia dito que me amava, não parava mais. Óbvio que eu ficava cada minuto mais encantada com aquelas palavras, mas a frustração me abatia por não conseguir dizê-las.

Londres – 10 de janeiro de 2009 – 01:18 pm.

Os garotos tinham chegado perto da hora do almoço e por sorte, trazendo a nossa comida. Várias caixas de pizza. Essa foi nossa comemoração depois da noite incrível que eles tiveram.

não parecia estar cem por cento bem e a vontade com a minha relação com , mas parecia empenhado em aceitá-la.

Depois de muita comida e risos frouxos, nos largamos pela sala conjugada com a cozinha. Eu e , únicas que não fomos para viagem, ouvimos detalhadamente todas as aventuras deles em Nottingham.

- Tem um vídeo no YouTube! – berrou encarando algo em seu celular. – E já passamos de cinco mil visualizações, estamos virando um sucesso.

Entre todo aquele alvoroço, levantou para pegar nosso notebook, mas acabou encontrando outro.

- De quem é isso? – Perguntou, segurando o objeto pertencente a Andy. Droga.
- É... – Minha garganta ficou instantaneamente seca, dificultando aquela bobagem de sair da minha boca, e meu momento patético de gagueira acabou chamando a atenção de todos, especialmente de . – Andy fez um vídeo e deixou o notebook ai para que eu pudesse assistir. – Antes de mais questionamentos, fui sincera de uma vez. – Não sei o que é, ainda não assisti.

aceitou bem o que eu havia dito e deixou o aparelho onde encontrou, mas se levantou e foi em sua direção, pegou o notebook e colocou sobre o balcão que dividia a cozinha da sala.

- Vamos ver do que se trata. – Ergueu a tela e ligou o aparelho. Seus olhos quase fechados, uma expressão dura.
- Estranho, deixa isso ai. – Seus olhos pousaram em mim ainda mais desconfiados.
- Agora até eu quero saber o que tem ai. – se levantou, e todos os meus amigos fizeram o mesmo, se apertando em volta para poder assistir ao que tinha ali.

Sem esperar mais, deu o play.

O vídeo durou cerca de cinco minutos, continuei sentada onde estava, mas ouvia a voz nítida de Andrew, mesmo sob toda aquela histeria e risadas. Me senti envergonhada por ele, já sorria, mas parecia ainda irritado e enciumado.

- Vai deixar, ? – provocou.
- Nerd babaca. – Revirou os olhos e fingiu desdenho, mas já o conhecia o suficiente para saber que teríamos uma longa conversa.

Londres – 10 de janeiro de 2009 – 03:49 pm.

Infelizmente eu estava certa. Desde que fomos deixados sozinhos no apartamento, estava me ignorando.

- Dá pra você parar com isso? – Pedi enquanto ele dedilhava alguma coisa no violão e me mantinha distante.
- Estou normal. – Falou sem me olhar.
- Mas eu sei que não está. – Ainda mantendo sua atenção no violão, ele revirou os olhos. – Pare de revirar os olhos para mim. – Ordenei irritada.
- Pare de levantar a sobrancelha. – Acusou apontando para o meu rosto.
- Você acha sexy.
- Agora está sendo irritante. – Respirei fundo e me levantei, indo até ele. Minha teimosia não me impedia de saber quando eu deveria ceder.
- Vamos parar de brigar, eu não fiz nada. – Antes que ele pudesse falar qualquer coisa, eu tirei o violão de suas mãos, me sentei em seu colo e o beijei, como se precisasse bastante disso, ele correspondeu. – Agora levanta. – Meus lábios esbarrando nos seus. – Você tem uma promessa pra cumprir.
- Que promessa? – Perguntou confuso.
- Você disse que ia realizar todos os meus sonhos. – Ele me afastou um pouco e riu.
- Não disse não.
- Disse. – Insistir, mas ele continuou negando. – OK, você não disse, mas sei que quer. – Sorri erguendo a sobrancelha, e vi a sombra de um sorriso passar por seus lábios.
- Que sonho seria esse?
- Bom, na minha lista...
- Você tem uma lista?! – Exagerou, mas eu o ignorei e continuei.
- Um... – Ergui o dedo indicador. – Acho que não tem como você me dá um milhão de libras hoje, então está descartado. Dois... – Ergui outro dedo. – Não podemos fugir para casar em Vegas, porque somos pobres.
- Seus sonhos são encantadores. – Zombou gargalhando.
- Três. Não podemos passar a noite trancados numa grande loja de departamentos, no mínimo seríamos presos.
- Esse sonho é legal.
- Eu sei, imagina o quanto se pode aprontar, andaríamos de patins, comeríamos todas aquelas bobagens e...
- Foco. – Enquanto ria ele segurou os meus ombros, me trazendo de volta a realidade.
- Chato.
- Vai me pedir um filho? Seu maior sonho é ser mãe. – Mesmo falando de algo tão sério, parecia se divertir com aquilo.
- Um dia, quem sabe. – Não diria isso ao Estranho, mas eu realmente considerava aquilo.
- Farei esse esforço por você. – Dei um tapa em seu ombro quando ele falou aquilo padecendo ser um enorme fardo.
- Foco. – Imitei seu pedido. – Então sobra um, que você pode realizar agora. – Ele sorriu, enrugando a testa, e tive que beijá-lo antes de dizer. – Quero aprender a dirigir.
- Claro que ensino, babe, mas já está chovendo. – Ele se virou e olhou pela janela. As nuvens escuras e bem pesadas. – E vai ficar muito pior que isso.
- Só está caindo umas gotinhas, mas já vai parar. Por favor! – Tentei o meu melhor sorriso fofo, mas negou com a cabeça.
- Não.
- Por favorzinho?
- , entende que não dá. – Quis dizer a ele para entender que pra mim tudo deveria dar, mas minha prepotência arruinaria as coisas, e naquele momento tirar o foco de sobre o que tinha acontecido, para assim voltar a ficar bem com ele, era o mais importante.
- Babe, por favor! – Fiz um bico e mordi seu lábio. – Vai, Estranho.
- Porra, o que você não pede sorrindo que eu não faço chorando?
- Você faz tudo sorrindo, porque eu sou maravilhosa! – Dei um pulo de seu colo e o esperei.
- Até demais. – Havia uma ironia e um sarcasmo no seu tom de voz e em sua postura ao segurar minha mão, que indicavam que ele não tinha conseguido esquecer aquele vídeo, fingir estar tudo bem e saímos.

Entramos no carro da mãe dele, dirigiu até uma antiga estrada de cascalho, isolada e segura o suficiente para não acontecer nenhum acidente.

Mesmo as nuvens tendo aumento e tornado o dia em noite mais cedo do que o habitual, chovia fraco, costumeiro para qualquer londrino.

- Você está pronta? – Perguntou assim que desligou o carro.
- Acho que sim. – Disse meio insegura, mas assim que ele sorriu confiante, tudo se acalmou dentro de mim.

saiu do carro e eu pulei para o banco do motorista. Minhas mãos tocaram o volante e tudo parece maior desse lado.

Quando ele sentou ao meu lado, colocou o cinto de segurança, eu quis fazer uma piada sobre sua falta de confiança em mim, mas então ele me encarou daquela forma careta, parecendo um pai repreendendo sua cria, eu percebi que aquilo fazia parte de sua aula. Tentei esconder minha vergonha, puxei o cinto e transpassei pelo meu corpo.

- Agora me diz o que fazer, Estranho.
- Gira a chave pra direita e ligue o carro. – Entoou como se eu fosse retardada e riu debochado.
- Seu sarcasmo não levará a gente a lugar nenhum. – Não escondi minha impaciência.
- Ok, desculpa. – Beijou meu pescoço para depois sussurrar. – Liga o carro, babe.

Senti meu corpo inteiro se arrepiar, mas afastei os desejos do meu corpo e liguei o carro. Para mim, o barulho do motor soou maior do que o habitual, deixando tudo amplificado agora que eu estava no comando.

Minhas mãos voltaram a apertar o volante enquanto esperava suas novas instruções.

- Abaixa o câmbio, agora passa a primeira marcha. – Sua mão segurou a minha e a guiando. – Segura a embreagem com o pé.
- Qual o pedal? – Perguntei sem saber onde colocar o pé, o salto que usava complicava ainda mais as coisas.
- Da esquerda para direita. – Esperou que eu concordasse para continuar. era um chato. – O primeiro é a embreagem. – Disse e coloquei o pé sobre ele. – Freio, e então o acelerador.
- Ok.
- Segurou? – Apertei ainda mais o pé.
- Sim.
- Ótimo. À medida que seu pé for soltando a embreagem, o outro vai apertando o acelerador.
- Tudo bem. – Disse e quando me senti segura, fiz exatamente o que ele disse, mas o carro morreu.
- Babe, faz sem pressa. – Ele passou a mão por cima da minha perna. – Com calma.
- Assim fica difícil me concentrar. – O toque dele pareceu um choque, que me despertou inteira. Ele riu, deixou um beijo no meu pescoço, e quando eu pensei em avançar nele, ele simplesmente se afastou.

Lhe dei um olhar frustrado, que o divertiu, então tentei de novo, mas não consegui, o carro sempre dava um pulo e parava. Fiquei nessa até a sétima tentativa, então, devagar o carro começou a andar.

- Agora pode acelerar mais. – Apertei o pé e o carro ganhou ainda mais velocidade.

Nem acreditava que eu era a condutora, me sentia livre... Feliz.

- Estou dirigindo. – Me virei e segurei o rosto de e tentei lhe beijar, esquecendo totalmente a direção.
- , presta atenção! – Me alertou. – Olha a estrad...

Antes de terminar a frase, puxou o freio de mão, mas não evitou que o carro de batesse numa cerca.

- PORRA! – Ele gritou, me assustando e me fazendo encolher no banco.
- Calma. Não foi minha culpa.
- Claro que foi! VOCÊ NÃO PODE SOLTAR O VOLANTE. – Sua voz transbordava raiva e descontrole, em sincronia ao estrondo de um raio caindo do céu trazendo junto um trovão. – E EU DISSE QUE IA CHOVER!
- Não grita comigo. – Travei os dentes e olhei para ele já irritada. – A gente espera a chuva passar e liga para o reboque.
- Essa chuva não vai passar! Se não fosse a porra da sua teimosia nada disso teria acontecido!!!

Controlei o impulso para não arrancar as cordas vocais de e o fazer parar de falar tanta besteira. Tirei o cinto de segurança e abri a porta para sair.

- Aonde você vai? Isso é uma tempestade. – Agora com a porta do carro aberta, mal se ouvia o que era dito, e um clarão iluminou tudo, anunciando o estrondo de trovão que viria. Só que eu não me importava.
- Não vou ficar dentro desse carro com você agindo como uma mulher na TPM.

Não esperei sua resposta e bati a porta do carro, marchando no meio daquele lugar deserto. Contei nove passos e já sentia minhas roupas pesadas, já estava completamente encharcada. Contei onze passos e a mão de se firmou em meu pulso, e a pressão me fez virar pra encará-lo.

- ! Dá pra você parar de ser mimada e voltar para aquele carro?
- Eu não sou obrigada a voltar! Também não sou obrigada a ouvir seus chiliques. – Assim como ele, eu estava gritando para consegui ser ouvida.
- Nós vamos pegar uma pneumonia, isso se um raio não cair na nossa cabeça antes!
- Estou obrigando você a ficar aqui comigo? – Fingi pensar, batendo o pé e sorrindo sarcástica. – Ops! Eu acho que não, então fique a vontade para voltar sozinho!

Provavelmente revirou os olhos, estava ficando cada vez mais escuro e ainda mais embaçado com toda aquela água caindo. Por fim, ele se e virou e caminhou firme até o carro, por dois segundos eu achei que ele realmente fosse me deixar ali, e meu corpo tremeu de frio e medo, mas depois que ele esmurrou a porta e voltou, eu, em minha insistente teimosia, retomei a minha postura inquisitiva. Dessa vez deu pra notar que os olhos de estavam tempestuosos como aquele dia.

- Está satisfeita? – Ele gritou pra mim, mas sentindo raiva de si mesmo. – Eu voltei, como o grande idiota que eu sou, e porque eu não vou deixar você aqui sozinha e você não só sabe disso, como se aproveita.
- Eu... – Ele me cortou, deixando esvair seu momento de fúria.
- Você quer uma pneumonia? Ótimo, que peguemos uma pneumonia! – Levantou os braços e depois os cruzou.
- Você quer aplausos, ? Ou melhor, você quer um replay do que houve lá dentro do carro? – Agora era a minha vez de continuar e o interrompi antes mesmo dele pensar em começar a falar. – Você foi um bruto sem noção e como não quero ser alvo dos seus gritos de novo é melhor você ir para o seu precioso carro e me deixar em paz. Fica lá quietinho, se esquenta e pronto, você não fica doente, olha que simples!
- Desculpas, OK? – Não foi um pedido sincero, a mão de voltou a apertar o meu braço. – Melhor assim? Podemos voltar, princesa? – Tentei me desfazer, mas foi inútil. – Ou devo chamar seu "amigo" nerd para te salvar?
Finalmente ele passou a assumir o que sentia, e eu passei a sorrir satisfeita.

- Essa briga toda é por causa do seu ciúme pelo Andy? Que babaquice, Estranho. – Usei um tom ameno, porque não queria que ele se sentisse diminuído. Não adiantou.
- Me responde! Quer ele aqui?
- Será que dá pra tirar o Andy dessa conversa?
- Responde!!!

Consegui me soltar dele e passei as mãos nos meus cabelos, puxando num ato impaciente. Respirei fundo e olhei , analisei aquela nossa situação, o trajeto que nos colocou ali, bastou quarenta e dois segundos para me colocar no lugar dele e entender sua insegurança.

- Se eu quisesse ele aqui, EU mesma o teria chamado, e eu não estaria aqui curtindo o seu showzinho de ciúmes desnecessário.
- Nerd! Ethan! ! Toda aquela porra de colégio dá em cima de você, enquanto eu sou o novato qualquer, um Estranho, como você mesmo me chama, sem ter nenhuma direção pra seguir. – continuou se revelando. – Por que você ficaria comigo? Eu provavelmente nem tenho um futuro para te dar. Eu nem tenho uma direção!
- Só existe uma direção, , e a minha é você! Eu não preciso de mais nada, enxerg...

Ele não me deixou terminar, me tomou para si e me beijou, ele só precisava daquilo para entender o quanto eu o amava, e eu ... Caralho, eu o amava! Não era só paixão, ou um desejo meramente carnal, havia uma necessidade de cuidar, ter pra sempre. Eu amava com todas as minhas forças.

POV. .

Coloquem essa música pra tocar!

It's not a silly little moment
Não é um momento bobo
It's not the storm before the calm
Não é uma tempestade antes da calmaria
This is the deep and dying breath of
Esse é o final e ofegante suspiro
This love that we've been workin on
Do amor que estivemos mantendo
Can't seem to hold you like I want to
Parece que não posso mais te segurar como quero
So I can feel you in my arms
Para senti-la nos meus braços
Nobody's gonna come and save you
Ninguém virá te salvar
We pulled to many false alarms
Demos muitos alarmes falsos

We're going down
Estamos afundando
And you can see it too
E você pode perceber isso também
We're going down
Estamos afundando
And you know that we're doomed
E você sabe que estamos condenados
My dear, we're slow dancing in a burning room
Minha querida, estamos dançando lentamente num quarto em chamas


Voltamos para o carro para nos aquecer e esperar aquela tempestade passar. Tiramos a maior parte das roupas encharcadas, e no banco de trás peguei uma manta para ela e uma para mim, assim que lhe entreguei, ela se enrolou, ligou o rádio e foi para o meu colo, encontrando em meu abraço proteção para o frio. Seus dedos percorreram preguiçosamente o minha bochecha, meu maxilar e pescoço, num carinho calmo, que só ela sabia me dar. A música de John Mayer tocava, e os olhos de estavam presos ao meus e sorriam.

Ela se afastou um pouco e fechou uma das mãos, reproduzindo um microfone, e cantou junto. Alguma coisa havia acontecido com ela, um brilho de certeza a acompanhava desde que nos beijamos, não sabia o que era, mas parecia bom.

I was the one you always dreamed of
Eu era aquele com quem você sempre sonhou
You were the one I tried to draw
Você era aquela que tentei desenhar
How dare you say it's nothing to me
Como ousa dizer que isto não é nada pra mim?
Baby, you're the only light I ever saw
Amor, você é a única luz que eu já vi


As mãos delicadas de seguraram o meu rosto, me envolvendo ainda mais naquele momento, em cada traço e expressão, nos sussurros que saiam de sua boca.

- I'll make the most of all the sadness Eu farei o melhor dessa tristeza… You'll be a bitch because you can E você será uma vadia porque você pode. – Cantei essa parte e ela deu um soquinho no meu ombro. – You'll try to hit me just to hurt me Você tentará me atingir só pra me machucar So you leave me feeling dirty Então você me deixará me sentindo sujo... ‘cause you can't understand Porque você não consegue entender. – Ergui a sobrancelha sugestivamente, que a fez parar de me bater envergonhada, sabia que não estava de verdade, era difícil a deixar constrangida, já que ela era tão autossuficiente.
- We're going down Estamos afundando… And you can see it too E você pode perceber isso também. – cantou com uma vontade sem igual, chegando a fechar os olhos. Depois de um longo suspiro e de pensar algo que mexeu visivelmente com ela, buscou alguma coragem para me dizer. – Eu acho que estamos, Estranho.
- Estamos o que, babe?
- Afundando. – Ela mordeu o lábio e suas mãos foram parar nos meus cabelos.
- Como assim, ? – Um medo me atingiu por não saber os rumos daquela conversa sem nexo. Medo dela ter finalmente percebido o quão chato, ciumento e inseguro eu era, e querer acabar com tudo antes mesmo de... Seu sorriso escancarou e iluminou até aquele dia cinzento. Os olhos de ainda estavam fechados, mas suas palavras estavam carregadas de uma veracidade, ingenuidade e até mesmo receio.
- O que eu sinto por você é tão intenso que às vezes chega a ser egoísta. Eu estou muito apaixonada por você.
- E eu sou louco por você. – Sabia que deveria lhe dizer que a amava como vinha fazendo ultimamente, mas o rumo daquela conversa estava me deixando ainda mais inseguro.

deu uma risada gostosa, jogando a cabeça para trás. Parei e a admirei como se assiste o que havia de mais lindo no mundo em câmera lenta.

- Não babe, pode dizer. – Sorri para o incentivo dela, e achando graça da sua maneira única de consegui me ler. – Nós já passamos dessa fase, lembra?
- Eu te amo, . – Disse encarando seus olhos, para ela não duvidar daquilo que estava sentindo, aquela frase saiu da minha boca de forma simples, assim como tudo que eu sentia por ela. Diferente do que imaginava, o semblante de não estava assustado ou chateado, ele estava calmo e sereno e eu podia jurar que aquela garota era um anjo. Um sorriso sincero surgir em seus lábios, e então eu ouvi.
- Eu te amo, .

Engoli aquelas três palavras com um choque, sentindo uma paz me invadir ao saber que também era correspondido, meu coração não se decidia em parar de bater ou sair em descompasso. Minha vida estava aquecida como nunca esteve.

Nossas testas estavam coladas, o contato visual era extremamente intenso, não parava de rir, e disse de novo com uma naturalidade que me deixou abobalhado.

- Eu te amo! – Falou próximo a minha boca. – Te amo, meu Estranho. – Fechei os olhos e absorvi os beijos que ela distribuía em meu rosto, enquanto sussurrava o seu amor por mim.

POV. .

Londres – 16 de janeiro de 2009 – 11:45 am.

Diversas barracas haviam sido montadas e espalhadas nas intermediações do colégio. Um palco enorme estava localizado no extremo, com um telão, onde eram exibidos uns curta metragens chatos sobre os assuntos. Alguns alunos também apresentavam seus trabalhos por meio de palestras, ou outras expressões artísticas. Por fim, como acontecia todos os anos, a feira de ciências acabava numa grande festa.

Andrew e eu passamos a manhã exibindo nosso stand, executando as experiências e debatendo sobre o nosso tema. Tantas horas estudando e me esforçando tinham valido a pena, me deixando confiante e tornando tudo mais fácil.

- Ótimo trabalho, senhorita e senhor Wash. – Nosso professor nos cumprimentou logo depois de nossa apresentação exclusiva para ele.
- Que bom que o senhor gostou. – Tentei parecer contida.
- Acho que alguém vai acabar se formando. – Brincou apontando para mim e nós rimos. – E com alguns créditos.

Queria gritar de alegria, mas esperei ele sair para correr e abraçar Andy. Meus braços lhe apertaram tão forte e de um jeito tão desajeitado que ele precisou arrumar seus óculos.

- Eu ainda não acredito! Nós arrasamos! – Quando fui beijar sua bochecha percebi que ele viraria a cabeça e por um segundo meu beijo não atingiu o lugar errado. – Andrew! – O repreendi e empurrei seu ombro.
- , por favor. – Se aproximou e eu me afastei. – Você assistiu ao vídeo? Eu só preciso de uma chance e sei que vou te fazer feliz.

Me senti um animal encurralado. Diferente do que eu havia sentido com relação a , eu não teria remorso em dizer a verdade a Andy, mesmo sabendo o quanto aquilo poderia ser difícil pra ele. Quando pensei em responder, ouvi um microfone ser testado, tão alto que roubou nossa atenção até o palco de onde o som vinha. Os meus cinco amigos estavam lá. e à direita, e à esquerda, e no centro estava . Meu coração disparou. Acho que Andy disse alguma coisa, mas não tinha certeza, meus olhos estavam presos no telão. Eles não podiam fazer aquilo. Depois de bater o indicador sobre o microfone três vezes, pediu o silêncio de todos e conseguiu.

POV. .

- Então, o amiguinho da minha garota. – Apontei para aquele nerd enquanto a raiva ia me consumindo. Ele arregalou os olhos e arrumou os óculos enormes sobre o nariz. – Deixou uma mensagem para ela, acho justo todos assistirem.

Todos continuaram prestando atenção ao palco, me virei manejando a cabeça para , indicando que ele podia dar play no vídeo. Não sabia se estava fazendo o certo, mas a empolgação de ao executar o meu pedido me fizeram crer que sim.

“Oi, ". O nerd claramente estava trêmulo. "Sei que somos amigos há pouco tempo, mas seus sorrisos, nossas conversas e olhares". Ele fez uma pausa, e olhou para cima, um sorriso abobalhado e apaixonado. Patético. "Animam o meu dia". Eu continuava querendo bater nele, mas expor seus sentimentos parecia um melhor castigo. “Nos aproximamos e tudo o que desejo é ter você mais pra mim". Depois que suas mãos se agitam em frente à câmera, ele solta o ar pesadamente. "Eu quero ficar com você. Eu estou apaixonado por você. Aceita namorar comigo?"

O vídeo acaba logo depois do Nerd soltar um riso baixo de apreensão e nervoso.

Eu sabia o quanto era fácil se apaixonar por alguém como , ela não precisava fazer nada além de ser ela mesma, mas aquele pedido era ridículo em níveis extremos, que parecia ter partido de um alienígena do planeta dos otários. Principalmente quandoeu não havia tido tal coragem para pedir isso a ela.

Enquanto as pessoas olhavam pra Andrew e riam dele, eu retomei meu discurso.

- Acho que mereço me declarar também, certo? – Questionei e a galera reverberou concordando. – , você sabe o quanto eu deixo as músicas falarem por mim, então... – Fiz outro sinal e meus companheiros começaram a tocar.

Coloquem essa música pra tocar!

Cover Louis Tomlinson


Versão original – The Fray.

Nós precisávamos nos revelar, quando se está tão perdidamente apaixonado por alguém é preciso gritar, eu ia fazer melhor, eu cantaria meus sentimentos e esperaria que ela os aceitasse.

If I don't say this now I will surely break>
Se eu não disser isso agora eu certamente enlouquecerei
As I'm leaving the one I want to take
Como se deixassem a última coisa que quero ter
Forgive the urgency but hurry up and wait
Perdoe a urgência, mas apresse-se e espere
My heart has started to separate
Meu coração começou a se partir

Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Be my baby
Seja minha garota
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Be my baby
Seja minha garota
I'll look after you
Eu cuidarei de você


Eu estava ali, na frente de todo mundo, como um idiota com um violão na mão, cantando uma música da banda favorita da menina que mais me completava no mundo. Eu não me importava de estar sendo gay, só tinha medo de ser rejeitado. Eu queria a confirmação de que ela era minha, assim como o meu coração achava desde o dia em que meus olhos a focalizaram mordendo o lábio para mim.

There now, steady love, so few come and don't go
E agora, namorando fixo, tão poucos vêm e não vão
Will you won't you, be the one I always know
Você quer ou não ser a única que sempre saberá
When I'm losing my control, the city spins around
Quando eu estou perdendo meu controle, a cidade gira ao meu redor
You're the only one who knows, you slow it down
Você é a única que sabe, você diminui isso

Oh, oh, oh<
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Be my baby
Seja minha garota
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Be my baby
Seja minha garota
I'll look after you
Eu cuidarei de você


se emocionava fácil, mas jamais transparecia isso para as outras pessoas, os sentimentos dela eram bem guardados, mas enquanto eu cantava para ela, seus olhos negros brilhavam, revelando a mim e a todos que ela os estava dando pra mim.

Como dois pesos em uma balança que se equilibrava, o nosso amor nos controlava. Todas as perdas e inseguranças eram diminuídas quando nós estávamos sendo... Bom, sendo apenas nós.

If ever there was a doubt
E se sempre existiu dúvida
My love she leans into me
Meu amor, ela decai sobre mim
This most assuredly counts
A soma mais garantida
She says most assuredly
Ela disse mais garantida
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Be my baby
Seja minha garota
I'll look after you, after you
Eu cuidarei de você, de você
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Be my baby
Seja minha garota


se aproximou do palco, correndo e ofegante, seu rosto era iluminado pelo seu sorriso e pelas lágrimas que ela havia derramado. Sua impulsividade não deixou espaço para que eu cantasse ou falasse o que quer que fosse. Ela impulsionou todo o seu corpo e se atirou em meus braços, os nossos lábios se encontraram num beijo rápido e afobado.

- Sim! Eu aceito!

Acho que alguém continuou cantando a música por mim, já que eu estava ocupado demais perdido nos beijos da minha namorada.

It's always have and never hold
É sempre ter e nunca segurar
You've begun to feel like home
Você começou a sentir-se em casa
What's mine is yours to leave or take
O que é meu é seu, aceite ou ignore
What's mine is yours to make your own
O que é meu é seu para fazer de si mesma

Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh
Be my baby
Seja minha garota
Oh, oh, oh
Oh, oh, oh


FLASHBACK OFF.

POV. .

Londres – 29 de março de 2016 – 01:21 pm.

havia conseguido um ótimo espaço para primeira loja da Meant To Be em Londres. Era bem localizada, numa rua onde acolhiam os maiores nomes da indústria, e o lugar era amplo, com espaços no primeiro andar que dariam um ótimo ateliê e escritório.

As obras tinham começado há quase três semanas e supervisioná-la era uma boa maneira de manter minha mente ocupada.

- Sentindo falta dos tempos de vendedora? – provocou, mas meus olhos se mantinham na loja próxima dali, onde eu tive meu primeiro emprego.
- Eu aprendi muito vendendo. – Revelei orgulhosa. – Acho que passei a entender o espírito das roupas quando ter uma peça incrível passou a ser um desejo, já que eu não poderia... – juntou as sobrancelhas e pareceu confusa.
- Roupas não tem espírito. – Tentei não ri do seu esforço para fazer aquela piada.
- Pode apostar que tem.
FLASHBACK ON:

Londres – 27 de janeiro de 2009 – 09:19 am.

- Ótimo treino, garotas! – Sorri empolgada e desliguei o som. – Holly, você precisa se concentrar um pouco no giro, e , querida, você precisa se soltar mais, e então estaremos perfeitas!
- Alguém está bastante animada. – me abraçou de lado.
- E educada. – completou, mas eu só conseguia achar graça daquilo. Na verdade, estava achando graça de tudo ultimamente.
- Clonaram nossa capitã. – Lily começou depreciativa. – Colocaram uma versão feliz no lugar.
- Não perca o seu tempo tentando implicar comigo, Barbie de Taiwan. – Ela se ofendeu com meu apelido e replicou alguma coisa que ignorei. – Garotas, antes de saírem, eu tenho um último aviso. – Pedi e aquelas que já estavam saindo voltaram e passaram a prestar atenção em mim. Arrumei a bolsa em meu ombro e deixei que começasse a se pronunciar.
- Como vocês sabem, temos que usar um novo uniforme para segunda parte da temporada. – disse firme, mas orgulhosa do seu feito. – E como vocês também sabem, o colégio não cobre esse tipo de custo, e somos sempre nós que compramos.
- Então encontro uma nova empresa que fará uniformes com muito mais estilo e pela metade do preço! – Falei, deixando minha empolgação atropelar as palavras. – Nós fechamos com eles e...
- Espera um pouco! – Lily, sempre ela, me interrompeu. – Você está dizendo que usaremos uniformes de liquidação?
- Foi uma proposta irrecusável! – Argumentei, mas colocou o seu ponto de vista.
- Não é porque são mais baratas que não são de qualidade. – Os olhos de Lily giraram em órbitas, e ela se virou para ir embora, mas pensou em algo que a fez voltar.
- Que seja. Eu preferia os de sempre, que coincidentemente são os mais caros. – Sorriu maldosa e fez questão de subir um tom na voz. – Mas sabendo da sua atual situação financeira, fico mesmo com pena de você por não poder pagar.
- Se você não calar essa boca. – Disse com tranquilidade, tentando não me importar com as coisas que ela havia dito. – É você que terá que pagar uma nova plástica no nariz. – Relembrar de nossa briga, e a sequela que deixei, fez Lily se exaltar.
- Escuta aqui, , se você acha que... – Antes que eu e Lily pudéssemos nos aproximar perigosamente, algo incrível ficou entre nós.

segurou a minha nuca e me beijou como se só houvesse nós dois ali. Sorri durante o beijo, até que uma falsa tosse de nos despertou.

- Bom dia, Estranho. – Sussurrei pra ele.
- Bom dia, Babe. – Ele se virou para as minhas colegas de time. – Como o treino de vocês já acabou, eu tenho que levar a capitã de vocês.
- Mas...
- Temos um assunto muito sério a tratar. – Antes que eu pudesse questionar alguma coisa, nossos dedos se cruzaram e ele me arrastou dali.

Eu já estava namorando o meu Estranho há onze dias, mas parecia ser uma eternidade. Não de um jeito ruim, mas do melhor. Como sempre, viver ao lado de era leve, mesmo sendo difícil estar numa nova posição.

Paramos atrás da arquibancada, colocou o meu corpo entre a parede e o seu, e me beijou demoradamente, sua boca perfeita diluía todos os meus sentidos. Ficamos assim por um tempo, muito ou pouco, eu não saberia dizer, mas com certeza não foi suficiente, nunca era.

- O que você precisa falar comigo? – Ri da sua expressão hesitante. – Fala logo, Estranho.
- Amanhã é aniversário do meu avô, então eu e minha família vamos passar o dia com ele lá na clínica, estou te convidando, mas... – Se apressou. – Você não precisa ir se não quiser, eu vou...

Meus lábios pousaram, calorosamente, nos seus, o impedindo de continuar a falar bobagem.

- Eu adoraria ir. – Contornei o seu maxilar com as pontas dos dedos e sorri pra ele. – E se você, , não me convidasse... – Belisquei sua barriga e ergui a sobrancelha, deixando que sua imaginação se encarregasse do resto.
- Que namorada amorosa eu fui arranjar. – Debochou, mas consegui notar verdade.
- Você é um garoto de sorte. – Pisquei para ele. – E sabe... Eu queria mesmo falar sobre o seu avô.
- Queria?
- Unhum. – Confirmei com a cabeça, e me virei buscando umas folhas que trazia comigo na bolsa, deixando ele confuso e curioso.
- Veja isso. – Entreguei todas para ele, que acabou fazendo uma careta para mim.
- O que é isso? – Olhou com preguiça para toda aquela papelada. – Dá pra resumir? – Me pediu, fazendo uma manha desmedida da qual eu adorava. Sorri pra ele e comecei a lhe contar.
- Estive fazendo umas pesquisas, e descobrir que interação social e atividades prazerosas estimulam a memória e isso pode ajudar o seu avô.
- Você estava pesquisando sobre Alzheimer as... – Parou e olhou para o canto da folha, onde denunciava o horário e a data da pesquisa. – Duas e trinta e cinco da manhã?
- Presta atenção no que estou dizendo, Estranho. – Foi a minha vez de fazer um pedido melodioso e me deu um dos seus maiores sorrisos. Naquele momento, estava me olhando com um brilho diferente, acho que era orgulho. – Eu sei que lá na clinica onde ele está existem várias atividades, mas seu avô merece fazer algo que realmente goste. – Rodeei seu pescoço com meus braços, e me perdi encarando sua íris.
- E o que você propõe?
- Música, Estranho. – Ele riu e claramente amou a ideia. – Vamos levar música para o seu avô?

A resposta de foi um beijo, tão bom quanto todos que sempre me dava, mas naquele havia um adicional de mais um sentimento, como se ele estivesse vendo em mim a mesma coisa na qual eu enxergava nele, trazendo a tona uma satisfação plena.

Londres – 06 de fevereiro de 2009 – 08:16 am.

- Os... – Senti minha garganta seca e perdi as palavras para meu orgulho.

Todas as garotas me olharam em expectativas, e eu simplesmente não sabia como dizer aquilo. Eu deveria ser a líder delas, mas havia falhado, e odiava falhar.

- O que aconteceu?
- Os uniformes não ficaram prontos. – Algumas riram achando que era uma piada, outras emudeceram, mas logo todas externaram suas revoltas.
- Como assim?
- A empresa era uma completa fraude, fomos até lá, mas... – Ainda bem que assumiu e contou a história. – Estavam fechados e também não atendem as nossas ligações.
- Eu disse que não merecíamos uniformes de promoção. – Lily disse com desdém enquanto fingia olhar algo em suas unhas.
- Lily, não comece. – Pedi cansada, ela riu e espalmou as mãos nas pernas e depois se levantou.
- O que vai fazer, capitã? – Todas me olharam buscando uma resposta. Aquilo fez a sala parecer cada vez menor, me deixando ainda mais acuada. Eu precisava pensar, e tinha que ser rápido.
- Esse será o nosso último ano aqui, e de jeito nenhum vamos perder esse campeonato... – Falei qualquer coisa enquanto a minha mente trabalhava rápido em busca de uma saída.
- Mas como você espera... - Xiiii. – Exigi silêncio assim que encontrei uma solução. A melhor, inclusive.
- Eu farei os nosso uniformes! – Determinei.
*************

Fui até a loja e usei todo o meu carisma e lábia, então por sorte consegui ser dispensada naquela tarde. Fui para o apartamento e coordenei todos os meus amigos que tinham ido, obrigatoriamente, me ajudar. Mesmo em meio a toda aquela confusão, eu estava me divertindo demais, minha sala parecia um parque de diversões, e entre ordenar e costurar, um sorriso não saia do meu rosto.

- Oi, Joyce, estou um pouco ocupada agora. – Disse, tentando não soar grossa, o que era impossível, já que eram quase onze da noite e o pouco de trabalho que ainda restava, eu estava fazendo sozinha.
- Oi, , tudo bem? – Minha chefa perguntou, sendo sempre cansativa e inconveniente. – Só te liguei pra avisar que amanhã você terá que chegar uma hora mais cedo, arrumar os estoques costumam demorar e...
- Amanhã é minha folga. – Ri do seu engano. – Tem o campeonato do colégio, eu te avisei.
- Mas você trocou a sua folga, não veio trabalhar hoje, supôs que a data tivesse sido alterada.
- Não foi, hoje eu tive um imprevisto e amanhã tenho que ir para o...
- Pode ir. – Continuou com seu tom meloso, mas agora carregado de sarcasmo. – Segunda você passa para acertar as suas contas.
- Mas eu preciso desse emprego, você não pode me desp...
- Isso não é brincadeira, , onde você pode ir e vir, aposto que tem várias garotas no mundo real que anseiam pelo seu emprego.

Meus olhos marejaram pela injustiça e o peso da realidade. Joyce estava certa, eu precisava ser responsável pelo meu trabalho também. E iria. Desliguei o celular, depois de agradecer a ela e lhe assegurar que estaria lá no horário combinado.

Londres – 07 de fevereiro de 2009 – 08:11 am.

Depois de verem o resultado final, as meninas estavam completamente empolgadas, era bom receber os sorrisos confiantes delas. E modéstia a parte, eu tinha arrasado.

- Vocês estão fabulosas num uniforme incrível. – Disse quando todas ficaram prontas. – Mas irão torcer sem a capitã hoje. – Entre as perguntas que surgiram eu me concentrei nos olhos de Lily, ela ria por dentro, ria de mim, mas não me sentia envergonhada, me sentia nobre. Aquela era mais uma prova que a vida estava me oferecendo para crescer, e eu iria.

*************

- acabou de me contar que você não vai torcer. – Disse depois deixou que suas mãos rodeassem minha cintura.
havia me encontrado perto da saída do colégio e depois de todo o seu carinho, que jamais me cansavam, ficou me encarando preocupado, investigando minha expressão para saber como eu estava me sentindo com tudo aquilo.

- Não posso, só vim trazer os novos uniformes, tenho que ir pra loja. – Sorri pra lhe assegurar o quanto estava bem.
- Sinto muito. – Beijou a ponta do meu nariz. – Eu sei que você adora isso.
- Não sinta, está tudo bem.
- E para festa na casa do mais tarde? Você vai?
- Mas a festa só vai acontecer se vocês ganharem. – Estreitei meu olhar para ele e sorri de lado.
- Nós vamos. – Garantiu, imitando o meu sorriso.
- Você fica tão sexy assim. – Beijei o seu pescoço e senti o seu corpo se arrepiar. – Todo seguro de si.
- É natural. – Ri e me afastei.
- Só com música e futebol.
- Com você também. – Me corrigiu e eu concordei. – Então eu posso te esperar na festa, ou ir te buscar?
- Acho que não, a Joyce disse que vamos trabalhar o dia inteiro, devo chegar esgotada, e não estou com muito humor para festa. – Fiz um bico ao imaginar o dia cansativo que teria pela frente.
- Quando chegar em casa você me liga e vou pra lá. – Se aproximou do meu ouvido para sussurrar. – Podemos comemorar só nós dois, e eu ainda posso te fazer uma massagem.
- Por isso você é o melhor e...
- ! – O grito do treinador me assustou, mas já deveria estar tão acostumado que apenas riu. – Você vai continuar deixando ela te castrar ou vai ser homem e entrar nesse ginásio? – Negou com a cabeça.
- Tenho que ir para concentração.
- Eu sei... Vai lá. – Lhe dei um selinho e saiu correndo. – Estranho... Sucesso! – Ele me olhou enquanto corria. – Por que sorte é pra quem não tem talento.


FLASHBACK OFF.

Londres – 29 de março de 2016 – 04:07 pm.

Mesmo com todo aquele barulho de obras e meus gritos nada amigáveis, conseguia fazer o seu trabalho e ficar ao telefone com . A voz melosa dela já estava me irritando, mas eu continuava forçando a minha mente a ignorar aquilo.

- Estava falando com o . – Me disse com um sorriso bobo assim que desligou.
- Jura? Não havia percebido. – ergueu os dedos e fez um gesto de cobra, me fazendo rir. – Como ele está?
- Bem, e... – Notei que havia uma hesitação em sua empolgação. – está programando uma festa de aniversário para mim.
- E quando seria? – Continuei provocando e ela puxou meu cabelo por pura birra. – Para de ser boba, e eu já sabia dessa festa, ou você acha que é o quem vai fazer realmente alguma coisa?
- Que seja. – Ela abriu os braços. – Só quero todos eles aqui, quero comemorar com todo mundo, porque essa vida não poderia estar mais linda! – Nesse instante, um dos mestres de obras derrubou um pouco de tinta em mim, e realmente eu não poderia desconcordar mais com ela.

Meu coração bateu errado e senti uma agonia por dentro, principalmente por não saber o que esperar de um encontro com , desde que nos vimos dentro daquele banheiro.

Londres – 15 de abril de 2016 – 09:49 pm.

Os dias passaram e uma ansiedade me consumia a ponto de me tirar o sono, era só nisso em que pensava. Criei diversos diálogos em frente ao espelho. Me preparei para todo e qualquer tipo de reação dele, o pior ou melhor do que ele poderia me dar.

Mas foi totalmente em vão.

não apareceu para festa, estava cumprindo sua promessa de se manter longe, ou só não quis ir mesmo, afinal, o mundo dele não girava em torno de mim. Se desculpou mandando um buquê de flores e vários presentes para , prometendo também lhe encontrar para comemorar um outro dia.

Sem o ar pesaroso do passado e a presença de , eu voltei a ser eu mesma. Ri com meus amigos até meus olhos lacrimejarem e meu estômago doer, bebi, dancei e vi o sol nascer. Saímos com perucas, e outros apetrechos que nos disfarçavam, tropeçamos nas ruas enquanto contávamos ou riamos de antigas historias. Naquela noite que se estendeu ao dia, fomos garotos inconsequentes, agindo normalmente, sendo leves e felizes.

Londres – 17 de abril de 2016 – 01:21 pm.

Quando cheguei à clínica, John estava dormindo. Sua cuidadora ainda permanecia a mesma, usou aquele tempo livre para me explicar o quanto a doença dele, mesmo com todo o tratamento, havia avançado e debilitado não só a sua mente, como seu corpo.

Imaginei o sofrimento de viver imerso no esquecimento, será que saberia viver daquele jeito? Logo eu tão saudosista?

- Ele já acordou, senhorita . – Um rapaz me avisou e sorriu para mim. – Hoje ele está de bom humor. – Abriu a porta para mim e permitiu que eu entrasse.

John estava sentado na sua poltrona e sorria enquanto olhava para um lugar inespecífico.

- Oi. – Me aproximei cautelosa e assim que ele me viu abriu os braços para mim. Realmente estava tendo um bom dia.
- Finalmente você chegou. – Falou naturalmente, como se esperasse por aquele encontro. O apertei ainda mais em meu abraço.
- Eu senti a sua falta. – Deixei aquela verdade sair sem medo.
- Mas nós nos vimos ontem. – Riu, como se eu estivesse perdida no tempo.
- Você ainda se lembra de mim?
- Não esqueço um rosto bonito. – Não sabia por que chorava tanto ultimamente, mas não consegui conter ou esconder minhas lágrimas de John. Obviamente ele não se lembrava da minha pessoa, mas reconhecia o meu afeto por ele. – O que aconteceu, querida? Você é jovem e bonita, não deveria estar chorando.
- Só estou muito feliz em estar aqui, e confusa, como sempre.
- O que te deixa confusa? – Ele fez um gesto com a mão para que eu me sentasse. Arrastei uma cadeira e me acomodei perto de sua poltrona.
- O amor.
- É impossível. Existe confusão para se entregar, quando a gente ainda está apaixonado, mas o amor não, ele é sempre real, é concreto.
- Mas o amor me machucou e continua me machucando. – Apertei os dedos das mãos tentando conter o meu nervosismo. – O que eu deveria fazer?

John manteve seu sorriso e com simplicidade continuou seus ensinamentos.

- Toda ferida precisa de ar puro para cicatrizar, não será tapando que você irá conseguir. Deixe as suas feridas sangrarem, minha querida.
- Minha ferida foi à única coisa que me restou, não sei se posso deixar ela se curar.

- Não é porque vivemos sem uma coisa que significa que não as queremos ou as amamos. Quando você não divide uma dor, você a acumula, e isso não é saudável. – Ele retirou um lenço verde de seu bolso e limpou minhas lágrimas, enquanto me acalmava e compreendia toda a sua experiência. – Acho que hoje você conhecerá a minha esposa. – Mudou completamente de assunto, me assustando por um instante achando que ele e Meri finalmente tinham se acertado.
- Desculpe, não entendi. – Tentei ser a mais educada possível para não afugentá-lo.
- Minha esposa. – Riu com obviedade. – Lorraine, ela trabalha durante o dia e só pode vir na hora de dormir. Nós somos casados há cinco anos, mas sei que vamos viver juntos por no mínimo uns cinquenta. – Era um delírio. Sua memória danificada ainda guardava a fantasia de um reencontro. Mesmo num plano onírico aquele amor permanecia.

Pensei em mim e nos meus próprios sonhos, onde esteve rondando constantemente. Será que um dia eu poderia esquecer? E a resposta veio de imediato: não.

- Como ela é?
- Um terror. – Ele zombou. – É impulsiva e brava, bem mandona, mas também é doce e gentil. – John descrever primeiro a personalidade dela, antes de sua aparência, dizia ainda mais sobre o tipo de amor que compartilharam e ele ainda nutria. – Seus olhos parecem duas amêndoas, que contrastam com seus enormes cabelos loiros. – Não consegui me recordar muito de sua aparência, só havia visto uma foto na casa de e isso tinha tanto tempo que agora era só um borrão em minha mente. Mesmo assim eu sorri, imaginado os dois juntos. – Nunca conheci ninguém que pudesse ser tão frustrante e apaixonante ao mesmo tempo.
- Eu sim. – . Ele disse. Ele estava parado na porta me encarando e desregulando minha respiração.

Em suas mãos havia uma caixa média e branca, e em seus olhos não havia surpresas por me ter ali. Ele devia ter sido avisado, por isso a sua expressão era só uma admiração velada, junto a uma curiosidade natural.

- Ah, como vai... – John apertou os olhos enquanto estalava os dedos em direção a . Estava tentando lembrar o seu nome, mas logo desistiu. – Ele é o cozinheiro daqui. – Baixou o tom de voz como se me contasse um segredo. – Está sempre contrabandeando torta de mirtilo para mim. – Notei que lutou pra esconder sua dor, mas eu o conhecia bem demais. Eu também sentia. – Sente-se aqui, meu jovem, não babe muito sobre a garota e controle-se. – Mesmo não sendo proposital, John conseguiu quebrar o clima tenso.
- Prometo não avançar nela. – brincou e colocou o embrulho sobre a mesa e depois o abriu. O cheiro da torta invadiu meu olfato e me lembrou de minha infância. apertou formalmente a mão de John, e sentou ao meu lado, me dando apenas um sorriso como cumprimento. – Vocês estão falando da sua esposa? Lorraine, certo? – Quis saber, parecendo desinteressado.
- Ela é linda. – John afirmou e olhou para mim. – Essa daí nem se compara. – Ergui a sobrancelha e me fingi ofendida, gargalhando junto com eles. – Desculpe, querida. Tenho uma foto aqui.

Mesmo com movimentos limitados, ele levantou empolgado, afastou o colchão de sua cama procurando algo. estava tão confuso quanto eu, então supus que era algo inédito até mesmo para ele.

John resgatou uma caixa de madeira, semelhante a um baú, e o colocou na mesa, ao lado da torta. O cuidado era enorme, ali estava o seu tesouro.

- Espero mostrar isso um dia aos meus filhos e netos. – Sorriu para nós. – Mas hoje vocês vão ter que servir.

Dentro da caixa haviam memórias, registradas em diversas fotos, bilhetes simples, pequenos objetos, que deveriam fazer sentido para eles. Era um relicário inteiro de amor. Ele nos mostrou cada coisa, nas fotos mais recentes ele simplesmente não reconhecia ninguém, não reconhecia a si próprio, mas tentou não se mostrar confuso.

- O que é isso? – perguntou segurando um envelope azul.
- Uma carta para Lorraine. – John bateu na própria testa. – Você pode enviá-la para mim? Gosto dessas pequenas surpresas, porque as fazem rir.
- Claro.
- Tem uma letra de música no verso, mas não consigo lembrar a melodia.
- Posso fazer isso pra você. – se prontificou, mas John riu em escárnio.
- Você é só um bom confeiteiro. – Disse e cortou um pedaço da torta, provando. – Não deve entender de música. – Concluiu de boca cheia.
- Posso ajudar também.
- Agora melhorou. Trabalhar junto a uma moça tão bonita dá sempre em casamento. – Ele piscou para , achando que eu não tinha visto, abaixei a cabeça e fingi isso, mas por mim.
- Nada de casamento.
- Ouviu John. – Usei um tom decepcionado. – Já fui dispensada.
- Ele é burro, você merece mais. – Ri. Provei um pedaço da torta, depois de muita insistência.
- Como está a Meri? – Arrisquei perguntar.
- Ela roubou meu relógio e foi presa. – Não me assustei com aquela colocação. O estágio avançado da doença deixava John desconfiado de todos. Mas o rosto triste de revelou o que eu mais temia. Meri havia partido. – Já deve ter fugido para uma ilha no Caribe.
- Com certeza, ela é muito exibida. – Durante sua risada para mim, seus olhos se tornaram nublados e sua expressão se fechou. Como se uma nuvem negra de dúvidas tivessem lhe atingido.
- Quem são vocês?! – Gritou e se levantou rudemente. – Quem deu permissão para mexerem nas minhas coisas?!
- Vovô, se acalme, nós só queríamos... – Ouvi o chamar daquele jeito deixou John mais confuso e mais revolto.
- LADRÃO! SOCORRO, ESTÃO ME ROUBANDO! – John segurou a caixa de madeira, a protegendo junto a seu peito e se encolheu no canto do quarto, como se temesse sua vida. – LADRÃO!

se afastou aos poucos e, como um imã, sua mão encontrou a minha em meio a toda aquela situação triste.

A única coisa que o acalmou foi um sedativo, antes ele continuou agitado, temeroso e assustado. e eu tivemos que sair do quarto de imediato, então, sem pensar muito, nós não fomos embora, caminhamos pelo jardim e nos sentamos à beira do lago, mas permanecemos em silêncio, tentando nos recuperar da devastação que era presenciar aquela doença se manifestar.

- Então era você que ligava sempre para saber dele. – Confirmei com a cabeça e depois de encarar os pés e pensar, voltou seus olhos pra mim. – Obrigado.
- Não precisa agradecer. – Sorri pra ele. – Eu adoro o seu avô e me preocupo com ele.
- Por que você resolveu vir, ? Ele provavelmente não vai se lembrar desse dia, não deve se lembrar das suas ligações também.
- Mas eu vou... Pra sempre. – Minhas palavras deram a um pouco de susto, mas também de uma admiração que havia perdido. Para não deixar nenhum constrangimento surgir, decidi ser rápida e mudar de assunto. – Eu tive na casa dele, vi que reformaram... Ainda é de vocês?
- É sim, se tem uma coisa que o dinheiro pôde me proporcionar, foi manter aquele lugar. – Me olhou tentando sorrir, mas falou. – Aquela casa é parte da história dos meus avós, e da minha também.
- Sinto o mesmo. – Me apressei em dizer. – Talvez não devesse, mas não posso lutar contra isso, mesmo parecendo um drama.
- Um pouco de calamidade e drama movimenta a vida. – Deu de ombros.
- Ou só nos faça perder tempo. Na verdade,e tudo se perde, Estranho.
- Estranha. – Usou o apelido como provocação. – Existe um poder imensurável no próprio sacrifício. – Fechei os olhos e me permiti acreditar que ele soubesse de tudo, que pudesse me absolver. Sem pestanejar eu disse.
- Desculpa. – Era um pedido para tudo, mas permaneceu inerte e não me disse mais nada. Ficamos por um tempo assim, no silêncio, até onde minha paciência permitiu. Olhei para e vi o envelope em seu colo.
- Me deixa ver a letra dessa música ai. – Empurrei meu ombro no seu, e ele me entregou o papel amarelado.

A letra de John era deitada e de traço fino, havia rabiscos em algumas palavras, onde outras tinham sido adicionadas, mas ler todas elas e como se uniam perfeitamente, fizeram minha visão ficar turva pelas lágrimas.

- Então... – Começo a falar empolgada, mesmo estando tão emocionada. – Quando nós vamos começar a colocar uma melodia nisso? – estreitou os olhos e se assustou com minha pergunta. O momento passou tão rápido por sua cabeça que sei que ele não pensou ou filtrou as próximas palavras que saíram de sua boca.
- Não use mais plural para se referir a você e a mim. – Senti uma dor me atacar bem no meu estômago, e pior, no meu coração, que me deixaram tonta. Tudo que consegui fazer foi olhar para frente, incapaz de dizer mais nada, aquela foi sua razão falando. Até que segurou meu queixo, encarando minha cara patética. – Eu não queria te atacar, ou te magoar, talvez por isso eu precisei me afastar dessa vez. Evitar diálogos assim. – Me esforcei e consegui concordar com a cabeça. Aquilo foi seu coração se desculpando? Desejei que sim.
- É compreensível. Foi bobagem minha achar que pudesse me envolver nisso tanto assim.
- Você mais do que ninguém merece, eu só... Fui um idiota, me desculpe.
- Não prec...
- Podemos a começar em um mês. – Me cortou. – Quando teremos uma pausa mais longa na turnê.
- Você usou o plural. – Me arrisquei a brincar e ele riu. Funcionou.
- Acho que sempre vou usar. – Disse num falso cansaço. – É inevitável.

Dei um tapa em seu ombro, que o fez encolher e rir. Num rompante, o seu olhar parou em mim, deixando que eu notasse uma incógnita. estava me escondendo algo, alguma coisa que eu não gostaria de saber, então me lembrei de Meri, deveria ser sobre isso.

- Quando aconteceu? – Surgiram vincos em sua testa em confusão a minha pergunta.
- Aconteceu o que?
- Meri. – suspirou e encarou o horizonte a sua frente, onde o sol já estava partindo.
- Há dois anos. – Voltou seu olhar para mim, completamente condescendente. – Sua doença estava estável, mas num final de semana que ela foi visitar a família, acabou sofrendo um acidente de carro.

Mesmo usando poucas palavras, minha mente projetou a imagem de Meri partindo, mas decidi guardar a lembrança dela sorrindo, muito bem vestida, e exibindo um humor invejável. Desejei muito ter me despedido.

- Que vida injusta. – Deixei minhas lágrimas caírem e senti os dedos de as acariciando. – Passou tanto tempo lutando para morrer assim.
- O tempo é cruel, mas o tempo só acaba quando a gente morre. E até o momento da nossa morte, temos tempo de honrar nossa vida, nossa existência.
- Mas não a nada pior do que a morte.
- O que morre dentro de nós enquanto ainda estamos vivos pode ser ainda pior. – Minha boca ficou seca ao engolir aquela verdade. Às vezes parecia que sabia de tudo.
- Você tem razão quanto a isso. – Respondi com certa dificuldade.
- Só que tudo é uma questão de escolha, Estranha. Você decide, você tem o controle.

Ele tinha razão, e naquele instante eu controlo o impulso de sair de mim para ser só dele. Inteiramente dele. Me esforcei para me concentrar na dor da perda que sempre nos manterá afastados. Além disso, permaneci calada e condescendente a seus desejos foi o meu jeito de esperar. Quem sabe um dia, um dia eu encontro o fim do meu arco íris.

A lua havia aparecido, sem nem ao menos termos nos dado conta, nos levantamos e voltamos para ver John, mas, como esperado, ele ainda permanecia sedado, e quando acordasse não deveria se esforçar tanto, encerrando assim, a nossa visita.

- Eu vim de carro, posso te dar um carona. – Ofereci quando notei que ainda teria que esperar um carro vir buscá-lo.
- Não, obrigado. – Disse um tanto sério, colocando um cigarro na boca e acendendo, tragou, e enquanto soltava a fumaça, sorriu de lado. – Sou muito jovem para morrer. – Levei as mãos pras minhas cinturas e devolvi o seu sarcasmo.
- Você me ensinou a dirigir, agora está subestimando suas próprias qualidades? – Ele estreitou os olhos e fez um bico, típico de quando precisava assumir que eu estava certa.
- Droga, você tem razão.
- Eu sempre tenho. – Pisquei para ele e entrei.

Durante o trajeto até a casa de , o som do carro, ou suas provocações sobre o quanto eu ainda dirigia mal tornaram aquele momento leve, diria que até divertido.

- Está entregue. – Me virei para ele assim que parei o carro na frente do seu prédio. Passei a mão por seu braço e fingi procurar algo nele. – E sem nenhum arranhão, porque eu sou uma ótima motorista.
- As minhas orações realmente fizeram a diferença.
- Babaca.
- Linda. – Antes de tudo começar a ficar constrangedor de novo, tirou o cinto e beijou minha bochecha, me encarando. – Obrigado. – Tive a impressão de que ele não falava só sobre a carona, mas preferi não questionar, e quando a porta do carro foi aberta por ele, eu resolvi fazer a coisa certa.
- , espera. – Busquei convites no banco de trás do carro e lhe entreguei. – Aqui. Espero que você vá na inauguração da loja, é realmente importante para mim.

Ele olhou para as caixas de madeira dourada, que estampavam a logomarca colorida da Meant to be, e fez uma conta que não se encaixava em sua cabeça.

- Dois?
- Sim. – Sorrio fraco. – Pode levar sua namorada, prometo não implicar com ela. – Ele me olhou incrédulo com um sorriso nascendo no canto de seus lábios. Ergui uma sobrancelha e fingi me entregar a uma derrota. – OK. Não vou implicar tanto.

FLASHBACK ON:

A última mensagem que havia recebido de foi um conjunto de letras embaralhadas que só indicavam que ele não parecia estar bem. Eles venceram o jogo por três a dois, e a partida ter sido difícil parece ter deixado a comemoração mais animada. Mesmo assim, eu esperei que ele fosse me buscar, mas não aconteceu. Até que me dei conta do quanto estava sendo ridícula, eu nunca esperava por ninguém, não iria começar agora, cheguei em casa, me arrumei e fui até a festa na casa de . Alguma coisa dentro de mim se remexia num presságio de que aquela noite acabaria mal, esperava estar errada.

- Ah fudeu! – Assim fui recebida por . Quando ele me viu, os olhos se arregalaram e então partiu e me abraçou. Não foi um cumprimento, notei que ele estava me afastando de algo, o que me deixou potencialmente curiosa.
- O que está acontecendo? – Perguntei, me desfazendo de seu abraço.
- Acho que devemos beber, o que acha?
- Cadê o Estranho?
- , é sério, vamos e daqui a pouco ele aparece.
- Me responde, ! – Sua falta de coragem ficou mais do que evidente em sua expressão de cansaço.

Empurrei seu ombro e me aproximei de uma aglomeração formada na sala. As pessoas me viam e abriam caminho para mim enquanto cochichavam, esperando que eu visse o que quer que fosse a chamar suas atenções.

- Caralho. – A voz agitada de se sobressaiu. – Alguém tira ele dali.

O "ele" em questão era . Sentado numa cadeira, sem camisa, rindo e agitando os braços, enquanto Amanda e outras duas garotas faziam body shot nele, na verdade elas estavam o lambendo deliberadamente.

e tentavam puxá-lo, mas ele não se mexia, estava aproveitando. E era bom que estivesse, porque eu ia matar ele!

- Eu vou matar ee! – Externei meu pensamento com dentes trincando de raiva.
- Calma, . – Só percebi com as mãos em meus ombros quando ele falou. – Ele está muito bêbado.

Ergui os ombros e tireis as mãos de de mim e marchei até aquele circo.

- LEVANTA DAÍ! – Meu grito pareceu intimidar as vadias que estavam com , mas ele só olhou pra mim e sorriu.
- Você não manda em mim. – Isso foi tudo o que eu entendi daquele discurso distorcido e grogue.
- ESTOU FALANDO SÉRIO, ESTRANHO!
- Eu também, também. – Cantarolou. – Taaaaaaambéééém!

Eu tentei voar nele e fazer qualquer coisa para que ele recobrisse a consciência, mas não deixou. Ele também me impediu de ir embora daquele lugar quando eu decidi largar tudo.

- Me escuta, .
- Não se atreva a defender aquele imbecil!
- Eu vou, porque ele não teve culpa, o Ethan... – O empurrei, sem a mínima paciência para ouvir mais nada. Mais uma vez se colocou em meu caminho, barrando minha passagem, me obrigando a escutar o que quer que fosse. – Ethan provocou o durante o dia inteiro e...
- Provocou?
- É.
- E ai? Eu sou a porra da namorada dele!
- Ethan disse que já ficou com você, só foi mordido pelo ciúme, e o Ethan usou disso porque estava se sentindo humilhado com a derrota do jogo.
- Isso tudo é ridículo, e não é justificável.
- Você sabe que ele nunca bebeu, nesse momento ele nem deve saber o próprio nome.
- Mesmo assimm isso tudo é uma merda!
- Mas é a verdade. – notou que eu estava cedendo e me soltou. – bebeu muito hoje, depois ele vai te explicar melhor, mas sobe... Vai para o meu quarto, eu vou buscar o e lá você enche ele de porrada e ameniza sua raiva.

Suspirei e concordei, fazendo tudo o que ele havia me pedido.

POV. .

- ! – Minha cabeça parecia estar sendo esmagada, então como se não fosse o suficiente, senti meu rosto arder. – , seu puto, acorda caralho!

gritava perto de mim, fritando meu cérebro pelo barulho ensurdecedor. O que estava acontecendo. Senti um cheiro forte de grama úmida e areia, e abri os olhos devagar e vi a imagem de distorcida e de ponta cabeça, aos poucos a barulheira do som se tornava clara e o cheiro da bebida surgia para me manter enjoado.

- Oi.
- Levanta e vai atrás da . – Ouvir o nome dela me fez senti uma culpa vinda através de uma pontada no peito. Então cenas distorcidas de como eu havia sido um imbecil apareceram como um raio na minha mente, me impulsionando a levantar.
- Onde ela está?
- Há uma hora, depois dela chorar o que podia e não podia, eu a coloquei no meu quarto. – Tomei fôlego e, quando iria correr, segurou o meu braço. – Ela não quer te ver.
- Tão ruim assim?
- Péssimo, mate.

Mesmo tendo a horrível consciência de que ela estaria brava, tinha a esperança de poder arrumar as coisas e recuperar nosso relacionamento.

Assim que abri a porta do quarto, uma luz fraca do abajur surgiu. Os olhos negros de estavam vermelhos e inchados, assim como a ponta do seu nariz. Enfiei as duas mãos no bolso e ergui os ombros, sabia que teria que usar muito as palavras, mas esperava que aquilo e meu sorriso indicassem um bom começo. Ela sorriu de volta, triste, mas compreensiva.

- Olá, . – Ethan Hindle do banheiro, cara de sono, sorriso de lado, como se tivesse conquistado um troféu.

Assim como eu, levou um susto. Continuei paralisado até deixar a minha consciência ter certeza daquilo, e até ela tentar abrir a boca para falar.

Bati a porta o mais forte que consegui assim que saí do quarto. Isso não me impediu de ouvir o chamado dela.

POV. .

- ! Dá pra você esperar! – Consegui segurar seu braço quando ele tentou passar por entre as pessoas que dançavam no meio da sala. – Babe, não aconteceu nada. – Me aproximei mais dele e suas mãos me empurraram, não com força e não como forma de agressão física, mas agrediu e muito minha alma e meu ego. – Você está bêbado e completamente fora de si. – Logo aquela cena roubou a atenção e até a música havia sumido, nos deixando como protagonistas de um espetáculo.
- Você ficou com ele. – Abriu os braços. – Você me traiu com o Hindle.
- Não. – Enquanto pensava em negar, a mão dele apontou para mim e eu me lembrei que só estava vestindo uma camisa, que peguei emprestada de . Meus dedos tocaram a barra e puxaram o tecido mais para baixo.
- Você também ficou com , até com o Nerd. – Ria enquanto enumerava.
- Será que dá pra você me escutar? Dá pra você me entender? – Minha paciência estava evaporando como o álcool pelos poros de . – Não aconteceu nada!

Fiz questão de não sussurrar essa última parte, para ver se conseguia fazer parar de ser tão idiota.

- Fique.Com.Ele!
- , eu namoro você, não vou...
- Namorava! – O tempo verbal me chocou.
- O que?
- Acabou, . – Um coro de humilhação surgiu da boca das pessoas e me deixou ali com minhas lágrimas e vergonha.

Londres – 08 de fevereiro de 2009 – 10:00 am.

- Aonde você vai, ? – apareceu na porta assim que calcei um coturno para sair. Ele estava à espreita, sabia que faria isso, e pela cara que me olhava era certo que ele não concordava.
- Eu preciso falar com ele.
- Dê um tempo pra ele, principalmente se você quer consertar suas burradas. – Soltei uma risada anasalada.
- Você também acha que eu dormir com o Ethan. – Afirmei e não respondeu nada, me levantei e peguei a bolsa, assim que segurei a maçaneta da porta eu me virei pra ele. – De todas as pessoas que provavelmente estão me julgando hoje, você deveria ser a primeira a me defender, mas obrigada, "irmão". – Bati a porta sem esperar sua resposta.

A maneira como Lydia me recebeu aquela manhã evidenciava que ela sabia de alguma coisa, contudo ela me tratou imensamente bem, como sempre, me convidou a entrar e a tomar um chá, que recusei. Estava tão ansiosa para conversar com que não conseguia ser cortês com a minha sogra. Ou ex futura sogra.

Assim que ela permitiu, eu subi até o quarto dele e bati de leve duas vezes, antes de girar a maçaneta, mas estava trancada. Insisti nas batidas, mas nenhum barulho saia do outro lado.

- , por favor, abre essa porta, sua mãe disse que você está ai e está acordado. – O silêncio continuou reinando. – , por fa... – A porta foi aberta bruscamente, revelando um cansado, com seus olhos vermelhos, emanando ódio puro.
- Eu não quero ver você nunca mais. – Neguei com a cabeça.
- Nós dois erramos, foi uma noite confusa.
- Confusa? VOCÊ TRANSOU COM A MERDA DAQUELE CARA! – Gritou sem se importar em quem ouviria.

sempre se manteve calmo, mas quando se sentia no direito ele agia como uma outra pessoa.

- Não aconteceu nada. – Tentei me aproximar, mas ele segurou os meus ombros e me afastou, num ato bem esforçado, para não ser algo pior.

Eu passei a ter medo, e estava sendo patética a ponto de não conseguir argumentar, havia muito em risco.

- Você pensa que eu sou idiota? Eu vi vocês dois naquele quarto!
- Não, Estranho... – Ele socou a parede a centímetros do meu rosto, e disse com os dentes trincados.
- Não.Me.Chame.Assim! – As lágrimas escorriam, e eu tentei falar sem gaguejar, mas estava ficando cada vez mais difícil.
- Eu só fiquei magoada e fui para o quarto, mas...
- Mas nada! – Se afastou e apontou a saída. – Vai embora, que só de olhar pra sua cara eu sinto vontade de vomitar.
- Você está nervoso e me julgando errado. – Me aproximei e tentei um último recurso. – Eu te amo.
- Vai embora e me deixa em paz. – Aquele tom sôfrego e cansado apertaram ainda mais o meu peito.
- ...
- VAI EMBORA! – Seu grito agitou os meus pés. – SAAAAI ANTES QUE EU FAÇA ALGUMA BESTEIRA!


FLASHBACK OFF.

Londres – 18 de abril de 2016 – 08:13 pm.

O dia havia sido de intensa preparação, e um nervoso incomum. Já havia aberto varias lojas ao redor do mundo, mas nenhuma tinha um significado tão grande quanto aquela. Queria que cada detalhe estivesse perfeito, que meus conterrâneos se orgulhassem de mim. Cheguei à loja no horário, minha ansiedade não permitiu atrasos, parei pousando para as fotos, acenei para alguns fãs e falei rapidamente com alguns repórteres, mas só agora que entrei na loja e vi todas aquelas pessoas admiradas com o meu trabalho, senti meu coração se encher de realização.

Andrew me cercou e me abraçou, mesmo mantendo a descrição que eu havia pedido ele estava demarcando seu território, e eu ainda não havia decidido se gostava daquilo. Enquanto era cumprimentada pelos convidados, vi parado. Me olhando, ele ergueu sua taça numa sutil reverência, que lhe devolvi com um sorriso, que foi se desfazendo ao ver sua acompanhante com ele.

Leah estava com a mão praticamente coloca na própria testa, tentando exibir uma joia em seu dedo anelar, aquilo tinha que ser uma loucura criada pela minha cabeça. Deveria ser. Olhei para minha mãe e me senti com cinco anos. Eu queria chorar, porque não podia ter o que queria e bastava um olhar, o mesmo que estava recebendo agora, para saber que deveria engolir o choro, não poderia passar vergonha a minha família, e deveria parecer forte, inteligente, batalhar para conseguir, e quando a luta não fosse relevante, sorrir e fingir não se importar, assim eu fiz. O sorriso satisfeito lançado por minha mãe demonstrava o seu orgulho, alguma coisa ela plantou em mim.

Voltei a me concentrar na única coisa que deveria naquele momento. Antes de o desfile começar, eu pedi a atenção de todos, mais flashes foram voltados para minha direção, mas eu não me incomodava mais.

- Antes de começar a agradecer a presença de todos aqui, queria citar um trecho de uma música da banda dos meus melhores amigos... – Consegui olhar para cada um, e eles sorriram em surpresa. – "I'm like a crow on a wire… You’re the shining distraction that makes me fly home”. “Sou como um corvo num aramado... Você é a distração brilhante que me faz voar para casa". – Assim que citei, resolvi brincar. – Estou escutando One Direction ultimamente, quem poderia imaginar? – As pessoas riram, mesmo sem entender muito bem o que eu queria dizer. – Meu sonho me trouxe de volta pra casa, o amor que só sonho aqui, me trouxe de volta. A vida é muito maior do que a arte, mas ela vive se confundindo, e os nossos sonhos são os que as move. – Meus lábios tremeram em emoção, imaginava aquele momento acontecendo, mas jamais daquela maneira. Respirei fundo para concluir. – Então eu descobrir que posso ter raízes sem perder as minhas asas, por isso, agora eu darei continuidade ao meu sonho daqui. Espero que apreciem o show! – Ouvi os aplausos e me afastei do palco, a música alta começou, dando início ao desfile.

POV. .

Eu deveria ter me acostumado ao jeito dela falar rápido, mas delicado. A maneira como ela sorria quando se sentia orgulhosa e realizada, como ela erguia a sobrancelha sugerindo algo, ou como me olhava diferente de qualquer outra pessoa que já conheci. Em como ela era generosa e linda, em todos os aspectos. Mas sempre que meus olhos pousavam sobre ela, eu me lembrava do quanto ela era perfeita aos meus olhos.

Minha consciência gritou que eu não deveria mais ousar em pensar isso, principalmente depois da decisão imprudente que havia tomado na manhã anterior, e que pareceu ainda mais ridícula ao encontrar visitando o meu avô. Ela ainda se importava, pelo menos com ele.

Depois do seu discurso, bastante intrigante pra mim, luzes fortes foram direcionadas ao palco, as modelos começaram a desfilar as criações de , se movendo junto com a batida forte de uma música animada. Aquele coquetel de inauguração era exatamente como eu esperava: Foda, jovem e divertido, uma verdadeira festa que só saberia dar.

- sempre foi muito talentosa, mas hoje ela se superou.

Anne se aproximou sorrateiramente, havia esperado o momento certo, quando ninguém conhecido estava próximo a mim. Diferente dos últimos anos, onde ela me ignorava completamente, hoje ela havia resolvido instigar a minha falta de educação. Ela nunca me aceitaria, e eu jamais poderia gostar do seu jeito subversivo.

- Ela fez um bom trabalho. – Disse, mantendo meus olhos na passarela, mas para um ponto inespecífico.
- Um ótimo. – Me corrigiu, engrandecendo o meu elogio e eu tive que concordar. – Minha filha merecia muito mais, pena que um dia se envolveu com alguém como você.
- O que? – Me voltei para ela, abismado com sua capacidade de ser grotesca.
- Minha filha construiu um império depois de ter o coração partido. Se eu não amasse , lhe agradeceria. – Meu sangue ferveu diante da audácia e arrogância daquela mulher.
- Enquanto ela esteve crescendo, precisando se descobrir, a senhora estava com um novo marido, desfrutando de todo o dinheiro que ele poderia lhe dar. Fui EU que estive com . – Havia subido um tom na minha voz, mesmo assim não podíamos ser ouvidos ali.

Anne não se intimidou, era típico dela, seu mecanismo de defesa era rir, e eu imaginei que usaria suas palavras para contra atacar.

- E quando você, por um ego ferido, destruiu minha filha e seus sonhos, a fazendo fugir de tudo e todos, fui EU que estive lá.

Eu só não poderia imaginar que algo que viria dela pudesse ser tão verdadeiro a ponto de me afetar tanto, Anne me deu a certeza de que a filha escondia um segredo. Algo impedia de se amar, para poder amar a mim e todo o resto, olhei ao redor e senti que todos conheciam detalhes daquela história, menos eu, só que minha obstinação não iria permitir que fosse por muito tempo, eu ficaria sabendo da verdade de uma vez por todas.

Para completar o meu raciocínio, minutos depois de chegar ao bar e virar uma dose de uísque, Andrew se aproximou de mim com um sorriso sarcástico em seus lábios. Quis esmurrá-lo ali mesmo e só me controlei para não estragar a noite de .

- Parabéns, . – Minha confusão o fez rir e continuar. – Pelo casamento. – Engoli em seco.
- Obrigado.

Ele girava a taça em sua mão, sua postura não era defensiva, Andrew não parecia competir por , parecia querer me atacar e também não era por . Havia mais, podia sentir, e isso ia além de qualquer ciúme ou marcação de território.

- Finalmente você percebeu que merece mais do que você. – Ele me provocou, mas não me atingiu.
- Se decidiu ficar com você, só a faça feliz. – Me aproximei dele e dei o ultimato. – Caso contrário, eu acabo com você.

Andrew gargalhou e depois disse num tom solene.

- Me preocuparia mais com você e sua imagem de bom moço. – Se aproximou e bateu de leve em meu ombro, mas antes de sair, deixou um recado. – Sua hora está chegando, pop star.

Ali não era uma ameaça, era uma certeza. Quem porra era Andrew Wash?

POV. .

Havia acabado de dar mais uma entrevista, a inauguração estava sendo um sucesso e eu não poderia estar mais feliz.

Logo um garçom me serviu uma taça de champanhe e agradeci ainda mais, assim que vi Leah se aproximar de mim.

Seu sorriso era meigo e doce, tão doce que lhe causava facilmente uma crise hiperglicêmica.

- Está tudo incrível, . – Me deu um leve abraço que não consegui retribuir a altura. – A nova coleção está deslumbrante.
- Obrigada.
- Já sei onde irei gastar todo o meu salário. – Brincou e riu sozinha de sua piada. – Só vim mesmo te parabenizar, eu e já estamos indo. – Apontou para seu namorado e vi que ele se despedia de .
- Obrigada por terem vindo.

Diferente do que imaginei, ela continuou ali parada e me encarando e eu soube que havia algo que ela queria muito me dizer.

- Precisa de mais alguma coisa? – Usei minha última gota de educação com ela.
- Na verdade, é mais uma sugestão. Leah não era do tipo de mulher que procurava brigas, ou tentava se impor para mostrar o quanto o homem era seu. Ela buscava contato com o inimigo, era simpática e prestativa, uma verdadeira cobra peçonhenta, que atacava aos poucos, de longe. Como quando arrumava o cabelo de ou lhe pedia um beijo na frente de todos, e depois me olhava, imperceptível para os demais, fixo e decidido para mim.

Mexeu no anel, que tanto estava me intrigando, confirmando para mim um noivado, numa provocação silenciosa e sutil.

ia casar!

ia casar e não seria comigo!

Eu deveria encontrar um equilíbrio entre não ser só leal a mim mesma, mas a ele também, entendendo as suas decisões, independente da dor que elas me causassem. O sorriso de Leah aumentou, ela pareceu crescer a cada segundo diante dos meus olhos, me diminuindo. Ainda havia mais. Tentei arrumar minha postura e esperar sua próxima jogada.

- Sugestões são sempre bem-vindas. – Me esforcei para sorrir.

Arrumei a postura e esperei sua nova jogada.

- Notei que você não tem uma linha exclusiva para gestantes, e como sou tão fã das suas coleções, eu não queria passar os próximos meses sem vestir nenhuma roupa criada por você.

Eu não estava. Definitivamente eu não estava preparada para aquilo. Meus ombros caíram e senti me empalidecer. chegou ao nosso lado e deve ter percebido, porque me perguntou se estava bem.

- É verdade? – Não sabia de onde me veio forças para perguntar isso olhando nos olhos dele. – Vocês vão ter um filho?
- Sim. – Ele não sorriu, mas eu notei uma alegria dentro dele. – Leah me contou de suas suspeitas ontem pela manhã, mas resolvemos dar a notícia quando tudo for confirmado. – Falou a última parte deixando surgir uma espécie de tensão entre os dois, mas Leah não pareceu nem um pouco incomodada. Minhas pernas não estavam mais dando conta de sustentar o meu corpo. – , eu não... – tentou explicar o incompreensível para mim. Em seus olhos havia uma espécie de Leah o cortou.
- Não queremos incomodar mais, afinal, hoje o dia é seu, querida. – Leah completou e se aninhou nos braços de . A mão dele foi espontânea e diretamente para o seu ventre e esmagou o meu ego e minha alma.




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Nota da autora: Sem nota.
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