Lover of Mine

Última atualização: 28/07/2020

Capítulo 1

O toque do meu celular ecoando pela casa àquela hora da manhã era uma surpresa, também não costumava receber ligações que não fossem das minhas amigas ou de Vic, mas nunca nesse horário. Vasculhei pela sala até encontrar o bendito aparelho enfiado entre as almofadas do sofá, vendo a foto de preenchendo a tela.
Sorri, deslizando o dedo pelo ecrã, levando ao ouvido e ouvindo barulhos de guitarra no fundo.
— Ora, ora... quem é vivo sempre aparece. — Brinquei. — A que devo a honra dessa ligação tão inesperada?
Até parece que sou só eu quem some, né, ? — O garoto respondeu. — Eu não tenho muito tempo, então vou ser direto.
— Manda! — Apoiei o celular entre o ombro e o ouvido, indo para a cozinha terminar meu café da manhã.
Nós faremos uma festinha particular hoje à noite, como comemoração de fim de tour. Você está mais que convidada. ! Eu estou no telefone! — Berrou, fazendo-me afastar o celular do ouvido. — Desculpa, os meninos estão fazendo bagunça.
— Bom, você pode contar com minha presença. — Gargalhei.
Conversamos por mais uns minutos antes de ele precisar desligar. Conhecia os meninos fazia alguns meses e sempre era esse clima descontraído e leve, era divertido estar com eles, mesmo que sempre acabasse na cama de um deles no final da noite.
Não sei exatamente como isso havia começado, mas funcionava para nós e eles não se importavam, então por que não? Éramos solteiros, livres e desimpedidos, aproveitando nossa juventude.
Tomei meu café da manhã tranquilamente, enrolando o máximo que pude, arrumando o que estava bagunçado pela casa, gastando tempo na Netflix e cochilando enquanto esperava dar a hora para eu começar a me arrumar.
Quando o relógio bateu por volta de oito da noite, levantei-me, espreguiçando-me e seguindo direto para o banheiro, onde tomei um banho caprichado. Ao sair do banho, vasculhei meu guarda-roupa, achando um tubinho preto de alcinhas super bonito e básico. Sorri para a peça, já sabendo exatamente como combiná-lo ao resto do look. Poderia ser amiga dos rapazes e eles já me viram em estados bem ruins, mas eu ainda queria que eles me vissem bem vestida e arrumada.
Fiz minha maquiagem, não exagerando muito, secando meu cabelo e o ajeitando em ondas pelo comprimento. O vestido foi o último para completar tudo, com botas sem salto e uma jaqueta jeans estilosinha para combinar. Olhei-me no espelho, decidindo que estava satisfeita e pegando minha bolsa pronta para sair de casa.
Pouco tempo depois, estacionei em frente à casa em que a festa tava rolando, o som já bastante alto. Dei meu nome para o segurança da porta, logo sendo colocada para dentro. Andei por entre as pessoas, avistando gente conhecida por todos os lados e algumas que eu não fazia ideia de quem eram — só mais uma das grandes vantagens de ser amiga de uma banda como 5 Seconds of Summer.
Avistei saindo da cozinha com dois copos de bebida nas mãos, abrindo um sorriso caloroso assim que me viu.
, você veio! — Aproximou-se, depositando um beijinho no meu rosto. — Como você está?
— Ah, eu tô bem. Mas e você? Faz tanto tempo que não vejo vocês. Estava com saudades! — Comentei.
— A gente meio que te deixou de lado, né. Desculpa, essa tour foi uma loucura, mas agora que estamos de volta, tenho certeza que a gente vai se divertir muito ainda... — sorriu malicioso.
— Mal posso esperar! — Retribuí a cantada, tentando não dar bandeira demais.
Eu não sabia como funcionava para eles, mas definitivamente não queria causar nenhuma confusão, já que quem me convidou foi o , então era sempre bom ter cautela. Pelo menos até eu encontrá-lo para ver qual seria a sua, depois podia fazer o que quisesse.
Conversamos por mais uns minutos até eu avistar saindo da porta dos fundos, acompanhado de . Eles nos viram e seguiram até nós, com sorrisos lindos. Deus, às vezes até eu me perguntava como tinha tido tanta sorte. Não era todo mundo que podia dizer que já ficou não só com um, mas com os quatro membros da 5SOS.
! — foi o primeiro a chegar até nós, abraçando-me e tirando meus pés do chão, uma coisa totalmente dele.
Seus abraços eram bons demais, não conseguia nem reclamar da falta de ar por conta do aperto que ele dava.
— Que saudades de você, menina.
— Bem. — Ri, massageando minhas costelas assim que ele me largou no chão.
— Não liga pra esse otário! — interviu, abraçando-me de leve, depositando um beijo em meu rosto. — É muito bom te ver depois de tanto tempo.
— Verdade. Vocês não deveriam me abandonar tanto assim... — fiz beicinho, de brincadeira, ganhando risadas como resposta.
— Não fala assim. Você está sempre em nossos pensamentos... — se posicionou. — Vou buscar uma bebida pra você! — E saiu.
Conversamos por um tempo, bebendo e rindo, até que avistei descendo das escadas com uma garota, que logo reconheci ser sua nova namoradinha. Foram direto para a pista de dança, com ela se esfregando nele como uma cobra, enquanto ele a puxava para perto com um sorriso sacana no rosto. Franzi o cenho, achando tudo aquilo meio forçado, porém resolvendo ficar quieta. Eu não tinha direito de falar nada sobre aquilo.
Enquanto minha relação com , e era muito boa, entre e eu era meio... estranho. Tínhamos ficado algumas vezes e nossa relação era bem boa. Bom, até ela aparecer. Eu não sei se era ciúmes ou implicância pessoal, mas ela claramente não gostava de mim. O lado bom é que era recíproco. Mas eu também não seria a pessoa que arrumaria confusão por isso. Se por ele estava tudo bem me ignorar e ser frio por causa da namoradinha, que fosse. Eu tinha três caras incríveis que me davam toda a atenção do mundo e que faziam questão da minha presença. Não seria algo bobo assim que me abalaria.
No entanto, acho que minha cara de desagrado me entregou, quando acompanhou meu olhar e lançou um sorriso sem graça.
— Você não gosta mesmo dela, né?
— O quê? — Desviei a atenção pra ele. — Não, não é nada disso. É só que a presença dela me deixa incomodada. Me sinto uma intrusa. — Resmunguei.
— Você nunca foi uma intrusa entre a gente, ! — apertou meu ombro levemente — Se a gente te chama pra vir e nos fazer companhia, é porque gostamos de você. Ponto final.
Sorri agradecida para ele e logo estávamos de volta a nossa conversa amigável, esquecendo o assunto.
A festa deu continuidade e eu me encontrava dançando com , bastante alterada pelas bebidas misturadas, o loiro junto de mim não muito diferente. Até que o DJ mudou para uma música mais envolvente, fazendo o clima mudar completamente. Encarei , que mesmo na luz baixa, tinha seu olhar fixo em mim, suas pupilas verdes dilatadas de puro desejo. Involuntariamente, aproximei-me mais, deixando que ele rodeasse minha cintura com suas mãos fortes, sentindo meu corpo todo incendiar.
Eu não sabia se era o álcool falando mais alto ou se o garoto realmente sabia o que fazia, só sabia que o que quer que ele estivesse fazendo, estava dando certo. Aproximamo-nos ainda mais, num joguinho sensual muito excitante, disputando quem cedia primeiro, até cansar e enganchar seus dedos em minha nuca, puxando algumas mechas, fazendo-me olhar diretamente em seus olhos antes de me beijar profundamente.
Depois do que pareceu uma eternidade e ele já tinha se divertido como queria comigo, minhas pernas parecendo gelatinas sob seu toque, levou a boca até meu ouvido.
— Tá afim de levar essa festa lá para cima? — Perguntou, acariciando meu rosto com o polegar.
Olhei-o debaixo, quase transpirando de tanto desejo.
— Achei que nunca fosse perguntar. — Foi tudo o que precisei falar para ele sorrir malicioso e tomar minha mão, guiando-me gentilmente para as escadas, onde eu sabia em como aquilo iria acabar.
E eu gostava daquilo. E como gostava.

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— Nossa, . Sua casa é linda! — Sorri, dando uma olhada pelo local.
Era realmente muito bonita e bem diferente do que eu estava acostumada.
— Gostou? — Ele riu, vindo atrás de mim, abrindo as cortinas, indo direto para a cozinha. — Você quer um vinho?
— Claro! — Aceitei, sentando no sofá.
Ele voltou em alguns minutos com uma garrafa na mão e duas taças, entregando-me uma e enchendo com o líquido. Ficamos sentados ali, bebendo em silêncio. Eu estava nervosa, não sabia exatamente o porquê. É claro que já havia feito aquilo antes, passar a noite com um cara famoso não era mais uma novidade pra mim, mas daquela vez algo estava diferente e eu não sabia dizer o que era.
Talvez fosse seu jeito charmoso, talvez fosse por que ele não estava com pressa, talvez fosse sua voz grave e risada suave que fazia meu coração palpitar de um jeito como nunca antes ou mesmo talvez fosse ele por completo que me causavam sensações que nunca havia sentido antes. O fato era que era areia demais para o meu caminhãozinho e eu estava tendo certa dificuldade de lidar com aquilo. Sabíamos para o que tínhamos vindo e mesmo assim parecíamos querer ao máximo, embora a vontade e a tensão estivessem ali.
Respirei fundo e olhei para o rapaz sentado ao meu lado, que já me encarava. Acho que ambos sentíamos a mesma coisa.
Ele deu um sorriso leve, deixando a taça em cima da sua mesa de centro, dirigindo-se até o som da sala, colocando uma música que eu não conhecia, mas a melodia era bonita. Definitivamente não estava acostumada com aquele tipo de tratamento. Geralmente as coisas aconteciam muito rápido e antes da noite acabar, eu estava em um táxi, a caminho do meu apartamento.
voltou até onde eu estava, estendendo a mão para mim, a qual eu hesitei em pegar, mas desistindo assim que olhei em seus olhos. Fiquei em pé, nossa diferença de tamanho fazendo com que meu nariz ficasse à altura do seu peito. Inalei seu perfume discretamente, sorrindo para mim mesma. Ele cheirava muito bem. E então, de repente, estávamos dançando pela sala. Eu nem sabia que caras como o poderiam dançar, mas lá estávamos nós, girando e rindo como dois patetas pela sua casa luxuosa. Era ridículo pensar que justo eu estava vivendo aquilo. Aquele tipo de experiência não era para garotas como eu.
Encostei minha cabeça em seu peito, deixando que o loiro me conduzisse pelo cômodo, fechando os olhos e aproveitando o máximo que podia daqueles momentos, sabendo que jamais viveria aquilo de novo.
Abri meus olhos, vendo que estava em um quarto que não era o meu. Esfreguei meus olhos, um pouco desorientada, rolando pela cama macia, sentando-me devagar com o lençol branco cobrindo meu corpo nu. Olhei ao redor reconhecendo o quarto de , só então entendendo o que tinha acontecido.
Fechei meus olhos em desconforto, sentindo os efeitos da bebida de ontem me atingirem rapidamente. Devia ter algo a mais para me fazer sonhar com a primeira vez que me envolvi com aquela banda.
foi o primeiro cara entre os quatro que eu fiquei. E sim, aquele foi o tipo de conexão que tivemos. Foi diferente e uma experiência e tanto, embora nunca mais tenha acontecido. Depois daquele dia, as coisas ficaram complicadas entre o loiro e eu e mais ainda depois que dormi com . nunca chegou a me tratar mal, mas definitivamente começou a me tratar com mais frieza e eu entendi que aquilo foi coisa de uma noite. Ele com certeza fazia aquilo com toda garota disposta a dormir com ele. Era difícil resistir aqueles olhos e cabelos loiros. Ele era o próprio príncipe encantado numa versão moderna e muito mais charmosa, que cantava e tocava como um anjo extremamente talentoso. Deixava-me levemente triste saber que para mim tinha sido algo especial e inesquecível ao ponto de ainda me fazer sonhar com o acontecido e para ele foi só mais uma conquista barata.
Mas bem, era a vida, não? Felizmente, eu tinha três outros caras, que mesmo em meio aquela confusão que era nossas relações, tratavam-me muito bem, eu considerava como grandes amigos e era recíproco. Eu sabia que poderia contar com eles no momento que eu precisasse. Perdi a conta de quantas vezes ouvi desabafos e aconselhei , e , eu sempre estaria ali para eles e eles para mim. Não era todo cara que tratava uma groupie, como éramos chamadas, do jeito que eu era tratada e eu sabia que pelo menos nisso, era especial.
Olhei para o lado, vendo dormindo pesado de costas para mim. Deus, ele era tão bonito. Um homem daquele porte andar por aí daquele jeito deveria ser um crime!
Sorri, pondo os pés para fora, indo para o banheiro da suíte, bochechando um enxaguante bucal antes de descer e ir para a cozinha, fazer um café da manhã.
Outra coisa que tinha conquistado sendo acompanhante dos meninos durante aqueles meses que nos conhecíamos: eu podia passar a noite e ainda tinha liberdade de cozinhar e ficar até a hora que me desse vontade, mesmo que eu não fizesse aquilo com muita frequência. Mas como era retorno de tour, achei que merecia esse mimo.
Cheguei até a cozinha, ajeitando meu cabelo em um coque, começando a preparar um sanduíche e ovos, sabia que adorava aquilo. No meio do processo do preparo do suco que resolvi fazer para acompanhamento, escutei passos vindo pela escada. Esperando ser um dos meninos, apenas continuei o que estava fazendo sem preocupação.
— Parece que o brinquedinho está de volta, huh? — a voz de Arzaylea falou atrás de mim.
Desviei o olhar do meu trabalho, vendo-a escorada na parede de braços cruzados com uma camisa larga que batia até suas coxas, provavelmente era do .
— Pois é, parece que sim. — Dei de ombros.
— Você não se toca mesmo, né? Eles só estão te usando, te chamando apenas pra ser o brinquedinho de prazer deles. Mas acho que eu sou a única que acho isso estranho, acho que você não tem respeito nenhum por si mesma. — Falou como se realmente se importasse.
Não era novidade que Arzay e eu não nos dávamos bem. Naquele pouco período de tempo que comecei a estar com mais frequência na vida dos meninos, tivemos algumas picuinhas, mas a mais séria mesmo foi o dia que ela criticou bem na minha frente e nenhum dos meninos falou nada. Não consegui me manter calada e o defendi, o que acabou por causar uma discussão bem feia no camarim de um show. Fizemos um acordo silencioso para nos mantermos afastadas uma da outra desde aquele dia, afinal, nenhuma das duas queria trazer má visibilidade para a banda, mas sempre que nos encontrávamos como nesse caso, farpas rolavam soltas.
Todas as vezes ela tentava me rebaixar e eu não dava a mínima, o que a deixava irritada e bufando como uma criança. Recusava-me a dar o que ela queria. Sabia que eu seria a única a perder algo ali, se levasse suas provocações adiante e eu gostava demais da companhia dos meninos pra isso.
— Que bom que é minha vida, né. Eu que tenho que me preocupar com o que eu faço ou deixo de fazer dela. — Respondi sem muito ânimo, terminando tudo e ajeitando em uma bandeja, pronta para levar para o quarto.
Abri a geladeira, pegando as duas garrafinhas de suco que tinha preparado, voltando-me para a bancada, quando senti a mão da garota rodear meu pulso com firmeza.
— Eu só quero te dar um recadinho: — falou muito perto do meu rosto, tentando soar ameaçadora. — Se divirta o quanto quiser com os três patetas, mas fica bem longe do .
Senti meu sangue ferver e um impulso de meter a mão na cara dela me subiu à cabeça, mas consegui me controlar, respirando fundo e a encarando seriamente.
— Não se preocupa, linda. Eu não estou interessa no seu homem. — Desvencilhei-me de suas mãos e segui para a escada, voltando para o quarto de , sem deixá-la ter uma oportunidade de resposta.



Capítulo 2

, vem me ajudar aqui, por favor. — Minha chefe chamou, fazendo-me largar o que estava fazendo e segui-la.
— Pois não, sra. Willians? — perguntei, soando o mais educada possível.
Ela me olhava com cara de poucos amigos, analisando os novos quadros que haviam chegado para a exposição.
— Preciso que você dê um jeito nisso e organize o melhor que conseguir. Esse cara costuma ser um pé no saco, então já sabe. Preciso disso aqui impecável pra ontem. — Sorriu. — E já sabe, se qualquer coisa sair do esperado, cabeças vão rolar e não vai ser a minha.
Deus! Que mulherzinha mais intragável. Ela sempre me dava trabalhos como esses, recheados de ameaças veladas. Eu tinha impressão que ela não gostava muito de mim e descontava isso no trabalho. Queria poder dar alguma resposta sem correr risco de perder meu emprego, embora soubesse que não podia. E também, aquele lugar era o mais próximo que eu havia conseguido chegar do que eu realmente gostava de fazer.
Nunca foi meu sonho fazer parte da curadoria de uma galeria, não era o que eu amava e tinha nascido para fazer, mas precisava daquele trabalho. Era com aquele salário que eu me sustentava e conseguia ajudar Vic na faculdade, e se ela estava feliz, eu estava feliz.
Depois da morte dos nossos pais, fiquei com toda a responsabilidade da casa, incluindo a vida minha irmã. Ela era tudo o que me restava e eu faria tudo para que ela conseguisse tudo o que quisesse na vida.
Ano passado, Vic havia entrado para a faculdade de Astrofísica, seu maior sonho desde que tinha uns nove anos. Eu costumava zoar com ela, chamando-a de nerdzinha, mas a verdade era que eu sempre morri de orgulho do que ela era. Vic sempre foi mais esperta e inteligente que eu e se eu tivesse que suportar essa chata da minha chefe para que ela conseguisse fazer aquilo que mais amava na vida, eu faria feliz.
Havia uma época que nossa família era única e feliz, mas como nada na vida dura para sempre e não estávamos num conto de fadas, a vida era um pouco dura às vezes. Eu tinha que viver longe da minha única família para que minha outra metade conseguisse viver seu sonho, tinha que cuidar de mim mesma também. Aos olhos de outras pessoas, poderia parecer que eu era uma desocupada que saía com caras famosos de vez em quando, mas a verdade era muito longe daquela.
Claro, era ótimo receber atenção e um pouco de afeto, mas fama nunca foi meu real objetivo. Pelo menos, não daquele jeito. Se um dia eu desejava ficar famosa, eram com as minhas obras — esse era um dos motivos que eu aguentava esse trabalho horroroso. Eu ainda não sabia como, mas, um dia, seria eu organizando minha própria exposição numa galeria como essa. Ou quem sabe, muito melhor!
Sorri com o pensamento. Era aquele ditado: se a vida te der limões, faça a droga de uma limonada e vá à luta.
Sem perder muito tempo, comecei a organizar as telas que haviam chegado. Olhar para aquelas telas todas trabalhadas com tanta dedicação me faziam sonhar. Conseguia visualizar o artista responsável pela tinta no tecido, imaginando por quantos dias e noites ele havia se mantido acordado até estar satisfeito com o resultado do seu trabalho. Até olhar para a tela e sentir orgulho de si mesmo, vendo que depois de tantas horas do seu tempo gastas no que parecia uma coisa sem futuro, no fim havia acabado dando certo. Eu valorizava muito tudo aquilo. Para as pessoas daquela galeria, poderiam ser só um bando de loucos que acabavam fazendo sucesso, para mim era muito mais que isso. Eles derramavam seu coração em cada tela, por trás de cada uma tinha uma história que queriam compartilhar com o mundo, mesmo que fossem incompreendidos.
Sorri, pegando a primeira tela, levando até o salão onde aconteceria a exposição. Conhecia aquele cliente já, era um dos mais exigentes.
Escaneei o local, visualizando mentalmente se eu tivesse a cabeça daquele homem, como iria querer que minhas telas estivessem expostas... Seria um longo dia!
Após três horas de trabalho, havia conseguido terminar de colocar o último quadro na parede. Dei uns passos para trás admirando meu trabalho. Eu gostava do que via e com sorte a megera da Wanda também gostaria. O resto da organização seria por conta dela.
Dei uma olhada no relógio, vendo que estava quase na hora da minha saída, o que fez com que eu voltasse para o escritório para arrumar minhas coisas e ir para casa, ter o meu merecido descanso.

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Depois de tomar um banho longo e relaxante, vesti um camisão e segui para a sala, pronta para fazer uma maratona de série antes de dormir. Peguei alguns salgadinhos para beliscar e me aconcheguei no sofá, desligando a luz, com a Netflix só me esperando para começarmos nosso encontro da noite.
Meu celular começou a tocar quando estava na metade do terceiro episódio, em cima da mesinha de centro, fazendo-me olhar para a tela para ver quem estava ligando. Um sorriso brotou em meu rosto quando vi a foto de Vic brilhando ali.
— Vic, oi! — Atendi animada. — Como você está? — Ajeitei-me no sofá, preparada para receber novidades da minha irmã.
Oi, tô bem e você? — Respondeu no mesmo tom.
Nossa, eu estava com tanta saudade dela!
— Me conta tudo, não me esconde nada. Faz quase uma semana que você não me dá notícias, menina! — Repreendi em tom brincalhão.
Eu sempre evitava ficar ligando ou mandando mensagens, os horários da faculdade eram confusos e eu tinha medo de atrapalhar alguma aula importante.
Ah, está tudo bem. Você sabe, muitos estudos e muitas provas, estou quase ficando doida. — Riu levemente e eu franzi o cenho. Ela costumava ser mais animada que aquilo.
— Sei. E tem alguma coisa que você não está me contando? — Questionei, sabendo que naquele caroço tinha angu. Vic nunca hesitava em falar sobre cada detalhe dos seus dias. Ela evitar assunto assim só me preocupava.
Às vezes, desejava poder estar sempre perto da minha irmã. Mesmo que ela já tivesse dezoito anos, eu ainda a via como meu bebezinho. Queria protegê-la de qualquer coisa que a incomodasse.
Por que você acha que estou escondendo algo? — Despistou, atiçando meu modo irmã mais velha superprotetora ainda mais.
— Porque você está evitando falar sobre o assunto. Desembucha! — Falei séria, deixando claro que ela não tinha opção.
Vic soltou um suspiro e ouvi ela se movendo pelo quarto, provavelmente, o barulho de folhas de papel invadindo o som de fundo da ligação.
Você é um pé no saco! — Resmungou. — Odeio que me conheça tão bem.
Acabei rindo, porque era verdade, eu a conhecia até melhor que ela mesma.
Mas, enfim, tem sim algo... — admitiu, fazendo-me dar um sorriso vitorioso.
Eu nunca errava.
— Sou toda ouvidos.
Tem um carinha aí... — começou, tímida. — E a gente se deu muito bem, sabe? Parecia que éramos compatíveis em tudo. Tudo mesmo, . Você tinha que ver! — Pude ouvir o sorriso em sua voz... mas se tivesse dado tudo certo, não estaríamos tendo essa conversa agora.
— E aí? Você descobriu que ele era um idiota ou?
Não. Não exatamente. — Sua voz ficou meio triste — É só que quando parecia que íamos engatar um namoro ou pelo menos algo mais sério, ele me veio com um papinho manjado sobre não ser o cara certo e que era melhor que nos afastássemos.
Fechei os olhos, pressionando a ponte do nariz. Sabe Deus quantas vezes estive nessa mesma situação e por mais que com o tempo nos acostumássemos e aprendêssemos a lidar com isso, ainda era uma chateação sem fim quando acontecia.
E daí ontem saí com algumas amigas, porque elas me arrastaram pra aquele clube com a desculpa de que eu precisava me animar... — suspirou alto. — E ele estava lá. Com outra garota. Parecendo todo íntimo e feliz.
Meu coração doeu por ela. Realmente era péssimo quando descobrimos que nosso possível príncipe encantado não era tão encantado assim.
Eu me senti uma idiota, . Enquanto eu estava lá toda triste por aquele imbecil, ele estava muito bem e saindo com outras garotas. Ele me viu e teve a cara de pau de ir falar comigo como se nada tivesse acontecido. — Agora a voz dela estava cheia de raiva. — Eu queria tanto matar aquele infeliz com minhas próprias mãos.
— Me diz pelo menos que você deu uma bela resposta nesse idiota.
Eu tentei me segurar. Não queria que ele visse o quanto eu me importava com sua cafajestada. Mas quando vi, tinha jogado um copo de bebida na sua cabeça. — Comentou, parecendo arrependida e arrancando uma gargalhada de mim.
— Essa é minha garota! — Vibrei. — Ele mereceu, Vic. Não tem um único motivo para você se sentir mal.
Ela deu uma gargalhada baixinha, fazendo-me ficar satisfeita por pelo menos conseguir fazê-la rir.
— E quer saber? Eu sei exatamente como curar isso!
Como? — Perguntou, curiosa.
— Vem para LA assim que você conseguir uma folga. — Ofereci. — A gente faz um dia só de garotas e compraaaas.
Parece tentador, mas eu não sei, ... Eu tenho muita coisa para fazer e eu não posso deixar um cara tomar conta da minha cabeça desse jeito e-
— Mas você não vai estar fazendo isso por ele, estará fazendo por você. E por mim... — pedi. — Eu não te vejo faz tanto tempo. Estou com saudades, poxa! — Fiz vozinha fofa para convencê-la. Sabia que ela não resistiria.
Vic ficou em silêncio por um tempo, provavelmente ponderando suas possibilidades. Eu sabia que era complicado para ela, mas estava me permitindo ser um pouquinho egoísta. Eu também precisava da minha irmã.
Por favooooor! — Pressionei e ela suspirou.
Ta bom, vai! Eu vou arrumar algumas coisas e próxima semana eu vou, tudo bem assim?
Soltei um gritinho feliz, que a fez reclamar do outro lado da linha.
! Se controla.
— Desculpa, eu só fiquei muito feliz. Eu vou te ver, finalmente. — Eu amava demais aquela garota, que saco.
Tá bom, tá bom! — Vic riu. — Eu te vejo semana que vem, irmã.
— Te vejo semana que vem! — Repeti.
Obrigada por tudo!
Sorri.
— Você não tem que me agradecer, meu bem. Estou aqui pra você. Sempre!
Eu sei! — Ela ficou em silêncio por um tempo. — Bom, deixa eu ir. Grande teste amanhã. Beijos. Amo você!
— Amo você também, pirralha. Bom teste, você vai arrasar! — Incentivei.
Eu sabia o quanto ela era boa no que fazia e o quanto se dedicava aquilo. Não era à toa que era uma das melhores alunas da sua turma.
Ela riu e desligou.
Fiquei ali, parada, animada para encontrar com ela na semana que vem. Eu iria ver minha irmã, nada poderia estragar meu humor.
Aquela conversa com Vic me deu até ânimo para enfrentar o dia exaustivo que teria no outro dia na galeria.
Desliguei a televisão, arrumando tudo e indo me deitar com um sentimento de que todas as órbitas estavam alinhadas e tudo estava em seu devido lugar.

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Eram umas três da tarde quando me ligou. Eu estava no meio de uma confusão dos preparativos da exposição que aconteceria, havia gente correndo pra todo lado. Olhei ao redor, vendo se ninguém estava de olho em mim e dei uma escapada para a rua para ouvi-lo melhor.
! — Foi como ele respondeu assim que atendi. — Como é que você está, minha linda?
— Muito bem e você, Sr. ? — Brinquei, encarando a rua.
Credo, . Você sabe que odeio quando me chama de Sr. . Parece que está falando com meu pai.
Eu podia vê-lo torcendo o nariz, fazendo-me rir.
Mas enfim, deixando sua provocação idiota de lado, preciso te fazer uma pergunta.
— Ih, vindo de você, eu tenho até medo... — dei uma risadinha, pois já havia feito cada pergunta cabulosa que deixaria qualquer um sem graça. — Mas pode falar!
Desse jeito você me ofende. O que vai estar fazendo hoje à noite?
— Depende. Eu estava planejando uma pizza, vinho e maratona de série... — olhei para dentro da galeria, checando se não tinha ninguém a minha procura. — Vão dar outra festa?
Não. Sem festas dessa vez! — Ele deu aquela risada que só ele poderia ter. — Mas eu vou fazer um karaokê aqui em casa, tá afim de vir?
— Ah, eu não sei, ... você não acha meio injusto chamar alguém como eu pra um karaokê, sendo que vocês todos cantam? — Era verdade, eu não me atreveria nunca a cantar na frente deles.
Que nada, estaremos bêbados e também, é algo pra gente se divertir. Não é como se você estivesse indo se apresentar no The Voice. — Retrucou. Ele tinha um ponto.
— É, posso não estar indo me apresentar no The Voice, mas cantar num karaokê em que 5 Seconds of Summer vai estar também é pedir pela humilhação.
Você está de sacanagem, né? Por favor, . É seu amigo que está pedindo! — Falou e eu sorri.
Que droga, por que era tão difícil ser durona com ele?
— Quem mais vai estar? Se eu for cantar, tenho que ter certeza que não vou destruir minha reputação. — Mordi o lábio, ansiosa. Eu queria ir, mas estava insegura.
Ih, qual a sua, hein, ? Faz esse favor pro seu amigo, vem no meu karaokê. Estamos na cidade tem duas semanas, eu só te vi uma vez e você só deu atenção pro ! — Emburrou e eu amoleci.
Era difícil dizer não para ele quando ele falava assim.
— Aí, tá bom. Eu vou! — Concordei — Que horas vai começar?
Vai estar só eu, os meninos e mais alguns amigos próximos, então é só chegar. A hora que você quiser. A casa é sua. E também, se você se cansar de gastar suas cordas vocais, a gente pode jogar alguma coisa, sei lá... — gargalhou — Toda hora é hora, né?!
— Sei. Então tá, . A gente se vê mais tarde. Preciso voltar para o trabalho antes que deem minha falta e aí cortam minha cabeça e você fica sem amiga. — Exagerei, fazendo ele rir.
Você é tão melodramática. Tudo bem, eu vou ficar te esperando, então. E se você me der um bolo, eu vou te buscar na sua casa, de pijama e tudo. — Ameaçou.
— Credo, . Até parece que eu já fiz isso com você alguma vez. — Reclamei. — Até mais!
Até. Bom trabalho.
Desliguei a chamada, sorrindo que nem uma idiota. Eu adorava aqueles caras e não só pelo que eles podiam me oferecer.
Ser uma garota como eu, por vezes, acabava sendo muito solitário. Era bom ter pessoas que me dessem aquele tipo de atenção e realmente gostavam da minha companhia, não só para flashes de câmera ou uma noite de sexo. Também estava ali para aconselhamentos e uma boa noite de diversão como bons amigos. Eu podia me considerar uma garota sortuda.
Minha vida parecia tão bem ultimamente, que me custava acreditar que tudo era real. Claro, tinha seus obstáculos, mas que vida não tinha?
Minha irmã estava na faculdade, feliz da vida e isso por si só já era motivo para me deixar feliz para o resto dos meus dias. Eu tinha alguns bons amigos pela cidade, tinha uma boa casa e até mesmo um bom emprego, mesmo que minha chefe fosse uma mala sem alça. E era isso, eu não tinha motivos para reclamar da minha vida. Não poderia pedir mais nada.
Poderia parecer clichê eu falar que não tinha tudo o que amava, mas amava tudo o que tinha, embora fosse uma grande verdade e quase um mantra, eu estava grata pelo que tinha.



Continua...



Nota da autora: Sem nota.



Outras Fanfics:
Best Years (5 Seconds of Summer)

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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