Capítulo 30
“Toda vez que eu fujo você encontra uma maneira de encarnar em mim de volta
Por que demora tanto?
Por que parece tão errado?
Eu sabia que não poderia me socorrer
Eu tive que sumir por uns tempos
Ainda assim eu não pude evitar
Eu perdi minha auréola”
O luxuoso e sinistro castelo de havia se tornado algo muito parecido com uma zona de refugiados de guerra. O enorme hall de entrada estava recheado de macas com recém-chegados habitantes, mais da metade em estado crítico. Os quartos do primeiro andar estavam quase todos cheios, tendo em uma determinada divisão específica de acordo com a gravidade dos ferimentos daqueles que conseguissem salvar.
As criaturas demoníacas estavam destruindo Mysthical, parte por parte, sem um pingo de misericórdia. O início dos ataques havia ocorrido há uma semana.
Uma semana que estavam todos afundados nesse pesadelo.
E também fazia exatamente uma semana que se sentia o ser mais inútil daquele lugar.
Todos estavam ajudando de alguma forma, utilizando de seus talentos que pudessem ser úteis diante aquela situação de extrema dificuldade. Comida, limpeza, cuidados médicos, proteção mágica e corpórea (soldados). Todos haviam algo o qual poderiam ajudar as pessoas que sofriam naquele lugar.
E então tinha , que não ajudava em absolutamente nada.
As palavras de seu odioso vampiro dizendo-lhe que todos estavam protegendo-a de sua verdadeira tarefa ecoou em sua cabeça, obrigando a balançá-la com força como se aquilo fosse expulsá-lo de seus pensamentos.
havia tentado se aproximar dos habitantes feridos e dar auxílio no tratamento, como Melissa e estavam fazendo (esta última que havia ignorado seu luto para prestar ajuda a cidade). e sua cantoria acalmavam os feridos e fazia com que eles esquecessem a dor que sentiam, enquanto Melissa era encarregada de fazer o exercício médico seja enfaixando-os, fazendo pontos ou até mesmo realizando pequenas cirurgias necessárias para que ganhassem mais tempo. havia ficado verdadeiramente surpresa com as habilidades médicas da mãe, até que descobriu que a mesma quando era jovem costumava ser uma espécie de curandeira em Mysthical.
— Eu não via distinção entre humanos ou criaturas místicas. Eu era uma garota muito dócil que só queria ajudar todos da melhor forma possível. — Melissa certa vez comentara com , enquanto engessava a perna de uma jovem garotinha que parecia ser alguns anos mais nova que Lara. — Era por isso que me procuravam. Gostavam da minha companhia e da forma delicada a qual os tratava. Então eu resolvi estudar um pouco sobre os métodos de cura com plantas medicinais a fim de prestar serviço para aqueles que precisavam de cuidados médicos. Aprendi muito e fui de grande ajuda... Que bom que estou sendo útil depois de tanto tempo.
gostou de ver a mãe falar daquela forma. Melissa passou por poucas e boas e havia se tornado uma mulher extremamente amarga, completamente o oposto daquela forma adorável a qual a descreviam antes, então vê-la em seus raros momentos de gentileza na situação atual era extremante agradável para aqueles que presenciavam.
era quem havia mudado da água para o vinho. Não falava com , Victor, Gainy ou qualquer outra pessoa. A jovem só cantava para os pacientes e aquilo já bastava. havia tentado uma aproximação durante a semana, perguntando tanto a amiga quanto para a mãe se havia algo que pudesse fazer por elas, mas ambas haviam negado. insistiu, pois sabia que com apenas seu toque ela poderia curar os pacientes de alguma forma. Ela já havia feito isso antes. Mas novamente: negaram. (Lê-se: Melissa gritou que era desastrada demais para se manter perto dos pacientes e que se a visse lá novamente ela iria “ver só”. Enquanto discursava raivosa, apenas observava tudo impassível e sem parecer ter tido a mínima vontade de intervir no discurso ridículo de Melissa para com ).
E então tinham aqueles que auxiliavam na proteção mágica e corpórea. Victor (o qual havia enfim descoberto ser um bruxo extremamente poderoso) havia erguido enormes barreiras de proteção com sua magia. havia insistido que poderia ajudar, pois já havia erguido escudos mágicos antes, mas novamente, havia sido negada.
— Me desculpe, , mas não precisamos de suas habilidades para isso. — ele havia lhe dito, descartando qualquer esperança que havia começado a nascer no interior da jovem.
Por fim, os responsáveis pela proteção corpórea. Aqueles que saíam lá fora e arriscavam suas vidas nas áreas destruídas de Mysthical. Obviamente as caçadoras, Jhotaz, Kyle e estavam nesse grupo, com mais vinte habitantes místicos que estavam em estado recuperado o bastante para ajudá-los. nem havia se dado o trabalho de dizer a eles que gostaria de ir lá fora lutar, pois sabia a resposta que ouviria: NÃO.
E aquilo estava cada vez mais tirando-a do sério.
— Você está olhando para eles com tanto ódio. — Lara comentou em meio a um risinho.
apenas a fitou com os olhos cerrados, fazendo a irmã mais nova rir mais ainda.
As duas estavam sentadas na grama do jardim de , escondidas atrás de arbustos observando mais à frente a situação que se desenrolava.
Havia ali um enorme campo o qual Jhotaz havia sugerido para que servisse como um centro de treinamento. Estavam todos ali.
— Eles são uns babacas.
— O que eles estão esperando? — Lara pergunta confusa.
— Não é “o que” eles estão esperando, e sim “quem”.
Ao final da frase de um cheiro de rosas misturado com sabonete impregnou o local, fazendo-a fechar os olhos.
— Se Jhotaz e os outros as verem aqui vocês terão enormes problemas. — a voz de Kyle soa.
— Por favor, não conte a eles! — Lara pede.
— Se prometerem ficarem bem escondidas... — Kyle a responde.
— Nós iremos. — Lara pareceu ter mudado seu foco de atenção na conversa. — Por que eles estão aguardando vocês?
— Essas imbecis querem algumas aulas. Ninguém nesse lixo de cidade sabe como lidar com uma criatura demoníaca de verdade. — a voz prepotente de soa.
cumpriu o que disse a : ele havia desistido dela. A jovem sentiu a dor da indiferença durante essa semana que passou. não direcionava o olhar a ela, muito menos a fala. Ele simplesmente agia como se houvesse sido apagada em sua vida.
E a jovem Daurat não poderia negar: aquilo doía. Doía demais.
— Por que vocês demoraram? — Lara o questiona.
— Estávamos resolvendo umas coisas. — Kyle responde. — Mas já está pronto para ensiná-los.
— Você vai ser tipo o mestre Yoda deles? — a voz de Lara soa. abre os olhos, vendo enfim a irmãzinha direcionar a palavra para , este que tinha Kyle em seu lado.
— O que seria um mestre Yoda? — franze o cenho, fazendo Kyle rir.
— Com licença que eu era um adolescente quando a melhor franquia de filmes do mundo teve sua estreia. É uma referência a Star Wars, ! Mestre Yoda é um respeitável jedi que treina Luke Skywalker para ele ser um jedi tão foda quanto ele!
suspirou impaciente e desviou o olhar. Era simplesmente adorável vê-lo daquela forma irritada quando não sabia de algo.
— Você sabe que de tecnologias já me basta os aparelhos celulares, Kyle.
— Filmes são incríveis e você não faz ideia do que está perdendo.
— Eu costumava odiar teatro, não deve ser diferente. Não tenho a mínima vontade de ver pessoas retardadas fingindo serem outras pessoas como se isso fosse algo normal.
— Ei! John Boyega não é retardado! Ele é um ator lindo! — Lara diz, fazendo rir.
— O Finn? Da nova trilogia? Sério que você gosta dele? — Kyle ri.
— Ele mesmo. Eu gosto do Finn e a gosta do Han Solo.
— Nossa, . Você realmente é chegada em um cafajeste velhote! — Kyle diz, fazendo Lara rir e desviar o olhar.
— Não quero mais ouvir as baboseiras de vocês. — diz, dando por encerrado o assunto e parecendo ignorar completamente o que Kyle disse. — Vem, seu merda, temos trabalho a fazer.
— Trabalho a fazer nós temos. — Kyle diz, alterando a voz como se estivesse imitando o mestre Yoda.
bufa, arrastando o amigo até o campo enquanto o mesmo ria alto ao seu lado.
— Você demorou, . Sua irresponsabilidade me enoja. — Gainy diz, com os braços cruzados enquanto encarava .
— Para o inferno você e o que você sente, xerife. Quanto mais cedo se iniciar, mais cedo irá acabar. E acreditem: é o que eu mais quero.
— Comece logo com isso, . — Jhotaz intervém.
anda até o meio, ficando em uma posição que favorecesse todos a observá-lo e ouvi-lo com atenção (até mesmo Lara e , que tinham uma visão privilegiada do que ocorria ali).
— Todos vocês chegaram em um consenso de que eu deveria treiná-los. — começa a falar, sua voz soando séria e profunda, capturando totalmente a atenção daqueles que o observavam. — Vocês podem pensar que sabem de algo, mas na realidade vocês simplesmente não sabem nada. Nenhum de vocês faz ideia de como funciona a mente de um ser que tem sangue demoníaco correndo por suas veias.
— Nós os caçamos há anos, claro que sabemos. — uma das caçadoras, Reusha, se opõe.
— Não me interrompa. — rosna. — Você e as caçadoras sabem o que Gainy as ensinou, e acredite, Gainy está errada.
— Maldito... — Gainy rosna ameaçando se aproximar, sendo impedida pelos braços de Jhotaz e o pedido de silêncio do mesmo.
— O sangue demoníaco te modifica. — prossegue. — Ele faz com que você veja as coisas da mesma forma que um animal veria, como se o ser demoníaco fosse o predador e todo o resto a presa. Mas o conjunto é muito mais cruel que isso, pois chega um momento que matar não se torna mais uma necessidade instintiva para alimento: se torna algo maior. Algo que nos traz prazer, algo que faz com que nos sentimos incrivelmente atraídos e sedentos por todo o sangue derramado por nossas mãos. E sabem o que desejamos? Mais. Mais caos, mais destruição, mais dor, mais sangue.
— E vale ressaltar que eu e somos dois vampiros e somos diferentes por isso. — Kyle diz devagar, sendo autorizado por a prosseguir. — Nós somos vítimas de uma infecção demoníaca. Possuímos o sangue demoníaco correndo por nossas veias, porém são em míseras quantidades comparados ao sangue que corre nas veias de criaturas demoníacas propriamente ditas. Pensem conosco: se nós, que possuímos nem um terço de sangue demoníaco, já queremos matar tudo e todos... Já imaginaram o que se passa na cabeça de uma criatura demoníaca completa?
— O objetivo de vida dessa criatura é destruir. Ela não é como os vampiros, que por mais que também possuam esse desejo, podem deixá-lo de lado pelo fato de ainda possuir um pingo de humanidade em nossos seres. — completa.
— Como enfrentar uma criatura que só pensa em matar...? — Gainy questiona.
— Fazendo aquilo que já estamos fazendo: matando-as sem piedade. Afinal, somos nós ou são elas. — Jhotaz responde.
— Você está errado, querido Daurat. — sorri debochado, parecendo incrivelmente feliz com a resposta errônea de Jhotaz. — Essas criaturas respondem a um líder. A alguém superior a elas. E todos nós sabemos quem é.
— Costumava ser Lauranna... Mas agora é . — Kyle diz.
— Exato. E eu temo em lhes dizer que no momento é simplesmente o ser mais poderoso dessa cidade. Ele assumiu sua verdadeira forma, as criaturas demoníacas o veem como se ele fosse seu progenitor.
— Seu pai...? — a voz de Gainy treme. — Você quer dizer que...
— é filho de Lúcifer, é claro. Creio que todos vocês saibam quem seja Lúcifer.
— O coisa-ruim, o tinhoso, belzebu, capeta, satanás, o diabo propriamente dito. — Kyle completa e ri.
— Exatamente. Um fato engraçado sobre Lúcifer é que ele é como Lauranna, sabiam? Ele possui sangue angelical, mas o demoníaco se sobressai. é a mesma coisa, porém por sua mãe ser Lilith seu sangue angelical simplesmente parece nem existir, fazendo com que ele seja um demônio propriamente dito.
— Como enfrentaremos criaturas que servem diretamente ao filho de Satanás? — Gainy o questiona.
sorri abertamente.
— É o que eu lhes mostrarei agora. — o vampiro se aproxima de Kyle. — Meu amigo Kyle é um vampiro muito novo. Em que ano foi transformado mesmo, Kyle?
— Em 1982.
— Você tinha vinte e dois anos, certo?
— Sim. Atualmente eu tenho cinquenta e oito. — Kyle sorri tímido.
— O fato de você ser tão novo faz com que seja muito fácil para um vampiro ancião manipular seus lados. — diz devagar, voltando-se para aqueles que o observavam. — Eu sou um vampiro ancião. E eu posso fazer isso.
Subitamente as garras de aparecessem e o rapaz golpeia Kyle no peito, no lugar exato onde estaria seu coração.
— O que ele está fazendo?! — Lara grunhe, fazendo segurá-la.
— Calma, está tudo bem. Ele não machucaria Kyle. — ela a conforta, por mais que no fundo estivesse começando a duvidar disso.
Um rosnado foi ouvido, seguido por um urro e um som estridente de um ser clamando para ser solto. segurava um Kyle completamente fora de si. O amigo de tinha os olhos completamente negros, as presas à mostra enquanto salivava pela boca. Como um bicho irracional, ele lutava contra as mãos de completamente irado, a fim de escapar e atacar quem estivesse em seu caminho.
— O que você fez com ele?!
— Eu deixei com que apenas seu lado demoníaco se apossasse de seu corpo. Sabem por que eu fiz isso? — sorri. — Quero mostrar-lhes uma coisa.
Em um movimento súbito, ataca Kyle, fazendo com que o mesmo subitamente evaporasse.
Um silêncio sepulcral se instalou no lugar.
Lara começou a chorar, abraçando fortemente. apenas encarava , sem conseguir desviar o olhar.
— Você o matou! — Gainy grunhe em um sussurro.
— Não, não matei.
— O que está dizendo, é que é exatamente dessa forma que os matamos! — Johoney intervém.
— Essa é a questão. Vocês não os matam, apenas fazem com que elas voltem para o lugar de onde vieram, isso é: o submundo. Com a magia negra necessária eles são facilmente conjurados e ressuscitados. Por isso que as criaturas nunca parecem diminuir: quanto mais os matamos, mais eles voltam. É um círculo vicioso, meus caros.
— E como você descobriu isso? — Jea, que estava calada até o momento, o questiona.
— Infelizmente tive que ter uma conversinha com a única pessoa a qual entende o suficiente de magia negra para me auxiliar.
A sensação de que algo ruim estava por vir se fazia presente não apenas em , quanto em todos ali presentes. O ar se tornou pesado, como se algo realmente ruim estivesse chegando, se aproximando mais e mais...
O chão tremeu, fazendo todos se olharem assustados. deu um passo para trás.
Em um momento não havia nada em frente ao vampiro, e logo depois ali estava Kyle. Ele havia retornado, mas não estava sozinho. Ao seu lado havia um rapaz sem camisa com as enormes asas à mostra e uma bela mulher com um longo vestido dourado. e Lauranna.
— Mas que merda?!... — Gainy grunhe. — Caçadoras em posição!
— Não será necessário. — Jhotaz as interrompe, aproximando-se dos recém-chegados. — Eu pedi a que os trouxessem aqui.
— Você o quê?!
— Adorei a recepção, Jhotaz. — Lauranna diz, seu tom repleto de sarcasmo. — Eu estava ansiosa para observar a forma que você age perto de sua pequena putinha.
— Sua... — Gainy tenta se aproximar de Lauranna, sendo prontamente impedida por , que se postou à frente da mulher.
— Por favor, Gainy, não torne as coisas mais difíceis do que já são. — diz.
— Cale a boca seu traidor. — Gainy rosna.
observava a cena, completamente chocada. Lara tremia ao seu lado.
— Foi ela, irmã... — ela sussurra. — Ela que me amaldiçoou. Ela que matou Linzyne. Ela é a cruel Lauranna.
Como se tivesse ouvido seu nome, a mulher direciona seu olhar na direção das duas. Aquilo a faz sorrir.
— Finalmente nos encontramos, filhinha. — ela anuncia, aproximando-se.
Apenas agora percebeu que havia se levantado, expondo-se a vista daqueles que estavam no campo.
— Você não é minha mãe. — retruca.
Lauranna estava bem em sua frente, dando a enfim a oportunidade de ver a mulher claramente. Se lembrava da imagem de Lauranna em suas visões, porém nada se comparava a vê-la pessoalmente: ela era loira, alta e tinha o corpo farto nos lugares certos. Seu rosto parecia ter sido esculpido por um anjo. Seus olhos cinza eram idênticos aos de .
— Temo que sou sim, pequena bastarda. — ela sorri. — Pensei que você fosse mais bela, . Porém você me parece tão... Sem graça. Me pergunto se ou realmente viram algo em você que não fosse meu sangue em suas veias. Creio que não. Acho que o fato de ser minha filha já é o suficiente para se ter alguma atração, por menor que seja ela.
— Atacar alguém por sua aparência é baixo. Não esperava menos de você. — rebate, saindo do meio dos arbustos. Lara ameaçou fazer o mesmo, mas negou com a cabeça, uma ordem muda para que a mesma se esgueirasse por entre as folhas e fugisse dali. Foi o que a mais nova fez.
Lauranna ri gostosamente, e mesmo quando sua risada cessou ela permaneceu com o enorme sorriso nos lábios. estava bem em sua frente e aquilo fez com que ela a analisasse da cabeça aos pés sem qualquer discrição.
— Tsc. Você é realmente insignificante.
— Lauranna. — Jhotaz diz, sua voz severa soando atrás da mulher. — Afaste-se de e venha até aqui agora. Não era para ela estar aqui.
— Pois eu acho maravilhoso ela estar aqui, Jhotaz. — Lauranna subitamente segura o pulso de , fazendo com que todos se aproximassem ameaçadoramente (com exceção de e , que estavam logo atrás apenas observando a cena). — Olhe pra ela. Olhe pra mim. Não é ótimo ver mãe e filha finalmente unidas? Oh, eu quase me esqueci do pai. — Lauranna arrasta para o meio do campo, obrigando a jovem a ficar ao lado de . — Família. Isso não é maravilhoso?
franziu o cenho diante a cena. Gainy lança uma flecha em direção a Lauranna, aproveitando-se de sua distração. Aquele ato foi totalmente em vão. A mulher desviou da flecha como se fosse nada, sorrindo brevemente para Gainy.
— Você não tem o direito de vir até aqui e humilhar dessa forma.
— Chega desse showzinho, Lauranna. Precisamos conversar. — Jhotaz anuncia, fazendo a mulher assentir.
— Só se for agora, querido.
— Acha que sou tolo? — Jhotaz ri debochado. — Antes de fazer qualquer coisa nós iremos revistar minuciosamente tanto você quanto . Nunca se sabe se ainda estão no lado de .
— Eu o enfrentei, mas tive que me retirar. Ele quase me matou, e eu não poderia me dar ao luxo disso... Lauranna precisa de mim. — diz e Lauranna apenas riu.
— Preciso de você para ter de volta toda a minha vitalidade e beleza, . Não pense que há qualquer sentimentalismo nisso. — Lauranna deu de ombros. — arrancou um pedaço de carne de minha bochecha, Jhotaz, mas felizmente eu fui curada por . Você acha mesmo que eu permaneceria ao lado do demônio diante a esse tipo de atrocidade?
— É o que veremos. — Jhotaz retruca. — Peço gentilmente que as caçadoras me ajudem nessa tarefa de revista-los.
As caçadoras nada disseram, apenas aguardaram as ordens de Gainy. Ao consentimento da líder, as mulheres se encaminham até Lauranna, duas delas segurando-a com força enquanto as outras duas seguravam . E assim elas marcham para fora do campo, em direção ao hall de entrada do castelo de , distanciando-se cada vez.
— Vocês todos estão liberados. — Jhotaz anuncia para os outros habitantes.
tinha as unhas fincadas em suas próprias mãos, uma sensação de nervosismo terrível apossando-se em seu corpo cada vez que as pessoas do campo se distanciavam mais. Ela também poderia ir embora, mas a realidade era que não queria.
Ela precisava falar com .
E foi quando finalmente estavam a sós que se aproximou. E o vampiro apenas a olhou, aguardando suas palavras.
— Eu preciso que você me treine. — ela pede. — Eu entendi o que você quis dizer fazendo com que Kyle desaparecesse daquela forma. O certo não é matar as criaturas e sim aquele que as conjura. No caso, . Eu quero enfrentá-lo, . Quero acabar de vez com tudo isso. Mas para isso preciso de alguém que me ensine e esse alguém é você.
a encarou profundamente. Aquele olhar que a analisava e consequentemente também a julgava. prendeu a respiração, aguardando apreensiva a resposta daquele que já havia deixado claro que não a queria mais perto de si.
— Meia-noite em ponto na sacada de meu quarto. Não se atrase.
Dito isso o vampiro simplesmente desapareceu.
estava sentado em uma luxuosa cadeira dourada, esta que possuía estofado de veludo. Ela era muito semelhante a um trono de rei (o que era extremamente apropriado para si, afinal, ele era , herdeiro legítimo do submundo, não importava o quão renegado estivesse sendo pelo pai). Mas não queria o submundo. Não, não era ambicioso a esse ponto. Ele só tinha um único desejo: . Ela era tudo o que ele queria. Era por ela que ele havia ordenado destruir Mysthical e também seria por ela que ele mataria Lauranna sem piedade. passaria o resto da eternidade ao seu lado, bebendo de seu sangue e se tornando um ser completamente irrastreável.
E talvez, apenas talvez, pudesse se aproveitar da companhia da jovem. Ela era bela, aquilo era inegável. Apenas um beijo não fora o suficiente para saciar a sede que possuía por mais contato. Ele precisava de mais...
Uma criatura demoníaca se aproximou, tirando o demônio de seus devaneios. Ela grunhiu, rosnando em uma língua desconhecida para qualquer outro, mas para aquilo fazia completo sentido.
— Yan está morto. — concluiu, fazendo o demônio grunhir novamente.
riu sem humor, levantando-se de seu trono. Cambaleou, sentindo sua cabeça girar. Sua forma demoníaca ainda o deixava levemente desnorteado, afinal havia perdido o costume de controlar um corpo de estatura tão grande. — Presumo que Lauranna e estejam no refúgio do castelo de .
A criatura assentiu. sorriu abertamente, deixando com que aqueles dentes afiados brilhassem na pouca luz.
— Está tudo ocorrendo como o planejado.
Onze e cinquenta e cinco. Cinco minutos para enfim dar meia-noite.
atravessava o enorme corredor do último andar, seus dedos tocando suavemente as paredes. Devido à grande demanda de habitantes presentes no castelo, foi obrigado por Jhotaz a iluminar o máximo todos os andares, porém o vampiro se recusou a colocar luzes no último andar o qual se localizava seu quarto. Aquele andar continuava o mesmo: longo e escuro, com apenas luzes fracas de vermelho e roxo iluminando seu caminho.
subitamente parou, já que seus dedos haviam batido em algo pendurado na parede. Ela se virou lentamente em direção aquilo, aproximando-se para olhar melhor. Em um primeiro momento pensou que fosse um retrato, mas ao olhar com atenção percebeu que se tratava de um quadro. Um quadro muito realista e antigo, diga-se de passagem. Conhecia as pessoas presentes ali...
, Lauranna, , Victor, Jhotaz, Lara, Melissa, , Gainy e as caçadoras. Eles olhavam fixamente para um ponto no chão.
E foi quando viu.
Ali, chorando aos prantos, havia . Ele estava de joelhos no chão, com um corpo completamente ensanguentado em seu colo.
Aquele corpo sem vida... sabia de quem era aquele corpo.
Um grito saiu estridente de seus lábios ao sentir mãos tocando em seu ombro. Virou, preparada para atacar seja lá quem fosse.
— Calma, sou só eu. — a voz de soa rouca e cansada. Ele parecia exausto.
— Isso é motivo o suficiente para um grito. — a menina retruca, afastando a mão dele de si.
olha para baixo, fixando seu olhar no chão. Mesmo com a pouca luz era perceptível sua postura cabisbaixa de alguém derrotado.
— O que estava vendo? — ele pergunta, tentando desviar o assunto.
— Eu... — vira novamente, percebendo com nem tanta surpresa que o quadro havia sumido. — Nada.
— Certo. — ele suspira. — ... Eu preciso me desculpar.
— Não. Eu não quero ouvir suas desculpas. — ela rosna. — Nada do que você disser vai justificar suas atitudes.
— Eu a amo, . — sussurra. — Eu a amo demais. Por favor, tente compreender... Eu não consigo, eu... E-eu...
começara a chorar. apenas ficou encarando-o, impassível.
— Me perdoe, por favor. Eu não deveria ter dormido com você e te tratado daquela forma. Eu fui um imbecil, você não merecia algo assim.
— Apenas finja que isso nunca aconteceu, estamos entendidos? — diz, fazendo prontamente assentir.
— Eu... Eu sinto muito.
suspirou, encarando com pesar. Ele dava pena. Um anjo, que um dia fora puro e inocente, fora corrompido por um amor proibido e infelizmente não correspondido. sofria muito. Por mais que aquilo não justificasse sua traição e sua atitude rude com , ela o compreendia. Ou pelos menos tentava compreender.
— Esqueça isso, . Você não deveria estar aqui em cima. Tanto você quanto Lauranna deveriam estar sob supervisão. — suspira, afastando-se. — Por favor, vá embora.
subitamente a segurou, fazendo-a olhá-lo alarmada. Subitamente o anjo a abraça, afundando a cabeça em seus cabelos, aspirando seu cheiro. Os braços fortes de segurando-a sempre lhe causaram a sensação de proteção, e se surpreendeu com o fato que, mesmo com tudo o que aconteceu, a sensação não havia mudado.
— Eu sou seu anjo da guarda. — ele sussurra. — Eu a amo, mas minha missão passou para você. Se no fim for você ou ela... Eu escolherei você. É uma promessa.
— , eu...
Uma risada rouca ecoou no corredor. afastou-se de , vendo o dono da risada fitando-os irônico, os olhos negros cintilando na escuridão. Íris pertencentes a um predador observando sua presa. E ele não parecia nenhum pouco feliz em vê-la nas garras de outro.
— Eu disse meia-noite em ponto, filhinha. — ele frisa o substantivo com todo o deboche na fala.
— E eu estava indo. — ela retruca.
— Só estávamos conversando. — diz, fazendo rir.
— Conversando com a língua enfiada na boca um do outro. Claro.
— Cale a boca. — diz, já farta daquilo. — Vamos acabar logo com isso, .
— Mas é claro, filhinha.
puxa pelo pulso, trazendo-a para perto de si. franze o cenho, confuso.
— “Filhinha”? — questiona.
— Sim. Somos pai e filha, não sabia? — sorri com ironia.
— Eu ouvi Lauranna dizendo, mas... Isso é impossível.
— Aparentemente não pra . — sorri abertamente. — Vamos, filha.
— , você não entende. O ser seu pai, isso é impo... — começara a falar, mas não deu tempo de terminar sua frase. Um segundo depois já tinha sumido, puxando consigo. — ...ssível.
A brisa gelada da madrugada entrou em contato com seu rosto. Estavam na sacada de , e o mesmo estava parado com as mãos no parapeito mais à frente. se aproximou.
— Creio que você não teve a oportunidade de observar a cidade destruída, filhinha. Por favor, desfrute.
estava completamente chocada com o que via.
Casas destroçadas, árvores partidas, destroços por todos os lados e, principalmente: sangue. Era como se um manto vermelho houvesse coberto Mysthical.
— Não é lindo...? — comenta em um sussurro. o olhou, ultrajada. não a olhava; Seu olhar estava fixado no cenário destruído da cidade. Ele parecia fascinado com o que via.
— Você é doente. — ela diz enojada, afastando-se do homem. — Vamos, . Chega de enrolar, você disse que iria me treinar.
virou-se lentamente. De repente seus lábios se abriram em um sorriso torto e maldoso. o olhou de forma alarmada. Conhecia aquele sorriso.
Subitamente segurou-a pelo braço, imobilizando-a, fazendo com que ela se desequilibrasse e caísse ao chão, batendo sua cabeça no ato. Uma batida que seria mortal se de fato ela fosse humana (grande sorte ela não ser). trinca os dentes, olhando-o com raiva. sorri sarcástico para ela.
— O que foi, filhinha? é mais carinhoso com você? — ele a provoca, rondando-a com seus olhos cravados na jovem.
— Cala a boca! — ela grunhe, jogando-se em cima de e fazendo com que o mesmo desviasse com facilidade.
a segurou pelos braços, tentando imobilizá-la com o ato. foi mais rápida, batendo fortemente o cotovelo nas costelas de , fazendo-o instantaneamente empurrá-la para longe novamente, e assim com que a mesma fosse jogada aos ares. Ao cair, conseguiu manter seus pés firmes no chão, equilibrando-se com maestria. Estava ofegante, já sentia as gotículas de suor caindo por sua testa. Seus olhos encaravam-no em sua frente, parecendo extremamente concentrados.
— O que foi...? Seu anjo da guarda não está mais aqui para te proteger...?
— Você é ridículo.
O vampiro ri, passando a língua pelos lábios e cruzando os braços. Ele a olhava com tanto deboche que sentiu vontade de matá-lo ali mesmo, tamanho ódio que sentia.
Ele começou a ronda-la, olhando-a da forma que um predador olharia para sua presa: a observava como se estivesse analisando a melhor forma de atacar.
— Você foi atingida com muita facilidade... Eu esperava mais de você.
grunhiu de ódio, erguendo os punhos e fazendo com que duas esferas negras aparecerem ali. Mirou-as em , lançando-as e assim atingindo o corpo do homem, fazendo-o ser envolvido por tal escuridão e ser arremessado ao chão.
— Você foi atingido com muita facilidade... Esperava mais de você. — ela repete as palavras de .
— Sorte de principiante, princesa. — comenta, levantando-se.
— Eu sou mais poderosa do que você pensa.
— Claro que é, você teve a quem puxar. Forte, habilidosa... Me sinto sortudo de ter visto suas habilidades corpóreas tanto em luta quanto em cama. — ri, fazendo fechar os olhos fortemente, já farta daquilo.
— Você é meu pai. — ela diz, nojo visível fazendo-se presente em sua expressão. — Nós transamos, mas foi um erro. Não sabíamos a verdade e agora que sabemos nós temos apenas que... Parar.
riu alto, levando as mãos aos seus cabelos e bagunçando-os daquela forma que achava indiscutivelmente charmosa. era um maldito.
— Mas com você pode, certo?
— Pelo amor de Deus, pare de mencionar ! — grita, já farta daquilo.
— Você é quem trepou com ele! — rosna. Ele estava vermelho e as veias de seu pescoço saltavam. Ela nunca o viu tão irritado. A menina ia abrir a boca para responder, fechando-a imediatamente ao ouvir o som da porta ecoar no ambiente.
— saiu em missão e ninguém se atreveria a vir até seu quarto. Estamos seguros para conversar aqui. — ouviram a voz de Jhotaz dizer.
subitamente segurou por trás, a puxando até atrás da porta negra da sacada, encolhendo-se ali para passarem despercebidos. Logo a imagem de Lauranna e Jhotaz caminhando juntos até o parapeito foi vista pelos dois, fazendo tanto quanto olharem a cena extremamente intrigados.
— Me solta. — diz em um sussurro nervoso, fazendo com que o rapaz risse rouco com os lábios contra sua orelha.
— Shhhh, fique quietinha, . Você não quer que eles nos escutem, quer?
fitou a fresta da porta, fazendo de tudo para vislumbrar a cena que se desenrolava ali.
Jhotaz encarava profundamente a mulher em sua frente, enquanto a mesma tinha um sorriso safado nos lábios, o olhar malicioso parecendo provocá-lo.
— Qual é o problema, Jhotaz? — a voz de sedutora de Lauranna soou no ambiente. — Ainda surpreso em me ver tão bela?
— Bela? — Jhotaz ri seco. — Não há nada de bela em sua aparência, Lauranna. Você é o ser mais asqueroso o qual eu já tive o desprazer de conhecer.
— Você não parecia me achar asquerosa antes... — Lauranna se aproxima de Jhotaz, levando uma das mãos até seus ombros enquanto a outra segurava seu queixo.
franziu o cenho, confusa.
— O que eles estão fazendo? — ela pergunta em um sussurro.
— Quem liga? — a puxa para trás, fazendo-a soltar uma exclamação de surpresa.
Lauranna olha atenta em direção a porta, afastando-se de Jhotaz. Ela se aproxima, estudando o local em que estavam escondidos com o olhar crítico. arregalou os olhos com medo de ser descoberta. Sentiu grudar ainda mais seu corpo no dela, fazendo com que ficassem ainda mais encolhidos e assim longe da visão de Lauranna.
— Estranho. Não tem mais ninguém aqui, certo? — ela se vira novamente para Jhotaz, afastando-se do esconderijo do casal.
— É claro que não. — Jhotaz grunhe, olhando-a como se acabasse de ter dito o pior dos absurdos.
parou de ouvir a partir dali. A jovem perdeu o ar ao sentir o volume que havia crescido na calça de e estava completamente encostado em sua bunda.
— Você só pode estar brincando. — ela grunhe irritada.
— Não é como se eu tivesse controle sobre isso. — ele retruca baixinho.
— Você é um tarado imundo.
revirou os olhos, fazendo uma careta diante o comentário da jovem por mais que ela não pudesse ver sua expressão. e sua relutância o cansavam profundamente.
— Você acha mesmo...? — o mais velho pergunta, rouco. Pressionou o corpo da garota ainda mais contra o seu, de maneira firme. Queria provocá-la. — Que bom que pensa dessa forma. Me veja como um tarado e eu te verei como uma puta.
— Vai se foder seu... — ela retruca, sendo automaticamente vetada.
O braço direito de tocou o corpo de , enlaçando fortemente seu tronco, a pressionando para que seus corpos tivessem o máximo de contato possível.
Naquela altura só era possível ouvir alguns trechos do diálogo entre Lauranna e Jhotaz, já que a cada momento se distraía mais com provocando-a.
— ... As criaturas estão acabando com a minha cidade e isso é tudo culpa sua! — Jhotaz ruge.
— Minha? quem ordenou.
— Você as conjurou. Não seja cínica.
— Não importa mais, certo? O que importa é que estou aqui e quero lhe oferecer um acordo.
engoliu em seco, tentando o máximo possível prestar atenção naquela parte da conversa. Totalmente em vão, pois sentiu a mão esquerda de começar percorrer pelo seu corpo, desde o início de sua coxa, passando por seu quadril, cintura e barriga até passar brevemente por um de seus seios, onde, logo depois de tocar, ele voltou a repousar a mão sobre a cintura da mais nova. grunhiu. Um suspiro profundo foi dado por , que fez questão de expirar contra a pele do pescoço de , rindo maliciosamente em seguida.
— , por favor... — sussurra sentindo-se a cada momento mais perto de perder sua sanidade.
— ... Não sei se posso aceitar. — Jhotaz diz, completamente pasmo.
— Pense com carinho. Sei que irá tomar a decisão certa.
De repente tanto Lauranna quanto Jhotaz haviam desaparecido.
— Droga, ! — sussurra eufórica, saindo do esconderijo. — Perdemos o que foi dito!
— Você perdeu, meu amor. — diz divertido, rindo de forma sacana. — Minha audição é bem mais apurada que a sua, esqueceu?
— Qual foi o acordo que ela propôs a ele?! Me conte logo! Tem muita coisa em jogo aqui.
se aproxima de devagar, o sorriso torto brincando perigosamente em seus lábios.
— Naturalmente eu iria te contar...
— Então diga!
— ... Mas eu não vou. — sorri irônico. — Eu e você não temos mais qualquer tipo de relacionamento, filhinha. Isso é: eu não tenho nenhuma obrigação com você. Se quer tanto saber sobre o acordo que fizeram vá perguntar diretamente para Jhotaz.
bufou alto, andando até com firmeza e agredindo-o com as mãos, tentando inutilmente machucá-lo. apenas ria, se divertindo às custas da garota.
— Você não consegue falar algo sério uma vez na vida?! ME DIGA O QUE ELA PROPÔS!
Em um ato repentino, pegou a garota pela cintura, segurando-a firmemente. E sem qualquer tipo de pudor, ele volta a deslizar a mão esquerda pelo tronco da garota, subindo perigosamente para perto de seu seio coberto pelas roupas propositalmente. Ela estava sem reação. E ele completamente insano. era masoquista, afinal, poderia jurar que sentia seus dedos formigando de ansiedade toda vez que se imaginava apertando e massageando a carne dos seios de novamente.
— Você é cruel, . Eu faço tanto por você e é dessa forma que você me agradece? Gritos, xingamentos, desprezo... Essa é a forma certa de tratar seu papai? Estou tentando te educar aqui.
— Vá para o inferno, !
— Você tem sido uma garota terrível comigo, ... — riu baixo, levemente sarcástico, roçando os lábios pelo pescoço dela. — Você tem que admitir que a forma que você anda agindo está sendo ridícula... — o rapaz vai deslizando os dedos devagar para dentro da blusa da mais nova, soltando um suspiro pesado ao pé do ouvido dela ao sentir a textura da pele da barriga dela sob seus dedos. Arranhou levemente aquela área com as unhas curtas, enquanto distribuía beijos sedentos desde o ombro até o pescoço da mulher. — Você me afasta, sendo que eu sei que tudo o que mais deseja é me ter... — sua voz era suave, porém firme. O tom era sensual, envolvente e baixo, de forma que ressoava ao pé do ouvido da garota com suavidade. — Sabe o que eu acho, Daurat? — ele desliza os lábios pela lateral do pescoço da mulher, colando-os na orelha dela para sussurrar, em um tom carregado de luxúria. — No fundo você sabe tanto quanto eu que essa história de eu ser seu pai é um absurdo. Pesquise sobre vampiros e você tirará as conclusões corretas. Tenho certeza que você está usando isso para me afastar, porque você morre de medo de que eu te faça perder completamente o controle. — ele ri, ainda com os lábios colados na parte de trás da orelha de , fazendo questão de mordiscar ali antes de dar um apertão em sua cintura. — Mas... Acho que eu já fiz de novo, não? Você está muito excitada, . Eu aposto que se eu te tocar agora, vou te sentir completamente molhada.
— Eu odeio você.
Mais uma risada rouca e maliciosa escapa pelos lábios de , desta vez onde ele mordeu o lábio. Seu corpo era cada vez mais tomado por luxúria e o desejo imensurável que sentia por aquela garota o impulsionava a levá-la à loucura.
— Odeia, é? — ele pergunta em tom sarcástico.
E assim, ainda com a mão esquerda, ele finalmente se entrega a seus próprios anseios e simplesmente agarra o seio coberto da mais nova, acabando por soltar um gemido fraco ao fazê-lo. Passou a massagear devagar, arfando enquanto o fazia. não pôde evitar que um baixo gemido manhoso e sedento saísse por entre seus lábios.
— Tão gostosa... Tão quente... — fecha olhos, voltando a morder o lábio fortemente. — O fato de eu ter desistido de você não me impede de eu me aproveitar um pouquinho de seu corpo, certo? — ele sussurra, mordiscando brevemente o pescoço de . — Não tivemos uma despedida adequada... Filhinha.
grunhiu, já farta daquilo. E sem mais um pingo de autocontrole restante em seu corpo, a garota simplesmente puxa para mais perto, capturando seus lábios. Aqueles lábios macios, aqueles lábios de outro mundo. Como havia sentido saudade do gosto daquela boca, saudade daquele toque de línguas, saudade do gosto que só tinha. Sentia suas pernas bambas e seu mundo inteiro girando. Sentia-se fora de si. Sentia todo o seu corpo em êxtase pelo gosto da boca dele na sua. simplesmente agarra os cabelos do homem firmemente, o beijando com ainda mais vontade. Ele era seu inferno paradisíaco. O inferno pelo qual ela morreria. O inferno de sensações gostosas, de efeitos deliciosos que a deixavam completamente louca de prazer. Ela soltou um gemido de protesto ao sentir os lábios de se separando dos seus, o que a fez abrir os olhos e olhá-lo irritada. Ele sorriu. Mas não foi qualquer sorriso: aquele sorriso torto, que havia sim segundas intenções, porém mais do que isso.
amava aquele sorriso.
— Não conseguiu resistir, princesa? — ele pergunta rouco.
— Por mais que eu tente, por mais que eu negue, por mais que eu me afaste... É impossível. — responde em um sussurro — Você me corrompe e eu só sei desejar por mais... Mais do cruel, mais do errado... Mais de você.
somente sorriu em intensa satisfação, sem dizer nada em resposta. Acabou com todo o espaço restante entre seus corpos, unindo seus lábios aos dela novamente. Seu corpo era possuído por aquela sensação deliciosa o invadindo, o mais puro e vivo desejo se espalhando por cada pequena parte de si, lhe corroendo, corroendo e devastando sua sanidade. O sabor dela era tão delicioso, tão viciante, uma verdadeira droga na qual ele não conseguia deixar de ser viciado. Seu maior desejo, seu maior vício, sua maior obsessão.
Foi quem partiu o beijo. Ela empurrou até o parapeito com agressividade, fazendo com que ele apoiasse seu corpo ali. A garota parecia completamente apressada, e entendeu o porquê: se ela se acalmasse e pensasse na situação, ela simplesmente pararia e sairia correndo dali.
— O que está pensando em fazer? — ele a questiona, a sobrancelha erguida em desafio.
ri roucamente. Suas mãos se direcionam até a calça de , retirando-a com pressa e fazendo o mesmo com a cueca. O membro tortuosamente excitado de entrou em seu campo de visão, fazendo-a salivar e o próprio morder os lábios em expectativa.
Os olhos de Daurat haviam virado dois globos negros novamente, uma de suas características quando assumia a forma demoníaca. A jovem sorriu, em seguida levando a boca até o membro do rapaz, passando a língua por toda sua extensão como provocação. grunhiu, agarrando os cabelos da jovem.
— Me chupa. — ele implora, fazendo soltar um gemido animalesco em resposta.
A garota enfim abocanhou todo o membro de , enfiando-o até a garganta enquanto fazia movimentos circulares com a língua. grunhiu enquanto segurava os cabelos da jovem com mais força e ia ditando seus movimentos. chupou com ainda mais força e vontade. Com a mão livre segurou os testículos de , massageando-os com as mãos delicadas. gemeu gostosamente, sem qualquer censura.
Ele estava a ponto de gozar, e ansiava por isso. Fazia movimentos de vai e vem ainda mais rápidos, gemia alto e ela se deliciava com cada som de prazer que saía dos lábios do homem.
— Você... — sussurrou, olhando profundamente nos olhos dela. tremeu. — Porra, como eu a... Oh, ...
E ele se desmanchou, não terminando sua frase inoportuna para o momento, substituindo-a chamando o nome da garota.
engoliu o líquido do homem, lambendo os lábios em deleite. sorriu.
Foi necessário um piscar de olhos e o rapaz já não estava mais encostado no parapeito. A posição havia sido invertida, e agora quem estava encurralada era . se posiciona no meio das pernas da jovem, tirando sua calça. Riu alto da expressão extremamente afetada a qual ela ostentava.
— O que foi...? Achou que não seria recompensada? — ele pergunta em um sussurro.
— Eu... Eu...
não deixou com que ela respondesse. Ele abaixou a calcinha da jovem, retirando a peça com um enorme sorriso malicioso presente em sua face. segurou pela cintura, dando-lhe o apoio para que ela ficasse sentada no parapeito. Arreganhou as pernas da jovem, se colocando no meio delas, e sem nem ao menos dar tempo da pobre pensar, a chupou longamente, lambendo-a tortuosamente em seguida. gemeu manhosa, fazendo-o rir contra sua intimidade, consequentemente arrepiando todo o corpo da menina. A garota inconscientemente começou a rebolar contra a boca de , buscando por mais contato, mais, muito mais.
E a atendeu.
Penetrava a jovem com a língua, lambendo seu clitóris enquanto dois dedos foram introduzidos dentro dela, tudo isso ao mesmo tempo e sem pausas. não conseguia parar de gemer, tamanho o prazer proporcionado pelas ações do rapaz.
— ... — ela gemia, fazendo-o rir convencido.
— Sabe, princesa... — ele se afasta, fazendo-a grunhir em extrema reprovação. — Eu tenho um fetiche com as partes macias de seu corpo. Desejo com todas as minhas forças fincar minhas presas em cada uma delas... Creio que você saiba aonde quero chegar.
A garota permaneceu em silêncio, porém suas mãos buscaram desesperadamente os cabelos de , puxando-o para baixo, um pedido mudo para que ele voltasse até aquela parte que necessitava tanto de sua atenção.
E foi o que ele fez.
levou o dedão até o clitóris da jovem, acariciando aquele nervo dolorido e ensopado parecendo completamente contemplado em realizar tal tarefa. Seus olhos escureceram-se e de repente suas presas se alongaram.
E foi quando aconteceu. As presas de afundaram na carne de sua buceta, bem onde se localizava o clitóris. urrou, completamente insana. Estava fora de si. Nunca havia sentido tanto prazer na vida. A jovem acreditou veementemente que, se morresse naquele momento, morreria incrivelmente feliz e satisfeita por estar recebendo o melhor sexo oral do mundo juntamente a uma mordida fenomenal em um local o qual ela nunca imaginou ser tão prazeroso.
Seu corpo começara a se contorcer em espasmos, sinal nítido de que em breve gozaria. E céus, como ansiava por isso. Como ansiava a hora que explodiria na boca de .
Estava quase lá, apenas mais um pouco...
E foi quando subitamente parou. grunhiu alto, arfando completamente desesperada para que acabasse com aquilo. Ela estava quase, ela precisava de mais, faltava tão pouco...
Mas então a jovem olhou para os lados da sacada e constatou com decepção e ódio: já não estava mais ali.
andava apressado pelo corredor o qual sabia que Jhotaz Daurat estava hospedado. Precisava se certificar de que o mesmo estava fazendo o que ele acreditava que estava.
estava extremamente desconfortável enquanto andava, sentindo a necessidade de dar atenção para seu membro. O vampiro sentia o incômodo aperto em sua calça, mas o que poderia fazer? Depois de ter ganho um sexo oral de Daurat, fazer sexo oral na mesma e chupar o sangue de sua intimidade, era óbvio que o rapaz não poderia se encontrar em estado diferente. Havia a deixado sem gozar de propósito, afinal ela merecia uma pequena punição diante a todo conflito o qual havia criado entre eles, mas tinha que admitir que não estava contente com a situação. Ele queria voltar até lá, fazê-la gozar gostosamente em sua boca para depois fodê-la com força e desmanchar-se dentro dela; Porém situações drásticas requer medidas drásticas. disse coisas extremamente cruéis a , recusou o colar o qual representava o coração do vampiro e ainda por cima teve a audácia de se agarrar com no corredor do quarto do rapaz. Ela merecia sim o que ele havia feito e merecia ainda pior.
Era o que tentava convencer a si mesmo.
parou na porta de Jhotaz. Aproximou-se, abrindo lentamente a fresta, fazendo uma careta ao ver que estava certo.
Jhotaz estava transando com Lauranna de forma animalesca. A mulher estava de quatro, gemendo palavras incompreensíveis enquanto o anjo dourado a penetrava por trás. riu baixo.
— ? — a voz de Victor no fim do corredor o dispersa. — O que faz aí?
Victor estava encostado na parede. Suas olheiras pareciam mais profundas, sua testa estava franzida e seus lábios fechados em uma linha reta. Havia algo errado com o bruxo.
fecha a porta, andando até o rapaz.
— Jhotaz está comendo Lauranna. — o vampiro diz com naturalidade, o tédio estampado em suas palavras.
— O quê?! — Victor exclama, chocado.
— Não importa. Sua cara está péssima, quem morreu?
Victor morde os lábios. apenas aguarda o homem falar.
— Ninguém morreu... Ainda. Eu tive uma visão.
— E como foi sua visão?
— O que você disse, sobre ter que ser morto para que tudo isso acabe... Não é verdade. Só há uma forma para que Mysthical seja salva e isso requer um sacrifício. Um sacrifício dos nossos.
— O que quer dizer...?
Victor respira fundo, seus olhos enchendo-se de lágrimas enquanto seus lábios tremiam. Ele respira fundo, enfim pronunciando-se:
— tem que morrer.
Capítulo 31
“Se você quiser partir, eu entendo
Vou espalhar flores no caminho que você seguir
Mas se você sentir minha falta, volte para mim
E volte a me amar novamente
Você pode descansar andando nesta estrada de flores
E esperar por mim bem aqui. “
sobrevoava Mysthical, as enormes asas negras batendo suavemente em contato com o ar pesado e poluído. Um cheiro horrível de enxofre e carniça impregnava o lugar, o que não era exatamente ruim já que o objetivo era exatamente esse: destruir cada partezinha de Mysthical até que nada sobrasse. Até que a cidade mágica não tenha nada mais que destroços em sua superfície, transformando-a assim no inferno em Terra.
Ele pousou no território escolar, observando brevemente a fachada da escola municipal de Mysthical aos pedaços. Por um momento pensou em e no quão afetada sua vida escolar se tornou devido aos ataques. Uma pena. poderia ser um demônio que clamava pelo caos, porém prezava muito pelo conhecimento.
O homem caminhou até o bosque, enfim chegando ao seu destino. Estava em frente a árvore guardiã. A fitava com enorme admiração estampada na face. A árvore, antes bela e forte, agora se encontrava velha e apodrecida. Completamente fraca e exposta a qualquer mal.
sorriu. Se aproximou da árvore, tocando-a brevemente e fechando os olhos. Estava cansado de tamanha embromação. Destruiria Mysthical de uma vez por todas e assim teria em seus braços. Tudo o que precisaria era de um pouco mais de ajuda.
— Vinite ad me reges infernum! — ele sussurrou, a voz grossa e tenebrosa. Sua voz demoníaca. fez um pedido em latim: “vinde até mim reis do inferno!”
E eles viriam.
O ambiente estaria completamente silencioso e digno de um momento dramático se não fosse pelos gemidos animalescos que ecoavam do quarto de Jhotaz. Victor estava extremamente incomodado com isso, mas parecia tão atônito que nem ao menos ouvia.
O vampiro tinha o olhar perdido no vazio. As palavras do bruxo ecoavam em sua mente. Tentou abrir a boca para falar algo, rapidamente fechando-a.
Não havia nada a ser dito.
Se lembrava perfeitamente do início de seu relacionamento com , da forma que a analisava e se encantava com o ser repleto de vida que ela era. Sua bela fazia com que ele se recordasse de seu eu criança, quando era apenas um menininho sensível e gentil que encantava a todos.
Vida. Como um ser repleto de vivacidade e luz poderia estar fadado ao falecimento precoce? Aquilo era injusto. Ela era tão diferente, tão única... Ela era toda sua. Sua . Sua garota a qual ele havia descoberto ser uma espécie de anjo e demônio, uma mistura que teria tudo para dar errado, porém não foi o que aconteceu. Ela era tão certa... Tão certa para ele, como se a jovem fosse uma força superior que lhe dava forças para continuar existindo. E não havia nada que valia mais a pena para do que existir ao lado de Daurat.
E agora havia aquilo. As palavras sérias e irreversíveis de Victor, o qual afirmava com veemência que a sua garota tinha que morrer.
— Quanto tempo? — pergunta, por fim.
Victor o fita, confuso. completa:
— Quanto tempo temos?
O bruxo suspira. As lágrimas escorriam por sua bochecha. Ele dá meia volta, um pedido mudo de que deveria segui-lo. E foi o que o vampiro fez.
Os dois andavam lado a lado pelo extenso corredor do castelo , cada vez mais se distanciamento dos gemidos exacerbados de Lauranna e Jhotaz. Pararam em frente ao último quarto do corredor. Victor tirou sua varinha do bolso, apontando para a porta e dizendo em alto e bom som:
— Alohomora!
A porta subitamente se destrancou. o olhou, confuso.
— Isso foi uma referência a Harry Potter?
— Sim. — Victor sorriu sem graça. — Abriria de qualquer forma ao apontar de minha varinha, mas falar uma palavra mágica é muito mais chique.
O bruxo foi na frente, abrindo a porta e adentrando-a, sendo seguido por .
— Pensei que odiasse filmes. — Victor diz. — Como soube que é de Harry Potter?
— E realmente odeio. Mas Harry Potter é bastante importante para ... Ela tem vários livros desse bruxo virgem. Já dei umas folheadas lendo por cima, nada demais.
— Você realmente gosta dela.
desvia o olhar, rindo secamente. Gostar de , não gostar de ... Aquilo realmente importava naquela altura?
— Por que me trouxe aqui? É só um cômodo qualquer de minha casa.
— Precisávamos de privacidade para que eu possa te mostrar... Isso.
Victor fez um movimento com a varinha e instantaneamente o cenário havia mudado.
Era como se Mysthical toda estivesse no cômodo, mas com um porém: aquela era a versão definitiva da destruição da cidade. Todas as casas, sem exceção, se encontravam imensamente destroçadas. Não havia nada ali que pudesse ser salvo. Nada.
— irá conjurar demônios de alta batente. — Victor diz com a voz trêmula. — Isso não é uma hipótese: é uma imagem do futuro.
começou a andar pela rua destroçada que se estendia em sua frente. Tropeçou em algo, e ao olhar para baixo, constatou: era uma mão presa embaixo de um enorme pedaço de concreto, o qual deveria ter caído de algum edifício. E pelo tamanho só poderia ser a de uma criança, deveria ter no máximo quatro anos. sentiu seu coração se apertar.
— Por que exatamente tem que morrer? — ele se vira novamente para Victor, a raiva e a indignação começando a preencher seu ser.
— É o destino dela. Lauranna a amaldiçoou... — Victor voltara a chorar. — Jacques sempre soube que esse momento chegaria. Ele doou seu poder celestial para . Depois de tudo o que aconteceu é mais do que óbvio de que entre ela e Lara, ele tenha escolhido para ser a guardiã de seus poderes divinos e consequentemente ser...
— Um anjo dourado. — sussurra, balançando a cabeça em negação. — é metade demônio. Como ela pode ser um anjinho dourado protetor de Mysthical se ainda há uma parte obscura em seu ser?
— Essa é a questão. Ela simplesmente não pode. Por isso que ela tem que morrer...
— Para Jacques voltar. — completa. — Apenas Jacques pode destruir e parar com todos os ataques.
— E destruir Lauranna. — Victor diz, sua voz de repente adquirindo um tom sombrio. — Só ele pode matar Lauranna de uma vez por todas.
assente com a cabeça.
Ele sabia o que deveria fazer.
Nunca pensou que sentiria tanto em um único momento. Raiva. Dor. Medo. Tudo o que conseguia pensar era em e no quão quebrado ele se sentia com a mera possibilidade de perdê-la.
O vampiro simplesmente dá meia volta, deixando Victor para trás.
Jhotaz nunca fora uma pessoa fácil. Ele era arrogante, egoísta e pavio curto. Desde muito jovem odiava receber ordens de seus pais, tanto que fora duramente contra a decisão de seu progenitor quando o mesmo quis mandar tanto ele quanto Jacques para aquele pequeno inferno chamado Mysthical.
A vida no Paraíso era imensamente mais fácil. Ser um anjo da linhagem de ouro já era um enorme privilégio e ainda por cima ser filho do angélico que havia fundado tal linhagem o tornava uma figura extremamente importante naquele lugar. As pessoas o serviam e o respeitavam sem que ele precisasse mover um músculo para merecer isso. É claro que ele era jovem e tolo na época, imensamente mimado e mesquinho, acostumado a ter tudo em suas mãos. Ir para Mysthical fez com que ele amadurecesse. Por mais que permanecesse sendo esse ser pavio curto e difícil de lidar, Jhotaz havia se tornado um verdadeiro anjo dourado que enchia o peito de seu pai de orgulho. Mas é claro que as coisas não seriam tão fáceis.
Haniel nunca deixou de observá-los. Mysthical era a cidade protegida dos anjos principados em Terra, então era óbvia a sua preocupação. Ver os filhos sufocados em conflitos familiares dignos de novelas mexicanas havia o deixado imensamente desgostoso, mas ele nada poderia fazer. Contanto que eles prosseguissem com a proteção impecável que davam a Mysthical, não lhe importava se seus filhos haviam caído de amores por um rabo de saia.
Grande erro do anjo Haniel.
Desde o primeiro momento que havia visto Lauranna, Jhotaz sabia que ela seria um problema. Jacques havia caído de amores pela mulher. Jhotaz o acompanhou. o acompanhou. E de repente até o anjo da guarda da moça se via perdidamente apaixonado pela mesma.
Jhotaz constantemente se perguntava se Lauranna havia jogado uma espécie de feitiço para que fosse tão atrativa aos homens, mas com o tempo percebeu o real motivo disso tudo: a manipulação. Lauranna era uma enganadora de marca maior, uma cobra disfarçada em uma pele de cordeiro. Ela havia enganado uma cidade inteira ao culpar a própria irmã por um crime hediondo que ela mesma havia cometido, então era evidente que enganar reles homens fosse de imensa facilidade para ela.
Porém com Jhotaz era diferente.
Jacques, e se apaixonaram por versões falsas de Lauranna. Versões tão imensamente longínquas da realidade que era praticamente impossível levar a suposta paixão daqueles homens a sério.
Agora Jhotaz não.
Ele havia se apaixonado pela verdadeira Lauranna. E aquilo era imensamente perigoso.
Ele sabia de sua crueldade, sabia de seus crimes, sabia de sua irracionalidade. Jhotaz sabia de absolutamente tudo, mas seu corpo sempre clamava por ela. Era por isso que, no dia de sua execução, ele havia forjado sua morte. Era por isso que ele havia a escondido em um quarto em sua casa e deixando-a para apodrecer, mas sem matá-la.
Matá-la nunca.
E agora ali estava ela: completamente nua em seus braços.
Jhotaz quis rir. Gargalhar diante a sua situação medíocre, ridicularizar a si mesmo por ser tão patético a ponto de se deixar cair na tentação da carne novamente. Deixar a si mesmo trocar fluídos com uma mulher horrorosa a qual havia sido responsável pelo sofrimento de tantas pessoas, inclusive o seu.
Oh sim, principalmente o seu.
E então se lembrou do acordo. Aquele acordo absurdo, o qual ele sabia que seria incapaz de aceitá-lo. Jhotaz já havia tomado decisões muito erradas em sua vida, mas concordar com os termos estabelecidos por Lauranna não seria uma delas. A mulher havia proposto uma aliança, uma forma dos dois unirem forças para levar a derrota. Era evidente o que ela queria com isso: ao derrotar , ela se viraria contra Jhotaz e assim continuaria o plano do demônio, destruindo tudo por si mesma.
Lauranna já havia sido mais inteligente em seus planos e investidas. Ela estava se tornando um tanto óbvia. Contudo Jhotaz não a culpava, afinal, era claro que a mesma deveria estar desesperada.
Todos estavam.
— Às vezes eu gostaria de adentrar sua mente e descobrir o que tanto pensa.
A voz melodiosa da mulher soa ao pé de seu ouvido, provocando um crescente arrepio em seu corpo nu.
— Creio que não seja difícil de adivinhar.
— Algo parecido com “por que diabos estou cometendo o mesmo erro duas vezes?!” — ela diz, fazendo uma leve careta ao final de sua frase. — Acredite: eu não me sinto muito diferente. Não é como se fosse vantajoso para mim dormir com você dadas as circunstâncias.
Jhotaz ri demoradamente, passando a língua pelos lábios.
— Estamos em meio a uma enorme catástrofe e você ainda consegue piorá-la. Você tem o dom de destruir tudo o que toca, querida Lauranna.
A mulher solta um muxoxo de desagrado, encolhendo-se ainda mais contra o corpo de Jhotaz. Era estranho. Lauranna não tinha sentimentos e consequentemente um pingo de empatia em seu ser, mas ao estar com Jhotaz gostava de pensar que o homem era uma de suas — poucas — exceções à regra. Se importava suficientemente com o caçula dos irmãos Daurat a ponto de não lhe desejar totalmente mal. Apenas 60%. Ou até mesmo 70%... Certo. 80% de mal. Era essa a porcentagem de crueldade que ela desejava a Jhotaz.
— Por que mentiu para Melissa? — ele a questiona de súbito. — ser pai de ... Você sabe que isso é ridículo, não sabe?
A mulher apenas o encara brevemente. Seus lábios abrem para falar algo, mas ela nada diz.
— Eu comprei sua mentira. — Jhotaz prossegue. — Fingi surpresa e seriedade diante as palavras de Melissa, mas nós dois sabemos que tal paternidade é impossível.
— Como você pode saber? — ela retruca, a voz soando esganiçada. — é diferente dos outros vampiros! Ele pode sair na luz do Sol! Por que não poderia ter me engravidado?
— Porque isso é impossível. — Jhotaz diz devagar, como se estivesse explicando para uma criança. — Vampiros não podem ter filhos e qualquer um que tenha a mínima decência em estudar sobre tais criaturas teria consciência desse fato.
— Então de onde aquela maldita saiu?! — Lauranna grunhe.
— Ela só pode ser filha de Jacques e você colocou nessa sua cabeça insana de que ela é filha de .
— Ela não é filha do palerma de seu irmão, que nojo. — Lauranna cospe ao chão do lado da cama para combinar com sua sentença de desagrado. Jhotaz revira os olhos.
— Pode ter certeza que minha filha é que ela não é, Lauranna.
— Como pode ter tanta certeza?
— Olhar para é como ver meu irmão em minha frente. A personalidade, ações, até mesmo a forma de falar... Ela é igual ao Jacques. Ela pode ter a aparência idêntica a sua, mas ela é claramente uma cópia de tudo o que compõe a personalidade de meu irmão. É como se ela houvesse sido justamente projetada para substituí-lo.
O peso das palavras de Jhotaz foi sentido por ambos, que se encararam em um entendimento mútuo. O silêncio se instalou no ambiente em que o casal dividia e ele aparentemente não iria ser quebrado tão cedo.
A garota se remexeu desconfortavelmente na cama. Não conseguia dormir de jeito nenhum – e duvidava que em algum momento de fato conseguiria. – Seus pensamentos estavam todos voltados para a sacada de , de seus dedos e língua, de sua mordida...
— Maldito! — grunhe.
— Mamãe vai acordar desse jeito. — Lara sussurra ao seu lado. As duas dividiam a cama.
— Ela dorme igual uma pedra, duvido que acorde. — retruca fazendo Lara rir.
— Você voltou tarde. Não conseguiu dormir porque algo te incomoda?
— Talvez.
— Talvez, é? — Lara riu baixinho. — Vou reformular a pergunta: alguém te incomoda?
— Ninguém me incomoda.
— te incomoda?
— Sempre.
Lara riu alto, fazendo não aguentar e rir também. Melissa se remexeu na outra cama, fazendo olhar a mãe alarmada. Mas a mulher continuou dormindo. virou-se novamente para Lara, tendo uma grande surpresa: a menina já não estava mais ao seu lado. Um grunhido foi ouvido e ao fitar a porta, viu a irmã sendo arrastada por alguém o qual não reconheceu devido à pouca luz.
A jovem Daurat subitamente se levantou, correndo até a saída do quarto. Ao enfim estar no corredor avistou Lara ainda sendo arrastada. Não pensou duas vezes: duas enormes esferas apareceram em suas mãos e ela apontou ao suposto sequestrador, fazendo o mesmo voar pelos ares e assim largar Lara.
— Quem é você?! — disse em um rosnado. Aproximou-se do ser encapuzado, preparada para dar uma surra nele se necessário.
Qual foi a sua surpresa ao ver que o ser todo de preto era ninguém mais e ninguém menos que Kyle Park.
— Mas que porra é essa, Kyle?! — grunhe, desfazendo-se de suas esferas de luz.
Kyle a olhava completamente assustado, segurando com firmeza sua costela atingida por .
— Não é o que parece! — ele se adianta, se levantando. — Eu só estou cumprindo ordens.
— Que tipo de ordens? — Lara o questiona. — Me sequestrar não é muito legal. Eu fiquei assustada, sabia?!
— Me desculpa, Lara. É que me pediu para arrumar uma forma de tirar vocês duas do quarto.
— E você achou que pegar Lara a força fosse a melhor forma de fazê-lo?!
Kyle abre a boca para responder, rapidamente a fechando. De repente ele parecia muito sem graça.
— Me desculpem... Acho que exagerei.
— Você ACHA?! — Lara grunhe.
— O que quer, Kyle? — pergunta.
— Me acompanhem.
Kyle vai na frente indo em direção ao elevador. se aproximou de Lara, entrelaçando seus dedos.
— Não importa o que aconteça: fique perto de mim.
Lara prontamente assente com a cabeça. As duas andam até o elevador, acompanhando Kyle. Um minuto depois e já estavam no hall de entrada, no térreo. As macas que ali compunham estavam vazias, levando em conta que todos os feridos já deveriam estar devidamente acomodados nos quartos do primeiro e segundo andar.
Os três saíram, ainda com Kyle as guiando. Ele estava estranhamente quieto.
— Vocês demoraram.
A voz de soa séria e contemplada. não esperava vê-lo tão cedo. Ele estava encostado em seu piano, os braços cruzados em frente ao corpo. O vampiro as olhava com pesar. e Lara se entreolharam de forma confusa.
— O que está acontecendo? — Lara pergunta aquilo que a irmã também se questionava.
— Eu cheguei a uma conclusão importante e gostaria de informá-las acerca dela. — dá um passo à frente.
— Você não poderia esperar amanhã? — Lara bufa, um biquinho frustrado formando em seus lábios.
— Não.
— Por que não?
olha por cima do ombro das garotas, mais especificamente para Kyle. O mais novo sorri nervosamente para o amigo.
— Eu vou me retirar. Se precisar de mim não hesite em chamar, está bem?
— Obrigado.
Kyle dá meia volta, logo sumindo do ambiente em um piscar de olhos. As meninas olharam ainda mais confusas.
— O que você irá nos dizer de tão importante a ponto de não confiar nem em Kyle para ouvir? — o questiona.
umedece os lábios, aproximando-se das duas. o encarava profundamente, esperando uma resposta.
— Eu confio em Kyle, mas dada às circunstâncias quanto menos ele souber melhor.
— Quais circunstâncias?
— Eu sei que isso parecerá estranho, ainda mais partindo de mim, mas peço que vocês duas tentem compreender...
O vampiro interrompe a si próprio, permitindo-se ficar em silêncio. Suas mãos pareciam inquietas tendo os nós dos dedos fortemente pressionados um contra o outro, estalando-os inconscientemente. não era nenhuma especialista em linguagem comportamental, mas para ela estava evidente o quão nervoso estava. Sua expressão era serena e contemplada, mas seu corpo inquieto juntamente a seus olhos hesitantes denunciavam seu nervosismo.
— O que te incomoda? — ela pergunta, aproximando-se do homem. Sua mão toca levemente no braço do rapaz, acariciando ali em um ato falho de tentar passar-lhe algum conforto. encara a pequenina mão de com o cenho franzido e os lábios crispados. subitamente afasta a jovem com certa brutalidade, desfazendo-se da anterior posição hesitante enquanto ajeitava sua postura.
— Você me incomoda. — ele admite a contragosto. — É irritante o quão incomodado eu me sinto com tudo o que envolva a sua pessoa.
ri secamente, olhando fixamente para . Não conseguiu disfarçar sua surpresa.
— Você não parecia tão incomodado comigo horas atrás. — ela grunhe.
— É difícil se incomodar com o que ocorre ao meu redor quando estou no meio de suas pernas, princesa. Não culpe minha libido. — ele dá um passo em direção a jovem. — Culpe a si mesma.
— Me culpar?! Como assim me culpar?!
— Você... Me destruiu. — sorriu amargo. — E agora está destruindo Mysthical.
— Mas eu...
— Sua existência já é motivo de culpa, . — o homem dá um passo à frente, lançando suas palavras ásperas em direção a como se estas fossem nada.
— Já te disse que não pedi para estar viva! — a garota retruca, seus olhos tornando-se embaçados devido às lágrimas.
— E eu já te disse que agir como se sua morte fosse a resposta para tudo é egoísmo e estupidez. — ele rosna. — Mas você não liga, não é? Os outros são uma piada para você. A única coisa que lhe importa são os seus problemas, os seus sentimentos. Você não dá a mínima para aqueles que estão em sua volta.
— O quê?! Como você se atreve a dizer isso?! Tudo o que eu fiz desde que pisei nesse inferno de cidade foi me importar com os outros!
— Você não pareceu se importar quando jogou na minha cara que eu não te mereço. Quando fez exatamente a mesma coisa que Lauranna fez... Tsc. No fim vocês são iguais.
— Mas que merda, ! Vai se foder, seu desgraçado, seu...
A garota jogou-se em , batendo-o com toda sua força. O homem permaneceu impassível, recebendo os golpes como se estes não fossem nada. Ele a pega pelos pulsos, segurando-a com agressividade desnecessária a fim de detê-la.
— Você não passa de uma menina mimada que não merece o poder que tem. Sabe o porquê de eu ter te chamado aqui? Porque quero que você vá embora. Estou cansado dos seus dramas adolescentes e de sua eterna teimosia.
— Mas você...
— Estou cansado de você. — ele cospe, olhando-a com enorme desagrado e ódio. sentiu seu coração se partir. — E por estar tão cansado... Eu irei te ajudar a acabar com tudo isso de uma vez.
Silêncio.
encarava , as lágrimas silenciosas descendo por suas bochechas. Estava magoada, tão deprimida como nunca esteve antes. As palavras do mais velho haviam a cortado como navalhas, penetrando seu ser de maneira profunda o suficiente para deixar eternas marcas.
— Como você fará isso? — Lara questiona.
piscou atônita. A garota havia esquecido completamente que a irmã mais nova estava presente.
— Vocês duas deverão permanecer perto de mim nos próximos dias que virão. Não poderão confiar em mais ninguém nesse lugar. Vocês têm que ter em mente que as coisas saíram do controle e eu estou aqui para fazer com que elas se acertem... Eu as guiarei para partirem de Mysthical em segurança.
— Mas... Eu tenho que proteger Mysthical. Eu era a esperança, eu...
— Jhotaz manterá tudo sob controle. Ele também é um Daurat, sabia? Você não é tão exclusiva assim.
— Mas...
— Você não quer que esse pesadelo acabe logo? Você não quer ir para bem longe com Lara e viver uma vida normal...? Esquecer completamente tudo o que aconteceu aqui e seguir sua vida pra viver em paz?
— Tudo aconteceu por minha causa... Como eu posso simplesmente virar as costas assim?
riu amargamente. Ele larga os pulsos da jovem, passando as mãos com força pelos cabelos, desalinhando-os completamente. Foi quando Lara interviu, tocando brevemente no braço da irmã.
— está certo.
arregalou os olhos de forma surpresa. parecia tão surpresa quanto ele, olhando para Lara como se a mesma estivesse louca.
— Você realmente quer que eu deixe tudo para trás? Bem você, que sempre visou proteger o próximo acima de tudo?
— Eu confio em . — Lara diz, convicta. — Essa batalha já deixou de ser nossa há muito tempo. Eu... Eu sinto falta de como as coisas costumavam ser.
A menininha fez um biquinho frustrado. Ela se aproxima de , abraçando-a fortemente. a abraçou de volta.
— Você se lembra das nossas tardes no apartamento? Você me ajudava na lição, assistia desenhos comigo e até mesmo cozinhava para nós. Tínhamos uma vida normal. Uma vida pacata e sem graça para muitos, mas era nossa vida. Eu tinha você e pra mim aquilo era suficientemente maravilhoso. Eu sinto falta daquilo, ... Sinto falta da nossa vida.
abriu a boca para responder, mas nenhum som foi emitido. A mais velha simplesmente abraça Lara apertado, chorando com mais intensidade durante o ato.
— N-nós... Vamos embora. Vamos recuperar nossa vida. Eu prometo.
— A qualquer momento nos próximos dias eu chamarei vocês para partirmos. — as alerta, fazendo as irmãs se separarem devagar. — Vocês podem ir dormir agora. Está tarde e creio que a mãe de vocês não iria gostar nada de acordar e não vê-las no quarto.
Lara assentiu e fez o mesmo. não olhava .
— Vamos, Lara.
— Vai indo na frente, irmã.
— O quê? — a questiona. — Não, vamos indo!
— Eu preciso ter uma conversinha com o ... — ela se vira para . — Seu piano. Eu quero ele pra mim.
— Lara! — grunhe, advertindo-a.
— Vai ser uma negociação rápida, eu prometo!
— Eu a levarei para seu quarto quando ela terminar de falar, . — diz. faz uma careta.
— Seja breve.
E assim caminha até as escadas, subindo-as e sumindo do campo de visão dos dois.
— Meu piano, huh?
— Podemos dar uma volta? — Lara pergunta.
— Uma volta? Por onde?
— Pelo castelo mesmo. — a garotinha se aproxima de , segurando sua mão. — Vamos!
A menina começa a caminhar, puxando consigo. A estranha dupla caminhava pelos corredores do castelo de devagar, afinal Lara não parecia ter pressa em seus passos. Na verdade, a menininha parecia muito tranquila. Ela olhava para os lados com admiração, parecendo querer absorver cada detalhe, como se fosse a última vez que fosse ver o castelo.
— Você não quer meu piano. — afirma, quebrando o silêncio.
— Garoto esperto. — Lara sorri sapeca. — Eu só precisava de uma desculpa para poder ficar mais um pouco falando com você.
— Por quê?
A garotinha subitamente para de súbito. Sua mão se solta da de e ela começa a caminhar até um ponto mais à frente. a seguiu.
— O que está fazendo?
— Procurando algo.
— O quê?
Lara pega algo no chão, rindo alto ao ter o objeto em mãos.
— TCHARAN! — ela grita com os bracinhos para cima.
se aproxima, a olhando com curiosidade.
E foi quando enfim compreendeu.
Nas mãos de Lara havia uma caixa dourada. Ao abri-la, pôde ver seu colar que representava seu coração. Aquele o qual ele havia jogado para longe dias atrás.
— Pensei que há essa altura alguém já tivesse o pegado. — ele diz entediado.
— Ainda bem que ninguém o pegou. — Lara diz, analisando o colar em suas mãos. — Nunca pensei que um mero acessório pudesse transmitir tantos sentimentos... Ele deve ser muito significativo.
a encara com o cenho franzido, esperando que ela se explicasse. A menina sorri brevemente para o rapaz.
— Eu sempre lidei com as pessoas com muita facilidade pois de certa forma sempre compreendi o que elas sentiam. dizia que era meu dom especial, desses por eu ser uma menina boa que se importa com os sentimentos dos outros. Porém com o tempo eu entendi que...
— Você herdou os poderes de seu pai. — diz, revirando os olhos. — Seu pai sabia ler os sentimentos das pessoas.
— Ele era um anjo muito poderoso, não era?
— Sim, ele era. Um babaca completo, mas isso não tira seu mérito.
— Você tem muita inveja dele.
a olhou como se ela fosse louca. A menina apenas riu.
— Não tem como negar, . Sua inveja é óbvia e qualquer um saberia, nem é preciso ter o poder que eu tenho.
— Tanto faz. — ele grunhe. — Me diga logo onde você quer chegar com isso.
— O colar. Você pode me contar a história por trás dele?
hesitou. Algo no tom de voz da garotinha demonstrava claramente que ela não aceitaria um não como resposta.
— Não me leve a mal, mas isso não é da sua conta.
— Por favor.
suspirou. A garotinha parecia tê-lo na palma de sua mão, tendo a habilidade muito semelhante à da irmã de fazer com que ele se sentisse patético. Mas ele não cedeu.
— Minha mãe me deu de presente. Tem valor sentimental. Isso é tudo.
Lara assentiu, parecendo aceitar a resposta de por enquanto. Para a menininha era óbvio que havia muito mais por trás do que lhe foi dito, mas preferiu não insistir.
— Quando você fala da sua mãe eu percebo que há um enorme carinho em suas palavras... Você a amava muito.
engole em seco. Ele desvia o olhar, sem falar nada. Não havia nada a ser dito.
— Se isso foi algo que sua mãe te deu... Dar isso a outra pessoa deve ser bem significativo, né?
— Sim.
— Você ofereceu a Lauranna, e ela negou. Ofereceu a ... E ela também negou. — a menina deduz, olhando-o com curiosidade. — Isso explica sua tristeza.
— Não estou triste por isso.
— Oh, não. Acho que não. Você está triste por algo muito mais sério... E isso envolve .
— O que quer dizer?
— Suas palavras nada educadas dirigidas a ela agora há pouco... Não foram sinceras. Não havia ódio ali, só havia tristeza e medo. Muito medo. Você mentiu pra ela. E agora eu gostaria de entender o porquê.
— Se sabia que as palavras não eram sinceras por que me apoiou?
— Porque senti a urgência de seus sentimentos. Minha irmã... Corre algum tipo de perigo?
Os olhinhos de Lara encaravam os olhos de com visível temor. O mais velho respirou fundo, assentindo veementemente com a cabeça. Não havia porquê mentir.
— Se ela ficar aqui ela morrerá, Lara. E eu não posso deixar com que isso aconteça. — ele engole em seco. — Eu tenho que tirá-la daqui! Tenho que protegê-la, tenho que fazer com que ela fique segura... Não importa se isso signifique que devo afastá-la de mim para sempre.
Lara assentiu com a cabeça. Seus olhos brilhavam. estranhou aquilo.
— Você está com tanto medo de perdê-la... Você a ama tanto...
fechou os olhos com força. Sua cabeça girou por um momento, deixando-o completamente tonto. As palavras da mais nova haviam o atingido em cheio, provocando uma terrível sensação de náusea em seu corpo, a qual só costumava a sentir quando ainda era humano.
— Por favor nunca mais repita algo assim.
— Por que não?
— PORQUE NÃO!
Lara engole em seco, assentindo com a cabeça. era realmente um ser complexo e difícil. O melhor a fazer seria não insistir.
— Me desculpe. Pensei que a essa altura você já tivesse aceitado os sentimentos que têm pela minha irmã.
— Já passou da hora de você ir dormir, Lara.
— Certo. Me desculpe. — Lara diz cabisbaixa.
Os dois seguem o caminho por entre os corredores até o elevador de , e assim ambos entram lá em silêncio. apertou o botão do andar o qual a garotinha estava hospedada.
— Você está muito bravo comigo? — ela pergunta baixinho.
deixa com que um sorriso quase imperceptível aparecesse em seus lábios.
— Não. Você é irritante, mas não irritante o bastante para fazer com que eu sinta vontade de matá-la.
— Você já matou crianças?
A pergunta súbita de Lara o fez gargalhar, não pelo conteúdo da mesma, mas sim pela forma assustada a qual foi pronunciada.
— Você me imagina matando crianças? — ele retruca.
— Na verdade não.
— Pois você está certa. Nunca matei uma criança.
— É devido a algum código de honra...?
— Não. Só não sinto vontade.
— ... Você quase matou minha irmã quando ela era menor.
— Quase. Porém não o fiz.
— Ela ainda é uma criança, sabia? Ela não fez dezoito anos ainda.
— Sua irmã não é uma criança. — ele afirma. — Infelizmente ela ainda é uma adolescente. Agora chamá-la de criança já é demais.
— Você diz isso para se sentir melhor...?
— Como assim?
— Você beija, aperta o bumbum e morde ela horrores... — a menina enumera tais ações com uma normalidade impressionante em sua feição. segurava o riso. — Deveria se sentir péssimo fazendo isso com alguém tão nova.
— Ela é minha filha, esqueceu? Eu não faço mais essas coisas.
— Nós dois sabemos que isso é impossível. Você é um cadáver que fala e provoca, seu corpo tá mortão! Como você vai ter um bebê? Isso é história pra boi dormir!
— Um cadáver que fala e provoca, uh? Boa descrição. — sorriu torto, rindo alto em seguida. — Você é bem mais sensata que a , sabia?
— Eu mesma, ícone sensato da família Daurat!
Lara faz uma pose exagerada, levantando os bracinhos e sorrindo convencida. ri alto. O mais velho se aproxima da criancinha, bagunçando seus cabelos com carinho. Aquilo a fez sorrir. Seus olhos verdes brilhavam em direção ao mais velho.
— Eu queria muito que você fosse com a gente. — ela diz baixinho. — Poderíamos morar nós três juntos, bem longe daqui... e você seriam namorados! Isso te tornaria meu cunhado, mas você seria um pai pra mim igual é minha mãe. Nós... Nós seríamos uma família!
não sabia como aquilo era possível, mas instantaneamente sentiu todas as sensações que sentiria se ainda fosse vivo. Ele sabia que se ainda estivesse vivo toda cor teria deixado seu rosto. Também sabia que, se o seu coração ainda batesse, ele estaria completamente desesperado batendo tão freneticamente que o temor diante a um ataque cardíaco seria real. A única coisa que não sabia era por que estava sentindo aquilo de forma tão clara, como se de fato ainda fosse um ser humano em estado de nervosismo total.
A verdade era que as palavras de Lara Daurat não poderiam ter vindo em pior momento. A menininha olhando-a daquela forma tão sonhadora, imaginando uma realidade completamente utópica onde os três seriam felizes... Aquilo era cruel. Cruel pois nunca aconteceria. nunca chegaria de um dia longo de trabalho e encontraria e Lara juntas fazendo a lição da garotinha. Nunca cozinharia para as duas, sentaria a mesa e desfrutaria de um jantar em família com direito a conversas leves sobre como havia sido o dia de todos e histórias engraçadas que o fariam rir até sua barriga doer. Nunca beijaria com carinho e sussurraria obscenidades, prometendo uma noite inesquecível depois que Lara estivesse devidamente dormindo em seu quarto. Nunca iria colocar Lara para dormir, beijar sua testa e lhe desejar uma boa noite. Nunca se deitaria com sua princesa, a foderia da forma que ambos tanto amavam e depois se abraçariam desfrutando da companhia um do outro até caírem no sono.
Ele nunca faria isso pois era impossível.
era um vampiro. Um monstro propriamente dito, uma criatura horrenda com uma eterna infecção demoníaca correndo por seu corpo. Ele não merecia ser feliz. Ele não merecia ter qualquer sentimento que se assemelhasse mesmo que meramente a paz.
Ele merecia a dor. Ele merecia a morte.
Lara pareceu levar o silêncio de de forma negativa, e pôde crer que somado com a habilidade de ler sentimentos da menininha, ela deve ter percebido o quão perturbado ele havia ficado depois de suas palavras. O som indicando que o andar de Lara havia chegado soou, fazendo-a dar um passo para fora do elevador. Sem ao menos olhar para trás, a menininha se retira, deixando um imensamente incomodado para trás.
Já deveria ser mais de meio-dia quando se levantou da cama. Lara havia dado a desculpa a sua mãe alegando que estava se sentindo mal e deveria descansar. Com a mentira comprada ninguém havia a incomodado durante a manhã inteira.
Sua noite havia sido conturbada, cheia de pensamentos autodepreciativos, em sua maioria envolvendo as palavras duras de .
Maldito.
Por que ele tinha que afetá-la tanto? Seria infinitamente mais fácil se as palavras dele fossem ignoradas e ela seguisse sua vida. odiava a si mesma por levar em consideração a opinião do homem.
Algumas batidas na porta. Ela grunhiu, caminhando até lá. Ao abri-la, ali estava . Suas mãos estavam escondidas atrás do próprio corpo alto; a cada segundo ele apoiava o peso em uma perna ou outra, intercalando durante o processo. Ele evitava a todo custo olhar nos olhos de .
— O que você quer? — ela quebra o silêncio. cruza os braços, olhando-o de forma severa.
Os olhos de subitamente se fixaram em seus seios, estes que foram apertados devido ao movimento de cruzar os braços em frente ao corpo. instantaneamente deu-lhe um tapa no braço, fazendo-o se sobressaltar.
— Você vai mesmo ficar secando meus peitos, ?!
O mais velho ri nervosamente, balançando a cabeça em negação. jurava que, se ele ainda tivesse sangue próprio correndo por seu corpo, este estaria completamente concentrado em suas bochechas no momento.
— Seu corpo sempre me distrai. — ele se justifica. revira os olhos. — Isso é pra você.
O vampiro retira aquilo que escondia atrás do corpo, estendendo para . A menina arregala os olhos, não podendo disfarçar sua surpresa. tinha um buquê de rosas em mãos, estas mesclando-se entre rosas vermelhas e rosas brancas. Era lindo demais.
— É do seu jardim? — ela pergunta baixinho, ainda sem pegá-las.
— Sim.
— Foi uma boa ideia retirá-las de lá...? Me dar flores significa que terei que assisti-las apodrecer.
— Acredite, princesa: a ideia foi essa. — ele ri sem humor.
A menina enfim pega o buquê em suas mãos, cheirando as rosas e não podendo evitar que um sorriso abobalhado se apossasse de seus lábios. sorriu junto.
— Obrigada. Eu adorei.
— Eu quero te pedir desculpas.
arregalou os olhos novamente, sentindo-se cada vez mais surpresa com as ações de naquela manhã.
— Você? Pedindo desculpas? — ela ri, mais de nervosismo do que qualquer outra coisa. — Bateu a cabeça por acaso? Usou alguma substância ilícita...? Eu nem sabia que isso fazia efeito em vampiros.
— Posso te garantir que estou completamente lúcido de minhas ações, . — ele sorri de forma contida. — Ontem eu fui extremamente duro com você e eu gostaria de pedir desculpas. Eu não precisava agir como um completo babaca só para não deixar transparecer que... Bem, você sabe.
— Sei o quê?
— Não me faça dizer.
A menina dá um passo em direção ao rapaz, ficando perigosamente próxima. Seus olhares permaneciam conectados.
— Sei o quê? — ela repete.
— Sabe que estou apavorado, pois a partir de agora nosso tempo juntos está se esgotando. E porra, princesa, eu nunca pensei que seria tão doloroso ter que assistir você partir.
sentiu seus lábios secarem, seu coração acelerar e suas mãos tremerem. A famosa friagem na barriga se fazia presente, a qual também era intitulada como borboletas no estômago.
Como, em sã consciência, ela poderia resistir aquele homem?
— Você disse que eu não merecia o poder e...
— É claro que você merece, . Você é simplesmente perfeita. — ele grunhe, levando as mãos aos próprios cabelos e bagunçando-os em nervosismo. — A questão é que temos que visar a segurança de Lara em primeiro lugar, certo? E creio que você só compreenderia isso diante as minhas palavras duras.
— Sou bem longe de ser perfeita. — ela murmura em resposta. A garota parecia desnorteada.
— Discordo... — ele se aproxima. Depositou as mãos nas bochechas da jovem, com seu rosto em meio a elas como se ela fosse uma criança. Apertou levemente suas bochechas, fazendo-a revirar os olhos, mas rir brevemente. — É verdade que você é um pé no saco. Chata, irritante, teimosa, pavio curto...
— Ei!
— Shhh, deixe-me terminar... — um sorriso bonito se faz presente nos lábios de , este contendo nada mais que puro carinho. sentiu seu corpo tremer diante aquele sorriso. — Mas todos esses supostos defeitos se tornam atrativos pra mim, pois são eles que formam quem você é... E acredite, princesa: eu sou completamente louco por você exatamente desse jeitinho, sem querer mudar nada.
— Por que está dizendo essas coisas...? — ela pergunta em um murmúrio manhoso. Suas bochechas já se encontravam completamente rubras. — Eu não sei lidar com você dessa forma.
— Prefere que eu volte a ser pervertido? Acha que é mais fácil de lidar? — ele pergunta sugestivo, fazendo-a negar prontamente com a cabeça.
— Eu não sei lidar com qualquer versão sua. — ela confessa.
suspira. Suas mãos acariciavam as bochechas da jovem e seus olhos fixavam-se em seu rosto. Ele não conseguia desviar o olhar. Ele não conseguia deixar de tocá-la. Não tinha forças para se afastar, e já não tinha controle da própria boca para evitar palavras de teor extremamente carinhoso que poderiam confundi-la. Ele só... Falava o que pensava. E no momento ele só conseguia pensar em situações extremamente não usuais envolvendo cenas românticas com a garota à sua frente.
— Eu também não sei lidar com suas diferentes versões. Isso nos deixa quites, certo?
— Nós nunca estamos quites... Você sempre arruma uma maneira filha da puta de me desestabilizar e sair na frente.
solta uma gargalhada gostosa aos ouvidos, fazendo não conseguir evitar de sorrir junto. O mais velho solta seu rosto, subitamente se aproximando para depositar uma fraca mordida em sua bochecha, que a fez soltar um gritinho de surpresa.
— !
— O que foi? Foi só uma mordidinha, você está acostumada com coisa pior. — ele sorri sapeca.
— “Só uma mordidinha”. Vou morder você desse jeito e arrancar pedaço, seu ridículo!
Os olhos de brilharam de forma sobrenatural e a garota instantaneamente sentiu seus músculos se retesarem.
Droga.
sorriu torto, aquele sorriso cafajeste repleto de segundas intenções o qual odiava por amá-lo tanto. Ele se aproximou da garota, prensando a menina contra a porta do quarto.
— Você pode me morder o quanto quiser e arrancar quantos pedaços forem necessários para o seu prazer... — o rapaz agarra uma das coxas da mais nova, colocando-a ao redor de sua cintura, aproximando seus corpos o máximo possível, sentindo todos os seus pelos se eriçarem devido ao extremo contato. O vampiro aproxima seus lábios da orelha da menina, mordendo sua cartilagem e rindo roucamente ali, completando sua frase anterior: — Com a singela condição que eu faça o mesmo com você.
— Você vai amassar minhas flores! — diz exaltada, colocando-se novamente no chão e rapidamente afastando-se de . O homem revira os olhos, soltando um longo suspiro derrotado.
— Você acaba com todo o clima, princesa.
— Eu tenho que colocar isso em um vaso com água. — ela ignora completamente o vampiro, abrindo a porta do quarto de forma quase mecânica. Ele rapidamente a segue.
De repente arregala os olhos, não conseguindo disfarçar sua surpresa.
Estava tão concentrado em pedir desculpas a que havia se esquecido completamente que o quarto o qual a garota estava hospedada era de ninguém mais e ninguém menos que de seus pais.
O vampiro andou vagarosamente pelo quarto, olhando em volta com curiosidade visível. Fazia um bom tempo que não adentrava aquele cômodo em específico.
— Eu já volto. — a garota diz, sumindo pela porta a qual sabia dar em um luxuoso banheiro de estrutura antiga.
O vampiro se senta na cama de casal de madeira, sorrindo brevemente ao sentir o cheiro característico de no lençol. Se deitou exatamente onde a jovem dormia, afundando sua cabeça naquele travesseiro e permitindo-se aspirar o cheiro embriagante de sua princesa.
— Você está parecendo um louco. — a voz da menina soa, mas ele simplesmente não levantou a cabeça para olhá-la. Estava confortável demais.
— A culpa é toda sua. — ele responde, a voz saindo abafada devido ao seu rosto estar contra o travesseiro.
riu brevemente diante a cena, sentindo suas bochechas corarem brevemente. Ela leva o vaso com água até a cômoda envelhecida do quarto, depositando-a na parte de cima, colocando as flores ali em seguida.
— Quanto tempo elas ainda possuem, doutor? — a garota perguntando em tom de brincadeira.
— Provavelmente três dias. — responde, levantando a cabeça brevemente para fitar .
— É tão triste... Elas são tão lindas. — diz em um suspiro triste. Ela tocava delicadamente nas rosas. a observava com atenção.
— Eu te disse que a ideia foi fazer você vê-las apodrecer... — ele começa a falar, sendo interrompido por .
— Sim, super romântico. — a menina ironiza revirando os olhos. Ele ri.
— Deixe-me te explicar o porquê disso.
— Diga.
— Vem cá. — ele a chama, batendo no lugar vago ao seu lado da cama.
morde os lábios diante a cena. Ela se aproxima rapidamente, sentando ao lado de e ali permanecendo. Estava disposta a não pensar no assunto, pois se o fizesse tinha a consciência de que faria de tudo para sair correndo dali.
O rapaz deita a cabeça em seu colo. Aquilo faz todo o corpo de se retesar devido a surpresa e também ao nervosismo.
— Você irá partir. — ele começa a falar, sua voz soando baixa e rouca. Era como se ele se esforçasse para pronunciar tais palavras. — Nunca mais nos veremos. Você tem consciência disso, certo?
assente com a cabeça. prossegue.
— Por isso eu quero te propor um acordo... Um acordo completamente imprevisível diante a situação atual, mas você sabe muito bem que ser previsível nunca foi comigo. E eu quero muito que você aceite, pois não teremos outras oportunidades e...
— Hey, está tudo bem. — ela leva uma das mãos aos fios negros de , começando a acariciá-los com carinho. Ele subitamente fecha os olhos, uma expressão genuína de contentamento aparecendo em sua feição. — Me fale sobre esse acordo.
— Quero que eu e você possamos agir da forma que nos sentimos a respeito um do outro. Não importa o maldito contexto o qual estamos inseridos. Mysthical ruindo, essa história ridícula de eu ser seu pai, Lauranna no meu castelo... Nada disso importa. Enquanto as flores não murcharem e apodrecerem, nós dois estaremos juntos da forma que sempre quisemos.
— Vamos ignorar tudo o que aconteceu e simplesmente... Ficar juntos? Pelo menos no período em que as rosas não murcham? — ela pergunta em um sussurro.
subitamente abre os olhos, encarando a garota. Ele sorri de maneira triste.
— Creio que essa seja nossa última chance.
Mais nada precisava ser dito.
Daurat se inclinou, colando seus lábios nos do rapaz e sentindo o gosto embriagante o qual tanto amava misturar-se ao seu. Aquilo pareceu fazer com que despertasse de seu estado de encantamento, levantando a cabeça a fim de embrenhar seus dedos nos cabelos da garota e aprofundar o beijo.
Ambos se beijavam com tudo o que tinham, explorando cada canto da boca um do outro como se aquela fosse a última vez que o fariam. deixou com que um gemido escapasse, sendo este abafado pelo beijo. sorriu, agarrando-se aos ombros do rapaz e puxando-o para ainda mais perto de si, dando-o o incentivo necessário para ficar por cima da jovem. Ao partirem o beijo, ambos apenas se encararam, as respirações ofegantes e os olhares cravados em um contato visual extremamente significativo. Nada poderia impedi-los naquele momento.
— Quando eu te vi pela primeira vez eu senti muito medo... — sussurra, quebrando o silêncio. Ela leva as mãos até a barra de camisa de , um pedido mudo para que ele a retirasse. Foi o que o mais velho fez. Ela passa as unhas livremente pelo tronco descoberto do rapaz, sorrindo brevemente ao observar seu abdômen se retrair com o toque. — Você me olhou de forma tão invasiva, como se soubesse de todos os meus pecados... Como se já soubesse sobre a parte ruim que vive em mim.
nega com a cabeça, afundando o rosto do pescoço da mais jovem. Ele começa a beijá-la lentamente ali, fazendo questão de se certificar da tranquilidade de suas ações. Do carinho. Do cuidado o qual nunca havia tido antes.
— Quando eu te vi pela primeira vez eu também senti medo. — ele confessa contra o pescoço da jovem, em meio a um beijo e outro. Ela instantaneamente se arrepia. — Você era tão parecida com Lauranna, mas muito mais tentadora, muito mais perigosa... Eu fiquei louco de tesão, não nego. — o rapaz chupa a pele sensível do pescoço da jovem com vontade, fazendo-a arfar, levando as mãos aos seus cabelos e puxando-os. Ele continua, intercalando entre chupar e beijar sua pele de forma sedenta, mas comedida. Sem pressa, sem desespero. Ele precisava se certificar de guardar cada sensação que o corpo de Daurat o fazia sentir, pois a cada segundo temia o momento que nunca mais sentisse de novo.
— Você não foi muito agradável em nosso primeiro contato. — ela arfa, fazendo-o rir roucamente contra seu pescoço.
— Eu até tive um sonho erótico com você naquele noite. — ele confessa, fazendo subitamente rir alto. — Eu acordei antes que nós pudéssemos foder de verdade... Foi extremamente frustrante, sabia? Confesso que isso contribuiu para que meu desejo por você falasse mais alto...
segura a barra da camisola de seda a qual a garota usava, subindo-a devagar, desfrutando da paisagem mais bela que poderia fitar naquela manhã. Ao retirar a camisola por completo, pôde enfim observar despida: a garota usava apenas uma calcinha de algodão simples, estando sem sutiã. umedece os lábios, seus olhos vidrados no corpo da jovem.
— Você é perfeita. — ele afirma, subindo o olhar até seus olhos. Os olhos cinza o encaravam de volta, pequenos devido ao sorriso tímido que a garota ostentava.
se coloca por cima novamente, passando a trilhar beijos em direção aos seios da mais nova, deixando com que sua saliva deixasse um rastro pela deliciosa pele da garota.
— Quando você soube? — ela pergunta em um sussurro súbito. Ele a fita brevemente de forma confusa. Ela completa: — Quando você soube que gostava de mim?
O rapaz sorriu. Sorriu de uma forma pura, sem qualquer sinal de segundas intenções. Ele sorriu, pois por mais que o que sentisse fosse errado dadas as todas as circunstâncias que os rondavam, naquele momento diante a pergunta inocente da menina ele poderia jurar que era certo.
— Eu me perdi em você no exato segundo em que te vi. — ele confessa em um sussurro. — Porém só fui perceber isso mais tarde, mais especificamente na manhã seguinte a de nosso primeiro beijo. Jhotaz havia me acusado de ter te mordido, me crucificado por algo que eu não fiz... E ali estava você. Você me fez chorar, se lembra...? Você fez com que eu me sentisse protegido. Você fez com que, pela primeira vez em muito tempo, eu não me sentisse um monstro. Eu era só... Um menino. Um menino sendo acolhido nos braços de uma mulher bem mais nova, mas muito mais madura. Uma mulher tão encantadora, tão gentil, tão perfeita... E foi naquele momento que eu percebi que estava indiscutivelmente apaixonado por você.
não a deu tempo de refletir sobre suas palavras. Ao final de sua frase seus lábios atingem o local tão desejado por si. Ele abocanha um dos seios da mais nova, chupando aquela região tão adorada de forma desejosa, sem deixar de massagear o outro. grunhiu em deleite, puxando os fios negros com força enquanto com a mão livre arranhava de forma contida seu ombro. Seus olhos marejavam, ainda emocionados demais pelas palavras ditas por anteriormente. Ela sentia tanto carinho por aquele homem, uma vontade imensurável de abraçá-lo e ficar daquela forma para sempre... Como igualmente sentia o desejo crescente invadir seu corpo, incendiando sua pele, fazendo-a achar um completo absurdo passar um segundo ao seu lado sem fundir seus corpos em um só.
— Quando eu estava com aquela febre terrível você cuidou de mim e ficou do meu lado até que eu melhorasse. Eu nunca pude dizer o quão significativo aquilo foi pra mim... Desde então meus sentimentos a seu respeito já não foram mais os mesmos.
morde os lábios, sentindo uma pontada de insegurança fincar em seu peito com as palavras contidas de . E se ela não sentisse o mesmo? E se no fim era ele quem estava confundindo as ações da garota consigo e se iludindo a ponto de ver algo a mais que desejo?
percebeu sua confusão, subitamente invertendo as posições e ficando por cima. Ver completamente vulnerável embaixo de si sempre seria uma das visões mais belas a qual poderia apresenciar.
Tirou a calça de , pois ele não precisava dela. Naquele momento roupas eram completamente desnecessárias.
— Você me deixa tão fora de controle... — ela sussurra, levando as mãos aos ombros do rapaz, passando as unhas superficialmente por eles. Seu quadril estava posicionado em cima do dele, cada movimento friccionando suas intimidades. Ela estava completamente molhada, e ele completamente duro. — Você consegue ser completamente perfeito e não faz ideia disso. E acredite: eu quero explorar cada detalhe dessa perfeição, eu quero me deliciar e me embriagar com cada pedacinho de toda essa perdição a qual você chama de corpo, eu quero fazer tudo o que eu puder fazer pra te sentir cada vez mais... Eu quero você, . Como eu nunca quis ninguém antes. Eu te quero tanto, tanto...
A menina começa uma trilha de beijos pelo abdômen do rapaz, arranhando-o durante o processo. A pele gélida de era simplesmente o paraíso para . Ele possuía um gosto delicioso, o qual jamais deixaria sua memória. Ela só desejava beijar, morder, chupar cada área que pudesse, da maneira mais prazerosa que conseguisse.
Seus lábios passam a descer ainda mais, roçando-se em sua deliciosa pele, formando um trajeto por seu tronco, onde, ao chegar na área abaixo de seu umbigo, ela volta a subir. Suas unhas não hesitavam em arranhar cada lugar que pudesse. Ao voltar para o rosto do homem, fitando-o com todo o seu desejo visível em seus olhos, ela apenas sorri. Um sorriso que, ao mesmo tempo em que expressava sua malícia naquele momento, de alguma forma, expressava o sentimento intenso e fervente que sentia por ele, por cada parte dele, sendo interior ou exterior. E ela esperava de verdade que ele compreendesse aquilo.
— Eu nunca quis nada nesse mundo da forma que quero você. — ele confessa rouco, a voz saindo sofrida.
Palavras já não eram mais necessárias a partir dali.
Em uma sincronia perfeita, quase como se houvessem ensaiado, as peças restantes que tampavam seus corpos foram retiradas. reverteu as posições, penetrando-a de uma vez.
Eles gemeram juntos.
entrelaçou seus dedos nos do rapaz, um ato tão singelo, mas de certa forma significativo. Demonstrava cumplicidade, um ato de pureza em meio a um ato pecaminoso.
a penetrava com a força característica dele, saindo dela por inteiro antes de invadi-la novamente. gemia, completamente à mercê das ações do homem. Ele metia forte, mas ainda com cuidado. Suas ações demonstravam a devoção de seus atos, a forma a qual ele queria acima de tudo demonstrar a Daurat o quão apaixonado ele era e o quão doloroso seria vê-la partir, por mais que eles não tivessem escolha.
Eles nunca tinham.
aumentou o ritmo das investidas, puxando-a contra ele pela cintura, e bastou que o acompanhasse nos movimentos algumas vezes e gemesse alto com o prazer do orgasmo para que se derramasse de vez dentro dela.
Os olhares estavam cravados um no outro, as respirações ofegantes se misturando.
Desejo.
Paixão.
Amor...?
a abraçou apertado, segurando-a com força contra seu corpo.
A menina o abraçou de volta.
Ele temia cada vez mais a hora em que a veria partir.
Ela só tinha uma coisa em mente: enquanto tivesse consigo ela não iria para lugar nenhum.
Capítulo 32
“Ele segura meu corpo em seus braços
Ele não queria me fazer nenhum mal
E ele me segura apertado
Ah, ele fez tudo para me poupar das coisas horríveis que a vida traria
E ele chora e chora
Eu sei que ele sabe estar me matando por misericórdia”
sempre amou ler. Mergulhar nas páginas de livros sempre fora seu hobbie predileto, entrar de cabeça na história e viver aquilo que os personagens viviam era simplesmente a melhor sensação a qual poderia experimentar.
Começara a ler com quatro anos, logo após entrar na escolinha. Jacques Daurat a flagrou com uma bíblia sagrada em mãos, balbuciando pausadamente a palavra “anjo”, tentando soletrar para o pai em seguida. Aos oito anos, lançado o último filme da saga Harry Potter, a menina decidiu ler os livros e a partir daí não parou mais. Ficção. Aventura. Fantasia. Nada de romance, pois para a criança o romance poderia ser algo passageiro na história, mencionado poucas vezes ao decorrer dela, nunca sendo o ponto principal. A partir dos doze seu gosto se tornou mais rebuscado, pois os questionamentos acerca do que lhe rodeava vieram. Tinha idade o suficiente para compreender o mal que havia feito a sua família. A culpa devido a morte do pai pesava em seus ombros, episódios depressivos apareceram e a autodepreciação fora inevitável. Nietzsche e Schopenhauer enchiam sua estante com suas obras, consequentemente enchendo sua cabeça com seus ideais. O suicídio fora cogitado. Mas surpreendentemente os dois filósofos autores dos pensamentos mais pessimistas os quais já havia visto a ajudaram a passar por isso. A compreender. Ambos os filósofos tinham ideias distintas a respeito do suicídio. Nietzsche propunha que é preciso sofrer para superar. Já Schopenhauer dizia que o sofrimento deveria tirar de nós toda a vontade de viver (pois essa é sua utilidade). Só deixando de desejar a vida e as coisas, deixaremos de sofrer. No auge de sua adolescência preferia crer mais nas palavras de Schopenhauer.
Não desejar mais nada, desistir completamente da vida... E assim deixar de sofrer. Foi o que ela fez.
Atualmente a jovem preferia crer na filosofia de Nietzsche. Sofrer para superar, e assim, seguir em frente.
Aos quinze anos a garota rendeu-se aos livros de romance — e eróticos —. Lia as histórias com devoção, imaginando-se no lugar das personagens e desejando fortemente que aquilo um dia acontecesse com ela. A fase de sua vida estava favorável para tal. Conheceu um garoto, o primeiro o qual havia se aproximado dela sem a achar uma completa esquisita — como os colegas de sala costumavam dizer ao mencioná-la —. Ela se apaixonou e teve seu coração partido por ele. Ele a entitulou um ser asqueroso e estranho depois disso. E aquilo doeu muito, chorou como se não houvesse amanhã. Típica experiência adolescente que a ajudaria a amadurecer.
E ajudou.
Desde tal experiência não havia mais se aproximado de qualquer pessoa do sexo oposto. Até cogitou a ideia de gostar de garotas, mas percebeu que não se sentia atraída por elas. E então deixou seus questionamentos acerca de sexualidade e libido para trás, pois sabia que não teria que lidar mais com isso... Inocente engano. Ao completar seus dezessete anos e partir para Mysthical, tudo mudou.
E ali estava ela. Ao refletir sobre tudo, percebeu que em breve faria um ano que morava naquele lugar. Também havia percebido que estava tão distraída com os mistérios da cidade que não havia lido quase nenhum livro durante o ano. Apenas um, o qual o autor era seu pai: “Mysthical: a cidade e seus segredos”. Ao ler novamente, percebeu as pistas que ele deixou nas entrelinhas, sempre sugerindo dicas sobre as partes mágicas da cidade; sobre a enorme imensidão de mistérios inexplorados, convidando quem lesse a desvendar.
não sabia se isso era possível, mas passou a amar mais seu pai depois de ler o livro.
E agora ela tinha ele em mãos, passando os dedos suavemente pela imagem do pai em cima da breve biografia, desejando com todas as suas forças que uma mágica fosse feita e ele saísse daquela imagem para abraçá-la e dizer-lhe que estava tudo bem.
Não estava. Porém estava ficando muito boa em fingir que sim.
Fixou seu olhar na cômoda, observando as rosas dadas por há dois dias.
Receber flores é o clichê de romances que, por mais que todos criticassem, bem lá no fundo sempre existiria o impronunciável desejo de recebê-las. Em um mundo de aparências onde o amor é considerado a beira da extinção, receber como presente algo como simples e inesperadas rosas colhidas de um belo jardim era extremamente significativo.
Uma pena que elas em breve murchariam de vez. Já estavam adquirindo a cor amarelada, denunciando que restava pouquíssimo tempo.
A movimentação no castelo de estava a todo vapor pois um certo sentimento de esperança havia impregnado o local. havia feito a última coisa que pensaram que faria: nos últimos dois dias os ataques das criaturas demoníacas haviam sido cessados, dando-os uma estranha trégua para cuidar de seus feridos e resgatar mais pessoas. estava incluído no grupo de resgate, mas isso não o impedia de passar o máximo de tempo possível ao lado de Daurat.
E céus, ele estava fazendo.
sentia que vivia um sonho. Uma realidade utópica, um mundo inventado onde só existia ela e . Só os dois e nada mais. Os últimos dois dias haviam sido de puro carinho e devoção um para o outro, ambas as partes dispostas a mostrar um lado que nunca mostrariam dada a situação. Os escudos estavam abaixados e ambos adentravam o território vizinho, se conhecendo melhor e surpreendentemente se apaixonando cada vez mais.
Dois dias atrás haviam selado o acordo, e logo após transarem, engataram em uma conversa leve e divertida. Uma intimidade que sempre tiveram, mas nunca se sentiram completamente seguros para mostrá-la... Não até aquele momento.
estava agarrada ao corpo nu de , sentindo a si mesma prestes a ronronar diante ao carinho que ele fazia em suas costas.
Ela se sentia extremamente boba... Mas uma boba muito feliz.
— E agora? — ela pergunta em um sussurro rouco.
— O quê? Já quer fazer de novo? — ele rebate, fazendo-a rir.
— Quero, porém mais tarde. — ela murmura. — Estou perguntando o que faremos agora.
afasta levemente a cabeça para olhá-lo nos olhos. já a encarava, um enorme sorriso despontando em seus lábios.
amava aquele sorriso.
— Deveríamos nos pegar, esquentar o clima e trepar de novo.
— Você só pensa nisso?! Estou começando a achar que você gosta mais do que meu corpo pode fazer na hora do sexo do que de mim!
gargalhou diante ao absurdo dito pela mais nova, fazendo-a bater nele com força e lançar-lhe um olhar indignado.
— Por que está rindo? Eu estou certa então? Você só quer transar comigo?! Seu...!
a interrompe, segurando seu rosto e colando seus lábios nos seus. Como de costume a jovem apenas se derrete em seus braços, beijando-o de volta. Ele sorri durante o beijo.
— Depois de tudo o que eu disse você acha mesmo que só quero o seu corpo, princesa? — ele sussurra ao partir o beijo, ainda com a boca contra os lábios da garota.
— Ainda é difícil acreditar que você tenha tanto mau gosto.
riu novamente, afastando-se da jovem e balançando a cabeça em negação ao encará-la. não tinha jeito.
— Me diga o que quer fazer agora e eu te provarei o quanto gosto de você concordando com qualquer merda que propor.
— Vamos brincar de perguntas e respostas! — ela diz animada, fazendo franzir o cenho.
— Perguntas e respostas?
— Isso. Eu te faço uma pergunta e você responde, e daí depois você faz uma pergunta e eu respondo.
— Eu sei o que são perguntas e respostas, não sou estúpido. — ele diz revirando os olhos, fazendo-a mostrar a língua para o rapaz. — Não me mostre essa língua de novo senão eu a arranco. Com os dentes.
— Que horror! Se a intenção foi soar sexy deu totalmente errado, soou mais como um psicopata querendo me desmembrar inteira!
— Cale a boca e comece esse jogo logo.
levanta os braços soltando um grunhido de comemoração. ri, apertando o corpo da jovem com mais força contra o seu. Aquilo a fez sorrir discretamente.
— Certo... Qual é sua cor favorita? — ela pergunta, olhando-o interessada.
— Vermelho.
— Sério? Por quê?
— Porque é a cor do seu sangue. Tão vermelho e quente, uma delícia...
— Que nojo. — faz uma careta. — Estou começando a questionar nosso relacionamento.
— Tarde demais, princesa. Você já está completamente envolvida nas garras desse homem gostoso que vos fala. — ele umedece os lábios enquanto sorria sacana. riu.
— Você é um imbecil. Vai, é sua vez.
entortou os lábios, refletindo sobre o que gostaria de saber. Acabou por dar de ombros, disposto a perguntar qualquer trivialidade:
— Com quantos anos deu seu primeiro beijo?
— Quinze. — responde baixinho. Suas bochechas enrubesceram e achou aquilo adorável.
— Meio tarde para um primeiro beijo.
— É. Minha vez! — a menina se apressa a mudar de assunto e percebeu aquilo com visível interesse. — Você diz que odeia teatro e cinema, por isso que nunca perdeu seu tempo vendo qualquer filme... Mas você gosta de música considerada “atual” para sua idade. Não esqueço de você cantando Glamorous Indie Rock & Roll pra mim, sabia?
— Sério que você ainda lembra disso? — ele pergunta, extremamente sem jeito.
— Claro... Foi incrível. Foi como se Brandon Flowers tivesse vindo até mim fazer um show particular!
— Certo, agora você acabou de inflar meu ego. Creio que ele tenha atravessado o teto, muito obrigado, princesa. — ele ri, fazendo-a rir junto. — Afinal, qual é sua pergunta?
— Se você gosta das músicas atuais por que não dá uma chance para o cinema?
— Só se você me disser que uma banda que eu curto fez uma música para um filme, o que eu acho improvável.
— Meu Deus, ! Tem ZILHÕES de músicas de bandas nas trilhas sonoras dos filmes! Me deixe te mostrar, por favor!
— Está bem! Não precisa surtar! — ele ri.
— Sério?
— Sim.
— Jura?
— Juro.
— De mindinho?
observou o dedo mindinho da jovem levantado por alguns segundos, questionando aquele gesto tão estranho. Deu de ombros, entrelaçando seu mindinho no dela.
— Satisfeita?
— Muito!
As perguntas e respostas continuaram, estas indo de assuntos leves até temas mais pesados (os quais sempre partiam de ). Os dois riam, faziam brincadeiras e se sentiam cada vez mais à vontade na presença um do outro.
— Qual era sua comida favorita quando ainda era vivo? — pergunta após um ataque de risos que teve devido a uma das palhaçadas de .
— Doces. Havia três coisas que faziam minha existência valer a pena: doces, rosas e minha mãe.
— Isso é adorável! — sorri abobalhada. sorri junto ao ver aquele lindo sorriso.
— Hoje isso mudou. — ele diz em um sussurro. — Agora apenas duas coisas fazem com que minha existência valha a pena.
— O que são?
— Minhas rosas... E você.
sentiu o ar lhe faltar e o coração acelerar. Suas bochechas se tornaram rubras. Ela abraça apertado. Não sabia o que dizer e ele muito menos. O rapaz decide apenas a abraçar de volta.
— Que tipo de doces você gostava? — ela pergunta baixinho. Teve que desviar o assunto. Mas não pareceu se incomodar, pois prosseguiu falando.
— Eu amava qualquer tipo de doce! Eu vivia de açúcar. Eu costumava esperar ansiosamente meu irmão trazer diferentes doces quando ele voltava de viagem.
— Isso é muito fofo. — ela confessa com um sorriso maravilhado nos lábios.
— Acho que sim. — ri baixinho. — Wuno ficava uma fera, dizia que me traria vestes novas ou livros, mas é claro que falava da boca pra fora: eu sempre ganhava meus doces.
— Seu irmão e você eram próximos?
— Mais ou menos. Tínhamos uma boa relação quando estávamos longe do meu pai, mas perto dele Wuno era simplesmente um babaca. Sempre quis bancar o machão superior, era bem patético. — estala a língua, dando de ombros. — Mas ele era um bom homem. Wuno estava sempre viajando, mas deu o terrível azar de estar em casa quando esta foi colocada em chamas. Ele deveria ter morrido de velhice, não queimado em um castelo.
— Eu sinto muito, .
— Não sinta. Já faz muito tempo.
— Mas eu sei que ainda dói. — coloca as mãos pequeninas em volta das mãos grandes do mais velho. Apertou-as, um gesto claro de tentar transpassar conforto. sorriu bobo, apreciando com devoção a sua princesa tratando-o com tanto carinho.
— Atualmente eu tenho uma nova comida favorita. — ele diz de súbito.
— Qual?
— Você.
— Você já foi melhor nas cantadas, sabia? — ela diz rindo, dando um tapa no braço do rapaz. — Essas suas cantadas de pedreiro não colam comigo.
— Já usei minhas melhores cantadas para te conquistar, princesa. Não tenho mais nada a perder agora!
— Você é ridículo! Vai, sua vez.
— Hum... — franze o cenho, parecendo refletir. Já havia feito tantas perguntas que estas estavam se tornando escassas. De repente sorriu pervertido, fazendo olhá-lo daquela forma alarmada o qual o divertia imensamente. Ele prosseguiu: — Você prefere gozar nos meus dedos, na minha boca ou no meu pau?
— Ah não, ! — ela praticamente geme frustada, escondendo a cabeça na curva do pescoço do rapaz, fazendo-o rir alto.
— O que eu fiz? O jogo é de perguntas e respostas. Eu fiz perguntas parecidas hoje.
— Todas apenas com leve teor sexual! Você acabou de dizer algo completamente explícito que me deixa morta de vergonha! Eu te odeio!
A voz dela soa abafada devido ao fato de estar com os lábios encostados no pescoço do rapaz e aquilo fez com que ele se arrepiasse. sorri torto, a puxando para que olhasse em seus olhos.
— Dedos, boca ou pau? — ele repete, a voz soando rouca.
perdeu o fôlego, mordendo os lábios com força. Mas ela não desviou o olhar.
— Os três. — ela responde em um sussurro.
— E quando eu te mordo...? — ele a questiona baixinho, desviando o olhar para os lábios da jovem. — Te faço gozar ainda mais gostoso, não faço?
— Sim.
— E você gosta...?
— Eu amo.
ri pervertido, subitamente afastando seus rostos. grunhe frustrada.
— Sua vez. — ele diz, o sorriso cafajeste ainda presente em seus lábios.
— Quando você se masturbou pela primeira vez? — pergunta, fazendo rir da falha tentativa da jovem de fazer uma pergunta ousada.
— Não é uma história muito agradável.
— Se você não quiser contar...
— Relaxa, eu vou. — dá de ombros, prosseguindo: — Na minha época de adolescente não existiam revistas de pornografia ou esses filmes pornôs estúpidos, afinal nem energia elétrica tínhamos. A diversão dos homens era frequentar bordeis. Os pais costumavam levar os filhos para perder a virgindade lá. Meu pai havia levado meu irmão com esse intuito quando ele era novo, então queria fazer o mesmo comigo.
— E ele fez?!
— Ele tentou... Mas eu chorei para minha mãe implorando para não ir. Eu era muito tímido e a mera possibilidade de ver uma mulher nua me apavorava demais. Meu pai não gostou nada daquilo. — ri sem humor. — Ele achava que eu era homossexual e aquilo o tirava do sério. Ele me bateu muito por não querer ir no bordel e queria a todo custo trazer uma prostituta para o castelo, tentativas impedidas por minha mãe. Enfim. Na época eu havia acabado de conhecer Lauranna, vendo ela na rua com Jacques em um dos meus passeios com Jhotaz. E então, sozinho em meu quarto, eu imaginei Lauranna nua e... Me masturbei. Eu queria provar não apenas para meu pai, mas para mim mesmo que eu era “homem de verdade”. Patético, eu sei. Eu não sou gay, mas se eu fosse, qual seria a porra do problema nisso? Infelizmente os tempos eram outros e tudo era ainda mais distorcido com preconceito e ódio.
— Eu gosto da forma que você pensa. — diz, fazendo sorrir brevemente.
— Ouvir isso me deixa aliviado.
— Como assim?
— Eu acabei de te contar que minha primeira punheta foi aos nove anos pensando na sua mãe biológica e você focou na outra parte do que foi dito. É um alívio! — ele diz em tom brincalhão, mas não o acompanhou na brincadeira.
— Ei! Não é como se você se masturbando pensando em Lauranna me agradasse. — faz careta. — Prefiro ignorar, pois sei que provavelmente sua primeira vez foi com ela.
dá de ombros e apenas o olha com atenção.
— Foi? — ela insiste e ele novamente dá de ombros.
— Sim.
— Ah...
— E a sua?
— O quê?
— Sua primeira vez, oras.
— O que quer dizer? É claro que foi com você.
sentiu todo seu corpo se retesar. Seus olhos se arregalaram e ele sabia que, se estivesse vivo, suas mãos tremeriam e seus lábios secariam de nervosismo.
— , eu estou falando sério.
— E eu também!
— M-mas... Meu Deus, ! Eu te algemei! Eu dei tapas na sua bunda! Eu meti com força demais, e-eu, e-eu... Meu Deus! — ele só conseguia exclamar frustrado, parecendo completamente desesperado. nunca havia o visto assim.
— Verdade... Sempre me disseram que a primeira vez doía, mas a dor que eu senti com você foi muito, mas muito forte. Me machucou toda.
— Você tinha que ter me avisado! Meu Deus, eu sou um ser horrível! MEU DEUS!
— ...?
— O QUÊ?!
— É brincadeira...
A gargalhada alta de ecoou pelo quarto, fazendo olhá-la completamente abismado. Ele não entendia qual era a graça naquele momento.
— Como assim “brincadeira”?
— Eu não perdi a virgindade com você, eu já tinha transado antes. — ela ri ainda mais. — Mas confesso que foi muito fofo ver você todo preocupado se sentindo culpado e chamando Deus a cada segundo. Nunca pensei que iria ver isso! Vou lembrar dessa cena para sempre!
— Mas que caralho, princesa! — ele grunhe irritado, fazendo rir mais. — Eu quase morri de novo, garota! Que susto dos infernos! Vai se foder!
A menina apenas ria. Ela se aconchega mais nos braços de , levando os lábios até o pescoço do homem e começando uma trilha de beijos arrastados e carinhosos por aquela região.
— Me perdoa, foi só uma brincadeira inocente... — ela sussurra contra a pele de seu pescoço, fazendo-o se arrepiar.
— Hoje sua boca está completamente determinada a me provocar.
— Você que vê tudo com segundas intenções. — ela retruca.
— Você que faz tudo com segundas intenções e finge inocência. — ele rebate.
— Talvez... — ela sorri sapeca, fazendo-o revirar os olhos, mas acabar por rir.
— Responda minha pergunta, por favor.
se afastou um pouco. Ela engoliu em seco, sentindo-se subitamente nervosa. Não gostava de falar daquilo.
— Eu tenho medo. — ela confessa baixinho. O olhar confuso de se fez presente.
— Medo? Medo de quê?
— De você ouvir essa história e me achar patética.
— ... — ele a chama, seu apelido soando extremamente carinhoso ao ser pronunciado por seus lábios.
— E-eu vou contar. — ela o interrompe, fazendo-o se calar. Respirando fundo, a garota finalmente prossegue: — Eu nunca tive amigos. As pessoas sempre me achavam introvertida demais e consequentemente muito estranha. A morte do meu pai foi um acontecimento conhecido na cidade, então todos da escola sabiam e o pior: suspeitavam que eu havia o matado. Não é deprimente saber que eles estavam certos...? — uma risada sem humor saiu de seus lábios. Ela continua. — Por isso ninguém se aproximava de mim. Eu era conhecida como a menina esquisita que aparentemente havia assassinado o próprio pai... E era horrível. Eu não tinha ninguém... Até que ele apareceu.
— “Ele”?
— Não tem muito o que se falar sobre. Ele era o típico garoto problema do colegial: muitas tatuagens, piercing na boca, roupas pretas e um cigarro sempre fazia presente em seus lábios. Ele era uma cópia barata do Andy Biersack, o vocalista do Black Veil Brides, sabe?
— Essa banda é péssima. — murmura fazendo-a olhar indignada.
— Ei! Eu gosto!
— Duvido que escute as músicas com tanta frequência.
— Bem...
— Foi o que eu pensei.
— Enfim. — ela prossegue, fazendo sorrir por ter deixado-a sem palavras. — Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio ele entrou na escola. Ele já estava no terceiro, mas pelo que eu sabia já era maior de idade pois havia repetido algumas vezes. Ele se aproximou de mim... E eu me encantei. E então ele me beijou... E depois me levou pra cama. Depois de um tempo eu descobri por intermédio de alunos me caçoando que ele havia aceitado uma aposta imbecil, por isso que havia se envolvido comigo. Fui questioná-lo sobre isso e ele deu um escândalo gritando para todos ouvirem o quão estranha e asquerosa eu era. E foi isso.
O rapaz franziu o cenho, completamente intrigado. Como alguém, em sã consciência, seria capaz de rejeitar ? De dizer coisas cruéis a ela como se fossem nada, de machucá-la e fazê-la sofrer... Oh. E foi quando se lembrou da noite anterior. Das palavras duras pronunciadas por ele. É claro que não quis dizer nada do que disse, a ideia era ser grosso para fazer com que se convencesse que precisava partir, mas mesmo assim se sentiu péssimo ao perceber que teve uma atitude tão semelhante a de um adolescente estúpido.
— Me desculpe, está bem? — ele diz baixinho, fazendo-a franzir o cenho em confusão.
— Desculpar pelo quê?
— Por tudo. Por todas as vezes que eu fui imbecil com minhas palavras ridículas, todas as vezes que cuspi mentiras como autodefesa.
— Eu também te disse coisas cruéis. Muito mais cruéis, se lembra? E também eram mentiras como autodefesa. Você é incrível e me faz muito bem. Não ouse pedir desculpas quando não há nada pelo que se desculpar.
— Mas...
— . Eu já te disse coisas tão horríveis, já te magoei tanto e você simplesmente continua aqui, me tratando da melhor forma possível... Pare de se culpar, está bem?
— Certo... Eu só odiei me identificar com esse babaca que te fez sofrer.
— Foi apenas uma decepção adolescente, . Não há nada de semelhante nas situações.
— Roupas pretas, tatuagens... Existem semelhanças, sim. Só não digo que sou parecido com o Andy Biersack pois não tem absolutamente nada a ver, já que sou infinitamente mais bonito que aquele cara.
— E infinitamente mais velho também. Uns duzentos anos mais velho, talvez?
— Engraçadinha.
ri alto e subitamente a cala com um beijo. Ele a deita completamente na cama, passando suas mãos firmes pelo corpo macio e nu da garota. Aquilo foi o suficiente para acender a chama em seu ser. A menina aperta as pernas uma na outra, sentindo a excitação se fazer presente. sorri de forma suja durante o beijo. Os dedos do rapaz migraram até a intimidade da jovem, começando a acariciá-la ali lentamente, provocando sua passagem sem ousar penetrá-la. subitamente parte o beijo, arfando alto em seguida.
— ... — ela diz manhosa.
— Você é a garota mais gostosa, linda, poderosa e incrível que eu já conheci em toda minha existência. — a testa do rapaz tocou a de enquanto seu polegar começou a massagear seu clitóris. — Nunca mais deixe com que qualquer pessoa te subestime, . Você é perfeita.
arfa. Dois dedos de finalmente a penetraram, se curvando um pouco para acariciar sua parede interna, começando a acelerar seus toques.
— Tão quente, tão molhada... Não vejo a hora de te foder de novo.
A garota o segura com força pelo braço, fincando suas unhas ali. apenas a encara, os olhos escurecidos em luxúria.
— Você irá me foder com os dedos, com o pau e com a boca... E morder as partes mais quentes do meu corpo. Chupar meu sangue e se deleitar lentamente com ele enquanto nós dois gozamos juntos... — ela diz em um tom extremamente autoritário e envolvente. Seus olhos se tornaram duas órbitas negras. ficou instantaneamente duro.
— Seu desejo é uma ordem, minha princesa.
Os lábios de se abriram em um sorriso tímido ao recordar-se de como aquele dia havia acabado. Um arrepio crescente percorreu seu corpo, fazendo-a balançar a cabeça em negação a fim de afastar os pensamentos impuros.
Voltou-se para o livro em seu colo. Seus dedos ainda contornavam a foto de Jacques. Seu pai. Seu único pai. Pelo menos era o que a jovem continuava repetindo em sua mente.
— Me pergunto se você aprovaria o que está acontecendo... — ela sussurra para a foto do mais velho. — Tanta coisa aconteceu e eu já não sou mais sua garotinha... Acho que me tornei uma garota meio suja, não? Será que você sentiria nojo de mim...? — ela engole em seco. — não é ruim como parece. Eu não posso afirmar para você que ele é um ser extremamente bondoso, pois estarei mentindo. Ele tem uma parte sombria. Ele mata sem escrúpulos e sente um prazer imenso com o caos... Mas te juro que ele também tem uma parte com luz, esta que sinto no fundo do meu coração que foi feita exclusivamente pra mim. Ele pode ser bruto e às vezes mal-educado, mas ele me trata tão bem na maior parte do tempo... Ele age como se eu fosse um ser raro, como se eu fosse poderosa e única. Como se a minha existência provocasse um grande impacto. me ajudou muito na parte de trabalhar a autoestima, sabe? — ela riu. — É estranho. Eu, uma mera adolescente, falando para a foto de meu falecido pai que um vampiro me ajudou no meu processo de amor próprio. Estou ficando louca.
finalmente deixa o livro na cama, se levantando. Ela deveria ir atrás de Lara para saber o que a garotinha estava aprontando.
Foi quando um baque surdo ecoou pelo quarto, fazendo pular de susto. A garota se vira novamente para a cama, enfim vendo seu livro aberto e caído ao chão. Ela prontamente o pega, sentindo-se muito mal com seu descuido. Ela jurava que tinha deixado bem longe da beira da cama, como o livro pôde ter caído?
estava prestes a fechá-lo quando uma imagem do livro lhe chamou atenção. Era a primeira vez que a via, poderia jurar que a mesma não estava no livro nas vezes que o leu. Aquela página era completamente nova.
— Mas o que é isso...? — ela sussurra, começando a analisar a imagem que ali havia e em seguida a ler o conteúdo escrito debaixo dela.
E foi quando compreendeu.
A garota quis rir. Quis chorar. Quis gargalhar diante ao que estava lendo, mas ao mesmo tempo deixar as lágrimas banharem seus olhos. Tudo ao mesmo tempo. No livro havia uma imagem preto e branco de um ser humanoide careca, este que usava uma enorme capa preta e pontuda. Em seus lábios era possível ver as finas presas brilhando. Ele era um vampiro. E logo abaixo havia curiosidades a respeito de tais criaturas, mas apenas uma lhe chamou atenção:
“Criaturas da noite são traiçoeiras, mas isso não as retira sua aparência atrativa. Damas de todos os lados sucumbiram ao desejo de permitirem-lhes que provassem sua carne com as afiadas presas, e assim deleitarem-se com seu fluído vital. Outras foram além: imploravam para serem desvirtuadas por tais criaturas. Depois do ato alegavam que havia um bebê em seu ventre e com isso se iniciaria a gestação de um suposto anticristo. Um claro equívoco, afinal a infecção demoníaca os deixa estéreis. Por isso, tal afirmação partida de tais damas é INADMISSÍVEL, afinal, tais criaturas NÃO PODEM procriar.”
Estava ali, escrito com todas as letras, exatamente o livro o qual seu pai havia escrito. As palavras de seu pai ecoavam em sua mente, deixando-a completamente aliviada. Um enorme peso foi retirado de seus ombros. Porém não pôde deixar de se questionar: se não era seu pai, por que Lauranna inventaria tal mentira? Jogos psicológicos a divertiam, mas este em específico não fazia sentido. Quando Melissa mostrou sua lembrança para e a jovem viu Lauranna aos prantos enquanto contava a irmã de sua paternidade ela não pareceu estar mentindo. Lauranna parecia tão sincera, tão vulnerável e transparente como nunca esteve antes. Ela tinha tanta certeza em suas palavras que não acreditar nelas seria tolice.
Mas pelo jeito estava enganada. não era filha de . Aquilo era impossível.
E é claro que ele sabia. Pequenos comentários como “pesquise sobre vampiros, princesa” saíam de sua boca. Palavras estas que foram facilmente ignoradas e jogadas no lixo por . Estava tão cega, tão apavorada diante a todas as descobertas que não havia percebido que talvez nem tudo fosse verdade.
— Toc, toc. — Lara adentra o quarto, andando saltitante pelo cômodo. — Nossa, que cara é essa? Parece que viu um fantasma.
— não é meu pai. — disse em um sussurro.
— O quê? Eu não ouvi nada.
— não é meu pai!
— SÉRIO? — a menina pergunta animada.
— Sim!
— Só que eu já sabia. — Lara revirou os olhos, substituindo sua animação por tédio.
— Como assim?
— Ele é um vampiro, . UM VAMPIRÃO BONITÃO! E ele te beija! É claro que ele não é seu pai!
— Mas...
— Como você finalmente descobriu?
olhou novamente para o livro em suas mãos. Suspirou, entregando-o para Lara. A menininha forçou a visão, lendo o que estava escrito ali.
— Você está com problemas de vista?
— Acho que sim... Você tem que marcar um médico de olho pra mim.
— Oftalmologista, Lara. — corrige rindo levemente. Lara dá de ombros. — Quando tudo isso acabar vou te marcar uma consulta.
— Tá, tanto faz. — Lara devolve o livro para . — Você leu esse livro umas mil vezes. Como não percebeu essa parte antes?
— Essa é a questão: ela não estava aqui antes! Ela apareceu do nada!
— Como?
— Eu estava conversando com a foto do papai e...
— Espera, você estava conversando com uma foto do papai?
— Eu sei que é estranho...
— Não, ! Talvez papai tenha te ouvido. Seja lá onde ele esteja ele te ouviu e quis te mandar um sinal. Ele quer você e juntos!
— Isso é impossível, Lara. — solta um muxoxo.
— Pois eu não acho! E se papai aprovou, eu também aprovo. — Lara sorri. — Eu sempre aprovei, na verdade! E é por isso que tenho um presente pra você.
— Um presente?
Lara caminha para o outro lado do quarto, onde se localizava uma cômoda antiga de madeira. Ela abre uma das gavetas, retirando dela um objeto o qual só pôde ver com atenção quando a mais nova voltou a se aproximar.
A caixinha dourada brilhava. engoliu em seco.
— Por que está com isso?
— É seu. — Lara diz em tom óbvio. — deu a você.
— Mas eu recusei...
— Não importa. Eu consigo ler o que ele sente. Se não for seu não será de mais ninguém.
— Lara...
— Nós temos pouco tempo. — a menininha diz impaciente. — Pegue ou deixe. A decisão é sua.
Lara depositou a caixa em cima da cama, saindo em disparada pela porta do quarto em seguida. suspirou, voltando seu olhar para o móvel e fixando suas íris cinza na caixinha.
Em breve ela partiria. Deixaria aquela cidade para trás de uma vez por todas e viveria plenamente com a sua irmãzinha. Não havia nada mais maravilhoso que aquele pensamento, então por que não conseguia se sentir feliz? sabia a resposta. Porém situações extremas requerem medidas extremas. É claro que ela se sentia culpada, planejando tão covardemente dar as costas a cidade que supostamente só poderia ser salva por ela (isso segundo a Haniel). Mas não havia nada a fazer sobre isso. deixou tão claro como água: ou ela permaneceria em Mysthical e correria ainda mais perigo, ou simplesmente deveria partir. Tais opções soaram de outra forma na cabeça da jovem: era a segurança de Mysthical ou a segurança de Lara. E não haviam dúvidas: Lara era sua prioridade. Lara era tudo o que importava para si.
E então havia .
Ele havia lhe dito que atualmente haviam duas coisas as quais ele acreditava fazer sua existência valer a pena: suas rosas e .
também tinha motivos que faziam o ato de viver uma tarefa mais prazeirosa, uma ação que a contemplava. Por mais que a apavorasse era extremamente fácil para ela enumerar tais motivos:
Música.
Livros.
Lara.
... .
A patrulha da manhã costumava ser particularmente a mais infernal para . Kyle não participava devido à luz do dia, o que era realmente uma pena, afinal a presença do amigo costumava deixar o ambiente o qual estava menos insuportável.
sempre tomava a linha de frente, sendo seguidos por Jhotaz, Victor e as caçadoras. Quando Jhotaz havia decretado que deveria os guiar nas missões de resgate, Gainy havia ficado furiosa. A mulher se achava muito mais capaz que e simplesmente não conseguia entender como alguém em sã consciência poderia obedecer aos comandos do vampiro por conta própria.
— Você ainda sente alguma vida...? — perguntou para Jhotaz.
O homem suspirou, abaixando a cabeça. Estavam passando pelo território da escola, o qual estava ainda mais cheio de corpos inertes de crianças e adolescentes por sua extensão. Corpos mutilados, abertos e desmembrados. Os órgãos saíam para fora, alguns pedaços deles jogados na grama alta parecendo mastigados pela metade, prestes a apodrecer. Uma paisagem terrível digna de filmes de terror.
— Aqui não. — ele diz em tom baixo. — Todas essas crianças se foram.
Um silêncio sepulcral se instala entre os presentes. Parecia correto diante a tantos cadáveres de crianças as quais não tinham culpa de absolutamente nada.
Jhotaz começou a chorar. Se sentia tão imponente, tão inútil. Jacques deveria estar ali. Jacques teria evitado tudo isso, Jacques seria sensato o suficiente para colocar a cidade nos eixos e ser um bom líder. Jhotaz não era como ele e nunca seria.
— A culpa não é sua. — a voz doce de Gainy corta o silêncio do ambiente. Ela se aproxima de Jhotaz, tocando em seu ombro. Ele fecha os olhos. Sentia falta dela. Jhotaz cultivava sentimentos intensos pela caçadora.
— Eu sou o líder desse lugar, eu deveria protegê-los e eu... Eu falhei. Se ao menos Jacques estivesse aqui...
— Vamos embora. — anuncia, fazendo todos olhá-lo com atenção.
— Pensei que hoje iríamos além do território escolar, para aproveitar que as criaturas demoníacas aparentemente nos deram uma trégua. — Victor diz.
— Pensou errado. Creio que ninguém aqui esteja com o psicológico suficientemente estável para enfrentar mais ruas repletas de corpos. Voltaremos para o castelo.
Nenhum dos presentes foi capaz de retrucar, pois estava certo. Todos haviam ficado suficientemente perturbados com a quantidade de corpos infantis desfigurados. Corpos inocentes de crianças que poderiam ter tido um futuro brilhante e cheio de possibilidades incríveis. Aquilo era muito triste.
Ao adentrarem os portões do castelo e enfim chegarem às enormes portas de madeira envelhecidas, parou. Os outros presentes não haviam percebido sua parada súbita, adentrando o castelo e fechando a porta, consequentemente deixando-o para trás.
O homem deu meia volta. Um cheiro familiar havia impregnado suas narinas, um cheiro extremamente encantador o qual já havia sentido antes, mas não conseguia se lembrar de quando. Andou apressado até os fundos do castelo, chegando ao seu jardim.
— Oh, . Não esperava você aqui.
Lauranna Daurat caminhava tranquilamente pelo jardim de flores de . Ela as tocava com falso carinho, os olhos brilhando em uma admiração que sabia ser inexistente. Ela estava nua. Os peitos fartos balançavam enquanto andava, as curvas sinuosas seriam capazes de fascinar quem as visse. O homem deixou-se varrer o corpo da mulher sem quaisquer censura, sentindo uma sensação terrível de enjoo tomar-lhe o estômago.
também estava. Parado. Quieto. Uma presença completamente insignificante aos olhos de Lauranna. quase sentiu pena. Quase.
— Gosta do quê vê? — ela se pronuncia novamente, andando devagar até que estivesse em frente ao rapaz. Seus cabelos loiros caíam em cascatas pelos ombros, roçando em seus seios nus e arrepiando-os com o toque.
— Um dia eu gostei. — ele admite, a expressão impassível. — Agora eu me sinto completamente indiferente.
— Indiferente? — a mulher pergunta em tom debochado. — Você se recorda do que meu corpo pode fazer, ... A forma que ele deixa o seu. Eu te aquecia, não aquecia?
— Uma mera faísca fraca e sem graça comparada ao incêndio colossal que provoca em mim. — ele sorri. Provocar Lauranna era imensamente prazeroso e ele não se conteria com isso.
A dor da rejeição apertou o peito da mulher. Ela fitou profundamente os olhos do rapaz e sentiu seu corpo começar a tremer. A devoção que ele sentia por ela não estava mais ali. O carinho, o afeto, a admiração... Aqueles olhos tão belos os quais Lauranna costumava amar quando direcionados a si estavam completamente indiferentes.
— não é como eu.
— Definitivamente não. Ela é muito melhor.
Um brilho. Um brilho devoto, um brilho apaixonado. Ele só aparecia nas íris do vampiro quando ele dizia algo relacionado a maldita bastarda a qual Lauranna havia dado à luz.
— Ela é sua filha. — ela diz com a voz trêmula. — Ela foi o fruto de nosso amor...
— Minha filha? Fruto do nosso amor? — solta uma gargalhada debochada, fazendo a mulher se encolher. — Não seja estúpida.
— Mas... V-você me ama. — Lauranna disse em um sussurro. Ela parecia transtornada.
— Não, não amo. — a firmeza com a qual pronunciava aquilo. Seus olhos indiferentes, a expressão impassível... Lauranna estava sentindo a si mesma ruir a cada segundo.
— ...
Ela ameaça tocar no rosto do homem. As mãos de prontamente a deteram, as unhas transformadas nas garras curvadas fazendo-se presentes. Ele as finca na pele da mão delicada da mulher, penetrando-a, rasgando-a. Ela gemeu de dor. Seus olhos marejavam.
— Você não merece ser amada. — ele diz em um sussurro rouco.
— Outros me amaram. — ela rebate, também sussurrando. — Jacques. Jhotaz. . Por que você não?
— Porque você não é ela.
Lauranna começara a chorar a ponto de soluçar. Toda vulnerabilidade que pensou que nunca mais teria estava estampada ali. Levou as mãos ao rosto, sentindo sua mão perfurada pelas garras de pingar sangue. Uma gota caiu na palma do rapaz. O sangue era negro. franziu o nariz em desgosto.
— O sangue de é vermelho e fresco. — ele diz, enquanto analisava o sangue de Lauranna. — O seu é negro e gosmento. É repugnante.
— Ela não é melhor que eu, ela não é melhor que eu... — a mulher sussurrava por entre as lágrimas. — Somos mãe e filha, como diabos aquela bastarda pode ser melhor que eu?!
— As trevas sucumbiram seu corpo, Lauranna. Venerar as trevas mais que a luz dá nisso.
— me queria exatamente por causa de meu sangue mestiço... E eu já não o tenho mais.
— Você é inútil agora. é tudo o que importa. — diz enquanto fazia menção de partir, sendo segurado pelas mãos pegajosas de Lauranna Daurat.
— Eu te amo. — ela grunhe, caindo de joelhos. — EU TE AMO! VOCÊ É O PAI DE MINHA FILHA! NÃO ME DEIXE POR ELA, NÃO FAÇA ISSO!
riu sem humor, surpreso diante a atitude da mulher. Nunca havia imaginado que ela seria capaz de fazer uma cena daquelas. Pensou em seu antigo eu e no quão emocionado ele ficaria com aquele gesto. Sempre fora ele quem implorava pela afeição de Lauranna, nunca o oposto. Vê-la se humilhando por causa dele o fazia sentir algo estranhamente prazeroso.
Ele queria vê-la sofrer. Queria vê-la se desfazer em mil pedaços e nunca mais conseguir reconstruir a si mesma novamente.
— Me solte. — ele disse de forma amigável.
— N-não.
a empurrou com tanta força que a mulher caiu para trás. Seu belo corpo sujou-se inteiramente com a grama. lhe deu as costas. Ela gritou em agonia. , que se mantinha imóvel até o momento, prontamente se aproximou da mulher, segurando-a pelo braço.
— VOLTE AQUI! NÃO VÁ ATÉ ELA! — ela berrava.
não lhe dava ouvidos, apenas continuava andando calmamente até a saída do jardim.
— EU A AMALDIÇOEI! ELA IRÁ MORRER!
O vampiro fingiu que não a escutava, enfim saindo dali.
— Não tem que se humilhar por ... — sussurra, a voz tentando a todo custo soar baixa e comedida. Ele não queria se exaltar. Toda aquela cena havia doído o suficiente em seu ser.
— Ela irá morrer. — a mulher pronuncia tais palavras com o ódio exibindo-se em sua feição. Havia ignorado as palavras de .
— Pensei que tivéssemos vindo até aqui como forma de redenção.
— Pensou de maneira errada, anjo inútil. Não me importa mais Mysthical, muito menos as criaturas místicas terríveis que aqui habitam, todas elas serão mortas por . Meu objetivo já será alcançado por ele. O imbecil nem ao menos notou que fez todo o trabalho por mim... Em breve eu assumirei tudo. E você me ajudará.
nada disse, apenas assentiu em concordância. O que Lauranna fizesse ele faria sem pestanejar... Pelo menos era o que a cruel mulher deveria pensar.
Ao sair do quarto o qual dividia com , Lara soltou um longo suspiro de alívio. finalmente havia caído em si e percebido o quão absurdo é a constatação de que possa ser seu pai. Aquilo deixava a menininha imensamente feliz, afinal, aquela mentira horrenda os afastavam e a última coisa que ela queria era que a irmã ficasse triste novamente com longe de si. Pelo menos nesses últimos dias que eles tinham juntos, Lara desejava que tudo saísse de forma perfeita. Queria que a irmã beijasse como nos filmes e o fizesse prometer que esperaria por ela. Anos depois quando a cidade estivesse livre de qualquer perigo, as duas voltariam a Mysthical. se encontraria com e o amor que ambos nutriam um pelo outro se reacenderia novamente.
Era adorável ver o mundo na perspectiva de uma criança. Por mais que Lara fosse extremamente madura para a idade, a menininha continuava sendo uma criança pura com a imaginação extremamente fértil. Sua ingenuidade era algo admirável de se ver diante aos tempos de crise.
A menininha resolve descer de escadas, disposta a aproveitar o passeio para explorar um pouco o castelo. Ao tocar suavemente o corrimão, sentiu seus pés tropeçarem um no outro, fazendo-a cair no chão.
— Mas que porcaria! — ela xinga, subitamente arregalando os olhos e levando as mãos à boca, olhando para os dois lados certificando-se de que ninguém tenha a ouvido. Suspirou aliviada ao constatar de que estava sozinha. Lara se levantou, batendo as mãos na própria calça que havia sido suja com folhas.
Folhas...?
A menina olha novamente para o chão, arregalando os olhos ao constatar que já não pisava mais no piso envelhecido do castelo , e sim em folhas apodrecidas.
Ao finalmente levantar a cabeça a menina precisou beliscar a si mesma. De repente já não estavam mais no castelo de . Estava em um lugar que um dia fora inegavelmente belo, mas agora não passava da mais pura destruição, como todo o resto daquela cidade. Era uma espécie de pequeno vale. Haviam várias plantas destroçadas, todas contendo um verde apodrecido. O pequeno lago que se estendia no lugar se encontrava verde e poluído.
— Foi aqui que conheci Linzyne... — Lara sussurra para si mesma, avançando pelo vale.
— Lara! — uma voz fina foi ouvida. Lara subitamente arregala os olhos, observando a figura que vinha em sua direção.
A pequenina fada estava ali, bem mais bela do que se recordava. Linzyne parecia saudável e radiante. A garota correu até Lara, ameaçando abraçá-la.
Lara dá um passo para trás, olhando-a com pânico visível.
— Linzyne...? C-como...?
— Lara! Que bom que você veio até aqui me ver. — Linzyne sorria radiante. A fada tentou novamente uma aproximação, mas Lara se afastou de novo.
— Isso é impossível... Você está morta. — Lara diz em um sussurro torturado.
— Morta? O que quer dizer? Eu estou bem aqui! — Linzyne diz confusa.
— Isso é impossível!
— Lara... — Linzyne se aproximou novamente, subitamente colocando a mão delicada no ombro de Lara. Apertou ali levemente, sorrindo para a jovem. — Eu estou aqui. Sou eu. É real.
— Linzyne...
A menininha subitamente se joga nos braços de Linzyne. A fada a abraça apertado e Lara a abraça de volta com a mesma intensidade.
— Me desculpe por ter te feito correr perigo, eu...
— Você é uma garotinha muito má, Lara.
A voz de Linzyne havia soado completamente diferente. Era profunda e tenebrosa, mas não havia perdido o tom feminino.
— O-o q-quê?
— Eu morri e a culpa foi toda sua. Você sabia que não deveria ir até aquela área proibida do casarão, mas você foi mesmo assim. Me levou até lá e... Eu morri. Veja como eu fiquei, Lara. Veja o que você fez!
Lara começou a chorar. Linzyne estava completamente irreconhecível.
De repente o corpo da fada havia se desconstruído. Era como se o seu cadáver estivesse em sua frente, saudando Lara em seus braços. Linzyne havia sido devorada por Lauranna, então sua aparência era extremamente assustadora e doentia.
— Me desculpa!
— Desculpar...? — Linzyne ri rouca. — Oh, minha querida, desculpas são completamente em vão agora. Vingança é o que deve ser feito. A lei do retorno é real, Lara... Você foi muito má e fez com que eu ficasse dessa forma. Eu irei fazer com que sofra o que eu sofri.
De repente a boca da fada se abriu, aumentando gradativamente de tamanho. Seus dentes se tornaram afiados e podres, um cheiro terrível de enxofre emanava de seu hálito.
A criatura deformada a qual havia se transformado Linzyne estava prestes a devorar sua cabeça.
Lara gritou.
A criatura de repente fora fortemente jogada ao chão. Lara foi solta, caindo em meio às folhas.
.
— MORRA! EU QUERO QUE VOCÊ MORRA! — berrava, lágrimas caindo em cascatas por seus olhos enquanto ele socava com força a criatura. Lara apenas via batendo em Linzyne, mas o vampiro via algo completamente diferente.
A criatura a qual ele batia com força e com tanto ódio era seu pai. Ele apenas enxergava o velho gordo e nojento o qual fez de sua vida um inferno.
— MARICAS INÚTIL! — o homem cuspia as palavras embaixo de . — VOCÊ ME ENVERGONHA!
— , não!
subitamente parou. Seu pai havia desaparecido. Ele olhava para uma figura em sua frente.
Havia ali parada na frente de uma mulher muito bela e elegante. Tinha longos cabelos negros, os olhos pequenos e estreitos e o nariz pequeno e arrebitado.
— Mãe. — diz em um sussurro.
— Meu ... Seu pai está certo. Eu não deveria ter lhe mimado tanto, te transformado em uma mulherzinha! — a mulher chorava aos prantos.
— M-mãe... M-me p-perdoa e-eu...
— Você tem que ser punido, . — a voz da mulher se tornou rouca. — Você foi um garoto muito, muito mal.
gritou.
Foi quando subitamente sua mãe sumiu e consequentemente todo o resto também.
se levantou, desnorteado.
E ali estava Lara. Ela tinha sangue negro nas mãos. Ela não chorava mais. Ela havia apunhalado a criatura pelas costas. Ao olhar para o chão, viu: havia um grotesco ser humanoide cinza, com chifres salientes e a boca aberta. Sua cabeça estava aberta e saía um nojento pus negro dali.
respirou ofegante, fitando o ser asqueroso o qual jazia aparentemente morto no chão.
— Como fez isso...? — ele a questiona.
— Eu não sei. Eu só... Fiz. — ela responde em um sussurro.
Silêncio. O ambiente se tornou pesado, completamente carregado com o sentimento terrível de que estavam cada vez mais próximos do fim.
— Esse é Mormo. É o demônio responsável por castigar crianças desobedientes com crueldade. Ele é um demônio de alta batente. — diz. — Como...? Como ele entrou aqui?!— parecia verdadeiramente confuso. Lara se aproximou, abraçando-o de lado.
— O que ele fez conosco...?
— Ele recriou situações da nossa infância as quais sentimos culpa. — fecha os olhos fortemente. — Demônios de alta batente são terríveis. Eles são capazes de enlouquecer qualquer um com esse maldito terror psicológico.
— Isso é loucura. — Lara murmura. — Como estamos na floresta de Linzyne se estávamos no seu castelo?
— É uma ilusão. Alguém está manipulando nossa realidade. — grunhe. — Chegou a hora de partir, Lara.
— Agora?
— Sim. Vamos.
— Mas... Como vamos voltar para o castelo?! Temos que buscar !
— Nós estamos nele. Essa floresta não é real. Venha, vamos avisar .
Melissa Daurat ainda não havia visto sua irmã. A coragem de se encontrar cara a cara com Lauranna era quase inexistente, e levando em conta o fato de que a horrenda mulher não veio ao seu encontro, Melissa acreditou que ela pensava o mesmo. Doía, de certa forma. O coração de Melissa guardava uma enorme mágoa da irmã, porém uma parte da mulher não poderia negar: ela era sua última parente. Uma parte de si que por mais que quisesse negar a via como sua família. Melissa amava suas filhas (ou melhor: sua filha e sua sobrinha), mas elas já não eram sua família. A viúva havia as perdido muito tempo atrás, mais especificamente quando renegou por algo que não era sua culpa. Melissa sentia certa inveja. havia se tornado a mãe que Lara merecia, e aquilo a deixava um tanto desgostosa. Era como se Lauranna tivesse tomado algo que era dela de novo, porém usando sua filha para tal.
— Quando tudo isso acabar eu levarei Lara comigo. — Melissa corta o silêncio, enquanto prosseguia costurando o joelho de um dos pacientes do enorme hall do castelo.
passava o pano úmido pela testa do garotinho deitado na maca. A garota desviou o olhar para a mulher, arqueando a sobrancelha com certo deboche.
— provavelmente ficará em Mysthical. — Melissa afirma, parecendo querer se explicar para . — É evidente que ela tomará o lugar de Jhotaz e assumirá a liderança da cidade. Eu e Lara iremos para bem longe... Talvez devêssemos viajar o mundo. Aposto que ela se divertiria muito comigo.
franze o cenho em desgosto. A garota odiava a forma egoísta e arrogante a qual Melissa Daurat agia, e odiava ainda mais o fato da mulher desprezar tanto .
— Ei, vocês duas: menos conversa e mais trabalho!
A voz autoritária de Gainy soa. A garota adentra o hall acompanhada de suas caçadoras. Jhotaz e Victor vinham logo atrás.
— Quer mandar em nós agora, garotinha?! — Melissa diz em tom ultrajado.
— Estamos em um cenário de guerra. O mínimo que se espera em nossa equipe médica é que ela seja eficiente.
— Somos muito eficientes, afinal sou eu quem coordena as coisas por aqui. E você? Acabou de voltar de uma patrulha, certo...? Mas pelo que eu saiba não é você quem as coordena. — Melissa faz uma pausa, rindo em escárnio. — Jhotaz não confia em você o suficiente para isso.
— Melissa, pelo amor de Deus! Cale a boca! — Jhotaz ralha com a mulher.
— Não precisa ser tão cruel, Melissa. — Victor diz, olhando-a com desaprovação.
— Não. Eu não ligo. — Gainy se pronuncia.
Gainy a encarou sem expressão. A pose autoritária. Superioridade. A mulher sempre manteve sua visão de que, independente de qualquer coisa, ela era uma mulher forte e destemida que conseguiria passar por cima de qualquer dificuldade. Como uma rocha aparentemente impenetrável e inabalável. Mas só aparentemente. As escuras olheiras, a expressão cansada, a falta de brilho no olhar... Gainy estava destruída, tentando a todo custo juntar seus caquinhos a fim de fazer aquilo que achava correto. Seu único objetivo de vida era proteger tanto as criaturas místicas quanto às mundanas das ameaças que viriam. Como a xerife da cidade e uma caçadora, este sempre fora seu papel. Mas nos últimos tempos as coisas simplesmente saíram do controle. Tudo começara com os meses terríveis que passou em cativeiro sofrendo abusos de e Yan, e agora estava ali, lutando com seus últimos fios de força antes da destruição iminente da cidade.
Ela amava Jhotaz Daurat. Jhotaz tinha sentimentos fortes por ela, mas não era amor. Gainy sabia, ela sempre soube. Seu amor por Jhotaz a deixava fraca, vulnerável e completamente cega de ódio diante determinadas coisas. Uma delas era . O vampiro cruel, inescrupuloso e nojento que tinha todo o prestígio que Gainy deveria ter. Ele tinha a confiança cega de Jhotaz Daurat e ela o odiava tanto por isso, mas tanto... Ele era um criminoso! Como Jhotaz não enxergava isso? Mas Jhotaz não enxergava muitas coisas. Isso explicava o amor incondicional do homem por Lauranna.
Engoliu em seco. Odiava pensar nisso. Odiava simplesmente pensar em qualquer coisa relacionada a sentimentos, pois sentia que poderia surtar a qualquer momento. Virou-se novamente para Melissa, disposta a responder-lhe qualquer coisa malcriada que calaria a boca daquela velha enxerida, mas se calou. Um choro alto a distrai, fazendo-a se virar para o menino que elas tratavam.
O menininho chorava baixinho, parecendo muito assustado.
— Nós vamos todos morrer. — ele sussurrava. — Você vai morrer, eu vou morrer, todos vão morrer.
Gainy sentiu um frio em sua espinha. O menininho que e Melissa cuidavam parecia tão urgente em suas palavras, como se estivessem profetizando o inevitável. Gainy lembrou-se dele e tentou a todo custo compreender o desespero do garotinho: ele havia sido resgatado na área escolar dias atrás, havia visto os corpos de seus colegas completamente inertes e desfigurados, é claro que ele deveria estar assustado. Mas as palavras dele continham tanta firmeza e convicção, como se ele soubesse que a qualquer momento tudo acabaria.
— Cante para ele, . — a voz de Melissa ordena a .
A ruiva olhou para Melissa, assentindo lentamente com a cabeça. Começara uma cantoria baixa e suave com o intuito de acalmá-lo. O choro do menino se intensificou. Gainy franziu o cenho, fitando-o em completa confusão.
— O que foi? — Gainy o questiona, se aproximando do rapaz. — Por que está tão assustado...? Você está seguro aqui.
— Todos morrerão. — ele responde em um choramingo.
— Ei, calma... Os ataques pararam por enquanto. Ninguém morrerá.
— Algo ruim vai acontecer. Algo grande.
— Nada acontecerá! Fique calmo, por favor. — Gainy parecia estar cada vez mais impaciente.
— Já está acontecendo. — o menininho sussurra.
De repente eles já não estavam mais no hall de entrada do castelo. Brisa fresca, areia fofa em contato com seus pés, o som suave do bater das ondas. O oceano se estendia a sua frente, com uma coloração tão profundamente azul e cristalina, a água parecia inexplicavelmente mágica. A realidade estava sendo manipulada novamente.
— É meu lar. — sussurra. A voz soou rouca e abafada devido a falta de uso. Ela fitava a paisagem em completo choque.
— . Só pode ser um truque de Lauranna. — Melissa diz com a voz trêmula, sua falta de experiência em magia e misticismo sendo evidente ao afirmar que tudo deveria ter relação à Lauranna.
— Não. É pior. — Gainy sussurra.
As ondas começaram a bater com ainda mais violência contra a areia. A anterior brisa se transformou em uma forte ventania, bagunçando os cabelos das moças e fazendo com que os pacientes que estavam em volta começassem a emitir grunhidos de angústia e medo.
E então a onda veio.
Ela era monstruosa, exatamente como um perfeito tsunami tomando forma. A onda crescia cada vez mais, e pelo decorrer de seu crescimento atingiria 30 metros com facilidade.
— É o fim. — o menininho sussurrou ao lado de Gainy.
A caçadora sentiu seus olhos marejarem. A garganta secou e o pânico se instalou completamente em seu corpo.
Tudo pareceu acontecer em câmera lenta.
Em um segundo estava ali, olhando as feições dos pacientes do hall, expressões de puro medo e terror... E no outro já havia sido empurrada fortemente com a pressão da água, sendo brutalmente jogada no outro lado do ambiente. Sua perna ficou presa embaixo de um objeto de madeira cortado ao meio. Ela quis gritar.
Os — agora ex— sobreviventes debatiam-se nas águas, bolhas saíam de seus lábios enquanto buscavam desesperadamente por ar, mas era em vão: a água adentrava seus pulmões lentamente. Alguns se mantinham imóveis...
Já haviam desistido. Gainy se encaixava no grupo de quem se debatia buscando por ar, sentindo seus pulmões arderem e a vontade de desistir bater em sua porta.
— É terrível, não é? — o menininho sussurra ao seu lado, fazendo Gainy pular de susto.
O garoto estava bem próximo, apoiado na madeira e encarando-a com um sorriso esperto nos lábios. Ele estava agindo como se nada acontecesse a sua volta. Ele tocou o peito da caçadora. De repente ela sentiu o ar adentrar seus pulmões novamente. Ela passou a poder respirar debaixo da água.
— Você é como ?! O que diabos é você?
— Pertenço as águas também. Assumo formas encantadoras que causariam vertigens em qualquer um. — ele ri. — Mas dessa vez resolvi assumir a forma de um mero garotinho, afinal, quem suspeitaria de um menino?
— Faça isso parar, seu desgraçado!
— Você fala com muita propriedade para quem está presa, Gainy. — ele se aproxima, tocando o queixo da jovem. Ele a puxa, fazendo-a olhar em volta.
A água inundou tudo. Era como se estivesse no fundo do oceano, mas havia um porém: ao olhar para cima era possível ver diversos corpos boiando.
— Eles eram insignificantes, todos eles eram. Não sinta por eles. — ele a adverte, sorrindo de forma maligna. — Sinta por si mesma. Afinal, eu os matei exatamente para chegar em você e em Melissa Daurat.
— O que você quer de mim?!
— Eu estou faminto... — ele sussurra, lambendo os lábios em expectativa. — E me alimentarei de vocês duas... A cria de Lúcifer me garantiu tal refeição, e eu não sairei daqui sem pega-la.
— A cria de Lúcifer... — Gainy franziu o cenho. Aquilo só poderia significar que... — . Foi ele quem te mandou.
— Garota esperta! — o menino riu rouco. — Porém se enganou em partes. não manda em ninguém. Ele apenas fez um convite e eu aceitei. Afinal... Você sabe quem sou eu...?
— Um demônio, obviamente.
— Não um mero demônio.
— O que quer dizer...?
O menininho começou a se contorcer. Sua imagem se retorcia, perdendo o formato humanoide. Seu corpo aumentava cada vez mais, sua pele adquiria uma coloração cinza esverdeada. A cada segundo ele crescia mais, e mais, e mais...
Gainy engoliu em seco.
O anterior menino havia se transformado em uma gigante criatura do tamanho de uma baleia. Gainy se recordou daquela antiga lenda do “Monstro do Lago Ness”. De fato, eram muito parecidos, mas a criatura que havia ali em sua frente era assustadora. Perversa. A sensação de que ela emanava era da mais pura crueldade, exalando uma energia demoníaca sedenta pelo caos.
— Me chamam de “o grande embusteiro" ou "o grande enganador". Outros me intitulam “o demônio da inveja”... Você e Melissa estão naturalizadas com tal sentimento. — a voz do monstro soava rouca e grossa. Era assustador. — Eu sou o demônio Leviatã, um dos príncipes do inferno abaixo de Lúcifer! Deveria se sentir honrada em estar diante a mim.
— Inveja...? — Gainy sussurra.
— Oh, é claro. Você sabe o que é a inveja, certo...? — ele se aproxima. — Quando você vê . Ou quando você vê Lauranna Daurat. Ou os dois e a devoção indiscutível que Jhotaz Daurat tem para com eles. O sentimento avassalador que lhe predomina e simplesmente lhe retira o sono... Oh. Delicioso. Realmente delicioso. Melissa Daurat sente o mesmo acerca da irmã e da própria filha adotiva, mas com ainda mais intensidade. A rele mortal deve estar se afogando agora. — ele ri alto, sua risada retumbando em seus ouvidos. — Mas não se preocupe, pequena caçadora, sua morte será mais digna. A devorarei como se fosse minha última refeição e me degustarei de sua carne como tal.
Dito isso um rugido saiu da boca podre do monstrengo. Ele avança em Gainy, deixando as enormes presas a mostra enquanto preparava-se para abocanhá-la.
A caçadora gritou.
Uma onda a jogou para longe. O grito perverso da criatura se fez presente.
controlava as águas enquanto Jhotaz e Victor massacravam a criatura.
Gainy olhou em volta, procurando qualquer sinal de Melissa ou suas caçadoras. Não as encontrou, mas sabia que estariam bem. O que a preocupava era o mar de pessoas à beira do afogamento, todas gravemente machucadas. A impotência a dominava. Observar aquilo só fez com que uma única coisa ressoasse na cabeça da jovem caçadora:
“Aquele era o começo do fim.”
jurou ter ouvido gritos e aquilo foi o suficiente para que a jovem abrisse a porta do quarto, saindo em disparada a fim de descobrir o que estava acontecendo. A jovem quase caiu ao fazê-lo, já que no ato acabou por trombar com um corpo forte que já estava atrás da porta. Mãos fortes e conhecidas seguraram sua cintura.
— Está tudo bem?
A voz de soou. Ele a segurava com força contra seu corpo.
— Desculpe... Mas acho que ouvi gritos! Preciso ir checar se está tudo ok.
— Mas é por isso que eu vim até aqui! Te levarei embora, .
— O que...?
— Vem. Não há tempo para explicações! — o rapaz entrelaça sua mão na de , começando correr corredor a fora.
— Onde está Lara?! Você a viu?!
— Ela está te esperando, . Não se preocupe, está bem? Precisamos correr! Chegou sua hora de partir!
O rapaz a arrastava corredor a fora passando pelas diversas portas que ali haviam. O homem a guiou até o elevador, empurrando-a dentro do cubículo e apertando o botão do térreo. tinha o cenho franzido em completa confusão.
— ... O que está acontecendo?
— Você confia em mim, não confia?
— Sim...
— Então você não precisa se preocupar.
De repente o elevador parou. A fraca luz que iluminava seus rostos se apagou também, deixando o cubículo quase em breu absoluto se não fossem os pequenos feixes de luz que adentravam suas laterais.
E foi quando ouviu.
riu, uma gargalhada alta e espontânea, mas ao mesmo tempo seca e amarga. Aquele som tão horripilante cortou o silêncio, fazendo subitamente retesar seu próprio corpo. Um calafrio crescente a percorreu.
Estava com medo. Mas aquele era ... Como ela poderia temê-lo?
Em breve teria sua resposta.
— ... — ele a chama. A garota o olha. Ele sorri. — Me pergunto se você sabe quantas garotas eu matei.
— Você nunca falou sobre isso. — a menina retruca. — E agora não é hora de tocar no assunto. Temos que dar um jeito de sair daqui!
— Milhares. — ele prossegue, ignorando o que havia sido dito pela jovem. — Primeiramente eu as seduzia. As fazia acreditar que eram importantes para mim...
se aproxima, subitamente prendendo Daurat contra a parede metálica do elevador. A garota grunhiu. Ela não sentia o que sentia antes. A expectativa, o tesão, a segurança... Naquele momento, com encurralando-a por entre seus braços, ela só conseguia sentir medo.
— Me larga.
— Shhh, eu ainda não terminei. — ele segura a coxa da jovem, apertando-a com agressividade. Ela não gostou. Uma sensação horrível se fez presente em seu ser. — Quando elas depositavam confiança em mim, acabavam por topar qualquer coisa que eu pudesse propor. Eu as levava para a cama, as fodia com força. Elas imploravam por mais. Adivinhe o que acontecia em seguida...
— Chega, eu não quero você perto de mim! — a garota tenta empurrá-lo.
subitamente sentiu uma forte ardência no rosto.
Um tapa. Um tapa ardido e forte, seguido de dedos pegajosos grudados contra seu pescoço, a mão pressionada ali, apertando-o sem dó.
— Eu as mordia. Arrancava cada pedaço daquela carne nojenta e sem importância. — ele grunhe contra o ouvido da jovem. Ela não conseguia respirar. grudou seus corpos, a mão livre começou a descer pelo corpo de . Ela não gostou. Os toques eram sujos, invasivos, nenhum pouco prazerosos. Ela começou a se debater. — Eu bebo todo seu sangue com deleite, pois é só isso que me atrai. E sabe o que eu fazia depois...? Descartava o corpo como o lixo que ele realmente é... PARE DE SE MEXER, PORRA!
A anterior mão livre se fechou em punho, atingindo a lateral do rosto de . Ela quis gritar de dor quando sentiu o soco forte que havia levado. Seu supercílio se abriu, jorrando sangue. Aquilo pareceu divertido para .
— Você é insignificante como todas as outras. — ele rosna.
E foi quando começou a chorar.
As mãos de adentraram o vestido que usava, passando por seu corpo sem qualquer censura. Ela se debatia. Queria sair dali, mas não conseguia. Ela poderia empurrá-lo, poderia gritar, poderia destruí-lo se quisesse — tinha poder para tal — . Mas aquele era , como ela poderia fazer aquilo? Como ela poderia feri-lo...?
Ele chegou até sua calcinha. se debateu mais diante a ameaça iminente de seus dedos contra sua intimidade. Tentou beijá-la, sua língua invadindo sua boca de forma suja e bruta. Ela não correspondeu, ela não conseguia. Ela queria correr, ela queria sumir. Quando ele partiu o beijo, o homem migrou os lábios até seu pescoço... Mordendo-o. Deixando-o em carne viva. arregalou os olhos. Ela não conseguia emitir nenhum som, mas aquilo doía tanto, céus, ela estava sofrendo tanto...
E foi quando o elevador se abriu em um estrondo.
já não estava mais a encurralando. Não. Agora ele estava fora do cubículo. Ele apanhava. Aquele que batia nele o socava com força, gritava palavras de baixo calão incompreensíveis para , que sentia-se tão desnorteada que nem se esforçava para compreendê-las. Sua cabeça girou. Ao cair ao chão, pôde ver a imagem de entrar em foco pela última vez em sua visão, e enfim conseguiu vislumbrar seu agressor: também era . Haviam dois. Como aquilo era possível?
Um grito infantil foi ouvido, mãozinhas seguraram o corpo de com força.
— Irmã? — a voz de Lara lhe chamou ao longe.
desmaiou.
Quando a garota abriu os olhos sentiu uma dor excruciante a preencher, fazendo com que ela soltasse um alto gemido de dor e levasse a mão até o local dolorido, sujando-a imediatamente com um líquido viscoso e quente.
O sangue da jovem jorrava de seu pescoço aberto.
— Não toque aí! — a voz severa de Melissa a adverte.
franziu o cenho, olhando em volta do ambiente e constatando com surpresa que não estava sozinha.
Ali em sua volta estavam Lara, Victor, Jhotaz, Melissa, , Gainy e as caçadoras. Todos tinham expressões sombrias e cansadas.
— ... — Victor se aproxima, tocando levemente sua testa. Ele chorava baixinho. — Como está se sentindo? Aquele demônio... Droga. disse que você foi atacada por Asmodeus, o demônio da luxúria. Ele se apropriou da forma do corpo de e... Céus, , eu sinto tanto. Ele te feriu, você... Droga.
— o matou. — Jhotaz se pronuncia. — Como está se sentindo, ?
— Cadê o ...? — ela pergunta em um sussurro.
— Irmã. — Lara se aproximou. A menina chorava. — Seu pescoço... E-está sangrando muito. Mamãe acha que ele perfurou uma artéria, mas não sei o que isso significa e... ... E-eu estou com medo.
— Não fique. Está tudo bem, vai ficar tudo bem. — diz tentando acalmá-la.
estava enganada. Ao ser mordida pelo demônio da luxúria, sua artéria carótida havia sido estourada. Ela situa-se na face lateral do pescoço, bem onde ele havia arrancado sua carne sem dó nem piedade. Seres humanos comuns já teriam morrido depois disso, mas não era humana. Era metade anjo e metade demônio, mas possuía certos traços indiscutíveis de origem mundana. Ela perdia sangue, estava fraca, não poderia usar seus poderes para nada que viesse a partir de agora. Ela necessitava de recuperação. Mas não teria tempo pra isso.
— Onde está ? — ela repete.
— Aqui.
O vampiro estava parado em frente às enormes portas do hall de entrada, encarando-as com ódio. Parecia aguardar o pior.
— Venha até aqui, por favor.
Ele hesitou. Não queria chegar perto dela. Se sentia tão sujo, tão profundamente culpado. Aquele maldito demônio havia a atacado com a sua imagem, usando do corpo de para fazer com que depositasse a confiança nele. Asmodeus atuou da forma que supôs que agiria diante a uma vítima. Ele havia a tocado, a batido e a violentado e o verdadeiro havia chegado tarde demais. Ele se odiava profundamente por isso.
— .
Ele cedeu, andando até e colocando-se ao seu lado. observou as roupas do rapaz, essas completamente sujas de sangue negro, este respingado até mesmo na pele do rapaz. podia imaginar a morte dolorosa e violenta que ele havia proporcionado para o demônio.
— Não é culpa sua. — ela o adianta. A voz soava tão fraca, tão vulnerável... queria tanto abraçá-la e protegê-la de todo aquele mal. — Você nunca me machucaria. Aquele não era você. Por favor, não se martirize por isso.
— Eu deveria estar lá para te proteger... — ele diz, a voz soando embargada. Ele estava completamente desolado. — Eu quero te levar para longe. Esse lugar, esse maldito lugar... Só serve para te fazer sofrer e eu não posso suportar mais isso. Vamos embora, princesa. Chegou a hora... As flores murcharam. Nós temos que ir.
O estrondo da porta foi ensurdecedor e os uivos, berros e ganidos grotescos invadiram o castelo. Todos os presentes olharam para aquilo completamente chocados.
vinha na frente, o demônio rindo de forma alta e assustadora. Ao seu lado haviam os demônios de alta batente do inferno convocados por ele: Mormo, o demônio que castigava crianças desobedientes. Leviatã, o demônio da inveja. Asmodeus, o demônio da luxúria. Atrás dele haviam centenas de milhares de criaturas demoníacas, todas preparadas para atacar e dar um fim naquilo de uma vez por todas.
— Parece que vocês reagiram bem a minha pequena distração. — diz debochado, olhando-os com um sorriso deformado despontando nos lábios cheios. — Jogos psicológicos sempre me divertiram, e confesso que ter demônios tão poderosos a minha disposição para realizá-los me causou uma maravilhosa sensação. — ele dá alguns passos em direção aos presentes. — Mormo torturou a mente da pequena Lara devido sua culpa na morte da fada inútil, como também levou à loucura ao assumir a forma de seus pais e puni-lo por sua falta de masculinidade. Leviatã fez ainda melhor: Gainy e Melissa, os poços de inveja para com as pessoas a sua volta. Vocês estavam tão ocupadas sentindo inveja de pessoas com situações as quais vocês julgam melhores que as suas que se esqueceram daqueles a sua volta, mais especificamente os pobres pacientes aqui presente... Creio que quase todos foram mortos afogados, não? Mas não se preocupem. Se ainda tiver sobreviventes nós faremos questão de matá-los imediatamente. Por fim Asmodeus... Oh. Confesso que senti inveja. Tocando , violando-a... Céus. Isso me excita de todas as formas possíveis. — riu alto, parecia a cada segundo mais feliz e insano. — Esses dias sem ataques foram a calmaria antes da tempestade. O ataque seletivo de meus demônios de alta batente foi uma grande distração para deixá-los fracos e desestabilizados. O show principal começa agora. Matarei todos vocês, pois acreditem: vocês não são páreos para o meu exército. felizmente está fraca e vulnerável, e prosseguirá assim. Me alimentarei dela por toda a eternidade e assim serei completamente invencível!
Berros de concordância soaram por parte dos seres asquerosos de índole demoníaca. gritou anunciando o ataque.
O caos se instalou.
— ! Vamos, se apoie em mim. — se vira para . Enquanto os outros lutavam ele mantinha e Lara perto de si. estava disposto a ir embora com elas imediatamente.
— ...
— Vamos, venha.
— ...
— , vamos logo!
— Eu não vou a lugar nenhum. — diz.
— O quê? É claro que vai. Vamos dar o fora daqui de uma vez e assim ficaremos livres de problemas.
— .
— , por favor. Não seja ridícula. — ri nervosamente, tentando puxá-la. Ela nem ao menos saiu do lugar. — Estão todos lutando para que nós possamos ir, ! Se ficarmos, te pegará! Não temos chance alguma diante a esses filhos da puta e eu não vou morrer sabendo que deixei você nas mãos do . Anda! Se apoie em mim e vamos embora!
— ... — Lara disse, segurando seu braço. Os gritos se tornavam cada vez mais altos. — Eu acho que não iremos conseguir.
— O quê?! Temos que ir! Temos que protegê-la! Não podemos ficar aqui parados de braços cruzados!
— Tinha uma profecia, não tinha...? Que você... — Lara não prosseguiu. Um demônio chegou muito perto dela, este sendo impedido por uma das caçadoras.
— Não se pudermos impedir! — diz, já farto de toda aquela conversa. — Venha, .
respirou fundo.
Ela já sabia o que deveria fazer.
— Não temos outra opção, .
— O que você quer dizer com isso?
— . Os demônios. Todos vocês irão morrer. Se ele vier até mim, eu não conseguirei enfrentá-lo. Não tenho força pra isso. Ele conseguirá me domar e eu serei obrigada a passar a eternidade como fonte de energia para aquele monstro.
— Eu não o deixaria encostar um dedo em você. — a voz de treme. Ele sabia que aquilo não era verdade. Ele era poderoso, mas todos aqueles demônios anciãos juntos poderiam matá-lo em segundos. As opções de estavam completamente escassas.
se aproxima do rapaz, levando uma das mãos a sua bochecha. Acariciou ali devagar, deixando com que um sorriso triste aparecesse em seus lábios.
— Eu sei que não. Mas nós dois sabemos que meu pai, ao me dar seus dons divinos, também aprisionou uma parte dele em meu ser. Uma parte dele que pode voltar a vida.
— NÃO! — protesta prontamente, segurando o outro braço de . A garota percebeu as mãos trêmulas do rapaz. — Você não pode, ...
— Antes de partir meu pai me disse que alguém viria me matar. — diz, sua voz soando cada vez mais firme. — Era dessa forma que deveria acontecer, pois foi essa profecia recitada em forma de feitiço por Victor. Nós sabemos o que teremos que fazer.
solta o braço da jovem.
O olhar do rapaz estava no chão. Seus olhos estavam arregalados, sua expressão era de alguém completamente perdido. estava completamente desolado. Nunca pensou que sentiria algo com tanta intensidade como estava sentindo naquele momento. Desde que se tornara vampiro ele havia ficado livre de qualquer sentimento... Mas ali estava. Sentindo. E quanto mais sentia, mais dor vinha. Dor, pois ele sabia o que ele deveria fazer.
— , eu não posso. — ele diz com a voz trêmula e falha.
— Você tem que fazer isso. — segura a mão de com firmeza. — É a nossa única chance.
— Não, não, não. Você não entende. Eu preciso de você. Eu não posso fazer isso, não posso.
— Se você não o fizer, Mysthical estará perdida.
— EU NÃO ME IMPORTO! — berra, sentindo as lágrimas começarem a escorrer por suas bochechas. Ele estava desesperado. — Prefiro que Mysthical e todos dessa cidade explodam, eu simplesmente não me importo.
— Por que você sempre tem que complicar as coisas?! — grunhe. — Não seja teimoso. Apenas faça.
— Eu não posso.
— Por que não?!
— PORQUE EU NÃO POSSO PERDER VOCÊ!
— Você precisa. — sussurra. — está bem ali! Eu não posso enfrentá-lo. Se você me matar, Jacques retornará e salvará vocês. Meu pai poderá detê-los e assim Mysthical ficará livre desse mal.
— ... — ele choraminga.
A jovem apenas se aproxima dele, abraçando-o fortemente. Ele não retribuiu o abraço, continuando a chorar a ponto de começar a soluçar.
— Eu não temo a morte, . — sussurra ao pé de seu ouvido. — Temê-la é bobagem. Abraçá-la como uma velha amiga me dará paz, e eu preciso que você me conceda isso. É tudo o que eu te peço.
— Princesa...
— . — se aproxima mais do rapaz.
Contrariando completamente o homem, retira um pingente que estava escondido dentro do tecido de seu vestido. Sua tão conhecida cruz entalhada com pedras em formato de rosas apareceu diante a seus olhos.
arregalou os olhos, completamente sem ação ao ver aquilo.
— Você aceitou. — ele diz.
— Sim.
— Por que não me disse antes?
— Eu queria que tivéssemos mais tempo... Mas nós não temos. Então por favor... Faça isso. E-eu acredito em você. Eu confio em você. Eu... Eu amo você.
Fez-se um silêncio entre os dois. As palavras de pesavam no ar. Tudo o que podia-se ouvir era o som distante da luta que se desenrolava e o choro de Lara atrás de .
De repente um som agonizante corta o ambiente, como se um canivete recém-afiado tivesse sido sacado.
As garras de . apenas as observou com vislumbre. Lara se aproximou, segurando uma das mãos da irmã. Ela chorava aos prantos.
Uma exclamação de surpresa partida de foi ouvida, e assim a atingiu.
sente uma dor excruciante na região de seu peito, obrigando-a a fechar os olhos. Suas mãos estavam postas em volta do pulso de , segurando em volta da mão que continha as garras que estavam cortando-a.
O choro de se intensificou. Com o braço livre ele segura o corpo da garota, abraçando-a contra si, sentindo o sangue que banhava a camiseta dela suja-lo também. sentia a vida de Daurat se esvaziando em seus braços. Sentia a vida daquela garota tão importante para si ser brutalmente retirada.
E no último sopro de vida de , inclina sua cabeça até que ficasse na altura do ouvido de sua princesa. E então ele diz, alto e em bom som:
— Eu também amo você.
Capítulo 33
“Mais profunda, mais profunda, a ferida só fica mais profunda
Como pedaços de um vidro quebrado que eu não posso reverter
Mais profundo, é apenas o coração que se machuca todos os dias...”
Quando era menor costumava passar horas no extenso jardim da propriedade . Ainda o fazia, mas antes era bem mais divertido. A inocência de uma criança faz com que uma experiência única possa ser desencadeada com uma mera ida até o jardim. inventava histórias onde imaginava a si mesmo sendo um grande herói. Um cavaleiro de armadura em cima de um cavalo branco, cavalgando pelos arredores daquela cidade e protegendo seres indefesos. No caso ele não passava de um menininho com o regador e a tesoura de poda, andando de flor em flor cuidando de cada uma com toda dedicação e paciência o possível.
Em um belo dia, seguindo sua rotina de ir ao jardim, ficou encenando toda a história em sua cabeça. Ele, um honrado cavaleiro, correndo jardim afora para proteger suas queridas plantas. Mas infelizmente um acidente aconteceu. corria desleixadamente e acabou caindo bem em cima de uma rosa, uma linda rosa vermelha a qual ele estava esperando desabrochar totalmente para presentear sua mãe com ela. Ela havia sido despedaçada devido ao impacto do corpo do jovem ao cair nela, se tornando nada mais que pétalas destroçadas e esmagadas no chão de pedra.
Ele chorou. Chorou tanto que, ao enfim as lágrimas secarem, ele apenas encarou o vazio. Pois era aquilo que ele se sentia: vazio. Em sua cabeça ele era um cavaleiro que protegeria aquele vasto jardim, porém logo em seguida havia assassinado a flor mais bela e significativa pra si.
Naquele exato momento não era diferente.
O corpo de continuava em seus braços.
Ele a segurava com força, incapaz de soltá-la. Seus olhos estavam fixos na figura da garota desacordada. Sentia falta das íris cinza, ansiando pelo momento que as veria. Ansiando pelo momento que veria o gelo fitando-o daquela forma única o qual ele tanto amava, ironicamente aquecendo seu coração, curando-o.
Isso nunca mais aconteceria. Nunca.
E isso doía tanto...
— Dourado. — Lara diz em um sussurro ao seu lado.
franze o cenho, desviando o olhar. A menininha ainda chorava, mas parecia imensamente contemplada em encarar aquilo que havia em sua volta.
E foi quando viu.
Não estavam mais no seu hall. Os gritos das lutas e a forma que ela se desenrolava estavam bem longe dali. Ele e Lara estavam em uma enorme vastidão dourada, um cenário completamente brilhante que cegaria meros mundanos. sempre havia odiado qualquer tipo de luz, mas surpreendentemente não sentiu seu ódio característico diante ao dourado. Estava tão afundado na tristeza e na dor do luto que não poderia se importar menos com a luz excessiva que os rondavam.
— O que estamos fazendo aqui?
não sabia e tampouco gostaria de soltar o corpo de para ir descobrir. Com isso ele apenas permaneceu em silêncio, o olhar perdido na feição serena de sua amada.
Mas a pergunta não havia sido direcionada a ele.
— Também não sei. — a resposta veio em tom cuidadoso.
levantou seu olhar.
O homem que estava ali trajava um suéter verde musgo e uma calça escura. Seus cabelos cor de ouro caíam por seus olhos, obrigando-o a retirá-los a cada segundo. Seus olhos eram de um tom cinza cintilante, com pequenos feixes de luz dourada brilhando nas belas íris. Seu tom de voz era envolvente, o tom característico de um líder democrático: gentil, porém firme.
— E quem é você afinal?! — Lara grunhe.
— O mais podre dos Daurat. — intervém com deboche.
O homem o olha surpreso, abrindo a boca para respondê-lo, mas rapidamente fechando-a. Não havia nada a ser dito, pelo menos não naquele momento.
Ele anda à passos firmes pelo cenário dourado, aproximando-se cada vez mais de Lara. A menina o fitava curiosa.
— Eu sou Jacques... Sou seu pai, Lara. — ele responde com simplicidade. Jacques sorri, seus olhos se tornando pequeninos ao fazê-lo.
— Papai...? — ela pergunta. A palavra lhe pareceu estranha ao sair de sua boca. — Mas... Como?
Jacques riu brevemente. Lara pôde perceber que pequenas rugas de riso se formavam na lateral de seus olhos, denunciando a frequência a qual ele sorria daquela forma tão calorosa.
— Ah, minha pequena... As coisas ficaram bastante loucas, você não acha? Creio que estava na hora de intervir.
— ... morreu. — Lara diz em um sussurro sôfrego, apontando para o corpo da irmã que ainda se mantinha apertado pelos braços de . — Diziam que se ela morresse você voltaria a vida...
O homem se desfez da expressão contente, substituindo-a por uma de pesar.
— Infelizmente ocorreu um grave equívoco.
— O quê quer dizer...? — Lara pergunta com a voz embargada.
— Lara... — o homem respira fundo. Ele se ajoelha, ficando na altura da filha. Uma mão é depositada no ombro da garota, um gesto paternal o qual foi apreciado por ela. — O fato de morrer não significa que eu possa voltar à vida. Todos tinham essa ideia absurda por acreditarem que eu doei meus poderes para ela... Mas eu não o fiz, Lara. O poder de , o título de anjo dourado que a contempla... Eu não tenho absolutamente nada a ver com isso. Minha missão em Terra já foi cumprida. Eu não posso voltar para salvá-los.
Um grunhido alto foi ouvido. Jacques e Lara olharam confusos na direção do som.
soltou-se do corpo de , levantando-se e andando em disparada até Jacques Daurat. Os punhos levantados, a expressão sanguinária de alguém que já havia atingido seu limite; o socou. Uma, duas, três... Dezenas de vezes. Lara se desesperou, implorando para que parasse, mas o mesmo não parava.
chorava.
Chorava de ódio. Chorava de dor. Chorava de saudade. Ele apenas chorava.
Como aquele homem poderia aparecer depois de tudo o que havia acontecido e ainda alegando que matar havia sido EM VÃO?! Alegando que ele não voltaria para salvar Mysthical...
Um urro rouco de ódio saiu dos lábios do ensandecido ser que havia se tornado .
E foi quando ele sentiu um toque no braço. Apenas um toque. E tudo se desfez.
O ódio. A raiva. Tais sentimentos que sempre o transbordavam simplesmente desapareceram. Tudo o que ele sentiu foi a dor. A tristeza. O sofrimento.
— Eu só quero que ela volte. — as palavras saíram emboladas entre choramingos e soluços. — Não é justo.
— Creio que nada nessa vida seja, pequeno . — Jacques diz, retirando-o cuidadosamente de cima de si. Por maior que tenha sido o ataque agressivo de , Jacques não havia saído machucado.
— Bater em papai não vai trazer de volta. — Lara disse baixinho.
Apenas agora havia percebido que foi Lara quem o tocou e subitamente retirou todo ódio que sentia. nunca admitiria em voz alta, mas se sentiu grato por isso. Odiava Jacques, mas bater no homem por puro ódio era estupidez.
A menininha se aproximou, tentada a lhe dar um abraço. se afastou.
— Nada vai trazer de volta. — grunhe.
Jacques se afasta. O homem desvia seu olhar para o corpo inerte de .
— Eu gostaria de ser capaz de o fazer. Ela não merece nada disso.
Jacques se aproxima da filha, abaixando-se ao seu lado. Tocou sua face. Estava gelada. sempre teve a pele naturalmente aquecida, mas naquele momento estava completamente gélida. Morta.
— Por que você apareceu? Por que agora? — Lara pergunta.
— Creio que seu avô quis assim.
— Meu avô...?
— Haniel. Meu pai. — Jacques sorri de forma triste. — Ele quer que eu lhes mostre algo.
— O que ele quer mostrar? — Lara parecia muito interessada.
— Foda-se, Lara, seu pai é um lunático. — bufa. — Eu quero voltar! deve estar matando todos.
— E desde quando você se importa?! — Lara intervém.
— De fato eu não me importo, porém agora tudo mudou de figura. Minha pretensão é morrer tentando matar aquele desgraçado e eu definitivamente o farei.
— Que belo colar. — Jacques diz, mudando completamente o foco do assunto e ignorando as palavras vingativas de . Seus dedos estavam em volta do colar de rosas de . cerrou os punhos, o maxilar trincado.
— NÃO TOQUE NISSO! Você não tem o direito de tocar nisso!
Jacques sorri, calmamente se levantando e consequentemente afastando-se do colar.
— Você tem problemas com raiva, ?
— Você não tem o direito de tocar nisso. — ele repete. A voz de falha.
— Foi você quem deu a ela? — Jacques o questiona.
franze o cenho, desviando o olhar. Uma terrível náusea tomou seu estômago, causando um nó em sua garganta. Jacques era a última pessoa do mundo que ele gostaria de falar sobre seu colar.
— Foi.
— E o que significa?
— Não é da sua conta.
— ... — o homem tenta se aproximar. dá um passo para trás.
— Não chegue perto de mim.
— Papai não é uma pessoa ruim, . Ele só quer ajudar... — Lara tenta se aproximar novamente.
também procura fugir do toque da menina. Jacques e Lara pareciam decididos a se aproximar e algo dentro de gritava que aquela era uma péssima ideia. Estava vulnerável, sofrendo como nunca sofreu antes... Dois seres angelicais com poderes capazes de descobrir todos os sentimentos de alguém com apenas um toque não eram bem-vindos.
— Me deixem em paz!
— Me desculpe, . Eu realmente preciso mostrar a vocês.
Jacques tocou seu braço esquerdo. Ele incentivou Lara com o olhar a fazer o mesmo. Ela tocou o braço direito.
E as lembranças vieram, claras e vívidas; Causando ao pobre a dor excruciante e costumeira ao se recordar de um passado que preferia esquecer.
O pequeno tinha uma lista de coisas que mais amava no mundo, estas sendo: doces, flores e sua mãe (não necessariamente nessa ordem). Ele amava se empanturrar com as diferentes iguarias adocicadas que seu irmão trazia ao voltar das longas viagens de barco à trabalho. Amava andar por entre o enorme jardim florido e belo, regar as plantas e conversar com elas como se fossem velhos amigos em um momento descontraído de um caloroso bate-papo. Amava excepcionalmente sua mãe, a mulher a qual sempre fez questão de fazer com que se sentisse feliz e amado. Sentisse que sua existência valia a pena.
Em uma fria tarde de inverno o pequeno usava a casaca dada por seu irmão, juntamente a uma calça de linho feito à mão por uma de suas empregadas. Ele comia um saco de doces, mas nem ao menos isso parecia anima-lo. Mais cedo havia implorado a sua mãe para que a mesma permitisse que o garoto fosse até o casarão de Jhotaz, já que o mais velho havia prometido que faria um delicioso chocolate quente para esquenta-los nesse frio. A senhora negou, alegando que o melhor para seria que permanecesse no castelo, afinal o frio estava de congelar os ossos e ela não gostaria que seu amado caçula pegasse um resfriado. Os dois acabaram discutindo e ficou bastante chateado, entocando a si mesmo em seu próprio quarto e não saindo nem por decreto.
Batidas suaves na porta denunciaram se tratar de sua mãe, provavelmente vindo atrás de seu pequeno em busca de uma reconciliação.
— Entre. — diz em tom mais alto, fixando seu olhar no saco de doces a fim de não ter que olhar para a mãe.
A figura esbelta da mulher se fez presente, seus passos delicados ecoando baixinho no ambiente silencioso do quarto de . Ela se aproxima do menino, sentando ao seu lado. Ele ainda não a olhava.
— O casarão de Jhotaz não sairá do lugar, tampouco o próprio Jhotaz. — a voz melodiosa de senhora soa, fazendo bufar.
— Eu sei.
— Então explique-me o motivo de continuar se portando como uma criança mimada.
— Não é isso, mãe! — exclama exaltado. Ele finalmente olha nos olhos da mulher. — Eu tenho nove anos! Posso muito bem ir na casa de um amigo quando bem entender.
— Não, não pode. — apesar das palavras negativas, a mulher leva as mãos aos cabelos de . Ela acaricia seus fios negros com ternura.
— E por que não? — ele a questiona baixinho.
— Fazemos parte da elite de Mysthical, meu pequeno. Sair desvairadamente na rua para ir na casa de um amigo, ainda mais no inverno onde há pouquíssimas pessoas circulando é um perigo. Tudo o que desejo nesse mundo é seu bem-estar... E temo que as pessoas não tenham o mesmo desejo que eu.
— Por que...?
— Misturam as coisas. Seu pai... — a voz da mulher falha. — Ele... E-ele não é bom, . Na verdade ele é bastante odiado pelos habitantes... E isso faz com que tal ódio descabido se estenda para toda a família .
— Eu o odeio.
— !
— Não é justo que as pessoas nos odeiem devido às atitudes egocêntricas de meu pai. Eu simplesmente o odeio!
Um silêncio desagradável se sobressaiu diante as palavras duras de , onde a mãe o olhava com visível repreensão e o menino sustentava o olhar, desafiando-a. Tal silêncio foi quebrado pela própria senhora , que subitamente suspirou, balançando a cabeça em negação.
— Não o culpo por isso. — ela diz por fim. — Mas não fora essa pauta o intuito de minha vinda até aqui. Eu vim lhe dar um presente.
— Um presente?
Os olhinhos do rapaz brilhavam. A mulher sorriu.
— Sim, um presente. — senhora abriu a própria bolsa bordada com o mesmo tecido do vestido que usava, retirando dali uma pequena caixa dourada. Ela a estende para .
O garoto prontamente pega a caixinha, abrindo-a e arregalando os olhos ao ver o conteúdo dela. Ele parecia deslumbrado.
— Que colar lindo... — ele diz em um sussurro. A mulher sorriu.
— Você gostou mesmo?
— Sim! O pingente de cruz com as rosas, o coração... Eles parecem que são de verdade! Eu amei!
— Fico feliz que tenha apreciado com tanto afinco, meu pequeno. — ela sorri verdadeiramente.
O garoto coloca o colar em volta do pescoço, sorrindo abertamente ao vê-lo ali.
Porém sua alegria durou pouco.
A porta de seu quarto se abre de súbito. Um velho homem carrancudo e olhar cruel adentra seu quarto. crispa os lábios em desagrado.
— O que deseja, papai?
— Estava a procurar-te, maldita rapariga! — ele grunhe, segurando o braço da esposa com possessão. Havia ignorado completamente as palavras dirigidas a ele.
— Perdoe-me, querido. Estava conversando com nosso menino. — ela responde, a serenidade banhando suas feições. Com uma calma admirável, a mulher se levanta, aproximando-se do esposo que permanecia com as mãos grudentas em seu braço.
— Com esse maricas?! — o homem praticamente cospe as palavras, tamanho nojo ostentado em sua feição. — Você está transformando-o em uma mulher. Não me venha lamentar-se quando ele vergonhosamente desejar vestir vestidos e andar como uma mulher da vida.
— Não diga algo desagradável assim na frente dele. — ela pede, sua feição subitamente endurecendo-se, assumindo o papel protetor de uma mãe.
O homem se vira lentamente, fixando seu olhar no filho o qual tanto sentia vergonha. Na concepção do senhor apenas seu primeiro filho havia sido um homem de verdade. Wuno era um comerciante que viajava o mundo, com isso conhecendo diferentes culturas. O senhor amava ouvir suas histórias, ainda mais quando o mesmo contava dos diversos bordeis que frequentava e das belas prostitutas as quais fodia com fervor. E então havia : um maricas completo, amante de flores e mimado pela mãe, o qual vivia como uma cadelinha atrás de Jhotaz Daurat, o irmão do líder da cidade.
— Você é uma vergonha. — ele sibila enquanto olhava com ódio para o caçula. De repente seus olhos caíram sobre o colar que o garoto havia ganhado.
O sangue subiu a cabeça do senhor . O ódio o predominou e não pôde evitar a si mesmo: partiu para cima do filho, socando-o com tanta força que o mesmo caiu ao chão, batendo a cabeça no ato.
— AFASTE-SE DELE! — senhora gritou em histeria, completamente desesperada ao ver seu pequeno ao chão.
— COMO PÔDE DAR UM COLAR FEMININO COM ROSAS PARA UM GAROTO?! ELE É UM MARICAS! UMA VERGONHA! — o homem berrou, continuando a bater no filho. Agora que o mesmo estava no chão ele distribuía chutes por sua costela, ouvindo sons estralados cada vez mais altos, mas simplesmente não parava. Ele espancava o garoto, não parando nem quando a esposa veio intervir: senhor desferiu um tapa ardido no rosto da moça.
— Afaste-se, mulher! Baterei nesse mariquinhas até que ele vire homem de verdade!
De repente a paisagem havia mudado. Agora era noite, a Lua despontava bela no céu enquanto estrelas enfeitavam sua volta.
O pequeno estava sentado nas escadas de pedra do casarão Daurat. Trajava as mesmas roupas de mais cedo. Seu corpo estava curvado para a frente, e suas mãos abraçavam os próprios joelhos. Ele esperava pacientemente a chegada de Jhotaz, o qual não tardou a aparecer.
— Enlouqueceste, ?! — o caçula dos Daurat ralhou, aproximando-se a passos rápidos ao ver o garotinho parado em sua escada. Jhotaz havia passado o dia fora resolvendo questões burocráticas da cidade, já que havia dito que não poderia comparecer a sua casa pois sua mãe não havia permitido. Vê-lo ali, naquela hora da noite, era no mínimo estranho. — Está tarde! Devo presumir que sua mãe não o deixou vir até aqui a essa hora, estou certo?
ainda tinha a cabeça baixa juntamente ao corpo curvado. Ele apenas assentiu com a cabeça em resposta.
— Então como veio parar aqui...? Não me diga que ousaste fugir de novo!
Mais um balançar na cabeça em concordância. Jhotaz franziu o cenho.
— Olhe diretamente para mim enquanto converso com você, !
E então levantou a cabeça.
Jhotaz deixou seu queixo cair, uma expressão genuína de surpresa transpassando sua feição.
Os olhos de estavam completamente inchados, os lábios ensanguentados com sangue seco; o supercílio aberto.
— S-seu p-pai... — Jhotaz sussurra, a voz falhando. Sentia a dor do amigo. — Ele fez isso com você?
O pequeno assente. Seus olhos se encheram de lágrimas. Jhotaz se aproximou, ajudando-o a se levantar. gemeu de dor.
— Eu não consigo me mover. — ele diz em um sussurro.
— Perdão. Onde mais dói?
ergueu a casaca grossa, mostrando seu torso nu. O corpo magro do menino se fez presente e Jhotaz precisou desviar o olhar. Ele estava repleto de hematomas, estes completamente roxos começando a adquirir uma cor escura. Podia jurar que havia quebrado alguns ossos. Jhotaz se perguntou como o garotinho havia conseguido andar até ali, pois provavelmente estava sentindo uma dor terrível.
O caçula dos Daurat segurou com cuidado. O menino se apoiou no mais velho, gemendo dolorosamente. Jhotaz o segura firme, levando-o para dentro do casarão. Arrastou o menino até a luxuosa sala de leitura de Jacques. Os olhares dos presentes ali fixaram-se nos dois, mas Jhotaz não lhes deu atenção. Ele encaminha até uma confortável poltrona que se localizava perto da lareira, ajudando-o a se acomodar ali.
— O que o garoto faz aqui, Jhotaz? — a voz de Victor soou, a reprovação evidente em seu tom.
Jhotaz e Jacques conheciam-no há muito tempo, mas apenas de alguns tempos para cá eles haviam se tornado próximos. Victor os ajudava a tomar conta da casa, além de ser uma figura bastante querida no que se diz amizade.
— Pergunte diretamente para mim, eu não sou surdo. — diz em tom petulante.
— Jhotaz. Responda. — Victor ignora .
— Ele passará a noite aqui e isso é tudo. — Jhotaz decreta. Ele se volta para o garoto. — Irei preparar um delicioso chocolate quente, está bem? Pretendo até acrescentar alguma iguaria mais doce. Você apenas sairá daqui quando estiver intoxicado de açúcar.
sorriu fraco. Jhotaz sorriu de volta, voltando-se para Victor em seguida.
— Venha, você vai me ajudar.
Com resmungos incomodados, Victor acompanha Jhotaz para fora do cômodo.
Passos cautelosos se aproximavam de e o menino não pôde evitar que uma expressão de imenso descontentamento tomasse sua feição.
— Como está se sentindo, ? — Jacques pergunta, o tom gentil sendo capaz de causar náuseas em .
— Como parece? — o menino retruca. — Estou quebrado.
— Sinto muito. — Jacques diz, sentando-se na poltrona ao lado de . — Você parece ser um bom garoto, não merece passar por este tipo de situação.
— Mereço sim. — grunhe. — Mas isso não tem mais importância.
— ...
— Não dirija qualquer palavra a mim, por favor. — o garoto rosna. — Estou tão cansado de você... Só porque é adulto e poderoso eu sou obrigado a respeitá-lo, mas acredite: eu nunca o farei. Deixe-me sozinho!
Silêncio. Jacques parecia refletir sobre as palavras do garotinho. O homem não estava zangado, muito pelo contrário: estava curioso. De onde havia surgido tanto ódio? Ele gostaria muito de compreender.
— Você não parece um garotinho que preze pela solidão... Parece alguém que se acostumou com ela.
desviou o olhar para o chão, as palavras atingindo-o.
De fato: ele era sozinho, mas não porque queria.
Que escolha tinha? Ele era um garoto tímido e introspectivo, completamente imerso em seu amor por rosas e nos mimos da mãe. Além do fato de que ninguém se aproximaria de alguém que possuía um pai tão cruel...
de fato era muito solitário. Seu único amigo era Jhotaz. Sua única amiga era sua mãe. Nutria um amor platônico intenso pela namorada do líder da cidade, uma mulher muito mais velha que além de ser comprometida nunca lhe notaria. Aquilo era triste.
— Você está errado. — ele retruca, mas não se estende no assunto. Não havia muito a ser dito.
Uma de suas mãos toca no colar que sua mãe havia lhe dado, e ele segura com força por entre seus dedos. Um gemido baixo de dor escapa de seus lábios devido ao movimento brusco. Jacques observou tudo com atenção. Ele sentia a dor de , mas acima de tudo sentia a esperança que nasceu em seu peito quando o mesmo tocou em tal colar. O amor. Jacques era um romântico nato, para ele não havia força mais poderosa que o ato de amar. Aquele colar causava dor em , mas acima de tal sofrimento havia o amor. Forte, puro e verdadeiro.
Jacques sorriu. Sem precisar pensar muito sua mão vai de encontro ao peito de , pressionando-o. O menino arregala os olhos com o susto.
E então ele sentiu.
Feixes de luzes dourados, pequenas faíscas que esquentavam seu ser por dentro e lhe davam uma sensação de reconstrução. Cura. De repente já não sentia mais dor.
— O que você fez?! — ele questiona Jacques.
— Eu não fiz nada. — Jacques sorri de forma divertida. — Você fez isso.
— Eu?
— Você é mais poderoso do que pensa, .
— O que diabos você está falando?
Jacques riu sonoramente. O homem apontou o pingente de . O menino encara seu colar, franzindo o cenho ao fazê-lo, ainda confuso.
— As pessoas não sabem o verdadeiro significado de amar. Elas crêem que a relação possessiva e doentia é amor. Nessa casa temos exemplos claros de pessoas assim... — de repente seu olhar se perdeu na porta a qual seu amigo e seu irmão haviam saído anteriormente. — Você não acha isso, acha...? — Jacques o questiona, ainda com o olhar distante.
franze o cenho, prontamente negando com a cabeça.
— Vê, ? Você é diferente. Seu maior poder é amar. Quando você ama algo, você ama com toda sua força. Você doa seu coração e sua alma para o ser amado. E isso é tão bonito... E forte. Extremamente poderoso. O amor cura, . Nunca se esqueça disso.
A carícia que sentia em seus fios negros era extremamente delicada. Como se quem a tocasse ansiasse pelo carinho e cuidado. A garota se sentia nas nuvens... Uma sensação de paz, amor e afeto preenchiam seu coração. A transbordavam. A jovem só conseguia pensar no quão facilmente concordaria em viver daquela forma por toda a eternidade.
— Não queira viver de tal maneira, minha menina. Você ainda tem muito a percorrer...
A voz melodiosa soou, fazendo-a subitamente abrir os olhos dando de cara com o inusitado: cabelos quase brancos, olhos cinzas com um brilho dourado esplêndido; íris de um brilho tão profundo que era mortal a olhos humanos. Haniel.
— Me sinto tão esgotada. — ela admite. Por mais que estivesse confusa diante à situação, suas palavras eram firmes, como se estivesse perfeita certeza do que dizia e o porquê dizia. — Penso que fiz tudo o que pude... Mas não foi o suficiente. Eles estão melhores sem mim.
— Sem você está tudo perdido. — o homem rebate solenemente. — Você é o elo que une os seres com trevas no coração e os seres de luz. Você é o equilíbrio, minha menina. Sem o equilíbrio é evidente que tudo acabará em caos... Se é que já não acabou.
— Mas eu estava tão fraca... — grunhe, levando uma das mãos ao pescoço. A grotesca ferida já não estava mais ali. — Aquele demônio me machucou tanto, me deixou completamente sem forças... Eu tive que partir. Papai está lá salvando-os agora.
Haniel crispou os lábios. As carícias no cabelo da jovem subitamente foram cessadas. levantou seu torso, sentando-se no chão sem maiores dificuldades. Percebeu apenas agora que - para variar - estavam presos em um enorme vazio, mas este não era dourado: era preto. Nenhuma luz os iluminava ali. A jovem só conseguia ver Haniel com clareza pois o próprio anjo tinha a pele brilhando como estrelas.
— Papai não voltou a vida. — afirma.
Haniel assente com a cabeça, desviando o olhar. As mãos de se fecharam em punhos. A garota subitamente socou o chão com força, provocando um enorme estrondo do ambiente.
— Tudo está perdido... — ela grunhe.
— Não. Não está. — Haniel se levantou, obrigando-a a acompanhá-lo. — Tudo está ocorrendo de acordo com as profecias.
— Profecias...? Mas todas já aconteceram.
— Nem todas.
— Todas as quais eu tinha consciência. — ela se corrige. — Quais seriam as outras?
O anjo estalou a língua enquanto desviava o olhar para o breu absoluto. Ao invés de respondê-la, Haniel simplesmente começou a caminhar. A menina grunhiu, indo atrás dele.
— Aonde pensa que vai? — ela o questiona, andando em seu encalço.
— Não sei.
— Como assim não sabe?
— Tudo o que eu sei é que devo seguir em frente, . Você vem comigo?
— E tenho outra escolha?
— Você sempre teve o direito de escolha, minha menina.
— Eu não sinto isso. Sinto que desde que pisei nessa cidade tudo o que acontece foge do meu controle e é completamente contrário a minha vontade.
— Talvez o problema seja o fato de você não estar escolhendo por si própria. Conte-me, , qual foi a última vez que você fez algo que realmente queria? Algo que lhe proporcionou genuína felicidade e satisfação? — o homem arqueou a sobrancelha, olhando-a inquisitivo.
engoliu em seco. Automaticamente imagens vívidas de seus momentos com inundaram sua mente, aquecendo seu corpo e coração.
— . — ela pronuncia o apelido, umedecendo os lábios no fim. Não precisava dar quaisquer explicações. Haniel havia compreendido.
— , certo? O inocente caçula da família que veio a se tornar um vampiro sanguinário. — Haniel sorriu de maneira triste. — Tudo por culpa de Lauranna. Afinal, todo o caos que se sucedeu veio supostamente por causa dela.
— “Supostamente”. O que quer dizer...?
— Oh, você já sabe de toda a história. — Haniel revira os olhos. quase riu diante a atitude mundana do anjo. — Um enorme drama familiar, se quer minha opinião. Lauranna e Melissa se mudaram para Mysthical com os pais, Lauranna sente inveja de Melissa, o anjo da guarda de Lauranna lhe concede um desejo e ela se torna imensamente bela com sua dádiva angelical. Em seguida um demônio interfere, dando a jovem bela e cruel dons demoníacos... Ela mata os pais, culpando Melissa. Melissa é expulsa. Com a irmã fora do caminho, o estrago está feito. Jhotaz e Jacques caem de amores por Lauranna. Até mesmo o inocente o qual nada tinha a ver com isso se entrelaça na teia amorosa de intrigas e ciúmes. E como tudo isso acabou?
— Com todos descobrindo a verdade e Lauranna apodrecendo no porão de meu tio.
— Um pouco antes disso. — o anjo sorri de forma misteriosa. franze o cenho diante seu sorriso. — Pense comigo, . O que levaria dois seres opostos como e a presentearem dons a uma mera mortal de péssima índole?
— Nunca pensei nisso...
— Acrescentando ainda mais questões ao nosso raciocínio: o que levou meus filhos a se apaixonarem por essa mulher? Ambos praticamente deixaram-se ser enganados por suas artimanhas. Como pode dois anjos da linhagem de ouro, prole do príncipe dos anjos principados, serem tão facilmente manipulados?
— Aparentemente Lauranna é muito boa em manipulação.
— Seria Lauranna a grande vilã de tudo isso, ...?
— E . Certo? — a menina entorta os lábios, cada vez mais confusa diante ao monólogo do anjo. — Ambos são os grandes vilões. Lauranna é cruel e sádica, mas consegue ser ainda pior. Quer dizer, ele era seu aliado e a apunhalou nas costas para dar continuidade ao seu plano.
— E o que levou o demônio a isso? O que o fez ser tão obcecado por você, , a ponto de sair de toda a zona de conforto a qual esteve por mais de uma década para simplesmente desejar a destruição de Mysthical e tomá-la para si?
— E-eu... Eu não sei. — a menina subitamente para de andar. Sua cabeça doía. Haniel se colocou ao seu lado.
— Você me disse que tanto quanto Lauranna são os vilões. Por quê?
— Porque... Céus, veja o que eles fizeram! Causaram dor para todos, desejam a destruição, o caos...
— também. — Haniel a interrompe. — Mas você não o considera um vilão, considera?
— O quê...? Não. Não. — a menina balança a cabeça em negação. Parecia imensamente perturbada com as palavras de Haniel. — não é como eles.
— Temo em lhe informar que sim, , uma parte dele pensa exatamente como eles. — Haniel solta um risinho baixo. Ele parecia estar se deleitando com algum divertimento interno. — Mas, veja bem, minha criança... Você também não é diferente. Uma parte sua quer o caos, quer ver Mysthical queimar... Uma parte sua anseia por isso. Não negue, minha pequena. Eu posso ver.
A garota sentiu seu queixo cair. Os olhos arregalaram-se. Suas bochechas coraram. Completo choque se fez presente em suas feições.
— E-eu, n-não...
— Não se preocupe, . É nesse ponto que quero chegar. — ele se aproxima ainda mais da garota. — Você não é uma menina má... Como também não é uma menina boa. Luz e trevas te guiam. E acredite, minha pequena: todos nós somos assim. Não existem vilões, não existem bonzinhos. Existem aqueles que realizam aquilo que julgam ser o certo.
— Mesmo que o certo acabe em destruição...?
— Exatamente.
— Se você está me dizendo que não existem vilões e nem bonzinhos... O que existe então?
— Seres repletos de culpa. Seres culpados, porém inocentes.
— Contraditório.
— Realístico.
Haniel abriu um largo sorriso, deixando todos os seus dentes perfeitamente brancos à mostra. jurou que eles brilharam no ato. O anjo estendeu-lhe a mão, fitando-a carinhosamente. A menina fixou seu olhar na mão estendida.
— O que é isso? — ela o questiona.
— Quero lhe mostrar mais sobre culpados e inocentes. Quero que você os compreenda, para então compreender a si mesma.
— Por quê?
— A luz que te guia quer salvar Mysthical, enquanto a escuridão que lentamente lhe predomina apenas quer vê-la queimar. Você se foi, mas há uma chance de retorno. Tudo depende de você. Você será a salvação ou a destruição. Você precisa compreender.
A garota prendeu a respiração. Suas mãos tremiam. Respirou fundo, deixando com que todo o ar adentrasse seus pulmões. Deu um passo em direção a Haniel, estendendo sua mão e assim entrelaçando-a na dele.
Tudo ficou dourado... Pela última vez.
O ar estava tenso. Pesado com sentimentos ruins, deduzira. Os três homens ali presentes se encaravam, um misto de emoções palpável a qualquer um que os observasse. tomava vinho, a expressão debochada se fazendo presente. se encolhia contra seu próprio corpo. Jhotaz os encarava com tédio. Eles estavam no casarão Daurat, especificamente na sala de jantar.
— Por que vieram até mim? — Jhotaz se pronuncia, parecendo cada vez mais impaciente.
A menina observou o tio. A expressão vazia, tomando cuidado para não demonstrar demais. Mas não havia a quem ele conseguisse enganar. não sabia como, mas tinha total consciência do que havia acontecido naquela noite.
— Nós... — a voz de soava nervosa, mas suave. pôde perceber que seus cabelos tinham uma cor diferente da atual: eram azulados, caindo teimosamente por seus olhos. parecia belo e inocente, uma representação clara de um anjo que ainda não havia sido corrompido pelo mal. — Fomos mandados por nossos senhores para encontrar alguém.
— Quem? — questiona Haniel, que permanecia parado em seu lado.
— Você sabe muito bem quem é, minha criança.
E ela sabia mesmo.
Seu tio pareceu desconfortável diante ao monólogo do anjo. Com um suspiro resignado, ele apenas faz a pergunta a qual ansiava a resposta:
— Admito que não é todo dia que vejo criaturas como vocês andando lado a lado como iguais. Vocês dois são poderosos demais, e aparentam estar unindo forças para achar esse alguém. O encontraram?
— Estamos na Terra há muito tempo, porém longe da civilização. Fomos expulsos dos nossos lugares de origem, e nossos senhores deram-nos essa tarefa para que possamos ser perdoados. Porém, admito... Eu não quero ser perdoado. Eu não quero voltar para o meu suposto lar. — grunhe em desgosto. — Então sim, o encontramos. Mas não precisamos fazer nada, outro já fez o trabalho por nós.
— Outro...? Jhotaz os questiona. — Quem?
— Por uma criatura com o mesmo sangue desse alguém que procurávamos, ela nos fez o favor de exterminá-lo. Existe coisa melhor do que uma traição familiar?
fechou os olhos. Dor. Ela sentia dor. Mas isso não era nenhuma surpresa, afinal esse era o sentimento o qual ela mais estava familiarizada.
O resto da conversa dos três homens lhe pareceu distante a partir daquele ponto. Estava evidente que aquela era a noite a qual havia assassinado seu pai, e estava ainda mais óbvio que e foram mandados para encontrá-lo... Mas algo não fazia sentido.
— Por quê? — vira-se para Haniel. — Por que o céu e o inferno estavam interessados em mandar um anjo e um demônio atrás de meu pai?
— O céu e o inferno definitivamente não estavam interessados em seu pai, . — Haniel afirma. — e mentiram. Eles foram manipulados. Desde o momento que deram os dons para Lauranna até a forma que foram expulsos e ficaram presos em Terra. Um outro alguém os manipulou para tal, os convenceu a mentir para Jhotaz e permanecer em Mysthical.
— Quem?!
— Um culpado inocente que acredita estar fazendo o certo.
O cenário mudou. sabia cada detalhe do que se desenrolaria ali.
Aquela havia sido sua primeira visão. Lembrava-se claramente da cena que via naquele momento: a bela silhueta de uma mulher, esta que usava um vestido rendado dourado, os longos cabelos loiros caíam em cascatas em seu ombro fazendo com que ele entrasse em contraste com o vestido. Sua mão estava estendida, como se convidasse a quem a observasse que se juntasse a ela.
— Eu ainda não consigo ver seu rosto. — grunhe em frustração. — Mas ainda sinto a vontade absurda de me juntar a ela. Quem seria ela afinal, Haniel?
— O que você sente ao vê-la, ?
— Eu sinto vontade de abraçá-la. — diz em um sussurro, ainda encarando a figura que continuava com a mão estendida para ela. — Como se ela fosse me ajudar a resolver todos meus problemas.
— Por que será...? — o tom de Haniel era risonho. Ele sorria sapeca para .
A mulher se aproximou da da visão, pronunciando-se de forma sofrida:
— Eu não aguento mais me recordar de tudo com tanta frequência, . Eu não aguento mais. Encontre-me e eu compartilharei tudo com você. Encontre-me e seremos um.
De repente a mulher havia desaparecido. A cena que se sucedeu era a de si própria na árvore guardiã. Sua primeira conversa com Haniel.
— Sente falta dela? — a voz suave de Haniel a questionou na visão.
— Eu queria vê-la. — ouviu a si mesma dizer. — Eu sinto que ao vê-la e conversar com ela eu posso saber de tudo.
— Não é tão simples assim, minha criança.
— Por que não pode ser simples?
— É seu destino. Você voltou para seu lar e agora tem um caminho tão longo a percorrer... Quando conseguir cumprir seu dever, ela aparecerá para você.
De repente a da visão havia sumido e a voz de Haniel da visão silenciado. virou-se para o anjo ao seu lado.
— Como posso encontrá-la, Haniel? — ela o questiona de forma firme.
O anjo sorriu-lhe. Estava orgulhoso. Ele sabia o que viria a seguir.
— O que está dizendo, minha criança? Você já a encontrou.
— O que quer dizer?
— Olhe para si mesma.
E então abaixou o olhar para si, subitamente sentindo todo o seu ser transcender diante a nova informação.
O longo vestido dourado estava em seu corpo, moldando suas curvas com perfeição. Seus olhos tinham um brilho intenso, sua pele parecia blindada com ouro, mechas loiras formaram-se em seus cabelos, uma luz dourada radiante moldava sua silhueta. Em suas costas estendiam-se enormes asas, prontas para içar voo e levá-la para onde desejasse.
finalmente havia compreendido.
— Sou eu.
— Exato. — Haniel não conseguia disfarçar sua enorme satisfação.
— Aquela mulher... Sou eu. — tocou em seu vestido, sentindo o tecido macio acariciar a palma de sua mão. — Mas por que parecia tão diferente...? Ela sofria, Haniel. Ela sofria e por isso precisava de mim.
O anjo se aproximou, tocando no ombro de sua amada Menina Dourada. Sorriu de forma triste, apertando ali em busca de lhe depositar algum conforto.
— Foi o que eu lhe disse, minha menina: você ainda tem muito o que percorrer. Mais sofrimento está por vir. Porém tenha em mente que apenas uma pessoa será capaz de te ajudar a passar por tudo isso. Apenas uma pessoa te dará forças para prosseguir.
respirou fundo. Os olhos cinza fixados em um ponto mais à frente, decididos. Seu coração estava apertado dentro do peito, mas isso não a impediria.
— Eu mesma. — ela enfim se pronuncia. — Eu me darei forças. A partir de agora tudo depende de mim.
— Sempre dependeu, minha menina... E tenho certeza que decidirá da forma mais sábia possível.
O cenário mudou novamente. Agora estava na visão a qual teve quando encostou na árvore guardiã, em um dos seus primeiros encontros com .
— Por favor, me deixe em paz. — uma voz feminina soou no ambiente. — Eu só quero voltar, por favor me deixe em paz. Eu não aguento mais ser torturada. — ela geme com dor.
— Quem é você? Deixe-me ajudá-la! Onde você está?
— Criança tola! — a mulher ruge. — Você não pode me ajudar, ninguém pode. A não ser que... Você não faria isso... Faria?
— O que eu tenho que fazer? Me conte!
— Estenda sua mão, . — de repente a imagem da mulher se fez presente.
pôde ver claramente as duas figuras: a si própria e a mulher que clamava por ajuda. Era a mesma mulher do sonho anterior. Ela estava com as mesmas vestes douradas, estas não apresentando o mesmo luxo de ontem: eram esfarrapadas, puídas e sujas. Ela estava encolhida no canto do cenário, segurando seu corpo raquítico. Não era possível ver seu rosto: a luz ainda o escondia. Sua mão estava estendida para a do sonho. Ela a pegou. O manto dourado grudou no corpo da jovem Daurat, fazendo-a soltar um grito de dor semelhante ao da mulher. Rugiu, contorcendo-se de pavor ao sentir aquela estranha veste queimar sua pele, grudando-se ali como um sanguessuga. Berrou, clamando por ajuda, enquanto ouvia a risada alta da mulher ecoar.
sabia exatamente o que aquilo significava.
— As trevas. — ela afirma solenemente. — Na visão anterior era eu, porém em minha forma de luz. Agora esse ser raquítico e cruel sou eu em minha forma das trevas. — suspira, andando pelo cenário. — São partes em constante conflito, prontas para entrar em ebulição a qualquer momento. Por que elas existem, Haniel? Por quê?!
Haniel já não estava mais ali.
O cenário mudou novamente. estava no terreno do colégio, mais especificamente na floresta onde se localizava a árvore guardiã. Havia um rapaz ali. Ele olhava para cima, observando toda sua magnitude com admiração. se aproximou com cuidado. Ao enxergar o seu rosto, a menina franziu o cenho. O conhecia, ela tinha certeza que sim, mas não conseguia lembrar de seu nome.
Em uma distância segura a jovem se colocou a observá-lo. Ele parecia tão perdido em pensamentos... Em um momento decisivo, ele suspirou, retirando de seu bolso um objeto de madeira longo e fino. Aquilo parecia... Uma varinha. Ele ergueu a varinha acima de sua cabeça, apontando para a árvore guardiã.
— Quem é você? — ela o questionou, enfim pronunciando-se.
O homem desviou o olhar devagar, maravilhado com a imagem de .
— Você parece um anjo. — ele constatou, embasbacado.
— Pareço? — ela rebate, aproximando-se do garoto. — É só um vestido dourado. E são apenas asas. Sou só uma garota comum, sabe? Não estou acostumada com isso.
— Bem, você não estar acostumada não retira o fato de você ser um anjo. — ele afirma. — Já li histórias sobre uma criatura como você e a forma que tal criatura irá transformar Mysthical.
— Já, é?
— Já sim. — ele confirmou, aproximando-se mais da garota. Parecia ansioso para falar e tinha cada vez mais certeza de que o conhecia de algum lugar – só não conseguia lembrar de onde. — O céu e o inferno estão cansados dos extremos de Mysthical. Cansados da forma que ou um ser é extremamente bondoso ou extremamente cruel. Os frustra imensamente essa forma radical de viver, essa forma chula e pobre que faz tais seres parecerem cada vez mais ignorantes e descartáveis. Por isso eles se uniram. Uniram para nos presentear com o equilíbrio.
— Como seria esse equilíbrio?
— No equilíbrio poderá ter trevas, mas também terá luz. O equilíbrio agirá da maneira certa, o equilíbrio irá salvar a todos. Mysthical foi construída em meio ao caos. Criaturas sobrenaturais escondendo-se para serem aceitas por mundanos. Um líder bondoso se apaixonando por uma mulher cruel. Brigas familiares. Mortes de inocentes. Caos. As pessoas estão constantemente vivendo em cada extremo, sem chance alguma de agarrarem-se ao equilíbrio. Por isso que o céu e o submundo se uniram para presentear o equilíbrio em Terra.
— E o que seria esse equilíbrio?
— A pergunta não é “o quê?” mas “quem?”. Nós temos um nome para aquele que nos trará o equilíbrio. As profecias já estão todas feitas, só basta ele vir e cumpri-las.
— E qual é o nome que vocês dão a ele...?
— Oh. — o rapaz riu ironicamente. — Eles o chamam de Menina Dourada. Já eu prefiro chamá-lo por outro nome.
semicerrou os olhos. Havia ficado subitamente em alerta. Suas mãos levantaram-se, expondo os globos de luz, estes mesclando-se entre dourado e preto.
— E qual nome você prefere chamá-lo? — ela o questiona, por fim.
O rapaz sorriu abertamente, aproximando-se da garota. Ele tinha um sorriso sujo. A imagem doce a qual ele ostentava anteriormente havia sido substituída por pura malícia. O garoto parecia ter péssimas intenções. o conhecia. Ela se esforçava para se lembrar de seu rosto, mas aquilo era completamente em vão. Já farta daquilo, a jovem colocou os globos de luz em frente ao próprio corpo, mas aparentemente naquela situação tal atitude não valeria de nada: o homem se aproximou mais dela, tocando seu pescoço e aproximando seus lábios ao pé de seu ouvido:
— Eu o chamo de Victor.
Ele se afastou. Subitamente voltou a apontar a varinha para a árvore, começando a recitar uma série de cantigas extremamente antigas. A fenda da árvore guardiã, que separava Mysthical do território mundano, se abriu. Era como se um enorme portal estivesse sendo aberto, e um enorme buraco no chão apareceu no meio dele. O homem fechou os olhos, continuando a recitar a cantiga. As criaturas iam saindo da fenda, esgueirando-se pelo ambiente e sumindo pelo território da cidade. observava tudo completamente chocada. Ela estava na noite que o portal havia sido aberto e as criaturas demoníacas convocadas. havia desconfiado de , de e até mesmo de Jhotaz, mas não daquele homem... Não de Victor.
Victor.
Série de lembranças inundaram a mente de no segundo seguinte. Memórias que sempre teve em seu ser, porém aparentemente recalcadas à força em seu inconsciente. Flashs de memória que não sabia que tinha, mas ali estavam: imagens vívidas e inegáveis. Cada visão que havia tido desde que pisara em Mysthical pela primeira vez, porém com a diferença que cada uma delas havia um novo elemento presente: Victor.
Victor presente na noite em que e foram até Jhotaz.
Victor ligando para Melissa e praticamente implorando para que se mudasse para Mysthical.
Victor forçando seus encontros com com desculpas esfarrapadas envolvendo um livro de receitas.
Victor permitindo a entrada de criaturas demoníacas na praia.
Victor remexendo suas visões. Sua realidade. As lembranças.
Quando via imagens do passado... Ele estava lá. Ele sempre esteve lá. À espreita, apenas esperando o momento certo de agir. Ele manipulava suas visões, mostrava a ela apenas aquilo que não lhe daria qualquer parcela de culpa.
arfou, sentindo todo seu peito doer. Quis gritar, berrar, urrar e se contorcer. Ela não entendia o que estava acontecendo, mas estava disposta a tirar a situação a limpo de uma vez por todas.
As mãos de permaneciam em volta do corpo de Daurat, porém o cenário dourado havia sumido: os gritos voltaram. Gritos da batalha que se desenrolava em sua volta.
Ele havia retornado ao seu castelo.
— Você voltou de seu refúgio angelical... Que meigo. Vamos lá, ... — a voz debochada de soou atrás de si, fazendo o vampiro grunhir de ódio. — Seja bonzinho e tire suas mãos imundas do que é meu. Você não quer que eu tire à força de você, quer?
O vampiro continuava com o olhar fixo em .
Sua .
Sua amada.
Morta.
Morta por ele.
— Olhe em volta, seu bastardo! — praticamente cospe tais palavras. — Eu os derrotei! Acabou!
riu. Simplesmente riu. Uma risada seca e sem vida, rasgando sua garganta e provocando calafrios naqueles que ousassem parar para ouvi-la. O vampiro aproximou-se de , selando seus lábios rapidamente, soprando contra eles ao afastar-se:
— Eu te amo. Espero que me perdoe por deixar de ser bonzinho. Irei matar esse filho da puta. Irei matá-lo agora.
Em um segundo já estava de pé. Os olhos cintilantes, as garras curvadas e as presas à mostra. Um sorriso extremamente maléfico contornava seus lábios. deu um passo para trás.
— Depois de tudo isso está disposto a me enfrentar? Não acha que já fez o suficiente, ? — grunhe, irritadiço.
— Oh, caro ... Já deveria ter em mente que sou uma criatura vingativa. — o vampiro se aproxima, o olhar sanguinário ainda presente. — Eu perdi tudo. E agora você pagará por isso.
Nada mais precisava ser dito.
O primeiro golpe havia sido extremamente doloroso, até para os padrões de uma criatura demoníaca da índole de . o socou com força, determinado a feri-lo. cambaleou, sentindo uma dor incômoda no ato. O demônio revidou, rosnando completamente enraivecido enquanto tentava nocautear seu adversário. Os corpos de ambas criaturas se encontraram, ambas fazendo o possível para ferirem uma a outra. Aquele combate só teria um desfecho: a morte.
— Eu sou imensamente mais poderoso que você, . Não seja tolo. — rosna. Ele estava em sua forma demoníaca, os grossos chifres encurvados pesando em sua cabeça enquanto os olhos negros perfuraram a face do vampiro. — Se atreva a me tocar novamente e eu irei lhe...
não conseguiu terminar sua frase. o atacou novamente, segurando fortemente em seu pescoço, deixando com que as garras afundassem ali. O sangue escuro de começou a cair, provocando uma risada seca em .
— Nojento. Tudo em você é tão repulsivo, ... — ele apertava com mais força. se debateu, tentando empurra-lo para longe. Em vão.
— Como isso é possível?! Como ousar tocar em mim?! Eu sou a porra do príncipe do inferno! Eu vou trucidar você! — o demônio grunhiu, pasmo diante a força repentina que demonstrava ter. — Me largue, seu verme imundo!
— Você é um demônio inútil. Pode ser da prole de Lúcifer, mas honestamente... Quem se importa com o babaca de seu pai? — as unhas de perfuravam cada vez mais a carne do demônio. O incômodo se transformava em dor, e a dor começava a dar lugar ao desespero. — Ele não está aqui. A força superior intitulada Deus também não. Somos só nós, presos nesse inferno o qual chamamos de Mysthical. O céu e o submundo não nos dão a mínima.
— Não... Meu pai se importa. Ele se importa! — grunhe. — Mysthical acabará. Com a fonte de poder que me proporcionará com seu sangue eu estarei livre. Livre do inferno, livre dele...
— ELE NÃO LIGA! — esbraveja. Com a mão livre o vampiro deu-lhe mais um soco, este acertando sua face. — Trevas, luz... Você. . Grande merda. Aqui vocês não passam de duas almas moribundas que vivem se remoendo por um passado estúpido e ansiando por um futuro que consegue ser mais imbecil ainda. Vocês são patéticos. Estou tão cansado disso...
deu o golpe final. Seu braço subitamente atravessou o corpo do demônio. gritou, um som completamente horripilante aos ouvidos. Nenhum dos demônios a sua volta vieram a seu socorro. Muito pelo contrário: a guerra pareceu ter sido pausada. Todos os olhares se viraram para eles, ou melhor: para além deles.
— Morra, . Volte para o inferno. Você foi só uma peça de um enorme jogo... E agora eu retornei para ganhá-lo de uma vez por todas.
A voz que havia pronunciado tais palavras era firme e decidida. Seu tom de voz era envolvente, o tom característico de um líder democrático: gentil, porém firme. lembrou-se da forma que Jacques falava, porém aquele som era muito melhor. Infinitamente melhor.
Ao se virar para enfim ver com seus próprios olhos, engoliu em seco. Seus olhos se encheram de lágrimas.
— Não. Não! Isso é impossível! — ouviu urrar em desgosto, morrendo em suas mãos, mas com os olhos negros fixos na imagem celestial que contemplavam.
Daurat estava ali, de pé e viva. Mais bela do que nunca, mais poderosa do que jamais imaginariam. O longo vestido dourado cabia com perfeição em seu corpo esbelto, seus cabelos caíam em cascatas por seus ombros e suas asas rodeavam sua silhueta com perfeição. Porém havia algo de diferente: a cor de seus olhos e cabelos. Seus cabelos negros se misturavam com luzes loiras. Um de seus olhos ainda eram cinza, porém a cor se misturava com pequenos feixes de luz dourado cintilante. Agora o outro olho não: ele era negro. Uma órbita completamente negra e vazia.
— Eu sou o equilíbrio. O equilíbrio entre a luz e as trevas criado pelos céus e pelo submundo com o objetivo de cuidar e proteger Mysthical de uma vez por todas. — se pronunciava de forma firme e clara. — Eu sou aquela que clamam por Menina Dourada, a guardiã dos anjos principados em Terra. Eu sou a salvação de Mysthical.
Suas asas bateram, levando-a para cima, fazendo-a sobrevoar aquele caos. Suas mãos se ergueram, globos de poder saíam delas: luz dourado intensa, globos negros de fúria; Se misturavam. Se misturavam pois o equilíbrio havia sido alcançado, e com o equilíbrio enfim viria a salvação.
— A paz prevalecerá. — ela entoou em cima de todos. Seus olhos fixaram-se exclusivamente em Victor, que a observava ainda mais intrigado. — Esse é o fim.
Pronunciada tais palavras um enorme véu de luz intensa cobriu cada arredor de Mysthical, protegendo-a, transcendendo-a daquela realidade, simplesmente curando-a. Curando a cidade, curando seus habitantes, livrando-os do mal. As criaturas demoníacas rugiam em desespero, dissolvendo-se e voltando para o plano demoníaco o qual faziam parte.
Primeiro veio o silêncio.
Assimilavam o que havia acontecido. Tocaram seus próprios corpos, completamente chocados ao constatarem que realmente estavam vivos.
E em seguida vieram os gritos.
Gritos de comemoração preencheram a cidade. Os sobreviventes gritavam, completamente extasiados com o fato: estavam vivos. E para eles a percepção de que sua vida não fora tirada brutalmente de si era o suficiente para seguir em frente diante ao caos.
Apenas para deixar enterrado
Agora eu não posso mais suportar isso
Por que eu não podia dizer, então?
Tenho estado ferido, de qualquer maneira
Realmente, eu não posso suportar isso”
Jhotaz se abaixou ao seu lado. Ele a abraçou apertado, envolvendo-a em seus braços. E ela não o afastou. Muito pelo contrário: a caçadora o abraçou apertado, permitindo-se chorar nos braços de seu amado.
estava há poucos metros de distância, apoiada com força na parede de pedras. Seu olhar estava perdido no vazio. Ao observar Gainy com Jhotaz, não pôde evitar em pensar em Yan. Mas ele não estava ali (e nunca mais estaria). Se contentou em procurar Victor com o olhar, mas o mesmo também não estava por perto. estava sozinha. Sentiu uma mão tocar-lhe o ombro. Melissa Daurat puxou o corpo magricela da garota para perto do seu, envolvendo-a em um abraço apertado. A solidão poderia ser mais suportável se compartilhada.
Em algum lugar do castelo havia um anjo. Um anjo corrompido pelo amor doentio que nutria. Ele chorava copiosamente, sentindo seu corpo doer com os espasmos que tinha a cada soluço que dava. Em seus braços havia uma mulher. Uma mulher a qual ele havia matado com suas próprias mãos.
.
Lauranna.
segurava o cadáver de Lauranna com força, chorando em cima do mesmo.
Ele matou aquilo que o matava, e doía como o inferno. Mas a dor era necessária. Não apenas para ele, mas para todos naquela cidade.
A dor era necessária para que pudessem seguir em frente.
Mais uma vez, chore, porque eu não consegui protegê-la”
Começou a correr por entre os sobreviventes que lhe parabenizavam e agradeciam. Corria o mais rápido o possível, seus olhos procurando incansavelmente a figura daquele que havia causado tudo aquilo.
— Princesa?
Subitamente parou. Parou, pois diante aquela voz ela nunca conseguiria continuar andando. Nunca conseguiria fugir ou se afastar. Virou-se, a tempo de ver analisando-a com lágrimas nos olhos. O que veio a seguir fora extremamente natural: ele abriu os braços, e ela rapidamente já se aninhou no meio deles. Ele a abraçou apertado, segurando seu corpo com firmeza, afagando seus cabelos com carinho.
“Vai ficar tudo bem.” ele sussurrava. “Já acabou. Vamos ficar bem agora”.
queria acreditar naquelas palavras. Queria mais do que tudo encontrar acolhimento e sentido no que fora pronunciado pelo homem que mais amava no mundo, mas ela sabia que ele estava enganado.
Ainda não acabou.
Ela se afastou minimamente de seu peito para lhe informar isso, para lhe dizer que ainda faltava algo, que ela precisava fazer algo... Mas fora tarde demais.
Seus olhos se fixaram na cena adiante. Lara corria por entre as pessoas, sorrindo para elas, prestando seu serviço de cura com rapidez e gentileza.
— Victor! — a menina grita, completamente encantada.
Victor sorri. Aquele sorriso meigo, gentil, que sempre havia causado a sensação de mais pura paz para a jovem Lara.
— Acabou, Victor! — Lara diz, alegre. — Nós estamos bem. Acabou.
— Não, Lara. — ele diz baixinho, aproximando-se dela. Segurou seus cabelos, fazendo carinho nos fios castanhos. — Ainda não acabou. Há apenas mais uma coisa a ser feita.
— Deixe-me adivinhar: um grande abraço em família? — ela sorri. — Vamos chamar e tio Jhotaz!
— Oh, não. Não é isso. — ele nega.
— E o que é afinal? — os grande olhinhos verdes o fitavam em expectativa.
As carícias de Victor desceram até o pescocinho da garotinha. Ele deixou suas mãos em volta dele, segurando-o ainda com ternura.
— Escute-me bem: eu te amo. Eu te amo do fundo do meu coração. — ele fecha os olhos. — Eu sinto muito.
— Ei, eu também te amo! — Lara sorri. — O que foi? Vai ficar tudo be...
O final da frase da garotinha é substituído pelo som horrendo de seu pescoço se quebrando.
Lara cai, inerte.
Victor a segura em seus braços.
Em seguida tudo o que podia-se distinguir da cena eram os berros de se aproximando, juntamente a sua face retorcida em puro sofrimento e agonia.
“Você, que foi punida em meu lugar.
Você, que era delicada e frágil...
Me desculpe, me desculpe. “
— BTS, Stigma.
Capítulo 34
“Se essa rua
Se essa rua fosse minha...”
O quarto cheirava a mofo. As paredes estavam repletas de marcas de umidade, com sua pintura descascando precariamente. fitou o cômodo com o semblante vazio. Ele se localizava no corredor do quarto de seu tio, no casarão. Era o quarto o qual ele havia deixado Lauranna durante todos aqueles anos. Mas o quarto não pertencia mais a ela.
O atual dono estava sentado no chão imundo, as costas apoiadas contra a parede suja. Ele fitava profundamente, incapaz de desviar o olhar. Ele chorava. Chorava a ponto de soluços baixos saírem por entre seus lábios finos, chorava como se nunca houvesse sentido tanta dor.
— Por que não me matou? — ele perguntou, cortando o silêncio.
desviou o olhar para seu tio. Jhotaz estava na porta do cômodo, os braços cruzados em frente ao corpo. Ele a fitou, os olhos caridosos tentando lhe passar algum conforto, mas aquilo era em vão. Tudo era em vão. sabia que o tio se culpava, por mais que para ela tudo estava muito longe de ser sua culpa. Lara havia acabado de morrer nas mãos de alguém que confiavam, nas mãos de alguém que era considerado um membro da família. Os únicos culpados eram Victor... E ela.
— Matá-lo me tornaria tão podre quanto você. — ela retruca. Desviou o contato visual com o tio, se aproximando de Victor.
— Eu a matei, . — ele afirma, rindo nervosamente em meio a outro soluço. — Mate-me! Eu matei sua irmãzinha! Eu quebrei seu pescoço com minhas próprias mãos! ME MATE!
— Não.
estava em frente ao homem. Segurou-o pelo pescoço, apertando-o com precisão para machucá-lo, mas nada além disso. Não queria sufocá-lo ou quebrá-lo. Só queria feri-lo. Descontar um pouco da dor avassaladora que sentia no momento, mas que tentava a todo custo não expô-la diante aquele traidor.
— Por que fez isso, Victor? — Jhotaz se pronuncia pela primeira vez. Seu tom saiu rouco e arrastado. Sem vida.
— N-não... — a voz de Victor treme. — Não me façam dizer. Apenas me matem.
— POR QUE FEZ ISSO?! — rosna, exigindo saber. Suas mãos envolveram com ainda mais força o pescoço do homem. Ele grunhiu, começando a chorar com mais intensidade.
— Eu tinha que fazer! — ele diz em um ganido de dor. — Eu não tive escolha!
— Você não teve escolha?! Como você se atreve seu...! — Jhotaz se aproxima, sendo interrompido por .
— Tio, não. — ela diz.
A garota subitamente solta o bruxo. Deu alguns passos para trás, certificando-se de que estava em uma distância segura.
— Se explique, Victor. Confesse. Você me deve isso. Você nos deve isso. — ela fecha os olhos fortemente. — Você deve isso a ela.
Victor grita, subitamente dando um soco na parede antiga, fazendo-a tremer. Sua face estava retorcida em agonia.
— Ela era um anjo. — ele sussurra, soluçando mais alto. — Um anjinho inabalável, com a pureza transbordando em seu ser. Eu a amava... Eu a amava demais. Vocês não me deram escolha. Você não me deu escolha.
— O que quer dizer?
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Para o meu
Para o meu amor passar...”
— Mais cedo você disse para que ele era apenas parte desse jogo. Sua colocação fora correta, : é tudo um jogo. Um enorme jogo de tabuleiro, o qual todos os envolvidos não passaram de peças para fazer com que ele continuasse funcionando.
O olhar de Victor se tornou distante. O bruxo ajeitou sua postura, parecendo cada vez mais contemplado naquilo que diria, perdido na imensidão de seus próprios pensamentos, preparando-se para os expor em voz alta.
— Você se lembra de nosso primeiro encontro? Creio que aquele fora o diálogo mais sincero que já tivemos. Eu te disse que Jacques cometeu um erro terrível ao escolher Melissa e ir embora de Mysthical. Como um bruxo que teve as habilidades proféticas herdadas de minha avó, eu sempre soube o destino de Jacques. Eu sabia exatamente o que aconteceria ao escolher Melissa à Lauranna, e isso me irritava profundamente. Desde a morte de vovó, Jhotaz e Jacques se tornaram minha família. Minha única família. Imaginá-los longe de mim doía, pois sem os dois irmãos Daurat eu sinto como se não tivesse qualquer outro propósito para continuar existindo.
O bruxo desviou o olhar para Jhotaz. Lágrimas caíam desenfreadas por sua face. Ele prosseguiu, tentando ser o mais claro o possível:
— Você matou minha avó, Jhotaz. Você a matou por Lauranna. Você a matou para nascer. E eu te odiei por isso, mas não o suficiente. Você e Jacques se tornaram tudo o que eu tinha, eu não poderia odiá-los, eu... Eu nunca quis odiá-los. Mas meu coração se encheu de ódio. Não por vocês, mas por aqueles envolvidos em sua história. Eu sempre fui um grande sábio acerca das profecias. Eu sabia sobre o equilíbrio que os céus e o submundo tanto desejavam para Mysthical, e eu sabia que para isso eles precisariam dar à luz a uma criança. Lauranna fora apenas a escolhida para dar à luz a Menina Dourada, pois fora ela a responsável por quebrar o equilíbrio.
O bruxo subitamente se levantou. Estava fraco, pois o cômodo em si era enfeitiçado para que seus poderes não funcionassem. Victor segurou nas paredes, seu olhar voltando-se para . Prosseguiu:
— Eu estava farto de toda essa situação. Eu, , , Jhotaz, Jacques, Lauranna, Melissa... Até mesmo . Todos nós fomos peões de um plano maior, sujeitos a agir de acordo para que as profecias se cumprissem e a salvação de Mysthical viesse a Terra. E então eu decidi agir. Decidi agir acima de meu destino, decidi tomar as rédeas e prosseguir por eu mesmo. Vingança, . Vingança por toda a dor que me causaram. — ele deu um passo em direção à jovem. E mais um. De repente estava em frente a ela. não se afastou. — Foi por sua causa que perdi minha avó, a mulher que mais amava no mundo. Foi por sua causa que todos a minha volta sofreram. Você foi o resultado de toda a intriga desnecessária, você foi o motivo. E foi por isso que eu fiz o que fiz. A profecia dizia claramente que Mysthical estaria em perigo e apenas a jovem Menina Dourada poderia salvá-la. E eu decidi quebrá-la. EU menti para e fazendo-os acreditar que as forças superiores desejavam puni-los por seus erros e por isso eles deveriam vir para Mysthical e aqui permanecer. EU convenci Melissa a mandar você para cá, alegando que Jhotaz precisava da família. EU sempre estive em contato com Lauranna, alimentando seu ódio e manipulando-a para fazer crer que destruir Mysthical seria sua única forma de vingança possível. EU insisti em seus encontros com , pois o convenci de que você seria a única chance dele se libertar de seu pai e ter uma vida fora de Mysthical. EU manipulei suas lembranças, modificando suas visões de forma que nunca suspeitasse que sempre estive envolvido. EU convoquei as criaturas demoníacas, EU as permiti adentrar a praia, EU. Tudo eu.
— Tudo por... Vingança?
— Não apenas isso. Eu te disse, ... Em nosso primeiro encontro, se lembra? Eu te disse. “O amor faz isso com as pessoas, faz com que elas percam a razão e assim percam a noção do que é certo e do que é errado.” O amor. Isso me guia, . Meu amor cego pela família Daurat me fez crer que você foi o motivo de todo o sofrimento. De toda a angústia e intrigas. Mas eu não contava com os dois seres à parte na história... e Lara. Eu não contava com se apaixonando tão perdidamente por você e se envolvendo com tanto fervor nas profecias. E eu não contava com Lara se tornando a melhor coisa que já me aconteceu...
Um soluço alto, seguido de um grito. Victor subitamente se jogou no chão, batendo com força contra sua própria cabeça. Ele gritou novamente, e se bateu de novo, de novo e de novo.
— Eu havia perdido. — ele sussurra sôfrego. — Mas eu precisava lhe causar dor, . Eu precisava que você sentisse o que eu senti... E Lara pagou por isso. Oh, pobre Lara... Eu sinto muito, eu sinto tanto...
Victor chorava. olhava para aquilo sem expressão, pois nada mais poderia ser dito. Sentiu uma aproximação ao seu lado. Jhotaz. Ele segurou seu ombro, trazendo-a para perto de si. O tio enfim havia começado a chorar, mas ainda não havia se dado o luxo de o fazê-lo.
— Eu também sinto muito, Victor. — ela diz, por fim.
E ela realmente sentia.
Nessa rua tem um bosque
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração...”
A manhã do aniversário de Daurat fora presenteada com uma leve brisa fresca e refrescante. O céu azul e límpido, sem quaisquer sinal de nuvens; O Sol despontando acima de suas cabeças proporcionando-os o leve esquentar dos corpos.
Estava um dia lindo. O tipo de dia que faria Lara sorrir abertamente e correr com os braços abertos, rindo de qualquer coisa que passou em sua cabecinha, algo que lhe pareceu engraçado o suficiente para soltar uma gostosa gargalhada. riria de sua atitude, provavelmente diria a ela o quão louca ela é, e assim ambas começariam uma boba discussão que acabaria em cócegas e gargalhadas.
Lara nunca mais iria sair correndo para saudar o belo dia que fazia.
Lara nunca mais gargalharia gostosamente, transparecendo a alegria genuína que sentia.
Lara nunca mais faria ou receberia cócegas da irmã mais velha; Muito menos desfrutaria de um momento com ela novamente.
Tudo doía.
A cada passo que dava, mais dor sentia.
Sua mão estava fortemente entrelaçada na mãozinha gélida da irmã e ela não ousaria soltá-la tão cedo. Prosseguia a caminhada porque era obrigada a tal, mas isso não a impedia de a cada segundo olhar esperançosa para o caixão, com a tola expectativa de ver seus olhos se abrindo e a cor rubi a cegar. A mão pequenina a apertando com força enquanto os lábios rosados gritariam dizendo que tudo não passou de uma grande brincadeira. Uma grande brincadeira de mau gosto, mas ainda assim: apenas uma brincadeira. riria aliviada, com lágrimas de pura felicidade banhando seu rosto e assim as duas poderiam fazer o caminho de volta ao casarão e talvez poderiam preparar uma pipoca. Sentariam no sofá da sala, a pequenina se deitaria em seu colo e assim assistiriam qualquer desenho que passasse.
Lara nunca mais iria piscar os lindos olhinhos cor de rubi novamente.
Lara nunca mais soltaria um grito alegre e cheio de vivacidade, naquele tom infantil que era capaz de derreter o mais frio dos corações.
Lara nunca mais comeria pipoca de boca cheia e seria repreendida pela irmã.
Lara nunca mais assistiria um desenho no colo de . Nunca mais sentiria o cafuné gostoso que a mais velha fazia em seus cabelos castanhos. Nunca mais pegaria no sono ali mesmo. Nunca mais ganharia um carinhoso beijo estalado na bochecha, marcado com muito carinho pela garota que mais a amava no mundo.
Nunca mais.
A dor continuava. Forte, aguda e avassaladora. Passava por todo seu corpo, provocando uma péssima sensação de que tudo estava terrivelmente errado e nunca ficaria certo novamente.
Quando enfim completaram o caminho até a árvore guardiã, se sentiu subitamente enjoada. Jhotaz estava encostado no tronco da árvore. Ao seu lado estavam Gainy e Melissa, esta última chorando desesperadamente em seu ombro. a compreendia, afinal, também sentia o mesmo desespero de uma mãe ao perder sua filha.
Os habitantes da cidade estavam todos em volta, um pouco distantes para não parecerem invasivos. Prestavam homenagens e sussurravam o quanto sentiam muito. Mais à frente estava , com a cabeça baixa escondendo suas lágrimas. estava ao seu lado, chorando copiosamente.
observou o enorme buraco o qual Jhotaz havia mandado cavar mais cedo, este localizado exatamente nas raízes da árvore.
— Ela não pode ficar ali. — diz em sussurro. — Por favor, não! Ela vai ficar sozinha, eu não posso deixá-la sozinha!
Os habitantes encarregados de carregarem o caixão apenas a olharam com pena. quis gritar com eles. Eles não compreendiam?! Ela não poderia deixar Lara naquele buraco!
— Nós precisamos deixá-la ir. — um sussurro contra seu ouvido a vez parar.
sentiu suas mãos começaram a tremer e suas pernas falharem. Ela prontamente foi amparada pelos braços fortes daquele que nunca a deixaria cair. a abraçou fortemente pela cintura, envolvendo seu corpo, afastando-a do objeto de madeira o qual se localizava sua garotinha.
A partir dali tudo aconteceu como um flash. Palavras agradáveis acerca de Lara e de toda a sua natureza encantadora foram pronunciados pelos presentes. Lamúrias constantes sobre como ela nos deixou precocemente e o quão injusta tal situação era. não conseguia prestar atenção. Ela só se encolhia contra o corpo de , buscando conforto e forças.
Porém Melissa disse algo que a atingiu certeiramente, e não conseguiu mais suportar.
— Ela está com Jacques agora.
Oh, que ironia. havia passado toda a sua vida se culpando pela morte de seu pai, e agora ali estava ela: culpando-se pela morte de Lara. Seu anjinho. Sua esperança, seu amor, sua irmãzinha. Mas eles estavam juntos agora. Em algum lugar, eles estavam juntos, e Jacques a protegeria.
Quando o caixão fora fechado e colocado no enorme buraco, enfim começou a chorar. a apertava contra si, sussurrando palavras de conforto as quais tinha certeza que ele mesmo não acreditava, mas o fazia por ela. o amou um pouco mais por isso.
— Seu pai me disse que meu poder é amar... — ele sussurra contra seu ouvido. — E eu te amo tanto, , mas tanto... Prometo que a partir de agora você se sentirá tão amada que a dor se tornará suportável. A ferida irá cicatrizar, e nós tentaremos de novo. Faremos isso por ela, está bem? Por Lara.
o abraçou mais forte, sentindo todo seu ser se encher de genuína luz. Esperança. Um fio de esperança em meio ao caos.
— Por Lara.
Se eu roubei teu coração
É porque
É porque te quero bem
Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
É porque
Tu roubaste o meu também. “
Epílogo
“Continue a brilhar, Menina Dourada
Acenda uma vela para o mundo
Tome seu fogo de dentro
Aqueça a escuridão - acenda a noite
Traga seu paraíso para o chão
Nunca deixe que eles derrubem isso
Há tanta alma quando você está brilhando...
Menina Dourada.”
Quinze anos depois
A sala de jantar do casarão de Jhotaz Daurat havia se tornado uma espécie de ponto de encontro do conselho de Mysthical. Quinze anos atrás, logo após todo o caos que os envolveu, Jhotaz havia deixado claro que deixaria a sobrinha assumir o cargo de líder da cidade se esta se sentisse pronta para tal. voltou para a escola, se formou no ensino médio e em seguida ingressou em uma faculdade nas redondezas, cursando Ciências Políticas. Ao se graduar com louvor, decidiu enfim assumir o cargo para o qual sabia estar destinada desde seu nascimento, tornando-se a líder ideal e qualificada a qual Mysthical merecia. Prontamente implantou uma espécie de conselho da cidade, o qual era constituído por: Gainy, que era a chefe de segurança; , que havia assumido oficialmente sua posição de anjo da guarda e estava ao seu lado para dar-lhe suporte; e , que havia se esforçado para se tornar sua fiel conselheira na tomada de decisões.
— A proteção da árvore guardiã está estável, porém eu não quero arriscar. Gostaria que dobrássemos a escolta por aquela região, ainda mais por se tratar dos arredores do território escolar. — ela diz firme, cada palavra captando com perfeição a atenção dos presentes.
— Você está certa, . Quanto mais proteção, melhor. — Gainy concorda. — Porém não acho que minhas tropas possam dar conta da árvore guardiã. Ainda são poucas caçadoras e elas estão dando prioridade para as áreas de maior ameaça.
Desde as cruéis mortes de Reusha, Jea e Johoney; Gainy estava tentando a todo custo focar na segurança de Mysthical. havia a nomeado chefe de segurança oficial, e a delegada havia apreciado imensamente o cargo, dando o melhor de si em cada atitude tomada.
— Todos sabem que a área escolar sempre foi minha prioridade. — se pronuncia. Seus olhos fixados em , a fim de lhe mostrar confiança. — Ficarei honrado em tomar conta da árvore guardiã.
— Obrigada, . — o agradece com um aceno de cabeça, fazendo-o prontamente assentir de volta, um sorriso meigo se abrindo em seus lábios finos.
— Disponha. Sabe que sempre pode contar comigo.
meneou a cabeça assentindo, por mais que não estivesse tão certa acerca das palavras do rapaz. estava tentando a todo custo conquistar sua confiança novamente. Desde a misteriosa morte de Lauranna, a qual ele alegou ter morrido nas mãos de criaturas demoníacas, ele havia se mostrado completamente receptivo a , prometendo-lhe lealdade eterna (mas isso não impedia a mulher de ainda ser cautelosa quando se tratava do anjo inconstante).
— Creio que já possamos considerar essa reunião encerrada. Já é noite, tenho certeza que todos aqui possuem coisas mais interessantes para fazer do que me ouvir dando ordens.
— Principalmente você, não é? — diz, seus lábios repuxando em um sorriso sapeca. — Hoje é um dia especial.
não pôde evitar que um sorriso bobo se abrisse em seus lábios ao se lembrar da data em questão.
— Quem te contou?
— Eu simplesmente sei. Todo ano você fica com esses olhinhos brilhantes e sorrisinho besta.
— Não precisa ser um gênio para deduzir que isso tem relação a . — Gainy intervém, olhando de para . A caçadora ainda não conseguia esconder o quão desgostosa se sentia com a insistência de em permanecer com o rapaz, porém ao passar dos anos simplesmente havia se acostumado.
— Hoje é nosso aniversário de casamento. — diz baixinho, lembrando-se da ocasião com um enorme sorriso.
Cinco anos atrás, em uma noite quente de verão, Daurat estava deitada por entre os lençóis com fodendo-a e sussurrando obscenidades em seu ouvido. Ao atingirem o clímax, o vampiro simplesmente virou-se para ela e fez a pergunta que, se não houvesse firmado sua imortalidade, jurava que teria a matado na hora:
“Quer casar comigo?”
E ela disse sim. No mês seguinte já haviam realizado a cerimônia, e Daurat havia se tornado . O quão louco aquilo parecia?
— Prepararam algo especial para hoje à noite? — a questionou, fazendo subitamente sentir-se constrangida. Havia se esquecido da presença do anjo no recinto.
— Na verdade não. Ele sempre acaba esquecendo. Anos para ele são como semanas, então as datas não parecem fazer sentido em sua cabeça. A única que ele consegue se recordar é meu aniversário...
Silêncio. Um silêncio respeitoso diante a menção da data que era não apenas sua comemoração de mais um ano de vida, mas o aniversário de morte de duas pessoas que amava com todo seu coração.
— Aposto que ele tenta te animar em todos os anos que se sucederam. — Gainy diz, segurando a mão da líder por cima da mesa.
sorri, assentindo de forma grata. Gainy odiava , mas fora imensamente agradável ao mencionar as qualidades do rapaz para fazer se sentir melhor diante a lembrança de seu aniversário.
— Ele tenta e consegue. Sei que é difícil de acreditar, mas ele me faz muito feliz. — sorriu abertamente ao se lembrar do homem. — Falando nisso, preciso ir. Ele provavelmente já deve ter chegado em casa.
A garota se levanta, sendo acompanhada por seu conselho. parecia incomodado, mas já havia se acostumado com as manifestações de ciúme do rapaz diante ao seu relacionamento com .
— Você irá sem se despedir de mim? Assim fico magoado.
A voz suave de Jhotaz soou no recinto, fazendo revirar os olhos.
— Você é quem se esconde. Poderia nos acompanhar nas reuniões!
— Oh não, eu sou um homem aposentado. Não vê o quão velho eu sou? — Jhotaz aponta para si mesmo como se mostrasse sua velhice. Aquilo era uma brincadeira, afinal seu tio permanecia exatamente da mesma forma que sempre fora, sem parecer ter envelhecido um ano sequer. Benefícios da imortalidade.
— Claro, você é um velho caquético. Deveríamos deixá-lo em um asilo. — a garota retruca em ironia, arrancando uma risada escandalosa do tio.
— Você concorda com ela, amor? — ele pergunta para Gainy, segurando-a pelos ombros e arrancando-a um selinho.
— Não estou em posição de dar qualquer opinião aqui, querido. — Gainy o abraça apertado. Aquilo faz sorrir. Era tão bom ver o tio com alguém que realmente o amava – e ele havia aprendido a amar também. Quando soube da morte de Lauranna, Jhotaz simplesmente ignorou. Ignorou pois sua dor estava completamente voltada para a perda de Lara – e Gainy o ajudou a passar por isso, consequentemente unindo-se completamente a ele.
— Já vou indo, me aguarda. Até mais, tio. — se aproxima, dando um beijo no rosto do mais velho e fazendo-o sorrir.
— Cuidado com aquele bastardo. Estou de olho.
— Claro que está.
A garota se despede dos demais, recebendo uma piscadela maliciosa de e um abraço mais demorado que o necessário de . Ao sair do casarão e começar a andar pelas ruas de Mysthical, franziu o cenho e deixou com que seus lábios se abrissem em surpresa. Os arranjos de flores das ruas haviam sido trocados durante o dia, sendo substituídos por suas flores preferidas: rosas. Rosas de diversas cores, provocando uma enorme satisfação enquanto as observava pelo caminho. sabia muito bem quem havia sido responsável em colocá-las ali – afinal, Mysthical só tinha um jardineiro oficial (e dormia com ele todas as noites).
A garota andava pelas ruas, observando os comércios locais fecharem e outros abrirem, dando lugar aos estabelecimentos noturnos. sorria ocasionalmente para os habitantes, que a cumprimentavam com enorme respeito e simpatia. Ao enfim chegar na parte não mais tão deserta da cidade, a garota apressou o passo para chegar rápido até os enormes portões do castelo , adentrando-os vagarosamente. Surpreendeu-se ao dar de cara com Melissa andando pelo caminho de pedras, provavelmente havia acabado de sair do castelo.
— Oi, mãe. — sorriu nervosamente.
— Oi, querida. — Melissa sorri sem jeito, depositando um beijo suave na bochecha de sua eterna filha. — Vim deixar Luke e Lara aqui.
— Pensei que eles fossem dormir com a senhora hoje.
— Oh, eles iam! Mas Lara decidiu que ainda não está preparada para passar a noite sem ouvir a música cantada pelo pai.
As duas se encararam por alguns segundos, sabendo o peso que tais palavras tinham em seus sentimentos. Entraram em um breve estado de reflexão, aquele tipo de reflexão forçada que vinha acompanhada com a perda.
— Ela é muito parecida com ela. — diz, por fim.
— Sim, ela é.
Nada mais precisou ser dito. Melissa abriu os braços, acolhendo a filha e abraçando-a apertado. Os anos haviam sido difíceis, mas estavam se esforçando o máximo para a melhoria de seu relacionamento.
— Bem, eu vou entrando. deve estar me esperando.
— Definitivamente ele está, nunca o vi tão ansioso!
As duas riram, afastando-se e enfim despedindo-se. seguiu seu caminho, chegando até as enormes portas de madeira e adentrando sua casa. Não importava quanto tempo passasse morando no castelo de : nunca se acostumaria com o quão grande ele era. Já havia perdido as contas de quantas vezes se perdeu em seus corredores e teve que gritar pela ajuda do marido, este que vinha socorrê-la com um enorme sorriso debochado nos lábios – o qual ela rapidamente fazia questão de tirá-lo, beijando furiosamente a carne macia e provocando uma breve guerrinha por controle de ambas as partes. Eles sempre foram assim, afinal: briguinhas aqui e ali, todas acabando com deixando-a constrangida o bastante para se entregar aos seus caprichos.
— Crianças, cheguei! — ela anunciou em brincadeira, rumando até a cozinha luxuosa, sabendo que estariam ali.
Dito e feito. Luke estava no fogão, mexendo em algo dentro de uma panela enquanto estava ao seu lado cortando legumes; Lara estava sentada na cadeirinha, ela tinha uma colher de pau em mãos e batia na superfície de plástico. Eye of the Tiger tocava na caixa de som, fazendo rir. Era a faixa principal da trilha sonora dos filmes do Rocky Balboa. Desde que descobriu que muitas músicas que gostava estavam ligadas a filmes, ele havia dado uma chance para a arte cinematográfica.
— Oi, mãe! — Luke sorriu brevemente para a mulher, fazendo-a sorrir de volta.
Luke era um garoto de quinze anos. e haviam o adotado quando tinha cinco anos. Ele era filho de uma sobrevivente da batalha de anos atrás, mas a mulher adoeceu e pediu para a líder da cidade cuidar de seu filho. Havia sido um pedido extremamente assustador na época, mas havia aceitado e sabia que havia sido sua melhor decisão. Ela amava Luke com todo seu coração e não conseguia imaginar sua vida sem o seu menininho.
— Nosso garotão está me ajudando a cozinhar hoje. Segundo ele eu sou uma criatura completamente incapaz de cozinhar algo bom pois eu sou muito velho para lembrar do gosto de comida. — revirou os olhos, fazendo o filho rir.
— Quantos anos você tem, pai? Mil e quatrocentos? — ele ironiza, recebendo um tapa fraco no alto da cabeça. — Ei!
— Não seja abusado, moleque. — de vira para , analisando-a da cabeça aos pés. — Olha só pra você... Toda sexy parecendo uma mulher de negócios preparada para foder com meu psicológico!
— !
— Foder! — Lara comenta feliz. Luke solta uma gargalhada escandalosa, e acaba acompanhando o filho. Os dois eram tão parecidos que chegava a ser engraçado.
— Filha, meu Deus! Nunca mais repita isso! — grunhe exasperada, segurando o rosto de sua garotinha que a olhava com um enorme sorriso sapeca.
Lara havia sido um milagre. falava dessa forma pois nada parecia capaz de explicar a existência de sua menininha em sua vida. No ano anterior ela havia sido abandonada nos arredores da árvore guardiã. e tentaram averiguar quem poderia ter abandonada a pobre menina, já que a cidade era realmente pequena e eles tinham conhecimento de todos os habitantes e suas respectivas vidas – ninguém esperava um bebê para ter chegado ao ponto de abandonar uma criança. Aquilo era realmente estranho. Quando não conseguiram encontrar respostas, decidiram ficar com a recém-nascida, batizando-a de Lara (por motivos óbvios). A garotinha havia completado um aninho recentemente e era o ser mais doce e encantador do mundo.
— Mãe, papai não quer te contar, mas Lara estava dizendo “caralho” mais cedo. — Luke diz, fazendo bater fraco no menino novamente.
— Em minha defesa “caralho” não é palavrão e sim advérbio de intensidade!
A garota revirou os olhos, acabando por rir alto. Ela sabia que não poderia controlar (ela nunca pôde, afinal).
Quando o jantar finalmente ficou pronto, a peculiar família se sentou à mesa, degustando do prato que Luke havia preparado. O menino parecia ter um grande interesse em culinária, e não via a hora de ver seu filho sendo um chef, pois ele realmente tinha talento.
No fim do jantar eles arrumaram a mesa, e Luke subiu com Lara a fim de limpá-la depois da bagunça que fez ao ingerir a refeição.
— Enfim sós. — diz, fazendo revirar os olhos.
— As crianças estão lá em cima. Não se atreva.
— Falou bem “lá em cima”. Não aqui.
Ele sorri maliciosamente, antes de segurar firmemente os dois braços da mais nova e empurrá-la até a parede, prensando-a bruscamente ali. Suas mãos seguravam os punhos da menina, de forma que assim pudesse manter os braços dela grudados à parede, ao lado de sua cabeça. sorriu e mordeu o próprio lábio inferior ao ver a esposa com os punhos presos por suas mãos, e assim, finalmente se entregou ao desejo de beijá-la de maneira desejosa. Liberou sobre os lábios da mais jovem todo o desejo que sentia pelos mesmos, pelo corpo dela, simplesmente por ela. Por tê-la, por ser dela, por sentir o calor de seu corpo se misturando ao gélido do seu próprio. Nada no mundo o enlouquecia mais do que aquela garota. Nada. Toda a vez que sentia o toque de sua língua em sincronia com a sua, era simplesmente como estar no paraíso. Tudo o que mais queria era morrer sentindo o gosto delicioso daquela boca, daquele beijo que só ela tinha, aquela essência que ele sabia que jamais encontraria em outra mulher. Uma essência que lhe completava. Lhe deixava louco, enchia-o de amor e desespero por aquela garota. Seu primeiro amor. Seu único amor. Só de beijá-la daquela forma, já podia sentir arrepios percorrendo por cada parte de seu corpo quente, o doce gosto em seus lábios aquecidos e devoradores, sedentos pelos dela. Jamais se cansaria de provar do sabor único que o beijo de sua princesa possuía. Amava beijar-lhe, amava tocar-lhe, amava simplesmente amá-la. Nem sequer se importava com seu orgulho, afinal, em momentos como aquele, quando sentia o corpo dela em contato com o seu, sua língua explorando cada canto de sua boca, suas almas conectadas e loucas uma pela a outra... Nada mais importava. Nada. E apenas quando sentiu o ar lhe faltar, foi quando, contra sua própria vontade, separou seus lábios dos dela, fitando seu belo rosto enquanto ofegava. Admirou a face tão linda da esposa por algum tempo. Ela corou. Tão linda. não conseguia entender como tamanha perfeição diante de seus olhos podia ser real. E ao voltar a olhar para aqueles lábios tentadores, tudo o que quis foi não ter interrompido aquele beijo. Não queria parar de beijá-la nunca. Simplesmente queria sentir aquela sensação gostosa que o invadia toda a vez que provava seu gosto. suspira, antes de levar uma das mãos ao rosto da esposa, acariciando sua bochecha com o polegar.
— Eu senti sua falta. — ele diz baixinho. Ela sorri.
— Eu também...
— Pai?
Os dois se voltam para a entrada da cozinha, vendo Luke observá-los com Lara ainda suja em seu colo.
— Você não está vendo que estou ocupado agarrando sua mãe?!
— Desculpa, é que... — Luke se calou. Seu olhar se voltou para a mãe, clamando por ajuda. havia compreendido o que estava acontecendo. Soltou-se de , caminhando até o filho e pegando Lara de seu colo.
— Eu mesma darei banho nela, filho. Fiquem à vontade.
E sai, deixando-os sós.
arqueia a sobrancelha, aproximando-se do filho, não podendo evitar de sentir-se intrigado. Sabia que havia algo acontecendo. Durante o dia todo o mais novo parecia aflito, enquanto não faziam brincadeiras ele estava distante, perdido em seus próprios pensamentos, incapaz de expô-los para . Aquilo o preocupava imensamente.
— Você tem algo para me dizer? — o questiona, disposto a ser direto.
Luke desviou o olhar, dando um passo para trás. sentiu-se mal com a visão. Lembrou-se instantaneamente de sua infância longínqua, quando tinha tanto medo do pai que era obrigado a ficar longe com medo de qualquer atitude agressiva de seu progenitor. Sentiu-se péssimo com a mera possibilidade de seu filho pensar algo parecido sobre ele.
— Mamãe já sabe... — o garoto diz baixinho, lágrimas inundando seus olhos. — Tem um garoto. E... Eu gosto dele. Muito. Me desculpa.
E então o garoto começou a chorar muito, sentindo-se completamente desesperado e desamparado. não precisou pensar muito: se aproximou do filho, envolvendo-o em seus braços, abraçando-o apertado em busca de lhe passar conforto. Luke começou a chorar mais.
— Me desculpa, me desculpa...
— Por que está me pedindo desculpas, seu pequeno imbecil?! — diz em tom risonho, acariciando o topo da cabeça de seu menino. — Traga o garoto aqui amanhã.
— O que...?
— Eu quero conhecê-lo, oras. Acha mesmo que vou deixar qualquer moleque enfiar a língua na boca do meu filho?! Preciso ver se ele é digno.
— Pai! — o garoto ri nervosamente em meio às lágrimas, fazendo acompanhá-lo.
— Você está com medo, certo? Ser um vampiro me dá a vantagem de ser gostoso para sempre. Aposto que está com medo de seu namoradinho se apaixonar por mim. Eu entendo, filho, mas tudo nessa vida tem que vir com um pouco de risco e...
— Você é um grande imbecil! — o garoto diz, ainda com um sorriso besta por entre as lágrimas.
— E você é um pequeno imbecil. Viu? Estamos quites.
O garoto o abraçou mais forte. retribuiu o abraço.
A voz do falecido senhor entoando “maricas” veio em sua mente, fazendo sorrir. Sim, sorrir. Sorrir pois sabia que, seja onde seu progenitor estivesse, ele estaria vendo-o e talvez assim aprendendo como era ser um pai de verdade.
Lara estava de banho tomado. Havia pegado no sono enquanto vestia suas meias, e agora já estava deitada dentro do berço de seu quarto, dormindo profundamente. deixou a filha dormindo, rumando até o quarto de – que havia se tornado seu quarto também.
— Que dia. — deixou a si mesma pronunciar, enquanto retirava suas roupas, ficando apenas com sua lingerie.
O quarto estava escuro, onde apenas a luz da Lua e estrelas iluminavam o ambiente transpassando pelas vidraças das portas da sacada. se aproximou, vendo o seu próprio reflexo refletido no vidro. Sorriu.
Suas longas madeixas negras com luzes loiras haviam sido cortadas acima do ombro. Seus olhos continuavam das duas cores: cinza/dourado e completamente negro, mas ela havia aprendido a gostar deles assim. havia completado trinta e três anos, mas havia permanecido com a aparência de vinte anos — idade a qual havia decidido assumir sua imortalidade. Ela ficaria daquela forma para sempre, e aquilo não a incomodava. O que realmente a incomodava era outra coisa. Pegava a si mesma pensando em Luke e Lara, no fato de ambos serem mortais e no futuro assustador que os aguardava. e os veriam partir. sabia que aquilo era inevitável, mas não conseguia parar de pensar na dor que aquilo lhe causaria.
Não aguentaria perder outra criação sua...
Sentia falta de sua irmãzinha. Sentia falta dela todos os dias. Porém, por ela, seguia em frente. Esperava que, quando a hora de ver seus filhos partirem chegar, ela pudesse pensar na mesma forma a respeito deles.
— Isso tudo é pra mim?
sorri ao ouvir a voz de , virando-se lentamente enquanto o observava.
— Falou com ele?
O vampiro assentiu, aproximando-se vagarosamente da esposa.
— Irei conhecer meu genro amanhã. Espero que ele não se apaixone por mim.
riu, sorrindo completamente encantada. Não esperava qualquer reação diferente de , porém não conseguia evitar de se sentir extremamente boba em vê-lo apenas constatando o quão maravilhoso era.
— Você não me respondeu. — ele diz, inquisitivo. — Isso tudo é pra mim?
— Nunca. Você não merece o que eu tenho a lhe oferecer. — ela provoca e ele ri.
— Não seja mal-educada, princesa. Olhe só para mim... Só de sentir o seu cheiro... Eu fico tão excitado. Ele é delicioso, assim como cada pedaço de você.
Ele aproxima seus lábios no pescoço da jovem, sentindo seu aroma adentrar suas narinas e arrepiar todo o seu corpo.
— Está com fome, não está...? — ela pergunta em um sussurro, aproximando-se mais dele. — Prove. Você sabe que sempre tem minha permissão.
sabia que não deveria. Ele sabia que não podia, que deveria se controlar. Mas como poderia manter o controle quando a própria parecia querer tanto quanto ele? Afinal, ele era um vampiro e nunca deixaria de ser. E foi dessa forma que seus olhos se tornaram reluzentes, suas pupilas dilataram e suas presas apareceram. Até que ele as aproximou da pele de e as fincou em sua carne, sugando lentamente seu doce sangue.
A jovem gemeu longamente, levando as mãos até seus cabelos negros, puxando-os por entre seus dedos.
— Hum... — ele murmura, sentindo aquele gosto inebriante se derreter em sua língua, descendo por sua garganta e enchendo seu corpo do gosto mais delicioso que já havia provado. — Nenhum sangue se iguala ao seu... Nenhum. Nenhum. — ele diz ao se afastar, fitando a menina com seus olhos brilhando, seus lábios entreabertos, por onde escorria o sangue da amada dos cantos de sua boca. — É tão doce... Tão quente... Ele me deixa louco. Você me deixa louco. — lambe os próprios lábios, se deliciando com os resíduos de sangue que haviam ali. — Ah, ... E eu... Merda, eu preciso de mais... — e como uma criatura sedenta que já estava completamente fora de controle, o rapaz vai descendo até que seus lábios chegassem onde queria: as pernas da jovem. Segurou sua perna, para que pudesse levar sua boca até o interior da coxa exposta de e, finalmente, mordesse ali. Novamente sugou seu sangue, dessa vez com ainda mais vontade, deixando aquele gosto dos céus infernizar todo o interior de sua boca. Quando se afastou, observou as marcas que havia deixado com um sorriso no rosto, e então voltou a direcionar seu olhar para a garota. Subiu novamente, aproximando seu rosto do dela.
— Eu nunca me senti tão bem, você tem o melhor gosto que eu já provei... Eu simplesmente amo o seu sangue.
— Você já disse que ama meu corpo, e agora meu sangue... — ri roucamente, fitando com malícia. Ela estava tonta. As áreas mordidas por ardiam, provocando uma onda de dor por todo seu corpo. Mas aquilo não era ruim. estranhamente gostava daquela sensação. Amava, na verdade. Ela queria mais... De ela sempre gostaria de mais. — O que mais você ama em mim, ?
apenas encara por um tempo, os olhos perdidos na expressão maliciosa e convencida da jovem.
— Tudo. — ele sopra em um sussurro. — Absolutamente tudo.
sorriu abertamente de forma extremamente abobalhado. nem a deu tempo de dizer algo, calando-a com um beijo intenso. A menina levou as mãos à camisa de , obrigando-o a tirá-la. Arranhou aquele pedaço exposto de pele, grunhindo ao ver a marca de suas unhas saindo quase que instantaneamente. Isso só a instigava a machucá-lo mais. E foi o que ela fez. Por mais que soubesse que dali não sairiam marcas, ela prosseguia.
— Eu quero que você me foda. — ela diz ao partir o beijo. — E isso não é um pedido, é uma ordem. Simples assim. — e então ela aproxima seus rostos, chupando seu lábio inferior e mordiscando-o enquanto levemente acariciava com a sua língua.
— Uma ordem? — pergunta. Tal pergunta saiu um tom rouco, e ele balançou a cabeça em negação. — Eu até iria me opor... Mas já que isso é o que ambos queremos, seja como quiser.
forma uma trilha de beijos, estes começando nos lábios da mais nova, em seguida passando por seu pescoço, seu colo, sua barriga e enfim, suas pernas. o fitava profundamente em expectativa. O rapaz abre um sorriso sujo, levando as mãos a barra de sua calcinha, brincando com aquela parte da peça, em um visível divertimento.
— Sabe... Você me dando ordens é excitante. Mas a parte mais deliciosa de todas é que, mesmo que você mande em mim desse jeito, e mantenha essa postura imbatível... Podemos ver que a realidade é outra com apenas esse gesto...
Ele abaixa aquela peça lentamente, se referindo a região úmida de sua intimidade. Uma pequena risada nasalada acabou escapando, e ele por um momento desviou seus olhos para cima, fitando a menina.
— Eu não preciso que você admita nada, sabe...? Porque eu sei exatamente que no fundo você está implorando por isso. Sabe... Eu ainda estou me decidindo qual dos seus líquidos é o meu favorito. — ele lentamente introduz um dedo na jovem, já começando a movimentá-lo com precisão e rapidez. A menina soltou um gemido arrastado, fazendo grunhir em aprovação. Ele aproximou seus lábios até a intimidade da menina, deixando com que sua língua massageasse o clitóris da mesma. Passou certo tempo estimulando-a daquela forma, até que percebeu que a menina estava prestes a atingir seu ápice, então, parou. Voltou a aproximar seu rosto do dela, admirando com os olhos brilhando sua expressão.
— Que porra...?! — grunhe, fazendo-o rir alto.
— Perdão. Eu tinha que fazer você esperar um pouco mais. Você não se importa, não é...? — então ele suga fortemente o lábio inferior de , antes de mordisca-lo brevemente e então partir para seu colo. Suspirou teatralmente ao olhar seus seios cobertos pelo sutiã. — Hum... Isso não está certo. — ele diz crispando os lábios. Rapidamente ele leva as mãos ao fecho do sutiã da jovem, abrindo-o e enfim retirando a peça. Não pôde evitar de sorrir ao vê-la completamente nua, passando certo tempo apenas admirando seu magnífico corpo. Com uma das mãos, agarrou um dos seios da mais nova, massageando-o com certa força desnecessária. E então abocanhou ferozmente o outro, chupando-o com vontade. Enquanto sua língua quente envolvia um de seus mamilos, seus dedos gelados estimulavam o outro. levou as mãos aos fios de cabelo do rapaz, puxando-os sem dó enquanto sentia todas as sensações maravilhosas as quais ele provocava em seu corpo. Quando afastou a boca da pele de , a olhou mais uma vez, agora mordendo o lábio.
— Certo, acho que está na hora de acabar logo com isso. — e dito isso ele se afasta, apenas para retirar a própria calça, voltando a se aproximar em seguida. — A menos que você não queira, lógico... Me diga... Qual é a sua próxima ordem, princesa...?
— A próxima ordem... — diz em um sussurro rouco, ainda tentando se recuperar depois de tudo o que lhe provocou.
Maldito . A menina suspira, abaixando-se em frente ao mais velho. Ela leva uma das mãos até a barra de sua boxer, retirando-a e assim expondo seu pênis duro. Ela leva as mãos ao membro do rapaz, começando a masturba-lo rapidamente. envolve a glande do homem com sua boca, chupando-o devagar enquanto ainda o masturbava. Seus movimentos eram de vai e vem, tortuosamente lentos, tudo para prolongar um pouco mais a espera do homem.
jogou a cabeça para trás, soltando um longo gemido arrastado. A boca quente de envolvendo seu membro pulsante o proporcionava a melhor sensação do mundo, fazendo-o perder totalmente o controle. Levou uma das mãos aos cabelos da jovem, agarrando-os com força, mordendo fortemente o lábio.
— ... — ele geme o nome da menina, completamente tomado pelo prazer. — A-assim, isso, não para... — a essa altura sua respiração já falhava como nunca, e ele soltava gemidos roucos e arrastados. A maciez de sua boca era como veludo, levando-o ao mais alto nível de insanidade e fazendo-o sentir-se cada vez mais próximo de um orgasmo. acelera os movimentos de repente, tornando-os cada vez mais rápidos, até que sentiu as primeiras gotas do gozo do rapaz em sua boca, e então parou.
— Ainda não, ok? Ainda não. — ela se levanta, inclinando-se para aproximar seus rostos, e então suga lentamente o lábio inferior do rapaz, sentindo aquele pedaço macio de carne em sua boca lhe instigar ainda mais. Permitiu-se fitá-lo por alguns segundos, completamente em êxtase. Não sabia explicar o que se passava em sua mente naquele momento. Aquele homem era... Tudo o que sempre desejou, e nunca soube. Ele era simplesmente a melhor coisa que havia acontecido em sua vida e não conseguia lidar com o quão apaixonada era, com o quanto o desejava para si.
— Agora eu ordeno... Que você me foda. — ela diz, deixando com que um sorriso idiota se apossasse de seus lábios.
— Como desejar. — ele responde ofegante, ainda em transe por todas as sensações que a garota havia lhe proporcionado. Céus, a desejava tanto. Sua excitação era tão grande que chegava a ser desconfortável. — Isso pode parecer a coisa mais idiota do mundo... Mas você é a garota dos meus sonhos. E agora... Eu vou te comer por trás.
Ele virou seu corpo, obrigando-a a apoiar as mãos na porta de correr da sacada. começa a distribuir beijos por todo o corpo da mais nova, deixando com que suas mãos e boca passeassem livremente por toda a pele de . Estava simplesmente sedento por aquele corpo, queria devorá-la até que ambos não pudessem mais aguentar. Voltou à posição inicial, com seu rosto na altura de sua orelha, e então levou suas mãos até as coxas da menina, acariciando-as antes de abrir suas pernas e finalmente penetra-la. Assim que começou a se movimentar, sentiu a vagina de apertar seu pênis, fazendo com que ele gemesse alto.
— Tão... Deliciosa... — ele diz em meio a gemidos, aumentando a velocidade de suas investidas, mordendo o lábio a fim de reprimir os gemidos roucos que saíam descontrolados por sua boca. Ele deixa sua cabeça pender para frente, assim ficando de forma que seus lábios estivessem bem próximos da orelha de Daurat, e consequentemente ele gemesse bem ao pé de seu ouvido.
gemia, movimentando-se contra ele, querendo mais e mais. A voz dele gemendo em seu ouvido daquela forma estava levando-a à loucura. Ele não estava muito diferente: era cada vez mais difícil controlar seus gemidos, estes que saíam em forma do nome de , descontroladamente. As sensações eram intensas demais, prazerosas demais, e profundas demais até mesmo para ele. Depois de tantos anos vivendo, havia finalmente encontrado alguém capaz de levá-lo ao delírio, e a cada nova investida dentro da menina ele se sentia mais próximo do prazer máximo. Mas ele queria mais. sempre queria mais de . Então, sem parar de se movimentar dentro dela, ele aproximou seus lábios no pescoço da jovem, e sem nem pensar duas vezes, mordeu novamente aquela área, fincando suas presas profundamente na carne deliciosa de . O gosto do sangue da menina combinado com a sensação dela lhe apertando era indescritível, maravilhosa, infernal e celestial, simplesmente a melhor coisa que já havia sentido. Lhe causava tremores e quentes arrepios por todo o corpo, por um momento ele até poderia acreditar que estava quente por dentro.
— Princesa... — ele chama em um gemido, assim que suas presas se afastaram da pele da menina. — Eu... Estou quase.
gemeu alto, assentindo com a cabeça. Gemia pelo prazer imenso que sentia, gemia pela dor prazerosa que se instalou em seu pescoço depois de sentir as presas de rasgando-o deliciosamente.
— ... — ela gemeu alto, agarrando-se aos cabelos do homem e sentindo a si mesma atingir o orgasmo, sendo acompanhada por ele em seguida.
A menina deixou seu corpo tombar para trás, sendo prontamente acolhido pelos braços do homem. Ele começou um carinho gostoso em suas costas, enquanto beijava seu pescoço com ternura.
— Feliz cinco anos de casamento, princesa. — ele sussurrou, fazendo-a rir.
— Você lembrou!
— Achou mesmo que eu tivesse esquecido? — ele rebateu ultrajado. Ela riu.
— Quem te lembrou?
— ... Kyle.
— Então você tinha esquecido mesmo! Só Kyle se importa com nosso relacionamento, não é possível!
— Em minha defesa ele apenas me lembrou porque contou a ele.
arregalou os olhos, virando-se para poder observar o homem.
— e Kyle...?
— Estão trepando? Sim. Agora que ele toma conta da Coup D’etat está se sentindo o maioral com as mulheres e teve coragem de chegar em . Eles fazem um belo casal, tenho que admitir.
— Ela não me contou! Que vadia...
— Esquece os dois, vai... — a beijou brevemente, fazendo-a assentir.
— Não esquecerei. Eles ainda terão que vir até aqui em casa e se assumir para os nossos filhos.
— Padrinho e madrinha juntos... Luke e Lara irão curtir.
— Com certeza. — sorri, aproximando-se e beijando novamente. — Ei... Eu amei as rosas. Eu amei tudo. Eu amo você.
— Eu te amo demais, ... — ele diz fechando os olhos, suas narinas sendo invadidas pelo cheiro delicioso de , fazendo-o se sentir completo. — Você é a garota mais linda, maravilhosa, incrível e perfeita que eu já conheci. Obrigado por fazer parte da minha vida, obrigado por ser você. Eu te amo.
Um choro ressentido seguido pelos dizeres “Papa! Papa!” soou pelo ambiente. e sorriram um para o outro, enquanto se afastavam. Sabiam exatamente o que aquilo significava.
— Volto logo! — ele anuncia enquanto colocava sua boxer novamente.
— Estarei te esperando.
O vampiro adentra o quarto da filha, vendo a pequenina chorar dentro de seu berço. Se apressou em ir até ela, sabendo que a essa hora Luke provavelmente já estava dormindo no outro cômodo e não gostaria de acordá-lo. Ele segurou a mão da menininha, fazendo-a instantaneamente cessar seu choro e olhá-lo em expectativa.
Ano passado, na primeira crise de choro da pequena, havia ficado desesperado. Nunca tinha lidado com uma recém-nascida antes, e simplesmente não sabia como fazê-la parar de chorar. E foi quando propôs a canção. Ela disse para cantar, pois ela já não conseguiria fazê-lo por remetê-la a sua irmãzinha. Extremamente constrangido, havia cantado “Se essa rua fosse minha” e por um milagre, sua pequenina havia parado de chorar. Desde então havia se tornado um hábito: todas as noites ele tinha que cantar a canção para ela, senão ela não conseguiria ter uma boa noite de sono.
— Eu estava me divertindo com a sua mãe. — ele diz baixinho, deixando com que um sorriso torto tomasse seus lábios. — Então seremos rápidos aqui, certo? Ela está me esperando.
podia jurar que a garotinha havia assentido em concordância. Aquilo o fez sorrir. Tossiu levemente, limpando sua garganta. E assim começou a cantarolar:
— Se essa rua, se essa rua fosse minha...
Quando Lara finalmente dormiu profundamente, saiu do quarto da filha, fechando a porta com cuidado. Caminhou até seu quarto, abrindo a porta e procurando com os olhos. Ela não estava ali.
— Princesa? — ele a chama em um sussurro.
— Aqui.
Sua voz vinha da sacada. O homem abre as portas de correr. Ali, completamente nua, com os cabelos negros agora curtos e a silhueta brilhando em dourado com suas delicadas asas à mostra, estava , olhando a cidade. se aproxima, completamente extasiado com a vista da mulher daquela forma. Ele a segura contra seus braços e ela se deixa ser acolhida por ele.
— Te ver completamente nua observando a vista é uma visão tão surreal... Parece uma obra de arte ganhando vida diante aos meus olhos.
— Mas eu não estou totalmente nua. — ela protesta, levando as mãos ao próprio pescoço e erguendo o pingente de cruz. sorri abertamente. Aquele era seu coração. Ela sempre carregava o coração dele consigo.
— E isso só consegue deixar tudo ainda mais perfeito.
Ele a vira para si, erguendo-a para que a jovem se sentasse na beirada no parapeito. Se colocou em frente a ela. Sua boxer caiu ao seus pés, deixando-o completamente livre. envolve suas pernas em volta de seu quadril. arqueia seu corpo para frente, enfim a penetrando.
Eles estavam juntos. Ali, no alto, como se fossem donos daquele lugar. Juntos. E assim permaneceriam durante toda a eternidade.
Fim.
Nota da autora: Confesso que meu coração está quentinho. Não sei o que sentir a respeito disso. Finalmente chegamos ao nosso final! Menina Dourada havia sido uma história que criei quando ainda era criança e apenas aperfeiçoei depois que cresci. Ela já foi uma heroína, uma feiticeira e por fim acabei a transformando em um anjo-demônio (e assim permaneceu). Eu sinto como se tivesse crescido com ela, pois sempre foi uma ideia de história que me acompanhou durante grande parte de minha vida. Vocês não sabem o quão gratificante é ver que eu consegui desenvolver a história, que eu consegui dar a ela um final que me agradasse e que eu acreditasse ser digno. Eu quis focar no bem e no mal, eu quis imensamente trazer essa temática de que todos nós realmente temos um pouco dos dois, e o equilíbrio entre eles deve existir. E ao existir, estaremos bem, pois é isso o que nos torna humanos.
Quero agradecer de coração a minha beta Letty, que betou essa fanfic desde o início e sempre me incentivou com seus comentários incríveis. Quero agradecer também a minha amiga Jeniffer, a leitora mais louca e fiel que eu tenho: Jeni, obrigada de verdade pelo incentivo e amor pela minha historinha, sem você eu provavelmente teria parado no capítulo 5. Por fim quero agradecer vocês, leitoras, que acompanharam toda essa jornada comigo e me deram o enorme prazer de sentir-me completa com seus comentários elogiando, brigando e até mesmo me zoando. Vocês não têm ideia do quão feliz vocês me fazem. Obrigada por tudo! Espero que tenham gostado de Menina Dourada tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Titia Vick ama muito vocês
Ps: deixarei a playlist com todas as músicas aqui, e também o link do grupo do Facebook e minhas outras histórias. 🖤
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Quero agradecer de coração a minha beta Letty, que betou essa fanfic desde o início e sempre me incentivou com seus comentários incríveis. Quero agradecer também a minha amiga Jeniffer, a leitora mais louca e fiel que eu tenho: Jeni, obrigada de verdade pelo incentivo e amor pela minha historinha, sem você eu provavelmente teria parado no capítulo 5. Por fim quero agradecer vocês, leitoras, que acompanharam toda essa jornada comigo e me deram o enorme prazer de sentir-me completa com seus comentários elogiando, brigando e até mesmo me zoando. Vocês não têm ideia do quão feliz vocês me fazem. Obrigada por tudo! Espero que tenham gostado de Menina Dourada tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Titia Vick ama muito vocês
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