Capítulo 20
“Somente para seus olhos, eu vou mostrar meu coração
Para quando você estiver sozinha e esquecer quem você é
Eu estou sem metade de mim quando nós estamos separados
Agora você me conhece, apenas para os seus olhos
Somente para seus olhos”
Jhotaz estava na cozinha, com Victor a seu lado. Havia um enorme mapa de Mysthical esticado na mesa, com todos os lugares cuidadosamente representados. Jhotaz olhava para aquilo com o semblante sério. Ele tinha uma das mãos no queixo e se encontrava pensativo.
— Elas disseram que já procuraram em todas as dimensões. Todas as passagens. Ninguém a viu. — Victor diz, exasperado. — Talvez Gainy realmente tenha ido embora...
— Ela não faria isso sem me dizer nada. Isso não é do perfil da Gainy.
— Aparentemente ela o fez, Jhotaz. E não há nada que possamos fazer a respeito disso.
Jhotaz suspirou, levando as mãos ao rosto. Estava tão cansado... Parecia que tudo estava desmoronando em seus ombros e ele não poderia fazer nada para mudar isso.
— Em breve teremos a festa do solstício de inverno. Ela nunca perde as festas comemorativas da cidade. Aposto que ela aparecerá...
— Se você quer se iludir com isso, está bem. — Victor cruza os braços. — E os preparativos para a festa? Falta só uma semana.
— Pensei que você estivesse cuidando disso.
— Eu? — Victor diz, indignado. — Eu sou um escravo agora?
— Você sempre foi. — Jhotaz rebate, rindo. Victor o olhou com escárnio.
— Você é ridículo.
A porta da cozinha se abre, revelando e Lara. As duas estavam de mãos dadas e com as expressões preguiçosas de duas pessoas que haviam acabado de acordar. Já estavam com as roupas do colégio. instantaneamente fechou a cara ao ver Jhotaz.
— Bom dia. — Victor as saúda. — Dormiram bem?
— Eu dormi com hoje. — Lara diz, se dirigindo à mesa e sentando. Observou o mapa ali com curiosidade, fazendo Jhotaz instantaneamente enrolá-lo e guardá-lo debaixo do braço. — Eu estava vendo!
— Não está mais.
— Dormimos. — respondeu, sentando-se ao lado de Lara.
Desde a briga que havia tido com Jhotaz os dois não dirigiram nenhuma palavra um ao outro. Depois da notícia de que Jhotaz queria feri-la, convocando as criaturas e deixando-a perto de ... não conseguia nem ao menos olhar pra ele. Como ele podia ter intenções tão horrendas com a sua própria sobrinha? Haviam tão poucos parentes que lhe sobraram. Era injusto que fossem tão cruéis com ela. Jhotaz e sua mãe faziam bem esse papel.
— Semana que vem terá uma festa na Coup D’etat. É uma festa aberta para a cidade, então é permitido crianças. É para comemorarmos o solstício de verão. — Jhotaz se pronuncia, fazendo desviar o olhar e Lara fazer exatamente o oposto: o fitou em expectativa. — Vocês duas podem ir se quiserem.
— Não. — responde, curta e grossa.
— provavelmente irá, . Todos os habitantes da cidade costumam ir. — Victor diz com um sorriso fraco. — Eu ficaria muito feliz se você e Lara fossem.
— Vamos, ! — Lara diz empolgada.
— Você pode ir, mas eu não vou.
— Vai me deixar sozinha lá? Sério? — Lara diz ofendida. suspira.
— Que seja.
— Eba! — Lara comemora. Victor ri, se aproximando e bagunçando seus cabelos.
— Vou me certificar de que tenha uma área infantil no lado de fora para você se divertir, está bem?
— Você faria isso? — Lara pergunta em expectativa. Seus olhos brilhavam e ela sorria encantada para Victor.
e Jhotaz observavam a cena. A sobrinha e o tio poderiam ter muitas diferenças e problemas entre si, mas ambos tinham algo em comum: a enorme afeição que tinham por Lara. A jovem era uma menina impossível de não se encantar.
— Claro que eu faria. Você é a minha garotinha favorita do mundo todo! — Victor diz, abrindo os braços como se representasse o tamanho de seu amor por Lara. A menina sorriu abertamente, levantando-se e o abraçando. Ele a abraçou de volta.
— Eu amo você, Victor. — Lara diz com as bochechas coradas.
— Uau, declarações a essa hora da manhã? — pergunta surpresa. Lara riu tímida.
— Eu também amo você, Lara. — Victor diz a abraçando mais forte.
Jhotaz suspirou, colocando as mãos no bolso e saindo do ambiente.
estranhou seu comportamento, mas nada disse. Preferiu aproveitar a companhia de Victor e Lara, que eram as melhores pessoas para se conversar naquela casa.
Dias haviam se passado, e em breve a comemoração do solstício de verão estaria próxima.
Lara e haviam acabado de chegar em casa. A mais velha se trancou no quarto junto com sua amiga, , enquanto a mais nova terminava de almoçar e já levantara com pressa da mesa.
— Não, eu não quero sobremesa, Victor! — Lara grita, enquanto saía correndo da cozinha.
A menininha subiu as escadas com pressa, correndo pelo corredor do lado direito. Passou pelo quarto de , ouvindo brevemente a conversa dela com .
— Victor é realmente um sonho. — ouviu a voz da amiga da irmã dizer.
Lara bufou, revirando os olhos. Não gostava que falassem sobre Victor: só ela podia falar sobre ele. E não, aquilo não era ciúme, era apenas... Um mero incômodo. É, era isso.
Lara abre a porta de seu quarto com cuidado, sorrindo ao ver quem estava sentada em sua cama, olhando o ambiente com visível curiosidade.
— Oi, Linzyne! — Lara a cumprimenta. A jovem sorri nervosamente para a menina.
— Oi, Lara. Espero não estar te incomodando estando aqui.
— Não, não! Eu gosto. Minha irmã trouxe uma amiga, então eu também posso. — Lara se aproxima de Linzyne, a olhando com um sorriso meigo. — Por que você veio até aqui?
Linzyne entorta os lábios em uma careta, desviando o olhar. Ela mexia nervosamente com as suas próprias mãos.
— Eu conversei com um amigo meu... Seu nome é . Ele disse que não se surpreendeu em ter sido você quem me encontrou quando eu estava ferida.
— Sério mesmo? — Lara perguntou curiosa, sentando-se ao lado da garota. — E então?
— E então eu deduzi que talvez você possa sentir certas vibrações, sendo elas boas ou más.
— O que você quer dizer com isso?
Linzyne suspirou, olhando para os dois lados e se aproximando mais de Lara em seguida. Ela parecia temer ao contar um grande segredo:
— Tem uma mulher presa aqui, não tem?
Lara arregala os olhos, deixando com que sua boca abrisse levemente em surpresa.
— Como você sabe?
— Então tem?! — Linzyne automaticamente se levantou, andando assustada pelo quarto. — Então eu estava errada... Oh não, estamos perdidos.
— O que foi, Linzyne?
Linzyne parou. Seu olhar se perdeu por alguns segundos na paisagem da janela. E assim ela ficou por um tempo, até se virar lentamente e fixar seu olhar em Lara.
— Você pode mostrá-la pra mim?
estava em uma loja, aguardando . As duas tinham passado a tarde juntas depois do colégio, e resolveram sair à noite.
não estava feliz.
Haviam muitas perguntas sobre Mysthical em sua cabeça, perguntas completamente sem resposta. Queria questionar Jhotaz sobre tudo, mas não era uma boa ideia. Os meninos ainda estavam atrás de mais provas, caçando as criaturas demoníacas durante a noite sem sucesso. Amanhã à noite haveria uma festa comemorativa com a intenção de celebrar o solstício de verão, o que deixava aqueles dias ainda mais agitados e corridos. Muitas coisas aconteciam ao mesmo tempo, e aquilo lhe confundia. De qualquer forma, todos os pensamentos que preenchiam sua mente deram lugar a dúvida do que vestir assim que adentrou a loja.
Estava distraída olhando a arara de roupas, quando sentiu um calor atrás de si, seguido pela sensação de um corpo encostando no seu e em seguida, lábios em sua nuca.
— Com problemas, sangue novo?
Na mesma hora, os olhos da jovem se arregalaram, e ela se virou de frente para o homem. O que ele fazia ali?
— O que você está fazendo aqui? — Repetiu a pergunta em voz alta, sua voz contendo certa desaprovação.
— O que foi, não está feliz em me ver?
Yan sorria de forma perversa para . Ela não gostava daquele sorriso. Não era como o de : com segundas intenções porém com um divertimento oculto. O sorriso de Yan era repleto da mais pura maldade.
— Nenhum pouco, na verdade. — responde, curta e grossa.
— Nossa, por que é tão fria comigo, linda ? Achei que você era uma garota carinhosa. — Ele sorri de lado, puxando a jovem pela cintura para perto de si. desviou o olhar. — Ou você guarda esse lado apenas para o ?
voltou a olhá-lo, em choque. Yan sorriu mais largamente ao observar o rosto chocado da garotinha.
— ... Eu e não...
— Shhhhhh. Guarde suas mentiras para alguém que acredite nelas, bonequinha.
— ... Como você sabe?
— Ora, não é difícil. Não é como se pudesse esconder algo de mim. Eu o conheço muito bem, sabe? É interessante ver a forma que ele está sendo manipulado por você. Romântico, eu diria. O cara mais temido da cidade apaixonado pela filha de Jacques Daurat, o homem o qual ele mais odeia no mundo. — Yan riu roucamente, voltando-se para . — Acha que ele vai ser bonzinho pra sempre?
— O que quer dizer? — Seus olhos denunciavam o quão intrigada ela estava com aquilo. Yan soltou uma fraca risada perversa.
— Você é realmente inocente. Tudo o que posso te dizer, é que... Acredite, a relação de vocês não traz nenhum benefício a . Ele não tem absolutamente nada a ganhar, enquanto tem milhões de coisas a perder. Ele jamais abriria mão de todas essas coisas apenas para levar o caso de vocês adiante.
não conseguiu responder. Aquilo... Não fazia sentido. Por que aquele rapaz estava lhe dizendo aquelas coisas?
— Oh, minha inocente sangue novo... Você não sabe de nada mesmo, não é? Por que você não vai na Coup D’etat amanhã comigo, para a festa do solstício de verão? Eu poderia te contar muito mais. Mais que isso, linda... — Ele a segurou pelo queixo, forçando seus olhos a se encontrarem com os dele. Riu, aproximando seus lábios dos dela. — Eu posso te MOSTRAR... Muita coisa.
— Eu... Não vou a lugar nenhum com você. — diz, afastando-o com brutalidade. Yan apenas ri.
— Oh, é verdade. Que tolice a minha. Você vai com , certo?
— Eu não vou com ninguém que te interesse. Quer sair de perto de mim?!
— Escuta, docinho. Você realmente não tem noção do quanto essa cidade é muito, muito maior do que realmente parece. E eu não estou falando de terras ou espaço no mapa. Isso aqui é muito maior do que você pensa, e se eu fosse você, eu não confiaria cem por cento no seu namoradinho só porque ele resolveu pagar de bom moço agora.
— O que diabos você está insinuando?!
— Ah, pequena . Eu sei que você gosta de estar perto de porque acha que pode mudar algo nele. Mas acredite, meu amor: você não pode. não liga pra você. não liga para ninguém que não seja ele mesmo. Para ele você deve ser exatamente a mesma coisa que todas as outras mulheres que se aproximaram dele com a mesmas intenções de mudá-lo: Um pedaço de carne descartável. A diferença é que ele não te comeu ainda, mas pode acreditar que quando isso acontecer, você vai deixar de se tornar alguém relevante pra ele.
respirou fundo, sentindo suas entranhas arderem em ódio. Uma vontade insana de chorar se apossou de seu ser, e ela não entendeu o porquê. Ou melhor: talvez tivesse entendido, mas era difícil demais admitir para si mesma.
— O que você quer de mim? — ela pergunta em um rosnado.
— Oh, baby, eu não quis te ferir. Nunca ouviu o ditado? Quem avisa amigo é. Eu apenas... Quero que você escolha o lado certo, quando chegar a hora. Você pode escolher ser a putinha medíocre do ... Ou você pode se juntar a mim.
— ... Do que está falando?
— Não se preocupe, você vai entender logo, se for esperta. Se quiser conversar mais e não estiver muito ocupadinha se agarrando com o seu namoradinho, me encontre na festa. Sei que vai ser inteligente o suficiente pra fazer a melhor escolha.
— Eu não confio em você.
— Deixe-me lhe fazer uma pergunta, bonequinha. Quando foi a última vez que esclareceu algo para você?
ficou em silêncio. Yan sorriu.
— Sabia que essa seria sua resposta. — Novamente ele sorriu, aproximando ainda mais seus rostos. Seus lábios quase podiam se tocar. Apertou a cintura de . Ela grunhiu em desgosto. — Nos vemos na festa. E ah, sobre a sua roupa... Sugiro que não a compre nessa loja. Digamos que um rapaz muito baderneiro fez uma baguncinha nos fundos dela, e é melhor pra você que não esteja aqui quando as malditas delegadas descobrirem. — E assim ele se afasta da jovem, lançando-lhe uma piscadela antes de simplesmente abandonar o estabelecimento.
— Eu achei o vestido perfeito para usar amanhã à noite! — a voz de soa, saindo de dentro do provador.
estava completamente sem reação, olhando para o nada com o semblante vazio.
— Ei, , estou falando com você! — diz irritada.
— Oh, desculpe.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não. Nada.
— ... — faz menção de tocá-la, fazendo dar um passo para trás.
— Se acha que pode me manipular me tocando para ter as respostas que procura pode esquecer, . — ela diz seca. — Eu quero ir embora.
— Céus, o que deu em você hein? — a olha completamente intrigada.
— Eu já disse: nada. Nos vemos mais tarde.
dá meia volta, passando por várias pessoas que a olhavam curiosos. Bufou, ignorando-as.
apenas observou a jovem partir com o cenho franzido. Olhou para o vestido em suas mãos, guiando a si mesma até o caixa para pagá-lo.
— SOCORRO, TEM CORPOS DESFIGURADOS NOS FUNDOS!!! — uma mulher grita.
De repente uma série de gritos se instala no local, pessoas desesperadas tentadas a sair dali.
sorriu.
Enfim havia entendido o que houve.
adentrou seu quarto com brutalidade, chutando a porta ao fazê-lo, provocando um estrondo no silêncio do cômodo. Largou as sacolas com as roupas que havia comprado de qualquer jeito, enquanto se dirigia até sua cama.
Não se surpreendeu ao ver lá. Ele estava com a postura tensa, indicando que algo o preocupava.
— ? — chama.
Ele pisca algumas vezes, parecendo só naquele momento perceber que estava ali.
— Oi. Você demorou. — ele diz devagar, olhando curioso para . — Aconteceu alguma coisa?
— Nada demais. — ela diz, sentando-se ao lado do rapaz. — Onde está ?
— Com . Estão indo atrás dos rastros das criaturas demoníacas. Sabe, agora é noite. Eles se dão melhor quando não há luz.
— Na verdade eu não sei. — diz, rindo um pouco. — Mas já que você diz eu tenho que fingir que sei e seguir a vida.
— Boa garota.
dá um tapa no braço de , fazendo-o rir sonoramente.
— Isso foi infantil.
— Eu não ligo. — diz com simplicidade. sorri.
Eles se encaravam. Um silêncio confortável havia se instalado entre eles. sorria com os lábios fechados, daquela forma gentil e acolhedora a qual a jovem já estava acostumada. estava séria, parecendo contemplada em observar cada detalhe do rapaz. Ele era indiscutivelmente belo. Na concepção de , era perfeito demais para ser verdade.
— Vamos ficar nos encarando por muito tempo? Estou começando a ficar constrangida. — admite, fazendo rir.
— Você fica com vergonha muito fácil. Eu posso me aproveitar disso.
arqueia a sobrancelha de forma galanteadora, fazendo rir.
— Se aproveitar de mim? Você? Impossível.
O rapaz subitamente se vira para a jovem, levando uma de suas mãos à sua bochecha, acariciando ali com ternura. estava próximo... Próximo até demais.
— Não se engane, ... Eu posso ser gentil, mas não sou sempre bom. Fiz coisas das quais não me orgulho e pago por elas até hoje. Às vezes penso se faço certo em insistir tanto que você deposite sua confiança em mim, quando eu mesmo sei que não sou ao todo confiável.
— Ninguém é totalmente bom. — diz de forma suave, segurando a mão de que a acariciava contra sua bochecha. Apertou-a, sentindo a textura macia dos dedos de . — Sabe... “O mundo não se divide em pessoas boas e más. Todos temos luz e trevas dentro de nós. O que importa é o lado o qual decidimos agir. Isso é o que realmente somos”.
a olha surpreso, assentindo devagar com a cabeça, parecendo refletir sobre o que lhe foi dito.
— Isso soou muito bom. — ele elogia.
— Agradeça a Sirius Black, um dos personagens literários que eu mais amo no mundo. — sorri, deixando evidente sua enorme paixão em sua fala. ri, assentindo.
— Nada mal... Belas palavras. Causam um grande impacto.
sorri, assentindo. Mais um confortável silêncio cai entre os dois, ambos não conseguindo desviar o olhar um do outro.
— Você me dá a sensação de paz. — admite. — Tudo está acontecendo ao mesmo tempo, uma série de eventos confusos e sem sentido... Mas quando você está comigo eu não consigo sentir o peso deles. Eu consigo ter esperança.
— Eu fico muito feliz em ouvir isso. — admite, suspirando. — Mas, sabe... Eu acho que deveria ser mais honesto com você. Todos escondem algo de você, e eu sou uma dessas pessoas. Eu só... Não quero mais contribuir com isso.
— Mas é perigoso me contar, não?
— ... Talvez seja apenas a hora certa. — diz com cuidado.
— O que você quer dizer?
— Sabe, ... Há muito tempo eu fui escolhido para tomar conta de uma menina.
— Uma menina?
— Sim. Os céus a presentearam com dons celestes e majestosos, e com isso me consagraram a missão de cuidar dela.
— Você não está fazendo sentido...
— Eu me apeguei a ela, . — prossegue, ignorando a confusão nos olhos da jovem. — Me apeguei tanto que fiquei cego diante ao ódio que ela nutria por pessoas de seu próprio sangue. Me apeguei tanto a ela que não percebi o monstro terrível que minha jovem protegida havia se tornado.
— Ela tinha uma irmã gêmea... E queria ser melhor que ela. Por isso pediu ajuda aos céus... — sussurra, de repente ligando a história de com a de . assentiu.
— Exato. Acredito que deva ter te contado. A verdade, , é que minha protegida começou a desejar coisas horríveis para sua própria irmã. Ela desejava coisas de índole tão maldosa e nojenta que sou incapaz de pronunciá-las pra você agora. E eu não percebia... Ou melhor: percebia e ignorava. Porque eu estava cego, cego de encantamento, cego de admiração... Cego de amor.
arregalou os olhos, de repente se lembrando da jovem menina a qual sonhara. Aquela que se dirigia a e ele a respondia com tanto carinho.
— Eu cometi o maior pecado que uma criatura como eu poderia cometer: me apaixonei por minha protegida. Desejei tocá-la de maneira pecaminosa. Desejei fazê-la minha, desprezando a autoridade de meu mestre. Eu desejei vir para Mysthical, de forma corpórea, e passar o resto de minha vida ao seu lado.
— E o que aconteceu?
— Ela me enganou. Enganou todos nós. E quando descobriram o que ela fez, ela fora condenada para sempre. E eu não pude fazer nada para salvá-la. Eu deixei com que ela se corrompesse, com que escapasse de mim sem chance alguma de eu poder salvá-la.
— E onde ela está agora?
— Em algum lugar, fraca. Vulnerável. Pagando pelo que fez. Pagando por algo que tem minha maior culpa, afinal eu era o encarregado de protegê-la, de não deixar que ela se desviasse.
— E por que você era o encarregado disso, ?
a olha por longos segundos, parecendo ponderar se o que faria era a atitude certa.
E assim ele toma sua decisão definitiva.
O rapaz solta o rosto da jovem, fazendo-a instantaneamente sentir falta de seu toque macio. se levanta da cama, levando as mãos até a barra de sua camisa, erguendo-a e deixando com que seu abdômen definido ficasse à mostra.
deixa seu olhar fixo no abdômen do rapaz, chocada com tal ato.
— ... O q-que v-vo-você t-tá f-fazendo?
ri diante o espanto da jovem.
— Você vai ver.
simplesmente vai andando até a sacada de , arrastando-a consigo.
— ...?
A última imagem que viu foi a de sorrindo, em seguida simplesmente se jogando daquele andar da casa... Puxando ela consigo.
A menina tinha os olhos fortemente fechados, sentindo o vento bater com força contra seu rosto. De repente aquilo havia se cessado e ela estava em terra firme.
— Abra seus olhos.
obedeceu.
Um intenso brilho dourado entrou em contato com a sua visão, fazendo-a colocar a mão em frente ao seus olhos para que pudesse ver melhor.
E o que viu foi a cena mais bela que poderia ter presenciado.
Ali, parado em sua frente com um sorriso contido, estava . Ele ainda estava sem camisa, mas em suas costas nuas se estendiam duas enormes asas brancas, que aparentavam serem tão macias quanto veludo. Elas começavam em suas duas escápulas, estendendo-se até o chão.
estava encantada. Mais que encantada... Ela se sentia abençoada. Como se de certa forma fosse um privilégio ver daquela forma.
— Fui expulso do céu por amar uma mortal e por isso estou sendo eternamente condenado pelos meus erros. A proteção mágica de Mysthical me protege do rastreamento divino e demoníaco, e por isso, caso eu saia dos limites da cidade serei brutalmente executado.
— Você é... Você é um...
— Anjo. Seu anjo.
Mais silêncio, mas ao contrário de seus costumeiros silêncios confortáveis, aquele tinha um ar pesado os envolvendo.
tinha o olhar firme na paisagem ao seu redor, contemplando o lugar desconhecido que havia a trazido, enquanto ainda tentava processar as informações em sua cabeça.
é um anjo.
foi expulso do céu.
é um anjo.
amou uma mortal.
é um anjo.
a desejava.
é um anjo.
realmente a amava.
. É. Um. Anjo.
— Você está bem? — ele pergunta com suavidade. — Se quiser podemos ir para outro lugar conversar...
— Não. — negou. — Aqui é tão... Bonito.
O lugar era um lago. Um pequeno lago rodeado de plantas, com várias árvores ao redor e pequenas flores em suas beiradas. As águas eram tão cristalinas que o belo tom de verde das inúmeras folhas ao seu redor refletiam nas águas, fazendo-as parecerem de certa forma místicas pela coloração cristalina de verde. Ele brilhava com a pouca luz da Lua.
— Essa é uma das passagens que Mysthical tem escondida em seu mapa. Ninguém pode nos achar.
— Por que me trouxe aqui?
— ... Foi aqui que eu a vi pela primeira vez. — admite, desviando o olhar. — Me traz um sentimento nostálgico, ao mesmo tempo que alimenta minha culpa. Eu pensei que te ver aqui faria com que eu me sentisse mais culpado, ainda mais depois de eu ter te contado tudo... Mas eu estranhamente me sinto bem. Eu sinto uma conexão com você, . Eu simplesmente sei que fiz o certo.
balançou a cabeça em negação, completamente desacreditada. Aquilo era maravilhoso demais, surreal demais.
se aproximou, suas asas se escondendo novamente em suas costas e sumindo. as observou desaparecer com admiração.
— Está tudo bem?
o olha por algum tempo. Estava chocada. Não sabia o que fazer, o que falar, o que sentir.
E assim, contrariando e até a si mesma ela se volta ao lago, pulando dentro dele e assim mergulhando. não se vê em outra opção que não seja acompanhá-la.
Ambos emergem juntos, onde começa uma infantil guerra de água contra , fazendo-o rir alto.
— Você não faz sentido algum!
— Eu sei! — ela ri, continuando a jogar água nele.
Ambos ficam nisso durante vários minutos, até que, sem perceberem, haviam aproximado seus corpos. sorriu. também.
— Eu não consigo entender o que está acontecendo. Eu não consigo entender nada. — admite, rindo. — Eu perdi o controle de tudo.
— Você pode contar comigo para te ajudar a retomar o controle.
— Eu sei que posso. — o olha por alguns instantes. — Você quer me proteger? Como ela?
— Não. Você nunca será como ela.
Aquilo havia doído. sentiu seu coração ser dilacerado naquele momento, partindo-se em milhares de pedaços.
— ... Você é única. Única, encantadora e certa. Certa pra mim. Certa para o que eu sinto. — ele completa em um sussurro, distraído com a imagem da garota tão perto. engoliu em seco, sentindo seu ser se encher de esperança de novo. a fitava completamente hipnotizado. era linda. E parecia ainda mais linda naquele dia. Mesmo hesitante e sentindo-se levemente inseguro, ele levou as mãos a cintura da mais nova e puxou o corpo dela para mais perto possível do seu, simplesmente abraçando-a apertado pela cintura para que ela não fosse para longe. Ele não queria. Gostava de estar tão próximo daquele jeito, e definitivamente entraria em pânico se ela se afastasse. — Eu não sei porque quero tanto que isso aconteça, e também não sei se você quer igualmente, eu apenas... — Ele suspira, abaixando a cabeça brevemente. — Apenas peço desculpas se isso não for o que você quer... Por isso, me diga... Me diga pra que eu não precise perder o controle. — Ainda abraçando o corpo da menina com um dos braços, ele leva uma das mãos ao rosto dela, usando os dedos para acariciar aquela região com suavidade. Um rosto tão bonito era digno de muitos toques. Era como se ele precisasse tocar no rosto da mais nova para ter certeza de que tamanha beleza era real. Ele acabou por suspirar, admirado com o que via. E só se sentiu ainda mais tentado ao fixar o olhar nos lábios dela, a apertou ainda mais fortemente contra seu corpo, apenas deixando-se perigosamente ser envolvido pelas sensações que ela lhe causava. O pensamento de beijar a garota lhe deixava completamente louco. Tudo o que mais queria, do fundo de seu ser, era sentir o gosto daqueles lábios tocando os seus. Sentia que simplesmente não poderia sair daquele lugar sem beijá-la. O desejo dentro de si falava mais alto que qualquer coisa. Segurou o queixo da menina delicadamente, enquanto seus olhos, brilhando como nunca, devoravam os lábios dela. Aproximou mais seus rostos, colando suas testas e tocando o nariz dela com o seu. Sentiu um arrepio subir por sua espinha ao sentir o toque de seus rostos, ambos gelados pela temperatura da água que jogaram um no outro. A última imagem que teve foram os belíssimos e tentadores lábios da mais nova, antes de deixar com que suas palpebras lentamente se fechassem. Aproximou seus lábios o suficiente para que eles tocassem sutilmente os de , e com aquele simples ato, já pôde sentir seu corpo inteiro reagir com calafrios. A ansiedade e a expectativa lhe tomaram por completo, além do completo êxtase causado por ela. O roçar de seus lábios nos dela apenas lhe causava mais desejo pelo que estava por vir. E assim, ele resolveu que não aguentaria mais um segundo sem acabar com aquilo. — Desculpe... — Ele pede baixinho contra os lábios da garota, antes de enfim aprofundar aquele contato, finalmente beijando-a. E não soube explicar o quanto seu mundo se expandiu naquele exato momento. , tão linda e com aquele sabor incrível em sua boca, havia simplesmente soprado sensações maravilhosas para dentro de .
E estava um pouco diferente. Se sentia eufórica, se sentia feliz, se sentia plena.
Mas sabia que algo faltava.
Deixando tal pensamento de lado, ambos continuaram, aproveitando aquele momento que ninguém poderia retirar deles, fazendo-os acreditar que todos os problemas e confusões haviam ficado em algum lugar bem longe dali.
Capítulo 21
“Seja a luz
Brilhe em meu coração
Preto e escondido
Derreta-me de ser congelado
Assim eu vou ser tão deslumbrante
Que ninguém poderá olhar para mim”
secava seus cabelos, um sorriso bobo teimando em não sair de seus lábios.
A noite passada havia sido maravilhosa.
Não conseguia parar de pensar nas majestosas asas de e em sua atitude tão significativa. De seus momentos juntos. Da forma a qual ele a fazia sentir em segurança.
Depois da conversa com Yan ela realmente havia ficado confusa sobre tudo. Cansada. Exausta. ter contado o que contou e a levado naquele lago foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Foi como se um enorme peso em seus ombros tivesse saído.
A menina terminou de secar seus fios negros, olhando-se no espelho que havia no canto superior do quarto.
— Você mudou, . — ela diz para si mesma.
E de fato ela havia mudado. passou de uma menina insegura e triste para uma garota mais confiante, com a sede por justiça e conhecimento daquilo que todos a escondiam. Ela se tornou alguém que procurava compreender o impossível, não julgá-lo. Mysthical havia a mudado, e queria acreditar que era para melhor.
A manhã de sábado se deu início quando o sol despontou em seu horizonte. O dia estava limpo, um céu azul sem qualquer sinal de nuvens.
decidiu que agora ela tinha que dormir. Havia passado a noite acordada e estava completamente exausta.
E foi com esse pensamento que ela deitou em sua cama, fechando os olhos e deixando-se mergulhar em um sono sem sonhos.
Lara estava sentada no canto do cômodo escuro. Suas pernas estavam encolhidas contra seu corpo, enquanto seus olhos estavam arregalados. Ela olhava para um ponto fixo do ambiente.
A prisioneira não estava mais lá.
A cena havia sido muito rápida. Ela adentrou o lugar junto a Linzyne, mostrou a mulher para ela... Linzyne soltou um grito de terror e de repente... De repente...
Lara estava lá há horas.
Ela não conseguia se mover. Estava em um estado de choque absoluto. Ela apenas olhava para o ponto fixo, e se perguntava o que diabos ela havia feito.
A maçaneta se abre devagar, e ela nem ao menos se mexeu.
— Lara? — a voz sempre amigável de Victor soa mortalmente séria. — Lara, o que você faz aqui?! Para onde ela foi?!
Lara começou a tremer. Ela abriu os lábios para responder, mas de lá só saíram murmúrios incompreensíveis.
A criança já não era mais a mesma.
— Lara... — Victor a chama novamente. Ele se abaixa, segurando o ombro da jovem. — Olha pra mim. Me diga o que houve.
E então a pequena Lara desvia os olhos verdes, fixando-os em Victor. Ela o observa por longos segundos. De repente seus olhos começam a lacrimejar, e as lágrimas a sair.
— E-ela m-matou Li-linzyne. — ela diz em um sussurro. — E-ela a ma-matou e... — a menina fecha os olhos, de repente chorando ainda mais. — Ela disse que vai me matar também.
Estava no final da tarde. Jhotaz ajeitava os últimos preparativos da festa, visto que Victor estava no casarão. Segundo ele, Lara havia apresentado um mal-estar e ele iria cuidar dela. Jhotaz achou estranho, pois a menina parecia bem até ontem. Mas ignorou. Victor parecia conhecer Lara melhor que ninguém, então ele não deveria discutir.
Olhou em volta do ambiente, sentindo-se orgulhoso da decoração. Todos os anos desde a fundação de Mysthical a família Daurat ficava encarregada de comemorações como o solstício de verão e o solstício de inverno. O de verão era sempre seu favorito. A celebração era animada e agradável, aumentando seu nível de modernidade a cada ano. Desde a fundação da boate ele fez questão de fazer as festas nela. A Coup D’etat era seu paraíso particular. Tinha orgulho da forma que a boate havia ficado.
— Nada mal. — diz a seu lado. Ele tinha um livro em mãos e olhava o ambiente com atenção.
— Obrigado. — Jhotaz agradece. — Dando uma volta?
— Pode se dizer que sim. Resolvi fazer uma pequena caminhada... Acordei com muita disposição.
— Sério?
— Pois é. Até mesmo decidi que irei aparecer na festa hoje à noite.
— Você irá? Verdade?
— Sim. Eu estou aberto a novas experiências. Por mais que eu odeie pessoas e festas desse tipo, acho que devo dar uma chance.
— Bem, só não nos cause problemas.
— Eu vou tentar.
O celular vibra no bolso de Jhotaz, fazendo-o pedir licença para e atendê-lo.
— Alô?
— Eu menti. Não é Lara que não está bem. — Victor diz com a voz embargada. Ele parecia desesperado. — Ela fugiu, Jhotaz. Ela fugiu e ainda matou a pobre Linzyne.
Jhotaz arregalou os olhos, completamente desacreditado. Merda. Inferno. Maldição.
Será que as coisas não poderiam dar certo pra ele?
— Por que Linzyne estava na minha casa?! — Jhotaz esbraveja. — Não faz sentido. Eu irei ver o que eu posso fazer, Victor.
Jhotaz desliga o telefone, completamente irado. ainda estava ao seu lado, observando tudo.
— é muito amigo de Linzyne. — diz. — Se você quiser posso falar com ele para ir em busca do que você procura, se isso for ajudar sua amiga.
— Você e não vão gostar de saber o que está acontecendo. — Jhotaz suspira. — Mas eu agradeceria se o mandasse atrás de Linzyne. Ele pode rastreá-la, não pode?
— Acho que sim. Mas para isso ele teria que assumir sua verdadeira forma.
— Faz milênios que ele não a assume, não é?
— Na verdade ele a assumiu ontem. — responde, achando graça. — Mas isso já é outra situação que não lhe diz respeito. Eu ligarei pra ele pra você, está bem?
— Obrigado, .
apenas sorri irônico, dando meia volta e voltando para sua biblioteca.
Ele tinha que se aprontar.
Já era noite. A festa do solstício de verão de Mysthical havia começado às dez horas em ponto. Era como se em um momento tudo estivesse tranquilo e comum naquela cidade, e em outro... Ela houvesse simplesmente despertado, despertando seus habitantes junto.
Os dedos de estavam entrelaçados nos de . Ela os apertava inconscientemente contra os seus próprios, parecendo buscar conforto naquela ação. A verdade era que ela não estava sentindo um bom pressentimento ao estarem andando naquelas ruas e ainda por cima à noite. Mas ao passar pela multidão de pessoas que bloqueavam o caminho até a entrada da Coup D’etat... se esqueceu de todas as suas preocupações. No lado de fora havia uma enorme área infantil, com brinquedos de parques de diversões alinhados. As crianças faziam a festa, e se sentiu mal por Lara não poder ir. Victor disse que ela estava doente, e por mais que ela estivesse insistido em ficar e cuidar da jovem, Victor disse que ela tinha que ir. Que ele cuidaria dela.
E foi o que o fez, por mais que estivesse relutante.
Elas adentram a boate. Tudo era... Tão bonito e completamente surreal. jamais imaginara algo tão diferente e esplêndido. A boate estava completamente enfeitada com fitas cintilantes e coloridas, estas que pareciam brilhar ainda mais para quem as olhasse por muito tempo. Os jogos de luzes haviam sido estranhamente substituídos por centenas de velas que flutuavam no ar, juntamente por balões de luzes coloridas que também flutuavam. O centro da pista de dança parecia a concentração de toda a comemoração, levando em conta que havia diversas mesas compridas, postas com pratos dourados cheios de comida. Havia ali visivelmente um enorme banquete, variando entre as mais gostosas comidas salgadas até as mais saborosas sobremesas. Também haviam diversas taças igualmente douradas, essas com diversas bebidas sendo guardadas em jarras chiques.
Uma música alta, mas de certa forma agradável tocava. Havia muitas pessoas em completo estado de estupor, pulando e cantando junto; como também havia aquelas que estavam em seus devidos cantos, reservadas e apenas aproveitando a agradável noite com amigos.
— Tudo parece tão surreal, não é? — comenta ao pé de seu ouvido. assente, completamente impressionada.
— É muito bonito.
As duas começaram a andar juntas pela extensão do estabelecimento. Alguns rostos conhecidos podiam ser vistos, onde algumas pessoas da escola, do restaurante de Hime e outras que ela já viu na boate estavam presentes. não podia deixar de se sentir incrivelmente encantada com tudo.
— Ei, vocês! — uma mão puxa o ombro de levemente, fazendo-a olhar surpresa.
Conhecia aquele rapaz de estatura mediana e sorriso gentil. Fazia muito tempo que não o via, mas sabia quem era.
— Kyle, certo? — pergunta. Ele apenas confirma, parecendo feliz dela ter se lembrado.
— Certo! Fico feliz em finalmente te ver de novo, ! — ele diz empolgado. Ele olha para o lado, parecendo reparar em só agora. — Oh, olá. Eu sou Kyle.
— Prazer em conhecê-lo. — sorri galanteadora. apenas ri incrédula. não tinha jeito.
— Então, ... Vejo que está sozinha. Quer dançar? — Kyle a convida, fazendo a menina olhá-lo surpresa.
— Eu?
— Claro que é você.
— Vai! — diz, com um sorriso. — Se você não for eu vou.
— Vamos, . Você está tão sozinha, sem companhia masculina... Eu posso fazer companhia pra você.
— Na verdade, ela já tem companhia. — A voz prepotente e autoritária de soou por trás do corpo de , onde o mesmo se aproximou, abraçando-a por trás e depositando o queixo em seu ombro. Sentiu o seu cheiro, deixando com que aquele perfume doce e natural da pele da garota adentrasse suas narinas e já o levasse ao delírio, tão brevemente. E dessa forma, ele sussurrou, quase que de forma inaudível: — Você consegue ficar mais linda a cada dia... Como posso manter o controle desse jeito?
— Filho da puta. — Kyle xinga, fazendo sorrir pra ele. — Bem, , aceita dançar comigo?
— Claro. já tem companhia. — riu, dando as mãos para Kyle e indo para a pista de dança.
bufou, virando-se para e o olhando com escárnio. Ele continuava com o sorrisinho presunçoso presente em seus lábios.
— Quando você vai me deixar em paz? — ela pergunta de forma frustrada.
abriu um malicioso sorriso torto, seguido por uma breve mordiscada em seu lábio inferior.
— Te deixar em paz... — O rapaz diz baixinho, começando a andar em volta da mais nova. — O que é paz para você, ? Para mim, o inferno é pacífico. Qual é a sua paz, hum? — E então ele para, puxando a garota agressivamente para perto de si, apertando fortemente o corpo dela contra o seu. — Você não quer experimentar do seu diabólico antes de concretizar sua definição de paz? Você não quer... Ir comigo pro inferno, provar do gosto do pecado...?
— Você me instiga ao caos. Você quer me destruir. — diz em um sussurro. Ela sentia aquilo. Sentia em suas entranhas a destruição que viria em seu ser ao se envolver com . Mas simplesmente não se importava. Estava muito longe de se importar.
— Destruição é algo tão relativo, minha princesa... — um sorriso sujo moldou seus lábios, de forma que ele puxasse a mais nova para ainda mais perto de si. Suspirou, sentindo algo diferente ao sentir seus corpos unidos. Algo quente. — Você está em casa, linda. Você está comigo. Nós dois nascemos destinados á destruição perpétua, e é por isso que temos que ficar juntos. Eu sou aquilo que desencadeia o seu mal, enquanto você é aquilo que faz com que eu reconheça o meu. Somos maus, princesa. Somos destruidores. Somos simplesmente indestrutíveis. Eu e você, juntos. Me entende, minha pequenina? — Ele aproxima seus lábios da orelha de , deixando com que sua voz rouca ressoasse perversa e hipnotizante ao pé do ouvido da jovem. — Seu cheiro... Seu corpo... Sua alma... Tudo isso é tão poderoso, menina. Você não tem noção da mulher incrivelmente poderosa que você é. E do quanto esse poder é exercido sobre mim, sem que você nem perceba. — Os lábios do homem deslizam para o pescoço da mais nova, onde ele suspira ao sentir seu doce cheiro. Sua boca implorava para sentir aquele gosto quente, sua mente rodava em alucinações pecaminosas, e tudo o que sentia dentro de si, era o quão dominado ele estava por alguém que teoricamente deveria ser apenas uma presa. Beijou suavemente a pele macia e gostosa da garota, sentindo seus lábios frios formigarem, seus olhos cintilarem. Estava completamente imerso no êxtase que apenas aquela garota lhe causava. — ... — Ele chama baixo, seu tom beirando à loucura. — Eu preciso do seu gosto... Pra viver. Ah, merda, você é tão linda... — O mais velho suspirou, sentindo seu corpo perder o controle aos poucos. Com ela por perto, era sempre assim. — Você é maravilhosa. E o mal que existe em você é maravilhoso.
gemeu, sentindo todo seu corpo arder em desejo. sabia como enlouquecê-la com tão pouco e ela não conseguia lidar com o fato de que em breve ela seria completamente destruída por aquele homem.
Ela queria beijá-lo. Queria sentir o gosto embriagante que apenas parecia ter. Aquele gosto viciante, aquele prazer intensivo que ela nunca sentiu antes. Não antes de conhecê-lo.
E foi então que ela avançou em seus lábios... Sendo violentamente puxada para trás ao fazê-lo.
Uma dor excruciante a predominou, fazendo-a soltar um grito. Sua carne parecia queimar em carne viva, seu osso do braço parecia estar se desfarelando. Doía. Tudo doía.
Mas o que mais doeu foi ouvir a risada diabólica de Yan ecoar pelo ambiente, enquanto ele retirava uma adaga com um líquido negro que escorria por sua lâmina... E simplesmente a fincou no peito de .
gritou de dor.
soltou um grito aterrorizado.
Yan riu. E o homem que a segurava por trás riu também.
— Solte-a! — berra, completamente enraivecido.
— , ... Não acha que está sendo muito dramático? — Yan questiona o rapaz, rindo maliciosamente ao fazê-lo.
E foi quando foi puxada violentamente para trás, enfim vendo quem a prendia e a machucava tanto.
tinha um enorme sorriso nos lábios. Um sorriso sujo e diabólico. Seus olhos estavam negros, duas órbitas de pura trevas e maldade.
— Olhe para , ele parece realmente desesperado... — ele diz para , em tom extremamente debochado. — é minha, . Isso não é algo que uma criatura horrenda como você possa mudar.
E então começou a chorar, incapaz de dizer nada diante a tudo o que ocorria. Seus olhos estavam fixos na imagem de agonizando de dor, e de repente tudo o que desejou foi estar em seu lugar.
— Vamos lá, ... Você é forte. Você pode mostrar sua verdadeira natureza... Qual é o problema? — sacudiu a garota. Seus olhos se fixaram no pulso da jovem, o qual ele fincava suas unhas. As unhas de haviam se transformado em garras horrendas e curvadas. Estas também tinham um líquido negro saindo e imaginou que fosse aquele líquido que a machucava tanto. O pulso de estava em carne viva. Sangue pingava no mesmo, e a menina se sentiu enojada ao ver aproximar seu rosto ali, lambendo o sangue da jovem com deleite. — Oh... Oh céus, como pode ser tão bom?
— Não... — se contorcia no chão, enquanto Yan dava chutes e mais chutes a fim de fazer com que ele se calasse.
— Cale a boca, ! — ele grunhe.
— Por que está fazendo isso, Yan? — pergunta. Yan apenas ri maldosamente.
— me prometeu que eu serei tão poderoso quanto você. Para isso eu só precisava ajudá-lo a pegar ... E é isso o que ele fará.
— Seu desgraçado. — xinga. Yan ri ainda mais.
apenas observava , sentindo seus lábios formigarem de desejo por mais contato com seu sangue. Céus, já estava completamente viciado. Fazia tanto tempo que não provava sangue, ainda mais um tão saboroso quanto o daquela garota em sua frente... Ela era sua, completamente sua. Ele ainda faria com que ela entendesse tal fato.
— ... Ele te deixa fraca. Aparentemente descobrimos seu ponto fraco muito fácil, não é mesmo? Patético. Farei com que você mude esse pensamento... Vamos, Yan. Vamos ir embora.
— VOCÊ PROMETEU! — um berro soou, um som aterrorizante e estrondoso de uma forma que nunca haviam visto. O ambiente todo tremeu, como se a ira do dono daquela voz fosse tanta que nem mesmo a estrutura do local pudesse aguentar.
Jhotaz estava ali.
Seus olhos eram duas fendas de um brilho tão profundo que era mortal a olhos humanos. Sua pele brilhava em formas que se assemelhavam a estrelas. Em suas mãos haviam enormes globos de luzes pulsando, como se estivessem preparados para atacar.
— Jhotaz... — diz, sua voz falhando ao se referir ao homem. — Eu sei o que eu prometi, eu sei que te dei a minha palavra que não faria mal a essa cidade, mas...
— EU NUNCA MAIS DAREI IMPORTÂNCIA A MAIS UMA DE SUAS MENTIRAS. JÁ CHEGA, ESTOU FARTO DISSO!
— Jhotaz Daurat, por favor me deixe expli...
Tudo aconteceu muito rápido.
Jhotaz ergueu suas mãos, um flash de luz atravessou completamente o estabelecimento, cegando-os completamente.
Uma explosão, uma dor excruciante e em seguida o enorme vazio.
Ao finalmente recuperarem a visão, a boate estava completamente vazia e destruída.
Jhotaz caiu de joelhos, com a cabeça abaixada, sentindo-se incapaz de olhar em volta.
correu até , jogando-se ao seu lado no chão. Ela ainda chorava.
— Retire a adaga. Ela tem veneno demoníaco. Se ficar por muito tempo... pode não sobreviver. — Jhotaz diz. obedece, chorando ainda mais ao ouvir os gemidos de dor de .
— Vai ficar tudo bem... — ela diz baixinho, enquanto acariciava seu rosto. Sentiu tanto medo de perdê-lo...
— ... Ugh... — O rapaz tosse brevemente, tentando ao máximo se levantar devagar para poder olhar diretamente naqueles olhos quebradiços que choravam por ele. Uma adaga em seu corpo não era dor. Vê-la chorando, vê-la machucada, maltratada, abusada. Aquilo era dor. — Ele machucou você? — Perguntou com a voz fraca, tentando fazer as palavras saírem. — ... Princesa.... Não chore. Eu não quero te ver chorar...
passou segundos, minutos, um tempo que pareceu eterno apenas parada, em choque, ainda chorando. Até que a ficha caiu. havia se machucado por ela. Como ela poderia viver sabendo que alguém que começava a julgar de suma importância para si havia se ferido gravemente por ela?
Quando ela ia dizer algo, vozes invadiram sua cabeça, e sua alma pareceu sair de seu corpo, sendo levada para outro lugar além daquele mundo.
Tudo era dourado.
"Cure-o." Uma voz ecoou naquele lugar. Não havia ninguém, apenas uma luz dourada infinita.
"Apenas toque-o. Toque em seu coração. Você saberá exatamente como fazer."
suspirou, já farta daquilo.
"Que assim seja."
E desta forma, havia se transformado. Dentro de si, sentia algo diferente. Sentia uma paz, uma calma, uma tranquilidade genuína. Seus olhos brilhavam intensamente, sua pele parecia blindada com ouro, mechas loiras formaram-se em seus cabelos, uma luz dourada radiante moldava sua silhueta, e agora, o mais importante: ela vestia vestes douradas, se moldando ao seu corpo como enormes e pesadas asas. Com calma e a essência delicada de um anjo, se aproximou de . Se abaixou ao seu lado, sentindo a aura maligna dentro dele. E desse jeito, quase que de maneira protetora, o abraçou por trás, ajoelhada atrás de si. Sua mão tocou a região do peito de onde deveria estar seu coração, sentindo uma calma inexplicável.
— Você vai ficar bem, tudo vai ficar bem.
arregalou os olhos, completamente pego de surpresa diante o misto de sensações que predominaram seu corpo depois do toque de . Uma calmaria inexplicável o atingiu. Uma força revigorada, um fio de esperança se reconstruindo dentro de seu ser, forte o bastante para que ele pudesse seguir em frente. Aquele toque suave, cheio de significado, como se o mais belo dos anjos estivesse tocando-o.
Seu anjo.
Sua princesa .
Não se lembrava a hora que havia começado a chorar, só percebeu quando sentiu suas bochechas completamente banhadas de lágrimas gordas descendo de suas íris. Seu corpo e lábio tremiam, enquanto ele se encolhia cada vez mais. Era uma sensação de alívio absoluto, algo que nunca havia sentido em toda a sua existência.
— Obrigado... — sussurrou em meio a um ofego aliviado, a voz chorosa como a de um garotinho em seu maior estado de vulnerabilidade. — Obrigado por estar comigo... Agora eu entendo um dos porquês de você estar aqui, um dos porquês de tudo o que aconteceu... Você veio para me salvar.
Um sorriso triste tomou os lábios de . Se afastou apenas para poder ver o rosto do rapaz com clareza. Levou uma das mãos até a bochecha dele, acariciando enquanto ela o olhava com os olhos transbordando tudo o que sentia: medo, alívio... Paixão. Olhos tão profundamente apaixonados, fitando aquele homem em sua frente como se ele fosse tudo em sua vida e a mera ideia de perdê-lo houvesse aberto uma ferida tão profunda dentro de seu próprio ser capaz de deixá-la aterrorizada. A noção de que Yan por pouco quase havia o matado flutuava em sua mente, fazendo-a sentir uma angústia nunca antes sentida. Mas ele estava ali... Com ela. A menina abaixa a cabeça, apenas para grudar seus lábios nos do rapaz em um longo selinho cheio dos mais profundos e intensos significados.
— Eu senti tanto medo de perder você.
sorriu. Mas não um de seus típicos sorrisos sujos e cheios de malícia. Um sorriso verdadeiro e puro.
— Você não tem jeito, não é mesmo, princesa? Sempre se preocupando demais com o cara mais problemático dessa cidade. — Ele disse com a voz enfraquecida, fechando os olhos por um instante. Seus dedos que lhe tocavam a face, pareciam divinos, era como se naquele toque o amor pudesse ser sentido, tocando em seu rosto, se fazendo presente em sua alma. — Eu nunca iria deixar minha princesa. Meu prazer na vida é protegê-la. — E mais uma vez, ele sorriu.
E então, aproximou seus lábios dos dela devagar, deixando-se tornar-se mais uma vez inebriado pelo gosto da paixão que se derretia em seus lábios ao toque macio e molhado de . Seu corpo frio sentia ondas quentes, e ele amava aquilo. Amava a sensação de sua garota lhe fazendo sentir calor. Um calor jamais sentido. Gemeu baixinho quando seus lábios se separaram, formando um bico triste com os lábios. Ele já não chorava mais.
— Obrigado, princesa.
Capítulo 22
“Toque-me, sim
Eu quero que você me toque lá
Faça-me sentir que estou respirando
Sentir que sou humano... De novo.”
já não estava mais com as vestes e as enormes asas: estas haviam sumido. Olhou para si mesma com choque, tentando ignorar o que havia acabado de acontecer. apenas esperava uma reação da garota, com os olhos tristes.
— Eu gosto de verdade do cara mais problemático dessa cidade... — a menina sussurra, sorrindo de forma quase tímida. Era tão... Difícil. Quando ela e tinham momentos que a malícia e o desejo não eram o auge era tão estranho, mas de certa forma maravilhoso. A menina já não poderia negar o quanto gostava daquele homem e o quanto necessitava dele em sua vida. — Você não precisa me agradecer, está bem? Afinal, você é meu. — ela sorri, se aproximando novamente de apenas para sussurrar em seu ouvido em seguida: — E eu sou sua. E as coisas continuarão dessa forma, não importa o quão difícil seja daqui pra frente. Eu prometo.
abriu a boca para dizer algo, sendo interrompido por um pigarro vindo da outra extremidade do lugar.
Jhotaz os observava com os braços cruzados.
— O que foi? — diz, fazendo Jhotaz suspirar.
— Precisamos ir embora daqui. Você assumiu sua verdadeira forma, sabe o que você é agora. Ele pode sentir. Você corre perigo, .
— Eu não posso deixar o . — ela diz, segurando firmemente as mãos do rapaz. Jhotaz bufa.
— Você não entende, não é? Isso é algo mais importante que a sua paixão adolescente, . Você não pode deixar que ele te machuque.
— Pelo que eu saiba você é quem quer me ferir! — exclama, levantando-se e ajudando a se levantar também.
— ... — começa, sendo interrompido por ela.
— Não, . Eu quero entender o que diabos Jhotaz quer de mim!
— EU QUERO QUE VOCÊ FIQUE EM SEGURANÇA!!! — Jhotaz berra. Ele não estava em seu estado normal. — ... Eu não quero que você morra. Eu não quero que você acabe como ele.
— ... Então por que e disseram que...
— O que e disseram? Que eu quero te ferir? Que eu te aproximei de por que sabia que ele acabaria te matando? — Jhotaz ri irônico, se aproximando da jovem. — Eu tenho uma dívida eterna com , por motivos que você não imaginaria. Eu o considero muito e vejo bondade nele, ao contrário de todos dessa cidade. Eu confiei nele para cuidar de você porque eu sei que ele é poderoso para isso e que faria isso... Por mim. Mas eu vejo que agora é mais forte que isso... Ele te protege por você. Porque de alguma forma você despertou algo no meu velho amigo.
— Deixe que ela fique comigo, Jhotaz. — diz, se aproximando de . A menina apenas olhava confusa para o tio. — Eu a levo para meu castelo e lá eu posso protegê-la. e Yan não ousariam invadir minha propriedade sem serem convidados.
— Para onde eles foram? — perguntou em um sussurro. Sua cabeça doía e ela estava tão confusa...
— Para um lugar bem longe daqui. Mas em breve eles voltarão. — Jhotaz suspirou, levando as mãos ao rosto. — Vá com , .
— Mas...
— . — Jhotaz se aproximou, levando as mãos aos ombros da menina. Ele se perdeu na imagem da jovem e seu semblante tão confuso. Com um suspiro de resignação, ele a abraçou fortemente. não soube como reagir, tentando abraçá-lo de volta, mas se sentindo estranha ao fazê-lo. — Você é tudo o que importava para Jacques. — Jhotaz sussurra. — Ele morreu para que você vivesse. E eu nunca o perdoei por isso... Mas agora eu entendo. Você é poderosa e você pode dar o fim para o caos que em breve se desencadeará aqui. Só que para isso eu preciso que você fique segura. — Jhotaz finalmente se afasta, suspirando. — Por favor, cuide-se. Eu não suportaria perder outra pessoa que eu amo.
começou a chorar novamente. a segurou pela cintura, abraçando-a.
Jhotaz estalou os dedos e tudo ficou escuro.
De repente não estavam mais na boate.
Aquele quarto escuro, sendo iluminado por luzes roxas e vermelhas... conhecia aquele quarto.
Eles estavam no quarto de .
— Acho que você já pode se sentir em casa aqui. — diz com um meio sorriso, enquanto se encaminhava a sua própria cama. o seguiu.
— Como Jhotaz fez isso?
— Acho que você já sabe a resposta.
— Eu estou tão confusa, . — ela admite, sentando-se na cama, ao lado do rapaz. — Fico feliz que eu tenha você comigo para passar por isso.
O mais velho apenas riu baixinho, fitando por determinado tempo em seguida. Seus olhos continham um brilho encantado, admirado, iluminado por paixão.
— Me deixa te contar um segredo? — ele sorri fracamente, e com a mão livre, segura delicadamente o queixo da mais nova, aproximando seus rostos. — No fundo, eu sou aquele tipo de vilão que não seria nada sem a mocinha. Você... É importante pra mim. De uma forma que eu... Tenho um pouco de medo. — sorriu sem graça, abaixando a cabeça por um momento. Não era exatamente fácil falar daquilo. — Pois é. O cara durão na verdade é um molenga no fundo. Mas não espalha. Eu tenho uma reputação de cara mau a zelar. — riu brincalhão, porém acabando por desviar o olhar.
Falar de como a garota o afetava era tão... Estranho. Ninguém o fazia sentir daquela forma, e ele tinha medo daquilo, ao mesmo tempo em que amava tal sensação.
apenas fitou por alguns segundos, como se estivesse refletindo sobre suas palavras.
— Quando eu te vi no chão agonizando de dor daquela forma... Foi horrível. Foi a pior sensação que eu poderia experimentar e tudo o que eu desejei foi ter sentido aquilo no seu lugar. — a menina aperta a mão de , respirando fundo para prosseguir. — está certo... Talvez você definitivamente seja meu ponto fraco. Você... Também é importante pra mim de uma forma que eu não consigo compreender... Mas igualmente: não espalha. Não é apenas você que tem uma reputação a zelar. — e assim ela pisca, rindo roucamente em seguida, desviando o olhar.
— Humm... Eu tenho uma ideia. — Dito isso, ele muda as posições, deitando por cima da mais nova e segurando seus pulsos daquela forma dominadora que ele amava.
Sorriu, aproximando seus lábios gélidos do pescoço dela, até que eles trilhassem um caminho deliciosamente traçado por beijos até sua orelha, onde ele pôde sussurrar de sua forma mais pervertida:
— Por que não selamos esse nosso segredo entre nós dois agora mesmo? Você sabe... — Uma de suas mãos tocou uma das coxas da jovem, puxando-a para cima, fazendo sua perna se colocar em cima de seu próprio corpo que continuava firme sobre o dela. — O quanto somos importantes um pro outro... Podemos mostrar isso através de ações, não acha? E ninguém precisa saber que aconteceu... Além de nós dois, é claro.
— Você já não parece mais tão fraco. Ah, ... Você sempre dá um jeito de se aproveitar da situação até que ela esteja da forma que lhe agrade, não é? É impressionante. Você realmente não tem jeito. — a garota ri incrédula, odiando-se por sentir todo seu corpo queimar. — Selar nosso segredo em ações não me parece uma ideia tão ruim... Como você pretende fazer isso? — Com a sua mão livre a garota apoia no ombro do rapaz, dando a si mesma apoio para que ela friccionasse seus quadris de forma violenta, olhando para com a sobrancelha arqueada em desafio.
— Porra... — O rapaz grunhe baixo ao sentir suas intimidades em prévio contato, respirando fundo a fim de conter a enorme fera sedenta que já se formava em seu interior. — Você já vai começar tornando as coisas difíceis pra mim, princesa? Tsc. Má. Muito má. Eu não deveria te deixar tão mal acostumada. — diz já rouco, respirando profundamente e mais uma vez mergulhando na maciez daquela pele da qual ele tanto amava. Se deixou beijar toda a região do pescoço da menina com calma, enquanto uma de suas mãos deslizava livremente pelo corpo da jovem, sem qualquer tipo de pudor. — Sabe o que eu deveria fazer com você, sua princesa má? — Riu baixo, mordiscando levemente sua pele, depositando um beijo no lugar onde seus dentes haviam acabado de tocar. Suspirou, sentindo o cheiro. Seus instintos já começavam a se apurar, e com o olfato de uma digna criatura, seria óbvio o quão doido uma simples aproximação entre suas narinas e a pele da menina poderia deixá-lo louco. Se conteu, jurando a si mesmo que aquela noite inteira valeria a pena. — Eu gostaria de prender você. — Uma risada baixinha diabólica escapou por entre seus lábios, que se moldaram no sorriso mais depravado do mundo. — Fazer com que você me obedecesse... Te punir pelo seu comportamento mau. Já pensou nisso, princesa? Ou melhor... Já gostou de pensar nisso?
Seus olhos se arregalaram, enquanto a garota grunhiu inconformada com o calor que já se fazia presente por todo seu ventre. A pergunta de a atingiu em cheio, pegando-a de surpresa e ao mesmo tempo deixando-a muito, mas muito excitada.
Filho da puta.
Por que a ideia dele a punindo parecia tão imensamente deliciosa?
não poderia deixar com que sua fraqueza diante aquela mera insinuação fosse mostrada, por isso logo tratou de se recompor, por mais que soubesse que já sabia qual seria sua verdadeira resposta.
Ele sempre saberia.
— Hum, ser punida por ser tão malvada... Como eu poderia não gostar? — ela pergunta rouca, dando uma risada baixa em seguida. — É uma ideia tentadora, ainda mais partindo de você. Mas convenhamos... Você não conseguiria me fazer obedecê-lo. Lembre-se, : Nós somos mais parecidos do que você imagina... — suspirou, molhando os lábios enquanto arqueava seu quadril contra o dele novamente. Respirou baixo contra a pele da bochecha de , seus lábios úmidos e quentes roçando em sua pele gélida provocando descargas elétricas por seu próprio corpo, fazendo-a estremecer. Quando chegaram próximos o bastante da boca do rapaz, ela parou, rindo debochada. E assim, sussurrou, completando o que dizia anteriormente: — Como você, eu simplesmente não posso ser controlada.
— Será mesmo, ? — ele perguntou sedutoramente. — Será mesmo que você não pode ser controlada?
fechou os olhos, sentindo todo seu interior borbulhar.
— O que você é, ? — ela finalmente fez a pergunta que sempre quis fazer.
A pergunta que estava sempre em sua mente, perturbando-a, mas que nunca teve coragem de dizer em voz alta.
E somente riu. Não porque aquela pergunta era engraçada, não porque estava debochando de tal pergunta. Não pela pergunta em si, mas pelo que ela representava. riu, simplesmente, porque aquilo soava exatamente da forma a qual ele queria que soasse: necessitada. E foi com um sorriso presunçoso de pura satisfação estampado em seu rosto, que deu à a resposta que queria.
— No fundo você sabe. — Disse como se estivesse se divertindo com aquilo, em um tom de maldade. — No fundo você sempre soube, não? — Seus dedos deslizaram lentamente pelas coxas da jovem, subindo sem parar. — Desde que chegou aqui, você conseguiu ver... — Subindo, passando por sua barriga... — E eu admiro isso, porque foi diferente com você. Desde o começo, você sentiu, não foi? — E finalmente, as pequenas cordas frontais que abriam sua blusa. Uma fraca e pequena risada pervertida escapou por seus lábios quando seus dedos tocaram aqueles cordões, já prevendo que, a partir dali, tudo o que se sucedesse seria o começo do fim. — Eu sou... O cara babaca que você conheceu na boate... — Começou, sua voz tão suavemente tranquila, e ao mesmo tempo, rouca. — Eu sou... O cara que todos na cidade repudiam... — Continuava listando com calma, parecia não ter pressa, enquanto seus dedos apenas brincavam com os cordões, seu olhar perdido como se estivesse divagando. — Eu sou... O vilão... — Fingiu um suspiro entristecido, na intenção de combinar com a sentença. — Eu sou o cara que só quer ver o circo pegar fogo, não se lembra? — mais risos maliciosos escaparam, e então ele fez uma longa pausa. — Mas, acima de tudo... Eu sou o SEU babaca, o SEU cara que todos repudiam, o SEU vilão, o SEU cara que só quer ver o circo pegar fogo... Eu sou , .
E então, com maestria, desamarrou tais cordões, e, impaciente do jeito que estava, tratou de retirar a blusa de ele mesmo, cansado demais de esperar. E céus, sentiu que poderia perder o fôlego para sempre. Aquela garota era simplesmente perfeita, seu corpo era simplesmente o mais impecável, o mais lindo de todos.
— Eu sou isso. — E foi quando suas presas apareceram, seus olhos se iluminaram. havia, finalmente, assumido sua forma diante de . E antes que ela pudesse lhe dar qualquer tipo de resposta, ele segurou seu cabelo agressivamente com uma das mãos, puxando-a com urgência para que seus lábios se unissem. E aquele clímax sobrenatural tomou conta de si novamente. Aquela sensação indescritível e deliciosa, que se tornava cada vez mais viciante, sensação de êxtase, prazer, e paixão toda vez que um beijo era trocado com aquela garota. E, puta que pariu, a mente, o corpo e a alma de simplesmente não poderiam mais suportar nenhum segundo estando naquele lugar com a garota sem devorá-la por inteira. Assim que o beijo se rompeu, ele depositou um selinho nos lábios quentes da menina, antes de sair da cama. Levantou, olhou ao redor do quarto e parou em frente a uma cômoda velha, com algumas gavetas. E de uma das gavetas dali, ele tirou um par de algemas. O simples ato de virar em direção à com tal item nas mãos já o fez morder os lábios e suspirar, agora ele apenas precisava de uma coisa: Sua aprovação. — O que acha, princesa? Já imaginou ser presa por um vampiro?
Choque e admiração. Era tudo o que sentia naquele momento enquanto fitava aquele homem, aquela criatura que o seu fruto de maior desejo havia se transformado.
“Um monstro...” — uma voz soou em sua cabeça, como se estivesse sussurrando em seu ouvido.
O monstro mais lindo que já havia visto em sua vida.
Naquele momento tudo havia feito sentido. Uma parte da garota queria negar, queria gritar de medo e fugir dali com a certeza de que tudo não se passava de uma alucinação. Mas a outra parte dela sabia. A outra parte dela sempre soube e nunca se importou pelo simples fato de já estar completamente envolvida no perigo chamado .
De repente seu choque havia sido substituído para uma expressão dura e seus olhos cinza escureceram em desejo, tornando-se duas órbitas negras. A garota se sentou na beirada da cama, passando as mãos lentamente por sua perna até chegar em seus pés, retirando seu salto alto. Fazia tudo sem ousar romper o contato visual com , havendo algo de indiscutivelmente diferente em seu olhar. Um toque sombrio, que deixava sua aparência ainda mais envolvente.
A garota se levantou, retirando o short que usava e fazendo-o cair ao chão, livrando-se dele enquanto jogava para qualquer lugar do quarto. Agora estava apenas de calcinha, mordendo os lábios enquanto olhava para com a sobrancelha erguida em desafio.
— Eu sempre gostei de te ver me olhando como se estivesse prestes a me devorar, . E admito que agora que sei que isso é realmente possível nos dois sentidos da palavra, acabo ficando ainda mais excitada em expectativa para o que está por vir. — a voz da garota soa rouca, quase perigosa de forma calculista. Ela caminhou até , parando em sua frente, e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa suas unhas cravaram em suas costas, o puxando para mais perto e assim calando-o com seus lábios. Sua língua começou a travar uma batalha quase furiosa contra a dele, enquanto sua perna se entrelaçava em sua cintura, pressionando seus quadris. Se esfregou contra ele violentamente, sendo obrigada a partir o beijo para deixar com que um gemido baixo escapasse de seus lábios. Suas unhas fincaram-se em suas omoplatas, enquanto sua boca fechou em seu ombro, enterrando seus dentes ali em uma mordida nenhum pouco delicada. Riu, subitamente afastando-se de apenas o suficiente para deixar de tocá-lo, e assim ergueu seus punhos. — Vamos, comece logo isso. — piscou para o rapaz, deixando claro que a partir dali estava permitido a fazer o que bem entendesse.
sorriu abertamente.
Ele puxou a garota com agressividade, pegando seus punhos e algemando-a na cabeceira na cama. Postou-se atrás dela, começando a beijar seu pescoço e sentir seu cheiro.
Ele estava completamente alucinado.
— É só isso que você tem, ? — o provoca.
Mais um grunhido da parte de , que mordeu o lábio fortemente, sentindo-se cada vez mais duro e pronto para devorar aquela garota com toda a sua vontade.
— Você sabe que eu posso fazer muito mais... — Ele diz, sua voz soando rouca contra a orelha dela.
puxava seus corpos para que se colassem mais, a bunda dela tocando tortuosamente sua ereção, já se sentia prestes a devorá-la sem fazer questão de mais enrolamentos, sentindo todo aquele calor desconhecido soltar calafrios gostosos por todo o seu corpo. Sentia calor. Ele, que nunca sentia calor, estava ali, queimando embaixo de sua própria pele. Tudo por ela. Tudo porque ela era a porra de uma garota especial demais que o afetava de forma que ia contra sua própria compreensão.
— Você sabe que eu posso fazer tudo porque quem manda aqui sou eu, mas então por que continua tão desafiadora, hum? O que está tentando fazer, me desobedecer? — e foi quando uma de suas mãos deu um tapa em uma das nádegas da menina, e em seguida já estava brincando com os seios dela de novo. Ela soltou um gritinho de surpresa, mordendo fortemente os lábios. — Você não tem noção do que está fazendo comigo, garota. Eu estou completamente louco por você. E você gosta disso, não gosta? Você se acha por isso, não se acha? — uma de suas mãos agarrou fortemente os cabelos dela, puxando-a para que sua cabeça fosse jogada para trás e assim ele pudesse aproximar o nariz do pescoço dela. O simples ato de cheirar aquela região fez soltar um breve gemido contido de raiva. Ah, como ele queria acabar com aquilo. Como ele queria come-la com toda a sua força e vontade até que ambos não aguentassem mais. Mas ela queria tirá-lo do sério. Ela brincava, e ele era seu brinquedinho. E não era o brinquedo de ninguém. — Você é má, Daurat. Você é definitivamente a princesa mais malvada que existe. Vai mesmo continuar me provocando? Tem certeza disso? Você é a garota presa, meu bem. Você é a minha presa... E por falar nisso, seu sangue cheira tão bem... — Suspirou, sentindo aquele cheiro maldito adentrar suas narinas. A cada segundo ficava mais louco de desejo e consumido pela voracidade que existia dentro de si.
A menina grunhiu, sentindo seu coração bater em um ritmo ainda mais acelerado devido as palavras de . Ouvir um vampiro elogiando seu sangue deveria ser algo tão bizarro que a apavoraria, certo? Errado. Aquilo apenas a excitou mais, fazendo-a ser obrigada a espremer suas pernas uma contra a outra. estava ficando intoxicada com a presença de , com seu corpo que a encobria e prometia coisas que ela ansiava pelo momento em que se concretizariam. Era sempre tão estranho, tão anormal de uma forma deliciosa...
Mas ela ainda queria provocá-lo. Ela ainda queria instigá-lo até vê-lo explodir... Afinal, ainda aguardava ansiosamente pelo momento que ambos se foderiam juntos no final.
— Já te disse... Sou malvada dessa forma porque VOCÊ me ensinou direitinho, ... Lide com as consequências de seus atos. — a menina arqueia seu corpo para trás, a fim de pressionar com ainda mais impacto sua bunda contra a ereção do homem, provocando-o. — Sobre meu sangue... Hum. Eu já ouvi algo parecido... De outra pessoa. — mais um riso abafado escapou de seus lábios. Os olhos de escureciam a cada minuto, tornando-se quase completamente negros. Seu sorriso se abria em um sorriso deformado de forma maléfica, como se ela estivesse planejando alguma coisa. estava prestes a perder o controle sobre si mesma.— Te deixa bravo, ? Te tira do sério a ideia de outro alguém desejar o que você deseja, de outro alguém já ter provado aquilo que você considera seu? Talvez eu não seja realmente sua... Talvez eu venha a pertencer a outra pessoa. Quem sabe...? É. Talvez seja isso... — a menina umedece os lábios, virando a cabeça para o lado apenas para que pudesse enxergar o homem atrás de si. — Talvez você simplesmente não seja digno para me ter.
— Você não disse isso. — ele nega. De fato, ela não poderia ter ousado dizer aquilo. sentiu uma raiva descomunal queimar em seu peito, estava completamente furioso. E ao mesmo tempo, completamente excitado. Maldição. — Você não sabe com quem está mexendo. — Mais um tapa foi depositado em sua bunda, e outro em um de seus seios, até que ele optasse por jogá-la em sua cama de maneira agressiva. Ele leva as mãos a própria camisa e calça, retirando-as. Em seguida simplesmente retirou sua própria boxer, deixando seu pau pulsante à mostra. mordeu os lábios. Ele foi até ela, ficando por cima. Fez com que ela levantasse os braços, para que ele pudesse livremente beijar agressivamente toda a região de seu tronco, começando por seus seios. — Você é minha... Só minha! — Disse com fúria e possessão, agarrando um de seus peitos enquanto abocanhou o outro. O cheiro do sangue dela continuava o deixando louco, seu corpo, sua pele macia, sua carne, cada parte daquele corpo tão delicioso estava tirando-lhe toda a sanidade. Precisava daquela garota, estava necessitado a um nível fora do normal. A um nível animalesco. — Você é completamente minha, seu sangue é meu, só meu, você entendeu?! Você. É. Minha. — Disse assim que voltou com o rosto para próximo do dela, onde ele novamente agarrou os cabelos dela e puxou para que sua cabeça fosse jogada para trás. Ele mais uma vez cheirou o pescoço dela, sentindo todo seu corpo se encher de desejo pelo dela. Era tanto desejo que ardia. Um calor desconhecido atingia seu corpo, um arrepio percorria cada parte dele, e seu pênis já implorava para que tudo aquilo acabasse e ele apenas estivesse comendo aquela garota de uma vez. estava insano. De ódio, de possessão, de ciúme, de prazer. Odiava a forma como sabia exatamente o que fazer para deixá-lo naquele estado: Necessitado, irritado e descontrolado.
— Eu deveria te punir da forma mais cruel possível... — Sua voz era rouca, seu tom irritado. — Mas eu vou fazer melhor ainda. Eu vou fazer se arrepender de ter dito isso, vou te provar que ninguém mais pode te deixar tão excitada quanto eu. — Então ele desceu com seus lábios pelo corpo da mais nova, deixando uma trilha de beijos por seus seios, passando por sua barriga, e finalmente chegando na região abaixo de seu umbigo. Retirou a última peça de roupa íntima de , assim finalmente deixando-a nua. Fez com que ela abrisse as pernas, dando a ele a perfeita visão de sua intimidade. sorriu presunçoso, dando um leve olhar na direção da garota antes de voltar sua atenção a sua intimidade. Mordeu fortemente seu próprio lábio inferior, levando um dos dedos em direção a entrada da menina, dando um leve suspiro ao sentir seu dedo melado. Foi quando ele sorriu, convencido, olhando na direção dela novamente. — Tão molhada... Tão quente, e apertada... Viu só? Você pode brincar o quanto quiser, mas no fundo sempre vai estar completamente excitada por minha causa. — Soltou uma risada convencida, e foi assim que, se sentindo ainda mais excitado, introduziu dois dedos na menina, começando a movimentá-los devagar, gradativamente aumentando a velocidade. E enquanto seus dedos a estimulavam pela parte interna de sua vagina, tratou de estimular a mesma com a língua em sua parte externa. Sua língua tocou a região de sua vulva, com movimentos precisos estimulando seu clitóris, tocando em toda aquela região de forma faminta, a língua de deliciando todo aquele pedaço de carne concedido apenas para ele.
morde o lábio fortemente tentando abafar seus gemidos, sendo totalmente em vão. A garota estava completamente alucinada. O toque da língua de em foi como um choque. Não apenas térmico, mas também elétrico. O corpo inteiro dela tremeu ao sentir aquela maldita língua pecaminosa em contato com aquela área extremamente sensível e necessitada por ele. A menina gemia desenfreadamente, sem forças para retrucar o que o rapaz disse ou de provocá-lo ainda mais. Tudo o que fazia era forçar seus pulsos contra as algemas, sentindo-os queimarem devido a dor, ainda mais o pulso em que ela havia aberto uma grande ferida mais cedo. Estava matando-a estar presa ali, sem poder entrelaçar seus dedos no cabelo macio de e forçar sua boca contra ela com mais intensidade. O prazer que sentia no momento era maravilhosamente insuficiente, o tipo de experiência que te leva ao céu, mas te deixa necessitada por mais.... Mais contato, mais . Ela o queria. O queria com a necessidade que beirava ao ridículo do quão profunda era.
— ... — ela o chama em meio a um choramingo. — Mais... Por favor, mais! — a menina praticamente implora, forçando ainda mais suas mãos contra a algema, de repente sentindo uma dor aguda no pulso que foi facilmente ignorada diante aquele momento de prazer que a proporcionava. Seu pulso machucado começara a sangrar novamente.
E aquilo foi o suficiente para despertar um brilho diferente nos olhos de .
— O seu sangue... — Disse, afastando-se da intimidade da jovem apenas para poder segurar seus pulsos algemados e ver um deles derramando sangue. não podia mais manter o controle. Aproximou seus lábios famintos da ferida aberta de , dando uma pequena lambida no local. Tão doce... Tão inconfundivelmente doce... Céus, o gosto dela era delicioso de todas as formas. — Eu preciso... Provar mais... — ele disse, ainda em uma espécie de transe, com o gosto doce daquele sangue causando ardência em sua língua, de tão gostoso que era. Seus olhos se direcionaram aos dela, e ele sorriu, com suas presas à mostra. — Não se preocupe, princesa. Eu estou prestes a foder você do jeitinho que eu quero. Você vai ter mais, acredite. Mas, antes disso... Eu quero mais do seu gosto. Eu preciso de mais. — ele se aproxima do pescoço da mais nova, inspirando o ar e depois expirando, sentindo o cheiro natural dela causando mais vontade e desejo dentro dele. Já estava enlouquecendo àquela altura. Era difícil demais resistir, era quase impossível. Ele precisava de mais, necessitava de mais. Mais. E foi assim que suas presas se fincaram na região do pescoço dela, e ele passou a sugar o seu sangue. Naquele ponto, já estava fora de si. O animal que era havia despertado, louco de desejo, sedento por aquele gosto inigualável que estava deixando-o louco.
A garota havia exclamado baixo de dor ao sentir as presas do homem em seu pescoço, rasgando sua pele e enterrando seus caninos ali. Não havia sido de forma abrupta, não havia sido à força, não havia sido para feri-la como todos daquela cidade sempre insistiam em dizer: que ele a machucaria. Não, aquilo havia sido totalmente ao contrário. O ato de pareceu cuidadoso, mordendo-a de forma carinhosa como se não quisesse que sentisse dor. Mas ela sentiu, lógico. Mas quando ele a sugou... Ela compreendeu. Aquilo era mais que uma simples mordida. Aquilo havia selado de vez o laço inseparável que havia se instalado em ambos.
Quando terminou a mordida no pescoço da jovem, sorriu ao ver sua marca na pele da garota. Sua garota.
— Você é totalmente minha agora... — Disse rouco, sua voz beirando loucura. — Minha. Única e exclusivamente, minha.
— Isso foi tão bom... — diz em um sussurro, sentindo sua própria voz vacilar. Estava completamente fora de si, sentindo-se cada vez mais vulnerável. — Me beija, ? Por favor...
— Eu jamais recusaria um pedido desses, ainda mais porque você parece ainda mais extremamente gostosa pedindo desse jeito. — Disse antes de puxar a garota para um beijo. Podia sentir o céu, o inferno, o calor, o desejo, o prazer queimando dentro de si, enquanto explorava cada canto daquela boca gostosa a qual ele beijava com tanta vontade. A batalha travada entre as línguas de ambos era simplesmente indescritível, fazendo o vampiro não suportar de tanto desejo. Nunca em toda a sua vida havia sentido tanto desejo por um corpo, tanta vontade de devorar alguém como sentia naquele momento. Era como se ela fosse uma deusa, seu corpo era o melhor de todos, o mais gostoso de todos, totalmente delicioso, totalmente dele. O beijo dela, o gosto dela em sua boca, o calor dela em seu corpo, o tremor que se apossava de seu corpo toda vez que lhe ouvia gemer gloriosamente o seu nome. Cada gemido o deixando mais insano, cada palavra que ela pronunciava fazendo-o querer ainda mais possuí-la com tudo o que tinha. Estava faminto por , e apenas por ela. Já não aguentava mais, precisava estar dentro dela logo antes que seu corpo todo explodisse de tanto tesão. — Você está me deixando louco... — Ele diz bem baixinho, quando seus lábios se separaram, porém ele continuou lhe depositando selinhos, apenas permitindo que seus lábios se separassem quando ele falava. — Eu preciso de você, , eu preciso te comer com toda a minha força, meter fundo em você até você gozar... Caralho, eu preciso demais de você, porra...
E aquilo foi o suficiente para fazer perder as estribeiras.
Ela forçou seu pulso contra as algemas, se libertando com uma força sobre-humana.
Seus olhos estavam completamente negros... Iguais ao de .
A garota riu, simplesmente levantando-se da cama, caminhando livremente pelo quarto. Ignorou as palavras de , deixando-o completamente nu e excitado sozinho na cama. Não precisou olhar para trás para saber que ele a fitava com incredulidade. A garota andou até as grossas cortinas que tampavam as enormes vidraças da porta que levava a varanda de , simplesmente abrindo-as sem dificuldade, revelando o ar frio da noite. Tremeu ao sentir o vento frio entrar em contato com seu corpo nu. A garota passou a língua por entre os lábios, simplesmente caminhando até o local, apoiando-se no peitoril de pedra. Sempre teve medo de altura, mas naquele momento não conseguia se lembrar disso. Ela se sentia grandiosa, como se nada pudesse atingi-la.
— Olhe para isso... Há quanto tempo você não abriu aquelas cortinas e se permitiu vir a esse lugar? Tudo parece tão pequeno, tão distante... E nós aqui. Acima de tudo, como se todo poder estivesse em nossas mãos. — se virou, sorrindo ao ver que já estava bem em sua frente, parecendo indiscutivelmente irritado. A menina estendeu sua mão, oferecendo-a para que ele a segurasse. Ao segurá-la, o puxou para si, colocou as duas mãos na nuca de e entrelaçou seus dedos em seus cabelos escuros, puxando-os, empurrando seu rosto para mais próximo do seu, beijando-o com toda a força que existia dentro de seu corpo. Impulsionou as pernas para cima em um pulo, encaixando-as na cintura dele, dando a oportunidade que precisava para simplesmente a penetrar com força, fazendo com que o corpo dela se chocasse com mais força contra o peitoril. Ao finalmente sentir dentro de si, finalmente pôde se sentir completa. Qualquer deslize de ambos e eles simplesmente cairiam dali de cima, mas ela simplesmente não se importava. apenas gemia alto, desestabilizada diante de tamanho prazer. Fechou os dedos, escondendo-os nas palmas das mãos, tentando equilibrar-se nos próprios pés conforme ele investia em sem quadril, chocando seus corpos, fazendo apenas o barulho de seu contato exalar em meio àquele silêncio excitante.
E agora eles colidiram em um momento de paixão, criando uma destruição infinita.
Não há volta, não há escapatória.
Excesso de paraíso pode doer como o inferno.
Capítulo 23
“Eu gosto — Eu não vou pirar
Sinto sua falta — Eu não vou pirar
Eu te amo — Eu não vou pirar
Eu te matei — Eu não vou pirar”
Jhotaz adentrou o casarão com a cabeça baixa. Seu corpo todo doía. Ter assumido sua real forma depois de tanto tempo e ter usado o máximo de seu poder havia o esgotado fisicamente.
— Victor? — ele chama o amigo. Sua voz ecoou pelo ambiente.
— Estou aqui. — ele escuta a voz de Victor, estava vindo da sala.
Com um suspiro de resignação, Jhotaz dá meia volta, indo ao encontro do amigo.
As vidraças da janela do cômodo estavam tampadas por cortinas, impossibilitando os raios solares de adentra-lo e deixando o ambiente com uma aparência macabra. Victor estava sentado no sofá, e com a cabeça apoiada em seu colo, havia uma pequenina menina que mesmo com a pouca luz era possível ver com clareza os belos rubis que iluminavam seus olhos. A jovem não piscava. Lara olhava fixamente para um ponto qualquer, sem dizer uma palavra.
— Lara? O que foi? — Jhotaz a questiona, se aproximando.
— Ela não vai dizer.
— Por que não?
— Ela está em estado de choque, Jhotaz. — Victor diz, sua voz sempre tão gentil sendo substituído por um timbre temeroso de alguém que temia o que estava por vir. — Acho que ela a enfeitiçou.
— está indo atrás daquela mulher. Não se preocupe, ela não tem poder algum contra nós. Tudo o que precisaremos fazer é prendê-la novamente e...
— foi atrás de Linzyne. — Victor o interrompe. — Do corpo de Linzyne, pois duvido que a fada esteja viva a essa altura.
— Sim. Mas onde está o corpo de Linzyne é o local que a encontraremos.
— Ela já deve ter se alimentado do sangue da pobre criatura. — Victor grunhe, suas mãos se fechando em punhos. — Aquele ser asqueroso. Se alimentar da fada deve tê-la dado poder o bastante para nos atacar. Para atacar !
— ELA NÃO VAI TOCAR NELA! — Jhotaz berra, automaticamente se arrependendo. Ele respira fundo, olhando de Victor para Lara, esta última permanecendo imóvel.
— ... E onde está? — Victor questiona, tentando ser cuidadoso com suas próprias palavras.
— Com .
— ?! Você ficou louco?! — Victor se exalta. Jhotaz apenas grunhe em resposta.
— e o amiguinho de , Yan, fizeram um escândalo na boate ontem. Feriram . Tentaram ferir .
— O quê?!
— Sim. viu ferido e eu acho que aquilo desencadeou o poder de dentro dela... Ela assumiu a forma de um anjo. A bela forma de um anjo... Um anjo dourado.
— ... Um anjo dourado? Mas...
— Eu sei. — Jhotaz ri amargamente, fechando os olhos com força. E as lembranças vieram.
Jhotaz estava com parte da cabeça para dentro do quarto do irmão mais velho, esgueirando-se naquela pequena abertura da porta. Jhotaz parecia fissurado com o que via.
Lauranna e Jacques estavam completamente nus. Lauranna estava sentada em cima do membro de Jacques, cavalgando ali. Seus seios balançavam e Jacques parecia não saber se prestava atenção neles ou na expressão de prazer da mulher.
Jhotaz observava tudo com admiração.
Lauranna tinha os lábios cheios sangrando, já que estava mordendo-os com força para não gemer alto. Jacques e ela estavam fazendo aquilo escondido, Jhotaz sabia. Sua mãe já o havia alertado para ficar longe dela. A senhora Daurat dizia que algo sobre o assassinato de seus pais não fazia sentido.
Mas Jhotaz não pensava nisso. Tudo o que ele conseguia pensar era no corpo daquela mulher. A forma a qual se movimentava. Sua expressão de prazer. Imaginou a si mesmo no lugar de Jacques e o quão melhor ele poderia fazer...
— Jhotaz? — a voz severa de sua mãe soou atrás de si.
Jhotaz pula de susto, vendo Jacques e Lauranna automaticamente desviarem seus olhares para a porta. Com seus próprios olhos arregalados e completamente assustado, ele fecha a porta, virando-se para a mãe.
— O que está fazendo aí?
— Estava checando se Jacques já dormiu. Eu ia pedir algo a ele, mas como ele já está adormecido terei que pedir amanhã. — o jovem responde sem dificuldades, exercendo o dom que ele tinha em mentir.
— Você já deveria estar na cama também, moleque. — a senhora Daurat grunhe, fazendo Jhotaz assentir prontamente.
— Claro. Desculpe. Já estou indo.
A mulher apenas suspira, dando meia volta e voltando para seu próprio quarto. Passos são ouvidos de dentro do quarto de Jacques, e de repente a porta se abre. Lauranna aparece em seu campo de visão, agora completamente vestida. Jacques estava ao seu lado, com as vestes que ele geralmente usava para dormir.
Jhotaz respirou fundo, olhando para eles com receio.
— Você me livrou de uma grande encrenca, irmão. — Jacques diz baixinho, fazendo Jhotaz olhá-lo surpreso. — Se você não tivesse saído do quarto e nos visto, mamãe é quem iria ver. Te devo uma.
— Oh... Não foi nada. — ele diz também em um sussurro.
Lauranna nada dizia, apenas o encarava.
— Como seu quarto tem a sacada eu pensei que Lauranna poderia partir por ele. Você se importa de levá-la até lá?
— Claro que não. — Jhotaz sorri amarelo.
Lauranna nada diz, apenas dá um breve beijo em Jacques, andando corredor a fora como se já conhecesse o casarão e todos os cômodos que ali tinham.
— Boa noite, irmão. — Jacques sorri, entrando novamente em seu quarto.
Jhotaz suspira, seguindo Lauranna.
O corredor estava completamente escuro, mas como Lauranna, Jhotaz conhecia aquele casarão com a palma de sua mão. Por mais que ele não a enxergasse, ele conseguia sentir sua presença, seu cheiro viciante embriagando-o.
Céus, o que estava acontecendo com ele?! Ele a odiava. Sabia de todos seus truques, sabia a forma que ela manipulava para fazer suas vontades em troca de seu suposto amor. Sabia a forma que ele deixava seu irmão cego, eenganand-o e fazendo-o acreditar que ela era a namorada perfeita enquanto trepava com quando ele virava as costas.
Ela era um ser horrível. Jhotaz a odiava.
A porta de seu quarto se abriu, enfim revelando a silhueta da mulher que tanto abominava. Ela adentrou o quarto, e ele apenas a seguiu, fechando a porta em seguida.
— Você realmente não gosta de mim, não é? — Lauranna diz, sua voz suave quebrando o silêncio do ambiente.
— Sim. — Jhotaz assente simplesmente. — Eu só consigo sentir ódio e nojo.
— Engraçado... O nem tão pequeno não parece sentir isso por mim. — ela diz com malícia, lambendo os lábios em deleite. — Nem seu irmão.
— Você os engana. Eles acreditam que você é algo que não é. Você é uma fraude.
— Oh, eu sou? E quem seria verdadeiro? Você? Não me faça rir, Jhotaz. — ela sorri, aproximando-se do rapaz. — Se você se importasse tanto com e seu irmão já teria contado a eles o que eu faço. Ou o que já fiz. Eu sei que você sabe de tudo. Então por que não os conta? Se eu sou tão malvada você deveria ter o dever de alerta-los.
— Eles não acreditariam em mim.
— Então quer dizer que eu tenho controle supremo sobre seu irmão e ainda sobre seu melhor amigo...? Uau. Fica cada vez melhor. — a mulher se aproxima ainda mais, levando as mãos até os ombros de Jhotaz. Ela os massageia, olhando-o com os olhos brilhando. — Eu sinceramente não tenho tanto interesse neles... Preferiria controlar você.
— Você não pode me controlar. — Jhotaz diz rindo seco. — Sou mais forte que e Jacques juntos.
Aquela simples sentença pareceu ter acendido algo dentro de Lauranna. Seus olhos acenderam em cor, cintilando um brilho absurdamente feroz jamais visto, suas íris brilhando como fogo, e um sorriso brincalhão em seus lábios bem desenhados.
— Você se acha mais forte que eles? Quer apostar que te faço mudar de ideia?
Os olhos de Lauranna estavam fincados nele, sua postura desafiadora, aquele brilho sedento em seu olhar. Sedento por algo que ela queria, que ela precisava conquistar: vitória, supremacia, controle. Controle absoluto.
Os lábios de Jhotaz se abriram em um sorriso depravado, enquanto ele ria sonoramente em seguida, desacreditado que com tão pouco já havia caído nos encantos da jovem.
Bem, que assim fosse.
Jhotaz chama a garota com o indicador, apontando para a parede na outra extremidade do quarto, fazendo-a no segundo seguinte levitar até ela e bater suas costas ali com um baque. Ele sorriu, caminhando calmamente até a garota e postando-se em sua frente.
— Você quer apostar? — ele finalmente se pronuncia, sua voz rouca e soando descontrolada. — Então é isso o que faremos.
No segundo seguinte suas mãos estavam agarradas a cintura de Lauranna com possessão enquanto seus lábios grudaram com violência nos dele, dando início a um beijo. E céus... Aquilo tinha que ser um pecado. Aqueles lábios, aquela boca, aquele corpo... Aquela garota inteira era a própria definição de pecado. Mas não havia como lutar. Não havia como resistir aquele misto de sensações de origem tão pecaminosa que o contato com ela estava lhe causando sem que ele pudesse resistir. Foda-se , foda-se Jacques, foda-se seu próprio consciente. Ele estava necessitado por mais contato, necessitado por muito, mas muito mais. Ele a ergueu um pouco contra a parede, de forma nada gentil, fazendo com que suas pernas se entrelaçassem em sua cintura, pressionando o corpo de Lauranna. Uma de suas mãos apertava sua cintura enquanto a outra, nada delicadamente, subiu por sua nuca até se enroscar em seus cabelos, segurando sua cabeça como se temesse a ideia da garota fugir.
Ela riu sonoramente.
De repente Jhotaz sentiu uma carícia aveludada, como se duas superfícies extremamente macias estivessem entrando em contato.
As asas completamente douradas de Lauranna abraçavam as de Jhotaz, que também haviam sido abertas.
Ambos haviam assumido sua verdadeira forma um para o outro... Ou quase isso.
fechou os olhos fortemente, enojado demais para observar a cena por mais tempo.
O corpo da fada estava em sua frente, já entrando em estado de decomposição. Seus ossos magros haviam sido quebrados e retorcidos, e seu rosto estava completamente desfigurado. Mas as asas delicadas não o enganavam. Aquela era Linzyne.
fechou as mãos em punho, sentindo seu corpo tremer. Ela havia voltado. Ela definitivamente havia voltado.
Sacou seu celular do bolso, discando rapidamente o número de . Ele atendeu no terceiro toque.
— O que foi? — grunhe. Ele não parecia de bom humor.
— Linzyne está morta. É evidente que foi ela. Você pode informar Jhotaz pra mim?
— Jhotaz não está feliz comigo.
fecha os olhos fortemente, sentindo sua cabeça doer.
— O que você fez?!
— Machuquei o , fiz um showzinho com o amigo dele e lambi o sangue de .
— VOCÊ FEZ O QUÊ?!
— Por isso que eu te mandei para longe, seu idiota. Acha mesmo que me importo com a vida de uma fada inútil? Ou ainda pior, que eu me importo com o fato daquela cadela ter escapado?!
— Não a chame assim.
— Vai se foder, ! — rosna. — Jhotaz conseguiu me machucar feio. Estou completamente fraco agora, e tudo isso é por sua causa.
— Não queira me culpar pelos seus erros!
— VOCÊ QUE NOS TROUXE PRA ESSE INFERNO! — berra, e se assusta, até mesmo afastando o celular do ouvido. Nunca havia visto tão descontrolado.
— E o que você preferia? Continuar no outro?!
— ... Eu só queria conseguir acabar com tudo isso. — diz, já farto daquilo. — E eu sei que se eu conseguir possuir , ela irá fazer com que acabe.
— Não é assim que funciona. Você sabe que não é. É só uma lenda, um mito bobo que os anjos inventaram para iludir demônios...
— É real, . — afirma, sua voz emocionada ao falar daquilo. — É real. Eu senti quando provei o sangue dela... É real.
— Por favor, não faça mais nenhuma loucura. — diz, ignorando o rapaz. estava enlouquecendo aos poucos, isso não era segredo pra ele. Ele ia desligar o telefone, não antes de ter ouvido as últimas palavras de :
— Ela irá me libertar, ela irá libertar você também. Você verá.
havia se levantado com cuidado para não acordar a jovem.
Depois da noite de ontem ele sentia que algo havia mudado dentro de si.
Ele caminha até o banheiro, jogando água em seu rosto e voltando seu olhar para o espelho. A aparência sempre tão mórbida de não estava mais ali. Ele parecia... Humano. O mesmo brilho que ele tinha em seu olhar, quando era apenas uma criança. Quando era feliz.
O vampiro respira fundo, hábito que nunca largaria. Ele dá meia volta, preparado para voltar até lá e admirar por mais tempo a figura de .
Não queria pensar no que estava sentindo. Não queria pensar no quão profundas as coisas haviam se tornado. Ele só queria... Ela. E por enquanto aquilo parecia certo.
Quando voltou para o quarto franziu o cenho, surpreso. não estava mais em sua cama.
Uma gargalhada soa, fazendo-o grunhir.
Conhecia aquela risada. Aquela gostosa e cheia de vida, a qual em um passado distante ele daria tudo para conseguir ouvi-la.
Lauranna apareceu dentre as sombras, olhando com o sorriso amarelado e podre. Toda a estética da jovem havia sido brutalmente retirada de si, deixando-a com a aparência de um cadáver. Ela abriu os braços magros e quebradiços, ainda sorrindo daquela forma cordial.
— Não sentiu minha falta?
— Onde está ela? — ele questiona, com o ódio já transbordando em seu ser.
— “Ela”...? — Lauranna diz cinicamente. — É mais uma das putas que você arrumou para me substituir? Temo que ela deve ter ido. Uma pena, não é? Mesmo que estejam sendo pagas, nenhuma mulher aguenta ficar muito tempo na presença detestável de .
— Cala a boca.
— O filhinho da mamãe, o amante de rosas, o sensível, bondoso e lindo ... — Lauranna ria em cada palavra, se contorcendo como uma maníaca. — Até que eu, Lauranna, o corrompi. Peguei aquele pobre adolescente inexperiente e fiz dele um homem. Um homem sagaz, inteligente, persuasivo, charmoso... Um homem de verdade. Mas para se tornar um homem você tinha que se livrar daqueles que te julgavam e prendiam.
— Cala a boca, cala a boca! — grunhe, levando as mãos à cabeça.
— Você se lembra daquela noite, ? Aquela bela noite. Caminhamos juntos até sua casa, vampiros apareceram e te atacaram. Implorei por veemência, alegando que você era bom. Que seria útil. Então eles o pouparam e você ficou desacordado. E quando acordou...
— ... Eu havia me tornado um monstro. — ele sussurra, as mãos fortemente apertadas em sua cabeça.
— Sim. E sabe o que aqueles vampiros fizeram?
— ... Invadiram o castelo.
— Exato. E se alimentaram de seus pais, de seu irmão e de seus empregados. Mataram um por um, lentamente e dolorosamente... Da forma que eu pedi para que o fizessem.
arregala os olhos, olhando-a desacreditado.
— Você... Você mandou matá-los. Você mandou atear fogo.
— Oh. É aí que você se engana... Eu queria sua família morta para que você viesse a ser útil pra mim quando transformado em vampiro. Sua devoção como humano era algo excepcional, então imaginei que como vampiro seria ainda melhor. Mais útil. Mas eu não me importaria de te deixar velar os corpos dos mortos como se deve... É aí que entra Jhotaz.
— Jhotaz...?
— Ele ateou fogo sagrado no castelo, matando os vampiros instantaneamente... Consequentemente transformando sua família em meras cinzas misturadas com a poeira e sujeira.
não sabia mais o que dizer. Suas pernas fraquejaram, fazendo-o cair de joelhos no chão. Seus olhos estavam fixos no vazio.
— Você não tem nada a dizer sobre isso?
— Por quê? — ele pergunta diretamente a ela. Sua expressão estava vazia. Vazia porque ele não sentia nada. Absolutamente nada. — Por que tirou minha vida de mim? Por que me transformou em um monstro?
— Por nós. — Lauranna sussurra, dando um sorriso amargo. — Você era tão apaixonado... Tão tolo, tão gentil... E eu o corrompi. Eu te guiei em um caminho de pura crueldade e depois te deixei. Te deixei para me juntar a Jacques, mas mesmo assim ainda o tenho em minhas mãos.
assente debochado, desviando o olhar. Se levantou, ajeitando sua postura.
— Eu não sinto mais nada por você. Agora pare com essa ladainha e diga logo onde está .
Lauranna franziu o cenho, uma expressão genuína de surpresa passando por sua feição.
— Oh... . Ela estava aqui? Ela passou a noite com você? — a mulher pergunta.
ri sem humor.
— Você está com ciúmes? — ele a questiona, rindo ainda mais em deboche. — Você é patética.
— Você se deixou envolver. A atração fez isso com você. Aposto que não é nada...
— Eu não acho que seja só atração. — ele a corta.
— Você é meu. — Lauranna rosna, tocando o rosto de . Ele apenas a observava com nojo. — Sou seu primeiro amor, desde quando você ainda era uma criança. Você me amava. Eu recusei o seu amor quando se tornou um vampiro, mas você ainda me amava. Você sempre me amou. A MIM. Apenas a mim.
— Eu nunca te amei, Lauranna. — ri seco, afastando a mão da mulher com um tapa. — Você me manipulava para eu acreditar que sim, mas eu nunca te amei. Tudo o que eu sinto olhando pra você hoje é nojo. Desgosto. Ódio. Eu gostaria que você queimasse no inferno, mas Jhotaz não parece ter a mesma opinião que eu.
— Jhotaz me manteve com ele, sabia? — ela diz, parecendo magoada. — Desde a morte de Jacques ele me manteve trancafiada, sofrendo e me remoendo sem meus poderes. Envelhecendo. Apodrecendo.
— Pelo menos algo de útil ele fez. Agora me diga o que você fez com ela.
— Eu não fiz nada com essa praga de garota! Quando cheguei ela já não estava aqui.
empurra a mulher, correndo até a sacada, apoiando-se no peitoril.
Então a viu.
Já bem distante, ela corria. Mas ela não corria de forma comum: ela parecia desesperada. Como se estivesse fugindo de algo, ou alguém.
Ela estava fugindo dele.
se vira novamente, decidido a descontar seu ódio em Lauranna.
A mulher já não estava mais ali.
não se reconhecia mais.
Sua cabeça doía, seus braços doíam, seu corpo doía.
Vozes em sua cabeça soavam altas, acusadoras. Culpando-a, julgando-a, maltratando-a.
Ela só queria fugir.
Fugir do que estava sentindo.
Fugir de .
Fugir de si mesma.
Ela sentia como se a escuridão estivesse envolvendo-a pouco a pouco, tirando sua sanidade, tirando sua vida. Ela não conseguia respirar. Ela não conseguia pensar. Ela não conseguia fazer nada que não fosse correr e sentir aquela dor que estava matando-a por dentro.
Sua vista escureceu. Seus olhos se tornaram duas órbitas negras. O chão se abriu, envolvendo-a, puxando-a. Estava em volta de fogo, e ele já começava a queimar dolorosamente sua pele. De repente ouviu berros, uivos e urros de criaturas. Sua vista embaçada a impossibilitava de as ver com clareza, mas ela as conhecia. Eram as criaturas demoníacas. Aqueles seres horrendos de chifres e corpo deformado. Mas um em específico estava ganhando forma aos poucos... Se transformando em uma figura a qual ela conhecia. E conhecia muito bem.
, com seu sorriso torto, cabelos bagunçados e os olhos brilhando de forma sobrenatural. Suas presas estavam expostas. Ele a olhava com desejo. De repente todas as outras criaturas haviam sumido.
— ...
— Calma, princesa. — ele responde, rindo diabolicamente. — Eu só irei tirar um pedaço... E mais um. E mais outro. Mais. Mais. Muito mais.
a derrubou, mordendo-a e arrancando sua pele fora, quebrando seus ossos... só conseguia gritar de dor, impossibilitada de fazer outra coisa que não fosse se rebater pedindo socorro.
Ela sentia sua vida se esvaziando nas mãos de . Ela conseguia sentir o prazer dele em realizar tal tarefa. Ela conseguia ver o quão maravilhado ele se sentia ao destruí-la.
E ela não se importou. Naquele momento ela simplesmente não deu a mínima importância para o fato de sua vida estar sendo tirada dela, contanto que aquilo satisfizesse .
No seu último suspiro de vida, ela ergue a mão que estava em carne viva, tocando delicadamente no rosto do rapaz.
De repente tudo havia ficado em silêncio. O fogo sumiu. sumiu.
Tudo o que podia-se ver era o cenário completamente dourado.
sentia seu corpo todo doendo. Suas pálpebras pareciam pesar uma tonelada, e ao levantá-las para enfim observar o ambiente que estava, automaticamente se assustou.
estava deitada em uma superfície macia e aconchegante. Tateou o local, reconhecendo como uma cama de madeira. A cama era o único móvel daquele lugar: um enorme vazio dourado, onde apenas a cama e a própria compunham o cenário.
— Tem alguém aí? — ela pergunta, hesitando ao fazê-lo.
se levanta, sentindo seu corpo reclamar ao fazê-lo. Seus pés tocaram o chão, fazendo-a se apoiar da cama para não deixar com que suas pernas vacilassem.
— Você está bem? — uma voz conhecida pergunta, fazendo pular de susto.
De repente ela não estava mais sozinha na superfície dourada. Ali, com os longos cabelos castanhos caindo em cascatas por seu ombro, os olhos verdes faiscantes e aquela eterna expressão de alguém que estava avoada demais para pensar no que acontecia a sua volta.
— Mãe? — pergunta, em choque.
Melissa Daurat sorriu de maneira triste, se aproximando da filha. deu um passo para trás, apavorada.
— Você não precisa ter medo. Sou eu, sua mãe.
— O que está fazendo em Mysthical?
— Eu não estou em Mysthical. — a mulher diz com firmeza. — Estou em uma das dimensões que é possível passagem para ir até lá. Mas aqui não é território de Mysthical.
— Mas como...? O que...?!
— Deixe-me te explicar, . Por favor, se acalme e me escute com atenção.
respirou fundo, olhando para a própria mãe como se ela houvesse enlouquecido.
Mas não era sua mãe quem enlouqueceu: foi ela. estava confusa, cansada e apavorada. De repente a sensação terrível das presas de entrando em contato com sua pele voltou, rasgando-a enquanto ele quebrava seus ossos com suas garras, fazendo-o grunhir de susto.
Melissa se aproximou.
A mulher colocou a mão no rosto da jovem, de repente dando-a o conforto que necessitava. fechou os olhos diante o toque da mulher.
— Me escute. Está me ouvindo bem?
— Sim. — responde em um sussurro. A mulher sorri novamente, mas a melancolia estava explícita em tal sorriso.
— Lauranna se libertou, não é?
— Como você a conhece?
— Da mesma forma que você conhece Lara, naturalmente. Adquirimos um enorme carinho aos nossos entes queridos, ainda mais no meu caso.
abriu os olhos, fitando a mãe com choque. Não ousou dizer uma palavra, apenas aguardando em silêncio enquanto olhava a mulher com atenção.
— Há muito tempo minha família se mudou para Mysthical. Com seus avós os quais nunca conheceu, pessoas de índole simples e rural. Meus pais tinham duas filhas. Eu... E Lauranna.
engoliu em seco.
— Lauranna tinha ódio de mim. Ela sentia inveja por eu ser uma menina tão feliz e amada pelos habitantes, mesmo que no fundo eu soubesse que tinha algo estranho neles. Lauranna descobriu sobre a lenda de desejar algo para as estrelas e elas a concederiam, e foi o que ela fez: ela pediu um presente que a fizesse ser melhor e diferente de mim em todos os sentidos.
— Os habitantes do subsolo perceberam as intenções impuras de Lauranna e deram a ela um dom demoníaco. — completa baixinho.
Melissa assente, olhando-a com pesar.
— Creio que você saiba o fim de tal história.
— Lauranna matou seus pais, te culpou por isso e assim você foi expulsa de Mysthical para sempre.
— Exatamente.
passa longos segundos em silêncio. Não sabia o que dizer. Não sabia nem se realmente tinha algo a dizer diante aquela informação. Lauranna... A mulher que se envolveu com seu pai. A mulher que recusou o amor de . simplesmente não conseguia acreditar.
— Ela era namorada de papai... — ela diz baixinho, a ficha caindo aos poucos e o pânico começando a se instalar em seu corpo.
— Sim, ela era. Lauranna passou longos anos ao lado de Jacques, traindo-o descaradamente. Fazendo-o sofrer.
— Mas você e papai...? Como aconteceu?
Melissa sorri de forma triste. A mulher se aproxima de sua filha, pegando delicadamente suas mãos e pousando-a em sua própria testa. tateou levemente a testa da mãe, confusa.
— Concentre-se e descubra. — foi tudo o que foi dito pela mulher.
respirou fundo. Fechou os olhos, disposta a não pensar em nada. Não sabia como estava fazendo e nem o que exatamente estava fazendo, mas de repente ela já não estava mais no cenário dourado.
Era um bela noite estrelada. A praça de Mysthical estava cheia de pessoas, estas trajando vestes antigas. Parecia estar ocorrendo uma espécie de festa, pois havia um número significativo de barracas antigas com guloseimas, e vários habitantes em volta, ou comendo ou dançando ao som de um violino suave que tocava em algum lugar na multidão.
Uma jovem passou correndo por , quase trombando nela. Ela deveria ter sua idade. Os longos cabelos castanhos balançavam contra o vento, enquanto ela ria alto. Logo outro rapaz se juntou a ela, perseguindo-a e rindo também.
— Você é o futuro líder dessa cidade, Jacques. Não acha que deveria andar por aí como tal? — a garota o provoca, fazendo franzir o cenho.
— Por eu ser o futuro líder dessa cidade eu posso andar da forma que eu quiser. — o garoto retruca, soltando um risinho em seguida. — E é claro que minha primeira ordem será a sua execução.
Ele dá um passo para frente, tentando pegá-la pela cintura. A jovem se desvia, rindo alto ao ver Jacques tropeçar nos próprios pés e cair no chão.
— Você é um baita desastrado. Mysthical estará perdida em suas mãos. — a jovem diz, em meio ao riso. — Ninguém vai te levar a sério assim. Acho que minha execução será prolongada até você se transformar em um líder bom que é ouvido pelo seu povo.
— Ei! Você me deve respeito! — Jacques diz emburrado, levantando-se. Ajeitou suas vestes, de repente distraindo-se com algo que prendeu sua atenção.
A jovem corou. Parecia que Jacques a observava atentamente e com uma admiração visível. observava aquilo abismada.
— Você sabe que eu te respeito muito, não sabe? Você é meu melhor amigo. — a jovem diz envergonhada, acabando por se perder na imagem de Jacques observando-a daquela forma nunca antes presenciada.
desviou o olhar, sentindo-se desconfortável. Se sentia incapaz de ver a cara de decepção da jovem de cabelos castanhos com o que viria a seguir.
Afinal, bem atrás dela se encontrava uma mulher com os mesmos traços delicados da jovem, porém esta possuía longos cabelos loiros e olhos cinzas faiscantes. conhecia aquela mulher. Ela estava mais jovem, mas a conhecia.
— Lauranna? — Jacques perguntou, abobado. Ele passa direto pela sua amiga, sem nem ao menos olhar em sua direção. — Você... Uau. Você está... Uau.
— Gostou? Fazer pedidos as estrelas dá certo, afinal.
— Lauranna?! — a jovem perguntou, chocada. — O que aconteceu com você?
— Foi o que te disse, irmãzinha: um presente dos céus. E parece que tanto Jacques quanto o resto das pessoas parecem aprovar. — Lauranna sorriu de forma gentil. Jacques piscou algumas vezes, afetado.
— Não apenas sua aparência mudou, como também seu jeito. Você parece tão... Gentil. — Jacques sorri. — Gosto de meninas assim.
— Melissa, acho que você deve voltar pra casa. Já está tarde. — Lauranna diz, cética. — Papai e mamãe disseram que querem que você volte cedo.
— Mas e quanto a você?
— Eu? — Lauranna sorri. — Eu irei passar um tempo com Jacques. Acho que está mais do que na hora de nós dois nos conhecermos melhor.
Jacques sorriu abertamente. pensou que poderia vomitar a qualquer momento.
De repente já não estava mais na praça.
O lugar o qual estava era sujo e mal iluminado. Ao julgar pelos móveis se tratava de uma época muito anterior a sua. Melissa estava ali.
A mulher estava completamente desolada. Seus magros braços abraçavam a si mesma, enquanto ela se permitia chorar. Havia um homem ao seu lado, acolhendo-a. A cabeleireira loira e o sorriso gentil e otimista fizeram perder o ar.
Jacques estava ali. Mais velho em relação à última visão, mas mais parecido com Jhotaz do que nunca. correu até o pai, tentando tocá-lo. Sua mão atravessou o corpo do homem. As lágrimas foram impossíveis de serem contidas.
Ele não era real. Aquilo era uma lembrança.
Então por que doía tanto vê-lo o mais próximo da sua imagem adulta? O mais próximo da forma a qual ela se lembrava dele...?
suspirou.
— Você sabe que não fiz aquilo. — Melissa diz. Jacques assentiu.
— Faz um bom tempo desde sua expulsão, Melissa. Confio em suas palavras, mas não acredito no que diz sobre Lauranna.
— Você tem que acreditar! — Melissa grunhe. — Ela matou meus pais. Ela fez com que eu fosse expulsa de Mysthical.
— Mas eu te dei o dom da imortalidade. — Jacques sussurra. — Eu estou fazendo o possível para que você viva bem. Para que consiga seguir com sua vida.
— Seguir minha vida? — Melissa ri pateticamente. — Do que adianta receber um dom como esse se estou condenada a passar o resto de minha vida só?
— Você não está só... Sabe que estou aqui com você.
— Por quanto tempo, Jacques? Meras horas. Daqui a pouco você irá retornar a Mysthical e dessa forma retornar aos braços dela.
— Eu a amo, Melissa.
— E eu te amo, Jacques! — Melissa grunhe, exasperada. — Eu te amo do fundo do meu coração. Por que não consegue enxergar isso?! Por que não pode ficar comigo?!
Jacques fechou os olhos. viu a mais genuína dor passar por seu rosto.
— Você é minha melhor amiga e isso nunca vai mudar. Eu também te amo do fundo do meu coração, mas... Você não é ela.
Melissa engoliu em seco. As lágrimas banhavam sua face, e percebeu que as suas próprias acompanhavam o ritmo das da mãe. Suas bochechas estavam completamente encharcadas, enquanto as malditas lágrimas desciam ali. Odiou ver aquilo, ver seu pai rejeitando sua mãe daquela forma, rejeitando-a por causa de uma mulher má e inescrupulosa. Como seu pai poderia ser tão cego?
— Por que...? — sussurra.
Jacques vira seu rosto de súbito. Seus olhos pousaram em , e pela primeira vez ele pareceu de fato enxergá-la.
E tudo voltou ao mais completo dourado.
— Você compreende, minha criança? — Melissa diz.
havia voltado ao cenário dourado. Estava sentada na cama, com Melissa ao seu lado, abraçando-a pelos ombros.
— Mas... Por que me mostrou tudo isso?
— Lauranna é uma pessoa horrível, . Quando Jacques descobriu a farsa dela, ele tentou matá-la, e de fato pensamos que ele havia conseguido. Ele fugiu de Mysthical ao meu lado. Ele me deu uma chance. Eu o amava tanto, e ele simplesmente estava tão ferido que aceitou meu amor. E assim construímos nossa família. Éramos tão felizes, não éramos? Ele era tão doce com você e Lara. Ele as amava tanto...
— O que aconteceu, mãe? — perguntou, sentindo um nó se formar em sua garganta.
— ... — Melissa suspira. — Pensamos que estávamos livres dela. Até que soubemos da maldição. Você, uma pobre garotinha, possuída pelo mal de Lauranna.
levou as mãos à cabeça, apertando ali com força. As lágrimas continuavam a cair descontroladas.
Jacques estava na cozinha. Ele cantarolava baixinho, enquanto preparava um delicioso banquete para suas meninas. Ele amava cozinhar, ainda mais para quem amava. E hoje ele tinha um motivo ainda mais especial: era aniversário de ! Em breve Melissa chegaria do trabalho, então ele deveria ser rápido, já que comemorariam todos juntos.
— Papai? — o chama.
— Posso ajudar, senhorita aniversariante? — ele responde, fazendo uma reverência exagerada que sempre arrancava risadas de . Mas dessa vez não arrancou. Ele ergueu os olhos até ela, surpreso. A menininha o olhava atentamente.
— Eu fiz Lara dormir, papai.
— Você fez mesmo? Estou orgulhoso. — Jacques sorri, verdadeiramente feliz. — É muito bom ver você cuidando de sua irmãzinha. Eu também cuidava de Jhotaz.
— Titio Jhotaz ligou.
Jacques cortava os legumes. Franziu o cenho, surpreso.
— Ele ligou, é? Ele te desejou um feliz aniversário? Por que não me avisou? Jhotaz nunca nos liga.
— Esqueci de avisar. Desculpe.
— Tudo bem, minha princesa. — Jacques sorri para os legumes, continuando a cortá-los cuidadosamente. — Pode dizer o que ele disse?
— Ele mandou eu ficar longe do papai.
Jacques deixa a faca cair. Seu semblante se torna extremamente sério.
O homem vira lentamente, voltando seu olhar à filha.
— Por que ele diria isso...?
— Porque eu vou machucar você.
Jacques franze o cenho, aproximando-se da filha. Estava irritado.
— Não acredite nas besteiras do seu tio.
— Ele disse que ela me fez ser má. E que eu irei te machucar, pois hoje é meu aniversário. Machucar bem feio. — recitava tudo aquilo automaticamente, de forma mecânica. Jacques arregalou os olhos.
— , você precisa...
Ele não pôde terminar sua frase. A faca que antes cortava os legumes havia sido dolorosamente cravada em seu peito. O sangue banhou sua camisa branca. As mãos pequeninas de continuavam em volta do punhal.
Ela havia o matado.
— ... — ele sussurra.
— Papai? — o chama, de repente parecendo voltar a si. — PAPAI! O QUE EU FIZ PAPAI?! ME DESCULPA, PAPAI!
— Ele virá atrás de você, . — ele sussurra, a vida se esvaziando dali aos poucos. — Não o deixe... Te machucar.
— PAPAI?! — o chama, berrando em histeria. — Papai, me desculpa, papai, me desculpa!
Jacques Daurat acaba caindo de joelhos, completamente sem vida.
Os gritos da jovem ecoavam pelo cômodo, enquanto ela implorava por perdão.
“Você matou Jacques, . E em breve irá matar você. “— uma voz suave e medonha ecoou em sua mente, fazendo-a soltar um último grito antes de desmaiar.
Capítulo 24
“Eu sou um dos perdidos
Tudo o que eu amo me faz chorar
Porque eu sou um dos perdidos
Sim, sou um dos perdidos
Tudo pelo que eu vivo me faz morrer”
Dias antes
— Alô?
— Victor?
— Sim.
— fugiu da minha casa e não consigo encontrá-la.
— O QUÊ?!
— Informe Jhotaz por mim. E diga a ele... Diga que ele irá pagar pelo que fez. Diga a ele que se eu vê-lo de novo, irei rasgar sua garganta.
— Perdão?
O som da linha muda foi ouvida, indicando que havia desligado.
Dias atuais
— Desculpe, mestre. Não conseguimos a encontrar em lugar nenhum.
— Ela não está no território de Mysthical. Se estivesse nós saberíamos.
— Talvez ela esteja em uma fenda paralela, é o mais provável.
— Faz dias, senhor, mas nas fendas paralelas sabemos que o tempo passa rápido demais.
— Talvez ela esteja tendo visões.
— O senhor já checou a possibilidade dela ter se unido a Lauranna?
— Lauranna é má e cruel. Não duvido que sua sobrinha seja do mesmo jeito.
— As duas devem estar se unindo para destruir a cidade.
— Oh, não! Estamos condenados!
— Senhor o que devemos fazer?
— Senhor?
— Senhor?!
As vozes dos habitantes soavam em sua cabeça, cada um falando ao mesmo tempo, deixando-o tonto. Jhotaz abaixou a cabeça, sentindo a mesma latejar de dor.
— Pessoal, eu e Jhotaz agradecemos os esforços para encontrar . Mas agora eu e ele precisamos ficar sozinhos. É muita informação para processar. Por favor, não importa o que aconteça, continuem procurando. — Victor diz, fazendo o enorme grupo de pessoas assentir prontamente, começando a fazer uma fila para sair do local.
— Não encontramos Lauranna e nem . Acha que isso pode ser coincidência?
— Não me venha dizer que acha que se juntou a Lauranna. — Victor diz, irritado. — Isso é ridículo, Jhotaz. não seria capaz de fazer isso.
— Precisamos achá-la. Precisamos achar Lauranna para tirar seja lá que feitiço ela tenha feito em Lara. E sobre , mas para onde ela pode ter ido?!
— Provavelmente ela fugiu, com medo diante as ATROCIDADES que deve ter feito a ela e nos omitiu.
— não faria mal a .
— já te traiu uma vez e trairia de novo. Além que eu ouvi a visível ameaça dele a você. Ele quer rasgar sua garganta, Jhotaz.
— já quis me machucar antes. Seria estranho se não quisesse mais.
— Eu acho que ele descobriu.
Jhotaz suspira, assentindo com a cabeça.
— Eu também acho. Mas nós dois sabemos que eu não tive escolha. Todos os vampiros da cidade foram para seu castelo. Era minha única chance de eliminar de vez a praga que havia em Mysthical.
— E para isso queimou os familiares de com fogo sagrado, deixando-os queimar junto com as pragas. Deixando ser o único vampiro de Mysthical.
— Até que séculos depois ele decidiu transformar Kyle.
— E acolheu Yan. Sim.
— estava cansado de ser tão solitário. Depois que Lauranna o recusou ele sentia que não tinha mais ninguém no mundo, e minha culpa me impedia de me aproximar dele. — Jhotaz suspira, incomodado. — O que ele se tornou não define o que ele realmente é. Ele pode ter se transformado em um monstro, mas a forma que ele vê me impede de vê-lo como tal. Eu só consigo ver meu antigo amiguinho amante de rosas, apaixonado por mais uma menina que quebrará seu coração.
— E eu só consigo ver um monstro que deve ter assassinado .
— Veremos quem está certo.
esmurrava o tronco da árvore com ódio. A madeira estava se desfazendo, rompendo-se a cada novo murro dado pelo vampiro. Em breve a árvore não suportaria, e provavelmente desabaria. Seus punhos estavam completamente ensanguentados, mas ele simplesmente não parava. Ele não conseguia. Estava com tanta raiva, tanto ódio... E a pior parte era que esse ódio não estava direcionado a outro alguém: o ódio era de si mesmo. Se odiava por não ter feito nada para evitar a morte de seus pais. Se odiava por ser aquele monstro. Se odiava por tudo o que já havia feito. Se odiava por ter a deixado escapar.
Noites atrás ela estava em seus braços. Ela era sua, completamente sua. Seu corpo quente contra o frio do seu, enlouquecendo-o, fazendo com que ele se sentisse vivo. Sentisse que ele não era mais uma carcaça podre sem alma vagando pelo mundo. Depois de estar dentro de , sentir o gosto indescritível de seu sangue, ouvi-la gemer seu nome... havia um propósito para viver. Odiava admitir, odiava a si mesmo por não conseguir resistir, mas ele a queria. Ele a queria para toda a eternidade.
E ele havia a perdido.
— Você está parecendo um idiota. — a voz sempre risonha de Kyle soa. grunhe.
— O que você quer?
Kyle estava ali, parado. Tinha os braços cruzados e apenas observava o amigo.
— O que eu quero? Que pergunta engraçada. — Kyle diz, colocando a mão no queixo, simulando estar pensativo. — Talvez eu queira saber por quanto tempo você pretende ficar aí se lamentando só porque fugiu depois de vocês terem transado.
— Cale a boca. — grunhe, socando mais uma vez o tronco. Um barulho de madeira se quebrando foi ouvido. Em breve a árvore iria ceder.
— O que houve com ela?
— Eu não sei.
— Você por acaso a tomou para si, ? — Kyle o questiona, e mais um estrondoso som parte do tronco da árvore.
— E se eu o fiz, Kyle? O que você tem a ver com isso?
— Então você realmente a mordeu. — Kyle diz, perplexo. — Como...? Você nunca tomou alguém pra si antes. Por que ela?
— EU NÃO SEI, PORRA! — ruge, socando a árvore novamente.
O som do tronco se partindo foi ouvido. A árvore desabou, caindo para o lado oposto o qual os dois rapazes estavam.
Kyle se aproxima do amigo. Kyle Park, o sempre risonho e brincalhão amigo de , estava extremamente preocupado. Para vampiros a mordida quando direcionada a alguém sem a intenção de matar é um gesto que remete a um profundo vínculo emocional que o vampiro sente com a presa em questão. Morder sem o desejo de matar era um gesto de...
— Você a ama, ? — Kyle pergunta, de súbito.
ri amargamente.
— Amor, Kyle? — ele zomba. — Olhe bem para nós dois. Você sabe o que nós fazemos, você sabe como nós vivemos. Você acha mesmo que somos capazes de amar?
— Pra ser honesto eu pensava que não. — Kyle responde, aproximando-se devagar do amigo. — Mas desde que entrou em sua vida você ficou tão... Humano. De uma forma que eu nunca te vi antes.
— Isso é porque você não me conheceu antes.
— Tem razão. Você já era um vampiro antigo quando nos conhecemos.
— Sim, eu já era.
— Mas ainda sim, você mordeu . Você provou seu sangue. Não é possível que você não sinta nada por ela.
— Eu... — começa, desnorteado. — Eu tenho sentimentos profundos por ela. Mas eu não quero defini-los. Ela se foi, de qualquer forma.
— E você não vai atrás dela?
— Acha que eu não tentei? Ela desapareceu. Jhotaz mandou todos seus capachos de Mysthical procurá-la, mas ela simplesmente não está aqui.
— Talvez ela esteja em uma das fendas....
— É o mais provável.
— Mas e então? Você não vai fazer nada?
— O que eu posso fazer? Enquanto ela não sair da fenda entre os mundos eu não posso fazer nada. E convenhamos, Kyle, se ela fugiu... É porque realmente não me quer mais. — riu sem humor, levando os punhos até o rosto de Kyle, quase dando-lhe um soco certeiro se o mesmo não tivesse desviado a tempo.
— Você vai desistir fácil assim? — Kyle pergunta, impassível.
— Vou.
— Você é um imbecil, . — Kyle diz com simplicidade.
— Tanto faz.
Kyle suspira, cansado de insistir com o amigo. Ele dá meia volta, preparando-se para partir.
— Espera. — o interrompe.
— O que foi? — Kyle diz, cansado.
— Você... Acha que ela seria capaz...? De... Você sabe. Acha que ela seria?
— Ela permitiu que você a mordesse. Mesmo que ela não saiba o significado de tal gesto, é óbvio que ela deposita confiança o suficiente em você. E o fato dela ter fugido só deixa claro que ela tem medo.
— Medo de mim...?
— Medo do que você a faz sentir.
Lauranna se olhou no espelho do precário e destruído quarto o qual se encontrava. Aquela mulher que a fitava em seu reflexo não poderia ser ela. Ela simplesmente se recusava a aceitar aquilo.
— Minha pele era tão macia... Meus cabelos eram compridos e volumosos. Meus dentes era brancos e alinhados. Eu tinha o sorriso mais lindo. Agora veja... Veja o que ELE fez comigo.
— Você namorava ele e praticava o coito com o . Esperava o quê? — diz, entediado.
Estavam no porão da biblioteca da cidade, consequentemente um cômodo da casa de . Havia quadros espalhados pelo cômodo, uns recém-pintados, outros com a tela completamente branca.
— Eu apenas queria que tivessem preservado minha bela aparência. Ter me alimentado do sangue da fada fez com que eu criasse força o suficiente para sair daquele maldito quarto na casa de Jhotaz, mas eu ainda não recuperei todo meu poder. Mas não me importa. Em breve eu conquistarei todo meu poder, glória e beleza. As criaturas demoníacas já estão em Mysthical, apenas esperando meu comando para atacar e destruir essa cidade de uma vez por todas.
— Afinal, quem as convocou?
— Tenho mais aliados do que você pensa, meu bem.
— Compreendo. — diz, cético. — Por quanto tempo pretende ficar aqui? Já estou manchado com Jhotaz, fraco demais pra sair. Se eu sair ele provavelmente me matará.
— Oh, . Você não sabe o que te aguarda... — Lauranna sorri, aproximando-se do homem de cabelos e olhos negros. apenas a fitou com interesse.
— O que me aguarda, Lauranna?
— Ela. A jovem . Eu irei entregá-la pra você. Considere um presente depois de tudo o que fez por mim.
— Quando você fez o pedido aos céus e o pai de te concedeu a bondade e beleza, eu vi o quanto aquilo não combinava com a sua personalidade. Você poderia ser grandiosa. Por isso pedi a meu pai que te concedesse o dom demoníaco. E você usufruiu dele muito bem, devo admitir. Uma pena Jacques ter descoberto tudo e te condenado.
— Jacques está queimando no inferno uma hora dessas. — a mulher balança as mãos, fazendo pouco caso. — O que importa é que irei tomar de volta todo meu poder, e condenar essa cidade ao caos de uma vez por todas. E você me ajudará.
— Não me importo com Mysthical. Só quero .
— Você a terá, . Você tem minha palavra.
Seus olhos estavam inchados de tanto chorar. abraçava os joelhos, a cabeça encolhida no meio desses. Ela já havia perdido a noção do tempo. Suas lágrimas haviam secado e no lugar de sua profunda melancolia se instalou raiva. Ódio. Culpa. Melissa sempre deixara claro que o que aconteceu a Jacques havia sido um acidente. E , mesmo tão pequena, havia acreditado, por mais que a culpa sempre tenha pesado em seus ombros.
E no fim, estava certa em senti-la. Ela havia matado seu pai. Ela havia fincado a faca em seu peito. O sangue de seu pai estava em suas mãos.
— Você vai ficar se lamentando pra sempre?
levantou a cabeça, surpresa.
Melissa havia sumido. O enorme e vasto vazio dourado também. Agora ela sentia a brisa suave do fim da tarde, o som reconfortante das ondas batendo contra a areia, tal areia fofa acariciando seus pés.
— Como eu vim parar aqui? — ela questiona. Sua voz não demonstrava sentimento algum.
— Meu lar se mostra para as pessoa com intenções puras que quiserem encontrá-lo. — respondeu, se sentando ao lado da jovem.
A ruiva estava com um vestido florido rosa, e tinha uma faixa da mesma cor enfeitando sua cabeça.
— É por isso que eu nunca lembro o caminho?
— Exato. Se você tem intenções puras, ele simplesmente aparece.
— Uh. Legal. — grunhe.
— Agora me diga... Por onde esteve? A cidade toda está a sua procura.
— Como assim? Eu só passei a noite fora.
— A noite fora? Faz dias desde o solstício de verão, . Jhotaz e Victor estão desesperados. Você simplesmente sumiu!
— Eu... Eu estava com minha mãe. — admite. — Mas eu não sei onde era aquilo. Era tudo dourado, e ela estava lá. Ela me mostrou suas lembranças. Ela me mostrou minhas próprias lembranças as quais eu não conseguia me recordar. Mas eu juro, nosso encontro pareceu levar minutos.
— Foram dias. — diz, suspirando. — Você deve ter entrado em uma fenda do tempo, um universo paralelo que leva a Mysthical, porém não pertence a cidade.
— Isso tudo é muito complexo pra mim.
— Eu sei. — abaixa a cabeça, deitando-a no ombro de . — Eu consigo sentir sua angústia, sua aflição... Culpa. Qual é o problema?
— Eu me deixei envolver. — começa a dizer. — me assustou, e eu fugi. E depois disso eu entrei na fenda e minha mãe estava lá. E eu vi. Eu matei meu pai. Eu vi.
— Sinto muito, . — diz, de forma carinhosa. — Sei que ter o conhecimento disso é difícil.
— Todos da cidade sabem, não é? — riu, amarga. — Todos sabem que eu o matei. É por isso que todos se preocuparam quando eu vim. Me temiam, pois sabem que eu posso matar de novo.
— Você era uma criança, uma criança amaldiçoada por Lauranna. Agora você não é mais uma criança, . Você é uma mulher. E é mais poderosa que imagina.
— O que eu devo fazer? — pergunta, já farta de tudo aquilo. — Lauranna é minha tia e por acaso também é um ser místico metade demônio metade anjo que me quer morta. Eu me deixei envolver com um maldito vampiro e um anjo que me confunde e agora eu estou aqui enquanto todos os habitantes da cidade me procuram achando que ou eu estou morta ou me uni a Lauranna. Que. Porra. Eu. Tenho. Que. Fazer?! ARGH! — resmunga, levando as mãos até a cabeça e puxando seus próprios cabelos. se afastou, olhando-a por alguns segundos.
— Eu vou te ajudar.
— Como?
— Eu irei treiná-la da forma que Gainy me treinou. — diz, se levantando. apenas a observou, cética.
— Gainy te treinou?
— Já te disse, criaturas demoníacas já invadiram a praia, . Gainy e as caçadoras nos protegeram. Elas podem ajudar.
— Caçadoras...? Por que ninguém faz sentido algum nesse droga de cidade?!
— Apenas confie em mim, está bem? Você é mais poderosa do que pensa. Tudo o que precisamos é que você consiga liberar tal poder.
— Então você quer que eu fique e treine?
— Ninguém saberá que você está comigo. Como eu disse, só encontram a praia aqueles que têm intenções puras. Aqueles que querem te encontrar só para satisfazer Jhotaz e ganhar algo em troca disso nunca irão chegar até aqui. Você está segura comigo, e enquanto você estiver aqui eu me certificarei de que você treine como se deve, para conseguir usar seus poderes e enfrentar Lauranna quando chegar a hora.
franziu o cenho, dando de ombros.
— Todo mundo aqui é louco. E eu provavelmente também.
— Isso é um sim?
— Eu não tenho outra opção, tenho?
— Não.
— Então que comece o treinamento.
A caçadora jogou-se contra , empurrando-a e fazendo com que seus joelhos cedessem, assim caindo ao chão.
— Se você mal consegue lutar de forma corpórea como lutará usando seus poderes? — a voz de soou irritada. A ruiva observava a luta se desenrolando, observando-as com o olhar extremamente crítico. — Você está pegando leve com ela, Johoney.
Johoney, braço direito de Gainy, fora chamada por para ajudá-la no processo de treinamento de .
— Ela não tem qualquer conhecimento, . Estou tentando ensinar o básico para ela. — a mulher retruca. Sua voz era grossa e séria. Sua postura impecável denunciava o quão experiente ela era.
— Eu nem sei o porquê de eu ter que lutar. — reclama, se levantando.
— Lauranna virá atrás de você. E quando isso acontecer todas as outras criaturas também virão. Sua cabeça vai ser colocada a prêmio, e aquele que te entregar a ela ganhará uma recompensa.
— E...? Não é mais fácil eu simplesmente arrumar minhas coisas e partir de Mysthical?
— Infelizmente não. Se fosse fácil assim já teríamos te mandado embora, não acha? — Johoney diz, seca.
suspira, assentindo.
A grande verdade era que aquela rotina de exercícios estava a deixando extremamente estressada. Acordar de manhã e já sair para uma corrida matinal na praia, passar as tardes concentrando-se com para conseguir controlar seus poderes e de noite ter que lutar com Johoney para provar que havia absorvido pelo menos metade do que aprendeu no dia... Tudo aquilo era extremamente estressante. Ela não conseguia evitar de pensar em seu tio, em Lara e, por mais que não quisesse admitir, nele.
— Já chega pra mim, não aguento mais ver você falhando. — diz, se levantando da canga que tinha esticado na areia para observá-la treinar.
— Vocês exigem demais de mim.
— Sabemos que você pode fazer mais. Sabemos do seu potencial. — Johoney diz.
concorda com a cabeça, se aproximando de .
— Você tem o sangue de Jacques, o homem mais poderoso que já pisou em Mysthical. Você é melhor que isso. Só basta acreditar em si mesma. — ela diz, suspirando. — Estou com sono. Irei dormir.
E como em todas as outras noites, caminha até a maré alta, mergulhando e nadando ao destino o qual desconhecia.
— Ela não mora em uma ilha no meio do oceano, certo? — ela pergunta, depois de alguns segundos em silêncio.
— Claro que não.
— Ela me disse que morava.
— Depois de ter sido fodida por um vampiro ainda acha improvável a existência de outras criaturas em Mysthical?
arregalou os olhos, fitando Johoney, chocada.
— Como você...?
— As notícias correm rápido em Mysthical. Todos viam vocês dois andando juntos por aí, não foi difícil deduzir.
— Ah.
— Gainy sonha com o dia que o colocará atrás das grades, sabia? Quando ela descobriu que Jhotaz o colocou para ficar de olho em você ela simplesmente surtou.
— Por quê?
— Porque ela se importa com você. Gainy mal te conhece, mas ela via algo em você. Algo bom.
— E o que ele tem a ver com isso?
— Quando ela te via perto dele, ela sentia algo ruim. E eu também. Uma energia negativa, como se ele te corrompesse e levasse ao mal.
— Isso é besteira. — abana a mão em descaso. — É melhor eu ir dormir.
— Quando vocês transaram você sentiu algo mudar dentro de você, não? — a mulher a questiona — As trevas entraram no seu ser. Seus olhos ficaram completamente negros. Mas você não contou pra ninguém. Por que não contou, ?
— Como você pode saber de tudo isso?
— Se surpreenderia com as coisas que Gainy sabe e compartilha conosco.
— Mas Gainy sumiu... E não tem como ela saber disso.
— Sumiu. Mas sabemos onde ela está.
— O quê?! Então por que não vão tirá-la de lá?!
— Para que a história ocorra da forma que se deve porque Gainy deve sair de lá sozinha.
— Mas...
— Gainy sairá de lá. Ela virá te ajudar. Ela irá mostrar pra você que o culpado disso tudo tem nome e sobrenome...
— Não se atreva. — sibila.
Johoney sorri sarcástica, aproximando-se da jovem. E devagar, ela diz o nome que tirava dos eixos e a perturbava profundamente:
— .
não pensou muito sobre o que fez. Quando percebeu ela já estava em cima de Johoney, jogando-a ao chão e socando-a fortemente no rosto. Mas havia algo em seus punhos. Havia uma esfera negra envolvendo cada um, essa parecendo provocar extrema dor ao ser acertada repetidamente na face de Johoney. Os olhos da jovem Daurat haviam adquirido um tom extremamente escuro, olhos negros e assustadores.
O silêncio da noite foi cortado por um estridente grito feminino.
adentrou a cabana de madeira, fechando a porta atrás de si em um estrondo. Bater forte as portas sempre foi sua forma de aliviar um pouco da tensão que sentia.
Seus olhos continuavam completamente negros, e pensamentos horríveis fantasiando uma morte dolorosa e cruel para Johoney inundavam sua mente.
A cabana em que estava ficava perto da praia. Era pequena e simples, tendo apenas dois cômodos. O cômodo maior era onde se localizava a cama a qual passava suas noites e um pequeno guarda-roupa ao lado, que estava lotado de roupas que acreditou servir nela. O outro cômodo era um banheiro pequeno e apertado.
Ao adentrar a cabana seu olhar se desviou para a cama, onde um belo rapaz estava sentado. Ele a olhou com interesse.
— O que aconteceu com seus olhos?
— Isso não é da sua conta. — ela retruca com raiva. — Como você me achou?!
— Eu estava preocupado. — diz, parecendo chateado com a forma que estava tratando-o. — Você sumiu, todos de Mysthical estão desesperados te procurando. Eu sabia que você estaria com , e como minhas intenções são puras consegui encontrá-la.
— Vai embora. — rosna, fechando os olhos fortemente enquanto mantinha suas duas mãos fechadas em punho. Ela parecia buscar autocontrole dentro de si.
— ... Deixe-me ajudá-la. — ele pede, levantando-se e andando até a jovem. A mesma deu um passo para trás, afastando-se.
— Não preciso de sua ajuda.
— Eu ouvi um grito. Você machucou Johoney, não machucou? Seu lado demoníaco está falando mais alto que você. Me deixe ajudá-la!
— EU NÃO PRECISO DE VOCÊ! — berra, andando até a cama e sentado ali, escondendo seu rosto com as mãos.
permanece certo tempo parado no mesmo lugar, completamente confuso e desorientado. Depois de certos segundos, tudo o que o rapaz consegue fazer é ir até a cama, sentando-se ali e observando as costas da jovem. Ele suspira em cansaço e frustração.
— Não me trate dessa forma. Isso me machuca. — ele diz em tom baixo. — Na última vez que nos vimos tivemos um momento tão agradável juntos. Você se lembra? Você disse que se sentia à vontade comigo. Que se sentia feliz.
— ... O que exatamente você acha que eu sou...? — pergunta cansada, subitamente mais calma. — Em um momento eu me sinto abraçada pela luz, e em outra estou me afogando no escuro. Quando estou no escuro eu sinto ódio de você, . — a voz dela treme. — Eu sinto vontade de quebrá-lo. De machucá-lo. Eu tenho vontade de destruí-lo.
engole em seco, assentindo devagar com a cabeça.
— Isso é natural. Posso ter sido expulso do paraíso, mas ainda sou uma criatura divina. E você... Você...
— Eu sou um demônio. — diz, a voz mortalmente séria.
— E um anjo. — ele completa. — Você é mestiça, para ser mais exato. Possui tanto sangue demoníaco quanto sangue divino correndo por suas veias.
— Minha parte demoníaca quer ver essa cidade queimar. — rosna. nunca havia a visto daquela forma. — Eu não aguento isso. Tudo dói. É como se estivesse ocorrendo uma batalha dentro de mim, onde um dos lados vai acabar vencendo.
— Eu sou um anjo. — diz devagar, aproximando-se da jovem. — Eu posso ajudá-la a tirar o mal de dentro de você, pelo menos nesse momento. Me permite fazer isso?
ainda tinha as mãos tampando seu rosto. O silêncio se instalou no local. Era possível ouvir o som da respiração de e a dela.
— ? — ele a chama novamente.
De repente o corpo de começa a se mover violentamente. Um som aterrorizante saiu de sua boca, o que o anjo conseguiu desvendar ser uma risada. Ela retira as mãos do rosto, se virando para o rapaz. Sorriu irônica.
— Tirar o mal de dentro de mim? — ela ri. — Você não é ninguém para me proteger, . Você não passa de uma criatura celestial inútil que não soube exercer seu papel com competência, e por isso está aqui. Lauranna se corrompeu por sua culpa... Ela não te quis. E eu também não. Você não sente ódio? Você não sente nojo de si mesmo ao perceber o quão imprestável você é?
não soube o que aconteceu consigo.
— Você dormiu com ele?
— O quê? — perguntou, confusa. Virou-se, encarando .
— . Você dormiu com ele? — ele repete a pergunta.
— Que tipo de pergunta é essa?! — ela diz, indignada. — Isso não é da sua conta e muito menos vem ao caso agora.
Sem nem pensar duas vezes, se levantou, segurando a garota e jogando-a brutalmente contra a parede, sem se importar nenhum pouco se machucaria as costas dela ou não. Pegou seus dois pulsos, segurando-os na altura da sua cabeça, apertando-os fortemente, sem medir forças.
— Você o quer... — sua voz era assustadoramente sombria. — Por que ele? Um ser demoníaco, pretensioso e repugnante. Por que você quis ele? Por que Lauranna o quis? Por que...? — já não parecia mais falar com , e sim consigo mesmo.
— Me largue. — ela pede, com a voz firme.
— Não... Você precisa me responder. — ele volta seu olhar para ela. — Ele te tocou, não tocou? — o anjo leva os dedos aos lábios da garota, circulando-os. — Ele encaixou os lábios nos seus. — ele desce as mãos, levando-as ao pescoço da jovem. — Ele te provou. Ele o tomou pra si. Ele o fez, não é?
— Que relevância isso tem agora?!
— Você é como um anjo... Como pode ter consentido que um ser demoníaco te tocasse dessa forma? — a questionava, mas ele não parecia querer uma resposta. — Como você pôde ter desejado isso? Por que...?
— . Você está me assustando.
Ele abaixa a cabeça. De repente um som horripilante é ouvido. Era uma risada, mas ela era tão seca e amarga que apavoraria qualquer um que a ouvisse. tinha os olhos arregalados. Aquela risada era de .
— ...?
— POR QUÊ?! — ele berra, de repente adquirindo novamente o tom sério. Ele aperta a garota com mais força. — Você entende o que fez? Entende que agiu como uma completa vadia e me fez perder totalmente a cabeça?
— Você entende que está agindo como um psicopata paranóico e está me assustando?! — rebate.
As mãos de se fecharam em torno do pescoço da jovem, apertando-a enquanto sentia lágrimas escorrerem por sua própria face.
riu. Sentia dor, claro que sentia. estava sufocando-a e a cada segundo aumentava sua dificuldade em respirar. Mas ela só ria. Ela ria porque ali estava ele, o verdadeiro ao vivo e em cores.
— A culpa é sua. — sussurra.
De repente ele a solta, afastando-se o máximo o possível da jovem.
— Me desculpa, me desculpa, me desculpa. — ele diz em meio aos soluços, completamente fora de si.
— Finalmente você mostrou ter alguma atitude, por menor que tenha sido. — a garota comenta em tom baixo, sem parecer realmente ter se afetado com as palavras do mais velho. Ela leva as mãos ao pescoço, sentindo dor devido ao aperto dos dedos do anjo em volta dele. — Aceito seu pedido de desculpas, por mais que eles sejam vazios para mim agora. — a garota fita por alguns segundos. havia recém-descoberto seu poder demoníaco, e em um momento como aquele de raiva momentânea, se ela quisesse prejudicar alguém, ela o faria. E simplesmente não mediria esforços para isso. Cansada, a garota apenas suspira, engatinhando até o lado em que estava sentado, apoiando suas mãos nos ombros do rapaz. Colocando certa pressão nestes, ela o empurra até que estivesse totalmente deitado a cama, fitando-o pensativa. Seus olhos caem diretamente para seus lábios, fitando-os descaradamente. Os lábios de pareciam-lhe macios, implorando para que a mesma os beijasse. Ela se aproxima ainda mais do mais velho, permitindo-se sentar em cima do mesmo, deixando as pernas pendendo para o lado. Suas mãos vão até a barra de sua camiseta, subindo-a com uma, enquanto a outra arranhava seu abdômen com certa força. Ao livrar-se de vez da camisa, jogando-a para qualquer canto do quarto, pressionando seu corpo contra o do rapaz, a garota prossegue: — Você foi expulso porque a desejava, não é? Você a queria dessa forma. Você não sente nojo de si mesmo por sentir o mesmo por mim?
— Eu não...
— Você não...? Você não me deseja?! — perguntou, ultrajada. — Você é tão fraco. Tão insuficiente.
Aquilo havia sido o suficiente.
— Você não deveria ter começado com isso. — diz entredentes, apertando a cintura da mais nova com mais força.
E antes de qualquer coisa, simplesmente a beija. Com vontade, com desejo, com desespero, com agressividade, com necessidade, expressando ali toda a sua luxúria, sua vontade extrema de estar dentro dela logo. gemeu, e ele apenas riu. Ao partir o beijo, ele a encara com desejo explícito em sua expressão. Praticamente a devorava com o olhar, cada vez mais fora de si. E assim, ele leva uma das mãos a uma das coxas dela, apertando firmemente ali, enquanto a outra mão vai até seus cabelos negros, os puxando para que sua cabeça fosse jogada para trás e assim ele tivesse a visão perfeita de seu pescoço exposto. Sem pensar duas vezes, ele ataca aquela área com a boca, deixando ali mordidas um tanto fortes e chupões agressivos. Simplesmente se aproveitava de cada pedacinho de pele da área do pescoço da jovem, fazendo questão de marcá-la naquela região. Ele forma uma trilha de mordiscadas até sua mandíbula, apressadamente voltando a encaixar seus lábios nos dela em seguida. Sua língua invadia a boca dela com pressa, agressividade, urgência. Sentir o gosto da boca dela o estimulava ainda mais, assim fazendo com que ele apertasse ainda mais sua coxa. Sem romper o beijo, ele troca as posições, empurrando a amada para que ela caísse deitada na cama com ele por cima. Ao separar novamente suas bocas, o mais velho morde o lábio inferior de , deixando um fraco gemido escapar em seguida. — Você me provocou. Você merece tudo o que eu irei fazer a partir de agora.
suspira auditivelmente, ainda completamente extasiada com as ações do mais velho. sorri, se afastando um pouco apenas para simplesmente levar as mãos até a barra da camiseta da mais nova e a retirar apressadamente. Depois de jogá-la longe, ele faz questão de parar para admirar o corpo de , deixando com que um suspiro admirado escapasse por isso. Mordendo o lábio, ele volta a inclinar-se, olhando-a desejosamente nos olhos. Começa a encher o pescoço da mais nova de beijos, levando as mãos ao fecho do sutiã da mesma, abrindo-o desajeitadamente e retirando-o com pressa. Com mais uma peça de roupa jogada em algum lugar qualquer do quarto, ele desce os beijos para o colo de , e em seguida, chegando em seus seios. Seus lábios já tratam de abocanhar o direito enquanto uma de suas mãos massageava o esquerdo, agindo com certa firmeza e agressividade em seu toque. Sua excitação aumentava mais a cada segundo, deixando-o completamente doido. Dando uma leve mordiscada no bico do seio, ele volta a unir seus lábios nos dela. Mas dessa vez, superficialmente. Sua mão ainda massageava seu seio de forma agressiva, e ele fazia questão de deixar com que seu hálito batesse contra a boca dela, apenas para deixá-la fora de controle.
— Eu a desejei. Eu a desejei muito. — sussurra. Ele parecia completamente fora de si. — E a fodeu de todas as formas possíveis e eu apenas assisti, longe demais para fazer algo, sendo proibido rudemente de tomar uma atitude. Mas agora ninguém me impede, . Eu posso fazer o que eu quiser com você.
De repente ela abriu os olhos, chocada. Ouvir o nome de pareceu despertá-la de seu estado de insanidade.
— Eu não sou Lauranna. — ela sussurra, irritada. assente, rindo.
— Eu sei que não. Você é mais fácil que ela.
grunhe irritada e ele apenas ri.
— Me largue. Eu não quero você! — ela tenta se afastar, mas apenas a segura com mais força.
— De jeito nenhum, meu amor. Eu queria Lauranna, você queria . Nada mais justo do que nós dois nos unirmos para passar a vontade.
— Filho da puta. — ela murmura entre um gemido, abrindo os olhos e fixando seu olhar no de . — Você nunca será ele e eu nunca serei ela. Qual é o objetivo disso?
— Eu quero você, .
— Você me quer porque não pode tê-la. Desde o início você sempre me quis por isso.
Sem quebrar o contato visual com a mais nova, ele sustenta-se com uma das mãos, enquanto a outra desce lentamente até a barra da sua calcinha, onde ele a retira, deslizando-a pelas pernas da jovem até se ver livre daquele pedaço de pano.
— Não diminua seu valor. Não é como se eu não sentisse algo por você. — ele diz. apenas ri irônica. Seus olhos negros faiscavam em ódio.
— Eu odeio você.
— Você sabe que não odeia. — ri irônico, posicionando-se na entrada da jovem.
E assim, ele realiza sua vontade, movimentando seu quadril com mais rapidez e aumentando a força em suas investidas, já começando a gemer em meio a ofêgos. A garota geme alto, fincando suas unhas com ainda mais força nas costas de , enquanto mantinha seu quadril encontrando-se com o dele ao mesmo ritmo.
— Mais rápido, mais rápido... — ela pede suplicante, em meio a mais um gemido.
apenas atendia a seu pedido, penetrando-a com ainda mais fervor e deixando-a cada vez mais à mercê de seus caprichos.
estava sentado embaixo da árvore guardiã, encostado no grosso tronco enquanto fitava o vazio à frente. Estava completamente perdido em pensamentos.
Ele havia a tocado. Ele ouviu a jovem gemer seu nome, arranhando seu corpo e os fazendo um só. Havia acontecido. Os dois realmente haviam feito aquilo.
Então por que sentia como se houvesse cometido o maior erro de sua existência?
Levou suas mãos ao próprio rosto, tocando delicadamente na pequena cicatriz que tinha ali. Fazia tanto tempo que a tinha que até mesmo se esquecera de que ela continuava ali. Aquela cicatriz simbolizava o fim de sua inocência. Simbolizava o dia em que a chama de esperança e pureza que tinha em seu interior havia se apagado. O dia em que prometera para si mesmo que iria amadurecer. E dito e feito, foi o que fez. Amadureceu. Se tornou alguém responsável, maduro e humano. Desde que fora expulso do céu por não ter conseguido proteger Lauranna, prometeu a si mesmo que nunca mais deixaria qualquer um lhe fazer de bobo. Patético. havia o enganado de novo, criando uma rixa ridícula com Jhotaz e fazendo com que a permanência dele em Mysthical estivesse ameaçada. Isso é: se realmente tivesse uma Mysthical nos próximos milênios. Pelo jeito que as coisas iam acontecendo, duvidava disso.
Quando ela se aproximou, ele naturalmente sentiu sua presença. Mas nada o fez. Nem ao menos desviar o olhar do vazio que fitava ele fez questão de fazer.
— Vejo que não sentiu tanto por minha perda quanto pareceu.
levanta os olhos, enfim fitando a mulher.
— Por que diz isso?
— Não parece feliz em me ver. — ela argumenta, se aproximando do rapaz. — Finalmente estamos nos encontrando cara a cara, de forma corpórea. E você simplesmente não parece se importar.
— Você está viva. Fraca, mas viva. — diz, sua voz não esboçando nenhum sentimento. Ele parecia completamente indiferente a presença da mulher ali. — Então eu não falhei em minha tarefa como anjo da guarda.
— Saber que não falhou é ótimo, não é?
— Eu passei décadas sofrendo acreditando que eu havia deixado você morrer. — rosna, levantando-se de súbito e se postando na frente da mulher. Seus olhos transbordavam ódio. — Eu sofri e jurei que nunca mais deixaria com que outra pessoa se aproveitasse de mim.
— Vejo que quebrou seu juramento. parece estar fazendo bom proveito de você. — a mulher diz, provocando-o.
— Não fale sobre ela.
— Por que não? — a mulher questiona, começando a andar em volta do rapaz. — Pelo pouco que sei, está completamente envolvida com . O visitei dias atrás e aparentemente eles haviam passado a noite juntos. Será mesmo que você é tão importante pra ela assim?
— Cale-se. — o anjo rosna. — Sei o que está querendo fazer e já te adianto que não dará certo.
— aparentemente se sente atraída pelos caras maus, como eu. Atraída pela maldade e trevas. Talvez ela tenha entendido que ao ficar com o lado demoníaco dela se aflorará. Talvez seja por isso que ela não fica com você.
— Ela ficou. — diz, em tom presunçoso. — Eu a toquei. Eu senti seu gosto. EU. Não ele.
— Você me amava. — ela se aproxima ainda mais de , parando em sua frente. — Você me amava com todo seu coração. Me amava tanto que se via incapaz de impedir que eu realizasse minhas atitudes de má índole.
— te levava a fazer aquilo.
— me incentivava, querido. Eu nunca fui boa, e o dom demoníaco dado por ele apenas fez com que eu ficasse pior. Não pense que eu fui corrompida pelas trevas, porque não foi isso o que aconteceu. O inferno me acolheu, como um velho amigo, e eu apenas aceitei ser envolvida pelos seus braços.
fechou os olhos, sentindo todo seu corpo tremer. O desgosto que sentia ao ouvir as palavras proferidas por ela era visível em seu rosto. Ele se sentia tão impotente, fraco. Um completo perdedor ridículo que não deveria ter a chance de continuar vivendo.
— Por que está fazendo isso comigo? — ele pergunta. Seu tom de voz não passava de um sussurro. — Por que me machuca tanto, Lauranna?
— Porque você é meu anjo. — ela responde, se aproximando mais do rapaz. Seus braços horrendos foram até o corpo do anjo, e ela levou as mãos ossudas até seu rosto, acariciando. — Eu sou sua protegida. Não importa o quão machucado você fique, é seu dever estar ao meu lado. Não do lado de . Me dói saber que você a tocou da forma que sempre desejou me tocar.
— Você não merece me ter a seu lado. — diz, sua voz soando embargada. — Você não merece que eu a toque.
— Prove que não. Me mande ir embora.
respirou fundo, sentindo sua cabeça girar. Contrariando sua razão, ele leva a própria mão até a de Lauranna, pegando aquela palma desfigurada e depositando um beijo nela. De repente as fibras de pele começaram a se reconstruir, dando lugar aos longos dedos de Lauranna, juntamente as suas mãos macias. Aquilo a fez sorrir.
— Você vê, ? Você me dá poder. Você faz com que eu possa retornar a vida. Você pertence a mim, não a ela.
já chorava, completamente desamparado. Aquela mulher ao seu lado o remetia ao passado. Ele já havia a amado tanto... Se lembrava das noites em que passava observando-a enquanto estava no paraíso, sonhando com o dia em que poderia tocá-la da forma que estava fazendo naquele momento. Passou décadas se remoendo em culpa, odiando a si mesmo por ser tão ingênuo e puro, por ter se deixado levar pelos encantos daquela que todos consideravam um monstro e ele não conseguia evitar de pensar nela como sua amada. Por isso que ele não teve outra reação que não fosse envolvê-la em seus braços e beija-la intensamente. A figura horrenda de Lauranna foi se reconstruindo, dando lugar a uma bela jovem de cabelos loiros, olhos cinza e vestido dourado.
Capítulo 25
“Abra meus olhos agora
Não é em vão
Olhe dentro de mim agora
Não há nada
Que horas são?
Ainda é hoje?
Eu não estou dormindo
Então, por que não estou acordado?
Tranco meus pensamentos em uma gaiola
Eu coloco meus joelhos no meu rosto
Você sabe que eu não me importo
E essa é minha mentira favorita”
forçou seu corpo contra a jovem cada vez mais, o corpo suado dela grudando-se ao seu. Ela estava sentada na pia, e ele em sua frente segurando em sua cintura. Ele rebolava seu quadril contra o dela de forma extremamente satisfatória para a garota, afinal a jovem gemia cada vez mais parecendo se perder no prazer que sentia ao ter fodendo-a daquela maneira. Gozou dentro da jovem, fazendo-a soltar o que lhe pareceu um grito de prazer, este que rapidamente se tornou um grito de dor: avançou em seu pescoço, abocanhando aquela região e deleitando-se com seu sangue.
— Obrigado pela bela noite. — ele elogia irônico, enquanto se afastava e fitava a jovem morta em seus braços. Riu sem humor, jogando-a com tudo ao chão, o corpo sem vida batendo com força no concreto.
Ele limpa o sangue de seus lábios com as costas de sua mão, fitando por um breve momento o sangue da jovem em contraste com sua pele pálida.
Patético.
O sangue daquela garota era patético.
Lembrou-se do sangue de , e consequentemente da noite que passaram juntos, e aquilo apenas o fez revirar os olhos. Por que para ele tudo o que era relacionado aquela garota sempre seria melhor?
grunhiu, pegando sua boxer jogada ao chão e colocando-a, seguido por sua calça jeans escura. O som abafado da música que tocava na Coup D’etat podia ser ouvido no silêncio do banheiro. rumou até a pia, lavando suas mãos despreocupadamente. Um som soou pelo local. Poderia passar despercebido para qualquer outro homem, mas aquele era e sua audição apurada não o enganava. Ele ficou subitamente alerta, virando-se lentamente.
— Quem está aí? — perguntou, sua voz soando firme e ameaçadora.
Um riso baixo foi ouvido de uma das cabines do banheiro. franziu o cenho. Ele havia checado todas as cabines antes de trazer sua presa ali. A não ser que...
Ficou subitamente em alerta, se aproximando da cabine a qual o som vinha.
Sem esperar mais nenhum segundo, chuta a porta da cabine, fazendo-a quebrar ao meio. Ali, de pé e com as mãos atrás das costas, estava seu pior pesadelo.
— Parece que alguém fez uma plástica. — ele ironiza, dando um passo para trás.
Lauranna sorri abertamente, andando até ele.
— Você gostou? Foi um presente. Imagino que saiba quem me concedeu isso.
passou longos segundos analisando as feições da jovem. Ali estava Lauranna, mulher a qual ele havia se apaixonado. já havia tocado todo o corpo daquela mulher que quem visse diria ser a mais bonita que já viu. Aqueles lábios cheios, aquele corpo perfeito e aqueles cabelos estonteantes. Tudo. Ele conhecia cada parte de seu corpo, e sabia que ela também conhecia o dele.
— Obviamente o imbecil do escolheu voltar pra você como o capacho que sempre foi. Patético. — finalmente se pronuncia, desviando o olhar. Não suportaria fitá-la por mais tempo.
— Meu belo anjo, meu . Ele devolveu minha beleza. Finalmente voltei a ser deslumbrante.
— Ser agradável aos olhos não anula a pessoa repulsiva que você é.
— Como se você fosse diferente, não é, ? — ela retruca, olhando inquisitiva para o corpo sem vida da mulher no chão.
— Nunca disse que eu era.
— Vejo que não perdeu sua forma. — Lauranna elogia, fitando descaradamente o torso nu do rapaz. — Suas tatuagens feitas com estacas e fogo sagrado me remetem a tantas lembranças. Se lembra a forma que eu costumava tocá-las depois de atingirmos nosso ápice? — ela o questiona de forma sedutora, ameaçando levar as mãos até o torso de .
A mão do rapaz segura a de Lauranna, torcendo-a por entre seus dedos e fazendo-a gemer de dor, tirando seus dedos dali.
— Sempre agressivo. Tão bruto, com tão pouco carinho... Você fere meus sentimentos, . — ela murmura manhosa. Ele apenas revira os olhos.
— O que você quer agora? — ele questiona, pegando sua camiseta no chão e vestindo-a, fazendo o mesmo com sua jaqueta de couro. — se Jhotaz souber que você está aqui presumo que todo seu plano de destruir Mysthical irá por água abaixo.
— Não necessariamente. Estou com fortes aliados. — Lauranna diz presunçosa, lambendo os lábios cheios. — E é por isso que estou aqui. A guerra está próxima, , e nós dois sabemos o lado que ganhará. Estou aqui para me certificar de que terei seu apoio.
— Eu não sabia que demônios idosos poderiam usar drogas. Você cheirou cocaína, Lauranna? Pobrezinha. Essa é a única explicação para você vir aqui me propor essa bobagem. — ri sem humor. — Você é inacreditável. Acha mesmo que depois de tudo eu irei apoiar você? Eu não escolho um lado, querida. Eu quero que você, Jhotaz e essa cidade explodam, e quero estar vendo tudo de camarote. Quando o caos reinar em Mysthical eu estarei apenas sorrindo vendo todos queimar.
— Até mesmo ? — uma voz conhecida soou.
A expressão debochada de rapidamente desapareceu. Ele olha para trás, vendo . Ele dá um passo à frente.
— Mas é claro que o capacho tinha que estar presente. — ironiza, revirando os olhos. — E de pensar que eu cheguei a acreditar que você fosse melhor que isso, .
— Você quer ficar parado vendo queimar, ? — repete, ignorando o que lhe foi dito.
— Ela desapareceu. — retruca, tentando manter sua postura. — Ninguém sabe para onde ela foi, já deve estar morta a essa altura. E mesmo que continue viva, eu não poderia me importar menos.
— Verdade, ? — Lauranna pergunta. Seu tom era extremamente venenoso e debochado, e se segurava para simplesmente não socá-la até desfigurar novamente seu belo rosto. — Para mim você parece extremamente chateado.
— Eu fui encarregado de protegê-la. E eu o fiz. Ela fugiu de mim. Foi escolha dela, então ela que arque com as consequências de seus atos. Eu já não tenho mais qualquer tipo de relação com .
— Pensei que gostaria de saber que ela está viva. — Lauranna diz devagar, aproximando-se ainda mais de .
Lauranna leva as mãos aos ombros do rapaz, passando-as ali sensualmente enquanto o olhava com extrema luxúria. desviou o olhar, incomodado com a cena.
— Pensou errado. — diz.
— Ela está viva e muito bem. Ela está tão bem que até se permitiu ter um momento de prazer com .
subitamente encara . O anjo tinha os ombros caídos e a expressão de completo pesar. era e sempre seria submisso a Lauranna, sempre soube.
— O que você quer dizer com um momento de prazer? — diz, a ira impregnada em cada palavra.
— O que você acha, ? — Lauranna ri, aquela gargalhada gostosa a qual já havia se encantado um dia. — e ela transaram. Ou melhor: fizeram amor. E acredite, querido, o fez muito bem. Conte a ele, .
apenas o olhou hesitante. O olhar de parecia perfurá-lo. O anjo respirou fundo, molhando os lábios e tentando fazer com que sua voz soasse o mais confiante o possível, como costumava ser sem a presença de Lauranna:
— Ela disse que eu a fazia se sentir segura enquanto agarrava meu corpo...
fechou os olhos, rindo nervosamente e sem humor. Ele não queria ouvir aquilo.
prosseguiu:
— Ela sorria por entre nossos beijos, pressionava com ainda mais força nossos quadris.
— Pare. — ele rosna, sua voz soando de uma forma animalesca anormal. Suas mãos estavam em seus próprios cabelos e ele os puxava, uma forma de aliviar o sentimento horrível o qual ele estava sentindo pela primeira vez em seu ser.
— Ela estava nos meus braços, sendo minha e apenas minha. Ela disse que me amava.
Ao fim da frase do rapaz, empurra Lauranna com força contra a parede, deixando-a fora de seu caminho para que pudesse partir para cima de .
— EU VOU DESTRUIR VOCÊ! — ruge, derrubando ao chão e mostrando suas garras, preparado para feri-lo.
Mãos o empurram para trás, segurando-o e fazendo-o se afastar de , não deixando-o machucá-lo.
— ME SOLTA!!
— Você está parecendo um idiota, . — Yan diz, sua voz soando cansada. Ele havia aparecido do nada. — E daí que a fodeu? Ele é um imbecil.
— Ele só está irritado porque é a menina a qual ele é apaixonado, Yan. Não o culpe por isso. — Lauranna diz com um sorriso falsamente bondoso para o ex-amigo de , enquanto se aproximava dos dois.
— Eu não sou apaixonado por ela. — grunhe, irritado.
— Claro que não é. — Lauranna concorda, achando indiscutivelmente divertida a reação de . — Eu gostei da pergunta que fez em relação à . Me pegou de surpresa ver que você mudou tanto... Que é capaz de ter sentimentos reais por outra pessoa. É realmente uma pena que eu tenha que matá-la. Eu adoraria conhecer melhor a garota que conseguiu mudar , mas não tenho outra escolha. Ela é o obstáculo que me impede de chegar ao meu objetivo. Tenho que destruí-la.
— Vá embora. Apenas vá embora. — grunhe, soltando-se de Yan, olhando feio para ele. — Você já tem seus aliados patéticos, Lauranna. Faça o que tiver que fazer e me deixe em paz.
— Meus aliados são ótimos, mas eu ainda tinha a esperança de conseguir que você ficasse ao meu lado. É realmente uma pena ter que destruí-lo junto com .
— Vá para o inferno. — grunhe, apoiando as mãos na pia e abaixando a cabeça. Ele fecha os olhos. Parecia estar prestes a ter um surto psicótico.
— Estou alojada na casa de . Se mudar de ideia, sabe onde me encontrar.
O silêncio se instalou. Lauranna, e Yan haviam partido.
O estrondo que se sucedeu a partida deles foi avassalador.
socou os espelhos com tamanha força que cacos de vidro voaram para todos os lados, juntamente a moldura despedaçada do mesmo. Suas mãos ficaram completamente ensanguentadas e pela primeira vez a sensação de ardência não o causou alívio. duvidou que qualquer coisa pudesse lhe passar alívio naquele momento.
A porta do banheiro se abriu, e de súbito Kyle Park adentrou aquele cômodo. Ele olhou brevemente para o corpo da jovem sem vida, em seguida fixando seu olhar na figura deplorável de .
— Você estava demorando. Previ que algo ruim aconteceu. — Kyle diz, andando até o amigo.
cai contra a parede, seu corpo escorregando por aquela superfície até ele se ver completamente sentado no chão. A parede estava completamente manchada de sangue, como todo o chão do local. Havia sangue para todos os lados.
— ... Fale comigo. — Kyle pede, abaixando-se ao lado do amigo, mas tomando cuidado para não chegar muito perto. Sabia que a reação de era imprevisível e poderia ser desastrosa. — Me conte o que houve.
— Lauranna vai destruir essa cidade. Todo mundo vai morrer. — ele diz, sua voz soando rouca e arrastada. Sua expressão estava arrasada.
Kyle franze o cenho, confuso. Mesmo que aquela notícia fosse alarmante, não fazia sentido estar naquele estado.
— Ela voltou para isso, nós já sabíamos.
— Eu quero que tudo e todos dessa cidade vão para o inferno. — diz, a voz rouca soando ainda mais profunda. — Eu não dou a mínima para nenhum deles. E isso me torna um monstro, não é? Minha mãe sentiria vergonha da minha falta de compaixão. Mas eu não ligo, porque é isso o que eu sou agora: eu sou um monstro.
— ... Me conte qual é o verdadeiro problema.
ri sem humor, sentindo estúpidas lágrimas caírem por sua bochecha. Ele balança a cabeça em negação, desacreditado diante ao que diria a seguir:
— Todos vão morrer, e eu não ligo. É isso o que um monstro faz. Então... Por que imaginá-la com outro homem dói tanto? — soca o chão com força, abrindo um buraco nele. Kyle pula de susto. — Por que ela me deixou? Por quê?
sussurrava com raiva em meio a soluços e Kyle não soube o que fazer. O que pensar. Como agir. Nunca havia visto o amigo tão arrasado daquela forma.
Tudo o que Kyle fez foi se aproximar de , abraçando-o. Depois de alguns segundos, retribui o abraço, chorando no ombro do amigo enquanto continuava com a mesma pergunta em mente:
“Se ele era um monstro, por que imaginar amando outro homem doía tanto?”
Deveria ser três horas da manhã, no máximo.
já havia partido e ela nem havia se dado conta.
olhava fixamente para a porta de madeira envelhecida da cabana. Seu corpo nu estava coberto pelo lençol e ela agarrava aquele pedaço de tecido inconscientemente.
Ela se sentia suja. Imunda, abusada, medíocre, perversa, repulsiva... Diversos adjetivos terríveis poderiam descrever a forma que Daurat se sentia a respeito de si mesma naquele momento. Há algumas horas ela havia deixado com que um homem a possuísse mesmo contra seu consentimento inicial, um homem o qual ela costumava confiar. Para , era seu único amigo. Ou costumava ser. Ela ela estava fora de si mais cedo, com seu recém-descoberto lado demoníaco falando mais alto do que qualquer outra coisa e havia se aproveitado disso. Os dois transaram, e a parte mais perturbadora daquilo era que se sentia horrível por ter cedido. Horrível por saber que uma parte sua, uma parte pervertida que possui uma demagogia terrível, havia permitido que aquilo houvesse acontecido. Desde o início confiou em , mas nunca havia percebido algo, não até à noite anterior: era o único que nunca havia se referido a Lauranna com ódio. Suas palavras em relação a ela sempre foram gentis e sofridas, como se ele sentisse a mais profunda culpa pelo que aconteceu àquela terrível mulher. E depois do que aconteceu, não tinha mais dúvida alguma: já não era mais alguém confiável em sua vida. Ele não queria seu bem, ele não queria protegê-la: ele queria se redimir. Se redimir consigo mesmo, em busca de assim suprir a culpa que sentia por não ter protegido Lauranna da forma que ele queria. Mas agora que ele tem conhecimento de que Lauranna está viva, perdeu a importância. idealizou que era Lauranna, e por isso ficou cego diante seus sentimentos. Porque ele ama Lauranna. Ele a ama com todo seu coração. E ao perceber isso, se sentiu ainda mais terrível.
— Dói. — ela sussurra para si mesma, levando a mão livre até seu coração. — Dói muito. E eu não sei o porquê.
Mas no fundo, ela sabia. Sabia porque não havia como negar que desde que tudo aquilo havia começado, fora seu primeiro amigo. Ele a ouvia e a compreendia. Ele parecia se importar com ela. Ele era a pessoa que a fazia sentir que havia um lugar seguro em meio ao caos. Perceber que estava enganada era terrível. Por mais que quisesse, não conseguia confiar em . sentia que havia algo escondido bem debaixo de seu nariz e não saber o que pode ser é extremamente agonizante.
A porta de madeira se abre, fazendo com que saísse de seu estado de estupor, franzindo o cenho para quem pudesse ter entrado naquela hora tão importuna.
apenas a olhou, sorrindo. percebeu que ela usava a mesma peça de biquíni que usou na primeira vez em que se encontraram.
— Bom dia, minha querida amiga. — cantarola, se aproximando de ainda com o sorriso exposto. — Fiquei sabendo que machucou feio Johoney.
— Bom dia? Nem amanheceu ainda, pelo amor de Deus, ...
— Meu horário biológico é diferente do seu, meu amor. Agora me conte mais sobre Johoney!
— Você é louca. — bufa. — Enfim... Sobre isso eu realmente sinto muito, eu estava fora de mim e... — tentou se explicar, sendo interrompida por .
— Aquilo foi maravilhoso! — exclama, erguendo os braços animada. — Você está liberando sua parte mais poderosa. Ter atacado Johoney da forma que você atacou... Foi incrível. Se continuar nesse ritmo você vai evoluir cada vez mais, !
— Eu estava com ódio. Eu a soquei repetidas vezes. Eu... Eu queria machucá-la de verdade. — sussurra, balançando a cabeça em negação. — Isso não é certo, . Aquele desejo por sangue, aquela não era eu. Eu não quero que aconteça de novo.
crispa os lábios em visível reprovação. A ruiva respira fundo, parecendo tentar manter a calma. apenas a olhou com descrença.
— Eu acho que você não está entendendo a gravidade da situação. — começa a falar, sua voz soando com uma seriedade jamais vista por . — Lauranna está em algum lugar da cidade, ficando cada vez mais forte e assim deixando seus seres demoníacos mais poderosos. Eles estão à espreita, esperando o comando dela para assim atacar Mysthical. Eles vão destruir de uma vez nossa cidade, . Mysthical é o único lugar o qual seres místicos podem viver em paz. Se Mysthical for destruída, todas as criaturas que aqui residem irão morrer. Você está me entendendo?
— E o que eu tenho a ver com isso?! — exclama, perplexa. — Sim, eu sou filha de Jacques Daurat. Eu sei que toda a confusão começou quando eu cheguei aqui, mas sinceramente? Eu não tenho nada a ver com essa cidade! Nada! Isso tudo é um grande pesadelo e eu não vejo a hora de acordar!
— Bem, sinto em lhe dizer, queridinha: essa é a vida real. Você é a herdeira Daurat, portadora do poder da família. Lauranna te amaldiçoou pouco antes de Jacques ter a sacrificado, ou pelo menos achado que a sacrificou. Você matou seu pai e tomou os poderes dele para si mesma, exatamente da forma que Lauranna premeditou.
fecha os olhos, de repente sentindo uma dor aguda na cabeça.
Tudo ficou dourado.
De repente ela se viu parada em um local fresco, onde a brisa suave da ventania bateu ligeiramente em seu rosto. Em sua volta havia um jardim extremamente bem cuidado, ainda mais bonito que o jardim do casarão em que morava. Ao dar uma boa olhada pôde perceber que aquele jardim se localizava nos fundos de uma enorme construção de pedra. nunca esteve naquele local da casa, mas sabia onde estava.
Estava atrás do castelo de . Aquele jardim só poderia pertencer a ele.
Um grito ardido se fez presente, seguido de um estrondo de corpos colidindo. olhou para a cena, e assustada constatou algo terrível: Lauranna e Jacques haviam caído da sacada de um dos quartos do castelo, e ambos se debatiam e rolavam pela grama do local tentando ferir um ao outro.
— Ei! — uma voz ruge acima de e ela olha pra cima.
e Jhotaz também pularam da sacada, mas ambos aterrissaram no chão com precisão. Os olhos de eram duas fendas negras faiscantes, suas mãos estavam curvadas e suas unhas eram grandes e afiadas. Suas presas estavam expostas. havia assumido sua verdadeira forma como vampiro. Já Jhotaz tinha olhos faiscantes, a pele brilhando como estrelas e enormes asas douradas o contornando-o. não pôde deixar de olhar para ele admirada.
Jacques jogou-se por cima de Lauranna, imobilizando-a e impedindo-a de fazer qualquer outro movimento. Lauranna rosnava como um animal, seus dentes tão afiados que eram semelhantes à de um tubarão branco e seus olhos completamente negros e irracionais. Lauranna não parecia uma mulher e sim um animal selvagem.
— Vai me impedir de matá-la, ? — Jacques pergunta. Pelo seu tom percebeu o quão cansado ele parecia.
— Vá em frente. Para ser honesto estou ansioso para ver isso. — diz, cruzando os braços. — O que me surpreende foi terem trazido ela até aqui.
— Amanhã será o festival do solstício de verão e ela será sacrificada na frente de todos. — Jhotaz interfere, fazendo assentir.
— E por que ela está aqui afinal?
— Eu só a trouxe aqui porque... Porque... — A fala de Jacques falha. — Ela me enganou. — Jacques grunhiu, seus olhos fechando-se enquanto lágrimas começaram a escorrer de seus olhos até as bochechas. sentiu seu coração se apertar. apenas revirou os olhos, sorrindo de forma maldosa.
— Sim, ela enganou. Enquanto você ficava irracionalmente apaixonado por ela, Lauranna mandava eu fazer o trabalho sujo e depois me dava seu corpo como recompensa. Eu a fodia de todas as formas possíveis, Jacques. E você não fazia ideia.
— Não, você não entende! — Jacques grunhe, voltando seu olhar para Lauranna. — Ela escondeu isso de mim. Ela... Ela fez isso.
— Sabemos o que ela escondeu de você, seu grande imbecil! — exclama, parecendo sem paciência alguma. — Poupe-me de seu discurso de dor pela traição. Lauranna é uma pessoa horrível e eu e você ficamos cegos diante ao que ela realmente era. Desde o começo tudo o que ela queria era conquistar Mysthical, e você apenas tornava o caminho mais fácil para ela. Ela matou seus próprios pais, culpou Melissa e depois se envolveu com você e te traía comigo. Ela é um ser repugnante, Jacques.
— Não é isso, . — Jhotaz murmura.
o olhou de forma confusa. Jhotaz tinha a expressão vazia e Jacques parecia arrasado. simplesmente não compreendia o motivo daquilo.
— Mais. Tem mais. — Jacques diz.
— O que está acontecendo? — pergunta, confuso.
Jacques respira fundo, levando as mãos até o peito de Lauranna, mais especificamente seu coração. De repente os olhos cinza voltaram, fazendo assim com que sua racionalidade também.
— Jacques, querido... Não acredite no que Jhotaz disse. Ele está mentindo, ele quer nos separar, ele me entregou porque tem inveja do nosso amor e... — Ela começa a dizer tudo sem pausas, sendo repreendida automaticamente por Jacques.
— Não toque em mim. Levante-se, rápido.
Lauranna obedece, levantando-se com bastante dificuldade. Estava completamente fraca. Olhou em volta, seu olhar fixando-se em .
— .
apenas a olha com escárnio. Ele cruza os braços, mantendo sua pose superior. A última vez em que havia visto Lauranna havia sido aquela a qual ela recusou seu colar, e consequentemente seu amor. A qual ela o abandonou para ficar com Jacques de uma vez por todas. se lembrava, e por um momento se perguntou o quão difícil vê-la novamente seria para .
— Honestamente prefiro quando deixa ela no lado demoníaco irracional, Jacques. É bem menos grotesco e incômodo.
— Conte a ele. — Jacques diz, empurrando Lauranna para frente. — Conte a ele o que você manteve escondido. Conte.
— Eu não posso! — Lauranna grunhe, irritada. Estava fraca, cansada e sem paciência para aquilo. — Vocês me descobriram. Sabem o que eu sou, sabem o que eu fiz. Apenas me matem de uma vez.
— Conte a ele! — Jacques berra, suas mãos se erguendo e globos dourados aparecendo nelas. Lauranna gemeu, fechando os olhos e recuando diante ao brilho.
— Eu amaldiçoei a criança.
— Que criança? — pergunta, ainda mais confuso.
— Minha filha. — Jacques responde.
arregala os olhos, completamente desacreditado.
— Vocês tiveram uma filha?
O teto de madeira com algumas teias de aranhas se fez presente em sua visão. Olhou para o lado e ali estava , sentada ao seu lado da cama, olhando-a preocupada.
— Você acordou! — a ruiva diz em tom aliviado. — Eu fiquei assustada de verdade, . Da próxima vez que tiver um desses apagões aleatórios tente me avisar antes.
— Não é como se eu tivesse controle sobre isso. — grunhe, levantando-se.
Um silêncio se instalou diante as garotas enquanto andava nua pelo cômodo, procurando por suas roupas íntimas.
— Eu quero muito te perguntar sobre o que você viu, mas diante a essa visão eu fiquei desconcertada. Que mulherão você é, hein amiga?
mostrou o dedo para , e a ruiva apenas riu. enfim vestiu sua roupa íntima, e em seguida um vestido de que havia no pequeno armário. Ela se vira para a amiga, suspirando em frustração e dizendo:
— Diga logo o que você quer saber porque não estou com paciência.
— Você viu alguma coisa? — pergunta em expectativa. — Pela forma que você apagou aposto que teve uma visão. O que você viu?
— Eu não acho que seja da sua conta. — responde, encaminhando-se até a porta da cabana.
— Não é da minha conta? O que você quer dizer? — se levanta, andando até a garota. — Eu sou sua amiga e estou tentando te ajudar. Me diga o que viu!
— Lauranna e meu pai tinham uma filha. — diz, de súbito. — Lauranna enfeitiçou essa criança. Quem é ela?
fica em silêncio. apenas a fitou com pesar. Suspirando, a ruiva se aproximou mais da jovem, tocando suavemente em seu ombro e enfim respondendo:
— Você, . Você é a filha de Lauranna.
Era de madrugada e chovia muito. Victor estava sentado à mesa da cozinha, folheando com interesse um livro, tentando ignorar o som crescente e assustador dos trovões do lado de fora. Ele havia acendido velas, estas iluminando as páginas amareladas do livro que lia.
— Sem sono, minha criança? — uma voz fraca soou no cômodo, fazendo-o pausar sua leitura.
Ali na porta que separava a pequena cozinha da ainda menor sala, estava parada uma idosa. Ela tinha cabelos muito brancos e desgrenhados, sua pele era extremamente enrugada denunciando sua idade avançada. Ela se apoiava em uma bengala, as mãozinhas tremendo enquanto a segurava.
— Vovó... A senhora deveria estar dormindo. — Victor diz preocupado, subitamente se levantando e andando até a mulher.
— Você também. — ela retruca, desviando-se do rapaz e caminhando até a mesa. Seus olhos se fixam no livro que ele lia e um sorriso apareceu em seus lábios. — Lendo um dos meus livros novamente, Victor? Eu te proibi de lê-los.
— E-eu sei, vovó. — Victor diz, abaixando a cabeça. — E eu peço perdão. Mas esses livros sobre magia são tão intrigantes.
— Jacques te pediu para lê-los?
Victor meneia a cabeça, incomodado.
— Mais ou menos. Ele disse algo relacionado, mas foi Jhotaz quem me disse diretamente. Ele disse que gostaria que eu lesse seus livros antigos, pois eles podem me dar informações sobre os mistérios à nossa volta. Jhotaz está preocupado com o futuro da cidade.
— Todos nós estamos.
— Vovó... Está bem tarde e faz frio. Venha, eu te levarei até seus aposentos.
— Isso não será necessário. — A mulher abana as mãos trêmulas, afastando-as de Victor. — Minha hora chegou.
Victor apenas arregala os olhos, assustado. As palavras da mulher pareceram ter grande efeito sobre ele.
— O quê? Não diga baboseiras, vovó. A senhora ainda tem muito tempo de vida.
— Meu tempo acabou, meu neto. Como seus pais minha hora de partir chegou. Demorou, mas enfim chegou.
— Eu não compreendo, vovó. — Victor diz, exasperado.
— Eu tive uma visão. — a velha diz, suspirando. — Um ser cruel entrará aqui, daqui a poucos minutos. Ela pedirá sua proteção, e em troca terá que fazer um sacrifício para pagar-lhe. Vai contra todos meus princípios deixá-la adentrar meu lar, então morrerei a confrontando.
— Uma visão...? Vovó, você sempre me disse que esse tipo de coisa não existe.
— Eu menti.
— O quê?!
— Está bem aqui, no seu futuro. — A idosa segura Victor pelos ombros, sorrindo de forma bondosa. — Uma velha bruxa como eu vejo a morte como dormir um sono profundo e não acordar mais. Você, como meu neto e único herdeiro vivo, ficará com meus poderes quando eu partir. E se tornará um bruxo poderoso.
— Bruxo?! O quê?!
— Jhotaz Daurat é seu melhor amigo. Você o ama, não o ama?
— Amo. — Victor responde sem pestanejar.
— Jacques Daurat também é seu amigo. Você também o ama, não ama?
— Claro que amo.
— O amor uniu seus caminhos, Victor. Você já não vê mais um futuro que não seja estando ao lado deles, sendo fiel à família Daurat. É por isso que está aqui, em plena três horas da manhã lendo um dos meus velhos livros de feitiços. Você quer ajudá-los. Você quer estar ao lado deles. Mesmo não sabendo toda a verdade você está disposto a ajudá-los.
— O que eu devo fazer, vovó? — Victor suspira. A vó sorri.
— Meu dom profético será transferido para você depois do meu último suspiro de vida. Faça bom uso dele.
A porta de entrada da humilde casa foi aberta em um estrondo. Victor pulou de susto, enquanto sua avó parecia alheia ao som. Ela já havia previsto aquilo.
O som de saltos batendo contra o chão foi ouvido, e na porta da precária cozinha pôde-se ver uma mulher. Alta, esbelta, longos cabelos loiros caindo por seus ombros. Seus olhos quase não davam para ser vistos na pouca luz, já que eles estavam completamente negros. Lauranna estava ali, mas aparentemente não estava sozinha.
— Lauranna. — Victor diz seu nome, incerto.
A mulher tenta andar até ele, mas suas pernas fraquejam e ela cai ao chão. Ela solta um grito de dor, levando as mãos à própria barriga.
— O que está acontecendo, vovó?! — Victor exclama, andando até Lauranna e sentando-se ao seu lado. Ele leva as mãos até a barriga da jovem, o lugar que parecia estar concentrada a sua dor. Victor olhou para lá horrorizado. A barriga da jovem estava se movimentando, como se lá dentro houvesse uma criatura querendo sair.
— Ela está grávida. — A idosa responde. Victor arregala os olhos, desacreditado.
— Jacques teria me contado!
— Jacques não sabe disso.
— O que ela está fazendo aqui?!
— Você é o único que pode me ajudar, Victor. — Lauranna geme desgostosa. Victor segura a mão da mulher. — se Jacques descobrir essa criança... Ele saberá. Ele saberá de tudo.
— Tudo?! Tudo o quê?!
Um grunhido é ouvido, seguido de uma intensa luz. Victor olha para a avó, vendo que ela erguia a bengala acima de sua cabeça. Ele a olhou desacreditado. A luz havia saído da ponta da bengala. Como aquilo era possível?!
— Vovó...
A idosa avança até eles, andando agilmente de forma que Victor há muito tempo não via. Ela ergue a bengala, proferindo palavras desconhecidas pelo mais novo. Ela apontava o objeto de madeira para a barriga de Lauranna, esta que continuava a se contorcer monstruosamente.
Uma forte luz vermelha foi lançada, esta prestes a atingir a barriga de Lauranna...
Foi quando uma segunda luz apareceu. Uma luz dourada e intensa... Esta atingindo diretamente o peito da senhora. A avó de Victor cai pra trás.
— Vovó! — ele grita, largando Lauranna e correndo até a idosa. Ele se senta ao seu lado, procurando achar qualquer vestígio de vida naquele corpo adormecido. Mas era tarde: ela estava sem pulso.
— Sinto muito, Victor.
O rapaz levanta a cabeça, vendo Jhotaz ali. Seu amigo estava completamente diferente: sua pele brilhava como se constelações fizessem parte dela, e em suas mãos haviam dois enormes globos de luzes.
— Você a matou. — Victor diz em um sussurro.
— Eu não poderia deixar com que ela matasse .
— ? — Victor pergunta, confuso. — Quem é ?
— Pegue a bengala. — Jhotaz ordena, andando até Lauranna.
— O quê?
— Pegue a bengala de sua avó.
Victor estava completamente desnorteado. Desejava que aquilo tudo fosse um sonho, ou melhor: um pesadelo. Ele pega o objeto de madeira antes pertencente a avó, e caminha até Jhotaz. Por mais que estivesse indignado, triste e completamente confuso, Victor simplesmente não conseguia dizer não a um pedido do amigo.
— Erga a bengala. — Jhotaz pede. Victor obedece. — Aponte para a barriga de Lauranna e diga bem alto: “aurea puella”.
Victor hesita, olhando para Jhotaz como se ele fosse louco.
— Faça! — Jhotaz grunhe irritado.
Victor respira fundo, erguendo a bengala e enfim pronunciando:
— Aurea puella!
Lauranna berra de dor. Sua barriga se contorce cada vez mais, e de repente ela é rasgada ao meio. Victor desvia o olhar, sentindo-se enojado. Lauranna berrava cada vez mais alto.
Um choro de bebê foi ouvido.
Victor franze o cenho, enfim olhando novamente para Lauranna.
Jhotaz leva o brilho dourado até a barriga da jovem, reconstruindo tecido por tecido a estrutura da barriga da mulher. Nos braços dela havia um bebê. Victor se aproximou.
O bebê estava completamente ensanguentado, como era de se esperar para um recém-nascido. Não havia nada de incomum nele e Victor ficou surpreso em constatar tal fato.
— Essa é . — Jhotaz diz, sua voz soando cansada.
Victor se aproxima para vê-la mais de perto. O bebê abre os olhos, e ele arregala os olhos. A íris do olho esquerdo de era completamente cinza, igualzinho aos olhos de Lauranna, Jacques e Jhotaz. Porém sua íris do olho direito era completamente negra. Aquilo sim era incomum.
Victor se afasta, sentindo sua cabeça girar. De repente uma imagem foi vista em sua frente, clara e esclarecedora. Ele havia tido sua primeira visão, como sua vó o alertou. E céus, ele havia odiado.
Victor cai ao chão, sentindo seu corpo tremer. Era informação demais. Ele não sabia se aguentaria.
— Vocês vão deixar comigo. — ele diz, sua voz soando mortalmente séria. — Eu irei cuidar dela durante essa semana e não deixarei que nada lhe aconteça nesse meio tempo. Passada essa semana, Jhotaz entregará Lauranna para o irmão, consequentemente fazendo com que ele descubra a existência de . Ao descobrir, ele a levará consigo. Ele irá partir de Mysthical para protegê-la e irá criá-la como filha dele e de Melissa.
— Irá me entregar a ele?! — Lauranna grita de forma histérica, fazendo Jhotaz apenas fitá-la impassível.
— Ou é você ou é meu irmão. Quem você acha que eu prefiro?
— Você é um porco imundo, igual seu irmão. — Lauranna geme, irada. — Essa bastarda é minha. Ele não pode retirá-la de mim.
— Ele irá fazer isso. Ele está com ódio, ele descobriu todas as suas traições, toda sua crueldade... Não acredito que fez tudo isso, Lauranna. — Victor diz.
— Cale-se! — a mulher ruge, levantando-se com a ajuda de Jhotaz. — ficará poderosa. A mera existência dela será mais forte do que a minha e de Jacques juntos. O que devo fazer para impedir isso?
Victor engole em seco, levando as mãos à cabeça. Bagunçou seus cabelos, sem saber como dizer aquilo.
Mas não foi preciso, já que Jhotaz tomou a atitude por ele.
— Você terá que amaldiçoá-la.
Lauranna ri rouca, assentindo com a cabeça.
— Mas é claro. Se eu amaldiçoar essa criança, Jacques não terá chance. Vai ser ela ou ele.
— Faça com que seja ela. — Jhotaz grunhe, apertando com força o pulso de Lauranna. — Não mate meu irmão, isso é tudo o que lhe peço.
Lauranna empurra Jhotaz, voltando-se para o pequeno bebê que estava embrulhado no casaco que usava anteriormente. Se aproximou da jovem, tocando seu coração. Virou-se para Victor, chamando para que viesse mais perto.
— Me conte o que vê no futuro dela.
— E-eu não sei ao certo... — Victor gagueja.
— CONTE-ME!
Victor fecha os olhos. Seu corpo tremia.
— Ela viverá seus primeiros anos de vida de maneira próspera e feliz. — ele finalmente se pronuncia, sua voz soando mais adulta e séria. — Jacques será seu herói e Melissa a mãe que sempre sonhou. Ela irá desejar uma irmã, e quando ela nascer irá amá-la com todas as suas forças.
— Porém, poucos meses depois do nascimento da irmã, completará seu nono ano de vida. — Lauranna prossegue, deixando com que uma luz negra começasse a sair de suas mãos. Aquilo era magia negra demoníaca. — Nesse dia, ela matará a pessoa que mais ama e em seguida será morta por aquele pelo qual eu possuo mais afeição. Seus destinos estarão interligados para sempre, e mesmo que ele não a mate... estará condenada a sentir a mais profunda dor em suas mãos.
Capítulo 26
“Quando todo mundo que você pensava conhecer
Desistir da sua luta, eu vou com você
Você está enfrentando um corredor escuro
Eu vou pegar minha luz e ir com você”
As lágrimas já haviam secado.
se olhava no reflexo do espelho quebrado, com Kyle atrás dele. Kyle olhava de para a janela do local, completamente apreensivo.
— Não precisa ficar me olhando como se eu fosse surtar a qualquer momento, Kyle. — grunhe, fazendo Kyle rir nervosamente.
— Você é como uma bomba relógio: a qualquer momento pode explodir e será nosso fim. Dá medo.
— Deveria estar acostumado com as minhas reações conturbadas.
— Você mudou, . — Kyla afirma. — a questão maior é que desde que a garota entrou na sua vida você mudou demais. Você se descontrola mais fácil, você... Sente. Sentimentos e emoções afloram dentro de você quando se tratam dela. A emoção fala mais alto que a razão.
— Não venha com esse papo melodramático para cima de mim, Kyle. — grunhe, bagunçando os cabelos.
— Certo... Desculpe. — Kyle desvia o olhar. — O que faremos agora?
— Você eu não sei, agora eu tenho planos.
— Não! Tenho medo que você surte de novo. — Kyle murmura, fazendo rir.
— Sua preocupação é admirável, mas não se preocupe. Eu vou ficar bem.
Kyle apenas assente com a cabeça, ainda muito confuso diante as palavras de e receoso com a ideia de acreditar nelas.
— Se precisar de mim me ligue.
— Com certeza. — concorda. O rapaz deu meia volta, dirigindo-se até a porta.
— Espera! Aonde você pensa que vai?
— Fazer algo que eu deveria ter feito há muito tempo.
andava apressado em meio às últimas pessoas presentes na Coup D’etat, empurrando aquelas que bloqueavam seu caminho sem um pingo de paciência em seu ser. Pôde perceber pela sua visão periférica que Kyle o seguia. Acelerou o passo.
— Inferno de Daurat. — ele pragueja em um sussurro ao chegar em seu destino.
abriu a porta do escritório com um estrondo, fechando-a e trancando-a em seguida. Uma batida forte foi ouvida.
— ! Não quero que você mate Jhotaz!
o ignorou. Seu olhar se voltou para o homem que o olhava completamente surpreso.
— . — Jhotaz diz, sem fôlego. apenas sorri irônico.
— Jhotaz. — ele imita seu tom, aproximando-se da mesa a qual o loiro estava sentado. Suas mãos se espalmaram na superfície rasa, seus olhos fincados com ódio na imagem de Jhotaz.
— Presumo que tenha vindo até aqui com o objetivo de cumprir sua ameaça.
— Qual ameaça? Eu faço tantas. — diz irônico, fazendo Jhotaz suspirar.
— Algo parecido com rasgar minha garganta.
— Oh, isso. — dá meia volta, levando as garras à mostra até a garganta de Jhotaz. Arranhou ali superficialmente, fazendo com que uma pequena linha de sangue brilhasse na pele branca do Daurat. — Eu deveria matá-lo lenta e dolorosamente, da mesma forma que você fez com minha família.
— , eu tive que fazer aquilo, você tem que entender: aqueles vampiros estavam destruindo a minha cidade! Eu tinha que dar um fim nessa praga! Eu não queria, mas eu tive que fazer!
— Cale essa boca, Daurat. Guarde suas mentiras para alguém que acredite nelas. — rosna, levando as garras novamente ao pescoço de Jhotaz. Ele aprofunda o corte. — Você não se importou comigo. Não se importou com o que eu sentiria em perdê-los. Não deu a mínima para a porra dos meus sentimentos.
— Você tem que entender que naquela altura as coisas que fazia para Lauranna me faziam duvidar que você tinha qualquer sentimento restante.
— Ficaria surpreso. Eu raramente sinto algo, mas quando sinto é sempre demasiadamente. Como hoje em dia... — ri roucamente. — Você colocou em meu caminho, mas não fazia ideia do que ela me faria sentir. Ou talvez você soubesse, não soubesse? Talvez você soubesse perfeitamente que ela iria me destruir.
Jhotaz engoliu em seco. Suas mãos começaram a tremer e ele sentiu seu próprio coração bater de forma descompassada. percebeu aquilo.
— O que está dizendo? — Jhotaz pergunta.
— Não seja cínico. Você sabia, não sabia, Jhotaz? Você sabia o tempo todo. Sabia que ela me destruiria... Mas não se preocupe. Eu a destruí também.
Jhotaz perdeu o fôlego. O homem se levanta, olhando seriamente para . O mesmo também o fitava de forma séria.
— Destruir...?
— Eu provei seu sangue. — diz em meio a uma risada rouca. — O sabor é indescritível. É o sangue mais delicioso e viciante o qual já provei em toda minha existência como vampiro.
— Você a tomou para si... Você... — Jhotaz estava perplexo. — Você a ama, ?
o ignorou.
— E nós transamos. — ri maliciosamente. — Foi a melhor coisa que já me aconteceu, Jhotaz.
— Você me traiu de novo.
— Trair? — se aproxima, levantando o dedo em riste no rosto do mais velho. — Você sempre fala como se eu houvesse de fato te traído só porque me relacionava com Lauranna enquanto ela namorava Jacques.
— Jacques a amava.
— De fato ele a amava... E você também.
O solstício de verão de Mysthical era sempre belo demais e encantava todos os habitantes de forma que as energias e pensamentos negativos simplesmente evaporavam em suas mentes, sendo substituídos pela alegria que aquela pequena comemoração os proporcionava.
Uma pena que esse ano seria diferente.
Jacques Daurat sorria ocasionalmente para uma pessoa ou outra, cumprimentando quem pudesse de forma cordial e educada. Ele trajava um belo terno azul marinho, feito sob medida por uma das costureiras da cidade. Os cabelos loiros esbranquiçados estavam começando a tomar a forma total branca, devido a sua idade avançada. Ele estava envelhecendo, ou melhor: deixando seu corpo envelhecer.
Em seus braços havia um bebê recém-nascido, mais especificamente uma menina. Seu nome era e ela era sua filha, a filha a qual Lauranna escondeu. Jhotaz havia entregado Lauranna e a menininha para ele e ele não sabia se sentia horrível por saber que a mulher que mais amou na vida na verdade era uma louca psicótica ou se sentia feliz por ter . Ele preferia ser otimista e se apegar a segunda opção.
Não muito distante dali havia um aparentemente jovem rapaz o espionando. Os olhos enviesados fixos na imagem do líder da cidade. Ele se aproximou.
— Preocupado, Daurat? — a voz debochada de soa, questionando-o.
Jacques sorri nervosamente para .
— Você sabe que sim. — Jacques suspira. — Pelo menos minha linda me acalma.
desvia o olhar para o bebê empacotado nos braços de Jacques, fazendo uma careta ao vê-lo.
— Ela tem cara de joelho. — ele diz, desviando o olhar. — Sua filha é muito feia.
Jacques abre a boca para retrucar, sendo bruscamente interrompido. Um estranho clamor conjunto soa pelo ambiente, os habitantes místicos recitando uma cantiga antiga. Os habitantes humanos não compreendiam. Jacques e compreenderam, compreenderam totalmente.
O enorme palanque que se localizava onde futuramente seria construída a Coup D’etat estava completamente iluminado, luz proporcionada pelas tochas e lamparinas douradas espalhadas por todos os lados. No centro do local uma idosa apareceu, sorrindo para todos.
— Saudações, moradores de Mysthical!
Todos respondem gritando em glória, gozando de felicidade e animação.
— Hoje realizaremos nossa festa do solstício de verão, e eu, como mãe e guardiã da família Daurat, irei mediar nosso ritual de abertura.
Mais exclamações de alegria. sorriu de forma maldosa, fitando Jacques. O mesmo não parecia bem.
— A jovem Lauranna matou seus pais e culpou Melissa Daurat, além de enganar meu primogênito com seu falso amor. Ela está possuída pelo demônio!
Urros em concordância foram ouvidos pela multidão, onde até mesmo os mundanos concordavam com o discurso radical e religioso da mãe Daurat.
— Temos que nos livrar dessa praga que infestou nossa cidade com suas podres mentiras. Por isso que eu proclamo... Sua execução.
Jacques engoliu em seco, prontamente dirigindo-se até o palanque. fechou a cara, dando meia volta a fim de sair da praça da cidade. A execução só o interessava se já fossem consumar o ato de imediato, mas como sabia que a mãe Daurat ainda enrolaria com seus discursos patéticos, ele preferiu sair daquele ambiente.
Um matagal se estendeu em sua frente, este indicando o bosque da floresta de Mysthical, onde ficava a árvore que os habitantes batizaram como “Árvore Guardiã”.
não sabia o motivo, mas havia algo dentro dele que gritava para ele ir até lá.
E ele apenas foi, e ainda bem que o fez.
Encostados na árvore guardiã atracando-se de forma animalesca estavam Lauranna e Jhotaz. passou longos segundos encarando a cena que se desenrolava em sua frente.
— Creio que esteja atrasada para a sua execução, Lauranna.
O casal pula de susto. Jhotaz conjura uma esfera de luz, tocando no coração de Lauranna e transformando-a em uma mulher de aparência monstruosa, sua forma demoníaca sem racionalidade. Ela grunhia palavras incompreensíveis, guinchando de forma animalesca.
Jhotaz encara completamente pálido.
— ...
— Não me importa o que eu acabei de ver aqui. — diz, olhando diretamente para Jhotaz. — Ela estará morta daqui a pouco tempo.
— Você não entende... Por favor, não conte. Não conte a ninguém.
sorriu irônico.
— Parece que você terá uma dívida eterna comigo, Jhotaz. Espero que esteja preparado para pagá-la.
Jhotaz deu-lhe um tapa estalado, mas já havia previsto aquilo. Apenas permitiu com que o mais velho o batesse, pois sabia que havia tocado em um assunto extremamente delicado.
— Ela foi morta na frente de todos... Mas foi tudo encenação. Você a ressuscitou e a escondeu em sua casa.
— Eu não podia matá-la. — a voz de Jhotaz treme. — Você não entende, você simplesmente não entende...
— Para ser honesto eu entendo. Oito anos atrás eu fui para o subúrbio da zona leste com a intenção de matar uma garotinha... Eu não consegui fazê-lo. E olhe como as coisas estão agora.
— Lauranna a amaldiçoou. — Jhotaz diz em um sussurro. — Ela disse que aquele o qual ela tem mais afeição iria destruí-la.
— já me destruiu, isso parece justo.
— ...
— Eu preciso ir, Jhotaz.
O rapaz caminha até a janela, simplesmente pulando dali e deixando Jhotaz só.
Victor segurou o corpo de Lara mais forte contra o seu, sentindo-se na obrigação de dar qualquer tipo de conforto ao corpo paralisado e frio da menininha. Ela continuava em seu estado catatônico e ele já não sabia mais o que fazer. Suas forças estavam esgotando-se, suas tentativas ficando cada vez mais escassas. Ele e Jhotaz faziam de tudo para reanimá-la, mas era em vão. Lara havia sido amaldiçoada por Lauranna e apenas Lauranna poderia quebrar tal maldição... Ou alguém que possuísse os mesmos poderes.
Victor respira fundo, pensando sobre . Será que estava viva? E se estava viva, será que estava bem? Ele estava tão preocupado. A ideia de que algo ruim havia acontecido a doía em todo seu ser.
Seu celular tocou. Ele franziu o cenho. Estava tão concentrado em prestar atenção nas ligações do celular de Jhotaz ou nos telefones da casa para ter alguma notícia de que havia se esquecido que ele também tinha o seu próprio. Afastou-se um pouco de Lara, esticando-se para pegar o aparelho. Atendeu.
— Olá?
— Victor. — a voz aveludada de foi ouvida. Victor sorriu. Era uma espécie de alívio ouvir a voz tão bela de uma mulher diante o caos que andava sua vida. Um gesto simples, mas significativo.
— ! Quanto tempo. — ele diz, sorrindo brevemente. — Está tudo bem?
— Mais ou menos. — Victor pôde perceber a voz vacilante de . Subitamente ajeitou sua postura, ficando alerta.
— O que aconteceu?
respirou fundo.
— aconteceu. Ela está aqui.
Um silêncio se instala entre os dois. parecia esperar a reação estrondosa de Victor com a notícia. Mas se enganou. Tudo o que o homem fez foi perguntar, em um tom calmo:
— Ela está bem?
— Estou treinando-a. — diz, ganhando coragem para falar mais. — Johoney está me ajudando. Mas... teve uma visão, Victor. Ela me fez uma pergunta e eu... Eu tive que dizer a verdade a ela.
— O que você disse?
— Eu contei quem é sua verdadeira mãe.
Mais silêncio. Victor apertou o telefone com a mão que o segurava.
— E agora?
— Ela me pediu pra sair e simplesmente trancou a porta da cabana em que está hospedada. Creio eu que ela tenha assumido uma forma demoníaca, pois ouvi diversos sons animalescos e sons altos de coisas se quebrando. Estou realmente preocupada com ela. Eu pensei que saberia lidar sozinha com , mas eu não sei. Simplesmente não consigo. Eu quero ajudá-la, quero fazer com que ela se sinta bem, mas tudo o que eu faço é deixá-la pior. Eu deveria ter dito a você desde o início que ela estava aqui, mas fiquei com tanto medo de você dizer a Jhotaz e o mesmo contatar . Eu acho que ele fez algo ruim a ela. Eu não confio nele, não confio em Jhotaz, não confio em ninguém... Acho que a única pessoa a qual eu posso confiar é você.
Victor umedeceu os lábios, assentindo devagar com a cabeça. Parecia pensar.
— Eu irei até aí e conversarei com . Eu ajudarei você, não se preocupe. — ele diz em tom calmo, até mesmo gentil. — Levarei uma mala e me hospedarei aí. Eu compreendo o que te levou a acolhê-la e tentar treiná-la, mas um treinamento sem uma motivação simplesmente não funciona. Eu irei até aí e treinarei por eu mesmo. E já sei a motivação que darei a ela. Pode contar comigo, .
— Muito obrigada, Victor. Você não sabe o quão significativo isso é pra mim. — agradece, sua voz soando cheia de emoção. — Mas por favor, não conte a Jhotaz. Eu não confio nele.
— Não contarei.
Victor desliga, respirando fundo. Ele se levanta, olhando brevemente para Lara ao se ver totalmente de pé.
— Nós iremos ajudar ... Vai dar tudo certo.
Tinha que dar.
Uma taça de vinho em uma mão e um cigarro na outra. As duas invenções humanas favoritas de presentes em suas mãos, e ele se deleitando com elas cada vez mais. Parecia alheio a tudo o que acontecia em sua volta. E não era pouca coisa.
Havia ali centenas de criaturas demoníacas, todas elas rosnando e uivando no espaço aumentado por magia. A casa de estava simplesmente lotada com aquelas criaturas, mas ele parecia completamente indiferente a isso. Tudo o que lhe importava era que tinha seu amado vinho para beber e sua amada nicotina para fumar.
— O grande dia está chegando, meus servos. — Lauranna discursava. Ela estava deslumbrante. Desde que havia a presenteado com sua beleza ela havia se tornado a bela mulher que costumava ser. O longo vestido dourado caía com perfeição em seu corpo, acentuando suas curvas.
As criaturas demoníacas uivaram ainda mais alto em resposta. Eles estavam ensandecidos, ansiosos por sangue e caos. Mantê-los escondidos na casa de estava deixando-os completamente alucinados. Privar criaturas como aquelas de matar era a mesma coisa que privar um ser humano de viver. Matar era o propósito daquelas criaturas, era pra isso que existiam. considerava aqueles meros demônios de cérebros pequenos incrivelmente imbecis. Ele não era como eles. era um dos filhos de Lúcifer e Lilith, isso é: um demônio extremamente respeitado e importante. Porém há muito tempo ele havia se cansado do submundo. Ser subjugado a uma pessoa era terrível para alguém como ele. Odiava seguir as ordens do seu pai, por isso há muito tempo havia concedido o dom demoníaco a Lauranna. Ele acreditou que ao fazer isso, poderia ir para a Terra ao comando de seu pai para ficar de olho na jovem e assim livrar-se do inferno de uma vez por todas. Mas não foi isso que aconteceu. Lúcifer julgou a atitude do filho como um ato rebelde, interpretando aquilo como uma forma de superioridade da parte de . Irado por sua insolência, ele o condenou a uma eterna punição. fugiu do inferno, se alojando em Mysthical, pois sabia que naquela cidade o paraíso e o submundo não tinham qualquer autoridade. Ali o que valia eram as palavras da família Daurat e assim permaneceria.
— Está tão distraído.
olha para o lado, vendo parado olhando-o. Ele sorri, dando de ombros.
— Sempre sou aéreo a tudo, você me conhece.
— Parece mais aéreo que o normal.
— Assistir Lauranna fazendo um discurso motivacional para criaturas demoníacas inferiores não é exatamente algo que eu queira prestar atenção. — comenta, rindo debochado. — Por isso prefiro divagar.
— No que tanto pensa? — o questiona, interessado.
— Eu penso em quanto tempo ainda nos resta. — diz, de repente seu olhar mirando no vazio. — Lauranna destruirá Mysthical, e com isso conseguirá poder o suficiente para algo maior. Ela é tão insana que facilmente a imagino com a sede de dominação mundial, você não?
assente devagar com a cabeça, olhando para os próprios pés. crispa os lábios em desagrado. Odiava ver tão submisso daquela forma.
— Eu não sei quais são os planos de Lauranna depois de destruir Mysthical, mas acredito que não sejam nada bons.
— Então nos resta pouco tempo.
— Por que continua se referindo a nós dois como algo único? Não somos grudados, .
— Independente do que acontecer eu levarei você comigo. — diz, rindo debochado. — Acha mesmo que vou te deixar para trás caindo nos encantos daquela mulher? Nós começamos isso juntos e terminaremos juntos, . Não vou deixar com que você destrua a si mesmo novamente.
— Você só vai ajudá-la enquanto isso lhe convém, não é? Quando conseguir o que você quer vai deixá-la.
— Você sabe o que eu quero, . Eu quero , e eu quero ela logo. Ela é a única que pode me libertar, te libertar. Ela é a nossa salvação.
— Não seja tolo, Lauranna não irá te entregar . Ela irá matá-la e roubar seus poderes. Acha mesmo que ela irá lhe entregar o principal alvo dela? — sussurra eufórico.
— Sei que ela não me entregará . Mas quando Lauranna tiver ela em suas mãos eu a roubarei e iremos embora. Eu, você e . E assim beberemos de seu sangue, possuiremos sua alma e nunca mais seremos atormentados por qualquer entidade seja divina ou demoníaca. Eles não poderão mais nos rastrear com o sangue de correndo por nosso corpo e sua alma como disfarce. Seremos só dois homens comuns, que possuirão o direito de ir e vir a qualquer lugar, fazendo o que bem entender.
— Isso é pura fantasia, . Já te disse, anjos inventaram essa história de que o sangue e alma de uma mestiça possuem propriedades que impedem rastreamento. Fizeram isso apenas para iludir os filhos de Lúcifer como você, fazendo-os acreditar em uma história completamente fantasiosa. Nós nunca nos libertaremos dos nossos senhores, ! Nunca!
— Você não sabe o que diz!
— Calem-se! — Lauranna os adverte. Os dois automaticamente se calam.
— Perdão. — sussurra.
— Eu não acredito que não prestaram atenção no meu monólogo de incentivo às criaturas. Pensei que vocês dois, dentre todas as pessoas, se interessariam por isso.
— Se quer saber eu prestei atenção em cada palavra, coroa. — Yan diz, fazendo Lauranna revirar os olhos.
— Não me importo com a sua opinião, Yan. Um mero vampiro como você não tem a voz ativa que um anjo e um demônio possuem.
— também é um vampiro e parece ser bem importante para você. O que me difere dele? — Yan pergunta, irritado.
Lauranna ri sonoramente, parecendo achar indiscutivelmente divertido o tom de ciúme que Yan usou ao se referir a .
— O que te difere dele? Vejamos... é o vampiro mais velho da região. Ele é forte, poderoso e impiedoso. Mata com maestria, fode com fervor e é extremamente agradável aos olhos. É tão poderoso que consegue sair à luz do dia, algo que criaturas do seu nível ainda não conseguem. E principalmente, pelo que eu saiba, não teve que fazer um acordo com um demônio para conseguir suas habilidades. Ele as conseguiu pelo seu poder e talento. Já você fez uma ceninha em uma boate acreditando estupidamente que um demônio iria te dar o mesmo poder que tem... Você é patético comparado a ele, Yan. Supere.
Lauranna dá as costas ao jovem vampiro, caminhando graciosamente até a porta do local. Yan tinha o olhar parado, suas mãos fechadas em punhos e o ódio crescente dentro de si. Lauranna simplesmente o ignorou.
— Entrarei no seu ateliê-escritório-quarto, . Nossa convidada está lá, certo?
— Sim, ela está. Para ser honesto já não estou vendo tanta utilidade na presença dela aqui.
— Realmente a situação mudou, mas ela ainda é útil. Pelo que eu saiba ela tem uma queda por Jhotaz, não?
— Sim, chega a ser patético. — ri, virando a taça de vinho em uma golada só, em seguida deixando o fim de seu cigarro ali dentro.
Ele deu meia volta, acompanhando Lauranna para fora do cômodo e deixando os dois aliados ali.
abre a porta de seu ateliê, já vendo no canto do local a enfraquecida Gainy. Ele se aproxima dela, sendo acompanhado por Lauranna.
— Sempre pensei que Jhotaz tinha bom gosto... Vejo que me enganei.
Gainy os olhava com os olhos pesando. Nos últimos dias estava difícil se manter acordada. Ela estava tão fraca que não tinha forças nem para isso.
— O que acha que deveríamos fazer com ela? — Lauranna pergunta, voltando-se para .
O demônio leva uma mão ao queixo, parecendo pensativo.
— Eu acho que deveríamos soltá-la.
— Perdão? — Lauranna pergunta, chocada. — Podemos torturá-la e enlouquecê-la, . Podemos matá-la sem dó ou piedade, parti-la em pedacinhos e deixarmos na porta de Jhotaz como um presente.
— Não vejo motivos para ser tão cruel com a garota a essa altura da situação.
— Não vê? Pois eu vejo vários. — Lauranna se aproxima de Gainy, tocando em seu rosto e apertando-o por entre suas mãos. — Olhe para ela... Ela é insignificante.
apenas observava a cena com divertimento visível em sua expressão. Colocou as mãos nos bolsos, se aproximando devagar da mulher. Sorriu.
— É curiosa a forma que você sente prazer em desprezar mulheres que possuem uma ligação com alguém que você tem afeição. Melissa, e agora Gainy. Isso tudo é insegurança misturada com ciúme? Não fica bem em você, Lauranna.
— Eu não tenho afeição a Jacques e muito menos a Jhotaz! — a mulher grunhe, parecendo ofendida. apenas riu.
— Você não consegue mentir pra mim, Lauranna. Ninguém consegue. Sei que tem sentimentos fortes por ambos os irmãos Daurat, sei muito bem disso.
— Como você se atreve seu...
Uma batida fraca na porta é ouvida, e em seguida a abre.
— Perdão interrompê-los, mas acho que gostariam de saber que descobrimos onde está.
Lauranna se precipitou até a porta, saindo dali em disparada com em seu encalço.
pegou um maço de cigarros em seu bolso. Retirou um, levando-o até a boca e acendendo-o com o isqueiro que estava na outra. Tragou-o lentamente.
Sorriu.
Andou calmamente até sua mesa, sentando-se em sua confortável cadeira, completamente indiferente e alheio a situação.
Victor entregou a mala pesada à Johoney, esta que a segurou sem dificuldade. caminhou ao seu encontro, abraçando-o apertado e em seguida beijando seus lábios. O beijo foi repentino e inesperado, mas muito bem-vindo. O sabor doce de impregnando sua boca era prazeroso demais para ser negado.
— Obrigada por ter vindo. — a mulher diz ao partir o beijo, agradecendo-o com um sorriso doce nos lábios.
— Eu faço tudo o que estiver ao meu alcance por .
sorri, de repente seu olhar se desviando para a pequena garotinha que estava ao lado de Victor. Lara tinha os olhos vidrados no breu o qual se estendia o mar, seu corpo completamente imóvel e sua expressão imutável.
— O que houve com ela? — ela pergunta, se aproximando da menininha.
— Lauranna a amaldiçoou. Eu e Jhotaz passamos dias tentando arrumar uma forma de quebrar a maldição, mas é algo que nunca vimos antes. Uma espécie de magia negra extremamente poderosa e antiga. Não tivemos chance alguma.
— Presumo que a tenha trazido aqui com um propósito.
— Como eu te disse: precisa de um incentivo. Acho que se ver o estado de Lara ela pode se motivar.
— Espero que esteja certo.
Victor pega Lara com uma mão, obrigando a garotinha sem expressão a acompanhá-lo. Ele para em frente à cabana de madeira onde sabia estar , batendo levemente na porta.
— ? Sou eu, Victor. Eu vim te ver e trouxe Lara comigo. Acho que temos muito a conversar.
O silêncio se instalou. Victor esperou pacientemente. Passos foram ouvidos de dentro da cabana e o som da chave girando contra a maçaneta destrancando a porta foi ouvido. Mas esta não abriu. Os passos de retornando a onde estava foram ouvidos. Victor leva as mãos à maçaneta, abrindo-a e enfim adentrando a cabana.
O lugar estava completamente destruído. Os poucos móveis que haviam antes haviam sido despedaçados. As paredes de madeira estava marcadas com formatos de garras, como se um animal selvagem as houvesse arranhado. Victor apenas observou tudo com atenção, completamente estupefato.
— Você fez tudo isso sozinha?
estava sentada no chão, suas costas apoiadas na beira da cama. Sua cabeça estava entre seus joelhos, e suas mãos abraçavam-o. Ela não chorava, mas parecia terrivelmente abalada.
— Fiz. — ela responde, sua voz soando rouca e vazia.
— Por que fez isso?
— Eu sou filha daquela mulher horrenda. — ela ri sem humor, uma risada seca e sem vida. — Toda minha vida foi uma mentira. Melissa tinha razão em me odiar, eu sou a filha bastarda que matou seu marido. Eu sou filha de sua irmã cruel e impiedosa que apenas gerou confusão e discórdia, caos e desgraça. Eu sou filha de uma mulher que destruiu a vida de todos aqueles que conheci em Mysthical. Ela destruiu , destruiu e destruiu . E eu segui os passos dela. Eu matei meu pai e é só uma questão de tempo até que eu me descontrole e mate o resto das pessoas que ainda me restam.
Victor se aproxima da amarga , sentando-se ao seu lado. Lara havia ficado na porta, o olhar fixo no vazio.
— Você não pode deixar os erros de seus pais definirem quem você é, . — Victor diz, sua voz soando delicada e gentil. — Você é uma boa menina. Uma menina maravilhosa, e eu tenho certeza que você vai conseguir passar por tudo isso. Você é mais forte do que pensa.
— E se eu não quiser passar por tudo isso?! — a jovem finalmente levanta a cabeça, olhando com raiva para Victor. Seus olhos estavam negros. — E se eu quiser simplesmente fincar garras em meu peito e acabar de vez com a aberração que eu sou?!
De repente seu olhar se desvia para a frente, e assim ela finalmente repara na sua irmã.
subitamente se levantou, correndo até a jovem. Se agachou para olhá-la melhor, segurando-a pelos ombros. Lara nem ao menos piscou.
— O que aconteceu com ela?! O que fizeram com ela?! — pergunta desesperada, fazendo Victor tossir. Ele se levanta, caminhando até as duas.
— Lauranna a amaldiçoou. Não sabemos como curá-la.
— Lara... Fala comigo. — pede, levando as mãos ao rosto da garotinha. Acariciou suas bochechas. As lágrimas já começavam a cair dos olhos da jovem. — Por favor, meu amor, fala comigo. Eu não acredito que deixei com que aquele monstro fizesse isso a você... Me perdoa. Eu te amo tanto, por favor me perdoa.
chorava desconsoladamente. Ela abraça o corpo pequeno da irmãzinha, abraçando-a e buscando conforto mais para si mesma do que para Lara. Ela precisava daquilo. Precisava lembrar que ainda havia alguém pelo qual ela nunca desistiria.
Victor apenas se aproximou, olhando-as mais de perto. Os olhos de voltaram a cor cinza, e de repente, os olhinhos verdes de Lara piscaram para ela.
Capítulo 27
“Sussurrei algo em seu ouvido
Foi uma coisa pervertida para se dizer
Mas eu disse mesmo assim
Fiz você sorrir e desviar o olhar
Nada vai te machucar, meu bem
Enquanto você estiver comigo, você vai ficar bem
Nada vai te machucar, meu bem
Nada vai tirar você do meu lado”
Lara e não diziam nada, apenas aproveitavam a companhia uma da outra.
Palavras não eram necessárias naquele momento.
Quando a irmã saiu daquele terrível estado catatônico só conseguiu sentir alívio. Ela havia conseguido quebrar uma maldição aparentemente poderosa que Lauranna havia posto em sua irmã. Isso significa que era mais forte do que pensava. Ela estava começando a entender seus poderes, começando a entender a gravidade de tudo aquilo que estava acontecendo. Havia muita coisa em jogo e ela não poderia colocar mais nada a perder. Havia ficado tão cega com os mistérios de Mysthical e os relacionamentos que construiu com os habitantes de lá que havia se esquecido do que mais lhe importava: Lara. E estava decidida a não deixar aquilo acontecer novamente.
ouviu um canto suave cortar o silêncio agradável da natureza da praia. Olhou a imensidão mais à frente, vendo na beira no mar, sentada de costas para as irmãs. não reconheceu a música e muito menos a língua a qual ela era cantava, mas apreciou ouvi-la. A voz de tinha um efeito sobrenatural nas pessoas. sorriu minimamente, sentindo-se nostálgica. Foi assim que as duas se conheceram... Parecia que havia se passado séculos.
— é uma sereia.
volta seu olhar para a irmã, surpresa por ela ter cortado o silêncio afirmando tal coisa.
— Por que acha isso?
— Ela é bonita, vive na praia, sua aparência e ações influenciam as pessoas a fazerem o que lhe convém, além do fato dela ter uma voz linda.
— Eu sempre pensei que ela fosse uma sereia também, mas nunca a vi com uma cauda.
— Um dia veremos. — Lara sorri minimamente. Aquilo fez com que sorrisse também. — Você acha que pode confiar nela?
— Em ?
— Sim.
— Sinceramente eu não sei, Lara. — suspira, apertando levemente o corpo da irmãzinha contra o seu. — Às vezes sinto que não posso confiar em ninguém.
— Nem em ?
fecha os olhos. Ela nunca conseguiria entender o porquê de ficar tão afetada quando qualquer pessoa o citava.
— Ele é mau, lembra? Por que eu confiaria nele?
— Porque você gosta dele. — Lara responde, deixando claro em seu tom que estava falando de algo óbvio. — E ele gosta de você. Eu não sou boba, . Eu sei que há algo entre vocês.
— Não há nada. — responde desconfortável. — Ele só ficava perto de mim porque Jhotaz o obrigou. Depois que Jhotaz mandou ele ficar longe de mim nós nunca mais nos falamos.
Lara ri brevemente, de repente saindo do meio das pernas da irmã e sentando-se ao seu lado. Agora os olhinhos verdes faiscavam na direção da mais velha.
— Por que está mentindo pra mim? Eu sei que vocês já devem ter feito coisas iguais aos casais dos filmes.
— Como assim? — pergunta, rindo.
— Sabe como é, vocês devem ter se beijado de língua. E ele deve ter apertado seu bumbum.
— Mas o que...? — ri alto, fazendo Lara acompanhá-la.
— Me desculpa. Tudo o que eu sei sobre namoros é o que eu vejo na televisão.
— Eu e não namoramos, Lara. Ele é só... Um cara que por acaso entrou em minha vida. Ele não é importante.
— Eu sei que ele mudou algo dentro de você, irmã. Eu posso sentir. Mas se você quiser continuar enganando a si mesma, quem sou eu pra falar algo sobre, não é mesmo? — Lara se levanta, fazendo olhá-la completamente impressionada.
— Às vezes eu me esqueço que você é uma criança, sabia? Você parece tão sábia. Isso até me assusta.
— Crianças sabem de tudo, os mais velhos que são bobões demais para aceitarem isso. Acha mesmo que um adulto gostaria de admitir que uma garotinha sabe mais que ele? Acho que não. — Lara dá de ombros. — Eu quero me deitar e dormir agora. Fiquei tanto tempo com os olhos abertos que estou sentindo eles quererem se fechar sem eu ter controle sobre isso.
— Bem, então vamos nos deitar. — se levanta, caminhando até Lara e abaixando-se, curvando-se para frente. Lara riu alto.
— Você vai fazer o que eu estou pensando?
— Vou. Mas não se acostuma.
— Meu Deus, eu deveria ter sido amaldiçoada antes! — Lara grita animada, fazendo rir diante ao absurdo dito pela mais nova. Lara pula nas costas de , segurando-a pelo pescoço e assim montando na jovem. — Vai, cavalinho! Vai!
apenas riu, começando a relinchar como um cavalo e fazendo Lara rir ainda mais. Ela começa a correr, trotando, simulando a forma que um cavalo andaria. Logo elas já estavam em frente à cabana de madeira, adentrando-a e já se preparando para dormir.
as observou de longe com um enorme sorriso. Não havia percebido quando Victor apareceu ao seu lado, mas ali estava o rapaz: sentado à beira do mar, também olhando para as duas irmãs que se divertiam juntas.
— Fazia muito tempo que eu não via tão feliz. — ela diz, sorrindo verdadeiramente. — Eu fico feliz que Lara a faça se sentir dessa forma.
— Vemos o caráter verdadeiro de uma pessoa ao colocarmos poder em suas mãos. é muito poderosa e está descobrindo isso apenas agora, tudo é muito novo e estranho. Ter alguém que a motive a prosseguir e ter um propósito para ultrapassar os obstáculos que a vida colocará em seu caminho é de certa forma libertador. Lara estar aqui com ela tirou um grande peso em seus ombros.
— Isso é ótimo. — sopra, se aproximando de Victor. Ela apoiou a cabeça em seu ombro. — Mas você acha que Lara é a única pessoa que motiva ?
— Sinceramente? Não. Ela pode negar e todos nós, podemos tentar manter certo alguém longe dela, mas eu sinto que ele de certa forma fez um grande impacto na vida de .
— Uma garota como não merecia ter que lidar com alguém como . — sussurra, seu corpo tremendo levemente. — Ele é um ser repulsivo.
— Vampiros em geral são seres repulsivos.
tinha o olhar perdido no oceano. Balançou a cabeça diante ao comentário de Victor, ficando subitamente quieta. Ela parecia perdida em seus próprios pensamentos.
— Ei, vocês dois. — Uma voz grossa os chama, fazendo ambos olharem para trás. Johoney. — Eu e as caçadoras estávamos vigiando o perímetro e percebemos rastros deixados na areia.
— Talvez seja de algum animal. — pondera. — Como eu disse à , apenas pessoas com intenções puras encontram a praia de Mysthical. Não temos que nos preocupar.
— Mas...
— Confie em mim, Johoney. Aqui é o lugar mais seguro a se estar.
acordou com um grito estridente cortando o silêncio do ambiente. Se levantou, preocupada.
— , o que está acontecendo? — Lara pergunta com a voz trêmula.
— Se esconda, está bem? Anda.
Lara obedece o pedido de , entrando dentro do armário semidestruído que ainda havia no quarto, escondendo-se ali. anda até a porta da cabana, abrindo-a, sendo automaticamente empurrada para trás ao fazê-lo.
Na pequena cabana havia adentrado uma criatura. percebeu com choque que o grito que havia ouvido partiu de ninguém mais, ninguém menos que . Ela estava sendo erguida por aquele ser enorme e grotesco, uma criatura demoníaca, mas aparentemente dez vezes maior que as que já tinha visto antes. tentava se soltar totalmente em vão.
Foi quando ouviu mais um grito, e mais outro, e mais outro... Seguido de urros terríveis.
As caçadoras também estavam sendo atacadas do lado de fora.
As criaturas haviam descoberto seu paradeiro.
— ! Fuja! — é interrompida ao ser jogada com tudo no chão da cabana, abrindo um buraco nele com seu corpo. Ela foi pisoteada pela criatura logo em seguida. havia ficado imóvel depois disso.
A criatura voltou-se para , amaldiçoando-a com seu tom rouco e profundo, parecendo estar recitando uma espécie de prece em linguagem primitiva. Ele avançou sobre ela, as garras longas à mostra enquanto tentava agarrá-la. tentou correr da criatura, desviando da fera da melhor forma que podia, mas aparentemente aquilo não estava sendo o suficiente. Precisava se defender, mas não sabia como.
apenas corria.
Ele queria fugir.
Fugir de tudo aquilo. Fugir da sua mente, fugir do seu corpo, fugir de seus sentimentos. Ele queria simplesmente sair correndo e nunca mais voltar.
Estava completamente transtornado, sem fazer ideia do que havia acontecido consigo mesmo. Ele apenas queria... Ir embora. Afastar-se daquele lugar que só o ligava ao caos e o fazia ter a certeza de que nunca seria feliz. De que não merecia ser feliz.
Sua corrida foi brutalmente interrompida por um urro animalesco cortando o silêncio da madrugada e passando em disparada bem ao seu lado. arregalou os olhos completamente pego de surpresa. De repente sentiu a adrenalina começando a correr em suas veias, dando-o sempre a sensação nostálgica de como era se sentir eufórico quando era humano. Mas naquele momento ele não pensava nisso. Ver aquela criatura passar ao seu lado lhe causou uma terrível sensação em seu peito.
Só pensou em uma pessoa: .
acelerou.
— ! O que faremos?! — Lara deixa metade do corpo exposto saindo do armário.
— LARA, VOLTA PRA LÁ AGORA! — berra, enquanto continuava com a sua tentativa precária de se desviar da criatura.
A fera avançou mais uma vez e nesse milésimo de segundo de vantagem por ter se distraído com Lara, o tornozelo de fora agarrado e a garota erguida pela criatura. A criatura bateu a cabeça no teto, fazendo-o ceder e se abrir. A cabana ia se destruindo, e enquanto isso continuava sendo perigosamente balançada pelo tornozelo. gritou, debatendo-se enquanto tentava achar uma forma de escapar.
— NÃO! — Lara gritou em desespero. Em um momento de precipitação, a menina simplesmente correu até a criatura e desta forma tentou bater na mesma, mas acabou sendo jogada fortemente no chão. A garotinha estava prestes a se levantar novamente, quando, no exato momento, um rapaz se colocou em sua frente. .
— SOLTE ELA, AGORA! — Esbravejou o vampiro, deixando com que sua real forma tomar conta de si.
Seus olhos brilharam, suas presas apareceram, seu instinto animalesco se apossou do homem, que, sem um pingo de hesitação, confrontou a criatura, usando de seus movimentos ágeis para lutar contra a fera, acertando golpes e mais golpes brutalmente contra aquele monstro. estava em plena fúria, de forma jamais vista antes. A criatura recebia os golpes a parecia não se afetar, porém o vampiro não parava. As garras da fera voavam em direção a , que facilmente esquivava devido a sua rapidez, continuando a investir toda a sua força em tentar machucar o animal. Até que, finalmente, pareceu ter atingido uma região sensível do ser demoníaco, fazendo-a urrar de dor e soltar . Ainda mais rapidamente, o rapaz correu para pegar a jovem, antes que ela pudesse cair de encontro ao chão.
— FICA ATRÁS DE MIM! — ele grita, soltando a menina e imediatamente a empurrando para trás de si.
A criatura avançou em , que desviou mais uma vez e em seguida acertou novamente o ponto fraco do ser. Porém, devido a dor que sentiu, a fera movimentou-se rapidamente de forma que seus enormes braços atingissem em cheio , que foi jogado com tudo ao chão. O vampiro gritou de dor, e assim correu para ajudá-lo, sendo impedida por Lara.
— , precisamos fugir!
— N-não, vai ficar tudo bem, e-eu posso curá-lo, e-eu só preciso lembrar como...
— Não... Temos... Tempo. — O rapaz diz em meio a dor, começando a se levantar devagar. — ESCONDAM-SE, VÃO PARA LONGE DAQUI, VÃO!
Lara puxou até a porta. As duas forçaram a porta do local, entrando em pânico ao perceberem que ela não abria. não conseguia se lembrar de nada que ela pudesse fazer para ajudar. De repente ela se virou, olhando a luta que se desenrolava em sua frente.
— ... — diz em um sussurro, parecendo estar em estado de choque.
O animal investia em com cada vez mais agressividade, e o mesmo desviava e revidava à altura, porém a cada novo ataque o vampiro parecia estar perdendo sua agilidade. Ele estava machucado e provavelmente se enfraquecendo.
era forte, mas não iria aguentar aquela fera sozinho.
sabia que tinha que fugir, mas seus pés simplesmente não a obedeciam. Tudo o que ela conseguia fazer era fitar , sentindo a horrível sensação que havia sentido na noite do ataque na Coup D'etat...
O ser demoniáco guinchou, novamente sendo atingido por seu ponto fraco, mas dessa vez seu ataque fora ainda pior: suas enormes garras fincaram-se no peito de , penetrando sua carne. Ele parecia estar prestes a despejar um líquido negro ali, este que se encontrava salivando em sua boca. não sabia o que era aquilo, mas um frio cortante em seu interior a alertou que parecia ser algo mortal.
gritou em completo horror.
Um estrondo foi ouvido, um feixe de luz intenso atravessou ao ambiente.
As meninas apenas ouviram o zunido de algo passando por seus ouvidos, e em seguida um terrível gemido de dor partindo da criatura foi ouvido.
e Lara viraram, enfim vendo o que havia acontecido: Jhotaz estava ali, sua pele mais brilhante do que constelações de estrelas, seus olhos reluzindo em dois feixes de luz. Ao seu lado via-se uma garota de cabelos curtos, esta que tinha uma aljava de flechas penduradas no ombro, enquanto o arco e flecha se encontrava posicionado em frente ao seu corpo. Gainy. A criatura havia sido atingida pela flecha da jovem.
O ser demoniáco se contorcia no chão, largando . Jhotaz correu até a criatura, começando a atacá-la e surpreendemente ainda sendo ajudado por .
— Vocês precisam vir comigo. — Gainy diz, tirando mais uma flecha de sua aljava e colocando-a na mira. Sua aparência estava péssima. Ela parecia fraca e doente, mas aquilo não pareceu ter afetado sua vontade de lutar. Ela saiu do cômodo, forçando e Lara a acompanhá-la.
A praia estava um caos. Haviam espalhadas ali provavelmente vinte criaturas. Os berros constantes das criaturas misturados com os gritos de quem lutava contra elas eram aterrorizantes, e na descida das escadas as meninas puderam ver o que acontecia: parecia que toda a confusão estava instalada ali. Victor estava ali, parecendo lançar feitiços com uma varinha em mãos. Haviam mais três mulheres com a mesma roupa de Gainy espalhadas pelo local, elas atacavam de forma condicional: cada uma tinha um tipo de arma em mãos, sendo estas uma adaga, um chicote e uma escopeta. Reusha, Jea e Johoney.
— Por aqui! — Gainy chama as duas irmãs com as mãos, seguindo um caminho completamente diferente, guiando-as para longe da praia.
De repente haviam realmente saído dela, estando perto do parque em que já haviam estado antes. estava completamente surpresa com quem viram esperando-as ali. Hime sorriu para elas, este aparentemente escondido no meio das árvores.
— Vocês estão bem! — ele diz aliviado, puxando-as consigo.
— Já sabe o que fazer, leve elas para a casa da árvore. Em seguida você precisa nos mandar uma mensagem dizendo que elas estão bem.
— Eu já disse que podem confiar em mim.
— O que...?! O que está acontecendo?! Quando você voltou, Gainy? Por que você tem um arco e flecha? Por que Hime está aqui? Pra onde ele irá nos levar?
— Vocês foram atacadas e precisam ser protegidas. Eu fui liberta do cativeiro que havia me prendido. Eu tenho esse arco porque, como você sabe, sou uma das xerifes de Mysthical, mas também sou uma das caçadoras, isso é: caço criaturas com sangue demoniáco que propagam o caos. Hime é um corvo, um mensageiro místico. Ele irá leva-las para um lugar seguro. — Gainy responde toda as perguntas de com uma calma admirável. Ela sorriu. — Vai dar tudo certo, . Você vai ver.
E assim a mulher simplesmente dá meia volta, voltando a casa a fim de retomar a luta.
A criatura dissolveu-se, tornando-se uma sombra negra diabólica e sumindo do campo de visão dos rapazes em seguida.
Haviam a matado.
Jhotaz e nada dizem, apenas saem correndo em disparada para fora do quarto, dando uma boa olhada no caos da praia, constatando com admiração: estavam ganhando. Faltavam apenas mais duas criaturas e uma já parecia estar cedendo. Viu Gainy andar pela areia, marchando até os dois.
— Elas estão com Hime, quando estiverem seguras ele nos avisará e vocês poderão encontrá-las na casa da árvore.
— Pelo menos algo de útil você conseguiu fazer, xerife. — zomba, fazendo Gainy olhá-lo com ódio.
— Você não tem ideia do quão feliz eu estou em te ver aqui e viva. — Jhotaz sorri minimamente, levando as mãos aos ombros da jovem. Ela respirou fundo, simplesmente afastando Jhotaz.
— Levando em conta que finalmente poderemos prender , não precisa agradecer. Afinal, finalmente temos a prova que precisávamos: o vimos como sua real forma de vampiro. Isso comprova todos seus crimes e o porquê de conseguir se livrar deles.
A menina sorri cínica, fazendo Jhotaz assentir de forma desconfortável.
apenas o olhou, um misto de curiosidade e divertimento.
— Disse a ela que se me visse assumindo minha verdadeira forma ela teria permissão de me prender? Patético, Jhotaz.
— Eu sei, mas...
— Oh, claro. Eu entendo. Na cabeça dessas imbecis eu sou o culpado de tudo de ruim que acontece nessa droga de cidade.
— E você é. — Gainy grunha, olhando-o com ódio.
— Ah, meu bem... Se você soubesse o que aconteceria se eu realmente quisesse detonar a cidade... Se quer saber estou te fazendo um favor sendo bonzinho do jeito que sou.
— Bonzinho?! — Gainy rosna, completamente irritada. — Você assassina milhares de habitantes por ano para se alimentar. Você é um monstro.
— Engano seu. Nem sempre era com o intuito de me alimentar... Às vezes eu só fazia isso para me tirar do tédio.
Gainy o olha com ódio mortal. A mulher retira um par de algemas de aparência peculiar de seu bolso, estendendo-os para .
Jhotaz respira fundo, estalando os dedos e assim teletransportando-se para a floresta de Mysthical, mais especificamente a casa da árvore, juntamente a .
Tinham mais o que fazer.
— Eu tentei avisar você sobre eles... — ele comenta em tom triste.
Fazia vinte minutos que andavam naquela floresta, com um Hime falando e falando enquanto as meninas não sabiam bem como reagir.
— Todos sabem do meu dom, é lógico. Mas eu quis virar cozinheiro exatamente para ficar longe disso e me sentir de alguma forma normal... Mas o sobrenatural sempre nos puxa, ainda mais quando se está em Mysthical. Por isso Jhotaz mandou Victor me chamar para acompanhá-las. Andar na floresta enquanto há atividade demoníaca de escala alarmante sozinhas não é certo, e eu como corvo e mensageiro entre os dois lados seria a melhor companhia enquanto não chegam ao abrigo.
— Você sabe que não fazemos ideia do que você está falando, certo? — pergunta.
— É, eu tenho uma ideia. Mas não se preocupem, em breve tudo fará mais sentido.
— Todo mundo continua dizendo isso... E nada faz, apenas fica ainda mais confuso.
— Toda essa confusão tem um propósito, vocês verão. Olhem, chegamos.
Hime parou em frente do nada. Mas como tudo estranho naquela cidade, ao olharem por muito tempo para o vazio em sua frente, este começara a ganhar forma, dando-as a vista privilegiada da tal casa da árvore. Era uma casa de madeira com dois andares, sustentada por quatro árvores. Para chegar até sua entrada havia uma pequena ponte também de madeira. A casa realmente aparentava ser segura e de certa forma reconfortante apenas pelo olhar.
— Iremos ficar aqui?
— Sim, a casa da árvore é protegida com os mais poderosos feitiços contra qualquer tipo de ameaça. Vocês estarão seguras aqui por enquanto... E em breve Jhotaz se juntará a vocês.
A porta de madeira da entrada se abre, e na porta aparece Jhotaz: com a cor de pele e os olhos de volta ao tom mundano.
— Vocês chegaram... Vamos, entrem.
e Lara apenas acenam para Hime, este que sorri um tanto apreensivo. Elas caminham até a cabana.
— Hime. — Jhotaz o chama.
O rapaz apenas assente, esperando-o falar.
— Diga a ela que não importa o que ela faça, o quanto ela tente... Ela nunca irá conseguir encostar um dedo em . Eu não irei deixar.
— Ela tem seus outros meios de chegar até ela, Jhotaz. — Hime diz, com um suspiro resignado.
— Mas ela não chegará. — Jhotaz diz, fechando os punhos. — Eu não permitirei.
— Veremos.
E então o mais estranho acontece: Hime se encolhe, de repente seus braços, pernas e outros membros do corpo sumindo, sendo substituídos por espessas penas negras em milésimos de segundos, assim dando lugar a um belo corvo negro. Este grunhe, batendo asas e voando para longe dali.
Jhotaz guia as garotas casa adentro, o primeiro cômodo sendo uma sala ampla e aparentemente confortável. Havia uma escada de madeira na lateral e uma porta também de madeira ao lado.
Jhotaz se vira para as sobrinhas, olhando-as de cima a baixo como se estivesse procurando algum ferimento, suspirando aliviado ao vê-las intactas.
— Vocês parecem bem... — ele diz em um sussurro, estendendo uma das mãos para tocar no rosto de Lara, impedindo a si mesmo. Ele não merecia tocá-la, certo? Não depois de todo o estrago que tinha feito e continuava fazendo. — Victor me contou que iria até vocês, e quando ele me disse que teve um ataque eu fiquei transtornado. Vocês correram perigo de novo. Eu vou entender se você estiverem com raiva e não me quiserem por perto.
— Pare com isso, Jhotaz. — diz, balançando a cabeça em negação. — Sabemos que nada disso é sua culpa. Está tudo bem.
— Eu senti sua falta, tio Jhotaz. — Lara comenta, segurando a mão do mais velho.
— E eu senti a sua. — ele sorri. — É um alívio vê-la sem a maldição.
— me curou!
— Como fez isso, ?
— Eu não sei, tio. Eu só... Toquei em Lara.
Jhotaz encara profundamente. Ele uniu as sobrancelhas, parecendo preocupado.
— Tio... Lá em cima tem mais quartos? — Lara pergunta, desviando a atenção de Jhotaz de .
— Sim. Quer ver?
— Sim!
Ambos andam até as escadas, subindo-as e partindo para o outro andar.
respirou fundo, olhando em volta e sentindo-se instantaneamente sozinha diante ao distanciamento de sua irmã e do tio.
Foi quando um baixo gemido foi ouvido, esse capaz de passar despercebido por qualquer outra pessoa... Mas conhecia muito bem aquele gemido. Bem até demais.
A jovem caminha até a porta de madeira, sentindo seu coração bater forte ao levar as mãos até a superfície metálica da maçaneta. Girou-a, abrindo a porta.
Estava diante a um pequeno quarto. Este tinha longas cortinas brilhantes, estas tampando as persianas. No cômodo havia apenas um móvel, sendo este uma cama de madeira simples e aparentemente confortável, com seus detalhes da cabeceira tão caprichosos que só poderia se deduzir que houvessem sido esculpidos à mão.
engoliu em seco.
Ali, sentado com a coluna curvada para frente e seu rosto com uma expressão visivelmente sofrida... Estava . Ele estava com os olhos fechados... queria tanto ver seus olhos.
A jovem adentrou o quarto com cuidado, fechando a porta em seguida. Fitou profundamente, sentindo seu interior queimar em expectativa com a mera hipótese do que estava por vir, guardando cada traço e cada sensação que a mera aproximação sem quaisquer toques a fazia sentir.
Céus, havia sentido tanta falta dele e agora tanto medo de perdê-lo. Havia sentido demais, pois com tudo era em demasia. Um misto de sentimentos proibidos que a corroíam por dentro e a faziam perder sua própria razão.
— Por quanto tempo você pretende ficar aí parada me olhando como uma psicopata? — a questiona, ainda com os olhos fechados.
Aquilo a fez sorrir, se lembrando da primeira vez que ele entrou em seu quarto e ela havia dito a mesma coisa a ele.
— O tempo que eu julgar necessário. Isso incomoda você? — ela também repete as palavras dele, fazendo-o balançar a cabeça em negação e suspirar demoradamente. Ela se aproximou, permitindo-se sentar ao seu lado.
abriu os olhos, enfim criando a coragem de olhar para .
Naquele momento jurou que o mundo poderia acabar e ele não se importaria contanto que passasse seus últimos momentos observando .
Aquele sentimento esmagador que cresceu desde a última vez que eles se viram parecia não se conter em . Ele se sentia tão fraco, vulnerável e exposto. E ele simplesmente odiava aquilo. Odiava sentir que não tinha controle sobre a situação.
— Temos muito a conversar. — diz baixinho, quebrando o silêncio que havia se instalado com aquele contato visual.
— Temos, mas não agora.
assente com a cabeça, concordando com as palavras do homem.
— Você está certo, aconteceu muita coisa. — a jovem se aproxima ainda mais do rapaz. — Eu posso...? — Ela faz menção de tocar no peito do rapaz. Ele crispa os lábios em desagrado. Não sabia se aguentaria tê-la tocando-o. — Por favor. A criatura te acertou bem aqui.
apenas meneia a cabeça em aprovação, enfim cedendo. leva as mãos até o peito do rapaz, pressionando e automaticamente sentindo sua palma ser suja com o sangue de . Ele gemeu de dor, fazendo-a automaticamente se afastar.
— Me desculpa. — ela pede, olhando-o com pesar. — Se você tirar a camisa talvez eu possa curá-lo.
— Como se você precisasse de uma desculpa para me fazer tirar a roupa, princesa. — ele murmura, curvando-se com dificuldade e retirando a camiseta com a ajuda de . A mesma tinha um sorriso discreto em seus lábios. Havia sentido falta daquilo.
— Ele te machucou feio. — suspira, sentindo-se repentinamente mal. — Eu realmente sinto muito, . Você se machucou por minha culpa.
apenas riu debochado, revirando os olhos diante ao comentário da mais nova.
— Não seja ridícula, você não tem culpa de nada.
— Mas eu...
— Eu nunca me perdoaria se algo de ruim acontecesse com você, .
— Você não tem que me proteger, ! Jhotaz não te obriga mais a isso, você não precisa se sacrificar por mim!
— Não preciso, mas eu quero. — suspira, respirando fundo. — Proteger... — Sua voz sai em um sussurro. Seus olhos estavam fixos no rosto da jovem. — Eu nunca soube a profundidade do significado dessa palavra, antes de você. — suspirou em nervosismo. Aquilo era extremamente difícil, porém, igualmente necessário. — Sentir vontade de proteger alguém, é... É algo tão forte. Algo que eu nunca senti até você aparecer. Só que, sim, eu admito, eu quero te proteger de absolutamente tudo... Menos de mim mesmo. — suspirou mais uma vez, sentindo o arrependimento lhe tirar forças. Até o momento, ele não a tocava. Até que, enfim, levou uma de suas mãos em direção ao rosto da mais nova. Acariciou sua face, sentindo todo seu interior se encher de expectativa por simplesmente tocá-la. — Enquanto eu estiver aqui eu nunca deixarei ninguém te ferir, .
olhava no fundo dos olhos de . Seu coração estava acelerado, sua respiração já se encontrava ofegante e ela sentia que a qualquer momento não aguentaria. Aquilo que estava sentindo já era conhecido por ela, afinal sentia aquele misto de confusas e intensas sensações apenas quando estava perto. A jovem suspirou, aproximando-se do rapaz e levando a mão ao seu peito ferido. De repente aquele pedaço de pele machucado começou a ser reconstruído pelo toque das mãos delicadas de , que começaram a jogar pequenos feixes de luz dourados, cicatrizando-o, curando-o.
— Eu não queria que você se machucasse por mim... Mas se isso continuar acontecendo, prometo que te curarei todas as vezes.
fica em silêncio por algum tempo, apenas fitando a jovem. Se sentia patético. Resolveu levar seu bom senso para o inferno, e assim simplesmente tocou a nuca da mais nova delicadamente e unificou seus lábios dando início a um beijo lento. Era tão novo para . Beijar alguém daquela forma tão pura, sincera, apenas por simplesmente querer sentir seu gosto. E como era perfeito. Como aquele gosto era indescritível, a melhor coisa que já sentiu em sua boca. Sem partir o beijo, de forma delicada e lenta, ele a fez deitar na cama, assim ficando por cima. Quando seus lábios finalmente se afastaram, não abriu os olhos.
— ...?
sorriu. Passou certo tempo ali, respirando com dificuldade, de olhos fechados, ainda com aquele gosto queimando em sua boca, deliciosamente marcado em sua memória. E quando os abriu, eles brilharam como nunca haviam antes.
— Como você pode ser tão linda? — Perguntou, perplexo, parecendo realmente intrigado por não saber a resposta daquela pergunta. corou, sorrindo sem graça. Uma das mãos de tocou a bochecha da jovem, e seu polegar acariciou aquela região com ternura. Ele sorriu, com aquele brilho intenso nos olhos. Parecia estar olhando para uma criatura divina, e para ele, era exatamente aquilo.
— Eu senti falta disso. De estar com você, falar com você, escutar o som da sua voz, olhar o seu rosto, tocar a sua pele, sentir o seu cheiro, te beijar... Tudo isso faz eu me sentir tão bem que chega a ser patético. Você faz eu me sentir tão vivo, de uma forma que eu não me lembro qual foi a última vez que senti... — e então, novamente, seus lábios se uniram aos dela. Porém, dessa vez, ele rapidamente desceu os lábios para o pescoço dela, indo até lá com uma trilha de beijos que foi deixando de sua boca até seu pescoço. Seus beijos eram calmos, longos, arrastados, seus lábios apenas se deixavam brincar por aquela pele macia. levou as mãos à nuca do rapaz, segurando seus cabelos e puxando-os ocasionalmente enquanto soltava leves resmungos manhosos. suspirou contra a pele dela, soltando um leve gemido em puro deleite. Desceu ainda mais os beijos, passando por sua clavícula e assim chegando ao início de seu colo, onde ele depositou uma fraca mordida, subitamente se afastando. respirava com dificuldade e fitava de maneira alarmada. Ela não pôde evitar de fita-lo da mesma forma.
— Qual é o problema, ?
engole em seco, desviando o olhar. De repente um gosto amargo se fez presente em sua boca, causando-o náuseas instantâneas.
— Ela disse que eu a fazia se sentir segura enquanto agarrava meu corpo...
A voz de ecoou em sua cabeça, fazendo-o rir nervosamente enquanto levava as mãos até os próprios cabelos, bagunçando-os com raiva. se levantou, olhando-o preocupada.
— O que está acontecendo?!
Os olhos de marejaram. se aproximou, completamente alarmada.
— ! Fala comigo! O que foi?! — ela segura o rosto do rapaz.
— Ela sorria por entre nossos beijos, pressionava com ainda mais força nossos quadris.
— Eu fiz algo errado? Qual é o problema?!
— Ela estava nos meus braços, sendo minha e apenas minha. Ela disse que me amava.
foi pega desprevenida. Em um momento estava ali, segurando um em estado de crise a qual ela nunca havia visto e no outro tinha os lábios mais deliciosos os quais já havia provado em contato com os seus. Era intenso, mas calmo. a beijava com precisão, porém sem pressa. Ele parecia completamente decidido a provar algo, não apenas para , mas também para si mesmo. Um gemido rouco escapa involuntariamente pelos lábios do rapaz em meio ao beijo, e ele acaba por dar um aperto forte na coxa da mais nova, sentindo todos os pelos de seu corpo se arrepiando.
— ? — ela o chama após partir o beijo, olhando-o em expectativa. Ela não compreendia o que estava acontecendo com , mas não poderia negar que aquilo a agradava extremamente.
apenas a encarava. E se recordou da primeira vez que o viu. Aqueles olhos negros, duas órbitas negras de escuridão. Nele tinha fogo, tinha a sede por destruição... Fome. Uma fome que só seria saciada com o caos. Ela se lembrava. E ali, naquele momento, ela sabia que ele só seria saciado com a destruição. A sua destruição.
— Você parece assustada, ... Não gosta do que vê? A realidade é dura demais para uma garotinha como você? — cada palavra de transbordava deboche e a garota apenas o olhou, rindo brevemente. Se lembrava daquelas palavras.
— A realidade me parece ótima contanto que eu tenha você nela.
— Você me ilude, Daurat... — diz com a voz arrastada, fazendo tremer em excitação. — Uma hora você foge e outra me diz algo assim? Pare de me confundir, garota. Você não vê o estado que me deixou? Esse não sou eu, . Esse cara louco, necessitado, completamente dependente por alguém... Esse não sou eu.
— Você diz como se eu estivesse muito diferente... — balança a cabeça em negação.
franziu o nariz, lembrando-se novamente de e das palavras sujas do rapaz a respeito de sua garota.
— Não acredito em você.
— Não? O que eu tenho que fazer para você acreditar?
ofegava, cada vez mais insanamente excitado, sentindo toda aquela luxúria por lhe predominar. Maldita. Como ela poderia mentir daquela forma?
podia sentir um calor ardente espalhando-se por todo o seu interior, uma vontade imensurável de tocá-la mais profundamente, de escutá-la gritando por seu nome, pedindo por mais.
Ele mordisca fortemente o pescoço da garota, antes de se afastar apenas para retirar a incômoda camisa que o impedia de ter mais contato com a pele macia da jovem. sorri maliciosamente pra ele. Os lábios famintos do rapaz formam uma trilha de beijos quentes do pescoço de até seus seios ainda cobertos pelo sutiã, o qual ele fez questão de retirar rapidamente, logo deixando-o de lado. A garota leva as mãos até os ombros do rapaz, fincando suas unhas neles. grunhiu, e sem nem pensar, abocanhou o seio da garota enquanto massageava brutalmente o outro. Tinha gosto de céu. De inferno. De pecado. De milagre. Toda vez que sua boca experimentava a pele da menina se tornava melhor e melhor, e ele a desejava mais. era simplesmente um animal faminto, sedento por , e isso era nítido na firmeza e agressividade de seus toques.
não estava muito diferente. A jovem sentia sua excitação aumentar a cada segundo, a vontade de que enfim a invadisse de uma vez se tornando cada vez mais forte, a onda quente do prazer lhe invadindo aos poucos. Subitamente mexeu seu quadril contra o dele durante o ato, fazendo com que suas intimidades se esfregassem uma na outra, soltando suspiros e pequenos gemidos com a sensação. Ela havia sentido falta daquilo: das sensações que apenas poderia lhe proporcionar.
— ... — ele geme em deleite, repetindo a fricção. — Está sentindo isso? Meu pau completamente duro por sua causa? Você me deixa tão louco... É como se eu pudesse explodir a qualquer momento. E tudo o que eu mais desejo é te foder da forma mais deliciosa possível, até você perder as forças.
E com isso, a beijou novamente. tremeu, sentindo todo o seu corpo se arrepiar quando seus lábios se tocaram, arrepio esse que apenas aumentou quando sentiu a língua dele em contato com a sua. Estava tão necessitada quanto ele. O gosto dele se derretia em sua boca, como um manjar dos deuses, tão delicioso que podia levá-la aos céus e enterrá-la debaixo da terra.
— Eu juro que vou meter em você com todas as forças do meu corpo, princesa. — disse ao romper o beijo, sua voz soando rouca e arrastada.
— Promessa é dívida, . — ela o provoca, fazendo-o grunhir.
— Você gosta de me desafiar, não gosta? Você gosta de me levar ao meu limite e então me ver explodir. Ah, ... Isso te excita? Te deixa molhada saber que eu estou perdendo a paciência? — ele balança a cabeça em negação, aproximando seu rosto do dela. — Você é tão deliciosamente desgraçada, ... Você me deixa tão louco, tão insano, tão excitado. Mas eu sei que faço exatamente o mesmo com você. E eu simplesmente não vou descansar até que você diga isso gemendo.
Então ele sorri, se voltando para os peitos da jovem. A pele de era tão macia. Toda vez que sentia a pele dela contra sua boca se sentia mais ensandecido. Porém... Aquilo não era o suficiente. Ele precisava de mais. Mais do que o sabor exterior da jovem. A mera ideia do que estaria por vir já o estremecia, fazendo-o deliciar-se em expectativa. Foi quando suas presas apareceram, brilhando como nunca, assim como seus olhos.
— Eu estou com tanta saudade de te morder... — ele confessa em tom rouco e profundo. — Você não faz ideia do quão bom é o sabor do seu sangue. Do quão delicioso é suga-lo e tê-lo pelo menos por um período de tempo dentro de mim.
— Tem um significado, não tem?
arregalou os olhos brevemente, pego totalmente de surpresa com a pergunta de .
— Perdão? — ele pergunta, visivelmente desconcertado.
— Provar o sangue de alguém sem a intenção de matar... Tem um significado, não? — a jovem morde os lábios, levando as mãos aos próprios seios e apertando-os. observou o ato sem piscar. — Quantas vezes você já fez isso antes?
— Só uma. — ele responde de forma automática. — Só com você.
— E por quê?
sorri nervosamente, desviando o olhar. Ele não queria responder àquela pergunta. Era humilhante e completamente ridícula, já que nem ele mesmo sabia de fato como respondê-la... Ou talvez soubesse, só era orgulhoso demais para admitir.
Sem dizer nada, o homem se aproxima da menina. roçou os lábios na pele do seio de , deixando com que sua respiração pesada batesse contra sua pele, antes de finalmente deixar com que suas presas adentrassem aquela região tão adorada por ele. Não sabia se era apenas ilusão de sua cabeça, mas o sangue daquela área parecia ainda mais doce, quente e gostoso. Aquele gosto em sua língua o excitava ainda mais, levando-o ao nível mais profundo da insanidade. Gemeu em meio a mordida, enquanto sua boca era invadida pelo gosto mais prazeroso que já havia provado. Era como estar no inferno, queimando de luxúria, pagando deliciosamente por todos os seus pecados. E aquela punição era a mais gostosa de todas.
— ... — geme alto, levando as mãos as costas do homem segurando ali com força.
Arqueou as costas de forma que fosse para frente, a fim de ter mais contato das presas do rapaz com seu seio. Ao mesmo tempo que aquilo doía como o inferno era prazeroso. A sensação das presas de rasgando sua pele a levava à loucura, somado ao fato de saber que aquilo era uma exclusividade sua. Depois daquilo ela não morreria como os outros pobres mundanos que tiveram a má sorte de serem pegos por ele. A mordida de era um ato de extrema devoção a qual não compreendia, mas se sentia indiscutivelmente lisonjeada. Especial. Importante. E ela não sabia como lidar com aquilo.
O membro de estava dolorosamente apertado na boxer do homem. Mordê-la conseguia incentiva-lo ainda mais, levando ao ápice de seu autocontrole. não estava muito diferente.
— Me fode, , por favor... — ela pede gemendo completamente necessitada por aquilo.
— Porra. — xinga, subitamente afastando-se da garota e tirando com pressa as últimas peças de roupa que lhe faltavam. Suas mãos tremiam. Seu corpo tremia. Ele a queria. Ele a queria agora. E com isso em mente, o homem finalmente penetra a jovem de uma vez só, fazendo ambos agarrarem ainda mais ao corpo um do outro e gemerem juntos.
— Isso... Porra, eu senti tanta falta disso. — a jovem sussurra rouca no ouvido de , fazendo-o rosnar em deleite. — Mais, , mais...
— Você quer mais, minha princesa? — ele a questiona, aumentando a frequência de suas investidas, gradativamente aumentando os gemidos da jovem. — Eu posso te dar bem mais, eu posso te dar muito mais. Tudo o que você desejar eu posso dar a você. Você só precisa de mim, certo?
assente desnorteada, apertando com ainda mais força. Abocanhou o ombro do rapaz, mordendo-o com força enquanto continuava a pressionar seu quadril contra o dele naquela fricção extremamente prazerosa. A jovem subitamente empurrou o rapaz, fazendo com que o mesmo saísse de cima de si e se sentasse na cama. A menina sentou com força em cima de seu membro, cavalgando ali e recobrando o ritmo.
— Caralho, princesa.... — ele diz em um gemido arrastado, levando as mãos até a cintura da jovem e apertando ali com força enquanto ela continuava a cavalgar deliciosamente em seu colo.
O pequeno quarto da casa da árvore era preenchido pelos gemidos incontroláveis do casal e o cheiro excitante e característico de sexo. Dois corpos se fundindo em um, matando aquilo que os matava: a saudade um do outro. O roçar indescritível de pele com pele. Frio com quente. A combinação perfeita.
Não demorou muito para que gozasse, gemendo alto e sendo acompanhado por segundos depois.
— Meu Deus... — ela sussurra, completamente ofegante.
— Talvez essa não seja uma boa hora para dizer o nome desse cara. — diz debochado, fazendo-a rir.
A menina o abraçou com força, escondendo seu rosto na curva do pescoço do rapaz. Ele entrelaçou seus braços em volta de seu corpo, retribuindo o abraço e fazendo carinho em suas costas. Ficaram alguns segundos em silêncio. amava sentir o corpo quente de grudado na frieza do seu. Amava ainda mais sentir o coração acelerado da jovem contra seu peito, proporcionando-o a prova de que o sentimento insano o qual sentia tão intensamente era recíproco.
Pelo menos era o que aparentava.
O homem engoliu em seco. Estava decidido a falar. Seja como fosse, não poderia adiar ainda mais.
— Princesa... Eu preciso te dizer uma coisa.
levantou a cabeça, fitando-o e aguardando o rapaz a começar a falar.
— Eu...
foi interrompido por um grito estridente e ardido.
— Mãe? — pergunta perplexa.
Melissa Daurat estava parada na porta do quarto, com os braços cruzados e olhando de para com extremo horror estampado em sua face.
Capítulo 28
“Esse fogo está fora de controle
Eu estou indo para queimar essa cidade,
queimar essa cidade
Esse fogo está fora de controle
Eu estou indo para queimá-la, Eu vou queimá-la
Eu, eu, eu vou queimar tudo”
Um grito estridente saiu dos lábios finos de Melissa Daurat.
— Daurat o que significa isso?!
estava roxa de tanta vergonha. Tanto ela quanto estavam nus e ela ainda estava sentada em cima dele. Aquilo era embaraçoso demais.
A menina subitamente se levantou, pegando suas roupas com a cabeça baixa e vestindo-as com rapidez.
— Agora eu entendo o porquê de você ter ido para bem longe dela. — diz, fazendo Melissa fuzilá-lo com o olhar.
Despreocupadamente o homem pega apenas sua boxer no chão, vestindo-a e ficando daquela forma.
O som de passos nas escadas são ouvidos e logo Jhotaz e Lara aparecem correndo até o local.
— Melissa? — Jhotaz pergunta chocado. — O que...? Como você...?
— Mamãe! — Lara corre até a mais velha, abraçando-a. Melissa não retribui o abraço, esta estando ocupada demais encarando e de forma perplexa. — O que você veio fazer aqui?
— Jhotaz, precisamos conversar. — Melissa anuncia com a voz extremamente séria. Se esquiva de Lara, andando até o homem.
— Claro, Melissa. Venha até aqui. — ele a chama, ambos subindo as escadas juntos e deixando os três ali.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — Lara pergunta. — Por que está de cueca e por que você está toda descabelada, ?
— Você não vai querer saber, pirralha. É uma resposta proibida para menores de dezoito anos. — pisca para Lara, pegando sua calça e vestindo-a.
— Mas tem dezessete. — a menininha diz, confusa.
subitamente arregala os olhos, virando-se para e a fitando de maneira chocada.
— O quê?!
— Não me diga que você não sabia, . — a menina revira os olhos, dando um tapa forte no braço de .
— Eu tenho idade para ser seu tatataravô, . E agora descubro que você é menor de idade... Estou me sentindo um pedófilo.
— Ótimo, morra com essa culpa.
— Nah, já superei. — dá de ombros, subitamente roubando um selinho de , fazendo-a afastá-lo rindo.
— Você é muito caro de pau!
— Mas você adora. — ele sorri torto.
— Ei, vocês dois, será que dá para parar com essa melação? Acho que vou vomitar! — Lara fez sinal de vômito com as mãos. — Vocês não responderam minha pergunta! Por que mamãe está aqui?
— Olha, eu também quero saber, Lara. Pensei que mamãe havia sido expulsa de Mysthical. — diz.
— E ela foi. Mas com os ataques das criaturas demoníacas acredito que a árvore guardiã esteja com a proteção baixa, possibilitando a entrada. — meneia a cabeça, suspirando. — É, deve ser isso.
— Mas por que ela veio até aqui agora?
— Por que ela é louca? Não me faça perguntas difíceis, princesa.
— Mamãe não é louca. — Lara diz com raiva para . Ele apenas ri em resposta.
— Que tipo de mãe desnaturada manda as duas filhas para uma cidade a qual ela sabe não ser segura onde vocês claramente não seriam bem-vindas? Uma mãe louca. Aceite, pirralha, sua mãe tem alguns parafusos a menos.
— E você também! Que tipo de pessoa apertaria o bumbum da minha irmã?
— Lara! — protesta.
— O QUÊ?! — berra. Ele explode em gargalhadas, jogando o corpo para trás mal se aguentando de tanto rir.
— O que foi, ? Acha que eu sou boba? Vocês dois estavam fazendo coisas de adulto que eu sei! Você é bonitinha, mas nem tanto, irmã. Para um cara ficar apertando seu bumbum e ainda colocar a língua dentro da sua boca tem que ter coragem.
riu ainda mais escandalosamente e olhava feio para Lara, sentindo seu rosto esquentar.
— Eu te odeio, Lara. — grunhe, cruzando os braços.
— Ah, eu amo crianças e a espontaneidade de seus comentários. — comenta, enfim cessando seu riso aos poucos. — Mas me diga, Lara... O que te leva a achar que eu apertei a bunda da sua irmã?
— ! — protesta, cada vez mais constrangida.
— O quê? Agora eu quero saber. Esse assunto sobre seu corpo parece muito interessante pra mim.
Lara cruza os braços, olhando para de forma cética e superior. O homem arqueia a sobrancelha pra ela, aguardando sua resposta.
— O jeito que você olha pra ela. — Lara enfim diz.
— Sério? De que jeito eu olho pra ela? — pergunta, parecendo cada vez mais interessado.
— Você olha pra ela igual o lobo mau olha pra chapeuzinho vermelho: você quer comer ela. No caso de agora, você está olhando como se já tivesse a comido e quer de novo. Minha irmã não é comida!
ri novamente, fazendo revirar os olhos. Suas bochechas já estavam ficando roxas de tão envergonhada que estava.
— Você não está errada, Lara. — concorda por fim, olhando brevemente para . — Eu adoraria comê-la novamente.
arregalou os olhos, batendo forte no braço de depois de sentir a encarada descarada que ele lhe lançou. O homem apenas ri, abaixando a cabeça e sorrindo torto.
— A não é só um pedaço de carne que você pode tirar pedaço e depois sair andando, tá? Minha irmã é boa. — Lara diz, o nariz empinado enquanto discursava para . — Então nem pense em feri-la.
— Eu não vou. — diz, de repente ajeitando sua postura e se aproximando mais de Lara. Ele a olhou nos olhos — Você pode confiar em mim.
Lara meneou a cabeça, olhando para de uma forma que o rapaz não soube decifrar. Ela parecia analisá-lo e consequentemente descobri-lo. se sentiu exposto diante ao olhar de Lara, como se a pequena garotinha pudesse ver tudo aquilo que ele sentia. E mal sabiam todos daquela casa que sim, ela podia.
— Eu sei que não vai. — Lara afirma, deixando com que um sorriso se abrisse em seus lábios. — Você gosta demais dela pra isso.
tosse, subitamente se levantando. Desnorteado e completamente sem rumo diante a fala da mais nova, ele procura sua camisa, encontrando-a jogada no chão. Ele a veste, fazendo uma careta ao sentir o sangue ainda fresco em contato com seu corpo.
— Por que está se arrumando? — perguntou, alarmada.
— Kyle. Eu surtei e ele deve estar preocupado. Daqui a pouco irá amanhecer e do jeito teimoso que ele é provavelmente está me esperando no portão da minha casa.
— Oh. Certo. — assente em concordância. — É melhor checar se está tudo ok com ele.
— Sim. É melhor. — diz desconcertado. Ele caminha até a porta, preparando-se para partir.
— Não esqueceu de algo? — Lara o alerta.
dá alguns passos para trás, olhando hesitante para a garotinha. Então ele faz algo completamente imprevisível: se aproxima dela, abaixando-se e depositando um beijo em sua testa.
— O quê?! Não em mim! Em ! — ela grita, fazendo arregalar os olhos, afastando-se atrapalhado.
— Oh, certo. Huh, é, certo. — se aproxima de , depositando um rápido selinho em seus lábios e simplesmente sumindo dali.
— Velocidade de vampiro é algo impressionante. — comenta, tentando desviar-se do clima que se instalou e sabia que a irmã havia notado.
— Ele é tão fofo! — Lara exclama animada, rindo abobalhada. acaba se juntando a risada também.
— Ele é estranho, não é? — comenta, rindo baixo.
— Mas você gosta dele. — Lara afirma, os olhinhos verdes brilhando em direção a ela. — Eu sei que gosta.
sabia que não adiantaria negar, afinal, Lara estava completamente certa.
atravessou seus portões, toda hora olhando para o céu temendo pelo amanhecer. Andou rapidamente até a porta do castelo, encontrando Kyle encostado nela de braços cruzados.
— Eu posso explicar. — se adianta.
— Ah, você pode? Depois de ter surtado na boate e simplesmente ir pra sala do Jhotaz, pular a janela e depois sair correndo sem rumo pela floresta você acha que PODE ME EXPLICAR?!
— Quer parar de gritar dessa maneira histérica? Está me dando nos nervos.
— , eu pensei que você tivesse matado alguém. Ou pior: que alguém tivesse te matado!
— A primeira opção é a mais provável. — revira os olhos, sem paciência para aquilo. — É sério, Kyle... Eu surtei, mas agora estou bem.
— Espera aí, esse cheiro... — Kyle se aproxima de , franzindo o cenho ao sentir o tão conhecido cheiro de sangue. — Você sangrou, ? Está cheirando a sangue de vampiro e... — Kyle faz uma cara maliciosa. revira os olhos. — Você também cheira a sexo.
— Sim, eu sangrei.
— E transou também. O que diabos você fez para chegar a esse ponto?! Você se mete em inúmeras brigas, mas nunca sai ferido!
— Criaturas demoníacas passaram correndo do meu lado enquanto eu estava na floresta. — conta, preparando-se para o ataque que Kyle daria quando ele pronunciasse o que viria a seguir: — E eu fiquei preocupado com , então as segui. E dito e feito: encontrei e ajudei a protegê-la. Nós fomos para um dos esconderijos mágicos de Jhotaz e conversamos. E agora eu estou aqui.
Kyle fica um tempo em silêncio, parecendo assimilar todas as palavras de com muito cuidado.
— Quer dizer que você se feriu pela ?
— Era uma criatura demoníaca anciã, Kyle! — revira os olhos novamente. Ele sentia que seus olhos poderiam cair de seu rosto devido às inúmeras vezes que Kyle fazia com que eles revirassem. — Você também se feriria se enfrentasse uma.
— Mas foi pela , certo?
— Kyle... — coloca as mãos na cabeça.
— VOCÊ SE FERIU PELA GAROTA E DEPOIS TRANSOU COM ELA! VOCÊ ESTÁ APAIXONADO! — Kyle berra jogando as mãos para o alto. rapidamente o pega rudemente pelos braços, fazendo-o abaixá-los.
— Cale a boca e não fale besteiras. Que saco. — grunhe, olhando-o com desgosto. — Mas é sério, Kyle: Mysthical está por um fio de ser destruída. Lauranna já tem o exército de demônios formado, prontos para atacar à sua ordem. Você tem que se cuidar, cara. Ela abomina criaturas como nós, e não é nenhum pouco misericordiosa.
— Ela gosta de você, é só eu dizer que sou seu amigo que ficarei bem.
— Vai se ferrar.
Kyle ri, dando um breve abraço em e se afastando.
— Eu irei pra casa então, está para amanhecer e eu não estou com vontade de virar pó. Na próxima vez que for enfrentar uma criatura demoníaca me chame, ok? Dois é melhor que um.
apenas respira fundo, assentindo enquanto um breve riso escapa de seus lábios. Kyle caminha até a saída do local, já desaparecendo em questão de segundos.
pegou a chave enferrujada que levava em seu bolso, abrindo os portões de seu castelo.
O homem ajeitou a postura, andando até os enormes portões e subitamente já estava em seu quarto. Sua super velocidade lhe era extremamente útil. Se aproximou de sua majestosa cama, tirando debaixo dela uma pequena caixa dourada. Ele a abriu. Segurou o colar na ponta de seus dedos, analisando-o como há muito tempo não fazia. Ele possuía uma corrente negra e o pingente em formato de uma cruz, onde havia rosas negras em cada extremidade. No centro havia um coração de um vermelho intenso, ele parecia pulsar como se fosse real.
E para , ele realmente era.
Aquele era seu coração e ele o ofereceria à .
O rapaz guardou o colar na caixa, colocando no bolso de sua calça. Quando a oportunidade certa chegasse, ele a entregaria. Caberia a ela aceitar.
Deu meia volta, subitamente surpreendendo-se. Havia se distraído o suficiente para não perceber a presença de outro alguém em seu castelo.
A pancada que levou na cabeça foi forte e certeira a ponto de fazê-lo ficar tonto, mas não apagá-lo. Ele ergueu os braços, preparado para quebrar a cara de seja lá quem fora aquele que se atreveu a atacá-lo.
Foi quando ouviu um suave cantarolar, que fez com que automaticamente todos os músculos de seu corpo relaxassem e uma sensação de paz invadisse seu corpo. Seus olhos pesaram, anunciando que o vampiro estava a ponto de desmaiar.
— Fique tranquilo, . Você está em boas mãos.
A última coisa que viu foi a cabeleira ruiva da mulher, e assim apagou.
Lauranna apenas fitou aquelas criaturas com todo seu ódio faiscando em seu olhar.
— Eu lhes dei um trabalho. Apenas um! E é isso o que vocês me fazem?!
As criaturas uivaram, machucadas demais para rosnar da forma que fariam normalmente. Havia mandado uma quantia minúscula comparada ao exército que possuía, porém a pequena quantidade de criaturas que retornaram era alarmante. Aquilo era inadmissível.
— Aquelas caçadoras nojentas, a sereia e . Não havia mais ninguém! Como puderam não se defender?
— Jhotaz e apareceram, Lauranna. — diz, fazendo Lauranna revirar os olhos em completo desgosto.
— Nojo. Só consigo sentir nojo. O que fez com a ponto dele lutar em uma batalha contra demônios anciãos por ela?! Eu mal a conheço e já não a suporto. Carne da minha carne, sangue do meu sangue... E eu simplesmente não vejo a hora de destruí-la com minhas próprias mãos. Menininha imunda, maldita, bastarda...
Enquanto Lauranna murmura xingamentos apenas revirou os olhos, voltando a saborear calmamente seu vinho.
— Gainy lutou ao lado delas. — Yan diz, olhando para Lauranna com os olhos transbordando malícia. — Alguém aqui a soltou... Quem será o traidor?
Lauranna rapidamente se vira para os três homens ali presentes, olhando-os com ainda mais ódio. Ela parecia estar a ponto de explodir e levar todos os presentes consigo.
— Quem se atreveu a soltar a caçadora?!
deu um passo à frente, levantando a taça e saudando Lauranna com ela, um sorriso charmoso aparecendo em seus lábios.
— Eu, naturalmente. — ele ri. — Quem mais seria?
— Como você...
— Shhh. — ele faz sinal de silêncio, levando uma das mãos aos lábios da moça. Lauranna arqueia a sobrancelha, olhando-o com confusão. sorriu galanteador. — Era inútil deixar Gainy presa aqui, Lauranna. Ela estava morrendo e já não tinha mais nenhuma utilidade pra mim... Então eu simplesmente a descartei. Não gosto de acumular lixo na minha casa... — ele olha brevemente por cima do ombro da mulher, fitando as criaturas demoníacas com desaprovação. — Mas por você eu estou fazendo uma exceção com esses seres nojentos, apenas porque sei que no final minha recompensa valerá muito a pena. Se quiser me punir por ter a soltado... Me puna. Eu não ligo, de qualquer forma.
Lauranna beijou a ponta dos dedos de , fazendo-o olhá-la de forma surpresa. A mulher segura a mão do rapaz, levando seus dedos até sua própria boca e lambendo-os. Ele a encara com os olhos negros queimando.
— Gosto de você, . Foi de você que ganhei meu melhor dom. — ela sorri, largando a mão do rapaz e se afastando do mesmo. — Deixarei esse erro passar despercebido. Mas posso te garantir que no próximo...
— Não haverá um próximo.
— Ótimo. — Lauranna respira fundo, levando as mãos à cabeça. — Eu estou cansada. Irei descansar e vocês cuidem de tudo por aqui. — e assim ela simplesmente caminha até a porta, saindo do cômodo.
retira um lenço de seu bolso, seguido de um pequeno frasco. Ele molha o lenço com o líquido do frasco, passando em seus dedos.
— O que está fazendo? — pergunta, observando-o confuso.
— Desinfetando meus dedos. — ele mostra o frasco, o qual deu para ler-se claramente que era um pequeno frasco de álcool em gel. — Sabemos que aquela boca já passou por muitos lugares durante os séculos, creio que possa imaginar quantos germes foram passados para a minha mão depois desse breve contato.
Yan olha para como se ele fosse louco, e apenas deixa com que uma risada incrédula saísse de seus lábios.
— Você me surpreende cada vez mais.
— Creio eu que isso seja bom, não? Convivemos juntos há séculos, . O fato de eu continuar te surpreendendo é admirável.
— Dê todo o mérito a si mesmo.
— Desculpe atrapalhar o flerte de vocês, casal, mas ao contrário dos dois velhotes inúteis eu quero fazer com que meu trabalho com Lauranna valha a pena. — Yan dá meia volta, também caminhando até a saída. — Paz pra vocês, otários.
— Ele é um rapaz bem rude. — comenta, fazendo com que concorde. — Quer ir lá embaixo jogar xadrez?
— Tem xadrez na biblioteca?
— Tem sim.
— Está fechada?
— Lógico, não abrirei até ter a certeza de que estou seguro.
— Hum...
— E então?
— Ok.
— Sério?
— Sério.
— Então vamos.
Jhotaz estava completamente pálido, fitando Melissa como se não conseguisse – e não quisesse – acreditar no que lhe foi dito.
— Não é possível. — ele repete pelo o que pareceu a milésima vez.
— É a verdade, Jhotaz! — ela grunhe, completamente desesperada. — Temos que contar para !
— Descobrir que você não é a mãe já partiu o coração dela, Melissa... Sobre isso o que me disse... Não pode ser verdade. Não pode.
— Precisamos contar pra ela.
Melissa sai do cômodo bem decorado do andar superior, descendo as escadas de madeira e já avistando as filhas sentadas rindo no sofá. Suspirou, aproximando-se. Jhotaz vinha logo atrás.
— O que está acontecendo? — Lara pergunta, levantando-se. Pelas caras que o tio e a mãe estavam fazendo, coisa boa não era.
— Eu vim até aqui para te levar embora, Lara. — Melissa começa, seu olhar fixo no da filha mais nova. Não ousava fitar . — Mas infelizmente me deparei com uma cena deplorável quando cheguei e temo que terei que tomar uma atitude quanto à isso.
— O que está dizendo? — pergunta, se levantando.
— Me levar embora...? E quanto à ? — Lara pergunta, seus olhinhos começando a lacrimejar.
— Eu te mandei junto a ela pois sabia do apreço que ela tem por você. Mas agora você está correndo perigo e eu não posso permitir isso. — os olhos de Melissa continuavam fixos em Lara. — Te levarei embora e deixarei aqui, cumprindo o destino dela.
— Cumprindo meu destino...? — ri amargamente. — Tente dizer a verdade pelo menos uma vez na porra da sua vida! Você quer me deixar aqui porque eu sou a filha do seu marido com a sua irmã, não é?! PORQUE EU SOU A MESTIÇA QUE VOCÊ ABOMINA!
De repente as palavras afiadas de haviam se transformado em berros, misturado ao choro que veio à tona de forma incontrolável. Em suas palavras haviam a mágoa guardada por uma criança durante sua vida toda, que cresceu com o conhecimento de que sua mãe a desprezava.
— Não diga isso, não diga isso. — Melissa sussurra, seus olhos de repente pousando no chão. Ela não aguentaria olhar pra .
— OLHA PRA MIM! — berra, segurando a mulher pelos ombros e obrigando-a a encará-la. — EU MATEI O PAPAI. É POR ISSO QUE VOCÊ ME ODEIA TANTO, NÃO É?! EU MATEI O PAPAI!
O tapa foi forte e ardido. Um som desagradável que preencheu o ambiente e de repente todos ficaram em silêncio. a soltou e se calou. Melissa a fitava chorando, com a mão ainda erguida enquanto observava o rosto vermelho da filha.
— E-eu nunca... — Melissa começara a chorar descontroladamente. — Eu nunca te odiaria. Nunca. Eu te amo tanto... Mas você não entende a forma que te amo. Mas acredite, : é amor. Da forma que eu sei dar, da única forma que eu sei como mostrá-lo. Eu sei que te feri, eu sei que te fiz crescer achando que tinha culpa de algo que você não tinha controle... Mas eu te amo.
chorava descontroladamente. Melissa se aproximou, abraçando-a. recebeu aquele abraço de bom grado, expondo toda sua dor ali.
— Por eu te amar tanto que tenho que te mostrar a verdade...
E tudo ficou dourado.
Era noite no apartamento amarelo do subúrbio da cidade. se sentiu nostálgica ao vê-lo. Olhou em volta, vendo que Melissa aparentemente havia preparado um chá e havia oferecido a seu pai, que a visitava naquele dia. Jacques Daurat nunca deixaria sua melhor amiga sozinha. Reclusa daquela forma ela poderia perder a cabeça e Jacques não gostaria disso. Ele amava Melissa. Não da forma que ela o amava, não, isso nunca.
— Lauranna anda estranha, Melissa. — Jacques suspira, levando as mãos aos fios loiros e bagunçando-os. Melissa sorriu discretamente. Ela achava particularmente charmoso quando ele fazia aquilo com o cabelo. sorriu ao vê-la boba daquela forma.
— O que quer dizer? — ela o questiona, pegando sua própria xícara de chá e levando o líquido à boca.
— Ela anda tão distante... E mais próxima de Jhotaz. — Jacques franze o nariz. — Você acha que talvez ela esteja tendo um caso com meu irmão?
— Sinceramente? É bem provável. — Melissa deixa a xícara novamente em cima da mesa, ajeitando sua postura. — Mas duvido muito que Lauranna deixaria isso evidente dessa forma pra você. Creio eu que ela esteja escondendo outra coisa.
— Foi o que eu imaginei. Nos últimos tempos ela anda muito... Preocupada. Parece ansiosa e de certa forma assustada. Você sabe que ler os sentimentos das pessoas é um dom que eu possuo.
— Claro que sei... Você sempre soube que sou apaixonada por você. Nunca foi um segredo, e mesmo assim você sempre se fez de desentendido. — Melissa sorri brevemente. Jacques a lança um sorriso sem graça.
— Melissa...
— Não me venha com explicações fajutas, Jacques. Já passamos disso há muito tempo. Vamos focar na minha irmã... Você finalmente acredita que Lauranna é má o bastante para fazer o que fez com meus pais e comigo? Porque se você enfim admitir vai ser mais fácil chegar à conclusão da sua atual situação.
— Eu sinto que não a conheço mais. — Jacques desabafa, respirando fundo. — O que devo fazer, Melissa? Eu a amo, mas não dá para continuar assim. Sinto que todo nosso relacionamento foi construído em cima de mentiras. Eu não a vejo mais da mesma forma e não acho mais impossível ela ter matado seus pais. Eu simplesmente comecei a perceber que, com a forma que ela age, isso seria até plausível.
— Eu quero vê-la.
— O quê?!
— Traga-a aqui. Eu quero vê-la.
— Melissa, isso é impossível.
— Não, não é. Apesar de tudo é sobre minha irmã que estamos falando. Eu a quero aqui, Jacques.
— Trazê-la até aqui não será possível. É muito arriscado ela saber da sua localização... Mas eu posso fazer uma fenda temporal. Um portal para que vocês possam conversar por alguns minutos, nada mais que isso.
— Está perfeito. — Melissa se levanta, ficando ao lado de Jacques. — Está esperando o quê?
Olhando-a com pesar, Jacques apenas estala os dedos.
Uma imensidão dourada se fez presente ao seu redor.
Foi quando a viu.
Lauranna estava ensopada, suja e com a aparência doente. Melissa pôde ver um enorme rasgo na roupa que usava, na parte mais baixa da barriga. franziu o cenho.
— Mas o que é isso...? — sussurra, se aproximando das mulheres.
— Lauranna... — Melissa se aproxima. A mulher recua.
— O que você quer?
— O que aconteceu com você?
— Me leve de volta. — Lauranna grunhe, começando a checar o cenário dourado como se fosse possível encontrar uma passagem por ali. — Eu estava no meio de uma coisa importante e você me tirou de lá, sua maldita!
— O que era tão importante?
Lauranna continua a procurar desesperadamente por uma saída. Melissa grunhiu, se aproximando da irmã e segurando-a pelos ombros.
— O que é tão importante, Lauranna?
— MINHA FILHA! — Lauranna explode, fazendo com que Melissa seja fortemente jogada para trás por uma nuvem negra que saiu de dentro da irmã mais velha. — Eu estava amaldiçoando aquela mestiça nojenta! Você e Jacques podem achar que vão conseguir cuidar dela como se fosse de vocês, mas não vão! Eu não vou deixar! Ela o matará! Escute o que eu digo, Melissa: ELA O MATARÁ!
franziu o nariz em desgosto. Ouvir Lauranna falando dela como se fosse sua mãe era horrível. a odiava, não sabia como pôde ter nascido de uma mulher tão horrenda.
— Você enlouqueceu?! — Melissa pergunta, completamente chocada com as palavras da irmã. — Filha, Lauranna? Desde quando você esteve grávida?
— Desde que deixei ele gozar dentro de mim. Maldito... — Lauranna rosna, puxando os próprios cabelos como uma lunática. — Não é uma gravidez comum. Eu tenho sangue demoníaco e divino em minhas veias. O ser que cresceu em meu ventre se desenvolveu em velocidade sobrenatural e nasceu hoje e isso está acabando com tudo o que eu planejei! Ela sugou minhas energias, sugou meu poder. E aposto que também deve ter sugado os poderes de seu pai. Eu não consigo mais atuar, Melissa! Não consigo mais fingir que sou a boa moça com Jacques. NÃO CONSIGO MAIS FINGIR! Meu objetivo desde o início era destruir Mysthical me aproximando do homem mais poderoso dela. Mas meu desejo carnal simplesmente retirou isso de mim... Está tudo arruinado! — Lauranna geme, levando as mãos aos olhos. Ela parecia desesperada.
— Você está chorando? — Melissa pergunta, chocada. — Por que está chorando?
— Eu tinha tanto ódio, irmã. — Lauranna sussurra, sua voz saindo abafada. — Tanto ódio... Ver todas aquelas pessoas te dando carinho e atenção, ver papai e mamãe te tratando como se fosse um anjo só porque era a mais sociável e gentil... Eu odiava. Odiava ver aquilo, odiava ver aqueles seres nojentos te bajulando, aquelas aberrações de circo horrendas tentando se esconder por trás de um disfarce humano. Por eles te acharem tão angelical, eu desejei me tornar um anjo. E foi o que aconteceu. , meu anjo da guarda, meu protetor e único amigo... Ele me deu o dom. Minha aparência se tornou mais atrativa e bela que a sua, e meu poder de persuasão apenas se aflorou com as pessoas à minha volta. Mas eu queria mais. Eu queria mais poder. Eu queria tirar tudo o que você tinha.
— E então você ganhou o dom demoníaco.
— Exatamente. , um dos filhos de Lúcifer, me presenteou. E meu sangue demoníaco é o melhor, Melissa. As coisas que eu posso fazer... Você não imaginaria.
— Sim, eu imagino.
— Eu matei nossos pais. — Lauranna ri, tão alto e gostosamente que mal parecia estar rindo de algo mórbido. — Eu os matei porque eles acreditaram que minhas mudanças de aparência e comportamento eram porque eu vendi minha alma ao diabo. Phfff. Trogloditas ignorantes. — Lauranna franze o nariz em desgosto. — Eu os matei com minhas próprias mãos. Saquei minhas garras e afundei na barriga de nosso pai, arrancando seus órgãos. Já mamãe eu rasguei seu peito, roubando seu coração. Só assim para tê-lo para mim. E depois que você viu eles mortos em meus braços... Eu te bati. Foi forte, não foi? Aposto que você não se lembra de nada. Te culpei, você foi expulsa e de repente eu tinha meu caminho livre para ficar com Jacques. Quando você partiu meu objetivo era outro... Eu queria destruir Mysthical. Acabar com aquelas criaturas nojentas e repulsivas de uma vez por todas, e claro que para fazer isso eu tinha que ter certo envolvimento com o herdeiro. Seu querido Jacques.
— Você usou do amor que ele sentia por você para benefício próprio.
— Mas é claro. Estava tudo perfeito... Até que ele entrou em minha vida.
— Ele?
prendeu a respiração, já prevendo o que viria a seguir.
— Ele era uma criança fascinante, Melissa. — Lauranna sussurra, de repente parecendo estar completamente fora de si. Ela falava em tom defensivo, como se precisasse justificar sua atitude. — Desde a primeira vez que o vi, a forma que ele olhou para Jacques, o verdadeiro desprezo estampado em sua face... Eu sabia que ele se tornaria grande. Que só era preciso guia-lo no caminho certo... E foi o que eu fiz. E ele se tornou um homem cruel e ambicioso, que fazia tudo ao meu comando. Infelizmente tive que transformá-lo em um daqueles seres nojentos, pois eu precisava de alguém forte o suficiente para fazer o trabalho brutal no meu lugar sem levantar suspeitas. Ele se transformou em um forte e cruel vampiro, sozinho depois da morte da família a qual eu fiz questão que fosse atacada por outros de sua espécie e ateada fogo por Jhotaz logo em seguida. Eu era tudo o que ele tinha, Melissa... — Lauranna tira as mãos dos olhos. Melissa percebeu, com surpresa, que agora ela chorava com mais intensidade. estava surpresa também, com os olhos arregalados, prestando atenção em cada palavra. — Ele era tão fiel a mim. Sua devoção era admirável, a forma que ele me tratava era maravilhosa. Ele me dizia que sempre amou rosas, pois ele sabia que se as tocasse da forma que se deve não seria atingido pelos espinhos. E ele o fazia, Melissa. Ele fazia perfeitamente bem... E por um momento eu me esqueci. Me esqueci de destruir Mysthical, me esqueci de Jacques, me esqueci de você... De repente eu só pensava no meu jovem e solitário rapaz amante de rosas.
— Você se apaixonou por ele.
— Perdidamente. Ele é o único ser existente que pode dizer que tem meu coração.
— Você o deixou.
— Não totalmente. — Lauranna virou-se, andando pela imensidão dourada. — Agora eu possuo algo que é dele, mas também é meu. Carne da minha carne, sangue de meu sangue.
— Você não está querendo me dizer que...
— ... Ele é o pai da pequena .
— Xeque-mate. — anunciou, pegando sua dama branca e batendo-a contra o rei preto, tirando-o do tabuleiro e assim finalizando a partida.
apenas suspirou, olhando para as mãos de com visível tédio em seu olhar.
— Não sabia que era um mau perdedor, .
— Eu não sou. — retruca, fazendo um pequeno bico nos lábios. — Essa é nossa terceira partida e você ganhou todas. É apenas cansativo.
— Então me dê uma ideia genial do que fazer agora.
— Eu estive pensando sobre o que você disse... — começa a dizer em tom cuidadoso. automaticamente ajeita sua postura, encarando-o e o ouvindo com atenção.
— Prossiga.
— Você se lembra da noite em que viemos para cá?
ri sem humor, assentindo com a cabeça.
— Como eu poderia esquecer?
— Quando fomos expulsos passamos tanto tempo vagando sem rumo, tentando encontrar Mysthical e simplesmente não conseguindo.
— Eu me lembro.
— E quando enfim conseguimos chegar na cidade... — prossegue, sua voz fraquejando. — Era tarde demais.
Um silêncio se instalou entre os dois homens. apenas encarava , ansiando saber o que se passava na cabeça do homem. Entre os dois sempre fora o misterioso, aquele que não fazia sentido; enquanto era o correto e gentil, um livro aberto. Com os anos passados em Mysthical havia se fechado, havia amadurecido. não conseguia lidar com aquele novo .
O silêncio foi cessado com fracas batidas na porta do estabelecimento. e se encararam por um momento. se levanta, andando até o local. Abriu uma fresta da porta.
— Posso ajudar? — pergunta.
— Senhor ? Sou eu, Hime.
revira os olhos, abrindo a porta rapidamente e puxando Hime para dentro.
— O que você quer, corvo imprestável?!
— Jhotaz mandou uma mensagem para Lauranna. — Hime diz enquanto estufava o peito, dando a impressão de importância. — Estou aqui para entregá-la a ela.
— Lauranna não está disponível para uma conversa agora. — diz, sorrindo minimamente. — Diga o que tem a dizer a mim.
Hime franze o cenho, prontamente negando com a cabeça.
— Não, senhor. Eu tenho que me dirigir diretamente a Lauranna.
— Vamos, Hime. — ri, mas em seus olhos era visível a raiva faiscando. — Diga-me, senão terei que te ferir.
— Ei! Ninguém irá ferir Hime! — prontamente vai até a entrada, se colocando entre e Hime, olhando para indignado. — Você enlouqueceu?
— Diga logo qual é a mensagem, Hime.
— Eu...
Hime olhou de para . Os olhos castanhos de faiscavam em sua direção, aqueles olhos gentis que sempre pareciam brilhar. tinha o olhar que exalava destruição e caos.
— Ele apenas disse que não vai deixar com que ela encoste um dedo em . — Hime finalmente diz, derrotado.
— Adorável da parte dele, Hime. Realmente adorável. — sorri. Em um movimento repentino ele segura Hime pelo colarinho de sua camisa, levantando no ar. — Onde eles estão? — rosna.
— , não seja estúpido! — tenta impedi-lo, mas apenas o encara em ódio.
— Estou cansado disso, .
— Cansado do quê?!
— De esperar.
larga Hime, fazendo-o respirar aliviado por um segundo, logo depois recebendo um soco em seu estômago, o qual o braço de seu agressor havia atravessado seu corpo, enchendo o chão de sangue.
— Você já viveu demais, corvo. — sussurra, olhando no fundo dos olhos pesados de Hime. Ele retira seu braço completamente ensanguentado, fazendo com que o corpo de Hime caísse sem vida ao chão.
observava a cena em completo estado de choque.
— Ele viveu por milênios. — disso em um sussurro, encarando o corpo sem vida de Hime. — Ele era uma boa pessoa. N-nós éramos amigos...
— Você a ama, não ama?
franze o cenho, levantando o olhar para .
— O quê?
— Lauranna. Você a ama, não ama?
assente devagar com a cabeça. suspira.
— Mas ela não te ama. Você tem consciência disso?
— Tenho.
apontou para a pequena história entalhada na porta que havia tanto do lado de dentro quanto do lado de fora.
Aquela pequena história de três cenas que representava os dois.
— Você caindo no céu, e eu emergindo do inferno. — aponta para os dois garotos na primeira imagem, um garoto representado com cores claras e outro com cores escuras, um caindo do céu e o outro emergindo da superfície saindo da terra.
— Imploramos clemência ao Senhor. — continua, apontando para a segunda imagem.
Na segunda imagem mostra os dois ajoelhados diante a um ser superior, este representado com faíscas.
— E depois não há nada mais que o vazio. — encerra, apontando para a última figura.
Na terceira imagem só havia a paisagem: os dois garotos haviam sumido.
— Nunca entendi o porquê de você não nos desenhar na última imagem.
— Pois eu te explicarei agora.
, que estava concentrado demais olhando para o desenho, se vira para . Ele deu um pulo de susto, dando um passo para trás.
Fazia milênios que não via daquele jeito.
havia dobrado de tamanho. Cresceram curvados e longos chifres negros em sua cabeça. Seus olhos estavam completamente negros. Sua pele antes bronzeada estava completamente escura, como se ele houvesse se banhado com tinta preta. Em suas mãos podiam-se ver enormes unhas negras, alongadas e finas como garras. Em suas costas estendia-se enormes asas negras pontudas. Sua boca se abriu em um largo sorriso, deixando com que seus dentes afiados como facas aparecessem.
— O que está fazendo? — pergunta. Olhava para o rapaz completamente abismado, observando os detalhes de sua verdadeira forma com visível desagrado.
— Me diga o que sente ao me ver dessa forma, . — a voz de soava mais grossa e profunda.
— ...
— Diga.
desvia o olhar, respirando fundo.
— Eu posso ter sido expulso dos céus, mas continuo sendo um anjo. Anjos possuem uma grande repulsa por criaturas demoníacas.
— Mas eu não sou uma mera criatura demoníaca. — ri. — Sabe disso.
— Sei. Você pode voltar ao normal agora?
— Eu estou em meu estado normal, . Tal estado que eu deveria estar há muito tempo.
— ...
— Sabe por que a última cena está vazia, ? Eu irei te mostrar.
levou a ponta das unhas até o desenho, passeando-as ali e fazendo com que um estridente e agonizante som ecoasse pela biblioteca. apenas o observou, alarmado.
De repente mais três imagens surgiram.
Depois da figura da paisagem vazia era possível ver o rapaz com o contorno escuro voltando até a figura com um ser em mãos. O ser era representado pela cor dourada. Na próxima figura o contorno escuro e o ser dourado se fundiram em um só. E enfim na última figura... Não havia mais paisagem. Não havia mais nada, só um imenso vazio negro, onde era possível observar o homem representado de cores escuras ali, segurando o menino de cores claras como se o obrigasse a olhar pra frente. A seguir em frente.
— O que significa isso?
— Isso, meu amigo... — diz com a voz soando cada vez mais rouca. — É a visão do meu futuro. Do nosso futuro. Eu te avisei, não avisei? Pegaremos e enfim poderemos viver em paz.
— Mas...
— Por que você acha que te chamei para jogar xadrez enquanto Yan fingia se retirar e todas as criaturas demoníacas ficaram a sós lá em cima?
subitamente arregala os olhos, correndo como um raio até a escada em espiral, subindo-a rapidamente para chegar no andar de cima.
Ao abrir a porta do cômodo em que se encontravam as criaturas demoníacas... Levou a mão a cabeça, em choque.
Elas não estavam mais ali.
A gargalhada sonora de ecoou pela casa, balançando-os, fazendo com que o chão tremesse e um frio cortante se implantasse na espinha de .
— Lauranna! — ele a chama, saindo dali e adentrando o quarto que a mulher ocupava.
Lauranna estava deitada, dormindo serenamente. Quem a visse daquela forma nunca iria imaginar o monstro o qual ela realmente era. se aproximou, pegando-a pelos ombros e a sacudindo para que a mesma acordasse. Subitamente a mulher abre os olhos, levando a mão direita até o pescoço de , fechando-a ali e apertando aquela região com ódio.
— Como se atreve a interromper meu sono?! — ela rosna, fazendo segurar a mão que o enforcava.
— E-ele t-te... E-ele t-te... T-tra...
Lauranna bufa alto, soltando o pescoço de e enfim se levantando de sua cama. levou as mãos ao próprio pescoço, buscando o ar que havia sido retirado de seus pulmões.
— Diga logo, eu não tenho todo o tempo do mundo.
— ... Ele te traiu. te traiu.
Lauranna estreita o olhar, fitando como se ele houvesse dito o pior dos absurdos.
De repente o corpo esbelto da mulher fora brutalmente jogado contra a parede, fazendo com que a mesma fosse trincada. A porta do quarto se abriu, e o grotesco demônio o qual havia se transformado o antes belo adentrou o quarto.
sorriu torto para a mulher, aproximando-se da mesma.
— O que pensa que está fazendo?! — ela grunhe, completamente insana de ódio.
— Meu pai é o senhor do inferno, Lauranna. Você acreditou mesmo que uma criatura mestiça e nojenta como você pudesse dar ordens a um exército de demônios que são meus por direito? Não seja tola.
— O que você quer dizer com...
Um tapa ardido foi ouvido, seguido de um som de mordida e um estridente grito de dor. A bochecha de Lauranna sangrava no lugar em que havia a batido, um pedaço de carne de seu pescoço havia sido arrancada, jorrando sangue pelo chão.
— Meu erro foi dar um dom tão fascinante a um ser repugnante como você. — rosna, sorrindo e mostrando os dentes completamente ensaguentados, o sangue de Lauranna pingando por suas presas e descendo por sua própria boca. — Mas não tem problema, são águas passadas. O que importa é o que acontecerá agora. E você não faz ideia do que eu planejei para nós, Lauranna...
se aproxima ainda mais da mulher, arrancando outro pedaço de seu pescoço com os dentes. Ela grita e ele ri.
— Eu vou destruir Mysthical, exatamente como você planejou. Matarei todos os habitantes dessa cidade nojenta, um por um. Mas ao invés da burrice de desejar morta, eu irei fazer diferente. Tanto ela quanto você eu levarei comigo, torturando as duas, tirando pedaço por pedaço de carne que eu conseguir, me deleitando com o sabor de vocês. Assim enfim eu irei sair mundo afora sem me preocupar com Lúcifer ou aquele ser superior patético o qual os mortais intitulam Deus. Ninguém irá me rastrear, ninguém irá me impedir, eu serei invencível.
Um soco foi transferido no maxilar de , fazendo-o instantemente se afastar de Lauranna, desnorteado com o impacto que a força sobrenatural que o atingiu.
— Deixe-a em paz! — rosna, completamente irritado.
As enormes asas brancas estavam presentes. Seu torso nu, o contorno dourado de seu corpo e a aparência angelical nunca o abandonavam. riu divertido.
— Finalmente eu pude ver sua imagem divina novamente. — comenta, rindo. — Iremos ficar assim pelo resto da eternidade, . Quando pegarmos ninguém irá nos impedir.
— Você está louco. não disfarçaria nosso verdadeiro ser, ! Isso é impossível!
— e Lauranna sim. As duas são mestiças, as duas tem o sangue que precisamos para isso. Pare de ser tão teimoso e fique ao meu lado, !
— Nunca!
O demônio acaba por rir sonoramente, assentindo devagar com a cabeça.
— Então você não me deixa outra escolha.
O contorno negro correu em disparada até , atingindo-o e ferindo-o. tentou se esquivar, completamente em vão. Uma sombra repleta de escuridão os envolveu, seguida por uma sombra com contorno branco, misturando as cores diante aquela pequena batalha que se iniciou entre aquele anjo e o demônio. Céu e inferno.
Os dois se impulsionaram para cima, quebrando o teto e voando até o alto. Aquela guerra entre dois seres sobrenaturais podia ser vista por toda Mysthical, enquanto os habitantes da cidade choravam e gritavam, implorando por clemência enquanto as criaturas demoníacas mandadas por as destruíam.
estava acabada.
Seus cabelos negros estavam completamente desgrenhados, sua roupa completamente manchada. Seus olhos se encontravam extremamente vermelhos e inchados. Ela tinha um balde entre as pernas, o qual estava recheado do refluxo que saiu de seu estômago e não parou mais desde a notícia que havia recebido a partir da lembrança que Melissa a mostrou.
. Seu pai. . Pai. era seu pai.
Ela se inclina sobre o balde, vomitando novamente.
Lara observava tudo com os olhos tristes.
Estava amanhecendo. estava sentada em um degrau que havia em frente a casa da árvore. Ela observava o céu, seu olhar parado na cor extremamente alaranjada que se fazia presente, aos poucos sendo substituída pelo sol, que começou a brilhar de maneira magnífica iluminando Mysthical. O céu se encontrava em uma peculiar cor amarela, tão intensa e brilhante que fez com que se lembrasse do intenso brilho dourado que sempre se fazia presente em suas visões.
— O céu está bonito. — Lara comenta.
olha para a irmã, assentindo devagar com a cabeça. Sua boca estava seca e sua pele estava tão pálida que a fazia parecer doente.
— Irônico, não acha? — murmura, deixando o balde ao seu lado na escada. — Um céu tão bonito para uma cidade tão infeliz.
— Nem todos estão infelizes. — Lara diz em tom de repreensão, sentando-se mais perto de . — Existem pessoas por essa cidade que não tem culpa de nada. Pessoas inocentes que mereciam sentir alegria quando veem um dia tão bonito.
— Quem se importa com Mysthical? — murmura, fechando as mãos em punhos. Seu olhar transbordava ódio, os olhos cinza começando a escurecer aos poucos. — Criaturas esquisitas, lugares bizarros, mundanos que não fazem ideia do que está acontecendo. Essa cidade é uma grande prisão, Lara. O caos reina aqui e temos que fingir que podemos nos adaptar a ele.
— Mysthical é ótima. As criaturas místicas e os humanos vivem em harmonia. Ela tem problemas como todo lugar do mundo, mas nada muda a ideia dela ser bela e intrigante.
— Talvez você esteja certa. Talvez o problema não seja Mysthical.
— Isso.
— O problema sou eu.
— !
— É a verdade. — ri sem humor. — Para onde eu vou tem caos. Não importa onde eu esteja, eu sempre estragarei tudo de alguma forma. Eu não mereço ser feliz, Lara.
— Não diga baboseiras, é claro que você merece.
— Não, você não entende. — se vira para a irmã. Lara sentiu seu coração se partir. A irmã mais velha chorava, sua expressão distorcida em ódio e dor. — Eu não mereço ser feliz. Desde o dia em que eu matei nosso pai... Na verdade apenas seu pai. Desde o dia que eu o matei... Não. Desde o dia em que nasci, eu estava destinada a isso, Lara. A dor. Eu não mereço o amor que você sente por mim, eu não mereço nada que me remeta a felicidade. Eu sou um ser repulsivo.
Lara prontamente balança a cabeça em negação, segurando as mãos da irmã.
— Me escuta, tá legal? — ela diz, olhando no fundo daqueles olhos que cada vez se tornavam mais obscuros. — Você é incrível. Você é tudo na minha vida, irmã, e você merece isso. Papai não era só meu, ele era seu também. E o mesmo vale pra mamãe. Os dois nos criaram, pelo menos até quando puderam, então sim: eles são seus verdadeiros pais. Aquela bruxa malvada não é sua mãe e ser seu pai... Isso é loucura! — Lara joga os bracinhos pra cima, demonstrando sua indignação.
— Não é tão loucura assim, Lara. e Lauranna tinham uma espécie de relacionamento.
— Sim, eu sei.
— Sabe?
— Claro que sei. Eles tentavam fazer bebês. Mas isso não vem ao caso, duvido muito que um vampiro possa fazer um filho. Quer dizer, ele tá mortão, não tá? O corpo dele deve estar mortão também. é tipo um cadáver que fala e provoca.
— “Um cadáver que fala e provoca”. — repetiu, acabou por rir brevemente. Só Lara para falar coisas engraçadas em uma hora tão inoportuna. — Essa é a melhor definição sobre ele que eu já ouvi na vida.
— Eu tento. — Lara dá de ombros, rindo. — Mas é sério... não é seu pai. Eu acho isso impossível.
— Eu queria mesmo que ele não fosse, Lara. — suspira, abaixando seu olhar para as próprias mãos. — Mas você não viu a lembrança que eu vi. A forma que Lauranna falava dele para a Melissa... Era tão apaixonada. Duvido que ela tenha mentido sobre isso.
Lara leva as mãos à cabecinha, parecendo pensar por um momento. De repente toda a cor sumiu de seu rosto. Lara ajeitou sua postura, olhando atrás de assustada.
— O que foi? — se vira.
— BUH!
— Mas que porra...?
Lara cai na gargalhada e Victor apenas ri, junto a ela. Ele havia chegado pelos fundos da casa da árvore. Gainy e suas fiéis escudeiras estavam ali também.
— Oi, Victor! — Lara diz, um enorme sorriso se formando em seu rosto. Ela corre até o mais velho, e ele a abraça apertado.
— Oi, mocinha. Está tudo bem por aqui?
Lara apenas olha para trás, encarando a irmã de forma hesitante. Victor franze o cenho, também fitando .
— O que aconteceu?
— Nada.
— descobriu que é o pai dela.
— Lara!
— Que foi? Ele perguntou!
Victor apenas olhou para as caçadoras chocado. As mesmas continuavam com a expressão completamente indiferente.
— não é seu pai, . Isso é impossível.
— Eu já suspeitava. — Gainy diz com a voz fraca. Ela se aproxima de , sentando ao seu lado no degrau. — Ele nunca foi alguém bom pra você. O fato de vocês terem o mesmo sangue correndo pelas veias felizmente só vai ajudar no distanciamento dele.
— Eu não ligo mais.
Gainy a olhou profundamente por alguns segundos. desviou o olhar.
— Onde está ? — ela pergunta de súbito.
Victor abre a boca para dizer algo, automaticamente fechando. Ele parecia visivelmente abalado.
— Provavelmente morta. — Johoney responde indiferente. — Não a encontramos na praia. Ou ela fugiu ou ela virou comida de demônios.
arregala os olhos, sentindo seu coração se quebrar.
— ... Não. Eu não posso perder ...
Ao fim da frase de o chão começou a tremer violentamente. se levantou alarmada, segurando a mão de Lara.
— O que está acontecendo?!
Victor tira a varinha do bolso, apontando-a para seja lá o que viesse até ali. A porta de entrada se abriu e Jhotaz apareceu acompanhado de Melissa.
— Victor?
— Jhotaz... Eles nos descobriram.
— Mas como, Victor?! É dia, eles nunca atacam de dia!
— Eles nunca atacam de dia... Mas pelo comando certo isso pode se alterar. — Gainy diz, olhando vidrada para o que via mais à frente.
As árvores da floresta iam sendo derrubadas, uma a uma. O zumbido havia se transformado em um estrondoso som de passos e uivos completamente aterrorizantes. Enfim entraram no campo de visão de a imagem de inúmeras criaturas demoníacas com seu corpo deformado e horrendo, os dentes à mostra e o uivo aterrorizando-a. Eram de diferentes tamanhos e formas, todos preparados para atacar.
— . — Jhotaz e Victor concluem juntos.
soltou a mão de Lara, fazendo com que a irmã ficasse atrás dela.
— ? O que está fazendo?
Os olhos cinza de brilharam. O contorno de seu corpo ganhando a tão conhecida coloração de ouro, seus cabelos caindo em cascatas com as mechas loiras. Lara levou as mãos à boca. Victor e Melissa arregalaram os olhos em incredulidade. As caçadoras apenas observavam impassíveis.
ergueu os braços, fazendo com que enormes esferas da cor dourada aparecessem ali... E tudo se tornou dourado.
Capítulo 29
“Se eu dissesse que te amo
Diga-me, o que você diria?
Se eu dissesse que te odeio
Você iria embora?”
O vazio dourado estava ali. suspirou, apenas encarando aquela imensidão de ouro sem realmente vê-la. Estava tão cansada. Farta de tudo aquilo, sem forças para prosseguir.
— Você não pode desistir agora, minha criança.
Uma voz conhecida ecoou pelo ambiente. franziu o cenho, confusa. Já havia ouvido aquela voz antes.
— Quem está aí?
— Eu lhe disse que iria protegê-la, não disse? Estou apenas cumprindo meu papel.
— Mas quem é você?! O que você quer de mim?! — grunhe. — Eu não aguento mais isso! Não aguento mais!
— Você sabe quem eu sou.
De repente flashs de memória passaram na mente de , reformulando cenas e fazendo-a compreender.
Se lembrava daquela ocasião. Fora quando saiu para burlar aula com , onde os dois foram até a majestosa árvore guardiã e ela havia tido uma de suas primeiras visões.
— Sente falta dela? — uma voz suave a questionou na visão. Era a mesma voz que a questionava há pouco.
Olhou em volta novamente, procurando o dono da voz. Não havia ninguém ali.
— Eu queria vê-la. — ouviu a si mesma dizer. — Eu sinto que ao vê-la e conversar com ela eu posso saber de tudo.
Lembrava-se de ter visto uma mulher pedindo por clemência, pedindo para ser encontrada. Mas não compreendia. Quem era aquela mulher de antes? Por que desejava tanto encontrá-la?
— Não é tão simples assim, minha criança.
sentiu uma leve carícia em sua bochecha. Era como se a voz a confortasse, e ela não fazia ideia de como.
— Por que não pode ser simples?
— É seu destino. Você voltou para seu lar e agora tem um caminho tão longo a percorrer... Quando conseguir cumprir seu dever, ela aparecerá para você.
— Você promete?
queria entender. Quem era “ela”?!
— Eu não posso prometer, meu amor. A única certeza que tenho é que não importa quanto tempo permaneceremos nessa jornada: eu continuarei aqui por você.
— Por quê? — perguntou confusa. Poderia jurar que a voz desconhecida suspirou ao ouvir sua pergunta.
— Porque é meu dever protegê-la daqueles que querem destruí-la.
Outro flash, este deixando-a ainda mais atordoada que o primeiro.
Estava na festa do solstício de verão da Coup D’etat. havia se ferido por causa dela, e seu único desejo era uma forma de curá-lo.
"Cure-o." Uma voz ecoou naquele lugar. Não havia ninguém, apenas uma luz dourada infinita. Era a mesma voz.
"Apenas toque-o. Toque em seu coração. Você saberá exatamente como fazer."
suspirou, já farta daquilo.
"Que assim seja."
— Você é o dono da voz que apareceu nos meus momentos de maior conflito. — a garota deduz, olhando para o vazio dourado.
— Sim, sou eu.
— Mas quem é você?
— Um parente.
— Perdão?
Uma parte do cenário dourado começou a se desfazer, contorcendo-se violentamente e ganhando forma. arregalou os olhos, fitando aquilo com completo horror dominando seu ser. Aquela estranha deformidade dourada se transformou em um homem. Ele tinha cabelos extremamente loiros, quase brancos. Seus olhos eram cinzas, com um brilho dourado esplêndido em sua volta. Suas íris eram duas fendas de um brilho tão profundo que era mortal a olhos humanos. Sua pele brilhava em formas que se assemelhavam a estrelas. Havia enormes asas douradas saindo por suas costas. Ele sorriu abertamente para , fazendo-a arregalar os olhos, surpresa.
Conhecia aquele sorriso.
— Papai? — perguntou em um sussurro.
— Não sou Jacques, .
— Oh. — assente devagar, sem graça. — Você se parece com ele.
— Talvez seja por ele ser meu filho.
— O quê?
O homem riu sonoramente, se aproximando de ainda com o ar risonho envolvendo-o. Ele leva uma das mãos ao seu ombro, apertando-o levemente enquanto a fitava com carinho visível.
— Eu me chamo Haniel. Sou o príncipe dos principados; Protetor das comunidades, vigilante da defesa e responsável pelo amparo em tempos dolorosos. Sou o anjo responsável pelo início da linhagem de ouro.
— Linhagem de ouro?
— Você é minha jovem Menina Dourada.
— Menina Dourada...? Que maluquice é essa?
— Me dê sua mão, jovem .
— O que...?
— Apenas dê sua mão.
Com certa relutância, estendeu sua mão ao homem, sentindo automaticamente a luz excessiva cegá-la.
O tilintar de talheres e o murmúrio de discretas conversas preenchiam o local. Havia ali uma enorme mesa de ouro, esta decorada com estonteantes enfeites de mesa no formato de asas, onde pequenas bandejas eram sustentadas por um suporte embaixo delas.
Um homem estava no meio, comendo calmamente enquanto conversava com a mulher sentada em sua frente. Ele tinha cabelos extremamente loiros, que chegavam quase a cor branca. Seus olhos eram cinza envolvidos por um brilho dourado esplêndido. A mulher não tinha nada de destacante em sua aparência: tinha cabelos negros e olhos castanhos igualmente bem escuros. Um pouco afastados do casal haviam dois jovens meninos com a mesma característica do pai: cabelos loiros, quase brancos. Seus olhos também eram cinzas como o gelo, porém não possuíam o brilho dourado que havia no olhar do progenitor.
Jhotaz e Jacques riam baixinho um para o outro. Jacques tinha uma taça da cor ouro em mãos, e havia dado uma para Jhotaz, obrigando o mais novo a escondê-la sem sucesso.
O homem que estava sentado no meio da mesa se levanta, obrigando Jacques e Jhotaz a reprimir suas risadas e focarem a atenção no mesmo.
— Peço perdão de antemão pela parada repentina de nosso divino jantar. — o homem diz, sua voz suave parecendo acariciar os ouvidos daqueles que o escutavam com atenção.
— Tu és sempre um desmancha prazeres mesmo. — Jhotaz sussurra, revirando os olhos, não conseguindo disfarçar sua expressão de desgosto. Jacques o cutucou de leve, lançando-lhe um olhar de repreensão. Jhotaz apenas olhou feio para o irmão, cruzando os braços e olhando para aquele que discursava com visível tédio.
— Devo-lhes contar que não organizei este jantar sem um propósito. — o homem continua, olhando atentamente para sua família. — Nosso Pai, Senhor, Mestre, Criador de tudo e de todos confiou-me um afazer de suma importância... Mas temo que não conseguirei realizá-lo.
— Não consigo lhe compreender, meu esposo. — a voz suave da mulher soa, interrompendo-o. — Pensei que esta tarefa dada por nosso Pai era como um sonho virando realidade a vós. Por que estás negando-o?
O homem suspira, olhando para a mulher com carinho. Ele parecia estar se segurando para não ir até ela e pega-la em seus braços, abraçando-a com fervor.
— Dói-me dizer-te isso, minha amada. Mas os tempos mudaram. Temo que enfim chegou a hora de cada um de nós seguirmos caminhos diferentes.
— O que queres dizer, meu pai? — Jacques pergunta, olhando-o com preocupação visível.
— Eu, Haniel, o príncipe dos principados; Protetor das comunidades, vigilante da defesa e responsável pelo amparo em tempos dolorosos... Estou me desfazendo de meu papel.
— O quê?! — Jhotaz grita, fazendo os olhares de seus pais e do irmão pousarem em si. — O que queres dizer com se desfazer de seu papel?!
— Sabes que sou um dos anjos de nosso Senhor, Jhotaz. Também sabes que não posso e nem devo deixar o paraíso sem minha proteção. Porém eu, como vosso pai, tenho o papel de ver ti crescer e um dia orgulhar-me de seus feitos, e assim será: nosso Senhor, Pai e Mestre deu-me a missão de povoar uma pólis com criaturas míticas, na Terra. E assim será feito, porém com apenas uma modificação: tu e Jacques que cuidarão da pólis em meu lugar.
Jacques e Jhotaz arregalaram os olhos, a mãe apenas riu de forma incrédula.
— Vossos filhos são dois fedelhos sem um pingo de responsabilidade, meu esposo. Como podes desejar dá-los uma tarefa de suma importância? Eles irão facilmente arruinar tudo.
— Nossos filhos, minha esposa, não apenas meus. — Haniel a corrige, sorrindo gentil. — Jacques e Jhotaz, como eu, são anjos principados. Eles têm o dever de proteger uma comunidade, como eu o faço aqui em nosso amado Paraíso.
— Somos anjos da linhagem de ouro. — Jhotaz se pronuncia, a voz afetada demonstrando o quão irritado ele estava com as ideias do pai. — Nascemos no Paraíso, crescemos aqui. Sinto-me completamente desgostoso com a mera ideia de sermos obrigados a ir para a Terra cuidar de criaturas míticas as quais não merecem nossa estima. Intriga-me que vós, nosso pai, concorde com tal ultraje.
— Sim, somos anjos da linhagem de ouro. Possuímos poderes inimagináveis, anjos dourados são extremamente honrosos e modestos com vosso talento e poder. E é por isso que eu, Haniel, proclamo que devemos prosseguir com vosso papel: proteger os pobres habitantes das forças malignas. Quando casei-me com sua mãe com a autorização de nosso Pai e dediquei-me a procriar, fora nisso que estava pensando: em vocês dois assumirem minha tarefa na Terra.
— Isso é um absurdo. — Jhotaz rosna.
— Eu o farei, meu pai. — Jacques diz, fazendo Jhotaz olhá-lo completamente chocado.
— O que estás a dizer?! Ficaste maluco, Jacques?!
— É o nosso destino, irmão. Se nosso pai afirma que temos o dever de ir para a Terra e fundar uma pólis que proteja criaturas, eu o farei sem pestanejar.
— Jacques, meu amado filho e herdeiro... Essas são as palavras de um verdadeiro anjo dourado. — Haniel elogia o filho mais velho, sorrindo. — Não me prolongarei mais. Por favor, prosseguiremos agora com o jantar. Infelizmente será nosso último como uma família.
De repente a jovem voltou a si, parada na imensidão dourada novamente.
— Compreende?
— Papai e tio Jhotaz são anjos principados, como você. — diz devagar. — Mas você chamou meu pai de anjo dourado. O que isso significa?
— Sou um dos anjos mais próximos de nosso Pai, . Ele cedeu ao meu pedido de ter uma família, mas é claro que isso não sairia barato. Quando a hora chegou tive que me despedir de meus filhos, deixando-os em Terra para que pudessem continuar minha missão.
— Você protege as comunidades do paraíso... E é por isso que papai e tio Jhotaz são os guardiões de Mysthical.
— Exatamente. Como eu, Jacques e Jhotaz são anjos protetores de habitações. Eles têm o dever de proteger Mysthical. Foi a partir disso que a família Daurat foi fundada.
— Fundada? Como assim?
— Daurat significa Dourado na linguagem catalã. Catalão é uma língua românica derivada do latim vulgar falado pelos romanos na Idade Antiga, coincidentemente a mesma época a qual meu Jacques nasceu. Precisavam de um sobrenome, então Jacques resolveu fazer essa pequena referência ao seu status de anjo dourado.
— É informação demais para processar. — diz em um sussurro. — Você disse que eu sou sua “Menina Dourada”. — começa a dizer, olhando atentamente para Haniel. — Mas eu não sou uma Daurat. Eu... Eu não sou filha de Jacques.
Haniel assente devagar com a cabeça, de repente um sorriso triste se formou no rosto daquele belo anjo. Ele se aproximou de , levando a mão até seu ombro e apertando ali levemente enquanto a olhava nos olhos.
— Jacques criou você. Jacques te amou mais do que qualquer coisa no mundo. Se ele quis vê-la como sua filha e você quis vê-lo como seu pai, por que deveríamos negá-lo sua paternidade? Jacques passou seu poder celestial para que você pudesse viver, . Ele sabia de sua maldição, ele sabia que morreria em suas mãos, mas isso era irrelevante para ele. Contanto que você vivesse, ele não se importaria de ser morto. Depois de tudo o que aconteceu é mais do que óbvio de que entre você e Lara, ele tenha escolhido você para ser a guardiã de seus poderes divinos. Você é a Menina Dourada, a guardiã de Mysthical e o ser mais poderoso que aqui já pisou.
— O que eu devo fazer...?
— Proteger a cidade. A tarefa que dei ao seu pai foi passada a você, e você precisa cumpri-la.
— Papai se sacrificou para que eu vivesse... Mas eu não mereço, Haniel. Não sou boa como ele, não sou esperta e muito menos poderosa. Eu sou apenas uma menina que passou a vida toda sofrendo pela mais pura negligência materna. Eu não tenho nada a oferecer, absolutamente nada!
— Está enganada, .
— Não, eu não estou! — grunhe, afastando-se do anjo. — Estou cansada de todos esperarem tanto de mim! Eu não consigo! Eu simplesmente não consigo!
— Sim, minha criança, você consegue. Não deixe com que sua insegurança atrapalhe sua jornada.
— Papai... — a voz dela treme. — Se eu partisse... Papai poderia voltar?
— Enquanto você vive, Jacques está morto. Se Jacques vivesse, você teria que morrer.
— Então isso é um sim.
— Matar a si mesma é uma atitude tola e imprudente, . — Haniel a alerta, aproximando-se novamente da jovem com um olhar severo. — E temo que você se arrependeria amargamente de fazer isso.
— Por quê?! O que eu teria a perder?! Nada! Se papai voltasse, Mysthical estaria a salvo da ira de Lauranna e dos planos ridículos de ! Mysthical estaria em paz!
— Sim. Mas e ela?
— Ela? Como assim “ela”?
O anjo estalou os dedos. De repente estavam novamente em frente da casa da árvore. Haniel apenas apontou para a figura e subitamente mudou sua expressão. A cena estava pausada, e seus olhos ao varrerem o pequeno grupo de pessoas que ali estavam, se fixaram na única a qual realmente lhe importava.
— Faria isso com ela? — Haniel pergunta.
se aproxima, agachando-se em frente à garotinha. Os olhinhos verdes estavam arregalados, enquanto sua boca estava aberta parecendo gritar de horror. Mas seu olhar não estava fixado nas criaturas, não, seu olhar estava fixo em uma pessoa: . Lara não estava com medo das criaturas e sim com medo do que poderia acontecer a .
E foi quando compreendeu.
Seu pai havia escolhido morrer por , pelo amor que sentia por ela. E de repente entendeu a intensidade daquele amor... Porque era exatamente o que nutria por Lara.
Por Lara ela era capaz de continuar viva. Por Lara ela era capaz de qualquer coisa.
Mysthical estava por um fio, e toda a situação estava nas mãos de . Cabia a garota decidir o que fazer.
— Obrigada por ter aberto meus olhos, Haniel. — ela agradece.
Subitamente Haniel havia sumido.
A cena antes pausada havia voltado à vida. As criaturas estavam a metros de distância de . A jovem ergueu as mãos, mirando nos seres que corriam até ali.
Uma enorme parede dourada começou a ser construída, como se uma enorme barreira em forma de escudo estivesse sendo formada. sussurrava palavras desconhecidas para si, mas que sabia que as tinha guardadas em algum lugar de sua mente.
— , vamos embora daqui! — Lara gritou.
apenas olhou para trás, a tempo de ver a irmãzinha correr floresta a dentro na companhia das caçadoras, Victor e Melissa. Jhotaz não havia os seguido, e sim se aproximado de .
— Como fez isso? — ele perguntou abismado.
As criaturas tentavam passar pela barreira, soltando uivos de dor ao meramente tocarem nela, onde era visível que a intensa luz dourada os feria ao mínimo toque.
— Eu não sei. — responde, de repente abaixando as mãos e vendo a barreira continuar intacta. — Mas o que eu sei é que posso fazer mais... Muito mais.
Jhotaz apenas a fitava contrariado. Parecia que havia algo o incomodando profundamente, mas aquele momento não era o propício para perguntas.
— Devemos segui-los, a barreira não vai aguentar por muito tempo. — ele diz a . A sobrinha apenas assente.
Os dois começam a correr, deixando as criaturas guinchando e uivando, ansiosas pelo derramamento do sangue da Menina Dourada e frustradas pela maldita garota arrumar uma forma de impedi-las.
Um soco, seguido de mais um, e mais um, e mais um...
abriu os olhos gemendo de dor, olhando com ódio para seja quem fosse.
E lá estava o sorriso sacana de Yan, enquanto esse socava mais uma vez o tronco de .
— Sério, Yan? É só isso o que você tem? — o provoca, fazendo com que o homem o socasse mais uma vez e com ainda mais força.
— , ... Sempre se fazendo de superior. Tão orgulhoso... Vai ser uma maravilha ver toda sua superioridade se dissipar em segundos.
passa a língua entre os lábios, rindo brevemente. Olhou em volta do local, percebendo que estava em um dos quartos velhos e abandonados de sua própria casa. Ele tinha suas mãos e braços acorrentados em volta de uma cadeira.
— Como pretende fazer isso? — ele pergunta debochado.
Yan apenas ri escandalosamente, jogando a cabeça para trás e levando as mãos na barriga ao fazê-lo. apenas revirou os olhos diante a atitude exagerada do mais novo.
— Digamos que em breve um delicioso vampiro irá virar comida de criaturas demoníacas.
— Delicioso, huh? Sempre soube que você tinha uma queda por mim, Yan. — provoca, fazendo Yan o olhá-lo com nojo.
— Você sabe o que eu quis dizer!
— Me sinto lisonjeado. Se eu curtisse caras eu acho que... Não. Quer saber? De jeito nenhum. Se eu curtisse caras eu ficaria com Kyle, ele sim seria um bom namorado. Ele iria me acordar com carinho ao invés de socos, eu estaria livre dessa nossa relação abusiva.
— Cala a boca, ! — Yan rosna, fazendo o rapaz apenas rir em resposta.
— Não o leve tão a sério, querido. Ele será trucidado pelas criaturas demoníacas, não vai mais ter que se importar com ele.
Uma voz suave soa no local, e apenas encara a mulher em sua frente.
— Então essa é a sua namorada? — pergunta, sorrindo debochado. — Deveria ter me contado antes, sairíamos em um encontro duplo. Afinal não é todo dia que um dos meus melhores amigos namora a melhor amiga da minha garota.
sorri, olhando de forma crítica. Ela se aproxima do rapaz, cruzando os braços.
— Você se acha muito espertinho, não é, ?
— Eu sou bem esperto. — diz, dando de ombros. — O que eu posso fazer? Todas as pessoas ou nascem bonitas, ou engraçadas, ou inteligentes. Eu sou o pacote completo, além de ser incrivelmente charmoso.
— Deixe-me quebrar os dentes dele. — Yan ameaça avançar para cima de , sendo impedido por .
— Não seja tolo, meu amor. As criaturas já estão infestando a cidade. Em breve receberemos uma especial para devorar nosso querido .
— Espero que Lauranna tenha oferecido uma recompensa grande a vocês. Será uma pena eu morrer por motivos fúteis como a inveja de Yan por eu ser incrivelmente mais poderoso e bonito e ele ser terrivelmente incapaz.
Yan deixa as presas a mostra, ameaçando avançar em e sendo novamente detido por .
— Pare com isso! Ele só quer te tirar do sério, não dê ouvidos a ele. — o repreende, em seguida virando-se para . — Sinto em te desapontar, mas nós não trabalhamos para Lauranna. Ela te quer vivo, e isso é estupidez. Trabalhamos em prol daquele que quer te ver completamente morto de uma vez por todas.
— Quem seria...? Perdão, estamos em Mysthical. A parte difícil seria achar alguém que NÃO quer que eu seja morto.
— . — Yan se pronunciou, soando mais calmo. — Fingimos nos unir a Lauranna apenas para termos o controle de seu exército.
balança a cabeça em entendimento, sorrindo brevemente.
— Ver você tão devoto a um demônio é bastante incomum. Primeiro no solstício de verão e agora isso... Acho que no fim você não é apaixonado por mim, e sim por .
— Cale a boca!
— Já chega. — grunhe, olhando para com ódio visível. O vampiro apenas sorri.
— O que pretende com esse pequeno showzinho?
— O mesmo que Lauranna. Destruir Mysthical e consequentemente aniquilar seus habitantes.
— Adorável. De repente todo mundo quer destruir Mysthical. — ri debochado. — Presumo que eu irei ficar aqui e esperar a horrenda criatura demoníaca que virá me devorar?
— Exatamente isso que acontecerá.
— Erro de vocês. — sorri debochado. — Yan é um vampiro novo demais, então é evidente que ele não sabe de algumas tradições convencionais e realmente importantes.
— O que quer dizer? — Yan grunhe.
— O óbvio. Eu sei que mal dá para perceber devido a minha bela aparência, mas eu sou um vampiro com séculos de idade. Possuo habilidades e poderes realmente interessantes, além de ter um considerável respeito e temor por parte de criaturas demoníacas.
— ... — Yan rosna, sendo prontamente interrompido por .
— Calado, Yan. — diz, prosseguindo. — O erro de vocês foi ter me prendido em minha própria casa. Todos sabem que o lar de uma criatura demoníaca só pode ser adentrado por outra se a primeira permitir. Pelo que eu saiba vocês não são donos desse castelo... E muito menos possuem reconhecimento o suficiente para ter a devoção de uma criatura demoníaca.
— Ele está tentando nos assustar, Yan. — ri nervosamente, negando com a cabeça. — Está blefando.
sorri torto. Seus olhos negros fixaram-se em . Aqueles olhos cruéis e calculistas combinados com o sorriso debochado davam um ar extremamente psicótico a aparência de .
— Eu sou o guardião dessa casa, e a criatura demoníaca que aqui entrar será fiel a mim.
Um rugido animalesco foi ouvido, fazendo soltar um grito de susto. A criatura que ali entrou era de tamanho mediano, com enormes espinhos em sua pele incrivelmente negra. Seus olhos eram inteiramente vermelhos, e seus dentes afiados como estacas. Ela se postou na frente de , olhando diretamente para e Yan.
— N-nós te chamamos aqui. — Yan diz com a voz trêmula, fazendo a criatura guinchar e rir debochado logo atrás. — Você tem que ferir ele, não a nós!
— Foi bom te conhecer, Yan. Impetus! — gritou a palavra que significa “ataque” traduzida do latim.
Subitamente a criatura se jogou em Yan, abrindo sua enorme boca e fincando seus dentes na cabeça do vampiro, que começou a se debater e a berrar de dor enquanto era devorado pelo ser demoníaco.
— Yan! Não! Yan! — berrava, chorando desolada.
forçou seus braços contra as correntes, fazendo com que elas arrebentassem como se fossem meros fios de plástico.
passou a língua entre os lábios, deleitando-se com o que via. Os berros de Yan se tornavam cada vez mais altos, e o sangue dele respingava por todos os cantos do quarto.
— Que morte terrível, amigo. — diz rindo. — Sinto muito por você!
— FAÇA ELE PARAR! POR FAVOR, FAÇA ELE PARAR! — berrava em terror.
apenas deu de ombros, caminhando até a porta do cômodo, se retirando dali. Já no lado de fora ele apenas trancou-os lá dentro, afastando-se corredor a fora deixando os berros desolados de e a dor excruciante da morte de Yan para trás.
O pequeno grupo de pessoas corriam juntos floresta a fora, os uivos altos das criaturas demoníacas ficando cada vez mais baixos a medida em que se distanciavam.
— Meus pés doem! — Melissa reclama pelo que pareceu a milésima vez. — Será que poderíamos fazer uma pausa?
Gainy fita Jhotaz e o mesmo apenas assente. A mulher assente de volta.
— Faremos uma pausa então.
Melissa se senta em um tronco deitado que havia no chão, levando as mãos aos pés e fazendo uma espécie de massagem enquanto murmurava palavras incompreensíveis a si mesma de forma rabugenta.
— Caçadores, reunir. — Gainy as chama, fazendo com que as três garotas se aproximassem dela e formassem um pequeno círculo de cochichos particulares.
e Lara se aproximam de Victor e Jhotaz, que conversavam.
— Meu corpo dói. — Jhotaz confessa. — É como se uma faca fosse cravada em meu peito a cada minuto que passa. Mysthical corre perigo, Victor. Eu sinto em meu ser minha cidade ruir, meus habitantes serem mortos sem que eu possa fazer nada... Eu sinto.
e Lara apenas olharam assustadas para o tio. Victor suspirou.
— Eu sei, meu amigo. Mais do que ninguém você sabe que te compreendo. Mas penso que nossa prioridade agora seja achar um local seguro para protegermos as meninas, e depois pensamos na cidade.
“MINA SAIKO! ARIGATO! KA-KA-KA KAWAII!”
Avril Lavigne cantando a introdução de Hello Kitty ecoou pelo grupo, fazendo todos se olharem assustados. Victor arregalou os olhos, prontamente pegando seu celular em seu bolso, olhando sem graça para as pessoas em sua volta.
— Eu esqueci de deixá-lo no silencioso. — ele diz sem graça, fazendo Lara rir alto e apenas sorrir brevemente. Victor leva o telefone até o ouvido, enfim atendendo. — Alô? ?! Oh... Sim. O quê?! ... Entendo. Está bem... Eu direi. Tchau. — ele desliga.
— O que ele disse?
— Ele teve um pequeno contratempo em sua casa, algo relacionado ao Yan ser devorado. — Victor arregalou os olhos, parecia atordoado com as palavras de . — Mas ele disse que como é um vampiro seu castelo não será invadido pelas criaturas.
— E mesmo que seja, podemos fazer uma barreira em volta! — Jhotaz exclama, seus olhos brilhando com a ideia. — O castelo de é o lugar perfeito para nós nos acolhermos!
— Quando estivermos lá podemos fazer um plano de resgate e acolheremos os habitantes feridos dentro do castelo! — Victor completa, fazendo Jhotaz sorrir de forma radiante.
— Vamos conseguir protegê-los, Victor!
— Sim!
Gainy tossiu levemente, fazendo os dois amigos olhá-la. Seus lábios entregavam o meio sorriso o qual estava evitando mostrar.
— A sintonia entre vocês é admirável, mas nós não sabemos se de fato podemos confiar em . Além que vocês não pensaram em nenhum momento a respeito dos sentimentos de sobre isso.
Victor encara de forma culpada, fazendo-a sorrir triste e balançar a cabeça em negação.
— Vocês têm razão. Se a cidade toda está sendo atacada, um lugar grande e recluso como o castelo de é a melhor escolha de abrigo.
— Mas você... — Victor tenta dizer algo, sendo prontamente interrompido por .
— Mas nada. Apenas vamos.
Sob o olhar de desaprovação de Melissa e o suspirar de Victor, Jhotaz estala os dedos, fazendo com que o pequeno grupo já não estivesse mais na floresta.
Estavam em uma enorme sala de jantar. No centro havia uma grande mesa chique nos tons de preto e roxo, combinando com as luxuosas cadeiras almofadadas. Nas laterais do cômodo, haviam duas grandes escadas com os degraus cobertos por enormes tapetes de veludo vermelhos, que davam em uma espécie de sacada interna, que ficava entre o final das duas escadas, no segundo andar. estava ali, apoiado preguiçosamente no corrimão enquanto fitava os recém-chegados.
— Bem-vindos ao meu castelo. — anunciou.
olhou para o cômodo, sentindo seus braços se arrepiarem. Fazia muito tempo que não havia visto aquele cômodo específico, então estava impressionada e com vontade de ver cada detalhe... Porém havia um porém: aquela era a casa de . A jovem fazia de tudo para não olhá-lo diretamente.
Lara saiu correndo em direção ao fundo daquele cômodo, no espaço entre as duas grandes escadas, exatamente embaixo da plataforma que formava a sacada interna. Ali havia um piano antigo. Ela começou a tocá-lo atrapalhadamente. Victor riu, se aproximando da mais nova.
— Um dia te ensinarei a tocar piano direito.
— O que quer dizer? Eu sou uma pianista nata! — Lara retruca, fazendo Victor rir.
— , desça aqui. Preciso falar com você. — Jhotaz o chama, fazendo o vampiro revirar os olhos.
— Você me cansa, Daurat.
Em um segundo já estava lá embaixo, em frente a Jhotaz o olhando com tédio visível.
— Seu castelo irá servir de abrigo para nós e para os habitantes da cidade os quais conseguiremos resgatar. — Jhotaz diz prontamente e sem enrolação, fazendo fazer uma careta.
— Irônico. As pessoas que sempre diziam que seria o monstro que destruiria a cidade irão se abrigar exatamente no castelo do tal monstro.
— Você é um monstro. — Gainy grunhe. — Não pense que só porque ficaremos aqui você estará livre de sua prisão. Quando toda essa confusão passar eu farei questão de te colocar atrás das grades.
— Vai ser adorável ver você tentar. — sorri irônico. Gainy avança até o rapaz, sendo impedida por Jhotaz.
— Gainy... Você está esgotada. Precisa descansar, está bem? — ele a segura carinhosamente pelo braço.
— Todos os quartos do castelo estão livres. — diz para Jhotaz, seu tom soando sério pela primeira vez no diálogo. — A reforma que eu fiz depois do incêndio ajudou a preservá-los, porém não posso fazer nada com a poeira que se juntou ao passar dos tempos.
— Obrigado, . — Jhotaz agradece, levemente sem jeito ao ouvir o rapaz mencionar o incêndio. apenas dá de ombros.
— De nada. Ah! Quase me esqueci: o último quarto do corredor do primeiro andar está trancado pois tem uma criatura lá dentro junto com o cadáver de meu ex-amigo. Seria bom manterem distância de lá.
Jhotaz apenas assente em concordância, franzindo o cenho atordoado com a informação. Ele se vira para Gainy, fazendo menção de guia-la. Ela o afasta com as mãos.
— Posso ir sozinha. — ela diz, aproximando-se das caçadoras. — Jhotaz organizará uma expedição de resgate, quero que o ajudem.
Johoney ajeita a postura, fazendo com que prontamente Jea e Reusha fizessem também.
— Faremos nosso melhor, Gainy.
— Obrigada, meninas.
A líder das caçadoras vai andando até uma das escadas, apoiando-se no corrimão e assim começando a subir.
Jhotaz apenas a encarou até ela sumir de seu campo de visão.
— Qual é o plano, Jhotaz? — Johoney chama sua atenção.
Ele assente com a cabeça, apenas agora parecendo lembrar que haviam mais pessoas em sua volta.
— Venham, vamos nos sentar na mesa de jantar e eu explicarei tudo a vocês. Victor? Vamos! Deixe Lara ir descansar com .
— Certo. — Victor se vira para Lara, dando um beijo em sua bochecha. — Descanse, está bem? Eu volto logo.
Victor se junta a Jhotaz e as caçadoras, assim começando a dialogar sobre possíveis estratégias de resgate para cada região de Mysthical.
fixou seu olhar em , esta que fitava o chão. Se aproximou da jovem, fazendo menção de abraçá-la pela cintura. Ela prontamente o empurrou com força, fazendo com que ele cambaleasse para trás devido a surpresa de seu ato.
— O que foi isso?! — ele exclama, olhando-a surpreso.
— N-nada. — ela sussurra.
franziu o cenho de forma confusa, preparado para questionar novamente, sendo interrompido pelas palavras ásperas de Melissa:
— Diga-me onde eu posso me hospedar com minhas filhas, .
— Eu já disse que todos os quartos estão livres. — ele responde olhando-a entediado.
— Acha mesmo que irei ficar em um quarto cheio de poeira e mofo?!
— Tá, tanto faz. — bufa, revirando os olhos. — No penúltimo andar os quartos estão limpos.
— Por que apenas no penúltimo? — Lara o questiona.
abaixa a cabeça, parecendo um tanto incomodado com a pergunta.
— É onde estão os aposentos de meus pais e os das nossas empregadas mais próximas. Não tenho coragem de deixá-lo envelhecer com o castelo... Por isso está bem cuidado. Vocês são bem-vindas a ficar lá.
— Hum... Obrigada. — Melissa segura as mãos de Lara, arrastando a menininha com ela. Olhou para trás, vendo que nem ao menos se mexeu. — Você não vem, ?
— Sim.
faz menção de seguir Melissa, sendo segurada por . Sentiu todo seu corpo reagir com o toque e a sensação de náusea dominá-la.
— vai ficar no meu quarto. — afirma, fazendo Melissa arregalar os olhos, olhando-o como se ele houvesse dito a maior das ofensas.
— Não, ela não vai!
— Sinceramente, Melissa... Você está me fazendo perder a paciência. — grunhe, olhando-a com nojo.
— Você é quem está fazendo com que eu perca a minha!
— ... — sussurra.
— Eu e sua filha trepamos, mas e daí? Supere. A vida continua. Nos deixe em paz!
— Não diga isso na frente de Lara! — Melissa grita.
— ... — sussurra novamente.
— Não seja tão puritana, velhota. — diz debochado. Melissa se aproxima do rapaz, parecendo estar disposta a bater nele.
— ! — grita, fazendo tanto Melissa quanto olharem para ela.
— O que foi? — ele pergunta.
suspira, soltando-se de e se afastando do mesmo, evitando olhar em seus olhos.
— Eu não sou filha de Jacques... — ela diz em um sussurro. — Você é meu pai biológico.
abre a boca para responder, fechando-a imediatamente.
Silêncio se instalou.
passou rapidamente por ele, correndo até as escadas e subindo-as.
— , espera! — Lara gritou, correndo atrás dela.
tinha o olhar perdido no vazio.
— Deixe-a em paz, está bem? — Melissa grunhe, dando um tapa ardido na bochecha de . Ele nem se moveu. A mulher vai até as escadas, tratando de subi-las também.
— ? — Jhotaz o chama, andando até o rapaz. As caçadoras e Victor observavam a cena abismados. — Está tudo bem?
desvia o olhar, encarando Jhotaz com seriedade.
— O que eu posso fazer para ajudar? — ele retruca o mais velho com outra pergunta.
Jhotaz abre a boca para falar algo, desistindo logo em seguida. Seria em vão tentar discutir sobre o que havia acabado de acontecer com o rapaz, por isso decidiu responder sua pergunta e assim mudar de assunto.
— É muito arriscado irmos para todas as regiões da cidade de uma vez, então decidimos dividir os resgates por prioridades. Victor fez um feitiço para que possamos ver a situação de cada região, e assim definimos as áreas de prioridade. Como Gainy está descansando acho que seria de grande ajuda se você protegesse a casa enquanto estaremos fora.
— Sabe que pode contar comigo.
— Sim, eu sei.
e Jhotaz se encaram por alguns segundos. Jhotaz não pensou muito, apenas envolveu o mais novo em um abraço. Ele aproximou o rosto do ouvido de , sussurrando algo ali. assentiu com a cabeça, parecendo atordoado. Logo eles se afastam, e Jhotaz apenas se volta para as caçadoras e Victor, já preparados para partir.
Horas haviam se passado. Lara dormia em um dos quartos do penúltimo andar junto a Melissa; Gainy também deveria estar dormindo em um dos quartos do castelo.
havia tentado dormir, mas era em vão.
Havia acontecido coisas demais para um dia só.
Desde o ataque na praia, ter a salvado, o encontro terminado em sexo na casa da árvore, Melissa contar a verdade sobre sua paternidade, as criaturas dominarem a cidade, Haniel vir ao seu encontro em uma visão...
Havia acontecido coisas demais. Demais para processar, demais para sentir, demais para compreender. Tudo em demasia. não sabia o que pensar, nem o que sentir.
O que mais martelava em sua mente era: é seu pai.
Havia tomado banho e escovado seus dentes em um dos toaletes do penúltimo andar, mas ainda sim se sentia suja.
Suja por ter praticado um ato de incesto sem saber. Se sentia completamente imunda por ter se entregado a última pessoa pela qual poderia ter o feito.
Se sentia acima de tudo terrível, pois naquela altura já não poderia mais negar: havia se apaixonado completamente por alguém com o mesmo sangue que o seu. Não tinha mais volta.
estava novamente na sala de jantar. Fitava uma pequena fresta das janelas tampadas pelas grossas cortinas, vendo que em breve anoiteceria. Victor, Jhotaz e as caçadoras não haviam voltado ainda.
— ?
Uma voz suave a chama. se vira, olhando para as escadas. Gainy estava apoiada no corrimão com dificuldade, fitando a jovem profundamente.
— Gainy.
— Deveria estar descansando. — a mais velha diz, fazendo negar com a cabeça.
— Não consigo pregar os olhos por um segundo... Tem tanta coisa acontecendo em minha mente.
— Eu gostaria de te mostrar uma coisa.
olha confusa para Gainy. A mulher apenas dá as costas a garota, prontamente seguindo as escadas e sumindo de sua vista. a seguiu.
— Gainy? — a chama, terminando de subir as escadas e já se vendo no extenso corredor.
— Aqui! — a voz de Gainy soa um tanto distante. Ela provavelmente estava em um quarto no fim do corredor. seguiu sua voz.
Atravessou o corredor longo e escuro, começando a ouvir baixos soluços.
Foi quando a viu.
Gainy estava parada encostada em uma porta fechada, esta que podia-se ouvir perfeitamente os soluços e choramingos que saíam lá de dentro.
— disse que não poderíamos entrar aqui. — ela diz, olhando seriamente para . — Ele disse que o corpo de seu amigo estava nesse quarto.
— Mas tem alguém chorando... — diz alarmada, aproximando-se da porta. Encostou seu ouvido na madeira, arregalando os olhos. — Tem alguém ali dentro!
— Tenho minhas suspeitas de quem seja. Por isso que te chamei.
— Como assim...?
Gainy respira fundo, tirando um grampo de seu cabelo e colocando-o na fechadura, manuseando o objeto ali e assim destrancando a porta.
O quarto estava completamente escuro, e um cheiro horrível preencheu as narinas de , causando-a um breve enjoo.
— Que cheiro horrível! — ela diz enojada. — O que pode ser?
— Acho que tem sua resposta.
Gainy aponta para uma figura no canto do quarto. se aproxima.
Levou as mãos à boca, sentindo seus olhos lacrimejarem.
estava ali. Suas roupas, cabelo, mãos, rosto: seu corpo inteiro estava coberto de sangue. Ela segurava a mão desfigurada de um cadáver decapitado.
— ...? — se aproxima.
A amiga apenas levanta o olhar para a garota. Os olhos sempre vivos da jovem estavam opacos. Mortos.
— A criatura... O matou. — aponta para a outra extremidade do quarto, onde era possível ver uma criatura demoníaca morta. — Eu a matei. Mas não fui rápida o suficiente... Ela o matou.
— Você...
— Eu o amava, . — a menina começava a chorar ainda mais, os soluços se tornando cada vez mais altos. — Eu o amava tanto... E agora ele se foi. Ele se foi para sempre.
— Venha, . Deixe-me mostrar uma coisa. — Gainy se aproxima de , sendo acompanhada por . A caçadora toca em uma das lágrimas que caíam da bochecha de . — Toque. — ela instrui . Ela o fez.
O cheiro terrível que sentiu com os cadáveres da criatura e de Yan ainda se fazia presente, porém muito mais forte. Era como se ao invés de apenas dois, centenas houvessem sido mortos naquele ambiente.
E foi quando notou, com choque visível, que estava na praia. Mas a praia não estava bela como sempre fora: em todo o território da areia fofa havia corpos caídos e mutilados. Um cenário digno de filme de terror. Aqueles corpos, percebeu com choque, eram de humanos... Humanos metade peixe, pois estes possuem longas e belas caudas coloridas.
— Veja, . — Gainy diz. Só agora percebera que ela estava ao seu lado. Ela olha para onde ela apontou, sentindo seu coração instantaneamente se apertar.
No raso do mar, com a enorme cauda vermelha e roxa balançando e os olhos banhados de lágrimas, estava uma garotinha. Uma garotinha ruiva, magra e bonita. conhecia aquela garotinha.
— . — sussurra, se aproximando da jovem.
Como era comum nas lembranças que via, não a enxergava. Mas sim. Estava bem perto da jovem garotinha, vendo seu olhar perdido nos corpos mortos no chão.
— Eu sinto muito. — a voz de Gainy soou, mas essa soava mais juvenil.
vira a cabeça, vendo uma jovem versão de Gainy olhá-la com pesar e as caçadoras ao seu lado desviarem o olhar.
— Todos se foram. — a menininha diz.
— Chegamos tarde demais. Lauranna se alimentou do sangue das sereias e tritões... — a jovem Gainy suspira, engolindo em seco. — Eu realmente sinto muito.
— Mas vocês me salvaram. — sussurra. — Eu ainda estou viva.
— Do que adianta sobreviver se você é a última sereia restante? — Johoney diz de forma grosseira, fazendo a jovem Gainy olhá-la com censura.
fecha os olhos com força, assentindo com a cabeça.
— Se eu estou viva... É por um motivo. — respira fundo. — Cabe a mim descobrir qual.
De repente o cenário terrível de corpos sem vida da praia deu-se lugar ao ambiente confortável e reconfortante o qual já conhecia. estava ali, agora mais velha, na idade a qual a conhecia. Era noite, a Lua e as estrelas brilhavam no céu, iluminando o breu.
passeava pela beirada do mar, abaixando ocasionalmente para pegar uma concha que achava na areia. Ela usava o mesmo biquíni que usou no dia em que se conheceram.
O som alto de galhos se quebrando foi ouvido. Tanto quanto se assustaram juntas. Gainy apenas observava tudo impassível.
— Quem está aí?! — pergunta, olhando para a imensidão de palmeiras e outras árvores mais à frente. — Apareça!
E ali, no meio do matagal, a silhueta de um homem pôde ser vista. Ele saía lentamente no meio das árvores, as mãos para cima em sinal de redenção. Quanto mais ele chegava perto de , mais era possível vê-lo.
Era Yan.
Sua roupa estava vermelha, banhada de sangue. Suas presas estavam a mostra e nelas era possível observar mais sangue escorrendo até seu queixo. Sua aparência era doentia. Cabelos bagunçados e visivelmente oleosos, olhos fundos e cheios de olheiras e um cheiro terrível de carniça emanava de seu corpo.
— Quem é você?! — o interroga.
Yan ri alto, uma risada seca e sem vida. Ele se aproximou mais de , e quando estava perto o suficiente, ele se jogou na areia. Não conseguia mais se aguentar em pé.
— Yan. — ele diz em um suspiro rouco. — Meu nome é Yan.
se abaixou, sentando ao lado do rapaz porém em uma distância que julgava segura.
— O que faz aqui?
— Me transformaram... Me transformaram em uma coisa. — Yan ri nervosamente. — Eu não sei o quê. Mas... Eu sinto vontade de matar.
— Você não respondeu minha pergunta. — diz irritada. — O que faz aqui?
— Aqui é Mysthical, não é? — Yan retruca. — Aquele que me transformou nessa coisa... Ele disse que eu deveria fugir para cá.
— Por quê?
— Porque aqui eu estaria seguro. — o homem ri novamente. — Eu tentei me matar, mas não faz efeito. Não faz efeito algum.
— Você é imortal agora. — diz baixinho. — Você é um vampiro. A única maneira de te matar seria fincando uma estaca em seu peito ou arrancando sua cabeça.
— Que mortes ridículas. — ele cospe no chão, demonstrando seu desprezo. — E vampiros não existem.
— Claro que existem, você é um. — retruca, fazendo Yan negar com a cabeça.
— Isso é maluquice.
— Como veio parar aqui?
— Desculpe?
— Aqui. Na minha praia. Como veio parar aqui? — repete a pergunta.
Yan apenas encara o céu, seu olhar perdido no brilho das estrelas.
— Eu apenas desejei companhia... E de repente eu achei esse lugar. — Yan desvia seu olhar para . — Você pode me fazer companhia?
— Passamos os dias juntos... E foi como um sonho. Eu não estava mais sozinha e ele também não. Tínhamos um ao outro... Até que eu contei a ele sobre a existência de mais dois vampiros em Mysthical. E ele quis se juntar a eles. — a voz de treme. — Ele nunca deveria ter saído da praia.
— Por que não me contou? — perguntou, olhando-a com pesar. — Por quê?!
— Porque eu sabia que tipo de pessoa ele era. — rosna em resposta, olhando para a amiga com ódio. — EU SEMPRE SOUBE! Só... Não queria ser julgada. — ela aperta com mais força a mão fria do cadáver decapitado que um dia fora Yan. — Ele tinha tantos planos envolvendo você... A aliança com , o sequestro de Gainy, a sede pela morte de , a ambição de se tornar tão poderoso quanto ele... Yan tinha tanto ódio... E eu continuava o amando tanto...
— Você... Você sabia?! Sabia que havia sido ele que sequestrou Gainy junto a ?!
— Eu sabia de tudo desde o início, .
— As criaturas demoníacas invadiram a praia... Você as deixou entrar!
— Não. Eu não sabia sobre isso. — se adianta, fazendo rir irônica.
— VOCÊ FEZ COM QUE EU E LARA CORRÊSSEMOS PERIGO! FOI VOCÊ!
— Eu sempre tentei te proteger, . — diz com os dentes cerrados. — Eu poderia saber de muitas coisas, mas eu nunca quis te ferir. As criaturas demoníacas entraram na praia ao comando de Lauranna, mas eu não sei como elas o fizeram.
— Mentira. — ri sem humor. — Tudo mentira.
— ... — Gainy a chama. apenas a encara. — Vamos.
— O quê?
— Já basta. Você está descontrolada. Voltaremos aqui para conversar com quando você estiver mais calma. Vamos.
saiu em disparada do quarto, irada com a interrupção de Gainy. A mais velha a seguia.
— Você não pode deixar o ódio tomar conta de você, . — Gainy a adverte, fazendo com que risse em escárnio.
— A culpa é dela, Gainy!
— Não, você está entendendo a situação de forma errada! — Gainy grunhe, aproximando-se da jovem. — é sua amiga e estava apaixonada, você não pode julgá-la por isso. Agora há outra pessoa a qual você tem que julgar.
— O que quer dizer?
— a trancou lá dentro para assistir a morte de Yan, . Você percebe quanta crueldade há em um ato como esse?
abre a boca para retrucar, fechando-a automaticamente. Não tinha nada a ser dito, afinal, Gainy estava certa. havia deixado com que sua — nem tão — amiga assistisse a morte de seu amado. Aquilo havia sido cruel e impiedoso e se sentiu extremamente egoísta por não ter visto a situação por esse lado.
— Suponho que você queira que eu tire uma conclusão a respeito disso.
— Supôs certo. é um monstro e não merece o sua compaixão, amor ou afeição. Seja como seu amante ou como seu pai biológico, ele não merece nada de bom que você possa oferecer.
— Me pergunto o quanto te pagam para falar mal de mim, xerife. — a voz prepotente e debochada soa no ambiente.
estava no fim do corredor e foi preciso apenas um piscar de olhos das garotas e ele já estava parado a uma curta distância em frente a elas.
— Não preciso que me paguem. A justiça será feita, . Estou apenas me certificando de que tenha consciência disso quando a hora chegar.
— Por que tem que ter o conhecimento do que eu faço ou deixo de fazer...? Colocá-la contra mim é uma necessidade tão grande assim?
— Não estou colocando ninguém contra você, estou apenas expondo fatos.
— é grandinha o suficiente para que possa descobrir os fatos por si só, xerife. — arqueia a sobrancelha para a mulher, voltando seu olhar para . — Temo que tenha visto o que estava trancado naquele quarto.
— Você deixou Yan para morrer e para assistir. — grunhe, fazendo rir.
— Foi o que eu fiz. Isso te aborrece?
balança a cabeça em negação, rindo de forma nervosa.
— Você é inacreditável! — ela exclama, jogando os braços para cima. — Como pode ser tão cruel?!
— Toda ação tem uma consequência, . Eles tentaram me matar, naturalmente algo de ruim aconteceria a eles.
— E por acaso cabe a você decidir isso?
— Se não for eu quem decidir, que outro alguém irá? — rebate, aproximando-se da jovem. — Não me diga que acredita no conceito religioso de que todos pagarão pelos seus pecados... Assim você me broxa, .
— Chega. — Gainy intervém, segurando o braço de e puxando-a para longe de . — Ela não tem que aguentar seus discursos ignorantes.
— Perdão, xerife... — se aproxima novamente, segurando o braço livre de o qual Gainy não estava segurando. Ele se inclina, sussurrando no ouvido da mulher: — Não cabe a você decidir isso.
A sensação do vento batendo fortemente em sua face era reconfortante em tempos os quais você se sente constantemente sufocada. Era muito parecido com a sensação que se tem quando se anda de moto, mas a diferença é que estava em uma velocidade mil vezes mais potente e se locomovendo de forma não convencional.
Quando pararam, a brisa agradável da noite tocou seu rosto. grunhiu, olhando para os lados atordoada.
Estavam em um extenso jardim repleto de flores, tendo em sua maioria rosas. Aquela era a parte de trás do castelo de .
— Por que me trouxe aqui? — ela o questiona irritada.
tinha as mãos nos bolsos enquanto parecia comtemplado em fitar as flores do jardim. Enquanto travava uma luta para arrumar seus próprios cabelos completamente armados depois de ter sido arrastada até ali pelo vampiro, o mesmo tinha os seus próprios bagunçados daquela forma charmosa e bela de sempre. Ela grunhiu.
— Estou falando com você, !
— E eu estou te ouvindo. — ele rebate, ainda fitando as flores. — Mas seu tom está muito agressivo. Não merece resposta de minha parte.
bufa alto. Ela apenas anda irritada até o rapaz, postando-se ao seu lado.
— Não me faça perder tempo.
— Por acaso o tempo está curto apenas para você? Mysthical está com os dias contados, . Todos nós estamos sem tempo.
— Prefiro gastar o tempo que me resta com outra pessoa que não seja você.
subitamente desvia o olhar, cravando suas íris negras na imagem de .
— Huh, verdade? E quem seria essa pessoa? — ele pergunta, o tom duro denunciando seu profundo desgosto.
— Qualquer uma, eu não ligo.
— Se preferir posso te deixar com . Aposto que será adorável passar seus últimos dias ao lado de uma sereia chorando em cima do corpo em decomposição de um vampiro.
— Como você pode dizer isso sem um pingo de culpa? Sem qualquer remorso?
— Eu sou um vampiro, . — diz, impaciente. — Ou eu mato ou eu morro. E por mais que minha morte me pareça extremamente convidativa, eu nunca me permitiria morrer de forma medíocre.
— Você é terrível. — diz, rindo sem humor. — Eu não sei como pude um dia pensar o contrário. Você é o que é, não há nada que possa mudar isso.
— Perdão por te decepcionar novamente, princesa, mas foi você quem idealizou uma imagem minha a qual não condiz com a realidade. — se aproxima de . — Mas se te fizer se sentir melhor, tenho uma confissão a fazer.
o olhou desconfiada. Ele apenas a olhava daquela forma misteriosa a qual ela odiava.
— Eu já me peguei imaginando como seria morrer em suas mãos... — diz devagar, um sorriso sujo crescendo a medida em que falava. — E também imaginando como seria matá-la com minhas próprias mãos.
— E por que não o fez ainda? Já cansei de viver.
— Seria um desperdício acabar com a sua vida, princesa. — se aproxima ainda mais, levando uma das mãos ao queixo da jovem e fazendo com que a mesma o olhasse nos olhos. — Você é tão poderosa, ... Se você soubesse o potencial que tem estaria usufruindo dele nesse exato momento, não se escondendo das criaturas enquanto os outros fazem o trabalho pesado.
— Eu não estou me escondendo! — grunhe irritada, fazendo apenas rir.
— Eles estão fazendo isso por você. Enquanto você fica protegida a sete chaves, mais pessoas morrem. Mas Jhotaz e Victor são orgulhosos demais para admitirem que querem esconder a pobre da guerra.
— Se enquanto estou aqui mais pessoas morrem, eu quero ir até eles!
— É aí que eu entro, gracinha. — gruda seus corpos, fazendo arregalar os olhos em surpresa. — Infelizmente eu também quero esconder a pobre da destruição externa... Prefiro destruí-la com minhas próprias mãos, por meu próprio mérito.
— Você está conseguindo. — a menina admite em um sussurro, preparando-se para se esgueirar para longe do homem, sendo subitamente segurado com mais força por ele.
— Não fuja de mim, . — ele pede de forma carinhosa. A menina apenas engoliu em seco.
— Eu preciso.
— Não, você não precisa. Você pode fazer suas próprias escolhas.
— E eu escolhi te manter longe. — diz irritada. — Você é meu pai biológico! Por favor, pare de insistir em algo sem fundamento e me deixe em paz.
— Existem duas opções, . — começa a falar ignorando o que lhe foi dito, o maldito sorriso torto e debochado fazendo-se presente em seus lábios. — Ou eu não seja seu pai e nós estamos perdendo nosso precioso tempo com essa sua paranoia... Ou eu realmente seja, o que é uma droga. Mas sinceramente, quem liga?
— Quem liga?! Como assim QUEM LIGA?! Eu ligo! — grunhe, fazendo rir ainda mais.
— Princesa, olhe bem para mim. Estou vivendo há séculos, trepando aos montes durante os anos pois esse é o único aspecto da imortalidade que me agrada. Se já engravidei alguém, nunca fiquei sabendo.
— E você diz isso para me consolar?!
— Eu digo isso para você parar de ser tola. — se aproxima novamente da jovem. — Seu pai foi Jacques. Ele cuidou de você, ele te criou. Eu não fiz nada disso. Sério que a essa altura você quer agir como se eu fosse seu verdadeiro pai? Não seja boba, princesa.
— Não importa, . — balança a cabeça em negação, já sentindo dor na mesma com toda aquela conversa. — Você e Lauranna transaram. Você a engravidou, e agora eu estou aqui. Nós não podemos simplesmente... É errado.
— Nós temos convicções diferentes do que é certo ou errado. — se aproxima ainda mais, seus olhos queimando enquanto fitavam a jovem. — Quando eu te toco, ... Eu fico alucinado. — ele leva uma das mãos à bochecha esquerda de . Ele a acaricia, sorrindo ao sentir a superfície quente em contato com sua fria. — Parece tão certo tocar você. Parece tão certo sentir você, provar você, possuir você de todos os jeitos imagináveis... Tudo isso me soa maravilhosamente bem. Um sentimento tão intenso que sei que não sou digno de sentir, mas sinto. Você consegue me entender?
fecha os olhos, mordendo os lábios e sentindo sua cabeça latejar e o conhecido frio do estômago se fazer presente em sua barriga. Ela não respondeu nada para , apenas segurou a mão livre do rapaz e levou a seu peito. E assim ele sentiu seu coração. Seu coração já descompassado, acelerou mais ao ser tocado por ele. Ele sorriu, mas seu sorriso foi diferente: pareceu inocente. Puro.
— Isso também parece certo pra você. — ele sussurra. — Eu... Eu tenho algo pra você.
— , por favor...
— Nunca em toda minha existência eu faria algo que você não quer, princesa... — ele sussurra rouco. — Mas eu preciso lhe oferecer algo agora. E eu gostaria que você tentasse compreender e, se possível... Aceitar.
retira a caixa dourada do bolso, sendo abruptamente repreendido por .
— Não. — o empurra, rapidamente ajeitando-se. Seu olhar era duro e severo. apenas a fitou sem entender.
— Não...? — ele repete. — Como assim “não”?
— Não perca seu tempo, eu não aceito. — ela afirma, seus olhos raivosos cravados na imagem do rapaz. — Você é ruim, inconsequente, maldoso e insano. Você fez e ainda faz mal para milhares de pessoas e simplesmente não dá a mínima para isso, muito pelo contrário: você se vangloria. Você quer me destruir, quer com que eu me desfaça em suas mãos.
— Sabe que meu conceito de destruição é relativo... — ele tenta se defender, sendo prontamente interrompido pela jovem.
— Eu não quero você, .
— Você está sendo tola. — ele rosna. — Você sempre soube de todo o mal que há em mim, por que se importa agora?!
— Porque agora eu percebi o que você realmente é.
— O que quer dizer?!
— Você é um monstro sem coração que além de ter um laço sanguíneo comigo, não me merece.
sentiu todo o seu corpo se preencher com o mesmo sentimento que havia sentido quando soube de e , mas esse o qual estava sentindo no momento era pior. Muito pior.
nunca sentiu tanta dor em toda a sua existência.
— Quer saber de uma coisa? Tudo bem. — ergue as mãos em sinal de redenção. Seu tom era extremamente magoado. Ele nem ao menos esforçou-se para esconder isso. — Você venceu. Não irei insistir mais. Você está certa.
arregalou os olhos. realmente havia cedido a palavra dela?
— Está armando alguma coisa?
— Cansei. — dá de ombros, já farto daquilo. — Você está certa. Eu sou um monstro e você é boa demais pra mim. Já chega. Fui tolo em pensar que sentisse o mesmo por mim.
— ...
— Cale a porra dessa boca e deixe-me terminar. — ele rosna, olhando-a com desgosto. — Eu odeio a forma que você me faz sentir, . Odeio, porque eu não consigo resistir a isso. É patético e demonstra uma fraqueza a qual eu acreditava não ter. Mas você... Você não me quer. E isso me mata. Quando eu quero, eu vou e consigo. E acredite: eu nunca quis ninguém em todos meus séculos de existência como quero você. Mas você continua agindo como a garotinha inocente que está sendo abusada pelo homem mau, ainda mais depois de ter acreditado nessa bobagem de eu ser seu pai. Você conseguiu com que eu desistisse de você. Não era isso o que você queria desde o começo? Pois meus parabéns.
desvia o olhar para a caixa em suas mãos, sorrindo amargo encarando o objeto. No segundo seguinte ele arremessou o item para longe. E assim dá meia volta. Foi necessário um milésimo de segundo o qual piscou e ele havia desaparecido.