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Prólogo

A barreira estava formada. Os jogadores do Internacional estavam alinhados na entrada da grande área e hora ou outra o árbitro precisava separar o início de confusão entre os atletas dos dois times. 1x1 em plena Arena do Grêmio aos 44 minutos do segundo tempo.

O camisa 7 do Grêmio respirava ofegante, visivelmente cansado. Seu olhar revezava entre a bola e o goleiro bem atrás da barreira. Ele sabia que não podia errar ou isso custaria o segundo rebaixamento da história do tricolor gaúcho.

respirou fundo, pegou impulso e chutou de pé esquerdo a bola bateu na cabeça de um dos zagueiros do Colorado e foi direto para a linha de fundo. Escanteio. não podia acreditar que havia perdido aquela chance.
Seu colega de time foi até a bandeirinha do lado esquerdo do campo. Sem delongas cobrou o escanteio que foi direto para a pequena área mas o goleiro Marcelo Lomba foi mais rápido e pegou a bola com as mãos passando a adiante para que o Internacional armasse um contra ataque.

recuou tentando ajudar o time como podia mas quando viu o atacante adversário, Paolo Guerrero, sozinho e em posição legal, sabia o que aconteceria depois.
Guerrero deixou o arqueiro gremista pra trás e um simples toque na bola foi o suficiente para que ela entrasse no gol antes que qualquer zagueiro chegasse para cortar.

Diante de um estádio silencioso, viu seu time rebaixado pela segunda vez na história do clube. Junto com o apito final, ele desabou em campo. Preferia a morte do que ter que enfrentar aquilo em pleno estádio gremista na frente de uma torcida apaixonada mas que naquele momento estava sendo contida pela polícia.

se levantou e caminhou para sair de campo. Não ouviu seus colegas de clube, não ouviu seu treinador e nem comissão técnica, apenas correu em direção ao vestiário.
Torcia para que fosse apenas um pesadelo ruim e que tudo ia ficar bem.

⚽🖤📱

- Eu sinto muito - Dantas disse com sinceridade - eu fiz o que pude mas a diretoria não quer mais.
- Como assim "não quer mais"? O que eles pensam que sou? Um amador? - o rapaz perguntou indignado.
- , você perdeu a chance de ouro de salvar o time. Eu e o Renato tentamos, ele gosta de você, mas não conseguimos nada. A torcida quer, literalmente, matar você e o resto do elenco. Deixar Porto Alegre é o melhor pra você.
- Mas eu... Eu cresci no Grêmio - ele baixou a voz, estava sem ar.
- O Grêmio não te quer, e acho que você não tem mais espaço aqui.
- Mas pra onde eu vou?
Dantas colocou alguns documentos em cima da mesa.
- Esses três ainda têm interesse em você. Eu não deveria mas vou deixar você escolher pra qual quer ir.

leu o primeiro. Um gigante carioca mas que não conquistava um título notório há muito tempo com um salário inferior ao seu atual.

- É ridículo. Não vou jogar no Botafogo. Nada contra mas não quero morar no Rio de Janeiro nunca - entregou o papel para Dantas que rasgou como se fosse um bilhetinho.
- Certo, tudo bem. Nada de Botafogo.

O segundo era o clube mexicano Chívas. não conteve um riso, conhecia muito bem o histórico negativo daquele clube.

- Não foi por causa do Chívas que a Conmebol baniu os clubes mexicanos da Libertadores?
- Supera, , isso já faz tempo.
- Claro, tanto é que nunca mais jogaram o campeonato. Não, esquece - devolveu o documento para o empresário.
- Parece que temos um campeão.

pegou o último papel e uma leve careta se formou no seu rosto. Era um dos quatro grandes paulistas, muitos jogadores prestigiados já haviam demonstrado algum interesse em jogar lá algum dia, mas não .

- Não.
- Dá uma chance, !
- Eu não vou jogar no...
- Você queria que fosse o Barcelona? Mas deixa eu te dizer: o Barcelona não contrata jogador que erra uma falta importante aos quarenta e quatro do segundo tempo e termina de afundar o time!

olhou incrédulo para o homem. Sentia vontade de chorar mas não ia demonstrar de forma alguma.

- Quer jogar com o Messi, Suarez e Coutinho? Tá com saudade do seu amiguinho Arthur? Primeiro você precisa ser trinta vezes melhor. Indo jogar em São Paulo você vai conseguir isso, . Esse clube tem uma das melhores estruturas do país.
- O salário é menor. Vamos sair no prejuízo.
- Só se o Barcelona não te contratar depois.
não conteve o sorriso.
- Não se preocupa, eu não te mandaria pra um lugar que eu sei que te matariam. Então, posso fazer a ligação?
- Pode.
- Que bom, o Emerson vai ficar feliz em te receber. Bem-vindo ao Sport Club Corinthians Paulista, .

Capítulo 1 - Bem Vindo à Sampa!

assinou seu nome na linha pontilhada sobre o olhar curioso do diretor de futebol Emerson Sheik e atrás da câmera o presidente do clube, Andres Sánchez junto com Dantas, olhavam atentos.

- Seja bem-vindo, - Emerson disse sorrindo - veste a camiseta para a foto.

pegou a camiseta emprestada por Sheik e vestiu. Parou atrás do gigante escudo na parede e sorriu para a foto, depois tirou outra acompanhado pelo diretor, o presidente e o empresário.

- Você quer ir até o campo agora? O elenco tá treinando e o Fábio pode te apresentar os rapazes se você quiser.
olhou para Dantas que concordou.
- Tudo bem.

seguiu Emerson para fora da sala. Pegaram um dos carrinhos motorizados do clube e foram até o campo onde o time fazia o aquecimento do primeiro treino da temporada.

- Ele chegou, professor - Emerson se apressou na direção do treinador.

O mesmo se virou e viu completamente estático. estava nervoso, afinal, só conhecia Fábio Carille como rival mas o sorriso acolhedor no rosto do homem o tranquilizou. Ele definitivamente não se parecia em nada com o Renato.

- Estávamos te esperando, - Carille cruzou os braços.
- Ele acabou de assinar, eu trouxe pra conhecer você e os rapazes.
- Professor, eu...
-, vou ser sincero. Não vai ser fácil, o Grêmio caiu e o Corinthians foi quase, o time é quase o mesmo e eu vou ter que me virar pra fazer dar certo. Eu preciso contar com você.
- Hum... É claro, estou à disposição.
- Ótimo.

Carille assoprou o apíto tão alto que fez dar um passo pra trás. Todos os atletas pararam de treinar e se aproximaram do seu treinador.

- Como vocês sabem, o chegou do Grêmio pra reforçar o time. Talvez vocês se conheçam de se cumprimentar em campo mas vamos fazer com que ele se sinta bem-vindo aqui. , o time titular é o Cássio - ele apontou para o goleiro de um metro e noventa que sorriu receptivo para - Fagner é o lateral direito, o Bruno e o Gil são os zagueiros e o Danilo é lateral esquerdo. O Bruno chegou ano passado e cobriu o Fagner quando ele foi pra seleção e o Gil voltou da China agora, então você não é o único novo por aqui. O meio campo ainda não tá definido mas aqui estão o Ralf, Urso, Gabriel, Pedrinho, o Mateus e o Ramiro. O Jadson tá machucado, depois vocês vão ser apresentados. Por fim, tem o Gustavo, o Vagner, o Mauro e o Clayson como atacantes. Tem mais alguns jogadores pra te apresentar mas eles não estão aqui.

foi bem recebido pelos colegas de clube. Ramiro saiu do Grêmio e na temporada seguinte entrou então não puderam se conhecer mas era bom ter alguém pra compartilhar as experiências.

- O Cássio jogou lá também, você pode falar com ele depois - o meia sussurrou ao cumprimentar o rapaz - bem-vindo, .
- Obrigado.
- Ei , você sabe como um cachorro corinthiano late? - Pedrinho perguntou fazendo alguns jogadores revirarem os olhos, apenas Mateus Vital começou a rir.
- Tenho medo de perguntar.
- Ralf Ralf Ralf - o garoto disse com a voz grave fazendo Mateus soltar uma gargalhada alta e outros jogadores conterem o riso. Emerson também não conteve a risada. Ralf revirou os olhos mas riu.
- O Pedro é o engraçadinho do grupo, você vai rir bastante com ele, ou talvez não - Carille disse ao ver que Vital se contorcia de rir - tirando o Vital. Eu te recomendo andar bastante com o Fagner, ele assusta o Pedrinho. Evita o Jadson, também.
- Anotado.
- Se você quiser, , pode começar a treinar com a gente agora, eles estão aquecendo.
- Na verdade eu vou terminar de apresentar as instalações pra ele - Emerson se pronunciou antes que pudesse terminar - ele vai estar por aqui amanhã bem cedo. Prometo.

⚽🖤📱

conhecia apenas o departamento médico do clube mas lhe foi apresentado todo o CT Joaquim Grava. Emerson era um bom guia turístico, além de fazer se sentir mais confortável e menos inseguro.

- Então nós já estamos apresentados, certo? E você já conhece o CT, só vai ficar faltando o Parque São Jorge e a Arena. Se bem que eu tenho certeza que você conhece a Arena muito bem - Emerson riu, foi obrigado a concordar.

Na ultima temporada o Grêmio ganhou do Corinthians por 1x0 na Arena Corinthians com um gol do próprio .

- Ah cara, eu te odeio tanto, a gente precisava daqueles pontos!
- É, a gente também... Bom, agora eu visto outra camisa.
- Sinto muito pelo que aconteceu com o Grêmio.
- Eu também...
- Sei que você tá se culpando mas não se preocupa, aqui as coisas vão melhorar. O Fábio não tem o temperamento do Renato, vocês vão se dar bem.
- Com certeza, eu espero que sim.

se encontrou com Dantas e foi liberado para ir pra casa, começaria apenas no dia seguinte e ele não pensou duas vezes antes de voltar para o aconchego da sua nova casa.

- Esse carro tá silencioso demais até pra você - Dantas disse após algum tempo em silêncio - vamos, conta aqui pro Dan-dan o que tá acontecendo.
- Nada, eu só... Não sei, não sei mesmo.
- Eu sei e vou listar. Primeiro de tudo, você ainda tá se culpando, segundo você não queria estar aqui e terceiro, você tem medo de não conseguir proposta da Europa estando aqui.
- Acha que eu ainda tenho alguma chance? Nem que seja no Napoli ou no Villareal, não me importo. Meu sonho é a Europa.
- Quer saber? Acho. Você é bom, , ótimo batedor de falta e só está em um momento delicado, mas também acho que você deveria repensar seus objetivos.
- Como assim?
- Bem... O Adenor ainda é bem próximo do Corinthians, se é que você me entende.
- Como assim?
- Pensa um pouquinho, , o que mais tem naquele time é jogador da seleção, o Tite realmente presta atenção no ex clube dele. No Grêmio você não teria a menor chance, mas aqui a história é diferente.

sabia que Dantas estava certo. No seu antigo clube Everthon e Arthur já eram titulares na seleção de Tite, além de que Arthur estava no lugar onde mais desejava estar. analisou um pouco e sabia que um caminho podia levar a outro.

- Ok, você tem razão.
- Eu sei. Próxima parada: Granja Comary.

⚽🖤📱

Em casa, tomou um banho demorado e se deitou na cama, um teto nunca pareceu tão convidativo para se encarar. E ali estava ele, em um apartamento em São Paulo e sendo a nova contratação de um dos maiores times do país. E da mesma forma que Arthur vivia o que sempre quis, ele sabia que estava vivendo o sonho de outros jovens atletas.
Mas por qual motivo estava tão infeliz quando tudo estava perfeitamente normal?

não sabia explicar, só sabia que não queria estar ali. Não queria conhecer pessoas novas, não queria um novo técnico, uma nova casa ou uma torcida nova e se tratando de torcida, ele sabia que estava com problemas, afinal, estava diante de uma das mais numerosas do Brasil, que podia amá-lo ou odiá-lo do dia pra noite.

Ele não fazia a mínima ideia de como a torcida estava reagindo à sua contratação e tinha medo de saber, mas para seu azar, sempre foi absurdamente curioso e quando se deu conta, lá estava ele olhando a página do Facebook do clube onde estava sua foto com a camisa do time e uma mensagem de saudação.

"Bem-vindo, !
O Corinthians assinou na manhã de hoje com o volante . O meia fechou com o Timão por duas temporadas e já está à disposição do treinador."

Uma das poucas coisas que o confortavam naquele momento era saber que estava sendo bem recebido pelo clube. No CT foi cumprimentado desde o guarda da guarita até pelo presidente e isso o fazia se sentir melhor.

"Parabéns, Corinthians, mais um volante e já pode abrir uma montadora!"

"Esse não é o cara que rebaixou o Grêmio? É sério isso?

"Ainda é muito cedo pra botar fogo no carro desse maluco?"

Alguns dos comentários eram extremamente maldosos e isso fez o estômago do rapaz revirar como se estivesse em uma montanha-russa. Sabia as ameaças que vinha sofrendo de torcidas organizadas do seu ex clube, tinha medo de que acontecesse o mesmo e uma pessoa ameaçando por fogo no seu carro não o deixava muito feliz.

"Boa! Finalmente um batedor de falta nesse time."

"Corinthians fazendo uma boa contratação? Tenho medo."

"Ele foi importante na conquista da Libertadores do Grêmio e jogou contra o Real Madrid de igual pra igual. Não espero menos do que isso por aqui."

Desde que deixou o sul, não sabia exatamente o que estava sentindo, uma única palavra não era o suficiente para descrever os múltiplos sentimentos que estavam dentro dele naquele momento. Raiva, medo, tristeza, ansiedade... Raiva do seu desempenho em campo, medo das ameaças, tristeza por ser dispensado e ter que deixar tudo para trás, ansiedade pelo que estava por vir porque ele sabia que não tinha uma vaga garantida no time titular e o futuro era totalmente incerto.

Ele esfregou as mãos pelo rosto, tentando segurar a emoção mas era inevitável, era apenas um humano e chorava como todos os outros. Não tinha ninguém ali para apontar e ele se permitiu chorar e por pra fora tudo o que estava sentindo.
Se sentia injustiçado e rejeitado pelas pessoas que gostava, tinha medo de encontrar um torcedor do Grêmio na rua, qualquer camisa azul fazia o seu corpo inteiro tremer, suas redes sociais choviam críticas e ameaças e os tablóides questionavam a contratação.

Desde que se tornou profissional, aos 17 anos, nunca tinha presenciado algo assim, nem mesmo nas duas temporadas que passou na Argentina ele foi tão criticado quanto agora. Estava vivendo o pior momento da sua carreira e não conseguia ver uma saída para aquela situação.

Se aquele túnel tinha uma luz, ele mal podia esperar para encontrar o final.

⚽🖤📱

No dia seguinte, começou suas atividades logo pela manhã. Ao entrar no gramado, viu que praticamente todos os jogadores já estavam ali esperando começar o aquecimento. Foi cumprimentado por alguns jogadores e também pessoas da comissão até ser parado pelo seu treinador.

- Bom dia, .
- Bom dia, professor.
- Eu preciso conversar um pouco com você. Vem comigo, por favor.

O rapaz acompanhou o técnico até o banco coberto na beira do gramado. Carille estava com uma prancheta na mão com um campo desenhado e o nome de cada um dos seus atletas.

- Não posso te garantir a titularidade.
- Eu sei.
- Eu te analisei muito antes de ter certeza que queria você no time e a sua técnica me impressiona. Você é disciplinado e um ótimo batedor de falta. Além de você, só tenho o Jadson e o Sornoza como batedores, então acho que você é o que eu precisava, mas não dá pra negar que o seu rendimento caiu na última temporada e os chutes já não eram tão certeiros assim.
- É... - se sentiu envergonhado, sabia que não tinha feito uma boa temporada.
- É por isso que enquanto não começa o Paulista, eu quero fazer algo diferente com você. Por enquanto você vai treinar com o time reserva mas eu quero que você treine sem parar as cobranças de falta, escanteio e pênalti, você vai treinar até não aguentar mais. Não tô dizendo que você vai ser titular por causa disso mas você também vai ter o seu momento. Perdi jogadores importantes e você é o primeiro a chegar, outros virão mas eu confio em você. Faça por merecer.

O jeito calmo do treinador fez se sentir melhor e saber que ele tinha chance de ir pro time titular o animou um pouco de certa forma. Estava disposto à dar o seu melhor para conquistar a vaga. Daria um passo de cada vez até alcançar o seu objetivo.

- Eu vou, professor. Muito obrigado pela confiança.
- Sei que você e o Renato se davam bem e que eu não tenho nada a ver com ele, mas eu procuro ter uma boa relação com os meus jogadores. Quero que você se sinta em casa aqui.

Ele olhou para o campo, viu os jogadores se aquecendo e dando risada, percebeu o quanto eram unidos e assim como se dava bem com todos no Grêmio, esperava ter a mesma sorte de agora em diante.

- Eu estou em casa.
- Ótimo. Vamos.
Eles se levantaram e foram até o meio do campo onde o treinador chamou seus jogadores.
- Façam uma roda, vamos dar as boas vindas devidas para o .

Imediatamente uma roda grande se formou e quando ia para o lado dos goleiros, o terceiro goleiro Caique apontou para o centro.
- Você fica lá.

entendeu na hora e foi para o meio dando risada. Ele era o bobinho e tinha que pegar a bola.

- Isso é injusto, são uns trinta contra um! - ele se defendeu.
- Tem razão... Pedrinho, vai pro meio com ele.
- Por que eu, professor?
- O Bruno vai também.

O zagueiro uruguaio foi sem reclamar enquanto o meia murmurava que estava há anos no clube e não merecia aquilo.

- Três bolas, , você só precisa pegar uma. Só o Walter, o Cássio e o Caique podem usar as mãos. Valendo.

As bolas iam de um lado para outro da roda e ia pra cima como se estivesse marcando um adversário. Conseguiu dar uma cabeçada na bola mas ela foi parar direto nas mãos de um dos goleiros.

- Ei, eu encostei na bola!
- Foi mal, novato, aqui não tem VAR pra te ajudar - Walter riu e jogou a bola para o outro lado da roda.

viu a bola indo parar nos pés do atacante Gustavo, ele correu para pegar, mas a única coisa que conseguiu foi que a bola passasse pelo meio das suas pernas fazendo o próprio rir do mico.

- Você ganhou uma Libertadores assim? - o atacante perguntou rindo.
- Eu já parei o Cristiano Ronaldo, me respeita - disse rindo e correu para a direção da bola.
- Já ganhou um título pela seleção, fera? - Pedrinho perguntou atrás dele.
- Nunca fui convocado - foi atrás do lateral Carlos Augusto mas perdeu a bola.
- Que pena, eu já e ganhei pela seleção olímpica e agora tô sendo feito de bobinho.
- Cállate ustedes dos, soy un defensor de mi equipo uruguayo - Bruno foi com agilidade e recuperou a bola.

Logo em seguida também recuperou a bola enquanto Pedrinho reclamava o quanto era injusto aquilo.

⚽🖤📱

O treino na parte da manhã foi para os jogadores se readaptarem após as férias, mas na parte da tarde as atividades voltaram ao normal. foi chamado pelo seu treinador para o outro campo junto com mais alguns jogadores.

- Vocês vão treinar cobrança de falta até a perna cair. São meus batedores e já faz tempo que não sai um gol de falta.

Montaram uma barreira de bonecos à uma distância considerável do gol. alinhou quatro bolas no chão e começou a chutar em sequência, mas das quatro apenas uma entrou no gol. Ele sabia que estava totalmente fora de ritmo mas errar algo em que sempre foi bom, o deixava frustrado. Alinhou mais três e chutou em sequência, dessa vez duas entraram no gol. Satisfeito, deu a vez para o próximo jogador e se afastou para observar.

Ele olhou para o outro lado do campo e viu que o fotógrafo do clube estava tirando algumas fotos do treino. A câmera revezava entre o jogador que cobrava a falta e o goleiro que fazia boas defesas. A garota ao lado observava e anotava freneticamente em uma prancheta e mesmo que não fosse nada demais, isso prendeu toda a atenção de .

- O que eles estão fazendo? - perguntou para Mateus, embora soubesse quanto ao fotógrafo.
- Ele é o fotógrafo do time, tá sempre com a gente e ela fica no Parque São Jorge, não sei o que tá fazendo aqui hoje.
- E o que ela tanto anota?
- Esquece, , nem o Andrés mexe com ela - o rapaz riu e se afastou para bater as cobranças de falta.

Pouco depois foi a vez de realizar novas cobranças e esse foi o tempo para que o fotógrafo e a garota não estivessem mais lá e sim no campo onde o resto do time treinava.

Capítulo 2- Insegurança

colocou os fones de ouvido e a mochila nas costas enquanto saía do vestiário, ainda não tinha decorado o caminho de volta para a saída do CT então se limitou a seguir os colegas de elenco em direção ao estacionamento, mas parou quando sentiu uma mão no seu ombro, se virou para ver quem era e ficou supreso ao ver que era o fotógrafo, a garota das anotações e um terceiro com uma câmera de filmagem profissional.

- É, rápido, prometo. Sou o Junior, fotógrafo do time, esse é o Tobias que faz os vídeos da Corinthians TV pro YouTube e ela é a , cuida das mídias do clube. Primeiro a gente quer te dar boas vindas e a gente só queria uma mensagem sua pra torcida pra poder colocar nas redes sociais, tudo bem pra você?
- Hum... Claro, tudo bem.
- Perfeito. Quando o Tobias der o sinal, você pode começar a falar.
- Espera, o que eu falo?

entregou sua prancheta para com um ar de impaciência que não passou despercebido pelo rapaz.

- Lê o que está escrito aí e pronto.

leu rapidamente as três linhas de apresentação e devolveu a prancheta para .
Tobias fez um sinal de ok com a mão e começou a falar.

- Primeiro de tudo, estou muito feliz pela oportunidade de poder jogar aqui... Obrigado ao Andrés e ao Emerson pela proposta, eu fiquei bem supreso e... Ter a maior torcida do país me apoiando é muito importante pra mim - essa parte estava grifada e ele entendeu que era obrigado a falar - prometo dar o meu melhor e não decepcionar o torcedor corinthiano e... bom, é isso, muito feliz pela oportunidade.
- Corta - Tobias parou de gravar - muito obrigado, , ficou ótimo.
- Ainda bem que não dá pra rebaixar um vídeo também, se não ele estava ferrado - disse atraindo olhares de censura de Junior e Tobias, ficou confuso - não me olhem assim, não ficou nem um pouco convincente.
- Isso não te dá o direito de fazer esse tipo de piada sobre mim - o meia cruzou os braços - você não sabe o que eu aconteceu no ano passado.
- Sei que você errou a cobrança de falta e rebaixou o seu time - a garota esboçou um sorriso irônico - e se o Carille não abrir o olho, vai acontecer a mesma coisa aqui.
- Bom, eu não sabia que o time só tem um jogador.
- , já chega - Junior alertou e olhou para - desculpa, ela não está em um dia bom.
- Eu acho que ela não está em um ano bom, na verdade. De qualquer forma, foi um prazer conhecer vocês, licença.

deu meia volta e seguiu em direção à saída ainda perplexo com o que havia acabado de acontecer. Esperava isso de qualquer torcedor mas nunca de um funcionário do clube, algo que nunca aconteceu no Grêmio. Se lembrava muito bem do momento em que abandonou o campo aos prantos e foi consolado por funcionários do clube ainda no túnel de acesso o parabenizando por ter tentado até o último lance.

Em passos rápidos ele seguiu para o estacionamento e cumprimentou alguns dos colegas de elenco que também estavam indo embora. Quando abriu a porta do seu carro, ouviu alguém chamando seu nome e se virou para ver quem era. Viu Bruno Méndez vindo na sua direção.

- Oi.
- Hola, , los chicos te preguntaron si también irías al estadio.
- Ir al estadio? Porque la pregunta?
- Habla español?
- Sí, viví en Argentina durante dos años, pero por qué los chicos quieren ir al estadio?
- Es una conmemoración por el comienzo de la temporada y el consejo se fue para usar el camarote.
- No lo sé, no parece una buena idea.
- Vamos, será genial y podrás conocer mejor el estadio.
- Está bien, me voy.
- Bueno!
- Sí, bueno... Hum... Bruno?
- Sí?
- Debería aprender un poco de portugués, mi español es horrible.
- Así está melhor? Hablo um pouco de portugués.
- Está ótimo - o rapaz sorriu e abriu a porta do carro - até mais tarde.
- Hasta la vista, baby! - Bruno respondeu se distanciando e riu, a referência era ótima.

⚽🖤📱

tinha o resto da tarde livre mas para o seu azar, no fim da tarde Dantas foi até o seu apartamento para passar alguns compromissos que o atleta tinha nos próximos dias.

- E então? Como foi o primeiro dia?
- Foi... Bom, eu acho. Até o momento em que uma pessoa totalmente aleatória veio dizer que se o Carille não abrir o olho, vou rebaixar o Corinthians também. Tirando esse fato, está tudo ok.
- Quem disse isso?
- A operadora de mídia do clube.
- Eu vou falar com o Emerson.
- Não precisa, deixa pra lá, eu sei o meu potencial... E o que você tem aí pra mim? - ele esticou o pescoço na tentativa de ver as anotações no caderno do empresário.
- Amanhã no horário do almoço você vai fazer a primeira entrevista coletiva, quarta-feira é certeza que você vai ser, pelo menos, relacionado para o jogo e eu pensei que na quinta-feira você poderia ir assistir uma partida do time feminino. Vai ser no Parque São Jorge e é depois do treino.
- Por que tenho que ir ver o time feminino?
- Olha, rapaz, sua imagem está meio queimada com a torcida. Você pode ir ver outra modalidade, talvez o futsal ou o basquete, mas em época de igualdade, o futebol feminino vai ser perfeito.
- Não sei nada sobre futebol feminino, no mínimo vou ter que assistir uns jogos.
- Não precisa, não tem diferença nenhuma em relação ao masculino - Dantas mexeu na sua pasta e entregou alguns papéis para - aqui, eu listei o nome de todas as jogadores e a posição de cada uma, eu quero que você preste atenção na lateral esquerda e na zagueira que jogarão a Copa do Mundo na França. Na folha de trás tem um resumo das últimas temporadas do time. Elas são as atuais campeãs paulistas, brasileiras e da Libertadores.
- Uol - disse surpreso ao ver a foto do time erguendo a taça do torneio continental - não é um time, é uma máquina de ganhar títulos.
- Assim como você. Também presta atenção na atacante, ela é tipo a sua versão feminina.
- Eu sou meia.
- Tanto faz, só dá uma lida nesse material porque eu tô tentando muito melhorar a sua imagem. É importante.
- Eu sei, obrigado... Acho que também seria interessante visitar as categorias de base ou alguma instituição que o time apoia... Só pra garantir.
- Anotado, eu vou providenciar isso para a próxima semana - Dantas se levantou do sofá - ah! Já ia me esquecendo, você também vai gravar uma matéria pro Globo Esporte e uma pro canal do time no YouTube junto com outro jogador, vou confirmar a data mas acho que fica pra próxima semana também.
- Tudo bem, combinado.
- Eu já vou, tenho impressão de que você tem um compromisso daqui a pouco.
- Não vou sair com nenhuma garota, se é o que está pensando, Dantas.
- , ... - o empresário riu, os ombros subiam e desciam de forma exagerada - eu te conheço desde que você tinha dezessete anos, acho que é tempo suficiente pra eu saber que você é...
- Não sou gay - respondeu prontamente, embora não acharia nenhum absurdo se fosse.
- Comportado, eu ia dizer comportado. Eu sei que você está indo pro estádio.
- Não quer ir também?
- Não sou sua babá, acho que você pode sobreviver sem mim só por essa noite.
- Você é tão humilde - rolou os olhos - então tchau pra você, ainda preciso tomar um banho.

⚽🖤📱

Depois de um banho demorado para relaxar o corpo após um dia longo de treino, ficou pensativo sobre qual roupa deveria vestir. Não sabia se era algo grandioso ou intimista, não sabia se deveria vestir uma camisa do clube ou o que quisesse usar. Costumava ser muito prevenido para todas as situações, então separou a polo preta oficial do time para deixar no carro caso fosse necessário. Por roupa optou por uma camisa social brança, calça jeans e tênis, o relógio que foi presente dos seus pais não poderia faltar e ao se olhar no espelho, agradeceu mais uma vez por não ter nascido mulher e não precisar passar horas se arrumando.

Satisfeito consigo mesmo, pegou a polo, as chaves e o celular e então saiu. Colocou o endereço do estádio no GPS e seguiu para Itaquera, estava ansioso por pisar no estádio pela primeira vez como parte do time e não como rival.

O caminho foi um pouco demorado devido ao trânsito em São Paulo mas ele conseguiu chegar sem dificuldades. Apenas abaixou o vidro do carro para se identificar na entrada do estacionamento subterrâneo.

- .
- Você tem credencial, ? - o homem de terno e gravata com o brasão do clube perguntou.
- Credencial? Hum... ainda não, cheguei essa semana no time.
- Pede pra diretoria providenciar uma, tudo bem? Vou deixar passar porque te conheço, mas é melhor garantir, certo?
- Claro, tudo bem. Obriga...

mal terminou de falar quando o carro que parou atrás dele começou a buzinar freneticamente e ele olhou para trás para ver o que era.

- Já arrumou confusão, chico? - era Bruno e estava com um sorriso bem-humorado no rosto.
- Quer dizer que você fala português?
- Sei xingar tambiém. Vamos logo.

deu risada e entrou no estacionamento. Optou por uma vaga perto da saída e Bruno estacionou ao seu lado. O meia ficou aliviado quando viu que o uruguaio não estava vestido com roupas do clube.

- Por que tá me olhando así?
- Eu não sabia se deveria vestir uma camisa do clube ou não. Era só pra ter certeza, você não faz o meu tipo, Méndez.
- Bueno, você tambiém não faz o meu.
- Bueno, muy bueno. Onde fica o camarote?
- Fica do lado oeste, um pouco longe. Vamos.

Alguns minutos depois e eles estavam no camarote e pela quantidade de pessoas, sabiam que eram quase os últimos a chegar. olhou ao redor e reconheceu boa parte dos atletas, acompanhados por esposas que conversavam entre si e filhos que brincavam juntos. Ele também viu que outros dois jogadores que não conhecia, provavelmente recém contratados assim como ele, então sentiu a necessidade de cumprimentar e se enturmar.

Um era um atacante chamado Joel, tinha dezoito anos e havia saído do Fortaleza e o outro era lateral direito Alberto, vindo do Pelotas. Este em especial, reconheceu, pois já havia enfrentado o Pelotas algumas vezes no campeonato Gaúcho.

- Quando vocês vão assinar? - perguntou se servindo do seu drink.
- Eu assino na sexta - Joel respondeu com o olhar disperso no campo abaixo - como o foco do clube é você essa semana, eles acharam melhor eu assinar na sexta, mas o Emerson me convidou pra vir hoje pra conhecer o time.
- E eu na semana que vem, achei melhor assim - Alberto deu de ombros - não que faça alguma diferença, já que eu sou mais um reserva do Fagner. Eu tinha proposta de um time da segunda divisão da Inglaterra mas o meu empresário me aconselhou a ficar no Brasil e esperar uma proposta melhor. Então aqui estou.

percebeu que o rapaz não gostaria de estar ali, estava igual ele alguns dias atrás. Ele se lembrou do dia intenso que teve e como se divertiu, a forma como foi bem recebido pelo elenco, treinador e comissão técnica. Um dia no clube foi o suficiente para enxergar tudo aquilo com bons olhos.

- Talvez você pense que eu vou ser titular porque vim do Grêmio mas o que mais tem nesse time é jogador na mesma posição que eu, mas eu não tenho a mínima ideia de como o Carille vai me usar. Estamos todos no mesmo barco, sabe? A gente tem que fazer por merecer essa vaga e eu tenho o mesmo sonho que você de jogar na Europa, então vamos tentar juntos.
- Quer jogar em que time, ? - Joel perguntou.

encolheu os ombros, nunca falava sobre isso em voz alta porque acha a possibilidade de jogar na Espanha algo impossível e inalcançável.

- Barcelona - respondeu baixo e viu a surpresa no rosto dos rapazes - eu sei que é sonhar alto demais mas acompanho o time desde que eu era moleque e o Messi é o meu ídolo no futebol... Não sei se um dia vou conseguir mas nunca vou saber se eu não tentar.

Eles continuaram conversando mais um pouco até que os três foram convidados a se apresentar em voz alta como novas contratações do clube. subiu na cadeira que Pedrinho empurrou pra cima dele. Os coletas de time aplaudiam freneticamente e gritavam elogios e embora soubesse que era apenas uma brincadeira, decidiu fazer parte daquilo.

- Obrigado, obrigado, sei que sou lindo e também o melhor do time, com todo o respeito ao Cássio e ao Gustavo - apontou para o goleiro e o atacante e deu uma piscadinha, fazendo todos darem risada - brincadeiras à parte, vou me apresentar. Meu nome é , eu tenho vinte e quatro anos, comecei na base do Santos e subi para o profissional aos dezessete anos, joguei uma temporada lá e fui vendido para o Rosário da Argentina, fiquei duas temporadas por lá e depois o Grêmio me contratou, fiquei lá por quatro temporadas e o resto vocês conhecem, agora eu tô aqui e prometo ser o artilheiro do time, com todo o respeito aos meus colegas atacantes - arrancou ainda mais risadas - Ou melhor, vamos apostar? Vamos ver quem vai ser o artilheiro, e olha que eu nem sou atacante, já tô em desvantagem... Mas enfim, prometo dar o meu melhor e dar umas aulas de português pro Méndez porque ninguém merece esse portuñol horroso dele - olhou para o uruguaio que mandou o dedo do meio mas acabou dando risada - tem crianças aqui, seu aprendiz de Luízito Suarez. Bom, é isso, quem é o próximo?
- Ei, novato! - olhou mais ao fundo e viu que o também meia, Jadson, ergueu a mão para ser notado - nem pensa em descer, ainda tem que cantar.
- Cantar o quê?
Ele não teve resposta, apenas os gritos uníssonos de canta, canta, canta.
- Ok, então eu vou fazer que nem o nosso colega de seleção e cantar Insegurança do Pixote porque eu tô inseguro.

nunca foi de cantar, especialmente em público. Sentiu o nervosismo tomar conta de todo o seu corpo e achou melhor descer da cadeira antes de cair.

- Como eu falei, tô inseguro... Então vamos lá...

Essa noite eu notei que você demorou pra dormir
Caminhou pela casa, ligou a TV eu ouvi
Você sussurrando, chorando baixinho pra não me acordar
Se tiver precisando de amigo pra desabafar
Se for alguma coisa comigo vamos conversar
Eu não quero correr o perigo de um dia você me deixar
Escolhi você pra ser minha mulher
E sou tão fiel à nossa relação
Pelo amor de Deus se for insegurança
Tira do teu coração


Ele nem precisou continuar cantando alto, sua voz foi abafada por todos ali cantando junto e ele agradeceu mentalmente, pois apenas mexia os braços no ar animando os colegas, mas a sua voz pouco se ouvia.

Já é tarde vamos nos deitar
Se quiser conversar na nossa cama
Porque sei que tudo isso passa
Você me abraça e a gente se ama
Eu não vou te trair com ninguém
Meu amor você tem minha palavra
Porque tudo que um homem precisa eu tenho em casa


se deixou levar pelo momento e se permitiu a diversão pelo menos uma vez. Já fazia tempo que não se divertia assim, estava há pouco mais de duas semanas em São Paulo e ainda não conhecia lugar nenhum então pensou que ali era o melhor lugar para se estar e com as pessoas que ele veria todos os dias. podia garantir que naquele momento estava feliz, uma campanha ruim e um time rebaixado ficaram pra trás, ele sabia que precisava viver o presente.

E viver o presente significava, para ele, ser o artilheiro da temporada.

Capítulo 3 - Futebol Delas.

prestava atenção no jogo, aos mínimos detalhes. Aos trinta e cinco minutos do segundo tempo, o time feminino do Corinthians vencia por um impressionante placar de 5x1. Embora o ritmo de jogo fosse um pouco mais lento do que o do futebol masculino, ele estava satisfeito com o que estava vendo. O time tinha entrosamento e técnica. Um dos gols foi em uma cobrança de falta de longa distância e isso deixou admirado, pois nem ele já tinha feito um gol tão bonito quanto o que ele presenciou. Ficou mais surpreso ainda quando alguns torcedores pediram para tirar fotos com ele. O estádio não estava cheio, apenas alguns torcedores espalhados pelas arquibancadas e uma concentração um pouco maior do outro lado do campo. reconheceu a faixa da torcida organizada Gaviões da Fiel, mas também percebeu que a maioria da torcida era formada por mulheres que cantavam e apoiavam o time vque retribuiu o apoio em campo.

estava tão entretido com o jogo, que quando saiu o sexto gol, ele se levantou e ergueu os braços em comemoração, o que atraiu alguns olhares das poucas pessoas ao redor dele e também dos repórteres que faziam a cobertura do jogo. Não demorou muito para que um deles se aproximasse.

- Tudo bem? Eu sou o Juan, trabalho pra Globo, você se importa de dar umas palavrinhas sobre o jogo?
- Hum... Não, claro que não.

O repórter fez sinal para que o câmera se aproximasse. No sinal do homem, o repórter começou a falar.

- O jogo pode até ser delas, mas eles fazem questão de apoiar. , eu vi que você comemorou bastante o gol, você acompanha o futebol feminino?
- Pra falar a verdade, eu só assistia os jogos da Seleção, via a Marta, Cris, Formiga... Acabei de chegar aqui e é o primeiro jogo que eu assisto, mas espero que tenha outras oportunidades.
- E o que você está achando da partida?
- Muito boa, a gente tem que incentivar, não é? Tenho certeza que muitas meninas assistem e se inspiram, e o time é muito bom, por sinal.
- Tem algum recado pras crianças que estão assistindo?
- Bom... Acho que o mais importante é nunca desistir do seu sonho, né? Correr atrás sempre. Pras meninas, não pode levar a sério quando alguém diz que futebol é coisa de homem, é pra mulher também, tem uma Marta dentro de cada menina. E para os meninos, tem um Ronaldo em cada um também, continuem correndo atrás do sonho. Todos merecem uma oportunidade.
- E falando em oportunidade, quando vamos te ver jogando?
- Eu não sei, não sei mesmo - riu - Tem que ver com o professor.
- , muito obrigado e boa sorte.
- Eu que agradeço.
- E... Corta - o câmera fez sinal.

O repórter agradeceu e se afastou enquanto continuou assistindo a partida com os olhos atentos. Ao final da partida, a torcida aplaudiu o time que se reuniu no meio do campo para um abraço coletivo e para agradecer a torcida. Ele tirou uma foto do momento para postar nas redes sociais depois, sabia que seria um ponto extra que ganharia com Dantas.

Ele observou o repórter da Globo entrevistando as jogadoras e se surpreendeu quando ele apontou para a sua direção e a jogadora fez sinal para que ele fosse até lá. ficou surpreso mas acabou indo, um segurança abriu o acesso ao campo para ele.

cumprimentou algumas atletas pelo desempenho e foi até a jogadora que ele reconheceu como a lateral Tamires. A atleta agradeceu o apoio em frente à câmera e no final ele se juntou ao time inteiro para uma foto com as jogadoras. Ele sabia que a foto iria parar nas redes sociais do clube porque o fotógrafo em questão era Junior, o mesmo que ele encontrou dois dias atrás saindo do CT.

- Oi, Junior. Eu não sabia que você cobria o futebol feminino também.
- Não cubro, mas hoje vim dar uma força pro pessoal da equipe junto com o Tobias, já que somos só uma agência. Parece que elas gostaram de você - o fotógrafo disse enquanto caminhavam para fora do campo.
- E eu gostei delas - o meia sorriu - foi legal.
- Isso sem contar que vai aumentar a sua popularidade com a torcida.
- Até parece o meu empresário falando - os dois riram.
- Junior, podemos ir?

olhou para o lado e viu , a garota mal educada, vindo na direção deles.

- É claro, mas primeiro acho que você deve desculpas ao pelo seu comportamento.
- Isso é sério?
- Já conversamos sobre isso, .
- Ok, ok, então me desculpa pelo que eu te disse naquele dia.
- Tudo bem, desculpas aceitas.
- Ótimo, fico muito feliz com isso – esboçou um sorriso amarelo e retribuiu da mesma forma.
- Vamos, . Tchau, .

Junior se afastou, mas continuou ali parada como se o que estava prestes a dizer fosse a maior blasfêmia de todas.

- O que é?
- Continuo não gostando de você.
- Entra na fila, gatinha. Você e toda a torcida do Grêmio.
- Eu não terminei ainda. Como eu estava falando, continuo não gostando de você mas o que você fez pelas meninas foi legal, deu visibilidade para o time.
- Hum... Obrigado? A melhor parte é que não precisei rebaixar as meninas também - ele riu mas sentiu o olhar dela o fuzilando - Não me olhe assim, você que começou.
- Eu já me desculpei! - esbravejou e começou a rir - Qual é a graça?
- Me desculpa, é que você parece um pinscher com raiva.

mexia a boca mas não saía palavra alguma, ela estava incrédula com o sarcasmo do jogador.

- Você é uma pessoa horrível.
- Mas não sou eu quem fica humilhando as pessoas por aí. Os outros podem tolerar suas maldades, mas eu não. Licença - ele deu meia volta e saiu de lá.

⚽🖤📱

- Ah, cara! Eu te amo demais! - Dantas falava no telefone enquanto zapeava os canais da TV.
- Quantas vezes já te falei que não sou gay, Ernesto? Além disso, só fiz o que você mandou.
- Não, meu caro. Você deu entrevista, alimentou o sonho de milhares de garotinhas pelo Brasil, entrou em campo, tirou foto até com as árvores... Você não existe! Você não tem ideia de como está facilitando a minha vida.
- Me agradeça depois. Qual é o próximo passo?
- Vou ver, ainda não processei o que aconteceu hoje.
- Então pensa aí e me liga depois. Tchau.

desligou e voltou a atenção para a TV enquanto jantava. Deixou no canal esportivo afim de assistir a reprise de um jogo do Golden State Warriors pela NBA no qual sempre foi um grande fã. No intervalo do jogo, ele pegou o celular e procurou pela página de futebol feminino do time no Instagram e de primeira já encontrou sua foto com as jogadoras onde o clube agradecia a parceria do time masculino. De bom grado ele comentou agradecendo e incentivando o futebol feminino no país, o que de repente, parecia ser uma ótima ideia pra ele.

Embora estivesse feliz com a iniciativa, a sua conversa com não saía da cabeça. Por mais que a piada do pinscher ainda parecesse extremamente engraçada, ele sabia que tinha pegado pesado mesmo a garota tendo se desculpado.
Ele aproveitou que Junior estava marcado na foto, entrou no perfil do fotógrafo na esperança de encontrar alguma rede social de e depois de procurar um pouco no perfil dele, encontrou o perfil da garota no Instagram. Imaginou que talvez ela tivesse muitos seguidores ou conta verificada mas se surpreendeu ao ver que parecia mais uma torcedora comum do que funcionária do clube.
Ele pensou se aquilo era realmente uma boa ideia mas quando se deu conta, já estava digitando um pedido de desculpas.

@.07: Me desculpa pela forma como te tratei hoje à tarde. Foi inapropriado e eu fui um estúpido. Na próxima vez que a gente se esbarrar por aí, vou me apresentar novamente.

Ele deixou o seu celular de lado e voltou a atenção para o jogo. Se empolgava a cada jogada de Stephen Curry ou Klay Thompson. Por mais que o futebol fosse a sua maior paixão, o basquete vinha logo atrás e ele sempre soube que seria atleta de uma das modalidades, era mais habilidoso com os pés, mas sempre que tinha tempo praticava cestas e jogadas apenas por diversão.

Após o final da partida, ele pegou o celular novamente e viu que tinha respondido. Pelo pouco que sabia dela, ele tinha certeza de que uma resposta bem irônica estava o esperando.

@.: Eu nunca conheci alguém tão estúpido na vida que nem você, senhor , mas admito que a piada do pinscher foi boa. Espero no mínimo que honre essa camisa ou eu te mato.

não conteve o riso, a piada do pinscher era sempre infalível e se até uma pessoa ranzinza como gostou, era sinal de que estava tudo bem. , como um cidadão de boa índole, achou melhor parar por ali e não abusar da boa vontade de em o perdoar.

@.07: Vindo de você, eu não duvido nada. Não se preocupa, não sou nenhum amador.
@.: Eu sei que não.


entendeu que a conversa tinha acabado ali, então ele pegou seu prato e pôs na lavadora. Arrumou a bagunça que fez na sala e foi tomar banho para finalmente dormir após um dia longo. Quando o rapaz se deitou na cama após o banho, seu celular começou a tocar e ele viu que era uma chamada de vídeo da sua irmã.

- Lembrou que tem outro irmão além do Rony? - falou ao atender - Como vai, Maria Aparecida?
- Não me chama de Maria Aparecida, , sabe que eu odeio esse nome.
- É tão lindo quanto os seus olhos, Cida - ele sorriu e viu a irmã revirar os olhos - Como estão as coisas aí?
- Ótimas, tirando o fato de que as meninas estão me deixando louca porque estão com saudades do titio .
No mesmo instante dois rostinhos curiosos apareceram na tela do celular e sorriu ao ver as sobrinhas.
- Oi, tio! - as duas disseram juntas.
- Oi, meus amores - o rapaz sorriu e sentiu lágrimas se formando nos seus olhos. Suas sobrinhas eram as pessoas que mais amava na vida.
- Tô com saudade, tio - Maia, a mais velha de seis anos, choramingou.
- Também estou com saudades de vocês duas.
- Tio, quando você vai vir ver a gente? - Belinda, a mais nova de quatro anos, perguntou.
- Assim que eu puder - respondeu com um sorriso, embora não tivesse a mínima ideia de quando realmente poderia - estão se comportando?
- Sim! - as meninas responderam juntas.
- Que ótimo, espero que continue assim.
Ele continuou conversando com as meninas até Cida pedir o celular de volta.
- Eu estava pensando em levar elas em algum jogo pra ver se isso passa.
- Vocês poderiam ficar uns dias por aqui... Tem espaço no meu apartamento.
- Não sei, , é muita coisa pra pensar de uma vez só...
- Só vem, deixa que eu cuido de tudo.

Cida morava em Porto Alegre assim como a maioria da família de e para ele a pior parte foi ter que ir e ficar longe da família, principalmente das sobrinhas.
Eles continuaram conversando pela hora seguinte até explicar que tinha treino outro dia e precisava descansar, então ele desligou e finalmente conseguiu descansar.


Capítulo 4 - Amistoso

estava produzindo alguns modelos prontos de artes que seriam utilizadas nas redes sociais para a partida daquela tarde. O jogo em questão seria um amistoso contra o Santos em Itaquera para abrir a temporada antes de começar o Campeonato Paulista. A divulgação do jogo estava a todo vapor e estava montando a escalação do time conforme havia chegado nela e era comum ela sempre escolher um jogador para colocar na arte. Analisou alguns e gostou da foto de onde o meia estava de braços cruzados e uma cara séria que não combinava com ele, mas que definitivamente combinava com o time e por isso a possibilidade de o escolher passou pela cabeça dela, mas logo descartou a ideia pois não seria titular naquela partida, então ela optou por escolher o goleiro Cássio. Ela iria ao estádio para assistir ao jogo e mandar a arte em tempo real. Costumava fazer isso em casa mas queria ver o time jogar antes que os jogos fora de casa começassem pra valer.

Para , estar no estádio era algo muito além de pisar no gramado ou sentar na arquibancada e torcer. Estar no estádio era estar livre de julgamentos, livre dos seus problemas e preocupações cotidianas. Era gritar e torcer durante noventa minutos que pareciam segundos, era rasgar a voz ao comemorar um gol como se fosse um título, era abraçar um desconhecido simplesmente pelo calor do momento. O estádio era o seu lugar favorito de se estar, fosse dentro ou fora de campo e embora o campo já não fosse mais uma opção viável para ela, ainda sim parecia ser o melhor lugar do mundo para se estar. Se não era ela ali, ao menos estava feliz por ter outras pessoas honrando a camisa que ela sempre fez questão de amar e apoiar incondicionalmente.

⚽🖤📱

atravessou o túnel do estádio e ao colocar os pés no gramado, os gritos da torcida o fizeram olhar admirado por um instante o lugar em que estava. Já fazia mais de um mês que não pisava em um gramado e da última vez saiu chorando e escoltado, mas agora era completamente diferente, não estava sob pressão e sim tendo a chance de recomeçar.

Recomeço. Era essa a palavra que ele procurava para descrever o que estava sentindo naquele momento.

Mas seu recomeço teria que esperar um pouco, afinal, ele não era titular naquele jogo, lhe cabia apenas ir para o banco de reservas esperar pela oportunidade e foi exatamente isso que ele fez. Se sentou no banco de reservas enquanto seus colegas titulares entraram em campo. Apenas ele próprio sabia o quanto gostaria de poder jogar. Por mais que estivesse feliz com o recomeço, era inevitável para pensar que antes era titular absoluto e ídolo do time, a torcida vibrava cada vez que ele encostava na bola e cada gol era comemorado como uma nova conquista, mas ali estava ele, um desconhecido no banco de reservas. O time tinha outros destaques e ele sabia que seria muito mais difícil voltar ao topo agora, do que jamais fora.

- Eu devo estar ficando maluco mesmo - murmurou para si mesmo enquanto se levantava para o hino nacional em reverência.

Após o hino nacional, ele voltou para o seu lugar no banco e esperou a partida começar. Estava inquieto, as pernas imploravam para ele correr, tinha que conter os braços para não erguer como se estivesse pedindo a bola e conforme o decorrer da partida, os erros bobos que seu time cometia o deixavam cada vez mais irritado. O time do Santos atacava e dominava a partida enquanto o treinador gritava para o time recuar. não conseguia entender aquilo, pois ninguém passava do meio campo, nem mesmo Gustavo que era o homem mais à frente tinha chances claras de gol. Até o atacante voltava para marcar e isso deixava frustrado pois seu antigo treinador nunca mandaria o time jogar recuado como ele estava vendo naquele momento.

- É sempre assim ou é só porque é o primeiro jogo do ano? – ele perguntou para o meia Gabriel ao seu lado.
- Um pouco dos dois – Gabriel respondeu sem tirar os olhos do campo – Já faz algum tempo que isso tem dado certo. Fecha, joga retrancado e na única falha do adversário, a gente não perdoa e faz um gol. Isso sempre deu certo.
- Não parece que está dando muito certo agora – murmurou se afundando no banco.

Ele sabia que aquele esquema de jogo não estava funcionando e não ia demorar para o gol adversário sair, coisa que aconteceu aos quarenta minutos do primeiro tempo, deixando todo um estádio nervoso e não só um jogador. viu o momento em que Cássio gritava com a defesa, mas ele não achava que tinha sido culpa de Bruno ou Gil e sim do meio campo que não conseguiu roubar uma bola com um pouco mais de velocidade e sempre atrasava as jogadas, dando vantagem ao alvinegro praiano.

No intervalo, o time titular tomou uma bronca do treinador que esbravejava que não queria que cometessem os mesmos erros da temporada anterior.

- Agora pro intervalo, vai entrar o pela esquerda mais recuado no lugar do Urso no meio-campo e o Pedrinho pela ponta direita pra dar velocidade e mais criação pro time - Carille explicou desenhando na sua prancheta.

ouvia, mas não prestava atenção, estava totalmente em êxtase ao ouvir que iria pisar no campo novamente, após quarenta e cinco dias.

- Eu acredito em vocês, eu sei que eu tenho o melhor elenco do Brasil, então façam por merecer. Vamos, saiam daqui com a virada, confio em vocês.

tirou o colete rapidamente e entregou para o substituído Júnior Urso e então seguiu com o time para o túnel. Na entrada do campo sentiu uma mão no seu ombro.

- Boa sorte - era Bruno.
- Obrigado.
- Ajuda a gente, pelo amor de Deus.
- Vou fazer o meu melhor.

entrou no gramado no momento em que seu nome foi anunciado como substituição e ele ficou aliviado por ouvir os aplausos da torcida, sinal de que estava fazendo as pazes com os deuses do futebol.

Com o apito do árbitro, veio junto a sensação de liberdade que tanto sentia falta, as pernas estavam livres para correr o quanto quisessem e ele não sairia dali sem ao menos dar um chute ao gol e caso a bola entrasse, seria ainda melhor.

Na primeira oportunidade que teve, avançou pelo meio campo em alta velocidade, deixando um jogador santista para trás. Tocou para Vital no meio que passou para Pedrinho do lado direito conforme avançavam. Pedrinho não podia avançar, então cruzou para o lado esquerdo bem na direção de , que correu em direção à entrada da grande área, mas foi marcado e, quando se deu conta, estava caído no chão com o time e a torcida gritando por pênalti e abraçou a ideia. Apesar da marcação forte, ele se levantou prontamente e foi marchando até o árbitro.

- Foi dentro da área, foi pênalti! Não foi na bola, foi em mim! - seguia o árbitro apontado para si mesmo.
- Foi fora - o árbitro disse marcando a região da falta com spray e gesticulou – Falta.

não foi capaz de controlar uma risada sarcástica enquanto seus companheiros de time o defendiam e os rivais insistiam que não era pênalti. Como o VAR não era utilizado em amistosos, a decisão do juiz era a que realmente contava e para o azar do time corinthiano, o juiz apenas marcou falta do lado esquerdo da entrada da grande área, falta essa que o próprio iria bater.
Mais do que concentrado, olhava atentamente para a bola e imaginava o caminho que ela faria até o gol santista, o mesmo caminho que ele quis que a bola fizesse um mês antes no jogo mais importante da sua vida e por um instante, sentia como se tivesse voltado no tempo e a barreira estava formada por jogadores de camisa vermelha enquanto ele vestia a azul listrada, mas isso não importava mais. Ele respirou fundo e deu três passos para trás, contou mentalmente até três e correu para chutar a bola que passou por cima da barreira e se encaixou, milimetricamente, no canto esquerdo da rede.

Gol do Corinthians, aos quinze do segundo tempo.

, completamente cego de adrenalina e tomado pelos gritos ferozes do mar negro nas arquibancadas, correu para trás do gol em direção à torcida e saltou erguendo o punho no ar, uma clara alusão ao Doutor Sócrates, ídolo do clube. Seus companheiros vinham logo atrás em um abraço em grupo, mas estava eufórico demais para entender que era um abraço. Ele batia com força no escudo que cobria seu peito dizendo a plenos pulmões: Voltei.

E de fato ele havia voltado e em boa forma. Voltava para marcar e conseguia correr para atacar, tudo em velocidade e em questão de segundos. Por mais que quisesse marcar outro gol, não era fominha, deixou Gustavo na cara do gol duas vezes, mas o atacante perdeu a oportunidade de virar o jogo. Na última, ele olhou para que fez um sinal de que estava na frente como artilheiro do time, o que fez o atacante rir. Logo em seguida, olhou em direção ao banco onde seu treinador fazia sinal para que ele voltasse ao seu lugar e recuasse para marcar, algo que não concordava de forma alguma e simplesmente ignorou o pedido de Carille.

Após o gol, o time cresceu e passou a dominar a partida fazendo com que o ritmo de jogo aumentasse e as chances de gol se tornassem cada vez mais claras, o que exigia ainda mais de , que já estava extremamente cansado e com as pernas pesadas. Apesar de ter se cuidado nas férias, percebeu estava um pouco fora do ritmo no final do segundo tempo.
Cansado, mas ainda disposto a continuar tentando, aos quarenta minutos do segundo tempo, ele recebeu um passe de Danilo Avelar pela lateral esquerda e avançou pelo campo até o ataque sendo marcado com acidez, mas sempre conseguindo passar. Ele fez um cruzamento e enquanto via Vagner Love cabecear para dentro do gol, caiu com a mão direto na panturrilha que ele tinha a sensação de que estava saindo do lugar e sem sucesso ele tentava colocar no lugar. A dor tomou conta de cada membro seu e ele só conseguia gritar.

Enquanto uma parte do time comemorava o gol, outra parte veio ajudar, incluindo Bruno que correu da zaga do outro lado do campo até o colega que gritava e se contorcia no chão. O zagueiro percebeu que era cãibra e puxou a perna do amigo para esticar enquanto gritava e batia as mãos no gramado, sentido as lágrimas saindo dos olhos como se estivessem queimando seu rosto. Nunca sentiu uma cãibra tão forte quanto aquela e parecia que os esforços de Bruno em o ajudar não estavam dando certo.

O médico do clube entrou em campo, tiraram a chuteira e o meião de e com a massagem do médico, a dor ia amenizando até que aos poucos ela passou, embora a perna ainda estivesse latejando.
fechou os olhos e respirou fundo, sentindo seu corpo se aliviar da tensão enquanto o coração batia acelerado dentro do peito.
- Você tá bem? - o médico perguntou o ajudando a se sentar.
apenas concordou com a cabeça enquanto sentia a água gelada que o médico jogava escorrendo pela sua nuca e entrando por dentro da camisa, sentindo uma sensação de prazer inexplicável, em seguida o spray gelado na perna o fez se sentir ainda melhor.

- Consegue voltar?
- Consigo.

Ele se levantou e quando pisou com a perna que latejava, ele sentiu o nervo ainda esticado e não conseguiu firmar fazendo com que se apoiasse em Bruno para não cair. olhou para o médico que já fazia o sinal para o banco de que seria necessário fazer uma substituição e aquilo foi o suficiente para que fosse do céu ao inferno em menos de cinco minutos.

- Vamos, - Bruno ajudou o amigo a se apoiar - Não adianta resistir.

concordou e também se apoiou no médico para sair do campo mancando e foi substituído por Gabriel que teria que desenvolver algo preciso no meio de campo, assim como estava fazendo. Ao chegar no banco, foi cumprimentado pelos colegas e pelo treinador enquanto o médico cuidava da sua panturrilha.

- Precisamos conversar - Carille disse sentado ao seu lado - Depois.
- Eu sei - fez feição de dor quando o médico esticou sua perna.
- Nunca mais tenta jogar em todas as posições de novo ou eu te mando pra algum time da série C - o treinador se levantou e foi para a beira do gramado quando o jogo normalizou.
jogou a cabeça pra trás e respirou fundo. Sabia que estava sendo o melhor da partida, mas que por conta de uma cãibra estúpida, estava fora do resto do jogo e agora compartilhava a artilharia com Love.

⚽🖤📱

No dia seguinte, passou boa parte da manhã no departamento médico do clube fazendo exames para garantir que não tinha qualquer sinal de lesão na sua perna e para sua sorte, não passou de uma cãibra.
Após ser liberado, o meia foi para a academia onde o time fazia uma atividade regenerativa. não teve a chance de escapar de uma bela bronca, pois ao colocar os pés na academia, seu treinador veio na sua direção.

- Vem, . Vamos conversar.

Ele o seguiu para fora do ambiente.

- Como foi lá?
- Nenhuma lesão, só cãibra.
- Ótimo, eu fico feliz por isso mas o que você fez ontem, por mais que tenha dado certo, não foi bom.
- Professor, o time tava jogando na retr... - ele percebeu que o treinador mudou a feição - Recuado, o time estava recuado e tomando sufoco, eu tinha que fazer alguma coisa!
- Sua função é do meio pro ataque. Você não é lateral e nem zagueiro, você só não jogou no gol porque o Cássio já vale por dois... Olha, eu acho você um jogador acima da média, a prova disso foi as suas estatísticas de ontem, foi realmente incrível, mas por favor, não vai além do seu limite, ok?
- Tudo bem, me desculpa... E quais foram as estatísticas?
- Noventa e cinco por cento de acerto de passes, uma assistência, uma finalização concluída, acertou um cruzamento e mais de trinta roubadas de bola... Foi impressionante pra quarenta minutos, continue assim.
- Obrigado, professor. Pretendo continuar assim.
- E talvez a vaga seja sua se realmente continuar, pensa bem nisso.

parou para pensar nas palavras de Fabio e sabia que o técnico tinha razão. Por mais que tivesse jogado bem, sua pressa em fazer tudo de uma vez quase lhe custou alguns dias afastados por lesão e não era isso o que ele queria. Ao seu ver, precisava melhorar sua disciplina e posição dentro de campo, caso contrário nunca teria a confiança de Carille para a titularidade no time e sem vaga, poderia dar adeus ao seu sonho de jogar na Europa e um "Olá" para algum clube da série C.

Isso definitivamente não estava nos planos dele.

Capítulo 5 - El Clasico.

Os dias foram avançando e, ao final de tudo, teve uma semana agitada entre entrevistas e participações em programas de mesa redonda enquanto revezava com a rotina de treinos que ia se intensificando conforme o campeonato paulista se aproximava. Ainda tinha mais um amistoso antes do início do campeonato e o time já se preparava, inclusive que estava treinando entre os titulares.

Naquela tarde, ao final do treino, ele iria participar de uma matéria para o canal do YouTube, um jogo de perguntas e respostas sobre o clube, o que custou ao rapaz boas horas estudando sobre o time. Se sentiu mais à vontade quando viu que Tobias e Junior estariam lá como parte da equipe.

- A menina ranzinza vai participar? - perguntou enquanto Tobias o ajudava com o microfone preso na camisa.
- ? Vai, está vindo do Parque São Jorge.
- Por quê?
- Porque ela trabalha lá, ué - o homem riu e se afastou para ajustar a câmera. - Ela só vem pro CT pra conhecer as caras novas e vai pro estádio em dias de jogo. Quando ela quer, na verdade.
- Ah... Deve ser cansativo.
- E é, por isso a diretoria está procurando outra pessoa pra trabalhar com ela.

não conseguia imaginar uma pessoa como dividindo o espaço com outra pessoa.

- Isso parece meio improvável.
- É mesmo, mas vamos ver no que vai dar. Ela é uma boa pessoa, tem um coração enorme, só sofreu muito na vida.

estava pronto para perguntar o que aconteceu quando a garota chegou aos tropeços e com uma mochila enorme nas costas, além de barras de ferro e um pedaço grande de madeira nas mãos. Ele se perguntou o que ela poderia fazer com aquelas barras de ferro e teve medo da resposta.

- Desculpem o atraso, não é muito fácil andar de metrô com barras de ferro na mão.

Ela tirou a mochila das costas com cuidado e começou a juntar as barras no que se formou uma mesinha com a madeira por cima como apoio, o que deixou os homens presentes com um ar surpreso. A garota tirou da mochila o seu notebook e colocou em cima da mesa afim de ligá-lo.

- Então, já vão começar?
- Trouxe as perguntas? - Tobias perguntou e concordou, tirando da mochila e segurando com firmeza nas mãos. – Espera, pra que você trouxe esse improviso de mesa?
- Não sei – deu de ombros. - Vamos ver o que esse tiriça sabe sobre o nosso time.
- Mais do que você imagina - olhou para ela com o olhar desafiador. - Sou uma enciclopédia corinthiana, pode perguntar qualquer coisa.
- Qual é o nome do guardinha que fica ali na guarita da entrada? - cruzou os braços e fez uma cara pensativa. - Eu sabia.
- Touché... Erm... Robson?
- Edmilson. Além de ser perna de pau, é burro.
- Viraram amigos, por acaso? - Junior perguntou e os dois fizeram careta.
- Odeio ela.
- Odeio esse pé de rato.
- Ok, ok, já entendi que vocês se amam, agora vamos começar. No meu sinal a vai começar a fazer as perguntas e o vai responder em seguida. Um, dois, agora.
- Em que ano o Corinthians conquistou o seu primeiro campeonato paulista?
- Meu Deus... - riu. - Dá uma pista?
- Não.
- Ok, é... mil novecentos e... - ele fazia um esforço pra se lembrar, tinha estudado - quatorze?

A comemoração das pessoas ao redor fez ele se sentir aliviado por ter acertado.

- Quantos anos consecutivos o Corinthians ficou sem ganhar um título se quer?
- Vinte e três anos.
- Quem eliminou o Corinthians na Libertadores de 1999 e foi o campeão daquela edição? Dica: é paulista.
- São Paulo? Eu não lembro.
- Palmeiras! - Tobias gesticulava atrás da câmera.
- Foi mal, foi mal.
- Qual foi o time que eliminou o Corinthians na pré-libertadores de 2011?
- Tolima - não conteve uma risada, mas viu todos os olhares ao seu redor ficarem sérios. - O que foi? Eu assisti, foi engraçado. Eu zoava os meus amigos corinthianos na escola.
- Corta isso da edição - Junior disse um tanto desesperado. - Tá maluco? Quer que a torcida te mate?
- É por isso que eu não gosto dele... Mas continuando, qual foi o ano da conquista do primeiro campeonato brasileiro do clube?
- Essa eu vi... 1991?
- Errou, foi em 1990... Qual foi a defesa que Cássio fez na Libertadores de 2012 contra um time brasileiro que entrou para a história do clube?
- Oitavas de final, Vasco e Corinthians, o Diego Souza estava sozinho e o Cássio defendeu. Eu assisti esse jogo.
- Cite o máximo de jogadores desse time campeão que você consegue lembrar.
- Cássio no gol, Chicão e Paulo André na zaga, Alessandro e Fábio Santos nas laterais. Eu não lembro muito bem do meio campo pra frente, mas acho que tinha Ralf, Paulinho, Emerson Sheik, Danilo e Guerrero? Desculpa, realmente não me lembro.
- Está faltando alguns, mas vamos considerar. Continuando...

respondeu várias outras perguntas e pelo menos metade ele tinha certeza de que havia acertado. Ao final de vinte perguntas, ele acertou quatorze e errou apenas seis. Para finalizar, pediram para que ele tentasse fazer um freestyle com a bola, mas o meia falhou miseravelmente alegando que um jogador como ele, acostumado a ser um marcador, nunca chegaria naquele nível.

Ao final, enquanto conversava com Junior e Tobias, ele observou um pouco afastada deles e seus olhos se prenderam nela quando viu a garota fazendo embaixadinhas e brincando com a bola. Ela chutou para o alto e dominou de peito, chutou para o alto de novo logo em seguida e equilibrou na cabeça.

- Uau - falou admirado. - Vocês viram aquilo?
- Ela é ótima com a bola no pé - Junior olhou para a amiga e sorriu. - Ganha de muito jogador por aí.
- Ela deveria ser jogadora, olha esse domínio de bola! - ele sorriu impressionado ao ver ela dominando de peito de novo. - Incrível.

Junior e Tobias se entreolharam com olhares de desesperança porque conheciam aquela história muito bem.

- A ama o futebol desde menina, mas a vida foi injusta com ela, é melhor deixar assim - Junior explicou e Tobias concordou fazendo sorriso de se desmanchar no seu rosto.
- O que aconteceu?
- É melhor que ela te explique um dia e no tempo dela, até lá... Bom, deixa pra lá, eu estava pensando de a gente sair daqui e ir tomar uma gelada, o que acham? - Tobias sugeriu tentando desconversar para mudar de assunto e Junior concordou. - Você também, .
- Eu?
- Tem outro aqui? - Junior riu e olhou para . - Ei, aprendiz da Marta! Hora de ir, vamos tomar uma cerveja.
- Vocês sempre estragam a minha felicidade - se aproximou com a bola no mão. - Aonde vamos?
- Que tal minha casa? - sugeriu quando finalmente abraçou a ideia – Eu não posso ficar saindo com frequência, assim nenhum jornalista pode dizer que eu estou na farra ao invés de treinar até a morte.
- Por mim tudo bem – Tobias falou animado e olhou para os colegas.
- Tô dentro - Junior também concordou.

Os três olharam para .

- O que? Como vou saber se ele não vai me sequestrar e me mandar para a Turquia? Eu não vou na casa de pessoas que eu não conheço.
- Turquia? Você tem problemas, garota, vai se tratar - fez uma cara séria, mas acabou rindo. - Sua louca.
- Se não tiver ninguém me esperando lá pra me sequestrar, então eu vou.

⚽🖤📱

Durante a saída do CT até a casa do jogador, eles passaram no mercado para comprar cerveja e chegaram no apartamento de quando anoiteceu. Tobias sugeriu de pedirem pizza pra acompanhar e a ideia foi muito bem recebida pelos outros três.

- O pior é que eu nem deveria comer pizza e tomar cerveja - disse enquanto abria a cerveja. - O Fábio me mata se descobrir.
- É o nosso segredinho - Tobias riu.

abriu as cervejas e distribuiu para as visitas.

- São suas filhas? - Junior perguntou ao reparar no porta retrato sobre o painel da TV.

Na foto, estava com as sobrinhas no gramado do estádio do Grêmio na conquista da Libertadores, Belinda estava com a medalha enquanto Maia estava ao lado da taça e agachado no meio das duas.

- Não, não sou casado. Elas são as minhas sobrinhas - sorriu ao olhar a foto. - Mas são como se fossem minhas filhas, entravam comigo em quase todos os jogos. Sinto falta delas, moram em Porto Alegre com a minha irmã.
- Elas são lindas, mas não com essa camisa do Grêmio - ponderou. - Odeio o Grêmio.
- Então você odeia elas, porque as duas são gremistas apaixonadas e quem mexer com as minhas meninas, mexe comigo também. A propósito, , você por um acaso não odeia alguém ou alguma coisa?
- Eu não odeio o Corinthians e nem a minha mãe, de resto eu só tolero.
- Obrigado pela parte que nos toca - Junior disse fazendo todos rirem.

Entre conversas e risadas, o tempo passou rápido e não demorou muito para que as pizzas chegassem e também não demorou para que todos estivessem satisfeitos. Logo estavam jogando pife na mesa da cozinha, jogo no qual era ótimo e já tinha ganhado duas vezes só naquela noite.

- Aí o Renato disse: se eu ver qualquer um de vocês chegando perto da minha filha, mato um por um ou mando ir jogar no Japão, vocês decidem. É claro que entre eu explicar que eu nunca tive nada com a filha dele e ele entender, levou um tempo. Daquele dia em diante jurei nunca mais cumprimentar filha de treinador nenhum a não ser que ela tenha de dez anos de idade pra baixo.
- , essa história não me convence, pode contar a verdade pra gente – Tobias disse bebericando sua cerveja.
- Eu juro, Tobias! A minha namorada quase terminou comigo na época, eu fiz a filha do Renato ir falar com ela, foi a maior confusão e tinha gente no Grêmio que me olhava torto por causa disso.
- Então deixa eu ver se entendi: além de você ser o maior tiriça e burro, ainda pega a filha do treinador? Nossa, você é pior do que eu imaginava.
- Pra sua informação, mocinha, eu sou mais inteligente do que imagina, não sou pegador de filhas de treinador e pra fechar, o tiriça aqui ganhou uma Libertadores e jogou a final do Mundial contra o Real Madrid.
- E perdeu com um gol de pênalti do Cristiano Ronaldo.
- Calada! Você não sabe a emoção que foi apertar a mão do Robozão. Eu juro que sou fã do Messi e torcedor número um do Barcelona, mas eu quase desmaiei naquela hora. Aquele cara não é humano, é sério.
- Mas e o resto do time? Fala sério, você jogou contra o Real Madrid! – Júnior sorriu demonstrando a sua empolgação.
- Eu sou fã do Marcelo, ele foi super gente fina comigo. Teve também o Navas, Kroos, Modrić, Asensio, Benzema, Bale e o Sergio Ramos... Eu tentei ser o mais profissional possível, mas quando o Sergio me estendeu a mão quando eu caí no campo, eu me senti a pessoa mais feliz do mundo. No fim do jogo, o Bale veio me parabenizar e o Cristiano... Ah, não, eu preciso mostrar pra vocês.

deixou as cartas sobre a mesa de modo que mostrava que faltava apenas um par para ele vencer, o que deixou os outros frustrados. Ele foi até o segundo quarto onde guardava os troféus e medalhas junto com sua coleção de camisas e pegou na parede o quadro com a camisa emoldurada para levar até a cozinha.

- Ele me deu a camisa dele. Eu só lavei porque minha mãe obrigou, caso contrário nem isso. Eu não canso de olhar pra ela.

Ele passou o quadro para Junior que olhou admirado.

- É incrível. Ele disse alguma coisa?
- Me parabenizou pelo jogo e a gente trocou as camisas. Foi o melhor dia da minha vida.
- Ele ficou com pena de você por ser tão ruim, só isso.
- Mas você não perde a oportunidade, né?
- Jamais.

⚽🖤📱

iria viajar para o interior no fim de semana para o amistoso em Araraquara, então se despediram cedo, pois pela manhã o atleta tinha que se apresentar ao clube. Tanto Tobias quanto Junior estavam alterados o suficiente para não dirigir, então achou melhor levar os três para suas casas e no dia seguinte um deles voltava para pegar o carro de Tobias.

Ele deixou os dois em casa e por fim colocou no GPS o trajeto até a Vila Matilde onde ela morava. O silêncio no carro no tempo que se seguiu era incômodo e por mais que soubesse que ela não era muito de conversar com ele, decidiu puxar assunto.

- Eu vi o que você estava fazendo com a bola no CT hoje... Fiquei impressionado.
- Ah... Aquilo... Às vezes eu me empolgo – respondeu sem dar muita importância, não queria conversar com ele.
- Você tem técnica, deveria ser jogadora.

Nesse momento, ele sentiu o olhar dela pesar sobre ele e se enrijeceu porque parecia que ele havia acabado de insultar a mãe dela. Sabia que coisa boa não iria sair daquela boca.

- E eu não tô implicando com você. Eu jogo como profissional desde os dezessete anos, eu sei do que tô falando.
- É complicado - desviou o olhar para a janela do carro, era difícil para ela tocar no assunto.
- Acho que temos tempo.
- Ok, eu te conto, mas isso não significa que eu goste de você. Eu... Eu sempre joguei futebol, acho que desde os cinco ou seis anos, e quando eu fiz dezoito, assinei contrato com o Corinthians feminino por dois anos, eu era atacante. Em um jogo contra o Sport eu já tinha marcado três gols e o time do Sport estava totalmente bagunçado, as jogadoras estavam apelando para o emocional e em um contra ataque meu, a zagueira veio sem piedade e colocou a perna na frente sem intenção de ir na bola. Eu tentei pular, mas a minha perna ficou... Até hoje não entendi muito bem como que aconteceu, mas basicamente eu quebrei a perna e... Bom, você sabe o que acontece quando um atleta quebra a perna - concordou sentindo um nó se formar na garganta. – Eu até tinha esperanças de voltar porque sempre existe um caso à parte e o Corinthians me deu todo o suporte médico e emocional necessário, mas de qualquer forma, eu não posso mais jogar futebol como antes.

se lembrou da vez em que rompeu o ligamento do joelho direito na Argentina e passou boa parte da temporada afastado, ficou seis meses em recuperação após a cirurgia e levou mais três meses até voltar cem por cento e em ritmo de jogo. Aquela lesão quase lhe custou a sua carreira, mas felizmente ele conseguiu se recuperar. Ver que não teve a mesma sorte o deixou chateado.

- Nossa, eu... Eu nem sei o que dizer, eu sinto muito...
- Tá tudo bem, essas coisas acontecem com gente azarada.
- , você jogou no melhor time feminino do país, isso não é coisa de gente azarada, eu te garanto.
- E perdi a oportunidade. É raro um atleta quebrar a perna, mas aconteceu e foi logo comigo... Dois anos atrás eu era parte disso tudo e agora eu só... Mexo nas redes sociais, é patético.
- Não é patético, você estudou pra fazer isso também – concordou e ele continuou a falar. - Você é parte de uma instituição e parece que todo mundo ali gosta de você.
- Tirando você.
- Sim, tirando eu - eles riram. - E eu acho que o Vital também não.
- Ah, o Vital... Eu meio que já dei um fora nele, então eu entendo.
- Por que? Ele parece que saiu de um comercial de sabão em pó, chega a ser bonitinho.
- Por isso mesmo. Ele é fofinho demais pra mim.
- Concordo.
- É aqui, chegou - apontou para a sua casa alguns metros à frente. - Obrigada, .
- Pode mandar o valor da corrida pelo meu empresário, ele é honesto. Ou você achou que seria de graça?
- Você é ridículo, garoto, só se eu der o cu pra pagar - disse abrindo a porta do carro.
- Graças a Deus você vai viajar e eu não vou precisar te tolerar nos próximos dias.
- Tá, não precisa ser em dinheiro e nem com o cu, eu quero que você faça aquela escalação antes do jogo com a minha foto.
- Eu só faço isso com os titulares - a garota sorriu triunfante.
- Surpresa...
-Ai meu Deus, você tem um caso com o Carille, não é? - ela fez cara de nojo. - Isso é prostituição, ! - Depende do ponto de vista.
- Tá bom, tá bom. Vou colocar essa sua cara feia lá na foto.
- Obrigado, sua dívida está paga. Boa noite.
- Boa noite.

esperou entrar e então fez o retorno para voltar para sua casa.

⚽🖤📱

No dia seguinte, se apresentou no clube por volta das seis horas da manhã onde os atletas e comissão técnica saíram do CT em direção à Araraquara no interior de São Paulo para o amistoso contra o Ferroviário no dia seguinte. Ele procurou um lugar na janela e se sentou, logo em seguida Bruno se sentou ao seu lado.

- Buenos dias, .
- Buenos dias - o rapaz respondeu bocejando. - Que covardia me tirar da cama esse horário...
- Sí, pero yo...
- Porra, Bruno! Acha que eu entendo espanhol às seis horas da manhã de um sábado? Vai estudar português ou eu não falo mais com você!
- Desculpa, desculpa, seu grosso.
- Bom dia, novato! Buenos dias, Méndez.
- Bom dia, Jadson - riu com o bom humor matinal do colega que estava passando pelo corredor.
- Ei, , você entende alguma coisa que o Bruno fala? Juro que entendia melhor os caras lá na China do que esse argentino.
- Yo soy uruguayo!
- Viu? Não entendi nada.
- Sim, eu falo a língua dos idiotas e ele disse que é argentino com orgulho.

Os dois começaram a rir enquanto Bruno reclamava e xingava em um espanhol frenético.

- Esto es absurdo, soy uruguayo con gran orgullo! Tengo diecinueve años y he jugado una copa del mundo, conozco a Luizito Suárez! Y usted?isso é um absurdo! Sou uruguaio com muito orgulho! Tenho dezenove anos e já joguei uma Copa do Mundo, conheço o Luizito Suárez! E vocês?

fazia a tradução simultânea na sua mente e tentava segurar sua risada, o que parecia bem engraçado.

- Jogou a copa, que legal... Mas tem quantas Libertadores, parceiro? Jogou aonde além do Corinthians? - Jadson perguntou.
- Se quiser eu trago a minha medalha e esfrego na cara do Bruno - falou se referindo à Libertadores conquistada no Grêmio.
- Combinado.
- Odeio vocês dois - Bruno murmurou se encolhendo no banco. - Calláte porque eu quero dormir.
- Isso ainda não acabou - Jadson disse por fim e foi para o seu lugar.

perdeu o sono após a brincadeira e enquanto Bruno adormeceu rapidamente, ele se limitou a olhar pela janela enquanto os prédios da cidade iam sendo substituídos pelas árvores conforme o ônibus seguia pela Rodovia dos Bandeirantes.

Ele pegou o celular no bolso para colocar uma música e acabou abrindo o Instagram também. Tinha desativado as notificações e por isso não percebeu que havia lhe mandado uma mensagem de madrugada. A mensagem em questão era a escalação do jogo com a foto dele em destaque conforme eles combinaram.

@. : tá bom pra você ou precisa de photoshop nessa cara feia?

conteve a risada para não acordar Bruno e respondeu.

@. 07: está perfeito, o melhor jogador do time tem que ter destaque. Obrigado.

Ele sabia que pelo horário, ela ainda estaria dormindo, então esperar por uma resposta era inútil. Ele colocou os fones de ouvido e se limitou a olhar a paisagem pela janela enquanto Wonderwall do Oasis ecoava pelos seus ouvidos lhe dando a maravilhosa sensação de paz, pois tudo estava perfeitamente bem.

Ele seria titular no jogo do dia seguinte devido ao bom desempenho na partida anterior, a torcida do Corinthians passou a gostar dele e demonstrar apoio nas redes sociais e a torcida do Grêmio estava aos poucos o deixando em paz. Para a melhor parte era ter ido contra sua vontade, mas ter mudado de ideia depois e agora se sentia parte da família porque o time todo o acolheu, assim como a comissão técnica e outros funcionários do clube, ele não tinha do que reclamar e seus dias estavam ficando melhores e mais fáceis. Em apenas duas semanas de clube ele já se sentia como em quatro anos de Grêmio. pôde fechar os olhos e descansar, finalmente estava em casa.

⚽🖤📱

@. : VOCÊ É UM TIRIÇA, PÉ DE RATO. PARA DE SE ACHAR PELO AMOR DE DEUS!!!

@. : vou trocar e colocar o Ralf, eu prefiro mil vezes ele do que você.

@. : VOCÊ É TÃO RUIM, MAS TÃO RUIM, QUE SERIA O ARTILHEIRO DO TIME DE 2007!

@. : Meu Deus, como eu odeio você.


As mensagens chegavam sem parar no celular de e ele não era capaz de parar de rir. Sempre foi do tipo de jogador que respondia as críticas dentro de campo, mas com lhe parecia muito mais divertido simplesmente provocar, algo que era extremamente imaturo do seu ponto de vista. Por mais que fosse funcionária do clube e tivesse sido extremamente mal-educada e grossa com ele no dia em que se conheceram, ele sabia que no fundo ela era apenas mais uma torcedora preocupada com o seu time.

- Qual é a piada? Quero rir tambiém - Bruno entrou no quarto do hotel que eles dividiam com mais dois jogadores.
- É essa louca - entregou o celular para o amigo. - Faz eu me sentir o pior jogador do mundo.
- ? Está saindo com a ?
- O que? Claro que não, ela me odeia - Bruno olhou para ele com uma cara de quem não estava acreditando e devolveu o celular. - Qual é, Méndez? É só uma brincadeira.
- Sí, sí, e minha mãe é virgem.
- Olha, ela falou horrores pra mim no meu primeiro dia no clube, e eu fiquei chateado, se não fosse o Junior e o Tobias para interferir, eu nem falaria com ela.
- Eu vou fingir que acredito, é assim que vocês costumam falar por aqui, não é? Só não deixa o resto do time descobrir, principalmente os engraçadiños... Pedriño, Vital, Jadson, Gustavo... Eles vão acabar com a sua vontade de viver.
- Eles podem falar o que quiserem, não tenho nada com ninguém, principalmente com alguém que me culpa pelo rebaixamento do meu ex clube.
- Mas não foi sua culpa.
- Sinceramente? Acho que sim - se levantou da cama. - Eu perdi a chance de empatar o jogo e dois minutos depois tomamos um gol, então sim, foi minha culpa também.
- , eu não me culpei quando o Uruguai foi eliminado na Copa do Mundo, mesmo a jogada tendo saído de uma falha do meu lado do campo... O que eu podia fazer? Somos um time, todos temos culpa. Era o Messi do outro lado, eu não podia fazer nada.
- Mas são situações diferentes, Bruno.
- Não são. Não importa se foi o Grêmio ou a Seleção uruguaia, são só times. Eu vi você jogar contra a gente no ano passado, você deu trabalho pra gente, fez um dos gols mais bonitos que eu já vi, deixou eu e o Gil para trás... Para de se culpar pelo fracasso dos outros.
- Uau, você virou poeta, e eu nem lembrava disso ou que você já estava no time naquela época.
- É sério, .
- Tudo bem, eu tento não pensar nisso, mas com alguém reforçando isso toda hora, fica meio difícil de esquecer.
- Acho que você deveria deixar isso pra lá e chamar essa menina pra sair.
- Não, muito obrigado.
- Depois não reclama se perder ela pro Vital.
- Vai ser uma honra.

Antes que Bruno pudesse responder, a porta do quarto se abriu e Pedrinho e Vital entraram no quarto.

- Ei, sei que vocês estão tendo uma DR, mas tá na hora do treino - Mateus informou. - O ônibus já tá ligado pra gente ir pro estádio.
- Não era depois do almoço? - perguntou tentando se lembrar mentalmente da agenda.
- Não se você quiser ser tricampeão paulista - Pedrinho disse. - O professor disse que vai ser rápido, depois temos o resto do dia livre e amanhã vamos concentrar o dia todo.

e Bruno se trocaram em questão de dois minutos, colocaram as chuteiras na mochila e correram para o ônibus onde o time inteiro estava esperando.

- Eu vou colocar vocês dois na reserva da reserva se atrasarem de novo - Carille disse do primeiro banco.
- Desculpa, professor, achei que fosse depois do almoço e o Bruno ficou me atrasando.
- Eu não fiz nada!

Os dois foram para o fundo onde os dois últimos lugares estavam livres. Love e Gustavo se viraram para trás para falar com eles.

- Amanhã eu vou empatar com vocês na artilharia, pode anotar - Gustavo disse. - O Gustagol voltou.
- Vocês sabem que não é justo, não é? Sou volante, é óbvio que eu não finalizo tanto quanto vocês.
- Mas quem deu a ideia foi você - Love se defendeu. - Eu, o Gustavo e até o Mauro concordamos com a ideia, o Pedrinho, Vital e Jadson também, se deixar até o Cássio tá nessa, quer ver? Ei, Cássio, tá participando da competição de artilharia também?

esticou o pescoço e viu o goleiro erguendo o braço e fazendo um ok em aprovação.

- Viu só?
- Ok, então que vença o melhor.
- Ainda bem que sou zagueiro - Bruno se afundou no banco. - Nunca gostei de atacantes.
- Vocês ficam com o trabalho sujo e nós com as garotas. É a lei da vida, meu amigo - Gustavo disse por fim se virando para frente junto com Love.

⚽🖤📱

O treino foi mais curto do que o de costume, apenas preparação para o dia seguinte onde os jogadores revisaram algumas jogadas que treinaram durante a semana e após o almoço os atletas estavam liberados até o final do dia. Enquanto alguns optaram por sair para conhecer a cidade, outros voltaram para o hotel afim de descansar para o jogo do dia seguinte e se encaixou melhor naquele grupo. Passou horas em vídeo chamada com a família que morava no sul e só então percebeu o quanto sentia falta de todos.

Naturalmente mantinha mais contato com a irmã por conta das suas sobrinhas e seu irmão Ronald era tão ocupado quanto ele, mas ver os irmãos e a mãe mesmo que por uma tela de celular o fazia se sentir mais próximo da família. Seus pais eram separados e o pai morava no Rio de Janeiro há alguns anos com a nova esposa e ainda mantinha o contato hora ou outra.

Depois de encerrar a vídeo chamada, ele voltou para o seu quarto no hotel onde ele pelo menos ou seis jogadores estavam reunidos jogando FIFA no vídeo game. Gustavo e Vital sequer piscavam enquanto olhavam para a televisão enquanto os colegas faziam torcida.

- A Arena não é tão barulhenta quanto vocês - ele se esquivou dos colegas no chão e foi até a sua cama. - Cabe mais gente aqui ou já tá bom?
- A gente convidou os outros, mas o Cassio está tipo num retiro religioso, o Ralf junto com o Gil e o Mauro foram pra academia e sabe-se Deus aonde foram parar os outros - o goleiro Caíque disse - Certeza que o Jadson arrastou eles pra algum lugar.

No quarto estavam Caíque, Gabriel, Gustavo, Vital, Pedrinho e Bruno. Vital e Gustavo disputavam o El Classico sendo Gustavo com o Barcelona e Mateus com o Real Madrid. A torcida estava dividida em dois contra dois. Caíque e Gabriel torciam por Gustavo enquanto Pedrinho e Bruno torciam por Mateus.
, como árduo torcedor do time catalão fora dos gramados, começou a puxar um grito de torcida do Barcelona.

- Traidor! - Mateus murmurou sem tirar os olhos da TV.
- Ole-le, Ola-la! Ser del Barça és el millor que hi ha! - começou a incentivar os colegas com um antigo grito de torcida do time catalão, que em tradução livre significava “Ser do Barça é o melhor que há”, enquanto do outro lado eles respondiam também.
- Hala Madrid y nada más!

Para o azar do time e torcida merengue, Gustavo estava em um dia inspirado e abriu o placar com um gol de Suárez, fazendo os colegas que torciam ao seu favor irem ao delírio e começaram a cantar ainda mais, liderados por que conhecia os gritos de torcida do time catalão.

- A primeira coisa que fiz quando consegui juntar um dinheiro como profissional, foi ir pra Espanha assistir um jogo do campeonato espanhol, foi incrível - disse após os ânimos dos colegas se acalmarem. - Um Camp Nou lotado cantando sem parar, não sei nem explicar o que senti.
- , se algum torcedor descobre que você não torce pro Corinthians, você será um homem morto - Caíque falou naturalmente.
- Então é melhor eu bloquear o meu Instagram - ele riu. - Nunca torci pra nenhum time brasileiro, não tenho culpa.
- Aqui eu aprendi que ou você torce pro Corinthians, ou você morre - Pedrinho disse. - O Fenômeno era flamenguista de nascimento e virou corinthiano, sabia? Sempre torci pro Vitória da Bahia, aí o Vitória simplesmente me dispensou e aqui estou eu, depois eu te ensino uns gritos de torcida do Corinthians pra você pelo menos disfarçar.
- Pois eu sou corinthiano de berço – Gabriel esboçou um sorriso malandro nos lábios.
- Eu acho que é possível se manter neutro – disse em um tom reflexivo demais até pra ele. – Quero dizer, joguei quatro anos no Santos e mais quatro pelo Grêmio, mas não consigo me considerar santista ou gremista. Tenho a maior consideração pelos dois, mas torcer por algum? Que exagero.
- Calem a boca! Não consigo me concentrar! - Gustavo disse. - Vão cantar no estádio.

Os cinco sentados nas camas se entreolharam e pensaram a mesma coisa, então Pedrinho pegou seu celular para gravar e começou a puxar um grito de torcida do Corinthians.

- É sangue no olho! É tapa na orelha! É o jogo da vida e o Corinthians não é brincadeira!

não conhecia os gritos de torcida do clube, mas entrou na brincadeira até aprender a música e eles cantavam cada vez mais alto afim de fazer os colegas desistirem e darem pausa no jogo pra ficar esperando a cantoria passar.
pegou o celular e também começou a gravar para postar nas redes sociais, sabia que isso o faria ganhar bônus com a torcida e com o seu empresário.

- A gente já pode voltar a jogar? - Gustavo perguntou impaciente.
- Nossa, é verdade, já tinha esquecido de vocês - Caique disse se sentando na cama. - Pode jogar.

⚽🖤📱

- O acabou de chegar e já sabe as músicas do Timão, esse cara honra a camisa demais - lia os comentários do vídeo em voz alta junto com Pedrinho.
- Além de lindo e habilidoso, sabe todas as nossas músicas. Pedrinho, eu te amo! - Pedrinho leu rindo. - As garotas me adoram, simplesmente.

Já tinha anoitecido quando os sete ainda estavam no quarto jogando ou simplesmente lendo os comentários de torcedores nas redes sociais e se divertindo com isso. Os momentos de descontração faziam os jogadores se esquecerem, pelo menos por um tempo, de que estavam a uma semana do início do campeonato paulista e dali em diante estariam concentrados dia e noite para os jogos, principalmente para os clássicos contra os maiores rivais.

"MÁXIMO R-E-S-P-E-I-T-O!
Olha os nossos atletas em clima de jogo cantando as nossas músicas. Que homens, Fiel, que homens!

#VaiCorinthians #ÉOJogoDaVida"

viu na página oficial do clube no Facebook o vídeo que ele havia postado horas antes. Ele sabia que havia postado aquele vídeo e por mais que tentasse ignorar, o seu eu interno de doze anos de idade queria chamar a atenção e provocar de alguma forma, então de repente a ideia imatura parecia ser ótima para o seu eu de vinte e quatro.

@. 07: então a madame presta atenção nas minhas redes sociais?

@. : de todos vocês. Larga mão de ser otário, eu só gostei do vídeo.

@. 07: Então por que não postou o do Pedrinho também? Acho que é porque sou mais bonito do que ele.

@. : por favor, , do fundo do meu coração, vai tomar no meio do cu porque só estou fazendo a droga do meu trabalho :)

@. 07: você ainda me odeia tanto assim?

@. : sim, ainda te odeio.

@. 07: ainda.

pensava no que responder, mas as palavras simplesmente sumiram da mente naquele instante. Ela já não sabia se era uma simples brincadeira ou ainda não gostava dele. Sabia que, de fato, há duas semanas atrás, estava xingando em segredo a diretoria pela contratação do volante gremista, mas agora já estava acostumada com a presença dele nos arredores e instalações do clube.

Ela não costumava manter contato frequente com os atletas por pura timidez e também por conta do seu afastamento dos gramados, mas a partir do momento em que Junior e Tobias se deram muito bem com , ela passou a conviver com ele indiretamente, pois até já tinha visitado o apartamento dele e viu a camisa do Cristiano Ronaldo emoldurada na parede. Ela sabia que isso não era nem um pouco comum entre duas pessoas que se odeiam.

Então pela primeira vez ela abriu o perfil dele no Instagram. Apenas as três fotos mais recentes eram no Corinthians e para baixo atuações em campo pelo Grêmio. Também tinha muitas fotos com duas garotinhas que ela reconheceu com as sobrinhas dele, fotos nas quais ele modelava para algum patrocinador, além de fotos em viagens de férias, jogos do Barcelona no Camp Nou e celebrações com a família e amigos. Já estava enjoada de ver o escudo do Grêmio quando o azul, preto e branco do tricolor gaúcho foi substituído pelo azul e amarelo do Rosário Central da Argentina e descendo mais um pouco o branco e preto do Santos e um de dezoito anos que não levava muito jeito para fotografias, mas não o julgou como normalmente faria, pois achava que ninguém era fotogênico em dois mil e doze.

ficou tão entretida em olhar o perfil de que se esqueceu de responder o próprio, mas pelo horário ela nem iria mais responder, pois ele provavelmente já estava dormindo e descansando para no dia seguinte se preparar para o amistoso em Araraquara.

- E você também, .

colocou o celular para carregar e o deixou de lado. Não demorou muito para pegar no sono e adormecer.

Capítulo 6 - Happy Hour

A semana foi resumida em concentração total para os jogadores do time alvinegro, pois naquele fim de semana, seria o início do Campeonato Paulista, no qual o Corinthians buscava seu terceiro título consecutivo e todo o time estava empenhado em vencer. O jogo em questão seria contra o São Caetano no estádio do próprio clube citado, na região do ABC paulista.

sempre odiou as concentrações, embora soubesse o quanto era necessário para garantir o desempenho de alto nível dos atletas. Passou a semana inteira regrado entre boa alimentação, horas de sono adequadas e treinos mais intensos do que os de costume, tudo para que o time pudesse vencer a primeira partida da competição. Por mais que tivesse um pequeno tempo livre durante o fim da tarde e começo da noite, ele se sentia sufocado pelo confinamento constante, mas procurava manter um bom relacionamento com seus colegas de elenco apesar disso.

No seu tempo livre, procurava assistir filmes, ler livros, se divertir com os outros jogadores e tentar manter o contato constante com a família. Em uma das conversas com seu irmão, Rony, o mesmo contou para que iria se apresentar em São Paulo e convidou o irmão para ir vê-lo.

Ronald era três anos mais novo do que e estava tentando a sorte na carreira musical há alguns anos. Se apresentava em pequenas casas de shows e bares no Rio Grande do Sul e aquela seria a primeira vez dele em São Paulo com a sua banda de apoio. não pensou duas vezes antes de aceitar o convite do irmão.

- Meu Deus, isso é incrível, Rony! Quando vai ser? - ele perguntou encarando o teto do quarto, mas não era capaz de parar de sorrir.
- No domingo. Eu sei que você tem jogo em outra cidade, então se não puder ir, não tem problema, eu vou entender.
- Que besteira, Ronald, é óbvio que eu vou! São Caetano é, literalmente, aqui do lado. Consigo chegar em tempo... Posso chamar umas pessoas?
- Claro... Hm... São jogadores? É que o lugar é pequeno.
- Não, talvez um deles, mas não é certeza. São uns amigos meus, funcionários do clube.
- Então tudo bem, vai ser ótimo ter vocês lá.

⚽🖤📱

- Um bar? - Junior perguntou e concordou. - Até onde eu sei, você não pode ficar bebendo, .
- Não vou pra beber, Junior, só quero ver o meu irmão. Não vejo ele faz uns dois meses - disse tentando não parecer tão emocional, sentia muito a falta do seu irmão menor. - E eu não queria ir sozinho, pensei em chamar você, o Tobias e o Bruno.
- Eu adorei a ideia, de verdade, mas a minha filha vem me visitar no fim de semana, também não vejo ela há algum tempo porque ela estuda em outro estado.
- Por que você não convida ela também? - ele sugeriu e só então processou a informação. - Espera, você tem uma filha?
- Sim, ela tem vinte anos - Junior riu da expressão de espanto no rosto do jogador. - Não sou tão novo assim, , mais alguns anos e eu teria idade para ser o seu pai também.
- Uau! Realmente não parece, mas ainda acho que você deveria levar ela. Vê com o Tobias se ele pode ir também.
- Claro, claro. Vai chamar a também?
- Hum... Não sei, ainda acho que ela me odeia, acho que ela não iria aceitar. Ela diria que um de mim não seria suficiente para infernizar a vida dela e por isso existe outro no mundo - os dois riram.
- É verdade... Bom, vou convidar por desencargo de consciência. Obrigado pelo convite, .
- De nada. Vou voltar antes que o Carille venha me buscar aqui - o meia disse por fim, ao se afastar da lateral do gramado, e correu para o meio do campo.

Por mais que os treinos fossem árduos naquela semana, conseguiu lidar com os últimos dias de concentração de uma forma mais tranquila ao saber que veria o seu irmão no domingo. Estava empolgado em mostrar para ele sua nova rotina, sua nova casa e seu novo clube. Ele sabia o quanto seu irmão era talentoso e há quanto tempo estava tentando um espaço na música enquanto para , as coisas se encaminharam naturalmente desde subir para o profissional com dezessete anos até o seu momento atual em grandes clubes brasileiros. Por mais que sua passagem pela Argentina não tivesse sido tão boa, ele ainda podia considerar como uma parte importante da carreira, pois foi a única vez que jogou no exterior. torcia para que as coisas encaminhassem para Ronald da mesma forma.

E por falar em coisas dando certo naturalmente, a estreia do Corinthians no Campeonato Paulista no final daquela semana foi de modo satisfatório para todo o elenco. O time venceu por 1x0 o São Caetano fora de casa e convenceu com o futebol apresentado, embora um leve descontentamento da torcida era visível nas redes sociais por um placar magro diante de um time relativamente menor na opinião dos torcedores.

concordava em partes com as reclamações da torcida, mas estava satisfeito com seu futebol. Embora não tenha feito o gol, a jogada saiu dos seus pés até finalizar na rede adversária e isso foi mais do que suficiente para ele e seu treinador que estava confiando nele cada dia mais para fazer parte do elenco titular e isso era tudo o que queria naquele momento.

Após a vitória em São Caetano, o ônibus levou a delegação de volta para o CT e então os jogadores foram dispensados até a tarde do dia seguinte quando voltariam às suas atividades rotineiras. Pelo horário, não teria tempo de passar em casa para trocar de roupa e sim vestir uma das que trouxe para a concentração, então ele se trocou rapidamente e, antes de sair, se lembrou de pegar na mala o presente para o seu irmão. Conseguiu internamente uma de suas camisas utilizada em outra partida para presentear o irmão. Por mais que Ronald não fosse totalmente adepto ao futebol, sabia que ele iria gostar, pois o mais novo costumava colecionar camisas de times por onde jogava.

- , vou buscar a minha filha e a , ela disse que vai também. Me passa o endereço e eu te encontro lá, ok? - Junior disse quando os dois junto com Tobias já estavam no estacionamento do CT.
- Tudo bem. Parece que é na Augusta, eu te mando uma mensagem. Tobias, você vem comigo?
- Claro, vamos logo para pegar um lugar bom.
- Somos convidados especiais, é claro que a gente merece um lugar bom, meu amigo - disse e os dois riram enquanto entravam no carro do jogador. - Ronald disse que separou uma mesa mais reservada pra gente.
- Isso é ótimo. Não é bom você ficar saindo depois do jogo porque a torcida e a mídia esportiva podem não gostar.
- Eu sei, só tô indo por causa do meu irmão. Vinte e quatro anos e posso contar nos dedos às vezes que andei fora da linha - deu ré para sair do estacionamento e em seguida do CT.
- Você é disciplinado, , eu fico feliz de ver que ainda existem jogadores que realmente levam o trabalho a sério.
- Não é fácil, Tobias, principalmente quando você é muito novo e começa a acumular dinheiro de repente. Do nada todo mundo vira seu amigo e todas as garotas te querem.
- Eu imagino a tentação que deve ser...
- Pois é... Depois do meu último namoro, há três anos, ficou mais fácil, sabe? Me desiludi muito, meu rendimento caiu e eu perdi a vaga no time titular. O Renato tinha acabado de chegar no time e me deu o sermão mais longo e rígido da vida, mas também me aconselhou muito e depois disso eu foquei totalmente na minha carreira. De repente mulheres, festas e dinheiro não pareciam tão legais pra mim.
- E a sua ex?
- Não sei, não sei mesmo - ele riu. - Eu apaguei ela da minha vida e ela sumiu por aí. Ouvi dizer um tempo atrás que ela tinha se mudado para Orlando, mas não fui atrás pra saber e ela também nunca mais me procurou, talvez a consciência tenha pesado demais.
- Desculpa, eu preciso perguntar, mas o que...
- Ela me traiu - interrompeu prontamente. - Com um membro da comissão técnica do Internacional logo depois que o Grêmio perdeu um Grenal... Na verdade, já estava acontecendo antes, mas eu só descobri depois do jogo porque eu vi um vídeo que um dos jogadores do Inter postou depois do jogo em uma festa e dava pra ver ela bem no fundo com a camisa do Inter e com o cara - ele riu, depois de tantos anos em silêncio sobre o assunto, a história havia se tornado engraçada. - Eu só tirei um print, mandei pra ela e terminei um namoro de cinco anos.
- Nossa, , eu sinto muito.
- Tá tudo bem, só não era pra ser. A parte que me toca até hoje é que eu não conseguia treinar direito e fiz partidas muito ruins, até cartão vermelho eu tomei por brigar em campo. Ela quase acabou com a minha carreira e se não fosse pelo Renato, eu nem estaria aqui hoje. Jurei pra mim mesmo nunca mais deixar nada atrapalhar meu rendimento.
- Quer saber? Eu acho que você tem razão. Se continuar jogando assim, vai ainda mais longe. O Carille te adora e ele pode até não dizer isso pra você, mas você nem tem ideia de como ele amou ter você no time, um meia de criação era o que ele queria, mas aí você chegou criando, marcando e finalizando... Você é o colírio dos olhos dele.
- Hum... Obrigado? - riu.

Eles continuaram conversando sobre vida pessoal e futebol até chegarem ao bar na Rua Augusta. deixou o carro estacionado na rua por falta de opção e então eles entraram. O pequeno palco estava preparado, mas não tinha nenhum músico ainda, o que acabou com as esperanças de encontrar o seu irmão assim que chegasse.

- Com licença - uma mulher baixa e de roupa social se aproximou deles. - Você é o irmão do cantor, certo?
- Certo. Sou o .
- É claro, ele avisou - ela sorriu. - Sou a Matilde, sou a dona do estabelecimento e o seu irmão me pediu pra te receber e levar até a mesa... São só vocês dois?
- Não, tem mais três pessoas pra chegar.
- Tudo bem. Me sigam, por favor.

e Tobias acompanharam Matilde até a primeira mesa do lado direito do palco. Eles pegaram mais três cadeiras enquanto Matilde juntava outra mesa para eles, então se acomodaram.

- Vocês vão pedir alguma coisa agora?
- Ainda não, vamos esperar nossos amigos, muito obrigado - Tobias disse ao ver que olhava para os lados distraído, então Matilde pediu licença e se afastou. - O que foi, ?
- Nada, só estava procurando o meu irmão, mas acho que não vai dar. O Ronald é do tipo que gosta de fazer suspense - ele sorriu. - É só esperar.

Eles continuaram conversando e não demorou muito para Junior chegar acompanhado por sua filha, Bel, e por . Por mais que e Tobias já conhecessem Bel, ainda conseguia ficar surpreso por Junior ter uma filha adulta, embora tentasse não demonstrar surpresa alguma no rosto e também esconder o fato de que achou Bel extremamente bonita. A pele negra e os cabelos compridos e cacheados da garota prenderam a sua atenção por um instante até ele voltar para a realidade.

- Pega leve ou o Junior te mata - Tobias sussurrou quase inaudível para o jogador.
- Mas eu não...
- Eu não nasci ontem, . Acalma o seu amigo aí, ok?
- Então, , quer dizer que tem outro de você no mundo? - perguntou se apoiando na mesa, estava na direção contrária à de .
- Sim, tem na versão cantor e também uma versão feminina e mãe - ele respondeu com bom humor.
- Cruzes! Espero que o seu irmão seja mais bonito, porque você é feio que dói.
- Espera pra ver.
- , que horror - Bel disse rindo, tentando interagir. - Não conhecia seu lado cruel.
- Você ainda não viu nada. Ela me odeia desde o dia em que eu cheguei aqui.
- E o que você fez de tão ruim pra ela te odiar assim? Porque a é a pessoa mais legal que eu conheço.
- Simples, eu nasci.
- É que ele é o maior tiriça, pé de rato, e eu não gosto de jogador ruim no meu time, Bel, só isso.
- Vou ser obrigado a defender o , , a jogada do gol de hoje saiu de uma criação dele pela ponta esquerda - Junior disse e pôde ver um sorriso vitorioso se formando no rosto do atleta - Foi incrível a visão de jogo dele.
- Pra mim não muda nada.
- Acho que vou no próximo jogo pra ver se concordo com a ou com o meu pai.
- Junior, posso levar a Bel para o jogo pra poder esfregar na cara da que eu sou um bom jogador? – olhou para que retribuiu com uma careta.
- Quarta-feira ela estará lá - Junior respondeu prontamente e Bel concordou.

olhou de relance para Tobias que mantinha um olhar desconfiado nele e isso fez sentir o rosto ganhar cor.

- Golaço - Tobias mexeu os lábios de forma lenta e entendeu claramente.
- Para.

Antes que a conversa pudesse se estender, um garçom veio anotar os pedidos deles e logo em seguida Rony entrou no palco acompanhado de sua banda e as pessoas presentes o aplaudiam, inclusive que se levantou para prestigiar o irmão aplaudindo o máximo que podia e isso não passou despercebido por Ronald, que agradeceu e fez sinal de que depois iria até ali falar com ele.

O rapaz se sentou no seu banco alto e pegou o violão. Ajustou o pedestal do microfone na sua altura, o testou e então se apresentou para o público e começou a tocar Azul da Cor do Mar do Tim Maia.

- Ele é muito fã do Tim Maia - disse aos amigos na mesa. - Desde sempre.
- E quem não é? - Tobias perguntou pegando o celular para gravar.
- Eu gostei do seu irmão porque ele gosta do Tim Maia - disse olhando para . - E também porque ele é talentoso e um gato.
- Achei ele idêntico a você, - Bel disse sorrindo.
- Vou levar como um elogio porque ele é demais - respondeu sorrindo para a garota e então olhou para . - Se ferrou, babaca, as pessoas perguntam se somos gêmeos.
- Impossível, ele é bonito e você, não. Depois me passa o telefone dele.
- Não vou deixar o meu irmão menor namorar com gente idiota.
- E quem disse que eu pedi a sua permissão?
- Se vocês dois não calarem a boca, eu juro que vou embora - Junior disse em um tom paternal demais, fazendo e olharem confusos pra ele. - Não me olhem assim, só quero prestar atenção.

A discussão na mesa acabou para poderem apreciar o show. Ronald passeou entre Tim Maia, Lenine e até Cazuza. Mesmo sendo um grande adepto da música nacional, ele acrescentou ao seu repertório Thinking Out Loud do Ed Sheeran, Stand By Me na versão de Louis Armstrong e também Wish You Were Here do Pink Floyd até voltar aos artistas Brasileiros e começar a cantar a música Garotos do cantor Leoni.

Quase que em sintonia, e bateram as mãos na mesa e fizeram cara de surpresa de quem realmente não esperava aquela música.

- Eu amo essa música! - disseram juntos, fazendo Junior, Tobias e Bel olharem para eles.
- Que bom que vocês concordam com alguma coisa - Tobias riu quando os dois fizeram cara de nojo um para o outro. - Antes que alguém diga que não gosta mais, por que a gente simplesmente não ouve ela, que tal?

e concordaram e se limitaram a ouvir a canção e prestar atenção na letra.

Seus olhos e seus olhares
Milhares de tentações
Meninas são tão mulheres
Seus truques e confusões
Se espalham pelos pêlos
Boca e cabelo
Peitos e poses e apelos
Me agarram pelas pernas
Certas mulheres como você
Me levam sempre onde querem

Garotos não resistem
Aos seus mistérios
Garotos nunca dizem não
Garotos como eu
Sempre tão espertos
Perto de uma mulher
São só garotos

sussurrava as palavras da música para que ninguém pudesse o ouvir cantando, algo que ele passou a odiar depois que Jadson o obrigou a cantar na frente de todo o time, então ele se limitou a murmurar as palavras, mas não pôde deixar de reparar que não tirava os olhos do palco e realmente estava aproveitando a música, a voz dela era audível mas não estridente e ele se sentiu levemente feliz por perceber que tinham algo em comum.

- Tô ficando louco - sussurrou para si mesmo mas se assustou ao ver que Bel, ao seu lado, olhou para ele.
- O que disse?
- Nada, só tô cantando - ele sorriu de lado.
- Eu não conheço essa música, mas gostei muito dela.

sorriu e aumentou um pouco a voz para que ela pudesse o ouvir cantando.

Seus dentes e seus sorrisos
Mastigam meu corpo e juízo
Devoram os meus sentidos
Eu já não me importo comigo
Então são mãos e braços
Beijos e abraços
Pele, barriga e seus laços São armadilhas e eu
não sei o que faço
Aqui de palhaço
Seguindo seus passos

Garotos não resistem
Aos seus mistérios
Garotos nunca dizem não
Garotos como eu sempre tão espertos
Perto de uma mulher
São só garotos...

Ele sabia que era verdade o fato de que estava encantado com a beleza dela. O jeito calmo e sutil que a garota falava acompanhada por um sorriso nos lábios dificultavam o trabalho de em não olhar para ela o tempo todo. Tentava prestar atenção no irmão no palco, mas a bela garota ao seu lado o deixava nervoso sem a menor explicação.

- Bela voz - Bel sussurrou e sorriu novamente, tentando agradecer, mas estava envergonhado o suficiente para não conseguir dizer nada.

olhou rapidamente ao ouvir a voz de Bel a tempo de ver sorrindo para ela. Até que o sorriso dele é bonito, ela pensou, mas não esboçou reação. Ela entendeu que um clima entre os dois era eminente e torcia para que Junior, do seu lado esquerdo, não percebesse naquele momento que o braço de estava esticado para o lado de Bel como se sua mão tocasse a dela por debaixo da mesa. não podia ver, mas imaginou que fosse exatamente isso que estava acontecendo ao ver que Bel abriu um sorriso para ele. sentiu o estômago revirar e se voltou rapidamente a olhar para Rony no palco. A ideia de que talvez, depois dali, e Bel pudessem se encontrar parecia um pouco sem nexo para ela, pois haviam acabado de se conhecer e ela também achou grande a diferença de idade deles, além de que Bel morava em outro estado e passava a maior parte do seu tempo dedicado ao time.

Meu Deus! Por que estou agindo como se realmente me importasse com isso? Ela pensou e percebeu que fez uma cara confusa, mas que por sorte ninguém notou.

Garotos não resistem
Aos seus mistérios
Garotos nunca dizem não
Garotos como eu
Sempre tão espertos
Perto de uma mulher
São só garotos...

Ao final da música, muitos aplausos foram ouvidos e então Ronald se levantou para fazer uma reverência. Ele deixou o violão de lado em seguida e pegou o microfone no pedestal.

- Uau! Esse deve ser meu show favorito até hoje - ele disse rindo. - Muito obrigado por terem vindo aqui hoje mesmo sem me conhecer... Bom, a próxima música vai fugir um pouco do que foi apresentado até agora, mas eu garanto que é muito conhecida. Eu escolhi ela porque mais de dez anos atrás o meu melhor amigo e irmão foi embora de casa na busca de realizar o sonho dele - ele olhou na direção de e viu que o irmão não sabia como reagir, estava apenas com uma expressão surpresa no rosto. - Não faz essa cara, , você sabe muito bem que eu tô falando de você... Só queria compartilhar com vocês que faz dois meses que eu não via o meu irmão e hoje ele está aqui, veio de outra cidade correndo pra me ver e ainda trouxe amigos - ele caminhou no palco até a mesa de atraindo todos os olhares para aquela direção. - Obrigado por ter vindo, obrigado aos seus amigos também, isso significa muito pra mim. Eu amo você, irmão, e sinto a sua falta todos os dias, mas tô feliz demais em ver você conquistando tudo o que sempre quis... Quando você foi embora de casa a nossa mãe ouvia essa música dia e noite e não parava de chorar, então eu quero que você se sinta em casa agora. Por favor, não dá risada por causa da música, juro que não encontrei outra melhor.

Rony se sentou no palco de frente para a mesa e começou a cantar

No dia em que eu saí de casa
Minha mãe me disse
Filho, vem cá!
Passou a mão em meus cabelos
Olhou em meus olhos
Começou falar

Por onde você for eu sigo
Com meus pensamentos
Sempre onde estiver
Em minhas orações
Eu vou pedir a Deus
Que ilumine os passos seus

À esta altura, Rony estava com seus olhos cheios de lágrimas enquanto cantava com a voz embargada pela emoção, então se levantou e começou a cantar alto o refrão para que as pessoas o acompanhasse e assim aconteceu.

tentava se manter firme contra à vontade de chorar, mas nunca tinha parado pra pensar naquela música e em como ela descrevia também o dia em que deixou o Rio Grande do Sul para ir viver em um alojamento em Santos, litoral paulista. Saiu de casa com treze anos e nunca mais voltou para ficar, mas mesmo depois de doze anos se lembrava daquele dia e do quanto chorou junto com sua mãe antes de ir. Foi difícil, mas ele achava que todo o sacrifício tinha valido a pena, pois ali estava ele no auge da carreira e bem sucedido, mas ainda com os pés no chão e a cabeça no lugar.

Ele então saiu do seu lugar e foi até o palco para se sentar ao lado de Rony que voltou a cantar mesmo com a voz embargada. Não se importava se estava no centro das atenções ou se tinha algum torcedor ali, pois ele estava com o seu irmão novamente e isso era tudo o que importava para ele naquele momento.

Ele viu que na sua mesa, Tobias e estavam com os celulares apontados para o palco tirando fotos e gravando o momento. se surpreendeu ao ver que as bochechas de estavam vermelhas, assim como nariz e olhos, sinal de que ela estava chorando. Ela olhou pra ele ao perceber o olhar dele pesar sobre ela e tentou secar a lágrima que escorreu quase que imediatamente, mas apenas sorriu para ela como se dissesse que estava tudo bem, que ele daria uma trégua naquele momento e ela pareceu entender, pois sorriu e se permitiu derrubar mais algumas lágrimas.

Ao final da música e sobre muitos aplausos e assobios, os irmãos se levantaram e se abraçaram forte por pelo menos dois minutos até se separarem, então se lembrou do presente e pediu para que Tobias jogasse a camisa no palco para ele. tomou a liberdade de pegar o microfone da mão do irmão e abriu a camisa para que todos vissem.

- Eu ia entregar depois, mas não me aguentei. Mais uma pra sua coleção. Pra quem não sabe, o Roniquito coleciona as camisas dos clubes que eu já joguei.
- Pra quem não sabe, o é jogador de futebol e é ótimo - Rony disse pegando o microfone de volta. - Eu adorei, obrigado.

percebeu que haviam alguns torcedores no bar com os celulares apontados para o palco, mas ao invés de se esconder, ele não se sentiu culpado, pois não viu nada de errado no que estava fazendo. Já Ronald pegou a camisa e vestiu, causando aplausos principalmente de torcedores corinthianos ali presentes.

- Obrigado, , eu amei. Agora vaza porque o show é meu e eu ainda não terminei - Ronald disse causando risos em todos, inclusive que concordou e desceu do palco.

Rony voltou para o meio do palco e começou a cantar uma música animada do Ed Motta enquanto todos na mesa de se viraram para ele.

- Isso foi lindo - Bel foi a primeira a falar. - Meu pai estava chorando e disse que ouviu essa música quando me mudei e também chorou.
- É verdade, nunca vai ser fácil ver um filho sair de casa - Junior concordou. - Não importa se é logo ali ou muito longe de casa, a sensação é a mesma.
- Por isso eu moro com os meus pais - disse por fim fazendo todos rirem.

⚽🖤📱

Após o fim do show, Rony foi muito aplaudido pelas pessoas presentes que também pediram pra tirar fotos com ele. , ao perceber que o irmão estava no centro das atenções, não ousou se levantar do seu lugar pois não queria chamar a atenção para si e embora alguns torcedores pedissem fotos com ele também, ele conseguiu se manter discreto.

Esperaram até o bar esvaziar para então Ronald e poderem se ver de verdade e apresentou seu irmão aos seus amigos.

- Vai ficar aqui até quando? - perguntou ao irmão.
- Até quarta-feira.
- Você poderia ir no jogo de quarta-feira - sugeriu empolgado. - É em Campinas mas fica a um pouco mais de uma hora daqui, não é muito longe.
- Eu vou ver o horário do voo de volta e te confirmo.
- Gente, eu não queria ser chato e atrapalhar, mas a gente tem que ir, tenho muito trabalho pra amanhã - Junior disse se colocando ao lado dos irmãos. - Mas foi um prazer, Rony, a gente se divertiu muito.
- Que bom que gostaram - Rony sorriu. - É melhor irem, não quero que cheguem tarde - ele olhou para . - Vou na sua casa amanhã, pode ser?
- É claro, pode ser.
- Ótimo, então até amanhã.

Após as despedidas, eles foram embora. se ofereceu para levar Tobias e para casa, mas quem dirigiu o caminho de volta foi Tobias, pois estava cansado o suficiente para não o fazer.

- Eu só quero a minha cama, não sinto as minhas pernas. - o jogador disse quando o carro já estava em movimento.
- Você vai chegar em casa, dormir imediatamente e acordar novinho em folha de manhã, não quero treinador e preparador físico falando que te levei para a farra - Tobias falou.
- Eu só me apresento de tarde pra fazer trabalho regenerativo na academia - disse bocejando em sinal de sono. - Tranquilo.

O caminho de volta até a casa de Tobias foi em silêncio. Ao chegar, quem tomou o volante foi até a própria casa. Para manter acordado, ela procurou manter assunto com ele. Era estranho, pois ainda tinha aquela pulga atrás da orelha como qualquer outro torcedor, mas estava se mostrando ser uma boa pessoa e ela já não tinha mais certeza se o odiava mesmo ou apenas estava brincando.

- O seu irmão parece ser bem legal.
- Com certeza. Ele é mil vezes mais legal do que eu.
- Disso eu não tenho dúvidas - os dois riram. - Ok, talvez eu não te odeie tanto assim. Você até que é legalzinho e cria umas jogadas legais.
- Minha nossa senhora, é o fim do mundo, você me elogiou.
- Não abusa, . Ainda pareço um pinscher com raiva pra você?
- Às vezes - ele riu. - Mas se você estiver disposta a ceder, então eu vou ceder também e paro de implicar com você.
- Ok, vou te deixar em paz um pouco.
- Eu agradeço.
- Então já que a gente não se odeia mais, preciso te perguntar uma coisa porque a curiosidade matou o gato.
- Pergunte.
- Tá interessado na Bel?
- O que? De onde você tirou isso?
- É que tava meio na cara - ela riu um pouco envergonhada por tocar no assunto. - Tipo, você tava babando nela.
- Estava tão óbvio assim?
- Com certeza estava.
- Ah... Bom... Ela é linda, né? Foi inevitável não olhar para ela de vez em quando.
- Inevitável vai ser o soco que você vai levar do Junior depois - ela riu. - Só seja discreto.
- Não é porque eu gostei dela que vá acontecer alguma coisa. Só quer dizer que achei ela bonita. Meu único foco é minha carreira.
- Ótimo, porque um errinho seu que prejudique o time e eu volto a te odiar.
- Muito obrigado pela parte que me toca, .

Eles continuaram conversando até chegar à casa de . À esta altura, não estava mais com sono e podia se manter acordado até chegar em casa, então saíram do carro para ele ir para o volante.

- Droga, esqueci a chave - murmurou e foi até o portão chamar pela mãe. - Você pode ir se quiser.
- De forma alguma - ele se apoiou no carro e cruzou os braços. - Eu vou esperar.
- Ah, nossa! Que gentil! Se o bandido for assaltar a gente, vai fazer o quê?
- Do pescoço pra baixo, pra mim é canela - riu, mas revirou os olhos. - Eu só não acho certo te deixar sozinha do lado de fora.

ia responder, mas sua mãe chegou em tempo para abrir o portão.

- , acho que você não tem mais idade para ficar esquecendo a chave de casa quando for chegar tarde - a mulher disse abrindo o portão.
- Foi mal, mãe, saí atrasada - ela se virou para . - Valeu.
- De nada, e na próxima vez que esquecer a chave, vai ficar trancada pra fora - respondeu usando o mesmo tom de voz da mãe de e riu, em seguida olhou para a mulher. - Está entregue.
- Obrigada - ela agradeceu sorrindo e assentiu com a cabeça, então entrou no carro.
- Ei, , se puder me mandar as fotos, eu agradeço.
- Ok, vou mandar.
- Valeu.

ligou o carro e foi embora enquanto entrou em casa fugindo do olhar curioso de sua mãe.

- Não me olha assim, dona Rose.
- Ele é jogador, não é? Assisti o jogo de hoje com o seu pai.
- É, mas não é nada do que você tá pensando, não estou saindo com jogador nenhum.

explicou todo o contexto para sua mãe e ela acreditou, mas o fato de que um homem trouxe em casa deixou a sua mãe empolgada até demais.

- Não queria dizer nada, mas ele é muito bonito.
- O ? Credo, mãe, ele é muito chato - torceu o nariz, mas o olhar firme de sua mãe a fez ceder. - Ok, ele é bonitinho e com um sorriso de dar inveja, mas e daí? A gente briga desde o dia em que ele chegou no time. Ser bonito ou não, não vai mudar nada.
- Ele parece ser tão educado, até ficou esperando eu abrir o portão. Isso é raro hoje em dia.
- Mãe... Para... Não tenho nada com o , é sério...
- Não estou dizendo que tenha, mas eu não acharia ruim se tivesse.
- Muito obrigada pela bênção e boa noite.

subiu as escadas rapidamente até o seu quarto para trocar de roupa. Colocou o seu pijama mais confortável e se deitou na cama. Se lembrou de mandar as fotos e vídeos para antes de dormir, embora não tivesse certeza se ele iria responder. Para a sua surpresa, ele respondeu agradecendo.

"Valeu, ficaram ótimas"
"Custa 100 reais"
"Sua mercenária, não vou pagar nada kkkk"
"Se você fizer um gol na próxima partida, não vou cobrar"
"Faço até três... Preciso ir dormir, tô exausto... Boa noite, , vê se não esquece a chave de novo"
"Kkkkk pode deixar, boa noite"


deixou o celular de lado carregando e, quando se deu conta, estava rindo no escuro por causa da mensagem dele. Não sabia o que era mais improvável, ela esquecendo a chave ou achando que não era tão ruim assim, pior ainda era sua mãe insistindo na aparência dele, algo que nunca realmente prestou atenção.

Quando se deu conta das suas ações de novo, estava novamente olhando o Instagram dele e reparando melhor dessa vez, ela olhou mais para as fotos em que ele estava modelando para a Umbro durante apresentações de uniformes do Grêmio na temporada anterior e também notou que no meio de todas aquelas fotos não havia nenhuma com garotas que não fossem da família. Ele parecia ter uma vida bem discreta quanto a isso.

- Ok, ele definitivamente não é feio - ela falou baixo para si mesmo olhando para as fotos. - Mas que porra eu tô fazendo?

Ela deixou o celular de lado quando percebeu o que estava fazendo e se sentiu ridícula. Por mais que tivesse feito as pazes com ele, não achava que era necessário ir direto nas redes sociais dele e olhar foto por foto.

- Mas ele não é feio - ela riu consigo mesmo novamente. - Acho que eu tô pirando. Maluquinha...

⚽🖤📱

No dia seguinte, se apresentou no CT logo após o almoço e foi direto para a academia onde o time titular iria passar a tarde fazendo o trabalho regenerativo. Cumprimentou alguns colegas que o parabenizaram pela jogada que originou o gol e também o preparador físico quando foi parado pelo seu treinador.

- Vem aqui, , quero falar com você em particular.

sabia que era de se preocupar quando um treinador dizia isso, mas pelo tom de voz calmo e postura de Fabio Carille, ele teve a sensação de que não iria tomar uma bronca.

Eles foram até o fundo da academia e o técnico mostrou para sua prancheta.

- Olha isso. As áreas em vermelho são onde você mais atuou ontem, pelo lado esquerdo e mais perto do ataque do que do meio de campo.
- Bom, eu...
- Eu não acho isso ruim, - Fabio interrompeu antes que pudesse se explicar. - Se você fosse atacante, é claro... Eu fui dormir tarde ontem e passei uma parte da manhã vendo uns jogos seus. Vi um jogo na base dos Santos, depois no profissional, um pelo Rosário e um no Grêmio... , você não nasceu pra ser meio-campista.
- Mas eu jogo no meio campo desde...
- Desde o primeiro ano no Grêmio, eu sei, mas antes disso você era atacante e eu fiquei impressionado. Eu já tinha percebido que você é mais ofensivo do que marcador.
- Eu cheguei no Grêmio como atacante, mas o treinador me colocou de improviso no meio-campo e eu acabei ficando, tomei gosto.
- Isso é ótimo, que bom que você é flexível, mas nesse time você se encaixa muito melhor no ataque. Você é criativo, tem visão de jogo, e por mais que seja um bom marcador, você é muito ofensivo e eu gosto disso - ele virou a folha e mostrou o esboço. - Quero você no ataque como o meu ponta-esquerda.

observou melhor e viu seu nome formando a linha de ataque. Ele, pelo lado esquerdo, podendo ser substituído por Clayson ou Sornoza, Jadson ou Vital pelo meio e Pedrinho do lado direito.

- Você acha que eu consigo?
- Eu tenho certeza, com isso o time vai ficar mais ofensivo. Eu acho que vai dar muito certo você e o Pedrinho pelas pontas porque tanto o Gustavo quanto o Mauro e o Vagner são bons finalizadores, vão ter entrosamento com vocês. Eu não te colocaria nessa posição se eu não tivesse certeza, .
- Então tudo bem, eu posso jogar de ponta se for melhor para o time.
- Perfeito. Amanhã você vai começar a treinar pela frente, eu vou desenvolver algumas atividades pra você se acostumar.
- Obrigado, professor, vou dar o meu melhor.
- Assim espero.

A tarde foi tranquila para o elenco regular que passou o tempo na academia enquanto os reservas treinaram em campo e, quando já estava anoitecendo, foram liberados. não perdeu tempo e foi o mais rápido que pôde para sua casa afim de receber Ronald em tempo. Ele tomou um banho rápido, ligou para o irmão para passar o endereço e naquele meio tempo ele ainda teve tempo de ligar para Bel, pois haviam trocado os telefones na noite anterior.

- Meu pai reservou um quarto pra mim no mesmo hotel, então eu vou poder ver o jogo na quarta-feira.
- Isso é ótimo, que bom que ele conseguiu.
- Bom vai ser se você fizer um gol, então talvez a viagem vai ter valido à pena.
- Você e a estão me pressionando, não tô gostando disso - disse rindo. - Agora eu tenho a obrigação de fazer um gol.
- Por que a ?
- Ah... Foi uma aposta, uma brincadeira... Ela tirou umas fotos no bar e cobrou cem reais ou um gol pelo serviço.
- E o Corinthians paga tão mal assim pra você não querer pagar cem reais pra ela? - os dois riram.
- Não, o teto salarial do clube é ótimo, mas pra mim cem reais ainda é cem reais e eu não vou pagar por isso.
- Seria indelicado eu perguntar o valor do teto?
- Não - ele sorriu mesmo que ela não visse. – Mais de meio milhão para jogadores como o Cássio, Boselli ou o Gil.
- E você?
- Eu não posso falar, mas é menos do que isso e menos do que eu recebia no Grêmio... Foi mal, eu não posso ficar falando de valores com ninguém.

podia, mas não gostava de falar sobre os valores. Chegou no Corinthians beirando o teto salarial, mas ninguém sabia disso além do seu empresário e sua família, então ele não via razão para divulgar.

- Tudo bem, eu entendo.
- De qualquer forma, se eu fizer uma temporada acima da média, eu recebo um aumento no ano que vem, tudo depende de mim.
- Então eu espero que você consiga.
- Depende... Se eu tiver uma torcida me apoiando, talvez eu possa melhorar.
- É por isso que eu vou na quarta-feira.

Eles continuaram conversando mais um pouco até Rony chegar. desligou o telefone e desceu imediatamente até a portaria do edifício para receber pessoalmente o seu irmão.

- Definitivamente, aqui não se parecesse em nada com a nossa casa em Porto Alegre - Rony disse quando pegaram o elevador. - Eu deveria ter virado jogador também.
- Lembra que a gente dividia um quarto minúsculo? Depois que eu fui embora deve ter sobrado mais espaço.
- Ah, claro! Só se for mais espaço pra eu chorar escondido. Era eu chorando em um quarto, a Cida em outro e a nossa mãe na cozinha.
- E eu no alojamento do Santos - riu, embora aquilo ainda fosse uma lembrança dolorosa. - Mas valeu a pena.
- É claro, agora você é do meio-campo de um dos maiores times do Brasil. Eu tô muito orgulhoso.
- Obrigado, mas não sou mais meio-campista - ele tentou conter um sorriso, mas falhou. - Fui promovido a atacante. Ponta esquerda.
- Meu Deus! Quando isso aconteceu?
- Hoje, o professor me fez a proposta porque acha que eu sou muito ofensivo para ficar no meio campo e quer me testar no ataque.
- , isso é incrível! Meus parabéns, você merece demais.
- Valeu, valeu... Bom, agora é trabalhar em dobro, não é? Não posso decepcionar.
- Não se preocupa, vai dar tudo certo.

Eles chegaram ao penúltimo andar onde morava e entraram. mostrou para o irmão toda a casa, inclusive o quarto que ele preparou para abrigar sua coleção de camisas de times internacionais e seus troféus e medalhas que ganhou ao longo dos seus oito anos como profissional.

- Não canso de admirar - Ronald disse olhando os troféus. - Quantos faltam?
- Quatro, mas considerando que eu quero muito ganhar o Paulistão, então faltam cinco. Então falta o Paulistão, Brasileirão e, se me permite sonhar alto, Champions League, Mundial de Clubes e Copa do Mundo.
- Acho que você é capaz.
- Talvez, mas não dá pra ganhar uma Champions League no Corinthians - eles riram. - Eu tô amando ficar aqui, mas... Você sabe, meu sonho é jogar na Europa e eu já tô ficando velho pra isso. Tenho medo de não conseguir.
- Todas as coisas têm o seu tempo, , só se mantenha firme no seu objetivo.

Eles passaram as horas seguinte conversando, bebendo cerveja e jogando vídeo game até Ronald decidir ir embora para que pudesse descansar. Embora tivesse ido embora de casa muito cedo, sua relação com o irmão nunca foi abalada. Eram como melhores amigos inseparáveis, um sempre apoiaria o outro e isto nunca iria mudar.

Devido aos anos separados, não podia se ver sempre. Nos tempos de Grêmio, foi fácil para manter a família perto, visto que as casas ficavam no mesmo condomínio, mas tudo parecia um tanto mais difícil agora. Amava a cidade de São Paulo, passou a respeitar e gostar do Corinthians como um grande clube, se sentia em casa, mas trocaria tudo aquilo por mais momentos em família, tentando compensar os anos perdidos vivendo em um alojamento e também na Argentina. Chegou ao Grêmio com apenas vinte anos de idade, mas os anos longe fizeram com que tudo fosse muito mais intenso de lidar.

- Ah! Já ia me esquecendo! - Rony parou ao abrir a porta. - Com qual das duas meninas você tá ficando?
- O que? Que horror, Rony! Com nenhuma das duas, se quer saber.
- É sério? Parecia que elas estavam competindo pelo olhar.
- Como assim competindo?
- Nossa, , como você é devagar - Rony riu. - Bel e , certo? - concordou. - Você estava olhando pra Bel e ela pra você, mas a simplesmente não tirava os olhos de você.
- A ? Ok, Ronald, você pirou. É real e oficial, vou ligar pro hospício.
- Qual é, ? Eu sei o que eu vi! Era aquele olhar... Aquele de quando a pessoa que você tá olhando chama a sua atenção de uma forma... Diferente. Mais do que você gostaria, na verdade. Mas acho que você já está ocupado com a Bel.
- Não aconteceu nada entre a Bel e eu... Ainda - ele deu de ombros. - E quanto à , você tá ficando louco. Ela faz questão de me tirar do sério desde o momento em que eu pisei em São Paulo.
- A gente só faz isso quer chamar a atenção de alguém, você sabe.
- Ok, ok. Eu entendi que arraso corações... Você fala tanta merda que eu já ia me esquecendo também - colocou a mão no bolso e pegou os ingressos do jogo para entregar ao irmão. - Aqui, ingressos pro jogo de quarta-feira pra você levar a banda também.
- Valeu, cara.
- Vem, eu te levo até lá em baixo.

Eles saíram juntos do apartamento e acompanhou o irmão até a portaria. Eles não sabiam se ainda iam se ver após o jogo, então se despediram com um abraço apertado e Rony foi embora, enquanto subiu novamente e tratou de preparar a mala para a viagem do dia seguinte para Campinas pela manhã.

Enquanto preparava a mala com roupas o suficiente para dois dias, refletia seriamente sobre as palavras do irmão, mas não conseguia ver a lógica no meio de tudo, afinal, tinha um interesse físico em Bel, mas nunca tinha realmente notado as características físicas de para além da habilidade dela com uma bola no pé, que por acaso, ele achava incrível uma mulher ter um domínio perfeito como o dela, algo pouco comum na opinião dele.

- Será mesmo? - perguntou para si próprio mais alto do que gostaria ao cogitar a hipótese que algo além de ódio e rancor habitasse no coração da ex-jogadora - Não, sem chance... Ou talvez? Meu Deus, , só cala a boca.

Tentando ignorar os próprios pensamentos, terminou de fazer a mala e logo em seguida ligou para sua irmã afim de poder falar com suas sobrinhas também e matar a saudade do restante da família. Ele contava os dias para poder ir ao Sul e visitar seus parentes, mas enquanto isso não acontecia, se contentava com vídeo chamadas e ligações, afinal, sempre concordou com o ditado que diz que o lar é onde o coração está e naquele momento seu coração estava dividido entre São Paulo e Porto Alegre. Sendo assim ele tinha dois lares para chamar de seu e, naquele instante, o lar e a recepção sulista pareciam ser tão convidativos quanto o paulista. Ele mal podia esperar para voltar.

Capítulo 7 - Vem pro Fut

Campinas, São Paulo

"MEU DEUS, ! ME EXPLICA ISSO MELHOR"

"O Carille me chamou e explicou que acha que eu sou muito ofensivo pra ficar no meio do campo e me colocou de ponta esquerda e aqui estou eu."

"Agora que esse time não ganha mais nada mesmo..."

"É brincadeira. Meus parabéns."

não foi capaz de conter a risada. Sabia que por mais que ele e se tolerassem atualmente, provocar um ao outro ainda parecia a coisa mais divertida de se fazer e ele já não levava mais como uma ofensa pessoal, mas sim com bom-humor.

"Agora fica mais fácil pra eu fazer gol e não vou precisar te pagar 100 reais."
"Para de se iludir. Você ainda é o maior pé de rato hahaha"

- Vai descer ou vai ficar aí?

voltou sua atenção para além do celular quando Bruno o chamou. O zagueiro estava de pé no corredor do ônibus pronto para descer.

- Caramba, nem percebi que já tinha chegado. Foi mal.

Bruno resmungou algo em espanhol enquanto se levantava, então os dois saíram do ônibus e, junto com o resto da delegação, se dirigiram para a entrada do hotel. Havia muitos torcedores na porta do hotel, então os jogadores pararam para atender e tirar fotos com a torcida.

- Vai fazer um gol amanhã? - uma pequena torcedora perguntou para enquanto ele assinava a camiseta dela.
- Você já é a terceira pessoa que me pergunta isso - ele riu. - Se eu fizer, vou dedicar pra você. Qual é o seu nome?
- Beatriz.
- Ok, Bia, faço um gol pra você amanhã. Combinado?
- Combinado - a garotinha sorriu e deu um abraço no jogador.

atendeu mais alguns torcedores e então entrou no hotel. Ainda teria treino na parte da tarde no CT cedido pelo Guarani e precisava se preparar.
Era apenas o quarto jogo da temporada, mas podia sentir um início de cansaço tomando conta do seu corpo. Estava totalmente acostumado com a rotina de treinos e concentração, mas o fato de que passava mais tempo no centro de treinamento ou em concentração o deixava um pouco frustrado por perder grande parte da sua juventude e não poder levar a vida de um rapaz normal da sua idade. Ainda sim era grato por não morar no CT, pois já havia morado por quatro anos em alojamentos na adolescência, o fato de ter sua própria casa para descansar no fim do dia era o que tornava sua rotina intensa, um pouco mais leve de se lidar, além de um estádio inteiro comemorando um gol marcado por ele.

⚽🖤📱

O calor do interior paulista fez com que o treino na parte da tarde fosse menos intenso e com menor duração. Com temperaturas mais quentes do que na capital, as pausas para hidratação se tornaram mais frequentes pelo bem da saúde dos atletas.
se sentou na beira do gramado visivelmente cansado e ofegante. Era o seu primeiro treino jogando na nova posição e ele estava tentando manter o ritmo de sempre para alcançar um bom desempenho no dia seguinte, mas o sol ardente acima da sua cabeça não estava facilitando as coisas não só para ele, mas também para os seus colegas de equipe. Ele abriu a garrafa de água e jogou metade sobre a nuca afim de se refrescar e logo em seguida bebeu a outra metade rapidamente.

- Você está bem, ? - seu preparador físico perguntou e ele apenas concordou com a cabeça. - Não parece.
- Só tô com calor. Falta muito pra terminar?
- Não, mas hoje esse calor está demais mesmo... Eu vou ver com o Fábio se a gente consegue encurtar por hoje.
- Eu agradeço muito - se deitou no gramado e cobriu o rosto com as mãos para se proteger da luz do sol, mas sentiu um chute de leve na costela. - O que é?
- Levanta - Bruno estendeu a mão. - Não acabou.
- Você é um pé no saco, Méndez - segurou a mão do zagueiro para se levantar. - Não posso descansar por dois minutos.
- Não mesmo.
- Acho que seria uma boa se... - parou de falar quando percebeu que a visão estava turva e o gramado parecia girar. - Uou.
- ? Você tá bem? - Bruno segurou para que ele não caísse e o preparador físico percebeu.
- O que você tá sentindo?
- É só uma tontura, levantei rápido... Eu acho.
- Eu disse que você não tava bem! Senta aí.
- Por favor, não fala para o Carille - disse se sentando novamente. - É só o calor, eu juro que não é nada.
- Tá tudo bem aí? - o treinador se aproximou e olhou para o chão. - , o que você tem?
- Tá passando mal por causa do calor, acho que a gente deveria encerrar por hoje, Fábio. Todos eles estão visivelmente cansados.
- É, também acho - ele olhou para os atletas e notou a maioria sentada no gramado. - Já que o não está bem, leva ele para os médicos verem se ele precisa de algum cuidado. Não posso relacionar um jogador pra amanhã se ele não estiver bem de saúde.

A hipótese de ser cortado da partida do dia seguinte fez despertar imediatamente, mas ele optou por não se levantar, ou certamente cairia novamente.

- Você vai me cortar?
- Não posso colocar o time acima da saúde dos meus jogadores, .
- Eu estou ótimo! Meu irmão vai vir só pra me ver jogar e eu nem vou ser relacionado? Isso não é justo, tô correndo feito um louco!
- Primeiro de tudo, não precisa ficar nervoso. Em segundo lugar, eu decido o que é melhor para o time e em terceiro, em nenhum momento eu disse que você vai ser cortado, eu disse que se você não melhorar, então eu vou ter que cortar. Disciplina, , você não é do juvenil e eu não sou o seu pai pra te educar.

percebeu o quão infantil ele foi ao se irritar apenas com a possibilidade de um corte na relação do jogo. Por mais que odiasse ficar no banco de reservas ou de fora de um campeonato, sabia que precisava manter a calma sempre, algo que se tornou mais difícil após a péssima campanha do Grêmio na temporada passada quando ele estava sempre tenso e sobre pressão.

- Desculpa - ele se levantou devagar. - Eu só tô aprendendo a manter a calma de novo.
- Não faz mais isso, até os meninos da base aceitam melhor.

O treinador reuniu os atletas e encerrou o treino do dia para que pudessem voltar ao hotel e recuperar as energias para o jogo do dia seguinte.
Após tomar um longo banho e passar algum tempo apenas relaxando, foi convidado por Bel para ir até o quarto da garota. Ele, embora sempre focado nos jogos, se permitiu sair um pouco do seu quarto e passar algum tempo conversando com a filha de Junior.

- Eu entrei em pânico só de pensar em ser cortado do jogo... Claro, tomei a maior bronca do professor e com razão, eu fui péssimo, mas não posso ser cortado amanhã, meu irmão vai vir só pra me ver - dizia encarando o teto do quarto de Bel.
- Você não pode ser cortado, tem que fazer um gol, esqueceu? - Bel disse o encarando e ele riu.
- Tem razão, não posso decepcionar ninguém... Mas no final deu tudo certo, passei com o médico do time e ele disse que não era nada, só me mandou ir pro hotel e descansar.
- E aqui está você.
- E aqui estou eu - olhou para ela. - Acho que seu pai me mata se me ver aqui, deitado na sua cama como se fosse normal.
- Pra mim não tem nada demais e além disso, o meu pai não invade o meu espaço.
- Isso é bom, mas eu tenho que voltar pro quarto. Às dez os celulares e luzes devem estar desligados e eu dormindo bem tranquilamente.
- Que horrível! Essa rotina de vocês é bem cansativa.
- Com toda a certeza, mas eu amo jogar futebol - se sentou na cama. - E por eu ser titular amanhã, preciso ir.
Bel concordou e se levantou para o acompanhar até a porta.
- Tem certeza de que não quer ficar? Não é nem nove horas ainda - ela disse ao abrir a porta.
- É claro que eu quero ficar, mas... Regras são regras - ele deu de ombros, já estava mais do que acostumado a seguir regras.

realmente queria ficar. Bel era divertida e uma ótima ouvinte, ele sabia que poderia ficar ali horas falando sobre a sua vida que ela simplesmente iria ouvir sem reclamar e embora ela não entendesse muito de futebol para manter uma conversa longa, ele ainda gostava de conversar com ela mesmo assim.

- Então... Boa noite, – Bel o encarou, seu olhar implorava para ele ficar mais um pouco.
- Eu estou muito perto de fazer uma loucura - ele olhou diretamente para os lábios da garota que agora pareciam ser ainda mais bonitos e chamativos.
- Deixa que eu te ajudo.

Imediatamente, Bel colocou seus braços ao redor dele e permitiu que ele juntasse os lábios dos dois em um beijo, lento mas que se tornou intenso demais para ser visto no corredor, então entrou novamente e fechou a porta atrás de si.

- Eu queria muito fazer isso – o jogador disse com um sorriso travesso nos lábios.
- Eu também, desde que te vi naquele bar... Mas achei que você tinha alguma coisa com a .
- Por que achou isso?
- Não sei, só parecia. Vocês pareciam tão... Sei lá, íntimos, cheios de piadinhas.
- Te garanto que não tenho nada com ela e nem com garota nenhuma.
- Que bom, sobra mais pra mim.
Os dois riram e tornaram a se beijar. Não demorou muito para que se tornasse algo a mais e de repente a cama parecia ser bem convidativa para eles.
- Espera - Bel saiu de debaixo dele e foi até à sua mala.
- O que foi? - perguntou visivelmente confuso, mas apenas recebeu em resposta um preservativo voando direto na sua mão. - Você é bem prevenida, porque eu não tinha nenhum.
- O que está errado - ela voltou para a cama e se sentou, de forma um tanto provocante, no colo dele.
- Sexo é extremamente proibido na concentração e se alguém descobre, eu posso ser punido pelo clube.
- Não se preocupa, vai ser o nosso segredo - ela sorriu antes de voltar a beijá-lo.

tinha a plena consciência de que estava infringindo regras importantes como o limite de horário para dormir e a proibição do sexo no período de concentração, mas naquele momento seu desejo falou muito mais alto e ele tinha uma linda garota com ele e que era inteiramente sua. Podia contar as vezes em que sua vida pessoal falou mais alto do que a profissional, mas ele sabia que estava sozinho a tempo o suficiente para se permitir algumas horas de prazer. Sabia que Bel não era qualquer garota e sim filha de um dos seus amigos dentro do clube, mas sabia também que já era tarde demais para voltar atrás.

⚽🖤📱

dominou a bola com o peito quando a recebeu em um cruzamento do outro lado do campo. O marcador do time adversário veio feroz na sua direção, mas ele foi rápido o suficiente para driblar a marcação e avançar em direção ao ataque. Ele cruzou para o meio da grande área onde Gustavo pulou para cabecear, mas em um reflexo rápido, o goleiro do time bugre fez uma bela defesa espalmando a bola para fora.
Ele próprio foi até a bandeirinha para cobrar o escanteio. Tomou distância e chutou direto para a grande área onde quase o time inteiro estava, mas para seu azar, o zagueiro adversário cabeceou para fora do outro lado gol. Viu Jadson andando até a bandeirinha e correu para a grande área afim de dar apoio ao time. Jadson cobrou o escanteio curto para Fagner que cruzou para dentro da grande área, a bola passou direto por e parou na cabeça do zagueiro Gil que cabeceou bem, mas o goleiro defendeu novamente. Para o azar do arqueiro do time de Campinas, a bola recuou e parou nos pés de que em um bom reflexo chutou diretamente para o fundo do gol abrindo o placar para o Corinthians aos nove minutos do primeiro tempo.

se lembrou imediatamente da pequena torcedora, Beatriz, e correu até a câmera de TV mais próxima gritando que aquele gol era para ela, em seguida pulou o painel de patrocínios para se aproximar da torcida do Corinthians, onde o seu irmão Ronald estava bem em frente à grade comemorando. Parte do time veio junto para a comemoração. Apesar de não poder se aproximar mais devido ao abraço em grupo e por questão de segurança, ele entendeu claramente quando o irmão gritou "você é foda!" e ele sorriu erguendo os braços em comemoração e resposta.
Os minutos seguintes da partida foram de inteira dominação do Corinthians e se sentia mais confiante do que nunca, afinal, havia acabado de passar na frente da artilharia do time na temporada com dois gols, sendo o primeiro em jogos oficiais, então ele estava desempenhando bem o seu papel em marcar e atacar, tendo outras chances claras de gol, porém nenhuma concluída.

Infelizmente, aos trinta minutos do primeiro tempo, Jadson errou o passe para , o meio-campista do Guarani foi veloz o suficiente para pegar a bola antes que chegasse no ponta esquerda corinthiano e avançou antes que pudesse concertar a falha do colega e, por mais que ele ainda tivesse tentado mais uma vez, o time bugre armou um contra-ataque que deixou o meio-campo e a zaga corinthiana para trás. Cássio tentou como pôde, mas aos trinta e dois minutos do primeiro tempo, o time de Campinas empatou e aos quarenta e seis do segundo tempo, virou o jogo para delírio da sua torcida e frustração do time corinthiano. olhou para Jadson, incrédulo pela falha de um jogador dez anos mais velho do que ele e muito mais experiente. O meia-atacante murmurou um pedido de desculpas para o time, mas se limitou apenas à voltar para sua posição, pois a partida iria terminar em segundos. Sentia que todo o seu esforço tinha ido por água abaixo.

Como ele previu, o jogo terminou instantes depois. Por mais que estivesse extremamente frustrado com o desempenho da equipe, ele não deixou de ir até a torcida para agradecer o apoio. A torcida, em resposta, o aplaudiu e gritou seu nome, o que o fez se sentir um pouco melhor e ver o seu irmão ali o aplaudindo também era o suficiente por enquanto, mas a sensação de fracasso era eminente e nenhum aplauso no mundo poderia fazer ele se sentir de outra forma.
cumprimentou alguns jogadores do Guarani que o parabenizaram pelo gol e estava saindo do gramado de cabeça baixa e sem a intenção de dar qualquer entrevista quando uma repórter o abordou de forma inesperada e ele não deixou de notar que ela carregava um troféu na mão. Sabia que não tinha como escapar.

- , o que você acha que faltou no time hoje pra sair daqui vitorioso?
- Hum... Entrosamento, talvez, não foi ruim, mas poderia ter sido melhor, talvez um pouco mais de atenção aos contra-ataques - ele respondeu sem muito ânimo, estava louco para ir embora.
- Bom, não sei se você sabe, mas no nosso site tem uma enquete aonde os internautas elegem o melhor em campo e você ganhou com cinquenta e um por cento dos votos mesmo com a derrota do time, então aqui está o seu troféu de craque do jogo.

recebeu o prêmio nas mãos, mas não conseguia se animar, muito pelo contrário, se sentiu ainda mais fracassado e amador. Forçou o seu melhor sorriso como forma de agradecimento e posou para uma foto.

- Obrigado, eu adorei. Obrigado à torcida por ter acreditado em mim, dei o meu melhor hoje.
- A gente sabe. Muito obrigada, , e boa sorte nos próximos jogos.

agradeceu mais uma vez e deixou o campo sem dar mais entrevistas. O pequeno troféu de material barato parecia extremamente pesado na sua mão e ele não sabia se era por cansaço ou culpa por não ter feito mais e ainda ter levado o troféu de craque do jogo. Achava que quem merecia aquele troféu era o goleiro do Guarani pelas defesas incríveis que fez ao longo do jogo impossibilitando o time alvinegro de aumentar a vantagem. Aquele era, definitivamente, um jogo para se esquecer.

⚽🖤📱

"A noite de ontem foi incrível, você foi incrível, nunca vou me esquecer. Estou indo embora amanhã pela manhã, então acho que não nos veremos tão cedo, mas eu amei ter te conhecido. E sinto muito pelo placar do jogo, mas deixa isso pra lá porque o que acontece em Campinas, fica em Campinas... De todas as formas".

"Ei, pé de rato, nem acreditei quando você fez o gol e eu postei uma arte sua nas redes sociais do time, me surpreendeu mesmo. E você foi sensacional, provavelmente sua melhor partida até agora, eu diria, aquele gol não é pra jogador iniciante e você deixou a gente sonhar um pouco hahahaha"

"Pelo pouco que eu te conheço, sei que deve estar chorando feito uma menininha, mas acho bom você melhorar essa cara porque você foi o melhor em campo, se não melhorar vou estar te esperando amanhã de manhã na porta da sua casa com um pedaço de ripa pronta pra te acertar. Boa noite"


olhou as três mensagens e sorriu. A primeira mensagem de Bel o fez se lembrar da noite anterior e do quanto foi bom, mas também de que já tinha acabado e ele já não se empolgava mais tanto assim com a possibilidade de uma segunda vez. Já as mensagens de tocaram o seu lado profissional e ele não se sentiu tão ruim quanto achava que foi durante o jogo. Por ter sido jogadora também, ele sabia que entendia tanto de futebol quanto ele e poderia opinar sobre o desempenho dele em campo de forma realista, então se ela estava dizendo que ele foi sensacional, ele sabia que tinha que acreditar, por mais que parecesse impossível aos seus olhos.
Ele respondeu a mensagem de Bel e logo em seguida a de :

"Muito obrigado por não me fazer se sentir a pior pessoa do mundo dessa vez... Juro que tentei, dei o meu sangue dentro de campo, mas não foi o suficiente... Sinceramente? Não sei o rumo que vamos tomar nesse campeonato..."


E ela também não demorou para lhe responder:

"Tá louco, ? Tá doidão, é? Respeita o atual bicampeão paulista! Foi só mais um jogo e o campeonato ainda está começando, então trata de melhorar a pontaria, jogar como o Messi e trazer esse campeonato pra gente, ou eu volto a implicar com você".


Ele não conteve a risada, mas riu baixo, pois o ônibus estava silencioso no caminho de volta para São Paulo e, provavelmente, a maioria dos atletas estavam cochilando. Ele não queria acordar ninguém, mas sempre que enviava uma mensagem, era certeza de que algo engraçado viria por aí e pensou que talvez ela não fosse tão chata e ranzinza quanto ele pensava que ela fosse. Era mais uma garota comum e torcedora do clube, mas com o extra de ter um conhecimento amplo de futebol e habilidade com a bola nos pés.

"Ok, desculpa, prometo ser melhor do que ele... A propósito, não te devo mais 100 reais, a dívida está paga".


Ele guardou o celular no bolso quando as pálpebras começaram a pesar. Ainda tinha mais uma hora de viagem até chegar na capital e ele não estava interessado em abrir as redes sociais e ver em todos os lugares que seu time foi derrotado por outro relativamente menor em proporção estadual e nacional. Embora o Guarani fosse um gigante do interior paulista, sua notoriedade era menor do que a do Corinthians em todos os aspectos possíveis. A única vez em que abriu o Instagram, a chuva de comentários na sua última foto eram parabéns pela sua atuação e muitos o apontavam como o melhor em campo apesar da derrota.
Melhor em campo ou não, estava cansado o suficiente para não pensar mais nisso e dormir o caminho de volta para São Paulo como realmente gostaria.

⚽🖤📱

Os dias foram avançando tão rápido que mal se via o tempo passar e, no sábado, o time jogou contra outro clube de Campinas, mas dessa vez o adversário foi a Ponte Preta em Itaquera e o atual campeão paulista venceu o time do interior por 1x0 com gol de Gustavo nos acréscimos do jogo. Devido ao bom desempenho, o domingo foi de folga para todos.
planejava passar o domingo em casa com luzes apagadas e cortinas fechadas afim de se desligar do mundo lá fora, mas o convite surpresa de Tobias para um churrasco parecia ser irrecusável, ainda mais se tratando do aniversário do seu amigo, algo que ele não estava esperando.

- Como assim o Tobias faz um churrasco do nada pra comemorar o aniversário dele? Eu nem sabia que era aniversário dele! - dizia gesticulando ao telefone, estava pedindo ajuda à para escolher um presente para ele. - Do que ele gosta?
- Eu acho que ele não te convidou só pra ganhar presentes, - disse do outro lado da linha, estava parada na frente do guarda roupas procurando algo pra vestir. - O Tobias não é do tipo materialista que se importa com essas coisas.
- Mesmo assim, acho meio desagradável.
- Ai, , às vezes eu penso que você veio da roça, sabia? Nasceu aonde?
- Bah! Porto Alegre, tche.
- Enfia esse sotaque gaúcho super forçado bem naquele lugar e se arruma logo pra vir me buscar porque a minha carona de todos os dias tá fazendo aniversário.
- Tá, tá. Daqui a trinta minutos estou aí.

desligou e continuou parada na frente do guarda roupa nos próximos minutos ainda indecisa com o que vestir. Não sabia se colocava um vestido ou uma calça jeans, mas estava calor o suficiente para ela optar pela primeira opção. No final de tudo, escolheu um belo conjunto florido de short e regata acompanhado pelo seu tênis branco favorito e finalizou prendendo o cabelo em um rabo de cavalo alto. Ao terminar, desceu as escadas e foi para a cozinha aonde os pais estavam.

- Aonde você vai?
- É aniversário do Tobias, pai. Ele não ia fazer nada, mas como o time está de folga, ele me chamou pra um churrasco totalmente improvisado.
- Então é melhor você ir pra não chegar atrasada - sua mãe disse sem tirar a atenção da panela de arroz.
- Na verdade, o vai me dar uma carona, acho que daqui a pouco ele chega.
- O ? - a mulher abriu um largo sorriso.
- Não sorri desse jeito, mãe.
- Mas quem é ?
- Ninguém, pai, é a mãe que tá caçando assunto.
- Ele é jogador do time, Elias, veio trazer a em casa.
- Exatamente, ele somente me trouxe em casa porque estava tarde. É sério, pai, não tenho nada com jogador nenhum e mesmo se tivesse, não seria pelo fato de ele ser jogador.
- Eu sei quem é, fiquei meio preocupado no começo por causa do que aconteceu com o Grêmio ano passado, mas o garoto é bom, eu não acharia ruim se estivesse saindo com ele.
- Pai!
- O que é? , você não é mais adolescente pra eu querer matar todos os caras que você conhece.
- Vocês são péssimos - a garota riu. - Vão me aguentar aqui por muito tempo ainda.
continuou conversando com os pais até ouvir a buzina do lado de fora, sinal de que havia chegado.
- Eu estou indo agora e se eu ver vocês espionando pela janela, eu juro que fujo de casa e vou ser garçonete na Europa. Até mais tarde.
Ela se despediu dos pais e saiu de casa rapidamente, em seguida entrou no carro de .
- Dá o fora o mais rápido possível - ela disse ao colocar o cinto e olhou na direção do portão da casa.
- Bom dia pra você também, - respondeu dando partida no carro. - O que aconteceu?
- Meus pais acham que eu tô saindo com você ou algo assim.
- E eu devo me preocupar com isso?
- É claro! Até parece, , eu não tenho nada com jogador nenhum.
- Ah, obrigado, achei que fosse implicância comigo apenas.
- Também. Você é feio demais pra mim.
- Que pena, só porque eu ia dizer que você tá bonitinha hoje.
sentiu um leve rubor nas bochechas, mas tentou disfarçar antes que notasse.
- E nos outros dias eu sou feia?
- Muito.
- Você é ridículo - ela disse rindo. - Meus pais estão meio desesperados pra eu arrumar um namorado, então os olhos da minha mãe brilharam quando ela te viu naquele outro dia. Demorou um pouco até ela entender que eu te odeio.
- Não precisa ser tão cruel, a gente pode fazer o seguinte: eu entro lá, convenço os seus pais de que você, na verdade, gosta de mulheres e salvo a sua pele, ou se você preferir, digo que temos um caso, mas estou indo jogar na China e quero que você vá comigo.
- A primeira opção é melhor, eu nunca iria pra China e nem teria um caso com você.
- Ok então, vou pensar em algo pra falar.

Eles continuaram conversando durante o caminho todo até o prédio em que Tobias morava. Entre provocações e insultos, a única coisa em que concordavam era o futebol e gostava da forma com que abordava o futebol do ponto de vista de um atleta. Nunca teve uma conversa interessante com uma mulher que entendesse tão bem de futebol.

- Ah, não sei... Sempre acompanhei o futebol nacional, prefiro mil vezes a Libertadores do que Champions League. Se você me perguntar se eu prefiro assistir um El Classico ou Derby Paulista, eu não penso duas vezes em escolher o Derby.
- Mas você nunca quis jogar na Europa? Ou melhor, tem time feminino na Europa?
- Mas é claro, , que pergunta besta - ela disse rindo. - Todos eles tem uma base feminina, mas eu sempre quis jogar no PSG ou no Lyon. Não sei se você sabe, mas o Lyon é o melhor time feminino da atualidade, o único no mundo a investir forte nas meninas e já ganharam a Champions feminina seis vezes. Meu sonho era jogar junto com a Cristiane e a Formiga.
- Uau! Eu não sabia disso... Você já foi em algum jogo?
- Não, é muito caro e o salário de uma jogadora no Brasil é umas cem vezes menor do que dos jogadores - deu uma risada entristecida, odiava a forma como o futebol menino era visto em território nacional. - E na minha época era ainda pior.
- É sério que é tão ruim assim? Quero dizer, eu sei que o Grêmio tem um time feminino, mas já ouvi dizer que, pelo menos lá, a folha salarial não é tão ruim assim.
- ... - esboçou um sorriso entristecido pela ingenuidade dele. - É pior do que você imagina... Quer mesmo saber quanto eu recebia como jogadora? Eu te digo. Eu recebia o equivalente a um salário mínimo como bolsa auxílio do clube e o Corinthians oferecia uma parte da sua estrutura pra gente e nunca realmente tive um contrato, na verdade, quase nenhum time feminino tem contrato com as jogadoras, se não me engano, o único time profissionalizado em CLT é o Santos.

engoliu a seco. Sabia que, por lei, todos os jogadores de futebol eram registrados em CLT como qualquer trabalhador e o seu salário era dividido, recendo uma parte em CLT e outra em direitos de imagens e arena, mas nunca lhe passou pela cabeça a realidade do futebol feminino. Ele sabia que a qualquer momento poderia tomar um golpe do clube ou do seu empresário justamente por receber o valor dividido mesmo protegido pela lei, não era capaz de imaginar o que acontecia com as jogadoras nesse caso.

- Eu tô sem palavras... Como pode um time não ter contrato com os seus atletas? Se eu estivesse jogando irregular, o Corinthians seria punido pela Federação Paulista, CBF, Conmebol e pela FIFA... Isso é surreal que as jogadoras simplesmente jogam por... Jogar.
- As coisas são um pouco diferentes no futebol feminino... Mas agora as coisas estão mudando, sabe? Os times de maior notoriedade estão investindo e pelo que eu sei, a meta do Corinthians é profissionalizar o time ainda esse ano... Espero que daqui uns anos a realidade seja melhor.

olhou para e viu o quanto ele estava pensativo sobre tudo o que ela havia dito. Ela não conseguia ficar brava por ele ser tão leigo no assunto, afinal, a realidade de um time masculino era completamente diferente e ver que ele estava interessado na realidade das atletas, fez com que ela passasse a enxergar ele com bons olhos.

- Gostaria de ajudar o time feminino de alguma forma - disse após uns minutos sem falar. - O que eu tenho que fazer? Com quem devo falar?
- Procura a diretoria no Parque São Jorge - disse ainda sem acreditar no que acabou de ouvir. - Como assim?
- , eu ganho meio milhão todo mês. No Grêmio era o teto salarial do clube por causa da minha boa fase e, por mais que o imposto seja absurdamente alto, às vezes nem eu sei o tamanho do meu patrimônio enquanto as meninas recebem um salário mínimo.
- Uns seis mil, por aí. Tem toda essa coisa de tempo de clube e patrocinadores, na verdade...
- Continua sendo um pouco mais de um por cento do que eu recebo e a folha salarial do time é menor do que o meu salário... Isso é um absurdo.
- Olha, eu fico feliz de você abraçar a causa, mas vai devagar, tá bom? Não é tão simples assim.
- Eu vou falar com o meu empresário, ele entende melhor dessas coisas do que eu... Acho que chegamos.

estacionou o carro na rua enquanto ligava para Tobias os receber na portaria do edifício.

- Meu Deus, , você está lindíssima - Tobias disse ao cumprimentar os amigos.
- É tudo pra você, idoso. Feliz aniversário - deu um abraço apertado nele.
- Que presente maravilhoso.
- Não se iluda, ela é feia que dói. Parabéns, cara - riu e também deu um abraço no amigo. - Pegou a gente totalmente de surpresa.
- Bom, eu não ia fazer nada, mas já que não tem jogo hoje, eu pensei, por que não? Entrem, já chegou bastante gente.

O salão de festa do prédio era grande o suficiente para receber e confortar os convidados. Alguns membros da comissão técnica e jogadores estavam presentes com suas esposas e filhos e cumprimentou a todos que podia até se juntar à roda dos colegas de elenco. Estava acostumado a passar tempo com os jogadores mais novos do elenco, mas gostava de ouvir a experiência de jogadores mais experientes acima dos trinta anos como Cássio, Ralf, Gil e Jadson que participavam ativamente da conversa.

⚽🖤📱

Entre música alta e carne até não aguentar mais, a tarde foi agradável para todos que aproveitaram o dia de folga como se fosse o último e por volta das quatro da tarde, os jogadores decidiram usar a quadra do condomínio para se divertir também. Por estarem em poucos e em número ímpar, um time tinha quatro e o outro, três membros. Por mais que tivessem convidado outras pessoas, ninguém aceitou o convite para integrar o time.

- Vocês não se importam de ter uma mulher no time, não é? - sugeriu quando a ideia absurda surgiu na mente. - Mas não qualquer pessoa, uma que sabe jogar de verdade.
- Eu acho que não, é só a gente não achar que está no estádio - Jadson, companheiro de time, respondeu.

Nem todos os jogadores concordaram de primeira, mas depois acabaram chegando em comum acordo e foi rapidamente procurar e assim que a encontrou, puxou pelo braço até a quadra.

- Vem, você vai jogar no meu time.
- O que? Como assim?
- Vou jogar com os caras e tá faltando uma pessoa no meu time, você vem pra fechar o time.
- Eu não vou jogar com vocês - se soltou. - Tá louco? Vocês dão três de mim! Uma trombada com o Gil e ele quebra a minha outra perna!
- Calma, eles também querem você e não é nada sério, só uma brincadeira.
- É melhor não, ... - Por favor, vem.
sentiu o seu corpo todo estremecer quando a mão dele encontrou com a dela afim de arrastá-la para a quadra. Uma sensação que ela não soube explicar tomou conta dela ao ponto de ser incapaz de dizer não.
- Ok, mas se um deles me matar, eu volto pra te assombrar.

sorriu triunfante e foi com ela até a quadra onde os jogadores estavam esperando.

- Pronto, estamos completos - ele olhou para . - No nosso time é você, eu, o Caique e o Araos. Eu vou ficar mais recuado pra marcar e você vai ficar na frente com o Araos.
- Ah, muito obrigada pela consideração, me botou na linha de frente pra morrer primeiro. Sem ofensas, rapazes - ela olhou para Carlos, Gabriel, Pedrinho e Bruno que formavam o outro time e os jogadores riram pra ela.
- A gente vai pegar leve com você, - Pedrinho disse tentando fazer graça com a bola nos pés mas errou e ela foi parar nas mãos de .
- Não, eu que vou pegar leve com vocês, menino Pedro.

Ela colocou a bola sobre o centro da quadra e deu o ponta pé inicial tocando para Araos antes que fosse marcada por Gabriel. Araos recuou para que avançou um pouco desviando de Gabriel e tocou para que não conseguiu desviar da marcação de Avelar e pulou para não cair. Estava totalmente sem ritmo de jogo. Para o seu azar, seu erro resultou em um gol do time adversário feito por Pedrinho que não perdeu a chance de provocar a garota.

- Bem que você disse que ia pegar leve - ele disse rindo.
- Vá se ferrar, Pedro - ela riu enquanto voltava para o seu lugar e olhou para o time. - Foi mal.
- Quem é pé de rato agora? - perguntou rindo e revirou os olhos, mas acabou rindo também.

A partida recomeçou e passou a ficar mais atenta. Era difícil avançar pelos três jogadores, mas em uma jogada de sorte, Araos conseguiu avançar e tocou para do outro lado da quadra, já em uma boa visão da jogada, tocou para que mandou de letra para o gol, deixando Bruno, improvisado como goleiro, sem tempo de reagir.
Ela gritou e ergueu os braços em comemoração, era a pessoa mais próxima e ela correu para abraça-lo, já ele a recebeu e girou a garota no ar e logo em seguida Caique e Araos abraçaram ela também. A emoção de marcar um gol, mesmo que não valesse nada, tomou conta dela como não acontecia há muito tempo e ela se lembrou dos tempos de jogadora.

- Foi um golaço, parabéns - disse voltando para a sua posição.
- Obrigada - ela disse por fim e se virou para frente para reiniciar a partida.

Quinze minutos depois e o jogo terminou com a vitória do time de e por 3x2 sendo os outros dois gols marcados por quando trocou de posição com Araos e o gol adversário saiu dos pés de Gabriel.
Ao final do jogo, se cumprimentam e foi parabenizada pelos jogadores pelo seu desempenho.

- Ainda não acabou - disse quando os colegas foram saindo da quadra e ia junto. - Volta aqui, agora é eu e você. Vamos ver quem é melhor.
- É claro que sou eu, .
- Então me mostra.

partiu para marcar, mas conseguiu girar o corpo com a bola para proteger. Depois que ela conseguiu pegar, a disputa entre os dois ficou mais acirrada e a cada segundo a bola revezava entre os pés dos dois.

- Esse é o seu melhor, pé de rato? - ela perguntou ao recuperar a bola novamente.
foi mais rápido, chutou a bola por entre as pernas dela e deu um passo largo para girar o corpo e ir parar do outro lado.
- Esse
é o meu melhor, sua tiriça.

esticou a perna para tentar recuperar e teve a infelicidade de pisar na bola, por consequência escorregou, mas teve um bom reflexo e a segurou antes de cair.

- Tá bem? - ele perguntou demonstrando preocupação no tom de voz.

apenas assentiu, o fato de estar totalmente envolvida nos braços dele e o susto do momento a deixaram sem fala. Meu Deus, ele é lindo . Era tudo o que ela conseguia pensar ao estar tão próxima dele, corpo a corpo, tão próxima que podia sentir a respiração ofegante dele e os batimentos cardíacos contra seu próprio peito. só não sabia que estava sentindo exatamente a mesma coisa naquele momento, mas ele caiu na realidade antes e, com cuidado, a soltou.

- Toma cuidado ou vai acabar se machucando na próxima.
- Ok... Deu pra decidir quem é melhor?
- Acho que deu um empate técnico - ele sorriu fazendo com que ela sorrisse também. - Vamos entrar?

Ela concordou e eles deixaram a quadra juntos. Na cabeça dos dois o pensamento era o mesmo. O que acabou de acontecer, por mais sem importância que pareça, foi totalmente inesperado. Não o fato de que teve um bom reflexo como qualquer atleta e sim o momento em que estiveram um nos braços do outro tão próximos e sem intenção de sair dali. não podia se lembrar quando foi a última vez em que esteve tão perto de um homem. Enquanto , pela primeira vez, notou o quanto ela era bonita, uma beleza tão simples, mas que fazia dela única. Já estava fascinado com o fato de que ela dominava o futebol de todas as formas, mas nunca realmente tinha notado sua aparência.
Agora que havia notado, parecia ser bem atraente.

⚽🖤📱


- Garoto, eu não sei o que você fez, mas sua popularidade está lá em cima - Dantas dizia andando ao redor da sala. - A torcida te ama, simplesmente, e... - ele notou que estava sentado no sofá totalmente aéreo. - ? Tá vivo? - o jogador não se mexeu. - !
- Ai! O que é? - se recompôs, voltando à realidade.
- Tá prestando atenção?
- Desculpa, é que eu... Bom, eu estava com uma idéia na cabeça, mas não sei como fazer.
- Se for pra aumentar a sua popularidade ainda mais, então diga.
- Talvez, mas não é essa a minha intenção... Eu queria investir no futebol feminino de alguma forma.
- O que? Como assim investir? Virou agiota, por acaso?
- Não, mas eu descobri que, enquanto eu faturo mais ou menos uns seis milhões por ano, as jogadoras do time feminino não têm nem contrato assinado. Quero ajudar a profissionalizar o time e abrir uma escola de futebol feminino, acha que eu consigo patrocínio?
- Meu Deus, você pirou... Tá bom, ok, isso é legal da sua parte, mas acho bem difícil. Quero dizer, tem que ter o licenciamento da Fifa e o clube tem que seguir uma porrada de exigências da CBF, como por exemplo, ter categorias de base desde a sub-15... Sabe se o Corinthians tem? - negou, mas tinha quase certeza que não. - Ok, vamos ver isso. Até onde eu sei, isso pode levar anos.
- Olha, o clube fornece o suporte necessário para as atletas, sério, tudo menos o contrato. Elas tem lugar para treinar, condições de viajar e total suporte do departamento médico porque o clube oferece tudo, o que falta é patrocínio para fazer o negócio ir pra frente.
- Você sabe que não pode bancar um patrocínio sozinho, não é?
- Eu sei, é por isso que eu quero ir atrás de alguns. Eu acho que é o mínimo, Dantas.
- Ok, eu vou te ajudar, mas tenha a ciência de que isso não é do dia pra noite e pode levar anos.
- Eu sei, obrigado.
- Eu vou estudar um pouco sobre o time feminino, consultar o marketing do clube e essas coisas, quando eu tiver alguma idéia, vou te avisar.
- Tudo bem.
- Bom, se me permite, preciso ir. Minha galinha dos ovos de ouro está me dando muito mais trabalho do que eu mereço, vou precisar aumentar o meu salário.
- Seu mercenário - disse rindo e acompanhou o empresário até a porta. - Você deveria se orgulhar de mim.
- Vou me orgulhar quando você tomar o lugar do Salah no Liverpool, então vou poder dizer que minha galinha virou o primeiro-ministro britânico.
- Não sou sua galinha e nem vou jogar no Liverpool.
- Nem mesmo se existisse uma sondagem? - Dantas perguntou abrindo a porta, observando o interesse vindo de .
- Do que você está falando?
- Não é de agora, desde que o Grêmio ganhou a Libertadores. São só sondagens, não disse tudo porque não queria que você se chateasse caso não chegasse proposta, foram só umas sondagens, mas... Bayern, Liverpool, Borussia... Ah, , uma hora a proposta vem e se você fizer uma boa temporada, ano que vem você vai estar na Europa. Até hoje eu não consigo acreditar que você recusou a proposta do Southampton.
- Com todo o respeito aos outros times, mas o Sothampton equivale ao... Não sei, talvez o Fortaleza aqui no Brasil.
- Só te lembrando que o Fortaleza vai jogar a série A esse ano... Bom, você pode ir dormir tranquilo porque eu estou indo atrás e procurando o melhor pra você.
- Eu sei, obrigado por não ser um aproveitador.
- Todo empresário é um aproveitador, , você já deveria saber disso.

Os dois se despediram e Dantas foi embora, já iria tomar banho e ir dormir cedo para se apresentar no clube no outro dia pela manhã. Ele acabou demorando um pouco mais do que gostaria no banho, pois o dia cheio de novidades o deixava pensativo. Sua conversa com Dantas ascendeu novamente a esperança de um dia jogar na Europa, algo que ele almejava desde garoto, mas apesar das propostas que já recebeu, nenhuma realmente o empolgou ou seria benéfica o suficiente para ele. Recebeu propostas oficiais de Southampton da Inglaterra e Chievo da Itália, mas em todas o seu clube atual fez uma contraproposta que ele aceitava e acabava permanecendo. Ele sabia das condições atuais do Corinthians e se viesse uma proposta de fora, o clube não faria esforços financeiros para o manter em Itaquera e sabia que aquele era o momento que iria decidir seu futuro, se seria um jogador de nível europeu ou acabaria emprestado para algum time do interior.
Estava mais do que disposto à continuar em busca do seu sonho.

Capítulo 8 - O Derby e a Canarinho

- Tio, olha o que a mamãe comprou pra gente - Maia mostrou para a camisa do Corinthians que estava usando. - Tem o seu nome atrás.
- Uau! Você ficou ainda mais linda, Maia - ele sorriu para a tela. - Mas ainda vou dar uma pra você e pra sua irmã.
- É sério?
- Muito sério.
- É pra eu jogar fora a outra, tio?

riu quando percebeu que ela se referia à camisa do Grêmio, mas por mais que sua saída do time gaúcho tivesse sido conturbada e decepcionante, ele não tinha coragem de incentivar tal prática.

- Não precisa, amor, pode ficar com as duas.

Ele passou mais algum tempo conversando com a sobrinha até sua irmã alegar que a garota tinha que dormir e ele concordou, pois ele também tinha que dormir para estar descansado o suficiente para o jogo do dia seguinte, simplesmente o clássico contra o maior rival do time alvinegro, o Derby Paulista na casa do rival Palmeiras e que as torcidas esperavam ansiosamente. sabia da importância do clássico a nível nacional e, assim como no Grenal, tentou se preparar da melhor forma possível nos aspectos físicos e emocionais, pois sabia que um palito de fósforo poderia causar um incêndio.
Por mais que estivesse em período de concentração no CT antes do clássico, falar com a família abria um buraco no coração dele e a saudade apertava o peito. Estava morando em São Paulo desde a virada do ano e para ele era tempo o suficiente para se sentir sozinho e com saudades de casa. Planejava ir visitar a família durante a parada da Copa América, mas ainda teria que aguentar mais alguns meses na sua rotina exaustiva e com a casa silenciosa.

⚽🖤📱

Aos quarenta minutos do segundo tempo, o time do Corinthians vencia o Palmeiras por 1x0 com um gol de Vagner Love e se recuperava da derrota sofrida na partida anterior contra o Red Bull Brasil. Apesar da vitória, o time sofria com a pressão do time alviverde em pleno estádio adversário com torcida única. A torcida palmeirense incentivava o time que crescia cada vez mais dentro de campo e os atletas de ambos os times já estavam no limite entre o profissional e entre o pessoal.
achava que a atmosfera do jogo era tão tensa quanto a do Grenal, principalmente por não ter torcedores do Corinthians no estádio e o Palmeiras ter um dos melhores elencos do Brasil. Ele próprio, que se considerava calmo dentro de campo na maioria dos jogos, estava cedendo às provocações adversárias por parte da torcida e de alguns jogadores que estavam levando para o lado pessoal. Em uma jogada rápida de ataque pela ponta esquerda do campo, avançou em direção ao ataque deixando os marcadores de meio campo do Palmeiras para trás e, antes de tocar a bola para Vital dar continuidade à jogada, o zagueiro palmeirense chegou rasgando e o deixou no chão. O time todo reclamou e o árbitro marcou falta para o time do Corinthians, o que fez com que quase o time inteiro do Palmeiras fosse protestar contra. se levantou imediatamente afim de prestar contas com o zagueiro palmeirense que revidou com um empurrão no jogador corinthiano.
Rapidamente os atletas dos dois times trataram de apartar a briga para que nenhum dos dois fossem expulsos de campo.

- Para, para, não vale a pena! – Bruno Méndez tentava empurrar para longe dali junto com Ralf e um palmeirense.
- Ele foi na maldade! Tem que expulsar esse filho da puta! - tentava achar espaço para sair dali, mas os colegas o afastavam cada vez mais.
- Quem vai ser expulso se não tomar cuidado, é você! - o jogador adversário, Bruno Henrique, disse o mantendo longe.

viu que do outro lado, o zagueiro também tentava se desviar dos colegas afim de continuar a briga e gritava insultos para ele, mas não era capaz de entender no meio do barulho ensurdecedor da torcida.
O juiz, ao apaziguar os ânimos das duas equipes, foi até o jogador palmeirense e aplicou um cartão amarelo pela falta desleal, causando vaias da parte da torcida e satisfação do lado do corinthiano, mas logo em seguida veio até e mostrou o mesmo cartão porque o jogador cedeu à provocação e partiria para uma briga. Ele, indignado com o cartão aplicado, riu por puro nervosismo e virou às costas antes que tomasse um cartão vermelho por reclamação ou ofensas ao árbitro, algo que não lhe faltou vontade.

- Por favor, fica calmo - Vital disse ao pegar a bola nas mãos para entregar ao juíz.

não respondeu, estava apenas esperando a confusão terminar de vez para que o time do Corinthians pudesse cobrar a falta.
O árbitro marcou o lugar da falta e pediu para que os times formassem a barreira para dar continuidade ao jogo. Enquanto o goleiro palmeirense posicionava a barreira, e Vital estavam parados lado a lado esperando o apito para fazer a cobrança e fez um gesto discreto para que Mateus fizesse a cobrança, pois estava nervoso e desconcertado o suficiente para não o fazer e o colega concordou.
Ao sinal do apito, Mateus Vital cobrou a falta com eficiência mandando direto para o aglomerado de jogadores dentro da grande área, mas um marcador do Palmeiras cabeceou para fora e o time armou um contra-ataque com Dudu que só parou nas mãos de Cássio. O arqueiro alvinegro reiniciou a jogada do lado direito com o zagueiro Bruno que passou para Fagner do mesmo lado e o lateral direito inverteu a jogada, mandando a bola para o lado esquerdo do campo onde estava posicionado, porém bem marcado pelo time adversário, então ele rapidamente tocou a bola para Ralf no meio de campo que deu continuidade na jogada.

Devido à confusão, o jogo teve mais seis minutos de acréscimo, mas após o apito final, o time alvinegro pôde finalmente respirar aliviado, pois fez o possível e o impossível para segurar o resultado em pleno Allianz Parque e saiu de lá com a vitória.
Enquanto o time saía do campo comemorando a vitória, divulgava os resultados da partida a todo o vapor nas redes sociais. Estava em casa com o notebook no colo e a TV ligada no jogo, mas não era capaz de ver os jogadores dando entrevistas pós-jogo, estava totalmente focada em fazer o seu trabalho.

- Filha, come alguma coisa, você está fazendo isso há horas - sua mãe disse se levantando do sofá.
- Eu tô trabalhando, mãe - respondeu enquanto digitava sem parar. - Daqui a pouco eu como.
- Ei, , olha só quem está dando entrevista.

Ao ouvir a voz do pai, imediatamente tirou a atenção do computador e olhou para a televisão, quem estava dando uma entrevista era .

- A gente tomou um pouco de sufoco no segundo tempo, mas no final deu tudo certo, graças a Deus - ele dizia visivelmente cansado e ofegante. - Saímos daqui com a vitória e é isso que importa. Agora é trabalhar para melhorar e focar no próximo jogo.

Ela tentou conter um sorriso que se formou nos seus lábios, mas não conseguiu. Não estava sorrindo por vê-lo na televisão, mas sim pela forma que ele falava nas entrevistas, como um típico jogador, completamente diferente do que ela já estava acostumada.

- Eu não vejo esse sorriso há muito tempo - sua mãe disse pomposa e voltou a atenção para os seus pais. - Não vejo desde o...
- Não é nada disso, eu só ri porque achei engraçado o jeito que ele fala nas entrevistas, só isso. Sei que pessoalmente, ele é outra pessoa.
- E isso é bom ou ruim?
- Acho que bom, pai - ela riu. - Quero dizer, jogadores dando entrevista pós-jogo parece uma competição pra ver quem saiu da escola mais cedo de tão mal que eles falam, mas pessoalmente o fala muito bem. Por favor, nunca deixem ele ouvir isso, mas ele é muito convicto em tudo o que fala e tem um humor inteligente, além de um sarcasmo que me estressa no nível máximo, mas fora isso ele nem parece que fala horrível desse jeito nas entrevistas.
- Pra quem odeia o garoto, você até que fala bem demais dele - seu pai disse em um tom de provocação.
- Vocês me adotaram, não é? Só pode! Eu vou voltar a trabalhar que eu ganho mais. Literalmente.

⚽🖤📱

Duas horas após o fim do jogo, havia acabado de terminar alguns posts pra deixar programado e postar nos horários seguintes pelo resto do fim de semana para que ela pudesse aproveitar o domingo de folga antes de voltar ao Parque São Jorge na segunda-feira.
Ela tinha acabado de terminar quando uma mensagem de Junior chegou no seu celular.

"HOJE É FESTA LÁ NO MEU AP, PODE APARECERRR! É sério, churras em comemoração aqui na minha casa, é pra você vir também... AGORA!"

Ela respondeu logo em seguida:

"Meu querido, eu ainda tenho pai e mãe, ok? Não é tão simples assim, vou tentar."
"O Tobias já está chegando aí, melhor se arrumar."

- Droga, Junior! - ela disse rindo e se levantou da cama em um pulo.

Ela foi até o guarda roupa e pegou um short jeans, aproveitou o motivo da comemoração e não pensou duas vezes em vestir a sua antiga camisa do clube com o seu nome e o número nove, algo que ela levaria na memória o resto da vida e por mais que nunca mais fosse jogar futebol, o fato de ainda poder conviver no meio futebolístico a deixava imensamente grata por tudo.
estava prendendo o cabelo em um rabo de cavalo quando a sua mãe entrou no quarto.

- Vai sair?
- Vou, vai ter um churrasco na casa do Junior em comemoração e ele me chamou pra ir.
- Outro churrasco? Já não teve um na semana passada?
- Esse foi pelo aniversário do Tobias - riu. - Agora é pela vitória no jogo.
- Eu gosto tanto do Tobias - Rose sorriu. - Não vou mentir, sempre achei que ele seria uma boa opção para você.
- Ele é velho pra mim, mãe - fez uma careta ao se lembrar que o amigo havia completado trinta e um anos recentemente. - Além disso, é o meu melhor amigo.
- É, eu sei, por isso agora eu mudei de ideia e tenho outra opção...
- Não começa.
- Mas ele vai estar lá, não vai?
- Eu não sei, acho que não, bem provável que vai descansar... Mas de qualquer forma, dona Rose, para de caçar macho pra mim. Eu estou ótima assim.
- Eu só tô brincando, .
- Ah, claro, sei! Me engana que eu gosto.

continuou conversando com a sua mãe até Tobias chegar para lhe dar carona.

- Só vocês para me tirarem de casa em um sábado à noite aonde eu só queria dormir - ela disse ao entrar no carro e colocar o cinto. - Odeio você e o Junior.
- Isso é mentira, e você pode parar de fazer drama porque eu sei que você não perde uma comemoração pós clássico, ainda mais se tratando de um Derby.
- Realmente, nisso você tem toda a razão.

O caminho até a casa de Junior foi entre muita conversa e risadas, além de opiniões sobre o jogo de mais cedo e como estavam felizes com a vitória do time alvinegro. sempre procurava manter o tom profissional e imparcial na frente das pessoas sem demonstrar favoritismo para um determinado lado, mas com Tobias ela podia ser uma simples torcedora que odeia o rival.

- Ah! Se eu estivesse naquele estádio hoje...
- Então você seria uma mulher morta. Você é clubista demais para ir pra outro estádio, .
- Eu ia tentar me controlar, é sério.
- Ia se controlar tanto que no momento da confusão, você seria a primeira a chegar na voadora.
- Toma aqui o seu Mundial! - fingiu dar um soco no ar fazendo Tobias rir.
- Imparcial, , imparcial...
- Tá bom - ela se ajeitou. - Mas se eu fosse o , teria feito assim na hora da briga.
- Ele seria expulso não só do jogo, mas acho que do futebol... Pra sempre - Tobias disse rindo. - Ele exagerou, não precisava brigar.
- Pois eu achei pouco, tinha que ter cenas lamentáveis.
- Você é péssima, - ele sorriu.
- Eu sei.

Eles chegaram na casa de Junior um pouco depois, mas não havia ninguém, exceto o próprio Junior preparando a churrasqueira e sua esposa o ajudando.

- Então é só a gente mesmo? Adorei - disse ao observar o quintal vazio.
- Engraçadinha, claro que não. O Carille vem e alguns jogadores também, você acha mesmo que o Jadson vai perder uma festa? Ele disse que vai trazer um porco. Um porco pra assar!
- Isso é a cara dele - ela riu ao imaginar o jogador chegando com um porco debaixo do braço.
- , pode me ajudar a trazer os pratos pra cá?
- Claro, Célia.

A garota acompanhou a esposa de Junior até a cozinha para ajudar a pegar os pratos e talheres extras para deixar sobre a mesa posta do lado de fora.

- Você fez maionese e vinagrete? - ela perguntou ao ver os pratos sobre a pia. - Meu Deus, Célia, eu te amo.
- Eu sei que você adora, só espero que dê pra todo mundo.
- Ah, com certeza! Esses jogadores não podem sair um pouquinho da dieta, então se sobrar, eu como tudo.
- Combinado - as duas riram e Célia encarou por um instante. - Você tá diferente, .
- Como assim diferente?
- Não sei, só diferente. Você parece mais... Feliz.
- Claro que eu tô feliz, acabamos de ganhar o Derby! - sorriu. - Estou mais do que feliz.
- Eu acho que não é só por isso, é que você realmente parece estar mais pra cima, com uma energia boa, sabe? Isso é ótimo.
- Ah... Obrigada - sorriu envergonhada. - Bom, é melhor levar os pratos antes que eles cheguem e comam com as mãos.

Elas levaram os pratos e talheres para fora e depois terminaram de pôr a mesa e isso foi o tempo suficiente para que as pessoas pudessem começar a chegar e o primeiro foi o treinador com a esposa e filhos, em seguida alguns jogadores como Avelar, Ralf, Gabriel, Pedrinho e Vital acompanhados por esposas ou namoradas. Tobias colocou música para tocar e de repente o ambiente era tomado pelo som do Sorriso Maroto.
conversava com Célia, mas sempre olhava para a entrada para ver quem chegava e, durante algum tempo ninguém chegou, o que deixou ela frustrada de certa forma.

- Tá esperando alguém, ?
- Não, não... Só tô vendo o pessoal chegar - ela respondeu dando um gole na sua cerveja. - Vai vir mais alguém?
- Parece que sim, não sei muito bem, Junior convidou muita gente, mas acho que eles estão cansados demais pra comemorar alguma coisa, não é? Olha só, chegaram mais dois.

olhou para a entrada e viu Bruno e chegando juntos e carregando fardos de cerveja, para a alegria de todos ali, mesmo que não pudessem beber. Apesar da euforia, ela manteve o olhar em por mais tempo do que gostaria, pois ele estava usando uma camiseta rosa escuro e boné. Ela nunca tinha visto ele tão casual e achou que a cor lhe caiu bem.

- Esses dois devem ser os queridinhos das meninas, não é? - Célia comentou ao ver os rapazes.
- Não tenho dúvidas disso - respondeu prontamente, mas não queria ter que concordar. - O que eu acho besteira, pois não se ganha títulos com aparência.

Ela se perguntou por um instante se Célia sabia que sua filha Bel era nitidamente interessada no jogador corinthiano, mas não achou conveniente tocar no assunto, principalmente quando veio na direção delas para cumprimentar.

- Olá - disse acenando brevemente, deixando um beijo estalado na bochecha de .

não percebeu o leve rubor que se formou no rosto dela.

- Chegou o barraqueiro! Por favor, não bate na gente - disse fazendo os três rirem. - Você viu a confusão que ele armou, Célia?
- Vi, e confesso que adorei.
- Ah! Dá um desconto, eu estava morrendo de raiva. Tomei um amarelo de besteira... Mas já passou, vamos deixar isso pra lá.
- Vou ficar bem longe de você, só pra garantir. Além de ruim de bola, é encrenqueiro.
- Me erra, - riu e pegou o copo da mão dela para dar um gole da cerveja.
- Ei! Folgado!
- Obrigado - ele devolveu o copo pra ela, se virando para Célia. - A gente já pode comer?
- Isso é com o Junior, querido, eu só fiz o básico.
- A comida é só pra quem não toma cartão amarelo, .
- Vem aqui, vou brigar com você.

Em um movimento rápido, a tomou nos braços e fingiu estar aplicando uma chave de braço em .

- Me solta, seu ridículo!
- Não, estamos brigando. Era isso que eu deveria ter feito quando te conheci. Resolvia o problema na hora.
- ! - choramingou. - É sério, isso dá agonia!
- A culpa não é minha se você não se garante no soco. Bem que dizem que cachorro grande ladra, mas não morde - ele disse ao soltar.
- Prefiro ir comer um pão de alho, ele é mais interessante do que você. Licença.

se afastou e seguiu com o olhar sem se dar conta de que Célia observou tudo.

- Meu Deus! Você gosta dele!
- O que? Não, é claro que não - disse rindo. - A gente se odiava umas semanas atrás, a gente é só amigo.

Célia tinha o mesmo olhar firme que sua mãe, aquele que sempre fazia as pessoas se confessarem, e detestou isso. Naquele momento, jurou para si mesma que nunca teria filhos para não desenvolver aquele olhar ameaçador.

- Ok, ok! Tá, ele tem um sorriso lindo e tá lindo com esse boné pra trás e essa camiseta e... - se atropelava nas palavras. - Mas eu não gosto dele nesse sentido.
- Hum... Vou fingir que acredito pra você se acalmar, mas quer a opinião de uma mulher mais velha, ? Ele veio aqui só pra te ver e vocês ficam se provocando assim porque gostam de chamar a atenção.
- Mas eu não gosto dele - insistiu, estava ficando sem reação.
- Gostar é uma palavra muito carregada, não é? Vamos dizer que ele é o seu crush. É assim que se chama hoje em dia, né?
- Ai meu Deus, eu não tô ouvindo isso - ela riu e escondeu o rosto com as mãos. - Ele não é meu crush.
- Que pena, porque você é a crush dele. Você pode até não gostar dele como diz, mas ele tá de olho em você sim, anota o que eu estou te falando e depois pode me cobrar se eu estiver errada.
- Anotado, faço questão de cobrar - ela virou toda a cerveja de uma vez. - Licença, eu preciso encher a cara hoje.

foi pegar mais uma cerveja e, quando se deu conta, a latinha solitária virou plural e ela já estava bêbada o suficiente para não perceber que muita gente tinha chegado depois, entre eles, Jadson com o porco que prometeu, o que foi o suficiente para comemorar ainda mais enquanto na TV passava a reprise do jogo em um canal esportivo. Ela tentou se concentrar para assistir, mas não era capaz de manter o foco por muito tempo na televisão ou distinguir os jogadores de Corinthians e Palmeiras. tinha muitas qualidades e defeitos, mas um de seus maiores defeitos era exagerar na bebida e não se lembrar de absolutamente nada no dia seguinte.

- Eu acho que você já bebeu demais por hoje, mocinha - se aproximou tirando o copo da mão dela e colocando sobre a mesa.
- Ei, me devolve!
- Não, você está muito bêbada. Já tá bom.
- Por que você é tão mal comigo? - ela choramingou em um tom infantil demais para ela e riu disso.
- Você vai me agradecer depois.

o encarou por alguns segundos e as palavras de Célia vinham na sua cabeça de forma bagunçada, mas ela ainda podia se lembrar de algumas coisas e, ao vê-lo ali plantado na frente dela, foi obrigada a concordar de que tinha um crush nele. Não sabia se era efeito do álcool ou não, mas achava que ele parecia ainda mais atraente enquanto olhava para ela com os braços cruzados e uma expressão impassível no rosto.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa comprometedora, um forró do Falamansa começou a tocar e se agitou de euforia.

- Eu AMO essa música, eu amo Falamansa! Dança comigo?
- Dançar? , eu não sei dançar - sorriu envergonhado. Preferia jogar no estádio do rival do que dançar em público.
- Só um pouquinho! - ela o puxou pelos braços afim de fazê-lo se mexer.
- Eu não sei dançar isso, é sério.
- Eu ensino. A mãozinha direita vem aqui - ela desceu a mão dele até a sua cintura sem qualquer tipo de vergonha enquanto o rosto dele começou a corar. - Eu vou colocar a minha no seu ombro a gente junta as outras mãos - ela entrelaçou os seus dedos com os dele e observou a ação como se fosse em câmera lenta. - Agora é só se mexer.

morria de vergonha de dançar em público e não queria se mexer, mas ao ver tão feliz e sorrindo sem parar, mesmo que bêbada, ele cedeu e decidiu tentar, mesmo que fosse a maior vergonha da sua vida.

- Meu Deus, , você é horrível! - ela gargalhou. - Como dançarino, você é ótimo jogador.
- Eu disse pra você que não sei dançar, é melhor eu parar.
- Tenta só mais um pouquinho - ela se aproximou ainda mais, juntando os dois corpos e estremeceu.

Ele tentou acompanhar a dança enquanto se preocupava se poderia se manter em pé sem tropeçar nos próprios pés. Ele olhou para ela e viu que fazia o mesmo, abrindo um sorriso singelo pra ele. Sentiu um incomum frio na barriga e, por um instante, teve a sensação de que ela aproximava o rosto, tal como ele. Sabia que era insanidade sua e se afastou imediatamente, ainda a envolvendo nos braços.

- Eu acho que já está bom, - ele se soltou, mas a mão continuava entrelaçada na dela. - É melhor você ir pra casa.
- Meu pai vai ter um troço se me ver assim - ela riu. - Vou ficar por aqui mesmo.

estava preocupado com . Sabia que ela estava bêbada demais para continuar ali e pensou que a qualquer momento ela poderia tropeçar e se machucar, ou talvez fazer algo para se arrepender depois, então avistou Tobias próximo dali e fez sinal para o amigo se aproximar.

- Vou levar ela pra casa - ele disse baixo. - Ela está muito bêbada pra continuar aqui, vai acabar estragando a festa.
- Eu não acho uma boa levar ela pra casa dela, na frente dos pais e tals... - Tobias disse um tanto preocupado.
- Eu levo pra minha casa, só não quero que ela faça alguma besteira ou algo do tipo.
- Tem certeza, ? Não quer ficar mais um pouco?
- Tenho, é melhor eu ir. Tô cansado também... Só avisa o Junior pra mim.
- Tá bom, obrigado por ter vindo.
- O prazer foi meu - ele passou um braço ao redor dos ombros dela. - Vem, , hora de ir pra casa.
- Mas eu não quero ir, !
- Para de fazer birra e vamos logo.

não retrucou mais, apenas concordou e se apoiou em para que pudessem sair sem chamar a atenção enquanto Tobias foi direto avisar Junior.

- O foi levar a embora, ela tá muito bêbada.
- Ele vai voltar?
- Não, vai deixar ela passar a noite na casa dele pra ele não precisar ir até a casa dela agora. Ele ficou meio preocupado com ela.
- Você ainda não percebeu, Tobias?
- Não percebi o quê?
- Não seja tão lerdo - Junior sorriu. - Eles estão começando a gostar um do outro. Eu não acho que algum dos dois tenha percebido, mas eles se aproximaram tanto que viraram amigos e agora vão para o próximo nível... Acho que eles combinam.
- Ah... - Tobias não sabia o que dizer. - Eu nem tinha reparado porque eles vivem brigando e se provocando.
- Você vai ver como as coisas vão acontecer. Só dê tempo ao tempo.

⚽🖤📱

teve dificuldades para subir com pelo elevador do seu prédio. Ela não era capaz de se manter em pé sozinha, então enquanto o elevador subia ele a abraçou e a garota repousava a cabeça sobre o peito dele. Mesmo bêbada, ainda podia concordar com a sua versão sóbria que ele tinha o melhor perfume de todos.

- Obrigada por me emprestar a sua blusa, , é tão cheirosa!
- Você tá gelada, vai acabar ficando doente.
- Nada! - ela olhou para ele. - Minha saúde é de ferro.
- Tá bom, eu finjo que acredito, Mulher Maravilha.

As portas do elevador se abriram no penúltimo andar. pegou as chaves no bolso e abriu a porta com um pouco de dificuldade, em seguida ajudou a entrar.

- Eu acho a sua casa tão bonita! Muito linda mesmo!
- Que bom que você gosta daqui - ele não conteve um sorriso. - Vem, eu vou te levar pra cama.
- O que? Mas já?
- Não nesse sentido, sua bêbada safada - ele riu. - Por favor, não vomita na cama.
- Jamais!

levou para o quarto vago do apartamento e a ajudou a tirar os sapatos para se deitar.

- Eu vou fazer um café pra você, tá precisando.
- Além de gato, ainda cozinha – disse rindo e sentiu o rosto arder, mas tentou sorrir educadamente pelo suposto elogio, girando nos calcanhares para sair do quarto. - , espera - ela o segurou pelo braço antes que ele saísse. - Fica aqui, eu não quero ficar sozinha.
- Eu deveria filmar tudo isso e te mostrar amanhã.
- Sabe? A Célia me disse uma coisa hoje que eu acho que talvez seja verdade.
- O que ela te disse? - ele se ajoelhou ao lado dela para poder vê-la melhor.
- Que a gente se gosta, mas não sabe disso ainda - ela riu e ficou sem reação. - Não olha assim.
- Eu acho melhor a gente falar disso depois quando você estiver sóbria.
- Mas é sério, ! Olha, eu fico vendo o seu Instagram e pensando em você como se eu tivesse treze anos de idade, isso é ridículo! Talvez a Célia tenha razão.

Ele procurava palavras para dizer, mas de repente não sabia mais nenhuma, nem mesmo em espanhol ou qualquer outro idioma que alguma vez aprendeu. não sabia o que falar, mas sabia que a resposta tinha que ser sim ou não. De fato, amava falar de futebol com ela e jogar, também gostava das provocações e brincadeiras entre eles, além de ter notado a beleza dela na última semana inteira e não parava de pensar nisso. Se era um sentimento, ele não tinha certeza, mas se algo estava para surgir, ele não poderia controlar.

- A gente conversa disso outra hora - tentou sorrir, mas não sabia se tinha conseguido.

se levantou um pouco para o olhar mais de perto.

- Não me mata pelo que eu vou fazer agora.
- E o que você vai faz...

Antes que ele terminasse, se aproximou mais e o beijou. A princípio, não sabia como reagir, simplesmente ficou estático quando os lábios dela tocaram nos dele. Estavam quentes, úmidos e com gosto de álcool e ele não sabia se seria errado retribuir ou não, mas quando ela colocou sua mão sobre a nuca dele, o puxou para mais perto, ele decidiu não resistir e se permitiu viver o momento, deixou que as suas mãos fossem diretamente para a cintura dela.
Ele sentiu um misto de emoções, tudo ao mesmo tempo. Algumas semanas atrás estava em um quarto de hotel com Bel, mas agora quem estava ali era , a única garota no mundo com quem ele achava que nunca iria acontecer absolutamente nada. Ele soube naquele instante que estava totalmente enganado, e para a sua surpresa, estava feliz com isso.
Ele só parou o beijo quando precisava respirar, mas continuava olhando para ele como se o esperasse para mais.

- Eu nunca achei que fosse beijar logo você porque antes eu te odiava, mas agora eu não odeio mais e quero muito beijar você até a minha boca ficar dormente – disse rápido e um pouco enrolado, se atrapalhando nas palavras. Ela tinha um sorrisinho no rosto e não sabia olhar para oura direção que não fosse a boca dela.

sabia que não era certo, mas naquele momento queria o mesmo e ter ela ali se confessando daquela forma e pedindo para que ele a beijasse era irrecusável, então ele se sentou na cama e tornou a beijá-la, agora de uma forma mais intensa até se deitarem na cama. Ele ficou por cima, apoiando o peso do corpo sobre os próprios braços e com um desejo incomum crescendo dentro de si. Nunca naqueles meses em que conhecia , havia sentido uma atração tão forte por ela como naquele instante. Não queria parar aquele beijo nunca e até aprofundar se tivesse a oportunidade, mas sabia que não seria acerto fazer aquilo em um momento em que se encontrava vulnerável por conta da bebida e ele não queria se aproveitar disso.

- A gente não deveria fazer isso - disse voltando à realidade e tentando parar. - Você tá bêbada e eu não quero que você pense que eu estou me aproveitando de você ou algo do tipo.
- Como você é fofo - sorriu. - Está tudo bem, eu não acho isso...
- É sério, - se sentou na cama de novo. - Eu... Não posso fazer isso com você.
- - se sentou novamente, até parecia estar sóbria. - Eu te odiei tanto, mas tanto que você nem pode imaginar, mas olha só agora... Não sei o que aconteceu comigo, quando percebi já estava lá que nem uma otária olhando você... - ela se aproximou um pouco e o encarou no fundo dos olhos. - Eu nunca fiquei com jogador de futebol nenhum, mas eu não consigo evitar você e isso é uma merda porque você é incrível pra caralho.

sentia o seu coração acelerado batendo no seu peito, lutava para não ceder à sua própria vontade, mas estava bem ali apenas o esperando para dizer alguma coisa ou tomar uma atitude e naquele momento, tudo o que ele mais queria era beijá-la mais uma vez. Devagar, ele colocou uma de suas mãos sobre o rosto da garota e afastou a mecha de cabelo que insistia em escorrer para frente. Ele deixou a mecha atrás do ouvido dela e sorriu ao perceber que ela apenas o esperava sem a menor pressa.

- Eu não deveria, mas... Nossa, você é tão linda. Meu Deus, , que errado...
- Se você não contar, eu também não conto.

Ele concordou e a beijou pela terceira vez, agora um beijo tão suave que ele pensou não haver mais nenhuma pessoa no mundo além dos dois e a forma com que retribuiu o fazia a querer ainda mais.

- Por favor - interrompeu o beijo e se afastou, fazendo com que abrisse os olhos e olhasse confuso para ela. - Entenda que eu acho que você tá o maior gato com esse boné e tals, mas... Não leva como um ofensa o que eu vou fazer agora, é que eu preciso muito ir vomitar.

saltou da cama e imediatamente a ajudou a se levantar para ela ir ao banheiro. Ao chegar lá, a garota começou a colocar tudo pra fora e ele achou melhor segurar o cabelo dela na tentativa de ajudar.
A partir dali, a noite seria longa.

⚽🖤📱

No dia seguinte, abriu os olhos e sentiu como se tivesse tomado muitas pancadas na cabeça de forma repetitiva. Demorou um pouco até ela conseguir abrir os olhos novamente e focar a visão para perceber que estava em um lugar totalmente desconhecido. Apesar de ser um belo quarto, aquilo não impediu de entrar em pânico por não ter a mínima ideia de onde estava e o que aconteceu para ter ido para ali.
Não se lembrava de muita coisa, apenas flashes de bebedeira e farra. Tinha uma breve lembrança de estar com em um elevador, repousando a cabeça sobre o peito dele, mas achava que era constrangedor demais admitir em voz alta e perguntar para ele quando se vissem se era verdade ou não.

- Meu Deus - ela se sentou na cama e sentiu a cabeça latejar. - O que aconteceu?

Também notou que aquela blusa não era sua e, pra sua infelicidade, não tinha a mínima noção a quem poderia pertencer.
Ela criou coragem e se levantou para sair do quarto. Tinha certeza de que não era a casa de Junior ou Tobias, mas ao abrir a porta, a tensão passou ao ver que estava no apartamento de e ela agradeceu mentalmente por não ter feito nenhuma besteira na noite anterior, mesmo que não se lembrasse de nada.
entrou na sala e viu que a televisão estava ligada em um canal esportivo que reprisava o jogo do dia anterior, mas não estava ali.

- Bom dia.

Ela se virou para trás e viu que ele estava na cozinha - os cômodos eram interligados - guardando alguma coisa na geladeira e prendeu a respiração ao ver que ele estava sem camisa, o que era totalmente novo para ela. Já deveria imaginar que ele teria um bom porte físico por ser atleta assim como ela já teve, mas entre imaginar e ver havia uma enorme diferença. Ela se quer sabia que ele tinha uma tatuagem na costela, uma espécie de texto em letras em negrito, mas que ela não era capaz de ler por causa da distância.

- Bom dia - respondeu tentando se manter natural. - Que horas são?
- Meio dia, você dorme demais - ele sorriu.
- Acho que tenho motivos pra isso - ela sentiu uma fisgada na cabeça. - A minha cabeça tá doendo e eu não lembro de absolutamente nada.
- Nada? Nada mesmo?
- Não lembro nem se o Jadson chegou com um porco ou não.
- Chegou... Mas você realmente não se lembra de nada?
- Já disse que não, só uns flashes, mas nada muito claro. Tem alguma coisa pra dor de cabeça aqui? Acho que vou morrer.

, completamente frustrado com a resposta dela, abriu o armário e pegou uma caixa de remédios. Tirou uma cartela de comprimidos, pegou um copo com água e deu para que bebeu imediatamente.

- Valeu, acho que vou sobreviver... Me conta o que aconteceu ontem, como eu vim parar aqui...
- Você bebeu demais ontem e depois de me obrigar a passar a maior vergonha da minha vida, eu achei melhor te tirar dali.
- O que eu fiz?
- Me fez dançar Falamansa com você.
- Eu fiz isso? - ela riu e ele concordou sem dar risada. - Mas deve ter sido engraçado.
- Para os outros? Com certeza... Eu te trouxe pra cá porque achei que não seria uma boa ideia te levar pra sua casa. Seus pais acham que você está na casa do Tobias.
- Valeu, você me tirou de uma encrenca... E o que mais?
- Só isso.
- Nossa, como eu sou uma bêbada chata.
- Todos são.

Um silêncio pairou entre eles e o único barulho na casa era o som da TV ligada no jogo e que por coincidência passava o momento do desentendimento de com o jogador palmeirense. queria dizer algo, mas não estava com uma cara boa, parecia visivelmente chateado com alguma coisa.

- Você tá bem, ?
- Sim.
- Parece meio incomodado. Sou eu?
- Não, não... Eu... Só tô cansado, o jogo foi cansativo ontem e eu fui dormir muito tarde.
- Então eu acho melhor eu ir embora pra você poder descansar, tem jogo no meio da semana.
- É, tem razão. Eu vou procurar a chave do carro, não lembro onde deixei.
- Não precisa, eu peço um Uber.

pegou o seu celular no quarto e pediu pelo Uber que levaria cinco minutos para chegar, mas afim de evitar qualquer desentendimento com , ela optou por descer antes dizendo que o carro já tinha chegado e ele concordou.
Quando finalmente estava sozinho, ele pôde sentir o peso do mundo nas suas costas. Estava se sentindo muito culpado pelo acontecimento da noite anterior quando a beijou, sabia que não deveria ter feito aquilo simplesmente porque estava bêbada demais para se lembrar de qualquer coisa depois. Ele pretendia contar, mas achou melhor deixar aquilo morrer e nunca mais tocar no assunto, não queria despertar sentimentos inoportunos em nenhum dos dois e preferiu pensar que foi apenas um momento de fraqueza entre eles.

O fato de ela não se lembrar de nada iria facilitar a vida dele.
Ou talvez não...

⚽🖤📱

Os dias foram avançando tão rápido quanto o mês de fevereiro normalmente era e o time treinava árduo para a continuidade do campeonato. Durante aquele mês estrearam e conseguiram avançar pela Copa Sul-Americana deixando o atual campeão Argentino, Racing, para trás em uma emocionante disputa de pênaltis e pela Copa do Brasil por uma goleada em cima do Avenida. E embora as coisas estivessem bem pelo campeonato continental e nacional, no estadual o time não estava tão bem, ganhou apenas metade das partidas que fez e perdeu para times relativamente menores, o que deixou a torcida nervosa o suficiente para cobrar o time que intensificou os treinos afim de melhorar de posição na tabela, já que o líder geral do campeonato era o Santos enquanto o Corinthians era apenas o segundo colocado no seu próprio grupo. O time havia acabado de voltar da Argentina com a classificação para a próxima fase e agora se preparava para enfrentar o São Bento pelo Campeonato Paulista no segundo dia de março fora de casa.
No Parque São Jorge, teve um longo mês de trabalho. Além de estar sempre de olho no elenco principal, tinha que estar informada quanto à outras modalidades como basquete, natação, vôlei e futsal para além da equipe feminina de futebol e também o masculino sub-20 que disputava a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Seu dia era resumido em buscar informações e programar o conteúdo para toda aquela semana, o que parecia simples na teoria, mas cansativo na prática e ela só conseguia pensar que dentro de três meses estaria de férias e agradecia imensamente por isso.

- , por favor, não esquece que vai ter a convocação da Seleção, ok? A gente já sabe que o Cássio e o Fagner vão ser convocados, então se puder já deixar isso pronto, eu agradeço muito - seu chefe disse passando rapidamente pela mesa da garota.
- Hum, claro, já vou fazer isso.

Ela voltou a atenção para o computador para continuar o seu trabalho. Já tinha esquecido completamente da convocação para os amistosos antes da Copa América dali três meses e sabia que a convocação do goleiro e do lateral direito era de extrema importância, mas estava com a cabeça tão cheia que esse parecia ser o menor dos problemas.
Enquanto ela trabalhava arduamente no Parque São Jorge, no CT o time também trabalhava sem parar, na maior parte do tempo treinava finalizações afim de aumentar o saldo de gols que não estava bom, apesar de a artilharia ser revezada entre Gustavo, Vagner e que eram os principais goleadores da equipe alvinegra naquele começo de temporada e justamente por isso eram os mais cobrados e os que mais treinavam finalizações.
Após o treino exaustivo daquele final de fevereiro, na parte da tarde, os atletas foram liberados um pouco mais cedo para que pudessem assistir juntos a convocação dos dois colegas de elenco para os amistosos no mês de março contra o Panamá em Portugal e contra a República Tcheca em Praga. Eles se aglomeraram junto com outros funcionários do clube para que todos pudessem assistir juntos a convocação feita pelo técnico Tite.
sempre foi um fã declarado da Seleção, e embora nunca tivesse sido convocado, gostava de assistir a convocação com os colegas de clube pois quando um deles era convocado, ele ficava feliz da mesma forma como se fosse ele. Torcia para que um dia tivesse uma oportunidade de vestir a amarelinha, mas enquanto isso iria trabalhar duro para chegar lá e se alegrar pelos colegas convocados. Quando não tinha mais cadeiras livres, ele sentou no chão na primeira fileira junto com jogadores mais novos que cederam lugares para funcionários do clube. Aumentaram o volume da TV quando o técnico Tite começou a anunciar os nomes.

- Goleiros: Alisson, Liverpool. Ederson, Manchester City. Cássio, Corinthians.

Nesse momento, a sala foi tomada por gritos e saudações ao arqueiro alvinegro que agradeceu com um sorriso no rosto. À seguir viriam os defensores e com a lesão de Daniel Alves, as expectativas se voltavam ao lateral direito, Fagner.

- Defensores: Fagner, Corinthians. Danilo, Manchester City. Miranda, Inter de Milão. Thiago Silva, Paris Saint Germain. Marquinhos, Paris Saint Germain. Éder Militão, Porto. Filipe Luís, Atlético de Madrid.

A comemoração pelos defensores foi em dose dupla, pois além de Fagner, havia também o zagueiro Marquinhos que foi jogador do clube em meados de dois mil doze e os remanescentes ali ainda tinham muito carinho pelo jogador.
Embora não tivessem mais expectativas e a escalação fosse sempre a mesma, eles continuaram assistindo apenas em respeito aos demais jogadores.

- Meias: Casemiro, Real Madrid. Fabinho, Liverpool. Allan, Napoli. Paquetá, Milan. Arthur, Barcelona. , Corinthians. Philippe Coutinho, Barcelona.

A sala explodiu em gritos novamente e desta vez, todos que estavam sentados, se levantaram, menos o próprio que ainda estava no chão completamente em choque e sem reação ao que tinha acabado de ouvir. Não sabia se estava delirando ou se, de fato, o técnico Tite havia acabado de dizer o seu nome e ele realmente foi convocado. E ali estava ele realizando mais um sonho.
Ele se levantou e começou a ser parabenizado por cada um que estava ali e embora a ficha ainda não tivesse caído, tentava retribuir a cada abraço e agradecer da melhor forma possível e com seu melhor sorriso. Ele nem tinha ideia de que no Parque São Jorge, o marketing trabalhava a todo o vapor após a sala também explodir em gritos de festividade, inclusive que saltou da cadeira e gritou como se tivesse sido ela a convocada para jogar uma Copa do Mundo. Ela imediatamente voltou para o seu computador afim de acrescentar o nome e a foto de na edição que fez para as redes sociais e mesmo tremendo da cabeça aos pés, ela conseguiu fazer e postou logo que o técnico Tite terminou de anunciar os atacantes.

"É DO TIMÃO E DA SELEÇÃO!

Terminou agora há pouco a convocação do técnico Tite para os amistosos que serão realizados no mês de março na Europa. Os jogadores que representarão o Corinthians na seleção serão Cássio, Fagner e, para o delírio da Fiel, nosso meia-atacante, . Vamos mandar energias positivas para nossos jogadores.

#VaiCorinthians #SeleTimão"

- Meu Deus, - ela não conseguia parar de sorrir.

Ela sabia que não iria conseguir falar com ele naquele momento, pois ele estaria comemorando tanto quanto qualquer um, então ela tentou ligar no celular de Tobias e ele atendeu.

- Oi, ! Você viu?
- Vi! Ainda não acredito!
- Ele também não, tá com uma cara de idiota até agora - Tobias disse rindo, observando a comemoração dos jogadores de longe. - Eu tava gravando pra postar no YouTube e já ia parar quando o Tite falou o nome dele, eu não sabia se comemorava, filmava ou chorava... O Junior também foi rápido e tirou fotos no segundo certo.
- É, eu percebi - ela disse ao ver que no seu e-mail chegou três e-mails seguidos de Junior e cheios de anexos, provavelmente as fotos. - Eu vou voltar a trabalhar, acho que vou sair tarde daqui hoje... Dá um abraço no por mim, acho que nem vou conseguir falar com ele tão cedo - ela mudou a feição quando se lembrou que eles mal estavam se falando durante todo aquele mês.
- Dá um desconto pra ele, , ele treinou e viajou muito esse mês, acabou de voltar da Argentina e agora foi convocado, imagina como está a cabeça dele agora com tanta coisa que aconteceu.
- É, eu sei... Deve ser loucura.
- De qualquer forma, vou falar com ele quando terminar aqui e você precisa voltar a trabalhar.
- Tem razão. Tchau.

desligou e voltou ao trabalho. De fato, ficaria até mais tarde para poder fazer tudo o que tinha em mente e também colocar em prática as ideias que iam surgindo da equipe de marketing afim de promover o clube através das convocações.

⚽🖤📱

- Meu filho... Você não tem noção de como eu queria poder estar aí pra poder te abraçar. Você merece demais, meu menino, por tudo o que está fazendo no futebol e pela sua família. Eu não poderia pedir por um filho tão maravilhoso quanto você, tô muito, muito feliz, , uma felicidade que não cabe no meu peito. Eu te amo tanto - Regina, a mãe de , dizia no telefone aos prantos e também chorava do outro lado da linha.
- Eu também te amo... Eu ainda não acredito, mãe, logo eu...
- Sim, logo você! Você que nasceu no dia do tetra, queria ver aquela disputa de pênaltis de qualquer jeito, não é? - os dois riram - logo você que tomou gosto pela bola antes mesmo de andar! Eu tinha medo de que isso não fosse acontecer e você ficasse frustrado, , mas que bom que eu estava errada. Sei o quanto você queria ter sido convocado para a Copa.
- É, mas... Já passou. Agora eu vou focar nesses amistosos - ele tentou secar as lágrimas, mas totalmente em vão - queria que todos vocês estivessem aqui comigo agora.
- Eu também, filho, eu também... Mas estamos na torcida aqui, ok? Eu, a Cida, o Rony e as meninas. Inclusive as meninas estão dizendo que o tio delas é muito melhor do que o Neymar.

Ele riu e mais lágrimas escorreram pelo rosto dele. As suas sobrinhas eram o motivo da alegria constante dele e não ter as duas ali com ele sempre entrando no campo era frustrante, sentia falta de Maia e Belinda mais do que tudo.

- Eu... Eu vou tentar pedir liberação do clube pra ir visitar vocês antes de ir para Teresópolis, preciso ver vocês antes de qualquer coisa.

continuou em linha com sua mãe durante mais uma hora até ela precisar desligar e em seguida ele tentou responder todas as mensagens de amigos e parentes que bombardeavam no seu celular, até mesmo seus antigos companheiros de Grêmio o mandavam mensagens e ele tentava agradecer todo mundo. Viu pela décima vez o vídeo que Cida mandou no qual as meninas pulavam e comemoravam sem parar gritando que era melhor do que Neymar e também o áudio de cinco minutos de Ronald. Se surpreendeu também com uma mensagem do seu pai com quem falava muito pouco, mas estava tão feliz que também respondeu da melhor forma.

estava sentado no chão da sala do seu apartamento tentando assimilar tudo aquilo. Enquanto seus colegas queriam comemorar, ele pediu para ir embora e ficar sozinho porque precisava assimilar e entender o que estava acontecendo naquele momento. Ele, com vinte e quatro anos, quatro clubes na carreira, uma passagem apagada pelo exterior e um rebaixamento no currículo conseguiu a tão sonhada convocação para a Seleção Brasileira de Futebol. Iria defender o verde e amarelo que ele sempre amou, iria defender o mesmo brasão que seus ídolos como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Romário e Bebeto defenderam no passado, se apaixonou ainda mais por futebol quando viu a conquista do pentacampeonato com aquela seleção que encantava por onde passava. Ele sabia que a Seleção atual estava longe daquela, mas ainda sim eram as mesmas cores e o mesmo brasão e ele iria vestir com muito orgulho.
Quando ele se acalmou e as coisas pareciam ter voltado ao normal, ele pegou na página do Corinthians uma foto do momento em que Cássio e Fagner davam um abraço nele como forma de parabéns e postou.

"Eu nunca imaginei que este dia iria chegar, o dia em que defenderia as cores do meu país. A mesma seleção que eu cresci assistindo e admirando, agora me recebe também. Agradeço ao treinador pela confiança no meu trabalho e prometo dar o meu melhor. Vai, Brasil!"

Ele postou a foto e em seguida deixou o celular de lado, se levantou e foi até a varanda respirar ar puro. Olhou ao seu redor e sorriu, pois achou que São Paulo era muito mais bonita em uma noite de verão como aquela.
Foi afastado de seus pensamentos quando o telefone tocou e o porteiro anunciou que Dantas estava ali.

- O céu não é o limite pra você, meu garoto! - Dantas disse quando abriu a porta.
- Ainda não acredito - disse dando um abraço no seu agente. - Não posso acreditar.
- Eu também não acreditei quando me contaram. Não me mata, mas eu já sabia disso há alguns dias.
- E por que não me disse?
- E estragar a surpresa? Jamais! Você tinha que saber hoje. Você sabe que eu conheço gente na CBF e me contaram, mas eu achei melhor você ouvir da boca do Tite... E aí? Como se sente?
- Como a pessoa mais feliz do mundo - sorriu. - Cara... Eu vou pra Seleção!
- É, meu amigo, você vai sim e eu vou cuidar da burocracia pra você, fica tranquilo porque só quero você treinando e se preparando. Você vai jogar normalmente no Corinthians nos próximos jogos e no dia quatorze, vai se apresentar na Granja Comary e no dia vinte o time viaja pra Portugal, então é melhor já separar as roupas de frio porque o inverno lá está com tudo.
- Tá bom, vou me preparar... Ou vou tentar... Nossa, eu acho que estou sonhando...
- Então é melhor acordar logo porque todo mundo sabe o que vem depois de uma convocação dessas... Não se preocupa, vou te deixar informado sobre as sondagens.

sabia que Dantas tinha razão. Se tivesse a oportunidade de jogar ao menos alguns minutos e fosse bem, os olheiros da Europa passariam a prestar atenção nele e então as propostas viriam e caberia a ele aceitar ou não. Embora seu sonho fosse a Espanha, estava aberto à outras propostas também, mas tentava não criar expectativas porque jogava na mesma posição que Philippe Coutinho e, enquanto o jogador do Barcelona fosse titular no time de Tite, ele tinha a plena noção de que seria quase impossível conquistar um espaço ali.

- Seja sincero comigo, Dantas... Acha mesmo que eu tenho chances na Europa e na seleção? Quero dizer, com certeza eu vou esquentar o banco pro Coutinho e eu já tenho quase vinte e cinco anos, não sei se algum clube europeu poderia se interessar por mim.
- Sabe o que eu acho? Que você é muito negativo e às vezes eu te odeio por isso. Qual é, ? Você acabou de ser convocado! Isso significa que você talvez possa jogar a Copa América e mesmo com uma temporada horrorosa do Grêmio, você não foi tão ruim assim e está sendo regular há anos! É um dos artilheiros esse ano, não é? Então aproveita e fica tranquilo, pode ter certeza que eu vou fazer de tudo pra você jogar na Europa.
- Eu sei, obrigado...
- De nada. Próxima parada: Granja Comary!

⚽🖤📱


"Parabéns pela convocação, você merece muito (nem acredito que realmente falei isso). Lá no Parque São Jorge, a gente começou a gritar feito loucos, eu mal conseguia trabalhar kkkk mas enfim, fiquei feliz por você"

lia a mensagem de pela quinta vez sem saber o que responder. Desde aquele beijo, ele achou que o melhor fosse se distanciar para que nenhum dos dois se machucasse, mas sentia falta de passar tempo não só com ela, também Junior e Tobias. Por mais que tentasse ignorar e fingir que nada aconteceu, aquele dia não lhe saía da mente por nada e ele ainda tentava assimilar tudo o que aconteceu, as declarações dela ainda ecoavam e ele não tinha certeza quanto aos próprios sentimentos. Era fato que, ao pensar no assunto, sentia frio no estômago e ao lembrar do beijo, prendia a respiração como se aquilo fosse ajudar a esquecer. É claro que estava enganado, só conseguia pensar ainda mais e se sentir ainda mais confuso em relação aos seus sentimentos ou a ausência deles.
A verdade era que ele tinha medo de se apaixonar novamente e isso prejudicar sua carreira de alguma forma. Se dedicou durante quase cinco anos à uma pessoa que não lhe deu valor e, por mais que tivesse seguido em frente e superado, ainda se sentia inseguro e insuficiente para qualquer pessoa. Era mais do que acostumado com os comentários femininos nas suas fotos e ele não se importava com nada daquilo porque sabia que eram apenas garotas muito mais novas do que ele e quem supostamente gostava dele de verdade nunca comentou em nenhuma foto sua.

"Obrigado, "

Ele respondeu por fim e colocou o celular para carregar. Já era hora de dormir e ele tinha que treinar normalmente no dia seguinte porque antes do compromisso com a Seleção, tinha também o compromisso com seu clube atual e, se quisesse uma vaga na Copa América, teria que fazer por merecer.

Capítulo 9 - Onde o Grêmio Estiver

28 de novembro de 2017 – Lanús. Argentina.

O número sete e o número oito, como sabemos, vêm em sequência na ordem numérica. Somados, se tornam quinze. Subtraídos, temos um resultado negativo. Pode-se dizer que essa matemática também se aplicava ao time do Grêmio com dois de seus atletas. Além de melhores amigos, também eram primordiais no time que disputaria a final da Libertadores no dia seguinte.
caminhava tranquilamente pelo saguão do hotel em direção ao elevador afim de encontrar com Arthur no quarto para que pudessem jogar vídeo game e relaxar um pouco antes de dormir, afinal, estavam ansiosos demais para o jogo que aconteceria em menos de vinte e quatro horas.
Ele entrou no elevador distraído enquanto mexia no celular, sem deixar de notar que estava vazio. As portas estavam se fechando quando alguém colocou o braço no meio para impedir, entrando rapidamente logo em seguida. olhou de relance e teve que se conter para não revirar os olhos quando viu que era Luan. Sabia que era errado ter desavenças com colegas de grupo, mas achava que a camisa sete combinava muito mais com ele do que com o antigo dono e não pretendia devolver. O fato de um culpar ao outro pela queda de rendimento da equipe no campeonato, resultando na conquista do Corinthians, agravou ainda mais os nervos dos atletas.

- Você não precisa fingir que gosta de mim aqui, – Luan disse tranquilamente ao apertar o botão de subir. – Sei que você quer revirar os olhos.
- Que bom – o meia deu de ombros, voltando a atenção para o celular. – Porque não gosto mesmo.
- Me devolve a sete e podemos resolver isso numa boa.
- Só no dia em que eu sair daqui – guardou o celular no bolso e se virou para o atacante. – Não implorei pela camisa, só me deram o número. Para de implicar com isso, que inferno. Se quiser ter o direito de escolher o número da camisa ano que vem, vê se faz o favor de fazer a sua função de atacante e marcar gols, assim a gente não perde um campeonato pra um time que nem o Corinthians. Ah é, esqueci, você é torcedor. Deve estar feliz com isso.
- Minha vida pessoal não interfere no meu trabalho, eu não torço pra time nenhum. Além disso, não posso carregar uma equipe nas costas. Se você não faz seu trabalho direito no meio-campo, a bola não chega em mim.
- Boatos de que vou entrar pra seleção do campeonato, acho que você está enganado – esboçou um sorriso sarcástico. – Amanhã é o jogo mais importante das nossas carreiras, ok? Não vou perder meu tempo com você. Já perdi tempo demais.

Quando as portas do elevador se abriram, saiu primeiro e foi rapidamente em direção ao quarto de Arthur, batendo na porta com um pouco mais de força do que pretendia, fazendo com que o amigo saltasse do sofá e fosse abrir rapidamente, se assustando com o baque repentino.

- O que aconteceu? – ele perguntou preocupado quando passou por ele para entrar no quarto.
- Advinha com quem eu encontrei no elevador? Vou dar uma dica: ele é insuportável.
- Luan? – concordou enquanto se sentava no sofá e Arthur riu. – Deixa ele pra lá, cara, só está chateado por ter perdido o número da camisa pra você.
- Arthur, esse cara vive para me irritar, não é possível! Eu juro que tento manter as aparências perto do time, mas é muito difícil, eu não suporto esse cara. Nunca fui amigo dele, parece que só piorou.
- , presta atenção em mim. O Luan é o nosso artilheiro, está em uma fase tão boa quanto a nossa, isso é importante. Vacilamos em deixar o campeonato de graça para o Corinthians, mas e daí? Amanhã é o nosso jogo da vida, só deixa isso de lado e vamos focar no que realmente importa. O Grêmio é maior do que a gente.
- Eu sei, eu sei. É só que...Às vezes o diabo se disfarça de tricolor pra tirar a minha paz.
- Deixa o Luan pra lá e só se preocupa em ser meu pato no jogo de novo – Arthur entregou o player 2 para , que grunhiu em resposta depois se sentou ao lado dele.
- Não sou seu pato, Arthur, seu cachorro joga melhor do que você.
- Não fala do Tuntz se não eu choro, estou com saudades dele.
- Tá bom, mas vamos ver quem é o pato agora – ele disse por fim, escolhendo pela milésima vez o Barcelona enquanto Arthur optou por Atlético de Madrid.

⚽🖤📱


Os dias foram avançando e continuou treinando e jogando normalmente pelo Corinthians. Sabia que iria perder dois jogos importantes como o jogo de ida na Copa do Brasil contra o Ceará e as quartas de final do Campeonato Paulista caso o Corinthians avançasse de fase, mas estava tranquilo porque sabia que não era nenhuma exclusividade e que o time poderia se virar muito bem sem ele, afinal, os últimos cento e oito anos do clube foram sem ele por ali. Conforme prometeu para a sua família, pediu liberação do clube três dias antes de se apresentar à Seleção para que pudesse ir ao sul e a diretoria do Corinthians liberou, então no dia seguinte ao jogo que terminou empatado contra o Santos, ele iria para Porto Alegre.
Se despediu dos colegas de clube após o treino e, quando estava indo embora, na saída do centro de treinamento, ele foi parado por Junior, Tobias e . tentou demonstrar naturalidade ao ver a garota, pois não se viam há semanas e ele evitava manter contato por mensagens. Pelo olhar dela na direção dele, ele percebeu que ela sabia disso.

- A gente só queria se despedir do nosso menino de ouro - Junior disse sorrindo. - É uma pena que o jogo seja na Europa porque se fosse aqui no Brasil, com certeza iríamos.
- Outras oportunidades virão - disse esboçando um sorriso tímido. - Obrigado por terem vindo e torcer por mim.
- Literalmente torcer, não é? - Tobias riu. - A gente se empolgou tanto que acho que somos os primeiros a ter essa obra de arte. Vamos mostrar pra ele o que a gente fez.

Mesmo com o calor, os três estavam com blusas de frio. Eles tiraram as blusas e sorriu quando viu que os três usavam a camisa da Seleção Brasileira. Junior usava a clássica amarela, Tobias vestia o novo modelo comemorativo para a Copa América, camisa branca com a gola azul enquanto optou pelo modelo azul. Os três se viraram e viu que eram personalizadas com número dezessete - seu número na seleção - e seu nome em cada uma delas. Ele sentiu os olhos marejarem e sorriu ainda mais.

- Vocês não vão me fazer chorar - ele riu. - Obrigado, muito obrigado. Eu amei.
- Vem aqui, garoto, não vamos a lugar nenhum - Junior disse abrindo os braços e chamando o amigo para um abraço longo e apertado. - Deus que me perdoe, mas tô torcendo pro Coutinho ter uma diarreia e você pegar a vaga dele.
- Que coisa horrível, Junior! - disse rindo.
- Eu concordo com ele - Tobias deu de ombros e também o abraçou. - Você merece, cara. - Valeu - ele sorriu e então olhou para .

Ela não havia dito uma palavra sequer e aquele silêncio era gritante para . Os olhos dela diziam o quanto ela estava chateada, mas mesmo assim ela estava ali para se despedir talvez porque Junior e Tobias tivessem insistido, mas para o simples fato de ela estar ali era o suficiente para ele se sentir mal pela forma que estava a tratando nas últimas semanas, não com falta de educação, mas sim com distância.
Ele abriu os braços e a puxou para um abraço apertado, talvez mais do que ele tivesse planejado. , por sua vez, queria chorar por estar ali, mas se segurou como pôde. A distância dele era cruel demais para ela tentar se aproximar, tentou durante dias e ele parecia simplesmente não se importar, o que a deixou chateada ao extremo, mas aquele abraço foi o suficiente para que ela esquecesse de tudo isso.

- Desculpa - ele murmurou e a soltou.

olhou pra ele, mas não disse nada. Não era capaz de dizer. Após as despedidas, cada um foi para o seu canto. foi para a sua casa, tinha o voo programado para Porto Alegre em algumas horas. Junior e Tobias voltaram para o CT e entrou no seu carro emprestado pelo pai para voltar ao Parque São Jorge, mas tudo o que fez ao fechar a porta foi chorar, se permitindo derrubar algumas lágrimas finalmente. Seus sentimentos estavam uma bagunça e ela não sabia como colocar em ordem, não entendia como se tornou tão próxima de alguém que odiava e de repente eram amigos, mas que simplesmente se afastaram porque ele estava agindo diferente com ela. Não sabia porque estava a tratando daquela forma, mas entendeu que o pedido de desculpas não era para que ela o perdoasse pelo comportamento e sim que aquilo não iria mudar.

- Mas que porra, ! - ela bateu no volante com raiva.

Pensou que se ele continuasse agindo daquela forma, o melhor seria fazer o mesmo pelo seu próprio bem. Antes de gostar de alguém, gostava primeiramente dela mesma e nunca foi o tipo de garota que se rebaixava por homens, e daquela vez não seria diferente.

⚽🖤📱


Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

desembarcou em Porto Alegre e foi recebido no aeroporto pela sua família. Suas sobrinhas correram para o abraçar e ele não conteve as lágrimas e a alegria ao ter as duas ali com ele porque três meses em São Paulo pareciam três anos.

- Que saudade de vocês - ele disse apertando as duas ainda mais.

Belinda era muito pequena para entender, mas Maia já entendia que seu tio e padrinho morava longe o suficiente para que ela não o visse com frequência como antes. As lágrimas escorriam pelo rosto da garotinha que não fazia questão de soltar o seu tio. Enquanto Belinda se afastou, Maia continuou ali.

- Está tudo bem, Maia - sorriu para ela. - Tô aqui agora, vim ver você.
- Mas você vai embora de novo, tio - ela respondeu aos prantos.
- Sim, mas eu vim porque não aguentava mais ficar longe de vocês e depois daqui eu vou jogar pelo Brasil, agora o tio tem dois times e isso é muito legal, não é?
- É.
- Então não chora mais porque quem chorar não vai ganhar presente - ele colocou as mãos no rosto dela afim de secar as lágrimas.
- Tá bom.
- Melhor assim.

Após acalmar a sobrinha, ele abraçou a mãe e os irmãos e finalmente se sentiu em casa novamente. Por mais que gostasse de São Paulo e da sua vida atual, ainda amava suas raízes e tudo o que ele precisava estava bem ali na sua frente.
Depois de a euforia do momento passar, eles foram para a casa da mãe de aonde o jogador passaria os próximos três dias hospedado, tudo o que ele mais queria. Logo quando chegaram, as meninas começaram a perguntar freneticamente quais eram os presentes que trouxe e ele se viu na obrigação de dá-los antes que as garotas abrissem sua mala em um momento de desespero.

- Para o Rony eu já dei uma camisa quando ele foi pra São Paulo, então eu trouxe uma jaqueta do time pra ele - disse jogando o agasalho do time pra ele.
- Valeu! É tão bonita quanto a camisa.
- Eu sabia que você ia gostar. Para as duas mulheres da minha vida, eu trouxe as camisas de jogo e é óbvio que tem o meu nome e o meu número - ele entregou um pacote para sua mãe e outro para Cida que agradeceram também. - E para as outras duas mulheres da minha vida que me deixam louco de saudade, eu também trouxe camisas. Eu sei que vocês já têm, mas como não foi eu quem deu, então não vale. Cida, eu trouxe uma jaqueta pro Leo também, depois entrega pra ele. Agora todo mundo trata de vestir pra ver se cabe e vamos tirar uma foto e atualizar o retrato de família com o meu novo time.

Imediatamente eles começaram a vestir as camisas e jaquetas, ajudou a irmã com as sobrinhas e depois pegou a própria camisa que trouxe unicamente para esse momento para vestir também. Em seguida, Rony pegou o celular e abriu na câmera frontal.

- Sorriam todos.

pegou Maia no colo e Cida pegou Belinda. Os irmãos deram espaço para que sua mãe pudesse ficar no meio deles e então Rony tirou a foto. Após a foto em família, também tiraram algumas individuais com e ele fez questão de postar todas logo em seguida, queria mostrar para todos o quanto estava feliz e o quanto amava a sua família. Tinha a plena convicção de que seria criticado por ter pedido a liberação três dias antes, mas não se importava, só queria passar tempo com quem realmente amava.
Depois das fotos, levou sua mala para o quarto em que passaria os próximos três dias e riu quando percebeu que em cima da cômoda havia um porta retrato seu. Na foto em questão, ele estava segurando a taça da Libertadores que ele lembrava ser mais pesada do que taças de menor expressão, mas que naquele momento não importava o seu real peso, e sim o valor histórico. Tinha orgulho de ter feito parte daquele time.
E de repente as lembranças o acertaram como ondas violentas. O rebaixamento não era mais importante do que o tri da Libertadores e um vice mundial jogado de igual para igual contra o melhor time do mundo na época. trocaria tudo para viver aqueles dias de novo. Era imensamente grato pelos seus anos de Grêmio, pelas amizades que fez, por cada partida e gol marcado, cada Grenal que disputou como se fosse o jogo da vida. sabia que nunca mais iria viver nada daquilo, nunca mais seria o "Gre" de Gre-nal, não deixaria os jogadores do arquirrival desconcertados com as suas jogadas que irritava até o jogador mais calmo e maduro do time. Foram quatro anos inesquecíveis e que ele jamais se esqueceria.

- A mãe acha que você morreu aqui dentro - Cida disse entrando no quarto. - Tá tudo bem?
- Sim, eu só... - ele colocou a foto no lugar e Cida entendeu na hora.
- Sente falta do Grêmio, não é?
- Sinto... É errado?
- Não, de forma alguma... Quero dizer, foram anos incríveis pra você, só porque trocou de time não significa que você não possa mais gostar do Grêmio. Olha, eu como a gaúcha que sou, prefiro o Grêmio do que o Corinthians - Cida disse rindo. - Mas não se preocupa, vou usar a camisa que você me deu.
- Que bom... Eu acho que tem coisas que eu prefiro no Grêmio e outras no Corinthians. Eu gostava mais da forma com que o Renato treina o time, ele sabe como montar um time ofensivo, mas a torcida do Corinthians é insana. É meio confuso, mas é legal - ele riu. - E não me faça escolher entre as Arenas, acho as duas incríveis.
- Acho que você não precisa comparar os dois, porque é claro que suas conquistas foram no Grêmio. Libertadores, Copa do Brasil, Recopa, foi pro Mundial e quase foi campeão brasileiro ano retrasado... Olha o tanto de coisa que você viveu aqui, ... Você só tá no Corinthians há três meses, ainda vai criar memórias lá também.
- Eu espero que sim.
- Acho que você só tá pensando nisso porque está aqui, quando voltar pra Sampa vai colocar a cabeça no lugar.
- Pelo amor de Deus, ninguém lá chama São Paulo de Sampa, é ridículo - ele riu. - Coisas que você descobre depois de morar em São Paulo.
- Eles chamam a gente de coisa pior, tenho certeza... Vamos lá pra sala, tá todo mundo morrendo de saudade do xodózinho da família.

voltou para a sala e dedicou as horas seguintes a ficar com a família, mas quando já era tarde e seus irmãos já tinham ido embora, ele procurou nos seus contatos o telefone do seu antigo treinador e mandou uma mensagem perguntando se podia visitar o centro de treinamento do Grêmio no dia seguinte e recebeu um sim em letras maiúsculas e vários pontos de exclamação, sinal de que estava tudo bem em visitar o ex-clube.
E assim ele fez, no dia seguinte acordou cedo e, depois de garantir para sua mãe que estaria em casa para almoçar, pegou um uber até o CT Luiz Carvalho.
Ao chegar nas instalações do time tricolor, foi tomado pelas lembranças novamente. Era como se estivesse indo treinar em mais um dia comum no clube como se nada tivesse acontecido. Por um instante, se esqueceu de que morava em São Paulo e era jogador de um dos gigantes do futebol paulista, foi tomado por nostalgia pura.

- Licença. É aqui a reunião pra falar mal do Internacional? - ele perguntou se aproximando da guarita, conhecia o guarda que estava de vigia.
- ??
- E aí, cara?
- O que você tá fazendo aqui?
- Vim visitar antes de ir pro Rio de Janeiro. E aí? Vai deixar eu entrar ou vou ter que ir na força?
- Alguém sabe que você está aqui?
- O Renato.
- Ok, eu vou pedir para ele vir aqui, mas pode entrar e esperar ele.
- Valeu.

Ele liberou o acesso para e o jogador estava no seu limite entre o pessoal e o profissional. Eu nunca deveria ter saído daqui.

- Aí está você, a nova cara da Seleção! – Renato apontou na direção de , caminhando em passos largos na direção dele. Se não o conhecesse, diria que Renato estava nervoso, mas era apenas o jeito do técnico.
- Grande Renato Gaúcho! - sorriu e partiu para dar um abraço apertado no seu antigo treinador.
- Três meses fora daqui e você já tá na Seleção? Qual é o esquema da CBF com o Corinthians? Eu sabia! O Andrés não me engana.
- Muito obrigado por duvidar do meu potencial como atleta.
- Eu tô brincando, você é sensacional, merece muito mais. Vem, o time já tá treinando.

acompanhou Renato até o campo onde o time fazia o aquecimento rotineiro. Ele sorriu ao ver alguns rostos conhecidos como Cebolinha, Alisson e Pedro Geromel, jogadores que não saíram com o desmanche. Ao avistarem entrando no gramado, o time parou de treinar.
Foi inevitável para não olhar em direção ao ataque. Seu olhar se cruzou com o novo/antigo dono da camisa sete gremista, mas Luan parecia indiferente ao avistar o rival. Ele não estava no seu melhor momento no Grêmio e não queria causar alarde na frente da equipe. pensava da mesma forma, então deixou qualquer rivalidade de lado e se limitou apenas aos seus amigos. O passado não fazia mais diferença e ele estava muito feliz vestindo a sete do Corinthians.

- Pessoal, o caiu na real e percebeu que aqui é muito melhor do que aquele time lá. Voltou pra ficar. Vamos dar as boas-vindas pra ele.
- Professor! - disse rindo, embora tivesse ficado um pouco ofendido. – Tá de brincadeira comigo, né?
- , você se ofende muito fácil, cara! Vem aqui dar um abraço no seu colega de Seleção - Everton disse abrindo os braços para o amigo e o abraçou. - Parabéns, você mereceu demais.
- Obrigado, Cebolinha, você também.

cumprimentou os jogadores que ele já conhecia e também os novos que chegaram para a temporada vigente. Tinha muitos rostos novos, mas ainda assim era o mesmo Grêmio.

- Agora que vocês já mataram a saudade, veste o colete e vai pro lado esquerdo, quero você tabelando com o Everton - Renato disse jogando um colete amarelo para . – Jogo-treino, anda logo.
- O que? Eu não posso fazer isso, você sabe.
- Deixa de frescura, , a Fifa não vai te banir do futebol por causa disso. É só uma brincadeira e o Cícero aceita numa boa - o treinador disse se referindo ao jogador que iria ceder a vaga para . - Ninguém no Corinthians vai ficar sabendo.

estava resistente, não tinha nenhum entrosamento com o time atual, além de estar há mais de um mês jogando como meia-atacante como ponta esquerda ao invés do meio campo.

- Você sabe que o Carille me trocou de posição, não é? - vestiu o colete e o treinador abriu um largo sorriso. – Além disso, não estou aquecido e se eu me lesionar, mato vocês.
- Eu sei, particularmente acho o Carille gente boa, mas meio burro, admito que dessa vez ele acertou em te colocar como ponta, nunca me passou pela cabeça que pudesse dar certo. Agora eu quero formação, vamos.

se posicionou no meio do campo na sua antiga posição e ao apito do treinador deu o chute inicial para iniciar o treino e conforme os minutos se decorriam, ele percebeu que ainda tinha um pouco de entrosamento, principalmente com Everton com quem tabelou várias vezes. Aos poucos foi ganhando confiança no time novamente e se sentindo à vontade para marcar e dar assistências pelos lados. Já no final, ele ainda teve uma oportunidade de marcar um gol, além de dar uma assistência para Luan.

- Para antes que eu não deixe você voltar pra São Paulo - Renato disse após apitar. - , vem aqui.

Enquanto os auxiliares preparavam o time para os treinos individuais, Renato foi com para a beira do campo.

- Eu tentei de tudo, eu não queria que você fosse.
- Eu sei, mas talvez tenha sido melhor assim.
- Melhor? Garoto, eu perdi um dos meus melhores jogadores! Teve gente que acha que eu dei graças que foi embora, mas até agora não achei alguém pra colocar no seu lugar, ! Meu sonho é que você volte e eu vou lutar por isso.

Por mais que amasse estar ali naquele momento, não trabalhava com a hipótese de voltar, simplesmente porque estava em uma boa fase no Corinthians e tinha se apegado ao seu novo clube. Queria honrar o preto e branco tanto quanto honrou o azul.

- Eu não sei se é uma boa ideia, Renato - disse com o olhar percorrendo o campo. - Eu não pertenço mais ao Grêmio.
- Não vai me dizer que você prefere jogar naquele time que...
- Aquele time é grande assim como o Grêmio e eu sei que você vai dizer que é um time retrancado com um jogo horroroso de ver e eu concordo com você, eu sei que você não gosta do Corinthians, mas eu tô feliz lá, sou parte de um conjunto e conquistei a minha vaga no time titular, o Carille confia em mim. Eu tô realmente feliz lá.
- Dá pra perceber, eu vi o jogo contra o São Paulo, você foi incrível naquela assistência pro gol... Não adianta, nunca vou gostar do Corinthians, mas espero que eles cuidem de você, no mínimo.
- Eles cuidam de mim muito bem, fui recebido da melhor forma possível - ele sorriu. - Eu finalmente estou entendendo que o rebaixamento não foi culpa exclusivamente minha e seguindo em frente, acho que se eu estivesse aqui, não pensaria da mesma forma.
- Se é o que você acha, eu respeito, mas como treinador, ainda acho que o seu estilo de jogo combina muito mais com o Grêmio.
- Não sei, o Carille diz que sou ofensivo demais pra ficar no meio de campo e que eu faço o time ir pra frente.
- No time dele, não no meu. Aqui você é a transição perfeita da zaga pro ataque, você fazia os dois na medida certa, é difícil achar um jogador assim, mas se o Carille acha que você rende mais no ataque, então talvez ele pode estar certo, mas continuo achando ele burro pra algumas coisas - os dois riram. - Boa sorte, . No seu novo time e também na Seleção.
- Obrigado, professor, mas eu acho que eu não vou ter espaço na Seleção. Você sabe... Jogo na mesma posição do Coutinho, o pessoal lá no Corinthians está torcendo pra dar uma diarreia nele ou algo assim pra eu poder jogar.
- Então aqui no Grêmio vamos torcer por isso também... Eu acho que se o Tite não te usar no time, vai estar sendo tão burro quanto o Carille. Parece que é mal de treinador do Corinthians.
- Você é uma pessoa horrível - os dois riram.
- Não, sou só mais um que não suporta aquele time meia boca, mas agora eu tenho que respeitar porque meu jogador foi pra lá.
- Não se preocupa, você vai se acostumar com isso.

Após se despedirem, deu também adeus aos colegas do time e decidiu ir embora. O sentimento de nostalgia era bom, mas ele já se sentia saciado. Sabia que seu lugar não era ali, aquelas não eram mais suas cores e embora tivesse imenso carinho e admiração pela agremiação, não podia negar que um outro clube também conquistou um espaço no seu coração e ele estava ansioso para vestir a camisa branca novamente dentro de algumas semanas.

- , espera.

olhou para trás e precisou focar bem para ter certeza de que Luan estava vindo na sua direção. Ele franziu o cenho, sem entender muito bem, mas ficou para saber o que o atacante pretendia lhe falar. Imaginou que não seria boa coisa, mas iria se policiar.

- Sim?
- O Renato disse que é pra eu voltar só depois de me entender com você. Não é uma coisa que eu queira, mas eu não vejo mais motivos para desavenças. Antes de qualquer coisa: acho injusto você jogar em um time grande como o Corinthians enquanto eu continuo aqui. É claro que eu amo e vou defender o Grêmio sempre, mas acho a sua dispensa injusta porque você tinha que ter ficado e afundado no barco assim como alguns de nós. Bom, isso não faz mais diferença, sua visibilidade aumentou e eu tenho o meu número de volta. Acho que essa rivalidade tosca é coisa do passado agora.
- É... – estava um pouco confuso, não sabia se ele o criticou ou estava pedindo uma trégua. – Que bom que a camisa voltou pra você, pra falar a verdade, já faz tempo que eu não me incomodo com isso. Estou bem no meu novo time.
- Achei que ia morrer antes de ver você jogando em um time que odiava – Luan admitiu rindo de si mesmo, mas não esboçou reação.
- Eu não odiava, só não achava que era tudo isso. Eu estava enganado, o Corinthians é gigante. Se me der licença agora, preciso voltar pra casa.

Luan pensou muito, estava hesitante, mas com muito custo estendeu a mão para o rival, propondo uma trégua. Não significava que seriam melhores amigos dali em diante, apenas deixariam as diferenças para trás visto que os dois conseguiram o que queriam. também estendeu a mão, firmando a paz entre os dois, pelo menos enquanto jogassem em times diferentes. Sabia que seu time tinha interesse em Luan há anos, mas não estava pronto para brigar pela sete novamente.
Rapidamente soltaram as mãos e seguiram cada um seu caminho. foi embora e Luan voltou para o campo, fazendo um sinal de ok para o seu treinador que ficou bem satisfeito. A jornada de com a camisa do Grêmio já havia acabado, mas a de Luan ainda não, então ele continuaria fazendo o seu trabalho e honrando a camisa enquanto ainda defendesse a instituição. Sem um rival, isso parecia ser bem mais fácil.

⚽🖤📱


Como o prometido, voltou para a casa da sua mãe afim de almoçar com a família. Quando viu que os pratos na mesa eram arroz carreteiro e costela assada, se esqueceu completamente de que era um atleta que estava a dias de defender a seleção e almoçou como se não precisasse seguir uma dieta rígida que não envolvia tanta gordura.

- Mãe, a senhora quer me ver fora do time com essa comida maravilhosa, né?
- Não, quero que você vá bem alimentado para Teresópolis e eu sei que você ama arroz carreteiro e costela assada.
- Tem razão, é meu prato favorito - ele riu. - Obrigado, mãezinha.
- Com o é esse tratamento todo só porque ele mora em São Paulo! Outro dia eu vim aqui e trouxe o chimarrão pronto pra gente tomar, e o que ela fez? Só faltou me expulsar porque queria ver a novela no Vale A Pena Ver De Novo. Esse papo de que não tem filho favorito é tudo caô, todo mundo sabe que o é o piá favorito - Rony disse fazendo todos rirem.
- Sou mesmo.
- Ai, , você se acha demais e sem o menor motivo - Cida disse ainda rindo. - A favorita deveria ser eu que sou a mais velha, única menina e ainda tenho duas gurias malucas dentro de casa pra criar. Jogar futebol é fácil, eu quero ver o dia em que você for pai. Eu na sua idade já era mãe.
- Tem quantas Libertadores? Jogou em que time, Maria Aparecida? - disse em tom de provocação. - Insulto pra mim é ser comparado com algum de vocês dois.
- É sério que estão discutindo isso? Vocês esqueceram uns vinte anos em casa, né?
- Se é assim, então o Ronald nem veio e a senhora pode escolher se gosta mais de mim ou da Cida.
- Gosto dos três igualmente. A Cida é uma mãe maravilhosa, o é um orgulho para toda a família e o Rony me impressiona cada dia mais com a voz dele. Se tocarem nesse assunto de novo, vou colocar os três de castigo no quarto. Estamos entendidos?
- Sim, mãe - os três disseram juntos e abaixaram a cabeça para terminar de almoçar.

O decorrer do dia foi tranquilo e agradável, ainda conseguiu buscar as sobrinhas na escola junto com Cida e brincar com elas um pouco. De noite, após sua irmã ir embora e levar as meninas, ele e Ronald se reuniram para assistir ao jogo.
Pela televisão, via seu time vencendo o Ceará pelo jogo de ida da Copa do Brasil. Era um jogo importante e ele se sentia culpado por não estar lá, mas ao ver o time jogando bem e pressionando o adversário, ele se sentiu mais tranquilo.

- Boa, meu garoto! - ele comemorou quando Pedrinho chutou de fora da área e o goleiro espalmou para fora. - Isso, time, vamos!
- Caralho, ! Cala a boca! - Ronald reclamou. - Não dá nem pra ouvir o jogo! Virou o técnico, por um acaso?
- Me erra, Rony - respondeu sem tirar os olhos da TV. - Parece que foi só eu ficar um jogo de fora e o time começou a jogar bem.
- É porque você é ruim.
- Vai tomar no cu.
- É assim que você trata o seu irmãozinho menor?
- Sim, agora cala a boca porque eu quero assistir o jogo.

Eles continuaram assistindo à partida, e Ronald teve que lidar com os comentários de a cada dois minutos, o que o deixava irritado o suficiente para pensar em deixar o irmão sozinho e nunca mais assistir futebol com ele.

- Ali, ali, ali, ali! O Jadson tá ali, porra! - esbravejava mexendo os braços no ar. - Chuta! - ele se levantou quando a bola estava no fundo da rede. - Gol, caralho! Gol!
- Meu Deus - Rony olhou para o irmão um pouco assustado. - Você é louco.
- A gente tá na próxima fase, porraaaaaaa!
- Ainda não tem o jogo de volta?
- Foda-se! A gente já ganhou essa merda!

se sentou de novo completamente extasiado pelo gol, o time estava vencendo por 3x1 e só um resultado acima de 2x0 para o Ceará poderia classificar o time do nordeste.

- Já se acalmou?
- Já - respirou fundo. - Pronto, já passou.
- Doente. Não sei o que deu em você, nunca vi você fazendo isso quando estava no Grêmio.
- Que besteira, Rony! Não posso ficar feliz pelo meu time?
- Não está mais aqui quem falou, seu rabugento.

Eles continuaram assistindo o jogo e, após o final da partida, era só elogios para o seu time, o que fez Rony se sentir na obrigação de ir embora antes que seu irmão mais velho convocasse a torcida organizada do Corinthians para uma confraternização enquanto foi só elogios para os colegas nas redes sociais também, repostando o post da página oficial do clube no Instagram.
Ele começou vendo a página do time, mas terminou no perfil pessoal de . Ele se sentia mal pela forma que se afastou dela, mas se sentia ainda pior por ela não se lembrar do que aconteceu naquele dia após o Derby. Pensava que daquela forma seria melhor para que ninguém se machucasse, mas ele próprio estava se machucando e, se de fato gostava dele da forma que dizia, então ela também estava magoada e não era isso o que ele queria.
Quando ele se deu conta, já estava digitando uma mensagem pra ela:

"Eu sei que a gente não tá se falando direito, mas quando eu voltar, será que a gente poderia conversar?"

Não demorou muito para que ela respondesse, mas para sua decepção, a única resposta foi um emoji de positivo, algo grotesco demais até para , e com isso ele percebeu que as coisas poderiam estar piores do que ele imaginava.

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leu a mensagem de e sentiu o sangue ferver, mas tentou não demonstrar. Não sabia se seria uma boa ideia, mas concordou apenas para dizer a ele tudo o que ela achava que ele merecia ouvir.

- Foi incrível o que esse time jogou hoje, anotem o que eu digo, o Corinthians vai ser o campeão da Copa do Brasil esse ano! - Tobias dizia batendo na mesa.
- Ah, claro! Contra o grande e temido Ceará... Vamos ser realistas, foi sorte. O time não tá jogando bem e, nessa partida de hoje, o cairia como uma luva - Junior deu um gole da sua água. - O que você acha, ?

Os três estavam em um McDonalds perto do estádio comendo algo antes de voltar pra casa e, enquanto Junior e Tobias debatiam seus pontos de vista completamente opostos, estava totalmente por fora do assunto. Custou-lhe muita atenção para tentar se manter focada no jogo, mas ela simplesmente não conseguia.

- Eu acho que o Corinthians ficou muito bem durante cento e oito anos sem o , dá pra se virar agora e ele nem é tudo isso, é só um jogador mediano em boa fase - disparou e em seguida deu um gole do seu milk-shake. - Não sei que mania é essa que vocês têm de endeusar jogador. O Corinthians é maior do que qualquer um deles.
- Mas o que deu em você, ?
- O que deu em mim, Tobias? Gente, ele não morreu, ok? Está lá, feliz da vida com a Seleção e vocês aí desmerecendo o resto do time. Particularmente acho que o Sornoza ou o Clayson merecem essa vaga muito mais do que ele porque o Sornoza é um verdadeiro garçom, dá assistência até pra mãe enquanto o Clayson é veloz e efetivo. E só porquê o fez uns gols, ele já é o craque do time?
- , isso é horrível... Por que está falando assim? Ninguém aqui está estendendo tapete pra jogador nenhum, a gente tá falando de esquema tático... O que você tem? Sabe que pode falar pra gente, somos seus amigos - Junior disse com um tom paternal demais.
- Eu não tenho nada. Desculpa, eu preciso ir pra casa. Vim com o carro do meu pai e ele não gosta que eu ande por aí com o carro. Licença.

se levantou e foi até o caixa pagar, em seguida saiu do estabelecimento sem olhar para trás batendo a porta com um pouco mais de força do que gostaria. Junior e Tobias se olharam confusos.

- O que está acontecendo entre os dois? - Tobias perguntou. - Isso não é normal.
- Eu acho que eles não estão se falando e já faz algum tempo. A última vez que eu vi eles conversando foi no churrasco na minha casa, eles estavam dançando Falamansa. Depois disso até parecem desconhecidos.
- Mas a topou fazer a camisa com o nome dele, ele deu um abraço nela pra se despedir...
- Eles se gostam, Tobias, tá na cara, mas nenhum dos dois sabe disso ainda. Eu não sei o porquê de eles não estarem se falando, mas é nítido que esse estresse todo da é por causa dele. Ela é só uma garota que se faz se durona e está se apaixonando.
- Eu acho que ela prefere morrer do que assumir que gosta do . Logo ele.
- É... Eu vou tentar falar com ela amanhã, quem sabe ela conta alguma coisa que a gente não sabe?

Os dois decidiram que era hora de ir embora, já era mais de meia noite e sabiam que Itaquera não era o lugar mais seguro de São Paulo em uma quarta-feira à noite.
Logo que Junior chegou em casa, ele mandou uma mensagem para se desculpando pelo desentendimento que ocorreu antes e perguntou se poderiam almoçar juntos no dia seguinte. aceitou o convite para não magoar o amigo, mas seu humor estava tão pra baixo quanto o Grêmio.
No dia seguinte, eles marcaram de almoçar em um restaurante próximo do Parque São Jorge e se encontraram pontualmente ao meio dia.

- Você tá melhor? - Junior perguntou ao se sentarem com seus pratos já servidos.
- Estou. Desculpa por ontem, eu não tô com a cabeça no lugar ultimamente...
- Está tudo bem, , você sabe que pode conversar comigo sempre. Vamos, me diz o que tá acontecendo com você.
- Esse é o problema, Junior, eu não sei!
- Então eu vou te ajudar a descobrir, vou fazer umas perguntas. Por que quando a gente falou do ontem, você surtou?
- Porque ele é um estúpido, um idiota! Eu estava certa desde o começo, ele não serve pra esse time e eu aposto que ele só foi pra Seleção por causa de esquemas com empresários!
- E por que você acha isso?
- Porque sim! Olha lá o Grêmio na série B, ele virou as costas pro time dele e vai fazer a mesma coisa aqui. Ele nem é tudo isso, o Jadson é mil vezes melhor e mais experiente! Pois eu acho muito bem feito ele ter errado aquela cobrança de falta e o Guerrero ter feito aquele gol.
- ... O já fez seis gols na temporada e tem quatro assistências, é o vice artilheiro do time. Eu acho que você tá se precipitando um pouco.
- Junior, eu já joguei futebol, sei do que tô falando.
- Ok, então você só está brava com ele por causa disso? Por que acha ele um péssimo jogador? Você tá brava porque ele jogava em um time que foi rebaixado e agora foi convocado para a Seleção Brasileira? É isso mesmo?

parou para refletir por um instante e todas as suas respostas pareciam extremamente fúteis. Ela não concordava com nada daquilo que estava falando, mas não conseguia encontrar argumentos convincentes para defender seu ponto de vista e confirmar que não era uma boa pessoa e muito menos um bom atleta.

- Não...
- Me diz, , o que o fez pra você estar assim?
- Eu não sei porque ele simplesmente se afastou de mim e começou a me tratar como uma desconhecida - ela disse com a voz falha. - Estava tudo tão bem naquele dia na sua casa e do nada ele mudou comigo, ficou tão frio e distante e eu não sei o motivo... Eu pensei melhor e entendi que fui cruel com ele sem o menor motivo e tentei me redimir, ser amiga e dar uma chance... Me enganei, fui feita de idiota por ele.
- Ele não está te fazendo de idiota, .
- Como não?
- Você criou um muro alto pra ninguém se aproximar de você, mas o conseguiu mesmo sem tentar e você não sabe o que fazer, isso nunca aconteceu antes e você está mais perdida do que cego em tiroteio. Agora olha nos meus olhos e diz que você não se importa com o e nem com as atitudes dele porque você não dá a mínima pra ele e o despreza.

olhou no fundo dos olhos de Junior pronta para repetir o que ele disse, mas ela não conseguiu. As palavras lhe fugiram da mente e ela não queria dizer que o desprezava porque não era verdade, ela o admirava dentro de campo e gostava da companhia dele do lado de fora. Ela gostava do humor dele e das suas palavras cheias de convicção, gostava de quando ele falava sobre futebol europeu ou sobre a conquista da Libertadores. Ela poderia passar o dia inteiro admirando o sorriso dele sem se importar se ele estava com a barba por fazer ou não, poderia passar um dia vendo reprises das partidas dele e em todas iria se admirar com a técnica que ele tinha na hora de cobrar uma falta.

- Estou esperando.
- Eu...
- Já entendi. Você gosta dele, não é?
- Não conta pra ele, por favor - ela disse ao perceber que não tinha mais como se defender.
- Eu não vou, não é da minha conta. Vocês dois são meus amigos e eu quero ver vocês felizes, só isso... Acho que quando ele voltar da Seleção, vocês deveriam conversar.
- Como, Junior? Ele finge que eu não existo.
- , como você é burra - Junior disse rindo. - Você não entendeu ainda?
- Não entendi o quê?
- Você fica falando mal dele pra tentar esconder o fato de que gosta dele e ele está distante pelo mesmo motivo... , ele gosta de você também, só tem medo de assumir assim como você.
- O que? Não, ele definitivamente não gosta de mim.
- Tem certeza? Porque estava meio óbvio aquele dia na minha casa. Ele ficou preocupado quando te viu bêbada o suficiente para não se aguentar em pé com as próprias pernas, ele te levou pra casa dele e cuidou de você. ... Acredita, sei do que estou falando, já tive a idade de vocês e acho que os dois estão sendo imaturos. Ouve o conselho de uma pessoa mais velha, um conselho do seu amigo... Quando o voltar, resolva isso com ele, mesmo que você não diga pra ele o que sente, é melhor as coisas voltarem ao normal do que os dois brigados sem motivo. Promete que vai falar com ele?
- Tá bom, eu prometo.
- Está tudo bem em gostar de alguém às vezes, - Junior sorriu. - Mesmo que esse alguém seja o .
- Para, Junior! - riu, embora ainda estivesse chateada.
- Qual é? O cara é um partidão! É bonito e gente boa. Eu não me importaria se fosse com a minha filha.

se lembrou daquela noite no bar e de como Bel e trocavam olhares sem parar. Sentiu o estômago revirar ao lembrar daquele dia e em como tinha os olhos fixos na bela garota, visivelmente interessado. Tinha uma pontinha de inveja de Bel por isso, já que ela nunca tinha visto olhando para ela daquela mesma forma, mas não podia culpar a amiga, pois achava que Bel era a garota mais bonita e legal que já conheceu e o interesse mútuo entre ela e era totalmente compreensível.

- Eu acho que talvez a Bel poderia lidar com isso melhor do que eu...

Capítulo 10 - SELEÇÃO BRASILEIRA

Granja Comary – Teresópolis, Rio de Janeiro

Dantas havia sido bem claro ao dar as instruções para sobre como chegar em Teresópolis por conta própria e tentava se lembrar de todos os detalhes para não fazer nada de errado. Sabia que, ao desembarcar no Aeroporto de Jacarepaguá, um funcionário da CBF estaria o aguardando para irem de carro até o centro de treinamento da Seleção Brasileira que ficava a uma hora e quarenta e dois minutos da capital fluminense, em Teresópolis.
Tudo ocorreu como o planejado. O voo de Porto Alegre até o Rio de Janeiro levou em torno de duas horas. Ao desembarcar, foi recebido por um motorista que se apresentou prontamente e o ajudou com a mala afim de agilizar. Não demorou muito para que estivessem no carro a caminho da Granja Comary. tinha certeza de que nunca ficou tão ansioso na vida, o seu estômago revirava toda vez que imaginava tudo o que estava acontecendo. Era demais até mesmo pra ele.
No peito do jogador, seu coração batia acelerado ao pensar que dentro de uma hora ele estaria dentro das instalações da CBF com jogadores de grandes clubes ao redor do mundo. Ele tinha a plena convicção de que jogava em um dos maiores times do Brasil e sentia a responsabilidade de vestir a camisa do Corinthians pesando sobre os seus ombros, mas estar diante de jogadores que dividem o campo com os melhores do mundo era algo sem precedentes na sua carreira.

- É a sua primeira vez na Seleção, não é? - o funcionário chamado Carlos perguntou após algum tempo em silêncio, fazendo despertar do seu devaneio.
- Sim, é a minha primeira vez - o atleta respondeu enquanto abria um pouco o vidro no banco de trás. - Como é lá?
- É bem grande, parece CT de clube europeu - Carlos disse com um tanto de felicidade na voz. - E foi reformado e modernizado depois da Copa de 2014, então é tudo muito novo e quase não foi usado, fora que é bem provável que você vá ter uma suíte só pra você.
- Isso é ótimo. Lá no CT, eu divido o quarto com o Bruno - riu ao se lembrar do amigo zagueiro e a convivência diária deles.
- No começo é meio solitário, mas você vai ficar bem. Todo mundo reclama que quando junta o Neymar com Gabriel Jesus no vídeo game, ninguém aguenta ficar perto. Então acho que você vai querer passar boa parte do tempo no seu quarto.
- Acho que não. Quero conhecer o time, só conheço alguns com quem joguei no Brasil.
- São caras legais, você vai gostar deles. Só não entra na onda ou o Tite vai enlouquecer.
- Pode deixar - respondeu rindo ao imaginar como seriam os próximos dias.

Eles foram o resto do caminho conversando e à medida em que se aproximavam de Teresópolis, a vegetação ia ficando mais verde e os morros cada vez mais altos, o que deixava fascinado com a beleza do Rio de Janeiro fora da capital. Quando passaram pela placa da entrada da cidade, sentiu como se tivesse tomado um soco no estômago, pois finalmente o grande momento estava chegando e não demorou muito para que ele pudesse avistar o enorme brasão da CBF feito por flores no morro onde estava localizada a Granja Comary. engoliu a seco, nunca viu um CT tão bonito.

- Ok, respira - disse baixo para si mesmo respirando fundo.
- Tá nervoso, garoto? - Carlos riu alto demais. - Calma, vai ficar tudo bem! Em que time você joga mesmo?
- Corinthians.
- Ah, então você tá em casa! Tem o Tite, o Edu Gaspar, uma porrada de jogador... É como se você nem tivesse saído de São Paulo.

O carro passou pela portaria do CT e subiu morro acima. sentia a boca ficando cada vez mais seca e já não tinha certeza se conseguiria andar sem precisar de apoio porque seu corpo inteiro tremia.
Ao chegar na parte de cima, ele saiu do carro e agradeceu mentalmente por conseguir se manter de pé. Olhou ao redor e o CT ia até onde sua vista poderia alcançar. estava tão fascinado que esqueceu de ajudar Carlos com a bagagem.

- Desculpa! Meu Deus, tô com a cabeça longe! - ele disse enquanto colocava a mochila nas costas e pegou a grande mala pela alça. - E agora?
- Eu vou te acompanhar até lá dentro. Provavelmente vai ter um pessoal na entrada fazendo conteúdo para o canal do YouTube, então é melhor já ir preparando o discurso.

sentiu como se o seu corpo tivesse paralisado naquele instante, não tinha preparado nada. Ele decidiu seguir Carlos, mas torcia mentalmente para que algum jogador passasse na sua frente e ele pudesse entrar sem chamar a atenção. Infelizmente não foi isso o que aconteceu. Quando se deu conta, câmeras e microfones estavam apontados na sua direção.

- A convocação que ninguém esperava, mas todos amaram! Como você tá se sentindo?
- Hum... Parece que eu acabei de chegar no Liverpool ou algo assim - respondeu com bom humor fazendo as pessoas rirem. - Tô feliz pra caramba.
- Será que a vaga no time vem?
- Tomara! Mas confio no Tite, sei que ele faz o melhor sempre.

Ele respondeu mais algumas perguntas e entrou. Carlos o acompanhou somente até certo ponto e a partir dali,uma funcionária o acompanhou até o alojamento para mostrar o seu quarto.

- Como você é um dos primeiros a chegar, vai parecer meio sinistro e solitário, mas quando o resto do time chegar, você vai ver como é divertido - a moça disse enquanto caminhavam pelo corredor cheio de portas.

Pararam na ponta do corredor ao lado esquerdo e ela lhe entregou um cartão para abrir a porta.

- Isso definitivamente não tem no meu time - ele disse surpreso e a mulher riu. - Obrigado.
- De nada. Seja bem-vindo à Seleção Brasileira.

Ela girou nos calcanhares e saiu com o barulho do salto ecoando pelo corredor. abriu a porta e levou um instante para olhar ao redor e entender que a suíte era muito maior do que ele imaginava.
A cama queen size tinha espaço para ele e mais três pessoas se quisesse. Tinha um belo painel de madeira com uma televisão 4k. O closet era embutido na parede e tinha também um sofá e mesa com dois lugares caso ele quisesse jantar no quarto. Em cima da cama, todo o seu uniforme de treino estava dobrado perfeitamente e ele não foi capaz de conter o sorriso. Tinha três camisas de treino no modelo clássico azul marinho e verde, três pares de calças e bermudas das mesmas cores, alguns pares de meias, touca e moletom caso estivesse frio. Tudo com o símbolo da CBF. levou as mãos até a boca afim de tentar conter a sua felicidade.

- Puta que pariu! - ele finalmente se rendeu e riu de si mesmo. - Olha isso tudo!

Não podia acreditar que estava ali, que aquilo realmente estava acontecendo. A ficha estava começando a cair e ele mal podia esperar para vestir aquela camisa e ir treinar o quanto antes.
Sem pensar muito bem no que estava fazendo, ele pegou o celular e tirou uma foto para mandar para Bruno. O zagueiro uruguaio já estava mais do que acostumado em vestir o azul celeste da Seleção do Uruguai e por isso mesmo achava que o amigo iria entender a sua felicidade em estar ali.

- Você precisa se acalmar, - passou as mãos pelo rosto. - Respira, finge que é o Corinthians. Não é a Granja Comary e nem a Seleção, é só mais um dia no Joaquim Grava e você tem jogo pelo Paulistão no fim de semana, só isso. Agora finge que você é novo no Corinthians e vai andar por aí.

Achava ridículo a forma com a qual falava consigo mesmo, mas concordava que sair e explorar era a melhor forma de lidar com a ansiedade repentina que tomava conta dos seus pensamentos. Ele saiu do quarto e seguiu pelo corredor, caminhou pelo alojamento até encontrar a sala com televisão, vídeo game, sofás grandes, mesa de sinuca e computadores. Estava completamente vazia e ele não pensou duas vezes antes de se sentar no sofá e admirar o ambiente.

- Bruno, essa merda é muito legal! - ele dizia em áudio para o amigo. - Tem uma sala que é três vezes maior que a do nosso CT só pra jogar sinuca e assistir TV! Cara, por que você não nasceu brasileiro?

Não demorou para que ele e Bruno entrassem em uma conversa intensa sobre o CT das seleções brasileira e uruguaia, competindo para ver qual era melhor. estava tão entretido que não notou a figura que parou na entrada apenas o observando rindo para o próprio celular.

- Olá.

Ele se assustou e olhou para a porta para ver quem era. Gabriel Jesus estava parado na entrada da sala com uma leve confusão no rosto, provavelmente porque não esperava encontrar ninguém ali naquele momento.

- Oi! - se levantou. - Eu só estava...
- Corinthians, certo? - o camisa 9 perguntou e apenas assentiu - eu imaginei, ouvi dizer que o novato joga lá. Prazer, sou o Gabriel.
- .
- Então, , quando você chegou? - Gabriel foi até a televisão e a ligou, em seguida ligou o vídeo game também.
- Há uns quinze minutos, eu acho.
- Nem te vi chegando - ele entregou um dos controles para . - Senta aí, vamos jogar.

concordou e se sentou novamente ainda sem acreditar que o camisa nove do Manchester City estava o convidando para jogar vídeo game com ele.

- Como estão as coisas aqui no Brasil? Digo, o Paulistão.
- Péssimo. O Santos é o líder geral.
- E o Palmeiras?
- Ganhamos.
- Droga! - Gabriel fez uma careta. - Com todo o respeito, mas se tem uma coisa que eu sinto falta no futebol brasileiro, essa coisa é ganhar do Corinthians de lavada.

Gabriel não demorou para escolher o seu time no PES, o seu próprio clube, Manchester City. ainda pensou um pouco e escolheu o Manchester United para animar as coisas.

- Então você gosta de um clássico regional? - Gabriel sorriu ao ver os times formados.
- Gosto mais ainda de ganhar eles, principalmente um Corinthians e Palmeiras - ele sorriu também e Gabriel concordou rindo.
- É, ganhar do arquirrival é foda.
- Espera só até a gente jogar contra a Argentina, nem parece que o Messi tá em campo.

era o tipo de fã que defenderia Messi até da própria mãe se fosse necessário, mas naquele momento não tinha argumentos para defender seu ídolo. Gabriel estava mais do que certo.

- Sou fã número um do Messi, mas concordo.
- Quando o Coutinho e o Arthur chegarem, você pode conversar com eles, talvez tenha o cheiro do Messi nas roupas deles ainda.
- Isso é meio estranho.
- Estranho é eu estar jogando PES com um corinthiano totalmente aleatório ao invés do Ney, isso que é estranho.

Eles continuaram jogando e pouco depois, Gabriel abriu o placar com a sua própria versão do jogo. O atacante ergueu os braços em comemoração como se o jogo fosse na vida real e fez o famoso alô mãe logo em seguida.

- Ah não, Jesus! Já está traindo o menino Ney?

pausou o jogo e ouviu Gabriel resmungar por isso. Olhou para a entrada e Roberto Firmino havia acabado de entrar.

- Você ainda não aceitou a derrota e vem descontar em mim, não é? - Gabriel perguntou se referindo à derrota dos Reds para o City pela Premiere League alguns jogos antes.
- Foi roubado, sempre é roubado - Firmino respondeu rindo e deu um abraço no amigo, depois olhou para . - E aí? Novo por aqui, né?
- Sim, sou o .
- Eu sei quem você é, cara, assisto aos jogos do Corinthians - Firmino exibiu os dentes brancos e alinhados em um sorriso. – Tá arrebentando, irmão. Deitou e rolou em cima do Palmeiras - falou a última parte mais alto e pausadamente afim de provocar Gabriel que rolou os olhos.
- É por isso que o Tite me colocou de titular e não você.
- Não por muito tempo... Mas enfim, , seja bem-vindo. Vai faltar alguns caras pra você conhecer, mas você vai gostar da gente. O Ney e o Dani estão machucados e não vão vir enquanto o Marcelo não tá numa fase muito boa lá em Madrid, mas tem o Filipe Luís no lugar dele. De qualquer forma, ele também é um cara legal, todos nós somos.
- Não pensa em converter o meu amigo para o mal caminho, Roberto. Eu vou proteger ele de vocês.

abriu um sorriso quando viu na porta Arthur e Philippe Coutinho entrando juntos. O camisa oito do Barcelona não perdeu tempo e deu um abraço apertado no seu melhor amigo que não via há meses, desde que deixou o Grêmio.

- Como você tá, cara? Como é jogar em São Paulo?
- Tô bem e São Paulo é bem legal. Um pouco diferente, mas bom - olhou para Coutinho e perdeu a fala por um instante.
- O famoso - Coutinho disse bem-humorado antes de abrir a boca para falar. - O Arthur infernizou aquele vestiário quando viu que o professor te convocou, saiu gritando pra todo mundo dizendo que o Grêmio também é Seleção. Eu tava vendo a hora em que o Messi ia deixar ele trancado lá.

tentou parecer o mais profissional possível e sorriu, mas o fato de que o seu ídolo no futebol sabia que ele existia e foi convocado pela Seleção Brasileira, era no mínimo, empolgante.

- Acho que eu entendo e concordo com o Messi - ele olhou para Arthur e os três riram.
- Eu faço propaganda de você pro time de graça e é assim que você me agradece, seu ingrato? Eu não falo mais nada.
- Desculpa, Tutu.

Gabriel, Firmino e Coutinho tentaram conter o riso, mas não demorou nada para que a risada escandalosa de Gabriel pudesse ecoar pela sala inteira. Arthur olhou para com um ar de repreensão e o jogador do Corinthians viu o rosto do amigo ganhando cor, mas no final os dois acabaram rindo também.

- Me chama assim de novo e eu nunca mais falo com você.
- O apelido dele no Grêmio era Tutu - se explicou para Firmino e Coutinho.
- Luizito vai adorar saber disso - Coutinho disse colocando a mão sobre o ombro do companheiro de Barcelona.
- Não fala pra ele. Não faz isso comigo - Arthur olhou para . - Eu te odeio, .
- Senti sua falta, cara - sorriu para o amigo.

Em questão de quinze minutos, já se sentia totalmente à vontade com os jogadores que havia acabado de conhecer. Ainda estava tentando assimilar que ele, disputando um título sem expressão como o Campeonato Paulista, estava ali se divertindo com jogadores do Barcelona, Liverpool e Manchester City. Ele nunca iria esquecer daquele momento. A experiência ficou ainda melhor quando foi convidado para uma partida de sinuca com Alisson, Casemiro e Richarlison.

- Eu acho que as coisas poderiam ter sido diferentes se eu não tivesse tomado aquele cartão amarelo contra o México - Casemiro, sua dupla, disse enquanto posicionava o taco para a jogada. - Quero dizer, eu poderia ter ajudado o time de alguma forma contra a Bélgica.
- Cara, eu acho que ninguém poderia fazer nada contra aquele time, eles eram imbatíveis, altos e fortes... O hexa não se importa de esperar mais quatro anos - viu a bola branca encaçapar uma de número par. - Boa.
- Do que adianta jogar no melhor clube do mundo e não ganhar nada com a Seleção? - Casemiro perguntou um tanto reflexivo.
- Eu não sabia que você jogava no Barcelona - disse alto o suficiente para Casemiro olhar ofendido para ele o fazendo rir.
- Que absurdo! Quantas Champions o Barcelona tem perto do Real Madrid? O Robozão sozinho tem mais Champions do que o Barça na história!
- É isso o que vocês dizem desde que ele trocou o Real pela Juventus? - perguntou em um tom divertido de provocação, mesmo sabendo que não foi bem assim. - Quem é o Real Madrid depois do CR7? Cara, vocês foram eliminados pelo Ajax nas oitavas de final no começo do mês! Esse não é o Real Madrid que eu conheço. Devolvam o meu rival, por favor.
- Vamos dar a volta por cima, você vai ver.
- Todo mundo sabe que o Liverpool vai ser o campeão esse ano - Alisson passou por eles para cumprir a sua vez de jogar. - Não estou dizendo isso porque sou o goleiro do time, mas a fase é boa.
- Eu aposto no Ajax - o jogador do Corinthians sentiu os olhares do três pesarem sobre ele. - Calma, gente, é brincadeira.
- Se o Ajax vencer a Champions, eu paro de fazer a dança do pombo - Richarlison disse por fim e parabenizou Alisson pela jogada.

A dupla vencedora foi Alisson e Richarlison, o que foi comemorado pelo jogador do Everton da Inglaterra com a famosa dança do pombo.

- Foi mal, caras, preciso roubar o só por uns minutos - Arthur disse se aproximando do grupo. - Vem comigo.

pediu licença para os jogadores, seguiu Arthur para fora do ambiente e o acompanhou até o corredor dos quartos.

- Sabe quando o Coutinho disse que o Messi quase me deixou trancado no vestiário? - Arthur perguntou enquanto abria a porta do seu quarto e concordou. - Foi quase isso, mas também tive certeza de que ele é a melhor pessoa naquele lugar.
- Deve ser - concordou tentando parecer imparcial ao invés de fã e entrou no quarto. - Mas por quê você tá dizendo isso?
- Eu expliquei pra ele com o meu péssimo espanhol que jogamos juntos no Grêmio, até mostrei umas jogadas ensaiadas que a gente fazia que por sinal, ele adorou. Contei da sua vontade de jogar no Barcelona um dia e sobre como você admira ele.
- Não acredito, Arthur.
- Calma, não me mata ainda. Como eu falei, ele é a melhor pessoa naquele lugar, e quando eu disse que você tinha uma camisa do Cristiano Ronaldo emoldurada na parede, ele levou aquilo como um insulto pessoal e... Bom, eu preciso obedecer o mestre.

Arthur foi até a sua mala e colocou a mesma sobre a cama. Abriu devagar e tirou de lá uma camisa do seu clube, entregando nas mãos de em seguida. O jogador do Corinthians abriu a camisa dobrada sobre as mãos e viu o número 10 nas costas. Prendeu a respiração e engoliu a seco quando entendeu o que aquilo se tratava.

- Era dele, né?
- É um absurdo um torcedor do Barcelona ter uma camisa do rival emoldurada na parede, pega a minha e entrega pro garoto, mande as minhas saudações. Essas foram as palavras dele. É claro que o Leo não liga pra essa coisa de rivalidade, mas ele se importa com os torcedores.

olhou mais uma vez o verso e a frente. O coração batia acelerado no peito e ele não era capaz de esconder a sua surpresa. Jogar contra Cristiano Ronaldo foi, sem dúvida nenhuma, o auge da sua carreira e a camisa na parede o fazia recordar daquilo todos os dias e admirar o português ainda mais, porém receber uma camisa de um dos seus ídolos do futebol simplesmente porque o próprio Messi quis era algo muito melhor do que alguma vez conseguiu imaginar.

- Nossa... - foi tudo o que conseguiu dizer ao soltar um longo suspiro.
- Eu disse que ele é a melhor pessoa lá.
- Obrigado, cara, de verdade. Eu nem sei como agradecer.
- Não precisa, eu sei o quanto você queria. Leo também disse que vai gostar de te mostrar a cidade se você jogar lá algum dia.
- Não fica me dando esperanças, Arthur - o sorriso do jogador se desmanchou dos seus lábios. - Eu já não tenho tanta fé assim.
- Não seja pessimista, .
- Não é pessimismo, é realidade. Fiz uma temporada ruim no ano passado e eu não acho que tenha alguém lá de dentro que dedique seus dias pra olhar um por um no Corinthians.
- Se tem um olheiro exclusivo, eu não posso te confirmar porque não sei, mas se até o melhor do mundo torce por você, quem somos nós pra discordar? – Arthur sorriu. - Deixa isso pra lá, cara, o futebol é uma caixinha de surpresas.
- É, você tem razão... Valeu pela camisa.
- Não é pra mim que você tem que agradecer...

estendeu a camiseta sobre a cama de Arthur e pegou seu celular. Tirou uma foto da parte de trás da peça usada por Messi e imediatamente postou no seu Instagram.

"Gracias @leomessi! G.O.A.T 🐐🥇🏆"

- Eu não acredito que você está chamando ele de G.O.A.T logo depois do Cristiano imitar um bode - Arthur disse rindo. - Você é péssimo, .

Em uma tradução livre, a abreviação G.O.A.T (goat, bode em inglês) é atribuída a um jogador que pode ser considerado por muitos o melhor jogador de todos. O fato de Cristiano se intitular um e Messi jamais usar tal palavreado fazia com que admirasse o argentino cada dia mais, embora achasse o português igualmente genial e habilidoso.

- Ele me deu a camisa dele, né? Tenho que agradecer à altura - sorriu. - Eu vou guardar a camisa e a gente já volta pra lá.

Arthur concordou e acompanhou até o quarto do jogador que ficava no outro lado do corredor. guardou a camisa dentro da sua mala e em seguida os dois voltaram para o ambiente onde alguns atletas estavam passando o tempo relaxando.

- E aí? Ele gostou? - Coutinho perguntou esboçando um sorriso cúmplice com Arthur.
- Você sabia disso? - olhou para o jogador com ar de espanto.
- Eu acho que todo mundo no vestiário do Barcelona sabe disso, - ele respondeu rindo.
- Vocês são péssimos - riu também. - Mas eu gostei da surpresa. Obrigado.

Os três engataram uma conversa animada sobre o espetáculo de Messi na temporada atual quando Casemiro ordenou que voltasse imediatamente para continuarem a partida de sinuca.

⚽🖤📱


O momento de descontração durou boa parte da tarde. No refeitório do CT, todos os jogadores que haviam chegado, se reuniram para ouvir o que o técnico Tite tinha a dizer. O treinador se levantou do seu lugar na mesa com seus auxiliares e pediu silêncio para que pudesse falar algumas palavras.

- Para os de casa, sejam bem-vindos de volta e aos novatos, sejam bem-vindos... Bom, pela minha cara vocês podem perceber que estou preocupado. É a nossa primeira concentração desde a Copa do Mundo e desde lá eu não consigo parar de pensar no time e em como a gente pode melhorar. Temos três meses até a Copa América e eu espero poder ver todos vocês por aqui em junho. Quero que a Seleção volte a ser respeitada mundialmente e vamos mostrar para o mundo que os únicos pentacampeões voltaram com tudo. Vamos iniciar as atividades amanhã de manhã e eu não quero preguiça por aqui. Eu entendo que a maioria de vocês está em final de temporada, estão cansados, e os que jogam no Brasil estão disputando os estaduais agora e totalmente concentrados, mas quero que honrem essa camisa como honram as dos clubes de vocês. É só isso, bom jantar para vocês.

Tite foi aplaudido pelos atletas ao se sentar e logo o ambiente foi tomado por conversas e risadas altas. estava sentado entre seus colegas de Corinthians que, ao contrário dele, pareciam bem tranquilos por estarem ali.

- O que você está achando? - Cássio perguntou após dar um gole do seu suco.
- Um máximo. Nossa... Eu nem sei explicar o que eu tô sentindo. Não me levem a mal, eu amo o nosso time, mas...
- Você tá trocando experiências com jogadores de clubes como Real Madrid e Liverpool - Fagner completou e concordou. - Eu entendo, isso é uma experiência única. É assim que eu me sinto por ter que substituir o Daniel Alves, por ter jogado a Copa no lugar dele.
- Eu sei que eu sou só um reserva, mas eu...
- Não pensa nisso. Eu sou capitão no Corinthians e só o terceiro goleiro aqui e estou bem com isso, em algum momento eu vou ter a minha chance e você também. Eu tô esquentando o banco para os goleiros do Liverpool e do City e tá tudo ok.

sabia que o seu arqueiro tinha toda a razão. Alisson estava fazendo uma temporada histórica desde que deixou a Roma para defender o Liverpool e com isso, dificilmente Ederson e Cássio teriam alguma chance, mas ele torcia mesmo assim. Tentava se manter positivo e pensar da mesma forma em relação à sua própria realidade.

- Vocês não sabem o que aconteceu comigo agora há pouco.
- Tá falando da camisa do Messi? - Cássio sorriu. - Acho que você ainda não viu o grupo do time, não é? Tá todo mundo dizendo que você se vendeu pro futebol europeu.
- Quanta inveja - disse rindo. - Vou chegar no treino esfregando a camisa na cara de quem disse isso.

O que tinha tudo para ser o simples jantar, virou uma bagunça quando Arthur se levantou, pedindo a atenção de todos os presentes ali.

- Vocês se esqueceram? Gente, tem novato no time. , faça as honras, por favor.

arregalou os olhos quando todos os olhares se voltaram pra ele. Ele olhou para Arthur, o fuzilando com o olhar, mas o amigo apenas riu enquanto os jogadores o incentivavam a fazer um discurso. Ele se levantou do seu lugar e caminhou até a ponta da mesa, subindo na cadeira livre que estava ali.

- Eu vou matar o Arthur por isso – ele exibiu um sorriso amarelo, provocando risadas nos atletas. – Oi, gente, sou o . Eu jogo como ponta esquerda no Corinthians, mais conhecido como o melhor time do Brasil, é claro – ele foi interrompido pela algazarra que tomou conta do ambiente, com apoio e vaias ao seu comentário. – Vocês sabem que é verdade, mas enfim... Eu não preparei nada, não sei nem o que falar pra vocês.
- Canta uma música! – Firmino sugeriu bem ao fundo, sendo apoiado pelos seus colegas.
- Nem pensar! Fizeram isso no meu primeiro dia no Corinthians, eu não vou fazer isso de novo! – começou a rir por puro nervosismo por ter que cantar, algo que ele odiava fazer em público.
- Então conta pra gente como foi o caminho até aqui – Ederson, goleiro do City, sugeriu espontaneamente e gostou da ideia.
- Tá bom, mas não é pra rir de mim... Eu vim de Porto Alegre pra cá, o Cebolinha sabe... Sabe quando a gente é criança e tem passeio na escola? Eu ficava pilhadão, louco de doce um dia antes, nem dormia direito... Foi tipo isso, foi tipo um passeio da escola. Caras, eu nunca senti uma dor de barriga tão forte na minha vida, é sério – neste instante, o refeitório explodiu em risadas, inclusive o próprio por estar contando aquilo pra todo mundo.

Ele simplesmente não conseguiu continuar a história pelos próximos minutos porque ninguém ali era capaz de parar de rir. Alguns gargalhavam alto, outros choravam, outros batiam na mesa de forma exagerada. Por mais que estivesse com vergonha, não podia negar que tudo aquilo era engraçado.

- Eu achei que eu ia morrer... Fosse do coração ou de diarreia – ele disse após algum tempo, fazendo todo mundo rir de novo. – Vocês estão rindo, mas Deus sabe o que eu passei... Enfim, depois que eu cheguei, ainda tinha o motorista tirando sarro da minha cara porque eu estava nervoso. Se eu fosse listar o pior e o melhor dia da minha vida, seria hoje. É isso.

desceu da cadeira sobre muitos aplausos e foi direto para o seu lugar, dando um empurrão em Arthur quando passou pelo amigo, vendo que ele ainda estava chorando de rir.
Após o jantar, os jogadores se recolheram. foi para o seu quarto e não pensou duas vezes antes de cair na cama, estava exausto, mas muito mais feliz do que poderia descrever. Em um só dia conheceu a Granja Comary, jogou vídeo game com Gabriel Jesus e Roberto Firmino, fez dupla com Casemiro em um jogo de sinuca contra Alisson e Richarlison, ganhou uma camisa do seu ídolo no futebol e finalizou com um discurso de Tite. Eram tantas informações que se não fosse por Fagner e Cássio ali, ele não acreditaria ser real.
Ele se lembrou do seu clube atual e em como seus colegas de elenco estavam felizes por ele, se lembrou também das camisetas que Júnior, Tobias e fizeram com o nome dele e sorriu por pensar nos amigos. Ele pegou seu celular e ligou para Tobias afim de contar como foi o seu dia.

- O Coutinho disse que o Arthur começou a gritar pelo vestiário do Barcelona que eu tinha sido convocado e depois me entregou a camisa. Eu nem sei como lidar com isso, quero dizer, é o Barcelona, né?
- Que bom que você tá feliz, . Aqui no clube tá todo mundo torcendo por você. O Carille tá um pouco nervoso porque não consegue fazer ninguém jogar bem pelo seu lado, mas parece que o Clayson vai ficar com a vaga por enquanto.
- Isso é muito bom, ele merece. E como estão você e o Júnior?
- Ótimos, felizes da vida e trabalhando feito loucos. Acabei de chegar em casa porque tava fazendo conteúdo pro YouTube até agora e o Júnior está arrebentando como sempre. - Vocês ainda vão longe, meu amigo... - parou antes de criar coragem para perguntar o que pretendia.
- está bem também, se é o que você ia perguntar - Tobias riu - eu percebi que vocês não estão se falando muito ultimamente.
- É...
- Besteira, , da parte dos dois. Por que não estão se falando?
- É complicado, eu não posso dizer pra ninguém.
- Nem pra ? Porque ela tá querendo te mandar de volta pro Grêmio.
- Eu vou falar com ela quando eu voltar, mas não sei como vai ser depois disso.
- Só espero que se resolvam logo.
- Eu também...

E ali estava ele, no centro de treinamento da Seleção Brasileira vestindo o verde e amarelo, mas com os pensamentos no preto e branco do Parque São Jorge. O dia incrível que teve não foi capaz de apagar da sua memória o grande problema no qual ele estava metido. Queria poder contar para tudo o que presenciou hoje, pois imaginou que ela também tinha o sonho de vestir a canarinho e jogar ao lado de Marta, estava louco para ouvir da garota que Tite o convidou por pena e que Philippe Coutinho era mil vezes melhor do que ele na ponta esquerda. Até das provocações dela ele sentia falta. Conversou mais um pouco com Tobias e encerrou a chamada quando o amigo disse que estava cansado o suficiente para dormir cedo e achou melhor desligar para não incomodar Tobias. Ainda sem sono, porém indisposto à continuar interagindo com os colegas de elenco, ele se limitou a ver os comentários na sua última foto e suas notificações mais recentes.

@phil.coutinho começou a seguir você.
@gustagol comentou e curtiu a sua foto: você merece, irmão!
@casemiro começou a seguir você.
@leomessi curtiu a sua foto
@leomessi comentou na sua foto: 🥇⚽️💪

- Meu Deus - aproximou o celular do rosto para ter certeza que estava vendo certo e um enorme sorriso se formou nos lábios do atleta. - Não pode ser...

Aquele, sem dúvida, era o melhor dia de sua vida. Já não conseguia contar todas as coisas que lhe aconteceram em menos de vinte e quatro horas. Pela manhã, estava jogando futebol com as sobrinhas no quintal da casa da sua mãe e à noite estava na Granja Comary olhando um comentário do seu ídolo na sua foto. rezava para que não fosse um sonho e quando acordasse pela manhã, esperava que tudo continuasse exatamente como estava porque se fosse sonho, então ele não queria acordar nunca.

⚽🖤📱


acordou cedo na manhã do dia seguinte por pura ansiedade e, ao ver as notificações ainda chegando no seu celular, se sentiu aliviado por ser tudo verdade e não um sonho. Prontamente, vestiu o uniforme de treino e correu para o refeitório afim de tomar o seu café da manhã. Assim que se serviu, olhou ao redor procurando um lugar para se sentar e viu o braço de Coutinho erguido no ar o convidando para a mesa onde estava com Arthur, Thiago Silva e Marquinhos.

- Bom dia - ele disse se sentando lado do camisa 7 do Barcelona e de frente para os dois zagueiros do PSG.
- Bom dia, novato, ansioso pro treino? - Thiago perguntou sorrindo.
- Tô de boa - respondeu tentando parecer relaxado, mas Arthur do seu lado riu. - Qual é a graça?
- Dá pra ver que você tá relaxado, a bandeja chegou a tremer quando você viu que era o Thiago e o Marquinhos com a gente aqui.
- Pega leve com ele, Arthur, todo mundo já foi novo aqui - Marquinhos respondeu com bom humor e olhou para . - Bem-vindo, cara, espero que você possa ficar.
- Valeu, eu também espero - ele olhou para Coutinho. - Desculpa, mas lá no meu time tá todo mundo torcendo pra você ter uma diarreia e eu pegar a sua vaga.

Arthur começou a gargalhar alto sem se importar se sua risada fosse escandalosa, enquanto Thiago desistiu de tomar seu café ao imaginar o colega com problemas estomacais e Marquinhos tentou controlar sua risada afim de não ofender Coutinho. Já Philippe procurava ter certeza de que tinha ouvido certo, o que fez se arrepender do que disse imediatamente. Para a sua sorte, o jogador começou a rir junto com Arthur.

- Então é melhor eu nem tomar esse café, talvez você tenha colocado laxante na minha comida - Philippe afastou um pouco a bandeja para o meio da mesa. - Espero que eu nunca esbarre com você lá no Camp Nou. Só pra garantir.

Algum tempo após o café da manhã, os jogadores foram em conjunto para o campo onde Tite e seus auxiliares técnicos preparavam algumas atividades para entrosamento do time. parou entre Arthur e Everton e os três começaram a rir quando perceberam que era como se ainda estivessem em Porto Alegre.

- Como nos velhos tempos. O Renato deve estar orgulhoso - Everton olhou para os colegas. - Eu odeio vocês dois por terem saído do time. Não é a mesma coisa sem vocês.
- Em minha defesa, eu fui demitido sem aviso prévio - deu de ombros e percebeu os olhares piedosos sobre ele. - Tá tudo bem, gente, eu já superei. É sério.
- Deixa isso pra lá, o que importa é que estamos vestindo a mesma camisa - Arthur disse otimista, mas recebeu olhares tortos de e Everton. - O que é?
- Vai tomar no cu! Você joga no Barcelona, cara! - riu.
- E daí? E vocês jogam no Corinthians e no Grêmio, só porque meu time é europeu, não quer dizer que o de vocês seja menos importante, ainda mais o Grêmio que foi somente o time que me revelou. Isso sem contar que o Corinthians foi o último time sul-americano a conquistar o Mundial.
- Tô comovido com as suas palavras, Tutu, muito comovido –Cebolinha olhou para a beira do gramado onde os fotógrafos da Seleção estavam começando a tirar fotos do treino. - Façam pose, essa vai para o Insta.

Imediatamente uma das câmeras foi apontada na direção dos três que posaram para uma foto que certamente deixaria a torcida do Grêmio eufórica nas redes sociais.
Tite reuniu o time para poder passar suas primeiras instruções aos atletas. Conforme ia explicando e mostrando na prancheta, foi impossível para não se lembrar do seu treinador, Fábio Carille. Os dois técnicos tinham uma visão parecida de jogo e isso era compreensível, afinal, Carille foi o auxiliar de Tite entre 2011 e 2016 quando o treinador deixou o comando do time paulista para assumir a Seleção Brasileira. imaginou que muito do que Carille aprendeu, veio dos ensinamentos de Tite.
Após as instruções passadas por Tite, os jogadores fizeram o aquecimento e correram ao redor do campo durante alguns minutos, depois se dividiram entre o campo um e o dois, sendo no primeiro campo com atividades ofensivas e defensivas e, no segundo, alguns jogadores treinavam finalizações. se encaixou no primeiro grupo onde foi instruído por Tite a vestir o colete e atuar pelo time reserva afim de dificultar as jogadas ofensivas do time titular. Em uma dividida com Casemiro, o jogador do Real Madrid caiu de forma brusca no gramado e estremeceu ao pensar na hipótese de ter o machucado.

- Tudo isso só porque você não gosta do meu time, cara? Que clubismo - o jogador riu enquanto o ajudou a se levantar. - Pega leve comigo.
- Você ainda não viu nada.
- Tenho medo de ver - ele disse por fim voltando à sua posição.

⚽🖤📱


"Rumo à Copa América! 💪🇧🇷

Olha só nossos três jogadores treinando hoje pela manhã na Granja Comary sobre o comando do saudoso técnico Tite.

#VaiCorinthians #SeleTimão"


anexou as fotos cedidas pela CBF e enviou a postagem para as mídias do time. Seus olhos percorriam cada foto e era inevitável para ela passar as de sem parar para olhar. Ele estava tão feliz que seu semblante resplandecia na foto em que ele ouvia o que Tite dizia para ele e acabou sorrindo também.
Por mais que estivesse chateada com ele, aquele sorriso fez com que ela se esquecesse por um instante da forma fria e distante que ele vinha a tratando no último mês. Vê-lo ali tão feliz e realizando um sonho fez ela se alegrar junto com ele, torcia pelo sucesso do jogador pois ela também já tinha realizado o sonho de vestir a camisa do time dos seus sonhos anteriormente, no caso, o Corinthians.
No horário do seu almoço, ela se sentou no degrau da escada que dava acesso ao prédio empresarial do Parque São Jorge. Sem Junior e Tobias que trabalhavam no CT, seu celular parecia ser a sua melhor companhia pelo resto da hora que iria se arrastar. Diferente da pessoa que dominava os seus pensamentos, o Instagram dela era pacato e monótono, postava uma foto ou outra de vez em quando e os únicos comentários que recebia eram da sua mãe. O mais perto que chegava de receber mais curtidas era quando postava alguma lembrança dos seus tempos de jogadora, mas nem isso era o suficiente para agitar a rede social da garota.

@.fontes07 curtiu a sua foto.
@.fontes07 comentou na sua foto: Vai, Corinthians! 🤩🖤💪

passou as mãos pelo rosto e cabelo, sem acreditar na notificação que havia acabado de chegar. Imaginou que, pelo horário, ele também estaria almoçando, mas ainda sim o fato de ter passado um mês agindo diferente não iria ser apagado por um simples comentário na sua última publicação onde ela relembrava os tempos de jogadora.

- Só pode ser piada - ela riu em sinal de nervosismo. - Mas que inferno, ...

Ela odiava, do fundo do seu coração, a forma como ele ditava seu humor ultimamente. sempre foi independente emocionalmente e totalmente segura de si, mas com a história era bem diferente. Apenas a lembrança do rosto dele em sua mente fazia com que a garota mudasse de humor rapidamente, sendo para bom ou para mal dependendo do dia e da situação. Tudo só piorava quando ela pensava que ele não fazia nada daquilo de propósito, ele apenas existia e isso era o suficiente para que perdesse a concentração ao se lembrar dele, o que a deixava extremamente frustrada por isso.

observava os atletas desviando dos obstáculos com agilidade, o que a remetia à sua época de jogadora e como amava treinar. Estar no CT era como voltar no tempo e ver os jogadores tão empenhados no treino só despertava nela ainda mais o desejo de voltar a jogar. Seus olhos percorriam toda extensão do campo observando cada jogador presente ali, mas sempre que seu olhar parava em , costumava se estender um pouco mais.
O jogador estava concentrado em não bater em algum obstáculo. Corria, pulava e desviava com facilidade, o que fazia se admirar com o condicionamento físico dele e se lembrar de todas as vezes em que ele recusou uma cerveja alegando que só bebia durante as férias. Ela sabia que não era bem assim, afinal, ele não podia ver ela com um copo de bebida na mão que fazia questão de dar um gole, mas já não conseguia mais se importar com isso, até achava divertida a intimidade entre eles.
Ela olhou para Junior e viu que o mesmo estava concentrado em fotografar o treino, mas o fotógrafo percebeu e se virou para ela.

- Quer tentar? – apontou com o queixo para sua câmera.
- Você me conhece, Junior, vou acabar derrubando e quebrando – riu, embora soubesse que fosse a mais pura verdade.
- É fácil, é só focar e tirar a foto.

Junior entregou a câmera para que se assustou com o peso do equipamento, aumentando ainda mais seu medo de quebrar. Ela, com certa dificuldade, empunhou a câmera e olhou através da lente procurando por um alvo. Não pensou duas vezes antes de focar em que observava Araos fazendo o exercício antes dele. percebeu a câmera apontada para si e tirou o equipamento da frente do seu rosto para poder olhar para ele. Ela abriu um sorriso como se estivesse o cumprimentando, mas seu sorriso logo se desmanchou quando ele não retribuiu, apenas deu de ombros e voltou a atenção para o treino.

- Ele só está concentrado – Junior disse ao perceber a expressão triste no rosto de .
- Eu sei – tentou sorrir, mas apenas conseguiu abrir um sorriso entristecido.

Ela empunhou a câmera novamente e tirou mais algumas fotos. Não conteve gargalhadas quando Pedrinho fez poses para ela forçando uma sensualidade exagerada. Também consegui um belo clique de Gabriel, que, ao perceber a câmera em sua direção, deu uma piscadinha para ela.


Infelizmente, nem as graças de Pedrinho ou a piscadinha de Gabriel foram o suficiente para fazer se sentir melhor. A indiferença de para com ela naquele dia era algo que a deixava chateada apenas por lembrar, pois naquele dia, ela havia visitado o centro de treinamento afim de se atualizar dos treinos e fazer novos conteúdos para as redes sociais, mas uma parte dela também queria ver treinando. A concentração e o esforço físico dele eram duas coisas que prendiam a atenção dela de todas as formas, além de achar que a camisa de treino na cor azul lhe caía muito bem.
Ela não entendia porquê aqueles pensamentos e lembranças não a deixavam em paz. Tentava demonstrar que não se importava, mas se importava sim e muito mais do que deveria, o que, na sua opinião, era ridículo e imaturo. Se considerava adulta o suficiente para não se importar com esse tipo de coisa, mas que agora parecia ser inevitável. Passou bons vinte e três anos da sua vida sempre muito segura de si e convicta com suas decisões e pensamentos.
Mas por quê a indiferença de um mero jogador de futebol a incomodava tanto?
Ela não sabia explicar e não tinha certeza se algum dia conseguiria, apenas desejava poder estar envolvida naqueles braços outra vez. Se lembrava do dia em que jogaram futebol juntos e ela saltou sobre ele ao comemorar o gol. O abraço apertado que lhe deu foi o suficiente para que ela desejasse aquele abraço outras vezes. Quando tropeçou na bola e ele a segurou, sentiu como se o tempo tivesse congelado e a única coisa que importava era aqueles braços segurando-a com força e aquele olhar penetrante fixo nela, quase que imóvel. desejou, em meio às suas lembranças, que ela tivesse feito uma loucura naquele momento quando teve a oportunidade. Imaginar como o seria os lábios dele pressionados contra os dela lhe causava falta de ar e ela se sentia estúpida por pensar naquilo, embora soubesse que àquela altura era inevitável.

- Eu devo estar pirando de vez – disse para si mesma e votou a atenção para o celular.

Capítulo 11 - REPÚBLICA TCHECA X BRASIL

Praga - República Tcheca.

Tudo ocorreu perfeitamente bem entre o período da Seleção na Granja Comary até a viagem para o primeiro amistoso em Portugal. Para , o empecilho foi quando Dantas lhe ligou furioso, berrando que ele cometeu um erro ao vestir o colete do antigo time, mas que para a sorte do jogador, ele conseguiu abafar o caso e os jornais esportivos não tinham noticiado sobre o acontecimento. achava uma grande besteira, é claro, pois não via maldade no que fez e ainda de sobra fez as pazes com um antigo colega de clube. Para ele, tudo estava perfeitamente bem e iria continuar assim.
O empate de 1x1 diante do Panamá em Portugal deixou os nervos da Seleção Brasileira à flor da pele. A segunda seleção no ranking mundial da Fifa cedeu, de forma vergonhosa, o empate para a equipe central-americana que nem se quer havia apresentado um grande futebol na partida, o problema em questão foi a própria pentacampeã que não tinha entrosamento e não era capaz de finalizar um chute se quer ao gol. O chute certeiro de Paquetá foi o único momento da partida em que foi possível ver a verdadeira Seleção Brasileira.
Dos dias em que o time esteve na República Tcheca, Tite liberou seus jogadores durante um dia livre para que os atletas pudessem descansar antes de voltar aos treinos afim de vencer o time local e espantar a má fase. Por mais que estivesse feliz por finalmente conhecer o convívio da Seleção Brasileira e viver tudo aquilo, se sentia sufocado pelo confinamento constante e o clima pesado que se instalou após o empate no último jogo não colaborava. Afim de respirar ar puro e aproveitar sua estadia na Europa, ele resolveu sair do hotel e conhecer Praga. Para o passeio, Arthur e Coutinho se juntaram a ele e o local escolhido foi a rua Karlova, ponto turístico da cidade que ligava a Ponte Carlos à Cidade Antiga, outros dois lugares frequentados por turistas do mundo inteiro. A rua Karlova possuía diversas galerias de arte, teatros, cafés e restaurantes, um lugar agradável e que os três consideraram adequado para quem estava às vésperas de um jogo que poderia salvá-los de uma crise ou afundar o time ainda mais.

- Eu não sabia que essa sensação era tão sufocante - disse após os três receberem seus pedidos em um café. - Essa sensação de derrota, mesmo que tenha sido um empate.
- Pesa, né? - Coutinho perguntou e assentiu. - Acho que você tá começando a sentir o peso que é a responsabilidade de vestir essa camisa.
- E olha que eu nem joguei - o jogador do Corinthians tentou sorrir, mas não tinha humor para isso.
- Nem tudo são flores, mas também não é o fim do mundo - Arthur tentou se manter otimista. - Essa é a única seleção pentacampeã do mundo e querendo ou não, as pessoas ainda nos respeitam. Só depois de sair do Brasil que eu percebi que ninguém liga pra um 7x1 ridículo. Isso foi há tanto tempo, tá na hora de superar.
- A gente tenta, mas então aparece a Bélgica e seus jogadores de dois metros de altura - Coutinho riu, embora a lembrança da última Copa ainda fosse dolorosa. - Tudo bem, daqui a três anos vamos ter a chance de nos redimir.
- Tem razão. Confio em vocês pra isso.

Arthur e Coutinho olharam para com ar de impaciência, pois achavam que três anos era tempo o suficiente para ele conquistar a confiança de Tite e um espaço no time.

- Desisto de você - Arthur ergueu as mãos em redenção.
- Eu joguei três anos em alto nível e não aconteceu nada. Não consigo ver as coisas fluindo com a idade que tenho - ele olhou para Coutinho. - Você foi vendido pelo Vasco para a Internazionale com dezesseis anos.
- Mas antes de ir pra Itália, joguei a série B - Coutinho rebateu prontamente. - Não foi tão simples assim. Um jogador de série B indo pra Europa, um absurdo.
- Mas foi mesmo assim - em seguida olhou para Arthur. - E você era o xodó da torcida do Grêmio, você mandava naquele meio-campo com maestria e agora faz a mesma coisa no Barcelona, um talento nato. Vocês dois são incríveis, merecem mais do que qualquer um essa vaga na Seleção.
- Para de se colocar pra baixo, isso é ridículo, cara - Arthur revirou os olhos. - Conta pra gente a sua trajetória e eu digo o que eu acho.
- Hum... Ok. Eu comecei jogando em uma escolinha de futebol do Grêmio lá em Porto Alegre com cinco anos. Quando eu fiz treze anos, um olheiro do Santos se interessou por mim e eu não pensei duas vezes antes de ir jogar na base deles porque vocês sabem que é a melhor base do Brasil, principalmente naquela época - os dois concordaram. - Inclusive vi o Neymar lá várias vezes, só não joguei com ele porque eu estava no sub-15 e ele no sub-17... Mas enfim, fiquei três anos na base e quando eu estava pra completar dezessete, eu subi para o profissional. Fiquei só mais um ano lá e fui vendido para o Rosário Central da Argentina, o que é quase impossível pra um jogador brasileiro ir jogar na Argentina, mas eu fui - ele riu. - Três meses no time e eu rompi o ligamento do joelho esquerdo, levei nove meses entre cirurgia, recuperação e volta total ao campo... No meu segundo ano fiz boas partidas, mas o clube não renovou comigo, então veio a proposta do Grêmio e eu fiquei louco pra voltar pra Porto Alegre, eu tinha só vinte anos e ainda tinha chances de crescer. Tive uns problemas pessoais na primeira temporada e isso acabou me prejudicando, mas graças ao Renato eu dei a volta por cima e consegui atingir um alto nível de rendimento por quase três anos seguidos, ganhei Copa do Brasil, Recopa e Libertadores, foi incrível - ele sorriu, mas o que vinha depois o desanimava. - Na temporada passada houve um desmanche, o time não teve o mesmo rendimento e... Bom... Eu já não tinha o mesmo entrosamento e eficiência, não consegui evitar o rebaixamento do Grêmio... A diretoria desmanchou o time e eu estava livre no mercado, tive propostas do Chívas, Botafogo e Corinthians. Eu não queria nenhuma das três, mas o meu empresário me convenceu e eu fechei com o Corinthians. Agora aqui estou eu e é isso.
- Ah, como você é discreto! - Arthur disse rindo. - A gente sabe que você é o vice artilheiro da temporada e um ótimo batedor de falta. Não fale como se seu tempo no Corinthians não fosse importante.
- Não é isso, é que... - procurava as palavras para se explicar sem parecer uma vítima. - Parece que existe um tabu quanto aos jogadores do Corinthians serem convocados pra Seleção ou serem vendidos para grandes clubes na Europa. Eu sei que parece besteira, mas as pessoas realmente acham isso um absurdo, como se o Corinthians não revelasse ninguém.
- Deixa eu te contar uma coisa, - Coutinho baixou o tom de voz. - O Barcelona quer me vender o mais rápido possível, eu não consigo render com esse estilo de jogo do treinador, acho que ninguém consegue, na verdade. A pior besteira que fiz foi trocar o Liverpool pelo Barcelona, eu achei que nunca poderia crescer em um time inglês sendo que os clubes do momento são espanhóis, então quando a proposta veio, eu agarrei ela... Moral da história, me fodi. A torcida do Barça não gosta de mim, a torcida dos Reds me chamam de Judas e eu tô vendo a hora em que o Tite vai desistir de mim... O que eu quero dizer é que nem tudo é o que parece, da mesma forma que eu achei que estava tudo bem, mas não estavam, as coisas podem acontecer ao contrário com você. Você pode achar que não tem mais idade pra jogar na Europa ou que não merece estar aqui, mas você está enganado, muito enganado. Você é bom, , e agora tem os olhos do Tite em você.
- Eu só acho que você deveria continuar fazendo a sua parte e tudo vai dar certo. A Seleção você já conseguiu, né? Agora é só ir para o próximo passo – Arthur ponderou.
- Muito obrigado pela motivação de vocês, agora sinto que vou concorrer ao prêmio de The Best - riu. - a final vai ser entre eu, Harry Kane e Mbappé.
- Harry Kane e Mbappé? Que piada! - Coutinho gargalhou. - O Kane passa mais tempo machucado e só o fato de o Mbappé jogar no PSG já tira ele da lista. São ótimos, mas você ganha de lavada deles.
- Concordo.
- Vocês são péssimos.

A conversa deles se estendeu por horas e o assunto mudou várias vezes, desde a carreira até a vida pessoal de cada um, o que foi o suficiente para ingerir uma injeção de ânimo em si mesmo. Tinha a consciência de que estava em um café na Europa trocando experiências enquanto a responsabilidade de vestir a amarelinha mais uma vez o aguardava para dali dois dias. Ele não se cansava de agradecer pela oportunidade de estar ali e mal podia esperar para voltar ao Brasil para contar tudo o que viveu naquelas duas semanas servindo ao seu país.
Após uma tarde agradável pelas ruas de Praga, os três voltaram para o hotel a tempo de jantar com o elenco. Nunca imaginou que pudesse trocar algumas palavras com Thiago Silva e perceber que o capitão era tão bom fora de campo quanto dentro. A simplicidade nas palavras do jogador e sua humildade deixavam fascinado o suficiente para desejar que Thiago nunca se aposentasse. Ele ouvia com atenção o zagueiro contando suas experiências dos times por onde passou e também com a Seleção. Para , era gratificante voltar para o Brasil com todos aqueles conselhos dados e experiências vívidas. Sabia que estava voltando para o Corinthians com outros olhos e mentalidade e muito mais inspirado a seguir firme nos seus objetivos e continuar fazendo uma boa temporada pelo time que ele aprendeu a respeitar.

⚽🖤📱

O treino aberto para a imprensa naquela véspera de jogo serviu apenas para deixar os curiosos ainda mais curiosos, pois se pudessem resumir o treino em poucas palavras, seria basicamente o jogadores correndo pelo campo por uma hora sem rumo definido, e depois um futevôlei organizado por Tite para que os jogadores pudessem treinar o domínio de bola enquanto se divertiam um pouco. Divididos em vários times de quatro, formou time com Thiago Silva, Roberto Firmino e Casemiro, enquanto o time adversário era formado por Gabriel Jesus, Richarlison, David Neres e Paquetá. Tiraram a sorte e o time de Jesus teve a vantagem de começar o set que terminaria em dezoito pontos. Neres posicionou a bola na linha de fundo do seu lado da quadra improvisada por cones e como se fosse um goleiro cobrando um tiro de meta, o atacante tomou distância e chutou para a quadra adversária como em um saque do vôlei. Thiago dominou de peito e quase deixou a bola cair, mas deu um toque para Firmino que cabeceou para o outro time. Gabriel tentou dominar de peito como Thiago, mas a bola caiu no chão, somando um ponto para o time de .

- Isso não vale, é muito difícil! – Gabriel disse resmungando e devolveu a bola para o outro time.

foi até a linha de fundo e chutou como Neres fez anteriormente. O próprio David esticou a perna para que a bola alcançasse Paquetá que deu um chutão pra cima e Richarlison cabeceou, empatando a partida para o seu time. O jogador fez a dança do pombo fazendo os outros sete darem risada e até arriscar o mesmo passo que ficava bem melhor feito pelo ex-jogador do Fluminense.
Por mais que soubessem as regras e jogadas do futevôlei, era incontestável para cada jogador ali que era muito mais difícil do que o futebol, afinal, estavam jogando duas modalidades ao mesmo tempo e jogar vôlei com os pés não era a coisa mais simples de se fazer, ao contrário do que seria o futebol bom as mãos. A partida terminou com a vitória do time de .

- Isso existe e se chama handebol – Paquetá disse se sentando entre e Gabriel no gramado. – E é por isso que eu decidi ir pro futebol.
- Não é tão difícil assim jogar com as mãos, basquete é bem legal também – disse e recebeu um olhar severo dos outros dois. – O quê?
- Não acredito que gosta de basquete – Gabriel disse desapontado.
- Eu amo basquete! Sempre falei que se eu não fosse jogador de futebol, eu seria jogador de basquete. Go Warriors! – ele ergueu o punho empolgado fazendo alusão ao seu time de basquete preferido, mas Paquetá e Jesus apenas rolaram os olhos e se levantaram rindo.
- A gente vai ali falar pro Tite nunca mais te convocar porque você prefere basquete do que futebol – Paquetá falou em um tom dramático demais. – E fique sabendo que o meu Flamengo é muito melhor do que esses Warriors! – ele disse alto enquanto se afastava com Gabriel e ficou rindo sozinho.
- E aí? Quem ganhou? – Coutinho se aproximou com uma garrafa e se sentou ao lado de .
- Meu time, mas agora o Paquetá e o Jesus vão convencer o Tite a me cortar do time porque eu gosto de basquete também.
- Eu apoio você na NBA – Philippe disse rindo. – Mas te apoiaria ainda mais jogando lá pelo lado esquerdo do Camp Nou.
- Na sua vaga? – os dois riram. – Tô de boa com isso, eu já fico feliz só de ir ver um jogo às vezes.
- Já foi lá?
- Sete vezes desde que me tornei profissional, uma vez por ano eu vou – sorriu nostálgico ao se lembrar das suas visitas ao estádio. – Só não fui ano passado por conta das coisas que aconteceram no Grêmio, mas sempre entre dezembro e janeiro, eu faço questão de ir. Espero que esse ano eu consiga ver um El Clásico.
- Eu acho um pouco difícil de acontecer porque o jogo é em outubro... Mas se você for esse ano, me avisa, eu dou um jeito de você visitar o CT. Se eu não conseguir, o Arthur consegue – os dois riram, mas Coutinho soltou um longo suspiro, desapontado. – Não sei se vou estar lá no fim do ano. Querem me vender a todo custo.
- Eu sinto muito – disse com sinceridade. – É uma pena que um clube tão grande não saiba valorizar grandes atletas. Às vezes isso me frustra demais.
- Digo o mesmo sobre o Grêmio... Mas tudo bem, boatos de que o PSG vai fazer uma proposta por mim.
- Então é melhor o menino Ney tomar cuidado – os dois riram. – Obrigado por me receber aqui, cara.
- Que é isso! Você merece, joga demais! Espero que o Tite te dê uma chance.
- Pra um jogador do Corinthians? Eu torço por isso, mas acho difícil. Não quero as pessoas criticando ele por escalar jogadores do ex-clube dele.
- As pessoas sempre vão criticar, . Olha o Alisson, por exemplo, ele é o melhor goleiro da Europa em atividade, e mesmo assim tem gente que acha que ele não merece a vaga.
- Mas quem critica o Alisson? Gremistas?
- Exatamente! Entende? Da mesma forma que eu sou criticado pelos torcedores madrilenhos, ele é criticado pelos gremistas e você vai ser criticado por palmeirenses, são paulinos, santistas... Faz parte. É só não se importar com isso, você é profissional há tempo o suficiente para entender o que estou dizendo.

balançou a cabeça concordando. Apesar de Coutinho ser apenas dois anos mais velho, parecia ter muita experiência para passar e poderia passar o resto da tarde ouvindo o jogador contar suas histórias de Barcelona, Liverpool, Internazionale e até mesmo Vasco. Ele estava mais do que feliz por ter feito amizade com o atleta, não por Philippe ser jogador de um time que ele simpatizava, e sim pela pessoa bem-humorada e genuína que ele aparentava ser. torcia para que as coisas dessem certo e o colega pudesse passar mais algumas temporadas no Barcelona, pois essa parecia ser a maior vontade dele.

⚽🖤📱

Quando a bola passou pelo goleiro e entrou no ângulo do gol, a Eden Arena explodiu em gritos e comemorações da torcida enquanto os jogadores tchecos se abraçavam e comemoravam o gol que abriu o placar para o time anfitrião. No banco brasileiro, Tite chutou o gramado visivelmente irritado com o gol que seu time havia acabado de sofrer aos trinta e sete minutos do primeiro tempo. Diferente do esperado, o futebol da Seleção não foi nem um pouco convincente para quem estava assistindo. Com um jogo lento e poucos chutes ao gol, o time deixou o campo no intervalo cabisbaixo.
entrou em um vestiário silencioso, completamente diferente do que estava acostumado no seu clube onde os intervalos eram tão barulhentos quanto o início e o fim da partida. Ele se sentou no lugar onde o seu uniforme estava anteriormente e baixou a cabeça. Sabia que não podia fazer nada para ajudar o time a não ser sentar a bunda no banco de reservas e ver seu país pentacampeão apanhando para uma Seleção sem qualquer tradição no futebol mundial. Apesar disso, ainda conseguia sorrir ao ver o brasão da CBF sobre a jaqueta amarela que estava vestindo. Usar aquele uniforme lhe trazia uma enorme sensação de dever cumprido.
Tite entrou no vestiário e todos os olhares se voltaram para ele. O treinador percorreu os olhos pelos seus atletas e pela sua feição rígida, o time sabia que coisa boa não iria sair da boca dele.

- Eu acredito em vocês - ele começou a falar com um tom de voz baixo e sereno, o que prendeu a atenção dos jogadores. - Em cada um de vocês. Essa é a melhor Seleção que o mundo já viu, é a Seleção que foi representada por Pelé, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho... Mas que também é representada por vocês. O que eu vi no campo hoje não condiz com o que o futebol brasileiro representa, mal conseguimos finalizar um chute ao gol! Eu só quero ver cada um de vocês dando o seu melhor lá dentro do campo e pode deixar que eu cuido do lado de fora. Todos vocês são importantes, tenho três goleiros campeões aqui - ele olhou para cada um dos seus arqueiros. - Tenho defensores extremamente eficientes e um meio-campo de dar inveja. Isso sem contar com os meus atacantes que são os melhores nos seus times, não é? E eu não quero ver quem está no banco se sentindo menos importante, preciso de vocês também - Tite olhou diretamente para e o jogador sentiu um arrepio percorrendo a espinha. - Não convoquei ninguém pra ficar no banco, então estejam preparados para quando forem chamados. Não vou ficar chateado se saírem daqui com a derrota hoje, mas a única condição para isso é que voltem pro segundo tempo como se tivessem a chance de dar o troco naquela maldita Alemanha, ok? Vocês são capazes. Agora venham aqui, vou mostrar o que quero que façam.

Tite explicou a formação para o segundo tempo com uma posição mais ofensiva. Mudou o esquema tático do time de 4-1-4-1 para 4-2-3-1 e substituiu Paquetá por Everton Cebolinha.

- Vão lá e me impressionem.

O time voltou para o segundo tempo com uma sutil diferença na questão ofensiva e na primeira falha do time tcheco, Firmino aproveitou a oportunidade e empatou para o Brasil. Embora o time comemorasse o gol, Tite manteve sua postura séria e andava sem parar no limite do banco, visivelmente pensativo sobre o que mais poderia fazer. Ele olhou para o banco diversas vezes procurando uma boa opção para fazer suas duas substituições restantes. Chamou Edu Gaspar, seu auxiliar técnico, e cochichou algo com ele. Edu concordava com o que o técnico dizia e por fim se afastou, indo em direção de Gabriel Jesus que estava sentado ao lado de .

- Vai pro aquecimento, você vai entrar.

Gabriel se levantou, tirou o colete e foi para o aquecimento com o preparador técnico. Logo depois entrou no lugar de Richarlison pelo lado direito, o que surgiu efeito, pois deu mais leveza ao time e os chutes ao gol passaram a ser mais frequentes e certeiros. Não demorou muito para que Jesus virasse o jogo para a Seleção Brasileira e dessa vez o gol foi muito mais comemorado, inclusive por Tite, que após a euforia, foi até o banco de reservas e se sentou ao lado de .

- O Fabio me falou muito bem de você - o treinador disse enquanto observava Thiago Silva tocar para Fagner que deu uma boa arrancada pelo lado direito perto do banco. - E eu confio nele, vi o que você tá fazendo no Corinthians. Acho que você já deve estar acostumado a jogar com o Everton e o Arthur. O Coutinho tá cansado, me dá esse colete e vai aquecer.

arregalou os olhos e sentiu como se tivesse tomado um soco no estômago, pois todo o ar se foi. Estava delirando ou Tite realmente disse que ele iria entrar?

- Você me ouviu? - Tite olhou para ele. - Anda!

se levantou, tirou o colete e a jaqueta e seguiu o preparador físico para um rápido aquecimento. Seu coração batia acelerado no peito, estava a instantes de estrear pela Seleção e não conseguia acreditar nisso.
Após o aquecimento, se aproximou de Tite e ouviu as instruções que o treinador tinha pra passar.

- Você, o Everton e o Arthur jogando pelo mesmo lado vai dar um ótimo entrosamento. Você consegue, conto com você.
- Obrigado, professor - agradeceu e foi para a beira do gramado.

O quarto árbitro levantou a placa de substituição e em segundos, Coutinho já estava correndo na direção da lateral do campo. Por mais que estivesse frustrado com o seu desempenho em campo, mesmo assim cumprimentou ao se encontrarem.

- Arrebenta nessa porra - o camisa 11 disse antes de ir cumprimentar os colegas no banco.

atravessou o campo correndo para chegar na posição em que Coutinho estava antes pelo lado esquerdo e a partida retomou com a saída de bola do time tcheco.
No decorrer do jogo, o time brasileiro demonstrou que não estava ali para brincadeira, pois começou a dominar o jogo com eficiência e velocidade, sabiam que o gol seria questão de tempo. Aos quarenta minutos, recebeu uma bola longa de Marquinhos e deu uma bela arrancada em velocidade, deixando os dois marcadores tchecos para trás. Tocou para Arthur que tabelou ao devolver a bola para ele, deixando o camisa 17 frente à frente com o goleiro Pavlenka. chutou de esquerda, mas a bola parou nas mãos de Pavlenka. Ele caiu no chão após tropeçar e levou as mãos ao rosto sem acreditar que havia perdido a sua chance de fazer história.

- Parabéns - Everton estendeu a mão para ajudar o amigo a se levantar.
- Valeu - a agarrou e se levantou.

Pavlenka chutou a bola para o meio de campo. O meio-campista tcheco dividiu a bola com Casemiro e teve vantagem, avançando em direção ao gol brasileiro. Para sua sorte, foi parado por Marquinhos que recuperou a bola e tocou para Filipe Luís que avançou pelo lado esquerdo do campo. O jogador do Atlético de Madrid fez um bom passe para que estava em posição legal e novamente o jogador armou um contra-ataque mais rápido do que os marcadores adversários poderiam acompanhar. foi em velocidade e até tinha condições de chutar direto, mas preferiu cruzar para Gabriel Jesus que cabeceou para dentro do gol marcando o terceiro gol brasileiro e o segundo dele no jogo. O camisa 9 do Manchester City veio correndo até e pulou. Logo, quase o time todo estava no abraço em grupo.

- Você é dez! - Gabriel disse para quando o time se dispersou. - Obrigado.
- Pra um palmeirense, você até que joga bem - respondeu fazendo o atacante gargalhar e então os dois voltaram para suas posições para reiniciar o jogo.

O árbitro deu apenas mais dois minutos de acréscimo e, diferente do intervalo, o vestiário foi tomado por cantoria no final da partida. Os jogadores cantavam eufóricos dizendo que o campeão voltou e Gabriel era o centro das atenções pelos dois gols marcados naquela noite.

- Olha lá o meu garçom - Jesus apontou para que estava ao lado de Alisson e Cássio. - Que contra-ataque foi aquele, meu consagrado?
- O que importa é que o bendito gol saiu - sorriu e recebeu um empurrão de Alisson. - Ei!
- Deixa de ser discreto, foi uma puta de uma jogada!
- Eu vou ligar pro Pep agora mesmo - Gabriel pegou o seu celular. - Ederson, qual é o número do Guardiola? Quero o no Manchester com a gente.
- Não se preocupa, à essa altura ele já deve estar lá em Itaquera procurando pelo - o goleiro respondeu soltando uma gargalhada alta.
- Estão loucos? Ele vai jogar comigo no Liverpool - Firmino disse do outro lado do vestiário enquanto tirava a camisa molhada de suor, sendo apoiado por Alisson.
- Você quer a sete? O Milner não vai se importar - Alisson colocou uma mão sobre o ombro de . - Parabéns, , você foi muito bem.
- Valeu - sorriu e viu Casemiro vindo na sua direção.

Casemiro deu um chega pra lá em Alisson e passou um braço ao redor dos ombros de .

- Ei, meu chapa, o que acha de ir jogar no melhor da Espanha? Imagina só jogar com o Benzema, Modrić, Bale... Você sabe, esses caras legais.
- O Bale joga no Barcelona? - respondeu em tom de provocação.

Um uou uníssono ecoou pelo vestiário e os jogadores começaram a rir da cara de chateado que Casemiro fez, especialmente Coutinho e Arthur que se apoiavam um no outro e riam sem parar.

- Eu desisto de você - o meia respondeu se afastando.

Naquele meio tempo, recebeu propostas não oficiais de Manchester City, Liverpool, Real Madrid e PSG, até Arthur e Coutinho entrarem em um debate caloroso com Cássio e Fagner se o jogador deveria permanecer no Corinthians ou se transferir para o Barcelona. A discussão se encerrou quando disse que iria se transferir para o futebol chinês e se aposentar com trinta anos.
Ao voltarem para o hotel que o time estava hospedado, os jogadores se dispersaram e enquanto alguns optaram por descansar no conforto do quarto de hotel, outros escolheram comemorar a vitória do time no estilo brasileiro. Com festa, é claro. Tudo o que queriam era deixar o futebol de lado só um pouquinho e curtirem como caras normais.
Após pesquisarem um pouco, descobriram o Chapeau Rouge, uma das mais famosas boates de Praga. A ideia foi de Gabriel e imediatamente foi aprovado por Arthur, Everton e Casemiro. ficou dividido entre se divertir além da conta e descansar para voltar ao Brasil no dia seguinte, mas não demorou muito para que os quatro o fizessem mudar de ideia. Ele concordou, afinal, teria tempo de sobra para dormir no vôo de volta para o Brasil e desde que se mudou para São Paulo, ainda não tinha saído e se divertido como se não houvesse amanhã.

- Como nos velhos tempos, o trio de ouro está de volta - Everton se pendurou entre Arthur e . Gabriel e Casemiro vinham logo atrás conversando entre si. - se preparem, gatinhas europeias, estamos chegando.
- Sou muito bem comprometido, obrigado - Arthur se afastou.
- Só sobrou você e eu, .
- Hoje não, valeu, mas tenho certeza de que os nossos amigos ali de trás vão topar.
- Com toda a certeza! - Gabriel disse empolgado e apressou o passo, deixando Casemiro para trás resmungando. - Hoje a gente vai passar o rodo nessa cidade.

Arthur, Casemiro e riram da empolgação dos colegas enquanto os três entraram na boate. Gabriel começou a falar com o segurança em um bom nível de inglês e então os cinco foram levados pelo homem até o terceiro andar onde a música tocava alta e muita gente dançava.

- Cara, que lugar foda! - Casemiro disse admirado. - Ok, vou morar aqui pra sempre e foda-se.

Arthur foi até o bar e pediu, em espanhol, um drink. O garçom aparentou entender e começou a preparar a bebida ali mesmo. se aproximou, fazendo o seu pedido também e logo os dois experimentavam um drink tcheco.

- Eu ainda não acredito - disse alto e Arthur olhou para ele. - Que tudo isso tá acontecendo.

Arthur abriu um largo sorriso e ergueu sua taça no ar.

- Bem-vindo à Seleção Brasileira!
- Não vejo a hora de contar pro pessoal do time, o Pedrinho vai morrer de inveja! Também tem uns amigos meus que vão adorar saber. Junior, Tobias, ... - deu um gole no seu drink após mencionar a garota e se lembrar que não eram tão amigos assim.
- E você tá pegando essa , né?
-Puta que pariu, Arthur! - esbravejou quando o colega gargalhou.
- Eu não nasci ontem, .
- Uma vez - ele soltou um longo suspiro. - Mas ela estava bêbada o suficiente para não se lembrar, ela ainda não sabe...
- Olha ele, tá apaixonadinho - Arthur riu quando levantou o dedo médio para ele. - Calma, cara, relaxa!
-Você é o único que sabe disso, então fecha o bico.
- Fica tranquilo, minha boca é um túmulo.
- Sei, sei.

Eles deixaram a conversa de lado e se juntaram aos outros três que curtiram a música mesmo sem falar uma única palavra em tcheco. Logo o único drink se transformou em vários e não podia descrever em palavras o quão alegre estava. Era capaz de se manter em pé e se divertir sem causar prejuízos, mas sabia que uma dor de cabeça o aguardava no dia seguinte.

- Ele é matador! - ele ergueu os braços em comemoração quando viu Casemiro aos beijos com uma bela morena. Seus colegas imitaram o gesto e os quatro começaram a rir.
- Não acredito que o Casemiro pegou alguém antes da gente, Gab - Everton disse desapontado e Gabriel concordou.
- Mas se eu disser que jogo no City, as meninas caem em cima, agora imagina você que joga no Inter. Ninguém nem sabe quem é.
- Grêmio! - Everton retrucou ofendido e riu. - Tá rindo de que? Ninguém conhece o seu time.
- Eu não ligo - deu de ombros. – E eu não vim aqui pra ficar falando de futebol hoje, só quero encher a cara e ficar louco.
- A gente faz o seguinte: você - Arthur apontou para Everton. – Usa dos seus dotes de conquistador, já o aqui vai colar em mim que é sucesso.
- Eu queria sua autoestima, Arthur – rolou os olhos, mas acabou rindo junto com os amigos.

Everton concordou com a ideia de Arthur e logo estava se apresentando para uma garota como jogador da Juventus da Itália, o que fez os colegas rirem das táticas de conquista dele. Pela cara de confusão da garota, era nítido que ela não falava português. e Arthur tentaram ajudar com o espanhol, mas não fez qualquer diferença, então Gabriel arriscou o inglês e ela entendeu.

- Eu disse que você joga na Juve e quer ficar com ela.
- E o que eu falo pra ela? - Everton perguntou um pouco desesperado.
- Juntos e shallow now! - começou a rir e Everton mandou o dedo do meio pra ele.

Gabriel ensinou umas três frases que lhe vieram na mente e logo Everton foi levado pela garota para longe dali.

- Agora é sua vez, .
- Valeu, Gab, mas sei desenrolar no portuñol - forçou uma rebolada à moda latina desengonçada e seus amigos começaram a gargalhar. - O pai aqui tem gingado.

A conversa foi deixada de lado para que pudessem se divertir de verdade. Em certo ponto da noite, não resistiu aos encantos de uma americana que falava espanhol muito bem, mas a última coisa que ele queria era usar a língua para falar. A americana, por sua vez, não tinha a mínima ideia de que ele era um jogador de futebol famoso, o que deixou ele aliviado por não precisar se vangloriar disso para conseguir a atenção dela.
Suas mãos percorriam o corpo da garota de forma que ela soltasse suspiros longos durante os beijos. Ela se desviou da boca dele e fez uma trilha de beijos até o pescoço do jogador, fazendo questão de deixar a sua marca ali. estava bêbado o suficiente para não se importar se teria que dar explicações no dia seguinte sobre onde e com quem estava. A única coisa que importava era a bela americana que ele conquistou sem precisar abrir a boca.

- Você poderia me visitar em Boston qualquer dia.
- Não posso, meu trabalho não deixa - respondeu prontamente.
- E você trabalha com o quê?

Ele pensou se seria uma boa ideia falar a verdade ou não e chegou à conclusão que sim, afinal, nunca mais veria a tal garota na vida outra vez.

- Eu jogo futebol em um time brasileiro - respondeu naturalmente e ela arregalou os olhos.
- Uau! E o que está fazendo aqui em Praga?
- Teve jogo da Seleção do meu país, fui convocado.
- Adoro futebol!

sabia que era mentira e se frustrou por isso. Odiava quando as pessoas se aproximavam dele apenas pelo fato de ele ser um atleta de alto nível e não uma pessoa comum. A única garota que não dava a mínima pra isso era e ele odiou o momento ainda mais por estar com qualquer pessoa ali que não fosse ela.

- Imagino que sim.
- Você conhece o Neymar?
- Não - mentiu, conheceu o jogador quando tinha quinze anos.
- Mas...
- Ele não estava no jogo hoje - a soltou e se afastou. - Licença, vou pegar uma bebida.

Ele se afastou o mais rápido possível e procurou pelos seus amigos. Encontrou Gabriel e Arthur no bar conversando.

- Podemos ir embora? Já é tarde - ele disse ao olhar as horas no celular e ver que já passava das três da madrugada.
- O que aconteceu? - Arthur perguntou ao ver que o amigo parecia um pouco bravo.
- Nada, só que meu voo pra São Paulo sai de manhã e eu quero dormir um pouco.
- Eu vou procurar o Everton e o Casemiro e torcer pra não atrapalhar nada. - Gabriel pulou do banco alto e sumiu no meio das pessoas.
- Tá tudo bem mesmo, cara?
- Não consigo tirar aquela garota da cabeça, Arthur - se escorou no balcão encostando a testa suada no mesmo.
- A americana?
- .
- Ah... Então fala pra ela. É tão difícil assim?
- É. Ela é muita areia pro meu caminhãozinho, nunca conheci uma garota com a personalidade tão forte como ela.
- Que confusão, meu amigo... Mas acho que mesmo assim você deveria falar com ela quando voltar.
- Ela vai me odiar - murmurou com amargura. - De novo.
- Deixa disso, cara, é papo de bêbado – Arthur deu tapinhas nas costas do amigo, na tentativa de fazer com que se sentisse melhor.

Antes de responder à altura, Gabriel voltou acompanhado por Casemiro e Everton.

- Todos aqui, podemos ir? - Gabriel perguntou.

O caminho de volta para o hotel foi barulhento, exceto por que não abriu a boca nem para bocejar, estava com os pensamentos em São Paulo e em tudo o que poderia dizer para sobre como se sentia e sobre aquele beijo que não lhe saía da cabeça um instante que fosse. De repente, tudo o que lhe aconteceu nas últimas semanas não parecia tão importante quanto dizer para uma garota que estava afim dela. Não sabia se eram apenas pensamentos de bêbado ou não, mas a vontade de pegar o celular e ligar para ela era tão absurda que ele pegou seu aparelho no bolso, chegando até a desbloquear a tela, mas antes de fazer qualquer besteira, entregou o celular nas mãos de Arthur que estava ao seu lado.

- Não deixa eu fazer besteira, por favor.
- Não vou deixar você ligar pra essa garota bêbado assim, .
- Eu sei. Obrigado, amigo, você é um amigo – fechou os olhos devagar, sentindo as pálpebras pesarem enquanto Arthur ria dele, guardando o celular em seu bolso.

⚽🖤📱

não sabia se tinha mais alguma coisa para vomitar, mas continuava escorado no vaso simplesmente porque não se sentia preparado para se levantar. Era quatro horas da madrugada e ele tinha que ir para o aeroporto às oito para pegar seu voo de volta para São Paulo junto com Fagner e Cássio, mas estava cansado demais para se quer sair dali.
Se arrependeu até a morte de sair após um jogo importante e jurou nunca mais concordar com Gabriel Jesus ou Casemiro outra vez. Prometeu que dali em diante iria apenas em pizzarias com Junior e Tobias e nunca mais iria ingerir uma gota de álcool que fosse, especialmente durante a temporada.
Ainda tonto, ele se levantou e foi até a pia para jogar uma água no rosto e escovar os dentes, mas não deixou de notar que estava com uma cara horrível.

- Deus, o que estou fazendo da minha vida? – murmurou para si mesmo, encarando o próprio reflexo.

Ele saiu do banheiro e caiu na sua confortável cama. Na mesma posição em que estava, ele adormeceu quase que imediatamente. Para o seu azar, seu celular despertou às seis da manhã e ele apenas quis tacar o aparelho longe, mas então criou coragem para se levantar. Procurou por um remédio na sua mala e agradeceu um milhão de vezes à sua mãe por ter colocado dipirona e outros medicamentos na sua mala porque ele tinha se esquecido completamente. Após ter certeza que poderia se manter em pé, guardou tudo o que estava fora da mala e saiu do quarto. Deu baixa no hotel e ficou esperanto por Cássio e Fagner no saguão para que os três pudessem ir para o aeroporto.

- Você está com uma cara, horrível, - Fagner disse ao se sentar ao lado do colega de elenco.
- Nunca mais me deixem concordar com o Gabriel - murmurou e levou a mão à cabeça. - Meu Deus, eu vou morrer.
- É melhor mesmo, o Carille não gosta de jogador na farra - Cássio se ajeitou no seu banco. - Experiência própria.
- Mas você não é evangélico?
- Sou, mas antes não era - o goleiro deu de ombros e colocou seus fones de ouvido. - Vejo vocês em São Paulo.

Fagner fez o mesmo e logo em seguida, também pegou seus fones, mas apenas para abafar o barulho do avião e das turbinas que iriam ser ligadas em instantes.
Quando o avião já estava sobrevoando o céu de Praga, deixou os fones de lado e se limitou a olhar pela janela e admirar a beleza dos campos europeus ficando cada vez mais distante. Parou para refletir e concluiu que foram as semanas mais intensas da sua vida, apenas de altos e nenhum baixo. Listou mentalmente todas as coisas que aconteceram desde que viajou de Porto Alegre até o Rio de Janeiro e tudo ainda parecia ser muito surreal pra ele.
Ele imaginou como seria sua readaptação no seu clube sem aqueles jogadores com ele, ou melhor, seus amigos. Sentiria falta de ver Gabriel e Firmino se provocando pela titularidade no time e Premier League em suas respectivas equipes, de tomar café da manhã com Thiago Silva e Marquinhos, de conversar por horas com Coutinho... Sentiria falta até mesmo de Casemiro tentando o convencer a ir para Madrid, o que era bem tentador, mesmo sendo somente uma brincadeira. Foram as semanas nas quais ele se sentiu a pessoa mais importante e querida de um elenco, como quando Gabriel dividiu o mérito do gol com ele ou quando Tite o olhou nos olhos ao dizer que os reservas eram tão importantes quanto os titulares. Colocou na sua lista também a dança do pombo de Richarlison, algo que o faria rir durante um bom tempo. Ainda cansado da longa noite, foi sentido as pálpebras pesarem sobre os seus olhos e logo adormeceu, pois ainda tinha mais onze horas de vôo até desembarcar em São Paulo e voltar para sua vida normal (embora soubesse que não fosse tão normal assim).

Capítulo 12 - Desculpa

Chill out, what you're yelling for?
(Fique frio, para que está gritando?)
Lay back, it's all been done before
(Relaxe, tudo foi feito antes)
And if you could only let it be, you would see
(E se você apenas deixasse rolar, você iria ver)
I like you the way you are
(Eu gosto de você do jeito que você é)
When we're driving in your car
(Quando estamos no seu carro)
And you're talking to me one on one, but you've become
(E você fala comigo cara a cara, mas você se tornou)
Somebody else round everyone else
(Outra pessoa perto dos outros)
Watching your back, like you can't relax
(Fica tenso, como se não conseguísse relaxar)
You're trying to be cool, you look like a fool to me
(Você está tentando ser legal, você parece um idiota para mim)

prestava atenção na música tocando nos seus fones de ouvido e hora ou outra olhava o indicativo do trem para ver se estava perto ou não do seu destino. O trem parcialmente cheio não impediu a garota de rir quando ela percebeu que estava fazendo uma analogia da música da Avril Lavigne com a sua vida e quem era a sua pessoa complicada. De fato, parecia um idiota com a camisa da Seleção, não porque lhe caía mal o amarelo, mas ela achava que a feição séria do jogador quando vestia a amarelinha simplesmente não combinava com a personalidade dele. Não sabia exatamente o motivo e estar fazendo a associação, mas de fato a música a fazia se lembrar de e em seu jeito estupido desde o começo de fevereiro. Já era quase abril e ela não tinha qualquer esperança de que aquilo fosse mudar porque as duas semanas sem ver o jogador foram o suficiente para ela perceber que, da mesma forma que ela não era importante para a vida dele, ela também poderia parar de persegui-lo em sua mente.

- Why do you have to go and make things so complicated? - ela cantarolava baixinho a música com um leve sorriso nos lábios, mas sabia que tinha um pouco de verdade naquilo.

Algumas estações depois e ela desembarcou. Seguiu o mesmo caminho de todo dia até o Parque São Jorge, observando pela milésima vez o escudo do clube acompanhado pelo nome em letras gigantes pela faixada preta, assim como a pintura que dizia, de forma provocativa, bicampeão mundial, algo que sempre a fazia rir. Passou pela recepção dando bom dia para as pessoas que conhecia e foi direto pegar o elevador para o seu andar de trabalho. Ao chegar, cumprimentou alguns colegas de trabalho e foi até a sua mesa. Ela ligou o computador e riu quando notou que tinha deixado uma bandeirinha do Brasil ao lado do mouse para torcer pela Seleção enquanto trabalhava durante aquelas duas semanas de amistosos. Acabou optando por deixar ali mesmo afim de emendar com a Copa América que seria em três meses.

- Oi, , bom dia - seu chefe se aproximou da mesa.
- Bom dia, Anderson - ela tirou os fones quando percebeu que não deveria estar mais com eles.
- Você poderia dar uma olhada na agenda do time feminino? Acho que não estamos acompanhando o ritmo das páginas delas, vê pra mim, por favor.
- É claro.
- Valeu, . Você é demais.

rolou os olhos quando Anderson se afastou. Ela sempre fazia questão de dar prioridade para o time feminino e só não estava cem por cento focada por conta dos amistosos da Seleção, visto que precisava vigiar o time vinte e quatro horas por dia por conta de , Cássio e Fagner. Prontamente, ela olhou na agenda e viu que o próximo jogo seria dentro de alguns dias no Pacaembu contra o Avaí/Kindermann pelo campeonato brasileiro feminino, foi até a página do futebol feminino e repostou a arte criada anteriormente. Sabia que parte da torcida não se importava com o futebol feminino, até achava algo desnecessário, mas só de imaginar que o time inspirava garotas Brasil afora, ela se sentia bem melhor. O crescimento do futebol feminino no país era algo que a confortava.
O dia foi resumido em estudar as agendas de todas as modalidades na base, masculino e feminino para poder criar todo um cronograma para o mês de abril, não podia se esquecer dos times de futsal e basquete. Tinha jogos importantes pelo Campeonato Brasileiro pelo time feminino de futebol e uma possível decisão de Campeonato Paulista no masculino. sabia que deveria dar prioridade para isso, pois seria o tricampeonato caso fosse conquistado.
Perto das dezoito horas, quando ela já estava organizando sua mesa para ir embora, seu celular começou a tocar. Ela o pegou e prendeu o ar quando viu o nome de na tela. Não sabia se era consequência de um dia longo de trabalho e talvez estivesse vendo coisas ou ele realmente estava ligando para ela. se quer sabia que ele já havia voltado para o Brasil.

- Alô? - tentou atender com a maior naturalidade possível, mas ao ouvir risada dele do outro lado da linha, ela fechou os olhos e respirou fundo. Ele realmente estava ligando.
- Oi, .
- Oi, ...
- Você já saiu do trabalho?
- Estou saindo agora, na verdade - ela disse enquanto desligava o computador e pegou sua mochila no chão ao lado da cadeira.
- Que bom. Pode descer no estacionamento?
- Você já voltou?
- Cheguei ontem.
- Ok, já estou descendo.

saiu em direção ao elevador rapidamente, ainda sem acreditar ou entender o que estava acontecendo. Era óbvio que estaria no estacionamento, ela só não conseguia imaginar o motivo do repentino bom humor dele para com ela, mas de qualquer forma, estava curiosa para ver onde aquilo ia parar. Ela saiu do prédio e foi até o estacionamento, o vento gelado comum do final de março a abraçou, fazendo com que a garota se encolhesse sob sua blusa roxa fininha demais para aquele clima. Caminhou um pouco até encontrar nos fundos do estacionamento encostado no seu carro com os braços cruzados apenas a seguindo com o olhar.
estava habituada a ver ele com roupas de treino ou jogo, mas achava que ele combinava muito mais com roupas casuais. O moletom preto com o escudo do Corinthians no lado esquerdo do peito e o patrocínio da Nike ao lado direito era muito bonito e ela achou que lhe caiu perfeitamente bem. Namorava a peça há algum tempo no site da loja, mas nunca realmente comprou. Talvez fizesse isso depois.
Ela se aproximou dele devagar e, ao parar, cruzou os braços também. Pela primeira vez, não sabia o que dizer perto dele. Tinha sempre uma provocação na ponta da língua ou uma resposta sarcástica, mas daquela vez ela não podia dizer nada, apenas olhar a expressão serena do rosto dele e perceber que sentia falta dele. Um silêncio pairou entre eles por alguns segundos até criar coragem e começar a falar.

- Eu fui um idiota.
- Jura? - foi tudo o que foi capaz de dizer, mas não era o que ela realmente queria.
- Eu sei que você tá chateada comigo e com razão. Me desculpa, , eu não deveria ser tão estupido.
- Eu só não entendi o que eu fiz pra você - encarou o chão quando ele a fitou, o olhar dele estava a deixando nervosa demais.
- Eu... - sentiu toda a sua coragem indo embora e deixou pra lá tudo o que ia contar. - Eu queria me concentrar nos campeonatos e achei que me afastando, poderia fazer isso.
- Então eu atrapalho você?
- Não! Não é isso, não. Eu só... É complicado - ele olhou para os lados. - Não é você, eu só queria poder ficar cem por cento concentrado para poder passar pelo Racing, também falei pouco com o Junior e o Tobias... Me perdoa.

percebeu o quanto ele estava nervoso e se enrolando nas palavras, nem parecia que estava rindo no telefone minutos antes, mas por outro lado, ela estava ouvindo exatamente a palavrinha mágica que esperava. Ponderou um pouco e percebeu que era muito melhor ter a amizade dele do que brigar por tão pouco.

- Ok.

olhou para ela um pouco surpreso com a resposta, mas logo um sorriso singelo se formou no rosto dele. Ele descruzou os braços e os esticou para alcançar e trazer a garota para um abraço de urso bem apertado. , por sua vez, envolveu seus braços ao redor dele também, com a ponta do nariz tocando o ombro dele e o calor do corpo dele sendo transmitido para o dela que estava gelado. Ela fechou os olhos e inalou o perfume dele, sentindo uma sensação inexplicável de prazer e paz percorrendo todo o seu corpo. O vento gelado já não a incomodava mais, se sentia aquecida estando bem ali.
Após o abraço, a soltou, mas viu que ela tremia de frio, então seus braços continuaram sobre os dela afim de aquecer com suas mãos deslizando devagar, fazendo estremecer.

- Você tá gelada...
- Só um pouquinho - ela tentou sorrir, mas ele tinha um olhar preocupado direcionado à ela. - , tá tudo bem. É melhor eu ir.
- Mas você não vai pra sua casa.
- Como não?
- Entra no carro, vamos pra minha.
- E com que finalidade eu iria para a sua casa em uma quarta-feira à noite, ? - ela cruzou os braços enquanto batia o pé nervosamente no chão e ele riu.
- Eu fui um idiota com você e quero me redimir. Vou pedir uma pizza pra gente e contar tudo o que aconteceu comigo nessas duas semanas.
- Não precisa, , tá tudo bem, é sério.
- Vai recusar o meu convite? É isso mesmo?

sabia que ele não iria desistir até que ela concordasse e, para a sorte dele, estava frio demais para que ela continuasse ali fora sem uma blusa.

- Está bem.

abriu um largo sorriso enquanto revirou os olhos rindo e deu a volta para entrar no banco do passageiro. Colocou a sua mochila no banco de trás e viu que ele tinha deixado uma blusa ali.

- Perdeu! - ela pegou a jaqueta de cor salmão do Barcelona e a vestiu.
- Ei!

O perfume que a blusa soltou no instante em que ela se mexeu era maravilhoso. Tão bom que ela precisou se conter para não demonstrar que ele tinha o melhor perfume do mundo. Enquanto ligava o carro e saía daquele estacionamento, tomou a liberdade de ligar o rádio e procurou por uma boa estação. Quando a voz inconfundível de Chester Bennington ecoou pelos alto-falantes do carro, ordenou que ela deixasse ali e os dois cantaram juntos o refrão de In The End.

- Não acredito que você gosta de Linkin Park! - disse eufórico.
- Eu amo Linkin Park.!
- Achei que você gostasse de Falamansa - ele disse rindo e ela acabou por rir junto.
- Também. Sou uma pessoa eclética, posso gostar de rock e forró ao mesmo tempo. E você? Gosta de quê?
- Eu acho que pelo convívio, ouço de tudo no vestiário do time, mas... Não sei, gosto de um pouco de tudo...
- Digo o mesmo, gosto de tudo. Mas mudando de assunto da água pro vinho, tenho uma coisa muito séria pra te dizer.
- O que seria? – enrijeceu os ombros e não desviou o olhar da rua movimentada. Engoliu a seco quando pensou no que poderia ser, que talvez ela tivesse se lembrado daquele pós derby.
- Eu posso saber que caralhos você foi fazer no CT do Grêmio? – se virou pra ele, cruzando os braços. – Você não tem nem ideia do trabalhão que me deu abafar isso! Sorte sua não ter vazado, ou a torcida iria queimar o seu carro e com razão.
- Ah... Isso – ele riu, se sentindo mais tranquilo. – Fui ver uns amigos, você sabe que qualquer jogador faz isso. O Renato me deu um colete, mas não foi nada demais. Eu até dei um passe para o Luan fazer um gol, foi legal. Você não precisa se preocupar com isso, sei separar as coisas.
- Então é sério mesmo que você tem uma rixa com ele? Achei que fosse mídia.
- Não, é verdade, tivemos problemas sim, mas já passou e tudo foi resolvido, não tem mais nada de errado.
- Ai, droga! Você me fez mudar de assunto! Não faz mais isso ou eu juro que te faço engolir o seu contrato!
- Uol! Tá ok, senhora presidente, me desculpa, ok? Não vou mais fazer isso.
- Ótimo.

morava a dez minutos do Parque São Jorge, então a conversa foi encurtada, assim como a música. Enquanto entravam no apartamento do jogador, ele já pedia uma pizza no telefone.

- Tatuapé. Isso - ele disse abrindo a porta para entrar primeiro. - Maquininha, por favor. Tá bom, obrigado. Boa noite.

fechou a porta atrás de si e percebeu que o encarava fixamente, como se pudesse ver através dele, o que fez ele se assustar, sentindo um arrepio percorrendo a espinha.

- O que foi, ?
- O que é isso no seu pescoço? - ela se aproximou espreitando os olhos.

Ele não teve tempo de se esquivar, logo estava tão próxima e com os dedos passando pelo seu pescoço exatamente no lugar onde o chupão de dois dias atrás começava a desaparecer. engoliu a seco porque tinha se esquecido completamente daquelas marcas e porque o toque dela lhe causou arrepios por debaixo da roupa. Se sentiu péssimo por ela ter visto.

- É um chupão? - ele concordou com a cabeça.

prendeu a respiração quando entendeu que ele esteve acompanhado durante aquelas semanas, algo diferente despertou dentro dela, como se quisesse gritar com ele de repente, mas tentou não demonstrar.

- Tem certeza de que foi mesmo jogar futebol? - ela disse em tom de brincadeira, mas seu humor foi por água abaixo naquele instante.
- Depois do último jogo, o Gabriel e o Casemiro queriam sair, convidaram eu, o Arthur e o Everton e fomos para uma boate em Praga. Eu acabei bebendo demais e fiquei com uma americana, mas juro que não foi nada mais do que uns beijos e...
- Calma, , eu não sou a sua mãe - afastou seus dedos do pescoço dele. - Você não tem que me explicar nada.
- Não durou dez minutos, foi péssimo, ela nem sabia quem eu era - se explicava como se implorasse para que não fosse embora. - E quando falei que era jogador, ela me perguntou se eu conhecia o Neymar. Foi ridículo! - ele levou a mão ao pescoço afim de tampar a marca.
- Já falei, você não me deve nenhuma explicação. Relaxa.
- Não gosto de mulher que não entende de futebol.

o encarou por um instante, ainda tentando entender o motivo de ele se explicar tanto para ela. A frase ecoou por sua mente e ela se sentiu aliviada por não só entender, como também por já ter jogado durante a vida. Mais do que isso, era totalmente imersa no futebol. Após ser obrigada a deixar os campos mais cedo, resolveu se dedicar aos estudos e se formou em marketing, além de cursos extras de curta duração na área do marketing esportivo, tudo para poder voltar ao meio e a oportunidade de ser funcionária do clube que a acolheu era gratificante.

- Eu também não gosto de homem que não gosta de futebol - ela cruzou os braços e ele sorriu.
- Não deixa eu fazer isso outra vez, ok?
- Anotado.
- Vem, quero te mostrar uma coisa.

não percebeu, mas puxou pela mão até o quarto. Ela estava pronta para se soltar, mas o simples toque da mão dele sobre a dela foi o suficiente para que ela mudasse de ideia rapidamente. Ao entrar no cômodo, ele acendeu a luz e ela viu todos os troféus e medalhas que ele tinha, além de um closet aberto somente com camisas de time de futebol. Na parede, quatro camisas emolduradas. Camisas de Santos, Rosário Central, Grêmio e Real Madrid estavam naqueles quadros, sendo três com o nome de atrás e a última com o número 7 e o nome Ronaldo, camisa aquela que ela já tinha visto antes. Em cima da cama, haviam mais três camisas dobradas perfeitamente uma por cima da outra e mais três quadros esperando para serem emoldurados na parede junto com os outros. olhou admirada para tudo aquilo.

- Posso? - apontou para as camisas na cama e concordou.

A primeira era a camisa branca do Corinthians na atual temporada com o número 7 e o nome de atrás. A segunda, a da Seleção Brasileira com o número 17 nas costas.

- Você não roubou essa camisa, né?
- Mais ou menos - respondeu rindo.
- Se eu usei, é minha.
- Então eu posso usar essa daqui?

Ela pegou sobre a cama a camisa do Barcelona e a olhou como se suplicasse para ela não fazer aquilo.

- Essa não.
- Como você conseguiu?
- Foi o Arthur.
- Será que o Arthur arruma uma do Ter Stegen pra mim? Que homão!
- Você é doente.
- Você que é o maior fanboy de argentino, seu traidor - ela caminhou até o enorme closet. - Uau! Quantas tem aqui?
- Umas trezentas, não sei...
- Nossa! Posso ver?

concordou e observou mexendo as camisas de um lado a outro. Ela viu que tinha várias camisas de clubes europeus, incluindo uma da primeira temporada de Messi no Barcelona e, por isso, ela passou rapidamente por aquela porque não queria ver se alterando. Tinha também várias camisas de seleções de todo o canto do mundo e de épocas diferentes, seguidas por camisas de times nacionais e podia jurar que todos os times que conhecia que jogaram a série A tinham uma camisa ali, embora o campeão fosse o Grêmio.

- Eu comprava todos os modelos quando eram lançados - se justificou ao ver que o olhar dela parou sobre as camisas do tricolor gaúcho. - Pretendo fazer o mesmo aqui.

Ela concordou e olhou mais algumas, até achar um modelo da camisa do Corinthians do ano de 2015. Olhou o número atrás e gargalhou ao ver que era o 9 com o nome de Paolo Guerrero.

- É sério isso, ?
- Eu deveria tacar fogo nessa merda - murmurou com amargura. - Se eu encontrar com esse filho da puta por aí, não vou me responsabilizar pelos meus atos.
- Ei! Mais respeito com o manto, ok? - ela colocou a camisa de volta no seu devido lugar. - A culpa não é dele.
- Você não viu a cara nojenta dele quando fez o gol... Nossa, eu fico louco só de lembrar! Foi totalmente maldoso, aquele...
- Ele fez um dos gols mais importantes da história do clube e por mais que tenha falado umas groselhas por aí, sou eternamente grata - disse se referindo ao gol do Mundial de 2012 contra o Chelsea.
- Ele também fez um dos gols mais importantes da história do Grêmio, pode acreditar - ele riu, mas era puro nervosismo.
- Já passou, . Calma aí.
- Eu sei - respirou fundo. - Me desculpa.
- Deixa pra lá, fico feliz de conhecer alguém mais clubista do que eu. Me mostra aqui qual é a sua preferida.

Sem pensar duas vezes, foi até a parte de camisas de seleções e puxou um cabide com uma camisa da Seleção Brasileira de 1994, um belo modelo com gola verde e três estrelas sobre o brasão.

- Ano do tetra - sorriu e concordou.
- Não é só o ano do tetra. Você sabe qual é a minha data de nascimento?
- Não sei nem a minha - disse rindo.
- 17 de julho de 1994.
- Ah... Que legal, você nasceu no ano do tetra...
- Não, , eu nasci no dia da conquista do tetra e essa camisa foi usada pelo Romário naquela Copa. Paguei uma nota nessa camisa, mas não me arrependo, é a minha preferida. Segundo a minha mãe, eu não queria esperar e saí da barriga dela mais cedo para ver a disputa de pênaltis, ela diz que eu sou pé quente.
- Nossa, isso é curioso... Eu não sabia disso. Não queria concordar com ela, mas realmente você é pé quente. Eu não vi esse título, mas em compensação, vi o Brasil apanhar para a França na final de 1998.
- Pé frio! - os dois riram. - Eu já vi gente azarada, mas com você é ainda pior.
- Muito obrigada pelo apoio, ! Gratidão, viu?

Ela continuou passeando as mãos pelos cabides, mas sentia o olhar fixo dele sobre ela a observando. Por mais que tentasse não demonstrar, ficava nervosa sempre que isso acontecia, se esquecia até do jeito de respirar. estava tentando com todas as forças, mas sabia que não seria capaz de resistir por muito tempo.

- Impressionante - ela disse ao terminar de ver as camisas de times nacionais. - Até uma camisa do Paulistano você tem. Você sabia que o Paulistano é o quinto maior campeão paulista com onze títulos? O clube se desmanchou em 1929 e mesmo assim ainda está disparado na frente do sexto lugar.
- Eu não sabia disso e teoricamente, o Paulistano ainda existe sim. A gente conhece como São Paulo Futebol Clube.
- Errado! Quando o futebol começou a se modernizar na década de vinte, o time foi totalmente contra a modernização e encerrou as atividades e, mesmo que a instituição Paulistano ainda exista, criaram outro time que se encaixasse nos padrões, o São Paulo.

sorriu para ela maravilhado. Ela sabia tanto de futebol quanto ele e isso era apenas um dos motivos pelos quais ele gostava dela. Uma mulher com um conhecimento tão amplo no assunto era a mulher dos seus sonhos e ela estava bem ali na sua frente.

- Você é uma CDF do futebol, sabia? O que mais que você sabe e eu não sei?
- Em 2007, quando o Corinthians foi rebaixado pra série B, teve uma ajudinha do seu querido Grêmio, até volta olímpica no estádio o time deu, sabia? E quando achei que esse era o ápice da vergonha alheia, ainda se juntaram com o Inter e outros clubes para um churrasco em comemoração. Patético! - ela desdenhou, fazendo cara de poucos amigos. - E é por isso que quando os dois caíram, eu comemorei até não aguentar mais. Eu ri tanto, , mas tanto! Que satisfação foi ver aquele gol do Guerrero. Eu dei um pulo do sofá quando você errou aquela falta.
- , que horror! Isso é clubismo, sabia?
- E daí? Eu me senti vingada - ela deu de ombros. - E é isso por isso que eu quis morrer quando fiquei sabendo que você tinha fechado com o time. Pensei que nunca mais teríamos um ponta depois do Romero.
- Eu vou fingir que não ouvi nada disso - disse rindo. - Você é cruel e sem coração e também precisa de um psiquiatra esportivo urgente.
- Eu sei.

O interfone começou a tocar na sala e correu para atender. continuou no quarto até ele voltar dizendo que a pizza tinha chegado e estava indo buscar. Ela apenas concordou e voltou sua atenção para as duas prateleiras cheias de troféus e medalhas, sendo a mais antiga datada de 1998 e era tão pequena que ela imaginou que não passaria nem pelo pescoço dele nos dias atuais. ficou impressionada com a organização e com o tanto de conquistas que ele já teve ao longo de vinte e um anos no futebol.

- Você vai vir? - perguntou ao voltar e percebeu o olhar perdido de entre os seus troféus.
- É impressionante, - ela se virou para ele. - Como é possível?
- Essa é a graça do futebol, fazer o impossível - ele sorriu e se aproximou.
pousou o olhar sobre as medalhas da Copa do Brasil, Libertadores, Recopa e vice Mundial penduradas uma do lado da outra. pegou a da Libertadores e pendurou no seu pescoço.
- Minha preferida. Como estou?
- Parece um campeão - ela sorriu. - Eu não tenho nem metade dessas, mas a da Libertadores também é a minha preferida.
- Você... Já ganhou uma Libertadores? - perguntou completamente surpreso e concordou rindo. - por que nunca disse nada?
- Você nunca perguntou, ué - ela deu de ombros. - Eu só joguei profissionalmente por três anos, mas ganhei três títulos. Paulista, Copa do Brasil e Libertadores.
- Vou querer ouvir tudo o que você tem pra me dizer enquanto a gente janta - ele colocou a medalha de volta no lugar. - Vem, a pizza vai esfriar.

⚽🖤📱

observava, pela tela do celular, recebendo um passe longo da sua colega de time. Ela driblou as zagueiras adversárias com muita facilidade, ficando de cara com a goleira e mandou a bola para o gol com uma cavadinha cheia de marra. Ele só podia olhar admirado porque nunca tinha feito um gol bonito como aquele. Podia dizer com tranquilidade que certamente era mais habilidosa do que ele e muitos outros por aí.

- Meu Deus - ele devolveu o celular para ela e pegou os talheres no prato. - Você era muito boa. Esse domínio de bola e essa velocidade... Sem contar esse toque marrento na hora de mandar a bola pro gol. Incrível!
- Valeu - esboçou um sorriso tímido nos lábios. - Hoje em dia eu não tenho mais esse pique todo, não aguentaria nem metade disso. É claro que, vendo esses vídeos hoje em dia, eu percebo que meu posicionamento pelo lado direito não era muito bom, sempre rendi melhor pelo meio.
- Você deveria ser treinadora, entende tão bem...
- Ah... - ela soltou uma risada sem graça. - Mulher sendo treinadora no Brasil? Meio impossível.
- Então vai pra outro lugar.
- Não é tão simples assim... Quero dizer, eu tenho planos, quero estudar para algo maior, mas ainda não é o tempo.
- Torço por você.
- Valeu - ela sorriu enquanto encarava o pedaço de pizza no seu prato. - Sabe, ? Achei que eu ia te odiar pra sempre, nunca te imaginei como um amigo.
- Obrigado pela parte que me toca - ele gargalhou. - E eu nunca achei que você poderia ser alguém legal.
- Que bela dupla.
- Com toda a certeza.
- E então? Vai me contar o que acontece nos bastidores da Seleção ou eu vou ter que virar técnica pra saber? – ela deixou os talheres sobre o prato e apoiou os cotovelos na mesa e o queixo sobre as mãos de uma forma juvenil que fez rir.

se ajeitou na cadeira e tentou se lembrar do máximo de detalhes possíveis, desde o corredor das suítes até o passe para Gabriel Jesus marcar o gol.

- O que você quer saber?
- O Alisson é bonito mesmo ou é só coisa de televisão?
- Ele é bonitão mesmo - soltou uma gargalhada. - E super tranquilo, cara de família. Tem aquela cara de sério, mas quando junta com o Firmino, ninguém aguenta. É sério que você só quer saber do Alisson?
- Claro que não, eu tô brincando! Quero saber de tudo. Como eles são, como são os treinamentos, o clima no vestiário...
- Foi incrível. A Granja parece um CT europeu, eles são todos muito unidos e o Tite faz questão de que todos se sintam importantes. Ele disse isso olhando no fundo dos meus olhos no vestiário, foi o suficiente pra eu querer dar a vida no campo.
- Amo essa filosofia do Tite, não é atoa que o Corinthians ganhou tantos títulos com ele - sorriu e concordou. - E o que mais? Fez amizades?
- Com certeza. O Casemiro gostaria de me ver jogando no Real Madrid com ele - riu ao se lembrar do jogador. - E eu conversei muito com o Coutinho, ele é uma pessoa com os pés no chão, abriu o coração e me aconselhou muito. O Thiago também, é um legítimo capitão, me recebeu muito bem. Tem os engraçadinhos... Gabriel, Firmino, Richarlison... Isso sem contar que o Arthur é um dos meus melhores amigos e passar tempo com ele e com o Everton foi como estar de volta ao Grêmio, foi inexplicável. Todos eles são pessoas incríveis.
- E como foi a sensação de entrar em campo?

abriu um largo sorriso, como se ainda estivesse processando tudo aquilo o que viveu. Relembrar aquele momento era como pisar no gramado novamente e sentir o coração batendo forte no peito. Ele mal podia esperar para fazer aquilo novamente se tivesse mais uma chance.

- Foi um sonho realizado. Me senti a pessoa mais feliz do mundo, sem exagero. Foi uma pena eu ter perdido aquele gol, mas... Tá tudo bem, o que importa é que o time ganhou.
- E você acha que tem chances de jogar a Copa América?
- Não sei... Espero que sim, mas acho bem difícil. De qualquer forma, sinto que fiz a minha parte.

Eles continuaram conversando sobre o tempo dele com a Seleção e contou tudo o que podia se lembrar. prestava atenção em cada palavra e achava linda a forma com que ele contava a sua experiência, ela podia ver a paixão pelo futebol brilhando nos olhos dele e se alegrou junto. Estava arrependida por ter o julgado tão mal sem ao menos o conhecer primeiro.

- Eu preciso fazer uma coisa - disse se levantando da cadeira. - Tá me incomodando ao extremo.
- O que você vai fazer?

Ela pegou na sua mochila o seu estojo de maquiagem e colocou sobre a mesa da cozinha. olhou para ela sem entender o que ela pretendia fazer.

- O que é isso?
- Eu vou ter que cobrir esse chupão porque eu não consigo parar de olhar pra ele. É sério.

Ela abriu o estojo e tirou de lá o seu corretivo, base e pincel.

- Não se mexe ou o corretivo vai parar na sua cara.

apenas concordou e deixou que ela se aproximasse. Fechou os olhos quando sentiu os dedos dela em contato com a sua pele novamente, pois queria aproveitar aquele momento antes que ela se afastasse. passou uma camada de corretivo e uma de base. Seus dedos deslizavam devagar sobre a pele dele intencionalmente. Por mais que estivesse incomodada por saber que ele estivera em uma boate em Praga muito bem acompanhado, ela ainda assim queria prolongar aquele momento.

- Seja mais discreto na próxima vez - ela se curvou um pouco para ter certeza que a marca estava totalmente coberta.
- Não vai ter uma próxima vez. Eu não sou o tipo de jogador que se aproveita disso para ter todas as mulheres do mundo. Nenhuma delas me notaria se eu não fosse jogador.
- Isso é verdade, o que é uma pena... Pronto, acho que ficou bom.

se sentou em seu lugar novamente e o observou abrir a câmera do celular afim de olhar o próprio pescoço. Ela riu quando percebeu que ele estava tirando uma selfie.

- É sério isso? Eu quero também.

Ela se aproximou de novo, encostando seu rosto no dele e os dois colocaram as línguas pra fora para que ele tirasse uma foto deles. Em seguida, voltou para o seu lugar.

- Valeu, nem dá pra ver.
- É a mágica da maquiagem. Comigo funciona sempre.
- Mas você é bonita, não precisa de maquiagem.
- Ah, que besteira! - ela deu uma risada visivelmente sem graça. - Até porque eu devo estar linda nessa jaqueta do Barcelona, com o cabelo do mesmo jeito que eu acordei e com a boca suja de molho de pizza.
- É claro que sim - riu também - acho mil vezes mais bonita assim do que aquelas garotas siliconadas e artificiais.
- Então você tá me dizendo que nunca ficou com nenhuma bonitona? - espremeu os olhos e franziu as sobrancelhas. - Nunca namorou com uma dessas?
- Só por quê sou jogador de futebol, eu tenho que namorar com uma loiraça com lentes de contato e silicone?
- Hum... Sim?
- Não. Isso não me atrai. Minha ex era mais ou menos assim e eu achava ela linda. Do que adianta ser bonita por fora, mas com um caráter feio?

parou para pensar que ele nunca havia mencionado qualquer ex-namorada e se lembrou de quando olhou o Instagram dele e não encontrou nenhuma mulher que não fosse da família. Sabia que não deveria se intrometer dessa forma, mas já estava perguntando quando se deu conta dos próprios pensamentos.

- O que aconteceu? Sei que não é da minha conta, mas... Nunca vi um jogador pensar assim.
- Ela me traiu - respondeu prontamente. - Depois de um Grenal com um membro da comissão técnica do Internacional, estava com a camisa deles e tudo mais, feliz da vida... E ela era tudo isso que eu falei, linda por fora e com um caráter horroroso. Namorei cinco anos com ela, nem acredito que perdi tanto tempo com uma pessoa tão fútil.
- Eu sinto muito, - disse com sinceridade.
- Tá tudo bem - ele sorriu pra ela. - Eu não vejo problema nenhum em uma mulher viver de procedimentos ou quilos de maquiagem na cara, cada um é livre pra viver como quer, eu só não me atraio por isso mais. Prefiro as inteligentes de beleza natural.
- Você é um cara bonito, deve ter um monte de mulheres lindas atrás de você - ela disse em tom de brincadeira, mas não queria pensar naquilo, pois imaginava que não chegava perto de nenhuma delas ou do padrão de beleza exigido por ele.
- Deve ter, eu não ligo pra isso - deu de ombros. - Não quero chegar em casa no fim do dia e ter alguém que não queira ouvir sobre o meu dia. Já falei, não gosto de mulheres que não gostam de futebol - ele sorriu. - E você? Tem cara de quem é bv.
- Ei! - riu - eu já namorei, ok? Eu ainda jogava na época e, quando eu assinei com o Corinthians, ele não soube lidar com o fato de que eu realmente queria ser jogadora, não me apoiou em nada... Então eu terminei, não iria desistir do meu sonho e ficar com alguém que só me colocava pra baixo.
- Que imbecil! Se fosse eu, teria te apoiado cem por cento. Sinto muito mesmo por você ter que lidar com esse tipo de cara.
- Tá tudo bem, eu já superei - ela esboçou um fraco sorriso ao se lembrar de um passado que parecia muito distante pra ela. - minha carreira era mais importante e espero que você coloque a sua em primeiro lugar também.
- Sempre, sempre e sempre, mas... - abaixou a cabeça e percebeu que ele estava sorrindo. - Dependendo da pessoa, eu adoraria ter na minha vida.

sorriu junto, mas sentiu um frio na barriga. Interpretou de várias formas o que ele disse. Estava se referindo a ela? Se sim, o que ela diria? Se não, quem seria?

- Eu vou arrumar essa bagunça.

Ela se levantou, pegou seu prato e em seguida o dele. Foi até a pia, mas veio logo atrás dela com os copos.

- Você não vai lavar a louça.
- É claro que eu vou, , é o mínimo.
- Não vai, não.

Ele deixou os copos sobre a pia e tomou os pratos da mão dela. Abriu a lava-louça e colocou todas as louças lá.

- , lava-louça. Lava-louça, .

riu de si mesma quando percebeu que era muito óbvio, ele certamente teria uma lava-louças naquela cozinha que deveria ser mais cara do que a casa dela inteira e mobiliada.

- Eu deveria ter imaginado...
- E se tentar lavar a louça de novo, te jogo dessa sacada, estamos entendidos?
- Desculpa, desculpa. Não está mais aqui a Amélia.
- Ótimo - ele sorriu. - Nossa, , eu preciso falar. Você fica muito gata com essa jaqueta do Barcelona, deveria usar sempre.

, por mais que tenha gostado do elogio e sentiu o rosto ganhar cor, tirou a jaqueta e entregou para , em seguida saiu da cozinha e foi em direção ao quarto, pronta para aprontar como uma criança sapeca. foi atrás, sem entender muita coisa, e viu ela mexendo nas camisas do closet, procurando alguma específica. Tirou uma do Real Madrid no clássico modelo branco e vestiu, achava que o clube tinha uma das camisas mais bonitas do mundo e ela se sentia bem em vestir. Embora tivesse ficado enorme, ele achou que combinasse com qualquer time.

- Que tal? Como estou?
- Horrível - ele riu. - Tira isso, não combina com você.
- Então o que eu devo vestir?

Ele, entrando na brincadeira, procurou no meio das camisas e quando encontrou o que queria, um sorriso travesso se formou nos seus lábios e ele tirou a camisa do cabide.

- Nem fodendo! - deu um passo para trás quando finalmente viu a cor verde. - Eu não vou vestir isso!
- É só um time, - ele riu. – Não tem nada demais.
- Não vou vestir uma camisa do Palmeiras, , nunca!
- Vai, , você consegue.
- Eu não vou fazer isso - ela cruzou os braços. - Sem chances.

esticou a camisa nas mãos e, antes de poder entender, ele se aproximou e a prendeu nos seus braços, envolvendo a camisa alviverde nela.

- Me solta! - ela se debateu, mas ele era muito mais forte, obviamente. - !
- Pronto, vestiu - ele gargalhou. - É só uma camisa.
- Não é - ela choramingou de uma forma infantil até demais enquanto o jogador se divertia com aquilo. - Por favor, !
- Você fica bonitinha com raiva. Chega a ser fofo.
- Eu vou te matar, eu juro!
- Quando surge o alviverde imponente... - ele começou a cantar o hino do clube e gargalhou quando ela fez cara de quem iria chorar. - Canta comigo, .
- Por favor! – ela esperneou, ainda tentando se soltar.
- Não adianta, não vou soltar você.
- Eu te odeio tanto, !
- Olha aqui nos meus olhos e repete.

parou de se sacudir e o encarou. Estava tão próxima que podia sentir a respiração dele batendo contra o seu rosto. Os olhos atentos e curiosos dele prenderam toda a atenção dela e, por um instante, ela se esqueceu até do próprio nome.

- Não dá, seu nariz é grande demais. Narigudo.

Ela tomou um susto quando ele se aproximou ainda mais e as testas e narizes se tocaram. Mais alguns centímetros e seus lábios se tocariam.

- Melhorou? Diz.

fechou os olhos quando percebeu que sua respiração estava alterada e ela não era capaz de pronunciar uma palavra que fosse sem desejar que a boca dele estivesse colada na sua. , por sua vez, pensava a mesma coisa.

- Se você acha... Que... Vai conseguir me beijar com essa camisa do Palmeiras no meio... Saiba que eu prefiro a morte.

Ela sentiu os braços dele se afrouxando e logo ele a soltou e se afastou. Se xingou mentalmente por colocar uma camisa acima do seu desejo, mas quando viu que ele estava rindo, se sentiu aliviada por perceber que estava tudo bem e que ele levou na brincadeira.

- Eu nem ia te beijar. Não com essa camisa do Real Madrid.
- E com aquela ali? - apontou para a camisa de Lionel Messi sobre a cama.
- Não toca na minha camisa! - ele esbravejou e ela gargalhou.
- Ok, ok. Vou tirar essa, mas não é um convite pra beijar na boca - ela disse tirando a camisa e devolvendo à coleção.
- Larga mão de ser tarada, garota.
- E você larga essa camisa ou eu vou fazer ela de pano de chão.
- Clubista - ele colocou a camisa de volta no cabide e quando ele se virou, tomou um susto ao ver vestindo a camisa que ganhou de Arthur. - Isso já é demais! Pode tirar!
- Eu preciso mostrar para as pessoas que estou usando uma camisa usada pelo Lionel Messi!
pegou o celular no bolso e tirou uma selfie sorrindo e, por mais que achasse que aquela camisa lhe caísse muito bem, ainda era uma camisa especial.
- Você vai tirar essa camisa, sim.

Ele partiu para cima dela afim de tirar a camisa à força e não teve tempo de reagir. Até tentou se defender, mas foi fácil demais para recuperar o que era eu por direito.

- Eu falei sério quando eu disse que ia te jogar da varanda.
- Então você vai fazer companhia pro goleiro Bruno na cadeia - deu de ombros e saiu do quarto, indo em direção à sala. - De qualquer forma, acho que já tá na hora de eu ir embora.
- Tá cedo ainda - a seguiu. - Por que a gente não desce lá na quadra e joga um pouco?
- Pra eu te humilhar de novo? – se virou de repente, cruzando os braços de forma afrontosa.
- Agora eu tô mais experiente - ele sorriu triunfante. - Já volto.

saiu da sala e pouco depois voltou com uma calça de treino no lugar do jeans que usava antes e uma bola de futebol.

- Vamos?
- Sua sorte é que estou de legging hoje.

Eles saíram do apartamento e desceram até a quadra do condomínio. Por ser uma quarta-feira à noite, não tinha ninguém, o que os dois acharam ótimo. Entraram na quadra lado a lado enquanto olhava para os lados, se familiarizando com as medidas da quadra.

- Damas primeiro - jogou a bola para que pegou e colocou no centro da quadra.
- Não pensa que vou pegar leve só porque está sendo gentil. Cai dentro.

Imediatamente, esticou a perna afim de tomar a bola, mas foi mais rápida e chutou pelo meio das pernas dele, girando o corpo em seguida e indo parar do outro lado. continuou na mesma posição, de cabeça baixa. não podia ver seu rosto, mas quando esticou o pescoço, viu que ele estava rindo.

- É sério que você acabou de me dar uma caneta?
- Você ainda não viu nada - ela sorriu.

Ele deu meia volta, recuperou a bola em um movimento rápido e começou a correr pela quadra. foi atrás, mas não tinha o mesmo pique de anos atrás e sabia que uma das características dele era a velocidade, além de ele ter preparo físico para tal.

- Você esqueceu que eu não jogo mais? - ela chegou ofegante e se apoiou nos seus joelhos. - Me dá só um minutinho - respirou fundo e soltou um longo suspiro enquanto ele ria. - Você é muito rápido.
- Eu sei.
- Só que eu sou mais esperta.

recuperou a bola e correu no seu próprio ritmo para a direção oposta, enquanto vinha logo atrás tentando não abusar da sua velocidade para recuperar a posse da bola. tomou um pouco de distância e chutou a bola com o calcanhar na intenção de dar um lençol nele, mas pulou e dominou a bola com o peito, em seguida começou a fazer embaixadinhas.

- Você deve achar que eu sou amador, né? - ele disse mantendo os olhos na bola.
- Acho. Joga pra mim, vamos de altinha.

Ele tocou para ela que dominou a bola na coxa, mas começou a fazer as embaixadinhas logo em seguida e hora ou outra fazia alguma graça, o que deixou admirado com a habilidade dela.

- Tenta jogar na minha cabeça.

concordou e deu um chutão pra cima que deu errado, dominou com o ombro, fez algumas embaixadinhas e chutou de novo. Desta vez conseguiu equilibrar a bola na cabeça e começou a contar o tempo.

- Dezoito, dezenove, viiiinnn... - ele acabou desequilibrando e a bola caiu no chão. - Vou contar como vinte. Impressionante.
- Obrigado - ele sorriu e colocou o pé sobre a bola. - Aguenta mais?
- É óbvio - ela riu e partiu para a marcação.

Eles continuaram jogando mais um pouco até finalmente conseguir dar um chapéu em , mas eles pararam quando ouviram assovios e aplausos vindos do lado de fora da quadra. Um grupo de garotos aplaudia a jogada, então eles riram e se aproximaram. Imediatamente, os adolescentes reconheceram , enquanto deu um passo para trás afim de esquecerem que ela estava ali.

- Tomando um chapéu de uma menina? - um deles perguntou e riu.
- Não é qualquer menina, ela era jogadora também - ele olhou para . - Vem aqui.

Ela se aproximou, ainda receosa se sofreria algum tipo de machismo da parte dos meninos.

- Você joga muito - outro disse empolgado. - Jogou em que time?
- Valeu - ela sorriu timidamente. - Corinthians, mas já faz um tempo que eu parei.
- Eu nem sabia que tinha um time feminino do Corinthians - um com uma camisa do Chelsea disse. - Mas achei legal, você é boa.
- Ela nem é tudo isso, eu é que estou cansado - disse rindo e os garotos riram também. - É brincadeira, ela é muito boa.
- A gente percebeu.

Eles pediram para tirar uma foto com e ele aceitou. Em seguida pediram com também, e, por mais que ela tenha ficado surpresa, acabou aceitando e também tirou uma foto com eles. Por mais que os garotos não se importassem com futebol feminino, uma garota que mandava bem com a bola nos pés era algo diferente e interessante. Após a foto, eles se despediram e voltaram para o apartamento de .

- Isso foi incrível, mas acho que agora eu realmente preciso ir, tô exausta e amanhã eu trabalho.
- Tudo bem, eu vou te levar pra casa. Se importa se eu tomar um banho primeiro? Prometo que é rápido.
- Vai lá.

foi na direção do quarto para pegar uma roupa e depois entrou no banheiro enquanto se sentou no sofá e pegou seu celular. Viu a foto que tirou com a camisa do Barcelona e gostou, então decidiu postar.
Ela postou a foto e continuou rolando o feed até sair do banheiro e voltar para a sala, empesteando o ambiente com um delicioso cheiro de banho tomado misturado com desodorante masculino, além de estar sem camisa, detalhe importante. desviou o olhar para a tela do celular e tentou fingir que não era nada demais, mas prendeu a respiração quando ele se aproximou e pegou a jaqueta no sofá ao seu lado.

- Será que você pode fazer a gentileza de se vestir? - ela olhou para o outro lado e ele soltou uma gargalhada.
- Nunca viu um cara sem camisa?
- É sério, .
- Se eu me importasse, acha que eu sairia do banheiro assim? Eu tiro a camisa no estádio na frente de todo mundo, é normal - ele riu. - Garotas não trocam de roupa na frente das outras no vestiário também?
- Sim, mas a gente não está no vestiário e você não é uma garota - ela olhou pra ele. - E tá frio, você pode pegar um resfriado.
- Não precisa ficar nervosa - vestiu a jaqueta e fechou o zíper. - Desculpa se eu te deixei sem graça, às vezes eu esqueço que não posso andar sem camisa por aí.
- Tá tudo bem - ela sorriu de lado. - Você até que é bonitinho, sabe? As meninas podem se apaixonar.
- Vou levar como um elogio.

se levantou e pegou sua mochila para colocar nas costas. Quando se virou, segurou o seu braço.

- Vem aqui.

Ele a puxou e a envolveu nos braços. se assustou, mas não resistiu em retribuir. O cheiro de banho tomado entrou pelas suas narinas e ela desejou ficar ali para sempre. , por sua vez, estava hesitante em dizer tudo o que queria, mas sempre perdia a coragem ao pensar nisso.

- Espero que tenha me desculpado - ele disse ao se separarem.
- Deixa isso pra lá, , já passou. Tá desculpado - ela sorriu. - Obrigada por hoje, foi bem legal.
- Que bom que você gostou – ele sorriu de canto, satisfeito. - Eu estava pensando... Como só vou me reapresentar na segunda-feira, achei que... Não sei, talvez a gente poderia ver o jogo de domingo juntos aqui... O que você acha?

parou um instante para analisar e estava em dúvida se aquilo era uma espécie de convite para um encontro ou não. Olhou para e ele parecia um pouco nervoso, como se realmente estivesse a chamando para sair.

- Hum... Claro! Vai ser ótimo, combinado.
- Combinado - ele sorriu. - Então vamos?
- Vamos.

⚽🖤📱

entrou em casa com um sorriso idiota no rosto. Se sentia como um garoto, mas não se importava se aquela era a sensação de gostar de alguém. Estava há tanto tempo sozinho que já não se lembrava mais o que era sentir frio na barriga ou ficar nervoso perto de uma garota.
Ele se jogou no sofá e ficou alguns instantes processando tudo o que acabou de acontecer. Queria apenas se desculpar, mas conseguiu muito mais do que isso e o fato de quase terem se beijado foi o suficiente para que ele a convidasse para assistir o jogo no domingo com ele. Gostaria de ir ao estádio, mas parecia muito mais acolhedor em casa e com a garota que estava afim.
Pegou o seu celular no bolso e abriu seu Instagram. De cara, a primeira publicação era de com a sua camiseta do Barcelona e ele riu, achava que as cores do time catalão combinavam perfeitamente com ela (e as cores de Real Madrid, Palmeiras e Corinthians também). Não perdeu a oportunidade e deixou um comentário.

"Conheço essa camisa aí 😍 #ForçaBarça ❤"

Quando se deu conta, já estava olhando a foto que tiraram mais cedo. Ficou um pouco tremida, mas ele achou divertida. Foi vergonhoso o suficiente ter visto as marcas no seu pescoço, mas ficou aliviado quando ela as cobriu com maquiagem e ainda topou uma foto. Ficou hesitante se deveria postar ou não e achou melhor não fazer isso, não queria se expor e expor ela também. No lugar, postou a selfie após ter certeza que não dava para ver as marcas no pescoço. Colocou emojis em preto e branco fazendo referência ao seu moletom do clube e isso foi o suficiente para que chovesse comentários, a maioria femininos e diga-se de passagem, ele fazia sucesso entre as corinthianas, gremistas e agora as torcedoras da Seleção também.

@phil.coutinho: tá bonitão, irmão!
@corinthiansfutebolfeminino: pai amado 🤩🖤
@bruno.mendezz: hermosoooo.
@casemiro: vem pra Madrid, lindão! 😍
@.: quero pra mim 😍😍😍😍 (o moletom, é claro)

Ele se pegou rindo do comentário e fez uma nota mentalmente para não se esquecer de dar um moletom daquele para ela depois. Sem pensar duas vezes, respondeu no particular.

@.Fontes07: tem certeza que quer apenas o moletom? 😏

E logo em seguida, respondeu.

@.: e o que mais poderia ser?
@.Fontes07:
não sei! O cara da foto parece ser bem gente boa 😏
@.: ele é bonitinho, mas nunca me notaria 😔
@.Fontes07: tem certeza disso?
@.: absoluta!
@.Fontes07: talvez você esteja enganada 😜 boa noite!

estava pronto para deixar seu celular de lado quando recebeu uma mensagem do seu treinador perguntando se ele poderia comparecer ao CT no dia seguinte e ele respondeu que sim, estava de bom humor o suficiente para ir ao trabalho até mesmo no seu dia de folga.

Capítulo 13 - Semifinal

pisou no gramado e respirou fundo. O agradável sol da manhã o abraçava de forma receptiva e ele se sentiu muito bem por estar de volta ao seu clube depois de duas semanas. Por mais que a Granja Comary fosse grande e inovadora, ele ainda preferia a comodidade do CT Dr. Joaquim Grava.

- Olha o bonitão aí, nem dá mais bom dia! Marrento – Pedrinho disse ao avistar passando pela beirada do gramado, o camisa 38 se aquecia com os demais.
- Garoto, quem vai jogar na Olimpíada é você, eu não tenho motivo pra me achar! – respondeu divertido e foi até o grupo de jogadores que se aquecia.

Cumprimentou alguns de seus colegas que o parabenizaram pelo jogo contra a República Tcheca e foi até seu treinador. Fábio convidou para se afastar para que pudessem conversar melhor.

- Bom dia, .
- Bom dia, professor.
- Eu queria falar com você em particular. Me acompanha, por favor.

concordou e o seguiu até a lateral do campo. Carille cruzou os braços e soltou um longo suspiro. nunca sabia o que esperar do seu treinador.

- Parabéns pelo jogo, aquela assistência pro gol foi impecável.
- Obrigado.
- Eu sei que você, o Cássio e o Fagner foram liberados pra voltar só na segunda-feira, mas domingo é a semifinal e eu preciso de vocês. O jogo é contra o Santos e aquele time é muito trabalhoso, preciso dos meus melhores jogadores. Você topa voltar a treinar e jogar no domingo?

Imediatamente, se lembrou do convite que fez para na noite anterior. Por mais que quisesse jogar a semifinal, gostaria ainda mais de poder assistir ao jogo com ela.

- Tudo bem, eu jogo no domingo.
- Obrigado. Eu quero você jogando os dois jogos, então vou poupar alguns de vocês no jogo de quarta-feira contra o Ceará. Vamos viajar para Fortaleza e eu não quero vocês cansados.
- Tem certeza? Eu aguento jogar numa boa.
- Eu sei que você aguenta, mas não quero arriscar. Tenho pensado muito e tenho que escolher o que é prioridade pro time. Desculpa por fazer você perder sua folga, mas vou compensar isso.
- Não se preocupa, professor, eu fico feliz em voltar.
- Ótimo, então pode ir se trocar e ir pro aquecimento.
- Claro! Me dá só um minuto, preciso fazer uma ligação.

Carille concordou e se afastou, indo para o segundo campo que estava vazio. Pegou o celular no bolso e discou o número de .

- Já está com saudades, ?
- Convencida - ele sorriu ao ouvir a voz dela. - Eu só achei melhor te avisar antes de chegar até você.
- O que foi?
- Vou jogar no domingo.

Um breve silêncio se estendeu na linha e se perguntou mentalmente o que achava disso.

- Isso é ótimo, o time precisa de você. Eu assisti uns jogos do Santos e vai ser um jogo bem difícil. O Sampaoli não é flor que se cheire, não tem nada a ver com o Carille.
- É, eu sei... Acho que nosso jogo vai ficar pra quarta-feira. Não vou ser relacionado para o jogo no meio da semana.
- Não tem problema, , tudo o que mais quero é ver o time campeão tanto quanto você.
- Então está marcado na quarta-feira? – ele abriu um largo sorriso com a possibilidade de ela concordar.
- Claro que sim.
- Ótimo... Preciso desligar, vou treinar.
- Tá bom, vai lá. Bom treino.
- Valeu. Tchau.

desligou e foi em direção ao vestiário. Logo estava com o uniforme de treino e voltou para o gramado. Teve que se desviar de uma bola que veio na sua direção chutada por Pedrinho.

- Qual é a sua doença?
- É pra você aprender a chutar no gol na próxima vez. Arrebentou, cara!
- Valeu - sorriu. - Vou tentar fingir que não tem um goleiro na próxima vez.
- É assim que deve ser.
- Agora você não pode mais me zoar porque nunca fui convocado – respondeu bem-humorado, fazendo o meia gargalhar.
- Mas agora precisa ganhar um título também.
- Meu Deus, Pedrinho, você não me dá paz nunca...
- Se está ruim pra você que chegou agora, imagina pra mim que aguento ele nos últimos dois anos – Gabriel disse a alguns metros de distância deles.
- Tenho pena de você por isso, Gab. Me ensina o segredo pra não enlouquecer.
- Abstrair, , abstrair. Ele é como aqueles cachorrinhos que se você der muita atenção, vira seu melhor amigo pra sempre.
- Ei! – Pedrinho protestou chutando outra bola na direção de , mas o mesmo desviou.
- Que pontaria fraca, meu amigo... Bem, se me derem licença, preciso ir colocar o uniforme e mostrar o que é uma boa pontaria. Já volto.

⚽🖤📱

Aos quatro minutos de jogo, Gabriel abriu o placar para o Corinthians com um gol de cabeça, o que fez o estádio em Itaquera tremer. Infelizmente a alegria do time alvinegro durou pouco, porque aos oito minutos, o clube da baixada empatou o jogo e a partir dali passou a dominar a partida em todos os aspectos, o que deixava os corinthianos desconcertados, inclusive o treinador Fábio Carille, que maquinava na sua mente formas de fazer seu time reagir.
não se lembrava quando foi a última vez que havia jogado contra um time tão eficiente. Apesar de ser seu primeiro clube, não estava habituado com o estilo de jogo santista e não conseguia passar pela marcação forte do time adversário, o que o deixava frustrado, mas cada vez mais motivado à continuar tentando. Ele estava muito bem marcado e até os trinta minutos do segundo tempo, ainda não tinha conseguido finalizar um chute ao gol.
Apesar de o clube praiano estar muito superior na partida, a sorte estava do lado corinthiano. Pedrinho foi derrubado na entrada da grande área e uma enorme discussão começou entre jogadores afim de saber se seria falta ou pênalti. Os jogadores e torcida do Corinthians pediam pênalti, mas após consultar o árbitro de vídeo, o juiz acabou por marcar apenas cobrança de falta.
Enquanto o goleiro santista ajustava a barreira, se preparava para bater a falta. Era sua chance de fazer valer a lei do ex e tirar seu time do sufoco. Ao ouvir o apito, ele se preparou e chutou a bola que fez uma curva invejável para dentro do gol, sem dar chances para a defesa do Santos. Gol do Corinthians aos quarenta minutos do segundo tempo para o delírio da torcida no estádio lotado e também dos jogadores. foi abraçado pelos seus colegas, mas logo em seguida imitou um peixe afim de provocar o rival e comemorar ainda mais o seu quinto gol no campeonato e empatando na artilharia do time com Gustavo. Ao fim da partida, ele se ajoelhou no campo e agradeceu a oportunidade de ajudar o time.
Após dar algumas entrevistas, ele seguiu com o time para o vestiário e lá foi bem recebido pelos seus colegas de elenco com aplausos pelo gol. Ele fez uma reverência divertida e riu, vitórias sempre o deixavam de bom humor. Em seguida, foi até o banco onde seu uniforme estava antes e se sentou, sentindo todo o seu corpo aliviar. Se livrou das chuteiras e meiões, seguido pela camisa grudada no corpo por causa do suor e respirou fundo, soltando um longo suspiro depois. O primeiro jogo da semifinal havia terminado e seu time tinha uma vantagem para o próximo domingo.
Antes de ir tomar banho, pegou seu celular e viu que havia uma mensagem de o parabenizando pela partida e pelo gol.

"Parabéns pelo gol, seu tiriça 😍 eu já estava quase surtando aqui"

Ele riu e respondeu imediatamente com uma foto sua no mesmo lugar em que estava.

"E essa é a cara de cansado de quem fez de tudo pra você não surtar 😜 ainda tô no vestiário, mais tarde a gente se fala 😘"

- Deixa eu ver isso aí - ele foi surpreendido quando Mateus tomou o celular da sua mão. - Tá falando com a gata, né?
- Ei!
- ? Tá ficando com a ? - um sorriso largo se abriu nos lábios dele.
- Não tô ficando com ela - rebateu prontamente e pegou o celular de volta.
- Tá tudo bem, cara, ela é a maior gata. É uma pena que ela não me quis, mas que bom que ela tá com você.
- Quem tá com quem? - Pedrinho se aproximou após sair do banho e olhou para . - Tá namorando?
- Eu não tô namorando com ninguém - o camisa 7 protestou, tentando se defender. - É coisa da cabeça do Vital.
- Relaxa! Isso explica aquela batida certeira no gol - Pedrinho disse e começou a rir junto com Vital. - Quem é a garota?
- Não tem garota!
- Tudo bem por aqui? - Bruno se aproximou.
- Bruno, você que é o best friend dele, responde pra gente: tá namorando ou não?

Bruno olhou para Vital que fez a pergunta e depois olhou para que implorava com o olhar para que o amigo não entrasse na brincadeira. Ele, sabendo o quanto era constrangedora a situação, achou melhor sair em defesa do amigo.

- Yo no sé. pode namorar com quem quiser.
- Quem tá namorando?
- Aaaah! - se virou, batendo com a palma da mão na parede quando ouviu Gabriel perguntando próximo deles. – Eu aposto que as meninas do feminino têm assuntos no vestiário mais interessantes do que os de vocês!
- Manda um abraço pra depois, a gente tá morrendo de saudades dela - Pedrinho disse por fim e se afastou rindo junto com Mateus.
- Odeio eles - disse sério, mas acabou rindo. - Você sabe que eu tô falando a verdade, né?
- Sí, sí... Mas não sei por quanto tempo.
- Como assim?
- - Bruno riu. - yo no nasci ontem.
- Mas eu... - desistiu de se defender, sabia que não poderia enganar Bruno. - Tem certeza que você só tem dezenove anos? Você é um adolescente muito maduro e estranho.
- Desde o ano passado - o zagueiro riu e se afastou logo em seguida.

apenas deu de ombros e pegou suas coisas para ir tomar banho afim de tirar aquele cansaço do corpo.

- Ei, !

O jogador deu meia volta e viu que Gabriel vinha na sua direção, também ia tomar banho.

- Sim?
- Aquilo que eles falaram é sério?
- Claro que não. Até parece que você não conhece aqueles dois.
- Eu só tô falando porque não vejo problema nenhum. Se você gosta de uma pessoa, deveria ir falar com ela. Deu certo comigo.
- Vocês fazem parecer muito simples, mas... - ele percebeu que estava perto de se confessar. - A única coisa que importa pra mim agora, é chegar na final. Licença.

Após o banho, esperou um pouco até que todo o time e comissão técnica estivessem prontos para irem para o ônibus que os levaria embora. Tudo o que ele mais queria era cair na cama e descansar após um jogo que lhe esgotou de todas as formas. Quando já estava em casa, ele pegou o celular e ligou para .

- O homem da partida!
- Oi - ele sorriu. - O que você achou do jogo?
- Horrível, nunca vi o time apanhar tanto, mas que bom que você e o Gabriel estavam em uma noite inspirada. O seu gol foi lindo, aquela curva que a bola fez foi típica de Cristiano Ronaldo.
- Valeu, ... Vai vir assistir o jogo comigo na quarta-feira, né?
- É claro! Vai ser como assistir o jogo dentro de campo - ela riu. - Espero, no mínimo, que tenha pipoca pra mim.
- Vou fazer pipoca pra você, eu prometo.
- Acho bom.

Um breve silêncio se instalou na linha, mas não um silêncio ruim ou constrangedor, ambos sorriam em lados opostos da ligação simplesmente por estarem conversando um com o outro. Gostariam de poder conversar pessoalmente, mas já era o suficiente por telefone.

- O Vital tomou o celular da minha mão no vestiário e perguntou se a gente estava namorando - disse de repente pegando de surpresa.
- E o que você disse?
- A verdade - ele riu. - Ele disse que era uma pena você não querer nada com ele.
- É uma pena mesmo, mas o que posso fazer? Não dá pra gostar de todo mundo, né? Ele é legal, adoro ele como amigo, mas não dava.
- E você gosta de alguém?

Imediatamente se arrependeu por ter feito uma pergunta tão idiota. Se sentia como um adolescente de quinze anos tentando impressionar uma garota na frente dos amigos.

- Eu não te dei essa intimidade, - respondeu rindo, embora quisesse muito dizer que sim e também revelar a pessoa. - Preciso desligar, a pizza chegou.
- E não me convidou?
- Não, você não pode ficar comendo essas coisas. Tchau.

desligou e ficou encarando o celular por alguns segundos ainda se sentindo estúpido pela pergunta que fez. Agiu totalmente por impulso na esperança de que ela respondesse que sim, mas se arrependeu no mesmo instante por forçar algo que ele não sabia se era recíproco ou não.
Ele torcia para que sim.

⚽🖤📱

procurava, no meio de suas roupas, algo que pudesse vestir naquela noite. Sabia que estava indo apenas para assistir um jogo, mas o seu lado feminino gritava para que ela estivesse apresentável dessa vez ao invés de vestir uma legging com uma blusa roxa de quando tinha dezessete anos como naquele dia em que encontrou com no estacionamento. Se sentia ridícula por estar fazendo aquilo, mas queria que ele a notasse para além de uma pessoa normal. Não sabia se era um encontro não, mas gostaria de estar bem vestida caso fosse.
Ela procurou um pouco, mas não encontrou algo que realmente gostasse, apostou na camiseta branca e básica de sempre. Pegou sua calça jeans de todos os dias e um tênis preto. Pensou em prender o cabelo, mas achou que passava tempo demais com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo e decidiu deixar solto. Se olhou no espelho e por mais que tivesse gostado da roupa, sentiu a necessidade de passar algo no rosto também. Chegou à conclusão de que base e rímel seriam o suficiente para esconder suas olheiras de quem estava cansada após mais um dia de trabalho, além de um

- Pai, tô indo assistir o jogo com uns amigos - disse descendo as escadas e avistando seu pai deitado no sofá assistindo à novela. - Empresta o carro? - A chave tá na cozinha, só não volta tarde.

concordou e foi até a cozinha. Encontrou a chave do carro sobre o balcão e saiu rapidamente para evitar mais explicações. Não queria dizer que estava indo assistir o jogo com na casa dele. Não que fosse uma adolescente que pedia a permissão dos pais para sair ou que tinha um horário específico para voltar pra casa, mas achava que era bom manter os pais cientes, afinal, quase vinte e quatro anos interruptos vivendo em São Paulo lhe ensinaram que todo o cuidado era pouco, mesmo vivendo em um bom bairro.
Quando chegou em frente ao prédio em que residia, pegou o celular e ligou para ele.

- Não me diz que tá desmarcando. - Claro que não - ela sorriu. - Na verdade, eu já cheguei. Desce aqui.
- Hum... Me dá cinco minutos? Meu empresário está aqui, estamos acertando algumas coisas.
- Ok. Tô esperando.

desligou a ligação e olhou para Dantas que o encarava com uma expressão no rosto que conhecia muito bem. E odiava, por sinal.

- Estou atrapalhando alguma coisa?
- Não, não.
- Tem certeza? Porque acho que você vai estar muito ocupado daqui a pouco, .
- Eu vou assistir o jogo, Dantas! E não me chame assim, você sabe que eu detesto.
- Sozinho? - Dantas cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas. soltou um longo suspiro em desaprovação. - Eu sabia.
- Ok, é uma garota! Mas e daí? Não é nada disso que você tá pensando.
- Tá bom, se você diz, então eu acredito, mas não quero você chegando atrasado na concentração amanhã porque foi dormir tarde.
- Só pode ser piada - riu. - Beleza! Prometo que vou dormir cedo. Nada de farra, juro.
- Eu sei que vai. Então só repassando: entrevista com o Jogo Aberto no CT, e depois que passar essa emoção toda do Paulistão e mais, você vai virar modelo de novo. Aquelas fotos pra Umbro na temporada passada ficaram ótimas, garanhão, e pelo visto a Nike e o Corinthians também gostaram.
- Vou levar como um elogio, muito obrigado! Então, já encerramos?
- Já. Não vou atrapalhar a sua transa - Dantas se levantou e foi em direção à porta rindo. - Pode deixar que eu sei o caminho. Até mais, !

revirou os olhos, mas acabou rindo também. Sabia que não estava na condição de se defender, afinal, estava prestes a receber uma garota na sua casa. Mesmo que não tivesse segundas intenções, até ele próprio acharia tudo muito estranho visto de fora.
Ele se lembrou que estava o esperando e correu para recebê-la. Ao passar pela portaria, procurou entre os carros estacionados e a encontrou saindo de um HB20 e vindo ao encontro dele. Recebeu ela com um abraço e um beijo estalado na bochecha dela, o que fez se arrepiar ao sentir os lábios dele contra o seu rosto, mesmo que por um segundo.

- Como foi o seu dia? - ela perguntou quando já estavam no elevador.
- Hum... Deixa eu ver... - fez uma cara pensativa, como se montasse mentalmente uma lista. - Eu fui pro CT de manhã pra fazer musculação, depois fui ao dentista cuidar desse belo sorriso, fui tirar as medidas pro smoking da festa de encerramento do Paulista e passei no mercado pra comprar pipoca como o prometido. Acho que foi isso.
- Atarefado - ela riu e ele concordou. - Deixa eu ver esses dentes - ele mostrou os dentes brancos e alinhados em um sorriso exagerado que fez rir. - Parabéns para o seu dentista, estão ótimos.
- Vou falar pra ele... E o seu dia?
- Trabalhei que nem uma égua pra deixar tudo pronto pro jogo de hoje. Graças a Deus o Anderson arrumou outra pessoa pra cuidar disso também, eu não aguentava mais.
- Achei que já tinha. Quero dizer, nunca vejo você pelo CT com um celular na mão, mas os stories do clube são cheios.
- É porque eu só fico com a parte chata, com a cara enfiada no computador criando cronogramas e abusando da minha criatividade, mas por hoje eu já terminei.
- Então hoje eu tenho toda a sua atenção?
- Você não, o Corinthians sim - os dois riram e as portas do elevador se abriram. - Você é a consequência disso.
- Insensível - ele pegou as chaves e abriu a porta para entrarem. - Fica de boa aí, vou colocar a pipoca no micro-ondas.

foi em direção à cozinha enquanto procurava o controle da televisão. Ao encontrar, procurou por um canal esportivo enquanto zapeava os canais rapidamente. Quando encontrou, deixou o controle de lado e foi até a cozinha.

- Deixa eu te fazer uma pergunta. Por acaso foi o Jonathan Scott que planejou a sua cozinha, ? - perguntou se apoiando no balcão.
- Quem? - se virou para ela, estava distraído.
- Não sabe quem ele é?
- Hum... Eu deveria?
- Nunca assistiu Irmãos à Obra?
- O que é isso?
- Meu Deus! Em que mundo você vive?
- No mundo aonde eu não tenho tempo de ficar por dentro nem dos meus próprios assuntos. O que é isso, afinal?
- É um programa maravilhoso sobre reforma de casas, você deveria assistir. Uma cozinha dessas, só pode ter sido planejada pelo Jonathan.
- Eu não sei quem planejou essa cozinha, comprei o apartamento já mobiliado - ele deu de ombros. - Não tenho paciência pra essas coisas de decoração, isso não ganha um campeonato.
- A vida não é só futebol, , sabia? - respondeu com bom-humor. - Eu só tentei dizer que acho a cozinha bonita. E lá se foi a minha tentativa de ser legal, agora eu me sinto idiota.
- Não precisa ficar assim, você sempre foi idiota - ele esticou a mão para bagunçar o cabelo dela.
- Eu acho que eu estava certa em não gostar de você - tentou arrumar o cabelo com as mãos enquanto tirava o pacote de pipoca do micro-ondas.
- Por quem eu sou ou pelo meu desempenho em campo? Porque disso você não pode reclamar. Sou o vice artilheiro do time na temporada, querida - ele foi até a sala após colocar a pipoca em um recipiente grande o suficiente para os dois.
- Ok, ok! Você não é tão ruim quanto eu achei que fosse - foi logo atrás e se sentou ao lado dele no sofá. - eu vi a final da Libertadores, foi um dos jogos mais bonitos que eu já vi. Você estava radiante de um jeito que nunca vi aqui.
- Não me leva a mal, ... - ele esboçou um sorrisinho sem graça. - Mas é que eu não queria ter saído do Grêmio nunca. Estava disposto a trazer o time de volta pra elite, queria ter sido ídolo lá e acabei sendo o vilão.
- Sabe o que eu acho? Acho burrice de uma torcida e de uma instituição daquele tamanho dispensar um jogador que tentou até o último lance - ela o encarou e se sentiu um pouco intimidado com a convicção das palavras dela. - Uma coisa que você vai aprender aqui, , é que a torcida só vai pegar no seu pé se você for muito, muito ruim. Aconteceu com o Danilo quando ele chegou, mas ele provou que merece vestir essa camisa tanto quanto qualquer um de vocês. Eu sinto muito se você não teve o valor que merecia no Grêmio, mas posso garantir que aqui vai ser diferente. A torcida te adora e vai apoiar o time até o apito final e depois também. Sei que você sente saudades do sul, da sua família, dos seus amigos no Grêmio, do seu antigo treinador... Mas espero que você dê uma chance, vai se sentir em casa.
- Eu já tô em casa - ele rebateu prontamente após refletir nas palavras dela. - Eu fui acolhido desde o primeiro dia e eu adoro esse time, fiz daqui a minha casa e no momento, eu não trocaria por nenhum outro time brasileiro que fizesse proposta, mesmo que seja muito dinheiro... Eu disse que não queria ter saído do Grêmio nunca e é verdade, mas também não quero mais sair daqui. Estou totalmente envolvido aqui.
- Dá uma pesquisada na história, você vai entender melhor - sorriu. - E tá tudo bem sentir saudades do seu ex clube, ainda mais um clube gigante. É sério, não te julgo por isso.
- Obrigado - ele desviou o olhar dela e encarou a TV. - Acho que vai começar agora.
- Eu aposto em uma goleada - encheu a mão de pipoca. - Se deixar, até o Cássio vai fazer um gol hoje.
- Não sei... Acho que 1x0 é o suficiente. Eu não tô lá pra fazer mais do que isso.
- Convencido! - os dois começaram a rir. – Você era assim no Grêmio também?
- Só pra deixar o estrelinha do time puto. Me deixa alimentar o meu ego em paz.
- Cala a boca! Quero assistir o jogo.

A suposta goleada que planejou não passou de uma doce ilusão. Para o azar do time itaquerense, o jogo era todo dominado pela equipe do Ceará que pressionava e jogava muito melhor durante toda a partida. O time do Corinthians até tentou atacar e pressionar, mas não passava de momentos específicos do jogo quando o time cearense acabava cometendo uma falha e quando parecia que não podia piorar, piorou. O goleiro Cássio foi expulso ao sair da grande área para fazer uma defesa desesperada e final do jogo, aos quarenta e três minutos do segundo tempo, o ex atacante do Corinthians, Roger, fez jus à lei do ex e abriu o placar.

- Esse foi o jogo mais feio que eu vi esse ano - disse após o fim da partida. Estava um pouco chateada com o resultado.
- Eu deveria ter ido - disse se sentindo totalmente culpado. - O Carille disse que se eu jogasse no fim de semana, me pouparia hoje, mas eu não deveria ter concordado, tinha que jogar nos dois jogos...
- , o time jogou mal, não é culpa sua. Acontece, né? Pelo menos estão classificados mesmo assim. Você não pode chamar toda a responsabilidade pra você sendo que nem entrou em campo. Assim fica muito fácil apontar um culpado.
- Mas eu...
- Para - ela, instintivamente, pôs sua mão sobre o rosto dele. - mais uma palavra e eu te chuto daqui até domingo, ok?

baixou o olhar e riu, colocando a sua mão sobre a dela em seguida. percebeu o que fez, mas achou que seria indiscreto da sua parte tirar sua mão dali. Ao contrário disso, ela preferiu deixar e sentiu a barba dele raspando contra a sua pele.

- Você deveria se barbear às vezes.
- Não queira me ver sem barba, é horrível.
- Não deve ser tão ruim assim.
- Pareço um frango - os dois começaram a rir e então sentiu uma repentina coragem crescendo dentro de si, tirando a mão dela do seu rosto e criando ainda mais coragem para começar a falar. - Preciso te contar uma coisa, o verdadeiro motivo de eu ter me afastado.

engoliu a seco e notou que as mãos dele tremiam levemente. Ela sentiu o coração acelerar quando percebeu que o sorriso dele se desmanchou. Não tinha a mínima ideia do que poderia ouvir, pela expressão no rosto dele não parecia ser algo que a deixaria feliz.

- O que aconteceu?
- É verdade que eu queria mesmo me concentrar nos campeonatos, tinha jogo contra o Racing pela Sul-americana e você sabe que o Racing é o atual campeão argentino, eu tinha que dar o meu melhor, não sabe? - ela concordou. - Mas não foi só isso... Depois do jogo contra o Palmeiras, lá na casa do Junior, eu achei melhor te levar embora porque você estava muito bêbada pra continuar lá, fiquei preocupado, então eu te trouxe pra cá. Te acompanhei até o quarto e você me pediu pra ficar lá com você e começou a dizer algumas coisas que eu realmente não esperava - não tinha coragem de encarar e mantinha o olhar fixo nas suas mãos trêmulas.

- O que eu disse?
- Que gostava de mim - ele finalmente olhou pra ela. - E me beijou.

mexeu a boca algumas vezes, mas nenhuma palavra saía dos seus lábios. Seu coração batia acelerado no peito e sua respiração estava alterada como se estivesse jogando futebol. Não se lembrava de nada do que aconteceu naquela noite e, de repente, tudo fazia muito sentido.

- Eu me afastei porque estava confuso quanto aos meus sentimentos, não queria te machucar e me machucar também, mas... - ele soltou uma risada nervosa ao se lembrar de Praga. - Eu precisei ir pra outro país, ficar muito bêbado e confessar isso pro meu melhor amigo para criar coragem de contar isso pra você e admitir que... Que eu tô muito afim de você, . Não sei dizer se eu tô apaixonado ou não, mas não consegui parar de pensar em alguém e ficar nervoso perto dessa pessoa, quer dizer que você gosta dela, né? Então é isso, eu gosto de você e não sei mais como esconder.
- , eu... - ela procurava as palavras, mas simplesmente lhe fugiam da mente. - Eu não sei o que aconteceu comigo, quando eu me dei conta, já estava agindo como uma adolescente... Me desculpa por isso... - ela respirou fundo. - Eu não queria admitir pra mim mesma que gosto de você, alguém que eu fiz questão de odiar assim que soube que jogaria no time, antes mesmo de você assinar o contrato... Mas é impossível não gostar de você, - ela abaixou a cabeça e sorriu. - Comecei a mudar de ideia quando te vi no jogo feminino, a forma com a qual você se preocupa com as meninas, e quando eu me dei conta, já estava aqui na semana passada... Aquela hora em que você pegou a camisa e me abraçou, eu não queria realmente sair dali, tive que me controlar muito pra não fazer o que eu queria quando estávamos tão próximos um do outro porque tive medo de cometer um erro e estragar a nossa amizade.
- Eu perdi o ar porque quis te beijar naquela hora - ele confessou com um pequeno sorriso nos lábios. - Eu vou ficar na concentração até domingo e eu não podia ir sem te dizer tudo isso, , eu tava surtando já. Me desculpa.

se levantou e deu apenas alguns passos para abrir a porta de vidro da sua varanda. Seu rosto estava tão quente que ele precisava respirar um pouco de ar puro para se acalmar. Uma cobrança de pênalti em uma final decisiva parecia ser mais simples do que confessar seus sentimentos por alguém. por sua vez, o observou por um instante e percebeu que ele parecia tenso, mas ela não se cansava nunca de o admirar e pensar no quanto o achava bonito e atraente de tantas outras formas além de física. Ele era mais do que um rosto bonito, um corpo definido ou um jogador de futebol, ele tinha muito conteúdo a oferecer e talvez fosse por isso que gostasse tanto dele.

- E o que a gente vai fazer agora? - se aproximou timidamente com os braços cruzados e se pôs ao lado dele.
- O que você quer fazer?
- Eu não sei... Ir com calma, talvez... Sei que você tem que se concentrar pra uma possível final de campeonato, então eu não acho que você deveria ficar pensando nisso.
- Eu não consigo parar de pensar nisso um segundo se quer quando tô fora do campo - ele mordeu os lábios, se sentindo um pouco nervoso por falar aquilo tão abertamente.
- Mas não deveria, você tem um jogo importante no domingo, não quero que você se desconcentre por minha causa.
- Gosto da maneira como você fala sobre isso - olhou pra ela, apertando mais os braços cruzados contra o corpo quando sentiu uma rajada de vento frio contra ele. – gosto de jogar com você e sei que posso ficar falando sobre isso o dia inteiro que você vai me ouvir e ficar feliz por mim... Ninguém nunca entendeu o quanto essas coisas significam pra mim, , você é a primeira pessoa que realmente se importa comigo e com o meu trabalho dessa forma além da minha família, foi difícil para mim não desenvolver sentimentos por você.

não sabia o que responder, apenas abaixou a cabeça e sorriu de canto, um misto de sensações tomavam conta dela naquele momento e ela estava usando todo o seu autocontrole adquirido nos anos no futebol para não enlouquecer ali mesmo. Foi afastada dos seus pensamentos quando descruzou os braços e deixou com que segurasse a sua mão, a trazendo para mais perto dele. Ela própria tomou coragem e se virou de frente para ele, permitindo que uma das mãos dele pousasse sobre a sua cintura e a outra fosse direto para o seu rosto. Ela, por sua vez, já se sentindo mais confortável e confiante, envolveu seus braços ao redor do pescoço dele. Já tinha se esquecido que existia um mundo ali bem na frente deles.

- Sabia que você é uma bêbada muito pervertida? – ele questionou como quem queria puxar assunto, despertando o interesse de que arqueou as sobrancelhas por curiosidade.
- Prefiro pensar que se eu não lembro, então não aconteceu, mas se você quiser, pode me mostrar.

concordou e rompeu qualquer distância entre eles ao dar início a um beijo lento, sem qualquer sinal de pressa. Por mais que fosse passar os próximos dias confinado no CT, não queria se apressar e apenas se permitiu desfrutar do momento antes de ir, enquanto se permitiu se entregar ao seu desejo de estar ali, como estava imaginando há algum tempo. Sentia o mesmo frio na barriga que sentiu durante seu primeiro beijo aos dezessete anos, o estômago chegava a doer, mas podia finalmente se entregar ao desejo que estava reprimido, aquilo era muito melhor do que apenas imaginar. Apesar da sutileza com que os lábios dele tocavam os dela, estava mais do que satisfeita por ele ter pegada, tinha a plena certeza que aquele era o melhor beijo que ela já havia dado na vida. Jamais imaginou que este beijo seria justamente com , mas também pensou que ela perdeu tempo demais e deveria ter feito aquilo bem antes. De certa forma fez, mas gostaria ao menos de se lembrar. Queria, mais do que nunca, sentir a boca dele na sua, o toque dele contra a sua pele e tudo o que aquele momento poderia lhe permitir. Não podia negar para si mesma o quanto gostava dele, da companhia dele. Não sabia se daria certo ou não, mas o simples fato de estar com ele naquele momento faria tudo valer a pena.

- Eu achei que nunca mais iria gostar de alguém - ele confessou após o beijo, ainda com os olhos fechados e as testas juntas. - Eu achava que eu não merecia.
- Mas você merece - se afastou um pouco para poder o olhar nos olhos. - Sinto muito pelo que aconteceu no passado, imagino que não deve ser fácil confiar em alguém de novo, mas... Tá tudo bem agora, é impossível não gostar de você.
- Obrigado - ele acariciou a bochecha dela com o polegar, apreciando cada traço do rosto dela. - Você é tão linda.
- Não me faz morrer de vergonha agora, - ela riu ao sentir o rosto queimar de vergonha. - Eu fico te olhando feito uma idiota e nem por causa disso tô falando alguma coisa. Isso é muito...

Ela foi interrompida quando ele a pegou de surpresa e a beijou novamente, a envolvendo completamente em seus braços. não pensou duas vezes antes de tomar a atitude e pedir passagem com a língua, fazendo questão de intensificar aquele segundo beijo.

- Só assim pra você ficar quieta, não é? – ele apenas afastou um pouco o rosto para poder vê-la melhor.
- Esse é o preço do meu silêncio - ela sorriu e se afastou. - Eu queria ficar, mas tô com o carro do meu pai e preciso ir pra casa. Prometi pra ele que não ia voltar tarde.
- Ok, vou deixar passar dessa vez. Vamos, eu te acompanho até o carro.

concordou e então pegou suas chaves no sofá para que pudesse sair. Por mais que estivessem conversando normalmente, ela teve que se conter quando, no elevador, sentiu as mãos dele agarrarem na sua cintura e depositou um beijo molhado no seu pescoço, outro na nuca e assim até deixarem o elevador. Uma onda de arrepios tomou conta do seu corpo e a vontade de subir novamente para continuar de onde pararam era grande, mas ela sabia que não podia.

- Eu acho que agora vai demorar um pouco pra gente se ver - disse quando pararam em frente ao carro do pai de . - Depois do jogo de domingo, eu vou viajar pra Santa Catarina. Parece que o próximo jogo vai ser contra a Chapecoense.
- Tudo bem, a gente não nasceu grudado - respondeu rindo a fim de descontrair. - Eu acho que eu não vou morrer por causa disso, talvez morra no jogo de domingo, mas não vai ser porque a gente não se viu.
- Nem me lembra desse jogo, estou apavorado só de pensar... Na verdade, se por um acaso, o time passar pra final, eu vou ficar no CT pra me concentrar totalmente sem vir pra casa, então acho que esse tempo vai prolongar um pouquinho...
- O que é o certo. Não quero você distraído na final.
- Não se preocupa, eu tô me preparando - ele sorriu. - E já que eu não posso te chamar pra sair como um cara normal, queria saber se você quer me acompanhar na premiação do campeonato no dia vinte e dois. Eu sei que você tem o seu trabalho que é muito cansativo, mas eu posso levar um acompanhante e eu queria que fosse você porque você deve ficar bem melhor em um vestido do que o Dantas. É claro que se não tiver como, não tem problema, mas já faz uns dias que eu tô querendo te chamar e não tinha coragem e... Meu Deus, desculpa, eu tô nervoso - ele riu e levou as mãos ao rosto, fazendo rir.
- Dia vinte e dois, é? - ela cruzou os braços. - Então dá pra dizer que vou ter uma super festa de aniversário com tema de gala.
- Vai ser no dia do seu aniversário? - perguntou surpreso e concordou sorrindo, em seguida ele fez uma cara pensativa. - Então eu já sei o que eu vou te dar de presente.
- Não precisa de presente, , eu nem ligo para essas coisas.
- Mas você vai ligar quando ver o que é e vai me amar por isso.
- ...
- Relaxa, eu prometo que você vai gostar - ele tomou a chave da mão dela e foi até a porta do carro, abrindo-a. - Agora entra no seu carrinho e vai pra casa porque não quero que o seu pai pense que eu sou algum tipo de tarado. Vai.
- Ele nem sabe que eu tô aqui, só sabe que eu saí. Não quero ter que explicar que só vim assistir o jogo e nada mais.
- Tem certeza que só assistiu o jogo? - perguntou fingindo uma desconfiança e sentiu seu rosto ganhar cor, mas acabou rindo. - Não sei, aquele beijo foi bem real pra mim.
- É, pra mim também, mas eu vou deixar essa parte em segredo por enquanto - ela se aproximou e ele abriu a porta do carro pra ela. - Tá bom, , já entendi que você gosta de mim, isso aí também já é demais.
- Na próxima eu fecho na sua cara, palhaça - ele riu. - Vem aqui.

Ele a puxou pela cintura para mais um beijo antes que ela fosse embora. Não se importava se estava quase no meio da rua, apenas queria poder ficar com mais um pouco antes de se enfiar no CT durante o resto do mês. ainda estava em uma espécie de transe por cada vez que seus lábios se encontravam com os dele, estava completamente entorpecida pelo beijo dele que tanto imaginou como seria, mas que agora parecia ser infinitamente melhor.

- Agora sim posso dizer boa noite – disse ao afastar o rosto, mas as mãos continuavam na cintura dela.
- Não conhecia esse seu lado tarado que gosta de beijar as pessoas no meio da rua - olhou para os lados, rindo, fazendo com que ele risse também.
- Eu sou romântico, ok?
- Ah, claro, imagino... Bom, vou tentar ir ao Pacaembu no domingo, então caso eu consiga, até domingo. Caso contrário, até dia vinte e dois – ela entrou no carro, já o ligando enquanto fechava a porta pra ela. – Faz um golzinho.
- Claro, precisa de dedicatória? – se escorou sobre a janela para poder olhar pra ela.
- Seria bom – ela riu e não se conteve quando teve a necessidade de sentir os lábios dele nos seus mais uma vez, então esticou o pescoço e se despediu com um selinho. – Vai, está parecendo uma puta assim escorado na janela do meu carro.
- Puta não, meu amor, livre! – ele se afastou gesticulando ao abrir os braços enquanto ria.
- Tá bom, senhor liberdade, bom jogo. Boa noite.
- Obrigado, , boa noite, a gente se vê.

⚽🖤📱

Chovia em São Paulo na noite de domingo como não chovia desde as pancadas de verão, mas o Pacaembu fervia. A torcida santista se fez presente em massa no jogo de torcida única e apoiava o time que sufocou do começo ao fim, fazendo com que o time do Corinthians não conseguisse se quer finalizar um chute direto no gol. O time fazia a sua pior partida na temporada com apenas vinte e cinco por cento de posse de bola ao longo da partida e nenhum escanteio contra quatorze escanteios santistas.
Já dizia o velho ditado: água mole em pedra dura, tanto bate, até que fura. E foi exatamente isso o que aconteceu, pois aos oitenta e seis minutos de jogo, o zagueiro Gustavo Henrique abriu o placar para o alvinegro praiano, para o delírio da torcida única no estádio e desespero do lado corinthiano. Com aquele gol, o placar geral empatou em 2x2 e a vaga na final seria decidida nos pênaltis.
estava atrás do painel do gol de Cássio ao lado de Tobias que fazia a filmagem porque não tinha coragem de se infiltrar na torcida. Ela usava uma capa de chuva, mas não impedia de molhar o seu rosto. Estava apoiada no painel de patrocínios afim de enxergar melhor o que acontecia do outro lado do campo. Estava com o coração apertado, uma ansiedade que não cabia no peito por baixo da camisa que estava usando não deixava com que ela pensasse com clareza. Ela estava chorando por ver o time naquela situação, entrou no estádio com um pé na final e estava prestes a dar adeus para o tão sonhado tricampeonato.

- Calma, , vai dar tudo certo, ainda temos uma chance - Tobias disse ao ver que o time santista iria cobrar mais um escanteio.
- Eu não vou perdoar eles se o time for eliminado hoje, Tobias - ela disse em meio ao choro. - Eu não vou aceitar.
- Ok, então nem precisa comemorar o próximo título.

Eles observaram a bola no ar saindo da lateral do gramado direto para a grande área. O tumulto entre os jogadores era notório e em uma dividida, dois jogadores caíram no chão, um de cada time e conforme os jogadores se aglomeravam, eles perceberam que algo estava errado.

- O que está acontecendo lá? Quem caiu? - ela espremeu os olhos tentando ver melhor, mas sem sucesso.
- Acho que alguém desmaiou - Tobias disse com um tom preocupado.
- Cássio! Cássio! - começou a gritar pelo goleiro corinthiano a poucos metros dali e ele ouviu. - O que tá acontecendo?
- Eu não sei. Já volto.

Cássio saiu em disparada pelo campo até chegar ao outro lado. podia ver alguns jogadores tirando a camisa e abanando os atletas caído, mas ainda não era capaz de distinguir cada um deles. Viu Cássio voltar logo depois com uma feição preocupada.

- e Aguillar, o zagueiro, foram pra dividida e se chocaram feio, parece que os dois desmaiaram.

levou as mãos ao rosto para cobrir a boca enquanto o goleiro corria novamente até o aglomerado. Mais lágrimas começaram a escorrer pelo rosto da garota e ela lamentou não poder fazer nada, embora desejasse muito pular aquele painel e patrocínio.
Ela se escorou no painel afim de ver melhor a situação.

- Por favor, , acorda - ela sussurrava impaciente, juntando as mãos como se rezasse enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Então ela viu, mais ao longe, o jogador de uniforme todo preto se sentando no gramado com auxílio do árbitro. Ela sentiu seu corpo inteiro arrepiar quando viu que era e sorriu por ver que ele tinha retomado a consciência, mas ainda estava preocupada com o jogador santista que continuava desacordado. A ambulância entrou no gramado para tirar os dois dali, mas apenas o zagueiro, Aguillar, foi levado pela ambulância provavelmente para algum hospital próximo dali enquanto se levantou devagar e se apoiou em Bruno e Gil para ir até o banco de reservas onde Clayson fazia o aquecimento para entrar no seu lugar. Viu ele se sentando no banco e sendo atendido pelo médico do clube, parecia estar lúcido o suficiente para continuar ali.

- Graças a Deus - ela respirou fundo. - Espero que não seja nada grave com o Aguillar também.
- Vamos torcer para que não, porque com o nosso garoto, parece estar tudo bem.

Por conta do incidente, o árbitro deu alguns minutos de acréscimo e ao final da partida, o alívio que sentiu, foi embora ao se lembrar que a vaga seria decidida nos pênaltis.

- Vem, , vamos pro outro lado, preciso gravar.

concordou e eles atravessaram o campo por trás dos painéis que cercavam o mesmo. Ao passar perto do banco de reservas do Corinthians, se esticou para tentar ver se estava bem, mas o máximo que conseguiu foi sentir uma dor estonteante quando espremeu o estômago contra o painel ao se esticar, o que ela tentou não demonstrar para não tomar uma bronca de Tobias. Eles chegaram do outro lado e observaram as equipes reunidas ouvindo as instruções de Fábio Carille e Jorge Sampaoli, mas mantinha os olhos no banco de reservas afim de ter certeza que estava bem e viu que ele estava com a cabeça jogada pra trás e com os olhos fechados, mas mexia a cabeça quando alguém falava com ele. Observou ele conversar com o treinador e em seguida se levantar, indo em direção da escada de acesso ao vestiário que ficava bem atrás de onde ela estava com Tobias. Ao se aproximar, notou que ela estava ali.

- - foi até ele e percebeu que o jogador tremia, além de estar encharcado pela chuva. - Você tá bem?
- Sim, eu... Eu só... - ele parecia um pouco desnorteado. - O Fábio falou pra eu ir para o vestiário antes, tomar um banho, não quero ver os pênaltis.
- Vem, eu te ajudo a descer.

o abraçou de lado, enquanto ele passou um braço ao redor dos ombros dela e eles desceram as escadas juntos.

- Tem certeza que você tá bem? - ela colocou as mãos pelo rosto molhado dele, afastando os cabelos grudados na testa para o lado.
- Eu só estou um pouco tonto e com frio, mas eu vou ficar bem - respondeu, colocando suas mãos sobre as dela e acariciando.
- O que aconteceu, ? Eu não enxergo bem de longe, foi muito rápido.
- Eu não sei, eu não consigo lembrar... - ele notou que ela estava com os olhos cheios de lágrimas. - Não chora, foi só um susto, eu vou ficar bem.
- Eu sei. Desculpa, eu só... Fiquei assustada.

curvou o pescoço para pressionar seus lábios contra os dela em um beijo rápido e em seguida a abraçou, estava tonto o suficiente para não perceber que ela usava uma capa de chuva toda ensopada.

- Vai lá, eu posso me virar sozinho.
- Tá bom. Toma cuidado.

Ele concordou e se afastou, indo em direção ao vestiário e ela subiu as escadas a tempo de ver a equipe santista convertendo um pênalti.

- Como está aí?
- Péssimo. Está 2x1 porque o Fagner errou a primeira cobrança. Como o está?
- Meio tonto, mas vai ficar bem, segundo ele.

Eles continuaram assistindo as penalidades e a cada acerto das equipes, o coração parecia que ia sair pela boca. No sétimo pênalti santista, o lateral esquerdo, Victor Ferraz, chutou para fora e após a última cobrança de pênalti corinthiana, o time de Itaquera conseguiu a tão sonhada vaga na final e se mantinham vivos na esperança de conquistar o tricampeonato.
sentou atrás do painel quando acabou, sentindo toda a tensão passar e ela se permitiu derrubar algumas lágrimas de alívio. Como qualquer torcedora, apenas queria ver seu time campeão dali duas semanas.
- Eu disse que ia dar certo - Tobias disse sorrindo e concordou rindo também, estava feliz que tudo tinha terminado bem.

⚽🖤📱

"Acabei de chegar no CT. Ainda não lembro de nada, mas já estou bem melhor, só vou fazer alguns exames amanhã pra ter certeza de que tá tudo bem. Obrigado por se preocupar comigo. Boa noite ❤"
"P.S.: Te vejo na final 😉"

lia a mensagem de pela quinta vez com um sorriso no rosto. Ela pensava no que responder, mas só conseguia sentir alívio por ele estar bem e nada de grave ter acontecido. Pediu por notícias do outro jogador e ele estava bem, o desmaio foi por conta da pancada, mas nada de grave tinha acontecido com ele também.

"Nunca mais dá esse susto na gente, ok? Manda notícias amanhã. Boa noite 😘❤"
"P.s.: Não sei se tá sabendo, mas o adversário vai ser o São Paulo. Por favor, se concentra direitinho pra trazer o tri pra gente. Boa sorte!"

Digitou, por fim, e colocou o celular para carregar. Além de estar feliz por estar tudo bem com , soube que o adversário seria o São Paulo, que eliminou o Palmeiras nos pênaltis também, o que ela agradeceu muito, pois preferia o Soberano ao invés do clube da Barra Funda, que na temporada anterior, havia sido vice campeão em um jogo repleto de polêmicas com a arbitragem que ainda persistiam nos dias atuais. Ela não se importava mais, estava preocupada com o presente.
E, naquele momento, seu presente estava no centro de treinamento com uma leve amnésia por conta do incidente e ela torcia para que tudo ficasse bem.



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Nota permanente:
Desde já, peço desculpas se em algum momento você possa ter se sentindo ofendido (a) com algo relacionado ao seu time caso ele tenha sido mencionado em algum momento da narração. Apesar de a fic se passar no Corinthians, eu tento ser o mais imparcial possível para não ofender ninguém, afinal, o que importa mesmo é o nosso amor pelo futebol. Lembre-se: rivais sim, inimigos nunca. ☺

Nota da Scripter:
Essa fanfic é de total responsabilidade da autora, apenas faço o script. Qualquer erro, somente no e-mail.


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