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Capítulo 14 - MAJESTOSO

observava o seu reflexo no espelho com a boca entreaberta e incapaz de tirar os olhos do vestido que estava usando. Era um belo modelo longo com gola alta e uma fenda que, apesar de ir do colo até a barriga, era tão discreta que lhe dava um ar delicado. Na cor vinho marsala, o vestido era justo na cintura e a saia tinha tecido o suficiente para dar um belo movimento ao andar. Sem dúvidas, tinha certeza que aquele era o vestido mais bonito que alguma vez usou na vida.

- É perfeito - ela disse perplexa ainda encarando o seu próprio reflexo.
- Deixa eu ver, filha.

Ela se virou para sua mãe e Rose teve a mesma reação que a filha ao ver como o vestido lhe caía bem, exibindo um lado feminino que não costumava exibir, mas que realçava ainda mais a beleza dela.

- Eu não tenho nem palavras. Ficou lindo, , lindo...
- Eu vou ficar com esse - se virou para a vendedora. - Mesmo que isso me custe um rim.
- Não se preocupa, ele está na promoção - a vendedora respondeu com um sorriso compreensivo no rosto. - Eu sei que como vendedora, eu digo para agradar as clientes, mas dessa vez eu tô sendo sincera, ficou perfeito. Parece que foi feito pra você.
- Obrigada - sorriu. - Com muita dor no peito, vou tirar ele agora.

Ela voltou para o provador e tirou o vestido com muito custo, pois queria sair dali já o usando e até ir para o estádio com ele, se fosse possível, estava apaixonada pela peça que usaria na cerimônia de premiação do campeonato. Após pagar pela compra, ela e sua mãe saíram da loja e continuaram andando pelo shopping à procura de um sapato que combinasse com o vestido.

- Eu nunca me senti tão linda, mãe, é sério - dizia emocionada enquanto caminhavam lado a lado.
- Você é uma mulher linda, , meio menininho às vezes, mas linda mesmo assim. O vestido só realçou sua beleza ainda mais.
- Vou usar esse vestido pra sempre - ela respondeu rindo.
- Eu queria poder ver a cara do quando ele te ver com esse vestido.
- Mãe...
- Não tenta me enganar, , eu não acho que ele te convidaria pra ser acompanhante dele se vocês fossem somente amigos. Dá pra ver isso na sua cara.

não havia contado nada do que estava acontecendo entre ela e para ninguém, nem mesmo para a sua mãe. Não queria se expor e muito menos expor ele às vésperas de uma final de campeonato. Achava que ter contado sobre o convite já era o suficiente para criar expectativas em seus pais, não queria entrar em mais detalhes.

- Eu só não acho que eu deva ficar expondo ele por aí - disse por fim, concordando com sua mãe ao admitir que seus sentimentos por ele estavam estampados em seu rosto - ele é um jogador importante para o time, não quero que ele se prejudique por minha causa.
- , minha filha, a vida de um jogador não é só futebol, tá bom? Ele tem todo o direito de estar com quem quiser, e toda a minha aprovação se esse alguém for você.
- A senhora diz isso por ele ser uma boa pessoa ou pela conta bancária dele?
- E eu alguma vez já julguei uma pessoa por condições financeiras, ? Você deveria saber que não. Ele parece ser um bom rapaz, eu gostei dele.
- Que bom. Apesar de tudo isso, ele é uma pessoa simples e do bem, não é apegado à essas coisas que status e dinheiro podem oferecer - elas pararam em frente à uma vitrine para observar os saltos expostos e soltou um longo suspiro, um pouco frustrada. - Ele é um cara legal.
- Eu imagino que seja... Espero que você se permita dessa vez.

não respondeu, apenas entrou na loja rapidamente para experimentar alguns sapatos. Ela sabia que tinha o péssimo hábito de se privar de muita coisa e tinha tudo para se privar desta vez também. Estava acostumada a ceder por um bem maior, nesse caso, a carreira dele, algo que ela seria incapaz de querer atrapalhar.
Após escolher um salto preto que combinasse com o vestido, elas decidiram voltar para casa. O céu estava cinzento, indicando que logo mais uma forte chuva cairia sobre a cidade e não gostaria de enfrentar a mãe natureza justamente em uma cidade como São Paulo. Sua casa e seu quarto pareciam ser os lugares perfeitos para se estar e pensar sobre tudo o que rondava a sua mente, ou simplesmente curtir o dia chuvoso assistindo seriados o dia inteiro, visto que no dia seguinte, ela faria a cobertura do primeiro jogo da final que seria no Morumbi. Quando chegou em casa, foi exatamente isso que fez. Desarrumou a cama e pegou seu notebook, procurando pelo filme mais cliché que poderia encontrar na Netflix e planejava fazer isso o resto do dia.
Até seu celular tocar e ela ver na tela aquele nome que fazia o seu coração disparar. Não se falavam há dias por ele estar totalmente focado na final e confinado no CT, então ficou mais do que feliz por finalmente ter ligado.

- Oi - ela sorriu ao atender.
- Oi, , como você tá?
- Tô bem... E você? Lembrou que eu existo?
- Boba - disse rindo. - Eu tô treinando muito. Depois que o time é dispensado, eu ainda fico mais um pouco.
- Cuidado, , você pode se lesionar...
- Não se preocupa, o pai aqui dá conta - os dois riram. - Eu liguei porque preciso de um favor. Perguntei pro meu empresário, mas ele tá tão sem tempo quanto eu.
- Não vou pra Europa fazer propaganda de você, sem chance.
- Não é isso, não... Na verdade, é um pouquinho mais difícil. Bom... A minha família vai vir pra São Paulo ver a final na Arena e eles vão ficar na minha casa, eu só precisava entregar a chave pra eles, mas não vou poder sair do CT quando eles chegarem. Você pode fazer isso por mim?
- Hum... Claro, claro - ela engoliu a seco a possibilidade de conhecer a família dele. - Só tem um detalhe: eu também não tenho a chave.
- Tô chegando aí em uma hora. Tchau.

desligou e precisou pausar o filme para processar a informação. Sua respiração ficou ofegante só de imaginar tendo qualquer contato com a família dele, embora já tivesse encontrado com Ronald uma vez. Mesmo assim não esperava que fosse acontecer tão cedo, principalmente porque ainda eram apenas amigos. O único diferencial era que se tornaram amigos que trocavam uns beijos de vez em quando e se pegou rindo sozinha ao pensar nisso, jamais se imaginou justamente com uma pessoa que um dia odiou, mas que agora deseja ficar cada vez mais perto.
Como prometido, chegou pontualmente no horário combinado e saiu de casa para recebê-lo. Conforme se aproximava do carro do jogador, se deu conta de que não sabia como deveria cumprimentá-lo, mas quando ele abriu os braços e um sorriso receptivo nos lábios, ela não perdeu tempo e acelerou os passos para estar logo envolvida naqueles braços. , por sua vez, apertou a garota contra o seu corpo, transparecendo que sentiu falta dela naquela semana inteira de treino sem descanso.

- É muito apressado da minha parte dizer que senti a sua falta? - disse perto do ouvido dela, a fazendo rir.
- É, mas eu não me importo. Também senti a sua - afastou o rosto para poder olhar para ele. - Qual é a minha missão?
- Entregar a chave no aeroporto. Só isso. Eles vão saber que você vai estar lá. Só toma cuidado para não se apaixonar pelas minhas sobrinhas porque elas são lindas, mas eu não divido elas com ninguém.
- Vou roubar elas pra mim.
- Nem pensar! - ele colocou uma das mãos no rosto dela. - Obrigado, está quebrando o maior galho pra mim. Já tô surtando com a final e eles ainda decidem vir pra cá, eu não tô sabendo lidar com tanta coisa - ele disse rindo, mas estava visivelmente nervoso.
- Tá nervoso?
- Sim... Eu sei que não deveria, ganhei um estadual ano passado com o Grêmio antes das coisas desandarem por lá, mas mesmo assim, né? É minha segunda final e eu estou nervoso pra caralho.
- Calma - exibiu um sorriso tão doce que achou que ele iria derreter com tanta doçura. - O jogo é contra o nosso freguês, essa taça já é nossa.
- Puta que pariu, ! - ele começou a gargalhar. – Achei que você ia falar alguma coisa bonita e você me solta uma dessas?
- Só estou falando a verdade - deu de ombros. - Pode pesquisar o histórico do Majestoso que você vai ver. O número de vitorias é favorável ao nosso favor.
- Como se isso contasse para uma final – ele riu bem-humorado. - Agora eu preciso voltar, o Fábio me liberou só por ser uma questão de família, mas me deu hora pra voltar.
- Tá bom. A gente se vê depois.

escondeu o rosto contra o pescoço dele quando o abraçou. Queria poder ficar mais um pouco ali e inalar o perfume dele que era sempre tão bom e impecável. Se deixou levar pelo momento e deixou alguns beijos pelo pescoço, fazendo uma trilha até a boca dele, onde se despediu com um beijo molhado. não hesitou em corresponder, apertando as mãos na cintura dela, só queria poder sentir o momento antes que acabasse.

- Boa sorte - disse ao se separarem, ainda unidos pelos dedos entrelaçados. - E vê se faz um gol, não vou aguentar outra disputa de pênaltis.
- Ok, vou tentar fazer um gol amanhã. Deixa eu pegar a chave.

Ele se virou para abrir a porta do carro e entrou para procurar as chaves de casa. Ao encontrar, entregou nas mãos de .

- Pelo amor de Deus, , a minha camisa do Messi tá lá dentro.
- Calma, , relaxa - ela respondeu rindo. - Ela ainda vai estar lá quando você voltar.
- Assim espero... Fala pra minha irmã que ela pode ficar com o meu quarto, mas de jeito nenhum deixa as meninas chegarem perto dos troféus.
- Vou tentar falar isso sem parecer grossa.
- Obrigado - ele sorriu e entrou no carro. - Até semana que vem.
- Até semana que vem. Vê se volta com o título.
- Pode deixar comigo!

⚽🖤📱

O resultado de 0x0 no Morumbi não foi nada empolgante para nenhuma das duas equipes. Com o resultado, tudo teria que ser decidido em Itaquera possivelmente em uma disputa de pênaltis caso o empate persistisse ao decorrer dos próximos noventa minutos dos cento e oitenta disputados.
Na noite de sexta-feira, saiu direto do trabalho para o aeroporto para receber os familiares de . Ela estava nervosa e sentia o coração batendo cada vez mais forte conforme observava as pessoas que desembarcavam. Achava que não deveria se preocupar com isso, mas tentava se colocar no lugar dos familiares e imaginar qual seria sua reação ao ver que uma garota qualquer estava lhe esperando para entregar as chaves da casa do seu filho/irmão/tio. Ela tinha a plena certeza de que o momento seria constrangedor, fosse para ela ou para os parentes de .
Então ela finalmente os avistou. Sentiu como se tivesse tomado um soco no estômago e estava prestes a desmaiar. A situação pareceu ser ainda mais desesperadora quando Ronald a avistou e reconheceu, caminhando na sua direção em passos largos.

- E aí? disse que a gente iria se encontrar - ele disse após cumprimentar a garota com um beijo na bochecha.
- Oi - tentou parecer natural e esboçou seu melhor sorriso, mas não deixou de notar as semelhanças físicas dele com o irmão. - Meu Deus, como vocês são parecidos.
- Eu sou muito mais bonito do que o meu irmão! - Ronald respondeu gargalhando. - Deixa eu te apresentar a família.

foi apresentada à Cida, Regina, Belinda e Maia. Se sentiu um pouco melhor ao ser apresentada à mãe e à irmã de e percebeu que pareciam ser ótimas pessoas, assim como ele. As sobrinhas dele estavam quietas, visivelmente tímidas com a presença de ali, mas ela não deixou de achar as garotinhas adoráveis.

- O me pediu para entregar a chave para vocês - ela disse ao entregar as chaves na mão de Ronald. - Ele está na concentração e não pode mais sair.
- Muito obrigada, - Cida sorriu simpática. - Isso agilizou as coisas em mil vezes pra gente.
- Foi um prazer - sorriu de volta em resposta. - Se vocês quiserem, posso dar uma carona. Juro que não tem dedo do nisso, mas táxi de aeroporto é meio carinho, né? Posso levar vocês até lá.
- De graça? - Rony perguntou divertido e concordou rindo.
- Totalmente.
- Então eu aceito.
- Não vai incomodar, querida?
- Não, senhora, de jeito nenhum! - ela olhou para Regina. - Cabe todo mundo no carro, vamos.

Eles acompanharam e ela ajudou com as bagagens como podia, então seguiram para a casa de no carro que ficou pequeno para tantas pessoas, mas eles deram um jeito.

- Você acompanha os jogos, ? - Cida perguntou quando o assunto virou futebol.
- Sou torcedora árdua - respondeu sendo incapaz de conter uma risadinha. - Na verdade, eu trabalho para o clube, cuido das mídias sociais. Foi por causa do meu trabalho que eu conheci o .
- Você é a namorada do meu tio?

quase freou o carro no meio da rua movimentada quando ouviu a pergunta proferida do banco de trás. Sentiu as bochechas queimarem e o coração saltar no seu peito.

- Não - ela riu. - Não sou a namorada do seu tio.
- Belinda! - Cida advertiu a filha - isso não é coisa que se diz! Pede desculpa pra .
- Tá tudo bem - sorriu e olhou para a pequena pelo retrovisor. - Sou amiga dele.

A partir dali, tentou parecer tranquila e procurava conversar e rir, mas sabia que uma simples pergunta vinda de uma criança inocente poderia gerar dúvidas para a mãe e os irmãos de . Não queria que pensassem que ela fosse apenas uma garota com quem ele estaria dormindo, sendo que se quer passaram de meros beijos alguma vez. Não sabia se eles eram o tipo de pessoa que a julgariam ou não, mas também não queria dar motivos para tal coisa.

- Acho que chegamos - disse estacionando o carro na frente do condomínio.

Ela desceu do carro e junto com Ronald e tirou as malas do porta malas.

- Valeu, - Ronald disse puxando a alça da sua mala com rodinhas. - O fala muito de você, sabia?
- É sério? - ela arqueou as sobrancelhas de uma forma involuntária.
- É, e como eu conheço o meu irmão, eu posso imaginar o motivo - ele sorriu. - Você é uma garota de sorte, ele é um cara incrível.
- Eu sei - ela mordeu os lábios afim de conter um sorriso. - Por favor, não conta isso pra ninguém.
- Tá tudo bem, eu não vou contar nada - ele sorriu. - Muito obrigado pela carona.
- Imagina! Se precisar, é só chamar.
- , muito obrigada mesmo. A gente não conhece nada de São Paulo - Cida se aproximou deles para pegar as malas das crianças. - Espero que a gente possa se encontrar de novo outras vezes. Meninas, digam obrigada para a pela carona.
- Obrigada, - Maia respondeu abaixando a cabeça, ainda estava tímida.

conseguiu entender o por quê de ser tão apaixonado pelas sobrinhas. Vendo as duas ali, ela estava se apaixonando também.

- E você, Belinda? Dá um abraço nela.

se abaixou quando a pequena abriu os braços. Deu um abraço apertado na garotinha que correu para trás das pernas de sua mãe.

- Obrigada, . Eu fico feliz que o tenha feito boas amizades por aqui - Regina se aproximou. - Você não quer entrar também?
- Não posso, mas obrigada! Eu preciso ir pra casa - disse com naturalidade, embora tivesse dado um passo para trás afim de escapar. - O me disse que o Ronald já conhece o apartamento, vocês vão ficar bem. Se precisarem de qualquer coisa, podem contar comigo, mas eu realmente preciso ir.

Eles se despediram e esperou eles passarem pela portaria. Só então pegou seu celular e enviou uma mensagem para .

"Eles já chegaram e estão na sua casa. São todos adoráveis e a suas sobrinhas são lindas. A Belinda perguntou se somos namorados e tomou um esporro da Cida. Seu irmão olhou para minha cara e já soube da gente sem eu precisar abrir a boca, mas fora isso tá tudo ok. Adorei eles ❤"

⚽🖤📱

- Estão prontas? - segurou nas mãos das sobrinhas, uma de cada lado. – É outro time, mas eu prometo que é bem legal.
- Tio, faz um gol hoje? - Maia perguntou, erguendo a cabeça para olhar para ele.
- Vou tentar, amor, eu prometo. Vamos, tá na hora.

Eles seguiram com a fila de jogadores e crianças até o gramado e o time da casa foi ovacionado pela torcida. fechou os olhos e respirou fundo, absorvendo a atmosfera do estádio para si e canalizando sua energia para a partida. Era um ritual que normalmente dava certo. Quando abriu os olhos, um mosaico preto com letras brancas escrito "vai pra cima, Timão" se formava bem na sua frente, indo de uma ponta à outra do estádio. Ele tentava manter a postura séria de quem estava concentrado, mas era impossível não se arrepiar com o que estava diante dos seus olhos.

- Nossa... - ele sussurrou admirado com o mosaico e com a torcida que cantava sem parar, tornando o Hino Nacional quase inaudível.

Na sua cabeça, os últimos meses passavam como flashbacks. Ainda se lembrava daquele GreNal, daquela torcida furiosa e o esforço do time adversário em forçar o rebaixamento. Quatro meses antes ele falhou e pagou por isso, mas ali estava novamente disputando uma final e jogando um jogo decisivo, tendo a chance de se reerguer e mostrar seu potencial. Com tudo aquilo rondando a sua mente, foi impossível para conter as lágrimas e se permitiu derrubar algumas. Se sentia a pessoa mais feliz do mundo naquele momento.
Após o Hino Nacional, se despediu das suas sobrinhas com um abraço e elas saíram do campo junto com as outras crianças. Os jogadores dos dois times se cumprimentaram amistosamente, os capitães trocaram bandeiras, tiraram a sorte para escolher o lado do campo e, alguns instantes depois, a bola estava rolando para Corinthians e São Paulo decidirem quem seria o novo campeão paulista. O Corinthians buscava o tricampeonato enquanto o São Paulo não conquistava o campeonato desde 2005 e estava sedento para mudar o quadro da história.
Logo nos primeiros minutos de jogo, teve a oportunidade de abrir o placar, mas perdeu quando o goleiro espalmou para fora com uma defesa chamada de pulo do gato. Ele foi em direção à bandeirinha de escanteio, mas não deixou de notar quem estava ao lado de Tobias atrás do painel de patrocinadores. aplaudiu a sua jogada e ele agradeceu com um sorriso singelo, correndo em direção ao escanteio antes que perdesse o foco do jogo.
Conforme o decorrer do jogo, o time alvinegro se mostrou superior nos primeiros trinta minutos de jogo, pressionando e não dando espaço para o adversário avançar. Por conta disso, o time abriu o placar aos trinta e dois minutos com Danilo Avelar, mas voltou para o vestiário no intervalo com o jogo empatado nos acréscimos pelo são paulino Antony.
se sentou no chão e esticou as pernas, sentindo um repentino alívio. Estava mais cansado do que de costume, mas sabia que era seu lado emocional tentando se sobressair ao invés do profissional. Ele não parava de pensar nas pessoas que estavam lá fora, tanto sua família quanto a torcida e ele não queria decepcionar ninguém, por isso treinou exaustivamente sem parar para melhorar o seu rendimento para aquela partida, pois era o jogo da vida e ele queria sair dali com a taça na mão.
Após ouvir as instruções de Carille para a segunda etapa, ele se levantou e voltou com o time para o gramado. Quando a partida recomeçou, o time se deparou com um outro São Paulo muito mais ofensivo e rápido, o que fez o meio-campo e defesa trabalharem muito mais do que no primeiro tempo. Até mesmo o ataque tinha que voltar para ajudar na marcação e foi exatamente isso o que fez.
Em uma dividida com um meio-campista são paulino, o adversário acabou não se atentando para a posição do braço e caiu com uma dor estonteante na costela do lado direto devido à cotovelada que recebeu. Levou alguns instantes para que o ar voltasse aos seus pulmões, mas foi tempo o suficiente para que o fisioterapeuta do clube viesse até ele. Ele ainda teve tempo de observar o árbitro levantar um cartão amarelo para o jogador e depois vir até ele para verificar se ainda podia continuar na partida. concordou e se levantou, embora ainda sentisse dor, tentou não demonstrar para não correr o risco de ser substituído e continuou no jogo normalmente.
Foi um segundo tempo agitado, com chances reais de gols para os dois lados, os goleiros faziam defesas de encher os olhos, deixando a torcida completamente eufórica, fazendo com que a festa ficasse cada vez mais bonita de se ver, mas conforme a partida se encaminhava para o fim, os nervos das duas equipes ficavam cada vez mais aflorados, ambas tentando o gol do título a todo custo.
Aos oitenta e nove minutos, pelo lado direito do campo, Pedrinho arrancou em uma velocidade invejável e antes que pudesse ser marcado, ele avistou centralizado pelo meio e em uma jogada ensaiada, ele cruzou para o camisa 7 que não hesitou antes de receber e chutar de pé direito em uma pancada para o fundo do gol sem chances para o arqueiro tricolor defender. Em segundos, todos os jogadores, titulares e reservas, vieram até ele para um abraço do grupo inteiro e, após abraçar os companheiros, ele correu para também dar um abraço no seu treinador como forma de agradecimento pela confiança de Carille nele mesmo depois de tudo o que aconteceu. estava em êxtase, mal podia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo e ele havia acabado de marcar o gol do título.
Ele gostaria também de ter tempo de ir até , mas ela estava do outro lado do campo e a partida tinha que recomeçar, então voltou para sua posição inicial. O árbitro deu mais seis minutos de acréscimo e, ao final do jogo, o Corinthians se sagrou tricampeão paulista pela segunda vez em toda a sua história.
Aos gritos de "o campeão voltou", o time e comissão técnica se cumprimentavam enquanto começava a movimentação no gramado para a entrega das taças. cumprimentou alguns jogadores adversários enquanto ia para a beira do gramado atrás do gol. Ele viu Tobias concentrado em fazer boas gravações e ao seu lado, com um sorriso enorme estampado no seu rosto e com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ele foi até ela e a envolveu nos braços em um abraço, mesmo com o painel entre eles atrapalhando. Não se importava se câmeras apontavam para eles ou que todo mundo iria saber que tinha algo rolando entre eles, não se importava com mais nada.

- Obrigado.
- Pelo quê?
- Por ter me dado uma chance - eles se separaram, mas segurou as mãos dela. - Por ter me apoiado e acreditado em mim.
- Você merece, - ela sorriu, sentindo os olhos se encherem de lágrimas novamente. - Obrigada pelo gol. Me desculpa por ter sido tão dura com você e ter te julgado sem te conhecer.
- Quem é o pé de rato agora, hein? - ele perguntou rindo. - Deixa isso pra lá, .
- É só a que ganha abraço do homem do jogo? - Tobias perguntou. - Fique sabendo que eu adorei a sua contratação, sabia que ia dar certo desde o começo.
- Vem aqui, cara - deu um abraço no amigo também. - Valeu pelo apoio.
- Não vou deixar você sair daqui sem dizer um oi pra minha câmera - ele apontou a câmera na direção do jogador. - Diz qualquer coisa aí, dá um grito de campeão ou sei lá.
- É tudo nosso! Aqui é Corinthians, porra! - ele ergueu os braços em comemoração. - É campeão, caralhooooo!
- Uau! Ele aprendeu mesmo o que é ser Corinthians! - sorriu.
- Se eu não aprendesse, alguém ia me acertar com um pedaço de ripa - ele disse rindo se referindo a ela. - Tenho que voltar, daqui a pouco começa a premiação. Fica aqui, depois a gente tira foto com a taça.
- Tá bom, vai lá.

se afastou e Tobias se virou totalmente para .

- Vocês estão se pegando, não é?
- O quê?
- , eu não nasci ontem - ele disse rindo. - Não vem me dizer que ele veio aqui porque vocês são somente amigos. Ele quase que não me viu aqui. Sabe que pode me falar qualquer coisa.
- A gente conversou depois que ele voltou da Seleção e as coisas foram fluindo, não sei explicar... - ela sorriu enquanto encarava o gramado. - Estou me apaixonando, Tobias.
- Disso eu já sei - ele sorriu. - A boa notícia é que ele também está.
-Eu nem lembrava mais como era a sensação, mas até que é boa. Quero dizer, ter uma pessoa que gosta de você também...
-Torço por vocês.
- Valeu. Eu também.

Eles continuaram prestando atenção na movimentação do campo até a tão aguardada entrega da taça. Tobias correu para a frente do palco montado enquanto continuou exatamente no mesmo lugar, apenas tirando algumas fotos com o próprio celular. Ela viu os jogadores do São Paulo recebendo suas medalhas pelo segundo lugar e deixando o gramado rapidamente e em seguida os jogadores do Corinthians também receberam suas medalhas através de membros da Federação Paulista de Futebol. Ela sentiu o coração bater mais forte quando os jogadores se aglomeraram para receberem a taça que passou por algumas mãos antes de ser levantada pelo capitão Cássio, gerando ainda mais festa com a torcida gritando gritos de campeão sem parar e fogos cobrindo o céu de Itaquera, uma verdadeira festa para se admirar.
Após algumas fotos do elenco, as famílias dos jogadores puderam entrar em campo e por mais que não fosse exatamente parte da família, a obrigou a entrar no gramado onde ele já estava com a família tirando fotos com a taça. Ela simplesmente não sabia onde enfiar a cara naquele momento.

- Vem aqui tirar uma foto comigo, é uma ordem - ele a puxou pela cintura, a abraçando de lado e jogou o celular para Rony.
- Que casalzão - Rony abriu um sorriso presunçoso enquanto tirava a foto e sentiu que seu rosto estava ganhando cor.
- Eu disse que você era a namorada dele - Belinda disse cruzando os braços, fazendo arregalar os olhos.
- Ah, é? Você disse isso? Repete aqui pra mim - tomou a sobrinha nos braços e começou a fazer cócegas nela.
- Para, tio! - a garotinha disse em meio à gargalhadas contagiosas.
- É pra fazer mais?
- Mamãe, socorro!
- , vai matar ela - Cida disse rindo e pegou a filha no colo.
- Não tem problema, ainda tem a Maia - ele se virou para a outra sobrinha que correu para se esconder atrás de sua avó. - Vem aqui, mocinha, você não vai escapar de mim.

Em meio às gargalhadas de Maia tentando escapar das cócegas, não pôde conter um sorriso ao ver com as sobrinhas. Era tão bonito pessoalmente quanto por fotos ou vídeos. Ela imaginou que ele seria um ótimo pai algum dia.

- Com licença - Avelar disse se aproximando e pegou a taça no gramado. - Essa belezinha fica comigo agora, vocês já se divertiram bastante com ela.
- Parabéns pelo gol, Danilo - disse sorrindo.
- Valeu, .
- O meu foi mais importante! - disse quando estava sentada no gramado com Maia presa nos braços.
- Tá bom, sonha aí, novato - o lateral disse rindo e se afastou com a taça.
- É, o Avelar acabou com a nossa festa - se levantou. – Obrigado por terem vindo, vocês nem tem idéia do quanto isso significa pra mim.
- A gente não ia perder seu primeiro título aqui, - sua mãe disse sorrindo. - O primeiro de muitos.
- Se Deus quiser, mãe - o jogador sorriu e deu um abraço na sua mãe. - Eu tenho que ir pro vestiário, a gente vai jogar um balde de gelo no Carille na coletiva. Vejo vocês depois.

se despediu dos seus familiares que deixaram o gramado para voltarem para a arquibancada e se virou para .

- Não me olha assim, eu tenho livre acesso – exibiu a credencial de funcionária pendurada no seu pescoço.
- O que? Não tô fazendo nada. Eu só acho um absurdo eu não poder beijar você aqui.
- Pra que, né? Sua família toda já sabe - ela disse rindo e ele concordou.
- Não se preocupa, eles são legais. Adoraram você - ele sorriu e tirou sua medalha do seu pescoço para colocar no dela. - Fica melhor em você do que em mim.
- Concordo - ela olhou para a medalha reluzente e apertou na sua mão.

foi surpreendida quando segurou seu queixo e ergueu para que ela olhasse para ele, então pressionou seus lábios contra os dela por alguns instantes até se afastar com um sorriso no rosto.

- Agora todo mundo sabe que eu me apaixonei - ele disse por fim ao pegar a medalha de volta e deu meia volta para se juntar aos seus companheiros, deixando uma perplexa para trás.
- O que foi aquilo? - Bruno perguntou quando se aproximou.
- O quê?
- Beijou a ? – o zagueiro sorriu presunçoso e apenas deu de ombros.
- Sim, eu tô com ela. O que tem demais nisso?
- Nada, nada! Eu apoio, não posso dizer o mesmo dos chicos ali - ele apontou para o fundo onde Vital e Pedrinho estavam pegando a taça das mãos de Avelar. – Estás muy muerto, mi amigo.
- Deixa eles lá, já sou grandinho - deu de ombros, mas acabou rindo.
- Ei, ! Vem aqui! - Pedrinho o chamou.
- Eu avisei.
- Meu Deus, socorro - o camisa 7 se aproximou. - O que foi?
- Toma aqui o prêmio de pegador do ano - Vital passou a taça pesada para ele. - A gente viu, o resto do time viu, o Carille viu, a torcida viu, até os rivais devem ter visto também.
- Virou crime beijar as pessoas, por acaso?
- Não, muito pelo contrário, é por isso que a gente tá te dando esse troféu. Relaxa, todo mundo adorou a novidade, quer ver? - Pedrinho se virou. - Gabriel! Vem aqui!
- Chamou? - o camisa 5 se aproximou.
- Chamei. A gente acabou de dar para o o troféu de garanhão.
- Merecido, né? O cara é o maior conquistador - Gabriel disse rindo. - Depois ensina pra gente o segredo, .
- Os três são comprometidos que eu sei, podem parar por aí e muito obrigado pelo troféu. Vai ficar ótimo na minha prateleira.

⚽🖤📱

Após a comemoração em campo, ainda teve mais fotos no vestiário, um balde de gelo no treinador durante a entrevista coletiva e só depois disso a verdadeira festa elaborada pelo clube começou e se estenderia por toda a noite. estava cansado o suficiente para não se estender, pretendia ficar até a meia noite para estar disposto no dia seguinte, afinal, ainda tinha a premiação do campeonato.
No meio da música estridente, luzes piscando sem parar e muita bebedeira, ele estava sentado em uma das mesas com o chop em uma mão e o celular na outra, vendo as fotos postadas por jogadores e comissão técnica. Ele próprio acabou se empolgando e postou mais fotos do que gostaria, mas não conseguia se conter de tanta felicidade.
Ficou mais feliz ainda quando Junior lhe enviou fotografias do momento do Hino Nacional. Ele estava com o olhar perdido no mosaico feito pela torcida bem na sua frente e um sorriso estampado no rosto, era possível ver as lágrimas escorrendo também. Sem dúvidas era sua foto favorita daquele dia histórico.
Ele viu também algumas fotos publicadas por e não pensou duas vezes antes de comentar em algumas delas. Não estava arrependido por ter a beijado no meio do campo na frente de todo mundo, sabia que teria que se explicar depois, mas não se importava. A sensação de começar a se apaixonar de novo tomou conta dele de uma forma em que não se sentia capaz de controlar as próprias atitudes quando estava com . Por mais que se sentisse inseguro e insuficiente para seguir sua vida desde o seu último relacionamento, esses pensamentos sumiam quando ele pensava nela e sentia como se pudesse ter o mundo nas suas mãos.

Capítulo 15 - Feliz Aniversário

teve a segunda-feira dos seus sonhos. Com o time dispensado, ele conseguiu passar o dia inteiro com a sua família antes que fossem embora no dia seguinte, apesar de ter passado uma parte da manhã na barbearia cortando o cabelo e melhorando a aparência da barba para a premiação que aconteceria à noite, isso quase não fez diferença. Seu apartamento ficou pequeno para tanta gente, mas ele não se importava. Passou tanto tempo longe da família que recebê-los em casa era um privilégio.

- Tio - Maia se virou para ele quando estavam assistindo um filme no quarto dele.
- O que foi?
- A sua namorada vai vir aqui hoje?

Ele sabia que não tinha como explicar para duas crianças de quatro e seis anos que beijar alguém não quer dizer que, necessariamente, tem que namorar com a pessoa em questão. Não estava namorando com , mas também não podia negar que estavam juntos de alguma forma.

- Não, amor, ela não vem.
- Ela é bonita.
- Você gostou dela? - ele sorriu vendo ela concordar com a cabeça. - Ela é muito bonita mesmo.
- Pede pra ela vir aqui?
- Eu não posso fazer isso, Maia, ela... Tá ocupada. Prometo que vocês vão se ver de novo, tá bom?
- Promete mesmo? - ela estendeu o dedinho e ele segurou.
- De dedinho e tudo mais.
- Acho que tô atrapalhando o momento tio-sobrinha - Cida disse ao abrir a porta do quarto.
- Mamãe, o tio disse que vai trazer a namorada dele aqui.
- É mesmo? - ela sorriu e percebeu a malícia por trás. - Pede para sua namorada vir aqui, .
- Talvez ela esteja ocupada, Maria Aparecida - respondeu com o mesmo sorriso e tom de voz. - Tem a premiação hoje, caso não se lembre.
- Pede para ela vir aqui, eu posso fazer o cabelo e a maquiagem dela se ela quiser.
- É, tio! Pede pra ela vir aqui.

olhou para Maia e depois para Cida, se sentindo completamente sem saída. Não podia explicar para Maia que não tinha uma namorada, mas para Cida, sim. Ele pegou o celular e discou o número de que só atendeu no terceiro toque.

- Oi, .
- Oi - ele viu Cida se segurando para não rir e odiou sua irmã por um instante. - A Cida quer falar com você.

Cida arregalou os olhos e não teve tempo de pensar quando saltou da cama e entregou o celular para ela.

- Oi, ! - disse forçando uma naturalidade, prendeu o riso. - Como você está? Estou bem também! Sabe o que é? Eu estava falando pro que, se você quiser, posso fazer seu cabelo e maquiagem pra hoje à noite, sou cabeleireira, o que você acha? Não se preocupa, o disse que vai te buscar! Traz as suas coisas e se arruma aqui... Tá bom, vou falar pra ele. Beijos, querida, tchau! - Cida desligou e devolveu o celular para ele. - Ela disse que vai tomar banho e daqui uma hora, você pode passar lá.
- Te odeio.
- Também te amo, maninho. Vem, Maia, vamos arrumar aquela bagunça na sala porque a vai vir aqui.
- Eba! - Maia pulou da cama e seguiu a mãe para fora do quarto.

saiu do quarto também e foi atrás da sua chave do carro. Ao encontrar, se despediu da família e foi buscar . Quando estacionou o carro em frente à casa dela, lhe enviou uma mensagem e em instantes ela apareceu no portão.

- Eu disse em uma hora, ! - se escorou na janela aberta.
- Não estou com saco pra esperar. Vamos?
- Calma, apressado. Entra, ainda preciso terminar de pegar as coisas.

bufou e saiu do carro, acompanhando para dentro da casa dela. Estava um pouco esbaforida e com o cabelo molhado.

- Cadê os seus pais?
- Trabalhando, ué - deu de ombros. - Senta aí, eu já volto.
- Ei, espera! - ele a puxou pelo braço, fazendo ela dar meia volta e parar bem na sua frente. - Não esqueceu de nada, não?
- Hum... - fez uma cara pensativa - o baby liss! Puta merda, como eu sou burra! Valeu por me lembrar.
- Só isso?
- Tá me deixando confusa, .

apenas riu da confusão dela e colocou as mãos na cintura de , a puxando para um beijo que a pegou desprevenida, mas não hesitou em retribuir quando passou os braços ao redor do pescoço dele. O que era para ser um beijo tranquilo, se tornou algo mais intenso e um pouco desesperado, de uma forma que eles ainda não tinham experimentado antes, mas que gostaram mesmo assim. sentiu as mãos dele descendo um pouco e lhe apertando, fazendo a garota soltar um suspiro e ele sorriu.

- Feliz aniversário - disse entre os beijos que pareciam intermináveis.
- Se esse foi o meu presente, eu adorei - falou ofegante quando se afastaram.
- Não, ainda não, eu só queria te beijar antes de voltar para casa - ele riu. - A propósito, minhas sobrinhas acham que a gente namora e eu não sei como negar isso porque não dá para explicar pra duas crianças que as pessoas se beijam mesmo sem namorar.
- Ok, então pra elas estamos namorando, mas só porque amei elas - sorriu. - Vem, me ajuda a descer com as coisas.

concordou e a seguiu até o quarto dela. Tomou um susto quando viu todas as coisas jogadas na cama.

- Você tá pensando em se mudar pra minha casa e eu não estou sabendo?
- E você acha que as mulheres já acordam produzidas? Agora, se quiser andar com uma louca descabelada por aí, posso fazer isso também - disse enquanto colocava seus saltos dentro da mochila. - Você escolhe.
- Posso ver o vestido? - ele se aproximou da cama para abrir o zíper da capa onde o vestido estava, mas recebeu um tapa de antes de conseguir.
- Nem pensar!
- Por que eu não posso?
- Porque eu não quero - ela disse entregando a mochila pra ele. - Tá pesada.
- Sou jogador de futebol, e não levantador de peso.
- Agora é. Leva isso aqui também - entregou sua maleta de maquiagem.
- Isso é sério mesmo?
- É - pegou a capa com o vestido. - Vamos antes que eu mude de idéia.
- Não sou seu empregado, leva você.
- Mas hoje é meu aniversário - choramingou. - Não se faz vinte e quatro anos todos os dias, , sabia?
- Eu sei - ele murmurou amargamente ao se lembrar que estava a três meses de fazer vinte e cinco. - Ok, vou levar, mas só porque é seu aniversário.
- Obrigada, você é uma gracinha - ela deixou um beijo estalado na boca dele e pegou a capa com o vestido. - Vamos lá.

⚽🖤📱

- Ele correu do meio do campo até o gol e deixava os rivais para trás como se fossem amadores. Finalizou com uma cobertura no goleiro, foi sem dúvida o gol mais lindo que ele já fez - Cida dizia enquanto colocava alguns grampos no cabelo de . - Aquela foi a melhor temporada do , sem dúvidas.
- Ele é um jogador sensacional, acima da média - disse tentando se manter imóvel. - Ele é muito veloz, ofensivo, criativo, inteligente... Caiu como uma luva no time, ainda terminou o campeonato como campeão e vice artilheiro. Não acredito que duvidei dele no começo.
- Não deveria, ele sofreu muito e não queria ter vindo para cá.
- Eu sei - a garota respondeu com amargura ao se lembrar de quando disse que não queria ter deixado o Grêmio. - É normal ter ciúmes do jogador com o ex time?
- Não muito... Mas acho que o é mais do que só um jogador de futebol e você sabe disso. Ele é o cara mais gentil e doce que eu conheço. Ele tem todas essas características de jogador que você disse, mas é ainda melhor como pessoa.
- Ele é - sorriu, sentiu como se o coração fosse derreter ao se lembrar do sorriso dele. - Eu acho que eu me apaixonei, Cida.
- Tá meio na cara, - ela riu. - Mas isso não é ruim, você tirou a sorte grande. O é do tipo que move o mundo por você, sempre foi assim, você nem tem ideia. Ele simplesmente não deixa mais a nossa mãe trabalhar, ele comprou casa e carro para ela e diz que ainda é pouco para retribuir tudo o que ela fez pela gente. Desculpa se parece que tô fazendo propaganda do meu irmão, mas é que ele ainda é o meu pequenininho. Acho que se sei lidar com as minhas filhas, é porque antes eu tinha o e o Rony pra cuidar. Só quero ver ele feliz e, atualmente, ele está mais do que feliz. Dá para ver nos olhos dele quando ele olha pra você.

sentia o coração acelerar sempre que ouvia aquilo de alguém. Tinha aceitado o fato de que estava se apaixonando e não iria lutar contra aquilo, mas ouvir de alguém que sentia o mesmo, era algo que fazia ela querer estar com ele sempre, ainda mais alguém tão próximo dele como Cida.

- Eu não imaginava que isso fosse acontecer - encarou seu reflexo no espelho e não conteve um sorriso. - Alguns meses atrás, a gente se odiava.
- É impossível odiar o .
- Eu sei, não consegui por muito tempo - as duas riram.
- Acho que terminei. Vê se você gostou.

se levantou e ficou em pé na frente do espelho para poder ver melhor e se sentiu linda pela primeira vez em anos. O vestido parecia tão bonito quanto antes, a maquiagem não era exagerada e o meio coque com cachos nas pontas lhe deixou com um ar ainda mais delicado. Ela teve que se conter para não deixar escorrer algumas lágrimas, mas pôde se olhar no espelho e se admirar depois de muito tempo.

- Eu amei - ela disse com a voz embargada. - Obrigada, Cida.
- Você é linda, , eu confio no gosto do meu irmão. Tudo isso só realçou ainda mais a sua beleza. - Obrigada - ela se virou para Cida. - De verdade.

Antes que Cida pudesse responder, ouviram batidas na porta e Cida deu permissão para entrar. adentrou no quarto e não escondeu a surpresa quando viu . Ela, por sua vez, também não deixou de admirar e perceber que ele ficava muito bem em um smoking. Nenhum dos dois era capaz de dizer qualquer palavra.

- Eu vou ali ver se a Belinda já acordou. Licença - disse Cida, ao perceber os olhares dos dois e saiu rapidamente fechando a porta.
- Você está linda - falou quando ficaram a sós e ele conseguiu falar alguma coisa, estava admirado com a linda garota à sua frente. - Meu Deus, .
- E você está com o uniforme de jogo, muito profissional - ela disse timidamente e então entendeu a referência de que estava jogando de terno por conta do bom futebol apresentado durante o campeonato. - Tá gatinho.
- Valeu, mas estou me sentindo um garçom - ele se colocou ao lado dela para poder ver seu reflexo também.
- Para com isso, estamos ótimos - ela sorriu e viu ele pegando o celular no bolso e apontando para o espelho.
- Sorria.

se arrumou melhor no seu lugar e tirou uma foto deles. Pensou se poderia postar ou não, mas certamente não iria concordar, então ele apenas guardou o celular no bolso novamente.

- Vim trazer o seu presente de aniversário - ele se virou para ela, tinha um sorriso travesso nos lábios. - Por favor, não me mata.
- O que você aprontou, ? - cruzou os braços.
- Antes de tudo: não vou aceitar um não como resposta. Eu lembrei daquela nossa conversa que você disse que gostaria de ter jogado pelo Lyon e pela Seleção. Infelizmente não posso fazer isso por você, mas como sei da importância do futebol feminino, eu não poderia deixar você de fora disso - ele tirou do bolso interno do smoking um par de ingressos e arregalou os olhos. - Você vai pra França assistir a um jogo da Seleção pela Copa do Mundo feminina. Brasil contra Itália pelo terceiro jogo da fase de grupos.
- Você não está falando sério - foi tudo o que conseguiu dizer e riu em seguida. - Não, .
- Como não? Eu sei o que o futebol feminino significa pra você, , também significa pra mim. Você não tem outra opção, já falei que não vou aceitar um não como resposta.

olhou para os ingressos e em seguida para ainda sem acreditar no que ele fez. Uma parte dela queria aceitar e ir para Paris imediatamente, mas a parte lúcida não queria que ninguém dissesse que estava viajando às custas dele.

- Foi difícil para o Dantas conseguir esses ingressos e você não quer conhecer esse homem com raiva. Não mesmo.
- Você vai comigo? - perguntou quando percebeu que não tinha outra opção a não ser aceitar.
- Não, é uma semana antes da Copa América. Desculpa, eu tô muito iludido com isso. Eu sei que estou sendo observado, quero muito ser convocado de novo.
- Eu acho que seria burrice do Tite te deixar de fora da lista.
- Não tenta mudar de assunto! - colocou os ingressos nas mãos dela. - De nada.
- Obrigada - ela o abraçou tão rápido que o pegou desprevenido.
- Se amassar minha roupa, minha mãe te mata - disse rindo ao envolver nos braços.
- Você está tão lindo e tão cheiroso que eu não posso evitar - ela disse contra o pescoço dele, deixando alguns beijos na região.
- Não me provoca - ele fechou os olhos quando ela deixou um chupão de leve - isso mesmo, deixa marcado aí.
- Americanas podem, né? - se afastou e guardou os ingressos na mochila.
- Eu sabia que aquele papo era puro ciúmes - gargalhou e revirou os olhos. - Quem diria, hum?
- Ciúmes é um caralho, ok? Não faz sentido sentir ciúmes se você não tem nada com a pessoa. Vamos, não quero me atrasar.
- Calma aí - ele se colocou na frente da porta para impossibilitar a passagem dela. - Como assim nada?
- Nada, ué - deu de ombros. - Até onde eu sei, a gente não tinha nada quando você voltou.
- Estava o maior clima, deixa de ser sonsa - ele sorriu maroto e ela revirou os olhos novamente.
- É, mas você estava bem entretido lá em Praga, né? Então não vou perder o meu tempo tentando explicar isso pra você. Agora, dá licença.
- Só com uma condição.
- Que condição? - cruzou os braços impaciente.
- Tem que admitir que estava com ciúmes. Ainda está.
- Isso é ridículo - ela começou a rir, mas o olhar dele era desafiador demais. - Não vou admitir nada, vamos ficar o resto da noite aqui - foi até a cama e se sentou, cruzou os braços e as pernas também.
- Ok, tenho tempo - ele também cruzou os braços e se escorou na porta. - Eu não ficaria aí se fosse você porque da última vez, você se declarou pra mim.
- Não me importo - ela pegou o celular para se entreter.

encarou a cena um pouco perplexo, mas também curioso. Normalmente aquilo dava certo com outras garotas, ele já estava acostumado a fazer aquela brincadeira e conseguir o que queria, mas com era completamente diferente e ele não sabia com o que iria se deparar. Poderia imaginar que ela não é do tipo que cede facilmente e ver ela plantada ali fingindo estar mexendo no celular apenas para não dizer o que ele queria ouvir, o fez rever seus conceitos e abaixar seu próprio ego para lidar com aquela garota.

- Ok, eu já entendi que não tem ciúmes nenhum - ele abriu a porta. - Vamos, quero receber meu prêmio.
- Só para você saber, eu estava morta de ciúmes - disse ao passar pela porta e ele riu enquanto a seguia com o olhar.

Quando chegou na sala, viu suas sobrinhas boquiabertas ao verem toda produzida. Olhou para sua mãe e ela também estava admirada. Ronald e Cida trocaram olhares cúmplices e depois olharam para , abrindo sorrisos maliciosos. apenas revirou os olhos, embora tivesse certeza que estava estampado em seu rosto que ele estava envergonhado.

- Você parece uma princesa! - Belinda disse admirada.
- Obrigada - sorriu timidamente para a menina.
- Só ela está bonita? E eu? - trouxe a atenção para si quando percebeu que estava envergonhada por estar ali.
- Você também tá bonito, tio - Maia disse rindo.
- Acho bom mesmo. Vem aqui me dar um abraço - se agachou e abriu os braços. Maia veio correndo para o abraçar.
- Te amo.
- Também te amo. Se comporta - ele deixou um beijinho na testa dela e em seguida foi até Belinda para fazer o mesmo - Você também, mocinha.
- Tá bom, tio.
- Ótimo. Vamos, .

Eles se despediram e então saíram do apartamento para pegar o elevador. sentiu o corpo aliviando aos poucos por finalmente ter saído de lá. Por mais que tivesse amado a família de , ainda sim era a família dele e era cedo demais para os conhecer, principalmente porque ainda nem eram um casal e ela não sabia se seriam.

- Não canso de dizer o quanto você está linda – disse ao pé do ouvido de , deixando um beijo na região e sorriu, se virando pra ele.
- Você também está – ela ajeitou a gravata borboleta dele que estava um pouco torta e sentiu as mãos dele repousando sobre a sua cintura. – Estou tão acostumada a te ver de uniforme que até me esqueço como você é fora do campo.
- Pelo menos o uniforme é bonito – ele disse rindo e ela concordou, deixando um selinho de leve nos lábios dele para não borrar o seu batom. – Não, não faz isso, eu não me contento só com um selinho!
- Eu também não, mas não resisti – se afastou quando estavam perto do térreo. – Depois a gente compensa, agora vamos só curtir a festa.
- Estou me sentindo em um baile de formatura - confessou quando saíram do elevador, estava um pouco nervoso com a situação. - Só falta aquele negócio no seu pulso. Não sei, pulei essa parte. Tem isso no Brasil também ou só em filmes americanos?
- Só em filmes – explicou, achando graça da confusão dele. - Então você não teve formatura?
- Eu até tive, mas não fui - ele disse rindo. - Estava ocupado cuidando da mudança pra Argentina.
- Que chique! Eu não tive do ensino médio porque eu não quis, mas a da faculdade foi bem legal - ela juntou seu braço com o dele. - Hoje você vai ter a sua formatura, serei seu par.
- Mal posso esperar.

⚽🖤📱

O salão do Credicard Hall estava cheio naquela segunda-feira à noite. Os jogadores passavam pela zona mista para entrevistas acompanhados por suas belas esposas e acompanhantes e se acomodavam nas mesas distribuídas pelo lugar. e se acomodaram em uma mesa perto do palco que logo foi ocupada também por Bruno que estava sozinho ao chegar.

- Eu tinha uma namorada no Uruguai - Bruno dizia tentando manter um bom português para poder entender. - Mas não deu certo por causa da distância.
- Que pena, Bruno, sei como o futebol pode afetar um relacionamento - disse compreensiva. - Mas acho que você iria gostar das brasileiras, sabe?
- Eu sei - o zagueiro respondeu rindo e concordando com a cabeça. - Não tenho pressa no momento. Sou novo, tenho tempo.
- Queria pensar assim quando eu tinha dezenove anos. Eu já queria casar - disse nostálgico e bebericou sua água com gás. - Mas Deus foi misericordioso na minha vida e impediu de eu fazer a pior burrada da minha vida.
- Como assim você só tem dezenove anos? - perguntou repentinamente, se virando para Bruno, para tentar ignorar o fato de que quase se casou algum dia. - E já joga tudo isso?
- Isso mesmo - Bruno sorriu timidamente, evitando se gabar.
- Cara, você é foda, na moral - disse aplaudindo. - Muito obrigada por ser zagueiro do meu time, eu te amo muito.
- Enquanto eu tenho que ouvir que sou um pé de rato - murmurou rolando os olhos. - Deus está vendo você fazendo acepção de jogadores, viu?
- E eu disse alguma mentira, por acaso?
- Sou o vice-artilheiro do time!
- Calma, gente, sem brigas - Bruno disse bem humorado, embora não soubesse se estavam brigando ou não. - Mas obrigado, .
- De nada. Particularmente, sempre gostei mais de zagueiros do que de atacantes - apoiou os cotovelos sobre a mesa e o queixo sobre as mãos, afim de demonstrar interesse em Bruno e provocar . O zagueiro apenas riu.
- Fica aí com seu zagueiro, então. Eu vou procurar alguma coisa alcoólica para aguentar vocês dois pelas próximas horas.

se levantou e ainda teve tempo de ouvir de que ele não precisava ficar com ciúmes. Não que realmente estivesse com ciúmes, sabia que era apenas uma brincadeira entre eles, mas também gostaria de receber o mesmo tipo de elogio. Parou para pensar e constatou que até os dezenove anos, o máximo que conseguiu foi uma lesão no joelho que quase lhe custou sua carreira. Certamente, Bruno merecia aqueles elogios muito mais do que ele.
Imerso em pensamentos e cumprimentando alguns colegas jogadores pelo caminho, parou de andar quando viu diante dos seus olhos, alguém que esperava nunca mais encontrar. O vestido verde musgo e o cabelo castanho claro cortado em um long bob prenderam a sua atenção de uma forma que ele se esqueceu do mundo ao seu redor. Sentiu o estômago revirar como se tivesse tomado um soco, e de fato, vê-la após três anos era como tomar um soco no estômago. Para o seu azar, ela também o viu plantado bem ali.

- ?

Camila ajeitou sua postura quando viu seu ex-namorado plantado a olhando estaticamente. Não via há tantos anos que parecia uma eternidade.

- O que você está fazendo aqui? - ele perguntou após recobrar a consciência.
- Vou participar da premiação - ela respondeu dando de ombros, tentando ignorar a leve grosseria na voz dele. - E você? Saiu do Grêmio?
- Fui dispensado, eu jogo pelo Corinthians agora. Foi dispensada pelo Inter também?
- , isso já faz três anos - ela soltou uma risada nervosa. - É sério que você ainda guarda mágoa de mim?
- É sério que você não sente um pinguinho de arrependimento?
- Todos os dias eu me arrependo, mas o que eu ia fazer? Te procurar? Eu sei o que fiz, , e hoje eu percebo que foi horrível, mas como eu ia me aproximar de você de novo?
- Se desculpar teria sido o suficiente - ele murmurou como amargura. - Eu amava você de verdade.
- Eu acho que aqui não é o momento pra isso - Camila encolheu os ombros visivelmente constrangida.

respirou fundo, ainda incapaz de assimilar o que estava acontecendo ali. Era como se estivesse revivendo tudo aquilo de novo e ele só desejava sair dali o quanto antes.

- Você tá aí! Pensei que tinha morrido! Achou a bebida?

despertou quando viu vindo na sua direção em passos rápidos. Ele sentiu os olhos se encherem de lágrimas ao ver a garota por quem estava apaixonado, ela era como um colírio para os seus olhos e uma borracha que apagasse o seu passado. Ele sabia que nunca iria o machucar daquela forma.

- Você está bem? - perguntou ao reparar que ele parecia bem tenso, então notou a presença feminina do seu lado, tomando um susto por reconhecer a modelo. - O-oi.
- Olá - Camila respondeu tentando parecer natural, mas não esperava que estivesse acompanhado. - Adorei o seu vestido.
- Obrigada - sorriu envergonhada, receber um elogio de Camila Bittencourt era fora da realidade. - Também amei o seu. , por que não me disse que conhece a Camila Bittencourt? Desculpa, é que eu sou muito fã do seu trabalho.
- Muito obrigada - Camila sorriu simpática. - Você é a namorada dele?
- Na verdade, eu...
- Sim, é a minha namorada - segurou forte a mão de , fazendo a garota ficar sem reação.
- Que bom, eu fico feliz por você ter seguido em frente - ela sorriu e olhou para . - Foi um prazer te conhecer. Licença.

Camila deu meia volta e se afastou. se virou para , vendo a expressão irritada no rosto dele enquanto ele ainda apertava forte a sua mão, provavelmente não tinha se dado conta disso ainda. Ela entendeu que aquela era a ex-namorada que ele mencionou antes, se lembrava de ele ter dito que ela era modelo, mas não tinha ideia de que era uma modelo famosa. Se sentiu até inferior pela beleza da mulher naquele vestido invejável.

- ... - colocou a mão livre sobre o ombro dele, acariciando. - O que foi?
- Desculpa - ele olhou para ela, como se seu toque fosse calmante. - É a minha ex. Eu não sabia que ela estava aqui.
- Tá tudo bem, deixa pra lá, aproveita a festa - disse compreensiva, sentindo a mão dele afrouxar aos poucos. - Você é forte, sabia? Minha mão deve estar marcada.
- Aquilo que eu disse... A gente...
- Não precisa se explicar, eu entendo.
- Não é que eu não queira, eu quero muito namorar com você um dia, mas...
- , calma - ela sorriu, mas o coração acelerou ao ouvir que ele gostaria de namorar com ela. - Você só tá nervoso, relaxa - colocou a mão sobre o rosto dele e ele fechou os olhos quando ela começou a acariciar com o seu polegar.
- Você é incrível. É sério. Obrigado e me desculpa - ele virou o rosto e deixou um beijo na palma da mão dela, em seguida também beijou os lábios dela. sorriu.
- Tudo bem, vamos voltar pra mesa, o Bruno tá sozinho.

concordou e eles voltaram para a mesa onde Bruno estava entediado mexendo no celular. Ele até pensou que o amigo poderia ter se enturmado com os companheiros de time que já haviam chegado, mas aparentemente Bruno não pensou da mesma forma.

- Pelo menos achou a sagrada cachaça?
- Me erra, Méndez - disse se sentando ao lado de e pegando a mão de por debaixo da mesa.

abaixou a cabeça e mordeu os lábios para conter um sorriso, mas falhou. Amava a forma como eles estavam ficando cada vez mais íntimos.
Quando Caio Ribeiro subiu ao palco, todos entenderam que a premiação estava para começar. O apresentador fez um belo discurso sobre a importância do futebol, fez apontamentos sobre o campeonato e interagiu com os presentes ali. Em seguida veio um show da dupla sertaneja Marcos e Belutti e, só então, os prêmios começaram a ser entregues. O primeiro, é claro, foi para a Seleção do campeonato.
estremeceu quando viu Camila subindo ao palco para ajudar Caio a entregar os troféus. Torceu mentalmente para que não estivesse naquela seleção e não precisasse receber aquele troféu das mãos de sua ex.

- Então conforme eu for chamando, podem vir até o palco - Caio disse ao microfone e abriu um envelope para começar a anunciar.

O goleiro eleito foi Cássio, seguido pela defesa que continha Victor Ferraz do Santos e Danilo Avelar nas laterais, Gustavo Henrique do Santos e Bruno Alves do São Paulo como zagueiros. No meio campo, Diego do Santos e Júnior Urso. No ataque, Gabriel Martinelli do Ituano, Jean Mota do Santos e, para o azar do corinthiano, .
O jogador se levantou do seu lugar sobre aplausos, mas completamente frustrado. Sorriu e acenou para as câmeras e então subiu no palco. Camila o esperava com o seu troféu nas mãos e conforme se aproximava da modelo, sentia o coração bater mais acelerado. Pegou o troféu da mão dela e, antes que Camila pudesse o parabenizar, ele se colocou ao lado de Jean Mota para que Caio pudesse anunciar Gustavo, também do Corinthians, para finalizar o ataque e o melhor técnico, Antônio, do RB Brasil. Os doze se juntaram e posaram para uma foto junto com Caio e Camila. Na hora de descer do palco, os cinco corinthianos permaneceram para a entrega da taça. O restante do time subiu e Cássio recebeu das mãos de Caio, novamente o troféu de campeão para erguer outra vez.

- Deixa eu ver! - disse quando voltou para a mesa com o troféu e ele entregou para ela. - Mais um pra coleção, hein?
- Esse com um gostinho especial - rebateu com ironia ao se sentar - meu Deus, só quero ir pra casa.
- Você está bem, ? - Bruno perguntou preocupado ao ver que o amigo parecia um pouco irritado.
- Sim, só tô cansado - forçou um bocejo exagerado. - Cansa carregar o time nas costas.
- Vai tomar no cu - Bruno mandou o dedo do meio. - Esse troféu nem é grande coisa mesmo.
- Ele é convencido assim mesmo, Bruno, não liga - disse colocando o troféu sobre a mesa e se levantou em seguida. - Eu já volto, preciso ir ao banheiro.

Ela se afastou da mesa, mas não iria ao banheiro. Começou a andar pelo enorme salão à procura de Camila. Ver que ficou tão mexido ao encontrar a ex fez com que sentisse necessidade de conversar para entender melhor. Não queria criar nenhuma rivalidade e cair naquele típico triângulo amoroso. Mesmo que Camila fosse uma mulher absurdamente linda, sabia o que ela tinha feito com no passado e ela não iria se sentir inferior ou intimidada pela modelo.
Após algum tempo, encontrou Camila saindo do banheiro feminino.

- Oi de novo! - Camila disse surpresa ao ver ali, mas sorriu cordialmente.
- Oi... Será que eu poderia falar com você um minutinho?
- É claro, pode falar.
- É que... Bom, o já tinha me dito o que aconteceu, mas eu não sabia que era você. Isso não importa, na verdade, eu só não sabia que isso ainda o afetava tanto. Eu só queria poder entender melhor.
- Qual é o seu nome mesmo?
- .
- Certo, ... Eu não me orgulho do que eu fiz com o . Eu era nova, imatura e com a carreira em ascenção, a gente começou a namorar com dezesseis anos e ele ainda jogava no Santos. Diferente de mim, o sempre foi bem mais tranquilo e com a cabeça no lugar, queria constituir uma vida comigo. É óbvio que eu me assustei só de imaginar, eu gostava dele, mas não ao ponto de casar. Quando me dei conta, estava procurando em outras pessoas o que eu achava que era mais interessante.
- Entendi.
- Eu me arrependo disso, sei que machuquei ele. Eu não o procurei porque não sabia como me aproximar, então achei que seria melhor deixar ele seguir a vida dele. Estou feliz em ver que ele conseguiu.
- Ele só falou aquilo para tentar mostrar que está bem, mas eu não sou namorada dele - cruzou os braços, mas tentou não demonstrar amargura nas palavras.
- Depois que eu me afastei, vi vocês de longe, pareciam um casal. Ele te olha do mesmo jeito que olhava pra mim, e que só de lembrar, eu me arrependo ainda mais. Ele é uma pessoa incrível, vai fazer de tudo por você. Eu não dei valor e perdi o cara mais gentil, fofo e amoroso que eu já conheci. Vocês podem até não serem namorados, mas imagino que não sejam somente amigos. Por favor, dá valor pra ele.

engoliu a seco as palavras de Camila, pois concordava com cada uma delas. Poderia passar horas listando tudo o que admirava em e só de pensar no quanto gostava dele, seus olhos se enchiam de lágrimas.

- Você gosta mesmo dele, não é? - Camila ponderou, ao ver que os olhos de começaram a ganhar um brilho indesejado.
- Muito - respondeu com a voz falha, mas tentando conter a emoção ao se lembrar do presente de aniversário que ele lhe deu. - Sabe? Hoje é o meu aniversário e eu não estava esperando nada, mas ele me convidou pra ser acompanhante dele hoje e me deu como presente uma viagem pra França para assistir um jogo da Copa do Mundo feminina. Eu sou ex-jogadora de futebol e parei por lesão, mas ainda sou funcionária do Corinthians e acompanho o time feminino sempre e ele sabe disso. Ele planejou toda a viagem e me deu de bandeja só para eu poder ver a Seleção de perto... Ele não precisava, mas fez mesmo assim. Conheço ele há tão pouco tempo, mas é como se fosse uma eternidade.
- Sinto muito pela sua lesão, mas pode ir se acostumando porque o é assim mesmo, daí para melhor. Quando ele foi jogar na Argentina, me levou para morar com ele porque não queria ficar longe de mim. Ele já te levou pra Espanha pra ver o Barcelona jogar?
- Não, mas não duvido - ela riu ao se lembrar do fanatismo dele pelo clube.
- Então pode esperar porque ele vai.
- Tá bom... Eu só vim falar com você porque eu não queria promover nenhum tipo de rivalidade e como não sou namorada do , não queria que você ficasse com alguma impressão errada de mim.
- Imagina! Adorei você, acho que vocês combinam demais, principalmente porque você já foi jogadora enquanto eu não sou muito fã de futebol, só queria agradar o ... Só cuida dele, ele merece pelo tanto que faz pelas pessoas que ele ama.
- Merece muito. Obrigada por me ouvir, Camila. Continuo sendo sua fã.
- Foi um prazer, , te vejo por aí... Até mais.
- Até mais.

Elas se afastaram e voltou para o seu lugar. e Bruno estavam em um debate caloroso em espanhol no qual ela não conseguia entender, mas sabia que estava falando em espanhol afim de fazer Bruno se sentir à vontade vivendo em outro país, talvez por isso os dois fossem tão amigos.

- Sobre o que vocês estão falando? - perguntou após os dois caírem na gargalhada.
- Bruno está contando que quando era criança, disse que ia pegar a bola no telhado pra ficar espiando a vizinha.
- Tá, mas o Bruno ainda é criança. Deveria estar na cama agora.
- Boa! - voltou a rir sem parar enquanto Bruno revirou os olhos.
- Faço vinte em setembro. Para de implicar com a minha idade!
- Desculpa, Bruninho, é que você tem uma carinha de criança muito fofa. Além disso, faz dupla com o Gil que é uns quinze anos mais velho do que você e mesmo assim vocês se dão muito bem. Sim, você é o nosso bebê.
- , fala para sua namorada me deixar em paz.
- Ela não está errada, cara, é verdade.

A premiação se seguiu por mais duas horas e após o show da cantora Iza como encerramento, era a hora de ir embora. tirou os saltos quando entrou no carro, sentindo como se tivesse tirado um peso das suas costas.

- Não entendo as mulheres, se algo está te incomodando, é só tirar - disse após dar ré para sair do estacionamento.
- Não é bem assim que funciona, meu bem. É claro que eu prefiro uma chuteira apertando o meu pé do que um salto, mas é o preço da beleza.
- Você não precisa disso - ele falou com convicção e encolheu os ombros, sem saber o que responder. - Não finja que é tímida.
- Não estou fingindo, só fiquei um pouco sem graça. Quero dizer, eu me acho tão... Normal. É estranho quando alguém me elogia assim.
- Acho que você deveria entender que beleza física é só um detalhe e existe uma série de fatores que te tornam bonita pra mim.
- Por exemplo?
- Não tenho que explicar, só te acho bonita e pronto - ele riu. - Minha mãe sempre me incentivou a elogiar as mulheres. Conforme fui crescendo, entendi o que ela quis dizer.
- Sua mãe é bem legal - sorriu, mas decidiu perguntar algo que a incomodava. - Posso te fazer uma pergunta? Acho que é meio pessoal, mas eu não deixei de notar.
- Pode perguntar.
- E o seu pai? Quero dizer, estavam todos lá, menos ele.

olhou discretamente pelo canto dos olhos para ver alguma reação de , mas ele apenas olhava para frente, sem tirar a atenção do volante.

- O meu pai... Digamos que ele não seja um exemplo de homem a seguir. Ele traiu a minha mãe a vida toda, todo mundo sabia disso. Se separaram quando eu tinha doze anos e ele nunca realmente levou a sério quando eu dizia que queria ser jogador de futebol e nem o Rony com a música, então ele se mudou para o Rio de Janeiro e casou de novo. Quando eu marquei meu primeiro gol como profissional, ele veio me pedir desculpas, só aceitei porque minha mãe insistiu, disse que guardar rancor dele não me levaria a lugar nenhum. Eu até perdoei, mas só falo com ele de vez em quando, mas o Rony e a Cida não falam com ele há anos. Ele nem conhece as próprias netas.
- Nossa, , eu nem sei o que dizer. Eu sinto muito mesmo.
- Tá tudo bem, aprendi como eu não devo ser, o que não fazer. Minha mãe é a pessoa mais batalhadora que eu conheço e eu vivo pra retribuir tudo o que ela fez por mim. Ela sempre me apoiou, me levava para os treinos todos os dias, deixou eu ir jogar em outro estado... Meu pai não fez falta, sabe? Já não é uma coisa que me afeta, eu tenho uma família completa e sou grato por isso.

se deu conta, naquele momento, do quanto era privilegiada por ter pais presentes e carinhosos. Seu pai era o seu exemplo de homem e sempre lhe tratou como uma princesa. Apesar de ter sido contra a ideia de ter uma filha jogadora de futebol, acabou por entender e apoiar com o passar do tempo, dando todo o suporte emocional para no pior momento da vida dela quando teve que abandonar o futebol. Ela também era grata.

- A sua família é incrível. Sinto muito pelo seu pai, mas acho que os outros compensam, né? Eles são maravilhosos.
- São mesmo - ele sorriu - mas e você? Nunca disse nada da sua família, mas sua mãe parece ser bem legal.
- Ela é bem legal mesmo. Meus pais são as pessoas mais divertidas e mente aberta que eu já conheci. Não foram muito a favor de ter uma filha jogadora de futebol no começo, mas foram os primeiros a ficarem ao meu lado quando o meu mundo caiu. Meu pai é advogado, então imagina o quanto de coisa ele sabe... E minha mãe é professora de matemática, é tão inteligente que às vezes irrita.
- Nossa, que família inteligente - riu. - Será que me aceitariam? Estou me sentindo meio burro.
- Para, você não é burro. É claro que te aceitariam, minha mãe te adora.
- Na verdade... - o sorriso dele foi se desmanchando. - Eu falei isso, mas... Não sei se tô pronto, , não sei mesmo. Eu achei que estava, mas depois de hoje, acho que eu ainda não segui em frente.
- Entendo - ela se virou para a janela, realmente estavam tendo aquela conversa. - Você ainda sente alguma coisa pela Camila?
- Não, não sinto nada, mas quando eu vi ela, foi como reviver tudo aquilo de novo, me senti péssimo. Eu acho que eu não saberia lidar com um novo relacionamento de uma forma madura e saudável.

concordou com a cabeça, mas era um pouco decepcionante ouvir aquilo. Achava que o que eles tinham poderia amadurecer com o tempo e ele parecia confiante na ideia de criarem intimidade antes de qualquer coisa.

- Se você acha que é melhor assim, então eu entendo - disse calmamente, tentando parecer imparcial.
- Eu gosto de você, gosto muito mesmo, o problema sou eu. Viu como eu reagi quando vi a Camila? Não quero descontar em você as minhas frustrações do passado.
- Então você quer...
- Não vou me afastar de você outra vez, não quero terminar, vamos assim dizer. Eu não sei o que fazer agora porque não acho certo ficar te enrolando.
- Eu não acho que você esteja me enrolando, ... Eu gosto disso que a gente tem agora e se você não se sente seguro pra dar mais um passo, está ok, eu não vou ficar forçando as coisas. Não sou nenhuma novinha emocionada atrás de aventura, também tenho as minhas inseguranças.
- Obrigado por me entender. Não é muito fácil pra mim me abrir sobre isso.
- Eu só quero que você fique bem, .

O resto do caminho foi em partes silencioso e outras em conversas aleatórias que morriam rápido porque estava pensativo sobre o que deveria fazer. Ele não tinha dúvida dos seus sentimentos por , mas ver Camila novamente o fez se sentir o adolescente inseguro que era. Sua frieza no campo não refletia na sua vida pessoal, ele era movido à emoções e sabia que não iria mudar. Só não queria envolver em algo que ele achava que ela não merecia passar.
Ele estacionou o carro na frente da casa de e um novo silêncio se instaurou entre os dois. não queria sair do carro e não queria que ela saísse, queria poder ficar mais um pouco com ela, mas simplesmente não tinha mais cabeça para isso, não depois de esbarrar por acaso com a ex-namorada.

- Desculpa - ele disse finalmente. - Eu estraguei o seu dia.
- Você não tem que pedir desculpas, não estragou nada. Olha... Acho que você deveria aproveitar que a Camila está na cidade e ir falar com ela.
- Não vou fazer isso.
- Então você prefere ficar guardando rancor dela? - ele ficou em silêncio, não sabia o que responder.

sentiu como se o passado dele fosse mais importante que o presente. Ela sabia que eles passaram anos juntos e o quanto a traição afetou a vida amorosa de . Ela não podia o culpar por estar agindo assim, tinha certeza de que faria igual, mas gostaria de ser influente o suficiente na vida ele para tentar o ajudar a passar por isso.

- Eu não quero ser só um momento na sua vida, - disse fixando o olhar na sua própria casa. - Eu não saberia lidar com isso.
- Mas você não é só um momento - rebateu prontamente. - , eu não sou esse tipo de cara.
- Então o que você quer comigo? Por que o seu passado é mais importante do que o seu presente? - ela virou novamente e viu os olhos dela marejados.

Ela tinha razão e ele sabia disso. Não conseguia imaginar o futuro porque seus olhos continuavam a enxergar o seu passado e talvez isso o afetasse muito mais do que ele gostaria.

- Até hoje mais cedo, eu achei que tinha o mundo nas mãos, que poderia fazer qualquer coisa. É assim que a gente age quando se apaixona, né? Não tenho dúvidas do que eu sinto, gosto de você de verdade e quero ficar com você, mas eu não sei se me sinto preparado para dar o próximo passo. Você tá certa, não consigo olhar o futuro porque estou preso no passado. Eu não quero te machucar.
- Entendi... - ela soltou um longo suspiro. - Então é melhor eu entrar, amanhã eu tenho que acordar cedo.
- - a chamou quando ela abriu a porta do carro para sair e ela se virou.

Ele se esticou e juntou os lábios dos dois em um beijo calmo no qual retribuiu. Por mais que seu passado ainda o assombrasse, o presente ainda parecia ser bem convidativo e ela era incapaz de resistir ao beijo dele.

- Está tudo bem entre a gente? - ele perguntou ao se afastar, mas não muito.
- É claro - respondeu naturalmente, tentando esconder que estava, sim, um pouco chateada. - Amanhã eu passo para pegar as minhas coisas.
- Tá bom. Posso postar uma foto te dando parabéns? Nada romântico, juro.
- Pode - ela sorriu. - Até amanhã.
- Até.
Ela se surpreendeu quando ele lhe deu um beijo de despedida, então saiu do carro rindo. Quando entrou em casa, seu sorriso murchou e ela caiu na realidade de que estava lidando com um cara que não sabia lidar com a ex-namorada e uma traição. não conseguia se zangar com por causa disso porque tinha confiança nele e nos seus sentimentos, mas não conseguia parar de pensar que ela era apenas um momento na vida dele.

- Mas é claro que sim, que óbvio - ela riu sem humor enquanto subia as escadas.

Simplesmente por ser um jogador de futebol, nunca parava no mesmo lugar por muito tempo. Ela sabia que ele estava em ascensão no time e conhecia muito bem o histórico do Corinthians em vender bons jogadores a preço de banana, não tinha dúvidas de que logo mais ele aceitaria alguma proposta da Europa assim que surgisse, enquanto ela continuaria ali com sua vidinha monótona e sem graça como sempre foi desde que deixou o futebol.
tirou o vestido e guardou na capa. Tomou um banho demorado para tirar o cansaço do corpo e só então se deitou. Pegou o celular e viu que realmente tinha postado uma foto lhe desejando os parabéns. A foto em questão, era de algumas semanas atrás quando ele voltou da Seleção e eles se acertaram, o sorriso que cresceu nos seus lábios foi inevitável.

"Feliz aniversário pra pessoa que me odeia desde o dia em que cheguei aqui 😍❤🎉"

olhou os comentários e viu que muitas pessoas diziam que formavam um belo casal, o que a fez sorrir, mesmo sabendo que não eram um casal e não seriam tão cedo se dependesse de . Ela tomou um susto quando viu que Arthur e Philippe Coutinho começaram a segui-la, o que a fez pensar que talvez não estivesse tão distante assim dos seus objetivos.

⚽🖤📱

entrou em casa tentando não fazer barulho para não acordar ninguém. Teve sucesso em fechar a porta sem bater, mas todo o seu esforço foi inútil porque sua mãe estava na cozinha preparando um chá. Ele sabia que ela gostava de tomar chá antes de dormir.

- Chegou cedo.
- Estava cansado - ele colocou o troféu sobre a ilha da cozinha. - Mais um para a coleção. Fiquei na seleção do campeonato.
- Ah, , que lindo! - ela sorriu. - Como foi?
- Péssimo, mãe, recebi o troféu da mão da Camila. Ela participou da premiação e eu quis morrer quando esbarrei com ela.
- É sério isso? Já faz tanto tempo que não ouço falar dela.
- Não perdeu nada... Sinceramente, estragou a minha noite. Acabei de perceber que eu não tô preparado pra ter um relacionamento e seguir em frente - ele se apoiou no balcão e observou sua mãe terminar de preparar o chá.
- Você tem certeza disso? - ela serviu a bebida em uma xícara pra ele também.
- Tenho - assoprou o chá quente e bebericou um pouco. - Eu não sinto nada pela Camila, mas não superei o que ela fez comigo. não merece alguém assim.
- Então você acha que a é a pessoa certa? Você gosta mesmo dela?
- Muito, mãe, eu realmente gosto dela, mas por mais que eu queira dar o próximo passo, eu não acho que ela tenha que lidar com alguém tão inseguro. Me perguntou porque meu passado é mais importante que o meu presente e eu não soube responder.
- Não dá pra mudar o passado, , mas o futuro sim. Me diz o que você visualiza quando pensa no seu futuro.
- Europa - ele disse vagamente, dando mais um gole do chá.
- Só isso? Sua vida é só o futebol?

A resposta era não, ele não pensava somente no futebol. Não era muito de planejar o seu futuro, mas podia ter um vislumbre dele, onde podia ver claramente ao seu lado como ele gostaria que fosse. O assustava incluir uma pessoa nos seus planos assim, mas a cada dia que passava, ele tinha mais certeza de que gostava mesmo dela.

- Não... - ele encarou a xícara nas próprias mãos. - Me vejo com ela. É errado?
- Não, filho, não é errado. Só quer dizer que você gosta mesmo dessa menina. Dá pra ver nos seus olhos quando você olha pra ela.
- É tão evidente assim?
- É, sim. Ela parece ser uma ótima garota.
- Ela é - ele sorriu de canto ao se lembrar do quanto a achava bonita e inteligente. - Eu queria pedir ela em namoro, mas depois de hoje, acho que preciso pensar mais um pouco.
- Faz o que você achar que é melhor e que não machuque nenhum dos dois. Tenho certeza de que ela vai entender.
- Obrigado, mãe, senti falta dos seus conselhos. Não quer morar aqui pra sempre?
- Não, não tenho mais filho pequeno pra criar. Você sabe onde me encontrar.
- Eu sei, obrigado – bebeu tudo de uma vez, deixou um beijo na bochecha de sua mãe e foi em direção ao seu quarto, estava pronto para dormir e esquecer que tudo aquilo aconteceu.

Embora soubesse que nunca se esqueceria.

Capítulo 16 - Antigo Rival

encolheu os ombros enquanto caminhava em passos rápidos em direção à sua mesa, tentando evitar os olhares que pesavam sobre ela e estavam a deixando irritada.
Ela sabia exatamente o motivo daqueles olhares tortos ou surpresos, afinal, todos achavam que ela estava namorando com um jogador do time e a julgavam por isso, o que ela abominava totalmente. Se considerava uma profissional competente e nunca faltou com o seu trabalho, as mídias sociais estavam sempre abastecidas com conteúdo atualizado. achava que poderia ser julgada pelo seu desempenho de trabalho, mas não pelas suas ações na vida pessoal, principalmente por não estar namorando jogador nenhum e aquilo não era da conta de ninguém.

- Povo sem noção - ela murmurou ao se sentar enquanto ligava o computador. - Agora deram de tomar conta da vida dos outros.
- Bom dia pra você também, - Sheila, a pessoa que estava lhe ajudando com as mídias, disse dando um gole do seu café.
- Bom dia, Sheila. Desculpa, estou estressada. Esse povo não tem o que fazer e fica cuidando da minha vida.
- Ignora! Você estava maravilhosa na festa do Paulistão e isso não é da conta de ninguém.
- Graças a Deus você pensa assim. De repente virei namoradinha de jogador do time. Patético, nem sou nada de ninguém.
- Não que seja da minha conta, , mas é que parece, sabe? Mesmo assim, não acho que seja da conta dos outros.
- Tá... Ok, admito que tenho algo com o , sim, mas e daí? Não somos namorados e a vida é minha. Desde quando minha vida amorosa afeta o meu trabalho?
- Deixa esse pessoal pra lá, você tá com o cara mais gato e um dos melhores do time, tem que exibir mesmo. Eu no seu lugar, mandaria todo mundo ir pastar.
- Você é péssima - disse rindo, sabia que Sheila não iria julgá-la. - Mas a ideia é boa, muito boa.

⚽🖤📱

Mesmo após o treino do dia ter se encerrado, ficou mais uma hora treinando finalizações. Apesar da boa pontaria durante o Paulista, queria melhorar ainda mais para o Campeonato Brasileiro que iria começar dentro de alguns dias. Sabia que se quisesse se manter em alto nível, precisava treinar ainda mais. Para a atividade, seu treinador ficou para o acompanhar e avaliar seu desempenho individual. só parou quando o sol estava se pondo.

- Está ficando cada dia melhor, , só precisa ir com mais calma. O gol não vai sair correndo.
- Mas o goleiro, sim.
- É verdade, mas se você começar a chutar sem parar, isso vai fazer com que você perca a concentração e a técnica. Sem esses dois, a pontaria não é certeira. Foi exatamente isso o que aconteceu com você na temporada passada.

ponderou e refletiu nas palavras do treinador. De fato, tinha pressa em marcar gols e tirar o time do rebaixamento, estava cego e tudo o que enxergava na sua frente, era o gol. Infelizmente, não acertou nem metade dos chutes que tentou. Carille tinha razão, lhe faltou calma e técnica.

- Tem razão, eu estou tentando melhorar isso.
- Eu sei que sim, posso ver isso nos treinos... Eu tenho um exercício de calma e autocontrole pra você.
- Qual?
- Sabe que nosso adversário na estreia vai ser o Internacional, certo?
- Sei - soltou um suspiro longo ao se lembrar daquele pequeno detalhe.
- Quero que seja o capitão na próxima partida. Você sabe que eu faço esse rodízio, mas ainda não tinha achado o jogo ideal pra te dar a braçadeira. Esse é o jogo, .

não escondeu a surpresa ao ouvir aquilo. Estava acostumado a ser o capitão da equipe nos tempos de Grêmio e esse não era o problema. O que o incomodava era ser o capitão justamente contra o Internacional. Sabia que Carille estava o testando para a continuidade do campeonato, se ele merecia a vaga no time ou não. Nada melhor do que um antigo rival para provar isso.

- Eu não sei se consigo...
- Consegue porque você é um jogador e não um torcedor. A rivalidade do Grenal não existe aqui, é só mais um time que vamos enfrentar. Sei que você levou o gol do Guerrero para o lado pessoal, mas precisa deixar isso de lado. Com a braçadeira de capitão, você vai estar provando pra mim que é um bom profissional antes de qualquer problema pessoal. É a garantia de que você não vai fazer nada além de cumprir o seu papel de ponta. Nada de brigas, desentendimentos ou ressentimentos. Posso contar com você?

fitou o gramado, estava pensativo. Sim, levou tudo para o lado pessoal e ainda sentia um rancor imensurável pelo adversário. A ideia de liderar a equipe justamente contra o time colorado parecia um tanto absurda para alguém tão instável quanto ele. Confiava em Carille, mas não confiava nem um pouco em Paolo Guerrero.

- Pode - respondeu por fim, encarando o treinador. - Pode contar comigo.
- Ótimo. Sei que você não vai com a cara do Paolo, mas eu trabalhei com ele aqui, ele só faz o trabalho dele. Por favor, deixa o pessoal de lado.
- Tá bom, não vou fazer nada. Eu prometo.
- Vou confiar em você... Pode ir pra casa, já treinou demais hoje.
- Obrigado. Até amanhã.
- Até amanhã.

deixou o gramado e se dirigiu em direção ao vestiário para tomar banho. Pensava em mil maneiras de manter a calma e separar o pessoal do profissional, mas parecia muito mais difícil agora. Ainda podia reviver aquilo, reviver toda aquela tensão de noventa minutos que pareceram uma eternidade. Podia visualizar a bola entrando no gol e levando junto toda a sua esperança de manter o clube na primeira divisão, podia se lembrar do estádio após o apito final.
Ele deixou o CT sem olhar para trás, como se o Corinthians não fosse o seu presente e, possivelmente, o seu futuro também. Estava imerso em pensamentos remetentes ao passado não muito distante. A camisa azul, o sangue deixado no campo, as resenhas com os colegas. Tudo aquilo ainda era muito vivo na sua memória e ele mal podia acreditar que já haviam se passado quase cinco meses desde que tudo aconteceu, cinco meses que foram benéficos para sua carreira e também para sua vida pessoal. Conquistou um título, jogou pela Seleção Brasileira e, o mais impressionante, se apaixonou.
chegou em casa e não hesitou antes de ligar a TV e relaxar pelo resto da noite. Evitando bebida alcoólica para o resto da temporada, pegou um suco e procurou por algum jogo de basquete para assistir. Não encontrou nenhum do Golden State Warriors, mas achou interessante assistir Toronto Raptors contra Orlando Magic, pois sabia que o time canadense tinha grandes chances de se sagrar campeão da NBA naquela temporada.
Teve que tirar sua atenção do jogo quando seu celular começou a tocar e disse que estava na portaria do prédio para pegar suas coisas que deixou no dia anterior. Ele liberou para que ela entrasse e abriu a porta para ela.

- Cadê a sua família? - perguntou ao entrar.
- Foram embora hoje de manhã, voltei para a minha vidinha solitária - voltou para o sofá e fez sinal para que se sentasse com ele.
- Vem.
- O que você tá assistindo? - perguntou ao se sentar e ele passou um braço ao redor da sua cintura.
- Raptors contra Magic.
- Não sei absolutamente nada sobre basquete.
- É simples - ele sorriu. - Imagina que a NBA é como a Libertadores e esse jogo é das oitavas de final. Os Raptors são como o Corinthians, ninguém dava nada e de repente, pá! Surpreenderam todo mundo.
- Gostei desses Raptors - ela disse rindo.
- Eles são legais, mas não são nada perto do Golden State Warriors. É o atual bicampeão e tem tudo para ser tri, isso sem contar que eles têm o Stephen Curry que é um gênio. É tipo um Salah do basquete.

, indo na onda dele, pegou o celular e fingiu estar fazendo uma ligação. olhou confuso pra ela.

- Alô? É do Barcelona? Quero denunciar um traidor. É, ele virou fã de basquete, torce para um tal de Warriors e prefere Curry do que o Messi. Isso mesmo, pode mandar prender. Obrigada! - ela "desligou" e olhou pra ele. - Traidor.
- Para, basquete é incrível! Se eu não jogasse futebol, teria jogado basquete numa boa.
- Ainda bem que isso não aconteceu, né?
- Pois é, agora quero assistir o jogo.

, por mais que não entendesse muito de basquete, tentou acompanhar também, mas achava divertido ver como ficou concentrado para assistir o jogo como se fosse uma partida na qual estivesse jogando também. Achou melhor não perguntar nada e foi associando ao futebol para tentar entender. Acabou por achar a modalidade bem interessante e cheia de emoção, além de anotar mentalmente que deveria pesquisar um pouco mais sobre o Toronto Raptors depois.
Só quando o jogo acabou, voltou sua atenção para .

- Lembrou que eu existo? - ela cruzou os braços e ele se aproximou para a abraçar e beijar seu rosto.
- Lembrei - ele começou a fazer uma trilha de beijos até o pescoço dela, lhe causando arrepios por todo o corpo.
- Não, pode parar. Vai lá com o seu basquete, com o Curry. Eu vou pra casa - ela descruzou os braços, mas não queria realmente sair dali.
- Fica mais um pouco - ele disse baixinho no ouvido dela e foi o suficiente para que mudasse de ideia.

Ela envolveu seus braços ao redor dele também, virando o seu rosto para poder beijá-lo. Um dia era mais do que suficiente para que sentisse falta dele, mesmo que a conversa da noite anterior ainda estivesse martelando em sua mente sem parar. Ela se esquecia de tudo isso quando estava com ele.
O beijo que começou devagar, foi ficando cada vez mais intenso. não hesitou quando as mãos dele a puxaram e ela pulou para o colo dele, sem a menor timidez. Começou a ditar o ritmo do beijo que ia esquentando conforme o desejo de ambos aumentava. As mãos dele deslizando pelo seu corpo lhe causavam uma sensação de prazer inexplicável e mais ainda quando a apertavam. Precisou conter um gemido quando ele desceu da boca para o pescoço e do pescoço para o colo, quase no vale dos seus seios, que, mesmo estando cobertos, não lhe impedia de sentir arrepios. Quando ele ergueu o olhar para ela, os dois sorriram um para o outro.

- Você está melhor? - ela perguntou se referindo ao humor dele na noite anterior.
- Agora eu estou - sorriu e revirou os olhos. - O quê?
- Não vem com essas cantadas ultrapassadas pra cima de mim, não funciona - ela começou a rir.
- Não é cantada! - ele se defendeu rindo também. - Então o que é uma boa cantada pra você?
- Gato, você não é o meu time, mas sou louca por ti - disse com uma voz sexy o fazendo gargalhar. - Admite que essa foi boa.
- Foi ótima, eu adorei!
- Aprende com a mãe aqui, você vai se dar bem - ela se curvou para lhe dar um selinho.
- Claro, quando é a primeira aula?
- Domingo, depois do jogo.
- Ah... O jogo - o sorriso dele se desmanchou.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa?
- Vou ser o capitão - olhou diretamente pra ela.
- E isso não é bom?
- Se fosse em qualquer outro jogo, sim, mas é contra o Internacional.
- Não me diz que você ainda guarda mágoa daquele jogo - ficou em silêncio e entendeu. - Não acredito nisso, .
- Eu sei que eu não deveria, mas eu não consigo. Foi por pura maldade aquele gol, só para ter um gosto de ver o rival caindo.
- E você achou que o time do Inter ia ficar com peninha do Grêmio e entregar o jogo? Você sabe que não é assim... Olha, eu entendo o que você está sentindo, de verdade, não faço ideia do que é jogar um jogo de rebaixamento, mas sei o que é perder um jogo importante e acontece de levar para o lado pessoal às vezes, eu mesma já levei, mas acaba passando... Não deixa isso te consumir, .
- Eu tô tentando, mas eu não consigo. Sei que se eu falhar nesse jogo, vou perder a vaga no time. O Carille já disse que vai ser a prova de que eu sei separar o pessoal do profissional. Eu não quero perder a vaga, , é a chance que eu tenho de mostrar que posso fazer mais.
- Para de pensar nisso, , pensar negativo não vai resolver nada, ok? Você tem que colocar na cabeça que se tornou um dos homens de confiança do treinador, acabou de ganhar um título e é o vice artilheiro do time. Isso não é para qualquer jogador mais ou menos. Só os grandes conseguem fazer isso.
- Às vezes eu esqueço que você é uma enciclopédia do futebol, parece um treinador falando - ele riu. - Impossível não se sentir melhor depois desse discurso motivacional.
- Bom, se eu fosse treinadora, falaria assim com as minhas jogadoras. Um atleta bem motivado, é um atleta de sucesso.
- Meu Deus, que mulher incrível - ele sorriu. - Quer ser minha treinadora?
- Vou pensar na sua proposta - ela sorriu também, saiu do colo dele e se levantou. - Agora eu preciso ir, não quero chegar tarde.
- Qual é! Não está com qualquer pessoa, sou eu - se levantou também e a acompanhou até o quarto. - Isso não conta?
- Já tá se achando demais, garoto - ela colocou a mochila nas costas e entregou a maleta de maquiagem pra ele. - Agora, se quiser se garantir, pode me levar pra casa.
- Tá achando que eu sou seu uber particular?
- Vai deixar eu andar sozinha de metrô em São Paulo... À noite? - ela cruzou os braços. - E se acontecer alguma coisa comigo?
- Vai me chantagear mesmo?
- Vou. E aí? Vai ou não?
- Tá bom, tá bom. Vamos.

⚽🖤📱

- Pronto, está entregue - disse ao parar o carro em frente à casa da garota.
- Doeu?
- Não me provoca, garota - ele riu. - Eu tô brincando, não me importo de te levar em casa, até gosto. Parece que cada vez eu descubro um pouquinho mais sobre você.
- E isso é bom ou ruim? Quero dizer, não sou a pessoa mais aberta do mundo.
- É bom, fico feliz que você confie em mim pra se abrir - ele sorriu e notou que ela encolheu os ombros visivelmente sem graça.
- Droga, , não era pra ser assim! - ela disse rindo, desviando o olhar para fora.
- Por quê?
- Era pra gente se odiar! - ela esbravejou, se chacoalhando no banco. - Quer saber quando eu comecei a te odiar?
- Hum... Quando?
- No jogo entre Corinthians e Grêmio no ano passado. O time precisava dos três pontos e você foi lá e fez aquele golaço... Que raiva! Xinguei até a sua terceira geração!
- Meu time também precisava dos três pontos! - disse se defendendo, gesticulando. - O que eu podia fazer?
- O pior de tudo é que foi um golaço do caralho! Foi de fora da área no cantinho da rede, eu quis morrer de ódio naquele dia. Fiquei feliz da vida quando o Grêmio caiu, aí do nada eu descubro que você assinou com o time.
- Desculpa se eu te frustrei... Em minha defesa, eu também não queria vir pra cá... Eu tinha proposta do Chívas e do Botafogo também, mas era uma pior do que a outra. Eu não queria ir jogar no México e não poder mais jogar a Libertadores.
- E o Botafogo?
- Eu não queria ir jogar no Rio e ter que ficar perto do meu pai, também não sou o maior fã dos times do Rio, mas isso já é passado, eu me apeguei ao Corinthians e gosto daqui. Não jogaria em nenhum outro time brasileiro - ele disse com sinceridade e viu que ela começou a rir. - O que foi?
- No Brasil, você só joga no Corinthians, né? Sei... Sabe quem também disse isso e foi jogar no Flamengo? Teu amiguinho, Guerrero.
- Por favor, não me compara com esse cara. Sinto muito se ele enganou a torcida, só mostra que eu estou certo sobre ele.
- Deixa disso, , ele marcou o gol do título Mundial, eu vendo a minha alma pra ele, se ele quiser - disse divertida. - Deixa a rivalidade somente dentro de campo, ok? E me promete que não vai arrumar briga com ele no domingo.
- Prometo - ela olhou para ele com cara de quem não estava acreditando. - É sério, eu vou me controlar, eu prometo.
- Se você está dizendo, então eu vou acreditar - abriu a porta do carro e pegou a maleta e a mochila no chão. - A gente se vê por aí.
- Nossa! É assim que você se despede de mim?

riu e se esticou para lhe dar um beijo de despedida. Pressionou seus lábios contra o dele para um selinho demorado que acabou se tornando vários, até que sentiu a língua dele pedindo espaço para intensificar o beijo e permitiu que ele a beijasse até que faltasse ar nos seus pulmões.

- Nossa - ela disse ofegante quando se afastaram. - Cuidado, assim eu me apaixono.
- Eu já tô - disse sorrindo e mordeu os lábios, ainda se sentia um pouco nervoso ao se declarar, mesmo que ela já soubesse. - Vai antes que eu me empolgue.
- Duvido que seja tudo isso - saiu do carro e ouviu a gargalhada dele.
- É claro que é! Tá me julgando de novo!
- Tá bom, senhor-pica-de-mel, vou antes que você se empolgue. Tchau.
- Até mais.

fechou a porta e ainda teve tempo de acenar antes que ele fosse embora. Entrou em casa rindo, pois nunca tinham tocado no assunto, além de uma pegação no sofá ter sido a primeira mais quente. Se com apenas beijos ela já perdia o ar, não conseguia nem imaginar como ele seria na cama.
Não sabia se deveria imaginar isso ou não, mas quando se deu conta, já estava no seu quarto imersa no pensamento. Além de beijos de tirar o fôlego, ela não conseguia ignorar o fato de ele ter um porte físico invejável como o de qualquer atleta, era inevitável dar aquela olhadinha pelo canto dos olhos quando ele aparecia sem camisa. Só de pensar na possibilidade de que tudo aquilo poderia ser só dela algum dia já era o suficiente para lhe tirar o fôlego, mal podia esperar para realmente ter.

⚽🖤📱

olhou a braçadeira de um amarelo chamativo presa no seu braço. Já fazia um bom tempo que não era escolhido para ser o capitão do time e por aquela ser a primeira vez na nova equipe, estava nervoso e ansioso para não errar nada. Tinha as regras do futebol na ponta da língua e estava pronto para liderar a equipe quando fosse necessário.
Os jogadores dos dois times estavam enfileirados no corredor de acesso apenas esperando a autorização para entrarem em campo. evitava olhar para os lados, afim de não olhar para aqueles rostos conhecidos e manter a concentração total, mas hora ou outra olhava pelo canto do olho o camisa 9 do Internacional com a braçadeira de capitão. Guerrero estava tão concentrado quanto , mantinha o olhar sempre pra frente sem desviar, a expressão séria no rosto do peruano dizia o quanto estava concentrado e achava que deveria fazer o mesmo.
Os times entraram em campo junto com a equipe de arbitragem e se posicionaram para cantar o Hino Nacional. Após o hino, as equipes se cumprimentaram e fingiu o seu melhor sorriso para cumprimentar os adversários, mas ao chegar em Paolo Guerrero, o aperto de mão foi um pouco mais forte do que pretendia e nenhum dos dois estavam para sorrisinhos.

- Boa sorte dessa vez - foi tudo o que o peruano disse antes de ir cumprimentar o próximo corinthiano.

revirou os olhos quando sentiu uma pontada de ironia na frase do rival. É claro que anteriormente ele precisava de sorte, mas agora só precisava manter o autocontrole e não levar para o lado pessoal. Aquele era o seu jogo da vida e ele não estava ali para brincadeira.
Após as equipes se cumprimentarem, os capitães foram até o árbitro e bandeirinhas para tirarem a sorte. ganhou e escolheu o lado esquerdo para começar, enquanto Guerrero apenas concordou e foi para o seu lado do campo para então a partida começar.
O primeiro tempo de jogo foi fraco porque nenhum dos dois lados realmente atacou. Parecia que as duas equipes não estavam interessadas em vencer a partida e os goleiros não tiveram trabalho nenhum naquela primeira etapa. O mais perto que o time do Corinthians chegou do ataque, foi quando um chute de Gustavo passou por cima do gol à uma distância razoável, enquanto uma cobrança de falta de Guerrero quase abriu o placar para o time do sul. tentou ignorar o adversário ao máximo, mas estava nervoso por não conseguir criar jogadas e nem finalizar. Não tinha dado um chute se quer ao gol e estava frustrado por isso.
Ele foi para o vestiário mudo e voltou calado, queria manter o máximo de concentração.
A bronca do treinador no intervalo foi o suficiente para que o time voltasse mais motivado no segundo tempo e dando um susto logo no primeiro minuto de jogo. O time do Internacional também voltou para o jogo mais esperto e ofensivo, tanto é que aos trinta minutos de jogo, a partida já estava empatada em 1x1 com gols feitos com cinco minutos de diferença. Com os dois times ativos em campo, foi inevitável que o clima também esquentasse entre os jogadores que hora ou outra se desentendiam entre si. Cabia aos capitães discutirem com a arbitragem e separar seus jogadores para evitar maiores tensões entre os times.
Aos quarenta minutos, após uma finalização colorada que foi para fora, Cássio cobrou o tiro de meta e chutou a bola para o meio de campo. Ela passou por algumas dívidas e cabeçadas até parar nos pés de Guerrero que não perdeu o tempo e tomou velocidade, deixando dois corinthianos para trás. voltou para ajudar na marcação e foi friamente em direção à bola, ele esticou a perna para aplicar um carrinho, mas tudo o que conseguiu foi mandar a bola para a lateral e derrubar Guerrero.
Em meio segundo a confusão já estava armada. Alguns jogadores do Internacional tentavam tirar satisfações enquanto outros discutiam com o árbitro que ele deveria aplicar um cartão. Os corinthianos, por sua vez, defendiam seu capitão e apaziguavam a confusão, mas não foi o suficiente para o juiz desistir de mostrar para um cartão amarelo, o que gerou revolta nos seus companheiros de time. Ele tentava afastar seus jogadores para evitarem de tomar cartão também, mas foi surpreendido quando Guerrero se levantou e foi marchando na sua direção.
O peruano chegou o peitando, pronto para brigar.

- Você tá louco, caralho?! - esbravejou, devolvendo o empurrão com o ombro.
- Isso é pessoal, né? - Paolo perguntou entre entes. - Você é péssimo, não sabe perder.
- Cala a boca, otário, você não sabe o que tá falando!

deu um passo para trás, mas a risada debochada do atacante foi o suficiente para que ficasse cego de raiva e agora era ele quem estava o peitando.

- Então você é machão! Pode vir, cuzão, não tenho medo de cara folgado!

Antes que os dois saíssem no braço, os jogadores dos dois times já estavam apartando os capitães que insistiam em continuar gritando e trocando ofensas pesadas um para com o outro. O árbitro, se colocando no meio do tumulto, tirou do bolso o seu cartão vermelho e mostrou para os dois, os expulsando do campo por briga.
Ao contrário do esperado, os dois times começaram a debater com o árbitro ainda mais e pelo menos mais três jogadores foram amarelados por reclamação em excesso. , quando percebeu que nada iria mudar a situação, se afastou da briga e caminhou até o banco de reservas, onde o seu treinador estava com um olhar furioso o esperando. Ele apenas tirou a braçadeira e entregou nas mãos de Carille para que o treinador fizesse o que bem queria.

- Eu não mereço.
- Eu sei que não.

não era capaz de olhar a decepção nos olhos do seu técnico, então apenas deixou o campo e foi em direção ao vestiário. Ainda no corredor, teve tempo de se encontrar com Guerrero indo para o lado do vestiário visitante.

- Tá feliz? É isso o que você quer? Acabar comigo toda vez que enfrentar o meu time? - ele perguntou gesticulando freneticamente.
- A culpa não é minha se você leva tudo para o pessoal. O Corinthians é meu ex clube e nem por isso eu pego leve, para de achar que todo mundo é fraco que nem você.

cerrou o punho, mas respirou fundo para se acalmar e não pegar uma punição severa por agressão ao adversário.

- Tá vendo só? As coisas com você só funcionam assim. Quando você parar de agir como um amador, vai perceber que as coisas melhoram.
- Foi isso o que você fez depois do doping e de quase perder a Copa do Mundo por causa da punição? Você fala de mim, mas olha só pra você, é tão amador quanto eu.

Guerrero não era de falar sobre a sua luta pessoal contra um vício que o perseguia, mas ver alguém lhe expondo daquela forma o deixou sem palavras. Já estava limpo daquilo e achava que não era da conta de ninguém.

- Você não merece vestir essa camisa - falou apontando para o escudo do time na camisa de . - Se o pessoal for mais importante do que o profissional e você precisa expor alguém dessa forma, então você realmente não aprendeu o que esse time significa. Você é ridículo.
- Então estamos empatados. Passar bem.

deu meia volta e foi em direção ao vestiário, e só então a ficha começou a cair. Ele sabia que iria perder a vaga no time por conta daquela briga e a suspensão não era nada perto de amargar o banco de reservas por tempo indeterminado. Suas chances de mostrar trabalho tinham ido pelo ralo.
Ele se sentou no banco onde o resto do seu uniforme estava. Tirou as chuteiras e os meiões, em seguida esfregou as mãos pelo rosto, tentando conter a terrível vontade de chorar que tomava conta dele naquele momento. Se sentia tão fraco e vulnerável que só queria ir embora dali o quanto antes.
Ele pegou o celular e procurou pelo número que sabia que poderia ligar a qualquer momento.

- ... - atendeu e pelo tom de voz dela, ele imaginou que ela estaria assistindo ao jogo.
- Eu sou um fraco - ele repetiu as palavras de Guerrero com uma amargura sem igual.
- Você não é fraco, ... Por que foi brigar com ele?
- Ele que começou!
- Isso não é sua desculpa, não pode ser.
- Você tá no estádio?
- Não, tô em casa. Quer que eu vou aí?
- Não precisa, quando eu chegar em casa, te aviso.
- Tá bom.

⚽🖤📱

se sentia a pior pessoa da terra e parecia que todos os problemas mundiais eram culpa dele. Agora eram dois jogos que não lhe saíam da mente, aquele pelo Grêmio e o daquele dia em questão. Falhou nas duas vezes se mostrando um atleta amador e fraco, incapaz de dar alegria para a sua torcida ou confiança para o seu treinador. Podia dar adeus para seus sonhos ali mesmo.
Ouviu batidas na porta e correu para abrir. Ao ver ali, o encarando com um olhar de preocupação no rosto, ele não resistiu e acabou colocando tudo pra fora através de lágrimas. entrou e imediatamente o puxou para um abraço, permitindo que ele chorasse sem qualquer tipo de julgamento. Ela sabia que ele estava errado em partes, mas não iria o julgar por aquilo, sabia que um suposto corte do time era a pior punição que ele poderia sofrer. Ela, como ex jogadora, sabia disso muito bem.
Deixou com que ele chorasse tudo o que tinha para chorar e tinha certeza de que tinham ficado ali por pelo menos cinco minutos abraçados, até ele a soltar e olhar pra ela. passou as mãos pelo rosto dele, tentando secar as lágrimas que ainda escorriam. fechou os olhos e se permitiu o alívio com o toque dela. Era o tudo o que ele precisava.

- Ele disse que não mereço vestir essa camisa - disse após recuperar fôlego para falar. - E ele tem razão, eu falhei com todo mundo.
- Não leva a sério o que ele disse, você merece tanto quanto qualquer um - sentiu a voz falhar e um nó se formar na garganta. - Você é ótimo, não sentiu o peso da camisa, é o nosso vice artilheiro... , você honra a camisa como poucos, não é um jogador qualquer que pode fazer você pensar isso.

Ela viu que ele mordeu os lábios quando seu rosto começou a ganhar cor novamente e seus olhos se encheram de lágrimas.

- ...
- Eu não mereci vestir a camisa do Grêmio por tanto tempo, não mereço jogar em um clube do tamanho do Corinthians... Eu não mereço aquelas camisas penduradas na parede, não mereço a Seleção... Por que continuo achando que eu sei alguma coisa sobre o que é ser, realmente, jogador de futebol?
- Por favor, não diz isso...
- Como não? Quer saber a única coisa que mereci? Foi aquela lesão no joelho que quase me tirou do futebol!
- Você não sabe o que tá falando - deu um passo pra trás, as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto quando ele tocou no seu ponto fraco. - Você não sabe o que é ter que parar de fazer o que mais ama na vida por causa de uma lesão idiota! , olha pra sua vida, olha o tanto que você tem, tudo o que conquistou! Acha que teria feito alguma coisa assim sem o futebol?
- Então você tá dizendo que eu não tenho mérito pelas coisas que conquistei porque não sei fazer outra coisa que não seja jogar futebol?
- Não, quem tá dizendo isso é você quando fala essas coisas, não valoriza os próprios méritos! , você não tem ideia do quanto eu gostaria de trocar de vida com você, de voltar a pisar no gramado de novo, de vestir a camisa outra vez... Para de absorver o que o Guerrero disse, ele está tão chateado quanto você.
- Ah, claro! Super chateado! Ele não parecia chateado antes de foder com o meu time, com a minha carreira! - disse alto o suficiente para que desse um passo para trás, assustada. - Já que eu levo tudo pro pessoal, então vou levar agora também e foda-se! Eu vou perder a porra da minha vaga no time por causa desse cara, sendo que quem começou a brigar, foi ele!
- Eu estou começando a achar que ele tem razão, você não sabe separar os dois.
- Ótimo! Podem dar as mãos e sair andando, já que ele é o seu protegido...
- Inacreditável - ela começou a rir. - Eu não acredito que você acha que eu estou do lado dele... É, você precisa mesmo aprender a separar as coisas.
- Não preciso que você me diga o que é certo ou não, posso fazer isso sozinho.

sabia que ele não estava pensando direito, apenas cuspia as palavras de forma aleatória, mas depois de tudo o que ouviu, nem ela tinha mais disposição para continuar ali e ouvir toda aquela baboseira.

- Tem razão, não preciso mesmo! Concordo com o Guerrero, você não sabe separar as coisas e ainda reclama de tudo o que você tem! Sabe o tanto de meninos por aí que queriam tudo isso? O quanto eu queria? Você tá sendo arrogante, egoísta e infantil e eu não tenho que aguentar nada disso, sempre soube que essa contratação seria uma furada e, olha só, eu estou certa! Não vou ficar aqui e ouvir você se lamentar. Acorda, , você não é nenhum garoto! É um adulto, um profissional! Haja como um... Boa noite.

deu as costas para ele e saiu batendo a porta. Disse tudo o que tinha para dizer e não pretendia voltar ali tão cedo. O por quem ela era apaixonada não tinha nada a ver com aquele cara grosso e arrogante que esbravejou como se ela tivesse alguma culpa naquilo. Se fosse para ter algum relacionamento com alguém assim, então ela preferia continuar solteira.
entrou no carro e deixou que as lágrimas escorressem pelo seu rosto para valer. Não podia acreditar em tudo o que acabou de ouvir. Tudo o que mais queria era poder jogar só mais um jogo, nem que fosse só por alguns minutos. Desde que deixou o futebol, sua vida se tornara mais triste e desanimada, porque por mais que amasse ainda ter vínculos com o seu time do coração, o que realmente queria poder fazer era jogar bola. Diferente de , ela nunca iria jogar pela Seleção e nunca seria notada por algum time europeu. Seu sonho de ser atleta do Lyon seria para sempre apenas um sonho e isso nunca iria mudar. Ouvir de alguém que tinha tudo, dizendo que não merecia nada daquilo e que deveria ter se machucado ao ponto de abandonar sua maior paixão, era frustrante demais para ela ouvir.

⚽🖤📱

Entre quatro jogos e quase vinte dias depois, foi do céu para o inferno como em um passe de mágica. Sua última partida foi justamente contra o Internacional e após a pior bronca que já tomou de um treinador, ele passou a amargurar o banco de reservas como se fosse o terceiro goleiro. Depois daquele jogo, não disputou mais um minuto se quer e não sabia mais o que era viver sem o colete amarelo, fosse nos treinos ou nos jogos. Apesar de o relacionamento com os colegas de elenco não ter sido afetado, ele e seu técnico não estavam agindo como se fossem melhores amigos, mas unicamente porque estava envergonhado e arrependido o suficiente para não ter coragem de se quer dar bom dia para Carille. Entrava nos treinos e saía sem dirigir à palavra para além de assuntos relacionados aos treinamentos e aquilo estava o matando por dentro.
Para piorar, também não conseguia falar com porque a garota o ignorava por completo. Visualizava as suas mensagens, mas não respondia, ele ligava, mas ela não atendia. O silêncio dela era ensurdecedor e ele estava amargamente arrependido de tudo o que falou naquele domingo à noite sobre efeito da raiva. Queria poder se desculpar, mas não sabia como, visto que ela estava fingindo que ele não existia.
Apesar de esse tipo de pensamento lhe tomar a maior parte do tempo, ele ainda tentava prestar atenção no jogo à sua frente. Em pleno Maracanã, o primeiro jogo contra o Flamengo pela Copa do Brasil estava empatado em 0x0 em um jogo que parecia jogo de várzea. As duas equipes não estavam jogando bem, embora o Flamengo levasse uma leve vantagem devido aos bons passes apresentados e resultados anteriores. Desde a confusão, o time estava em uma maré de azar e só venceu um dos quatro jogos disputados até então, o que estava gerando uma revolta na torcida e pressão em cima do treinador. A décima terceira posição no Campeonato Brasileiro era tão ruim quanto a zona de rebaixamento.

- Isso vai dar merda. O Clayson não tá bem posicionado - dizia para Gabriel, apontando o posicionamento do colega em campo. - Não recebeu um cruzamento certo do Avelar até agora e só fica cortando pra lá e pra cá...
- Calma, o Carille sabe o que faz - Gabriel disse com tranquilidade. - Embora eu ache que o Danilo estava acostumado a ter você pelo lado esquerdo, já faz um tempo que os dois não jogam juntos, tá faltando um pouco de entrosamento.

apenas concordou e continuou prestando atenção naquele jogo horroroso. As pernas estavam inquietas, como se implorassem para entrar em campo e resolver aquilo, mas não podia fazer nada, apenas ver seu time sendo amassado em campo sem dó e nem piedade flamenguista.
Como o esperado, o rubro-negro abriu o placar no final do segundo tempo com um gol de Willian Arão, para o desespero da torcida corinthiana visitante no estádio e também para o time, que deixou o gramado em silêncio após o fim da partida e assim ficou até a volta para o hotel.
estava na sacada do seu quarto, observando o mar carioca daquela quarta-feira à noite enquanto olhava a galeria de fotos do seu celular e se deu conta de que passava mais tempo vendo as que tinha com . A selfie que tiraram juntos logo quando ele voltou, a foto com a taça do campeonato no gramado e também a que tiraram juntos na frente do espelho no dia em que foram para a premiação, em todas ele podia ver o quanto estava feliz por estar ao lado dela. Se pegou rindo sozinho ao perceber o quanto achava o sorriso dela lindo e sincero e esperava ansiosamente para voltar a ser o motivo daquele sorriso. Embalado pela emoção, ele procurou pelo contato dela, colocou o DDD na frente e tentou ligar mais uma vez, torcendo para que ela atendesse, mas mais uma vez caiu na caixa postal.

"O que eu tenho que fazer para você entender que eu tô arrependido e quero me desculpar???"

Ele enviou a mensagem sem se importar com as consequências quando viu que ela estava online. visualizou e quando viu que ela estava digitando, seu coração começou a bater mais forte. Ele esperou pela resposta, mas alguns minutos depois, nenhuma mensagem chegou e ela já não estava mais digitando. Frustrado, guardou o celular no bolso e entrou quando ouviu batidas na porta, então foi abrir.

- Oi, Tobias.
- Oi... Eu e o Junior vamos dar uma volta no calçadão, quer ir também?
- Não sei, cara, não tô com cabeça pra nada agora...
- Acho que vai fazer bem pra você, , sabe que pode conversar com a gente, se precisar. Sei que a fase não é boa e você não aguenta mais ficar longe da , mas sair com os amigos não faz mal pra ninguém.
- Tudo bem, você tem razão. Vamos.

Ele saiu do quarto com Tobias e se encontraram com Junior no saguão do hotel, então os três atravessaram a rua e, a pedido do próprio , se sentaram na areia para poder conversar. Estava uma noite agradável e não tinha tanta gente ao redor, poderiam ficar ali sem problema algum.

- Eu não deveria ter falado com ela daquele jeito - ele se confessava para os amigos. - Eu deveria imaginar que não seria tão fácil ser perdoado...
- Ela não deixou de gostar de você, , só tá chateada porque o assunto do futebol mexe muito com ela. amava jogar e, ouvir você dizer tudo aquilo pra ela, foi bem impactante - Junior disse com sinceridade, estava tentando se manter imparcial. - Ela anda tão triste ultimamente que dá até dó.
- E é culpa minha, por causa das coisas que eu disse... Mas como posso me desculpar se ela não quer me ouvir?
- Ela me disse uma coisa. Eu não ia contar, mas acho que você tem que saber - Tobias falou, tomando a atenção dois dois para si. - Ela disse que o cara arrogante que disse tudo aquilo não era a mesma pessoa por quem ela se apaixonou e ela preferia continuar sozinha a ter que conviver com alguém assim. Você não entende? Ela só quer que você vá atrás. Não com mensagem ou ligação, é literalmente ir atrás, ela vai te ouvir, . Eu conheço a , sei que ela paga de durona e desapegada, mas ela gosta de você de verdade e só tá fazendo isso pra te dar uma lição. Ela já foi jogadora também, te entende perfeitamente e quer te ajudar, cabe a você decidir se tem espaço pra ela na sua vida ou não.
- É claro que tem... Tobias, quando alguém me fala sobre futuro, eu só consigo pensar nela, só vejo ela... Faz dias que eu tô pensando no que dizer, mas ela parece inalcançável demais pra mim.
- Acho que você deveria dizer isso pra ela porque tenho quase certeza que ela imagina o próprio futuro da mesma forma. Só depende de vocês.

encarou a areia enquanto refletia nas palavras de Tobias. Se alegrou um pouco ao saber que ela talvez pensasse como ele sobre o futuro e estava disposto a fazer aquilo acontecer. Durante aqueles dias, ele pôde entender muito melhor que ela tinha razão, assim como Paolo Guerrero, e ele precisava aprender a separar o pessoal do profissional e só assim as coisas iriam pra frente. Precisava dizer pra ela que ao menos iria tentar mudar.

- Vocês tem razão, eu vou falar com ela o mais rápido possível.

Capítulo 17 - O Próximo Passo

zapeava os canais da televisão com um tédio sem igual. Não queria assistir à novela reprisada e nem os comentaristas chatos de mesa redonda falando besteiras sem sentido sobre o que achavam que era futebol. Após mais um dia longo de trabalho, seu sofá parecia o lugar mais confortável do mundo, mas a televisão definitivamente não era nem um pouco atrativa naquele momento.
Ela colocou seus fones de ouvido e deixou a playlist no aleatório enquanto olhava o próprio Instagram, que parecia ser muito mais interessante do que a televisão. Já fazia algumas semanas que não postava nada, mas simplesmente não tinha humor parar tirar uma foto ou procurar qualquer outra para postar porque toda vez que via suas fotos publicadas, ela sempre ia olhar os comentários e sempre ia direto nos mesmos. Não costumava receber muitos comentários e, justamente por isso, os de se destacavam. Ele sempre fazia questão de comentar nas fotos dela e se pegava rindo sozinha ao se lembrar de cada uma daquelas lembranças. Era nesse momento que ela se dava conta do quanto sentia falta dele, mesmo estando decidida a não ir atrás. Ignorar as mensagens e ligações estava sendo uma tarefa difícil, mas ela ainda estava magoada o suficiente para não atender ou responder.
E lá estava ela novamente vendo as poucas fotos que tinham juntos, mas que era o suficiente para ela não conseguir desviar a atenção um segundo que fosse. A foto com a taça do campeonato era a sua preferida porque os dois estavam radiantes pela conquista, especialmente pelo gol marcado. Ela não se cansava de reviver aquele momento na sua mente, quando ele a beijou na frente da família, do time e da torcida e deixou bem claro que estava apaixonado, tudo aquilo ainda fazia o coração dela bater mais forte no peito e gostar dele ainda mais.
Mas o que poderia fazer naquele momento? Aquele cara radiante com uma medalha no pescoço não parecia o mesmo arrogante de semanas atrás e isso a magoava ao máximo. Sempre achou que fosse o tipo de jogador com os pés no chão, que não abusava da influência para conseguir as coisas, mas provou ser exatamente o contrário e deixou a arrogância falar mais alto do que a humildade. Aquele definitivamente não era o por quem ela tinha se apaixonado e ela não gostava daquela pessoa que ele estava demonstrando ser.
foi afastada de seus pensamentos quando seus pais chegaram em casa. Foram jantar fora, mas ela recusou o convite alegando estar cansada demais, preferindo ficar em casa e tirando um tempo para si.

- Nossa, , que depressão toda é essa? - Rose acendeu a luz da sala e cobriu os olhos.
- Mãe! Quer me deixar cega?
- O que você tem, filha?
- Tô cansada, pai - ela escondeu o rosto na almofada.
- Eu acho que esse cansaço tem nome, sobrenome, endereço e número na camisa.
- Por favor, não fala dele, mãe - ela se virou para os pais e tirou o fone - por que jogadores de futebol são tão estúpidos? Eu era assim também?
- Você só era um pouquinho - seu pai disse humorado, a fazendo rir - por favor, , não faça eu odiar um jogador do time que eu torço para além do campo porque ele partiu o coração da minha filha.
- Pode odiar ele, pai. Ele é um idiota, babaca e arrogante - ela se levantou do sofá - eu errei em me envolver com o . Por favor, não deixem eu fazer isso de novo, ok?
- Pelo amor de Deus, , a gente não tem mais uma adolescente em casa! - sua mãe riu. - Você já é grandinha, sabe se resolver sozinha.
- Tem razão. Falei para o que ele era um adulto e tinha que agir como um, mas olha pra mim - ela riu também. - Ok, vou ser adulta agora e tomar um banho para dormir cedo porque amanhã a batalha continua. Boa noite, amo vocês.

subiu as escadas e foi para o quarto. Separou o seu pijama mais confortável e foi tomar um longo e relaxante banho. Tentava ao máximo não pensar em e se concentrar em si mesma, afastando os pensamentos ruins e tirando um tempo para cuidar de si mesma, algo raro de acontecer. Achava que dedicava tempo demais aos seus problemas, mas quase tempo nenhum consigo. Aquele era o momento todo dela.
Após o banho, ela vestiu o seu pijama e colocou Everybody do Backstreet Boys enquanto secava o cabelo, fazendo passinhos de dança animados na frente do espelho.

- Everybody rock your body! - ela cantarolava divertida, fazendo a escova de microfone. - Everybody rock your body right, backstreet's back, alright!

Se lamentava por ter nascido nos anos 90 ao invés de vivê-los, certamente seria uma grande fã de Backstreet Boys ao invés de ser a louca do futebol, mas também estava bem resolvida com isso, afinal, podia gostar dos dois ao mesmo tempo e estava tudo bem. Achava divertido o fato de ser tão eclética com as coisas.
Ela começou a rir quando começou a tocar a próxima música do álbum, As Long As You Love Me.

- Só pode ser brincadeira! - ela continuava a rir conforme prestava atenção na letra da música.

Although loneliness has always been a friend of mine
(Embora a solidão sempre tenha sido minha amiga)
I'm leaving my life in your hands
(Estou deixando minha vida em suas mãos)
People say I'm crazy and that I am blind
(As pessoas dizem que sou louco e cego)
Risking it all in a glance
(Arriscando tudo em um piscar de olhos)

And how you got me blind is still a mystery
(E como você me cegou ainda é um mistério)
I can't get you out of my head
(Não consigo te tirar da cabeça)
Don't care what is written in your history
(Não importa o que está escrito na história)
As long as you're here with me
(Contanto que você esteja aqui comigo)

Ouvia aquela música desde a adolescência e nunca foi capaz de associar a alguém, mas novamente seus pensamentos estavam voltados na mesma pessoa. De fato, ainda era um mistério para como conseguiu se aproximar dela sem fazer o mínimo esforço e agora ela não conseguia tirar o jogador do cabeça. Estava tão acostumada a fazer tudo por conta própria que não sabia lidar com o fato de alguém estar conquistando um espaço na sua vida, um enorme espaço, diga-se de passagem.
A música parou de tocar no refrão e ela achou estranho, se virou para ver o que aconteceu e engoliu a seco quando viu que estava ligando para ela. encarou o celular, vendo o nome dele aparecendo na tela. Estava tentada a atender e ouvir tudo o que ele tinha para dizer, mas não sabia se estava pronta para aquilo. De fato, sentia saudades dele, mas não queria ter todo este desgaste todas as vezes que tivessem uma discussão. Ela se sentou na cama e ficou observando até perder a chamada e a música voltar a tocar de onde parou, então soltou um longo suspiro. Ignorá-lo estava ficando cada dia mais difícil.

Every little thing that you have said and done
(Cada coisinha que você disse e fez)
Feels like it's deep within me
(Parece ter ficado dentro de mim)
Doesn't really matter if you're on the run
(Não importa se você está só de passagem)
It seems like we're meant to be
(Parece que isso era pra acontecer)

⚽🖤📱

- Tem jogo do feminino amanhã na Fazendinha e do sub-20 no Pacaembu - Sheila dizia conferindo a agenda. - E basquete hoje à tarde.
- Eu sei, pretendo ir no feminino... Ah! Não esquece que hoje o Tite vai fazer a convocação da Copa América. Já tá tudo pronto, né?
- Já, sim. Como é certeza que o Cássio e o Fagner vão, eu fiz primeiro.
- Ótimo.
- E... Bom... Não é certeza, né? Mas eu também deixei uma do , caso ele seja convocado.
- Ah... Tomara, né? Ia ser muito importante para o time - encolheu os ombros, apesar de tudo ainda torcia por ele.
- Eu torço muito pra isso, mas acho difícil, principalmente agora que ele não está jogando... Mas confio no Tite, tô esperançosa de que ele vai convocar o também - Sheila sorriu, mas percebeu que não estava muito confortável com o assunto. - Desculpa.
- Tá tudo bem, eu já não tô mais com ele. - ela forçou um sorrisinho. - Eu deveria saber que se envolver com jogador de futebol, é encrenca. O não é tão legal quanto a gente pensava que fosse.
- É um dos jogadores que eu mais gosto no time, sou meio suspeita para falar dele, adoro ele, então... Acho que briga de jogo é normal, ficar nervoso depois, também. Carille está desperdiçando uma peça fundamental do time e nem vou dizer sobre você... Eu daria uma chance, , não porquê é um jogador famoso, mas se ele está tentando falar com você, é porque tá arrependido... Errar é humano, por que seria diferente com ele?
- Acho que você, o Junior e o Tobias já podem montar um fã clube para ele - disse rindo. - Eu não deixei de gostar dele, mas tudo aquilo me mostrou um lado dele que eu ainda não sei lidar... Sinceramente, não sei nem se quero aprender.
- Eu acho que, dependendo da pessoa, a gente tem que dar uma segunda chance, se realmente gosta. Cabe a você decidir se o merece ou não.
- Prometo que vou pensar nisso. Agora para de bancar o Platão e vai trabalhar, sua desocupada - se virou para o seu computador, deixando Sheila rindo enquanto fazia o mesmo.

O dia foi de trabalho e bem agitado porque parariam na parte da tarde para ver a convocação de Tite. Toda a equipe estava ansiosa para saber quem seriam os 23 escolhidos do ex treinador do Corinthians. Embora a maioria fosse bem óbvia, sempre tinha uma surpresa guardada. Se não fosse assim, não era o Tite que eles conheciam.
estava postando algumas fotos do treino da manhã nas redes sociais. Tinha Caíque fazendo uma bela defesa, Pedrinho e Bruno em uma dividida e se preparando para dar um passe. Lá estava ela observando por mais tempo do que deveria o camisa 7 do time. Ela sabia que o time estava jogando mal e ele poderia ser muito útil pelo lado esquerdo, mas ia amargar o banco por um bom tempo se dependesse do treinador. sentiu uma pontada de piedade, pois além de o time sentir falta dele, podia imaginar o que estava sentindo por ter perdido a vaga. Como atleta, ela não desejava aquilo para ninguém, nem para o pior rival. Torcia para que pudesse voltar ao time logo.
E pelo visto ela não era a única, pois já vinha notando que, nas últimas postagens no Facebook e Instagram, a torcida pedia muito a volta dele, além de criticar a postura do time atual.

"O time tá jogando mal demais! Quando o burro do Carille vai parar de insistir nessa merda e colocar o time pra frente?"

"Um jogador como o não tem que ficar no bancoooo! Acorda, Carille!"

"Ai que saudade do meu camisa 7."

Ela concordava com cada um dos comentários, mas tinha que manter o silêncio e imparcialidade, mesmo usando sua conta pessoal. Em um conflito interno, não sabia se deveria odiá-lo por ter sido tão arrogante ou torcer para que voltasse ao time e à Seleção. Ela era incapaz de escolher um lado naquele momento.
Após postar as fotos, ela voltou a atenção para a televisão que tinha acabado de ser ligada e Tite já estava com a folha na mão, pronto para começar a convocação. O barulho sessou imediatamente quando o treinador começou a falar. se escorou na mesa, juntando as mãos como se estivesse rezando. Estava nervosa como se tivesse chances de ser convocada também.
Como o esperado, logo no início, Cássio e Fagner foram anunciados entre os defensores, causando uma enorme festa no andar inteiro. Mesmo que fossem reservas, ainda era uma enorme conquista para o clube.

- Por favor, por favor, por favor - ela sussurrava, apertando ainda mais as mãos, quando Tite começou a anunciar os meias.
- Meias: Allan, Napoli. Philippe Coutinho e Arthur, Barcelona. Casemiro, Real Madrid. Fernandinho, Manchester City e Paquetá, Milan.

afundou o rosto nas mãos, chateada, acompanhando o silêncio de todo mundo. Estava realmente acontecendo, apenas dois corinthianos jogariam a Copa América. Todo mundo queria que fossem três. Se ela já estava triste, não queria nem imaginar como estaria naquele momento.

- Que pena... Espero que ele tenha outras chances - Sheila disse, se virando para o computador e voltando a trabalhar, sem esperar o anúncio dos atacantes.
- Ele deve estar arrasado - disse com amargura ao se lembrar de quando ele confessou que estava iludido quanto àquela convocação.

Olhou para o seu celular na mesa e pensou se deveria ligar ou mandar uma mensagem, afinal, estava realmente chateada, queria muito que tivesse sido convocado também. Era um jogador acima da média e sabia que não podia se enganar quanto a isso, por mais que tentasse às vezes. Imaginando que aquele não seria o momento apropriado, achou melhor deixar de lado e voltar a trabalhar, afinal, suas férias estavam chegando e ela queria deixar tudo encaminhado.

⚽🖤📱

caminhava em direção ao seu carro acompanhado por Bruno. Os dois saíram juntos do CT como sempre, mas dessa vez estavam em silêncio. Bruno já estava conformado com o fato de também ter ficado de fora da convocação uruguaia, mas ainda tinha esperanças de jogar o Pan-americano em Lima no mês de julho, enquanto não se imaginava vestindo a canarinho outra vez.

- Eu já imaginava - disse com sinceridade, com a chateação nítida na voz. - Eu queria muito, mas não faz sentido convocar um jogador da reserva, né?
- Acho que você deveria falar com o Carille... É sério, , não aguento mais aquele meio-campo.
- O que eu posso fazer? Eu errei, Bruno, falhei com o time. Ele tá chateado com razão.
- É, mas já passou. Fala com ele.

parou em frente ao seu carro, pensativo. Bruno tinha razão, precisava conversar com o seu treinador antes que ele deixasse de ser relacionado para as partidas também. Estava louco para voltar ao campo e mostrar serviço, provar que merecia vestir a camisa tanto quanto qualquer um.

- Tá certo, vou falar com ele amanhã.
- Sinto muito pela convocação.
- Tá de boa, o Tite sabe o que faz. Não vai ter a gente se enfrentando na Copa América - ele riu, embora não achasse a mínima graça.
- Seria um prazer te marcar e vencer - Bruno disse divertido, rindo também.
- Quando sua Seleção for penta, a gente conversa sobre isso.
- Temos o Luizito.
- Temos o menino Ney - ele abriu a porta e entrou. - Até amanhã, vê se não vai brigar com o Carille pra ele me colocar no time de volta.
- Não! Deixa isso para o seu fã clube - Bruno disse se afastando. - Hasta la vista, baby!

Bruno entrou em seu carro também e cada um seguiu seu caminho. já sabia que ficaria de fora, mas isso não o impedia de ficar chateado mesmo assim. Sentia falta das duas semanas que passou com a Seleção, do convívio leve e descontraído, de saltar da cama e ir treinar como se fosse a melhor coisa do mundo. De fato, ele gostava de treinar, mas treinar com a Seleção era ainda melhor e ele torcia para que tivesse a oportunidade algum dia novamente.
chegou em casa e foi questão de minutos para o seu celular começar a tocar. Ele pegou para atender e viu que era uma chamada de vídeo de Arthur. Se sentou em uma das cadeiras da mesa e atendeu. Para sua surpresa, Coutinho também estava junto.

- E aíííí? - os dois disseram juntos, empolgados, fazendo rir.
- Oi... Isso é sorriso de quem foi convocado?
- Claro que é! Eu tô feliz pra caralho, mas estaria mais ainda se você tivesse sido também - Arthur disse com toda a sinceridade. - Verdade, cara, acho que dessa vez o Tite errou. Eu ainda sonho com aquela assistência que você deu para o Gabriel marcar. Foi lindo.
-Valeu - sorriu, tentando não demonstrar o quanto estava chateado. - Mas eu já sabia disso, faz quase um mês que estou sem jogar, fui arrumar briga e agora tô de banco.
- Cara, você tinha mesmo que ir arrumar briga com peruano folgado? Mas fazer o que, né? Já passou, foco no resto da temporada.
- Já vamos avisando que, se o Carille continuar te mantendo no banco, a gente troca uma ideia com o Valverde e você vem jogar no melhor time do mundo
- Coutinho completou o que Arthur disse e o mesmo concordou.
- Acho bem difícil... É sério, gente, não tô com cabeça pra isso. De que adianta sonhar alto enquanto dorme e acordar no banco de reserva?
- A gente vai te dar uma ajudinha pra sonhar alto de novo. Olha só isso aqui - Arthur virou a câmera do celular e pôde ver, pela primeira vez, o vestiário do Barcelona.
-Nossa - sussurrou, tentando conter a sua admiração.
- Legal, né? Olha ali o Vidal - pôde ver o jogador culé fechando a porta do seu armário e em seguida fez um hangloose para a câmera - Gracías!
- Não acredito nisso, Arthur!
- Tem mais, tem mais. Calma aí!

Arthur e Philippe deram uma volta no vestiário, onde o clima estava descontraído entre os atletas que conversavam e riam entre si. até se esqueceu, por alguns instantes, que sua realidade era outra.

- Gracías, hermanos! - Coutinho disse após Semedo e Umtiti acenarem para eles. - Eles estão meio cansados, nosso treino foi bem exaustivo hoje.
-Ou a internet tá ruim, ou ele está paralisado - Arthur começou a rir da reação do amigo. - Calma, cara, eles são de carne e osso também.
- Muito obrigado, gente, fiquei com a maior cara de idiota!

Eles continuaram conversando mais um pouco, abriu o coração e confessou que, mesmo que já soubesse que não seria convocado, ainda sim estava decepcionado consigo mesmo. Ele sabia que não precisava bancar o durão com seus amigos, especialmente Arthur, que o conhecia há tantos anos e tão bem. Estava vulnerável o suficiente para que pessoas do outro lado do mundo pudessem ver e perceber.
Após encerrar a chamada, ele decidiu tirar um cochilo. Estava cansado e chateado, não queria ver ou falar com ninguém, dormir parecia ser a melhor solução para os seus problemas naquele momento. Nem mesmo o fato de ter visto seu ídolo no futebol acenando para ele em uma chamada de vídeo o deixava animado o suficiente para se manter acordado. Ele só queria um pouco de paz.
Apesar de ser cochilo rápido, teve sonhos estranhos. Na maioria deles, estava jogando como antes e de repente se via obrigado a deixar o campo sobre os gritos de alguém ou vaias da torcida, o que o deixava irritado e pronto para reagir, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, finalmente acordou.

- Mas que porra foi essa? - passou as mãos pelo rosto, rindo.

Era tudo o que ele podia fazer, rir. Todos os seus sonhos, medos e inseguranças juntos e misturados em algo que não fazia sentido nenhum.

- Eu tô ficando louco, só pode - ele se sentou na cama e viu que o celular começou a tocar novamente.

atendeu a ligação e era Dantas o convidando para jantar. Por mais que estivesse cansado e chateado, acabou por aceitar o convite, afinal, seu empresário sempre foi muito bom em o animar quando estava triste.

- Só você pra me fazer sair de casa em uma sexta-feira à noite - disse se sentando no seu lugar e viu que Dantas o encarava. - O que foi?
- Você tem noção do que acabou de falar?
- E daí?
- Desisto, agora é sério. Você é o único cara da sua idade que eu conheço que não sai na sexta-feira à noite.
- Talvez porque eu tenha que treinar no sábado? - o jogador disse como se fosse óbvio, fazendo o empresário dar de ombros.
- Esquece isso, hoje é dia de sextar, meu caro. Eu só precisava combinar algumas coisas com você.

Dantas foi interrompido quando o garçom chegou para anotar os pedidos. Só quando ele saiu, o empresário voltou a falar.

- Então, o que você quer combinar? - se ajeitou na cadeira, relaxando o corpo.
- Bom, primeiro eu queria saber se você está gostando do time.
- Eu me apeguei ao clube, gosto muito daqui. Sei que o momento não é bom, mas eu já ganhei um título, fiz gol na final, fiz amigos... Eu gosto daqui, de verdade.
- Isso é bom, muito bom, mas tá na hora de pensar lá na frente, né? Você já está perto de atingir os seis meses mínimos de contrato, sabe que já vai poder assinar com outro clube, se quiser.
- E tem proposta? - questionou desinteressado, mexendo a comida com o garfo.
- Não... Ainda - Dantas disse despretensioso, fazendo com que olhasse para ele. - Mas se por um acaso, um europeu, um árabe e um chinês estivessem sondando e futuramente fizessem uma proposta... Você pelo menos pensaria a respeito?
- Quem são???
- Schalke 04, Al-Ahli e Beijing Guoan... Meu amigo, você está muito bem encaminhado... Sabe que o Al-Ahli é tipo o Flamengo da Arábia Saudita, né?
- Sei... Caramba, nunca me imaginei jogando na Arábia - riu ao imaginar a hipótese. - Na China então...
- É muito, muito dinheiro! Para você, pra mim, para os nossos filhos, netos e bisnetos... Pensa muito bem, , se você recusar mais um time bom, eu juro que desisto de você.
- Eu acho que entre esses três, eu escolheria Schalke ou Al-Ahli... Seria legal jogar a Bundesliga, mas vamos ser realistas, nem o Brasileirão eu tô jogando, né? Não vou ficar me iludindo.
- Não me lembra disso, por favor - Dantas bateu com a mão na testa. - Cara... O que está acontecendo? O Carille ainda está de birra com você?
- Não é birra, é só... Não sei, eu decepcionei.
- Pra mim, ele tá de birra com você. Ok, você errou, eu concordo, mas quem não erra? Ele está cometendo o pior erro possível e, anota o que eu estou te falando, se você não jogar até a volta da Copa América, eu prometo te tirar daqui, .
- Mas...
- Você vai sair daqui, sim. Acha que os grandes da Europa se interessam por jogador que fica na reserva? Não, e pensando no que é melhor para você, para a sua carreira, o melhor vai ser deixar o Brasil. Prometo arrumar um clube bom para você.

sabia que Dantas tinha razão, não valia a pena continuar sendo reserva se quisesse crescer. O único problema era que ele não queria sair do Corinthians tão rápido sem ao menos tentar mais uma vez. Não queria deixar bons amigos pelo caminho, não queria desistir tão cedo.

- Eu concordo com você, mas eu quero tentar mais uma vez... Tô cansado das coisas dando errado, Dantas, não quero sair pela porta dos fundos outra vez... Por favor, deixa eu tentar.
- É claro que eu deixo. Apesar de tudo, acho que o Corinthians é um time de muito peso na sua carreira, eu não te coloco em time mais ou menos, . Só que se as coisas não melhorarem, vamos precisar procurar algo melhor para você...
- Eu sei - o jogador soltou um longo suspiro. - Só mais uma vez e eu prometo que na próxima oportunidade, se nada der certo, eu saio.
- Tudo bem, eu confio em você... Ah! Já ia me esquecendo... Sobre aquela história de investir no time feminino, sabe? Eu tive uma ideia muito boa.
- Manda aí.
- Faz um discurso.
- Como assim um discurso?
- Estive pensando... Ainda é muito cedo para que investir financeiramente, mas acho que um discurso apoiando o futebol feminino pode ser muito bem visto. Pode ser na festa de encerramento do Brasileiro. Você vai ter tempo para pensar em alguma coisa...
- Perfeito. Dantas, é perfeito! Você é um gênio! Meu Deus, isso é incrível! - disse eufórico. - Como podemos fazer isso?
- Primeiro, vamos atrás de patrocínios, depois tem que convidar as jogadoras para a premiação, é óbvio. Depois, pode deixar que eu mesmo vou atrás da CBF. Acho que é bem difícil essa parte, mas caso não dê certo, a gente pode fazer uma partida de futsal, também é ótimo.
- Você é sensacional, cara, não sei o que seria de mim sem você.
- Não se preocupa, , só quero que você enfie a cara nos livros para aprender a ser um orador, pode deixar que do resto eu cuido, ok?
- Combinado.
- Tenho que admitir, até eu estou empolgado com isso.
- Eu também - sorriu, não via a hora de poder discursar.

Eles continuaram conversando e planejando mais alguns detalhes que iam surgindo, então voltou para casa, com os pensamentos divididos entre continuar ou não no Corinthians e o discurso, pois realmente gostou da ideia e mal podia esperar para colocar em prática. Sabia que tinha jogo do time feminino no dia seguinte logo após o treino e ele decidiu ir para observar as jogadoras e pensar em como começar.
Quando ele chegou em casa e viu um status de dizendo que iria ao jogo do dia seguinte, ele teve mais certeza ainda de que estaria lá, custe o que custar.

⚽🖤📱

estacionou o carro na entrada do estádio do Pacaembu, na Praça Charles Muller e olhou admirada para o estádio que um dia foi o lar do Corinthians e que trouxe tantas alegrias para o time alvinegro. A saudosa maloca, como era conhecido o estádio pelos torcedores do clube, tinha uma atmosfera de jogo contagiante que podia sentir conforme se aproximava da entrada do estádio.
Ao passar pela entrada, ela olhou ao redor do estádio, procurando um bom lugar para se sentar, e constatou que a arquibancada atrás do banco de reservas, que ainda estava vazia, parecia perfeita. Em passos rápidos foi até lá antes que alguém tomasse o lugar que ela estava visualizando. Quando se sentou, pegou o celular para postar uma foto daquele momento, incentivando o time como uma boa torcedora que era. Faltava ainda meia hora para a partida começar e havia poucos torcedores presentes. Sabia que não ia encher, mas só de ver o crescimento de público aumentando aos pouquinhos ano após ano, já era o suficiente para se encher de orgulho do time.

- Nem foi difícil de te achar.

se virou para trás e o coração foi na boca quando viu descendo os degraus com um pouco dificuldade, visto que não tinha apoio para se segurar. Ela pensou em sair dali imediatamente, mas não conseguiu se quer levantar do seu lugar e logo o jogador já estava ali bem ao seu lado. De boné e óculos, nem parecia uma das estrelas do time, apenas mais um torcedor comum.

- O que você está fazendo aqui? - foi tudo o que ela conseguiu dizer, com a surpresa e um pouco de raiva transparecendo na sua voz.
- O mesmo que você, apoiar o time, mas parece que só assim pra eu poder te encontrar, né? - ele tirou o óculos de sol para olhar para ela. - A gente precisa conversar, .
- Eu não tenho nada para conversar com você, - desviou o olhar para o gramado, cruzando os braços e pernas ao mesmo tempo. - Se quiser ficar aí e assistir ao jogo, ok, mas realmente não tenho nada pra falar com você.
- Por favor, ... - ele pediu, baixinho, e fechou os olhos, não aguentava mais resistir. - Eu não tenho mais nada.

Ela abriu os olhos novamente e o encarou por um instante, tentando se manter rígida, mas não tinha certeza se estava conseguindo.

- Como você não tem mais nada? Deixa de ser ingrato, garoto, olha tudo o que você tem!
- Tenho o que? Dinheiro? Uma casa e um carro legal? Não é disso que estou falando... Eu não fui convocado, perdi a vaga no time, perdi a confiança do meu treinador e... Não tenho você. , o que realmente importa pra mim, eu não tenho mais.

engoliu a seco quando a mencionou. Sentia uma saudade absurda de estar com ele, de estar envolvida naqueles braços, sentindo os lábios dele contra os seus. Sentia falta de conversarem durante horas sobre futebol, até mesmo dos rachões que disputavam juntos. sempre quis alguém que a entendesse e fosse companheiro em todos os aspectos, mas não achava que esse tipo de homem realmente existisse... Até ela conhecer um pouco melhor.

- Eu sei que eu errei – ele admitiu, encolhendo os ombros.
- Você não só errou como se mostrou ser outra pessoa. Grosso, arrogante, prepotente... É assim que você lida com as coisas? Fazendo birra quando algo não acontece do seu jeito e desconta nos outros? , eu conheci um lado seu que eu nunca imaginei que existisse e não sei se posso lidar com isso, ok? Eu entendo toda a parte futebolística, rivalidade é normal, mas aquilo foi demais até pra mim.
- Você tá certa, foi muito errado, eu sei disso. Estou fazendo de tudo pra melhorar, tentando deixar isso pra trás... É difícil, sabe? Era a minha chance de alavancar minha carreira e deu tudo errado... Eu sei que fui egoísta e arrogante, mas não sou sempre assim, eu só... Eu só queria que, pelo menos uma vez, as coisas dessem certo pra mim e continuassem assim. Aquilo que eu falei sobre a lesão... Nossa, eu falei totalmente sem pensar, é sério... Eu não tenho a mínima ideia de como foi pra você ter que desistir do futebol e eu sinto muito mesmo por isso e por ter dito aquilo... Você disse pra eu agir como um adulto e é isso que estou tentando fazer agora. Estou admitindo o meu erro, pagando as consequências dele, o que mais preciso fazer pra você entender, de uma vez por todas, que eu não consigo mais ficar longe de você?
- Achei que seria mais fácil ignorar você - ela disse desviando o olhar de novo, quase que sem ar pelo que acabou de ouvir. - Achei que seria muito fácil te odiar e te criticar como atleta, mas eu não consigo.
- Olha pra mim, por favor - ela assim fez, o encarando olho no olho. - Eu não sou só um batedor de faltas, sou muito mais do que você vê no campo. Sou uma pessoa normal, eu gosto de sair com os meus amigos, de ouvir música... E eu também me apaixono como qualquer pessoa e eu gosto mesmo de você. Não esperava isso, mas aconteceu e eu não me arrependo... Por favor, não aguento mais ser ignorado por você.
- E eu não aguento mais te ignorar - ela confessou, baixando o olhar, ainda dividida entre perdoar ou ir embora de vez.
- Então não ignora mais.

foi pega de surpresa quando ele segurou o seu rosto e a beijou. Foi como se tivesse um ano novo dentro do estômago, cheio de fogos de artifício. Sentia falta daquele beijo mais do que tudo, era incapaz de resistir ou se afastar, apenas se entregou ao momento e se permitiu estar com a pessoa que gostava sem qualquer sentimento de culpa ou de que não deveria fazer aquilo, maldita sensação que a perseguia o tempo inteiro.
Eles só pararam o beijo quando ouviram os aplausos da torcida quando os times de Corinthians e Flamengo entravam em campo.

- Me desculpa - disse por fim, dando mais um selinho nela. - Por tudo. Eu vou tentar melhorar, eu prometo.
- A gente conversa no intervalo - respondeu, esboçando um sorrisinho de lado, e entendeu que as coisas estavam começando a ficar bem.

Eles se levantaram para a exibição do Hino Nacional e colocou as mãos para trás em respeito, algo que fazia desde que jogava e ainda não tinha perdido o hábito, mas se aproximou sorrateiramente, colocando a sua mão sobre a dela e entrelaçando os dedos dos dois. mordeu os lábios, evitando sorrir com aquilo, mas não contestou ao estender um braço para ele segurar a mão dele enquanto mantinha o outro para trás.

- É o Hino Nacional. Se toca - ela disse, tentando manter os olhos no campo.
- Eu sei. Gosto do Hino, mas gosto mais ainda de você.
- Para - segurou uma risada. – É brega e ainda estou chateada com você.
- Não por muito tempo - deu uma piscadinha pra ela e também voltou a sua atenção para o campo.

Após o Hino, as jogadoras se cumprimentaram e logo a bola estava rolando pelo Brasileirão feminino. se sentou para assistir ao jogo, estava cansado do treino do dia. Embora prestasse atenção no jogo e nas atletas, tudo o que ele queria estava bem ali ao seu lado. Observava torcendo, apoiando o time e incentivando a atacar, como se fosse uma treinadora. Ele amava a forma apaixonada que ela tratava o clube, tanto no masculino quanto no feminino, sempre torcendo e apoiando, independente do resultado ao final. Ele costumava ser assim com o seu time do coração também, embora tivesse que manter a imparcialidade para não irritar ninguém. Ele se levantou quando o time armou um belo contra-ataque, deixando a atacante Crivelari sozinha de frente com a goleira adversária, mandando a bola para o fundo do gol com categoria.
A torcida vibrou e comemorou com o time. ergueu os braços, saltando de felicidade, olhou para e ele comemorava também. Ele abriu os braços e a puxou para um abraço, a erguendo até tirar os pés dela do chão.

- Me põe no chão! - ela disse rindo. - !

fez o que pediu, mas mesmo após o gol, ela continuou com um braço ao redor da cintura dele e ele com um braço passando pelos ombros dela, ambos prestando atenção no jogo.

- Eu acho que a Crivelari está cansada, melhor colocar a Cacau no lugar - ela disse, apontando para a atacante caminhando perto da grande área, observando a jogada perto da zaga flamenguista que estava bem posicionada.
- Pode ser, mas acho que perderíamos um pouco do jogo pelo meio. Ficaria um time atuando mais pelo lado direito.
- Morri e fui pro céu, só pode - sorriu, deitando a cabeça no ombro dele, que riu e entortou o rosto para deixar um beijinho na testa dela.
- Você ainda não viu nada.

Por mais que quisesse pular a grade e ir jogar também, ou simplesmente gritar até a voz ir embora, estava exatamente onde queria estar e aqueles braços pareciam ser os mais acolhedores do mundo, o perfume mais agradável de todos. Prometeu que conversariam no intervalo da partida, mas já tinha resistido o suficiente para ficar mais tempo longe dele. Somente quando o primeiro tempo acabou, alguns minutos depois, ela o encarou e a olhou de volta, colocando a mão livre sobre o rosto dela, acariciando. sorriu, como uma adolescente apaixonadinha, e sentiu o típico frio na barriga quando ele sorriu de volta e se curvou um pouco para depositar um selinho demorado nos seus lábios. afastou o rosto devagar, incapaz de olhar para outro lugar que não fosse os olhos dela.

- A gente pode conversar agora?
- Eu já até esqueci o que eu ia falar - se sentou e, logo em seguida, ele fez o mesmo.
- Meu beijo é tão bom assim que causa amnésia nas pessoas?
- Deixa de ser convencido, cara, se enxerga! - os dois riram juntos. - Eu acho que eu também te devo desculpas... Quero dizer, eu concordei com o Guerrero naquela parte de você não saber separar o pessoal do profissional, mas não no resto, sabe? Você é um jogador incrível, , por mais que eu tenha sido contra a sua contratação no começo, você me surpreendeu de todas as formas possíveis - sorriu. - Você tem uma pontaria do caralho, além de ser uma boa pessoa fora do campo, veio aqui só pra apoiar as meninas, mesmo cansado do treino... Você não é fraco como ele disse, não é nenhum amador e errar é humano, eu não posso te julgar por isso, ainda mais no futebol, onde tudo é tão estressante... Tenho orgulho de dizer que você é o nosso camisa 7. O terceiro melhor, eu diria, só perde pro Marcelinho e pro Jô.
- Hum... Obrigado? Tudo bem, está perdoada - ele sorriu, abobado pelas palavras dela. - Eu queria te pedir duas coisas, não sei se você vai aceitar, mas acho que não custa perguntar.
- Pergunta, aproveita o meu bom humor.
- Eu pretendo fazer um discurso no encerramento do campeonato brasileiro sobre a importância do futebol feminino, foi ideia do Dantas. Bom, como eu sei que você sabe muito mais do que eu, gostaria que até lá me ajudasse com o meu discurso, não quero falar abobrinhas e sair como um palhaço machista.
- , que coisa mais linda - sorriu admirada, ainda maravilhada com o que acabou de ouvir - isso é incrível!
- Foi tudo ideia do Dantas, e eu quero muito que você faça parte disso.
- Meu Deus, é claro que sim! Nossa, eu nem sei como reagir, é maravilhoso!
- Então pode começar a relembrar os tempos de jogadora para me ajudar.
- Tá bom, tá bom, eu vou sim- ela disse empolgada, mas tentando se conter. - E qual é a segunda coisa?
- A segunda coisa... - sorriu, em seguida mordeu os lábios em nervosismo. - Pensei muito sobre o que você falou e percebi que o passado não importa, só o futuro. Não vou aceitar um não como resposta.
- Meu Deus, lá vem... Pode falar.
- Quero que você seja minha namorada.


Capítulo 18 - Presente

CT Dr. Joaquim Grava.

Para , era revigorante trocar o ar condicionado do Parque São Jorge pelo ar puro do centro de treinamento. Já fazia algum tempo que ela não dava as caras por lá, mas era uma ocasião especial e ela queria ver com os próprios olhos antes de repassar para as mídias do clube. Ela estava ansiosa, era como se ela própria fosse entrar no campo com os jogadores, mas tentava parecer imparcial enquanto caminhava na direção do campo onde as equipes masculina e feminina treinariam juntas. Tobias e Junior pareciam mais tranquilos em relação ao que estava prestes a acontecer, mas não julgavam por todo o entusiasmo dela, sabiam o quanto aquilo significava para a mulher e o futebol feminino em si.

- E-eu vou pedir para a Zanotti me dar a camisa dela, será que estou exagerando? - ela questionou gaguejando, fazendo os rapazes rirem.
- Ela vai fugir de você, isso sim - Tobias disse rindo, fazendo murchar. - Em um mano a mano, quem você acha que ganha: Grazi ou ?
- Tobias, não me diga que você está comparando os dois setes, por favor! É sério isso? Não dá para comparar! Primeiro de tudo: A Grazi costuma jogar de primeiro volante, o é ponta esquerda. Segundo: ela tem quase quarenta anos, ele tem vinte e quatro, é uma criança ainda. Terceiro: Ela tem uma carreira muito mais extensa que a dele, ela já jogou três Copas do Mundo, além de Olimpíadas e Pan. Sem menosprezar a carreira do , ele também é incrível, mas é muito mais jovem e inexperiente, concorda comigo?
- Ela quis dizer que a Grazi ganha - Junior concluiu, sendo apoiado por Tobias enquanto se sentiu totalmente contrariada.
- Eu não disse isso!
- Disse sim, vou contar para o seu namorado e ele vai ficar ofendido.
- Tobias, não seja injusto, não dá para comparar a Grazi com o . Sério.
- Uns dias de namoro e ela já está assim. Não posso julgar, minha fase com a Célia durou mais do que a gente queria.
- Muito obrigada, Junior. Alguém é sensato aqui.

Enquanto os dois homens se separaram, indo para trás de linhas opostas do mesmo campo, optou por ir até o banco para que pudesse apoiar o notebook sobre as pernas e continuar trabalhando dali mesmo, já que garantiu ao seu chefe que nada fugiria do cronograma diário. Ela ficou sozinha durante um tempo, até que a comissão técnica começasse a chegar, mas ela foi autorizada a continuar ali. A esta altura, já não estava mais tão concentrada, hora ou outra olhava para os lados para espiar se os times estavam chegando. Quando viu que Fabio Carille vinha caminhando tranquilamente conversando com Arthur Elias, ela percebeu que algo grande ia acontecer ali. O campo estava sendo preparado para receber as equipes, tal como o campo ao lado para o treinamento dos seis goleiros, a comissão técnica do time feminino também estava trabalhando a todo vapor.
O time feminino chegou primeiro e se sentia incapaz de tirar os olhos delas, sentindo uma saudade imensa dos seu tempo de jogadora e desejando estar ali também, mas feliz por ver que elas estavam fazendo a diferença e mostrando que, no Brasil, mulher também sabe jogar futebol. Mesmo que não fosse ela, se sentia realizada da mesma forma. Cada jogadora que a cumprimentava ou acenava de longe, ela retribuía com o seu melhor sorriso. Futebol era e sempre seria sua maior paixão.
Não demorou muito para que o time masculino chegasse também, em maior quantidade. quase entortou o pescoço para ver onde estava e riu quando o viu gargalhando junto com Danilo. Talvez fosse cedo demais para ela se sentir assim, bobinha ao ver o namorado, mas ela não podia evitar, não tinha a mesma postura intimidadora de antes, aprendeu a relaxar e tinha certeza que ia derreter na cadeira no momento em que notasse que ela estava ali, o que ainda ia levar um pouco de tempo, pois ele parecia bem distraído e não tinha dito que estaria presente.
viu primeiramente Tobias posicionando o equipamento na beira do campo e foi cumprimentar o amigo antes de ir para o aglomerado de atletas.

- Vê se hoje pega uns ângulos que me favorecem e as minhas jogadas também - ele disse ao se aproximar, chamando a atenção de Tobias.
- Você acha mesmo que com esse monte de mulheres lindas e habilidosas, eu vou focar em você, ? Me poupe! - Tobias disse bem-humorado após cumprimentar o amigo.
- Tem razão, hoje a atenção é toda delas... Admito que estou ansioso pra ver no que vai dar - colocou as mãos na cintura e semicerrou os olhos quando a luz do sol lhe incomodou. - Ouvi dizer que o Arthur é casca grossa com as garotas.
- E é, você que durma no ponto pra ver se ele não puxa a sua orelha também.
- É porque ele não tem a no time dele, não aguentaria treinar ela, seria mais calmo - ele riu da própria piada, fazendo Tobias concordar.
- Por falar na , acho que você deveria ir cumprimentar a sua namorada porque ela não para de olhar pra cá.
- Cadê??? - ele olhou para todos os lados, mas não a viu, Tobias precisou apontar para o banco onde escondeu as mãos sobre o rosto quando descoberta, o que o fez rir. - Não acredito que ela veio!
- Você achou mesmo que ela ia perder esse momento histórico? Vai lá, você não vai ser suspenso por causa disso.
- Que piada de mal gosto - rolou os olhos, mas acabou esboçando um sorrisinho de canto, mesmo que irônico. - Já estou praticamente suspenso mesmo, que diferença faz? Vou até ela.

atravessou o gramado correndo para chegar mais rápido até . Ela se quer se levantou do lugar ou se mexeu, mas parecia surpresa, não esperava que fosse falar com ela tão cedo.

- O expediente é externo hoje? - ele perguntou ao se sentar ao lado dela.
- Você não deveria estar aqui, . E se o treinador não gostar?
- Não se preocupa, ele já está irritado comigo de qualquer forma.
- , isso não tem graça - advertiu.
- Pra mim é super engraçado, e além disso, estou amarrando a minha chuteira - ele se curvou e desamarrou o cadarço de propósito para amarrar de novo, porém bem devagar. - Está ansiosa?
- Como se eu fosse treinar também? Claro, quero ver no que vai dar.
- Eu queria muito que você fizesse parte do time, é sério. Que pudesse treinar com a gente hoje.
- Está tudo bem, eu estou feliz por estar aqui, mesmo de longe - sorriu, por mais que fosse um assunto delicado, ela se sentia bem sempre que ele lhe assegurava que se preocupava com ela e com o futebol feminino. - Além disso, eu acabaria te humilhando na marcação e isso não seria legal.
- Eu sabia que você ia dizer isso, não sei porque ainda insisto - ele riu ao se erguer de novo, voltando sua atenção para ela. - Mas eu estava sendo sincero.
- Eu sei que sim, só não quero demonstrar que eu viro uma manteiga derretida toda vez que você mostra que se importa comigo e com a minha causa.
- Eu sempre vou me importar, - disse com toda a sinceridade que podia, ele realmente se importava. - E eu só não vou me aproximar mais de você pelo seu próprio bem, você não vai querer aqueles caras infernizando a sua vida.
- Eu aguento - ia se aproximar para beijá-lo, mas desviou.
- Tá, tá. Sei, mas quem é zoado, sou eu, então pelo nosso próprio bem, eu vou voltar antes que o Fabio ou o Elias venham me buscar na porrada.
- Sendo assim, um ótimo treino pra você.
- Obrigado.

foi pega de surpresa quando juntou seus lábios nos dela em um selinho rápido e depois se levantou para se juntar aos colegas de time enquanto ela ficou lá parada estática, ainda tentando assimilar o fato de que realmente estavam namorando e que tudo aquilo era real.
E enquanto ela caía na realidade, as equipes se juntavam para ouvir os treinadores falando. Estavam passando as atividades do dia que incluíam o aquecimento em conjunto dos dois times, treino tático dividido em grupos e um jogo-treino para encerrar o dia. ouvia tudo com atenção, mas ainda não sabia como poderia ser, já que nunca tinha dividido o campo com mulheres, mas estava curioso para saber como iria terminar. Então após as instruções dos técnicos, o aquecimento inicial com uma corrida ao redor do campo, serviu para as duas equipes e só depois foram divididos em grupos, sendo o único homem de seu conjunto que também era formado pelas atacantes Victória Albuquerque e Milene e a lateral Tamires, que estava atuando na mesma posição que ele.
O grupo deles estava sendo coordenado por um dos auxiliares técnicos do time feminino. As jogadoras pareciam bem à vontade com isso e entendeu que era ele quem deveria se adaptar ao meio por ser o único da equipe principal ali. Procurava seguir as instruções corretamente, mas se sentia um pouco deslocado enquanto as jogadoras pareciam estar se divertindo entre si. Apenas no intervalo entre um exercício e outro que a conversa chegou nele.

- Eu assunto alguns jogos do masculino, já faz algum tempo que não te vejo na escalação - Vic comentou e engoliu a seco, odiava ter que lembrar disto.
- Perdi a vaga, o treinador preferiu por outro jogador que se encaixe melhor na posição - respondeu educadamente, mas sabia que conversar com uma atleta como ele era diferente.
- Pessoalmente, não acho que esse seja o tipo de punição que qualquer jogador mereça - Milene, que sabia do ocorrido, assim como todo mundo ali, preferiu ser direta.
- Eu também - soltou um longo suspiro, fosse por cansaço ou frustração. - Só fiquei um pouco chateado por perder a vaga na Seleção também, mas tudo bem, acho que vou ter outra chance.
- Isso mesmo, a atitude positiva tem que vir da gente primeiro - Tamires sorriu e se sentiu um pouco melhor por ouvir aquilo.

A conversa rápida morreu rápido quando seguiram com os exercícios, mas agora pareciam mais entrosados entre si com sendo mais participativo, até fazendo algumas brincadeiras hora ou outra para deixar o clima ainda mais leve e estava dando certo. Além de treinarem, estavam se divertindo primeiramente.
Após o aquecimento, veio o treino tático em campo reduzido com equipes mistas. foi para o time de colete e esperou ouvir as instruções do seu treinador para que pudesse prosseguir. Só então as equipes se posicionaram para começar o treinamento, a maioria do time de era formado pela equipe principal, tendo algumas peças como lateral, zagueiro e atacante substituídos pelas jogadoras Juliette, Érika e Milene novamente enquanto o time adversário era ao contrário, tendo apenas três homens, Bruno, Carlos Augusto e Mateus Vital.
tabelou com Gabi Zanotti antes de tocar para Milene. A atacante ficou cara a cara com Bruno, mas a quatorze feminino se sobressaiu e marcou um gol.

- Esqueceu a habilidade em casa? - perguntou em tom de provocação ao amigo que rolou os olhos, mas riu.
- Me deixa em paz, , não vou poupar você.

E realmente Bruno não poupou, interceptou pelo menos três bolas de , sendo que uma culminou em gol do time dele, o que fazia pensar que talvez o seu treinador não estivesse nada feliz em ver que ele estava perdendo bolas e fosse mais um motivo para ele ficar no banco. Não, ele tinha que tentar mais.
Então após Pedrinho o deixar de cara com a goleira Tainá, o camisa sete fez um gol de cobertura. Olhou rapidamente para o banco e viu , esboçou um sorriso discreto quando percebeu que ela comemorou o gol dele. Pensava que ao menos alguém estava torcendo de verdade de ele.
estava vidrada com o que via diante de seus olhos. Podia não estar jogando, mas era um sonho realizado da mesma forma. Ela esperou muito tempo por aquilo, sabia como o time feminino costumava ser instável desde sua fundação em 1997, não podia contar as vezes em que ouviu que o clube fecharia as portas e ela perderia o emprego, o que a deixava desesperada na época. Ver todo o reconhecimento que a equipe tinha e o próprio clube promovendo aquele encontro era um sonho realizado e ela não poderia estar mais feliz por isso, torcia para que acontecesse muitas outras vezes. Poderia não estar no campo, mas ver tão participativo era o suficiente para lhe colocar um sorriso enorme no rosto, ele parecia estar se divertindo e ela estava feliz por ter encontrado alguém que pensasse como ela e apoiasse a causa também. tinha medo de cometer os mesmos erros do passado, mas sabia que, neste quesito, nunca iria decepcionar.
Após o treino tático, ainda teve o jogo-treino de equipes mistas para encerrar as atividades do dia. No final, ficou empatado em 5x5, com marcando dois gols para a sua equipe, o que acabou por eleva um pouco a baixa autoestima dele como reserva, ao menos o manteria são por mais alguns dias.
Após o término da atividade, as equipes se uniram para uma foto em conjunto.

- Espera - , agachado na frente, chamou a atenção para si. - Eu acho que esse momento pede todos nessa foto. Todas as pessoas aqui presentes tem envolvimento nesse dia tão importante pra gente.

E, sendo apoiado por unanimidade, as comissões técnicas, os dois treinadores, a equipe de imagem e fotografia também se juntou ao grupo. , percebendo que não iria, se levantou de seu lugar e foi até ela, puxando a namorada para o aglomerado de pessoas.

- Acha mesmo que você vai ficar de fora? Logo você? - ele se agachou novamente e ela, envergonhada, o acompanhou.
- Eu vou matar você - disse entre dentes, esboçando o seu melhor sorriso.
- Eu disse todos.

Então, após a foto e aplausos longos de todos, o treino do dia foi encerrado e as equipes se dispersaram. pediu para que o esperasse sair do vestiário para que fossem juntos e ela assim o fez, o esperando na guarita da saída.

- Quais são os planos do resto dia? - ele perguntou quando caminhavam em direção ao carro dele no estacionamento.
- Trabalho, muito trabalho - disse desanimada, mas riu de si mesma, ainda tinha muito trabalho pela frente. - Preciso editar tudo e postar, vai levar horas e horas.
- Posso imaginar como é trabalhoso, mas você pode fazer isso lá de casa, se quiser. Não é como se eu vivesse em uma caverna sem Wi-Fi.
- Eu sei - ela riu enquanto segurava o notebook com força contra o peito. - Pode ser, é melhor do que voltar para o Parque.
- Minha companhia é muito, muito melhor. Pode admitir - foi na frente e abriu a porta do carona para ela.
- Hum... Talvez seja - se virou para ele antes de entrar.
- Mudando de assunto completamente e quero que seja sincera: o que achou?
- Foi incrível, , não posso explicar o quanto estou feliz em ter vivenciado isso. Vai ficar marcado na minha vida para sempre e te ver tão participativo tornou a experiência ainda melhor.
- Eu gostei muito, elas são ótimas, eu quero fazer isso outras vezes, espero ter a oportunidade - disse com sinceridade e sorriu, os dois estavam felizes por aquilo.
- Terá, eu tenho certeza.

⚽🖤📱

Estádio do Morumbi, São Paulo. Dias depois.

se sentou no acento vermelho e confortável, se sentindo levemente incomodada. A vista para o gramado não era das melhores e parecia um pouco mais distante do que ela poderia enxergar ali do camarote. O show de abertura havia acabado há poucos minutos e o gramado era preparado para receber a partida entre Brasil e Bolívia pela Copa América.
Estava animada para ver a Seleção jogar pela primeira vez, mas seu lado clubista se sentia incomodado pela quantidade de pessoas com camisas do rival, São Paulo, presentes ali. Era como se fosse um majestoso e ela fosse a única alvinegra ali. Sabia que era besteira da sua cabeça, mas estava acostumada com clássicos de torcida única. Ela se encolheu no acento, pegando o celular na sua bolsinha para se entreter enquanto não voltava do banheiro. Felizmente, não demorou muito para isso acontecer.

- O que você tem? - perguntou ao se sentar ao lado dela e passar um braço ao redor dos ombros da namorada.
- Nada, é só... Não venho ao Morumbi desde a proibição das torcidas visitantes. É meio estranho.
- Nunca imaginei que um dia teria uma namorada clubista - ele respondeu rindo. - Hoje a gente vai torcer pra outro time.
- Ah... É, isso, outro time. Vai, Brasil! - ela ergueu o braço em uma comemoração totalmente forçada, fazendo rir.
- Já entendi que você não queria vir.
- É claro que eu queria! Só assim pra gente ter nosso dia dos namorados, né?

Dois dias antes, o Corinthians havia vencido o Santos pelo Campeonato Brasileiro na Vila Belmiro. Apesar da vitória, não alterava o fato de terem passado o primeiro dia dos namorados deles separados. Isso se tornava ainda mais frustrante porque ficou na reserva novamente durante todo o jogo.

- É verdade... Mas me diz se não é muito romântico ver a Seleção.
- O que é uma viagem pra Paris perto disso, né? - disse dando-lhe uma piscadinha e ele sorriu.
- Tá ansiosa?
- Sim, nunca fui para a Europa.
- É sério? Então você vai adorar. Eu nunca fui para a França, mas acho que deve ser legal.
- Eu só viajei pela América do Sul quando eu jogava, você vai ter que me apresentar a Europa todinha. Me diz pra onde você já foi.
- Espanha, claro. Hum... Inglaterra, Alemanha, Portugal, Itália e República Tcheca. E também para os Emirados Árabes pra jogar o Mundial. A gente ainda vai fazer uma Eurotrip muito foda, você vai ver.
- Tô me sentindo importante agora - sorriu e se aproximou para beijá-lo.

O que era pra ser um selinho, acabou por se tornar um beijo lento e calmo. ainda tentava assimilar que estavam namorando, era algo de outra realidade, parando para pensar bem. Foi totalmente contra a contratação dele para com o time, o julgou muito mal, forçou uma inimizade desnecessária... Mas ali estava ela, completamente apaixonada pelo camisa 7 do seu time do coração. nunca foi romântica ou dedicada ao amor, mas com era diferente, ela pelo menos se esforçava para ser melhor. Ele tinha a capacidade de melhorar o humor dela e isso era um ponto positivo, afinal, parecia estar mais amigável do que nunca.

- Feliz dia dos namorados atrasado - disse após o beijo, passando a mão pelo rosto dela. - Não sou o cara mais romântico do mundo, mas isso aqui é bem melhor do que estar em outra cidade.
- Para de falar besteira, estou vendo a Seleção de camarote - disse rindo e concordou.
- Vai ver a Argentina comigo, né?
- E te ver chorar quando ver o Messi? Com toda a certeza.
- Não fala assim, eu não vou chorar.
- , você sentiria vergonha alheia se visse você mesmo quando fala dele. Por favor, não estrague a visão romântica que eu tenho de você.

Não demorou nada para que as duas seleções subissem ao gramado sobre os aplausos da torcida no estádio. Por mais que não fosse a torcedora número um da canarinho, foi impossível para conter a empolgação, afinal, a graça do futebol era torcer. E qual time seria melhor do que a Seleção pentacampeã mundial pra isso?
Quando a bola começou a rolar, ela até se esqueceu de que estava incomodada anteriormente. Tudo o que importava era ver a Seleção conquistando a Copa América e apagando de vez da memória do brasileiro a eliminação para a Bélgica na Copa do Mundo um ano antes.

- Time retranqueiro da porra. Até parece o Corinthians jogando - ela murmurou quando percebeu que o jogo estava péssimo na primeira etapa.
- Ei!
- Esqueci que você joga lá, foi mal.
- Eu não jogo.

As palavras soaram naturais proferidas por , mas sentiu uma pontada de ironia por trás da frase dele. De fato, ele não jogava há quase dois meses e seu futebol fazia falta no time atual que jogava pior do que nunca. Como torcedora, queria ele de volta na ponta esquerda e, como namorada, ter uma conversinha com o treinador que insistia em dar uma lição nele. Ela sabia que não podia se intrometer.

- Quando você estiver bem pleno vestindo a camisa do PSG, o Carille vai se arrepender - disse sem tirar a atenção do jogo.
- Prefiro ficar no banco do que jogar nessa merda - respondeu rindo, também olhando para o campo - time pequeno da porra.
- Quem é o clubista agora? Tá ok, a camisa do Barça.
- Melhorou.

Conforme os minutos de jogo avançavam, as coisas começavam a melhorar aos poucos. Aos cinco minutos do segundo tempo, Philippe Coutinho abriu o placar para a Seleção Brasileira em uma cobrança de pênalti. Três minutos depois, o mesmo marcou o segundo gol da equipe, enlouquecendo os torcedores presentes no estádio. sabia da má fase do colega no Barcelona, mas torcia para que a história tomasse outro rumo e ver ele brilhando com a canarinho era gratificante. Ele também sabia que jogavam na mesma posição e achava que nunca poderia competir com ele por uma vaga, fosse na Seleção ou em qualquer outro time.

- Tudo tem um propósito - ele disse pensativo enquanto o time boliviano criava uma jogada. - Se eu tivesse sido convocado, jamais poderia competir pela vaga. Olha o que ele fez... Eu não tenho inveja, o Philippe é meu amigo, mas eu acho que eu não ia querer ser banco dele.
- Que bom que você pensa assim, mas ainda acho um desperdício um jogador como você esquentar banco. É só a minha opinião.
- Que para mim conta demais.

olhou pelo canto dos olhos para ele e apenas assistia a partida, sem esboçar reação para o que acabou de dizer. Foi o suficiente para ela entender que foi genuíno e que ela era importante pra ele. Aquele momento foi quando ela realmente percebeu isso.
Não apenas isto, mas também pôde ter a certeza de que o amava. Não pelo que ele poderia lhe oferecer, mas por quem ele era, o cara fora do campo, a melhor pessoa que conhecia. sabia que nunca tinha dito as três palavrinhas para ele e, naquele momento, a língua coçou para dizer, mas ela preferiu guardar para si. Não queria apressar as coisas e dizer no meio de uma partida de futebol.
Aos oitenta e cinco minutos de jogo, Everton recebeu um passe longo vindo do meio de campo e, em uma bela jogada, fez o terceiro gol da Seleção. Foi o suficiente para a torcida deixar o estádio com o gostinho de quero mais. Foi um segundo tempo de encher os olhos e criar expectativas para o restante da competição continental.
Para , a sensação foi um pouco além, pois um misto de emoções tomavam conta dele. Estava mais do que feliz por todos os seus companheiros, sabia que mereciam muito vestir aquela camisa, mas por outro lado, o sentimento de insuficiência falava alto por não ter conseguido a vaga também. O seu sonho era vestir a camisa da Seleção e, embora já tivesse feito isso, queria poder disputar uma competição. Achava que a Copa América seria o momento perfeito pra isso, podia se imaginar no gramado do Morumbi ajudando o time como podia. Queria, mais do que nunca, pisar no gramado novamente e ser útil de alguma forma, fosse pela Seleção ou pelo Corinthians, mas não conseguia enxergar isso de nenhuma das duas formas. Não desejava aquele sentimento nem mesmo para o pior rival.

- Você sabe que não tem que ficar se provando pros outros, né? - disse o abraçando de lado, como se lesse os pensamentos dele.
- No futebol? Todos os dias - falou sem tirar os olhos do gramado, vendo os times saindo do campo. - O que eu fiz de errado?
- Não vou passar a mão na sua cabeça e dizer que você não errou... Mas já passou, né? Você só precisa continuar trabalhando, a oportunidade vem pra todo mundo... Não fica assim, , isso acaba comigo. Eu, mais do que ninguém, sei como você se sente. Por favor, só foca no seu futuro, tá bom? Eu sou a pessoa que mais torce por você.

sorriu e puxou a namorada para um abraço. De fato, ela era sua torcedora número um, mas também seu ponto seguro e injeção de ânimo. As palavras de sempre eram reconfortantes e ele não poderia pedir por alguém melhor pra ter ao seu lado. Se esquecia de todos os problemas, medos e inseguranças, se sentia o cara mais sortudo do mundo.

- Obrigado.
- Obrigado nada. Pode retribuir dentro de campo, tá me ouvindo?
- Você tem um jeito muito estranho de me animar.
- Você ainda não viu nada.

⚽🖤📱

Valenciennes, França.

A adorável cidade francesa tinha uma atmosfera diferente naquele dia. Seus cidadãos estavam mais alegres e receptivos para com os turistas, tudo porque a cidade receberia, em questão de horas, o jogo entre Brasil e Itália pela Copa do Mundo feminina de futebol. O jogo seria no Stade du Hainaut, estádio do Valenciennes FC com capacidade para vinte e cinco mil torcedores e a expectativa era de casa cheia para receber a partida.
A viagem de trem de Paris até Valenciennes levou aproximadamente três horas. e não estariam sozinhos nessa viagem, pois Tobias e Junior, junto com a esposa, se juntaram ao casal para prestigiar as meninas da Seleção, além de deixar a viagem muito mais divertida. Logo quando encontrou Célia, ainda no aeroporto em São Paulo, se lembrou do churrasco e de tudo que a esposa de Junior havia lhe falado e ela foi cobrada por isso, com toda a certeza.

- Eu juro que não foi nada planejado - se justificava enquanto as duas se sentavam em seus lugares bem de frente para o gramado do estádio.
- Disso eu não tenho dúvidas, mas eu sabia que em algum momento ia acontecer. Estava muito óbvio, - Célia disse rindo e concordou também.
- Não é fácil pra mim admitir isso, mas...
- Você se apaixonou de verdade.
- Exatamente - ela abaixou a cabeça, mordendo os lábios e ouvindo a conversa animada dos três homens. - Ele é incrível. Só isso.
- Você também é.
- Ela também é, o quê? - se virou para elas, passando um braço ao redor da namorada.
- disse que acha você incrível, falei que ela também é.
- Valeu, Célia. Muito obrigada - escondeu as mãos no rosto, envergonhada.
- Com certeza ela é - respondeu rindo, deixando um beijo na bochecha dela. - Tira uma foto nossa, por favor.

entregou o seu celular para Célia. encostou seu rosto ao dele e sorriu para a câmera. Quando pegou o celular para a ver a foto, não pensou duas vezes antes de mandar direto para o Instagram (de , não o dela) com vários corações verdes e amarelos, visto que ele não havia postado nenhuma foto dos dois ainda.

- Você é um homem comprometido agora, tem que mostrar - ela disse devolvendo o celular para ele.
- Você é uma mulher comprometida, tem que mostrar também - ele respondeu no mesmo tom de ironia. - Não vem bancar a louca comigo porque eu sou pior.

pegou o próprio celular para uma selfie rapidamente e logo em seguida fez o mesmo, postou na sua própria rede social.

- Resolvido.
- Nossa! Que mulher exigente.
- Você não reclama porque por mim eu ainda te odiaria. Agora vai ter que me aguentar.
- Meu Deus, por que me mandaste alguém tão rabugenta?

Eles continuaram conversando até as jogadoras dos dois times entrarem em campo sobre muitos aplausos da torcida local, franceses em sua maioria. olhou maravilhada, se sentindo representada em campo. Mesmo que o futebol não fosse mais uma opção para ela, ainda assim se sentia parte de tudo aquilo. Assistir a Seleção Brasileira de pertinho em um jogo de Copa do Mundo, a mais importante da história do futebol feminino, era mais um sonho realizado e ela seria eternamente grata a por ter lhe proporcionado isso.
Quando o Hino Nacional brasileiro ecoou pelo estádio, foi impossível conter algumas lágrimas que escorreram pelo seu rosto. Era um sonho vestir a amarelinha, mas mesmo que nunca fosse acontecer, estar ali já era o suficiente. Acima de amar seu time do coração ou a Seleção, amava ainda mais o futebol e toda a magia que ele poderia lhe oferecer.
olhou de relance para , vendo ela fazendo reverência enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto dela e foi inevitável para ele não conter um sorriso. Ele sabia muito bem a sensação de vestir a camisa e servir o seu país, conhecia aquele misto de emoções quando ouvia o Hino Nacional. Queria, mais do que tudo, que voltasse para o futebol, queria poder ajudar, mas uma lesão tão complicada e mal diagnosticada foram o suficiente para que ela desistisse e ele não sabia se podia mudar isso ou não. Apesar de tudo, ainda se sentia grato por estar ali e deixar com que ela dividisse o momento com ele.

- Obrigada - disse após, secando as lágrimas do rosto. Sentiu as mãos do namorado na sua cintura a puxando para perto e deixando um beijo no topo da sua cabeça.
- Depois de tudo, é o mínimo que você merece, - disse baixo, apenas para que ela ouvisse e entendesse.

Alguns instantes depois e a bola já estava rolando para Brasil e Itália. O início de jogo foi todo de domínio italiano, uma Seleção que não estava ali para brincadeira. Levou algum tempo para que o time brasileiro se encontrasse em campo, começando a atacar e pressionar mais, o que animou a torcida presente no estádio. Apesar do placar de 0x0 no final do primeiro tempo, os dois times saíram para o vestiário muito aplaudidos pela torcida que estava bem dividida entre as seleções.
Na volta para o segundo tempo, a etapa final foi mais equilibrada, embora as meninas do Brasil demonstrassem mais vontade de vencer. Conforme o fim da partida se aproximava, parecia que a bola não entraria no gol de jeito nenhum, mas felizmente, foi dos pés de Marta que saiu o gol no final do jogo para garantir mais uma vitória para o Brasil e também a classificação para as oitavas de final dentro de alguns dias.

- Cada dia que passa gosto ainda mais do futebol feminino - Tobias disse enquanto deixavam o estádio.
- Eu também. Dia abençoado aquele que fui ver as meninas jogando.
- Foi tudo, menos abençoado - disse entre dentes, mas acabou rindo. - Fala sério! Eu quis morrer quando vi o no estádio e o Junior ainda me forçou a falar com ele.
- De nada! - Junior deu-lhe uma piscadinha, rindo - foi o meu empurrãozinho pra vocês dois.
- Pelo amor de Deus! Eu tô falando sério quando digo que não gostava dele.
- E eu também não gostava dela de verdade. Não tinha nada além de ódio, gente.
- É sempre assim, mas logo depois as coisas mudam.
- Tobias, você não é a pessoa mais apropriada pra falar de amor - Célia disse ao exibir seus dedos entrelaçados aos do marido, depois apontou para e com a cabeça.
- Valeu, Célia, obrigado por esfregar na minha cara que sou um trintão solteiro, mas tudo bem! Tenho a minha gata em casa e ela me ama. Isso que importa. Não é todo mundo que nasceu pro amor.
- Que besteira. Todo mundo ama ou é amado pelo menos uma vez na vida - defendeu seu ponto de vista, sendo apoiado pelos outros três.
- Concordo, , e a minha vez já passou. Eu não ligo pra isso, de verdade, não me imagino com alguém, não gosto de dividir a minha vida e minhas coisas com ninguém e tá tudo bem em gostar de ser solteiro.
- Tobias tem razão, ser solteiro não é ruim. Não se pode obrigar ninguém a casar e construir uma família. Eu nunca tive esse sonho e só agora eu comecei a mudar o meu pensamento um pouquinho sobre amor, então eu não julgo ele. É da percepção de cada um - saiu em defesa do amigo, não achava a solteirice algo ruim, visto que ela própria ficou solteira durante muitos anos.
- Obrigado, , você é maravilhosa.

Dentre aquela discussão calorosa que se prosseguiu, pensou nas palavras de . Ele queria formar uma família em um futuro distante. Pretendia se casar antes dos trinta, se aposentar aos trinta e cinco e só então ter um filho, mas ainda sim ter sua própria família era um sonho, mesmo que distante. Ver que não pensava da mesma forma era um pouco estranho para ele, mas não surpreendente. De qualquer forma, não queria pensar no futuro, queria apenas aproveitar o seu presente antes que virasse apenas passado.

- Os pais acham que um filho só é bem encaminhado na vida quando tem alguém. Ridículo! Somos nós quem construímos nossa história e a gente pode decidir se dividir com alguém é bom ou não. Eu fico feliz pelas pessoas que encontram o amor cedo, mas fico mais feliz ainda quando alguém mais velho construiu sua vida sem depender emocionalmente de alguém.
- Vou me consultar com você se algum dia Célia e eu brigarmos, .
- Vou adorar receber vocês no meu consultório.

⚽🖤📱

saiu do banheiro secando o seu cabelo com a toalha, penteando logo em seguida. Olhou para a varanda e viu lá. O quarto tinha uma bela vista para o centro da cidade e também para o estádio, sabia que ele provavelmente estava pensando em algo. Ela sabia que ele gostava de admirar a vista e refletir de vez em quando.

- Atrapalho? - ela perguntou ao entrar de fininho na varanda.
- Nunca - respondeu prontamente, olhando para ela rapidamente e dando-lhe um sorrisinho.
- Está pensando em quê? - se colocou ao lado dele, olhando ao redor também.
- Nada demais, só lembrando daquela conversa enquanto a gente saía do estádio.
- Você não gostou de alguma coisa?
- Não é isso, acho o seu ponto de vista diferente, mas de uma forma positiva. Quero dizer, eu penso em ter uma família um dia. Queria ter um filho depois de me aposentar, com trinta e cinco mais ou menos.
- Tá de brincadeira que você não vai até os quarenta!
- Não vou aguentar - riu, admitindo - preciso de uns anos normais, talvez eu pare antes disso, não sei.
- Caramba! Que tipo de atacante você é?
- Ei! Tá mudando de assunto. O foco não é a minha aposentadoria.
- Foi mal... Bom, eu só nunca sonhei com nada disso. Talvez eu mude de ideia um dia, talvez eu case... Não sei, não ligo pra isso de verdade, mas... Bom, se estivermos juntos daqui a dez anos, você pode me perguntar se eu mudei de ideia.
- Feito... Engraçado, eu posso me imaginar com você daqui a dez anos.
- Ai, , não me faz admitir isso também... - abaixou a cabeça, envergonhada - Ainda é um pouco estranho pra mim tudo isso.
- Tudo bem, eu não tenho que te forçar a dizer as coisas pra me agradar. Gosto de você do jeito que você é, , e não mudaria nada. O futuro não importa.
- Não acredito que a pessoa que eu mais detestava, é a que mais me entende - disse voltando para o quarto na direção da sua mala.
- Sem motivo algum! - rebateu rindo, ainda na sacada.
- Com todos os motivos do mundo.
- Claro, com toda a certeza. O seu clubismo te cegou - ele entrou no quarto e a observou pegando seu creme hidratante na mala. - Não sou tão ruim assim.
- Pra mim, você era péssimo.
- Clubista.
- Não é clubismo, é só... Amor ao time. Não vai me dizer que adora ver o Valverde como técnico do Barcelona.
- Prefiro a morte - admitiu, como um torcedor comum. - Mas é sério essa comparação?
- Não, tô comparando as situações. É bem diferente - disse naturalmente, espalhando hidratante pelo braço. - É como se você recebesse proposta pra jogar no rival. Aceitaria jogar no Real Madrid?
- Claro que sim, eu não sou clubista. É óbvio que eu faria de tudo para o Barcelona me notar, é só um detalhe.
- Mas seria odiado pelos madridistas para sempre.
- É outro pequeno detalhe.
- Jogador de um time campeão, mas rebaixado jogando no meu time também é só um pequeno detalhe.
- Nossa, como você fica sexy falando de futebol assim, e me humilhando então nem se fala! O maior tesão - ele riu fazendo com que ela disse também.
- Assim como? - ela perguntou fingindo inocência, apoiando a perna pela cama para passar o creme.
- Me forçando a me imaginar no rival.
- O futebol não é só glamour, meu bem. Em um dia, você está erguendo uma taça e no outro...
- Tá com a bunda colada no banco de reserva, sem oportunidade.
- Eu ia dizer com a perna quebrada e fora do esporte, mas pode ser também. De qualquer forma, eu só queria dizer que tem os altos e baixos. Passa aqui nas minhas costas.
- Estava só esperando você pedir - ele sorriu travesso, pegando a embalagem e despejando um pouco sobre as suas mãos.
- Eu até alcanço, mas por que me dar ao trabalho, né? - fez um coque no cabelo e logo sentiu as mãos dele entrando por debaixo da sua camiseta fininha do pijama.
- Você queria um namorado ou um empregado?
- Um empregado. O namoro veio de brinde.
- Você é muito folgada - ele disse rindo, enquanto deslizava suas mãos devagar pelas costas dela de propósito.

fechou os olhos, sentindo o corpo inteiro arrepiar quando a boca dele se encontrou com a sua nuca. O movimento lento das mãos dele era tão bom quanto uma massagem relaxante e ela queria, mais do que tudo, ele por completo naquele momento.

- Vai mesmo me provocar? - ela perguntou, tentando manter a respiração normal.
- Vou - ele disse passando a língua devagar pelo lóbulo da orelha dela. - Eu não te trouxe aqui só para assistir um jogo, .
- Mas a gente ainda não namorava no meu aniversário. Não me diz que você...
- Digo. Eu quero você.
- Esse tempo todo? - ela se virou rapidamente, sentindo um frio na barriga incomum com o olhar dele.
- Não, mas acho que é normal eu querer transar com a minha namorada.

não respondeu, apenas permitiu que ele rompesse qualquer distância entre os dois em um beijo intenso demais até mesmo pra ela. Ela envolveu seus braços ao redor do pescoço dele enquanto ele abocanhou o pescoço dela, chupando, desejando aquele momento mais do que nunca. Por mais que quisesse tomar toda a iniciativa, ela se conteve e deixou com que os guiasse até a cama, mas quando se deu conta, ficou por cima, ditando o ritmo e sorriu pra ela.

- Gosto de mulher de atitude, sabia? Por isso você é incrível.

sorriu em resposta e eles retomaram o beijo, agora mais lento. Não demorou muito para que trocassem de posição e passou a guiá-los após tirar a sua camiseta. Começou a depositar beijos pelo pescoço dela, intercalando com chupões leves. mordeu os lábios, tentando conter os gemidos a cada vez que os lábios dele se encontravam com a sua pele. Não tinha unhas compridas, mas cravou nas costas despidas dele mesmo assim, o fazendo suspirar entre os beijos. As mãos dele foram até a sua camiseta para retirar, mas a própria fez isso por ele. Quando sentiu o olhar dele fixar sobre seus seios expostos, sentiu o instinto de esconder com as mãos, mas não deixou. Sabia que não deveria, mas não conseguia conter a insegurança por saber que não tinha o mesmo corpo atlético é definido de alguns anos antes.

- Nem pensar - foi tudo o que ele disse antes de retomar o beijo.

percebeu que, apesar de ser uma mulher forte, corajosa e independente na maior parte do tempo, ainda sim era uma garota insegura com o corpo como qualquer outra. Ele não via motivos para isso, afinal, não estava com ela por aparências, mesmo achando que ela fosse a garota mais bonita com quem já se envolveu.
Não demorou muito para que ambos se livrassem também das roupas de baixo, ficando apenas de roupas íntimas. Os beijos trocados eram intensos, mas carinhosos. As carícias despertavam cada vez mais o desejo de ambos. Devido à rotina de treinos de e o trabalho de , eles não conseguiam ter um tempo a dois e por isso o sexo não esteve presente nos primeiros dias de relacionamento deles. Se antes isso era um problema, naquele momento já não era mais.
desceu seus lábios pelo busto dela, passando a ponta da língua entre os seios e começando a chupá-los. À esta altura, era incapaz de ainda conter os gemidos diante da sensação de prazer inexplicável que tomava conta de todo o seu corpo. Fazia mais de um ano que não se deitava com ninguém, sempre fora tímida com relação aos rapazes, mas até se esquecia disso quando estava com .
decidiu retribuir, se desvencilhando e o empurrando contra a cama, se colocando por cima, montando em cima dele. olhou confuso pra ela, mas ela apenas sorriu, deixando um selinho nos lábios dele e desceu, começando pelo pescoço e fazendo uma trilha de beijos pelo abdômen dele até parar na perigosa zona V, que no caso dele, era muito bem desenhada.

- O que você vai fazer agora?
- O que você quer que eu faça? - ela se apoiou nos próprios cotovelos, subindo novamente e percebendo que apenas aquilo foi o suficiente para deixá-lo excitado.

Ele podia sentir seu membro pulsando dentro do tecido, desejando de todos os jeitos possíveis.
se livrou da sua última peça de roupa, jogando a calcinha no chão e ficando inteiramente à mercê dele. Trocaram de lugar e ficou por cima, enquanto ela envolveu as pernas ao redor da cintura dele, sentindo a ereção se pressionando contra a intimidade dela, embora a essa altura a última coisa que ela queria era que ele ainda estivesse de roupa.

- Tira isso logo - ela disse apressada entre o beijo e ele riu.
- Só mais uma coisa antes. Se você concordar, é claro.

se quer perguntou o que era, apenas se limitou a vê-lo fazer a mesma trilha de beijos que ela fez antes, mas não parou até chegar lá. Ela respirou fundo, abafando um gemido alto quando ele começou a chupá-la novamente. Jogou a cabeça para trás, quase revirando os olhos de prazer quando ele encontrou o seu ponto sensível. Ele passou a língua lentamente pelo local de propósito e ouviu xingar baixinho, o que o incentivou à continuar. Mordiscou de leve, beijou e voltou a passar a língua, quase que pincelando.

- ... - ela gemeu baixo, mas foi o suficiente para que ele levantasse a cabeça e olhasse para ela.
- O que foi? Se não estiver bom, eu paro - disse esboçando um sorriso travesso nos lábios, mas negou com a cabeça, incapaz de explicar a sua excitação.
- Não!

Ele voltou ao que estava fazendo antes, de forma lenta e provocativa, estimulando a excitação nela, e pelo visto estava dando certo. Quando olhou para ela, viu com os olhos fechados e a respiração pesada, apertando os próprios seios, se estimulando e ele só parou quando ela disse pra parar porque havia chegado ao seu limite.

- Agora sim eu vou tirar - ele se afastou, se ajoelhando na cama.
- Finalmente vou ver se é tudo isso - ela disse rindo, ofegante, enquanto ele se levantava e ia até a mala.
- É claro que é! - rebateu quase em tom de ofensa, enquanto procurava o preservativo no meio das suas roupas.
- Por favor, não me decepciona. Foi maravilhoso demais pra ser uma ilusão.
- Te garanto que não vou.

Ele encontrou o preservativo e voltou para a cama, retirando a sua última peça de roupa. não hesitou em ver, em seguida olhou para ele, com um sorrisinho nos lábios.

- Tá ok, é tudo isso sim. Agora põe isso aí logo dentro de mim, faz o favor.

se colocou por cima dela, começando a beijá-la com veracidade, tocando os seios enrijecidos dela afim de estimular ainda mais e, quando quase não podia mais se conter, entrou em ação. Ela, tomada pelo calor do momento, levou a mão até a intimidade dele, começando a movimentar devagar, mas colocou a sua mão por cima da dela, a incentivando a ir mais rápido, lhe ensinando a forma que ele gostava. olhou pra ele, procurando por uma reação, mas estava ocupado o suficiente se deliciando com as mãos ágeis da namorada, o que a deixou satisfeita para continuar até que ele também quase alcançasse o ápice. Mas a parou, antes que não pudesse mais se controlar.

- Que mulherão da porra você - ele sorriu enquanto respirava ofegante, o peito subia e descia rapidamente, louco de tesão.
- Você ainda não viu nada, amorzinho - sussurrou perto do ouvido dele, deixando um beijo no local.

Eles perceberam que preliminares não eram mais o suficiente para lhes satisfazer, então ele colocou o preservativo e logo voltaram de onde pararam. Ele entrou devagar. por sua vez, fechou os olhos, se deliciando com aquilo, sentindo ele entrando e saindo repetidas vezes. Afim de conter os gemidos, ela o puxou pela nunca para um beijo enquanto ele apertava suas coxas com força, dando mais intensidade ao movimento e, conforme o desejo mútuo crescia, colocando um pouco mais de força também.
Afim de provocar, cravou as unhas de novo nas costas dele e rebolou repetidas vezes quando ele estava dentro, fazendo o jogador gemer alto de prazer.

- Que é isso? - olhou para ela com um sorriso cafajeste nos lábios.
- Isso, o quê? - repetiu o gesto, o observando fechar os olhos e morder os lábios. - Parece que achei o ponto fraco de alguém.
- Fica quieta - ele riu, voltando ao controle da situação.

Conforme voltou a intensificar o movimento, a excitação dos dois aumentava cada vez mais. Não demorou muito para que chegassem ao ápice juntos, então se deitou ao lado dela enquanto ambos respiravam ofegantes, com os corpos suados e sorrisos estampados nos lábios.

- Nossa - disse por fim, encarando o teto, incapaz de conter uma risada.
- Espero que não esteja rindo de mim.
- É claro que não, seu bobo - ela se virou, pegando o cobertor para se cobrirem e então se aninhou a ele, deixando um beijo na bochecha dele. - Eu amei, é sério.
- Eu também. Se eu soubesse que seria assim, teria feito isso antes - admitiu rindo enquanto soltou uma gargalhada contagiante.
- Eu também...

Eles não demoraram muito para adormecerem, mas nesse meio tempo, ainda puderam conversar e rir como bons amigos que eram antes de serem um casal. Ainda estavam no começo do namoro, de fato, mas era como se estivessem juntos há anos.
E eles mal podiam esperar para que isso realmente se tornasse verdade.


Capítulo 19 - REVIRAVOLTA

Ribeirão Preto, São Paulo.

amarrou firme a chuteira e arrumou o meião, erguendo até o joelho. Se sentou no banco de reservas entre Carlos Augusto e Caíque, se afundando no mesmo logo em seguida. Sabia que seria mais um jogo assistindo do banco, mesmo que fosse apenas um amistoso, queria muito poder jogar.

- Qual será a surpresa de hoje? - perguntou com amargura, observando o primeiro lance entre Corinthians e Botafogo de Ribeirão Preto.
- Relaxa, a gente teve mais de quinze dias pra se preparar - Carlos disse otimista. - Além disso, é só um amistoso. Nada demais.
- Mas seria bom mudar um pouco, né? Pra variar.
- Paciência, , a hora de todo mundo chega - Caíque falou ao olhar para o lado - Não pensa que eu amo ser o terceiro goleiro, você ainda está um passo na minha frente.

sabia que Caíque tinha razão. Ele precisava parar de reclamar tanto.

- Tem razão. Paciência - cruzou os braços e voltou a atenção para o jogo.

Ele tentou se manter otimista como Carlos, torcendo pelo time, mas o que via era deprimente. Aquele Corinthians em campo não era o mesmo que ele estava acostumado a ver e defender, muito pelo contrário. O time estava apresentando um futebol lento, retrancado e ultrapassado. Isso estava o deixando irritado, sabia que era questão de tempo até o gol do adversário sair.
Isso aconteceu aos trinta minutos de jogo quando a equipe de Ribeirão abriu o placar. Aos quarenta e cinco, fez o segundo.

- Quinze dias, né? - disse para Carlos enquanto passavam pelo túnel de acesso indo em direção ao vestiário.
- Não enche, .

No vestiário, o time ouvia as instruções de Fabio para a segunda etapa com atenção. Por ser amistoso, o treinador podia fazer mais de três alterações e acabou por fazer duas trocas no intervalo. Saiu Walter para entrar Caíque e saiu Ralf para a entrada de Gabriel. apenas observava, sabia que não seria chamado.

- Posso dizer que você é ruim ou ainda é cedo? - perguntou para Bruno quando voltavam para o campo e o zagueiro riu.
- A culpa é minha?
- Você é o último dos culpados, Bruno. Marca um golzinho pra mim.
- Quando eu virar atacante.
- Nesse time? Nunca! - gargalhou e foi em direção ao banco de reservas enquanto Bruno foi para o campo.

O segundo tempo teve uma mudança sútil do time que passou a atacar mais. Aos vinte e cinco, Pedrinho cobrou um escanteio pelo lado esquerdo e Bruno cabeceou para o dentro do gol, diminuindo a diferença do placar. O banco inteiro se levantou e o zagueiro correu para comemorar. cumprimentou o amigo, orgulhoso do feito, pois a habilidade de Méndez o impressionava.

- Põe na sua conta, manito.
- Não, você merece o mérito - disse rindo e voltou para o seu lugar.

Alguns minutos após o gol, notou que Carille, hora ou outra, olhava para o banco, certamente buscando a próxima substituição. Sentiu o coração acelerar quando o treinador olhou na sua direção e chamou um dos auxiliares em seguida.

- , Gustavo, Ramiro, Carlos e Jadson. Vão aquecer.

Ele arregalou os olhos, surpreso por ouvir o seu nome. Se levantou e tirou o colete, atirando em direção ao banco rapidamente e indo para a lateral do gramado com seus colegas e seguindo as orientações do auxiliar de Carille. Repetia para si mesmo para manter a calma e agir naturalmente, apenas aquecer como os outros, mas foi um pouco mais difícil do que pensou que fosse. Estava eufórico ao pensar que iria entrar no jogo, ajudar o time a virar o jogo e se recuperar. Percebeu que Clayson estava cansado e essa era a oportunidade perfeita para que ele entrasse e mostrasse serviço.
Os jogadores se aqueceram durante alguns minutos e voltaram para o banco. Carille chamou por Gustavo, Jadson e Ramiro para conversar enquanto o quarto árbitro alterava a numeração da placa de substituição. Os substituídos eram Vagner, Pedrinho e Clayson. se sentou no banco rindo, não podia acreditar no que estava vendo.

- Ele não fez isso - disse rindo enquanto Pedrinho se sentava ao seu lado.
- Que foi, cara? - o camisa 38 perguntou ofegante, dando um gole generoso da sua água.
- Desde quando o Ramiro é ponta esquerda? E eu aqueci pra quê?
- Calma, .
- Calma? Ele quer me queimar e vai conseguir!

Neste instante, o treinador olhou na direção deles. Pedrinho desviou o olhar, entendendo que ele ouviu tudo, mas não se intimidou e encarou o treinador, não escondendo a sua insatisfação com o ocorrido. O problema não era Ramiro, não estava nervoso com o companheiro de elenco, e sim com o fato de não ter sido o substituto direto do número 25.

- Cuidado, , não vai arrumar encrenca - Pedrinho alertou enquanto vestia o colete.
- Ele que tá implicando comigo e eu que estou arrumando encrenca? Você viu tudo, Pedro!
- Eu vi e não entendendo algumas coisas que o professor faz, mas se você quer continuar aqui, é melhor deixar assim. Você vai ter a sua oportunidade.

achou melhor encerrar a conversa ali para não descontar sua frustração em Pedrinho que não tinha nada a ver com a situação. Ele se lembrou da sua conversa com Dantas e o acordo que fizeram. estava a dias de completar seis meses de clube, possibilitando a sua saída imediata. Decidiu que se até o primeiro jogo pós Copa América não tivesse uma oportunidade, aceitaria a primeira proposta que surgisse e deixaria o Corinthians de uma vez.
Não queria ficar mais um segundo ali.
foi o primeiro a entrar no ônibus que levaria o time de volta à São Paulo. Andou em passos rápidos até o fundo, a fim de evitar os jogadores e comissão técnica. Pegou o fone de ouvido e procurou por qualquer música barulhenta o suficiente para que não ouvisse nada ao seu redor. Tudo o que queria era voltar pra casa, mas mal teve tempo de chegar ao refrão da canção, pois Bruno tirou seus fones e se sentou ao seu lado.

- O que aconteceu, ?
- O Carille tá me queimando. Viu o que ele fez? Tirou o Clayson e colocou o Ramiro quando deveria ser eu! Isso é muito injusto, cara.
- Calma, yo sei que você tá nervoso, mas vai dar tudo certo. Não entendi a alteração también, mas não foi tão ruim assim.
- Foi péssimo, ele não é ponta!
- Fala baixo!
- Bruno, na boa? Tô cansado e estressado, não quero falar sobre isso, já sei que vou ter que me entender com o Fabio depois.
- Por favor, não faz besteira - Bruno devolveu o fone para , que colocou de volta nos seus ouvidos.
- Não vou. Relaxa.

⚽🖤📱


zapeava os canais a fim de encontrar algum filme para assistir. Estava com sono, mas recebeu uma mensagem de informando que já estava chegando, então decidiu ficar acordada e esperar por ele. Assistiu ao jogo e viu a derrota, imaginou o quanto ele estaria chateado com aquilo e com razão. Ela viu ele no aquecimento e se empolgou também, mas não entendeu a substituição feita pelo treinador.
Passava rapidamente pelos canais e nem se deu conta de que passou por um canal esportivo. Quando assimilou que estavam falando do Corinthians, ela voltou alguns canais e viu os comentaristas esportivos em um debate caloroso sobre a partida. Dois deles tentavam justificar as substituições ao longo da partida enquanto os outros dois criticavam a postura do time ferozmente, até um deles mencionar .

- O Carille tá de brincadeira! Quer abrir uma montadora, porra?! O Ramiro é bom jogador, mas não faz o time ir pra frente, quem faz isso é o quando recebe do Avelar! Por que ele não percebe isso? O que deu de colocar esse menino no banco? O time sente falta dele sim! Ele pela esquerda com o Vital centralizado e o Pedrinho na direita eram a linha de três perfeita. Agora me diz se o que foi feito hoje deu certo!

nunca gostou de mesas redondas, mas foi obrigada a concordar com a opinião do comentarista. De fato, não costumava segurar a bola e fazia o lado esquerdo do time render muito bem. Ele era muito eficaz e essa eficácia fazia falta ao time que estava jogando muito mal desde o início do campeonato.
Ela pegou o celular perdido no meio do cobertor e começou a digitar uma mensagem para .
"Não sou treinadora e nem a pessoa que mais entende de futebol no mundo, mas deixando a parte esportiva de lado, eu estou com você. Eu sei que o momento é ruim e entendo o que você tá sentindo, mas não quero esperar você chegar em casa pra dizer que eu vou te apoiar independente de qualquer coisa. Tô acordada e te esperando."
Ela enviou a mensagem e não se preocupou em saber se ele viu ou não. Continuou assistindo ao debate até sentir os olhos ficarem mais pesados do que nunca. Tentou se manter acordada como podia, mas não conseguia mais lutar contra o sono. Fechou os olhos a contra gosto e não demorou nada até adormecer com a TV ligada e o celular na mão.
Levou apenas vinte minutos para que chegasse em casa. O jogador abriu a porta e deu de cara com a TV ligada e as luzes apagadas. Deixou a mochila no chão e foi até o sofá onde estava dormindo. Ele ficou relutante em acordá-la, mas sabia que o sofá não era confortável o suficiente para passar a noite. Ele se abaixou e tocou o rosto dela, acariciando a bochecha com o polegar.

- Amor, acorda - ele a chacoalhou de leve e abriu os olhos, completamente sonolenta.
- ? - ela murmurou, erguendo a cabeça para poder ver melhor.
- Acabei de chegar... Vai pra cama, vai ficar dolorida aí no sofá.
- Já tô indo - deitou a cabeça na almofada novamente e riu.
- Vi sua mensagem... Obrigado, , eu não poderia ter alguém melhor.

abriu os olhos de novo, esticando os braços para abraçá-lo. retribuiu ao passar um dos braços ao redor dela e finalmente se sentiu em casa novamente.

- Vai dar tudo certo - sussurrou, deixando um beijo carinhoso na bochecha dele.
- Eu sei - respondeu por fim, virando o rosto para beijá-la.

Após o beijo, ajudou a se levantar e os dois foram para o quarto. Ela caiu na cama e se enrolou no cobertor novamente enquanto ele trocava de roupa, em seguida foi para a cama também, envolvendo a garota em seus braços e aninhando contra o seu corpo.

- Que não passe disso hoje - disse se virando para ficar contra o peito despido dele.
- É tão ruim assim transar comigo?
- Não, deveria ser uma das maravilhas do mundo, mas a garotinha aqui está super cansada.
- Eu nem ia fazer nada, sua tarada - riu, deixando um beijo no topo da cabeça dela. - Descansa, não precisava ter me esperado.
- Precisava sim, eu quis - bocejou, fechando os olhos de novo. - Amanhã a gente conversa direitinho. Boa noite.
- Boa noite.

Mesmo após dormir, permaneceu acordado durante mais um tempo. Ainda estava chateado com o que aconteceu, mas sua raiva passou quando chegou em casa e tinha alguém o esperando. A cada dia que passava, tinha ainda mais certeza de que amava , mas ainda não sabia se era o momento certo para dizer isso. O relacionamento deles estava fluindo muito bem e ele não queria estragar nada apressando as coisas, ainda mais depois de receber o apoio que precisava. As palavras dela o confortavam quando as coisas pareciam confusas e ele se sentia seguro ao saber que tinha alguém em quem confiar e não ser julgado.
"Lembra daquela nossa conversa no restaurante? Estou começando a pensar melhor e você tem razão. O que tem pra mim?"
Quando se deu conta, já havia enviado a mensagem para o seu empresário. Imaginou que Dantas não iria responder por já ser de madrugada, então ele tratou de descansar a cabeça. Já não tinha certeza se realmente queria sair, mas com certeza ouvir algumas propostas seria bem interessante. Tentando não pensar muito nisso, fechou os olhos e se desligou dos seus pensamentos frenéticos. Foi questão de tempo até conseguir adormecer.

⚽🖤📱

estava terminando de colocar a troca de roupa na mochila. Iria voltar pra casa para não preocupar os pais, passava muito mais tempo com do que com a sua família e sabia disso. A verdade é que passar dias fora de casa a fazia pensar que talvez fosse a hora de começar uma mudança na vida. Estava com vinte e quatro anos e tinha um bom emprego, mas ainda morava com os pais. Os amava, de fato, mas sentia a necessidade de ser mais independente e crescer. Ter a própria casa e o próprio carro pareciam ser um sonho plausível de batalhar e conquistar.

- Não precisa levar tudo pra casa - disse entrando no seu quarto e viu fechando a mochila. - Deixa uma troca aqui.
- Já tenho uma gaveta? - ela perguntou divertida e ele concordou.
- Uma gaveta, uma parte do closet, um lugar pra colocar a escova de dente...
- Sabe? Estou pensando em sair da casa dos meus pais. Acho que está na hora.
- Se eu pudesse, ainda moraria com a minha mãe - admitiu rindo de si mesmo.
- Mas você saiu de casa com treze anos, né? Não quero ter trinta anos e morar no sótão dos meus pais. Tenho condição de morar sozinha e quero, só não sei se tenho coragem...
- Bom, acho que já é muita coragem só de pensar na ideia... Cada um tem seu tempo, , saí muito cedo ou por causa do esporte, mas teria ficado muito mais se tivesse a oportunidade, Deus sabe que sim... Independente do que você decidir, vou te apoiar.
- Obrigada - ela sorriu, colocando a mochila nas costas. - A gente já vai?
- Já, me dá só um minuto porque esqueci aonde coloquei a chave. Já volto.

saiu do quarto e se sentou na cama para o esperar. O celular carregando do lado em que ele dormia apitou ao chegar mensagem e ignorou de primeira, mas ao apitar de novo, ela viu a tela acesa e foi inevitável não ler o conteúdo.

Dantas: finalmente você percebeu!
Dantas: Cara, esse time não serve mais pra você, prometo te tirar daí.
Dantas: Tem sondagem boa sim, inclusive mais perto do que a gente imagina. Vou entrar em contato com o Raí, quem sabe não faço as coisas andarem? A gente se fala depois.

- Raí... - ela sussurrou, tentando ter certeza que o Raí mencionado era o mesmo que ela imaginou.

O único Raí próximo dali que ela "conhecia", era ninguém menos que o diretor de futebol do rival, São Paulo, e tudo começou a fazer sentido de repente. Estaria planejando deixar o Corinthians e se juntar a um rival? As mensagens de Dantas eram bem claras e ela não teve dúvidas de que algo estava acontecendo no qual estava escondendo dela. Para o azar do jogador, sempre foi muito esperta para perceber as coisas rápido.

- Não pode ser - ela riu, passando a mão pelo rosto e cabelo.
- Vamos?

Ela se virou para trás e encontrou na porta exibindo a chave encontrada. Ela concordou e se levantou, tirou o celular do carregador e entregou pra ele.

- Já ia esquecendo. Valeu.
- Toma cuidado na próxima - ela disse naturalmente e não percebeu a ironia por trás.

Eles deixaram o apartamento e seguiram para o carro. ligou o rádio na mesma estação de sempre enquanto se limitou a colocar o cinto de segurança e virar a cara para a janela. Estava chateada e desconfiada, mas não queria demonstrar.

- Sinceramente? Tô morrendo de medo de ir falar com o Carille hoje.
- Por quê?
- Porque ele é o meu treinador?
- É só não falar.
- Você sabe que não é assim, , não posso evitar ele pro resto da vida.
- Então não evita.

Foi então que percebeu que algo estava errado. Sabia que o aconselharia nesse tipo de situação, mas ela se quer olhou pra ele quando lhe dirigiu a palavra. Até lembrou um pouco a de meses atrás quando se conheceram.

- O que você tem?
- Nada - deu de ombros, forçando uma naturalidade. - Tô normal.
- Não está. Me diz o que aconteceu.
- Só quero ir pra casa e ver meus pais, . Só isso.
- ...
- Eu tô bem, é sério - ela rebateu prontamente, tentando não amolecer toda vez que ele dizia o seu nome.

apenas concordou, sabia que não chegaria a lugar nenhum com ela daquela forma. Imaginou que talvez ela estivesse de TPM ou algo assim, então se realmente fosse isso, ele não queria se arriscar e ser atacado sem motivo. Quando estacionou o carro na frente da casa dela, soltou um longo suspiro e a encarou.

- Não vai mesmo me dizer o que você tem? Sabe que pode falar comigo - ele esticou o braço para tocar o rosto dela com carinho. - Foi algo que eu fiz e que te chateou?
- Depois a gente conversa, . Bom treino - respondeu por fim, afastando a mão dele e saindo do carro.

Ela entrou em casa sem olhar para trás e entendeu que aquilo era um sim para a sua pergunta, só não conseguia lembrar o que fez de errado desde o dia anterior. Estavam bem um com outro, conversaram normalmente e ele não via motivos para a repentina mudança no humor de . Tentando não se preocupar com isso, deu partida e foi embora. A maior dificuldade do dia ainda estava para começar.
Estava receoso do que poderia acontecer, tinha medo de piorar ainda mais a situação e deixar de ser relacionado para as partidas. estava começando a se arrepender pelo seu temperamento comportamental e queria muito voltar no tempo e ter ficado calado. Sabia que um bom profissional não fazia birra como ele fez. Se lembrou de como tudo começou e mais uma vez foi obrigado a concordar com Paolo Guerrero. Ele não sabia separar o pessoal do profissional.
estacionou o carro e desceu ao mesmo tempo que Bruno descia do seu carro também. O uruguaio viu e acenou para o amigo que veio ao seu encontro. Felizmente, Bruno não iria o julgar pelas suas atitudes.

- Buenos dias, .
- Bom dia, Bruno. Pronto pra mais um dia?
- Eu já nasci pronto - Bruno respondeu bem humorado enquanto caminhavam para fora do estacionamento. - Está melhor?
- Mais ou menos... Quero dizer, estava pensando que talvez eu tenha sido um pouco imaturo ontem, não deveria ter feito escândalo, não é assim que se consegue as coisas. Além disso, minha namorada não tá falando direito comigo e eu nem sei o motivo.
- Garotas são garotas, . Não esquenta com isso.
- Hum... Não sei, a é um pouco mais temperamental do que as outras meninas com quem já namorei. Às vezes eu gosto disso, às vezes eu odeio.

Os dois foram conversando até o vestiário para se trocarem e depois seguiram para a academia aonde boa parte do time já estava presente começando as atividades do dia. cumprimentou alguns colegas e logo foi para junto de um dos auxiliares que iriam lhe instruir no exercício de alongamento.

- Bom dia, .
- Bom dia, Ramiro - ele olhou para frente enquanto se alongava e o colega fazia o mesmo.
- Só queria saber se tá tudo bem por causa de ontem.
- Relaxa. Eu achei que eu ia entrar, mas você foi bem. Se eu tivesse algum problema, não seria com você.
- Valeu, cara. Sinto muito mesmo.
- Não esquenta com isso.

se limitou a seguir fazendo o seu exercício torcendo para não esbarrar com o técnico por ali. Imaginou que o mesmo estivesse no campo, e pro seu azar, apenas os titulares passariam o dia na academia. Ele e os outros reservas foram para o campo pouco depois.

- Deixa eu te perguntar uma coisa - disse para Gabriel enquanto faziam o caminho até o campo. - Por que você perdeu a vaga para o Ralf?
- Me machuquei. Ele já é ídolo aqui, tem preferência. Basicamente foi isso - Gabriel deu de ombros, sem se importar muito com aquilo.
- E você acha justo?
- Não é questão de achar justo, , é questão de fazer o que é certo. Eu me machuquei e pronto, estou fazendo a minha parte pra quando o Carille precisar de mim. Tá falando isso por causa de ontem, né?
- Não só de ontem... Só acho que eu merecia uma chance.
- E você tá se esforçando pra isso?
- É claro que sim!
- Você tá se esforçando no treino ou tá reclamando por aí e fechando a cara pro professor? - o camisa cinco rebateu prontamente e soltou um longo suspiro, sabendo exatamente a resposta. - Deixa isso pra lá, cara.
- Eu vou tentar, é só que...

foi interrompido por um barulho alto de buzina. Olharam para trás e um carrinho de golfe com pelo menos quatro jogadores vinha na direção deles. Gustavo estava pilotando enquanto Araos, Pedrinho e Vital faziam barulho para chamar a atenção. Por mais que estivesse chateado, era impossível não rir com eles.

- Aceitam uma carona? - Gustavo perguntou após buzinar. - Tá meio apertado, mas é que nem coração de mãe, sempre cabe mais um. Ou mais dois, no caso.
- Se eu morrer, a culpa é de vocês - Gabriel respondeu enquanto ia para a parte de trás do carrinho.
- Tá com a gente, tá com Deus, Gabi! E você, ? Vem?
- Não sei, Pedrinho, eu não confio em vocês. Ainda quero jogar a Champions um dia.
- Se quiser jogar a Champions, precisa treinar. Se quiser treinar, tem que ir para o campo. Se quer ir pro campo, tem que subir no nosso carrinho - Araos estendeu a mão.
- Não acredito que tô mesmo fazendo isso - segurou a mão do colega e pegou impulso para se apoiar na lateral do carrinho.

Gustavo deu partida novamente e logo chegaram no campo chamando a atenção de todo mundo. Os seis desceram do carrinho e correram para o gramado ao perceberem que estava atrasados.

- Foi mal aí, professor, a gente parou pra dar carona para os dois ali! - Gustavo apontou para Gabriel e .

O camisa 7 sentiu vontade de morrer quando foi o centro das atenções, especialmente a atenção do treinador. Enquanto Carille passava as instruções do treino da parte da manhã, evitava fazer contato visual, quase inventando uma desculpa para passar o dia no departamento médico para adiar o inevitável. Ele pegou o colete para vestir conforme lhe foi mandado, mas então o treinador lhe dirigiu a palavra.

- Vamos, , não dá mais para adiar. Vem comigo.

apenas concordou e esperou o treinador passar algumas instruções para o time e para o auxiliar e só então seguiu Fábio para fora do campo direto para a sala do técnico um pouco afastada dali. Ele parou ao lado do quadro branco todo rabiscado e cruzou os braços, se sentindo como um atleta da base novamente.

- Eu não quero criar inimizade com você, . Não quero que você pense que eu estou contra você ou algo do tipo.
- Desculpa, mas é o que parece. Eu sei que eu errei, não deveria ter brigado justamente com a braçadeira de capitão, mas será mesmo que eu não aprendi a lição? Eu só quero voltar a jogar...
- É verdade que eu quis te dar uma lição, quis te ensinar a separar as coisas e você falhou, mas isso não quer dizer que eu não queira mais você no time. Você é um bom atleta, , só te falta disciplina. Achei que estava mudando, mas não gostei da sua postura ontem.
- Eu só fiquei nervoso, queria jogar, falei besteira... Mas já faz quase dois meses que eu não jogo, perdi a chance de jogar a Copa América e, se continuar assim, perco qualquer chance de ir pra Europa. Eu quero ajudar o time, mas quero me ajudar também. Como vou fazer isso no banco?
- Eu acho que você ainda não entendeu. A instituição não se chama Fabio Carille ou Futebol Clube, o Corinthians é maior do que eu e você. Aqui não tem só o Fabio, o ... Na verdade, somos os menores aqui. Não quero jogadores individuais, , quero o coletivo. Enquanto você não entender isso, não vou conseguir te dar uma chance. Você estava jogando pensando em você, pensando na sua carreira na Europa ou na Seleção e preso no seu passado. Talvez isso tivesse dado certo lá no Grêmio porque era um time muito bom e eficiente, com um jogo bonito porque cada jogador tem a sua individualidade, mas aqui é diferente, não é tão bonito assim. Não quero estrelinhas no meu time, quero trabalho em grupo. Entenda que um dia todos nós vamos estar fora daqui. Eu vou treinar outro time e você vai jogar no exterior, mas o Corinthians vai continuar, independente do nosso individualismo. Digo o mesmo do Grêmio, você saiu de lá, mas o que mudou? Nada. O Grêmio ainda é o Grêmio.
- Eu sei. Eu não sou ninguém perto dessas instituições, não é isso o que eu quero. Sei os meus defeitos e quero sempre tentar melhorar. Eu só imploro pra você me dar uma chance de novo, ok? Deixa eu te mostrar que posso trabalhar em equipe e ajudar o time da melhor forma possível. Deixa eu ser a peça que tá faltando pro time deslanchar.

observou o treinador e viu o mesmo encarando o chão, completamente pensativo. Sentiu um frio na barriga ao tentar imaginar no que ele estava pensando, se era bom ou ruim pra ele.

- Quarenta e cinco minutos. Eu vou te dar quarenta e cinco minutos no próximo amistoso contra o Vila Nova para não gerar desconforto com o resto do time, mas com uma condição.
- Qual?
- Nada de individualismo. Eu sei que você é um dos que menos faz isso no elenco e quero menos ainda. Sei que você ainda carrega as mágoas do Grêmio, sonha com a Seleção e com a Europa, mas quero que se esqueça de tudo isso por enquanto. Seu passado e seu futuro não importam agora, foca no seu presente e você vai perceber como as coisas vão melhorar.

sabia que ele tinha razão. Se sentia sempre nervoso, sobrecarregado e culpado por tudo o que aconteceu na última temporada, além de ansiedade quando pensava no futuro. Mesmo que tentasse não se culpar, era impossível pensar o contrário e isso estava o afetando mesmo no Corinthians. Ele precisava parar de pensar assim e sabia disso.

- Tudo bem, eu vou fazer isso.
- Ótimo. Pode ir.
- Tá bom. Obrigado, professor.
- Não me decepciona dessa vez, .
- Eu não vou.

⚽🖤📱

"Vou jogar um dos tempos no próximo jogo, o Carille me prometeu. Nossa, eu tô tão feliz!"

digitou a mensagem e enviou para rapidamente. Mexia no celular por debaixo da mesa enquanto Dantas e Raí conversavam sobre ele como se ele nem estivesse ali. Não era nenhuma proposta oficial, estavam apenas começando um possível acordo e decidiu acompanhar o processo. Se talvez fosse jogar em um dos maiores rivais, tinha que ter certeza.

- Eu sei que falhamos nas últimas temporadas, mas ainda vamos surpreender todo mundo - Raí dizia com convicção. - Vamos montar um time campeão para a próxima temporada.
- É aí que eu entro, meu caro. O pode te ajudar com isso. Você tá acompanhando ele no Corinthians, sabe do que tô falando.
- Com toda a certeza! Você foi muito bem naquela final, , quem sabe você possa mostrar toda aquela efetividade com outra camisa, hum?
- É claro - respondeu forçando um sorriso. - Seria uma honra jogar no time brasileiro com mais títulos internacionais já conquistados. - Gostei desse garoto, Dantas.
- Você ainda não viu nada, Raí. Tem a língua tão afiada quanto a pontaria.
- Por mim, já saíamos daqui com contrato assinado, mas como não depende só de mim, preciso montar toda a proposta e o contrato antes de passar qualquer coisa para vocês e pro Corinthians.
- Não se preocupa, não é muito difícil tirar jogador de lá. Eu e o advogado vamos ficar no aguardo de uma proposta oficial. E o também, é claro. Não é, ?
- Claro, claro... Só uma pergunta, existe a possibilidade de isso ser ainda nesse semestre?
- Em no máximo três semanas você vai saber o que é vestir a camisa do tricolor paulista, , eu te prometo isso - Raí disse erguendo a sua taça de vinho para brindar.

acompanhou o brinde pensativo sobre o que acabou de ouvir. Poderia ser apresentado no São Paulo dentro de três semanas e já vestir outras cores antes mesmo de fechar a janela de transferências. Se toda a diretoria são-paulina fosse tão positiva quanto Raí, isso seria mais rápido do que ele podia imaginar e isso o assustava. O combinado foi que, se não tivesse nenhuma oportunidade, ele sairia. Mas o que faria justo agora que se entendeu com o treinador e conseguiu a chance que estava buscando? Ainda não havia contado para Dantas e nem sabia como faria isso. Era tanta coisa acontecendo de uma vez que ele se sentia um pouco perdido no meio de toda aquela confusão.

⚽🖤📱


"JOGADOR DO CORINTHIANS ESTÁ NA MIRA DO SÃO PAULO.

O São Paulo ainda busca reforços para o segundo semestre. Apesar de contar com elenco recheado e nomes como Juanfran (Atlético de Madrid) e Daniel Alves circulando pelos bastidores, o tricolor ainda busca novos nomes e um deles é o corinthiano de 24 anos. Apesar de ter sido um dos destaques do primeiro semestre do Corinthians, o jogador está sem espaço no atual time de Fabio Carille. Perto de completar seis meses de contrato, já poderá assinar com outro clube.
Em contato com o empresário do atleta, Ernesto Dantas, o mesmo nega qualquer proposta oficial por parte do São Paulo, mas não nega que exista sondagem por parte do time da Vila Sônia.
Será uma boa ideia um rival em terras tricolores? Deixem nos comentários suas opiniões."

lia outra matéria em um página são-paulina no Facebook. Era apenas uma das dezenas publicadas naquela manhã sobre a suposta proposta do São Paulo para . Alguns portais divulgavam que uma proposta oficial já havia sido feita e era uma questão de tempo até tudo se resolver, enquanto outros diziam que não havia passado de sondagens. No meio disso tudo, se sentia extremamente magoada por ter que saber das coisas pela impressa ao invés de ouvir isso do próprio . Já era ruim o suficiente ser um time rival e ela estava mal com tudo aquilo.
Estava sem falar com ele desde o dia anterior e sequer a procurou para conversar, o que a frustrou mais ainda. Apesar da mensagem recebida, ela ainda não estava satisfeita. Se ele estava tendo uma nova oportunidade, por que queria deixar o clube? E por que justamente um rival? não via outra justificativa para aquilo a não ser birra e imaturidade.

"Poderia ter me avisado que o São Paulo está de olho em você 👍🏻"

Ela enviou a mensagem antes que se arrependesse. Estava chateada o suficiente para discutir e pelo horário, já estava em casa após o treino. Logo iria responder.

"Não tem nada certo ainda. Por favor, não seja clubista agora."

Ela riu com a resposta de , principalmente pelo "ainda" mencionado. Isso queria dizer que logo mais tudo estaria certo para uma contratação.

"Ainda??? E quando você ia me contar?"
"Quer mesmo conversar por mensagem sobre isso? Tô indo aí."

Ela deixou o celular de lado e afundou o rosto no travesseiro, abafando o grito que queria dar. Estava ficando com cada vez mais raiva e não sabia se seria uma boa ideia conversarem sobre isso naquele momento. Ela estava nervosa e sabia que ia discutir com ele independente de qualquer motivo.
Não demorou muito para que chegasse com uma feição tão séria quanto a dela. Ele entrou sem cumprimentar a namorada com o beijo como sempre fazia. Não porquê estava chateado ou nervoso, mas sim porque sabia que as coisas poderiam dar muito errado durante aquela conversa. Durante alguns instantes, eles apenas se encararam até o jogador criar coragem e começar a falar.

- Durante aqueles dias em que ficamos sem contato, eu jantei com o meu empresário e ele estava tão frustrado quanto eu, queria me tirar do time imediatamente, mas eu pedi mais uma chance. Combinamos que se eu não tivesse oportunidade até o primeiro jogo pós Copa América, eu assinaria com outro time. Eu já sabia que tinha sondagem do São Paulo, mas nada além disso.
- Não acredito nisso - riu. - Só seis meses de time e você já quer sair por falta de oportunidade? Que tipo de profissional você é?
- Do que gosta de mostrar serviço. Não posso fazer isso no banco, .
- Inacreditável, . Esse é o momento em que você deveria realmente mostrar serviço e não sair pelos fundos. Vai mesmo jogar em um rival?
- Olha, eu não sabia, ok? Ontem recebi uma mensagem do Dantas dizendo que ia tentar contato com o Raí, eu só não sabia que ia ser pro mesmo dia. Jantamos juntos e só conversamos um pouco, mas nenhuma proposta oficial. Não estou saindo.
- Ainda, né?
- Sim, ainda.
- E quando ia me contar? Porque eu sei dessa mensagem, eu vi mesmo que sem querer quando fui te devolver o celular. Quer dizer que tenho que saber através dos outros e não de você?
- E o que eu ia fazer, ? Pedir a sua permissão? E daí que é um rival? Não tem essa, você deveria saber como jogadora que o profissionalismo vem antes.

teve que morder a língua para não responder à altura. Queria dizer que ele também não sabia separar as coisas e nunca saberia, mas não achava o momento apropriado para tal coisa.

- Eu sei disso muito melhor do que você! Joga na porra do time que você quiser, esse não é o problema. Eu só queria que você tivesse um pouco mais de consideração por mim e me dissesse ao invés de eu ter que descobrir em uma página aleatória do Facebook! E o que aconteceu com a felicidade por ter tido mais uma oportunidade?
- Acho que cometi um erro vindo pra cá. Eu já sabia da fama do time e vim mesmo assim.
- Sou um erro pra você?
- Não! Não foi isso que eu quis dizer, , tô falando do time e só. Você foi a coisa boa que me aconteceu aqui, eu não mudaria isso, mas agora é hora de mudança pra mim. Meu ciclo aqui está acabando.
- Você não sabe o que tá dizendo, ...
- Sei sim. Você não tem ideia de como eu tô me sentindo mal aqui - se aproximou dela, tentando cortar qualquer tensão entre eles. - Tô triste e sufocado, quero jogar e ser decisivo. Vou pensar no time em primeiro lugar, mas quero ser útil de alguma forma além do campo. , você precisa entender que se eu for pro São Paulo, não vai ser por birra e sim porque é o melhor pra mim.
- Ai, ... Não faz isso, não seja tão egoísta assim...
- Egoísta? Acha mesmo que sou egoísta? - ele começou a esbravejar, visivelmente nervoso. - E o que você sabe disso? , você não tem ideia de como eu tô me sentindo! Pode parar de me julgar só um pouco?
- Mas eu não tô te julgando! Eu não vou brigar com você, , falei que ia te apoiar independente de qualquer coisa, lembra? Só quero que você tenha certeza de que é isso mesmo que você quer. Se você acha que vale mesmo a pena sair pela porta dos fundos, então vai, mas nem pensa em mudar de ideia depois.
- Independente da minha decisão, não vou me arrepender.
- Que bom, eu fico feliz. Então acho que você já pode voltar pra sua casa.
- Ei, não vamos brigar por causa disso... - se aproximou para a abraçar, mas ela se afastou. - ...
- Deixa pra lá, , é a sua decisão e não a minha.
- Não quero tomar uma decisão que me afaste de você - ele fez uma pausa, criando coragem para dizer o que estava guardado em seu peito. - Eu amo você e não quero colocar a minha carreira acima de nós.

As três palavrinhas pegaram de surpresa, a deixando sem fala por um instante. Tentou não demonstrar espanto, mas já fazia tanto tempo que não ouvia aquelas palavras que achava que nunca mais ouviria novamente, ainda mais vindas de alguém tão especial quanto . Ela também queria dizer que o amava, mas estava tão surpresa que as palavras lhe fugiam da mente, então ela se aproximou dele e o abraçou forte, disposta a ceder para evitar qualquer desentendimento.

- Me desculpa - falou por fim, não querendo sair dali.
- Tá tudo bem, , eu também tenho que me desculpar. Vai ficar chateada se eu ir?
- Não - ela se afastou, mas ainda manteve os braços ao redor do pescoço dele. - Mas não vou vestir aquela camisa brega do São Paulo. Não, nem pensar!
- Você não precisa - disse rindo. - Mas vai ter que torcer.
- , eu prefiro a morte do que torcer para um rival. Pode ir, mas você não vai me ver lá no Morumbi.
- Menina marrenta essa minha namorada, né?
- Marrenta, não. Clubista, é diferente.
- Tanto faz - ele disse por fim, a puxando para um beijo.

⚽🖤📱

", CARALHO! ATENDE ESSA PORRA! É URGENTE!"

lia a mensagem de Dantas pela quinta vez, já imaginando do que se tratava. Ele encarou o celular, pensando muito se deveria ou não ligar para o empresário e ouvir o que ele tinha a dizer. Sabia que era algo ligado ao São Paulo, provavelmente a proposta de Raí. Ele respirou fundo e discou o número de Dantas que atendeu antes de completar o primeiro toque.

- Finalmente!
- Desculpa, estava no banho. O que aconteceu?
- O Raí quer se encontrar com a gente amanhã. Não só o Raí, mas com o Emerson, os advogados e os presidentes também. Tá acontecendo, , o São Paulo vai fazer a proposta.
- Nossa... - foi tudo o que ele conseguiu dizer. - Dantas, eu...
- Não diz nada que possa te prejudicar. A multa não vai ser barata, o Andrés já deu o ultimato, mas o Raí tá disposto a pagar... Cara... Eu tô tão feliz por você.
- Dantas, eu vou jogar no próximo jogo! - disse de repente. - Conversei com o Carille e vou entrar na próxima partida.

Um breve silêncio se instaurou na linha e achou que Dantas havia colocado no mudo.

- Alô?
- Ah... Sério? Isso é bom, muito bom.
- Foi o nosso trato, né? E ainda estamos na Copa América.
- Então você não quer ouvir a proposta?
- Eu não sei o que fazer, Dantas... Quero ouvir, mas também quero jogar... Não sei mesmo o que fazer.
- Ai, , toda hora essa putaria... Tá bom, vamos fazer o seguinte: só ouve a proposta do São Paulo e eu vou enrolando um pouco até a próxima partida, ok? Vou tentar enrolar, vai depender do humor do seu querido presidente.
- Ok, valeu... Quando vai ser a reunião mesmo?
- Era pra ser amanhã, mas vou segurar um pouco até uns dois dias antes da partida, pode ser?
- Pode. Obrigado, Dantas.
- Me agradeça pagando a minha porcentagem.

⚽🖤📱

Estádio Serra Dourada. Goiânia, Goiás.

Na volta do time para o segundo tempo, o placar de 1x0 para o Vila Nova não intimidava o time alvinegro que estava disposto a sair dali com a virada, especialmente que contava os minutos para entrar em campo. Mal teve tempo de se sentar no banco, foi direto para o aquecimento junto com os outros reservas.
No vestiário, Carille cumpriu a sua promessa. Chamou e começou a dar todas as instruções para o resto do jogo e o camisa 7 ouvia com atenção, ansioso para demonstrar serviço. Quando o quarto árbitro ergueu a placa de substituição, já não sabia se dava pulinhos para aquecer ou se era pura ansiedade. Nem mesmo em seu primeiro jogo se sentiu tão nervoso quanto naquele momento. Finalmente estava de volta aos gramados após dois meses afastado.
se sentia leve como não se sentia há muito tempo. A sensação de liberdade tomou conta de todo o seu corpo, parecia que antes suas pernas estavam presas, mas agora estavam livres para correr. Ele se esqueceu de todos os problemas e preocupações e se limitou apenas a se concentrar na partida e ajudar o time a virar aquele jogo.
Ele ajudou como pôde nos seus primeiros minutos. Marcou, roubou bolas e, claro, atacou. Após receber uma bola invertida vinda lá do lado direito, avançou pela beira do campo, cruzando para Danilo um pouco recuado e se infiltrou dentro da grande área quando encontrou espaço entre os zagueiros. Avelar viu e mandou a bola para dentro da área. , mesmo marcado, conseguiu dominar, girar o corpo e chutou para o gol, tirando qualquer chance de defesa do goleiro adversário. Vila Nova 1x1 Corinthians.
caiu ao chutar a bola, mas se levantou imediatamente e correu em direção ao grupo para um abraço, erguendo os braços para cima e agradecendo. Tudo estava acontecendo muito rápido e ele iria demorar para assimilar que marcou um gol logo de cara após meses parado, mas se sentia a pessoa mais sortuda do mundo naquele momento que era todo dele.

- Boa, manito - Bruno disse ao dar um abraço individual no amigo.
- Gracias, papito. Voltei e agora é pra valer.
- Sei que sim - o zagueiro se afastou e correu para o seu lugar.

Quando a partida recomeçou, o time goiano começou a pressionar mais, criando jogadas rápidas, mas não sabiam que os alvinegros estavam em uma noite inspirada, especialmente o camisa 7 que não estava ali para brincadeira, mesmo sendo apenas um amistoso.
Em um ataque adversário, Gabriel desarmou o atacante e tocou a bola para que tabelou com Pedrinho que apareceu pelo meio. Quando teve a bola nos pés novamente, ele avançou, mas foi marcado e caiu já sentindo um incômodo no tornozelo direito. Imediatamente o juiz marcou falta e aplicou um cartão amarelo. Um aglomerado se formou ao redor de que ainda não tinha se levantado e quando questionado pelo árbitro se estava bem, ele concordou e firmou o pé no chão para ter certeza. Embora sentisse dor, tentou não demonstrar e se levantou normalmente, pronto para continuar na partida.

- Posso bater a falta? - perguntou aos companheiros de time enquanto os adversários formavam a barreira na entrada da grande área.

Ao receber um sim em aprovação, se posicionou junto com Vital perante a bola.

- Se quiser, pode bater - disse para Mateus, que apenas riu.
- Faça as honras, , você merece.

Ao sinal do apito, os dois tomaram distância, mas Vital passou pela bola enquanto chutou. A bola passou por cima da barreira em uma curva de encher os olhos, o goleiro saltou às pressas e a bola até passou pelos seus dedos, mas parou no fundo do gol novamente, dessa vez lá aonde a coruja dorme, como diz o ditado popular. levou alguns segundos para processar enquanto novamente o time vinha comemorar com ele.
Vila Nova 1x2 Corinthians.

- Ei! Deixa um gol pra mim, cara!
- Cala a boca, Pedrinho - ele respondeu rindo, dando um pedala no amigo. - O próximo é seu.
- Acho bom mesmo!

Enquanto voltava para a sua posição, olhou para o banco de reservas e viu o olhar orgulhoso do treinador. Sabia que Fabio não iria saltitar feliz em comemoração ao gol, mas aquele era o tipo de olhar que esperava muito. Se sentiu de dever cumprido com o time, mas ainda queria fazer muito mais. Não só naquele jogo, mas possivelmente no resto da temporada.
O jogo recomeçou novamente, porém muito mais equilibrado. O Vila Nova fez de tudo para conseguir o empate e quase conseguiu, se não fosse a zaga eficiente do time do Corinthians. Misturando a experiência com a juventude, os dois zagueiros estavam trabalhando muito bem naquele segundo tempo.
Após interceptar uma bola perigosa aos quarenta e três minutos, Bruno deu um chutão para o meio de campo onde Gabriel dominou de calcanhar. O volante foi rápido e tocou para Vital no meio antes de ser marcado e o camisa 22 até viu Boselli mais à frente, mas o atacante estava em posição de impedimento, então ele viu também se infiltrando pelo meio e jogou uma bola alta para ele. dominou de peito e, de voleio com a perna esquerda, mandou mais uma pancada para o gol, o seu terceiro da noite. Uma bela pintura que seria lembrada por muitos anos.
Vila Nova 1x3 Corinthians. Hat-trick de para fechar a noite.
saiu correndo sem direção, mas logo avistou o banco de reservas e correu para a comemoração. Logo o time todo estava reunido novamente, mas ele foi direto para o treinador e agradeceu a oportunidade através de um abraço. estava em êxtase, completamente chocado com o próprio desempenho naquela partida. Três gols em quarenta minutos era algo inédito para ele. Havia marcado apenas um hat-trick na carreira, mas aquele era mais do que especial.
Quando a partida recomeçou, a torcida do Corinthians cantava freneticamente na arquibancada. Mesmo em minoria, era possível ouvir a torcida gritando que aquele era o jogo da vida, música aquela que sempre embalou muito o time.
Faltando dois minutos para acabar o jogo, o próprio roubou uma bola no meio de campo e tentou avançar rapidamente afim de tocar para Pedrinho que estava livre, mas para o seu azar, ele mal teve tempo de dar três passos. Logo estava caído no chão de novo com uma dor aguda e estonteante no mesmo tornozelo.
A dor era tanta que perdeu o ar por um instante. Batia no gramado e gritava, tentando localizar o local dolorido, mas parecia que todo o seu corpo tinha sido atropelado por uma manada de elefantes naquele momento. O aglomerado se formou novamente, mas não era capaz de responder às perguntas dos colegas preocupados. Ele tentava puxar o ar para dentro dos seus pulmões, mas parecia que estavam arrancando o seu pé por tamanha dor. Logo os médicos do clube já tinham entrado no gramado e o fisioterapeuta veio ao encontro de imediatamente, pedindo para o mesmo firmar o pé no chão.

- Eu não consigo! - ele respondeu fazendo cara de dor, sentindo as lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

Ele viu o fisioterapeuta indicando para o banco que teria que trocar. tentou se levantar, mas totalmente em vão, o pé não estava suportando o peso do corpo e ele caiu novamente, então os médicos do Vila Nova entraram em ação e adentraram no campo com a maca laranja. Os médicos das duas equipes ajudaram a se transferir de um lugar para o outro. O jogador passou as mãos pelo rosto enquanto o levantavam e saiam do gramado, escondendo o mesmo para que ninguém o visse chorar, mas totalmente em vão. Apesar de sentir umas das piores dores que já sentira na vida, aquele choro era também por frustração por saber que não era uma dor qualquer e sim uma lesão.
Na beira do gramado, ele gritou e esperneou de dor quando o fisioterapeuta tirou a sua chuteira e o meião. ergueu a cabeça para olhar e viu o seu pé roxo e inchado. Se deitou novamente, se afogando em lágrimas. Aquilo era um pesadelo para ele.
Ele foi do céu para o inferno em menos de dez minutos. Instantes antes estava comemorando um hat-trick e o gol mais lindo da sua carreira, mas agora estava ali, com o tornozelo machucado e uma dor quase insuportável, sem poder colocar o pé no chão. já não se importava se o viam chorar ou não, não se importava se, naquele instante, um estádio inteiro gritava o seu nome e o aplaudiam pelo futebol apresentado. Tudo o que realmente importava para ele já não era mais possível. Estava lesionado e nada iria mudar isso.
O que lhe restava naquele momento era se conformar e torcer para que não fosse tão grave quanto esperava e ele realmente estava torcendo muito por isso...

Capítulo 20 - Rivalidade

"Lesão ligamentar parcial ou simplesmente entorse de segundo grau: ruptura parcial dos ligamentos e instabilidade articular causando edema, rigidez articular, dor e inchaço."

lia um artigo médico sobre entorses no tornozelo e a possível lesão de que ainda não havia voltado de Goiás. Ela já estava de volta ao trabalho, mas mal conseguia se concentrar. Estava tão chateada que já havia chorado inúmeras vezes somente naquele dia sem se importar se prestavam atenção nela ou não. Já estava acostumada com os olhares curiosos por simplesmente namorar com um atleta do time. Pouco se importava com isso, a única coisa que lhe interessava no momento era a recuperação de , ainda sem diagnóstico médico ou tempo de recuperação estimado.
De fato havia conversado com ele na noite anterior por telefone, mas tudo o que ouviu do outro lado da linha foi o choro dele. tentou se manter firme e positiva, mas sabia da gravidade da lesão e que não seria fácil se recuperar, fosse fisicamente ou emocionalmente. estava abalado o suficiente para não conseguir ver saída naquilo tudo e cabia a a função de tentar melhorar as coisas, mas ela estava tão frustrada quanto ele.

- Sinto muito pelo - Sheila disse ao notar que estava chorando novamente. - De verdade, espero que ele tenha uma boa recuperação.
- É tão injusto, Sheila... Viu tudo o que ele fez ontem? Ele tava tão feliz por ter uma oportunidade e agora acontece isso... Eu nem sei como vou poder dar apoio pra ele agora, ele tá arrasado.
- , você vai precisar ser muito forte agora. Conta comigo pro que você precisar.
- Obrigada, Sheila - esboçou um sorriso fraco e secou as lágrimas do seu rosto.

tentou se manter concentrada em seu trabalho, tentando evitar pensar naquilo, embora fosse inevitável. Perto da hora de ir embora, ela recebeu uma mensagem de e leu imediatamente:

"Acabei de chegar no CT, vou fazer os exames e provavelmente vou chegar tarde em casa... Pode ir pra lá e me esperar? Não quero ficar sozinho."

E novamente os olhos dela se encheram de lágrimas só de imaginar como ele estava se sentindo. Ela prontamente respondeu, tentando demonstrar todo o seu apoio.

"Você não está sozinho, meu amor, é claro que eu vou te esperar ❤️"

enviou a mensagem e ficou esperando por uma resposta dele, mas isso não aconteceu. Após o final do expediente, ela voltou pra sua casa afim de preparar uma troca de roupa e se justificar com os pais. Estava cansada e abatida, mas tentava não demonstrar isso na frente deles, embora fosse nítido nos seus olhos tudo o que estava sentindo.

- Cheguei! - ela anunciou ao fechar a porta da sala, mas ninguém respondeu. - Mãe? Pai?

Sem obter resposta, procurou os pais pela casa e se derreteu toda quando encontrou os dois no quintal dos fundos corrigindo provas. A mãe de era professora na rede pública e hora ou outra corrigia atividades dos alunos em casa, até mesmo a própria gostava de ajudar. Ver os dois corrigindo juntos a fazia querer ter um relacionamento como o dos seus pais no futuro. Esperava mais ainda que fosse com .

- Pensei que não tinha ninguém em casa.
- Desculpa, , a gente não te ouviu. Como foi o seu dia?
- Uma bosta, mãe - se sentou no lugar vago na mesa e soltou um longo suspiro. - está no CT fazendo os exames pra saber a gravidade da lesão.
- E como ele está?
- Arrasado... E eu também. Tenho medo de não saber como lidar com isso.
- , quem se machucou foi ele. Você só tem que estar do lado dele agora, vai fazer ele se sentir mais confiante.
- Eu sei, pai, é só que... Tá difícil. É como se eu estivesse machucada também. Eu sei como o se sente, também fiquei assim e apesar de todo o apoio que eu recebi, eu ainda me sentia a pessoa mais solitária do mundo... Sei que ele vai se sentir assim também.

ficou mais um pouco conversando com os seus pais e ouvindo os conselhos que tinham pra dar. Ouvia com atenção porque sabia que aquilo ajudaria em seu relacionamento com de alguma forma. Se tratando de duas pessoas com mais de trinta anos de casamento e com uma união estável e admirável, sabia que seus pais eram as melhores pessoas para lhe aconselhar naquele momento difícil.

- Estamos torcendo pelo . Vai dar tudo certo pra ele.
- Obrigada, mãe. Espero que sim - disse se levantando. - Se não se importarem, vou pra casa dele, ok? Ele disse que não quer ficar sozinho. Posso usar o carro?
- Eu te levo lá, .
- Valeu, pai, vou só pegar uma roupa.

entrou em casa e correu até o seu quarto. Procurou no seu guarda-roupas uma troca de roupa, visto que o dia seguinte era sábado e ela iria passar o dia todo por lá. Queria passar cada minuto daquele pesadelo junto com para que ele não se sentisse sozinho.
Já no carro, ela pegou o seu celular e procurou por alguma foto dos dois que gostasse. Escolheu uma tirada dias antes onde estava olhando para a câmera sorrindo e ela o abraçando e beijando a sua bochecha, foi inevitável ela esconder um sorriso, mas então abriu o Instagram e começou a digitar uma mensagem de apoio:

"Eu sei exatamente como você se sente, sei todo o sentimento de solidão e desilusão, fora a dor física que às vezes é surreal, mas você não está sozinho agora. Eu e mais trinta milhões estamos com você, vamos te apoiar hoje e sempre! Você é gigante, eu transbordo de orgulho todos os dias por ver você lutando pelos seus sonhos. É nas adversidades que nascem os grandes, é das cinzas que renascem as fênix. Eu te amo e vou te apoiar até o final ❤️"

guardou o celular no bolso do moletom e se limitou a olhar pela janela. Estava tão deprimida que não sentia a menor necessidade de abrir a boca e puxar assunto, mesmo que fosse com o seu pai. Ela apenas queria que chegasse logo e os dois pudessem passar um tempo juntos antes de caírem no sono como sempre faziam.

- Mande lembranças ao por mim.
- Tá bom, pai - abriu a porta do carro. - Talvez eu não volte pra casa no fim de semana.
- Contanto que não volte barriguda na segunda, por mim tudo bem.
- Pai! - ela repreendeu rindo. - Não pretendo engravidar tão cedo.
- Ainda bem, porque eu não quero ser avô. Se cuida, filha, qualquer coisa é só ligar.
- Tá bom. Obrigada.

se despediu do pai com um abraço e saiu do carro. Entrou no condomínio como se fosse moradora e pegou o elevador até o penúltimo andar. Ao entrar no apartamento com a chave que lhe deu, uma prazerosa sensação de estar em casa tomou conta de si. Sim, ela se sentia em casa ali, mesmo não morando com e sem planos para fazer tal coisa, mas passava tanto tempo lá que era impossível não se contagiar com a hospitalidade do apartamento, ainda mais com um anfitrião tão receptivo quanto .
Ela tomou um banho rápido e imaginou que ele chegaria cansado e com fome, então tratou de preparar um jantar. Por mais que não fosse nenhuma chefe de cozinha, a ideia do macarrão com molho não foi tão ruim assim e ela ficou muito satisfeita com o resultado, com certeza iria gostar também.
Quando chegou, pouco mais de uma hora depois, o silêncio naquele apartamento se tornou pior do que um grito agudo. Ele estava com uma cara péssima e aparentava ter chorado a noite passada inteira, além de o tornozelo estar muito inchado. tentou ajudar como podia, o ajudou a esticar a perna sobre a cama para manter o pé para cima e só então criou coragem para falar com ele.

- Tá doendo muito? - perguntou ao se sentar na beira da cama de frente pra ele.
- Um pouco. O analgésico ajuda a amenizar a dor - soltou um longo suspiro, visivelmente cansado.
- E como você tá?
- Péssimo... Isso é tão injusto, ...
- Eu sei.
- Queria entender o motivo, as coisas estavam começando a se encaminhar... Tinha a proposta do São Paulo, a minha titularidade... Ontem fiz o gol mais lindo da minha carreira, mas de que adiantou? Olha pra mim agora...
- É nas adversidades que nascem os grandes - se lembrou da frase que postou no Instagram horas antes e concordou, despontando um sorriso nos lábios, mesmo que muito discreto.
- Eu vi o post... Não sei se você notou, mas disse que me ama.
- Foi, é? Nossa, nem reparei! - ela disse divertida o fazendo rir. - Não falei nenhuma mentira... Eu amo você, queria esperar um momento especial pra dizer isso, mas que momento melhor pra dizer do que agora?
- Não é um momento especial, - encarou o próprio tornozelo, fazendo uma leve expressão de dor.
- Você não precisa se colocar pra baixo, . Eu sei que está difícil de aguentar, mas tudo passa. Você já teve lesão pior, né? Rompeu o ligamento do joelho, isso aí é fichinha e eu tenho certeza que você volta antes do fim da temporada.
- Mas ainda faltam cinco meses - murmurou com amargura. - e se o time for pra final da sul-americana e eu não estiver lá?
- Você ainda vai ter a sua medalha porque jogou o campeonato inteiro e foi decisivo... Além disso, você não está sozinho nessa.

sentiu os olhos se encherem de lágrimas naquele momento, mas não queria chorar. Se sentia mais sozinho do que nunca, mas sabia que não era verdade. Já havia recebido inúmeras mensagens de apoio dos seus colegas de clube, Seleção e familiares, além de estar ali, é óbvio. Estava tão frustrado e chateado que não conseguia se imaginar saindo de toda aquela situação.

- ....
- Desculpa, eu só... - ele tratou de secar as lágrimas que insistiram em sair de seus olhos. - Eu só tô chateado e com dor, só isso.
- Você tá com fome? Eu fiz macarrão. Não está lá essas coisas, mas comida melhora o humor de todo mundo.

não estava com fome, mas ao ver o quanto estava se esforçando para fazê-lo se sentir melhor, ele achou melhor aceitar.

- É claro.
- Vou lá pegar um prato.
- Espera aí - ele a puxou pelo braço antes que se levantasse.
- O que foi?

Ele não disse nada, apenas se esticou um pouco e a beijou, pegando de surpresa. corrigiu a postura, colocando as mãos sobre o peito dele enquanto a envolveu nos braços. Involuntariamente ele se deitou e ficou por cima em uma posição desconfortável, mas nenhum dos dois eram capazes de interromper aquele momento. O beijo que começou lento, foi se intensificando cada vez mais e, por mais que quisessem avançar, o próprio interrompeu o beijo quando se empolgaram e ele sentiu o tornozelo latejar de dor. se ajeitou na cama e observou se recompor também.

- É, acho que a gente vai ter que esperar desinchar um pouquinho, né? - ela se levantou e o observou revirar os olhos.
- Não posso andar, não posso jogar futebol, não posso transar... O que eu posso fazer?
- Sem drama, , passou vinte e quatro anos sem mim. Pode ficar mais um pouco numa boa - ela caminhou até a porta e se virou para olhar pra ele.
- Não posso, não. Vou dar um jeito. Você fica por cima.
- Seu tarado! - ela gargalhou alto, o fazendo rir também. - Eu não conhecia esse seu lado, mas confesso que tô gostando.
- Que tal ir lá pegar o jantar antes que eu me empolgue, hein?
- É melhor mesmo, não quero me empolgar também.

foi até a cozinha e serviu dois pratos, pois iria comer também. Voltou para o quarto para que pudessem jantar juntos e ela continuou puxando assunto. Achava que quanto mais pudesse manter distraído, ele iria ficar menos deprimido.

- Não é que eu seja um tarado, só não acho legal ficar se insinuando pra uma garota - ele disse após engolir uma garfada generosa.
- Não vai me dizer que nunca fez isso porque eu sei que é mentira. Lembro direitinho quando você estava de gracinha com a Bel.
- Tava com ciúmes? - esboçou um sorriso malicioso e revirou os olhos.
- É claro que não! Eu te achava o maior pé no saco, se toca!
- Rony me disse que isso é amor encubado.
- O Rony não sabe de nada - ela riu. - Eu só achava vocês meio nada a ver um com o outro.
- Como assim nada a ver?
- Qual é, ? A Bel é linda, legal e inteligente e eu te achava o maior burro e idiota, além de você ser uns cinco anos mais velho e ela morar em outro estado.
- Mas com você tenho tudo a ver, né? Sei.
- Mas é óbvio. Eu só vou dar um desconto pra você porque até eu beijaria aquela garota, seu bom gosto é admirável.
- Não foram só uns beijos, - riu, mordendo os lábios em seguida. Se sentia envergonhado em admitir aquilo para a própria namorada.
- Ai, , eu não precisava saber disso - fez uma cara de desgosto, mas acabou rindo junto com ele. - É sério isso? E o Junior sabe?
- Se sabe, não foi por mim, mas isso não importa mais. A Bel é legal, mas não passou de uma noite, eu tô em outra. Quero dizer, eu poderia ficar o dia inteiro falando com ela sobre a parte tática ou burocracias do futebol e ela só ia me ouvir e concordar, isso é meio entediante. Você diz na minha cara quando eu tô errado, gosto disso.
- Não precisa me compara com ela, só temos interesses diferentes - sorriu para ele. - E sim, toda vez que você errar, vou te dar um choque de realidade.
- Feito, então me diz se estou errado em aceitar a proposta do São Paulo.
- Depende. Você quer mesmo jogar lá?
- Não sei - admitiu com sinceridade. - Eu gosto tanto daqui, me apeguei ao clube de uma forma diferente, mas eu não sei se vou dar certo aqui, agora que tô machucado, vou perder muito tempo e nada impede o clube de me substituir. O São Paulo realmente me quer, tem tudo pra dar certo, mas tem isso de ser rival. Tô muito dividido.
- Eu acho que você deveria ir - encarou seu prato de macarrão. - o São Paulo é um time grande e cheio de glórias, um jogador como você seria ídolo por lá, todo mundo conhece o time fora do Brasil... No seu lugar, eu também ficaria dividida, mas faz o que está no seu coração.

sabia que não era nada fácil para admitir aquilo em voz alta. Ela poderia ser clubista às vezes, mas era racional quando necessário. Como sua namorada, ele sabia que ela o iria apoiar independente do time que ele jogasse, mas como torcedora, imaginou que não era fácil pra ela se colocar naquela situação e deixá-lo ir sem ao menos se esforçar para fazê-lo ficar.

- Eu vou conversar com o Dantas melhor... Eu acho que preciso rever algumas coisas antes... Obrigado, . Eu ficaria arrasado se você não estivesse aqui.
- Você vai ficar bem, vai se recuperar e surpreender todo mundo. Vai ter tudo o que você quer - sorriu esperançosa e não pensou duas vezes antes de rebater.
- Eu já tenho tudo o que eu quero bem aqui. Eu nem sei como agradecer tudo o que você tá fazendo por mim, às vezes sou tão estupido e egoísta que acho que não mereço.
- Me agradece fazendo um gol na final da Sula, e merece sim. Ninguém é perfeito, para com isso, você já melhorou um pouco.
- Se você está dizendo... - sorriu satisfeito, voltando a atenção para a comida no prato logo em seguida.

⚽🖤📱

No dia seguinte, acompanhou até o CT do clube para que o jogador pudesse ter a real noção da sua lesão e tempo de afastamento. Enquanto ela prometeu voltar assim que ele ligasse, descobriu que, de fato, era uma entorse de segundo grau e seu afastamento dos gramados seria por até três meses dependendo do tempo de recuperação. Ele passaria as próximas três semanas com o pé imobilizado e em seguida daria início à fisioterapia. Sem uma data exata para o retorno, sabia que seria um restante de temporada muito difícil de encarar.
Enquanto prestava atenção nas instruções do departamento médico para as próximas semanas, era inevitável hora ou outra seus pensamentos viajarem para longe dali. Se imaginava voltando ao campo e marcando gols, imaginava as coisas como elas deveriam ser e se sentia ainda mais na obrigação de voltar o mais rápido possível. Às vezes enxergava o futebol como uma obrigação, mas naquele momento percebeu que aquilo soava como ingratidão e ele não queria pensar dessa forma, afinal, tudo o que conquistou foi através do futebol e ele sabia que teria uma dívida de gratidão eterna com a modalidade.
Após passar pelo departamento médico, foi liberado e decidiu visitar o vestiário onde o time estava encerrando as atividades do dia. Ele entrou causando surpresa nos colegas, mas teve que conter a emoção quando foi aplaudido de pé por jogadores e comissão técnica.

- Senta, parceiro - Bruno foi o primeiro a ir até e segurou as muletas para que o amigo pudesse se sentar. - Tá doendo?
- Um pouco, eu não deveria ficar andando por aí - fez uma expressão de dor quando se sentou e o pé inchado tocou de leve o chão, mesmo com a tala. - Só queria dar uma passada aqui antes de ir embora.
- Cara, estou me sentindo muito mal por você, de verdade, tomaria a dor pra mim... Mas será que agora eu passo você na artilharia do campeonato? - Gustavo perguntou divertido causando risadas altas pelo vestiário.
- Vai passar sim, seu interesseiro - respondeu ainda rindo. - Façam o máximo de gols que puderem porque quando eu voltar, ninguém vai me segurar.

Entre muitas brincadeiras e provocações, se sentiu bem melhor por receber o apoio dos amigos em um momento tão difícil. Não estava preocupado com a artilharia do time, mas fazer parte disso era gratificante e ele torcia para que os atacantes continuassem a brincadeira entre si. Estar com os companheiros de clube em um ambiente saudável o fazia repensar ainda mais se deveria deixar o clube ou não e, de repente, integrar o São Paulo Futebol Clube não parecia mais ser tão interessante quanto era até alguns dias atrás e ele já não tinha certeza se deveria ou não ir embora do Parque São Jorge.
Quando chegou para buscá-lo, ela percebeu que o semblante dele estava diferente e parecia estar muito mais leve e tranquilo do que na noite anterior quando ela o viu no seu momento mais debilitado naqueles meses em que se conheciam. Ela se sentiu aliviada por vê-lo assim e desejou que continuasse dessa forma pelo resto da recuperação.

- Como foi lá?
- É uma entorse de segundo grau. Três semanas com o pé imobilizado pra desinchar e três meses para voltar a jogar... A parte boa é que a partir de setembro eu posso voltar a treinar com bola.
- Isso é ótimo, vai passar muito rápido... Que bom que você tá melhor, eu estava odiando te ver tão pra baixo.
- Eu ainda tô muito chateado, , mas a merda já tá feita e não tem como mudar. Cabe a mim querer superar isso ou não.
- E você quer?
- Com certeza.

Enquanto conversavam e dava detalhes sobre o tratamento e os cuidados que tomaria, seu celular começou a tocar no bolso e não hesitou em atender quando viu que era Dantas ligando.

- Oi, Dantas.
- Oi, , já saiu do CT?
- Já, estou indo pra casa agora. Depois passa lá que eu te explico melhor sobre a lesão.
- Ok. Cara... Estamos com problemas.
- O que aconteceu? - perguntou preocupado ao perceber o tom de voz cansado do seu empresário.
- O Raí pediu uma reunião com as diretorias e com a gente.
- E isso não é bom?
- Não tô com um bom pressentimento, ... É verdade que faríamos mais uma reunião entre diretorias para finalizar essa negociação, mas acho que não vai ser do jeito que a gente espera.
- Acha que não vai dar certo?
- Acho, duvido que o clube vai querer arcar com o seu tratamento e esperar meses pra você estrear... Se você não puder ir, não tem problema, eu vou fazer de tudo. Só preciso saber se você quer ir ou quer ficar.

pensou antes de responder e um silêncio se instaurou na linha. Ele já não tinha mais certeza de nada.

- Quando vai ser? Quero ir também.
- Segunda-feira. Tem certeza, ? Acho que você não deveria ficar andando por aí.
- Tenho certeza absoluta, quero saber de cada detalhe.
- Você quem manda... Bom, qualquer novidade, eu te aviso. Segunda eu passo na sua casa pra gente ir.
- Tá bom. Tchau.

desligou a ligação e soltou um longo suspiro enquanto encarava o papel de parede da tela do celular. Nem mesmo a bela foto tirada com semanas antes era o suficiente para animá-lo. Já gostaria de perguntar o que aconteceu, mas não queria parecer invasiva ao perceber que aparentava não estar muito bem.

- Vai ter uma reunião entre as diretorias e o Dantas acha que a negociação não vai pra frente - disse após algum tempo em um silêncio desconfortável. - ele acha que o São Paulo não vai querer arcar com o tratamento.
- E o que você acha disso? - perguntou cautelosa, sabia muito bem que poderia mudar de humor muito fácil em situações delicadas como essa.
- Não sei... Acho que quero ficar, não sei mesmo... Talvez seja melhor assim.
- Sabe que independente do que acontecer, pode contar comigo, não sabe? - ela parou no farol e se virou para ele.

segurou a mão dela e levou até seu rosto, deixando um beijo na palma da mão de e ela sorriu de canto, feliz com o gesto carinhoso dele.

- É claro que sei.
- Ainda pareço um pinscher com raiva pra você?
- Definitivamente não - ele respondeu rindo. - Até parece outra pessoa. O que aconteceu com a que conheci?
- Ainda está aqui, a diferença é que agora te tolero - ela admitiu rindo também enquanto observava o sinal ficando verde de novo.

Mesmo com todos os problemas que estavam cercando naquele momento, o caminho de volta pra casa foi mais descontraído e leve quando relembraram o dia em que se conheceram e tudo o que levou até aquele momento. se sentia constrangida ao lembrar da sua falta de educação no primeiro dia e achava que seu comportamento tinha sido exagerado até mesmo pra ela. Achava que nem toda a desculpa do mundo seria suficiente para se redimir com , então ela se sentia na obrigação de apoiar ele naquele momento.
Quando chegaram em casa, acharam que seria uma boa estender o momento e por isso convidaram Junior e Tobias para uma noite de pizza e cerveja.

- Oi, , é claro que posso ir. Célia não está em casa, se importa se a Bel for junto? Ela veio me visitar - leu a mensagem de Junior em voz alta para que pudesse saber também. - E aí?
- É claro - deu de ombros e ajudou o namorado a esticar a perna sobre a cadeira. - Por que não? Bel é minha amiga, talvez ela me ache uma talarica, mas e daí? Por mim tá tudo ok.
- Tem certeza? Não quero um climão aqui.
- Tudo bem, , é sério. Não tem problema nenhum.
- Se você diz...

Embora tentasse agir com maturidade diante da situação, ainda parecia ser bem constrangedor para . Sabia que poderia sim gerar um climão se Bel reagisse mal, mas ela não queria causar qualquer intriga ou rivalidade feminina entre as duas. Torcia para que Bel pensasse da mesma forma.

- Eu tô super tranquila, mas já vou avisando que, se por acaso ela começar a causar comigo, vou marcar território - disse em tom de brincadeira, se sentando no colo do namorado.
- Achei que você fosse contra rivalidade feminina - respondeu em tom de provocação, a abraçando e erguendo o olhar para poder olhar pra ela.
- E sou. É besteira esse negócio de mulheres ficarem umas contra as outras por umas coisas tão sem sentido. Sinto que sou uma pessoa evoluída nesse quesito.
- Tô vendo, vai ser um bom amistoso... Mas se quiser me mostrar como vai marcar território, eu não vou achar ruim. Você sabe, só pra não me pegar desprevenido.
- Não sei como, gosto de improvisar - ela disse próxima ao ouvido dele, deixando um chupão de leve no pescoço logo em seguida.
- Não me provoca - fechou os olhos quando percebeu que ela não iria parar e ele já podia sentir os pelos do corpo se arrepiando. - Você sabe que eu não posso.
- Não foi você mesmo que disse que daria um jeito? Tô te ajudando.
- Ajudando. Sei... - os dois riram e colocou uma das suas mãos no rosto dela, convidando para um beijo caloroso.

retribuiu ao beijo com a mesma intensidade. Já não se surpreendia mais todas as vezes em que se pegava desejando que passassem de meros beijos e naquele momento não foi diferente. Queria estar em uma posição mais confortável, mas sabia que seria bem complicado enquanto estivesse lesionado. Ela conteve um gemido quando ele apertou a sua bunda e logo em seguida começou a distribuir chupões pelo seu pescoço.

- Será que... Eles não podem vir depois... A gente poderia tomar um banho - ela disse entre os beijos, com a respiração ofegante e entendeu perfeitamente o recado.
- Vantagens de ter uma banheira - ele sorriu triunfante, recebendo um tapa dela no ombro. - Ei!
- Tarado.
- Você que começou, vamos terminar isso. Põe a banheira pra encher, vou pedir para o Junior vir mais tarde.

concordou, deixou um beijo estalado na boca dele e se levantou, indo em direção ao banheiro da suíte. Enquanto a água escorria e enchia a banheira, tirou toda a sua roupa e jogou no cesto de roupas sujas. Prendeu o cabelo em um coque para não molhar e cobriu o corpo com um roupão enquanto não chegava. Ela esperou um pouco até a banheira ficar cheia e desligou a torneira para então sair do banheiro, encontrou no quarto e ele estava terminando de tirar sua roupa também.

- Você não ia querer ver, seria a coisa mais bizarra do mundo e ia perder o tesão - disse se justificando enquanto se apoiava nas muletas e gargalhou.
- Impossível!
- É sério, pareço um idiota. Podemos?
- Isso vai ser divertido - ela disse rindo enquanto entrava no banheiro. - Que horas eles vão vir?
- Mais tarde. Beeem mais tarde - a seguiu e fechou a porta atrás de si. - Segura aqui pra mim.

segurou as muletas enquanto se livrava da sua última peça de roupa, então ela o ajudou a entrar na banheira e se acomodar, o que fez com que a banheira transbordasse e um pouco de água molhasse o chão do banheiro.

- Você não vai vir?

deixou as muletas de lado e tirou o roupão, ficando completamente nua. Já não era uma insegurança tirar a roupa na frente dele, sabia que não se importava se ela estava acima ou abaixo do peso ideal, ou se tinha estrias e os seios não eram siliconados, seu corpo era como o de qualquer outra mulher e ele sabia apreciar como ninguém mais. Ele a amava por completo e isso a deixava segura sempre. entrou na banheira e se sentou na mesma posição que estavam antes, envolvendo os braços ao redor dos ombros dele e os dois riram quando perceberam que transbordou de novo.

- Acho que exagerei na água.
- Talvez, é só um detalhe - ele esticou um pouco o pescoço e deixou um selinho nos lábios dela.
- Acho que tô um pouquinho nervosa - admitiu rindo, mordendo os lábios e se aproximando mais dele até ficar com o rosto encostado no dele.
- Por quê?
- Porque você está machucado.
- Isso é o de menos. Você não tem que se preocupar com nada, - disse a envolvendo nos braços e deixou um beijo carinhoso no rosto dela.
- Mas e se...
- Eu não vou me machucar mais, só quero esquecer dos meus problemas e ficar com você um pouco. Só relaxa, ok? É o nosso momento agora.

A forma gentil das palavras de fizeram com que se sentisse mais relaxada. De fato, tinha medo de que talvez pudesse dar errado e ele sentisse dor, mas queria tanto estar ali que se sentia completamente dividida entre o racional e o emocional. Ela se esqueceu disso quando seus olhos se encontraram com os dele e percebeu que ele explorava cada detalhe do seu rosto, sentiu um frio incomum no estômago por isso, mas sabia que era essa a sensação de estar com alguém que gostava.
Ela rompeu a curta distância entre eles e juntou os lábios dos dois em um beijo suave. Não estava com pressa, queria apenas desfrutar daquele momento de rara conexão muito além do sexo. Tinham cada dia mais intimidade e isso valia mais do que qualquer contato físico.
Após o beijo, eles tornaram a se encarar e riram quando perceberam que provavelmente estavam pensando a mesma coisa.

- O que você está pensando? - perguntou passando a mão molhada pelo rosto dele, fazendo ele espremer os olhos quando percebeu que o seu rosto ficou encharcado de água.
- Que eu nunca tive intimidade com alguém assim - esboçou um sorriso de canto. - Eu achei que eu sabia muito sobre namoro e amor, mas acabei de descobrir que passei cinco anos em um relacionamento raso e sem intimidade, eu não a conhecia como eu conheço você.
- Somos pessoas diferentes, . Acho que não tem como comparar.
- Eu não quero comparar, mas eu sinto a diferença. Em cinco anos não me senti com outra pessoa da mesma forma que me sinto com você em menos de dois meses. Acho que não é o tempo, é a pessoa.
- Também acho... Isso também é novo pra mim, nunca me preocupei em ter alguém. , eu posso contar nos dedos quantos caras eu beijei a vida inteira e não enche uma mão. Eu trocaria eles pra estar aqui agora com você, acho que o que a gente tem é bom demais pra não ser aproveitado do jeito certo.
- Você tem toda razão. Eu quero aproveitar agora - ele disse por fim e a beijou novamente.

O beijo que começou suave começou a ganhar intensidade conforme o desejo de ambos foi aumentando. Não se importavam se ficariam com algumas marcas logo em seguida, desejavam tanto um ao outro que isso se tornava só um detalhe. soltou um longo suspiro quando sentiu a boca dele em contato com o seu pescoço e uma das mãos foi subindo de devagar da sua cintura até tocar o seu seio direito enrijecido em um leve aperto, colocou sua mão livre sobre a dele, incentivando a continuar. Ela cravou as unhas curtas nos ombros dele quando um chupão ardeu a sua pele e ela mordeu os lábios com um pouco mais de força, abafando o gemido pela sensação de prazer invadindo todo o seu corpo.
Ao sentir as unhas cravando em seus ombros lentamente, se deixou levar ainda mais pelo momento, aumentando a sua excitação. Apressado, fez uma trilha de beijos até a boca da namorada e não pensou duas vezes antes convida-la para um beijo caloroso, cheio de paixão. Queria ter o controle por um instante, mas a forma como estava ditando o ritmo era prazerosa o suficiente para ele se permitir trocar de lugar e deixar-se ser guiado. A noite em Paris foi inesquecível, mas aquele momento ficaria na mente dele também por muito tempo.
Mesmo ofegante, não queria parar de beijá-la. Estava louco pelo desejo de a ter de todas as formas, querendo desfrutar de cada toque, cada carícia trocada. Começou a diminuir o ritmo do beijo devagar, mordendo o lábio inferior da namorada de forma sútil e só então parou, respirando fundo e a encarando. tinha um sorriso malicioso no rosto e um olhar doce demais que não combinava com o momento, definitivamente.

- Não me olha assim.
- Assim como? - ela perguntou rindo, visivelmente confusa com a pergunta.
- Com esses olhinhos meigos como se não me deixasse louco.
- Bem que eu tô sentindo uma coisa aqui em baixo - disse se aproximando ao pé do ouvido dele, mordiscando o lóbulo sutilmente.
- Porque é isso o que você faz comigo, me deixa assim.

apenas riu e beijou a bochecha dele antes de tornarem a se beijar arduamente, mas ainda faltava um pouco mais, precisavam estimular um ao outro, e somente depois disso, estavam prontos.

- Posso? - perguntou entre os beijos, um pouco ofegante pelo calor do momento e apenas assentiu em resposta.

Ela fechou os olhos e mordeu os lábios quando sentiu a penetração de forma lenta, mas muito prazeroso. Tomada pelo momento, ela rebolou algumas vezes o fazendo morder os lábios com força e soltar um suspiro pesado ao invés de gemer, então começou a fazer o movimento de vai e vem guiando o momento de forma provocativa. Quando abriu os olhos, viu que havia fechado os seus e procurava conter os gemidos, mas a respiração pesada dele o denunciava.
envolveu um dos seus braços ao redor do pescoço dele enquanto o outro ainda se apoiava na banheira. a abraçou, escondendo o rosto na curva do pescoço dela enquanto distribuía beijos na região e ela continuava fazendo o movimento, agora intensificando conforme a necessidade dos dois aumentava. Ela fechou os olhos e jogou a cabeça para trás quando sentiu os lábios dele no vale dos seus seios de forma provocativa, seguido por um chupão no seio esquerdo quando abocanhou com vontade. Tomada pelo desejo mútuo, se limitou em continuar se movimentando sem se importar se água caía no chão do banheiro ou se a essa altura já não continham os gemidos de prazer.

- Isso - murmurou quase inaudível perto do ouvido de quando ela rebolou com força sobre o membro dele. - Porra, , você sabe mesmo como fazer.
- Só mais um pouco... - disse baixinho também, incapaz de formular uma frase à altura, de tão satisfatório aquele momento.

Não trocaram palavras até chegarem ao ápice juntos, um pouco depois. se afastou devagar até não sentir mais o membro dele dentro de si. Se encararam por um momento e riram um pro outro, se abraçando logo em seguida.

- Eu te amo - disse ainda com um sorriso bobo estampado no rosto, sem a intenção de se soltar do abraço tão cedo.
- Também te amo - virou o rosto para deixar um beijo na bochecha dele e se afastou logo em seguida.
- Não, fica aqui - ele segurou a mão dela e riu.
- A gente tem que tomar banho de verdade agora, ok? E tenho que secar essa água no chão pra você não escorregar.

concordou e eles tomaram um banho rápido. Em seguida, secou toda a água que jorrou da banheira e ajudou a se levantar e ir para o quarto. Enquanto se vestiam, ela não deixou de notar através do reflexo no espelho que ele fazia expressões de dor hora ou outra.

- Tá doendo? - ela se virou para ele, transbordando preocupação na voz.
- Não é nada demais - respondeu tranquilamente afim de não preocupar , mas o tornozelo estava latejando o suficiente para que ele não conseguisse disfarçar.
- Era por isso que eu estava preocupada! Apoiou o pé na banheira?
- Não como se eu fosse ficar em pé, mas apoiei um pouco - ele admitiu, esticando a perna sobre a cama e mordendo os lábios quando sentiu uma nova pontada. - Me ajuda a imobilizar, por favor.

concordou e pegou a bandagem elástica e a tornozeleira. Sabia imobilizar, mas pela feição de dor de , ela sabia que seria um pouco mais difícil.

- Vai doer um pouco - ela disse receosa enquanto esticava a bandagem nas mãos.
- Eu sei. Não que já não esteja doendo.

Com cuidado, ela começou a enrolar a bandagem pelo tornozelo e pé inchado dele. Olhou para e percebeu que ele estava com os olhos cheios de lágrimas, visivelmente com dor e ela se sentiu mal por ter colocado um momento de prazer acima da real condição dele.

- Não vai precisar da tornozeleira, assim está bom - ela disse se levantando da cama. - Já volto.

Foi até a cozinha e pegou o analgésico para aliviar a dor o mais rápido possível.

- Desculpa.
- Pelo quê?
- A gente não deveria ter feito aquilo, deveríamos ter esperado desinchar um pouco.
- , eu fiz porque eu queria, você não tem que se desculpar por nada. Além disso, foi ótimo. Foi único, nunca senti aquela conexão com ninguém. Faria tudo de novo mesmo estando todo quebrado.
- Vou levar como um elogio - ela disse rindo, acariciando os cabelos bagunçados dele. - Tem que pentear isso, né?
- Só se você fizer isso pra mim.
- É claro.

pegou o pente e o gel. Não se importava se parecia cafona naquele momento, queria justamente mimar e cuidar dele para que se esquecesse do tornozelo dolorido. Enquanto ela cuidava dele, ele enviava mensagem para Junior e Tobias dizendo que já poderiam sair de casa.

- Fala sério! Meu namorado é um gato! - ela disse divertida enquanto deixava o pente de lado e riu também um pouco envergonhado.
- Também não é pra tanto.
- Não, imagina se fosse, né? Já viu esse rostinho do meu ponto de vista? Coisa mais linda - ela riu e deixou um beijo estalado na bochecha dele.
- Quem é você e o que fez com a minha namorada? Sexo te deixa de bom humor assim?
- Não posso demonstrar afeto?
- Por mim, pode fazer isso sempre... Mas continua sendo estranho.
- Eu só acho que é normal ficar de bom humor depois da melhor transa da minha vida.
- Da minha também - abriu um sorriso largo, tendo certeza de que nem mesmo em Paris tinha sido tão bom.
- Quero dizer, não que eu faça isso com frequência quando estou solteira - ela se corrigiu, sentindo as bochechas ganharem cor e começou a rir.
- Se fizesse, não teria problema nenhum. Você é incrível demais pra se privar dos prazeres da vida.
- Só porque não tenho um pingo de vergonha na cara quando estou com você, não significa que com outros tenha sido assim - ela riu bem humorada. - Eu sempre fui muito tímida com relação a rapazes, meu primeiro beijo foi com dezessete anos e ainda assim achei que ia morrer de nervosismo. A primeira vez foi com dezenove, e olha que eu namorava há um tempinho na época.
- Me recuso a acreditar que aquela deusa da banheira é tímida. Sem chances - riu também. - Não posso dizer o mesmo de mim, o meu primeiro beijo foi com doze e a primeira vez com quinze. Naquela época eu não era tão sutil quanto hoje em dia.
- Quinze anos? - cruzou os braços e assentiu. - Cara, eu ainda comia terra naquela época!
- E eu comia outra coisa - ele encostou as costas no travesseiro alto e confortável, erguendo o olhar para ela. - Foi incrível, . É sério, eu ainda tô meio bobo. Nunca senti algo assim antes e eu tô feliz demais que tenha sido com você.

sorriu, apertando mais os próprios braços contra o corpo e mordendo os lábios discretamente por pura timidez. Ela sentiu exatamente a mesma coisa e mal podia esperar para repetir, mas entre ela mesma falar e ouvir isso de , ela preferia ouvir dele as palavras que soavam como uma poesia de Fernando Pessoa.

- Espera desinchar um pouquinho, tenho mais pra oferecer - ela disse por fim, entrando no banheiro de novo para se maquiar e rindo da surpresa teatral no rosto de .

⚽🖤📱

Tobias foi o primeiro a chegar e junto trouxe um fardo de cerveja da melhor qualidade, o que foi o suficiente para animar o jovem casal naquele início de sábado à noite. foi abrindo as garrafas e distribuiu entre os três, dando uma golada generosa na sua cerveja e se sentando ao lado de .

- Pega leve porque você fica terrível quando está bêbada - disse após também dar um gole da sua, passando um braço ao redor dos ombros da namorada. - Da última vez, se declarou pra mim.
- Me desculpa se o meu amor te incomoda! - rebateu prontamente. - Viu isso, Tobias? Ele sempre faz isso, é proibido demonstrar carinho e afeto nessa casa.
- Seja mais aberto, , são raros esses momentos da - Tobias disse com bom humor, rindo do momento descontraído. - Já faz uns cinco anos desde a última vez em que ela foi legal comigo.
- Ei!
- Só estou sendo sincero, meu bem, sua forma de demonstrar carinho é muito duvidosa.
- Eu sou um poço de amor e carinho, ok? é a prova disso.
- É verdade. Antes eu achava que ela parecia um pinscher com raiva, hoje parece aqueles cachorros que tentam trepar com a sua perna.
- ! - deu um tapa no ombro do namorado enquanto Tobias gargalhava alto, mas acabou rindo também. - Meu Deus, , que vergonha.
- Você sabe que eu tô brincando.

Eles continuaram conversando e rindo em uma clima muito agradável e descontraído até Junior chegar um pouco depois. Como o esperado, estava acompanhado por Bel e foram recebidos por Tobias que se prontificou em abrir a porta.

- Meu casal preferido! - Junior disse indo cumprimentar e . - E esse tornozelo, cara?
- Azar, irmão. Puro azar... Mas fazer o que, né? Só esperar melhorar. Três meses e estarei novinho em folha.
- Menos mal então - Junior se acomodou ao lado de Tobias, deixando Bel à vista deles.
- Olha só pra vocês. Que gracinha - a garota disse sorrindo e cumprimentou os dois com beijinhos na bochecha.

prestou muita atenção, tentando ter certeza de que Bel estava sendo sincera. Era boa nisso, sabia quando alguém estava fingindo ou não e achou que a amiga parecia estar bem ao cumprimenta-los. Aliviada, ela achou melhor deixar qualquer neura de lado e curtir a noite entre amigos, dando início à uma discussão calorosa sobre qual pizza iriam pedir. Após chegarem em comum acordo, ela própria fez o pedido.

- Como vai a faculdade, Bel? - perguntou puxando assunto após desligar a ligação.
- Ótima - Bel respondeu sem delongas, dando um gole longo da sua cerveja.

espremeu os olhos, tentando atrair pensamentos bons, mas sua paranoia dizia que talvez Bel não estaria tão contente quanto parecia estar instantes antes.

- Vi que você foi assistir Brasil e Argentina no Mineirão. Como foi? - mudou de assunto da água pro vinho, sem notar qualquer reação incomum das garotas.
- Incrível! Que torcida linda, que festa maravilhosa! Nossa, você tinha que ver. Messi é ainda melhor pessoalmente.
- Eu sei! - ele sorriu empolgado. - Vai ter jogo da Argentina aqui na Arena Corinthians. Eu vou com toda a certeza só pra ver ele.
- Que tal irmos todo mundo? Gostei tanto da Argentina que quero ver de novo.
- Você não ia aguentar ficar dois minutos perto do quando ele incorpora o fã do Messi, filha - Junior disse bem humorado.
- Eu posso tentar, afinal, virei fã também. Vai ser bem legal.

forçou um sorriso, como se tivesse amado a ideia, mas se até mesmo ela, que era uma grande amante do futebol, não ficava tão empolgada assim para ver um jogo de um dos melhores jogadores do mundo, porque Bel estaria tão feliz? Nada de rivalidade feminina, . Ela pensou, tentando afastar qualquer pensamento ruim para longe de si enquanto a mesa entrava em uma discussão calorosa se Messi ganharia o prêmio de melhor do mundo naquele ano com Tobias dizendo que Virgil Van Dijk do Liverpool merecia o prêmio e defendendo o argentino arduamente, apontando os números dele na temporada.
Observou Bel pedir licença para atender uma ligação e não demorou muito para que as pizzas chegassem. se levantou prontamente para ir pegar e não aceitou ajuda dos rapazes que insistiam em ajudar, mas Tobias foi mesmo assim.

- Eu disse que não precisava, Tobias.
- O que foi, ? Tá chateada?
- Não, não. Só tô um pouco cansada. Não foi fácil com o hoje por causa da lesão.
- Você parece meio irritada.
- Impressão sua, Tobias, tô muito bem.
- Sabe que pode me contar qualquer coisa, né?
- Sei, por isso te amo e você é meu melhor amigo. Pode ter certeza que vou te contar tudo antes de qualquer um.

Tobias não tinha certeza se sabia sobre Bel e , por isso achou melhor não tocar no assunto e descartou a possibilidade de a amiga estar com ciúmes da filha de Junior.
Eles pegaram as pizzas e subiram novamente. Enquanto Tobias foi na frente, ficou para trancar a porta e viu Bel ainda na varanda. Fingindo estar procurando a chave certa, ela parou para ouvir a conversa quando percebeu que era possível, mesmo que baixo.

- É, amiga, nem vai rolar, ele tá namorando uma amiga do meu pai agora... Não, não, um pouco mais velha que a gente... Não vou fazer nada, ela é minha amiga também, mas bem que eu queria... Você é péssima, Carla - Bel disse rindo. - Não, não vou fazer isso, mas sei lá... Eles não combinam, sabe? Gosto dela, mas é meio... Bruta, atrapalhada, não combina nada com um homem como ele... O foda é que ele é o maior gato e ela é... Não que ela seja feia, mas também não é tudo isso... Eu sei, a vida é injusta com a gente.

não quis mais prestar atenção, já tinha ouvido o suficiente. Trancou a porta, deixando bem claro que estava ali. Bel olhou em direção à porta, se assustando com a presença de , mas a garota apenas sorriu como se não tivesse ouvido nada e passou pela sala, indo em direção à cozinha rapidamente e colocando a pizza sobre a mesa. Pegou pratos e talheres nos armários e distribuiu para todo mundo. Quando Bel entrou na cozinha, ela se virou para .

- Quer de qual sabor, amor?
- Hum... Não precisa, eu corto pra gente.
- Quer de qual sabor, amor? - repetiu novamente, forçando um sorriso exagerado que fez Junior e Tobias rirem enquanto franziu o cenho, notando algo diferente em .
- Caipira - ele disse por fim, colocando o prato na frente dela para o servir.

cortou um pedaço para ele e em seguida o dela, então entregou a faca para Tobias enquanto se sentava no seu lugar, aproximando sua cadeira um pouco mais da do namorado e percebeu.

- O que foi? - ele sussurrou, olhando pra ela com uma leve preocupação no olhar.

Ele não recebeu nenhuma resposta falada, apenas um sorriso e um beijo estalado na boca. se limitou a comer sua fatia de pizza e prestar atenção na conversa entre Junior e Tobias. sabia que tinha algo errado, mas infelizmente teria que esperar um pouco para descobrir o motivo.

- Ela era bem legal, mas muito nova pra mim. Achei melhor deixar pra lá. Não é muito fácil arrumar alguém depois dos trinta - Tobias dizia sobre o seu mais recente interesse amoroso.
- Pelo menos você é tranquilo com isso. Acho que nem consigo mais te imaginar com alguém, meu amigo - Junior admitiu, causando risos na mesa. - Mas torço por você.
- Eu também, Tobias. Sei que você não liga pra essas coisas, mas vai encontrar alguém ótimo pra você. Até eu encontrei - disse chamando a atenção para si e passando os braços ao redor dos ombros de em um abraço.
- E quem diria que esse alguém seria o , hein? - Tobias ergueu a garrafa de cerveja como se brindasse o casal.
- Sorte a minha - ela sorriu, deixando um beijo na bochecha de que não estava entendendo nada.
- Gente, é sério, não sei o que deu nessa garota hoje, mas tô amando. Que continue assim pra sempre porque Deus sabe o que eu sofri com ela no começo.
- Fui injusta, admito. O que importa é que eu mudei de opinião, né? - disse otimista e concordou, também beijando-a no rosto.
- Ainda bem. Imagina só eu ter que odiar uma garota tão linda, ia ser bem difícil.
- Filha, por favor, não aceite um homem que te trate inferior a isso, ok? - Junior se virou para Bel que estava mexendo no celular.
- Claro, pai. Anotado - ela sorriu, dando uma garfada na pizza. - Espero ter um relacionamento como o de vocês algum dia.

Todo o carinho e admiração que sentia por Bel foram embora naquele instante. Ela estava chateada pela falsidade nas palavras da garota que conhecia há tantos anos e gostaria que fosse coisa da sua cabeça, mas estava bem nítido para ela que Bel ainda tinha algum interesse físico em mesmo sabendo que ele não estava mais solteiro. sabia que não olharia para outra mulher enquanto estivesse com ela e podia ficar tranquila quanto a isso, mas se sentia muito triste por estar em uma rivalidade feminina mesmo sendo totalmente contra qualquer coisa que jogasse mulheres umas contra as outras. Jamais se alteraria por causa disso, mas estava triste ao pensar que tinha perdido uma amizade por tão pouco.
Enquanto a conversa se desenrolava na mesa, ela se limitou a tomar sua cerveja sem se preocupar se ficaria muito bêbada ou não. Sua noite já havia acabado e ela torcia para que todos fossem embora logo. Amava Junior e Tobias como uma família de coração, mas queria apenas deitar e dormir até o meio dia de domingo, tentando esquecer tudo o que tinha ouvido da conversa de Bel. Ela deitou a cabeça no ombro de , querendo ser notada por ele e deu certo. Ele passou o braço ao redor dela, acariciando o braço da namorada de uma forma que deixou emocional demais e ela não sabia se estava muito bêbada ou muito chateada.

- Você tá bem? - sussurrou para ela um pouco preocupado.
- Sim. Tô muito bêbada e te amo pra caralho, só isso - ela disse manhosa e ele riu, deixando um beijo no topo da cabeça dela.
- Também te amo, sua cachaceira.

voltou a atenção para a conversa, expondo sua opinião enquanto olhou de relance e viu quando Bel olhou de canto de olho para eles. ainda teve tempo de esboçar um sorriso antes que ela virasse o rosto rapidamente para se atentar à conversa. Ela não iria dizer qualquer coisa que levasse à uma briga entre as duas, especialmente porque não sabia se Junior estava ciente de que sua filha e seu amigo dormiram juntos e não queria ser a pessoa a dar essa notícia para ele. Ficar quieta e sentir o cheiro de banho tomado do namorado parecia ser bem mais interessante naquele momento.

⚽🖤📱

se deitou na cama e esticou a perna afim de evitar mais dores. Estava esperando por que estava no banheiro para que então pudessem dormir finalmente. Os amigos já tinham ido embora e os dois estavam sozinhos novamente, ele imaginou que seria o momento ideal para que pudessem conversar. Quando saiu do banheiro e foi aos tropeços para a cama, ele já não tinha certeza se seria uma boa ideia ou não. Ela estava bêbada.

- Vem aqui - ele chamou a convidando para mais perto e se assustou quando se debruçou sobre ele, deixando beijos pelo seu rosto e boca. - Ei, o que foi?
- Eu te amo tanto, tanto, tanto - ela disse enrolado, tentando encontrar a boca dele e dar início a um beijo, mas se afastou.
- A gente precisa conversar, , me diz o que aconteceu?
- Você não me trocaria por outra pessoa, né? - repousou a cabeça sobre o peito dele, desistindo de querer beijar.
- Tá falando da Bel?
- Tô, ela ainda quer ficar com você.
- De onde você tirou isso, ?
- Eu ouvi na hora em que estava fechando a porta. Ela disse que nem ia rolar porque você tá namorando, mas achava que a gente não combina porque você é muito lindo e eu sou... Eu. Bruta e atrapalhada, nem feia e nem bonita o suficiente. Isso é possível?
- Ela disse isso mesmo?
- Disse! Por que eu inventaria? - ela ergueu a cabeça para olhar pra ele e percebeu que estava com os olhos marejados. - A culpa não é minha se ela não se garantiu. Isso não é justo comigo, .
- Calma, , deixa isso pra lá. Você sabe que nada disso é verdade, não importa o que os outros acham da gente, eu não te trocaria por ninguém.
- Ela é bonita, legal e veterinária e eu sou eu, , somente eu - ela se deitou novamente para que ele não a visse chorando.
- Você cuida das mídias do time com mais seguidores no Brasil e faz isso muito bem, além de jogar futebol melhor do que muitos que se dizem jogadores por aí. Você é inteligente e divertida, está me fazendo rir agora que eu só queria chorar, eu nunca estive com alguém que cuidasse tão bem de mim. Nem preciso dizer o quanto você é linda de todos os jeitos e é uma deusa na cama, né? Puta merda, , você é incrível demais pra ficar se rebaixando assim. Deixa isso pra lá, por favor... Você não tá chorando, né?
- Tô.
- Não chora por causa disso, não vale as suas lágrimas. O que eu tenho que fazer pra você se sentir melhor?
- Não precisa fazer nada, eu só tô bêbada e emotiva demais.
- Olha pra mim.

ergueu o olhar e se surpreendeu quando a beijou. Ela estava chateada, mas só de saber que nunca seria trocada era o suficiente para se sentir um pouco melhor. De fato, a opinião de Bel pouco importava e ela não entendia o motivo de estar dando tanta importância para aquilo. Talvez fosse o álcool falando mais alto, mas ela não queria passar por aquilo nunca mais.
Ela se arrumou na cama, deixando com que fizesse o que bem entendesse com ela. Ele distribuiu beijos pela boca, rosto e pescoço dela, acariciando seu rosto com carinho, fazendo com que se sentisse melhor.

- Quer tomar outro banho? - perguntou no pé do ouvido dela, deixando um beijo na região logo em seguida.
- Não, talvez amanhã. Só quero um pouco de atenção do meu namorado e dormir até esquecer o que aconteceu hoje.
- Minha atenção você já tem, amor, vou te ajudar a esquecer isso.
- Obrigada.
- Por acaso amanhã você vai se lembrar disso?
- Infelizmente sim.

não tinha a mínima ideia de quanto tempo passaram apenas trocando beijos e carícias até ela adormecer, sem segundas intenções ou algo mais picante, mas sabia que em outro momento aceitaria um novo banho, talvez quando estivesse sóbria e animada o suficiente para isso, mas naquele momento queria apenas se sentir amada e de bem consigo mesma.
Felizmente, sabia fazer isso e outras coisas muito bem.

Capítulo 21 - Surpresa!

Arena Corinthians - Itaquera, São Paulo.

@arthurhmelo:
oi, , espero que esteja tudo certo com a surpresa pro , imagino que ele esteja tendo um ataque de fã nesse momento ahahaha

@.: e tá mesmo! Tá todo ansioso pra ver o Messi jogar. Fica tranquilo que vai dar tudo certo, Arthur. A gente se vê na semana que vem
😘

guardou o celular no bolso de trás da calça jeans e se escorou sobre o parapeito do camarote, observando os jogadores de Argentina e Chile aquecendo no gramado. Ela conseguiu contato com Arthur através do Instagram e estavam planejando juntos uma festa surpresa de aniversário para , mas antes de toda a surpresa, ela queria dar um susto nele. Olhou ao redor e riu quando notou a movimentação de torcedores se espremendo na primeira fileira do setor leste perto de onde Messi fazia o seu aquecimento. Ela parou por um instante, se sentindo grata por estar ali, mesmo que não estivesse torcendo para ninguém, ainda sim, o clima de jogo sempre a deixava animada.

- Ele é incrível, né?

virou o rosto quando ouviu a voz de . Ele se levantou do seu lugar e, com as muletas, se aproximou dela, deixando um beijo na bochecha dela. sorriu, entrelaçando seu braço com o dele.

- O Dybala? Maravilhoso! Olha só que coisa mais linda aqueles olhinhos - ela apontou para o jogador da Juventus no telão naquele instante e riu da careta que fez. – Sou apaixonada.
- Porra de Dybala, ! Você tá vendo o melhor jogador do mundo bem na sua frente!
- Eu não sabia que o Cristiano ia jogar hoje – deu uma piscadinha para ele que riu, concordando que o outro também era bom. – É brincadeira, nenhum deles é o meu preferido.
- Tá bom, então qual é o seu jogador favorito?
- Não digo... - ela levou o dedo indicador aos lábios, esganiçando a voz.
- Não é possível que você não tenha um jogador preferido. Todo mundo tem!
- Tenho, é do Corinthians.
- Obrigado.
- Estou falando do Boselli. Você não é o único baba ovo de argentino por aqui - começou a rir da expressão impassível dele. - Brincadeira! Particularmente, acho que ultimamente a camisa 7 do Timão anda muito bem representada.
- Melhorou - sorriu, se inclinando para dar um selinho nela.
- Que nojo!

Eles se afastaram imediatamente, mas ao olharem para trás, viram Tobias se aproximando com um saquinho de pipocas, vestindo uma camiseta da Seleção Brasileira como um bom torcedor.

- A culpa não é minha se você é de boa com a vida, Tobias - rebateu o amigo enquanto o observava se sentando no assento ao lado do que ela estava antes.
- Não é isso, garotinha, pode beijar o seu namorado à vontade. Tô com nojo dessa camisa da Argentina que o está vestindo, isso sim. Eca! - Tobias fez cara de nojo e se chacoalhou na cadeira, fazendo rir e rolar os olhos. - Você é uma vergonha para o seu país, cara.
- Me erra, Tobias.
- Deixa ele, Tobias, hoje pode.
- Claro, amanhã aparece com uma do rival. Vamos ver se vai poder também. Verde é a cor da inveja, né? Como eles dizem.
- Você é péssimo - riu, pegando o celular no bolso e entregando para Tobias. - Aproveita que não está fazendo nada e tira uma foto nossa.

Tobias murmurou, mas acabou concordando. Tirou uma fotografia para o casal e devolveu o celular para enquanto voltava para o seu lugar, cansado de manter o peso do corpo em um pé só e o seguiu, se sentando ao lado dele e começou a editar a foto para postar, pedindo pela opinião de .

- Está ouvindo isso? - perguntou de repente.
- Ouvindo o quê?
- Escuta bem, estão cantando que o Vampeta tem copa e o Messi não.

Quase que em reflexo, se levantou, procurando algo de diferente. Conseguiu ouvir os torcedores do lado norte cantando e se divertindo, e era engraçada a feição dos torcedores argentinos diante da situação.

- Incrível! - ela gargalhou, batendo palmas. – Amo meu país, caralho!
- Deixa de ser emocionada, volta pro seu lugar - disse rindo e acabou acatando. - Quase dez anos como profissional e ainda consigo me surpreender às vezes.
- Isso é demais! - começou a gravar, quase cantando junto, incapaz de parar de rir.
- Chegamos em boa hora.

Quando ouviu a voz de Junior, sentiu o estômago revirar e qualquer sensação de euforia indo embora do seu corpo quase que repentinamente. Ela virou o rosto, vendo o amigo acompanhado por sua esposa e sua filha. Guardou o celular no bolso e forçou o seu melhor sorriso, disposta a deixar qualquer climão para trás.

- Estão cantando que Messi não tem copa, quem tem copa é o Vampeta, é uma ótima hora - ela disse se levantando, indo cumprimentar o amigo com um abraço.
- Não é meio perigoso? Deve ter torcedores argentinos que entendem português.
- Essa é a graça do futebol, Célia. Rivalidade - sorriu após cumprimentar ela também e então olhou para Bel.

Disposta a manter o clima agradável e qualquer rivalidade de lado, exibiu seu melhor sorriso e também cumprimentou ela com um abraço, sem se importar se estava olhando a cena com o cenho franzido, sem entender as intenções dela, mas não podia negar que se chateou com o que a garota tinha feito, afinal, não conseguia enxergar nada daquilo em . Bel, em contrapartida, retribuiu ao abraço com o mesmo sorriso receptivo, sem imaginar o que realmente estava acontecendo. Estava ali para acompanhar os pais que não via há meses, qualquer que fosse seu interesse em não estava em jogo naquele momento.

- Que bom que você veio também, Bel - disse ao se afastar, dando uma piscadinha para a garota.
- É, também estou feliz por isso.

apenas concordou com a cabeça e deu meia volta rapidamente quando Bel olhou para a sua mãe que estava cumprimentando , perguntando sobre o tornozelo enfaixado dele. Ela voltou para o seu lugar abruptamente e espreitou pelo canto do olho a garota sentando no lugar livre entre Tobias e Junior que conversavam entre si. Quando Célia se afastou, olhou para a .

- O que foi isso? - perguntou sussurrando, procurando ter certeza de que Bel não estava ouvindo.
- Isso o quê?
- Para, . Você sabe.
- Olha, se você está esperando que eu vá dar showzinho de ciúmes aqui, está enganado. Eu não vou ficar brigando por causa de homem, isso é tão retrógrado. Mesmo que seja você.
- Não foi isso que eu quis dizer...
- Foi exatamente o que você quis dizer - voltou a atenção para o gramado, se afastando um pouco de .
- ... - chamou, esticando o braço para alcançar a mão dela e mordeu os lábios. - Por favor, deixa isso pra lá.

soltou um longo suspiro, chateada porque tinha essa imagem adolescente e clichê dela. De fato, não era mais amiga de Bel, mas ela não achava que ele deveria se colocar em um palanque no meio das duas. Estava magoada porque flagrou a garota falando mal dela pelas costas quando sempre se deram tão bem, o interesse de Bel no seu namorado não era a primeira coisa que a tirava do sério.

- Se pensar isso de mim de novo, eu termino de te quebrar - ela disse por fim, retribuindo ao carinho que ele estava fazendo na mão dela com o polegar e o viu abrindo um largo sorriso.
- Não vou deixar nosso relacionamento se abalar por tão pouco, .
- Eu também não - disse por fim, encerrando aquela conversa quando repousou a cabeça no ombro dele.

Eles não trocaram muitas palavras até o jogo começar, era bom estarem ali juntos apenas desfrutando o momento, indiferente à conversa alheia dos amigos. Quando a partida começou, o total de palavras ditas caiu para zero, assim como o placar.
O jogo começou com domínio total da Argentina sobre a seleção Chilena, atual campeã do torneio. Aos doze minutos, Agüero abriu o placar para os hermanos com assistência de Messi e, aos vinte e dois, Paulo Dybala ampliou para a equipe. pulou da cadeira, comemorando o gol apenas para provocar que, apesar da comemoração, revirou os olhos, mas acabou rindo também e entrando na brincadeira.

- Menos, querida. Bem menos.
- Cadê o seu Messinho, hein? - ela se sentou novamente, roubando um pouco da pipoca de Tobias, fazendo o amigo murmurar.
- Ele ainda vai fazer o dele, pode anotar.
- Sem meu Barcelona eu não consigo - disse em tom de provocação, rindo sem parar.
- Você é ridícula, garota.

O restante do primeiro tempo foi se desenrolando e apelando para o lado emocional dos atletas, especialmente os chilenos que reclamavam muito com a arbitragem. observava tudo rindo, se lembrando das vezes em que o mesmo campo foi palco de desentendimentos em que ele estava envolvido. Era divertido pra ele pensar que seu ídolo estava jogando no seu campo. O que soava como pífio para os outros, parecia ser um máximo para ele.

- Caralho... – murmurou baixo para si mesmo, mas foi ouvido.
- O que foi? - se virou para ele preocupada, assim como Tobias.
- É idiota da minha parte estar feliz por ele estar jogando no meu campo.
- Porra, ! - gargalhou. - Sério isso?
- Cara, você pirou agora, já pode descer lá e chupar as bolas dele - Tobias disse rindo, quase engasgando.
- Vocês não entendem - se afundou na cadeira, um pouco chateado com a reação deles.
- É claro que a gente entende, , só foi engraçado - disse com bom humor, mas apenas prestava atenção na partida. - Ei...
- Deixa pra lá. Não importa mesmo.

se reclinou na confortável cadeira, entendendo que aquilo não terminaria bem. Se sentiu mal por ter zombado dele, mesmo que não tenha sido de propósito. Suspirou cansada por se imaginar passando por mais uma discussão boba e se limitou a voltar a atenção pro jogo quando Lionel Messi recebeu um passe do lateral direito. O jogador avançou em direção à grande área, driblando os adversários chilenos com facilidade para o delírio da torcida. Em uma disputa de bola com Medel, Messi empurrou o chileno em um reflexo, mas o mesmo não se intimidou e respondeu com peitadas no camisa 10 do Barcelona. A confusão já estava armada entre os atletas das duas equipes, então o árbitro tirou o cartão vermelho do bolso de trás e exibiu para os dois jogadores, gerando mais confusão ainda.

- Esse filho de uma puta tá de brincadeira! - se levantou furioso, se esquecendo das muletas, sentindo o pé latejar quando pisou no chão. - Mas que caralho!
- Cuidado - se levantou também, pegando as muletas encostadas no vidro e entregando pra ele. as pegou, mas ignorou completamente, então ela se sentou frustrada.
- Vocês viram isso? Só pode ser brincadeira! – ele protestou indignado apontando para o gramado. – Custa pelo menos o VAR interferir?
- , ele empurrou o Medel, não foi um absurdo - Junior disse cautelosamente, vendo que o amigo estava realmente nervoso.
- E daí? Quem nunca? Poderia ter sido um amarelo, pra que expulsar?

levou às mãos ao rosto, cobrindo de vergonha e negando com a cabeça a atitude clubista de , isso sem contar a vontade de rir. Não queria julgar porque sabia que ela fazia exatamente igual, mas concordava que a expulsão dos dois foi justa. Decidiu não dizer nada pelo bem do relacionamento deles, mas olhou para Tobias e viu que o amigo estava rindo.

- Perfeitos um para o outro - o mesmo disse quando viram que acompanhava a torcida proferindo ofensas ao árbitro.
- Sou assim também?
- Até pior, . Ele até que está bem calmo.

se sentou de novo totalmente frustrado, sentindo o rosto arder de nervosismo. Estava indignado que aquilo aconteceu bem na sua vez.

- Que injusto, cara, que injusto... - murmurava para si mesmo, sem se importar se iriam rir dele ou não.

Não se preocupou em assistir o restante do primeiro tempo, não importava mais. Para ele, o jogo tinha acabado ali mesmo e ele não fazia questão de ver o segundo tempo. Junto ao som do apito, ele se levantou e foi em direção ao bar, sem sentir necessidade de se explicar para os amigos aonde estava indo. o observou e seguiu com o olhar, mas achou melhor não ir atrás para evitar uma briga maior. Apenas se levantou e foi em direção ao banheiro, afim de esvaziar a bexiga apertada.
Quando estava lavando as mãos, a porta do banheiro se abriu e Bel entrou, encarando brevemente e indo em direção à uma das cabines. A garota fez um aceno com a cabeça, mas quando se deu conta, já tinha aberto a boca.

- Bel, espera.
- Sim? - Bel perguntou despretensiosa, parando no seu lugar e se virando para .
- Você ainda quer alguma coisa com o , né?

Bel engoliu a seco, sentindo o coração acelerar no peito e o ar fugir dos seus pulmões. Ela prendeu a respiração, incapaz de formular uma resposta concreta. Não imaginava que sabia do seu envolvimento com meses antes.

- Como assim?
- Por favor, vamos ser adultas, ok? Eu sei de vocês, o me contou. Juro que não tive problema nenhum com isso, ainda brinquei falando que ele tem bom gosto, mas depois que ouvi você falando no telefone aquele dia no apartamento dele, eu já não tinha certeza se estava tudo bem mesmo.

Bel sentiu como se fosse desmaiar a qualquer momento de tamanho susto. De fato, se lembrava de ter visto passando pela sala com uma caixa de pizza na mão, mas não achava que ela realmente tivesse ouvido a sua conversa.

- Você ouviu, né?
- Ouvi - cruzou os braços e se encostou na pia. - Não foi legal, Bel, fiquei muito chateada com o que você disse. Achei que éramos amigas, sempre gostei muito de você. Olha... Eu não vou ficar forçando nenhuma rivalidade com você, ok? Não acho que homem nenhum valha à pena a esse ponto de jogar mulheres umas contra as outras, mesmo sendo o meu namorado que você ainda é super afim de dar uns pegas, e sinceramente, se você convivesse só um pouco com o saberia que forçar as coisas dessa forma não vale a pena. O que realmente me magoou foi a forma como você zombou de mim, me diminuindo e dizendo que eu não sou suficiente para o . Acha que eu não sei disso? Que ele é bom demais pra mim? Não preciso que você diga isso também, ainda estou em processo de aceitação. Eu nem ia falar nada porque eu amo o Junior e a Célia como se fossem meus pais também, mas não dava pra guardar pra mim, Bel. Não é culpa minha se você não se garantiu na sua vez, e ele não é o troféu pra gente ficar disputando e ostentando.
- Eu sei - Bel admitiu completamente envergonhada, encarando o chão. - Não sei o que deu em mim por dizer aquelas coisas, não sou assim. Fiquei com ciúmes, já achava que vocês tinham alguma coisa desde o bar, mas como o disse que não, fiquei mais aliviada... Foi bem frustrante pra mim porque ele sumiu depois que a gente... - ela percebeu que usar um termo sexual não seria apropriado. - Eu imaginei que ele tivesse alguém, não sabia que era você até ver uma foto na internet. Fiquei completamente cega de ciúmes e agi com imaturidade.
- Bel, desculpa, mas isso não é justificativa. Não dá para ter ciúmes de alguém com quem você só dormiu uma vez. Eu tô com ele há meses e nem por isso eu saio falando mal da ex dele por aí, e olha que conheci ela pessoalmente e ela foi uma safada com ele... Poderia ter falado comigo, a gente chegaria em uma solução, eu nunca ia bancar a namorada surtada e te proibir de chegar perto do , não sou a mãe dele e não mando na vida de um marmanjo de vinte e cinco anos... Desculpa se não deu certo entre vocês, mas isso não é problema meu. E por favor, para de forçar inimizade comigo, tá perdendo o seu tempo.
- Sinto muito, .
- Eu também... - começou a caminhar em direção à saída, mas deu meia volta ao abrir a porta. - À propósito, eu posso desculpar você pelo respeito que tenho pelos seus pais e deixar tudo isso pra trás por causa deles, mas por favor, finge que eu e o não existimos mais, tudo bem? Ele também ficou muito constrangido por causa disso e eu não quero forçar nada com alguém que não gosta de mim.

Bel apenas assentiu com a cabeça e saiu do banheiro, indo direto na direção do bar. já não estava mais lá, então ela apenas pegou uma bebida e voltou para o seu lugar, pensando mil vezes se deveria ou não dizer alguma coisa pra ele que parecia estar mais calmo agora que estava bebendo também.

- Desculpa se pareci insensível. Eu sei o sentimento de euforia que o futebol causa na gente. Fico assim toda vez que você entra em campo - ela admitiu, encolhendo os ombros timidamente por admitir aquilo e olhou pra ela. - Nem Messi, nem Cristiano, nem Pelé... Você é o meu preferido.

Ela encolheu os ombros ainda mais, incapaz de adivinhar a expressão impassível no rosto dele naquele momento, mas então esticou o braço e alcançou a mão dela, entrelaçando os dedos dos dois.

- Esse segundo tempo vai ser um saco - ele disse por fim e ela sentiu o alívio do perdão tomando conta do seu peito.
- É verdade, Messi era a alma da partida. Nunca tinha visto ele, na primeira vez que acontece, ele é expulso.
- Sua pé frio, faz sete anos que eu viajo só pra ver ele e você faz isso - disse rindo em tom de brincadeira e riu também.
- É verdade em partes, mas não sou pé frio. Se eu realmente fosse, não estaria aqui com você.

sorriu abobado com as palavras dela, e se esticou um pouco para beijá-la. retribuiu com os lábios pressionados sem a necessidade de intensificar, mas quando sentiu a língua dele pedindo passagem, não resistiu àquele beijo que a fazia perder o juízo todas as vezes.

- Que nojo! Agora tô falando do beijo!

Eles interromperam o beijo porque começaram a rir. se virou e viu Tobias fazer caretas enquanto Junior e sua esposa riam também. Tobias se limitou a comer sua pipoca, mas acabou rindo também, explicando que estava brincando e apoiava o casal mais que tudo na vida. Neste mesmo instante Bel chegou e desejou não ter que ouvir aquela conversa nunca.
Cinco minutos depois a partida recomeçou, mas nada de importante aconteceu. Com o auxílio do VAR, o Chile diminuiu a vantagem em uma cobrança de pênalti no fim do jogo e ficou por isso mesmo, dando à Argentina o terceiro lugar naquela edição da Copa América. A princípio todo o time saiu do campo, se recusando a receberem suas medalhas, o que deixou muitos torcedores frustrados, mas então voltaram a contragosto e receberam seu prêmio com um clima tão pesado que até mesmo , empolgado por ver seu ídolo, quis sair de lá o mais rápido possível. Então, após se despedirem de Tobias, Célia, Junior e Bel, que sequer teve algum contato visual com e , foram para o estacionamento privado de elevador. viu o ônibus da AFA e engoliu em seco ao imaginar que logo mais o time argentino passaria por ali.

- Quer ficar e esperar? - perguntou ao ver o olhar dele no grande ônibus azul. - Não custa nada ver eles passando, né? Eu acho bem legal.
- Você é mesmo um gênio - sorriu satisfeito enquanto abria a porta do carro pra ele. - Melhor, vamos ficar no banco de trás.

concordou e os dois foram para o banco traseiro. Os vidros da BMW de eram escuros o suficiente para que ninguém os visse ali.

- Então a gente só senta aqui e espera? - cruzou braços e pernas e riu.
- Basicamente - ele esticou a perna sobre o vão entre os dois bancos da frente. - Apesar de tudo, eu me diverti. Só tô meio puto ainda por causa da expulsão, mas vou superar.
- Eu acho ótimo, a última vez que te vi assim, foi quando brigou com o Guerrero. Sério, dá medo ver você nervoso, pensei que ia matar alguém.
- Eu ia matar aquele juiz, mas fazer o que, né? Pelo menos era só um jogo de terceiro lugar..
- Que azar, hein? Messi foi expulso logo em Itaquera.
- Verdade... Quem esperaria por isso? – ele riu do próprio comentário, fazendo rir também, ela foi para o colo dele para poder vê-lo melhor.
- Olha que legal, você pode dizer que você e seu ídolo foram expulsos no mesmo estádio.
- Nossa, muito obrigado por jogar a minha autoestima lá em cima, ! – rebateu ofendido, lembrar dos seus cartões vermelhos era muito frustrante e vergonhoso.
- Relaxa, , sua namorada tá montada em cima de você e você só pensa no Messi. Pra mim, isso é meio frustrante, pode fingir que gosta mais de mim do que dele só um pouco? Quero atenção também.
- Eu não estaria fingindo.

se curvou quando ele esticou o rosto para beijá-la. Ansiosa por aquilo, ditou o ritmo do beijo de uma forma intensa, desejando a boca dele na dela como sempre, talvez até mais. desceu para o pescoço dela e mordeu os lábios para conter um gemido quando sentiu as mãos firmes dele apertando a sua bunda.

- Nossa - disse surpreso quando pararam um instante para respirar, vendo morder os lábios e com os olhos cheios de malícia. - Aqui mesmo?
- Por que, não? - falou em um sussurro no ouvido dele, deixando beijos na região.
- , me respeita, eu trabalho aqui, se formos pegos eu tô ferrado – ele riu da possibilidade.
- E daí? Se você não soubesse fazer do jeitinho que eu gosto, talvez eu não quisesse.
- Garota... - pressionou os lábios, apertando suas mãos na cintura dela. - Você gosta de me provocar, não é?

não disse nada, apenas se aproximou, roçando sua boca na dele, o provocando até que a puxou de forma repentina, retomando o beijo conforme queria, mesmo sabendo que não poderia. Dessa vez, foi ele quem tomou a iniciativa, colocando as mãos por dentro da regata dela, puxando para cima abruptamente.

- Apressado - disse ao tirar a regata e ficar apenas de sutiã. - Pode ir tirando a sua também.

apenas concordou e o ajudou a tirar a camisa, jogando para o lado. Eles voltaram a se beijar e logo em seguida ele desceu para o pescoço dela de novo, fazendo suspirar quando ele chupou a sua pele e passou a língua logo em seguida.

- Isso é loucura - ela disse ofegante, incapaz de se desvencilhar dos beijos dele. - E se pegarem a gente?
- Quem está amarelando agora? - perguntou contra o pescoço dela, mas se afastou depois, estava curioso. - Então qual foi o lugar mais perigoso que já fez?
- Em um banheiro público no Pacaembu, eu estava no meio da torcida organizada e quando me dei conta, já estava lá com um cara e o jogo rolando. Eu estava meio bêbada naquele dia, então não lembro de muita coisa. Foi uma merda.
- Tá de brincadeira, né? - se afastou para poder olhar para ela, estava se segurando para não rir. - Não é você que é super tímida e conta em uma mão com quantos já ficou?
- É, ele faz parte dessa minoria - admitiu rindo, por mais que fosse desencanada, estava um pouco envergonhada por contar aquilo tão abertamente, ninguém sabia daquela história. - Tenho medo de perguntar o seu.
- Hum...
- Socorro, ele tá pensando! - ela abaixou a cabeça, rindo sem parar e riu também.
- Não sou nenhum santo, você sabe disso... Tinha uma garota staff lá no Grêmio e eu era muito afim de ficar com ela, um dia depois do treino, esperei todo mundo sair e a gente foi pro chuveiro do vestiário. Foi no limite do perigo, literalmente.
- Acho que perdi o tesão depois dessa, seu safado.
- É sério?
- Não, mas realmente pode dar uma merda enorme pra gente - se sentou no banco e pegou sua camiseta para vestir. - Anda, se veste. Daqui a pouco eles passam ali.

Contra sua vontade, se vestiu também e eles esperaram pelo time argentino durante algum tempo. Eles passaram rápido, mas dava para ver que estavam muito chateados e desanimados.

- Queria que tivessem ganhado - disse um pouco aborrecido.
- Eu consolaria o Dybala enquanto você animava o Leo.
- Sei bem o seu tipo de consolo - olhou pelo canto dos olhos e viu ela rindo. - E ele nem é tudo isso, tem outros melhores.
- É claro que é, aquela carinha de marrento... Eu não aguento tanta beleza.
- , faça o favor! Eu tô bem aqui! Eu não tô falando da Alex Morgan pra você!
- Eu não me importaria se falasse, ela é mesmo um mulherão. Só tô te enchendo o saco – ela disse por fim e eles concordaram em sair do carro para irem para os bancos da frente.

Eles entraram novamente e esperou o ônibus sair para ir atrás, ainda assimilando o que acabou de acontecer. Não que realmente tivesse algum interesse no argentino, mas gostava do futebol dele no clube italiano. Provocar parecia ser bem divertido porque sabia que ele não se importava realmente com aquilo.
, não tendo certeza sobre o nível de fanatismo de , pegou o celular e procurou pelo grupo que tinha com os colegas da Seleção, carinhosamente apelidados de "canarinhos 💛". Embora tivesse apenas uma convocação no currículo, estava feliz de ter sido acolhido pelos atletas e ainda manterem contato de vez em quando. A parte mais legal para ele era ver jogadores como Marcelo e Daniel Alves no grupo, sendo que a dupla sequer havia sido convocada.

“Alguém consegue arrumar uma camisa do Dybala pra minha namorada? Aparentemente fui trocado.”

E não demorou nada para que as respostas chegassem.

Alisson Becker: 👀
Fillipe Luís: 👀
Paquetá: eu jogo no Milan!!!!
Casemiro: serve do Gareth Bale? Sua namorada gostaria dele 😏
Philippe Coutinho: 😱😱😱
Arthur Melo: 😳
Gabriel Jesus: O que aconteceu com você hoje? 😱
: não, muito obrigado, ela prefere o Dybala. Alguém?
Roberto Firmino: Me dá dois minutos.

bloqueou o celular para evitar a desculpa de Casemiro para o seu próprio comentário, tendo de conter o riso para não desconfiar de nada.

- Quero rir também - disse ao saírem do estádio e seguirem logo atrás do ônibus da AFA.
- Casemiro está oferecendo Gareth Bale no grupo do time, só que do jeito dele. Vai que tem alguma solteira por aí, não é?
- Vocês têm um grupo?
- Sim, os canarinhos. Conforme jogadores vão sendo convocados, vão colocando no grupo. Até o Neymar tá no grupo, vive mandando foto dele mesmo.
- Eu venderia minha alma para participar desse grupo também - ela admitiu rindo, imaginando que deveria ser o melhor grupo de todos.
- Nah! Nem é tudo isso, a gente só conversa em época de torneio. Eles estão concentrados pra final agora.

Enquanto comentava algo sobre a Seleção, olhou o grupo novamente no qual as mensagens chegavam sem parar, a maioria em resposta a Casemiro ainda.

Fernandinho: essa história vai durar pra sempre 😂
David Neres: eu saio cinco minutos e já tem orgia no grupo?
Roberto Firmino: resolvido, 🙌🏻
Thiago Silva: 👀
Alex Sandro: camisa providenciada com sucesso, chefia. O Tutu disse que vai te entregar pessoalmente.
Arthur Melo: não me chama assim!!!
Éverton Cebolinha: Tutu kkkkkkkkkkkkk
Gabriel Jesus: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Phillipe Coutinho: calma, Tutu
Arthur Melo: VÃO SE FODEEEERRRR
: Valeu Alex 😍 tô te devendo uma! Deixem o Arthurzinho em paz e depois o Casemiro explica melhor essa história do Bale 😂
: À propósito: o Dybala tá literalmente no ônibus na minha frente, não dá pra pegar com ele agora? 😂
Alex Sandro: então pra que pediu essa porra aqui? INGRATO
: desculpaaaa! Não dá pra parar o ônibus, bem que eu queria. Obrigado pela ajuda, gracinhas 😏 papai ama vocês ❤
Vinicius Junior: ninguém merece culé emocionado aff 😒
Neymar Jr: ALGUÉM DISSE BARCELONA???
Neymar Jr: o ousado chegou kkk

Por mais que a conversa estivesse boa, guardou o celular no bolso antes que se empolgasse. Não queria atrapalhar os colegas concentrados e nem que tomasse o celular dele e visse a surpresa.

- Lembrou que eu existo?
- Calma, é por uma boa causa - sorriu. - Só posso dizer que você é privilegiada, o time se moveu pra te fazer uma surpresa.
- O quê? Que surpresa, ???
- Se eu contar, não vai ser mais surpresa, idiota. Relaxa, você vai gostar.
- Ai meu Deus... E se eu não gostar?
- Então eu faço o que você quiser, mas sei que você vai amar.
- , ... Você ainda vai me endoidar.

⚽🖤📱

@arthurhmelo: oi de novo, ! Leo separou a camisa que eu pedi, foi muito legal da parte dele. Vou voltar pra Barcelona depois da final e entrego na festa do . Tá tudo sobre controle!
@.: você não existe, cara! Vai ser a melhor supresa do mundo, ele ama as camisas da seleção! Falando em supresa, o que vocês estão aprontando pra mim? não quer contar.
@arthurhmelo: não posso contar, se não o me mata, mas garanto que você vai gostar 😏 a gente vai se falando, , até mais!

olhou pro celular atordoada, sem saber o que responder de volta. Estava louca para saber o que era, mas não conseguia arrancar qualquer informação que fosse e, pelo jeito, nem conseguiria. Arthur parecia ser muito bom em guardar segredos, afinal, estavam há dias planejando a surpresa para e o mesmo não estava desconfiando de nada.

⚽🖤📱

17 de julho

apagou a mensagem pela quinta vez consecutiva, ainda pensando no que dizer para . Desde que soubera que a negociação com o São Paulo não foi pra frente, alguns dias antes, não estavam se falando direito devido a discussão que tiveram. Ele não entendeu muito bem a atitude de , pois ela simplesmente disse que ele poderia ter se esforçado mais para que a negociação fosse pra frente, algo que o deixou perplexo demais para responder qualquer coisa naquele dia, e que agora continuava na mesma.

"Você vai continuar me ignorando? Até mesmo hoje???"

Talvez apelar para o emocional funcionasse e achou que usar a desculpa de que era o seu aniversário poderia funcionar, mas tudo o que recebeu foi apenas um visualizado da namorada e nenhuma resposta. Frustrado, ele resolveu deixar pra lá, apenas se limitou a continuar respondendo às mensagens de parabéns pelos seus vinte e cinco anos.
Respondeu mensagens de familiares, colegas de clubes anteriores e também da Seleção, para além de amigos do elenco atual também, inclusive Bruno que, de propósito, postou uma foto tirada em uma das concentrações na qual estava dormindo no sofá com a boca aberta. Mesmo que estivesse chateado com seus problemas, não conteve a gargalhada que ecoou pelo seu apartamento vazio.

"Você me paga 😂😂😂 aproveita e vem me buscar, preciso ir pro CT hoje"

Mesmo proferindo alguns palavrões, Bruno concordou em dar uma carona para . Ele sabia que era uma desculpa para levar ao CT onde o time estava organizando um churrasco para ele em comemoração ao seu aniversário. É claro que, para isso, pediram o auxilio do departamento médico, que concordou em ajudar, preparando notícias não muito boas sobre a lesão do atleta. Tudo parte de um combinado para que ele não desconfiasse de nada.

- Ainda está dolorido? - Bruno perguntou enquanto caminhavam em direção ao vestiário.
- Um pouco, mas pelo menos já desinchou - olhou para baixo, tendo certeza de que estava melhor. - Acho que semana que vem eu já começo a fisioterapia, me sinto bem melhor.
- Que bom, muito bom. Pena que não vou estar aqui pra ver.
- Como assim?
- Fui convocado. Vou jogar o Pan-Americano em Lima, vou daqui dois dias.
- Bruno, isso é incrível! Meus parabéns.
- Gracías. Vou perder uns jogos importantes, mas faz parte. Espero voltar com uma medalha, pelo menos.
- É claro que vai, a gente sabe da tradição das seleções de base do Uruguai.

Bruno agradeceu enquanto abria a porta do vestiário para entrar. Não tinha ninguém ali, o que era estranho, afinal, o vestiário nunca estava vazio.

- Cadê todo mundo?
- No campo - Bruno respondeu tranquilamente, começando a trocar de roupa. - Você me atrasou, por isso não tem ninguém.
- Ótimo, agora a culpa é minha - se sentou no seu lugar de sempre, sentindo um vazio dentro de si por se lembrar que já não treinava há semanas. - Cara, como eu queria treinar agora, você nem faz ideia... Já estou ficando louco por ficar deitado o dia inteiro.
- Eu posso imaginar... Mas não vai demorar pra você voltar.
- Três meses. Que Deus tenha misericórdia de mim, eu não aguento mais andar de muleta e parece que as coisas só pioram. O São Paulo desistiu de me contratar e disse que eu deveria ter me esforçado mais para fazer isso ir pra frente. Faz algum sentido?
- Hum... Não.
- Essa garota está me enlouquecendo, Méndez, é sério. Faz dias que ela não fala comigo por causa disso.
- Vai ficar tudo bem, cara.
- Espero que sim.

Após Bruno vestir o uniforme de treino, eles saíram do vestiário e seguiram em direções opostas. Enquanto Bruno foi para a academia dar início ao aquecimento do dia, seguiu para o departamento médico, hora ou outra sendo parado por funcionários e recebendo os parabéns de todos, algo que melhorou um pouco o dia dele de alguma forma. Gostava da forma como era muito bem tratado por todo mundo lá dentro.
Logo ao chegar, foi recebido pelo doutor Joaquim, o diretor do departamento e também quem estava supervisionando o seu tratamento junto com os fisioterapeutas. Ele foi fazer alguns exames rotineiros, otimista de que estava melhor e até conseguia movimentar o pé sem sentir tanta dor como nos primeiros dias. Estava seguindo o tratamento à risca para que pudesse retornar aos gramados o mais rápido possível.

- Já desinchou bastante, né?
- É, parece que sim - Caio, seu fisioterapeuta, disse após se sentar na maca e o jogador notou um leve descontentamento na voz dele.
- Tem alguma coisa errada, né?
- Já era pra ter desinchado mais, , isso não é normal.
- Mas eu tô bem! Olha, eu consigo mexer!

Caio se aproximou, ajoelhando-se na frente dele, pedindo para que apoiasse o pé sobre a sua coxa. Apertou de leve o lugar específico onde os tendões foram parcialmente rompidos e conteve a vontade de gritar, sentindo uma dor aguda como se tivesse acabado de romper de novo.

- Viu só? Não era pra você sentir tanta dor... Vou pedir mais alguns exames, isso não é normal. Corre risco de cirurgia.
- Cirurgia, Caio ?!
- Ei, não é culpa minha, estou tentando te ajudar. A gente tem que cuidar pra você não sofrer as consequências depois. Essa lesão é séria, , se não for bem cuidada, pode acontecer a mesma coisa daqui seis meses e acaba virando um ciclo vicioso. É isso o que você quer? Perder o resto da temporada?
- Não.
- Por isso que o melhor talvez seja operar.
- E quanto tempo vai levar a recuperação? - perguntou após respirar fundo, tentando manter as aparências.
- Sinto muito, você fica de fora do resto da temporada, talvez perca o Paulista. Eu ainda não tenho certeza, mas provavelmente uns nove meses.

De tudo o que poderia ouvir, aquele foi o pior diagnóstico que já recebeu. já tinha ficado afastado por quase um ano quando rompeu os ligamentos do joelho, mas agora parecia ser pior, principalmente porque estava louco para voltar a jogar e ajudar a equipe a se recuperar de resultados ruins. Estava otimista de que ainda poderia aproveitar os últimos meses e recuperar seu bom futebol para o restante da temporada. Pelo visto, teria que esperar mais um pouco por isso.
queria se conter, mas nunca sentiu tanta vontade de chorar como naquele momento. Não queria chorar na frente do seu fisioterapeuta, mas estava tendo o pior aniversário da sua vida, tudo estava dando errado. Estava se sentindo mais sozinho do que nunca, vivendo um dos piores momentos da sua carreira, sem sombra de dúvidas.

- Ei, não fica assim. Eu vou fazer de tudo pra mudar isso, você sabe que sim - Caio se levantou e se sentou ao lado dele. - Não é o fim do mundo, você é jovem e vai ter uma boa recuperação.
- Eu só quero voltar a jogar logo, Caio. Por que as coisas são tão difíceis comigo? Nove meses por causa de uma torção!
- Eu sei que você tá chateado, você tem razão, mas nós vamos mudar isso. Levanta daí, vamos fazer os exames e depois uns exercícios pra não atrofiar nenhum músculo. É um dia a menos na sua recuperação. Vamos lá.

Por mais que só quisesse ir pra casa e ficar sozinho, concordou e desceu da maca, acompanhando o fisioterapeuta para que pudesse fazer os exames necessários, mas nada poderia melhorar o seu humor naquele dia.
Após fazer alguns exames que tomaram boa parte do dia e antes de começar a fazer os exercícios, ele pediu licença e foi até o banheiro afim de tentar um último contato com naquele dia. Ele procurou o número dela e ligou, enquanto encarava o próprio reflexo no espelho, torcia para que ela atendesse e, para sua sorte, isso aconteceu após o terceiro toque.

- Oi, .
- Oi... - ele mordeu os lábios, sentindo a repentina vontade de chorar voltando com tudo. As lágrimas escorriam dos seus olhos e pingavam sobre o mármore preto, mesmo que ele os apertasse, reprimindo em vão o choro. - Será que a gente pode conversar?
- O que aconteceu? Por que você tá chorando?
- Eu vou operar, parece que deu algo errado, é mais grave do que esperavam... Eu só volto depois do Paulista do ano que vem.

sabia, por intermédio de Bruno, que aquilo era tudo parte do plano, apenas uma parte da surpresa para que ele pensasse que ninguém estava realmente se importando com ele naquele dia, mas ao ver que ele estava verdadeiramente triste, ela não conseguiu se manter firme no seu plano de o ignorar por completo até o momento certo, cedendo então ao que ele tinha a dizer.

- Eu sinto muito, ...
- Hoje é um dos piores dias da minha vida, eu tô me sentindo um lixo, ninguém se importa... Na boa, eu só queria sumir.
- Eu me importo... Olha, eu sei que tá difícil, mas vai ficar tudo bem. Eu tô cheia de coisa pra fazer no trabalho agora, mas se você quiser, pode passar lá em casa mais tarde que a gente conversa melhor, resolver isso logo. O que você acha? Consegue ir?
- Acho que sim - ele fungou enquanto secava as lágrimas com a manga do moletom. - Obrigado.
- Eu sei que a gente não está se falando direito, mas... Amo você, estou com você sempre.
- Também te amo... Obrigado, me avisa quando chegar em casa.
- Aviso sim. Preciso desligar, mas qualquer coisa me liga. Tchau.
- Tchau.

desligou e encarou o próprio reflexo de novo, vendo que estava com uma aparência horrível. Ele subiu as mangas do moletom e jogou água pelo rosto e cabelo afim de despertar e melhorar a cara de quem estava tendo o pior aniversário de todos, então deixou o banheiro e voltou para a sala de fisioterapia com o apoio das suas muletas, pronto para encarar o resto da sua recuperação, mesmo que levasse nove meses.
Apesar de estar chateado, acabou por se divertir com Caio durante os exercícios, o fisioterapeuta fez de tudo para que se sentisse melhor e deu certo, o deixando um pouco mais otimista sobre a sua recuperação, garantindo que ele faria uma temporada espetacular no próximo ano, a melhor da sua carreira. tomou para si, tentando atrair coisas boas para que se sentisse mais leve.

- Falta muito? Eu tô morrendo de fome, nem almocei - ele disse após sentir o estômago roncar.
- A gente pode parar agora. Só vou colocar a tornozeleira e a gente vai no refeitório comer alguma coisa. Me dá só um minuto, preciso fazer uma ligação.

concordou enquanto Caio se afastou. Não levou dois minutos e ele já estava de volta, trazendo uma tornozeleira consigo. Ajudou com a imobilização do tornozelo e então eles deixaram o departamento médico, pegando um carrinho de golf para ir até o refeitório que ficava afastado dali, perto do hotel. O dia passou tão rápido que nem percebeu que já era quatro horas da tarde e o treino já tinha acabado, provavelmente o time já estava se dispersando para ir embora. Ainda tinha que encontrar Bruno e pedir carona para poder ir embora também.
Quando entraram no refeitório, ele tomou um susto quando viu todos ali. Jogadores, comissão técnica, departamento médico e qualquer outro que fosse funcionário do CT. Todos começaram a cantar parabéns no instante em que pisou no refeitório. Ele se aproximou da mesa em que tinha um bolo grande com a vela correspondente à sua idade acesa. Ele começou a rir, mudando de humor repentinamente, se sentindo bobo por achar que ninguém ali realmente tinha se lembrado do aniversário dele. Após o parabéns, ele assoprou as velas e agradeceu pela surpresa, se sentindo um pouco melhor e querido pelos seus amigos.

- Tem mais uma coisa, - Caio começou a falar, tomando a atenção para si. - É sobre a sua lesão... Pessoal, eu queria dizer que... - ele abaixou a cabeça, forçando um pesar, mas acabou rindo. - Que o está se recuperando muito bem e até outubro vai estar de volta aos campos.

Entre gritos, aplausos e felicitações, procurava ter certeza de que ouvra certo as palavras do fisioterapeuta.

- Como assim?
- Meu amigo, era tudo uma brincadeira nossa! - ele começou a rir. - A gente só queria te deixar preocupado, não tem cirurgia nenhuma, você está ótimo!

levou as mãos ao rosto, completamente envergonhado pela cena que protagonizou mais cedo, rindo de si mesmo.

- Não acredito que você fez eu chorar à toa, Caio! Chorei feito um idiota.
- É verdade, chorou mesmo. Pode ficar tranquilo, , era tudo brincadeira. Feliz aniversário, cara.

começou a receber os parabéns de um por um e passou o resto da tarde se divertindo com os amigos, recebendo todo o apoio que poderia receber, se sentindo parte de tudo aquilo.

- Ei, bonitão. A gente precisa ir agora, mas foi legal te fazer de trouxa - Tobias disse ao se aproximar junto com Junior.
- Vocês também sabiam, né?
- Todo mundo sabia, - Junior falou rindo. - Mas foi divertido, ano que vem a gente pensa em algo menos cruel.
- Algo que não me mate do coração, por favor.

ainda ficou mais um pouco no CT, sendo um dos últimos a ir embora. Bruno concordou em dar uma carona ao amigo, mesmo que morasse bem afastado de . Tudo parte do combinado, é claro. mandou uma mensagem à namorada informando que já estava chegando e ela respondeu com um ok logo em seguida. Ele não sabia interpretar se era apenas um ok ou se ela estava sendo curta e grossa, mas talvez fosse apenas coisa da sua cabeça.
Quando chegou na casa de , ela o recebeu no portão e eles se encararam por alguns segundos, não sabia o que dizer pra ela depois de dias sem se falarem, não sabia nem como deveria cumprimentá-la, mas quando envolveu seus braços ao redor do pescoço dele e deixou um beijo suave nos seus lábios, ele teve a familiar sensação de estar em casa novamente, algo que sempre sentia quando estava com ela.

- Estava com saudade - ele admitiu, desejando se livrar das muletas para a abraçar e beijar com vontade.
- Também senti a sua falta - disse, dando selinhos nele e abrindo um sorriso quando testas e narizes se tocaram. - Desculpa.
- Deixa isso pra lá, não importa mais, já passou. Só quero ficar com você agora, tive um dia longo.
- Você quer entrar? A minha mãe está fazendo um jantar ótimo.
- Quero, amo a comida da sua mãe.
- Que bom - disse por fim, não se contendo de saudade e o beijando de verdade, mas foram interrompidos por Bruno que ainda estava dentro do carro, fingindo uma tosse exagerada.
- Eu ainda estou aqui, ok?
- Desculpa, Bruno! - ela gargalhou, se afastando de que revirou os olhos. - Quer entrar também?
- Claro que sim! - Bruno respondeu ao sair do carro, se aproximando do casal.
- Não quer, não.
- Deixa de ser cruel, , ele também deve estar com fome. Vamos, tem jantar pra todo mundo - entrelaçou seu braço com o de , então os três entraram em casa. - Meu pai colocou carne na churrasqueira, eles devem estar lá no jardim. Vamos pra lá.

Os jogadores concordaram e seguiram até o jardim da casa. Ao abrir a porta, as luzes se acenderam e, quase que imediatamente, todos os convidados começaram a cantar parabéns, inclusive e Bruno que se juntaram aos demais para poder observar o choque no rosto de ao ver tantos conhecidos ali. Alguns amigos do time, Junior junto com Célia e Tobias, Arthur e Coutinho representando a seleção, seus sogros, até mesmo Dantas e, mais ao fundo, sua própria família que sequer tinha falado com ele o dia inteiro e, só então, percebeu que era tudo parte de um plano, uma surpresa muito bem detalhada. Ele olhou para que apenas deu de ombros e riu enquanto continuava cantando parabéns.
Pelo visto, o dia dele estava só começando.

- Não acredito - disse sendo incapaz de sorrir, olhando ao redor e vendo todas aquelas pessoas.
- Foi tudo ideia da . Ela obrigou a gente a vir de Porto Alegre e te ignorar o dia todo - seu irmão Rony se aproximou, se colocando ao lado de .
- Há quanto tempo você estava planejando isso? - ele olhou para , mas ela apenas deu uma risadinha.
- Há semanas, na verdade. Eu só precisei de uns cúmplices - ela olhou para Arthur e Bruno, então ele entendeu tudo. - E de arrumar um motivo pra brigar com você. A parte da cirurgia foi ideia do time, eu não sabia que ia dar certo de verdade, achei que você não ia acreditar.
- Eu chorei feito um otário! Não acredito, , não acredito que me fez ligar pra você chorando!
- Eu me senti péssima quando você ligou, quase contei tudo, mas se eu contasse, não teria graça nenhuma, então... Feliz aniversário!!

fez questão de cumprimentar um por um, sendo zoado o tempo inteiro porque chorou quase o dia todo, e quase chorou de novo quando abraçou a sua família. Sua mãe, seus irmãos, suas sobrinhas e seu cunhado, ele não conseguia se conter sempre que via as meninas, era um verdadeiro tio coruja.

- Não acredito que vocês sabiam, seus putos - ele disse após cumprimentar Phillipe e Arthur. - Eu não sabia nem que vocês conheciam a .
- Desde a Copa América - Arthur admitiu rindo. - Ela me chamou e contou a ideia, pediu uma ajudinha e eu concordei, o Coutinho quis participar também, provavelmente o time inteiro queria, mas não puderam vir.
- Mas mandaram as felicitações, o grupo tá bombando - Coutinho completou e Arthur concordou.
- Valeu, gente. Eu ainda estou sem acreditar, passei o dia todo achando que ninguém estava nem aí pra mim.
- Que besteira, . É claro que a gente se importa com você. Inclusive, não só nos importamos, como fomos para Barcelona e voltamos só pra pegar o seu presente e trazer aqui.
- Meu Deus... Lá vem, o que vocês trouxeram que tinha lá e não aqui?
- ! - Coutinho chamou pela garota perto dali que conversava com a mãe de e ela se aproximou. - A gente já pode entregar ou ainda tá cedo?
- Ele já sofreu demais, tadinho. Pode entregar - disse rindo, dando um beijo na bochecha de logo em seguida.

Só então notou que Arthur carregava consigo duas sacolas de embrulho, entregando uma delas para com um sorriso travesso estampado nos lábios.

- Abre.
- Tem uma bomba aqui, né?
- Isso parece uma bomba pra você?- Arthur disse impaciente. - Abre, você vai gostar.

entregou as muletas para e tirou um embrulho da sacola, abrindo rapidamente e logo de cara viu o escudo da AFA na camisa.

- Legal. Uma camisa da Argentina, valeu.
- Dá pra você prestar atenção? – Philippe disse tomando a camisa do amigo e esticando.

Na parte debaixo da camisa, notou uma caligrafia em caneta preta. Segurou a parte escrita, lendo em voz alta para que todos pudessem ouvir.

- Ao meu amigo , tenha uma boa recuperação... Messi - ele olhou para os três que continham as risadas. - Isso é alguma brincadeira, né? É sua letra, Arthur, eu sei disso. Não tem graça, tá?
- Não, é a letra dele, é um presente do Messi. Estávamos combinando isso há semanas, é dele mesmo - riu da expressão de choque dele.
- Não... – negou, fazendo os amigos rirem. - Eu tô sonhando, só pode. Vou acordar com uns dezesseis anos, no alojamento do Santos e tendo certeza de que inventei tudo isso, que vocês não existem e AAAAAAH! - ele foi interrompido quando deu um beliscão no seu braço. - Pra que isso?
- Pra você ter certeza de que está acordado e também pra parar de falar merda.
- Obrigado, de verdade... Eu adorei, o melhor presente que já recebi.
- Que bom que você gostou, cara. Também trouxemos aquilo lá que você pediu - Coutinho disse dando uma piscadinha e entendeu na hora, então Arthur entregou a outra sacola para .
- O que é isso? - ela perguntou confusa, devolvendo as muletas para e encarando os três jogadores. - Não tem graça.
- Meu Deus! Como vocês são insuportáveis! Abre isso logo! - Arthur disse impaciente de novo e tirou a camisa do embrulho.

Diferentemente de , notou o número 21 na camisa, virando para a parte de trás e vendo o nome nas costas.

- Era dele, né? - ela olhou para e ele concordou. - Como conseguiu?
- pediu no grupo da Seleção, o Alex, que joga na Juventus, pediu para o Dybala que concordou em dar a camisa dele. Então ele entregou pro Messi, que entregou pro Arthur, que entregou pra mim, dei pra minha esposa embrulhar, então voltou pro Arthur e agora tá com você - Coutinho disse rápido, deixando confusa.
- Não entendi nada, mas... Nossa, isso é incrível. Quero dizer, eu estava mais provocando o mesmo, mas... Eu nem sei o que falar, isso é muito legal. Obrigada, eu amei. Que caralho, era pra eu fazer surpresa e não ao contrário!
- Não se preocupa, amor, eu já me surpreendi bastante hoje, te garanto...

Enquanto foi deixar as camisas no seu quarto, pediu licença aos amigos e aproveitou para poder ficar com as sobrinhas um pouco. Estava louco de saudades da sua família, estava mais do que feliz de estarem todos ali por ele.

- Ainda estou meio sem acreditar nisso tudo - ele se sentou em uma cadeira e então Belinda pediu para ir para o colo dele. - Vem aqui.
- Tio, o seu pé ainda tá machucado? - a garotinha perguntou receosa, se lembrando de que sua mãe disse que seu tio estava machucado.
- Um pouquinho, amor, não consigo andar sem muletas ainda.
- Tá doendo?
- Não. Fica tranquila, eu vou ficar bem - sorriu para a sobrinha, deixando um beijinho na testa dela.
- O escândalo que essas duas fizeram quando souberam da lesão... Você nem tem ideia. Elas não queriam pensar que o tio pudesse parar de jogar futebol.
- Quanto drama, Maria Aparecida! Estou ótimo, é sério, logo mais eu já vou começar a fisioterapia.
- Não me chama de Maria Aparecida - Cida grunhiu entre dentes e riu da irmã. - Mas que bom que você está bem. Foi meio difícil guardar segredo sobre a festa. Não por mim, mas por essas duas aí.
- Não fala assim delas, são os amores da minha vida - apertou a sobrinha nos braços e a garotinha gargalhou, tentando se desvencilhar. - Nem pensar, mocinha! Eu não te vejo há meses, nem pense em sair daqui.
- Tá bom, tio, eu não quero sair.
- Que bom, porque não vou te soltar. Pensando bem, acho que vou levar você e sua irmã para morarem comigo. O que você acha?

Os olhos de Belinda brilharam com a possibilidade, ela realmente acreditou que isso seria possível. Se virou para a sua mãe, animada, pronta para pedir permissão, mas Cida apenas riu porque sabia que não daria conta de crianças que não fossem seus próprios filhos.

- Nem pede, você sabe que não dá, filha. Seu tio tem a mesma idade mental que você e sua irmã.
- Que absurdo, Cida, sou um adulto responsável e o melhor tio do mundo. Não sou, Belinda?
- É.
- Viu só?
- Deixa seu tio Rony ouvir isso, guria. Vem, deixa o seu tio cumprimentar as pessoas, vamos pegar um refrigerante.

Belinda saltou do colo de e seguiu Cida enquanto o jogador se levantou e pegou as muletas para ir se enturmar, mas ele não precisou dar um passo sequer porque Dantas se aproximou dele.

- Festão, hein? - o empresário disse com bom humor e concordou rindo.
- Méritos para , Arthur e Bruno. Eles que cuidaram de tudo.
- Eu tenho que admitir, , essa é um achado e tanto. Melhor que a Camila, eu diria.
- São pessoas diferentes, não tem muito o que comparar entre elas. não curte isso de rivalidade feminina e afins.
- Ela está certa, eu espero que dure, não te vejo feliz assim há algum tempo. Eu acho que eu fico tanto na parte futebolística que às vezes esqueço que você tem vida pessoal também.
- Eu não te culpo por isso, não deve ser muito fácil manter minha imagem limpa - ele riu da própria piada e Dantas concordou, rindo também.
- Deixa isso pra assessoria, eu só vou atrás do melhor pra você... No meio disso tudo, , eu só fico um pouco preocupado se acontecer de você conseguir ir pra Europa. Quero dizer, é óbvio que você vai, mas quando for, você tem alguma noção de como vai ficar o seu relacionamento? A parece ser bem tranquila quanto a isso, mas vai ser algo impactante.
- Eu sei... - soltou um longo suspiro. - Não ficamos pensando muito nisso, sabe? Vamos pensar no presente, eu só quero focar em me recuperar e jogar até o fim da temporada se possível. Não sei, eu não fico mais pensando nessas coisas, sabe? Não importa.
- É sério? É por causa dela?
- Dantas, eu amo essa garota demais. Ela me apoia em tudo, entende totalmente o meu trabalho, está fazendo de tudo pra eu ter uma boa recuperação... Imagino que vá ser difícil para a deixar tudo pra trás e ir comigo, eu não sei se ela vai querer ou não, tenho medo de ela não querer. Se isso acontecer, sei que vou estar incompleto. Apesar da minha lesão, apesar da minha desavença com o Carille, eu ainda sim estou feliz aqui... Eu jogo em um bom time, sou grato por isso e agora tenho alguém que realmente me ama e se importa comigo... Vou me esforçar para ser ainda melhor, mas no momento eu tenho tudo o que eu preciso bem aqui.
- Uau - Dantas disse admirado, pego de surpresa. - Isso foi profundo, eu fico feliz se você está feliz também... Só não deixa isso te tomar por completo, a sua carreira ainda vem em primeiro lugar.
- Eu sei, só estou vivendo o momento. Não se preocupa, enquanto eu estiver feliz fora do campo também, tudo vai dar certo.

⚽🖤📱

O jardim da casa de nunca esteve tão cheio. Felizmente era grande o suficiente para confortar todo mundo e ela achava um máximo receber tanta gente em casa, incluindo jogadores de renome nacional e mundial. Nunca se imaginou recebendo craques do futebol europeu na sua casa ou ganhando uma camisa de Paulo Dybala, mas ali estava ela e estava muito feliz por isso.
Ela estava conversando com a mãe e a irmã de enquanto brincava com as sobrinhas dele que agora a chamavam de tia também, quando pediu licença para ir até os fundos onde um aglomerado de jogadores faziam algazarra enquanto jogavam truco.

- Meninos, tem vizinhos aqui, ok? Calma aí! - ela disse após pedir licença para Avelar e se colocar na frente da mesa onde , Arthur, Coutinho e Bruno disputavam uma partida.
- Lo siento, mi vida. Tendremos más cuidado - disse se virando pra ela.
- Por que está falando em espanhol? Não entendi nada.
- O jogo é em espanhol. Quem falar português primeiro, perde - Gabriel justificou, embora não falasse espanhol também.
- Isso é esquisito, gente. É sério.
- Estoy hablando mi lengua materna - Bruno disse se justificando e fez uma careta confusa.
- Alguém pode traduzir o que esse garoto está falando?
- disse que vamos tomar mais cuidado e o Méndez tá falando a língua materna dele - Danilo, fluente em espanhol também, disse explicando para a garota. - Senta aí e relaxa, esse jogo vai longe ainda.

não disse nada, se limitou a observar o jogo e não entender quase nada, embora fosse engraçado. Achava também que falando espanhol ficava muito sexy, engrossando a voz e um pouco mais rouco do que normalmente falava. Não podia negar, estava adorando.

- Talvez você queira me mostrar essa fluência toda depois, quero aprender também - disse no ouvido dele quando a partida de truco terminou e os dois riram.
- É claro que sim, mi amor. Te quiero.
- Te quiero - ela disse sorrindo, antes de deixar um selinho nos lábios dele, então os dois saíram, se dispersando do grupo também.

Capítulo 22 - Vamos Festejar


Aviso de gatilho: Esse capítulo contém uma cena de assédio sexual, se for sensível para você, recomendo pular a cena em questão e avançar na leitura.

Por mais que ser a pessoa por trás das mídias de um dos maiores clubes do Brasil fosse um trabalho gratificante e bem remunerado, sentia que seu emprego estava exigindo muito dela ao ponto de não conseguir relaxar, e por mais que tivesse vontade de sair, ainda não tinha encontrado uma boa oportunidade.
Até alguns dias antes.

- E então? O que você me diz? - perguntou ansiosa para o seu chefe, esperando uma resposta positiva dele.
- Bom, o que posso fazer? Se você quer ir, então vai. Se é o melhor para você.
- Eu sinto muito, mas preciso de mais tempo com as pessoas que amo e parece que o meu trabalho me suga demais... Vai ser bom pra mim.

Desde que soube que tinha uma oportunidade para guiar torcedores pelo estádio, não pensou duas vezes antes de se candidatar e acabou conseguindo a vaga por toda a sua trajetória e identificação. Gostava de trabalhar com as mídias do clube, mas gostava ainda mais de ter contato com a torcida e estar mais próxima do estádio.

- Então boa sorte, estou perdendo uma das minhas melhores funcionárias, mas fico feliz de saber que ainda vamos nos encontrar por aí.
- É claro que sim! Obrigada por entender, de verdade. A gente ainda vai se ver muito.

Após se despedir de alguns colegas da equipe e esvaziar sua mesa, deixou o parque São Jorge se sentindo leve como nunca. Gostava do emprego, mas a ideia de ser a responsável por proporcionar experiências únicas aos torcedores era ainda mais empolgante e ela mal podia esperar para dar início ao seu trabalho. Com um sorriso bobo estampado no rosto, ela voltou para casa, pronta para aproveitar o resto da tarde colocando as coisas por ali em ordem. Ainda queria se mudar e ter um lugar só para ela, mas sentia que ali também era o seu lugar. Não tinha coragem de deixar seus pais, embora soubesse que esse dia ia chegar logo mais.
Ela colocou uma música no volume máximo enquanto limpava o quarto ao som de Runaway do colombiano Sebastian Yatra com os Jonas Brothers. Estava animada, absolutamente nada poderia estragar o seu dia e ela mal podia esperar voltar do CT para poder contar a novidade.
Ele provavelmente teria novidades também, pois sua recuperação estava sendo boa, e naquele dia seria o seu primeiro treino com bola depois de dois meses parado. estava mais empolgada para isso do que o próprio .

⚽🖤📱

- Foi incrível! Claro que eu treinei separado do resto do time, mas só de treinar com bola eu já me senti vivo de novo, foi gratificante, é sério - dizia enquanto jantavam. - E a partir de agora, vou ter que seguir a dieta à risca porque tomei a maior bronca por ter engordado.
- Não se preocupa, agora vou ter mais tempo para poder te ajudar com isso. Consegui a vaga.
- É sério? Que demais! Eu sabia que você ia conseguir, ninguém sabe mais da história do Corinthians do que você. Definitivamente – ele sorriu para ela, estava verdadeiramente orgulhoso. - E como vai ser?
- Eu vou trabalhar algumas horas a mais, porém menos dias. É intermitente, são alguns dias da semana, vai ser bem legal, fora que vamos poder viajar nas suas férias... eu tô muito feliz.
- Eu também. Por mim, por você, por nós... vai dar tudo certo, .
- Já está dando, a partir de agora as coisas vão melhorar ainda mais. Eu com meu novo emprego, você terminando a temporada com chave de ouro. Você vai ver, vai ser inacreditável - ela se levantou, indo colocar os pratos na lavadora e sentiu os braços de a envolvendo enquanto ele a abraçava por trás.
- Você tá sendo fundamental pra mim agora, eu teria enlouquecido se você não estivesse aqui comigo. Você merece toda a felicidade do mundo, - ele disse após dar um beijo carinhoso na bochecha dela e sorriu, se virando de frente para ele e colocando seus braços ao redor do pescoço dele.

Ela não disse nada, apenas ficou na ponta dos pés quando ele a beijou, cheio de ternura. Provavelmente estavam vivendo a época mais tranquila do relacionamento deles, sem qualquer briga boba ou drama exagerado, estavam sabendo lidar com os problemas com muita maturidade e bom senso para resolver tudo na base da conversa. Sabiam que ia durar muito tempo se continuassem assim.
se sentou sobre o balcão, envolvendo suas pernas ao redor da cintura dele, pegando desprevenido, mas ele retribuiu ao intensificar o beijo, apertando suas mãos na cintura dela, entrando por debaixo da camisa depois. fechou os olhos quando ele desceu para o seu pescoço, apertando de leve o seu seio enrijecido com o toque dele, a fazendo suspirar e sorrir ao mesmo tempo.

- Sabe do que eu lembrei esses dias? - perguntou contra o pescoço dela, dando um chupão tão ardido que teve certeza que ficaria uma bela marca ali depois para que ela escondesse com base.
- O que você lembrou?
- Daquele dia na banheira e em como você fez eu me sentir melhor. Eu não podia fazer nada com o pé machucado, mas agora... acho que posso te compensar.
- E o que você quer fazer? - afastou o rosto para poder ver ele melhor, mas apenas sorriu.
- Quer ir tomar um banho e relaxar? Deve ter tido um dia longo.
- Vai me deixar curiosa?
- Vou.
- Ok, me dá cinco minutos.

riu enquanto pulava do balcão, foi em direção ao quarto para pegar uma toalha e também a lingerie que ainda não tinha usado, mas havia achado o momento ideal para isso. Ela tomou um banho rápido, apenas para tirar o suor do corpo de mais um dia quente de setembro e nem fez questão de se vestir quando saiu do banheiro, apenas vestiu a lingerie de cor preta e saiu do banheiro, chamando por e escutou a voz dele vindo da sala, então ela caminhou pelo corredor em passos minuciosos e parou na entrada, se encostando na parede. Não iria exagerar e forçar uma sensualidade que não era sua, fazendo poses chamativas. Não precisou disso porque quando colocou os olhos nela, não foi capaz de olhar para nenhum outro lugar.

- Nossa - ele disse admirado, contemplando a garota na sua frente. - Sou mesmo um cara de sorte.
- Vai demorar muito? Estou começando a ficar com frio.

desligou a televisão e se levantou, indo até logo em seguida. A tomou nos braços em um giro, a prensando contra a parede e a beijando com ferocidade. nada fez, apenas se deixou ser guiada, deixando ele fazer o que quisesse com ela, mas não se conteve ao pedir que ele tirasse a camisa e assim fez, voltando a beijá-la logo em seguida enquanto iam em direção ao quarto.
se afastou dele por um instante para fechar as cortinas, mas foi só estarem na privacidade do quarto que foi até ela novamente, chegando sorrateiramente por trás. As mãos dele pousaram sobre a cintura dela e foram subindo pela barriga conforme ele distribuía beijos pelo pescoço dela. não conteve um gemido quando ele apertou os seios dela ao mesmo tempo, então colocou suas mãos por cima das dele, o incentivando a continuar.

- É um conjunto bonito, mas eu prefiro que você tire - ele sussurrou ao pé do ouvido dela e sentiu os pelos do corpo se arrepiando.
- Acho que você pode fazer isso por mim - ela respondeu no mesmo tom de voz e então abriu a parte de trás do sutiã. não pensou duas vezes em se livrar da peça, jogando para longe, se virando para ele logo em seguida. - Ainda acho que você está com muita roupa.
- Não se preocupa - sorriu. - Ainda temos a noite toda pela frente.

Eles voltaram a se beijar arduamente enquanto iam em direção à cama. se livrou da sua calça antes de se sentar, e então se sentou no colo dele, retornando ao beijo. Ela podia sentir a ereção dele por dentro do tecido da roupa, então provocou ao rebolar por cima, fazendo gemer em resposta. Sentiu as mãos firmes dele apertando a sua bunda conforme ele ia distribuindo beijos desde o seu pescoço até o vale dos seus seios. Fechou os olhos e cravou as suas unhas curtas nos ombros dele quando ele começou a chupá-los com vontade e ela precisou conter a respiração ofegante, desejando ainda mais.

- Está bom, mas pode melhorar... - ela soou despretensiosa, mas sabia bem o que queria.
- O que você quer que eu faça? É só dizer - se afastou um pouco para poder olhar para ela, mas mordeu os lábios quando começou a rebolar novamente. - Porra, !
- O que foi? Não tá bom?

não respondeu com palavras, mas foi rápido ao jogá-la contra a cama, se colocando por cima.

- Eu não sei nem por onde eu começo - ele disse com a voz e o olhar transbordando malícia, desejando de todas as formas possíveis.
- Por baixo - mordeu os lábios, segurando a mão dele e levando até a sua intimidade por cima do tecido da calcinha. - Daquele jeitinho que só você faz.

concordou e desceu, incentivando a se livrar da sua última peça de roupa e ela assim fez, então ele começou devagar afim de provocar enquanto ela gemia e pedia para que ele não fizesse assim. Ele ergueu o rosto rapidamente para poder ver a reação dela, mas estava com os olhos fechados, tentando controlar a respiração e se estimulando. Voltou sua intenção para o que estava fazendo e passou a língua devagar pelo clitóris de propósito, mas ele mesmo não se conteve de excitação quando começou a chupá-la com vontade, arrancando gemidos e suspiros indesejados de que à essa altura, já não respondia por si, apenas queria cada vez mais.
Queria uma noite memorável, algo que em que pudesse se pegar pensando durante muito tempo e, ter à sua disposição, era tentador e gratificante ao mesmo tempo.

⚽🖤📱

- Vocês sabiam que Angel Romero é o artilheiro da Arena Corinthians com vinte e sete gols marcados aqui? Vai ser difícil superar o nosso menino desespero - disse ao grupo de visitantes quando passaram pela beira do gramado. - O gramado é de grama natural, o que exige cuidado redobrado, mas não pensem que isso é impossível, afinal, é considerado por muitos o melhor gramado do Brasil. Quem sou eu pra discordar, não é?

estava fazendo seu primeiro tour guiado depois de alguns dias de treinamento e, por mais que estivesse nervosa, achava que estava se saindo bem. Estudou e se preparou, tinha muitas estatísticas na ponta da língua para impressionar os visitantes que estavam interagindo bastante com ela. Sua única preocupação era se, em algum momento, alguém lhe perguntasse sobre a sua vida pessoal, algo que ela não gostaria de comentar. Todo mundo sabia que estava namorando um atleta do time, mas ela não queria ser marcada por isso, especialmente porque estava no clube há muito mais tempo do que . Quando ele ainda jogava fora do país, ela já era jogadora do time feminino.
Enquanto os visitantes se dividiam entre tirarem fotos na beira do gramado ou no banco de reservas, ela se limitou a apenas observar ou tirar fotos para quem lhe pedia o favor.

- Sabe quando disse sobre o Romero? Acho que o vai passar ele - um visitante disse bem-humorado e ela sentiu o rosto arder, levemente surpresa.
- Difícil, o Romero ficou quase cinco anos aqui - ela saiu em defesa do paraguaio, sem entender exatamente o motivo de estar fazendo isso.
- Mas o Romero não tem a mesma qualidade técnica. é o nosso homem das bolas paradas, se o Carille não fosse burro, seria o melhor jogador do time. Fiquei muito feliz quando ele veio pra cá.
- É... - ela não tinha certeza se foi uma afirmação ou um grunhido, afinal, concordava que na bola parada era imbatível, mas ela levou um tempo para perceber isso.
- Desculpa, você deve achar que eu tô querendo me intrometer na sua vida.
- Não, tudo bem. é tão boa pessoa quanto atleta. Meio esquentado igual a gente vê no campo, mas tem um bom coração - ela sorriu de canto, se sentindo mais aliviada.

Após o final da tour, ela levou os visitantes de volta para o ponto de partida e depois foi ao banheiro, visto que tinha bebido muita água antes de começar. Aproveitou o intervalo entre uma visita e outra para mandar uma mensagem ao namorado, visto que provavelmente estava em horário de almoço. Se surpreendeu quando viu que tinha mensagem dele enviada minutos antes.

"Como está sendo o primeiro dia? Porque eu lembro que o meu primeiro dia foi uma porcaria hahaha vou ter que fazer essa tour pra ver se você tá fazendo tudo direitinho ahahahah”

Ela não conteve uma gargalhada ao se lembrar da primeira vez em que se viram. Achava fofo o modo como ele estava preocupado com ela e seu trabalho.

"Vamos adorar ter uma visita como você!"
"Ok, vamos ver um dia. A propósito, tô me saindo muito bem, fiz um golaço de falta de longa distância. Estou voltando Brasiiiillll!"

imaginou o sorriso largo dele ao digitar a mensagem e sorriu junto de tanta felicidade. Estava tão ansiosa quanto ele para que voltasse a treinar com o time, o empenho e dedicação dele estavam sendo importantes em sua recuperação. Se continuasse assim, logo veria os resultados chegando.

"Você ainda vai surpreender todo mundo, . Anota isso"

Quando viu a mensagem, ele abriu um largo sorriso, se sentindo mais confiante do que nunca. Era eternamente grato por todas as pessoas que lhe deram apoio no momento difícil, mas de todas elas, foi a mais importante porque não saiu do lado dele por um minuto que fosse. Ela estudou a lesão, os cuidados necessários e até a alimentação correta que ele deveria manter, tudo em pró da sua recuperação. esteve lá o tempo todo e decidiu que seu primeiro gol ao retornar seria inteiramente dedicado à ela.
Riu de si mesmo quando percebeu o quão bobo apaixonado soava no meio do refeitório com todos os seus amigos jogadores ali. Olhou para o seu lado, afim de contar para Bruno, mas percebeu que o amigo também estava no celular com um sorriso muito similar no rosto.

- Eu ia dizer que estou apaixonado, mas pelo visto, não sou o único - disse fazendo ele se assustar.
- Que susto, !
- E aí? O que eu perdi?
- Nada - Bruno deu de ombros, dando uma garfada generosa na sua comida no prato.
- Nada? Tá sorrindo que nem idiota pro celular por causa de nada? - sorriu e viu o amigo ficar ligeiramente corado, encolhendo os ombros. - Qual é? Somos amigos, pode me contar qualquer coisa.
- Conheci uma garota - ele admitiu quando percebeu que não iria desistir de descobrir. - Foi durante o Pan, ela estava torcendo pelo Brasil no jogo contra o Uruguai. Talvez eu tenha perdido um pouco o foco - Bruno riu, se sentindo envergonhado por aquilo.
- Você é mesmo um garanhão! E como conseguiu falar com ela?
- Foi coincidência, mas ela estava em uma festa no hotel do time. Não sei explicar, só aconteceu.
- Isso é muito legal, Bruno, eu fico feliz por você.
- Gracias - Bruno respondeu e soltou um longo suspiro logo em seguida.
- O que foi?
- Ela é brasileira, às vezes não sei conversar com ela porque meu português é muito ruim, ela não entende o que eu falo e eu me sinto idiota.
- Você não é idiota, cara, seu português melhorou muito durante o ano. Antes você só falava em espanhol comigo, lembra? Olha agora, consegue falar sem misturar os idiomas, isso é difícil quando se trata de português e castelhano que são tão parecidos. Você não tem que se preocupar com isso.
- Mas é importante a comunicação.
- Eu sei, comunicação é importante, mas você está se saindo bem com o português. Fluência leva algum tempo mesmo, só aprendi no meu segundo ano na Argentina porque cheguei lá sabendo o básico.
- Eu entendo... Ela vai no meu aniversário, vai poder conhecer ela.
- Vai ser bom. Não se preocupa tanto, Bruno, só deixa as coisas acontecerem. Não forcei absolutamente nada com a e aconteceu, acho que esse é o segredo.
- Eu não odeio a Gabriela, . Essa é a diferença.
- Gabriela é o nome dela, é? Muito bom, não odiar a garota já é um começo.
- Idiota - os dois começaram a rir enquanto Bruno terminava de almoçar. - Por favor, não me faz passar vergonha.
- Jamais, Bruninho! Só pra eu saber, quantos anos ela tem?
- Dezenove.
- É, talvez a saiba como puxar assunto. Isso vai ser divertido.
- Meu Deus... tenha piedade de mim – Bruno se lamentou enquanto ria.

⚽🖤📱

A festa de aniversário de Bruno foi alguns dias depois, em uma sexta-feira à noite em um salão alugado pelo zagueiro. Queria comemorar os seus vinte anos com estilo e mostrar como os uruguaios festejam. A decoração em tons de azul escolhida por ele poderiam ajudar com isso.
e estavam se arrumando na casa da garota. Ambos cansados pelo dia longo de trabalho, com sua nova função dentro do clube e com sua rotina de treino intensivo, ainda separado do restante da equipe, mas apesar disso conversavam alegremente sobre o dia individual de cada um e dava detalhes do treinamento, deixando tão empolgada quanto ele para o grande retorno.

- Cristiano e Messi que se cuidem, o homem das bolas paradas está voltando com tudo - ela disse divertida enquanto olhava o próprio reflexo pelo espelhinho da sua paleta de sombras ao se maquiar. riu.
- Se um dia eu tivesse metade do talento do Messi e da técnica do Cristiano, seria o terceiro melhor do mundo - respondeu enquanto abotoava a camisa branca na frente do espelho. – E, com todo o respeito, por favor não me mate, jogaria em um clube com um pouquinho mais de destaque fora do país. De novo, com todo o respeito.
- Eu entendi, disse rindo. – Você pode jogar em qualquer um, vai se destacar em todos.
- Até no rival?
- Menos nesse - os dois começaram a rir. - E para de falar besteira, a gente tem que ir logo. Quero conhecer a ficante do Bruno.

concordou e eles continuaram se arrumando, então deixaram a casa dela e tomaram o caminho para o local da festa. Entenderam que Bruno não estava de brincadeira quando viram, logo na entrada, um painel grande escrito #BM20 em led azul.

- Obrigado por não ter feito um desse no meu aniversário - disse discretamente para enquanto posavam para fotos na frente do painel, fazendo ela rir.
- Tadinho, ele merece ser o centro das atenções um pouquinho - respondeu enquanto passavam juntos pela recepção, deixando o presente do amigo por ali mesmo e surpreendendo com o tamanho do lugar. - Meu Deus.

Era um salão amplamente grande com teto alto e um mezanino, criando dois ambientes dentro de um lugar só. Já estava cheio de pessoas, muitos conhecidos e outros nem tanto que dançavam com a música eletrônica ecoando pelo ambiente todo, deixando surdo quem estivesse perto das caixas de som. Eles andaram um pouco, pegaram uma bebida no bar e, ao encontrarem com Gabriel e a noiva, pararam para conversar. não a conhecia, mas ficou impressionada com a beleza de Flávia. Certamente nunca viu um cabelo longo tão bem hidratado.

- Cadê o Bruno? - ela perguntou alto, se aproximando um pouco de Gabriel para que ele pudesse ouvir.
- Ali está o nosso conquistador.

Gabriel apontou para cima, na direção do mezanino. Bruno estava encostado no parapeito olhando o movimento no andar inferior do salão com uma garota ao seu lado. teve dúvidas sobre quem ela era, mas quando viu que ele deixou um beijo na bochecha dela, não teve dúvidas de que aquela era Gabriela.

- Ela é linda! - ela disse no ouvido de , vendo o namorado concordar com a cabeça.
- Bonitinha. Você é mais - olhou para , a pegando desprevenida, mas ele apenas riu e esticou o pescoço para dar um selinho nela.
- Começou! - Gabriel revirou os olhos, mas acabou rindo.
- A gente vai lá marcar território, ter certeza de que o papito está em boas mãos - disse aos amigos, tomando pela mão, então os dois procuraram a escada de acesso ao mezanino.
- Ele vai matar a gente, - disse ao chegar no topo da escada.
- Nah! Não vamos exagerar, só vamos conhecer a menina.

Eles se aproximaram de Bruno, o pegando de surpresa e, após o parabenizar, foram apresentados à Gabriela.

- A famosa Gabriela - disse divertido após cumprimentar a garota que parecia ser bem tímida. - O Bruno fala muito de você.

Bruno arregalou os olhos, quase que suplicando para que e não falassem nada que fosse o deixar constrangido e entendeu, tomando as rédeas da situação.

- O que o quis dizer, é que o Bruno foi obrigado a falar de você porque insistimos - ela disse com bom humor. - Prazer, sou a .
- Gabi - Gabriela respondeu, esboçando um sorriso tímido nos lábios. - Prazer.
- Esse é o casal que te falei, o joga comigo no time - Bruno explicou no seu melhor português possível.
- Eu carrego o time nas costas, sabe? O Bruno nem é tudo isso - disse fazendo as garotas rirem enquanto Bruno mandou o dedo do meio pra ele.
- Há quanto tempo você não joga mesmo?
- Julho, e mesmo assim eu continuo carregando vocês nas minhas costas. Dói, sabia? - ele olhou para Gabriela. - É brincadeira, ele é ótimo. É um partidão, pode apostar.
- ! - disse rindo ao ver que Bruno e Gabriela arregalaram os olhos e a menina quase se escondeu atrás do jogador. - Ignora, hoje ele está engraçadinho mesmo.
- Muito engraçado - Bruno olhou para o amigo que apenas ria deles. - Sem open bar pra você, meu amigo.
- Qual é? Eu só vim pra beber! - mostrou o copo pela metade em sua mão.
- Meu Deus, hoje ele tirou o dia pra me fazer passar vergonha - colocou as mãos no rosto, rindo sem parar. - Vou ao banheiro, vem comigo, Gabi?
- Tudo bem.

entregou seu copo para e as duas seguiram para o banheiro mais próximo dali. A intenção de era se aproximar de Gabriela, conforme e Bruno sugeriram. Não sabia como iriam fazer isso, afinal, tinham uma diferença de idade um pouco grande, mas iria tentar mesmo assim.

- Não liga para o , tá? Ele gosta de fazer piadinhas com o Bruno - ela disse enquanto entravam no banheiro feminino.
- Não tem problema. O Bruno disse que eles são bem amigos - Gabriela se encostou na pia de braços cruzados enquanto abria sua bolsa para pegar o batom e retocar.
- Melhores amigos, eu diria. Bom, o melhor amigo do é o Arthur, aquele do Barcelona, mas o Méndez é o segundo, ou eles dividem o primeiro lugar. Sei lá! Você entendeu, né?
- Entendi - Gabriela respondeu rindo. - Há quanto tempo vocês estão juntos?
- Nossa, agora você me complicou - fez uma cara pensativa e passou o batom rapidamente pelos lábios. - Uns cinco meses, eu acho. Quero dizer, o nosso primeiro beijo foi semanas depois que a gente se conheceu, mas eu estava muito bêbada e não lembro, então eu conto desde o que eu consigo me lembrar. Uns sete meses, eu diria. E você e o Bruno? Ele não falou muita coisa, a gente teve que adivinhar.
- A gente se conheceu em Lima, o meu pai é muito fã da Seleção e planejou essa viagem por meses, conheci o Bruno em uma festa no hotel onde as equipes estavam por pura coincidência - Gabriela encolheu os ombros, não sabia porque se sentia tão tímida em contar aquilo.
- Só isso? Se conheço o Bruno, eu imagino que ele não chegou já tascando a língua em você. Ele é um fofo.
- Não! - ela começou a rir, visivelmente envergonhada. - A gente já tinha voltado para o Brasil quando começamos a sair, a gente foi com calma.
- Mas vocês estão namorando agora?
- Eu não sei... Bem, às vezes eu não entendo muito bem o que ele fala, acho que ele fica meio chateado por causa disso, mas estamos tentando, sabe? Não sei direito o que nós somos.
- Mas você gosta dele?

Gabriela hesitou por um instante, encarando o próprio reflexo no espelho antes de baixar o olhar para os próprios sapatos, cruzando os braços. não imaginava o que poderia esperar como resposta, ela parecia bem impassível.

- É cedo pra dizer que sim? A gente se conhece há menos de dois meses.
- Não - sorriu compreensiva. - Sabe, Gabi, uma vez o me disse que passou cinco anos em um relacionamento raso, sem aquela conexão, mas sentiu comigo quando estávamos namorando há apenas dois meses. Ele disse que não era questão de tempo, e sim da pessoa. Ele estava certo, olha só pra nós, parece que estamos juntos há anos. Se você acha que gosta do Bruno, não tem problema nenhum, não tem motivo para não gostar dele, o Bruno é um amor de pessoa e um cara do bem, se ele está com você, é porque também gosta de você.
- Você acha?
- Acho, eu não conheço ele tão bem assim, mas sei que ele gosta de fazer as coisas do jeito certo. Não se preocupa, ainda têm muita coisa pra acontecer, mas podem passar por isso juntos. Quer saber? Se joga de cabeça mesmo, abraça e anda de mãos dadas com ele, é da conta de quem? Se você gosta dele, então demonstra, você não vai se arrepender. E se não der certo, pelo menos você tentou.
- Obrigada, - Gabriela sorriu. - Acho que vou precisar de mais conselhos, se a coisa com ele for pra frente.
- Vamos amar apadrinhar vocês - disse rindo enquanto as duas saíam juntas do banheiro e voltavam na direção dos rapazes.

Quando se aproximaram deles, foi para o lado de e viu Gabriela se aproximando de Bruno, entrelaçando seus dedos timidamente com os dele. Bruno baixou o olhar, mas depois sorriu para ela. e trocaram olhares cúmplices, sorrindo, e fizeram o mesmo gesto, porém sem timidez.

- Você quer dançar? - perguntou de surpresa para .
- Você está me convidando pra dançar? É isso mesmo? - ela riu, ainda um pouco surpresa.
- Se você não quiser, eu posso chamar outra garota por aí.
- Faz isso e eu acabo com o seu outro tornozelo... Vamos dançar - ela olhou para Bruno e Gabriela. - E vocês dois? Vão ficar plantados aí?
- Vai, Méndez, mostra pra ela os seus dotes de conquistador.
- Vai à merda, - Bruno disse rindo e se virou para Gabriela. - Você quer?
- Tudo bem - ela respondeu com um sorrisinho de canto nos lábios, recebendo um joinha de em aprovação, então os quatro desceram as escadas até a pista de dança principal.

Lately, I've been, I've been thinking
I want you to be happier, I want you to be happier

A música que começou a tocar era Happier do DJ Marshmello. conhecia a música e gostava, mas não tinha a mínima ideia de como dançar. não sabia dançar, mas tentou ajudar como podia, envolvendo seus braços ao redor dos ombros dele, mexendo o corpo de um lado a outro, os guiando no ritmo da música.

- Muito bem - sorriu ao ver que estavam em sincronia.
- Da última vez que dançamos juntos, quase nos beijamos - relembrou meses antes na comemoração pós derby na casa de Junior.
- É sério? Foi naquele dia que eu fiquei muito louca? - ele concordou rindo. - Ainda bem que agora pode, né?
- É, mas eu vou me desconcentrar se fizer isso agora.

apenas riu enquanto continuavam dançando no ritmo animado da música. Ela arriscou girar e voltar para os braços dele enquanto riam pela forma bagunçada como o passo saiu.

Then only for a minute
I want to change my mind
'Cause this just don't feel right to me

- I want to raise your spirits, I want to see you smile - cantarolou a parte que lhe interessava e sorriu com o verso.
- But knows that means I'll have to leave - ela completou, sabendo que o seu inglês era péssimo, já que não praticava.
- Essa música é meio triste - ele disse mais perto do ouvido dela para que pudesse ouvir melhor.
- Você acha? Pra mim, é bonitinha.
- Eu acho bem triste - ele admitiu rindo e olhou de relance para o lado, sorrindo com o que viu. - Olha.

virou o rosto também e sorriu de orelha à orelha quando viu Bruno e Gabriela envolvidos em um beijo lento e apaixonado, sem se preocupar com os olhos curiosos dos convidados ao redor. Ela se sentiu satisfeita ao perceber que seus conselhos funcionaram mais rápido do que esperava.

- Não sei o que vocês conversaram, mas deu certo - disse orgulhoso, desviando o olhar do casal e voltando a atenção para . - Meus parabéns.
- Eu só fiz uma propaganda do Bruninho, ele me deve essa - respondeu sorrindo, deixando um beijo no queixo do namorado.

Lately, I've been, I've been thinking
I want you to be happier, I want you to be happier
Even though I might not like this
I think that you'll be happier, I want you to be happier

Apesar de a música contar a história de um relacionamento desgastado e que um dos dois teria que abrir mão pela felicidade do outro, a batida era divertida, alegre e apaixonante. Talvez fosse a música junto com o jogo de luzes em tons de azul e a bebida no organismo, mas eles estavam em um daqueles momentos únicos de conexão entre si, daqueles em que só sabiam olhar nos olhos um do outro sem dizer qualquer palavra, os olhos já diziam tudo, o sorriso nos lábios também. tomou a atitude e se curvou para deixar um beijo na boca da namorada, pressionando seus lábios contra os dela devagar, demorando um pouco e dando vários selinhos em seguida, nos quais retribuiu sem a menor pressa de intensificar para virar um beijo de verdade. Estava gostando mesmo assim.
Eles ainda dançaram mais duas músicas juntos, Stay da Alessia Cara e Closer do The Chainsmokers até alegar que precisava ir ao banheiro e concordou, deixando a pista de dança e indo em direção ao bar para pegar mais uma bebida. Ela voltaria dirigindo, então não iria exagerar naquela noite, mas não via problema em beber apenas mais um copo antes de passar as horas seguintes na base da água. Se sentou no banquinho enquanto tomava a sua caipirinha de morango e mexia no celular, esperando por .

Aviso: Aqui começa a cena em questão, se não quiser ler, pode descer um pouco e ir direto para o final.


- Eu ia perguntar se eu poderia te pagar uma bebida, mas esqueci que é open bar. - desviou a atenção do seu aparelho quando um rapaz alto demais se sentou ao lado dela.
- Pois é, acontece - tentou parecer educada, voltando a olhar pro celular, agora apenas para evitar olhar pra ele.
- Você é amiga do aniversariante?
- Sou.
- Eu não conheço ele, vim com amigos de amigos, acho que ele não se importa.
- É... - apertava o celular na mão, pensando em um jeito de sair dali sem parecer grosseira.
- Qual é o seu nome?
- .
- Oi, . Sou o Victor - ele sorriu cordial e forçou um sorriso, olhando de relance pra ele rapidamente.
- Oi...
- Você quer dançar?
- Não, obrigada. Eu tenho namorado, Victor - ela rebateu prontamente, tentando não parecer grossa.
- Ele é o seu dono?
- Não, mas acho que não pegaria bem. Eu não gostaria de ver ele dançando com outra garota que eu não conheço, então é melhor não, né? Licença.

pulou do banquinho para sair dali, passando pelo meio das pessoas tentando não esbarrar em ninguém. Ela só não esperava ter sido seguida, sendo puxada pelo braço de repente. Teve que conter a vontade de gritar para não assustar quem estivesse próximo dela.

- Desculpa, gata. Não queria ofender você.
- Tá ok. Solta o meu braço, por favor - disse com frieza, tentando não demonstrar que estava assustada.
- Calma, eu não vou te machucar. Eu não machucaria uma garota tão linda.
- Então me solta. Não é porque tenho namorado, é porque eu não quero. Me solta agora ou eu vou gritar.
- Gosto das nervosinhas como você.
- Você está me machucando - engoliu a saliva a seco quando ele apertou mais o seu pulso e deixou o medo transparecer na sua voz.
- O seu namorado não precisa saber, gatinha.
- Para, é sério, Victor.

O sorriso dele estava lhe dando nojo e queria correr dali o mais rápido possível, mas ele era muito mais forte do que ela. Os olhos dele estavam cheios de malícia e, conforme se aproximou, ela sentiu o cheiro de álcool nele e também lágrimas se formando nos seus olhos, se perguntando aonde estava naquele momento.

- Eu já falei pra você me soltar! - ela usou a mão livre para se desvencilhar, mas ele segurou seu pulso, deixando paralisada.
- Isso não é necessário, .
- Você é surdo?

Ele não respondeu, apenas se aproximou até seus lábios roçarem contra a pele dela. virou o rosto bem a tempo, mas mesmo assim era nojento aquele homem desconhecido encostar a boca na sua bochecha.

- Vai pro inferno!

se aproveitou do seu salto agulha, pisando com força sobre o pé dele. Victor a soltou imediatamente e ela correu, dando braçadas nas pessoas que via pela frente, louca para fugir daquele homem insano. Ela só parou quando foi segurada e conteve o grito quando percebeu que era Vital.

- ? Tá tudo bem?
- Mateus! - ela disse com a voz embargada, sendo incapaz de conter o choro.
- Ei, calma. O que aconteceu? - o jogador perguntou muito preocupado, passando as mãos pelo ombro da garota afim de a tranquilizar.

se quer teve tempo de responder, apenas teve o extinto de abraçar o amigo, quando viu Victor novamente, se aproximando deles em passos largos.

- Qual é o seu problema? - esbravejou pra ele.
- Esse é o seu namorado? Quantos anos ele tem? Quinze?
- Não é da sua conta!

Mateus não precisou de muito para entender o que estava acontecendo. Percebeu que estava fugindo daquele homem que, aparentemente, estava perseguindo ela. Ele entrou no personagem, sem se intimidar pelo homem muito mais alto e aparentemente mais velho do que ele.

- E o que você tem a ver com isso? Não ouviu ela dizer não? Sabe quem eu sou e o que posso fazer com você? Encosta nela de novo e eu acabo com você aqui e agora!
- Calma, cara, eu não sabia que ela era compromissada contigo. Foi mal aí - ele ergueu as mãos em redenção, mas riu indignada.
- E você tem que ouvir da boca de um homem que não é não? - perguntou indignada, quase se soltando de Vital, mas ele não deixou.
- Então agora que você sabe, é melhor você circular e ficar bem longe dela, estamos entendidos? Se você acha que eu tô brincando, não queira experimentar.
- Foi mal, perdi a vontade. Boa festa pra vocês - Victor deu as costas para eles, sumindo no meio das pessoas.

apenas observou, procurando se acalmar. Mateus olhou para ela preocupado, podendo imaginar o medo que ela estava sentindo.

- Ele fez alguma coisa? Ele encostou em você, ?

Ela concordou, mostrando o pulso marcado com os dedos dele, deixando Mateus furioso, porém o jogador procurou manter a calma.

- Ele tentou me beijar, mas eu virei o rosto - ela admitiu, se sentindo completamente envergonhada por dizer aquilo.
- Que bom que ele não conseguiu, você foi muito corajosa, . Vem, vou pegar uma água pra você.

concordou e seguiu Mateus, mas não era capaz de parar de olhar para os lados com medo de encontrar Victor novamente. Vital segurava a sua mão, a levando até o bebedouro mais próximo. Quando encontraram, pegou um copo descartável e encheu de água para entregar pra ela.

- Obrigada - ela disse após dar um gole generoso e só então percebeu que estava tremendo.
- Cadê o ?
- Ele foi ao banheiro.
- Quer me contar o que aconteceu?

concordou e começou a contar, tentando conter o choro diante da situação. Ela só não sabia que estava perto dali observando. Ele não viu o que aconteceu, avistou e Vital apenas quando o jogador segurou a mão dela e eles passavam pelo meio das pessoas. não queria tirar conclusões precipitadas, mas sabia que no passado o amigo havia se interessado por que recusou. Ele respirou fundo e criou coragem para ir até eles, torcendo para que fosse coisa da sua cabeça e não estivesse vendo e Vital de mãos dadas circulando pela festa.

- Tá tudo bem? - ele se aproximou, colocando a mão no ombro da namorada.

, completamente em choque, se assustou ainda mais. Ela gritou e não pensou duas vezes antes de se virar repentinamente com a mão esticada, o acertando bem em cheio. levou a mão ao rosto, sentindo o arder sobre a sua pele e um pouco de tontura pela pancada certeira. , ao perceber que era ele, levou as mãos ao rosto também, sem saber como reagir, tal como Vital que ficou estático.

- ... - ela não sabia o que dizer, estava ainda mais assustada.
- Qual é o seu problema? - esbravejou ainda com a mão no rosto, sentindo um nervosismo repentino tomando conta de si. - O que está acontecendo aqui?
- Cara, calma - Vital tomou as rédeas, fazendo sinal com as mãos para que se acalmasse. - Não é o que você está pensando. A ...
- Um cara louco tentou me agarrar, eu fugi dele e ele ainda veio atrás de mim. Se não fosse o Mateus, sabe-se lá o que ia acontecer comigo - disse tudo de uma vez, se justificando e defendendo o amigo.
- O que? - olhou de um para o outro, tentando ter certeza de que ouviu certo. - Quem fez isso, ?
- Ele se apresentou como Victor - encolheu os ombros e respirou fundo antes de mostrar o pulso marcado pra ele. - Ele me segurou com força, mas eu pisei no pé dele e consegui correr até encontrar o Vital.

sentiu o sangue ferver quando viu as marcas de dedos no pulso de . Poderia matar a pessoa que fez aquilo com ela e não iria demorar nada.

- Me mostra quem ele é, .
- ... - fraquejou, sentindo um medo repentino voltando.
- Você vai me mostrar quem é e eu vou tirar ele daqui. Ou pela segurança, ou no soco. Anda, me mostra quem é!
- Calma! - Mateus se aproximou ao perceber que deu um passo para trás com medo. - Você não tá vendo que ela está assustada? Eu vou te mostrar quem é, mas nós vamos mandar direto para os seguranças, ok? E não deixa o Bruno saber.

apenas concordou, então os três começaram a andar pelo salão, mesmo achando uma péssima ideia. Estava sendo amparada por Vital, sabia que não iria a escutar naquele momento e ela não poderia fazer nada.

- , é aquele cara de amarelo perto daquela coluna - Vital apontou para uma coluna de sustentação do mezanino mais ao fundo, perto de uma porta de emergência. - Agora a gente vai...

Tarde demais, estava marchando na direção do homem sem se importar se ele era mais alto e mais velho.

- Mateus! - se virou para ele um pouco desesperada, ela não era capaz de fazer nada.
- Calma, eu vou chamar um segurança. Fica aqui.

concordou, se encolhendo de apreensão e seguindo com o olhar. O jogador se aproximou de Victor que mexia no celular enquanto bebericava uma cerveja.

- Victor, né?
- Sim? - ele ergueu o olhar para , sem saber quem ele era.
- Então você gosta de assediar as mulheres por aí? - o puxou pelo colarinho da camiseta, o jogando contra a coluna.
- O que é isso? Do que você tá falando? Quem é você?
- Me diz se é interessante pra você assediar uma mulher que está sozinha. Quem sou eu? Eu sou o namorado dela, mas só isso não é motivo pra você fazer o que fez com ela.
- Foi um mal entendido, ok? Não é você, eu vi o garoto, já nós resolvemos. Me solta.
- Escuta aqui, filho da puta - o apertou mais, quase o enforcando e Victor tossiu. - Você assediou a minha namorada, tocou nela sem permissão e machucou. Achou que ia passar impune? Não sabe que quando uma mulher diz não é não? Por mim, eu acabo com você aqui mesmo, agora.
- Por favor... - Victor sussurrou, estava realmente com falta de ar.
- O que? É ruim, né? Machuca, igual você fez com ela. Torce pra segurança chegar aqui antes que eu mesmo acabe com você. O lado bom de ser nervosinho dentro de campo, é que eu sei brigar fora dele também. Posso acabar com você agora.

usou mais da sua força, expelindo toda a raiva que tomou conta do seu corpo, mas parou quando a segurança do evento chegou junto com Mateus e bem atrás dele. Ele se afastou, deixando com que os homens de terno o segurassem, um de cada lado. Foi até , com o extinto de a proteger enquanto Victor se defendia dizendo que não fez nada, mas não era o suficiente, então ele foi levado à força para fora dali. se virou para , sentindo a sua raiva ir passando conforme percebia o quanto ela estava assustada. Não parecia a sua alegre e corajosa, parecia uma garotinha assustada de uma forma que ele nunca viu.

- Já acabou, ele não vai mais chegar perto de você - ele olhou para Vital. - Obrigado, cara, muito obrigado mesmo. Desculpa se eu pareci ciumento, só queria entender o que estava acontecendo.
- Tudo bem, já passou, está bem e é o que importa. Não vamos deixar o Bruno ficar sabendo disso, ok? Não hoje.
- Não vamos contar... Eu vou pedir licença pra poder conversar com a . Vamos, .

pediu um minuto e se virou para abraçar Vital como forma de agradecimento. Ela estava começando a se acalmar e entender que a ajuda dele foi importante. Só então ela e subiram as escadas de novo, indo para a parte de fora do mezanino onde tinham sofás e poltronas espalhados pelo deck. Eles se sentaram em um sofá livre e olhou para a marca no pulso de , se sentindo culpado por não estar lá quando aconteceu.

- Me desculpa - ele se curvou um pouco para beijar o local marcado, uma tentativa emocional de encobrir o medo que ela sentiu naquele momento. - Eu encontrei o Danilo e parei pra conversar com ele, eu não deveria...
- Não foi sua culpa, , só aconteceu...
- Ele tentou mais alguma coisa, ? Me diz.
- Ele tentou me beijar, mas eu virei o rosto. Foi isso, eu consegui fugir.
- Você foi muito corajosa, meu amor, eu tô orgulhoso de você. Eu nunca mais vou deixar chegarem perto de você... Nunca mais.

deitou a sua cabeça no ombro dele enquanto puxou as suas pernas para que ficassem por cima das dele, depois ele passou um braço ao redor dela a abraçando. Não sabia muito bem o que falar, como agir. também não disse nada, mas ao ouvir a garota fungando, percebeu que ela estava chorando, ou ao menos controlando a vontade. se sentiu impotente, se culpando ainda mais pelo que aconteceu. Não que quisesse bancar o Superman e salvar o dia, mas ele não estava lá quando precisou e se não fosse pela coragem dela, poderia ter sido muito pior.

- Você quer ir pra casa? - ele perguntou após alguns minutos em silêncio.
- Eu acho que não... Viemos pelo Bruno, vamos ficar.
- Amanhã eu falo com o Bruno no treino, ele vai entender. Você não precisa ficar aqui só por causa disso. Vamos pra casa, , a noite já foi longa o suficiente.

se deu por vencida e concordou que era a hora de ir embora, por mais que quisesse ficar mais tempo por Bruno, ela estava cansada o suficiente para chegar e dormir apenas. Então eles se levantaram para ir embora, mas tiveram a surpresa de se encontrar com Bruno entrando no deck ao mesmo tempo em que iriam sair. O uruguaio tinha um sorriso bobo nos lábios e eles podiam imaginar o motivo, certamente passou muito mais tempo com Gabriela do que com qualquer outra pessoa na festa.

- Eu nunca te vi tão feliz assim - comentou ao ver o amigo dando um gole da sua bebida enquanto cantarolava La Bamba em um espanhol muito enrolado.
- Para mi, para ti, ay arriba, ay arriba! Qué pasa, chicos? Disfruta de la fiesta!
- Modo português, Méndez. Ativa o português - disse o chacoalhando o amigo pelos ombros, notando que ele estava alcoolizado. - Cadê a Gabriela?
- Lá dentro. Yo vim tomar um ar, muy quente lá dentro.
- Entendi. Cara, a gente já vai embora, mas parabéns, está tudo incrível.
- Mas já? Fiquem mais um pouco, mal começou.
- Amanhã tem treino, Bruno, não esquece. Vê se não exagera mais na bebida.
- Pode deixar, manito. Eu tô de boa, como vocês dizem por aqui.
- Ele tá muito chapado - disse para , que concordou enquanto prendia o riso. - Bruno, a gente já vai. Parabéns de novo.
- Cunhada! - Bruno se atirou nela, a abraçando totalmente desengonçado, incapaz de perceber que ela estava com os olhos vermelhos e inchados por chorar. - Eu amo vocês dois, sabiam? Lindos, lindos!
- Larga minha namorada, seu bêbado - disse rindo enquanto Bruno se afastava de . - A gente se vê amanhã quando você estiver com a cabeça no lugar.

Eles se despediram de Bruno e foram embora. Apesar de terem se divertido durante a maior parte do treino, aquela era uma noite para se esquecer. Definitivamente.
Quando finalmente conseguiu deitar na cama, ainda não era capaz de relaxar, mas tentava se agarrar ao pensamento de que se não tivesse sido tão corajosa, poderia ter sido ainda pior.

- Você está bem? – perguntou enquanto deitava ao lado dela.
- Sim, mas... Que loucura. Tive sorte, não são todas as mulheres que conseguem escapar. Eu não quero nem pensar no que ele poderia ter feito comigo.
- , eu sinto muito mesmo por não estar lá, mas estou orgulhoso de você e toda a sua coragem. É uma merda viver num país tão machista, mas eu nunca vou deixar acontecer alguma coisa com você.

se aninhou nele, ao menos estava segura e isso fazia ela se sentir um pouco melhor. Não era a primeira e talvez não fosse a última vez, o que era desanimador, ela apenas queria ser respeitada. Seus anos como jogadora lhe mostraram que era ainda mais difícil para uma mulher alcançar os seus objetivos dentro de uma área dominada por homens, ela pensou que já deveria estar acostumada, mas nunca conseguiria.

⚽🖤📱

O sábado de folga de não foi exatamente do jeito que ela esperava. Enquanto foi para o treino, ela passou o dia em casa com os seus pais. Contou o ocorrido do dia anterior porque não era capaz de disfarçar sua apreensão, mesmo estando totalmente segura. Ela estava com medo e não sabia esconder isso, mas seus pais a apoiavam, lhe transmitindo a segurança que ela precisava.
Na parte da tarde, ela voltou para o apartamento de quando ele chegou do treino. O jogador estava cansado, mas ainda sim tinha um pouco de disposição para passar algum tempo com a namorada, afim de ajudar a superar aquilo da forma mais saudável possível.

- E como foi o treino hoje? - ela perguntou enquanto servia café em uma xícara pra ele.
- Foi ótimo, eu estou evoluindo muito, perdendo os quilos que engordei enquanto estava parado. Não posso dizer o mesmo sobre o Bruno, ele estava com cara de morto.
- Posso imaginar - riu discretamente enquanto se sentava na cadeira ao lado dele.
- A propósito, ele vai passar aqui mais tarde. Não entendi muito bem, mas acho que ele quer falar com você. Eu não ia contar, , mas as pessoas viram e comentaram, ele acabou descobrindo. Achei melhor dizer de uma vez.
- Quando eu precisei de ajuda, não tinha ninguém, agora pra fazer fofoca da vida dos outros...
- Já passou, . É o que importa.
- Eu sei, eu vou ficar bem.

Eles continuaram conversando sobre a rotina de treinos do jogador até Bruno chegar, mais ou menos meia hora depois. Ele chegou acompanhado por Gabriela e eles traziam juntos um bolo de chocolate, daqueles vendidos em padaria. entendeu a simbologia por trás, sentindo uma vontade imensa de chorar, mas se conteve para não parecer emocional demais.

- Ai gente, não precisava disso, é sério... - ela sorriu ao dar passagem para eles entrarem.
- Você perdeu a melhor parte, , vamos te recompensar - Bruno abriu os braços e puxou a amiga para um abraço. - Eu sinto muito pelo que aconteceu, eu não estava perto de você, eu teria feito alguma coisa.
- Tá tudo bem, Bruno, o Vital estava. Não aconteceu nada mais grave - ela disse ao se separarem e depois foi abraçada por Gabriela também.
- O Bruno sugeriu o bolo porque disse que bolo deixa todo mundo feliz.
- Ele acertou em cheio. Obrigada - sorriu para os dois, se sentindo querida.
- A gente vai ficar só olhando e não vamos comer? - perguntou quebrando o clima, causando risadas em todo mundo.

Entre risadas e muito bolo de chocolate, e contaram para Bruno sobre o momento em que estavam indo embora e em como ele estava muito alterado pelo álcool, os abraçando e se declarando para eles. Bruno não se lembrava de muita coisa, é claro, mas podia imaginar a vergonha que passou. Costumava ficar assim quando estava bêbado.
O clima leve e descontraído fez se sentir melhor. Estar entre amigos, conversando e rindo, era importante pra ela. Sabia que sua coragem foi primordial para que ela escapasse ilesa daquela situação, algo que outras mulheres não conseguiram. Ela sabia que seus amigos fariam de tudo para a proteger, ainda tinha Tobias e Junior que estavam falando com ela o dia inteiro por mensagens, além de Mateus ter ligado para ela afim de garantir que estava tudo bem mesmo, garantindo que não ficou nenhum climão entre ele e .
concordou que foi apenas um susto e tudo iria ficar bem. Talvez demorasse para que a sensação de perigo eminente passasse, mas sabia que enquanto tivesse pessoas que se importavam com ela, estaria sempre segura.



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Nota permanente:
Desde já, peço desculpas se em algum momento você possa ter se sentindo ofendido (a) com algo relacionado ao seu time caso ele tenha sido mencionado em algum momento da narração. Apesar de a fic se passar no Corinthians, eu tento ser o mais imparcial possível para não ofender ninguém, afinal, o que importa mesmo é o nosso amor pelo futebol. Lembre-se: rivais sim, inimigos nunca. ☺

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Fico com você
Love & Blood

Nota da Scripter:
Essa fanfic é de total responsabilidade da autora, apenas faço o script. Qualquer erro, somente no e-mail


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