Capítulo Único
계속 날 꿈꾸게 해
Make me keep going
멈출 수가 없게 해
Make me keep dreaming
다시 시작해
Start again
Begin again
(Begin Again — INFINITE)
Ilha de Jeju, Coréia do Sul
2009
O nevoeiro se formou sob a sua cabeça, fazendo-a inclinar os pontiagudos cílios em direção às frestas das densas nuvens e vasculhar pelo céu aberto as curiosidades sobre a sua própria existência. Acima de si só havia o céu, a gravidade, a instabilidade e um infinito de possibilidades que traçavam uma linha tênue entre o cientificamente comprovado e o esperançosamente possível — se sentia mais cá do que lá, nos termos teóricos, porque enquanto estava com os seus pés firmes no solo terráqueo nada daquilo parecia, de fato, importar. Não enquanto a sua vida continuava sendo uma bagunça deplorável e ela infortunadamente não deveria gastar seu tempo com baboseiras daquela.
Algum dia alguém descobriria o que existe por trás das nuvens, por trás da gravidade inalcançável e levaria todo o crédito para si. , em contrapartida, continuaria sendo ela: uma entre os milhões de catástrofes naturais da humanidade que só ocupa um peso inútil na crosta terrestre.
Ela suspirou porque estava cansada de padecer contra o óbvio. O envelope em suas mãos deveria tê-la feito finalmente assimilar o que os seus neurônios refutaram por prazo indeterminado e no fundo sabia que estava apenas adiando sentir aquele sentimento.
Era só mais uma rejeição no vestibular. Não deveria importar, não?! Ela já havia passado por esse estágio anteriormente e não deveria estar tamanhamente surpresa pelo resultado persistir em ser o mesmo. Deveria estar se aplicando indevidamente, era isso. Ou não estava estudando corretamente, poderia ser também. Havia se distraído nas últimas questões, definitivamente iria reconhecer o erro. Estava cansada demais porque ter dois empregos de meio período era exaustivo demais, infelizmente não poderia deixar de ressaltar esse fato, mas a culpa deveria ser por causa do seu esforço mal sucedido. É isso! só precisava se esforçar um pouco mais, nem que precise estender os estudos — ainda mais — porque eventualmente ela iria colher os frutíferos dos seus benfeitos.
abanou em concordância para a própria sequência de pensamentos e inspirou o ar puro que era arrastado pelo nevoeiro úmido no topo da montanha de Saebyeol Oreum. Ela preferiu sorrir, porque chorar deixaria olheiras pesadas e inchadas sobre os seus olhos, dificultando-lhe mais tarde na missão de dar continuidade aos estudos pendurados pela madrugada, levantando-se num estopim quando a primeira nuvem viajou pelo céu e permitiu que o Sol desse entrada ao cenário.
Ela estava caminhando em ritmo lento enquanto passava entre as pessoas espalhadas na calçada até que seus olhos se esbarraram com uma figura que bem conhecia. Ela sorriu largo, atribuindo ânimo nas pesadas e correndo o restante da distância que lhe separava dele.
— Aish! — Ele esbravejou ao sentir os braços pressionarem uma potencial força para mantê-lo preso naquele apertado. Seus olhos desceram para a extensão dos braços e o não reconhecimento cutucou a sua mente no exato momento em que pesou a sua atenção nos braços e mãos da pessoa. sentiu-se assustado no primeiro momento, mas antes de se afastar e recuar, ele ouviu a voz feminina lhe dizer:
— Sou eu, a . — O garoto sentiu o peso do alívio massacrar o seu coração e conseguiu, por fim, sorrir em retribuição.
— Estou tentando andar, espertalhona! — Ela grunhiu em desaprovação e o rapaz gargalhou aos ventos. desabrochou os braços ao redor do corpo de e contornou o espaço para parar em frente a ele. — Oi, estranha.
rolou os olhos teatralmente e gargalhou em seguida, acostumada com a brincadeira do amigo.
é portador de uma doença conhecida como “prosopagnosia”. Apesar do nome difícil, entender a designação da doença é, digamos, simples: ele não é capaz de reconhecer o rosto das pessoas. A doença impede o reconhecimento das feições do rosto, que também pode ser conhecida como “cegueira para feições”. Essa desordem que afeta os sistema cognitivo visual resulta na incapacidade para lembrar-se dos rostos de amigos, familiares ou conhecidos.
É por isso que não conseguia reconhecer . Com o passar dos anos ele adquiriu uma capacidade de desenvolver maneiras incomuns para descobrir com quem está conversando. De sinais óbvios como cabelo e voz até postura, jeito de andar e a forma de vestimenta, tudo isso se incluía nos milhares de táticas que ele criou para enfrentar o cotidiano.
É claro que muita gente não aceitava, acreditava ou levava a doença “a sério”. instintivamente desenvolveu um senso de reclusão social e isso, de certa forma, piorou a imagem que as pessoas tinham dele — do garoto que forjava “descaso” ao encontrar com alguém na rua, ele foi visto como o moleque que se achava bom demais para se relacionar com os demais.
, no entanto, nunca viu sob estes olhos. Para ela o garoto era simplesmente quem ele é, o seu melhor amigo brincalhão e amável, enfrentando uma doença que o dificulta para viver, mas que não muda em nada em quem ele é — desde criança ela aprendeu a criar formas de fazer reconhecê-la e, até agora, ainda dá certo. Apesar de costumar zombar da sua condição, não gostava de vê-lo se tratando daquela maneira. Com os anos ela conseguiu fazê-lo se enxergar como um ser humano igual aos demais, porque em sua concepção ninguém é perfeito — e estava feliz por isso — e ninguém é suscetível de ser comparável.
Enquanto isso, enfrentava o seu transtorno psicológico gerado após um acidente de carro, onde estava ela, seus pais e sua irmã caçula. Foi há cerca de cinco anos, mas ainda sofria os impactos daquele evento, pois na noite do acidente perdeu a irmã.
O transtorno psicológico veio sem aviso prévio. Ao ter recebido a notícia do óbito de sua irmã, entrou em um profundo estado de negação. Em sua cabeça aquilo não fez sentido algum e, assim, sua mente sofreu as consequências do trauma. Meses depois, quando os pais de notaram que a filha tinha certa dificuldade em lembrar-se do momento do acidente, acreditar que a irmã faleceu e memorizar outras espécies de situações, posteriores ao acidente, ela foi diagnosticada com o transtorno.
A sua vida estacionou por um tempo naquela estaca. Depois de passar meses em tratamentos para ajudá-la a lidar com o óbito da irmã, precisou passar por novos tratamentos que pudessem fazê-la aprender a superar o transtorno ou, no mínimo, melhorar a sua condição de memorização.
Foi difícil e ainda continuava sendo. A garota tinha o sonho de entrar na faculdade de Medicina para buscar uma cura ao melhor amigo, mas o seu cérebro estava impossibilitando que ela alcançasse o seu objetivo. O dano foi permanente, como os médicos apontaram, pois muitos sustentaram a ideia de que o transtorno veio em consequência do traumatismo craniano que ela sofreu na batida, mas com a sua força de vontade poderia ser possivelmente revertido.
E força de vontade era o que mais tinha — porque merecia. precisava.
E ela venceria a sua condição por ele. Foi a promessa que fez para sua irmã no dia do velório e era a promessa que, timidamente, no escuro do quarto, também prometeu à .
O que ainda não tinha notado é que estava radiante naquela manhã. Ele a abraçou na mesma rapidez que ela havia lhe capturado em seus braços e esticou-se sobre os pés, dando um pulinho de excitação e alargando um sorriso elétrico e semelhante aos raios provindos do Sol. A jovem encarou o rapaz por um segundo longo, ainda tentando compreender a origem da felicidade suspeita dele, remoendo as hipóteses de tê-lo deixado tão visivelmente animado.
— O que você está escondendo?! — estreitou os olhos e cruzou os braços em um claro sinal de cisma. cerrou os lábios em um sorriso cabalístico e orquestrou uma dança com as suas sobrancelhas grossas, atiçando o humor negro e impaciente da amiga. — Francamente, , sua criança encrenqueira...
— Eu vou me mudar para Seul! — A estupenda notícia eclodiu no espaço-tempo como um soco no estômago da jovem. Suas pupilas se expandiram e um significativo buraco negro formou-se na sua boca, sugando toda a quantidade de ar ao seu redor.
— Como disse? — Ela jurou que por uma ínfima possibilidade não tinha ouvido certo. voltou a sorrir, trazendo consigo a resposta que ela não esperava ter, acelerando consideravelmente os seus batimentos cardíacos.
— Eu vou me mudar para Seul. — repetiu calmo e sereno, nem um pouco incomodado de ter de repetir a frase que mais lhe alegrou nas últimas horas. — Meus pais conseguiram um médico que está interessado em me ajudar a encontrar uma cura.
Oh, então aí estava o porquê.
ainda encarava com os glóbulos estarrecidos, mas após ouvir o derramar daquele som, o que ela almejou escutar por tanto tempo, seu peito estraçalhou-se dentro do peito e a jovem sorriu abundantemente emocionada e chocada na mesma dosagem — emocionada porque finalmente teria a sua oportunidade de vencer a doença e chocada porque ela estava atrasada demais para poder ajudá-lo a encontrar a fórmula de cura por conta própria.
Ela não pensou muito nestes pesares, no entanto. Quando viu estava pressionando o corpo do rapaz contra o seu e comemorando com ele o que ambos acreditaram fielmente ser possível, um dia, de acontecer. retribuiu o gesto, acostumado com aquele afeto tão simplório, mas absurdamente essencial, abraçando de volta com o empenho duplicado.
A jovem afastou-se subitamente dele e secou a lágrima solitária e tímida que se desprendeu sem autorização, aquecendo o coração de e o deixando ainda mais instigado a perseguir o seu sonho.
empurrou-a pelo ombro e a fez continuar pelo caminho de volta para casa, seguindo ao seu lado com um sorriso de perfurar rochas e meteoros.
— Sabe, parece que agora as coisas vão dar certo. — passou o braço pelo pescoço da amiga. — Isso está acontecendo porque você me fez continuar sonhando, .
— Não faça soar assim, . — titubeou um sorriso tímido. — Você fez isso por si mesmo. — prendeu o olhar na feição amolecida e realizada do amigo. — Estou feliz por você, . Estou de verdade.
— Eu sei. — Ele simplesmente disse por que ele realmente sabia. O sorriso no rosto do rapaz simbolizava o que ambos conheciam: as verdades ocultadas no coração um do outro. sabia que sonhava com aquilo tanto quanto ele. sabia que ela estava feliz. O saber já lhe bastava. — Queria que você viesse comigo, . O seu rosto é o primeiro ao qual eu desejo conhecer verdadeiramente. — As bochechas do rapaz ruborizaram após ele ter anunciado a sua revelação. sorriu com a força da alma, pleiteando aos céus para fazê-la não desabar em lágrimas e tornar aquilo mais difícil.
— Oh, não se preocupe, . Você já o conhece. — sorriu docemente. — De alguma forma eu acredito que você me conhece genuinamente. Vamos fazer assim: você não irá levar nenhuma fotografia minha, — A amiga levantou as mãos e começou a pontuar o seu plano, instigando a franzir o cenho e sorrir consentindo à ideia. — E eu não irei lhe dar mais pistas de como o meu rosto aparenta ser. O seu desafio vai ser me reconhecer quando nos encontrarmos novamente. — fitou por uma porção de segundos e, nos próximos, seguiu o olhar para o céu, cogitando aquela proposta.
O silêncio irrompeu o ambiente, embora eles passassem pela baía da praia, agitada e recheada de pessoas, cada um lidando de sua forma com a proposta.
— E qual seria a finalidade disso? — O sorriso acolhedor se formou na fisionomia da garota e, por mais que sentisse dificuldade em unir os traços de seu rosto e poder encará-la propriamente, ele sabia que até mesmo o olhar da garota se dilatava em um sorriso glamoroso.
— A finalidade é provar que você sabe, por causa de alguma forma especial, qual é o meu rosto. É como eu te disse. — entrelaçou o seu braço no de . — Eu acredito que você já me conhece. — Os seus cílios remexiam-se alegremente em resposta ao sorriso acanhado de . — Você sabe quem eu sou porque o seu coração me conhece, .
O garoto fechou os olhos e apreciou a brisa do mar batendo contra o seu rosto, o emaranhado de traços faciais que ele não reconhecera durante a sua vida toda. poderia não saber quem ele mesmo é, mas tinha a sutil crença de que reconheceria , depois do tratamento acabar, de alguma forma, pois é assim que as coisas funcionavam entre eles.
era a sua única certeza.
E ele mal podia esperar para ter, também, a certeza de que o rosto dela é o mais lindo que ele poderá finalmente ver — Algum dia.
— Bom, acho que eu aceito o desafio então. — beijou o topo da cabeça de . — Eu só precisarei deixar o meu coração guiar o meu instinto.
sorriu contra o aperto do corpo de , inspirando o aroma do garoto e memorizando aqueles detalhes referentes à pessoa que tinha pleno poder sob o seu coração. Ela sabia que estava apaixonada por e que este amor era perigoso e difícil demais, até mesmo para uma sonhadora esperançosa como ela, mas ao ter tão próxima de si, por mais um breve momento, suas dúvidas transformaram-se em certezas e ela, devota na capacidade do universo conspirar ao seu favor, acreditava que algum dia as coisas dariam certo para ela e .
Algum dia.
— Quando você parte? — Ela murmurou a pergunta. levou os olhos pro céu.
— Amanhã pela manhã. — Ela assentiu. — Minha mãe irá comigo para adiantarmos os tratamentos enquanto o meu pai e minha irmã terminam de acertar a mudança.
— Então nós ainda temos o hoje. — segurou as mãos de e o arrastou pela orla da praia com um empenho determinado. O garoto resmungou pela rapidez que ela tinha em andar e por fim desatou em gargalhadas ao vê-la saltitar em excitação. — E eu te farei não se esquecer do nosso paraíso abaixo do céu!
Seul, Coréia do Sul
— Assepsia pronta, Dra. .
assentiu de imediato, reforçando a luva em suas mãos e realocando os óculos na elevação dos seus olhos. Com um breve aceno a médica indicou que houvesse uma distância razoável para que se movimentasse e, ao levar os olhos em direção ao garotinho de três anos deitado na maca, induzido a um estado de intenso relaxamento e paralisia muscular, ouviu a voz da consciência ecoar as palavrinhas que ela tanto custou em decorá-las.
Na altura dos 2º e 3º anéis, .
Sinta o bendito anel.
A mulher desligou de sua mente o barulho da agitação se instalando na sala de emergência e seus dedos tatearam pelo pescoço do garotinho para poder sentir precisamente o ponto onde se encontra os anéis cartilaginosos.
Ao ter o sentido, apertou o bisturi na altura da traqueia, a zona exata onde deve ser feita a incisão, observando o espesso fio de sangue escorrer pelos seus dedos.
Em seguida alguém lhe ofereceu a cânula de imediato, colaborando para que pudesse inseri-la por dentro do orifício.
A enfermeira ao seu lado elevou o balão que auxilia o ajuste da cânula, permitindo que a médica concluísse que não houve nenhum vazamento de fluído neste meio tempo. Seus olhos se repousaram no corpo do paciente, constatando que o procedimento foi bem sucedido, afastando-se minimamente da maca para guiar os dedos até o equipamento que seria responsável por colaborar na ventilação mecânica.
apoiou o peso do corpo na parede oposta para ter tempo de dar uma longa respirada. Era típico de seu organismo agitar-se quando precisava realizar procedimentos de urgência, ainda mais quando ela corria desenfreadamente contra o relógio, mas havia se tornado experiente e habilidosa, afinal.
Antes de sair da sala, a mulher suspirou pesado acompanhando com o olhar a elevação no peito do garotinho, contente por tê-lo feito voltar a respirar.
Por fim, pela última vez ela deixou o pensamento aflorar na sua mente:
Na altura dos 2º e 3º anéis.
Enquanto estava na faculdade, descobriu que a melhor forma para memorizar as palavras seria repeti-las incansavelmente no decorrer de seus dias. Rotineiramente ela carregava uma caderneta recheada de palavras avulsas e procedimentos elaborados nas linhas das folhas, lhe ajudando a aprender a burlar as limitações que o seu transtorno impunha como barreira.
Não estava ali à toa. O transtorno poderia ser responsável por ter a retardado no processo de se tornar uma médica, a fez perder o ritmo algumas vezes e sofrer cá ou lá um surto de stress nos momentos em que a sua condição atrapalhava o seu rendimento, mas se ela se lembrava de que precisaria fazer uma incisão na altura dos 2º e 3º anéis é porque aprendeu, memorizou e guardou, com todo o esforço de sua vida, aquelas benditas palavrinhas.
No fim das contas ela conseguiu vencer o seu transtorno, de um jeito ou de outro.
Ela cruzou o loft de espera, logo vendo o reboliço alastrado num total de duas pessoas, cada uma lhe lançando um distinto olhar ao vê-la se aproximando.
Primeiramente, ela sorriu serena.
Aprendeu também na faculdade que um sorriso leve e relaxado poderia ser o sonífero ideal para acalmar o coração de quem a aguarda na sala de esperas.
E é assim que o seu sorriso doce tornou-se a sua marca registrada.
Os ombros da mãe do garoto desabaram e se remexeram enquanto caminhava ao seu encontro. Ela pôde ver o esforço que a mulher gastava para manter-se sã e forte, o que lhe causou ainda mais alegria por saber que a notícia que portava não a faria sair daquele conforto.
— Como ele está, doutora? — O pai da criança perguntou assim que cessou a distância entre eles.
— Bem. — Ela não tardou em responder. — Precisamos realizar uma traqueotomia para ajudá-lo a respirar. As pregas vocais estavam bloqueadas, então foi necessário que fizéssemos uma incisão na traqueia para que o ar seguisse de volta para os brônquios e alvéolos pulmonares. — Os pais assentiram de imediato com os olhos estarrecidos enquanto permanecia sorrindo calma, relaxada e costumeiramente dócil.
— E por que ele estava com dificuldade para respirar? — A mãe questionou. — O que ele tem?
— Diagnosticamos que o seu filho teve o edema de glote. — A mulher arfou em espanto, mas logo afagou a mão em seus ombros para acalmá-la. — Não se preocupe, é menos grave do que parece! O edema de glote é uma reação alérgica que incha a estrutura anatômica da pessoa, por isso ele estava com dificuldade para liberar o ar aos pulmões. Ele já teve alguma manifestação alérgica até hoje?
— Que eu me recorde, não. — A mãe frisou o cenho e afastou o olhar, cogitando se havia presenciado algo do tipo no período de vida do filho. — Ele sempre foi uma criança saudável.
— E irá continuar assim. — sorriu em resposta, retirando a prancheta da bancada e passando a anotar os pedidos de exames. — Irei pedir para que ele passe por uma bateria de exames, quando acordar, para podermos descobrir ao o quê ele é alérgico. — Os pais assentiram. — Quando descobrirmos ele passará por um tratamento com base em aplicações de adrenalina.
— Isso é nocivo? — O pai enrugou a testa visivelmente confuso.
— Medicado na dosagem certa só há de fazer bem ao pequeno Donghyun. — sorriu ainda com os olhos baixos, terminando de discorrer as orientações. — A adrenalina irá ser induzida para aliviar a contração dos vasos sanguíneos e diminuir o edema. — ofereceu os papéis para a enfermeira de plantão, ao qual lhe lançou uma piscadela e passou a iniciar a solicitação dos exames. — Fiquem tranquilos, o pior já passou!
O casal entreolhou-se, ainda tomado pela euforia do acontecimento anterior, soltando um suspiro de alívio que preencheu cada metro quadrado daquela sala. mordiscou as pontas dos lábios para não sorrir abobalhada, da forma que fazia quando conseguia tranquilizar mais uma família.
— Obrigada, Dra. , nossa dívida com você é eterna! — A mãe do garoto segurou nas mãos de e beijou sutilmente, demonstrando a sua gratidão e carinho. remoeu um suspiro frouxo nas cordas vocais, sentindo-se infinitamente realizada por momentos como aquele.
— Estou aqui para isso! — Ela piscou para a moça. Depois da carga de emoção ter se libertado, a mãe da criança encarou a médica com mais cuidado e precisão, deixando-se levar pela vozinha do subconsciente que lhe indicava uma possível relação entre aquele rosto com um que viera a ser muito familiar em sua vida.
— Você por algum acaso... — A mulher apoiou o dedo nos lábios e começou a pronunciar a sua dúvida, mas uma presença volátil e apressada contornou a sala de espera e segurou fortemente no punho de , arrastando-a dali para longe.
A médica girou os olhos no ângulo de cento e oitenta graus, tentando compreender a razão pelo qual o Dr. estava tão esbaforido, mas o homem resolveu se apressar e compartilhar a causa do seu alvoroto:
— Um paciente com perfuração no abdômen está nos esperando para uma cirurgia de emergência. Let’s go, let’s go! — abriu espaço entre os enfermeiros, fazendo com que só tivesse tempo de acenar em despedida aos pais da criança e evitar ter o seu corpo se chocando com algo sólido no percurso do caminho. — Hoje o plantão está mais agitado que uma noite em Hongdae! Mais tarde serei digno de uma rodada de Soju por sua conta, Dra. !
ia rebater a provocação do amigo, mas a lançou no ar e fez com que praticamente colasse o seu corpo ao de um visitante. O homem segurou em seus cotovelos e, na fração de segundos que gastaria rodopiando nos pés para encará-lo e agradecê-lo pelo livramento da queda, voltou a ser o que ela conhecia e segurou novamente em sua mão, guiando-a para o sentido contrário da miragem.
A médica ouviu o resmungo alto do rapaz vítima da loucura hospitalar indagá-la logo no lugar onde passou, mas ela estava correndo contra o relógio mais uma vez.
Agradeceu e se desculpou mentalmente, esperando que o homem não tivesse se machucado e nem instaurado um ódio pelo seu vulto quase fantasmagórico. Firmou com mais vontade os dedos na palma da mão de e se equilibrou para continuar com os pés — e somente eles — no chão.
As palavras decoradas voltaram a vagar pela sua mente, alertando-a antes mesmo de colocar os pés no centro cirúrgico.
Com um sorriso excitado e movido à energia, inflou o peito e focou a sua concentração no letreiro brilhante que se formada na sua mente.
Perfuração no abdômen.
Trauma abdominal.
Evisceração.
Mantenha o paciente em decúbito dorsal.
A porta automática de entrada do hospital se abria silenciosamente e lentamente — se não estivesse olhando, ele provavelmente não teria notado em primeiro lugar, mas aí estava o epicentro da sua sofrência: ele estava notando, pois praticamente explodiu o vidro temperado com uma raiar de olhar devido à angústia que o impossibilitou de apenas esperar a porta abrir-se completamente.
O funcionário da manutenção que consertava o desfalque na porta escancarou uma piscadela atônita para , soltando as chaves de fenda na mesma rapidez e afastando-se quando achou que o homem poderia realmente quebrar as portas com mais uma ombrada. , fingindo demência e aparentando estar apenas a fim de cruzar o corredor, retribuiu uma mesura e irrompeu pelos cantos do hospital, um pouco zonzo e perdido na imagem de tantas pessoas transitando pelo local.
Custou alguns minutos para acompanhar as placas de indicação e encontrar a irmã, Bon Hwa, encolhida nos braços do marido, Shin Jun, encarando o vazio no fim do corredor.
atribuiu uma força bruta nas pesadas e chegou ao escaldo do casal numa fração assustadora de segundos. Ele arfou cansado, recuperando o ar, fazendo-se finalmente presente no ambiente. Bon Hwa suspendeu os olhos em direção ao irmão e soltou um suspiro aliviado e contente.
— Só precisava o seu sobrinho vir parar no hospital para você finalmente nos ver, cabeça de vento! — Bong Hwa abraçou o irmão com a pose de irmã mais velha, apertando-o como um ursinho de pelúcia e bagunçando os seus cabelos.
resmungou e revirou os olhos, ajeitando os cabelos e procurando algum rastro de alerta na fisionomia da irmã e do cunhado.
— Você sabe que essas semanas estão sendo corridas para mim. — respondeu acanhado. — Mas isso não significava que você precisava colocar o meu sobrinho em um hospital para me forçar a vir vê-la! — Bon Hwa direcionou um soco bem centralizado no peitoral do irmão e ele tropeçou pelo impacto, caindo na gargalhada ao ver Shin Jun franzir as sobrancelhas em surpresa pela força da esposa. — O que aconteceu com ele, pelo amor de Deus?!
— Francamente? — Shin Jun se intrometeu. — A médica que atendeu Donghyun nos deu uma aula espetacular, mas mesmo tendo feito ser superfácil de entender… — Shin Jun olhou para Bong Hwa e prendeu o riso. — Eu não entendi muita coisa, apenas que ele está bem e precisará passar por um tratamento.
— Ele teve uma reação alérgica a algo e isso gerou o edema de glote. — ainda abanava a cabeça com humor por causa do cunhado, mas prestou atenção à irmã quando ela começou a lhe contar. — O edema dificultou que ele pudesse respirar e a médica precisou fazer uma traqueotomia. Ela disse que ele passará por uma bateria de exames para descobrir o quê pode tê-lo feito ter essa crise alérgica e depois irá iniciar um tratamento com doses de adrenalina para ajudá-lo a controlar. — assentiu e pousou as mãos na altura dos quadris, deixando que o seu coração voltasse a bater normalmente. Ele suspirou fundo praticamente emocionado de tanto alívio e sentou ao lado de Shin Jun.
— Aish, aquele pirralho… — arreganhou uma carranca brava. — Ele quase me matou de susto! — A irmã e o cunhado gargalharam, cada um esfregando as costas de e o ajudando a se acalmar. — Sinceramente…
— Tivemos sorte porque corremos a tempo. — Bong Hwa disse. — E porque a médica foi muito competente e ágil. Inclusive… — A irmã olhou por cima dos ombros de e encarou em dúvida o marido. — Você prestou atenção no rosto dela? Era como se eu já houvesse a visto em algum lugar. — O marido fitou a esposa no mesmo estado, passando a puxar na memória algum indício de familiaridade na mulher.
— Não me recordo, amor. — Ele deu de ombros. — Talvez você só ficou muito emocionada e achou que a conhecia de algum lugar.
Bong Hwa inchou os lábios e ofereceu um bico em resposta, ainda crente que não era apenas um pico de ilusão ou confusão mental. A médica realmente a lembrou de alguém, só precisava se recordar.
— Ela é bonita, pelo menos? — perguntou fingindo inocência e Bong Hwa lhe desferiu mais um tapa rente à nuca. Ele gargalhou, esquivando-se dos próximos golpes, pronto para se defender. — Estou perguntando por que seria difícil se esquecer de um rosto bonito!
— Depois que o seu tratamento deu certo, você se acha um expert em rostos e belezas, não é? — Bong Hwa bufou.
— Você se esqueceria do rosto do Shin Jun? — segurou em torno do rosto do cunhado e, enquanto o mais velho o encarava como um boneco de cera, Bong Hwa sondou a fisionomia do marido e aceitou a pergunta do irmão, cogitando a hipótese.
— Acho que não. — Shin Jun abriu a boca extasiado, mas indiciou que ele ficasse quieto. — Mas se ele tivesse o rosto do Adam Levine eu definitivamente não me esqueceria! — Shin Jun se movimentou de forma brusca e fitou estarrecido a esposa.
— Como você ousa, Bong Hwa?! — Shin Jun rebateu, observando Bong Hwa soltar um riso zombador e fingir estar lixando as unhas. — Só porque ele tem olhos azuis?!
— E tem “Califórnia” tatuado no abdômen. Você precisa admitir que aquela tatuagem é muito sexy, Jun! — teve de se segurar para não desatar em um riso escandaloso.
— Se for assim, eu também irei tatuar “Seoul” na barriga! Em toda parte, até mesmo na testa! É isso que você quer, Bong Hwa?
— Não, docinho, eu ainda prefiro você com a sua pele de neném. É que com o Adam Levine não há competição, mas eu estou casada com quem? Você! Isso já diz tudo!
— Mas se Adam Levine bater na nossa porta não vai demorar para você pedir o divórcio!
— Qual é a probabilidade de Adam Levine bater na nossa porta? É ínfima demais!
— Não sei, mas pelo o que me parece, você já se questionou isso!
— Crianças — esticou os braços e fechou os olhos — Deixem a discussão para mais tarde, no horário que vocês forem dormir. Aposto que ela terá um resultado bem mais satisfatório. — Tanto Bong Hwa quanto Shin Jun miraram um soco nas costas de , aumentando a sua vontade de rir. — Vamos apenas nos concentrar no pequeno Donghyun, filho de Shin Jun, não Adam Levine!
Shin Jun estava levando tudo na brincadeira, Bong Hwa sabia. Os dois lançaram dezenas de beijinhos ao ar enquanto rolava os olhos, se escorava na poltrona e cruzava os braços, impaciente pela autorização na visita ao sobrinho.
Shin Jun sabia que nenhum Adam Levine seria capaz de levar sua Bong Hwa para longe de si. E era deste jeito que eles conseguiram lidar com o momentâneo susto: caçoando do próprio casamento.
se concentrou em observar o ritmo do hospital. O ambiente era um dos que ele mais conhecera durante a sua vida, mas desde que o seu tratamento deu certo e ele não precisou passar por aquelas portas — felizmente — ele nunca mais pisou os pés em um hospital. A sensação ainda era familiar, mas imensamente estranha.
Seus olhos foram levados na direção de uma porta espessa e larga, aberta minuto ou outro por pessoas vestidas de trajes brancos e carregando diversos aparelhos. Ele decifrou que deveria ser uma sala de cirurgia, mesmo que a plaquinha no topo explicasse isso, mas deixou-se se dar por distraído ao ver um aglomerado de pessoas que pareciam ser médicos saindo da sala.
— Ela é ótima! Vocês conseguem acreditar? — Um deles soou alto.
— Os dedos dela parecem robôs controlados por Jesus! Ela é fenomenal na arte cirúrgica!
— Acho que estou apaixonado. Não, com certeza eu estou apaixonado!
— Até eu estou! — A mulher ao lado cutucou o colega, divertindo-se com a euforia de ambos. — Ela é minha role model!
— O que mais me admira é a dificuldade que ela enfrentou para estar onde está hoje. — Um deles disse enquanto retirava as luvas. — Quando me sinto cansado para suportar o stress da residência, eu me lembro dela. Aquela mulher é o meu exemplo.
deu de ombros, embora estivesse achando interessante observar os estudantes, ou residentes, comentarem sobre alguém que parecia ser o perfeito exemplo a ser seguido.
Um reboliço deu início no momento em que a enfermeira veio informar à Bong Hwa e Shin Jun de que poderiam ir ver Donghyun no quarto. levou de supetão, seguindo o casal sem se atentar ao conselho da enfermeira pedindo para que ele aguardasse mais um pouco.
O grupo disperso no canto oposto da direção em que seguia finalmente se abriu e deu passagem para a dita cuja “role model” passar. Ela segurou nos ombros dos garotos que surgiam em seu caminho e despejou algumas brincadeiras humoradas, esperando que saísse da sala e pudesse acompanhá-la para uma pausa. Estava cansada, literalmente exausta, mas ainda continuava com o seu indiscutível sorriso.
quase levantou o olhar e olhou na direção onde os pais do paciente Donghyun seguiam. Quase, porque no segundo em que o faria, saltou ao seu lado.
— Vamos, Rainha do Bisturi, preciso encher o meu estômago de fibra dietética! — guiou a amiga pelos ombros.
choramingou em afirmação, percorrendo as mãos pela barriga e suspirando travada na guerra particular de “ser saudável e dar o exemplo” ou “viver loucamente como se só houvesse o hoje”.
— E eu preciso urgentemente de um pote de nutella!
— Tudo bem, as suas veias ficarão entupidas de gordura, mas você tem a mim, o inestimável Dr. para lhe salvar!
— Você é ridículo, .
— E você é uma gulosa, .
Havia se passado dois dias desde a internação de Donghyun e o garotinho parecia não estar associando o seu atual estado de saúde com o seu estado de espírito. Ele teimava em querer agir como uma criança com energias revitalizadas e, , puxava os cabelos para fora do couro cabeludo cada vez que o sobrinho elaborava uma nova brincadeira para eles gastarem o tempo.
prontamente se elegeu como o responsável secundário de Donghyun para que Bong Hwa e Shin Jun pudessem ir para casa tomar um banho decente, fazer uma boa refeição e trazer o restante de produtos que eles precisariam para o decorrer da internação do filho. Seus pais estavam vindo da ilha de Jeju para passar as próximas semanas com os filhos e o neto, o que tirou o pesadíssimo fardo de suas costas porque Bong Hwa tendia a ser uma pessoa meio avoada e angustiada demais (e havia casado com uma pessoa tão semelhante à ela) e ele entraria em um surto se tivesse que bancar ser o único adulto centralizado e sensato daquela família.
achou que não haveria nada de mal em ficar algumas horas com o sobrinho. Foi informado de que o garoto estaria sonolento por causa dos remédios e estaria grande parte do tempo em observação e fazendo exames, mas ao ter chegado ao hospital pela manhã e ter recebido a notícia de que os exames poderiam atrasar e nenhum remédio acalmava os ânimos de Donghyun, logo se preparou para o ritual cansativo.
Mas ele não esperava ser tão exaustivo assim.
— Você não está cansado, Donghyun? — se ajeitou no sofá e fitou o olhar ingênuo e empolgado do sobrinho. — Estou ficando velho para esse tipo de coisa…
— Nope! — Ele indicou negativamente com o dedo. o orientou a não se remexer e nem falar com frequência, estava se recuperando da traqueotomia e ele não queria que o sobrinho retardasse o processo de melhora por sua causa. — Você está aqui, titio! Yupi, feliz! — A voz brincalhona do sobrinho preencheu o quarto e sorriu derretido, brincando de bagunçar os cabelos do sobrinho e dá-lo um beijo no topo da testa. — Mas estou com fome! Quero doce!
— Não sei se posso te dar doce, amigão. — coçou a nuca, contrariado, sentindo-se um pouco tomado pela apelação do sobrinho. É claro que ele cederia, o problema seria, depois, lidar com o dragão personificado em sua irmã.
— Pode sim! — Donghyun assentiu euforicamente com a cabeça, apontando com o dedo indicador para a porta do quarto. — Máquina mágica! Choco pie!
sorriu dengoso e tombou a cabeça para baixo, suspirando cansado e fracassado. Ele era realmente um tolo quando envolvia seu sobrinho, precisava admitir. Qualquer coisa que o garoto lhe pedia seria atendida de imediato e aqui estava o seu defeito. O garoto estava internado, por céus, , ele pensou, seja sensato.
Donghyun poderia ter só três anos, mas era mestre na arte da manipulação. Ele bateu os seus longos cílios de fora angelical e inocente, tamborilando um sorriso piedoso. apontou o dedo para o sobrinho, desaprovando a insinuação daquele olhar, mas fraquejou na postura de “tio chato e autoritário”. Donghyun abriu um sorriso convencido e bateu palminhas em êxtase.
— Depois vamos jogar! — Donghyun gentilmente ordenou ao tio. — Pa, pa, pa! Jogaaaaar! — O garoto caiu no riso e o acompanhou, achando cômico a capacidade do sobrinho de manter-se animado e despreocupado enquanto ainda tinha um aparelho suspenso através de seu pescoço.
— Já volto, grandalhão, fique comportado e, de novo: não fale! — lançou um último olhar sério ao sobrinho, vendo-o assentir e fingir estar fechando os lábios com uma chave imaginária. — Por favor, você pode ficar de olho nele para mim por um minuto? — sorriu polidamente para a enfermeira que ficava à frente dos quadros e ela concordou, retribuindo o sorriso e marchando para próximo do quarto de Donghyun. — Lá vou eu infringir algumas regras médicas… — murmurou para si mesmo enquanto retirava a carteira do bolso.
Ele se coordenou de acordo com a divisão dos corredores e não tardou em perceber que estava se perdendo naquelas dezenas de portas. Ao contemplar a escada lateral do andar, rodou nos calcanhares e lançou um olhar investigador pelo local, buscando descobrir onde diabos ficava aquela máquina mágica. Antes de pedir ajuda para algum segurança do hospital, viu uma criança vir animada em sua direção, com vários saquinhos de doces, contornando o caminho ao passar em sua frente. sorriu contente igual a criança e seguiu na direção ao qual ela veio, encontrando no final do corredor a tão ansiada máquina.
Durante o tempo que gastava vasculhando pelas dezenas de doces na máquina e pensava em quantos ele precisava levar para saciar o buraco negro na barriga de Donghyun, caminhava preguiçosamente pelos corredores pretendendo fazer a sua primeira visita do dia e, é claro, o paciente seria nada menos que Donghyun. A médica havia acabado de chegar para o seu plantão, mas apesar de ter dormido por quatorze horas seguidas, ainda se sentia infinitamente detonada. Espreguiçou-se no silêncio do corredor tentando não atrair atenções e apressou os passos ao ver uma colega parada à frente da porta de Donghyun.
— Bom dia! — Ela saudou com um abraço rápido a enfermeira Sun Hee e a mulher abriu um sorriso vibrante. — Como estão as coisas por aqui?
— Ele parece que foi carregado no 220 volts, mas acho que o tio está conseguindo distraí-lo. — A enfermeira escorou a lateral do corpo no batente e sorriu singela para a médica. — Você precisa ver o Deus da genética que saiu dessa família, … — arqueou a sobrancelha em estado de perplexidade e pretendeu não rir, mas foi difícil enquanto Sun Hee lhe encarava derretida. — É sério, aish, que homem lindo! — Sun Hee bateu os pés no chão e ostentou um bico entristecido.
— E onde está ele? — adentrou com o rosto pelo quarto e procurou o referido Deus Coreano, mas só encontrou Donghyun, agora a fitando com um sorriso de bochecha à bochecha, chamando-a para se aproximar dele.
— Deu uma saída rápida, deve ter ido ao banheiro ou coisa do tipo. — Sun Hee deu de ombros, visivelmente desmotivada. — Se me der licença, irei voltar para o meu casulo e ficar sonhando com o dia em que um homem lindo como aquele irá se apaixonar por mim… — Ela deslizou a mão pelas paredes teatralmente e suspirou fundo provocando o riso na médica.
— Como é que você veio parar aqui?! — rebateu a brincadeira. — Deveria estar sendo protagonista de um dorama da KSB.
— Um passo de cada vez, Dra. , um passo de cada vez… — Sun Hee sentou-se na sua mesa e começou a digitar freneticamente. — Um dia, um dia…
entrou no quarto de Donghyun ainda risonha e o garoto apegou-se à miragem, sorrindo absurdamente cativante e envolvente para a médica, abraçando-a no segundo em que ela se aproximou de sua cama. A médica passou os braços pelo corpinho do garoto e despejou alguns beijos pelo rosto dele, ouvindo seu riso ecoar pelo quarto e gerar um conforto no seu coração.
— Titia! — Ele não deveria conhecer muitas palavras, mas com certeza “titia” parecia ser a sua preferida. Toda vez que a médica punha seus pés na sala o garoto pronunciava a palavra repleta de graça e alegria, parecendo até que eram parentes ou relacionados.
— Oi, anjinho! — estalou um beijo mais demorado na bochecha do garotinho e ele segurou o rosto dela com as mãos pequeninas e macias, afagando um carinho amável. — Como você está se sentindo?
Donghyun mostrou os dentinhos e abanou a cabeça várias vezes, oferecendo um joinha para e sorrindo mais amplamente. Ela frisou o cenho, rindo encabulada pela reação do menino, tocando levemente a sua testa para checar a temperatura corporal.
— Está com dor aqui? — ralou seu dedo no pescoço do garoto e ele negou novamente, apenas com um aceno de cabeça, voltando a sorrir. — Está com dificuldade para falar? — Ela perguntou lembrando-se de que precisou pedir cinco vezes na noite de ontem para Donghyun maneirar na falação e não forçar as cordas vocais.
No entanto, Donghyun voltou a negar.
— Meu titio disse que não posso falar. — Ele pareceu triste. — Ele fica bravo, como a titia, quando falo. — Donghyun cruzou os braços e abaixou o olhar. retribuiu a manha do garoto com um biquinho derretido, esfregando as costas dele e lhe dando um abraço de lado.
— Seu titio quer te ver bem, assim como a titia também. — Donghyun fitou com seus glóbulos grandes e brilhantes. — Só queremos que você fique saudável!
— Tudo bem. — Ele sorriu minimamente e a abraçou novamente. — Mamãe disse a mesma coisa e papai diz que as mulheres sempre têm razão.
queria sentar ali e ficar a tarde inteira brincando com Donghyun, o garotinho lhe trazia uma paz e afago no coração que era difícil de desapegar. Ela suspirou roçando o seu rosto nos cabelos do garoto e beijou o topo de sua cabeça novamente, odiando ter de se despedir do projeto de ser humano mais adorável que conheceu nos últimos dias.
— Eu vou jogar. Sabia? — Donghyun perguntou a como alguém que estava a perguntando sobre o clima.
— Ah, é? E qual jogo é esse?
— Vou jogar o joguinho do meu tio. Olha! — Donghyun apontou orgulhosamente para o notebook que estava posto em cima da mesinha lateral e não havia notado até aquele momento. — Ele está criando um joguinho para a amiga dele!
— Para a amiga? — perguntou para Donghyun. Ele assentiu com a típica euforia.
— Ele disse que é uma “homenegi”. — Donghyun balançou a cabeça com convicção e sorriu.
— Uma homenagem? — tentou corrigir a palavra do garotinho para entender o que ele quis dizer. Donghyun apontou o dedo para ela, concordando com a correção e batendo a palma da mão na testa, envergonhado pelo erro. A médica gargalhou. — Que gesto lindo, Donghyun! Seu titio é um ótimo amigo.
— Ele sente saudade da amiga. — Donghyun contou. — Mas ele não se lembra dela. — cerrou os olhos em um claro sinal de confusão. Donghyun deu de ombros e continuou apertando os vários botões do controle remoto.
Ela se aproximou do notebook, porque é muito curiosa e não pôde conter o interesse com a colocação de Donghyun, mas não conseguiu ver grandes coisas. A tela estava com o brilho abaixado e continha uma espécie de tutorial indicando os passos que o jogador deveria seguir. A única coisa que conseguiu distinguir naquela bagunça foi o rosto do personagem principal, muito semelhante ao de alguém que ela conheceu há anos.
Um redemoinho de sentimentos rebateu dentro do seu íntimo e ela pensou estar prendendo a respiração por um momento. Os detalhes eram muito parecidos, mas o que de peculiar havia naquilo? Várias pessoas tinham aquelas características também!
Ela ia rir, mas os olhos do personagem continuavam causando uma espécie de incômodo em seu cérebro. A expressão era assustadoramente igual à daquela pessoa, literalmente parecia que estava olhando nos olhos dele novamente.
Seu olhar petrificou naquela miragem por mais alguns segundos e ao ouvir o seu bip móvel apitar um chamado, ela cerrou os lábios tristemente, passando a se convencer de que estava apenas naqueles dias de nostalgia e aquele personagem não significava nada.
Donghyun observou a mulher endireitar-se e sorrir acolhedora para ele.
— Preciso ir, anjinho, mas volto em breve, ok? — Ele concordou, embora estivesse decepcionado pela notícia. — Não fique triste, eu prometo que será rápido.
— Queria que você conhecesse o meu titio! — cobriu os pés de Donghyun e esticou o dedo mindinho em direção à ele.
— Prometo que irei conhecê-lo. — ofertou. — Será o nosso trato, o que acha? — Ela arqueou a sobrancelha. — Mas você precisa me prometer que não fará esforços! Só irá assistir ao seu tio jogar.
— Prometido! — Donghyun passou o seu dedo mindinho em volta do dedo de e chacoalhou com alegria. Ela deu um último beijo no garotinho e pediu para que Sun Hee ficasse de olho em Donghyun enquanto o tio do garoto não voltasse.
— Lembre-se, Sun Hee, é para ficar de olho no paciente! — apontou os dedos para os seus olhos e depois lançou o gesto em direção à Sun Hee. — Prioridades, minha amiga!
apressou os passos ao ver o topo da cabeça de ganhar evidência na sala particular que ambos dividiam. O corredor era largo e longo, e odiava ter de se fazer tão fitness enquanto estava de plantão porque correr era uma das coisas que ela mais odiava e ironicamente mais precisava fazer em seu trabalho, mas agradeceria mais tarde por ter aparecido ao seu lado, empurrando-a com empenho e força, a ajudando a se conduzir com mais rapidez.
voltava pelo mesmo corredor, cabisbaixo e contando quantos choco pies conseguia esconder dentro do seu casaco, evitando trombar o olhar com alguém do hospital e ter de se explicar. Já era vergonhoso demais ser um completo idiota rendido aos feitiços do sobrinho de três anos, imagine então se ele precisasse explicar a sua desculpa barata?
O corredor estava silencioso e ele quase se sentiu em paz pensando que conseguiria, enfim, terminar os preparativos finais de seu novo jogo, mas logo se lembrou da hiperatividade do sobrinho e da dificuldade que enfrentaria.
O prazo estava batendo em sua porta e sabia que precisava se apressar o quanto mais rápido possível. Ele era o CEO da PBTS Entertainment, mas não ganhava benefícios quando envolvia concluir o seu trabalho como os demais.
Para ser franco, não estava com dificuldade para finalizar o jogo por causa de Donghyun, — quem o dera se fosse por causa dele — mas sim porque era insuportável e maldosamente irritante ter de colocar um ponto final naquele projeto.
A ideia do jogo surgiu durante uma de suas noites de melancolia. só conseguia pensar em como queria, demasiadamente, se recordar do rosto de . Onde ele estava com a cabeça quando aceitou aquele desafio?! Agora estava aqui, no fundo do poço, sem ao menos saber como encontrá-la novamente!
rodou a ilha de Jeju por completo em busca de , de seus pais ou qualquer pessoa que tivesse uma simplória informação sobre o paradeiro da amiga. A única coisa que conseguiu reunir durante a investigação foi que: e sua família se mudaram para a capital do país quando a garota conseguiu passar na faculdade. Os pais tinham o plano de expandir a rede de restaurantes que tinham por algum lugar de Seul, mas ninguém sabia onde seria porque eles não conheciam o mundo fora da ilha de Jeju. sumiu do mapa, não deixou nada que facilitasse a sua busca e seguiu sua vida frustrado.
Veja bem, eles não se afastaram porque se tornaram o tipo de pessoas que se perderam no passar dos anos e que, quando não se conhecem mais, perguntam de forma genérica sobre a vida da outra, só para ver se ainda existe algo em comum que possa estabelecer uma conversa amigável. odiava ser esse tipo de pessoa e sabia que nunca se tornaria assim quando a pessoa do outro lado da relação era .
Mas acontece que às vezes o tempo toma o seu próprio rumo. Às vezes as coisas saem do planejado e você só nota as mudanças quando se dá de frente com elas.
O pouco que lhe restara era preservar as memórias da amiga em sua mente e, como estava tentando, no seu novo jogo. O projeto foi designado especialmente para ela, uma dedicatória e homenagem que possivelmente ela nunca chegaria a conhecer, mas que simbolizava toda a luta diária de : ele seguia cada dia de sua vida vencendo barreiras para perseguir a sua musa sem rosto.
A personagem principal do jogo era igual tinha memorizado: uma mulher sem fisionomia e traços faciais, mas ainda sim tão bela e magnífica como sabia que ela era.
O seu personagem, no final do jogo, pelo menos teria um fim mais justo que o seu — encontraria a sua amada e descobriria como ela aparentava.
, em contrapartida, seria o lado real do projeto e viveria o resto de sua vida remoendo aquele sentimento de perda e frustração.
Remoendo o sentimento de nunca ter se declarado para a musa da sua vida.
Ele soltou um suspiro desanimado e chegou próximo do quarto de Donghyun. Ao fazer menção de agradecer a enfermeira que o esperava retornar para voltar ao seu posto, trombou o olhar com uma médica correndo ao rescaldo de um homem. O jaleco da mulher voava combinando com o ritmo que o seu corpo se projetava contra o ar e riu por ter pensado rapidamente que aquela mulher parecia estar sempre pronta para correr.
— Titio! — Donghyun acenou para . — A titia me prometeu que iria te conhecer! — despejou os doces na cama de Donghyun e o garoto respondeu com um grito extasiado. O mais velho tampou a boca do garoto, apreensivo, pedindo para que ele não o denunciasse. Depois que Donghyun começou a abrir os pacotes e esticou-se no sofá com o notebook em cima de seu quadril, o garoto trouxe novamente o assunto a tópico. — Contei a titia que você fez um jogo para a sua amiga. — As bochechas carregadas de doce elevavam-se à medida que Donghyun se forçava a falar. iria repreendê-lo por estar forçando tanto a voz, mas Donghyun apressou-se para continuar falando. — Ela é muito bonita, você deveria usar a cara dela na sua personagem de terror!
— Ela não é um personagem de terror, Donghyun. — riu. — É só um personagem sem rosto. A finalidade é ela ser exatamente assim.
— Por que você vai deixar a personagem sem rosto se ela pode ser tão bonita quanto à titia? — Donghyun enrugou a testa e estava ficando incomodado com a negação do tio. — Por favor, titio, coloque o rosto da titia no jogo!
— O que te fez ser tão apaixonado por essa mulher? — resmungou com a implicância do sobrinho. — Aish, Donghyun…
— É porque ela salvou a minha vida. — Donghyun respondeu. — E eu quero salvar a vida dela também, igual o seu personagem faz no fim do jogo!
ofereceu um sorriso entristecido para o sobrinho. Ele se sentiu tocado pela forma que Donghyun conseguiu pontuar tão simploriamente o significado daquele jogo para ele: salvou a sua vida e a sua única forma de retribuir era salvando ela, figurativamente, em um jogo de video-game.
Era cômico se ele fosse confessar, mas foi a única maneira que conseguiu encontrar para suportar aqueles sentimentos.
olhou para o sobrinho e pensou que mal Donghyun sabia sobre as verdades da vida, que a mulher que inspirou aquele jogo também havia salvado a vida .
O mais velho deixou a sua mente se guiar de volta ao passado e redescobrir a sensação sublime daquelas vibrações. Em cada pequeno momento de sua vida, lá estava , possibilitando que ele pudesse sorrir verdadeiramente, até mesmo quando tudo o que ele queria fazer era desaparecer igual os rostos em sua mente.
Ele sentiu, também, o estranho sentimento de não se reconhecer naquela pessoa. Era ele, claramente, mas agora, anos à frente, não parecia mais ser a mesma pessoa. O rosto continuava o mesmo, a diferença estava que agora conseguia se reconhecer, entretanto ainda soava como se algo estivesse fora do lugar. Poderia ser ele ou os seus sentimentos, não se atentou para descobrir, mas deixou que a sensação o consumisse por um tempo.
Apesar dos apesares, se sentiu sobrecarregado pela felicidade de ter tido a oportunidade de começar de novo, mas não compreendia o por quê essa dor ainda existia em seu coração.
O aperto em sua alma ficou ainda mais intenso desde que pisara o pé naquele hospital. Ele quis negar a acreditar que seria por causa do que ele sentia ao estar de volta a um lugar como aquele, mas, deixando a sua mente se iludir um pouco, era quase como se ele estivesse próximo de algo.
Seus olhos perambularam pelas frestas da janela e fitaram as nuvens.
Aquele ainda era o seu paraíso debaixo do céu.
E ele ainda estava vivendo aquele milagre.
Ele sabia disso.
Só esperava que, algum dia, também soubesse.
rodou seu olhar sob os olhos castanhos de buscando compreender as exatas palavras que ele proferiu naquele segundo. Soava tão surreal e inesperado que ela precisou piscar algumas vezes para ter certeza que aquele momento realmente estava acontecendo e não era apenas uma miragem ou mais um sonho que periodicamente lhe iludia. Ela quis por tanto tempo que aquela notícia chegasse que quando finalmente aconteceu só conseguiu pigarrear o nó que se formou em sua garganta e tombar a cabeça, chacoalhando os pensamentos e retomando o rumo da conversa.
— Você está zoando com a minha cara, não é, ? — arqueou a sobrancelha num misto de surpresa e nervosismo. Vasculhou qualquer resposta no olhar do rapaz, instigando-o a continuar falando.
— Não, , estou falando sério. — esfregou os dedos nas têmporas. — Consigo ser profissional às vezes, sabia?
— E você tem certeza disso? — Ela quis saber, desviando da brincadeira do amigo. Endireitou-se na cadeira para não perder qualquer que fosse as alterações na entonação vocal do rapaz. Ele repetiu o aceno após um suspiro sobrecarregado de certezas.
— Não confia em mim? — Ele indagou.
— Não, não é isso — inclinou o corpo em direção à e gesticulou com as mãos apressadamente para se corrigir. — Só estou surpresa. Não esperava que nossas pesquisas chegassem tão rápido em um resultado.
A médica compenetrou o seu olhar na fisionomia calma do amigo. Ela estava atônita, decidiu se definir assim.
Desde que acabara a residência, há quase um ano, acreditou que era o momento de iniciar as suas pesquisas sobre a prosopagnosia. Havia perdido o contato com , sabia disso, mas a sua promessa continuava intacta.
foi a pessoa que aceitou embarcar em sua jornada mirabolante e tentar, então, encontrar uma cura para a doença. No transcorrer dos meses seguintes tudo o que e faziam resumia-se a trabalhar, chegar em casa, comer algo, se afundar em pesquisas, ter um rápido descanso e voltar a trabalhar.
Essa rotina quase acabou com o seu equilíbrio mental, mas viu que existia um empenho justificável para não ter desistido da busca incessante.
— Então quer dizer que…
— Encontraram a cura. — completou a frase da amiga.
concordou, embora estivesse afundada no transe da informação, ainda digerindo o que aquele fato ocasionava no seu psicológico. chegou a analisar que a realização estampava a feição da amiga era como uma máscara perfeitamente moldada para si.
— Mas só deu certo com uma pessoa, por isso o tratamento não foi divulgado e nem espalhado pelo mundo. — coçou a barba por fazer. — O médico que realizou o tratamento disse que o seu paciente definiu a sua cura como “um milagre no paraíso abaixo do céu”.
O universo a volta de entrou em colapso após os seus tímpanos terem ouvidos as palavras de . No primeiro momento ela sentiu seu corpo perder o controle e tombar para frente e, nos seguintes, teve plena certeza de que estava a um pé de ter o seu coração atravessando o corpo e explodindo em rajadas de comoção.
Seus olhos marejaram tão rapidamente quanto as suas contrações ventriculares prematuras colocavam em evidência o seu estado de incredulidade e espanto. Ela beliscou a palma da sua mão para ter certeza de que não estava sonhando e encarou pasma . A sua boca foi lentamente se abrindo num buraco negro para responder o amigo, mas ela perdeu a noção do espaço-tempo e cravou o olhar na paisagem ao fundo, na direção onde seus olhos a faziam contemplar as nuvens no céu.
— O nome do paciente. — conseguiu pronunciar. — Está dizendo o nome dele?
estava perdido com a comoção da amiga, mas passeou os olhos pelas folhas e encontrou a impressão de uma imagem que foi tirada por uma câmera. Na foto indicava um prontuário e mesmo que o documento parecia estar desgastado e a letra do médico fosse uma das piores que ele já vira na vida, o homem conseguiu reconhecer a sequência de letras. Ele começou a sibilar o nome, enquanto que já o pronunciava silenciosamente para si mesma:
— …
— .
A voz de sobressaiu a de e ele a encarou confuso, tentando ver se ela conseguiria enxergar o nome através do espaço que se dava entre eles.
— Ele conseguiu. — murmurou. Um riso intoxicado pela emoção e exteriorizando a sua alegria expandiu-se pela sala de . — Oh, , seu encrenqueiro, eu sabia que você conseguiria.
— Perdão. — suspendeu a mão no ar e apontou para . — Estou deixando algo passar?
A médica olhou finalmente para o amigo. Seus dentes mordiscaram as extremidades dos lábios e brincaram em uma dança milimetricamente coreografada com as pérolas de seus dentes. gostava de ver a amiga sorrir, era a sua característica exordial, mas naquele momento estava achando a sua reação um tanto assustadora.
— Não, . — sorriu mais abertamente, empurrando a cadeira para frente e se direcionando para a saída. — Foi eu quem deixou algo passar!
A médica correu. Por Deus, ela correu como se fosse um tigre indo atrás de sua presa do dia. Suas pernas esticavam-se tão amplamente que ela chegou a pensar na inveja que Usain Bolt sentiria ao vê-la sendo tão ágil nas pesadas. Ela se sentiu uma velocista sendo lançada contra o ar, chocando-se como uma muralha impenetrável e prestes a alcançar o céu com mais um passo.
Ela só tinha um plano em mente: precisava voltar para Jeju.
Aquela deveria ter sido a dica de . Ele sabia que ela continuaria procurando pela cura, não é? Ele sabia também que ela não desistiria da promessa.
Se eles se perderam pelos caminhos tortos da vida, a forma que ele teve de dizer entre as linhas era óbvia: ele deveria ter voltado para Jeju depois do tratamento.
Então ela também precisaria.
adentrou no vestuário e contornou o ambiente para encontrar o seu armário. Abriu o cadeado com urgência e procurou pela foto de , aquela que ela “furtou” na última ida à casa do garoto.
Estava um pouco desgastada pelo tempo, mas o que importava? O rosto dele ainda ostentava a aura mais pura e esplêndida que já vira. Ela ainda podia ver minuciosamente o rosto do seu melhor amigo e as borboletas no estômago não lhe abandonaram nem com o passar dos anos.
gargalhou para si mesma, dando pulinhos de alegria no ar e apertando a foto contra o seu peito, suspirando embriagada pelo sentimento de deleite.
Ela atravessou o hospital com aquela foto pressionada nas mãos, apalpando o papel como se pudesse criar vida e sair daquela imagem para se projetar diante dos seus olhos.
Com um relâmpago de consciência penetrando a sua mente, recordou-se que precisaria voltar para o quarto de Donghyun. Seus pés a guiaram com lentidão pelo lugar e a médica deliciava-se com o peso prazeroso que carregava no coração.
— ! — Sun Hee veio correndo até e rodou em volta da médica, apoiando o peso do corpo no ombro da médica para inclinar-se em direção ao ouvido dela. — O bonitão está lá! — empurrou Sun Hee e as duas riram minimamente. — Aproveite a deixa e me chame para eu ter uma desculpa de poder encará-lo mais um pouco. — A enfermeira piscou para a médica e correu de volta ao seu posto, observando a carranca atônita e aérea da outra.
A verdade é que pouco se importava com outro homem bonito.
Nenhum deles seria tão lindo quanto , disso ela tinha certeza.
— Com licença. — Ela anunciou a sua presença, mas logo se arrependeu ao ter visto que Donghyun estava com a cabeça tombada no travesseiro e aparentando dormir. As cortinas estavam fechadas minimamente, só deixando que um friso de luz adentrasse no quarto, justamente onde o tio do garoto estava sentado no sofá. Ele remexeu-se rapidamente ao vê-la entrar, derrubando alguns cabos do notebook, começando a murmurar maldições e pedir desculpas entre os sussurros.
se divertiu com o euforismo do rapaz e ofereceu-lhe uma mesura, vendo ele retribuir imediatamente.
— Ele está dormindo? — falou baixo. também estava quase dormindo, mas não diria isso para a médica. O que fez foi esfregar os olhos com exuberância e retomar a fazer a única coisa que esperavam que ele fizesse: cuidar do arteiro Donghyun.
— Sim, finalmente caiu no sono depois de travar mil lutas com dragões e alienígenas. — apontou para TV, pausada em um jogo de videogame, sorrindo timidamente. A médica riu baixinho, soando docemente aos ouvidos de , apesar de ele mal conseguir decifrar como a voz dela soava.
percebeu que ainda segurava a fotografia de em suas mãos e, sentindo suas bochechas ruborizarem, enfiou a imagem dentro do bolso do jaleco e deixou as mãos presas na barra da maca.
percebeu que a médica empenhava um esforço árduo para averiguar o estado físico de Donghyun, então caiu em seus sentidos e abriu um pouco as cortinas, pois sabia que o garotinho dormia como uma muralha e não iria despertar tão fácil.
demorou alguns segundos para acostumar a visão, cerrando os seus olhos em resposta e sorriu agradecida ao tio do garoto, mesmo que seus olhos continuassem vidrados na fisionomia serena e pacífica de Donghyun.
O silêncio instalou o ambiente e era confortável aos ouvidos da médica, mas ela se lembrou de que não estava em uma daquelas situações que poderia ficar quieta apenas pensando por si. Retomou a consciência rapidamente, empurrando as madeixas de cabelo para trás e amolecendo as bochechas, pensando que o tio do garotinho deveria estar aflito ou preocupado por vê-la ali.
— Desculpe-me, esqueci que ainda não fomos devidamente apresentados… — girou o corpo sob os calcanhares e guiou o olhar em direção ao tio do garotinho.
E foi aí que aconteceu.
O espaço é apertado, contido e, no entanto, é vasto, aberto com todas as possibilidades de memórias que eles ainda não criaram. girou seus olhos pela extensão de como se estivesse revirando o passado e as piscadelas seguravam surpresa, mas mantinham a paixão cristalina como as águas das Ilhas Maldivas, preservada por todo aquele tempo.
piscou rapidamente com a sua atenção integralmente direcionada para o puro esplendor que os traços da mulher constituíam.
Primeiramente ele sentiu o seu coração rasgar.
A sensação veio assim, bem esporádica, bagunçando tudo o que conseguia pensar naquele momento.
Ao olhar para ela, teve as memórias criando vida através da cor do céu, azul vívida, a mesma coloração excepcional que ela via todos os momentos na ilha de Jeju.
se sentiu conectado com as características deslumbrantes da mulher como se aqueles conjuntos de traços fossem tão pertencentes ao seu coração quanto ele acreditou que um dia seria — o arredondado dos seus olhos, a cor de seus nuances, o formato delineado de seus lábios, a formidade do seu nariz, a espessura graciosa de suas sobrancelhas, a pintinha minúscula na lateral da bochecha, a extensão extremamente cativante de seu pescoço, a suavidade em sua voz e, por céus, o seu sorriso.
O seu indescritível sorriso, o retrato mais bem retratável do paraíso que existe abaixo do céu.
A resposta vagou como um tambor orquestrado.
sentiu.
sabia.
— .
Ela pôde decifrar o sussurro de seu nome no momento em que sua boca se fechou em descrença. O som foi semelhante a ouvir uma melodia e sabia que aquele era o seu .
— , esse é o momento perfeito para você admitir que eu sempre estive certa. — enxugou as lágrimas. — Eu te falei, não foi?!
cessou a distância entre eles e correu os seus braços pelo corpo de .
O mundo pareceu entrar em modo slow e a única coisa que exercia atividade naquele segundo eram seus corações, alinhando-se em sincronismo e cumprimentando um ao outro novamente.
— Com certeza meu coração não iria se enganar em reconhecer a rainha do convencimento. — Ele afastou o rosto dos dois apenas para contemplá-la mais uma vez e provocá-la, como sempre fez, sentindo-se navegando pelo paraíso abaixo do céu, o lugar que o permitia experimentar daquela paz que antigamente o vestia tão bem: — Oi, estranha.
For now.
Fim
Olha eu aqui com uma fanfic que surgiu por causa do bendito dorama que o Kim Junmyeon (anjo da minha vida) está estrelando! Rich man, poor woman me deixou tão hyped que corri escrever uma fanfic meio levinha com alguns detalhes em comum porque, fala sério, como eu não iria ficar inspirada com esse dorama lindo? ♥
Acabou que eu também me senti inspirada a escrever com a música “Begin Again” do grupo INFINITE como background, o que só me deixou ainda mais nho nho com esse plot! AHAUHAUAHUA
Fiquei muito soft, serei franca! Quero beijar e proteger cada um desses personagens ♥
Felizmente estou me sentindo beeeem satisfeita com o resultado desse projetinho que veio bem aleatoriamente na mente. Essa fic é o meu novo xodozinho e tô muito feliz por poder compartilhá-la com vocês!
Muito obrigada por quem chegou até aqui, espero não ter te decepcionado!
(Queria fazer um agradecimento MUITO especial à minha beta linda, @Thay Sandes, por aceitar se jogar nas minhas loucuras momentâneas e por ter betado mais uma das minhas aventuras pelo site! Me sinto ainda mais confortável (e inconsequente também, rs) por ter alguém que me encoraja e me ajuda TANTO a expandir meus trabalhos dentro do FFOBS! LOVE YOU, GIRL ♥)
Nos encontramos na próxima fic, no próximo ficstape e nos ‘corredores’ desse site maravilindo! Mil vezes obrigada pela presença!
We are one! ♥
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