11. Kiwi
Tentei abrir meus olhos, mas o sono absurdo que estava sentindo não me permitiu e eu sabia que aquilo era por causa do remédio que tinha tomado no meio da madrugada para dor. Geralmente, ele abaixava minha pressão e eu praticamente desmaiava, dormindo mais do que o normal para uma pessoa comum, já que o meu normal era apenas umas quatro horas de sono diário. Passei a mão em meu rosto e percebi que não iria conseguir sair dali, então me virei e abracei o travesseiro, percebendo que ali tinha espaço demais. A única coisa que consegui fazer foi passar o braço pela cama e confirmar que não estava ali. Porcaria, onde ele estava? Então em uma busca cega procurei pelo meu iPhone, mas também não o encontrei e antes que eu tentasse fazer qualquer coisa, já estava dormindo de novo.
Senti algo me sacudir e isso me fez resmungar. Depois disso tudo ficou calmo de novo e eu retornei a dormir. Ao certo não sei se dormi logo em seguida ou se a pessoa realmente foi embora, me deixando em paz. Definitivamente não queria saber daquilo naquele momento, o sono não me permitia tanto.
Abri finalmente meus olhos, mas tudo estava escuro. Uni as sobrancelhas e me sentei na cama, procurando o interruptor do abajur para poder encontrar meu celular. Achei os dois e arregalei os olhos quando vi que era oito da noite. Meu Deus do céu! Eu hibernei! Levantei da cama ainda com sono, sentindo minhas pernas doloridas e fui ao banheiro, tomando um banho para ver se melhorava, ou se pelo menos aquela lombeira desgraçada fosse embora, mas não melhorou muito.
Coloquei uma roupa limpa que estava pendurada atrás da porta e saí do quarto. O pessoal estava na sala, jogando um jogo de tabuleiro que não consegui ver qual era, mas pararam quando me viram passar, ficando todo mundo em silêncio. Não entendi o motivo daquilo, mas ignorei e fui até a geladeira, a abrindo e vendo o que tinha de interessante para comer. Peguei ovos, bacon e manteiga, colocando tudo em cima do balcão. Às vezes vegetava simplesmente do nada, olhando para algum ponto cego enquanto fazia as coisas.
Quando acabei de fritar os ovos e o bacon, os comi em pé mesmo no balcão. Lavei tudo o que sujei e, por fim, voltei para o quarto, escovei meus dentes e me deitei no escuro mesmo. Peguei meu iPhone e procurei uma playlist de um gênero que estava com saudades de ouvir, Lo-fi. A batida era muito gostosa, me fazia relaxar e até mesmo dormir. Eu ficava viajando ouvindo aquele tipo de música.
Conectei meu celular na minha caixinha de som que havia trazido, coloquei algodão no ouvido, apenas para ouvir a música que estava um pouco mais alta e não os barulhos exteriores do quarto. Me virei de barriga para cima, olhando a sombra no teto da luz que o pequeno aparelho de som fazia, enquanto deixava a batida da música me levar. Se as meninas entrassem ali agora, certamente pensariam que eu era louca.
O ar-condicionado estava ligado em uma temperatura gostosa, que não necessitava ficar de coberta. Coloquei a mão sobre meus peitos que nem uma defunta e fechei meus olhos, respirando fundo, relaxando e voltando a pegar no sono aos poucos, sem pensar em absolutamente nada. Eu estava levemente sonolenta, quando senti algo passar pela minha canela, me fazendo pular assustada e abrir os olhos, vendo ali de pé ao meu lado, me olhando.
— Está querendo me matar do coração? — Perguntei, tirando os algodões do ouvido.
— Não, só estou preocupado contigo — respondeu, já deitando na cama ao meu lado. — Ficou aqui o dia inteiro e, quando saiu, não falou nada com ninguém. Está tudo bem? — Seu jeito de falar me fez sorrir, estava sendo fofo.
— Está sim, só estou com sono — disse, me aproximei dele e encostei minha cabeça em seu ombro. — Eu tomei remédio de dor ontem e quando faço isso, eu durmo muito.
— Então seu problema de insônia é facilmente resolvido com um analgésico? — Brincou e rimos juntos. — Mas você dormiu muito.
— Eu sei, e ainda estou com sono, mas é porque tenho dormido muito pouco. Provavelmente amanhã estarei ligadona — expliquei e coloquei minha cabeça em seu peito, seus braços me envolveram, fazendo um carinho gostoso em minhas costas.
— O que é isso que você está escutando? — Tinha uma certa estranheza em sua voz, o que me fez rir.
— Lo-fi — falei, mas nem me mexi. — Gostou?
— Não sei dizer. — Riu um pouco. — É estranho. — Ele tinha razão, era estranho, mas eu gostava. — Preciso escutar mais um pouco para dizer o que achei.
— Fique à vontade. Eu sigo algumas playlists no Spotify, mas tem uns vídeos dos Simpsons no YouTube de mais ou menos meia hora que talvez você vá gostar, e outros que são rádios, mas esses eu não conheço muito. Se quiser, posso te mostrar depois — ofereci.
— Me manda depois que irei ouvir. — Me apertou um pouco em seus braços.
Levantei um pouco minha cabeça e passei meu nariz em seu pescoço, depois beijei de leve sua pele, lhe causando um arrepio. Sua mão desceu e apertou minha cintura, me puxando para mais perto. Coloquei minha perna entre as dele e deslizei meus lábios pelo seu queixo e o mordisquei depois, bem de leve.
— Você não disse que estava com sono? — perguntou de um jeito provocativo.
— Estava com sono até você chegar aqui e roubar ele — sussurrei por cima de seus lábios. — Mas se quiser, eu posso tentar voltar a dormir. — Me afastei, mas ele segurou rapidamente minha nuca e me beijou de um jeito que chegou a roubar todo meu ar. — Sem dúvidas você está afim de me matar hoje — comentei quando começou a beijar meu pescoço.
— Na verdade, eu quero te matar apenas de uma forma... — falou em meu ouvido, me deixando completamente arrepiada.
— Chega, para com isso. — Me afastei dele, rindo um pouco. Ele estava me fazendo ficar excitada e não era nada bom ficar daquele jeito em uma casa cheia de gente. — Você vai me deixar louca desse jeito.
— Você fala como se fosse a única. — Riu um pouco. — E outra, não fui eu quem começou. — Estreitei meus olhos e o empurrei de leve seu ombro. — Ué, só estou dizendo que estava na minha aqui.
— Você não precisa começar nada para me provocar, só de me olhar com essa sua cara aí, já é o suficiente. — Mordi meu lábio inferior.
— Então a culpa é minha? — ria de um jeito que me fazia rir junto a ele.
— Claro, sempre foi sua culpa. — Voltei a me aproximar dele. — E mesmo quando não sabia como você era fisicamente, continuava sendo a sua culpa. — Passei meu indicador pelo seu peito.
— É mesmo? Me diz como isso era possível — quis saber.
— Oras, eu me apaixonei por quem você é, pelo seu jeito, pela sua voz. — Então fechei meus olhos com força, me dando conta do que eu tinha acabado de falar. — É, quero dizer... — Já comecei a ficar envergonhada. — Quero dizer que não gostei de você por causa da sua aparência... Que merda. Esquece. — Percebi que estava me enrolando cada vez mais, então segurou meu queixo e o ergueu, me dando um selinho leve, mas demorado.
— Também me apaixonei por quem você é — disse por fim, e eu apenas o abracei com força, escondendo meu rosto em seu pescoço.
Ficamos abraçados até que eu finalmente relaxei e acabei dormindo novamente. E mais uma vez o sono foi tão pesado que nem acordei quando as meninas entraram no quarto e desligaram o som. Não sei bem dizer se era por causa do ou o que realmente era, mas sabia que estava bem, e em muito tempo que não dormia daquele jeito.
Acordei e não era nem dez da manhã, ouvindo e conversando baixinho. Abri meus olhos e olhei para elas, que nem sequer viram que eu tinha acordado. Senti o braço de em cima de minha cintura, então me virei, ficando de frente para ele. Era inexplicável como aquele garoto era lindo, até dormindo ele conseguia tirar meu fôlego. Fiquei observando-o por algum tempo, até que levantei e as meninas pararam de falar.
— Estou com fome, acho que vou ao mercado comprar algo para comer — comentei com elas antes de entrar no banheiro. — Vocês querem ir comigo? — Perguntei de bom humor.
— realmente faz milagres — falou, aparecendo na porta do banheiro. — Você acordando cedo e de bom humor. Realmente ele operou um milagre. — Joguei a toalha de rosto em cima da minha amiga, que riu. — Acho que o mau humor já voltou.
— Larga de ser chata. — Peguei minha escova de dente. — Vão querer ir comigo?
— Eu quero — respondeu do quarto. — Podemos comer em uma lanchonete nova lá perto do mercado mesmo. O que acham? — Ela parou ao lado de na porta.
— Justo. — Afirmei com a cabeça e cuspi na pia. — Vou trocar de roupa. — Coloquei minha escova de volta no copo.
Tentei chamar , mas ele nem sequer se mexeu, então deixei para lá e apenas troquei minha roupa e fui para a sala, esperar as meninas. Todo mundo ainda estava dormindo, e também pudera, devem ter ido dormir tarde, além do que os meninos nunca acordam cedo. Me sentei sobre o balcão até que e apareceram. Saímos com a pick-up e fomos para a lanchonete que minha prima havia falado. Escolhemos uma mesa ao lado da enorme janela de vidro que tinha no local. Fizemos nossos pedidos e nos entreolhamos, depois as duas se encararam e eu sabia que seria zoada.
— Você e o estão namorando? — logo soltou aquilo de cara, o que me fez arregalar os olhos.
— O quê? Não, claro que não! Nós nos beijamos tem dois dias! — Gesticulei com as mãos. — De onde você tirou isso?
— Ué, ele dormiu dois dias seguidos lá no quarto contigo — explicou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Ele dormiu lá ontem porque os meninos estavam todos espalhados lá em cima de qualquer jeito, e o Eric dormiu lá também — tentei justificar, mas sabia que aquilo não seria o suficiente. — E hoje ele acabou pegando no sono. — Dei de ombros.
— Ah! Ele pegou no sono! Sei! — me jogou uma bolinha de papel. — Fala logo que vocês transaram ontem. — Arregalei meus olhos.
— Meu Deus, eu não seria tão burra assim de transar com o com vocês perambulando pela casa. — Ergui minhas sobrancelhas e joguei a bolinha de volta. — Por quê? Você e o já transaram? — se engasgou com o ar.
— Oi. Tudo bom? — Se fez de boba.
— Anda, responde! — Mandei, rindo um bocado, e olhei para , que estava se fazendo de sonsa, olhando para o lado de fora como se nem ao menos estivesse ouvindo o que falávamos.
— Nós viemos aqui para comer ou para saber sobre mim e o ? — E lá estava minha prima tentando sair fora.
— Os dois. Comer enquanto falamos sobre a gente. Não é mesmo, ? — Chamei e minha amiga nos olhou se fazendo de desentendida. — Como está o ?
— Bem, ué. Como ele estaria? — Respondeu simplesmente.
— Você sabia que é a minha cunhadinha favorita? — Abri um sorriso largo e revirou os olhos.
— Cala a boca, — mandou e voltou a olhar pela janela.
— Eu também te amo. — Joguei um beijo para ela, que acabou rindo. — Então, . Você ainda não respondeu à pergunta que não quer calar — insisti.
— Espera. A tem mesmo que ser sua cunhada favorita, você só tem o como irmão. — não iria responder o que eu queria saber tão cedo.
— E quem disse que ele só tem a ? — Soltei e minha amiga me encarou na mesma hora.
— O que você quer dizer com isso? — perguntou rapidamente e eu ri jogando minha cabeça para trás.
— Olha só quem já está plantando a discórdia — falou e a olhei ainda rindo. — Você sabe que ela vai perguntar que história é essa para o quando chegarmos em casa, não sabe?
— Vai? — Encarei . — De qualquer forma, eu já sei que irei para o inferno. — Ri mais um pouco.
— Você ainda não nos contou como o te beijou — minha prima tentou mais uma vez mudar de assunto.
— Com a boca.
— Nossa, você acordou gozada hoje, hein. — riu um pouco.
— Estou me perguntando se você dormiu com o ou com um palhaço — falou e eu fiz cara de pensativa.
— Na verdade, não faz muita diferença, o é um palhaço mesmo — rebati e joguei uma bolinha de papel de minha amiga.
— Eu desisto. — Ela ergueu as mãos. — E você não vai responder se fez ou não aquilo com o ? — Se virou para .
— E a não falou como a beijou. — Jogou para cima de mim. — Eu só percebi o que estava acontecendo quando freou o carro.
— Já respondi, com a boca. — Dei de ombros e jogou a bolinha de papel que estava na mesa em minha cara. — Ok, eu conto. Alguém tem que ser mulher o suficiente aqui nessa mesa, não é? — Encarei minha prima por ficar fugindo da resposta se tinha transado com ou não. Então contei como foi e as duas me olhavam atentas, esperando os detalhes. — Foi isso. Agora responde, ! — Bati com a mão sobre a mesa. — , não pense que vai escapar, não, porque eu vi você e o se agarrando às escondidas em Hollywood.
— E daí? — Ela ergueu uma sobrancelha.
— Ué, como foi? — Perguntei, cruzando meus braços sobre a mesa.
— Todos queremos saber, . — colocou pilha.
— Sinceramente, falar sobre como beijo seu irmão e onde não é um dos meus assuntos favoritos. — Ergui as sobrancelhas com a patada que levei.
— Olha ela! — Ri alto. — Essa doeu um pouco, mas só um pouco mesmo.
— Eu conto se a contar. — Olhou para minha prima.
— Eita, a batata quente está pegando fogo. — Era impossível não rir.
— Ok, ok! — bateu de leve com sua testa sobre a mesa. — Nós fizemos — mas ela falou tão baixo que mal deu para ouvir.
— Fala para fora, minha filha. Eu sou surda — impliquei e ergueu a cabeça, me olhando com os olhos estreitados. Eu só conseguia rir.
— Larga de ser chata, você ouviu muito bem o que falei. — Então nossos pedidos chegaram.
— Ok, onde foi então? — Continuei mesmo que a garçonete estivesse ali.
— Não quero saber os detalhes — cortou o assunto, pegando seu prato com panquecas e puxando para sua frente.
— Eu só estou perguntando onde foi e não como foi — falei, pegando uma fatia de torrada com manteiga de amendoim. — E quando, claro.
— Nossa, isso aqui é uma conversa ou um interrogatório? — quis saber, dando um gole em seu chá.
— Veja como você quiser. — Sorri de lado.
— Foi no banheiro do segundo andar, na quarta-feira — soltou aquilo tão rápido que quase não peguei todas as palavras. — Agora é a vez da . Como é estar com o ? — Minha amiga tomou um gole de seu suco de laranja para não se entalar com a panqueca.
— Vocês não querem saber. — Nós duas não falamos nada, apenas ficamos encarando , esperando que ela parasse de bobeira e falasse logo. — Ah — começou a dizer enquanto encarava seu prato —, posso dizer que ele é o dono do melhor beijo da minha vida, até mesmo superou anos de expectativa. — Eu me segurei para não berrar quando ouvi aquilo, ou ela acabaria ficando quieta e não contaria mais nada. — Não falamos nada para ninguém ainda porque não queremos ninguém no nosso pé. — Me lançou um olhar e voltou a comer. — Além do que pode não acontecer nada realmente entre nós e não quero perder a amizade de ninguém. — E no fim eu a entendia perfeitamente.
— Você sabe que independente de qualquer coisa, vou continuar sendo a sua melhor amiga, não é? — Segurei sua mão por cima da mesa e me deu um sorriso fraco.
— Não é assim que as coisas funcionam. Independentemente do que acontecer, você vai ficar do lado do por ele ser seu irmão — disse e soltou minha mão, pegando sua faca e cortando um pedaço da panqueca.
Acabamos de comer em silêncio e depois fomos ao mercado comprar coisas para os meninos comerem quando acordassem. Quando chegamos, eles já estavam de pé, revirando a despensa, caçando alguma coisa para comer. Juntamos todo mundo e fizemos um mega café da manhã. Assim como , os garotos também zoaram meu bom humor, culpando por isso, e por mais que eu negasse, ele era realmente o responsável pelos meus sorrisos. O que por acaso ainda não tinha levantado, então fui atrás dele.
Abri a porta do quarto bem devagar e vi que ainda estava dormindo. Tirei meus sapatos sem fazer barulho e corri, pulando em cima dele, que soltou um gemido e depois riu, cobrindo seu rosto com o travesseiro. Tirei aquilo de sua cabeça e comecei a dar travesseiradas nele, que logo me segurou pela cintura e me tirou de cima, rolando na cama e ficando por cima, me cobrindo de travesseirada também. Tentei me defender, mas foi inútil, ele era muito bom em guerra de travesseiros.
— , tira o daí. — abriu a porta do quarto. — O pai, a mãe e a tia Anne estão aí, vem logo. — Arregalei meus olhos e já ia perguntar o que eles estavam fazendo aqui, mas meu irmão já saiu do quarto.
— Merda. Levanta — falei rapidamente e saiu de cima de mim. — Dá a volta pela porta do corredor e passa pela frente — pedi.
— Por quê? — Perguntou, unindo as sobrancelhas sem entender nada.
— Se a minha mãe desconfiar que você dormiu aqui comigo, vai dar uma merda gigantesca — avisei e levantei da cama, calçando meus sapatos. — Por via das dúvidas, nem ao menos nos conhecemos — brinquei, dando um sorriso.
— É sério isso? — Ele já se levantava me olhando.
— Dela não poder saber que você dormiu aqui comigo, sim. — Me aproximei dele e lhe dei um selinho apertado, mas ele acabou segurando minha cintura e aprofundou o beijo.
— ? — Ouvi minha mãe chamar e isso me fez soltar rapidamente.
— Esconde no banheiro — sussurrei para ele e apontei para a porta.
— Está de sacanagem, né? — Não respondi, apenas o empurrei para lá.
— Oi, mãe — falei e já fui correndo até a porta do quarto, que se abriu antes que eu chegasse a ela. — Já estava indo, estava apenas fazendo xixi. — Peguei sua mão e a tirei dali.
— Pensei que estava dormindo até essa hora. Já são onze e meia da manhã — recriminou enquanto passávamos pelo corredor. — Meu Deus do céu, menina! O que aconteceu com suas pernas? Está achando que é menino para ficar brincando com essas coisas brutas. — Me puxou para me examinar. — O que aconteceu?
— Eu só caí da escada duas vezes e do iate. — Ela uniu as sobrancelhas. — As vizinhas, elas têm um iate, fomos lá no domingo e eu acabei caindo para fora dele porque escorreguei e bati com a perna no ferro — expliquei bem porcamente.
— Você está com problemas nas pernas? Precisa de um ortopedista ou só desaprendeu a andar como uma dama? — Aquilo poderia ser até uma piada se ela não estivesse tão séria me olhando.
— Talvez eu esteja com problema mental mesmo. — Sorri sem mostrar os dentes e saí andando. — Pai! — Joguei os braços para cima e corri em sua direção.
— Minha menina! — Ele me abraçou e me rodou. — Como você está? — Beijou minha bochecha.
— Estou ótima, e você? — Ainda continuava abraçada com ele.
— Estou muito bem. — Papai me soltou, então me virei para tia Anne.
— Tia! — Ergui meus braços.
— Sobrinha! — Ela levantou os braços também e começamos a fazer algo que parecia uma dancinha e por fim nos abraçamos. — Parabéns atrasado. — Me deu um beijo forte na bochecha e começou a me desejar felicidades. — Roger, essa menina está cada vez mais linda. O que vocês andam dando para ela?
— Culpa do — Troy berrou e eu já o olhei com as sobrancelhas erguidas, que era para ele calar a boca. — Falando nisso, cadê ele?
— ? — Minha mãe perguntou, então a olhei quase dando um filho. — Aquele ? — Fez um gesto com desdém. — Ele está aqui?
— Está sim — Troy como o bom língua solta continuava a falar. — Ele estava com a ainda pouco.
— Não estava coisa nenhuma. Acabei de chegar da rua. — Eu queria enfiar meu sapato na boca dele.
— Hm, por que parece que você está mentindo? — Minha mãe me olhou e eu ri um pouco. — Qual é a graça?
— Você é paranoica demais — disfarcei, olhando para o lado. — Você já falou com o Bradley? — O puxei e o coloquei na minha frente. — Ele veio também. — Sorri e empurrei meu amigo em cima dela.
— É claro que falei com ele. — Minha mãe sorriu e o abraçou de novo. — Foi a primeira pessoa com quem falei. Fiquei muito feliz que tenha vindo. — Ela passou as mãos no rosto dele. — Você e a estão se entendendo? — E eu sabia muito bem o que aquele “se entendendo” dela queria dizer.
— Não, mãe, não estamos ficando — respondi rispidamente.
— E por que não? Bradley é o rapaz mais agradável que conheço. — O abraçou de lado como se apresentasse um de seus produtos. Minha mãe era modelo fotográfico de meia idade e trabalhava em um catálogo de compras. — Vocês deveriam ficar juntos. — E nisso vi que estava parado na porta da varanda, ouvindo tudo com os braços cruzados. — Você não acha, Roger?
— Eu não acho nada. — Meu pai se virou e pegou um copo o enchendo de café. — Cadê o e a ? Não os vi desde que chegamos. — Uni minhas sobrancelhas, pois tinha ido me avisar que nossos pais tinham chegado, pensei que eles tinham se falado.
— Excelente pergunta — mamãe falou e olhou para os lados, sem soltar Brad, que já me olhava com cara de desesperado querendo sair dali.
— Estão me procurando? — já descia as escadas.
— Misericórdia menino! — Nossa mãe falou bem alto. — O que é isso na sua cara? — Ela se referia sobre sua barba estar grande. — Pelo amor de Deus, suba e tire isso, só volte aqui quando estiver com essa cara limpa. — Assim como eu, ele também ergueu as sobrancelhas. — Isso está horrível, está parecendo um cafetão. — Os meninos começaram a rir, mas se eu bem conhecia meu irmão, aquilo estava irritando ele profundamente. — Está parecendo seu tio Jeremy, vai tirar essa porcaria.
— Tio Jeremy mora no brejo. — Llembrei o lugar pantanoso que o cara morava. — Ele não deve fazer a barba já há uns cinco anos.
— Exatamente! — Mamãe me olhou. — Como você pode deixar seu irmão ficar com a barba desse jeito?
— Ué, você queria que eu o amarrasse na cadeira e fizesse a barba dele? E outra, a cara não é minha mesmo. — Dei de ombros e fui andando até . Precisava tirar a atenção de cima de antes que começasse uma briga. — Mãe, esse aqui é o . — Segurei em sua mão e o puxei para dentro, soltando logo em seguida.
— Muito prazer, senhora . — Ele estendeu a mão para minha mãe, que a olhou, reparando ele de cima embaixo e depois a segurou.
— Pode me chamar de Senhorita Jess — respondeu e eu queria simplesmente desaparecer. — Até que você é bonitinho. — Soltou a mão dele e eu virei a minha cara para o lado, encarando a parede para não falar meia dúzia de merdas. — Trabalha de quê?
— Aliciando mulheres — respondi e segurei a mão do . — Seja mais discreta — falei com minha mãe, e puxei o menino comigo até a cozinha. — Quer comer o quê?
— O que foi isso? — cochichou perto do meu ouvido.
— O que é isso, essa seria a pergunta mais adequada — rebati, já colocando manteiga na frigideira. — Essa coisa é a minha mãe e ela vai fazer os nossos dias o inferno na terra, se prepara.
— Se ela é tão ruim assim, por que você e o ainda moram com seus pais? — o olhei por cima de meu ombro.
— Não moramos na mesma casa. Eu e moramos na casa da piscina — expliquei, e por mais absurdo que aquilo era, aquele foi o único jeito que arranjamos para nos livrar de nossa mãe, já que nem deixar irmos embora de casa, ela havia deixado.
— E por que ainda moram lá? — Respirei fundo com a sua pergunta.
— Porque não conseguimos sair — falei simplesmente. — Me dê os ovos. — Apontei para a caixa que estava aberta sobre o balcão.
— E eu achando que a minha mãe era ruim. — Ergui uma sobrancelha, pegando os ovos que me entregava. — Você acha que eu moro em Vegas porque gosto?
— Sempre achei que fosse. — E aí que reparei que nunca tinha falado muito da família dele. — Achei que gostasse de ficar se mudando e viajando.
— Antes fosse. — Deu um pequeno sorriso. — Mas não me dou muito bem com a minha mãe. — Fiquei triste por saber daquilo. — Me deixe fazer isso antes que sua mãe reclame que você está fazendo algo para mim. — Tentou pegar a espátula de minha mão.
— Deixa ela reclamar. — O empurrei, batendo com meu quadril no dele e nós rimos. — Desculpe por te enfiar nisso, eu não sabia que eles viriam do nada.
— Relaxa, eu teria que conhecer seus pais de qualquer jeito. — Ele passou seu braço pelos meus ombros.
— Verdade! Nem te apresentei ao meu pai — lembrei e me virei, puxando comigo. — Pai! — Chamei, cutucando seu ombro por cima do balcão. — Esse aqui é o , o senhor ainda não o conhece. É aquele menino de Las Vegas que falei aquela vez.
— Ah sim, o que trabalha no cassino. — Meu pai deu a volta no balcão e abraçou . — Muito prazer. Minha filha falou muito bem de você. — Deu dois tapinhas de leve no rosto dele.
— O prazer é todo meu, senhor . — deu um de seus belos sorrisos. — Então quer dizer que a falou de mim? — Passou as mãos em meu cabelo o bagunçando, então o empurrei enquanto riamos daquilo.
— Por favor, apenas me chame de Roger. Jess que gosta dessa palhaçada de Senhor, Mister e essas coisas pomposas. — Meu pai fez um gesto banal com a mão. — E sim, ela fala o tempo todo de você. Estou feliz por conhecê-lo. — Sorriu e eu fiquei feliz por aquilo, por meu pai ser uma pessoa gentil. — Anne, venha cá — chamou e minha tia se aproximou. — Já conheceu o ? O mais novo membro da família.
— E que membro, hein. — Tia o olhou e fez uma careta de satisfação muito engraçada. — Caprichou dessa vez, . — Nós rimos. — Me conte, de onde você vem tem mais rapazes bonitões assim? — Perguntou a , que soltou uma gargalhada alta. — Estou falando sério, preciso arrumar um garotão que nem você.
— Olha, por modéstia parte, muito obrigado, porém mais bonito do que eu acho que vai ser difícil, mas posso te ajudar a encontrar alguém — se ofereceu. — Mas olha, acho que você consegue um homem bem rápido sendo bonita desse jeito.
— , sinto lhe informar, mas você acabou de perder. — Tia Anne pegou a mão do e saiu puxando ele, mas logo em seguida voltou, nos fazendo rir. — Você está de parabéns. — Deu dois tapinhas no ombro dele e me olhou. — Agora me falem que vocês estão dando uns beijinhos. — Senti minhas bochechas ficarem vermelhas. — Porque senão estão, vocês precisam começar isso para ontem!
— Anne, não acho que a vá querer responder isso. — Meu pai falou e nos olhou. Embora tivesse dito aquilo, ele mesmo estava curioso para saber. Olhei para o , pensando se respondia aquilo ou não. — Estão? — Ele não se aguentou, o que nos fez rir.
— É, estamos. — Olhei para o chão, sentindo que meu rosto deveria estar extremamente vermelho. — Mas a mãe não precisa saber disso agora, ou vai fazer um inferno na nossa cabeça. Você sabe como ela é.
— Eu sei, fica calma, não vou falar nada — meu pai garantiu. — Mas cuidado para ela não descobrir, ou vai ficar furiosa por você não ter contado antes — avisou e eu assenti com a cabeça. — E não é por nada, não, mas acho que tem algo queimando. — Apontou para o fogão.
— Puta merda. — A frigideira estava pegando fogo, então corri até lá sem saber o que fazer.
— Olha a boca, garota! — Minha mãe berrou, mas não me importei com isso. — Nem fritar um ovo você sabe — reclamou e se aproximou, apenas desligando o fogo. — Não sei como você e seu irmão fazem comida.
— Eu me distraí — rebati, já abrindo a janela da cozinha para sair aquele cheiro de queimado horrível.
— Você sempre se distrai com tudo. — Me lançou um olhar recriminador. — Você também estava distraída quando caiu da escada?
— Não, me joguei dela de propósito. — Sorri mostrando todos os dentes. — Vamos comer em outro lugar — falei com e o puxei para que saísse dali comigo.
— Me respeita, ! Só porque está na frente dos seus amigos não ache que vá falar comigo de qualquer jeito. — Revirei meus olhos ouvindo aquilo, e na hora que ela estava sendo super superior falando daquele jeito.
— , você já comeu? — berrei do pé da escada, ignorando minha mãe completamente. Meu irmão tinha sumido, então supus que estivesse lá em cima fazendo a barba para agradar a dondoca.
— Já. — respondeu, aparecendo no pé da escada passando a toalha em seu rosto, e pude ver que ele tinha mesmo tirado a barba.
— Não deveria ter tirado apenas para agradá-la. — falei alto e em bom tom para quem quisesse ouvir.
Por fim apenas me virei e levei comigo. Saímos da casa e vimos o carro de meus pais bloqueando a saída da pick-up. Maravilha. Eu não estava com a menor vontade de voltar lá dentro de pedir para meu pai tirar o carro, e não queria que fosse lá pedir ou então buscasse a chave de seu Corolla. Ouvimos a voz de Naomi e olhamos para a casa do lado, vendo a morena acenar para nós. Fomos até lá ver o que ela queria.
— Vocês já comeram? Acabamos de fazer waffles. — ela sorriu para nós, como sempre muito gentil.
— Na verdade eu já, o que ainda não comeu. — expliquei, e antes que eu completasse minha frase, Naomi segurou nossas mãos e nos arrastou para dentro de casa. — Licença. — falei quando passei pela porta, não tinha entrado ali dentro ainda, que por sinal era o dobro ou o triplo do tamanho da nossa.
— Bom dia! — Sophie já apareceu na nossa frente, e automaticamente segurou minha mão entrelaçando nossos dedos, e isso me causou uma risada discreta.
— Bom dia. — respondi sorrindo para ela. Embora o universo esteja conspirando para que meu bom humor vá embora, eu não deixaria que isso acontecesse. — Desculpa está invadindo assim, mas...
— Eu os convidei. — Naomi já me cortou e voltou até onde estávamos, nos puxando dali. — Vamos comer lá em cima na sacada do quarto aonde estou ficando. — falou enquanto nos guiava pela casa.
— Está tudo bem? — perguntei notando que tinha algo estranho aquilo tudo.
— Sophie está um saco, obcecada pela , e não para de falar dele nenhum segundo. — bufou enquanto nos colocava para dentro do seu quarto. — Não queria ficar perto das meninas e também eu não queria comer sozinha. — foi andando até a sacada onde tinha uma linda mesa de quatro lugares cheia de coisas. — Mandei uma mensagem para o Joe, mas ele não me respondeu. Eu ia até lá chamá-lo, mas quando vi vocês achei que seria melhor convidá-los do que simplesmente parecer que estou desesperada por ele, o que não é o caso. — deixou bem claro, mas nós dois rimos daquilo. — Vamos, sentem-se. — gesticulou com a mão e fizemos o que ela pediu.
Não era bem aquilo que eu tinha em mente no momento. Queria ficar sozinha com para poder explicar tudo o que estava acontecendo, e tentar conversar com ele sobre sua família, pois aquilo tinha me deixado realmente curiosa. Talvez não fosse a hora de falar sobre aquilo também. Fiquei misturando o suco enquanto pensava sobre isso, submersa demais em meus pensamentos para me tocar que aquele barulho no inox batendo no vidro estava realmente incomodando, até que segurou minha mão me fazendo parar de mexer aquilo.
— Está tudo bem? — Naomi perguntou, e eu balancei a cabeça.
— Sim, desculpe por isso. — tirei a colher do copo e coloquei na mesa.
— Acho que nosso dia só não começou muito bem. — disse e apenas o encarei. — Mas vai melhorar. — ele sorriu e apertou de leve minha mão me fazendo sorrir de leve.
— Vocês são fofos. — ri do comentário dela. — É sério, só de pensar na Sophie tentando estragar o que relacionamento de vocês, já fico com raiva. — ergui uma sobrancelha. — Não é a primeira vez que a vejo fazer isso. Então tomem cuidado.
— O que ela poderia fazer? — quis saber, mas nem sequer soltou minha mão.
— Tantas coisas. — Naomi fez uma careta. — Dar um jeito de parecer que vocês transaram, ou te beijar a força apenas para a ver. Sei lá, vai saber o que a cabeça doente dela.
— Pensei que vocês eram amigas. — observei achando bem estranho ela falando aquilo.
— Não. Aquela menina não tem amigos. — fez uma cara de nojo. Nossa, aquilo foi pesado. — Nunca fomos amigas, eu sou amiga da Samanta. — agora fazia total sentido. — E até converso com a Sara, mas a Sophie não consegue me descer de jeito algum. — deu de ombros. — Mas quem se importa, não é mesmo? — Naomi sorriu. — Me passa a geleia, por favor. — lhe entreguei o que pediu.
— Pelo menos assim sabemos que você não vai falar nada para Sophie. — e Naomi me olharam. — Ué, o Troy e o fizeram o maior escândalo na quinta porque eu e o nos beijamos, e você certamente percebeu isso e se tocou que era mentira sobre nós sermos namorados.
— Ah, sobre isso. — ela riu dando um tapinha no ar. — Eu já tinha visto que era mentira, mas não se preocupem, sou cega, surda e muda. — nós três rimos juntos. — E qualquer coisa ainda aumento um pouco e falo que na verdade o te pediu em casamento.
— Olha, acho que ela iria morrer de ódio se você falasse isso. Gostei, mate ela de ódio. — brinquei dando um sorriso largo.
— Hm, então vamos precisar de um anel. — entrou na minha brincadeira. — Espera, vou dar um jeito nisso. — catou algo em cima da mesa e ficou mexendo naquilo. — Pronto. — pegou minha mão e colocou uma argola branca feita com o arame de amarrar o pão em meu dedo anelar. — Estamos noivos agora. — suspendi a mão analisando meu novo anel.
— O que você acha Naomi? — mostrei para ela segurando minha risada.
— Achei maravilhoso. — pegou minha mão e o analisou também. — O que importa é o que simboliza, não é mesmo? — com aquilo nós gargalhamos, e automaticamente as pontas de meus dedos tocaram o cordão de que estava em meu pescoço. — Quero ser uma das madrinhas desse casamento.
— Pode deixar que iremos te chamar. — garanti e senti a mão se repousar em minha coxa. Olhei para ele com um sorriso singelo e seu olhar se cruzou com o meu. — Podemos nos casar na praia?
— Só se for nessa praia aqui. — alisou minha perna. — Não aceito outra.
— Justo. — encostei minha cabeça em seu ombro.
— Ai, desculpa, mas derreti aqui com vocês dois. — Naomi disse dando uma risada. — Parem de ser lindos juntos, assim eu vou querer até arranjar alguém também.
— Joe está aí para isso. — soltei e ela me olhou rapidamente. — Não? Ok. Sem Joe.
E para não precisarmos voltar para casa e lidar com a minha mãe enchendo o nosso saco, passamos o dia com a Naomi, conversando com ela, vendo filme e comendo. A cozinheira fazia tanta coisa gostosa que sentia que tinha engordado no mínimo uns vinte quilos de tanto doce que comi. Tirando o almoço espetacular, aquela coisa bem de rico mesmo, com frutos do mar e vinho. Nossa, eu comi que quase cheguei a lamber meus dedos de tão gostosa que estava àquela comida. No meio da tarde nós até chegamos a cochilar os três deitados na cama vendo um filme chato na Netflix, mas nosso sossego teve fim quando Joe apareceu e nos acordou.
— Caralho! — soltou bem alto me fazendo acordar em um pulo. — Todo mundo está procurando vocês dois a porra do dia todo! — reclamou parecendo bem irritado. — Custa levar a merda do celular quando vai sair?
— Calma, cara. — já acordou passando a mão no rosto. — Nem lembramos de pegar o celular quando saímos. — tentou nos defender.
— O vai matar os dois. — ergui minhas sobrancelhas com o que Joe falou. — A Jess está torrando a paciência dele por causa do sumiço de vocês, e ele está quase surtando.
— Maravilha. — me sentei na cama e passei a mão no cabelo de minha nuca. — Fica aqui que vou resolver as coisas por lá. — falei com .
— Claro, e você vai levar esporro sozinha. Não estou vendo muita lógica nisso. — rebateu no mesmo instante. — Nem pensar que você vai sozinha bater de frente com sua mãe e o . — já se levantava da cama passando a mão em seu cabelo tentando arrumá-los.
— É sério, . Minha mãe não precisa pegar mais birra de você por nada. — disse para ele levantando também. — Deixa que resolvo essa merda. — esfreguei meu olho com o indicador tentando espantar o sono.
— Não. — então segurou meu rosto com as duas mãos me fazendo olhar dentro de seus olhos. — Não vou deixar você sozinha, ok? Agora e nem nunca. Estou do seu lado. — a única coisa que fiz foi juntar meus lábios nos dele. — Vamos antes que a sua mãe coloque a polícia atrás de nós. — se afastou e segurou minha mão.
— Beija mesmo, pois será o último beijo de vocês depois que chegarem naquela casa. — Joe comentou e saiu andando na frente.
— Tchau, Naomi. — acenei para ela. — Foi bom passar o dia contigo. Muito obrigada por tudo.
— Que isso, não precisa agradecer. Foi ótimo passar o dia com vocês. — sorriu para nós.
— Valeu por tudo, ficamos te devendo essa. — agradeceu, então saímos do quarto. — Espera. — disse me puxando para dentro do banheiro.
— O que foi? — perguntei preocupada tentando entender o que estava acontecendo.
— Só quero fazer uma coisa que fiquei com vontade de fazer o dia todo. — respondeu juntando seus lábios nos meus logo em seguida.
Automaticamente fiquei na ponta dos pés para ganhar mais altura e passei meus braços ao redor de seu pescoço, o puxando ao meu encontro já retribuindo o beijo com intensidade. Suas mãos seguraram minha cintura com força, fazendo nossos corpos se encontrarem. A forma como ele me beijava me deixava completamente inebriada, e desejando por mais daquilo. Sentia que não conseguiria parar de beijá-lo se alguém não nos separasse, ou se ele mesmo não fizesse aquilo. Até que alguém bateu na porta, mas mesmo assim não nos afastamos, apenas ignoramos intensificando ainda mais o beijo.
— Tem como vocês saírem daí de dentro? — Joe pediu sem paciência.
— Estamos indo. — respondeu afastando sua boca da minha. — Mais cinco minutos. — nós dois rimos.
— Mais cinco minutos e a Jess abre essa porta com uma arma. Andem logo. — voltei a beijar , que agora me encostou contra a porta fazendo um barulho alto. — Visivelmente vocês não sabem o que é limite.
— Joe, larga de ser chato. Já estamos indo. — reclamou, e mordi seu lábio inferior o sugando de leve. — Ou não. — falou comigo com um sorriso no rosto.
— Ou não. — segurei sua nuca e juntei nossas bocas com urgência.
— ! — Joe chamou muito contrariado. — Dá para ser ou está difícil? — e nos separamos enquanto eu rolava os olhos.
— Você não sabe o quanto está difícil. — respondeu me fazendo rir, então passou seus lábios por cima dos meus.
— Me poupe dos detalhes e saiam daí. — rebateu, então me virei para abrir a porta, mas me prendeu contra ela, beijando meu ombro e passando as mãos na minha barriga.
— Assim fica mesmo difícil sair. — comentei virando meu rosto para o lado que o dele estava. — Muito difícil. — segurei a maçaneta e a puxei para baixo, mas segurou minha mão. — Não quero sair daqui, mas prometo que vou dar um jeito de ficar sozinha contigo mais tarde.
— Vou cobrar. — então finalmente se afastou dando um sorriso safado.
Saímos do banheiro e Joe estava encostado na parede ao lado da porta com os braços cruzados. Ele olhou para mim e depois para que estava logo atrás, revirou os olhos e bufou saindo andando em direção a porta da frente. Segurei a mão de e fomos andando atrás de nosso amigo. Quando colocamos o pé para fora da casa, eu já ouvi minha mãe berrando e a vi passar pela calçada e vir em nossa direção.
— Sua irresponsável! — segurou meu antebraço com força e começou a me puxar. — Aonde você estava o dia todo com esse garoto? — ela me arrastava em direção à casa de tia Anne. — Está achando que pode sair desse jeito, como bem entender e falar o que quiser?!
— Hey, para com isso! Não tenho mais dez anos! — puxei meu braço de volta, ela estava realmente me machucando. — Primeiro de tudo, não quer dizer que sou irresponsável apenas porque sai sem celular, até onde eu saiba não tinha compromisso contigo e nem com ninguém! — comecei a falar alto. Se ela queria show, ela teria um show. — Segundo, estamos de férias aqui, e viemos para curtir, não para ficar trancados dentro de casa olhando para a sua cara de que nada está do seu agrado. — minha mãe me olhava com muita raiva. — Terceiro! Esse garoto tem nome e sobrenome, e se chama . Acho bom você começar a tratar ele direito, pois não sou obrigada a te ver tratando meus amigos como bem entende apenas por achar que não são bons o suficiente para andar comigo ou com o . — apontei para que estava com as sobrancelhas erguidas surpreso com meu ataque. — Estamos cansados de você julgar nossos amigos! Um tem muito dinheiro e é filhinho de papai, o outro tem de menos e é um pobre. Que inferno! Se decida o que é realmente bom, pois parece que nada nunca está bom! — levantei meus braços e bati com minhas mãos em minhas coxas com tanta força que chegou a arder. — E quarto, se quer tanto saber aonde passamos o dia. Nós estávamos aqui à porra do tempo todo, com a Naomi. — então levei um tapa na boca.
— Não fala palavrão! — berrou comigo, e eu já senti o gosto de sangue na boca. — Não foi assim que te eduquei! Você está andando muito com esses garotos mal educados, está ficando que nem eles! — e voltou a segurar, mas agora foi meu braço, o apertando com força.
— Jess, solte ela. — mandou usando um tom de voz bem sério. Então paramos e eu o olhei desesperada, implorando com o olhar para que ficasse calado. — Ela é sua filha, e não uma qualquer para estar tratando-a assim só porque estava comigo o dia inteiro. Não estávamos fazendo nada de errado, ficamos vendo filme com a Naomi. — vi a morena aparecer na porta de casa assustada com aquele escândalo.
— E quem você acha que é para me dizer o que devo ou não fazer com a minha filha? — fechei meus olhos vendo que aquilo só faria minha mãe odiar ainda mais . — Você nunca mostrou a cara, ficou se escondendo atrás de uma tela por três anos, e agora aparece achando que pode falar assim comigo? — abri meus olhos e olhei para que estava extremamente sério. — No caso, se você não for um maníaco, no mínimo não é ninguém relevante que eu deva me importar com a opinião.
— E como você chegou nessa brilhante conclusão? — tirou sarro e riu um pouco, debochando. Nossa, minha mãe iria enfiar a mão na cara dele. — Só porque não gosto muito de tirar fotos e ficar mostrando quem sou por aí, expondo minha vida por todos os cantos, isso não quer dizer que seja um psicopata, ou menos importante que você, ou sei lá que bosta você acha de mim, quer dizer apenas que gosto de ser discreto. — se aproximou de nós. — Mas na minha frente você não vai tratar a desse jeito. — segurou o pulso de minha mãe. — Então a solte agora, ou vamos ter realmente uma briga de verdade aqui. — ele a encarou com suas sobrancelhas unidas, e finalmente minha mãe me soltou. Pude sentir a circulação de meu braço voltar. — Muito obrigado. — me puxou para perto dele. — E eu agradeceria muito mais se parasse de julgar as pessoas sem conhecê-las.
— Chega, , ela já te odeia o suficiente agora. — sussurrei para ele que passou a mão pela minha cintura como se estivesse me protegendo.
— Sujeitinho petulante! — disse e se virou voltando para casa quase furando o concreto.
Me virei e abracei , enfiando o rosto em seu peito e começando a chorar de nervoso. Ele me envolveu com meus braços, me prendendo contra seu corpo afagando meu cabelo e dando um beijo no topo de minha cabeça. Odiava ficar brigando assim com minha mãe, na verdade detestava discutir com os outros, apesar de fazer isso à maioria das vezes, só que eu não podia deixar que ela falasse daquele jeito, ainda mais se referir a de tal maneira. Eu estava cansada de ter que ouvi-la sempre falar merda dos meninos, era a mesma coisa com , , Charlie, Derik, Troy, Stephen e Miguel. Acho que as únicas pessoas que ela realmente gostava era o A.J., Theo, Joe, Bradley e , isso porque não conhecia o Eric, ou também não gostaria dele apenas pelo fato dele ser gay, e achar que por esse motivo eu e nos tornaríamos também. No fim, quase ninguém era bom o suficiente para ela, e eu simplesmente já estava farta daquilo, em ter sempre que tolerar o olhar recriminador dela ou sua cara feita para os meus amigos. E embora não gostasse de falar aquilo, ele reclamava sempre a mesma coisa comigo, sobre ficar irritado como nossa mãe tratava os outros, principalmente as pessoas que gostamos. Já ele, ou contrário de mim, se mostrava a disposição em ouvir as merdas calado, e obedecer absolutamente tudo o que lhe era mandado, mas eu simplesmente não conseguia ficar na minha, e quando não começava a discutir ou a ser irônica, apenas pegava minhas coisas e saia de perto.
Senti alguém me abraçar também, e virei o rosto vendo Joe ali, e logo depois outra pessoa, mas pelo perfume senti que era Naomi. Ficamos os quatro ali por um tempo até que me afastei, secando meu rosto molhado e passando as mãos na regata branca de como se aquilo fosse secá-la. Ele segurou meu rosto e o levantou me fazendo encará-lo, mas só consegui fechar meus olhos e sentir mais um par de lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. Seus polegares deslizaram sobre meu rosto e seus lábios tocaram minha testa dando um beijo suave ali.
— Não fica assim. — pediu, e eu apenas assenti com a cabeça. — Estou contigo. — abri meus olhos e o encarei, forçando um pequeno sorriso. — Vamos entrar, os vizinhos não param de nos olhar. — olhei discretamente ao redor e percebi que algumas casas tinham suas portas abertas com seus respectivos donos na frente. — Odeio muita atenção em cima de mim. — apesar de ser verdade aquilo me fez rir pelo jeito que ele falou.
— Ok. — foi tudo o que consegui dizer.
Joe e Naomi nos soltaram, e enfim fomos para a casa de tia Anne. Quando entramos estava o maior silêncio, estava sentado no sofá da sala mexendo em seu celular e quando me viu entrar me encarou com raiva. Apenas abaixei a cabeça e segui para o quarto que estava dormindo, Joe e vieram atrás, e quando abri a porta me deparei com meus pais, tia Anne, e , enquanto minha mãe fazia um discurso sobre educação, aquela que eu e nem tínhamos, mas parou quando nos viu de pé ali na porta. Já senti meu rosto se esquentar de raiva, e eu estava pronta para começar mais uma briga, até que papai sorriu e se levantou.
— Estava pensando que poderíamos ir comer fora, o que acham? — ele ignorou completamente minha mãe e veio em nossa direção. — Pelo amor de Deus, digam que é uma ótima ideia, não aguento mais Jess reclamando o dia inteiro no meu ouvido. — sussurrou para nós que rimos daquilo.
— Podemos ir na Toppers. Lá é grande, podemos montar a nossa própria pizza e a massa é ótima. — Naomi sugeriu, e eu agradeci por aquilo, pois não fazia ideia de onde poderíamos comer. — E é perto daqui, uns cinco minutinhos de carro.
— Perfeito. — disse meu pai e depois apontou para Naomi. — Gostei dessa menina.
— Muito obrigada. — ela fez reverência e nós rimos.
— Avise aos meninos, e você leve suas amigas. Quanto mais gente melhor, sua mãe reclama menos. — a última parte ele cochichou para mim.
— Acho que ultimamente ela não tem ligado muito para plateia. — comentei e meu pai riu. — Sério, ela deu um belo show lá fora, você perdeu.
— Não tem problema, estava tendo reprise aqui dentro. — deu um soquinho em meu ombro. — Agora vá avisar aos outros, nós saímos daqui há meia hora.
— Está bem. — saímos do quarto e fomos para a sala. — , o pai disse que vamos sair para comer, fala com os meninos e se arrumem, vamos sair em meia hora. — passei o recado.
— Aonde você estava a merda do dia todo? — perguntou meu irmão bem irritado jogando seu celular de lado.
— Não começa você também, . — o cortou usando um tom de voz tão irritado quanto o dele. — O dia estava ótimo até dez minutos atrás, você não precisa estragá-lo ainda mais.
— Só se foi para os dois, porque o nosso foi um inferno por causa de vocês. — acusou se levantando do sofá.
— Nossa gente, era só ir lá em casa perguntar se sabíamos dos dois, qualquer uma de nós teria dito que eles estavam comigo, até mesmo se o Joe tivesse respondido minha mensagem eu teria falado isso à ele. — Naomi rebateu jogando uma indireta em nosso amigo que a olhou no mesmo instante. — Tanto estresse por pouca coisa, vocês deveriam tomar um calmante. — falou e saiu andando. — Nos vemos daqui a pouco. — bateu a porta da frente assim que passou por ela.
— Sua pergunta está respondida agora? — questionei e me olhou respirando fundo. — Ótimo, agora vai falar com os outros. — fez um gesto para que ele saísse logo dali e parasse de nos olhar daquele jeito.
passou pelo e fez questão de esbarrar no ombro dele que não fez nada apenas ergueu as sobrancelhas com tamanha idiotice. Soltei o ar e joguei minha cabeça para trás me perguntando quantos dias meus pais ficariam ali, pois achava que já tinha sido o suficiente para um dia só, e olha que nem fiquei muito tempo perto de minha mãe. Sem dúvidas as férias tinham começado a ficar comprometidas, e sentia que iríamos todos surtar em pouco tempo.
Suspirei e senti a mão de segurar a minha, então olhei para ver o que era e percebi que ele estava olhando meu pulso, desci meu olhar e vi a marca dos dedos de minha mãe ali. Fechei seus olhos já sabendo que as coisas iriam começar a ficar piores, mas aquela não era a primeira vez que eu tinha marcas daquele tipo. As pontas do dedo de tocaram meu ombro e eu apenas abaixei a cabeça supondo que o local também deveria estar marcado. Ele me puxou em direção as escadas, então o acompanhei indo para o segundo andar e entrando no banheiro. Fui colocada sentada em cima da pia sem entender o que estava fazendo, até que levantou meu lábio superior e aquilo doeu, me fazendo recuar.
— Me deixe ver. — pediu, e fiz uma careta. — Acho que cortou na hora que sua mãe bateu na sua boca àquela hora.
— Cortou. — confirmei sua dúvida, pois ainda sentia gosto de sangue na boca. — . — segurei suas mãos, mas ele não queria ficar parado, queria ver como estava meu machucado.
— Me deixe ver. — me olhou sério, então deixei. — Nossa, está bem feio isso. — fez uma careta. — Como vou te beijar agora? — uniu as sobrancelhas parecendo bem irritado com aquilo.
— Assim. — o puxei pela camisa fazendo com que ficasse entre minhas pernas. Então juntei nossos lábios com cuidado, iniciando um beijo calmo. — Quero que você relaxe. — falei assim que nos afastamos. — Já estou acostumada com isso. — sorri sem vontade.
— Relaxar? — ergueu as sobrancelhas. — Ela te machucou, não tem como ficar relaxado com isso. — segurei seu rosto para que se acalmasse.
— Relaxa. — falei baixo e bem devagar na esperança de que aquilo fosse realmente fazer com que ficasse calmo. — Não vai adiantar nada você ficar nervoso, ela não vai mudar por isso. — encostei minha testa na dele. — Só fica comigo. — pedi e ele me beijou.
— Isso é sério? — perguntou, e nos afastamos vendo ele parado na porta do banheiro. — Se a mãe sabe que você está no banheiro...
— Foda-se a mãe. — falei um pouco nervosa. — Quer usar o banheiro?
— Quero. — respondeu, então desci da pia. — Ela te bateu de novo? — quis saber, e percebi que meu irmão estava me reparando.
— Nada de novo sob o sol. — disse saindo do banheiro deixando eles dois para trás. — Vou me arrumar. — avisei e desci.
Entrei no quarto e ignorei todo mundo, indo direto para o banheiro. Tranquei a porta, prendi meu cabelo e me despi, tomei um banho rápido. Quando saí do box, já me sequei rapidamente, me maquiando logo em seguida. Refiz o curativo de minha mão, enrolando uma atadura dela, o corte ainda estava bem grandinho e não tinha cicatrizado ainda. Acho que no final das contas aquilo tinha sido mais fundo do que realmente parecia.
Sai do banheiro quando terminei e vi tia Anne, e estavam se arrumando. Não falei nada e fui até minha mala pegando um vestido preto que era coladinho no corpo com mangas compridas e bem aberto na parte de cima que deixava meus ombros expostos e meu colo bem amostra, mas ele era um pouco mais comprido, e isso era bom, pois esconderia o roxo enorme que ainda tinha na minha coxa. O vesti, colocando um sutiã tomara que caia para me dar um pouco mais de peito, e puxei o cordão de deixando que caísse sobre a roupa. Calcei meu Vans sk8-hi, e por fim passei meu perfume. Amarrei meu cabelo em um coque bem alto e bagunçado deixando alguns fios soltos. Já que iríamos na pizzaria tomei minha enzima para não passar mal.
— Aonde você e o estavam? — perguntou com cautela, então a olhei dando um pequeno sorriso demonstrando que estava tudo bem falar comigo.
— Na casa das meninas, ficamos lá o dia todo com a Naomi, comendo e vendo filme. — expliquei e me sentei na cama. — Minha mãe irritou muito vocês?
— Sua mãe estava deixando o louco. — disse se sentando na cama e calçando seu sapato. — Podia ter pelo menos avisado que estava aqui do lado.
— Eu não sabia que íamos para lá, a pretensão era sair para comer e voltar logo depois. — torci os lábios sabendo que minha amiga tinha razão.
— A Jess pode ser minha irmã, mas tem horas que ela é insuportável. — tia Anne começou a falar enquanto passava seu batom. — Não achei nada demais vocês ficarem fora. Super normal.
— É, geralmente só avisar onde estamos já é o suficiente, e ela não costuma encher o saco por isso. — me encostei na parede, vendo minha tia limpar o canto da boca que tinha borrado. — Não que esteja errada em ficar preocupada, só que achei que não tinha necessidade de fazer aquele escândalo todo e ainda mais infernizar vocês por conta disso.
— Infernizar? — minha tia me olhou de um jeito sério. — Não queria, se ela tivesse infernizado teria sido menos pior. Ela criou o perfeito caos nessa casa. Parecia que o tinha te sequestrado e vendido para algum país do norte da Europa. — acabei rindo do que ela disse. — Ainda mais depois que você disse que ele era um aliciador de mulheres, acho que ela realmente acreditou nisso.
— Coitado do , não alicia nem a cachorra da vizinha. — soltou e eu senti um duplo sentido naquela frase, mas aquilo fez todas nós rimos.
— Enfim, desculpe por isso. Da próxima vez eu aviso aonde estou... — parei para pensar um pouco. — Inclusive se eu sumir novamente, inventem uma desculpa qualquer para minha mãe.
— Ah, não. O que você vai fazer?! — já perguntou em um tom de acusação. — Se você desaparecer de novo eu te busco pelo cabelo. — levei minha mão até meu peito e fiz cara de surpresa, rindo depois.
— Nada demais. —torci meus lábios. — Talvez eu e o daremos um perdido na saída da pizzaria.
— Meu Deus, vocês vão transar? — berrou, e eu arregalei meus olhos.
— Não! Que mané transar. Não sou você. — joguei na cara dela dando uma risadinha. — Eu quero conversar com ele, e não consegui fazer isso hoje porque estávamos com a Naomi. Só isso.
— Hm, conversar. Sei como vai terminar a conversa. — minha prima me lançou um olhar maldoso. — Usa camisinha. — rolei os olhos e dei as costas saindo do quarto e indo para a sala.
— Não, não! — ergui minhas sobrancelhas ao ouvir minha mãe falar. — Você não vai sair com esse tênis.
— Qual é o problema com o tênis? — olhei para ele. Até que não estava tão sujo.
— É um tênis! — a encarei ainda sem entender o que tinha demais naquilo. — Esse vestido é lindo para usar com essa porcaria que está no seu pé... De onde saiu isso? — apontou para o cordão.
— Eu dei de presente de aniversário para ela. — respondeu por mim já descendo as escadas.
Quando vi como ele estava vestido cheguei a suspirar. Como sempre estava lindo, cheio de anéis, e seu relógio com pulseira de couro. Seu cabelo estava molhado e jogado para o lado, e ele vestia uma calça preta, rasgada nos joelhos, uma blusa azul clara de botões, com as mangas dobradas até os cotovelos, e parecia que ela tinha pequenas estampas de flor de lis em um tom de azul um pouco mais escuro. Em seus pés tinha um par de botas de couro preto e com bico fino. Vi que ele tinha colocado um colar com uma pena de prata pela abertura de sua camisa que até mesmo deixava suas tatuagens do peito a mostra, algo que minha mãe certamente iria reprovar. Ela não gostava de tatuagens e vivia recriminando as minhas, e , bem, ele era um copo cheio, com seu braço lotado delas.
— Gostou? — ele quis saber, e minha mãe o olhou o reparando de cima embaixo no mínimo umas três vezes.
— É de prata? — minha mãe se aproximou de mim e pegou o pingente.
— Claro que é de prata. — afirmou dando um sorriso de lado. — Acha mesmo que eu daria para ela qualquer porcaria? — ri um pouco e minha mãe soltou o pingente como se estivesse com nojo de ter tocado.
— Mas acho que você errou o presente, não é nenhum pouco religiosa. — o olhou com um sorrisinho no rosto e foi até onde estava. — Nem me lembro quando foi a última vez que ela foi a uma igreja.
— Não importa se é religiosa ou não, o que importa é que ela gostou. — rebateu, e minha mãe riu.
— Acha mesmo que ela gostou? — fez uma cara de desdém. — só está usando aquilo para não te magoar. — deu dois tapinhas leves no ombro de , e eu achei aquilo bem afrontoso, ela certamente queria ver até aonde ele iria. — Talvez você devesse conhecer melhor a minha filha antes de falar essas coisas, ela tem o péssimo habito de dizer que gostou das coisas e até mesmo usá-las na frente da pessoa apenas para não deixá-las tristes. — falou enquanto fechava os botões da camisa dele. — Está melhor assim, agora parece gente decente. — ajeitou sua camisa.
— Gosto de parecer indigente mesmo. — ele apenas foi passando os dedos pelos botões que foram fechados os abrindo novamente. — A propósito. — se esquivou de minha mãe e veio andando em minha direção. — Você está magnífica. — disse pegando minha mão direita e beijando as costas dela.
— Muito obrigada. — agradeci abaixando e dobrando minha perna. — Você está deslumbrante. — sorri para ele.
— Tudo isso para você. — falou mais baixo apenas para que eu escutasse dando um lindo sorriso, que me fez sorrir também.
— Olha que daqui a pouco eu acredito. — brinquei e ele riu.
— Nossa, Bradley! — minha mãe disse empolgada nos fazendo olhar para ver do que ela estava falando. — Você está lindo. — é, ele estava bem vestido, mas não chegava nem aos pés do . — Não é mesmo, ? — pegou Brad pela mão e o virou em minha direção.
— Bradley sempre está bem vestido. — respondi dando um sorriso sem mostrar os dentes. — Gosto do estilo dele, das roupas que usa. — aquilo era verdade, e eu não deixaria de elogiar meu amigo por causa da gracinha que minha mãe estava fazendo.
— Muito obrigado, você também está linda. — Bradley sorriu para mim. — E você também Jess. — se virou para minha mãe.
— Então, vamos esperar lá fora. Vou no carro do já que provavelmente vai na pick-up, e a no Honda dela. — apontei com meus polegares para a porta.
— E por que você não vai com o Bradley? Ele está aqui por sua causa. — minha mãe questionou e eu passei minha língua por dentro de minha bochecha achando aquilo extremamente irritante. — Eu sei que você gosta de conversar com esse rapaz, mas acho injusto deixar seu melhor amigo de lado. — senti o sangue me subir quando ela chamou o de rapaz, era impressionante como minha mãe gostava de me deixar nervosa simplesmente de graça.
— Não se preocupe com isso, Jess. — Brad sorriu para minha mãe e depois nos olhou. — Já combinei com as meninas de dar carona a elas. — respirei aliviada por ele ter feito algo para me ajudar.
— Que meninas? — minha mãe olhou para ele muito interessada em saber quem eram.
— As vizinhas, elas vão conosco. — deu de ombros, e eu sorri.
— Já que isso está resolvido, vamos esperar o pessoal lá fora. — me virei e sai andando.
— Você vai mesmo com esse tênis horroroso? — apenas ignorei e continuei a ir para o lado d fora com em meu encalço.
Eu realmente estava tentando entender o motivo dela estar tratando o daquele jeito. Tudo bem que ele falou umas verdades para minha mãe, mas ela já não gostava dele antes disso. Sei que minha mãe queria que eu ficasse com Bradley, só que mesmo assim nada justifica, e isso me deixava profundamente irritada. Parecia que sabia que eu estava com e fazia questão de tentar me fazer ficar infeliz só porque ele me fazia bem. Sei lá, eu não queria pensar naquilo.
— Ela é sempre assim? — perguntou quando saímos de casa.
— Não, geralmente é pior. — brinquei e me virei o puxando pela camisa, me encostando na lateral de seu Corolla. — Ainda não te agradeci por estar sendo tão maravilhoso hoje. — segurou minha cintura e juntou seu corpo no meu. — Na verdade você é sempre maravilhoso, mas hoje em especial está sendo mais. — sorri de leve. — Obrigada por tudo que está fazendo por mim. — passei meu nariz na lateral do seu fechando meus olhos.
— Não tem o que agradecer. — seu nariz deslizou pela lateral do meu e seus lábios quase me beijaram. — Eu só quero te ver bem, e vou fazer qualquer coisa para isso.
— Vou cobrar. — abri meus olhos e o olhei, seus olhos estavam me encarando com intensidade. — Ai, para de me olhar assim. — ri um pouco e virei seu rosto.
— Olhar como? — ele já estava rindo comigo e voltou a me olhar dentro dos olhos do mesmo jeito que antes.
— Assim! — joguei minha cabeça para trás escorrendo um pouco pela lateral do carro e encostando minha cabeça no teto dele. — Fico mole assim. — brinquei e voltei a ficar de pé normalmente.
— Acho que o carro está um pouco sujo para você estar se esfregando nele desse jeito com esse vestido preto. — ai que me toquei o que estava realmente fazendo. — E vou admitir que está me deixando louco com esse vestido. — fingi ter ignorado o que ele disse e me virei de costas.
— Aí, vê se sujou. — empinei minha bunda e olhei por cima do meu ombro. me olhou quase me engolindo com os olhos e deu um sorriso safado de lado.
— Você gosta de me provocar, não é? — comentou passando a mão nas minhas costas a limpando, até chegar em minha bunda dando uns tapinhas nela para tirar a sujeira. — Caralho, . — disse puxando meu vestido para baixo e cobrindo novamente um pedaço de minha coxa, já que o tecido tinha subido quando deslizei pela lateral do carro. — Você vai me fazer perder a cabeça desse jeito. — sussurrou em meu ouvido me deixando arrepiada, colocou suas mãos sobre a minha que estavam no teto do Corolla e juntou seu corpo no meu.
— Gente, que menino tarado. — soltei uma risadinha e mordiscou meu pescoço. — Eu nem fiz nada. — falei em um tom malicioso e passei minha bunda dele, dando um sorriso de lado.
— Não está fazendo nada, né? — passou seu nariz em minha orelha e depois os dentes por ela. — Sonsa. — rimos juntos. — Já disse que acho seu pescoço lindo?
— Não. — olhei por cima de meu ombro.
— Eu acho ele muito bonito, mas seria uma pena se ficasse marcado, não é? — e então colocou seus lábios contra a pele de meu pescoço, mas me fazendo pular e afastá-lo, enquanto riamos.
— Idiota. — me virei e o empurrei pelo peito, mas ele segurou meus pulsos e me puxou para perto, me dando um selinho. — Vai borrar meu batom! — reclamei rindo, e ele me soltou, então comecei a limpar seus lábios que tinham ficado manchados de vermelho.
— Me provoca mais um pouco que você vai ficar sem batom e mais outras coisas. — disse segurando minha cintura.
— É? Mais o que você vai tirar? — provoquei terminando de limpar a boca dele.
— Seu... — antes de conseguir terminar a frase, Sophie já apareceu.
— Oi! — ela sorriu, então a olhei vendo que estava com uma saia jeans tão curta que se abaixasse daria facilmente para ver a bunda dela.
— Oi. — uni as sobrancelhas. Logo as outras meninas foram aparecendo. — Naomi e Ella vão comigo, com o e com o Joe. — informei antes que a Sophie entrasse no Corolla e não saísse de lá por nada.
— Ué, vocês já dividiram quem vai com quem? — Sophie me olhou de nariz torcido.
— Não, só quem vai no carro comigo e com o . — rebati e coloquei a mão no bolso da frente da calça dele puxando a chave de seu carro. — Você pode ir com quem quiser, tem mais cinco carros a sua disposição. — dei uma piscadinha e destravei o Corolla. — Licença. — abri a porta do carro e entrei nele.
entrou no carro deixando Sophie para trás. Já peguei meu celular que tinha enfiado no decote do vestido, preso no sutiã e mandei uma mensagem para Joe, avisando que ele iria conosco ou a loira oxigenada iria acabar se enfiando no carro, e ficaria enchendo a nossa paciência, ou menor, do . Coloquei meu celular no console e abaixei o quebra-sol, olhando no espelhinho se meu batom não tinha borrado. Ri quando vi chegando perto de mim e passando seu nariz em minha orelha, me provocando.
— Para que está ajeitando o batom se vou tirar ele? — perguntou já beijando meu pescoço me causando um arrepio.
— Porque preciso chegar inteira na pizzaria, ou minha mãe vai dar mais escândalo. — me virei de lado no banco e coloquei meu pé direito em cima de sua perna, deixando as minhas abertas. — É uma pena que você não pode fazer nada. — comentei passando o indicador em minha coxa e levantando um pouco a barra de meu vestido, mas do que já estava.
Mordi o canto de meu lábio inferior enquanto olhava para fixamente, e aos poucos fui soltando, os deixando entreaberto. Seus olhos estavam encarando meus lábios, depois foram descendo pelo meu corpo até parar em minhas pernas, fui deslizando minha mão por minha coxa e puxei o meio da barra do meu vestido para baixo, escondendo minha calcinha que embora fosse preta e não desse para ver por ali dentro estar com uma meia luz que vinha do lado de fora, ainda assim estava à mostra. Sorri de lado e fiz um biquinho, negando com a cabeça, indicando que ele não deveria nem ao menos se mexer, e isso o fez rir baixinho, balançando sua cabeça fazendo seus cabelos caírem sobre seu rosto.
— Caralho, . — Murmurou, e eu continuei do jeito que estava. — Você está muito ferrada. Só isso que tenho para te dizer. — Disse e se ajeitou no banco, arrumando sua calça e depois tirando meu pé de sua coxa, limpando o jeans preto que tinha sujado. — Você vai pagar muito caro por isso.
— Ainda bem, porque não gosta de coisas baratas. — Voltei a me sentar normal no banco do carona, puxando meu vestido para baixo, o arrumando em meu corpo.
Naomi, Ella e Joe entraram no carro, fazendo nosso assunto terminar. O pessoal foi saindo de casa, então tivemos que esperar para poder sair, já que o Silverado dos meus pais em cima da calçada bloqueando a passagem de todo mundo. Nem ao menos podia reclamar do tamanho do carro deles, pois o Ford F-150 meu e de era tão grande quanto. Talvez fosse de família gostas e pick-up, e das monstruosas ainda.
Olhei para e vi que ele estava bem sério, olhando para o lado de fora, com a mão na boca segurando seu lábio inferior. Eu sabia perfeitamente o que estava fazendo. Provocar e ver louco era meu objetivo, e parecia que estava conseguindo fazer isso perfeitamente com tão pouco. Gostava de fazer isso por saber o que viria depois seria melhor do que o esperado, pois quando ficamos com muita vontade de fazer ou comer algo, quando fazemos, era extremamente gostoso. Sei disso por experiência própria. A vontade elevava os sentidos e tudo virava um grande “boom” de sensações, bem, pelo menos era assim para mim.
Meus pais saíram de casa com tia Anne, que trancou a porta. Finalmente tiraram o carro de trás do nosso. O pessoal foi entrando nos outros carros, enquanto já tirava o dele da vaga. Como Naomi sabia aonde era a pizzaria, fomos na frente e os outros vieram nos seguindo. Era bem perto, como a menina tinha falado, em cinco minutos chegamos lá. pegou outro caminho para buscar Eric, e eu achava engraçado que agora, depois de ter descoberto que o loiro não tinha nada com e que não tinha ficado comigo no dia da festa, ele o tratava super bem, como se já fossem amigos há anos.
Desci do carro com meu celular na mão e puxando meu vestido para baixo, e estava começando a me lembrar o motivo de não usá-lo muito, aquela porcaria ficava subindo o tempo todo por ser colado no corpo. Entreguei meu iPhone para que guardasse no bolso de sua calça, eu detestava ficar carregando as coisas. Caminhamos os cinco juntos até a porta da pizzaria e esperamos pelo resto do pessoal, inclusive que estava demorando um pouco, e com isso minha mãe já começava a reclamar. Para sair de perto e não ficar ouvindo as bobagens que dizia, entrei no lugar e pedi para a moça arrumar uma mesa com vinte e sete lugares.
Por fim meu irmão chegou, e fomos nos sentar. Deixamos nossas coisas na mesa e fomos montar nossas pizzas. Acabei dividindo uma de pepperoni com . Entregamos a pizza no balcão, pagamos e pegamos o alarme, que apitaria quando ela estivesse pronta. Voltamos e nos sentamos no nosso lugar, e nem ali no meio de todo mundo ele deu trégua, e passou a mão em minha coxa disfarçadamente. Dei um tapinha nela, para que a tirasse ali, mas me apertou, e eu não pude fazer nada, a não ser olhá-la com as sobrancelhas erguidas. A sorte que meus pais estavam sentados na outra ponta, bem longe de nós para ver qualquer coisa.
— Isso não vale. — Reclamei segurando uma risada.
— Agora existem regras? — Rebateu me fazendo ficar boquiaberta.
— Regras? É um jogo agora? — Questionei.
Nós sabíamos a resposta para aquilo, e sim, era um jogo, onde o primeiro a ceder às provocações iria perder. E ali estava o grande problema, nós éramos jogadores do mesmo nível e perder não era uma opção, só que a carne era fraca, então não tinha menor ideia de como aquilo poderia terminar, mas sabia que os ataques ficaram cada vez mais arriscados e intensos, e honestamente, eu amava aquilo.
— E não é? — ergueu uma sobrancelha.
— raposavermelha527 acabou de entrar no jogo. — Sorri de lado, e ele riu. — Se prepare para perder duendeverde669.
— Eu nunca perco. — Então soltei uma gargalhada alta. — É mentira?
— Claro que é mentira! Quem te matou da última vez que jogamos? — Joguei em sua cara, lembrando bem que eu tinha quase descarregado toda a minha AK nele.
— Aquilo não valeu, foi roubado. — Riu também.
— Roubado? Admita, Stytes, você não consegue ganhar de mim nem em um joguinho de tiro. — Falei me aproximando dele em um tom baixo de voz. — E admita que vai perder esse jogo também. — Coloquei minha mão em sua coxa e passei minhas unhas compridas por cima de seu jeans, e ele segurou minha mão na mesma hora, me causando uma risada.
— Se eu ficar duro aqui no meio da pizzaria quero ver o que você vai fazer. — Resmungou com seu rosto quase colado no meu.
— Eu vou rir, oras. O que você acha que eu iria fazer? — Me afastei dele e peguei meu celular que ele tinha colocado sobre a mesa. — E claro, declarar que ganhei.
— Ah, então quer dizer que se eu ficar com uma ereção que você vai ganhar? — estava muito indignado.
— Exatamente. — Respondi sem tirar os olhos da tela de meu celular.
— E como eu ganho isso? Não dá para saber quando você fica excitada. — Arrancou o aparelho da minha mão. — Estou vendo uma desigualdade aqui. — Colocou seus cotovelos sobre a mesa, fechando suas mãos com meu iPhone no meio delas e apoiando seu queixo nelas.
— Dá sim. — Tentei pegar meu celular, mas ele não deixou.
— Sobre o que vocês estão falando? — perguntou sentando na nossa frente junto com .
— disse que não dá para saber quando fico excitada. — Respondi com simplicidade e riu ato.
— Claro que dá, você vai ficar molhada. — Minha prima respondeu e a encarou em uma pergunta muda de como ele iria descobrir quando eu estava ou não daquele jeito. — Ué, é só enfiar a mão na calcinha dela, simples. — E naquele momento eu tive que rir.
— Nossa, mas é óbvio que a vai me deixar enfiar a mão na calcinha dela sem enfiar a mão dela no meio da minha cara. — falou fazendo uma cara muito engraçada. — Gostei muito do seu conselho, depois você pode me pagar um tratamento dentário.
— Disponha. — sorriu para ele enquanto riamos. — Olha, uma sugestão, você pode fazer que nem a , usar uma dentadura e com isso não terá mais problemas em perder os dentes. — Uni as sobrancelhas tentando entender do que ela estava falando. Que dentadura? Eu não usava dentadura, o máximo que tive foi um dente quebrado, mas ele já estava colado no lugar como se nunca tivesse acontecido nada. — Ué, tanto tapa na boca que essa menina leva, daqui a pouco vai está que nem o Dustin do Stranger Things. — Embora ela estivesse falando sério, eu dei uma risada daquilo achando engraçado, me lembrando do menino gordinho e fofinho falando. — Acho que vou te dar um Corega de presente de aniversário atrasado para você colocar a perereca na sua boca para ela não cair com o próximo tapa na boca que a tia Jess te der. — ria tanto que estava quase caindo da cadeira, e eu não estava muito atrás, mas estava sério. — O que foi, ? Why so serious? — Imitou o coringa falando.
— Só não vejo graça na apanhando. — Explicou cruzando os braços, e isso nos fez parar de rir. — A boca dela está toca cortada por causa dessa babaquice. Até parece que um tapa na boca vai fazer com que ela deixe de falar as coisas, isso não resolve nem para criança, quem dirá para uma mulher de 25 anos. — Nossa, ele estava realmente incomodado com aquilo.
— Tia Jess te bateu de novo? — e me encaram bem sérios. — Eu falei de brincadeira, não pensei que ainda fazia isso. — Abaixei levemente a cabeça um pouco sem jeito por causa daquilo. — Ela só te deu um tapa na boca? — Minha prima segurou minha mão que estava sobre a mesa. — Você sabe que pode me contar as coisas.
— A está com o braço roxo também. — dedurou bem nervoso.
— Está de sacanagem, né? — começou a ficar irritado. — Essa mulher tem que parar com essa merda! — Disse um pouco alto, e tampou a boca dele. — O que é? Não vou ficar quieto. Ela acha que pode fazer o que quiser só por que é mãe? Já estou cansado disso!
— , não faz escândalo aqui dentro. — Minha prima pediu. — Só vai fazer as cosias ficarem piores. — Mas meu amigo apenas se remexeu na cadeira contrariado.
— Fico puto com essa merda. — bufou e me olhou. — Que nem aquela vez que você fez a tatuagem no braço. Nossa, eu queria matar aquela mulher, mas você não deixou! — Passou as mãos nos cabelos se lembrando do episódio, e me lembro bem que se não fosse pelo , sabe-se lá o que teria acontecido de verdade.
— O que ela fez? — quis saber na mesma hora.
— Nada, deixa isso para lá. — Interrompi, mas sabia que não iria ficar de boca fechada.
— O que ela não fez. — Já começou a falar, e eu apenas cobri meu rosto com a mão, com vergonha daquilo. — Cara, eu cheguei na casa deles, e a e a Jess estavam aos berros no banheiro. Eu fui correndo para ver o que estava acontecendo, e as duas estavam embaixo do chuveiro de roupa e tudo. A Jess batia na com um cinto. Essa menina já estava toda machucada, com nariz sangrando, com a cara cortada, teve que levar ponto no supercílio e tudo. A louca até bateu com a cabeça dela contra a parede do box... — Não estava mais aguentando lembrar daquilo, então o interrompi.
— Chega de lembrar isso. — Pedi, e agora me olhava, certamente reconhecendo a cicatriz que eu tinha certinha logo embaixo da sobrancelha.
— Você disse que tinha se machucado quando perguntei como conseguido a cicatriz. — Falou muito sério, e comecei a achar que aquilo daria uma briga entre nós.
— Eu machuquei, oras. Quando ela me jogou para dentro do box molhado eu escorreguei e bati com o supercílio no registro. — Expliquei o que realmente tinha acontecido, e engoli em seco. — Não foi nada demais. — riu sem vontade. — E também não gosto de falar dessas coisas, deixa isso quieto. Já passou de qualquer forma.
— O demais seria a sua morte por espancamento, né. — Meu amigo rebateu. — Mulher maluca, precisa de tratamento.
— Agora faz sentido a e o terem ficado irritados com você por ter batido no Daniel. — finalmente encaixou as peças, e isso me fez abaixar a cabeça. — Eles não querem que você seja que nem ela.
— Gente, vamos mudar de assunto. — Pedi e levantei a mão, chamando a garçonete. — Vão querer beber o que? — Forcei meu melhor sorriso.
E o clima ficou super pesado entre nós quarto. Eu queria apenas desaparecer e só voltar quando minha mãe fosse embora, já que parecia que seria a única coisa que faria tudo ficar normal novamente. devolveu meu celular, então fiquei mexendo nele, vendo fotos no Intragram tentando distrair a minha cabeça, até que entrei no meu perfil e comecei a ver as minhas fotos, até que cheguei nas da época que minha mãe havia me batido por causa da tatuagem, e eu simplesmente soltei meu iPhone, o fazendo com que batesse sobre a mesa de madeira. Levantei sem falar nada e desci as escadas. Fui para o lado de fora, olhando para os lados procurando um lugar que eu podia ficar sozinha só por um momento. Vi um velho fumando, então andei até ele.
— Licença. — Dei um pequeno sorriso. — O senhor poderia me arrumar um cigarro? — Pedi.
— Posso. — Tirou seu maço do bolso e me entregou. — Isqueiro? — Ofereceu, e eu peguei de sua mão já acendendo o cigarro que estava entre meus lábios.
— Obrigada. — Devolvi o maço de cigarros e o isqueiro ao velho.
Sai andando, procurando a minha pick-up pelo estacionamento, e achando o enorme carro azul parado no final do lugar. Abri a caçamba e subi nela, sentando de lado e encostando, dobrando uma perna minha para cima sem me importar de estar de vestido, já que para o outro lado dava para o canal, além de estar bem escuro ali. Encostei meu cotovelo em meu joelho e levei minha unha do dedão até minha boca, a mordendo sem roer, enquanto pensava nas coisas e tentava abstrair, separar tudo e colocar em seu devido lugar.
Não queria que meu dia terminasse mal, eu tinha acordado tão feliz e não podia deixar que minha mãe estragasse as coisas desse jeito, mas aquilo tudo era uma perfeita teoria do caos. Fiz coisas para que elas chegassem naquele ponto, e mesmo que se eu voltasse no tempo e começasse tudo de novo, tomando cuidado para não errar em nada, ainda assim algo ainda daria errado, poderia não ser comigo, mas poderia ser com ou com , poderia ser com qualquer um. Só o que acabei aprendendo com o tempo, é que as coisas não podem ser mudadas, elas têm que acontecer exatamente daquele jeito, e pensar que tudo poderia ser diferente se apenas mudasse um ponto, poderia me levar facilmente à loucura, como já aconteceu antes. Então, agora em vez de me lamentar e chorar sobre o leite que foi inevitável de ser derramado, eu me distanciava da situação, para me acalmar e depois retornar, para enfim, lidar com mais clareza, embora que às vezes eu simplesmente perdesse o meu próprio controle e agisse com a minha mãe, usando minha imponência e agressividade para dar um jeito no que estava acontecendo, sabia perfeitamente que fazer aquilo, daquela forma, só me levava ainda mais para o meio do caos no qual se tornaria um grande efeito borboleta, pois absolutamente tudo estava conectado.
Traguei meu cigarro lentamente, sentindo a fumaça me invadir e joguei a cabeça para trás, soprando para cima, vendo a pequena nuvem branca se formar e logo depois sumir vagarosamente no ar. Fechei meus olhos apenas ouvindo o barulho as coisas ao meu redor, me aclamando aos poucos. Respirei fundo e levei novamente o cigarro até meus lábios, e os deixei ali, soltando a fumaça pelo nariz.
Fiquei ali até acabar de fumar, e aqueles cinco minutos foram o suficiente para conseguir encaixar as peças no lugar e decidir que não deixaria minha mãe influência no meu dia daquela forma. Embora eu ainda não estivesse bem, pelo menos agora estava mais calma. Não queria mais entender os motivos dela para me tratar daquele jeito, eu só queria que o problema fosse resolvido, e esse problema era comigo, o problema era me importar demais com coisas que não mereciam nem ao menos um terço da minha atenção, o problema estava dentro de mim, e só eu poderia resolver aquilo. Então era isso que iria fazer.
Levantei, joguei a guimba do cigarro fora e puxei meu vestido para baixo. Desci da caçamba da pick-up e a fechei. Passei a mão em minha roupa, a limpando e por fim, caminhei lentamente de volta para a pizzaria, com a cabeça erguida, determinada de que nada o que a minha mãe fosse falar, me colocaria para baixo novamente. Passei pela porta, cruzei as mesas e subi as escadas, indo direto para a mesa que estávamos. Vi o pessoal conversando e quando passei alguns olhares viraram em minha direção. Puxei minha cadeira e me sentei ao lado de , que ficou me olhando, assim como e . Abri um sorriso e peguei meu celular, já procurando por um aplicativo na App Store.
— Estava fumando? — perguntou, e o olhei, certamente eu deveria estar com cheiro de cigarro.
— Uhum. — Murmurei ainda olhando para o celular.
— Você quer ir embora? — Ofereceu em um tom de voz bem cuidadoso, como se eu fosse explodir para cima dele a qualquer segundo.
— Não, estou com fome. — Respondi e achei o que queria, então coloquei para baixar, me virando e dando atenção para . — Sei que está preocupado, mas está tudo bem. — Sorri de forma meiga para ele.
— Não está. — Disse colocando a mão sobre minha perna e olhando dentro dos meus olhos.
— Então faça ficar. — Pedi deixando meu sorriso sumir. — Eu preciso de você. — E ele me abraçou de lado, me fazendo encostar a cabeça em seu ombro.
— Vou fazer de tudo para te ver sorrir. — Beijou o topo de minha cabeça. — A propósito, você está chamando bastante atenção com esse vestido. — Começou falando de um jeito divertido. — Uns caras quase quebraram o pescoço quando você passou, e o Bradley foi um deles. — Ri um pouco daquilo. — Não vou mentir que estou incluído no meio deles, até porque seria impossível não te olhar. — O empurrei e cutuquei sua costela, o fazendo pular e rimos juntos. — Mas tenho um segredo sobre isso. — Uni minhas sobrancelhas sem entender sobre o que estava falando. — Vem cá, é um segredo, não posso falar alto. — Chamou com o indicador, então me aproximei e levou seus lábios até minha orelha. — Eles podem olhar o quanto quiserem. — Sussurrou de um jeito sexy, me fazendo ficar arrepiada, sua mão alisou minha coxa. — Mas mal sabem que não vão conseguir nada, porque você é minha. — Fechei meus olhos e abaixei a cabeça, ele sabia perfeitamente como me provocar.
— Só sua? — Questionei baixinho só para que ouvisse.
— Me diga você. — Falou passando os dentes no lóbulo de minha orelha.
— Chega. — Me afastei sentindo que não iria conseguir me controlar por muito tempo.
— Ora, ora, isso quer dizer que ganhei? — tinha um sorriso vitorioso no rosto.
— Melhor de três. — Ergui uma sobrancelha e dei um sorrisinho de lado.
— Fechado. — Fechou a mão e nós demos um soquinho, selando o acordo.
O nosso alarme começou a apitar e a piscar, então fomos buscar a nossa pizza. Quando voltamos, a dos outros já foram ficando prontas. Pelo jeito todo mundo estava com bastante fome, pois ninguém falou nada quando estava comendo. Eu como a boa abusada ainda peguei um pedaço da pizza de , que estava com uma cara deliciosa. Quando terminei me joguei para trás na cadeira e passei a mão em minha barriga, a estufando parecendo que eu estava grávida.
— Quero ser a madrinha. — comentou soltando uma risada.
— Só se eu for padrinho também. — rebateu nos fazendo rir.
— Meu filho! — brincou e colocou sua cabeça em minha barriga. — Chuta para o papai. — Então fiz pressão, a fazendo pular. — Nossa, ele tem um chute forte. — Caímos na gargalhada com isso. — Vai ser Placekicker. — Neguei com a cabeça com aquela palhaçada toda nossa.
Olhei para a tela do meu celular e lembrei do aplicativo que tinha colocado para baixar mais cedo. Peguei aparelho e já sorri, olhando para , e . Eles já começaram a rir sabendo que tinha algo por vir.
— Baixei um aplicativo de Karaokê! — Virei meu iPhone para eles.
— Eu quero jogar! — Troy já se meteu na conversa pegando o celular da minha mão, nos fazendo rir. — Vamos fazer batalhas! — Já começou a ditar as regras como sempre fazia.
— Como vai ser as baralhas? — Perguntei interessada naquilo já apoiando meus braços sobre a mesa.
— Vou sortear quem vai ir contra quem, e vamos fazendo por eliminatórias de pontuação. — Explicou e pegou seu celular. — Vou sortear, vocês podem ir escolhendo as músicas que vão cantas. — Me devolveu o aparelho.
— Já sei qual que vou cantar! — já disse todo empolgado com algo em mente. — Você vai cantar o que? — Já virou para , colocando seu braço no encosto da cadeira dela.
— Não sei, estou pensando. — Comentou e pegou seu celular.
— Deixa eu ver se tem a música que pensei. — Comentei e joguei o nome da banda na busca. — Meu Deus! Tem! — Já dei um pulinho.
— E que música seria para não ter? — já esticou o olho para cima de mim, e eu escondi meu iPhone em meus peitos. — Segredo, é? — Cutucou minha cintura, me fazendo rir.
— Você vai ver. — Fiz cara de metida. — Troy, já fez o sorteio?
— Já. — Mostrou quem iria com quem.
Troy seria contra , eu iria contra Eric, contra Naomi, Joe contra e contra . Troy já colocou sua música para tocar, que era My First Kiss, e ficamos o ouvindo cantar enquanto fazia uma performance muito engraçada, eu e já começamos a bater palma no ritmo da música para animar a coisa toda, e o pessoa foi nos acompanhando, e fazíamos parte do “Ooooooh”. E não é por nada não, mas ele cantava muito bem, sua carinha de criança enganava bastante, pois ninguém nunca dava nada por ele, e aquele menino sempre se superava, dando sempre o melhor de si. Assim como para mim, perder não era uma opção.
— 94! — Berrou colocando o aparelho na mesa e se levantando da cadeira, pulando. — Chupa essa Styes! Quero ver você ganhar! — Minha mãe já olhava para ele com um olhar recriminador, mas apenas fingi não ver.
— Troy, Troy, você esta jogando com o cara errado. — Pegou o celular com um sorrisinho no rosto. — Vamos ver aqui. — Digitou o nome da música. — Preparado para perder? — Ergueu uma sobrancelha.
— Você pode tentar, mas duvido que vá conseguir. — Troy o desafiou.
Ouvi então Locked Out Of Heaven tocar, e eu arregalei meus olhos. Não tinha ideia se sabia cantar e se ele não tivesse voz para alcançar as notas mais altas iria perder bem fácil. Então ele começou a cantar e eu pendi minha cabeça de lado, até que ele era afinado. Todo mundo ficou quieto e começou a prestar atenção em , e como um bom amigo fazia os “Ooh!” que tinha no meio da letra. Meus olhos iam se arregalando conforme ele ia cantando, e não era apenas por causa de sua voz maravilhosa e sim pela letra, nunca tinha reparado nela apesar de gostar da música. Meu Deus! queria acabar comigo! Só podia ser! Mordi o canto de meu lábio inferior enquanto o olhava com atenção, fascinada em sua voz e no que cantava. Céus, eu precisava daquele homem mais do que qualquer outra coisa na minha vida, ele mexia comigo de uma forma surreal que eu não sabia lidar com aquilo, só queria sentir e sentir, até meu coração parar de bater.
soltou o celular e me olhou dentro dos olhos, tacando o foda-se para a legenda, mas visivelmente não precisava dela, pois continuou perfeitamente sem errar. Ele soltou três rasgados que fez o pessoal gritar, vibrando com aquilo, eu até queria fazer o mesmo, mas estava hipnotizada demais em seus olhos que olhava dentro dos meus, me causando arrepios apenas com aquilo e um frio gostoso na barriga.
— ‘Cause you make me feel like. — Seu tom elevou, me fazendo ficar impressionada com aquilo mais do que antes. — I've been locked out of heaven. — Podia ver a veia de seu pescoço saltando, e eu sentia que iria escorrer pela cadeira e cair no chão. — For too long. — Segurei meu queixo e cobri meus lábios com meu indicador, sem tirar os olhos do , ainda abismada com aquela criatura.
Ele não podia estar fazendo isso comigo! Não mesmo! Eu queria beijá-lo até ficarmos com falta de ar, roubar todo seu fôlego para mim, e dizer o quanto gostava dele. Respirei fundo, mas ela foi entrecortada, sentia que meu coração batia cada vez mais forte dificultando o ar entrar em meus pulmões. Definitivamente não sabia mais como reagir, só conseguia ficar olhando para fixamente enquanto ele cantava, fazendo caras e bocas, que digam-se se passagem eram deliciosas. Isso me fazia até mesmo juntar as sobrancelhas e puxar fortemente a barra de meu vestido para baixo, juntando minhas pernas que começavam a ficar suadas enquanto meus pés iam se levantando, ficando na ponta dos dedos. Aquilo era tortura demais, não poder tocá-lo naquele momento, não poder fazer absolutamente nada a não ser olhá-lo tão de perto, sendo tão... tão... Que inferno! Tão gostoso! Tão maravilhoso! Tão delicioso cantando daquele jeito! Eu sentia que estava ficando louca, e não podia demonstrar nada para mudar aquilo ou acabar com aquela vontade dele que só crescia cada vez mais dentro de mim. Sem dúvidas tinha ganhado o nosso jogo de provocação depois daquilo, pois meu corpo reagia ao dele de forma monstruosa, era completamente inexplicável aquilo.
Acho que só consegui respirar que nem uma pessoa normal quando finalmente acabou aquela música. Cara, eu iria sonhar com aquilo. Nossa, minha cabeça estava até levemente tonta, e acho que era pela falta de oxigenação, pelo menos era isso que eu queria pensar no momento.
— 100. — Disse simplesmente virando o celular para Troy, que o encarou assim como todos nós estávamos, boquiaberto.
— Puta que pariu! — bateu na mesa super empolgado! — Esse é o cara! — Apontou para e o pessoal começou a gritar. — Vou ser seu agente!
— Menos, . — ria um pouco. — Bem menos.
— , fecha a boca, está babando na mesa. — zombou e eu a olhei, rindo de mim mesma.
— Boba. — Senti minhas bochechas ficarem vermelhas. — Nós ainda vamos continuar jogando depois disso, é bem obvio que o vai ganhar.
— Eu ainda não cantei. Como pode dizer que ele vai ganhar? — disse bem brincalhão, e eu gostei daquilo, era sinal que ele estava relaxando.
— Verdade. é muito bom. — Observei e peguei meu celular. — Quer passar a baralha sua e do na frente? — Ofereci. — Tudo bem para você, Eric? — Olhei para o loiro.
— Sem problema. — Sorriu.
— Pode ser, me passa o celular. — Meu irmão pediu, e eu estiquei meu braço, mas pegou o aparelho e entrou para . — Me deixe escolher. — Começou a procurar. — , você nunca vai me ganhar.
— É o que vamos ver, coloca a música ai e o aplicativo quem vai decidir. — disse como se já estivesse garantido.
— Ok. — Deu o play, e quando ouvi as primeiras notas não acreditei.
Era Can't Help Falling In Love, do Elvis que meu irmão iria cantar, eu amava Elvis! E quem não amava Elvis, não e mesmo?! Ele começou a cantar de um jeito tão lindo que meus olhos se encheram d’água. Meu Deus! Que coisa mais linda, e ele ainda deu uma olhadinha para a . Minha mãe olhou atenta para , certamente analisando o que estava acontecendo, e eu só vi minha amiga afundando na cadeira como se quisesse se esconder. Encostei minha cabeça no ombro de e passei meu braço pelo dele, sem tirar os olhos de . Nossa, ele cantava tão bem, e a forma como fazia parecia tão apaixonado, que a minha vontade era de colocar ele e dentro de um potinho, e guardar para que ninguém fosse capaz de estragar o que eles tinham.
— For I can't help. Falling in love with you. — Cantou a última parta da música olhando para . Céus, eu iria dar um treco por eles! — 100. — Virou o celular para .
— Esse negócio ai está errado! — acusou, não querendo perder.
— Cala a boca, ! Ele foi maravilhoso. — Defendi secando o canto de meus olhos que estavam molhado. — Escolhe sua música, vai. — Falei na tentativa de tirar atenção de cima de e , pois a minha amiga estava extremamente vermelha.
— Me dê esse celular aqui que vou mostrar quem manda. — Pegou o aparelho e colocou Wiggle, eu quase cai da cadeira dando uma gargalhada. — I got one question. How do you fit all that in them jeans?
— , você não presta! — Falei ainda rindo enquanto ele continuava.
— Hot damn it, your booty like two planets.
o olhou cruzando os braços quando ele começou a cantar, como se estivesse em uma batalha de rap com a minha prima. Eu estava vendo a hora que o prato iria voar na cara dele por causa da letra daquela música. Ela estava bem séria olhando para , enquanto todo mundo zoava, e ria. Minha prima passou a mão nos cabeço os jogando para trás, e pela sua cara, estava se segurando para não enfiar a mão nele.
— You know what to do with that big fat butt — Nossa, quando ele cantou aquilo dando uma checada em , eu senti que ele perderia alguns dentes.
— , vai ter volta. — Foi à única coisa que disse e se virou para frente. — Idiota.
— Cara, ela vai te socar. — Comentei, e riu do meu lado. — Não ri não que o que é seu está guardado.
— Meu? O que eu fiz? — Arregalou os olhos e fez cara de inocente.
— Nada. Como era mesmo a letra da música? Ah, sim. Open up your gates ‘cause I can't wait to see the light. — Joguei na cara dele uma parte dela. — Espera só para você ver. — A única coisa que fez foi rir.
— O que? — gritou. — Esse celular está roubando! Não posso ter tirado só 85! — riu gostando bastante daquilo.
— Agora é minha vez. — Ela tomou o aparelho da mão dele e colocou Womanizer. — Superstar. Where you from, how's it going? — Apontou para que ergueu as sobrancelhas.
— Uh!!! — Nós falamos em coro enquanto ela cantava fazendo gestos.
— You say I'm Crazy, I got you crazy, you're nothing but a womanizer — Ele podia ter dormido sem essa. — Daddy-O You got the swagger of champions — Então virou a cara para ele e deu um sorrisinho.
— Pode ir para casa, ela te colocou no chinelo! — Charlie que nem estava na brincadeira se meteu apenas para zoar. — Regra número um, nunca brinque com um , eles não sabem brincar. — eu o dedo do meio para o amigo.
— Não sabem mesmo. — concordou e nós rimos.
— Lollipop, must mistake me as a sucker — Se virou novamente para e deu um toque em seu queixo. — To think that I would be a victim not another — Apontou para si mesma e deslizou a mão por seu corpo. — Say it, play it how you wanna, but no way I'm ever gonna fall for you, never you, baby — Novamente berramos em coro e batemos na mesa.
— Essa doeu até em mim! — Theo berrou da outra ponta fazendo todos rirem.
Ficamos vendo tirar , e aquilo estava engraçado demais! O meu amigo tinha uma cara de merda muito engraçada, eu ria tanto que minha barriga estava até doendo. Quando minha prima acabou ela eu um beijinho no ombro e sorriu para , entregando o celular para Naomi, que já logo escolheu uma música qualquer e começou a cantar. ganhou a partida delas, e Joe pegou meu iPhone colocando o que ele iria cantar para tocar, quando terminou passou para , e ai todos já a olharam, ansiosos para saber o que ela iria cantar. Então ouvi os primeiros acordes de Still Into You, do Paramore. Aquela música era muito fofa, e meus olhos já brilharam.
— It's not a walk in the park to love each other, but when our fingers interlock — E novamente eu queria berrar! Não tinha casal mais fofo que aquele na face daquela. e foram feitos um para o outro! — Can't deny, can't deny you're worth it — Minha amiga cantava, mas nem sequer tirava os olhos da tela do celular. — ‘Cause after all this time I'm still into you — Vi suas bochechas ficarem vermelhas, mas ninguém ousou falar nada, e ela continuo cantando de forma séria. — Let 'em wonder how we got this far — Foi inevitável não soltar um gritinho nessa parte e , mas eu não recebi um olhar de reprovação como imaginei, muito pelo contrário, em seu rosto tinha um sorriso enorme. Eu queria abraçar os dois. — Some things just make sense and one of those is you and I — Me joguei para trás e a cadeira desequilibrou, então me agarrei na mesa como um gato, fazendo até mesmo errar a letra, e por fim desistir, soltando o celular.
— Não! — Gritei. — Você vai terminar essa música! — Apontei para ela.
— Eu já errei a letra, vou perder de qualquer jeito. — Deu de ombros, e eu torci os lábios.
— Sem graça. — Reclamei e peguei meu iPhone. — Já sei que vou perder, mas preciso cantar assim mesmo.
Então bem plena limpei minha garganta e fiz uma pose, arrumando minha roupa segurando uma risada, pois sentia o olhar de todos sobre mim, inclusive de que estava ao meu lado. Sua mão passou pela minha coxa, e eu apenas a tirei dali com um tapa, mas não o olhei para ver qual foi sua reação com aquilo. Joguei Push And Shove, do No Doubt na busca e logo apareceu ela, a música era grande, mas eu sabia a letra dela todinha de tanto que já cantei a mesma aos berros no chuveiro, pulando e usando o vidro de shampoo como microfone. Coloquei para tocar e deixei o aparelho sobre a mesa, não precisava ver a letra. me olhou e riu quando reconheceu a música, eu gostava tanto dela que até ele já estava de saco cheio de ouvi-la. Abaixei a cabeça e a balancei um pouco, e quando chegou a parte do primeiro verso, a levantei.
— You can work it give it to me straight when you smooth operate. Can you come out and play? — Comecei a cantar e olhei para com um sorrisinho de lado. — Make my tic talk step up to the plate. No underestimate. No, never play it safe — Neguei com o indicador.
— Que isso hein! — Charlie lá estava novamente colocando pilha.
Continuei cantando e fui mexendo meu corpo, em uma dança em cima da cadeira, fazendo caras e bocas provocando que me olhava atentamente. Passei a mão em meus peitos e fui descendo pela lateral de meu corpo, sem me preocupar se aquilo deixaria minha mãe irritada por ser um pouco obsceno, ainda mais por causa da letra da música.
— You work it hard — Joguei meu corpo para frente, aproximando meu rosto do dele e fui vindo para trás lentamente, como se tivesse sido jogada para frente e puxada para trás. — Boy you got me good — Cantei de um jeito sexy olhando dentro dos olhos de . — How you push and shove — Sorri de lado e rebolei em cima da cadeira, fazendo até mesmo os pés dela arrastarem no chão. — Ooh boy you’re hustlin’ me.
Então começou a cantar a parte do rap que ele tanto gostava, e eu continuei dançando e apontei o dedo para meu amigo, que mandava ver na letra. Passei as mãos em meu pescoço e olhei para com um sorrisinho safado. Eu e íamos intercalando os refrãos que eram cantados e com rapper.
— Anytime anyplace we blaze — Cantei e joguei minha cabeça para trás.
Fui cantando a letra até o final, fazendo questão de provocar em todos os pedaços possíveis, para ele sentir o que eu senti quando ele cantava. Sabia que minha voz não chegava nem aos pés da dele, mas aquela música não exigia muito da minha capacidade vocal que era péssima, então abusava das caras e bocas que podia fazer, além as passadas de mão em meu próprio corpo, demonstrando que ele não poderia me tocar mesmo se quisesse muito, além de chegar bem perto dele e sair logo em seguida, rindo da sua cara. O pessoal ria com a minha zoeira, mas sabia que aquilo era muito mais do que uma brincadeira. E por fim acabei de cantar.
— Olha! 89. — Até me impressionei quando deu aquela nota.
— Mas não valeu, o te ajudou. — Troy rebateu no mesmo instante.
— Relaxa, vou perder de qualquer jeito. — Ri e passei meu celular para Eric
— Você não faz ideia da vontade que estou de te beijar agora. — falou discretamente em meu ouvido. — Se a sua intenção era aguçar a minha imaginação, você conseguiu com perfeição. — Seu tom de voz era muito provocativo. — Você deveria correr o mais rápido que consegue agora, ou vou te beijar aqui mesmo, na frente de todo mundo. — Riu um pouco, passando seu lábio inferior pela minha orelha.
— Então vou faz isso agora. — Simplesmente me levantei da mesa e sai andando, me plena com passos rápidos. Ouvi o arrastar de cadeira e olhei por cima do ombro, vendo levantar. — Fodeu! — Gritei já rindo e comecei a correr, descendo as escadas rapidamente e pulando os últimos degraus.
Quase derrubei uma mulher que passava com sua pizza, mas me esquivei dela e fui em direção à saída. Não parei quando cheguei do lado de fora, se fizesse isso iria me alcançar, e eu sabia que o juízo dele não era muito bom, e seria capaz de me agarrar ali mesmo. Sem pensar muito foi em direção aos carros, pelo menos no estacionamento eu poderia me esconder. Olhei para a pizzaria e eu vi alguns amigos de pé na enorme janela, olhando lá para baixo, certamente apostando se iria conseguir me pegar ou não. Entrei atrás de um carro e corri abaixada, e entrei atrás de outro, para ele não ver para onde eu tinha ido. Agachei atrás de um Nissan, e coloquei minha mão na boca para não rir e me entregar. Conseguia ouvir os passos dele, pois o salto de sua bota fazia bastante barulho quando andava, mas eles pararam, então me levantei bem devagar e olhei discretamente por cima da mala do carro, e me viu. Voltei a correr o mais rápido que minhas pernas conseguiam, e fui para a rua, correndo pela calçada. Olhei por cima do ombro e não vi mais ele. Uni as sobrancelhas achando estranho ter desistido, mas meus olhos se arregalaram quando viram o Corolla vinho saindo do estacionamento. Ferrou muito! Me virei e voltei a correr, dobrando a esquina, mas parei abruptamente quando o carro invadiu a calçada fechando meu caminho, comecei a andar de costas, só que já deu a volta por trás, me cercando. Não tinha mais para onde eu ir, mas ainda assim tentei fugir.
— Foi bom jogar com você. — Disse e me pegou pela cintura me impedindo de dar um jeito de sair dali. Ele tomava um pouco de fôlego, enquanto eu estava ofegante. — Mas eu ganhei. — Repousei as mãos sobre seu peito rindo um pouco. estava certo, ele havia ganhado, mas antes que eu rebatesse qualquer coisa, seus lábios se juntaram com os meus.
Automaticamente fiquei na ponta dos pés e segurei sua nuca com um pouco de força, o beijando com vontade. Eu queria aquilo tanto quanto ele desde que saímos de casa. Sabia que já estava bem na cara que tínhamos algo, afinal, minha mãe de burra não tinha nada, mas deixaria explicito que tínhamos, seria bem pior, já que ela falaria na nossa cara que não estava de acordo com aquilo, argumentando que o não era bom o suficiente que ele não que me daria um futuro. Sinceramente a única coisa que eu queria era ele no meu futuro, onde estaríamos seria de menos importava. Ai que droga, estava muito apaixonada pelo . Sentia que tinha entrado em um caminho sem volta, e dali para sempre seria ladeira abaixo.
Senti a mão de segurar minha cintura com mais força, e juntar ainda mais nossos corpos. Nos beijávamos com tanta intensidade que meu ar estava começando a faltar, e minha cabeça estava dando uma pequena vertigem por isso. Então me afastei dele rindo um pouco daquilo, afinal, era engraçada aquela euforia toda, e ele acabou rindo comigo, me abraçando.
— Foi ótimo jeito que você arranjou para sairmos da pizzaria sem precisar que ninguém viesse atrás de nós. — Comentou e rimos mais um pouco daquilo. — Mas de qualquer forma não sei se iria aguentar ficar muito tempo sem te beijar.
— Isso só por que cantei aquela música? — Ergui as sobrancelhas com um sorriso no rosto.
— Não, a música foi de menos, apesar de que você ficou bem sexy cantando ela. — Brincou mordendo a ponta e meu nariz. — Vem, vamos sair logo daqui antes que alguém venha atrás e nos encontre.
— Seria uma pena se nossos celulares tivessem ficado lá dentro, não é? — Soltei uma risada o empurrando pelo peito, enquanto ria junto comigo.
— Seria uma pena mesmo. Talvez eu tenha deixado o meu em cima da mesa na hora que sai correndo atrás de você. — tinha um sorriso enorme no rosto. — Para onde você quer ir? — Perguntou dando uns passos para trás.
— Eu pediria para você me levar para os céus, mas isso seria humanamente impossível. — Já fui andando até a porta do carro e a abrindo.
— Posso te levar aos céus de outro jeito. — Ele fez uma cara de pervertido.
— Ah, cala a boca, . — Mandei entrando no lado do carona enquanto ria.
Ele entrou e nós saímos logo dali, ficamos ouvindo música sem falar nada. Abri a janela do Corolla e coloquei metade no meu corpo para fora quando passamos na frente da praia. O em vez de virar a rua que continuava para a direita, ele entrou na areia, me fazendo gritar e rir por causa daquilo. Aquele garoto era louco, acabaríamos ficando entalados ali, mas ele não era tão idiota assim e logo chegou na parte aonde a areia era dura, bem perto da água. Só paramos quando se criou um banco de areia impedindo a nossa passagem.
A Central elétrica de Oxnard estava bem perto dali, e aquilo me deu uma ideia. Olhei para por cima de meu ombro e sem falar nada lhe dei um selinho apertado, abri a porta do carro e sai correndo. Subi no banco de areia escorregando por ele e sentindo a areia entrar em minha bota, me segurei para não cair e continuei até conseguir. Limpei minhas mãos sujas em meu vestido, e voltei a correr até chegar na grade que me impedia de continuar. Não fiz cerimônia, me agarrei nela e comecei a escalar até chegar no topo dela e pular pelo outro lado. Abaixei meu vestido e olhei para os lados, vendo se alguém tinha me visto. Então votei a correr me desviando das plantas que nasciam ali, pois elas ficavam prendendo meu pé. E lá estava eu novamente, parada na frente de um muro que deveria ter no máximo uns dois metros de altura. Olhei para os lados vendo qual ponto era mais longe da iluminação e então tomei distancia, corri e pulei, me agarrando na parte de cima do muro e começando a escalá-lo. Meu tênis escorregava, mas consegui um ponto de apoio e me empurrei para cima.
— Meu Deus, ! — disse e olhei para baixo, o vendo de pé do outro lado. — Isso está sendo demais até para mim. Vamos ser presos.
— Não seria a primeira vez que vou ser presa nesse verão. — Sorri para ele e olhei para o outro lado. — Não tem ninguém aqui. Parece até abandonado senão fosse pelas luzes acesas. — Analisei o lugar. — Agora larga de ser marica e vem logo! — Passei minha perna esquerda por cima do muro e pulei dele.
Novamente arrumei meu vestido e sai correndo, me escondendo. Fiquei vendo pular o muro, então assobiei e acenei para que ele me visse, então veio correndo em minha direção. Segurei sua mão e corremos em direção de uma torre, que na verdade parecia um farol, ou era uma chaminé? Tanto faz. Fomos até ela e coloquei para subir na minha frente, ou ele ficaria vendo meus fundos, e isso não era uma opção muito agradável. O vento sobrava cada vez mais forte conforme íamos subindo e quando finalmente chegamos no topo, senti falta de um casaco. Nos sentamos na beira da passarela que tinha ao redor da torre e ficamos olhando para o mar. Fiquei balançando minhas pernas até que encostei minha cabeça no ombro de e passei meu braço pelo dele, sentindo um pouco de frio, ele me abraçou, mas aquilo não adiantou muito.
— Vem, senta aqui. — Se afastou um pouco da beira abrindo espaço para que eu sentasse entre suas pernas, então fiz, segurando na barra de proteção para não cair lá embaixo. Seus braços em envolveram em um abraço quente, e agora sim tinha melhorado um pouco. — Melhorou?
— Perfeito. — Sorri e encostei minha cabeça em seu ombro enquanto olhava as ondas quebrando e virando uma espuma branca. — . — Chamei ainda incerta sobre se deveria falar aquilo ou não.
— Oi. — Sua bochecha encostou ao lado de minha cabeça.
— Como é a sua mãe? — Soltei de uma só vez e mordi meu lábio inferior sem saber se deveria de fato tocar naquele assunto.
— Hoje em dia? — Suspirou e eu senti que ele tinha ficado chateado. — Não faço ideia, já tem uns anos que não falo com ela.
— Por que você não fala mais com ela? — Queria ficar quieta, mas a minha curiosidade era maior.
— É complicado. — Seus braços me apertaram um pouco, depois relaxaram. — Meu pai a pegou traindo ele com o vizinho, então se separou dela. Eu tinha uns 15 anos na época, e meu irmão tinha um... — Fiquei surpresa em saber que ele tinha um irmão. — Ele pegou o Noah, as coisas dele e me chamou para ir junto, mas fui idiota o suficiente para ficar. — ficou calado por um momento, certamente esperando que eu perguntasse algo, mas fiquei quieta. — Ela começou a beber e a colocar qualquer um dentro de casa, e os caras abusavam dela... — Tinha um tom de irritação em sua voz. — E nada que eu fizesse ou falasse adiantava. Ela preferia ficar vivendo daquela maneira a dar um jeito naquela situação. Nós só não passamos fome porquê meu pai me mandava dinheiro, então eu sempre fazia comprar lá para casa, apesar de que muitas vezes quando chegava da escola me deparava com um daqueles babacas comendo o que tínhamos. — Aquilo ia ficando cada vez mais pesado, e eu já estava com medo de saber o final daquilo. — Mas a coisa chegou a um limite extremo depois que me formei. Foi na noite do baile da escola, quando cheguei em casa e ela estava brigando com um cara lá, acho que ele se chamava Ralph, sei lá, eram tantos que não dava para gravar o nome de todos. Enfim, eles estavam se atracando, um batendo no outro, minha mãe já estava toda machucada, então me meti na briga. — Ele riu sem graça e negou com a cabeça. — Então ela a me xingar, dizendo que eu não tinha que me meter naquilo. Rebati, falando que não aguentava mais aquela merda toda, falei merda para o cara também, mas ele era três vezes maior... — Se mexeu e levantou a manga de sua camisa. — Essa marca foi da briga. O cara me deu a pior surra que já levei na minha vida, no nível que tive uma fratura exposta aqui. — Olhei a linha que indicou na qual sua tatuagem escondia. — E sabe o que a minha mãe fez? — Voltou a abaixar sua manga enquanto eu negava com a cabeça. — Me mandou embora de casa. Pegou todas as minhas coisas e começou a jogar porta a fora, aos berros. Falando que não precisava de mais problemas na vida dela. — Soltou o ar pelo nariz em uma pequena risada nasalada. — Os vizinhos chamaram a polícia, foi uma confusão enorme. Eu e muito menos a minha mãe prestamos queixa, então não aconteceu nada com o cara. Fui para o hospital e quando voltei ela estava sentada na frente de casa chorando, e quando perguntei o motivo, simplesmente falou que eu não podia ficar ali, porque ela não era capaz de me criar ou cuidar de mim, mas que me amava demais para que visse minha vida arruinada por causa dela, pois tudo que tocava ela conseguia destruir e que não queria que isso acontecesse comigo. — Seus dedos se entrelaçaram com os meus, então o segurei com força. Estava aflita por causa daquilo que estava me contando. — Por fim mandou que eu fosse embora e não procurasse por ela ou nem nada do tipo. Fiquei com tanta raiva daquilo que peguei minhas coisas que ainda estavam espalhadas na frente da casa, coloquei dentro do carro que eu tinha na época e fui embora sem olhar para trás. — Respirou fundo passando seu rosto na lateral da minha cabeça. — Fiquei viajando mais de um ano, procurando uma cidade que eu me sentisse bem, confortável, que me fizesse sentir que estava em casa, mas no final das contas descobri que não acharia nenhum lugar, porque casa quer dizer família, e eu não tenho uma.
— Você ainda tem seu pai e seu irmão. — Lembrei, duvido que eles não o receberiam de braços abertos depois de tudo.
— Não queria que meu pai soubesse o motivo que sai de casa, ou isso só daria mais brigas, e também não queria ir morar com ele na época, só queria ficar sozinho, então disse apenas que estava tirando um tempo para mim antes de entrar na faculdade. — Suspirou e deixou a cabeça cair, dando um beijo em meu ombro nu. — Mas esse tempo nunca acabou, e ai decidi parar em Las Vegas. Arrumei um trabalho por lá e me acomodei, tentando fazer com que lá fosse minha casa. Lá as coisas parecem que estão paradas no tempo, nada muda, pessoas vem e vão, mas sempre são os mesmos tipos, estão ali apenas para curtir uma noite. As luzes continuam piscando na mesma sequência e nunca se apagam, e eu nunca vejo o dia já que fico dormindo para poder ir trabalhar à noite.
— Mas ainda assim você não se sente em casa. — Completei e ele concordou com a cabeça. — E é como se estivesse em um piloto automático.
— Um piloto automático que está ligado há três anos. As mesmas emoções, as mesmas palavras, os mesmos pensamentos e os mesmos sentimentos. — Aquilo era triste eu não conseguiria nunca saber como era aquela solidão que ele sentia, pois ela parecia extremamente profunda. — A única coisa que me fazia sair do padrão era as noites nas quais eu te ligava. — Meu coração ficou acelerado ao ouvir o que disse. — Por mais que às vezes você estivesse triste, ainda assim era a única coisa que me dava um pouco de vida. Falar contigo era como se me mostrasse que o mundo ainda existia fora daquele deserto, mas nunca quis perceber que meu dia dependia da sua voz para ganhar vida. — Ele me abraçou com mais força escondeu seu rosto na curva de meu pescoço. — E ainda não quero. Então esquece isso que falei.
— Não quero esquecer. — Falei e ainda assim não levantou seu rosto. — Fico feliz em saber que faço bem a alguém, e que esse alguém é você. — Passei meu polegar por cima do dele. — Porque você me faz sentir coisas que eu nem lembrava mais como eram, me faz sentir também coisas que nem sabia que era capaz. — Mordi meu lábio inferior com um pouco de vergonha de falar aquilo. — Você me faz feliz, . Eu sou contigo alguém que não era há muito tempo. E quanto estou contigo sorrir se torna algo fácil, e não uma coisa forçada e mecânica. Então não me peça para esquecer algo do tipo, porque não tem como esquecer. — Ele finalmente levantou a cabeça.
— Precisa parar de me fazer gostar de você mais do que já gosto. — Sussurrou em meu ouvido me fazendo ficar arrepiada. — Obrigado. — Me apertou novamente me fazendo sorrir.
Senti algo me sacudir e isso me fez resmungar. Depois disso tudo ficou calmo de novo e eu retornei a dormir. Ao certo não sei se dormi logo em seguida ou se a pessoa realmente foi embora, me deixando em paz. Definitivamente não queria saber daquilo naquele momento, o sono não me permitia tanto.
Abri finalmente meus olhos, mas tudo estava escuro. Uni as sobrancelhas e me sentei na cama, procurando o interruptor do abajur para poder encontrar meu celular. Achei os dois e arregalei os olhos quando vi que era oito da noite. Meu Deus do céu! Eu hibernei! Levantei da cama ainda com sono, sentindo minhas pernas doloridas e fui ao banheiro, tomando um banho para ver se melhorava, ou se pelo menos aquela lombeira desgraçada fosse embora, mas não melhorou muito.
Coloquei uma roupa limpa que estava pendurada atrás da porta e saí do quarto. O pessoal estava na sala, jogando um jogo de tabuleiro que não consegui ver qual era, mas pararam quando me viram passar, ficando todo mundo em silêncio. Não entendi o motivo daquilo, mas ignorei e fui até a geladeira, a abrindo e vendo o que tinha de interessante para comer. Peguei ovos, bacon e manteiga, colocando tudo em cima do balcão. Às vezes vegetava simplesmente do nada, olhando para algum ponto cego enquanto fazia as coisas.
Quando acabei de fritar os ovos e o bacon, os comi em pé mesmo no balcão. Lavei tudo o que sujei e, por fim, voltei para o quarto, escovei meus dentes e me deitei no escuro mesmo. Peguei meu iPhone e procurei uma playlist de um gênero que estava com saudades de ouvir, Lo-fi. A batida era muito gostosa, me fazia relaxar e até mesmo dormir. Eu ficava viajando ouvindo aquele tipo de música.
Conectei meu celular na minha caixinha de som que havia trazido, coloquei algodão no ouvido, apenas para ouvir a música que estava um pouco mais alta e não os barulhos exteriores do quarto. Me virei de barriga para cima, olhando a sombra no teto da luz que o pequeno aparelho de som fazia, enquanto deixava a batida da música me levar. Se as meninas entrassem ali agora, certamente pensariam que eu era louca.
O ar-condicionado estava ligado em uma temperatura gostosa, que não necessitava ficar de coberta. Coloquei a mão sobre meus peitos que nem uma defunta e fechei meus olhos, respirando fundo, relaxando e voltando a pegar no sono aos poucos, sem pensar em absolutamente nada. Eu estava levemente sonolenta, quando senti algo passar pela minha canela, me fazendo pular assustada e abrir os olhos, vendo ali de pé ao meu lado, me olhando.
— Está querendo me matar do coração? — Perguntei, tirando os algodões do ouvido.
— Não, só estou preocupado contigo — respondeu, já deitando na cama ao meu lado. — Ficou aqui o dia inteiro e, quando saiu, não falou nada com ninguém. Está tudo bem? — Seu jeito de falar me fez sorrir, estava sendo fofo.
— Está sim, só estou com sono — disse, me aproximei dele e encostei minha cabeça em seu ombro. — Eu tomei remédio de dor ontem e quando faço isso, eu durmo muito.
— Então seu problema de insônia é facilmente resolvido com um analgésico? — Brincou e rimos juntos. — Mas você dormiu muito.
— Eu sei, e ainda estou com sono, mas é porque tenho dormido muito pouco. Provavelmente amanhã estarei ligadona — expliquei e coloquei minha cabeça em seu peito, seus braços me envolveram, fazendo um carinho gostoso em minhas costas.
— O que é isso que você está escutando? — Tinha uma certa estranheza em sua voz, o que me fez rir.
— Lo-fi — falei, mas nem me mexi. — Gostou?
— Não sei dizer. — Riu um pouco. — É estranho. — Ele tinha razão, era estranho, mas eu gostava. — Preciso escutar mais um pouco para dizer o que achei.
— Fique à vontade. Eu sigo algumas playlists no Spotify, mas tem uns vídeos dos Simpsons no YouTube de mais ou menos meia hora que talvez você vá gostar, e outros que são rádios, mas esses eu não conheço muito. Se quiser, posso te mostrar depois — ofereci.
— Me manda depois que irei ouvir. — Me apertou um pouco em seus braços.
Levantei um pouco minha cabeça e passei meu nariz em seu pescoço, depois beijei de leve sua pele, lhe causando um arrepio. Sua mão desceu e apertou minha cintura, me puxando para mais perto. Coloquei minha perna entre as dele e deslizei meus lábios pelo seu queixo e o mordisquei depois, bem de leve.
— Você não disse que estava com sono? — perguntou de um jeito provocativo.
— Estava com sono até você chegar aqui e roubar ele — sussurrei por cima de seus lábios. — Mas se quiser, eu posso tentar voltar a dormir. — Me afastei, mas ele segurou rapidamente minha nuca e me beijou de um jeito que chegou a roubar todo meu ar. — Sem dúvidas você está afim de me matar hoje — comentei quando começou a beijar meu pescoço.
— Na verdade, eu quero te matar apenas de uma forma... — falou em meu ouvido, me deixando completamente arrepiada.
— Chega, para com isso. — Me afastei dele, rindo um pouco. Ele estava me fazendo ficar excitada e não era nada bom ficar daquele jeito em uma casa cheia de gente. — Você vai me deixar louca desse jeito.
— Você fala como se fosse a única. — Riu um pouco. — E outra, não fui eu quem começou. — Estreitei meus olhos e o empurrei de leve seu ombro. — Ué, só estou dizendo que estava na minha aqui.
— Você não precisa começar nada para me provocar, só de me olhar com essa sua cara aí, já é o suficiente. — Mordi meu lábio inferior.
— Então a culpa é minha? — ria de um jeito que me fazia rir junto a ele.
— Claro, sempre foi sua culpa. — Voltei a me aproximar dele. — E mesmo quando não sabia como você era fisicamente, continuava sendo a sua culpa. — Passei meu indicador pelo seu peito.
— É mesmo? Me diz como isso era possível — quis saber.
— Oras, eu me apaixonei por quem você é, pelo seu jeito, pela sua voz. — Então fechei meus olhos com força, me dando conta do que eu tinha acabado de falar. — É, quero dizer... — Já comecei a ficar envergonhada. — Quero dizer que não gostei de você por causa da sua aparência... Que merda. Esquece. — Percebi que estava me enrolando cada vez mais, então segurou meu queixo e o ergueu, me dando um selinho leve, mas demorado.
— Também me apaixonei por quem você é — disse por fim, e eu apenas o abracei com força, escondendo meu rosto em seu pescoço.
Ficamos abraçados até que eu finalmente relaxei e acabei dormindo novamente. E mais uma vez o sono foi tão pesado que nem acordei quando as meninas entraram no quarto e desligaram o som. Não sei bem dizer se era por causa do ou o que realmente era, mas sabia que estava bem, e em muito tempo que não dormia daquele jeito.
Acordei e não era nem dez da manhã, ouvindo e conversando baixinho. Abri meus olhos e olhei para elas, que nem sequer viram que eu tinha acordado. Senti o braço de em cima de minha cintura, então me virei, ficando de frente para ele. Era inexplicável como aquele garoto era lindo, até dormindo ele conseguia tirar meu fôlego. Fiquei observando-o por algum tempo, até que levantei e as meninas pararam de falar.
— Estou com fome, acho que vou ao mercado comprar algo para comer — comentei com elas antes de entrar no banheiro. — Vocês querem ir comigo? — Perguntei de bom humor.
— realmente faz milagres — falou, aparecendo na porta do banheiro. — Você acordando cedo e de bom humor. Realmente ele operou um milagre. — Joguei a toalha de rosto em cima da minha amiga, que riu. — Acho que o mau humor já voltou.
— Larga de ser chata. — Peguei minha escova de dente. — Vão querer ir comigo?
— Eu quero — respondeu do quarto. — Podemos comer em uma lanchonete nova lá perto do mercado mesmo. O que acham? — Ela parou ao lado de na porta.
— Justo. — Afirmei com a cabeça e cuspi na pia. — Vou trocar de roupa. — Coloquei minha escova de volta no copo.
Tentei chamar , mas ele nem sequer se mexeu, então deixei para lá e apenas troquei minha roupa e fui para a sala, esperar as meninas. Todo mundo ainda estava dormindo, e também pudera, devem ter ido dormir tarde, além do que os meninos nunca acordam cedo. Me sentei sobre o balcão até que e apareceram. Saímos com a pick-up e fomos para a lanchonete que minha prima havia falado. Escolhemos uma mesa ao lado da enorme janela de vidro que tinha no local. Fizemos nossos pedidos e nos entreolhamos, depois as duas se encararam e eu sabia que seria zoada.
— Você e o estão namorando? — logo soltou aquilo de cara, o que me fez arregalar os olhos.
— O quê? Não, claro que não! Nós nos beijamos tem dois dias! — Gesticulei com as mãos. — De onde você tirou isso?
— Ué, ele dormiu dois dias seguidos lá no quarto contigo — explicou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Ele dormiu lá ontem porque os meninos estavam todos espalhados lá em cima de qualquer jeito, e o Eric dormiu lá também — tentei justificar, mas sabia que aquilo não seria o suficiente. — E hoje ele acabou pegando no sono. — Dei de ombros.
— Ah! Ele pegou no sono! Sei! — me jogou uma bolinha de papel. — Fala logo que vocês transaram ontem. — Arregalei meus olhos.
— Meu Deus, eu não seria tão burra assim de transar com o com vocês perambulando pela casa. — Ergui minhas sobrancelhas e joguei a bolinha de volta. — Por quê? Você e o já transaram? — se engasgou com o ar.
— Oi. Tudo bom? — Se fez de boba.
— Anda, responde! — Mandei, rindo um bocado, e olhei para , que estava se fazendo de sonsa, olhando para o lado de fora como se nem ao menos estivesse ouvindo o que falávamos.
— Nós viemos aqui para comer ou para saber sobre mim e o ? — E lá estava minha prima tentando sair fora.
— Os dois. Comer enquanto falamos sobre a gente. Não é mesmo, ? — Chamei e minha amiga nos olhou se fazendo de desentendida. — Como está o ?
— Bem, ué. Como ele estaria? — Respondeu simplesmente.
— Você sabia que é a minha cunhadinha favorita? — Abri um sorriso largo e revirou os olhos.
— Cala a boca, — mandou e voltou a olhar pela janela.
— Eu também te amo. — Joguei um beijo para ela, que acabou rindo. — Então, . Você ainda não respondeu à pergunta que não quer calar — insisti.
— Espera. A tem mesmo que ser sua cunhada favorita, você só tem o como irmão. — não iria responder o que eu queria saber tão cedo.
— E quem disse que ele só tem a ? — Soltei e minha amiga me encarou na mesma hora.
— O que você quer dizer com isso? — perguntou rapidamente e eu ri jogando minha cabeça para trás.
— Olha só quem já está plantando a discórdia — falou e a olhei ainda rindo. — Você sabe que ela vai perguntar que história é essa para o quando chegarmos em casa, não sabe?
— Vai? — Encarei . — De qualquer forma, eu já sei que irei para o inferno. — Ri mais um pouco.
— Você ainda não nos contou como o te beijou — minha prima tentou mais uma vez mudar de assunto.
— Com a boca.
— Nossa, você acordou gozada hoje, hein. — riu um pouco.
— Estou me perguntando se você dormiu com o ou com um palhaço — falou e eu fiz cara de pensativa.
— Na verdade, não faz muita diferença, o é um palhaço mesmo — rebati e joguei uma bolinha de papel de minha amiga.
— Eu desisto. — Ela ergueu as mãos. — E você não vai responder se fez ou não aquilo com o ? — Se virou para .
— E a não falou como a beijou. — Jogou para cima de mim. — Eu só percebi o que estava acontecendo quando freou o carro.
— Já respondi, com a boca. — Dei de ombros e jogou a bolinha de papel que estava na mesa em minha cara. — Ok, eu conto. Alguém tem que ser mulher o suficiente aqui nessa mesa, não é? — Encarei minha prima por ficar fugindo da resposta se tinha transado com ou não. Então contei como foi e as duas me olhavam atentas, esperando os detalhes. — Foi isso. Agora responde, ! — Bati com a mão sobre a mesa. — , não pense que vai escapar, não, porque eu vi você e o se agarrando às escondidas em Hollywood.
— E daí? — Ela ergueu uma sobrancelha.
— Ué, como foi? — Perguntei, cruzando meus braços sobre a mesa.
— Todos queremos saber, . — colocou pilha.
— Sinceramente, falar sobre como beijo seu irmão e onde não é um dos meus assuntos favoritos. — Ergui as sobrancelhas com a patada que levei.
— Olha ela! — Ri alto. — Essa doeu um pouco, mas só um pouco mesmo.
— Eu conto se a contar. — Olhou para minha prima.
— Eita, a batata quente está pegando fogo. — Era impossível não rir.
— Ok, ok! — bateu de leve com sua testa sobre a mesa. — Nós fizemos — mas ela falou tão baixo que mal deu para ouvir.
— Fala para fora, minha filha. Eu sou surda — impliquei e ergueu a cabeça, me olhando com os olhos estreitados. Eu só conseguia rir.
— Larga de ser chata, você ouviu muito bem o que falei. — Então nossos pedidos chegaram.
— Ok, onde foi então? — Continuei mesmo que a garçonete estivesse ali.
— Não quero saber os detalhes — cortou o assunto, pegando seu prato com panquecas e puxando para sua frente.
— Eu só estou perguntando onde foi e não como foi — falei, pegando uma fatia de torrada com manteiga de amendoim. — E quando, claro.
— Nossa, isso aqui é uma conversa ou um interrogatório? — quis saber, dando um gole em seu chá.
— Veja como você quiser. — Sorri de lado.
— Foi no banheiro do segundo andar, na quarta-feira — soltou aquilo tão rápido que quase não peguei todas as palavras. — Agora é a vez da . Como é estar com o ? — Minha amiga tomou um gole de seu suco de laranja para não se entalar com a panqueca.
— Vocês não querem saber. — Nós duas não falamos nada, apenas ficamos encarando , esperando que ela parasse de bobeira e falasse logo. — Ah — começou a dizer enquanto encarava seu prato —, posso dizer que ele é o dono do melhor beijo da minha vida, até mesmo superou anos de expectativa. — Eu me segurei para não berrar quando ouvi aquilo, ou ela acabaria ficando quieta e não contaria mais nada. — Não falamos nada para ninguém ainda porque não queremos ninguém no nosso pé. — Me lançou um olhar e voltou a comer. — Além do que pode não acontecer nada realmente entre nós e não quero perder a amizade de ninguém. — E no fim eu a entendia perfeitamente.
— Você sabe que independente de qualquer coisa, vou continuar sendo a sua melhor amiga, não é? — Segurei sua mão por cima da mesa e me deu um sorriso fraco.
— Não é assim que as coisas funcionam. Independentemente do que acontecer, você vai ficar do lado do por ele ser seu irmão — disse e soltou minha mão, pegando sua faca e cortando um pedaço da panqueca.
Acabamos de comer em silêncio e depois fomos ao mercado comprar coisas para os meninos comerem quando acordassem. Quando chegamos, eles já estavam de pé, revirando a despensa, caçando alguma coisa para comer. Juntamos todo mundo e fizemos um mega café da manhã. Assim como , os garotos também zoaram meu bom humor, culpando por isso, e por mais que eu negasse, ele era realmente o responsável pelos meus sorrisos. O que por acaso ainda não tinha levantado, então fui atrás dele.
Abri a porta do quarto bem devagar e vi que ainda estava dormindo. Tirei meus sapatos sem fazer barulho e corri, pulando em cima dele, que soltou um gemido e depois riu, cobrindo seu rosto com o travesseiro. Tirei aquilo de sua cabeça e comecei a dar travesseiradas nele, que logo me segurou pela cintura e me tirou de cima, rolando na cama e ficando por cima, me cobrindo de travesseirada também. Tentei me defender, mas foi inútil, ele era muito bom em guerra de travesseiros.
— , tira o daí. — abriu a porta do quarto. — O pai, a mãe e a tia Anne estão aí, vem logo. — Arregalei meus olhos e já ia perguntar o que eles estavam fazendo aqui, mas meu irmão já saiu do quarto.
— Merda. Levanta — falei rapidamente e saiu de cima de mim. — Dá a volta pela porta do corredor e passa pela frente — pedi.
— Por quê? — Perguntou, unindo as sobrancelhas sem entender nada.
— Se a minha mãe desconfiar que você dormiu aqui comigo, vai dar uma merda gigantesca — avisei e levantei da cama, calçando meus sapatos. — Por via das dúvidas, nem ao menos nos conhecemos — brinquei, dando um sorriso.
— É sério isso? — Ele já se levantava me olhando.
— Dela não poder saber que você dormiu aqui comigo, sim. — Me aproximei dele e lhe dei um selinho apertado, mas ele acabou segurando minha cintura e aprofundou o beijo.
— ? — Ouvi minha mãe chamar e isso me fez soltar rapidamente.
— Esconde no banheiro — sussurrei para ele e apontei para a porta.
— Está de sacanagem, né? — Não respondi, apenas o empurrei para lá.
— Oi, mãe — falei e já fui correndo até a porta do quarto, que se abriu antes que eu chegasse a ela. — Já estava indo, estava apenas fazendo xixi. — Peguei sua mão e a tirei dali.
— Pensei que estava dormindo até essa hora. Já são onze e meia da manhã — recriminou enquanto passávamos pelo corredor. — Meu Deus do céu, menina! O que aconteceu com suas pernas? Está achando que é menino para ficar brincando com essas coisas brutas. — Me puxou para me examinar. — O que aconteceu?
— Eu só caí da escada duas vezes e do iate. — Ela uniu as sobrancelhas. — As vizinhas, elas têm um iate, fomos lá no domingo e eu acabei caindo para fora dele porque escorreguei e bati com a perna no ferro — expliquei bem porcamente.
— Você está com problemas nas pernas? Precisa de um ortopedista ou só desaprendeu a andar como uma dama? — Aquilo poderia ser até uma piada se ela não estivesse tão séria me olhando.
— Talvez eu esteja com problema mental mesmo. — Sorri sem mostrar os dentes e saí andando. — Pai! — Joguei os braços para cima e corri em sua direção.
— Minha menina! — Ele me abraçou e me rodou. — Como você está? — Beijou minha bochecha.
— Estou ótima, e você? — Ainda continuava abraçada com ele.
— Estou muito bem. — Papai me soltou, então me virei para tia Anne.
— Tia! — Ergui meus braços.
— Sobrinha! — Ela levantou os braços também e começamos a fazer algo que parecia uma dancinha e por fim nos abraçamos. — Parabéns atrasado. — Me deu um beijo forte na bochecha e começou a me desejar felicidades. — Roger, essa menina está cada vez mais linda. O que vocês andam dando para ela?
— Culpa do — Troy berrou e eu já o olhei com as sobrancelhas erguidas, que era para ele calar a boca. — Falando nisso, cadê ele?
— ? — Minha mãe perguntou, então a olhei quase dando um filho. — Aquele ? — Fez um gesto com desdém. — Ele está aqui?
— Está sim — Troy como o bom língua solta continuava a falar. — Ele estava com a ainda pouco.
— Não estava coisa nenhuma. Acabei de chegar da rua. — Eu queria enfiar meu sapato na boca dele.
— Hm, por que parece que você está mentindo? — Minha mãe me olhou e eu ri um pouco. — Qual é a graça?
— Você é paranoica demais — disfarcei, olhando para o lado. — Você já falou com o Bradley? — O puxei e o coloquei na minha frente. — Ele veio também. — Sorri e empurrei meu amigo em cima dela.
— É claro que falei com ele. — Minha mãe sorriu e o abraçou de novo. — Foi a primeira pessoa com quem falei. Fiquei muito feliz que tenha vindo. — Ela passou as mãos no rosto dele. — Você e a estão se entendendo? — E eu sabia muito bem o que aquele “se entendendo” dela queria dizer.
— Não, mãe, não estamos ficando — respondi rispidamente.
— E por que não? Bradley é o rapaz mais agradável que conheço. — O abraçou de lado como se apresentasse um de seus produtos. Minha mãe era modelo fotográfico de meia idade e trabalhava em um catálogo de compras. — Vocês deveriam ficar juntos. — E nisso vi que estava parado na porta da varanda, ouvindo tudo com os braços cruzados. — Você não acha, Roger?
— Eu não acho nada. — Meu pai se virou e pegou um copo o enchendo de café. — Cadê o e a ? Não os vi desde que chegamos. — Uni minhas sobrancelhas, pois tinha ido me avisar que nossos pais tinham chegado, pensei que eles tinham se falado.
— Excelente pergunta — mamãe falou e olhou para os lados, sem soltar Brad, que já me olhava com cara de desesperado querendo sair dali.
— Estão me procurando? — já descia as escadas.
— Misericórdia menino! — Nossa mãe falou bem alto. — O que é isso na sua cara? — Ela se referia sobre sua barba estar grande. — Pelo amor de Deus, suba e tire isso, só volte aqui quando estiver com essa cara limpa. — Assim como eu, ele também ergueu as sobrancelhas. — Isso está horrível, está parecendo um cafetão. — Os meninos começaram a rir, mas se eu bem conhecia meu irmão, aquilo estava irritando ele profundamente. — Está parecendo seu tio Jeremy, vai tirar essa porcaria.
— Tio Jeremy mora no brejo. — Llembrei o lugar pantanoso que o cara morava. — Ele não deve fazer a barba já há uns cinco anos.
— Exatamente! — Mamãe me olhou. — Como você pode deixar seu irmão ficar com a barba desse jeito?
— Ué, você queria que eu o amarrasse na cadeira e fizesse a barba dele? E outra, a cara não é minha mesmo. — Dei de ombros e fui andando até . Precisava tirar a atenção de cima de antes que começasse uma briga. — Mãe, esse aqui é o . — Segurei em sua mão e o puxei para dentro, soltando logo em seguida.
— Muito prazer, senhora . — Ele estendeu a mão para minha mãe, que a olhou, reparando ele de cima embaixo e depois a segurou.
— Pode me chamar de Senhorita Jess — respondeu e eu queria simplesmente desaparecer. — Até que você é bonitinho. — Soltou a mão dele e eu virei a minha cara para o lado, encarando a parede para não falar meia dúzia de merdas. — Trabalha de quê?
— Aliciando mulheres — respondi e segurei a mão do . — Seja mais discreta — falei com minha mãe, e puxei o menino comigo até a cozinha. — Quer comer o quê?
— O que foi isso? — cochichou perto do meu ouvido.
— O que é isso, essa seria a pergunta mais adequada — rebati, já colocando manteiga na frigideira. — Essa coisa é a minha mãe e ela vai fazer os nossos dias o inferno na terra, se prepara.
— Se ela é tão ruim assim, por que você e o ainda moram com seus pais? — o olhei por cima de meu ombro.
— Não moramos na mesma casa. Eu e moramos na casa da piscina — expliquei, e por mais absurdo que aquilo era, aquele foi o único jeito que arranjamos para nos livrar de nossa mãe, já que nem deixar irmos embora de casa, ela havia deixado.
— E por que ainda moram lá? — Respirei fundo com a sua pergunta.
— Porque não conseguimos sair — falei simplesmente. — Me dê os ovos. — Apontei para a caixa que estava aberta sobre o balcão.
— E eu achando que a minha mãe era ruim. — Ergui uma sobrancelha, pegando os ovos que me entregava. — Você acha que eu moro em Vegas porque gosto?
— Sempre achei que fosse. — E aí que reparei que nunca tinha falado muito da família dele. — Achei que gostasse de ficar se mudando e viajando.
— Antes fosse. — Deu um pequeno sorriso. — Mas não me dou muito bem com a minha mãe. — Fiquei triste por saber daquilo. — Me deixe fazer isso antes que sua mãe reclame que você está fazendo algo para mim. — Tentou pegar a espátula de minha mão.
— Deixa ela reclamar. — O empurrei, batendo com meu quadril no dele e nós rimos. — Desculpe por te enfiar nisso, eu não sabia que eles viriam do nada.
— Relaxa, eu teria que conhecer seus pais de qualquer jeito. — Ele passou seu braço pelos meus ombros.
— Verdade! Nem te apresentei ao meu pai — lembrei e me virei, puxando comigo. — Pai! — Chamei, cutucando seu ombro por cima do balcão. — Esse aqui é o , o senhor ainda não o conhece. É aquele menino de Las Vegas que falei aquela vez.
— Ah sim, o que trabalha no cassino. — Meu pai deu a volta no balcão e abraçou . — Muito prazer. Minha filha falou muito bem de você. — Deu dois tapinhas de leve no rosto dele.
— O prazer é todo meu, senhor . — deu um de seus belos sorrisos. — Então quer dizer que a falou de mim? — Passou as mãos em meu cabelo o bagunçando, então o empurrei enquanto riamos daquilo.
— Por favor, apenas me chame de Roger. Jess que gosta dessa palhaçada de Senhor, Mister e essas coisas pomposas. — Meu pai fez um gesto banal com a mão. — E sim, ela fala o tempo todo de você. Estou feliz por conhecê-lo. — Sorriu e eu fiquei feliz por aquilo, por meu pai ser uma pessoa gentil. — Anne, venha cá — chamou e minha tia se aproximou. — Já conheceu o ? O mais novo membro da família.
— E que membro, hein. — Tia o olhou e fez uma careta de satisfação muito engraçada. — Caprichou dessa vez, . — Nós rimos. — Me conte, de onde você vem tem mais rapazes bonitões assim? — Perguntou a , que soltou uma gargalhada alta. — Estou falando sério, preciso arrumar um garotão que nem você.
— Olha, por modéstia parte, muito obrigado, porém mais bonito do que eu acho que vai ser difícil, mas posso te ajudar a encontrar alguém — se ofereceu. — Mas olha, acho que você consegue um homem bem rápido sendo bonita desse jeito.
— , sinto lhe informar, mas você acabou de perder. — Tia Anne pegou a mão do e saiu puxando ele, mas logo em seguida voltou, nos fazendo rir. — Você está de parabéns. — Deu dois tapinhas no ombro dele e me olhou. — Agora me falem que vocês estão dando uns beijinhos. — Senti minhas bochechas ficarem vermelhas. — Porque senão estão, vocês precisam começar isso para ontem!
— Anne, não acho que a vá querer responder isso. — Meu pai falou e nos olhou. Embora tivesse dito aquilo, ele mesmo estava curioso para saber. Olhei para o , pensando se respondia aquilo ou não. — Estão? — Ele não se aguentou, o que nos fez rir.
— É, estamos. — Olhei para o chão, sentindo que meu rosto deveria estar extremamente vermelho. — Mas a mãe não precisa saber disso agora, ou vai fazer um inferno na nossa cabeça. Você sabe como ela é.
— Eu sei, fica calma, não vou falar nada — meu pai garantiu. — Mas cuidado para ela não descobrir, ou vai ficar furiosa por você não ter contado antes — avisou e eu assenti com a cabeça. — E não é por nada, não, mas acho que tem algo queimando. — Apontou para o fogão.
— Puta merda. — A frigideira estava pegando fogo, então corri até lá sem saber o que fazer.
— Olha a boca, garota! — Minha mãe berrou, mas não me importei com isso. — Nem fritar um ovo você sabe — reclamou e se aproximou, apenas desligando o fogo. — Não sei como você e seu irmão fazem comida.
— Eu me distraí — rebati, já abrindo a janela da cozinha para sair aquele cheiro de queimado horrível.
— Você sempre se distrai com tudo. — Me lançou um olhar recriminador. — Você também estava distraída quando caiu da escada?
— Não, me joguei dela de propósito. — Sorri mostrando todos os dentes. — Vamos comer em outro lugar — falei com e o puxei para que saísse dali comigo.
— Me respeita, ! Só porque está na frente dos seus amigos não ache que vá falar comigo de qualquer jeito. — Revirei meus olhos ouvindo aquilo, e na hora que ela estava sendo super superior falando daquele jeito.
— , você já comeu? — berrei do pé da escada, ignorando minha mãe completamente. Meu irmão tinha sumido, então supus que estivesse lá em cima fazendo a barba para agradar a dondoca.
— Já. — respondeu, aparecendo no pé da escada passando a toalha em seu rosto, e pude ver que ele tinha mesmo tirado a barba.
— Não deveria ter tirado apenas para agradá-la. — falei alto e em bom tom para quem quisesse ouvir.
Por fim apenas me virei e levei comigo. Saímos da casa e vimos o carro de meus pais bloqueando a saída da pick-up. Maravilha. Eu não estava com a menor vontade de voltar lá dentro de pedir para meu pai tirar o carro, e não queria que fosse lá pedir ou então buscasse a chave de seu Corolla. Ouvimos a voz de Naomi e olhamos para a casa do lado, vendo a morena acenar para nós. Fomos até lá ver o que ela queria.
— Vocês já comeram? Acabamos de fazer waffles. — ela sorriu para nós, como sempre muito gentil.
— Na verdade eu já, o que ainda não comeu. — expliquei, e antes que eu completasse minha frase, Naomi segurou nossas mãos e nos arrastou para dentro de casa. — Licença. — falei quando passei pela porta, não tinha entrado ali dentro ainda, que por sinal era o dobro ou o triplo do tamanho da nossa.
— Bom dia! — Sophie já apareceu na nossa frente, e automaticamente segurou minha mão entrelaçando nossos dedos, e isso me causou uma risada discreta.
— Bom dia. — respondi sorrindo para ela. Embora o universo esteja conspirando para que meu bom humor vá embora, eu não deixaria que isso acontecesse. — Desculpa está invadindo assim, mas...
— Eu os convidei. — Naomi já me cortou e voltou até onde estávamos, nos puxando dali. — Vamos comer lá em cima na sacada do quarto aonde estou ficando. — falou enquanto nos guiava pela casa.
— Está tudo bem? — perguntei notando que tinha algo estranho aquilo tudo.
— Sophie está um saco, obcecada pela , e não para de falar dele nenhum segundo. — bufou enquanto nos colocava para dentro do seu quarto. — Não queria ficar perto das meninas e também eu não queria comer sozinha. — foi andando até a sacada onde tinha uma linda mesa de quatro lugares cheia de coisas. — Mandei uma mensagem para o Joe, mas ele não me respondeu. Eu ia até lá chamá-lo, mas quando vi vocês achei que seria melhor convidá-los do que simplesmente parecer que estou desesperada por ele, o que não é o caso. — deixou bem claro, mas nós dois rimos daquilo. — Vamos, sentem-se. — gesticulou com a mão e fizemos o que ela pediu.
Não era bem aquilo que eu tinha em mente no momento. Queria ficar sozinha com para poder explicar tudo o que estava acontecendo, e tentar conversar com ele sobre sua família, pois aquilo tinha me deixado realmente curiosa. Talvez não fosse a hora de falar sobre aquilo também. Fiquei misturando o suco enquanto pensava sobre isso, submersa demais em meus pensamentos para me tocar que aquele barulho no inox batendo no vidro estava realmente incomodando, até que segurou minha mão me fazendo parar de mexer aquilo.
— Está tudo bem? — Naomi perguntou, e eu balancei a cabeça.
— Sim, desculpe por isso. — tirei a colher do copo e coloquei na mesa.
— Acho que nosso dia só não começou muito bem. — disse e apenas o encarei. — Mas vai melhorar. — ele sorriu e apertou de leve minha mão me fazendo sorrir de leve.
— Vocês são fofos. — ri do comentário dela. — É sério, só de pensar na Sophie tentando estragar o que relacionamento de vocês, já fico com raiva. — ergui uma sobrancelha. — Não é a primeira vez que a vejo fazer isso. Então tomem cuidado.
— O que ela poderia fazer? — quis saber, mas nem sequer soltou minha mão.
— Tantas coisas. — Naomi fez uma careta. — Dar um jeito de parecer que vocês transaram, ou te beijar a força apenas para a ver. Sei lá, vai saber o que a cabeça doente dela.
— Pensei que vocês eram amigas. — observei achando bem estranho ela falando aquilo.
— Não. Aquela menina não tem amigos. — fez uma cara de nojo. Nossa, aquilo foi pesado. — Nunca fomos amigas, eu sou amiga da Samanta. — agora fazia total sentido. — E até converso com a Sara, mas a Sophie não consegue me descer de jeito algum. — deu de ombros. — Mas quem se importa, não é mesmo? — Naomi sorriu. — Me passa a geleia, por favor. — lhe entreguei o que pediu.
— Pelo menos assim sabemos que você não vai falar nada para Sophie. — e Naomi me olharam. — Ué, o Troy e o fizeram o maior escândalo na quinta porque eu e o nos beijamos, e você certamente percebeu isso e se tocou que era mentira sobre nós sermos namorados.
— Ah, sobre isso. — ela riu dando um tapinha no ar. — Eu já tinha visto que era mentira, mas não se preocupem, sou cega, surda e muda. — nós três rimos juntos. — E qualquer coisa ainda aumento um pouco e falo que na verdade o te pediu em casamento.
— Olha, acho que ela iria morrer de ódio se você falasse isso. Gostei, mate ela de ódio. — brinquei dando um sorriso largo.
— Hm, então vamos precisar de um anel. — entrou na minha brincadeira. — Espera, vou dar um jeito nisso. — catou algo em cima da mesa e ficou mexendo naquilo. — Pronto. — pegou minha mão e colocou uma argola branca feita com o arame de amarrar o pão em meu dedo anelar. — Estamos noivos agora. — suspendi a mão analisando meu novo anel.
— O que você acha Naomi? — mostrei para ela segurando minha risada.
— Achei maravilhoso. — pegou minha mão e o analisou também. — O que importa é o que simboliza, não é mesmo? — com aquilo nós gargalhamos, e automaticamente as pontas de meus dedos tocaram o cordão de que estava em meu pescoço. — Quero ser uma das madrinhas desse casamento.
— Pode deixar que iremos te chamar. — garanti e senti a mão se repousar em minha coxa. Olhei para ele com um sorriso singelo e seu olhar se cruzou com o meu. — Podemos nos casar na praia?
— Só se for nessa praia aqui. — alisou minha perna. — Não aceito outra.
— Justo. — encostei minha cabeça em seu ombro.
— Ai, desculpa, mas derreti aqui com vocês dois. — Naomi disse dando uma risada. — Parem de ser lindos juntos, assim eu vou querer até arranjar alguém também.
— Joe está aí para isso. — soltei e ela me olhou rapidamente. — Não? Ok. Sem Joe.
E para não precisarmos voltar para casa e lidar com a minha mãe enchendo o nosso saco, passamos o dia com a Naomi, conversando com ela, vendo filme e comendo. A cozinheira fazia tanta coisa gostosa que sentia que tinha engordado no mínimo uns vinte quilos de tanto doce que comi. Tirando o almoço espetacular, aquela coisa bem de rico mesmo, com frutos do mar e vinho. Nossa, eu comi que quase cheguei a lamber meus dedos de tão gostosa que estava àquela comida. No meio da tarde nós até chegamos a cochilar os três deitados na cama vendo um filme chato na Netflix, mas nosso sossego teve fim quando Joe apareceu e nos acordou.
— Caralho! — soltou bem alto me fazendo acordar em um pulo. — Todo mundo está procurando vocês dois a porra do dia todo! — reclamou parecendo bem irritado. — Custa levar a merda do celular quando vai sair?
— Calma, cara. — já acordou passando a mão no rosto. — Nem lembramos de pegar o celular quando saímos. — tentou nos defender.
— O vai matar os dois. — ergui minhas sobrancelhas com o que Joe falou. — A Jess está torrando a paciência dele por causa do sumiço de vocês, e ele está quase surtando.
— Maravilha. — me sentei na cama e passei a mão no cabelo de minha nuca. — Fica aqui que vou resolver as coisas por lá. — falei com .
— Claro, e você vai levar esporro sozinha. Não estou vendo muita lógica nisso. — rebateu no mesmo instante. — Nem pensar que você vai sozinha bater de frente com sua mãe e o . — já se levantava da cama passando a mão em seu cabelo tentando arrumá-los.
— É sério, . Minha mãe não precisa pegar mais birra de você por nada. — disse para ele levantando também. — Deixa que resolvo essa merda. — esfreguei meu olho com o indicador tentando espantar o sono.
— Não. — então segurou meu rosto com as duas mãos me fazendo olhar dentro de seus olhos. — Não vou deixar você sozinha, ok? Agora e nem nunca. Estou do seu lado. — a única coisa que fiz foi juntar meus lábios nos dele. — Vamos antes que a sua mãe coloque a polícia atrás de nós. — se afastou e segurou minha mão.
— Beija mesmo, pois será o último beijo de vocês depois que chegarem naquela casa. — Joe comentou e saiu andando na frente.
— Tchau, Naomi. — acenei para ela. — Foi bom passar o dia contigo. Muito obrigada por tudo.
— Que isso, não precisa agradecer. Foi ótimo passar o dia com vocês. — sorriu para nós.
— Valeu por tudo, ficamos te devendo essa. — agradeceu, então saímos do quarto. — Espera. — disse me puxando para dentro do banheiro.
— O que foi? — perguntei preocupada tentando entender o que estava acontecendo.
— Só quero fazer uma coisa que fiquei com vontade de fazer o dia todo. — respondeu juntando seus lábios nos meus logo em seguida.
Automaticamente fiquei na ponta dos pés para ganhar mais altura e passei meus braços ao redor de seu pescoço, o puxando ao meu encontro já retribuindo o beijo com intensidade. Suas mãos seguraram minha cintura com força, fazendo nossos corpos se encontrarem. A forma como ele me beijava me deixava completamente inebriada, e desejando por mais daquilo. Sentia que não conseguiria parar de beijá-lo se alguém não nos separasse, ou se ele mesmo não fizesse aquilo. Até que alguém bateu na porta, mas mesmo assim não nos afastamos, apenas ignoramos intensificando ainda mais o beijo.
— Tem como vocês saírem daí de dentro? — Joe pediu sem paciência.
— Estamos indo. — respondeu afastando sua boca da minha. — Mais cinco minutos. — nós dois rimos.
— Mais cinco minutos e a Jess abre essa porta com uma arma. Andem logo. — voltei a beijar , que agora me encostou contra a porta fazendo um barulho alto. — Visivelmente vocês não sabem o que é limite.
— Joe, larga de ser chato. Já estamos indo. — reclamou, e mordi seu lábio inferior o sugando de leve. — Ou não. — falou comigo com um sorriso no rosto.
— Ou não. — segurei sua nuca e juntei nossas bocas com urgência.
— ! — Joe chamou muito contrariado. — Dá para ser ou está difícil? — e nos separamos enquanto eu rolava os olhos.
— Você não sabe o quanto está difícil. — respondeu me fazendo rir, então passou seus lábios por cima dos meus.
— Me poupe dos detalhes e saiam daí. — rebateu, então me virei para abrir a porta, mas me prendeu contra ela, beijando meu ombro e passando as mãos na minha barriga.
— Assim fica mesmo difícil sair. — comentei virando meu rosto para o lado que o dele estava. — Muito difícil. — segurei a maçaneta e a puxei para baixo, mas segurou minha mão. — Não quero sair daqui, mas prometo que vou dar um jeito de ficar sozinha contigo mais tarde.
— Vou cobrar. — então finalmente se afastou dando um sorriso safado.
Saímos do banheiro e Joe estava encostado na parede ao lado da porta com os braços cruzados. Ele olhou para mim e depois para que estava logo atrás, revirou os olhos e bufou saindo andando em direção a porta da frente. Segurei a mão de e fomos andando atrás de nosso amigo. Quando colocamos o pé para fora da casa, eu já ouvi minha mãe berrando e a vi passar pela calçada e vir em nossa direção.
— Sua irresponsável! — segurou meu antebraço com força e começou a me puxar. — Aonde você estava o dia todo com esse garoto? — ela me arrastava em direção à casa de tia Anne. — Está achando que pode sair desse jeito, como bem entender e falar o que quiser?!
— Hey, para com isso! Não tenho mais dez anos! — puxei meu braço de volta, ela estava realmente me machucando. — Primeiro de tudo, não quer dizer que sou irresponsável apenas porque sai sem celular, até onde eu saiba não tinha compromisso contigo e nem com ninguém! — comecei a falar alto. Se ela queria show, ela teria um show. — Segundo, estamos de férias aqui, e viemos para curtir, não para ficar trancados dentro de casa olhando para a sua cara de que nada está do seu agrado. — minha mãe me olhava com muita raiva. — Terceiro! Esse garoto tem nome e sobrenome, e se chama . Acho bom você começar a tratar ele direito, pois não sou obrigada a te ver tratando meus amigos como bem entende apenas por achar que não são bons o suficiente para andar comigo ou com o . — apontei para que estava com as sobrancelhas erguidas surpreso com meu ataque. — Estamos cansados de você julgar nossos amigos! Um tem muito dinheiro e é filhinho de papai, o outro tem de menos e é um pobre. Que inferno! Se decida o que é realmente bom, pois parece que nada nunca está bom! — levantei meus braços e bati com minhas mãos em minhas coxas com tanta força que chegou a arder. — E quarto, se quer tanto saber aonde passamos o dia. Nós estávamos aqui à porra do tempo todo, com a Naomi. — então levei um tapa na boca.
— Não fala palavrão! — berrou comigo, e eu já senti o gosto de sangue na boca. — Não foi assim que te eduquei! Você está andando muito com esses garotos mal educados, está ficando que nem eles! — e voltou a segurar, mas agora foi meu braço, o apertando com força.
— Jess, solte ela. — mandou usando um tom de voz bem sério. Então paramos e eu o olhei desesperada, implorando com o olhar para que ficasse calado. — Ela é sua filha, e não uma qualquer para estar tratando-a assim só porque estava comigo o dia inteiro. Não estávamos fazendo nada de errado, ficamos vendo filme com a Naomi. — vi a morena aparecer na porta de casa assustada com aquele escândalo.
— E quem você acha que é para me dizer o que devo ou não fazer com a minha filha? — fechei meus olhos vendo que aquilo só faria minha mãe odiar ainda mais . — Você nunca mostrou a cara, ficou se escondendo atrás de uma tela por três anos, e agora aparece achando que pode falar assim comigo? — abri meus olhos e olhei para que estava extremamente sério. — No caso, se você não for um maníaco, no mínimo não é ninguém relevante que eu deva me importar com a opinião.
— E como você chegou nessa brilhante conclusão? — tirou sarro e riu um pouco, debochando. Nossa, minha mãe iria enfiar a mão na cara dele. — Só porque não gosto muito de tirar fotos e ficar mostrando quem sou por aí, expondo minha vida por todos os cantos, isso não quer dizer que seja um psicopata, ou menos importante que você, ou sei lá que bosta você acha de mim, quer dizer apenas que gosto de ser discreto. — se aproximou de nós. — Mas na minha frente você não vai tratar a desse jeito. — segurou o pulso de minha mãe. — Então a solte agora, ou vamos ter realmente uma briga de verdade aqui. — ele a encarou com suas sobrancelhas unidas, e finalmente minha mãe me soltou. Pude sentir a circulação de meu braço voltar. — Muito obrigado. — me puxou para perto dele. — E eu agradeceria muito mais se parasse de julgar as pessoas sem conhecê-las.
— Chega, , ela já te odeia o suficiente agora. — sussurrei para ele que passou a mão pela minha cintura como se estivesse me protegendo.
— Sujeitinho petulante! — disse e se virou voltando para casa quase furando o concreto.
Me virei e abracei , enfiando o rosto em seu peito e começando a chorar de nervoso. Ele me envolveu com meus braços, me prendendo contra seu corpo afagando meu cabelo e dando um beijo no topo de minha cabeça. Odiava ficar brigando assim com minha mãe, na verdade detestava discutir com os outros, apesar de fazer isso à maioria das vezes, só que eu não podia deixar que ela falasse daquele jeito, ainda mais se referir a de tal maneira. Eu estava cansada de ter que ouvi-la sempre falar merda dos meninos, era a mesma coisa com , , Charlie, Derik, Troy, Stephen e Miguel. Acho que as únicas pessoas que ela realmente gostava era o A.J., Theo, Joe, Bradley e , isso porque não conhecia o Eric, ou também não gostaria dele apenas pelo fato dele ser gay, e achar que por esse motivo eu e nos tornaríamos também. No fim, quase ninguém era bom o suficiente para ela, e eu simplesmente já estava farta daquilo, em ter sempre que tolerar o olhar recriminador dela ou sua cara feita para os meus amigos. E embora não gostasse de falar aquilo, ele reclamava sempre a mesma coisa comigo, sobre ficar irritado como nossa mãe tratava os outros, principalmente as pessoas que gostamos. Já ele, ou contrário de mim, se mostrava a disposição em ouvir as merdas calado, e obedecer absolutamente tudo o que lhe era mandado, mas eu simplesmente não conseguia ficar na minha, e quando não começava a discutir ou a ser irônica, apenas pegava minhas coisas e saia de perto.
Senti alguém me abraçar também, e virei o rosto vendo Joe ali, e logo depois outra pessoa, mas pelo perfume senti que era Naomi. Ficamos os quatro ali por um tempo até que me afastei, secando meu rosto molhado e passando as mãos na regata branca de como se aquilo fosse secá-la. Ele segurou meu rosto e o levantou me fazendo encará-lo, mas só consegui fechar meus olhos e sentir mais um par de lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. Seus polegares deslizaram sobre meu rosto e seus lábios tocaram minha testa dando um beijo suave ali.
— Não fica assim. — pediu, e eu apenas assenti com a cabeça. — Estou contigo. — abri meus olhos e o encarei, forçando um pequeno sorriso. — Vamos entrar, os vizinhos não param de nos olhar. — olhei discretamente ao redor e percebi que algumas casas tinham suas portas abertas com seus respectivos donos na frente. — Odeio muita atenção em cima de mim. — apesar de ser verdade aquilo me fez rir pelo jeito que ele falou.
— Ok. — foi tudo o que consegui dizer.
Joe e Naomi nos soltaram, e enfim fomos para a casa de tia Anne. Quando entramos estava o maior silêncio, estava sentado no sofá da sala mexendo em seu celular e quando me viu entrar me encarou com raiva. Apenas abaixei a cabeça e segui para o quarto que estava dormindo, Joe e vieram atrás, e quando abri a porta me deparei com meus pais, tia Anne, e , enquanto minha mãe fazia um discurso sobre educação, aquela que eu e nem tínhamos, mas parou quando nos viu de pé ali na porta. Já senti meu rosto se esquentar de raiva, e eu estava pronta para começar mais uma briga, até que papai sorriu e se levantou.
— Estava pensando que poderíamos ir comer fora, o que acham? — ele ignorou completamente minha mãe e veio em nossa direção. — Pelo amor de Deus, digam que é uma ótima ideia, não aguento mais Jess reclamando o dia inteiro no meu ouvido. — sussurrou para nós que rimos daquilo.
— Podemos ir na Toppers. Lá é grande, podemos montar a nossa própria pizza e a massa é ótima. — Naomi sugeriu, e eu agradeci por aquilo, pois não fazia ideia de onde poderíamos comer. — E é perto daqui, uns cinco minutinhos de carro.
— Perfeito. — disse meu pai e depois apontou para Naomi. — Gostei dessa menina.
— Muito obrigada. — ela fez reverência e nós rimos.
— Avise aos meninos, e você leve suas amigas. Quanto mais gente melhor, sua mãe reclama menos. — a última parte ele cochichou para mim.
— Acho que ultimamente ela não tem ligado muito para plateia. — comentei e meu pai riu. — Sério, ela deu um belo show lá fora, você perdeu.
— Não tem problema, estava tendo reprise aqui dentro. — deu um soquinho em meu ombro. — Agora vá avisar aos outros, nós saímos daqui há meia hora.
— Está bem. — saímos do quarto e fomos para a sala. — , o pai disse que vamos sair para comer, fala com os meninos e se arrumem, vamos sair em meia hora. — passei o recado.
— Aonde você estava a merda do dia todo? — perguntou meu irmão bem irritado jogando seu celular de lado.
— Não começa você também, . — o cortou usando um tom de voz tão irritado quanto o dele. — O dia estava ótimo até dez minutos atrás, você não precisa estragá-lo ainda mais.
— Só se foi para os dois, porque o nosso foi um inferno por causa de vocês. — acusou se levantando do sofá.
— Nossa gente, era só ir lá em casa perguntar se sabíamos dos dois, qualquer uma de nós teria dito que eles estavam comigo, até mesmo se o Joe tivesse respondido minha mensagem eu teria falado isso à ele. — Naomi rebateu jogando uma indireta em nosso amigo que a olhou no mesmo instante. — Tanto estresse por pouca coisa, vocês deveriam tomar um calmante. — falou e saiu andando. — Nos vemos daqui a pouco. — bateu a porta da frente assim que passou por ela.
— Sua pergunta está respondida agora? — questionei e me olhou respirando fundo. — Ótimo, agora vai falar com os outros. — fez um gesto para que ele saísse logo dali e parasse de nos olhar daquele jeito.
passou pelo e fez questão de esbarrar no ombro dele que não fez nada apenas ergueu as sobrancelhas com tamanha idiotice. Soltei o ar e joguei minha cabeça para trás me perguntando quantos dias meus pais ficariam ali, pois achava que já tinha sido o suficiente para um dia só, e olha que nem fiquei muito tempo perto de minha mãe. Sem dúvidas as férias tinham começado a ficar comprometidas, e sentia que iríamos todos surtar em pouco tempo.
Suspirei e senti a mão de segurar a minha, então olhei para ver o que era e percebi que ele estava olhando meu pulso, desci meu olhar e vi a marca dos dedos de minha mãe ali. Fechei seus olhos já sabendo que as coisas iriam começar a ficar piores, mas aquela não era a primeira vez que eu tinha marcas daquele tipo. As pontas do dedo de tocaram meu ombro e eu apenas abaixei a cabeça supondo que o local também deveria estar marcado. Ele me puxou em direção as escadas, então o acompanhei indo para o segundo andar e entrando no banheiro. Fui colocada sentada em cima da pia sem entender o que estava fazendo, até que levantou meu lábio superior e aquilo doeu, me fazendo recuar.
— Me deixe ver. — pediu, e fiz uma careta. — Acho que cortou na hora que sua mãe bateu na sua boca àquela hora.
— Cortou. — confirmei sua dúvida, pois ainda sentia gosto de sangue na boca. — . — segurei suas mãos, mas ele não queria ficar parado, queria ver como estava meu machucado.
— Me deixe ver. — me olhou sério, então deixei. — Nossa, está bem feio isso. — fez uma careta. — Como vou te beijar agora? — uniu as sobrancelhas parecendo bem irritado com aquilo.
— Assim. — o puxei pela camisa fazendo com que ficasse entre minhas pernas. Então juntei nossos lábios com cuidado, iniciando um beijo calmo. — Quero que você relaxe. — falei assim que nos afastamos. — Já estou acostumada com isso. — sorri sem vontade.
— Relaxar? — ergueu as sobrancelhas. — Ela te machucou, não tem como ficar relaxado com isso. — segurei seu rosto para que se acalmasse.
— Relaxa. — falei baixo e bem devagar na esperança de que aquilo fosse realmente fazer com que ficasse calmo. — Não vai adiantar nada você ficar nervoso, ela não vai mudar por isso. — encostei minha testa na dele. — Só fica comigo. — pedi e ele me beijou.
— Isso é sério? — perguntou, e nos afastamos vendo ele parado na porta do banheiro. — Se a mãe sabe que você está no banheiro...
— Foda-se a mãe. — falei um pouco nervosa. — Quer usar o banheiro?
— Quero. — respondeu, então desci da pia. — Ela te bateu de novo? — quis saber, e percebi que meu irmão estava me reparando.
— Nada de novo sob o sol. — disse saindo do banheiro deixando eles dois para trás. — Vou me arrumar. — avisei e desci.
Entrei no quarto e ignorei todo mundo, indo direto para o banheiro. Tranquei a porta, prendi meu cabelo e me despi, tomei um banho rápido. Quando saí do box, já me sequei rapidamente, me maquiando logo em seguida. Refiz o curativo de minha mão, enrolando uma atadura dela, o corte ainda estava bem grandinho e não tinha cicatrizado ainda. Acho que no final das contas aquilo tinha sido mais fundo do que realmente parecia.
Sai do banheiro quando terminei e vi tia Anne, e estavam se arrumando. Não falei nada e fui até minha mala pegando um vestido preto que era coladinho no corpo com mangas compridas e bem aberto na parte de cima que deixava meus ombros expostos e meu colo bem amostra, mas ele era um pouco mais comprido, e isso era bom, pois esconderia o roxo enorme que ainda tinha na minha coxa. O vesti, colocando um sutiã tomara que caia para me dar um pouco mais de peito, e puxei o cordão de deixando que caísse sobre a roupa. Calcei meu Vans sk8-hi, e por fim passei meu perfume. Amarrei meu cabelo em um coque bem alto e bagunçado deixando alguns fios soltos. Já que iríamos na pizzaria tomei minha enzima para não passar mal.
— Aonde você e o estavam? — perguntou com cautela, então a olhei dando um pequeno sorriso demonstrando que estava tudo bem falar comigo.
— Na casa das meninas, ficamos lá o dia todo com a Naomi, comendo e vendo filme. — expliquei e me sentei na cama. — Minha mãe irritou muito vocês?
— Sua mãe estava deixando o louco. — disse se sentando na cama e calçando seu sapato. — Podia ter pelo menos avisado que estava aqui do lado.
— Eu não sabia que íamos para lá, a pretensão era sair para comer e voltar logo depois. — torci os lábios sabendo que minha amiga tinha razão.
— A Jess pode ser minha irmã, mas tem horas que ela é insuportável. — tia Anne começou a falar enquanto passava seu batom. — Não achei nada demais vocês ficarem fora. Super normal.
— É, geralmente só avisar onde estamos já é o suficiente, e ela não costuma encher o saco por isso. — me encostei na parede, vendo minha tia limpar o canto da boca que tinha borrado. — Não que esteja errada em ficar preocupada, só que achei que não tinha necessidade de fazer aquele escândalo todo e ainda mais infernizar vocês por conta disso.
— Infernizar? — minha tia me olhou de um jeito sério. — Não queria, se ela tivesse infernizado teria sido menos pior. Ela criou o perfeito caos nessa casa. Parecia que o tinha te sequestrado e vendido para algum país do norte da Europa. — acabei rindo do que ela disse. — Ainda mais depois que você disse que ele era um aliciador de mulheres, acho que ela realmente acreditou nisso.
— Coitado do , não alicia nem a cachorra da vizinha. — soltou e eu senti um duplo sentido naquela frase, mas aquilo fez todas nós rimos.
— Enfim, desculpe por isso. Da próxima vez eu aviso aonde estou... — parei para pensar um pouco. — Inclusive se eu sumir novamente, inventem uma desculpa qualquer para minha mãe.
— Ah, não. O que você vai fazer?! — já perguntou em um tom de acusação. — Se você desaparecer de novo eu te busco pelo cabelo. — levei minha mão até meu peito e fiz cara de surpresa, rindo depois.
— Nada demais. —torci meus lábios. — Talvez eu e o daremos um perdido na saída da pizzaria.
— Meu Deus, vocês vão transar? — berrou, e eu arregalei meus olhos.
— Não! Que mané transar. Não sou você. — joguei na cara dela dando uma risadinha. — Eu quero conversar com ele, e não consegui fazer isso hoje porque estávamos com a Naomi. Só isso.
— Hm, conversar. Sei como vai terminar a conversa. — minha prima me lançou um olhar maldoso. — Usa camisinha. — rolei os olhos e dei as costas saindo do quarto e indo para a sala.
— Não, não! — ergui minhas sobrancelhas ao ouvir minha mãe falar. — Você não vai sair com esse tênis.
— Qual é o problema com o tênis? — olhei para ele. Até que não estava tão sujo.
— É um tênis! — a encarei ainda sem entender o que tinha demais naquilo. — Esse vestido é lindo para usar com essa porcaria que está no seu pé... De onde saiu isso? — apontou para o cordão.
— Eu dei de presente de aniversário para ela. — respondeu por mim já descendo as escadas.
Quando vi como ele estava vestido cheguei a suspirar. Como sempre estava lindo, cheio de anéis, e seu relógio com pulseira de couro. Seu cabelo estava molhado e jogado para o lado, e ele vestia uma calça preta, rasgada nos joelhos, uma blusa azul clara de botões, com as mangas dobradas até os cotovelos, e parecia que ela tinha pequenas estampas de flor de lis em um tom de azul um pouco mais escuro. Em seus pés tinha um par de botas de couro preto e com bico fino. Vi que ele tinha colocado um colar com uma pena de prata pela abertura de sua camisa que até mesmo deixava suas tatuagens do peito a mostra, algo que minha mãe certamente iria reprovar. Ela não gostava de tatuagens e vivia recriminando as minhas, e , bem, ele era um copo cheio, com seu braço lotado delas.
— Gostou? — ele quis saber, e minha mãe o olhou o reparando de cima embaixo no mínimo umas três vezes.
— É de prata? — minha mãe se aproximou de mim e pegou o pingente.
— Claro que é de prata. — afirmou dando um sorriso de lado. — Acha mesmo que eu daria para ela qualquer porcaria? — ri um pouco e minha mãe soltou o pingente como se estivesse com nojo de ter tocado.
— Mas acho que você errou o presente, não é nenhum pouco religiosa. — o olhou com um sorrisinho no rosto e foi até onde estava. — Nem me lembro quando foi a última vez que ela foi a uma igreja.
— Não importa se é religiosa ou não, o que importa é que ela gostou. — rebateu, e minha mãe riu.
— Acha mesmo que ela gostou? — fez uma cara de desdém. — só está usando aquilo para não te magoar. — deu dois tapinhas leves no ombro de , e eu achei aquilo bem afrontoso, ela certamente queria ver até aonde ele iria. — Talvez você devesse conhecer melhor a minha filha antes de falar essas coisas, ela tem o péssimo habito de dizer que gostou das coisas e até mesmo usá-las na frente da pessoa apenas para não deixá-las tristes. — falou enquanto fechava os botões da camisa dele. — Está melhor assim, agora parece gente decente. — ajeitou sua camisa.
— Gosto de parecer indigente mesmo. — ele apenas foi passando os dedos pelos botões que foram fechados os abrindo novamente. — A propósito. — se esquivou de minha mãe e veio andando em minha direção. — Você está magnífica. — disse pegando minha mão direita e beijando as costas dela.
— Muito obrigada. — agradeci abaixando e dobrando minha perna. — Você está deslumbrante. — sorri para ele.
— Tudo isso para você. — falou mais baixo apenas para que eu escutasse dando um lindo sorriso, que me fez sorrir também.
— Olha que daqui a pouco eu acredito. — brinquei e ele riu.
— Nossa, Bradley! — minha mãe disse empolgada nos fazendo olhar para ver do que ela estava falando. — Você está lindo. — é, ele estava bem vestido, mas não chegava nem aos pés do . — Não é mesmo, ? — pegou Brad pela mão e o virou em minha direção.
— Bradley sempre está bem vestido. — respondi dando um sorriso sem mostrar os dentes. — Gosto do estilo dele, das roupas que usa. — aquilo era verdade, e eu não deixaria de elogiar meu amigo por causa da gracinha que minha mãe estava fazendo.
— Muito obrigado, você também está linda. — Bradley sorriu para mim. — E você também Jess. — se virou para minha mãe.
— Então, vamos esperar lá fora. Vou no carro do já que provavelmente vai na pick-up, e a no Honda dela. — apontei com meus polegares para a porta.
— E por que você não vai com o Bradley? Ele está aqui por sua causa. — minha mãe questionou e eu passei minha língua por dentro de minha bochecha achando aquilo extremamente irritante. — Eu sei que você gosta de conversar com esse rapaz, mas acho injusto deixar seu melhor amigo de lado. — senti o sangue me subir quando ela chamou o de rapaz, era impressionante como minha mãe gostava de me deixar nervosa simplesmente de graça.
— Não se preocupe com isso, Jess. — Brad sorriu para minha mãe e depois nos olhou. — Já combinei com as meninas de dar carona a elas. — respirei aliviada por ele ter feito algo para me ajudar.
— Que meninas? — minha mãe olhou para ele muito interessada em saber quem eram.
— As vizinhas, elas vão conosco. — deu de ombros, e eu sorri.
— Já que isso está resolvido, vamos esperar o pessoal lá fora. — me virei e sai andando.
— Você vai mesmo com esse tênis horroroso? — apenas ignorei e continuei a ir para o lado d fora com em meu encalço.
Eu realmente estava tentando entender o motivo dela estar tratando o daquele jeito. Tudo bem que ele falou umas verdades para minha mãe, mas ela já não gostava dele antes disso. Sei que minha mãe queria que eu ficasse com Bradley, só que mesmo assim nada justifica, e isso me deixava profundamente irritada. Parecia que sabia que eu estava com e fazia questão de tentar me fazer ficar infeliz só porque ele me fazia bem. Sei lá, eu não queria pensar naquilo.
— Ela é sempre assim? — perguntou quando saímos de casa.
— Não, geralmente é pior. — brinquei e me virei o puxando pela camisa, me encostando na lateral de seu Corolla. — Ainda não te agradeci por estar sendo tão maravilhoso hoje. — segurou minha cintura e juntou seu corpo no meu. — Na verdade você é sempre maravilhoso, mas hoje em especial está sendo mais. — sorri de leve. — Obrigada por tudo que está fazendo por mim. — passei meu nariz na lateral do seu fechando meus olhos.
— Não tem o que agradecer. — seu nariz deslizou pela lateral do meu e seus lábios quase me beijaram. — Eu só quero te ver bem, e vou fazer qualquer coisa para isso.
— Vou cobrar. — abri meus olhos e o olhei, seus olhos estavam me encarando com intensidade. — Ai, para de me olhar assim. — ri um pouco e virei seu rosto.
— Olhar como? — ele já estava rindo comigo e voltou a me olhar dentro dos olhos do mesmo jeito que antes.
— Assim! — joguei minha cabeça para trás escorrendo um pouco pela lateral do carro e encostando minha cabeça no teto dele. — Fico mole assim. — brinquei e voltei a ficar de pé normalmente.
— Acho que o carro está um pouco sujo para você estar se esfregando nele desse jeito com esse vestido preto. — ai que me toquei o que estava realmente fazendo. — E vou admitir que está me deixando louco com esse vestido. — fingi ter ignorado o que ele disse e me virei de costas.
— Aí, vê se sujou. — empinei minha bunda e olhei por cima do meu ombro. me olhou quase me engolindo com os olhos e deu um sorriso safado de lado.
— Você gosta de me provocar, não é? — comentou passando a mão nas minhas costas a limpando, até chegar em minha bunda dando uns tapinhas nela para tirar a sujeira. — Caralho, . — disse puxando meu vestido para baixo e cobrindo novamente um pedaço de minha coxa, já que o tecido tinha subido quando deslizei pela lateral do carro. — Você vai me fazer perder a cabeça desse jeito. — sussurrou em meu ouvido me deixando arrepiada, colocou suas mãos sobre a minha que estavam no teto do Corolla e juntou seu corpo no meu.
— Gente, que menino tarado. — soltei uma risadinha e mordiscou meu pescoço. — Eu nem fiz nada. — falei em um tom malicioso e passei minha bunda dele, dando um sorriso de lado.
— Não está fazendo nada, né? — passou seu nariz em minha orelha e depois os dentes por ela. — Sonsa. — rimos juntos. — Já disse que acho seu pescoço lindo?
— Não. — olhei por cima de meu ombro.
— Eu acho ele muito bonito, mas seria uma pena se ficasse marcado, não é? — e então colocou seus lábios contra a pele de meu pescoço, mas me fazendo pular e afastá-lo, enquanto riamos.
— Idiota. — me virei e o empurrei pelo peito, mas ele segurou meus pulsos e me puxou para perto, me dando um selinho. — Vai borrar meu batom! — reclamei rindo, e ele me soltou, então comecei a limpar seus lábios que tinham ficado manchados de vermelho.
— Me provoca mais um pouco que você vai ficar sem batom e mais outras coisas. — disse segurando minha cintura.
— É? Mais o que você vai tirar? — provoquei terminando de limpar a boca dele.
— Seu... — antes de conseguir terminar a frase, Sophie já apareceu.
— Oi! — ela sorriu, então a olhei vendo que estava com uma saia jeans tão curta que se abaixasse daria facilmente para ver a bunda dela.
— Oi. — uni as sobrancelhas. Logo as outras meninas foram aparecendo. — Naomi e Ella vão comigo, com o e com o Joe. — informei antes que a Sophie entrasse no Corolla e não saísse de lá por nada.
— Ué, vocês já dividiram quem vai com quem? — Sophie me olhou de nariz torcido.
— Não, só quem vai no carro comigo e com o . — rebati e coloquei a mão no bolso da frente da calça dele puxando a chave de seu carro. — Você pode ir com quem quiser, tem mais cinco carros a sua disposição. — dei uma piscadinha e destravei o Corolla. — Licença. — abri a porta do carro e entrei nele.
entrou no carro deixando Sophie para trás. Já peguei meu celular que tinha enfiado no decote do vestido, preso no sutiã e mandei uma mensagem para Joe, avisando que ele iria conosco ou a loira oxigenada iria acabar se enfiando no carro, e ficaria enchendo a nossa paciência, ou menor, do . Coloquei meu celular no console e abaixei o quebra-sol, olhando no espelhinho se meu batom não tinha borrado. Ri quando vi chegando perto de mim e passando seu nariz em minha orelha, me provocando.
— Para que está ajeitando o batom se vou tirar ele? — perguntou já beijando meu pescoço me causando um arrepio.
— Porque preciso chegar inteira na pizzaria, ou minha mãe vai dar mais escândalo. — me virei de lado no banco e coloquei meu pé direito em cima de sua perna, deixando as minhas abertas. — É uma pena que você não pode fazer nada. — comentei passando o indicador em minha coxa e levantando um pouco a barra de meu vestido, mas do que já estava.
Mordi o canto de meu lábio inferior enquanto olhava para fixamente, e aos poucos fui soltando, os deixando entreaberto. Seus olhos estavam encarando meus lábios, depois foram descendo pelo meu corpo até parar em minhas pernas, fui deslizando minha mão por minha coxa e puxei o meio da barra do meu vestido para baixo, escondendo minha calcinha que embora fosse preta e não desse para ver por ali dentro estar com uma meia luz que vinha do lado de fora, ainda assim estava à mostra. Sorri de lado e fiz um biquinho, negando com a cabeça, indicando que ele não deveria nem ao menos se mexer, e isso o fez rir baixinho, balançando sua cabeça fazendo seus cabelos caírem sobre seu rosto.
— Caralho, . — Murmurou, e eu continuei do jeito que estava. — Você está muito ferrada. Só isso que tenho para te dizer. — Disse e se ajeitou no banco, arrumando sua calça e depois tirando meu pé de sua coxa, limpando o jeans preto que tinha sujado. — Você vai pagar muito caro por isso.
— Ainda bem, porque não gosta de coisas baratas. — Voltei a me sentar normal no banco do carona, puxando meu vestido para baixo, o arrumando em meu corpo.
Naomi, Ella e Joe entraram no carro, fazendo nosso assunto terminar. O pessoal foi saindo de casa, então tivemos que esperar para poder sair, já que o Silverado dos meus pais em cima da calçada bloqueando a passagem de todo mundo. Nem ao menos podia reclamar do tamanho do carro deles, pois o Ford F-150 meu e de era tão grande quanto. Talvez fosse de família gostas e pick-up, e das monstruosas ainda.
Olhei para e vi que ele estava bem sério, olhando para o lado de fora, com a mão na boca segurando seu lábio inferior. Eu sabia perfeitamente o que estava fazendo. Provocar e ver louco era meu objetivo, e parecia que estava conseguindo fazer isso perfeitamente com tão pouco. Gostava de fazer isso por saber o que viria depois seria melhor do que o esperado, pois quando ficamos com muita vontade de fazer ou comer algo, quando fazemos, era extremamente gostoso. Sei disso por experiência própria. A vontade elevava os sentidos e tudo virava um grande “boom” de sensações, bem, pelo menos era assim para mim.
Meus pais saíram de casa com tia Anne, que trancou a porta. Finalmente tiraram o carro de trás do nosso. O pessoal foi entrando nos outros carros, enquanto já tirava o dele da vaga. Como Naomi sabia aonde era a pizzaria, fomos na frente e os outros vieram nos seguindo. Era bem perto, como a menina tinha falado, em cinco minutos chegamos lá. pegou outro caminho para buscar Eric, e eu achava engraçado que agora, depois de ter descoberto que o loiro não tinha nada com e que não tinha ficado comigo no dia da festa, ele o tratava super bem, como se já fossem amigos há anos.
Desci do carro com meu celular na mão e puxando meu vestido para baixo, e estava começando a me lembrar o motivo de não usá-lo muito, aquela porcaria ficava subindo o tempo todo por ser colado no corpo. Entreguei meu iPhone para que guardasse no bolso de sua calça, eu detestava ficar carregando as coisas. Caminhamos os cinco juntos até a porta da pizzaria e esperamos pelo resto do pessoal, inclusive que estava demorando um pouco, e com isso minha mãe já começava a reclamar. Para sair de perto e não ficar ouvindo as bobagens que dizia, entrei no lugar e pedi para a moça arrumar uma mesa com vinte e sete lugares.
Por fim meu irmão chegou, e fomos nos sentar. Deixamos nossas coisas na mesa e fomos montar nossas pizzas. Acabei dividindo uma de pepperoni com . Entregamos a pizza no balcão, pagamos e pegamos o alarme, que apitaria quando ela estivesse pronta. Voltamos e nos sentamos no nosso lugar, e nem ali no meio de todo mundo ele deu trégua, e passou a mão em minha coxa disfarçadamente. Dei um tapinha nela, para que a tirasse ali, mas me apertou, e eu não pude fazer nada, a não ser olhá-la com as sobrancelhas erguidas. A sorte que meus pais estavam sentados na outra ponta, bem longe de nós para ver qualquer coisa.
— Isso não vale. — Reclamei segurando uma risada.
— Agora existem regras? — Rebateu me fazendo ficar boquiaberta.
— Regras? É um jogo agora? — Questionei.
Nós sabíamos a resposta para aquilo, e sim, era um jogo, onde o primeiro a ceder às provocações iria perder. E ali estava o grande problema, nós éramos jogadores do mesmo nível e perder não era uma opção, só que a carne era fraca, então não tinha menor ideia de como aquilo poderia terminar, mas sabia que os ataques ficaram cada vez mais arriscados e intensos, e honestamente, eu amava aquilo.
— E não é? — ergueu uma sobrancelha.
— raposavermelha527 acabou de entrar no jogo. — Sorri de lado, e ele riu. — Se prepare para perder duendeverde669.
— Eu nunca perco. — Então soltei uma gargalhada alta. — É mentira?
— Claro que é mentira! Quem te matou da última vez que jogamos? — Joguei em sua cara, lembrando bem que eu tinha quase descarregado toda a minha AK nele.
— Aquilo não valeu, foi roubado. — Riu também.
— Roubado? Admita, Stytes, você não consegue ganhar de mim nem em um joguinho de tiro. — Falei me aproximando dele em um tom baixo de voz. — E admita que vai perder esse jogo também. — Coloquei minha mão em sua coxa e passei minhas unhas compridas por cima de seu jeans, e ele segurou minha mão na mesma hora, me causando uma risada.
— Se eu ficar duro aqui no meio da pizzaria quero ver o que você vai fazer. — Resmungou com seu rosto quase colado no meu.
— Eu vou rir, oras. O que você acha que eu iria fazer? — Me afastei dele e peguei meu celular que ele tinha colocado sobre a mesa. — E claro, declarar que ganhei.
— Ah, então quer dizer que se eu ficar com uma ereção que você vai ganhar? — estava muito indignado.
— Exatamente. — Respondi sem tirar os olhos da tela de meu celular.
— E como eu ganho isso? Não dá para saber quando você fica excitada. — Arrancou o aparelho da minha mão. — Estou vendo uma desigualdade aqui. — Colocou seus cotovelos sobre a mesa, fechando suas mãos com meu iPhone no meio delas e apoiando seu queixo nelas.
— Dá sim. — Tentei pegar meu celular, mas ele não deixou.
— Sobre o que vocês estão falando? — perguntou sentando na nossa frente junto com .
— disse que não dá para saber quando fico excitada. — Respondi com simplicidade e riu ato.
— Claro que dá, você vai ficar molhada. — Minha prima respondeu e a encarou em uma pergunta muda de como ele iria descobrir quando eu estava ou não daquele jeito. — Ué, é só enfiar a mão na calcinha dela, simples. — E naquele momento eu tive que rir.
— Nossa, mas é óbvio que a vai me deixar enfiar a mão na calcinha dela sem enfiar a mão dela no meio da minha cara. — falou fazendo uma cara muito engraçada. — Gostei muito do seu conselho, depois você pode me pagar um tratamento dentário.
— Disponha. — sorriu para ele enquanto riamos. — Olha, uma sugestão, você pode fazer que nem a , usar uma dentadura e com isso não terá mais problemas em perder os dentes. — Uni as sobrancelhas tentando entender do que ela estava falando. Que dentadura? Eu não usava dentadura, o máximo que tive foi um dente quebrado, mas ele já estava colado no lugar como se nunca tivesse acontecido nada. — Ué, tanto tapa na boca que essa menina leva, daqui a pouco vai está que nem o Dustin do Stranger Things. — Embora ela estivesse falando sério, eu dei uma risada daquilo achando engraçado, me lembrando do menino gordinho e fofinho falando. — Acho que vou te dar um Corega de presente de aniversário atrasado para você colocar a perereca na sua boca para ela não cair com o próximo tapa na boca que a tia Jess te der. — ria tanto que estava quase caindo da cadeira, e eu não estava muito atrás, mas estava sério. — O que foi, ? Why so serious? — Imitou o coringa falando.
— Só não vejo graça na apanhando. — Explicou cruzando os braços, e isso nos fez parar de rir. — A boca dela está toca cortada por causa dessa babaquice. Até parece que um tapa na boca vai fazer com que ela deixe de falar as coisas, isso não resolve nem para criança, quem dirá para uma mulher de 25 anos. — Nossa, ele estava realmente incomodado com aquilo.
— Tia Jess te bateu de novo? — e me encaram bem sérios. — Eu falei de brincadeira, não pensei que ainda fazia isso. — Abaixei levemente a cabeça um pouco sem jeito por causa daquilo. — Ela só te deu um tapa na boca? — Minha prima segurou minha mão que estava sobre a mesa. — Você sabe que pode me contar as coisas.
— A está com o braço roxo também. — dedurou bem nervoso.
— Está de sacanagem, né? — começou a ficar irritado. — Essa mulher tem que parar com essa merda! — Disse um pouco alto, e tampou a boca dele. — O que é? Não vou ficar quieto. Ela acha que pode fazer o que quiser só por que é mãe? Já estou cansado disso!
— , não faz escândalo aqui dentro. — Minha prima pediu. — Só vai fazer as cosias ficarem piores. — Mas meu amigo apenas se remexeu na cadeira contrariado.
— Fico puto com essa merda. — bufou e me olhou. — Que nem aquela vez que você fez a tatuagem no braço. Nossa, eu queria matar aquela mulher, mas você não deixou! — Passou as mãos nos cabelos se lembrando do episódio, e me lembro bem que se não fosse pelo , sabe-se lá o que teria acontecido de verdade.
— O que ela fez? — quis saber na mesma hora.
— Nada, deixa isso para lá. — Interrompi, mas sabia que não iria ficar de boca fechada.
— O que ela não fez. — Já começou a falar, e eu apenas cobri meu rosto com a mão, com vergonha daquilo. — Cara, eu cheguei na casa deles, e a e a Jess estavam aos berros no banheiro. Eu fui correndo para ver o que estava acontecendo, e as duas estavam embaixo do chuveiro de roupa e tudo. A Jess batia na com um cinto. Essa menina já estava toda machucada, com nariz sangrando, com a cara cortada, teve que levar ponto no supercílio e tudo. A louca até bateu com a cabeça dela contra a parede do box... — Não estava mais aguentando lembrar daquilo, então o interrompi.
— Chega de lembrar isso. — Pedi, e agora me olhava, certamente reconhecendo a cicatriz que eu tinha certinha logo embaixo da sobrancelha.
— Você disse que tinha se machucado quando perguntei como conseguido a cicatriz. — Falou muito sério, e comecei a achar que aquilo daria uma briga entre nós.
— Eu machuquei, oras. Quando ela me jogou para dentro do box molhado eu escorreguei e bati com o supercílio no registro. — Expliquei o que realmente tinha acontecido, e engoli em seco. — Não foi nada demais. — riu sem vontade. — E também não gosto de falar dessas coisas, deixa isso quieto. Já passou de qualquer forma.
— O demais seria a sua morte por espancamento, né. — Meu amigo rebateu. — Mulher maluca, precisa de tratamento.
— Agora faz sentido a e o terem ficado irritados com você por ter batido no Daniel. — finalmente encaixou as peças, e isso me fez abaixar a cabeça. — Eles não querem que você seja que nem ela.
— Gente, vamos mudar de assunto. — Pedi e levantei a mão, chamando a garçonete. — Vão querer beber o que? — Forcei meu melhor sorriso.
E o clima ficou super pesado entre nós quarto. Eu queria apenas desaparecer e só voltar quando minha mãe fosse embora, já que parecia que seria a única coisa que faria tudo ficar normal novamente. devolveu meu celular, então fiquei mexendo nele, vendo fotos no Intragram tentando distrair a minha cabeça, até que entrei no meu perfil e comecei a ver as minhas fotos, até que cheguei nas da época que minha mãe havia me batido por causa da tatuagem, e eu simplesmente soltei meu iPhone, o fazendo com que batesse sobre a mesa de madeira. Levantei sem falar nada e desci as escadas. Fui para o lado de fora, olhando para os lados procurando um lugar que eu podia ficar sozinha só por um momento. Vi um velho fumando, então andei até ele.
— Licença. — Dei um pequeno sorriso. — O senhor poderia me arrumar um cigarro? — Pedi.
— Posso. — Tirou seu maço do bolso e me entregou. — Isqueiro? — Ofereceu, e eu peguei de sua mão já acendendo o cigarro que estava entre meus lábios.
— Obrigada. — Devolvi o maço de cigarros e o isqueiro ao velho.
Sai andando, procurando a minha pick-up pelo estacionamento, e achando o enorme carro azul parado no final do lugar. Abri a caçamba e subi nela, sentando de lado e encostando, dobrando uma perna minha para cima sem me importar de estar de vestido, já que para o outro lado dava para o canal, além de estar bem escuro ali. Encostei meu cotovelo em meu joelho e levei minha unha do dedão até minha boca, a mordendo sem roer, enquanto pensava nas coisas e tentava abstrair, separar tudo e colocar em seu devido lugar.
Não queria que meu dia terminasse mal, eu tinha acordado tão feliz e não podia deixar que minha mãe estragasse as coisas desse jeito, mas aquilo tudo era uma perfeita teoria do caos. Fiz coisas para que elas chegassem naquele ponto, e mesmo que se eu voltasse no tempo e começasse tudo de novo, tomando cuidado para não errar em nada, ainda assim algo ainda daria errado, poderia não ser comigo, mas poderia ser com ou com , poderia ser com qualquer um. Só o que acabei aprendendo com o tempo, é que as coisas não podem ser mudadas, elas têm que acontecer exatamente daquele jeito, e pensar que tudo poderia ser diferente se apenas mudasse um ponto, poderia me levar facilmente à loucura, como já aconteceu antes. Então, agora em vez de me lamentar e chorar sobre o leite que foi inevitável de ser derramado, eu me distanciava da situação, para me acalmar e depois retornar, para enfim, lidar com mais clareza, embora que às vezes eu simplesmente perdesse o meu próprio controle e agisse com a minha mãe, usando minha imponência e agressividade para dar um jeito no que estava acontecendo, sabia perfeitamente que fazer aquilo, daquela forma, só me levava ainda mais para o meio do caos no qual se tornaria um grande efeito borboleta, pois absolutamente tudo estava conectado.
Traguei meu cigarro lentamente, sentindo a fumaça me invadir e joguei a cabeça para trás, soprando para cima, vendo a pequena nuvem branca se formar e logo depois sumir vagarosamente no ar. Fechei meus olhos apenas ouvindo o barulho as coisas ao meu redor, me aclamando aos poucos. Respirei fundo e levei novamente o cigarro até meus lábios, e os deixei ali, soltando a fumaça pelo nariz.
Fiquei ali até acabar de fumar, e aqueles cinco minutos foram o suficiente para conseguir encaixar as peças no lugar e decidir que não deixaria minha mãe influência no meu dia daquela forma. Embora eu ainda não estivesse bem, pelo menos agora estava mais calma. Não queria mais entender os motivos dela para me tratar daquele jeito, eu só queria que o problema fosse resolvido, e esse problema era comigo, o problema era me importar demais com coisas que não mereciam nem ao menos um terço da minha atenção, o problema estava dentro de mim, e só eu poderia resolver aquilo. Então era isso que iria fazer.
Levantei, joguei a guimba do cigarro fora e puxei meu vestido para baixo. Desci da caçamba da pick-up e a fechei. Passei a mão em minha roupa, a limpando e por fim, caminhei lentamente de volta para a pizzaria, com a cabeça erguida, determinada de que nada o que a minha mãe fosse falar, me colocaria para baixo novamente. Passei pela porta, cruzei as mesas e subi as escadas, indo direto para a mesa que estávamos. Vi o pessoal conversando e quando passei alguns olhares viraram em minha direção. Puxei minha cadeira e me sentei ao lado de , que ficou me olhando, assim como e . Abri um sorriso e peguei meu celular, já procurando por um aplicativo na App Store.
— Estava fumando? — perguntou, e o olhei, certamente eu deveria estar com cheiro de cigarro.
— Uhum. — Murmurei ainda olhando para o celular.
— Você quer ir embora? — Ofereceu em um tom de voz bem cuidadoso, como se eu fosse explodir para cima dele a qualquer segundo.
— Não, estou com fome. — Respondi e achei o que queria, então coloquei para baixar, me virando e dando atenção para . — Sei que está preocupado, mas está tudo bem. — Sorri de forma meiga para ele.
— Não está. — Disse colocando a mão sobre minha perna e olhando dentro dos meus olhos.
— Então faça ficar. — Pedi deixando meu sorriso sumir. — Eu preciso de você. — E ele me abraçou de lado, me fazendo encostar a cabeça em seu ombro.
— Vou fazer de tudo para te ver sorrir. — Beijou o topo de minha cabeça. — A propósito, você está chamando bastante atenção com esse vestido. — Começou falando de um jeito divertido. — Uns caras quase quebraram o pescoço quando você passou, e o Bradley foi um deles. — Ri um pouco daquilo. — Não vou mentir que estou incluído no meio deles, até porque seria impossível não te olhar. — O empurrei e cutuquei sua costela, o fazendo pular e rimos juntos. — Mas tenho um segredo sobre isso. — Uni minhas sobrancelhas sem entender sobre o que estava falando. — Vem cá, é um segredo, não posso falar alto. — Chamou com o indicador, então me aproximei e levou seus lábios até minha orelha. — Eles podem olhar o quanto quiserem. — Sussurrou de um jeito sexy, me fazendo ficar arrepiada, sua mão alisou minha coxa. — Mas mal sabem que não vão conseguir nada, porque você é minha. — Fechei meus olhos e abaixei a cabeça, ele sabia perfeitamente como me provocar.
— Só sua? — Questionei baixinho só para que ouvisse.
— Me diga você. — Falou passando os dentes no lóbulo de minha orelha.
— Chega. — Me afastei sentindo que não iria conseguir me controlar por muito tempo.
— Ora, ora, isso quer dizer que ganhei? — tinha um sorriso vitorioso no rosto.
— Melhor de três. — Ergui uma sobrancelha e dei um sorrisinho de lado.
— Fechado. — Fechou a mão e nós demos um soquinho, selando o acordo.
O nosso alarme começou a apitar e a piscar, então fomos buscar a nossa pizza. Quando voltamos, a dos outros já foram ficando prontas. Pelo jeito todo mundo estava com bastante fome, pois ninguém falou nada quando estava comendo. Eu como a boa abusada ainda peguei um pedaço da pizza de , que estava com uma cara deliciosa. Quando terminei me joguei para trás na cadeira e passei a mão em minha barriga, a estufando parecendo que eu estava grávida.
— Quero ser a madrinha. — comentou soltando uma risada.
— Só se eu for padrinho também. — rebateu nos fazendo rir.
— Meu filho! — brincou e colocou sua cabeça em minha barriga. — Chuta para o papai. — Então fiz pressão, a fazendo pular. — Nossa, ele tem um chute forte. — Caímos na gargalhada com isso. — Vai ser Placekicker. — Neguei com a cabeça com aquela palhaçada toda nossa.
Olhei para a tela do meu celular e lembrei do aplicativo que tinha colocado para baixar mais cedo. Peguei aparelho e já sorri, olhando para , e . Eles já começaram a rir sabendo que tinha algo por vir.
— Baixei um aplicativo de Karaokê! — Virei meu iPhone para eles.
— Eu quero jogar! — Troy já se meteu na conversa pegando o celular da minha mão, nos fazendo rir. — Vamos fazer batalhas! — Já começou a ditar as regras como sempre fazia.
— Como vai ser as baralhas? — Perguntei interessada naquilo já apoiando meus braços sobre a mesa.
— Vou sortear quem vai ir contra quem, e vamos fazendo por eliminatórias de pontuação. — Explicou e pegou seu celular. — Vou sortear, vocês podem ir escolhendo as músicas que vão cantas. — Me devolveu o aparelho.
— Já sei qual que vou cantar! — já disse todo empolgado com algo em mente. — Você vai cantar o que? — Já virou para , colocando seu braço no encosto da cadeira dela.
— Não sei, estou pensando. — Comentou e pegou seu celular.
— Deixa eu ver se tem a música que pensei. — Comentei e joguei o nome da banda na busca. — Meu Deus! Tem! — Já dei um pulinho.
— E que música seria para não ter? — já esticou o olho para cima de mim, e eu escondi meu iPhone em meus peitos. — Segredo, é? — Cutucou minha cintura, me fazendo rir.
— Você vai ver. — Fiz cara de metida. — Troy, já fez o sorteio?
— Já. — Mostrou quem iria com quem.
Troy seria contra , eu iria contra Eric, contra Naomi, Joe contra e contra . Troy já colocou sua música para tocar, que era My First Kiss, e ficamos o ouvindo cantar enquanto fazia uma performance muito engraçada, eu e já começamos a bater palma no ritmo da música para animar a coisa toda, e o pessoa foi nos acompanhando, e fazíamos parte do “Ooooooh”. E não é por nada não, mas ele cantava muito bem, sua carinha de criança enganava bastante, pois ninguém nunca dava nada por ele, e aquele menino sempre se superava, dando sempre o melhor de si. Assim como para mim, perder não era uma opção.
— 94! — Berrou colocando o aparelho na mesa e se levantando da cadeira, pulando. — Chupa essa Styes! Quero ver você ganhar! — Minha mãe já olhava para ele com um olhar recriminador, mas apenas fingi não ver.
— Troy, Troy, você esta jogando com o cara errado. — Pegou o celular com um sorrisinho no rosto. — Vamos ver aqui. — Digitou o nome da música. — Preparado para perder? — Ergueu uma sobrancelha.
— Você pode tentar, mas duvido que vá conseguir. — Troy o desafiou.
Ouvi então Locked Out Of Heaven tocar, e eu arregalei meus olhos. Não tinha ideia se sabia cantar e se ele não tivesse voz para alcançar as notas mais altas iria perder bem fácil. Então ele começou a cantar e eu pendi minha cabeça de lado, até que ele era afinado. Todo mundo ficou quieto e começou a prestar atenção em , e como um bom amigo fazia os “Ooh!” que tinha no meio da letra. Meus olhos iam se arregalando conforme ele ia cantando, e não era apenas por causa de sua voz maravilhosa e sim pela letra, nunca tinha reparado nela apesar de gostar da música. Meu Deus! queria acabar comigo! Só podia ser! Mordi o canto de meu lábio inferior enquanto o olhava com atenção, fascinada em sua voz e no que cantava. Céus, eu precisava daquele homem mais do que qualquer outra coisa na minha vida, ele mexia comigo de uma forma surreal que eu não sabia lidar com aquilo, só queria sentir e sentir, até meu coração parar de bater.
soltou o celular e me olhou dentro dos olhos, tacando o foda-se para a legenda, mas visivelmente não precisava dela, pois continuou perfeitamente sem errar. Ele soltou três rasgados que fez o pessoal gritar, vibrando com aquilo, eu até queria fazer o mesmo, mas estava hipnotizada demais em seus olhos que olhava dentro dos meus, me causando arrepios apenas com aquilo e um frio gostoso na barriga.
— ‘Cause you make me feel like. — Seu tom elevou, me fazendo ficar impressionada com aquilo mais do que antes. — I've been locked out of heaven. — Podia ver a veia de seu pescoço saltando, e eu sentia que iria escorrer pela cadeira e cair no chão. — For too long. — Segurei meu queixo e cobri meus lábios com meu indicador, sem tirar os olhos do , ainda abismada com aquela criatura.
Ele não podia estar fazendo isso comigo! Não mesmo! Eu queria beijá-lo até ficarmos com falta de ar, roubar todo seu fôlego para mim, e dizer o quanto gostava dele. Respirei fundo, mas ela foi entrecortada, sentia que meu coração batia cada vez mais forte dificultando o ar entrar em meus pulmões. Definitivamente não sabia mais como reagir, só conseguia ficar olhando para fixamente enquanto ele cantava, fazendo caras e bocas, que digam-se se passagem eram deliciosas. Isso me fazia até mesmo juntar as sobrancelhas e puxar fortemente a barra de meu vestido para baixo, juntando minhas pernas que começavam a ficar suadas enquanto meus pés iam se levantando, ficando na ponta dos dedos. Aquilo era tortura demais, não poder tocá-lo naquele momento, não poder fazer absolutamente nada a não ser olhá-lo tão de perto, sendo tão... tão... Que inferno! Tão gostoso! Tão maravilhoso! Tão delicioso cantando daquele jeito! Eu sentia que estava ficando louca, e não podia demonstrar nada para mudar aquilo ou acabar com aquela vontade dele que só crescia cada vez mais dentro de mim. Sem dúvidas tinha ganhado o nosso jogo de provocação depois daquilo, pois meu corpo reagia ao dele de forma monstruosa, era completamente inexplicável aquilo.
Acho que só consegui respirar que nem uma pessoa normal quando finalmente acabou aquela música. Cara, eu iria sonhar com aquilo. Nossa, minha cabeça estava até levemente tonta, e acho que era pela falta de oxigenação, pelo menos era isso que eu queria pensar no momento.
— 100. — Disse simplesmente virando o celular para Troy, que o encarou assim como todos nós estávamos, boquiaberto.
— Puta que pariu! — bateu na mesa super empolgado! — Esse é o cara! — Apontou para e o pessoal começou a gritar. — Vou ser seu agente!
— Menos, . — ria um pouco. — Bem menos.
— , fecha a boca, está babando na mesa. — zombou e eu a olhei, rindo de mim mesma.
— Boba. — Senti minhas bochechas ficarem vermelhas. — Nós ainda vamos continuar jogando depois disso, é bem obvio que o vai ganhar.
— Eu ainda não cantei. Como pode dizer que ele vai ganhar? — disse bem brincalhão, e eu gostei daquilo, era sinal que ele estava relaxando.
— Verdade. é muito bom. — Observei e peguei meu celular. — Quer passar a baralha sua e do na frente? — Ofereci. — Tudo bem para você, Eric? — Olhei para o loiro.
— Sem problema. — Sorriu.
— Pode ser, me passa o celular. — Meu irmão pediu, e eu estiquei meu braço, mas pegou o aparelho e entrou para . — Me deixe escolher. — Começou a procurar. — , você nunca vai me ganhar.
— É o que vamos ver, coloca a música ai e o aplicativo quem vai decidir. — disse como se já estivesse garantido.
— Ok. — Deu o play, e quando ouvi as primeiras notas não acreditei.
Era Can't Help Falling In Love, do Elvis que meu irmão iria cantar, eu amava Elvis! E quem não amava Elvis, não e mesmo?! Ele começou a cantar de um jeito tão lindo que meus olhos se encheram d’água. Meu Deus! Que coisa mais linda, e ele ainda deu uma olhadinha para a . Minha mãe olhou atenta para , certamente analisando o que estava acontecendo, e eu só vi minha amiga afundando na cadeira como se quisesse se esconder. Encostei minha cabeça no ombro de e passei meu braço pelo dele, sem tirar os olhos de . Nossa, ele cantava tão bem, e a forma como fazia parecia tão apaixonado, que a minha vontade era de colocar ele e dentro de um potinho, e guardar para que ninguém fosse capaz de estragar o que eles tinham.
— For I can't help. Falling in love with you. — Cantou a última parta da música olhando para . Céus, eu iria dar um treco por eles! — 100. — Virou o celular para .
— Esse negócio ai está errado! — acusou, não querendo perder.
— Cala a boca, ! Ele foi maravilhoso. — Defendi secando o canto de meus olhos que estavam molhado. — Escolhe sua música, vai. — Falei na tentativa de tirar atenção de cima de e , pois a minha amiga estava extremamente vermelha.
— Me dê esse celular aqui que vou mostrar quem manda. — Pegou o aparelho e colocou Wiggle, eu quase cai da cadeira dando uma gargalhada. — I got one question. How do you fit all that in them jeans?
— , você não presta! — Falei ainda rindo enquanto ele continuava.
— Hot damn it, your booty like two planets.
o olhou cruzando os braços quando ele começou a cantar, como se estivesse em uma batalha de rap com a minha prima. Eu estava vendo a hora que o prato iria voar na cara dele por causa da letra daquela música. Ela estava bem séria olhando para , enquanto todo mundo zoava, e ria. Minha prima passou a mão nos cabeço os jogando para trás, e pela sua cara, estava se segurando para não enfiar a mão nele.
— You know what to do with that big fat butt — Nossa, quando ele cantou aquilo dando uma checada em , eu senti que ele perderia alguns dentes.
— , vai ter volta. — Foi à única coisa que disse e se virou para frente. — Idiota.
— Cara, ela vai te socar. — Comentei, e riu do meu lado. — Não ri não que o que é seu está guardado.
— Meu? O que eu fiz? — Arregalou os olhos e fez cara de inocente.
— Nada. Como era mesmo a letra da música? Ah, sim. Open up your gates ‘cause I can't wait to see the light. — Joguei na cara dele uma parte dela. — Espera só para você ver. — A única coisa que fez foi rir.
— O que? — gritou. — Esse celular está roubando! Não posso ter tirado só 85! — riu gostando bastante daquilo.
— Agora é minha vez. — Ela tomou o aparelho da mão dele e colocou Womanizer. — Superstar. Where you from, how's it going? — Apontou para que ergueu as sobrancelhas.
— Uh!!! — Nós falamos em coro enquanto ela cantava fazendo gestos.
— You say I'm Crazy, I got you crazy, you're nothing but a womanizer — Ele podia ter dormido sem essa. — Daddy-O You got the swagger of champions — Então virou a cara para ele e deu um sorrisinho.
— Pode ir para casa, ela te colocou no chinelo! — Charlie que nem estava na brincadeira se meteu apenas para zoar. — Regra número um, nunca brinque com um , eles não sabem brincar. — eu o dedo do meio para o amigo.
— Não sabem mesmo. — concordou e nós rimos.
— Lollipop, must mistake me as a sucker — Se virou novamente para e deu um toque em seu queixo. — To think that I would be a victim not another — Apontou para si mesma e deslizou a mão por seu corpo. — Say it, play it how you wanna, but no way I'm ever gonna fall for you, never you, baby — Novamente berramos em coro e batemos na mesa.
— Essa doeu até em mim! — Theo berrou da outra ponta fazendo todos rirem.
Ficamos vendo tirar , e aquilo estava engraçado demais! O meu amigo tinha uma cara de merda muito engraçada, eu ria tanto que minha barriga estava até doendo. Quando minha prima acabou ela eu um beijinho no ombro e sorriu para , entregando o celular para Naomi, que já logo escolheu uma música qualquer e começou a cantar. ganhou a partida delas, e Joe pegou meu iPhone colocando o que ele iria cantar para tocar, quando terminou passou para , e ai todos já a olharam, ansiosos para saber o que ela iria cantar. Então ouvi os primeiros acordes de Still Into You, do Paramore. Aquela música era muito fofa, e meus olhos já brilharam.
— It's not a walk in the park to love each other, but when our fingers interlock — E novamente eu queria berrar! Não tinha casal mais fofo que aquele na face daquela. e foram feitos um para o outro! — Can't deny, can't deny you're worth it — Minha amiga cantava, mas nem sequer tirava os olhos da tela do celular. — ‘Cause after all this time I'm still into you — Vi suas bochechas ficarem vermelhas, mas ninguém ousou falar nada, e ela continuo cantando de forma séria. — Let 'em wonder how we got this far — Foi inevitável não soltar um gritinho nessa parte e , mas eu não recebi um olhar de reprovação como imaginei, muito pelo contrário, em seu rosto tinha um sorriso enorme. Eu queria abraçar os dois. — Some things just make sense and one of those is you and I — Me joguei para trás e a cadeira desequilibrou, então me agarrei na mesa como um gato, fazendo até mesmo errar a letra, e por fim desistir, soltando o celular.
— Não! — Gritei. — Você vai terminar essa música! — Apontei para ela.
— Eu já errei a letra, vou perder de qualquer jeito. — Deu de ombros, e eu torci os lábios.
— Sem graça. — Reclamei e peguei meu iPhone. — Já sei que vou perder, mas preciso cantar assim mesmo.
Então bem plena limpei minha garganta e fiz uma pose, arrumando minha roupa segurando uma risada, pois sentia o olhar de todos sobre mim, inclusive de que estava ao meu lado. Sua mão passou pela minha coxa, e eu apenas a tirei dali com um tapa, mas não o olhei para ver qual foi sua reação com aquilo. Joguei Push And Shove, do No Doubt na busca e logo apareceu ela, a música era grande, mas eu sabia a letra dela todinha de tanto que já cantei a mesma aos berros no chuveiro, pulando e usando o vidro de shampoo como microfone. Coloquei para tocar e deixei o aparelho sobre a mesa, não precisava ver a letra. me olhou e riu quando reconheceu a música, eu gostava tanto dela que até ele já estava de saco cheio de ouvi-la. Abaixei a cabeça e a balancei um pouco, e quando chegou a parte do primeiro verso, a levantei.
— You can work it give it to me straight when you smooth operate. Can you come out and play? — Comecei a cantar e olhei para com um sorrisinho de lado. — Make my tic talk step up to the plate. No underestimate. No, never play it safe — Neguei com o indicador.
— Que isso hein! — Charlie lá estava novamente colocando pilha.
Continuei cantando e fui mexendo meu corpo, em uma dança em cima da cadeira, fazendo caras e bocas provocando que me olhava atentamente. Passei a mão em meus peitos e fui descendo pela lateral de meu corpo, sem me preocupar se aquilo deixaria minha mãe irritada por ser um pouco obsceno, ainda mais por causa da letra da música.
— You work it hard — Joguei meu corpo para frente, aproximando meu rosto do dele e fui vindo para trás lentamente, como se tivesse sido jogada para frente e puxada para trás. — Boy you got me good — Cantei de um jeito sexy olhando dentro dos olhos de . — How you push and shove — Sorri de lado e rebolei em cima da cadeira, fazendo até mesmo os pés dela arrastarem no chão. — Ooh boy you’re hustlin’ me.
Então começou a cantar a parte do rap que ele tanto gostava, e eu continuei dançando e apontei o dedo para meu amigo, que mandava ver na letra. Passei as mãos em meu pescoço e olhei para com um sorrisinho safado. Eu e íamos intercalando os refrãos que eram cantados e com rapper.
— Anytime anyplace we blaze — Cantei e joguei minha cabeça para trás.
Fui cantando a letra até o final, fazendo questão de provocar em todos os pedaços possíveis, para ele sentir o que eu senti quando ele cantava. Sabia que minha voz não chegava nem aos pés da dele, mas aquela música não exigia muito da minha capacidade vocal que era péssima, então abusava das caras e bocas que podia fazer, além as passadas de mão em meu próprio corpo, demonstrando que ele não poderia me tocar mesmo se quisesse muito, além de chegar bem perto dele e sair logo em seguida, rindo da sua cara. O pessoal ria com a minha zoeira, mas sabia que aquilo era muito mais do que uma brincadeira. E por fim acabei de cantar.
— Olha! 89. — Até me impressionei quando deu aquela nota.
— Mas não valeu, o te ajudou. — Troy rebateu no mesmo instante.
— Relaxa, vou perder de qualquer jeito. — Ri e passei meu celular para Eric
— Você não faz ideia da vontade que estou de te beijar agora. — falou discretamente em meu ouvido. — Se a sua intenção era aguçar a minha imaginação, você conseguiu com perfeição. — Seu tom de voz era muito provocativo. — Você deveria correr o mais rápido que consegue agora, ou vou te beijar aqui mesmo, na frente de todo mundo. — Riu um pouco, passando seu lábio inferior pela minha orelha.
— Então vou faz isso agora. — Simplesmente me levantei da mesa e sai andando, me plena com passos rápidos. Ouvi o arrastar de cadeira e olhei por cima do ombro, vendo levantar. — Fodeu! — Gritei já rindo e comecei a correr, descendo as escadas rapidamente e pulando os últimos degraus.
Quase derrubei uma mulher que passava com sua pizza, mas me esquivei dela e fui em direção à saída. Não parei quando cheguei do lado de fora, se fizesse isso iria me alcançar, e eu sabia que o juízo dele não era muito bom, e seria capaz de me agarrar ali mesmo. Sem pensar muito foi em direção aos carros, pelo menos no estacionamento eu poderia me esconder. Olhei para a pizzaria e eu vi alguns amigos de pé na enorme janela, olhando lá para baixo, certamente apostando se iria conseguir me pegar ou não. Entrei atrás de um carro e corri abaixada, e entrei atrás de outro, para ele não ver para onde eu tinha ido. Agachei atrás de um Nissan, e coloquei minha mão na boca para não rir e me entregar. Conseguia ouvir os passos dele, pois o salto de sua bota fazia bastante barulho quando andava, mas eles pararam, então me levantei bem devagar e olhei discretamente por cima da mala do carro, e me viu. Voltei a correr o mais rápido que minhas pernas conseguiam, e fui para a rua, correndo pela calçada. Olhei por cima do ombro e não vi mais ele. Uni as sobrancelhas achando estranho ter desistido, mas meus olhos se arregalaram quando viram o Corolla vinho saindo do estacionamento. Ferrou muito! Me virei e voltei a correr, dobrando a esquina, mas parei abruptamente quando o carro invadiu a calçada fechando meu caminho, comecei a andar de costas, só que já deu a volta por trás, me cercando. Não tinha mais para onde eu ir, mas ainda assim tentei fugir.
— Foi bom jogar com você. — Disse e me pegou pela cintura me impedindo de dar um jeito de sair dali. Ele tomava um pouco de fôlego, enquanto eu estava ofegante. — Mas eu ganhei. — Repousei as mãos sobre seu peito rindo um pouco. estava certo, ele havia ganhado, mas antes que eu rebatesse qualquer coisa, seus lábios se juntaram com os meus.
Automaticamente fiquei na ponta dos pés e segurei sua nuca com um pouco de força, o beijando com vontade. Eu queria aquilo tanto quanto ele desde que saímos de casa. Sabia que já estava bem na cara que tínhamos algo, afinal, minha mãe de burra não tinha nada, mas deixaria explicito que tínhamos, seria bem pior, já que ela falaria na nossa cara que não estava de acordo com aquilo, argumentando que o não era bom o suficiente que ele não que me daria um futuro. Sinceramente a única coisa que eu queria era ele no meu futuro, onde estaríamos seria de menos importava. Ai que droga, estava muito apaixonada pelo . Sentia que tinha entrado em um caminho sem volta, e dali para sempre seria ladeira abaixo.
Senti a mão de segurar minha cintura com mais força, e juntar ainda mais nossos corpos. Nos beijávamos com tanta intensidade que meu ar estava começando a faltar, e minha cabeça estava dando uma pequena vertigem por isso. Então me afastei dele rindo um pouco daquilo, afinal, era engraçada aquela euforia toda, e ele acabou rindo comigo, me abraçando.
— Foi ótimo jeito que você arranjou para sairmos da pizzaria sem precisar que ninguém viesse atrás de nós. — Comentou e rimos mais um pouco daquilo. — Mas de qualquer forma não sei se iria aguentar ficar muito tempo sem te beijar.
— Isso só por que cantei aquela música? — Ergui as sobrancelhas com um sorriso no rosto.
— Não, a música foi de menos, apesar de que você ficou bem sexy cantando ela. — Brincou mordendo a ponta e meu nariz. — Vem, vamos sair logo daqui antes que alguém venha atrás e nos encontre.
— Seria uma pena se nossos celulares tivessem ficado lá dentro, não é? — Soltei uma risada o empurrando pelo peito, enquanto ria junto comigo.
— Seria uma pena mesmo. Talvez eu tenha deixado o meu em cima da mesa na hora que sai correndo atrás de você. — tinha um sorriso enorme no rosto. — Para onde você quer ir? — Perguntou dando uns passos para trás.
— Eu pediria para você me levar para os céus, mas isso seria humanamente impossível. — Já fui andando até a porta do carro e a abrindo.
— Posso te levar aos céus de outro jeito. — Ele fez uma cara de pervertido.
— Ah, cala a boca, . — Mandei entrando no lado do carona enquanto ria.
Ele entrou e nós saímos logo dali, ficamos ouvindo música sem falar nada. Abri a janela do Corolla e coloquei metade no meu corpo para fora quando passamos na frente da praia. O em vez de virar a rua que continuava para a direita, ele entrou na areia, me fazendo gritar e rir por causa daquilo. Aquele garoto era louco, acabaríamos ficando entalados ali, mas ele não era tão idiota assim e logo chegou na parte aonde a areia era dura, bem perto da água. Só paramos quando se criou um banco de areia impedindo a nossa passagem.
A Central elétrica de Oxnard estava bem perto dali, e aquilo me deu uma ideia. Olhei para por cima de meu ombro e sem falar nada lhe dei um selinho apertado, abri a porta do carro e sai correndo. Subi no banco de areia escorregando por ele e sentindo a areia entrar em minha bota, me segurei para não cair e continuei até conseguir. Limpei minhas mãos sujas em meu vestido, e voltei a correr até chegar na grade que me impedia de continuar. Não fiz cerimônia, me agarrei nela e comecei a escalar até chegar no topo dela e pular pelo outro lado. Abaixei meu vestido e olhei para os lados, vendo se alguém tinha me visto. Então votei a correr me desviando das plantas que nasciam ali, pois elas ficavam prendendo meu pé. E lá estava eu novamente, parada na frente de um muro que deveria ter no máximo uns dois metros de altura. Olhei para os lados vendo qual ponto era mais longe da iluminação e então tomei distancia, corri e pulei, me agarrando na parte de cima do muro e começando a escalá-lo. Meu tênis escorregava, mas consegui um ponto de apoio e me empurrei para cima.
— Meu Deus, ! — disse e olhei para baixo, o vendo de pé do outro lado. — Isso está sendo demais até para mim. Vamos ser presos.
— Não seria a primeira vez que vou ser presa nesse verão. — Sorri para ele e olhei para o outro lado. — Não tem ninguém aqui. Parece até abandonado senão fosse pelas luzes acesas. — Analisei o lugar. — Agora larga de ser marica e vem logo! — Passei minha perna esquerda por cima do muro e pulei dele.
Novamente arrumei meu vestido e sai correndo, me escondendo. Fiquei vendo pular o muro, então assobiei e acenei para que ele me visse, então veio correndo em minha direção. Segurei sua mão e corremos em direção de uma torre, que na verdade parecia um farol, ou era uma chaminé? Tanto faz. Fomos até ela e coloquei para subir na minha frente, ou ele ficaria vendo meus fundos, e isso não era uma opção muito agradável. O vento sobrava cada vez mais forte conforme íamos subindo e quando finalmente chegamos no topo, senti falta de um casaco. Nos sentamos na beira da passarela que tinha ao redor da torre e ficamos olhando para o mar. Fiquei balançando minhas pernas até que encostei minha cabeça no ombro de e passei meu braço pelo dele, sentindo um pouco de frio, ele me abraçou, mas aquilo não adiantou muito.
— Vem, senta aqui. — Se afastou um pouco da beira abrindo espaço para que eu sentasse entre suas pernas, então fiz, segurando na barra de proteção para não cair lá embaixo. Seus braços em envolveram em um abraço quente, e agora sim tinha melhorado um pouco. — Melhorou?
— Perfeito. — Sorri e encostei minha cabeça em seu ombro enquanto olhava as ondas quebrando e virando uma espuma branca. — . — Chamei ainda incerta sobre se deveria falar aquilo ou não.
— Oi. — Sua bochecha encostou ao lado de minha cabeça.
— Como é a sua mãe? — Soltei de uma só vez e mordi meu lábio inferior sem saber se deveria de fato tocar naquele assunto.
— Hoje em dia? — Suspirou e eu senti que ele tinha ficado chateado. — Não faço ideia, já tem uns anos que não falo com ela.
— Por que você não fala mais com ela? — Queria ficar quieta, mas a minha curiosidade era maior.
— É complicado. — Seus braços me apertaram um pouco, depois relaxaram. — Meu pai a pegou traindo ele com o vizinho, então se separou dela. Eu tinha uns 15 anos na época, e meu irmão tinha um... — Fiquei surpresa em saber que ele tinha um irmão. — Ele pegou o Noah, as coisas dele e me chamou para ir junto, mas fui idiota o suficiente para ficar. — ficou calado por um momento, certamente esperando que eu perguntasse algo, mas fiquei quieta. — Ela começou a beber e a colocar qualquer um dentro de casa, e os caras abusavam dela... — Tinha um tom de irritação em sua voz. — E nada que eu fizesse ou falasse adiantava. Ela preferia ficar vivendo daquela maneira a dar um jeito naquela situação. Nós só não passamos fome porquê meu pai me mandava dinheiro, então eu sempre fazia comprar lá para casa, apesar de que muitas vezes quando chegava da escola me deparava com um daqueles babacas comendo o que tínhamos. — Aquilo ia ficando cada vez mais pesado, e eu já estava com medo de saber o final daquilo. — Mas a coisa chegou a um limite extremo depois que me formei. Foi na noite do baile da escola, quando cheguei em casa e ela estava brigando com um cara lá, acho que ele se chamava Ralph, sei lá, eram tantos que não dava para gravar o nome de todos. Enfim, eles estavam se atracando, um batendo no outro, minha mãe já estava toda machucada, então me meti na briga. — Ele riu sem graça e negou com a cabeça. — Então ela a me xingar, dizendo que eu não tinha que me meter naquilo. Rebati, falando que não aguentava mais aquela merda toda, falei merda para o cara também, mas ele era três vezes maior... — Se mexeu e levantou a manga de sua camisa. — Essa marca foi da briga. O cara me deu a pior surra que já levei na minha vida, no nível que tive uma fratura exposta aqui. — Olhei a linha que indicou na qual sua tatuagem escondia. — E sabe o que a minha mãe fez? — Voltou a abaixar sua manga enquanto eu negava com a cabeça. — Me mandou embora de casa. Pegou todas as minhas coisas e começou a jogar porta a fora, aos berros. Falando que não precisava de mais problemas na vida dela. — Soltou o ar pelo nariz em uma pequena risada nasalada. — Os vizinhos chamaram a polícia, foi uma confusão enorme. Eu e muito menos a minha mãe prestamos queixa, então não aconteceu nada com o cara. Fui para o hospital e quando voltei ela estava sentada na frente de casa chorando, e quando perguntei o motivo, simplesmente falou que eu não podia ficar ali, porque ela não era capaz de me criar ou cuidar de mim, mas que me amava demais para que visse minha vida arruinada por causa dela, pois tudo que tocava ela conseguia destruir e que não queria que isso acontecesse comigo. — Seus dedos se entrelaçaram com os meus, então o segurei com força. Estava aflita por causa daquilo que estava me contando. — Por fim mandou que eu fosse embora e não procurasse por ela ou nem nada do tipo. Fiquei com tanta raiva daquilo que peguei minhas coisas que ainda estavam espalhadas na frente da casa, coloquei dentro do carro que eu tinha na época e fui embora sem olhar para trás. — Respirou fundo passando seu rosto na lateral da minha cabeça. — Fiquei viajando mais de um ano, procurando uma cidade que eu me sentisse bem, confortável, que me fizesse sentir que estava em casa, mas no final das contas descobri que não acharia nenhum lugar, porque casa quer dizer família, e eu não tenho uma.
— Você ainda tem seu pai e seu irmão. — Lembrei, duvido que eles não o receberiam de braços abertos depois de tudo.
— Não queria que meu pai soubesse o motivo que sai de casa, ou isso só daria mais brigas, e também não queria ir morar com ele na época, só queria ficar sozinho, então disse apenas que estava tirando um tempo para mim antes de entrar na faculdade. — Suspirou e deixou a cabeça cair, dando um beijo em meu ombro nu. — Mas esse tempo nunca acabou, e ai decidi parar em Las Vegas. Arrumei um trabalho por lá e me acomodei, tentando fazer com que lá fosse minha casa. Lá as coisas parecem que estão paradas no tempo, nada muda, pessoas vem e vão, mas sempre são os mesmos tipos, estão ali apenas para curtir uma noite. As luzes continuam piscando na mesma sequência e nunca se apagam, e eu nunca vejo o dia já que fico dormindo para poder ir trabalhar à noite.
— Mas ainda assim você não se sente em casa. — Completei e ele concordou com a cabeça. — E é como se estivesse em um piloto automático.
— Um piloto automático que está ligado há três anos. As mesmas emoções, as mesmas palavras, os mesmos pensamentos e os mesmos sentimentos. — Aquilo era triste eu não conseguiria nunca saber como era aquela solidão que ele sentia, pois ela parecia extremamente profunda. — A única coisa que me fazia sair do padrão era as noites nas quais eu te ligava. — Meu coração ficou acelerado ao ouvir o que disse. — Por mais que às vezes você estivesse triste, ainda assim era a única coisa que me dava um pouco de vida. Falar contigo era como se me mostrasse que o mundo ainda existia fora daquele deserto, mas nunca quis perceber que meu dia dependia da sua voz para ganhar vida. — Ele me abraçou com mais força escondeu seu rosto na curva de meu pescoço. — E ainda não quero. Então esquece isso que falei.
— Não quero esquecer. — Falei e ainda assim não levantou seu rosto. — Fico feliz em saber que faço bem a alguém, e que esse alguém é você. — Passei meu polegar por cima do dele. — Porque você me faz sentir coisas que eu nem lembrava mais como eram, me faz sentir também coisas que nem sabia que era capaz. — Mordi meu lábio inferior com um pouco de vergonha de falar aquilo. — Você me faz feliz, . Eu sou contigo alguém que não era há muito tempo. E quanto estou contigo sorrir se torna algo fácil, e não uma coisa forçada e mecânica. Então não me peça para esquecer algo do tipo, porque não tem como esquecer. — Ele finalmente levantou a cabeça.
— Precisa parar de me fazer gostar de você mais do que já gosto. — Sussurrou em meu ouvido me fazendo ficar arrepiada. — Obrigado. — Me apertou novamente me fazendo sorrir.
11.2. It Was Always You
Bônus.
’s POV
— ! — Dei um pulo de susto na cadeira quando ouvi Jess berrar. — Vai atrás da ! — Mandou e isso fez com que ele me encarasse de um jeito cansado.
estava quase tendo um surto de estresse desde que sua mãe chegou, ela só sabia berrar o tempo inteiro com ele e com , mas especialmente com ele por estar por perto o tempo todo. E os berros dela já estavam me dando dor de cabeça. Ela não podia ser um pouco mais calma? Ficar gritando não faria as coisas se resolverem e muito menos que corrêssemos para dar um jeito nelas, só deixaria todos muito nervosos, como estávamos agora.
Olhei para o lado e vi o celular de sobre a mesa e o de estava com Troy. Eles não podiam ser menos displicentes? Podiam pelo menos ter avisado aonde iríamos. Mas não, tinham mesmo que dar o fora e nos deixar com a bruxa, digo, com a Jess? Todos nós queríamos fugir, mas não podíamos. Porém acho que entendia o motivo de fazer isso, talvez se ela falasse aonde iria e que iria sair, sua mãe não deixaria, muito menos se fosse com . Não entendia o motivo, mas ela nutria uma raiva por ele assim que o olhou pela manhã.
— , é para hoje! — Jess bateu palmas para que ele se levantasse logo. — Só vamos sair daqui quando e aquele garotinho petulante aparecer — disse com total desdém e isso me incomodou. — Já não basta aquela cena ridícula da sua irmã cantando aquela música nojenta, ela ainda tinha que sair correndo que nem uma criança? Mas deixa estar, vai se arrepender de estar fazendo isso. — Abaixei minha cabeça e fechei meus olhos com força, sentindo minha cabeça doer ainda mais por causa da voz estridente dela. — ! — Cada berro que ela dava do nada era um pulo que eu levava de susto.
— Eu já vou! Tem como você esperar um minuto? — falou alto com ela, claramente começando a perder o controle. — Desculpe.
— Vai atrás da sua irmã! Agora! — mandou e ele se levantou da cadeira.
A grande maioria do pessoal estava ignorando o show que Jess estava dando, essa maioria que sempre a ignorava, enquanto eu, Theo, A.J., Anne, Joe, Brad e Roger tínhamos que ficar ouvindo aquela mulher falar sem parar reclamando de e , sem podermos rebater absolutamente nada, ou entraríamos para sua listinha negra dos odiados, e eu sinceramente não queria entrar nela ou sabia que nunca, e nem nos meus melhores sonhos, conseguiria ter algo de verdade com .
— Eles não estão lá embaixo — disse assim que voltou, ele tomava um pouco de ar.
— Você não procurou direito, procura de novo! — ordenou e eu precisava intervir nisso, ou ela ficaria mandando ir e voltar até ele ter alguma resposta que a agradasse.
— O carro do não está no estacionamento, eles não estão lá embaixo — repetiu com mais calma agora e pausadamente para ver se dessa vez sua mãe entendia.
— Olha, por que não vamos todos para casa e depois eu saio com o para poder ver se achamos a e o ? — sugeri de forma cautelosa, com medo que Jess não gostasse daquilo.
— Hm. — Ela me encarou e depois olhou para . — Pode ser. Mas só me voltem para casa com aqueles dois! — falou com seu jeito prepotente e se levantou da cadeira. — Vamos, Joe e... Como essa garota se chama mesmo? — Apontou para Naomi.
— Meu nome é Naomi. E se a senhora ainda não entendeu, eu posso escrever na minha testa — respondeu se levantando parecendo bem irritada. — E não vou a nenhum lugar com a senhora. Eu vim com o e se ele não está mais aqui, prefiro pegar um uber ou ir a pé do que ir de carona contigo — respondeu em alto e bom som, me fazendo erguer as sobrancelhas com tamanha coragem que teve para falar daquele jeito com Jess.
— Olha aqui garotinha... — Jess começou já toda superior para cima de Naomi, que a cortou logo em seguida.
— Olha aqui você! — Apontou o dedo para ela. — Nem a minha mãe fala desse jeito comigo, não vou deixar qualquer um falar. Aprenda a respeitar os outros, inclusive seus filhos, ninguém é capacho seu para você ficar pisando! Com licença e passar bem! — Bateu com sua mão em cima de sua bolsinha que estava em cima da mesa e saiu andando.
Todos nós ficamos espantados com aquilo, ninguém esperava aquela reação de Naomi. Eu não a conhecia, mas ela sempre me pareceu ser uma garota bem calma, engano meu. Peguei a chave do meu Honda em cima da mesa, juntamente ao meu celular e fui andando de fininho, rezando para que Jess não começasse a fazer escândalo de novo lá dentro. Fiquei lá embaixo esperando o resto do pessoal descer.
Acabou que Joe e A.J. quem foram no carro dos pais de e Naomi acabou indo no utilitário que Theo estava dirigindo. Ella, que tinha ficado sobrando, pegou carona com Bradley, e no fim deu todo mundo nos carros sem que ninguém precisasse ir embora de uber. O caminho até em casa foi bem rapinho, mas tive que esperar para sairmos novamente, pois ele foi levar Eric em casa. Quando ele voltou, o carro estava vazio. Uni minhas sobrancelhas, achando aquilo estranho.
— Vem, vamos logo. — Ele abriu a porta do carona e eu já subi apressada.
— Cadê a , e Troy? — perguntei, já colocando o cinto de segurança.
— Ficaram no Eric, ninguém aguenta mais a minha mãe. Eles nos chamaram para ficar lá, você quer? — ofereceu, mas olhei para a casa de Anne, pensando que aquilo só nos renderia mais dores de cabeça. — Essa vai ser a nossa única oportunidade de ficarmos juntos enquanto minha mãe estiver aqui. — Agora o encarei sem saber o que responder.
— Mas a sua mãe nos mandou ir atrás da . — Usei aquilo como resposta.
— Acha mesmo que vou atrás da minha irmã? Se bem a conheço, ela se escondeu e não vamos conseguir achá-los nem se rodarmos Oxnard toda. — Naquilo ele tinha razão. — Então, vamos para o Eric? Ou podemos ficar andando por aí também até o sol nascer. — Sorriu abertamente e eu estava com saudades daquele sorrisão. — Você escolhe.
— A casa do Eric já deve estar parecendo um motel, aquele lugar não precisa de mais um casal. — Só depois que falei é que me toquei que nos chamei de casal, então olhei para frente, sentindo minhas bochechas queimarem. — A praia... Er, digo, andar na praia, não, andar no sol e ver na praia. Porcaria, você me entendeu. — Nesse momento queria esconder meu rosto enquanto ria da minha trapalhada. — Para de rir! — pedi, mas isso só o fez rir ainda mais.
— Desculpa, é mais forte do que eu. Foi engraçadinho demais você se enrolando. — segurou meu queixo e virou me rosto, me fazendo encará-lo. — Juro que não vou rir de novo — falou, só que soltou uma risada. — Ok, a partir de agora. — E me deu um selinho. — Para qual sol devemos ir? Digo, praia? — zombou.
— Vai se ferrar, — mandei, rindo um pouco apesar da vergonha.
— Não conheço essa praia em Oxnard. Para onde é que fica? — perguntou com seu jeito brincalhão e eu estava feliz de vê-lo melhor.
— Para lá! — Apontei para frente, indicando qualquer lugar para podermos sair logo dali.
— Ok. Você indica o caminho, pois não faço ideia de onde é. — Ligou novamente o carro e finalmente saímos da frente daquela casa.
Ficamos dando voltas pela cidade para ver se achávamos uma praia que nos agrava e acabamos indo para Ventura, conhecido também como San Buenaventura. parou o seu Ford no estacionamento do píer de Ventura, que por sorte conseguimos passar, pois só faltava cinco minutos para dez da noite. O lugar já estava prestes a fechar, mas agora teríamos que ficar ali até as seis da manhã, pois não conseguiríamos sair. Ainda achava melhor termos estacionado na rua, mas parecia que ele sabia daquilo e por isso quis parar ali dentro como pretexto para não irmos embora antes que o sol nascesse. Talvez a noite seria mais longa do que o esperado, não sabia se conseguiria ficar acordada por tanto tempo. Tinha levantado cedo demais para aquilo.
Subimos as escadas que davam acesso ao píer e fomos andando abraçados por ele que era muito maior do que parecia. Tinha um restaurante de frutos do mar ali, e se não tivéssemos acabado de sair da pizzaria, eu até me animava a comer algo. Continuamos caminhando até o final e nos sentamos em um banco, optando pelo que tinha encosto. A brisa estava soprando bem gelada e eu me encolhi um pouco, lembrando do casaco que tinha deixado dentro de meu carro. Poderia ter lembrado de trazê-lo.
Vi se mexendo um pouco inquieto ao meu lado, e comecei a achar que talvez ele estaria incomodado por não estar falando nada. Então comecei a vasculhar a minha mente, procurando por assuntos que não teriam nada relacionados àquela noite, especialmente na parte dele cantando Can't Help Falling In Love enquanto me olhava e na qual cantei Still Into You tão dura que mais parecia uma estátua do que qualquer outra coisa. Nossa, que mico! Preciso me lembrar de não fazer isso novamente, quase morri de vergonha com todo mundo me olhando sem falar nada. Suspirei e abaixei minha cabeça.
— Está tudo bem? — ousei perguntar, mas minha voz saiu tão baixa que fiquei na dúvida se ele tinha ouvido, ainda mais pelo longo silêncio que se formou depois.
— É. — Estalou os lábios, parecendo contrariado e eu não entendi o motivo daquilo. — Estava pensando na minha irmã e tentando entender o motivo dela estar agindo de tal forma ultimamente. — Franzi o cenho com aquilo. O problema não era estar feliz e agindo impulsivamente e sim se incomodando demais e a tratando mal por conta disso.
— Nossa, você está ficando chato que nem a sua mãe — falei contrariada, me desencostando dele, e me olhou sem entender nada. — Ninguém aguenta vocês dois! Já estou com dor de cabeça por causa dos berros que Jess dá o tempo inteiro — continuei e suas sobrancelhas se ergueram, demonstrando sua surpresa. — E outra, deixa a sua irmã ser feliz. Me responda, qual foi a última vez que você viu a tão feliz assim? — Lhe dei um tempo para responder, mas ele não conseguiu formular nada. — Nunca, . Desde quando a conheço, sempre a vejo se esforçando ao máximo para ficar no mínimo bem. pode ter momentos felizes, rindo de algo engraçado, mas ela nunca esteve feliz, não como agora, e você sabe disso! — O olhei seriamente, e seu olhar caiu. Eu sabia daquilo não apenas por observá-la e sim porque nós éramos melhores amigas, ela me contava tudo, mas isso em especial só me contou apenas uma vez, alegando que não era algo que queria que as outras pessoas soubessem, pois queria parecer que estava sempre bem, e fazer com que os outros acreditarem naquilo tornava tudo mais fácil. — Então para de implicar com tudo que ela faz. Sua mãe já dá conta disso muito bem e não precisa de apoio. — Ele nem sequer me olhava e aquilo estava me irritando um pouco. — Sei que tenta tirar o seu da reta para Jess não pegar no seu pé, mas, caramba, você está ficando muito chato! Até tirou sua barba! Eu tinha até gostado dela, mas prefiro sem — falei em um tom de brincadeira para tentar quebrar um pouco do clima pesado que se instalou entre nós.
— Eu sei, eu sei de tudo isso que você falou, mas é que fico tão irritado como a mãe, e ainda mais como ela trata a ... — O interrompi, não fazia o menor sentido o que estava falando, mas ele não deixou. — Minha mãe fica jogando tudo em cima de mim e eu fico louco. As coisas pioram muito quando ela machuca a minha irmã e eu... — Prendeu o ar e passou a mão no rosto. — E eu não sei o que fazer para parar! Como fazer ela parar com essa merda toda! Meu pai não fala nada e eu... Eu... Eu só não sei o que fazer.
— Quem está irritada agora sou eu! Na verdade, a única coisa que você sabe fazer com isso tudo é ficar com cara de bunda e enterrar ainda mais a sua irmã! Já seria um começo se não brigasse ainda mais com a . — Revirei meus olhos e percebi me encarar. Aquilo era tão óbvio. — Primeiro, esquece a sua mãe, ok? — pedi agora tentando ficar calma. — Abstrai o que ela diz. Deleta as besteiras que saem da boca dela.
— Eu tento. — Jogou a cabeça para trás e deslizou seu corpo pelo banco, esticando suas pernas e as deixando no meio do caminho, fechando os olhos. — Mas a é fora do controle. Eu não consigo deter as coisas que minha irmã faz e ela se machuca por isso, e isso me irrita, e eu quero que ela fique bem. me deixa louco! — reclamou no final. Na verdade, quem estava fora do controle era ele. — A mãe fica jogando isso na minha cara, que eu deveria controlar a minha irmã, que eu sou o mais velho, então preciso ter essa responsabilidade! — A única coisa que consegui foi rir daquilo, pois era ridículo.
— Eu entendo que você quer cuidar dela — falei, parando de rir e tentando ficar séria. — Só que a sempre foi sem controle e nunca morreu por isso. Ela sabe se cuidar sozinha, do jeito insano dela, mas sabe, então só relaxa. — Segurei sua mão e ele abriu os olhos e virou o rosto, me encarando. — Você só vai conseguir afastar a sua irmã — avisei, já que isso era algo bem claro começando que ela não confiava mais nele para contar nada. — sabe que você está aqui quando ela precisar... ou não — brinquei, mas era verdade. Talvez nem tanto assim, pois ficou claro isso no dia que nós fomos presas e ela pediu ajuda para o em vez de pedir para o . — Só para de ficar em cima dela o tempo todo brigando e sendo uma Jess 2.
— Eu sou um inútil mesmo, não é? Nunca consigo ajudar a minha irmã quando ela precisa. — Provavelmente chegou àquela conclusão quando falei o “ou não”.
— Não diga isso. — Me aproximei dele e o abracei. — Você não é inútil. Na verdade, acho que a faz tudo isso, essa loucura toda dela, porque sabe que você vai estar sempre aqui. — Dei um beijo em sua cabeça. — Afinal, alguém tem que ter juízo. E se você não tivesse, provavelmente ela teria. Porque tem sempre que ter alguém para segurar as pontas — brinquei mais um pouco. — Você já viu uma família a qual não tivesse o filho com cabeça no lugar? Sempre tem um. E nessa família esse filho é você. — riu.
— Não queria ser esse filho. É chato tentar ser o certo o tempo todo. — Fez uma careta enquanto me abraçava de volta. — Você ainda vai querer ficar comigo mesmo eu sendo chato?
— Só se você não se tornar uma Jess 2. — Sorri para ele, que riu um pouco. — Está ficando rabugento demais, até parece um velho — coloquei pilha.
— Acho que foi tudo culpa da barba, ela me deu muitos anos. — começou a rir e eu não aguentei e ri junto com ele. — Agora é sério. Vou tentar ser melhor e ser menos chato. Quando eu começar a ser um mala você pode me bater.
— Eu não bato em ninguém. — Torci o nariz. — Mas posso te chamar de Jess — sacaneei.
— Acho que prefiro levar um puxão de cabelo ou de orelha. — Fez uma careta muito engraçada, me causando mais risadas. — Um chute na canela também serve.
— Não, sem agressão. Não quero ser comparada com sua mãe por isso — disse, fazendo cara de nojo. — Vou pensar em algo.
— Está bem. — Encostou sua cabeça em meu peito.
Ficamos em silêncio apreciando um a companhia do outro. Ficamos vendo a lua aparecer e deixar seu belo reflexo na água. Acho que aquele era o lugar mais bonito que eu já tinha visto em toda a minha vida, só que ele se tornava ainda mais especial por estar ali comigo. Eu achava engraçado como em toda a minha vida perdi meu tempo procurando por algum sentido, enquanto ele estava bem aqui ao meu lado. Sempre foi o o meu sentido, o que realmente faltava em mim. Meu coração nunca esteve satisfeito e eu me enganava, dizendo a mim mesma que era apenas coisa da minha cabeça, mas não, nunca foi. Na minha cabeça, nós seríamos sempre amigos e isso ainda me assustava um pouco, pois sabia que se não déssemos certo eu iria perdê-lo para sempre, e não só ele, como a também. Sabia que isso era um caminho sem volta. Estava jogando alto demais, mas não conseguia mais deixar meus sentimentos de lado e mais uma vez ignorar aquilo tudo, não mais.
Passamos a noite toda ali, abraçados, conversando e até mesmo nos beijando. E por mais incrível que fosse, eu não estava com o menor sono. tinha conseguido me deixar acordada para poder ver o sol nascer, já que eu nunca tinha visto. Eu fiquei maravilhada com os primeiros raios que começaram a aparecer, aquilo era muito lindo, não conseguia tirar meus olhos daquela belo espetáculo.
Senti os braços de me envolverem por trás, então olhei por cima de meu ombro e pude ver o sorriso enorme que ele estava dando, assim como eu. Não resisti e me virei. Segurei seu rosto com as duas mãos olhando dentro de seus olhos cor de avelã, e em apenas um impulso o beijei. E como eu tinha dito para as meninas mais cedo: era o dono do melhor beijo de toda a minha vida.
— ! — Dei um pulo de susto na cadeira quando ouvi Jess berrar. — Vai atrás da ! — Mandou e isso fez com que ele me encarasse de um jeito cansado.
estava quase tendo um surto de estresse desde que sua mãe chegou, ela só sabia berrar o tempo inteiro com ele e com , mas especialmente com ele por estar por perto o tempo todo. E os berros dela já estavam me dando dor de cabeça. Ela não podia ser um pouco mais calma? Ficar gritando não faria as coisas se resolverem e muito menos que corrêssemos para dar um jeito nelas, só deixaria todos muito nervosos, como estávamos agora.
Olhei para o lado e vi o celular de sobre a mesa e o de estava com Troy. Eles não podiam ser menos displicentes? Podiam pelo menos ter avisado aonde iríamos. Mas não, tinham mesmo que dar o fora e nos deixar com a bruxa, digo, com a Jess? Todos nós queríamos fugir, mas não podíamos. Porém acho que entendia o motivo de fazer isso, talvez se ela falasse aonde iria e que iria sair, sua mãe não deixaria, muito menos se fosse com . Não entendia o motivo, mas ela nutria uma raiva por ele assim que o olhou pela manhã.
— , é para hoje! — Jess bateu palmas para que ele se levantasse logo. — Só vamos sair daqui quando e aquele garotinho petulante aparecer — disse com total desdém e isso me incomodou. — Já não basta aquela cena ridícula da sua irmã cantando aquela música nojenta, ela ainda tinha que sair correndo que nem uma criança? Mas deixa estar, vai se arrepender de estar fazendo isso. — Abaixei minha cabeça e fechei meus olhos com força, sentindo minha cabeça doer ainda mais por causa da voz estridente dela. — ! — Cada berro que ela dava do nada era um pulo que eu levava de susto.
— Eu já vou! Tem como você esperar um minuto? — falou alto com ela, claramente começando a perder o controle. — Desculpe.
— Vai atrás da sua irmã! Agora! — mandou e ele se levantou da cadeira.
A grande maioria do pessoal estava ignorando o show que Jess estava dando, essa maioria que sempre a ignorava, enquanto eu, Theo, A.J., Anne, Joe, Brad e Roger tínhamos que ficar ouvindo aquela mulher falar sem parar reclamando de e , sem podermos rebater absolutamente nada, ou entraríamos para sua listinha negra dos odiados, e eu sinceramente não queria entrar nela ou sabia que nunca, e nem nos meus melhores sonhos, conseguiria ter algo de verdade com .
— Eles não estão lá embaixo — disse assim que voltou, ele tomava um pouco de ar.
— Você não procurou direito, procura de novo! — ordenou e eu precisava intervir nisso, ou ela ficaria mandando ir e voltar até ele ter alguma resposta que a agradasse.
— O carro do não está no estacionamento, eles não estão lá embaixo — repetiu com mais calma agora e pausadamente para ver se dessa vez sua mãe entendia.
— Olha, por que não vamos todos para casa e depois eu saio com o para poder ver se achamos a e o ? — sugeri de forma cautelosa, com medo que Jess não gostasse daquilo.
— Hm. — Ela me encarou e depois olhou para . — Pode ser. Mas só me voltem para casa com aqueles dois! — falou com seu jeito prepotente e se levantou da cadeira. — Vamos, Joe e... Como essa garota se chama mesmo? — Apontou para Naomi.
— Meu nome é Naomi. E se a senhora ainda não entendeu, eu posso escrever na minha testa — respondeu se levantando parecendo bem irritada. — E não vou a nenhum lugar com a senhora. Eu vim com o e se ele não está mais aqui, prefiro pegar um uber ou ir a pé do que ir de carona contigo — respondeu em alto e bom som, me fazendo erguer as sobrancelhas com tamanha coragem que teve para falar daquele jeito com Jess.
— Olha aqui garotinha... — Jess começou já toda superior para cima de Naomi, que a cortou logo em seguida.
— Olha aqui você! — Apontou o dedo para ela. — Nem a minha mãe fala desse jeito comigo, não vou deixar qualquer um falar. Aprenda a respeitar os outros, inclusive seus filhos, ninguém é capacho seu para você ficar pisando! Com licença e passar bem! — Bateu com sua mão em cima de sua bolsinha que estava em cima da mesa e saiu andando.
Todos nós ficamos espantados com aquilo, ninguém esperava aquela reação de Naomi. Eu não a conhecia, mas ela sempre me pareceu ser uma garota bem calma, engano meu. Peguei a chave do meu Honda em cima da mesa, juntamente ao meu celular e fui andando de fininho, rezando para que Jess não começasse a fazer escândalo de novo lá dentro. Fiquei lá embaixo esperando o resto do pessoal descer.
Acabou que Joe e A.J. quem foram no carro dos pais de e Naomi acabou indo no utilitário que Theo estava dirigindo. Ella, que tinha ficado sobrando, pegou carona com Bradley, e no fim deu todo mundo nos carros sem que ninguém precisasse ir embora de uber. O caminho até em casa foi bem rapinho, mas tive que esperar para sairmos novamente, pois ele foi levar Eric em casa. Quando ele voltou, o carro estava vazio. Uni minhas sobrancelhas, achando aquilo estranho.
— Vem, vamos logo. — Ele abriu a porta do carona e eu já subi apressada.
— Cadê a , e Troy? — perguntei, já colocando o cinto de segurança.
— Ficaram no Eric, ninguém aguenta mais a minha mãe. Eles nos chamaram para ficar lá, você quer? — ofereceu, mas olhei para a casa de Anne, pensando que aquilo só nos renderia mais dores de cabeça. — Essa vai ser a nossa única oportunidade de ficarmos juntos enquanto minha mãe estiver aqui. — Agora o encarei sem saber o que responder.
— Mas a sua mãe nos mandou ir atrás da . — Usei aquilo como resposta.
— Acha mesmo que vou atrás da minha irmã? Se bem a conheço, ela se escondeu e não vamos conseguir achá-los nem se rodarmos Oxnard toda. — Naquilo ele tinha razão. — Então, vamos para o Eric? Ou podemos ficar andando por aí também até o sol nascer. — Sorriu abertamente e eu estava com saudades daquele sorrisão. — Você escolhe.
— A casa do Eric já deve estar parecendo um motel, aquele lugar não precisa de mais um casal. — Só depois que falei é que me toquei que nos chamei de casal, então olhei para frente, sentindo minhas bochechas queimarem. — A praia... Er, digo, andar na praia, não, andar no sol e ver na praia. Porcaria, você me entendeu. — Nesse momento queria esconder meu rosto enquanto ria da minha trapalhada. — Para de rir! — pedi, mas isso só o fez rir ainda mais.
— Desculpa, é mais forte do que eu. Foi engraçadinho demais você se enrolando. — segurou meu queixo e virou me rosto, me fazendo encará-lo. — Juro que não vou rir de novo — falou, só que soltou uma risada. — Ok, a partir de agora. — E me deu um selinho. — Para qual sol devemos ir? Digo, praia? — zombou.
— Vai se ferrar, — mandei, rindo um pouco apesar da vergonha.
— Não conheço essa praia em Oxnard. Para onde é que fica? — perguntou com seu jeito brincalhão e eu estava feliz de vê-lo melhor.
— Para lá! — Apontei para frente, indicando qualquer lugar para podermos sair logo dali.
— Ok. Você indica o caminho, pois não faço ideia de onde é. — Ligou novamente o carro e finalmente saímos da frente daquela casa.
Ficamos dando voltas pela cidade para ver se achávamos uma praia que nos agrava e acabamos indo para Ventura, conhecido também como San Buenaventura. parou o seu Ford no estacionamento do píer de Ventura, que por sorte conseguimos passar, pois só faltava cinco minutos para dez da noite. O lugar já estava prestes a fechar, mas agora teríamos que ficar ali até as seis da manhã, pois não conseguiríamos sair. Ainda achava melhor termos estacionado na rua, mas parecia que ele sabia daquilo e por isso quis parar ali dentro como pretexto para não irmos embora antes que o sol nascesse. Talvez a noite seria mais longa do que o esperado, não sabia se conseguiria ficar acordada por tanto tempo. Tinha levantado cedo demais para aquilo.
Subimos as escadas que davam acesso ao píer e fomos andando abraçados por ele que era muito maior do que parecia. Tinha um restaurante de frutos do mar ali, e se não tivéssemos acabado de sair da pizzaria, eu até me animava a comer algo. Continuamos caminhando até o final e nos sentamos em um banco, optando pelo que tinha encosto. A brisa estava soprando bem gelada e eu me encolhi um pouco, lembrando do casaco que tinha deixado dentro de meu carro. Poderia ter lembrado de trazê-lo.
Vi se mexendo um pouco inquieto ao meu lado, e comecei a achar que talvez ele estaria incomodado por não estar falando nada. Então comecei a vasculhar a minha mente, procurando por assuntos que não teriam nada relacionados àquela noite, especialmente na parte dele cantando Can't Help Falling In Love enquanto me olhava e na qual cantei Still Into You tão dura que mais parecia uma estátua do que qualquer outra coisa. Nossa, que mico! Preciso me lembrar de não fazer isso novamente, quase morri de vergonha com todo mundo me olhando sem falar nada. Suspirei e abaixei minha cabeça.
— Está tudo bem? — ousei perguntar, mas minha voz saiu tão baixa que fiquei na dúvida se ele tinha ouvido, ainda mais pelo longo silêncio que se formou depois.
— É. — Estalou os lábios, parecendo contrariado e eu não entendi o motivo daquilo. — Estava pensando na minha irmã e tentando entender o motivo dela estar agindo de tal forma ultimamente. — Franzi o cenho com aquilo. O problema não era estar feliz e agindo impulsivamente e sim se incomodando demais e a tratando mal por conta disso.
— Nossa, você está ficando chato que nem a sua mãe — falei contrariada, me desencostando dele, e me olhou sem entender nada. — Ninguém aguenta vocês dois! Já estou com dor de cabeça por causa dos berros que Jess dá o tempo inteiro — continuei e suas sobrancelhas se ergueram, demonstrando sua surpresa. — E outra, deixa a sua irmã ser feliz. Me responda, qual foi a última vez que você viu a tão feliz assim? — Lhe dei um tempo para responder, mas ele não conseguiu formular nada. — Nunca, . Desde quando a conheço, sempre a vejo se esforçando ao máximo para ficar no mínimo bem. pode ter momentos felizes, rindo de algo engraçado, mas ela nunca esteve feliz, não como agora, e você sabe disso! — O olhei seriamente, e seu olhar caiu. Eu sabia daquilo não apenas por observá-la e sim porque nós éramos melhores amigas, ela me contava tudo, mas isso em especial só me contou apenas uma vez, alegando que não era algo que queria que as outras pessoas soubessem, pois queria parecer que estava sempre bem, e fazer com que os outros acreditarem naquilo tornava tudo mais fácil. — Então para de implicar com tudo que ela faz. Sua mãe já dá conta disso muito bem e não precisa de apoio. — Ele nem sequer me olhava e aquilo estava me irritando um pouco. — Sei que tenta tirar o seu da reta para Jess não pegar no seu pé, mas, caramba, você está ficando muito chato! Até tirou sua barba! Eu tinha até gostado dela, mas prefiro sem — falei em um tom de brincadeira para tentar quebrar um pouco do clima pesado que se instalou entre nós.
— Eu sei, eu sei de tudo isso que você falou, mas é que fico tão irritado como a mãe, e ainda mais como ela trata a ... — O interrompi, não fazia o menor sentido o que estava falando, mas ele não deixou. — Minha mãe fica jogando tudo em cima de mim e eu fico louco. As coisas pioram muito quando ela machuca a minha irmã e eu... — Prendeu o ar e passou a mão no rosto. — E eu não sei o que fazer para parar! Como fazer ela parar com essa merda toda! Meu pai não fala nada e eu... Eu... Eu só não sei o que fazer.
— Quem está irritada agora sou eu! Na verdade, a única coisa que você sabe fazer com isso tudo é ficar com cara de bunda e enterrar ainda mais a sua irmã! Já seria um começo se não brigasse ainda mais com a . — Revirei meus olhos e percebi me encarar. Aquilo era tão óbvio. — Primeiro, esquece a sua mãe, ok? — pedi agora tentando ficar calma. — Abstrai o que ela diz. Deleta as besteiras que saem da boca dela.
— Eu tento. — Jogou a cabeça para trás e deslizou seu corpo pelo banco, esticando suas pernas e as deixando no meio do caminho, fechando os olhos. — Mas a é fora do controle. Eu não consigo deter as coisas que minha irmã faz e ela se machuca por isso, e isso me irrita, e eu quero que ela fique bem. me deixa louco! — reclamou no final. Na verdade, quem estava fora do controle era ele. — A mãe fica jogando isso na minha cara, que eu deveria controlar a minha irmã, que eu sou o mais velho, então preciso ter essa responsabilidade! — A única coisa que consegui foi rir daquilo, pois era ridículo.
— Eu entendo que você quer cuidar dela — falei, parando de rir e tentando ficar séria. — Só que a sempre foi sem controle e nunca morreu por isso. Ela sabe se cuidar sozinha, do jeito insano dela, mas sabe, então só relaxa. — Segurei sua mão e ele abriu os olhos e virou o rosto, me encarando. — Você só vai conseguir afastar a sua irmã — avisei, já que isso era algo bem claro começando que ela não confiava mais nele para contar nada. — sabe que você está aqui quando ela precisar... ou não — brinquei, mas era verdade. Talvez nem tanto assim, pois ficou claro isso no dia que nós fomos presas e ela pediu ajuda para o em vez de pedir para o . — Só para de ficar em cima dela o tempo todo brigando e sendo uma Jess 2.
— Eu sou um inútil mesmo, não é? Nunca consigo ajudar a minha irmã quando ela precisa. — Provavelmente chegou àquela conclusão quando falei o “ou não”.
— Não diga isso. — Me aproximei dele e o abracei. — Você não é inútil. Na verdade, acho que a faz tudo isso, essa loucura toda dela, porque sabe que você vai estar sempre aqui. — Dei um beijo em sua cabeça. — Afinal, alguém tem que ter juízo. E se você não tivesse, provavelmente ela teria. Porque tem sempre que ter alguém para segurar as pontas — brinquei mais um pouco. — Você já viu uma família a qual não tivesse o filho com cabeça no lugar? Sempre tem um. E nessa família esse filho é você. — riu.
— Não queria ser esse filho. É chato tentar ser o certo o tempo todo. — Fez uma careta enquanto me abraçava de volta. — Você ainda vai querer ficar comigo mesmo eu sendo chato?
— Só se você não se tornar uma Jess 2. — Sorri para ele, que riu um pouco. — Está ficando rabugento demais, até parece um velho — coloquei pilha.
— Acho que foi tudo culpa da barba, ela me deu muitos anos. — começou a rir e eu não aguentei e ri junto com ele. — Agora é sério. Vou tentar ser melhor e ser menos chato. Quando eu começar a ser um mala você pode me bater.
— Eu não bato em ninguém. — Torci o nariz. — Mas posso te chamar de Jess — sacaneei.
— Acho que prefiro levar um puxão de cabelo ou de orelha. — Fez uma careta muito engraçada, me causando mais risadas. — Um chute na canela também serve.
— Não, sem agressão. Não quero ser comparada com sua mãe por isso — disse, fazendo cara de nojo. — Vou pensar em algo.
— Está bem. — Encostou sua cabeça em meu peito.
Ficamos em silêncio apreciando um a companhia do outro. Ficamos vendo a lua aparecer e deixar seu belo reflexo na água. Acho que aquele era o lugar mais bonito que eu já tinha visto em toda a minha vida, só que ele se tornava ainda mais especial por estar ali comigo. Eu achava engraçado como em toda a minha vida perdi meu tempo procurando por algum sentido, enquanto ele estava bem aqui ao meu lado. Sempre foi o o meu sentido, o que realmente faltava em mim. Meu coração nunca esteve satisfeito e eu me enganava, dizendo a mim mesma que era apenas coisa da minha cabeça, mas não, nunca foi. Na minha cabeça, nós seríamos sempre amigos e isso ainda me assustava um pouco, pois sabia que se não déssemos certo eu iria perdê-lo para sempre, e não só ele, como a também. Sabia que isso era um caminho sem volta. Estava jogando alto demais, mas não conseguia mais deixar meus sentimentos de lado e mais uma vez ignorar aquilo tudo, não mais.
Passamos a noite toda ali, abraçados, conversando e até mesmo nos beijando. E por mais incrível que fosse, eu não estava com o menor sono. tinha conseguido me deixar acordada para poder ver o sol nascer, já que eu nunca tinha visto. Eu fiquei maravilhada com os primeiros raios que começaram a aparecer, aquilo era muito lindo, não conseguia tirar meus olhos daquela belo espetáculo.
Senti os braços de me envolverem por trás, então olhei por cima de meu ombro e pude ver o sorriso enorme que ele estava dando, assim como eu. Não resisti e me virei. Segurei seu rosto com as duas mãos olhando dentro de seus olhos cor de avelã, e em apenas um impulso o beijei. E como eu tinha dito para as meninas mais cedo: era o dono do melhor beijo de toda a minha vida.
11.3. Get Low feat. Liam Payne
Bônus.
’s POV
Sacudi pela milésima vez. Eu não estava acreditando que ele tinha dormido em cima de mim sendo que combinamos de voltar para casa assim quando o sol nascesse. Aquilo parecia até piada, e talvez fosse, já que Troy e Eric riam de se torcer em vez de me ajudar com aquilo. Então puxei o cabelo de e isso fez com que ele abrisse os olhos, soltando uma risada e tentando segurar a minha mão que ainda puxava seus fios.
— Olha só, o defunto não estava morto — comentei séria, já me levantando daquele chão. Minhas costas estavam doendo. — Vamos embora, antes que a tia Jess acorde e veja que ninguém dormiu em casa.
— Você deveria se preocupar com o que sua mãe vai achar e não a sem noção da Jess. — levantou também, rindo ainda.
— Concordo plenamente com ele. — Troy apontou para . — Quem está ligando para a Jess aqui? — Balançou seu alcaçuz e colocou a ponta na boca, o mastigando. — Eu não estou.
— Levando em conta que a ainda não deve ter voltado com o , estou considerando que se também não estivermos lá, isso pode ocasionar a terceira guerra mundial — falei, sabendo muito bem como era minha tia, aquela ali tinha esporro para dar e vender e não importava quem era. Se Jess não gostar de algo, já era motivo o suficiente para sair cuspindo merda em cima de todo mundo. — Então vamos logo antes que as coisas se tornem insuportáveis naquela casa.
— Vocês podem ficar aqui enquanto ela está lá — Eric sugeriu aquilo novamente pela vigésima quinta vez, ou era a vigésima quarta?
— Vamos pensar nisso com muito carinho — respondeu. — que nos deu um perdido também. Onde será que ele está?
— Iremos saber se formos para casa. — Ergui minhas sobrancelhas, esperando se mover em direção à porta. — Troy, você também. Anda, vamos. Pode ir levantando. — Dei uns tapinhas em seus joelhos. — Não vamos escutar merda sozinhos.
— Ah não, ! — choramingou o menino, se agarrando em Eric.
— Anão é um homem pequenininho — lembrei, rindo um pouco, e eles riram comigo. — Anda, vamos logo. — Dei um pulinho.
Saí andando na frente e fui esperar os dois do lado de fora, íamos a pé para gastar um pouco o nosso tempo e não chegarmos lá às seis e meia da manhã, e também iríamos passar no mercado para comprar alguma coisa para comermos, para darmos como desculpa que tínhamos saído cedo para fazer um belo café da manhã para todos e não que estávamos chegando àquela hora. Segundo o que me contou, e sempre faziam isso para disfarçar quando chegavam de manhã depois de alguma festa, já que a mãe deles ficava vigiando da janela para ver a hora que iriam aparecer, e ele disse que essa técnica já os salvou muitas vezes. Então iríamos aderir àquela estratégia hoje para que Jess não fizesse um escândalo daqueles se nos visse.
Senti as mãos de segurarem minha cintura por trás e ri, já sentindo seus lábios me encherem de beijos pelo pescoço e ombros, fazendo cócegas. Me virei e passei os braços ao redor de seu pescoço, dando um enorme sorriso enquanto o olhava. Ai, me fazia tão bem que tinha sido até fácil me esquecer de Daniel. Ele agora era só como uma sombra no meu passado a qual eu não queria pensar. Eu estava jogando uma coisa em cima da outra em uma tentativa desesperada de não sentir o peso de tudo aquilo sobre meus ombros, pois sabia que se parasse apenas por um segundo para pensar sobre tudo o que aconteceu, eu desabaria totalmente. Estava lutando com todas as minhas forças para que isso não acontecesse e me agarrava em , pois ele era capaz de espantar todos os pensamentos ruins, assim como os sentimentos, aqueles que não queria sentir de forma alguma, mas era impossível, eu ainda estava acorrentada ao que sentia por Danny, e isso me sufocava cada segundo, no qual tentava a todo o custo ignorar.
— ? — chamou e eu pisquei os olhos duas vezes, tentando entender o que ele estava falando comigo. — O que houve? Você ficou aérea de repente. — Me olhava com atenção.
— Hã? Nada — menti e me soltei dele. — Acho que estou com sono. — Passei a mão em meu rosto, tentando disfarçar. — Troy! Vamos embora logo antes que eu entre aí dentro e te pegue no chinelo! — reclamei, indo até a porta.
— Nossa, isso tudo é sono? — Ele já veio reclamando enquanto me olhava com Eric logo atrás. — , ocupe a boca da sua mulher, ela está começando a ficar raivosa e até onde eu saiba, raiva pega e não quero que ela me morda. — Em uma única frase, ele tinha conseguido me chamar de cachorra raivosa que tinha um dono. Troy era mesmo incrível!
— Não sou mulher do . — Revirei meus olhos, ouvindo a risada de e Troy. — Mas estou mesmo considerando te morder se não sair logo dessa casa. — Cruzei meus braços e fiquei esperando que andasse logo.
— É melhor eu ir então, antes que ela me ataque de verdade — debochou e se virou, ficando na ponta dos pés para conseguir beijar Eric, e mesmo assim não teve altura o suficiente, já que o loiro tinha mais de um metro e noventa.
— Mas é um toco de amarrar jegue mesmo — impliquei com sua altura, ele era do tamanho de e mais alto do que eu, obviamente, mas ainda assim era engraçado zoar aquela questão dele com Eric. — Vou comprar umas três tabelas e te dar de presente.
— Você sabe o que vou fazer com essa três tabelas? — perguntou, já se virando com as mãos na cintura, e eu ergui uma sobrancelha, esperando sua resposta. — Isso mesmo que você pensou! — acusou, apontando em minha direção, mas eu sinceramente não tinha pensado em nada. — Vou usar, porque o Eric é muito alto e me dá dor no pescoço ter que ficar olhando para cima. — Não aguentei e ri alto daquilo, assim como e Eric.
— Você nunca tinha reclamado disso — o loiro argumentou. — Da próxima vez, vou ajoelhar para ficar do seu tamanho — sacaneou, nos fazendo rir ainda mais.
— Meu pescoço e minha coluna agradecem. — Troy sorriu, rindo um pouco. — Agora vamos logo — começou a bater as mãos como se espantasse gado. — Você não estava me apressando tanto para irmos embora? Agora mexa essa bunda para fora dessa varanda.
— Eu sei que você inveja nossas bundas, bebê. — Lhe mandei um beijo e depois acenei para Eric. — Vai mais tarde lá em casa?
— Eu acho que seria mais agradável se vocês viessem para cá. — É, ele tinha razão, seria bem melhor memo.
— Olha, eu achei isso uma excelente ideia. — concordou. — Tenho certeza de que antes do meio-dia nós estaremos aqui de volta.
— Com toda a certeza — Troy afirmou, fazendo uma cara de cansado. — Minha cabeça já está doendo antes de chegarmos lá.
— Está bem. Irei esperá-los. Qualquer coisa, me ligue. — Pediu e nós concordamos com a cabeça. — Até mais tarde.
— Até — falamos em coro e Eric fechou a porta enquanto já nos virávamos e começávamos a andar.
Fomos caminhando abraçados como três bêbados na rua até o mercado. Estávamos cansados, e com preguiça, mas quanto menos tempo passássemos em minha casa era melhor. Compramos algumas coisas bem gostosas e quando chegamos ao caixa, ficamos olhando a quantidade de coisas que tínhamos pegado, e aquilo seria demais para levarmos na mão, mesmo que só estivéssemos há meia hora de casa, então começamos a nos desfazer de algumas, até que entramos em uma discussão sobre o que não podia ser tirado de forma alguma. A mulher do caixa nos olhava com extremo tédio, esperando que nos decidíssemos logo para poder atender os outros clientes que já estavam esperando, formando uma pequena fila atrás de nós. Por fim, saí pegando as coisas, ignorando os dois que ainda brigavam e fui dando para a mulher o caixa passar.
— Qual dos dois bonitos vai pagar? — perguntei, me virando para eles, e só aí que se tocaram que eu já tinha passado tudo.
— Eu. — Troy tirou a carteira do bolso e pegou seu cartão, me entregando.
Passei seu cartão e lhe entreguei de volta. Peguei as sacolas mais leves e saí do mercado, deixando os dois que ainda discutiam para trás. Logo eles já vinham correndo atrás de mim reclamando que eu não havia os esperado. Dessa vez fomos andando mais rapidamente, e chegamos em casa antes do previsto, nos deparando com o carro de sendo fechado pela pick-up de , ambos tinham chegados juntos. Nossa, aquilo era muita coincidência.
— O que vocês estavam fazendo fora até essa hora? — já saiu do carro perguntando para enquanto puxava seu vestido curto para baixo, cobrindo suas coxas.
— Fomos apenas comprar ovos. — Levantou a sacola, e nós rimos. — Vocês acabaram com eles ontem.
— Só se você acordou com a galinha os pondo, né? — brincou.
— Não sabia que a Sophie acordava cedo. — soltou e eu berrei, rindo daquilo assim como todo mundo.
— Acho que você não foi o único. — Ela abriu a porta de trás do Corolla e tirou algumas sacolas lá de dentro. — Agora é sério. Aonde estavam? Eu sei que não passaram a noite em casa. — Olhou para todos. — Ninguém pelo visto, né? — Minha prima já ria divertida. — Estão com a mesma roupa de ontem.
— É que não queríamos sujar outras roupas. — Troy teve a cara de pau de falar aquilo. — Sabão líquido está caro. — Começamos a rir.
— Ok. Todo mundo usou o truque do: Acordei cedo e fui comprar comida. — falou rindo um pouco. — Somos uns gênios mesmo, mas se Jess ainda não acordou nós podemos falar que voltamos tarde e sei lá, inventar algo.
— Olha só, temos uma mente perversa entre nós. — debochou abraçando de lado, enquanto ria um pouco, e ela lhe lançou um olhar reprovador. — Ok, nem tão perversa assim.
— Vamos entrar logo! Estou faminta! — disse já indo na frente, e quando abri a porta, dei de cara com Jess parada no hall, de braços cruzados como um cão de guarda. — Bom dia, titia querida! — berrei para que o pessoal que estava do lado de fora pudesse ouvir e dar um jeito de me esconderem. — Dormiu bem? — Fui até ela com os braços abertos.
— Para de palhaçada, . Cadê a e o ? — Já soltou aquilo quase espumando pela boca e eu levantei minhas mãos como se estivesse sendo assaltada.
— Não sei onde estão, eu saí com e o Troy para comprar algo para comer. Já olhou lá em cima? — perguntei e fui até a porta, colocando apenas minha cabeça para fora. — Vocês dois vão ficar admirando a arquitetura da casa ou vão entrar? — Olhei para e Troy, fiz final para que os outros sumissem dali, e eles saíram correndo para a lateral da casa. Gênios. Acabariam sendo pegos.
— Querida, eu só não procurei no inferno por que não tem como ir lá. — Jess rebateu e abriu a porta, quase acertando ela em minha cara e olhando para o lado de fora, procurando pelos seus filhos. — Se você estiver os acobertando, vai ver uma coisa só. — Soltou a porta e saiu andando para dentro de casa.
— Não? Eu pensei que você tinha conchavo com o Satã. — Rebati bem baixo para que não escutasse.
— O que você falou para ela? — perguntou quando passou por mim.
— Que tinha ido visitar o Satanás e que ele mandou um beijo para ela. — Respondi e ele riu. — Falei que tínhamos ido comprar algo para comer. — Expliquei e fechei a porta assim que Troy passou por ela. — Se desarrumem um pouco para ela não achar que estávamos desde ontem na rua.
— Onde vocês dois... Que blusa é essa ? — Ouvimos Jess berrando, então corremos até a sala para ver o que estava acontecendo. Nos deparando com vestindo uma blusa de onça. De onde ele tinha tirado aquilo? — E o que você está fazendo com esse vestido assim? Arrume isso! — Então olhei para minha prima, reparando como ela estava. tinha tirado a parte de cima do vestido e amarrado as mangas dele na cintura, ficando só de top preto na parte de cima.
— Ai, você gostou? — perguntou para sua mãe, puxando a barra da blusa para baixo e a balançando. — Eu amei! — disse de um jeito afeminado. Segurei a risada com aquilo, assim como e Troy.
— Toma jeito, menino! — Lhe deu um tapa no ombro.
— Ué, o que você está fazendo com a blusa do ? — apareceu, descendo as escadas, já vestida com uma roupa dos meninos, descabelada e com a maquiagem borrada. Nossa, eles tinham sido mesmo rápidos.
— De onde você saiu? — Jess perguntou incrédula para .
— Ué, eu dormi lá em cima. Não queria acordar vocês na hora que chegamos.— explicou, dando um bocejo. — Acordei com você falando alto. O que houve? — quis saber, fazendo a maior cara de sonsa do mundo.
— Eu não te vi lá em cima! — rebateu um pouco mais calma e depois olhou para seus filhos. Eu, e Troy nos sentamos nos bancos do balcão para ver o que eles iriam falar. Aquilo estava bem divertido.
— Você não olhou direito. — veio andando até o balcão e começou a mexer nas nossas sacolas. — Tem suco? — perguntou, me olhando.
— Não compramos, mas tem na geladeira. — Apontei para ela.
— Parem de me enrolar e me falem agora onde estavam! — Jess olhou para e .
— Dormindo? — minha prima sugeriu e sua mãe a olhou com os olhos cerrados.
— , você pegou minha camisa de novo? — desceu as escadas perguntando, ele estava só de cueca. E nossa, ele tinha um belo físico. Estava o observando com todo o respeito, é claro.
— Mas é claro, uma coisa horrível dessa só podia ser de quem? — minha tia disse como se tivesse concluído algo. — Espera. — Olhou para e depois para . — Vocês dois... — Apontou para eles repetidas vezes.
— O quê? — uniu as sobrancelhas. — Eu e o ? Juntos? Sem roupa? Não, não.
— Eu com ela? — fez cara de nojo e olhou para minha prima de cima embaixo. — Não, obrigado. — Nós queríamos rir.
— Ah, parem de palhaçada com a minha cara. Eu sei que estão juntos. — Jess se alterou, e isso me fez erguer as sobrancelhas.
— Mãe, na verdade... — começou a falar e abaixou a cabeça. — A só estava tentando me ajudar.
— Como assim te ajudar, ? — Todo mundo ficou em silêncio, tentando entender o que ele estava falando. — Levanta essa cabeça e fala que nem homem!
— Ok. Ok. — Balançou a cabeça em negação e a levantou, olhando sério para sua mãe. — estava fingindo que estava com o , mas a verdade é que ele é meu namorado. — Apenas ouvi se engasgando atrás de mim, e quando olhei por cima do ombro, já vi ela toda suja de suco de laranja.
— É o que, ? — sua mãe berrou e voltei a olhar para frente, vendo a velha já ficar vermelha — repete isso que você falou. — Minha prima já estava com a mão na boca, segurando a risada.
— Por que eu não estou filmando isso? — Troy perguntou, dando socos na madeira do balcão. — Isso está ficando muito bom. Cadê a pipoca?
— Vou fazer — respondeu, rindo e se levantando do banco.
— Poxa, . — foi se aproximando dele e o abraçou por trás. — Você estragou a brincadeira. Estava tão legal fingir que tinha algo com a . Ela é bem divertida, finge bem. — Deu um beijo no pescoço de meu primo enquanto Jess olhava para aquilo totalmente desacreditada.
— Solte meu filho, seu sujeitinho petulante! — Deu um tapa no braço de , que já começou a rir, e isso fez cair na risada assim como nós.
Todos nós iríamos acabar apanhando e rindo, iríamos direito para o inferno rindo, e queimaríamos rindo. Aquela cena estava sendo hilária demais! Eu iria rir daquilo até 2050! Melhor distração ever para não assumir que passamos a noite fora. Aquilo seria algo que eu contaria para meus filhos. O dia que o tio resolveu sacanear a mãe e falar que era gay. Muito bom! Eu não sei o que tinha feito para estar com um humor tão bom, mas sem dúvidas ela tinha operado um milagre ali.
— Mãe, para. Deixa o ! — pediu e se virou para o mesmo. — Você está bem, amor? — Segurou o resto de e eu berrei, quase caindo da cadeira.
— Amor? ! — Jess estava a ponto de ter um sincope de tanto nervoso. — Solta esse menino! — Começou a puxar para trás, mas ele abraçou , que o abraçou de volta, então Jess tirou seu chinelo e começou a bater nos dois com aquilo, que riam de não se aguentarem. — Solta! — berrou, pulando e nós estávamos já chorando de rir. estava deitada no chão, rolando de um lado para o outro, com a mão na barriga, dando gargalhadas.
— Ai, sogrinha, vai com calma! — pediu, rindo e tomou uma chinelada na bunda. — Ah, não! Apanhar na bunda só gosto quando é do . Ai... Os tapas dele... — Suspirou, fazendo uma cara de como se lembrasse dos tais tapas. Jess parou e ficou olhando para ele enquanto estava quase caindo no chão de tanto rir, se não fosse por o segurando com força, certamente ele já estaria que nem sua irmã. — São deliciosos. — Soltei mais um grito, rindo super alto e me segurando no balcão. Já escorriam lágrimas de meus olhos.
— Parem de rir! Não tem a menor graça nisso! — Jess tentou separá-los mais uma vez, mas foi inútil. — Você foi atrás dele ontem à noite, ? — não conseguia responder de tanto que ria.
— Foi. Nós marcamos um ponto de encontro. — não parava com a pilha e isso só faria Jess o odiar mortalmente, mas parecia que esse era o seu objetivo. — Você quer os detalhes de como foi? — Ela arregalou os olhos e começou a dar mais chinelada nos dois.
— Meu Deus, por que foi dizer isso? — parou do meu lado rindo também, tentando se secar com um pano de prato.
— Não sei. Mas isso está muito bom — respondi, rindo ainda mais, vendo os dois já todos marcados com a sola do chinelo, ela não parava com aquilo.
— Meu Deus, Jess! Que escândalo é esse? O que está acontecendo aqui? — Tio Rogers apareceu na sala só de samba canção e eu acho que nunca vi uma tão ridícula. Ela era preta com várias boquinhas vermelhas. Céus! Eu ri ainda mais. — Pare de bater neles. — Segurou sua esposa, que se debatia tentando se soltar. — Por que vocês estão apanhando? — perguntou aos meninos, já que tinha tia não falava nada a não ser xingar seu marido.
— Ela está nos agredindo porque assumimos nosso relacionamento. — explicou e tio Roger uniu as sobrancelhas.
— Seu com a ? — Parecia não entender muito bem.
— Não, meu com o . — E agora foi a vez do tio começar a rir.
— Querem? — voltou para meu lado e colocou uma bacia de pipoca sobre o balcão.
— Você fez mesmo! — falei, rindo ainda mais daquilo e peguei um pouco de pipoca.
— Mas é claro. Um espetáculo desses não podia dispensar uma boa pipoca — respondeu, colocando algumas na boca.
— Quem precisa de novela mexicana quando se tem o em casa? — Troy questionou, jogando uma pipoca para cima e a fazendo cair em sua boca. — Esse cara é polêmica pura.
— Eu aposto vinte pratas que eles vão apanhar mais quando a Jess descobrir que é tudo mentira. — já colocou o dinheiro sobre o balcão.
— Eu aposto cinquenta que vai ser de cinto. — Troy colocou o seu cartão sobre dinheiro. — Vocês aceitam débito, né? — Eu só conseguia rir daquilo. Eles eram idiotas demais.
— Me solta, Roger! — Jess berrou e conseguiu se soltar, indo para cima dos meninos depois e pegando pelos cabelos. — Você não vai ficar aqui em casa! — Começou a arrastar ele em direção a porta.
— Mãe, larga de ser idiota. Eles estão brincando. — já levantou do chão, séria, e fez sua mãe soltar . — Para, está machucando eles — pediu, de forma calma. — Era brincadeira. nunca ficou com o . Ele está ficando comigo — admitiu e Jess a encarou.
— Você está tentando acobertar seu irmão como sempre fez! — Deu um tapa com força no braço de minha prima, fazendo seus dedos ficarem marcados rapidamente na pele dela, e aí parou de rir, entrando no meio delas. — Sai da minha frente, garoto.
— Tudo bem me bater, eu realmente não ligo, mas você não vai fazer o mesmo com ela, não na minha frente — ele disse e todo mundo parou de rir. — não está mentindo. Nós estávamos brincando. Eu não tenho nada com o — falou bem sério. — E se quer saber onde estávamos, nós todos chegamos tarde em casa e fomos lá para o terraço, porque a noite estava bonita, e só.
— Eu fui lá em cima agora de manhã e não tinha ninguém lá! — Jesse rebateu, olhando para ele com raiva.
— Nós fomos ver o nascer do sol na praia, só isso. Se você tivesse chegado à varanda, teria nos visto na areia. — Nossa, ele mentia bem que até eu estava acreditando estava lá também. — Voltamos e subimos, até que e ouviram você brigando com a e vieram ver o que estava acontecendo. — tinha pensado aquilo tudo em que hora? Estava maquinando quando estava apanhando ou estava vindo tudo no improviso? — Agora você poderia, por favor, parar com tudo isso?
— Por que vocês fugiram da pizzaria ontem à noite? — Jess era realmente um cão! Caraca, aquela mulher era muito chata.
— Porque queríamos ficar longe de você. — Ow! Aquela doeu até em mim. — E se falássemos que íamos sair sozinhos, você não deixaria. — Cruzou os braços. — É só isso ou você quer saber de mais alguma coisa? — Jess o olhou com raiva e saiu andando, pegando seus chinelos e indo para o quarto. Apenas ouvimos a porta batendo. Meu tio o olhava, assim como todos nós. — Roger, me desculpe por isso. — pediu a ele. — Não queria ser rude com ela e nem faltar com o respeito.
— Eu sei. Não se preocupe com isso. Jess não é alguém fácil de se lidar. Eu que peço desculpas por tudo. — E olhou de cima embaixo, estava todo marcado. — Eu vou falar com ela, com licença — pediu e se retirou.
— , desculpa por ter te enfiado nisso — pediu, se aproximando dele. — Mas obrigada por ter ajudado. — Riu um pouco e o abraçou. — Meu amor — brindou e todos nós rimos.
— Gente, cadê os meninos? — mudei de assunto, percebendo que ninguém tinha aparecido com aquele escândalo.
— Excelente pergunta. Não tem ninguém lá em cima. — respondeu, apontando com o polegar para a escada.
— Eles devem ter ido dormir na casa da Sophie. — Troy deduziu. — Perderam o show. — Comentou rindo enquanto comia pipoca.
— Vocês fizeram pipoca? — uniu as sobrancelhas, com um sorriso no rosto. — Vocês são ótimos mesmo. — Se aproximou do balcão, pegando um pouco e colocando na boca. — , quando você teve aquela ideia toda da praia e tudo mais?
— Não sei, veio na hora. — Deu de ombros rindo um pouco. — Estou morrendo de fome, vou pegar as coisas que comprarmos lá fora. — Saiu andando e foi atrás.
Nos juntamos e começamos a fazer as coisas para comermos, e parece que o cheio atraiu os outros meninos, já que eles apareceram parecendo que tinham fumado maconha a noite inteira e estavam com uma larica indomável, quase roendo as paredes. Arrumamos a mesa do lado de fora, já que ela era maior e depois nos servimos. Minha mãe surgiu com um sorriso enorme e se sentou comigo e .
— Como foi sua noite? — perguntou ela toda empolgada.
— Foi legal. — Sorri, dando um gole em meu suco logo em seguida. — A nossa chegada que foi bem recepcionada.
— Ah, eu ouvi. Nem saí do quarto, me fingi de morta. — Rolou os olhos enquanto comia sua torrada. Jess apareceu como se nada tivesse acontecido e sentou-se conosco. — Bom dia — minha mãe disse bem plena.
— Bom dia — respondeu com seu típico mau humor.
— Hey, trouxe para você. — surgiu de trás de mim colocando uma tigela com cereais na minha frente. — É assim que você queria, não era?
— Você foi de novo ao mercado só para comprar o cereal? — perguntei, com um sorriso enorme olhando para a tigela aonde tinha flocos coloridos misturados no leite.
— Claro, você disse que estava com vontade de comer, então fui lá buscar para você. — Isso me fez olhá-lo e ele aproveitou e meu deu um selinho, me fazendo dar um sorriso maior ainda. — Era esse que você queria?
— Sim! — Segurei as laterais de seu rosto e juntei os nossos lábios novamente. Daniel nunca tinha feito tal coisa parecida para mim antes e aquele simples ato do me fez gostar ainda mais dele. — Muito obrigada!
— Não precisa agradecer. — Ele sorria para mim. — Vou fritar mais bacon. Alguém quer? — olhou para as outras três que estavam na mesa.
— Eu aceito, querido — minha mãe pediu. — Se não for muito abuso.
— Claro que não. Já vou trazer para você. — Sorriu e saiu andando. Voltamos a comer em silêncio.
— Sabe, Anne — Jess começou e pelo seu tom de voz estava vendo que ela iria destilar seu veneno. — Se eu fosse você, não permitiria que namorasse esse garoto e a faria voltar com Daniel. Aquele sim era um homem de verdade, responsável e não um filhinho de papai — Acabei errando a colher em minha boca e caiu cereal em minha roupa. Minha prima cuspiu todo seu café, me sujando ainda mais. — Que isso, ! Tenha modos! — tossia engasgada e sua mãe lhe entregou um guardanapo. — Limpe essa cara, está toda suja.
— Meleca — reclamei, me secando com um papel. — Titia querida — comecei sem olhá-la. — Tem duas coisas muito equivocadas em sua frase. — Agora a encarei, cruzando meus braços sobre a mesa. — Se você soubesse apenas um pouco do que está falando, saberia que Daniel não é responsável coisíssima nenhuma. E o , porque é esse o nome dele, não é um garoto, como fala. — Jess me olhava com total cara de desdém. — Ele pode ser filho de papai como você diz, mas ele está sendo mil vezes melhor para mim desde quando chegamos aqui do que o que Daniel foi para mim em três anos.
— Ah, Daniel é realmente um homem maravilhoso. — começou a debochar. — Ainda mais com uma puta peituda pelada pulando em cima dele no meio de uma festa para quem quisesse ver. — Ela tinha aumentando um pouco, mas era verdade. Rapidamente Jess lhe deu um tapa na boca. Aquilo me fez arregalar os olhos na mesma hora. — Porra! — reclamou, colocando a mão no rosto, e levou outro tapa. Comecei a ficar com muita raiva.
— Para de falar que nem um moleque. — A repreendeu, e já a olhou com muita raiva. — Para que te dei educação?
— Para enfiar no cu! — Minha prima se levantou abruptamente da mesa limpando o canto de sua boca que já sangrava.
— ! — Jess berrou, mas ela já entrou na casa pisando duro. Minha mãe me olhou indicando que eu não deveria fazer nada. — Enfim. — Voltou a me olhar. — Não ligue para o que ele fez, todo homem faz isso, querida. — Eu não podia estar ouvindo tamanho absurdo.
— Oras, se acha isso tão normal pega e leva ele para casa então! — Rebati aquilo bem nervosa.
— Que isso. Quanta agressividade. — E quem ela era para falar sobre agressividade?! Sonsa do caralho! — Anne, você deveria dar um chazinho para sua filha, ela está muito nervosa. — Me olhou com um sorrisinho no rosto. Qual era a dela? Me irritar? Se for, já estava conseguindo.
— Ela não precisa de chá, a raiva dela tem nome. — Minha mãe lançou um olhar para sua irmã.
— E se chama Jess ! — Fiz uma cara de antipática.
— Nossa. — Levou a mão até seus peitos como se tivesse ficado ofendida. — Sabe o que é isso? Influência daquele garoto. — A olhei para ela com tédio. — Mas voltando ao assunto do Daniel. Veja por um lado bom, querida, pelo menos ele não sai por aí fazendo filhos. Daniel é um homem de respeito. — Uni as sobrancelhas, não entendendo o que ela queria dizer com aquilo.
— O que você está insinuando? — perguntei, mordendo minha bochecha por dentro, tentando me controlar.
— Não estou insinuando nada, só estou dizendo que ele não é como o , que sai fazendo filho em qualquer uma. — Automaticamente as pontas de meus dedos foram até meus lábios, surpresa com o que ela tinha acabado de falar. — Ué, ele não te contou que tem um filho? — Jess deu um sorrisinho e eu queria arrancar cada um dos seus dentes. — Acho que ele não é tão maravilhoso como achava que é.
— Jess, pare com isso. — Minha mãe mandou soltando seu gafo. — Se você não está feliz com a vida que tem o problema é seu, mas não vá estragar a felicidade da minha filha.
— Mas o que estou fazendo, Anne? Estou apenas contando à verdade que aquele menino não foi capaz de dizer. Isso é para ver que ele é de verdade. — ela falava como se tivesse toda a razão do mundo.
— Anne, aqui está seu bacon. — apareceu com um sorriso e sentou-se ao meu lado, entregando o prato para minha mãe.
— Com licença. — Me levantei rapidamente da cadeira sem olhar para ninguém e sai andando dali apressada.
Entrei na casa, puxando a porta de correr atrás de mim a fazendo bater. Theo, que estava na cozinha me olhou assustado, mas apenas virei meu rosto e entrei no corredor, indo para o quarto. Quando toquei a maçaneta para abrir a porta, pude ouvir do lado de dentro falando bem alto, enquanto gritava com ele de volta. Não queria me meter naquilo, e muito menos ouvir alguém gritando. Então sai pela porta no final do corredor e passei pela lateral da casa, já secando as lagrimas que desciam pelo meu rosto, indo em direção à praia.
Estava me sentindo tão sufocada com a raiva que crescia dentro de mim. Eu sabia, eu sempre soube! Eu só passava de uma diversãozinha qualquer para ele! Um joguinho fácil como outro qualquer, nos quais amava jogar. E como uma presa fácil, eu cai! Eu cai como uma idiota que sou! Nossa! Como sou burra! Como pude enganar a mim mesma?! Como? Era isso, eu não era boa o suficiente para que me contasse que tinha um filho. Não era digna de saber sobre a sua vida! Aquilo me fazia rir, mas rir de desespero, de nervoso. Cada riso era uma lágrima que descia pelo meu rosto molhando a gola de minha blusa. E cada lágrima era por um motivo diferente. Uma por mim, outra pelo Daniel, mais uma pelo meu relacionamento de merda, mais outra pelo que aconteceu... E assim vai, como uma cascata, uma avalanche que vinha descendo e levando tudo consigo. E sabe o que era o pior de tudo, Jess não estava mentindo, ela não mentia e nem ao menos tinha motivo par mentir sobre aquilo. Mas a parte que mais me doía era saber que eu era apenas uma curtição de verão para o , e que depois que ele acabasse certamente voltaria para seu filho e para a mãe dele, e claro, para sua vida de filhinho de papai! Apesar de que um filho era bem mais fácil de lidar do que uma traição, e também não estava comigo quando isso aconteceu, e Daniel estava! Eu nem deveria estar comparando isso, não faz o menor sentido, eu e não tínhamos nada, e nem teríamos! Isso estava bem claro agora.
Nossa, sentia tanta raiva! Mas tanta que não conseguia parar de chorar. Passei as mãos em meu rosto, tentando secá-lo, só que isso e nada foi a mesma coisa, já que logo em seguida já sentia as lágrimas molhando meu pescoço. Meus pés afundavam na areia conforme eu andava cada vez mais rápido, até que comecei a correr. Queria ficar o mais longe possível daquela casa. Até que comecei a ouvir me chamar. Aquilo só podia ser sacanagem! Não olhei para trás, fingi que não estava ouvindo, não queria falar com ele. Não queria falar com ninguém! Só queria ficar sozinha. Porém aquilo não seria possível, já que cheguei ao final da praia e um amontoado de pedras de mar me impediam de fugir dali. Me virei e encarei que já estava perto, e agora parava de correr e só diminuía o passo. Passei a mão em meu cabelo e tentei mais uma vez em vão secar meu rosto.
— O que aquela louca da Jess falou para você? — perguntou, quando estava perto o bastante.
— A verdade que você não contou. — Apontei para ele, dando uns passos para trás. — Um filho, ? Sério? — Uni minhas sobrancelhas com muita raiva. — Qual vai ser a desculpa que você vai dar? A mesma que todo mundo? Que não é assim? Que eu entendi errado? Hm? — o idiota não falou nada, apenas ficou me olhando. — Fala alguma coisa! — Empurrei seus peitos, mas suas mãos seguraram meus pulsos e ele simplesmente me abraçou enquanto tentava me soltar, só que no fim apenas parei com aquilo e deixei o peso de meu corpo cair sobre minhas pernas, fazendo com que ele se abaixasse junto comigo. Não conseguia parar de chorar. — Isso tudo só foi uma brincadeira para você, não foi? — Falei em prantos sentindo sua mão segurar minha cabeça contra seu peito. — Você chegou lá em casa, gostou do que viu e começou com o seu joguinho, então eu cedi e pronto. Era só isso mesmo que queria, não é? Uma transa fácil de verão. — Minhas mãos seguravam com força a camisa de .
— A Jess realmente me pintou como o verdadeiro filho de Lúcifer para você. — Foi a primeira coisa que falou e eu até riria se não estivesse com tanta raiva. — Não te contei nada antes porque não achei que uma mulher como você iria querer ficar comigo, ainda mais por estar noiva, então era irrelevante falar qualquer coisa da minha vida. — Aquilo me fez chorar ainda mais. — Só que as coisas aconteceram de repente e eu não tive o controle de nada. Você terminou com o Daniel e no mesmo dia eu te tive em meus braços. Não era como se eu fosse parar de te beijar e falar: Então , eu tenho um filho. — Sua mão alisava minhas costas, e eu simplesmente não conseguia mais ter reação de nada. — Então a semana veio passando tão rápido, e você estava tão bem que não consegui achar um momento certo para te falar isso, porque tive medo que fosse estragar tudo o que estávamos construindo, que a partir do momento que eu dissesse isso pareceria que estaria te pressionando. Seria como: Olha, se você quiser ter algo de verdade comigo, sabia que tenho um filho. — Aquilo tinha conseguido piorar as coisas, e muito. — Cara, você acabou de sair de um noivado. E apenas dar menção de que eu queria algo mais sério contigo do que só sexo, como disse, me pareceu algo bem pesado para colocar em seus ombros depois de tudo o que tinha passado. — Suspirou. — Eu só não queria te sobrecarregar com mais coisas. Sei que não contei algo importante da minha vida, mas queria que fosse especial, que não fosse um simples: Hey, eu tenho um filho e ele se chama Bear. — Ele riu sem graça. — Não peço que entenda o meu lado, e também não tiro a sua razão de estar com raiva de mim, mas só peço que não deixe que a Jess estrague o que estávamos construindo. Ela é uma babaca frustrada que não suporta ver a felicidade nem dos próprios filhos, imagina a nossa. Sei que ficou magoada com isso, mas me desculpa, nunca foi a minha intenção de machucar. — tinha razão, Jess era uma pessoa ruim e gostava de causar dor e sofrimento. — Você é de longe a melhor mulher que já me apareceu. É linda, engraçada, inteligente, bem durona — riu e eu ri um pouco, já parando de chorar —, mas é sensível e frágil também, e eu quero cuidar de você. Além disso tudo, você me faz rir e gosta de mim pelo que sou, e não por causa dos números que tem em minha conta bancária, e acima de tudo, me faz me perder em você, em cada parte do seu corpo, no seu cheiro, na sua voz... — Aquilo me causou um arrepio, ainda mais por ter sussurrado em meu ouvido de um jeito tão sexy. — Eu só quero você. Não quero nenhuma Barbie Malibu super bronzeada que gosta que eu afirme o tempo inteiro que acho o corpo dela bonito. Na verdade, quero saber com você se sente e o que quer sentir. Quero te dar tudo o que não teve, e não estou falando em questão material e sim em relação a todo o resto. Quero te dar sentimentos novos, sensações diferentes, emoções que nunca sentiu antes, coisas nas quais teve um dia e sente falta hoje. — Meu Deus, de onde tinha saído? Eu só podia estar delirando. Aquele cara conseguia me surpreender o tempo inteiro. — Quero poder iluminar toda essa escuridão que tem ai dentro, essa que sei que você esconde e que sente todos os dias. Talvez você nem esteja acreditando em tudo isso que estou dizendo, e achando que estou falando essas coisas apenas para te convencer de que não sou o cara que pensa que é. Para ser sincero, eu nem sei bem o que você vê em mim. — Agora ele estava sendo presunçoso. O que eu via nele? Eu via o homem que Daniel nunca e jamais vai ser. Isso apenas para começar. — Então, quero que saiba que meu peito pode ser seu travesseiro, basta você querer. Eu vou estar aqui esperando, porque por você vale a pena cada segundo.
— , eu... — tentei falar.
— Não precisa falar nada agora senão quiser. Vou te dar o tempo que precisar para pensar em tudo. — Acariciou meus cabelos fazendo um carinho gostoso, e eu poderia ficar ali facilmente o dia todo sentindo daquilo.
— Não, eu quero falar. — Na verdade eu queria me enterrar na areia. — Me desculpa por ter ficado brava. — Foi a primeira coisa que pedi, mas ainda sem olhá-lo. — Você tem razão, seria muito para mim no momento, mas se mesmo assim tivesse me contado sobre seu filho eu estaria disposta a carregar esse peso comigo, não que um filho seja um peso... Você entendeu o que quis dizer. — Me interrompi já que estava me enrolando naquilo e não queria que achasse que eu achava que uma criança fosse um peso em minha vida. — Bear é o nome do meio dele? — Agora ergui minha cabeça e dei um pequeno sorriso. — Posso chamá-lo de Jr? — Brinquei e sorriu para mim, o que me fez sorrir também.
— Não, Bear é o primeiro nome dele. — Senti um carinho extremo em sua voz ao falar de seu filho e aquilo de forma estranha me deixou feliz. — Mas você pode chamar ele de Jr, Jr ou de Little Bear.
— Posso decidir na hora que eu o ver? — Perguntei mordendo meu lábio inferior com medo de parecer que estava me intrometendo em sua vida.
— Pode. — tinha um sorriso iluminado em seu rosto. — Ele vai gostar de você, especialmente de puxar os seus cabelos. — Rimos juntos.
— Sabe — abaixei o olhar e soltei sua camisa, encarando minhas mãos —, ninguém nunca tive tido alguém que se importasse de verdade ao ponto de não falar algo de tamanha importância apenas porque iria me "fazer mal", geralmente não falavam porque não queriam, omitiam por ser mais conveniente, e... — O encarei de novo. — Isso me assusta um pouco. É algo novo, algo que nunca tive e não quero perder isso. — Coloquei minha mãe direita em seu rosto e acariciei sua bochecha. — Eu seria muito idiota se te deixasse ir. — Soltei uma pequena risada de nervoso. — E nós podemos começar de novo.
— Prazer, . — Ele me estendeu a mão, me fazendo rir alto.
— O prazer é todo meu. — Usei um tom de voz safado, dando um duplo sentido na frase e segurei sua mão. — .
Sacudi pela milésima vez. Eu não estava acreditando que ele tinha dormido em cima de mim sendo que combinamos de voltar para casa assim quando o sol nascesse. Aquilo parecia até piada, e talvez fosse, já que Troy e Eric riam de se torcer em vez de me ajudar com aquilo. Então puxei o cabelo de e isso fez com que ele abrisse os olhos, soltando uma risada e tentando segurar a minha mão que ainda puxava seus fios.
— Olha só, o defunto não estava morto — comentei séria, já me levantando daquele chão. Minhas costas estavam doendo. — Vamos embora, antes que a tia Jess acorde e veja que ninguém dormiu em casa.
— Você deveria se preocupar com o que sua mãe vai achar e não a sem noção da Jess. — levantou também, rindo ainda.
— Concordo plenamente com ele. — Troy apontou para . — Quem está ligando para a Jess aqui? — Balançou seu alcaçuz e colocou a ponta na boca, o mastigando. — Eu não estou.
— Levando em conta que a ainda não deve ter voltado com o , estou considerando que se também não estivermos lá, isso pode ocasionar a terceira guerra mundial — falei, sabendo muito bem como era minha tia, aquela ali tinha esporro para dar e vender e não importava quem era. Se Jess não gostar de algo, já era motivo o suficiente para sair cuspindo merda em cima de todo mundo. — Então vamos logo antes que as coisas se tornem insuportáveis naquela casa.
— Vocês podem ficar aqui enquanto ela está lá — Eric sugeriu aquilo novamente pela vigésima quinta vez, ou era a vigésima quarta?
— Vamos pensar nisso com muito carinho — respondeu. — que nos deu um perdido também. Onde será que ele está?
— Iremos saber se formos para casa. — Ergui minhas sobrancelhas, esperando se mover em direção à porta. — Troy, você também. Anda, vamos. Pode ir levantando. — Dei uns tapinhas em seus joelhos. — Não vamos escutar merda sozinhos.
— Ah não, ! — choramingou o menino, se agarrando em Eric.
— Anão é um homem pequenininho — lembrei, rindo um pouco, e eles riram comigo. — Anda, vamos logo. — Dei um pulinho.
Saí andando na frente e fui esperar os dois do lado de fora, íamos a pé para gastar um pouco o nosso tempo e não chegarmos lá às seis e meia da manhã, e também iríamos passar no mercado para comprar alguma coisa para comermos, para darmos como desculpa que tínhamos saído cedo para fazer um belo café da manhã para todos e não que estávamos chegando àquela hora. Segundo o que me contou, e sempre faziam isso para disfarçar quando chegavam de manhã depois de alguma festa, já que a mãe deles ficava vigiando da janela para ver a hora que iriam aparecer, e ele disse que essa técnica já os salvou muitas vezes. Então iríamos aderir àquela estratégia hoje para que Jess não fizesse um escândalo daqueles se nos visse.
Senti as mãos de segurarem minha cintura por trás e ri, já sentindo seus lábios me encherem de beijos pelo pescoço e ombros, fazendo cócegas. Me virei e passei os braços ao redor de seu pescoço, dando um enorme sorriso enquanto o olhava. Ai, me fazia tão bem que tinha sido até fácil me esquecer de Daniel. Ele agora era só como uma sombra no meu passado a qual eu não queria pensar. Eu estava jogando uma coisa em cima da outra em uma tentativa desesperada de não sentir o peso de tudo aquilo sobre meus ombros, pois sabia que se parasse apenas por um segundo para pensar sobre tudo o que aconteceu, eu desabaria totalmente. Estava lutando com todas as minhas forças para que isso não acontecesse e me agarrava em , pois ele era capaz de espantar todos os pensamentos ruins, assim como os sentimentos, aqueles que não queria sentir de forma alguma, mas era impossível, eu ainda estava acorrentada ao que sentia por Danny, e isso me sufocava cada segundo, no qual tentava a todo o custo ignorar.
— ? — chamou e eu pisquei os olhos duas vezes, tentando entender o que ele estava falando comigo. — O que houve? Você ficou aérea de repente. — Me olhava com atenção.
— Hã? Nada — menti e me soltei dele. — Acho que estou com sono. — Passei a mão em meu rosto, tentando disfarçar. — Troy! Vamos embora logo antes que eu entre aí dentro e te pegue no chinelo! — reclamei, indo até a porta.
— Nossa, isso tudo é sono? — Ele já veio reclamando enquanto me olhava com Eric logo atrás. — , ocupe a boca da sua mulher, ela está começando a ficar raivosa e até onde eu saiba, raiva pega e não quero que ela me morda. — Em uma única frase, ele tinha conseguido me chamar de cachorra raivosa que tinha um dono. Troy era mesmo incrível!
— Não sou mulher do . — Revirei meus olhos, ouvindo a risada de e Troy. — Mas estou mesmo considerando te morder se não sair logo dessa casa. — Cruzei meus braços e fiquei esperando que andasse logo.
— É melhor eu ir então, antes que ela me ataque de verdade — debochou e se virou, ficando na ponta dos pés para conseguir beijar Eric, e mesmo assim não teve altura o suficiente, já que o loiro tinha mais de um metro e noventa.
— Mas é um toco de amarrar jegue mesmo — impliquei com sua altura, ele era do tamanho de e mais alto do que eu, obviamente, mas ainda assim era engraçado zoar aquela questão dele com Eric. — Vou comprar umas três tabelas e te dar de presente.
— Você sabe o que vou fazer com essa três tabelas? — perguntou, já se virando com as mãos na cintura, e eu ergui uma sobrancelha, esperando sua resposta. — Isso mesmo que você pensou! — acusou, apontando em minha direção, mas eu sinceramente não tinha pensado em nada. — Vou usar, porque o Eric é muito alto e me dá dor no pescoço ter que ficar olhando para cima. — Não aguentei e ri alto daquilo, assim como e Eric.
— Você nunca tinha reclamado disso — o loiro argumentou. — Da próxima vez, vou ajoelhar para ficar do seu tamanho — sacaneou, nos fazendo rir ainda mais.
— Meu pescoço e minha coluna agradecem. — Troy sorriu, rindo um pouco. — Agora vamos logo — começou a bater as mãos como se espantasse gado. — Você não estava me apressando tanto para irmos embora? Agora mexa essa bunda para fora dessa varanda.
— Eu sei que você inveja nossas bundas, bebê. — Lhe mandei um beijo e depois acenei para Eric. — Vai mais tarde lá em casa?
— Eu acho que seria mais agradável se vocês viessem para cá. — É, ele tinha razão, seria bem melhor memo.
— Olha, eu achei isso uma excelente ideia. — concordou. — Tenho certeza de que antes do meio-dia nós estaremos aqui de volta.
— Com toda a certeza — Troy afirmou, fazendo uma cara de cansado. — Minha cabeça já está doendo antes de chegarmos lá.
— Está bem. Irei esperá-los. Qualquer coisa, me ligue. — Pediu e nós concordamos com a cabeça. — Até mais tarde.
— Até — falamos em coro e Eric fechou a porta enquanto já nos virávamos e começávamos a andar.
Fomos caminhando abraçados como três bêbados na rua até o mercado. Estávamos cansados, e com preguiça, mas quanto menos tempo passássemos em minha casa era melhor. Compramos algumas coisas bem gostosas e quando chegamos ao caixa, ficamos olhando a quantidade de coisas que tínhamos pegado, e aquilo seria demais para levarmos na mão, mesmo que só estivéssemos há meia hora de casa, então começamos a nos desfazer de algumas, até que entramos em uma discussão sobre o que não podia ser tirado de forma alguma. A mulher do caixa nos olhava com extremo tédio, esperando que nos decidíssemos logo para poder atender os outros clientes que já estavam esperando, formando uma pequena fila atrás de nós. Por fim, saí pegando as coisas, ignorando os dois que ainda brigavam e fui dando para a mulher o caixa passar.
— Qual dos dois bonitos vai pagar? — perguntei, me virando para eles, e só aí que se tocaram que eu já tinha passado tudo.
— Eu. — Troy tirou a carteira do bolso e pegou seu cartão, me entregando.
Passei seu cartão e lhe entreguei de volta. Peguei as sacolas mais leves e saí do mercado, deixando os dois que ainda discutiam para trás. Logo eles já vinham correndo atrás de mim reclamando que eu não havia os esperado. Dessa vez fomos andando mais rapidamente, e chegamos em casa antes do previsto, nos deparando com o carro de sendo fechado pela pick-up de , ambos tinham chegados juntos. Nossa, aquilo era muita coincidência.
— O que vocês estavam fazendo fora até essa hora? — já saiu do carro perguntando para enquanto puxava seu vestido curto para baixo, cobrindo suas coxas.
— Fomos apenas comprar ovos. — Levantou a sacola, e nós rimos. — Vocês acabaram com eles ontem.
— Só se você acordou com a galinha os pondo, né? — brincou.
— Não sabia que a Sophie acordava cedo. — soltou e eu berrei, rindo daquilo assim como todo mundo.
— Acho que você não foi o único. — Ela abriu a porta de trás do Corolla e tirou algumas sacolas lá de dentro. — Agora é sério. Aonde estavam? Eu sei que não passaram a noite em casa. — Olhou para todos. — Ninguém pelo visto, né? — Minha prima já ria divertida. — Estão com a mesma roupa de ontem.
— É que não queríamos sujar outras roupas. — Troy teve a cara de pau de falar aquilo. — Sabão líquido está caro. — Começamos a rir.
— Ok. Todo mundo usou o truque do: Acordei cedo e fui comprar comida. — falou rindo um pouco. — Somos uns gênios mesmo, mas se Jess ainda não acordou nós podemos falar que voltamos tarde e sei lá, inventar algo.
— Olha só, temos uma mente perversa entre nós. — debochou abraçando de lado, enquanto ria um pouco, e ela lhe lançou um olhar reprovador. — Ok, nem tão perversa assim.
— Vamos entrar logo! Estou faminta! — disse já indo na frente, e quando abri a porta, dei de cara com Jess parada no hall, de braços cruzados como um cão de guarda. — Bom dia, titia querida! — berrei para que o pessoal que estava do lado de fora pudesse ouvir e dar um jeito de me esconderem. — Dormiu bem? — Fui até ela com os braços abertos.
— Para de palhaçada, . Cadê a e o ? — Já soltou aquilo quase espumando pela boca e eu levantei minhas mãos como se estivesse sendo assaltada.
— Não sei onde estão, eu saí com e o Troy para comprar algo para comer. Já olhou lá em cima? — perguntei e fui até a porta, colocando apenas minha cabeça para fora. — Vocês dois vão ficar admirando a arquitetura da casa ou vão entrar? — Olhei para e Troy, fiz final para que os outros sumissem dali, e eles saíram correndo para a lateral da casa. Gênios. Acabariam sendo pegos.
— Querida, eu só não procurei no inferno por que não tem como ir lá. — Jess rebateu e abriu a porta, quase acertando ela em minha cara e olhando para o lado de fora, procurando pelos seus filhos. — Se você estiver os acobertando, vai ver uma coisa só. — Soltou a porta e saiu andando para dentro de casa.
— Não? Eu pensei que você tinha conchavo com o Satã. — Rebati bem baixo para que não escutasse.
— O que você falou para ela? — perguntou quando passou por mim.
— Que tinha ido visitar o Satanás e que ele mandou um beijo para ela. — Respondi e ele riu. — Falei que tínhamos ido comprar algo para comer. — Expliquei e fechei a porta assim que Troy passou por ela. — Se desarrumem um pouco para ela não achar que estávamos desde ontem na rua.
— Onde vocês dois... Que blusa é essa ? — Ouvimos Jess berrando, então corremos até a sala para ver o que estava acontecendo. Nos deparando com vestindo uma blusa de onça. De onde ele tinha tirado aquilo? — E o que você está fazendo com esse vestido assim? Arrume isso! — Então olhei para minha prima, reparando como ela estava. tinha tirado a parte de cima do vestido e amarrado as mangas dele na cintura, ficando só de top preto na parte de cima.
— Ai, você gostou? — perguntou para sua mãe, puxando a barra da blusa para baixo e a balançando. — Eu amei! — disse de um jeito afeminado. Segurei a risada com aquilo, assim como e Troy.
— Toma jeito, menino! — Lhe deu um tapa no ombro.
— Ué, o que você está fazendo com a blusa do ? — apareceu, descendo as escadas, já vestida com uma roupa dos meninos, descabelada e com a maquiagem borrada. Nossa, eles tinham sido mesmo rápidos.
— De onde você saiu? — Jess perguntou incrédula para .
— Ué, eu dormi lá em cima. Não queria acordar vocês na hora que chegamos.— explicou, dando um bocejo. — Acordei com você falando alto. O que houve? — quis saber, fazendo a maior cara de sonsa do mundo.
— Eu não te vi lá em cima! — rebateu um pouco mais calma e depois olhou para seus filhos. Eu, e Troy nos sentamos nos bancos do balcão para ver o que eles iriam falar. Aquilo estava bem divertido.
— Você não olhou direito. — veio andando até o balcão e começou a mexer nas nossas sacolas. — Tem suco? — perguntou, me olhando.
— Não compramos, mas tem na geladeira. — Apontei para ela.
— Parem de me enrolar e me falem agora onde estavam! — Jess olhou para e .
— Dormindo? — minha prima sugeriu e sua mãe a olhou com os olhos cerrados.
— , você pegou minha camisa de novo? — desceu as escadas perguntando, ele estava só de cueca. E nossa, ele tinha um belo físico. Estava o observando com todo o respeito, é claro.
— Mas é claro, uma coisa horrível dessa só podia ser de quem? — minha tia disse como se tivesse concluído algo. — Espera. — Olhou para e depois para . — Vocês dois... — Apontou para eles repetidas vezes.
— O quê? — uniu as sobrancelhas. — Eu e o ? Juntos? Sem roupa? Não, não.
— Eu com ela? — fez cara de nojo e olhou para minha prima de cima embaixo. — Não, obrigado. — Nós queríamos rir.
— Ah, parem de palhaçada com a minha cara. Eu sei que estão juntos. — Jess se alterou, e isso me fez erguer as sobrancelhas.
— Mãe, na verdade... — começou a falar e abaixou a cabeça. — A só estava tentando me ajudar.
— Como assim te ajudar, ? — Todo mundo ficou em silêncio, tentando entender o que ele estava falando. — Levanta essa cabeça e fala que nem homem!
— Ok. Ok. — Balançou a cabeça em negação e a levantou, olhando sério para sua mãe. — estava fingindo que estava com o , mas a verdade é que ele é meu namorado. — Apenas ouvi se engasgando atrás de mim, e quando olhei por cima do ombro, já vi ela toda suja de suco de laranja.
— É o que, ? — sua mãe berrou e voltei a olhar para frente, vendo a velha já ficar vermelha — repete isso que você falou. — Minha prima já estava com a mão na boca, segurando a risada.
— Por que eu não estou filmando isso? — Troy perguntou, dando socos na madeira do balcão. — Isso está ficando muito bom. Cadê a pipoca?
— Vou fazer — respondeu, rindo e se levantando do banco.
— Poxa, . — foi se aproximando dele e o abraçou por trás. — Você estragou a brincadeira. Estava tão legal fingir que tinha algo com a . Ela é bem divertida, finge bem. — Deu um beijo no pescoço de meu primo enquanto Jess olhava para aquilo totalmente desacreditada.
— Solte meu filho, seu sujeitinho petulante! — Deu um tapa no braço de , que já começou a rir, e isso fez cair na risada assim como nós.
Todos nós iríamos acabar apanhando e rindo, iríamos direito para o inferno rindo, e queimaríamos rindo. Aquela cena estava sendo hilária demais! Eu iria rir daquilo até 2050! Melhor distração ever para não assumir que passamos a noite fora. Aquilo seria algo que eu contaria para meus filhos. O dia que o tio resolveu sacanear a mãe e falar que era gay. Muito bom! Eu não sei o que tinha feito para estar com um humor tão bom, mas sem dúvidas ela tinha operado um milagre ali.
— Mãe, para. Deixa o ! — pediu e se virou para o mesmo. — Você está bem, amor? — Segurou o resto de e eu berrei, quase caindo da cadeira.
— Amor? ! — Jess estava a ponto de ter um sincope de tanto nervoso. — Solta esse menino! — Começou a puxar para trás, mas ele abraçou , que o abraçou de volta, então Jess tirou seu chinelo e começou a bater nos dois com aquilo, que riam de não se aguentarem. — Solta! — berrou, pulando e nós estávamos já chorando de rir. estava deitada no chão, rolando de um lado para o outro, com a mão na barriga, dando gargalhadas.
— Ai, sogrinha, vai com calma! — pediu, rindo e tomou uma chinelada na bunda. — Ah, não! Apanhar na bunda só gosto quando é do . Ai... Os tapas dele... — Suspirou, fazendo uma cara de como se lembrasse dos tais tapas. Jess parou e ficou olhando para ele enquanto estava quase caindo no chão de tanto rir, se não fosse por o segurando com força, certamente ele já estaria que nem sua irmã. — São deliciosos. — Soltei mais um grito, rindo super alto e me segurando no balcão. Já escorriam lágrimas de meus olhos.
— Parem de rir! Não tem a menor graça nisso! — Jess tentou separá-los mais uma vez, mas foi inútil. — Você foi atrás dele ontem à noite, ? — não conseguia responder de tanto que ria.
— Foi. Nós marcamos um ponto de encontro. — não parava com a pilha e isso só faria Jess o odiar mortalmente, mas parecia que esse era o seu objetivo. — Você quer os detalhes de como foi? — Ela arregalou os olhos e começou a dar mais chinelada nos dois.
— Meu Deus, por que foi dizer isso? — parou do meu lado rindo também, tentando se secar com um pano de prato.
— Não sei. Mas isso está muito bom — respondi, rindo ainda mais, vendo os dois já todos marcados com a sola do chinelo, ela não parava com aquilo.
— Meu Deus, Jess! Que escândalo é esse? O que está acontecendo aqui? — Tio Rogers apareceu na sala só de samba canção e eu acho que nunca vi uma tão ridícula. Ela era preta com várias boquinhas vermelhas. Céus! Eu ri ainda mais. — Pare de bater neles. — Segurou sua esposa, que se debatia tentando se soltar. — Por que vocês estão apanhando? — perguntou aos meninos, já que tinha tia não falava nada a não ser xingar seu marido.
— Ela está nos agredindo porque assumimos nosso relacionamento. — explicou e tio Roger uniu as sobrancelhas.
— Seu com a ? — Parecia não entender muito bem.
— Não, meu com o . — E agora foi a vez do tio começar a rir.
— Querem? — voltou para meu lado e colocou uma bacia de pipoca sobre o balcão.
— Você fez mesmo! — falei, rindo ainda mais daquilo e peguei um pouco de pipoca.
— Mas é claro. Um espetáculo desses não podia dispensar uma boa pipoca — respondeu, colocando algumas na boca.
— Quem precisa de novela mexicana quando se tem o em casa? — Troy questionou, jogando uma pipoca para cima e a fazendo cair em sua boca. — Esse cara é polêmica pura.
— Eu aposto vinte pratas que eles vão apanhar mais quando a Jess descobrir que é tudo mentira. — já colocou o dinheiro sobre o balcão.
— Eu aposto cinquenta que vai ser de cinto. — Troy colocou o seu cartão sobre dinheiro. — Vocês aceitam débito, né? — Eu só conseguia rir daquilo. Eles eram idiotas demais.
— Me solta, Roger! — Jess berrou e conseguiu se soltar, indo para cima dos meninos depois e pegando pelos cabelos. — Você não vai ficar aqui em casa! — Começou a arrastar ele em direção a porta.
— Mãe, larga de ser idiota. Eles estão brincando. — já levantou do chão, séria, e fez sua mãe soltar . — Para, está machucando eles — pediu, de forma calma. — Era brincadeira. nunca ficou com o . Ele está ficando comigo — admitiu e Jess a encarou.
— Você está tentando acobertar seu irmão como sempre fez! — Deu um tapa com força no braço de minha prima, fazendo seus dedos ficarem marcados rapidamente na pele dela, e aí parou de rir, entrando no meio delas. — Sai da minha frente, garoto.
— Tudo bem me bater, eu realmente não ligo, mas você não vai fazer o mesmo com ela, não na minha frente — ele disse e todo mundo parou de rir. — não está mentindo. Nós estávamos brincando. Eu não tenho nada com o — falou bem sério. — E se quer saber onde estávamos, nós todos chegamos tarde em casa e fomos lá para o terraço, porque a noite estava bonita, e só.
— Eu fui lá em cima agora de manhã e não tinha ninguém lá! — Jesse rebateu, olhando para ele com raiva.
— Nós fomos ver o nascer do sol na praia, só isso. Se você tivesse chegado à varanda, teria nos visto na areia. — Nossa, ele mentia bem que até eu estava acreditando estava lá também. — Voltamos e subimos, até que e ouviram você brigando com a e vieram ver o que estava acontecendo. — tinha pensado aquilo tudo em que hora? Estava maquinando quando estava apanhando ou estava vindo tudo no improviso? — Agora você poderia, por favor, parar com tudo isso?
— Por que vocês fugiram da pizzaria ontem à noite? — Jess era realmente um cão! Caraca, aquela mulher era muito chata.
— Porque queríamos ficar longe de você. — Ow! Aquela doeu até em mim. — E se falássemos que íamos sair sozinhos, você não deixaria. — Cruzou os braços. — É só isso ou você quer saber de mais alguma coisa? — Jess o olhou com raiva e saiu andando, pegando seus chinelos e indo para o quarto. Apenas ouvimos a porta batendo. Meu tio o olhava, assim como todos nós. — Roger, me desculpe por isso. — pediu a ele. — Não queria ser rude com ela e nem faltar com o respeito.
— Eu sei. Não se preocupe com isso. Jess não é alguém fácil de se lidar. Eu que peço desculpas por tudo. — E olhou de cima embaixo, estava todo marcado. — Eu vou falar com ela, com licença — pediu e se retirou.
— , desculpa por ter te enfiado nisso — pediu, se aproximando dele. — Mas obrigada por ter ajudado. — Riu um pouco e o abraçou. — Meu amor — brindou e todos nós rimos.
— Gente, cadê os meninos? — mudei de assunto, percebendo que ninguém tinha aparecido com aquele escândalo.
— Excelente pergunta. Não tem ninguém lá em cima. — respondeu, apontando com o polegar para a escada.
— Eles devem ter ido dormir na casa da Sophie. — Troy deduziu. — Perderam o show. — Comentou rindo enquanto comia pipoca.
— Vocês fizeram pipoca? — uniu as sobrancelhas, com um sorriso no rosto. — Vocês são ótimos mesmo. — Se aproximou do balcão, pegando um pouco e colocando na boca. — , quando você teve aquela ideia toda da praia e tudo mais?
— Não sei, veio na hora. — Deu de ombros rindo um pouco. — Estou morrendo de fome, vou pegar as coisas que comprarmos lá fora. — Saiu andando e foi atrás.
Nos juntamos e começamos a fazer as coisas para comermos, e parece que o cheio atraiu os outros meninos, já que eles apareceram parecendo que tinham fumado maconha a noite inteira e estavam com uma larica indomável, quase roendo as paredes. Arrumamos a mesa do lado de fora, já que ela era maior e depois nos servimos. Minha mãe surgiu com um sorriso enorme e se sentou comigo e .
— Como foi sua noite? — perguntou ela toda empolgada.
— Foi legal. — Sorri, dando um gole em meu suco logo em seguida. — A nossa chegada que foi bem recepcionada.
— Ah, eu ouvi. Nem saí do quarto, me fingi de morta. — Rolou os olhos enquanto comia sua torrada. Jess apareceu como se nada tivesse acontecido e sentou-se conosco. — Bom dia — minha mãe disse bem plena.
— Bom dia — respondeu com seu típico mau humor.
— Hey, trouxe para você. — surgiu de trás de mim colocando uma tigela com cereais na minha frente. — É assim que você queria, não era?
— Você foi de novo ao mercado só para comprar o cereal? — perguntei, com um sorriso enorme olhando para a tigela aonde tinha flocos coloridos misturados no leite.
— Claro, você disse que estava com vontade de comer, então fui lá buscar para você. — Isso me fez olhá-lo e ele aproveitou e meu deu um selinho, me fazendo dar um sorriso maior ainda. — Era esse que você queria?
— Sim! — Segurei as laterais de seu rosto e juntei os nossos lábios novamente. Daniel nunca tinha feito tal coisa parecida para mim antes e aquele simples ato do me fez gostar ainda mais dele. — Muito obrigada!
— Não precisa agradecer. — Ele sorria para mim. — Vou fritar mais bacon. Alguém quer? — olhou para as outras três que estavam na mesa.
— Eu aceito, querido — minha mãe pediu. — Se não for muito abuso.
— Claro que não. Já vou trazer para você. — Sorriu e saiu andando. Voltamos a comer em silêncio.
— Sabe, Anne — Jess começou e pelo seu tom de voz estava vendo que ela iria destilar seu veneno. — Se eu fosse você, não permitiria que namorasse esse garoto e a faria voltar com Daniel. Aquele sim era um homem de verdade, responsável e não um filhinho de papai — Acabei errando a colher em minha boca e caiu cereal em minha roupa. Minha prima cuspiu todo seu café, me sujando ainda mais. — Que isso, ! Tenha modos! — tossia engasgada e sua mãe lhe entregou um guardanapo. — Limpe essa cara, está toda suja.
— Meleca — reclamei, me secando com um papel. — Titia querida — comecei sem olhá-la. — Tem duas coisas muito equivocadas em sua frase. — Agora a encarei, cruzando meus braços sobre a mesa. — Se você soubesse apenas um pouco do que está falando, saberia que Daniel não é responsável coisíssima nenhuma. E o , porque é esse o nome dele, não é um garoto, como fala. — Jess me olhava com total cara de desdém. — Ele pode ser filho de papai como você diz, mas ele está sendo mil vezes melhor para mim desde quando chegamos aqui do que o que Daniel foi para mim em três anos.
— Ah, Daniel é realmente um homem maravilhoso. — começou a debochar. — Ainda mais com uma puta peituda pelada pulando em cima dele no meio de uma festa para quem quisesse ver. — Ela tinha aumentando um pouco, mas era verdade. Rapidamente Jess lhe deu um tapa na boca. Aquilo me fez arregalar os olhos na mesma hora. — Porra! — reclamou, colocando a mão no rosto, e levou outro tapa. Comecei a ficar com muita raiva.
— Para de falar que nem um moleque. — A repreendeu, e já a olhou com muita raiva. — Para que te dei educação?
— Para enfiar no cu! — Minha prima se levantou abruptamente da mesa limpando o canto de sua boca que já sangrava.
— ! — Jess berrou, mas ela já entrou na casa pisando duro. Minha mãe me olhou indicando que eu não deveria fazer nada. — Enfim. — Voltou a me olhar. — Não ligue para o que ele fez, todo homem faz isso, querida. — Eu não podia estar ouvindo tamanho absurdo.
— Oras, se acha isso tão normal pega e leva ele para casa então! — Rebati aquilo bem nervosa.
— Que isso. Quanta agressividade. — E quem ela era para falar sobre agressividade?! Sonsa do caralho! — Anne, você deveria dar um chazinho para sua filha, ela está muito nervosa. — Me olhou com um sorrisinho no rosto. Qual era a dela? Me irritar? Se for, já estava conseguindo.
— Ela não precisa de chá, a raiva dela tem nome. — Minha mãe lançou um olhar para sua irmã.
— E se chama Jess ! — Fiz uma cara de antipática.
— Nossa. — Levou a mão até seus peitos como se tivesse ficado ofendida. — Sabe o que é isso? Influência daquele garoto. — A olhei para ela com tédio. — Mas voltando ao assunto do Daniel. Veja por um lado bom, querida, pelo menos ele não sai por aí fazendo filhos. Daniel é um homem de respeito. — Uni as sobrancelhas, não entendendo o que ela queria dizer com aquilo.
— O que você está insinuando? — perguntei, mordendo minha bochecha por dentro, tentando me controlar.
— Não estou insinuando nada, só estou dizendo que ele não é como o , que sai fazendo filho em qualquer uma. — Automaticamente as pontas de meus dedos foram até meus lábios, surpresa com o que ela tinha acabado de falar. — Ué, ele não te contou que tem um filho? — Jess deu um sorrisinho e eu queria arrancar cada um dos seus dentes. — Acho que ele não é tão maravilhoso como achava que é.
— Jess, pare com isso. — Minha mãe mandou soltando seu gafo. — Se você não está feliz com a vida que tem o problema é seu, mas não vá estragar a felicidade da minha filha.
— Mas o que estou fazendo, Anne? Estou apenas contando à verdade que aquele menino não foi capaz de dizer. Isso é para ver que ele é de verdade. — ela falava como se tivesse toda a razão do mundo.
— Anne, aqui está seu bacon. — apareceu com um sorriso e sentou-se ao meu lado, entregando o prato para minha mãe.
— Com licença. — Me levantei rapidamente da cadeira sem olhar para ninguém e sai andando dali apressada.
Entrei na casa, puxando a porta de correr atrás de mim a fazendo bater. Theo, que estava na cozinha me olhou assustado, mas apenas virei meu rosto e entrei no corredor, indo para o quarto. Quando toquei a maçaneta para abrir a porta, pude ouvir do lado de dentro falando bem alto, enquanto gritava com ele de volta. Não queria me meter naquilo, e muito menos ouvir alguém gritando. Então sai pela porta no final do corredor e passei pela lateral da casa, já secando as lagrimas que desciam pelo meu rosto, indo em direção à praia.
Estava me sentindo tão sufocada com a raiva que crescia dentro de mim. Eu sabia, eu sempre soube! Eu só passava de uma diversãozinha qualquer para ele! Um joguinho fácil como outro qualquer, nos quais amava jogar. E como uma presa fácil, eu cai! Eu cai como uma idiota que sou! Nossa! Como sou burra! Como pude enganar a mim mesma?! Como? Era isso, eu não era boa o suficiente para que me contasse que tinha um filho. Não era digna de saber sobre a sua vida! Aquilo me fazia rir, mas rir de desespero, de nervoso. Cada riso era uma lágrima que descia pelo meu rosto molhando a gola de minha blusa. E cada lágrima era por um motivo diferente. Uma por mim, outra pelo Daniel, mais uma pelo meu relacionamento de merda, mais outra pelo que aconteceu... E assim vai, como uma cascata, uma avalanche que vinha descendo e levando tudo consigo. E sabe o que era o pior de tudo, Jess não estava mentindo, ela não mentia e nem ao menos tinha motivo par mentir sobre aquilo. Mas a parte que mais me doía era saber que eu era apenas uma curtição de verão para o , e que depois que ele acabasse certamente voltaria para seu filho e para a mãe dele, e claro, para sua vida de filhinho de papai! Apesar de que um filho era bem mais fácil de lidar do que uma traição, e também não estava comigo quando isso aconteceu, e Daniel estava! Eu nem deveria estar comparando isso, não faz o menor sentido, eu e não tínhamos nada, e nem teríamos! Isso estava bem claro agora.
Nossa, sentia tanta raiva! Mas tanta que não conseguia parar de chorar. Passei as mãos em meu rosto, tentando secá-lo, só que isso e nada foi a mesma coisa, já que logo em seguida já sentia as lágrimas molhando meu pescoço. Meus pés afundavam na areia conforme eu andava cada vez mais rápido, até que comecei a correr. Queria ficar o mais longe possível daquela casa. Até que comecei a ouvir me chamar. Aquilo só podia ser sacanagem! Não olhei para trás, fingi que não estava ouvindo, não queria falar com ele. Não queria falar com ninguém! Só queria ficar sozinha. Porém aquilo não seria possível, já que cheguei ao final da praia e um amontoado de pedras de mar me impediam de fugir dali. Me virei e encarei que já estava perto, e agora parava de correr e só diminuía o passo. Passei a mão em meu cabelo e tentei mais uma vez em vão secar meu rosto.
— O que aquela louca da Jess falou para você? — perguntou, quando estava perto o bastante.
— A verdade que você não contou. — Apontei para ele, dando uns passos para trás. — Um filho, ? Sério? — Uni minhas sobrancelhas com muita raiva. — Qual vai ser a desculpa que você vai dar? A mesma que todo mundo? Que não é assim? Que eu entendi errado? Hm? — o idiota não falou nada, apenas ficou me olhando. — Fala alguma coisa! — Empurrei seus peitos, mas suas mãos seguraram meus pulsos e ele simplesmente me abraçou enquanto tentava me soltar, só que no fim apenas parei com aquilo e deixei o peso de meu corpo cair sobre minhas pernas, fazendo com que ele se abaixasse junto comigo. Não conseguia parar de chorar. — Isso tudo só foi uma brincadeira para você, não foi? — Falei em prantos sentindo sua mão segurar minha cabeça contra seu peito. — Você chegou lá em casa, gostou do que viu e começou com o seu joguinho, então eu cedi e pronto. Era só isso mesmo que queria, não é? Uma transa fácil de verão. — Minhas mãos seguravam com força a camisa de .
— A Jess realmente me pintou como o verdadeiro filho de Lúcifer para você. — Foi a primeira coisa que falou e eu até riria se não estivesse com tanta raiva. — Não te contei nada antes porque não achei que uma mulher como você iria querer ficar comigo, ainda mais por estar noiva, então era irrelevante falar qualquer coisa da minha vida. — Aquilo me fez chorar ainda mais. — Só que as coisas aconteceram de repente e eu não tive o controle de nada. Você terminou com o Daniel e no mesmo dia eu te tive em meus braços. Não era como se eu fosse parar de te beijar e falar: Então , eu tenho um filho. — Sua mão alisava minhas costas, e eu simplesmente não conseguia mais ter reação de nada. — Então a semana veio passando tão rápido, e você estava tão bem que não consegui achar um momento certo para te falar isso, porque tive medo que fosse estragar tudo o que estávamos construindo, que a partir do momento que eu dissesse isso pareceria que estaria te pressionando. Seria como: Olha, se você quiser ter algo de verdade comigo, sabia que tenho um filho. — Aquilo tinha conseguido piorar as coisas, e muito. — Cara, você acabou de sair de um noivado. E apenas dar menção de que eu queria algo mais sério contigo do que só sexo, como disse, me pareceu algo bem pesado para colocar em seus ombros depois de tudo o que tinha passado. — Suspirou. — Eu só não queria te sobrecarregar com mais coisas. Sei que não contei algo importante da minha vida, mas queria que fosse especial, que não fosse um simples: Hey, eu tenho um filho e ele se chama Bear. — Ele riu sem graça. — Não peço que entenda o meu lado, e também não tiro a sua razão de estar com raiva de mim, mas só peço que não deixe que a Jess estrague o que estávamos construindo. Ela é uma babaca frustrada que não suporta ver a felicidade nem dos próprios filhos, imagina a nossa. Sei que ficou magoada com isso, mas me desculpa, nunca foi a minha intenção de machucar. — tinha razão, Jess era uma pessoa ruim e gostava de causar dor e sofrimento. — Você é de longe a melhor mulher que já me apareceu. É linda, engraçada, inteligente, bem durona — riu e eu ri um pouco, já parando de chorar —, mas é sensível e frágil também, e eu quero cuidar de você. Além disso tudo, você me faz rir e gosta de mim pelo que sou, e não por causa dos números que tem em minha conta bancária, e acima de tudo, me faz me perder em você, em cada parte do seu corpo, no seu cheiro, na sua voz... — Aquilo me causou um arrepio, ainda mais por ter sussurrado em meu ouvido de um jeito tão sexy. — Eu só quero você. Não quero nenhuma Barbie Malibu super bronzeada que gosta que eu afirme o tempo inteiro que acho o corpo dela bonito. Na verdade, quero saber com você se sente e o que quer sentir. Quero te dar tudo o que não teve, e não estou falando em questão material e sim em relação a todo o resto. Quero te dar sentimentos novos, sensações diferentes, emoções que nunca sentiu antes, coisas nas quais teve um dia e sente falta hoje. — Meu Deus, de onde tinha saído? Eu só podia estar delirando. Aquele cara conseguia me surpreender o tempo inteiro. — Quero poder iluminar toda essa escuridão que tem ai dentro, essa que sei que você esconde e que sente todos os dias. Talvez você nem esteja acreditando em tudo isso que estou dizendo, e achando que estou falando essas coisas apenas para te convencer de que não sou o cara que pensa que é. Para ser sincero, eu nem sei bem o que você vê em mim. — Agora ele estava sendo presunçoso. O que eu via nele? Eu via o homem que Daniel nunca e jamais vai ser. Isso apenas para começar. — Então, quero que saiba que meu peito pode ser seu travesseiro, basta você querer. Eu vou estar aqui esperando, porque por você vale a pena cada segundo.
— , eu... — tentei falar.
— Não precisa falar nada agora senão quiser. Vou te dar o tempo que precisar para pensar em tudo. — Acariciou meus cabelos fazendo um carinho gostoso, e eu poderia ficar ali facilmente o dia todo sentindo daquilo.
— Não, eu quero falar. — Na verdade eu queria me enterrar na areia. — Me desculpa por ter ficado brava. — Foi a primeira coisa que pedi, mas ainda sem olhá-lo. — Você tem razão, seria muito para mim no momento, mas se mesmo assim tivesse me contado sobre seu filho eu estaria disposta a carregar esse peso comigo, não que um filho seja um peso... Você entendeu o que quis dizer. — Me interrompi já que estava me enrolando naquilo e não queria que achasse que eu achava que uma criança fosse um peso em minha vida. — Bear é o nome do meio dele? — Agora ergui minha cabeça e dei um pequeno sorriso. — Posso chamá-lo de Jr? — Brinquei e sorriu para mim, o que me fez sorrir também.
— Não, Bear é o primeiro nome dele. — Senti um carinho extremo em sua voz ao falar de seu filho e aquilo de forma estranha me deixou feliz. — Mas você pode chamar ele de Jr, Jr ou de Little Bear.
— Posso decidir na hora que eu o ver? — Perguntei mordendo meu lábio inferior com medo de parecer que estava me intrometendo em sua vida.
— Pode. — tinha um sorriso iluminado em seu rosto. — Ele vai gostar de você, especialmente de puxar os seus cabelos. — Rimos juntos.
— Sabe — abaixei o olhar e soltei sua camisa, encarando minhas mãos —, ninguém nunca tive tido alguém que se importasse de verdade ao ponto de não falar algo de tamanha importância apenas porque iria me "fazer mal", geralmente não falavam porque não queriam, omitiam por ser mais conveniente, e... — O encarei de novo. — Isso me assusta um pouco. É algo novo, algo que nunca tive e não quero perder isso. — Coloquei minha mãe direita em seu rosto e acariciei sua bochecha. — Eu seria muito idiota se te deixasse ir. — Soltei uma pequena risada de nervoso. — E nós podemos começar de novo.
— Prazer, . — Ele me estendeu a mão, me fazendo rir alto.
— O prazer é todo meu. — Usei um tom de voz safado, dando um duplo sentido na frase e segurei sua mão. — .
11.4. Gold
Bônus.
’s POV
Estava encostado no parapeito da varanda conversando com Joe e Stephen, olhando de longe , e Anne sentadas na mesa no canto enquanto tomava meu café puro, até que Jess se juntou a elas, então desviei o olhar e encarei meu amigo à minha frente que falava empolgado sobre um jogo que tinha comprado. Mas não demorou muito para que meus olhos se virassem rapidamente quando escutei um arrastar brusco de cadeira, o pessoal estava entretido demais em suas próximas conversas para terem suas atenções roubadas. Vi se levantar, já tocando seu lábio inferior e olhando para seus dedos logo em seguida, depois limpando o canto de sua boca com as costas de sua mão. Ela estava sangrando? Aquilo só podia ser sacanagem! Não estava acreditando que Jess tinha tido a audácia de bater nela de novo! Sua mãe a chamou, mas já lhe tinha dado as costas e estava entrando em casa agora.
— Já volto — falei com Joe e Stephen, deixando meu copo de café sobre o parapeito e indo atrás da minha garota. — — chamei, entrando na casa, mas ela não me deu atenção, já entrando no corredor apressada.
Escutei a porta do quarto batendo e fui atrás, entrando lá e a fechando assim que passei, mas assim que a me viu, ela entrou no banheiro e se trancou lá dentro. Não consegui notar muita coisa, já que havia soltado seu cabelo e ele cobria boa parte de seu rosto. Aquilo não estava certo, estava se escondendo e aquilo não era nada bom. Certamente não sabia que eu já tinha percebido o que havia acabado de acontecer. Andei lentamente até a porta do banheiro e bati nela duas vezes, encostando minha cabeça na madeira, esperando que ela abrisse.
— Me deixa quieta, ! — gritou extremamente irritada lá de dentro, me fazendo franzir o cenho, ela não era de falar naquele jeito comigo.
— Abre a porta, por favor — pedi calmamente, queria ver como ela estava.
— Não! Sai daqui! — persistiu. podia ser teimosa, mas eu era também.
— Não vou a lugar nenhum sem ver como você está primeiro — avisei sem sair de onde estava, então a porta se abriu, quase me fazendo cair lá dentro.
— Agora que já me viu, fora! — disse, já me empurrando para fora, mas segurei na porta.
— Tem como você se acalmar um pouco? — perguntei, a encarando e vendo sua maquiagem borrada, ela tinha chorado. — Aquela mulher te bateu de novo.
— E o que isso importa? Nada vai mudar mesmo! — berrou, tentando me empurrar novamente para fora. — Vai embora! — mandou.
— Importa para mim! — disse e fiz que me soltasse. — Aonde foi? Na boca de novo? — Tentei segurar seu rosto, vendo um pequeno corte em seu lábio inferior, mas ela virou e andou para trás. — Me deixe ver, — pedi.
—Não! — Ficou de costas para mim. — Esquece isso!
— Esquecer? Não dá para esquecer que em apenas um dia perto da sua mãe, você está toda machucada! — rebati, já ficando nervoso por causa daquilo. Estava me matando ver as marcas em seu corpo se multiplicando.
— Isso não faz menor diferença, eles somem depois de um tempo. — Cruzou os braços como uma criança emburrada. — Vai embora.
— É claro que faz diferença! Para de ser infantil! — falei irritado, e isso fez com que ela se virasse e me encarasse, então saiu andando. — Aonde você vai?
— Sumir! — Fui andando atrás dela e a vi pegando seu celular sobre o móvel.
— É assim que você vai lidar com a situação? Fugindo? — Tentei segurar sua mão para fazê-la parar, mas a puxou.
— É, ! Acho que você não entendeu ainda a parte do: quero ficar sozinha! — Se virou e começou a andar de costas. — Agora sai da porra do meu pé! — Ergui as sobrancelhas e ela saiu do quarto, batendo a porta.
Fiquei ali parado olhando para a porta fechada, puto da vida. Não com ela, e sim com Jess. Aquela mulher era descontrolada e não podia continuar tratando daquele jeito. Mas acabei percebendo que eu deveria estar a sufocando sem perceber com a minha preocupação. Sabia que não lidava muito bem com muita atenção e acabei fazendo aquilo sem perceber. Saí do quarto e já escutei uma discussão na sala.
— Você não vai dirigir nervosa desse jeito — falou, então fui até lá rapidamente. — Vai acabar fazendo besteira.
— Foda-se! Se eu morrer, vai ser ótimo para todo mundo! — Tomou a chave do carro da mão de seu irmão.
— Para de falar merda. — foi atrás, mas eu o segurei.
— Deixa ela — pedi e ele me olhou sem entender nada. — Precisamos dar espaço, estamos a sufocando.
— , não posso deixar a minha irmã sair desse jeito. Ela está muito irritada. — Tentou se soltar, mas não permiti.
— Ela vai ficar bem. — Queria acreditar em minhas próprias palavras, mas embora compartilhasse da mesma preocupação que ele, não querendo que saísse daquela maneira, seria pior se a fizéssemos ficar ali. — Estou tão preocupado quanto você, mas a única coisa que podemos fazer para ajudar é dar um jeito na descontrolada da sua mãe. Ela bateu na de novo.
— Agora? — perguntou, unindo as sobrancelhas, e eu apenas concordei.
— está até com o lábio cortado dessa vez — expliquei. — Não sei o que aconteceu, ela não quis me contar. — se soltou de minha mão e foi andando para o lado de fora. — , o que você vai fazer? — chamei, mas ele estava me ignorando. — .
— Qual é a merda do seu problema? — Ele deu um tapa no copo de suco que sua mãe segurava. Percebi que não estava mais ali e nem .
— Está ficando maluco, ? — ela berrou o olhando com raiva.
— Maluca é você, sua descontrolada! — Eu nunca tinha visto ele tão irritado. — Estou farto de te ver machucando a minha irmã o tempo inteiro! Se fizer isso mais uma vez não vou responder por mim! — Jess se levantou da mesa rapidamente e tentou acertar um tapa na cara de , mas ele segurou sua mão. — Você vai pegar as suas coisas e ir embora daqui! — Empurrou a mão dela. — Todos estávamos bem até você chegar e começar a estragar as férias de tudo mundo!
— É isso que você quer? Que eu vá embora? — Começou a chorar e eu fiquei surpreso com aquilo.
— Quero que você suma das nossas vidas! — respondeu, olhando dentro dos olhos dela e travando os dentes. — A única coisa boa que fez até hoje foi parir nós dois, nada além disso.
— Por que está falando desse jeito comigo? — Jess chorava de um jeito dramático e aquilo me fez revirar os olhos. — Eu não te fiz nada!
— Exatamente. Você nunca fez nada para mim e nem para . Sempre estava preocupada demais com aparência e com o que os outros iriam achar! Tentando fazendo com que nós dois fossemos os filhos perfeitos e engomadinhos. Nunca nos deu um abraço em forma de carinho! Sempre foi tudo forçado e mecânico, claro se valer mencionar que era só na frente das pessoas, porque por trás nem um beijo de boa noite nos dava quando éramos crianças — acusou em um tom frio de voz. Todos nós estávamos quietos, acho que estávamos surpresos demais, vendo agindo daquele jeito. — Então não venha com essas lágrimas falsas dizendo que está magoada com o que estou falando, pois para mim isso não vale nada.
— Então é isso? — Sua mãe secou o rosto e levantou seu nariz. — É isso que ganho por ter criado vocês dois e ter dado tudo o que queriam? A única coisa que pedi sempre em troca que era para serem pessoas boas e não qualquer coisa como os amigos de vocês!
— É isso que você ganha por ser uma péssima mãe. Porque, se você não sabe, amor não se compra em uma prateleira de uma loja de departamentos. — Deu um passo para trás para que Jess pudesse sair de onde estava. — Bem, eu digo que conseguiu. Nós somos pessoas boas, você que não é. Para ser totalmente honesto, você é a pior pessoa que conhecemos, mas isso foi bom, nos serviu de exemplo para não sermos iguais. — Sua mãe o olhava com tanta raiva que pensei que ela voaria em seu pescoço naquele exato momento. — E essas pessoas que você intitula ruins, são as melhores que nós conhecemos, pois elas nos deram o que nunca foi capaz de nos dar, uma família de verdade, companheirismo e amor.
— Quem com porcos anda, farelo come — desdenhou completamente de nós olhando dentro da cara de e saiu andando logo em seguida de cabeça erguida. — Quando esse povinho abandonarem vocês dois não venham atrás de mim chorando. — Entrou na casa sem olhar para trás.
— Sente um pouco, — Anne disse, ficando de pé e fazendo com que ele se sentasse em uma cadeira. — Tome um pouco de suco, você está tremendo. — Lhe entregou um copo e ele deu um gole. — Você e sua irmã sabem que podem contar comigo, não é? Se quiserem ir morar lá em casa, os receberei de portas abertas. — Ela acariciou o rosto dele e concordou com a cabeça.
— Filho. — Roger se aproximou, colocando a mão no ombro dele. — Por mais duro que tenha sido suas palavras, eu estou feliz que tenha enfrentado sua mãe. — Puxou uma cadeira e se sentou na frente dele. — Não sei se sua irmã te contou, provavelmente não, pois pedi para não fazer isso. — Ergui uma sobrancelha interessado em saber o que seu pai iria contar. — Mas eu só estava com a Jess por vocês. Porque queria que tivessem uma família.
— Nós nunca tivemos uma — o respondeu, colocando seu copo sobre a mesa. — Lamento que tenha sacrificado sua felicidade por nossa causa, você não merece isso. — Tirou a mão de seu pai de seu ombro e a segurou.
— Sua irmã disse a mesma coisa, ela falou que era para me divorciar de Jess, mas não achei que você seria de acordo com isso. — Até porque, era a coisa mais sensata a se fazer.
— Pai, eu não tenho que concordar com nada. Se você não é feliz com alguém, por que vai continuar com essa pessoa? Não é justo contigo. — Eu concordava plenamente com o que estava falando. — Volte para casa e dê entrada no divórcio se é o que realmente quer.
— Preciso saber se você vai ficar bem com isso. — Apertou a mão de com mais força.
— Eu ficarei bem se você estiver bem. — Sorriu e colocou sua outra mão em cima da dele. — Faça dos seus erros a sua paz. Não quer dizer que só porque errou, que você tem que conviver com isso o resto de sua vida.
— Pelo menos desse erro surgiram duas pessoas maravilhosas. — Roger segurou a lateral do rosto de . — Você e sua irmã foram as melhores coisas que me aconteceram. — O abraçou logo em seguida.
— Vocês dois são as coisas mais preciosas que tenho. — retribuiu o abraço.
Não pensei duas vezes e me aproximei de , abaixando ao lado ele e de seu pai e os abraçando apertado. Eu estaria sempre ao lado deles, mesmo que fosse aqui ou em outra cidade, ou até mesmo país, nunca os deixaria e faria sempre de tudo para ajudá-los e vê-los bem, felizes. E por mais estranho que eu fosse a maior parte do tempo não falando de mim mesmo, escondendo tudo sobre minha vida e até mesmo parecendo frio e distante, ainda assim me preocupava com cada uma daquelas pessoas que estavam ali e os amava. Assim como disse, eles eram a minha família também, as pessoas que me deram carinho e me acolheram quando apareci do nada para jogar online com eles há três anos. Tudo começou com uma brincadeira e no fim eles me tornaram parte da família como se me conhecessem há muito tempo, como se eu morasse no mesmo bairro que eles, como se tivéssemos crescido juntos, confiando em mim mesmo que eu parecesse um psicopata que quase nunca mostrava a cara. Se aquilo era o significado da palavra amigos e família, então acho que tinha encontrado as pessoas certas.
Aos poucos todo mundo foi se aproximando e nos envolvendo, transformando aquilo em um grande abraço coletivo. Aposto que não era só eu que estava orgulho de por ele ter enfrentado Jess daquela maneira, todos estavam, e sabia que cada um ali ficaria do seu lado também. Um por um foi se soltando, até que nos afastamos e nos olhou com um sorriso e lágrimas nos olhos, e isso me fez ficar tão emocionado quanto ele. precisava estar ali para ter visto isso. Ela ficaria feliz.
— Vamos embora, Roger! Já arrumei suas malas! — Jess berrou de dentro da casa.
— Vou para poder resolver as coisas. Quando vocês voltarem para casa, provavelmente não estarei mais com a sua mãe — Roger falou com , que apenas concordou com a cabeça. — Qualquer coisa que vocês precisarem, me ligue. — Deu um beijo na cabeça dele.
— Ligaremos. E qualquer coisa você pode contar conosco, pode voltar para cá, ligar, qualquer coisa mesmo. — Seu pai sorriu.
— Pode deixar. — Depois disso, começou a se despedir de todo mundo, até que veio em minha direção. — E você. — Apontou para mim. — Cuide bem da minha filha. — Sorriu e me abraçou.
— Juro que vou cuidar. — Retribui o abraço. — Ela é muito especial.
— Ela é. — Roger sorriu, se afastando. — E gosta muito de você, então não a decepcione — pediu.
— Não irei — garanti, aquilo seria algo que jamais iria fazer com . — Também gosto muito ela.
— Eu sei. — Segurou minha nuca com uma mão. — Por isso que sei que você é a pessoa certa para a minha filha. — Fiquei feliz em ouvir aquilo, a aprovação de Roger era importante para mim. — Diga a que a amo e que mandei um beijo.
— Vou dizer. — Sorri, balançando a cabeça. — Obrigado, Roger.
— Pelo quê? — Sorriu de lado e uniu as sobrancelhas.
— Por confiar em mim e nos apoiar — expliquei.
— Impossível não apoiar, você deu vida novamente à minha filha. — Fiquei surpreso com o que disse. — Agora preciso ir. Vá até Dana Point qualquer dia, vai ser um prazer recebê-lo.
— Com toda a certeza irei — falei e Roger me deu um último abraço. — Boa viagem.
— Obrigado. — Saiu andando e entrou na casa.
Fui pegar meu copo de café, que essa altura já deveria estar frio, e eu estava certo, aquilo parecia até o coração de Jess. Joguei o café fora e coloquei mais. Me sentei em uma cadeira e fiquei pensando em . Preocupado com ela, me perguntando se estaria bem e por onde deveria estar. Aquilo me fez dar um suspiro. Aquela garota mexia muito comigo. Não sabia como iria ser isso que estávamos começando a ter, mas a minha ideia básica era queda livre. Era loucura, só que eu já tinha me jogado de cabeça nela e sentia que era um caminho sem volta, pois levava consigo cada parte minha quando se afastava e as coisas começavam a não fazer muito sentido quando ela estava longe. Aquilo não era uma dependência, e sim saudade. Sei que tínhamos passado a noite juntos, mas não era isso, não era a necessidade de tê-la colada comigo, era apenas a estranheza de saber que ela não estava por perto. Em pouco tempo tinha me acostumado com sua presença, e não era como se ela tivesse ido ao mercado ou ido a qualquer lugar com uma previsão de volta, ela tinha saído sem previsão e destino, e isso estava me incomodando pelo fato de estar acostumado a saber de tudo o que estava se passando, mas não era bem assim quando as coisas eram relacionadas com ela. não era como os jogadores de poker que demonstram com sinais do que tem nas mãos, ela era totalmente aleatória como um jogo de roleta, onde a bolinha ficava rodando sem dar o menor sinal de onde iria parar. era imprevisível e isso às vezes me dava medo, pois parecia que ela escaparia facilmente de meus dedos e simplesmente sumiria, e eu nunca mais a veria. Ao contrário de mim, ela não ficava calada observando as coisas ao redor, lendo todos os sinais e reparando as coisas, apenas se calava e imergia em si mesma, se deslocando totalmente do mundo ao seu redor, tornando impossível saber o que se passava dentro de sua cabeça, então do nada ela voltava à tona com um sorriso no rosto e algo completamente aleatório. E aquilo ainda me fazia ter dúvidas se era apenas uma válvula de escape para fingir que tudo estava bem, ou se era de fato uma característica sua. Talvez eu nunca fosse descobrir, porque de longe ela era a pessoa mais fechada que já vi. Iria me acostumar com isso, afinal, não podia forçá-la a falar nada, e nem queria, pois de certa forma seu jeito misterioso me fascinava, e o incômodo que sentia por não saber de tudo se tornava nulo se comparado a isso, porque cada segundo ao seu lado era uma surpresa. E se tinha algo que eu gostava, era de ser surpreendido. era um livro de suspense no qual nunca me cansaria de ler.
A cada hora que se passava eu bebia mais café, me recusando a dormir ou até mesmo cochilar. Não fecharia meus olhos sem que tivesse voltado para casa, e estava no mesmo estado que eu. Nós dois chegamos a sentar na porta esperando que o grande Ford F-150 aparecesse dobrando a rua, e isso apenas nos levou mais horas, porque ela não apareceu. queria ligar para sua irmã, perguntar onde estava e se estava melhor, mas não deixei, assim como fiz com o resto do pessoal. queria espaço e precisávamos dar isso a ela. E, também, era culpa minha ela ter saído de casa. Se não tivesse ficado em cima dela àquela hora, isso não teria acontecido. Ficar parado esperando estava começando a me deixar nervoso, então peguei meu celular, a minha braçadeira, o fone de ouvido, e saí para correr. Gastar minha energia era a única coisa que eu podia fazer no momento.
Entrei no perfil do Spotify da e procurei por sua playlist de Lo-fi, e tinha várias ali com estilos misturados. Escolhi uma, coloquei para tocar e comecei a correr. Dei uma volta no quarteirão, e outra, e mais outra, e continuei naquela por mais de uma hora, mas nem a corrida ou a música me fizeram relaxar, nada, nenhuma diferença, parecia que estava mais pilhado do que antes. Estava preocupado com , querendo saber onde estava e o motivo de não ter voltado ainda, pois já passava de dez da noite e ela não tinha dado nem ao menos notícias. E aquilo estava me deixando louco a tal ponto que o ar chegava a faltar às vezes. Parecia que o mundo estava acabando aos poucos, pelo menos o meu parecia que estava, pois só a ideia de que algo de ruim poderia ter acontecido com ela, isso já era o suficiente para me sentir de tal maneira. Então percebi que não iria adiantar em nada ficar ali rodando que nem uma barata, eu precisava fazer algo, não dava mais para esperar, tinha que saber se estava bem. Voltei para casa e quando abri a porta, já consegui escutar a voz de .
— Eu vou ligar para ela! — ele disse bem alto. — , me devolva meu celular!
— Espera o chegar! — rebateu e eu já cruzei a porta, todos me olharam.
— Liga logo, ou eu vou morrer de preocupação — falei e devolveu o iPhone de , que já ligou logo em seguida.
— Caixa de mensagens. Ela desligou o celular...
— Ou aconteceu algo — comentei, sentindo meu coração ficar extremamente acelerado. — Eu vou tomar um banho e ir atrás dela. — Sai andando.
— Vou fazer isso agora. — saiu andando e foi atrás dele.
— Eu também vou — disse, pegando a chave do Honda de .
— Não, nem pensar que você vai sair desse jeito, vai acabar se acidentando também. — Arregalei meus olhos com aquilo, assim como . — Digo, você pode sofrer um acidente. Vamos ficar aqui e esperar.
— Vou ligar para o Eric e ver se ele sabe de algo. — Troy saiu andando, procurando seu celular.
— Nós podemos nos dividir e ir cada um para um lado, vamos cobrir mais terreno assim — Theo sugeriu e eu concordei com ele. — A.J. sabe andar de long, ele pode dar uma volta pelas redondezas enquanto nós vamos para lugares mais longe de carro.
— Por mim tudo bem — o loiro respondeu.
— Beleza. Vou para o lado norte da cidade — Theo falou, pegando a chave do Cadillac.
— Eu posso passar pela costa e ver se ela está em alguma praia — Bradley se ofereceu e nós fomos de acordo.
— Charlie pode pegar meu carro e ir até Ventura. — já jogou a chave de seu Honda para ele. — Vou ficar aqui com , caso a volte. — Dava para ver de longe o quanto ela estava nervosa, sua mão tremia por mais que tentasse se conter.
— Eu vou para o Oeste e posso ir até Camarillo — disse, já que Camarillo ficava para aquela direção.
— Certo, então eu e o vamos para o lado sul da cidade e em Port Hueneme. — já pegou a chave do carro dela no chaveiro, puxando consigo.
— O Eric disse que não sabe de nada, mas ele vai vir me buscar para darmos uma volta pelo centro e vermos se a encontramos. — Troy apareceu de volta na sala, avisando.
— Vou ligar para os hospitais e ver se tem a entrada dela ou se alguém ao menos parecido. — Joe pegou seu celular e foi para a varanda.
— Eu e Miguel podemos ir aos hotéis e motéis e ver se ela está em algum deles — Stephen deu a ideia, e achei muito boa.
— Isso, vou pedir o carro da Ruby emprestado, e a Samanta pode ir contigo, assim será mais rápido — Miguel falou e Stephen concordou, então eles saíram.
— Vou ver se consigo entrar no sistema de radares e tentar achar a pick-up — Derik disse, já subindo para pegar seu notebook, ele era muito bom em hackear qualquer coisa.
— Vou fazer um chá para o para ver se ele se acalma — Anne disse, olhando para , que estava sentado no sofá quase arrancando os cabelos. — Deveríamos ligar para o Roger.
— Não. Se não a encontrarmos, aí ligamos para ele — protestou rapidamente. — Nós vamos achá-la, ou ela vai aparecer. — Eu queria acreditar naquilo, mas naquele momento eu já estava pensando o pior.
— Vou tomar um banho. — Saí dali.
Estava encostado no parapeito da varanda conversando com Joe e Stephen, olhando de longe , e Anne sentadas na mesa no canto enquanto tomava meu café puro, até que Jess se juntou a elas, então desviei o olhar e encarei meu amigo à minha frente que falava empolgado sobre um jogo que tinha comprado. Mas não demorou muito para que meus olhos se virassem rapidamente quando escutei um arrastar brusco de cadeira, o pessoal estava entretido demais em suas próximas conversas para terem suas atenções roubadas. Vi se levantar, já tocando seu lábio inferior e olhando para seus dedos logo em seguida, depois limpando o canto de sua boca com as costas de sua mão. Ela estava sangrando? Aquilo só podia ser sacanagem! Não estava acreditando que Jess tinha tido a audácia de bater nela de novo! Sua mãe a chamou, mas já lhe tinha dado as costas e estava entrando em casa agora.
— Já volto — falei com Joe e Stephen, deixando meu copo de café sobre o parapeito e indo atrás da minha garota. — — chamei, entrando na casa, mas ela não me deu atenção, já entrando no corredor apressada.
Escutei a porta do quarto batendo e fui atrás, entrando lá e a fechando assim que passei, mas assim que a me viu, ela entrou no banheiro e se trancou lá dentro. Não consegui notar muita coisa, já que havia soltado seu cabelo e ele cobria boa parte de seu rosto. Aquilo não estava certo, estava se escondendo e aquilo não era nada bom. Certamente não sabia que eu já tinha percebido o que havia acabado de acontecer. Andei lentamente até a porta do banheiro e bati nela duas vezes, encostando minha cabeça na madeira, esperando que ela abrisse.
— Me deixa quieta, ! — gritou extremamente irritada lá de dentro, me fazendo franzir o cenho, ela não era de falar naquele jeito comigo.
— Abre a porta, por favor — pedi calmamente, queria ver como ela estava.
— Não! Sai daqui! — persistiu. podia ser teimosa, mas eu era também.
— Não vou a lugar nenhum sem ver como você está primeiro — avisei sem sair de onde estava, então a porta se abriu, quase me fazendo cair lá dentro.
— Agora que já me viu, fora! — disse, já me empurrando para fora, mas segurei na porta.
— Tem como você se acalmar um pouco? — perguntei, a encarando e vendo sua maquiagem borrada, ela tinha chorado. — Aquela mulher te bateu de novo.
— E o que isso importa? Nada vai mudar mesmo! — berrou, tentando me empurrar novamente para fora. — Vai embora! — mandou.
— Importa para mim! — disse e fiz que me soltasse. — Aonde foi? Na boca de novo? — Tentei segurar seu rosto, vendo um pequeno corte em seu lábio inferior, mas ela virou e andou para trás. — Me deixe ver, — pedi.
—Não! — Ficou de costas para mim. — Esquece isso!
— Esquecer? Não dá para esquecer que em apenas um dia perto da sua mãe, você está toda machucada! — rebati, já ficando nervoso por causa daquilo. Estava me matando ver as marcas em seu corpo se multiplicando.
— Isso não faz menor diferença, eles somem depois de um tempo. — Cruzou os braços como uma criança emburrada. — Vai embora.
— É claro que faz diferença! Para de ser infantil! — falei irritado, e isso fez com que ela se virasse e me encarasse, então saiu andando. — Aonde você vai?
— Sumir! — Fui andando atrás dela e a vi pegando seu celular sobre o móvel.
— É assim que você vai lidar com a situação? Fugindo? — Tentei segurar sua mão para fazê-la parar, mas a puxou.
— É, ! Acho que você não entendeu ainda a parte do: quero ficar sozinha! — Se virou e começou a andar de costas. — Agora sai da porra do meu pé! — Ergui as sobrancelhas e ela saiu do quarto, batendo a porta.
Fiquei ali parado olhando para a porta fechada, puto da vida. Não com ela, e sim com Jess. Aquela mulher era descontrolada e não podia continuar tratando daquele jeito. Mas acabei percebendo que eu deveria estar a sufocando sem perceber com a minha preocupação. Sabia que não lidava muito bem com muita atenção e acabei fazendo aquilo sem perceber. Saí do quarto e já escutei uma discussão na sala.
— Você não vai dirigir nervosa desse jeito — falou, então fui até lá rapidamente. — Vai acabar fazendo besteira.
— Foda-se! Se eu morrer, vai ser ótimo para todo mundo! — Tomou a chave do carro da mão de seu irmão.
— Para de falar merda. — foi atrás, mas eu o segurei.
— Deixa ela — pedi e ele me olhou sem entender nada. — Precisamos dar espaço, estamos a sufocando.
— , não posso deixar a minha irmã sair desse jeito. Ela está muito irritada. — Tentou se soltar, mas não permiti.
— Ela vai ficar bem. — Queria acreditar em minhas próprias palavras, mas embora compartilhasse da mesma preocupação que ele, não querendo que saísse daquela maneira, seria pior se a fizéssemos ficar ali. — Estou tão preocupado quanto você, mas a única coisa que podemos fazer para ajudar é dar um jeito na descontrolada da sua mãe. Ela bateu na de novo.
— Agora? — perguntou, unindo as sobrancelhas, e eu apenas concordei.
— está até com o lábio cortado dessa vez — expliquei. — Não sei o que aconteceu, ela não quis me contar. — se soltou de minha mão e foi andando para o lado de fora. — , o que você vai fazer? — chamei, mas ele estava me ignorando. — .
— Qual é a merda do seu problema? — Ele deu um tapa no copo de suco que sua mãe segurava. Percebi que não estava mais ali e nem .
— Está ficando maluco, ? — ela berrou o olhando com raiva.
— Maluca é você, sua descontrolada! — Eu nunca tinha visto ele tão irritado. — Estou farto de te ver machucando a minha irmã o tempo inteiro! Se fizer isso mais uma vez não vou responder por mim! — Jess se levantou da mesa rapidamente e tentou acertar um tapa na cara de , mas ele segurou sua mão. — Você vai pegar as suas coisas e ir embora daqui! — Empurrou a mão dela. — Todos estávamos bem até você chegar e começar a estragar as férias de tudo mundo!
— É isso que você quer? Que eu vá embora? — Começou a chorar e eu fiquei surpreso com aquilo.
— Quero que você suma das nossas vidas! — respondeu, olhando dentro dos olhos dela e travando os dentes. — A única coisa boa que fez até hoje foi parir nós dois, nada além disso.
— Por que está falando desse jeito comigo? — Jess chorava de um jeito dramático e aquilo me fez revirar os olhos. — Eu não te fiz nada!
— Exatamente. Você nunca fez nada para mim e nem para . Sempre estava preocupada demais com aparência e com o que os outros iriam achar! Tentando fazendo com que nós dois fossemos os filhos perfeitos e engomadinhos. Nunca nos deu um abraço em forma de carinho! Sempre foi tudo forçado e mecânico, claro se valer mencionar que era só na frente das pessoas, porque por trás nem um beijo de boa noite nos dava quando éramos crianças — acusou em um tom frio de voz. Todos nós estávamos quietos, acho que estávamos surpresos demais, vendo agindo daquele jeito. — Então não venha com essas lágrimas falsas dizendo que está magoada com o que estou falando, pois para mim isso não vale nada.
— Então é isso? — Sua mãe secou o rosto e levantou seu nariz. — É isso que ganho por ter criado vocês dois e ter dado tudo o que queriam? A única coisa que pedi sempre em troca que era para serem pessoas boas e não qualquer coisa como os amigos de vocês!
— É isso que você ganha por ser uma péssima mãe. Porque, se você não sabe, amor não se compra em uma prateleira de uma loja de departamentos. — Deu um passo para trás para que Jess pudesse sair de onde estava. — Bem, eu digo que conseguiu. Nós somos pessoas boas, você que não é. Para ser totalmente honesto, você é a pior pessoa que conhecemos, mas isso foi bom, nos serviu de exemplo para não sermos iguais. — Sua mãe o olhava com tanta raiva que pensei que ela voaria em seu pescoço naquele exato momento. — E essas pessoas que você intitula ruins, são as melhores que nós conhecemos, pois elas nos deram o que nunca foi capaz de nos dar, uma família de verdade, companheirismo e amor.
— Quem com porcos anda, farelo come — desdenhou completamente de nós olhando dentro da cara de e saiu andando logo em seguida de cabeça erguida. — Quando esse povinho abandonarem vocês dois não venham atrás de mim chorando. — Entrou na casa sem olhar para trás.
— Sente um pouco, — Anne disse, ficando de pé e fazendo com que ele se sentasse em uma cadeira. — Tome um pouco de suco, você está tremendo. — Lhe entregou um copo e ele deu um gole. — Você e sua irmã sabem que podem contar comigo, não é? Se quiserem ir morar lá em casa, os receberei de portas abertas. — Ela acariciou o rosto dele e concordou com a cabeça.
— Filho. — Roger se aproximou, colocando a mão no ombro dele. — Por mais duro que tenha sido suas palavras, eu estou feliz que tenha enfrentado sua mãe. — Puxou uma cadeira e se sentou na frente dele. — Não sei se sua irmã te contou, provavelmente não, pois pedi para não fazer isso. — Ergui uma sobrancelha interessado em saber o que seu pai iria contar. — Mas eu só estava com a Jess por vocês. Porque queria que tivessem uma família.
— Nós nunca tivemos uma — o respondeu, colocando seu copo sobre a mesa. — Lamento que tenha sacrificado sua felicidade por nossa causa, você não merece isso. — Tirou a mão de seu pai de seu ombro e a segurou.
— Sua irmã disse a mesma coisa, ela falou que era para me divorciar de Jess, mas não achei que você seria de acordo com isso. — Até porque, era a coisa mais sensata a se fazer.
— Pai, eu não tenho que concordar com nada. Se você não é feliz com alguém, por que vai continuar com essa pessoa? Não é justo contigo. — Eu concordava plenamente com o que estava falando. — Volte para casa e dê entrada no divórcio se é o que realmente quer.
— Preciso saber se você vai ficar bem com isso. — Apertou a mão de com mais força.
— Eu ficarei bem se você estiver bem. — Sorriu e colocou sua outra mão em cima da dele. — Faça dos seus erros a sua paz. Não quer dizer que só porque errou, que você tem que conviver com isso o resto de sua vida.
— Pelo menos desse erro surgiram duas pessoas maravilhosas. — Roger segurou a lateral do rosto de . — Você e sua irmã foram as melhores coisas que me aconteceram. — O abraçou logo em seguida.
— Vocês dois são as coisas mais preciosas que tenho. — retribuiu o abraço.
Não pensei duas vezes e me aproximei de , abaixando ao lado ele e de seu pai e os abraçando apertado. Eu estaria sempre ao lado deles, mesmo que fosse aqui ou em outra cidade, ou até mesmo país, nunca os deixaria e faria sempre de tudo para ajudá-los e vê-los bem, felizes. E por mais estranho que eu fosse a maior parte do tempo não falando de mim mesmo, escondendo tudo sobre minha vida e até mesmo parecendo frio e distante, ainda assim me preocupava com cada uma daquelas pessoas que estavam ali e os amava. Assim como disse, eles eram a minha família também, as pessoas que me deram carinho e me acolheram quando apareci do nada para jogar online com eles há três anos. Tudo começou com uma brincadeira e no fim eles me tornaram parte da família como se me conhecessem há muito tempo, como se eu morasse no mesmo bairro que eles, como se tivéssemos crescido juntos, confiando em mim mesmo que eu parecesse um psicopata que quase nunca mostrava a cara. Se aquilo era o significado da palavra amigos e família, então acho que tinha encontrado as pessoas certas.
Aos poucos todo mundo foi se aproximando e nos envolvendo, transformando aquilo em um grande abraço coletivo. Aposto que não era só eu que estava orgulho de por ele ter enfrentado Jess daquela maneira, todos estavam, e sabia que cada um ali ficaria do seu lado também. Um por um foi se soltando, até que nos afastamos e nos olhou com um sorriso e lágrimas nos olhos, e isso me fez ficar tão emocionado quanto ele. precisava estar ali para ter visto isso. Ela ficaria feliz.
— Vamos embora, Roger! Já arrumei suas malas! — Jess berrou de dentro da casa.
— Vou para poder resolver as coisas. Quando vocês voltarem para casa, provavelmente não estarei mais com a sua mãe — Roger falou com , que apenas concordou com a cabeça. — Qualquer coisa que vocês precisarem, me ligue. — Deu um beijo na cabeça dele.
— Ligaremos. E qualquer coisa você pode contar conosco, pode voltar para cá, ligar, qualquer coisa mesmo. — Seu pai sorriu.
— Pode deixar. — Depois disso, começou a se despedir de todo mundo, até que veio em minha direção. — E você. — Apontou para mim. — Cuide bem da minha filha. — Sorriu e me abraçou.
— Juro que vou cuidar. — Retribui o abraço. — Ela é muito especial.
— Ela é. — Roger sorriu, se afastando. — E gosta muito de você, então não a decepcione — pediu.
— Não irei — garanti, aquilo seria algo que jamais iria fazer com . — Também gosto muito ela.
— Eu sei. — Segurou minha nuca com uma mão. — Por isso que sei que você é a pessoa certa para a minha filha. — Fiquei feliz em ouvir aquilo, a aprovação de Roger era importante para mim. — Diga a que a amo e que mandei um beijo.
— Vou dizer. — Sorri, balançando a cabeça. — Obrigado, Roger.
— Pelo quê? — Sorriu de lado e uniu as sobrancelhas.
— Por confiar em mim e nos apoiar — expliquei.
— Impossível não apoiar, você deu vida novamente à minha filha. — Fiquei surpreso com o que disse. — Agora preciso ir. Vá até Dana Point qualquer dia, vai ser um prazer recebê-lo.
— Com toda a certeza irei — falei e Roger me deu um último abraço. — Boa viagem.
— Obrigado. — Saiu andando e entrou na casa.
Fui pegar meu copo de café, que essa altura já deveria estar frio, e eu estava certo, aquilo parecia até o coração de Jess. Joguei o café fora e coloquei mais. Me sentei em uma cadeira e fiquei pensando em . Preocupado com ela, me perguntando se estaria bem e por onde deveria estar. Aquilo me fez dar um suspiro. Aquela garota mexia muito comigo. Não sabia como iria ser isso que estávamos começando a ter, mas a minha ideia básica era queda livre. Era loucura, só que eu já tinha me jogado de cabeça nela e sentia que era um caminho sem volta, pois levava consigo cada parte minha quando se afastava e as coisas começavam a não fazer muito sentido quando ela estava longe. Aquilo não era uma dependência, e sim saudade. Sei que tínhamos passado a noite juntos, mas não era isso, não era a necessidade de tê-la colada comigo, era apenas a estranheza de saber que ela não estava por perto. Em pouco tempo tinha me acostumado com sua presença, e não era como se ela tivesse ido ao mercado ou ido a qualquer lugar com uma previsão de volta, ela tinha saído sem previsão e destino, e isso estava me incomodando pelo fato de estar acostumado a saber de tudo o que estava se passando, mas não era bem assim quando as coisas eram relacionadas com ela. não era como os jogadores de poker que demonstram com sinais do que tem nas mãos, ela era totalmente aleatória como um jogo de roleta, onde a bolinha ficava rodando sem dar o menor sinal de onde iria parar. era imprevisível e isso às vezes me dava medo, pois parecia que ela escaparia facilmente de meus dedos e simplesmente sumiria, e eu nunca mais a veria. Ao contrário de mim, ela não ficava calada observando as coisas ao redor, lendo todos os sinais e reparando as coisas, apenas se calava e imergia em si mesma, se deslocando totalmente do mundo ao seu redor, tornando impossível saber o que se passava dentro de sua cabeça, então do nada ela voltava à tona com um sorriso no rosto e algo completamente aleatório. E aquilo ainda me fazia ter dúvidas se era apenas uma válvula de escape para fingir que tudo estava bem, ou se era de fato uma característica sua. Talvez eu nunca fosse descobrir, porque de longe ela era a pessoa mais fechada que já vi. Iria me acostumar com isso, afinal, não podia forçá-la a falar nada, e nem queria, pois de certa forma seu jeito misterioso me fascinava, e o incômodo que sentia por não saber de tudo se tornava nulo se comparado a isso, porque cada segundo ao seu lado era uma surpresa. E se tinha algo que eu gostava, era de ser surpreendido. era um livro de suspense no qual nunca me cansaria de ler.
A cada hora que se passava eu bebia mais café, me recusando a dormir ou até mesmo cochilar. Não fecharia meus olhos sem que tivesse voltado para casa, e estava no mesmo estado que eu. Nós dois chegamos a sentar na porta esperando que o grande Ford F-150 aparecesse dobrando a rua, e isso apenas nos levou mais horas, porque ela não apareceu. queria ligar para sua irmã, perguntar onde estava e se estava melhor, mas não deixei, assim como fiz com o resto do pessoal. queria espaço e precisávamos dar isso a ela. E, também, era culpa minha ela ter saído de casa. Se não tivesse ficado em cima dela àquela hora, isso não teria acontecido. Ficar parado esperando estava começando a me deixar nervoso, então peguei meu celular, a minha braçadeira, o fone de ouvido, e saí para correr. Gastar minha energia era a única coisa que eu podia fazer no momento.
Entrei no perfil do Spotify da e procurei por sua playlist de Lo-fi, e tinha várias ali com estilos misturados. Escolhi uma, coloquei para tocar e comecei a correr. Dei uma volta no quarteirão, e outra, e mais outra, e continuei naquela por mais de uma hora, mas nem a corrida ou a música me fizeram relaxar, nada, nenhuma diferença, parecia que estava mais pilhado do que antes. Estava preocupado com , querendo saber onde estava e o motivo de não ter voltado ainda, pois já passava de dez da noite e ela não tinha dado nem ao menos notícias. E aquilo estava me deixando louco a tal ponto que o ar chegava a faltar às vezes. Parecia que o mundo estava acabando aos poucos, pelo menos o meu parecia que estava, pois só a ideia de que algo de ruim poderia ter acontecido com ela, isso já era o suficiente para me sentir de tal maneira. Então percebi que não iria adiantar em nada ficar ali rodando que nem uma barata, eu precisava fazer algo, não dava mais para esperar, tinha que saber se estava bem. Voltei para casa e quando abri a porta, já consegui escutar a voz de .
— Eu vou ligar para ela! — ele disse bem alto. — , me devolva meu celular!
— Espera o chegar! — rebateu e eu já cruzei a porta, todos me olharam.
— Liga logo, ou eu vou morrer de preocupação — falei e devolveu o iPhone de , que já ligou logo em seguida.
— Caixa de mensagens. Ela desligou o celular...
— Ou aconteceu algo — comentei, sentindo meu coração ficar extremamente acelerado. — Eu vou tomar um banho e ir atrás dela. — Sai andando.
— Vou fazer isso agora. — saiu andando e foi atrás dele.
— Eu também vou — disse, pegando a chave do Honda de .
— Não, nem pensar que você vai sair desse jeito, vai acabar se acidentando também. — Arregalei meus olhos com aquilo, assim como . — Digo, você pode sofrer um acidente. Vamos ficar aqui e esperar.
— Vou ligar para o Eric e ver se ele sabe de algo. — Troy saiu andando, procurando seu celular.
— Nós podemos nos dividir e ir cada um para um lado, vamos cobrir mais terreno assim — Theo sugeriu e eu concordei com ele. — A.J. sabe andar de long, ele pode dar uma volta pelas redondezas enquanto nós vamos para lugares mais longe de carro.
— Por mim tudo bem — o loiro respondeu.
— Beleza. Vou para o lado norte da cidade — Theo falou, pegando a chave do Cadillac.
— Eu posso passar pela costa e ver se ela está em alguma praia — Bradley se ofereceu e nós fomos de acordo.
— Charlie pode pegar meu carro e ir até Ventura. — já jogou a chave de seu Honda para ele. — Vou ficar aqui com , caso a volte. — Dava para ver de longe o quanto ela estava nervosa, sua mão tremia por mais que tentasse se conter.
— Eu vou para o Oeste e posso ir até Camarillo — disse, já que Camarillo ficava para aquela direção.
— Certo, então eu e o vamos para o lado sul da cidade e em Port Hueneme. — já pegou a chave do carro dela no chaveiro, puxando consigo.
— O Eric disse que não sabe de nada, mas ele vai vir me buscar para darmos uma volta pelo centro e vermos se a encontramos. — Troy apareceu de volta na sala, avisando.
— Vou ligar para os hospitais e ver se tem a entrada dela ou se alguém ao menos parecido. — Joe pegou seu celular e foi para a varanda.
— Eu e Miguel podemos ir aos hotéis e motéis e ver se ela está em algum deles — Stephen deu a ideia, e achei muito boa.
— Isso, vou pedir o carro da Ruby emprestado, e a Samanta pode ir contigo, assim será mais rápido — Miguel falou e Stephen concordou, então eles saíram.
— Vou ver se consigo entrar no sistema de radares e tentar achar a pick-up — Derik disse, já subindo para pegar seu notebook, ele era muito bom em hackear qualquer coisa.
— Vou fazer um chá para o para ver se ele se acalma — Anne disse, olhando para , que estava sentado no sofá quase arrancando os cabelos. — Deveríamos ligar para o Roger.
— Não. Se não a encontrarmos, aí ligamos para ele — protestou rapidamente. — Nós vamos achá-la, ou ela vai aparecer. — Eu queria acreditar naquilo, mas naquele momento eu já estava pensando o pior.
— Vou tomar um banho. — Saí dali.
11.5. Lights Down Low
Bônus.
’s POV
Não sei o que tinha no chá que a tia Anne me deu, mas aquilo me fez apagar nos braços de . Talvez aquilo tivesse sido realmente bom, porque eu acabei sonhando com . Nós estávamos juntos, no chalé de seus pais em Jarbidge, uma comunidade do condado de Elko, que fica em Nevada. Nós só tínhamos ido lá uma vez, porque era muito longe, e foi no inverno. Assim como daquela vez, em meu sonho também nevava, mas não estávamos com os meninos, estávamos apenas nós dois. vestia um casaco de lã meu, com desenhos natalinos, aquilo ficou enorme nela, mas isso a deixou ainda mais linda do que já era, ao ponto de comparar a sua beleza a de um anjo. Seu sorriso me fazia sorrir também e meu coração disparava cada vez que ela se aproximava para me beijar. Eu queria parar o tempo e nadar em sua divindade. Não queria sair dali, pois aquele era o meu lugar, com ela em meus braços, sorrindo daquela forma tão linda enquanto sua cabeça repousava em meu peito e sua respiração ficava cada vez mais leve, indicando que tinha dormindo ali, deitada naquele tapete de pelo comigo.
Eu gostaria de dar o mundo para aquela mulher, porque despertava o melhor de mim e eu daria isso a ela, e faria qualquer coisa para vê-la sempre sorrindo e feliz, na mesma maneira que ela me fazia sentir assim. Nunca amei ninguém daquela forma, era a coisa mais forte e intensa que já senti em toda a minha vida, e agora aquilo estava mais vivo do que nunca ainda mais pelo fato de estar sendo retribuído. Jamais pensei que fosse realmente querer ficar comigo, nós sempre fomos amigos e ela nunca demonstrou qualquer tipo de interesse, a não ser pelo que disse aquela noite na festa. Aquilo quase fez meu coração explodir e eu vi que talvez até tivesse chance com ela, então tentei a primeira vez, e quando estava bem perto, Troy me atrapalhou, mas na segunda, quando estávamos sozinhos, eu mesmo não consegui me conter, era como se um imã que me arrastasse direto para , e quando toquei seus lábios com os meus... Não existia nenhuma palavra que pudesse descrever como me senti, eu só sabia que não podia perdê-la. E na noite em Ventura nunca senti tanto medo, porque por um momento pensei que ela daria um fim em nós, que aquela discussão acabaria com ela falando que eu tinha me tornado minha mãe e que não ficaria mais comigo, e foi como se todas as luzes estivessem se apagando lentamente. Me senti totalmente no escuro, até que finalmente disse que ainda assim ficaria comigo, e eu só queria sorrir novamente, pois, como o sol, iluminou tudo dentro de mim em apenas um segundo.
Acordei ouvindo o meu celular tocando. Uni as sobrancelhas, incomodado com aquele barulho e não me mexi, mas ele não parava. Quem estava me ligando? Foi aí que lembrei que tinha sumido, então abri meus olhos rapidamente e olhei para o lado, vendo o aparelho quase caindo da mesa de centro. Estiquei meu braço com cuidado para não acordar , que dormia com a cabeça em meu peito, e o peguei, vendo o nome do meu pai na tela e notando que era nove da manhã.
— Alô — falei com a minha voz embargada de sono.
— , sou eu, . — Era minha irmã, não podia estar acreditando que estava ouvindo sua voz. — Desculpa ter sumido, mas é que... — Ela parou de falar, parecia que estava cansada, não sei bem, só sentia que não estava bem. — Eu te explico quando chegar, já estou voltando. Por volta de meio dia devo estar aí.
— Você está bem? — perguntei rapidamente, antes que desligasse.
— Conversamos quando eu chegar. — Encerrou a ligação e minha cabeça começou a trabalhar rápido demais.
Tinha acontecido algo, ela estava ligando do celular do pai, então estava em Dana Point... O que ela estava fazendo lá? Aquilo estava ficando cada vez pior. se mexeu em cima de mim e abriu seus olhos, me olhando preocupada, o que me fez concluir que a minha cara não deveria ser das melhores. Passei a mão em seus cabelos e suspirei.
— Era a no telefone? — perguntou e eu apenas concordei. — Ela está bem?
— Ela não falou. — Uni as sobrancelhas, torcendo os lábios. — Mas aconteceu alguma coisa.
— Ela falou onde estava? — Dessa vez neguei.
— Mas ela ligou do celular do meu pai, então deve estar em Dana Point. — fez uma cara engaçada. — Eu também não faço ideia do que ela estava fazendo lá. — Ouvi um barulho na cozinha, então olhei para lá, vendo mexendo na geladeira. — Cara, você dormiu? — perguntei alto para que ele escutasse.
— Não. E também não achei a . Eu e vamos à delegacia informar o desaparecimento — respondeu, vindo até a sala e se jogando no sofá com uma caneca na mão.
— Não precisa, ela acabou de ligar — informei e ele me olhou com os olhos arregalados.
— Agora? Ela ligou agora? Agora mesmo? — Concordei. — O que ela disse? Onde ela está? Ela está bem?
— Calma — pedi. parecia que estava a ponto de ter um troço. — Ela está vindo para cá, parece que estava em Dana Point, ainda não sei bem — expliquei.
— Em Dana Point? O que ela disse? O que estava fazendo lá? — Passou a mão em seus cabelos, os jogando para trás enquanto me olhava, esperando a resposta.
— Eu não sei. Ela ligou do celular do pai, mas não disse muita coisa, só se desculpou por ter sumido e falou que estava vindo e que me explicaria o que aconteceu assim chegasse. — já se levantou do sofá, andando de um lado para o outro. — Eu estou tão preocupado quando você, mas ficar nervoso desse jeito não vai adiantar nada. está bem e está vindo para cá.
— , senta — pediu, certamente ficando nervosa por ele estar andando de um lado para o outro. — Fica tranquilo. Ela está bem. — Eu queria acreditar nas palavras de , mas, pela voz de minha irmã, ela não parecia estar nada bem.
— Não dá! Eu, eu, eu, eu...
— Você vai ter um treco, se acalma — pedi, e se levantou, indo até e o segurando.
— Você precisa dormir, olha o tamanho dessas olheiras. Qual foi última vez que você dormiu? — ela perguntou, e apenas uniu as sobrancelhas.
— Sei lá, sexta. — Ergui minhas sobrancelhas. Ele já estava há dois dias sem dormir, era por isso que estava estressado daquele jeito. — Não faz diferença, eu não vou conseguir dormir sem vê-la e me certificar de que está tudo bem.
— Então vai tomar um banho para ver se relaxa um pouco, e chega de café. Você está uma pilha de nervos. — Levantei também e peguei sua caneca que estava sobre a mesa. — Isso é Coca-Cola?
— É, eu acabei com o café ontem — respondeu. — Vou tomar um banho então, mas isso não vai adiantar merda nenhuma. — Saiu andando e subiu as escadas apressado.
— Ele vai enfartar — comentei, e eu até poderia rir se não estivesse preocupado tanto com ele quanto com .
— Você está bem? — perguntou, me olhando atenta enquanto eu jogava o refrigerante fora.
— Cansado, bastante cansado. Vou ficar bem na hora que eu ver que está bem. — Dei um pequeno sorriso e ela veio em minha direção, me dando um abraço. — Ela não é de fazer isso, de sumir sem falar onde está.
— Ela está bem. — Afagou minhas costas, encostando sua cabeça em meu peito, passando os braços ao seu redor.
— E você, como está? — Encostei meu queixo em sua cabeça.
— Preocupada. — Soltou um suspiro. Compartilhava daquele sentimento. — Será que os meninos ficaram a noite inteira a procurando?
— Com certeza.
— Achei! — Ouvi o grito de Derik e depois seus passos descendo a escada apressado. — A pick-up pegou a PCH até Dana Point. foi para casa — disse, parando no meio da sala e nos olhando.
— Eu sei. — Ele uniu as sobrancelhas, querendo saber como eu tinha descoberto aquilo. — Ela acabou de ligar do celular do meu pai e está voltando para cá, mas, mesmo assim, muito obrigado.
— Ela está bem? — Concordei com a cabeça. — Então vou dormir um pouco enquanto ela não chega. — Fiz um sinal positivo para Derik, que voltou a subir.
— Você quer voltar a dormir? — perguntei para .
— Não vou conseguir dormir. Acho que vou fazer algo para comer — falou, já se soltando de mim.
— Ok, eu te ajudo. Também estou com fome — disse, e depois a beijei.
Ajudei a fritar os ovos e bacon, e logo os meninos foram acordando e desceram para comer. Falei com eles que tinha ligado e que ela estava em Dana Point, mas, assim como , ao mesmo tempo que ficaram tranquilos, também ficaram preocupados, porque eles sabiam que minha mãe tinha ido para lá. E, assim como ontem, as horas se arrastaram e parecia que meio-dia nunca chegaria. No fim, cansamos de ficar sentados na sala esperando, fomos todos para a porta, até Derik tinha acordado para nos fazer companhia. , assim como eu, já estava comendo até os dedos. Ele estava tão ansioso que chegava a tremer e nada que falássemos fazia com que ficasse calmo.
Meus olhos bateram no Silverado preto de meu pai, eu reconhecia aquele monstro em qualquer lugar. Meu coração ficou acelerado porque aquilo poderia dizer muitas coisas, e meu nervosismo foi ficando ainda maior quando vi que minha irmã estava sozinha. Com certeza tinha acontecido alguma coisa, ela não estaria com o carro de nosso pai por nada, amava a nossa pick-up. Saí andando em direção à calçada, passando por todo mundo e foi aí que eles perceberam que era que estava chegando e começaram a gritar, comemorando, mas não tinha nada para comemorar ali. Assim que ela estacionou atrás do Cadillac do pai de A.J., abri a porta do motorista e meu olhos se arregalaram no mesmo instante quando viram como minha irmã estava.
— Não pergunta nada agora — ela falou, chorando, já esticando os braços em minha direção como uma criança, então a peguei, lhe dando um abraço apertado. — Me desculpa — pediu, enfiando seu rosto em meu ombro. — Não me solta.
— Está tudo bem. — Afaguei suas costas e dei um beijo em seu ombro. — Não vou soltar. — Olhei para o pessoal que se aproximava e neguei com a cabeça, indicando que não era para ninguém chegar perto.
Fiquei daquele jeito com ela bastante tempo, não parava de chorar e eu não me lembrava a última vez que a tinha visto daquele jeito, acho que foi no enterro do nosso avô, quando tínhamos doze e treze anos. Então tentei puxá-la para fora do carro, mas ela não quis sair. Aquilo estava me deixando muito assustado, minha irmã não era de agir daquele jeito. Passei a mão em seus cabelos, tentando imaginar o que poderia ter acontecido. Será que ela tinha sofrido um acidente na estrada indo para Dana Point? Mas se isso tivesse acontecido, Derik saberia, ele seguiu o carro até lá pelos radares. Poderia ter sido na volta então.
— Vem, vamos entrar — chamei e mais uma vez tentei puxá-la.
— Eu não quero — soltou, junto a um soluço.
— O sol está quente demais aqui fora — brinquei. — E a minha camisa é preta, estou começando a torrar bem de leve. — Tentei fazer com que ela risse, mas não funcionou.
— Está bem — finalmente concordou e a tirei de dentro do carro.
Bati a porta e me abraçou, escondendo seu rosto em meu peito, deixando seus cabelos caírem sobre ele enquanto andávamos em direção à casa. nos olhava apreensivo e se ele visse como minha irmã estava, aí sim acabaria enfartando de vez. Entramos e a sentei no sofá, mas ela me puxou para que eu me sentasse ao seu lado. Todo mundo estava calado, esperando para ver se falaria algo, mas ela só chorou ainda mais. se aproximou, abaixou na frente dela e a abraçou. Eles poderiam brigar grande parte das vezes, mas eram bons amigos, estavam sempre juntos quando um precisava do outro.
— Hey, olha para mim — ele pediu e ela negou com a cabeça, ainda deixando seu rosto escondido pelos seus longos cabelos. — Por favor, . — colocou uma mecha atrás de sua orelha e uniu as sobrancelhas. — Ok. O que aconteceu? — perguntou um pouco assustado, vendo os três pontos que tinha na bochecha, juntamente a um hematoma bem roxo.
— ... — tentei falar, vendo minha irmã chorando ainda mais.
— Puta que pariu. — já se aproximou e empurrou , tomando o lugar dele. Ele segurou o rosto de com as duas mãos e o levantou. Seus olhos se encheram d’água vendo o quanto ela estava machucada, seu lábio estava ferido, seu maxilar arranhado, sua bochecha e sobrancelha estavam suturados. — Você bateu o carro? — perguntou e negou com a cabeça. — Sua mãe fez isso? — Ela chorou ainda mais e aquilo era uma confirmação. — Vem cá. — Ele a abraçou com força, começando a chorar junto.
— Desculpa ter brigado contigo, desculpa, por favor, me desculpa — começou a pedir desesperadamente para . — Desculpa não ter ligado e desculpa por ter sumido.
— Está tudo bem, o que importa é que você está aqui agora — respondeu, a apertando ainda mais, e ela soltou um pequeno gemido. — Mais onde está machucado? — Se afastou um pouco dela e examinou suas coxas que estavam mais roxas do que antes e agora tinham ganhado algumas escoriações, assim como seus braços. Minha irmã estava toda machucada.
— O corpo todo — respondeu, abaixando a cabeça.
— O que ela fez contigo? — quis saber, se sentando ao lado do .
— Ah... — Passou a mão em seus olhos, tentando secá-los e depois apertou sua cabeça com os dedos. — Muita coisa — foi vaga.
— Pelo amor de Deus, conta logo o que aconteceu — tia Anne pediu, se aproximando com um copo de água que parecia ter açúcar dentro. — O que a maluca fez contigo? — Minha irmã pegou o copo e deu um gole, se engasgando um pouco.
— Beba devagar — falou, passando a mão de leve em seu braço esquerdo. — Fica calma, estou aqui contigo. — Segurou sua mão que vi que estava bem machucada também e achei aquilo estranho.
— Ontem eu fui para casa, porque queria ficar um pouco sozinha — começou a falar, voltando a chorar, então deu uma pausa. — Eu cheguei lá, tomei um banho e me deitei. Estava quase dormindo, quando escutei o alarme da pick-up disparar. — Deu um gole na água e eu a abracei de lado, fazendo com que encostasse a cabeça em meu ombro. — Então fui lá ver o que estava acontecendo e quando cheguei ao lado de fora, aquela mulher estava quebrando o carro todo com a pá de jardinagem. — Ergui minhas sobrancelhas, mas não estava surpreso por nossa mãe ter feito aquilo. Ela tinha parado de chorar. — O pai estava tentando segurá-la, mas ela bateu nele com a pá também. E, nossa, o carro estava destruído já. Eu não sabia o que fazer e a minha única reação foi tentar pará-la, então peguei a mangueira e disparei água em cima dela. — Riu um pouco, certamente deve ter sido engraçado. — Ela começou a gritar e veio para cima de mim que nem o Chuck Norris. Aquela mulher estava possuída, é a única explicação para a forma como estava agindo. Só que dessa vez eu revidei. Foi horrível, nunca mais quero brigar na minha vida. — Aquilo, sim, me deixou surpreso. podia ser estressada às vezes e tudo mais, mas ela não era de agredir as pessoas, a não ser o Daniel, aquele foi exceção. Minha irmã olhou para suas mãos machucadas. — Nós começamos a rolar pelo jardim que nem dois cachorros brigando. Até que apareceram uns caras vestidos de branco e a tiraram de cima de mim. O pai ligou para uma clínica psiquiátrica e pediu para que eles fossem lá buscá-la. Acho que se não fosse aqueles caras, uma de nós teria acabado morta. — Voltou a chorar, enquanto tentava secar seu próprio rosto. — Ela foi tirada dela lá aos berros, falando que não tinha mais filhos, que não queria mais saber da gente, que seria um favor se nós morrêssemos. Foram horríveis as coisas que ela disse. — me abraçou com força e eu a segurei. — Os paramédicos me ajudaram, deram uns pontos no meu rosto, tive que ir para o hospital e eles me fizeram alguns exames e eu fiquei lá em observação, mas não queria ficar, então me deram um calmante e acabei pegando no sono. Aí, quando acordei hoje cedo, eles me deram alta. Fui para casa e vi que o celular estava descarregado. E o pai tinha acionado o seguro da pick-up, então eles a levaram com as coisas que estavam dento, inclusive meu carregador de carro.
— Ah, querida — tia Anne falou em forma de lamento. — Não fiquei assim, Jess não merece os filhos que tem. Vocês são maravilhosos, ela quem tem realmente problema de cabeça. — Concordei plenamente com ela.
— O pai contou o que houve aqui? — perguntei e afirmou com a cabeça. — Isso tudo é culpa minha, se eu não a tivesse mandado embora, nada disso teria acontecido.
— Ih, , nem adianta se culpar, porque a única culpada disso é a Jess — tia Anne rebateu e fez uma careta. — Roger demorou muito tempo para mandá-la para o manicômio.
— Mas tem um motivo para isso — falou e encarou nossa tia. — Você sabe qual é. — Olhei as duas, tentando adivinhar qual era o segredo.
— Ele te contou? — Minha irmã balançou a cabeça.
— Na verdade, Jess berrou para toda a vizinhança ouvir. Não é mais segredo para ninguém. — Agora todo mundo a encarava esperando saber o que era, então me encarou. — O casamento deles sempre foi uma mentira. O pai é gay e a Jess...
— Jess era apaixonada por ele na escola e descobriu o motivo que Roger nunca quis ficar com ela, então, como uma boa pessoa que é, ela o chantageou — tia Anne explicou rapidamente, me deixando chocado. E eu achando que já sabia de tudo que minha mãe era capaz. — Roger não queria que seus pais soubessem, então aceitou ficar com ela. E conforme os anos foram passando, Jess foi exigindo mais, tipo filhos para mostrar para todo mundo que tinha conseguido o casamento perfeito, com um homem rico que a amava perdidamente, mas a verdade é que ele só a suportou.
— Só falta falar que a e o não são filhos do Roger — soltou quase em um berro.
— São, porque Jess fez inseminação artificial com o sêmen do Roger. Ela não correria o risco dessas crianças não se parecerem com ele. — Soltou um pequeno riso. Agora as coisas faziam total sentido. O motivo dela ser tão infeliz e nunca querer que eu e muito menos namorássemos. — Jess é louca, não burra.
— Agora que os nossos avôs estão mortos, para o pai não faz tanta diferença. Ele só tinha medo de nos decepcionar — falou e me olhou. — Especialmente você.
— Eu? Gente, eu não sou que nem a mãe, não iria dar um ataque porque o pai é gay! — me defendi, era engraçado como as pessoas tinham medo das minhas reações como se eu fosse brigar com elas. — Muito pelo contrário, iria dar força para ele sair do armário. — O pessoal riu um pouco.
— Ele vai gostar de saber disso. — Minha irmã sorriu. Ela já não chorava mais e eu ficava bem quando ela parava. — Enfim, ela falou isso quando o pai disse que ia se separar. Nossa, toda a vizinhança estava na rua vendo a briga. Nós deveríamos mudar de lá quando voltarmos.
— Você acha que eu ligo. Nenhuma família é totalmente certa, e nós nunca fomos perfeitos. E estou orgulhoso de você e do pai por tudo isso. Não vou sair de lá por medo do que os outros vão falar de nós pelas costas — falei, dando de ombros. Eu estava pouco me ferrando para os vizinhos, o que importava era que agora seríamos felizes.
— Exatamente. Olha eu e a , somos só nós duas e somos muito felizes com isso. — Tia Anne abraçou , que sorriu.
— E outra, nós somos a família de vocês — disse e nos abraçou, jogando maior parte de seu peso em cima de mim. — E podem apostar que eu amo vocês muito mais que a Jess.
— Disso eu tenho certeza, ela nunca nos sufocou do jeito que você está fazendo agora — comentei, rindo, e todo mundo riu também, inclusive . — , é sério, estou ficando com falta e ar.
— Para de reclamar e aceita meu carinho — ele rebateu e me apertou um pouco mais, soltando logo em seguida.
— Bem, já que a apareceu viva e quase inteira, nós podemos dormir, não é? — deixou seus ombros caírem.
— Eu acho excelente ideia — minha irmã concordou. — Só vou precisar de mais um analgésico antes de cair na cama. — Fez uma careta. — E de um banho. Ainda consigo sentir o cheiro do éter em minha roupa. — Ela olhou para , que estava sentado sobre a mesa de centro. — Deita um pouco comigo? — pediu para ele.
— Isso, leva o para o quarto e o faça dormir — disse, já se levantando do outro sofá. — Esse menino não dorme desde sexta-feira. Cuida dele.
— Você não dormiu? — perguntou, olhando para ele de forma séria, nos fazendo rir.
— Não ia conseguir sabendo que você estava por aí e que poderia ter acontecido algo. Estava preocupado. — Abaixou levemente a cabeça, como se tivesse ficado envergonhado por ter falado aquilo, então me entregou seu copo de água e se ajoelhou na frente de e o beijou. Aquilo me fez sorrir. Eu gostava deles juntos.
— Ai que nojo, jovens se beijando — tia Anne zombou, fazendo uma careta, causando uma risada em todo mundo. — Estou começando a ficar com inveja.
— Tia, vou te arranjar um homem bem gato — falei, brincando com ela.
— Querido, homem na minha idade bonito é a coisa mais difícil de achar, todos já estão casados. Mas agradeço a sua ajuda. — Aquela mulher era muito engraçada e eu me perguntava por que ela não tinha ninguém. Qualquer homem seria sortudo de tê-la.
— Vem, vamos para o quarto. — Minha irmã se levantou e puxou consigo.
— Usem camisinha — colocou pilha.
— Por favor, , me respeita. Nem se eu quisesse muito, iria conseguir transar agora, parece que um caminhão me atropelou e deu ré. — Seu humor tinha melhorado e eu estava muito feliz com aquilo.
— Bem, mistério resolvido. — Joe bateu em suas pernas e se levantou do braço do sofá. — Eu vou me deitar, estou morrendo de sono.
O pessoal foi saindo aos poucos, um indo para cada canto, mas eu fiquei ali refletindo sobre tudo. Até que se sentou do meu lado e depois se deitou no enorme sofá, me puxando para que fizesse o mesmo. Deitei-me de lado e fiquei olhando para seus olhos, então a beijei. Estava mais calmo agora, porém estava incomodado por saber que Jess tinha descontado tudo em . Eu não deveria ter dito aquelas coisas a ela, sabia que aquilo teria consequências e mesmo assim eu fiz.
— O que está te incomodando? — perguntou, alisando meu rosto. Ela me conhecia tão bem.
— Eu não deveria ter dito e feito aquilo tudo com a Jess. — Deixei meu olhar cair. — Se eu tivesse ficado calado, ela não teria descontado tudo na .
— Se você tivesse ficado calado, estaríamos todos sofrendo ainda com ela aqui. Alguém precisava falar. E eu fiquei muito orgulhosa de você. — Ela deu um sorriso enorme que me fez sorrir também.
Não sei o que tinha no chá que a tia Anne me deu, mas aquilo me fez apagar nos braços de . Talvez aquilo tivesse sido realmente bom, porque eu acabei sonhando com . Nós estávamos juntos, no chalé de seus pais em Jarbidge, uma comunidade do condado de Elko, que fica em Nevada. Nós só tínhamos ido lá uma vez, porque era muito longe, e foi no inverno. Assim como daquela vez, em meu sonho também nevava, mas não estávamos com os meninos, estávamos apenas nós dois. vestia um casaco de lã meu, com desenhos natalinos, aquilo ficou enorme nela, mas isso a deixou ainda mais linda do que já era, ao ponto de comparar a sua beleza a de um anjo. Seu sorriso me fazia sorrir também e meu coração disparava cada vez que ela se aproximava para me beijar. Eu queria parar o tempo e nadar em sua divindade. Não queria sair dali, pois aquele era o meu lugar, com ela em meus braços, sorrindo daquela forma tão linda enquanto sua cabeça repousava em meu peito e sua respiração ficava cada vez mais leve, indicando que tinha dormindo ali, deitada naquele tapete de pelo comigo.
Eu gostaria de dar o mundo para aquela mulher, porque despertava o melhor de mim e eu daria isso a ela, e faria qualquer coisa para vê-la sempre sorrindo e feliz, na mesma maneira que ela me fazia sentir assim. Nunca amei ninguém daquela forma, era a coisa mais forte e intensa que já senti em toda a minha vida, e agora aquilo estava mais vivo do que nunca ainda mais pelo fato de estar sendo retribuído. Jamais pensei que fosse realmente querer ficar comigo, nós sempre fomos amigos e ela nunca demonstrou qualquer tipo de interesse, a não ser pelo que disse aquela noite na festa. Aquilo quase fez meu coração explodir e eu vi que talvez até tivesse chance com ela, então tentei a primeira vez, e quando estava bem perto, Troy me atrapalhou, mas na segunda, quando estávamos sozinhos, eu mesmo não consegui me conter, era como se um imã que me arrastasse direto para , e quando toquei seus lábios com os meus... Não existia nenhuma palavra que pudesse descrever como me senti, eu só sabia que não podia perdê-la. E na noite em Ventura nunca senti tanto medo, porque por um momento pensei que ela daria um fim em nós, que aquela discussão acabaria com ela falando que eu tinha me tornado minha mãe e que não ficaria mais comigo, e foi como se todas as luzes estivessem se apagando lentamente. Me senti totalmente no escuro, até que finalmente disse que ainda assim ficaria comigo, e eu só queria sorrir novamente, pois, como o sol, iluminou tudo dentro de mim em apenas um segundo.
Acordei ouvindo o meu celular tocando. Uni as sobrancelhas, incomodado com aquele barulho e não me mexi, mas ele não parava. Quem estava me ligando? Foi aí que lembrei que tinha sumido, então abri meus olhos rapidamente e olhei para o lado, vendo o aparelho quase caindo da mesa de centro. Estiquei meu braço com cuidado para não acordar , que dormia com a cabeça em meu peito, e o peguei, vendo o nome do meu pai na tela e notando que era nove da manhã.
— Alô — falei com a minha voz embargada de sono.
— , sou eu, . — Era minha irmã, não podia estar acreditando que estava ouvindo sua voz. — Desculpa ter sumido, mas é que... — Ela parou de falar, parecia que estava cansada, não sei bem, só sentia que não estava bem. — Eu te explico quando chegar, já estou voltando. Por volta de meio dia devo estar aí.
— Você está bem? — perguntei rapidamente, antes que desligasse.
— Conversamos quando eu chegar. — Encerrou a ligação e minha cabeça começou a trabalhar rápido demais.
Tinha acontecido algo, ela estava ligando do celular do pai, então estava em Dana Point... O que ela estava fazendo lá? Aquilo estava ficando cada vez pior. se mexeu em cima de mim e abriu seus olhos, me olhando preocupada, o que me fez concluir que a minha cara não deveria ser das melhores. Passei a mão em seus cabelos e suspirei.
— Era a no telefone? — perguntou e eu apenas concordei. — Ela está bem?
— Ela não falou. — Uni as sobrancelhas, torcendo os lábios. — Mas aconteceu alguma coisa.
— Ela falou onde estava? — Dessa vez neguei.
— Mas ela ligou do celular do meu pai, então deve estar em Dana Point. — fez uma cara engaçada. — Eu também não faço ideia do que ela estava fazendo lá. — Ouvi um barulho na cozinha, então olhei para lá, vendo mexendo na geladeira. — Cara, você dormiu? — perguntei alto para que ele escutasse.
— Não. E também não achei a . Eu e vamos à delegacia informar o desaparecimento — respondeu, vindo até a sala e se jogando no sofá com uma caneca na mão.
— Não precisa, ela acabou de ligar — informei e ele me olhou com os olhos arregalados.
— Agora? Ela ligou agora? Agora mesmo? — Concordei. — O que ela disse? Onde ela está? Ela está bem?
— Calma — pedi. parecia que estava a ponto de ter um troço. — Ela está vindo para cá, parece que estava em Dana Point, ainda não sei bem — expliquei.
— Em Dana Point? O que ela disse? O que estava fazendo lá? — Passou a mão em seus cabelos, os jogando para trás enquanto me olhava, esperando a resposta.
— Eu não sei. Ela ligou do celular do pai, mas não disse muita coisa, só se desculpou por ter sumido e falou que estava vindo e que me explicaria o que aconteceu assim chegasse. — já se levantou do sofá, andando de um lado para o outro. — Eu estou tão preocupado quando você, mas ficar nervoso desse jeito não vai adiantar nada. está bem e está vindo para cá.
— , senta — pediu, certamente ficando nervosa por ele estar andando de um lado para o outro. — Fica tranquilo. Ela está bem. — Eu queria acreditar nas palavras de , mas, pela voz de minha irmã, ela não parecia estar nada bem.
— Não dá! Eu, eu, eu, eu...
— Você vai ter um treco, se acalma — pedi, e se levantou, indo até e o segurando.
— Você precisa dormir, olha o tamanho dessas olheiras. Qual foi última vez que você dormiu? — ela perguntou, e apenas uniu as sobrancelhas.
— Sei lá, sexta. — Ergui minhas sobrancelhas. Ele já estava há dois dias sem dormir, era por isso que estava estressado daquele jeito. — Não faz diferença, eu não vou conseguir dormir sem vê-la e me certificar de que está tudo bem.
— Então vai tomar um banho para ver se relaxa um pouco, e chega de café. Você está uma pilha de nervos. — Levantei também e peguei sua caneca que estava sobre a mesa. — Isso é Coca-Cola?
— É, eu acabei com o café ontem — respondeu. — Vou tomar um banho então, mas isso não vai adiantar merda nenhuma. — Saiu andando e subiu as escadas apressado.
— Ele vai enfartar — comentei, e eu até poderia rir se não estivesse preocupado tanto com ele quanto com .
— Você está bem? — perguntou, me olhando atenta enquanto eu jogava o refrigerante fora.
— Cansado, bastante cansado. Vou ficar bem na hora que eu ver que está bem. — Dei um pequeno sorriso e ela veio em minha direção, me dando um abraço. — Ela não é de fazer isso, de sumir sem falar onde está.
— Ela está bem. — Afagou minhas costas, encostando sua cabeça em meu peito, passando os braços ao seu redor.
— E você, como está? — Encostei meu queixo em sua cabeça.
— Preocupada. — Soltou um suspiro. Compartilhava daquele sentimento. — Será que os meninos ficaram a noite inteira a procurando?
— Com certeza.
— Achei! — Ouvi o grito de Derik e depois seus passos descendo a escada apressado. — A pick-up pegou a PCH até Dana Point. foi para casa — disse, parando no meio da sala e nos olhando.
— Eu sei. — Ele uniu as sobrancelhas, querendo saber como eu tinha descoberto aquilo. — Ela acabou de ligar do celular do meu pai e está voltando para cá, mas, mesmo assim, muito obrigado.
— Ela está bem? — Concordei com a cabeça. — Então vou dormir um pouco enquanto ela não chega. — Fiz um sinal positivo para Derik, que voltou a subir.
— Você quer voltar a dormir? — perguntei para .
— Não vou conseguir dormir. Acho que vou fazer algo para comer — falou, já se soltando de mim.
— Ok, eu te ajudo. Também estou com fome — disse, e depois a beijei.
Ajudei a fritar os ovos e bacon, e logo os meninos foram acordando e desceram para comer. Falei com eles que tinha ligado e que ela estava em Dana Point, mas, assim como , ao mesmo tempo que ficaram tranquilos, também ficaram preocupados, porque eles sabiam que minha mãe tinha ido para lá. E, assim como ontem, as horas se arrastaram e parecia que meio-dia nunca chegaria. No fim, cansamos de ficar sentados na sala esperando, fomos todos para a porta, até Derik tinha acordado para nos fazer companhia. , assim como eu, já estava comendo até os dedos. Ele estava tão ansioso que chegava a tremer e nada que falássemos fazia com que ficasse calmo.
Meus olhos bateram no Silverado preto de meu pai, eu reconhecia aquele monstro em qualquer lugar. Meu coração ficou acelerado porque aquilo poderia dizer muitas coisas, e meu nervosismo foi ficando ainda maior quando vi que minha irmã estava sozinha. Com certeza tinha acontecido alguma coisa, ela não estaria com o carro de nosso pai por nada, amava a nossa pick-up. Saí andando em direção à calçada, passando por todo mundo e foi aí que eles perceberam que era que estava chegando e começaram a gritar, comemorando, mas não tinha nada para comemorar ali. Assim que ela estacionou atrás do Cadillac do pai de A.J., abri a porta do motorista e meu olhos se arregalaram no mesmo instante quando viram como minha irmã estava.
— Não pergunta nada agora — ela falou, chorando, já esticando os braços em minha direção como uma criança, então a peguei, lhe dando um abraço apertado. — Me desculpa — pediu, enfiando seu rosto em meu ombro. — Não me solta.
— Está tudo bem. — Afaguei suas costas e dei um beijo em seu ombro. — Não vou soltar. — Olhei para o pessoal que se aproximava e neguei com a cabeça, indicando que não era para ninguém chegar perto.
Fiquei daquele jeito com ela bastante tempo, não parava de chorar e eu não me lembrava a última vez que a tinha visto daquele jeito, acho que foi no enterro do nosso avô, quando tínhamos doze e treze anos. Então tentei puxá-la para fora do carro, mas ela não quis sair. Aquilo estava me deixando muito assustado, minha irmã não era de agir daquele jeito. Passei a mão em seus cabelos, tentando imaginar o que poderia ter acontecido. Será que ela tinha sofrido um acidente na estrada indo para Dana Point? Mas se isso tivesse acontecido, Derik saberia, ele seguiu o carro até lá pelos radares. Poderia ter sido na volta então.
— Vem, vamos entrar — chamei e mais uma vez tentei puxá-la.
— Eu não quero — soltou, junto a um soluço.
— O sol está quente demais aqui fora — brinquei. — E a minha camisa é preta, estou começando a torrar bem de leve. — Tentei fazer com que ela risse, mas não funcionou.
— Está bem — finalmente concordou e a tirei de dentro do carro.
Bati a porta e me abraçou, escondendo seu rosto em meu peito, deixando seus cabelos caírem sobre ele enquanto andávamos em direção à casa. nos olhava apreensivo e se ele visse como minha irmã estava, aí sim acabaria enfartando de vez. Entramos e a sentei no sofá, mas ela me puxou para que eu me sentasse ao seu lado. Todo mundo estava calado, esperando para ver se falaria algo, mas ela só chorou ainda mais. se aproximou, abaixou na frente dela e a abraçou. Eles poderiam brigar grande parte das vezes, mas eram bons amigos, estavam sempre juntos quando um precisava do outro.
— Hey, olha para mim — ele pediu e ela negou com a cabeça, ainda deixando seu rosto escondido pelos seus longos cabelos. — Por favor, . — colocou uma mecha atrás de sua orelha e uniu as sobrancelhas. — Ok. O que aconteceu? — perguntou um pouco assustado, vendo os três pontos que tinha na bochecha, juntamente a um hematoma bem roxo.
— ... — tentei falar, vendo minha irmã chorando ainda mais.
— Puta que pariu. — já se aproximou e empurrou , tomando o lugar dele. Ele segurou o rosto de com as duas mãos e o levantou. Seus olhos se encheram d’água vendo o quanto ela estava machucada, seu lábio estava ferido, seu maxilar arranhado, sua bochecha e sobrancelha estavam suturados. — Você bateu o carro? — perguntou e negou com a cabeça. — Sua mãe fez isso? — Ela chorou ainda mais e aquilo era uma confirmação. — Vem cá. — Ele a abraçou com força, começando a chorar junto.
— Desculpa ter brigado contigo, desculpa, por favor, me desculpa — começou a pedir desesperadamente para . — Desculpa não ter ligado e desculpa por ter sumido.
— Está tudo bem, o que importa é que você está aqui agora — respondeu, a apertando ainda mais, e ela soltou um pequeno gemido. — Mais onde está machucado? — Se afastou um pouco dela e examinou suas coxas que estavam mais roxas do que antes e agora tinham ganhado algumas escoriações, assim como seus braços. Minha irmã estava toda machucada.
— O corpo todo — respondeu, abaixando a cabeça.
— O que ela fez contigo? — quis saber, se sentando ao lado do .
— Ah... — Passou a mão em seus olhos, tentando secá-los e depois apertou sua cabeça com os dedos. — Muita coisa — foi vaga.
— Pelo amor de Deus, conta logo o que aconteceu — tia Anne pediu, se aproximando com um copo de água que parecia ter açúcar dentro. — O que a maluca fez contigo? — Minha irmã pegou o copo e deu um gole, se engasgando um pouco.
— Beba devagar — falou, passando a mão de leve em seu braço esquerdo. — Fica calma, estou aqui contigo. — Segurou sua mão que vi que estava bem machucada também e achei aquilo estranho.
— Ontem eu fui para casa, porque queria ficar um pouco sozinha — começou a falar, voltando a chorar, então deu uma pausa. — Eu cheguei lá, tomei um banho e me deitei. Estava quase dormindo, quando escutei o alarme da pick-up disparar. — Deu um gole na água e eu a abracei de lado, fazendo com que encostasse a cabeça em meu ombro. — Então fui lá ver o que estava acontecendo e quando cheguei ao lado de fora, aquela mulher estava quebrando o carro todo com a pá de jardinagem. — Ergui minhas sobrancelhas, mas não estava surpreso por nossa mãe ter feito aquilo. Ela tinha parado de chorar. — O pai estava tentando segurá-la, mas ela bateu nele com a pá também. E, nossa, o carro estava destruído já. Eu não sabia o que fazer e a minha única reação foi tentar pará-la, então peguei a mangueira e disparei água em cima dela. — Riu um pouco, certamente deve ter sido engraçado. — Ela começou a gritar e veio para cima de mim que nem o Chuck Norris. Aquela mulher estava possuída, é a única explicação para a forma como estava agindo. Só que dessa vez eu revidei. Foi horrível, nunca mais quero brigar na minha vida. — Aquilo, sim, me deixou surpreso. podia ser estressada às vezes e tudo mais, mas ela não era de agredir as pessoas, a não ser o Daniel, aquele foi exceção. Minha irmã olhou para suas mãos machucadas. — Nós começamos a rolar pelo jardim que nem dois cachorros brigando. Até que apareceram uns caras vestidos de branco e a tiraram de cima de mim. O pai ligou para uma clínica psiquiátrica e pediu para que eles fossem lá buscá-la. Acho que se não fosse aqueles caras, uma de nós teria acabado morta. — Voltou a chorar, enquanto tentava secar seu próprio rosto. — Ela foi tirada dela lá aos berros, falando que não tinha mais filhos, que não queria mais saber da gente, que seria um favor se nós morrêssemos. Foram horríveis as coisas que ela disse. — me abraçou com força e eu a segurei. — Os paramédicos me ajudaram, deram uns pontos no meu rosto, tive que ir para o hospital e eles me fizeram alguns exames e eu fiquei lá em observação, mas não queria ficar, então me deram um calmante e acabei pegando no sono. Aí, quando acordei hoje cedo, eles me deram alta. Fui para casa e vi que o celular estava descarregado. E o pai tinha acionado o seguro da pick-up, então eles a levaram com as coisas que estavam dento, inclusive meu carregador de carro.
— Ah, querida — tia Anne falou em forma de lamento. — Não fiquei assim, Jess não merece os filhos que tem. Vocês são maravilhosos, ela quem tem realmente problema de cabeça. — Concordei plenamente com ela.
— O pai contou o que houve aqui? — perguntei e afirmou com a cabeça. — Isso tudo é culpa minha, se eu não a tivesse mandado embora, nada disso teria acontecido.
— Ih, , nem adianta se culpar, porque a única culpada disso é a Jess — tia Anne rebateu e fez uma careta. — Roger demorou muito tempo para mandá-la para o manicômio.
— Mas tem um motivo para isso — falou e encarou nossa tia. — Você sabe qual é. — Olhei as duas, tentando adivinhar qual era o segredo.
— Ele te contou? — Minha irmã balançou a cabeça.
— Na verdade, Jess berrou para toda a vizinhança ouvir. Não é mais segredo para ninguém. — Agora todo mundo a encarava esperando saber o que era, então me encarou. — O casamento deles sempre foi uma mentira. O pai é gay e a Jess...
— Jess era apaixonada por ele na escola e descobriu o motivo que Roger nunca quis ficar com ela, então, como uma boa pessoa que é, ela o chantageou — tia Anne explicou rapidamente, me deixando chocado. E eu achando que já sabia de tudo que minha mãe era capaz. — Roger não queria que seus pais soubessem, então aceitou ficar com ela. E conforme os anos foram passando, Jess foi exigindo mais, tipo filhos para mostrar para todo mundo que tinha conseguido o casamento perfeito, com um homem rico que a amava perdidamente, mas a verdade é que ele só a suportou.
— Só falta falar que a e o não são filhos do Roger — soltou quase em um berro.
— São, porque Jess fez inseminação artificial com o sêmen do Roger. Ela não correria o risco dessas crianças não se parecerem com ele. — Soltou um pequeno riso. Agora as coisas faziam total sentido. O motivo dela ser tão infeliz e nunca querer que eu e muito menos namorássemos. — Jess é louca, não burra.
— Agora que os nossos avôs estão mortos, para o pai não faz tanta diferença. Ele só tinha medo de nos decepcionar — falou e me olhou. — Especialmente você.
— Eu? Gente, eu não sou que nem a mãe, não iria dar um ataque porque o pai é gay! — me defendi, era engraçado como as pessoas tinham medo das minhas reações como se eu fosse brigar com elas. — Muito pelo contrário, iria dar força para ele sair do armário. — O pessoal riu um pouco.
— Ele vai gostar de saber disso. — Minha irmã sorriu. Ela já não chorava mais e eu ficava bem quando ela parava. — Enfim, ela falou isso quando o pai disse que ia se separar. Nossa, toda a vizinhança estava na rua vendo a briga. Nós deveríamos mudar de lá quando voltarmos.
— Você acha que eu ligo. Nenhuma família é totalmente certa, e nós nunca fomos perfeitos. E estou orgulhoso de você e do pai por tudo isso. Não vou sair de lá por medo do que os outros vão falar de nós pelas costas — falei, dando de ombros. Eu estava pouco me ferrando para os vizinhos, o que importava era que agora seríamos felizes.
— Exatamente. Olha eu e a , somos só nós duas e somos muito felizes com isso. — Tia Anne abraçou , que sorriu.
— E outra, nós somos a família de vocês — disse e nos abraçou, jogando maior parte de seu peso em cima de mim. — E podem apostar que eu amo vocês muito mais que a Jess.
— Disso eu tenho certeza, ela nunca nos sufocou do jeito que você está fazendo agora — comentei, rindo, e todo mundo riu também, inclusive . — , é sério, estou ficando com falta e ar.
— Para de reclamar e aceita meu carinho — ele rebateu e me apertou um pouco mais, soltando logo em seguida.
— Bem, já que a apareceu viva e quase inteira, nós podemos dormir, não é? — deixou seus ombros caírem.
— Eu acho excelente ideia — minha irmã concordou. — Só vou precisar de mais um analgésico antes de cair na cama. — Fez uma careta. — E de um banho. Ainda consigo sentir o cheiro do éter em minha roupa. — Ela olhou para , que estava sentado sobre a mesa de centro. — Deita um pouco comigo? — pediu para ele.
— Isso, leva o para o quarto e o faça dormir — disse, já se levantando do outro sofá. — Esse menino não dorme desde sexta-feira. Cuida dele.
— Você não dormiu? — perguntou, olhando para ele de forma séria, nos fazendo rir.
— Não ia conseguir sabendo que você estava por aí e que poderia ter acontecido algo. Estava preocupado. — Abaixou levemente a cabeça, como se tivesse ficado envergonhado por ter falado aquilo, então me entregou seu copo de água e se ajoelhou na frente de e o beijou. Aquilo me fez sorrir. Eu gostava deles juntos.
— Ai que nojo, jovens se beijando — tia Anne zombou, fazendo uma careta, causando uma risada em todo mundo. — Estou começando a ficar com inveja.
— Tia, vou te arranjar um homem bem gato — falei, brincando com ela.
— Querido, homem na minha idade bonito é a coisa mais difícil de achar, todos já estão casados. Mas agradeço a sua ajuda. — Aquela mulher era muito engraçada e eu me perguntava por que ela não tinha ninguém. Qualquer homem seria sortudo de tê-la.
— Vem, vamos para o quarto. — Minha irmã se levantou e puxou consigo.
— Usem camisinha — colocou pilha.
— Por favor, , me respeita. Nem se eu quisesse muito, iria conseguir transar agora, parece que um caminhão me atropelou e deu ré. — Seu humor tinha melhorado e eu estava muito feliz com aquilo.
— Bem, mistério resolvido. — Joe bateu em suas pernas e se levantou do braço do sofá. — Eu vou me deitar, estou morrendo de sono.
O pessoal foi saindo aos poucos, um indo para cada canto, mas eu fiquei ali refletindo sobre tudo. Até que se sentou do meu lado e depois se deitou no enorme sofá, me puxando para que fizesse o mesmo. Deitei-me de lado e fiquei olhando para seus olhos, então a beijei. Estava mais calmo agora, porém estava incomodado por saber que Jess tinha descontado tudo em . Eu não deveria ter dito aquelas coisas a ela, sabia que aquilo teria consequências e mesmo assim eu fiz.
— O que está te incomodando? — perguntou, alisando meu rosto. Ela me conhecia tão bem.
— Eu não deveria ter dito e feito aquilo tudo com a Jess. — Deixei meu olhar cair. — Se eu tivesse ficado calado, ela não teria descontado tudo na .
— Se você tivesse ficado calado, estaríamos todos sofrendo ainda com ela aqui. Alguém precisava falar. E eu fiquei muito orgulhosa de você. — Ela deu um sorriso enorme que me fez sorrir também.
12. Acid Rain
Sentia meu corpo todo molhado, mas não conseguia me mexer por mais que tentasse. O ar não entrava em meus pulmões e eu estava sufocando, ali estava muito apertado. Não sabia muito bem onde estava, mas parecia uma espécie de porão, só que muito baixo, no máximo uns quarenta centímetros. Não sabia o que estava fazendo ali, não sabia como tinha chegado ali, apenas que precisava me rastejar para fora. Tinha terra ali e ela dificultava muito fazer qualquer coisa, pois escorregava. Não sabia se o meu ar estava faltando por causa do pânico que estava sentindo ou se era por ali estar extremamente unido e com um cheiro muito forte de barro. Ouvi passos nas tábuas acima de minha cabeça, então parei de tentar me mover. Alguém queria me pegar e se eu desse o menor sinal que estava ali, seria o meu fim. Ar! Segurei meu pescoço, tentando respirar, parecia que algo estava me apertando.
— , respira! — Ouvi a voz de e ela estava repleta de pavor. — Acorda! — E fui puxada bruscamente, fazendo meus olhos se abrirem. Me agarrei ao corpo dele com toda a minha força. — Meu Deus. — Ele me abraçou, afagando meu cabelo. — Pesadelo de novo? — Concordei com a cabeça. — O mesmo? — Novamente afirmei e seus braços me apertaram.
Desde a briga com a minha mãe, eu tinha o mesmo sonho, que era estar sufocando embaixo de uma casa que não fazia a menor ideia de qual era. A sensação de sufocamento, o pavor pela falta de ar, o meu pescoço sendo segurado, era tudo a mesma coisa que estava se repetindo já tinha duas semanas. Eu acordava sempre do mesmo jeito, suando e assustada. Aquilo era muito ruim e eu só queria conseguir me livrar daquele pesadelo horrível. Isso porque Jess tinha tentado me enforcar e eu não tinha contado para ninguém além do meu pai, até porque ele viu o que aconteceu. Tudo que o pessoal sabia era que tínhamos rolado na porrada, e só, sem detalhes. E desde o primeiro dia que acordei de tal jeito, começou a dormir ao meu lado, ou pelo menos tentava, pois passava a maior parte do tempo acordado, me olhando, esperando que eu começasse a sufocar enquanto dormia.
— Você conseguiu dormir? — perguntei baixinho, ainda sem soltá-lo, vendo que ainda era noite, já que estava apenas com a luz do abajur acesa e não vinha nenhuma luz pela fresta da janela.
— Não. — Sua resposta me fez sentir culpa.
— Dorme um pouco, não estou mais com sono — menti e me afastei, passando a mão em seu rosto, olhando dentro de seus olhos.
— Também não estou — sussurrou de volta para não acordar e tia Anne. Elas tinham um sono pesado, mas ainda assim se preocupava.
— Não sei como elas não acordaram com você me chamando. — Olhei para o lado, vendo as duas dormindo. tinha ido dormir lá em cima com o para deixar o aqui comigo.
— Não chamei alto. — Voltei a olhá-lo, unindo as sobrancelhas, para mim parecia que ele estava me berrando, minha percepção da realidade não estava muito boa.
— Hm — murmurei e encostei minha testa em seu ombro. — Vou trocar de roupa, essa está molhada. — Levantei da cama e fui até minha mala, pegando uma regata e um short seco.
Entrei no banheiro e fechei a porta, lavei meu rosto, pulsos e passei a mão molhada em minha nuca na esperança de que aquilo fosse ajudar de alguma forma, mas eu estava me sentindo a mesma. Acabei, por fim, tomando um banho gelado, lavando o cabelo e pensando sobre o que tinha acontecido. Eu ainda estava levemente marcada, mas todos os hematomas já tinham saído, só tinham me restado as duas cicatrizes novas que tinha ganhado no rosto, pequenas, porém estavam lá todos os dias para não me fazer esquecer a minha briga com a minha mãe. Eu deveria estar bem e feliz por saber que ela não iria mais me perturbar e nunca mais encostar um dedo sequer em mim, só que o fato dela estar em uma clínica psiquiátrica ainda me atormentava. Embora estivesse sendo tratada, não me parecia um lugar nada agradável de ficar, nem ao menos sabia o que estava acontecendo lá. Afundei minha cabeça, deixando a água bater em minha nuca e levei a mão até meu pescoço, recobrando a sensação dele sendo apertado e aquilo me fez começar a chorar. Não sabia o que estava acontecendo comigo.
Desliguei a água e me enrolei na toalha. Sentei no vaso com a tampa fechada e fiquei olhando para um ponto cego, tentando me acalmar. Respirava fundo, segurava por dez segundos e depois soltava. Tentava a todo custo me esquecer daquilo, mas parecia que ficar ali dentro sozinha não iria me ajudar em absolutamente nada. Passei os dedos na cruz do colar que tinha em meu pescoço e soltei um suspiro. Então me sequei e vesti a roupa. Pendurei a toalha e saí do banheiro. estava abraçado com meu travesseiro e dormia tão profundamente que nem ao menos sentiu quando cobri seu corpo com o edredom. Deitei ao lado dele um pouco e fiquei olhando seu belo rosto, que tinha um semblante sereno. Eu gostava tanto daquele menino que era impossível medir meu sentimento, ele me fazia bem e feliz, me trazia segurança e um conforto enorme que nunca senti na vida.
Levantei da cama com cuidado para não acordá-lo e saí do quarto, embora estivesse com sono, não queria dormir. Ouvi o barulho da TV ligada vindo do andar de cima, então fui até lá, vendo , e Charlie jogarem. Me sentei ao lado dele e logo me estendeu um controle, como sempre jogo de tiro. Usei aquilo como uma válvula de escape e entrava nas missões como se fosse uma perfeita suicida, matando tudo e todos, correndo no meio do tiroteio e fazendo questão de matar os outros de facada. Os meninos até mesmo se assustaram comigo e ficaram me zoando, mas só fiquei quieta e continuei jogando. Ficamos ali até o sol começar a iluminar as janelas e finalmente desligamos as coisas. Eles foram dormir e eu desci, indo para a varanda e ficando lá, olhando a praia e vendo as ondas ao longe.
Ouvi um barulho e olhei por cima de meu ombro, vendo com uma cara de sono e seus olhos estreitados por causa da claridade. Ele veio em minha direção e se sentou ao meu lado, me abraçando e dando um beijo em minha cabeça. Ficamos calados olhando a paisagem, apenas apreciando um a companhia do outro, tínhamos muito o hábito de fazer isso. Era bom às vezes.
— Estou pensando em ligar para o meu pai e chamar ele para passar o final de semana conosco. O que você acha? — perguntou, quebrando o nosso silêncio. — Quero que eles te conheçam. — Aquilo me fez olhá-lo e dar um sorriso.
— Eu acho uma excelente ideia. — Tinha ficado feliz por ele querer que eu conhecesse sua família, aquilo foi especial para mim. — Obrigada.
— Pelo quê? — Uniu as sobrancelhas, dando um pequeno sorriso.
— Por tudo o que está fazendo por mim. Eu sinceramente não sei o que estaria sendo de mim se não fosse por você. — Sorri de um jeito fraco. Eu estava muito agradecida por ter o comigo.
— Não agradeça, eu faria qualquer coisa por você. — Me abraçou e eu repousei minha cabeça em seu peito. — Queria poder fazer você ficar bem.
— Eu estou bem — resmunguei que nem uma velha.
— Você pode mentir para quem quiser, mas não minta para mim. — Aquilo foi um esporro e eu me senti um pouco mal por isso. — E também não sou cego, eu percebo a forma como tem agido. Você está se isolando.
— Desculpa, é um reflexo — pedi, segurando sua blusa com um pouco de força, me sentindo agoniada. — Prometo que não vou mais mentir. — me apertou de leve contra seu corpo e aquele gesto foi reconfortante.
Ficamos novamente em silêncio, depois acabamos entrando e deitando no sofá para assistir TV. Estava passando Beetlejuice. Parecíamos duas crianças ali, rindo e chamando o Beetlejuice três vezes junto a Lydia. Eu amava aquele desenho e acabei descobrindo que também. Quanto mais tempo eu ficava ao seu lado, mais tinha certeza de que queria ficar com ele. Nós nos dávamos muito bem, nossas bobeiras eram parecidas e até mesmo nossos gostos, tirando o fato dele sempre tentar me fazer rir. Eu simplesmente amava aquilo em . As risadas que me causava eram simplesmente as melhores, me faziam esquecer do mundo, na verdade tinha o grande poder de me fazer esquecer a grande maioria das coisas. Se não fosse ele ali comigo, eu sei lá, sabe, acho que teria dado um surto depois do que rolou com a minha mãe, ela me falou muita coisa, coisas essas que nunca esperava escutar, além da forma como me tratou e tratou meu pai. , de alguma maneira, ainda conseguia manter a minha mente sã e eu seria eternamente grata por isso.
Quando deu umas nove horas, ligou para seu pai, que disse que viria com Noah no sábado de manhã, mas que só poderia ficar até segunda de manhã, pois tinha que pegar no trabalho logo cedo. Fiquei empolgada e muito feliz que ele iria mesmo vir, e ainda mais por saber que iria conhecer o Noah. começou a me contar várias coisas de seu irmão e momentos que tiveram juntos, e eu só conseguia ficar ainda mais ansiosa para que sábado chegasse logo. falava deles de um jeito tão fofo, sorrindo com os olhos brilhando, cheio de alegria. Eu só conseguia ficar olhando para ele, vendo suas covinhas lindas aparecendo e admirando a forma como contava tudo, cheio de orgulho. No fim, não consegui me controlar e segurei seu rosto com as duas mãos e juntei meus lábios nos nele. Começamos a rir por ter sido completamente inesperado, mas no fim ele me segurou pela cintura e me beijou de volta de uma forma tão intensa que me deixou entorpecida.
— Ai, meu Deus, jovens se beijando. Que nojo. Vão para um quarto — imitou tia Anne, isso nos fez rir um pouco e voltamos a nos beijar. — E eles não param, olha isso! Vou jogar água em vocês. — Sua voz saía meio estranha, o que nos causou mais risadas ainda.
— , larga de ser chato — disse, se afastando, então olhei por cima do meu ombro e caí na risada. — Caralho, . Que porra é essa? — perguntou como se tivesse lido meus pensamentos. Meu amigo estava de capacete de moto dentro de casa.
— Ele achou no armário da bagunça e disse que ia brincar de astronauta — respondeu, já descendo as escadas, rindo conosco.
— Mentira. Estou apenas me protegendo da queda que tenho por você — rebateu, já puxando minha prima pela cintura e aproximando seu rosto do dela.
— , eu acho que você precisa tirar o capacete para beijá-la — brinquei, falando entre risos.
— Sabia que tinha algo de errado. — Entrou na pilha. era muito bobo.
— O que você está fazendo, ? — já perguntou, rindo enquanto descia e olhava para o amigo de sobrancelhas unidas.
— Quanto mais os dias passam, mais tenho certeza de que ele é louco — comentou, descendo atrás do meu irmão, rindo também.
— Vamos brincar de conquistar territórios! — Coloquei a mão na boca, ouvindo falar. Quem conquistava um território com um capacete de moto? Ele não fazia o menor sentido. — Já conquistei o meu. — Pegou e colocou em seu ombro.
— Só não faça filho nesse território, sim — pedi, olhando minha prima rindo de cabeça para baixo.
— Nem se eu quisesse — rebateu e pelo seu tom de voz eu já percebi que ela iria sacanear o .
— Como assim? — perguntou, colocando no chão.
— Ué, você não sabe? — percebeu também e começou a zombar.
— Não sei o quê? — Nosso amigo começava a ficar preocupado e até mesmo tirou seu capacete.
— , você não falou para ele? — perguntou, erguendo as sobrancelhas, e eu já começava a rir.
— O que a não me falou? — olhou preocupado para a minha prima.
— Não acredito nisso, . — Tia Anne entrou na sala, se metendo na conversa, certamente já nos ouvindo antes. — Pensei que não tinha segredos entre vocês.
— Que segredo? Do que vocês estão falando? — Ele olhava para nós e para .
— Estou chocada, pensei que você tinha contado para ele desde quando se conheceram. Na verdade, vocês já se conheciam, né. O que não está associando. — Até entrou na pilha.
— Tem como vocês pararem com isso e falarem logo? — pediu, colocando o capacete sobre o balcão.
— A é transexual — soltou e eu tive que segurar a minha gargalhada.
— Como assim a é transexual? — olhou sério para . — Como assim? Não pode ser... — Encarou minha prima. — Como assim você não me contou esse detalhe?
— Ah, achei tão desnecessário quanto você me falar que tinha filho. — Minha prima torceu os lábios e olhou para ele de um jeito superior. — Pelo menos não vai ser um problema para nós, não precisamos nos preocupar com filhos.
— Então era mentira quando você ficou desesperada ontem com a sua menstruação que não veio e achou que estava grávida? — Os olhos dele quase saíam de seu rosto. Eu sabia que aquilo tinha sido outra brincadeira de minha prima só para assustar o , ela tinha emendado a cartela de anticoncepcional.
— Grávida? Não sei como isso seria possível — falei e me encarou. — Ela não tem útero para isso.
— Ah, nem, ! Para de brincar com isso! — Ele estava ficando nervoso de verdade com aquela situação e todos estavam sérios, tentando manter a brincadeira de pé.
— Mas a minha irmã está falando sério. A não te contou mesmo? — cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas.
— Não, não pode ser! Vocês estão me zoando! Eu vi a ... — encarou minha prima rapidamente, a olhando de cima a baixo. — Não tem como! Ela é uma mulher.
— Acho que tenho uma foto da quando era menino. Me deixe procurar. — Tia Anne era a melhor! Meu Deus do céu! Ela subiu as escadas enquanto todos ficamos em silêncio, esperando que voltasse. — Achei! — berrou do segundo andar e já desceu com um álbum de retrato na mão. — Aqui! — Tirou uma foto e entregou para o , que a pegou, ficou olhando por um longo tempo e depois encarou . — Era uma gracinha, não é? Se chamava Mikkel. — Deu o nome de um primo nosso que só tivemos até nossa adolescência, pois ele foi morar na Inglaterra com sua mãe, mas acho que não sabia disso.
— Olha, eu nunca fiquei com um trans, mas deve ser emocionante — começou a pilhar. — Deve saber fazer várias coisas diferentes. — Mordi meu lábio inferior, querendo rir. — Como é, ?
— Cala a boca, ! — nosso amigo mandou e entregou a foto para tia Anne. — Vocês estão me zoando, eu sei disso.
— Estamos falando sério. Você não lembra do Mikkel? Nosso primo mais novo que ia lá em casa nos nossos aniversários? — falou com seriedade. — Tia Anne era brigada com minha mãe, então foram muitas poucas vezes que tivemos contado com , só nos juntamos quando nossas mães fizeram as pazes e isso tem no máximo uns seis anos. — Você o achava fofinho e vivia o apertando. — Aquilo era verdade, adorava aquele menino.
— Nossa, vocês nunca tinham me falado que era o primo da cirurgia — comentou, fazendo uma cara de chocada.
— Você não lembra de mim? — perguntou, fazendo uma cara de triste enquanto estava embasbacado.
— Acho que a última vez que vocês se viram foi no meu aniversário de 15 anos. O Mikkel tinha 11 anos... Caramba, isso já tem dez anos — falei impressionada, como o tempo passava rápido.
— É por isso que eu estranhei que não te conhecia antes — concluiu por fim e encarou o chão. — Isso me torna bissexual? — perguntou para si mesmo e nisso todo mundo caiu na risada.
— Ai, querido, não! Isso te torna um pansexual. — Tia Anne segurou no ombro dele. — Alguém gravou a cara de chocado dessa criatura? — perguntou, dando risada enquanto nos olhava. — Você não nos conheceu antes porque eu era brigada com a Jess. A é mulher e ela emendou a cartela de remédio dela. Não tem nada de transexual ou de filho. Fica tranquilo. — olhou para nós sem reação.
— Vocês são uns idiotas! — reclamou e riu um pouco. — Caralho, eu fiquei tentando lembrar se a tinha alguma marca indicando que ela tinha feito alguma cirurgia, sei lá. — Negou com a cabeça.
— Mas a pergunta que não quer calar — começou todo empolgado —, você ficaria com a se ela fosse um transexual? — E nesse momento todo mundo parou de rir e esperou pela resposta. ficou encarando minha prima por algum tempo.
— Cara, eu gosto de quem ela é e não do corpo dela. — Olhou para com um meio sorriso. — Eu só fiquei chocado mesmo com a situação. Não esperava.
— Então você ficaria com ela assim mesmo? — Ergui minhas sobrancelhas, querendo uma resposta com todas as letras.
— É claro que eu ficaria com a . — Se virou para a minha prima. — Inclusive... — Fez uma cara pensativa. — Espera aqui — pediu e subiu. Ouvimos algumas coisas sendo reviradas e logo ele desceu. — Comprei isso aqui quando fomos para Los Angeles, mas achei que poderia ser loucura demais da minha cabeça fazer isso. — Colocou o capacete e ficou de frente para minha prima. — , você me deixa dominar seu território? — Tirou uma caixinha de veludo de dentro do bolso e a abriu, revelando um solitário. Todos ficamos boquiabertos com aquilo.
— Está me pedindo em namoro, ? — perguntou, unindo as sobrancelhas e olhando para o anel.
— Em casamento que não é — rebati logo, ansiosa para saber a resposta de e ela começou a rir, certamente de nervoso, mas não falou nada.
— Responde logo ou eu aceito no seu lugar! — Tia Anne apressou, nos fazendo gargalhar.
— Eu deixo você dominar o meu território — aceitou por fim e eu levantei do sofá, berrando.
— É goooooooool! — gritei, correndo pela casa, com os braços levantados, comemorando e me acompanhava. Ele até mesmo tirou sua regata e começou a rodar ela.
— Ae! — pegou e começou a jogar ela para cima.
— Eba! — começou a dar pulinhos, feliz assim como todo mundo. estava ao seu lado sorrindo, olhando para e .
— Eu vou cair, ! — Minha prima ria, tentando se segurar. — O anel! Ele caiu! — falou apavorada. — Pega! Vai sumir!
— Pega! — Tia Anne colocou as mãos na cabeça, olhando para os lados, tentando ver onde tinha caído.
— Ferrou! Cadê? — Parei de correr do nada e trombou nas minhas costas, fazendo nós dois cairmos no chão. — Caralho! — reclamei, mas comecei a rir. — Sai de cima de mim! Você é pesado.
— Você que parou do nada, não tenho culpa. — Começou a se levantar, rindo.
— O chão é lava! — Troy gritou do segundo andar e todo mundo começou a correr, tentando subir em algo, até tia Anne se jogou deitada sobre o balcão de um jeito muito engraçado.
— Meu anel! — e rodavam que nem duas baratas tontas, o caçando.
— , você vai queimar! — falei, subindo no sofá junto a , que dessa vez não me empurrou dele.
— O quê? — minha prima perguntou completamente perdida, fazendo todos rirem. — O anel sumiu. — Se jogou no chão, engatinhando por ele e tentando achar o seu solitário.
— Calma. Nós vamos achar — falou, de pé, em cima do banco, enquanto olhava para o chão.
Então descemos das coisas e começamos a procurar, mas não achamos em lugar nenhum. Como um anel podia sumir assim? Só podia ter entrado em um buraco negro, porque essa era a única explicação. começou a ficar chorosa e eu fiquei com pena dela. O anel parecia tão bonito. Tia Anne começou a varrer a casa para ver se achava, enquanto nós levantávamos as coisas para ver se encontrávamos.
— Deixa, eu compro outro depois — disse , se jogando no sofá.
— Eu não quero outro, quero aquele. — já estava com lágrimas nos olhos.
— Calma, nós vamos achar. Ele não pode ter sumido assim — falou e abraçou minha prima.
— A tem razão, tem que estar aqui — concordei, ainda engatinhando pelo chão.
— Achei! — berrou, levantado do chão com o anel na mão.
— Ai! — pulou em cima dele e o abraçou, dando um beijo bochecha. Limpei a minha garganta apenas para zoar, fingindo que estava com ciúmes. — O beijo foi com respeito. — Ela sorriu e pegou o anel. — Obrigada. — O colocou em seu dedo. — , é lindo. — Se virou para o nosso amigo e o abraçou, lhe beijando.
— Ai que nojo, jovens se beijando — debochei que nem fez conosco mais cedo e ele apenas me deu o dedo do meio. — E é afrontoso ainda. — Todos ficaram rindo. — , me empresta seu celular para ligar para o meu pai? — pedi, tendo uma ideia. — O meu ficou sem carga — expliquei e ele apenas me entregou seu iPhone.
Fiquei com o aparelho durante um tempo. chegou perto de mim, esticando o olho por cima do meu ombro para ver o que eu estava fazendo, então expliquei para ela, que já começou a rir, e sugeri que fizesse a mesma coisa com o de . Ela adorou a ideia e foi pegar o celular dele. Quando terminei, o deixei sobre a mesa de centro e peguei o do , que estava sobre o balcão da cozinha. Aquele momento que me amo por ter cadastrado minha digital sem que ele soubesse. Comecei a fazer a mesma coisa que fiz no iPhone de . Fiquei olhando para os lados para não ser pega no flagra e me segurando para não rir. Assim que acabei, deixei onde estava antes e fui para o lado de fora. Vi os meninos lavando a caçamba de lixo, certamente deviam ter virado resto de cerveja nela. Eles eram retardados demais, ficavam enchendo a caçamba, entrando dela e depois empurravam. Eu não entendia muito bem o intuito da brincadeira, mas achava engraçado quando eles não aguentavam o peso e a caçamba caía no chão. Estava vendo a hora que as rodinhas iriam quebrar.
— Coloca a aqui dentro! — Troy, como sempre, deu uma ideia bem merda.
— Que mané coloca a aí dentro — rebati, mas Charlie e já vinham em minha direção. — Não, nem pensem nisso! — Levantei do degrau, rindo.
— Anda, é legal — Charlie disse, e já me pegou pela cintura.
— Eu só entro se o entrar junto! — falei, me soltando dele.
— Não vai caber os dois ali dentro — Joe observou, olhando para a caçamba enquanto a enchia.
— Vai, sim! — já saiu correndo e entrou dentro dela, fazendo com que transbordasse. — Ajudem a — pediu e Charlie e Joe me pegaram pelos braços e me colocaram lá dentro.
— Não vai dar. — Soltei uma risada, tentando me encaixar ali dentro junto a .
— Coloca sua perna aqui. — a segurou e puxou.
— Olha essa mão boba aí — brinquei e ele passou a mão em minha coxa. — ! — reclamei e ele riu.
— Até parece que ele não já passou a mão em tudo — Troy rebateu e eu o encarei.
— É claro que não. — Ergui as sobrancelhas, sentindo minhas bochechas ficarem quentes.
— Vocês não transaram? — Charlie perguntou e eu queria enfiar minha cara no cimento.
— Larguem de serem chatos. — jogou água neles, que começaram a rir.
— Vejam só. Finalmente estão no lugar de vocês... O lixo. — Sophie apareceu do outro lado da cerca.
— Cala boca, Sophie. — Troy, que estava com a mangueira, logo disparou água na loira.
— Ai, seu idiota! Você molhou o meu cabelo! — gritou toda histérica. — Vou ter que lavar agora! — Saiu andando e bufando enquanto todos ríamos dela.
— Isso, vai lavar esse seu cabelo sujo — berrei, rindo um pouco. — Nunca vi, parece que não lava o cabelo nunca — comentei comigo mesmo.
— Como você sabe que ela não lava o cabelo? — quis saber, me olhando de um jeito curioso.
— Eu só sei. Reconheço um cabelo sujo. — Dei um sorrisinho de lado.
— Vamos empurrar! — Troy berrou e os três seguraram a alça da caçamba e começaram a nos empurrar. Soltei um gritinho e me segurei em , que estava morrendo de rir.
— Calma, não vamos cair. — Eu não acreditava em suas palavras.
— Vamos, sim. Você sabe que vamos cair! — Me segurei nele com força, e, como esperado, os três soltaram a caçamba, na verdade eles a empurraram, fazendo eu e cairmos de dentro dela que nem merda derramada. — Ah! Eu disse! — falei, rindo daquilo, por sorte não tinha me machucado. — Você está bem?
— Sim! — ria comigo deitada em cima dele. — Você está?
— Uhum. — Sorri, vendo suas covinhas.
— Minha vez agora! — Joe já colocava a caçamba de pé.
— Vocês estão mesmo gastando água à toa? — Theo veio andando em nossa direção e tomou a mangueira da mão de Troy. — Eu pedi para lavarem a lixeira e não usar como piscina. — Já começou a nos dar esporro. — Tem piscina lá em cima e um mar enorme do outro lado. — Nos olhou de forma séria. — Parem de me olhar com essas caras de que fizeram merda, sumam daqui. — Eu e nos levantamos e, junto aos outros, saímos correndo em direção à praia.
Tirei minha camiseta e meu short, ficando só com meu sutiã de renda preto e calcinha de lycra da mesma cor. Corri em direção da água e mergulhei na primeira onda que apareceu. Nossa, estava gelado ali. e os meninos entraram só de bermuda. Nós já começamos uma guerra. Joe subiu nas costas do Charlie e eu na do , Troy era o juiz. Ficamos ali brincando por um bom tempo, até que vi o nos chamar. Ele ria que quase não se aguentava de pé. Saímos da água e ele nem ao menos conseguia falar, apenas apontou em direção da casa. Uni as sobrancelhas e fui até lá, pegando minha roupa que estava no meio do caminho e vestindo meu short. Sequei meus pés e entrei na casa, me deparando com uma Sophie de cabelo roxo. Eu automaticamente comecei a rir e apareceu pelo corredor com sua toalha enrolada na cabeça.
— Que gritaria é... — começou a falar, mas parou, colocando a mão na boca e fazendo cara de chocada. — O que aconteceu com seu cabelo? Vai ter uma festa à fantasia na cidade e eu não sei?
— Essa desgraçada colocou tinta no meu shampoo! — Apontou em minha direção, praticamente soltando espuma pela boca.
— Oras, já estava na hora de lavar esse cabelinho. Já estava ficando com nojo de chegar perto de você — rebati entre risos.
— Sua vagabunda! — Veio para cima em mim e agarrou meu cabelo, o puxando. Eu só conseguia rir descontroladamente.
— Solta ela, Sophie! — falou, e ele e já seguraram a menina e a puxaram, mas ela não me soltou.
— Para com isso, a não fez nada! — disse, segurando as mãos de Sophie, fazendo ela soltar meu cabelo. Eu só ria da cara dela. — E te falar que até combinou com você esse roxo — minha prima debochava da situação.
— Se não foi ela, quem foi? — Empurrou e . Sophie me encarava com sangue nos olhos.
— Você não é muito querida, né. Pode ter sido qualquer um. — E lá estava dando seu show.
— Meu Deus! Tinky-Winky, é você? — desceu as escadas perguntando. — Cadê o Dipsy? — Nós começamos a rir.
— Sempre me perguntei se o Tinky-Winky era homem ou mulher. O que você é, Sophie? — ironizei e Sophie veio para cima de mim, mas a segurou. — Não fui eu quem colocou tinta no seu shampoo — falei por fim.
— Então quem foi? — ela perguntou aos berros.
— O roubou pão na casa do João. O roubou pão na casa do João — Troy berrou, da varanda. Estava para nascer uma pessoa mais aleatória que essa.
— Eu não. — entrou na brincadeira.
— Então quem foi? — e perguntaram em coro.
— Foi o ! — acusou e meu irmão começou a rir ainda mais da varanda.
— O roubou pão na casa do João. O roubou pão na casa do João — começamos a cantar a bater palmas.
— Eu não — respondeu, escorando no batente da porta, rindo.
— Parem com isso! — Sophie gritou extremamente irritada por estarmos enrolando para falar quem colocou tinta em seu shampoo. — O Pinóquio está com inveja de vocês! — Empurrou para que ele a soltasse.
— Hey, meu nariz não é tão grande assim. — Uni minhas sobrancelhas e fiquei vesga, olhando para meu próprio nariz.
— , acho que ela está falando da cara de pau — explicou, rindo, então a olhei.
— Ah sim. — Encarei minha prima. — , o que você passa para a sua pele ser tão bonita?
— Certamente lustra-móveis — respondeu, fazendo todo mundo rir ainda mais.
— Céus, o que aconteceu com o seu cabelo? — perguntou, parando na porta da sala com os olhos arregalados.
— É o que estou querendo saber! — Sophie estava ao ponto de ter um ataque cardíaco. — Só vou sair daqui quando alguém admitir a culpa!
— Vai fazer diferença? Seu cabelo vai continuar roxo — falou, erguendo uma sobrancelha. — Eu recomendo que pense duas vezes antes de mexer com qualquer um aqui. Ou, da próxima vez, é capaz de você acordar careca. — Ela arregalou os olhos.
— Disso eu não duvido. Uma coisa que as pessoas dessa casa não conhecem é limite — deixou bem claro enquanto me olhava, e ela estava coberta de razão.
— Olha, eu gostei da sua ideia, — comentei, colocando as mãos na cintura. — Acho que o Miguel trouxe a máquina dele. Imagine só, uma falha bem aqui, no topo da cabeça — falei, me aproximando de Sophie e empurrei sua cabeça com o indicador, exatamente onde passaria a máquina.
— Não provoca, — pediu e Sophie deu um tapa em minha mão. — Sophie, ninguém aqui vai admitir ou falar quem foi que fez isso com seu cabelo, está perdendo seu tempo.
— Que horror! — Tia Anne chegou da rua, colocando as sacolas de compras sobre o balcão. — Quem pintou seu cabelo, garota? Ele está todo manchado! — A cara que ela tinha era a melhor de todas, era uma espécie de espanto com quem achava graça daquilo. — Nossa, isso está feio.
— Ah! Eu odeio vocês! — Sophie berrou e saiu andando, quase furando o chão.
— É recíproco! — Troy falou alto para que ela ouvisse.
— Nossa, o que deu nela? — Tia Anne perguntou, erguendo as sobrancelhas.
— Talvez alguém tenha colocado corante no shampoo dela — respondeu e sua mãe a encarou.
— É mesmo? E eu nem desconfio quem deve ter sido. — Colocou as mãos na cintura, ainda olhando para . — Será que foi um roxo que tínhamos no armário que usamos no Halloween passado?
— Esse mesmo — minha prima respondeu, rindo, e tudo mundo viu que ela era a culpada.
— O que ela fez para merecer isso? — quis saber, já se virando e tirando as coisas da sacola.
— Talvez Sophie tenha feito o segurar nos peitos dela na minha festa — sugeri e Tia Anne riu.
— Podia ter colocado pimenta no rímel dela. Porque é aquele ditado, né: Pimenta nos olhos dos outros é refresco. — Céus! Tia Anne era a melhor pessoa do mundo. — Aqui, essa pimenta é ótima. — Abriu o armário e pegou um vidrinho. — Está bem curtida, vai queimar que é uma beleza. — Nós estávamos rindo tanto que quase não nos aguentávamos de pé.
— , respira! — Ouvi a voz de e ela estava repleta de pavor. — Acorda! — E fui puxada bruscamente, fazendo meus olhos se abrirem. Me agarrei ao corpo dele com toda a minha força. — Meu Deus. — Ele me abraçou, afagando meu cabelo. — Pesadelo de novo? — Concordei com a cabeça. — O mesmo? — Novamente afirmei e seus braços me apertaram.
Desde a briga com a minha mãe, eu tinha o mesmo sonho, que era estar sufocando embaixo de uma casa que não fazia a menor ideia de qual era. A sensação de sufocamento, o pavor pela falta de ar, o meu pescoço sendo segurado, era tudo a mesma coisa que estava se repetindo já tinha duas semanas. Eu acordava sempre do mesmo jeito, suando e assustada. Aquilo era muito ruim e eu só queria conseguir me livrar daquele pesadelo horrível. Isso porque Jess tinha tentado me enforcar e eu não tinha contado para ninguém além do meu pai, até porque ele viu o que aconteceu. Tudo que o pessoal sabia era que tínhamos rolado na porrada, e só, sem detalhes. E desde o primeiro dia que acordei de tal jeito, começou a dormir ao meu lado, ou pelo menos tentava, pois passava a maior parte do tempo acordado, me olhando, esperando que eu começasse a sufocar enquanto dormia.
— Você conseguiu dormir? — perguntei baixinho, ainda sem soltá-lo, vendo que ainda era noite, já que estava apenas com a luz do abajur acesa e não vinha nenhuma luz pela fresta da janela.
— Não. — Sua resposta me fez sentir culpa.
— Dorme um pouco, não estou mais com sono — menti e me afastei, passando a mão em seu rosto, olhando dentro de seus olhos.
— Também não estou — sussurrou de volta para não acordar e tia Anne. Elas tinham um sono pesado, mas ainda assim se preocupava.
— Não sei como elas não acordaram com você me chamando. — Olhei para o lado, vendo as duas dormindo. tinha ido dormir lá em cima com o para deixar o aqui comigo.
— Não chamei alto. — Voltei a olhá-lo, unindo as sobrancelhas, para mim parecia que ele estava me berrando, minha percepção da realidade não estava muito boa.
— Hm — murmurei e encostei minha testa em seu ombro. — Vou trocar de roupa, essa está molhada. — Levantei da cama e fui até minha mala, pegando uma regata e um short seco.
Entrei no banheiro e fechei a porta, lavei meu rosto, pulsos e passei a mão molhada em minha nuca na esperança de que aquilo fosse ajudar de alguma forma, mas eu estava me sentindo a mesma. Acabei, por fim, tomando um banho gelado, lavando o cabelo e pensando sobre o que tinha acontecido. Eu ainda estava levemente marcada, mas todos os hematomas já tinham saído, só tinham me restado as duas cicatrizes novas que tinha ganhado no rosto, pequenas, porém estavam lá todos os dias para não me fazer esquecer a minha briga com a minha mãe. Eu deveria estar bem e feliz por saber que ela não iria mais me perturbar e nunca mais encostar um dedo sequer em mim, só que o fato dela estar em uma clínica psiquiátrica ainda me atormentava. Embora estivesse sendo tratada, não me parecia um lugar nada agradável de ficar, nem ao menos sabia o que estava acontecendo lá. Afundei minha cabeça, deixando a água bater em minha nuca e levei a mão até meu pescoço, recobrando a sensação dele sendo apertado e aquilo me fez começar a chorar. Não sabia o que estava acontecendo comigo.
Desliguei a água e me enrolei na toalha. Sentei no vaso com a tampa fechada e fiquei olhando para um ponto cego, tentando me acalmar. Respirava fundo, segurava por dez segundos e depois soltava. Tentava a todo custo me esquecer daquilo, mas parecia que ficar ali dentro sozinha não iria me ajudar em absolutamente nada. Passei os dedos na cruz do colar que tinha em meu pescoço e soltei um suspiro. Então me sequei e vesti a roupa. Pendurei a toalha e saí do banheiro. estava abraçado com meu travesseiro e dormia tão profundamente que nem ao menos sentiu quando cobri seu corpo com o edredom. Deitei ao lado dele um pouco e fiquei olhando seu belo rosto, que tinha um semblante sereno. Eu gostava tanto daquele menino que era impossível medir meu sentimento, ele me fazia bem e feliz, me trazia segurança e um conforto enorme que nunca senti na vida.
Levantei da cama com cuidado para não acordá-lo e saí do quarto, embora estivesse com sono, não queria dormir. Ouvi o barulho da TV ligada vindo do andar de cima, então fui até lá, vendo , e Charlie jogarem. Me sentei ao lado dele e logo me estendeu um controle, como sempre jogo de tiro. Usei aquilo como uma válvula de escape e entrava nas missões como se fosse uma perfeita suicida, matando tudo e todos, correndo no meio do tiroteio e fazendo questão de matar os outros de facada. Os meninos até mesmo se assustaram comigo e ficaram me zoando, mas só fiquei quieta e continuei jogando. Ficamos ali até o sol começar a iluminar as janelas e finalmente desligamos as coisas. Eles foram dormir e eu desci, indo para a varanda e ficando lá, olhando a praia e vendo as ondas ao longe.
Ouvi um barulho e olhei por cima de meu ombro, vendo com uma cara de sono e seus olhos estreitados por causa da claridade. Ele veio em minha direção e se sentou ao meu lado, me abraçando e dando um beijo em minha cabeça. Ficamos calados olhando a paisagem, apenas apreciando um a companhia do outro, tínhamos muito o hábito de fazer isso. Era bom às vezes.
— Estou pensando em ligar para o meu pai e chamar ele para passar o final de semana conosco. O que você acha? — perguntou, quebrando o nosso silêncio. — Quero que eles te conheçam. — Aquilo me fez olhá-lo e dar um sorriso.
— Eu acho uma excelente ideia. — Tinha ficado feliz por ele querer que eu conhecesse sua família, aquilo foi especial para mim. — Obrigada.
— Pelo quê? — Uniu as sobrancelhas, dando um pequeno sorriso.
— Por tudo o que está fazendo por mim. Eu sinceramente não sei o que estaria sendo de mim se não fosse por você. — Sorri de um jeito fraco. Eu estava muito agradecida por ter o comigo.
— Não agradeça, eu faria qualquer coisa por você. — Me abraçou e eu repousei minha cabeça em seu peito. — Queria poder fazer você ficar bem.
— Eu estou bem — resmunguei que nem uma velha.
— Você pode mentir para quem quiser, mas não minta para mim. — Aquilo foi um esporro e eu me senti um pouco mal por isso. — E também não sou cego, eu percebo a forma como tem agido. Você está se isolando.
— Desculpa, é um reflexo — pedi, segurando sua blusa com um pouco de força, me sentindo agoniada. — Prometo que não vou mais mentir. — me apertou de leve contra seu corpo e aquele gesto foi reconfortante.
Ficamos novamente em silêncio, depois acabamos entrando e deitando no sofá para assistir TV. Estava passando Beetlejuice. Parecíamos duas crianças ali, rindo e chamando o Beetlejuice três vezes junto a Lydia. Eu amava aquele desenho e acabei descobrindo que também. Quanto mais tempo eu ficava ao seu lado, mais tinha certeza de que queria ficar com ele. Nós nos dávamos muito bem, nossas bobeiras eram parecidas e até mesmo nossos gostos, tirando o fato dele sempre tentar me fazer rir. Eu simplesmente amava aquilo em . As risadas que me causava eram simplesmente as melhores, me faziam esquecer do mundo, na verdade tinha o grande poder de me fazer esquecer a grande maioria das coisas. Se não fosse ele ali comigo, eu sei lá, sabe, acho que teria dado um surto depois do que rolou com a minha mãe, ela me falou muita coisa, coisas essas que nunca esperava escutar, além da forma como me tratou e tratou meu pai. , de alguma maneira, ainda conseguia manter a minha mente sã e eu seria eternamente grata por isso.
Quando deu umas nove horas, ligou para seu pai, que disse que viria com Noah no sábado de manhã, mas que só poderia ficar até segunda de manhã, pois tinha que pegar no trabalho logo cedo. Fiquei empolgada e muito feliz que ele iria mesmo vir, e ainda mais por saber que iria conhecer o Noah. começou a me contar várias coisas de seu irmão e momentos que tiveram juntos, e eu só conseguia ficar ainda mais ansiosa para que sábado chegasse logo. falava deles de um jeito tão fofo, sorrindo com os olhos brilhando, cheio de alegria. Eu só conseguia ficar olhando para ele, vendo suas covinhas lindas aparecendo e admirando a forma como contava tudo, cheio de orgulho. No fim, não consegui me controlar e segurei seu rosto com as duas mãos e juntei meus lábios nos nele. Começamos a rir por ter sido completamente inesperado, mas no fim ele me segurou pela cintura e me beijou de volta de uma forma tão intensa que me deixou entorpecida.
— Ai, meu Deus, jovens se beijando. Que nojo. Vão para um quarto — imitou tia Anne, isso nos fez rir um pouco e voltamos a nos beijar. — E eles não param, olha isso! Vou jogar água em vocês. — Sua voz saía meio estranha, o que nos causou mais risadas ainda.
— , larga de ser chato — disse, se afastando, então olhei por cima do meu ombro e caí na risada. — Caralho, . Que porra é essa? — perguntou como se tivesse lido meus pensamentos. Meu amigo estava de capacete de moto dentro de casa.
— Ele achou no armário da bagunça e disse que ia brincar de astronauta — respondeu, já descendo as escadas, rindo conosco.
— Mentira. Estou apenas me protegendo da queda que tenho por você — rebateu, já puxando minha prima pela cintura e aproximando seu rosto do dela.
— , eu acho que você precisa tirar o capacete para beijá-la — brinquei, falando entre risos.
— Sabia que tinha algo de errado. — Entrou na pilha. era muito bobo.
— O que você está fazendo, ? — já perguntou, rindo enquanto descia e olhava para o amigo de sobrancelhas unidas.
— Quanto mais os dias passam, mais tenho certeza de que ele é louco — comentou, descendo atrás do meu irmão, rindo também.
— Vamos brincar de conquistar territórios! — Coloquei a mão na boca, ouvindo falar. Quem conquistava um território com um capacete de moto? Ele não fazia o menor sentido. — Já conquistei o meu. — Pegou e colocou em seu ombro.
— Só não faça filho nesse território, sim — pedi, olhando minha prima rindo de cabeça para baixo.
— Nem se eu quisesse — rebateu e pelo seu tom de voz eu já percebi que ela iria sacanear o .
— Como assim? — perguntou, colocando no chão.
— Ué, você não sabe? — percebeu também e começou a zombar.
— Não sei o quê? — Nosso amigo começava a ficar preocupado e até mesmo tirou seu capacete.
— , você não falou para ele? — perguntou, erguendo as sobrancelhas, e eu já começava a rir.
— O que a não me falou? — olhou preocupado para a minha prima.
— Não acredito nisso, . — Tia Anne entrou na sala, se metendo na conversa, certamente já nos ouvindo antes. — Pensei que não tinha segredos entre vocês.
— Que segredo? Do que vocês estão falando? — Ele olhava para nós e para .
— Estou chocada, pensei que você tinha contado para ele desde quando se conheceram. Na verdade, vocês já se conheciam, né. O que não está associando. — Até entrou na pilha.
— Tem como vocês pararem com isso e falarem logo? — pediu, colocando o capacete sobre o balcão.
— A é transexual — soltou e eu tive que segurar a minha gargalhada.
— Como assim a é transexual? — olhou sério para . — Como assim? Não pode ser... — Encarou minha prima. — Como assim você não me contou esse detalhe?
— Ah, achei tão desnecessário quanto você me falar que tinha filho. — Minha prima torceu os lábios e olhou para ele de um jeito superior. — Pelo menos não vai ser um problema para nós, não precisamos nos preocupar com filhos.
— Então era mentira quando você ficou desesperada ontem com a sua menstruação que não veio e achou que estava grávida? — Os olhos dele quase saíam de seu rosto. Eu sabia que aquilo tinha sido outra brincadeira de minha prima só para assustar o , ela tinha emendado a cartela de anticoncepcional.
— Grávida? Não sei como isso seria possível — falei e me encarou. — Ela não tem útero para isso.
— Ah, nem, ! Para de brincar com isso! — Ele estava ficando nervoso de verdade com aquela situação e todos estavam sérios, tentando manter a brincadeira de pé.
— Mas a minha irmã está falando sério. A não te contou mesmo? — cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas.
— Não, não pode ser! Vocês estão me zoando! Eu vi a ... — encarou minha prima rapidamente, a olhando de cima a baixo. — Não tem como! Ela é uma mulher.
— Acho que tenho uma foto da quando era menino. Me deixe procurar. — Tia Anne era a melhor! Meu Deus do céu! Ela subiu as escadas enquanto todos ficamos em silêncio, esperando que voltasse. — Achei! — berrou do segundo andar e já desceu com um álbum de retrato na mão. — Aqui! — Tirou uma foto e entregou para o , que a pegou, ficou olhando por um longo tempo e depois encarou . — Era uma gracinha, não é? Se chamava Mikkel. — Deu o nome de um primo nosso que só tivemos até nossa adolescência, pois ele foi morar na Inglaterra com sua mãe, mas acho que não sabia disso.
— Olha, eu nunca fiquei com um trans, mas deve ser emocionante — começou a pilhar. — Deve saber fazer várias coisas diferentes. — Mordi meu lábio inferior, querendo rir. — Como é, ?
— Cala a boca, ! — nosso amigo mandou e entregou a foto para tia Anne. — Vocês estão me zoando, eu sei disso.
— Estamos falando sério. Você não lembra do Mikkel? Nosso primo mais novo que ia lá em casa nos nossos aniversários? — falou com seriedade. — Tia Anne era brigada com minha mãe, então foram muitas poucas vezes que tivemos contado com , só nos juntamos quando nossas mães fizeram as pazes e isso tem no máximo uns seis anos. — Você o achava fofinho e vivia o apertando. — Aquilo era verdade, adorava aquele menino.
— Nossa, vocês nunca tinham me falado que era o primo da cirurgia — comentou, fazendo uma cara de chocada.
— Você não lembra de mim? — perguntou, fazendo uma cara de triste enquanto estava embasbacado.
— Acho que a última vez que vocês se viram foi no meu aniversário de 15 anos. O Mikkel tinha 11 anos... Caramba, isso já tem dez anos — falei impressionada, como o tempo passava rápido.
— É por isso que eu estranhei que não te conhecia antes — concluiu por fim e encarou o chão. — Isso me torna bissexual? — perguntou para si mesmo e nisso todo mundo caiu na risada.
— Ai, querido, não! Isso te torna um pansexual. — Tia Anne segurou no ombro dele. — Alguém gravou a cara de chocado dessa criatura? — perguntou, dando risada enquanto nos olhava. — Você não nos conheceu antes porque eu era brigada com a Jess. A é mulher e ela emendou a cartela de remédio dela. Não tem nada de transexual ou de filho. Fica tranquilo. — olhou para nós sem reação.
— Vocês são uns idiotas! — reclamou e riu um pouco. — Caralho, eu fiquei tentando lembrar se a tinha alguma marca indicando que ela tinha feito alguma cirurgia, sei lá. — Negou com a cabeça.
— Mas a pergunta que não quer calar — começou todo empolgado —, você ficaria com a se ela fosse um transexual? — E nesse momento todo mundo parou de rir e esperou pela resposta. ficou encarando minha prima por algum tempo.
— Cara, eu gosto de quem ela é e não do corpo dela. — Olhou para com um meio sorriso. — Eu só fiquei chocado mesmo com a situação. Não esperava.
— Então você ficaria com ela assim mesmo? — Ergui minhas sobrancelhas, querendo uma resposta com todas as letras.
— É claro que eu ficaria com a . — Se virou para a minha prima. — Inclusive... — Fez uma cara pensativa. — Espera aqui — pediu e subiu. Ouvimos algumas coisas sendo reviradas e logo ele desceu. — Comprei isso aqui quando fomos para Los Angeles, mas achei que poderia ser loucura demais da minha cabeça fazer isso. — Colocou o capacete e ficou de frente para minha prima. — , você me deixa dominar seu território? — Tirou uma caixinha de veludo de dentro do bolso e a abriu, revelando um solitário. Todos ficamos boquiabertos com aquilo.
— Está me pedindo em namoro, ? — perguntou, unindo as sobrancelhas e olhando para o anel.
— Em casamento que não é — rebati logo, ansiosa para saber a resposta de e ela começou a rir, certamente de nervoso, mas não falou nada.
— Responde logo ou eu aceito no seu lugar! — Tia Anne apressou, nos fazendo gargalhar.
— Eu deixo você dominar o meu território — aceitou por fim e eu levantei do sofá, berrando.
— É goooooooool! — gritei, correndo pela casa, com os braços levantados, comemorando e me acompanhava. Ele até mesmo tirou sua regata e começou a rodar ela.
— Ae! — pegou e começou a jogar ela para cima.
— Eba! — começou a dar pulinhos, feliz assim como todo mundo. estava ao seu lado sorrindo, olhando para e .
— Eu vou cair, ! — Minha prima ria, tentando se segurar. — O anel! Ele caiu! — falou apavorada. — Pega! Vai sumir!
— Pega! — Tia Anne colocou as mãos na cabeça, olhando para os lados, tentando ver onde tinha caído.
— Ferrou! Cadê? — Parei de correr do nada e trombou nas minhas costas, fazendo nós dois cairmos no chão. — Caralho! — reclamei, mas comecei a rir. — Sai de cima de mim! Você é pesado.
— Você que parou do nada, não tenho culpa. — Começou a se levantar, rindo.
— O chão é lava! — Troy gritou do segundo andar e todo mundo começou a correr, tentando subir em algo, até tia Anne se jogou deitada sobre o balcão de um jeito muito engraçado.
— Meu anel! — e rodavam que nem duas baratas tontas, o caçando.
— , você vai queimar! — falei, subindo no sofá junto a , que dessa vez não me empurrou dele.
— O quê? — minha prima perguntou completamente perdida, fazendo todos rirem. — O anel sumiu. — Se jogou no chão, engatinhando por ele e tentando achar o seu solitário.
— Calma. Nós vamos achar — falou, de pé, em cima do banco, enquanto olhava para o chão.
Então descemos das coisas e começamos a procurar, mas não achamos em lugar nenhum. Como um anel podia sumir assim? Só podia ter entrado em um buraco negro, porque essa era a única explicação. começou a ficar chorosa e eu fiquei com pena dela. O anel parecia tão bonito. Tia Anne começou a varrer a casa para ver se achava, enquanto nós levantávamos as coisas para ver se encontrávamos.
— Deixa, eu compro outro depois — disse , se jogando no sofá.
— Eu não quero outro, quero aquele. — já estava com lágrimas nos olhos.
— Calma, nós vamos achar. Ele não pode ter sumido assim — falou e abraçou minha prima.
— A tem razão, tem que estar aqui — concordei, ainda engatinhando pelo chão.
— Achei! — berrou, levantado do chão com o anel na mão.
— Ai! — pulou em cima dele e o abraçou, dando um beijo bochecha. Limpei a minha garganta apenas para zoar, fingindo que estava com ciúmes. — O beijo foi com respeito. — Ela sorriu e pegou o anel. — Obrigada. — O colocou em seu dedo. — , é lindo. — Se virou para o nosso amigo e o abraçou, lhe beijando.
— Ai que nojo, jovens se beijando — debochei que nem fez conosco mais cedo e ele apenas me deu o dedo do meio. — E é afrontoso ainda. — Todos ficaram rindo. — , me empresta seu celular para ligar para o meu pai? — pedi, tendo uma ideia. — O meu ficou sem carga — expliquei e ele apenas me entregou seu iPhone.
Fiquei com o aparelho durante um tempo. chegou perto de mim, esticando o olho por cima do meu ombro para ver o que eu estava fazendo, então expliquei para ela, que já começou a rir, e sugeri que fizesse a mesma coisa com o de . Ela adorou a ideia e foi pegar o celular dele. Quando terminei, o deixei sobre a mesa de centro e peguei o do , que estava sobre o balcão da cozinha. Aquele momento que me amo por ter cadastrado minha digital sem que ele soubesse. Comecei a fazer a mesma coisa que fiz no iPhone de . Fiquei olhando para os lados para não ser pega no flagra e me segurando para não rir. Assim que acabei, deixei onde estava antes e fui para o lado de fora. Vi os meninos lavando a caçamba de lixo, certamente deviam ter virado resto de cerveja nela. Eles eram retardados demais, ficavam enchendo a caçamba, entrando dela e depois empurravam. Eu não entendia muito bem o intuito da brincadeira, mas achava engraçado quando eles não aguentavam o peso e a caçamba caía no chão. Estava vendo a hora que as rodinhas iriam quebrar.
— Coloca a aqui dentro! — Troy, como sempre, deu uma ideia bem merda.
— Que mané coloca a aí dentro — rebati, mas Charlie e já vinham em minha direção. — Não, nem pensem nisso! — Levantei do degrau, rindo.
— Anda, é legal — Charlie disse, e já me pegou pela cintura.
— Eu só entro se o entrar junto! — falei, me soltando dele.
— Não vai caber os dois ali dentro — Joe observou, olhando para a caçamba enquanto a enchia.
— Vai, sim! — já saiu correndo e entrou dentro dela, fazendo com que transbordasse. — Ajudem a — pediu e Charlie e Joe me pegaram pelos braços e me colocaram lá dentro.
— Não vai dar. — Soltei uma risada, tentando me encaixar ali dentro junto a .
— Coloca sua perna aqui. — a segurou e puxou.
— Olha essa mão boba aí — brinquei e ele passou a mão em minha coxa. — ! — reclamei e ele riu.
— Até parece que ele não já passou a mão em tudo — Troy rebateu e eu o encarei.
— É claro que não. — Ergui as sobrancelhas, sentindo minhas bochechas ficarem quentes.
— Vocês não transaram? — Charlie perguntou e eu queria enfiar minha cara no cimento.
— Larguem de serem chatos. — jogou água neles, que começaram a rir.
— Vejam só. Finalmente estão no lugar de vocês... O lixo. — Sophie apareceu do outro lado da cerca.
— Cala boca, Sophie. — Troy, que estava com a mangueira, logo disparou água na loira.
— Ai, seu idiota! Você molhou o meu cabelo! — gritou toda histérica. — Vou ter que lavar agora! — Saiu andando e bufando enquanto todos ríamos dela.
— Isso, vai lavar esse seu cabelo sujo — berrei, rindo um pouco. — Nunca vi, parece que não lava o cabelo nunca — comentei comigo mesmo.
— Como você sabe que ela não lava o cabelo? — quis saber, me olhando de um jeito curioso.
— Eu só sei. Reconheço um cabelo sujo. — Dei um sorrisinho de lado.
— Vamos empurrar! — Troy berrou e os três seguraram a alça da caçamba e começaram a nos empurrar. Soltei um gritinho e me segurei em , que estava morrendo de rir.
— Calma, não vamos cair. — Eu não acreditava em suas palavras.
— Vamos, sim. Você sabe que vamos cair! — Me segurei nele com força, e, como esperado, os três soltaram a caçamba, na verdade eles a empurraram, fazendo eu e cairmos de dentro dela que nem merda derramada. — Ah! Eu disse! — falei, rindo daquilo, por sorte não tinha me machucado. — Você está bem?
— Sim! — ria comigo deitada em cima dele. — Você está?
— Uhum. — Sorri, vendo suas covinhas.
— Minha vez agora! — Joe já colocava a caçamba de pé.
— Vocês estão mesmo gastando água à toa? — Theo veio andando em nossa direção e tomou a mangueira da mão de Troy. — Eu pedi para lavarem a lixeira e não usar como piscina. — Já começou a nos dar esporro. — Tem piscina lá em cima e um mar enorme do outro lado. — Nos olhou de forma séria. — Parem de me olhar com essas caras de que fizeram merda, sumam daqui. — Eu e nos levantamos e, junto aos outros, saímos correndo em direção à praia.
Tirei minha camiseta e meu short, ficando só com meu sutiã de renda preto e calcinha de lycra da mesma cor. Corri em direção da água e mergulhei na primeira onda que apareceu. Nossa, estava gelado ali. e os meninos entraram só de bermuda. Nós já começamos uma guerra. Joe subiu nas costas do Charlie e eu na do , Troy era o juiz. Ficamos ali brincando por um bom tempo, até que vi o nos chamar. Ele ria que quase não se aguentava de pé. Saímos da água e ele nem ao menos conseguia falar, apenas apontou em direção da casa. Uni as sobrancelhas e fui até lá, pegando minha roupa que estava no meio do caminho e vestindo meu short. Sequei meus pés e entrei na casa, me deparando com uma Sophie de cabelo roxo. Eu automaticamente comecei a rir e apareceu pelo corredor com sua toalha enrolada na cabeça.
— Que gritaria é... — começou a falar, mas parou, colocando a mão na boca e fazendo cara de chocada. — O que aconteceu com seu cabelo? Vai ter uma festa à fantasia na cidade e eu não sei?
— Essa desgraçada colocou tinta no meu shampoo! — Apontou em minha direção, praticamente soltando espuma pela boca.
— Oras, já estava na hora de lavar esse cabelinho. Já estava ficando com nojo de chegar perto de você — rebati entre risos.
— Sua vagabunda! — Veio para cima em mim e agarrou meu cabelo, o puxando. Eu só conseguia rir descontroladamente.
— Solta ela, Sophie! — falou, e ele e já seguraram a menina e a puxaram, mas ela não me soltou.
— Para com isso, a não fez nada! — disse, segurando as mãos de Sophie, fazendo ela soltar meu cabelo. Eu só ria da cara dela. — E te falar que até combinou com você esse roxo — minha prima debochava da situação.
— Se não foi ela, quem foi? — Empurrou e . Sophie me encarava com sangue nos olhos.
— Você não é muito querida, né. Pode ter sido qualquer um. — E lá estava dando seu show.
— Meu Deus! Tinky-Winky, é você? — desceu as escadas perguntando. — Cadê o Dipsy? — Nós começamos a rir.
— Sempre me perguntei se o Tinky-Winky era homem ou mulher. O que você é, Sophie? — ironizei e Sophie veio para cima de mim, mas a segurou. — Não fui eu quem colocou tinta no seu shampoo — falei por fim.
— Então quem foi? — ela perguntou aos berros.
— O roubou pão na casa do João. O roubou pão na casa do João — Troy berrou, da varanda. Estava para nascer uma pessoa mais aleatória que essa.
— Eu não. — entrou na brincadeira.
— Então quem foi? — e perguntaram em coro.
— Foi o ! — acusou e meu irmão começou a rir ainda mais da varanda.
— O roubou pão na casa do João. O roubou pão na casa do João — começamos a cantar a bater palmas.
— Eu não — respondeu, escorando no batente da porta, rindo.
— Parem com isso! — Sophie gritou extremamente irritada por estarmos enrolando para falar quem colocou tinta em seu shampoo. — O Pinóquio está com inveja de vocês! — Empurrou para que ele a soltasse.
— Hey, meu nariz não é tão grande assim. — Uni minhas sobrancelhas e fiquei vesga, olhando para meu próprio nariz.
— , acho que ela está falando da cara de pau — explicou, rindo, então a olhei.
— Ah sim. — Encarei minha prima. — , o que você passa para a sua pele ser tão bonita?
— Certamente lustra-móveis — respondeu, fazendo todo mundo rir ainda mais.
— Céus, o que aconteceu com o seu cabelo? — perguntou, parando na porta da sala com os olhos arregalados.
— É o que estou querendo saber! — Sophie estava ao ponto de ter um ataque cardíaco. — Só vou sair daqui quando alguém admitir a culpa!
— Vai fazer diferença? Seu cabelo vai continuar roxo — falou, erguendo uma sobrancelha. — Eu recomendo que pense duas vezes antes de mexer com qualquer um aqui. Ou, da próxima vez, é capaz de você acordar careca. — Ela arregalou os olhos.
— Disso eu não duvido. Uma coisa que as pessoas dessa casa não conhecem é limite — deixou bem claro enquanto me olhava, e ela estava coberta de razão.
— Olha, eu gostei da sua ideia, — comentei, colocando as mãos na cintura. — Acho que o Miguel trouxe a máquina dele. Imagine só, uma falha bem aqui, no topo da cabeça — falei, me aproximando de Sophie e empurrei sua cabeça com o indicador, exatamente onde passaria a máquina.
— Não provoca, — pediu e Sophie deu um tapa em minha mão. — Sophie, ninguém aqui vai admitir ou falar quem foi que fez isso com seu cabelo, está perdendo seu tempo.
— Que horror! — Tia Anne chegou da rua, colocando as sacolas de compras sobre o balcão. — Quem pintou seu cabelo, garota? Ele está todo manchado! — A cara que ela tinha era a melhor de todas, era uma espécie de espanto com quem achava graça daquilo. — Nossa, isso está feio.
— Ah! Eu odeio vocês! — Sophie berrou e saiu andando, quase furando o chão.
— É recíproco! — Troy falou alto para que ela ouvisse.
— Nossa, o que deu nela? — Tia Anne perguntou, erguendo as sobrancelhas.
— Talvez alguém tenha colocado corante no shampoo dela — respondeu e sua mãe a encarou.
— É mesmo? E eu nem desconfio quem deve ter sido. — Colocou as mãos na cintura, ainda olhando para . — Será que foi um roxo que tínhamos no armário que usamos no Halloween passado?
— Esse mesmo — minha prima respondeu, rindo, e tudo mundo viu que ela era a culpada.
— O que ela fez para merecer isso? — quis saber, já se virando e tirando as coisas da sacola.
— Talvez Sophie tenha feito o segurar nos peitos dela na minha festa — sugeri e Tia Anne riu.
— Podia ter colocado pimenta no rímel dela. Porque é aquele ditado, né: Pimenta nos olhos dos outros é refresco. — Céus! Tia Anne era a melhor pessoa do mundo. — Aqui, essa pimenta é ótima. — Abriu o armário e pegou um vidrinho. — Está bem curtida, vai queimar que é uma beleza. — Nós estávamos rindo tanto que quase não nos aguentávamos de pé.
12.2. Bedroom Floor
Bônus.
’s POV
tinha sumido e não tinha me falado onde tinha ido. Sabia que não era para ficar paranoica, mas depois do que fizemos com Sophie, era impossível não ficar. Não queria ligar para ele e perguntar o que estava fazendo, não queria parecer uma namorada ciumenta. Nós estávamos namorando tinha dois dias. Ele não faria nada, faria? Não, ele não faria. gostava de mim ou não teria me pedido em namoro, muito menos ter me dado o anel com um diamante.
— , você sabe quem mudou os nomes dos contatos de mulheres do meu celular para puta? — perguntou de forma distraída, deitado ao meu lado na cama, e eu até iria rir se não estivesse com a cabeça em outro lugar. — Agora eu não sei mais quem é quem.
— Puta? Quem é puta? Não conheço ninguém com esse nome. — Ele me olhou sem entender nada, até que me toquei. — Você está me chamando de puta? — ergueu uma sobrancelha.
— Não, mudaram os nomes dos meus contatos. — Virou a tela de seu iPhone para mim. — Você sabe quem foi?
— Não faço ideia — respondi, fazendo a sonsa e lembrando que tinha feito o mesmo no de , mas ele ainda não tinha notado.
— Está tudo bem? — jogou seu aparelho de lado, desistindo, então o encarei rapidamente. Eu estava transparecendo muito? Não. Não estava. Ou estava?
— Não. Sim. Não. Sim. Não está. — Cheguei por fim à conclusão e ficou rindo da minha cara. — Você sabe onde o está?
— Eu vi ele indo para a casa das Blossoms. — Uni as sobrancelhas. O que ele tinha ido fazer lá sem me falar? — Você está com raiva porque ele não avisou, não é? — Concordei com a cabeça. — Podemos nos vingar dele.
— Me diga mais sobre isso. — Fiquei muito interessada.
— Vamos fingir que nós transamos e acabamos dormindo abraçados. Podemos pedir para o Troy mandar uma mensagem para ele falando que viu algo estranho acontecendo. E colocamos a câmera escondida para filmar a reação dele. — tinha um sorriso perverso no rosto, e eu simplesmente amei aquilo. — A nem precisa saber, ela até mesmo saiu com o pessoal para fazer compras. — Sem dúvidas estava ficando cada vez melhor. — O que acha?
— Eu amei. Vamos chamar o Troy. — Já levantei da cama.
Fomos atrás do Troy, que estava deitado no sofá vendo televisão. Explicamos para ele o plano, que já concordou no mesmo instante. Ele pegou a câmera dele e colocou no quarto em um lugar que desse para ver tudo e que não fosse notar. Pegamos uma camisinha, abrimos e deixamos o pacote no chão. Tirei minha roupa, ficando apenas de short e sutiã tomara que caia. ficou só de bermuda e jogou outra no chão, junto à cueca e uma regata, e eu fiz o mesmo, espalhando outras roupas minhas como se tivesse tirado e jogado por onde passava. Nos deitamos na cama e nos cobrimos até a altura do peito, ele me abraçou por trás e aquilo foi bem estranho. Troy apagou a luz enquanto nós ríamos e foi para a sala. Não demorou muito para ouvirmos o barulho da porta da frente sendo batida.
— Cadê eles, Troy? — berrou com raiva.
— Calma, cara. Eu não sei se aconteceu realmente alguma coisa. Só ouvi uns barulhos suspeitos e como só nós três não saímos... — Não conseguiu terminar a frase, a porta do quarto foi aberta. — , espera. — A luz foi acesa.
— Que porra é essa? — gritou tão alto que me assustei e já abri os olhos rapidamente. — Eu não acredito. — Pegou uma muda de roupa do chão e jogou em cima de nós dois.
— , calma. Eu posso explicar. — se sentou e eu levantei o edredom até meu pescoço, me escondendo.
— Você vai explicar para a minha mão dentro da sua boca, seu merda! — Puxou para fora da cama de um jeito bruto que já me fez ficar realmente apavorada.
— , não faz nada com ele. A gente pode explicar — pedi, mas ele não me dava ouvidos.
— Eu vou te matar! Você estava comendo a minha mulher! — Socou a cara de e eu arregalei meus olhos.
— Para! — Troy pegou e o puxou para trás.
— Você não tem consideração por ninguém! Nenhum dos dois! O que a vai achar disso? Hm? Ela ama vocês! — estava vermelho de tão nervoso. — Me solta, Troy! Isso não vai ficar assim! — Empurrou o menino e saiu do quarto.
— Meu Deus! Alguém precisa falar com ele que isso é uma brincadeira. — Olhei para e Troy que tinha cara de chocados. — Façam alguma coisa!
— , o que você está fazendo? — Ouvi a voz de alarmada. — O que está acontecendo? , solta essa faca! — mandou e eu já pulei da cama. — ! — Eles entraram no quarto, minha prima tentando segurar o braço dele, mas a jogou em cima da cama.
— Eu sou matar esse merdinha! — Foi para cima do que já se arrastava para trás no chão tentando se levantar, mas ele não conseguiu e lhe deu uma facada na barriga, fazendo eu e berrarmos.
— Para, pelo amor de Deus! — Minha prima se levantou da cama apavorada, vendo esfaqueando o várias vezes na barriga. — Não! — Segurou o braço dele, mas ele a empurrou e deu uma facada na barriga dela também! Céus, ele estava descontrolado, eu não sabia o que fazer, não conseguia me mexer. — — ela sussurrou com a mão na barriga e o olhou, escorando a parede até cair sentada no chão ao lado de . — Meu amor. — Ela segurou a mão dele e tentou se mexer, fazendo uma cara de dor, mas não conseguiu.
— Olha o que vocês me fizeram fazer! — soltou a faca e deu uns passos para trás, colocando a mão na cabeça.
— Meu Deus! — Minha mãe apareceu e gritou assustada. — ! — Correu até minha prima. — Querida, aguente firme. — Colocou a mão na barriga dela. Eu queria fazer qualquer coisa para ajudar, mas não dava. Minhas pernas estavam travadas. — , liga para a emergência! — mandou e tentei pegar meu telefone, mas minhas mãos tremiam tanto que ele caiu no chão.
— O que aconteceu? — entrou, correndo no quarto e puxou minha mãe para trás. — , . — Segurou o rosto de sua irmã que tinha os olhos fechados agora. — Abre os olhos. — Olhou para o . — Cara, o que você fez? — Encarou , que se abaixou no canto do quarto e começou a chorar.
— Eu não sei — disse, segurando a cabeça e colocando ela entre suas pernas. — Eu não sei. — E agora foi a minha vez de começar a chorar, desesperada. Ouvi a risada de e isso me fez olhá-lo, depois começou a rir também. — Ah! — se levantou do chão, gritando e rindo. — Enganamos um bobo na casca do ovo. — Todo mundo começou a rir, menos eu e a minha mãe.
— Mas que palhaçada é essa? — ela perguntou irritada, vendo que aquilo tinha sido uma pegadinha. Eu não conseguia acreditar que eles tinha me pegado.
— Como é que se chama mesmo? Mikkel, o palhaço assassino? — debochou, rindo.
— Era piada? — Minha mãe olhou para todos e se encostou na parede, escorando por ela até cair no chão. — Eu não acredito que era brincadeira! — Jogou um chinelo em cima de e outro em . — Vocês queriam me matar do coração?
— Desculpe, Anne, mas você ajudou a na brincadeira do transexual — falou com a minha mãe e a ajudou a se levantar, mas ela começou a estapeá-lo.
— Eu fiquei cardíaca depois dessa! — Deu até mesmo um tapa no , que não se aguentava de tanto rir. — Meu Deus, eu preciso de um chá. — Ela saiu do quarto com a mão na cabeça.
— . — me olhou e eu estava séria encarando todos eles. Estava estática, ainda não conseguia me mexer depois de tudo aquilo. — Você está bem? — Ele se aproximou, mas o empurrei.
— Vocês são um bando de babacas! — falei puta da vida e sequei meu rosto. — Eu pensei que você tinha matado o e a minha prima! — Comecei a bater no , que ria sem parar.
— A faca é aquela de mentira. — a pegou do chão e me mostrou. — Ela está cheia de sangue falso — explicou, mas eu não queria saber.
— Foda-se! — Empurrei e saí andando, batendo a porta quando passei por ela. — Também quero chá — falei, puxando um banco e me sentando ao balcão. — Você está bem?
Minha mãe concordou com a cabeça, enquanto massageava o próprio peito, provavelmente tinha doído por causa do susto. Estava preocupada com ela. Aquilo tinha sido bem pesado. Não tinha nem como saber que era trollagem. Nossa, realmente achei que o estava matando todo mundo. Estava com raiva dele e de todo mundo. Não deveriam ter brincado daquele jeito. Aquilo teria volta. Ah, mas como teria!
— Vou sentar lá fora — avisei, levantando do banco, não conseguia ficar ali. Se eu visse qualquer um deles, iria acabar socando alguém.
Cruzei a sala, abri a porta da varanda e me sentei na cadeira que estava virada para a praia. Já estava de noite. Nossa, que raiva! Não acredito que não consegui fazer nada! Não acredito que nem ao menos consegui me mexer. Eu já chorava de novo, mas era de nervoso. Ouvi um barulho e sequei rapidamente meu rosto, mas não olhei para ver quem era.
— Me desculpa. — Era e ele já puxava uma cadeira, se sentando do meu lado. Mas o ignorei. — Não achei que você fosse acreditar naquilo. — Continuei fingindo que ele não existia. — Fala comigo — pediu. — Foi ideia da , ela parecia boa, não pensamos que vocês se assustariam tanto.
— Você só me deu isso para não desconfiar de nada? — Olhei para o anel, morrendo de raiva. Não conseguia, ser paranoica era mais forte do que qualquer outra coisa.
— O quê? — Ele se assustou. — Claro que não!
— Para de mentir para mim! — berrei com ele e o encarei. — Isso foi tudo parte do plano de vocês! O pedido de namoro, o anel... Eu não deveria ter aceitado! — Tirei o anel do meu dedo. — Como não percebi antes. Tudo faz sentido agora! Bem que desconfiei que tinha sido fácil demais! — Joguei ele em cima de .
— , para com isso — pediu, pegando o anel do chão. — Não teve nada a ver o anel e o pedido de namoro com a brincadeira. — Já me levantei da cadeira, não queria escutá-lo.
— Claro que teve! — rebati, chorando de novo. — Agora me esquece, ! — Saí andando em direção à praia, mas ele segurou minha mão.
— Oi? Você está terminando comigo? — O encarei com raiva e puxei minha mão de volta.
— Estou! — Ele me encarou em choque e eu só consegui me sentar na escada da varanda.
— ! Vem resolver essa merda que você me enfiou! — entrou em casa berrando. — A terminou comigo por sua causa! — Consegui ouvi-lo.
— Ela o quê? — minha prima falou alto. — Ela deve estar curtindo com a sua cara! — Agora sua voz estava mais perto. — , você terminou de verdade com o ? — perguntou atrás de mim, e eu concordei com a cabeça. — Você está ficando maluca? — Claramente eu estava.
— Eu? Eu que estou maluca? Vocês quase me matam do coração e levam minha mãe junto e eu que estou maluca? — Encarei minha prima e ela ergueu as sobrancelhas. — Tanta gente por aí, e ele vai querer ficar logo comigo, cheia de minhocas na cabeça! — rebati, chorando e se sentou do meu lado. — Eu sou toda paranoica. Ele não tem nada que ficar comigo.
— Ah, pare de falar merda. — Minha prima deu um tapa na minha perna. — gosta de você.
— Ela disse que dei o anel e a pedi em namoro por causa da brincadeira. — parecia uma criança reclamando e aquilo até soaria engraçado se não fosse tão trágico.
— Tem como vocês calarem a boca! — gritei com os dois. — Me deixem sozinha! — mandei, colocando minhas mãos em meus ouvidos, sem vontade nenhuma de ouvir eles.
Os dois saíram e me deixaram sozinha. Fiquei ali sentada na escada chorando até que minha mãe apareceu com o chá e me entregou, sentando-se ao meu lado sem falar absolutamente nada. Era isso que eu mais amava nela, o silêncio quando era preciso. Ela sabia que eu estava mal e que qualquer coisa que falasse iria piorar as coisas.
tinha sumido e não tinha me falado onde tinha ido. Sabia que não era para ficar paranoica, mas depois do que fizemos com Sophie, era impossível não ficar. Não queria ligar para ele e perguntar o que estava fazendo, não queria parecer uma namorada ciumenta. Nós estávamos namorando tinha dois dias. Ele não faria nada, faria? Não, ele não faria. gostava de mim ou não teria me pedido em namoro, muito menos ter me dado o anel com um diamante.
— , você sabe quem mudou os nomes dos contatos de mulheres do meu celular para puta? — perguntou de forma distraída, deitado ao meu lado na cama, e eu até iria rir se não estivesse com a cabeça em outro lugar. — Agora eu não sei mais quem é quem.
— Puta? Quem é puta? Não conheço ninguém com esse nome. — Ele me olhou sem entender nada, até que me toquei. — Você está me chamando de puta? — ergueu uma sobrancelha.
— Não, mudaram os nomes dos meus contatos. — Virou a tela de seu iPhone para mim. — Você sabe quem foi?
— Não faço ideia — respondi, fazendo a sonsa e lembrando que tinha feito o mesmo no de , mas ele ainda não tinha notado.
— Está tudo bem? — jogou seu aparelho de lado, desistindo, então o encarei rapidamente. Eu estava transparecendo muito? Não. Não estava. Ou estava?
— Não. Sim. Não. Sim. Não está. — Cheguei por fim à conclusão e ficou rindo da minha cara. — Você sabe onde o está?
— Eu vi ele indo para a casa das Blossoms. — Uni as sobrancelhas. O que ele tinha ido fazer lá sem me falar? — Você está com raiva porque ele não avisou, não é? — Concordei com a cabeça. — Podemos nos vingar dele.
— Me diga mais sobre isso. — Fiquei muito interessada.
— Vamos fingir que nós transamos e acabamos dormindo abraçados. Podemos pedir para o Troy mandar uma mensagem para ele falando que viu algo estranho acontecendo. E colocamos a câmera escondida para filmar a reação dele. — tinha um sorriso perverso no rosto, e eu simplesmente amei aquilo. — A nem precisa saber, ela até mesmo saiu com o pessoal para fazer compras. — Sem dúvidas estava ficando cada vez melhor. — O que acha?
— Eu amei. Vamos chamar o Troy. — Já levantei da cama.
Fomos atrás do Troy, que estava deitado no sofá vendo televisão. Explicamos para ele o plano, que já concordou no mesmo instante. Ele pegou a câmera dele e colocou no quarto em um lugar que desse para ver tudo e que não fosse notar. Pegamos uma camisinha, abrimos e deixamos o pacote no chão. Tirei minha roupa, ficando apenas de short e sutiã tomara que caia. ficou só de bermuda e jogou outra no chão, junto à cueca e uma regata, e eu fiz o mesmo, espalhando outras roupas minhas como se tivesse tirado e jogado por onde passava. Nos deitamos na cama e nos cobrimos até a altura do peito, ele me abraçou por trás e aquilo foi bem estranho. Troy apagou a luz enquanto nós ríamos e foi para a sala. Não demorou muito para ouvirmos o barulho da porta da frente sendo batida.
— Cadê eles, Troy? — berrou com raiva.
— Calma, cara. Eu não sei se aconteceu realmente alguma coisa. Só ouvi uns barulhos suspeitos e como só nós três não saímos... — Não conseguiu terminar a frase, a porta do quarto foi aberta. — , espera. — A luz foi acesa.
— Que porra é essa? — gritou tão alto que me assustei e já abri os olhos rapidamente. — Eu não acredito. — Pegou uma muda de roupa do chão e jogou em cima de nós dois.
— , calma. Eu posso explicar. — se sentou e eu levantei o edredom até meu pescoço, me escondendo.
— Você vai explicar para a minha mão dentro da sua boca, seu merda! — Puxou para fora da cama de um jeito bruto que já me fez ficar realmente apavorada.
— , não faz nada com ele. A gente pode explicar — pedi, mas ele não me dava ouvidos.
— Eu vou te matar! Você estava comendo a minha mulher! — Socou a cara de e eu arregalei meus olhos.
— Para! — Troy pegou e o puxou para trás.
— Você não tem consideração por ninguém! Nenhum dos dois! O que a vai achar disso? Hm? Ela ama vocês! — estava vermelho de tão nervoso. — Me solta, Troy! Isso não vai ficar assim! — Empurrou o menino e saiu do quarto.
— Meu Deus! Alguém precisa falar com ele que isso é uma brincadeira. — Olhei para e Troy que tinha cara de chocados. — Façam alguma coisa!
— , o que você está fazendo? — Ouvi a voz de alarmada. — O que está acontecendo? , solta essa faca! — mandou e eu já pulei da cama. — ! — Eles entraram no quarto, minha prima tentando segurar o braço dele, mas a jogou em cima da cama.
— Eu sou matar esse merdinha! — Foi para cima do que já se arrastava para trás no chão tentando se levantar, mas ele não conseguiu e lhe deu uma facada na barriga, fazendo eu e berrarmos.
— Para, pelo amor de Deus! — Minha prima se levantou da cama apavorada, vendo esfaqueando o várias vezes na barriga. — Não! — Segurou o braço dele, mas ele a empurrou e deu uma facada na barriga dela também! Céus, ele estava descontrolado, eu não sabia o que fazer, não conseguia me mexer. — — ela sussurrou com a mão na barriga e o olhou, escorando a parede até cair sentada no chão ao lado de . — Meu amor. — Ela segurou a mão dele e tentou se mexer, fazendo uma cara de dor, mas não conseguiu.
— Olha o que vocês me fizeram fazer! — soltou a faca e deu uns passos para trás, colocando a mão na cabeça.
— Meu Deus! — Minha mãe apareceu e gritou assustada. — ! — Correu até minha prima. — Querida, aguente firme. — Colocou a mão na barriga dela. Eu queria fazer qualquer coisa para ajudar, mas não dava. Minhas pernas estavam travadas. — , liga para a emergência! — mandou e tentei pegar meu telefone, mas minhas mãos tremiam tanto que ele caiu no chão.
— O que aconteceu? — entrou, correndo no quarto e puxou minha mãe para trás. — , . — Segurou o rosto de sua irmã que tinha os olhos fechados agora. — Abre os olhos. — Olhou para o . — Cara, o que você fez? — Encarou , que se abaixou no canto do quarto e começou a chorar.
— Eu não sei — disse, segurando a cabeça e colocando ela entre suas pernas. — Eu não sei. — E agora foi a minha vez de começar a chorar, desesperada. Ouvi a risada de e isso me fez olhá-lo, depois começou a rir também. — Ah! — se levantou do chão, gritando e rindo. — Enganamos um bobo na casca do ovo. — Todo mundo começou a rir, menos eu e a minha mãe.
— Mas que palhaçada é essa? — ela perguntou irritada, vendo que aquilo tinha sido uma pegadinha. Eu não conseguia acreditar que eles tinha me pegado.
— Como é que se chama mesmo? Mikkel, o palhaço assassino? — debochou, rindo.
— Era piada? — Minha mãe olhou para todos e se encostou na parede, escorando por ela até cair no chão. — Eu não acredito que era brincadeira! — Jogou um chinelo em cima de e outro em . — Vocês queriam me matar do coração?
— Desculpe, Anne, mas você ajudou a na brincadeira do transexual — falou com a minha mãe e a ajudou a se levantar, mas ela começou a estapeá-lo.
— Eu fiquei cardíaca depois dessa! — Deu até mesmo um tapa no , que não se aguentava de tanto rir. — Meu Deus, eu preciso de um chá. — Ela saiu do quarto com a mão na cabeça.
— . — me olhou e eu estava séria encarando todos eles. Estava estática, ainda não conseguia me mexer depois de tudo aquilo. — Você está bem? — Ele se aproximou, mas o empurrei.
— Vocês são um bando de babacas! — falei puta da vida e sequei meu rosto. — Eu pensei que você tinha matado o e a minha prima! — Comecei a bater no , que ria sem parar.
— A faca é aquela de mentira. — a pegou do chão e me mostrou. — Ela está cheia de sangue falso — explicou, mas eu não queria saber.
— Foda-se! — Empurrei e saí andando, batendo a porta quando passei por ela. — Também quero chá — falei, puxando um banco e me sentando ao balcão. — Você está bem?
Minha mãe concordou com a cabeça, enquanto massageava o próprio peito, provavelmente tinha doído por causa do susto. Estava preocupada com ela. Aquilo tinha sido bem pesado. Não tinha nem como saber que era trollagem. Nossa, realmente achei que o estava matando todo mundo. Estava com raiva dele e de todo mundo. Não deveriam ter brincado daquele jeito. Aquilo teria volta. Ah, mas como teria!
— Vou sentar lá fora — avisei, levantando do banco, não conseguia ficar ali. Se eu visse qualquer um deles, iria acabar socando alguém.
Cruzei a sala, abri a porta da varanda e me sentei na cadeira que estava virada para a praia. Já estava de noite. Nossa, que raiva! Não acredito que não consegui fazer nada! Não acredito que nem ao menos consegui me mexer. Eu já chorava de novo, mas era de nervoso. Ouvi um barulho e sequei rapidamente meu rosto, mas não olhei para ver quem era.
— Me desculpa. — Era e ele já puxava uma cadeira, se sentando do meu lado. Mas o ignorei. — Não achei que você fosse acreditar naquilo. — Continuei fingindo que ele não existia. — Fala comigo — pediu. — Foi ideia da , ela parecia boa, não pensamos que vocês se assustariam tanto.
— Você só me deu isso para não desconfiar de nada? — Olhei para o anel, morrendo de raiva. Não conseguia, ser paranoica era mais forte do que qualquer outra coisa.
— O quê? — Ele se assustou. — Claro que não!
— Para de mentir para mim! — berrei com ele e o encarei. — Isso foi tudo parte do plano de vocês! O pedido de namoro, o anel... Eu não deveria ter aceitado! — Tirei o anel do meu dedo. — Como não percebi antes. Tudo faz sentido agora! Bem que desconfiei que tinha sido fácil demais! — Joguei ele em cima de .
— , para com isso — pediu, pegando o anel do chão. — Não teve nada a ver o anel e o pedido de namoro com a brincadeira. — Já me levantei da cadeira, não queria escutá-lo.
— Claro que teve! — rebati, chorando de novo. — Agora me esquece, ! — Saí andando em direção à praia, mas ele segurou minha mão.
— Oi? Você está terminando comigo? — O encarei com raiva e puxei minha mão de volta.
— Estou! — Ele me encarou em choque e eu só consegui me sentar na escada da varanda.
— ! Vem resolver essa merda que você me enfiou! — entrou em casa berrando. — A terminou comigo por sua causa! — Consegui ouvi-lo.
— Ela o quê? — minha prima falou alto. — Ela deve estar curtindo com a sua cara! — Agora sua voz estava mais perto. — , você terminou de verdade com o ? — perguntou atrás de mim, e eu concordei com a cabeça. — Você está ficando maluca? — Claramente eu estava.
— Eu? Eu que estou maluca? Vocês quase me matam do coração e levam minha mãe junto e eu que estou maluca? — Encarei minha prima e ela ergueu as sobrancelhas. — Tanta gente por aí, e ele vai querer ficar logo comigo, cheia de minhocas na cabeça! — rebati, chorando e se sentou do meu lado. — Eu sou toda paranoica. Ele não tem nada que ficar comigo.
— Ah, pare de falar merda. — Minha prima deu um tapa na minha perna. — gosta de você.
— Ela disse que dei o anel e a pedi em namoro por causa da brincadeira. — parecia uma criança reclamando e aquilo até soaria engraçado se não fosse tão trágico.
— Tem como vocês calarem a boca! — gritei com os dois. — Me deixem sozinha! — mandei, colocando minhas mãos em meus ouvidos, sem vontade nenhuma de ouvir eles.
Os dois saíram e me deixaram sozinha. Fiquei ali sentada na escada chorando até que minha mãe apareceu com o chá e me entregou, sentando-se ao meu lado sem falar absolutamente nada. Era isso que eu mais amava nela, o silêncio quando era preciso. Ela sabia que eu estava mal e que qualquer coisa que falasse iria piorar as coisas.
13. Sweater Weather
Estava de pé na varanda, com minha caneca de café na mão, olhando para a praia, sentindo a brisa gelada bater em meu rosto, jogando meu cabelo para trás, fazendo os fios se embolarem. Hoje o dia estava nublado e até mesmo um pouco frio para o verão, o que fazia minha mão livre abraçar meu braço oposto como se fosse capaz de me proteger daquele clima nada favorável. Poderia ter colocado uma calça e um casaco, mas não pensei que aqui fora estaria assim. Apesar de tudo, até que estava gostando de ficar ali parada, tomando meu café quente. Aquilo me ajudava a pensar com mais clareza, como se o frio fosse capaz de esfriar minha cabeça exatamente da forma como ela precisava.
Ainda pensava sobre minha mãe e em como ela deveria estar. Ainda estava tendo o mesmo pesadelo e ainda acordava sufocada, mas parecia que estava começando a me acostumar com aquilo, por pior que fosse, pois tinha para mim que, a partir do momento que parasse de sentir medo e ficasse apavorada, aquilo iria parar. Bem, não sei se estava funcionando, mas estava pelo menos tentando. não ficaria ao meu lado todas as noites, nossos dias juntos estavam contados, então não podia continuar com aquela dependência toda dele. Aquilo me ferraria muito no final, mais do que agora, sabia disso. E para que isso não acontecesse de uma forma tão pesada, já estava começando a trabalhar aquilo tudo secretamente em minha mente. Plantando a semente para que ela se tornasse uma ideia e, por fim, virasse algo de fato.
Mas outra coisa que estava tomando minha atenção era , ela não estava falando conosco, vulgo eu, , Troy, e desde quinta-feira, sempre nos ignorava completamente que chegava até a ser engraçado se não fosse realmente preocupante. Não para mim, pois éramos família, ela um dia voltaria a falar comigo de qualquer forma, nem que fosse por livre e espontânea pressão. Mas o que estava mesmo me deixando apreensiva era o fato de ela não estar nem olhando na cara de por algo que eu dei a ideia de ser feito. Nós ficávamos zoando minha prima, com seu humor incrível conseguia tornar aquela situação uma coisa cômica, mas estava quase morrendo por isso, dava para ver em seus olhos a forma triste que ele estava, e aquilo sim me matava por dentro, me fazendo perceber que era realmente importante para ele e que de fato tinha criado sentimentos reais por ela. Não era apenas um romance de verão, era mais do que isso para ele, até mesmo o peguei chorando por causa do término deles. E aquilo mexia comigo, vê-lo sofrendo não era um dos meus passatempos preferidos quando eu era eu a causadora da dor, ok, nem tanto. era um dos meus melhores amigos e eu odiava profundamente ver o brilho de seus olhos roubados, assim como Cheryl fez. Esperava que ele e voltassem depois que a raiva dela passasse. Eu tentei ajudar, juro que tentei, mas nada que eu falava adiantava, ela apenas fingia que não me ouvia e saía de perto como se eu nem estivesse ali. E mesmo que aquilo me causasse raiva, não tinha nada para falar, eu merecia o gelo, todos nós merecíamos, só que... Sei lá, eu estava com pena do e tentaria de tudo para reverter aquilo, por ele.
Meus pensamentos foram completamente roubados com o susto que levei quando algo segurou minha cintura por trás, e pelo berro no meu ouvido descobri ser . Dei um pulo, quase virando o café em cima de mim e me virei, já dando uns tapinhas nele enquanto ria junto ao idiota. Ele me puxou para perto e me beijou, roubando todo meu fôlego em questão de segundos, e, como sempre, me derreti em seus braços, desistindo de fazer qualquer coisa contra aquela criatura. Cada dia que passava eu gostava ainda mais dele, me surpreendendo até comigo mesma.
— Não acha que está frio demais para você estar de short aqui fora? — perguntou de um jeito carinhoso, passando seu nariz pela lateral do meu.
— Eu acho que você poderia me esquentar. — Coloquei minha mão livre por debaixo de seu suéter, tocando sua barriga.
— Não me provoca desse jeito, . — Mordeu meu lábio inferior de um jeito gostoso. — A casa está cheia e não vamos fazer nada. — E aquilo me tentava cada vez mais, gostava de um perigo.
— Eu sei, mas gosto de ver a forma como você fica quando te provoco. — Passei minhas unhas por sua pele, depois deixei as pontas de meus dedos deslizarem por ela, vendo que havia ficado arrepiado por conta daquilo. — Você deveria ser interditado, sabia? — brinquei, dando um sorriso.
— Interditado? — Ele riu um pouco, unindo as sobrancelhas.
— Sim. Você, a partir de agora, está proibido de ser tão lindo e gostoso. É um perigo à humanidade, pode causar demência nas mulheres, principalmente em mim. — Rimos juntos daquilo que falei, mas era pura verdade. O efeito que ele causava era assustador.
— Bem, se é assim também, terei que te interditar. — Sua mão apertou minha cintura, me causando uma sensação gostosa que me fez sorrir. — Nós deveríamos parar com isso, está realmente ficando difícil de me controlar perto de você, e olha que ainda são oito da manhã. — Ele tinha total razão, também estava difícil de me controlar perto dele. realmente me tirava dos eixos.
— ! — uma voz infantil gritou, o que nos fez olhar para a mesma direção. Vi um garotinho de cabelo cumprido e levemente cacheado, os fios eram bem maiores do que de , eles caíam até o meio de suas costas, mas a cor era a mesma. Ele veio correndo ao nosso encontro.
— Hey, garotão! — me soltou e se abaixou, abraçando o menino, que tinha os traços muito parecidos com os deles. — Estava com saudades! — O tirou do chão e o rodou.
— Também estava com muitas saudades! — Seus braços finos apertavam o pescoço de com força. — Fiquei muito feliz quando papai disse que iríamos te ver — falou, assim que foi colocado no chão.
— Também fiquei. — Deu um lindo sorriso, deixando suas covinhas à mostra. — Noah, quero te apresentar a . — Gesticulou em minha direção.
— Olá! — Estendi a mão para Noah, que me olhava com um sorriso igual ao de seu irmão.
— Oi. — Segurou minha mão e a balançou, soltando logo em seguida. — Você não está com frio? — Sua pergunta me fez rir.
— Um pouco. — Pisquei um olho para ele com um sorriso de lado. — Mas o café me esquenta.
— Eca, café. — Fez uma careta engraçada, nos causando uma risada. — A mulher bonita que atendeu a porta é a sua mãe? — Certamente ele se referia à tia Anne.
— Ela é a minha segunda mãe — falei, ainda com um sorriso. — Você está com fome? Posso fazer panquecas. — Ele olhou para como se pedisse permissão para aceitar.
— Ela faz as melhores panquecas do mundo — disse, piscando para o irmão.
— Não exagere, . — Empurrei seu ombro de leve e ele riu, assim como Noah. — Anda, vamos entrar. — O pequeno já se virou e saiu correndo na frente.
— Espera — chamou, já segurando minha mão e me puxando.
— O que foi? — perguntei preocupada, achando que tinha algo de errado.
— Eu só quero fazer uma coisa antes. — Segurou minha nuca com delicadeza e me beijou lentamente, arrancando um suspiro meu.
— Você tem que parar com isso, sabia? — Sorri, olhando dentro de seus olhos .
— Parar com o quê? — sorriu de um jeito fofo.
— Você sabe o quê. — Me virei e saí andando. — Tia Anne, já está recebendo muito bem os nossos novos convidados — brinquei, ao vê-la toda sorrisos com o pai de .
— Querida, estou apenas sendo hospitaleira, já que você estava um pouco ocupada — respondeu de uma forma engraçada, me fazendo rir.
— É bom ficar ocupada da forma que eu estava — rebati e pude escutar a risada de atrás de mim.
— Acho que não me lembro da última vez que fiquei ocupada desse jeito. — Sem dúvidas, tia Anne era a melhor pessoa do mundo. — Você já conhece o Elliot ? — Apontou para o pai de .
— Ainda não — o próprio respondeu. — Você deve ser a , a garota que opera milagres, não é? — brincou, dando um passo à frente e estendendo a mão em minha direção.
— Bem, não sei se opero milagres, mas me chamo mesmo — brinquei de volta, segurando sua mão, fazendo ele rir.
— Só você mesmo para fazer meu filho sair daquele deserto e vir para a Califórnia — comentou, olhando por cima do meu ombro enquanto soltava minha mão. — Desde criança, sempre detestou praia. — Ergui minhas sobrancelhas, surpresa com aquela informação, e olhei para trás.
— Isso não é algo que costumo contar — falou comigo, dando um sorriso sem graça. — Mas, de qualquer forma, não vim pela praia. — Aquilo fez minhas bochechas ficarem vermelhas, então mordi meu lábio inferior e abaixei levemente a cabeça, voltando olhar para frente em uma tentativa de disfarçar.
— O que me faz crer ainda mais que essa menina opera milagre, ou então ela é muito especial, porque nada fez esse garoto sair do Las Vegas. — Elliot riu um pouco e passou por mim, o acompanhei com o olhar. — Sentimos sua falta. — Eles se abraçaram fortemente e ficaram daquele jeito por alguns segundos.
— Também senti a de vocês — respondeu, dando uns tapinhas no ombro de seu pai.
— Eu deveria puxar a sua orelha por não ter ido nos visitar nos últimos três anos. — Eles se afastaram. — Você sabe que é um sacrifício para que eu consiga uns dias de folga, e dessa vez só deu para ir porque estava perto. — Apesar de aquilo estar sendo um esporro, em momento nenhum Elliot elevou sua voz, em vez disso, ela estava carregada por tristeza.
— Eu sei. Me desculpe por isso, mas é que também não estava conseguindo sair de lá. — Seu pai estreitou os olhos, sabendo que aquilo era mentira, então imaginei as milhares de desculpas que deve ter inventado para não ir visitá-los.
— Então como conseguiu agora? Não me venha com desculpas de novo. — Colocou a mão no ombro de e o segurou.
— Eu dei meu jeito. — E eu tinha medo de saber que jeito era aquele que ele havia dado. — O que importa é que estamos todos aqui. — sorriu, tentando amenizar a situação.
— E por isso vou fazer panquecas para comemorar. — Levantei minha caneca de café e depois bebi o restante que estava dentro. — , por que você e o Noah não acordam o pessoal pulando em cima deles? — sugeri.
— Podemos? — Noah já me olhou empolgado e eu concordei com a cabeça.
— Os meninos estão dormindo lá em cima. — Apontei para a escada. — Tem um que tem o braço todo tatuado, até a mão. Nesse você pode puxar até o cabelo. — Indiquei , já dando uma risada. — Vai lá. — A criança já subiu correndo.
— Você não vale bosta nenhuma — falou, rindo e me encarando.
— Querido, se eu valesse, você nem estaria aqui. — Pisquei para ele e lhe mandei um beijo. — Você gosta.
— Gostei dela. — Elliot apontou em minha direção e riu. — Sincera e divertida, era disso que você precisava. — Deu um tapa nas costas do filho.
— Ah!! Me solta! — Ouvi Noah gritar lá de cima.
— Acho que ele está precisando de ajuda. — Ergui uma sobrancelha e subiu correndo, nos causando risadas. — Tia, você me ajuda com as panquecas?
— Claro, querida. — Sorriu e já fomos para a cozinha. — Elliot, quer um suco ou um café enquanto isso?
— Aceito um café, mas quero ajudar vocês. — Já começou a levantar as mangas de sua camisa.
Nós começamos a preparar o café da manhã. Tia Anne cuidou das bebidas, eu fiz a mistura da panqueca e Elliot fritou tudo, inclusive porções de bacon com ovos, o que fez a tropa descer por conta do cheiro gostoso. Até mesmo Naomi, Ruby, Kate, Ella e Sophie apareceram para comer conosco, certamente um dos meninos deve ter chamado. A loira, digo, agora roxa, pois teve que aderir à nova cor e acabou de pintar o cabelo todo, estava se comportando, nem parecia que me odiava mortalmente por achar que eu tinha feito aquilo com ela. se distraía com Noah, implicando e brincando com o menino. Ele gostava de crianças, pena que Cheryl havia se mudado para New York logo depois que Bear nasceu e impedia quase sempre de ver o próprio filho, sempre dava uma desculpa diferente quando ele falava que iria visitá-los e mal deixava meu amigo ver o menino pelo FaceTime. Nunca entendi o motivo pelo qual ela fazia aquilo, mas também não era para entender, Cheryl era doida.
— , depois você pode me ajudar com uma coisa — Sophie pediu, fazendo com que eu, e o a olhássemos no mesmo instante.
— Eu? Não pode ser outra pessoa? — ele perguntou de uma forma seca que fez minha prima dar uma pequena risada.
— Se fosse para pedir para outra pessoa, eu teria pedido — rebateu, e eu ergui as sobrancelhas com aquilo. apenas riu.
— O que você quer? — Se rendeu por fim, sabendo que o que Sophie tinha de chata tinha de insistente.
— Não sei muito explicar o que é, preciso te mostrar. Depois vai lá em casa — pediu de uma forma mais educada. Naomi que pegou o final da conversa já fez uma cara estranha.
— Ok. — deu de ombros e segurou minha coxa, a apertando. — Se eu não voltar, pode chamar a polícia, pois ela me matou — brincou, me fazendo rir.
— tem dado muito trabalho? — Elliot perguntou, nos olhando.
— Não, ele é adorável — respondei, sorrindo.
— Adorável quando não se finge de morto, né — Tia Anne interviu, nos lançando um olhar de censura.
— Se fingindo de morto? — Elliot achou graça e nós já começamos a rir, lembrando da pegadinha. que estava até de bom humor, já fechou a cara.
— Com licença. — Pegou suas coisas e se levantou, e foi logo atrás dela.
— O que você aprontou? — já quis saber, percebendo que tinha algo de errado.
— Essas crianças que não sabem o que é limite. Esses dois resolveram que seriam o Romeu e a Julieta da modernidade. — Tia Anne gesticulou em nossa direção. — Eu não sei o que aconteceu direito, só sei que quando cheguei ao quarto, o estava chorando no canto, a com cara de quem viu um palhaço assassino, o desesperado segurando a , enquanto os dois estavam jogados no chão todos ensanguentados — explicou brevemente, nos fazendo rir, então falou melhor o que aconteceu. — Ah, então foi isso? Entendi por que está com tanta raiva de vocês.
— E com razão. Se fosse eu, nem saberia como reagir — comentou, nos lançando um olhar recriminador. — Vocês foram longe demais dessa vez.
— Mas foi divertido — Troy rebateu de uma forma superior. — Melhor do que quando o Daniel achou a e a amarradas no banheiro. A cara de vocês duas foi impagável.
— Impagável vai ser o raio-X que vão tirar da sua bunda com meu sapato enfiado nela. Quer ver? — Tia Anne ameaçou, fazendo todo mundo rir, até mesmo ela riu depois. — Eu quase tive uma coisa do coração. Imagine só. O que eu falaria para os pais de vocês?
— Falaria que morremos juntos. — Olhei para e sorri, segurando sua mão que estava sobre minha coxa. — Que ao me deparar com morto me desesperei, beijei seus lábios em súplica para que não me deixasse e depois peguei o punhal amaldiçoado e gravei em meu peito, dando um último suspiro e deixando meu corpo cair sobre o dele. — Fingi apunhalar meu próprio peito e me joguei em cima de de olhos fechados, que me segurou.
— Oh! Minha querida Julieta, por que estás tu ainda tão bela? — recitou como se fosse o próprio Romeu falando enquanto passava a mão em meu rosto. — Devo acreditar que o incorpóreo fantasma da morte se apaixonou por ti, e que esse monstro esquálido e hórrido te guarda aqui na escuridão para fazer de ti sua amante? — Aquilo me fez rir e umedecer meus lábios, tentando ficar séria, mas ele riu junto. — É para te defender que ficarei a teu lado para sempre e nunca mais abandonarei este palácio, onde reina a sinistra noite.
— Isso está ao contrário, não? — perguntou de forma curiosa. — Julieta se mata depois que Romeu tomou o veneno. Não era?
— , não estraga a brincadeira. esta recitando Shakespeare para mim sem errar nenhuma fala. — Abri os olhos e encarei meu irmão, que riu junto comigo.
— Nossa, vocês são tão bregas. — Sophie fez uma cara de desdém.
— Só porque não é contigo — Naomi respondeu, logo lhe lançando um olhar rápido para que ela calasse a boca.
— Vamos lá, nós somos bregas, lixos, idiotas, temos problemas mentais... Esqueci de algo? — Ergui uma sobrancelha enquanto a encarava. — Não sei nem o que está fazendo aqui se não gosta de nós, na verdade você não gosta de mim, porque do acho que gosta até demais — os meninos berraram em coro e eu me sentei. — Inveja não mata, mas faz mal para você, sabia?
— Acha mesmo que eu tenho inveja de você? — Deu uma risadinha. — Me poupe, né? Olhe para você. Não tem nada de atrativo, sinceramente não sei o que viu.
— Eu vi uma mulher de verdade, o que você não é — respondeu, colocando os cotovelos sobre a mesa e segurando seu queixo com as mãos, e o pessoal gritou de novo, batucando na mesa agora. — E se você realmente fosse tão interessante como diz, todos dessa casa estariam loucos para ficar contigo, o que não falta aqui é homem. — Ele parou e olhou para os lados. — E sabe o que é o pior, não vejo ninguém aqui que pediu sua opinião sobre nós.
— Dorme com um barulho desses! — falei, batendo na mesa em forma de vitória. — É aquele ditado, né. Fala o que não deve, escuta o que não quer. — Mandei um beijo para Sophie, que já estava vermelha de raiva. — Vaza daqui, Barney. — Joguei uma bolinha de papel guardanapo nela, que já se levantou sem falar nada.
— Poxa, não xinga o Barney, ele era legal — Troy disse, rindo um pouco, enquanto ignorávamos totalmente Sophie, que já se retirava. — Nunca entendi por que fizeram o dinossauro roxo.
— Deve ser para chamar atenção — Charlie respondeu, enquanto tomava seu suco. — E não procura muito entender programa infantil, geralmente eles não fazem o menor sentido.
— Bem, eu quero a atenção de todos. — bateu a colher no copo e todo mundo se calou. — Alguém poderia chamar a e o ? — pediu.
— e , tem como vocês brigarem depois e virem aqui? — chamou alto e logo ouvimos uma porta batendo e minha prima aparecendo, pisando duro, de braços cruzados. — Cadê o ?
— Talvez no inferno — respondeu de mau humor, se sentando na cadeira.
— Vocês têm que parar com isso, não aguento mais ele chorando no meu ouvido por sua causa — disse de forma séria e fingiu não o ouvir.
— O que foi? — apareceu, seus olhos estavam vermelhos, o que indicava que ele estava chorando.
— quer falar alguma coisa. — Dei de ombros e olhei para ele ao meu lado, esperando que começasse.
— Certo, já que todas as pessoas importantes da minha vida estão aqui, eu quero fazer uma coisa. — Ele sorriu e me olhou, fazendo um frio na minha barriga aparecer. — Eu pensei nisso diversas vezes, ensaiei na minha cabeça diversas formas para dizer isso, mas nunca encontrei um momento e muito menos as palavras perfeitas, não como você. — Minhas bochechas queimaram enquanto me olhava dentro dos olhos. — Então percebi que nada que eu fizesse chegaria aos seus pés, nem ao menos se eu desse um anel de brilhante como deu para a . — Ele abaixou levemente a cabeça e eu estava ficando nervosa e ansiosa com aquilo. — Pensei até que deveria ter guardado o cordão para esse momento, pois ele era a coisa mais valiosa que eu tinha, só que ainda assim não seria o bastante. — Voltou a me olhar. — Porque nada nunca vai ser o bastante para demonstrar o que você me faz sentir aqui dentro. — Pegou minha mão e colocou em seu peito, e pude sentir o quanto seu coração estava extremamente acelerado, assim como o meu. E naquele segundo eu esqueci todo o resto, como se só tivesse nós dois ali. — Mas por fim eu vi que, para você, o que faz diferença são os momentos e não algo de valor, que símbolos e palavras lavem mais do que qualquer coisa. — Sua mão se soltou da minha e foi para seu bolso, pegando algo lá de dentro e depois levantando seus dedos, mostrando dois anéis de coquinho em seu indicador. — E quando eu vi isso na feira de artesanato, achei que seria perfeito para nós. — Pegou minha mão direita e colocou o anel menor em meu anelar. — , você aceita namorar comigo? — perguntou, com um sorriso lindo no rosto, aquele que sabia que me matava por dentro.
— Não — respondi e a feição de mudou no mesmo instante, então comecei a rir. — É claro que aceito! — Peguei o outro anel dele e coloquei em seu dedo da mão direita. — Aceito agora, e sempre. — Abracei seu pescoço e ele me abraçou de volta. — Amei o anel de coquinho. Nunca tive um desse.
— Quando você quiser me matar do coração, avisa primeiro — rebateu e se afastou, me beijando. O pessoal começou a gritar. — Imaginei que você fosse gostar.
— Acho justo nós brindarmos isso — disse, levantando sua caneca e todo mundo fez o mesmo. — Tenho certeza de que você fará a minha irmã muito feliz — falou com , que sorriu abertamente. — Ela não poderia ter encontrado alguém melhor.
— Vocês são perfeitos juntos — comentou, sorrindo, ela parecia estar feliz por nós.
— De longe, vocês são o melhor casal que eu já conheci — Naomi falou, dando um sorriso. — Me chamem para o casamento, sim — pediu e nós rimos.
— Pode deixar. — Pisquei para ela.
— Fico feliz por vocês — Bradley disse, nos olhando com um meio sorriso. E por mais que eu quisesse acreditar, não achava que era sincero.
— Obrigada — agradeci e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.
— Valeu — disse, dando um sorriso para Brad, que acenou com a cabeça.
— Isso é melhor do que Romeu e Julieta — Tia Anne disse, dando uma risada. — Quem são eles na fila do pão perto de vocês? Ninguém. — Aquilo fez todo mundo rir.
Acabamos de lanchar e depois saímos para dar uma volta na cidade, essa que levou o dia todo. Levamos Elliot e Noah à uma festa que estava tendo no centro, o que rendeu horas bem divertidas. Fiquei observando como tia Anne e o pai do estavam se dando bem. Seria um sonho se talvez eles ficassem? Melhor não criar expectativa, minha tia não namorava ninguém, segundo ela, a vida de solteira era a melhor coisa que tinha, e de certa forma não tirava a razão dela. Tanto sempre sem ninguém, já deveria estar mais do que acostumada.
Quando anoiteceu, nós fomos comer em um restaurante de frutos do mar e nem preciso dizer que eu comi que nem uma porca. Nossa, tinha cada camarão recheado! Aquilo deveria ter sido feito pelos Deus. No fim, fiquei conversando com Elliot, enquanto o pessoal jogava futebol de mesa com a tampinha do refrigerante, e ele me contou que era psicólogo e tals. Então falei por alto sobre o meu pesadelo que estava tendo, começamos a analisar o que poderia ser e contei o que aconteceu com minha mãe. Elliot disse que aquilo parecia um quadro de estresse pós-traumático, mas que não poderia dar nada concreto, que precisaria ir mais afundo e me recomendou procurar um psicólogo, ou aquilo poderia acabar piorando bastante.
Ótimo, agora eu tinha um problema real por causa da minha mãe. Era tudo o que eu precisava mesmo. Ela conseguiu mesmo ferrar comigo. Nossa, que raiva. Respirei fundo, tentando me acalmar, e percebeu logo que tinha algo de errado, já que sua mão deslizou por minha coxa, fazendo um carinho, atraindo toda a minha atenção. Dei um pequeno sorriso e me aproximei dele, lhe dando um selinho.
— Está tudo bem? — quis saber e eu afirmei com a cabeça.
— Vai ficar — respondi, passando meu nariz pelo dele.
— Vem cá. — Me puxou pela cabeça, me deu um abraço e eu fechei meus olhos, querendo chorar. Estava me sentindo uma fraca naquele momento.
— Eu acho que é melhor irmos — disse, e eu virei meu rosto para olhar para meu amigo. — Noah dormiu — comentou com o menino que estava com a cabeça encostada em seu ombro.
Respirei fundo e nos levantamos, pegou Noah no colo como se fosse seu filho, e achei aquilo bem fofo, ele seria um ótimo pai se Cheryl permitisse.
— O chão é lava! — Troy berrou no meio do restaurante.
— Porra, Troy! — reclamou, enquanto todos nós já tentávamos subir em algo, inclusive algumas pessoas que não conhecíamos começaram a subir nas coisas.
— Sai, ! — Empurrei ele, que estava empatando meu caminho, e quando fui me sentar em uma cadeira, puxou ela, me fazendo cair no chão e rolar para trás. — Filho da mãe! — reclamei, dando uma risada e chutei a cadeira no momento em que ele ia se sentar, fazendo com que caísse de bunda no chão. O pessoal já ria de nós dois. — O que vai, volta, amor. — Pisquei para ele, que ria da nossa desgraça.
— Voltou rápido dessa vez — respondeu, se levantando e me ajudando a levantar também. — Meu Deus, . — Então só aí que vi sentado com Noah ainda dormindo em seus braços, em cima de um vaso de flor.
— , a sua calça é clara — lembrei e ele olhou para baixo.
— Puta merda — disse e se levantou, virando de costas para nós. Eu só caí na gargalhada. — Está muito ruim?
— Parece que você acabou de se defecar — Tia Anne respondeu, fazendo todo mundo rir ainda mais. Sua bunda estava toda suja de terra preta.
— Nem pensar que você vai se sentar com essa bunda suja no banco do meu carro — já avisou.
— E eu vou voltar para casa como? — quis saber.
— A pé — sugeri, rindo ainda mais.
— , larga de ser dramático, é só colocar o tapete do carro no banco. — deu a solução fácil e prática, rindo também.
Fomos embora rindo um bocado. Quando chegamos, Eric deu a brilhante ideia de brincarmos de Eu Nunca, e todos concordaram. colocou Noah para dormir e foi se trocar. Então ficamos o esperando descer. Nós daríamos um gole da vodca, caso já tivéssemos feito algo que havia sido falado. Estávamos em vinte e um, então cada um teria direito a um desafio. Nos sentamos no chão, fazendo uma roda, e eu fiquei encostada no sofá. Pelo menos dessa vez não teria nenhuma garrafa rodando e eu não teria o perigo de quebrá-la e cortar a minha mão.
— Pronto. Vamos? — perguntou quando voltou já com uma calça limpa e se sentou ao lado de . — Quem começa?
— Eu — Brad falou, levantando a mão. — Eu nunca transei no carro. — Todo mundo ficou se olhando, esperando quem seria o primeiro a se entregar, então já estendi a minha mão, pedindo a garrafa.
— Quando você transou no carro? — quis saber, unindo as sobrancelhas.
— Ah, foi uma vez só. Foi bem ruim — me limitei a falar, enquanto A.J. já me entregava a garrafa que eu dava um gole. — O cara tinha um pau pequeno e fodia bem mal. — Meu irmão arregalou os olhos.
— Quero saber quando e não como foi? — Ele parecia meio incrédulo.
— Sei lá, uns três anos. Eu estava fazendo faculdade de escrita criativa na época. — Dei de ombros e pegou a garrafa de minha mão, dando um gole. — Olha só. Quantas vezes?
— Algumas. — Abriu um sorriso e eu continuei olhando para ele, esperando números. — Sei lá, eu não contei.
— Olha só, temos um senhor trepador aqui — zombei e o pessoal riu.
, Charlie, Eric, Theo, Elliot e Tia Anne beberam.
— Tia, tia — comentei e ela riu.
— Querida, eu nunca fui santa. — O pessoal gritou.
— Mãe, sem detalhes, por favor — pediu, nos fazendo rir.
— Minha vez agora — pediu e a garrafa voltou para ele. — Eu nunca traí. — Rapidamente tomei a garrafa de sua mão e dei um gole. — Temos uma traidora entre nós.
— Foi tiro trocado. — Dei de ombros e Tia Anne pegou a garrafa de mim. — Acho que é de família — comentei, rindo. — Quem você traiu, tia?
— Um babaca que eu namorei no colegial, ele era péssimo de cama. — Fez um gesto banal com as mãos.
— Vocês vão ficar falando que os caras são ruins de cama? — Theo quis saber, dando um gole na vodca.
— Bem, enquanto vocês se gabam falando que fazem super bem, nós estamos aqui para contar a verdade — rebateu, rindo um pouco.
— Ela é afrontosa — brincou.
— Fala mais que eu te jogo na rodinha também. — Minha prima o olhou de canto de olho e ergueu os braços.
Miguel, Troy, Naomi, Eric e Sara beberam também.
— Sou eu agora — disse, pegando a garrafa. — Eu nunca fui pego transando.
— Me dá isso aí — pedi e o pessoal riu.
— A já fez tudo, nem tem graça brincar com ela — falou, dando uma risada.
— Me conte mais sobre isso — quis saber e eu o olhei.
— Eu a peguei em uma festa da faculdade com um cara — Joe contou logo e minhas bochechas queimaram automaticamente. — Nunca vi alguém vestir uma roupa tão rápido na minha vida.
— Já está bom, Joe — o cortei e senti a garrafa ser tirada da minha mão, vendo tia Anne beber. — Como assim, tia?
— Ah, sua avó chegou bem na hora H. — Ela mesma riu da própria desgraça.
— E o que você fez? — perguntou.
— Eu ri de nervoso. O que mais eu poderia fazer? — respondeu, rindo de novo. — Nunca tomei uma coça tão bem dada na minha vida.
— Ainda bem que foi ela e não eu — comentou, fazendo uma cara de nojo. — Pelo menos teve sexo de recompensa?
— Não. Nunca mais vi o menino. — Todo mundo começou a rir.
— Ai, que triste — minha prima falou, ainda rindo.
Ruby, Derik, Eric, Miguel, Charlie e Joe beberam.
— Deixe-me ir — pediu e entregaram a garrafa para ele. — Eu nunca tive um filho. — Automaticamente o encarou, nos causando risadas.
— Isso não vale — reclamou, já pegando a garrafa e bebendo.
Tia Anne e Elliot beberam.
— Sou eu agora! — Peguei a garrafa e olhei para . — Eu nunca bati o carro.
— Olha aqui — minha amiga começou. — Me dá essa garrafa. — Riu e eu lhe entreguei.
Brad, Stephen, A.J., e Troy beberam.
— Minha vez — pediu e lhe voltaram a garrafa. — Eu nunca preguei uma peça em alguém — disse, enquanto me encarava com um sorrisinho no rosto.
— Canceriana essa menina. — Peguei a garrafa e dei um gole.
, , , Tia Anne, Troy, Eric, Joe e A.J. beberam.
— Posso ir agora? — pediu e lhe deram a garrafa. — Eu nunca fiz sexo a três. — Nesse momento, todo mundo se calou e eu senti olhares sobre mim.
— Ainda não cheguei a esse limite, gente — me defendi, levantando as mãos.
— Então... — Tia Anne falou. — Alguém pode me passar a garrafa? — pediu e a gente começou a rir.
— Por favor, não perguntem como foi — falou, enquanto entregava a garrafa para sua mãe.
— Pode me passar ela depois — Elliot disse e o olhou imediatamente. — Você tinha que puxar alguém, né. — Deu de ombros e todos começaram a rir.
— Ainda bem que sabe, me dê a garrafa depois. — Isso me fez erguer as sobrancelhas. — E antes que você pergunte. — me olhou, já com a garrafa na mão. — Foi em uma festa que eu fui no ano passado.
— E você acha que vai enfiar esse pau em mim depois disso? — Fiz uma cara de superior. — Deixe essa coisa longe da minha menininha. — O pessoal riu.
— Eram duas mulheres? — quis saber.
— Não, éramos três homens — respondeu, dando um gole na vodca. — É claro que eram duas mulheres.
— Não sei, vai que tinha um cara no meio. — Deu de ombros.
— Nessa vez foi com duas mulheres. — Fiquei boquiaberta com aquilo e riu. — Na outra foi um cara e uma mulher.
— E você ficou com ele? — Troy já perguntou todo empolgado.
— Talvez — disse, dando um sorriso. — Mais alguém?
— Por favor — Troy pediu a garrafa.
— Meu Deus, estou namorando um prostituto — falei, negando com a cabeça.
— Hey, eu não recebi para isso — se defendeu.
— Pior ainda! — soltei e todo mundo riu. — Foi por livre e espontânea vontade. Torna as coisas bem piores. — O encarei.
— Vai encrencar com isso? — perguntou, sem tirar o sorriso do rosto.
— Já encrenquei, amor. — Virei o rosto para o lado. — Nunca iremos transar, fique sabendo desde já.
— É assim? — quis saber, e eu concordei. — Ok, então.
Eric, Naomi, Sara, Ruby, Derik, Miguel, e beberam.
— Eu não vou nem querer saber quando foi isso, — comentei, quando vi meu irmão bebendo.
— Melhor não perguntar mesmo — meu irmão falou, dando uma risada, e nem ousou olhá-lo.
— Minha vez. — Tia Anne pegou a garrafa. — Eu nunca beijei alguém do mesmo sexo. — Eu já comecei a rir, pegando a garrafa dela.
— Olha ela — comentou, me vendo beber.
— Eu já namorei uma menina, querido. — Ele arregalou os olhos, surpreso.
— Você o quê? — berrou, enquanto todo mundo me olhava.
— Faz muito tempo. — Dei de ombros não, dando a mínima para aquilo. — Durou só oito meses.
— Como assim você escondeu um namoro por oito meses? — perguntou assustada.
— Ela tem o incrível dom de esconder — respondeu por mim e eu concordei com a cabeça.
— Quando foi isso que eu nunca percebi e com quem foi? — quis saber, sua cara de chocado era a melhor.
— Dez anos atrás — falei com simplicidade, me lembrando a época. — E foi uma menina da minha escola, e foi ela quem eu traí. Aquela vaca. — Fiz cara de nojo.
— O que ela fez? — Troy já perguntou, como todo bom curioso.
— Me traiu em uma festa, com vários. Sim, com meninos. — Rolei meus olhos. — Então eu fui e beijei um menino na frente dela depois, quando fiquei sabendo.
— Foi aquela vez que você foi suspensa por arrumar confusão? — pareceu se lembrar.
— Sim. Ela veio para cima de nós, começou a nos bater e eu comecei a discutir. Foi um belo escândalo. Mas já foi. — Fiz uma careta por ter me ferrado por causa daquela garota. — Mais alguém? — pegou a garrafa de minha mão. — Por que eu não estou surpresa? — O olhei e ele me encarava de forma séria de volta.
— Porque, segundo você, eu fico com todo mundo — rebateu e o pessoal gritou.
— Eu não falei isso! — me defendi. — Não coloca palavras na minha boca.
— Você acabou de dizer que eu era um prostituto. — Ergueu as sobrancelhas e eu revirei meus olhos.
— É sério? — Ri de sua cara. — Troy e Eric, bebam. — Tomei a garrafa da mão de .
, , A.J., Tia Anne, Naomi, Sara, Rubi, Joe e Theo beberam.
— Theo? — O encarei bem surpresa. — Essa eu realmente não esperava, Jess ficaria decepcionada — debochei e ele me deu o dedo do meio.
— Vou aproveitar que estou com a garrafa — Theo disse e olhou para os lados, pensando em algo. — Eu nunca fiquei com o pai ou a mãe de um amigo. — E aí apareceu o silêncio de novo.
— , não vai beber? — perguntei e eu estava sentindo que ele me mandaria me foder logo, logo.
— Vou. — Pegou a garrafa e bebeu um gole bem grande. — , pode beber também. — Entregou a garrafa.
— Posso saber a mãe de quem você pegou? — perguntei, com um sorriso no rosto.
— Foi a mãe do A.J.. — E todo mundo berrou em coro.
— Você o quê? — A.J. olhou sério para . — Só pode ser sacanagem!
— E quem não ficou com a mãe do A.J.? — Troy quis saber. — Ela dá mole para todo mundo.
— Cala a boca, Troy — Theo mandou e eu estreitei os olhos.
— Tem algo que você queria nos contar, Theodorio? — perguntei em um tom de voz suspeito.
— O quê? Você acha que eu peguei a mãe do A.J.? — Ergueu as sobrancelhas, me olhando seriamente. — Por favor, né. Eu respeito o pai dele. — Então olhou para .
— Aconteceu — se defendeu. — Foi sem querer.
— Claro, sem querer a minha mão vai entrar dentro de sua boca também! — A.J. se levantou e foi para cima de , mas Miguel o segurou, o colocando sentado de volta no lugar.
— Vamos para o próximo — pediu e passou a garrafa para Charlie. — Faça alguma coisa — falou com ele.
— Eu nunca troquei o nome da pessoa com quem estava ficando. — E Charlie mesmo deu um gole.
— Essa eu posso beber a garrafa inteira — falei e peguei a vodca, dando um gole, e mais ninguém tomou. — , se eu te chamar de... — Pensei em algum nome aleatório. — Bradley, não ligue.
— Não vou, espero que você também não se importe se eu te chamar de Sophie. — Nossa, aquela foi pesada a tal ponto que o encarei sem reação.
— Não vou, mas nem precisa se preocupar, nós não vamos transar mesmo. — Sorri, deixando todos os meus dentes à mostra. — Mas se você quiser ficar com ela, pode ir. — Apontei para a porta. — Não precisa fazer cerimônia, quer que eu chame para você? — Ergui uma sobrancelha e fiz um biquinho. Agora, sim, ele tinha conseguido me deixar puta. — Naomi, você tem o número dela para não precisar ir lá? — perguntei, já tirando meu celular do bolso. — Ou você prefere ir lá comer ela? Se quiser, posso emprestar a minha cama. — Voltei a encarar .
— Não, pode deixar que eu vou lá depois — respondeu e eu senti meu rosto ficando vermelho de raiva. — Não precisa se preocupar. — Pegou o celular de minha mão e colocou em seu bolso. — Você vai querer ir para assistir? — Mordi minha bochecha por dentro para não o xingar.
— Não precisa, queridinho. — Sorri, tentando me controlar, mas meu tom de voz estava me entregando. — Para ver pornô barato, eu assisto pelo computador mesmo, e outra, não gosto de participar de putaria.
— Eu nunca fui chifrado! — A.J. berrou, atraindo a atenção e eu bebi um gole bem grande da vodca.
, Elliot, Tia Anne, , Eric, Derik, Joe, Naomi, Miguel e Theo beberam.
— Eu nunca mandei nudes — Derik disse e bebeu, então eu bebi também.
— Então a santa não é tão santa assim — implicou, mas nem sequer o olhei.
— Cala a boca e bebe também. — Lhe entreguei a garrafa.
— E como você sabe que eu mandei nudes? — quis saber, então só aí o encarei, rindo um pouco de forma irônica.
— E o que você não fez, né, querido? — debochei e o olhei de cima embaixo. — Já pensou em mandar seu currículo para uma empresa pornô? Eles iriam te contratar na certa. Você até que é gostosinho. — Ele apenas ficou me encarando sem responder nada.
pegou a garrafa e bebeu, passando ela para Troy. Eric, Bradley, Charlie, Sara, Ruby, Stephen e Joe beberam.
— Eu nunca fiquei com ciúmes — Joe disse, já que a garrafa estava em sua mão.
a pegou e bebeu, dando um longo gole.
— , é só para tomar uma vez e não por todas que você ficou com ciúmes — comentei, rindo um pouco, tentando abstrair.
— Ah, desculpa, pensei que era por todas. — O pessoal riu e aposto que ela só falou comigo para tentar quebrar a tensão.
, , Tia Anne, Elliot, Sara, Ruby, Bradley, Eric, Derik e beberam.
— Você não vai beber? — perguntou, me estendendo a garrafa, então apenas a olhei e ergui as sobrancelhas.
— Eu não sinto ciúmes. — Ri um pouco. — Nossa, sério mesmo que você achou que eu senti ciúmes de você? — Sorri de lado, desdenhando, e ele me encarava sem entender. — Eu menti aquele dia no iate para a Sophie não odiar a , foi ela quem fez tudo por causa que estava com ciúmes do . Eu estava cagando se ela iria te alisar ou fazer qualquer coisa contigo. — Neguei com a cabeça. — Caguei também por ela ter ido para o banheiro contigo.
— E a mensagem? — Se lembrou da mensagem que o mandou para ele.
— O máximo que fiquei foi é com inveja dela ter ido para o banheiro com você no dia da festa, e só. — Revirei meus olhos por ter que deixar aquilo claro.
— Entendi. — Fez um bico e concordou com a cabeça. — Bom saber que você não sente ciúmes.
— É, não tenho mesmo. — Peguei a garrafa de sua mão e dei para Miguel. — Vai — pedi para que aquele assunto acabasse.
— Eu nunca agredi ninguém — disse e ele mesmo tomou.
Eu, , , Elliot, , A.J., Joe, Naomi e tia Anne bebemos.
— Quem você agrediu, tia? — perguntou bem curioso, com um sorriso no rosto.
— A Jess — respondeu, me fazendo erguer as sobrancelhas. — Eu dei uns tapas nela. Foi por isso que ficamos sem nos falar por uns vinte anos.
— Mas por que você bateu nela? — quis saber.
— Ela deu em cima do pai da . — Deu de ombros. — Mas depois eu terminei com ele. — Ela mesma riu. — Dois idiotas.
— Nossa, . Já imaginou uma tiadrasta? — zombei.
— Não, obrigada — rebateu, rindo um pouco. — Acho que eu seria a Cinderela.
— Com toda certeza — concordou e nós rimos. — Ia te colocar para esfregar chão.
— Eu esfregaria a cara dela no chão se fizesse qualquer coisa com a — Tia Anne ressaltou.
— Seria maravilhoso — falei, rindo um pouco. — Vai, Troy — pedi.
— Eu nunca terminei um relacionamento — disse e eu revirei meus olhos, bebendo mais vodca.
, tia Anne, Elliot, , , , Eric, Sara, Ruby, Bradley e Naomi beberam.
— Eu nunca fiquei excitado vendo alguém dançar — Stephen falou e levantou a garrafa, dando um belo gole.
— Cantar conta? — quis saber, dando um sorriso, lembrando do cantando.
— Com quem você ficou excitada vendo cantar? — perguntou, então o olhei.
— Eu sou muito ligada à música, então, dependendo de quem canta, eu fico excitada — respondi, sem tirar os olhos de . Mas que inferno, eu era muito apaixonada por ele! Nem conseguia ficar com raiva por muito tempo.
— Mas teve alguém em específico. — Continuava a rodear.
— Teve sim. Um carinha aí — brinquei. — Ele canta muito bem e cantou uma música para mim, foi impossível não ficar excitada. — Sorri de lado. — Então, vale? — Olhei para .
— Não — respondeu. — Então. Quem já ficou excitado vendo alguém dançando? — levantou a mão. — Não quero saber com quem.
— Eu quero — falei, o vendo beber.
— Não fala em voz alta, conta só para ela — pediu e riu, se aproximando de mim e colocando a mão ao lado de seu rosto para ninguém ler seus lábios.
— Fiquei excitado te vendo dançar — sussurrou em meu ouvido, me fazendo ficar arrepiada. — Você se mexe de um jeito que me faz perder a cabeça — disse em um tom provocativo. — Só de lembrar... — Virei meu rosto e o encarei diretamente nos olhos.
— Para com isso! — reclamei, dei um tapinha em sua coxa, então segurou minha nuca e me beijou, me deixando tonta. — Aff, eu te odeio, — falei totalmente sem graça.
— Eu sei do jeito que você me odeia. — Riu um pouco.
, , Troy, Derik, Eric, Brad, Sara, Miguel, Joe, A.J., Theo, Charlie e Elliot beberam.
— Eu nunca fiquei com um amigo meu — Eric disse, pegando a garrafa e bebendo.
Eu, , , , Naomi, Sara, Bradley, Joe e Charlie bebemos.
— Eu nunca nadei pelado — Elliot falou e pegou a garrafa de sua mão, mas dessa vez não comentei nada.
Tia Anne, , , Eric, Joe e Naomi beberam.
— Eu nunca dei em cima de alguém comprometido — Naomi falou e todo mundo olhou para .
— Ok, ok. Eu bebo. — Levantou as mãos e pegou a vodca.
— Eu nunca fui para um motel — disse Sara, já que ninguém tinha bebido mais.
— Me passa a garrafa... De novo — pedi e novamente todo mundo me encarou. — Antes que me perguntem... Não perguntem.
— Descobri mais coisas da nesse jogo do que em 25 anos de convivência com ela — meu irmão falou e eu ri, me engasgando com a vodca.
— Calma. — deu uns tapinhas em minhas costas.
— Ninguém mandou ser chato com ela por 25 anos — rebateu e lhe deu o dedo do meio.
, , , Theo, Ruby, Miguel, Eric, Troy, Elliot e Tia Anne beberam.
— Eu nunca fiquei bêbada. — Ruby foi a última.
Então todo mundo ali bebeu. Ficamos rindo um pouco, até que o celular da Naomi apitou e ela disse que era a Sophie pedindo para o ir lá na casa delas rapidinho para fazer um favor a ela. Não sei por que, mas eu sentia que tinha algo estranho, sei lá, era tipo um pressentimento. Não comentei nada para não parecer a louca, ou acharem que eu estava com ciúmes. Não era isso, era uma coisa dentro do meu peito que falava “vai junto”, essa coisa que certamente eu ignorei. me deu um beijo rápido e saiu, enquanto fiquei na minha, pensando nesse sentimento estranho, sentindo minhas mãos ficando geladas e começarem a suar frio. Eu estava nervosa. Peguei um pirulito de Noah e coloquei em minha boca, na esperança de que o doce fosse me deixar mais calma, mas eu comecei a mastigar a bala, a quebrando rapidamente, quase quebrando meus dentes juntos, e quando acabei com o doce, comecei a roer o palitinho. Vi me olhar e ele uniu as sobrancelhas, certamente percebendo o meu estado, então apenas me levantei, falando que ia ao banheiro, mas, em vez de entrar na porta à esquerda, eu passei pela que ficava no final do corredor e dei a volta na casa, indo até a vizinha. Entrei sem bater, estava apenas com umas luzes baixas acesas e um silêncio total. Tirei meu chinelo para que ele não me denunciasse. Certo, onde eles estavam? Parei no meio da casa e tentei ouvir alguma conversa, ou qualquer barulho que me desse uma direção, mas meus batimentos cardíacos acelerados estavam me atrapalhando um pouco, já que escutava o meu coração batendo em meu ouvido. O palito do pirulito dançava com minha língua de um lado para o outro, sendo prendido às vezes pelos meus dentes com extrema força. Minhas mãos tremiam levemente e eu fechava e abria meus dedos, tentando controlar aquilo. Até que ouvi uma risada e era de Sophie. Aquilo me fez virar a cabeça imediatamente em direção à escada, essa a qual fui me aproximando lentamente para ninguém ouvir. Subi os degraus, um por um, bem devagar, tentando escutar qualquer coisa e conseguindo, uma conversa bem de longe, que não dava para entender o que era. Cheguei ao andar de cima e olhei para os lados, vendo uma porta fechada no final do corredor, com uma luz vindo debaixo dela, indicando que tinha alguém ali naquele cômodo. Fui caminhando bem devagar até chegar lá e encostei minha cabeça na porta, mordendo o palito do pirulito como se fosse um chiclete. Eu respirava com força pelo nariz, tentando conter aquilo dentro de mim, que berrava para abrir logo aquela porta sem o menor aviso prévio. Nesse momento, meu peito tremia, fazendo o resto do meu corpo ficar da mesma forma. Abra a maldita porta. Fechei meus olhos e tentei ouvir mais alguma coisa.
— Sophie, para com isso, por favor. — Ouvi a voz de do outro lado, que aos meus ouvidos estava calmo demais, ou até mesmo tinha um tom de tortura.
— Você não quer que eu pare — ela respondeu, e meus olhos se abriram, olhando diretamente para a maçaneta. — Eu sei que você quer. — Nesse momento, minha mão segurou a maçaneta e a puxou para baixo bem lentamente para não fazer barulho.
— Não, eu não quero. Para — pediu novamente.
Mas parei, eu não sabia mais se queria entrar ali. Não queria ver nada, mas também não queria imaginar coisas. Minha respiração foi ficando ofegante e eu finalmente abri a porta, a empurrando devagar, revelando o quarto aos poucos. Meus olhos foram seguindo o lugar conforme foi me dando visão, até que eles bateram em cima dos dois, que estavam sobre a cama de casal. deitado e Sophie apenas de calcinha e de quatro sobre meu namorado. O ar parou, na verdade tudo parou, até meus dentes pararam de roer o palito, meu sangue parou de correr, e por um segundo eu senti o mundo todo parar e logo depois tudo voltou com força total, fazendo cada parte de meu corpo tremer como nunca antes, como se eu estivesse com muito frio. Meus dentes se chocaram uns contra os outros e meu coração bateu contra meu peito com tanta força que doeu. Nenhum dos dois viu a porta se abrindo ou notou a minha presença, só que isso apenas durou cinco segundos, já que meu celular apitou, recebendo uma notificação de algum aplicativo e os rostos deles se viraram em minha direção, chocados. Os olhos de mudaram de expressão no mínimo umas três vezes, enquanto no rosto de Sophie surgia um sorriso perverso. Minhas sobrancelhas se ergueram levemente e meus olhos se estreitaram um pouco, enquanto o palito do pirulito passou por cima de minha língua, indo para o outro canto de minha boca e começando a mastigar ele novamente. Pendi minha cabeça de lado, analisando melhor aquilo, pensando no que deveria fazer. Ambos estavam imóveis, como se fossem uma pintura. Então uni minhas sobrancelhas e comecei a rir, rindo de nervoso, rindo da cara patética de Sophie, rindo da minha desgraça, rindo da cara de pavor que começava a ficar. Tirei o palito da minha boca e passei meu braço por minha cintura, encostando meu cotovelo em cima de minha mão. Abaixei a cabeça, me segurando para não explodir de raiva e não voar em cima daquela garota e arrancar todos os seus dentes com a mão, ou quem sabe muito pior. Eu repetia mentalmente como um mantra que matar ainda era crime, e que se eu desse um passo à frente para ir em direção a Sophie, não teria que iria conseguir me segurar e eu só iria parar quando a minha mão estivesse quebrada. A porta era meu limite para a sanidade. Eu me conhecia o suficiente para saber que a raiva que estava sentindo me faria ficar completamente descontrolada se me entregasse a ela.
— Ai ai — falei, ainda rindo um pouco, e ergui a cabeça. — Eu sabia que você era baixa, mas não sabia que era desse nível — disse, enquanto gesticulava com a mão que estava com o palito, ficando séria. — É sério mesmo? Qual era a sua real intenção? Ficar mesmo com ele, ou você sabia que eu iria aparecer? Não, não. Melhor. Cadê a câmera? — Olhei para os lados, sem sair do lugar. — Enfim, não interessa. Mas você, por obséquio, poderia tirar seus peitos da cara do meu namorado? — Dei ênfase nas duas últimas palavras, encarando Sophie com sangue nos olhos e ela nem sequer saiu do lugar. — Cara, você não quer brigar comigo, vai por mim. — Ela riu.
— Você acha que eu tenho medo de você? — perguntou em tom de voz debochado, e eu respirei fundo.
— , você tem 30 segundos para estar na porta de casa. — Me virei e saí andando, não podia continuar ali ou acabaria cometendo um assassinato real.
Desci as escadas rapidamente, peguei meu chinelo e saí da casa, indo para a minha e parando na porta, tentando me conter para não chorar de nervoso. Encostei minha testa na parede e fechei os olhos, respirei fundo e segurei o ar por dez segundos rápidos, sem ter paciência para contar no tempo normal. Fiz isso algumas vezes e toda a vez que prendia o oxigênio, ouvia meu coração batendo e meu corpo tremendo. Soltei meus chinelos e esmurrei a parede com força, sentindo os ossos da mão doerem, mas a dor me fazia respirar melhor, então repeti aquilo umas cinco vezes, rápido, parando quando senti a minha pele machucada arder, provavelmente tinha cortado. Abaixei as mãos e fiquei parada ali.
— , eu posso explicar. — Ouvi a voz de falar de forma cautelosa.
— Cala a boca, — mandei com calma, sentindo que não queria ouvir nem sequer a voz dele.
— , por favor, me ouve — pediu e eu percebi que ele estava chorando. — Não é nada daquilo que você viu...
— Eu. Mandei. Você. Ficar. Calado — falei pausadamente, para ver se ele era capaz de entender daquela maneira, então o percebi se aproximar. — Some da minha vista. — Minhas mãos se fecharam com força, eu podia sentir minhas unhas entrando em minha palma.
— Por favor, não faz isso. — Respirei fundo, sentido a raiva voltando. Não queria que ninguém nos ouvisse, realmente não queria brigar e estava fazendo de tudo para isso.
— , se você não quer que as coisas fiquem piores, me deixa em paz — disse baixo e o olhei, seus olhos me encaravam cheios d’água. Que droga, eu gostava tanto dele! — Inferno, sai daqui — pedi, fechando os meus olhos e sentindo um par de lágrimas descerem pelo meu rosto enquanto meu peito começava a doer.
— Não consigo. — Ele me abraçou com força, e eu apenas afundei meu rosto em seu peito e segurei seu suéter, o prendendo contra mim.
— Por favor, sai daqui — pedi, mas não o soltei. Nós dois estávamos chorando.
— Olha nos meus olhos e fala que você quer que eu vá. — Se afastou e segurou meu rosto com as duas mãos. — É só falar que eu vou sem dizer mais nada. — Por que ele fazia aquilo comigo? Eu não conseguia! Eu não conseguia nem ao mesmo ter raiva dele! — Fala, . Fala que você quer que eu saia daqui. — Seus olhos lustrosos olhavam dentro dos meus.
Apenas neguei com a cabeça, fechando os olhos, não conseguia nem ao menos falar. Então seus lábios se juntaram nos meus, me dando um selinho apertado. Segurei sua nuca e automaticamente fiquei na ponta dos pés, não dava para afastar ele, era impossível. Ao mesmo tempo em que era a minha dor, ele era o que a fazia passar. Sinceramente, não sabia mais o que fazer a não ser sentir aquilo que estava ali dentro de mim.
— Você sabe, não sabe? Sabe que eu não fiquei com ela, né? — disparou a falar, assim que me afastei dele, encostando sua testa na minha. — Não faria o menor sentido ficar com ela tendo você. — Ele estava desesperado e eu apenas concordava com a cabeça, ainda de olhos fechados. Mesmo que fosse mentira, eu não conseguia não acreditar em suas palavras. — Não existe Sophie e nenhuma outra garota, só existe você. Eu só quero você. Apenas você. Entendeu? — Suas mãos seguraram meu rosto de novo.
— Por que você não fez nada? — Abri meus olhos e o encarei, suas mãos me soltaram.
— Eu fiz! Estava deitado na cama porque me afastei dela, mas a louca pulou em cima de mim daquele jeito — se explicou, arregalando os olhos e eu acreditava nele. — Pedi para a Sophie parar, não queria ser bruto, porque, se conheço bem, ela pode usar isso contra mim depois. — Ainda mais se ela estivesse gravando, poderia falar que a agrediu, aquela garota era louca. — Mano, eu estava ficando desesperado já. Ela ficava me cercando, não me deixava sair e eu não queria tocar nela. Aquilo foi horrível. Aqueles peitos siliconados enormes enfiados na minha cara. — Fez uma careta engraçada, me arrancando uma pequena risada. — Na hora que eu te vi, fiquei totalmente sem reação. Só conseguia pensar: “Fodeu. Perdi a minha garota por culpa dessa merda que não sai do meu pé.” Eu fiquei desesperado, ainda estou. Não posso te perder assim. — Suas palavras fizeram meu coração ficar acelerado.
— Ok. — Foi a única coisa que respondi. ficou esperando que eu falasse mais alguma coisa, mas não tinha mais nada para ser dito. Eu acreditava nele e sabia como Sophie era louca, então não tinha mais nada a ser questionado.
— Só isso? Ok? — perguntou meio duvidoso por ter sido fácil demais. Eu não tinha muita paciência, e se ele falou, estava falado, não tinha mais o que ser discutido ali.
— Sim. Ok? Ok. Como a culpa é das estrelas. — Ri um pouco da cara que ele fez. — Eu fiquei puta por você ter ficado parado que nem um dois de paus, mas você me explicou o que aconteceu. Então, ok. — Dei de ombros já sentindo que minha raiva tinha ido embora.
— E você ia me mandar embora sem que eu me explicasse, e continuaria com raiva de mim. — Ele cruzou os braços.
— Na verdade, não. Eu iria ficar sozinha até a raiva passar, depois viria atrás de você para saber o que aconteceu. Posso ser louca, mas nem tanto. — Ergui minhas sobrancelhas, fazendo um biquinho. — Só não queria ter chorado de raiva e parecido uma fraca na sua frente, e também não queria descontar meu ódio em você — falei como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Mas acho que você fez um voodoo para mim, sei lá. Quando te olhei, eu perdi toda a minha coragem e não consegui te afastar. — Abaixei minha cabeça, sentindo minhas bochechas esquentarem. — Ninguém nunca ficou — comentei baixinho, enquanto um frio na minha barriga corria.
— Eu gosto demais de você para desistir tão fácil assim. — Sua mão segurou meu queixo e levantou meu rosto, passando o polegar em minha bochecha, secando onde ainda estava molhado por minhas lágrimas. — Te ver chorando por minha causa foi pior do que qualquer dor que já senti — disse, me olhando muito sério. — Mesmo que berrasse comigo, não iria sair daqui. — Neguei com a cabeça, aquilo estava errado.
— Eu não sou muito controlada quando estou com raiva, e não gosto que fiquem perto de mim quando estou assim — falei e respirei fundo, levantando minha mão direita para que ele visse do que eu realmente estava falando. — Não gosto de machucar as pessoas, mas às vezes foge do controle. Então quando vejo que vou estourar, eu apenas saio de perto. — Seu olhar repousou em minha mão, então ele a segurou e depois beijou onde estava machucado. — Não quero ser como a minha mãe.
— Não vai — respondeu e me olhou. — Vem, vamos colocar gelo nisso.
You can come and cry if you come through
(Você pode vir e chorar se você vier para cá)
You can hug the sky if you want to
(Você pode abraçar o céu se você quiser)
Cause you're beautiful, beautiful, beautiful, beautiful
(Porque você é linda, linda, linda, linda)
And the moon is full, moon is full, moon is full, moon is full
(E a lua está cheia, lua cheia, lua cheia, lua está cheia)
Ainda pensava sobre minha mãe e em como ela deveria estar. Ainda estava tendo o mesmo pesadelo e ainda acordava sufocada, mas parecia que estava começando a me acostumar com aquilo, por pior que fosse, pois tinha para mim que, a partir do momento que parasse de sentir medo e ficasse apavorada, aquilo iria parar. Bem, não sei se estava funcionando, mas estava pelo menos tentando. não ficaria ao meu lado todas as noites, nossos dias juntos estavam contados, então não podia continuar com aquela dependência toda dele. Aquilo me ferraria muito no final, mais do que agora, sabia disso. E para que isso não acontecesse de uma forma tão pesada, já estava começando a trabalhar aquilo tudo secretamente em minha mente. Plantando a semente para que ela se tornasse uma ideia e, por fim, virasse algo de fato.
Mas outra coisa que estava tomando minha atenção era , ela não estava falando conosco, vulgo eu, , Troy, e desde quinta-feira, sempre nos ignorava completamente que chegava até a ser engraçado se não fosse realmente preocupante. Não para mim, pois éramos família, ela um dia voltaria a falar comigo de qualquer forma, nem que fosse por livre e espontânea pressão. Mas o que estava mesmo me deixando apreensiva era o fato de ela não estar nem olhando na cara de por algo que eu dei a ideia de ser feito. Nós ficávamos zoando minha prima, com seu humor incrível conseguia tornar aquela situação uma coisa cômica, mas estava quase morrendo por isso, dava para ver em seus olhos a forma triste que ele estava, e aquilo sim me matava por dentro, me fazendo perceber que era realmente importante para ele e que de fato tinha criado sentimentos reais por ela. Não era apenas um romance de verão, era mais do que isso para ele, até mesmo o peguei chorando por causa do término deles. E aquilo mexia comigo, vê-lo sofrendo não era um dos meus passatempos preferidos quando eu era eu a causadora da dor, ok, nem tanto. era um dos meus melhores amigos e eu odiava profundamente ver o brilho de seus olhos roubados, assim como Cheryl fez. Esperava que ele e voltassem depois que a raiva dela passasse. Eu tentei ajudar, juro que tentei, mas nada que eu falava adiantava, ela apenas fingia que não me ouvia e saía de perto como se eu nem estivesse ali. E mesmo que aquilo me causasse raiva, não tinha nada para falar, eu merecia o gelo, todos nós merecíamos, só que... Sei lá, eu estava com pena do e tentaria de tudo para reverter aquilo, por ele.
Meus pensamentos foram completamente roubados com o susto que levei quando algo segurou minha cintura por trás, e pelo berro no meu ouvido descobri ser . Dei um pulo, quase virando o café em cima de mim e me virei, já dando uns tapinhas nele enquanto ria junto ao idiota. Ele me puxou para perto e me beijou, roubando todo meu fôlego em questão de segundos, e, como sempre, me derreti em seus braços, desistindo de fazer qualquer coisa contra aquela criatura. Cada dia que passava eu gostava ainda mais dele, me surpreendendo até comigo mesma.
— Não acha que está frio demais para você estar de short aqui fora? — perguntou de um jeito carinhoso, passando seu nariz pela lateral do meu.
— Eu acho que você poderia me esquentar. — Coloquei minha mão livre por debaixo de seu suéter, tocando sua barriga.
— Não me provoca desse jeito, . — Mordeu meu lábio inferior de um jeito gostoso. — A casa está cheia e não vamos fazer nada. — E aquilo me tentava cada vez mais, gostava de um perigo.
— Eu sei, mas gosto de ver a forma como você fica quando te provoco. — Passei minhas unhas por sua pele, depois deixei as pontas de meus dedos deslizarem por ela, vendo que havia ficado arrepiado por conta daquilo. — Você deveria ser interditado, sabia? — brinquei, dando um sorriso.
— Interditado? — Ele riu um pouco, unindo as sobrancelhas.
— Sim. Você, a partir de agora, está proibido de ser tão lindo e gostoso. É um perigo à humanidade, pode causar demência nas mulheres, principalmente em mim. — Rimos juntos daquilo que falei, mas era pura verdade. O efeito que ele causava era assustador.
— Bem, se é assim também, terei que te interditar. — Sua mão apertou minha cintura, me causando uma sensação gostosa que me fez sorrir. — Nós deveríamos parar com isso, está realmente ficando difícil de me controlar perto de você, e olha que ainda são oito da manhã. — Ele tinha total razão, também estava difícil de me controlar perto dele. realmente me tirava dos eixos.
— ! — uma voz infantil gritou, o que nos fez olhar para a mesma direção. Vi um garotinho de cabelo cumprido e levemente cacheado, os fios eram bem maiores do que de , eles caíam até o meio de suas costas, mas a cor era a mesma. Ele veio correndo ao nosso encontro.
— Hey, garotão! — me soltou e se abaixou, abraçando o menino, que tinha os traços muito parecidos com os deles. — Estava com saudades! — O tirou do chão e o rodou.
— Também estava com muitas saudades! — Seus braços finos apertavam o pescoço de com força. — Fiquei muito feliz quando papai disse que iríamos te ver — falou, assim que foi colocado no chão.
— Também fiquei. — Deu um lindo sorriso, deixando suas covinhas à mostra. — Noah, quero te apresentar a . — Gesticulou em minha direção.
— Olá! — Estendi a mão para Noah, que me olhava com um sorriso igual ao de seu irmão.
— Oi. — Segurou minha mão e a balançou, soltando logo em seguida. — Você não está com frio? — Sua pergunta me fez rir.
— Um pouco. — Pisquei um olho para ele com um sorriso de lado. — Mas o café me esquenta.
— Eca, café. — Fez uma careta engraçada, nos causando uma risada. — A mulher bonita que atendeu a porta é a sua mãe? — Certamente ele se referia à tia Anne.
— Ela é a minha segunda mãe — falei, ainda com um sorriso. — Você está com fome? Posso fazer panquecas. — Ele olhou para como se pedisse permissão para aceitar.
— Ela faz as melhores panquecas do mundo — disse, piscando para o irmão.
— Não exagere, . — Empurrei seu ombro de leve e ele riu, assim como Noah. — Anda, vamos entrar. — O pequeno já se virou e saiu correndo na frente.
— Espera — chamou, já segurando minha mão e me puxando.
— O que foi? — perguntei preocupada, achando que tinha algo de errado.
— Eu só quero fazer uma coisa antes. — Segurou minha nuca com delicadeza e me beijou lentamente, arrancando um suspiro meu.
— Você tem que parar com isso, sabia? — Sorri, olhando dentro de seus olhos .
— Parar com o quê? — sorriu de um jeito fofo.
— Você sabe o quê. — Me virei e saí andando. — Tia Anne, já está recebendo muito bem os nossos novos convidados — brinquei, ao vê-la toda sorrisos com o pai de .
— Querida, estou apenas sendo hospitaleira, já que você estava um pouco ocupada — respondeu de uma forma engraçada, me fazendo rir.
— É bom ficar ocupada da forma que eu estava — rebati e pude escutar a risada de atrás de mim.
— Acho que não me lembro da última vez que fiquei ocupada desse jeito. — Sem dúvidas, tia Anne era a melhor pessoa do mundo. — Você já conhece o Elliot ? — Apontou para o pai de .
— Ainda não — o próprio respondeu. — Você deve ser a , a garota que opera milagres, não é? — brincou, dando um passo à frente e estendendo a mão em minha direção.
— Bem, não sei se opero milagres, mas me chamo mesmo — brinquei de volta, segurando sua mão, fazendo ele rir.
— Só você mesmo para fazer meu filho sair daquele deserto e vir para a Califórnia — comentou, olhando por cima do meu ombro enquanto soltava minha mão. — Desde criança, sempre detestou praia. — Ergui minhas sobrancelhas, surpresa com aquela informação, e olhei para trás.
— Isso não é algo que costumo contar — falou comigo, dando um sorriso sem graça. — Mas, de qualquer forma, não vim pela praia. — Aquilo fez minhas bochechas ficarem vermelhas, então mordi meu lábio inferior e abaixei levemente a cabeça, voltando olhar para frente em uma tentativa de disfarçar.
— O que me faz crer ainda mais que essa menina opera milagre, ou então ela é muito especial, porque nada fez esse garoto sair do Las Vegas. — Elliot riu um pouco e passou por mim, o acompanhei com o olhar. — Sentimos sua falta. — Eles se abraçaram fortemente e ficaram daquele jeito por alguns segundos.
— Também senti a de vocês — respondeu, dando uns tapinhas no ombro de seu pai.
— Eu deveria puxar a sua orelha por não ter ido nos visitar nos últimos três anos. — Eles se afastaram. — Você sabe que é um sacrifício para que eu consiga uns dias de folga, e dessa vez só deu para ir porque estava perto. — Apesar de aquilo estar sendo um esporro, em momento nenhum Elliot elevou sua voz, em vez disso, ela estava carregada por tristeza.
— Eu sei. Me desculpe por isso, mas é que também não estava conseguindo sair de lá. — Seu pai estreitou os olhos, sabendo que aquilo era mentira, então imaginei as milhares de desculpas que deve ter inventado para não ir visitá-los.
— Então como conseguiu agora? Não me venha com desculpas de novo. — Colocou a mão no ombro de e o segurou.
— Eu dei meu jeito. — E eu tinha medo de saber que jeito era aquele que ele havia dado. — O que importa é que estamos todos aqui. — sorriu, tentando amenizar a situação.
— E por isso vou fazer panquecas para comemorar. — Levantei minha caneca de café e depois bebi o restante que estava dentro. — , por que você e o Noah não acordam o pessoal pulando em cima deles? — sugeri.
— Podemos? — Noah já me olhou empolgado e eu concordei com a cabeça.
— Os meninos estão dormindo lá em cima. — Apontei para a escada. — Tem um que tem o braço todo tatuado, até a mão. Nesse você pode puxar até o cabelo. — Indiquei , já dando uma risada. — Vai lá. — A criança já subiu correndo.
— Você não vale bosta nenhuma — falou, rindo e me encarando.
— Querido, se eu valesse, você nem estaria aqui. — Pisquei para ele e lhe mandei um beijo. — Você gosta.
— Gostei dela. — Elliot apontou em minha direção e riu. — Sincera e divertida, era disso que você precisava. — Deu um tapa nas costas do filho.
— Ah!! Me solta! — Ouvi Noah gritar lá de cima.
— Acho que ele está precisando de ajuda. — Ergui uma sobrancelha e subiu correndo, nos causando risadas. — Tia, você me ajuda com as panquecas?
— Claro, querida. — Sorriu e já fomos para a cozinha. — Elliot, quer um suco ou um café enquanto isso?
— Aceito um café, mas quero ajudar vocês. — Já começou a levantar as mangas de sua camisa.
Nós começamos a preparar o café da manhã. Tia Anne cuidou das bebidas, eu fiz a mistura da panqueca e Elliot fritou tudo, inclusive porções de bacon com ovos, o que fez a tropa descer por conta do cheiro gostoso. Até mesmo Naomi, Ruby, Kate, Ella e Sophie apareceram para comer conosco, certamente um dos meninos deve ter chamado. A loira, digo, agora roxa, pois teve que aderir à nova cor e acabou de pintar o cabelo todo, estava se comportando, nem parecia que me odiava mortalmente por achar que eu tinha feito aquilo com ela. se distraía com Noah, implicando e brincando com o menino. Ele gostava de crianças, pena que Cheryl havia se mudado para New York logo depois que Bear nasceu e impedia quase sempre de ver o próprio filho, sempre dava uma desculpa diferente quando ele falava que iria visitá-los e mal deixava meu amigo ver o menino pelo FaceTime. Nunca entendi o motivo pelo qual ela fazia aquilo, mas também não era para entender, Cheryl era doida.
— , depois você pode me ajudar com uma coisa — Sophie pediu, fazendo com que eu, e o a olhássemos no mesmo instante.
— Eu? Não pode ser outra pessoa? — ele perguntou de uma forma seca que fez minha prima dar uma pequena risada.
— Se fosse para pedir para outra pessoa, eu teria pedido — rebateu, e eu ergui as sobrancelhas com aquilo. apenas riu.
— O que você quer? — Se rendeu por fim, sabendo que o que Sophie tinha de chata tinha de insistente.
— Não sei muito explicar o que é, preciso te mostrar. Depois vai lá em casa — pediu de uma forma mais educada. Naomi que pegou o final da conversa já fez uma cara estranha.
— Ok. — deu de ombros e segurou minha coxa, a apertando. — Se eu não voltar, pode chamar a polícia, pois ela me matou — brincou, me fazendo rir.
— tem dado muito trabalho? — Elliot perguntou, nos olhando.
— Não, ele é adorável — respondei, sorrindo.
— Adorável quando não se finge de morto, né — Tia Anne interviu, nos lançando um olhar de censura.
— Se fingindo de morto? — Elliot achou graça e nós já começamos a rir, lembrando da pegadinha. que estava até de bom humor, já fechou a cara.
— Com licença. — Pegou suas coisas e se levantou, e foi logo atrás dela.
— O que você aprontou? — já quis saber, percebendo que tinha algo de errado.
— Essas crianças que não sabem o que é limite. Esses dois resolveram que seriam o Romeu e a Julieta da modernidade. — Tia Anne gesticulou em nossa direção. — Eu não sei o que aconteceu direito, só sei que quando cheguei ao quarto, o estava chorando no canto, a com cara de quem viu um palhaço assassino, o desesperado segurando a , enquanto os dois estavam jogados no chão todos ensanguentados — explicou brevemente, nos fazendo rir, então falou melhor o que aconteceu. — Ah, então foi isso? Entendi por que está com tanta raiva de vocês.
— E com razão. Se fosse eu, nem saberia como reagir — comentou, nos lançando um olhar recriminador. — Vocês foram longe demais dessa vez.
— Mas foi divertido — Troy rebateu de uma forma superior. — Melhor do que quando o Daniel achou a e a amarradas no banheiro. A cara de vocês duas foi impagável.
— Impagável vai ser o raio-X que vão tirar da sua bunda com meu sapato enfiado nela. Quer ver? — Tia Anne ameaçou, fazendo todo mundo rir, até mesmo ela riu depois. — Eu quase tive uma coisa do coração. Imagine só. O que eu falaria para os pais de vocês?
— Falaria que morremos juntos. — Olhei para e sorri, segurando sua mão que estava sobre minha coxa. — Que ao me deparar com morto me desesperei, beijei seus lábios em súplica para que não me deixasse e depois peguei o punhal amaldiçoado e gravei em meu peito, dando um último suspiro e deixando meu corpo cair sobre o dele. — Fingi apunhalar meu próprio peito e me joguei em cima de de olhos fechados, que me segurou.
— Oh! Minha querida Julieta, por que estás tu ainda tão bela? — recitou como se fosse o próprio Romeu falando enquanto passava a mão em meu rosto. — Devo acreditar que o incorpóreo fantasma da morte se apaixonou por ti, e que esse monstro esquálido e hórrido te guarda aqui na escuridão para fazer de ti sua amante? — Aquilo me fez rir e umedecer meus lábios, tentando ficar séria, mas ele riu junto. — É para te defender que ficarei a teu lado para sempre e nunca mais abandonarei este palácio, onde reina a sinistra noite.
— Isso está ao contrário, não? — perguntou de forma curiosa. — Julieta se mata depois que Romeu tomou o veneno. Não era?
— , não estraga a brincadeira. esta recitando Shakespeare para mim sem errar nenhuma fala. — Abri os olhos e encarei meu irmão, que riu junto comigo.
— Nossa, vocês são tão bregas. — Sophie fez uma cara de desdém.
— Só porque não é contigo — Naomi respondeu, logo lhe lançando um olhar rápido para que ela calasse a boca.
— Vamos lá, nós somos bregas, lixos, idiotas, temos problemas mentais... Esqueci de algo? — Ergui uma sobrancelha enquanto a encarava. — Não sei nem o que está fazendo aqui se não gosta de nós, na verdade você não gosta de mim, porque do acho que gosta até demais — os meninos berraram em coro e eu me sentei. — Inveja não mata, mas faz mal para você, sabia?
— Acha mesmo que eu tenho inveja de você? — Deu uma risadinha. — Me poupe, né? Olhe para você. Não tem nada de atrativo, sinceramente não sei o que viu.
— Eu vi uma mulher de verdade, o que você não é — respondeu, colocando os cotovelos sobre a mesa e segurando seu queixo com as mãos, e o pessoal gritou de novo, batucando na mesa agora. — E se você realmente fosse tão interessante como diz, todos dessa casa estariam loucos para ficar contigo, o que não falta aqui é homem. — Ele parou e olhou para os lados. — E sabe o que é o pior, não vejo ninguém aqui que pediu sua opinião sobre nós.
— Dorme com um barulho desses! — falei, batendo na mesa em forma de vitória. — É aquele ditado, né. Fala o que não deve, escuta o que não quer. — Mandei um beijo para Sophie, que já estava vermelha de raiva. — Vaza daqui, Barney. — Joguei uma bolinha de papel guardanapo nela, que já se levantou sem falar nada.
— Poxa, não xinga o Barney, ele era legal — Troy disse, rindo um pouco, enquanto ignorávamos totalmente Sophie, que já se retirava. — Nunca entendi por que fizeram o dinossauro roxo.
— Deve ser para chamar atenção — Charlie respondeu, enquanto tomava seu suco. — E não procura muito entender programa infantil, geralmente eles não fazem o menor sentido.
— Bem, eu quero a atenção de todos. — bateu a colher no copo e todo mundo se calou. — Alguém poderia chamar a e o ? — pediu.
— e , tem como vocês brigarem depois e virem aqui? — chamou alto e logo ouvimos uma porta batendo e minha prima aparecendo, pisando duro, de braços cruzados. — Cadê o ?
— Talvez no inferno — respondeu de mau humor, se sentando na cadeira.
— Vocês têm que parar com isso, não aguento mais ele chorando no meu ouvido por sua causa — disse de forma séria e fingiu não o ouvir.
— O que foi? — apareceu, seus olhos estavam vermelhos, o que indicava que ele estava chorando.
— quer falar alguma coisa. — Dei de ombros e olhei para ele ao meu lado, esperando que começasse.
— Certo, já que todas as pessoas importantes da minha vida estão aqui, eu quero fazer uma coisa. — Ele sorriu e me olhou, fazendo um frio na minha barriga aparecer. — Eu pensei nisso diversas vezes, ensaiei na minha cabeça diversas formas para dizer isso, mas nunca encontrei um momento e muito menos as palavras perfeitas, não como você. — Minhas bochechas queimaram enquanto me olhava dentro dos olhos. — Então percebi que nada que eu fizesse chegaria aos seus pés, nem ao menos se eu desse um anel de brilhante como deu para a . — Ele abaixou levemente a cabeça e eu estava ficando nervosa e ansiosa com aquilo. — Pensei até que deveria ter guardado o cordão para esse momento, pois ele era a coisa mais valiosa que eu tinha, só que ainda assim não seria o bastante. — Voltou a me olhar. — Porque nada nunca vai ser o bastante para demonstrar o que você me faz sentir aqui dentro. — Pegou minha mão e colocou em seu peito, e pude sentir o quanto seu coração estava extremamente acelerado, assim como o meu. E naquele segundo eu esqueci todo o resto, como se só tivesse nós dois ali. — Mas por fim eu vi que, para você, o que faz diferença são os momentos e não algo de valor, que símbolos e palavras lavem mais do que qualquer coisa. — Sua mão se soltou da minha e foi para seu bolso, pegando algo lá de dentro e depois levantando seus dedos, mostrando dois anéis de coquinho em seu indicador. — E quando eu vi isso na feira de artesanato, achei que seria perfeito para nós. — Pegou minha mão direita e colocou o anel menor em meu anelar. — , você aceita namorar comigo? — perguntou, com um sorriso lindo no rosto, aquele que sabia que me matava por dentro.
— Não — respondi e a feição de mudou no mesmo instante, então comecei a rir. — É claro que aceito! — Peguei o outro anel dele e coloquei em seu dedo da mão direita. — Aceito agora, e sempre. — Abracei seu pescoço e ele me abraçou de volta. — Amei o anel de coquinho. Nunca tive um desse.
— Quando você quiser me matar do coração, avisa primeiro — rebateu e se afastou, me beijando. O pessoal começou a gritar. — Imaginei que você fosse gostar.
— Acho justo nós brindarmos isso — disse, levantando sua caneca e todo mundo fez o mesmo. — Tenho certeza de que você fará a minha irmã muito feliz — falou com , que sorriu abertamente. — Ela não poderia ter encontrado alguém melhor.
— Vocês são perfeitos juntos — comentou, sorrindo, ela parecia estar feliz por nós.
— De longe, vocês são o melhor casal que eu já conheci — Naomi falou, dando um sorriso. — Me chamem para o casamento, sim — pediu e nós rimos.
— Pode deixar. — Pisquei para ela.
— Fico feliz por vocês — Bradley disse, nos olhando com um meio sorriso. E por mais que eu quisesse acreditar, não achava que era sincero.
— Obrigada — agradeci e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.
— Valeu — disse, dando um sorriso para Brad, que acenou com a cabeça.
— Isso é melhor do que Romeu e Julieta — Tia Anne disse, dando uma risada. — Quem são eles na fila do pão perto de vocês? Ninguém. — Aquilo fez todo mundo rir.
Acabamos de lanchar e depois saímos para dar uma volta na cidade, essa que levou o dia todo. Levamos Elliot e Noah à uma festa que estava tendo no centro, o que rendeu horas bem divertidas. Fiquei observando como tia Anne e o pai do estavam se dando bem. Seria um sonho se talvez eles ficassem? Melhor não criar expectativa, minha tia não namorava ninguém, segundo ela, a vida de solteira era a melhor coisa que tinha, e de certa forma não tirava a razão dela. Tanto sempre sem ninguém, já deveria estar mais do que acostumada.
Quando anoiteceu, nós fomos comer em um restaurante de frutos do mar e nem preciso dizer que eu comi que nem uma porca. Nossa, tinha cada camarão recheado! Aquilo deveria ter sido feito pelos Deus. No fim, fiquei conversando com Elliot, enquanto o pessoal jogava futebol de mesa com a tampinha do refrigerante, e ele me contou que era psicólogo e tals. Então falei por alto sobre o meu pesadelo que estava tendo, começamos a analisar o que poderia ser e contei o que aconteceu com minha mãe. Elliot disse que aquilo parecia um quadro de estresse pós-traumático, mas que não poderia dar nada concreto, que precisaria ir mais afundo e me recomendou procurar um psicólogo, ou aquilo poderia acabar piorando bastante.
Ótimo, agora eu tinha um problema real por causa da minha mãe. Era tudo o que eu precisava mesmo. Ela conseguiu mesmo ferrar comigo. Nossa, que raiva. Respirei fundo, tentando me acalmar, e percebeu logo que tinha algo de errado, já que sua mão deslizou por minha coxa, fazendo um carinho, atraindo toda a minha atenção. Dei um pequeno sorriso e me aproximei dele, lhe dando um selinho.
— Está tudo bem? — quis saber e eu afirmei com a cabeça.
— Vai ficar — respondi, passando meu nariz pelo dele.
— Vem cá. — Me puxou pela cabeça, me deu um abraço e eu fechei meus olhos, querendo chorar. Estava me sentindo uma fraca naquele momento.
— Eu acho que é melhor irmos — disse, e eu virei meu rosto para olhar para meu amigo. — Noah dormiu — comentou com o menino que estava com a cabeça encostada em seu ombro.
Respirei fundo e nos levantamos, pegou Noah no colo como se fosse seu filho, e achei aquilo bem fofo, ele seria um ótimo pai se Cheryl permitisse.
— O chão é lava! — Troy berrou no meio do restaurante.
— Porra, Troy! — reclamou, enquanto todos nós já tentávamos subir em algo, inclusive algumas pessoas que não conhecíamos começaram a subir nas coisas.
— Sai, ! — Empurrei ele, que estava empatando meu caminho, e quando fui me sentar em uma cadeira, puxou ela, me fazendo cair no chão e rolar para trás. — Filho da mãe! — reclamei, dando uma risada e chutei a cadeira no momento em que ele ia se sentar, fazendo com que caísse de bunda no chão. O pessoal já ria de nós dois. — O que vai, volta, amor. — Pisquei para ele, que ria da nossa desgraça.
— Voltou rápido dessa vez — respondeu, se levantando e me ajudando a levantar também. — Meu Deus, . — Então só aí que vi sentado com Noah ainda dormindo em seus braços, em cima de um vaso de flor.
— , a sua calça é clara — lembrei e ele olhou para baixo.
— Puta merda — disse e se levantou, virando de costas para nós. Eu só caí na gargalhada. — Está muito ruim?
— Parece que você acabou de se defecar — Tia Anne respondeu, fazendo todo mundo rir ainda mais. Sua bunda estava toda suja de terra preta.
— Nem pensar que você vai se sentar com essa bunda suja no banco do meu carro — já avisou.
— E eu vou voltar para casa como? — quis saber.
— A pé — sugeri, rindo ainda mais.
— , larga de ser dramático, é só colocar o tapete do carro no banco. — deu a solução fácil e prática, rindo também.
Fomos embora rindo um bocado. Quando chegamos, Eric deu a brilhante ideia de brincarmos de Eu Nunca, e todos concordaram. colocou Noah para dormir e foi se trocar. Então ficamos o esperando descer. Nós daríamos um gole da vodca, caso já tivéssemos feito algo que havia sido falado. Estávamos em vinte e um, então cada um teria direito a um desafio. Nos sentamos no chão, fazendo uma roda, e eu fiquei encostada no sofá. Pelo menos dessa vez não teria nenhuma garrafa rodando e eu não teria o perigo de quebrá-la e cortar a minha mão.
— Pronto. Vamos? — perguntou quando voltou já com uma calça limpa e se sentou ao lado de . — Quem começa?
— Eu — Brad falou, levantando a mão. — Eu nunca transei no carro. — Todo mundo ficou se olhando, esperando quem seria o primeiro a se entregar, então já estendi a minha mão, pedindo a garrafa.
— Quando você transou no carro? — quis saber, unindo as sobrancelhas.
— Ah, foi uma vez só. Foi bem ruim — me limitei a falar, enquanto A.J. já me entregava a garrafa que eu dava um gole. — O cara tinha um pau pequeno e fodia bem mal. — Meu irmão arregalou os olhos.
— Quero saber quando e não como foi? — Ele parecia meio incrédulo.
— Sei lá, uns três anos. Eu estava fazendo faculdade de escrita criativa na época. — Dei de ombros e pegou a garrafa de minha mão, dando um gole. — Olha só. Quantas vezes?
— Algumas. — Abriu um sorriso e eu continuei olhando para ele, esperando números. — Sei lá, eu não contei.
— Olha só, temos um senhor trepador aqui — zombei e o pessoal riu.
, Charlie, Eric, Theo, Elliot e Tia Anne beberam.
— Tia, tia — comentei e ela riu.
— Querida, eu nunca fui santa. — O pessoal gritou.
— Mãe, sem detalhes, por favor — pediu, nos fazendo rir.
— Minha vez agora — pediu e a garrafa voltou para ele. — Eu nunca traí. — Rapidamente tomei a garrafa de sua mão e dei um gole. — Temos uma traidora entre nós.
— Foi tiro trocado. — Dei de ombros e Tia Anne pegou a garrafa de mim. — Acho que é de família — comentei, rindo. — Quem você traiu, tia?
— Um babaca que eu namorei no colegial, ele era péssimo de cama. — Fez um gesto banal com as mãos.
— Vocês vão ficar falando que os caras são ruins de cama? — Theo quis saber, dando um gole na vodca.
— Bem, enquanto vocês se gabam falando que fazem super bem, nós estamos aqui para contar a verdade — rebateu, rindo um pouco.
— Ela é afrontosa — brincou.
— Fala mais que eu te jogo na rodinha também. — Minha prima o olhou de canto de olho e ergueu os braços.
Miguel, Troy, Naomi, Eric e Sara beberam também.
— Sou eu agora — disse, pegando a garrafa. — Eu nunca fui pego transando.
— Me dá isso aí — pedi e o pessoal riu.
— A já fez tudo, nem tem graça brincar com ela — falou, dando uma risada.
— Me conte mais sobre isso — quis saber e eu o olhei.
— Eu a peguei em uma festa da faculdade com um cara — Joe contou logo e minhas bochechas queimaram automaticamente. — Nunca vi alguém vestir uma roupa tão rápido na minha vida.
— Já está bom, Joe — o cortei e senti a garrafa ser tirada da minha mão, vendo tia Anne beber. — Como assim, tia?
— Ah, sua avó chegou bem na hora H. — Ela mesma riu da própria desgraça.
— E o que você fez? — perguntou.
— Eu ri de nervoso. O que mais eu poderia fazer? — respondeu, rindo de novo. — Nunca tomei uma coça tão bem dada na minha vida.
— Ainda bem que foi ela e não eu — comentou, fazendo uma cara de nojo. — Pelo menos teve sexo de recompensa?
— Não. Nunca mais vi o menino. — Todo mundo começou a rir.
— Ai, que triste — minha prima falou, ainda rindo.
Ruby, Derik, Eric, Miguel, Charlie e Joe beberam.
— Deixe-me ir — pediu e entregaram a garrafa para ele. — Eu nunca tive um filho. — Automaticamente o encarou, nos causando risadas.
— Isso não vale — reclamou, já pegando a garrafa e bebendo.
Tia Anne e Elliot beberam.
— Sou eu agora! — Peguei a garrafa e olhei para . — Eu nunca bati o carro.
— Olha aqui — minha amiga começou. — Me dá essa garrafa. — Riu e eu lhe entreguei.
Brad, Stephen, A.J., e Troy beberam.
— Minha vez — pediu e lhe voltaram a garrafa. — Eu nunca preguei uma peça em alguém — disse, enquanto me encarava com um sorrisinho no rosto.
— Canceriana essa menina. — Peguei a garrafa e dei um gole.
, , , Tia Anne, Troy, Eric, Joe e A.J. beberam.
— Posso ir agora? — pediu e lhe deram a garrafa. — Eu nunca fiz sexo a três. — Nesse momento, todo mundo se calou e eu senti olhares sobre mim.
— Ainda não cheguei a esse limite, gente — me defendi, levantando as mãos.
— Então... — Tia Anne falou. — Alguém pode me passar a garrafa? — pediu e a gente começou a rir.
— Por favor, não perguntem como foi — falou, enquanto entregava a garrafa para sua mãe.
— Pode me passar ela depois — Elliot disse e o olhou imediatamente. — Você tinha que puxar alguém, né. — Deu de ombros e todos começaram a rir.
— Ainda bem que sabe, me dê a garrafa depois. — Isso me fez erguer as sobrancelhas. — E antes que você pergunte. — me olhou, já com a garrafa na mão. — Foi em uma festa que eu fui no ano passado.
— E você acha que vai enfiar esse pau em mim depois disso? — Fiz uma cara de superior. — Deixe essa coisa longe da minha menininha. — O pessoal riu.
— Eram duas mulheres? — quis saber.
— Não, éramos três homens — respondeu, dando um gole na vodca. — É claro que eram duas mulheres.
— Não sei, vai que tinha um cara no meio. — Deu de ombros.
— Nessa vez foi com duas mulheres. — Fiquei boquiaberta com aquilo e riu. — Na outra foi um cara e uma mulher.
— E você ficou com ele? — Troy já perguntou todo empolgado.
— Talvez — disse, dando um sorriso. — Mais alguém?
— Por favor — Troy pediu a garrafa.
— Meu Deus, estou namorando um prostituto — falei, negando com a cabeça.
— Hey, eu não recebi para isso — se defendeu.
— Pior ainda! — soltei e todo mundo riu. — Foi por livre e espontânea vontade. Torna as coisas bem piores. — O encarei.
— Vai encrencar com isso? — perguntou, sem tirar o sorriso do rosto.
— Já encrenquei, amor. — Virei o rosto para o lado. — Nunca iremos transar, fique sabendo desde já.
— É assim? — quis saber, e eu concordei. — Ok, então.
Eric, Naomi, Sara, Ruby, Derik, Miguel, e beberam.
— Eu não vou nem querer saber quando foi isso, — comentei, quando vi meu irmão bebendo.
— Melhor não perguntar mesmo — meu irmão falou, dando uma risada, e nem ousou olhá-lo.
— Minha vez. — Tia Anne pegou a garrafa. — Eu nunca beijei alguém do mesmo sexo. — Eu já comecei a rir, pegando a garrafa dela.
— Olha ela — comentou, me vendo beber.
— Eu já namorei uma menina, querido. — Ele arregalou os olhos, surpreso.
— Você o quê? — berrou, enquanto todo mundo me olhava.
— Faz muito tempo. — Dei de ombros não, dando a mínima para aquilo. — Durou só oito meses.
— Como assim você escondeu um namoro por oito meses? — perguntou assustada.
— Ela tem o incrível dom de esconder — respondeu por mim e eu concordei com a cabeça.
— Quando foi isso que eu nunca percebi e com quem foi? — quis saber, sua cara de chocado era a melhor.
— Dez anos atrás — falei com simplicidade, me lembrando a época. — E foi uma menina da minha escola, e foi ela quem eu traí. Aquela vaca. — Fiz cara de nojo.
— O que ela fez? — Troy já perguntou, como todo bom curioso.
— Me traiu em uma festa, com vários. Sim, com meninos. — Rolei meus olhos. — Então eu fui e beijei um menino na frente dela depois, quando fiquei sabendo.
— Foi aquela vez que você foi suspensa por arrumar confusão? — pareceu se lembrar.
— Sim. Ela veio para cima de nós, começou a nos bater e eu comecei a discutir. Foi um belo escândalo. Mas já foi. — Fiz uma careta por ter me ferrado por causa daquela garota. — Mais alguém? — pegou a garrafa de minha mão. — Por que eu não estou surpresa? — O olhei e ele me encarava de forma séria de volta.
— Porque, segundo você, eu fico com todo mundo — rebateu e o pessoal gritou.
— Eu não falei isso! — me defendi. — Não coloca palavras na minha boca.
— Você acabou de dizer que eu era um prostituto. — Ergueu as sobrancelhas e eu revirei meus olhos.
— É sério? — Ri de sua cara. — Troy e Eric, bebam. — Tomei a garrafa da mão de .
, , A.J., Tia Anne, Naomi, Sara, Rubi, Joe e Theo beberam.
— Theo? — O encarei bem surpresa. — Essa eu realmente não esperava, Jess ficaria decepcionada — debochei e ele me deu o dedo do meio.
— Vou aproveitar que estou com a garrafa — Theo disse e olhou para os lados, pensando em algo. — Eu nunca fiquei com o pai ou a mãe de um amigo. — E aí apareceu o silêncio de novo.
— , não vai beber? — perguntei e eu estava sentindo que ele me mandaria me foder logo, logo.
— Vou. — Pegou a garrafa e bebeu um gole bem grande. — , pode beber também. — Entregou a garrafa.
— Posso saber a mãe de quem você pegou? — perguntei, com um sorriso no rosto.
— Foi a mãe do A.J.. — E todo mundo berrou em coro.
— Você o quê? — A.J. olhou sério para . — Só pode ser sacanagem!
— E quem não ficou com a mãe do A.J.? — Troy quis saber. — Ela dá mole para todo mundo.
— Cala a boca, Troy — Theo mandou e eu estreitei os olhos.
— Tem algo que você queria nos contar, Theodorio? — perguntei em um tom de voz suspeito.
— O quê? Você acha que eu peguei a mãe do A.J.? — Ergueu as sobrancelhas, me olhando seriamente. — Por favor, né. Eu respeito o pai dele. — Então olhou para .
— Aconteceu — se defendeu. — Foi sem querer.
— Claro, sem querer a minha mão vai entrar dentro de sua boca também! — A.J. se levantou e foi para cima de , mas Miguel o segurou, o colocando sentado de volta no lugar.
— Vamos para o próximo — pediu e passou a garrafa para Charlie. — Faça alguma coisa — falou com ele.
— Eu nunca troquei o nome da pessoa com quem estava ficando. — E Charlie mesmo deu um gole.
— Essa eu posso beber a garrafa inteira — falei e peguei a vodca, dando um gole, e mais ninguém tomou. — , se eu te chamar de... — Pensei em algum nome aleatório. — Bradley, não ligue.
— Não vou, espero que você também não se importe se eu te chamar de Sophie. — Nossa, aquela foi pesada a tal ponto que o encarei sem reação.
— Não vou, mas nem precisa se preocupar, nós não vamos transar mesmo. — Sorri, deixando todos os meus dentes à mostra. — Mas se você quiser ficar com ela, pode ir. — Apontei para a porta. — Não precisa fazer cerimônia, quer que eu chame para você? — Ergui uma sobrancelha e fiz um biquinho. Agora, sim, ele tinha conseguido me deixar puta. — Naomi, você tem o número dela para não precisar ir lá? — perguntei, já tirando meu celular do bolso. — Ou você prefere ir lá comer ela? Se quiser, posso emprestar a minha cama. — Voltei a encarar .
— Não, pode deixar que eu vou lá depois — respondeu e eu senti meu rosto ficando vermelho de raiva. — Não precisa se preocupar. — Pegou o celular de minha mão e colocou em seu bolso. — Você vai querer ir para assistir? — Mordi minha bochecha por dentro para não o xingar.
— Não precisa, queridinho. — Sorri, tentando me controlar, mas meu tom de voz estava me entregando. — Para ver pornô barato, eu assisto pelo computador mesmo, e outra, não gosto de participar de putaria.
— Eu nunca fui chifrado! — A.J. berrou, atraindo a atenção e eu bebi um gole bem grande da vodca.
, Elliot, Tia Anne, , Eric, Derik, Joe, Naomi, Miguel e Theo beberam.
— Eu nunca mandei nudes — Derik disse e bebeu, então eu bebi também.
— Então a santa não é tão santa assim — implicou, mas nem sequer o olhei.
— Cala a boca e bebe também. — Lhe entreguei a garrafa.
— E como você sabe que eu mandei nudes? — quis saber, então só aí o encarei, rindo um pouco de forma irônica.
— E o que você não fez, né, querido? — debochei e o olhei de cima embaixo. — Já pensou em mandar seu currículo para uma empresa pornô? Eles iriam te contratar na certa. Você até que é gostosinho. — Ele apenas ficou me encarando sem responder nada.
pegou a garrafa e bebeu, passando ela para Troy. Eric, Bradley, Charlie, Sara, Ruby, Stephen e Joe beberam.
— Eu nunca fiquei com ciúmes — Joe disse, já que a garrafa estava em sua mão.
a pegou e bebeu, dando um longo gole.
— , é só para tomar uma vez e não por todas que você ficou com ciúmes — comentei, rindo um pouco, tentando abstrair.
— Ah, desculpa, pensei que era por todas. — O pessoal riu e aposto que ela só falou comigo para tentar quebrar a tensão.
, , Tia Anne, Elliot, Sara, Ruby, Bradley, Eric, Derik e beberam.
— Você não vai beber? — perguntou, me estendendo a garrafa, então apenas a olhei e ergui as sobrancelhas.
— Eu não sinto ciúmes. — Ri um pouco. — Nossa, sério mesmo que você achou que eu senti ciúmes de você? — Sorri de lado, desdenhando, e ele me encarava sem entender. — Eu menti aquele dia no iate para a Sophie não odiar a , foi ela quem fez tudo por causa que estava com ciúmes do . Eu estava cagando se ela iria te alisar ou fazer qualquer coisa contigo. — Neguei com a cabeça. — Caguei também por ela ter ido para o banheiro contigo.
— E a mensagem? — Se lembrou da mensagem que o mandou para ele.
— O máximo que fiquei foi é com inveja dela ter ido para o banheiro com você no dia da festa, e só. — Revirei meus olhos por ter que deixar aquilo claro.
— Entendi. — Fez um bico e concordou com a cabeça. — Bom saber que você não sente ciúmes.
— É, não tenho mesmo. — Peguei a garrafa de sua mão e dei para Miguel. — Vai — pedi para que aquele assunto acabasse.
— Eu nunca agredi ninguém — disse e ele mesmo tomou.
Eu, , , Elliot, , A.J., Joe, Naomi e tia Anne bebemos.
— Quem você agrediu, tia? — perguntou bem curioso, com um sorriso no rosto.
— A Jess — respondeu, me fazendo erguer as sobrancelhas. — Eu dei uns tapas nela. Foi por isso que ficamos sem nos falar por uns vinte anos.
— Mas por que você bateu nela? — quis saber.
— Ela deu em cima do pai da . — Deu de ombros. — Mas depois eu terminei com ele. — Ela mesma riu. — Dois idiotas.
— Nossa, . Já imaginou uma tiadrasta? — zombei.
— Não, obrigada — rebateu, rindo um pouco. — Acho que eu seria a Cinderela.
— Com toda certeza — concordou e nós rimos. — Ia te colocar para esfregar chão.
— Eu esfregaria a cara dela no chão se fizesse qualquer coisa com a — Tia Anne ressaltou.
— Seria maravilhoso — falei, rindo um pouco. — Vai, Troy — pedi.
— Eu nunca terminei um relacionamento — disse e eu revirei meus olhos, bebendo mais vodca.
, tia Anne, Elliot, , , , Eric, Sara, Ruby, Bradley e Naomi beberam.
— Eu nunca fiquei excitado vendo alguém dançar — Stephen falou e levantou a garrafa, dando um belo gole.
— Cantar conta? — quis saber, dando um sorriso, lembrando do cantando.
— Com quem você ficou excitada vendo cantar? — perguntou, então o olhei.
— Eu sou muito ligada à música, então, dependendo de quem canta, eu fico excitada — respondi, sem tirar os olhos de . Mas que inferno, eu era muito apaixonada por ele! Nem conseguia ficar com raiva por muito tempo.
— Mas teve alguém em específico. — Continuava a rodear.
— Teve sim. Um carinha aí — brinquei. — Ele canta muito bem e cantou uma música para mim, foi impossível não ficar excitada. — Sorri de lado. — Então, vale? — Olhei para .
— Não — respondeu. — Então. Quem já ficou excitado vendo alguém dançando? — levantou a mão. — Não quero saber com quem.
— Eu quero — falei, o vendo beber.
— Não fala em voz alta, conta só para ela — pediu e riu, se aproximando de mim e colocando a mão ao lado de seu rosto para ninguém ler seus lábios.
— Fiquei excitado te vendo dançar — sussurrou em meu ouvido, me fazendo ficar arrepiada. — Você se mexe de um jeito que me faz perder a cabeça — disse em um tom provocativo. — Só de lembrar... — Virei meu rosto e o encarei diretamente nos olhos.
— Para com isso! — reclamei, dei um tapinha em sua coxa, então segurou minha nuca e me beijou, me deixando tonta. — Aff, eu te odeio, — falei totalmente sem graça.
— Eu sei do jeito que você me odeia. — Riu um pouco.
, , Troy, Derik, Eric, Brad, Sara, Miguel, Joe, A.J., Theo, Charlie e Elliot beberam.
— Eu nunca fiquei com um amigo meu — Eric disse, pegando a garrafa e bebendo.
Eu, , , , Naomi, Sara, Bradley, Joe e Charlie bebemos.
— Eu nunca nadei pelado — Elliot falou e pegou a garrafa de sua mão, mas dessa vez não comentei nada.
Tia Anne, , , Eric, Joe e Naomi beberam.
— Eu nunca dei em cima de alguém comprometido — Naomi falou e todo mundo olhou para .
— Ok, ok. Eu bebo. — Levantou as mãos e pegou a vodca.
— Eu nunca fui para um motel — disse Sara, já que ninguém tinha bebido mais.
— Me passa a garrafa... De novo — pedi e novamente todo mundo me encarou. — Antes que me perguntem... Não perguntem.
— Descobri mais coisas da nesse jogo do que em 25 anos de convivência com ela — meu irmão falou e eu ri, me engasgando com a vodca.
— Calma. — deu uns tapinhas em minhas costas.
— Ninguém mandou ser chato com ela por 25 anos — rebateu e lhe deu o dedo do meio.
, , , Theo, Ruby, Miguel, Eric, Troy, Elliot e Tia Anne beberam.
— Eu nunca fiquei bêbada. — Ruby foi a última.
Então todo mundo ali bebeu. Ficamos rindo um pouco, até que o celular da Naomi apitou e ela disse que era a Sophie pedindo para o ir lá na casa delas rapidinho para fazer um favor a ela. Não sei por que, mas eu sentia que tinha algo estranho, sei lá, era tipo um pressentimento. Não comentei nada para não parecer a louca, ou acharem que eu estava com ciúmes. Não era isso, era uma coisa dentro do meu peito que falava “vai junto”, essa coisa que certamente eu ignorei. me deu um beijo rápido e saiu, enquanto fiquei na minha, pensando nesse sentimento estranho, sentindo minhas mãos ficando geladas e começarem a suar frio. Eu estava nervosa. Peguei um pirulito de Noah e coloquei em minha boca, na esperança de que o doce fosse me deixar mais calma, mas eu comecei a mastigar a bala, a quebrando rapidamente, quase quebrando meus dentes juntos, e quando acabei com o doce, comecei a roer o palitinho. Vi me olhar e ele uniu as sobrancelhas, certamente percebendo o meu estado, então apenas me levantei, falando que ia ao banheiro, mas, em vez de entrar na porta à esquerda, eu passei pela que ficava no final do corredor e dei a volta na casa, indo até a vizinha. Entrei sem bater, estava apenas com umas luzes baixas acesas e um silêncio total. Tirei meu chinelo para que ele não me denunciasse. Certo, onde eles estavam? Parei no meio da casa e tentei ouvir alguma conversa, ou qualquer barulho que me desse uma direção, mas meus batimentos cardíacos acelerados estavam me atrapalhando um pouco, já que escutava o meu coração batendo em meu ouvido. O palito do pirulito dançava com minha língua de um lado para o outro, sendo prendido às vezes pelos meus dentes com extrema força. Minhas mãos tremiam levemente e eu fechava e abria meus dedos, tentando controlar aquilo. Até que ouvi uma risada e era de Sophie. Aquilo me fez virar a cabeça imediatamente em direção à escada, essa a qual fui me aproximando lentamente para ninguém ouvir. Subi os degraus, um por um, bem devagar, tentando escutar qualquer coisa e conseguindo, uma conversa bem de longe, que não dava para entender o que era. Cheguei ao andar de cima e olhei para os lados, vendo uma porta fechada no final do corredor, com uma luz vindo debaixo dela, indicando que tinha alguém ali naquele cômodo. Fui caminhando bem devagar até chegar lá e encostei minha cabeça na porta, mordendo o palito do pirulito como se fosse um chiclete. Eu respirava com força pelo nariz, tentando conter aquilo dentro de mim, que berrava para abrir logo aquela porta sem o menor aviso prévio. Nesse momento, meu peito tremia, fazendo o resto do meu corpo ficar da mesma forma. Abra a maldita porta. Fechei meus olhos e tentei ouvir mais alguma coisa.
— Sophie, para com isso, por favor. — Ouvi a voz de do outro lado, que aos meus ouvidos estava calmo demais, ou até mesmo tinha um tom de tortura.
— Você não quer que eu pare — ela respondeu, e meus olhos se abriram, olhando diretamente para a maçaneta. — Eu sei que você quer. — Nesse momento, minha mão segurou a maçaneta e a puxou para baixo bem lentamente para não fazer barulho.
— Não, eu não quero. Para — pediu novamente.
Mas parei, eu não sabia mais se queria entrar ali. Não queria ver nada, mas também não queria imaginar coisas. Minha respiração foi ficando ofegante e eu finalmente abri a porta, a empurrando devagar, revelando o quarto aos poucos. Meus olhos foram seguindo o lugar conforme foi me dando visão, até que eles bateram em cima dos dois, que estavam sobre a cama de casal. deitado e Sophie apenas de calcinha e de quatro sobre meu namorado. O ar parou, na verdade tudo parou, até meus dentes pararam de roer o palito, meu sangue parou de correr, e por um segundo eu senti o mundo todo parar e logo depois tudo voltou com força total, fazendo cada parte de meu corpo tremer como nunca antes, como se eu estivesse com muito frio. Meus dentes se chocaram uns contra os outros e meu coração bateu contra meu peito com tanta força que doeu. Nenhum dos dois viu a porta se abrindo ou notou a minha presença, só que isso apenas durou cinco segundos, já que meu celular apitou, recebendo uma notificação de algum aplicativo e os rostos deles se viraram em minha direção, chocados. Os olhos de mudaram de expressão no mínimo umas três vezes, enquanto no rosto de Sophie surgia um sorriso perverso. Minhas sobrancelhas se ergueram levemente e meus olhos se estreitaram um pouco, enquanto o palito do pirulito passou por cima de minha língua, indo para o outro canto de minha boca e começando a mastigar ele novamente. Pendi minha cabeça de lado, analisando melhor aquilo, pensando no que deveria fazer. Ambos estavam imóveis, como se fossem uma pintura. Então uni minhas sobrancelhas e comecei a rir, rindo de nervoso, rindo da cara patética de Sophie, rindo da minha desgraça, rindo da cara de pavor que começava a ficar. Tirei o palito da minha boca e passei meu braço por minha cintura, encostando meu cotovelo em cima de minha mão. Abaixei a cabeça, me segurando para não explodir de raiva e não voar em cima daquela garota e arrancar todos os seus dentes com a mão, ou quem sabe muito pior. Eu repetia mentalmente como um mantra que matar ainda era crime, e que se eu desse um passo à frente para ir em direção a Sophie, não teria que iria conseguir me segurar e eu só iria parar quando a minha mão estivesse quebrada. A porta era meu limite para a sanidade. Eu me conhecia o suficiente para saber que a raiva que estava sentindo me faria ficar completamente descontrolada se me entregasse a ela.
— Ai ai — falei, ainda rindo um pouco, e ergui a cabeça. — Eu sabia que você era baixa, mas não sabia que era desse nível — disse, enquanto gesticulava com a mão que estava com o palito, ficando séria. — É sério mesmo? Qual era a sua real intenção? Ficar mesmo com ele, ou você sabia que eu iria aparecer? Não, não. Melhor. Cadê a câmera? — Olhei para os lados, sem sair do lugar. — Enfim, não interessa. Mas você, por obséquio, poderia tirar seus peitos da cara do meu namorado? — Dei ênfase nas duas últimas palavras, encarando Sophie com sangue nos olhos e ela nem sequer saiu do lugar. — Cara, você não quer brigar comigo, vai por mim. — Ela riu.
— Você acha que eu tenho medo de você? — perguntou em tom de voz debochado, e eu respirei fundo.
— , você tem 30 segundos para estar na porta de casa. — Me virei e saí andando, não podia continuar ali ou acabaria cometendo um assassinato real.
Desci as escadas rapidamente, peguei meu chinelo e saí da casa, indo para a minha e parando na porta, tentando me conter para não chorar de nervoso. Encostei minha testa na parede e fechei os olhos, respirei fundo e segurei o ar por dez segundos rápidos, sem ter paciência para contar no tempo normal. Fiz isso algumas vezes e toda a vez que prendia o oxigênio, ouvia meu coração batendo e meu corpo tremendo. Soltei meus chinelos e esmurrei a parede com força, sentindo os ossos da mão doerem, mas a dor me fazia respirar melhor, então repeti aquilo umas cinco vezes, rápido, parando quando senti a minha pele machucada arder, provavelmente tinha cortado. Abaixei as mãos e fiquei parada ali.
— , eu posso explicar. — Ouvi a voz de falar de forma cautelosa.
— Cala a boca, — mandei com calma, sentindo que não queria ouvir nem sequer a voz dele.
— , por favor, me ouve — pediu e eu percebi que ele estava chorando. — Não é nada daquilo que você viu...
— Eu. Mandei. Você. Ficar. Calado — falei pausadamente, para ver se ele era capaz de entender daquela maneira, então o percebi se aproximar. — Some da minha vista. — Minhas mãos se fecharam com força, eu podia sentir minhas unhas entrando em minha palma.
— Por favor, não faz isso. — Respirei fundo, sentido a raiva voltando. Não queria que ninguém nos ouvisse, realmente não queria brigar e estava fazendo de tudo para isso.
— , se você não quer que as coisas fiquem piores, me deixa em paz — disse baixo e o olhei, seus olhos me encaravam cheios d’água. Que droga, eu gostava tanto dele! — Inferno, sai daqui — pedi, fechando os meus olhos e sentindo um par de lágrimas descerem pelo meu rosto enquanto meu peito começava a doer.
— Não consigo. — Ele me abraçou com força, e eu apenas afundei meu rosto em seu peito e segurei seu suéter, o prendendo contra mim.
— Por favor, sai daqui — pedi, mas não o soltei. Nós dois estávamos chorando.
— Olha nos meus olhos e fala que você quer que eu vá. — Se afastou e segurou meu rosto com as duas mãos. — É só falar que eu vou sem dizer mais nada. — Por que ele fazia aquilo comigo? Eu não conseguia! Eu não conseguia nem ao mesmo ter raiva dele! — Fala, . Fala que você quer que eu saia daqui. — Seus olhos lustrosos olhavam dentro dos meus.
Apenas neguei com a cabeça, fechando os olhos, não conseguia nem ao menos falar. Então seus lábios se juntaram nos meus, me dando um selinho apertado. Segurei sua nuca e automaticamente fiquei na ponta dos pés, não dava para afastar ele, era impossível. Ao mesmo tempo em que era a minha dor, ele era o que a fazia passar. Sinceramente, não sabia mais o que fazer a não ser sentir aquilo que estava ali dentro de mim.
— Você sabe, não sabe? Sabe que eu não fiquei com ela, né? — disparou a falar, assim que me afastei dele, encostando sua testa na minha. — Não faria o menor sentido ficar com ela tendo você. — Ele estava desesperado e eu apenas concordava com a cabeça, ainda de olhos fechados. Mesmo que fosse mentira, eu não conseguia não acreditar em suas palavras. — Não existe Sophie e nenhuma outra garota, só existe você. Eu só quero você. Apenas você. Entendeu? — Suas mãos seguraram meu rosto de novo.
— Por que você não fez nada? — Abri meus olhos e o encarei, suas mãos me soltaram.
— Eu fiz! Estava deitado na cama porque me afastei dela, mas a louca pulou em cima de mim daquele jeito — se explicou, arregalando os olhos e eu acreditava nele. — Pedi para a Sophie parar, não queria ser bruto, porque, se conheço bem, ela pode usar isso contra mim depois. — Ainda mais se ela estivesse gravando, poderia falar que a agrediu, aquela garota era louca. — Mano, eu estava ficando desesperado já. Ela ficava me cercando, não me deixava sair e eu não queria tocar nela. Aquilo foi horrível. Aqueles peitos siliconados enormes enfiados na minha cara. — Fez uma careta engraçada, me arrancando uma pequena risada. — Na hora que eu te vi, fiquei totalmente sem reação. Só conseguia pensar: “Fodeu. Perdi a minha garota por culpa dessa merda que não sai do meu pé.” Eu fiquei desesperado, ainda estou. Não posso te perder assim. — Suas palavras fizeram meu coração ficar acelerado.
— Ok. — Foi a única coisa que respondi. ficou esperando que eu falasse mais alguma coisa, mas não tinha mais nada para ser dito. Eu acreditava nele e sabia como Sophie era louca, então não tinha mais nada a ser questionado.
— Só isso? Ok? — perguntou meio duvidoso por ter sido fácil demais. Eu não tinha muita paciência, e se ele falou, estava falado, não tinha mais o que ser discutido ali.
— Sim. Ok? Ok. Como a culpa é das estrelas. — Ri um pouco da cara que ele fez. — Eu fiquei puta por você ter ficado parado que nem um dois de paus, mas você me explicou o que aconteceu. Então, ok. — Dei de ombros já sentindo que minha raiva tinha ido embora.
— E você ia me mandar embora sem que eu me explicasse, e continuaria com raiva de mim. — Ele cruzou os braços.
— Na verdade, não. Eu iria ficar sozinha até a raiva passar, depois viria atrás de você para saber o que aconteceu. Posso ser louca, mas nem tanto. — Ergui minhas sobrancelhas, fazendo um biquinho. — Só não queria ter chorado de raiva e parecido uma fraca na sua frente, e também não queria descontar meu ódio em você — falei como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Mas acho que você fez um voodoo para mim, sei lá. Quando te olhei, eu perdi toda a minha coragem e não consegui te afastar. — Abaixei minha cabeça, sentindo minhas bochechas esquentarem. — Ninguém nunca ficou — comentei baixinho, enquanto um frio na minha barriga corria.
— Eu gosto demais de você para desistir tão fácil assim. — Sua mão segurou meu queixo e levantou meu rosto, passando o polegar em minha bochecha, secando onde ainda estava molhado por minhas lágrimas. — Te ver chorando por minha causa foi pior do que qualquer dor que já senti — disse, me olhando muito sério. — Mesmo que berrasse comigo, não iria sair daqui. — Neguei com a cabeça, aquilo estava errado.
— Eu não sou muito controlada quando estou com raiva, e não gosto que fiquem perto de mim quando estou assim — falei e respirei fundo, levantando minha mão direita para que ele visse do que eu realmente estava falando. — Não gosto de machucar as pessoas, mas às vezes foge do controle. Então quando vejo que vou estourar, eu apenas saio de perto. — Seu olhar repousou em minha mão, então ele a segurou e depois beijou onde estava machucado. — Não quero ser como a minha mãe.
— Não vai — respondeu e me olhou. — Vem, vamos colocar gelo nisso.
(Você pode vir e chorar se você vier para cá)
You can hug the sky if you want to
(Você pode abraçar o céu se você quiser)
Cause you're beautiful, beautiful, beautiful, beautiful
(Porque você é linda, linda, linda, linda)
And the moon is full, moon is full, moon is full, moon is full
(E a lua está cheia, lua cheia, lua cheia, lua está cheia)
14. Personal
Noah, Elliot e tia Anne foram embora na segunda de manhã, ela pediu uma carona até Dana Point, já que meus pais tinham a deixado para trás. Mas isso foi bom, pois parecia que ela e o pai do estavam se dando bem. Seria um sonho eles juntos? Ah, isso seria. Elliot era legal e me pareceu ser uma pessoa boa. E tia Anne, bem, era a tia Anne, a melhor pessoa do mundo, não tinha o que reclamar dela. Eu queria ter tido ela como mãe, mas a vida não permitiu isso. Theo, A.J., Charlie, Miguel e Derik também foram embora porque tinham que retornar ao trabalho, já tinha sido milagre eles terem conseguido ficar mais de um mês aqui, e A.J. foi com eles por causa do carro do pai dele, ou teria ficado conosco até o final das férias, já que ele, assim como o resto de nós, apenas estudava, a não ser , e claro, meu irmão, que já tinha se formado, e, apesar dele ter a mesma idade que , minha amiga estava em sua segunda faculdade, igual Stephen, e claro, sem esquecer de , que não precisava trabalhar por ser rico, mas também já tinha se formado.
Chegamos da rua, tínhamos passado o dia fora, e quando entrei no quarto, ouvi um barulho estranho. Uni as sobrancelhas e olhei para os lados, procurando de onde vinha. Procurei e não achei, então olhei embaixo da cama e um berro saiu de minha garganta quando vi uma cobra enroladinha lá, mostrando sua língua. Saí correndo do quarto e todo mundo já veio ao meu encontro. Eu estava tão apavorada com aquele bicho que eu pulei em cima do , me agarrando nele e passando minhas pernas por sua cintura. Ele me segurou como se estivesse me protegendo, e não perguntou nada, só me tirou dali.
— O que foi, ? — perguntou, vindo atrás de nós, enquanto os meninos iam para o quarto.
— Uma cobra embaixo da cama — respondi como uma criança, me escondendo no cabelo comprido de , afundando meu rosto no pescoço dele.
— Você está tremendo — comentou, afagando minhas costas de um jeito carinhoso. — Senta aqui, vou pegar água para você. — Me colocou sentada sobre o balcão da cozinha e eu me encolhi ali em cima, abraçando minhas pernas, morrendo de medo daquele bicho peçonhento.
— Eu vou tirar ela de lá — Stephen falou e foi até o quarto, ele gostava de cobras e esses bichos nojentos.
— Toma aqui. — segurou minhas mãos e me entregou um copo de água com açúcar. — Fica calma. — Passou a mão em meus cabelos e eu apenas neguei com a cabeça. Não dava para ficar calma. — Stephen vai dar um jeito nisso — disse de um jeito carinhoso.
— Como aquele bicho entrou lá? — perguntei, achando aquilo estranho.
— Eu acho mais provável que tenham colocado lá — Joe sugeriu, se sentando ao meu lado, e eu o encarei enquanto bebia a água que tinha me dado.
— Quem faria uma coisa dessas? — quis saber, porque né. Nem eu conseguia pensar que alguém seria capaz de fazer tal coisa.
— Quem? Sophie — falou como se fosse bem óbvio. — Ela odeia a . — Ele abraçou minha amiga por trás e encostou seu queixo no ombro dela. — Mas não tem como provar que foi.
— Você acha que ela faria isso? — o olhou e concordou com a cabeça. — Eu não sei, acho que não.
— Eu também acho que ela faria — concordou, cruzando seus braços e me olhando. — Acho que faria até pior. Sophie acha que foi a quem fez tudo contra ela. — Seu olhar recaiu sobre , que revirou os olhos e saiu de perto. Ela ainda estava brigada conosco. — Ainda mais depois que a riu da cara dela com o lance com o . Deve estar procurando um jeito de atingi-la de alguma forma.
— Ela acha que estamos no jardim de infância? — rebateu um pouco irritado, e eu ainda estranhava vê-lo daquele jeito. — Vou falar com ela, isso não pode continuar assim. — Tentou sair dali, mas rapidamente segurei seu braço.
— Deixa que eu resolvo isso — falei, dando outro gole na água e todo mundo me olhou.
— Você não vai fazer nada — interviu, me conhecendo bem e sabia que eu pegava pesado nas minhas vinganças quando estava irritada.
— E o que a poderia fazer? — Bradley, que até então só estava quieto, perguntou, com seus braços cruzados.
— Esse é o problema, minha irmã nunca sabe o que fazer quando está com raiva, ela só faz sem medir as consequências — explicou, olhando para Bradley, que ergueu as sobrancelhas. — Então você não vai fazer nada. Ouviu? — Meu irmão me encarou agora e falou como se fosse nosso pai. — Não precisamos de mais problemas.
— Não se preocupe, não vou machucar ninguém. — Dei um sorriso de lado. — Não fisicamente. — revirou os olhos e eu soltei uma risada pelo nariz.
— Sophie está muito ferrada — falou, rindo. Ele se divertia com aquilo.
— Ferrada é pouco. — Joe riu também. — Essa cabecinha aí não presta. — Empurrou minha cabeça com o indicador. — Eu deveria ter pena dela?
— Deveria ter pena de nós — respondeu e riu. — Garota louca, e a ainda quer ficar batendo palma para ela dançar.
— Eu adoro bater palma para maluco dançar. Dança aí, . — Coloquei o copo de lado, comecei a bater palma e ele fez uma dancinha muito ridícula, o que arrancou risadas de todo mundo. — Mas relaxem, não vou fazer nada. — Fiz um biquinho, até que vi Stephen voltando com a cobra enrolada na mão. — Tira esse bicho daqui! — berrei, segurando e colocando ele na minha frente, como se fosse um escudo.
— Não é selvagem. Alguém comprou e colocou ela lá — observou e ficou brincando com o bicho. — Se eu a soltar, vai acabar morrendo.
— Então leva isso para algum lugar, só não deixa aqui! — pedi, puxando a camisa de de tanto nervoso que aquilo estava me dando.
— Ok. Vou ver o que faço com ela. — Saiu dali com aquele bicho na mão.
— Eu não quero dormir lá no quarto — falei, ficando arrepiada só de lembrar daquele bicho embaixo da cama.
— Tudo bem, nós podemos dormir lá em cima. e dormem lá no quarto então? — sugeriu e os dois se entreolharam, e depois encarou , que estava sentada no sofá.
— Se o Bradley quiser dormir lá, pode dormir. Eu vou dormir aqui — minha prima respondeu e se levantou, certamente para pegar suas coisas.
— , vocês têm que se resolver — soltei um pouco triste, não estava mais aguentando aquela briga deles.
— Você quer que eu faça o quê? Ela não quer olhar nem na minha cara! — Levantou os braços e depois bateu em suas coxas, mas eu podia ver a tristeza estampada em seu rosto. — Sinceramente, eu não sei o que fazer. — Deixou seus ombros caírem.
— Vou tentar pensar em mais alguma coisa... — falei, olhando de um jeito triste para , mas já comecei a maquinar algo. — Me desculpe por ter te colocado nessa.
— Tudo bem. — Ele deu um meio sorriso. — Vou me deitar na rede lá fora. — Saiu andando em direção à varanda.
Desci do balcão e fui pegar minhas coisas no quarto para me deitar lá em cima com os meninos. Troquei de roupa, escovei os dentes e subi. Os colchões já estavam arrumados e todos estavam deitados, conversando. Me deitei entre Troy e , o qual vestia apenas uma cueca samba canção, definitivamente aquilo era um atentado ao meu juízo. O colchão que estávamos era king, então cabia nós três de boas ali. Ficamos conversando e rindo um bocado, pois um falava mais besteira que o outro. estava deitado de lado, com a perna meio dobrada, entrelaçada com a minha, como que se já ter seu corpo seminu ao meu lado fosse pouco.
— Mas é sério — falei, rindo de mim mesma. — Sua rótula do joelho não mexe? — perguntei a , que ria de mim como se eu fosse uma perfeita louca que estava falando besteira.
— Não. Você que é toda errada — respondeu e eu já comecei a apalpar por cima do edredom, procurando seu joelho para provar a ele que a rótula mexia, sim, quando era empurrada.
— Cadê seu joelho? — perguntei, rindo de nós dois, e Troy estava se torcendo ao meu lado, rindo daquilo tudo. — Meu Deus, ! Fica parado — reclamei, já que ele não me deixava pegar em seu joelho, até que achei e uni as sobrancelhas, achando que tinha algo muito estranho.
— — chamou, tentando ficar sério e eu apertei de leve o local onde minha mão segurava. — Isso não é meu joelho. — Meus olhos desceram e eu olhei onde minha mão estava. Automaticamente, minha cara inteira queimou.
— Não! — berrei e tirei a mão dali, rolando no colchão, me afastando e caindo em cima de Troy, enquanto escondia meu rosto no travesseiro.
— Ah! Ela pegou no seu pau! — Troy gritou, rindo ainda mais e eu lhe dei uma cotovelada para calar a boca. — O joelho do mexe, ? — Ele não sabia ficar quieto e eu só escondia ainda mais meu rosto, me encolhendo de vergonha por ter pegado no lugar errado.
— Eu quero morrer — disse e minha voz saiu abafada por causa do travesseiro. Os dois idiotas não paravam de rir. — Parem de rir — pedi, sentindo que minha vergonha nunca iria passar.
— Desculpa, não dá — respondeu e tentou tirar o travesseiro do meu rosto, mas não deixei. — Vem cá — pediu e eu levantei meu dedo, negando com ele. — Para de bobeira. — Ele não parava de rir e isso aumentava ainda mais minha vergonha.
— Depois dessa, eu vou até dormir. — Troy virou para o lado. — Ainda bem que eu não fui para a casa do Eric, eu iria perder isso — debochou, então o empurrei do colchão, o que o fez rir ainda mais. — Nunca mais chamo um pênis de pau, vai ser joelho para o resto da vida.
— Vai à merda, Troy! — Eu nem ao menos conseguia olhar para aqueles dois.
— Boa noite para vocês e para o joelho. — O garoto não parava de zoar e minha vergonha não parava de ficar maior.
— O joelho deu boa noite — respondeu e eu o acertei com o travesseiro, o fazendo rir ainda mais. — Peguei! — disse, segurando meus braços e me puxando para cima de si, mas soltei o peso de meu corpo e escondi meu rosto na curva de seu pescoço, que cheirava extremamente bem. — Hey, olha para mim. — Tentou me fazer levantar o rosto, mas me neguei a fazer isso.
— Não quero. — Passei meus braços pelos seus ombros, o abraçando. — Me deixa quieta e morrer com a minha vergonha em paz. — riu mais um pouco e me abraçou de volta, alisando minhas costas e colocando a mão por baixo de minha camiseta, segurando minha pele de um jeito gostoso, fazendo uma massagem. — Se continuar assim, eu vou dormir — falei de um jeito dengoso.
— Pode dormir. — Sua voz sussurrou em meu ouvido, me causando arrepios. — Contando que você esteja bem. — Passou o nariz em minha orelha em forma de carinho.
— Está tudo bem aí? — Joe perguntou, saindo do banheiro, e só senti fazendo um sinal com a mão. — Pode apagar a luz?
— Pode — respondi e tudo ficou no maior breu, então saí de cima do .
— Por que fez isso? — quis saber.
— Não preciso esconder a minha cara de vergonha agora, está escuro — falei e ri um pouco, então me puxou para perto dele.
— Com vergonha de mim, é sério mesmo? — disse baixo, em meu ouvido. — Você faz tanta coisa e não tem vergonha.
— É que... Sei lá. — Meu rosto voltava a queimar só de lembrar o que tinha acabado de fazer. — Não tenta me entender, eu sou toda errada — repeti suas palavras.
— Minha errada. — Senti seu rosto perto do meu. — Não precisa ficar com vergonha de mim. — Seu nariz passou pela lateral do meu e a ponta de sua língua tocou meus lábios, me provocando.
— Não é de você exatamente. — Era mais complicado que isso. — Eu tenho vergonha de umas coisas nada a ver mesmo. Sinto vergonha quando ficam me olhando por muito tempo, e não importa quem seja, ou quando reparam meu corpo nu. Nossa, me mata quando eu transo com alguém e a pessoa fica me reparando, sabe, olhando meu corpo. — E só de falar aquilo em voz alta, já ficava com meu rosto quente. — Me sinto estranha.
— Você tem vergonha do seu corpo? — Sua pergunta fez com que eu me encolhesse um pouco, pois tinha acertado o ponto.
— Talvez eu seja mais ferrada da cabeça do que parece — confessei, pensando nos motivos para me sentir daquele jeito. — Quando as pessoas passam muito tempo falando que você é feio, uma hora você acaba acreditando. — Suspirei e me abriguei nos braços de .
— Quando foi isso? — quis saber, enquanto me abraçava com firmeza.
— No Middle School. — Aquelas lembranças não eram muito agradáveis. — Eu usava aparelho e óculos, além de ser extremamente magrela. Parecia uma ratinha. — Na verdade, era assim que os outros me chamavam. — Falavam que não podiam chegar perto de mim, ou iriam pegar a minha doença da feiura.
— Às vezes as crianças são más. — Ele tinha razão, e elas foram muito más comigo.
— As meninas me batiam. Sempre que passavam por minha carteira, elas empurravam minha cabeça contra a parede. Falavam que eu não podia chegar perto dos meninos, ou elas iriam me matar. — Aquilo me fez ficar com raiva, eu odiava tanto aquelas garotas. — Então eu comecei a acreditar que nunca seria bonita como elas. Até que entrou um menino novo na minha classe. Andrew era um ano mais velho, estava atrasado porque havia sofrido um acidente de carro com o pai e não pôde voltar para a escola por seis meses. Ele tinha uma cicatriz enorme na lateral do rosto. Uma linha de um corte que ia de cima da sua sobrancelha até o maxilar. — Sorri ao lembrar do And. Ele era legal, era diferente dos outros. — Ele se sentou ao meu lado, então acabamos conversando. Por causa da sua história e da cicatriz dele, rapidamente Andrew virou a sensação da sala. Todo mundo queria ser amigo dele e as meninas queriam namorar ele. — Ri um pouco fraco daquilo, foi engraçado. — Mas ele podia até falar com todo mundo, mas sempre estava comigo e com a Kehlani, minha melhor amiga da época. Então acabamos virando um trio, estávamos juntos em todos os lugares. Até que fomos chamados para uma festa e a Keh não pôde ir. Eu fui, e quando cheguei, Andrew não tinha chegado, pensei até que não iria. E lá me encontrava, sozinha no canto porque ninguém queria chegar perto de mim, porque eu era a super feia, esquisita. — escutava tudo o que eu falava sem comentar nada. — Então Andrew apareceu depois de umas duas horas, me mandou mensagem para encontrar com ele na porta, porque não queria entrar sozinho. Eu fui, me lembro que estava apaixonadinha por ele. — E novamente ri um pouco. And tinha sido minha salvação no Middle School. — Aí entramos e ficamos sentados na janela conversando, então ele teve coragem para perguntar por que eu não falava com os outros, aí comecei a contar e no fim ele me pediu para soltar o cabelo e tirar meus óculos, porque queria ver uma coisa. E eu fiz. — Dei um sorriso, me lembrando daquilo como se tivesse sido ontem. — Andrew ficou me olhando por algum tempo, sorriu e disse que eu era linda, que não tinha motivos para o pessoal falar que eu era feia. Que se eu me arrumasse, qualquer menino ficaria louco por mim e que não era para dar ouvido às meninas, que era para eu revidar quando elas viessem para cima, pois eu era mais alta que elas. — Eu agradecia mentalmente isso hoje em dia, pois sou quem sou por causa de Andrew, pelo que ele me disse. — Concordei com ele e fiquei feliz, achando que Andrew gostava de mim, mas nesse ponto me enganei, eu não era bonita o suficiente para isso. Ele estava afim da Daya, a menina loira que tinha o cabelo extremamente escorrido, olhos azuis e era filha do prefeito da cidade. Ela estudava conosco e era uma das meninas que me zoava. Daya era realmente muito bonita, apesar de tudo. — Suspirei e relaxei um pouco o meu corpo. — Então percebi que não importava o quanto eu me arrumasse, eu não era bonita e nunca chegaria nem aos pés da Daya. As meninas tinham razão, eu era a feiosa. Mas a raiva me fez mudar. Eu coloquei lente de contato, parei de prender o meu cabelo, pintei minha franja de vermelho, comecei a passar lápis de olho e a usar brinco. Parei de usar a calça do colégio e pedi para a minha mãe comprar uma calça jeans, pois era permitido. E foi de um dia para o outro que apareci totalmente diferente no colégio. E foi com num passe de mágica. Eu me tornei a garota que todos os meninos queriam conversar, as meninas ficaram com raiva e vieram para cima de mim, mas eu revidei e não deixei que me batessem. Nossa, eu estava com muita raiva. E, com o passar do tempo, eu fui ganhando corpo extremamente rápido, pois jogava bola.
— E o Andrew? Ele fez o quê? — perguntou bem curioso e eu ri um pouco.
— Começou a namorar a Daya. — Dei de ombros, hoje em dia não fazia a menor diferença. — Mas não parou de falar comigo. Depois ele se separou dela, não lembro o motivo, e tentou ficar comigo, mas eu não quis. Não nasci para ser segunda opção de ninguém. — deu uma gargalhada alta e eu o cutuquei para rir mais baixo. — No ano seguinte, eu me mudei de escola, e nessa nova teve uma eleição muito ridícula para eleger a menina mais cobiçada da escola, e eu ganhei. Nem sei como, não conhecia quase ninguém.
— Isso foi para você ver que o Andrew tinha razão, você é linda. — Ao ouvir aquilo, eu fiquei com vergonha. — As garotas tinham inveja de você, isso sim.
— Não importa. Nada importa e não importa quem diga. Eu sei que até hoje não consigo me achar bonita. Me olho no espelho e vejo o corpo que sempre desejei ter, mas não consigo gostar dele, acho imperfeições mesmo sabendo que aquilo não existe, que é coisa da minha cabeça. — Soltei o ar de meus pulmões de forma pesada e passei meu braço pela cintura de . — Então fico com vergonha quando ficam me olhando, ou quando falam que sou bonita. Na minha cabeça, só estão falando isso para me agradar. Eu sou toda errada mesmo. Esquece isso — pedi, me afastando um pouco dele. — E em relação a ter ficado com vergonha por ter segurado o seu joelho — brinquei com aquilo, já que estava escuro e ele não poderia ver a minha cara ficando vermelha de qualquer jeito. — É uma questão diferente. — Sorri de lado.
— Que questão? — Sua mão segurou minha cintura.
— A mesma que você ficaria sem graça se pegasse no meu peito na frente de alguém sem querer. — Tentei usar aquilo como explicação, mas era além disso ainda.
— Entendi.
— E também nós não transamos e eu me senti estranha te tocando dessa forma, foi como se eu tivesse passado do nível de intimidade que ainda não chegamos. — Mordi meu lábio inferior, incerta se deveria ter dito aquilo, sentindo o frio na barriga me tomar. — Eu sei que parece estranho e ainda estou me acostumando com o fato de ficarmos abraçados.
— Não é estranho. Entendi exatamente o que você disse e concordo com o lance de não termos chegado a esse nível. — Senti a mão dele apertar minha cintura de um jeito gostoso. — Eu te sufoco?
— O quê? — Me assustei com sua pergunta. — Como assim, ?
— Quero saber se fico muito em cima de você, te apertando e te abraçando muito. — Aquilo me pegou de surpresa.
— Não — respondi rapidamente. — Eu só não estou acostumada com abraços, porque eu não gosto dos outros me apertando, na verdade, detesto, mas os seus abraços não me incomodam, para ser sincera, eu até gosto deles — falei a verdade, não me incomodava de forma alguma. — Gosto de sentir seu cheiro de perto — brinquei. — E outra, eu te abraço bastante também. Se não gostasse, nem ao menos chegaria perto. — Então ele se aproximou, fazendo nossos corpos ficarem colados. — Seus abraços são sempre no momento certo — disse, passando meus lábios por cima dos dele.
— É? Mas o que eu faço no momento certo? — perguntou, beijando meu queixo e depois meu maxilar.
— Não sei — respondi completamente desconcentrada com seus lábios contra minha pele.
— Não sabe? — Seu tom de voz era bem provocativo e me fez suspirar. — Ou não quer falar? — Ele beijava meu pescoço lentamente.
— Não consigo pensar com você fazendo isso — confessei, e segurei seu rosto, levando de encontro ao meu e o beijando com vontade.
Sua mão apertou minha cintura e puxou meu corpo de encontro ao dele, minhas pernas se intercalaram com as suas enquanto minha mão já soltava seu rosto e descia pelo seu peito nu, passando a unha contra sua pele bem de leve, apenas para provocar. passou seu braço por debaixo de meu pescoço e me fez rolar pra cima dele. Minhas duas mãos foram parar em sua costela, onde arranharam com um pouco de força. Ele segurou os cabelos de minha nuca, o puxando de um jeito gostoso que me deixava excitada, e sua outra mão desceu pelas minhas costas, segurando minha cintura, depois desceu mais um pouco até chegar à polpa de minha bunda e a apertou com vontade, me fazendo subir um pouco mais. Soltei seus lábios e fui até sua orelha, passando os dentes em seu lóbulo e a língua pelo contorno de sua cartilagem, e ele tentou me tirar dali, virando seu rosto para o mesmo lado do meu, mas segurei seu queixo e o virei para o lado oposto, dando uma pequena risada baixa e fazendo a mesma coisa que antes. Sua outra mão desceu e segurou minha bunda, e seu quadril se moveu contra o meu, me provocando.
— Você não quer entrar nessa, — sussurrei em seu ouvido e meus dentes deslizaram por sua orelha, um gemido quase inaudível saiu de seus lábios e seu peito subiu e desceu de forma lenta.
— Não me desafie, — rebateu como um belo jogador, já subindo uma de suas mãos até alcançar meus cabelos. — Porque o que mais quero é entrar nessa — disse entredentes, segurando os cabelos de minha nuca e me afastando de seu ouvido.
O celular de Troy começou a tocar, o que me fez pular de cima de e rolar para o lado com o coração na boca diante do susto que levei. Peguei o aparelho e vi o nome de Eric no visor. Nossa, como eu queria matar aquele loiro. Passei meu dedo pela tela, atendendo rapidamente. Se bem conhecia Troy, ele tinha morrido e a casa podia cair que ele não acordaria.
— Oi — falei baixinho para não acordar Stephen e nem Joe.
— Troy já está dormindo? — Eric perguntou, mais aquilo era mais uma conclusão.
— Sim. Morreu aqui. — Olhei para o menino, que já babava em seu travesseiro.
— Beleza. Amanhã eu falo com ele. Beijos.
— Beijos — me despedi e encerrei a ligação. — Isso é um sinal — brinquei com , que já riu.
— É Deus falando para nós dois não transarmos antes do casamento? — zombou e eu empurrei seu ombro, segurando minha risada.
— É Deus falando que eu ainda estou acordado e ouvindo essa safadeza de vocês — Joe avisou e nós três rimos. Eu estava com vergonha, mas estava escuro demais ali para alguém ver minha cara ficando vermelha.
— Também estou — Stephen, que sempre se fazia de morto falou, nos causando mais risadas ainda.
— e o estavam transando? — Ouvimos a voz de vindo lá de baixo.
— Não, mas estavam quase — Joe contou e eu joguei um travesseiro nele totalmente às cegas. — Errou! — ele fez uma voz muito engraçada e eu gargalhei.
— Cala a boca, Joe. — Mandei e um travesseiro me acertou, e esse veio de . — Hey! — Tomei aquilo de sua mão e o acertei de volta.
Começamos uma guerra de travesseiros no escuro, e era engraçado, porque nunca sabíamos de onde iria vir a porrada. Ficamos nessa até nos cansarmos e voltarmos a nos deitar, conversando um pouco mais. Peguei meu celular e comecei a mexer nele, procurando uma foto na nuvem da vez que coloquei piercing Monroe, mas precisei tirar porque inflamou por não cuidar direito. Na época, eu estava tocando o foda-se para a vida, fumando, bebendo e passando o rodo na cidade. Foi bem louca essa época, mas me rendeu algumas aventuras bem engraçadas.
— Ow, ow, ow. Volta — pediu e eu senti meu rosto queimar, pois tinha passado rápido porque eram fotos de seminudes que uma amiga havia tirado na mesma época, onde eu vestia apenas uma camisa masculina e calcinha, mas não mostrava muita coisa.
— Não — respondi e continuei passando, o ignorando completamente.
— É sério, deixa eu ver, por favor. Fiquei curioso. — Estreitei os olhos e olhei por cima do meu ombro, encarando .
— Não está mostrando nada — tentei argumentar.
— Se não está mostrando nada, me mostra. — Ele tinha um sorrisinho nos lábios.
— Ok, vou mostrar só as editadas. — Voltei a olhar para frente e procurar as fotos.
— Não. Quero ver as sem edição. — O encarei novamente.
— Toma, então. — Entreguei o celular a ele, que pegou de minha mão enquanto eu já virava para frente.
Não queria ver a reação de ao olhar as fotos. Eu tinha vergonha delas por motivos óbvios, tanto que foram pouquíssimas pessoas que viram, no máximo umas quatro, contando com a minha amiga que tinha as tirado. Enquanto permanecia calado, o tempo parecia que se arrastava, até que ele devolveu o meu iPhone.
— Toma, tira isso da minha mão, pelo amor de Deus — disse de um jeito engraçado e eu o olhei. — Vou dormir depois disso. — Se virou para o outro lado, ficando de costas para mim.
— O quê? O que houve? — Não entendi nada. Será que ele tinha ficado puto por causa das fotos? — ? — chamei, desligando a tela do meu celular e me virei, encostando meu queixo em seu ombro. — O que foi?
— Me deixa dormir, por favor. — Abraçou seu travesseiro e eu ergui as sobrancelhas, não entendendo sua reação.
— Ok — falei, por fim, e me afastei, virando para o outro lado e me enrolando no edredom.
Demorei muito para pegar no sono, eu virava de um lado para o outro e não conseguia dormir. A reação de realmente tinha me incomodado e não saía de minha cabeça. Repetidas vezes me virei para ele e pensei em acordá-lo, a agonia estava me incomodando demais e eu estava a ponto de surtar comigo mesma por causa de uma coisa tão boba, mas não conseguia ficar ali. Então me levantei sem fazer movimentos bruscos e peguei meu roupão preto de microfibra, o vestindo e descendo as escadas descalça para não fazer barulho. Vi deitada no sofá, vendo TV. Ela me encarou como se eu fosse um fantasma, provavelmente se assustando com a minha presença ali às quatro e meia da manhã. Fiquei parada onde estava, pensando no que fazer, e depois voltei a andar, me deitando no sofá que minha prima estava, ficando atrás dela. Apenas me encolhi ali e fiquei calada enquanto assista 10 coisas que odeio em você, que estava passando e tinha acabado de começar. Aquele era o nosso filme favorito. Ficamos caladas, já que não estava falando comigo ainda, mas acabávamos comentando uma coisa ou outra do filme.
— É agora! — falamos empolgadas quando Patrick pagou o cara do som para usar o equipamento para poder cantar Can't Take My Eyes Off You para a Kat. Isso nos fez rir e eu gostei disso.
Até que chegou a parte do poema e começou a chorar, então eu apenas a abracei. O engraçado que eu era a canceriana e ela quem chorava. Ficamos daquele jeito, vendo o resto do filme enquanto ela se desmanchava em lágrimas. Quando terminou, peguei o controle, que estava no braço do sofá, e o desliguei. O dia já estava nascendo e a luz da manhã entrava por debaixo das persianas. Bem, pelo menos o filme distraiu minha cabeça e me fez rir um pouco, me fazendo relaxar e por fim conseguir dormir abraçada com minha prima, que não parava de chorar. Não sei quando ela parou, só percebi quando acordei com o barulho de alguém abrindo a porta da varanda. Vi passar por ela com cuidado, mas apenas voltei a abaixar a cabeça e dormir mais um pouco. E, por um milagre, eu não tive pesadelo daquela vez, o que me fez entrar em um sono profundo e pesado como não tinha há muitos anos.
Abri meus olhos, sentindo o cheiro de café, e vi abraçada comigo. me viu me mexendo, então sorriu, achando que tínhamos feito as pazes, mas na verdade não sabia o que aquilo significava. Tirei o braço de minha prima de cima de mim e me levantei com cuidado para não a acordar. Fui até meu amigo e o abracei por trás, encostando minha cabeça em suas costas. Ele passou sua mão por cima da minha que estava em sua barriga e me olhou por cima de seu ombro. Apenas suspirei e o soltei, me sentando na pia ao lado dele.
— O que houve? — perguntou baixo, sem estar afim que alguém nos ouvisse. — Por que dormiu aqui com a ? Ela está bem?
— Na verdade, não sei. Não vim aqui para baixo por causa dela — confessei no mesmo tom de voz e ele me olhou com as sobrancelhas unidas, achando estranho aquilo. — agiu de um jeito estranho ontem. — Abaixei a cabeça, olhando meus pés balançando. — Eu fiquei incomodada e não consegui dormir, então desci e fiquei vendo filme com a .
— O que ele fez? — quis saber e eu dei de ombros, demonstrando que não era nada demais e que era puro exagero meu. — Vamos, . Me fale — insistiu e eu apenas suspirei, então acabei contando. — é maluco, não dê ideia para essas doideiras dele. — Eu queria seguir seu conselho, mas era difícil que aquilo entrasse em minha cabeça, me importava demais com ele para ignorar.
— Mudando de assunto, eu tive uma ideia que pode te ajudar com ela. — Indiquei com a cabeça onde estava. — Acho que vai dar certo. — Sorri, tentando animá-lo.
— Me conta logo. Faço qualquer coisa. — Ri um pouco daquilo e contei. — Sério? Acha mesmo que ela vai me desculpar se eu fizer isso?
— Olha, tem 80% de chances. — Isso fez sorrir. — Então, posso te ajudar. O que acha?
— Fechado. — Estendeu a mão, então a peguei, fazendo um trato.
— Mas que porra é essa? — perguntei, vendo Bradley através da janela da cozinha na porta da casa das Blossoms, aos beijos com Sophie.
— Ah, não, está de sacanagem! Bem que eu vi que ele não tinha dormido lá no quarto, pensei que tinha subido — comentou, mas eu já desci do balcão, indo em direção à porta. — Não, não faça escândalo na frente dela, é o que ela quer. Ver você afetada. — É, ele tinha total razão.
— Nossa, eu não acredito nisso, ! — Passei a mão em meus cabelos e olhei de novo pela janela, mas eles não estavam mais lá.
— Nem eu estou conseguindo acreditar. — Ele tinha a mesma cara que eu.
— O que vocês não conseguem acreditar? — perguntou atrás de nós, fazendo eu e darmos um pulo de susto.
— O Bradley... — começou a explicar, mas o dito cujo já passou pela porta da cozinha e eu fui para cima dele.
— Você tem merda na cabeça? — berrei, o empurrando pelo peito. — É sério? A Sophie? — Bradley uniu as sobrancelhas. — Não acredito que você é tão idiota assim!
— Idiota por quê? Hm? — ele rebateu tão nervoso quanto eu. — Não sabia que agora você controlava com que eu ficava.
— O quê? — Fiz uma cara de chocada. — Não é nada disso! Sophie nem gosta de você, Bradley! Ela está fazendo isso para me afetar! — Apontei para a casa do lado. — Larga de ser burro.
— Claro, porque ela nunca se atrairia por mim, assim como você. Não é mesmo? Eu sou só o amigo de todo mundo, ninguém nunca vai querer ficar comigo porque não sou foda, alto, não tenho cabelo grande, não sou cheio de tatuagens e nem tenho os olhos claros. — Jogou aquilo na minha cara, me acusando, enquanto se aproximava de mim até colocar seu indicador contra meu peito. — Estou cansado disso, cansado de ser jogado para escanteio como você fez comigo desde que cheguei aqui. Cansado de ser a segunda opção, mas, nesse caso aqui, eu não sou nem a quinta! — Não estava acreditando que ele estava mesmo jogando aquilo na minha cara. — Pessoalmente, eu concordo com a sua mãe. Você seria bem melhor com alguém como eu, mas o pior de tudo é que nem se dá conta disso. Só que vou fazer o que, não é mesmo? A única coisa que posso fazer é olhar você com ele e falar: Tudo bem. — Até começaria a rir se não estivesse tão impactada com suas palavras. — Mas quer saber? Sinceramente, você não é nada do que eu pensei que era.
— É, você está certo — falei com raiva e dei um tapa em seu dedo que ainda me encostava. — Não sou nada do que você pensava. Porque claramente eu iria cair de amor nos seus braços quando me beijasse sem o meu consentimento, né? — soltei aquilo em alto e bom tom para ver se ele entendia o que tinha feito. — Não sei como essa merda pode fazer sentido na sua cabeça! Eu me afastei porque você me sufoca! Me cercava o tempo todo como se eu tivesse te chamado para passar o versão comigo com segundas intenções. Eu nunca, jamais dei qualquer indício de que queria ficar contigo. Se você achou isso, reveja seus conceitos. Porque claramente uma mulher não pode ser legal com um cara, que ela já quer dar para ele. É isso que você acha, né?
— Foi mal se o meu amor te sufoca. — E, como antes, suas palavras me deixaram sem reação. — Mas me pergunto se você é lerda ou se faz de sonsa? Até parece que nunca percebeu a forma como eu sempre fico quando me chama, o jeito que eu te olho, ou então o jeito que fico quando estou ao seu lado. — Céus, aquilo estava fugindo totalmente do controle. — Você sabe, . Sempre soube, mas preferiu ficar com ele. — Apontou para extremamente indignado. — Estou cansado de ser só o seu amigo, de estar ao seu lado e ser ignorado. Estou cansado de estar cansado. — Deixou seus ombros caírem enquanto me encarava. Seus olhos estavam cheio d’água. — Você é egoísta — falou com raiva e eu estava boquiaberta. — E, sim, eu vou ficar com a Sophie. De qualquer forma, ela é mais bonita que você mesmo. — O que ele disse me fez gritar de ódio, e eu estava querendo mandar Bradley para o inferno naquele segundo.
— Pelo menos é um homem de verdade. — Foi a única coisa que falei, por fim, não tinha o que ficar argumentando com Bradley. Eu gostava de e ficaria com ele e não com outra pessoa apenas porque ela gostava de mim. — E obrigada por me mostrar que a sua amizade foi mero interesse em me pegar. Você pode pegar as suas coisas e voltar para a sua casa, não é mais bem-vindo aqui. — Dei as costas e saí andando, me esquivando da plateia que tinha se formado atrás de mim, enquanto secava minhas lágrimas que rolavam pelo meu rosto.
Empurrei a porta da varanda com força e ela quase voltou em mim, batendo quando passei por ela. Me sentei nos degraus da frente e abracei a minha cabeça, morrendo de raiva enquanto chorava. Então era para isso que eu servia? Era apenas um objeto de desejo. Nada de atrativo além disso e ainda por cima nem era bonita o suficiente. Nossa, eu era realmente um lixo, né? Que não servia para nada. Isso só confirmava ainda mais a minha teoria de que os outros só falavam as coisas para me agradar. O que me fazia questionar o que o estava fazendo comigo. Nem transar com ele eu transava. Então por que continuava ao meu lado?
Senti um par de mãos tocarem as minhas, desvencilhando o meu abraço com minha cabeça. Vi na minha frente, mas eu não estava com a menor vontade de falar com ele.
— Sai de perto de mim você também. — Me soltei de suas mãos e ele me olhou sem entender nada.
— O que eu te fiz? — perguntou, querendo saber o motivo daquela minha reação.
— Agiu feito um idiota ontem! — Joguei na cara dele. Eu estava irritada e não tinha nada que fosse me parar. Eu chorava ainda mais.
— Me desculpa se eu fiquei excitado vendo fotos da minha namorada! — rebateu um pouco nervoso e aquilo fez meu rosto queimar extremamente. — Se eu apenas me virasse para você, não teria conseguido me controlar, e, sinceramente, prefiro que fique com raiva de mim do que te desrespeitar! — Aquilo me fez abaixar a cabeça e chorar ainda mais, me sentindo culpada agora por ter ficado irritada com a atitude dele. — Hey, amor. — Se aproximou novamente e ao me chamar daquele jeito me fez chorar compulsivamente. — Desculpa, não queria que tivesse ficado magoada com aquilo, eu sou um babaca às vezes. — Me abraçou apertado e eu estava quase berrando de raiva de mim mesma naquele momento com as desculpas dele. Não queria que se desculpasse enquanto claramente a problemática ali era apenas eu. — Foi por isso que você dormiu com a , né? — Concordei com a cabeça, sentindo meu peito doer. — Você podia ter me acordado e conversado comigo. — Neguei. Eu até pensei naquilo, mas era algo tão idiota que não valia a pena fazê-lo acordar, já que era tão difícil conseguir dormir. — Sobre o Bradley, deleta todas as babaquices que ele disse, aquilo é só ego ferido. E se Brad realmente só tinha interesse em ficar contigo, eu posso dizer que sem sombra de dúvidas ele é burro. Porque, acima de tudo, você é a pessoa mais interessante que eu conheci até hoje, a sua amizade é mais valiosa do que qualquer coisa. — E meu choro ficava mais descontrolado à medida que falava. — Se um dia nós terminarmos, eu quero continuar sendo o seu amigo, porque eu piraria se não pudesse.
— Não precisa falar isso só para me fazer parar de chorar e me agradar — falei entre soluços. — Nem sei por que você ainda está comigo. Nem bonita eu sou.
— Olha. — Ele segurou meu rosto e se abaixou na minha frente, me obrigando a encará-lo. — Nunca mais ouse dizer uma idiotice dessas, entendeu? Eu não falo bosta nenhuma para te agradar, digo apenas o que acho. Você é linda, especialmente por dentro. E eu estou contigo porque gosto de você, de quem é, porque, primeiro de tudo, o que me conquistou foi a que falava comigo por telefone, a qual eu nem sabia como era fisicamente. — Seus olhos olhavam dentro dos meus de forma tão intensa que me causava falta de ar. — Então para de pensar bobagens só porque um moleque mimado, cheio de inveja e ego ferido resolveu que seria legal falar um monte de coisas sem sentido. — Eu segurei sua mão que estava sobre meu rosto e chorei ainda mais. — Vem cá. Vai ficar tudo bem. — Me puxou e seus braços me envolveram firmemente.
Chegamos da rua, tínhamos passado o dia fora, e quando entrei no quarto, ouvi um barulho estranho. Uni as sobrancelhas e olhei para os lados, procurando de onde vinha. Procurei e não achei, então olhei embaixo da cama e um berro saiu de minha garganta quando vi uma cobra enroladinha lá, mostrando sua língua. Saí correndo do quarto e todo mundo já veio ao meu encontro. Eu estava tão apavorada com aquele bicho que eu pulei em cima do , me agarrando nele e passando minhas pernas por sua cintura. Ele me segurou como se estivesse me protegendo, e não perguntou nada, só me tirou dali.
— O que foi, ? — perguntou, vindo atrás de nós, enquanto os meninos iam para o quarto.
— Uma cobra embaixo da cama — respondi como uma criança, me escondendo no cabelo comprido de , afundando meu rosto no pescoço dele.
— Você está tremendo — comentou, afagando minhas costas de um jeito carinhoso. — Senta aqui, vou pegar água para você. — Me colocou sentada sobre o balcão da cozinha e eu me encolhi ali em cima, abraçando minhas pernas, morrendo de medo daquele bicho peçonhento.
— Eu vou tirar ela de lá — Stephen falou e foi até o quarto, ele gostava de cobras e esses bichos nojentos.
— Toma aqui. — segurou minhas mãos e me entregou um copo de água com açúcar. — Fica calma. — Passou a mão em meus cabelos e eu apenas neguei com a cabeça. Não dava para ficar calma. — Stephen vai dar um jeito nisso — disse de um jeito carinhoso.
— Como aquele bicho entrou lá? — perguntei, achando aquilo estranho.
— Eu acho mais provável que tenham colocado lá — Joe sugeriu, se sentando ao meu lado, e eu o encarei enquanto bebia a água que tinha me dado.
— Quem faria uma coisa dessas? — quis saber, porque né. Nem eu conseguia pensar que alguém seria capaz de fazer tal coisa.
— Quem? Sophie — falou como se fosse bem óbvio. — Ela odeia a . — Ele abraçou minha amiga por trás e encostou seu queixo no ombro dela. — Mas não tem como provar que foi.
— Você acha que ela faria isso? — o olhou e concordou com a cabeça. — Eu não sei, acho que não.
— Eu também acho que ela faria — concordou, cruzando seus braços e me olhando. — Acho que faria até pior. Sophie acha que foi a quem fez tudo contra ela. — Seu olhar recaiu sobre , que revirou os olhos e saiu de perto. Ela ainda estava brigada conosco. — Ainda mais depois que a riu da cara dela com o lance com o . Deve estar procurando um jeito de atingi-la de alguma forma.
— Ela acha que estamos no jardim de infância? — rebateu um pouco irritado, e eu ainda estranhava vê-lo daquele jeito. — Vou falar com ela, isso não pode continuar assim. — Tentou sair dali, mas rapidamente segurei seu braço.
— Deixa que eu resolvo isso — falei, dando outro gole na água e todo mundo me olhou.
— Você não vai fazer nada — interviu, me conhecendo bem e sabia que eu pegava pesado nas minhas vinganças quando estava irritada.
— E o que a poderia fazer? — Bradley, que até então só estava quieto, perguntou, com seus braços cruzados.
— Esse é o problema, minha irmã nunca sabe o que fazer quando está com raiva, ela só faz sem medir as consequências — explicou, olhando para Bradley, que ergueu as sobrancelhas. — Então você não vai fazer nada. Ouviu? — Meu irmão me encarou agora e falou como se fosse nosso pai. — Não precisamos de mais problemas.
— Não se preocupe, não vou machucar ninguém. — Dei um sorriso de lado. — Não fisicamente. — revirou os olhos e eu soltei uma risada pelo nariz.
— Sophie está muito ferrada — falou, rindo. Ele se divertia com aquilo.
— Ferrada é pouco. — Joe riu também. — Essa cabecinha aí não presta. — Empurrou minha cabeça com o indicador. — Eu deveria ter pena dela?
— Deveria ter pena de nós — respondeu e riu. — Garota louca, e a ainda quer ficar batendo palma para ela dançar.
— Eu adoro bater palma para maluco dançar. Dança aí, . — Coloquei o copo de lado, comecei a bater palma e ele fez uma dancinha muito ridícula, o que arrancou risadas de todo mundo. — Mas relaxem, não vou fazer nada. — Fiz um biquinho, até que vi Stephen voltando com a cobra enrolada na mão. — Tira esse bicho daqui! — berrei, segurando e colocando ele na minha frente, como se fosse um escudo.
— Não é selvagem. Alguém comprou e colocou ela lá — observou e ficou brincando com o bicho. — Se eu a soltar, vai acabar morrendo.
— Então leva isso para algum lugar, só não deixa aqui! — pedi, puxando a camisa de de tanto nervoso que aquilo estava me dando.
— Ok. Vou ver o que faço com ela. — Saiu dali com aquele bicho na mão.
— Eu não quero dormir lá no quarto — falei, ficando arrepiada só de lembrar daquele bicho embaixo da cama.
— Tudo bem, nós podemos dormir lá em cima. e dormem lá no quarto então? — sugeriu e os dois se entreolharam, e depois encarou , que estava sentada no sofá.
— Se o Bradley quiser dormir lá, pode dormir. Eu vou dormir aqui — minha prima respondeu e se levantou, certamente para pegar suas coisas.
— , vocês têm que se resolver — soltei um pouco triste, não estava mais aguentando aquela briga deles.
— Você quer que eu faça o quê? Ela não quer olhar nem na minha cara! — Levantou os braços e depois bateu em suas coxas, mas eu podia ver a tristeza estampada em seu rosto. — Sinceramente, eu não sei o que fazer. — Deixou seus ombros caírem.
— Vou tentar pensar em mais alguma coisa... — falei, olhando de um jeito triste para , mas já comecei a maquinar algo. — Me desculpe por ter te colocado nessa.
— Tudo bem. — Ele deu um meio sorriso. — Vou me deitar na rede lá fora. — Saiu andando em direção à varanda.
Desci do balcão e fui pegar minhas coisas no quarto para me deitar lá em cima com os meninos. Troquei de roupa, escovei os dentes e subi. Os colchões já estavam arrumados e todos estavam deitados, conversando. Me deitei entre Troy e , o qual vestia apenas uma cueca samba canção, definitivamente aquilo era um atentado ao meu juízo. O colchão que estávamos era king, então cabia nós três de boas ali. Ficamos conversando e rindo um bocado, pois um falava mais besteira que o outro. estava deitado de lado, com a perna meio dobrada, entrelaçada com a minha, como que se já ter seu corpo seminu ao meu lado fosse pouco.
— Mas é sério — falei, rindo de mim mesma. — Sua rótula do joelho não mexe? — perguntei a , que ria de mim como se eu fosse uma perfeita louca que estava falando besteira.
— Não. Você que é toda errada — respondeu e eu já comecei a apalpar por cima do edredom, procurando seu joelho para provar a ele que a rótula mexia, sim, quando era empurrada.
— Cadê seu joelho? — perguntei, rindo de nós dois, e Troy estava se torcendo ao meu lado, rindo daquilo tudo. — Meu Deus, ! Fica parado — reclamei, já que ele não me deixava pegar em seu joelho, até que achei e uni as sobrancelhas, achando que tinha algo muito estranho.
— — chamou, tentando ficar sério e eu apertei de leve o local onde minha mão segurava. — Isso não é meu joelho. — Meus olhos desceram e eu olhei onde minha mão estava. Automaticamente, minha cara inteira queimou.
— Não! — berrei e tirei a mão dali, rolando no colchão, me afastando e caindo em cima de Troy, enquanto escondia meu rosto no travesseiro.
— Ah! Ela pegou no seu pau! — Troy gritou, rindo ainda mais e eu lhe dei uma cotovelada para calar a boca. — O joelho do mexe, ? — Ele não sabia ficar quieto e eu só escondia ainda mais meu rosto, me encolhendo de vergonha por ter pegado no lugar errado.
— Eu quero morrer — disse e minha voz saiu abafada por causa do travesseiro. Os dois idiotas não paravam de rir. — Parem de rir — pedi, sentindo que minha vergonha nunca iria passar.
— Desculpa, não dá — respondeu e tentou tirar o travesseiro do meu rosto, mas não deixei. — Vem cá — pediu e eu levantei meu dedo, negando com ele. — Para de bobeira. — Ele não parava de rir e isso aumentava ainda mais minha vergonha.
— Depois dessa, eu vou até dormir. — Troy virou para o lado. — Ainda bem que eu não fui para a casa do Eric, eu iria perder isso — debochou, então o empurrei do colchão, o que o fez rir ainda mais. — Nunca mais chamo um pênis de pau, vai ser joelho para o resto da vida.
— Vai à merda, Troy! — Eu nem ao menos conseguia olhar para aqueles dois.
— Boa noite para vocês e para o joelho. — O garoto não parava de zoar e minha vergonha não parava de ficar maior.
— O joelho deu boa noite — respondeu e eu o acertei com o travesseiro, o fazendo rir ainda mais. — Peguei! — disse, segurando meus braços e me puxando para cima de si, mas soltei o peso de meu corpo e escondi meu rosto na curva de seu pescoço, que cheirava extremamente bem. — Hey, olha para mim. — Tentou me fazer levantar o rosto, mas me neguei a fazer isso.
— Não quero. — Passei meus braços pelos seus ombros, o abraçando. — Me deixa quieta e morrer com a minha vergonha em paz. — riu mais um pouco e me abraçou de volta, alisando minhas costas e colocando a mão por baixo de minha camiseta, segurando minha pele de um jeito gostoso, fazendo uma massagem. — Se continuar assim, eu vou dormir — falei de um jeito dengoso.
— Pode dormir. — Sua voz sussurrou em meu ouvido, me causando arrepios. — Contando que você esteja bem. — Passou o nariz em minha orelha em forma de carinho.
— Está tudo bem aí? — Joe perguntou, saindo do banheiro, e só senti fazendo um sinal com a mão. — Pode apagar a luz?
— Pode — respondi e tudo ficou no maior breu, então saí de cima do .
— Por que fez isso? — quis saber.
— Não preciso esconder a minha cara de vergonha agora, está escuro — falei e ri um pouco, então me puxou para perto dele.
— Com vergonha de mim, é sério mesmo? — disse baixo, em meu ouvido. — Você faz tanta coisa e não tem vergonha.
— É que... Sei lá. — Meu rosto voltava a queimar só de lembrar o que tinha acabado de fazer. — Não tenta me entender, eu sou toda errada — repeti suas palavras.
— Minha errada. — Senti seu rosto perto do meu. — Não precisa ficar com vergonha de mim. — Seu nariz passou pela lateral do meu e a ponta de sua língua tocou meus lábios, me provocando.
— Não é de você exatamente. — Era mais complicado que isso. — Eu tenho vergonha de umas coisas nada a ver mesmo. Sinto vergonha quando ficam me olhando por muito tempo, e não importa quem seja, ou quando reparam meu corpo nu. Nossa, me mata quando eu transo com alguém e a pessoa fica me reparando, sabe, olhando meu corpo. — E só de falar aquilo em voz alta, já ficava com meu rosto quente. — Me sinto estranha.
— Você tem vergonha do seu corpo? — Sua pergunta fez com que eu me encolhesse um pouco, pois tinha acertado o ponto.
— Talvez eu seja mais ferrada da cabeça do que parece — confessei, pensando nos motivos para me sentir daquele jeito. — Quando as pessoas passam muito tempo falando que você é feio, uma hora você acaba acreditando. — Suspirei e me abriguei nos braços de .
— Quando foi isso? — quis saber, enquanto me abraçava com firmeza.
— No Middle School. — Aquelas lembranças não eram muito agradáveis. — Eu usava aparelho e óculos, além de ser extremamente magrela. Parecia uma ratinha. — Na verdade, era assim que os outros me chamavam. — Falavam que não podiam chegar perto de mim, ou iriam pegar a minha doença da feiura.
— Às vezes as crianças são más. — Ele tinha razão, e elas foram muito más comigo.
— As meninas me batiam. Sempre que passavam por minha carteira, elas empurravam minha cabeça contra a parede. Falavam que eu não podia chegar perto dos meninos, ou elas iriam me matar. — Aquilo me fez ficar com raiva, eu odiava tanto aquelas garotas. — Então eu comecei a acreditar que nunca seria bonita como elas. Até que entrou um menino novo na minha classe. Andrew era um ano mais velho, estava atrasado porque havia sofrido um acidente de carro com o pai e não pôde voltar para a escola por seis meses. Ele tinha uma cicatriz enorme na lateral do rosto. Uma linha de um corte que ia de cima da sua sobrancelha até o maxilar. — Sorri ao lembrar do And. Ele era legal, era diferente dos outros. — Ele se sentou ao meu lado, então acabamos conversando. Por causa da sua história e da cicatriz dele, rapidamente Andrew virou a sensação da sala. Todo mundo queria ser amigo dele e as meninas queriam namorar ele. — Ri um pouco fraco daquilo, foi engraçado. — Mas ele podia até falar com todo mundo, mas sempre estava comigo e com a Kehlani, minha melhor amiga da época. Então acabamos virando um trio, estávamos juntos em todos os lugares. Até que fomos chamados para uma festa e a Keh não pôde ir. Eu fui, e quando cheguei, Andrew não tinha chegado, pensei até que não iria. E lá me encontrava, sozinha no canto porque ninguém queria chegar perto de mim, porque eu era a super feia, esquisita. — escutava tudo o que eu falava sem comentar nada. — Então Andrew apareceu depois de umas duas horas, me mandou mensagem para encontrar com ele na porta, porque não queria entrar sozinho. Eu fui, me lembro que estava apaixonadinha por ele. — E novamente ri um pouco. And tinha sido minha salvação no Middle School. — Aí entramos e ficamos sentados na janela conversando, então ele teve coragem para perguntar por que eu não falava com os outros, aí comecei a contar e no fim ele me pediu para soltar o cabelo e tirar meus óculos, porque queria ver uma coisa. E eu fiz. — Dei um sorriso, me lembrando daquilo como se tivesse sido ontem. — Andrew ficou me olhando por algum tempo, sorriu e disse que eu era linda, que não tinha motivos para o pessoal falar que eu era feia. Que se eu me arrumasse, qualquer menino ficaria louco por mim e que não era para dar ouvido às meninas, que era para eu revidar quando elas viessem para cima, pois eu era mais alta que elas. — Eu agradecia mentalmente isso hoje em dia, pois sou quem sou por causa de Andrew, pelo que ele me disse. — Concordei com ele e fiquei feliz, achando que Andrew gostava de mim, mas nesse ponto me enganei, eu não era bonita o suficiente para isso. Ele estava afim da Daya, a menina loira que tinha o cabelo extremamente escorrido, olhos azuis e era filha do prefeito da cidade. Ela estudava conosco e era uma das meninas que me zoava. Daya era realmente muito bonita, apesar de tudo. — Suspirei e relaxei um pouco o meu corpo. — Então percebi que não importava o quanto eu me arrumasse, eu não era bonita e nunca chegaria nem aos pés da Daya. As meninas tinham razão, eu era a feiosa. Mas a raiva me fez mudar. Eu coloquei lente de contato, parei de prender o meu cabelo, pintei minha franja de vermelho, comecei a passar lápis de olho e a usar brinco. Parei de usar a calça do colégio e pedi para a minha mãe comprar uma calça jeans, pois era permitido. E foi de um dia para o outro que apareci totalmente diferente no colégio. E foi com num passe de mágica. Eu me tornei a garota que todos os meninos queriam conversar, as meninas ficaram com raiva e vieram para cima de mim, mas eu revidei e não deixei que me batessem. Nossa, eu estava com muita raiva. E, com o passar do tempo, eu fui ganhando corpo extremamente rápido, pois jogava bola.
— E o Andrew? Ele fez o quê? — perguntou bem curioso e eu ri um pouco.
— Começou a namorar a Daya. — Dei de ombros, hoje em dia não fazia a menor diferença. — Mas não parou de falar comigo. Depois ele se separou dela, não lembro o motivo, e tentou ficar comigo, mas eu não quis. Não nasci para ser segunda opção de ninguém. — deu uma gargalhada alta e eu o cutuquei para rir mais baixo. — No ano seguinte, eu me mudei de escola, e nessa nova teve uma eleição muito ridícula para eleger a menina mais cobiçada da escola, e eu ganhei. Nem sei como, não conhecia quase ninguém.
— Isso foi para você ver que o Andrew tinha razão, você é linda. — Ao ouvir aquilo, eu fiquei com vergonha. — As garotas tinham inveja de você, isso sim.
— Não importa. Nada importa e não importa quem diga. Eu sei que até hoje não consigo me achar bonita. Me olho no espelho e vejo o corpo que sempre desejei ter, mas não consigo gostar dele, acho imperfeições mesmo sabendo que aquilo não existe, que é coisa da minha cabeça. — Soltei o ar de meus pulmões de forma pesada e passei meu braço pela cintura de . — Então fico com vergonha quando ficam me olhando, ou quando falam que sou bonita. Na minha cabeça, só estão falando isso para me agradar. Eu sou toda errada mesmo. Esquece isso — pedi, me afastando um pouco dele. — E em relação a ter ficado com vergonha por ter segurado o seu joelho — brinquei com aquilo, já que estava escuro e ele não poderia ver a minha cara ficando vermelha de qualquer jeito. — É uma questão diferente. — Sorri de lado.
— Que questão? — Sua mão segurou minha cintura.
— A mesma que você ficaria sem graça se pegasse no meu peito na frente de alguém sem querer. — Tentei usar aquilo como explicação, mas era além disso ainda.
— Entendi.
— E também nós não transamos e eu me senti estranha te tocando dessa forma, foi como se eu tivesse passado do nível de intimidade que ainda não chegamos. — Mordi meu lábio inferior, incerta se deveria ter dito aquilo, sentindo o frio na barriga me tomar. — Eu sei que parece estranho e ainda estou me acostumando com o fato de ficarmos abraçados.
— Não é estranho. Entendi exatamente o que você disse e concordo com o lance de não termos chegado a esse nível. — Senti a mão dele apertar minha cintura de um jeito gostoso. — Eu te sufoco?
— O quê? — Me assustei com sua pergunta. — Como assim, ?
— Quero saber se fico muito em cima de você, te apertando e te abraçando muito. — Aquilo me pegou de surpresa.
— Não — respondi rapidamente. — Eu só não estou acostumada com abraços, porque eu não gosto dos outros me apertando, na verdade, detesto, mas os seus abraços não me incomodam, para ser sincera, eu até gosto deles — falei a verdade, não me incomodava de forma alguma. — Gosto de sentir seu cheiro de perto — brinquei. — E outra, eu te abraço bastante também. Se não gostasse, nem ao menos chegaria perto. — Então ele se aproximou, fazendo nossos corpos ficarem colados. — Seus abraços são sempre no momento certo — disse, passando meus lábios por cima dos dele.
— É? Mas o que eu faço no momento certo? — perguntou, beijando meu queixo e depois meu maxilar.
— Não sei — respondi completamente desconcentrada com seus lábios contra minha pele.
— Não sabe? — Seu tom de voz era bem provocativo e me fez suspirar. — Ou não quer falar? — Ele beijava meu pescoço lentamente.
— Não consigo pensar com você fazendo isso — confessei, e segurei seu rosto, levando de encontro ao meu e o beijando com vontade.
Sua mão apertou minha cintura e puxou meu corpo de encontro ao dele, minhas pernas se intercalaram com as suas enquanto minha mão já soltava seu rosto e descia pelo seu peito nu, passando a unha contra sua pele bem de leve, apenas para provocar. passou seu braço por debaixo de meu pescoço e me fez rolar pra cima dele. Minhas duas mãos foram parar em sua costela, onde arranharam com um pouco de força. Ele segurou os cabelos de minha nuca, o puxando de um jeito gostoso que me deixava excitada, e sua outra mão desceu pelas minhas costas, segurando minha cintura, depois desceu mais um pouco até chegar à polpa de minha bunda e a apertou com vontade, me fazendo subir um pouco mais. Soltei seus lábios e fui até sua orelha, passando os dentes em seu lóbulo e a língua pelo contorno de sua cartilagem, e ele tentou me tirar dali, virando seu rosto para o mesmo lado do meu, mas segurei seu queixo e o virei para o lado oposto, dando uma pequena risada baixa e fazendo a mesma coisa que antes. Sua outra mão desceu e segurou minha bunda, e seu quadril se moveu contra o meu, me provocando.
— Você não quer entrar nessa, — sussurrei em seu ouvido e meus dentes deslizaram por sua orelha, um gemido quase inaudível saiu de seus lábios e seu peito subiu e desceu de forma lenta.
— Não me desafie, — rebateu como um belo jogador, já subindo uma de suas mãos até alcançar meus cabelos. — Porque o que mais quero é entrar nessa — disse entredentes, segurando os cabelos de minha nuca e me afastando de seu ouvido.
O celular de Troy começou a tocar, o que me fez pular de cima de e rolar para o lado com o coração na boca diante do susto que levei. Peguei o aparelho e vi o nome de Eric no visor. Nossa, como eu queria matar aquele loiro. Passei meu dedo pela tela, atendendo rapidamente. Se bem conhecia Troy, ele tinha morrido e a casa podia cair que ele não acordaria.
— Oi — falei baixinho para não acordar Stephen e nem Joe.
— Troy já está dormindo? — Eric perguntou, mais aquilo era mais uma conclusão.
— Sim. Morreu aqui. — Olhei para o menino, que já babava em seu travesseiro.
— Beleza. Amanhã eu falo com ele. Beijos.
— Beijos — me despedi e encerrei a ligação. — Isso é um sinal — brinquei com , que já riu.
— É Deus falando para nós dois não transarmos antes do casamento? — zombou e eu empurrei seu ombro, segurando minha risada.
— É Deus falando que eu ainda estou acordado e ouvindo essa safadeza de vocês — Joe avisou e nós três rimos. Eu estava com vergonha, mas estava escuro demais ali para alguém ver minha cara ficando vermelha.
— Também estou — Stephen, que sempre se fazia de morto falou, nos causando mais risadas ainda.
— e o estavam transando? — Ouvimos a voz de vindo lá de baixo.
— Não, mas estavam quase — Joe contou e eu joguei um travesseiro nele totalmente às cegas. — Errou! — ele fez uma voz muito engraçada e eu gargalhei.
— Cala a boca, Joe. — Mandei e um travesseiro me acertou, e esse veio de . — Hey! — Tomei aquilo de sua mão e o acertei de volta.
Começamos uma guerra de travesseiros no escuro, e era engraçado, porque nunca sabíamos de onde iria vir a porrada. Ficamos nessa até nos cansarmos e voltarmos a nos deitar, conversando um pouco mais. Peguei meu celular e comecei a mexer nele, procurando uma foto na nuvem da vez que coloquei piercing Monroe, mas precisei tirar porque inflamou por não cuidar direito. Na época, eu estava tocando o foda-se para a vida, fumando, bebendo e passando o rodo na cidade. Foi bem louca essa época, mas me rendeu algumas aventuras bem engraçadas.
— Ow, ow, ow. Volta — pediu e eu senti meu rosto queimar, pois tinha passado rápido porque eram fotos de seminudes que uma amiga havia tirado na mesma época, onde eu vestia apenas uma camisa masculina e calcinha, mas não mostrava muita coisa.
— Não — respondi e continuei passando, o ignorando completamente.
— É sério, deixa eu ver, por favor. Fiquei curioso. — Estreitei os olhos e olhei por cima do meu ombro, encarando .
— Não está mostrando nada — tentei argumentar.
— Se não está mostrando nada, me mostra. — Ele tinha um sorrisinho nos lábios.
— Ok, vou mostrar só as editadas. — Voltei a olhar para frente e procurar as fotos.
— Não. Quero ver as sem edição. — O encarei novamente.
— Toma, então. — Entreguei o celular a ele, que pegou de minha mão enquanto eu já virava para frente.
Não queria ver a reação de ao olhar as fotos. Eu tinha vergonha delas por motivos óbvios, tanto que foram pouquíssimas pessoas que viram, no máximo umas quatro, contando com a minha amiga que tinha as tirado. Enquanto permanecia calado, o tempo parecia que se arrastava, até que ele devolveu o meu iPhone.
— Toma, tira isso da minha mão, pelo amor de Deus — disse de um jeito engraçado e eu o olhei. — Vou dormir depois disso. — Se virou para o outro lado, ficando de costas para mim.
— O quê? O que houve? — Não entendi nada. Será que ele tinha ficado puto por causa das fotos? — ? — chamei, desligando a tela do meu celular e me virei, encostando meu queixo em seu ombro. — O que foi?
— Me deixa dormir, por favor. — Abraçou seu travesseiro e eu ergui as sobrancelhas, não entendendo sua reação.
— Ok — falei, por fim, e me afastei, virando para o outro lado e me enrolando no edredom.
Demorei muito para pegar no sono, eu virava de um lado para o outro e não conseguia dormir. A reação de realmente tinha me incomodado e não saía de minha cabeça. Repetidas vezes me virei para ele e pensei em acordá-lo, a agonia estava me incomodando demais e eu estava a ponto de surtar comigo mesma por causa de uma coisa tão boba, mas não conseguia ficar ali. Então me levantei sem fazer movimentos bruscos e peguei meu roupão preto de microfibra, o vestindo e descendo as escadas descalça para não fazer barulho. Vi deitada no sofá, vendo TV. Ela me encarou como se eu fosse um fantasma, provavelmente se assustando com a minha presença ali às quatro e meia da manhã. Fiquei parada onde estava, pensando no que fazer, e depois voltei a andar, me deitando no sofá que minha prima estava, ficando atrás dela. Apenas me encolhi ali e fiquei calada enquanto assista 10 coisas que odeio em você, que estava passando e tinha acabado de começar. Aquele era o nosso filme favorito. Ficamos caladas, já que não estava falando comigo ainda, mas acabávamos comentando uma coisa ou outra do filme.
— É agora! — falamos empolgadas quando Patrick pagou o cara do som para usar o equipamento para poder cantar Can't Take My Eyes Off You para a Kat. Isso nos fez rir e eu gostei disso.
Até que chegou a parte do poema e começou a chorar, então eu apenas a abracei. O engraçado que eu era a canceriana e ela quem chorava. Ficamos daquele jeito, vendo o resto do filme enquanto ela se desmanchava em lágrimas. Quando terminou, peguei o controle, que estava no braço do sofá, e o desliguei. O dia já estava nascendo e a luz da manhã entrava por debaixo das persianas. Bem, pelo menos o filme distraiu minha cabeça e me fez rir um pouco, me fazendo relaxar e por fim conseguir dormir abraçada com minha prima, que não parava de chorar. Não sei quando ela parou, só percebi quando acordei com o barulho de alguém abrindo a porta da varanda. Vi passar por ela com cuidado, mas apenas voltei a abaixar a cabeça e dormir mais um pouco. E, por um milagre, eu não tive pesadelo daquela vez, o que me fez entrar em um sono profundo e pesado como não tinha há muitos anos.
Abri meus olhos, sentindo o cheiro de café, e vi abraçada comigo. me viu me mexendo, então sorriu, achando que tínhamos feito as pazes, mas na verdade não sabia o que aquilo significava. Tirei o braço de minha prima de cima de mim e me levantei com cuidado para não a acordar. Fui até meu amigo e o abracei por trás, encostando minha cabeça em suas costas. Ele passou sua mão por cima da minha que estava em sua barriga e me olhou por cima de seu ombro. Apenas suspirei e o soltei, me sentando na pia ao lado dele.
— O que houve? — perguntou baixo, sem estar afim que alguém nos ouvisse. — Por que dormiu aqui com a ? Ela está bem?
— Na verdade, não sei. Não vim aqui para baixo por causa dela — confessei no mesmo tom de voz e ele me olhou com as sobrancelhas unidas, achando estranho aquilo. — agiu de um jeito estranho ontem. — Abaixei a cabeça, olhando meus pés balançando. — Eu fiquei incomodada e não consegui dormir, então desci e fiquei vendo filme com a .
— O que ele fez? — quis saber e eu dei de ombros, demonstrando que não era nada demais e que era puro exagero meu. — Vamos, . Me fale — insistiu e eu apenas suspirei, então acabei contando. — é maluco, não dê ideia para essas doideiras dele. — Eu queria seguir seu conselho, mas era difícil que aquilo entrasse em minha cabeça, me importava demais com ele para ignorar.
— Mudando de assunto, eu tive uma ideia que pode te ajudar com ela. — Indiquei com a cabeça onde estava. — Acho que vai dar certo. — Sorri, tentando animá-lo.
— Me conta logo. Faço qualquer coisa. — Ri um pouco daquilo e contei. — Sério? Acha mesmo que ela vai me desculpar se eu fizer isso?
— Olha, tem 80% de chances. — Isso fez sorrir. — Então, posso te ajudar. O que acha?
— Fechado. — Estendeu a mão, então a peguei, fazendo um trato.
— Mas que porra é essa? — perguntei, vendo Bradley através da janela da cozinha na porta da casa das Blossoms, aos beijos com Sophie.
— Ah, não, está de sacanagem! Bem que eu vi que ele não tinha dormido lá no quarto, pensei que tinha subido — comentou, mas eu já desci do balcão, indo em direção à porta. — Não, não faça escândalo na frente dela, é o que ela quer. Ver você afetada. — É, ele tinha total razão.
— Nossa, eu não acredito nisso, ! — Passei a mão em meus cabelos e olhei de novo pela janela, mas eles não estavam mais lá.
— Nem eu estou conseguindo acreditar. — Ele tinha a mesma cara que eu.
— O que vocês não conseguem acreditar? — perguntou atrás de nós, fazendo eu e darmos um pulo de susto.
— O Bradley... — começou a explicar, mas o dito cujo já passou pela porta da cozinha e eu fui para cima dele.
— Você tem merda na cabeça? — berrei, o empurrando pelo peito. — É sério? A Sophie? — Bradley uniu as sobrancelhas. — Não acredito que você é tão idiota assim!
— Idiota por quê? Hm? — ele rebateu tão nervoso quanto eu. — Não sabia que agora você controlava com que eu ficava.
— O quê? — Fiz uma cara de chocada. — Não é nada disso! Sophie nem gosta de você, Bradley! Ela está fazendo isso para me afetar! — Apontei para a casa do lado. — Larga de ser burro.
— Claro, porque ela nunca se atrairia por mim, assim como você. Não é mesmo? Eu sou só o amigo de todo mundo, ninguém nunca vai querer ficar comigo porque não sou foda, alto, não tenho cabelo grande, não sou cheio de tatuagens e nem tenho os olhos claros. — Jogou aquilo na minha cara, me acusando, enquanto se aproximava de mim até colocar seu indicador contra meu peito. — Estou cansado disso, cansado de ser jogado para escanteio como você fez comigo desde que cheguei aqui. Cansado de ser a segunda opção, mas, nesse caso aqui, eu não sou nem a quinta! — Não estava acreditando que ele estava mesmo jogando aquilo na minha cara. — Pessoalmente, eu concordo com a sua mãe. Você seria bem melhor com alguém como eu, mas o pior de tudo é que nem se dá conta disso. Só que vou fazer o que, não é mesmo? A única coisa que posso fazer é olhar você com ele e falar: Tudo bem. — Até começaria a rir se não estivesse tão impactada com suas palavras. — Mas quer saber? Sinceramente, você não é nada do que eu pensei que era.
— É, você está certo — falei com raiva e dei um tapa em seu dedo que ainda me encostava. — Não sou nada do que você pensava. Porque claramente eu iria cair de amor nos seus braços quando me beijasse sem o meu consentimento, né? — soltei aquilo em alto e bom tom para ver se ele entendia o que tinha feito. — Não sei como essa merda pode fazer sentido na sua cabeça! Eu me afastei porque você me sufoca! Me cercava o tempo todo como se eu tivesse te chamado para passar o versão comigo com segundas intenções. Eu nunca, jamais dei qualquer indício de que queria ficar contigo. Se você achou isso, reveja seus conceitos. Porque claramente uma mulher não pode ser legal com um cara, que ela já quer dar para ele. É isso que você acha, né?
— Foi mal se o meu amor te sufoca. — E, como antes, suas palavras me deixaram sem reação. — Mas me pergunto se você é lerda ou se faz de sonsa? Até parece que nunca percebeu a forma como eu sempre fico quando me chama, o jeito que eu te olho, ou então o jeito que fico quando estou ao seu lado. — Céus, aquilo estava fugindo totalmente do controle. — Você sabe, . Sempre soube, mas preferiu ficar com ele. — Apontou para extremamente indignado. — Estou cansado de ser só o seu amigo, de estar ao seu lado e ser ignorado. Estou cansado de estar cansado. — Deixou seus ombros caírem enquanto me encarava. Seus olhos estavam cheio d’água. — Você é egoísta — falou com raiva e eu estava boquiaberta. — E, sim, eu vou ficar com a Sophie. De qualquer forma, ela é mais bonita que você mesmo. — O que ele disse me fez gritar de ódio, e eu estava querendo mandar Bradley para o inferno naquele segundo.
— Pelo menos é um homem de verdade. — Foi a única coisa que falei, por fim, não tinha o que ficar argumentando com Bradley. Eu gostava de e ficaria com ele e não com outra pessoa apenas porque ela gostava de mim. — E obrigada por me mostrar que a sua amizade foi mero interesse em me pegar. Você pode pegar as suas coisas e voltar para a sua casa, não é mais bem-vindo aqui. — Dei as costas e saí andando, me esquivando da plateia que tinha se formado atrás de mim, enquanto secava minhas lágrimas que rolavam pelo meu rosto.
Empurrei a porta da varanda com força e ela quase voltou em mim, batendo quando passei por ela. Me sentei nos degraus da frente e abracei a minha cabeça, morrendo de raiva enquanto chorava. Então era para isso que eu servia? Era apenas um objeto de desejo. Nada de atrativo além disso e ainda por cima nem era bonita o suficiente. Nossa, eu era realmente um lixo, né? Que não servia para nada. Isso só confirmava ainda mais a minha teoria de que os outros só falavam as coisas para me agradar. O que me fazia questionar o que o estava fazendo comigo. Nem transar com ele eu transava. Então por que continuava ao meu lado?
Senti um par de mãos tocarem as minhas, desvencilhando o meu abraço com minha cabeça. Vi na minha frente, mas eu não estava com a menor vontade de falar com ele.
— Sai de perto de mim você também. — Me soltei de suas mãos e ele me olhou sem entender nada.
— O que eu te fiz? — perguntou, querendo saber o motivo daquela minha reação.
— Agiu feito um idiota ontem! — Joguei na cara dele. Eu estava irritada e não tinha nada que fosse me parar. Eu chorava ainda mais.
— Me desculpa se eu fiquei excitado vendo fotos da minha namorada! — rebateu um pouco nervoso e aquilo fez meu rosto queimar extremamente. — Se eu apenas me virasse para você, não teria conseguido me controlar, e, sinceramente, prefiro que fique com raiva de mim do que te desrespeitar! — Aquilo me fez abaixar a cabeça e chorar ainda mais, me sentindo culpada agora por ter ficado irritada com a atitude dele. — Hey, amor. — Se aproximou novamente e ao me chamar daquele jeito me fez chorar compulsivamente. — Desculpa, não queria que tivesse ficado magoada com aquilo, eu sou um babaca às vezes. — Me abraçou apertado e eu estava quase berrando de raiva de mim mesma naquele momento com as desculpas dele. Não queria que se desculpasse enquanto claramente a problemática ali era apenas eu. — Foi por isso que você dormiu com a , né? — Concordei com a cabeça, sentindo meu peito doer. — Você podia ter me acordado e conversado comigo. — Neguei. Eu até pensei naquilo, mas era algo tão idiota que não valia a pena fazê-lo acordar, já que era tão difícil conseguir dormir. — Sobre o Bradley, deleta todas as babaquices que ele disse, aquilo é só ego ferido. E se Brad realmente só tinha interesse em ficar contigo, eu posso dizer que sem sombra de dúvidas ele é burro. Porque, acima de tudo, você é a pessoa mais interessante que eu conheci até hoje, a sua amizade é mais valiosa do que qualquer coisa. — E meu choro ficava mais descontrolado à medida que falava. — Se um dia nós terminarmos, eu quero continuar sendo o seu amigo, porque eu piraria se não pudesse.
— Não precisa falar isso só para me fazer parar de chorar e me agradar — falei entre soluços. — Nem sei por que você ainda está comigo. Nem bonita eu sou.
— Olha. — Ele segurou meu rosto e se abaixou na minha frente, me obrigando a encará-lo. — Nunca mais ouse dizer uma idiotice dessas, entendeu? Eu não falo bosta nenhuma para te agradar, digo apenas o que acho. Você é linda, especialmente por dentro. E eu estou contigo porque gosto de você, de quem é, porque, primeiro de tudo, o que me conquistou foi a que falava comigo por telefone, a qual eu nem sabia como era fisicamente. — Seus olhos olhavam dentro dos meus de forma tão intensa que me causava falta de ar. — Então para de pensar bobagens só porque um moleque mimado, cheio de inveja e ego ferido resolveu que seria legal falar um monte de coisas sem sentido. — Eu segurei sua mão que estava sobre meu rosto e chorei ainda mais. — Vem cá. Vai ficar tudo bem. — Me puxou e seus braços me envolveram firmemente.
14.2. Sound Of Your Heart
Bônus.
’s POV
Acordei assustada com berrando. Meu Deus, o que estava acontecendo? Me levantei e vi ela discutindo com Bradley, e as coisas que ele dizia me deixava chocada. Gente, alguém pelo amor de Deus cale a boca desse menino! Eu estava quase me metendo, quando minha prima finalizou a briga, saindo dali, e assim que ela passou pela porta da varanda, só foi o tempo de me virar e ver dando um soco em cheio em Brad, que caiu no chão com a mão no nariz que já sangrava. Arregalei meus olhos com aquilo, acho que ninguém esperava que ele fosse fazer aquilo, já que todos estavam com a mesma cara de espanto.
— Você quer que eu arrume suas coisas ou vai fazer isso em cinco minutos? — perguntou de braços cruzados, claramente com raiva como todo o resto deveria estar.
— Se você ousar falar com a de novo, eu te quebro todo! — ameaçou, pegando Bradley pela camisa e o obrigando a se levantar.
— Deixa ele, . Não vale o trabalho — , que até então estava mudo, se pronunciou. — Só fica longe da minha garota, você é tóxico — disse e se virou, indo atrás de minha prima.
— Você os ouviu. Some daqui — Joe falou, tirando Bradley da mão de , que estava prestes a socar o garoto de novo.
— Nem deu tempo de fazer pipoca — Troy comentou chateado, ele amava ver o circo queimar, era impressionante. — Pena que não deu tempo também de gravar o soco, daria um belo drop-it — debochou e Bradley o olhou irritado. — O que foi? Você merecia mais do que isso pelas merdas que disse. Duvido muito que a Sophie irá querer ficar com você com esse nariz estragado agora. — Fez uma careta e revirou os olhos. — Porque agora mesmo não restou nada de bom, pois a única coisa que você tinha era um rostinho bonitinho.
— Está esperando o que, Bradley? — perguntou alto, fazendo todos levarmos um susto. — Vamos, se mexe antes que o resolva te deixar com o olho roxo dessa vez! — E isso fez o garoto finalmente andar e ir para o segundo andar.
— Gente, eu estou chocada — comentou baixinho, se sentando no banco. — O menino é perturbado, tadinho. — Eu ri sem o menor respeito.
— Tadinho de mim que vou ter que colocar gelo na mão — reclamou, já abrindo o freezer e pegando gelo no reservatório.
— Nem acredito que ele pegou mesmo aquela garota — finalmente falei e me aproximei, me sentando ao lado de . — Como ele teve coragem? Eu tenho aversão só de imaginar.
— Bela pergunta. — Joe se sentou ao meu lado. — É muita vontade de afrontar a e coragem, porque né. Sophie é o lixo do lixo. Garota bosta aquela.
— Bosta é pouco — falou de forma pensativa. — Nem sei como alguém consegue ser como ela.
Então todos ficamos em silêncio e esperamos por Bradley, que logo desceu com suas coisas e saiu sem falar com ninguém, já com uma blusa limpa. , e Joe foram lá fora tirar os carros para que o garoto saísse com o dele. E nós só ouvimos o barulho de pneus cantando, indicando que ele tinha finalmente ido embora. Fiquei olhando para , que estava de pé na pia, com uma bacia de gelo e com a mão enfiada dentro dela, ele estava tão nervoso que nem percebeu que eu o olhava, minha vontade era de ir lá e cuidar dele. Queria voltar com , mas a vergonha era maior. Eu tinha feito um escândalo desnecessário e descontado toda a culpa em cima dele, sendo que todo mundo estava envolvido na brincadeira. Eu era uma idiota mesmo por perder um cara como ele. Por fim, comi qualquer coisa e fui para o quarto voltar a dormir, ainda estava morrendo de sono.
Acordei com me chamando para sair com ela para comer algo. Não entendi bem, ainda estava sonolenta, então apenas me levantei e fui me arrumar. Quando saí do quarto, percebi que não tinha ninguém em casa e achei aquilo bem estranho, mas não comentei nada. Os meninos deviam ter ido para a casa do Eric ou deveriam estar na praia, porém concluí que tinham saído quando vi que os carros de e de não estavam estacionados junto aos outros.
— Onde está todo mundo? — A minha curiosidade foi mais alta.
— Não sei. Eu acordei e não tinha ninguém em casa. — Deu de ombros, então fiz o mesmo.
Entramos em seu Honda, e eu fiquei tão imersa com meus pensamentos que nem ao menos reparei quando ela estacionou o carro. Saímos dele e fomos andando até a praça, que estava toda enfeitada para um festival de comida que estava tendo. Quando chegamos, tudo estava quieto demais, sem música, a banda estava parada como se esperasse por alguém. Então ouvi o barulho do microfone, e isso me fez olhar para os lados.
— You're just too good to be true. Can't take my eyes off of you. — Coloquei a mão na boca, não acreditando no que meus ouvidos estavam ouvindo. Era cantando. — You'd be like Heaven to touch. I wanna hold you so much. — Vi pulando de cima do palco pequeno e passando pelo meio da banda que continuava parada. Eu só podia estar dormindo ainda, essa era a única coisa que vinha em minha cabeça. — At long last love has arrived and I thank God I'm alive. You're just too good to be true. Can't take my eyes off of you. — Veio andando em minha direção, mas parou, e, quando terminou de cantar aquela parte, um cara apitou duas vezes e a banda começou a tocar Can't Take My Eyes Off You enquanto ele dançava que nem o Heath Ledger em 10 coisas que eu odeio em você. Aquilo só podia ter sido ideia da ! E não nego que estava amando com todas as minhas forças. — I love you, baby, and if it's quite alright. I need you, baby. To warm a lonely night. — Ele ia passando entre as pessoas, dançando de um jeito que me fazia rir, era maravilhoso mesmo e eu fui uma tola em terminar com ele. — I love you, baby. Trust in me when I say. Oh, pretty baby, don't bring me down, I pray. Oh, pretty baby, now that I found you, stay. — Meu Deus, eu estava querendo derreter ali mesmo diante do quão lindo foi aquilo. Meu sorriso era tão grande que parecia que não caberia no meu rosto. Eu estava muito feliz vendo cantando para mim. — And let me love you, baby. Let me love you — finalizou a música e parou na minha frente, segurando minha mão, o sorriso não saía do meu rosto de forma alguma. — Volta comigo, por favor — pediu e colocou o anel que ele havia me dado em minha palma.
Mordi meu lábio inferior, olhando para o solitário em minha palma, e fechei minha mão para que ele não caísse como da outra vez, então joguei meus braços ao redor do pescoço de e juntei meus lábios aos deles, o beijando com vontade. Estava com saudades daquilo. Com saudades de sentir seu corpo junto ao meu, de seus lábios, do gosto e sua língua tocando na minha, do cheiro do perfume dele, de sua barba passando pela minha pele, eu estava sentindo falta de cada parte de . O caminho que tinha entrado era sem volta, estava gostando mesmo dele e nada podia mais reverter isso.
Podia ouvir a banda voltando a tocar enquanto todo mundo gritava e batia palmas, aplaudindo o show que deu e que nós estávamos dando agora, já que nada me faria soltá-lo. Senti suas mãos apertarem minha cintura e eu segurei o cabelo de sua nuca com mais força, aprofundando o nosso beijo ainda mais como se aquilo fosse possível.
— Meu Deus! Vou jogar água em vocês dois — disse, implicando conosco do mesmo jeito que implicava com ele e com a . — Já está bom, né. Ou vou precisar pagar um quarto de motel para vocês? — Isso me fez rir e infelizmente me separar de .
— Você beija a toda hora, eu não beijo a há um ano — falou de forma exagerada, causando risada em todo mundo, então rapidamente aproveitei e coloquei o anel de volta em meu dedo para que não o perdesse.
— Larga de ser exagerado! Se tiver dez dias, foi muito — rebateu, então o olhei, vendo-o abraçado com . Eles eram extremamente fofos juntos. Amava vê-los daquele jeito.
— gosta de fazer drama — minha prima debochou. — Então, queremos saber se você só vai desculpar o , porque senão eu posso recitar o poema de 10 Coisas Que Eu Odeio em Você para ver se assim sou perdoada.
— Não me faça chorar, por favor — pedi e ela riu. — Mas levando em conta que isso tudo aqui deve ter vindo dessa sua cabecinha, eu te perdoo também — respondi e ela se soltou de e pulou em cima de mim, e nós caímos juntas por não aguentar nosso peso, era maior do que eu.
— Eu te amo! — Ela começou a beijar todo o meu rosto e eu não dava conta daquilo, então comecei a rir.
— Meu Deus, ! Sai de cima de mim — falei sem forças para tirá-la dali.
— Assim eu vou ficar com ciúmes, a é perigosa demais — comentou, mas ainda assim minha prima não parava de me encher de beijos.
— Perigosa? — não entendeu, e acho que ninguém entendeu, porque, assim como eu, também parou e olhou para , esperando a resposta.
— Inclusive deveria ter cuidado — continuou e começou a rir com a nossa cara de interrogação. — Nossa, vocês são lerdos demais. — Ele ria ainda mais. — A chance da ficar com alguém é de 100%, já que ela pega mulher também, além de ser bonita do jeito que é. Ela é um atentado à sociedade. — Minha prima começou a rir descontroladamente. — , você vai perder a qualquer momento, meu amigo. — Colocou a mão no ombro dele, que não achava a menor graça.
— Vem cá, . Me dá um beijinho. — tentou me beijar, mas virei o rosto.
— Sai, não vai beijar a minha namorada coisa nenhuma. — a tirou de cima de mim e eu fiquei agradecida, era pesada.
— Nossa, , não lembrava de você ser tão ciumento assim — debochou e eu fiquei rindo.
— Não é ciúmes, vai que ela gosta e me larga de novo — rebateu e me ajudou a levantar. — Não posso arriscar. — Me deu um selinho e depois passou a mão em meu rosto, olhando dentro dos meus olhos. — Eu iria surtar se você me trocasse. — Acreditei em suas palavras.
— O que foi, baby? Por que ficou calado? — Ouvi perguntando, e eu e olhamos para ela automaticamente, e vimos um pouco sério demais.
— Nada — respondeu sem humor algum.
— Quem nada é peixe. O que houve? Por que você está com essa cara? — insistiu e segurou a blusa dele, o puxando para frente e para trás.
— Para com isso, vai me amarrotar — reclamou e ela o soltou na mesma hora. Se bem conhecia minha prima, a forma como falou iria acabar dando briga.
— Ok, fica então aí com a sua camisa impecável e a sua cara de cu. — se virou para sair andando dali, mas a segurou e puxou ela para perto, lhe dando beijo de cinema.
— Esses dois são loucos. Estavam brigando agora mesmo. — apareceu falando atrás de nós, e acabamos rindo. — Isso é falta de sexo. — ouviu e, sem soltar a boca de , deu o dedo do meio para seu irmão.
— faz milagre, ele consegue melhor o humor da em questão de segundos. — colocou pilha e eles se separaram.
— Parem de implicar com ela — defendeu como uma boa amiga.
— , eu arrumei aquilo que você pediu. Por que não vai lá ver se está tudo certo? — disse, mandando o sair dali, nos causando risadas. — E você não precisa ficar elogiando minha namorada daquele jeito. — Comecei a rir, ele tinha ficado com ciúmes.
— Ah! Então você acha bonito ficar com ciúmes e ficar com cara de cu para mim? — minha prima começou a reclamar, e a beijou de novo. Acabamos rindo com isso. — Você não pode me beijar toda vez que fico irritada! — Tentou ficar séria, mas acabou rindo também.
— , não precisa ficar com ciúmes e nem se preocupar. Se depender da , ela não te troca por nada — falei e minha prima arregalou os olhos. — O que é? Eu só trabalho com verdades.
— Fica quieta, ! — mandou.
— Viu, já se entregou. Então não se preocupe. — Dei dois tapinhas no ombro de .
— Isso a tem razão. — entrou na pilha e eu só via começar a ficar vermelha de vergonha. — não te deixaria, a menos que deixasse de gostar de você, e como não acho que isso vá acontecer...
— Chega. Ele já entendeu — minha prima cortou com o rosto extremamente vermelho. — Eu odeio ciúmes, não faça mais isso — falou de forma séria com . — Ainda mais descontar em mim algo que não é a minha culpa. — Passou o braço pelo ombro dele enquanto o encarava.
— Desculpa, vou tentar não ter ciúmes — se desculpou com cara de cachorro que tinha mijado fora do jornal.
— , você pode me acompanhar? — pediu, quebrando o clima que tinha se instalado ali.
— Sim — respondi de bom grado e ele pegou minha mão.
Fomos andando de mãos dadas por entre as pessoas, até que fomos para um lugar afastado, onde tinha uma mesa apenas para duas pessoas com velas e champanhe. Parei na mesma hora, levando minhas mãos até meu rosto, achando aquilo a coisa mais linda do mundo. parou e me olhou com um sorriso no rosto, e depois esperou que eu voltasse a andar. Ele puxou a cadeira para que eu me sentasse, e assim que o fiz sua mão apareceu na minha frente segurando uma rosa vermelha.
— Você está afim de me fazer chorar, não é? — perguntei, pegando a rosa e a cheirando.
— Não, quero ver apenas o seu lindo sorriso. — Se sentou à minha frente, e rapidamente chegou um garçom e nos serviu o champanhe. — Obrigado por ter me desculpado — disse e segurou minha mão que estava por cima da mesa. — Eu não estava mais aguentando ficar perto e não poder te tocar.
— Me desculpa também pelo show que eu dei. Não deveria ter feito aquilo e prometo que não vou mais fazer. — Entrelacei meus dedos com os dele, olhando como eles se encaixavam perfeitamente. — Senti a sua falta — confessei e coloquei a rosa sobre a mesa. — Eu que agradeço por não ter desistido de mim. — Sorri e sorriu também de um jeito lindo, me fazendo ficar ainda mais encantada por ele. — Você sempre me dá tudo o que eu sempre desejei de alguém, e não estou falando das coisas materiais. Obrigada.
— Eu nunca desistiria de você — falou e apertou de leve nossos dedos. — Porque você é tudo o que eu sempre quis. — Senti meus olhos marejarem. — , eu estou apaixonado por você. — E aquilo foi o suficiente para me fazer chorar.
— É recíproco — disse, tentando secar as lágrimas que desciam. — Nunca pensei que iria sentir tanta falta de alguém mesmo a vendo todos os dias em tão pouco tempo. — Sorri e desisti de secar o meu rosto. — Você mexe muito comigo.
— Você também mexe muito comigo. — Ele tinha os olhos lustrosos agora. — Você me fez feliz em pouco tempo, e eu amei sentir isso. — abaixou a cabeça e eu pude ver algumas lágrimas caindo. — Você me dá coragem, me faz ver que posso fazer qualquer coisa que quiser, especialmente amar novamente.
— Ah, ! — Levantei da cadeira e fui até ele, me sentando em seu colo e secando seu rosto, mas eu chorava que nem ele. — Você foi um anjo que surgiu na minha vida no momento certo. — Segurei seu rosto com as duas mãos e o beijei. me abraçou e ficamos daquele jeito por um longo tempo, o qual eu amei.
Acordei assustada com berrando. Meu Deus, o que estava acontecendo? Me levantei e vi ela discutindo com Bradley, e as coisas que ele dizia me deixava chocada. Gente, alguém pelo amor de Deus cale a boca desse menino! Eu estava quase me metendo, quando minha prima finalizou a briga, saindo dali, e assim que ela passou pela porta da varanda, só foi o tempo de me virar e ver dando um soco em cheio em Brad, que caiu no chão com a mão no nariz que já sangrava. Arregalei meus olhos com aquilo, acho que ninguém esperava que ele fosse fazer aquilo, já que todos estavam com a mesma cara de espanto.
— Você quer que eu arrume suas coisas ou vai fazer isso em cinco minutos? — perguntou de braços cruzados, claramente com raiva como todo o resto deveria estar.
— Se você ousar falar com a de novo, eu te quebro todo! — ameaçou, pegando Bradley pela camisa e o obrigando a se levantar.
— Deixa ele, . Não vale o trabalho — , que até então estava mudo, se pronunciou. — Só fica longe da minha garota, você é tóxico — disse e se virou, indo atrás de minha prima.
— Você os ouviu. Some daqui — Joe falou, tirando Bradley da mão de , que estava prestes a socar o garoto de novo.
— Nem deu tempo de fazer pipoca — Troy comentou chateado, ele amava ver o circo queimar, era impressionante. — Pena que não deu tempo também de gravar o soco, daria um belo drop-it — debochou e Bradley o olhou irritado. — O que foi? Você merecia mais do que isso pelas merdas que disse. Duvido muito que a Sophie irá querer ficar com você com esse nariz estragado agora. — Fez uma careta e revirou os olhos. — Porque agora mesmo não restou nada de bom, pois a única coisa que você tinha era um rostinho bonitinho.
— Está esperando o que, Bradley? — perguntou alto, fazendo todos levarmos um susto. — Vamos, se mexe antes que o resolva te deixar com o olho roxo dessa vez! — E isso fez o garoto finalmente andar e ir para o segundo andar.
— Gente, eu estou chocada — comentou baixinho, se sentando no banco. — O menino é perturbado, tadinho. — Eu ri sem o menor respeito.
— Tadinho de mim que vou ter que colocar gelo na mão — reclamou, já abrindo o freezer e pegando gelo no reservatório.
— Nem acredito que ele pegou mesmo aquela garota — finalmente falei e me aproximei, me sentando ao lado de . — Como ele teve coragem? Eu tenho aversão só de imaginar.
— Bela pergunta. — Joe se sentou ao meu lado. — É muita vontade de afrontar a e coragem, porque né. Sophie é o lixo do lixo. Garota bosta aquela.
— Bosta é pouco — falou de forma pensativa. — Nem sei como alguém consegue ser como ela.
Então todos ficamos em silêncio e esperamos por Bradley, que logo desceu com suas coisas e saiu sem falar com ninguém, já com uma blusa limpa. , e Joe foram lá fora tirar os carros para que o garoto saísse com o dele. E nós só ouvimos o barulho de pneus cantando, indicando que ele tinha finalmente ido embora. Fiquei olhando para , que estava de pé na pia, com uma bacia de gelo e com a mão enfiada dentro dela, ele estava tão nervoso que nem percebeu que eu o olhava, minha vontade era de ir lá e cuidar dele. Queria voltar com , mas a vergonha era maior. Eu tinha feito um escândalo desnecessário e descontado toda a culpa em cima dele, sendo que todo mundo estava envolvido na brincadeira. Eu era uma idiota mesmo por perder um cara como ele. Por fim, comi qualquer coisa e fui para o quarto voltar a dormir, ainda estava morrendo de sono.
Acordei com me chamando para sair com ela para comer algo. Não entendi bem, ainda estava sonolenta, então apenas me levantei e fui me arrumar. Quando saí do quarto, percebi que não tinha ninguém em casa e achei aquilo bem estranho, mas não comentei nada. Os meninos deviam ter ido para a casa do Eric ou deveriam estar na praia, porém concluí que tinham saído quando vi que os carros de e de não estavam estacionados junto aos outros.
— Onde está todo mundo? — A minha curiosidade foi mais alta.
— Não sei. Eu acordei e não tinha ninguém em casa. — Deu de ombros, então fiz o mesmo.
Entramos em seu Honda, e eu fiquei tão imersa com meus pensamentos que nem ao menos reparei quando ela estacionou o carro. Saímos dele e fomos andando até a praça, que estava toda enfeitada para um festival de comida que estava tendo. Quando chegamos, tudo estava quieto demais, sem música, a banda estava parada como se esperasse por alguém. Então ouvi o barulho do microfone, e isso me fez olhar para os lados.
— You're just too good to be true. Can't take my eyes off of you. — Coloquei a mão na boca, não acreditando no que meus ouvidos estavam ouvindo. Era cantando. — You'd be like Heaven to touch. I wanna hold you so much. — Vi pulando de cima do palco pequeno e passando pelo meio da banda que continuava parada. Eu só podia estar dormindo ainda, essa era a única coisa que vinha em minha cabeça. — At long last love has arrived and I thank God I'm alive. You're just too good to be true. Can't take my eyes off of you. — Veio andando em minha direção, mas parou, e, quando terminou de cantar aquela parte, um cara apitou duas vezes e a banda começou a tocar Can't Take My Eyes Off You enquanto ele dançava que nem o Heath Ledger em 10 coisas que eu odeio em você. Aquilo só podia ter sido ideia da ! E não nego que estava amando com todas as minhas forças. — I love you, baby, and if it's quite alright. I need you, baby. To warm a lonely night. — Ele ia passando entre as pessoas, dançando de um jeito que me fazia rir, era maravilhoso mesmo e eu fui uma tola em terminar com ele. — I love you, baby. Trust in me when I say. Oh, pretty baby, don't bring me down, I pray. Oh, pretty baby, now that I found you, stay. — Meu Deus, eu estava querendo derreter ali mesmo diante do quão lindo foi aquilo. Meu sorriso era tão grande que parecia que não caberia no meu rosto. Eu estava muito feliz vendo cantando para mim. — And let me love you, baby. Let me love you — finalizou a música e parou na minha frente, segurando minha mão, o sorriso não saía do meu rosto de forma alguma. — Volta comigo, por favor — pediu e colocou o anel que ele havia me dado em minha palma.
Mordi meu lábio inferior, olhando para o solitário em minha palma, e fechei minha mão para que ele não caísse como da outra vez, então joguei meus braços ao redor do pescoço de e juntei meus lábios aos deles, o beijando com vontade. Estava com saudades daquilo. Com saudades de sentir seu corpo junto ao meu, de seus lábios, do gosto e sua língua tocando na minha, do cheiro do perfume dele, de sua barba passando pela minha pele, eu estava sentindo falta de cada parte de . O caminho que tinha entrado era sem volta, estava gostando mesmo dele e nada podia mais reverter isso.
Podia ouvir a banda voltando a tocar enquanto todo mundo gritava e batia palmas, aplaudindo o show que deu e que nós estávamos dando agora, já que nada me faria soltá-lo. Senti suas mãos apertarem minha cintura e eu segurei o cabelo de sua nuca com mais força, aprofundando o nosso beijo ainda mais como se aquilo fosse possível.
— Meu Deus! Vou jogar água em vocês dois — disse, implicando conosco do mesmo jeito que implicava com ele e com a . — Já está bom, né. Ou vou precisar pagar um quarto de motel para vocês? — Isso me fez rir e infelizmente me separar de .
— Você beija a toda hora, eu não beijo a há um ano — falou de forma exagerada, causando risada em todo mundo, então rapidamente aproveitei e coloquei o anel de volta em meu dedo para que não o perdesse.
— Larga de ser exagerado! Se tiver dez dias, foi muito — rebateu, então o olhei, vendo-o abraçado com . Eles eram extremamente fofos juntos. Amava vê-los daquele jeito.
— gosta de fazer drama — minha prima debochou. — Então, queremos saber se você só vai desculpar o , porque senão eu posso recitar o poema de 10 Coisas Que Eu Odeio em Você para ver se assim sou perdoada.
— Não me faça chorar, por favor — pedi e ela riu. — Mas levando em conta que isso tudo aqui deve ter vindo dessa sua cabecinha, eu te perdoo também — respondi e ela se soltou de e pulou em cima de mim, e nós caímos juntas por não aguentar nosso peso, era maior do que eu.
— Eu te amo! — Ela começou a beijar todo o meu rosto e eu não dava conta daquilo, então comecei a rir.
— Meu Deus, ! Sai de cima de mim — falei sem forças para tirá-la dali.
— Assim eu vou ficar com ciúmes, a é perigosa demais — comentou, mas ainda assim minha prima não parava de me encher de beijos.
— Perigosa? — não entendeu, e acho que ninguém entendeu, porque, assim como eu, também parou e olhou para , esperando a resposta.
— Inclusive deveria ter cuidado — continuou e começou a rir com a nossa cara de interrogação. — Nossa, vocês são lerdos demais. — Ele ria ainda mais. — A chance da ficar com alguém é de 100%, já que ela pega mulher também, além de ser bonita do jeito que é. Ela é um atentado à sociedade. — Minha prima começou a rir descontroladamente. — , você vai perder a qualquer momento, meu amigo. — Colocou a mão no ombro dele, que não achava a menor graça.
— Vem cá, . Me dá um beijinho. — tentou me beijar, mas virei o rosto.
— Sai, não vai beijar a minha namorada coisa nenhuma. — a tirou de cima de mim e eu fiquei agradecida, era pesada.
— Nossa, , não lembrava de você ser tão ciumento assim — debochou e eu fiquei rindo.
— Não é ciúmes, vai que ela gosta e me larga de novo — rebateu e me ajudou a levantar. — Não posso arriscar. — Me deu um selinho e depois passou a mão em meu rosto, olhando dentro dos meus olhos. — Eu iria surtar se você me trocasse. — Acreditei em suas palavras.
— O que foi, baby? Por que ficou calado? — Ouvi perguntando, e eu e olhamos para ela automaticamente, e vimos um pouco sério demais.
— Nada — respondeu sem humor algum.
— Quem nada é peixe. O que houve? Por que você está com essa cara? — insistiu e segurou a blusa dele, o puxando para frente e para trás.
— Para com isso, vai me amarrotar — reclamou e ela o soltou na mesma hora. Se bem conhecia minha prima, a forma como falou iria acabar dando briga.
— Ok, fica então aí com a sua camisa impecável e a sua cara de cu. — se virou para sair andando dali, mas a segurou e puxou ela para perto, lhe dando beijo de cinema.
— Esses dois são loucos. Estavam brigando agora mesmo. — apareceu falando atrás de nós, e acabamos rindo. — Isso é falta de sexo. — ouviu e, sem soltar a boca de , deu o dedo do meio para seu irmão.
— faz milagre, ele consegue melhor o humor da em questão de segundos. — colocou pilha e eles se separaram.
— Parem de implicar com ela — defendeu como uma boa amiga.
— , eu arrumei aquilo que você pediu. Por que não vai lá ver se está tudo certo? — disse, mandando o sair dali, nos causando risadas. — E você não precisa ficar elogiando minha namorada daquele jeito. — Comecei a rir, ele tinha ficado com ciúmes.
— Ah! Então você acha bonito ficar com ciúmes e ficar com cara de cu para mim? — minha prima começou a reclamar, e a beijou de novo. Acabamos rindo com isso. — Você não pode me beijar toda vez que fico irritada! — Tentou ficar séria, mas acabou rindo também.
— , não precisa ficar com ciúmes e nem se preocupar. Se depender da , ela não te troca por nada — falei e minha prima arregalou os olhos. — O que é? Eu só trabalho com verdades.
— Fica quieta, ! — mandou.
— Viu, já se entregou. Então não se preocupe. — Dei dois tapinhas no ombro de .
— Isso a tem razão. — entrou na pilha e eu só via começar a ficar vermelha de vergonha. — não te deixaria, a menos que deixasse de gostar de você, e como não acho que isso vá acontecer...
— Chega. Ele já entendeu — minha prima cortou com o rosto extremamente vermelho. — Eu odeio ciúmes, não faça mais isso — falou de forma séria com . — Ainda mais descontar em mim algo que não é a minha culpa. — Passou o braço pelo ombro dele enquanto o encarava.
— Desculpa, vou tentar não ter ciúmes — se desculpou com cara de cachorro que tinha mijado fora do jornal.
— , você pode me acompanhar? — pediu, quebrando o clima que tinha se instalado ali.
— Sim — respondi de bom grado e ele pegou minha mão.
Fomos andando de mãos dadas por entre as pessoas, até que fomos para um lugar afastado, onde tinha uma mesa apenas para duas pessoas com velas e champanhe. Parei na mesma hora, levando minhas mãos até meu rosto, achando aquilo a coisa mais linda do mundo. parou e me olhou com um sorriso no rosto, e depois esperou que eu voltasse a andar. Ele puxou a cadeira para que eu me sentasse, e assim que o fiz sua mão apareceu na minha frente segurando uma rosa vermelha.
— Você está afim de me fazer chorar, não é? — perguntei, pegando a rosa e a cheirando.
— Não, quero ver apenas o seu lindo sorriso. — Se sentou à minha frente, e rapidamente chegou um garçom e nos serviu o champanhe. — Obrigado por ter me desculpado — disse e segurou minha mão que estava por cima da mesa. — Eu não estava mais aguentando ficar perto e não poder te tocar.
— Me desculpa também pelo show que eu dei. Não deveria ter feito aquilo e prometo que não vou mais fazer. — Entrelacei meus dedos com os dele, olhando como eles se encaixavam perfeitamente. — Senti a sua falta — confessei e coloquei a rosa sobre a mesa. — Eu que agradeço por não ter desistido de mim. — Sorri e sorriu também de um jeito lindo, me fazendo ficar ainda mais encantada por ele. — Você sempre me dá tudo o que eu sempre desejei de alguém, e não estou falando das coisas materiais. Obrigada.
— Eu nunca desistiria de você — falou e apertou de leve nossos dedos. — Porque você é tudo o que eu sempre quis. — Senti meus olhos marejarem. — , eu estou apaixonado por você. — E aquilo foi o suficiente para me fazer chorar.
— É recíproco — disse, tentando secar as lágrimas que desciam. — Nunca pensei que iria sentir tanta falta de alguém mesmo a vendo todos os dias em tão pouco tempo. — Sorri e desisti de secar o meu rosto. — Você mexe muito comigo.
— Você também mexe muito comigo. — Ele tinha os olhos lustrosos agora. — Você me fez feliz em pouco tempo, e eu amei sentir isso. — abaixou a cabeça e eu pude ver algumas lágrimas caindo. — Você me dá coragem, me faz ver que posso fazer qualquer coisa que quiser, especialmente amar novamente.
— Ah, ! — Levantei da cadeira e fui até ele, me sentando em seu colo e secando seu rosto, mas eu chorava que nem ele. — Você foi um anjo que surgiu na minha vida no momento certo. — Segurei seu rosto com as duas mãos e o beijei. me abraçou e ficamos daquele jeito por um longo tempo, o qual eu amei.
14.3. 3 A.M.
Bônus.
’s POV
Eu, , e estávamos sentados, ou melhor, jogados na varanda, esperando e voltarem, os outros já tinham desistido e tinham ido dormir. A nossa conversa estava boa, que no final das contas estávamos ali mais batendo um papo do que esperando realmente. e estavam deitados no chão e ele estava com a cabeça deitada na barriga dela, enquanto minha amiga acariciava seus longos fios. Já eu e , estávamos sentados, encostados na parede um ao lado do outro. Às vezes eu até deitava com a cabeça em seu ombro, mas não era nada demais. Já tinha muito tempo que não fazíamos isso, digo em relação a eu, e . Não conseguia me lembrar a última vez que ficamos sentados do lado de fora de casa, conversando até altas horas da madrugada. Talvez tenha acontecido há uns dois anos, não lembro bem, pois às vezes minha amiga se afastava do nada e começava a andar com um pessoal esquisito, porém, no final das contas, ela sempre voltava.
— É engraçado, né — comentou totalmente aleatória. — Fomos criados do mesmo lado da cidade e nunca nos mudamos, acho que somos os únicos que continuam lá, porque toda a vizinhança já mudou, se não me engano. — Ela encarava o céu estrelado de forma pensativa e não parava de alisar o cabelo de .
— Não, a senhora Elgort continua morando no final da rua — rebati, lembrando da velha que tinha sessenta cachorros.
— Nossa, ela continua viva? — perguntou impressionado e eu ri. — Aquela velha é Highlander. — Começamos a rir de seu comentário.
— Você me fez lembrar daquela festa que teve lá em casa uns anos atrás, que você ficou bêbado e começou a chamar a senhora Elgort de Highlander. — se lembrou, nos causando mais risadas, foi bem engraçada a cena.
— Me conta como foi? — pediu, ainda com um sorriso no rosto.
— O bebeu demais, aí eu e a tentávamos carregar ele para a casa da piscina e a senhora Elgort estava falando algo como: Que vergonha, um rapaz desses bêbado que nem um gambá. Algo assim, não lembro bem — comecei a contar, tentando não rir, me lembrando da cena. — Aí o soltou bem alto: Highlander, imortal! — já começou a rir e balançar as pernas.
— A senhora Elgort ficou muito puta — minha amiga disse, gargalhando. — Disse que iria falar com a mãe a falta de respeito do . Nossa, reclamou um monte. O pior foi que eu e a ríamos tanto que não aguentamos o peso de e caímos os três na piscina. — Eu e ríamos muito que estávamos chorando. — O porre do meu irmão até passou.
— bêbado deve ser a melhor coisa do mundo — observou, e ele tinha razão, bêbado ficava extremamente engraçado.
— Você não tem ideia do quanto! Da última vez, ele até andou de salto — lembrei e ele me empurrou para que não contasse o que tinha acontecido.
— Me fala que o Troy gravou isso, por favor! — pediu como se implorasse.
— Com toda certeza — respondeu, ainda rindo. — Troy sempre pega os melhores momentos. Esse dia da piscina ele também gravou e como o bom filho da mãe que é, nem nos ajudou a sair dela, ele só ria descontroladamente de nós. — Assim como estávamos naquele momento. Era tão bom conversar com eles, me sentia leve ali com meus amigos. — é aquele amigo bêbado que dá vexame na festa.
— Então é de família, né. — implicou e puxou seu cabelo. — Ai, sua bruta! — Eu e gargalhamos deles dois, eles eram engraçados demais, davam choque e depois se amavam como se nada tivesse acontecido. — Não me agride se você não aguenta a verdade.
— Não tem verdade nenhuma no que você disse! — Puxou o cabelo dele de novo e os dois começaram a rolar pelo chão da varanda, um puxando o cabelo do outro enquanto riam, até que acabaram se beijando.
— Esses dois acabam comigo — falei, secando o canto dos olhos. — Eu vou tomar um banho e me deitar. Você vem? — perguntei ao , lhe dando um beijo rápido.
— Daqui a pouco, vai lá. Vou ficar um pouco mais segurando vela. — Riu um pouco e eu também. — Não demoro. — Me deu mais um beijo.
— Está bem. — Levantei e passei a mão em minha roupa, tirando o pouco de areia que tinha nela. — Boa noite para vocês dois — falei com o casal que agora estava rindo deles mesmos.
— Boa noite, — respondeu, com um sorriso enorme.
— Durma bem — disse e ele também estava sorrindo.
— Vocês também. — Abri a porta com cuidado para não fazer muito barulho e entrei.
Fui para o quarto e me sentei na cama, tirei minhas sapatilhas, sentindo meus pés doerem um pouco por ter passado o dia com elas. Me joguei para trás com um sorriso no rosto enquanto encarava o teto. Eu estava tão feliz por eu e o estarmos juntos e nos dando tão bem. Nunca imaginaria que isso fosse realmente acontecer e agora estava sendo mágico! Não cabia tanta felicidade dentro do meu peito, a minha vontade era de sorrir a todo o momento, especialmente quando estava ao lado dele. E de repente viver se tornou fácil novamente.
Levantei e fui tomar meu banho. Tirei minha maquiagem e entrei embaixo do chuveiro. Fiquei lá por um tempo refletindo sobre o último mês e como as coisas tinham mudado para melhor, nunca pensei que uma viagem fosse mudar tantas coisas e eu estava extremamente feliz por isso. Apesar das brigas e confusões, tudo terminava bem. Já tinha até me esquecido que tinha sido presa. Aquele pensamento me fez rir um pouco, no final das contas tinha sido engraçado. Seria uma história nossa que eu iria guardar para sempre.
Saí do chuveiro, me sequei e coloquei meu pijama. Quando abri a porta do quarto, vi um monte de pétalas de rosas espalhadas pelo chão e achei aquilo estranho. O que esse pessoal estava aprontando agora? Segui o caminho e quando abri a porta do quarto, todas as luzes estavam apagadas e o corredor estava iluminado por mini velas dentro de potes de vidro com água. Uni minhas sobrancelhas e fui andando, passando pela sala, seguindo a trilha de velas com pétalas de rosas que me guiaram até a porta da sala que dava para a varanda. Abri a porta de vidro bem lentamente e tudo ali estava enfeitado com velas e rosas vermelhas. Onde eles tinham arranjado tudo aquilo? Continuei andando até o parapeito e vi com um violão na mão, de pé, na areia. Ele sorriu para mim e começou a tocar, e já nos primeiros acordes eu já reconheci Perfect do Ed Sheeran, uma das minhas músicas favoritas. Minhas mãos seguraram a madeira enquanto olhava fixamente para .
— I found a love for me. Darling, just dive right in and follow my lead — ele começou cantando, olhando para as cordas do violão e rapidamente meus olhos se encheram d’água. — Well, I found a girl, beautiful and sweet. Oh, I never knew you were the someone waiting for me. — me olhou com um sorriso enorme e eu já me desmanchava em lágrimas. — 'Cause we were just kids when we fell in love not knowing what it was. — Minhas pernas pernas tremiam e eu estava quase caindo no chão. Não esperava por aquilo. estava tão lindo cantando. — I will not give you up this time but darling, just kiss me slow. Your heart is all I own and in your eyes you're holding mine. — Eu só conseguia sorrir e chorar ouvindo ele cantar. Aquele momento ficaria gravado em minha mente para sempre. era perfeito. — Baby, I'm dancing in the dark with you between my arms barefoot on the grass listening to our favorite song. — Minha vontade era de descer dali, ir até ele e o beijar, meu coração não aguentaria até o final da música. — When you said you looked a mess I whispered underneath my breath, but you heard it. Darling, you look perfect tonight. — Seus olhos me olhavam com atenção, assim como os meus que estavam vidrados em cada movimento que fazia. Ele cantava agora sem desviar o olhar e cada palavra sua me fazia chorar com um sorriso gigantesco no rosto. — I hope that someday I'll share her home I found a lover. — Eu ri e sequei meu rosto, mas não adiantou nada. Eu queria compartilhar minha vida inteira com , não apenas um lar. — Be my girl, I'll be your man I see my future in your eyes. — Aquela música acabava comigo e com a cantando as coisas iam a níveis maiores ainda.
Desci as escadas rapidamente e fui até , pegando o violão de sua mão, o soltando no chão e ficando na ponta dos pés para poder beijá-lo. O gosto das lágrimas se misturava com o nosso, mas isso não nos separou e me abraçou, apertando meu peito contra o dele. Eu o amava e não podia negar isso nenhum segundo sequer. Rompi o beijo e seu nariz passou pelo meu. tinha um sorriso no rosto tão grande quanto o meu, e eu não queria desfazer aquele nosso abraço, mas ele fez isso, apontando para a areia onde estava escrito com conchinhas: Quer namorar comigo?
— Sim! — respondi rápido e o olhando, achando aquilo a coisa mais romântica do mundo. — Quero, é claro que quero! — Me virei para ele e me beijou.
Meu coração estava extremamente acelerado, parecia que saltaria da boca, e lá estava eu novamente chorando de felicidade. Parecia que ele tinha me pedido em casamento, na verdade, de tão feliz que eu me encontrava. Aquilo tinha sido maravilhoso. Não podia acreditar que tinha feito aquilo tudo para me pedir em namoro. Cada vez mais eu tinha certeza de que era a pessoa certa para mim, não tinha ninguém que eu amava mais do que ele.
— Gostou? — perguntou, rompendo nosso beijo e permaneci de olhos fechados.
— Eu amei — falei, sorrindo.
— Não acabou ainda. — Ouvi a voz de , então abri meus olhos e olhei para minha amiga, a vendo com suas taças vazias de champanhe, estava logo atrás dela com a garrafa na mão. — Para você. — Me entregou a taça que tinha um anel prateado dentro. — E esse é o seu. — Entregou a outra ao , que também tinha um anel.
— Com licença. — virou a taça, pegou o anel lá de dentro e depois segurou minha mão, colocando o anel em meu dedo anelar da mão direita. — Deu certinho?
— Sim. Ficou perfeita. — Olhei para o anel em meu dedo e virei a minha taça, pegando o anel e colocando em , ainda chorando com tudo aquilo. — Você consegue me fazer sorrir que nem uma idiota.
— Pelo menos é uma idiota feliz — comentou e depois estourou a champanhe. — Viva os noivos! Não, pera — brincou e fez nós todos rirmos, então me serviu e ao . — Agora que já fizemos a nossa parte, vamos nos retirar. — Ele pegou na mão de e os dois saíram correndo que nem crianças, o que nos causou algumas risadas.
— Obrigada por tudo isso. Foi lindo — falei, secando meu rosto novamente.
— Não agradeça, eu não podia deixar isso passar em branco ou como um simples pedido de namoro. — Ele me deu um selinho demorado, me fazendo ficar anda mais feliz. — A nós. — Levantou a taça.
— A nós. — Bati minha taça contra a dele e bebemos a champanhe. — Como vocês fizeram isso tão rápido? — perguntei admirada, olhando as coisas.
— Não foi difícil. A e o me ajudaram — explicou, olhando para a varanda iluminada com velas. — E também você demorou no banho. — Riu um pouco. — Isso nos deu tempo de sobra.
— Ficou incrível. Obrigada — agradeci mais uma vez, sorrindo, e o abracei.
— Obrigado você por permanecer sempre ao meu lado — disse, passando a mão em meus cabelos. — Essa noite poderia durar para sempre. Posso quebrar os relógios para ver se o tempo para? — Sua pergunta me fez rir.
— Pode, mas acho que não vai adiantar. — Minha cabeça estava encostada em seu peito e eu podia ouvir seu coração acelerado assim como o meu estava.
Eu, , e estávamos sentados, ou melhor, jogados na varanda, esperando e voltarem, os outros já tinham desistido e tinham ido dormir. A nossa conversa estava boa, que no final das contas estávamos ali mais batendo um papo do que esperando realmente. e estavam deitados no chão e ele estava com a cabeça deitada na barriga dela, enquanto minha amiga acariciava seus longos fios. Já eu e , estávamos sentados, encostados na parede um ao lado do outro. Às vezes eu até deitava com a cabeça em seu ombro, mas não era nada demais. Já tinha muito tempo que não fazíamos isso, digo em relação a eu, e . Não conseguia me lembrar a última vez que ficamos sentados do lado de fora de casa, conversando até altas horas da madrugada. Talvez tenha acontecido há uns dois anos, não lembro bem, pois às vezes minha amiga se afastava do nada e começava a andar com um pessoal esquisito, porém, no final das contas, ela sempre voltava.
— É engraçado, né — comentou totalmente aleatória. — Fomos criados do mesmo lado da cidade e nunca nos mudamos, acho que somos os únicos que continuam lá, porque toda a vizinhança já mudou, se não me engano. — Ela encarava o céu estrelado de forma pensativa e não parava de alisar o cabelo de .
— Não, a senhora Elgort continua morando no final da rua — rebati, lembrando da velha que tinha sessenta cachorros.
— Nossa, ela continua viva? — perguntou impressionado e eu ri. — Aquela velha é Highlander. — Começamos a rir de seu comentário.
— Você me fez lembrar daquela festa que teve lá em casa uns anos atrás, que você ficou bêbado e começou a chamar a senhora Elgort de Highlander. — se lembrou, nos causando mais risadas, foi bem engraçada a cena.
— Me conta como foi? — pediu, ainda com um sorriso no rosto.
— O bebeu demais, aí eu e a tentávamos carregar ele para a casa da piscina e a senhora Elgort estava falando algo como: Que vergonha, um rapaz desses bêbado que nem um gambá. Algo assim, não lembro bem — comecei a contar, tentando não rir, me lembrando da cena. — Aí o soltou bem alto: Highlander, imortal! — já começou a rir e balançar as pernas.
— A senhora Elgort ficou muito puta — minha amiga disse, gargalhando. — Disse que iria falar com a mãe a falta de respeito do . Nossa, reclamou um monte. O pior foi que eu e a ríamos tanto que não aguentamos o peso de e caímos os três na piscina. — Eu e ríamos muito que estávamos chorando. — O porre do meu irmão até passou.
— bêbado deve ser a melhor coisa do mundo — observou, e ele tinha razão, bêbado ficava extremamente engraçado.
— Você não tem ideia do quanto! Da última vez, ele até andou de salto — lembrei e ele me empurrou para que não contasse o que tinha acontecido.
— Me fala que o Troy gravou isso, por favor! — pediu como se implorasse.
— Com toda certeza — respondeu, ainda rindo. — Troy sempre pega os melhores momentos. Esse dia da piscina ele também gravou e como o bom filho da mãe que é, nem nos ajudou a sair dela, ele só ria descontroladamente de nós. — Assim como estávamos naquele momento. Era tão bom conversar com eles, me sentia leve ali com meus amigos. — é aquele amigo bêbado que dá vexame na festa.
— Então é de família, né. — implicou e puxou seu cabelo. — Ai, sua bruta! — Eu e gargalhamos deles dois, eles eram engraçados demais, davam choque e depois se amavam como se nada tivesse acontecido. — Não me agride se você não aguenta a verdade.
— Não tem verdade nenhuma no que você disse! — Puxou o cabelo dele de novo e os dois começaram a rolar pelo chão da varanda, um puxando o cabelo do outro enquanto riam, até que acabaram se beijando.
— Esses dois acabam comigo — falei, secando o canto dos olhos. — Eu vou tomar um banho e me deitar. Você vem? — perguntei ao , lhe dando um beijo rápido.
— Daqui a pouco, vai lá. Vou ficar um pouco mais segurando vela. — Riu um pouco e eu também. — Não demoro. — Me deu mais um beijo.
— Está bem. — Levantei e passei a mão em minha roupa, tirando o pouco de areia que tinha nela. — Boa noite para vocês dois — falei com o casal que agora estava rindo deles mesmos.
— Boa noite, — respondeu, com um sorriso enorme.
— Durma bem — disse e ele também estava sorrindo.
— Vocês também. — Abri a porta com cuidado para não fazer muito barulho e entrei.
Fui para o quarto e me sentei na cama, tirei minhas sapatilhas, sentindo meus pés doerem um pouco por ter passado o dia com elas. Me joguei para trás com um sorriso no rosto enquanto encarava o teto. Eu estava tão feliz por eu e o estarmos juntos e nos dando tão bem. Nunca imaginaria que isso fosse realmente acontecer e agora estava sendo mágico! Não cabia tanta felicidade dentro do meu peito, a minha vontade era de sorrir a todo o momento, especialmente quando estava ao lado dele. E de repente viver se tornou fácil novamente.
Levantei e fui tomar meu banho. Tirei minha maquiagem e entrei embaixo do chuveiro. Fiquei lá por um tempo refletindo sobre o último mês e como as coisas tinham mudado para melhor, nunca pensei que uma viagem fosse mudar tantas coisas e eu estava extremamente feliz por isso. Apesar das brigas e confusões, tudo terminava bem. Já tinha até me esquecido que tinha sido presa. Aquele pensamento me fez rir um pouco, no final das contas tinha sido engraçado. Seria uma história nossa que eu iria guardar para sempre.
Saí do chuveiro, me sequei e coloquei meu pijama. Quando abri a porta do quarto, vi um monte de pétalas de rosas espalhadas pelo chão e achei aquilo estranho. O que esse pessoal estava aprontando agora? Segui o caminho e quando abri a porta do quarto, todas as luzes estavam apagadas e o corredor estava iluminado por mini velas dentro de potes de vidro com água. Uni minhas sobrancelhas e fui andando, passando pela sala, seguindo a trilha de velas com pétalas de rosas que me guiaram até a porta da sala que dava para a varanda. Abri a porta de vidro bem lentamente e tudo ali estava enfeitado com velas e rosas vermelhas. Onde eles tinham arranjado tudo aquilo? Continuei andando até o parapeito e vi com um violão na mão, de pé, na areia. Ele sorriu para mim e começou a tocar, e já nos primeiros acordes eu já reconheci Perfect do Ed Sheeran, uma das minhas músicas favoritas. Minhas mãos seguraram a madeira enquanto olhava fixamente para .
— I found a love for me. Darling, just dive right in and follow my lead — ele começou cantando, olhando para as cordas do violão e rapidamente meus olhos se encheram d’água. — Well, I found a girl, beautiful and sweet. Oh, I never knew you were the someone waiting for me. — me olhou com um sorriso enorme e eu já me desmanchava em lágrimas. — 'Cause we were just kids when we fell in love not knowing what it was. — Minhas pernas pernas tremiam e eu estava quase caindo no chão. Não esperava por aquilo. estava tão lindo cantando. — I will not give you up this time but darling, just kiss me slow. Your heart is all I own and in your eyes you're holding mine. — Eu só conseguia sorrir e chorar ouvindo ele cantar. Aquele momento ficaria gravado em minha mente para sempre. era perfeito. — Baby, I'm dancing in the dark with you between my arms barefoot on the grass listening to our favorite song. — Minha vontade era de descer dali, ir até ele e o beijar, meu coração não aguentaria até o final da música. — When you said you looked a mess I whispered underneath my breath, but you heard it. Darling, you look perfect tonight. — Seus olhos me olhavam com atenção, assim como os meus que estavam vidrados em cada movimento que fazia. Ele cantava agora sem desviar o olhar e cada palavra sua me fazia chorar com um sorriso gigantesco no rosto. — I hope that someday I'll share her home I found a lover. — Eu ri e sequei meu rosto, mas não adiantou nada. Eu queria compartilhar minha vida inteira com , não apenas um lar. — Be my girl, I'll be your man I see my future in your eyes. — Aquela música acabava comigo e com a cantando as coisas iam a níveis maiores ainda.
Desci as escadas rapidamente e fui até , pegando o violão de sua mão, o soltando no chão e ficando na ponta dos pés para poder beijá-lo. O gosto das lágrimas se misturava com o nosso, mas isso não nos separou e me abraçou, apertando meu peito contra o dele. Eu o amava e não podia negar isso nenhum segundo sequer. Rompi o beijo e seu nariz passou pelo meu. tinha um sorriso no rosto tão grande quanto o meu, e eu não queria desfazer aquele nosso abraço, mas ele fez isso, apontando para a areia onde estava escrito com conchinhas: Quer namorar comigo?
— Sim! — respondi rápido e o olhando, achando aquilo a coisa mais romântica do mundo. — Quero, é claro que quero! — Me virei para ele e me beijou.
Meu coração estava extremamente acelerado, parecia que saltaria da boca, e lá estava eu novamente chorando de felicidade. Parecia que ele tinha me pedido em casamento, na verdade, de tão feliz que eu me encontrava. Aquilo tinha sido maravilhoso. Não podia acreditar que tinha feito aquilo tudo para me pedir em namoro. Cada vez mais eu tinha certeza de que era a pessoa certa para mim, não tinha ninguém que eu amava mais do que ele.
— Gostou? — perguntou, rompendo nosso beijo e permaneci de olhos fechados.
— Eu amei — falei, sorrindo.
— Não acabou ainda. — Ouvi a voz de , então abri meus olhos e olhei para minha amiga, a vendo com suas taças vazias de champanhe, estava logo atrás dela com a garrafa na mão. — Para você. — Me entregou a taça que tinha um anel prateado dentro. — E esse é o seu. — Entregou a outra ao , que também tinha um anel.
— Com licença. — virou a taça, pegou o anel lá de dentro e depois segurou minha mão, colocando o anel em meu dedo anelar da mão direita. — Deu certinho?
— Sim. Ficou perfeita. — Olhei para o anel em meu dedo e virei a minha taça, pegando o anel e colocando em , ainda chorando com tudo aquilo. — Você consegue me fazer sorrir que nem uma idiota.
— Pelo menos é uma idiota feliz — comentou e depois estourou a champanhe. — Viva os noivos! Não, pera — brincou e fez nós todos rirmos, então me serviu e ao . — Agora que já fizemos a nossa parte, vamos nos retirar. — Ele pegou na mão de e os dois saíram correndo que nem crianças, o que nos causou algumas risadas.
— Obrigada por tudo isso. Foi lindo — falei, secando meu rosto novamente.
— Não agradeça, eu não podia deixar isso passar em branco ou como um simples pedido de namoro. — Ele me deu um selinho demorado, me fazendo ficar anda mais feliz. — A nós. — Levantou a taça.
— A nós. — Bati minha taça contra a dele e bebemos a champanhe. — Como vocês fizeram isso tão rápido? — perguntei admirada, olhando as coisas.
— Não foi difícil. A e o me ajudaram — explicou, olhando para a varanda iluminada com velas. — E também você demorou no banho. — Riu um pouco. — Isso nos deu tempo de sobra.
— Ficou incrível. Obrigada — agradeci mais uma vez, sorrindo, e o abracei.
— Obrigado você por permanecer sempre ao meu lado — disse, passando a mão em meus cabelos. — Essa noite poderia durar para sempre. Posso quebrar os relógios para ver se o tempo para? — Sua pergunta me fez rir.
— Pode, mas acho que não vai adiantar. — Minha cabeça estava encostada em seu peito e eu podia ouvir seu coração acelerado assim como o meu estava.
15. Teenage Dream
Faltava quase um mês para as férias de verão acabarem e eu sentia que aquilo era a contagem regressiva para uma bomba relógio que iria explodir. Eu não sabia o que iria acontecer comigo e com e não queria pensar nisso mais, pois ele me fez prometer que não faria. Nós estávamos tão bem que seria um desperdício de tempo realmente pensar sobre o que aconteceria dali a um mês praticamente.
Era engraçado como tinha me trazido de volta à vida. Antes eu estava “bem”, mas as coisas eram pesadas. Ele gostava de mim do jeito que eu era, com as minhas loucuras, sem maquiagem, nos meus dias de mau humor, que era até bastante, mas ele sempre dava um jeito de torná-los ótimos no final das contas, iluminando cada um deles com seu sorriso que eu era completamente apaixonada. me achava engraçada até mesmo quando eu contava uma piada ruim, que no final das contas acabávamos rindo juntos como se tivesse sido a coisa mais engraçada do mundo. E ele sempre me entendia por pior que fosse a ideia errada que vinha em minha mente pirada. Eu sei que estava apaixonada e tudo o que ele fizesse eu iria simplesmente amar, mas daquela vez as coisas eram diferentes. Aquele namoro não era como meus outros relacionamentos, esse era intenso de maneira que fazia meu coração ficar acelerado sempre que eu olhava para . Eu sentia que estava vivendo em um sonho adolescente com todo aquele frio na barriga e suspiros que soltava por causa dele. Não queria nunca que aquilo terminasse, pois jamais iria enjoar da sensação que me causava.
Eu dançava e cantava no chuveiro, super animada, jogando meu cabelo para todos os lados, chegando até mesmo a molhar o teto. Meu irmão já tinha batido duas vezes na porta, falando que eu estava há tempo demais lá dentro e que iria acabar com a água da cidade toda. Como sempre exagerado. E quando foi a terceira vez, eu fui e fechei a água, minhas mãos já estavam enrugadas mesmo. Me sequei e enrolei meu corpo na toalha. Parei na frente do espelho e passei a mão nele, tirando o embaçado que tinha ali. Escovei meus dentes e depois penteei meus cabelos. Vesti uma roupa que tinha atrás da porta, pendurada, e saí do quarto. Achei estranho não estar ali, pois ele disse que iria dormir um pouco enquanto eu estava no banho. Dei de ombros e fui até a cama, entrando embaixo do edredom, e no momento que estiquei minhas pernas, senti algo gelado e pegajoso agarrar em minha perna, o que me fez gritar no mesmo instante e pular da cama, puxando o edredom e vendo vários bichos, ou melhor, sapos e lagartixas! Meus olhos se arregalaram e eu berrei desesperada quando algo gelado agarrou minha canela. Comecei a pular e a gritar de desespero em um nível tão absurdo que cheguei a cair assustada no chão e começar a chorar de nervoso. Ouvi a risada de , ele saiu de baixo da cama e todo mundo começou a entrar no quarto. Eu fui pega em uma pegadinha! Nossa, aquilo me fez levantar na hora e partir para cima de , o estapeando enquanto o idiota ria da minha cara.
— Seu babaca! — xinguei e o empurrei, fazendo com que caísse em cima da cama. Peguei o bicho que percebi que era de mentira e joguei em cima dele. — Eu te odeio, ! — Voltei a chorar de nervoso, sentindo cada parte do meu corpo tremer. Eu tinha aversão a bichos pegajosos e eles sabiam daquilo.
— Calma, — pediu e eu saí andando do quarto, empurrando todo mundo que estava na minha frente que estava rindo. — , volta aqui. — Chamou, mas ignorei. — ! — Ele me alcançou no corredor e segurou meu pulso me puxando, mas o empurrei. — Para com isso. — Pediu, mas depois seu sorriso sumiu quando me olhou vendo que eu estava chorando. — Ah, que merda. — Então me abraçou e eu tentei afastá-lo, mas não consegui. — Você está tremendo. — Eu estava mais do que isso, estava quase morrendo do coração de tanto nervoso! — Desculpa, não pensei que iria te assustar tanto.
— Não fala comigo, estou com raiva de você — mandei e ele pegou minhas pernas, me fazendo passar elas por sua cintura.
Eu podia estar com raiva dele, mas não queria soltá-lo. Bipolaridade reinava dentro de mim quando o assunto era . Ele me abraçou e me levou para o terceiro andar da casa, onde tinha o terraço com uma área de churrasqueira e piscina, e se sentou em um sofá de dois lugares que tinha ali comigo ainda em seu colo. Ficamos calados, um abraçado no outro, esperando que eu finalmente ficasse calma. E lá estava , fazendo sua mágica e me deixando tranquila novamente. Minha cabeça estava deitada em seu ombro, enquanto eu olhava para a parede branca, mas fechei meus olhos quando senti sua mão afagar meu cabelo em um carinho leve e gostoso. Virei meu rosto e dei um beijo em seu pescoço.
— Como você está? — perguntou de um jeito bem preocupado.
— Te odiando profundamente — respondi e ele riu.
— Então pode continuar me odiando assim — pediu, deixando seu pescoço um pouco mais exposto, então o mordi. — Ai, sua cachorra — reclamou, me fazendo rir e vi que sua pele tinha ficado vermelha e isso me fez beijar de novo o local, em forma de desculpas. — É, você me bate e depois beija. Estou entendendo a sua — falou em um tom brincalhão.
— Qual é a minha? — quis saber.
— Bipolaridade — brincou e nós rimos.
— Isso é culpa sua. Você é a única pessoa que me leva a dois opostos em questão de milésimos. Um segundo eu quero te matar, no outro você me faz te amar ainda mais. — Depois que falei foi que me toquei no que tinha falado, e rapidamente meu rosto ficou vermelho.
— Então você me ama? — Seu tom de voz foi baixo e extremamente doce, fazendo meu coração disparar.
Eu não sabia como responder sua pergunta. Falar que ama alguém de verdade era uma coisa muito forte e eu odiava banalizar o sentimento, mas na frase foi apenas modo de dizer, não que eu não gostasse de , só que... Eu só disse que amava dois caras na minha vida e eles se mostraram ser pessoas que nunca imaginei que eram depois de um tempo, não estava afim de cometer o mesmo erro novamente. Então achava que talvez fosse cedo para falar aquilo. Não queria me decepcionar, não que eu achasse que fosse fazer aquilo, mas ainda assim era cedo, embora eu o conhecesse há bastante tempo.
E, em um pensamento rápido para desviar daquele assunto, me levantei e olhei para com um sorriso de lado e tirei minha blusa, depois meu shorts. Me virei sem me importar que minha calcinha de shortinho fosse cavada e de renda vermelha, praticamente transparente, e corri até a piscina, saltando lá dentro de cabeça e dando um belo mergulho. Eu tinha acabado de tomar banho, mas estava calor, e aquilo poderia ser a distração perfeita para esquecer o que eu havia dito. Emergi, deixando meus cabelos molhados para trás e dei um sorriso, olhando para ele, o chamando com o indicador.
— A água está deliciosa — falei, mordendo o canto de meu lábio inferior.
— Tem outra coisa deliciosa aqui — disse, sorrindo de lado e se levantando do sofá, tirando sua camisa e vindo até a beira da piscina. Seu físico era maravilhoso e suas tatuagens me deixavam louca. — Eu sei o que você está fazendo, ok? — Colocou a mão na água e jogou um pouco em meu rosto.
— Estou nadando. — Me fiz de boba e ele riu. — E talvez te provocando um pouco. — Ergui uma sobrancelha, vendo negando com a cabeça. — Anda, entra aqui. — Fui me aproximando dele lentamente e quando cheguei à beira, me impulsionei nela para cima, ficando quase na altura que ele estava. — Ou vai ficar só olhando? — perguntei, quase o beijando, então me joguei para trás, mergulhando de novo.
— , — falou, assim quando levantei e ele ainda estava no mesmo lugar. — É difícil manter o controle com você fazendo essas coisas.
— E olha que eu nem fiz nada. — Joguei água nele e só assim que entrou na piscina.
— Imagina se fizesse, né? — ironizou, já me prendendo contra a parede da piscina. — Me fala. O que eu faço com você? — perguntou, beijando meu pescoço, e eu já fechei os olhos, sentindo o toque de seus lábios e ficando arrepiada.
— Tudo o que você quiser — sussurrei, passando a mão em seus peitos até chegar aos seus ombros, os apertando de leve quando o senti pegar minhas coxas e as puxarem para cima, como sempre fazia. — Você é a peça que faltava em meu quebra-cabeça. — E não me restava dúvidas daquilo.
— E você me completa — disse, subindo sua mão e segurando meu rosto, fazendo meu coração parar. Abri meus olhos e olhei dentro de seus olhos . — Quer sair comigo? Só eu e você.
— E para onde vamos? — quis saber, e não conseguia desviar o olhar.
— Fugir — brincou, nos fazendo rir. — Sei lá, dirigir por aí, ver até onde a noite pode nos levar. — E aquela ideia me pareceu maravilhosa. — O que acha?
— Querido, até se eu fosse para o inferno com você, seria bom. — Soltei, junto de uma risada. — O que devo vestir para poder te acompanhar?
— Olha, por mim, você poderia ir assim mesmo, mas acho que seria atentado ao pudor. — Era impressionante como sempre tinha alguma tirada que me fazia rir. — Mas você pode vestir o que quiser.
— Está bem — disse, e o beijei. — Prometo que não vou te decepcionar.
— Você nunca decepciona — falou, me soltando, e eu senti falta do seu corpo no meu.
— Nos encontramos na sala em meia hora? — perguntei e ele concordou.
Saí da piscina e peguei minhas coisas. me mataria por estar descendo molhada, mas não tinha nada que eu pudesse fazer. Então fui o mais rápido que consegui, tomando cuidado para não cair como da última vez que entrei ensopada em casa. Corri direito para o banheiro para tomar outro banho e tirar aquela água de cloro do meu cabelo, ou ele ficaria lindamente igual a uma vassoura. Fui rápida dessa vez, já pensando em que roupa vestir. Assim que saí do box, me sequei rapidamente e enrolei a toalha na cabeça. Fiz uma make normal, olhos de gato bem fininhos e longos, blush e batom vermelho. Penteei o cabelo e depois o baguncei, jogando para o lado. Me enrolei na toalha e saí do banheiro. Puxei as duas peças de roupa que iria usar da mala, e até que elas não estavam tão amarrotadas assim. Coloquei uma saia jeans de cintura alta que ia até o meio de minhas coxas e um cropped de manga longa, listrado, o tecido dele era fininho, então eu não sentiria calor. Enchi meu braço com minhas pulseiras e relógio, e meus dedos com anéis. Calcei meu clássico Vans Sk8-Hi preto com branco, e depois passei meu perfume. Me olhei no espelho e puxei o colar de cruz de para fora da blusa, deixando que caísse entre meus peitos. Fiquei olhando para ele com um sorriso no rosto, tinha amado o presente, era especial.
Saí do quarto e quando cheguei à sala, me deparei com Cheryl e Bear. Meus olhos se arregalaram na mesma hora quando vi a garota ali. Olhei para trás e depois para eles dois novamente, me perguntando se estava vendo certo, depois encarei Joe, que estava sentado no sofá com uma cara super séria.
— Finalmente alguém de confiança — Cheryl disse, quando notou minha presença ali. — me pediu para trazer Bear, já que eu estava em Los Angeles, mas como o belo pai responsável que ele é, não está aqui — começou a falar, já pegando seu filho e vindo em minha direção. — Diz a ele que amanhã cedo eu venho buscá-lo. As coisas dele estão na bolsa junto a uma lista dos horários que ele tem que comer. — Entregou Bear nos meus braços, que já agarrou meu cabelo e tentou colocá-lo na boca. — Não faça isso, querido, é sujo. — Fez seu filho soltar minha mecha. — Eu preciso ir agora. Tchau.
— Tchau. — Foi a única coisa que respondi, vendo Cheryl sair sem olhar para trás. — Que porra foi essa? — perguntei a Joe, que me olhava agora.
— Achei estranho o ter pedido a Cheryl para passar aqui. Não entendi nada. — Sim, aquilo estava estranho.
— Liga para o — pedi, já olhando para Bear, que voltava a agarrar e a puxar meu cabeço. — Antes que eu fique careca, sim. — Eu não era fã de criança e não tinha o menor jeito com elas.
— Já tentei, está dando fora de área. — Aquilo me fez rolar os olhos.
— O que vamos fazer com essa criança? Eu e o estamos saindo — avisei, não ficaria em casa esperando aparecer. — Ele pelo menos disse aonde foi?
— Ele saiu àquela hora com a , e . Falavam que iam comer algo.
— Então liga para o meu irmão! — falei como se fosse a coisa mais óbvia a se fazer. — Ai! — reclamei com Bear, que puxou meu cabelo. — ! — chamei e ele apareceu no parapeito do segundo andar.
— De quem é? — perguntou, já com um sorriso enorme quando olhou Bear.
— Se tiver sorte, pode ser seu, é só vir aqui pegar. — Sorri para ele de um jeito forçado, que já descia as escadas.
— já pode ganhar um troféu de tia do ano — Joe zombou e eu fiz uma careta para ele. — Consegui falar com , eles estão voltando.
— Hey, rapaz. — já o pegou de meus braços, e eu dei graças a Deus. — Como você se chama?
— Bear — falei e meu namorado me olhou na mesma hora. — Sim, é o filho do — respondi à pergunta que ficou estampada em sua cara.
— O que ele está fazendo aqui?
— Bem, aparentemente pediu para a Cheryl trazê-lo, mas ele não tinha comentado nada. Estou achando isso muito estranho — expliquei, enquanto brincava com a criança com um sorriso bobão no rosto. — Você me ouviu?
— Sim — disse e por fim parou, me olhando. — Nossa.
— O que foi? — Olhei para mim mesma, procurando se Bear tinha gorfado em minha roupa e eu não tinha visto.
— Você está linda. — Automaticamente minhas bochechas ficaram quentes. — Vou ter muito trabalho hoje.
— Por quê? — quis saber, achando engraçada a cara que ele tinha feito.
— Os caras vão ficar tudo te olhando. — Revirei meus olhos e ri um pouco sem graça. — É sério. — Ele se aproximou com Bear ainda em seus braços. — Na verdade, você é sempre linda. — Acariciou a lateral de meu rosto com seu polegar e depois me deu um selinho. — Preciso parar urgente de me apaixonar por você toda a vez que te olho. — Aquilo fez meu rosto queimar novamente, ainda mais pela forma como ele me falou, me olhando tão intensamente.
— Não faz isso, assim você mexe ainda mais comigo. — Dei um sorriso bobo e tombei levemente minha cabeça em cima de sua mão.
— Vem cá. — Me puxou para perto e me abraçou com apenas um braço, já que Bear estava no outro, e deu um beijo em minha cabeça. — O disse que você é madrinha do Bear.
— Uma péssima madrinha — disse, segurando a mão da criança, que nos olhava com atenção agora. — Ele gostou de você. Também, como não gostar. — Sorri sem tirar os olhos de Bear.
Nos sentamos no sofá e ficamos brincando com ele, na verdade ficou brincando enquanto eu olhava os dois. A criança ria que não se aguentava com as brincadeiras que meu namorado fazia e ele ria junto. A risada daqueles dois juntos era maravilhosa, me fazia rir também. Até que ouvimos um barulho da porta da frente e surgiu com logo ao seu lado.
— Olha quem está aqui! — Meu irmão veio em nossa direção e pegou Bear, o levantando para o alto. — Meu garotão! — Então ele e começaram a brincar com o bebê.
— Cadê o ? — perguntei, mas ele apareceu.
— Estou aqui... O que o Bear está fazendo aqui? — A cara que ele fez foi muito estranha e eu soube que Joe e Cheryl não tinham avisado sobre a criança.
— Cheryl apareceu dizendo que tinha te ligado e que você pediu para deixar o Bear aqui — Joe explicou rapidamente.
— Não liguei merda nenhuma, aquela mulher é maluca! — reclamou e foi até , pegando Bear das mãos de meu irmão. — Hey, meu ursinho. — Sorriu de um jeito bobo e beijou a criança. — Quero te apresentar uma pessoa. — Levou ele até . — Essa aqui é a . — O menino ficou olhando vidrado para a minha prima, até que sorriu e esticou os braços para ela.
— Olá, Bear — ela disse, pegando o bebê com cuidado.
— Ih, . Perdeu — zombou. — Vai ficar sem mulher e sem filho agora.
— Vocês não iam sair? — rebateu e nós rimos.
— Sim. Já estamos indo e não temos hora para voltar. — Bati na coxa de e me levantei do sofá.
— Opa, hoje tem — Joe debochou e eu lhe dei o dedo do meio. — Vai ter muito ainda.
— Vai atrás da Naomi, vai. — Fiz um gesto para ele sumir logo dali.
— Vou mesmo, tchau. — Se virou e saiu andando.
— Aonde vocês vão? — quis saber, ela tinha um sorriso enorme no rosto, enquanto estava abraçada com meu irmão.
— Ainda não sabemos, vamos andar por aí sem destino — disse, se levantando também e segurando minha mão.
— Do jeito que vocês dois são, é capaz de irem parar no México — colocou pilha, dando uma risada, nos olhando rapidamente. — Vocês podem trazer um sombreiro para mim quando voltarem.
— Pode deixar que iremos trazer — garanti, rindo um pouco. — Vamos? — Olhei para .
— Vamos. — Ele sorriu, então nos despedimos e saímos.
Peguei meus documentos dentro do meu carro, e assim que entramos no Corolla de , o vi pegando o GPS e digitando alguma coisa nele. Fiquei esperando para ver para onde iríamos e quando ele colocou o aparelho no suporte, meus olhos não acreditaram no que viram.
— Tijuana? — Abri um sorriso enorme. — Nós vamos mesmo para o México? — Aquilo me animou de uma maneira absurda.
— Sim, eu gostei da ideia do . — Ele me olhava com um sorriso maravilhoso e eu o beijei. — Gostou?
— Eu amei! Finalmente vou poder usar meu Espanhol — brinquei e nós rimos. — Vamos logo, temos três horas e meia de viagem! — Me afastei dele e peguei meu celular, já abrindo o Spotify e criando uma playlist.
— Depois procura um lugar para nós irmos — pediu e eu concordei com a cabeça.
Fiz uma playlist com três horas e meia de música e depois um check-in em um hotel para podermos descansar depois de curtir a noite. Então encontrei um restaurante para comermos algo e depois achei um bar ou pub, sei lá como eles denominavam isso no México, para passarmos a nossa noite a qual esperava ser inesquecível. Me joguei no banco e coloquei meus pés em cima do painel do carro, enquanto mexia no celular, cantarolando a música que tocava, até que senti a mão de em minha perna e isso me fez olhá-lo com um sorriso. Droga, eu gostava tanto daquele homem que era impossível esconder. E como se fosse algo natural, deixei o celular de lado e as pontas dos meus dedos tocaram as costas de sua mão, deslizando suavemente até que eles se entrelaçassem com os dele, formando um encaixe gracioso. Gravei aquele pequeno ato em minha mente e o guardaria para mim para me lembrar dele sempre quando pudesse. Nunca iria querer me esquecer daquele momento, dos sentimentos que me proporcionava, o cheiro que tinha dentro daquele carro, do toque de sua pele contra a minha, do sorriso dele... Daria até mesmo uma cor para aquele momento, para que todas as vezes que a visse, ou quisesse lembrar com mais facilidade, era apenas pensar naquela cor. Seria verde, verde como seus olhos, um verde intenso que me roubava o fôlego todas as vezes que olhava para ele. Colocaria todos os momentos bons que estou tendo com dentro dessa cor para que ela me marcasse tão fundo que seria incapaz de tirá-la de mim mesmo se um dia eu quisesse.
Fomos direto para o hotel, e a recepcionista nos atendeu muito bem e entregou a chave de nosso quarto. Subimos até ele apenas para ver como era e nos deparamos com algo que não esperávamos. Aquilo não era um simples quarto de hotel, era um quarto de hotel tirado dos filmes. As paredes em um amarelo claro davam um ar quente e acolhedor, ainda mais pelo fato de os abajures com lâmpadas amarelas estarem ligados. Uma cama king size lotada de travesseiros que pareciam tão macios quanto algodão doce, uma varanda com a porta dupla aberta deixava o vento, entrar levantando a fina cortina de forma esvoaçante, e dava para ver uma pequena mesa redonda do lado de fora, composta apenas por duas cadeiras. Corri até o banheiro e ele era tão grande e bonito quanto o quarto. Banheira, box, um sofá e uma pia enorme com um espelho maior ainda em cima.
Quando me virei, estava atrás de mim com um sorriso lindo, aquele que só ele conseguia dar, deixando suas covinhas aparecerem. Sorri também e o abracei, juntando meus lábios nos dele logo em seguida, feliz por estar ali, especialmente por estar com ele. Me afastei e passei a mão em seu rosto, tão lindo. Seus olhos me olhavam de forma que fazia tudo dentro de mim ficar extremamente rápido. Peguei sua mão e o puxei, me virando para que saíssemos dali, mas me trouxe de volta e me beijou, porém era diferente do anterior, esse foi voraz a tal ponto que fiquei com falta de ar. Segurei sua camisa pelos ombros, como se fosse capaz de fugir, e sua mão veio para minhas costas, me dando apoio, já que seu corpo se curvou levemente sobre o meu. Mordi seu lábio inferior e o puxei, ele soltou um pequeno gemido, então minhas mãos foram para seu peito e o empurrei para longe de mim. Céus, ele me deixaria louca! Sua boca estava toda suja de batom vermelho e isso me fez rir, pois eu deveria estar do mesmo jeito. Ele se encostou na parede com um sorriso safado no rosto e precisei me conter para não ir até lá e pular em cima daquele homem e tirar toda a sua roupa. Apontei em sua direção com um pequeno sorriso e dei uns passos para trás, me escorando na porta do banheiro, indicando que deveria ficar ali e não me seguir, mas, por garantia, tranquei a porta, pois conhecia aquele garoto o suficiente para saber que acabaria entrando ali apenas para me provocar, e me conhecendo também para saber que acabaríamos nem ao menos saindo daquele hotel se continuássemos assim.
Lavei meus lábios e ao redor deles para poder tirar aquela mancha de batom vermelho que tinha ficado ali, eu parecia uma palhaça. Sequei com um papel, tirando o resto que tinha ficado, e finalmente saí do banheiro, então entrou nele, fazendo questão passar esfregando seu peito em meu ombro. Peste. Ficava me provocando! Ainda mais com aquela porcaria de blusa de botão aberta até a altura de sua tatuagem na barriga. Ele sabia o quanto ficava sexy com aquela porcaria aberta e fazia de propósito. Passei a mão em meu cabelo, o bagunçando um pouco. Sabia que até o final daquela noite acabaria perdendo o juízo com aquele homem se as coisas continuassem daquele jeito.
Passei a mão em minha saia e em meu cropped, os ajeitando, e saí do quarto. Iria esperar no corredor, era mais seguro. Na verdade, não havia lugar seguro para a minha sanidade perto dele. Me encostei na parede e fiquei olhando para meus Vans enquanto mexia a ponta dos meus pés. Balancei minha cabeça de leve de um lado para o outro, ouvindo Say Something Loving, do The XX, que tocava nas pequenas caixas de som do corredor. Fechei meus olhos com um sorriso no rosto, deixando que a batida me levasse. Aquilo era bom, eu me sentia leve. Joguei minha cabeça para trás, a encostando na parede, deixando meu corpo descer um pouco sem me importar se minhas pernas ficariam no meio do caminho. Senti a presença de alguém bem perto de mim, e pelo perfume eu sabia quem era. Meu sorriso continuou em meu rosto, mas um arrepio me correu quando seu corpo se aproximou do meu e sua respiração bateu em minha orelha.
— You say something loving. Without hesitation it hits me. — Sua voz levemente rouca me incendiou e suas mãos em minha cintura me puxaram para cima. definitivamente queria acabar comigo. — Vamos, antes que eu te agarre aqui no corredor mesmo. — Eu acabei rindo daquilo e abri os olhos.
— Também acho.
Sua mão segurou a minha, então seguimos caminho.
Jantamos em um restaurando bem típico da região e comemos um delicioso Buffalo wings. Eu parecia mais uma criança, me melando toda com o molho agridoce apimentado. ficava rindo de mim, mas também tinha se sujado todo. Isso nos rendeu altas fotos maravilhosas. Não me lembrava da última vez que havia estado tão feliz quanto naquele momento. Rir era fácil e ser feliz era algo que estava na ponta de meus dedos. Aquilo tudo era mágico demais.
Saímos dali e fomos para um pub, na verdade aquilo estava longe de ser um pub, era sim uma boate enorme! E quando entramos, eu me arrependi amargamente de ter ido com um cropped de manga comprida. Olhei para por cima de meu ombro e já puxei meu cabelo para cima, dando um sorriso e rebolando na batida da música, enquanto andava pelas pessoas, tentando chegar ao ar. Ele riu e negou com a cabeça, chegando mais perto de mim, mas a única coisa que continuou segurando foi a minha outra mão. Cheguei ao balcão e pedi dois frozen, um de morango e outro de limão, e entreguei o meu cartão da comanda ao bartender. Senti colando seus peitos em minhas costas, dançando e fazendo com que meu corpo mexesse junto ao dele, já segurando minha cintura. Ri, gostando daquele contato e joguei minha mão para cima, a descendo e passando pelo pescoço dele, o puxando para que se abaixasse. Seus lábios beijaram meu pescoço e depois foram subindo até chegar à minha orelha, passando os dentes na ponta de minha cartilagem, me provocando. Minhas unhas compridas passaram pela pele de sua nuca, o arranhando por causa daquilo, e suas mãos me apertaram, me puxando ainda mais para trás, como se ainda fosse possível. Deixei minha bunda passar contra seu quadril e seus dedos indicaram que aquilo tinha surtido o efeito desejado, pois me seguraram com mais força. Mordi meu lábio inferior, contendo minha vontade de me virar e beijá-lo.
Vi as bebidas sendo colocadas em minha frente e logo as peguei, junto ao meu cartão da comanda, e o coloquei no bolso da frente de minha saia. Me virei e entreguei o frozen de limão para , já tomando um gole do meu. Aquilo me refrescou um pouco. Fiquei brincando com o canudo, olhando para meu namorado, e ele apenas observava atento os movimentos que meus lábios e minha língua faziam com aquele tubinho preto. Sorri e ele deu uma grande golada de seu drink como se estivesse morrendo de sede, mas eu sabia que era bem mais do que isso. Aproveitei para me aproximar e dar um beijo em seu pescoço, e ele me segurou para que não parasse. Minha língua e lábios gelados passavam por sua pele sem deixar marcas mesmo que eu quisesse fazer isso. Senti sua respiração ficando pesada, então me afastei. me olhou de forma intensa e me beijou. Os gostos de morango e limão se misturaram em nossas línguas, ao som de Maluma, com meu corpo colado ao dele, se mexendo um pouco, tentando acompanhar a batida. E a vontade de parar com aquilo era inexistente.
Ficamos nessa a noite toda, dançando e nos pegando, e, claro, bebendo. No final, eu já estava bêbada, suada e com meu cropped amarrado na cintura. Sim, eu estava apenas de sutiã e saia, no meio da boate, movendo meu corpo como se não houvesse amanhã. não estava muito diferente de mim, a não ser pelo fato de sua camisa ainda estar em seu corpo, porém totalmente aberta, me dando o vislumbre de seu corpo maravilhoso que eu tanto desejava a todo instante. Nossos cabelos estavam presos em um coque desajeitado, deixando alguns fios soltos que se agarravam em nossos rostos, mas nada daquilo tirava a beleza do momento. Não queria que aquilo tivesse fim. Poderia ter noites intermináveis como essa se estivesse ao meu lado.
Praticamente nos expulsaram da boate para que a fechassem. Nós fomos uns dos últimos clientes a sair e isso nos causou risadas. Quem nos olhava deveria pensar: Bêbados. Mal sabiam que nós somos assim naturalmente. Pagamos a conta e pegamos um táxi, que nos levou para o hotel que estávamos ficando. No caminho, ficamos berrando pela janela, assustando as pessoas que passavam pela rua, eu até mesmo latia para os outros, e o susto estampado na cara do povo era impagável, só que a parte mais engraçada era quando nos xingavam por aquilo. Apostei que o taxista iria nos cobrar mais caro pela corrida por causa daquilo. Quando saímos do carro, pude ouvir o homem resmungar algo em um espanhol carregado de sotaque, acho que era: Americanos idiotas. E, bem, eu concordava exatamente com ele. Voltei e me pendurei na janela do táxi.
— Moço, a vida é muito linda e curta para ficar reclamando... — Antes que eu pudesse terminar minha frase em um espanhol tão embolado que eu mal me entendia, me puxou, rindo também. — Eu só ia mandar ele ir ser feliz — falei em inglês com meu namorado, e ele apenas abraçou minha cabeça, tampando minha visão. — Estou cega, .
— Você é muito respondona. — Destampou meu rosto e nisso ele perdeu o equilíbrio.
O segurei para não cair e isso nos fez sair ciscando pela calçada afora até que caímos sentados dentro do hall do hotel. Começamos a rir descontroladamente, enquanto todos nos olhavam. Os seguranças nos ajudaram a ficar em pé e nos levaram até nosso quarto. Isso mesmo, fomos carregados, pois andar estava sendo bem difícil. Eles nos colocaram deitados na cama e foram embora. Aquilo tinha sido ótimo.
Me levantei para tomar um banho, pois estava toda melada de suor. Era incrível como as coisas tinham triplicado. Demorei mais do que o normal, mas a água gelada fez a bebedeira melhorar um pouco. Me sequei, enrolei uma toalha na cabeça e vesti um roupão atoalhado. Quando abri a porta do quarto, me deparei com um forte feito de lençóis. Comecei a rir e me abaixei, entrando aparentemente no que era uma porta e procurando por . Fui engatinhando e o encontrei deitado em um canto apenas de calça, com vários travesseiros e com a cabeça encostada na parede.
— Adorei sua humilde residência — brinquei e ele riu, fazendo um gesto com a mão para que me aproximasse.
— Ela é sua também — disse, me dando um beijo na bochecha. — Veja, nós temos nosso próprio céu e podemos decorá-lo do jeito que quisermos. — Apontou para cima e a ponta de seu dedo tocou o lençol que estava sobre nós.
— Achei o nosso céu lindo. Vamos imaginar como ele ficará com várias estrelas . — Me deitei ao seu lado e me olhou. — Verdes como seus olhos. — Sorri, e o encarei, ele também sorria. — Hoje eu colori a essa lembrança de verde para sempre que olhar para a cor lembrar desse momento que estou tendo contigo.
— Eu te amo — sussurrou e meu coração disparou, não esperava ouvir aquilo agora.
— Você está bêbado, — o lembrei e ele negou com a cabeça.
— A bebida entra e a verdade sai. — Minhas bochechas queimaram e eu me aproximei, me encolhendo em seu peito. — Você faz meu mundo se tornar perfeito. — Eu simplesmente não sabia o que falar.
O silêncio se instalou entre nós e as únicas coisas que davam para ser ouvidas eram nossas respirações e os corações batendo rapidamente, mas logo eles foram se acalmando e o sono nos levou.
Eu sonhei, sonhei com . Estávamos felizes, sentados em uma praia, bebendo um pouco de vinho doce. Ríamos e depois começamos a correr pela areia, ele tentava me pegar, então entrei na água, querendo fugir dele, mas fui alcançada e seus lábios tomaram os meus em um beijo apaixonado. A luz da lua iluminava tudo, dando um ar mágico a tudo aquilo. Meu coração batia rápido e meu corpo respondia a cada toque. Logo já estávamos fora da água e deitamos em uma canga minha. Nossas roupas molhadas iam se desfazendo até que não tinha mais nenhum tecido entre nossos corpos. Minhas mãos agarravam suas costas largas e minhas unhas não tinham medo de deixar marcas por onde passavam. Seus lábios contra minha pele, seu peito deslizando sobre o meu, sua boca em meu piercing e depois descendo por minha barriga, os gemidos roucos de se misturando com os meus finos e descompassados, o suor nos tomando e tudo aquilo me levando a um prazer o qual nunca senti antes com qualquer outra pessoa. Eu podia ver as estrelas e elas sorriam para mim.
Abri meus olhos, sentindo meu corpo dolorido, e percebi que estava deitada no chão. Estava aí a resposta de tudo estar doendo. Esfreguei meu rosto e olhei ao redor. O que era aquilo tudo? Uma cabana de lençóis? Céus, o que nós fizemos? Uma risada saiu de meus lábios. Éramos loucos. Onde estava ? Eu estava sozinha, deitada no chão, apenas de roupão e sem nada por baixo, um pouco longe do amontoado de travesseiros. Aos poucos, alguns flashes da noite passada vieram à minha mente e meu coração ficou muito acelerado ao lembrar que tinha dito que me amava. E, como antes, não sabia reagir àquilo. Fingia que não me lembrava ou conversava com ele sobre isso? Imediatamente levantei, fechando meu roupão, procurei por meu namorado e o encontrei sentado na cadeira da varanda, vestindo apenas sua calça jeans preta e com seu cabelo molhado. Sorri, admirando aquele belo ser à luz do sol, ele ainda não tinha me visto, pois estava atrás dele. Me aproximei e passei as mãos em seus ombros, descendo pelo seu peito e depois voltando, lhe dando um abraço e um beijo em sua bochecha. Me abaixei um pouco, sentindo suas mãos passarem pelo meu antebraço, retribuindo o carinho.
— Como você está? — perguntou, virando o rosto e me dando um beijo na bochecha.
— Com ressaca. — Ri um pouco. — E você?
— Bem. — Sentia algo estranho em seu tom de voz.
— Mesmo? — ele apenas murmurou que sim, então deixei quieto. — Aonde vamos agora? — Dei a volta e me sentei em seu colo, passando os braços ao redor de seu pescoço e cruzando minhas pernas, deixando minha coxa exposta pela abertura do roupão.
— A qualquer lugar que você quiser. — Deu um sorriso pequeno e colocou a mão sobre minha coxa.
— — chamei e ele me olhou. — Eu só tenho flashes da noite passada... Nós transamos? — Não sabia ficar enrolando muito.
— Não — respondeu, dando uma pequena risada. — Não faria isso contigo bêbada, e até porque iria querer ter certeza de que você se lembraria se algo do tipo acontecesse. — Minhas bochechas ficaram quentes, então encostei a cabeça em seu ombro como uma criança. — Mas do que você se lembra?
— Hm, de pouca coisa. Me lembro bem até por volta de umas duas da manhã, que olhei no relógio. Depois disso, só flashes. — Me encolhi um pouco, mas sabia a que parte ele estava se referindo. — Quero ir à El Popo Market — pedi, desviando do assunto.
Talvez percebesse isso, tinha grandes chances, afinal, ele me conhecia bem para saber que eu estava me esquivando de algo. Mas na hora que soubesse o que falar, eu iria voltar àquele assunto e deixar claro o quanto gostava dele também. Só não seria agora, nesse momento.
— Claro. — Fechei meus olhos ao ouvir seu tom de voz, sentia que ele estava magoado e tentava esconder isso.
Seus braços me envolveram e seu queixo encostou em minha cabeça, então respiramos fundo juntos e eu permaneci imóvel em seus braços. Ficamos ali até o serviço de quarto aparecer. A camareira levou um susto quando viu o forte do e eu apenas ri. Entrei no banheiro para me arrumar e me lembrei o motivo de ter dormido sem calcinha e sutiã. Eu tinha esquecido de tirá-los para entrar no chuveiro e ambos acabaram molhados. Mas agora já estavam secos, o calor do México pelo menos era bom para alguma coisa. Me vesti, prendi meu cabelo que estava todo marcado por ter dormido com ele molhado e escovei os dentes com o dedo por não ter levado escova. Lavei o rosto e depois me olhei no espelho. Eu estava sem maquiagem e minhas olheiras, companheiras de todas as horas, estavam bem arroxeadas por ter dormido pouco. Sorri para mim mesma, me convencendo de que estava tudo bem, então saí do banheiro. já estava arrumado, me esperando sentado na beira da cama. Fui até lá e apoiei meu joelho na cama entre suas pernas, e suas mãos vieram subindo por minha coxa até alcançarem minha cintura.
— Você é tão linda — disse, olhando dentro dos meus olhos.
— Quando estou maquiada posso até ficar um pouquinho bonita. — Sorri, passando a mão em seu rosto.
— Você é linda independentemente de estar de maquiagem ou não. — Então o beijei.
Não eram só as palavras de que me faziam sentir melhor, era ele inteiro, sua presença, seu jeito de ser e como agia comigo. Não dava para não amar aquele homem. Ele me puxou para cima para me sentar em seu colo e automaticamente minhas pernas foram para as laterais de seu corpo. Suas mãos alisavam minhas coxas e iam me segurando com mais força conforme o nosso beijo ia ficando mais intenso. Até que me levantei em um rompante, respirando fundo e tentando recuperar meu ar. me olhou assustado e eu não falei nada, apenas passei a mão em meu cabelo, tentando arrumá-lo, e, por fim, dei um sorriso sem graça. Uma hora eu contaria a verdade para ele, mas por hora era melhor só fugir daquilo.
— Vamos — falei, me virando e já indo para a porta.
— Está tudo bem? — Seu tom de voz era extremamente preocupado.
— Claro. Por que não estaria? — respondi rapidamente.
— Não sei, me diga você. — Olhei por cima de meu ombro e dei um sorriso largo.
— Não tem nada de errado, . — Pisquei um olho e abri a porta para fugir daquele quarto.
Era engraçado como tinha me trazido de volta à vida. Antes eu estava “bem”, mas as coisas eram pesadas. Ele gostava de mim do jeito que eu era, com as minhas loucuras, sem maquiagem, nos meus dias de mau humor, que era até bastante, mas ele sempre dava um jeito de torná-los ótimos no final das contas, iluminando cada um deles com seu sorriso que eu era completamente apaixonada. me achava engraçada até mesmo quando eu contava uma piada ruim, que no final das contas acabávamos rindo juntos como se tivesse sido a coisa mais engraçada do mundo. E ele sempre me entendia por pior que fosse a ideia errada que vinha em minha mente pirada. Eu sei que estava apaixonada e tudo o que ele fizesse eu iria simplesmente amar, mas daquela vez as coisas eram diferentes. Aquele namoro não era como meus outros relacionamentos, esse era intenso de maneira que fazia meu coração ficar acelerado sempre que eu olhava para . Eu sentia que estava vivendo em um sonho adolescente com todo aquele frio na barriga e suspiros que soltava por causa dele. Não queria nunca que aquilo terminasse, pois jamais iria enjoar da sensação que me causava.
Eu dançava e cantava no chuveiro, super animada, jogando meu cabelo para todos os lados, chegando até mesmo a molhar o teto. Meu irmão já tinha batido duas vezes na porta, falando que eu estava há tempo demais lá dentro e que iria acabar com a água da cidade toda. Como sempre exagerado. E quando foi a terceira vez, eu fui e fechei a água, minhas mãos já estavam enrugadas mesmo. Me sequei e enrolei meu corpo na toalha. Parei na frente do espelho e passei a mão nele, tirando o embaçado que tinha ali. Escovei meus dentes e depois penteei meus cabelos. Vesti uma roupa que tinha atrás da porta, pendurada, e saí do quarto. Achei estranho não estar ali, pois ele disse que iria dormir um pouco enquanto eu estava no banho. Dei de ombros e fui até a cama, entrando embaixo do edredom, e no momento que estiquei minhas pernas, senti algo gelado e pegajoso agarrar em minha perna, o que me fez gritar no mesmo instante e pular da cama, puxando o edredom e vendo vários bichos, ou melhor, sapos e lagartixas! Meus olhos se arregalaram e eu berrei desesperada quando algo gelado agarrou minha canela. Comecei a pular e a gritar de desespero em um nível tão absurdo que cheguei a cair assustada no chão e começar a chorar de nervoso. Ouvi a risada de , ele saiu de baixo da cama e todo mundo começou a entrar no quarto. Eu fui pega em uma pegadinha! Nossa, aquilo me fez levantar na hora e partir para cima de , o estapeando enquanto o idiota ria da minha cara.
— Seu babaca! — xinguei e o empurrei, fazendo com que caísse em cima da cama. Peguei o bicho que percebi que era de mentira e joguei em cima dele. — Eu te odeio, ! — Voltei a chorar de nervoso, sentindo cada parte do meu corpo tremer. Eu tinha aversão a bichos pegajosos e eles sabiam daquilo.
— Calma, — pediu e eu saí andando do quarto, empurrando todo mundo que estava na minha frente que estava rindo. — , volta aqui. — Chamou, mas ignorei. — ! — Ele me alcançou no corredor e segurou meu pulso me puxando, mas o empurrei. — Para com isso. — Pediu, mas depois seu sorriso sumiu quando me olhou vendo que eu estava chorando. — Ah, que merda. — Então me abraçou e eu tentei afastá-lo, mas não consegui. — Você está tremendo. — Eu estava mais do que isso, estava quase morrendo do coração de tanto nervoso! — Desculpa, não pensei que iria te assustar tanto.
— Não fala comigo, estou com raiva de você — mandei e ele pegou minhas pernas, me fazendo passar elas por sua cintura.
Eu podia estar com raiva dele, mas não queria soltá-lo. Bipolaridade reinava dentro de mim quando o assunto era . Ele me abraçou e me levou para o terceiro andar da casa, onde tinha o terraço com uma área de churrasqueira e piscina, e se sentou em um sofá de dois lugares que tinha ali comigo ainda em seu colo. Ficamos calados, um abraçado no outro, esperando que eu finalmente ficasse calma. E lá estava , fazendo sua mágica e me deixando tranquila novamente. Minha cabeça estava deitada em seu ombro, enquanto eu olhava para a parede branca, mas fechei meus olhos quando senti sua mão afagar meu cabelo em um carinho leve e gostoso. Virei meu rosto e dei um beijo em seu pescoço.
— Como você está? — perguntou de um jeito bem preocupado.
— Te odiando profundamente — respondi e ele riu.
— Então pode continuar me odiando assim — pediu, deixando seu pescoço um pouco mais exposto, então o mordi. — Ai, sua cachorra — reclamou, me fazendo rir e vi que sua pele tinha ficado vermelha e isso me fez beijar de novo o local, em forma de desculpas. — É, você me bate e depois beija. Estou entendendo a sua — falou em um tom brincalhão.
— Qual é a minha? — quis saber.
— Bipolaridade — brincou e nós rimos.
— Isso é culpa sua. Você é a única pessoa que me leva a dois opostos em questão de milésimos. Um segundo eu quero te matar, no outro você me faz te amar ainda mais. — Depois que falei foi que me toquei no que tinha falado, e rapidamente meu rosto ficou vermelho.
— Então você me ama? — Seu tom de voz foi baixo e extremamente doce, fazendo meu coração disparar.
Eu não sabia como responder sua pergunta. Falar que ama alguém de verdade era uma coisa muito forte e eu odiava banalizar o sentimento, mas na frase foi apenas modo de dizer, não que eu não gostasse de , só que... Eu só disse que amava dois caras na minha vida e eles se mostraram ser pessoas que nunca imaginei que eram depois de um tempo, não estava afim de cometer o mesmo erro novamente. Então achava que talvez fosse cedo para falar aquilo. Não queria me decepcionar, não que eu achasse que fosse fazer aquilo, mas ainda assim era cedo, embora eu o conhecesse há bastante tempo.
E, em um pensamento rápido para desviar daquele assunto, me levantei e olhei para com um sorriso de lado e tirei minha blusa, depois meu shorts. Me virei sem me importar que minha calcinha de shortinho fosse cavada e de renda vermelha, praticamente transparente, e corri até a piscina, saltando lá dentro de cabeça e dando um belo mergulho. Eu tinha acabado de tomar banho, mas estava calor, e aquilo poderia ser a distração perfeita para esquecer o que eu havia dito. Emergi, deixando meus cabelos molhados para trás e dei um sorriso, olhando para ele, o chamando com o indicador.
— A água está deliciosa — falei, mordendo o canto de meu lábio inferior.
— Tem outra coisa deliciosa aqui — disse, sorrindo de lado e se levantando do sofá, tirando sua camisa e vindo até a beira da piscina. Seu físico era maravilhoso e suas tatuagens me deixavam louca. — Eu sei o que você está fazendo, ok? — Colocou a mão na água e jogou um pouco em meu rosto.
— Estou nadando. — Me fiz de boba e ele riu. — E talvez te provocando um pouco. — Ergui uma sobrancelha, vendo negando com a cabeça. — Anda, entra aqui. — Fui me aproximando dele lentamente e quando cheguei à beira, me impulsionei nela para cima, ficando quase na altura que ele estava. — Ou vai ficar só olhando? — perguntei, quase o beijando, então me joguei para trás, mergulhando de novo.
— , — falou, assim quando levantei e ele ainda estava no mesmo lugar. — É difícil manter o controle com você fazendo essas coisas.
— E olha que eu nem fiz nada. — Joguei água nele e só assim que entrou na piscina.
— Imagina se fizesse, né? — ironizou, já me prendendo contra a parede da piscina. — Me fala. O que eu faço com você? — perguntou, beijando meu pescoço, e eu já fechei os olhos, sentindo o toque de seus lábios e ficando arrepiada.
— Tudo o que você quiser — sussurrei, passando a mão em seus peitos até chegar aos seus ombros, os apertando de leve quando o senti pegar minhas coxas e as puxarem para cima, como sempre fazia. — Você é a peça que faltava em meu quebra-cabeça. — E não me restava dúvidas daquilo.
— E você me completa — disse, subindo sua mão e segurando meu rosto, fazendo meu coração parar. Abri meus olhos e olhei dentro de seus olhos . — Quer sair comigo? Só eu e você.
— E para onde vamos? — quis saber, e não conseguia desviar o olhar.
— Fugir — brincou, nos fazendo rir. — Sei lá, dirigir por aí, ver até onde a noite pode nos levar. — E aquela ideia me pareceu maravilhosa. — O que acha?
— Querido, até se eu fosse para o inferno com você, seria bom. — Soltei, junto de uma risada. — O que devo vestir para poder te acompanhar?
— Olha, por mim, você poderia ir assim mesmo, mas acho que seria atentado ao pudor. — Era impressionante como sempre tinha alguma tirada que me fazia rir. — Mas você pode vestir o que quiser.
— Está bem — disse, e o beijei. — Prometo que não vou te decepcionar.
— Você nunca decepciona — falou, me soltando, e eu senti falta do seu corpo no meu.
— Nos encontramos na sala em meia hora? — perguntei e ele concordou.
Saí da piscina e peguei minhas coisas. me mataria por estar descendo molhada, mas não tinha nada que eu pudesse fazer. Então fui o mais rápido que consegui, tomando cuidado para não cair como da última vez que entrei ensopada em casa. Corri direito para o banheiro para tomar outro banho e tirar aquela água de cloro do meu cabelo, ou ele ficaria lindamente igual a uma vassoura. Fui rápida dessa vez, já pensando em que roupa vestir. Assim que saí do box, me sequei rapidamente e enrolei a toalha na cabeça. Fiz uma make normal, olhos de gato bem fininhos e longos, blush e batom vermelho. Penteei o cabelo e depois o baguncei, jogando para o lado. Me enrolei na toalha e saí do banheiro. Puxei as duas peças de roupa que iria usar da mala, e até que elas não estavam tão amarrotadas assim. Coloquei uma saia jeans de cintura alta que ia até o meio de minhas coxas e um cropped de manga longa, listrado, o tecido dele era fininho, então eu não sentiria calor. Enchi meu braço com minhas pulseiras e relógio, e meus dedos com anéis. Calcei meu clássico Vans Sk8-Hi preto com branco, e depois passei meu perfume. Me olhei no espelho e puxei o colar de cruz de para fora da blusa, deixando que caísse entre meus peitos. Fiquei olhando para ele com um sorriso no rosto, tinha amado o presente, era especial.
Saí do quarto e quando cheguei à sala, me deparei com Cheryl e Bear. Meus olhos se arregalaram na mesma hora quando vi a garota ali. Olhei para trás e depois para eles dois novamente, me perguntando se estava vendo certo, depois encarei Joe, que estava sentado no sofá com uma cara super séria.
— Finalmente alguém de confiança — Cheryl disse, quando notou minha presença ali. — me pediu para trazer Bear, já que eu estava em Los Angeles, mas como o belo pai responsável que ele é, não está aqui — começou a falar, já pegando seu filho e vindo em minha direção. — Diz a ele que amanhã cedo eu venho buscá-lo. As coisas dele estão na bolsa junto a uma lista dos horários que ele tem que comer. — Entregou Bear nos meus braços, que já agarrou meu cabelo e tentou colocá-lo na boca. — Não faça isso, querido, é sujo. — Fez seu filho soltar minha mecha. — Eu preciso ir agora. Tchau.
— Tchau. — Foi a única coisa que respondi, vendo Cheryl sair sem olhar para trás. — Que porra foi essa? — perguntei a Joe, que me olhava agora.
— Achei estranho o ter pedido a Cheryl para passar aqui. Não entendi nada. — Sim, aquilo estava estranho.
— Liga para o — pedi, já olhando para Bear, que voltava a agarrar e a puxar meu cabeço. — Antes que eu fique careca, sim. — Eu não era fã de criança e não tinha o menor jeito com elas.
— Já tentei, está dando fora de área. — Aquilo me fez rolar os olhos.
— O que vamos fazer com essa criança? Eu e o estamos saindo — avisei, não ficaria em casa esperando aparecer. — Ele pelo menos disse aonde foi?
— Ele saiu àquela hora com a , e . Falavam que iam comer algo.
— Então liga para o meu irmão! — falei como se fosse a coisa mais óbvia a se fazer. — Ai! — reclamei com Bear, que puxou meu cabelo. — ! — chamei e ele apareceu no parapeito do segundo andar.
— De quem é? — perguntou, já com um sorriso enorme quando olhou Bear.
— Se tiver sorte, pode ser seu, é só vir aqui pegar. — Sorri para ele de um jeito forçado, que já descia as escadas.
— já pode ganhar um troféu de tia do ano — Joe zombou e eu fiz uma careta para ele. — Consegui falar com , eles estão voltando.
— Hey, rapaz. — já o pegou de meus braços, e eu dei graças a Deus. — Como você se chama?
— Bear — falei e meu namorado me olhou na mesma hora. — Sim, é o filho do — respondi à pergunta que ficou estampada em sua cara.
— O que ele está fazendo aqui?
— Bem, aparentemente pediu para a Cheryl trazê-lo, mas ele não tinha comentado nada. Estou achando isso muito estranho — expliquei, enquanto brincava com a criança com um sorriso bobão no rosto. — Você me ouviu?
— Sim — disse e por fim parou, me olhando. — Nossa.
— O que foi? — Olhei para mim mesma, procurando se Bear tinha gorfado em minha roupa e eu não tinha visto.
— Você está linda. — Automaticamente minhas bochechas ficaram quentes. — Vou ter muito trabalho hoje.
— Por quê? — quis saber, achando engraçada a cara que ele tinha feito.
— Os caras vão ficar tudo te olhando. — Revirei meus olhos e ri um pouco sem graça. — É sério. — Ele se aproximou com Bear ainda em seus braços. — Na verdade, você é sempre linda. — Acariciou a lateral de meu rosto com seu polegar e depois me deu um selinho. — Preciso parar urgente de me apaixonar por você toda a vez que te olho. — Aquilo fez meu rosto queimar novamente, ainda mais pela forma como ele me falou, me olhando tão intensamente.
— Não faz isso, assim você mexe ainda mais comigo. — Dei um sorriso bobo e tombei levemente minha cabeça em cima de sua mão.
— Vem cá. — Me puxou para perto e me abraçou com apenas um braço, já que Bear estava no outro, e deu um beijo em minha cabeça. — O disse que você é madrinha do Bear.
— Uma péssima madrinha — disse, segurando a mão da criança, que nos olhava com atenção agora. — Ele gostou de você. Também, como não gostar. — Sorri sem tirar os olhos de Bear.
Nos sentamos no sofá e ficamos brincando com ele, na verdade ficou brincando enquanto eu olhava os dois. A criança ria que não se aguentava com as brincadeiras que meu namorado fazia e ele ria junto. A risada daqueles dois juntos era maravilhosa, me fazia rir também. Até que ouvimos um barulho da porta da frente e surgiu com logo ao seu lado.
— Olha quem está aqui! — Meu irmão veio em nossa direção e pegou Bear, o levantando para o alto. — Meu garotão! — Então ele e começaram a brincar com o bebê.
— Cadê o ? — perguntei, mas ele apareceu.
— Estou aqui... O que o Bear está fazendo aqui? — A cara que ele fez foi muito estranha e eu soube que Joe e Cheryl não tinham avisado sobre a criança.
— Cheryl apareceu dizendo que tinha te ligado e que você pediu para deixar o Bear aqui — Joe explicou rapidamente.
— Não liguei merda nenhuma, aquela mulher é maluca! — reclamou e foi até , pegando Bear das mãos de meu irmão. — Hey, meu ursinho. — Sorriu de um jeito bobo e beijou a criança. — Quero te apresentar uma pessoa. — Levou ele até . — Essa aqui é a . — O menino ficou olhando vidrado para a minha prima, até que sorriu e esticou os braços para ela.
— Olá, Bear — ela disse, pegando o bebê com cuidado.
— Ih, . Perdeu — zombou. — Vai ficar sem mulher e sem filho agora.
— Vocês não iam sair? — rebateu e nós rimos.
— Sim. Já estamos indo e não temos hora para voltar. — Bati na coxa de e me levantei do sofá.
— Opa, hoje tem — Joe debochou e eu lhe dei o dedo do meio. — Vai ter muito ainda.
— Vai atrás da Naomi, vai. — Fiz um gesto para ele sumir logo dali.
— Vou mesmo, tchau. — Se virou e saiu andando.
— Aonde vocês vão? — quis saber, ela tinha um sorriso enorme no rosto, enquanto estava abraçada com meu irmão.
— Ainda não sabemos, vamos andar por aí sem destino — disse, se levantando também e segurando minha mão.
— Do jeito que vocês dois são, é capaz de irem parar no México — colocou pilha, dando uma risada, nos olhando rapidamente. — Vocês podem trazer um sombreiro para mim quando voltarem.
— Pode deixar que iremos trazer — garanti, rindo um pouco. — Vamos? — Olhei para .
— Vamos. — Ele sorriu, então nos despedimos e saímos.
Peguei meus documentos dentro do meu carro, e assim que entramos no Corolla de , o vi pegando o GPS e digitando alguma coisa nele. Fiquei esperando para ver para onde iríamos e quando ele colocou o aparelho no suporte, meus olhos não acreditaram no que viram.
— Tijuana? — Abri um sorriso enorme. — Nós vamos mesmo para o México? — Aquilo me animou de uma maneira absurda.
— Sim, eu gostei da ideia do . — Ele me olhava com um sorriso maravilhoso e eu o beijei. — Gostou?
— Eu amei! Finalmente vou poder usar meu Espanhol — brinquei e nós rimos. — Vamos logo, temos três horas e meia de viagem! — Me afastei dele e peguei meu celular, já abrindo o Spotify e criando uma playlist.
— Depois procura um lugar para nós irmos — pediu e eu concordei com a cabeça.
Fiz uma playlist com três horas e meia de música e depois um check-in em um hotel para podermos descansar depois de curtir a noite. Então encontrei um restaurante para comermos algo e depois achei um bar ou pub, sei lá como eles denominavam isso no México, para passarmos a nossa noite a qual esperava ser inesquecível. Me joguei no banco e coloquei meus pés em cima do painel do carro, enquanto mexia no celular, cantarolando a música que tocava, até que senti a mão de em minha perna e isso me fez olhá-lo com um sorriso. Droga, eu gostava tanto daquele homem que era impossível esconder. E como se fosse algo natural, deixei o celular de lado e as pontas dos meus dedos tocaram as costas de sua mão, deslizando suavemente até que eles se entrelaçassem com os dele, formando um encaixe gracioso. Gravei aquele pequeno ato em minha mente e o guardaria para mim para me lembrar dele sempre quando pudesse. Nunca iria querer me esquecer daquele momento, dos sentimentos que me proporcionava, o cheiro que tinha dentro daquele carro, do toque de sua pele contra a minha, do sorriso dele... Daria até mesmo uma cor para aquele momento, para que todas as vezes que a visse, ou quisesse lembrar com mais facilidade, era apenas pensar naquela cor. Seria verde, verde como seus olhos, um verde intenso que me roubava o fôlego todas as vezes que olhava para ele. Colocaria todos os momentos bons que estou tendo com dentro dessa cor para que ela me marcasse tão fundo que seria incapaz de tirá-la de mim mesmo se um dia eu quisesse.
Fomos direto para o hotel, e a recepcionista nos atendeu muito bem e entregou a chave de nosso quarto. Subimos até ele apenas para ver como era e nos deparamos com algo que não esperávamos. Aquilo não era um simples quarto de hotel, era um quarto de hotel tirado dos filmes. As paredes em um amarelo claro davam um ar quente e acolhedor, ainda mais pelo fato de os abajures com lâmpadas amarelas estarem ligados. Uma cama king size lotada de travesseiros que pareciam tão macios quanto algodão doce, uma varanda com a porta dupla aberta deixava o vento, entrar levantando a fina cortina de forma esvoaçante, e dava para ver uma pequena mesa redonda do lado de fora, composta apenas por duas cadeiras. Corri até o banheiro e ele era tão grande e bonito quanto o quarto. Banheira, box, um sofá e uma pia enorme com um espelho maior ainda em cima.
Quando me virei, estava atrás de mim com um sorriso lindo, aquele que só ele conseguia dar, deixando suas covinhas aparecerem. Sorri também e o abracei, juntando meus lábios nos dele logo em seguida, feliz por estar ali, especialmente por estar com ele. Me afastei e passei a mão em seu rosto, tão lindo. Seus olhos me olhavam de forma que fazia tudo dentro de mim ficar extremamente rápido. Peguei sua mão e o puxei, me virando para que saíssemos dali, mas me trouxe de volta e me beijou, porém era diferente do anterior, esse foi voraz a tal ponto que fiquei com falta de ar. Segurei sua camisa pelos ombros, como se fosse capaz de fugir, e sua mão veio para minhas costas, me dando apoio, já que seu corpo se curvou levemente sobre o meu. Mordi seu lábio inferior e o puxei, ele soltou um pequeno gemido, então minhas mãos foram para seu peito e o empurrei para longe de mim. Céus, ele me deixaria louca! Sua boca estava toda suja de batom vermelho e isso me fez rir, pois eu deveria estar do mesmo jeito. Ele se encostou na parede com um sorriso safado no rosto e precisei me conter para não ir até lá e pular em cima daquele homem e tirar toda a sua roupa. Apontei em sua direção com um pequeno sorriso e dei uns passos para trás, me escorando na porta do banheiro, indicando que deveria ficar ali e não me seguir, mas, por garantia, tranquei a porta, pois conhecia aquele garoto o suficiente para saber que acabaria entrando ali apenas para me provocar, e me conhecendo também para saber que acabaríamos nem ao menos saindo daquele hotel se continuássemos assim.
Lavei meus lábios e ao redor deles para poder tirar aquela mancha de batom vermelho que tinha ficado ali, eu parecia uma palhaça. Sequei com um papel, tirando o resto que tinha ficado, e finalmente saí do banheiro, então entrou nele, fazendo questão passar esfregando seu peito em meu ombro. Peste. Ficava me provocando! Ainda mais com aquela porcaria de blusa de botão aberta até a altura de sua tatuagem na barriga. Ele sabia o quanto ficava sexy com aquela porcaria aberta e fazia de propósito. Passei a mão em meu cabelo, o bagunçando um pouco. Sabia que até o final daquela noite acabaria perdendo o juízo com aquele homem se as coisas continuassem daquele jeito.
Passei a mão em minha saia e em meu cropped, os ajeitando, e saí do quarto. Iria esperar no corredor, era mais seguro. Na verdade, não havia lugar seguro para a minha sanidade perto dele. Me encostei na parede e fiquei olhando para meus Vans enquanto mexia a ponta dos meus pés. Balancei minha cabeça de leve de um lado para o outro, ouvindo Say Something Loving, do The XX, que tocava nas pequenas caixas de som do corredor. Fechei meus olhos com um sorriso no rosto, deixando que a batida me levasse. Aquilo era bom, eu me sentia leve. Joguei minha cabeça para trás, a encostando na parede, deixando meu corpo descer um pouco sem me importar se minhas pernas ficariam no meio do caminho. Senti a presença de alguém bem perto de mim, e pelo perfume eu sabia quem era. Meu sorriso continuou em meu rosto, mas um arrepio me correu quando seu corpo se aproximou do meu e sua respiração bateu em minha orelha.
— You say something loving. Without hesitation it hits me. — Sua voz levemente rouca me incendiou e suas mãos em minha cintura me puxaram para cima. definitivamente queria acabar comigo. — Vamos, antes que eu te agarre aqui no corredor mesmo. — Eu acabei rindo daquilo e abri os olhos.
— Também acho.
Sua mão segurou a minha, então seguimos caminho.
Jantamos em um restaurando bem típico da região e comemos um delicioso Buffalo wings. Eu parecia mais uma criança, me melando toda com o molho agridoce apimentado. ficava rindo de mim, mas também tinha se sujado todo. Isso nos rendeu altas fotos maravilhosas. Não me lembrava da última vez que havia estado tão feliz quanto naquele momento. Rir era fácil e ser feliz era algo que estava na ponta de meus dedos. Aquilo tudo era mágico demais.
Saímos dali e fomos para um pub, na verdade aquilo estava longe de ser um pub, era sim uma boate enorme! E quando entramos, eu me arrependi amargamente de ter ido com um cropped de manga comprida. Olhei para por cima de meu ombro e já puxei meu cabelo para cima, dando um sorriso e rebolando na batida da música, enquanto andava pelas pessoas, tentando chegar ao ar. Ele riu e negou com a cabeça, chegando mais perto de mim, mas a única coisa que continuou segurando foi a minha outra mão. Cheguei ao balcão e pedi dois frozen, um de morango e outro de limão, e entreguei o meu cartão da comanda ao bartender. Senti colando seus peitos em minhas costas, dançando e fazendo com que meu corpo mexesse junto ao dele, já segurando minha cintura. Ri, gostando daquele contato e joguei minha mão para cima, a descendo e passando pelo pescoço dele, o puxando para que se abaixasse. Seus lábios beijaram meu pescoço e depois foram subindo até chegar à minha orelha, passando os dentes na ponta de minha cartilagem, me provocando. Minhas unhas compridas passaram pela pele de sua nuca, o arranhando por causa daquilo, e suas mãos me apertaram, me puxando ainda mais para trás, como se ainda fosse possível. Deixei minha bunda passar contra seu quadril e seus dedos indicaram que aquilo tinha surtido o efeito desejado, pois me seguraram com mais força. Mordi meu lábio inferior, contendo minha vontade de me virar e beijá-lo.
Vi as bebidas sendo colocadas em minha frente e logo as peguei, junto ao meu cartão da comanda, e o coloquei no bolso da frente de minha saia. Me virei e entreguei o frozen de limão para , já tomando um gole do meu. Aquilo me refrescou um pouco. Fiquei brincando com o canudo, olhando para meu namorado, e ele apenas observava atento os movimentos que meus lábios e minha língua faziam com aquele tubinho preto. Sorri e ele deu uma grande golada de seu drink como se estivesse morrendo de sede, mas eu sabia que era bem mais do que isso. Aproveitei para me aproximar e dar um beijo em seu pescoço, e ele me segurou para que não parasse. Minha língua e lábios gelados passavam por sua pele sem deixar marcas mesmo que eu quisesse fazer isso. Senti sua respiração ficando pesada, então me afastei. me olhou de forma intensa e me beijou. Os gostos de morango e limão se misturaram em nossas línguas, ao som de Maluma, com meu corpo colado ao dele, se mexendo um pouco, tentando acompanhar a batida. E a vontade de parar com aquilo era inexistente.
Ficamos nessa a noite toda, dançando e nos pegando, e, claro, bebendo. No final, eu já estava bêbada, suada e com meu cropped amarrado na cintura. Sim, eu estava apenas de sutiã e saia, no meio da boate, movendo meu corpo como se não houvesse amanhã. não estava muito diferente de mim, a não ser pelo fato de sua camisa ainda estar em seu corpo, porém totalmente aberta, me dando o vislumbre de seu corpo maravilhoso que eu tanto desejava a todo instante. Nossos cabelos estavam presos em um coque desajeitado, deixando alguns fios soltos que se agarravam em nossos rostos, mas nada daquilo tirava a beleza do momento. Não queria que aquilo tivesse fim. Poderia ter noites intermináveis como essa se estivesse ao meu lado.
Praticamente nos expulsaram da boate para que a fechassem. Nós fomos uns dos últimos clientes a sair e isso nos causou risadas. Quem nos olhava deveria pensar: Bêbados. Mal sabiam que nós somos assim naturalmente. Pagamos a conta e pegamos um táxi, que nos levou para o hotel que estávamos ficando. No caminho, ficamos berrando pela janela, assustando as pessoas que passavam pela rua, eu até mesmo latia para os outros, e o susto estampado na cara do povo era impagável, só que a parte mais engraçada era quando nos xingavam por aquilo. Apostei que o taxista iria nos cobrar mais caro pela corrida por causa daquilo. Quando saímos do carro, pude ouvir o homem resmungar algo em um espanhol carregado de sotaque, acho que era: Americanos idiotas. E, bem, eu concordava exatamente com ele. Voltei e me pendurei na janela do táxi.
— Moço, a vida é muito linda e curta para ficar reclamando... — Antes que eu pudesse terminar minha frase em um espanhol tão embolado que eu mal me entendia, me puxou, rindo também. — Eu só ia mandar ele ir ser feliz — falei em inglês com meu namorado, e ele apenas abraçou minha cabeça, tampando minha visão. — Estou cega, .
— Você é muito respondona. — Destampou meu rosto e nisso ele perdeu o equilíbrio.
O segurei para não cair e isso nos fez sair ciscando pela calçada afora até que caímos sentados dentro do hall do hotel. Começamos a rir descontroladamente, enquanto todos nos olhavam. Os seguranças nos ajudaram a ficar em pé e nos levaram até nosso quarto. Isso mesmo, fomos carregados, pois andar estava sendo bem difícil. Eles nos colocaram deitados na cama e foram embora. Aquilo tinha sido ótimo.
Me levantei para tomar um banho, pois estava toda melada de suor. Era incrível como as coisas tinham triplicado. Demorei mais do que o normal, mas a água gelada fez a bebedeira melhorar um pouco. Me sequei, enrolei uma toalha na cabeça e vesti um roupão atoalhado. Quando abri a porta do quarto, me deparei com um forte feito de lençóis. Comecei a rir e me abaixei, entrando aparentemente no que era uma porta e procurando por . Fui engatinhando e o encontrei deitado em um canto apenas de calça, com vários travesseiros e com a cabeça encostada na parede.
— Adorei sua humilde residência — brinquei e ele riu, fazendo um gesto com a mão para que me aproximasse.
— Ela é sua também — disse, me dando um beijo na bochecha. — Veja, nós temos nosso próprio céu e podemos decorá-lo do jeito que quisermos. — Apontou para cima e a ponta de seu dedo tocou o lençol que estava sobre nós.
— Achei o nosso céu lindo. Vamos imaginar como ele ficará com várias estrelas . — Me deitei ao seu lado e me olhou. — Verdes como seus olhos. — Sorri, e o encarei, ele também sorria. — Hoje eu colori a essa lembrança de verde para sempre que olhar para a cor lembrar desse momento que estou tendo contigo.
— Eu te amo — sussurrou e meu coração disparou, não esperava ouvir aquilo agora.
— Você está bêbado, — o lembrei e ele negou com a cabeça.
— A bebida entra e a verdade sai. — Minhas bochechas queimaram e eu me aproximei, me encolhendo em seu peito. — Você faz meu mundo se tornar perfeito. — Eu simplesmente não sabia o que falar.
O silêncio se instalou entre nós e as únicas coisas que davam para ser ouvidas eram nossas respirações e os corações batendo rapidamente, mas logo eles foram se acalmando e o sono nos levou.
Eu sonhei, sonhei com . Estávamos felizes, sentados em uma praia, bebendo um pouco de vinho doce. Ríamos e depois começamos a correr pela areia, ele tentava me pegar, então entrei na água, querendo fugir dele, mas fui alcançada e seus lábios tomaram os meus em um beijo apaixonado. A luz da lua iluminava tudo, dando um ar mágico a tudo aquilo. Meu coração batia rápido e meu corpo respondia a cada toque. Logo já estávamos fora da água e deitamos em uma canga minha. Nossas roupas molhadas iam se desfazendo até que não tinha mais nenhum tecido entre nossos corpos. Minhas mãos agarravam suas costas largas e minhas unhas não tinham medo de deixar marcas por onde passavam. Seus lábios contra minha pele, seu peito deslizando sobre o meu, sua boca em meu piercing e depois descendo por minha barriga, os gemidos roucos de se misturando com os meus finos e descompassados, o suor nos tomando e tudo aquilo me levando a um prazer o qual nunca senti antes com qualquer outra pessoa. Eu podia ver as estrelas e elas sorriam para mim.
Abri meus olhos, sentindo meu corpo dolorido, e percebi que estava deitada no chão. Estava aí a resposta de tudo estar doendo. Esfreguei meu rosto e olhei ao redor. O que era aquilo tudo? Uma cabana de lençóis? Céus, o que nós fizemos? Uma risada saiu de meus lábios. Éramos loucos. Onde estava ? Eu estava sozinha, deitada no chão, apenas de roupão e sem nada por baixo, um pouco longe do amontoado de travesseiros. Aos poucos, alguns flashes da noite passada vieram à minha mente e meu coração ficou muito acelerado ao lembrar que tinha dito que me amava. E, como antes, não sabia reagir àquilo. Fingia que não me lembrava ou conversava com ele sobre isso? Imediatamente levantei, fechando meu roupão, procurei por meu namorado e o encontrei sentado na cadeira da varanda, vestindo apenas sua calça jeans preta e com seu cabelo molhado. Sorri, admirando aquele belo ser à luz do sol, ele ainda não tinha me visto, pois estava atrás dele. Me aproximei e passei as mãos em seus ombros, descendo pelo seu peito e depois voltando, lhe dando um abraço e um beijo em sua bochecha. Me abaixei um pouco, sentindo suas mãos passarem pelo meu antebraço, retribuindo o carinho.
— Como você está? — perguntou, virando o rosto e me dando um beijo na bochecha.
— Com ressaca. — Ri um pouco. — E você?
— Bem. — Sentia algo estranho em seu tom de voz.
— Mesmo? — ele apenas murmurou que sim, então deixei quieto. — Aonde vamos agora? — Dei a volta e me sentei em seu colo, passando os braços ao redor de seu pescoço e cruzando minhas pernas, deixando minha coxa exposta pela abertura do roupão.
— A qualquer lugar que você quiser. — Deu um sorriso pequeno e colocou a mão sobre minha coxa.
— — chamei e ele me olhou. — Eu só tenho flashes da noite passada... Nós transamos? — Não sabia ficar enrolando muito.
— Não — respondeu, dando uma pequena risada. — Não faria isso contigo bêbada, e até porque iria querer ter certeza de que você se lembraria se algo do tipo acontecesse. — Minhas bochechas ficaram quentes, então encostei a cabeça em seu ombro como uma criança. — Mas do que você se lembra?
— Hm, de pouca coisa. Me lembro bem até por volta de umas duas da manhã, que olhei no relógio. Depois disso, só flashes. — Me encolhi um pouco, mas sabia a que parte ele estava se referindo. — Quero ir à El Popo Market — pedi, desviando do assunto.
Talvez percebesse isso, tinha grandes chances, afinal, ele me conhecia bem para saber que eu estava me esquivando de algo. Mas na hora que soubesse o que falar, eu iria voltar àquele assunto e deixar claro o quanto gostava dele também. Só não seria agora, nesse momento.
— Claro. — Fechei meus olhos ao ouvir seu tom de voz, sentia que ele estava magoado e tentava esconder isso.
Seus braços me envolveram e seu queixo encostou em minha cabeça, então respiramos fundo juntos e eu permaneci imóvel em seus braços. Ficamos ali até o serviço de quarto aparecer. A camareira levou um susto quando viu o forte do e eu apenas ri. Entrei no banheiro para me arrumar e me lembrei o motivo de ter dormido sem calcinha e sutiã. Eu tinha esquecido de tirá-los para entrar no chuveiro e ambos acabaram molhados. Mas agora já estavam secos, o calor do México pelo menos era bom para alguma coisa. Me vesti, prendi meu cabelo que estava todo marcado por ter dormido com ele molhado e escovei os dentes com o dedo por não ter levado escova. Lavei o rosto e depois me olhei no espelho. Eu estava sem maquiagem e minhas olheiras, companheiras de todas as horas, estavam bem arroxeadas por ter dormido pouco. Sorri para mim mesma, me convencendo de que estava tudo bem, então saí do banheiro. já estava arrumado, me esperando sentado na beira da cama. Fui até lá e apoiei meu joelho na cama entre suas pernas, e suas mãos vieram subindo por minha coxa até alcançarem minha cintura.
— Você é tão linda — disse, olhando dentro dos meus olhos.
— Quando estou maquiada posso até ficar um pouquinho bonita. — Sorri, passando a mão em seu rosto.
— Você é linda independentemente de estar de maquiagem ou não. — Então o beijei.
Não eram só as palavras de que me faziam sentir melhor, era ele inteiro, sua presença, seu jeito de ser e como agia comigo. Não dava para não amar aquele homem. Ele me puxou para cima para me sentar em seu colo e automaticamente minhas pernas foram para as laterais de seu corpo. Suas mãos alisavam minhas coxas e iam me segurando com mais força conforme o nosso beijo ia ficando mais intenso. Até que me levantei em um rompante, respirando fundo e tentando recuperar meu ar. me olhou assustado e eu não falei nada, apenas passei a mão em meu cabelo, tentando arrumá-lo, e, por fim, dei um sorriso sem graça. Uma hora eu contaria a verdade para ele, mas por hora era melhor só fugir daquilo.
— Vamos — falei, me virando e já indo para a porta.
— Está tudo bem? — Seu tom de voz era extremamente preocupado.
— Claro. Por que não estaria? — respondi rapidamente.
— Não sei, me diga você. — Olhei por cima de meu ombro e dei um sorriso largo.
— Não tem nada de errado, . — Pisquei um olho e abri a porta para fugir daquele quarto.
Continua...
Nota da autora: Sem nota.
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Nota da beta: Ai ai esses pps. Amei essa viagem de última hora!
Eu entendo o pp ficar chateado por ela não dizer o "eu te amo" de volta, mas também entendo ela querer fazer isso no tempo dela. Espero que eles conversem e tudo fique bem.
E a Cheryl largando o Bear assim? Aí tem!
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