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Prólogo

Londres, Inglaterra — 23:26hrs.

Owen Mangor, grande empresária, se preparava para dormir. O cansaço do dia inteiro em meio à papéis começava a bater de verdade. Seus trinta e poucos anos — beirando nos quarenta — não a ajudavam muito, fazendo as malditas dores aparecerem; dores de horas em pé em cima de saltos finos e enfiada naquelas roupas sociais apertadas — as quais valorizavam seu corpo, deixando suas curvas à mostra... Dando-lhe alguns anos a menos.
Juntou todos os seus papéis e preparou-se para deitar-se em sua cama; estava sozinha.
Seus filhos estavam com o ex-marido, seu gato... Bem, seu gato estava enfiado em uma outra gata pela rua.
Deu ombros e aconchegou-se debaixo de seus cobertores quentinhos e macios, fechou os olhos com força tentando fazer seu corpo relaxar.
Owen estava quase pegando no sono quando sentiu algo gélido tocar seu rosto.
Abriu os olhos assustada, dando de cara com a figura de um homem — que não dera para ver muito bem seu rosto por causa da escuridão e por estar sem óculos — extremamente assustadora segurando uma faca e tocando-a em seu rosto.
Sentou-se na cama desesperada, na intenção de se levantar e correr na esperança de encontrar ajuda. Mas o homem fora mais rápido e segurou-a com a mão livre, jogando-a sobre a cama novamente.
Owen tinha o rosto pálido de medo, seu corpo tremia por inteiro; cada partezinha, sem exceções.
— Hora de dar tchau, senhora Mangor — o homem sussurrou dando um sorriso malicioso.
Um grito de pavor escapou dos lábios de Owen.
E, então, toda a cama fora preenchida por sangue.
Sangue de Owen Mangor.
Ela fora assassinada em sua própria casa, às 23:45.


Capítulo 1

O homem de cabelos enrolados e extremamente bagunçados caminhava pelos corredores da delegacia com pressa. Seu rosto mostrava impaciência, raiva ou qualquer coisa do tipo, seus olhos brilhavam e estavam extremamente vermelhos em volta; estava pernoitado. Fato.
Por onde passava, apesar da aparência nada apresentável, arrancava suspiros de todas as mulheres do local. Afinal... Seu rosto mal-humorado e seu cabelo bagunçado apenas o deixava mais... Sexy. Ou na linguagem das mulheres de lá: gostoso.
dera a última tragada no cigarro que tinha entre os lábios, jogou-o em uma lixeira qualquer e abriu a porta em sua frente, ignorando todos os "não pode fumar por aqui, senhor " e os "bom dia, senhor" das mulheres atiradas que queriam chamar sua atenção.
Frieza. Típico dos ingleses como .
— O que é tão importante para vocês me tirarem da minha deliciosa cama justo na minha folga? — Ele fechou a porta atrás de si e continuou a falar: — E, outra, às sete da manhã. Vocês são normais?
— Bom dia pra você também, — disse uma ruiva revirando os olhos enquanto analisava uns papéis.
— Tanto faz — ele deu de ombros, bufando. — Agora, por favor, respodam: o que diabos estou fazendo aqui às sete da manhã no meu dia de folga? Caso vocês não saibam, eu...
— Passou uma noite inteira bebendo, dançando com essas vadias de boates, depois levou uma pra sua casa, vocês transaram por duas horas e quando você, finalmente, pôde dormir, nós te acordamos — disse um rapaz de cabelos, também, enrolados revirando os olhos.
— Pare de me interromper, o repreendeu. — Eu gosto de contar essa parte.
Charlie Moore, o chefe do local, revirou os olhos cansado daquelas brincadeirinhas.
— Tente dar uma lida nisso aí, — ele disse jogando a pasta em cima do moreno. — Ainda hoje. Bêbado ou não, você tem que ler isso.
abriu a pasta e se sentou ao lado da ruiva que tratou de se levantar, não porque sentara ali, mas sim porque... Precisava fazer algo do lado de fora.
— Owen Mangor... morta? — ele murmurou devagar, lendo e relendo o mesmo parágrafo.
— Pois é — Charlie caminhou até . — Pegue quem fez isso antes que ele faça mal a mais alguém importante e eu lhe dou um mês de férias.
— Você disse isso da outra vez, e aqui estou eu trabalhando em mais um dia de folga — rebateu. — Mas, beleza, vou pegar. Afinal, é o meu trabalho.
Charlie apenas suspirou e saiu da sala, deixando apenas e .
— Resume pra mim o que realmente aconteceu? — pediu e o amigo riu. — Sério, estou sem saco pra ler o resto disso aqui e minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento.
— O cara matou ela a facadas na casa dela — começou —, ele deixou a faca no local para nos deixar "atiçados" — ele fez aspas e continuou: — Mas quando pegamos a faca, não havia digitais nem nada. A faca estava incrivelmente limpa. E, ao lado da faca, deixou um bilhete que dizia: "ela é só a primeira. Se eu fosse vocês ficaria ligado, policiais ingleses. Tenho mais gente na lista. E acho que vocês só vão me pegar depois que eu matar o último." — fez um pausa e vasculhou sua mente à procura de mais informações que fosse ajudar .
— Certo — interrompeu os pensamentos do amigo. — A gente dá um jeito nesse cara. E nos amiguinhos dele também, porque ele não está sozinho.
— Jura, ? — perguntou irônico.
revirou os olhos. Não queria trabalhar. Ele estava um caco!
— Eu realmente tenho que começar isso hoje? — perguntou fechando os olhos com força.
— Aham — deu ombros. — E se eu fosse você, tiraria essa bunda branca da cadeira agora e ia atrás de mais coisa.
— Tá, tá — se levantou bufando. — Você vem comigo?
— Não — riu. — Mas ela vai — ele apontou para a mulher que abria a porta.
— Opa — murmurou. — Não vai ser tão difícil assim.
riu e não disse nada, apenas fora para o outro lado da sala pegar alguma coisa.
— Olá, garotos — disse a mulher que acabara de entrar.
olhou-a de cima abaixo novamente, fazendo-a revirar os olhos; não o aguentava mais.
— Olá — murmurou ainda a encarando.
riu.
— Olá, Emma — disse e, logo depois, se virou para o amigo. — É bom que comece logo o trabalho — finalizou e saiu rindo da sala.
— E aí, Cobain — começou, puxando um cigarro e o isqueiro do bolso. Colocou o cigarro entre os lábios e o acendeu rapidamente. Tirou-o da boca, segurando entre os dedos e soltou a fumaça, virando para a mulher. — Você está tão... gostosa hoje.
— Não pode fumar aqui, — ela disse bufando. — E dá pra parar com isso? Temos que trabalhar.
— Tudo bem — ele levantou as mãos e, logo depois, deu mais uma tragada no cigarro. — E, ah, eu sei que não pode. Mas quebrar as regras é tão legal.
— Você deveria ser um homem da lei — ela riu.
tirou o casaco de couro que vestia e o deixou jogado em uma das mesas.
Sugou o cigarro novamente e o jogou fora, mesmo estando pela metade. Tinha coisas mais importantes pra fazer. Ou melhor, tentar fazer.
Se aproximou de Emma e ela revirou os olhos.
, por favor — ela pediu o empurrando pelo peito. — Pare, tá legal? Vamos só trabalhar.
Ele deu uma risadinha fraca e mexeu nos cabelos, fazendo-a se perder em seus movimentos. Afinal, quem não se perdia?
— Tem certeza? — ele se aproximou mais.
— Absoluta — respondeu ela, séria. — E você ficou na farra a noite inteira. Sinceramente, , você não cansa?
— Eu sempre tenho umas energias guardadas pra você, querida Emma — ele murmurou de uma forma provocante, aproximando seu rosto do da mulher.
Ela suspirou.
Não o aguentava mais. Mas também não queria mais resistir. Afinal, era ! E todas as mulheres dali queriam estar no seu lugar. Todas. Até as casadas que não tinham em casa o que poderia dar.
, por Deus! — Ela tirou forças do além e o empurrou, indo para o outro lado da sala. Não conseguia raciocinar em algo melhor.
mordeu o lábio e caminhou calmamente até o canto que Emma estava, segurou sua cintura firmemente fazendo-a estremecer.
— Você quer tanto quanto eu — ele sussurrou em seu ouvindo e começou a distribuir beijos pela nuca da moça, que se arrepiava mais a cada segundo. Os lábios frios e macios de passeavam livremente por sua nuca, logo sua língua quente fazia parte da coisa.
Ela fechou os olhos com força e apoiou as mãos na mesa mais próxima.
Se sentia tonta.
a deixava tonta.
... — ela murmurou e ele tirou os lábios da nuca da garota, deixando-a mais aliviada, porém "com gostinho de quero mais".
— Fale — ele sussurrou.
Ela mordeu o lábio.
Não sabia o que fazer.
— Seu cachorro — ela disse um pouco mais alto e se virou para o rapaz, que sorria maroto.
Emma revirou os ... Afinal, tem trinta e seis anos e tem apenas vinte e oito.
— Imagina, coração — ele abriu mais seu sorriso e a puxou para mais perto.
Emma revirou os olhos e o afastou, logo girando-o e o encostando na mesa onde ela apoiara antes.
— Eu controlo a situação — ela sussurrou no ouvido do rapaz e desceu os lábios lentamente por todo o rosto e pescoço de .
— Como quiser — ele murmurou deixando suas mãos escorregarem por todo o corpo da mulher.
Emma, já cansada de joguinhos, puxou-o para um beijo caloroso. retribuiu à altura, puxando a blusa da mulher que estava por dentro da saia justa de cintura alta.
levou a mão direita lentamente para os cabelos ainda presos de Emma.
Ela soltou um suspiro pesado ao sentir o rapaz mordendo seu lábio com um pouco mais de força e, sem perder mais tempo, levou as mãos para debaixo da camisa branca do rapaz, puxando-a para cima.
Afastaram-se por dois segundos — tempo pra arrancar a blusa de — e juntaram seus lábios novamente num beijo muito mais ardente.
Emma sentia seu corpo queimar; como se cada célula sua estivesse explodindo.
já estava acostumado com aquela sensação. Mas era algo que não o deixava enjoado de sentir. A cada segundo que passava ele queria mais e mais. Emma era a mulher que ele mais desejou e nunca conseguiu no local de trabalho, as outras eram... sei lá, as outras eram bem pouco comparadas à ela. Talvez por ela ser mais velha e mais experiente ou então talvez pela sua beleza juvenil.
Emma desceu uma das mãos e a parou em cima do membro já "animado" de , que se arrepiou com o toque. Ele, então, sem perder tempo, puxou a blusa de Emma abrindo-a violentamente e arrancando um dos três botões que haviam.
, você e a Emma... — abriu a porta dando de cara com Emma e praticamente se engolindo. Arregalou os olhos assustado e engoliu seco.
Emma se afastou de rapidamente, respirando pesado.
bufou e pegou a blusa de Emma, que estava próxima a ele.
— Foi mal eu... — tentou falar, porém Emma o interrompeu.
— Tudo bem — ela disse rápido vestindo a blusa. — Eu... vou lá pra fora — ela mordeu o lábio. — Tenho que ver umas coisas pra começarmos a achar as provas e... — ela olhou pra o chão e bufou. — Ah! Foda-se — murmurou e saiu da sala.
passou as mãos pelos cabelos e procurou sua camisa.
— O que você viu fica aqui. Somente aqui — murmurou tentando se acalmar.
— Relaxa — segurou um riso e o olhou feio.
— Empata foda — sussurrou e vestiu a camisa, finalmente. — Vamos trabalhar, , vamos lá — disse pra si mesmo e não segurou a gargalhada.
— Você está retardado e eu não tenho mais dúvidas disso — disse e riu alto mais uma vez, fazendo revirar os olhos.
— Vamos trabalhar, disse respirando fundo e olhando para todo seu corpo para ver se tudo já estava em ordem. Deu um sorriso de canto ao ver que todo aquele efeito de excitação já havia passado e saiu da sala, sem nem ao menos esperar – que não se importou muito com a saída do amigo, tinha coisas mais importantes para fazer que se preocupar com .
sentou-se em uma das mesas dali e ligou um dos computadores; precisava olhar alguns e-mails, ler notícias, saber o que estavam falando sobre Owen Mangor, aquilo também era importante. Muito importante, vale frisar. observava o monitor atentamente. Abriu todas as páginas de Internet que precisava e esperou tudo carregar, o que não demorou muito.
Antes de voltar a observar o monitor, prendeu sua atenção em seu celular; observava uma foto.
Suspirou e deu de ombros, olhando para o monitor. Seus olhos se arregalaram no mesmo momento. Aquilo não podia ser sério.
Agora, infartaria. De fato.
engoliu seco e leu novamente a página que estava.
— Essa garota já era — murmurou para si mesmo quando acabou de ler a página. Mordeu o lábio inferior para segurar um sorriso e pegou o celular em cima da mesa. Ligaria para , claro! Ele tinha que ler aquilo! Afinal, era sobre ele.
O que é, ? perguntou irritado; com certeza acabara de brigar com alguém ou então sua ressaca havia voltado.
— Você precisa subir aqui — disse.
Olha, eu tô ocupado e...
— Sério, interrompeu. — Você prcisa ler o que aquela jornalistazinha disse sobre o caso da Mangor.
Eu leio isso depois, Charlie está me irritando demais agora... — o rapaz respondeu bufando.
deu uma risada fraca e falou:
— Se eu fosse você subiria agora, . Você não vai gostar de ler isso tudo em outro lugar.


Capítulo 2

socou a mesa em sua frente com força.
— Vagabunda — sibilou furioso. — Quem ela pensa que é pra falar assim de mim?!
— Se acalma, cara — pediu, engolindo seco.
— Me acalmar?! — gritou para o amigo, dando outro soco na mesa. — Me acalmar?! Eu vou acabar com essa desgraçada!
— Não esquece que você ainda é um policial e se encostar em uma mulher sua carreia acaba.
— Foda-se! — berrou. — Ela não tem o direito de me difamar assim! Ela é só uma jornalistazinha investigativa de merda e retardada querendo ibope!
, olha...
— Eu vou falar com ela — cortou o amigo que tentava falar. — Eu vou lá. Não quero saber o que vai acontecer, mas eu vou tirar satisfações com ela. Ela vai retirar cada palavra, ponto e vírgula do que disse de mim. E vai ser agora.
— Calma! — segurou o braço do amigo, que se soltou no mesmo momento saindo da sala sem dar tempo a para fazer algo.


abriu a porta da redação com uma cara de poucos amigos, atraindo olhares e sussurros confusos.
— Você não pode entrar aí, — disse uma loura bem arrumada tentando segurar seu braço.
— Foda-se — ele disse, bem devegar, fazendo-a engolir seco. — Eu vou falar com essa jornalistazinha de merda que, provavelmente, é sua chefe e você não vai fazer nada. Estamos entendidos?
— Olha, eu...
— Ótimo — ele a interrompeu e deu passos largos até a grande porta.
— Está tendo uma reunião importante aí, ! Eu... — a mulher parou de falar e fechou os olhos, respirando fundo.
Era tarde.
Ele já abrira a porta.
mordeu fortemente o lábio inferior ao adentrar a sala cheia de jornalistas retardados — segundo ele — e observou atentamente toda a sala a procura da tal jornalista que escrevera sobre ele; não se lembrava bem de seu rosto, por isso tinha que observar muito bem, porém decidiu ir pelo jeito mais rápido e prático: gritar.
— Quem é ? — Perguntou e ouviu uma risada ecoar no lugar antes silencioso pelo susto que ele mesmo causara.
Seus olhos seguiram até onde o som vinha.
— Já esqueceu do meu rosto, ? — ela perguntou dando um sorriso sapeca.
— Não importa — ele revirou os olhos. — Não faço questão de gravar a sua maldita cara. Só quero que venha comigo. Temos muito o que conversar.
— Estou em uma reunião importante, se não reparou — ela riu novamente e gesticulou.
— Reparei — ele caminhou até onde ela estava. — Mas a pergunta que não quer calar é: desde quando eu me importo com isso? — ele deu um sorriso debochado para ela, que engoliu seco. — Você difamou um policial, bonitinha. Você vem comigo quer você queira ou não — ele finalizou e todos ali continuavam a assistir o "show" em silêncio.
— Não difamei ninguém — ela respondeu com a voz falha. — Só disse a verdade.
— Verdade droga nenhuma! — Ele bateu na mesa com força, fazendo-a dar um pulo na cadeira e as outras pessoas arregalaram os olhos. — Dá pra vir comigo ou vai querer conversar com público? — ele perguntou e ela não respondeu. — Ah, eu adoro platéia.
— Vá, — o homem alto que parecia o chefe dali, disse.
revirou os olhos. Sentia raiva de . Sentia vontade de socá-lo.
— Desculpa — ela murmurou se levantando e saindo com , que tinha um sorriso vitorioso nos lábios.
Ele sempre conseguia o que queria. Afinal, ele é ! Está para nascer alguém que possa pará-lo enquanto ele não faz o que quer.
Caminharam, lado a lado, em silêncio com olhares curiosos sobre eles. Ignoraram todos e continuaram a caminhar em direção a sala de .
abriu a porta e passou parecendo um furacão, ela suspirou. Estava quase se arrependendo de ter escrito sobre . Só quase.
Mordeu o lábio e fechou a porta atrás de si, ficando de frente para o homem estressado.
— Então... — ela começou e ele continuou encarando-a. — Me chamou aqui só pra ficar olhando minha cara ou o que?
— É que eu estou com vontade de dar na sua cara e te xingar de todos os palavrões existentes e inexistentes. Mas eu tô tentando me lembrar de segundo em segundo que você ainda é uma mulher — ele encarou seus olhos. — Uma mulher não muito digna, mas ainda assim uma mulher — ele finalizou e ela engoliu seco.
— Quem você pensa que é pra me ofender assim? — Ela perguntou dando um passo a frente.
— ele respondeu simplesmente. — E você, quem pensa que é para escrever todas aquelas coisas sobre mim sem nem ao menos me conhecer?
Ela abaixou a cabeça em silêncio.
— Olha, ...
— Cala a boca — ele a interrompeu sem medo de soar grosseiro. — Você tem noção do que você causou ou vai causar? — ele fechou os olhos e respirou fundo. — Você tem ideia do que você falou, garota? Você pode acabar com a minha carreira se resolvem acreditar no que você disse.
— Mas eu disse a verdade — ela rebateu.
— A verdade? — ele se aproximou. — Aquilo é a verdade para você?
— É — respondeu baixo.
— "Owen Mangor fora assassinada. Será que nosso querido conseguirá prender os responsáveis por isso? Eu não levaria tanta fé já que ele tem falhado tanto. Mesmo com a equipe ótima que tem – Emma Cobain, , David Raymond (filho do chefe dos chefes, Charlie Raymond!) entre outros ótimos policiais – ele tem falhado como nunca" — afinou a voz e revirou os olhos. — "Não sei se ele conseguirá isso. Do jeito que se encrontra, ele realmente não conseguirá! Oras, ele vive com um cigarro enfiado entre os lábios e a garrafa de bebida nas mãos. Acham mesmo que ele irá pegar esse tal assassino?" — ele fez outra pausa e a encarou.

Silêncio.
Era isso o que havia naquela sala.
ainda encarava , que estava quieta olhando para o chão. Ela não pensara no que fazer quando viesse tirar satisfações. Ela nem sequer imaginou que ele viria tão rápido.
Ela suspirou e o encarou.
— Você é só uma jornalista investigativa de merda — ele murmurou bem próximo à ela. — Você só quer causar polêmica. Fica na sua e esquece que eu existo, jornalista — ele deu uma risada fria e ela se arrepirou, por medo, talvez. — É melhor pra você — ele finalizou virando-se de costas para a mulher, que ainda vasculhava sua mente à procura de alguma coisa para rebater.
Ela escrevera aquilo, realmente. Mas não com aquelas palavras duras.
— Eu não escrevi tudo desta forma, — ela disse quando ele já estava na porta.
Uma risada alta e fria ecoou pela sala.
— Oh, não? — ele se virou para ela, fazendo uma carinha de bebê. — Jura?
— É sério — ela disse indo para perto do computador. — Olhe, eu... — ela parou de falar ao olhar o monitor e parou em seu lado. — A matéria sumiu — ela murmurou. — Mas sério, eu não escrevi com exatamente essas palavras que você disse e...
— Tá, tanto faz — ele disse rude. — Não me importo com sua opinião. Quero que você se dane. E não quero que fale mais sobre mim. A partir de agora você está proibida de citar meu nome em qualquer matéria sua. Não é de hoje que você me traz problemas — ele disse e ela abriu a boca para falar, porém não deixou. — Não quero ouvir, dane-se o que você escreveu ou deixou de escrever. Eu já falei o que tinha para falar.
— Espera! — ela pediu enquanto andava rápido atrás do rapaz que saíra da sala feito um furacão. — Droga, ! — ela gritou entre os dentes e andou mais rápido, quase caindo por conta do salto.
— O que você quer? — ele se virou bruscamente e a encarou. Seu rosto estava vermelho de raiva, ele só queria sair dali para não fazer uma besteira.
— Dá pra parar de palhaçada e voltar pra aquela merda de sala? — Ela perguntou e ele passou a mão pelos cabelos.
— Não — respondeu seco e voltou a andar.
respirou fundo.
— Então se fode, ! — Ela gritou, atraindo mais olhares assustados.
parou de andar e se virou em sua direção, seus olhos pareciam que iriam matá-la da forma mais lenta e dolorosa. Seus olhos tinham ódio.
— O que você disse? — Ele perguntou se aproximando rapidamente e ela engoliu seco.
— Só quero que volte para aquela sala para conversarmos como dois adultos — ela respondeu.
— Não foi isso o que eu perguntei. O que, exatamente, você disse há segundos atrás? — Ele se aproximou mais, estreitando os olhos.
O corpo de tremia. Tremia de medo. Ela sabia do que era capaz quando alguma mulherzinha o perturbava.
, dá pra você...
— Repete, porra! — Ele gritou com fúria, fazendo os outros funcionários pararem para observar melhor a cena.
— Se fode, — ela respondeu num fio de voz.
— Isso é desacato a autoridade, bonitinha — ele murmurou e ela arregalou os olhos, o fazendo rir.
— Deixa de ser idiota e volte pra aquela merda de sala — ela disse mais calma.
— Não estou a fim — ele deu de ombros. — E eu posso te prender neste exato momento, sabia?
— Cala a boca — ela rebateu.
— Me manda calar a boca mais uma vez e você vai parar na cadeia — ele disse e ela abriu a boca para falar. — E eu acho bom você não me desfiar.
— Olha...
— E agora — ele a interrompeu, falando mais alto —, eu vou sair por aquela porta e você vai ficar exatamente aqui — ele dissse como se explicasse algo a uma criança de oito anos. — E, você, como é muito obediente, vai me deixar em paz e nunca mais escrever sobre mim, nem vai mais mandar eu me foder e nem vai me chamar de novo quando eu estiver perto da saída. Estamos entendidos? — ele a olhou e pôde ver suas mãos fechadas com raiva, deu um sorriso antipático para ela e finalizou: — Assim que eu gosto — ele piscou um dos olhos e saiu da redação, deixando uma extremamente estressada parada no meio do corredor da redação.


se trancou em sua sala e engoliu o grito de raiva que queria sair de sua garganta.
a irritava de verdade quando queria. Não se viam muito pessoalmente, mas sempre que tinham essa chance, dava em alguma briga. Tudo bem, ela passara dos limites desta vez. Mas ele também passara. Ele, praticamente, a humilhou em seu local de trabalho.
Respirou fundo pela milésima vez naquele minuto e virou-se para seu computador. Ainda queria saber o que acontecera com sua matéria verdadeira sobre . Ela não o havia difamado tanto assim, para falar a verdade, o que ela realmente escrevera não pode ser chamado de difamação. Ela, como sempre, dera sua opinião sobre e sua equipe e comentou o assassinato de Mangor. Nada demais.
Bateu a mão na mesa de leve e se levantou, iria falar com seu revisor. Ele quem ficava responsável por suas matérias. E ela nunca parava para lê-las quando eram publicadas. Confiava em seus "empregados".
Caminhou até a sala de seu revisor e deu três batidas.
Nada.
Mais três.
Nada.
Respirou fundo e caminhou para o outro lado, em direção a recepção.
— Claire? — ela chamou a mulher loura, a mesma que tentara parar , aliás.
— Sim, ? — ela sorriu e tirou os óculos que usava para mexer no computador.
— Onde o Paul se enfiou? — perguntou, suspirando.
— Ele disse que tinha que ir em casa — a mulher coçou a nuca e deu de ombros. — E não sabia se voltava.
— Ok, obrigada — sorriu e caminhou de volta para sua sala.


Já era noite. decidira passar na casa de Paul, ele não voltara para a redação. E ela precisava saber o que realmente tinha acontecido com sua matéria. Não que ela se importasse com o que pensava ou deixava de pensar, mas era sua carreia em risco. Não queria ficar conhecida como "a jornalista que difamou ". Queria que sua carreira continuasse a mesma, e, para isso, tinha que correr atrás para saber exatamente tudo o que aconteceu e mostrar à toda a verdade. Não que ela quisesse vê-lo novamente, porque, pelo contrário, ela queria distância. Mas ainda assim precisava mostrar à ele que ela falava a verdade e ele era o idiota da história por não querer escutá-la.
passou por Claire e sorriu.
— Até amanhã — disse, ajeitando sua bolsa sobre o ombro e segurando as chaves do carro.
— Até amanhã, — a loura sorriu e voltou a atenção para o computador.
suspirou ao notar o quanto Claire tabalhava, ela, de fato, merecia um cargo maior e melhor. Por , Claire seria sua revisora. Confiava nela para coisas do trabalho. Mas Paul era mais conceituado, e na vida de jornalistas — ou pelo menos dentro daquela redação — ser conceituado, ter um bom nome, ser reconhecido, valia mais que qualquer bom trabalho feito ou capacidade. E por isso Paul estava trabalhando com ela. Puro conceito. Nome, apenas isso.
balançou a cabeça negativamente e atravessou o grande portão do estacionamento.
Apontou o pequeno aparelho de alarme em direção seu Porsche Cayman preto e se aproximou, abrindo a porta e entrando. Era um carro um tanto quanto luxoso e caro para uma mulher, mas não conseguia se controlar quando o assunto era carros. E ela ganhava muito bem para poupar dinheiro com as coisas que gostava.


Logo estava na rua a caminho da casa de Paul.
Oito ou dez minutos depois ela já estava estacionando o carro numa calçada qualquer.
Abriu a porta e saiu. Caminhou calmamente até o grande portão da casa de Paul.
Tocou a campainha e esperou. Observou sua volta e notou o portão da casa de Paul aberto, arqueou uma das sobancelhas e empurrou o portão calmamente.
Paul não ligaria... Né?
Deu de ombros e caminhou até a porta do rapaz, que também estava aberta. estava achando aquilo tudo muito estranho, mas era melhor entrar logo e ver o que estava acontecendo.
Passou pela sala e ela estava vazia.
— Paul? — Gritou , mordendo o lábio inferior em seguida. — Ei, Paul, está aí? — Gritou novamente. — Cara, você deixou tudo aberto... — ela parou um pouco esperando por uma resposta. Suspirou novamente e voltou a gritar: — Paul, seu retardado você... — ela parou de falar no exato momento que entrou na cozinha e encontrou uma poça de sangue em seus pés. Seus olhos se arregalaram no mesmo momento e um grito de horror escapou de seus lábios.
caminhou para trás, desesperada, e isso a fez tropeçar em seus próprios pés.
Caída no chão, continuou indo para trás, com medo.
O corpo de Paul estava estendido no chão, tinha um corte profundo no pescoço, mas parecia ter sido torturado antes de receber tal corte fatal.
levou a mão trêmula até a boca e deixou as lágrimas de medo rolarem por sua face livremente.
— Quem fez isso com você, Paul? — ela perguntou baixinho na esperança dele ouvir. A ficha não caía. Ele não podia estar morto em sua frente e com sangue por todo lado. Simplesmente não podia!
Ela fungou e tentou se levantar, ainda tonta. Secou as lágrimas com as costas das mãos e foi até o telefone.
Ligou para a polícia e esperou, encolhida num canto da sala, perto do sofá.
Ouviu barulhos de carro e se levantou rapidamente, correndo até a porta.
Logo vários homens entraram na casa e começaram a lhe fazer perguntas.
— Eu não sei — ela murmurava sem parar. — Eu cheguei e o encontrei assim. Eu...
— Deixem ela quieta, está em estado de choque — ela ouviu uma voz rouca falar e sentiu o cheiro de cigarro. Ela sabia quem era. Mas estava com preocupações demais na cabeça para se importar com ali.
— Temos que interrogá-la, — um dos homens disse.
— Já está mais que óbvio que ela não é culpada e não sabe de nada — revirou os olhos. — Deixe ela ao menos respirar. Ela acabou de encontrar seu revisor morto.
— E desde quando se importa? — o outro rebateu.
— Desde quando eu mando nessa porra — ele respondeu se aproximando do outro homem, que engoliu seco. — Ela vai poder ajudar. Mas não agora. Ela nem sequer vai conseguir dizer o nome completo se a perguntar. Então vão logo ver esse maldito corpo que eu e o cuidamos dela.
— Mas... — o mesmo homem tentou rebater.
— Agora — finalizou e puxou pelo braço, arrastanto-a para o lado de fora.
fungou novamente sem se importar com a puxando para o lado de fora.
! — Charlie gritou. — O que faz com ela aqui? Ela não deveria estar lá dentro e...
— Não — ele respondeu. — A mulher mal se aguenta em pé e vocês querem deixá-la perto do corpo? Levem-a para a delegacia, pelo menos. Lá sim vamos poder interrogá-la melhor.
o encarou com um sorriso de canto. Era estranho agir daquela forma.
— Por que está fazendo isso? — perguntou baixinho quando ficou apenas ela e .
— Sei como é ver o corpo de alguém que a gente gosta — ele respondeu dando de ombros e acendendo outro cigarro. — Mas, se quiser voltar pra lá, a vontade.
Ela revirou os olhos e se sentou no chão mesmo, encostando-se no carro com as mãos na cabeça.
— Vai se ferrar, sério — ela disse encarando o nada.
— Certo, eu vou. Mas antes tenho que interrogar você, então colabore comigo. Não pedi para estar aqui — ele deu um trago no cigarro e sentou-se ao lado da moça, soltando a fumaça. — Quanto mais rápido formos, mais rápidos vamos embora. Sei que você não quer ver minha cara. Mas eu também não estou feliz em ver a sua.
— Eu já disse — ela levantou mais a voz, deixando as lágrimas caírem novamente. — Eu não sei de merda nenhuma. Eu cheguei aqui e estava tudo aberto, ele estava jogado no chão da cozinha naquele maldito estado. Eu só lembro de ter caído de costas no chão de tão horrorizada que estava e depois ter ligado para vocês. Eu... Caralho! — ela desabafou, deixando as lágrimas caírem com mais força.
coçou a nuca sem saber o que fazer.
Abraçá-la seria ótimo.
Se ele não fosse ele.
— Tá certo... — ele suspirou. — Pode ir embora.
— Eu não vou embora. Tenho que ir pra maldita da delegacia pra falar tudo de novo, não é? — ela murmurou se levantando. — Provavelmente. Mas se você disser que não se sente muito bem, eles te liberam. Até porque eu já interroguei você e já sei do que precisamos — ele respondeu e se levantou, indo em direção à casa. Deixando, novamente, parada com cara de besta encarando o nada.


Capítulo 3

— Eu não aguento mais trabalhar — murmurou deixando a cabeça cair sobre a grande mesa.
— Ninguém aguenta, meu caro — Emma suspirou e sentou-se ao lado do rapaz.
— Quando isso vai acabar? — ele fechou os olhos com força.
— Eles limparam tudo, tiraram o corpo... E agora os peritos estão lá. Somos chefes, — ela suspirou novamente. — Devemos ficar.
— Eu sei — ele respondeu e encarou a porta do local, assustado. — Mas que diabos ela está fazendo aqui?
— Quem, o... — Emma interrompeu a própria frase e olhou para a porta. — ! — Emma se levantou rapidamente e caminhou até a mulher abatida.
— Oi, Emma — ela deu um sorriso fraco. — Só voltei para pegar os telefones dos familiares de Paul. E, bem, "cobrir" — ela fez aspas com as mãos — o caso. Ainda tenho que trabalhar. Ele é mais uma morte de várias que virão, do jeito que tudo está correndo.
— Você não precisa...
— Preciso sim, Emma — interrompeu a mulher. — Estou bem, relaxe. Já chorei, já gritei, já xinguei. Nada disso o fez voltar. Parar a minha vida por ele, que sabotou minha matéria sobre vocês — ela olhou de relance para , que apenas escutava a conversa de longe e voltou a falar: — e queria mais é que eu me ferrasse, não vale a pena. Já estou fazendo um grande favor à ele de avisar seus famliares.
— Tudo bem, querida... — Emma suspirou. — Só não podemos liberar nenhum tipo de objeto da casa. Não até acabarmos aqui. Se importa de esperar?
— Não, tudo bem — tentou sorrir. — Se não for incomodar... Guarde tudo o que encontrarem que tenha telefones e tudo o mais? — ela mordeu o lábio inferior e encarou Emma.
— Ok, te entrego tudo amanhã. Agora vá para casa e descanse — a mulher sorriu para a outra, que apenas piscou um dos olhos. estava cansada demais para falar ou tentar sorrir. E os olhares de em cima de si estavam incomodando.
Emma caminhou na direção oposta de e voltou para o sofá, onde encarava o nada.
— Guarde tudo o que encontrar com telefones e entregue a amanhã — Emma disse deixou seu corpo afundar no sofá.
— Você disse que o faria. Você o fará — rebateu o rapaz, mexendo nos cabelos.
— Estou lhe pedindo um favor — ela o encarou.
— E eu estou recusando — ele rebateu, novamente, com um sorriso no canto dos lábios.
— Sei que quer vê-la novamente, . Vamos lá — ela sorriu abertamente para o rapaz, que lhe lançou um olhar mortal.
— Nunca mais repita isso, querida Emma. E eu já disse: você disse que o faria. Você o fará. — Ele se levantou e, com seu maço de cigarro e um isqueiro nas mãos, saiu.

Já passava das duas da manhã e continuava lá. Naquela maldita casa. Com aqueles malditos peritos, que, por mais que ele não gostasse, eram seus colegas de trabalho. Não sabia exatamente o porquê de estar ali. Não precisariam mais dele. Mas ele era a porra do chefe daquela madita equipe. E teria que ficar ali até acabarem, o que parecia que não aconteceria tão cedo.
Como não tinha nada para fazer — a não ser analisar toda a equipe e fazer relatórios idiotas que não serviriam para nada —, decidiu deixar seus pensamentos voarem. E, em questão de segundos, seus pensamentos voaram exatamente onde ele sempre quis: quem estava fazendo aquilo tudo? A parte mais enigmática de seu trabalho. A parte que ele mais amava. A parte que ele mais se dedicava. era um ótimo policial — era um ótimo em tudo, para falar a verdade, menos no quesito humano —, sabia muito bem juntar as peças e montar todo o quebra-cabeça. Sabia a hora de invadir os lugares, sabia a hora de sair, sabia a hora de entrar de fininho e ficar espionando, sabia onde colocar seus homens — e mulheres, claro, sem machismo! —, sabia como fazê-los raciocinar de verdade. Ele, de fato, era como o Dr. House, porém no Direito ao invés da Medicina.
Soltou um suspiro cansado e vasculhou sua mente em busca de alguma informação importante. A quem esse útlimo morto, o Paul, perturbava? , talvez. A quem a querida Owen Mangor tanto perturbava? Ninguém. Não fazia sentido colocar como suspeita, a mulher quase morreu ao ver seu revisor perturbador morto. Irônico, não? Pois é. Tudo naquela maldita vida era irônico. Tudo naquela maldita delegacia era irônico. Tudo naqueles malditos assassinatos era irônico. Que tal resumirmos isso? A vida, toda, de fato, é irônica. E era só mais um a querer e se oferecer a tentar desvendar esses malditos mistérios da vida e fazer das irônias realidades ou não. E inteligência para fazer isso era o que não lhe faltava. Isso é um grande fato.
jogou seu cigarro, já pequeno, no chão e pisou em cima para apagá-lo completamente.
Suspirou pesadamente e girou o corpo em direção a casa ainda cercada de policiais. Caminhou calmamente e entrou, logo de longe avistou a linda Emma encolhida no sofá dormindo. Ele deu um sorriso de canto e caminhou até a mulher, ele sentia um carinho muito grande por Emma apesar de querer sempre "pegá-la". Ela era como uma irmã mais velha para ele... Não, irmã é algo muito formal e sem maldade. Digamos que ela era a sua mais nova amiga colorida.
— Ei, querida Emma — sussurrou próximo ao ouvido da mulher, que apenas se mexeu. Ele adorava chamá-la de "querida Emma", não soava irônico como nas outras pessoas soava.
— Deixe-me dormir, querido — ela murmurou dando um sorriso de canto, fazendo-o soltar uma risada fraca pela primeira fez no dia.
— Vem, eu te levo pra casa — ele disse e ela arqueeou uma das sobrancelhas. — Sem segundas intenções, juro. Estou tão cansado quanto você — ele revirou os olhos sem tirar o sorriso dos lábios e estendeu a mão para a mulher, que riu alto e a pegou.
— Vai encerrar tudo agora? — ela perguntou enquanto catava suas coisas e as de , vendo-o ir para a cozinha.
— Vou — ele respondeu alto o suficiente. — Ei, vocês, estão dispensados — disse e algumas pessoas ficaram o olhando. — Não tem mais nada aí para procurarmos. E já passa das duas da manhã.
esperou todos se ajeitarem e, depois, fechou tudo — já que as chaves ficaram por sua conta e de Emma — e saiu acompanhado da mulher.
Caminharam em silêncio até o carro de , onde ele abriu o carro para Emma — sim, apesar de tudo, ele sabia ser cavalheiro — e esperou-a entrar para fechar. Ela deu um sorriso em agradecimento e ele dera a volta, entrando no carro.
— Você está bem, ? — Emma perguntou do nada, fazendo-o assustar um pouco.
— Estou — ele arqueeou uma das sobrancelhas. — Por quê?
— Deixa pra lá — ela suspirou e mordeu o lábio. — Foi só preocupação.
— Estou cansado e com ressaca. Só isso — ele deu um sorriso de canto para acalmá-la.
Depois de mais uns minutos chegou a casa de Emma.
— Obrigada, querido — ela abriu um grande sorriso e lhe deu um beijo estalado no rosto. — Por nada, querida Emma — ele retribuiu o sorriso e ela desceu do carro.
Como um bom amigo preocupado e cavalheiro, esperou Emma entrar para dar partida com o carro e seguir até seu apartamento.
Demoraria pouco mais de dez minutos para chegar até seu apartamento, mas sentia como se fosse demorar mais. Sentia um mal-estar. Sentia-se um tanto quanto sufocado. Talvez fosse o cansaço.
Suspirou e pisou mais fundo no acelerador. Talvez assim tudo aquilo passava. Mas, ao notar algo estranho atrás de seu carro, diminuiu a velocidade cautelosamente.
Tinha algo errado.
E ele notara, como sempre.
Engoliu a seco. Não era um carro.
Eram dois.
E não eram dois carros comuns. Eram dois carros totalmente pretos com vidros extremamente escuros.
— Droga — murmurou e tentou respirar fundo. Ele sabia que aqueles caras, seja lá quem fossem, estavam atrás dele. Queriam ele. E isso ficou mais óbvio ainda quando cada um passou para um lado de seu carro.
sentiu sua respiração falhar e fechou todas as janelas do carro e acelerou mais, fazendo uma curva e indo para o lado oposto de sua casa. Não seria idiota de levá-los onde ele morava.
Suas mãos tremiam levemente. Ele já ouvira falar de perseguições à policiais. Mas nunca vivera uma.
Estreitou os olhos e tentou se concentrar na rua. Mas não tinha como se concentrar totalmente quando tinham dois carros atrás de você.
tateou todos os lugares de seu carro a procura de seu celular, e, ao encontrá-lo, sem desacelerar o carro, apertou o botão para ligar para qualquer número. Alguém teria que ir ajudá-lo!
— O que é, ? — ele ouviu a voz cansada de Emma e quase sorriu por alívio.
— Estão atrás de mim, Emma — ele disse sem parar de correr com o carro e olhar para onde os dois carros ainda o seguiam.
— O que? — Ela perguntou confusa.
— ESTÃO ATRÁS DE MIM! EU SOU O PRÓXIMO, PORRA! — ele gritou desesperado ao sentir um dos carros bater em sua traseira. — PEDE AJUDA! ELES ESTÃO BATENDO NO MEU CARRO! — Ele gritou novamente, sentindo o maldito impulso que o carro de trás causava.
— Meu Deus, ! — A mulher do outro lado exclamou. — Onde você está? Não desligue esse telefone! Deixe-o perto de você e...
— TÁ, EMMA. EU VOU TENTAR — ele gritou desesperado. Sentia sua garganta seca. Sentia o medo invadir seu corpo. Sentia suas pernas tremerem e seus dedos começarem a escorregar do volante devido ao suor.
— Diz onde está, ! — ela pediu com a voz aflita.
— Uma rua antes de entrar na rua do meu apartamento. E CARALHO, EU ESQUECI O NOME DESSA MERDA DE RUA. — Ele falou desesperado.
— Mantenha o controle, por favor — ela pediu com a voz mais fina que o normal. — Certo, vamos lá. Uma rua antes da rua do seu apartamento. Eu já mando alguém atrás de você e vou junto, tudo bem? Só mantenha o controle. Vou desligar agora. Deixe esse maldito celular por perto. Por favor.
— Tá, mas não demora — ele pediu engolindo seco. — Eles estão mais próximos agora. Não consigo dar uma boa distância. Eles têm carros bons, Emma.
pisou no acelerador com toda sua força, para criar mais distância. Não estava mais se importando com nada. Só queria salvar sua vida.
Desviou os olhos, por uns segundos, para o lado de fora e pôde ver um homem todo vestido de preto e com uma máscara de bandido cobrindo-lhe o rosto e totalmente debruçado na janela do carona, com uma arma apontada em sua direção. Não era uma arma qualquer.
Era uma metralhadora. Era simples, porém muito potente. Ela brilhava de tão limpa. Havia sido preparada exatamente para ele. Para aquele momento. Ele sentia isso.
arregalou os olhos e acelerou mais.
— Merda, merda, merda — ele murmurava ao ver que o carro não corria do jeito que ele queria. — Anda, filho da puta! — ele gritou e acelerou mais.
Não era culpa do carro. Era culpa de seu nervosismo. O carro parecia não andar, e, os de trás, pareciam que corriam, quem sabe, na velocidade da luz.
se desesperava mais a cada segundo que passava.
E, então, ouviu-se um disparo.
E outro.
E outro.
E quando notou, o vidro de trás de seu carro estava totalmente quebrado. Estraçalhado. Acabado. Assim como ele ficaria se não corresse mais ou não conseguisse ajuda logo.
Seu celular tocou e ele esticou o braço para apertar onde deveria para atender e tentou, sem apertar nada errado, deixar no viva-voz e, por fim, conseguiu.
— Onde está agora, ? — perguntou Charlie do outro lado.
— Eu não sei, eu não consigo ler as placas, eu nem sequer estou prestando atenção no meu caminho — ele respondeu num tom desesperado. — Eles destruíram meu carro, droga!
— Certo, vamos tentar te encontrar. Você consegue fazê-los te seguir até o retorno? Pra, pelo menos, nos encontrarmos no meio do caminho — Charlie pediu, cuidadoso.
— Posso tentar — murmurou e acelerou mais, fazendo uma curva inexistente e girando com o carro, como em cenas de filmes.
, seu retardado! — Charlie gritou do outro lado da linha ao ouvir o barulho insuportável causado pelo movimento brusco do carro.
— Você pediu pra eu fazer isso! — ele rebateu, acelerando e passando entre os dois carros, que, sem demorarem muito, fizeram o mesmo. — Tanto faz — murmurou Charlie e desligou o celular na cara de , que não se importou muito.
tinha os olhos focados na rua, estava na contra-mão, obviamente tinha que prestar atenção em dobro. Sua sorte maior era que estava tarde e ninguém saía àquela hora.
O celular de , agora, estava no chão por culpa de outro movimento brusco que fizera para uma curva e, obviamente, desviar dos malditos tiros que distribuiam em sua direção.
sentiu algo formigar em seu ombro e uma leve dor atingí-lo. Não deu muita ideia... Até aquilo começar a queimar e queimar mais... E mais... E, então, encarou seu ombro e, depois, o vidro da frente. Um tiro lhe atingira de raspão e atravessara para o vidro.
Mordeu o lábio inferior e ignorou a dor. Continuou seu caminho até, por fim, ver de longe os carros de Charlie e Emma e, logo atrás, alguns outros policiais.
Prendeu a respiração por uns segundos, os segundos necessários para atravessar para o lugar seguro. Junto aos seus amigos e policiais.
Soltou todo o ar que estava preso em seus pulmões ao ouvir as freadas bruscas dos carros negros. Não se deu o trabalho de virar-se e encarar os homens que haviam tentado matá-lo. Apenas queria respirar tranquilamente por ainda estar vivo.
parou o carro e fechou as mãos com força no volante, tentando relaxar. Apesar de uma, quase intensa, troca de tiros atrás de si, queria relaxar. Queria ter a certeza de que estava vivo.
Os tiros pararam. E, então, tomou coragem para descer do carro e encarar o que acontecera.
Suas pernas tremiam e seu ombro ainda sangrava. Mas ele não se importava. Só queria saber quem eram aqueles caras.
— Oh, meu Deus, ! — Emma foi a primeira a correr em sua direção e tentar olhar seu ombro.
— Espera — ele respirou fundo. — Eu só quero saber quem são.
— Estão mortos. — Ela disse e encarou seus lindos olhos extremamente azuis e um tanto quanto arregalados, deixando-os ainda mais intensos.
— Mas... — tentou falar. — Eu quero ver os corpos. Quero saber quem tentou me matar.
— Dois ainda estão vivos. Eram quatro — ela colocou-se em seu lado e pediu permissão para abrir os botões de seu casaco de couro. não negou, apenas deixou-a fazer o que precisava.
Emma arrancou o casaco de e ele sentiu o maldito frio tomar conta de seu corpo. Tremeu um bocado e Emma suspirou, entregando-lhe o casaco novamente.
— Eu dou um jeito no seu ombro quando sairmos daqui. Não tem condições de você ficar sem casaco a essa hora — murmurou e apenas balançou a cabeça.
passou a mão pela testa tirando o suor que estava ali e caminhou até os homens.
— Espera — Charlie o parou pelo peito. — Cuide de seu ombro, amanhã eu deixo você fazer o que quiser com os dois que sobraram.
— Charlie... — murmurou entre os dentes. Sentia raiva dos homens que o fizeram passar por toda aquela loucura. Queria socá-los até eles pedirem perdão pelo que fizeram e implorassem para ele parar de bater neles.
— Vai descansar — Charlie disse e o empurrou para trás. — Mandarei alguém ficar de olho na sua casa. Ficará seguro, eu prometo.
— Certo — ele murmurou. Seria impossível contrariar Charlie naquele momento. E jamais o faria, já que Charlie era quase seu pai, tio... Enfim, Charlie era quase um parente para ele.
Se virou encarando seu carro. Seu lindo e amado Impala azul. Um carro raro, bonito, que nunca perdeu o valor e nem nunca perderá, totalmente distruído. Acabado.
Suspirou.
— Quer que eu vá com você, querido ? — ele ouviu a voz doce de Emma perguntar.
— Quero — ele murmurou feito uma criança.
— Vai ficar tudo bem. Vamos dar um pulo no hospital para ver esse seu ombro e depois eu vou para o seu apartamento, tudo bem? — ela passou a mão pelo rosto de , que sorriu agradecido e concordou com a cabeça.
Emma estava sendo uma ótima amiga.
— Onde o se meteu? — perguntou enquanto Emma digiria em direção ao hospital.
— Não conseguimos achá-lo — ela soltou um suspiro. — anda estranho.
— Ele sempre foi — riu fraco. Seu ombro latejava. — Ligarei pra ele quando chegarmos, ou então, falarei com ele na delegacia mesmo.
— Faça isso — ela sorriu.
Logo chegaram no hospital, Emma explicou o que havia acontecido e logo ele fora atendido.
Nada grave. Apenas precisou enfaixar para não inflamar e era só passar alguns remédios. Nem sequer precisou de tantos pontos, já que não fora nada tão grave. Apenas um tiro de raspão. Nada demais, comparado ao que podia acontecer.

— Vai tomar um banho e dormir, querido — Emma disse autoritária quando fechou a porta do apartamento do rapaz.
— Vem comigo então — ele fez uma cara safada e ela deu uma gargalhada. Nem mesmo depois de sofrer um atentado ele perdia aquele jeito. E era isso o que Emma mais gostava nele.
— Não — ela sorriu e prendeu os cabelos num coque frouxo. — Vá descansar, . Eu me ajeito por aqui, tá?
— Mas é claro que não! — ele exclamou. — Você vem cuidar de mim, além de me aturar todos os dias no trabalho e ainda quer se jogar na sala? — ele revirou os olhos. — Pode ficar com o quarto.
— A casa é sua e o doente é você. Vai logo pra a porra desse banho e descansa, moleque — ela disse fingindo ser mãe e ele não segurou a gargalhada, e ela o acompanhou depois de uns segundos.
— Tudo bem — ele deu alguns passos e parou de repente, virando-se para ela. — Obrigado. Por tudo.
— De nada — ela sorriu e ele foi fazer o que ela mandara.




Capítulo 4

O rapaz não muito alto atravessou os imensos portões da mansão abandonada, porém muito bem cuidada, e trancou-os logo após. Tirou os óculos escuros que usava e o colocou na blusa, caminhando em direção a porta principal da mansão.
Tinha problemas para resolver. Muitos problemas e, um deles, era o nosso famoso . Mas isso não vem ao caso agora.
— Achei que não viria mais — um dos homens presentes soltou uma risada fraca e colocou o charuto entre os lábios novamente, sugando-o com vontade.
O outro mordeu o lábio.
— Achou que eu não viria? — revirou os olhos e o mais velho, do charuto, dera uma risada fraca. — Falhamos de novo...
— Não — o mais velho soltou o charuto e se levantou. — Você falhou de novo.
— Olha, Senhor... — rapaz começou nervoso, porém um grande barulho naquela sala o fizera calar a boca. Outro homem adentrara o lugar.
— Por que diabos aquele policial de merda ainda está vivo? — perguntou, bufando.
— Os caras falharam de novo. Dois deles morreram, os outros dois estão presos — respondeu o rapaz mais novo.
— Você disse que eles não falhariam mais — disse entre os dentes o homem que aparentava ter, pelo menos, uns trinta e dois anos.
— Eles me garantiram que não iam falhar mais — rebateu o mais novo de todos. — Garanto que se os outros que temos não fizerem direito, eu mesmo acabo com o policial.
— Assim espero, meu jovem — respondeu o mais velho de todos, sentando-se novamente e puxando seu charuto.
Os mais velhos começaram a conversar de coisas inúteis — ao os ouvidos do mais novo, é claro — num canto da sala. O mais novo sentou-se em uma poltrona quialquer e encarou o nada.
Sentia-se arrependido às vezes.
Só às vezes.
Owen Mangor não precisava daquilo tudo. Muito menos Paul. Mas era necessário.
Flashes passeavam por sua cabeça.
— Hora de dar tchau, senhora Mangor — ele murmurou.
Balançou a cabeça negativamente querendo afastar aquilo. Ele... não tinha culpa. Seria perdoado depois... Não seria?
E mais um flash se passou.
— Não... Você não pode fazer isso... — Paul gritou para o homem que já conhecia há meses.
— Eu posso e vou — murmurou o rapaz que segurava a faca firmemente.

— Pensando no que fizera, meu Jovem? — perguntou um dos homens sentando-se em seu lado fazendo-o se assustar um pouco.
— Sim — respondeu com um sorriso no canto dos lábios. — E não me arrependo — se apressou em responder.
— Você é forte — o homem sorriu. — E isso te faz diferente dos outros que já passaram por aqui e desistiram antes de chegar ao fim. Você não — ele abriu mais seu sorriso. — Gosto de você, jovem.
— Que bom — ele murmurou sem jeito. Sempre ficava sem jeito com elogios, sempre. Ainda mais quando era elogiado por seus chefes. E, pior! Quando era elogiado por matar. Por torturar. Por fazer todos sofrerem. Por ameaçar. Por tudo o que há de ruim. Mas, por incrível que pareça, ele não se sentia mal com aquilo. Se sentia perfeitamente bem. Era algo normal, comum. Ouvir tais elogios fazia qualquer pontada de arrependimento sumir, ele era reconhecido pelo que fazia e gostava daquilo. E tais elogios traziam-lhe uma calmaria imensa... Traziam-lhe... Paz. Torturar, ameaçar, fazer sofrer, fazer mal, matar e depois ser elogiado e reconhecido lhe trazia paz. Sim, paz. Como é possível alguém sentir-se em paz por fazer tantas coisas ruins? Ele era humano. Deveria se sentir pelo menos um pouco culpado... Não? Sim! Óbvio que sim! Ele deveria sentir algo! Mas... não sentia. Como se algo tivesse possuído seu corpo e feito sumir o rapaz doce e bondoso de antes. E, mais uma vez, por incrível que pareça, ele já foi doce, gentil, bom, feliz e amado. Já foi amado, já amou. Já foi... normal. E hoje ele é esse monstro. Mata por puro prazer e... dinheiro. Agora, a pergunta que paira sobre as nossas cabeças: por quê?

***

— Obrigada, Emma — sorriu pegando os cadernos das mãos de Emma, que acabara de entrar em sua redação. Era manhã. Estava tudo calmo, ainda. Todos dando as últimas olhadas nas matérias, escrevendo textos de luto para Paul e etc.
— Por nada, querida — Emma sorriu. — Agora preciso ir. Tenho que passar na minha casa ainda — ela soltou um suspiro.
— Tudo bem... — mordeu o lábio. — Emma?
— Sim? — Emma perguntou, se virando para novamente.
— O que aconteceu essa madrugada? — perguntou, direta.
— Jornalistas — Emma balançou a cabeça negtivamente. — Passe lá no prédio mais tarde e tente conseguir uma entrevista com o . Ele te contará com mais detalhes já que o atentado foi em cima dele.
— O quê? — perguntou, quase gritando e arregalando os olhos. — O sofreu um atentado? Como assim?
— A gente saiu da casa do Paul, ele me deixou em casa e quando estava indo para a dele dois carros foram atrás dele... E aí ele me ligou e eu consegui localizá-lo e... Bem, vá até lá e tire suas dúvidas! — Emma sorriu fraco. — Só você sabe disso agora. E como desconfiou de algo?
— Tentei te ligar ainda de madrugada. E você não atendia — deu de ombros. — E ouvi uns barulhos de tiros um bocado longe. Fiquei curiosa — ela mordeu o lábio inferior. — E como você acabou de dizer que não estava em casa... Bom...
— Tudo bem — Emma riu fraco. — Apareça lá e diga que eu a convidei.
— Certo. Até mais — tentou sorrir, mas estava tensa demais para isso.
— Até — Emma acenou e passou pela porta da redção sem olhar para trás.
correu para sua sala e releu sua matéria o mais rápido que conseguiu. Ela falava sobre a morte de Paul. Mas não era bem isso o que ela realmente queria escrever, comentar, investigar... Ela queria saber de . Digo... Não saber dele, mas saber do atentado em cima dele. Aquilo sim deveria ser fascinante de cobrir, investigar, comentar, escrever... Afinal, estaria com . O ser mais enigmático e inteligente de toda a grande Londres. Ela não gostava dele e deixava isso bem claro, mas não podia negar que o cara era inteligente e... cobiçado. Não, não cobiçado pelas mulheres. Mas sim pelos caras que estavam por trás do outros dois assassinatos. E não havia dúvidas. O tirando do caminho, eles poderiam matar quem quisessem sem serem descobertos. Mas, pelo jeito, falharam de novo. E tentariam de novo. Mas, quem sabe, se se metesse ela não poderia arrancar alguma coisa? Ela poderia ajudar, isso é fato! Poderia cobrir tudo e arrancar inúmeras informações. E isso daria um up em sua carreira. Seria ótimo. Para os dois lados.
Falaria com à tarde. Ele querendo ou não.

pegou sua bolsa e saiu de sua sala, trancando-a em seguida. Horário de almoço. Ótima hora para se esbarrar com no restaurante que ele sempre ia com Emma.
Ela sorriu para Claire quando passou por ela e saiu da redação apressada, indo direto para o estacionamento. Abriu o carro e o ligou, sem nem ao menos esperá-lo esquentar um pouco — o que não era necessário com um carro daqueles, mas era sempre bom evitar danos... — arrancou e andou um bocado acima da velocidade. Não queria pegar trânsito e muito menos ter que chegar depois de . Chegariam praticamente juntos, pelas contas dela.
Depois de pouco mais de dez minutos, parou o carro em uma calçada qualquer. Pegou a bolsa e jogou em cima do ombro, segurando seu bloquinho de papel e uma caneta. Fechou o carro e ativou o alarme.
Logo virou-se para o restaurante do outro lado da rua e pôde ver rindo de qualquer besteira. Estava com uma calça jeans um tanto quanto apertada — a qual deixava sua cueca à mostra —, uma camisa social quadriculada em branco, verde e azul e outra camisa fina por baixo totalmente branca, um óculos escuros nos olhos e, então, o olhar de caiu no ombro e braço de : ele usava uma tipóia azul escura. Apenas a tipóia então, de fato, machucara o ombro na perseguição da noite anterior.
Por alguns segundos sentiu-se perdida em e, em seguida, seus pulmões imploraram por ar; ela havia segurado a respiração, automaticamente, apenas em vê-lo.
Balançou a cabeça levemente e atravessou a rua.
Assim que passou pela porta do restaurante sentiu os olhos de em cima de si e comemorou por dentro. Avistou Emma sentada na mesma mesa que e acenou para a loira, que sorriu e chamou-a com a mão.
balançou a cabeça negativamente e continuou andando. Emma revirou os olhos e chamou-a novamente.
sorriu de lado e caminhou até a mesa.
— Que surpresa vê-la por aqui! — Emma disse sorrindo e se levantando para cumprimentá-la.
— Pois é — murmurou fingindo, sim, findindo, estar envergonhada e revirou os olhos.
— Sente-se conosco! — Emma pediu... Inocentemente.
— Emma, por favor... — murmurou insatisfeito.
— Cale a boca, — Emma pediu dando risada e os outros dois rapazes presentes também riram. — Sente-se, por favor.
— Não será necessário, Emma — ela sorriu. — Eu só tomarei um café e...
— Você veio aqui só para tomar um café? — se meteu arqueeando uma das sobrancelhas e ela revirou os olhos.
— Você nem ao menos me deixou concluir a frase, — ela revirou os olhos novamente. — Enfim. Vim para tomar um café e tentar falar com você.
olhou em volta e os outros três amigos já conversavam sobre qualquer outra besteira animadamente.
— Comigo? — ele perguntou apontando para si mesmo.
— É, . Você — respondeu suspirando. Ele a irritava.
— Sobre o que? — ele perguntou curioso.
— Posso? — ela apontou para a única cadeira que restava: entre e Emma.
— Pode, né — ele deu de ombros e, em seguida, fez uma cara de dor e riu. — O que é? Rir da desgraça alheia não é nada legal.
— Quando a desgraça acontece com você, sim, é muito legal rir — ela rebateu e Emma riu alto.
— Até você, querida Emma? — ele perguntou frustado.
— Desculpe... não deu para segurar — ela se encurvou e passou por para apertar as bochechas de , que revirou os olhos.
— Tá, tá. Façam os pedidos — desconversou e pediu para Emma e os outros dois rapazes.
— Certo — Emma sorriu e chamou o garçom para a mesa. Todos fizeram seus pedidos e se virou para .
— O que quer falar? — perguntou.
— Pode me dar uma entrevista? — ela foi direta e ele arqueeou as sobrancelhas.
— Qual parte do eu não quero meu nome nas suas matérias você não entendeu naquele dia? — ele a respondeu com outra pergunta.
— Mas, , você já sabe o que realmente aconteceu e...
— Tá, não. — Ele respondeu e encarou o garçom que colocava o seu pedido na mesa.
eu já sei do seu atentado. Custa me dar uma entrevista para falar sobre e...
— Mas meu Deus, garota — ele se virou para ela. — Eu já disse que não. E eu não quero falar sobre o que aconteceu. Entendeu ou quer que eu desenhe?
engoliu seco e suspirou. Emma e os outros rapazes ficaram tensos de repente. Claro, quem não ficaria tenso depois de ouvir tratar uma mulher daquela forma? Ele, apesar de tudo, não era tão... Monstro, por falta de palavra melhor.
— Certo — ela murmurou e pegou dinheiro em sua bolsa, deixou em cima da mesa para pagar seu café e se levantou.
... — Emma chamou.
— Até mais, Emma — ela a cortou. — E foi bom ver vocês, e David — ela enfatizou bem os nomes dos garotos e saiu andando. A raiva estava começando a tomar conta de seu corpo.
era um brutamontes. Sem mais.

— Desgraçado. Infeliz. Idiota. Burro. Filho da puta. — Ela murmurava enquanto tentava achar as chaves do carro. — Mas que porra! — ela quase gritou ao não encontrar as chaves. — Culpa sua, . Tudo culpa sua. Infeliz. Babaca. Filho de uma boa...
— Nossa, é assim que você me vê? — Ela ouviu a maldita voz rouca e baixa de atrás de si e corou automaticamente. Não era legal quando a pessoa que você estava xingando e culpando por tudo ouvia.
— Te vejo pior — ela respondeu seca e, finalmente, encontrando a chave. Abriu a porta do carro.
deu dois passos e, com a mão livre, fechou a porta do carro fazendo-a virar-se totalmente irritada para ele.
— Eu vou te dar a entrevista, antes que você me mate pelo que eu acabei de fazer — ele levantou a mão.
— Não quero mais, . Obrigada — ela revirou os olhos e abriu a porta do carro novamente, esquecendo-se totalmente que seria ótimo conseguir essa entrevista. E não era só para ela.
— Ah, quer sim. Deixe de ser orgulhosa — ele fechou a porta novamente e puxou seu braço. — O orgulhoso daqui sou eu.
Ela respirou fundo e fechou as mãos com raiva.
— Amanhã às nove, aqui mesmo. — Ela murmurou pausadamente e ele deu-lhe um sorriso torto, fazendo-a se perder como quando o viu pela primeira vez naquele dia.
— Não me atrasarei, prometo — ele piscou um dos olhos. — E espero que não faça o mesmo.
— Pode deixar — ela respondeu, sentindo seu corpo mais relaxado. — Agora tchau, brutamontes — ela disse sussurrando a última palavra.
estreitou os olhos e a segurou pelo braço novamente.
— O que você disse? — ele perguntou e ela riu, debochada.
— Nada, querido — ela ironizou a frase ainda com um sorriso debochado nos lábios. Se soltou da mão de e entrou no carro em seguida. — Tchau, !
E, então, ela arrancou com o carro. Deixando, desta vez, ele parado com cara de idiota.
bufou e atravessou a rua novamente entrando no restaurante.
— Nunca mais me peça para ir atrás dela pra alguma coisa. E muito menos se aproveite desses meus pequenos momentos de fraqueza para conseguir o que quer com essa cara de anjo, Emma — ele disse ao chegar na mesa e sentar novamente.
— Você não deveria tratá-la assim. Ela é uma boa moça — Emma respondeu dando de ombros.
— Mesmo depois do que ela fez? — se meteu dando um gole em seu suco.
— Mas não foi ela, cara — foi a vez de David falar. — E ela já provou que foi o tal revisor dela.
— Aleluia alguém concordando comigo! — Emma levantou as mãos e juntou-as, como se fosse rezar.
Os outros três riram e voltaram a comer e conversar sobre qualquer outra coisa.





Capítulo 5

Emma parou o carro em frente ao restaurante tão conhecido.
a encarou um tanto quanto emburrado. Não queria descer do carro, não queria ver , não queria estar ali, não queria dar entrevista nenhuma, não queria falar da porcaria do atentado que sofrera, porém sabia e tinha certeza absoluta que não desistiria enquanto ele não contasse tudo nos mínimos detalhes.
— Vai logo, — Emma murmurou revirando os olhos. — Tenho mais o que fazer e você sabe.
— Não quero — ele respondeu parecendo uma criança mimada.
— Isso não importa mais, — ela revirou os olhos de novo. — Você já marcou e ela provavelmente já está chegando. Agora vai.
— Tá, tá — ele fez uma cara emburrada e, com a mão livre, abriu a porta do carro.
— Boa sorte — Emma gritou para , que revirou os olhos para ela.
Emma abriu mais um de seus impecáveis sorrisos e apontou para trás do rapaz, que girou o pescoço na direção apontada e logo pôde ver o carro de .
O rapaz bufou e Emma, sem tirar o sorriso dos lábios, arrancou com o carro deixando-o lá de vez e sem chances de desistir.
atravessou a rua e parou em frente ao restaurante enquando estacionava o carro.
Alguns segundos depois ela saiu do carro e ele deixou com que seu queixo caísse ao vê-la. Ela estava linda, sem mais.
vestia uma calça jeans skinny, uma blusa fina preta de mangas longas, um sobretudo vermelho e botas um tanto quanto longas de saltos finos e pretas, seus cabelos longos estavam soltos, a maquiagem não estava nem tão forte e nem tão fraca, mas era o suficiente para deixá-la ainda mais bonita.
engoliu seco quando ela se aproximou com um sorriso no canto dos lábios — os quais estavam vermelhos pelo batom e o deixando louco — e segurando sua bolsa com uma força um tanto quanto... fora do normal.
— Bom dia, — ela disse com a voz firme.
— Bom dia — ele respondeu com a voz baixa. Ainda estava sob o efeito de choque pela beleza extraordinária de que ele nunca notara.
— Vamos entrar? — ela perguntou fazendo um gesto com as mãos para apontar para a porta do restaurante.
— Vamos, claro — ele respondeu piscando algumas vezes e balançando a cabeça levemente para afastar os pensamentos maldosos sobre que insistiam em surgir em sua cabeça.
Tudo bem, . Ela pode ser gostosa. Mas é insuportável também, ele disse — em silêncio...? — para si mesmo.
Entraram no restaurante e fora direto para uma das mesas em silêncio, enquanto pedia o seu famoso café.
— Prometo ser rápida para não te atrasar — Ela disse assim que se sentou em frente à .
— Certo — ele respondeu e a encarou. — , por que exatamente você quer tanto essa entrevista? — ele perguntou, direto, fazendo-a levantar os olhos para ele e dar um sorriso debochado.
— A jornalista aqui sou eu, — ela respondeu e deu de ombros, sem tirar o sorriso dos lábios. O rapaz estreitou os olhos e abriu a boca para rebater, porém ela o cortou. — Vamos começar?
soltou um suspiro alto e não a respondeu, pois o garçom estava chegando com o que pedira. Ela sorriu para o garçom e deixou seus pensamentos voarem, ele já estava estressado, seu ombro latejava e ele não queria estar ali. Sua vontade era de se levantar, mandar todo mundo para a casa do caralho, sair dali e fumar o seu lindo maço de cigarro, que o esperava em seu bolso, em paz. lhe tirava toda a paciência que tinha — por mais que fosse pouca — somente com algumas palavras.
— Começa logo com isso antes que eu saia por aquela porta — ele apontou para a mesma — sem te dar entrevista nenhuma — finalizou encarando a mulher, que tomava seu café tranquilamente.
revirou os olhos e bufou. Ele realmente queria levantar dali e sair o mais rápido possível. E seria ótimo! ficaria sem ter o que falar em sua matéria. Mas algo estava segurando-o ali.
— Tá bom, senhor estressadinho — ela disse dando uma risada fraca e provocativa. Há tempos não o provocava, já estava quase se esquecendo de como era bom vê-lo bufar loucamente e ficar totalmente estressado a ponto de querer matar o primeiro que ver.
— Olha aqui, querida — ele começou, encurvando-se por cima da mesa em direção a garota —, vamos parar com isso, ok? Vamos começar logo essa merda antes que eu faça o que não posso e vá parar na cadeia.
Ela soltou uma gargalhada alta, fazendo-o estreitar os olhos. E, ainda com um sorriso provocante nos lábios, apoiou os dois cotovelos sobre a mesa, encurvou-se e apoiou o rosto entre as mãos, ficando cara-a-cara com .
— Claro, — ela murmurou, fazendo-o ficar com a respiração um bocado falha por culpa da proximidade entre os dois. Ela estava mexendo com ele fazendo aquilo tudo.
Ele suspirou e deixou seu corpo cair na cadeira novamente, seu ombro estava doendo mais ainda depois do esforço que fizera para apoiar-se na mesa.
— Não tenho o dia inteiro... — ele murmurou enquanto mexia em sua bolsa.
— Só estava terminando de pegar as coisas, — ela revirou os olhos e colocou o seu gravador, seu bloquinho de papel e caneta em cima da mesa. — Podemos?
— Quanto mais rápido melhor — ele suspirou.
— Então, recentemente você sofreu um atentado. Pode me dar alguns detalhes disso? — começou, falando séria.
mordeu o lábio inferior e suspirou. Não era acostumado com entrevistas, sempre deixava essa parte para ou Charlie.
— Bom... Eu saí da casa do Paul, levei a Emma em casa, e quando estava a, sei lá, uma ou duas ruas da minha casa, dois carros pretos começaram a me seguir. Eu achei estranho aqueles dois carros ficarem atrás de mim o tempo todo e já comecei a me preparar psicologicamente — ele deu uma risada fraca. — Aí os caras começaram a me cercar e bater no meu carro, quando eu consegui dar uma boa distância e liguei para a Emma, eles começaram a atirar. A Emma conseguiu entrar em contato com os outros e eles me enviaram ajuda. Eu, não sei como, consegui fazer uma manobra super louca, entrei na contra-mão mesmo e passei entre os dois carros. Eles destruíram o meu carro todo, era um Impala. Eu amava aquele carro! — ele deu um sorriso de canto enquanto ouvia tudo e ficava admirada com toda a história. — Aí, depois, como eles estavam com carros mais potentes, eles conseguiram me alcançar e deram mais tiros, e um deles resultou nisso — ele apontou para o ombro. — E, bem, logo eu consegui chegar onde todos estavam e lá eles trocaram tiros, eu fui pra um lugar um bocado mais afastado para ficar longe de toda a briga. Eu estava assustado, confesso. Nunca tinha sofrido nada parecido. Aí depois de um tempo a Emma veio para o meu carro e falou que tudo já estava bem.
— E o que aconteceu com os bandidos? — perguntou.
— Dois morreram e os outros dois estão presos — ele respondeu tranquilamente.
— E você tem alguma ideia de quem possa ter mandado fazer isso com você? — Ela soltou, fazendo-o estreitar os olhos como se estivesse pensando.
— Não, pior que não. Acho que... sei lá, ninguém tem motivo pra isso. Talvez algum bandidinho idiota, que já esteja preso, tenha deixado recadinhos para os amiguinhos aqui fora pedindo pra eles me pegarem. Sabe como é, sou o mais foda daqui. Todos me querem — ele disse num tom brincalhão fazendo-a soltar uma risada.
— E como você se sente? — Ela perguntou e ele a olhou estranho. — Digo... Você é tão cobiçado por todos os tipos de bandidos existentes aqui na grande Londres, desde os bandidos mais toscos e bobos até os bandidos da alta sosciedade, todos querem pegar você, acabar com você por ser tão inteligente e, por mais que demore às vezes, sempre pega quem é preciso. Como se sente em relação à isso?
— Eu me sinto... Sei lá como eu me sinto — ele respondeu rindo um pouco e fazendo-a sorrir por vê-lo um bocado mais a vontade. — Isso tudo é muito estranho. Eu passo na rua e sempre tem alguém que me reconhece e me olha estranho, e, agora, eu ando na rua e todo mundo que me encara eu penso que pode ser mais um louco a fim de me matar.
— E vocês pretendem correr atrás para ver quem mandou fazer isso com você?
— Bom, pretender até que pretendemos sim. Mas os dois caras que estão presos não querem abrir a boca. Aí dificulta. E nós temos coisas mais importantes para fazer e investigar.
— Entendi — ela mordeu o lábio e leu novamente seu bloquinho de papel a procura de novas perguntas. — Sobre os assassinatos que vêm acontecendo por aqui. Primeiro Owen Mangor, logo depois, o Paul Garred. Vocês já têm pistas, suspeitos ou qualquer coisa do tipo?
— Infelizmente não — ele contorceu a boca. — O cara está sendo bem esperto. Ele não deixa pistas. Só bilhetinhos idiotas.
— Bilhetes? — perguntou desconfiada e mordeu o lábio. — Pode divulgá-los?
— Sim, bilhetes. E, não, não posso divulgar nada sobre isso agora — ele respondeu calmamente.
— Tudo bem. Mas e as investigações? Como estão indo? Você está participando delas? — Ela disparou e ele ergueu uma das sobrancelhas, tentando pensar em tantas respostas, apesar de serem fáceis.
— As investigações estão indo bem, até. Todo mundo está colaborando, juntanto todas as pistas que conseguem, por menores que sejam. E, sim, apesar de estar com o ombro machucado, estou participando. Sou um dos chefes de equipe e não quero ficar de fora, apesar de poder. Não foi nada grave para eu ficar afastado — ele finalizou sua resposta, dando um meio sorriso.
— Bem... Acho que é isso — ela sorriu. — Muito obrigada, . Assim eu eu divulgar a entrevista eu dou um jeito de enviar pra você.
— Por nada e, ah, tudo bem. Não tenho pressa pra ver — ele estreitou os olhos e deu um sorriso de canto estranhando tudo aquilo. Estavam tendo uma conversa... Normal. Sem insultos, sem crises de ódio. Uma conversa... Civilizada.
olhou para o relógio em seu pulso e arregalou os olhos levemente. Já eram dez e quinze. Eles estavam ali desde às nove.
— Preciso ir — ela disse abrindo sua bolsa e pegando o dinheiro para pagar os cafés que consumira.
— Eu também — ele murmurou pegando o celular no bolso com certa dificuldade.
pagou o que devia e discou os números tão conhecidos.
— Emma? — ele murmurou. — Tem como você vir agora? Já acabamos e... — ele fez uma pausa. — Tá bom. Vou estar ali em frente te esperando. Não demora — ele finalizou soltando um suspiro e desligando o telefone em seguida. Estava se sentindo inútil de novo. Estava dependendo de alguém de novo. Odiava aquilo, odiava de verdade. O pior sentimento que existia, para ele, sempre fora a maldita inutilidade. Detestava ficar incapacitado, dependendo de alguém, detestava com todas as suas forças.

se levantou em silêncio e saiu andando, fazendo-o acordar para a vida. Tinha que sair também.
Levantou-se um tanto quanto apressado e sentiu seu ombro arder, mordeu o lábio inferior com força e voltou a andar sem se importar com o ombro latejando. Aquilo também estava o deixando irritado.
se encostou numa parede qualquer e apoiou uma das pernas nela. Com a mão livre, foi até o bolso e pegou seu cigarro e isqueiro, levou o cigarro até os lábios e o acendeu rapidamente, dando uma tragada profunda e soltando a fumaça em seguida. Sentia falta de fumar, por mais que não pudesse. Mas não havia ninguém ali para o impedir, certo? Ele queria mais que os remédios para dor que estava tomando fossem para o inferno.
notou que o carro de passava em sua frente e, de repente, foi como se tudo ficasse em câmera lenta: deixou seus lábios curvarem-se em um sorriso um tanto quanto malicioso, seus cabelos voando dentro do carro por conta da janela aberta e, debochadamente, levantou a mão direita e acenou para , deixando-o perdido por uns segundos. Até para dar um tchau ela conseguia ser... Gostosa.
fechou os olhos com força e os esfregou, logo abrindo-os em seguida e nem sombra de mais havia ali. Estava se sentindo irritado com tudo o que pensara sobre naquela manhã, ela não podia estar bonita daquele jeito! Ela não podia ser daquele jeito! Ela não podia deixá-lo daquele jeito! Ele era e ela era ! Sempre se detestaram. Impossível ela fazer aquilo com ele. Impossível!
Afastou todos aqueles malditos pensamentos da cabeça e olhou em direção ao som tão conhecido da buzina do carro de Emma, caminhou rapidamente até o outro lado da rua — onde ela estacionara — e abriu a porta do carro, entrando e batendo-a com força em seguida. Estava irritado consigo mesmo.

— Demorei tanto assim? — Emma perguntou arrancando com o carro.
— Não — respondeu olhando para frente.
— O que aconteceu? Brigaram de novo?
— Não. Justamente isso, nós não brigamos. Não trocamos indiretas debochadas. Foi tudo na paz — ele respondeu ainda encarando o nada.
— Então... — ela mordeu o lábio, procurando palavras.
— Não é nada — ele a interrompeu. — Eu tô estressado. Não aguento mais isso no meu ombro, não aguento mais ficar trabalhando, não aguento mais estar sendo um inútil que depende de você o tempo todo. E, ah, eu quero fumar.
! — Emma exclamou entre os dentes. — Sossegue. Você não é um inútil. E eu quero te ajudar, eu me ofereci. Dá pra parar de cismas agora? — Ela o olhou de relance. — E você não vai fumar de novo.
Ele se virou para encará-la.
— Você viu? — ele perguntou estreitando os olhos.
— Não — ela deu de ombros. — E você está confessando que fumou, ? — ela segurou uma risada.
— Estou — ele revirou os olhos. — Eu nunca consigo esconder nada de você. E o que tem demais eu fumar enquanto tomo remédios? Já ouvi falar que beber e tomar remédios não dá certo. Agora fumar...
— Você está com cheiro de cigarro — ela disse fungando e soltando uma risada fraca, fazendo-o a olhar estranho, como se não entendesse nada. — E fumar vai acabar com você. Tô falando.
— Tanto faz — ele bufou e se virou para frente novamente.
— E, — ela se virou para ele já que estavam parados devido ao sinal —, por que você não pediu para se recuperar em casa?
— Porque... Sei lá. Eu quero pegar logo quem está fazendo isso. E eu não queria ficar por fora de nada. E foi só um tirozinho de nada, logo isso melhora. O médico mesmo disse — ele respondeu simplesmente.
— Pede pelo menos um dia de folga. Prometo deixar tudo em ordem pra você — ela disse preocupada e voltando a atenção para as ruas.
— Relaxa. Estou bem.
— Não está — ela revirou os olhos.
— Certo, não estou. Mas isso vai melhorar logo — ele deu de ombros levemente.
— Você tem que descansar — ela disse parando o carro em sua vaga em frente ao prédio que deveriam entrar.
— Eu vou descansar, prometo — ele sorriu e ela desligou o carro.
— Assim espero. Quero você esperto nesses casos — ela abriu um sorriso sincero.
— Sim, senhora! — ele exclamou fazendo pose de soldado.
Saíram do carro ainda conversando e entraram no prédio cumprimentando todos. Entraram no elevador e Emma apertara os devidos botões.
— Posso pedir uma coisa? — ele perguntou ficando de frente para Emma.
Só havia eles dois naquele elevador. E aquilo estava indo devagar demais... Dando uma ideia um tanto quanto... Provocante à .
— Peça — ela sorriu, inocentemente.
— Me beija? — ele sussurrou bem próximo à ela. Ele precisava de outra mulher e esquecer da imagem linda de que vira mais cedo.
Emma engoliu seco.
... — ela tentou falar mas ele a interrompeu pousando seus lábios sobre os dela. Contornou os lábios da mulher com a lígua, fazendo-a suspirar e ceder logo em seguida.
Emma levantou uma das mãos e pousou-a na nuca de . Ele, com a única mão livre, puxou-a pela cintura colando seus corpos. pretendia continuar ali e fazer sabe-se lá o que dentro daquele elevador com Emma, mas o barulho irritante que o elevador fez avisando-os que chegaram onde queriam atrapalhou seus planos, fazendo-os se afastar rapidamente e disfarçar já que haviam outras pessoas por ali.
— Você tem que parar com isso — ela soltou um suspiro fraco.
— Tenho? — ele perguntou desentendido e com um sorriso maldoso nos lábios.
— Tem — ela se virou para ele, parando no meio do corredor. — Promete que não vai ficar me agarrando por aqui?
— Não — ele revirou os olhos. — Por que você não pode me pedir pra prometer algo mais fácil?
— Sabia que não ia demorar pra você voltar ao normal — ela revirou os olhos e deu um meio sorriso. Ela gostava daquele jeito de .
— É? — ele mordeu o lábio inferior e se aproximou, porém ela o parou pelo peito.
— Estamos no meio do corredor, — ela disse e ele tentou protestar. — Eu já disse, eu comando, bonitinho. E nós vamos agora ver o que Charlie quer.
— Por que você faz isso comigo? — ele perguntou estreitando os olhos. — Só porque você é a loira dos olhos claros hipnotizantes e gostosa com seus trinta e poucos? Isso é maldade, Emma.
— Babaca — ela soltou uma gargalhada. — Não sei porque sou sua amiga, sério. Você não presta.
— Você me ama que eu sei — ele disse piscando um dos olhos. — E você não é minha amiga. É a minha melhor amiga colorida.
— Se fode, — ela riu mais uma vez e deu duas batidas na porta da sala de Charlie.
— Só se for contigo, rawr — ele disse fazendo um som de tigre – ou leão, vai saber – com a boca e soltando uma gargalhada em seguida.
— Idiota — ela disse entrando na sala, já que Charlie abrira a porta. — Olá, Char.
— Olá, Emma — ele sorriu para a mulher e se virou para . — E aí, como vai, ?
— Bem — ele respondeu sorrindo e sentando-se ao lado de Emma. — E o que aconteceu?
— Bem... — Charlie fechou a porta e se sentou. — Pegaram o David — ele fechou os olhos e suspirou.
— O que? — Emma e gritaram juntos.





Capítulo 6

O rapaz de cabelos claros se remexeu na cadeira novamente. Queria sair dali, queria gritar, queria chamar por seu pai e seus amigos, queria tudo. Menos morrer. E ele sabia que isso aconteceria se ele não agisse rápido, se ele não pensasse rápido da forma que fora ensinado, treinado, por seu pai e os outros mais velhos da polícia.
Olhou para os homens que conversavam do outro lado do "salão" e suspirou. Ele tinha que ser mais rápido do que pensara. Tinha que conseguir apenas alguns segundos de diferença, talvez, e ele salvaria sua vida e entregaria o desgraçado que está destruindo e assustando toda a Londres. Agora, se ele realmente ia conseguir aquilo, nem ele mesmo sabia.
Fechou os olhos por dois segundos e respirou o mais fundo que conseguiu. Tinha que ser discreto e observador mais do que nunca.
David fechou as mãos com força e puxou os braços, logo mordeu o lábio inferior com força. Estava amarrado com vários nós, provavelmente. Porém não se importou, só queria soltar seus braços e seus pés para sair dali vivo. Ferraria com a vida desses caras se conseguisse sair de lá. E seu pai ia adorar saber quem está por trás disso tudo.
David puxou o braço novamente, abafando um gemido de dor. Sentia seus pulsos começarem a arder, sentia que logo, logo, os cortariam. Mas quem liga pra alguns malditos cortes nos pulsos quando se é para salvar a própria vida? Ele que não.
Tentou de novo. E de novo. De novo. Mais uma vez. Nada. As cordas estavam apertadas demais e seus pulsos, com certeza, já estavam cortados e o desespero tomava conta de seu corpo, o medo lhe invadia. O fazia tremer e querer chorar. Ele sentia que a morte estava próxima. Sentia que não iria aguentar, se não fosse assassinado ali, morreria por si só; puxaria seus pulsos até que os cortasse e perdesse bastante sangue. Era, de fato, impossível soltar àquelas cordas.
****

— Se esses caras matarem o David... — Charlie começou e logo o interrompeu.
— Eles não vão matar o David, droga!
— Você não tem certeza de nada, ! — Charlie rebateu.
— Eles não vão matar o filho do chefe. Eles querem nos dar um susto! E nós nem sabemos se são as mesmas pessoas que estão matando por aí — praticamente gritou.
— Parem vocês dois! — Emma disse alto e se levantando. — De que vai adiantar brigarmos agora? Foda-se se são as mesmas pessoas ou não — ela olhou para e depois voltou o olhar para Charlie. — Sabemos o quanto é difícil, Char. Você tem que se controlar! Nós vamos dar um jeito nisso, caramba! Só precisamos agir com calma. Qualquer passo em falso pode custar a vida de David.
— Claro, e qual será o primeiro passo, querida Emma? — perguntou, pela primeira vez naquele dia, irônico.
— Cadê o bilhete, Char? — ela ignorou e se virou para o chefe. — Ele deixou um maldito bilhete, não foi? — Ela perguntou, mais alto, para atrair mais atenção do chefe.
— Aqui — Charlie disse suspirando e jogando o papel amaçado em cima da mulher, que engoliu seco assim que o abriu.
— Você leu isso, ? — ela perguntou mordendo o lábio inferior.
— Não — respondeu, revirando os olhos. — Leia em voz alta.
— Acho melhor não... — ela olhou para Charlie de relance.
— Leia, Emma — Charlie se meteu. — Eu já li e reli isso aí trezentas vezes.
Emma respirou fundo e encarou papel em suas mãos, olhou para os dois homens presentes e começou:
— "Eu avisei, bonitinhos. Estou de volta. Primeiro a linda Owen Mangor, depois o querido revisor da senhorita ... E, bom, chegou a hora de outro de vocês – já que o nosso querido continua entre nós. Acho que agora vocês podem me levar à sério, não é mesmo?" — Emma finalizou, respirando fundo.
Estava, de fato, com medo. E não era a única.
****

David sentia a corda ficando mais frouxa em seus braços, e sentia também o sangue escorrer por seus pulsos. Sabia que aquilo aconteceria mas não se importava, queria dar um jeito de soltar as mãos, assim ele conseguiria fugir... Ou não. Tudo ali girava em torno das possibilidades, fossem elas mínimas ou não. Ele teria que arriscar de qualquer forma para não se arrepender depois, para não dizerem depois — caso ele morresse sem arriscar — que ele nem sequer lutou por sua vida. Tudo bem que quem quer que fosse dizer isso, não teria uma prova viva de que ele não lutara, já que não havia mais ninguém ali além dele, os três velhos — muito conhecidos, até, e não só por ele — e o outro rapaz, talvez empregado deles, talvez o mandante de tudo... enfim. Seja lá o que forem, são quatro imbecís. Ou nem tanto. Certo, eles são inteligentes o suficiente para mantê-lo ali. Mas ainda assim, imbecís. Idiotas. Eles serão pegos cedo ou mais tarde, ainda mais depois de sequestrar o filho do chefe dos chefes da polícia! David morrendo ou não, Charlie vai preparar sua melhor equipe para tratar desses homens idiotas que, além de sequestrá-lo, mataram pessoas importantes na sociedade inglesa. E, com certeza, se não os pegarem agora, eles irão continuar e matar pessoas mais importantes ainda. Basta pagar para ver e juntar as peças do quebra-cabeça erradas. Mas acho que, para a equipe que Charlie montar, isso será impossível.
David balançou a cabeça levemente e encarou os homens do outro lado, que ainda conversavam. Teria tempo... Se as cordas não fossem tão apertadas e ele não estivesse perdendo mais tempo que deveria com aquilo.
Em um movimento rápido e muito doloroso — só para frisar — David conseguiu romper as cordas, ganhando um corte maior e mais fundo no pulso direito de brinde, mas isso não foi o pior; O pior foi o gemido que ele não conseguiu segurar por conta da dor, atraindo os olhares dos homens.
— Droga — ele murmurou e fechou os olhos, abrindo-os dois segundos depois. Numa rapidez mais que incrível, ele soltou os braços da corda, e pôde ver o quanto estava machucado. Mas não se importou. Tinha que correr e ir para um lugar mais seguro e se proteger das balas que provavelmente sairão das armas carregadas dos homens que corriam em sua direção.
David por sorte conseguiu soltar seus pés também e correu para um lugar um tanto quanto mais distante de onde os homens estavam, ainda no salão.
David se jogou atrás de umas tralhas quaisquer que estavam por lá, para se proteger dos tiros e procurou com os olhos, desesperado, por qualquer coisa que pudesse se defender, qualquer coisa. Mas parecia que eles já sabiam que aquilo poderia acontecer e tiraram qualquer coisa de lá.
****

, Emma e Charlie sentiam suas cabeças doerem de tanto que tentaram pensar; pensar em quem poderia fazer aquilo; pra onde poderiam levar David; o que poderiam fazer; o que estavam fazendo.
Duas batidas na porta foram ouvidas.
— 'Tá aberta — Charlie disse num tom alto o suficiente para a pessoa do outro lado ouvir.
— Estão ocupados demais? — perguntou botando somente a cabeça para dentro da sala.
— Não, entra aí — Charlie respondeu e suspirou.
— Bom... Notícias... Sobre o David — murmurou fechando os olhos.
— Ah, Deus, fale logo — Emma se levantou para se virar para o rapaz de cabelos bagunçados e olhos fundos; não dormira a noite inteira e trabalhara o dia inteiro.
— Eu... — ele engoliu seco e soltou um suspiro pesado. — Não sei como falar isso.
— Não enrola mais, murmurou, em choque. Ele já sabia o que era. Só queria ouvir da boca do melhor amigo para ter certeza.
— Mataram ele — disse de cabeça abaixa.
Emma levou uma das mãos à boca com os olhos lacrimejantes, já , apenas trincou os dentes com força, tentando segurar qualquer lágrima que pensasse em cair de seus olhos. Já Charlie tinha as mãos fechadas com força, os olhos fixos nos papéis em cima da mesa e seus olhos estavam... arregalados. Talvez arregalados pelo horror por notar, finalmente, que esse tal assassino não está de brincadeira ou talvez pelo susto de notar que perdera mais uma pessoa.
— Eu quero a melhor equipe pra isso — Charlie disse se levantando e secando os olhos com as costas das mãos, já que as lágrimas rolaram. — E eu vou escolher — ele continuou ao notar que falaria algo. — Quero os melhores investigadores, melhores policiais, melhores peritos, os melhores em tudo. Quem matou o meu filho vai pagar por isso — ele fez uma pausa e encarou todos presentes naquela sala dando um sorriso de canto (o qual qualquer um julgaria diabólico) e finalizou: — Nem que seja com a própria vida.
E que comece o jogo.
****

— Eu já escolhi quem fará parte dessa nova equipe — disse Charlie para Emma que terminava de analisar alguns papéis.
— Charlie... — ela começou, deixando os papéis de lado — Espera um tempo. Depois você começa isso.
— Eu não quero esperar. Alguém tem que dar um jeito em quem está fazendo isso, Emma — ele suspirou. — Hoje foi o meu filho, amanhã pode ser um de vocês, depois de amanhã pode ser uma outra pessoa importante. Está todo mundo em perigo agora. Ele matou o David — Charlie deu uma pausa e engoliu seco — para nos mostrar do que é capaz. E eu não quero mais pessoas morram agora, tudo bem?
— Eu entendo você — ela suspirou e se levantou. — Mas não deixa isso subir a cabeça. Não faça besteiras.
— Não farei — ele murmurou dando um sorriso fraco. — E, Emma, entre em contato com .
— Pra que? — a loura perguntou arqueando uma das sobrancelhas.
— Precisaremos dela — ele respondeu simplesmente.
— Mas...
— Sem questionar, por favor. Só peça para ela entrar em contato comigo o mais rápido possível — ele finalizou e saiu da sala deixando Emma totalmente confusa.
Emma soltou um suspiro pesado e pegou o telefone, falaria logo com antes que aparecesse mais trabalho.
****

— Ele tentou correr — murmurou encarando o chão do salão abandonado.
— É, notei — respondeu suspirando. Aquilo ali não era bem sua especialidade, mas estava na cara que David havia tentado correr. — Eu só queria entender uma coisa: por que diabos eles mandaram o endereço de onde estava o corpo se a intenção deles era, sei lá, ficar com o David por um tempo?
— Eu não sei — suspirou. — Sinceramente, não sei. É estranho a forma deles agirem. Eles mandam bilhetes, nos dão o endereço do corpo quando está muito longe de nós, nos mostram fotos das armas usadas... Eu acho que eles querem ser pegos, isso sim.
— Ou fazer a gente acreditar nisso e nos pegar — encarou o amigo que tinha os olhos presos no nada, como se estivesse refletindo sobre o que acabara de falar.
— Talvez — murmurou suspirando. — Posso mandar levarem logo o corpo? Quero dar uma olhada.
— Claro — respondeu dando uma risada fraca. tinha essa mania. Não importava quem havia morrido, ele sempre queria observar os corpos mais de perto em seu laboratório com alguns outros especialistas, o contrário de que preferia não olhar os corpos quando eram de conhecidos.
****

— O que Charlie Raymond quer comigo? — Perguntou piscando algumas vezes e ajeitando o telefone em seu ombro, enquanto mexia em alguns papéis.
Eu não faço ideia. Ele apenas pediu para que eu entrasse com contato com você o mais rápido possível — Emma respondeu do outro lado da linha.
— Passarei aí amanhã cedo, então.
Não tem como vir ainda hoje, ? — Emma pediu, tensa.
— Mas o que diabos é tão importante assim? Eu tenho que terminar minhas matérias pendentes, Emma! — suspirou, largando os papéis de lado e dando mais atenção à mulher ao telefone.
, por favor, eu acho que a conversa de vocês não irá demorar tanto assim. Só preciso que apareça aqui e fale logo com ele, porque nem eu mesma sei o que ele quer falar com você.
— Tudo bem, tudo bem — suspirou. — Me dê pelo menos duas horas.
Certo! Obrigada, . E desculpa te perturbar tanto — Emma pediu dando uma risada fraca.
— Relaxe. Até mais.
Até, .
desligou o telefone e encarou a mesa. O que diabos Charlie queria com ela de tão importante?
Bufou e balançou a cabeça negativamente, tinha muita coisa para fazer invés de ficar se preocupando com o que Charlie queria.
— E vamos ao trabalho — murmurou para si mesma e, logo, voltou a mexer em seus papéis.




Capítulo 7

observava o corpo a sua frente.
— David, pobre David. — Murmurou enquanto colocava as luvas para tocar o corpo. Ele ficara responsável pelo corpo até a hora do enterro.
? — ele ouviu a voz de Emma chamar e se virou para a porta.
— Ei, Emma — ele deu um meio sorriso e a mulher entrou na sala, soltando um suspiro pesado.
— Depois do enterro... Charlie quer conversar com a gente — ela deu de ombros. — Você sabe que ele cismou de criar a tal "equipe especial" — ela fez aspas com as mãos — e nós estaremos nela, como já era de se esperar e... Ele quer todos nós lá, ele vai apresentar o resto do pessoal e pediu para eu avisar à todos — ela revirou os olhos. Estava cansada.
— Certo — suspirou. — Vou terminar de checar o corpo e já libero, ok?
— Ok. Faça isso com calma — ela pediu dando uma risada fraca.
balançou a cabeça negativamente com um sorriso torto nos lábios.
Soltou um suspiro pesado e começou, tinha muito trabalho para fazer.

****

— Não podemos ir no policial de novo — disse a mulher, soltando a fumaça do cigarro. — Eles vão desconfiar e vão nos pegar.
— Nos pegar eles não vão — o mais velho disse dando um meio sorriso. — Nosso rapaz é inteligente. Ele pensou em tudo.
— Pensou, claro que pensou! — a mulher revirou os olhos. — Pensou em tudo o que será bom para ele! Não para nós! — ela se levantou e apagou o cigarro de qualquer jeito na mesa antiga. — Vocês sabem porque ele está fazendo isso tudo e porque está nos ajudando. Ele pensou somente nele. Não vamos em cima do policial de novo. Não podemos!
— Concordo com ela — um dos outros homens se manifestou. — Estamos nessa pelo dinheiro. E, para ele, é fácil se livrar de qualquer tipo de ameaça ou coisa do tipo. E para nós? Se formos no policial de novo vamos ser pegos. Se formos direto para a outra vítima, será mais fácil de correr. Todos ficarão tontos. Principalmente se formos amanhã mesmo. Estão todos perdidos devido a morte do filho do Raymond.
Ficaram cerca de uma hora debatendo e vendo a pequena "lista de vítimas" que tinham. Porém precisavam do velho Robert Castellamare, ele comandava ali na ausência de seu sobrinho. Mas nenhum dos dois apareciam, provavelmente o sobrinho de Castellamare estava no tabalho e se ele realmente estava trabalhando, não sairia de lá sem nenhuma pista... Mas... Castellamare. Niguém fazia a menor ideia de onde ele poderia estar. Talvez investigando mais ou se fazendo de velho inocente e bonzinho... Ah, eram hipóteses demais para eles ficarem se martelando com aquilo.
— Tenta falar com um deles, Lucy — um dos homens disse para a única mulher do grupo.
— Se eu ligar para o pequeno Castellamare agora, do celular que eu estou aqui, ele me mata, Jesse — ela respondeu mordendo o lábio e encarando o teto, como se estivesse pensando.
— Então, certo, fiquem se matando. Eu tenho mais o que fazer — disse o outro homem.
— Você não vai a lugar nenhum! — Lucy disse em um tom mais alto.
— Lucy, pelo amor de Deus, eu não aguento mais ficar trancafiado nisso aqui — ele revirou os olhos. — E, de qualquer forma, eu não tenho que obedecer você, bonitinha — ele deu um sorriso debochado e se virou em direção a porta.
— James! — ela gritou e recebeu apenas o famoso "dedo do meio" em resposta.
Tinham coisas importantes para resolver e esse tal James sempre fugindo das "responsabilidades" dele. Ele tinha que ir embora dali. Estava dando trabalho... Muito trabalho. E, bem, de trabalho eles já estavam cheios.

****

(Coloquem para carregar: Skyscraper, Demi Lovato, quando eu avisar, deem play! E desculpe colocar Demi, sei que nem todo mundo gosta, mas a música encaixou bastante hahaha)

— Terminou, ? — Emma perguntou voltando ao laboratório.
— Sim, já estava indo te avisar — ele respondeu tranquilamente.
— Ok — ela suspirou. — Vou avisar a Charlie. Ele já quer arrumar as coisas para o enterro, não quer esperar mais. Quer começar tudo logo.
— Ele 'tá mal — mordeu o lábio e tapou o corpo de David com o lençol branco.
— É. Vamos? — ela tentou sorrir e estendeu a mão para o rapaz, que sorriu de volta e arrancou as luvas para segurar sua mão.
— Vamos.
Caminharam calmamente até a sala de Charlie, onde ele conversava com .
— Terminou, ? — Charlie perguntou, secando as lágrimas que deixara cair enquanto falava com Pirtchard, que continuava com os dentes trincados para se segurar. não era muito do tipo que chorava na frente dos outros, mesmo tendo perdido alguém como David, que era um bom amigo apesar de sempre concordar com Emma. E era o mais novo entre eles. Faria falta.
— Terminei — respondeu.
— Eu já arrumei tudo e já comuniquei a todos que farei o enterro hoje mesmo — Charlie fungou. — Quanto antes melhor. Vão para casa e voltem em uma hora — ele finalizou e saiu de sua sala sem se importar com os três lá.
— É melhor nem contrariar — Emma murmurou saindo da sala e sem esperar resposta dos dois amigos.
— Vamos lá — disse bagunçando os cabelos de e o puxando pelo braço.
— Quem fez isso vai pagar, disse fechando os olhos por uns segundos. — E caro.
— Relaxa, . Vai em casa, toma aquele banho e volta arrumado. Te vejo daqui a uma hora — murmurou e saiu do local de vez, deixando sozinho, que fechou a mão esquerda com força e socou a parede. Ele se sentia inútil... De novo.
Balançou a cabeça negativamente e saiu com raiva. Não olhou na cara de ninguém, não falou com ninguém... Porém se lembrou que ainda estava sem carro.
— Ah, foda-se — murmurou já no meio da rua e pegou o celular para ligar para um táxi.
Não demorou muito e o táxi chegou.

explicou o caminho ao motorista e afundou no banco de trás. Estava cansado. Não dormia direito há dias, seu ombro latejava um pouco, mas já estava bem melhor e pretendia tirar a tipóia do ombro ele estando bom o suficiente ou não. Tudo estava o deixando irritado, absolutamente tudo.
Ao chegar em frente seu prédio, pagou ao motorista e saiu do táxi sem nem sequer esperar o troco. O motorista esperou alguns segundos e ao notar que não voltaria, arrancou com o carro.
entrou em seu apartamente o mais rápido que conseguiu, e só ali ele notou o quanto aquilo estava bagunçado. Mas não se importava, com bagunça ele estava mais que acostumado, principalmente com a bagunça de sua vida. Não seria com a de seu apartamento que ele iria se importar.
Correu para o banheiro e tirou a tipóia do ombro, em movimentos lentos puxou a camisa para cima, movimentos bruscos ainda doíam. Observou seu ombro no espelho e mordeu o lábio inferior ao puxar o curativo que havia ali, o machucado já estava melhor já que não fora um tiro tão profundo assim.
Terminou de tirar as roupas e abriu a porta no box com pressa, já sentia o frio tomar conta de seu corpo. Ligou o chuveiro no quente e entrou debaixo d'água, fechou os olhos e se deixou levar com aquela água quente relaxante, como se junto com ela fosse todos os seus sentimentos ruins para o ralo. E, então, depois de uns minutos, sentiu seus olhos arderem. Ele estava, finalmente, chorando. Colocando para fora a raiva que sentia de si, o medo de ser o próximo a morrer, o medo de perder mais alguém como David, o medo de fracassar de novo, o medo de se sentir um completo inútil de vez, o medo de tudo. Ele estava simplesmente... Colocando tudo pra fora sem se importar com o que iriam pensar se o vissem daquela forma tão vulnerável a tudo.
Desligou o chuveiro e puxou a toalha, se secou o mais rápido que conseguiu — já que alguns movimentos lhe causavam um bocado de dor ainda e o frio o atrapalhava a agir tão rápido, também — e vestiu a calça. Se voltou para o espelho e encarou seu ombro, teria que fazer um curativo. E sozinho.
Respirou fundo e começou.
Depois de alguns minutos ele conseguiu terminar, ficara um bocado torto, claro, ele não tem tanto controle assim com a mão esquerda e normalmente Emma fazia aquilo para ele.
Após terminar, vestiu sua camisa branca social e colocou o blazer preto por cima. Se olhou no espelho novamente para chegar as roupas; calça social preta estava normal, pelo menos aquela ele não tinha largado toda amassada pelo seu armário...; a camisa branca; o blazer; tudo certo.
Pegou a toalha e tentou secar os cabelos rápido, o que foi meio impossível.
Bufou e voltou para frente do espelho, tentando dar um jeito naquilo que ele chamava de cabelo. E, no fim, ficou tudo certo. Correu para a sala e calçou os sapatos.
Deu uma última checada nas coisas e pegou o celular em cima da mesa, ligaria para Emma.

— Hey, Emma — ele começou quando ela atendeu.
Diga, .
— Tem como vir me buscar? — ele perguntou sem jeito. — É que eu acho melhor chegar lá com você... Não quero ir pra lá sozinho — ele revirou os olhos. — E até o táxi chegar eu vou me atrasar...
Ok, relaxe — ela deu uma risada fraca. — Chego aí em dez minutos. Até.
— Até. — Ele murmurou e desligou o celular. Ainda estava pensando qual seria sua reação na sua última despedida do amigo.
Sentou no sofá e fechou os olhos tentando se acalmar. Não poderia ser pego tendo uma crise nostálgica a ponto de chorar. Mas era impossível não se sentir deprimido com toda aquela situação. David era um ótimo rapaz... Era engraçado, bonito — isso ninguém podia negar —, inteligente... Os momentos que passara com ele podem ser considerados os melhores desde que fora morar em Londres.
Dez minutos se passaram e ouviu sua campainha tocar. Abriu os olhos assustado e se levantou.
— Oi — Emma murmurou com um sorriso doce dos lábios. — Não irão te reconhecer quando chegarmos lá...
— Por que? — ele perguntou confuso e fechando a porta.
— Você está arrumado — ela respondeu como se fosse óbvio.
— Vou fingir que você não disse que eu não me arrumo nos outros dias, tá legal? — ele revirou os olhos e a mulher deu uma risada fraca.
Fizeram o caminho direto para o cemitério, conversaram pouco. Não tinha o que conversar numa hora daquelas.
Emma parou o carro e respirou fundo.
— Não fica longe de mim, tá? — ela pediu encarando o amigo no outro banco.
— Relaxa. Vou estar o tempo inteiro com você — ele tentou sorrir e ela respirou fundo novamente.
— Pronto?
— Pronto — ele respirou o mais fundo que conseguiu e abriu a porta do carro.

(N/A: Deem play na música!)


Ao saírem do carro, tudo parecia ter ficado em câmera lenta por uns segundos. Charlie estava abraçado à namorada de David, que chorava desesperadamente. estava ao lado, tentando consolar alguns dos parentes do rapaz que ele já conhecia, Charlie tentava ficar forte... Porém não conseguia. Não demorou muito para as lágrimas começarem a rolar pelo seu rosto livremente.
Emma apertou a mão de , que apenas abaixou a cabeça e continuou andando até onde todos os outros estavam. Ele não sabia o que fazer ou o que falar. E Emma parecia estar na mesma situação.

Skies are crying, I am watching, catching teardrops in my hands. Only silence has it’s ending... Like we never had a chance. Do you have to make me feel like there’s nothing left of me?
(Os céus estão chorando, eu estou assistindo, pegando as lágrimas em minhas mãos. Somente silêncio tem o seu fim... Como se nunca tivéssemos tido uma chance. Você tem que me fazer sentir como se não restasse mais nada para mim?)


Se aproximaram de Charlie, que deu um meio sorriso para os dois. Emma, sem se segurar muito, puxou Charlie para um abraço forte. permaneceu parado, estava tentando não entrar naquele clima todo e começar a chorar também.
— Hey, Char — ele murmurou e abraçou o chefe. — Vai ficar tudo bem — ele se afastou um pouco e segurou os ombros do homem em sua frente, o encarando nos olhos. — A gente vai pegar quem fez isso.
— Eu sei que vamos — ele murmurou com a voz falha.
tentou sorrir e se afastou de Charlie, deixando que os parentes o consolassem. Olhou em volta e todos estavam quietos, sentados olhando para o nada, chorando...

You can take everything I have, you can break everything I am like I’m made of glass, like I’m made of paper! Go on and try to tear me down! I will be rising from the ground like a skyscraper... Like a skyscraper.
(Você pode pegar tudo o que eu tenho, você pode quebrar tudo o que eu sou como se eu fosse feita de vidro, como se eu fosse feita de papel! Vá em frente e tente me derrubar eu vou me levantar do chão como um arranha-céu... Como um arranha-céu)


soltou um suspiro pesado e andou até o caixão. Não havia nada melhor para fazer, certo? E era sua última despedida!
Encarou o corpo pálido de David naquele maldito caixão, sentiu o maldito nó na garganta voltar e suspirou. David não merecia aquilo! Quem começou com isso só pode ser alguém sem coração. Um monstro, talvez. Ou algo pior que isso. Um demônio, quem sabe. sentia raiva de quem estava fazendo tudo aquilo, mesmo não sabendo quem era. Sentia todos os tipos de sentimentos ruins por essa pessoa e seus cúmplices, é óbvio. E os pegaria. Em nome de David ele pegaria todos esses infelizes e acabaria com eles. Nem que isso custasse sua vida. Era seu trabalho, não era? Ele não era um bombeiro, mas era um policial! E policiais protegem as pessoas, certo? É, certo! E ele protegeria todos que estavam a sua volta — pelo menos todos que ele amava, não que fossem muitos, mas... — e jogaria esses idiotas na cadeia, isso se não os matasse!
piscou algumas vezes e desviou os olhos do corpo do rapaz. Sentiu alguém tocar seu ombro e mordeu o lábio, encarando a pessoa.

As the smoke clears I awaken and untangle you from me. Would it make you feel better to watch me while I bleed? All my windows, still are broken... But I’m standing on my feet.
(Enquanto a fumaça se dissipa eu acordo e desembaraço você de mim. Você se sentiria melhor assistindo enquanto eu sangro? Todas as minhas janelas ainda estão quebradas... Mas eu ainda estou de pé)


— Vamos. Vai ser agora. Charlie quer acabar logo com isso — Emma disse baixo.
— Certo... — respondeu no mesmo tom, deu uma última olhada para o corpo do amigo e se virou para caminhar ao lado de Emma, que ainda chorava um pouco.
Foram caminhando pelo cemitério um tanto quanto afastados dos outros e dos que levavam o caixão. Charlie o enterraria ao lado da mãe, para ele era como se eles fossem ficar juntos para sempre, dessa vez. E ele já dissera para todos que quando morrer, quer ser enterrado ao lado de um deles.

You can take everything I have, you can break everything I am like I’m made of glass, like I’m made of paper! Go on and try to tear me down! I will be rising from the ground like a skyscraper... Like a skyscraper...
(Você pode pegar tudo o que eu tenho, você pode quebrar tudo o que eu sou como se eu fosse feita de vidro, como se eu fosse feita de papel! Vá em frente e tente me derrubar eu vou me levantar do chão como um arranha-céu... Como um arranha-céu...)


Fora a parte mais dolorida de todas. Todos estavam em volta enquanto colocavam David no maldito buraco. continuou afastado de todos e, desta vez, sozinho. Emma preferira ficar perto do chefe. Ela e , o contrário de , não sentiam medo ou vergonha de chorar na frente das pessoas. Eles não tinhal essa "loucura" de que se os visssem chorando eles perderiam o respeito ou algo do tipo. era um idiota em certas horas. Mas, claro, por serem amigos dele, o entendiam. Ele já sofrera muito tempos atrás, já chorara demais e simplesmente estava cansado dessa coisa toda; cansado de chorar na frente dos outros; cansado de ser fraco em certas horas; cansado de perder as pessoas que amava. Estava sendo tão difícil para ele quanto para os outros, por mais que ele não demonstrasse. Porém, é claro, a dor maior de todas ali era a de Charlie.

****

Estavam na saída do cemitério. A única coisa que todos ali queriam era ir para casa, tomar um bom banho quente e voltar ao trabalho, talvez.
— Vamos para o prédio. — Charlie disse passando pelo grupo dos três amigos.
— O que? — Emma perguntou. — Charlie, pelo amor de Deus!
— Eu já disse que é para voltarmos. Temos umas coisas para resolver e... — Charlie fora interrompido pelo seu celular. Puxou o aparelho do bolso e deu um sorriso de canto. — Fale!
Ei, Raymond. Já estou no prédio. — A voz do outro lado disse, fazendo Charlie alargar mais seu sorriso.
— Chegamos aí em vinte minutos — ele disse e desligou o celular sem esperar resposta. — Vão ficar aí parados olhando pra minha cara?
— Charlie, nos dê uns minutos para irmos... — tentou falar, porém Charlie fez um sinal para que ele se calasse.
— Já disse que é para voltarmos para o prédio. Pessoas importantes nos esperam.
— Mas que droga de pessoas importantes? — perguntou bufando e Charlie o olhou feio.
— Se ficarem aí parados, não saberão. Se virem comigo, saberão. E aí? — Charlie disse já sentindo sua paciência se esgotar.
Os três amigos bufaram e seguiram para seus carros.
Exatamente vinte minutos depois, todos chegaram no prédio. Estavam bastante curiosos. O que diabos Charlie estava aprontando desta vez?! Como se já não bastasse a ideia de montar uma nova equipe só para esses casos, ele vem com essa agora?
saiu do carro de Emma e foi para o lado de Charlie tentar, quem sabe, arrancar algo dele.
— O que você tá aprontando agora? — Ele perguntou, direto.
— Tirou a tipóia, ? — Charlie perguntou dando um sorriso de canto e esperando e Emma se aproximarem. — Foi ao médico pelo menos ver se já está bom o suficiente?
— Charlie...
— Deixa pra lá, . A gente não vai conseguir tirar nada desse rabugento — disse de uma forma engraçada, parecendo uma criança birrenta. E, com isso, arrancando risadas de todos.
— Certo, certo — suspirou, se dando por vencido.
Caminharam pelos corredos e a cada passo que dava, ele notava sussurros sobre ele. Não os entendia, claro, por serem sussurros, mas sabia que eram sobre ele. Ele sentia a tensão que estava tendo ali a cada passo que dava.
— Certo. O que tá pegando? — perguntou. — Tá todo mundo olhando pro e soltando comentários baixinhos.
— É, notei — Emma murmurou, achando estranho.
coçou a nuca e encarou Charlie.
— Não tenho nada com isso — Charlie murmurou abrindo a porta de sua sala. — Fiquem a vontade. Todos da nova equipe estão aí. E vocês já se conhecem.
— Puta merda! — Emma murmurou ao entrar na sala e ver quais pessoas Charlie havia escolhido. De fato, aquela era a melhor equipe já formada.
— Bom, todos aqui? — Charlie perguntou ao fechar a porta da sala e encarando todos.
— Só falta uma pessoa — um rapaz de olhos extremamente azuis murmurou.
— Acho que já sei quem é — Charlie soltou um sorriso de canto. — Bom, onde ela foi?
— Ao banheiro — uma ruiva se meteu na conversa, revirando os olhos.
— Tenha paciência, querida Lucy — Charlie murmurou e encarou a porta. Ouviu os passos se aproximarem e abriu mais seu sorriso. — Nascida em Londres mesmo, uma ótima escritora e jornalista investigativa. Já trabalhou para muita gente importante. Com vocês, — ele finalizou no exato momento em que a mulher abriu a porta de sua sala, fazendo , Emma e arregalarem os olhos totalmente assustados.





Capítulo 8

— Certo, Charlie. Cadê as câmeras? — falou dando uma risada forçada.
— Charlie... Você pirou? — se meteu.
mordeu o lábio inferior ao notar que, de fato, não era bem vinda ali.
— Por isso me pediu para entrar em contato com ela? — Emma se meteu. — Se eu soubesse que era pra isso eu não entraria — ela disse entre os dentes. — Não percebe que isso é perigoso?
— Porra, Charlie! Ela não vai durar um dia! — disse alto. — Ela é uma jornalista! JORNALISTA!
— Já pararam com a cena? — Charlie disse encarando Emma, e .
— Eu avisei, Charlie — disse indo se sentar ao lado do rapaz de olhos azuis.
— Por que aceitou essa besteira, ? — Emma perguntou se virando para ela.
— Charlie é insistente — ela deu de ombros.
— Eu não vou trabalhar com ela — disse. — Ela não vai durar, Charlie. Ela não vai saber fazer nada certo! Que droga!
— Então sai, — Charlie disse cruzando os braços na frente do peito e todos os presentes arregalaram os olhos. era o melhor dali.
— Então é assim? Eu não concordo com uma burrada que você faz, aceito todo mundo me olhando torto e você simplesmente me coloca pra fora para dar preferência a uma jornalista que não tem noção nenhuma de como é trabalhar aqui? — cuspiu as palavras com raiva. — Se for assim, eu saio.
, para! — Emma disse se aproximando e segurando seu braço, já que ele ameaçava a sair da sala.
— Você não manda aqui, — Charlie se virou para ele novamente. — Eu mando em tudo aqui. Você só mandava na merda da tua equipe.
Merda? — ele perguntou encarando Charlie com fúria. — Merda de equipe que sempre foi a melhor. Merda de equipe que sempre pegou todo mundo. Merda de equipe que tem os melhores policiais.
— E que não pegou o assassino do meu filho — Charlie rebateu.
— Da mesma forma que você não pegou o assassino do meu pai — disse entre os dentes e todos ali engoliram seco. A discussão não era mais por causa de . Aquilo já era pessoal.
— Parem com isso agora! — Emma disse alto e parou no meio dos dois. — O que vocês têm na cabeça? Acham mesmo que brigar vai resolver? — ela balançou a cabeça negativamente e suspirou. — Vamos ouvir o Charlie, .
— Eu não quero ouvir nada — ele murmurou ainda encarando os olhos tristes de Charlie. — Eu não vou trabalhar com a mulher que só sabe falar merda de mim. Eu não vou ficar engolindo sapos só porque ele quer.
... Por favor — Emma se virou para o rapaz e pegou seu rosto com as mãos. — Vai lá fora, toma um copo d'água e volta pra cá.
— Emma, deixe ele fazer o que quiser — Charlie disse, finalmente, tirando os olhos de cima do rapaz e se sentando ao lado de que tinha a cabeça baixa.
— Querem saber? — começou e todos olharam para ela. — Eu tô fora. Não vou fazer vocês perderem o melhor policial porque Charlie me quer aqui — ela finalizou sem encarar .
— Você é a favorita aqui, disse baixo e sem encarar ninguém.
— Mas você é o melhor — ela rebateu. — O contrário de você, eu não tenho medo de assumir as coisas.
se levantou e saiu da sala. Os outros suspiraram, inclusive Charlie.
— Satisfeito? — Charlie perguntou. — Ela ia ajudar bastante. Mas parece que você não se importa.
— Pare de falar que eu não me importo, Charlie. Pare — ele disse entre os dentes.
— Chame a de volta, Charlie. — Emma disse baixo e a encarou. — E você senta ali quieto.
— Mas...
— Vai, . — Emma revirou os olhos.
O rapaz bufou e obedeceu Emma. Se tem uma coisa que ele jamais faria, essa coisa seria contrariar Emma.
Todos ali estavam tensos, chocados. Não tinha uma palavra exata para defini-los.
Charlie saiu da sala e bateu a porta com força. Andou pelos corredores perguntando onde estava.
— Ela disse que ia tomar um café — disse uma mulher de cabelos extremamente negros e olhos verdes.
— Obrigado — Charlie disse dando um sorriso torto e saiu em busca da mulher, que não foi difícil encontrar já que o Café ficava ao lado do prédio.
Logo Charlie avistou em uma das mesas tomando seu café quase que tranquilamente.
— Oi — ele disse se sentando na frente da mulher, que revirou os olhos.
— Eu disse que ele não aceitaria. Eu disse, Charlie — ela disse bufando.
— Vamos voltar. Emma já o colocou na linha.
— Não, Charlie, não. — Ela disse passando a mão pelos cabelos. — Não vai dar certo.
— Vamos logo, . Sei que está louca para escrever sobre como é estar na melhor equipe já formada por Charlie Raymond — ele deu um sorriso de canto fazendo a mulher suspirar. De fato ela queria escrever sobre aquilo, queria participar, queria investigar novamente... Queria sentir aquela adrenalina de ir atrás de bandidos novamente... Sentir a adrenalina de fingir ser quem não é para conseguir informações...
— Ele não vai topar com o que você me propôs — ela murmurou.
— Ele sabe muito bem quem manda naquilo — Charlie suspirou. — Vamos logo, . Não temos muito tempo.
— Certo, certo... — ela suspirou e pagou seu café.
Caminharam em silêncio até o prédio. A cabeça de girava. Ela sabia que não a aceitaria muito bem lá, por mais que Emma o colocasse na linha. Ele era orgulhoso demais para admitir que tinha sido grosseiro, que ela não tinha total culpa da matéria que fora divulgada... E, pior ainda, para aceitá-la na equipe. Ele era a pessoa mais orgulhosa que ela já lidara.
Charlie parou em frente a porta e a abriu, após entrar na sala novamente, ele entrou e fechou a porta.
bufou e passou a mão pelos cabelos.
— Vai se controlar agora, não vai, ? — Charlie perguntou num tom debochado, fazendo o rapaz revirar os olhos. — Enfim. Todos se conhecem, mas é bom reapresentá-los. Começando pelos que vieram de fora... — Charlie fez uma pausa e se virou para o rapaz de olhos azuis. — Brian Harper, 32 anos. Veio de Los Angeles. Trabalha com esse tipo de coisas há... — Charlie encarou o papel em suas mãos — Sete anos. Era, também, chefe de equipe onde trabalhava e sabe muito sobre armas. Ou seja, ele ficará encarregado de cuidar delas. Entendido? — Charlie finalizou encarando um por um e parando por uns segundos a mais em , que balançou a cabeça afirmativamente. — Ryan Kane, 29 anos — ele apontou para o rapaz de olhos negros, porém lindos, e cabelos castanhos claro, também muito bonitos. — Veio de Chicago. Trabalha com esse tipo de coisa há cinco anos. Sua especialidade é essas coisas de sistemas. Informática e códigos, para ser mais exato. Ele cuidará dessas coisas junto à Emma, como já era de se esperar — ele fez uma pausa e passou os olhos pela sala novamente, parando em , mas não falaria dela agora, a deixaria por última. — Lucy Baker, nossa querida Lucy Baker — Charlie sorriu. — 27 anos, nascida na Flórida. Trabalha com esse tipo de coisa há...
— Cinco anos — ela o interrompeu, com um sorriso orgulhoso nos lábios. Começara cedo por seu pai ter seguido a mesma profissão.
— Isso — Charlie sorriu novamente. — Nossa médica legista. Ajudará no laboratório. E, já que falamos nele... , 27 anos. Trabalha aqui desde o início de sua carreira — Charlie alargou o sorriso se virando para o rapaz. — A qual começou aos seus vinte e três anos, certo?
— Certo — respondeu.
— Ele é o perito criminal. Nasceu por aqui mesmo... E, hum... Não temos tanto o que falar de por ele já ser daqui e todos o conhecerem, como os que faltam... Enfim. — Charlie se virou para o outro lado, onde se encontrava Emma. — Emma Cobain. 36 anos, nascida por aqui também. Trabalha comigo há dez anos. Ela é do tipo mil e uma utilidades. Sua especialidade é sistema, porém ela ajuda na perícia e nas invasões a mão armada. Entende muito sobre tudo — Charlie finalizou com um sorriso nos lábios e os outros presentes – menos , e Lucy, claro – ficaram de olhos arregalados por Emma saber tanto. — E, finalmente, — Charlie se virou. — 28 anos. Nascido por aqui. O conheço desde sempre, comecei a treiná-lo para vir trabalhar conosco quando ele completou seus belos dezoito anos, quando entrou para a faculdade de Direito. Ele é tão bom quanto Emma. Além de formado em direito, tem uma base sobre tudo o que precisamos aqui. Não era a toa que ele era o chefe em todas as equipes que participou. Não tem uma especialidade certa, esse infeliz consegue ser bom em tudo — ele fez uma pausa para dar uma risada fraca, fazendo dar um meio sorriso. Por mais que os outros não notassem, era uma pequena forma de Charlie pedir desculpas e se mostrar arrependido por ter o colocado para fora na hora que estava de cabeça quente. — Eu sempre o deixo no comando pelo simples motivo dele saber exatamente a hora que deve agir, então, como já era previsto, ele ficará encarregado de cuidar dessa equipe também. Porém — Charlie levantou a mão direita ao notar que já estava sorrindo feito um idiota — quando eu disser o que é para fazer, será do meu jeito, . Vai me obedecer da forma que fazia com seu pai há cinco anos atrás — ele encarou o rapaz nos olhos. — Entendido?
— É claro — ele murmurou sem tirar o sorriso dos lábios.
— Para finalizar, vamos às informações da nossa querida . Vocês devem estar totalmente perdidos por não entenderem bem o motivo pelo qual a chamei — ele se sentou. — Ela ajudará. E muito. Ela é sim uma jornalista. Mas é uma jornalista investigativa. E ela ajudará demais na nossa investigação. Ela é tão inteligente quanto vocês, entende tantas coisas quanto vocês. Podemos chamá-la de na versão feminina — ele disse mordendo o lábio para segurar uma risada ao ver a cara de . — Tudo bem, talvez uma versão feminina mais simpática... — ele soltou uma risada, fazendo todos os outros – menos e a própria – rirem. — Tudo bem, voltando a explicação... O que é o jornalismo investigativo, afinal? É a prática de reportagem especializada em desvendar mistérios e fatos ocultos do conhecimento público, especialmente crimes e casos de corrupção, que podem eventualmente virar notícia — Charlie explicou fazendo sorrir. — Eu não quero enfiá-la em confusão como vocês pensaram que eu queria. Eu quero fazê-la participar da investigação como se fosse, sim, uma policial. Porém — ele continou ao ver abrir a boca — ela ficará encarregada de arrancar informações de alguns dos nossos alvos. Ninguém a reconhecerá quando precisarmos fazê-la seguir ou entrevistar alguém. Para todos de fora ela será apenas uma jornalista. Já para nós ela será muito mais do que isso. Como andei falando com algumas pessoas que já trabalharam com ela desta forma... — ele pegou alguns papéis e deu nas mãos de , fazendo um sinal para que ele entregasse aos outros. — Descobri que ela tem um certo conhecimento sobre armas... Certo, ?
— Certo — ela respondeu dando um meio sorriso. — Meu pai era atirador profissional. Cresci vendo ele mexendo em armas. Fiquei curiosa e aos meus dezessete ou dezoito anos pedi para que ele me ensinasse algumas coisas. Eu sempre soube que queria atuar nessa áera de investigação. Ele concordou e me ensinou várias coisas.
— E ela, inclusive, fez o trabalho de uma "policial", digamos assim, em Las Vegas. Ela tinha ido para fazer uma entrevista com um dos caras responsáveis pelas bandidagens e acabou sendo descoberta — Charlie riu. — Mas ainda conseguiu ferir um bandido e o fez ser preso. Preciso explicar mais o porquê de chamá-la para fazer parte da equipe?
era o mais chocado entre todos ali. Nunca pensara que sabia e tinha feito tanto, ele realmente achou Charlie um retardado por querê-la ali. Mas após ouvir toda a explicação e deixar certas partes do que Charlie disse ecoar por sua cabeça, ele notara que de inútil ela não tinha nada. Ela realmente tinha tudo para fazer aquilo ali dar certo, mas, claro, ele não assumiria isso assim tão fácil.
— Então é isso — Charlie disse se levantando e tirando de seus pensamentos. — Começaremos na segunda.
— Certo — disse mordendo o lábio e se virou para Charlie. — Posso fazer outro interrogatório com aqueles caras que tentaram me matar?
— Outro? — Charlie estreitou os olhos e o encarou.
— É... — deu um sorriso malicioso. — Um mais... digamos que... especial.
— Vocês podem ir — Charlie disse para os outros e abriu mais seu sorriso.
Em silêncio, todos os outros saíram.
— Quero começar a arrancar informações deles — passou a mão pelos cabelos. — Um deles vai abrir a boca de você liberar...
— A tortura? — Charlie perguntou dando uma risada fraca. — Não sou a favor disso. Mas se você acha que vai resolver, eles são todinhos seus.
— Eu vou tirar deles quem tá fazendo isso tudo — disse firme e encarando os olhos de Charlie.
— Eu sei — Charlie concordou sorrindo. — E...
— Tá tudo bem. E me desculpa também, Char — o rapaz interrompeu o mais velho, dando um sorriso de canto. Já sabia porquê Charlie o deixou para sair por último. Era sempre assim.
— Eu não deveria ter dito aquelas coisas — Charlie murmurou arrependido.
— Eu também não. Mas é sempre a mesma coisa — deu uma risada. — Vamos logo, Charlie. Você tem que ir para casa agora.
— Já está querendo mandar em mim, pirralho? — Charlie perguntou em tom de brincadeira, fazendo revirar os olhos. — Enfim. Quero vocês aqui amanhã. Vocês vão atrás de alguém pra mim antes de focarmos nesses assassinatos. Quero ver como será o trabalho de vocês juntos.
— Amanhã é sábado, Charlie. Tu prometeu uma folga e...
— Sem reclamações. Você disse que trabalharia, então... — Charlie sorriu e piscou um dos olhos. — Avise a Emma e peça para ela avisar aos outros, já que ela ficará aqui pelo resto do dia, e aí, sim, pode ir para casa.
— Sim, senhor — ele disse de forma debochada e revirou os olhos.
— Vai logo, moleque — Charlie disse balançando a cabeça negativamente.
suspirou e saiu da sala de Charlie. Essa 'missão' seria longa... Muito longa.

****


finalmente encontrou Emma, que estava conversando com do lado de fora do prédio.
— Finalmente te econtrei! — ele bufou. — E que bom que ela está junto.
— O que houve agora? — Emma perguntou revirando os olhos.
— Charlie quer ver como vamos trabalhar juntos. Amanhã a gente vai atrás de alguém para ele — disse encarando as duas mulheres.
— Mas amanhã é sábado e...
— É, eu sei, — ele a interrompeu. — Usei o mesmo argumento. Mas não adianta, vamos todos trabalhar amanhã. E você, Emma — ele se virou para a amiga —, tem que ir avisar aos outros porque eu vou para casa agora.
— Por que você vai embora e eu tenho que correr atrás dos outros pra falar? — Emma perguntou inconformada.
— Ordens de Charlie. Tenho nada com isso dessa vez, juro — ele levantou as mãos dando um meio sorriso. — Agora vou embora.
— Não quer me esperar? — Emma perguntou.
— Não, vou de táxi hoje. Obrigado — ele abriu um sorriso sincero e beijou a bochecha da amiga, que retribuiu. — Até amanhã, — ele disse baixo, por educação. apenas acenou.
— Me ajuda a encontrar os outros? — Emma perguntou sorrindo.
— Claro — ela respondeu retribuindo o sorriso.




Capítulo 9

Sábado, dez da manhã.

— Certo... — começou. — A pode ser a primeira isca. Ou seja, a que vai atrair o bandido que queremos. Lucy, quero que distraia os amigos dele, sei que você vai se sair muito bem nisso — mordeu o lábio inferior e piscou um dos olhos. Sabia muito bem do que Lucy era capaz para distrair amigos de bandidos e fazê-los ficarem ocupados demais para se importar com o chefe. — Quero que a Emma e o Ryan investiguem os cantos da boate, ficando de olho em qualquer coisa estranha; tipos de códigos entre eles e tudo o mais; o fica comigo no bar de escolta para vigiar a já que o cara virá em cima dela e, você, Brian, fica na porta. Dê um jeito de disfarçar e ficar por ali sem deixar nada escapar. O cara vai tentar fugir. Passar pelos seguranças será fácil e por você não... Certo?
— Certíssimo, — o homem sorriu.
— Ótimo. Todos concordam? — ele perguntou e todos balançaram a cabeça afirmativamente. — Posso passar o plano para Charlie?
— Você sabe que pode — Emma disse dando um meio sorriso. — Já fizemos isso antes.
— Certo, esperem aqui — disse e saiu da sala.
Caminhou por alguns corredores, ouvindo as mesmas indiretas de sempre e ignorando-as como sempre, e logo chegou a sala de Charlie. Deu duas batidas na porta e esperou a autorização do mais velho, que não demorou muito.
— Vocês já têm uma estratégia pronta? — Charlie perguntou sorrindo debochado.
— Temos — respondeu dando de ombros e se jogou na cadeira.
— Se for a mesma de sempre, aconselho a melhorar um bocado mais — Charlie disse ainda sorrindo.
— Ele é só mais um bandidinho de merda, Charlie. Não adianta vir com aquele discurso de "esse é totalmente diferente, ele já fez coisas horríveis" e blá blá blá — o encarou. — Você tá falando comigo, Charlie.
— Tá se achando o gostosão de novo? — Charlie perguntou com um tom brincalhão, fazendo rir e entrar na brincadeira.
— E desde quando eu deixei de ser e me achar o gostosão? — ele perguntou segurando uma risada.
— Ok, ok — Charlie gargalhou. — Sério agora. Ele realmente é um bandido filho da puta. Ninguém daqui nunca consegue pegar ele e eu nunca quis te ocupar com isso por ter outros caras bons... Mas parece que eu realmente vou ter que apelar pra você de novo.
— Relaxa — deu de ombros. — Vai ser rápido e até bom já que íamos ficar de bobeira até segunda. Enfim. O plano vai ser o seguinte: a para atrair o bandido que queremos, eu e no bar de escolta, Ryan e Emma procurando qualquer coisa que nos ajude e reparando nos códigos entre eles, Lucy distraindo os outros caras e Brian na porta.
— Gostei. Só não deixe eles notarem quem vocês são. Agora vamos lá — Charlie se levantou. — Quero falar com todos vocês antes.
— Vamos — se levantou também e os dois seguiram para o outro lado do prédio.
Caminharam rindo e brincando feito dois idiotas.
— Bom dia — Charlie disse ao abrir a porta, sorrindo.
— Bom dia — responderam todos juntos.
— Hoje o dia será longo para vocês, garotas — Charlie começou indo se sentar na cadeira de . — Quero todas indo para salão, shopping, seja lá o que vocês fazem quando têm uma festa importante para ir — ele cruzou os braços. — Quero vocês bem bonitas. Os caras têm que cair na de vocês.
— Vamos caprichar, relaxe — Emma disse.
— É, Charlie, deixe com a gente — Lucy disse sorrindo.
— Vocês não estão entendendo. Vocês todos vão para a melhor boate da Inglaterra — Charlie disse e Emma arregalou levemente os olhos. — Eu disse que seria um bocado diferente desta vez...
— Mas não citou que iríamos para a melhor boate da Inglaterra. A mais lotada. A mais complicada de observar! Como vamos achar o cara? — disse um bocado mais alto e Charlie sorriu debochado.
— O plano de vocês está ótimo. Só preciso que as meninas fiquem ousadas — Charlie deu de ombros.
— Ousadas como, Charlie? — Emma perguntou cruzando os braços e se preparando para o que viria.
— Hum... Ousadas, oras! Roupas mais coladas e curtas... Da forma que esses caras gostam — ele deu de ombros. — Abusem da sensualidade. Eu quero esses caras presos. E o jeito deles caírem na de vocês, é vocês sendo como as mulheres que eles andam.
— Ah, meu Deus — Emma murmurou. — Vamos ter que ser quase vadias?
— Exatamente — Charlie deu um sorriso torto. — E, você, , principalmente.
— Se está achando que vou quase nua para a melhor boate da Inglaterra está muito enganado — disse dando uma risada nervosa.
, — Charlie esfregou a testa. — Está começando errado, querida. Eu falo, vocês fazem. Lembra?
— Mas...
— Não, não tem reclamações — Charlie disse devagar, sabia que ela não estava acostumada, mas tinha que colocá-la na linha. Não era porque ele a defendia de que ela agiria assim, não, jamais!
— É o jeito, — Emma murmurou e suspirou, mordendo o lábio inferior em seguida.
— Ainda está em tempo de desistir — disse em um tom provocativo e piscando um dos olhos, fazendo Charlie lançar-lhe um olhar ameaçador, reprovando suas palavras. mordeu o lábio segurando um sorriso e levantou as mãos, como se pedisse desculpas.
o encarou e, lentamente, levantou a mão direita, dando-lhe um sinal feio. abriu a boca como se fingisse um choque e reitribuiu o gesto, ignorando todos que estavam na sala.
— Já pararam? — Charlie perguntou.
— Foi mal — disse ainda com um sorriso no canto dos lábios.
— Vocês são dois casos perdidos — Charlie bufou. — Comecem a agitar tudo. Quero todos prontos lá às nove da noite. Boa sorte — Charlie finalizou e saiu da sala, ignorando todo o tipo de dúvida que escapavam dos lábios dos presentes. Agora era com . A equipe era dele, oficialmente.
— Certo. E agora? — Emma perguntou.
— Sei lá, comecem a se ajeitar — deu de ombros e sentou em sua mesa. — Nós, homens, ficaremos de bobeira até a hora de irmos para casa nos arrumar.
As três mulheres presentes bufaram e se levantaram, saindo da sala sem dar explicações. Tinham muito o que fazer até às nove da noite.

****


Oito e meia da noite.
se encarou no espelho e suspirou. Não acreditava que estava vestida daquela forma só porque Charlie mandara.
Pegou o sobretudo cinza e o vestiu, fechando-o totalmente. Não deixaria seu corpo tão à mostra assim durante o caminho, jamais! Tiraria o sobretudo somente quando chegasse na boate e encontrasse o tal cara que deveria atrair.
Seu celular vibrou em cima da mesinha, soltou um suspiro pesado e caminhou até lá. Encarou o aparelho, era uma mensagem de Emma avisando que estavam esperando-a em frente a boate, já. Respondeu a mulher rapidamente e saiu de casa após pegar suas coisas.
Entrou em seu carro e logo arrancou, não podia prder muito tempo. Levaria de vinte à vinte e cinco minutos para chegar no lugar combinado. ligou o som e tentou relaxar, mas... Quem relaxaria vestida da forma que ela estava, a caminho da melhor boate da Inglaterra para pegar um bandido?
Estacionou o carro um tanto quanto afastado das pessoas que ficavam na rua. Respirou o mais fundo que conseguiu e saiu do carro, deixando sua bolsa com celular e tudo o mais dentro do carro, ativou o alarme e atravessou a rua apertando o sobretudo ao corpo. Estava um frio do caralho! E ela ainda tinha que ficar vestida daquela forma e em cima de saltos enormes que deixariam seus pés doloridos no dia seguinte.
Logo avistou Emma e todos os outros. Mordeu o lábio inferior disfarçadamente ao encarar os homens de sua equipe — incluindo —, eles estavam lindos. Ah, se não estivessem ali a trabalho...
— Finalmente — Lucy disse dando um sorriso de canto. — Quero saber se meu trabalho saiu bem feito!
— Com certeza saiu, Lucy — Emma se intrometeu. — é o tipo de mulher que qualquer roupa cai bem.
— Obrigada, Emma — respondeu envergonhada.
— Ainda não entendi o sobretudo... — murmurou confuso. — O Charlie tinha dito pra você vir ousada e não como uma caçadora de vampiros, .
— Você não vai querer ver o que tem por baixo desse sobretudo, — Emma murmurou encostando no ombro do amigo. — Agora vamos entrar.
revirou os olhos e entrou logo atrás de Emma. A música alta invadiu seu corpo, sentia cada célula sua pulsar no ritmo da música. Fechou os olhos por dois segundos e tentou seguir e em meio a multidão já que todos haviam ido para seus devidos lugares com uma foto do homem e seus cúmplices.
— Certo, e agora? — gritou no ouvido de .
— Espera — gritou de volta, já estava sentado e pedindo algo para beber. — , você veio a trabalho.
— Eu sei, mas tenho que disfaçar — gritou no ouvido do amigo, fazendo revirar os olhos.
— Certo. Encontrei — disse esticando o pescoço e olhando por cima das pessoas. — Cadê Lucy? — ele ainda gritava por causa do som.
— Estou aqui — a ruiva apareceu. — Tinha me perdido de vocês. Diz aí, .
— Ali — o rapaz apontou. — Naqueles sofás. Lá no canto. É com você, ruivinha — ele berrou dando um sorriso malicioso. Lucy revirou os olhos e entrou em meio a multidão, começando a dançar para se aproximar dos homens que indicara.
— E eu fico aqui olhando pra cara de vocês? — perguntou. — Isso tá saindo melhor que eu imaginei — ela finalizou se preparando para sentar em um dos bancos, quando segurou seu braço fazendo-a continuar de pé.
— Ali — ele apontou discretamente. — É ele que você tem que atrair.
— Aquele careca com cara de pedófilo? — ela perguntou arqueando uma das sobrancelhas e um tanto quanto assustada.
— Exatamente. Estaremos aqui o tempo todo te olhando — disse.
— Certo — ela murmurou e respirou fundo.
— Vai ficar aí até quando? — gritou em seu ouvido.
— Já tô indo — ela respondeu abrindo seu sobretudo no exato momento que começou a tocar Blow, da Ke$ha. Ela soltou um suspiro e tirou o sobretudo de vez. Mordeu o lábio inferior e virou para e que estavam de olhos arregalados e boca aberta.
— Wow — foi o que escapou da garganta de .
— Fica com isso — ela perdiu mordendo o lábio inferior. Os dois homens parados em sua frente não conseguiam tirar os olhos de seu corpo.
Ela vestia um vestido preto tomara-que-caia totalmente colado em seu corpo, com o busto estruturado que deixava seus seios mais fartos que o normal e pegava na medade de suas coxas, tudo combinava perfeitamente; a maquiagem forte realçando os olhos, o batom vermelho chamando mais a atenção para os lábios, as sandálias pretas e altas, os cabelos ondulados meio presos e meio soltos.
Caralho disse pausadamente.
— Fechem a boca — ela tocou no queixo dos dois, com uma mão em cada, e fechou a boca deles. — Isso aqui — ela apontou para o corpo dando um sorriso de canto —, não é pra vocês. Licença.
Ela ajeitou o vestido e caminhou até a pista de dança, se movendo no ritmo da música. Deu mais dois passos devagar, ainda no ritmo da música e, ao chegar no refrão novamente, balançou os quadris conforme o ritmo, deixando praticamente todos os homens de queixos caídos — como e — e Emma e Lucy sorriram de longe, orgulhosas do trabalho que fizeram.
começou a movimentar seu corpo mais rápido, da forma que a música ia acelerando. Ela balançava os cabelos, passava as mãos pelo corpo, fazia todos os movimentos que as mulheres naquela pista de dança — principalmente as vestidas como ela — faziam. Seus olhos pousaram sobre o careca que deveria atrair e, então, soltou um sorriso malicioso para o homem que retribuiu a altura. Ela mordeu o lábio inferior e continuou dançando.
Após a música acabar e começar outra um tanto quanto mais agitada, o careca se levantou indo na direção de , que sorriu e se virou na direção que e estavam, piscando um dos olhos. Não demorou muito e o homem envolveu sua cintura com uma das mãos e começou a sussurrar coisas em seu ouvido. Ela tentou não se importar com as coisas sujas que saíam da boca daquele homem, mas era difícil. Ele queria tirá-la dali, mas ela estava fazendo o máximo para que isso não acontecesse. Mas o cara já não se controlava mais! Agora, ele beijava todo o seu pescoço com fúria e aquilo provavelmente lhe deixaria algumas marcas. O pior de tudo era que ninguém fazia droga nenhuma. E ela sabia que eles tinham que agir com calma. Ela olhou piedosa na direção de que fez um sinal com as mãos pedindo calma e começou a caminhar lentamente entre as pessoas, disfarçando e dançando sem tirar os olhos de , é claro. olhou para trás por um segundo e notou que havia ido para a porta e parou ao lado de Brian, olhou para o lado; Ryan e Emma já estavam parados um a cada ponta de onde Lucy estava com os cúmplices daquele bandido. Tudo em ordem.
Respirou fundo e parou atrás do homem.
— Solte ela e levante as mãos — sussurrou em seu ouvido e notou o homem congelar e parar de atacar o pescoço de , que engoliu seco. — Você não tem saída. Ou se entrega agora ou vai causar um tiroteio nessa boate. Porque eu não saio daqui sem você e seus cúmplices. Olhe ali — apontou para os amigo que estavam no sofá perto dos três homens que eram amigos do careca —, eles estão comigo e seus caras já caíram na lábia da ruiva que, também, está comigo. Qual vai ser, careca? — ele finalizou em um tom debochado.
O homem engoliu seco e empurrou para trás num movimento rápido, sacando uma arma que estava em suas calças e mirando-a no rosto de que, ao notar o que estava acontecendo, puxou uma arma também e mirou-a no rosto do homem.
— Abaixa essa porra — disse entre os dentes ao notar que a música parara e todos estavam desesperados em volta. Lucy se levantou rapidamente do sofá e mirou sua arma na cabeça de um dos caras, Ryan e Emma logo fizeram o mesmo para os dois que sobraram.
Todos encaravam a cena assustados — inclusive , que pensara que não seria algo tão sério assim.
— Somos da polícia, podem ficar calmos — Emma disse alto o suficiente para todos que, ainda tensos, soltaram o ar dos pulmões e se afastaram mais deixando somente e o careca no meio da pista de dança com as armas apontadas.
— Eu já disse pra abaixar essa porra! — gritou e o careca se preparou para atirar.
deu um sorriso de canto ao notar que estava atrás do homem segurando uma arma em sua cabeça.
— É bom que abaixe isso e se entregue — disse e o homem o olhou de canto de olho.
Aos poucos o careca fora abaixando a mão e largando a arma.
— Bom garoto — murmurou. — Joga a arma no chão e coloque as mãos para trás.
O homem simplesmente obedeceu e o algemou rapidamente. Brian e Ryan ajudaram Emma e Lucy a fazerem o mesmo com os outros três caras que gritavam e lutavam pra não serem algemados.
continuava em um canto tentando assimilar tudo aquilo. Ela realmente não sabia onde havia se metido.
— Toma — murmurou em seu lado estendendo seu sobretudo.
— Valeu — ela agradeceu e o vesiu rapidamente.
— Podem levar — disse para os seguranças que estavam ajudando a tirar os caras que ainda estavam resistindo a tudo. — Vamos — ele disse para e puxou um maço de cigarros e o seu isqueiro do bolso.
Já do lado de fora da boate, estava encostado em uma das paredes apenas observando os homens serem enfiados no carro da polícia e Charlie resolvendo as últimas coisas.
Deu um trago mais forte em seu cigarro e olhou para o lado, onde conversava com Emma e Lucy. É, de fato, Emma estava certa. Ele não queria — e muito menos deveria — ter visto o que havia debaixo daquele maldito sobretudo. Ele já não segurava mais os pensamentos maldosos sobre aquela maldita jornalista. Ela tinha um corpo espetacular, isso ele não podia negar. Ela estava linda essa noite — mesmo estando vestida de uma forma mais vulgar — e ele também não podia negar isso. Os malditos pensamentos estavam piores que no dia da entrevista. Certo, era uma mulher muito atraente. Ele não podia — e não iria — mais negar isso.
bufou balançando a cabeça negativamente e voltou para perto dos outros.
— Bom trabalho — Charlie disse sorrindo.
— Eu sei — ele piscou um dos olhos e soltou uma gargalhada em seguida. — Todo mundo se saiu bem. Foi um ótimo trabalho.
— É — Charlie continuou sorrido. — Agora façam o que qusierem — ele dise alto e todos sorriram.
— Sério? O que quisermos? — perguntou e Charlie afirmou dando uma risada. — Eu preciso beber. Estou tensa — disse fazendo todos – sim, todos, icluindo – rirem.
— Acostume-se, . Os próximos serão piores e você não será só uma isca — disse pegando outro cigarro. Não podia negar, estava tenso também.
— É. Tô sabendo — ela respondeu mordendo o lábio. estava... Hum... Falando com ela normalmente.
— Enfim — Emma começou ao notar que ninguém sabia mais o que falar. — Vamos a um lugar mais calmo?
— Pra que lugar mais calmo, Emma? — perguntou olhando para dentro da boate que já estava lotada novamente. — Isso aqui é um paraíso! — ele disse segurando o cigarro entre os dedos e soltando uma gargalhada. — Qual é, eu preciso pegar uma dessas mulheres — ele disse suspirando e mordendo o lábio inferior em seguida.
— Concordo com o . Não saio daqui sem uma delas — disse apontando para dentro da boate, fazendo dar um sorriso sapeca e o encarar.
— E aí? — perguntou.
— É mais que óbvio que eu tô dentro — Ryan disse dando um sorriso malicioso e indo para a porta da boate com e . É, ninguém mais ali teria escolha. Iriam ficar na farra o resto da noite e ficar de ressaca o domingo inteiro.




Capítulo 10

abriu os olhos preguiçosamente ao ouvir o despertador tocar ao seu lado. Apertou os cobertores contra seu corpo e ficou ali por uns minutos. Não queria levantar, não queria ir trabalhar, não queria aceitar o fato de que já era segunda-feira e ele teria que se matar de tanto trabalho, não queria ter que olhar na cara da mulher que ele não suporta, mas acha atraente, não queria ouvir Charlie lhe dando ordens, não queria ter que encarar os caras que acabaram com seu carro e quase o mataram... Resumindo, queria fugir de suas responsabilidades por pelo menos um dia.
Deu uma risada fraca ao lembrar que na época de ensino médio e faculdade, acordava cedo, junto com o pai, e quando ele dava essas crises de "não quero levantar", seu pai vinha puxar suas cobertas e começava a gritar em seu ouvido até ele se irritar e levantar. Era sempre assim. Até cinco anos atrás.
encarou o teto e mordeu o lábio. Seu pai fazia falta. E ele ainda pegaria o desgraçado que o matou daquela forma brutal... E à sua frente, praticamente. se sentia inútil, desde então. Tudo bem que ele sabia que era muito bom no que fazia, mas ele se sentia inútil quando falhava... Pelo simples fato de ter visto seu pai morrer e não ter feito nada. Ele já tinha 23 anos completos na época. Ele poderia, sim, ter feito alguma coisa. Mas não fora rápido o suficiente. O pai de era tão bom quanto ele — talvez isso seja de família — e tão cobiçado quanto ele também. E esse fora o motivo de sua morte: ser bom. às vezes sentia medo de morrer da mesma forma.

Flashback.

— Ei, Char! — disse sorrindo. — Cadê meu pai?
Charlie engoliu seco e não encarou o rapaz.
! — Emma disse tentando disfarçar a tensão em sua voz.
Havia algo errado. E ele sabia muito bem. Crescera no meio daquilo tudo e sabia muito bem quando algo estava errado.
— Cadê o meu pai? — Ele perguntou novamente, desta vez, pausadamente e tirando o sorriso dos lábios.
Novamente, silêncio.
— Se você prometer ficar calmo e...
— CADÊ. O. MEU. PAI? — Ele gritou, interrompendo Emma.
— Pegaram ele. — Charlie disse de uma vez só, fazendo o rapaz de apenas 23 anos, prestes a se formar em Direito e pronto para virar um ótimo policial ao lado do pai, arregalar os olhos.
— Como? — perguntou.
— Estamos tentando localizar o cara. Nós vamos achá-lo, certo? — Emma disse tocando o ombro de .
— Charlie, Charlie! — Um homem corria pelos grandes corredores do prédio.
— O quê? — Charlie se virou ainda tenso.
— Conseguimos o endereço. — o homem respirou fundo tentando recuperar o fôlego. — Eu já mandei todos se prepararem e vim correndo te avisar.
— Certo, vamos. — Charlie disse e se preparou para andar com eles. — Você não.
— Mas...
— Não, . É perigoso — Emma disse, segurando seu braço. — Fique aqui. Mandaremos notícias e...
— DROGA, NÃO! — gritou e começou a andar atrás de Charlie. — Eu vou com vocês. É o meu pai, Charlie. MEU PAI!
— Você. Não. Vai. — Charlie disse pausadamente ao chegar ao estacionamento.
— Eu vou sim. — rebateu. Sempre teimoso. Sempre.
— A gente já disse que não! — Emma disse, encarando-o séria.
— Ah, não? Então certo, quem vai me impedir de ir? Eu tenho um carro parado bem ali. — ele disse, nervoso, apontando para onde seu Impala estava estacionado.
— Entra nessa porra e se ajeita, — Charlie disse entrando no carro com Emma e indo para o banco da frente ao seu lado. deu um sorriso amarelo e entrou no carro, pegando uma arma e um colete que estavam debaixo do banco.
Seria sua primeira atuação ao lado de Charlie, Emma e sua equipe em uma coisa séria.
Demoraram menos de dez minutos para chegar ao local indicado e todos desceram do carro.
— Só atire se for necessário. — Charlie disse para . — E não, você não vai invadir com a gente.
— Charlie, é o meu pai. — ele murmurou ignorando o bolo que se formava em sua garganta. Ele não podia perder seu pai. Seu pai era tudo o que tinha, oras! Ele... Simplesmente não podia perder o seu grande herói. Não podia perder aquele que lutou por ele desde sempre.
— Eu sei, mas... — Charlie tentou falar, mas logo ouviu alguém gritar seu nome. — Vai pelos fundos. — Charlie sussurrou antes de sair de perto do rapaz e ir em direção à porta da frente.
respirou fundo e saiu sem dar explicação a ninguém. Ele sabia muito bem o que fazer. Aprendera com o pai e colocaria em prática — e muito bem — para salvá-lo. Ou pelo menos tentar.
foi para os fundos da casa e, ao observar bem, logo notou algumas sombras pela janela. Abaixou-se e caminhou devagar em direção a ela, tentando ouvir alguma coisa.
Ouviu apenas um urro de dor de longe, o qual deduziu ser de seu pai. Sentiu seu coração se apertar fortemente e fechou os olhos para tentar relaxar e não deixar as lágrimas caírem. A última coisa que ele deveria ficar ali, naquela hora, era nervoso ou ansioso.
Respirou fundo novamente e caminhou lentamente para o outro lado, notando ali uma pequena porta que, provavelmente, daria para onde seu pai estava. Caminhou até a tal porta e forçou-a um bocado para tentar abri-la. Trancada. Não tinha mais o que fazer. Tentou olhar para o outro lado, onde daria a frente da casa, mas provavelmente ninguém o notaria ali. Talvez por isso Charlie o tenha mandado para aquele lado. estava sem opção, a não ser observar tudo por aquela pequena janela ou arrombar a porta. Arrombar a porta faria um enorme barulho e o entregaria, pular pela pequena janela o faria levar um tiro certeiro e ele seria dado como um belo de um idiota. A única coisa que ele tinha a fazer era observar até Charlie dar as ordens para invadirem pela frente, para assim tomarem a atenção dos bandidos e ele entrar por ali.
Um barulho ecoou por todo o local. Barulho de tiros. Sim, havia começado.
levantou a cabeça para a janela novamente e pôde ver um homem na frente de seu pai. Notou os olhos de seu pai se arregalarem ao vê-lo ali e fez um sinal de silêncio para o mais velho, que engoliu seco e fez de tudo para distrair o bandido à sua frente, para assim, talvez, proteger seu filho e fazê-lo conseguir entrar na casa sem ser baleado. fez um sinal para o pai, tentando segurar o nervosismo e as lágrimas, e caminhou até a porta que encontrara. Deu dois tiros na fechadura e entrou correndo. Tudo ficou em câmera lenta. Ele correra até o quarto onde seu pai estava, mas não fora rápido o suficiente. No corredor onde estava, pôde ouvir o barulho de dois tiros.
cerrou os dentes com força e, finalmente, chegou ao quarto, dando de cara com o corpo de seu pai tremendo levemente no chão. O garoto sentiu seu coração parar. Ignorou as lágrimas que caíam pelo seu rosto e correu até o corpo de seu pai. Não havia nem sinal de quem havia feito aquela maldade com ele. estava se sentindo um lixo, um completo inútil.
— DROGA! — gritou. — AJUDA AQUI, PORRA! — ele gritou novamente. Pôde ouvir os passos de longe. Ele tinha que tirar seu pai dali! Tinha que levá-lo para o hospital às pressas!
... — seu pai sussurrou e ele virou o rosto em sua direção.
— Não fala, pai. Calma, eles vão vir te pegar. Não fala. — murmurou largando a arma de qualquer jeito no chão e puxando o corpo de seu pai para si, já que ele estava sentado ao seu lado. — PORRA! CHARLIE! — gritava desesperado.
— Não... Tem... Jeito... — seu pai sussurrou mais fraco que antes. Ele estava ferido demais. Fora torturado antes dos tiros.
— Para com isso, pai. Para. — ele disse tentando parar o sangue no abdômen do pai com uma mão.
O mais velho gemeu de dor e fechou os olhos. Respirava com dificuldade.
então correu os olhos pelo corpo do pai, procurando mais algum ferimento.
— Pegue... — o mais velho tentou falar, mas fora interrompido por uma tosse, a qual notou ser sangue puro. Seu pai estava morrendo.
— Pai, droga, não tenta falar. — disse desesperado e se preparou para levantar, mas seu pai o segurou.
— Eu... Vou... Morrer — ele disse num fio de voz, fazendo as lágrimas de rolarem com mais força. — Só... Pegue-o...
— Pai... Pai! — gritou ao ver o homem fechar os olhos. — Pai? — chamou novamente e notou que sua respiração estava parando aos poucos. — Não. PAI! DROGA, PAI, RESPONDE! PAI! — gritou desesperado enquanto sacudia levemente o corpo do homem.
Sentiu alguém tocar seu ombro.
— Ouvi seus gritos. — a voz de Emma soava calma e triste ao mesmo tempo. não tirou os olhos do corpo do pai em seus braços e deixou as lágrimas caírem mais. — Não deu para virmos... Ainda tinham uns caras aqui... Tivemos que pegá-los antes que fugissem.
— Fodam-se aqueles caras — disse num fio de voz. — Meu pai tá morto, Emma. — ele encarou a mulher ao seu lado, finalmente. Emma desviou seu olhar para o corpo no colo do rapaz, depois se voltou para , que chorava sem se importar com nada. Emma o envolveu em seus braços, puxando-o para um abraço acolhedor.

Fim do Flashback.

tentou afastar da cabeça essas lembranças que não lhe faziam bem. Levantou-se num pulo e correu para o banheiro, já estava atrasado. Como sempre.
Arrumou-se o mais rápido que conseguiu e ligou para um táxi. Precisava chegar no horário... O que seria impossível, já que faltavam dez minutos para Charlie começar toda a "reunião".
O táxi demorou pouco mais de dez minutos para chegar, bufava impaciente dentro do carro. Aquela cidade tinha mesmo que escolher aquela hora para engarrafar?
Depois de uns belos trinta minutos dentro daquele maldito carro, naquele maldito engarrafamento, chegou ao prédio. Pagou o taxista e correu para a sala de Charlie, onde todos provavelmente já estariam.
— Finalmente! — Charlie bufou ao vê-lo entrar ofegante na sala.
— Foi mal. — respirou fundo para recuperar o fôlego. — Engarrafamento.
— Você não o pegaria se levantasse na hora. — Charlie revirou os olhos. — E você já perdeu toda a explicação. Não vou falar de novo. Se vira. Os caras estão te esperando na sala do andar de cima.
— Certo, certo. — bagunçou os cabelos, nervoso. — Alguém vai subir comigo?
— Provavelmente só o e a , já que os outros estarão ocupados. — o mais velho respondeu.
— Bom, estou indo começar as coisas com o Ryan. — Emma disse pegando uns papéis e saindo com o rapaz, logo depois de dar um beijo no rosto de , que sorriu para a mulher.
— Então, vamos? — perguntou mais para que para .
— Charlie, posso ficar escrevendo em vez de ir ver o interrogatório? — pediu fazendo cara de cão sem dono, arrancando uma risada fraca de Lucy, que balançou a cabeça negativamente e saiu da sala para começar a fazer suas coisas.
— Toma, Brian. — Charlie disse lhe entregando um papel e, logo após o rapaz sair, se virando para . — Por que não quer ir assistir ao interrogatório? Vai ser divertido!
— Não, não vai ser divertido ver eles dois torturando dois caras. — ela rebateu bufando.
— Acostume-se, querida. O que você mais vai ver será um desses dois, senão os dois, maltratando alguém. — Charlie disse dando um sorriso irônico.
— Vamos logo, . — disse puxando a mulher pelo braço.
— Eu não quero, poxa. — ela murmurou fazendo um bico.
— E isso de fazer carinhas não funciona com a gente. — disse, empurrando e pela porta já aberta. — Até mais, Charlie.
— Ainda não se recuperou da ressaca, ? — perguntou, já no corredor, segurando uma risada.
— Ah, cala a boca, vai. — rebateu dando um soco no ombro do amigo e rindo.
— Mas é um fraco mesmo, hein?— balançou a cabeça negativamente.
— Eu sou o fraco?! — perguntou estreitando os olhos. — Não fui eu quem arregou pra pegar a...
— Tá, , pode calar a boca. — revirou os olhos e deu um tapa na cabeça do amigo, que riu e fez o mesmo com ele. Foram se estapeando — e se socando — até a porta do elevador.
arqueeou uma das sobrancelhas.
— Vocês são sempre assim? — ela perguntou. — Sério, vocês têm mesmo mais de vinte anos?
— Tava demorando pra você começar a reclamar, né? — provocou.
— Cala a boca. — ela pediu revirando os olhos.
— Só não te mando vir calar porque o está aqui. — ele disse mordendo o lábio inferior e o outro soltou uma gargalhada gostosa.
— Me senti uma vela de sete dias agora. — ele disse ainda rindo e fazendo revirar os olhos. Aqueles dois — principalmente — conseguiam tirá-la do sério. De verdade.

Logo chegaram à sala onde os caras estavam algemados.
— Finalmente. — disse um rapaz de cabelo castanho claro e olhos verdes.
— Cala a boca, Jack. — disse passando por ele e abrindo a porta da sala.
mordeu o lábio inferior ao sentir a tensão do local e decidiu por não entrar na sala.
— Você não vem? — perguntou e ela negou com a cabeça. — Certo. — ele murmurou olhando para Jack e depois para novamente. Suspirou e entrou na sala, fechando a porta.
se encostou no vidro e encarou começando a falar com os caras com um sorriso malicioso nos lábios. No fundo, ela sabia que ele era daquele jeito por ter perdido o pai. Ela sabia mais ou menos sobre a história de , mas... Nada justifica esse jeito grosso dele de ser.
baixou os olhos ao ver ligar o aparelho de choque e passar aquela corrente elétrica — não muito alta — pelo corpo do homem, que chegara a revirar os olhos.
A garota levantou os olhos novamente para o vidro ao ouvir dar duas batidinhas para chamar sua atenção.
— Tem certeza de que não quer vir se divertir com a gente? — ele perguntou dando uma risada.
— Tenho, . — ela disse alto para ele escutá-la e revirou os olhos.
— Você é quem sabe. — ele deu de ombros e andou em passos rápidos até onde os homens se encontravam, inclinando o corpo para frente e ficando bem próximo ao preso.
suspirou alto e saiu dali. Não era obrigada a ver torturas, certo? É, certo.
Dentro da sala, desligava o pequeno aparelho que dava choque, ainda, no primeiro cara.
— Você não vai dizer nada? — perguntou mordendo o lábio inferior.
O homem tinha o rosto inchado por causa das belas porradas que dera e tremia levemente devido a tantos choques. O coitado mal conseguia respirar! Porém já devia saber que correr atrás do melhor policial dali, falhar e ainda por cima ser preso, daria naquilo. Ou em algo pior, como a morte.
se afastou e passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os mais.
, me deixa sozinho com eles. — pediu e o amigo o encarou. — Sério. Você tá assustando eles demais hoje.
— Ah, qual é? — murmurou. — Eu tô falando e fazendo o de sempre.
— Só que baixo demais. — disse dando um sorriso torto para o amigo. — Eu não ouvi nada do que você acabou de falar. Só vi o cara arregalando os olhos. E, de qualquer forma, me deixa sozinho com eles um pouco. — ele finalizou. — Juro que se não resolver, deixo por sua conta.
— Certo, certo. — revirou os olhos e depois encarou, por uns segundos, cada um dos caras e saiu da sala.
— E agora somos só nós três. — murmurou e puxou uma cadeira, ficando de frente para os dois homens. — Por que tentaram me matar? — ele perguntou e os caras ficaram em silêncio. Um deles porque estava bem machucado e usava suas últimas forças para respirar, e o outro, que tinha poucos ferimentos, ficou em silêncio por medo.
— Ordens. — o homem menos machucado murmurou ao ver se levantar e se preparar para ligar o choque novamente. — A gente não conhece os caras e...
— Ordens de quem? — perguntou ficando frente a frente com o homem que falou. — Vamos por partes.
James. — o homem disse rápido e encarou o amigo por uns segundos, que tinha um olhar triste e medroso. — Não sei o sobrenome. Só sabemos o nome dele porque um cara o gritou.
— E por que mandaram vocês atrás de mim? — perguntou se sentando.
— Porque você estava atrapalhando os planos deles. Não sei que planos são. — o homem se apressou em responder. — Só sabemos que eles ainda vão matar muita gente pra conseguir o que querem.
— E o que eles querem? — se aproximou do homem.
— Não sabemos. — o homem murmurou abaixando os olhos e rezando para que não saísse da cadeia enquanto essas pessoas estivessem vivas.
suspirou.
— Não quero torturar mais vocês dois. — se aproximou. — Então é bom que me digam logo tudo o que sabem.
****

James estava trancado em seu quarto com um cigarro de maconha entre os dedos. Às vezes se perguntava por que diabos simplesmente não esquecia tudo o que aconteceu e saía daquela merda de vida. Mas era coisa demais para ele esquecer assim, de repente. Ele era o mais novo de todos naquele maldito grupo de bandidos, sim, ele os considerava bandidos... E era isso que eles eram, certo? Sim. E por ser o mais novo, via sua vida indo para o espaço. Ele tem tudo para conseguir se salvar, ou tinha. Ele poderia pedir a seu pai para dar um jeito naquele velho asqueroso que era aquele tal Castellamare. Mas recorrer ao seu pai e pedir para ele se livrar de uma — ou umas — pessoa(s) seria risco demais. Ele teria que contar a verdade, a qual... Não é certa. A qual o pai não merece saber. Ele poderia ser o monstro que fosse, mas amava o pai de verdade. A única pessoa que ele ainda respeitava naquela droga de mundo. James até pensara em suicídio quando fizera a maior merda de sua vida, mas aí já seria covarde demais, não? Porém, covardia nenhuma era maior que a que ele fizera com sua... Mãe. Não que ela fosse sua mãe de verdade, mas, de qualquer forma, ela fora a mulher que o criou. Ela não merecia um fim daquele por mais que tivesse muitos segredos e seu pai não soubesse de nada. James sabia muito bem que tudo o que fizera fora por um momento de puro desespero e medo, talvez. Ele estava cego. Cego de raiva. Cego de medo. Ele não queria acreditar no que escutava da boca daquelas pessoas, não queria acreditar no que seus olhos viam. Mas aquelas pessoas — as quais ele é "amigo" hoje — tinham provas demais e conseguiram fazer sua cabeça que, naquele momento, estava influenciável demais, vulnerável demais. Doía lembrar aqueles dias. Doía mais ainda ver o que ele se tornou depois da morte de Owen Mangor. Doía mais ainda notar que ele mesmo ajudou a matar a mulher que lhe criara. Mas, oras! Ela mentiu para ele durante vinte anos! E enganara seu pai por muito mais tempo que isso e não era nem sequer capaz de fazer as contas! Mangor havia agido como uma grande vadia por tempos. E quando James descobrira tal coisa, ficara revoltado. Revoltado por descobrir que era filho somente de seu pai - não, ele não saíra de Mangor! Revoltou-se mais ainda ao descobrir que ela traía seu pai, o homem mais honesto que ele já conhecera! Revoltou-se também por descobrir que ela desviava dinheiro de suas empresas, as quais seu pai achava que ela cuidava bem... James não aguentara toda aquela pressão e também o que disseram para ele naquela maldita noite. Mas ele poderia ter resistido a eles, claro. Nada justifica sua reação. Mas ele estava tão cego de raiva que... Topou entrar para aquele maldito grupo de amigos. Pessoas que juraram acolhê-lo e... Ajudá-lo. Mas, não! Era tudo mentira. Tudo para ele se afundar junto a eles, caso o planinho de merda que eles tinham em mente desse errado. James sabia que a qualquer momento ele poderia explodir e abrir a boca. Mas sabia também que quando isso acontecesse, seu pai já podia arrumar todo seu velório e preparar as lágrimas. Lágrimas de desgosto, principalmente. Porque sim, aquelas pessoas eram baixas o suficiente para contar ao seu pai as maldades que ele fizera. Ele não estaria mais no mundo dos vivos para se defender e contar ao pai que fizera tudo por estar cego de ódio e sob pressão. E era isso que o fazia desistir de contar toda a verdade a todos. Mas como o querido policial ainda estava vivo, ele ainda tem a quem recorrer, certo? Não, oras! Claro que não! o prenderia. Ainda mais se descobrisse toda a verdade nos mínimos detalhes. Porque, ao contrário de Jesse e Lucy, ele sabia realmente qual era a intenção de Castellamare com todas aquelas mortes.
James apagou seu cigarro e se levantou, indo em direção a uma foto de Mangor que ele guardava ali. Talvez para se torturar mais ou talvez para convencer seu pai de que ele sentia falta daquela mulher, o que não era totalmente mentira.
— Desculpa, Owen. — ele murmurou para a fotografia e sentiu sua cabeça girar levemente. — Eu sei que isso não vai te trazer de volta. Mas me desculpa, tá? — ele riu de si mesmo e encarou a foto em suas mãos. — Você não merece. Mas meu pai me ensinou a pedir desculpas, até mesmo às pessoas que não merecem, quando estamos errados. — ele murmurou e largou a foto em qualquer canto. Encarou seu quarto e piscou algumas vezes. O efeito da maconha — e das outras drogas de mais cedo — estava começando a aparecer. Os pôsteres em suas paredes estavam distorcidos, os rostos dos integrantes das bandas não estavam normais. Ah, como ele adorava ficar chapado! Esquecia-se de tudo — ou quase tudo — e sentia-se leve.

****


— Então... A gente só tem que encontrar esse James pra descobrir logo tudo? — Charlie perguntou com um certo brilho no olhar. Nunca pensara que seria tão fácil. — Isso não tá fácil demais?
— Está. Por isso eu acho que devemos agir logo para descobrir se isso é verdade ou não. — disse, bagunçando os cabelos novamente.
— Então comece, — Charlie piscou um dos olhos. — É tudo com você agora. Você só tem que me manter informado.
— Certo... E onde tá todo mundo, afinal? — estreitou os olhos.
— Resolvendo as coisas deles, eu acho. — Charlie deu de ombros. — Se vira.
— Mas você deu ordem a eles, Charlie. — o rapaz revirou os olhos. — E quando você faz isso, enche eles de trabalhos e...
— Então converse com e faça ela...
— Tá, eu vou procurá-los. — o interrompeu bufando.
— Você não pode deixar ela de fora mesmo... — Charlie murmurou dando de ombros e , que já estava na porta, se virou para ele.
— Como é que é? — perguntou confuso. — Por mim ela só sabe das coisas quando eu estiver contando pra todo mundo junto e...
— Você. Não. Vai. Deixá-la. De. Fora. E. Fim. — Charlie disse pausadamente. — Ela é da equipe agora. E você não vai fazer o que fez quando trabalhou com Jack. Quero comunicação entre vocês, . Você já está bem grandinho para fazer esse tipo de coisa.
— Mas ela é tão...
— Dane-se. — Charlie deu um sorriso debochado. — Quero comunicação entre todos vocês. E lembre-se que, antes de você, eu mando aqui. E você se deu bem com os novatos. — o mais velho revirou os olhos. — Qual o problema com ela? É por ela ser muito o seu tipo e não te dar tanto mole quanto as outras?
— Meu tipo? — ele soltou uma gargalhada um tanto quanto forçada. Sabia que Charlie dizia a verdade.
— Vai mesmo tentar me enganar? — Charlie revirou os olhos. — Eu lembro como você agiu quando viu a Emma e ela não te deu condições...
— Tá, Charlie. — revirou os olhos e abriu a porta. — Você vai ter a comunicação que tanto quer entre todos nós, ok? Mas tira essa ideia da cabeça. — ele finalizou bufando e saiu.
Charlie ficou rindo sozinho em sua sala. Sabia que estava interessado na garota. Ou, no mínimo, tinha a achado muito bonita... Ou como ele diria: gostosa. Mas não assumiria isso para ninguém, devido à forma que ele já a tratou e por ela não ter lhe dado chances e sempre o rebatê-lo à altura.


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Nota da autora: Sem nota.





Outras Fanfics:
» Pull Me In 2 - Fire
» 02. Fire (Spin-Off de Pull me In)
» Sombras do Passado
» Supernova

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