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Capítulo 11

Ficaram durante exatamente três dias procurando o tal James. Perda de tempo? Talvez. Mas não podiam desperdiçar qualquer pista que encontrassem, e esse nome fora a primeira de muitas que poderiam vir se o encontrassem. Não foi uma coisa fácil, até porque aquele nome era bem comum e nem sobrenome eles tinham para ajudar, mas encontraram. Se era mesmo o James que os caras falaram? Era sim. Eles não mentiriam para , porque após encontrarem fotos de vários homens com tal nome, levaram tudo para os rapazes e eles indicaram qual era o real James.
— Então, quem vai? — perguntou.
— A — Emma disse. — Ele não vai desconfiar dela. Vai achar que ela quer falar sobre a morte da Mangor e tudo o mais.
— Certo... — suspirou e entregou a foto com o endereço escrito atrás para . — Arranca dele tudo o que conseguir.
— Certo. — murmurou, prendendo os cabelos em um coque frouxo. — Vocês não conseguiram nenhum telefone? — ela mordeu o lábio e balançou a cabeça negativamente.
— Por quê? — ele perguntou.
— Seria melhor. Eu falaria com ele pelo telefone dizendo que queria encontrá-lo em algum lugar para uma entrevista, aí ficaríamos em um lugar público, caso ele tentasse algo, e vocês poderiam chegar logo depois para fazê-lo falar alguma coisa que ajudasse. — ela explicou calmamente e estreitou os olhos, tentando esconder sua surpresa pela ideia tão boa.
— Não conseguimos telefone nenhum. — Emma disse suspirando. — Mas de qualquer forma, fica tranquila. A gente vai estar lá.
— Não pode ser muita gente, Emma. — murmurou. — Tem que ir pelo menos uma pessoa com ela.
— Um de nós, você quer dizer. — se meteu. — Não vamos mandar a Emma ou a Lucy para “proteger” — ele fez aspas com os dedos — a . Por mais que elas saibam brigar e atirar muito bem, tem que ir um cara com ela pra ficar escoltando de longe.
encarou o amigo e bagunçou os cabelos logo depois.
— Emma está ocupada com o Ryan organizando as outras coisas, certo? — murmurou. — e Lucy ainda estão trabalhando nas pistas que encontramos no laboratório...
— E eu vou com Charlie hoje para pegar o resto das armas. — Brian o interrompeu.
— Não precisa ir ninguém. — murmurou ao notar que o único desocupado do dia era . — Sério mesmo. Eu sei me virar, tá? Eu só tenho que perguntar algumas coisas. Não vai ser tão difícil.
— Você ao menos leu o endereço? — perguntou. — É perigoso.
— É, . — Emma murmurou, dando um sorriso fraco.
— Eu não me importo de ir. — disse num fio de voz e um tanto quanto emburrado, fazendo Emma segurar uma risada. Sabia que o rapaz estava fingindo não se importar porque Charlie mandara.
arqueou uma das sobrancelhas e depois encarou Emma, que continuava sorrindo para ela.
— Certo, então. — ela disse baixo e piscando algumas vezes.
— Vou perguntar aos caras que horas esse tal James costuma ficar lá. Porque, de fato, ele não mora num lugar desses com o pai que tem. — disse rápido e se levantou.
Emma continuou segurando o riso e puxou Ryan pelo braço, saindo da sala com o rapaz em silêncio.
— Eu vejo os horários com eles, . — Brian disse. — Relaxa. Tenho que me encontrar com Charlie agora.
— Ah, beleza. — tentou sorrir. A verdade era: ele não queria ficar ali sozinho com e ter que discutir coisas de trabalho com ela. Não que ela não soubesse o que deveria ser feito, mas... Ele não se sentia à vontade. Preferia Emma no lugar dela. Ou qualquer outra mulher.
— Vamos voltar ao laboratório, Lucy. — estendeu a mão para a ruiva, que a segurou e se levantou preguiçosamente.
Não demorou muito para e ficarem sozinhos. se sentia... Estranho com ela ali. Ele demorara quase dois anos para conseguir uma sala só para ele. E aí, quando ele já está acostumado a ficar sozinho, uma jornalista, que Charlie de repente decidiu enfiar na equipe, tem que ficar ali, em seu lugar, escrevendo. Aquilo o deixava agoniado. Sentia-se vigiado.
— Certo, eu vou escrever em outro lugar. — ela murmurou, incomodada, e piscou os olhos algumas vezes, notando que se perdera em pensamentos a encarando.
— Não! — ele disse alto e depois fez uma careta. — Charlie não... — ele respirou fundo e revirou os olhos. — Não me quer te tratando mal e tudo o mais. — ele mordeu o lábio e segurou um sorriso. — Fica aí, escreve, faz o que quiser. — ele finalizou num fio de voz, sem jeito.
— Eu realmente não quero incomodar, . — ela disse num tom calmo. Tentando deixá-lo menos frustrado. — E... — ela foi interrompida por Brian, que abrira a porta com pressa.
— Desculpa atrapalhar. — ele começou sem jeito. — Mas é o seguinte, o cara só tá nesse endereço aí à noite. — ele coçou a cabeça, mordendo o lábio. — À noite que eu digo é depois das dez.
— O QUÊ? — e gritaram juntos.
— Charlie disse que não quer que passe de hoje, então decidam logo o que vão fazer. Agora preciso correr para verificar as armas. — ele finalizou com pressa e saiu, fechando a porta.
bufou e se sentou novamente, encarando a mesa. Eles teriam que passar o dia e... A noite juntos?
****

James se encarou no espelho e ignorou seu rosto, que mais parecia o rosto de um doente. Não se importava muito de parecer um retardado, todos pensavam que ele estava abatido daquela forma devido à morte de Mangor. Mas o motivo real não era esse. E ele nem se daria o trabalho de contar a todos qual era, não pretendia desapontar o pai mais uma vez e com um motivo pior que todos os outros.
Respirou fundo e desceu as grandes escadas da casa, pulando de dois em dois degraus.
— Vou sair, pai. — ele murmurou, dando um meio sorriso para o mais velho que estava sentado no sofá.
— Volta pra casa hoje ou vai dormir na casa dessa sua namorada? — o homem perguntou, virando-se para o filho com um sorriso calmo. Ah, namorada. Mal sabia seu pai que isso era tudo invenção.
— Não sei. Eu te ligo pra avisar caso eu fique lá, tudo bem? — ele tentou falar num tom calmo, mas sua voz saiu um tanto quanto trêmula. Mas seu pai não percebeu.
James deu uma última olhada na casa e suspirou. Sentia que algo estranho aconteceria àquela noite. Jesse estava ansioso demais no telefone quando o pediu para chegar ao lugar de sempre mais cedo.
Após sair, entrou no carro e ligou o som. Demoraria pouco mais de meia hora para chegar num lugar um tanto quanto perigoso. Mas nada que ele não estivesse acostumado a frequentar.
James dirigia de seu jeito normal — nem tão rápido, mas também não tão devagar —, gritava as músicas que tocavam em seu rádio e, vez ou outra, dando alguns tragos em seu cigarro. Não se importava de beber ou fumar dirigindo. Quem o pegaria àquela hora e por ali? Ninguém.
****

— Tomem cuidado. — Emma disse, preocupada, enquanto encarava e .
— Relaxe, tá? Já fui lá antes. — tentou tranqüiliza-la.
— Você sim. Ela não — a mulher disse suspirando.
— Emma, fica calma, ok? — abriu um sorriso e passou um dos braços por cima do ombro da mulher, dando-lhe um beijo rápido no rosto. — A gente volta rápido.
— De qualquer forma, se cuidem. Aquilo lá é bem sinistro. — a mais velha reforçou.
— Tá, tá. Agora nós vamos. — disse, beijando a bochecha de Emma rapidamente e seguindo para o estacionamento com . Entraram no carro de e deram partida — com dirigindo, por incrível que pareça.
— Vai demorar, sei lá, meia hora pra chegar lá nessa velocidade. Se você quiser diminuir o tempo... — murmurou, mordendo o lábio.
— Está bom assim, . — ela disse, abaixando a cabeça. — Tenho que organizar esses papéis. Se você correr muito, eu não vou conseguir escrever — ela o olhou de relance e logo voltou para os papéis em seu colo.
— Certo. — ele deu de ombros e voltaram ao tão amado (sintam a ironia) silêncio.
estava tensa. Era a primeira vez que tentaria conseguir pistas. Sentia o famoso frio na barriga e suas mãos suavam levemente, ao contrário de , que parecia bem... Confortável com aquilo tudo. Certo, ele já era acostumado. Mas ainda assim! Nem uma ponta de nervosismo? Ou ele só não demonstra mesmo? era um enigma. Aos olhos de , pelo menos. Porque pelo jeito que agia e tratava Emma e os outros era totalmente diferente, eles pareciam realmente conhecê-lo. Às vezes, se sentia curiosa em relação à isso. Seria um cara bom? No fundo, no fundo? Talvez. E ela realmente não queria se preocupar com isso agora. Após mais alguns minutos dentro daquele maldito carro, naquele maldito silêncio, parou o carro na entrada de uma rua.
— Você tem que ir sozinha. — ele começou. — Pelo menos até lá no final. Eu vou ficar olhando daqui.
— O quê?! — ela perguntou assustada e logo depois deu uma risada nervosa. — Você é louco? Eu nunca entrei aqui e...
— É só ir reto, . — ele revirou os olhos suspirando. — E sempre no meio da calçada. Não anda grudada nas paredes. Porque naqueles becos — ele apontou para os lugares — sempre têm alguns traficantes. E eu sou pixado por aqui... — ele deu uma risada fraca e coçou a nuca. Ah. Claro! Havia se esquecido que estavam no território de bandidos que detestam com todas as forças.
— Certo, certo. — ela revirou os olhos e pegou suas coisas.
— Tente não demorar. — ele murmurou. — Qualquer coisa, liga. Eu vou ficar aqui esperando.
— Tá. — ela respondeu e saiu do carro, apertando o casaco e a bolsa contra o corpo. realmente sentia uma necessidade de ir com ela e protegê-la por saber que ela era uma mulher mas... Se ele entrasse ali e chegasse aos ouvidos do mandante de tudo, ele estaria morto. Então, como de normal: a que se ferre.
ficou observando-a adentrar a rua e sentiu um arrepio percorrer a espinha. Nunca fora bom para ele entrar ali e/ou ver alguém entrando. Era... Desesperador, talvez. Todas as vezes que entrara ali, saíra com bandidos presos. Isso lhe dava orgulho, claro. Porém, apesar de sempre pegá-los, já fora pego por eles também. Não que quando isso acontecera, ele não reagira até conseguir sair de lá e encontrar com os outros no exato lugar onde ele estava parado agora. Mas... Aquilo ali não lhe trazia lembranças boas.
Balançou a cabeça novamente e olhou para frente. Agora ele via apenas a sombra de . Estreitou os olhos na intenção de enxergar algo mais, porém não conseguiu. Ligou o carro e andou mais alguns centímetros para poder observar a cena melhor. fora parada pelos traficantezinhos de merda que ficavam pelos becos. Oras! Ele avisara para ela não andar colada àqueles muros!
bufou e conferiu se a arma estava em sua cintura, abriu a porta do carro e saiu. Ajeitou o casaco no corpo e começou a caminhar lentamente até onde a mulher estava.
— Solte-a. — ele disse calmamente para um dos rapazes que segurava com força o braço de que, inutilmente, tentava se soltar. — Já mandei soltar.
— E quem você pensa que é? — o rapaz que segurava um cigarro de maconha perguntou.
— Eu estou falando com o que está segurando a garota. — continuou com a voz calma. — É pra você soltá-la. De verdade, cara.
— Porra, chegamos primeiro! — O rapaz que segurava o braço de disse, se virando para . Os caras nem sequer conseguiam ver seu rosto direito devido à escuridão. Mas via muito bem os rostos daqueles dois idiotas.
— Vocês sabem com quem estão falando? — perguntou suspirando, enquanto puxava pelo braço e a colocava atrás de seu corpo. Ele pôde sentir que ela tremia e fungava um pouco, havia chorado.
— Não importa quem você é. Só sabemos que está atrapalhando nossa diversão. — o rapaz que segurava o cigarro murmurou, inconformado.
— Já ouviram falar de ? — ele perguntou, dando um passo à frente e abrindo o casaco, deixando a arma à mostra.
— Ah, claro, o policial fodão. Sei. — o rapaz, que antes segurava , disse entre dentes e revirando os olhos. — Cara, não importa. Só some daqui e...
— Vocês estão falando com ele agora. Têm certeza que querem mexer com a garota que está com ele? — ele perguntou, dando outro passo e ficando embaixo da pouca luz que vinha da pequena varanda de uma casa. A luz era bem fraca, mas dava para ver perfeitamente o rosto de e a arma brilhante em sua cintura. Os rapazes engoliram seco ao reconhecerem — e ao verem a arma também, claro.
— Você é louco de aparecer aqui. — o rapaz do cigarro deu uma risada nervosa. — Todo mundo quer a sua cabeça.
— É, tô sabendo. — deu de ombros e deu mais um passo. — Mas ninguém nem vai saber que fui visto por aqui porque ninguém vai contar. Certo?
— Tem certeza que ninguém vai contar? — o rapaz que segurou deu um passo à frente.
— Absoluta. — respondeu pausadamente.
— Devolve a garota e ninguém fica sabendo. — o do cigarro disse e soltou uma gargalhada.
— Ainda não se deram conta de que estão falando com o real ? — ele perguntou e se aproximou do rapaz, segurando seu pescoço com força, puxando a arma e mirando-a no rosto do drogadinho. — É o seguinte, eu quero saber de um tal James. Me diga isso e eu deixo vocês vivos e finjo que você não tentou me subornar, de certa forma, porque queria agarrar a minha parceira aqui.
— Eu... — o rapaz tentou falar e diminuiu a força. O do cigarro, a essa altura, já tinha saído correndo.
Covarde.
deu uma risada fraca e se aproximou. Estava nervosa.
— James o... Filho da Owen Mangor? — o rapaz perguntou, arregalando os olhos.
— É. Esse mesmo. — respondeu.
— Ele não apareceu hoje. Digo... — o rapaz engoliu seco novamente. — Ele apareceu. Só que bem mais cedo hoje. Todo mundo achou estranho. Ele encontrou com o amigo dele e saíram daqui. Ninguém o viu mais.
— Tem certeza do que está dizendo ou só quer se livrar da gente? — perguntou alto e nervosa, fazendo a olhar dando uma breve risada. Ela realmente estava com raiva agora.
— Tenho certeza, droga. Eu o conheço. — o rapaz disse entre dentes e com a voz trêmula. Oras! Ele estava com uma porra de uma arma apontada em sua cara, com o policial mais foda de Londres apertando sua garganta e eles ainda achavam que ele iria mentir?!
— Certo. — murmurou. — Farei uma boa ação hoje e não vou te matar.
— Vamos logo, pediu, puxando-o pelo braço.
soltou o rapaz, ainda mirando a arma em sua direção. O rapaz passou a mão pelo pescoço e, após dar uma última olhada para os dois, saiu correndo. Não, ele não contaria para os outros caras que estava pelo bairro. Ele sabia do que era capaz.
— Está tudo bem? — Ele perguntou para , se preparando para guardar a arma na cintura novamente.
— Está... — ela respondeu, apertando mais o casaco no corpo. Olhou para trás e arregalou os olhos. — Droga. O outro falou com alguém que estamos aqui. — ela murmurou. — Tem um carro preto ali atrás.
— Droga. — murmurou ao olhar para trás e puxou a arma novamente, colocando em sua frente. — Anda o mais rápido que conseguir, estou logo aqui atrás.
— Tá. — ela respirou fundo e se segurou para não começar a correr.
Logo tiros foram ouvidos.
— Puta merda! Corre, ! — ele disse alto e , sem nem se importar dele a ter chamado pelo nome, correu. Correu o máximo que conseguiu. Ouvia os tiros na direção deles e nem sequer sabia como estavam desviando de tudo. segurou-a pela cintura e puxou-a para um beco escuro. Ficaram ali uns segundos para recuperar a respiração, mas as pessoas do carro não desistiram. Começaram a distribuir tiros na direção deles novamente.
— O que tá acontecendo, droga? — perguntou desesperada, enquanto a puxava para atravessar aquele beco.
— Estão tentando nos matar! Você não percebeu isso ainda, droga? — Ele quase gritou, perdendo a paciência. A mulher encolheu os ombros ao pararem de correr novamente. Estavam em outra rua.
— Estamos em outra rua! — ela disse. — Como vamos chegar ao carro?
— Não estamos exatamente em outra rua. — olhou para os lados e a puxou pelo braço. — Se seguirmos por aqui, saímos exatamente onde o carro está parado.
— Wow! — deixou escapar e ele deu uma risada nervosa. Como é que ele conseguia se lembrar daquele lugar e pensar daquela forma no meio de um tiroteio? estava, de fato, admirada com isso tudo. era brilhante. E inteligente. Extremamente brilhante e inteligente.
Caminharam o mais rápido que conseguiram e logo avistou seu carro. Correram em direção ao carro e abriu a porta rápido, entrando em seguida, já que conseguira entrar sozinha. Ela tremia tanto que ele realmente achou que iria ter que ajudá-la a entrar no carro.
— Vou precisar que use seus dotes de atiradora. — Ele disse depois de ligar o carro. — Abra a janela. — ele pediu e ela o obedeceu sem rebater. — Toma. — ele lhe entregou a arma que usava antes. — Se o carro estiver atrás de nós e começarem a atirar, coloque uma boa parte do corpo para o lado de fora e atire de volta. Tudo bem? — ele finalizou e a encarou enquanto arrancava com o carro.
— Aham. — ela murmurou, segurando a arma com força.
Assim que cruzaram uma das ruas, viram o maldito carro preto logo atrás. — Você vai me desculpar, , mas se eu não correr agora, seu carro fica pior que meu Impala — ele murmurou e pisou no acelerador, fazendo-a arregalar os olhos.


Capítulo 12

No dia seguinte, estavam todos reunidos na sala de Charlie. ainda tinha a expressão assustada pelo que passara na noite anterior com . Já ele, ao contrário dela, não parecia nada abalado. Tudo bem, ele já passara por isso antes. Mas... Senhor! Ele quase morreu na noite passada, mais uma vez, e estava ali, super tranquilo.
— Como foi ontem? — Charlie perguntou para e , que se entreolharam respirando fundo.
— O James sumiu. — murmurou. — De acordo com um drogadinho de lá, ele apareceu durante o dia e depois simplesmente sumiu com um amigo.
— De acordo com um “drogadinho”? — Charlie estreitou os olhos.
— É... A saiu do carro e foi andando até a casa que o James costuma ficar — começou a explicar —, eu fiquei no carro e...
— Você a deixou ir sozinha? — Charlie perguntou.
— Se você me deixar explicar, vai entender. — rebateu, bufando.
— Certo. Continue. — o mais velho revirou os olhos.
— Eu fiquei no carro porque eu já tô pixado naquele bairro — ele disse a última parte mais alto, fazendo Charlie revirar os olhos novamente. — E aí ela foi andando até lá e uns caras pararam ela. Aí — ele levantou a mão direita ao ver que Charlie iria começar a falar — eu saí do carro e fui lá. Os caras demoraram a perceber quem eu era... Enfim... Eu dei um susto em um dos caras, o que ficou apertando o braço dela. — ele apontou para a marca que havia no braço de . — Aí depois de nos contar o que queríamos saber, ele saiu correndo. O amigo dele, que estava fumando maconha, já tinha corrido por tempos. Quando estávamos vindo embora, apareceu um carro preto, bem parecido com os que me seguiram da outra vez, atrás da gente. Estamos achando que foi o garoto da maconha quem avisou que eu estava por lá. — terminou a explicação, deixando quase todos ali de olhos arregalados.
— E lá se vai mais uma pista importante. — Charlie murmurou entre dentes.
— Podemos continuar procurando o James, Charlie. — murmurou para tentar animá-lo.
— Se souberam que vocês estiveram lá atrás do James, tem 99% de chances de ele estar morto agora. — o mais velho disse, fazendo engolir seco. E se James realmente estivesse morto? A única pessoa que poderia dizer algo concreto a eles... Ah, droga. Estavam perdidos. Teriam que começar do zero de novo.

****

forçou Lucy contra uma das paredes daquela sala mal iluminada.
... — a mulher murmurou com a respiração pesada. — Estamos no meio de uma crise e você...
— Fica quieta. — ele sussurrou, forçando seus lábios sobre os da mulher e fazendo-a retribuir na mesma hora. Lucy nunca resistira a mesmo. E... Deus! Quem resistia àquele homem? Ela que não seria a primeira louca.
— A porta. — ela murmurou entre os beijos que o rapaz evitava partir. — , a porra da porta está destrancada.
— E daí? — ele perguntou, descendo os beijos para seu pescoço e deixando-a toda arrepiada.
— E daí que alguém pode chegar. — ela respondeu num fio de voz enquanto colocava as duas mãos por debaixo de sua blusa. — Quer saber? — ela murmurou quando puxou sua blusa, jogando-a longe. — Foda-se. — ela finalizou, puxando o rapaz pela nuca e juntando seus lábios urgentemente.
Lucy mordeu o lábio com força ao sentir uma das mãos grandes de pousar em sua coxa e apertar com força, deixando uma marca. Ela sentia seu corpo queimar a cada toque que ele lhe dava, sentia seu corpo tremer a cada leve toque dos lábios de em seu pescoço e ombro. Então, sem perder mais tempo, arrancou a camisa do rapaz, jogando-a o mais longe possível. Ele deu um sorriso maldoso para a mulher e juntou seus lábios novamente, levando as mãos para as costas dela, abrindo o fecho do sutiã.
Lucy jogou a cabeça para trás e segurou a nuca de . O rapaz, ainda sorrindo maliciosamente, desceu os lábios até um dos seios de Lucy, fazendo-a morder o lábio inferior com força para segurar um gemido abafado. tinha uma das mãos em uma das coxas de Lucy, com a outra, ele massageava seu seio. A mulher, já nervosa, fora o empurrando para trás, até seu corpo bater em uma das mesas. Ela sorriu e derrubou todos os papéis que estavam ali em cima no chão. Logo depois, empurrou o rapaz ali, fazendo-o ficar completamente deitado. Após tirar seus sapatos atrapalhadamente, ela subiu na mesa também, deixando seu corpo por cima do dele, fazendo-o morder o lábio inferior por conta do contato direto. Lucy começou a distribuir beijos no pescoço de , fazendo-o se arrepiar a cada movimento leve que fazia com os lábios. Ele estava ficando nervoso com aquela coisa toda, ele a queria. E muito. Mais que qualquer coisa. Ele precisava dela naquele exato momento. E não enrolaria mais para tê-la.
Em um movimento rápido, ele levantou a saia da mulher — que não era tão grande assim. Lucy sorriu e voltou a beijá-lo com vontade, levando uma das mãos para a nuca do rapaz e a outra para suas costas, arranhando com força, mostrando a ele o quanto ela também o queria... O quanto ela necessitava de mais.

****

encarou Charlie e soltou uma gargalhada. Não acreditava no que estava ouvindo. Charlie realmente queria que ele fosse pedir desculpas a por coisas de semanas atrás? A mulher nem sequer devia lembrar o que ele falara quando fora atrás dela na redação! Talvez ela se lembrasse da forma que ele a tratara quando ela pedira a entrevista... Certo, ele devia desculpas. E sabia disso. Mas não iria até ela só para isso. Não iria mesmo!
— Charlie, ela nem deve se lembrar mais disso. — ele disse, revirando os olhos.
— Ela lembra, sim — Charlie rebateu. — Lembra muito bem. Porque no dia que eu fui conversar com ela sobre ela entrar na equipe, ela disse que não queria por sua causa. Ela disse que não queria ser tratada daquela forma de novo, que não queria ouvir um brutamontes falando coisas horríveis para ela porque ela não é mulher disso, . — Charlie finalizou entre dentes.
— Mas ela também me tratou mal! E depois, simplesmente, foi atrás de mim pra pedir uma entrevista! — o rapaz rebateu, nervoso.
— Primeiro: o que aconteceu naquela maldita redação já está mais que provado que foi um mal entendido. Segundo: ela foi te pedir uma entrevista porque a Emma mandou e a própria já disse isso na tua cara. E terceiro: você nunca foi assim com ninguém, . Digo... Você sempre foi um brutamontes. Mas é só com a que você é um brutamontes ao extremo.
— Você não sabe o que está dizendo! — bufou. — Ela me tratou tão mal quanto eu a tratei!
— Você ameaçou a prendê-la! — Charlie disse mais alto.
— Ela me mandou ir-me foder! — o rapaz rebateu, revirando os olhos.
— Desde quando isso é motivo para você tratar uma mulher do porte da mal? — o mais velho perguntou. — E desde quando te mandar ir se foder é motivo para prender alguém?
— É desacato a autoridade! — ele rebateu mais uma vez, tentando mostrar – mais para si mesmo que para Charlie – que estava certo.
— Vai se foder, . — Charlie disse, encarando-o nos olhos. — E aí, vai me prender?
— Você é o meu chefe! — ele disse como se fosse óbvio.
— E ela é uma mulher! — o mais velho disse mais alto ainda. — Você é um idiota. Um completo idiota. É assim que pretende ganhá-la?
— Quem disse que eu a quero? — perguntou, arregalando os olhos. Charlie era louco! Completamente louco!
— Não é preciso dizer. Está escrito na sua testa, nos seus olhos. Ou você acha que eu não me lembro de quando você viu a Emma e implicou com ela até conseguir um beijo, pelo menos? — Charlie rebateu com um sorriso no canto dos lábios. — Você sempre, sempre vai implicar com a mulher que quer para ver até onde ela aguenta. O problema, meu caro, é que a é totalmente diferente das mulheres que você costuma lidar.
— E você precisa de um médico. Rápido. — Ele murmurou, revirando os olhos.
Charlie soltou uma gargalhada.
— Ela é bem bonita. — Charlie murmurou, mordendo o lábio.
— Ela é gostosa. — comentou, sem nem notar, e Charlie soltou mais uma gargalhada.
— Está vendo como é idiota? — Charlie perguntou. — Você nem se deu conta do que acabou de dizer, né? — o mais velho riu mais, fazendo bufar. Charlie sempre fazia isso quando queria arrancar algo de .
— Eu não gosto dela, mas tenho olhos, porra! — ele rebateu, frustrado.

****

— O que vai ter para o jantar hoje, mamãe? — o garotinho loiro de olhos verdes – como os do pai – perguntou.
— O que você quer comer, Nicholas? — a mulher perguntou sorrindo.
— Pizza. — Ele respondeu sorrindo também. — Faz meses que a gente não pede uma pizza e come vendo filmes, mãe.
— Eu sei, meu amor. — a mulher suspirou e se sentou ao lado do filho. — Então vamos comer pizza assistindo qualquer filme na TV.
— Vamos! — o garotinho gritou empolgado, indo à sala para pegar o telefone sem fio, fazendo a mulher dar uma risada fraca. Era bom ver seu filho feliz depois de tudo o que passaram.
Pediram a pizza e esperaram uns minutos. Após chegar, se sentaram no sofá para assistir ao filme que Nicholas escolhera.
— Mãe... — Nicholas chamou baixo, fazendo a mulher encará-lo.
— Diga. — ela sorriu.
— Quando vai me levar para ver o tio Charlie e o de novo? — ele perguntou, dando um sorriso tímido.
Emma suspirou.
— Lá está uma grande confusão, meu amor. Não sei se vou poder te levar lá tão cedo.
— Mas, mãe, eu queria tanto ver eles de novo. — o garotinho abaixou a cabeça. — Faz muito tempo que eu não vejo eles já.
— Eu sei, meu anjo. Eu sei. — Emma suspirou novamente. — Tentarei, apenas tentarei, te levar lá semana que vem depois da escola. E por pouco tempo, porque nós temos que trabalhar, tá?
— Tá! — ele respondeu empolgado e abrindo um grande sorriso para a mãe.
Terminaram de comer e ver o filme, era quase meia noite, Nicholas já estava praticamente dormindo no sofá.
— Ei, amor, acorde. Vá para o quarto. — ela murmurou sacudindo-o de leve.
— Tá, tá. — ele resmungou coçando um dos olhos. Levantou-se, dando um beijo no rosto da mãe e subiu para seu quarto. Emma se levantou e levou os pratos e copos para a cozinha, lavaria a louça depois. Estava cansada demais para continuar de pé. Decidiu, então, tomar um banho quente e ir descansar. Poderia chegar tarde ao trabalho que Charlie não reclamaria, justamente por ela ter ficado esses dias inteiros trabalhando e deixando seu filho por conta de sua mãe. Caminhou preguiçosamente até o banheiro e tirou a roupa rápido, estava frio demais para ficar enrolando para entrar no banho. Ligou o chuveiro e deixou a água quente cair em seu corpo, fazendo seus músculos relaxarem. Após ficar embaixo d'água por uns minutos, um barulho estranho — na sala, talvez — chamou sua atenção. Ela, então, desligou o chuveiro com cuidado e se secou rapidamente. Não poderia ser Nicholas, a essa hora ele já estava em seu quinto sono.
Vestiu a roupa e saiu do banheiro com cuidado, ainda descalça. Ouviu passos se aproximando e correu para perto de sua escada. Quanto mais próxima de seu filho, melhor. Ali pôde, então, ver dois caras com máscaras pretas. Eles eram altos e vestiam roupas também pretas. Estavam armados. Emma engoliu seco e subiu as escadas devagar, os caras estavam indo em direção à cozinha. Como conseguiram entrar aqui?, ela pensou, ainda subindo as escadas devagar. Quando chegou ao último degrau, correu para o quarto de Nicholas sem olhar para trás. Se ela chamou a atenção dos caras? Não importava. Ela só queria pegar uma arma e proteger seu filho.
— Nicholas, acorda. — Emma murmurou.
— Mas mamãe... — ele ia começar a resmungar quando Emma colocou sua mão em sua boca.
— Fica quietinho. — ela murmurou e o garoto abriu os olhos. — É o seguinte, vou precisar que você me ajude, tá?
— Tá. — ele respondeu baixinho. — O que houve?
— Olha, tem uns caras estranhos aqui dentro que a mamãe não sabe quem são. — ela suspirou. — E nem sei como entraram. Mas você vai ter que ficar aqui dentro quietinho. Promete pra mim que só vai sair quando ouvir minha voz te chamar aqui?
— Tá, mas, mãe, como você vai fazer pra voltar? — ele perguntou, se sentando.
— Não importa. Eu venho te pegar. — Ela lhe deu um beijo na testa. — Qualquer coisa, você grita, tá?
— Tá bom. Eu te amo, mamãe.
— Eu te amo também, meu Nicholas. — ela respirou fundo. — Veste um casaco e fica dentro do armário. Vou levar a chave da sua porta comigo, tá?
— Tá, mãe. Se cuida. — ele disse baixo, vestindo o casaco e entrando no armário, como Emma mandara. A mulher suspirou e saiu do quarto do filho, fechando a porta e tentando fazer pouco barulho. Correu para seu quarto e pegou a arma carregada que havia embaixo de sua cama, calçou um chinelo qualquer e prendeu os cabelos em um coque. Após respirar fundo umas dez vezes, por medo, começou a descer as escadas devagar. Um dos caras ainda estava ali na sala, de costas para ela. Emma engoliu seco.
Era agora ou nunca.
Emma então lembrou-se de . A forma com que ele corria nas invasões.
Deu um sorriso torto e se preparou para correr e chamar a atenção dos caras para longe dali. Ela daria um jeito de voltar e pegar Nicholas.
Desceu os últimos degraus da escada e mirou a arma na direção de um dos homens. E, sem esperar mais, atirou.
— Vagabunda! — o homem que estava na cozinha veio correndo para socorrer o amigo e Emma correu para o outro lado da casa, entrando numa sala onde havia um grande piano. Jogou-se na frente do piano e ficou esperando os caras virem atrás dela. Não havia só aqueles dois, não mesmo. Eles estavam tranquilos demais para estarem sozinhos.
— Vamos achar você, Emma Cobain. — o mesmo que a chamou de vagabunda murmurou, entrando na sala onde ela estava. — Se entregue logo. Senão seremos obrigados a pegar o seu fedelho. — O homem soltou um suspiro ao notar que ela não se entregaria. — Certo, se não aparece por bem, vai aparecer por mal — e, após dizer disso, começou a distribuir tiros para todo o lado.
Emma se encolheu mais embaixo do piano e se arrastou para a lateral. Corria risco de levar um tiro? Sim, mas não iria deixar o cara destruir o lugar favorito de seu filho em sua casa. Não mesmo.
— Filho da puta! — ela gritou, atirando em sua direção e voltando para o piano. Havia errado vários tiros no cara, mas ainda estava em vantagem... Ou não.
Ouviu os passos se aproximando e prendeu a respiração. Ele iria pegá—la. Mas Nicholas lhe veio em mente, num movimento rápido, Emma se levantou e mirou a arma para o homem, dando dois tiros certeiros em seu peito, porém ele antes de cair ainda apertou o gatilho, acertando o braço da mulher de raspão.
— Droga! — ela murmurou, passando a mão no braço.
Emma mordeu o lábio inferior e caminhou com cautela até o corpo do homem jogado no chão. Chutou a arma que estava em seu lado e o sacudiu com o pé.
Morto.
Ela suspirou aliviada. Saiu daquela sala, ainda devagar. Ao chegar à sala, avistou o outro homem ali deitando e armado. Como ela passaria por ele sem ser atingida de novo? Por mais que ele estivesse ferido e não estivesse com muita força... Bastava ele levantar a arma em sua direção para lhe atingir. E se os amigos deles estivessem do lado de fora? E se eles também estivessem dentro de sua casa? Como faria para subir e pegar Nicholas para irem embora?
Emma passou a mão pelos cabelos e segurou as lágrimas que se preparavam para cair de seus olhos. Ela teria que arriscar. Teria que correr como fazia nas missões. Só que a diferença ali era que ela não tinha um colete a protegendo e estava sozinha. Ela teria que ir na marra.
Foda-se. Era a vida do seu filho em risco agora. Ela teria que ser mulher o suficiente para correr por ali como fazia no trabalho. Ela, então, preparou sua arma novamente e respirou fundo. O homem estava quase morto, sangrava demais. Emma lhe acertara no meio das costas.
Emma bufou e caminhou devagar na direção do rapaz, que respirava pesado. Ele estava fraco demais. Ela, então, grudou a arma na cabeça dele quando estava próxima o suficiente. Mudando completamente o plano que tinha em sua cabeça.
— Vou acabar com seu sofrimento agora. — ela murmurou ao vê-lo arregalar os olhos e tentar se virar para ela. Sem esperar uma resposta, apertou o gatilho e fechou os olhos. Não era do tipo que matava a sangue frio. Mas era a vida dela e do seu filho ou a desse bandido idiota que invadira sua casa sabe-se lá como!
Emma deixou as lágrimas rolarem por seu rosto e subiu as escadas correndo. Parou em frente ao quarto de Nicholas e a destrancou.
— Nicholas? — ela chamou e o garoto abriu a porta do armário. — Tá tudo bem?
— Aham. — ele murmurou, assustado.
— Vem comigo. A gente vai pra casa do até eu chamar ajuda pra vir pra cá, tá? — ela o puxou pela mão e fechou a porta atrás de si ao saírem. — Se alguém estranho aparecer, você corre e me deixa, tá? Fica escondido dentro do carro. Toma a chave. — ela entregou a chave na mão do pequeno.
— Mamãe, seu braço! — ele murmurou mais assustado ainda.
— Tá tudo bem. Agora vamos logo. — ela disse, puxando-o pela mão novamente. Desceram as escadas com cautela. Estavam prontos para sair quando a porta se abriu de repente.
Emma arregalou os olhos e jogou seu corpo na frente do de Nicholas.
— Corre, Nicholas! — ela gritou ao ouvir um tiro. Curvou-se na direção do corpo do filho para correrem juntos. Saíram pela porta dos fundos da casa. — Continua correndo, meu amor! — Ela gritou para Nicholas ao ver que o homem ainda estava atrás deles. De onde eles vieram, Deus?, ela pensou sem parar de correr. Logo pôde ver, de onde estava, que Nicholas já estava perto do carro e abrindo a porta. Seu filho era mais esperto do que imaginava.

****

! ! — Emma gritava e batia na porta do rapaz desesperadamente com Nicholas abraçado a sua perna.
— Calma, mamãe. O logo abre a porta, calma. — O pequeno murmurou assustado, mas ao mesmo tempo querendo acalmar a mãe.
— Eu sei, meu amor. — ela disse, tentando sorrir.
Uns segundos depois, abriu a porta, coçando os olhos.
— Mas que caralho... — ele começou a falar, mas ao encarar Emma naquele estado, com o braço ensanguentado e Nicholas agarrado a suas pernas, arregalou os olhos. — O que houve?! — ele perguntou assustado e puxando a mulher para dentro com o filho.
— Invadiram a minha casa, . — ela disse, secando as lágrimas e sentando no sofá com Nicholas.
— Ah, Deus... — ele murmurou e abraçou a mulher de lado. Nicholas continuava em silêncio. — Ei, garotão. — o chamou, tentando sorrir —, vai lá pro meu quarto dormir um pouco, vai. Está tarde.
— Certo... — ele encolheu os ombros. — Fica bem, mamãe — ele beijou o rosto da mulher, que apenas sorriu fraco. — Bom te ver, — ele sorriu e sorriu de volta, bagunçando seus cabelos.
— Bom te ver também, garotão. — o mais velho sorriu. — Agora vai lá dormir. — piscou um dos olhos e o garotinho seguiu para seu quarto. — Toma um banho e veste uma roupa minha. Aí a gente cuida do seu braço e depois você me conta o que aconteceu, tá? — disse devagar, passando a mão pelo rosto da mulher, que apenas balançou a cabeça.
Emma se levantou e fez o que o amigo mandou. Depois de quase uma hora, ela começou a contar o que aconteceu. ouviu com bastante atenção.
— Foi isso. — ela finalizou, suspirando e secando as lágrimas.
— Falarei com Charlie de manhã. Agora vai descansar, você precisa. — ele disse calmamente.
— Eu não entendo, ... — ela ignorou o que ele disse e deixou algumas lágrimas caírem novamente. — Primeiro você, depois o David, agora eu... Meu Deus! O que essa gente quer de nós? — ela olhou para o alto e suspirou. — Eu não quero viver nesse inferno, ! Não quero! Eu tenho um filho de dez anos pra cuidar!
— Ei, calma, Emma! — segurou seu rosto entre as mãos. — Eu tô com você, o Charlie com certeza vai nos ajudar, quando amanhecer ele vai mandar todo mundo pra sua casa para tirar os corpos. Seu filho tá dormindo no meu quarto e muito bem, graças à esperteza dele. Se acalma, linda. — ele a olhou nos olhos. — Vai acabar tudo bem. É só um ajudar o outro como sempre foi. Relaxa. Seu filho vai ficar em segurança. Eu prometo, Emma, nem que custe a minha vida, eu não vou deixar você viver nesse inferno. Nem você, nem ninguém. — ele finalizou, puxando-a para um abraço carinhoso.


Capítulo 13

soltou um suspiro pesado enquanto encarava o teto da sala. Estava preocupado com Emma e Nicholas. Sabia que Emma queria o melhor para o filho, o queria longe de toda aquela loucura que viviam. Mas... Sempre tem alguns infelizes pra acabar com seus planos, não é mesmo? O pequeno Nicholas passava os dias com a avó exatamente por causa disso. Porque Emma o queria longe. E justo no dia que ela queria fazer algo normal com o filho, aqueles filhos da puta aparecem em sua casa.
— Bom dia, . — o garotinho apareceu na sala, se sentando no outro sofá e coçando os olhos.
— Bom dia, garotão. — ele murmurou de volta, dando um sorriso fraco. — Tá tudo bem?
— Tá, sim. — ele respondeu sorrindo. — A mamãe vai ficar bem, não vai?
— Vai sim. — se sentou e encarou o garoto. — Sua mãe é forte pra cara... — ele interrompeu o palavrão e Nicholas o olhou estranho, levantando uma das sobrancelhas. — Sua mãe é forte pra caramba. — disse rápido, fazendo o garoto rir.
— Eu não me importo de você xingar na minha frente, . — ele deu de ombros e se ajeitou no sofá. — Eu não vou xingar também só porque você faz isso. Se você faz, é porque pode. Se eu fizer isso, minha mãe me bota de castigo, então... — o garoto terminou de falar dando um sorriso torto e riu.
— É. — O mais velho balançou a cabeça. — E aí, quer comer o quê?
— Qualquer coisa. — ele respondeu dando de ombros. suspirou. Era péssimo na cozinha. Por isso saía sem tomar café, almoçava na rua e comprava qualquer besteira para comer à noite.
— Certo. — murmurou coçando a nuca. — Eu sou péssimo na cozinha. Ou esperamos sua mãe acordar, ou você me espera ir ao mercado comprar qualquer besteira para não te deixar com fome.
— Eu espero. — Nicholas deu um sorriso fraco. — Posso assistir TV enquanto isso, então?
— À vontade. — respondeu sorrindo e seguiu para o banheiro. Jogaria mais uma água no rosto – já que não dormira e devia estar com uma aparência horrível – e sairia logo para comprar algo para Nicholas comer.
— Bom dia, querido. — ouviu de longe a voz de Emma falar com Nicholas e saiu do banheiro. — Bom dia, . — ela sorriu e se sentou ao lado do filho.
— Ei! Bom dia. — respondeu sorrindo. — Eu estava indo comprar algo para o Nicholas comer...
— Eu faço o café, não precisa se incomodar, tá? — ela se levantou, dando um sorriso fraco. — Tem as coisas aí, pelo menos?
— Deve ter. — o rapaz respondeu dando de ombros e pulando no sofá ao lado de Nicholas para ver desenho.
Emma revirou os olhos e foi até a cozinha. era um desorganizado.
— Você falou com Charlie, ? — Emma perguntou da cozinha.
— Falei. Ele disse que podemos chegar a hora que quisermos que ele dá conta das coisas com os outros. — respondeu. — E quando formos para lá, é para levarmos o Nicholas. — ele se levantou e caminhou até a cozinha para não precisar falar alto. Nicholas não precisava saber de detalhes. — É bom deixá-lo com a gente. Sabe, levar ele pra sua mãe hoje pode ser perigoso. Ainda pode ter alguém atrás de você. — ele cruzou os braços e encostou-se à mesa. — Lá, mesmo trabalhando, estamos com ele por perto. Nicholas vai ser prioridade agora, Emma.
— Eu sei. — ela suspirou e se virou para o amigo. — Eu não ia levar o Nicholas hoje. Eu nem sequer queria ir trabalhar... Iria perguntar a você se não seria chato nos deixar ficar aqui hoje.
— Nunca vai ser chato ficar com vocês dois. — ele respondeu sorrindo. — Pode ficar o tempo que precisar, Emma. Você sabe. Eu até passo a limpar isso aqui. — piscou um dos olhos e a mulher soltou uma risada. — Viu?! Te fiz rir!
— Como sempre. — ela balançou a cabeça negativamente e se virou para o fogão novamente. — Mas não pretendo ficar aqui muito tempo. — ela murmurou.
— Já disse que pode ficar o tempo que quiser, caramba. — ele se aproximou. — Você já me ajudou pra caralho, Emma.
— Mesmo assim... — ela deu um sorriso fraco e colocou o que havia preparado na mesa. — Conversamos sobre isso depois, certo? — ela pediu e piscou um dos olhos.
— Certo. — lhe deu um beijo no rosto.
— Nicholas, vem comer! — Emma disse alto e logo o garoto já estava na cozinha.

****


— Será que tem como vocês dois sossegarem? — Emma perguntou trancando o carro.
— Será que tem como você ser menos chata? — perguntou rindo e Nicholas apenas encarou a mãe.
— Vocês juntos são um saco. — ela murmurou, fazendo careta para os dois e arrancando risadas.
Nicholas e saíram correndo feito dois retardados para dentro do prédio e Emma foi atrás, soltando um suspiro pesado. Sabia que seu filho ainda estava assustado e sabia que estava ajudando, mas ainda estava com medo. Não queria deixar seu filho "à mostra" por aí.
— Vejam só quem está aqui. — Charlie disse, indo até Nicholas para lhe dar um abraço apertado.
— Senti sua falta, tio Charlie. — o garotinho disse sorrindo e parou de frente para Charlie.
— O que tem para hoje? — o rapaz perguntou um tanto quanto empolgado. Estava louco para que Charlie dissesse que era para ele se encarregar das investigações na casa de Emma. Ele estava ansioso para pegar quem mandara fazer aquilo na casa de sua Emma. Não "sua" num sentido maldoso. Mas enfim... A vontade dele era de pegar o mandante disso tudo e socá-lo até a morte.
— Vamos esperar chegar, que tal? — Charlie lançou um olhar rápido para Nicholas e sorriu logo em seguida.
— Certo. — bufou, impaciente.
— Como está, Emma? — Charlie perguntou, passando um dos braços no ombro da mulher enquanto caminhavam para sua sala.
— Um pouco assustada, talvez. — ela respondeu com um sorriso fraco.
— Vai acabar tudo bem. — Charlie sorriu. — Vamos pegar quem fez isso com você.
Entraram na sala de Charlie e se jogou em uma das cadeiras, colocando os pés em cima da mesa, fazendo Charlie o olhar feio. Porém, antes que ele pudesse encher de broncas, a porta se abriu rapidamente.
— Atrasada. Eu sei. — disse rápido.
— Não se preocupa, não tem muito o que fazer hoje. — Charlie disse tirando os pés de de cima da mesa bruscamente. — Não coloque os pés aí, eu já disse.
— Tá, tá. — disse bufando e se ajeitando na cadeira.
— Emma, o Ryan está te esperando lá no andar de cima. — Charlie disse. — Aproveita e leva o Nicholas para conhecê-lo, que tal? — ele terminou dando um sorriso fraco e a encarando nos olhos, fazendo-a entender que ele queria falar com e , ou... Apenas tirar Nicholas dali. Até então, não havia reparado o pequeno garoto ali.
— Quem é? — ela perguntou apontando para o pequeno e dando um sorriso fraco.
— Meu filho. — Emma disse, passando o braço por cima dos ombros do menino.
— Sério? — abriu mais seu sorriso. — Ele é lindo!
— Obrigado... — o garotinho murmurou corando um bocado.
— Sou . — ela disse estendendo a mão para a criança e Emma apenas sorria. Timidamente, Nicholas apertou a mão de .
— Sou Nicholas. — Ele sorriu.
— Eu adoraria deixar vocês conversarem mais... Mas eu tenho que trabalhar e pedir a Lucy que faça um curativo melhor no meu braço, já que o é péssimo nisso. — Emma deu uma risada fraca. — E ele vai ficar comigo o tempo todo, então...
— Certo. Foi um prazer conhecer você, Nicholas. — disse sorrindo.
— Igualmente, . — ele respondeu educadamente.
— Já sabe o que vai fazer, Char? — Emma perguntou baixo, enquanto Nicholas abria a porta.
— Já. Fica tranquila. Toma conta dele. — Charlie respondeu e esperou Emma sair com o menino. — Certo... — ele começou. — Quero vocês dois na casa da Emma junto com o pessoal que eu mandei. Você provavelmente já está sabendo o que houve, certo, ?
— É... Eu cheguei aqui e ouvi algumas pessoas falando, mas não sei com detalhes. — ela respondeu.
te contará tudo durante o caminho. Quero que você faça de conta que vai cobrir a invasão na casa dela. Você, — ele se virou para o rapaz —, quero que fique esperando um tanto quanto afastado de lá. Não quero que saibam de você nisso, apesar de ser óbvio que você vai participar. Mas não quero que saibam de cara. Com certeza deve ter alguns bandidinhos de merda escoltando a casa enquanto o pessoal arruma tudo lá. Por isso quero você. Qualquer ameaça, atire. Sem pena. — Charlie finalizou e saiu da sala sem ouvir qualquer pergunta ou argumento. Estava com raiva demais para escutá-los. Sua parte já estava feita: já havia dado as ordens.
— Ao trabalho, . — ele murmurou se levantando e a mulher pegou suas coisas rapidamente.
— Ainda tá sem carro? — ela perguntou baixo, saindo da sala acompanhada por . Estava sendo estranho falar com ele normalmente, sem xingamentos e brigas idiotas.
— Estou. — ele bufou.
puxou as chaves e o entregou, fazendo-o a olhar estranho.
— Você dirige. Eu tenho que improvisar alguma coisa durante o caminho... A casa da Emma não é tão longe daqui, eu acho. E você ainda tem que me contar o que realmente aconteceu pra eu conseguir disfarçar direito. — ela disse dando de ombros.
Chegaram ao estacionamento e entraram no carro. já estava contando tudo a e ela anotava o que era importante, para caso alguém a parasse, ela teria o que dizer e tudo o mais. Demoraram, no máximo, vinte minutos até a casa de Emma. Estava uma verdadeira zona aquilo tudo, mas aos poucos as pessoas que Charlie enviara iam arrumando. Aos poucos. Bem aos poucos.
parou o carro e olhou em volta.
— Vai e... Pelo amor de Deus, não deixa ninguém te parar agora, tá? — ele pediu dando um sorriso torto. Não, não, ele queria ser simpático... Mas aquela situação era engraçada. Talvez por eles não se suportarem e estarem sendo obrigados a se comunicar e trabalhar juntos, talvez pela última vez que foram atrás de alguém e ela fora uma boba...
— Relaxa. — ela respondeu dando um sorriso sem jeito e saiu do carro.
fora caminhando até a entrada do jardim da casa, mas sentia alguém a olhando... E não era . Não mesmo. A essa hora ele devia estar olhando pro nada e esperando ela dar algum sinal ou algo do tipo.
Ignorou isso e continuou a andar, todos estavam dentro da casa terminando de pegar as provas e "guardar" os corpos para tirar de lá. Ouviu um barulho antes de chegar perto da porta e se virou.
Nada. Nem mesmo o seu carro com ela conseguia ver.
Suspirou e se preparou para se virar para a porta novamente, mas fora surpreendida por um homem grandalhão tampando-lhe a boca e a arrastando para fora do jardim.
se debatia e tentava gritar, mas ninguém a escutaria. Até mesmo morder o grandalhão ela tentara! Mas isso lhe rendeu um puxão de cabelo e sussurros ameaçadores.
— Eu já disse pra calar a merda da boca. — o homem murmurou. — Ou você quer que eu mande atirarem em você ou eu mesmo faça isso? — ele dizia cada vez mais baixo e assustador. E, então, puxou uma arma e mirou-a no rosto da mulher, que já tinha lágrimas nos olhos.
Caminharam por mais um tempo, até onde o carro estava estacionado, a rua estava vazia. Ótimo.
estreitou os olhos ao ver nos braços daquele homem enorme e trincou os dentes. Ela fora pega... De novo.
O homem parou bem de frente para o carro de vidros escuros, encarando com um sorriso debochado nos lábios enquanto puxava para mais perto e a apertava mais.
não moveu um músculo sequer. Não sairia até o bandido dizer algo. Enquanto o infeliz também não fazia nada do lado de fora, ele preparou sua arma e colocou-a na cintura.
— Sei que está aí, . — o homem disse alto o suficiente para ele ouvir de dentro do carro. — Sai agora ou eu acabo com a vida da jornalistazinha aqui — ele disse mirando a arma no rosto de novamente, fazendo-a fechar os olhos com força para segurar as lágrimas.
trincou os dentes novamente e socou o volante com força. Ele estava com raiva agora. Bastante raiva. Ele, então, abriu a porta do carro e saiu.
— Ah, é? — ele perguntou caminhando calmamente até mais ou menos onde eles estavam. — E está esperando o que para acabar com ela? — ele perguntou com um sorriso de lado e fazendo abrir os olhos rapidamente, assustada. Ele estava louco?! Estava mandando um bandido acabar com ela ali?! O homem rosnou e preparou a arma. voltou a falar: — Mas, antes, vamos às consequências, que tal? Se você atirar nela agora — ele deu um passo a frente —, eu serei obrigado a te prender. Se não atirar, bem, eu vou ter que voltar na delegacia ou chamar mais gente para cá e avisar que você está escoltando a casa e que a fez de refém. Não vou poder prendê-lo na mesma hora, até porque estou sozinho. Enfim, resumindo, solta a garota. É melhor para você.
O homem não respondeu, apenas olhou para e depois voltou seu olhar para . Parecia estar em uma interminável briga interna. Ele sabia bem que se matasse , não o prenderia... O mataria na mesma hora. Sabia também que se a soltasse, teria mais chances e poderia pegar todos eles de uma só vez numa próxima vez, quem sabe.
— E então? — perguntou impaciente. — Eu não tenho o dia inteiro. Se for atirar, atira logo. — ele revirou os olhos, entediado.
O homem, então, num movimento rápido, empurrou pra frente, fazendo-a cair no chão e urrar de dor pela força que fora empurrada. tentou se levantar, mas seu pé latejava devido ao salto que estava usando e pelo esforço que fizera para acompanhar os passos apressados do bandido.
— Vai até ele e não tenta nenhuma gracinha. — ele disse baixo para apenas ouvir. A mulher engoliu seco e se levantou, mesmo mancando um bocado, conseguiu chegar em , que lhe lançou um olhar cúmplice. Ela sabia o que viria a seguir.
— Acho que você se esqueceu de um detalhe... — murmurou, puxando a arma da cintura devagar sem o homem perceber. — Você está lidando com . — após dizer isso, puxou a arma de uma vez só e, com um tiro apenas, acertou o homem, porém deu outro tiro em seguida, para garantir mais e não dá-lo tempo para fugir. — Babaca. — ele murmurou ao ver o homem no chão. Não estava morto, mas morreria logo. O deixaria sofrer por um tempo.
estava sentada no chão e encostada no carro. revirou os olhos e caminhou até o homem quase morto, o homem tentava pegar a arma e mirá-la em , mas não tinha forças. era bom de mira. Muito bom.
pegou a arma do bandido e caminhou calmamente até onde estava. Sim, ele o deixaria sofrer até morrer. Ao que tudo indicava, era um dos homens que estava ali na hora da invasão na casa de Emma. O mínimo que podia fazer era deixá-lo sofrendo ali até a morte. Não que ele fosse ruim... Mas... Bem... O bandido mexeu com a Emma. A melhor amiga de . E quem em sã consciência mexe com a melhor amiga de ?
— Eu sabia que você não serviria pra esse tipo de trabalho. — ele agachou na frente de , que massageava o pé.
— Foda-se, . — ela murmurou com raiva. — Você acabou de matar um cara. Não vai nem sequer chamar alguém?
— Vou chamar Charlie e aproveitar pra ele pedir pra outra pessoa trabalhar comigo nessas horas... — ele disse dando uma risada fraca, a fim de irritar , como sempre.
— Vai se catar! — ela disse alto e secando as lágrimas de nervoso e medo que já rolavam pelo seu rosto.
— Ah, sério que você tá chorando? — ele perguntou se aproximando mais. — Você vai passar por coisas mais difíceis que isso se continuar, . — ele disse baixo a encarando nos olhos.
— Talvez eu não vá continuar. — ela deu de ombros sem quebrar o contato visual. — Não é o que você quer? Alguém mais experiente, alguém que te obedeça feito um cachorrinho? Talvez, depois de hoje, você se livre de mim, que sou o oposto disso tudo. — ela cuspiu as palavras e engoliu seco.
— Eu não quero outra pessoa. — ele disse baixo e rápido, fazendo arquear uma das sobrancelhas. Ao reparar o que deixara escapar, voltou a falar: — Mas você podia ser menos boba.
— Qual é o seu problema, afinal?! — ela perguntou mais alto e ele respirou fundo.
— Você. — ele respondeu baixo engolindo seco e se aproximando mais de . — Meu problema é você e essa porra de atração que eu sinto. — ele finalizou puxando-a pela nuca e, finalmente, juntando seus lábios. se assustou com a reação dele, mas não soube o que fazer a não ser retribuir. Ela queria tanto quanto ele. apoiou os joelhos no chão e puxou-a para mais perto ao notar que ela correspondia à altura. Naquele momento, ambos não sabiam o que estava acontecendo, ambos não sabiam de onde aquela vontade louca surgira... Ambos estavam confusos, mas não queriam parar com aquilo. Era bom demais para parar! Onde é que estavam com a cabeça para brigarem tanto e não fazerem aquilo de uma vez?
suspirou entre o beijo e levou uma das mãos para os cabelos de , puxando-o para mais perto, deixando seu corpo cada vez mais preso entre o seu carro, onde estava encostada, e o corpo de . O coração de batia mais acelerado do que nunca, ele sabia que queria aquilo há tempos. Não que não quisesse, ela sempre o achara um homem lindo e tudo o mais. Mas, além disso tudo, ele sempre fora um completo idiota com ela. Não tinha por que desejá-lo daquela forma... Certo? Errado. Aquilo só aumentava o seu desejo; o jeito bruto, a voz extremamente grossa e rouca quando estava com raiva, tudo.
Ela fora se afastando os poucos. Ele estava deixando-a completamente confusa com aquilo tudo.
— Tem um homem morto... Bem ali. — ela sussurrou, respirando fundo e abrindo os olhos para encarar os de .
— É... Eu... Eu sei. — ele murmurou piscando algumas vezes e, por fim, soltou a nuca de . Ainda se encaravam quando , finalmente, decidiu se levantar e puxar o celular do bolso. O rapaz bagunçou os cabelos enquanto digitava os números necessários.
Ele havia feito a maior besteira de sua vida ao beijar aquela mulher.
Mas ele havia gostado daquilo mais que qualquer outra coisa que já tenha provado.




Capítulo 14

largou as chaves em cima da mesa e não esperou por Emma e Nicholas, se jogou no sofá e fechou os olhos com força. A sua pequena falta de controle de mais cedo não saía de sua cabeça. Para falar a verdade, não saía de sua cabeça; o gosto doce de seus lábios, a forma que sua língua massageou a dele, a forma desesperada que ela segurava sua nuca...
— Vai para o banho, Nicholas. — Emma disse e trancou a porta do apartamento do amigo. — E você, , pode começar a falar.
— O quê? — ele abriu os olhos devagar e encarou os olhos azuis de Emma.
— Você ficou estranho o resto do dia. — ela deu de ombros. — Foi pelo que aconteceu na minha casa? Porque se for, não se preocupa. — ela sorriu. — Você acabou com um dos caras. Logo a gente pega o resto.
— Eu não fiquei estranho. — ele revirou os olhos. — Eu só... Tô cansado desses joguinhos idiotas desses caras. Só quis parar para pensar um pouco.
— Claro, . Claro. Como se eu não te conhecesse. — ela disse bufando.
não gostava de mentir para Emma. Mas também não queria contar que beijara enquanto um homem morria. E também não queria confessar que gostara mais daquele beijo do que o de qualquer outra mulher.
— Não esquenta comigo. — ele disse se levantando rápido e dando um beijo no rosto da mulher.
Emma apenas suspirou. Não iria perturbá-lo. Ele não contaria enquanto não se sentisse sufocado com aquilo tudo. era mais complicado do que parecia.

****


— Quem invadiu a porra da casa da Emma? — Lucy perguntou alto ao entrar na casa que sempre se encontravam.
— Ninguém. — Jesse respondeu mordendo o lábio inferior.
— Como assim ninguém, Jesse? — a mulher jogou a bolsa em cima do sofá e botou as mãos na cintura.
— Ninguém, oras! Você sabe muito bem que não recebemos ordens há dias. — o rapaz revirou os olhos.
— Mas que caralho... — a mulher murmurou entre os dentes.
Uma gargalhada ecoou pelo lugar.
— Não está sabendo quem está de volta à cidade, Lucy? — o velho – que não aparecia ali há dias – perguntou num tom debochado e a mulher se virou para ele estreitando os olhos.
— Quem voltou? — ela perguntou.
— É melhor você nem querer saber. — Jesse murmurou. — Não foi ninguém daqui que mandou invadir a casa da Emma, Lucy. E se não foi ninguém daqui, quem mais quer a cabeça de todos vocês? — o rapaz continuou e a mulher arregalou levemente os olhos.
— Todos... Nós? — ela perguntou, mordendo o lábio.
— É. Todos vocês. Isso quer dizer que além do e da Cobain, você também está no meio. Assim como o Charlie ou qualquer outra pessoa da polícia. — Ele finalizou, fazendo a mulher engolir seco. E, como num estalo, veio a imagem de alguém em sua cabeça.
— Não vai me dizer que ele voltou para pegar todos nós? — Lucy perguntou, engolindo seco mais uma vez, e sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Pois é, Lucy. — o mais velho dali se levantou. — Crowley está de volta. E, consequentemente, o pesadelo de todos nós também. — o velho finalizou com um sorriso torto nos lábios.

****


abriu os olhos devagar e desligou o celular ao seu lado. Já estava na hora de levantar e ele nem sequer dormira direito. Iria trabalhar totalmente cansado e com cara de merda, só para completar. Seus dias já não estavam sendo bons e nem normais, ele sentia que esse, principalmente, seria pior. Ele teria que encarar . Teria que encarar Emma, sendo que não contara nada a ela... Teria que encontrar Charlie, encarar seus olhos e confessar para si mesmo que ele sempre teve razão quando dizia que ele sempre fora a fim de e nunca tivera coragem de assumir, por isso a odiava. O dia seria uma completa bosta.
Levantou-se e caminhou calmamente até o banheiro, tentando tirar de sua cabeça que veria horas mais tarde. Ele tinha medo — sim, medo — de encará-la novamente. Ele ficara totalmente fora de controle na tarde anterior. Por mais que ele soubesse que seu controle iria para o caralho a qualquer momento que ficasse próximo a ela, ele ainda sentia um bocado de medo do que tudo isso causaria. Não que ele nunca tenha se envolvido com mulheres no trabalho, porque era o que ele mais fazia — Emma é um grande exemplo disso —, mas... Com tudo era diferente pelo simples fato deles se detestarem desde sempre e por ela ser o tipo de mulher que encara todo mundo e não abaixa a cabeça para ninguém.
Em poucos minutos, já estava arrumado e Emma preparava o café. Levaria Nicholas para a casa da mãe com e depois iriam trabalhar.
— Bom dia! — Ela sorriu. — Já acabei aqui. — ela murmurou coçando os olhos. — Vou me arrumar. Não demoro.
— Bom dia. — retribuiu o sorriso e se sentou à mesa. — Sem pressa. — ele disse pegando o café.
— Ei, você tá bem? — ela perguntou mordendo o lábio.
— Tô sim. — ele respondeu tomando um gole do seu café. Emma suspirou e revirou os olhos. Ele não a contaria nada mesmo dessa vez.

****


Eram oito e meia da manhã quando chegou ao prédio e encontrou Charlie por ali conversando com outros homens.
— Bom dia, Char. — ela disse ao passar por ele, que apenas lhe lançou um sorriso.
continuou caminhando pelo corredor e parou em frente à sala de . Ela não sabia se ele já estava ali ou não. Normalmente ele chegava àquela hora.
— O não chegou ainda, fica tranquila. — ela se virou rapidamente para Charlie. — Desculpa se te assustei.
— Não, tudo bem. — ela deu um sorriso fraco. — E eu não me importo mais com o , Charlie. Quero que ele se dane. — ela murmurou piscando algumas vezes e tentando não se lembrar do beijo que ele lhe dera na tarde anterior.
— Sei... — Charlie deu uma risada fraca e mordeu o lábio inferior. Não iria perturbar como fazia com . — Enfim. Ele tem te deixado informada de tudo?
— Tem sim, Charlie. Relaxe. Acho que ele já se acostumou comigo. — ela respondeu sorrindo.
Antes que Charlie pudesse falar mais alguma coisa, ele e ouviram a risada escandalosa de ecoar pelo corredor. se virou — mais rápido que o normal, diga-se de passagem — e o olhou. Ele vinha conversando com Emma, que também ria alto. Ele parecia feliz e não estava mais com aquela cara de retardado que ele ficara depois de separar seus lábios dos de .
— Bom dia. — Emma disse, ainda rindo um pouco.
tirou os olhos de , finalmente, e encarou Emma sorrindo.
— Bom dia. — ela respondeu e fez de tudo para tentar, pelo menos, ignorar e a forma que ele estava vestido. Ela já se perdia nele antes mesmo do beijo... E sabia que quando o encontrasse no trabalho seria difícil controlar certas coisas... Tipo a cara de otária enquanto ele estivesse perto e vestido daquela forma despojada.
— O que tem pra hoje, Charlie? — perguntou sem nem sequer cumprimentar ninguém. Estava... Tenso. É, tenso demais. estava o encarando como se fosse matá-lo ou devorá-lo — vai saber — a qualquer momento. E aquilo o deixava completamente nervoso. Não gostava de ser encarado por tanto tempo.
— Bom dia pra você também. E sim, estou muito bem. Obrigado por perguntar. — Charlie sorriu debochado. — Você deveria saber o que vai ter hoje. Eu larguei tudo nas suas mãos.
— Tanto faz. — ele deu de ombros e se virou para . — Preciso que você procure umas coisas para mim. — ele mordeu o lábio inferior e arqueou uma das sobrancelhas.
— Certo... — ela respondeu e Charlie segurou uma risada.
— Certo. Emma, hora de trabalhar — Charlie disse piscando um dos olhos para a mulher, que suspirou, e logo depois de se despedir de e , saiu andando. — E vocês — Charlie apontou para os dois que sobraram —, tentem não se matar. Por favor — ele finalizou e, como sempre fazia, sem deixar chances para eles rebaterem, saiu andando corredor afora. engoliu seco e continuou parada em frente a porta da sala; não sabia se entrava, se perguntava o que queria que ela pesquisasse...
murmurou alguma coisa que ela não entendeu e abriu a porta da sala. respirou fundo e entrou logo atrás dele.
— O que você quer? — ela perguntou se sentando numa cadeira do outro lado da sala.
— Quero que dê um jeito de falar com o pai do James. — ele respondeu e se apoiou em sua mesa. — Pergunte sobre tudo; a relação deles com a Owen, o porquê de James ter sumido, se ele tem notícias do filho... Enfim, tudo. Traga o máximo de informação que conseguir.
— Certo. — ela se levantou e se virou para a porta, mas fora impedida de sair pela mão gelada de puxando seu braço devagar.
— Ainda não acabei. — ele murmurou a encarando. desviou os olhos para todos os cantos da sala, mas não os parou nos olhos de . Não era louca de fazer isso novamente e acabar... Bem, acabar na mesma coisa da tarde anterior.
— O que mais você quer? — ela revirou os olhos e se afastou dele.
— Pedir desculpas, talvez. — ele deu de ombros, se encostando à parede com as mãos no bolso e fitando o chão.
arregalou levemente os olhos e se virou para ele novamente, soltando uma gargalhada.
... Pedindo desculpas?! Piada.
— Certo, conta outra. — ela disse se encostando à mesa de frente para ele, na mesma posição. deixou seus olhos correrem desde os pés da mulher até seu rosto.
— Estou falando sério. Charlie quer comunicação entre todos nós. Para ter comunicação entre nós dois — ele revirou os olhos — é preciso ter paz antes, certo? Então, desculpe por todas as vezes que eu fui um grosso. — ele terminou a frase num fio de voz, olhando para o teto. — Mas eu não vou mudar. — ele voltou a falar. — Eu só tô pedindo desculpas porque eu sei que não foi você quem fez a merda na matéria divulgada naquele dia. E isso também é só mais uma vontade de Charlie e Emma que eu faço, que fique bem claro. — ele finalizou bufando e, finalmente, virou o rosto para a mulher em sua frente que tinha um sorriso nos lábios. Ela estava realmente se divertindo com o jeito desengonçado de pedir desculpas. E ah, estava se divertindo em ele jogar a culpa para Emma e Charlie também.
— Vai me dizer que quando me beijou ontem foi por causa de Charlie e Emma também? — ela perguntou num tom divertido e sem vergonha nenhuma. abaixou a cabeça e soltou uma risada fraca.
— Não. Aquilo lá foi por vontade própria. — Ele respondeu à altura, fazendo-a soltar uma risada boba e balançar a cabeça negativamente.
— Relaxa. Eu também falei muita merda pra você. — ela disse e ele levantou a cabeça novamente, encarando-a. — Estamos em paz. — ela piscou um dos olhos e ele se afastou da parede, dando alguns passos até parar na frente de e estendeu a mão para ela. Com um sorriso no canto dos lábios, esticou o braço e apertou a mão de .
Os dois se encararam por alguns segundos, até soltar a mão de e se afastar para caminhar até a porta.
— Espera. — murmurou fechando os olhos por uns segundos e, depois, se virando para , que continuava de costas para ele, já pronta para abrir a porta.
— O que você quer agora? — ela perguntou sem se virar. Estava ficando nervosa com aquilo tudo. Ela já o desculpara. Era o necessário, não era?
Ela ouviu soltar um suspiro e se virou devagar. Ele estava mais próximo agora. E, como se tivesse tido um estalo em sua mente, percebeu o que ele queria. Mas... Não! Eles estavam no trabalho. Aquilo era errado e já tinha passado dos limites... Certo?
— Olha, , eu... — ela tentou falar, mas fora impedida pelos lábios de sobre os seus.
tentou empurrá-lo, mas é óbvio que não conseguira o afastar. Primeiro: ele é um homem; segundo: ele tem o triplo, senão o quádruplo ou quíntuplo de força que ela; e terceiro: ela queria aquilo de novo, mas não queria assumir. Ela era a orgulhosa da vez. Para falar a verdade, ambos eram orgulhosos. Mas ela estava invertendo os papéis só por tentar pensar em recusar um beijo de . Ela queria tanto aquilo e... Tudo acontecera tão de repente... se descontrolara mais rápido do que imaginara! Porque, oras, ele sabia que isso aconteceria, sabia que não conseguiria se segurar por tanto tempo com uma mulher tão bonita por perto, por mais irritante, perturbada, implicante ou qualquer coisa dessas que ela fosse, ele não se conteria. Sempre fora assim: uma mulher bonita aparecia, ele se segurava um ou dois dias e partia para o ataque. Mas... Com fora diferente. Não fora só esses poucos dias. Foram vários. Quase um mês. Não que ele já estivesse interessado antes... Ele sempre soube o quão atraente ela era, mas... Sempre prometera a si mesmo não chegar perto dela para perder o controle. Porque, além de tudo, ele sabia que o que ele sentia por ela não seria fácil de conter com ela por perto. Por isso ele sempre a deixava de fora das coisas, ele queria distância. Queria, passado. Porque, nesses últimos dias, ele notara que o que ele mais quer, é proximidade.

****


O homem se encarou no espelho e deu um sorriso maldoso. Estava pronto para começar o que tanto queria. Estava pronto para fazer o que mais queria por anos. E o faria sem dó.
— Quando vai atrás do ? — um rapaz mais novo perguntou para o que se encarava no espelho.
— Em breve. — ele respondeu sorrindo. — Nada de pressa. Como todos dizem: a pressa é inimiga da perfeição — ele se virou para o rapaz que segurava um copo de uma bebida qualquer. — E é o ... Quero que tudo saia perfeito. É uma coisa bem especial, sabe?
— Sei. — o outro rapaz soltou uma risada fraca e não demorou muito para o loiro – que se olhava no espelho antes – fazer o mesmo. — E Castellamare e sua gangue?
— Quero que eles se danem. Farei a minha parte; me juntarei a eles.
— Mas você não ia pegar sozinho?
— E vou. — ele respondeu sorrindo. — Mas é sempre bom reconquistar confianças, pequeno Bill. — ele deu uma risada e piscou um dos olhos.
— Então... É tudo uma armadilha para todos? — o rapaz perguntou confuso e curioso ao mesmo tempo.
— Você é o quê? Algum tipo de jornalista disfarçado querendo arrancar informação? — ele andou até o rapaz e ficou cara a cara com ele. — Pois saiba que não suporto traições e muito menos ter que ficar contando meus planos em detalhes.
— Foi mal, cara. — o rapaz assustado levantou as mãos e engoliu seco.
— Eu disse que pegaria o sozinho. E irei pegá-lo. O é meu. Nem que para isso eu tenha que matar mais que o necessário. — ele finalizou e se afastou do rapaz. — Se eu ouvir por aí qualquer coisa relacionada a isso, começarei a matar mais que o necessário, e você será o primeiro... E estou falando sério.
— Eu sei, Crowley. Que merda. — o rapaz revirou os olhos, tentando esconder o nervosismo. — Não vou trair você como o idiota lá do Castellamare fez.
— Ótimo. — Crowley sorriu.

****


a empurrava contra a porta cada vez mais forte, fazendo-a suspirar entre o beijo. Num movimento rápido, pegou impulso e cruzou as pernas em volta da cintura do rapaz. Estavam fora de controle. Nenhum dos dois sabia o que estava acontecendo, realmente. Só sabiam que queriam aquilo mais que qualquer coisa.
a carregou até sua mesa e, com apenas uma das mãos para com a outra segurar , derrubou tudo o que estava ali e a colocou sentada, ainda sem descolar seus corpos. Os cabelos de estavam extremamente bagunçados de tanto que os puxava, sua camisa já estava aberta até a metade, deixando seu peito totalmente a mostra; não era lá aquele tipo de homem bombado e todo definido, mas também não era aquele magricelo sem desenho algum. Ele tinha um corpo muito... Atraente, por falta de palavra melhor. Era exatamente do jeito que gostava. Além do corpo no ponto perfeito, ele tinha uma pegada perfeita e aquilo a deixava completamente pirada. Ela estava perdendo o controle totalmente. Pior que ele naquela outra tarde, quando se beijaram pela primeira vez.
desceu os lábios para o pescoço de com urgência. Ele sentia medo de, em um lapso, empurrá-la para longe e desistir de toda aquela loucura, ele sentia medo do que aconteceria a partir dali. Ele se mantivera forte por tanto tempo, por que diabos tivera que se descontrolar logo agora? Deus, ele estava se sentindo um completo retardado hipócrita contraditório. Mas... Espera. Ele realmente era um retardado hipócrita contraditório.
o afastou por uns segundos para poder arrancar a própria blusa e, depois de jogá-la em um canto qualquer, puxou-o pela nuca para juntar seus lábios novamente. soltou a cintura da mulher por uns segundos para terminar de abrir sua camisa e jogá-la para longe também, porém, ao terminar de jogá-la para um canto qualquer, ouviram batidas na porta. Ignoraram, claro. Oras, o estado deles não era lá um dos melhores, não queriam parar para poder conversar sobre aquilo tudo e ter que dar explicações um ao outro, quanto mais receber "visitas"!
— Hey, , eu trouxe o... — o rapaz parou de falar ao encarar o estado do chefe e deixou seu queixo cair enquanto eles se separavam rapidamente e tentavam encontrar suas roupas espalhadas, estavam tão atrapalhados que chegara a vestir a camisa de mesmo. — Mas que caralhos está acontecendo aqui? — Ryan perguntou arregalando os olhos.
— Nada. — disse, respirando fundo.
Ryan soltou uma gargalhada e fechou os olhos, abrindo a blusa de que vestira e o entregando depois de pegar a sua.
— Ryan, dá o fora. — pediu, passando a mão entre os cabelos e vestiu a camisa – deixando-a aberta, diga-se de passagem.
— Certo. — Ryan respondeu rindo e bufou. — Foi mal.
— Esquece, Ryan. Quem vai dar o fora sou eu. — ela murmurou, constrangida, descendo da mesa e, logo depois, correu porta a fora deixando um de camisa aberta totalmente desnorteado e um Ryan risonho prontíssimo para zoar o amigo que acabara de ver se pegando com a mulher que ele jurava de pés juntos que nunca pegaria.

****


parou o carro em frente à casa dos Mangor. Era tudo o que precisava: trabalhar para esquecer que fora pega aos amassos com . Fora que ela descobriria as coisas e poderia adiar a conversa que teria que ter com sobre o que estava rolando por estar tudo acontecendo de repente, ela não queria explicações agora porque sabia que iria acabar como acabou o pedido de desculpas.
Soltou um suspiro pesado e saiu do carro, caminhou até o portão da casa e tocou a campainha. Após alguns minutos, o senhor Mangor apareceu no portão, não havia empregados para atender o portão para ele esses últimos dias e isso foi o que mais estranhou.
— Hum... Em que posso ajudar? — o homem perguntou, colocando o corpo para fora do portão. deu um sorriso fraco.
— O senhor tem um minuto? Eu gostaria muito de falar sobre seu filho... O James. — ela murmurou mordendo o lábio. O homem fechou os olhos devagar e os abriu segundos depois.
— O que quer saber dele? — o mais velho perguntou e suspirou.
— Eu só quero te fazer algumas perguntas. Eu sou , uma jornalista e...
— Eu sei quem você é. Só não entendo por que está atrás do meu filho. — ele a interrompeu.
— Posso pelo menos entrar para te dar todas as explicações necessárias e em troca receber só algumas informações? — ela perguntou com um sorriso de canto e o mais velho suspirou, dando um espaço para ela passar. agradeceu baixinho e entrou.
— Pode se sentar. — o mais velho murmurou, apontando para o enorme sofá da sala. se sentou timidamente e respirou fundo, pronta para começar a falar.
— Obrigada. — ela sorriu fraco. — Enfim... Onde James se meteu?
— Ninguém sabe. — o homem deu de ombros. — Quer beber alguma coisa?
— Não, obrigada. Só quero que responda algumas perguntas, prometo ser rápida para não atrapalhar você. — ela respondeu rápido.
— Você vai divulgar as coisas que forem ditas aqui? — ele perguntou preocupado. — Você está no meio das investigações da morte da minha esposa?
— Não, não irei divulgar nada. — ela se mexeu no sofá. Sentia-se desconfortável com a segunda pergunta. Não estava autorizada a contar a ninguém que estava nas investigações. Sempre que essa pergunta aparecesse, de acordo com as regras de Charlie, ela deveria responder que era para a redação e não para a investigação dele. Mas não sentia necessidade de mentir para o senhor Mangor. Ele já estava sendo bom em deixá-la entrar... E o assunto era sua família, oras.
— Certo... Mas, por favor, me diga se isso é para as investigações das últimas mortes que aconteceram por aqui e... Eu conto tudo o que precisar se você for ajudar a encontrar meu filho. — ele murmurou num tom um tanto quanto desesperado e sentiu seu coração se apertar.
— Não conte a ninguém. Mas, sim, isso é para as investigações e eu não posso contar muita coisa... — ela respondeu suspirando e o homem a encarou.
— Certo. — ele suspirou e sorriu, se sentindo relaxar. — O que quer saber?
— James... Você não sabe nada dele? — ela perguntou enquanto pegava seu caderninho e uma caneta. Ouviu o homem suspirar alto e o encarou novamente.
— Não. A última vez que o vi, ele disse que sairia com a namorada... A qual eu acho que nunca existiu porque ele nunca a trouxe aqui. Meu filho estava perdido e isso eu via em seus olhos, ele não era mais o mesmo desde que a Owen morreu. — ele murmurou piscando os olhos rapidamente, evitando as lágrimas, e engoliu seco. — Mas... Ele parecia prever que sumiria àquela noite.
— Por que acha isso? — ela perguntou, encurvando o corpo para frente para ouvir melhor.
— Ele me deixou uma carta... — o mais velho mordeu o lábio inferior. — E... Você trabalha para ou com o ? — ele perguntou antes de continuar.
— Sim, sim. Fui chamada para trabalhar com ele na nova equipe do Charlie Raymond. — Ela respondeu rápido.
— Ótimo. A carta cita o nome do ... E eu gostaria de mostrá-lo o que tem na carta, mas não tenho tempo de ir até onde vocês trabalham e já que você está aqui... — ele disse e se levantou. — Vou buscá-la. Um minuto.
— Ok. — murmurou e tentou pensar. Por que diabos James colocaria em uma carta? E por que ele escreveria uma carta antes de ter que sair? Será que ele fora avisado que sumiria ou até mesmo morreria antes? Será que ele já sabia que havia feito algo errado? Aliás, será que ele havia feito algo errado?
— Aqui. — o homem chegou de repente, fazendo dar um leve pulo no sofá, e a entregou a carta. — Pode ler se quiser, acho que não vai se importar... Se bem que aí diz que somente ele, além de mim, pode ler. Mas provavelmente ele não esconda essa carta das outras pessoas, certo?
— É, sim, claro. — Ela piscou algumas vezes, desdobrou o papel para começar a ler. Antes de começar, ela soltou um suspiro. Estava nervosa e curiosa ao mesmo tempo. E, finalmente, começou a ler. Ficava mais curiosa a cada ponto e vírgula que passava. Aquela carta era... Uma perfeita ajuda. Era praticamente tudo o que precisavam para descobrir mais pistas desses assassinatos estranhos e de onde James se enfiara também. parou em uma das frases e ficou relendo-a por vários segundos, senão minutos. Aquilo... Era verdade? Mas, oras! tinha que saber daquilo. Ele tinha que ler que James continha informações importantes não só desses últimos assassinatos, como também da morte de... Seu pai.




Capítulo 15

[N/A: Coloque para carregar: Paradise, Coldplay]

corria pelos corredores ignorando a leve dor que dava em seus pés, ela tinha que encontrar logo. Ele tinha que ler aquela maldita carta.
Chegou à sala em que dividia com o rapaz e ela estava vazia. Respirou fundo e saiu corredor afora de novo, ele deveria estar na sala de Charlie ou onde Emma estava trabalhado com Ryan.
Parou em frente a uma das pessoas que passava por ali e perguntou:
— Você viu onde o se meteu?
— Ele está com o Charlie lá na sala de sistemas... — o rapaz respondeu, arqueando uma das sobrancelhas.
— Obrigada! — ela disse alto e correu em direção à sala.
entrou feito um furacão no lugar, procurando com os olhos, ao encontrá-lo, soltou um suspiro pesado e puxou o máximo de ar que conseguiu.
— Eu consegui uma coisa, . — ela o chamou pelo nome, ignorando os olhares curiosos de Charlie, Emma e Ryan. — Vem comigo, por favor. — ela pediu e ele arqueou uma das sobrancelhas, confuso.
— Você falou com o pai do James? — ele perguntou indo na direção dela.
— Falei. E eu descobri mais do que esperávamos — ela disse o encarando, ainda respirando pesado.
— E o que você descobriu, ? — Charlie perguntou se aproximando também.
— Além de umas coisas do James... Eu fiquei sabendo de uma coisa da morte do seu pai, . — ela disse de uma só vez e o rapaz engoliu seco.
— O que você ficou sabendo? — ele perguntou entre dentes e Charlie encarou os dois. Ele notou que queria conversar em particular e entendia aquilo, era um assunto pessoal de e tinha grande importância para ele.
— Eu faço sua parte aqui. — Charlie disse colocando a mão no ombro de . — Vai com ela e, depois, quando você se sentir melhor, porque não deve ter sido coisa boa o que ela descobriu, você volta. — finalizou Charlie. nem sequer respondeu ou olhou para trás, apenas puxou pelo braço, arrastando-a corredor afora.
Emma e Ryan continuavam confusos, porque, afinal, desde quando o chamava de ?
— Onde estávamos quando as coisas mudaram assim? — Emma perguntou e Ryan deu uma gargalhada ao se lembrar que e estavam aos beijos na sala deles horas atrás. — O que é?
— Nada, nada... — ele deu de ombros ainda rindo um pouco e Charlie se aproximou. — Vamos ao trabalho, então? — Ryan perguntou tentando desviar do assunto " e ", já que ele prometera ao rapaz que não contaria nada a ninguém, mas que também não seguraria as piadinhas idiotas.

****


respirou fundo, tentando segurar as lágrimas e a vontade de jogar tudo o que encontrasse na parede. Ele não acreditava no que acabara de ler.
— Tá tudo bem? — perguntou mesmo sabendo que não estava bem. Ela via seus olhos cheios de lágrimas, o ódio, o medo, a saudade... Tudo que transbordava — ou quase — daquele olhar perdido de .
— Já estive melhor. — ele respondeu depois de um tempo. — Eu só não entendi uma coisa... Por que diabos o James diria ao senhor Mangor que ele ficaria seguro comigo?
— Eu não sei. Eu perguntei isso e nem o próprio Mangor sabe — ela se encolheu na cadeira na frente de e suspirou.
— Eu quero ficar sozinho. — ele murmurou a encarando.
— Mas eu não vou sair daqui. — ela rebateu. Não o deixaria sozinho depois de ler aquilo, do jeito que era, seria arriscado ele fazer uma loucura e se arrepender depois.
— Tanto faz. — ele bufou. — Eu posso sair daqui a hora que eu quiser mesmo. — ele deu de ombros e enfiou a carta no bolso da calça quando se levantou.
— Sou tão insistente quanto você. — ela disse se levantando em seguida.
— Mas você não vai ficar me seguindo! — ele disse alto.
— Mas também não vou te deixar sair por aí assim e a ponto de fazer uma loucura! — ela rebateu. — Ou você acha que eu não sei que quer ir até esse endereço, ? E outra, você está sem carro!
— Ele sabe quem matou meu pai, ! — ele gritou bagunçando os cabelos.
— Isso pode ser uma armadilha para pegar você! — ela gritou de volta e ele bufou. — Que merda! Deixa de ser cabeça dura e pensa antes de falar ou agir pelo menos uma vez na vida, !
— Está dizendo que tudo o que eu faço é por impulso? — ele perguntou estreitando os olhos.
— Estou. — ela respondeu calmamente o olhando nos olhos. — E você vai se sentar naquela cadeira agora até se acalmar. — ela disse como se explicasse algo a uma criança, da mesma forma que ele fizera tempos atrás.
Ele soltou uma risada debochada e deu alguns passos até ficar frente a frente com .
— Sabe o que eu realmente vou fazer agora? — ele perguntou a encarando nos olhos e ela engoliu seco. Sabia que não era do tipo que obedecia as ordens de mulheres, ainda mais as dela. No fundo, no fundo, tinha um bocado de medo do que ele poderia fazer com ela, como também se sentia segura algumas vezes ao seu lado. Na verdade, toda vez que chegava perto de , seus sentimentos ficavam totalmente paradoxos.
— O quê? — ela perguntou o encarando também. — Me xingar de todos os palavrões existentes, passar por aquela porta e se meter em merda?
— Não. — ele respondeu tranquilamente e se aproximou mais. — Vou terminar o que começamos mais cedo. — ele sussurrou antes de puxá-la pela nuca e juntar seus lábios com agressividade. não pôde fazer nada a não ser retribuir o beijo à altura e agarrar na nuca do rapaz com as unhas. Queria mostrar, mesmo sem saber o que realmente estava acontecendo, que também sabia ser agressiva.
carregou-a até a mesa, como fizera antes, derrubando tudo dali mais uma vez — não que estivesse arrumado depois do que fizeram, porque ninguém tivera a coragem de voltar ali e arrumar da forma que estava antes — e, logo em seguida, colocando-a sentada ali. abriu mais as pernas e o puxou para mais perto, deixando seus corpos mais colados que antes. se afastou por uns segundos e puxou a blusa da mulher para cima, tirando-a de uma só vez e descendo os lábios pelo pescoço nu de , deixando-a completamente arrepiada e com a respiração falha.
— E quem disse... — ela começou a falar com a voz fraca enquanto ainda beijava seu pescoço com vontade. — Que eu quero terminar isso, ? — ela finalmente finalizou a frase e mordeu o lábio inferior com força após dar-lhe uma mordida.

[N/A: Dê play e repita a música se ela acabar!]

Seu corpo. — ele sussurrou no ouvido da mulher e, logo após, mordeu o lóbulo de sua orelha. fechou os olhos com força e tentou se concentrar. Mas... Era impossível. Quem se concentraria em alguma coisa com um beijando todo o seu pescoço e puxando seus cabelos para trás? — Vai negar? — ele perguntou baixo, encarando-a enquanto segurava seus cabelos com um tanto de força. engoliu seco ao olhá-lo daquele ângulo. Ele parecia mais atraente daquele jeito ou aquilo que ela estava sentindo era... Desejo?
— Jamais. — ela murmurou e o puxou pela nuca juntando seus lábios. desceu as mãos lentamente pelo pescoço, ombros e peito de para, finalmente, começar a abrir — mais uma vez naquele dia — os botões de sua camisa.
, já sem aguentar mais a demora de para tirar sua camisa, a puxou sem se importar se arrebentaria algum botão ou não e jogou-a o mais longe que pôde para nenhum dos dois sequer pensar em parar aquilo tudo. Ele levou as mãos até o fecho do sutiã da mulher e ela se arrepiou com o toque do rapaz em suas costas, mas também não se importou e muito menos parou de beijá-lo. Ela queria aquilo... Há tempos. Sem mais enrolar, arrancou o sutiã de e parou de beijá-la aos poucos para observar seus seios. sempre fora curioso a respeito do corpo de . Deu um sorriso malicioso e encarou a mulher que tinha os lábios entreabertos para tentar respirar melhor, após alguns segundos assim, ele decidiu parar de enrolar. Ele via claramente nos olhos de a curiosidade. Sem esperar mais nada, deixou seu desejo o guiar de uma vez por todas: levou os lábios até um dos seios de e o sugou com vontade, fazendo-a jogar a cabeça para trás e segurar um gemido. não tinha mais o que fazer ou pelo menos não sabia, senão aproveitar aquela sensação maravilhosa de mordendo e sugando um de seus seios enquanto massageava o outro. Ela sentia seu estômago revirar levemente, sentia a excitação começar a tomar conta de si, sentia cada pelo de seu corpo se arrepiar a cada toque que dava.

When she was just a girl, she expected the world, but it flew away from her reach. So she ran away in her sleep and dreamed of para-para-paradise, para-para-paradise, para-para-paradise, every time she closed her eyes.
(Quando ela era apenas uma garota, ela tinha expectativas com o mundo, mas isso voou além de seu alcance. Então ela fugiu em seu sono e sonhou com o para-para-paraíso, para-para-paraíso, para-para-paraíso, toda vez que ela fechava os olhos)


fora descendo os lábios lentamente para a barriga de , fazendo-a suspirar e deixar o corpo cair sobre a mesa, ele fora seguindo o caminho até chegar no fecho da calça jeans que usava, ao abrir o botão, ele sorriu malicioso. apoiou o corpo nos dois braços e o encarou enquanto ele descia lentamente sua calça, também a encarando. Ela notou o quão excitado estava o olhar de , ela sentia o desejo saltar daquele olhar. O melhor daquilo tudo era saber que todo aquele desejo era todo para ela e ela retribuía todo ele à altura.
soltou um suspiro mais alto ao sentir os lábios de em uma de suas coxas e jogou a cabeça para trás novamente enquanto criava um caminho de sua coxa até sua virilha.
... — ela murmurou, voltando a encará-lo.
— O quê? — ele perguntou baixo e se arrepiou até a alma com aquela voz tão baixa e rouca.
— Não enrola... — ela começou enquanto ele passeava com a língua ainda em sua virilha. — Não mais. — ela murmurou o fim da frase e deu uma risada fraca, fazendo sua respiração bater naquele local, e sentiu a onda de arrepio subir seu corpo novamente. agora brincava com a barra de sua calcinha. já estava ficando tonta só de olhá-lo e senti-lo daquela forma; com aquele maldito sorriso malicioso e vitorioso nos lábios, aqueles olhos em chamas e aqueles toques precisos.
ergueu o corpo em um movimento rápido, logo puxando pela nuca e juntando seus lábios enquanto, com a outra mão, puxava seu cinto e o jogava longe.
— Isso tudo é pressa, ? — ele sussurrou no ouvido dela.
— E isso importa agora? — ela rebateu enquanto abria a calça jeans que ele usava e a deixava escorregar pelas pernas dele.
— Não. — ele respondeu, juntando seus lábios nos da mulher novamente e deixando seu corpo cair sobre o dela, em cima da mesa. Não se importava se alguém entraria ali e os pegaria naquela situação, não importava a mesa dura e desconfortável, o que eles mais queriam ali era unir seus corpos da maneira mais profunda que pudessem.
, então, finalmente, puxou a calcinha de para baixo e levou um de seus dedos a intimidade da mulher, para massagear levemente seus clitóris. Ela mordeu o lábio inferior e contraiu a barriga, sentindo-se ainda mais úmida e com vontade de tê-lo de uma vez por todas. movimentava apenas um dedo, para torturá-la, em círculos, deixando-a tonta de excitação. Ele fora descendo os lábios para o pescoço dela e mordeu por ali, fazendo-a soltar um suspiro mais pesado. mexeu os quadris para baixo na intenção de fazê-lo entender o que ela realmente queria, mas estava concentrado demais em seus beijos lentos e molhados próximos aos seus seios.

When she was just a girl, she expected the world, but it flew away from her reach and bullets catch in her teeth. Life goes on, it gets so heavy... The wheel breaks the butterfly. Every tear, a waterfall. In the night, the stormy night. She closed her eyes in the night, the stormy night. Away she flied.
(Quando ela era apenas uma garota, ela tinha expectativas com o mundo, mas isso voou além de seu alcance e balas foram pegas com seus dentes. A vida continua, fica tão pesada... A roda corrompe a borboleta. Cada lágrima, uma cachoeira. Na noite, na noite da tempestade. Ela fechou os olhos na noite, na noite da tempestade. Ela voou para longe)


— Por favor... — ela pediu baixinho, fazendo-o sorrir maliciosamente. Sem dizer nada, abocanhou o seio da mulher e acrescentou mais um dedo em sua intimidade, fazendo movimentos mais precisos.
gemia baixo e se contorcia levemente, ela queria mais que aquilo! Ela, então, levou as mãos trêmulas até a nuca de e arranhou o local, fazendo-o dar uma mordida de leve em seu mamilo. jogou a cabeça mais para trás — se é que era possível — e puxou os cabelos de , fazendo-o murmurar qualquer besteira. Ele penetrou-a dois dedos sem aviso prévio, fazendo-a soltar um gemido mais alto sem querer. movimentava seus dedos com rapidez, fazendo perder o ar e morder o lábio inferior com força para não soltar gemidos altos. assistia a mulher se contorcer sobre a mesa também mordendo o lábio inferior — pois se segurava bastante só para torturá-la mais —, porém com um sorriso malicioso brincando no canto dos lábios.
sentia seu corpo queimar à medida que aumentava a velocidade dos dedos em sua intimidade, sentia sua nuca começar a suar levemente, sentia seus pulmões implorarem por ar, mas simplesmente não conseguia puxar o maldito ar! Oras, estava com dois malditos dedos dentro dela e com o seu maldito polegar acariciando seus clitóris de uma forma totalmente torturante, como diabos ela conseguiria respirar?! Estava mais preocupada em tentar segurar os gemidos que escapavam do que respirar. fechou os olhos com força, sentindo-se como se fosse explodir a qualquer momento, fora puxando-a para sentar-se aos poucos, mas sem tirar seus dedos de sua intimidade, fazendo-a soltar mais alguns gemidos até conseguir sentar-se por completo na beira da mesa. movimentou os dedos com mais velocidade e força e jogou a cabeça para trás, soltando alguns gemidos mais altos. Não tinha mais como segurá-los, ela precisava soltá-los de uma vez. sentia sua barriga se contrair mais e mais, sentia o ar faltar e todo seu corpo queimar, estava quase em seu orgasmo. , ao perceber isso, querendo dar o máximo de prazer que pudesse para ela, a estimulou, novamente, com o polegar em seus clitóris em movimentos circulares, fazendo-a fechar os olhos e apertar seus ombros com mais força.
apertou mais os olhos, deixando a cabeça tombar para trás e arqueou as costas, soltando um gemido alto sem se importar se tinha alguém no corredor ou até mesmo parado na porta, porque com certeza ouviu os barulhos. movimentou os dedos por algumas últimas vezes até ter certeza de que a mulher já havia chegado em seu máximo e os retirou devagar de dentro dela, fazendo-a soltar um murmúrio em reprovação. Com a respiração pesada, abriu os olhos e encarou , que, lentamente, levou os dedos até os lábios e os lambeu, fazendo estreitar os olhos e sentir o desejo a consumir novamente. Ela correu os olhos por todo o corpo de e notou o enorme volume em sua cueca, o rapaz sorriu logo em seguida e passou a língua pelos lábios, como se tirasse resíduos dali, fazendo morder o lábio inferior com força. Sem pensar muito, o puxou pela nuca e juntou seus lábios num beijo intenso. Ela podia sentir, mesmo que um pouco "de longe", seu próprio gosto e isso tornava tudo mais excitante. segurou-a pela cintura com força, fazendo-a cruzar as pernas em seus quadris e ter um contato quase que direto com seu membro rígido. No mesmo momento, notara que , com certeza, não aguentaria mais tanto tempo.

And dreamed of para-para-paradise, para-para-paradise, para-para-paradise. She dreamed of para-para-paradise, para-para-paradise, para-para-paradise.
(E sonhou com o para-para-paraíso, para-para-paraíso, para-para-paraíso. Ela sonhou com o para-para-paraíso, para-para-paraíso, para-para-paraíso)


— Não dá mais... Não dá. — ele murmurou nervoso e ela descruzou as pernas dos quadris do rapaz, ajudando-o a descer aquele maldito pedaço de pano de uma vez por todas. Juntaram seus lábios de uma forma completamente desesperada e segurou-a pelo quadril, levantando-a levemente da mesa. Eles nem sequer se lembravam de que deviam se proteger ou algo do tipo, estavam completamente desesperados! Precisavam se sentir de uma forma mais íntima. A essas alturas, já sentia sua intimidade pulsar novamente e, ao ver daquela forma e seu membro completamente ereto em sua frente, sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo e mordeu o lábio com força. segurou-a com mais força e se posicionou na entrada da mulher. Encararam-se nos olhos e forçou o corpo de uma forma que escorregasse sobre o de , porém sem sair completamente da mesa. fechou os olhos e suspirou enquanto a segurava com força, agora, pela cintura. apoiou um dos pés no chão e a outra perna deixou em volta do quadril de para se movimentarem melhor. Seus corpos se chocavam com força e rapidez, gemidos ecoavam por toda a sala e novamente toda aquela sensação tomou o corpo de , talvez em dobro dessa vez; o ar lhe faltava e seu corpo inteiro queimava.
jogou a cabeça para trás e fechou os olhos enquanto puxava o corpo de ao encontro do seu. já não poupava um gemido sequer e nem precisava, ambos não se importavam com as pessoas fora daquela sala e provavelmente quem passasse por ali e escutasse iria ignorar pelo simples fato de a sala ser de .
apertou mais o corpo de contra o seu e se afastou por uns segundos, virando-a de costas para ele e fazendo-a apoiar as mãos na mesa. mordeu o lábio inferior com um sorriso maldoso brincando em seus lábios e se posicionou atrás dela, enquanto acariciava suas costas. não se importava nem um pouco de ter decidido mudar a posição. Oras, ele estava no controle desde o início! Qual era o problema?
praticamente gritou — de prazer — ao sentir penetrá-la novamente sem aviso prévio enquanto a puxava devagar pelos cabelos, fazendo-a fechar os olhos com força e mexer os quadris com mais velocidade para ajudá-lo.
Enquanto se movimentava atrás da mulher, encurvava seu corpo vez ou outra para dar leves beijos nas costas já suadas de , deixando-a completamente arrepiada. sentia-se tonta, mas era uma tontura... Boa. Prazerosa. Ela gostava daquela sensação; gostava da forma que forçava seu corpo contra o dela, da forma que ele a segurava, da possessividade em seus toques...
aumentou a velocidade dos movimentos e percebeu que seu orgasmo também estava por vir, decidiu, então, ajudá-lo e começou a movimentar os quadris com mais rapidez enquanto estimulava a si mesma com dois dos dedos em seus clitóris para atingirem o ponto máximo juntos. mantinha os olhos fechados com força enquanto se concentrava em tentar guardar todas aquelas sensações em sua alma.

(La, la, la, la) Still lying underneath the stormy skies, she said (oh, oh, oh): I know the sun's set to rise! This could be para-para-paradise, para-para-paradise. This could be para-para-paradise, para-para-paradise (oh, oh, oh, oh)!
(Ainda deitada debaixo do céu tempestuoso, ela disse (oh, oh, oh): eu sei que o sol está pronto para nascer! Isso poderia ser o para-para-paraíso, para-para-paraíso. Isso poderia ser o para-para-paraíso, para-para-paraíso (oh, oh, oh, oh)!)


apertou mais sua cintura, causando-a um bocado de dor, que fora totalmente ignorada, e ela soltou um gemido mais alto ao sentir que estava bem mais próxima de atingir seu segundo orgasmo do dia. tirou seu membro praticamente inteiro de e penetrou-a com mais força de uma só vez, fazendo-a soltar um gemido alto e atingir seu máximo. O rapaz fechou os olhos com força e se movimentou com mais rapidez, fazendo-a gemer mais alto ainda. Ele estava quase lá. começou a se movimentar também, fazendo seus corpos se chocarem mais. jogou a cabeça para trás enquanto apertava mais ainda a cintura de e soltou um gemido baixo e rouco.
sentia suas pernas tremerem levemente e ainda segurava sua cintura, como se estivesse se recuperando também. Ambos tinham as respirações aceleradas. descolou seus corpos devagar, não sabia o que fazer, não sabia o que havia acabado de acontecer, não sabia o que estava sentindo, não sabia o que falar.
ergueu o corpo lentamente e mordeu o lábio inferior. Estava no mesmo estado que . Ela não tinha coragem de se virar para ele, mas sentia o olhar dele sobre o dela. Engoliu seco e suspirou, logo depois, virou-se para ele lentamente que, em silêncio, se aproximou e juntou seus lábios num beijo não tão urgente, porém não tão calmo. Apenas um beijo.

This could be para-para-paradise, para-para-paradise. This could be para-para-paradise (oh, oh, oh, oh)!
(Isso poderia ser o para-para-paraíso, para-para-paraíso. Isso poderia ser o para-para-paraíso (oh, oh, oh, oh)!)


****


— Hora de começar o show. — Crowley murmurou.
— O que diabos você vai fazer agora? — Bill perguntou.
— Matar. — Crowley sorriu. — E desfaz essa cara de merda antes que eu mude de ideia e mate você ao invés da garota.
— Se você não fosse meu irmão, eu já tinha te entregado para o há tempos. — o rapaz deu de ombros.
— Se você me entregar para o , ou você morre ou você é preso junto comigo. — Crowley rebateu.
— Talvez. — Bill deu de ombros.
— Você é mesmo um frouxo, Bill. — Crowley deu uma risada fraca. — Às vezes eu penso que era melhor ter te deixado com os nossos pais pra você viver naquele inferno por mais tempo.
— Antes um frouxo que sentir prazer em matar loucamente, Crowley. — o rapaz rebateu. — E, oras, por que não deixou?
— Porque você chorava todas as noites implorando para aquele inferno acabar de uma vez. — Crowley respondeu entre dentes. — Eu te fiz um favor. Você deveria me agradecer e não ameaçar me entregar para o .
— Tanto faz. — Bill murmurou encarando o chão. — Você é um idiota.
— Que porra, Bill! — Crowley gritou. — Quer desistir agora? Quer correr para o colo do agora e se virar contra mim que sou seu irmão e te tirei daquele inferno que a gente chamava de casa? Se sim, vai logo. E não aparece mais perto de mim porque você sabe o que vai acontecer. — ele finalizou entre os dentes.
— Não vou me virar contra você. Tenho gente que eu amo por aqui que eu não quero deixar agora. — Bill murmurou. — Ao contrário de você, que é um solitário, não é? E está pior ainda em saber que , o seu sonho de consumo, está trabalhando com , não? — Bill finalizou e, em um movimento rápido, Crowley o empurrou para a parede mais próxima e o segurou pelo pescoço.
— Cala essa droga de boca. — Crowley murmurou entre os dentes. Bill via toda a raiva do irmão no olhar. Mas... Oras, Crowley merecia ouvir aquilo!
— Não calo. — Bill murmurou, tentando se soltar das mãos do irmão. — É a verdade, Crowley!
— Não quero perder a paciência com você, Bill. — ele murmurou, apertando mais a garganta do mais novo. — Mas parece que você quer que eu perca a paciência. Não seja idiota. Cala a boca. Você sabe do que eu sou capaz.
— Foda-se do que você é capaz, Crowley! — Bill rebateu. — Você pode ser capaz de tudo... Menos de ouvir a verdade.

****


Já era noite. Provavelmente só Charlie e sua equipe estariam lá para fazer os planos dos próximos dias. Era a hora certa para Crowley; não, ele não iria entrar lá e matar todos, ele apenas apareceria. Apenas diria que está na cidade. Apenas para... Verem que não são somente boatos.
Ele abriu a porta do carro e saiu.
Teria bastante trabalho. O primeiro de todos: conseguir entrar no prédio sem ser reconhecido. Segundo: conseguir ter acesso ao lugar onde dois homens em especial estão presos. Terceiro e não muito trabalhoso assim: matar. E teria que fazer tudo sozinho já que Bill fora um frouxo e o largara no meio do ato, mas Crowley não iria dar ideia para o irmão. Ele era um otário. Mas ele já tinha se acostumado com aquele jeito do irmão e não se importava. No final, sempre estariam juntos. Tudo daria certo. Tudo sairia do jeitinho que Crowley planejou por tempos ou até mesmo melhor após a morte de Owen Mangor. Crowley tinha tudo para se dar bem dessa vez. Não, não o atrapalhará desta vez. Não mesmo! Ele terá que se preocupar com outras coisas enquanto Crowley estivesse por ali e fazendo seu plano... De acordo com ele, não se dará bem dessa vez... Isso é, se ele não morresse. sabia bem como era perigoso lidar com Crowley, assim como o próprio Crowley sabia o quão difícil e perigoso era lidar com . Mas eles tinham algo em comum — além das coisas perigosas e difíceis de lidar —, ambos gostavam de desafios.

****


soltou uma gargalhada gostosa após terminar mais uma de suas piadas idiotas enquanto Charlie terminava de anotar algumas coisas que descobriram naquele dia.
— Sinceramente, , o que você tem na cabeça? — Lucy perguntou arqueando uma das sobrancelhas. — Sério, cara, você é muito retardado.
— Ah, fica na sua, Lucy. — pediu revirando os olhos.
e Lucy iniciaram uma pequena discussão e apenas balançou a cabeça negativamente sorrindo. Ele sabia do rolo que tinha com Lucy, aquela coisa toda era antiga. Muito antiga. chegava a pensar que agia daquela forma, pegando todas em festas e tudo o mais, para chamar mais a atenção de Lucy, por mais que não fosse necessário. Lucy já deixou mais que claro que retribui todos aqueles sentimentos que nem eles mesmos sabiam quais eram.
soltou um suspiro discreto ao olhar para o lado e ver conversando com Emma, ambas com um sorriso enorme no rosto. E, então, uma pergunta pairou em sua cabeça: o que diabos estava acontecendo com ele? Ele estava se sentindo estranho por sentir toda aquela atração esquisita por de uma hora para outra... Certo, não foi de uma hora para outra. Aquilo já estava acumulado por muito tempo. Mas para que se descontrolar justo no meio de um trabalho importante? E por que diabos Charlie insistia em mandá-lo fazer as coisas com ela? Aquilo só era bom para melhorar a comunicação entre todos da equipe. Só para isso.
— Porra, , acorda! — gritou, dando um tapa na cabeça do amigo, que revirou os olhos.
— O que é, droga? — perguntou bufando.
— Você anda tão pensativo, ... — Ryan murmurou com um sorriso sapeca nos lábios. bufou e olhou discretamente para , que estava de cabeça baixa mordendo o lábio para não mostrar o vermelho de suas bochechas.
— Certo, o que nós perdemos que só o Ryan sabe? — Charlie perguntou, deixando os papéis de lado.
— Nada. — se apressou a responder.
— Nada, ? — Ryan perguntou dando uma risada.
— Ryan, vai se foder. — ele murmurou revirando os olhos e arrancando risadas de todos – menos de – que já haviam notado que ele havia feito algo que somente Ryan sabia.

****


Jack parou na entrada e deu uma olhada em tudo; num movimento discreto, fez um sinal para Crowley, que estava ali perto. Crowley usava um boné e óculos escuros para disfarçar, passou pelas pessoas acompanhado de Jack, com a desculpa de que era um amigo que apenas iria pegar uma coisa e iria embora logo em seguida. Fácil e rápido passar pelas pessoas, não?
— Você será bem recompensado, Jack. — Crowley murmurou ao chegarem onde os presos ficavam.
— Verei se foder. Tem coisa melhor? — Jack perguntou com um sorriso malicioso, fazendo Crowley gargalhar.
— Na verdade, tem sim uma coisa melhor que ver o se foder... — Crowley fez uma pausa e sorriu. — Fazer ele se foder. — Finalizou, arrancando uma gargalhada alta de Jack.
— Não quero arriscar meu emprego, seja rápido e pegue quem você precisa. — Jack entregou as chaves necessárias para Crowley. — Ficarei de escolta ali do lado de fora. Não demora.
Crowley, ainda com um sorriso no rosto, caminhou lentamente pelo grande corredor à procura de seus... Presos preferidos, por falta de palavras melhores.
— Ora, ora, se não são os meus bandidos favoritos! — Crowley exclamou feliz ao achar os caras que queria.
— Crowley? — um deles perguntou. Tinha poucos ferimentos no rosto, ainda da tortura de . — O que diabos está fazendo aqui? Quem deixou você entrar?!
— Uma pergunta de casa vez, amigão! Primeiro: estou vindo tirar vocês daqui! — ele sorriu. — Segundo: não importa quem me deixou entrar. Vocês vão sair comigo agora.
— Não vamos, não. — o outro disse alto.
— Como é? — Crowley perguntou arqueando uma das sobrancelhas.
— Estamos mais seguros aqui do que com você. Pode ir embora antes de o subir aqui e...
— Cala a porra da boca. Eu já disse que vocês vêm comigo.
— Você não pode nos obrigar a fugir daqui e correr riscos de morrer ou pegar uma pena maior quando formos pegos de novo! — O outro rapaz disse num tom desesperado.
— Não só posso obrigar vocês, como vou. — Crowley disse entre os dentes. — E é bom que vocês me obedeçam logo como em uns sete anos atrás porque eu não posso demorar aqui.
— Mas...
— Eu já mandei calar a porra da boca. — Crowley disse, passando a mão pela grade e puxando um dos caras pelo colarinho. — É bom que vocês topem sair logo daqui. Eu não vou deixar ninguém do Castellamare matar vocês porque vocês abriram a boca sobre o James. E, sim, já estou muito mais informado que vocês imaginam. — ele finalizou, soltando o rapaz e puxando as chaves para destrancar cela.
Não demorou muito e Crowley já havia soltado os caras. Eles estavam com medo, claro! Se Castellamare não mandasse matá-los, o faria! nem sequer teria o trabalho de mandar alguém atrás deles! Ele iria por conta própria.
— Você vai acabar de foder com a gente, Crowley. — um dos homens murmurou desesperado. Ele havia contado sobre James para . Ele.
— Se continuar medrosinho desse jeito, eu mesmo ferro com você de vez. — Crowley disse com raiva. — Acabamos, Jack. Obrigado, amigo. — Crowley sorriu e Jack retribuiu o sorriso.
— Então é você quem está dando informações para o Crowley? — o rapaz que ficara calado por maior parte do tempo perguntou.
— Você não será pago para saber quem investiga isso aqui pra mim, Gabe. Você será pago para fazer o que faz de melhor: perseguir e matar.
— Como é, Crowley? — o tal Gabe perguntou alto.
— Aqui não é o lugar onde devemos conversar, Gabe. Vamos, sigam-me. — Crowley disse e começou a andar. Os dois rapazes já estavam encrencados. Não tinham mais como fugir. Estavam encrencados desde o dia que aceitaram trabalhar para Crowley anos atrás, ficaram mais encrencados quando aceitaram entrar para o bando do Castellamare porque Crowley havia sido preso, e se encrencaram mais ainda em abrir a boca para e agora sumirem de repente. Que vidas lindas eles têm!
Passaram sem serem notados mais uma vez. Já que Jack fora distrair um dos rapazes que ficava por ali àquela hora para os dois bandidos recém-fugidos saírem e, depois, fizera questão de acompanhar Crowley até o carro para fazer o ataque final: deixar o corpo de uma garota um tanto quanto conhecida por ali em frente ao prédio. Só para fechar o show com chave de ouro. Só mais uma morte para terminar de enlouquecer aqueles policiais, os quais eram apelidados de filhos da puta.

****


— Vocês vão ficar aí? — perguntou.
— Eu vou embora daqui a pouco. Tenho que buscar minha namorada na casa dos pais... — Ryan murmurou mordendo o lábio inferior, envergonhado.
— Awn, que gracinha! — Brian disse, arrancando risadas de todos. — Eu tenho que ir para casa também. Prometi que chegaria cedo hoje. Sabem como são crianças... — ele deu de ombros. — Só preciso terminar de revisar esses documentos.
— Certo. Encararei aquela escuridão do estacionamento sozinha... — murmurou fazendo um pequeno drama para não precisar ir sozinha.
— Chama o... — Ryan começou a falar, mas mordeu o lábio inferior ao receber um olhar matador de em sua direção. — Esquece. Boa noite, . Até amanhã .— ele disse rápido e forçou um sorriso.
— Idiota. — ela murmurou sem jeito. Charlie, , Lucy, Brian e Emma não entendiam absolutamente nada. E nem sequer desconfiavam que era de que Ryan estava falando! — Enfim. Boa noite a todos. Até amanhã.
— Boa noite. — todos – inclusive , sim – disseram juntos. deu um último sorriso e saiu da sala.
Não demorou muito e já estava próxima ao estacionamento, quando sentiu alguém puxar seu braço. Ela se virou assustada, dando de cara com um ofegante.
— Desculpa te assustar. — ele riu nervoso. — Mas é que eu me esqueci de te pedir uma coisa... — ele coçou a nuca.
— Tudo bem. O quê? — ela o encarou curiosa.
— O ex-marido da Mangor. Você pode tentar falar com ele amanhã? Sabe... Fazer como você fez com o pai do James. Ela tem mais dois filhos, lembra? — ele murmurou e concordou com a cabeça. — Traga o máximo de informações que conseguir. Deve ajudar em alguma coisa. Toda informação é bem vinda, e... Como você se saiu bem com o pai do James... — ele deu de ombros e ela sorriu fraco.
— Relaxa. Irei bolar umas perguntas essa noite e trago tudo pronto amanhã, aí é só eu ir até a casa deles. Mas... Você teria que descobrir o endereço antes, não? — ela perguntou e ele riu sem jeito. Era estranho conversar com ela sem brigar ou sem... Bem, sem beijá-la.
— Claro. Verei isso ainda hoje e deixarei pronto na sua mesa amanhã. — ele mordeu o lábio para não sorrir. Oras, ele ainda é ! Não é porque está sendo mais legal com ela que tem que começar a distribuir sorrisos.
— Certo. Boa noite, . — ela murmurou sorrindo e seguiu em frente, já que o estacionamento era bem próximo à frente do prédio. continuou ali parado e observando o corpo de , apenas uma palavra pairava por sua mente: gostosa.
se virou para entrar no prédio novamente quando um grito ecoou pelo lugar. Ele arqueou uma das sobrancelhas e correu na direção da voz. Era a voz de gritando e ele sabia bem disso.
— Ei, calma! — ele disse alto ver caída no chão e se arrastando para trás, da mesma forma que fizera quando vira o corpo de Paul. — O que houve? — ele perguntou se abaixando na frente da mulher, que continuava a fitar algo em sua frente. — Droga. Calma. Fala o que tá acontecendo! — ele pediu, colocando as mãos nos ombros de , ela não dissera nada. Apenas apontara pra frente. virou o pescoço devagar e assim que viu o que tanto fitava, arregalou os olhos e murmurou:
— Mas o que caralhos aconteceu?
fechou os olhos com força e bagunçou os cabelos, assustado.
— Ei, vem, levanta. — ele sussurrou para tentando manter a calma e ela, finalmente, desviou o olhar do corpo que estava caído ali em frente. Era uma garota — 23 anos no máximo —, ela estava completamente nua, não havia bilhete por perto, não havia nada. Apenas o corpo sem vida da garota, jogado naquele chão sujo.
— Se acalma, por favor. — pediu mais uma vez. — Consegue ficar sozinha para eu ir chamar Charlie?
— Não! — ela praticamente gritou. — Não. Eu... Fica aí você. Eu o chamo e...
— Certo, se acalma. Eu ligo pra ele. — disse devagar, puxando-a para trás de algum carro, com cuidado. tremia dos pés a cabeça e estava quase que mais pálida que o cadáver jogado no chão. Após fazer sentar em um lugar longe do corpo, se aproximou do corpo da jovem e a reconheceu rapidamente.
— Porra! — ele sussurrou e fechou as mãos com força. Após uns segundos assim, ele puxou o celular e mandou Charlie ir para o lado de fora. Sem nem sequer esperar por uma resposta do mais velho, desligou o celular e voltou para perto de , que continuava assustada.
Não demorou muito e Charlie chegou — com todos os outros — no lugar onde tentava — inutilmente — acalmar .
— O que houve? — Emma perguntou e se encolheu mais.
— Jogaram um... Corpo aqui. — disse devagar e todos arregalaram os olhos. — Ali. — ele apontou para o lugar. — E... Charlie... — ele mordeu o lábio. — Prepare os telefones. — foi tudo o que conseguiu dizer. Charlie arregalou os olhos e correu para o lugar indicado, ao reconhecer o corpo, quase caiu para trás da mesma forma que . Não... Não podia ser. Não podia ser a namorada de David ali. Como se já não bastasse ter perdido seu filho... Tinha perdido também a melhor namorada que o rapaz já tivera?
— Inferno... — Charlie murmurou com as mãos na cabeça e se aproximou, deixando com Emma. Ambas estavam assustadas com a brutalidade do crime, não que os homens presentes não estivessem, mas eles sabiam lidar melhor com aquelas situações.
Charlie já havia chamado a família da garota, já estava cuidando do corpo junto a Lucy. Estava tudo... Em ordem, pelo menos. Charlie já imaginava como seria a reação dos pais da garota. Por mais que eles não fossem virar e dizer "a culpa é sua, Charlie Raymond", ele sabia que no fundo eles o culpariam. Era fato. Ele é um policial. Seu filho era um. E seu filho namorava a menina que agora estava morta. Ninguém mais tinha certeza de nada.
— Acha que foi o mesmo da Mangor e do Paul? — perguntou baixo.
— Ele deixaria algum bilhete... Não? — Charlie se virou para .
— O corpo sempre aparece para nós, Charlie. Não importa se é o trazendo para nós ou deixando um bilhete para nos dar pistas. Não tem como termos certeza de nada... Mas eu esperava que você tivesse pelo menos um palpite. — encolheu os ombros. Sentia a tristeza de Charlie, mesmo não estando tão próximo assim.
— São hipóteses demais, . — o mais velho suspirou. — Vamos ter que trabalhar em dobro agora.
— Cuida da família dela e descansa. Eu cuido daqui. — disse segurando-o pelo ombro. — Estou te devendo um trabalho, lembra? — ele sorriu fraco para Charlie. — Eu não fiz a minha parte hoje mais cedo pra ir conversar com a , então...
— Mas, oras, já está a chamando pelo nome? — Charlie sorriu, tentando fugir um pouco do assunto, e revirou os olhos.
— Você pediu comunicação. Está tendo. Enfim... Vai descansar, eu fico aqui. — disse sorrindo.
— Já disse que você não manda em mim. Eu vou ter que ficar, .
— Charlie, relaxa. — suspirou. — Fala com os pais dela e o resto eu faço, sério. Eu fico com o e a Lucy para cuidar das coisas.
— Mas Emma está na sua casa, como vai fazer para ir embora depois? — Charlie perguntou, tentando fazer o mais novo mudar de ideia.
— Mas que caralho, eu já disse que eu fico, Charlie. Vai descansar, tá? — disse sério.
— Tá, tá, pirralho. — Charlie revirou os olhos. — Eu volto amanhã cedo pra você ficar em casa.
— Vou trabalhar amanhã também. — deu de ombros e puxou um cigarro do bolso, o acendendo em seguida.
— Mas...
— Eu pedi para a fazer uma coisa pra mim. Terei que ficar aqui de um jeito ou de outro. — ele deu de ombros e soltou a fumaça do cigarro. — Ficarei bem. Agora vai lá porque os pais da menina chegaram. — ele finalizou se afastando para fumar em paz. Encarou o outro lado da rua e pôde ver um carro parado com um homem encostado nele. estreitou os olhos e deu mais alguns passos, soltou a fumaça do cigarro e jogou-o longe. Ao ficar praticamente no meio da rua, forçou os olhos mais uma vez. Ele conhecia aquele cara. Ele conhecia aquele jeito, aquela forma debochada de cruzar os braços, o queixo empinado.
— Você tá pirando, . — ele murmurou para si mesmo e fechou os olhos com força. Não podia ser quem ele estava pensando que era.
Abriu os olhos novamente e viu que o homem deu alguns passos à frente, saindo da escuridão e ficando na direção de um poste que iluminava a rua. O homem tinha um sorriso debochado nos lábios e tinha os olhos levemente arregalados.
Crowley. murmurou, engolindo seco.
Crowley não podia ter voltado.
não acreditava que aquele desgraçado tinha voltado.




Capítulo 16

estava em sua sala em meio a papéis, pegando pistas antigas, as novas que apareciam, vendo o que era importante, o que não era... E pensando na possível volta de Crowley à cidade. Só de lembrar que havia visto o cara na noite anterior, sentia seu coração acelerar, não que ele estivesse com medo daquele marginal, jamais. Mas... Ele não podia voltar assim de repente. sabia que Crowley faria de tudo para transformar sua vida num verdadeiro inferno. E o pior de tudo: talvez até conseguisse. Crowley conhecia as fraquezas de . E muito bem.
Já devia ser oito e meia da manhã, ou quase isso, e ele não tinha sequer fechado os olhos para descansar. Estava completamente acabado. Mas não podia sair dali até que aparecesse para ele lhe entregar o endereço do ex-marido — namorado, amigo, ou seja lá o que Zachary O'Donnel fora — da Mangor.
— Desculpe a demora. — disse, entrando na sala, e deu um leve pulo na cadeira, não esperava que ela aparecesse assim de repente. — E desculpe pelo susto também. — ela deu uma risada fraca e se aproximou.
— Tudo bem. Aqui o endereço. — ele esticou um pedaço de papel para a mulher e ela o encarou.
— Está aqui desde ontem à noite? — ela perguntou como se nada tivesse acontecido, além da morte da garota, no dia anterior e ele deu uma risada cansada.
— Estou.
— Vai descansar, . Já viram tudo o que tinham para ver e...
— Não. Eu disse a Charlie que cuidaria das coisas enquanto ele estivesse fora e disse que ficaria aqui até você chegar. — ele a interrompeu, dando de ombros.
— Pois bem, estou aqui. Pode ir para casa descansar. Quando eu voltar da casa do ex-marido da Mangor, eu deixo tudo com a Emma e peço para ela te entregar. — ela disse calmamente.
— Ei, eu tô legal. — ele revirou os olhos. — E vou esperar você voltar de lá. Eu tenho que terminar de arrumar isso tudo aqui.
— Como preferir. — ela murmurou. — Não vou demorar.
— Demore o quanto for necessário, desde que traga informações importantes. — ele disse a encarando e ela sorriu.
— Pode deixar. — Ela respondeu antes de sair da sala.
continuou focado em seus papéis. Sentia sua cabeça latejar e seus olhos pesarem, mas não podia sair dali agora. Teria que esperar voltar e se assegurar de que ela ficaria ocupada o resto do dia. O motivo disso tudo? Carta do James. Ela não precisava nem sequer desconfiar do que ele tinha em mente.
Uns minutos depois, a porta se abriu novamente e ele bufou.
— Trouxe um café pra você. — Emma disse sorrindo e colocou o copo em cima da mesa do rapaz.
— Obrigado. — ele murmurou, dando um gole no café.
— Não está mais tão quente... Estava só esperando sair daqui. — ela deu de ombros.
— Obrigado, de qualquer forma, querida Emma. — ele sorriu.
— Quer me contar o que está acontecendo? — ela perguntou mordendo o lábio e levantou os olhos para ela lentamente.
— Não está acontecendo nada, Emma. — ele respondeu calmamente. Emma não precisava saber ainda que ele tinha transado com , certo? Ok, talvez ela devesse sim saber de tudo e aconselhar o amigo. Mas o orgulho de não o deixava contar a verdade à amiga.
— Você anda estranho, . Até quando você acha que vai aguentar esconder, seja lá o que isso for, de mim? — ela o encarou nos olhos.
— Foi para isso que me trouxe o café, Emma? Para tentar arrancar uma coisa que não está acontecendo de mim? — ele perguntou, largando de vez os papéis e encarando a loira.
— É isso o que acha que eu vim fazer? — ela o respondeu com outra pergunta e o rapaz engoliu seco.
— Não, Emma. Eu...
— Você é só um orgulhoso retardado, . Eu estou aqui querendo ajudar e você sabe disso. Você simplesmente não aguenta segurar as coisas por muito tempo. — ela o interrompeu e revirou os olhos. — Você sabe que isso tá te sufocando.
— Porra, Emma. Tá. — ele puxou a carta do bolso e colocou em cima da mesa. — James deixou isso antes de sumir. Para o pai e para mim, e aí ele fala do meu pai. E ainda diz que se o pai dele confiar em mim, me procurar, ele estará seguro. Mas não diz o porquê. — passou as mãos no rosto e bagunçou os cabelos logo em seguida. — Ele deixou um endereço.
— E você não está pensando em ir até esse endereço, né? — Emma perguntou, sentindo-se um tanto quanto arrependida de pressionar o amigo a contar-lhe tais coisas, sabia o quanto era ruim para ele. Mas... Fora tudo com as melhores de suas intenções.
— Eu não vou até o lugar, ok? — ele segurou uma das mãos de Emma. — Tenho que cuidar das coisas da sua casa, tenho que botar uma galera pra investigar a morte da namorada do David e... A — ele tossiu levemente ao pronunciar o nome da mulher. — já me convenceu a não ir até esse lugar.
— Ah, claro... — Emma mordeu o lábio para segurar um sorriso. — Vocês estão se dando melhor agora, né? — ela perguntou com um sorriso alegre nos lábios e brincando com uma caneta qualquer.
revirou os olhos e pegou a carta em cima da mesa, guardando-a no bolso novamente. Sabia que citar o nome de perto de Emma a faria virar o assunto de toda a conversa.
— Estamos... Indo bem. — ele respondeu mordendo o lábio inferior para segurar a vontade de contar a Emma o que acontecera naquela mesma sala na tarde anterior.
— Isso é bom. — Emma sorriu. — é uma boa garota.
Eu sei, pensou e mordeu o lábio inferior para não falar demais. Seus pensamentos sobre estavam... Soltos demais depois do tal acontecimento em sua sala e isso o deixava completamente frustrado. Ele sabia o quanto era atraente, mas nunca pensara que cairia tão rápido na dela e tentaria algo, e muito menos sequer imaginara que ela se renderia a ele tão rápido também depois de todas aquelas brigas idiotas e de todas as coisas rudes que ele dissera a ela.
— É... — ele deu um sorriso amarelo. — Me ajuda a organizar essas coisas? — ele pediu com o intuito de mudar de assunto e Emma soltou uma risada fraca.
— Ajudo, seu chato. — ela respondeu sorrindo e puxou a cadeira para o lado de para começar a analisar os papéis. sorriu de volta e fingiu analisar também. Ele estava cansado, sua cabeça latejava, seus olhos pesavam, pairava toda hora em sua cabeça e ele queria sair logo dali e ir até o maldito lugar, que ele tanto conhecia, que estava na maldita carta que James deixara. Por mais que ele tenha achado uma ótima maneira de mudar de assunto com quando falara sobre isso e acabara de dizer a Emma que não iria até o local, ele iria. Não se importava. Ele conhecia o dono daquela maldita casa, naquele maldito endereço. Até porque aquela casa era dele. Mas por que diabos James deixaria justo aquele endereço numa carta para o pai e para ele? tinha mais certeza do que nunca agora: James estava morto. Provavelmente descobrira coisas demais... Coisas que deveriam ficar enterradas até a hora que quisesse.

****


estacionou o carro em frente à casa do primeiro marido de Owen Mangor e caminhou calmamente até o grande portão, tocou a campainha e esperou.
Após alguns segundos, uma menina de cabelos pretos e lisos até o meio das costas abriu o portão.
— Pois não? — ela perguntou olhando de cima a baixo.
— Olá. Sou e gostaria de falar com o senhor Zachary O'Donnel. — ela respondeu a menina com um sorriso simpático. A garota analisou novamente e abriu o portão de vez.
— Entre. Verei se ele está desocupado para recebê-la agora. Importa-se de aguardar alguns minutos? — A menina dizia enquanto andavam em direção à porta da frente.
— Não. Obrigada. — ela respondeu após entrar na casa dos O'Donnel.
— Fique à vontade. — a menina disse sorrindo, antes de sumir num grande corredor.
observou toda a casa em alguns segundos e focou em uma foto. Parecia ser Owen, Zachary e a garota que acabara de sair da sala. Mas... Por que diabos ele teria uma foto da ex-mulher falecida ali? Seria por causa da garota que talvez fosse filha deles? E como o senhor Mangor nunca soube disso? Ou ele sabia e não se importava? Seriam então verdade os boatos de Owen ter um caso com o ex-marido? Mas, oras, ela estava separada de O'Donnel há anos. Por que diabos voltaria a se encontrar com ele meses ou até mesmo dias antes de sua morte? Ou será que esse romance nunca acabou, realmente? Perguntas e mais perguntas. sentiu sua cabeça girar por um momento, mas logo se recompôs ao ver a figura do homem alto de cabelos brancos caminhando em sua direção com um sorriso forçado nos lábios. Ora, ora, será então que O'Donnel achara mesmo que a polícia ou jornalistas não fossem atrás dele para tirarem mais dúvidas, já que ele não prestara depoimento sobre a morte de Owen?
— Olá, senhor O'Donnel. — ela murmurou sorrindo. — Ainda se lembra de mim?
— Como esquecer uma mulher tão bonita, ? — ele rebateu com um sorriso malicioso nos lábios e deu uma risada fraca. Já estava acostumada com os homens mais velhos falando tais gracinhas para ela. Ainda mais quando se tratava de O'Donnel. Todos sabiam da má fama que ele tinha, oras, era um empresário reconhecido por toda a Inglaterra! E já tivera o (des) prazer de trabalhar para os senhores que estão acima de O'Donnel tempos atrás, quando estava começando sua carreira. Não que eles fossem íntimos... Tanto é que nem sequer lembrava que O'Donnel havia sido casado com Owen. Lembrou-se de toda a história quando lhe deu o papel com o endereço e algumas explicações anotadas.
— Então — ela começou. —, posso lhe fazer algumas perguntas?
— Então é mesmo verdade que conseguiu se formar em Jornalismo Investigativo? — ele sorriu. — Perguntas sobre o quê, querida? — ele perguntou apontando para o sofá, se sentou e se mexeu um tanto quanto desconfortável enquanto tirava algumas coisas de sua bolsa, como sempre.
— Owen. — ela disse apenas o primeiro nome da mulher e o homem à sua frente engoliu seco.
— Owen... A minha ex-mulher falecida? — ele perguntou visivelmente desconfortável.
— Oras, tem alguma outra Owen sendo investigada? — perguntou com um sorriso torto e o homem revirou os olhos.
— Sem joguinhos. — ele murmurou. — Comece logo com isso.
— Por que há uma foto sua com Owen na sua sala? — ela foi direta.
— Ela ainda é a mãe dos meus dois filhos, oras. Eles têm direito de ter pelo menos uma foto dela em qualquer lugar da casa. — ele disse tentando esconder o desconforto.
— Quando encontrou Owen pela última vez? — ela fora direta mais uma vez.
— Por que diabos quer saber tanto? — ele perguntou, curvando o corpo para frente para olhar nos olhos.
— Sou uma jornalista. — ela respondeu, simplesmente.
— Pois então volte outro dia. — ele disse sério. — E vê se tenta marcar hora para conseguir falar comigo porque tenho mais o que fazer.
— Está escondendo algo, O'Donnel? — ela perguntou, ignorando tudo o que o homem dissera.
— Não te devo explicações. — ele rebateu.
Mas é claro que deve! Eu estou trabalhando para Charlie Raymond!, ela pensou em responder, mas apenas engoliu seco. Velho filho de uma vaca, ela o xingou mentalmente.
— Tudo bem, então. — ela jogou suas coisas na bolsa e se levantou. — Se o senhor se recusa a responder as coisas, é porque deve algo. Mas tudo bem. Depois não reclame se pedirem para você comparecer a um certo lugar. — ela deu um sorriso maldoso e O'Donnel estreitou os olhos. Estava nervoso, claro! Ele fugira da polícia desde o dia que soubera da morte de Owen para não ter que contar a verdade. E ela achava mesmo que ele contaria algo a ela mesmo já a conhecendo de tempos atrás? Fora tola. Ele não diria a ela que estava com Owen horas antes dela morrer. Não diria mesmo.

****


caminhava pelos corredores do prédio com pressa, sem se importar se iria esbarrar em alguém mais uma vez ou não. Estava com raiva daquele maldito Zachary O'Donnel. Como anos atrás, quando teve que trabalhar para homens que o conheciam. Ela havia realmente esquecido como aquele maldito velho a irritava!
Abriu a porta da sala que dividia com com toda sua fúria.
— AQUELE VELHO DESGRAÇADO! — ela gritou, fazendo dar um pulo de sua cadeira e levantar a cabeça rapidamente, e as pessoas que passavam pelo corredor na hora também se assustaram. fechou a porta com força, fazendo um barulho ensurdecedor. deu um leve pulo novamente e esfregou os olhos, então notou que ele estava dormindo e ela o acordara com aquele pequeno escândalo.
— Mas que caralhos está acontecendo, porra? — ele perguntou bagunçando os cabelos.
— Desculpa. Eu não sabia que você estava dormindo e... Droga, eu disse para você ir embora que eu dava as coisas pra Emma! — ela disse rápido e revirou os olhos.
— Por que você chegou toda estressada, afinal? — ele perguntou juntando os papéis e os colocando dentro de uma pasta.
— Porque aquele Zachary O'Donnel é um babaca! — ela bufou e jogou a bolsa em qualquer lugar. — Ele não quis me contar nada. Mas estava escondendo alguma coisa. E me tratou mal.
— Ei, calma! — pediu, revirando os olhos novamente. Sua cabeça parecia que ia explodir e não parava de reclamar, além de tê-lo acordado no susto. — Dá pra falar o que aconteceu realmente e parar de reclamar?
— Certo. — ela respirou fundo e encarou . — Aquele desgraçado do O'Donnel não me disse nada. E na segunda pergunta, ele começou a fugir do assunto. Segunda! , quem diabos para na segunda pergunta?! — ela se levantou e começou a gesticular loucamente enquanto falava sem parar. fechou os olhos e respirou fundo. Precisava ter paciência se não quisesse ferrar com tudo. Tudo... Digo: a maldita comunicação. Porque, afinal, a investigação estava realmente andando bem com a ajuda de e ele não podia ferrar com aquilo. Mas vejam só! Ela não está colaborando!
— Droga, , cala a boca. — ele disse e bufou.
— Certo. Estou nervosa. Desculpa. — ela fechou os olhos e respirou fundo. — Ele disse que se eu quiser saber de alguma coisa, é para marcar a droga da entrevista. Só que, veja só, — ela se sentou na cadeira de frente para —, ele fugiu de vocês esse tempo todo e só porque eu perguntei qual foi a última vez que ele viu a Owen, ele começou a ficar desconfortável e dar crise. — ela mordeu o lábio inferior. — Ele vai começar a fugir de mim também. Por que diabos vocês não podem mandar um pedido oficial para ele vir depor e contar tudo o que sabe?
— Estamos falando de Zachary O'Donnel, . — ele a encarou. — Ele sempre consegue fugir.
— Mas se vocês insistirem agora, ele não vai poder. E, por favor, me deixe ficar perto na hora se ele vir? — ela murmurou e coçou os olhos novamente.
— Vou falar com Charlie sobre isso. — ele murmurou e abriu um enorme sorriso. — Só que não agora. Estou morto. Preciso dormir.
— Certo. — ela ficou de pé novamente. — Desculpa te acordar daquele jeito... Eu fico meio descontrolada com pessoas como o O'Donnel. — ela revirou os olhos e deu uma risada fraca, imaginando como ela ficava quando eles tinham aquelas brigas idiotas, as quais não estavam tendo há dias.
— Até mais tarde ou amanhã, . — ele disse, pegando seu casaco e jogando-o no ombro.
— Até. — ela respondeu e foi se sentar no seu canto com seu notebook. Tinha muita coisa para relatar já. gostava de contar tudo o que vivia nesses seus trabalhos super loucos com policiais e tudo o mais.

****


Crowley segurava seu copo de alguma bebida colorida que Bill não conseguiu identificar.
— Você precisava ver a cara do . — ele sorriu. — E precisava ver o desespero da . — ele riu. — Senti pena dela, confesso. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o chegou.
— Você é um retardado. — Bill deu uma risada amarga.
— Não, você é um idiota que não sabe se divertir! — Crowley rebateu bufando.
— Qual é o seu problema e por que você faz tudo isso, afinal? — Bill perguntou. — Antes era uma vingança boba contra o , depois já queria se juntar aos Castellamare e agora é por causa da coitada da , que não tem nada a ver?
— Você não sabe de nada, Bill. Você acha que ela não tem nada a ver. Acha. — Crowley se levantou. — E você está acabando com toda a felicidade que eu sentia por saber que o já sabe da minha volta e sabe que eu matei a menina. Larga de ser chato! — ele revirou os olhos.
— Você é, de fato, um babaca. — Bill disse, encarando os olhos do irmão. Às vezes, ele ficava pensando por que aguentava aquilo tudo vindo de Crowley. Talvez por ele amar demais a sua garota... Talvez por Crowley ser seu irmão e ele ainda ter um bocado de esperança de que ele irá voltar a ser o que era quando eram crianças... Enfim. Bill sentia-se confuso em relação ao próprio irmão. Ele sabia que jamais entregaria Crowley à polícia. Mas sabia que se desistisse de seu irmão, ele o mataria sem dó nem piedade. Talvez se arriscar contando para a polícia seja até mais seguro. Mas e o medo de perder as pessoas que ele ainda tem? Mas, acima de tudo, o que Bill mais queria no momento era: não se sentir culpado.
— Onde Gabe e o amigo dele se meteram? — Crowley perguntou para desviar do assunto. — Eles sabem que não podem andar por aí...
— Não sei nem quero saber, Crowley. — Bill disse seco e Crowley o encarou com uma das sobrancelhas erguida.
— Você anda tão chato, Bill. — Crowley revirou os olhos. — Desisto de tentar fazer as coisas voltarem a ser como eram antes.
— Você nunca tentou realmente. — Bill rebateu, dando de ombros e saiu da sala deixando Crowley com um olhar de quem não ligava em sua direção. Para falar a verdade, ele ligava sim e queria seu irmão feliz. Mas o problema ali era que a sede de vingança já havia subido à sua cabeça. Ele queria ver sofrer o que ele sofreu, oras! Ele passara os últimos anos de sua vida em uma cadeia no Rio de Janeiro — Brasil — por ser sua cidade natal. E estava ali, em Londres, trabalhando melhor do que nunca. Crowley tivera que batalhar bastante para conseguir montar seu plano contra direito. Tivera que lutar com toda sua inteligência para conseguir sair da prisão e conseguir viajar para Londres logo em seguida. Usara a desculpa de que sua última visita — Bill — voara para o Brasil apenas para lhe avisar que sua mãe havia morrido. Mas, na verdade, Bill tinha ido visitá-lo no fim da pena apenas para lhe avisar que o pai de havia morrido. E aí Crowley já tivera que começar a mudar alguns detalhes em seus planos. Se ele fora parar lá, naquela maldita cadeia cercada de favelados, fora culpa dos . Seu plano inicial era acabar com os dois. Mas já que o pai de havia morrido, o que mais lhe restava? O próprio . Crowley passou esses três anos — já que Bill só fora descobrir da morte do pai de dois anos depois por estar, na verdade, no Brasil cuidando do irmão e não em Londres como Crowley dizia aos policiais — apenas pensando no que fazer. Sua vontade de se vingar aumentava a cada hora que passava. E finalmente tinha chegado a hora de colocar tudo aquilo em prática.

****


estacionou o carro de Emma em frente a uma grande casa. Não, ele não fora direto para seu apartamento. Tinha algo mais importante para fazer que dormir.
Desceu do carro e foi direto para dentro da casa sem sequer tocar campainha, não precisava daquilo. O máximo que poderia acontecer era encontrá-lo com uma prostituta qualquer. Coisa que realmente já estava cansado de ver. Não se importava mais. Precisava conversar com ele o mais rápido possível. Nem que para isso, dessa vez, ele mesmo tenha que puxar a mulher da cama do homem pelos cabelos e jogá-la na rua apenas de calcinha. Faria o que fosse necessário para conseguir as informações que queria.
bufou ao olhar a sala desarrumada. De fato, o homem que procurava estava completamente apagado com uma mulher ao seu lado no quarto.
Subiu as escadas correndo e parou em frente ao primeiro quarto do corredor. Abriu a porta com pressa e, no mesmo momento, pôde ver quem procurava, exatamente como ele imaginava: com uma mulher do lado. não se deu o trabalho de ver quem era a mulher da vez, apenas se aproximou e a sacudiu com pressa. A mulher abriu os olhos assustada e escondeu o corpo com o lençol branco, o homem ao seu lado não mexia um músculo sequer. Após revirar os olhos e bufar novamente, puxou o lençol da mulher, que na mesma hora se preparou para gritar.
— Nem pense nisso. — ele disse, se aproximando mais da mulher e segurando seu rosto sem muita delicadeza. Ele lá estava com tempo para putas? — Apenas saia. Seu trabalho já acabou.
— Quem diabos você pensa que é, porra?! — ela perguntou alto e o homem ao lado se mexeu.
— Não importa. Sai daqui. — ele disse e a mulher revirou os olhos, voltando a se deitar. — AGORA!
— O QUE ACONTECEU? — O homem, que antes dormia, acordou assustado e encarou mais assustado ainda. — O que você quer agora?
— Que tire essa vadia daqui para conversarmos porque eu estou sem dormir desde ontem e estou com pressa. Mas parece que ela não entendeu a parte que eu botei ela pra fora. — disse, tentando controlar a raiva.
— Você não é dono da casa! — a mulher disse com raiva e riu, se aproximando dela novamente.
— É aí que você se engana. — ele segurou seu rosto novamente, com mais força. — Essa casa é minha sim. Agora dá o fora.
— Mas...
— Sem mais, Arlene. — o homem assustado murmurou e soltou a mulher. — Se veste e sai logo daqui. Não quero ter que repetir. — ele finalizou e, em segundos, a garota já estava saindo pela porta do quarto.
— Precisava ser tão grosso assim com ela? — o homem perguntou, vestindo a primeira roupa que encontrou, e revirou os olhos.
— O que você sabe sobre James Mangor? — foi direto e o homem continuou de costas para ele, engolindo seco disfarçadamente.
— Nada. — o homem se virou para com sua melhor cara e o rapaz gargalhou. Em questão de segundos, estava empurrando o cara contra a parede, segurando-o pelo pescoço.
— É bom que me conte, porque ele não deixaria uma carta para mim e para o pai dele com esse endereço sem um bom motivo. — disse de uma só vez e o homem arregalou os olhos.

****


Emma andava de um lado para o outro e Charlie fitava o nada.
— Como eles fugiram de lá, Charlie? — ela perguntou pela décima vez. — Era impossível fugir de lá. IMPOSSÍVEL! Aquilo tinha segurança máxima. MÁXIMA! Eu mesma preparei o sistema! Não havia falha alguma! — Emma continuou a falar, desesperada. Sentia que iria enlouquecer a qualquer minuto.
— Ligue para o — Charlie disse baixo.
— Não. Ele ficou aqui a noite inteira. — ela murmurou parando, finalmente, de andar de um lado para o outro.
— Mas não tem outro jeito, Emma! — Charlie se levantou e encarou a mulher. — Temos dois caras com informações importantes fugidos. Só o vai ter alguma ideia de para onde e como eles foram.
— Mas Charlie, dê um desconto ao . — ela revirou os olhos e voltou a andar de um lado para o outro com a mão na cabeça. — Ele trabalha loucamente há anos e sem folga.
— Te dou duas horas para resolver o problema. — Charlie disse segurando-a pelos ombros. — Nem um minuto a mais, Emma.
— Mas Charlie! — ela disse alto, mas já era tarde. Charlie já havia soltado seus ombros e saído da sala onde estavam.
O que diabos estava acontecendo naquele prédio?
Ou melhor, o que diabos estava acontecendo naquela maldita Londres?

****


— Eu já disse para contar o que sabe, Eric. — disse como se soltasse fogo dos olhos. Não se importava se poderia estar em desvantagem por estar extremamente cansado. Realmente não se importava. — Se você sabe alguma coisa sobre a morte do meu pai, fala agora. — ele apertou mais o pescoço do tal Eric, fazendo-o tossir um pouco.
— Me solta. — ele pediu baixo e afrouxou a mão.
— Isso é o máximo, Eric. — ele disse sério. — Eu não confio em você. Não mais.
— Mas , eu...
— Diz logo por que James deixou esse endereço na carta. — o interrompeu.
— Eu não sei, droga! Aquele James era um retardado! — Eric disse rápido.
— Como assim ‘era’? — perguntou confuso, por mais que já desconfiasse da morte do rapaz.
— Oras, você não acha que ele ainda está vivo, né? — Eric disse tentando se soltar da mão de , mas o rapaz apenas o apertou mais contra a parede. — Disseram por aí que um dos caras com quem ele andava o matou.
— Como? — estreitou os olhos.
— É o que rola pelo bairro. É tudo o que eu realmente sei, cara. Eu não sei nada da morte do seu pai. — ele murmurou nervoso.
— É a última vez que eu vou perguntar: o que você sabe? — disse entre dentes e Eric engoliu seco.
Castellamare.

****


— Emma, se acalma. — murmurou, sentando-se ao lado da mulher.
— Me acalmar? — Emma riu. — Charlie me deu duas horas para resolver uma coisa que não é problema meu e sim dele.
— E do . — completou.
— Mas o não está. Porra, ele ficou a noite inteira trabalhando aqui, . — Emma revirou os olhos. — Não é querendo defendê-lo nem nada. Mas... Ele trabalha desde quando o pai morreu sem sequer tirar uma folga, e quando tirava se sentia mal e me chamava para passar as noites com ele, ou ficava bêbado e acabava com uma mulher que nem lembrava o nome na cama. — ela revirou os olhos novamente. — é um bom rapaz e merece um dia de paz, ué. — ela encarou . — Charlie não pode simplesmente exigir algo de mim que não é bem minha especialidade. Assim como não pode exigir que o passe mais um dia aqui sem descansar. — ela finalizou e entortou a boca.
— Vai dar tudo certo. Quanto tempo ainda temos? — perguntou no plural e Emma sorriu.
— Uma hora e quarenta. — Emma respondeu.
— Então vamos sair por aí perguntando o que viram por aqui, pegar as câmeras de segurança, tentar reconhecer as pessoas e se não conseguirmos nada, ligaremos para o . — deu a ideia e Emma sorriu mais uma vez.
— Eu nunca conseguiria fazer isso sozinha. — Emma murmurou, se levantando e puxando com ela.
— Eu sei. — deu de ombros de uma forma engraçada e Emma riu alto, voltando a puxar a mulher corredor afora.




Capítulo 17

Crowley observava o cofre à sua frente com um sorriso maligno brincando em seus lábios. Tinha coisa mais maravilhosa do que observar aquele cofre que pegava, praticamente, uma parede inteira de seu escritório com todas as suas coisas preciosas? Coisas que muitos — inclusive o nosso querido — desejavam. E, oras! Quem não desejaria diamantes — e outras joias, claro — de todos os tipos e formas, milhões de dólares e armas de todos os tipos e estilos, com munições, todas prontas para serem usadas? Crowley sabia bem o risco que estava correndo com todas aquelas coisas ali, por isso voltara o mais rápido que conseguira. Precisava dar um jeito de atrair para algo que ele desejava. Assim como poderia atrair Castellamare e sua gangue para assim, finalmente, conseguir deixar todos de frente e sair ganhando de todos aqueles idiotas que pensavam que eram inteligentes. Crowley tinha anos e mais anos naquele tipo de trabalho — sim, trabalho —, ele nunca fora aquele tipo de bandido que simplesmente deveria parar atrás das grades, não. Ele era inteligente o suficiente para sair da prisão antes da pena terminar, era inteligente o suficiente para ter sido um policial antes de tudo. Não é porque ficara preso por alguns anos no Brasil que ficara burro, pelo contrário! Ele só aprendeu mais. Polícia no Rio de Janeiro não é uma coisa que se admire, não era difícil para ele conseguir convencer os policiais de fazerem suas vontades. Crowley era um preso... Exclusivo, por falta de palavra melhor. Ele era como se fosse um político — só que ele ficou, sim, anos preso, ao contrário de tais — tinha direito a visitas particulares — a hora que quisesse, até — tinha direito a receber coisas boas de seu irmão Bill e, além de tudo, tinha seu bom curso superior. Não havia motivos para ele ficar trancafiado com os outros bandidos de merda que não passavam de traficantezinhos de drogas de dezenove ou vinte anos. Crowley fechou o cofre ao escutar passos em direção ao seu escritório, colocou o enorme quadro de volta em sua parede calmamente e sentou-se em sua cadeira macia. Esperou a pessoa bater na porta duas vezes e, com um sorriso nos lábios, mandou entrar. Já sabia quem era. Não, não era Bill. Seu irmão era um idiota e devia estar por aí tentando se passar de honesto.
A mulher de cabelos negros abriu a porta e entrou.
Crowley deixou seu sorriso alargar mais ao observá-la; seus cabelos caíam em grossas ondas sobre os ombros, a maquiagem escura cobria-lhe os olhos e o batom vermelho os lábios, os olhos azuis claros chegavam a ser hipnotizantes, exatamente da forma que Crowley adorava. Aquela mulher era espetacular!
— Como é bom revê-la, Rachel. — ele disse calmo, tão calmo que nem ele mesmo reconheceu sua voz, e fez um sinal para ela sentar-se à sua frente.
— Digo o mesmo, Crowl. — ela o chamou pelo apelido, dando um sorriso malicioso e cruzando as pernas lentamente.
Crowley acompanhou seus movimentos e estreitou os olhos. Sabia que Rachel sempre tivera uma queda — ou mais que isso — por ele, porque, realmente, ele não era o tipo de homem feio ou mal cuidado, pelo contrário! Seus olhos claros e seus cabelos loiros naturais davam-lhe um certo charme, seu corpo era de atleta, arrisco a dizer. Estava em forma... Era bonito até demais para um homem de trinta e poucos anos.
— O que te traz aqui? — ele perguntou direto e a mulher deixou seus lábios se repuxarem para um sorriso maldoso.
— Informações, darling. — ela mordeu o canto do lábio inferior enquanto sorria e, em seguida, bateu palminhas feito uma criança.
— Estou começando a gostar disso. — Crowley passou a língua nos lábios, umedecendo-os. — Sobre?
— Nosso querido e seu melhor amigo . — Rachel respondeu sorrindo e puxou uma pasta pequena que havia dentro de sua bolsa. — Mas não conseguirá todas as informações assim, meu caro Crowley.
— E o que você quer em troca dessas informações? Dinheiro? — ele perguntou e ela soltou uma gargalhada.
Rachel deixou a pasta em cima da mesa, junto à sua bolsa e se levantou sem se preocupar de arrumar o vestido justo em seu corpo; queria mais era mostrar tudo o que tinha debaixo daquele pano preto e extremamente colado para Crowley.
— Você sabe o que eu quero... — ela se abaixou ao pé do ouvido do homem. — Além do dinheiro. — ela sussurrou e, logo depois, mordeu o lóbulo da orelha de Crowley, deixando-o completamente arrepiado. Crowley não queria deixar-se levar por ela, não naquele momento. Tinha coisas mais importantes para fazer, como desmascarar todos aqueles idiotas. E, ah, claro, matar alguns deles também.
— Rachel... — ele murmurou, fechando os olhos e a mulher passou os lábios pelo pescoço do rapaz, logo depois voltando para seu rosto.
— Você decide. — ela sussurrou novamente em seu ouvido.

****


— O que diabos aconteceu com aqueles caras? — perguntou devagar, assim que chegou na sala de Charlie. Não se importava se sua cabeça latejava e se seus cabelos estavam completamente bagunçados porque acordara no susto e voara de volta para o trabalho.
— Ninguém sabe, . — Emma murmurou encarando o chão. — Nem mesmo... Eu.
— Como você me dá um mole desses, Emma?! — ele perguntou alto, fazendo a mulher estremecer levemente; estava acostumada com aquele jeito de . Mas nem por isso o deixaria falar assim com ela.
— Não levante o tom para mim, ! — ela disse séria e ele piscou algumas vezes, bagunçando mais os cabelos. — Eu já disse que não sei. Eu revirei aquela porra umas mil vezes. — ela disse entre dentes. Emma dificilmente xingava durante o trabalho, só se algo realmente estivesse fora de controle. Só ali, então, percebeu o quão sério aquilo tudo era.
— Cadê as câmeras de segurança? — ele se virou para Charlie.
— Foram desligadas assim que a saiu daqui. — Charlie respondeu cruzando os braços. — Nós já assistimos todas as gravações. Foi alguém daqui de dentro que desligou tudo e ajudou os caras a fugirem.
— Aqueles desgraçados estão pedindo para serem torturados de novo. — murmurou entre dentes. sentia seu sangue ferver à medida que os segundos passavam, o ódio era tanto que chegara a pensar que perderia o controle e quebraria tudo, mas encontraria aqueles imbecis.
— Não terá torturas dessa vez, — Charlie disse o encarando nos olhos. — Eles não vão aparecer. Seja lá quem foi que os tirou daqui, não vai deixá-los voltar. Perdemos tudo novamente.
— Eles vão voltar. E eu mesmo vou trazê-los. — disse, sentindo a raiva correr em suas veias com mais força.
— Não tente bancar o foda agora, . Vamos ser...
— EU NÃO QUERO BANCAR O FODA, PORRA! — gritou, batendo na mesa. — Eu só não quero perder as pistas de novo. — ele disse entre dentes enquanto bagunçava os cabelos. — Eu não passei uma porra de uma noite inteira aqui juntando as coisas que tínhamos para esses filhos da puta sumirem de repente e ninguém nesse caralho de prédio não saber nada! — ele disse rápido e, logo após finalizar, deixou o ar adentrar seus pulmões novamente.
— Vai ser do meu jeito, . — Charlie disse. Estava ficando estressado.
— Dá para vocês pararem de brigar feito duas crianças? — finalmente disse algo, se levantando e parando entre os dois. — Vocês são dois idiotas, isso sim. — ela disse novamente e Charlie e a encararam. Oras, quem ela pensava que era? — E Charlie — ela se virou para o mais velho —, ao menos se lembra para que chamamos o pra cá? — ela perguntou e Charlie engoliu seco, passando a mão pelo rosto. Se esquecera completamente.

****


Rachel jogou a cabeça para trás e deixou um gemido alto escapar do fundo de sua garganta, sem parar de se movimentar em cima de Crowley. Não importava quantas vezes ela chegara ao orgasmo, apenas o queria dentro dela mais e mais. Rachel sentia-se uma completa ninfomaníaca ao lado de Crowley e ele tinha fôlego o suficiente para deixá-la completamente satisfeita. Era exatamente isso que Rachel tanto amava em Crowley. Ao contrário do que Bill pensava, existia sim alguém, além dele, que amava aquele homem de coração de pedra que Crowley era. Esse alguém era ela. Não importava os anos que ele passara preso, não importava o que ele fazia para sobreviver e se sustentar, não importava como ele conseguia todo aquele dinheiro e joias, não importava nada. Ela era quase obcecada por Crowley. Só quase. E faria qualquer coisa para tê-lo de vez, sem precisar trabalhar e procurar informações para senti-lo dentro dela... Para sentir os lábios dele sobre os dela... Crowley soltou a cintura de Rachel e deixou seu corpo cair para trás, jogando-se completamente no chão. Estava exausto, mas para falar a verdade, sentia falta de toda aquela energia de Rachel. Sentia falta de tê-la somente para ele quando quisesse.
— Você se supera a cada dia que passa. — ele murmurou ofegante e a mulher, ainda em seu colo, soltou uma risada fraca.
— Obrigada, Crowl. — Ela deixou seu corpo cair para o tapete e apoiou a cabeça no peito nu de Crowley. — Mas... Se eu não for me intrometer demais... — ela começou baixinho, com medo de Crowley se estourar por sua curiosidade. — O que vai fazer com essas informações que te passei?
— Eu não vou te falar nada sobre isso, Rachel. — ele disse firme e ela fechou os olhos. Odiava quando Crowley agia daquela forma, não que ele não fosse daquele jeito protetor consigo mesmo sempre, mas... Ela sabia que sempre que ele falava daquela forma, viria algo ruim logo em seguida. E as informações que ela passara para ele realmente eram importantes, úteis para matar quem fosse necessário... Úteis para pegar outros assassinos idiotas que nem sequer sabem disfarçar, úteis para pegar... Pritchard, finalmente.
— Tudo bem. — ela se sentou e procurou por suas peças íntimas, ao encontrá-las, as vestiu. Crowley continuava deitado no chão encarando o corpo da mulher. Ele sabia que ela mexia com ele, mas preferia ignorar isso.
— Já vai? — ele murmurou ao notar Rachel colocando o vestido.
— Você não se importa, Crowl. — ela deu um sorriso triste ao se virar para o rapaz, que agora já estava vestido com sua boxer azul. — Você nunca se importou.
— É. Verdade. — ele confirmou friamente e Rachel revirou os olhos. Não entendia por que ainda o ajudava, talvez estivesse na mesma situação que Bill e fizesse tudo isso por medo e por amá-lo demais.
— Até mais, Crowley. — ela murmurou, pegando sua bolsa.
— Até amanhã, Rachel. — ele respondeu enquanto se apoiava na parede de braços cruzados, deixando a cabeça cair para o lado para observar o corpo da mulher em outro ângulo.
— Como? — Rachel se virou para ele e sentiu seu coração pular dentro do peito ao encará-lo naquela posição.
— Eu disse até amanhã. Amanhã vamos nos ver de novo. Quero informações novas. — ele foi direto e continuou na mesma posição de antes.
— Não tem como eu conseguir nada até amanhã. — ela murmurou enquanto piscava os olhos.
— Você sabe que tem e eu sei que vai conseguir. Te espero aqui amanhã. Nesse mesmo horário. — ele murmurou enquanto passava por ela, deixando um beijo agressivo em seus lábios. Rachel respirou fundo e saiu do escritório de Crowley sem protestar.
Ela era um verdadeiro animal de estimação.
E Crowley era um maldito.
E ela o amava cegamente.

****


— Desculpa atrapalhar. — disse abrindo a porta desesperado. — Mas eu tenho um recado para o . — ele murmurou e levantou os olhos para o amigo. — Você está sendo chamado em Bournemouth. Não conseguiram entrar em contato com você e, pelo jeito, estão te caçando em todos os lugares.
— Por que diabos estão atrás de mim? — ele perguntou e suspirou.
— Não é melhor você tentar entrar em contato ou ir direto para lá? — o rapaz perguntou e estreitou os olhos.
— O que aconteceu? — perguntou entre os dentes.
— Encontraram um corpo... — suspirou novamente, não sabia como dizer aquilo ao amigo — E esse corpo é de uma mulher... E ela teve a barriga cortada e costurada logo em seguida. E nessa costura tinha um bilhete com o seu nome. Os policiais de lá querem conversar com você. Não sei se vão nos deixar fazer parte das investigações, já que são deles, mas eles querem você lá. Ainda hoje.
— Em... Bournemouth? — ele perguntou num fio de voz.
— É. — abaixou a cabeça. Parecia saber que tipo de briga interna estava tendo.
— Kennedy. — Ele sussurrou e se levantou às pressas, parando de frente para . — Quem é a mulher?
— Eles não disseram, . Se acalma e...
— Quanto tempo é daqui até Bournemouth? — ele perguntou alto e ninguém respondeu. — DROGA, QUANTO TEMPO É DAQUI ATÉ BOURNEMOUTH? — perguntou novamente. Não se lembrava bem, a última vez que fora para Bournemouth fora há mais um mês.
— Duas horas. — murmurou e todos os outros a olharam feio. Mas, oras! Seja lá quem fosse a tal mulher, ele conhecia para estar tão nervoso.
— Farei em uma. — Ele murmurou tateando os bolsos e sentiu as chaves de Emma, mordeu o lábio inferior e saiu sem dizer nada.
! — Emma chamou. — Espera, droga!
— Não vou esperar nada, Emma. — ele disse, passando pela recepção e correndo até a saída.
— Só devem estar te chamando pelo seu nome estar lá! — ela disse alto.
— Assim espero. Perder mais uma pessoa não dá. — ele disse e sumiu das vistas de Emma.
A mulher voltou para a sala de Charlie com os olhos tristes.
— Vamos atrás dele? — perguntou enquanto cruzava os braços.
— Ele sabe o que fazer se for realmente a Kennedy. — Charlie respondeu.
— Quem é Kennedy? — perguntou curiosa.
— A única pessoa ainda viva – ou não – da família dele. — respondeu com a voz baixa e engoliu seco.

****


dirigia o mais rápido que conseguia. Aquela mulher encontrada não podia ser sua Kennedy, sua prima e única pessoa de sua família ainda viva. Simplesmente não podia. Ele nem sequer sabia do que seria capaz se ela estivesse mesmo morta.
Kennedy não está morta, ele pensava.
Não estava se importando mais em parar nos sinais vermelhos, não estava nem sequer pisando um bocado no freio na hora das curvas, não diminuía a velocidade... Ele estava, de fato, desesperado. Não podia perder sua "menina dos cachos vermelhos", como a chamava devido ao seu cabelo ruivo natural e cheio de cachos que puxara da mãe, a qual foi morta quase da mesma forma que seu pai. e Kennedy tinham tal dor para compartilhar e... Era uma afinidade tão grande. Ela não podia morrer tão de repente e provavelmente por sua culpa, assim como seu pai... Assim como os pais dela... estava acabando com toda a família . Se Kennedy estiver realmente morta, ele já acabou com a família. Ele esperava, com todo o seu coração — porque, sim, ele ainda tinha um — que ela estivesse viva para ele não ser o único membro da família vivo. A família deles não era uma das maiores do mundo, mas também não era uma das menores. Seus avós tiveram somente seu pai e a mãe de Kennedy como filhos, a mãe de Kennedy tivera apenas ela, e o pai de apenas ele, até onde ele sabe. Seus avós morreram num acidente de carro quando ainda eram crianças, tinha seus oito anos de idade e Kennedy quatro. já não tinha mãe, pois, de acordo com seu pai, ela falecera quando ele completara um ano; o pai de Kennedy era também um policial e ele quem incentivou o pai de a seguir tal carreira. A mãe de Kennedy, Rosie, era a mais velha, apenas tivera a pequena Kenn um pouco mais tarde.
simplesmente não aceitava o fato de ter riscos de ser a sua garotinha-não-mais-garotinha morta. Seu celular tocou alto no banco do carona. Pensou em ignorar, mas, ao observar o número e conhecê-lo, puxou-o rapidamente e finalmente diminuiu a velocidade.
? — A voz do outro lado respondeu.
— Sim. — ele murmurou.
Já está a caminho de Bournemouth? — o homem perguntou.
— Estou, estou. Tem como me dizer onde vocês estão, exatamente? — ele pediu, ainda com a voz baixa, enquanto pisava no acelerador mais uma vez.
Você sabe onde estamos, . — ele disse com um tom de voz sombrio, fazendo sentir um arrepio de terror percorrer sua espinha.
— Pete, por favor... — pediu, parando o carro em um sinal vermelho e apoiando a cabeça no volante.
Sinto muito. Você sabe onde nos encontrar. — Pete disse e, sem esperar uma resposta, desligou o celular. ficou escutando o famoso tum-tum-tum do celular indicando que a ligação fora cortada, até que os carros atrás dele começaram a buzinar loucamente.
levantou a cabeça e respirou fundo.
Então era isso... Esse maldito assassino atacou sua menina dos cachos vermelhos.
Quem quer que tenha feito isso iria pagar.
Ah, se iria.
pisou no acelerador e, segurando as lágrimas, seguiu até a casa de Kennedy, a qual ele tinha ido mais ou menos um mês atrás quando ela voltara de uma viagem que havia feito para conseguir informações para ele. Kennedy era uma ótima mulher e sempre ajudava , principalmente para conseguir algumas informações que ele tanto precisava.

Flashback.

! — ela gritou quando ele chegou no portão de sua casa.
— Ei, Kenn. — ele a puxou para um abraço. — Como foi lá?
— Deu... Certo e errado ao mesmo tempo — ela mordeu o lábio inferior e olhou em volta. — Entra.
estreitou os olhos e entrou na casa da prima, que estava extremamente organizada, como sempre.
— O que houve, Kenn? — ele perguntou se jogando no sofá de qualquer jeito e estranhou pelo fato da prima não reclamar de seu jeito despojado.
— Quem queríamos encontrar está morto há dois anos. — ela disse direta e arregalou os olhos.
— O... Quê? — ele se sentou direito e encarou os olhos verdes da prima, que continuava de pé.
— Está morto... Morto, . — ela fechou os olhos e respirou fundo. — Vamos ter que voltar à estaca zero. Mas veja pelo lado bom... — ela voltou a falar rapidamente ao notar que o primo começaria a reclamar. — Ele deixou uma filha. Não é difícil encontrá-la, já que ela vive por aqui.

Fim do Flashback.

sentiu as lágrimas inundarem seus olhos novamente. Ele a colocara naquele inferno. Ele. Sempre ele. Ele era um desgraçado filho da mãe! Ele sempre colocava todos em furada. Idiota.
sentia seu coração apertar a cada segundo que passava. Estava cada vez mais próximo, sentia medo de chegar à casa da prima e ter que olhar seu corpo e pegar naquele maldito bilhete que estava costurado em sua barriga.
Pisou no acelerador novamente e, em alguns minutos, chegou em seu destino. Sim, minutos. Como havia dito antes de sair, chegara ao local dentro de uma hora. O que furar sinais vermelhos e só diminuir a velocidade para falar no celular não podem fazer, não é mesmo?
desceu do carro e foi ao encontro do homem moreno de cabelos lisos jogados para o lado e óculos escuros.
— Onde está o corpo? — perguntou.
— Está no banheiro dela, do mesmo jeito que antes. Sou chefe disso aqui e tive que deixar tudo do mesmo jeito que encontramos para você dar uma olhada e opinar. Não sei se consigo te colocar nessa. — o moreno respondeu.
— Eu... Não sei se quero olhá-la assim e...
— Você vai ter que vê-la, . Não é hora para viadagem. — ele disse sério e respirou fundo, se controlando para não socar a cara daquele policial marrento de merda.
— Não fale assim comigo. — disse entre dentes, com raiva. — Se fosse a única pessoa que sobrou da sua família ali dentro, morta desse jeito e por sua culpa, você também não iria querer olhar o corpo. Então cala a porra da boca e vai se foder, Denton. — disse com raiva e disparou para dentro do banheiro. Ao entrar no local, preferia não ter feito isso. Não pelo cheiro insuportável que estava instalado no lugar, mas sim pela forma... Brutal que o corpo se encontrava. Kennedy estava presa pelas pernas por duas correntes grossas, as quais deixaram suas pernas marcadas, suas mãos estavam amarradas por cordas — do mesmo tipo que fora usada para amarrar David naquele cativeiro —, tinha um corte profundo na garganta e sua barriga estava semiaberta, ainda com o bilhete costurado ali, seus olhos revirados e pretos em volta, e a boca entreaberta, como se estivesse se esforçando ao máximo para respirar antes de partir de uma vez; uma poça de sangue estava embaixo do corpo nu e ensanguentado dela, seus cabelos ruivos e com longos cachos estavam desgrenhados, como se tivesse tentado fugir e fora pega por eles.
sentiu seu coração apertar novamente e as lágrimas invadiram seus olhos. Fechou-os com força e segurou o choro, mas a cena de sua prima morta não saía de sua cabeça. Simplesmente não conseguia parar de imaginar o quanto ela sofreu por não contar o que sabia, o quanto ela correu para não sofrer os cortes que tinha por todo o seu corpo, o quanto ela gritou implorando para pararem de cortar e costurar sua barriga... Aquilo... Doía. queria desabar, mas seu orgulho não deixava. Ele não iria chorar ali, na frente daqueles policiais de merda, que só queriam vê-lo sofrer, porque, de fato, ninguém ali ia com a cara de além de Pete Denton, apesar das implicâncias e a forma dura de conversarem, se davam bem. Mas o resto... O resto não. Os outros eram só invejosos de merda que deveriam estar se deliciando com seu sofrimento.
— Já viu demais, . — a voz de Pete soou longe e respirou fundo, segurando as lágrimas.
— Eu quero o bilhete. — ele disse com a voz fraca e uma mulher de cabelos coloridos e baixinha aparecera ao seu lado, parecia ser da perícia, pois usava luvas brancas e um casaco que somente policiais usavam.
— Vou tentar tirá-lo sem danificá-lo para...
— Você vai tirá-lo sem danificá-lo para mim. — a interrompeu e ela revirou os olhos discretamente. Nunca havia falado com , mas já sabia como ele era.
— Quem manda aqui sou eu, . E você não vai levar o bilhete. — Pete disse, parando de frente para ele e cruzando os braços na frente do peito.
— É a minha prima. Eu sou o melhor do país. Sou reconhecido. Tenho direitos. E essa porra vai ficar comigo, você querendo ou não, Pete. — ele disse entre os dentes e Pete tirou os óculos para encarar nos olhos.
— Posso ter te ajudado inúmeras vezes ao fazer isso. Mas desta vez, não. — ele disse sério e deu um sorriso sombrio.
— Eu tenho ideia de quem possa estar fazendo isso. Porque, caso você não saiba, Denton, houve outros assassinatos brutais com direito a bilhetes escritos especialmente para mim e minha equipe. — ele deu outro sorriso e um passo à frente. — Portanto, se eu quiser, eu trago a minha equipe para cá, a minha perícia, e os faço levarem não só o bilhete, como também o corpo da minha prima.

****


Emma suspirou e sentou-se na calçada ao lado de . Ela e Charlie tinham ido para Bournemouth ajudá-lo a resolver aquele pequeno problema do bilhete, todos sabiam que não conseguiria resolver tudo sozinho sem brigar feio com alguém ou sem fazer qualquer outra besteira e acabar saindo como total errado da história. Típico dele. Ele não conseguia fazer nada certo quando perdia alguém, simples assim. Ele ficava perdido, completamente perdido.
— Ei, ...
— Emma, não. Agora não, tá? — ele pediu sem encarar a mulher e deu um trago mais forte em seu terceiro cigarro em trinta minutos.
— Agora sim, . — ela disse mais firme. — Solta essa droga desse cigarro e encara de frente o que está acontecendo.
— Encarar de frente? — ele deu uma risada fraca. — Você sabe muito bem o que eu venho encarando de frente... E há quanto tempo. Eu tô cansado disso, Emma. — ele deu de ombros e jogou o cigarro fora. — Quero que o mundo se foda a partir de agora. Eu vou focar nesse filho da puta que matou minha prima e em quem matou meu pai, porque eu ainda não desisti de achar o assassino dele também. — ele puxou outro cigarro do bolso e o acendeu. — Quem fez isso vai pagar, Emma. — ele encarou a mulher por uns segundos e ela sentiu sua nuca se arrepiar. Odiava quando falava daquela forma. — E não vai ser dentro de uma cela, trancafiado com outros bandidos. Quem fez isso vai pagar com a vida. E eu mesmo vou tirá-la dele. — ele soltou a fumaça do cigarro e se levantou.
— Você não pode sair por aí matando todo mundo que achar suspeito. — Emma disse baixo enquanto se levantava também.
— Eu não vou sair matando todo mundo, Emma! — ele exclamou, dando uma risada e sugando o cigarro novamente. — Só vou matar quem for necessário. Ninguém mandou esses desgraçados mexerem com a minha família, Emma. Eu posso ser tudo o que há de ruim no mundo, mas não vem mexer com o que eu assumo que amo. — ele disse entre dentes.
... — ela murmurou se aproximando do rapaz e tocando seu rosto. — Não faça nenhuma besteira por vingança.
— Eu não vou fazer besteira. Só vou pegar quem fez a besteira. — ele murmurou de volta e se aproximou mais da mulher. — Não se preocupa comigo, Emma. — ele puxou-a pelo queixo e juntou seus lábios num selinho rápido.
Emma sabia o que aquilo significava. começaria uma corrida contra o tempo para descobrir quem acabara com sua família sem se importar com as pessoas em volta. Ele iria matar a sangue frio se fosse necessário.
— Quem... Quem você acha que é? — Emma perguntou encarando os olhos tristes do rapaz.
— Já sabe que Crowley está de volta a Londres? — ele perguntou e Emma arregalou levemente os olhos, fazendo soltar uma risada fraca. — Desconfiei que não. Tenho quase certeza de que foi ele quem deu um jeito de entrar no prédio e pegar os caras que foram atrás de mim daquela vez... E, de quebra, para nos deixar mais confusos, matou a namorada do David. Ele estava do outro lado da rua quando eu saí de perto de vocês pra fumar.
— Por que só agora você está dizendo isso?! — ela perguntou aflita. — , você sabe como o Crowley é e...
— Tá tudo bem, Emma. Ele não vai vir pra cima de mim agora. Ele vai vir pra cima do que me cerca antes. — ele engoliu seco. — Por isso, antes de ele chegar em vocês, eu vou tentar chegar nele.
— Mas...
— Eu sei que ele está metido com alguma dessas mortes. Se for a do meu pai ou a da Kennedy, eu vou acabar com ele, Emma — trincou os dentes. — Se ele estiver envolvido na morte da Mangor, do Paul ou do David e da namorada dele — ele fez uma pausa para tragar o cigarro novamente —, deixarei tudo por conta do Charlie.
— A pode tentar conseguir alguma coisa sobre isso e...
— Não mete a nisso. — ele disse mais rápido do que desejava e xingou baixo logo em seguida.
— Mas por quê? Ela está na equipe, é uma ótima jornalista e...
— Porque o Crowley vai atrás dela e, convenhamos, Emma, a é uma... Lerda pra esse tipo de coisa. Já chega de meter ela com bandidos, não? — ele disse desviando o olhar da mulher à sua frente para qualquer outro ponto.
— Você... Você está preocupado com a , ? — ela perguntou puxando o rosto dele em sua direção. — Sério mesmo que você, , está se preocupando com a ? — Emma deu um sorriso torto e mordeu o lábio inferior em seguida.
— Não, Emma! Não... Eu não tô preocupado, eu só... — ele piscou algumas vezes, buscando no fundo de sua cabeça por palavras para explicar. Mas elas simplesmente não vinham. Ele não podia virar para ela e dizer: "Acho que isso é porque eu transei com ela e não faz nem uma semana, Emma".
— Você só...? — Emma o encarou nos olhos e bagunçou os cabelos.
Eu não sei. — ele murmurou, fechando os olhos e tragando o cigarro. — E, cara, dane-se a . — ele disse um pouco mais baixo, como se dissesse aquilo para si mesmo.
— O que tá acontecendo com vocês, afinal?! — ela perguntou e deu uma risada fraca. — Primeiro ela vai louca atrás de você para contar as coisas e te chama pelo nome, depois você aparece do nada chamando ela de e até sorrir para ela você sorriu, ! Isso é bom, ok, eu sei. Mas... É tão estranho. Foi tudo tão de repente e...
— Emma, droga, cala a boca. Eu não quero falar dela. — ele encarou o chão enquanto fumava – ou tentava fumar – calmamente.
— Só me diz o que aconteceu, . — ela pediu, levantando o rosto dele em sua direção.
abriu e fechou a boca inúmeras vezes, estava à procura de palavras para contar a amiga o que realmente acontecera. Depois de alguns segundos em completo silêncio e depois de acabar com seu quarto cigarro, ele encarou os olhos de Emma.
— Eu e a ... Cara, nós... — ele gesticulava enquanto procurava palavras e Emma continuava o encarando sem entender nada. — Sabe... Na minha sala, Emma. Foi... Por impulso e... Droga... — ele gesticulava sem parar e Emma continuava confusa.
— Desembucha! — ela disse mais alto e ele fechou os olhos por uns segundos.
— Eu não sei como te dizer isso, porra! — ele rebateu nervoso enquanto bagunçava os cabelos novamente.
— Desde quando você tem essa de que não sabe dizer alguma coisa para alguém? — Emma perguntou arqueando uma das sobrancelhas. suspirou mais uma vez.
— Eu simplesmente não sei o que aconteceu... Eu só... Senti a mesma vontade do dia que a gente foi na sua casa e...
— Como? — Emma perguntou e notou o que acabara de falar. Emma não sabia de nada! E o que diabos ele estava fazendo?! Jurara a si mesmo que não contaria isso a ninguém! Nem mesmo à Emma, que era sua melhor amiga!
— Eu e a ... Fizemos uma coisa que não devíamos e... — ele mordeu o lábio inferior. Não sabia como contar aquilo para Emma. — Droga, na maldita mesa da minha sala. — ele disse de repente e Emma revirou os olhos. Estava cansada daquilo. — Droga, eu transei com ela na minha mesa. — ele disse num fio de voz, um sussurro quase inaudível que, se não fosse pela proximidade dos dois, Emma não ouviria.
Emma abriu a boca para responder o amigo, mas a voz de Charlie a interrompeu e deu graças a Deus por isso, logo se virando em direção ao mais velho.
— Vamos poder levar o bilhete e o corpo da Kennedy. — Charlie disse calmo e voltou a sentir o aperto no peito.
— Certo. — ele murmurou, piscando algumas vezes. Ouvir as palavras "corpo da Kennedy" não o fazia se sentir bem, sentia vontade de chorar. Mas, claro, seu orgulho era grande demais para ele poder chorar na frente de todas aquelas pessoas.
— Você arruma as coisas do enterro e...
— Eu vou falar com o namorado dela. Deixarei isso por conta dele. — respondeu num tom de voz baixo. — Vocês estão voltando agora?
— Sim, só viemos aqui para te ajudar nisso. — Charlie respondeu e mordeu o lábio inferior.
— Certo. Eu vou até a casa do namorado da Kennedy. Não fica muito longe daqui. — ele disse com um sorriso triste no canto dos lábios.
— A gente te espera. — Emma disse e ele engoliu seco.
— Certo. — ele murmurou e saiu andando sem esperar que alguém dissesse mais alguma coisa, também não se deu o trabalho de agradecer a Charlie e a Pete por terem conseguido liberar coisas importantes para ele. Eles não se importariam.

****


Crowley sentia a satisfação em cada partezinha de seu corpo. Estava na mansão de Castellamare e seus amigos e acabara de ouvir algo que o deixara extremamente feliz: a prima de estava morta. Morta! Completamente morta! Mortinha!
Deixou uma risada alta escapar do fundo de sua garganta e bebeu mais um pouco de sua bebida.
— Dá pra acreditar que acabamos com a família daquele filho da puta?! — Crowley perguntou para Jesse, que deu um sorriso torto. Jesse não gostava daquele... Trabalho, por falta de palavra melhor. Sentia-se mal em ter que matar ou em ter que mandar matar... Sentia-se extremamente pesado e já estava vendo a hora em que abriria a boca para todos. Tudo bem que assim que terminasse a primeira frase de confissão, estaria morto, mas pelo menos deixava uma pista do que realmente estava acontecendo.
Jesse era um rapaz novo, não era como os que passaram por ali. Não era como Castellamare. Não era como ninguém daquele inferno. Ele só... Precisava do dinheiro. Precisava cuidar da mulher que amava.
— Então, Castellamare — Crowley voltou a falar. —, cadê seus velhos amigos? Quero conhecê-los!
— Oh... — o mais velho deu uma risada fraca. — Dois deles se foram, Crowley. Os outros não estão mais por aqui. — Castellamare sugou seu charuto. Esperava conseguir enganar Crowley como planejara; o rapaz não precisava ficar sabendo de seus velhos amigos e contatos. Castellamare sabia muito bem do que Crowley era capaz. Podia ser novo, mas já estava no ramo da bandidagem por tempos.
E Crowley, como não era tão bobo assim, não queria cair na de Castellamare. Mas fingiria cair. Oras, o velho realmente achou que ele era tão babaca assim? Se pudesse, o matava ali mesmo. Só não fazia isso porque precisava de informações que só aquele maldito velho continha. Por exemplo, quem acabara com a vida do pai de ... Quem era o real dono do cofre... Enfim. Eram muitas informações que ele tinha, não podia simplesmente matá-lo. Sabia que Castellamare era esperto o suficiente para compartilhar informações somente com seu sobrinho, outro que era um bandido de qualidade.
— Está na minha hora. — Jesse murmurou se levantando e largando o copo de qualquer jeito na mesa de centro. — Onde estão os materiais que vou precisar, Castellamare?
— No quarto de sempre, Jesse. — o homem respondeu devagar. Jesse caminhou calmamente até as escadas e as subiu também de maneira calma, não tinha pressa de buscar os materiais. Não que ele estivesse indo pegar armas para sair por aí dando tiros em todos e matando pessoas inocentes, jamais. Esse trabalho sujo era para outros.

****


já estava de volta a Londres. Estava ajudando o namorado da prima com as coisas do enterro. O rapaz, também jovem como ela, estava completamente acabado. E aquilo fazia sentir-se ainda pior. Não que ele tivesse um laço de amizade tão grande assim com o rapaz, mas... Ele estava sentindo o mesmo. Sentia-se completamente vazio, acabado, destroçado por dentro. Não tinha como descrever o que ele sentia. Mas ele sabia bem que estava da mesma forma que ficara quando seu pai morreu.
— Vá para casa descansar. — o rapaz disse. — Eu cuido daqui, .
— Está doendo em você do mesmo jeito que está em mim, Romeo. — ele respondeu, deixando seus lábios repuxarem para apenas um lado, num sorriso amarelo.
— E daí? — o moreno rebateu. — Você viu o corpo, você vai ficar nas investigações. Eu organizo tudo e mando te avisarem amanhã ou eu aviso pessoalmente, sei lá...
— Onde você vai ficar, já que o enterro será por aqui? — perguntou cruzando os braços na frente do peito e, finalmente, levantou a cabeça pra encarar o rapaz. Antes ele ficasse fitando o chão.
Assim ele não veria atrás de Romeo.
Assim ele não ficaria hipnotizado.
Nem com vontade de abraçá-la até sua dor passar.
Nem ficaria tão idiota, também.
— Vou ficar na casa de uns parentes... — Romeo finalmente respondeu e se virou para acompanhar o olhar de . — Ela é bem bonita.
— Quem? — perguntou encarando o rapaz.
— Posso não te conhecer há tanto tempo, mas sei que você estava perdidinho naquela mulher. — ele apontou discretamente para .
— Não fale besteiras. — revirou os olhos. — Eu te convidaria para o meu apartamento se eu não estivesse dividindo com uma amiga.
— Tudo bem. Sei me virar. Não se preocupe. Agora vá para casa descansar, que tal? Amanhã será... Pior. — Romeo disse, dando uma risada amarga. o acompanhou.
Ambos estavam sofrendo, ambos não queriam aceitar a morte de Kennedy.
— Eu vou vingá-la. Por nós dois. — disse e piscou um dos olhos. — Você é um cara legal, Romeo. Você fazia a Kenn tão feliz. — ele engoliu o nó em sua garganta e suspirou para segurar as lágrimas. — A morte dela não sairá barata. Não enquanto eu me chamar .
— Eu confio em você. — Romeo respondeu com firmeza enquanto encarava nos olhos.
— Eu sei. E não vou decepcionar você. — disse, colocando uma das mãos no ombro de Romeo. Não era chegado em abraços e Romeo sabia bem disso, portanto, aquele consolo já era de bom tamanho. deixara bem claro que vingaria a morte da prima de qualquer jeito.
— Até amanhã, . — Romeo murmurou e apenas acenou com a cabeça, virando-se para caminhar para sua sala. Ignorou todos os olhares de pena sobre si e fechou a porta com força. Deus, como aquilo doía! fechou os olhos com força e mordeu o lábio, não queria chorar. Não ali. Não agora. Caminhou devagar com os olhos cerrados até a sua mesa, tentando ignorar as lembranças que aquilo trazia, e apoiou as duas mãos ali, tentando relaxar, tentando pensar racionalmente e não começar a agir por impulso. A última vez que agira assim, ele parara sem roupa nenhuma com em cima daquela maldita mesa.
O barulho da porta se abrindo e depois se fechando interrompeu seus pensamentos, mas não saiu da posição de antes. Precisava controlar suas emoções antes de encarar qualquer pessoa que fosse.
— Ei. — Ele ouviu a voz de soar pela sala antes silenciosa.
. Oi. — Ele murmurou sem saber o que fazer e erguendo o corpo devagar.
— Eu...
— Não. Agora não. Não quero falar, . Sai daqui. Me deixa sozinho. Só hoje. — ele praticamente implorou.
— Mas, , eu só...
— Por favor, . Me deixa em paz — ele se virou para ela. — Meu dia foi uma merda. Não vem piorar. Por favor — ele pediu novamente. sabia o que estava acontecendo e pouco se importava se ele estava sendo grosso e educado ao mesmo tempo, tudo o que queria era falar o que estava preso em sua garganta desde a hora em que ele saíra dali.
— Olha...
— Droga! — ele bagunçou os cabelos. — Sai dessa merda de sala, . Não adianta pedir por favor para você? Não adianta... — ele parou de falar no exato momento em que os braços de envolveram seu pescoço e o puxaram para mais perto, dando-lhe um abraço acolhedor. Há quanto tempo não recebia um abraço assim sem ser de Emma? Ele estava totalmente sem reação.
o apertou mais, fazendo-o soltar um suspiro fraco. envolveu sua cintura e a puxou para mais perto. Ele precisava daquilo. Não, não da forma... Maldosa. Ele simplesmente precisava daquele abraço. Ninguém havia lhe dado um abraço de verdade desde que ele soubera da morte de Kennedy, nem mesmo Emma e Charlie, o máximo que conseguira fora um selinho e um toque carinhoso de Emma. O máximo. E parecia entender aquilo. Ela parecia... Sentir aquilo.
puxou-a mais, afundando o rosto em seu pescoço e fez o máximo para segurar as lágrimas. Por isso detestava tanto abraçar as pessoas, dava vontade de chorar. Ele odiava ficar vulnerável, odiava mostrar suas fraquezas.
— Eu sei o quanto dói. — sussurrou e fungou baixinho, estava segurando as lágrimas. Queria ficar logo sozinho, mas não queria se soltar do abraço de ...
— Certo... — ele fechou os olhos e se afastou. — Me... Me deixa sozinho agora? — ele ficou de costas para a mulher, sabia que não seguraria as lágrimas por muito tempo. Sua garganta doía e seus olhos ardiam.
continuou parada, apenas esperando que ele liberasse as lágrimas. Não, não queria vê-lo chorar para... "Zoar" dele depois. Apenas queria que ele colocasse para fora de uma vez por todas. Ela queria estar ali para quando aquilo acontecesse. sabia que Emma não teria tempo agora, teria que trabalhar em mais um assassinato, assim como teria que examinar o corpo antes do enterro, Charlie estaria uma pilha... não precisava ficar sozinho. Ela queria... Dar forças a ele, mesmo sem saber o porquê daquilo. Ela só... Sentia que precisava ficar com ele.
— Você não quer ficar sozinho, . — ela disse baixo e se aproximou dele, tocando suas costas com as pontas dos dedos, fazendo um carinho de leve.
... — ele murmurou e se virou para ela, sem encará-la nos olhos. — Por favor, vai.
— Você sabe que não quer ficar sozinho. Eu sei que a gente nunca teve um relacionamento bom, mas... — ela mordeu o lábio inferior e a encarou estreitando os olhos para evitar que as lágrimas caíssem na frente da mulher. — Eu sinto como se... Tivesse que fazer isso por você, sabe? — ela deu um sorriso fraco e um passo à frente. — Eu sei como é se sentir assim, . E eu sei também que a sua grosseria — ela deu uma risada fraca e deixou seus lábios curvarem para o lado num sorriso torto. — é porque você já perdeu gente que não queria perder. E eu sei que você não está feliz comigo aqui, mas... — ela mordeu o lábio inferior mais uma vez. — Eu quero te ver bem. — ela disse baixo, fitando o chão. não pôde deixar de sorrir. Não tinha como segurar um sorriso depois de ouvir aquilo. Ele sabia que fora um filho da puta com ela e sabia que o pedido de desculpas de tempos atrás não fora com toda sinceridade do mundo. Mas... Mesmo assim, ela ainda estava ali, tentando dar forças a ele, tentando fazê-lo encarar aquilo de frente e... Deus. Como ela conseguia ser tão... Tão... Boa assim com ele mesmo depois de tudo?
— Me dá... — ele fechou os olhos por uns segundos e depois encarou nos olhos. — Me dá outro abraço daquele que eu vou ficar bem. — ele disse com um sorriso triste nos lábios. deu uma risada fraca e envolveu o pescoço dele com os braços novamente, retribuiu o abraço com mais vontade que antes. Após uns segundos assim, sentiu algo molhar seu ombro e logo deduziu que deixara as lágrimas caírem, finalmente. o puxou mais e acariciou seus cabelos, enquanto ele, ainda em silêncio, deixava as lágrimas caírem. A ficha estava caindo junto às lágrimas... Kennedy estava morta. E só ali, envolvido pelos braços finos de , percebeu a realidade.




Capítulo 18

Corra! Era o que seu cérebro gritava. Mas sua curiosidade falava mais alto e ela continuava ali, assistindo tudo aquilo; continuava assistindo aquele maldito homem em cima de seu pai, tentando matá-lo de qualquer forma. Além de assistir quieta e assustada, não fazia nada para mudar aquilo. Deixava aquele homem por cima de seu pai e sua mãe aos prantos no outro canto na sala, sendo segurada pelo outro homem presente. Sabia que se fosse para onde todos estavam, seria morta também, ou então... Bem, ou então eles a segurariam e a fariam assistir seu pai sendo morto. O que daria na mesma, já que ela não conseguia mexer um músculo sequer para sair correndo dali. Ela sentia seu coração chegar à garganta e voltar, seus olhos estavam arregalados, e se ela não tivesse sido ensinada da forma que fora, já estaria aos berros implorando por ajuda, mesmo sabendo que ninguém viria ajudá-la.
Corra! Novamente seu cérebro gritou. A garota fechou os olhos com força e se escondeu mais. Não queria ver aquilo, não precisava ver aquilo. Seu pai... Seu herói... Estava sendo morto — através da tortura — em sua frente e sua mãe iria pelo mesmo caminho se ela não fizesse algo. Decidiu, então, usar o que aprendera com seu pai um ano antes. Levantou-se devagar de onde estava e correu para os fundos da casa, onde havia inúmeras armas. Pegou a primeira que viu e a carregou, destravou-a e segurou-a com força, caminhando determinada até a sala onde estavam. Caminhou devagar, sem fazer barulho na escuridão dos outros cômodos, e parou ao notar que já estava próxima o suficiente para atirar no homem em cima de seu pai. Deu mais um passo e encarou o homem que segurava sua mãe nos olhos, fazendo sinal de silêncio. O que mais aquele homem poderia fazer? Se gritasse para o outro, que ainda se atacava com o homem no chão, a garota atiraria. E a mulher que segurava, bem, a mulher que segurava acabaria com ele em dois segundos, já que era como o marido.
— Solte-o se quiser continuar vivo. — ela murmurou segurando a arma firmemente e mirando-a na cabeça do mais velho. O homem parou o que estava fazendo e arregalou levemente os olhos. — Eu já mandei soltá-lo! — ela gritou e sua mãe abriu um sorriso fraco. O mais velho soltou seu pai e se levantou lentamente. — Mandei você apenas soltá-lo, não se levantar. Continue da forma que estava. — ela exigiu e o homem engoliu em seco, com um sorriso torto no canto dos lábios. Quem aquela pirralha pensava que era? Tudo bem que seu pai estava no chão e machucado, mas quem ela realmente pensava que era para falar com ele daquela forma? Ele era o...

abriu os olhos assustada, sentando-se na cama com a mesma rapidez que abriu os olhos. Aquele maldito pesadelo a atormentava há anos, não aguentava mais acordar naquele estado, não aguentava mais se lembrar daquela maldita noite.
Jogou as cobertas para o alto e seguiu em direção ao banheiro. Encarou seu reflexo no espelho e respirou fundo. Tinha olheiras enormes. Estava trabalhando mais do que devia; não por culpa de Charlie, mas por vontade própria. Ficava até tarde no prédio com todos os outros, fazia o possível e o impossível para ajudar a todos e se dar bem com e, quando chegava em casa, ficava escrevendo até altas horas. Chegou a dormir apenas quatro horas em uma noite, pois já estava quase na hora de voltar para o prédio de Charlie. Mas nem por isso se deixava abalar. Bastava aquele sonho maldito vir atormentar suas noites para sentir-se mal o suficiente para não querer sair de casa. Além de tudo, sentia-se sobrecarregada. Havia dias que nem sequer aparentava ter a idade que tinha por conta do cansaço.
soltou um suspiro pesado e arrancou suas roupas para tomar um bom banho quente e tentar relaxar os músculos para ir trabalhar. Iria direto para a redação esta manhã, precisava dizer para todos os outros que queria Claire como revisora no lugar de Paul.

****


— Bom dia, . — Emma murmurou ao adentrar a cozinha e encontrar o amigo apenas de short e meias, tomando seu café tranquilamente.
— Bom dia. — ele respondeu após morder um pedaço do seu pão. — Cadê o Nicholas?
— Vou deixá-lo dormir mais um pouco, já que ele não tem aula hoje. — ela deu de ombros e se sentou ao lado do amigo, já com um copo de café nas mãos.
— Quem vai levá-lo até a casa do seu irmão hoje? Seria melhor se ele fosse com a gente, Emma. O Crowley tá por aí... — murmurou. Sentia medo de que alguém pudesse tentar algo contra o pequeno Nicholas.
— Eu estava pensando em chamar alguém para ficar com ele aqui... — ela deu de ombros e deu mais um gole em seu café. — Aí era só pedir ao Charlie para deixar algumas pessoas aqui em frente ao prédio.
— É uma boa ideia. — ele deu um sorriso fraco. — Quem pretende chamar?
— A Rachel, talvez. — ela respondeu e encarou o amigo.
— Não acho essa mulher confiável... — ele bufou. — Sério, Emma. Leva ele com a gente ou manda sua mãe vir pra cá. Eu até tento dar um jeito nessa bagunça, mas não chame a Rachel.
— Qual é o seu problema com a Rachel? — Emma perguntou curiosa. — Vocês já se conheciam antes?
— Mais ou menos. Ela é um ano mais velha que eu, a gente se esbarrava na faculdade... — deu de ombros. — Ela sempre foi uma vadia, Emma. Sinceramente, não sei até hoje como você pôde começar a falar com ela e tudo mais...
— Ela trabalha pra gente, ! — a mulher disse, dando uma risada fraca.
— Isso é o mais estranho! — ele riu também. — Eu não consigo ir com a cara dela. Portanto, o Nicholas não ficará com ela. Não adianta você dizer que ele é o seu filho. Com ela, ele não fica.
— Tá, , tá. — Emma bufou e se levantou para lavar seu copo, já que não acabava de tomar café nunca. — Mas, hein... — ela começou, mordendo o lábio e encarando o amigo de rabo de olho. — Você não terminou de me contar o que houve entre você e a ...
— Esquece isso, Emma. — ele pediu revirando os olhos e se levantou para botar o copo dentro da pia.
— Não esqueço não. Volta aqui, ! — ela disse largando a louça para lá e indo atrás do amigo. — Me conta o que aconteceu.
— Eu já contei, Emma. Não vou ficar te dando detalhes. — ele revirou os olhos novamente.
— Por isso que tudo mudou, não foi? — ela perguntou e ignorou enquanto se jogava no sofá de qualquer jeito. — Ela está mexendo com você, não é?
— Não, Emma. Nada mudou. Ela não está mexendo comigo. Mais alguma coisa?

****


Castellamare estava sentado sozinho encarando o nada. Estava... Confuso com essa volta repentina de Crowley, pensava num jeito de tirá-lo de seus planos e seguir com as coisas do jeito que estavam antes. Sua cabeça estava cheia, precisava tirar, além de Crowley, do caminho. Enquanto não tirasse pelo menos um dos dois de seu caminho, seu plano não seguiria firme. Castellamare poderia ser pego a qualquer momento caso se mostrasse agora, por isso precisava de alguém de confiança para arriscar a tirar ou Crowley de perto. De preferência, tirar Crowley do caminho primeiro. Tinha planos bons para ; não tão bons quanto foram seus planos para o pai do rapaz, porém bons o suficiente para se ver livre dele por um tempo. Tempo o suficiente para terminar o que começara e encontrar o que precisa. não seria inteligente o suficiente para sequer desconfiar do que ele queria fazer... Oras, nem sequer se lembraria do rosto dele! Há quanto tempo eles não se encontravam mesmo? Ah, sim, claro, cinco anos. Desde a morte do pai do rapaz.

Flashback.

Castellamare mirava a arma para John enquanto ele se contorcia na cadeira. Era uma cena engraçada, já que Castellamare esperou por isso durante anos. Robert Castellamare sabia bem que John era culpado por toda a desgraça que ele vivia, aquilo era sua vingança. Iria acabar com ele de uma vez por todas ali. Castellamare já vinha infernizando sua vida há praticamente 23 anos. Oras! Quem mandara John se meter em seus negócios e, logo depois, ter começado a namorar sua irmã e depois até mesmo casar-se com ela?! Castellamare sentia raiva dele por todas as coisas que aprontara, mas ficara mais raivoso ainda quando soube que sua querida irmã, a quem ele realmente amava de verdade, estava se envolvendo com aquele maldito policial. E, só para completar tudo, engravidara a moça e colocara esse maldito no mundo. Inconformado com tais atos de sua irmã e de John, decidiu então infernizar a vida do casal e ter sua irmã para ele, como sempre fora.

— John, John... — Castellamare murmurou, dando uma risada fraca. — Esse é o seu fim, meu caro.
— Desgraçado. — John praticamente sussurrou, já que não tinha forças para mais nada.
Castellamare se aproximou do homem e lhe deu um soco, fazendo-o virar a cabeça para o lado.
— O desgraçado da história é você, que fez minha irmã ter um maldito filho seu e a largou grávida do segundo. — ele murmurou bem próximo a John.
— Eu não sabia que ela estava grávida. — John disse trincando os dentes. Ele não tinha culpa, oras! Castellamare armara tudo aquilo!
— Não sabia, ? — Castellamare perguntou, se aproximando mais. — Você não sabia ou fingiu não saber para colocá-la para fora por uma desconfiança idiota?
— Eu não sabia! — John disse alto e sua respiração começou a falhar mais. — Você criou todo aquele inferno, Robert. Você!
— Tem provas? — Castellamare perguntou com um sorriso no canto dos lábios. — Você não era homem para ela.
— Você é um retardado. — John revirou os olhos. — Você inventou todas aquelas coisas para que eu acreditasse que ela realmente estava me traindo...
— É... Talvez eu tenha ajudado a sua desconfiança a crescer. — Castellamare deu de ombros. — Mas eu precisava tirar você do caminho da minha irmã antes de te tirar do meu, John. — ele deu uma risada fraca. — Eu não podia simplesmente te matar enquanto você estivesse com ela.
— Você é só um covarde, Robert. — John disse baixo e fitou o chão. Não gostava de falar da única mulher que amou daquela forma. Não gostava de lembrar que tudo fora culpa de Castellamare. Não gostava de lembrar que ela morreu três anos depois de toda a separação. Não gostava de lembrar que seu filho não tivera a chance de ver a pessoa maravilhosa que sua mãe era.
— Covarde é você que não teve coragem de lutar pela mulher que amava! — Castellamare disse alto enquanto sorria.
— Por que não acaba logo com tudo isso? — John perguntou baixo.
— Porque seu filho mais velho está vindo para cá junto com Charlie! — ele respondeu dando de ombros. — Quero que ele te veja sofrer um pouco.
— Você não vai fazer nada, absolutamente nada, com o . — John disse entre dentes. — Acaba logo com isso, Robert!
— Se você quer assim... — Castellamare deu de ombros e olhou de relance para a janela. — Ora, ora, vejam só se não são eles! — ele puxou a cadeira onde John se encontrava e a virou para a janela, fazendo-o conseguir ver Charlie conversando com , que estava visivelmente nervoso.
Castellamare passou para o outro lado do quarto e deixou John ficar encarando seu filho. John tentou mexer os lábios e avisá-lo sobre o que realmente estava acontecendo, mas o rapaz apenas fez um sinal pedindo silêncio. Naquele momento, John teve a certeza de que eles invadiriam a casa e que ele morreria naquele exato lugar. Castellamare se aproximou novamente.
— Antes de você ir de uma vez por todas, quero que saiba que o seu outro filho, o qual você largou com a minha irmã, está aqui. Você irá conhecê-lo antes de morrer, John. Veja só como sou um ótimo ex-cunhado! — Castellamare disse alto e John fechou os olhos com força. Sentia seu corpo inteiro doer, sentia um aperto no coração que... Não tinha como descrever. Estava com medo.
Tiros foram ouvidos do quarto e John abriu os olhos assustado. Haviam começado.
— Mande-o entrar agora. — Castellamare disse para um de seus capangas. — Antes de te matar e eles acharem o quarto, vou te apresentar ao seu filho. — ele murmurou e se virou para a porta, onde um rapaz alto estava encostado. Tinha os olhos da mesma cor que os da mãe, os cabelos iguais aos de e o rosto com alguns — poucos — traços do pai.
John não acreditava no que estava vendo. Ele... Não! Não podia ser o seu outro filho ali! Ele não... Deus!
— Mas ele é o... — John tentou falar, mas estava em um estado de choque tão grande que não conseguia formar uma frase direito.
— Sim, é ele. — Castellamare disse firme e mirou a arma para John novamente. — Pode dizer adeus ao seu filho.
— Mas... — John tentou dizer, mas os tiros que atingiram seu corpo – não em lugares fatais, pois Castellamare realmente queria que o encontrasse daquela forma horrível – não o deixaram pensar em mais nada.

Fim do Flashback.

A lembrança invadiu a cabeça de Castellamare numa velocidade incrível. Era apenas lembrar-se de que existia para lembrar-se de tudo o que fizera. Sabia que, sim, havia estragado a vida da irmã. Mas era melhor ter estragado daquela forma que ter matado John enquanto eles estivessem juntos e, em troca disso, receber o ódio da irmã que tanto amava. Ele não podia deixá-la odiá-lo tanto assim. Ele sabia também que John não era aquele cafajeste que ele a fizera acreditar, mas simplesmente não podia deixar sua irmã se envolver com o cara que queria prendê-lo ou até mesmo matá-lo. O jeito fora fazer John acreditar em coisas bobas e deixá-lo cego de raiva a ponto de colocá-la para fora de casa. John não sabia que, naquela noite, ela ia contá-lo que estava grávida de novo. John ficaria feliz em saber, já que queria mais de dois filhos. Ele sabia que ela seria a mãe perfeita e sabia também que teriam quantos filhos ele quisesse ter, já que eles se amavam de verdade. Mas Castellamare decidira interferir na vida do casal. John se remoía todos os dias por ter acreditado numa palhaçada e não ter dado chance de sua mulher se explicar. Se estivesse vivo até hoje, ele tentaria conseguir a confiança do filho que era apenas um ano mais novo que . Mas até isso Castellamare o tirara. Não com a morte, mas sim fazendo o rapaz acreditar que o pai o rejeitara e o queria longe. O pior de tudo não era a revolta do rapaz, era que ele sempre esteve ao lado de John e e ninguém nunca sequer desconfiou disso.
— Castellamare? — a voz de Jesse quebrou sua linha de pensamentos e ele encarou o mais novo.
— Achei que fosse demorar mais. — Castellamare se levantou e caminhou até o rapaz. — Quero que faça uma coisa sem comentar com ninguém.
— É algo tão sério assim? — Jesse perguntou engolindo seco.
— É. — Castellamare disse.
— Desde que isso não vá me prejudicar... Ainda temos um acordo e...
— Se acalme, Jesse. — Castellamare o interrompeu. — Só quero que faça uma coisa que, se você for esperto, será rápida.
— Que coisa? — ele perguntou suspirando.
— Acabar com o Crowley.

****


soltou a fumaça do cigarro e encarou o céu nublado. Sentia-se perdido, cansado, esgotado. O que mais queria e precisava naquele momento era de paz. Uma coisa que não havia em sua vida há... Anos. Basicamente, desde quando tinha seus... Catorze ou quinze anos, quando o obrigaram a entrar numa escola particular para tentar entrar em uma das melhores faculdades do local e chegar aonde chegou. gostava do que fazia e gostava também da forma que conquistara, mas... Não gostava da forma que passou a gostar daquilo tudo, nem pelo que o fizera começar com tudo aquilo. Sentia-se culpado às vezes, mas, de acordo com seus familiares, era o sonho de sua mãe, talvez por isso também se sentisse orgulhoso; culpado por não ser o que ele realmente queria na época e saber que podia ser algo diferente e menos desesperador que isso; orgulhoso porque fizera o sonho de sua falecida mãe realidade e orgulhara os poucos familiares vivos. Ele havia honrado o nome da família ! Pelo menos até se formar, porque, bem, depois disso ele já não pode garantir que seus familiares estejam orgulhosos. não fizera muitas coisas certas, passou sua vida inteira pensando e fazendo coisas erradas. Sabia que se sua mãe estivesse viva, seria tudo diferente, sabia que não teria raiva de certas pessoas e sabia também que não iria desejar a morte de algumas pessoas. Ele nunca se imaginou trabalhando no que trabalhava, nunca se imaginou examinando corpos para policiais e muito menos se metendo em tiroteios nas ruas e sendo reconhecido por jornalistas a ponto de precisar ceder entrevistas e explicar alguns casos, nunca sequer desejara isso. Não que não estivesse satisfeito, pelo contrário, estava feliz com tudo o que conseguira. Apenas sentia medo de perder tudo num piscar de olhos, o que não é tão difícil do jeito que as coisas estão.
Seus pensamentos foram quebrados ao sentir mãos macias tocarem seus ombros e leves lábios tocarem seu pescoço, fazendo-o ficar completamente arrepiado e abrir um sorriso torto ao reconhecer tais toques.
— O que faz aqui sozinho enquanto todos continuam uma pilha pela prima do ? — ela perguntou baixo, para somente ele ouvir.
— Estava estressado. Precisava fumar. — ele respondeu sorrindo e mostrando o cigarro entre os dedos.
— Ah, claro. — ela sorriu também enquanto pegava o cigarro dos dedos do rapaz e o levava até os lábios, tragando profundamente.
— É relaxante, não acha? — ele perguntou se aproximando da mulher e segurando-a pela cintura.
— Com certeza. — ela sorriu mais uma vez e o encarou nos olhos.
sentia seu coração bater fortemente contra seu peito, detestava quando Lucy se aproximava tanto e lhe causava tais sensações. Não que fossem ruins, pelo contrário! Eram maravilhosas, ele apenas não gostava de se sentir apaixonado. Ele sabia que a faria sofrer no fim de tudo, como sempre fez. Lucy não merecia isso. Ela era completamente diferente de todas as outras, não merecia um cara como ele.
— O que tanto você pensa, ? — ela perguntou de repente, enquanto acariciava o rosto do rapaz.
— Você. — ele murmurou encarando-a nos olhos. Ela sorriu.
— O que pensa sobre mim? — ela perguntou baixo, ainda sorrindo timidamente.
— Penso no quanto você é linda, no quanto eu sou idiota, no quanto você vai sofrer no fim disso tudo e no quanto eu queria estar com você todo segundo e te proteger de toda essa loucura. — ele respondeu simplesmente, enquanto abaixava os olhos. Lucy sentiu uma pontada em seu coração e respirou fundo. Ah, se soubesse o que ela realmente andava fazendo nas horas vagas...
— Eu não vou sofrer no fim disso tudo! — exclamou revirando os olhos. — Você sabe disso, . Pare de ser idiota e achar que eu não sei me cuidar. — ela deu uma risada fraca e se aproximou mais do rapaz. — Eu posso não ser... Tão boa para você e muito menos com as palavras, mas eu gosto desse seu jeito louco de tentar me proteger. — ela mordeu o lábio e abaixou a cabeça enquanto suspirava. Levantou a cabeça novamente e o encarou nos olhos. — Você pode não acreditar, , mas eu amo você. — ela disse num fio de voz, fazendo o coração do homem à sua frente acelerar mais que o normal. Deus, como ele precisava ouvir aquelas palavras da boca dela para ter forças e continuar! Podia não parecer, mas sentia-se mal com toda essa loucura que estava acontecendo em Londres. Odiava ver do jeito que estava e já havia perdido as contas de quanto tempo ele não sentava com o amigo para conversar por conta de todas essas coisas.
— Você sabe que eu amo você também, Lucy. — ele revirou os olhos sorrindo. — Só não sei por que insiste em termos que continuar assim... — ele gesticulou nervoso. — Bom, você sabe. Por mim...
— Por enquanto é melhor assim. — ela murmurou e juntou seus lábios levemente em um selinho.
suspirou e, sem lembrar o que ia dizer à mulher, puxou-a pela cintura e aprofundou o beijo.

****


parou em frente à casa que tinha ido dias atrás.
Respirou fundo mais uma vez e entrou sem chamar, como sempre fazia.
— Eric? — chamou e não teve resposta. Revirou os olhos e subiu as escadas da casa lentamente, estava cansado daquilo.
Abriu a porta do quarto e deu de cara com Eric dormindo sozinho. quase deu risada daquilo, mas preferiu se segurar e andar até Eric. Sacudiu-o sem a menor delicadeza e o mais velho acordou assustado.
— Mas que porra... — Eric murmurou irritado. — Custa você chegar e me chamar devagar, caralho? Você me cansa, . — ele finalizou, se levantando.
— Ah, que droga, Eric! Se veste, eu não preciso ver o que você guarda debaixo das roupas! — disse alto, revirando os olhos.
— Estou na minha casa, certo? Ninguém mandou vir me acordar, agora vai esperar eu me vestir também. — o mais velho rebateu e pegou qualquer roupa que encontrou pela frente.
— Tá de TPM, Eric? — perguntou debochado, com um sorriso sapeca nos lábios.
— Tô, por quê? — Eric respondeu botando as mãos na cintura e soltou uma gargalhada alta. — É sério, . O que te trouxe aqui uma hora dessas?
— Eu quero saber mais sobre esse nome que você me falou. Castel... Cas... Alguma coisa assim. — deu de ombros.
Castellamare. — Eric suspirou. — Não posso ficar te dando muita informação sobre ele.
— Mas...
— Mas nada, . Prometi ao seu pai que não deixaria você se meter com essa gente. — Eric disse sério. — Pelo menos essa promessa eu tenho que cumprir. Entenda o meu lado. Esse Castellamare está envolvido com muita merda, isso não é coisa pra você. É coisa para o Charlie.
— Eric, pelo amor de Deus! — revirou os olhos e bufou. — Eu quero saber. Eu preciso saber!
— Você não precisa saber nada! Você vai saber tudo na hora certa. — Eric rebateu.
— Eu tenho vinte e oito anos, cacete! Eu nem sequer faço ideia de quem matou o meu pai, não faço ideia de quem seja esse desgraçado. Eu só sei que tenho que confiar em você porque o meu pai pediu! O que te custa me dar algumas informações? Tem assassinatos rolando por aí, Eric. A Kennedy foi uma vítima também. — disse baixo e Eric arregalou os olhos levemente. — Eu sei que você sabe de alguma coisa.
— Espera. Mataram a Kennedy? A sua Kennedy? A menina dos cabelos vermelhos? — Eric perguntou e abaixou a cabeça com as lembranças que atingiram sua mente. Eric agora estava horrorizado. Tinha que contar a pelo menos metade do que sabia.
, já parou para pensar que tudo isso pode ser culpa do Crowley? — Eric perguntou de repente e levantou os olhos para encarar o homem à sua frente.
— Já. Como já parei para pensar que pode ser esse tal Castellamare que você tanto fala. Eric, não vai te acontecer nada. Eu faço de tudo pra manter a sua maldita segurança! Me diz o que sabe. — disse tudo de uma só vez e Eric suspirou, lembrando-se da última vez que estivera com alguém que fazia parte do grupo Castellamare.

Flashback.

— O filho do não sabe de nada. — o homem murmurou e Eric bufou.
— E por que está me contando, então? Você não vai me soltar daqui, droga! Está me contando para eu morrer sabendo, é a única explicação, não? — Eric disse com raiva, enquanto se mexia naquela maldita cadeira desconfortável.
— Que droga, se estou te contando isso tudo — ele fez uma pausa e olhou para os lados, logo voltando a falar —, é porque vou dar um jeito de você sair daqui e tentar encontrar o para contar tudo a ele.
— Ah, claro. Ficou bonzinho de repente, foi? — Eric debochou, revirando os olhos.
O homem, com raiva, bufou e lhe deu um soco no rosto.
— Idiota. Estou dizendo que vou te deixar sair e você ainda debocha de mim? Cala a porra da boca e me escuta, entende o que tem que fazer e foge daqui antes do Castellamare voltar. — o homem finalizou e Eric o encarou, percebendo, finalmente, que era tudo realmente sério.
— Diz logo de uma vez. — Eric revirou os olhos.
— O não é o único filho do John. — ele disse de uma vez só e Eric arregalou os olhos, soltando uma gargalhada logo depois. — É sério, abestado. Enfim, foda-se. Tenta contar isso ao John antes do Castellamare pegá-lo. Porque quando esse filho da puta desse Castellamare pegá-lo, ele vai morrer. E o Castellamare vai ter o prazer de chamar o outro garoto para assistir, porque ele cresceu ouvindo o Castellamare falar coisas terríveis do John. O garoto é... Igual ao Castellamare. Completamente igual. Só que sabe disfarçar melhor.
— Quem é o garoto? — Eric perguntou, ficando sério novamente.
— Isso eu não vou te contar. Mas caso o Castellamare pegue o John antes e ele morra, nunca conte isso a ninguém. Somente ao , quando for necessário. Acredito que só vá ser se o Crowley voltar para Londres ou se o Castellamare tentar pegá-lo.

Fim do Flashback.

— Eu não posso simplesmente te contar o que eu sei, . — Eric murmurou. — Eu só quero que você se cuide. Se alguém estiver atrás de você e souber que eu existo, me deixe morrer ou ser pego, nunca se arrisque por mim. Eu tenho gente que pode me ajudar além de você. — ele engoliu seco. — Só quero que prometa que não vai acreditar em qualquer coisa que disserem por aí e que vai confiar totalmente em mim e no Charlie.
— Se eu não confiasse em você, eu não te deixaria ficar aqui e não te daria segurança, Eric. — respondeu, já perdendo a paciência. — Agora me diz o que sabe.
— O Castellamare nunca se deu bem com o Crowley. Se você pegar o Crowley, estará ajudando o Castellamare, se você pegar o Castellamare, estará ajudando o Crowley... — Eric suspirou. — Não corra atrás agora, só tente salvar os próximos alvos.
— Mas como diabos eu vou saber os próximos alvos, Eric?! — perguntou cansado daqueles malditos joguinhos que Eric vivia fazendo.
— Tem um cofre... — Eric começou a falar, lembrando-se como se todas aquelas informações tivessem penetrado seus ouvidos horas atrás.

Flashback.

— O Castellamare quer algo que somente o Crowley tem. — Jesse se sentou de frente para Eric.
— O que é? — Eric perguntou curioso enquanto massageava seus pulsos marcados pelas cordas que Jesse acabara de soltar para voltar a lhe dar informações.
— Um cofre, se eu não me engano. Crowley, antes de ser preso, roubou isso do Castellamare e o escondeu em alguma casa daqui de Londres. Não sabemos qual até hoje. O irmão do Crowley é quem toma conta das coisas, mas o rapaz é esperto e nunca deixa na cara onde está o que queremos. Nesse cofre, há coisas que pertencem a muitas pessoas importantes. Pessoas como Owen Mangor, Paul Garred, Zachary O'Donnel... Esses tipos de empresários antigos. Se Castellamare não encontrar logo o que quer, ele vai começar a acabar com todas essas pessoas. Mas para isso ele terá que matar o John, porque, bom, convenhamos, esse homem pega todo mundo e joga na cadeia como se fosse a coisa mais fácil do mundo. — Jesse deu de ombros. — Mas ele não pode simplesmente prender essas pessoas que eu citei. Não haverá provas. Mas uma coisa eu garanto, Eric: nenhum deles presta. Todos roubaram demais para conseguir tudo o que têm hoje. Porém o Crowley os tirou tudo o que conseguiram e escondeu a sete chaves. Castellamare quer encontrar. Mas para ele encontrar, tem que tirar John e todos esses outros que citei do caminho.
— Owen Mangor é uma mulher de família e...
— Ela é uma vagabunda, na verdade. — Jesse o interrompeu. — É sério, Eric. Você sabe que pode confiar em mim agora. Se o John morrer, peça segurança ao filho dele. Depois eu darei um jeito de te ajudar também. Agora tente chegar no John antes do Castellamare e contar tudo isso à ele.
— E quanto a você? — Eric perguntou já de pé.
— O Castellamare não pode fazer nada comigo — Jesse respondeu tranquilamente com um sorriso torto nos lábios.

Fim do flashback.

— Que cofre, Eric? — perguntou curioso, enquanto Eric fitava o nada.
— Owen Mangor e Paul Garred, eu tenho certeza que morreram por causa do Castellamare. O Castellamare não matou a Kennedy. Ou não quis, pelo menos. — Eric colocou a mão no queixo como se estivesse pensando. — Fique de olho em Zachary O'Donnel. Pode ser que ele apareça morto por aí.
— Droga, Eric. Me conte as coisas direito. — pediu mais uma vez.
— Você não vai poder compartilhar nada disso agora, . — Eric se virou para o mais novo. — Owen, Zachary e Paul estavam envolvidos com umas coisas que... Eu não sei explicar, mas essas coisas tinham a ver com o Castellamare e o Crowley. Um cofre com coisas que pertenciam a todos eles, talvez. Ou somente aos empresários... Eu não sei, . E o que eu tenho certeza, não posso contar. Mas você pode começar a investigar essas coisas. Owen andou desviando dinheiro das empresas Mangor com o O'Donnel. Mas isso você já sabe, certo?
— Não tinha certeza. Agora eu tenho. — ele deu de ombros e soltou um suspiro pesado. — Você vai ter que confiar em mim da mesma forma que eu confio em você, Eric.
— Eu confio, . Pode acreditar que eu confio. Eu prometo que, na hora certa, você vai saber de toda a verdade. Eu prometo te contar tudo. Mas agora eu não posso.




Capítulo 19

Nicholas adentrou o elevador e apertou o botão para o terceiro andar. Era o andar mais vazio e calmo do prédio, Emma sempre o deixava ficar lá para o pequeno ler seus gibis. Ela sabia que ele estaria seguro ali, porque, além de estar no mesmo lugar que ela, estava cercado de policiais e ninguém sequer chegaria perto dele, por todos conhecê-lo. Nicholas normalmente ficava numa salinha no fim do corredor, onde era a sala que David costumava ficar também. A sala não era muito grande, mas também não era tão pequena e Charlie toda hora ia até ela para pegar algum documento e olhá-lo. Não havia motivos para preocupação ou medo. Além do mais, Nicholas era esperto o suficiente para sair de lá, caso alguma coisa estranha acontecesse.
Ao chegar ao andar desejado, Nicholas saiu do elevador e cumprimentou algumas das poucas pessoas que andavam por ali. Todos já estavam cientes da situação, portanto, ficavam sempre de olho no pequeno, que era considerado o "mascote" do local. Isso deixava Emma mais tranquila e relaxada, fazendo-a ficar mais concentrada no trabalho.
Nicholas parou de andar, no meio do corredor, ao escutar alguns barulhos e olhou para trás. Não havia mais ninguém ali. Talvez os barulhos que tinha escutado tenham sido do outro lado ou até mesmo do andar de baixo. Continuou a andar sem se importar, mas o barulho estava ficando mais próximos. Que diabos estava acontecendo?
Nicholas suspirou e deu meia volta. Estava começando a ficar com medo daquele lado tão vazio, voltaria para onde todos estavam.
O garoto parou de andar assim que viu uma silhueta entre as sombras no início do corredor. Era provavelmente um homem. Alto, ombros largos... Isso fora a única coisa que Nicholas quis observar, estava mais assustado agora. O corredor estava vazio, completamente vazio agora, oras! Ele não ficaria ali para tentar reconhecer uma silhueta que parecia tão desconhecida. Charlie não era tão alto, tinha ombros largos mas não tanto, estava com Lucy terminando de ajeitar algumas coisas, Brian era, com toda certeza, mais alto e mais forte, Ryan estava com sua mãe... Quem diabos seria aquele homem parado o encarando entre as sombras? Ele que não ficaria ali para ver. Apertou os passos e voltou a seguir para a sala onde normalmente ficava. Porém passos além dos seus ecoaram pelo corredor silencioso, o garoto olhou para trás e não havia mais nada. Nem sequer a silhueta do homem estranho. Nicholas sentia medo de estar ficando louco ou de ainda estar traumatizado pela invasão em sua casa, por mais que agisse bem com tudo aquilo para não demonstrar medo para sua mãe, ele ainda se assustava com certas coisas. Mas tinha certeza que trauma não havia mais nenhum. Porém, ainda sentia medo de que um dia isso voltasse, sentia medo de que, um dia, aquele medo extremo tomasse conta de seu corpo a ponto de fazê-lo querer gritar e chorar feito um bebê.
Nicholas olhou para trás de rabo de olho e pode ver uma sombra atrás dele. Provavelmente a mesma silhueta de antes. Sentiu seu coração acelerar de medo e apertou os passos, quase começando a correr. Porém, o contrário do que ele pensava, os passos atrás dele também apertaram, fazendo barulhos mais altos. Sem se importar com mais nada, começou a correr, sentindo a adrenalina de antes correr por suas veias. Sabia que não tinha muita chance com aquela pessoa pelo simples fato de ser uma criança, mas era esperto o suficiente para entrar em uma das salas e tentar se esconder.
Nicholas virou à esquerda, direção oposta da sala que costumava ficar, abriu uma porta qualquer, entrando ali e se jogando atrás das grandes caixas com arquivos velhos. Não se importava se tinha alguém atrás dele de verdade ou não, apenas queria sentir-se seguro e afastar aquele medo de uma vez por todas.
Ouviu a porta se abrir lentamente e fazer um barulho estranho, se encolheu mais atrás das caixas e pôde ver um pouco do homem que estava atrás dele. Nicholas não sabia o que estava acontecendo, nem o porquê. Só sabia que queria sair logo dali e não queria ficar sozinho nunca mais.
Enquanto o homem rondava a sala, Nicholas andava devagar, abaixado, tentando chegar próximo da porta para finalmente sair correndo e ganhar vantagem.
— Eu sei que você está por aqui, pequeno Nicholas. — O homem disse baixo, por causa do silêncio que havia no local. — E eu vou te encontrar...
Nicholas respirou fundo, devagar, engolindo as lágrimas de medo e correu em direção a porta, deixando o homem ali de boca aberta com sua pequena esperteza.
O menino corria sem olhar para trás e sem se importar se o homem vinha atrás dele ou não.
Nicholas parou em frente ao elevador e apertou o botão loucamente, ele sabia que o homem estava se aproximando, mas o elevador simplesmente não vinha. Engoliu as lágrimas novamente e voltou a correr, indo em direção as escadas. Fechou a porta atrás de si e desceu as escadas correndo o mais rápido que conseguia e tropeçando nos próprios pés. Uns segundos ou minutos - ele não sabia bem - depois, vendo que já havia tomado uma boa distância do homem, parou para respirar e procurou rapidamente com os olhos onde estava. Soltou o ar com mais tranquilidade ao notar que já havia chego à metade do segundo andar. Podia ir mais devagar agora... Se a porta não tivesse sido aberta e ele não tivesse que recomeçar sua corrida, já deixando as lágrimas escorrerem devagar por suas bochechas rosadas. A única coisa que Nicholas queria no momento era sua mãe ou para lhe dar um abraço e dizer que tudo estava bem. Ele não queria ficar correndo de um - suposto - bandido. Apenas queria estar em segurança.
Ao chegar, finalmente, no térreo, ignorou a dor que deu em seu tornozelo e correu mais rápido, esbarrando em várias pessoas — já que aquele era o lugar mais agitado do prédio — e abriu a porta da sala de Charlie onde sua mãe provavelmente estaria. Ao encontrá-la conversando com Charlie, correu até ela e a abraçou com força, deixando as lágrimas caírem livremente. Emma o apertou mais contra si e sentiu o quanto seu filho tremia. Ainda sem saber o que estava acontecendo, pegou-o no colo e o sentou na mesa de Charlie, que também não entendia nada.
— O que houve, Nicholas? — Emma perguntou puxando-o pelo queixo para encará-la.
— Eu não sei, mãe. Eu... — Ele tentou falar, mas engasgou com o próprio soluço de desespero.
— Se acalma, eu estou aqui, meu anjo. — Emma murmurou puxando-o para mais um abraço.
— Tinha alguém atrás de mim, mãe. — Ele levantou os olhos vermelhos e ainda lacrimejantes para a mulher à sua frente.
— Alguém atrás de você? Aqui dentro? Nicholas, não é...
— Tinha! — Ele a interrompeu e Charlie o encarou sério. — Um cara alto, de ombros largos! Eu não o conheço, mãe. Por favor, acredita em mim! Ele correu atrás de mim até o meio do corredor do terceiro andar, depois eu corri até a sala onde ficam as coisas velhas daqui e ele disse que me pegaria e... — Ele parou de falar e engoliu o choro novamente.
Charlie, ainda em silêncio, puxou a arma que sempre deixava em sua cintura e a arrumou, deixando-a carregada.
— Até aonde a pessoa te seguiu, Nicholas? — Charlie perguntou sério e Nicholas se encolheu nos braços da mãe. — Você precisa contar tudo o que sofreu, garotão.
— Ele foi atrás de mim até as escadas. No segundo andar, eu não sei, Charlie. Eu não prestei atenção. Eu só corri e torci o pé. E isso tá doendo pra caramba. — Ele deu de ombros e tirou o tênis de uma vez, jogando-o no chão.
— Certo. Não sai daqui. Fica com sua mãe o tempo inteiro, ok? — Charlie o encarou nos olhos e o menino apenas concordou. — Chame a Lucy para dar uma olhada no pé dele, pode não ser grande coisa, mas ela tem conhecimento nisso. — O mais velho finalizou e saiu da sala com sua arma em mãos. Iria virar os dois andares que Nicholas citara se fosse necessário para pegar o maldito que tivera coragem de tentar pegar uma criança.
E Só ali Charlie notara o quão sério todas essas coisas estão ficando.

***

— Como assim você não pegou o menino? — Crowley perguntou como se estivesse entediado. — Você precisa atualizar seus homens, Rob.
— Castellamare, para você. — O mais velho disse entre os dentes. — E eu não vou atualizar meus homens, Crowley. Já deixei claro que o Jesse não é o certo para tais trabalhos.
— Jesse, — Crowley virou para o rapaz. — para que tipo de trabalho você é certo?
— No qual você não está envolvido. — Ele respondeu calmamente. — Não sou pago para trabalhar com você, Crowley... Muito menos para me arriscar da forma que fiz em ir atrás do filho da Cobain dentro do prédio deles.
— Mas Jack estava lá. Era seguro. — Crowley rebateu, sentindo o estresse pulsar em seu corpo.
— Foda-se o Jack! — Jesse disse mais alto e se levantou de uma vez por todas. — Eu não sou covarde a ponto de pegar uma criança e sumir com ela.
— Mas é covarde o suficiente para matar um dos melhores amigos, só porque ele era louco o suficiente para entregá-los para o ? — Crowley perguntou com um sorriso no canto dos lábios e Jesse caminhou lentamente até o homem que não se deixou abater.
— É bom retirar o que disse. — Jesse murmurou entre os dentes e Crowley alargou seu sorriso em completo deboche.
Castellamare assistia tudo em silêncio, sabia que Jesse tinha um bom autocontrole e que Crowley só queria provocá-lo, mas caso Jesse estourasse, não iria se meter na briga dos dois. Ninguém mandou Crowley mexer com Jesse, certo?
— Não é essa a verdade, Jesse? — Ele perguntou revirando os olhos. — Não é covarde para pegar uma criança para darmos um susto na galera do Raymond, mas é covarde o suficiente para acabar com o James.
— Eu não acabei com o James! — Jesse disse alto, segurando Crowley pelo colarinho. — Mas eu sei que sou homem o suficiente para acabar com você agora.
— Acaba comigo agora e seu chefe acaba com você, porque você vai acabar com a única pessoa que tem as informações que vocês querem e precisam. — Crowley rebateu, ainda calmamente e com o sorriso torto nos lábios.

***

ignorou todas as pessoas que esbarrou durante seu caminho apressado até a sala de Charlie e entrou de uma vez por todas na sala, fazendo Emma se assustar um pouco.
— Ei. — murmurou e se ajoelhou na frente da mulher. Desceu os olhos para seu colo, onde Nicholas dormia. — Como ele está?
— Assustado. Horrorizado. Traumatizado. Amedrontado. Desesperado. Não quer ficar sozinho. Não quer sair de perto de mim. — Emma respondeu baixo, apertando o filho nos braços e engolindo as lágrimas. — Esse inferno tem que acabar, !
— Vai acabar, Emma. — segurou a mão da mulher com força. — Eu prometo que vai. Ninguém mais vai vir atrás de vocês. Vai para casa e eu cuido das coisas aqui com Charlie. — Ele finalizou, tentando esconder a raiva que sentia pelo fato de terem ido atrás de Nicholas, um garotinho de apenas dez anos. Dez anos! Quem correria atrás de uma criança de apenas dez anos?!
— Você acha que eu vou cair nessa, não é? Pelo amor de Deus! — Emma disse alto e Nicholas se mexeu em seu colo, ela soltou a mão de e abaixou o tom de voz. — Eu não vou sair daqui para vocês fazerem alguma loucura!
— Não vamos fazer loucura nenhuma! — Ele rebateu revirando os olhos. — Só vamos atrás de quem tentou pegar o Nicholas, Emma. Eu tenho ideia de quem foi e...
— E você vai atrás porque acha que é o Crowley e quer ficar logo de frente com esse desgraçado?! — Ela o interrompeu e Nicholas abriu os olhos preguiçosamente. arqueou uma das sobrancelhas e soltou um suspiro pesado.
— Você sabe que eu vou atrás dele e o fazer falar quem fez isso — disse calmamente e Nicholas se encolheu no corpo da mãe, ao notar que o assunto era o ocorrido de mais cedo. — E você não precisa ficar com medo, garotão. — Ele sorriu para o pequeno e afagou seus cabelos. — Eu estou aqui, não estou?
O garotinho nada respondeu, apenas levantou do colo da mãe e abraçou com toda a pouca força que tinha. fechou os olhos e sorriu de canto, apertando-o mais em seus braços.
Emma suspirou e mordeu o lábio inferior. Sabia que era a figura masculina que Nicholas mais via e se inspirava, apesar de tudo.
— Promete que vai se cuidar? — Nicholas perguntou se afastando do mais velho, que sorriu.
— Eu sempre me cuido, garotão. Eu vou pegar quem fez isso com você e vou jogar na cadeia. — murmurou segurando-o pelos ombros.
— Eu sei, mas o cara que tava atrás de mim era mais alto que você e...
— E eu lá me importo com isso?! — perguntou soltando uma gargalhada e o garoto deu um sorriso de canto.
— Eu sei que não. Mas é sempre bom informar... — O pequeno respondeu alargando o sorriso devagar.
— Certo. Obrigado pela informação. Agora... — fez uma pausa e encarou Emma, que tinha um sorriso no canto dos lábios com a cena que assistia — Você precisa me descrever esse cara que é mais alto do que eu.
— Eu não me lembro dele direito, ... — Ele encolheu os olhos e suspirou.
— Nem um pouquinho? — insistiu e Nicholas o encarou de novo.
— Nada — Ele respondeu baixinho.
— Não tem problema, meu amor. — Emma murmurou. — O vai encontrá-lo de qualquer jeito, certo?
— Agora eu vou dar uma olhada nas gravações das câmeras e começar a trabalhar, tá? Não sai de perto da sua mãe por nada, Nicholas. — murmurou encarando-o nos olhos e o menino se arrepiou com a forma que o mais velho disse.
— Tá bom... — Respondeu um tanto quanto assustado. lançou um olhar acolhedor para Emma e a mulher apenas afirmou com a cabeça, sabia que iria atrás de Crowley. Sabia que voltaria para casa com algum machucado. Sabia que descobriria quem estava atrás de Nicholas. Sabia que faria de tudo para protegê-los, nem que para isso fosse necessário ceder sua vida pela deles.
saiu da sala e bateu a porta com um pouco mais de força do que pretendia. Sentia a raiva correr todo seu corpo. Tivera que se segurar na frente de Nicholas, mas agora poderia mostrar o que realmente sentia diante de toda a situação. Queria socar todos os idiotas que não conseguiam descobrir quem era aquele maldito homem, mesmo com todos os aparelhos avançados que tinham.
Apertou o botão do elevador mais de três vezes e parou de frente para tal, respirando fundo. Teria que se acalmar se quisesse convencer Charlie a deixá-lo ir atrás de Crowley sozinho e tomar conta de todo o caso.
Uns segundos depois, um barulho fora escutado por ele. O elevador chegara.
Levantou a cabeça finalmente e, no mesmo momento, preferiu não ter feito isso. saía do elevador mais bonita do que ele costumava ver. Encararam-se por alguns segundos, sem trocar nenhuma palavra. Não sabiam o que dizer, não tinha o que se dizer. Como sempre era quando se encontravam. abaixou os olhos e tentou sair do elevador de uma vez, mas segurou-a pelo braço e, sem desviar o olhar da mulher, empurrou-a para dentro, deixando com que a porta se fechasse de uma vez por todas.
abriu a boca em forma de negação, mas ignorou isso e segurou-a pela nuca, juntando suas testas. Não tinha explicação para aquilo, ele só estava com vontade de segurá-la daquela forma. Só queria poder sentir seu cheiro de novo. Ela não entendia o que realmente estava acontecendo ali, mas gostava da sensação de ter tão perto. Já ele, pelo contrário, entendia o que estava acontecendo com ele ali. Não queria assumir, mas também não queria se afastar.
roçou seus lábios nos de , fazendo-a suspirar. Ele deu um sorriso torto e juntou seus lábios num selinho demorado. Ainda com os lábios colados aos dela — porém de olhos abertos —, esticou um dos braços e apertou o botão do elevador que o fazia travar.
— O que você... — Ela tentou perguntar, mas, após travar o elevador, puxou-a pela nuca novamente, juntando seus lábios num beijo de verdade. forçou-a contra o espelho do elevador e aprofundou o beijo o máximo que pôde, não queria deixá-la se soltar dele e ter a chance de perguntar o que estava acontecendo. Ele não queria... Explicar. Não queria contar o que realmente estava acontecendo, não queria simplesmente virar e dizer que sentiu vontade e saudade daquilo tudo e que precisava disso para, de certa forma, encorajá-lo a ir atrás de Crowley de uma vez por todas.
espalmou as mãos no peito de e empurrou-o para trás, devagar. Não queria quebrar aquele contato, mas precisava. Não entendia o que estava acontecendo e queria uma explicação.
— O que diabos está fazendo, ? — Perguntou baixo. mordeu o lábio inferior e encarou-a nos olhos.
— Eu só senti vontade de fazer isso de novo. — Ele respondeu calmamente e desviou os olhos para qualquer outro ponto do elevador. — Para falar a verdade, sinto vontade disso desde o dia na minha sala... — Ele coçou a nuca com um sorriso tímido, por incrível que pareça, no canto dos lábios.
soltou uma risada fraca e se preparou para se aproximar o botão e destravar o elevador, porém segurou sua mão.
— Eu tenho que voltar. Charlie pediu pra eu fazer uma coisa e...
— O Charlie não quer que você faça nada. — Ele revirou os olhos. — Você só quer fugir de mim.
— Também. — Ela deu uma risada fraca. — Eu tenho muita coisa para fazer, é sério.
— Eu estou engolindo meu orgulho agora, então, por favor, não atrapalha. — Ele murmurou antes de puxá-la pela nuca e juntar seus lábios de novo.
soltou um suspiro fraco e se deixou levar por . O que ela poderia fazer? Aquele cara tinha um grande poder sobre ela e por mais que tentasse fugir dele, não conseguiria.
Com um sorriso malicioso no canto dos lábios, inverteu as posições e suspirou, sentindo os lábios úmidos da mulher escorregar para seu pescoço. Apertou-a pela cintura com mais força, fazendo-a suspirar e lhe deixar uma mordida em troca. subiu os lábios até o queixo de , fazendo-o tentar beijar-lhe a boca e não conseguir. Soltou uma risada pelo nariz e colou seus lábios, puxando o inferior do rapaz entre os dentes. abriu os olhos e a encarou com um sorriso malicioso e, logo em seguida, empurrando-a para o outro lado do elevador, colando seus lábios com intensidade. levou uma das mãos até uma das coxas de a apertando com força e, sem perder mais tempo, subiu a saia que ela usava em uma altura considerável, já que a saia era de cintura alta — como as que Emma costumava usar. — E isso facilitava as coisas. Para não ficar para trás, abriu a camisa de o mais rápido que conseguiu, sem parar de beijá-lo. Porém diminuirá a velocidade do beijo ao lembrar-se de alguma coisa.
— Eu acho melhor... Sairmos... — Ela disse entre suspiros enquanto subia mais a mão pela sua coxa. — ...
— Cala a boca. — Ele murmurou alcançando a intimidade de ainda coberta pelo tecido da calcinha. Ela mordeu o lábio inferior e encarou todos os cantos do elevador enquanto começava acariciá-la devagar.
, sério, para! — Ela pediu baixo e mordeu o lábio inferior para evitar que um gemido escapasse.
— Você não quer que eu pare... — Ele murmurou no ouvido da mulher, deixando-a completamente arrepiada. roçava os lábios pelo rosto e pescoço de , deixando-a tonta com tanta proximidade.
— Por favor, por favor... — Ela murmurou mais uma vez, mas tudo o que fizera fora beijá-la com intensidade. Tentando, assim, mostrá-la todo o desejo que ainda sentia.
nem sequer pensara em recusar aquele beijo, deixou-se levar mais uma vez, mesmo sabendo que era a coisa mais errada que já tinham feito. Aquilo estava sendo pior do que se beijarem no meio da rua ou transarem dentro da sala que dividiam. O elevador, bem, poderia destravar a qualquer momento. Mas isso, nem de longe, era o pior dos fatos.
tentou se afastar, mas parou no mesmo momento em que levantou mais sua saia e, com a testa colada na sua, afastou sua calcinha com um sorriso malicioso. sentiu seu rosto queimar levemente e provavelmente atingir um tom mais rosado, mas ignorou aquilo. Precisava contar a o que realmente estava acontecendo ali dentro, precisava contar o porque de estar resistindo tanto. Mas ele simplesmente não ouvia e ela não queria que ele parasse com aquilo. Mas teria que fazê-lo parar ou... Bem... Ou todos do local saberiam que eles podiam se odiar, mas andavam se pegando por aí. Não porque iriam destravar o elevador, abrir a porta e darem de cara com eles, mas sim, por causa da câmera que Charlie acabara de instalar em tal elevador.
engoliu mais um gemido ao sentir o dedo de lhe acariciar com mais precisão.
, é sério. Não dá pra continuar aqui e... — tentou falar, mas precisou se calar para morder o lábio ao sentir penetrá-la dois dedos e calá-la com mais um de seus beijos. estava quase desistindo de alertá-lo sobre a maldita câmera, mas... Ela não podia! Não podia desistir agora. Ambos estavam... Animados demais para ela desistir de avisá-lo sobre a maldita câmera.
Sem nem perceber, já movimentava o quadril para sentir melhor os dedos de , que assistia a mulher se contorcer em seus braços mais uma vez, com um sorriso malicioso nos lábios. Ah, como ele adorava vê-la naquele estado! Tão descontrolada, tão entregue, tão... Dele. Vendo-a de tal forma, nem sequer se lembrava do ódio que nutria pela mulher. Afinal, para que se lembrar daquele ódio que, na verdade, não passava de uma ilusão, uma verdadeira utopia? Ainda mais quando ela estava tão entregue, sendo que tentara tanto resistir àquilo tudo.
— Ainda quer que eu pare? — Ele sussurrou no ouvido da mulher, que mordia o lábio inferior fortemente.
— Por favor. — Ela o encarou nos olhos e ele sorriu, balançando a cabeça negativamente.
— Me dê um bom motivo para isso. — Ele pediu com um sorriso no canto dos lábios e parou de movimentar os dedos na intimidade da mulher.
— Certo... — Ela soltou um suspiro fraco. — O que faria se... — Ela fez uma pausa e engoliu a seco. — Ficasse sabendo um tanto quanto tarde demais que... — Outra pausa para mais um suspiro fraco. — Charlie instalou uma câmera nesse elevador hoje e está monitorando tudo nesse exato momento?
— Você está falando sério? — Ele perguntou baixo por instinto e nem sequer pensou em tirar os dedos da intimidade de , fazendo-a fechar os olhos com mais força.
— Droga! É claro que sim. Por que diabos acha que tentei te parar? — Ela disse sentindo sua respiração falhar.
— Quer dizer que... — Ele fez uma pausa para movimentar os dedos dentro dela novamente. — Se não tivesse nenhuma câmera aqui, você correria o risco de alguém destravar o elevador e, bem, aprofundar as coisas?
— Eu já fiz isso uma vez. Por que não faria outra? — Ela rebateu o encarando nos olhos e enterrando as unhas em seus ombros, fazendo-o fechar os olhos não pela dor, mas sim pela vontade de senti-la novamente. Ah, como ele adorava a sensação de tê-la arranhando seu corpo enquanto gritava seu nome...
— Bom saber disso... — Ele murmurou no ouvido dela e movimentou os dedos mais uma vez. — Porque, já que a merda está feita, eu só saio daqui depois que fizer você chegar no ponto máximo.
... Por favor — Ela gemeu baixo, praticamente implorando para ele parar e... Continuar ao mesmo tempo.

***

Charlie deixou o queixo cair em completa surpresa e passou a mão pelos cabelos.
— Certo. Próxima câmera, por favor. — Ele murmurou constrangido.
— Eu realmente queria saber o que John diria ao ver o filho dele fazendo essas coisas dentro de um elevador. — Um dos homens murmurou revirando os olhos.
— Ele acharia bonito. — Charlie disse e se virou indo em direção à porta. Teria que destravar o elevador, ele mesmo, para evitar chamar mais atenção para e .
Charlie parou de frente para o elevador, uns minutos depois e, esperou que o elevador voltasse a se movimentar, provavelmente assustando e , que estavam bem entretidos no que faziam. Mas ele não se importava. Oras! Estavam no meio de uma investigação importante e eles estavam se tocando dentro do elevador?! Charlie sempre soube que era desses, que não se importava com nada, isso não o surpreendia. Sua surpresa era ver que , que já sabia da instalação da câmera nova no lugar, estava naquele estado com , sendo que sempre que ele perguntava se tinham alguma coisa, ela negava. Não que Charlie fosse idiota de não notar que eles estavam... Normais um com o outro, porque, desde o início, ele sabia que eles acabariam naquele estado. Claro que ele não sabia que acabariam daquela forma em seu elevador. Mas, de qualquer forma, ele sabia que e teriam alguma coisa. Aquela coisa de ódio dos dois já era velha.
Charlie deu uma risada fraca e balançou a cabeça negativamente ao lembrar-se do dia em que escreveu sobre e ele só faltou pirar de tanta raiva que sentia. Charlie nunca soube se sentia raiva de por ela escrever tão bem e falar tão mal dele ou se ele sempre sentiu raiva por ela ser tão linda a ponto de não dar mole para ele ou ambas coisas.
A porta do elevador finalmente abriu, fazendo um barulho. Charlie encarou o casal — se é que podiam ser chamados assim — que tentava arrumar as roupas e os cabelos. deu um sorriso sapeca para Charlie e o mais velho fechou a cara.
— Vocês têm merda na cabeça? — Charlie perguntou e abriu a boca para falar. — Fica quieta. Não quero explicações. Eu sempre soube que vocês tinham um caso. Mas, porra, no meu elevador?
— Eu tentei avisar! — disse e revirou os olhos, se encostando na parede e cruzando os braços.
— Você tentou avisar depois de arrancar a minha blusa, . — Ele rebateu e Charlie segurou uma risada.
— Eu realmente não quero saber o que aconteceu. Só quero que não se repita. — Charlie disse ficando sério novamente.
revirou os olhos. Sentia a vergonha tomar conta de si, mas sentia raiva também. era um idiota. Ela tentou avisar!
— Quem viu? — Ela perguntou baixo e Charlie a encarou.
— Ah, você realmente não vai querer saber. — Charlie disse e abaixou a cabeça, bagunçando os cabelos. — Mas uma coisa eu quero que saibam: Foi constrangedor ampliar a imagem a ponto de vermos o que não queríamos.
abriu a fechou a boca inúmeras vezes. Sentia seu rosto queimar agora.
deu uma risada fraca.
— Mas por que diabos tiveram que ampliar a imagem? — perguntou.
— Para termos certeza que você não estava tentando matá-la e sim...
— Certo. Chega. Você já pode voltar a nos dar sermão, Charlie — o interrompeu ao notar que ele falaria alguma besteira.
— Me perguntaram, , o que seu pai diria se visse você fazendo isso no elevador. — Charlie ignorou o que dissera e se virou para o rapaz.
mordeu o lábio inferior e levantou os olhos para Charlie.
— E o que você respondeu? — Ele perguntou baixo.
— Que ele acharia bonito. — Charlie respondeu tranquilamente e riu.
— É, mas o meu não acharia nada bonito. — murmurou e se virou para entrar no elevador.
— Se eu fosse você, não desceria agora. Vocês são a fofoca do momento! — Charlie disse quando já estava pronta para entrar no elevador.
— Fofoca do momento? — se virou e encarou Charlie que tinha um sorriso brincalhão no canto dos lábios. — E por que seríamos a fofoca do momento?
— Porque vocês estavam quase transando no meu elevador? — Charlie perguntou como se fosse óbvio e arqueando uma das sobrancelhas.
abriu e fechou a boca inúmeras vezes mais uma vez e riu. Estava nervoso, mesmo não querendo assumir. Mas não se arrependia de ter feito o que fez. Talvez um pouquinho por ele não ir tanto com a cara de , mas...
— Isso é tudo culpa sua, ! — Ela disse completamente irritada e Charlie riu alto.
— Não o culpe, . — Ele revirou os olhos. — Ele não faria aquilo querendo sozinho.
— É, talvez. Mas ele me puxou para essa droga de elevador! — Ela rebateu e revirou os olhos.
— Você bem que gostou. Porque depois que eu disse que não pararia você pediu por mais, ignorando completamente a câmera. — disse sério, se virando para ela. Charlie engoliu outra gargalhada.
— Bom, eu vou indo. Boa discussão. — Ele disse e entrou no elevador sem esperar pelos outros dois que, provavelmente, ficariam discutindo por um bom tempo.
— Você é um idiota. Um completo idiota — Ela murmurou ainda com raiva.
— Você não me avisou da câmera! — Ele rebateu. — Eu sou mesmo o idiota da vez?
— Você me agarrou! — Ela gritou. Não se importava se estavam em um andar que, mesmo estando com os corredores vazios, havia pessoas trabalhando em coisas sérias.
— Se você não quisesse teria se soltado. — Ele deu um passo à frente. — Se não quisesse, teria me empurrado para longe quando eu encostei na sua coxa. — Outro passo. — Se não quisesse, teria me dado um tapa na cara quando eu levantei sua saia. — Ele parou de andar ao notar que ela, com a intenção de se manter longe, se encostou na parede mais próxima. — Se não quisesse já teria saído de perto de mim agora. Então, por favor, não vem me culpar de uma coisa que surgiu da parte dos dois.
ficou em silêncio e fitou o nada. Sabia que estava certo, pelo menos naquele ponto.
— A merda já está feita. — Ela deu de ombros e se afastou. Desceria de escadas. Não que estivesse com raiva ou algo do tipo. Estava envergonhada. Mas, bem, ela contribuiu para aquilo acontecer em lembrar-se da câmera somente quando as coisas já estavam mais... Avançadas.
bufou e chamou o elevador. Não iria de escadas para começar mais uma briga.

***

— O que houve com o ? Por que ele está com aquela cara de merda o dia inteiro? — Emma perguntou sentando-se de frente para Charlie, em uma das mesas da lanchonete que era de frente para o prédio. Ela já havia mandado Nicholas para a casa de sua mãe em segurança. Alguns dos homens de Charlie ficaram encarregados de tomar conta do local enquanto o menino estivesse por lá.
— Bem... Ele realmente não te contou? — Charlie perguntou e agradeceu com a cabeça a garçonete que trouxera seu café e Emma fez o mesmo.
— Por incrível que pareça, não. — Ela deu de ombros e colocou o cabelo atrás da orelha.
— Eu mandei instalar câmeras em todos os elevadores — Charlie começou — e, bem, digamos que ele entrou em um desses elevadores com a e começaram algo que não deveriam.
— Como é? — Emma perguntou apoiando seu copo sobre a mesa de novo.
— Pois é... — Charlie deu de ombros. — Eu sabia que eles acabariam tendo um caso. Mas eu realmente não desconfiava que eles quase transariam no meu elevador.
— Meu Deus! — Emma disse soltando uma gargalhada gostosa em seguida. Era a primeira gargalhada que ela dava depois de tudo o que acontecera com Nicholas e Charlie realmente se sentiu feliz em vê-la sorrir daquela forma tão espontânea.
— O pior de tudo é que um dos caras mais fodas de Londres estava lá na hora que eu fui testar as câmeras... — Ele suspirou. — E aí ele me fez um comentário e eu respondi da forma mais idiota do mundo.
— Que comentário? — Ela encarou Charlie parando de rir aos poucos.
— "Eu realmente queria saber o que John diria ao ver o filho dele fazendo essas coisas dentro de um elevador.". — Charlie repetiu a pergunta, Emma arqueou uma das sobrancelhas e ele continuou: — Eu simplesmente respondi: "Ele acharia bonito" e saí.
— Você é ótimo, Char! — Ela disse soltando outra gargalhada. Charlie deu de ombros com um sorriso no canto dos lábios e Emma o encarou.
— Então...
— Você tá bem? — Emma o interrompeu e Charlie não entendeu. — Digo... Bem de verdade.
— É claro que estou. — Ele sorriu para a mulher que encarou a mesa.
— Sabe... Anda tudo tão estranho. — Ela o encarou novamente e ele riu de leve.
— Eu sei. Mas você sabe que a gente vai superar isso da mesma forma que superamos todas as outras vezes. — Charlie disse sério, segurando a mão de Emma e apertando-a em seguida.
— Só que antes... — Ela engoliu a seco e o encarou. — Pessoas importantes não morreram...
— Além do John. — Charlie completou e Emma suspirou.
— Eu... — Ela mordeu o lábio inferior e abaixou a cabeça. — Estou com medo. — Ela finalizou em um sussurro e Charlie sentiu seu coração acelerar um bocado. Emma não era do tipo que assumia sentir medo. Podia acontecer qualquer coisa, ela seguraria as pontas e mostraria sua força para todos.
— Não precisa ficar. — Charlie apertou mais sua mão e deu um sorriso fraco. — Eu estou aqui, não estou?
— Eu sei... — Ela o encarou de novo. — Mas as coisas mudaram e... Sinceramente, isso me assusta.
— O que te assusta? O fato de o ter engolido o orgulho e ido para cima da ? — Ele perguntou com um sorriso brincalhão nos lábios e Emma deu uma risada fraca.
— Isso também. — ela deu de ombros e Charlie riu. — Mas o que me assusta realmente é o que podem fazer com a gente. Como fizeram com o...
— David. — Charlie finalizou, dando um longo suspiro em seguida.
— É. — Ela abaixou os olhos.
— Isso não vai acontecer com o Nicholas, se esse é o seu medo. — Ele disse depois de uns segundos em silêncio. — Eu não vou deixar. Eu vi aquele moleque nascer, Emma. Eu ajudei a criar, eu te dei proteção quando teve que ficar no hospital porque você teve um parto de risco. Não que eu não tenha feito isso e muito mais pelo meu próprio filho. — Ele fez uma pausa e mordeu o lábio inferior. — Mas é que... Eu já o perdi e não vou deixar nada acontecer com o Nicholas. Talvez eu tenha falhado na segurança da minha própria casa, mas... Você sabe — Ele deu de ombros —, eu sou do tipo que não me importo comigo mesmo.
— Mas eu me importo com você. — Ela murmurou e o encarou. — Você sabe que o meu medo não é de faltar segurança para o Nicholas. Eu sei que isso jamais vai acontecer enquanto você e o estiverem aqui. Mas... Eu tenho medo de você se descuidar de novo. O Crowley tá por aí, Charlie. Ao que tudo indica, ele já chegou à namorada do David. O que vai custar para chegar a você? — Ela o olhou nos olhos.
Charlie permaneceu em silêncio.
— Você não tem que se preocupar com isso. — Charlie sorriu. — O problema do Crowley é comigo e com o .
— Isso quer dizer que eu vou me envolver, Charlie! — Ela rebateu. — Como não tenho que me preocupar?
Charlie puxou a cadeira e a colocou do lado de Emma. A mulher se virou para ele e voltou a encarar seus olhos.
— Você não tem que se preocupar com nada além do Nicholas agora. — Charlie murmurou. — Eu vou te poupar das responsabilidades no prédio e...
— Não quero que jogue tudo para cima do Ryan só porque correram atrás do meu filho, Charlie. — Ela o interrompeu. — Eu não disse que jogaria tudo pra cima dele...
— Mas você o fará se eu concordar com isso! — Ela o interrompeu e revirou os olhos, se virando para frente novamente. Charlie soltou um suspiro fraco e a puxou pelo rosto, fazendo-a o encarar.
— Você sabe que eu não vou fazer nada que você não concorde. — Ele disse calmamente e sem soltar o rosto da mulher. Emma piscou os olhos algumas vezes e sentiu o coração pulsar com mais força dentro do peito. A proximidade com Charlie sempre fora seu maior problema. E ele sabia daquilo. Ela fizera questão de contá-lo, mas ele insistia em fazer aquilo.
— Você sabe que, no final, eu sempre concordo com tudo. — Ela disse baixo. Ambos sabiam que não estavam mais falando sobre trabalho. A proximidade, a forma de falarem, as sensações que tomavam seus corpos... Mostravam isso claramente.
Charlie deu um meio sorriso e se aproximou mais, fazendo Emma fechar os olhos automaticamente. Sabiam o que viria a seguir. Não era a primeira vez que acontecia.
Todos têm uma recaída, não é mesmo?
Juntariam seus lábios de uma só vez se a voz de não tivesse penetrado seus ouvidos.
— Adoro quando vocês saem do prédio sem... — parou de falar assim que se aproximou da mesa de Emma e Charlie, fazendo-os dar um leve pulo e se afastar. estreitou os olhos e arqueou uma das sobrancelhas, apontando para Charlie e logo depois para Emma, completamente confuso. — Foi... Mal. É, foi mal. Desculpa. Eu... Vou indo...? — Ele falava rápido e apontava para a saída. Estava completamente perdido. Entrara distraído na lanchonete e conversando com uma das garçonetes que sempre lhe dava mole, não tivera tempo para notar o que estava rolando na mesa de Charlie e Emma, a garçonete era gostosa demais para ele fazer algo além de reconhecer os dois de longe.
. Oi. — Charlie disse entre os dentes e deu um sorriso completamente irônico para o mais novo.
— Oi. Tchau. — disse rápido. — Acho que esqueci uma coisa, sabe... — Ele apontou para a saída. — Eu só vim avisar que já terminei, Emma. Já podemos ir embora. — Ele deu de ombros e Emma o encarou. — Digo, quando... Vocês acabarem de comer. Enfim. Tchau.
saiu da lanchonete completamente perturbado. Não que Charlie e Emma não formassem um bonito casal. É só que... Ele nunca os imaginou juntos daquela forma. Sentia-se ainda pior por ter interrompido aquele momento que deveria ser tão importante para eles.
Emma deu uma risada fraca e abaixou a cabeça, sentindo seu rosto corar.
— Onde estávamos? — Charlie perguntou na maior cara de pau, como de costume. Emma levantou os olhos e, com um sorriso no canto dos lábios, balançou a cabeça negativamente.
— Charlie, não... — Emma tentou falar, mas os lábios de Charlie sobre os seus, com certa urgência, a fez se calar. Fora como se acontecesse um apagão na mente dos dois. No momento, tudo se resumia naquele beijo. As línguas dançando juntas como há tempos não acontecia, os lábios colidindo de uma forma perfeita, com um encaixe perfeito, como se tivessem realmente sido feitos um para o outro. Corações acelerados, mãos suadas e o frio na barriga era a sensação predominante em ambos. Coisas que não sentiam há tempos. Não por falta de vontade, mas talvez de coragem. Ou talvez por medo de acontecer como na primeira vez e saírem com o coração partido.

***

estava sentado no estacionamento encarando o nada. Sentia-se culpado por ter estragado o momento ternurinha de Charlie e Emma, mas, ao mesmo tempo, era uma situação engraçada. Nunca imaginara aquilo. Nunca se imaginara atrapalhando eles dois. Nunca se imaginara tão sem palavras quanto ficara quando os vira.
riu de si mesmo e jogou uma pedra para frente. Estava ali há mais de dez minutos, mas também não culpava Emma por demorar. Ele que tinha que comprar um carro novo e parar de pegar carona com ela, mesmo que estivessem morando no mesmo lugar.
— Decidiu ficar observando a paisagem do estacionamento deserto? — Ele sentiu a voz de penetrar em seus ouvidos e levantou os olhos em direção a voz.
— É. — Ele respondeu dando de ombros.
— Ficou sem carona? — Ela perguntou dando uma risada fraca e se abaixando ao lado do rapaz.
— Na verdade... Eu acho que atrapalhei uma coisa, me senti culpado e decidi esperar por aqui — Ele respondeu coçando a nuca, sem jeito. arqueou uma das sobrancelhas e deu de ombros, se levantando em seguida.
— Bem, boa sorte na sua espera. — Ela deu um sorriso fraco e ele riu, balançando a cabeça negativamente. Nem mesmo ele acreditava no que estava fazendo. Se ele estivesse num dia normal, arrastaria Emma da lanchonete e diria que ela poderia beijar Charlie outra hora. Mas ele simplesmente perdeu a fala. Não porque achava uma coisa ruim, porque ele não sentia nada além de carinho por Emma. Mas ele só... Ficou confuso.
— Desculpe a demora. — Ele ouviu a voz de Emma murmurar. — A estava com você?
— Tudo bem. — Ele sorriu e se levantou. — Não. Ela não ficou mais de três minutos aqui.
— E quem ficaria depois do que fizeram? — Emma rebateu e revirou os olhos.
— Charlie já contou o que aconteceu, então? — Ele deu de ombros e entrou no carro.
— Já. — Ela deu um sorriso torto e mordeu o lábio.
— Ah, qual é! Quando pretendia me contar que você está com o Charlie? — Perguntou de uma só vez, não aguentava mais aquela curiosidade.
— Eu não estou com o Charlie. — Ela respondeu e ligou o carro.
— Olha para quem você está querendo mentir, Emma! — Ele exclamou. — Você me obrigou a contar o que estava acontecendo entre mim e a ! Isso é...
— Eu já tive algo com o Charlie, . — Ela o interrompeu sem olhá-lo.
— Sério? — Ele deu um meio sorriso e se virou para Emma. Agora ele sabia que tudo o que sentia não era confusão, sim felicidade. Talvez uma felicidade chocante. Mas, ainda assim, ele sentia a felicidade brotar em seu peito por ver Emma com alguém.
— Sério. Na época que você chegou lá. A gente tinha um rolo. — Ela deu de ombros.
— Mas... A primeira vez que eu fui ao prédio eu tinha... Uns...
— Treze, catorze... Eu lembro. — Ela sorriu. — Mas não falo dessa época. Falo quando o seu pai começou a te treinar lá.
— Aos dezoito. — Ele completou e ela confirmou com a cabeça.
— Mas... Isso tem a idade do...
— Não! — Emma se apressou em responder. — Não, não. — Ela riu, nervosa. — O Nicholas não é filho do Charlie.
— Cara, que susto. — Ele suspirou aliviado. — Isso quer dizer que você sempre gostou dele, mas foram obrigados a terminar porque o Charlie era casado naquela época?
— Acho que já chega desse assunto. — Ela o olhou rápido e deu um sorriso fraco.
— Como quiser. Acho que já entendi. — Ele mordeu o lábio inferior.
— Eu sei que entendeu. — Emma murmurou após uns minutos em silêncio e parando o carro em frente ao prédio que moravam. — Pode subir, eu guardo o carro hoje.
— Certo. — Ele confirmou e desceu do carro.
Emma não queria voltar em dez anos atrás. Ela não precisava voltar. Nem mesmo que fosse para contar a o que realmente estava acontecendo, ela sabia o quão confuso — porém feliz — o amigo estava. Mas... Simplesmente não queria voltar naquela época e contar o que estava acontecendo, sentia-se suja toda vez que se lembrava do que fizera. Não que o tenha feito sozinha. Charlie também estava errado na história toda, mas... Não tinham culpa se... O que sentiam estava passando dos limites. Emma, principalmente, não tinha culpa de ter sentido algo mais por Charlie. Porém, naquela época, sabia bem qual seria a escolha de Charlie. E sabia também qual ombro Charlie escolheria para chorar quando a mulher dele finalmente partisse.

"Memórias, não são só memórias. São fantasmas que me sopram aos ouvidos coisas que eu nem quero saber."


***


Lucy revirou os olhos e bateu os pés no chão, impacientemente, de novo.
— Acalme-se, Lucy. — Castellamare pediu.
— Estou calma. — Ela respondeu e olhou de relance para Crowley, que tinha um sorriso maldoso no canto dos lábios. Lucy sentia o arrepio de medo percorrer todo o seu corpo a cada cinco segundos. Não que Crowley fosse do tipo que colocava medo de verdade ou que ela estivesse com medo do que ele faria dali para frente. A história com Crowley era outra completamente diferente. O medo dela não era com nada relacionado ao trabalho deles, e sim a vida pessoal. Lucy, mais do que ninguém ali, sabia do que Crowley era capaz.
— Você me parece com medo, Lucy. — A voz de Crowley penetrou seus ouvidos e ela desejou ser surda naquele momento para ignorar completamente aquele infeliz.
— Medo do quê? — Ela perguntou se virando para ele.
— Não sei... — Ele deu de ombros.
— Aliás, por que você está aqui há essa hora? — A ruiva perguntou, se levantando para atravessar a sala e pegar um copo de qualquer bebida que a acalmasse de verdade.
— Não interessa a você, Lucy. Fica na tua. — Crowley respondeu sem se importar em soar rude ou não.
— Crowley, você não está na sua casa. Está na minha. — Castellamare interferiu ao notar que a mulher se preparava para dar uma bela resposta à Crowley.
— Pelo amor de Deus, Robert! Ela é uma fofoqueira! — Crowley revirou os olhos. — Ela realmente tem que ficar informada de tudo?
— Ela está comigo, portanto, sim, ela tem que ficar informada. Ou é isso ou você cai fora. — Castellamare disse firme. Estava cansado de Crowley.
— E você fica sem suas informações. — Ele rebateu e Castellamare revirou os olhos.
— Foda-se as informações, Crowley! — Lucy tomou coragem e disse alto, dando alguns passos na direção do homem. — Nós podemos conseguir!
— Só se conseguirem no ano três mil. — Ele rebateu com um sorriso debochado no canto dos lábios.
— Não importa. Você ainda não entendeu que não é bem vindo aqui? — Lucy perguntou séria e mais próxima dele, que se levantou, ficando frente a frente com a mulher.
Castellamare suspirou, teria que parar aquilo antes que seu sobrinho aparecesse e visse Crowley encostando-se em sua garota.
— Posso não ser bem vindo, mas vocês precisam de mim. — Ele rebateu e deu um passo a frente.
— Sai de perto dela. — Castellamare disse sério e Crowley o ignorou completamente. — Eu mandei sair de perto dela, Crowley.
— Você não manda em nada, Castellamare. — Ele disse sério e sem parar de encarar Lucy nos olhos. — Essa garota merece uma lição.
— Não pense em sequer chegar mais perto que isso. — Ela murmurou apontando o dedo no rosto de Crowley.
— O que você vai fazer? Me bater? Arranhar? Morder? — Ele perguntou dando mais um passo. — Já te contei à parte que eu sou meio masoquista às vezes?
— Imundo. — Ela murmurou entre os dentes e Crowley sorriu.
— Olha quem fala! — Ele riu alto e Castellamare engoliu a seco. — A mulher que dorme com o tio e o sobrinho e já dormiu comigo... Chamando-me de imundo. Como pode, Lucy? — Ele murmurou mais próximo.
— Você não sabe de nada. — Ela disse séria e se aproximou também.
— É, talvez eu não saiba mesmo. Mas é melhor assim, não? — Ele a olhou nos olhos.
Castellamare se levantou pronto para interferir, mas Crowley fez um sinal para ele continuar parado.
— Você não presta, Crowley. — Lucy murmurou e respirou fundo, para não fazer alguma loucura.
— Aprendi tudo com você, gatinha. — Ele rebateu e Lucy sentiu seu sangue ferver. Como ele ousava em dizer que aprendera com ela as coisas horríveis que fazia? Não que ela fosse a pessoa mais santa do mundo e tinha consciência disso, mas ser comparada a ele? Será que ela realmente chegara a um nível tão... Baixo assim?
— Eu jamais, escute bem, Crowley: Jamais serei como você! — Ela disse alto e firme, fazendo-o revirar os olhos.
— Claro que não será como eu, Lucy. Você será pior. Porque, sabe, pessoas que traem o próprio amor são mais...
— Cala a porra da boca! — Ela gritou e, sem se segurar mais, deixou que sua mão agisse no automático e acertasse o rosto de Crowley em cheio, fazendo-o virar o rosto um pouco para o lado. Lucy tinha força, fora treinada para ser uma boa policial, mas acabou sendo completamente o contrário disso.
Crowley riu baixo e respirou fundo em seguida. Ele, assim como Castellamare, estava em completo choque. Sabiam que Lucy era ousada, sabiam que não podiam brincar desse jeito com ela, mas nunca imaginariam que ela viraria um tapa na cara do homem que estava em suas mãos! Justo Crowley, que podia fazer o que quisesse com ela...
Crowley respirou fundo mais uma vez e desistiu de se controlar, segurou o braço de Lucy com força e arrastou-a para a parede mais próxima, fazendo-a bater com as costas no local e soltar um gemido de dor. Não, ele não pouparia mais sua força só por ela ser uma mulher. Forçou-a contra a parede e apertou seu braço com mais força.
— Você nunca mais vai fazer algo desse tipo. — Ele disse entre os dentes e ela o encarou nos olhos. Logo em seguida, Lucy cuspiu, com toda a raiva que sentia, no rosto de Crowley.
Castellamare balançou a cabeça negativamente e deu um passo à frente, pronto para separar a briga que começaria. Mas não fora necessário. No exato momento em que Crowley levantou a mão para dar um tapa no rosto de Lucy, outra voz ecoou pelo local.
— Solte-a, Crowley.
— Por que eu faria isso? — Ele perguntou, ainda com o braço levantado e pronto para descontar o tapa em Lucy.
— Porque eu quero que faça. Caso você não saiba, eu sou o sobrinho do Castellamare. Você está aqui por minha causa. Agora solta à porra do braço da minha garota e a deixe fora disso. — O suposto sobrinho de Castellamare disse completamente sério. Lucy deu um sorriso torto assim que Crowley soltou seu braço e se virou para o outro lado, limpando o rosto.
— Então é mesmo você? — Crowley perguntou e deu uma risada fraca. — Quem diria, hein?
— É, quem diria. Agora dá para falar o que sabe? — O rapaz perguntou e se jogou de qualquer jeito no sofá. Castellamare deu um sorriso cauteloso ao notar o poder que o sobrinho tinha.
— Uma coisa que você tem que saber sobre mim e que seu tio provavelmente não contou. — Crowley se aproximou do rapaz e abaixou o tom de voz. — Não recebo ordens de pirralhos como você.
— Então pode dar meia volta daqui, Crowley. — O mais novo rebateu com firmeza e Lucy sorriu do outro lado da sala.
— Posso, posso sim. Mas não vou, porque se eu for eu sei que vocês vão ficar implorando para eu não fazer o que tenho em mente. — Ele deu de ombros. — Eu posso muito bem matar o ou então entregar todos vocês para ele e depois matá-lo... Aí eu decido na hora.
— Crowley, Crowley... Você me chama de pirralho e faz esse tipo de chantagem barata? Quantos anos você tem? Dez? — O mais novo disse com um sorriso debochado nos lábios e Castellamare não segurou a gargalhada.
— Olha aqui, moleque...
— Olha aqui você. — O mais novo o interrompeu. — Você não vai chegar perto do , nem de ninguém daquele prédio. Já basta você ter mandado matarem a Kennedy que não tinha nada a ver com a história. A garota não tinha informações, eu já tinha tirado tudo dela, todas as chances de encontrar o assassino dos pais deles. — O rapaz se levantou novamente e parou de frente para Crowley. — Não se meta nos meus planos, dê suas informações e diga o que quer em troca.
— Dar minhas informações? — Crowley perguntou arqueando uma das sobrancelhas. — Quem iludiu você dizendo que eu lhe daria informações em troca daquele maldito cofre? — Ele deu um passo à frente. — Meus planos são completamente diferentes dos de vocês.
— Então por que quer se juntar a nós? — O mais novo perguntou.
— Pelo mesmo motivo que vocês me aceitaram. — Ele respondeu sério. — Vingança.
— Não quero sua ajuda para me vingar do . Pelo amor de Deus! — O mais novo rebateu revirando os olhos. Sentia-se entediado com aquela conversinha sem fim de Crowley.
— Ah, você quer sim. Você sabe o que tem naquele cofre... — Crowley deu de ombros.
— Sei. — O mais novo o encarou. — E você não vai me entregar o cofre de graça. Eu também não vou te dar minhas informações.
— Que informações vocês têm? Que o anda comendo aquela jornalistazinha de merda? — Crowley rebateu sério. — A informação de que fui eu que matei a namorada do filho do Charlie? Que a Kennedy também foi morta por minha causa? — Crowley riu. — Você realmente acha que isso é alguma informação importante sobre mim? Faça-me o favor! Você, mais do que ninguém, deveria saber o real conteúdo daquele cofre.
— Real conteúdo? Joias, dinheiro, segredos de Owen, documentos dos desvios de dinheiro... — O rapaz revirou os olhos. — Você realmente acha que eu não sabia disso muito antes de você sonhar em roubar esse cofre de nós?
— É, talvez você até já soubesse... — Crowley fez uma pausa para sorrir. — Mas eu acho que uma informação em especial, você não quer que encontrem antes de você. — Crowley encarou Castellamare que estava do outro lado. Estava um completo silêncio na sala, somente Crowley e o sobrinho de Castellamare falava. Castellamare já sabia que o assunto chegaria naquele ponto em especial, assim como Lucy.
— Ah, é? — O mais novo perguntou. — Qual?
— Quem você realmente é, .




Capítulo 20

O dia começava a clarear e a chuva fina batia contra a janela. estava sentado no sofá, olhando para a chuva que caía do lado de fora. Não conseguira pregar os olhos por um minuto sequer, o que Crowley dissera não saía de sua cabeça. Quem ele realmente era? ? Isso chegava a soar engraçado. Mas vindo de Crowley, deveriam esperar de tudo, até mesmo uma brincadeira idiota como essa.
sentia-se extremamente cansado, mas sabia que não conseguiria dormir enquanto não soubesse sobre o que Crowley estava falando. E se ele realmente não soubesse da verdade como deveria? E se Castellamare estivesse mentindo para ele também? E se, na verdade, tudo o que fizera fora para beneficiar somente Castellamare e não aos dois como se foi dito?
As escadas rugiram e deixou seu olhar vagar até o local.
— Já está acordado? — A voz de Castellamare preencheu a sala e deu um sorriso de canto.
— Não dormi. — Respondeu tranquilamente e Castellamare engoliu seco.
— Por quê? — O mais velho se sentou no sofá que ficava de frente para o que o rapaz estava.
— Quem eu realmente sou? — perguntou sem se importar em enrolar.
— Não se perturbe com isso, . — Castellamare respondeu.
— Quem eu realmente sou? — repetiu a pergunta e Castellamare o encarou nos olhos.
— Você sabe quem você realmente é. — Castellamare disse sério e suspirou.
— Não faça eu me arrepender mais do que eu já me arrependo. — disse simplesmente e se levantou, sem dar tempo ao mais velho para tentar argumentar alguma coisa. Castellamare sabia o que era capaz de fazer caso soubesse que tudo o que viveu era uma mentira. Não que fosse tudo realmente verdade, porque tem seus pontos não verdadeiros que Castellamare não fizera questão de contar ao rapaz. Mas ele realmente não precisava saber disso. Pelo menos não agora. Tudo o que deveria fazer era focar no objetivo daquilo tudo, no resultado que teria toda aquela "guerra". Castellamare não o havia preparado à toa. Castellamare deixara devidamente preparado, sabia que Crowley surgiria a qualquer momento, sabia que ele faria de tudo para acabar com todos eles e poder cuidar de sozinho.
. Pobre . Se soubesse metade do perigo que corria em ser tão bom no que faz e tão abusado da forma que é, já teria caído fora. Já teria dito que desistia de tudo para poder viver em paz. Tudo bem que ele gostava de desafios, mas seria bom se ele desafiasse menos. Seria bom se ele desafiasse, pelo menos, sabendo da verdade, sabendo quem ele realmente era. Mas não. não fazia ideia de quem ele realmente era, para o que ele realmente nasceu. não sabia metade de sua própria vida. Crescera no meio de mentiras, o contrário de , que fora criado a base da verdade nua e crua. Como viraram melhores amigos? Atuação! Oras, você não precisa ser um ator para saber atuar. Mas isso fora doloroso. Não para que não sabe de nada, muito menos para Castellamare que sabe de tudo nos mínimos detalhes, mas sim para , que teve que lutar para conseguir entrar para aquela equipe, que teve que lutar a vida inteira por uma vingança que deveria ser só do tio. aprendeu a sentir ódio. Aprendeu a odiar . não conhecia o ódio até seus belos treze anos de idade. não conhecia o ódio até ver a vida que sempre levou e comparar com a sua, que era um milhão de vezes mais complicada. Não que o caso aqui seja a inveja que sentira. Porque o pequeno nem sequer pensava em invejar , pelo contrário, se esforçava para não fazê-lo, criar ódio desnecessário e acabar se transformando numa figura idêntica ao seu tio. Não era esse o seu sonho, a sua vontade. A sua vontade, na verdade, sempre fora saber a verdade. Saber de onde veio, por que veio e como veio... Saber por que ele... Não teve um pai presente, mas sim, sendo que ambos tinham o mesmo pai. Seu problema não era a inveja do amigo. Nem o reconhecimento que sempre levava a maior parte. Seu problema era a rejeição que sofrera. Seu problema era a dor que sentira sozinho quando cresceu e descobriu o real motivo da morte de sua mãe. Seu problema era ter visto seu próprio pai morrer e se sentir bem com aquilo. Seu problema era ter nascido naquela maldita casa e ter sido criado por Castellamare, que só queria um bonequinho para fazer de escravo e alimentar um ódio que não existia dentro de tal. Seu problema era ver que recebia coisas por não ser tão verdadeiro quanto aparentava. Não que ele também não fosse verdadeiro. Mas ele assumia — pelo menos para si mesmo — que era um mentiroso de merda. O contrário de que fazia tudo às escondidas e somente ele sabia. não era tão santo quanto deveria ser. não era tão bom quanto deveria ser. Mas, óbvio, ninguém além de sabia disso. Talvez não ser completamente bom — no quesito humanidade — fosse de família.

***


estava sozinho em seu quarto, encarava o teto. Não conseguira dormir bem. Pelo menos não depois do sonho que tivera. Sonhos vêm atormentando seu sono desde quando... Bem, desde o beijo que dera em . Ele não tinha culpa de não conseguir tirar o gosto, o cheiro e o jeito dela da cabeça. Não tinha culpa se não conseguia se livrar das sensações que ela causava com apenas um olhar. Ele simplesmente não tinha culpa de não conseguir mais se controlar da forma que se controlava antes. Isso o irritava profundamente. Ele não podia ficar... Com ela na cabeça por tanto tempo, isso já deveria ter passado, acabado! Mas parecia que cada vez que ele se descontrolava e a puxava para um canto, o desejo acumulava e... O fazia perder o controle de novo. Era como um ciclo vicioso. Eles brigavam intensamente, depois, invés de brigas intensas, estavam trocando beijos intensos, depois simplesmente trabalhavam juntos normalmente, aí voltavam para as brigas... simplesmente não aguentava mais isso. Ele não queria sentir isso. Não queria ficar... Vulnerável por causa de uma mulher... De novo. Não queria se envolver, queria apenas odiá-la. Como sempre foi. Queria fechar os olhos e, ao invés da imagem dela, ver qualquer coisa, a imagem de seu pai, uma imagem de Emma sorrindo enquanto brincavam com Nicholas, qualquer coisa. Menos o rosto dela para perturbá-lo.
bufou e jogou as cobertas para o alto. Pelo menos ele não se atrasaria desta vez, já que perdera o sono e estava de pé uma hora antes do horário normal.
Sentiu o frio tomar seu corpo assim que se levantou, mas ignorou indo em direção ao banheiro. Nada que uma boa ducha quente não resolvesse, certo?
Arrancou as poucas roupas que vestia assim que chegou ao banheiro e abriu o chuveiro rápido, estava bem mais frio do que ele imaginava. Ignorou os arrepios causados pelo frio e deixou a água quente bater contra seu corpo e ir aquecendo-o aos poucos. Estava começando a sentir-se relaxado, leve, sentia-se longe, agora. Sentia a calma ir tomando conta de seu corpo aos poucos, sentia sua mente ficar vazia. Sentia-se bem melhor enquanto a água quente descia por seu corpo, relaxando todos os seus músculos. Enquanto tomasse o seu bom banho quente, preocupação nenhuma tomaria conta de sua cabeça. Vulnerabilidade nenhuma tomaria seu corpo. nenhuma ocuparia sua cabeça junto com a preocupação.
Após um suspiro fraco, deixou a água cair mais livremente ainda e encostou a testa na parede, fechando os olhos com força. Sabia que sua paz não duraria até lembrar-se do que acontecera com Kennedy. Estava tentando se segurar desde o enterro da prima. Como de normal, não queria demonstrar o que realmente sentia. Não queria que sentissem pena dele, não queria demonstrar que sentia dor, não queria parar de trabalhar por Charlie achar que ele estava mal, não queria largar as investigações. Ele só... Queria poder pegar quem fez aquilo com Kennedy e matar a pessoa da mesma forma, se não pior. Mas, óbvio, ele precisava de provas de que a pessoa que fez isso à sua prima era quem ele realmente pensava. Mas para ele conseguir tais provas precisava que Eric o ajudasse.
Desgrudou da parede e levantou a cabeça, deixando a água bater fortemente contra seu rosto e levar as lágrimas que deixara escapar. Após alguns minutos a mais debaixo do chuveiro, o desligou e puxou a toalha. Secou-se o máximo que pôde — já que o frio começava a tomar conta do local, mesmo que ainda um pouco aquecido por causa do chuveiro — e enrolou a toalha na cintura em seguida. Saiu do banheiro e correu em direção ao armário, abrindo-o e pegando qualquer roupa que encontrara ali. Vestiu-se rapidamente e, após uns segundos dentro de sua blusa de manga longa e seu bom e velho casaco de couro, sentiu o frio ir embora. Pegou o que precisava e colocou no bolso, sairia antes de Emma. Precisava sair antes dela. Bagunçou os cabelos ainda molhados e pegou a chave do apartamento.
Não demorou muito e já caminhava pelas ruas já agitadas de Londres. Primeiro iria até a casa de Eric e pegaria o carro dele, não iria usar o de Emma sabendo que ela teria que levar Nicholas até a escola e depois ir para o trabalho. Também não se importava se a casa de Eric era mais longe do que ele costumava andar, estava realmente precisando se exercitar fora daquele prédio, longe de bandidos e trabalho.

***


O rapaz abriu os olhos e sentiu a claridade o cegar momentaneamente e, com isso, fechou-os novamente. A garota que estava ali no pequeno quarto sorriu fraco e se aproximou da cama, deixando de lado o que fazia.
— Cam! — A garota gritou. — O rapaz acordou!
Após uns segundos, um rapaz de cabelos loiros — iguais aos dela — adentrou o quarto com os olhos arregalados.
— Ah, Deus! — Exclamou sorrindo. — Isso é ótimo!
— Eu sei! — A menina sorriu mais uma vez e depois voltou o olhar para o rapaz confuso. — Está tudo bem agora. Sou Claire.
— E eu sou Cam. — O loiro murmurou.
— Eu... — O rapaz na cama tentou falar, mas sua voz não era mais que um sussurro.
— Não precisa falar. Sabemos quem você é. — Claire o interrompeu. — Você ainda está fraco.
... Ele... — O rapaz na cama tentou falar novamente e Claire encarou o irmão.
— Ei, cara. Não precisa falar. Sabemos o que precisa, mas não está na hora. Tente descansar mais. — Cam disse sério.
— Mas... — O rapaz tentou falar novamente e Claire pousou o dedo nos lábios dele.
— Não fala nada agora. A gente vai pegar alguma coisa para você comer e tentar se reanimar, ok? — Ela sorriu e o rapaz na cama soltou um suspiro. Não adiantaria tentar falar. Decidiu, então, olhar em volta enquanto Claire e Cam preparavam algo para ele. Estava em um quarto não muito grande, porém bem cuidado, tinham alguns aparelhos médicos e ele estava com uma agulha no braço. Deu um sorriso fraco, vendo que aquelas duas pessoas havia o ajudado tanto. Sabia que aqueles aparelhos não eram tão... Evoluídos, mas mesmo assim não eram baratos. Sabia também que não estaria vivo se aqueles dois não o tivessem visto no estado deplorável que ficara. Abaixou os olhos e fitou as feridas causadas pelos tiros que levara, não tinham sido tão graves, mas também não tinham sido aquele tipo de tiro que se leva e consegue sair andando logo depois, foram tiros dados para matá-lo... Mas matá-lo devagar. Aos poucos. Lentamente. Para ele sofrer ao máximo. Mas aquelas duas pessoas o encontraram, por incrível que isso pareça! Ele estava, praticamente, no meio do nada. Mas aquelas pessoas o encontraram. Deu mais um sorriso fraco para o nada e ouviu a porta se abrir, virando-se para ela no mesmo momento. Era Claire.
Ele sorriu para a moça.
— Obrigado. — Ele sussurrou e Claire sorriu.
— Por nada. Cam faz medicina, por isso os aparelhos. Não são tão novos, mas deu para cuidar de você. — Ela se sentou na beira da cama. — Você ficou muito mal, é provável que não se lembre de nada. Mas acho que conseguimos te reanimar com os novos remédios. — Ela sorriu mais uma vez. — Consegue comer sozinho ou quer que eu... Te dê?
O rapaz olhou para baixo e tentou se sentar, mas não conseguiu. Arqueou uma das sobrancelhas e encarou Claire, que entendeu o recado. A garota apenas balançou a cabeça.
— Eu só preciso sair daqui a pouco. Tentarei ajudar você a comer o máximo, tudo bem? — Ela informou enquanto levava a colher até a boca do rapaz.
— Certo. — Ele sussurrou novamente, mastigando o que a garota lhe dera.
— Quer me contar o que aconteceu? — Ela perguntou.
— Outra hora. — Ele respondeu simplesmente e abriu a boca para Claire, que já estava com a colher levantada novamente.
— Como quiser. — Ela deu de ombros com um sorriso acolhedor nos lábios.
— Não quero que contem a ninguém que estou aqui. — Ele murmurou e Claire levantou os olhos em sua direção. — É perigoso para vocês por enquanto. Eu só preciso conseguir contato com algum amigo do .
— Eu sei. A gente não falou nada até agora. — Ela sorriu mais uma vez, tranquilizando-o. — Eu trabalho para uma pessoa que tem bastante contato com o . Quando você achar que é a hora, dou um jeito de trazê-lo aqui.
— Obrigado, Claire. — Ele murmurou sorrindo.

***


adentrou a casa de Eric com um pouco mais de pressa. Tinha pensado bastante durante o caminho sobre o que Eric lhe contara. Precisava apenas de mais algumas informações.
Eric, como sempre, ainda dormia. Porém dessa vez jogado no sofá. soltou um suspiro pesado e se sentou no sofá de frente para Eric.
Puxou o maço de cigarros do bolso e o abriu, acendendo o primeiro cigarro de uma vez, levando-o à boca e dando um trago forte.
Levantou a cabeça e soltou a fumaça para cima. Eric acordaria logo. O cheiro de cigarro o incomodaria.
Como previsto, Eric fora abrindo os olhos aos poucos.
— O que diabos você tá fazendo aqui? — Ele perguntou baixo, se virando para o outro lado.
— Eric. Acorda. Anda. — disse devagar, dando outro trago no cigarro.
— Que tal você parar de fumar aqui dentro? — Eric murmurou ainda sonolento.
— Eric, é sério. Preciso do carro. — foi direto, fazendo Eric abrir os olhos de uma vez.
— Você disse que não precisaria desse carro enquanto seu Impala estivesse vivo. — Eric se sentou e encarou o mais novo.
— Meu Impala está acabado, Eric. Ninguém nunca vai conseguir salvar aquela coisa linda. — O rapaz revirou os olhos e tragou o cigarro. — Você sabe. Aqueles filhos da puta acabaram com meu carro.
— Cuida desse, pelo amor de Deus. Não o use para perseguição. — Eric disse sério, se levantando e caminhando devagar até uma estante do outro lado da sala.
— Quero para conseguir chegar à Zachary O'Donnel antes do Crowley.
Eric parou e soltou uma gargalhada, virando-se para em seguida.
— Você pirou? — Ele perguntou, ficando sério rapidamente. — Você acha que consegue enfrentar Crowley assim, de uma hora para outra, com o pouco de informação que tem?
— Eric, me dá logo a chave do carro. — disse sério, encarando-o nos olhos. Eric bagunçou os cabelos.
— Você tá ficando maluco. Eu disse que não...
— Eric, me dá a chave. Eu não vou sossegar enquanto não falar com o O'Donnel. Se eu prometer cuidar dele, prometer não deixá-lo ser preso por todas as merdas que ele fez e deixar proteção para ele e os filhos vinte e quatro horas por dia, ele me conta o que eu quero — falou sério, levantando-se em seguida e parando de frente para Eric, que segurava a chave do carro com força.
— Esse não era o combinado e isso não está certo. — Eric disse entre os dentes e esticou a chave do carro para , que pegou com um sorriso no canto dos lábios. Eric bufou. Sabia que aprontaria alguma coisa.
— Relaxa. Você vai continuar seguro. — deu um sorriso mais relaxado.
— O que vai dizer para Charlie? — Eric perguntou baixo, sentindo as mãos suarem levemente. Charlie não podia saber que ele ainda estava vivo. Não agora.
— Qualquer coisa. Na hora eu vejo. — deu de ombros e puxou outro cigarro do bolso, acendendo-o em seguida. — Não sei quando vou trazer o carro de volta.
— Você quem sabe, contanto que me devolva inteiro. — Eric disse sério e deu uma risada fraca.
— Lembre-se que o carro é de nós dois, Eric. — Ele murmurou indo em direção à porta.
— Mais meu do que seu. — O mais velho rebateu e revirou os olhos. — Tome cuidado. Não fale nem faça mais que o necessário. soltou a fumaça do cigarro e abriu a porta.
— Você sabe o que eu vou fazer a partir de agora, Eric. — Essas foram suas últimas palavras antes de fechar a porta atrás de si e seguir até a garagem de Eric.

***


Emma abriu a porta de e encontrou apenas a cama bagunçada. Arqueou uma das sobrancelhas e saiu do local, procurando-o pelos outros lugares do apartamento. Nem sinal dele.
Deu de ombros e caminhou em direção à cozinha para fazer o café. Quando se preparou para colocar à mesa para ela e Nicholas, notou um bilhete com a caligrafia de . Pegou o papel que estava dobrado e escrito: "Emma" e o abriu. dizia apenas que sairá mais cedo e que a encontraria no prédio. Mas não dizia o motivo, não dizia nada além daquilo.
Emma aguardou o bilhete e foi chamar Nicholas, que já estava praticamente atrasado para a escola, por sua mania de demorar no banho nos dias mais frios.
— Nicholas, anda logo! — Ela gritou.
— Já estou acabando! — Ele gritou de volta e, após uns minutos, saiu do banheiro devidamente vestido.
Tomaram café rapidamente e Emma foi em direção ao estacionamento do prédio. Nicholas entrou no carro e colocou o cinto, esperando a mãe dar partida com o carro.
— Não esqueceu nada? — Ela perguntou.
— Não. — Ele respondeu com um sorriso no canto dos lábios.
— Seguinte, sei que tem prova hoje — Ela se virou para o menino antes de saírem. —, senão tirar nota boa, não deixarei você ir ao passeio de semana que vem, nem vou te levar para sair no seu aniversário, nem fazer festa e nem nada. Estamos combinados?
— Mãe — Ele começou se virando na direção da loira. —, estamos falando de uma prova de matemática. Não uma prova de ciências.
— É sempre bom te lembrar do que vai acontecer se não for bem na escola. — Ela deu um sorriso fraco e Nicholas revirou os olhos.
— Você sabe que sou bom com números. — Ele deu de ombros. Emma sabia que o filho era bom com os números e se garantia nas provas sem ela precisar lembrá-lo. O garoto fazia contas que nenhuma criança de sua idade faria. Digo, nenhuma criança de dez para onze anos aprenderia equações – mesmo que do primeiro grau e um tanto fáceis – tão rápido. Não era à toa que Nicholas era um ano adiantado na escola e adorava olhar a mãe trabalhando com códigos que usavam números. Quando ou Charlie o via fazendo os deveres de matemática tão automaticamente, quase parecendo um computador criado para aquilo, o chamava de "Mascote Prodígio" ou até mesmo "Microgênio". Nicholas apenas ria e revirava os olhos, voltando à concentração ao que fazia.
Emma riu do jeito que o filho falou e ligou o carro.
Nicholas, que estava atento ao que acontecia em volta do estacionamento, se virou para a mãe. Logo em seguida, disse:
— Espera. — Ele olhou em volta e Emma o fitou. — Onde está o ?
— Ele saiu mais cedo. — Ela respondeu e pisou no acelerador levemente.
— Então tem alguém aqui olhando a gente e não é um dos nossos vizinhos. — Ele disse rápido e Emma parou o carro, fazendo um pequeno impulso, o corpo de Nicholas voou para frente e foi segurado pelo cinto.
— Como sabe? — Ela perguntou, se virando para o filho.
— Eu vi uma sombra do outro lado e parecia a silhueta do homem que correu atrás de mim. — Ele respondeu calmamente e depois encarou a mãe. — Não era nenhum dos vizinhos, pode ver que não tem nenhum carro conhecido por aqui.
Emma engoliu seco e olhou em volta. Sentia-se orgulhosa pela esperteza do filho, mas sentia-se nervosa também só de pensar que o homem que correra atrás de Nicholas podia estar ali.
— Certo... Mas temos que ir logo, estamos atrasados. — Ela murmurou olhando em volta mais uma vez.
— E se nos seguirem? — Nicholas perguntou.
— Não seriam tão burros. Sabem que tudo está em segurança e pode ter gente do Charlie perto da sua escola sem eles nem notarem. — Ela olhou mais uma vez e, logo depois, acelerou o carro.

***


Crowley forçou mais o telefone contra a orelha.
— Eu já disse que estarei aí hoje à noite, Nate. — Disse se segurando para não perder a paciência.
Só não traga confusão com você. — A voz do outro lado murmurou também sem paciência e Crowley revirou os olhos.
— Quem é você para falar de confusão, Nate? — Perguntou. — Eu já disse que não vou levar confusão para você. Eu só preciso correr um pouco.
Se você diz, beleza. Só vou te dar essa chance. As corridas começam às onze e meia. Naquele bairro praticamente deserto de sempre. — Nate disse. — Um minuto atrasado, perde a chance de correr. É bom que traga um carro que preste para correr, com uma boa dose de nitro e, óbvio, uma boa quantia em dinheiro se não quiser sair daqui morto. As regras são as mesmas. Apostas altas somente se puder cumprir, apostar suas garotas só se tiver muita disposição, não importa se a garota vai concordar ou não. Basta você se garantir. — O rapaz do outro lado da linha explicou devagar e Crowley prestou atenção dessa vez. — Entendido?
— Entendido. — Crowley respondeu e desligou o telefone em seguida ao ouvir passos se aproximarem de onde estava.
Rachel apareceu na porta e Crowley deixou seus lábios se curvarem para o lado.
— Olá, Crowley. — Ela disse e adentrou de uma vez na sala, puxando sua pasta de sempre e jogando-a em cima da mesa.
— Demorou com o que pedi. — Ele disse sério e pegou a pasta em cima da mesa.
— Fiz o possível. — Ela disse calmamente.
— O que você tem hoje? — Ele perguntou e ela revirou os olhos. — Está pensando em desistir de novo?
— Não importa. Você já disse que se eu quiser sair dessa, você vai me deixar em paz, contanto que eu vá para longe.
— Contanto que você vá para longe a tempo. — Ele corrigiu e Rachel revirou os olhos.
— Eu acho que você se esqueceu da parte que eu sou uma policial. — Ela se encurvou na mesa e apoiou os cotovelos. — Uma policial corrupta. Primeiro terei que pensar rápido para fugir deles e depois, em último caso, terei que pensar em como fugir de você. Você sabe que não é nada comparado ao . — Ela finalizou encarando-o nos olhos.
— Está querendo me provocar? — Ele perguntou sério e sem quebrar o contato visual. Rachel sabia que Crowley estava queimando de ódio por causa de suas palavras. Sabia que, se ele não precisasse dela, a mataria.
— Não. Mas pelo visto estou conseguindo sem querer. — Ela respondeu tranquilamente e ergueu o corpo. — Eu só cansei de você Crowley.
— Então por que não vai embora? — Ele perguntou.
— Porque, mesmo você não querendo assumir, você não vive sem mim. — Ela deu um sorriso fraco. — Você sabe que sem mim não conseguiria nada. Porque, convenhamos, esse Jack é um pateta.
— Você não vai embora porque me ama. — Crowley rebateu e Rachel soltou uma gargalhada alta, não querendo assumir aquilo. Estava decidida a esquecê-lo.
Amava. — Ela disse simplesmente e Crowley engoliu seco. Não queria perder o amor de Rachel. Não porque aquilo o favorecia sempre, mas sim porque ele sabia que o que sentia por ela era o mesmo. Apenas não assumia. Estava cego de raiva, cego pela sede de vingança. Sentia medo de assumir e Rachel o fazer mudar de ideia.
— Sai daqui, Rachel. — Ele disse sério e desviando o olhar para a pasta preta em suas mãos.
— Você continua sem aguentar ouvir a verdade. — Ela suspirou e se sentou na cadeira de frente para Crowley. — Só saio daqui depois que você ler as coisas que tem aí.
— Eu quero você fora daqui. — Ele disse entre os dentes e Rachel sorriu.
— Não quer, Crowley. Você sabe que não quer. — Ela rebateu séria. — Agora leia essa porra e para de frescura.

***


chegou ao prédio atraindo alguns olhares. Oras! Ele finalmente tinha comprado outro carro. Um carro tão raro quanto seu Impala. Desta vez, ele estava com um Dodge Charger.
e Charlie estavam em frente ao prédio quando passou por ali para deixar o carro no estacionamento. Ambos ficaram de queixos caídos.
Após uns dois ou três minutos, já caminhava na direção deles com seu bom e velho amigo cigarro entre os lábios.
— Bom dia. — Ele disse jogando a fumaça para o alto.
— Eu estava delirando ou você realmente estava dirigindo um raro Dodge Charger 1970? — disparou e os homens presentes a olharam com os olhos levemente arregalados. — O que é? Eu gosto de carros. Enfim.
— Eu estava dirigindo um Dodge. — Ele respondeu arqueando uma das sobrancelhas e jogando a fumaça para o alto. — Charlie, bota alguém para ficar de olho no O'Donnel.
— Por quê? — O mais velho perguntou.
— A gente pode entrar? — perguntou com um sorriso torto e arqueou uma das sobrancelhas. — Você vem junto, .
— Tá... — Ela murmurou e revirou os olhos. — Mas cadê a Emma?
— Provavelmente está deixando o Nicholas na escola — respondeu e passou entre e Charlie, ignorando se ainda estava fumando ou não. e Charlie foram logo atrás.
— Certo. O que há de errado com o O'Donnel? — Charlie perguntou.
— Ele está metido com o Crowley. Parece que Crowley tem algo que ele quer. — diminuiu o tom de voz ao notar que pessoas passavam perto deles.
— E o que diabos Crowley teria com o Zachary? — perguntou.
— Isso é o que vamos descobrir se colocarmos alguém para ficar de olho na casa do O'Donnel — disse e abriu a porta da sala de Charlie. Entraram e fecharam a porta rapidamente. — E, bem, provavelmente encontrarei com Crowley hoje.
, pare de inventar e...
— Charlie, está tudo sob controle. Só preciso que a vá comigo. — interrompeu e o encarou.
— Eu não sei quem é esse tal de Crowley, mas pelo que vocês falam, ele não é o tipo de gente que dá para se relacionar. — Ela murmurou encarando . — Você realmente quer me levar para isso?
— É necessário. Eu não posso chegar sozinho ao lugar em que ele vai estar. — explicou e Charlie o encarou.
— Como tem tanta certeza do que está dizendo, ? — Perguntou o mais velho.
— Não posso explicar agora. Mas será que dá para confiarem em mim? — disse sério e Charlie soltou um suspiro pesado.
— Me dá uma prova de que você sabe o que está dizendo. — Charlie pediu e se encostou na mesa, encarando os dois homens presentes.
— Crowley tem um cofre onde há coisas que pertenciam a Owen Mangor e Paul Garred. Nesse mesmo cofre há informações sobre O'Donnel. Onde podemos prendê-lo sem nenhuma dificuldade. E, ah, provavelmente esse cofre contém pistas dos assassinatos que têm acontecido. Inclusive o da Kennedy. — disse sério e o encarou.
— Como sabe? — Ela perguntou baixo e desviou os olhos para ela.
— Segredo de Estado. — Ele respondeu com um sorriso sapeca no canto dos lábios.
, nada de mistérios. Onde conseguiu isso tudo? — Charlie perguntou sério.
— Isso não importa agora, Charlie. Vai fazer o que estou dizendo ou vai querer que eu comece a agir sozinho, como fiz dois anos atrás e ainda consegui pegar o cara que vocês queriam? — Ele disse firme e Charlie passou a mão pelo rosto.
— Por que você tem que ser assim? — Charlie perguntou.
— Porque eu sou filho de John . — respondeu calmamente, deixando Charlie sem ter o que dizer.
mordeu o lábio inferior e deu outro de seus sorrisos devido ao silêncio de Charlie.
— Se isso der merda, você já sabe o que te acontece. — Charlie disse e deu uma risada fraca.
— Você sabe que não vai dar merda. — Ele piscou um dos olhos. — Você vem comigo, .
— Mas...
— Anda logo, . — a cortou revirando os olhos e indo em direção à porta da sala de Charlie.
Após um suspiro pesado, saiu junto com o rapaz.
Caminharam rápido e em silêncio até a sala que dividiam. sentia o típico frio na barriga por estar nervosa e curiosa ao mesmo tempo. parecia tranquilo, mas ela sabia que ele estava... Nervoso. Talvez ansioso também. esperara tanto tempo para conseguir finalmente uma pista de como chegar em quem anda matando essas pessoas inocentes e, agora, sabendo que essa pessoa pode ser Crowley, com toda certeza a ansiedade tomava conta de seu corpo. A ansiedade o dominava tanto que ele rapidamente conseguira outro carro.
Ao entrarem na sala e fechar a porta, se virou para , que o encarava séria.
— Sabe o que é um coldre, certo? — Ele perguntou e ela afirmou com a cabeça. — Mas talvez não saiba como usá-lo... — Ele caminhou até embaixo de sua mesa e abriu a última gaveta, tirando dali um coldre.
— Eu sempre me enrolei com coldres... — Ela murmurou encolhendo os ombros.
— Preciso que não se enrole com esse. — Ele esticou o coldre para a mulher. — E preciso que coloque uma saia que cubra pelo menos até suas coxas. — Ele disse sério e ela deu uma risada fraca.
— Olha o frio que está fazendo, ! — Ela disse ficando séria novamente.
— Você vai ver o calor que vai sentir essa noite. — Ele disse e ela o encarou. — Não no sentido maldoso.
— Pode me explicar o que diabos vai acontecer hoje? — Ela perguntou cruzando os braços.
— Nós vamos a um pega! — Exclamou animado.
— Vamos a um... O quê? — Ela perguntou arqueando uma das sobrancelhas e revirou os olhos.
Corrida clandestina. — Ele explicou. — Em um dos bairros mais barra pesada daqui.
— Você pirou?! — Ela perguntou. — Isso é fora da lei!
— Estou indo a trabalho — Ele rebateu. — Veja bem, , você finalmente vai poder gravar alguma coisa daqui. É sério.
— Vai me deixar filmar vocês em ação? — Ela perguntou.
— Não. Vou deixar você gravar as conversas. Você vai colocar dois microfones pequenos em você — Ele respondeu. — Um na blusa e outro em qualquer lugar onde ninguém possa ver, mas que dê para escutarmos tudo.
— Certo. Você quer transmitir tudo para o Charlie? — Ela arriscou perguntar.
— Não. Mas isso não importa. Só faça o que estou pedindo. — Ele respondeu.
— Me dá o coldre. — Ela esticou a mão e sorriu, esticando o coldre para ela. — Agora me explica como coloca essa porcaria.
deu uma risada fraca e a empurrou para trás, na direção da mesa. engoliu seco com a proximidade e pegou o coldre da mão dela novamente.
— Coloque-o aqui. — Ele tocou na coxa da mulher coberta pela calça jeans e deu uma volta com a maior parte do coldre. — Depois pra cá... — mordeu o lábio inferior ao sentir o toque de mais preciso em sua coxa. — E... Pronto. — Ele disse baixo, levantando os olhos devagar e encontrando uma com o lábio inferior entre os dentes. soltou uma risada pelo nariz e bagunçou os cabelos.
finalmente desviou o olhar do rapaz e se desencostou da mesa, encarando o coldre em sua coxa, tentando entender o que fazia de errado na hora de vestir aquilo.
— Certo. Eu vou ter que usar isso e provavelmente terei que ficar armada. — Ela murmurou.
— É. — a encarou. — Mas... Isso deixa para mais tarde.
— Por quê? — Ela perguntou cruzando os braços. — Pelo menos a arma que eu vou usar eu posso escolher, não?
— Não. — respondeu dando de ombros e se aproximou de novamente, fazendo-a se encostar na mesa e se curvando em direção a coxa da mulher mais uma vez. tirou o coldre da coxa de e o estendeu para ela. — O pega começa às onze e meia. Você vai correr.

***


As horas passaram voando e já estava em casa tentando achar uma roupa confortável o suficiente para ir à um pega. Não entendera a última frase de . Ela não podia correr. Entendia de carros, sim, mas não sabia lidar com tanta velocidade e violência que havia em pegas como aqueles, em lugares como aquele.
Após um suspiro pesado, vestiu a saia de cintura alta não muito apertada, já por cima do coldre — desta vez, colocado certo — e uma blusa de mangas longas e de botões. Abriu os dois primeiros botões da blusa e encaixou o primeiro microfone. Encarou-se no espelho para ver se estava tudo certo e que o microfone não estava visível. Pegou o outro pequeno aparelho e o colocou na saia. Daria para ouvirem direito, já que ela separara o melhor tipo de microfone para essas coisas. Observou-se no espelho mais uma vez e deu um sorriso torto. Não é que estava bonita naqueles trajes que não usava há meses? A maquiagem não muito leve, mas também não muito pesada estava combinando perfeitamente. Para onde iria, ela não podia ficar tão simples nem tão exagerada, sabia como as mulheres de lugares assim eram.
Prendeu os cabelos em um alto rabo de cavalo e pegou o sobretudo preto que estava pendurado próximo dali. Vestiu-se com o sobretudo e fechou os botões. Olhou em volta do quarto à procura de alguma coisa para calçar. Soltou outro suspiro pesado e caminhou até o armário, onde guardava seus sapatos. Não fazia ideia do que usar para ir para a um lugar assim. Sabia que se fosse de salto voltaria para casa com um pé quebrado, porque, obviamente, teria que correr caso a polícia aparecesse. Fora que ela talvez tivesse que correr contra alguém.
Xingou mentalmente e decidiu pegar uma sapatilha qualquer. Colocou a sapatilha com um salto mínimo — que dava para correr muito bem, óbvio — e pegou as coisas que já estavam separadas em cima de sua cama. a buscaria ali. Quanto menos carros levarem, melhor — de acordo com ele.
Trancou seu apartamento e desceu para esperar em frente ao prédio. Achou estranho já ter um carro parado por ali, mas obviamente não era , já que ele estava com um Dodge Charger.
O carro buzinou para ela e ela forçou a vista para tentar enxergar pelos vidros escuros do carro. O vidro do lado do motorista desceu lentamente e ela deixou seu queixo cair.
Que diabos fazia com um Ford GT?
, ainda de queixo caído, caminhou lentamente até o Ford. Parou para observá-lo melhor. Ele era branco com duas listras azuis que pegava do capô até a parte de trás do carro. Seu sonho sempre fora um Ford GT preto de listras brancas, mas nunca pôde tê-lo, por isso se contentava com seu bom amigo Porsche Cayman.
— Vai parar de babar nessa belezinha ou vai entrar logo? — Ele perguntou com um sorriso brincalhão nos lábios e , também sorrindo boba, deu a volta e entrou no carro.
— Onde conseguiu esse Ford? — Ela perguntou jogando as coisas no banco de trás.
— Não vou te contar para você conseguir um igual. — Ele respondeu e arrancou com o carro.
— Sério, . Onde conseguiu, se hoje cedo você estava com um Dodge? — Ela perguntou novamente e a olhou rápido.
— Não importa onde consegui. Mas esse carro é só para hoje à noite. — Ele explicou. — A propósito, você nunca viu esse Ford na sua vida.
— Mas...
— Sem perguntas. — Ele disse e parou em um sinal vermelho. — Eu sei que é ruim para você, já que é uma jornalista. Mas você vai ter que se controlar com as perguntas hoje.
— Certo. — Ela murmurou. — Eu trouxe tudo o que pediu, já coloquei os dois microfones e só falta você me dar a arma.
— Não brigou com o coldre dessa vez? — Ele perguntou com um sorriso no canto dos lábios.
— Não. — Ela revirou os olhos.
— Embaixo do banco. — disse e arrancou com o carro novamente. levou as mãos até a parte debaixo do banco e achou uma arma ali. — Já está carregada, é só deixá-la no coldre. Só use-a se for necessário.
— Tá. O Charlie sabe o que vamos fazer? — Ela perguntou e não respondeu. — .
— Não. Ele não faz ideia disso, mas se eu contasse, ele não me deixaria vir ou então mandaria todos virem e daria merda e eu sairia daqui morto. — Ele explicou rápido.
— Por que sairia morto? — Ela perguntou.
— O que eu pedi sobre as perguntas? — Ele rebateu e suspirou.
— Só essa. — Ela insistiu e mordeu o lábio inferior, segurando a arma com mais força.
— Os caras são barra pesada. Eles não podem saber que trabalhamos para o Charlie. — Ele explicou. — Não é a primeira vez que eu vou lá, então não tem problema de me reconhecerem. Por isso você tem que correr, . — Ele parou em mais um sinal vermelho e se virou para ela. — Eles têm que pensar que você é dessas também.
— Você já veio em pegas? — Ela perguntou arqueando uma das sobrancelhas.
— Que garoto de vinte anos nunca? — Ele deu um sorriso de canto. — Enfim. Eu quero que você corra hoje.
— Mas...
— Preciso que corra. Nem que seja no meu Ford. — Ele murmurou com um sorriso malicioso no canto dos lábios. Sabia que ela jamais se recusaria em ter que dirigir aquela beleza que era seu Ford GT em alta velocidade.
o encarou por alguns segundos em silêncio, continuava com o sorriso sapeca brincando no canto dos lábios. Sabia que ela tinha uma briga interna e não sabia o que resolver.
— Onde exatamente é esse pega? — Ela perguntou.
— Você vai ver. — Ele deu de ombros e pisou mais no acelerador.
balançou a cabeça negativamente e guardou a arma no coldre, claro que fez o máximo para não chamar a atenção de para suas pernas. Mas claro que elas não passaram despercebidas pelos olhos do nosso rapaz.
— Na próxima vez, coloca a arma no coldre assim que chegar. — disse sério depois de longos minutos em silêncio. o encarou e fingiu não entender o que ele quis dizer.
— Por quê? — Ela perguntou e deu uma risada fraca.
Não respondeu. Apenas pisou no acelerador e pôde ver alguns carros extremamente tunados e coloridos, com som às alturas. Ela sentiu seu coração parar por uns segundos e seu corpo ficou estático.
Que diabos estava pensando em levá-la para àquele lugar?
parou o carro próximo aos outros, atraindo mais olhares. Não estava atraindo olhares pelo seu Ford GT perfeito, mas sim pelo simples fato de ser ele. não saiu do carro, continuou parada encarando todo o local. Sentia sua garganta fechar e o ar lhe faltar.
— Ei, chegamos. — murmurou abrindo a porta do carro.
— Eu sei. — engoliu a seco. — Eu... Eu não posso ficar aqui, . Eu...
— Entregou esses caras ano passado e deixou metade deles na cadeia. — completou e ela o encarou de olhos arregalados. — Charlie quem prendeu. Anda, sai desse carro.
— Não! — Ela exclamou. — Eles disseram que se eu voltasse eu morreria!
— Já se passou um ano! — rebateu. — Você está comigo. Eles não vão fazer nada.
— Mas...
— Anda. — estendeu a mão para , que mordeu o lábio inferior, pegando a mão do rapaz logo em seguida.
— Por que estão nos olhando? — Ela perguntou.
— Porque acabamos de chegar num Ford GT e somos duas pessoas da lei. — respondeu tranquilamente.
bufou e continuou caminhando ao lado de . A cada passo que davam, passavam por um carro mais tunado que o outro. Caixas de som enormes, desenhos colados por todo o carro, alguns adesivos de fogo...
engoliu seco e tentou parar de andar ao ver um grupo de pessoas que ela havia mandado para a cadeia um ano antes. Mas, oras! Ela só estava fazendo o trabalho dela. Que culpa ela tinha se seu chefe havia a mandado procurar corridas clandestinas e escrever sobre para prender todos eles? Mesmo sabendo que, no final das contas, eles voltariam. Não no mesmo lugar, obviamente, mas iriam para um lugar mais barra pesada, mais difícil de conseguirem entrar para pegá-los.
Os olhos de pousaram sobre uma das mulheres do local e balançou a cabeça negativamente, não acreditando no que via. — O que foi agora? — perguntou ao notar que apertara o passo.
— Nada. — Ela respondeu e soltou um suspiro pesado, desviando o olhar da mulher tão conhecida. sabia que ela iria até eles para tentar jogar seu veneno. Tinha certeza disso.
Quanto mais próximos ficavam de onde o organizador de tudo estava, o som penetrava seus ouvidos com mais força. 50 Cent, T.I... E vários outros cantores de Hip-Hop predominavam o local. sentia que sua cabeça explodiria a qualquer momento, já nem sequer se importava com as músicas que tocavam e distribuía sorrisinhos idiotas para as mulheres vadias do lugar.
— Vejam só, se não é o nosso querido de volta. — Uma voz feminina ecoou próxima aos dois e deixou seus lábios se curvarem em mais um de seus sorrisos, parando de andar e se virando para trás.
— Vejam só, se não é a mulher mais foda daqui. — Ele disse ainda sorrindo e revirou os olhos discretamente antes de se virar para a mulher.
— O que ela faz aqui? — A mulher perguntou e engoliu seco.
— Está comigo, Camille. — revirou os olhos.
— Ela me colocou em cana ano passado. Vou te dar uma hora para fazer o que tem que fazer — Camille começou. — Caso contrário — ela fez uma pausa e tirou o cabelo do rosto, se aproximando mais dos dois —, eu acabo com ela.
— Você fala como se eu tivesse medo de você, Camille. — murmurou olhando-a com desprezo e a olhou de rabo de olho, nunca vira falar daquela forma. — Você sabe que não significa nada para mim. Nem mesmo aqui, que é o seu "reino". — Ela finalizou, fazendo aspas com os dedos.
— Seria bom se você tivesse medo. Porque eu não vou sumir com você ou te mandar para a cadeia, eu vou...
— Vai o quê? — deu um passo a frente, interrompendo a outra. — Vai tentar acabar comigo na corrida? Vai tentar tirar de mim todo o meu dinheiro? — riu. — Vai me matar? — Debochou mais uma vez e cruzou os braços. — Você não é nada, Camille. Sabe disso.
— Certo, certo. — entrou no meio das duas. — Vamos parar. Sabe onde Nate está, Mille?
— No lugar de sempre. — Camille respondeu ainda encarando . — Se quiser, pode ir. Mas ela fica.
— Mille...
— Eu já disse, . — Ela encarou o rapaz. — A fica.
— De onde vocês se conhecem, afinal? — perguntou completamente confuso.
Que diabos estava acontecendo e o que ele havia perdido? De onde elas se conheciam? Por que se tratavam e se encaravam daquela forma tão intensa?
— Crescemos juntas. — respondeu, direta.
— Pois é, toda família tem sua ovelha negra. — Camille rebateu.
engoliu seco.
— Família? — Ele perguntou.
— Isso não interessa. — disse e Camille riu.
— Minha priminha não gosta de confessar que tem meu sangue. — Camille disse e quase se engasgou com o vento.
Ele havia transado com duas 's?
— O que acha de correr, ? — Camille perguntou e arregalou os olhos levemente.
— Não sou como você, Camille, por favor. — revirou os olhos.
— Me ganhe e os dois entram para falar com o Nate. Se você perder, bem, eu apenas pego o carro que você correr. — Camille propôs e encarou as duas mulheres. Queria que arriscasse, mas sabia que Camille era muito boa. Como diabos apostaram um Ford GT?
suspirou e encarou de relance.
— Eu... — começou, mordendo o lábio e em seguida umedecendo-os com a língua. — Topo. — Finalizou de uma vez e engoliu em seco. Não que ele não confiasse em ou algo do tipo, porque ele sabia do potencial da mulher. Ele só... Sentia medo de não conseguir entrar para falar com Nate com e, obviamente, medo de perder seu Ford GT.
— Não sei se você...
— Eu vou correr, . — o interrompeu, sem parar de encarar a prima que tinha um sorriso malicioso nos lábios. sabia que não seria fácil ganhar Camille naquela maldita corrida, mas sabia também que não era impossível vencê-la.
— Certo. — suspirou e tirou as chaves do bolso, entregando-as para , que segurou firmemente. — Cuidado com o meu carro.
— Coloco a gente na próxima. Esperem-me logo na linha de partida, estão apenas entregando as apostas feitas para quem venceu. — Camille disse encarando que tinha um sorriso no canto dos lábios. apenas concordou com a cabeça.
— Toma cuidado, a Camille...
— Corre muito bem e blá, blá, blá. — revirou os olhos. — Que tal você perguntar aonde ela aprendeu isso tudo?
não respondeu. Apenas ficou encarando , que lhe deu um sorriso.
— Certo. — mordeu o lábio inferior. — Boa sorte. Bota a gente dentro disso. É importante.
, por favor. — Ela revirou os olhos novamente e rodou as chaves do carro nos dedos. — Nós já estamos lá dentro.
deu uma risada fraca com a determinação de e mordeu o lábio novamente em seguida.
— Se está dizendo. — Ele deu de ombros. — Mas, de qualquer forma, tome cuidado.
— Tomarei. — Ela o encarou nos olhos e deu um sorriso fraco.
caminhou até onde o Ford de estava e entrou, arrancando com ele em seguida, indo para onde Camille informou.
permaneceu onde estava, de braços cruzados e encarando a pista. Estava... Preocupado com . Sabia que era arriscado chegarem a um pega, justo no lugar onde ela já mandara policiais para prender os "pilotos"... Sabia que seria mais arriscado ainda se ganhasse da melhor mulher dali. Mas o que poderiam fazer a não ser arriscar? já surpreendera demais. Por que não acreditar que ela podia surpreender mais uma vez? Por mais estranho que isso parecesse, teria que confiar naquela mulher agora. Ele teria que confiar que ela realmente conseguia tudo o que queria, assim como ele. Ele teria que confiar na parte que ela conhecia bem a prima, a ponto de achar que pode vencê-la mesmo que nunca tenha corrido em um pega de verdade. Porém, uma coisa não conseguia confiar nem entender: Por que diabos Camille a chamou para correr, invés de simplesmente insistir em colocá-la para fora do local?
olhou em volta, nada ali parecia suspeito. Nada ali parecia estar contra eles. A não ser Camille agir daquela forma completamente... Estranha. Ele preferia acreditar que Camille apenas queria mostrar à prima quem é que realmente mandava. Talvez ela realmente quisesse mostrar que o diploma e fama que possuía não era nada e, o que ela havia construído ali, com os pegas, era tudo, era a realidade. Talvez fosse isso. Talvez.
O tiro que ecoou para o céu e os gritos que ecoaram por toda a parte do local, atraíram a atenção de para a corrida que acabara de começar. A corrida que decidiria o resto da sua noite. A corrida que, talvez, o colocasse de frente para Crowley, finalmente.
Um arrepio percorreu toda a nuca de quando ele notou que os carros já haviam dado uma volta completa. Em passos lentos, porém grandes, caminhou até a multidão, tentando olhar o que acontecia. A disputa estava cerrada. A única diferença entre as duas mulheres era de segundos. Sim, segundos. Dois no máximo.
fechou os olhos ao perceber que já estavam na última volta e esperou as pessoas começarem a gritar em comemoração por mais uma vitória de Camille. Mas tudo o que ele ouvira fora murmúrios de susto.
Camille havia perdido.
soltou o ar que prendia em seus pulmões e abriu os olhos, encarando uma sorridente apoiada em seu Ford GT.
mordeu o lábio inferior ao encontrar na multidão e o rapaz caminhou na direção dela. Sem nem sequer notarem, já andavam rápido em direção um ao outro. Quando deram por si, já estavam abraçados. sentia o corpo de tremer levemente em seus braços. A mulher o apertou mais, estava nervosa e pôde notar que suas mãos suavam frio.
As pessoas em volta estavam completamente em choque. Camille apenas sentia a raiva correr por suas veias, como sempre acontecia quando se encontrava com . Sua prima só servia para lhe trazer desgraças.
— Já pararam com a melação? — A voz de Camille penetrou os ouvidos de e , que se afastaram imediatamente. Não porque Camille falou alguma coisa, mas sim porque notaram que estavam abraçados em... Público.
— Nos leve até o Nate. — falou encarando a prima séria, que revirou os olhos.
— Você pode esperar? — Camille perguntou, olhando-a de cima a baixo. — Eu disse que levaria se perdesse e levarei. Só tenham paciência. Nate está chegando.
— Só chamou a para correr porque o Nate não estava aí? Você não podia simplesmente falar que ele não estava? — perguntou revirando os olhos.
— Você não teria passado vergonha se tivesse feito isso, Cacá debochou da prima, com um sorriso no canto dos lábios.
— Cala a boca ou então eu juro que acabo com você. — Camille disse entre os dentes e segurou uma risada. Não porque era bom ver Camille daquele jeito, mas sim porque realmente era engraçado ver falando daquela forma com alguém.
se preparou para responder, mas o celular de Camille começou a tocar, fazendo-a desistir. Camille se afastou dos dois para falar, não demorou muito e ela já estava de volta. Se a ligação durou trinta segundos, foi muito.
— Venham logo. — Camille disse e começou a caminhar apressadamente. devolveu as chaves para que guardou-as no bolso, e caminharam em silêncio atrás de Camille, que ainda demonstrava raiva e vergonha pela derrota.
— Sério que é aqui que ele fica? — perguntou assim que pararam em frente algo que mais parecia uma cabine.
— É. — Camille deu de ombros. — Enfim. Façam o que têm que fazer, mas nunca — Ela se virou para e deu ênfase na palavra. —, nunca falem sobre este lugar com alguém.
— Certo, você quem manda, linda. — murmurou piscando um dos olhos.
— Vai cantar a mãe, . — Ela disse séria antes de sair andando e largar e parados em frente a "cabine" de Nate.
— Sua prima é tão orgulhosa e mandona quanto você. — murmurou para que o encarou de relance.
— Você não sabe o que está dizendo. — A mulher revirou os olhos. — Vai entrar logo ou vai ficar encarando essa maldita porta?
— Mas meu Deus! — revirou os olhos. — Nem parece que acabou de ganhar uma corrida.
— Anda logo, . — disse firme e ele deu um sorriso discreto. Há tempo ela não o chamava pelo sobrenome e ele gostava da forma que ela pronunciava seu sobrenome.
Ainda mais em outros momentos.
— Tá, tá. — Ele deu dois passos, ficando mais próximo da porta e bateu duas vezes.
Não demorou muito e um rapaz alto abriu a porta. Ele vestia uma camisa de mangas longas do Slipknot e um boné que quase escondia seu rosto.
sentiu um certo... Desconforto ou até mesmo medo ao vê-lo, mas ignorou isso e continuou firme atrás de , que tinha um sorriso no canto dos lábios.
— Vejam só, se não é o Nate. — murmurou e o rapaz deu uma risada fraca. Ainda em silêncio, Nate deu espaço para que pudessem entrar. Óbvio que quando passou por ele, ele ficou um tanto quanto perdido nas pernas descobertas da mulher. E, ah, claro, notara isso e fez um leve barulho com a boca, chamando a atenção de Nate.
— O que te traz aqui, ? — Nate perguntou e o encarou.
— Você sabe, Nate. Eu te adiantei o assunto semana passada. — respondeu.
— Quanto você tem aí? — Nate perguntou e franziu a testa, sem entender o que estava acontecendo.
— Metade. — respondeu sério, encarando o rapaz.
— Eu quero tudo. — Nate disse sério e deu uma risada fraca.
— Metade. — repetiu.
— Nada feito. — Nate disse encarando o policial que já começava a sentir a raiva correr em suas veias.
— O combinado era metade hoje. Você me entregaria o que eu pedi. O resto seria depois, quando você já estivesse longe. — disse firme e se aproximou mais dos dois.
— O que ela faz aqui? — Nate perguntou apontando para .
— Companhia. Vai querer a metade ou vai simplesmente quebrar o trato? — murmurou sério.
— Companhia? Você traz a jornalista que nos entregou, ela vence a nossa Camille e você me responde que ela é sua companhia? — Nate deu dois passos na direção de , que continuou imóvel.
— Nate, a discussão não é a . — disse firme e encarou o rapaz nos olhos.
— E qual é a discussão, ? — Uma voz grossa ecoou do outro lado da sala onde se encontravam. gelou. igualmente. Nate apenas tinha um sorriso no canto dos lábios.
encarou Nate como se fosse matá-lo somente com o olhar. Sabia que não seria fácil enrolar Nate, mas nunca sequer pensara que Nate chamaria seu... Aliado, por falta de palavra melhor, na primeira tentativa que fizesse. Sabia que, através de Nate e dinheiro, chegaria a Crowley cedo. Mas nunca imaginara que seria tão cedo.
— Nate, sai. — A voz ecoou, Nate apenas deu de ombros e saiu do local.
— Vai embora, . — sussurrou para a mulher a seu lado.
— Eu disse para apenas Nate sair. — Crowley disse sério e saiu da escuridão que se encontrava, mostrando-se completamente.
— E eu disse para ela ir embora. — rebateu com um sorriso debochado nos lábios.
— A jornalista fica. Quero que ela me veja acabando com você. — Crowley sorriu e deixou uma gargalhada escapar.
— Sai logo daqui, . — repetiu e o encarou como se perguntasse dos microfones e tudo o que haviam planejado. balançou a cabeça afirmativamente e repetiu: — Sai logo daqui.
piscou algumas vezes e se preparou para andar, mas Crowley foi mais rápido e a puxou pelo braço. E, como toda ação tem sua reação, sacou a arma que estava em sua cintura e mirou-a para Crowley.
— Ela vai sair daqui, Crowley. — murmurou entre os dentes. — Não precisamos de plateia, não é mesmo?
Crowley riu e, em movimentos rápidos, puxou a arma que carregava em seu coldre, deixando-a completamente assustada.
Como diabos ele sabia que ela carregava uma arma ali? Como diabos ele conseguira puxá-la tão rápido a ponto de não lhe deixar sequer uma chance de reagir?
— Você volta para perto dele. — Ele murmurou para que engoliu a seco, mas o obedeceu.
deu um sorriso pela resistência de e encarou Crowley, mirando a arma com mais firmeza.
— Se eu fosse você abaixaria a arma, . — Uma voz feminina ecoou pelo local e estreitou os olhos ao sentir algo gelado encostar em sua nuca.
— Olá, Rachel. — murmurou mostrando indiferença e arregalou os olhos, virando-se em direção a e a mulher. Que diabos Rachel estava fazendo ali? Óbvio que sempre desconfiou dela e sabia que a achava uma vadia corrupta, mas nunca tiveram provas concretas. Aquilo que estava acontecendo diante de seus olhos não eram mais provas, era uma completa confissão! Podiam prendê-los fácil! Claro, se tivessem reforços, mas não tinham. Então, por enquanto, estavam nas mãos deles.
— Abaixa a arma, . — Crowley disse calmo e não se mexeu.
— Não está ouvindo, ? — Rachel sussurrou.
— Se eu fosse você calaria a boca, Rachel. — murmurou de volta.
— E eu faria isso por quê? — Ela perguntou dando uma risada fraca e deixou seus lábios curvarem para o lado, em um sorriso malicioso.
— Porque será melhor para você. — Ele respondeu baixo e se aproveitou que Crowley estava ocupado demais mirando a arma para e, em um movimento rápido e sem soltar sua arma, virou-se para Rachel e segurou seus pulsos com força, fazendo-a soltar a arma, torceu seu braço para trás, fazendo-a gemer de dor. Crowley pensou em reagir, mas a única coisa que conseguira fazer foi encarar os olhos arregalados de Rachel enquanto mirava a arma na cabeça da mulher.
, após respirar fundo, ignorou completamente a existência daquela arma apontada para ela e andou rapidamente até onde a arma de Rachel estava. Crowley deixou seu queixo cair em total espanto.
Desde quando aqueles dois eram tão espertos?
mirou a arma na direção de Crowley e apertou Rachel mais forte contra seu corpo, já que ela era bem treinada e tentava se soltar. já havia notado o que estava acontecendo ali. O otário da vez, fora ele.
Camille inventara a maldita corrida para dar tempo de avisarem a Nate que ele e estavam lá a procura de Crowley. Aproveitaram, então, enquanto corria contra Camille, para avisar a Crowley o que realmente estava acontecendo. Mas, óbvio, Camille não perdera de propósito. Ela deveria ganhar para não descobrir que Rachel estava com Crowley por ali e para deixá-los sem carro. A intenção era que Crowley e se encontrassem em público. Mas isso não fora possível já que vencera.
— Deixem a sair e vocês fazem o que quiserem comigo. — disse sério encarando Crowley. Ele já sabia da merda que havia feito, já sabia que havia arriscado mais do que deveria. Portanto, nada mais certo que tirá-la de lá. Ele sabia que ela conseguiria se sair bem e sabia também que Eric estava ouvindo tudo o que estava acontecendo.
Crowley não respondeu. então, ainda mirando a arma para ele com firmeza, se aproximou de e tateou seus bolsos a procura das chaves.
balançou a cabeça afirmativamente e engoliu seco. Não queria deixá-lo ali. Passou por Crowley ainda apontando a arma para ele e com o coração acelerado. Assim que saiu, soltou o ar dos pulmões e correu o mais rápido que conseguiu em direção ao Ford de .
Voltaria ao prédio e contaria tudo para Charlie. Era o certo a se fazer.


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Nota da autora: Sem nota.





Outras Fanfics:
» Pull Me In 2 - Fire
» 02. Fire (Spin-Off de Pull me In)
» Sombras do Passado
» Supernova

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