Capítulo 13
SOMEWHERE.
deixou seu corpo cair sobre a cama e fechou os olhos com força. Não acreditava que tudo o que Camille falara mais cedo era verdade. Não poderia ser. Aquele casal que ela crescera... Eles... Eles tinham seu jeito! Alguns traços faciais! Sem contar as manias! Tinham semelhanças em tudo! Camille estava louca. Tinha que estar. Aqueles papéis tinham que ser falsificados. Nada daquilo deveria estar acontecendo, aliás. Se aquilo tudo for verdade e sua mãe biológica realmente estivesse vida, não aguentaria, não conseguiria lidar com a situação. Tudo o que precisava fazer, na verdade, era procurar mais sobre aquilo. Mas como faria isso sozinha? Não teria cabeça para pensar em tantas coisas. Talvez Elizabeth pudesse ajudar já que ainda estava fora e talvez fosse o único que pudesse analisar aqueles papéis para ter certeza se eram verdadeiros ou não. Em momentos assim que agradecia pela faculdade de direito de . Isso, a propósito, a fazia imaginá-lo vestido socialmente; de terno e gravata; com o cabelo penteado para trás, em um tribunal, falando formalmente para defender alguém. Era uma visão e tanto.
suspirou e balançou a cabeça. Era incrível como qualquer pensamento que tinha se direcionava para ele. Aquilo a perturbava, entretanto. Naquele momento, sentiu vontade de ligar para ele. Porém, era muito provável que ele estivesse trabalhando em algo importante. Não queria atrapalhá-lo com suas saudades bobas e muito menos com seus problemas que poderiam ser resolvidos assim que ele voltasse.
Duas batidas na porta do quarto fizeram com que saísse de seu transe. Não sabia, exatamente, por quanto tempo ficara pensando naquelas coisas e encarando o teto de seu mais novo quarto. Gritou um "entre" e logo Elizabeth apareceu no quarto, com um sorriso tenso no canto dos lábios.
— Bom dia — a morena murmurou fechando a porta atrás de si. — Dormiu bem?
— Bom dia — respondeu e se sentou na cama. — Sim, e você?
Elizabeth apenas concordou com a cabeça e se sentou ao lado de .
era totalmente capaz de sentir a tensão pairando por todo o quarto. Beth era péssima em enrolar para dar notícias ruins. Não era difícil notar isso; seus olhos pareciam estar perdidos e com menos brilho, seu sorriso, que sempre é chamativo e contagiante, ficava preso do canto de sua boca de forma tensa e forçada. Aquele tempo que passara conversando e trabalhando com Beth serviu para que prestasse muita atenção nisso. Seu instinto observadora a fazia prestar atenção em tudo e todos a sua volta.
— Vamos tomar café? — Beth sorriu. — Jesse quer conversar conosco.
— Claro — murmurou. — Só vou me trocar, não demoro.
— Tudo bem. Ainda precisamos levar o Nicholas para a escola.
— Certo!
E em um pulo, se levantou. Não queria atrasar ninguém, afinal. Ela só iria trabalhar à tarde, naquele dia.
Poucos minutos depois, todos já estavam na cozinha de Elizabeth tomando café calmamente. Nicholas foi o primeiro a terminar de comer e correu para o banheiro escovar os dentes. Ele sabia que os outros três queriam conversar. Ele podia sentir o peso dos olhares que Beth trocava com Jesse, sem contar a forma que olhavam para . Assim que Jesse ouviu a porta do banheiro bater, suspirou. Não faria ideia de como contaria o que estava acontecendo para . Ela talvez surtaria, talvez daria um jeito de ir para Itália, ou talvez as duas coisas. Todos ali sabiam do que aquela jornalista era capaz de fazer por .
— O que está acontecendo, afinal? — perguntou enquanto dava um gole em seu café.
Jesse mordeu o lábio e suspirou. Para que enrolar, afinal?
Após encher o peito de ar novamente, Jesse soltou a bomba:
— O simplesmente desapareceu sem dar notícias a ninguém.
No mesmo segundo sentiu seu coração acelerar e o café parecia não passar mais em sua garganta, fazendo-a tossir loucamente.
— Como assim? — perguntou sentindo o ar voltar para seus pulmões.
— Ele não falou com você também, então? — Elizabeth perguntou baixo.
— E ele deveria? O que ele estava aprontando? — suspirou passando as mãos nos cabelos. Não aguentava mais aquilo tudo. sempre se metia no que não devia. Que inferno!
— Na verdade, desconfio de que ele fora pego pelos caras que estamos investigando — Jesse disse devagar. — jamais tentaria fazer algo sozinho em Palermo sabendo como as coisas estão por lá. Ele é louco, mas não tanto.
— Ainda mais depois do que o Jack fez — Beth disse. — Ele estava fazendo de tudo para voltar rápido.
Jesse ia dizer algo, porém, no mesmo momento, Nicholas adentrou a cozinha novamente. Jesse poderia afirmar, com toda certeza, que o garoto estava ali há bastante tempo, mas não diria nada a ninguém. Sabia que o menino só estava preocupado, o que não era para menos, já que era seu maior exemplo depois de Charlie. Sem contar o amor que aquele menino sentia por , era uma coisa que beirava ao surreal. Nicholas tinha uma admiração por que emocionava qualquer pessoa de fora. Era claro que o garoto faria qualquer coisa que estivesse em seu alcance para ajudá-lo. Assim como faria por qualquer outra pessoa que ele considerava ser de sua família.
— Vou levar o Nic para a escola — Beth disse se levantando rapidamente. — Fique bem, sim? — Ela se virou para . — Vi que Camille te procurou.
não respondeu, apenas balançou a cabeça. Estava atônita demais para elaborar alguma frase com sentido. Não estava acreditando, ainda, que desaparecera. Não acreditava — ou não queria — que tudo aquilo estava acontecendo. Tudo estava dando errado de novo em sua vida. Estava tudo de cabeça para baixo, tudo tão bagunçado...
— Nós vamos encontrá-lo — Jesse murmurou, tentando tranquilizá-la. — Isso se ele já não está achando um jeito de sair, seja lá de onde estiver trancado.
— Eu espero que sim — suspirou. — Já começaram a tentar?
— Sim — Jesse respondeu. — Pelo que fiquei sabendo, a sobrinha do amigo de Charlie tem contato com o possível mandante de tudo. Ela está fazendo o que pode para achá-lo o mais rápido possível.
— Certo. — suspirou mais uma vez e Jesse a fitou. Ele sabia que havia algo a mais a perturbando. E a última coisa que Elizabeth dissera o ajudara chegar àquela conclusão. — O que há de errado além do que houve com o ? — Jesse decidiu perguntar de uma vez por todas. Talvez pudesse ajudar, afinal. Jesse sempre tivera uma simpatia muito grande por e, sempre que pudesse, iria ajudá-la.
— Fui adotada — ela respondeu curta e grossa. Jesse estreitou os olhos sem entender. — Camille veio até aqui para me contar isso e até me deu os papéis. Como ela conseguiu essas coisas, não faço ideia.
— Você não está realmente acreditando nisso, está? — Jesse a encarou. — Isso não faz o menor sentido, !
— Não tem como não acreditar ou não se abalar com isso, Jesse — ela suspirou. — Os documentos parecem ser verdadeiros. De acordo com Camille, minha mãe biológica está viva e irá me procurar a qualquer momento.
— Pois então espere — Jesse deu de ombros. — Talvez seja só mais uma armação da sua prima. Se realmente é verdade, peça um exame de DNA para a mulher que te procurar. Ela não irá hesitar em fazê-lo se realmente for verdade.
— É exatamente o que eu pretendo fazer — mordeu o lábio inferior. — Eu só estou com medo do resultado.
— Seja ele qual for, não importa mais — Jesse sorriu. — Você tem a nós, . Não precisará se aproximar totalmente dessa mãe se não quiser, ninguém nunca vai te obrigar a nada. Mas é sempre bom ouvir todos os lados da história, certo? Entenda os motivos dela. Se ela se mostrar merecedora de sua atenção e cuidados agora, apenas a acolha de braços abertos. Caso você note que ela realmente é algo ruim, tente não se apegar. Vocês não terão aquele laço de família para poder, sei lá, sentir algum tipo de dor em se afastarem novamente.
apenas deu um sorriso fraco para Jesse. Talvez ele realmente estivesse certo. Mas ela não queria pensar naquilo, apenas queria saber onde diabos havia se enfiado. Ele, como sempre, era a maior de todas as suas preocupações.
***
PALERMO, SICÍLIA — ITÁLIA.
sentia todo seu corpo doer mais que antes. Sua boca estava incrivelmente seca e ele se sentia ainda mais fraco. Sua cabeça pesava e todo seu rosto ardia como se estivesse completamente machucado. Era uma sensação que ele esperava se livrar logo. Tudo o que realmente queria, era estar ao lado de sabendo que tudo e todos estavam bem. não tinha mais noção de tempo, não fazia ideia de quanto tempo estava ali amarrado ou quanto tempo já havia passado desde o último contato com aqueles infelizes.
Um barulho chamou sua atenção, fazendo-o abrir os olhos levemente assustado. Algumas vozes ecoaram pelo local e a porta se abriu, revelando a silhueta jovem de uma garota que não conhecia. Os olhos azuis e intensos da garota pareciam assustados, como se não acreditasse na imagem à sua frente.
— Por favor, Amanda, saia já daqui! — O "novato" da quadrilha pediu. — Sabe que não sairá viva dessa vez se te pegarem aqui!
— Isso não pode continuar — Amanda murmurou. — Vocês são o pior tipo de gente que já conheci! Por que diabos fazem isso com as pessoas?
— Cale a maldita boca e saia daqui! — O rapaz elevou o tom de voz e o olhar de Amanda virou-se para novamente, como se gravasse cada traço do rosto do homem. — Agora! — O rapaz gritou, fazendo-a pular levemente de susto.
Amanda olhou uma última vez para o homem e pôde jurar que seus olhos imploravam por socorro. Ela tinha certeza absoluta de que voltaria ali outra hora quando não tivesse ninguém. Não entendera o porquê daquele sentimento, mas sentia que precisava ajudá-lo. Sem contar sua beleza que ela não fora capaz de ignorar. Mesmo com o rosto machucado e abatido pelas prováveis fome e sede, era impossível não achá-lo ao menos atraente. Seus olhos atraiam qualquer pessoa sem o menor esforço. Seus traços eram... Diferentes, Amanda não sabia explicar o que notara naquele homem. E aquilo não importava, de qualquer forma. Seu coração tinha um único dono, e talvez fosse ele o causador da dor daquele belo homem amarrado à sua frente.
soltou um suspiro fraco ao ver a garota sair do local, por míseros segundos ele achou que alguém poderia ajudá-lo. Mas aquilo talvez realmente não acontecesse. Ou talvez não daria tempo. Talvez ele simplesmente morresse ali.
Ao notar que estava sozinho no escuro novamente, sentiu a tristeza e saudade atingi-lo em cheio. Não tinha muita noção de tempo estando ali, mas sabia que, àquela hora, devia estar com em seus braços, em sua cidade. Aquele era o certo. Deveria estar com . Céus... ! Como ele estava sentindo falta daquela mulher. Como diabos ela devia estar? Será que já sabia de seu sumiço repentino? E o que deveriam estar fazendo para tentar encontrá-lo? Inferno! Precisava sair dali logo, ou simplesmente morreria. A ideia de morrer sem se despedir de o apavorava mais que qualquer outra coisa. Não podia deixar aquilo acontecer de jeito nenhum.
Suspirou novamente e fechou os olhos com força, tentando organizar os pensamentos, porém tudo o que conseguia fazer era lembrar de todos os momentos que passara com ; desde a primeira briga à primeira vez que deixaram o desejo falar mais alto na sala de Charlie. jamais esqueceria da sensação de tê-la em seus braços, gritando seu nome e implorando por mais contato. Fora uma coisa totalmente diferente de tudo que ele já havia sentido. Precisava sair dali o mais rápido possível, precisava dar um jeito de ter sua amada em seus braços mais uma vez, precisava parar de se envolver naquele tipo de trabalho, precisava parar de achar que seria capaz de salvar todos o tempo todo. Ele jamais conseguiria aquilo e acabaria morto. Algum tempo atrás jamais se importaria com isso. Mas o problema é que, agora, ele não é o único envolvido em suas próprias merdas. Agora ele simplesmente não conseguia ser aquele inconsequente que sempre fora. Talvez ele tenha crescido, finalmente. Ou simplesmente encontrado a tal pessoa certa que Emma vivia falando.
***
PALERMO, SICÍLIA — ITÁLIA.
Apolo sorriu para os rapazes em sua frente e caminhou devagar até a grande porta, abrindo-a em seguida. Não havia satisfação melhor, para ele, que ver preso daquela forma, praticamente desmaiado de tão fraco que estava. Aquele homem era bem ousado, tirara forças do inferno para xingar todos os homem que Apolo mandara cuidar dele. Além de xingar, conseguira dar outra cabeçada em outro homem. Mas, dessa vez, com efeito contrário de Brian, não quebrara seu nariz. Talvez, realmente, pela falta de força. Mas aquilo fora o suficiente para fazer com que Apolo aparecesse no local. Daria uma água para o pobre inglês. Ou algo para ele comer. Mas somente depois de ouvir o que ele queria ouvir. Queria fazer se humilhar ao máximo. Seu corpo se arrepiava de pura excitação só de imaginar , o incrível , implorando algo para ele. Implorando para viver. Implorando para ver sua maldita jornalista de novo. Não que Apolo fosse atender suas necessidades. E a graça estava exatamente aí, para o pequeno Castellamare.
não ficara nem um pouco surpreso ao notar a presença de Apolo ali. Já era mais do que esperado que ele estivesse por trás daquilo tudo. sabia, claro que sabia. E também era óbvio que ele não comandava aquilo tudo sozinho. Apolo jamais teria tantos contatos assim com pessoas da Inglaterra. O maior problema de , naquele momento, nem era estar amarrado e desesperado por água e comida, mas sim quem diabos estava com Apolo no meio daquilo tudo e por quê. Dinheiro, simplesmente? Obviamente não. Apolo não mexia com aquele tipo de coisa, ele não precisava de dinheiro. O rapaz poderia até ser ambicioso, mas nem tanto. Não a ponto de pegar policiais estrangeiros para ganhar. Apolo era inteligente. Um filho da puta inteligente. Maldito, desgraçado, filho da puta. Era tão inteligente quanto o pai.
Ao ter a confirmação de que Apolo estava por trás daquilo, percebera, então, que não teria como sair dali tão facilmente. Estava rezando internamente para que aquela garota voltasse ali com pena dele. Ela e sua sensibilidade seriam as únicas que poderiam salvá-lo daquele inferno.
— E aí, priminho? — Apolo disse alto, puxando uma cadeira que estava perdida por ali e sentando-se de frente para , que abrira os olhos devagar. — Meus rapazes estão cuidando bem de você?
— Tão bem que espero que você e eles morram — alfinetou baixinho.
— Olhe só, , já te perdoei por você ter tentando me enganar, tudo bem? — Apolo sorriu. — Exatamente por isso que trouxe umas coisinhas para você — ele sacudiu a sacola que tinha em mãos e, de dentro dela, tirou uma garrafa de água. — Eu sei que você precisa disso mais que qualquer outra coisa que já precisou na vida. Mas vamos lá, , peça.
engoliu a seco e desviou o olhar da garrafa que lhe parecia tão atrativa naquele momento. A sede praticamente o dominava naquele momento, mas seu orgulho ainda conseguia ser maior. Não queria fazer o que Apolo mandava. Sabia que aquilo era para humilhá-lo. ainda tinha um orgulho próprio, um ego para cuidar. E sua fama não o ajudava. nunca fora de se importar com o que as pessoas de fora pensariam sobre ele, mas se importava, sim, com o que seus "rivais" pensavam.
— Tudo bem, não vou brincar muito com você hoje porque estou com pressa — Apolo se levantou e abriu a garrafa. — Gostaria de saber algumas coisas, mas não estou com tempo agora. Só quero te avisar umas coisinhas — Apolo se aproximou e virou o rosto de para cima, deixando-o dar um gole na água. — Não quero que você fique xingando meus homens ou tentando bater neles. Você não é nada aqui, . Nada. Então não venha querer mandar. Você pode ser um dos últimos vivo, mas aqui realmente não é nada — Apolo tirou a garrafa da boca de , que estava ofegante. — A garota... A loira que veio aqui mais cedo e acabou te vendo...
— Vocês já mataram a pobre coitada? — perguntou baixo, rindo sem humor.
— Ela é sua prima — Apolo sorriu. — Mas ela pensa que você é outra pessoa. Não posso matá-la, infelizmente. Mas ela é uma fofoqueira. Sempre se mete onde não é chamada. Já tentei dar um susto nela, mas parece que ela conhece todos os capangas de todo mundo... Sua priminha, pelo jeito, não passa de uma rodada neste meio de gente como nós. Parece que se meter em merda realmente é de família.
não respondeu. Mas, naquele momento, rezava completamente o contrário de antes. Rezava, agora, para que a garota não voltasse. Não que ele se importasse com ela, mas ela era jovem demais para se meter naquilo tudo. E ele se lembrava claramente do que o filhote mais novo de Apolo dissera para ela. Ele disse alto e em bom som que ela morreria se fosse pega ali novamente. não queria levar mais desgraça para aquela família. Já bastava tudo o que tinha acontecido, a forma que foram separados, as mortes que rondavam suas vidas desde o século passado. Ninguém precisava de mais sofrimentos, ainda mais por sua culpa. Talvez seus poucos parentes vivos oravam com todas as forças para que ele estivesse, enfim, morto. Assim como seu pai. Assim como seu avô. Assim como seus tios distantes. Assim como qualquer merda de outra pessoa que carregava seu sobrenome e fazia besteiras por aí.
— Ops, o priminho ficou pensativo demais — Apolo sorriu de forma sapeca. — Preste atenção, : seus dias estão contados. Então não se preocupe com as outras pessoas. A propósito, te trouxe comida. Mas você não está merecendo pelo que ouvi por aqui. Então me agradeça, mesmo que internamente, pela água que te dei. É a única coisa boa que conseguirá de mim daqui para frente. Saiba, também, que os dias da sua jornalista também estão contadinhos. Parece que consegui acabar com minha lista mais rápido do que pensava. Obrigado por vir visitar Palermo. É um belo lugar, não? — Apolo abriu mais seu sorriso. — A Sicília é isso, meu rapaz. É assim. Isso aqui é o berço da melhor máfia do Universo. Como diabos pudera pensar que se daria bem por aqui, pobre inglês?
— Você pode até me matar, Apolo — o encarou nos olhos. — Mas espero que tente fazer isso antes de sequer chegar perto da . Acredito que saiba do que sou capaz por aquela mulher — sorriu fracamente. — Não vai ser um idiota como você que chegará perto dela se eu não quiser que chegue. Um ótimo exemplo do que pode acontecer caso você force o contato, é o caso do seu pai. Lembre-se do que fizemos com ele quando ele pensou em tentar matá-la.
— Esse seu teatrinho de homem apaixonado e forte não cola comigo, — Apolo se aproximou. — E trate de lavar essa boca para falar qualquer coisa sobre meu pai. Ele pode ter feito muita coisa de ruim, eu sei que fez, mas ele foi o homem mais respeitável de toda a Itália. Não importa o que você fale, , meu pai foi um homem que honrou o sobrenome que carregou, o contrário de sua mãe que não passava de uma vadia estúpida que gostava de dar para o seu pai nas horas vagas, trazendo você e aquele bastardo idiota do ao mundo!
sentiu seu coração acelerar e a raiva tomar conta de seu corpo. Tinha certeza absoluta de que se não estivesse amarrado, já teria dado uns bons socos em Apolo. Mas tudo o que conseguira fazer, fora o de sempre: tirar forças do além e cuspir com toda força no rosto de Apolo, que sem perder tempo, revidou a "agressão" da mesma forma.
— Não pense que não vou te tratar da mesma forma que me trata, . Não sou ambicioso como meus capangas — Apolo o fitou. — Gosto de brigar de igual para igual; se cuspir em mim, cuspirei em você; se me bater, baterei em você. É uma pena que não possamos nos resolver no mano a mano. Pode ter certeza absoluta que eu adoraria cair na porrada com você aqui e agora. Mas infelizmente não tenho tempo para isso.
— Você é um filho da puta — murmurou ainda com raiva. — Um merda filho da puta!
— Assim como você e todo o resto dessas famílias que nos cercam! — Apolo gritou com toda a força que tinha. — Somos todos uns merdas! Uns filhos da puta que só sabem machucar os outros e matar pessoas inocentes! Foda-se, ! Mude o disco, caralho!
não respondeu nada, apenas revirou os olhos. Apolo não gritara nada além da verdade, aliás. Ele sabia e concordava com cada uma de suas palavras. Mas ainda o odiava com todas as forças. Se pudesse, o mataria com as próprias mãos. E ele sabia que esse dia chegaria. Ele sairia dali nem que fosse da pior forma possível. Sairia e mataria Apolo. E todos os outros que estivessem com ele. Faria um massacre, se necessário. Só daquela forma aliviaria a raiva que estava sentindo naquele momento.
Apolo o encarou mais uma vez e passou a mão pelos cabelos, irritado. Teria atirado em naquela hora se não fosse bem controlado e centrado em seu futuro. Encararam-se firmemente até Apolo dar as costas e sair por onde entrou. fechou os olhos com força, tentando se acalmar. Apolo conseguia irritá-lo profundamente, mas ele tinha certeza que aquilo era recíproco. O pequeno Castellamare saíra de lá prestes a explodir de tanta raiva. Qualquer um seria capaz de notar aquilo.
***
PALERMO – 13h13min.
Amanda suspirou e pegou o celular. Não tinha certeza se deveria lidar para alguém ou simplesmente contar para a irmã o que estava acontecendo e pedir ajuda para ela. Mas que dúvida infeliz! Tinha que fazer alguma coisa. Ainda estava com o olhar desesperado do homem em sua cabeça. Toda vez que fechava os olhos, o via em sua frente novamente, com aquele semblante de dar pena. Amanda mordeu o lábio inferior e virou-se para a irmã que estava na cama ao lado.
— Jo, queria te pedir uma coisa — a loira murmurou, piscando os olhos lentamente. — Eu sei que vai me achar louca e dizer que estou tentando me matar. Mas preciso que me faça entrar naquele casarão novamente.
— Como? — Jo virou-se para Amanda, arqueando uma das sobrancelhas. — Você não se lembra do que Apolo disse para gente? Se entrarmos lá novamente, ele manda nos matar.
— Jullie jamais o deixaria fazer isso — Amanda murmurou. — O susto daquela vez, ele quem deu. Mas não sinto medo daquele desgraçado! Ele é só um primo distante, não um irmão ou algo assim. E eu nem conheço a história da família dele. A única coisa que faz sentido é que ele tem o sobrenome italiano. Vamos, Jo! Tem um homem preso lá! E eu tenho certeza que já vi o rosto dele por aí. Não sei seu nome ou nada do tipo, mas ele parecia estar sofrendo muito lá.
— Por favor, Amanda, não — Jo revirou os olhos. — Não seja louca. Se aquele homem está lá, é porque merece. Ele deve ter aprontado algo. Você sabe que o homem que você está se envolvendo e o Apolo não brincam quando o assunto são esses caras. A propósito, por que não posso saber quem é esse homem?
— Ninguém pode ou precisa saber, já vou largá-lo. Não o quero mais. Não depois de ver o que ele faz com as pessoas quando está com Apolo — Amanda revirou os olhos. — Jo, por favor, só me ajude a entrar lá. Eu preciso soltar aquele homem. Algo me diz que ele é bom e está ali injustamente. Eu prometo te tirar dessa. Você já se ferrou alguma vez por minha causa?
— Eu...
— Por favor! — Amanda pediu novamente, saindo de sua cama e sentando ao lado da irmã. — Eu prometo que assim que ajudá-lo, nós vamos para a Inglaterra ou qualquer outro lugar que você quiser! Prometo que te ajudo de todas as formas para sairmos daqui juntas. Mas, por favor, vamos.
— Certo, certo — a mais nova suspirou. — Mas por favor, Amanda, tome cuidado, sim? Vou te levar de carro e jogamos esse tal homem nele e vamos para um lugar longe onde possamos escondê-lo, tudo bem?
— Certo — Amanda sorriu. — Obrigada, Jo. Prometo que nada, absolutamente nada, irá acontecer com você.
— Eu sei — Jo sorriu. — Você tem sorte por ter uma irmã que dirige tão bem como eu. — Tenho, sim — Amanda sorriu e puxou a irmã para um abraço rápido. — Faça o favor de continuar, sempre, participando de pegas. Quanto mais veloz você ficar, melhor.
Jo riu e balançou a cabeça negativamente. Quem a olhasse jamais diria que gostava daquelas coisas. Jamais desconfiariam que ela aprontava todas com a irmã. Amanda já tinha sua fama de perturbada, mas Jo era praticamente um anjo aos olhos dos outros. Talvez, em certos momentos, Amanda era mais comportada que ela. Claro que Amanda gostava de se meter com pessoas de "barra pesada", mas talvez aquilo fosse de família. Amanda queria entrar para as tramóias de seus parentes e não fazia questão de esconder aquilo. Já Joanne, apenas queria curtir a vida. Se formar. Ser feliz. Ser livre. Ir embora dali. Queria rodar o mundo. Queria se aventurar. Mas sem se meter com bandidos, policiais e mafiosos. Amanda já nascera para aquilo; era esperta, inteligente, veloz e ousada.
— Faremos isso a noite, certo? — Jo perguntou.
— Sim — Amanda a encarou. — Por quê?
— Porque darei um jeito de ocupar Apolo e os capangas dele que ficam por aqui — ela deu de ombros. — Você viu o rapaz novo que está com eles?
— Sim, ele gritou comigo hoje — Amanda riu. — Parece que todos aqueles caras acham que podem falar comigo desse jeito...
— E talvez possam — Jo revirou os olhos. — Você deveria parar de se envolver nessas coisas. Enfim. O novato ficou me encarando. Não vai ser difícil tirá-lo do lugar dele.
Amanda deixou o queixo cair com a revelação da irmã.
— O idiota está a fim de você, já? — Amanda perguntou. — Céus, Jo! Todos os capangas do idiota do Apolo ficam caidinhos por você e essa carinha de anjo. Faça o favor de se aproveitar disso, sim?
— Aproveitarei. Direi que estarei esperando-o aqui, às escondidas, à meia noite. Assim que ele me avisar que já está saindo do casarão, pegamos o carro e vamos logo — Jo sorriu fracamente. — Eu adoraria conhecê-lo melhor. Mas não gosto do tipo dele. Não quero ser torturada por supostamente não andar na linha.
Amanda soltou uma risada fraca e revirou os olhos. Joanne sempre achava que seria morta por aqueles caras. Mas eles não passavam de paus mandados.
— Vá atrás desse garoto logo e marque tudo. Direi para a mamãe que ficaremos estudando até mais tarde hoje e que ela não precisa ficar nos olhando de cinco em cinco minutos — Amanda piscou os olhos. — E não sinta medo de se envolver com as pessoas, Jo! Se jogue! A vida é uma só.
— Exatamente por isso que eu tendo cuidar dela, Amanda — Joanne riu. — Estou indo lá. E você estará me devendo mais uma se isso tudo der certo...
— Isso vai dar certo, Jo. Não seja negativa — Amanda piscou um dos olhos. — Pelo menos não hoje.
***
LONDRES, INGLATERRA — 12h15min.
trancou a porta atrás de si e saiu o mais rápido que conseguiu. Estava um tanto quanto atrasada. Prometera à Claire que almoçaria com ela para conversarem sobre algumas coisas do trabalho, colocar as coisas em ordem. Mas acabara se atrapalhando enquanto falava com Emma no telefone. Precisava ouvir da boca da pessoa mais responsável do mundo o que realmente havia acontecido. Sua cabeça estava a mil. Tudo o que precisava era trabalhar, se ocupar, se distrair. Sabia que logo apareceria. Sabia que ela não precisaria se meter em seu trabalho novamente e viajar. Confiava nele. Confiava no trabalho dele. Confiava na inteligência dele. Tudo daria certo. Logo estaria gritando em sua cabeça e, no final das contas, acabando em sua cama, abraçando-a com força e sussurrando coisas em seu ouvido.
soltou um suspiro fraco ao sentir um leve arrepio percorrer seu corpo só de lembrar-se da sensação de ter tão perto e abriu a porta de seu carro. Estava fazendo as coisas de uma forma tão automática que nem sequer notara que já estava em seu carro. Assim que se preparou para entrar no carro, sentiu uma mão não muito forte segurá-la pelo braço. Virou-se assustada e arqueou uma das sobrancelhas ao dar de cara com uma mulher de cabelos pretos até os ombros, encarando-a com um leve sorriso nos lábios.
— ? — a mulher perguntou baixo e apenas balançou a cabeça. — Sou Lindsay.
— Nós nos conhecemos? — perguntou, piscando os olhos rapidamente. — Será que podemos conversar depois? Estou um pouco atrasada para um compromisso.
A mulher mordeu o lábio inferior, pensativa. Talvez fosse melhor soltar a bomba de uma vez, talvez não. Mas de que isso importava, afinal? , àquela altura, já deveria saber da verdade. Camille não poderia ser tão idiota de segurar uma informação daquelas, certo?
Lindsay respirou fundo e disse firmemente:
— Sou sua mãe.
riu. Encarou a mulher. Riu novamente. Balançou a cabeça. Riu mais uma vez. E jogou a cabeça para trás, incrivelmente nervosa.
Aquilo era piada, certo? Só podia ser! Não fazia nem um dia que descobrira essa possível adoção e, de repente, sua possível mãe biológica aparecia ali?
— Minha mãe está morta — murmurou. — Com todo respeito, é claro. Olhe, não sei quem você realmente é, mas preciso ir agora.
— Não, quem está morta é sua mãe adotiva e sabe disso — a mais velha rebateu. — Não finja ser uma adolescente em crise agora, miss .
— Não me chame assim — pediu, tentando ser educada. — Sim, a mãe que morreu realmente pode ser a adotiva. Mas não dizem que pais são aqueles que criam? Pois então. Ela que ouvira sobre meu primeiro namorado, minha primeira decepção e meu primeiro amor de verdade. Ela que me deu forças para trabalhar com o que trabalho hoje, ela que me arrumou para o primeiro baile da escola e todas essas coisas importantes de quando somos mais novos — encarou Lindsay nos olhos. — Mas isso não importa agora, até porque ela está morta. Eu preciso ir, com licença.
— Não quer ouvir sua história? — Lindsay perguntou assim que tentou adentrar o carro. — Não quer saber o que aconteceu? Por que precisei te deixar? Por que voltei?
— Não — a fitou rapidamente. — Não preciso saber de nada disso agora.
— Fiquei sabendo que está envolvida com — Lindsay a ignorou. — Ele não é o homem certo para você. Mas eu posso te apoiar, se isso fizer você me ouvir.
— Não se atreva a falar do — revirou os olhos. — Você não sabe metade do que ele fez por mim. Mas isso realmente não importa. Eu não quero ouvir você! Não agora, pelo menos. Eu realmente preciso ir.
— Podemos nos encontrar mais tarde? — Lindsay insistiu e suspirou. — Por favor...?
— Não tenho motivo para me encontrar com você — fitou o chão. — Mesmo que seja verdade tudo isso que está dizendo, de que importa agora? Não importa de nada. Para que voltar depois de quase trinta anos? Você só serviu para me trazer ao mundo, se realmente for minha mãe. Eu adoraria dizer que estou feliz por encontrar "minha mãe" — ela fez aspas com os dedos —, mas não estou. Cresci acreditando que tinha uma família verdadeira e você simplesmente quer me tirar isso? Oras, faça-me o favor...
— Quando Camille me contou que você realmente tinha se tornado isso, eu não acreditei. Mas vendo agora, com meus próprios olhos... — a mulher suspirou. — Eu só quero uma chance para me explicar. Quer que eu faça um teste de DNA antes de aceitar a me escutar? Tudo bem, eu aceito. Eu só quero me aproximar de você, .
— Eu não preciso de uma mãe agora — rebateu firme. Não queria dizer aquelas coisas. Mas nem mesmo ela sabia que estava com tanta raiva assim.
— Mês que vem é seu aniversário. Eu adoraria poder te ver em pelo menos um, poder te dar um abraço, dizer que estou orgulhosa da forma que te educaram e no que você se tornou profissionalmente — a mulher sorriu tristemente. — Mas parece que nada disso importa para você. Então vá para seu compromisso.
Se o plano de Lindsay era deixá-la com a consciência pesada, funcionara. odiava aquele seu jeito idiota de agir, de não conseguir sentir raiva de ninguém e não conseguir ser cruel. Ainda mais quando as pessoas se mostraram realmente arrependidas. Mas algo no fundo de seu coração dizia que ela sairia infeliz caso desse algum espaço para Lindsay entrar em sua vida.
— Não posso ficar aqui agora, Lindsay — suspirou e mexeu nos cabelos, da exata forma que fazia, bagunçando-os. — Me procure qualquer outro dia. Mas não agora. Minha cabeça está uma bagunça e tudo o que eu preciso é de mais alguma coisa que possa deixá-la ainda mais bagunçada. Só... Só... Desapareça por uns dias — praticamente implorou. — Deixe eu me acostumar com isso tudo. Vá embora. Isso não deve ser difícil para você.
— Tudo bem, eu desisto. Talvez realmente seja uma coisa pesada para você — Lindsay suspirou. — Não sei o que está passando, o que está acontecendo na sua vida. Mas tenho esperanças de que um dia saberei e farei parte dela. Já fiquei tempo demais longe de você, espero que um dia seja capaz de me perdoar por isso. Estou realmente arrependida.
preferiu não responder, apenas adentrou seu carro e fechou a porta com força. Seu coração estava acelerado e sua cabeça doía. Aquilo era tudo o que faltava para bagunçar sua cabeça. fechou os olhos e socou o volante do carro, deixando algumas poucas lágrimas escorrerem por sua bochecha. Apoiou a cabeça no volante e respirou fundo, erguendo a cabeça e secando as lágrimas em seguida. Pôde ver que Lindsay continuava parada do outro lado, observando-a. Naquela hora agradecera mentalmente pelo insulfilm que ele mandara colocar em seu carro para evitar que as pessoas vissem o que acontecia dentro dele.
Alguns minutos depois, conseguiu se acalmar e arrancou com o carro. Não precisava mais olhar para o rosto daquela estranha.
"Sou sua mãe". Céus, o quão absurdo aquilo soava?
— Não importa, isso não importa — sussurrou para si mesma, acelerando mais o carro. — Não importa. Nem um pouco.
Alguns minutos depois já estava no lugar que combinara com Claire e almoçaram em silêncio, era óbvio que aquilo não era normal. Claire podia sentir a tensão transbordar do corpo da chefe.
— Está tudo bem? — Claire murmurou, tomando um gole de suco. — Não precisamos resolver nada disso agora, . Falo sério. Temos um mês inteiro para decidirmos o que fazer.
— Para falar a verdade, não. Nada está bem, nada — suspirou. — Mil desculpas por isso, Claire. Mas não estou realmente bem, eu adoraria acertar as coisas e deixar tudo adiantado como sempre fazíamos, mas não consigo. Pelo menos não hoje, não essa semana.
— Tudo bem — a loira sorriu fracamente. — Mas conte-me o que está acontecendo.
— desapareceu, simplesmente desapareceu — murmurou enquanto apoiava o rosto nas mãos. Preferiu não comentar sobre Lindsay, aquilo era coisa para guardar somente para ela (e Jesse, que já estava ciente do assunto) e mais ninguém. — Eu não sei o que pode estar acontecendo com ele neste momento, não sei por que ou como ele sumiu, onde, com quem... Ninguém tem notícias dele.
— Mas Charlie já está tentando resolver isso, sim? — Claire perguntou arregalando os olhos levemente. — E o que você ainda faz por aqui, ?
— Prometi que não me meteria mais nos trabalhos dele e isso é o que farei — respondeu baixinho. — E sim, Charlie já está cuidando de tudo. Mas às vezes eu acho que vou ter algum tipo de ataque, porque eles não ligam desde, sei lá, sete da manhã? Ou menos! Não faço ideia, Jesse e Elizabeth que comentaram sobre isso comigo. Minha cabeça vai explodir a qualquer momento, Claire...
— Continuo achando que você deveria estar lá — Claire disse firmemente. — Você o ama, não importa as promessas que quebre, por menores que elas sejam, como essa de não se meter mais em seu trabalho. Por Deus, ! — a loira revirou os olhos. — Você não vai ficar esperando telefonemas sendo que pode ir para lá e ajudá-lo, não é? Onde diabos está a que conheci anos atrás? Não é possível que o amor do a tenha mudado tanto! E não é segredo para ninguém, nem mesmo para o dito cujo, que tudo o que Charlie mais quer é você por lá.
— Mas...
— Mas o que, ? — Claire a encarou nos olhos. — Não há nada que você possa fazer, realmente, por aqui. Mas quem sabe se não há nada que possa ser feito lá? Você conhece o melhor que todos eles juntos — ela sorriu fracamente. — Ok, tudo bem, talvez tanto quanto a Emma. Mas imagine todos vocês trabalhando juntos novamente? Capaz de encontrarem o e, de bônus, os bandidos que vêm causando o inferno daquele lugar! Você é incrivelmente inteligente, use isso a seu favor. Leve tudo o que sabe. Comente dos poucos parentes vivos de . Não seja boba. Tenho certeza que o idiota do não abriu a boca para falar sobre o que você e Beth descobriram.
encarou a mulher em sua frente e mordeu o lábio inferior. Tudo o que Claire disse era verdade. com certeza fora um idiota a ponto de não falar nada com Charlie e muito menos com Emma, sabendo do que a mulher seria capaz de fazer com aquelas informações.
Tudo o que pairava pela cabeça de , naquele momento, era apenas uma palavra: Palermo.
Precisava ir. Precisava ajudar. Precisava tentar. Precisava ver seu mais uma vez. Precisava deixar de ser idiota e ir. Precisava, também, deixar de se levar tão facilmente por e fazer o que quisesse. No final, ela tinha certeza que tudo acabaria bem.
Porque tudo sempre acabava bem.
Tudo tinha que acabar bem.
Claire sorriu ao ver o olhar um tanto quanto perdido da chefe. Conhecia aquele olhar melhor que qualquer um. O vira três anos e meio atrás, e agora estão onde estão. era uma mulher extremamente inteligente, Claire não conseguia entender por que diabos ela recusara a proposta de Charlie. Era o que ela amava fazer e queria para o resto da vida. Era investigação. Fora da Inglaterra! Oras, fora uma boba de recusar de primeira. Mas Claire sabia que havia tomado sua decisão definitiva e, com toda certeza, era a correta.
encheu o peito de ar e disse firmemente:
— Eu vou até Palermo. Ligarei para o Charlie assim que chegar em casa.
***
PALERMO, SICÍLIA — ITÁLIA.
Já era noite quando Amanda finalmente abriu os olhos e jogou os braços para o alto, espreguiçando-se. Dormira o resto da tarde inteira, sentia-se totalmente cansada por várias coisas; a faculdade estava tomando boa parte de seu tempo, assim como sua mãe a cobrava o tempo inteiro, assim como seu namorado — se é que podia chamá-lo assim — vivia enchendo a droga do saco para que ela parasse de se envolver em suas coisas e, agora, aquele homem preso no "casarão" que ficava do outro lado da chácara que vivia. Amanda teve seus pensamentos e lamentações interrompidos por Joanne, que adentrara o quarto com um grande sorriso.
— Mamãe está indo dormir — Jo sentou-se na beira da cama da irmã mais velha. — Disse para ela que estudaríamos o máximo que pudéssemos para as próximas provas que teremos. Ela até perguntou por que você estava tão quieta, disse que você estava com um pouco de cólica e eu lhe dei remédio — a mais nova riu fracamente. — Ela acreditou e está indo se deitar, agora. A casa está, praticamente, vazia. Daqui a pouco Mabel levará as crianças para a casa dos avós paternos — ela deu de ombros. — Eles já estavam completamente arrumados, pelo menos. Eu acho que ela vai sair com algum cara e só voltará para casa pela manhã. Está tudo a nosso favor. Só precisamos fazer com que tudo isso dê certo, por favor.
Amanda abriu um grande sorriso e sentou-se na cama.
— Tudo dará certo, Jo! — Exclamou empolgada. — Falou com aquele infeliz? — Falei, sim — Jo riu. — Está tudo certo. Assim que Mabel sair com as crianças, nós vamos para lá e tentamos arquitetar uma forma rápida e fácil de sair daquela parte. Pensei em usarmos o portão que fica lá no final, lembra? Não usamos aquela saída desde... — Jo mordeu o lábio inferior e fitou o chão — Você sabe.
Amanda suspirou e passou um dos braços pelos ombros da irmã.
— Shhh, tudo bem — a loira sorriu. — Eu sei. Eu me lembro bem. Mas vamos usar aquela saída mesmo, depois nós vamos levá-lo para fora daqui. Mas, claro, se ele decidir colaborar e dizer quem é e por que estão fazendo tudo isso com ele. Se ele merecer nossa ajuda, vamos até o fim. Se não, o largamos em qualquer lugar e voltamos como se nada tivesse acontecido. Fechado?
— Fechado — Jo sorriu. — Eu espero que esses seus ataques de bondade passem logo. Não quero servir de cobaia nesses seus planos retardados...
— Largue de ser boba! — Amanda riu e balançou a cabeça. Sim, de fato, ela tinha o coração mole demais para certas coisas. — A propósito, que horas são?
— Quase nove horas, eu acho — Jo deu de ombros. — Temos tempo o suficiente, ainda. — Sim, temos — Amanda se levantou e se espreguiçou novamente. — Quer repassar tudo?
— Na verdade, quero saber uma coisa — Jo deixou seu corpo cair sobre a cama da irmã. — A mamãe sabe o que acontece no casarão lá do outro lado? Ela sabe que o papai se envolvia nessas coisas também?
Amanda gelou. Ela poderia responder a irmã e dizer que não sabia de nada. Poderia, também, fugir do assunto como sempre fazia. Assim como podia contar a verdade. Joanne merecia a verdade, aliás. Amanda só não queria contar que descobrira tudo o que seu pai fazia junto com os capangas dele e Apolo.
— Ainda com isso na cabeça, Jo? — Amanda suspirou. — Não precisa se preocupar com isso. Sério.
— Só quero saber se a mamãe sabe de alguma coisa — Joanne praticamente sussurrou. — Depois que aqueles caras mexeram com a gente, eu fiquei meio paranoica com isso. Assumo. Mas eu só quero saber um pouquinho mais sobre nossa família. Você parece saber tanto e...
— Eu sei porque sou curiosa demais e fiquei indo atrás de cada informação que tenho — Amanda a encarou. — Não é como se eu não quisesse compartilhar com você, eu só não gostei do que descobri. Ainda mais depois que o papai morreu. Mas eu quero que saiba que você está completamente segura, assim como a mamãe, a Mabel e as crianças. Não se preocupe. Só acontecerá algo de ruim com quem merecer isso — Amanda sorriu para a irmã, tentando acalmá-la. — Mas, enfim. Não tenho certeza absoluta se a mamãe sabe dessas coisas. Mas ela não é burra, nós sabemos disso. Se ela fosse burra, não seria professora em uma Universidade, certo? Mamãe é uma mulher incrivelmente inteligente. Ela jamais se casaria com o papai se não soubesse exatamente o que ele fazia — piscou um dos olhos. — Deve ter algo a mais por trás disso tudo. Mas não faço questão de descobrir e você também não deveria fazer.
Joanne suspirou e fechou os olhos. Talvez Amanda tivesse razão. Talvez ela não precisasse, realmente, saber o que diabos rondava aquela família. Ela não faria parte daquilo, de qualquer forma. Tudo o que queria era cursar sua faculdade normalmente. Suas aulas haviam começado há pouco tempo e já tinha provas para se ocupar, não tinha que se preocupar com mais nada além de seus estudos. Pelo menos era isso que sua mãe vivia lhe dizendo. Quem ela era, afinal, para contrariar?
***
abriu os olhos devagar, tentando manter a calma ao notar que continuava amarrado ali. Todo seu corpo doía e seus pulsos provavelmente estavam cortados de tanto que tentara puxá-los. Aquilo estava sendo um inferno. A cada segundo que passava, ele pedia para aquilo ser um pesadelo. E caso não fosse, que ele morresse de uma vez por todas. o entenderia se ele implorasse pela morte, sim? Talvez qualquer pessoa em seu lugar implorasse. Não aguentava mais ficar sentado e amarrado ali, sem se alimentar direito — porque os capangas de Apolo levaram um bocado de comida para ele, mas muito, muito menos do que um adulto deveria comer, dizendo que ele não merecia nem o pouco que estava tendo —, sem beber água o suficiente para mantê-lo bem, sem ver as pessoas que amava, sem trabalhar. simplesmente não aguentava mais. Estava, realmente, vendo a hora que pediria pela morte. Talvez fosse isso que Apolo queria.
estava agindo como um fraco, mas o que poderia fazer? Estava completamente acabado, derrotado. Tinha certeza absoluta que a próxima vez que Apolo aparecesse ali, pediria para morrer. queria acabar com aquela porra de sofrimento o mais rápido possível. Não queria se arriscar mais, não queria arriscar outras pessoas também. Sabia que logo, logo Jullie o localizaria e viria atrás dele com Charlie, ou sozinha do jeito que era marrenta e maluca. E simplesmente não queria aquilo. Sabia o quão perigosos aqueles malditos eram. Não que sua preocupação fosse Jullie ou Antoni ou Charlie, eles sabiam se virar mil vezes melhor que Emma, por exemplo. Emma raramente ia para as ruas. As vezes que fora, ou acabara baleada ou fora por causa de alguém muito importante. O pensamento de Emma largar as coisas que fazia para ir atrás dele ao lado dos outros o perturbava. Mas nada o perturbava mais que a possibilidade de já estar sabendo de tudo e estar surtando em Londres, implorando para voar para Palermo. Se ao menos pensasse em pisar naquele lugar, ela já estaria correndo perigo. tinha absoluta certeza de que surtaria e voaria para Palermo o mais rápido possível. Ele estando morto ou não. Mas se ele ao menos estivesse morto, ela não correria tanto perigo. Porque, oras!, eles já teriam conseguido o que tanto queriam: morto.
Um barulho estranho fez com que acordasse de seus devaneios e olhasse em volta, mesmo estando tudo escuro. Pensou em chamar alguém e perguntar se algo estava acontecendo, mas preferiu ficar em silêncio. Se alguém dali estivesse morrendo, fosse por qualquer motivo, ele não atrapalharia. Queria que todos fossem para o inferno, de qualquer forma. Ele também iria um dia, então não se importava em praguejar aqueles filhos da puta. As únicas coisas que realmente gostaria de saber, naquele momento, eram: que horas eram e de que dia?
Ele sequer se lembrava quanto tempo estava ali ou quando fora pego, ou como fora pego. Só queria que aquilo acabasse de uma vez. — Brad? — perguntou um tanto quanto alto, ao ouvir a porta tentar ser aberta. — Oras, cara, não sabe mais abrir uma porra de uma porta?
Ninguém respondeu e deu de ombros. Pouco se importava com aquilo. Queria mais é que todos eles fossem se foder. Sem se importar com o barulho que ainda fazia do outro lado, fechou os olhos e suspirou. Tentaria pegar no sono mais uma vez, por mais difícil que fosse. Talvez aquilo fizesse o tempo passar mais rápido. Ou ele morrer mais rápido.
— Mas que caralho de porta! — uma voz feminina ecoou pelo local assim que a porta se abriu, fazendo com que arregalasse os olhos assustado. — Olá, moço. Então, vim te tirar daqui e preciso que me diga seu nome. Mas o de verdade.
deixou seu corpo cair sobre a cama e fechou os olhos com força. Não acreditava que tudo o que Camille falara mais cedo era verdade. Não poderia ser. Aquele casal que ela crescera... Eles... Eles tinham seu jeito! Alguns traços faciais! Sem contar as manias! Tinham semelhanças em tudo! Camille estava louca. Tinha que estar. Aqueles papéis tinham que ser falsificados. Nada daquilo deveria estar acontecendo, aliás. Se aquilo tudo for verdade e sua mãe biológica realmente estivesse vida, não aguentaria, não conseguiria lidar com a situação. Tudo o que precisava fazer, na verdade, era procurar mais sobre aquilo. Mas como faria isso sozinha? Não teria cabeça para pensar em tantas coisas. Talvez Elizabeth pudesse ajudar já que ainda estava fora e talvez fosse o único que pudesse analisar aqueles papéis para ter certeza se eram verdadeiros ou não. Em momentos assim que agradecia pela faculdade de direito de . Isso, a propósito, a fazia imaginá-lo vestido socialmente; de terno e gravata; com o cabelo penteado para trás, em um tribunal, falando formalmente para defender alguém. Era uma visão e tanto.
suspirou e balançou a cabeça. Era incrível como qualquer pensamento que tinha se direcionava para ele. Aquilo a perturbava, entretanto. Naquele momento, sentiu vontade de ligar para ele. Porém, era muito provável que ele estivesse trabalhando em algo importante. Não queria atrapalhá-lo com suas saudades bobas e muito menos com seus problemas que poderiam ser resolvidos assim que ele voltasse.
Duas batidas na porta do quarto fizeram com que saísse de seu transe. Não sabia, exatamente, por quanto tempo ficara pensando naquelas coisas e encarando o teto de seu mais novo quarto. Gritou um "entre" e logo Elizabeth apareceu no quarto, com um sorriso tenso no canto dos lábios.
— Bom dia — a morena murmurou fechando a porta atrás de si. — Dormiu bem?
— Bom dia — respondeu e se sentou na cama. — Sim, e você?
Elizabeth apenas concordou com a cabeça e se sentou ao lado de .
era totalmente capaz de sentir a tensão pairando por todo o quarto. Beth era péssima em enrolar para dar notícias ruins. Não era difícil notar isso; seus olhos pareciam estar perdidos e com menos brilho, seu sorriso, que sempre é chamativo e contagiante, ficava preso do canto de sua boca de forma tensa e forçada. Aquele tempo que passara conversando e trabalhando com Beth serviu para que prestasse muita atenção nisso. Seu instinto observadora a fazia prestar atenção em tudo e todos a sua volta.
— Vamos tomar café? — Beth sorriu. — Jesse quer conversar conosco.
— Claro — murmurou. — Só vou me trocar, não demoro.
— Tudo bem. Ainda precisamos levar o Nicholas para a escola.
— Certo!
E em um pulo, se levantou. Não queria atrasar ninguém, afinal. Ela só iria trabalhar à tarde, naquele dia.
Poucos minutos depois, todos já estavam na cozinha de Elizabeth tomando café calmamente. Nicholas foi o primeiro a terminar de comer e correu para o banheiro escovar os dentes. Ele sabia que os outros três queriam conversar. Ele podia sentir o peso dos olhares que Beth trocava com Jesse, sem contar a forma que olhavam para . Assim que Jesse ouviu a porta do banheiro bater, suspirou. Não faria ideia de como contaria o que estava acontecendo para . Ela talvez surtaria, talvez daria um jeito de ir para Itália, ou talvez as duas coisas. Todos ali sabiam do que aquela jornalista era capaz de fazer por .
— O que está acontecendo, afinal? — perguntou enquanto dava um gole em seu café.
Jesse mordeu o lábio e suspirou. Para que enrolar, afinal?
Após encher o peito de ar novamente, Jesse soltou a bomba:
— O simplesmente desapareceu sem dar notícias a ninguém.
No mesmo segundo sentiu seu coração acelerar e o café parecia não passar mais em sua garganta, fazendo-a tossir loucamente.
— Como assim? — perguntou sentindo o ar voltar para seus pulmões.
— Ele não falou com você também, então? — Elizabeth perguntou baixo.
— E ele deveria? O que ele estava aprontando? — suspirou passando as mãos nos cabelos. Não aguentava mais aquilo tudo. sempre se metia no que não devia. Que inferno!
— Na verdade, desconfio de que ele fora pego pelos caras que estamos investigando — Jesse disse devagar. — jamais tentaria fazer algo sozinho em Palermo sabendo como as coisas estão por lá. Ele é louco, mas não tanto.
— Ainda mais depois do que o Jack fez — Beth disse. — Ele estava fazendo de tudo para voltar rápido.
Jesse ia dizer algo, porém, no mesmo momento, Nicholas adentrou a cozinha novamente. Jesse poderia afirmar, com toda certeza, que o garoto estava ali há bastante tempo, mas não diria nada a ninguém. Sabia que o menino só estava preocupado, o que não era para menos, já que era seu maior exemplo depois de Charlie. Sem contar o amor que aquele menino sentia por , era uma coisa que beirava ao surreal. Nicholas tinha uma admiração por que emocionava qualquer pessoa de fora. Era claro que o garoto faria qualquer coisa que estivesse em seu alcance para ajudá-lo. Assim como faria por qualquer outra pessoa que ele considerava ser de sua família.
— Vou levar o Nic para a escola — Beth disse se levantando rapidamente. — Fique bem, sim? — Ela se virou para . — Vi que Camille te procurou.
não respondeu, apenas balançou a cabeça. Estava atônita demais para elaborar alguma frase com sentido. Não estava acreditando, ainda, que desaparecera. Não acreditava — ou não queria — que tudo aquilo estava acontecendo. Tudo estava dando errado de novo em sua vida. Estava tudo de cabeça para baixo, tudo tão bagunçado...
— Nós vamos encontrá-lo — Jesse murmurou, tentando tranquilizá-la. — Isso se ele já não está achando um jeito de sair, seja lá de onde estiver trancado.
— Eu espero que sim — suspirou. — Já começaram a tentar?
— Sim — Jesse respondeu. — Pelo que fiquei sabendo, a sobrinha do amigo de Charlie tem contato com o possível mandante de tudo. Ela está fazendo o que pode para achá-lo o mais rápido possível.
— Certo. — suspirou mais uma vez e Jesse a fitou. Ele sabia que havia algo a mais a perturbando. E a última coisa que Elizabeth dissera o ajudara chegar àquela conclusão. — O que há de errado além do que houve com o ? — Jesse decidiu perguntar de uma vez por todas. Talvez pudesse ajudar, afinal. Jesse sempre tivera uma simpatia muito grande por e, sempre que pudesse, iria ajudá-la.
— Fui adotada — ela respondeu curta e grossa. Jesse estreitou os olhos sem entender. — Camille veio até aqui para me contar isso e até me deu os papéis. Como ela conseguiu essas coisas, não faço ideia.
— Você não está realmente acreditando nisso, está? — Jesse a encarou. — Isso não faz o menor sentido, !
— Não tem como não acreditar ou não se abalar com isso, Jesse — ela suspirou. — Os documentos parecem ser verdadeiros. De acordo com Camille, minha mãe biológica está viva e irá me procurar a qualquer momento.
— Pois então espere — Jesse deu de ombros. — Talvez seja só mais uma armação da sua prima. Se realmente é verdade, peça um exame de DNA para a mulher que te procurar. Ela não irá hesitar em fazê-lo se realmente for verdade.
— É exatamente o que eu pretendo fazer — mordeu o lábio inferior. — Eu só estou com medo do resultado.
— Seja ele qual for, não importa mais — Jesse sorriu. — Você tem a nós, . Não precisará se aproximar totalmente dessa mãe se não quiser, ninguém nunca vai te obrigar a nada. Mas é sempre bom ouvir todos os lados da história, certo? Entenda os motivos dela. Se ela se mostrar merecedora de sua atenção e cuidados agora, apenas a acolha de braços abertos. Caso você note que ela realmente é algo ruim, tente não se apegar. Vocês não terão aquele laço de família para poder, sei lá, sentir algum tipo de dor em se afastarem novamente.
apenas deu um sorriso fraco para Jesse. Talvez ele realmente estivesse certo. Mas ela não queria pensar naquilo, apenas queria saber onde diabos havia se enfiado. Ele, como sempre, era a maior de todas as suas preocupações.
PALERMO, SICÍLIA — ITÁLIA.
sentia todo seu corpo doer mais que antes. Sua boca estava incrivelmente seca e ele se sentia ainda mais fraco. Sua cabeça pesava e todo seu rosto ardia como se estivesse completamente machucado. Era uma sensação que ele esperava se livrar logo. Tudo o que realmente queria, era estar ao lado de sabendo que tudo e todos estavam bem. não tinha mais noção de tempo, não fazia ideia de quanto tempo estava ali amarrado ou quanto tempo já havia passado desde o último contato com aqueles infelizes.
Um barulho chamou sua atenção, fazendo-o abrir os olhos levemente assustado. Algumas vozes ecoaram pelo local e a porta se abriu, revelando a silhueta jovem de uma garota que não conhecia. Os olhos azuis e intensos da garota pareciam assustados, como se não acreditasse na imagem à sua frente.
— Por favor, Amanda, saia já daqui! — O "novato" da quadrilha pediu. — Sabe que não sairá viva dessa vez se te pegarem aqui!
— Isso não pode continuar — Amanda murmurou. — Vocês são o pior tipo de gente que já conheci! Por que diabos fazem isso com as pessoas?
— Cale a maldita boca e saia daqui! — O rapaz elevou o tom de voz e o olhar de Amanda virou-se para novamente, como se gravasse cada traço do rosto do homem. — Agora! — O rapaz gritou, fazendo-a pular levemente de susto.
Amanda olhou uma última vez para o homem e pôde jurar que seus olhos imploravam por socorro. Ela tinha certeza absoluta de que voltaria ali outra hora quando não tivesse ninguém. Não entendera o porquê daquele sentimento, mas sentia que precisava ajudá-lo. Sem contar sua beleza que ela não fora capaz de ignorar. Mesmo com o rosto machucado e abatido pelas prováveis fome e sede, era impossível não achá-lo ao menos atraente. Seus olhos atraiam qualquer pessoa sem o menor esforço. Seus traços eram... Diferentes, Amanda não sabia explicar o que notara naquele homem. E aquilo não importava, de qualquer forma. Seu coração tinha um único dono, e talvez fosse ele o causador da dor daquele belo homem amarrado à sua frente.
soltou um suspiro fraco ao ver a garota sair do local, por míseros segundos ele achou que alguém poderia ajudá-lo. Mas aquilo talvez realmente não acontecesse. Ou talvez não daria tempo. Talvez ele simplesmente morresse ali.
Ao notar que estava sozinho no escuro novamente, sentiu a tristeza e saudade atingi-lo em cheio. Não tinha muita noção de tempo estando ali, mas sabia que, àquela hora, devia estar com em seus braços, em sua cidade. Aquele era o certo. Deveria estar com . Céus... ! Como ele estava sentindo falta daquela mulher. Como diabos ela devia estar? Será que já sabia de seu sumiço repentino? E o que deveriam estar fazendo para tentar encontrá-lo? Inferno! Precisava sair dali logo, ou simplesmente morreria. A ideia de morrer sem se despedir de o apavorava mais que qualquer outra coisa. Não podia deixar aquilo acontecer de jeito nenhum.
Suspirou novamente e fechou os olhos com força, tentando organizar os pensamentos, porém tudo o que conseguia fazer era lembrar de todos os momentos que passara com ; desde a primeira briga à primeira vez que deixaram o desejo falar mais alto na sala de Charlie. jamais esqueceria da sensação de tê-la em seus braços, gritando seu nome e implorando por mais contato. Fora uma coisa totalmente diferente de tudo que ele já havia sentido. Precisava sair dali o mais rápido possível, precisava dar um jeito de ter sua amada em seus braços mais uma vez, precisava parar de se envolver naquele tipo de trabalho, precisava parar de achar que seria capaz de salvar todos o tempo todo. Ele jamais conseguiria aquilo e acabaria morto. Algum tempo atrás jamais se importaria com isso. Mas o problema é que, agora, ele não é o único envolvido em suas próprias merdas. Agora ele simplesmente não conseguia ser aquele inconsequente que sempre fora. Talvez ele tenha crescido, finalmente. Ou simplesmente encontrado a tal pessoa certa que Emma vivia falando.
PALERMO, SICÍLIA — ITÁLIA.
Apolo sorriu para os rapazes em sua frente e caminhou devagar até a grande porta, abrindo-a em seguida. Não havia satisfação melhor, para ele, que ver preso daquela forma, praticamente desmaiado de tão fraco que estava. Aquele homem era bem ousado, tirara forças do inferno para xingar todos os homem que Apolo mandara cuidar dele. Além de xingar, conseguira dar outra cabeçada em outro homem. Mas, dessa vez, com efeito contrário de Brian, não quebrara seu nariz. Talvez, realmente, pela falta de força. Mas aquilo fora o suficiente para fazer com que Apolo aparecesse no local. Daria uma água para o pobre inglês. Ou algo para ele comer. Mas somente depois de ouvir o que ele queria ouvir. Queria fazer se humilhar ao máximo. Seu corpo se arrepiava de pura excitação só de imaginar , o incrível , implorando algo para ele. Implorando para viver. Implorando para ver sua maldita jornalista de novo. Não que Apolo fosse atender suas necessidades. E a graça estava exatamente aí, para o pequeno Castellamare.
não ficara nem um pouco surpreso ao notar a presença de Apolo ali. Já era mais do que esperado que ele estivesse por trás daquilo tudo. sabia, claro que sabia. E também era óbvio que ele não comandava aquilo tudo sozinho. Apolo jamais teria tantos contatos assim com pessoas da Inglaterra. O maior problema de , naquele momento, nem era estar amarrado e desesperado por água e comida, mas sim quem diabos estava com Apolo no meio daquilo tudo e por quê. Dinheiro, simplesmente? Obviamente não. Apolo não mexia com aquele tipo de coisa, ele não precisava de dinheiro. O rapaz poderia até ser ambicioso, mas nem tanto. Não a ponto de pegar policiais estrangeiros para ganhar. Apolo era inteligente. Um filho da puta inteligente. Maldito, desgraçado, filho da puta. Era tão inteligente quanto o pai.
Ao ter a confirmação de que Apolo estava por trás daquilo, percebera, então, que não teria como sair dali tão facilmente. Estava rezando internamente para que aquela garota voltasse ali com pena dele. Ela e sua sensibilidade seriam as únicas que poderiam salvá-lo daquele inferno.
— E aí, priminho? — Apolo disse alto, puxando uma cadeira que estava perdida por ali e sentando-se de frente para , que abrira os olhos devagar. — Meus rapazes estão cuidando bem de você?
— Tão bem que espero que você e eles morram — alfinetou baixinho.
— Olhe só, , já te perdoei por você ter tentando me enganar, tudo bem? — Apolo sorriu. — Exatamente por isso que trouxe umas coisinhas para você — ele sacudiu a sacola que tinha em mãos e, de dentro dela, tirou uma garrafa de água. — Eu sei que você precisa disso mais que qualquer outra coisa que já precisou na vida. Mas vamos lá, , peça.
engoliu a seco e desviou o olhar da garrafa que lhe parecia tão atrativa naquele momento. A sede praticamente o dominava naquele momento, mas seu orgulho ainda conseguia ser maior. Não queria fazer o que Apolo mandava. Sabia que aquilo era para humilhá-lo. ainda tinha um orgulho próprio, um ego para cuidar. E sua fama não o ajudava. nunca fora de se importar com o que as pessoas de fora pensariam sobre ele, mas se importava, sim, com o que seus "rivais" pensavam.
— Tudo bem, não vou brincar muito com você hoje porque estou com pressa — Apolo se levantou e abriu a garrafa. — Gostaria de saber algumas coisas, mas não estou com tempo agora. Só quero te avisar umas coisinhas — Apolo se aproximou e virou o rosto de para cima, deixando-o dar um gole na água. — Não quero que você fique xingando meus homens ou tentando bater neles. Você não é nada aqui, . Nada. Então não venha querer mandar. Você pode ser um dos últimos vivo, mas aqui realmente não é nada — Apolo tirou a garrafa da boca de , que estava ofegante. — A garota... A loira que veio aqui mais cedo e acabou te vendo...
— Vocês já mataram a pobre coitada? — perguntou baixo, rindo sem humor.
— Ela é sua prima — Apolo sorriu. — Mas ela pensa que você é outra pessoa. Não posso matá-la, infelizmente. Mas ela é uma fofoqueira. Sempre se mete onde não é chamada. Já tentei dar um susto nela, mas parece que ela conhece todos os capangas de todo mundo... Sua priminha, pelo jeito, não passa de uma rodada neste meio de gente como nós. Parece que se meter em merda realmente é de família.
não respondeu. Mas, naquele momento, rezava completamente o contrário de antes. Rezava, agora, para que a garota não voltasse. Não que ele se importasse com ela, mas ela era jovem demais para se meter naquilo tudo. E ele se lembrava claramente do que o filhote mais novo de Apolo dissera para ela. Ele disse alto e em bom som que ela morreria se fosse pega ali novamente. não queria levar mais desgraça para aquela família. Já bastava tudo o que tinha acontecido, a forma que foram separados, as mortes que rondavam suas vidas desde o século passado. Ninguém precisava de mais sofrimentos, ainda mais por sua culpa. Talvez seus poucos parentes vivos oravam com todas as forças para que ele estivesse, enfim, morto. Assim como seu pai. Assim como seu avô. Assim como seus tios distantes. Assim como qualquer merda de outra pessoa que carregava seu sobrenome e fazia besteiras por aí.
— Ops, o priminho ficou pensativo demais — Apolo sorriu de forma sapeca. — Preste atenção, : seus dias estão contados. Então não se preocupe com as outras pessoas. A propósito, te trouxe comida. Mas você não está merecendo pelo que ouvi por aqui. Então me agradeça, mesmo que internamente, pela água que te dei. É a única coisa boa que conseguirá de mim daqui para frente. Saiba, também, que os dias da sua jornalista também estão contadinhos. Parece que consegui acabar com minha lista mais rápido do que pensava. Obrigado por vir visitar Palermo. É um belo lugar, não? — Apolo abriu mais seu sorriso. — A Sicília é isso, meu rapaz. É assim. Isso aqui é o berço da melhor máfia do Universo. Como diabos pudera pensar que se daria bem por aqui, pobre inglês?
— Você pode até me matar, Apolo — o encarou nos olhos. — Mas espero que tente fazer isso antes de sequer chegar perto da . Acredito que saiba do que sou capaz por aquela mulher — sorriu fracamente. — Não vai ser um idiota como você que chegará perto dela se eu não quiser que chegue. Um ótimo exemplo do que pode acontecer caso você force o contato, é o caso do seu pai. Lembre-se do que fizemos com ele quando ele pensou em tentar matá-la.
— Esse seu teatrinho de homem apaixonado e forte não cola comigo, — Apolo se aproximou. — E trate de lavar essa boca para falar qualquer coisa sobre meu pai. Ele pode ter feito muita coisa de ruim, eu sei que fez, mas ele foi o homem mais respeitável de toda a Itália. Não importa o que você fale, , meu pai foi um homem que honrou o sobrenome que carregou, o contrário de sua mãe que não passava de uma vadia estúpida que gostava de dar para o seu pai nas horas vagas, trazendo você e aquele bastardo idiota do ao mundo!
sentiu seu coração acelerar e a raiva tomar conta de seu corpo. Tinha certeza absoluta de que se não estivesse amarrado, já teria dado uns bons socos em Apolo. Mas tudo o que conseguira fazer, fora o de sempre: tirar forças do além e cuspir com toda força no rosto de Apolo, que sem perder tempo, revidou a "agressão" da mesma forma.
— Não pense que não vou te tratar da mesma forma que me trata, . Não sou ambicioso como meus capangas — Apolo o fitou. — Gosto de brigar de igual para igual; se cuspir em mim, cuspirei em você; se me bater, baterei em você. É uma pena que não possamos nos resolver no mano a mano. Pode ter certeza absoluta que eu adoraria cair na porrada com você aqui e agora. Mas infelizmente não tenho tempo para isso.
— Você é um filho da puta — murmurou ainda com raiva. — Um merda filho da puta!
— Assim como você e todo o resto dessas famílias que nos cercam! — Apolo gritou com toda a força que tinha. — Somos todos uns merdas! Uns filhos da puta que só sabem machucar os outros e matar pessoas inocentes! Foda-se, ! Mude o disco, caralho!
não respondeu nada, apenas revirou os olhos. Apolo não gritara nada além da verdade, aliás. Ele sabia e concordava com cada uma de suas palavras. Mas ainda o odiava com todas as forças. Se pudesse, o mataria com as próprias mãos. E ele sabia que esse dia chegaria. Ele sairia dali nem que fosse da pior forma possível. Sairia e mataria Apolo. E todos os outros que estivessem com ele. Faria um massacre, se necessário. Só daquela forma aliviaria a raiva que estava sentindo naquele momento.
Apolo o encarou mais uma vez e passou a mão pelos cabelos, irritado. Teria atirado em naquela hora se não fosse bem controlado e centrado em seu futuro. Encararam-se firmemente até Apolo dar as costas e sair por onde entrou. fechou os olhos com força, tentando se acalmar. Apolo conseguia irritá-lo profundamente, mas ele tinha certeza que aquilo era recíproco. O pequeno Castellamare saíra de lá prestes a explodir de tanta raiva. Qualquer um seria capaz de notar aquilo.
PALERMO – 13h13min.
Amanda suspirou e pegou o celular. Não tinha certeza se deveria lidar para alguém ou simplesmente contar para a irmã o que estava acontecendo e pedir ajuda para ela. Mas que dúvida infeliz! Tinha que fazer alguma coisa. Ainda estava com o olhar desesperado do homem em sua cabeça. Toda vez que fechava os olhos, o via em sua frente novamente, com aquele semblante de dar pena. Amanda mordeu o lábio inferior e virou-se para a irmã que estava na cama ao lado.
— Jo, queria te pedir uma coisa — a loira murmurou, piscando os olhos lentamente. — Eu sei que vai me achar louca e dizer que estou tentando me matar. Mas preciso que me faça entrar naquele casarão novamente.
— Como? — Jo virou-se para Amanda, arqueando uma das sobrancelhas. — Você não se lembra do que Apolo disse para gente? Se entrarmos lá novamente, ele manda nos matar.
— Jullie jamais o deixaria fazer isso — Amanda murmurou. — O susto daquela vez, ele quem deu. Mas não sinto medo daquele desgraçado! Ele é só um primo distante, não um irmão ou algo assim. E eu nem conheço a história da família dele. A única coisa que faz sentido é que ele tem o sobrenome italiano. Vamos, Jo! Tem um homem preso lá! E eu tenho certeza que já vi o rosto dele por aí. Não sei seu nome ou nada do tipo, mas ele parecia estar sofrendo muito lá.
— Por favor, Amanda, não — Jo revirou os olhos. — Não seja louca. Se aquele homem está lá, é porque merece. Ele deve ter aprontado algo. Você sabe que o homem que você está se envolvendo e o Apolo não brincam quando o assunto são esses caras. A propósito, por que não posso saber quem é esse homem?
— Ninguém pode ou precisa saber, já vou largá-lo. Não o quero mais. Não depois de ver o que ele faz com as pessoas quando está com Apolo — Amanda revirou os olhos. — Jo, por favor, só me ajude a entrar lá. Eu preciso soltar aquele homem. Algo me diz que ele é bom e está ali injustamente. Eu prometo te tirar dessa. Você já se ferrou alguma vez por minha causa?
— Eu...
— Por favor! — Amanda pediu novamente, saindo de sua cama e sentando ao lado da irmã. — Eu prometo que assim que ajudá-lo, nós vamos para a Inglaterra ou qualquer outro lugar que você quiser! Prometo que te ajudo de todas as formas para sairmos daqui juntas. Mas, por favor, vamos.
— Certo, certo — a mais nova suspirou. — Mas por favor, Amanda, tome cuidado, sim? Vou te levar de carro e jogamos esse tal homem nele e vamos para um lugar longe onde possamos escondê-lo, tudo bem?
— Certo — Amanda sorriu. — Obrigada, Jo. Prometo que nada, absolutamente nada, irá acontecer com você.
— Eu sei — Jo sorriu. — Você tem sorte por ter uma irmã que dirige tão bem como eu. — Tenho, sim — Amanda sorriu e puxou a irmã para um abraço rápido. — Faça o favor de continuar, sempre, participando de pegas. Quanto mais veloz você ficar, melhor.
Jo riu e balançou a cabeça negativamente. Quem a olhasse jamais diria que gostava daquelas coisas. Jamais desconfiariam que ela aprontava todas com a irmã. Amanda já tinha sua fama de perturbada, mas Jo era praticamente um anjo aos olhos dos outros. Talvez, em certos momentos, Amanda era mais comportada que ela. Claro que Amanda gostava de se meter com pessoas de "barra pesada", mas talvez aquilo fosse de família. Amanda queria entrar para as tramóias de seus parentes e não fazia questão de esconder aquilo. Já Joanne, apenas queria curtir a vida. Se formar. Ser feliz. Ser livre. Ir embora dali. Queria rodar o mundo. Queria se aventurar. Mas sem se meter com bandidos, policiais e mafiosos. Amanda já nascera para aquilo; era esperta, inteligente, veloz e ousada.
— Faremos isso a noite, certo? — Jo perguntou.
— Sim — Amanda a encarou. — Por quê?
— Porque darei um jeito de ocupar Apolo e os capangas dele que ficam por aqui — ela deu de ombros. — Você viu o rapaz novo que está com eles?
— Sim, ele gritou comigo hoje — Amanda riu. — Parece que todos aqueles caras acham que podem falar comigo desse jeito...
— E talvez possam — Jo revirou os olhos. — Você deveria parar de se envolver nessas coisas. Enfim. O novato ficou me encarando. Não vai ser difícil tirá-lo do lugar dele.
Amanda deixou o queixo cair com a revelação da irmã.
— O idiota está a fim de você, já? — Amanda perguntou. — Céus, Jo! Todos os capangas do idiota do Apolo ficam caidinhos por você e essa carinha de anjo. Faça o favor de se aproveitar disso, sim?
— Aproveitarei. Direi que estarei esperando-o aqui, às escondidas, à meia noite. Assim que ele me avisar que já está saindo do casarão, pegamos o carro e vamos logo — Jo sorriu fracamente. — Eu adoraria conhecê-lo melhor. Mas não gosto do tipo dele. Não quero ser torturada por supostamente não andar na linha.
Amanda soltou uma risada fraca e revirou os olhos. Joanne sempre achava que seria morta por aqueles caras. Mas eles não passavam de paus mandados.
— Vá atrás desse garoto logo e marque tudo. Direi para a mamãe que ficaremos estudando até mais tarde hoje e que ela não precisa ficar nos olhando de cinco em cinco minutos — Amanda piscou os olhos. — E não sinta medo de se envolver com as pessoas, Jo! Se jogue! A vida é uma só.
— Exatamente por isso que eu tendo cuidar dela, Amanda — Joanne riu. — Estou indo lá. E você estará me devendo mais uma se isso tudo der certo...
— Isso vai dar certo, Jo. Não seja negativa — Amanda piscou um dos olhos. — Pelo menos não hoje.
LONDRES, INGLATERRA — 12h15min.
trancou a porta atrás de si e saiu o mais rápido que conseguiu. Estava um tanto quanto atrasada. Prometera à Claire que almoçaria com ela para conversarem sobre algumas coisas do trabalho, colocar as coisas em ordem. Mas acabara se atrapalhando enquanto falava com Emma no telefone. Precisava ouvir da boca da pessoa mais responsável do mundo o que realmente havia acontecido. Sua cabeça estava a mil. Tudo o que precisava era trabalhar, se ocupar, se distrair. Sabia que logo apareceria. Sabia que ela não precisaria se meter em seu trabalho novamente e viajar. Confiava nele. Confiava no trabalho dele. Confiava na inteligência dele. Tudo daria certo. Logo estaria gritando em sua cabeça e, no final das contas, acabando em sua cama, abraçando-a com força e sussurrando coisas em seu ouvido.
soltou um suspiro fraco ao sentir um leve arrepio percorrer seu corpo só de lembrar-se da sensação de ter tão perto e abriu a porta de seu carro. Estava fazendo as coisas de uma forma tão automática que nem sequer notara que já estava em seu carro. Assim que se preparou para entrar no carro, sentiu uma mão não muito forte segurá-la pelo braço. Virou-se assustada e arqueou uma das sobrancelhas ao dar de cara com uma mulher de cabelos pretos até os ombros, encarando-a com um leve sorriso nos lábios.
— ? — a mulher perguntou baixo e apenas balançou a cabeça. — Sou Lindsay.
— Nós nos conhecemos? — perguntou, piscando os olhos rapidamente. — Será que podemos conversar depois? Estou um pouco atrasada para um compromisso.
A mulher mordeu o lábio inferior, pensativa. Talvez fosse melhor soltar a bomba de uma vez, talvez não. Mas de que isso importava, afinal? , àquela altura, já deveria saber da verdade. Camille não poderia ser tão idiota de segurar uma informação daquelas, certo?
Lindsay respirou fundo e disse firmemente:
— Sou sua mãe.
riu. Encarou a mulher. Riu novamente. Balançou a cabeça. Riu mais uma vez. E jogou a cabeça para trás, incrivelmente nervosa.
Aquilo era piada, certo? Só podia ser! Não fazia nem um dia que descobrira essa possível adoção e, de repente, sua possível mãe biológica aparecia ali?
— Minha mãe está morta — murmurou. — Com todo respeito, é claro. Olhe, não sei quem você realmente é, mas preciso ir agora.
— Não, quem está morta é sua mãe adotiva e sabe disso — a mais velha rebateu. — Não finja ser uma adolescente em crise agora, miss .
— Não me chame assim — pediu, tentando ser educada. — Sim, a mãe que morreu realmente pode ser a adotiva. Mas não dizem que pais são aqueles que criam? Pois então. Ela que ouvira sobre meu primeiro namorado, minha primeira decepção e meu primeiro amor de verdade. Ela que me deu forças para trabalhar com o que trabalho hoje, ela que me arrumou para o primeiro baile da escola e todas essas coisas importantes de quando somos mais novos — encarou Lindsay nos olhos. — Mas isso não importa agora, até porque ela está morta. Eu preciso ir, com licença.
— Não quer ouvir sua história? — Lindsay perguntou assim que tentou adentrar o carro. — Não quer saber o que aconteceu? Por que precisei te deixar? Por que voltei?
— Não — a fitou rapidamente. — Não preciso saber de nada disso agora.
— Fiquei sabendo que está envolvida com — Lindsay a ignorou. — Ele não é o homem certo para você. Mas eu posso te apoiar, se isso fizer você me ouvir.
— Não se atreva a falar do — revirou os olhos. — Você não sabe metade do que ele fez por mim. Mas isso realmente não importa. Eu não quero ouvir você! Não agora, pelo menos. Eu realmente preciso ir.
— Podemos nos encontrar mais tarde? — Lindsay insistiu e suspirou. — Por favor...?
— Não tenho motivo para me encontrar com você — fitou o chão. — Mesmo que seja verdade tudo isso que está dizendo, de que importa agora? Não importa de nada. Para que voltar depois de quase trinta anos? Você só serviu para me trazer ao mundo, se realmente for minha mãe. Eu adoraria dizer que estou feliz por encontrar "minha mãe" — ela fez aspas com os dedos —, mas não estou. Cresci acreditando que tinha uma família verdadeira e você simplesmente quer me tirar isso? Oras, faça-me o favor...
— Quando Camille me contou que você realmente tinha se tornado isso, eu não acreditei. Mas vendo agora, com meus próprios olhos... — a mulher suspirou. — Eu só quero uma chance para me explicar. Quer que eu faça um teste de DNA antes de aceitar a me escutar? Tudo bem, eu aceito. Eu só quero me aproximar de você, .
— Eu não preciso de uma mãe agora — rebateu firme. Não queria dizer aquelas coisas. Mas nem mesmo ela sabia que estava com tanta raiva assim.
— Mês que vem é seu aniversário. Eu adoraria poder te ver em pelo menos um, poder te dar um abraço, dizer que estou orgulhosa da forma que te educaram e no que você se tornou profissionalmente — a mulher sorriu tristemente. — Mas parece que nada disso importa para você. Então vá para seu compromisso.
Se o plano de Lindsay era deixá-la com a consciência pesada, funcionara. odiava aquele seu jeito idiota de agir, de não conseguir sentir raiva de ninguém e não conseguir ser cruel. Ainda mais quando as pessoas se mostraram realmente arrependidas. Mas algo no fundo de seu coração dizia que ela sairia infeliz caso desse algum espaço para Lindsay entrar em sua vida.
— Não posso ficar aqui agora, Lindsay — suspirou e mexeu nos cabelos, da exata forma que fazia, bagunçando-os. — Me procure qualquer outro dia. Mas não agora. Minha cabeça está uma bagunça e tudo o que eu preciso é de mais alguma coisa que possa deixá-la ainda mais bagunçada. Só... Só... Desapareça por uns dias — praticamente implorou. — Deixe eu me acostumar com isso tudo. Vá embora. Isso não deve ser difícil para você.
— Tudo bem, eu desisto. Talvez realmente seja uma coisa pesada para você — Lindsay suspirou. — Não sei o que está passando, o que está acontecendo na sua vida. Mas tenho esperanças de que um dia saberei e farei parte dela. Já fiquei tempo demais longe de você, espero que um dia seja capaz de me perdoar por isso. Estou realmente arrependida.
preferiu não responder, apenas adentrou seu carro e fechou a porta com força. Seu coração estava acelerado e sua cabeça doía. Aquilo era tudo o que faltava para bagunçar sua cabeça. fechou os olhos e socou o volante do carro, deixando algumas poucas lágrimas escorrerem por sua bochecha. Apoiou a cabeça no volante e respirou fundo, erguendo a cabeça e secando as lágrimas em seguida. Pôde ver que Lindsay continuava parada do outro lado, observando-a. Naquela hora agradecera mentalmente pelo insulfilm que ele mandara colocar em seu carro para evitar que as pessoas vissem o que acontecia dentro dele.
Alguns minutos depois, conseguiu se acalmar e arrancou com o carro. Não precisava mais olhar para o rosto daquela estranha.
"Sou sua mãe". Céus, o quão absurdo aquilo soava?
— Não importa, isso não importa — sussurrou para si mesma, acelerando mais o carro. — Não importa. Nem um pouco.
Alguns minutos depois já estava no lugar que combinara com Claire e almoçaram em silêncio, era óbvio que aquilo não era normal. Claire podia sentir a tensão transbordar do corpo da chefe.
— Está tudo bem? — Claire murmurou, tomando um gole de suco. — Não precisamos resolver nada disso agora, . Falo sério. Temos um mês inteiro para decidirmos o que fazer.
— Para falar a verdade, não. Nada está bem, nada — suspirou. — Mil desculpas por isso, Claire. Mas não estou realmente bem, eu adoraria acertar as coisas e deixar tudo adiantado como sempre fazíamos, mas não consigo. Pelo menos não hoje, não essa semana.
— Tudo bem — a loira sorriu fracamente. — Mas conte-me o que está acontecendo.
— desapareceu, simplesmente desapareceu — murmurou enquanto apoiava o rosto nas mãos. Preferiu não comentar sobre Lindsay, aquilo era coisa para guardar somente para ela (e Jesse, que já estava ciente do assunto) e mais ninguém. — Eu não sei o que pode estar acontecendo com ele neste momento, não sei por que ou como ele sumiu, onde, com quem... Ninguém tem notícias dele.
— Mas Charlie já está tentando resolver isso, sim? — Claire perguntou arregalando os olhos levemente. — E o que você ainda faz por aqui, ?
— Prometi que não me meteria mais nos trabalhos dele e isso é o que farei — respondeu baixinho. — E sim, Charlie já está cuidando de tudo. Mas às vezes eu acho que vou ter algum tipo de ataque, porque eles não ligam desde, sei lá, sete da manhã? Ou menos! Não faço ideia, Jesse e Elizabeth que comentaram sobre isso comigo. Minha cabeça vai explodir a qualquer momento, Claire...
— Continuo achando que você deveria estar lá — Claire disse firmemente. — Você o ama, não importa as promessas que quebre, por menores que elas sejam, como essa de não se meter mais em seu trabalho. Por Deus, ! — a loira revirou os olhos. — Você não vai ficar esperando telefonemas sendo que pode ir para lá e ajudá-lo, não é? Onde diabos está a que conheci anos atrás? Não é possível que o amor do a tenha mudado tanto! E não é segredo para ninguém, nem mesmo para o dito cujo, que tudo o que Charlie mais quer é você por lá.
— Mas...
— Mas o que, ? — Claire a encarou nos olhos. — Não há nada que você possa fazer, realmente, por aqui. Mas quem sabe se não há nada que possa ser feito lá? Você conhece o melhor que todos eles juntos — ela sorriu fracamente. — Ok, tudo bem, talvez tanto quanto a Emma. Mas imagine todos vocês trabalhando juntos novamente? Capaz de encontrarem o e, de bônus, os bandidos que vêm causando o inferno daquele lugar! Você é incrivelmente inteligente, use isso a seu favor. Leve tudo o que sabe. Comente dos poucos parentes vivos de . Não seja boba. Tenho certeza que o idiota do não abriu a boca para falar sobre o que você e Beth descobriram.
encarou a mulher em sua frente e mordeu o lábio inferior. Tudo o que Claire disse era verdade. com certeza fora um idiota a ponto de não falar nada com Charlie e muito menos com Emma, sabendo do que a mulher seria capaz de fazer com aquelas informações.
Tudo o que pairava pela cabeça de , naquele momento, era apenas uma palavra: Palermo.
Precisava ir. Precisava ajudar. Precisava tentar. Precisava ver seu mais uma vez. Precisava deixar de ser idiota e ir. Precisava, também, deixar de se levar tão facilmente por e fazer o que quisesse. No final, ela tinha certeza que tudo acabaria bem.
Porque tudo sempre acabava bem.
Tudo tinha que acabar bem.
Claire sorriu ao ver o olhar um tanto quanto perdido da chefe. Conhecia aquele olhar melhor que qualquer um. O vira três anos e meio atrás, e agora estão onde estão. era uma mulher extremamente inteligente, Claire não conseguia entender por que diabos ela recusara a proposta de Charlie. Era o que ela amava fazer e queria para o resto da vida. Era investigação. Fora da Inglaterra! Oras, fora uma boba de recusar de primeira. Mas Claire sabia que havia tomado sua decisão definitiva e, com toda certeza, era a correta.
encheu o peito de ar e disse firmemente:
— Eu vou até Palermo. Ligarei para o Charlie assim que chegar em casa.
PALERMO, SICÍLIA — ITÁLIA.
Já era noite quando Amanda finalmente abriu os olhos e jogou os braços para o alto, espreguiçando-se. Dormira o resto da tarde inteira, sentia-se totalmente cansada por várias coisas; a faculdade estava tomando boa parte de seu tempo, assim como sua mãe a cobrava o tempo inteiro, assim como seu namorado — se é que podia chamá-lo assim — vivia enchendo a droga do saco para que ela parasse de se envolver em suas coisas e, agora, aquele homem preso no "casarão" que ficava do outro lado da chácara que vivia. Amanda teve seus pensamentos e lamentações interrompidos por Joanne, que adentrara o quarto com um grande sorriso.
— Mamãe está indo dormir — Jo sentou-se na beira da cama da irmã mais velha. — Disse para ela que estudaríamos o máximo que pudéssemos para as próximas provas que teremos. Ela até perguntou por que você estava tão quieta, disse que você estava com um pouco de cólica e eu lhe dei remédio — a mais nova riu fracamente. — Ela acreditou e está indo se deitar, agora. A casa está, praticamente, vazia. Daqui a pouco Mabel levará as crianças para a casa dos avós paternos — ela deu de ombros. — Eles já estavam completamente arrumados, pelo menos. Eu acho que ela vai sair com algum cara e só voltará para casa pela manhã. Está tudo a nosso favor. Só precisamos fazer com que tudo isso dê certo, por favor.
Amanda abriu um grande sorriso e sentou-se na cama.
— Tudo dará certo, Jo! — Exclamou empolgada. — Falou com aquele infeliz? — Falei, sim — Jo riu. — Está tudo certo. Assim que Mabel sair com as crianças, nós vamos para lá e tentamos arquitetar uma forma rápida e fácil de sair daquela parte. Pensei em usarmos o portão que fica lá no final, lembra? Não usamos aquela saída desde... — Jo mordeu o lábio inferior e fitou o chão — Você sabe.
Amanda suspirou e passou um dos braços pelos ombros da irmã.
— Shhh, tudo bem — a loira sorriu. — Eu sei. Eu me lembro bem. Mas vamos usar aquela saída mesmo, depois nós vamos levá-lo para fora daqui. Mas, claro, se ele decidir colaborar e dizer quem é e por que estão fazendo tudo isso com ele. Se ele merecer nossa ajuda, vamos até o fim. Se não, o largamos em qualquer lugar e voltamos como se nada tivesse acontecido. Fechado?
— Fechado — Jo sorriu. — Eu espero que esses seus ataques de bondade passem logo. Não quero servir de cobaia nesses seus planos retardados...
— Largue de ser boba! — Amanda riu e balançou a cabeça. Sim, de fato, ela tinha o coração mole demais para certas coisas. — A propósito, que horas são?
— Quase nove horas, eu acho — Jo deu de ombros. — Temos tempo o suficiente, ainda. — Sim, temos — Amanda se levantou e se espreguiçou novamente. — Quer repassar tudo?
— Na verdade, quero saber uma coisa — Jo deixou seu corpo cair sobre a cama da irmã. — A mamãe sabe o que acontece no casarão lá do outro lado? Ela sabe que o papai se envolvia nessas coisas também?
Amanda gelou. Ela poderia responder a irmã e dizer que não sabia de nada. Poderia, também, fugir do assunto como sempre fazia. Assim como podia contar a verdade. Joanne merecia a verdade, aliás. Amanda só não queria contar que descobrira tudo o que seu pai fazia junto com os capangas dele e Apolo.
— Ainda com isso na cabeça, Jo? — Amanda suspirou. — Não precisa se preocupar com isso. Sério.
— Só quero saber se a mamãe sabe de alguma coisa — Joanne praticamente sussurrou. — Depois que aqueles caras mexeram com a gente, eu fiquei meio paranoica com isso. Assumo. Mas eu só quero saber um pouquinho mais sobre nossa família. Você parece saber tanto e...
— Eu sei porque sou curiosa demais e fiquei indo atrás de cada informação que tenho — Amanda a encarou. — Não é como se eu não quisesse compartilhar com você, eu só não gostei do que descobri. Ainda mais depois que o papai morreu. Mas eu quero que saiba que você está completamente segura, assim como a mamãe, a Mabel e as crianças. Não se preocupe. Só acontecerá algo de ruim com quem merecer isso — Amanda sorriu para a irmã, tentando acalmá-la. — Mas, enfim. Não tenho certeza absoluta se a mamãe sabe dessas coisas. Mas ela não é burra, nós sabemos disso. Se ela fosse burra, não seria professora em uma Universidade, certo? Mamãe é uma mulher incrivelmente inteligente. Ela jamais se casaria com o papai se não soubesse exatamente o que ele fazia — piscou um dos olhos. — Deve ter algo a mais por trás disso tudo. Mas não faço questão de descobrir e você também não deveria fazer.
Joanne suspirou e fechou os olhos. Talvez Amanda tivesse razão. Talvez ela não precisasse, realmente, saber o que diabos rondava aquela família. Ela não faria parte daquilo, de qualquer forma. Tudo o que queria era cursar sua faculdade normalmente. Suas aulas haviam começado há pouco tempo e já tinha provas para se ocupar, não tinha que se preocupar com mais nada além de seus estudos. Pelo menos era isso que sua mãe vivia lhe dizendo. Quem ela era, afinal, para contrariar?
abriu os olhos devagar, tentando manter a calma ao notar que continuava amarrado ali. Todo seu corpo doía e seus pulsos provavelmente estavam cortados de tanto que tentara puxá-los. Aquilo estava sendo um inferno. A cada segundo que passava, ele pedia para aquilo ser um pesadelo. E caso não fosse, que ele morresse de uma vez por todas. o entenderia se ele implorasse pela morte, sim? Talvez qualquer pessoa em seu lugar implorasse. Não aguentava mais ficar sentado e amarrado ali, sem se alimentar direito — porque os capangas de Apolo levaram um bocado de comida para ele, mas muito, muito menos do que um adulto deveria comer, dizendo que ele não merecia nem o pouco que estava tendo —, sem beber água o suficiente para mantê-lo bem, sem ver as pessoas que amava, sem trabalhar. simplesmente não aguentava mais. Estava, realmente, vendo a hora que pediria pela morte. Talvez fosse isso que Apolo queria.
estava agindo como um fraco, mas o que poderia fazer? Estava completamente acabado, derrotado. Tinha certeza absoluta que a próxima vez que Apolo aparecesse ali, pediria para morrer. queria acabar com aquela porra de sofrimento o mais rápido possível. Não queria se arriscar mais, não queria arriscar outras pessoas também. Sabia que logo, logo Jullie o localizaria e viria atrás dele com Charlie, ou sozinha do jeito que era marrenta e maluca. E simplesmente não queria aquilo. Sabia o quão perigosos aqueles malditos eram. Não que sua preocupação fosse Jullie ou Antoni ou Charlie, eles sabiam se virar mil vezes melhor que Emma, por exemplo. Emma raramente ia para as ruas. As vezes que fora, ou acabara baleada ou fora por causa de alguém muito importante. O pensamento de Emma largar as coisas que fazia para ir atrás dele ao lado dos outros o perturbava. Mas nada o perturbava mais que a possibilidade de já estar sabendo de tudo e estar surtando em Londres, implorando para voar para Palermo. Se ao menos pensasse em pisar naquele lugar, ela já estaria correndo perigo. tinha absoluta certeza de que surtaria e voaria para Palermo o mais rápido possível. Ele estando morto ou não. Mas se ele ao menos estivesse morto, ela não correria tanto perigo. Porque, oras!, eles já teriam conseguido o que tanto queriam: morto.
Um barulho estranho fez com que acordasse de seus devaneios e olhasse em volta, mesmo estando tudo escuro. Pensou em chamar alguém e perguntar se algo estava acontecendo, mas preferiu ficar em silêncio. Se alguém dali estivesse morrendo, fosse por qualquer motivo, ele não atrapalharia. Queria que todos fossem para o inferno, de qualquer forma. Ele também iria um dia, então não se importava em praguejar aqueles filhos da puta. As únicas coisas que realmente gostaria de saber, naquele momento, eram: que horas eram e de que dia?
Ele sequer se lembrava quanto tempo estava ali ou quando fora pego, ou como fora pego. Só queria que aquilo acabasse de uma vez. — Brad? — perguntou um tanto quanto alto, ao ouvir a porta tentar ser aberta. — Oras, cara, não sabe mais abrir uma porra de uma porta?
Ninguém respondeu e deu de ombros. Pouco se importava com aquilo. Queria mais é que todos eles fossem se foder. Sem se importar com o barulho que ainda fazia do outro lado, fechou os olhos e suspirou. Tentaria pegar no sono mais uma vez, por mais difícil que fosse. Talvez aquilo fizesse o tempo passar mais rápido. Ou ele morrer mais rápido.
— Mas que caralho de porta! — uma voz feminina ecoou pelo local assim que a porta se abriu, fazendo com que arregalasse os olhos assustado. — Olá, moço. Então, vim te tirar daqui e preciso que me diga seu nome. Mas o de verdade.
Capítulo 14
PALERMO, SICÍLIA — ITÁLIA.
Joanne tinha um sorriso meigo no canto dos lábios, o que encantava o rapaz à sua frente.
— Não posso ficar aqui por muito tempo, infelizmente — o rapaz suspirou. — Só eu estou por aqui, e você sabe…
— Estão com alguém aí dentro, né? — Jo suspirou. — Sinto muito por fazer esse tipo de trabalho. Você é um rapaz bom.
Ele riu fracamente e fitou o rosto inocente da moça. Se ela ao menos soubesse o que ele já fizera durante seus poucos anos de vida... Ele tinha certeza que se Joanne soubesse metade das coisas já viveu e fez, desistiria dele. Ele também desistiria se fosse ela. Na verdade, ele nem sequer se envolveria com um homem tão... Merda. Em sua opinião, Joanne era uma garota inocente e de bom coração, o contrário da irmã, Amanda, que não passava de uma vadia metida a inteligente.
— Veja, Jo, não quero falar de trabalho — ele sorriu abertamente. — O que acha que irmos almoçar juntos amanhã?
— Seria ótimo — Jo sorriu. — De quem é aquele carro chegando ali?
O rapaz virou-se para trás e sentiu a respiração falhar. Merda, merda.
— Eu preciso voltar — ele disse rápido. — É o carro do meu chefe. Se ele me pegar de conversa aqui, me mata. Realmente me mata.
— Quem está lá dentro, Andy? — Joanne perguntou, segurando-o pelo braço.
— Ninguém que você conheça — ele respondeu firme e se soltou. — Até depois, linda.
— Andy! — Joanne gritou, tentando fazer com que, pelo menos, Amanda a escutasse e desse um jeito de sair daquele lugar, ou as coisas ficariam feias.
Joanne passou as mãos pelos cabelos e pensou em algo para fazer. Aquele maldito casarão só havia a porta da frente, não teria como Amanda sair de lá sem ser vista. Ainda mais com aquele homem infeliz que estava preso com ela!
— Droga, droga, droga... — Joanne murmurava enquanto, disfarçadamente, ia rondando o casarão.
Andou até a pequena janela que ficava do outro lado da casa, tentando manter a calma. Mas pelo que notara, seu primo havia pensado até mesmo naquilo. Nunca uma pessoa seria capaz de passar por aquela janela, de tão pequena que era. Joanne suspirou e observou a janela. Ficou na ponta dos pés e tentou enxergar algo dentro do local, mas não dava para ver quase nada. Além da janela ser pequena, o local era escuro também.
A garota mordeu o lábio inferior e fora voltando para a frente do casarão devagar. Sabia que Andy pensaria que ela estava esperando ele acabar de conversar com seu chefe, pobre rapaz iludido. Joanne puxou o celular do bolso e digitou algo rapidamente, enviando a mensagem para Amanda logo em seguida. Andy conversava com um homem alto que Joanne não estava reconhecendo, também não perdeu tempo tentando fazê-lo. Deixaria aquela parte para Amanda, tinha certeza que a irmã conhecia aquele homem. Amanda sempre conhecia todo mundo.
O tempo passava tão lentamente que Joanne já estava ficando agoniada. Amanda não respondia sua mensagem e, ao que tudo indicava, Andy entraria com aquele homem e então tudo estaria acabado. Completamente acabado. Todos morreriam. Joanne morreria. Amanda morreria. O homem que estavam tentando ajudar morreria. Iriam todos para o inferno da forma mais lenta e dolorosa que existisse. Joanne sabia bem o que aqueles malditos eram capazes de fazer, infelizmente.
Joanne voltou seus olhos para a frente da casa, mas ninguém se encontrava mais por ali. No mesmo instante sentiu seu corpo estremecer e o coração acelerar. Aquele era o fim, então? Porra! Maldita hora que deixara se levar por Amanda!
Jo passou as mãos pelos cabelos, prendendo-os em um coque de qualquer jeito. Precisava tirar Amanda de dentro daquele lugar de qualquer forma. Digitou mais uma mensagem para a irmã e esperou alguns segundos, e então o nome de Amanda brilhou no celular, fazendo-a suspirar.
Na mensagem continha apenas uma frase:
“Está tudo sob controle, abra a porta do carro e espere.”
Joanne xingou baixo e destrancou todas as portas do carro. Ainda nervosa, caminhou até a frente da casa. Precisaria enrolar Andy novamente, depois, daria um jeito de apagar as luzes dali. Como ela não fazia ideia, ainda, mas ela o faria. E tiraria Amanda dali sã e salva, junto com aquele homem estranho.
***
suspirou mais uma vez, sentindo todo seu corpo doer. Estava escondido perto da entrada/saída com Amanda, que agora pensava num jeito de saírem dali sem serem vistos. Amanda mexeu no celular rapidamente e a fitou, tenso. Ela lançou um sorriso fraco para o homem, como se tentasse tranquilizá-lo.
Observaram, então, Andy acabar de falar com o homem que chegara de repente. Estavam, provavelmente, se despedindo. Amanda não pôde ver o rosto do homem já que estavam abaixados ao lado de um móvel de madeira qualquer — talvez um típico barzinho, já que haviam copos e garrafas em cima —, mas tinha certeza absoluta que o conhecia. Jamais confundiria aquela voz. Aquele corpo. Aquela autoridade que ele exalava a cada passo que dava. Porém, na realidade, Amanda não queria conhecê-lo. Não queria aceitar que ele, justo ele, estava metido naquilo. Por que diabos ela sempre se apaixonava por um homem sem caráter algum? Talvez aquilo fosse de família. Ou simplesmente o seu carma.
Naquele momento, finalmente, Amanda notara que não havia ninguém para confiar além de sua irmã. Estava, sim, seguindo seu coração e ajudando aquele estranho, mas... Mas talvez fosse por pena. Uma intuição boba. Ele não parecia merecer tudo aquilo que estava sofrendo, ela apenas juntou o útil à boa ação. Queria dar um jeito de ferrar Apolo e seus amiguinhos, e conseguiria aquilo tirando aquele homem dali e, como consequência, o ajudaria a voltar para sua família caso tivesse uma. Iria para o céu por isso. Já que não podia confiar no homem por quem se apaixonara, por que não ferrá-lo junto com Apolo para que aprendesse a lição e parasse de enganar mulheres por aí? Se Apolo tinha apenas um dedo metido naquela história, aquele desgraçado que fora conversar com Andy tinha a porra do corpo inteiro.
Amanda sentiu seu coração acelerar e sua respiração falhar, ainda estava apreensiva apesar da decisão que tomara. Num movimento automático, forçou o corpo contra o móvel mais uma vez enquanto fitava o celular esperando algum sinal da irmã. Joanne era uma garota muito esperta, e Amanda agradecia por aquilo. Por sorte, Joanne conseguira mandar mensagens para Amanda, fazendo com que ela desamarrasse e conseguissem se esconder ali. Agora só precisavam de um mísero sinal para conseguirem sair. Ficaram ali por mais alguns poucos minutos, até Amanda notar que o homem alto já havia saído do local e Andy permanecia ali, esperando que ele desaparecesse para conseguir falar com Joanne mais uma vez.
— Quem era ele? — perguntou baixinho e Amanda o fitou. — Não consegui vê-lo.
— Não perdeu nada — Amanda respondeu no mesmo tom de voz e observou Andy parado na entrada no local. Aquele infeliz não sairia dali nunca?
— Custa me dizer o nome? — insistiu. — Você já começou a merda tentando me tirar daqui, Amanda.
— Será que pode calar a porra da boca? — pediu ainda aos sussurros e puxou o celular novamente, digitando algo rápido e direto para Joanne. — Você nem sequer me disse seu nome verdadeiro, aliás. Não me venha com essa história de Noah, porque não acredito nela. Sei que não é verdade.
— Só me diz quem ele é — pediu mais uma vez, vendo que a garota já estava prestes a perder a paciência. Logo ela abriria a boca. Ficaram em silêncio por alguns segundos, até Amanda ler a mensagem que Joanne enviara. — Joanne vai dar um jeito de quebrar as lâmpadas dali — Amanda apontou —, assim que a primeira apagar nós vamos sair daqui — ela explicou e balançou a cabeça. — Aquele homem é um outro primo meu, infelizmente. Ninguém que você precisa conhecer.
juntou as sobrancelhas, confuso. Lembrava-se muito bem de quando Eric dissera que ele só tinha duas primas, sendo elas Amanda e Joanne apenas. Talvez pudesse ser por parte de mãe, logo, não teria parentesco algum com .
— Como ele se chama? — perguntou e Amanda bufou, virando-se para ele.
— Qual o seu problema? — ela sussurrou. — Está querendo saber da minha família agora? Se formos pegos vamos morrer! Então trate de calar a porra da boca!
— Só me diz o nome dele — mordeu o lábio inferior. — Por favor.
— — Amanda falou rápido, como se quisesse se livrar daquilo. — O nome daquele maldito é .
deixou seu queixo cair, literalmente. Segurou-se o máximo que pôde para não soltar uma gargalhada alta e um palavrão em seguida. Estava chocado. Como diabos alguém estava se passando por ele em Palermo? Porque era basicamente impossível existir outro por aí. Impossível!
estava paralisado, completamente paralisado. Bagunçou os cabelos e murmurou coisas desconexas, fazendo com que Amanda o encarasse um bocado assustada. Ignorando as crises que o homem ao seu lado estava tendo, Amanda disse firme:
— Vem, vamos. Joanne já deu um jeito de quebrar a primeira lâmpada e Andy está saindo.
Amanda se levantou e puxou pela mão rapidamente, fazendo-o se levantar também. Porém, para a surpresa da garota, ele parou no meio do caminho e a encarou nos olhos.
— O que é? — ela perguntou. — Vamos logo! Temos pouco tempo!
— Eu sou , Amanda — ele soltou, de uma vez por todas, firmemente.
***
Jullie soltou um suspiro pesado. Tantas horas para aquele maldito sumir, e ele some exatamente no momento em que ela está com problemas.
Ela simplesmente não aguentava mais ter que ouvir falar do nome daquele desgraçado, não aguentava mais aquela Emma tentando controlá-la, não aguentava mais seu próprio tio dando razão para aqueles malditos ingleses. Estavam todos estragando seus planos. Simplesmente arruinando tudo o que planejara por dois anos inteiros, desde que descobrira que poderia acabar com aquele Castellamare com uma simples pessoa, fazendo um simples trabalho. Mas aí, por obra do maldito destino, esses ingleses de merda decidiram invadir sua área, se meter em seus planos, atrapalhar a porra toda. Desnecessários.
Isso, eles eram desnecessários em sua vida e em seus planos.
Filhos da puta e desnecessários.
Jullie não precisava deles para trabalhar, somente seu tio de merda que achava que eles poderiam fazer alguma coisa. A única coisa que aconteceria ali, de verdade, era o maldito descobrir suas raízes e ver que haviam pessoas até ali querendo fodê-lo da pior maneira que existia.
Jullie não merecia lidar com aquilo, não mesmo. Não estudara a vida inteira para se passar de babá de um homem de trinta e um anos. Já bastava Apolo para ela lidar, que era um crianção num corpo de vinte e oito. Ou vinte e nove. Ah, a idade exata dele não importa.
Jullie chutou a lixeira que estava no canto da sala do tio e respirou profundamente. Esperava que Amanda tivesse sido intrometida mais uma vez. Aquela garota era esperta e se meteria nos negócios da família novamente a qualquer momento. E Jullie realmente esperava que ela a procurasse, porque era sempre assim. A propósito, Amanda é o que é hoje graças à Jullie. Se não fosse por ela, Amanda seria tão cega quanto a irmã ou talvez até mais.
— Vamos, Amanda. Se meta nesse inferno — Jullie sussurrou, segurando o celular com força. — Seja o maldito monstrinho que eu te transformei, pela última vez. Descubra tudo, garota idiota.
Jullie deixou um suspiro escapar e soltou uma risada em seguida. Estava ficando louca. É, estava sim. Tudo culpa daquele inferno em que vivia. Vida desgraçada. Emprego desgraçado. Sede de vingança desgraçada. Jullie tinha se tornado exatamente o que seu pai mais temia: uma vadia desgraçada e sem coração, implorando por vingança.
O toque tão conhecido de seu celular ecoou pela sala, fazendo-a sorrir aliviada. Que começassem os jogos, novamente. Talvez ter os ingleses ali pudesse tornar tudo mais divertido.
***
Amanda fechou a porta de trás do carro e soltou, finalmente, todo o ar que estava prendendo nos pulmões. Recusava-se a acreditar em tudo que aquele maldito homem, que agora estava ao seu lado, dissera. A tensão que estava dentro daquele maldito carro, que estava em alta velocidade graças à Joanne, era quase papável. Joanne, obviamente, não sabia bem o porquê mas Amanda parecia saber até demais, assim como o homem ao seu lado.
— Eu quero que me prove — Amanda disse de repente, atraindo o olhar de . — Isso não é possível. Não pode, simplesmente não pode, existir dois no mundo! Alguém está mentindo nessa porra e eu realmente espero que seja você. Não que eu vá te mandar de volta para aquele inferno de novo — Amanda suspirou. — Já te ajudei e não me arrependo por isso. Porque, se você estiver dizendo a verdade, por mais que eu ache isso impossível, já terei dado minha vingança naquele maldito. De qualquer forma, eu agradeceria se você me explicasse toda essa maldita história.
— Não tem o que explicar — tentou se manter calmo. Estava tão atordoado e perdido quanto a garota. — Eu sou o , fim.
Joanne freou o carro bruscamente, fazendo-os voar para frente. soltou um gemido de dor e tocou seu próprio rosto, sentindo ainda mais dor.
— Jo, o que houve? — Amanda perguntou, tentando se arrumar.
— Você ouviu o que ele disse?! — Joanne se virou para trás. — Como diabos você poderia ser o ?!
— Volte a dirigir, Jo. Não temos tempo! — Amanda exclamou. — Precisamos chegar à praia logo! E ainda temos, o que, quarenta minutos de viagem?!
Joanne não respondeu, apenas acelerou o carro novamente. Estava confusa, atordoada e com medo de onde diabos havia se enfiado. Esperava, de verdade, que Amanda tivesse como tirá-las daquela situação.
— Como se envolveram nisso tudo? — perguntou baixo.
— Isso não interessa a você — Amanda respondeu. — Quem deveria estar perguntando sou eu.
— Conhece Jullie Alexander? — perguntou. — Tenho certeza que sim. Ouvi dizer que ela andou salvando vocês por aí. Ligue para ela e pergunte quem eu realmente sou. Vim aqui a trabalho, estou com ela nesse inferno.
Amanda não respondeu, apenas o fitou por alguns segundos e puxou o celular do bolso. Discou os números de Jullie rapidamente e esperou a mulher atender.
— Achei que nunca fosse ligar, Amanda. — A voz irritada de Jullie ecoou pelos ouvidos da mais nova, fazendo-a revirar os olhos.
— . Qual deles é o verdadeiro? — Amanda foi direta. — Estou com um deles, Jullie. Na verdade, já estive com os dois. Por Deus, me diz que o que está mentindo é o que está comigo e completamente fodido.
Jullie ficou em silêncio por alguns instantes. Não sabia o que fazer. Sabia que o outro tal e Amanda se envolveram por sua culpa, agora ela precisaria abrir o jogo com a garota e dizer logo a maldita verdade.
— Me desculpe, Amanda. De verdade. Não quis mentir para você, mas foi necessário. Era o meu trabalho. — Jullie suspirou. — O que está com você é o verdadeiro.
— Então quem diabos é o outro com quem me envolvi, Jullie?! — Amanda elevou o tom de voz e arqueou uma das sobrancelhas. Então todo aquele maldito problema era porque ela estava apaixonada pelo outro cara? — Que merda, que merda, que merda! Onde você me envolveu dessa vez?
— Você não queria tanto saber sobre sua família? Aí está ela. Esse homem que você salvou hoje é seu primo. De verdade. Me desculpe por isso.
— Que inferno, Jullie! Que inferno! Você levou aquele maldito para minha casa! — Amanda gritou e Joanne engoliu a seco. — Ele virá atrás de mim, não é?
— Não vou deixar que nada te aconteça, miss .
— Foda-se! Não quero saber da sua proteção! — Amanda praticamente gritou mais uma vez. — Eu perguntei se ele virá atrás de mim.
— Se ele souber onde você está, sim, irá. Mas ele não vai saber. Não precisa nem me dizer para onde está indo, basta largar esse aí em qualquer lugar. Eu o pego e te mando proteção pra cidade que voc...
— Não vou fugir por causa dele — Amanda disse firme. — Estarei na casa de praia. Você sabe onde é, vá buscar seu amiguinho lá.
— Você sabe que eu não pos...
Amanda não esperou Jullie acabar de falar, apenas desligou o celular. Estava irritada e, além de tudo, sentia-se extremamente triste. Fora enganada. Completamente enganada por um trabalho idiota de Jullie. Poderia, simplesmente, fazer tudo dar errado para ela, mas ainda se lembrava de tudo que Jullie fizera. Não queria ferrá-la totalmente. Só de fazê-la ter que ir para a maldita casa de praia já era um grande castigo.
***
Punta Raisi: Aeroporto Internacional de Palermo.
abraçou Emma com força, suspirando em seguida. A viagem não fora tão longa, mas estava cansada. Odiava viajar, sempre sentia-se cansada e irritada. Quando eram viagens boas, ela ainda fazia um esforço. Mas viagens a trabalho e pelo motivo que ela estava ali em Palermo, não era algo tão bom e aceitável assim.
— Como você está? — Emma perguntou baixinho, enquanto caminhava ainda abraçada com . — Sabe que ele irá surtar quando te vir aqui, certo?
deu uma risada fraca, respondendo:
— Ele surtaria de qualquer forma, porque mesmo estando em Londres me meteria nessa — ela deu de ombros. — Eu diria que estou bem, mas acredito que você logo notaria o contrário. Mas enfim. E você, como está?
— Cansada, esgotada e irritada — Emma suspirou. — Nicholas ficou com a Beth e o Jesse, sim?
— Sim — suspirou. — Está tudo bem por lá, não se preocupe. Elizabeth sempre tem tudo sob controle e Jesse é um homem extremamente prestativo e inteligente. Quanto ao Nicholas, é um rapaz adoravelmente curioso.
— Estou com saudades do meu bebê — Emma suspirou. — Enfim! Vamos rápido, porque você ainda precisa se ajeitar e descansar um bocado. Eu e Charlie estamos hospedados em um dos apartamentos de um amigo dele, você ficará lá com a gente enquanto estiver aqui. O apartamento é até aconchegante, você vai se adaptar bem.
— Obrigada, mas não precisa se preocupar muito com isso — disse baixo. — Eu só devo usar o lugar para dormir. Você sabe que eu vou atrás de todos os nomes que tenho aqui.
— Sei. Mas, se eu fosse você, não arriscaria isso agora — Emma abriu a porta do carro. — Isso não vai dar certo sem o com você.
— Relaxe, Emma — jogou suas coisas de qualquer jeito no banco de trás. — Tenho meus contatos e um jeito único de trabalhar. Vou me sair bem. Só preciso de notícias do antes de fazer qualquer coisa. Ele com certeza não vai querer se meter nisso, então… — ela deu de ombros.
No exato momento em que dissera isso, o celular de Emma tocou e o nome de Charlie piscou na tela do mesmo.
— Fala, Charlie — Emma atendeu e ligou o carro.
— Já está com a ?
— Sim — Emma respondeu. — Estamos indo para o apartamento.
— Diga para ela, então, que a sorte está do nosso lado.
— Hã? Por quê? — Emma parou no primeiro sinal.
— Parece que sente o cheiro dessa mulher. Foi ela aparecer para recebermos notícias. Uma das primas dele acabou de ligar para Jullie dizendo que está com ele. Vivo. Salvo. Bem. Com alguns machucados, mas, ainda assim, vivo. Não vá para o apartamento, venha para a delegacia.
Após dizer isso, Charlie desligou e Emma deixou um suspiro aliviado escapar. Virou-se para com um sorriso no canto dos lábios e murmurou:
— Parece que você realmente nos dá sorte, .
***
desceu do carro e seguiu Amanda em direção à casa. Era até uma casa bonita, mas ele nem sequer se preocupou em observá-la. Estava cansado demais, com sono demais, com fome demais, sede demais... , definitivamente, não estava bem. Nem sequer sabia quanto tempo ficara trancafiado com aqueles caras, mas sabia que pegaria um por um e mataria. Não lentamente porque não teria tempo, mas mataria cada um deles. Cada um da forma que brincara de roleta russa. Um tiro no olho, outro na boca, outro na cabeça, só por diversão. Eles realmente não vão gostar do de verdade quando se encontrarem novamente. Caras idiotas. Quem eles pensavam que eram, afinal? Os incríveis? Os melhores do mundo? Os mais espertos? Bando de idiotas, isso, sim. Não sabiam nem criar uma boa quadrilha. só precisava, agora, descobrir quem era o cabeça daquilo tudo. Quem comandava. Apolo ele tinha certeza que não era. Se fosse, teria lhe dado um belo tiro no meio da testa em vez de um gole de água.
— ? — Joanne chamou. — Pode entrar. Fique à vontade. Vou ver se tem algumas roupas aqui para você.
— Vocês trazem homens para cá? — arqueou uma das sobrancelhas e Joanne corou levemente.
— Alguns amigos sempre deixam roupas aqui — ela respondeu, revirando os olhos. — Mas a maioria das que temos são dos nossos tios. Algumas até mesmo do nosso pai — ela deu um sorrisinho fraco. — Enfim. Senta aí e descansa um pouco, vou ver se a Amanda faz algo para você comer. Está precisando, eu suponho.
— Estou — deu uma risada fraca. — Obrigado por isso. Vocês estão sendo ótimas.
— Não agradeça — Joanne deu de ombros. — Pelo menos não a mim, porque eu não concordava com nada disso. Foi tudo ideia da Amanda, sem nem mesmo saber que você é o nosso verdadeiro primo. Enfim, espere aí. Vou buscar as coisas para você.
— Tudo bem — respondeu baixo, mas Joanne já estava subindo as escadas. Tinha primas maravilhosas e nem sabia daquilo, nunca nem sequer tivera vontade de saber. E agora estava ali, sob seus cuidados. sentia-se um bocado idiota naquela situação, e isso só aumentava sua vontade de socar todas aquelas pessoas. Incluindo os que fizeram ou tentaram fazer mal às suas primas.
deixou o corpo cair sobre o sofá e respirou fundo. Não demorou muito para Joanne aparecer na sala com algumas roupas e toalha nos braços.
— Foi o que consegui encontrar — Joanne murmurou. — Vá tomar um banho e se trocar. Acredito que eu e Amanda conseguimos fazer algo para comermos nesse meio tempo.
— Obrigado — pegou as coisas das mãos de Joanne e sorriu fracamente.
— Por nada — ela retribuiu o sorriso. — O banheiro é a terceira porta à direita, naquele corredor — ela apontou.
não disse nada, apenas balançou a cabeça e seguiu na direção indicada. Assim que deixou a sala, Joanne seguiu até a cozinha, onde sua irmã estava.
— Mandy...
— Que inferno, Jo, que inferno! — Amanda murmurou, deixando as panelas de lado. — Eu não esperava por isso. Eu sabia que tinha que salvar esse cara, mas eu jamais iria imaginar que ele era nosso primo — ela suspirou. — E pior: jamais imaginaria que aquele outro... Aquele desgraçado, estava se passando por outra pessoa. A Jullie sabia disso, só não nos contou.
— Eu disse para você não se envolver nisso — Joanne suspirou e abraçou a irmã. — Você não tem juízo algum. Mas pelo menos salvamos o verdadeiro e eu espero que ele nos conte tudo, ou pelo menos o que puder contar. Espero que ele pelo menos preste e que não se envolva com você e...
— Jo! — Amanda deu uma risada fraca. — Você sabe que sou completamente apaixonada pelo de mentira — ela riu novamente. — Mas não me importo mais com isso, vamos focar no que está conosco agora. Não me meto mais com primo nenhum.
— Até porque não temos mais nenhum... — Joanne brincou novamente, fazendo com que Amanda lhe desse um tapa fraco e voltasse para o fogão. — Você sabe que eu te amo, não sabe?
— Sei — Amanda sorriu e se virou para apertar as bochechas da irmã. — E eu te amo também. Agora me ajude a acabar com isso, porque o deve estar morrendo de fome. E eu confesso que estou também.
Ficaram ali conversando e fazendo macarrão com um molho qualquer. Não havia nada que relaxasse Amanda se não cozinhar com a companhia da irmã. Já que a merda estava feita, o jeito era tentar se distrair e aproveitar os poucos minutos de paz que ainda restavam.
Alguns minutos se passaram e saiu do banho. Sentia-se um novo homem. Era impossível não se sentir daquela forma depois de um banho tão maravilhoso. Melhor que aquele banho, só, provavelmente, a comida que as meninas fizeram. Porque o cheiro estava incrivelmente delicioso.
— Ah, senta aí, — Joanne murmurou ao vê-lo na entrada da cozinha. — Amanda inventou um macarrão com um molho qualquer por cima, mas é delicioso. riu fracamente e Amanda revirou os olhos.
— Na verdade, é só macarronada simples — Amanda rebateu enquanto entregava um prato para . — Joanne me ajuda na cozinha, mas não entende absolutamente nada.
— Não seja mal agradecida! — Joanne resmungou e abriu a geladeira, pegando uma grande jarra de suco. — Vamos comer, por favor. O parece faminto.
— E eu estou — ele murmurou, rindo fracamente em seguida. — Obrigado por tudo isso, garotas. De verdade.
— Não precisa agradecer — Amanda murmurou. — Enfim, vamos comer!
Serviram-se e começaram a comer calmamente, com exceção de , que tentava não se descontrolar. Por Deus! Ele estava sem comer direito sabe-se lá quantos dias e aquela macarronada estava boa para caralho! Amanda sabia bem como cozinhar. Aquilo estava realmente delicioso, tão delicioso que sequer se importou se estava se sujando de molho e se as risadas das garotas eram por sua causa. Ele tentara ao máximo não perder o controle para não comer feito um bicho, mas estava impossível.
Aquela macarronada de Amanda estava, definitivamente, no seu topo de comidas favoritas.
— Onde aprendeu a cozinhar assim? — perguntou enquanto limpava a boca. — Estava realmente bom.
— Obrigada — Amanda riu fracamente. — Cresci na cozinha. Sempre gostei. Aprendi praticamente tudo com a mamãe enquanto a Jo ficava com o papai falando sobre carros.
— Eu não nasci para ficar na cozinha, já disse — Joanne murmurou. — Enfim, eu vou descansar um pouco. Boa noite para vocês.
— Boa noite, Jo — Amanda murmurou e apenas deu um sorriso fraco.
— Pode me emprestar o celular um minuto, Amanda? — perguntou um bocado sem jeito.
— Tudo bem — a garota pegou o aparelho que estava em seu bolso e entregou nas mãos do primo. — Fique à vontade. Vou tomar um banho.
— Certo — ele mordeu o lábio inferior. — Obrigado, Amanda — ele disse um bocado mais alto, já que a garota saía da cozinha. — Por me tirar de lá. Por me trazer até aqui. Por tudo o que está fazendo sem nem ao menos me conhecer.
— Por nada — ela sorriu. — A propósito, não é como se eu não te conhecesse. Bem, a Jullie deixou bem claro que você é o meu primo de verdade. Não tem motivos para você me fazer mal. Tem?
Amanda piscou um dos olhos e saiu da cozinha de vez, sem esperar por uma resposta.
balançou a cabeça negativamente e discou o número de Emma rapidamente. Não demorou muito para que ela atendesse. Com certeza Emma já esperava sua ligação.
— Ei, Emma — murmurou e esperou por um xingamento que não veio.
— Como você está? Quase que você me mata, .
— Estou bem, não se preocupe — ele riu fracamente. — Estou com as minhas primas.
— Mas já estão assim? Para quem não queria nem saber dos parentes...
— Cala a boca — ele riu mais uma vez. — Elas são piradas, Emma. Você precisa ver. Está escrito nas testas delas que são dessa porra de família.
— Eu sei, a Jullie já tinha comentado sobre elas. Mas ei, me diz: o que fizeram com você?
— Prefiro não falar sobre isso agora. Deixe isso para quando nos vermos pessoalmente, acredito que já estejam a caminho. Jullie parece conhecer bem o lugar onde estamos.
— Sim. — Emma riu. — Dentro de uma hora estaremos aí. As meninas já foram dormir?
— Só a Joanne. Por quê?
— Que bom, porque parece que o assunto é só com a Amanda. Enfim. Tenho que te falar uma coisa.
— Fala.
— A . Eu não sei se você sabe, mas ela...
— Está aí — a cortou. — Certo?
Emma não respondeu, apenas suspirou. No mesmo segundo, sentiu seu coração acelerar. Sentia tanta saudade que nem sequer tivera tempo para se estressar com aquilo. A única coisa que queria era poder abraçá-la mais uma vez.
— Posso falar com ela? — ele perguntou baixo. — Ela está acordada, não está?
— Sim, , está — Emma riu.
— Chame-a, por favor.
— Posso jurar que seu tom é de súplica. — Emma debochou e revirou os olhos. — Espere aí.
— Talvez seja, e eu não me importo.
Alguns segundos se passaram e pôde ouvir um suspiro do outro lado da linha. Automaticamente um sorriso brotou no canto de seus lábios.
— ? — ele chamou baixo e podia jurar que ela estava de olhos fechados e apertando o celular contra a orelha com força. — Fala comigo.
— Você é um idiota. Um filho da puta idiota. — murmurou, fazendo-o rir. — Tem ideia de como eu fiquei quando soube o que te aconteceu? Eu achei que nunca mais fosse te ver...
— Mas estou aqui agora. E bem — ele sorriu. — Senti sua falta. E em alguns momentos eu também pensei que jamais iria te ver de novo. Pensei em desistir, também. E em deixá-los me matar. E em não fugir com a Amanda. E em me matar. E em mais um monte de merda. Mas aí eu lembrava de você a cada pensamento idiota desses e via que eu tinha que continuar tentando. Por você. Sabe, toda essa luta, toda essa coisa, foi tudo por você. Só pra gente ter um pouquinho de paz. E olha só, está dando certo.
— Como pode estar dando certo se ainda estamos nesse inferno, ? — ela perguntou baixinho e achou, por um momento, que ela começaria a chorar no segundo seguinte. — Ainda estamos em Palermo e pessoas morrem o tempo inteiro. Você provavelmente está tão machucado que mal se aguenta em pé e pensando em como vai se vingar de quem fez isso com você. Não diga que isso é por mim, por favor. Eu só quero que você fique bem. Comigo, mas bem. Sem pensar nessas coisas. Por favor. Vamos voltar para casa assim que amanhecer. Não quero correr riscos de novo. Não quero que você corra riscos. Imagine só, , se você morrer? Por Deus, eu não sei o que faria e...
— Ei! — a cortou. — Para com isso. Não vou morrer e você também não. Não podemos ir embora agora, você sabe disso. E não é só porque quero pegar os caras, é porque tem mais coisa envolvida. Tinha gente usando meu nome por aqui, . Eu quero saber o porquê. Me desculpe, de verdade, ser esse idiota filho da puta que sou. Mas não posso e muito menos consigo mudar agora. Eu amo você, isso não é o suficiente? Eu estou bem agora, juro que estou. E eu prometo que logo vamos nos ver e você, depois, se quiser, poderá voltar para Londres tranquila. Mas eu vou finalizar esse maldito trabalho e, de brinde, acabar com todos esses desgraçados que me fizeram mal.
— Não sei por que diabos ainda pensei que conseguiria te convencer do contrário. De qualquer forma, daqui a pouco estarei aí junto com Emma.
— Não fica chateada — pediu, rindo fracamente. — Quando você chegar aqui vai ver que eu estou bem, apesar dos poucos machucados. Só estou um pouco cansado, mas não me importo de me cansar ainda mais se for com você...
— Vai se foder, — murmurou revirando os olhos enquanto tentava não rir.
— Você sabe bem o que eu vou foder...
— Tchau, . Até daqui a pouco. — disse sem segurar uma risada.
— Até daqui a pouco. E não se faça de difícil, — ele rebateu ainda com um sorriso nos lábios e gargalhou, fazendo com que se sentisse mais aliviado. Ela não estava realmente brava, talvez só um bocado preocupada. Mas não tão puta quanto ele pensou que estava.
— Tchau, .
— Tchau, .
***
Apolo respirou o mais fundo que conseguiu, tentando se acalmar. Aquele moleque, Andy, era um idiota. Um completo idiota que não podia ver um rabo de saia que logo ia atrás. Onde já se viu confiar naquela Joanne que de santa só tinha a cara? Andy comia algum tipo de merda.
— Para mim já chega — Apolo disse firme, tentando não gritar. — Olha aqui, Andy, você vai dar o seu jeito mas vai encontrar aquelas vagabundas e o , depois vai matá-los da forma que quiser. Apenas os quero mortos. A já está por aqui, a siga. Faça o que quiser mas encontre o . Eu o quero morto junto com aquelas desgraçadas.
— Apolo, pare de ser dramático — o outro homem presente, que estava em silêncio até então, se pronunciou. — Não acha que o Andy conseguirá matar a Joanne depois de tudo o que nos disse, acha? — ele revirou os olhos. — E a Amanda é gostosa demais para morrer agora — ele mordeu o lábio inferior enquanto lembrava-se de seus momentos com a garota. — Sem contar eu já expliquei que o momento de distração dele foi minha culpa.
— Não te perguntei porra nenhuma — Apolo rebateu. — Quero todos mortos. Pouco me importo se você, Andy — Apolo se virou para o rapaz que mantinha-se calado —, está apaixonado pela Joanne. Se não quiser matá-la, recomendo que fuja — Apolo se aproximou mais e finalizou sua fala: — Para outro planeta, meu amigo. Porque eu te encontro com aquela vadia em qualquer lugar.
O outro homem presente riu e jogou o cigarro pela janela, falando em seguida:
— Não seja tão malvado com o rapaz. Dê outra chance a ele, Castellamare.
— Vá para o inferno e não se meta nos meus negócios. Eu simplesmente cansei de você — Apolo tentou manter a calma. — Antes eu tivesse te deixado morrer quando aquela maluca me pediu ajuda. Você não serve para absolutamente nada. Por mim esse trabalho já está feito, você que decidiu lerdar a porra toda. Agora vou consertar as merdas que você fez, então trate de calar a maldita boca e não se meter no que eu mando! — Apolo gritou, de uma vez por todas, sentindo-se mais leve em seguida. — Espero que tenha ficado claro para você, Andy. Não caia na ladainha desse desgraçado aqui — Apolo apontou para o homem ao seu lado — mais uma vez. Ou eu acabo com você e todos eles com minhas próprias mãos. Vocês dois sabem que sou capaz disso e de coisas muito piores. Portanto, tratem de fazer o que eu mando.
— Você não manda nem em si mesmo, Apolo — o homem murmurou numa calmaria tão grande que nem sequer parecia que havia acabado de sumir de suas vistas. — Pare com todo esse teatro, por favor. Está ficando cansativo. Todos nós sabemos que, agora, virá nos procurar. Saiba esperar, Castellamare. É tudo questão de tempo. Já ouviu falar que a pressa é inimiga da perfeição?
— Vá para o quinto dos infernos com esses seus ensinamentos — Apolo bufou. — Eu já disse o que quero. Não se atreva a se meter nisso — disse firmemente para o homem, encarando-o nos olhos. — Não quero ter que matar você também.
O homem apenas riu e revirou os olhos. Entretanto, Apolo pouco se importou com o deboche. Queria mais é que ele se metesse em seus negócios mais uma vez, aí teria um grande motivo para matá-lo também. E aí acabaria todo aquele circo.
***
ouviu a campainha tocar e seu coração, automaticamente, acelerou. Talvez por nervosismo, talvez por ansiedade, talvez por medo. Ele não tinha certeza do porquê daquilo, já que qualquer um poderia estar do outro lado da porta. Poderia, sim, ser Charlie, assim como poderia ser aquela quadrilha filha da puta que estava tentando matá-lo a todo custo. E ele estava ali, sentindo como se tivesse que cuidar de duas garotas e completamente desarmado.
A campainha tocou mais uma vez, tirando-o daquele transe. E então Amanda surgiu na sala, encarando-o sugestivamente. Pelo olhar da garota ele percebeu que não teria como ser aqueles desgraçados, mas ainda estava nervoso e pensando no que faria caso eles estivessem ali.
— , toma isso — Amanda puxou uma pistola da gaveta de um dos móveis da sala, que ele até então não havia reparado. — Estarei lá em cima com a Joanne.
— Certo — ele pegou a arma da mão da garota. — Obrigado.
— A propósito, a última porta à esquerda é a sua, caso fique por aqui o resto da noite — ela sorriu fracamente e se retirou da sala.
suspirou e caminhou até a porta de uma vez por todas. Engatilhou a arma e segurou a maçaneta com força. Estava parecendo um iniciante sem experiência alguma, mas todo aquele nervoso era pelo simples fato de que ele poderia dar de cara com depois de tudo o que passou e simplesmente não sabia como agiria. Se fosse Apolo e seus vermes, ele os mataria facilmente. Tinha essa certeza. Mas simplesmente não sabia o que faria assim que visse sua garota em sua frente depois de tantas coisas.
Por fim, abriu a porta enquanto mirava a arma na direção da pessoa. Uma risada conhecida ecoou por seus ouvidos e relaxou os ombros com um sorriso no canto dos lábios.
— Mas que recepção calorosa! — Emma exclamou enquanto puxava o amigo para um abraço forte. — Eu achei que nunca mais fosse te ver, seu idiota desgraçado.
riu fracamente e apertou-a mais contra seu corpo, beijando o topo de sua cabeça em seguida. E então seus olhos foram para o carro que estava parado atrás de Emma, em frente a casa. estava saindo do carro no mesmo segundo e pôde jurar que iria vomitar seu coração naquele instante.
— Desculpe pelo susto — murmurou ainda abraçado à Emma e observando de longe, que tinha um sorriso fraco nos lábios. — Daqui a pouco conversamos de verdade. Tenho que fazer uma coisa e...
— Vai, , vai — Emma revirou os olhos de forma teatral e desfez o abraço. Não demorou muito para passar por ela e seguir em direção à , que, ironicamente ou não, também caminhava em direção a ele.
Se perguntassem a o que ele estava sentindo naquele momento, ele seria incapaz de responder. Assim como .
Cada segundo que passara preso naquele inferno ele pensara em ; em como ela estava, como ela ficaria caso ele morresse, o que ela faria se algo de ruim acontecesse, se ele arrumaria outro, se ela se mataria... Inúmeras coisas ridículas passara por sua cabeça enquanto ficara amarrado naquela cadeira. E, no fim de tudo, ela estava ali: vindo em sua direção com um sorriso fraco brincando nos lábios, e ele não estava tão diferente dela. Qualquer pessoa que observava de fora seria capaz de sentir as emoções do casal. Quem diria, afinal, que eles realmente dariam certo a ponto daquilo tudo? Quem sequer pensara que eles passariam mais de dois meses juntos? Quem pensara que mesmo com todas aquelas brigas e olhares raivosos eles estariam nessa situação? Corações acelerados, olhos marejados e sorrisos nos lábios. Tudo porque estava ali, vivo, bem. Salvo. Talvez realmente o destino deles fosse aquele: ficarem juntos em qualquer circunstância.
parou de andar no exato segundo em que se aproximou de , fazendo-a pensar duas vezes se deveria ou não jogar-se em seus braços. No fim das contas, a puxara pela cintura numa pressão tão grande que ela ficou assustada porém não se importou, apenas aproveitou o abraço.
— Eu achei que fosse perder você — sussurrou enquanto apertava mais a cintura de . — Eu realmente pensei. Você é um idiota, não deveria ter vindo para cá e...
— Shhhhh — apertou-a mais contra o próprio corpo. — Eu estou aqui agora. Tá tudo bem. Você não me perdeu e nunca vai perder, . Você deveria saber disso.
o encarou nos olhos e preferiu não respondê-lo — afinal, o que tinha para falar? —, juntando seus lábios num beijo caloroso. não sabia descrever exatamente o que estava sentindo naquele momento, e talvez nem precisasse. Seu coração, assim como o de , estava tão acelerado que ele chegara a pensar que poderia ter algum ataque enquanto a beijava. Céus, como diabos ele poderia viver sem aquela mulher e seus toques? Em nenhum momento de sua vida pensara que poderia se sentir daquela forma por causa de outra pessoa. E que essa pessoa seria justamente . Em momentos como esse que julgava sua saúde mental. Como pôde, um dia, dizer que a odiava? Era impossível odiá-la, mesmo com sua curiosidade extrema. Susa era encantadora. E dele. Completamente dele.
Afastaram-se um bocado e deu um sorriso fraco ao observar o rosto de com um semblante aliviado. Ele ainda tinha os olhos fechados e as mãos segurando sua cintura firmemente. Ela sentira tanta falta dele. Tanta que não seria capaz de encontrar palavras que descrevesse aquilo. E ter ficado tão perto de perdê-lo fora extremamente desesperador.
— Vamos entrar — sussurrou enquanto descia os lábios por todo seu rosto, chegando em seu pescoço. — Charlie quer conversar com você. E eu acho que todo mundo já entrou. A Jullie é ou era amiga das suas primas, né?
— Uhum — murmurou ainda com o rosto enterrado no pescoço de . Após deixar uma leve mordida por ali, subiu os lábios novamente e colou-os contra os de numa pressa que beirava ao desespero.
Com um sorriso nos lábios, o empurrou levemente pelo peito.
— Vamos entrar. Alguém pode estar atrás de você ainda — ela murmurou. — Sem contar que já está tarde e você provavelmente está cansado...
— Quando chegou aqui? — perguntou puxando-a para dentro da casa.
— Pouco antes da Amanda falar com a Jullie — respondeu e fechou a porta atrás de si. — Parece que eu te dou bastante sorte, né?
riu fracamente e puxou-a pela cintura novamente.
— Parece que sim...
Quando estava prestes a colar seus lábios novamente, uma voz — extremamente irritante, em sua opinião — ecoou pela sala.
— Vocês poderão ir para um quarto daqui a pouco, então, por favor, se controlem enquanto estivermos por aqui — Jullie falou enquanto revirava os olhos. — Estão todos na cozinha, seria ótimo se você fosse para lá nos contar o que aconteceu, .
não respondeu nada, apenas bufou e segurou a mão de , puxando-a para longe.
poderia jurar que se Jullie abrisse a boca mais uma vez, voaria em seu pescoço. Não sabia se aquilo era simplesmente antipatia, mas aquela Jullie não parecia uma boa pessoa. Parecia alguém envolvido em toda aquela merda propositalmente. Mas preferiu não comentar aquilo com , apenas o deixou guiá-la para a cozinha da casa.
— Finalmente... — Charlie murmurou revirando os olhos teatralmente e riu. — Vamos lá, o que aconteceu, ? Você nos deu um susto.
— Eu não lembro de muita coisa — ele deu de ombros e sentou numa cadeira, puxando para ele e fazendo-a sentar em seu colo. Não, ele não desgrudaria dela depois de tudo. — Eu saí da delegacia e fui pegar o carro no estacionamento, e aí eu senti uma porrada na nuca. Quando eu acordei, já estava amarrado. Depois... Bem, depois vocês não vão querer ouvir. Mas enfim. Aquilo, provavelmente, é uma quadrilha da região. Não diria antiga porque só duas pessoas dali sabiam trabalhar como um chefe, e não foi nenhum dos caras que ficaram comigo. Por mais que soubessem torturar, não sabiam se portar como bandidos de quadrilha — ele apoiou o rosto no ombro de , voltando a falar em seguida: — O Apolo apareceu lá. E um outro cara com ele que eu não reconheci, mas a Amanda conhece muito bem.
— O Apolo? — A voz de Jullie ecoou pelo local e pôde jurar que ela estava preocupada. — O outro homem não é importante, eu garanto.
— Não me venha com essa história de novo, Jullie — foi a vez de Charlie falar. — Todos os envolvidos nisso são importantes, você sabe disso. Não somente pelo que aconteceu com o , mas pelas pessoas que morreram aqui e por causa deles. E isso inclui seus pais.
— Não fale dos meus pais, Raymond. Você não sabe de porra nenhuma! — Jullie elevou a voz. — Vocês são um bando de idiotas que não sabem com quem estão lidando...
— Já lidei com gente muito pior — manteve a calma. — Inclusive tinha um conhecido meu naquilo, irmão de um rapaz que prendi. Na verdade, matei o pai deles e, depois de um tempo, prendi os dois.
Jullie preferiu não dizer mais nada, apenas balançou a cabeça negativamente e saiu do cômodo. De qualquer maneira, ela sabia que eles iriam atrás de todos aqueles desgraçados que nem um trabalho sabiam fazer direito e, logo depois, cairiam em cima dela sem acreditar em uma só palavra que dissesse para se defender. Se envolvera sim com todos eles e não se arrependia, entretanto. Fora por trabalho, por vingança, por ódio e por amor — de certa forma. E não seriam eles — um grupinho idiota de ingleses, em sua humilde opinião — que mudaria seus planos.
Após Jullie sair do local, o silêncio reinou na cozinha. Amanda, que até então estava quieta apenas observando a discussão — por mais que a envolvesse —, se levantou e murmurou:
— Eu realmente não sei quem é aquele outro homem. Eu pensava que ele era o , então... — ela deu de ombros — Enfim. Falemos disso quando amanhecer, por favor. Se quiserem, tem quartos o suficiente para todos, sintam-se em casa. Vou dormir agora. Boa noite.
Ninguém sequer teve tempo de responder e Amanda já estava fora da cozinha.
— Nós vamos embora — Charlie murmurou. — Temos coisas para ajeitar, ainda. Se cuidem, por favor. Não nos dê outro susto, . Aproveite que está aqui e nos ouça mais.
— Pare de resmungar, Charlie — rebateu. — Até quando tenho que ficar trancafiado? Não posso ir atrás deles?
— Vai ficar aqui com suas primas até termos certeza de que você pode tentar pegá-los — Emma se intrometeu firmemente. — Precisamos esperar a boa vontade da Jullie em nos ajudar.
— Sem estresse. Logo ela vai ceder, Antoni disse que ela é assim mesmo — Charlie deu de ombros. — Bom, vamos indo porque já está tarde.
— Tem certeza que não vão ficar? É perigoso dirigir a essa hora — murmurou, levantando-se, finalmente, do colo de . — A Amanda mesmo disse que tem como e...
— Não precisa — Emma a cortou sorrindo. — Até daqui a pouco.
Despediram-se com abraços apertados e levou o casal até à porta, fechando-a somente depois de vê-los arrancar com o carro.
suspirou pesadamente e a fitou, ainda encostado contra a porta. E então, ficaram assim: se encarando como se não houvesse mais nada para fazer.
Um sorriso galanteador brotou no canto dos lábios de , fazendo com que engolisse a seco por pura tensão. Aquele sorriso a tirava do sério, completamente.
mordeu o lábio inferior e se afastou da porta, andando lentamente em direção a em seguida. Estava com tantas saudades dela que queria que os bons modos e respeito à casa das outras pessoas fossem para o caralho. seria dele, mais uma vez, naquele momento; fosse naquela sala, fosse no quarto que Amanda lhe oferecera, ou em qualquer outro lugar. O lugar era o de menos, no momento. só queria e precisava senti-la. Urgentemente.
podia ler claramente a mensagem que os olhos de Luka passavam, e queria tudo aquilo tanto quanto ele — ou mais. Sem se importar com o que poderia acontecer, avançou em direção a mais rapidamente, puxando-o pela nuca e juntando seus lábios de uma forma desesperada. agarrou-a pela cintura e colou mais seus corpos, aumentando a velocidade do beijo. fora a empurrando para trás com pressa, jogando-a no sofá sem se importar se alguém poderia aparecer ali e pegá-los naquela situação. As garotas já deveriam estar dormindo, e mesmo se não tivessem... Não eram burras. Sabiam que aquilo aconteceria, não sabiam? Foda-se — era tudo o que passava pela cabeça de naquele momento, não largaria nem mesmo se o papa aparecesse naquela sala. Tudo o que ele mais desejava era arrancar todas as roupas de e ficar dentro dela o máximo de tempo que conseguisse. E ele faria aquilo o mais rápido que conseguisse.
arfou ao sentir as mãos de passearem de sua barriga até seus seios, por baixo de sua blusa. Céus, como ela sentia falta daqueles toques... Não querendo ficar para trás, puxou a camisa de para cima, afastando-se dele apenas para tirá-la por completo e jogá-la o mais longe possível. Ele não precisaria daquele maldito pedaço de pano tão cedo.
segurou uma das coxas de e puxou-a para cima, fazendo-a envolver sua cintura. Naquele momento, pensou que simplesmente não aguentaria. lhe dava tantas sensações maravilhosas que ela ficava tonta, perdida, desesperada. era exatamente tudo o que ela desejava, sem tirar nem pôr. Seus toques, seus beijos, seu corpo, seu jeito, sua pegada, tudo a deixava perdida e implorando por mais. O que sentia por ele era simplesmente indescritível.
desceu os lábios para o pescoço de com uma pressa que ela jamais vira. Ele parecia tão perdido quanto ela; não sabia onde deixar a boca e as mãos. No fim das contas, optou por arrancar a blusa de para contemplar seus seios que, para ele, eram as coisas mais belas de todo o Universo. Fitou-os com calma, ainda cobertos pelo sutiã, e, com uma das mãos, fora abaixando uma das alças lentamente. podia sentir seu coração a ponto de rasgar-lhe o peito a cada mísero movimento de , mas sabia que aquilo era apenas o começo do que ele faria com ela, do prazer que lhe daria.
Quando se dera conta do que estava acontecendo, já estava sem seu sutiã e já tinha a boca em um de seus seios, enquanto massageava o outro lentamente. mordeu o lábio inferior com força, apenas aproveitando a sensação maravilhosa que era ter a língua quente de passeando pelo bico de seu seio. fazia aquilo com tanta vontade e delicadeza que a excitava mais que o esperado.
, então, deixou que uma de suas mãos se enfiasse entre os cabelos de enquanto a outra arranhava suas costas lentamente. suspirou fracamente, descendo os lábios pela barriga de tão lentamente quanto a massagem que ainda fazia em um de seus seios, dando leves mordidas pelo caminho.
Ao chegar no fecho da calça jeans que usava, largou seu seio para dar total atenção no que estava prestes a ser revelado. parecia uma criança com um brinquedo novo pela forma que abria a calça de , descendo-a pelas pernas torneadas da mulher lentamente. Após tirá-la completamente, jogou-a para longe e voltou a atenção para o corpo de que, aos poucos, ia ficando totalmente à mostra do jeito que ele gostava. Apenas mais uma peça e ele poderia diverti-la da forma que sempre adorara.
a encarou nos olhos e, lentamente, levou uma das mãos em direção a intimidade de , fazendo-a morder o lábio inferior. pousou apenas um dedo sobre a intimidade ainda coberta de , fazendo-a se arrepiar instantaneamente, o que o fez sorrir da forma mais safada que conseguia.
ainda tinha o lábio inferior preso entre os dentes quando começou a estimulá-la lentamente.
— Sentiu falta disso? — murmurou enquanto aumentava a pressão sobre o clitóris de , fazendo-a fechar os olhos. — Sentiu, não sentiu? Pois é... Eu também senti falta de te ver molhada assim... — mordeu o lábio inferior e puxou a calcinha de para o lado e passou o dedo, lentamente, por toda a intimidade de . — E como senti... Ah, se você soubesse o quanto senti falta disso — sussurrou enquanto se aproximava mais de , ficando quase totalmente por cima dela. — Torturar você, excitar você, fazer você gritar meu nome e implorar para que eu fique dentro de você... — ele deu um selinho leve em , fazendo-a arfar, enquanto começava a movimentar o dedo com mais velocidade sobre seu clitóris — Senti falta de tudo isso, . Mas, me diz, você também sentiu? — ele perguntou enquanto afundava o rosto na curva do pescoço de , fazendo-a abrir mais as pernas automaticamente. — Não precisa responder agora, meu amor. Sei que está sem ar. Mas espero que saiba que isso é só o começo. Será que ainda tem fôlego para me aguentar?
soltou um gemido não muito alto ao sentir o dedo de penetrar-lhe de surpresa. ergueu mais o corpo apenas para observá-la se contorcer de tesão embaixo dele. Só de vê-la daquela forma o deixava completamente fora de si, perdido, tonto, mais que excitado. E isso fazia com que ele movimentasse ainda mais o dedo dentro de , para torturá-la, para fazê-la pedir por mais, para fazê-la falar com todas as letras que somente um dedo não era o suficiente, para fazê-la gritar de excitação e implorar para ele invadi-la de uma maneira mais bruta. Ele queria ouvi-la dizer que dedos não eram o suficiente, queria ouvi-la gritar seu nome com toda a vontade que sentia, queria ouvi-la urrar de tanto prazer.
— Por favor... — murmurou enquanto mordia o lábio inferior e dava leves reboladas sobre o dedo de — ... Por favor. Me dê mais que isso. Por favor.
Um sorriso safado surgiu nos lábios de , fazendo-o colocar mais um dedo dentro de , enquanto estimulava, também, seu clitóris com o polegar. Naquele momento fechara os olhos com força e segurou os próprios seios, tentando segurar os gemidos mordendo o lábio inferior.
— Você fica maravilhosa nesse estado — murmurou enquanto acalmava os movimentos dos dedos dentro dela, fazendo-a protestar e rebolar mais os quadris. — Shhh, calma, amor. Guarde o desespero para daqui a pouco.
— ... — murmurou, mas não conseguiu formular nenhuma frase coerente. Estava cega de tanta excitação. Queria sentir de todas as formas possíveis, quantas vezes aguentasse.
tirou seus dedos de dentro da mulher e puxou sua calcinha para baixo de uma vez por todas, jogando-a tão longe quanto o resto de suas roupas. Observou-a ali, completamente nua e embaixo de seu corpo. Uma fina linha de suor já se formava entre seus seios e aquilo a deixava muito mais erótica. estava com as duas pernas abertas, em sua frente, completamente nuca e levemente descabelada, seus lábios estavam vermelhos e sua respiração acelerada, seus olhos estavam estreitos e era possível sentir o tesão que eles transbordavam. Não havia cena mais perfeita e excitante que aquela. Não havia. era uma obra de arte. E completamente dele.
— Você tem noção do quanto eu amo seu corpo? — ele perguntou, enquanto passava, devagar, uma das mãos desde o pescoço de até sua intimidade novamente. — Você é maravilhosa, . Maravilhosa — mordeu o lábio inferior e curvou-se sobre ela novamente, grudando seus lábios num beijo rápido. Encarou-a nos olhos por alguns segundos e sorriu, descendo os lábios por seu queixo, pescoço, seios e barriga lentamente, enquanto voltava a estimular seu clitóris com calma.
voltou a morder o lábio inferior para evitar que algum gemido alto escapasse, mas simplesmente não ajudava, fazia de tudo para que ela perdesse o controle e estava conseguindo aquilo.
deu uma leve mordida na barriga de , fazendo-a estremecer. Com um sorriso nos lábios, desceu de uma vez por todas, ficando frente a frente com a intimidade de . Puxou a perna direita da mulher e colocou-a sobre seu ombro. Com a mão livre, segurou firmemente a coxa esquerda de , que jogou a cabeça para trás ao sentir somente a respiração de tão próxima de sua intimidade. Céus, ela poderia explodir a qualquer momento somente com aquelas provocações.
se aproximou mais da intimidade de e, lentamente, passou a língua por toda a extensão, fazendo-a soltar um gemido arrastado. sorriu com aquilo e voltou a fazer o mesmo movimento duas, três, quatro, cinco vezes. Ao notar que não aguentava mais provocação alguma, abocanhou sua intimidade com vontade, fazendo-a gemer mais uma vez. seria incapaz de descrever o que estava sentindo naquele momento. era simplesmente incrível. Ora movimentava a língua somente em seu clitóris, ora a penetrava com ela. E ficara naquela brincadeira até notar que estava, definitivamente, indo à loucura. Ao perceber que ela já não aguentava mais segurar os gemidos, largou sua coxa esquerda e levou dois dedos para sua intimidade, penetrando-a rapidamente enquanto ainda fazia movimentos com a língua em seu clitóris.
Ali tivera a total certeza de que não aguentaria mais segurar gemido algum. Amanda e Joanne que a perdoassem, mas seria impossível.
rebolava o quadril a cada movimento que fazia, tentando saciar aquela maldita vontade de senti-lo mais, porém, a cada vez que fazia isso, a segurava firmemente e a fazia parar. Queria que ela ficasse parada, apenas aproveitando suas carícias, aceitando suas torturas.
— , por favor! — exclamou com a voz arrastada. — Eu preciso de você... Por favor, por favor...
sabia que ela já estava perto de alcançar seu primeiro orgasmo da madrugada. Mas ele não pretendia parar, queria fazê-la ficar tão cansada a ponto de não aguentar ir para o quarto. E ele o faria perfeitamente.
afastou-se da intimidade de e deixou que sua perna direita caísse sobre o sofá novamente, sem parar de penetrá-la com o dedo.
— Vamos, — ele murmurou, encarando-a nos olhos. — Você sabe o que tem que fazer agora...
— Mais... Rápido... Por favor... — ela murmurava desesperadamente. — Não para, , não para.
— Eu não vou parar... — ele respondeu, ainda fitando-a nos olhos. — Não vou parar até que você goze pra mim mais uma vez.
mordeu o lábio inferior e fechou os olhos, enquanto voltava a movimentar o quadril. não a pararia mais, estava conseguindo o que queria. Ele, agora, a penetrava com três dedos e estimulava seu clitóris com a mão livre, fazendo-a ir ao céu e voltar. movimentava as mãos com maestria, fazendo com que perdesse o ar.
Um gemido alto escapou do fundo da garganta de enquanto todo seu corpo tremia de puro prazer. mordeu o lábio inferior com força ao observar a cena, chegando a conclusão de que era extremamente maravilhosa quando chegava ao orgasmo.
Ele fora, então, diminuindo os movimentos aos poucos, enquanto alguns espasmos ainda atingiam o corpo de , fazendo-a soltar pequenos gemidos.
encarou o rosto de e ele tinha um sorriso safado nos lábios, ela sabia o que aquilo significava: ainda não tinha acabado. Mordeu o lábio inferior e, sem se importar com as pernas ainda bambas, sentou-se no sofá e se aproximou dele, juntando seus lábios com pressa. Era a vez dela provocá-lo. E ela o faria tão bem quanto ele.
empurrou de forma que ele ficasse completamente sentado no sofá e sentou-se em seu colo de forma que ele ficasse entre suas pernas. fora descendo lentamente as mãos por todo o peitoral de , deixando-o arrepiado por conta das unhas grandes. Ao chegar perto da calça de — onde um grande volume já era completamente visível —, deu um pequeno sorriso, parando de beijá-lo no mesmo momento. a fitava com tanto desejo que ela jamais conseguiria explicar o que sentia quando o olhava. Parecia que a excitação triplicava por causa de um simples olhar.
Com a cara mais safada que conseguiu fazer, saiu do colo de e ajoelhou-se de frente para ele. Brincou com o botão e zíper da calça dele, passou a mão por suas coxas, membro e barriga, fizera de tudo para provocá-lo. apenas suspirava e jogava a cabeça para trás, até que finalmente abaixou sua calça e cueca juntas, revelando seu membro completamente rígido. Ela, então, passou a língua pelos lábios, mordendo-os em seguida. Aquilo fora o suficiente para sentir seu membro pulsar, ele simplesmente perdia todo o foco quando fazia aquilo.
, sem pressa alguma, envolveu o membro de com uma das mãos e se aproximou devagar, depositando um leve beijo em seu topo. Deu mais um de seus sorrisos eróticos e, sem aviso prévio, abocanhou todo o membro de , fazendo-o morder o lábio inferior com força e segurá-la entre os cabelos para guiá-la melhor. Porém tirara sua mão e o encarou nos olhos, fazendo os movimentos que queria e da forma que queria. ao entender o recado, apenas sustentou o olhar e deixou que fizesse o que quisesse. Ele ia gostar de qualquer forma.
passava a mão por todo o corpo de enquanto botava e tirava seu membro da boca; arranhava suas coxas, barriga, peito, parava de chupá-lo apenas para masturbá-lo com as mãos e observar suas expressões. estava brincando com ele da mesma forma que ele fizera com ela. E ele estava adorando aquilo.
, agora, apenas o masturbava com uma velocidade incrível que sequer se lembrava que ela tinha. Mas estava tão maravilhoso que ele pouco se importava. Tudo o que passava pela cabeça dele naquele momento, era que ele precisava tê-la urgentemente.
— Eu preciso de você — ele murmurou enquanto botava uma das mãos por cima da de , fazendo-a parar os movimentos devagar. — Eu quero e preciso estar dentro de você, . Agora.
mordeu o lábio inferior e não esperou que a chamasse mais uma vez. puxou-a com uma certa brutalidade e colocou-a em seu colo novamente, posicionando-a em seu membro rapidamente.
puxou-a para baixo com pressa, penetrando-a com força e fazendo-a soltar um gemido alto. Mas não se importava, pelo contrário, fechou os olhos e movimentou o quadril com vontade. Estava adorando aquilo tudo. era maravilhoso.
grudou os lábios na orelha de e deixou seu corpo subir e descer com força e velocidade, deixando seus gemidos ecoarem no ouvido de . Murmurava coisas obscenas, provocações, o nome dele da forma que gostava, dava mordidas, tudo isso sem parar os movimentos, levando ao delírio.
Num movimento rápido, segurou pela cintura e virou-a para o lado, jogando-a no sofá. Livrou-se das calças que ainda estavam seus pés e encarou na mesma posição tentadora de antes: de pernas abertas no sofá e com a típica cara de safada. Puta que pariu, como aquilo o excitava!
Mordeu o lábio inferior e se posicionou entre as pernas de novamente, que se ajeitou para recebê-lo de bom grado. Sem esperar mais nada, enterrou seu membro em novamente, fazendo-a gemer alto mais uma vez.
cravou as unhas nas costas de e jogou a cabeça para trás, aproveitando dos movimentos incríveis que fazia por cima dela. Ela estava amando aquilo, estava incrível, estava a deixando louca da forma que adorava. estava levando-a para o paraíso, como sempre fazia.
diminuiu a velocidade mais uma vez, fazendo resmungar no mesmo momento e encará-lo sem entender. Ele sorriu fracamente e murmurou da forma mais suja que pôde:
— De quatro.
arfou e mordeu o lábio inferior só de imaginar por trás dela. Sem pensar duas vezes, ficou de joelhos no sofá, de costas para . Empinou a bunda o máximo que pôde e mordeu o lábio inferior enquanto virava o rosto para encará-lo.
estreitou os olhos e balançou a cabeça negativamente, fazendo-a rir e movimentar o quadril lentamente enquanto ele se aproximava. Sem esperar mais, penetrou-a mais uma vez, porém sem tanta pressa, fazendo-a soltar gemidos arrastados e rebolar mais contra seu membro. adorava vê-la excitada daquela forma. ficava completamente sem vergonha e pensava somente em saciar suas vontades.
— ... — ela murmurou com a voz fina — Por favor!
não respondeu, apenas atendeu o pedido dela e penetrou-a com mais força e velocidade, fazendo-a gemer e morder o lábio inferior. a segurava firmemente pela cintura com uma das mãos e, com a outra, a segurava pelos cabelos, puxando-a com vontade e fazendo-a gemer ainda mais. já não tentava mais controlar os gemidos, desistira de morder o lábio inferior ou tentar segurar qualquer grito, seria impossível segurar qualquer gemido na garganta com puxando seus cabelos e penetrando-a daquela forma maravilhosa.
Sem parar de penetrá-la, puxou-a para trás pela cintura, caindo sentado no sofá, novamente, com em seu colo e de costas para ele dessa vez.
soltou uma risadinha safada e começou a cavalgar no colo de , enquanto passava as mãos pelos próprios seios. ora cavalgava, ora rebolava, ora enterrava o membro de completamente em seu interior e cruzava as pernas, para senti-lo ainda mais. estava agindo de uma forma que raramente via, e ele gostava daquilo. O deixava muito mais excitado.
Àquela altura, já sentia seu corpo prestes a relaxar e seus pelos se arrepiarem aos poucos. Mordeu o lábio inferior com força e fez abrir mais as pernas, levando uma das mãos até o clitóris dela.
gemeu alto mais uma vez no mesmo momento em que começou a masturbá-la, enquanto um arrepio percorria todo seu corpo ao sentir a respiração dele bater contra seu pescoço.
sabia que logo atingiria seu orgasmo, então parou com suas reboladas e saiu do colo de , deixando-o completamente confuso até que ajoelhasse em sua frente. Ela sorriu e se aproximou do membro de , colocando-o na boca novamente. fazia movimentos rápidos com a boca e mão no membro de , fazendo-o jogar a cabeça para trás enquanto um gemido rouco e baixo escapava de sua garganta. não precisou ficar ali por muito tempo, logo já a puxava pelo cabelo e explodia entre seus seios, da forma que mais gostava, enquanto mordia o lábio inferior com força.
sorriu mais uma vez e levantou lentamente, se aproximando dele mais uma vez para juntar seus lábios. Enquanto se beijavam, voltava a passear as mãos por todo o corpo de , parando em sua intimidade que ainda continuava devidamente molhada, o que o fez sorrir e puxar o lábio inferior dela com os dentes.
— Não achou que sairia perdendo, achou? — Ele murmurou enquanto beijava o pescoço dela e acariciava seu clitóris devagar. — Eu jamais faria isso com você.
soltou um gemido baixo no ouvido de , fazendo-o acelerar o movimento. Àquela altura, já rebolava novamente sobre os dedos de , que logo começou a penetrá-la e estimulá-la no clitóris ao mesmo tempo.
tinha os olhos fechados com força enquanto subia e descia nos dedos de . Ela simplesmente não conseguia pensar em nada que não fosse e seus dedos maravilhosos.
também não precisou fazer tanto esforço, logo já soltava um gemido alto e cruzava as pernas, estremecendo fortemente, continuou forçando os dedos mais alguns segundos até que caiu exausta sobre ele. tirou o cabelo de de seu rosto e sorriu fracamente para ela enquanto acariciava seu rosto. Ambos tinham as respirações e corações acelerados, mas sentiam-se extremamente bem. Não havia mais medo, insegurança, nada de ruim. Só o que pairava naquela sala, era o amor que sentiam um pelo outro.
Encararam-se por alguns segundos e riram do que haviam acabado de fazer. balançou a cabeça negativamente e escondeu o rosto no pescoço de , fazendo-o abraçá-la com força e murmurar:
— Eu amo você.
Joanne tinha um sorriso meigo no canto dos lábios, o que encantava o rapaz à sua frente.
— Não posso ficar aqui por muito tempo, infelizmente — o rapaz suspirou. — Só eu estou por aqui, e você sabe…
— Estão com alguém aí dentro, né? — Jo suspirou. — Sinto muito por fazer esse tipo de trabalho. Você é um rapaz bom.
Ele riu fracamente e fitou o rosto inocente da moça. Se ela ao menos soubesse o que ele já fizera durante seus poucos anos de vida... Ele tinha certeza que se Joanne soubesse metade das coisas já viveu e fez, desistiria dele. Ele também desistiria se fosse ela. Na verdade, ele nem sequer se envolveria com um homem tão... Merda. Em sua opinião, Joanne era uma garota inocente e de bom coração, o contrário da irmã, Amanda, que não passava de uma vadia metida a inteligente.
— Veja, Jo, não quero falar de trabalho — ele sorriu abertamente. — O que acha que irmos almoçar juntos amanhã?
— Seria ótimo — Jo sorriu. — De quem é aquele carro chegando ali?
O rapaz virou-se para trás e sentiu a respiração falhar. Merda, merda.
— Eu preciso voltar — ele disse rápido. — É o carro do meu chefe. Se ele me pegar de conversa aqui, me mata. Realmente me mata.
— Quem está lá dentro, Andy? — Joanne perguntou, segurando-o pelo braço.
— Ninguém que você conheça — ele respondeu firme e se soltou. — Até depois, linda.
— Andy! — Joanne gritou, tentando fazer com que, pelo menos, Amanda a escutasse e desse um jeito de sair daquele lugar, ou as coisas ficariam feias.
Joanne passou as mãos pelos cabelos e pensou em algo para fazer. Aquele maldito casarão só havia a porta da frente, não teria como Amanda sair de lá sem ser vista. Ainda mais com aquele homem infeliz que estava preso com ela!
— Droga, droga, droga... — Joanne murmurava enquanto, disfarçadamente, ia rondando o casarão.
Andou até a pequena janela que ficava do outro lado da casa, tentando manter a calma. Mas pelo que notara, seu primo havia pensado até mesmo naquilo. Nunca uma pessoa seria capaz de passar por aquela janela, de tão pequena que era. Joanne suspirou e observou a janela. Ficou na ponta dos pés e tentou enxergar algo dentro do local, mas não dava para ver quase nada. Além da janela ser pequena, o local era escuro também.
A garota mordeu o lábio inferior e fora voltando para a frente do casarão devagar. Sabia que Andy pensaria que ela estava esperando ele acabar de conversar com seu chefe, pobre rapaz iludido. Joanne puxou o celular do bolso e digitou algo rapidamente, enviando a mensagem para Amanda logo em seguida. Andy conversava com um homem alto que Joanne não estava reconhecendo, também não perdeu tempo tentando fazê-lo. Deixaria aquela parte para Amanda, tinha certeza que a irmã conhecia aquele homem. Amanda sempre conhecia todo mundo.
O tempo passava tão lentamente que Joanne já estava ficando agoniada. Amanda não respondia sua mensagem e, ao que tudo indicava, Andy entraria com aquele homem e então tudo estaria acabado. Completamente acabado. Todos morreriam. Joanne morreria. Amanda morreria. O homem que estavam tentando ajudar morreria. Iriam todos para o inferno da forma mais lenta e dolorosa que existisse. Joanne sabia bem o que aqueles malditos eram capazes de fazer, infelizmente.
Joanne voltou seus olhos para a frente da casa, mas ninguém se encontrava mais por ali. No mesmo instante sentiu seu corpo estremecer e o coração acelerar. Aquele era o fim, então? Porra! Maldita hora que deixara se levar por Amanda!
Jo passou as mãos pelos cabelos, prendendo-os em um coque de qualquer jeito. Precisava tirar Amanda de dentro daquele lugar de qualquer forma. Digitou mais uma mensagem para a irmã e esperou alguns segundos, e então o nome de Amanda brilhou no celular, fazendo-a suspirar.
Na mensagem continha apenas uma frase:
“Está tudo sob controle, abra a porta do carro e espere.”
Joanne xingou baixo e destrancou todas as portas do carro. Ainda nervosa, caminhou até a frente da casa. Precisaria enrolar Andy novamente, depois, daria um jeito de apagar as luzes dali. Como ela não fazia ideia, ainda, mas ela o faria. E tiraria Amanda dali sã e salva, junto com aquele homem estranho.
suspirou mais uma vez, sentindo todo seu corpo doer. Estava escondido perto da entrada/saída com Amanda, que agora pensava num jeito de saírem dali sem serem vistos. Amanda mexeu no celular rapidamente e a fitou, tenso. Ela lançou um sorriso fraco para o homem, como se tentasse tranquilizá-lo.
Observaram, então, Andy acabar de falar com o homem que chegara de repente. Estavam, provavelmente, se despedindo. Amanda não pôde ver o rosto do homem já que estavam abaixados ao lado de um móvel de madeira qualquer — talvez um típico barzinho, já que haviam copos e garrafas em cima —, mas tinha certeza absoluta que o conhecia. Jamais confundiria aquela voz. Aquele corpo. Aquela autoridade que ele exalava a cada passo que dava. Porém, na realidade, Amanda não queria conhecê-lo. Não queria aceitar que ele, justo ele, estava metido naquilo. Por que diabos ela sempre se apaixonava por um homem sem caráter algum? Talvez aquilo fosse de família. Ou simplesmente o seu carma.
Naquele momento, finalmente, Amanda notara que não havia ninguém para confiar além de sua irmã. Estava, sim, seguindo seu coração e ajudando aquele estranho, mas... Mas talvez fosse por pena. Uma intuição boba. Ele não parecia merecer tudo aquilo que estava sofrendo, ela apenas juntou o útil à boa ação. Queria dar um jeito de ferrar Apolo e seus amiguinhos, e conseguiria aquilo tirando aquele homem dali e, como consequência, o ajudaria a voltar para sua família caso tivesse uma. Iria para o céu por isso. Já que não podia confiar no homem por quem se apaixonara, por que não ferrá-lo junto com Apolo para que aprendesse a lição e parasse de enganar mulheres por aí? Se Apolo tinha apenas um dedo metido naquela história, aquele desgraçado que fora conversar com Andy tinha a porra do corpo inteiro.
Amanda sentiu seu coração acelerar e sua respiração falhar, ainda estava apreensiva apesar da decisão que tomara. Num movimento automático, forçou o corpo contra o móvel mais uma vez enquanto fitava o celular esperando algum sinal da irmã. Joanne era uma garota muito esperta, e Amanda agradecia por aquilo. Por sorte, Joanne conseguira mandar mensagens para Amanda, fazendo com que ela desamarrasse e conseguissem se esconder ali. Agora só precisavam de um mísero sinal para conseguirem sair. Ficaram ali por mais alguns poucos minutos, até Amanda notar que o homem alto já havia saído do local e Andy permanecia ali, esperando que ele desaparecesse para conseguir falar com Joanne mais uma vez.
— Quem era ele? — perguntou baixinho e Amanda o fitou. — Não consegui vê-lo.
— Não perdeu nada — Amanda respondeu no mesmo tom de voz e observou Andy parado na entrada no local. Aquele infeliz não sairia dali nunca?
— Custa me dizer o nome? — insistiu. — Você já começou a merda tentando me tirar daqui, Amanda.
— Será que pode calar a porra da boca? — pediu ainda aos sussurros e puxou o celular novamente, digitando algo rápido e direto para Joanne. — Você nem sequer me disse seu nome verdadeiro, aliás. Não me venha com essa história de Noah, porque não acredito nela. Sei que não é verdade.
— Só me diz quem ele é — pediu mais uma vez, vendo que a garota já estava prestes a perder a paciência. Logo ela abriria a boca. Ficaram em silêncio por alguns segundos, até Amanda ler a mensagem que Joanne enviara. — Joanne vai dar um jeito de quebrar as lâmpadas dali — Amanda apontou —, assim que a primeira apagar nós vamos sair daqui — ela explicou e balançou a cabeça. — Aquele homem é um outro primo meu, infelizmente. Ninguém que você precisa conhecer.
juntou as sobrancelhas, confuso. Lembrava-se muito bem de quando Eric dissera que ele só tinha duas primas, sendo elas Amanda e Joanne apenas. Talvez pudesse ser por parte de mãe, logo, não teria parentesco algum com .
— Como ele se chama? — perguntou e Amanda bufou, virando-se para ele.
— Qual o seu problema? — ela sussurrou. — Está querendo saber da minha família agora? Se formos pegos vamos morrer! Então trate de calar a porra da boca!
— Só me diz o nome dele — mordeu o lábio inferior. — Por favor.
— — Amanda falou rápido, como se quisesse se livrar daquilo. — O nome daquele maldito é .
deixou seu queixo cair, literalmente. Segurou-se o máximo que pôde para não soltar uma gargalhada alta e um palavrão em seguida. Estava chocado. Como diabos alguém estava se passando por ele em Palermo? Porque era basicamente impossível existir outro por aí. Impossível!
estava paralisado, completamente paralisado. Bagunçou os cabelos e murmurou coisas desconexas, fazendo com que Amanda o encarasse um bocado assustada. Ignorando as crises que o homem ao seu lado estava tendo, Amanda disse firme:
— Vem, vamos. Joanne já deu um jeito de quebrar a primeira lâmpada e Andy está saindo.
Amanda se levantou e puxou pela mão rapidamente, fazendo-o se levantar também. Porém, para a surpresa da garota, ele parou no meio do caminho e a encarou nos olhos.
— O que é? — ela perguntou. — Vamos logo! Temos pouco tempo!
— Eu sou , Amanda — ele soltou, de uma vez por todas, firmemente.
Jullie soltou um suspiro pesado. Tantas horas para aquele maldito sumir, e ele some exatamente no momento em que ela está com problemas.
Ela simplesmente não aguentava mais ter que ouvir falar do nome daquele desgraçado, não aguentava mais aquela Emma tentando controlá-la, não aguentava mais seu próprio tio dando razão para aqueles malditos ingleses. Estavam todos estragando seus planos. Simplesmente arruinando tudo o que planejara por dois anos inteiros, desde que descobrira que poderia acabar com aquele Castellamare com uma simples pessoa, fazendo um simples trabalho. Mas aí, por obra do maldito destino, esses ingleses de merda decidiram invadir sua área, se meter em seus planos, atrapalhar a porra toda. Desnecessários.
Isso, eles eram desnecessários em sua vida e em seus planos.
Filhos da puta e desnecessários.
Jullie não precisava deles para trabalhar, somente seu tio de merda que achava que eles poderiam fazer alguma coisa. A única coisa que aconteceria ali, de verdade, era o maldito descobrir suas raízes e ver que haviam pessoas até ali querendo fodê-lo da pior maneira que existia.
Jullie não merecia lidar com aquilo, não mesmo. Não estudara a vida inteira para se passar de babá de um homem de trinta e um anos. Já bastava Apolo para ela lidar, que era um crianção num corpo de vinte e oito. Ou vinte e nove. Ah, a idade exata dele não importa.
Jullie chutou a lixeira que estava no canto da sala do tio e respirou profundamente. Esperava que Amanda tivesse sido intrometida mais uma vez. Aquela garota era esperta e se meteria nos negócios da família novamente a qualquer momento. E Jullie realmente esperava que ela a procurasse, porque era sempre assim. A propósito, Amanda é o que é hoje graças à Jullie. Se não fosse por ela, Amanda seria tão cega quanto a irmã ou talvez até mais.
— Vamos, Amanda. Se meta nesse inferno — Jullie sussurrou, segurando o celular com força. — Seja o maldito monstrinho que eu te transformei, pela última vez. Descubra tudo, garota idiota.
Jullie deixou um suspiro escapar e soltou uma risada em seguida. Estava ficando louca. É, estava sim. Tudo culpa daquele inferno em que vivia. Vida desgraçada. Emprego desgraçado. Sede de vingança desgraçada. Jullie tinha se tornado exatamente o que seu pai mais temia: uma vadia desgraçada e sem coração, implorando por vingança.
O toque tão conhecido de seu celular ecoou pela sala, fazendo-a sorrir aliviada. Que começassem os jogos, novamente. Talvez ter os ingleses ali pudesse tornar tudo mais divertido.
Amanda fechou a porta de trás do carro e soltou, finalmente, todo o ar que estava prendendo nos pulmões. Recusava-se a acreditar em tudo que aquele maldito homem, que agora estava ao seu lado, dissera. A tensão que estava dentro daquele maldito carro, que estava em alta velocidade graças à Joanne, era quase papável. Joanne, obviamente, não sabia bem o porquê mas Amanda parecia saber até demais, assim como o homem ao seu lado.
— Eu quero que me prove — Amanda disse de repente, atraindo o olhar de . — Isso não é possível. Não pode, simplesmente não pode, existir dois no mundo! Alguém está mentindo nessa porra e eu realmente espero que seja você. Não que eu vá te mandar de volta para aquele inferno de novo — Amanda suspirou. — Já te ajudei e não me arrependo por isso. Porque, se você estiver dizendo a verdade, por mais que eu ache isso impossível, já terei dado minha vingança naquele maldito. De qualquer forma, eu agradeceria se você me explicasse toda essa maldita história.
— Não tem o que explicar — tentou se manter calmo. Estava tão atordoado e perdido quanto a garota. — Eu sou o , fim.
Joanne freou o carro bruscamente, fazendo-os voar para frente. soltou um gemido de dor e tocou seu próprio rosto, sentindo ainda mais dor.
— Jo, o que houve? — Amanda perguntou, tentando se arrumar.
— Você ouviu o que ele disse?! — Joanne se virou para trás. — Como diabos você poderia ser o ?!
— Volte a dirigir, Jo. Não temos tempo! — Amanda exclamou. — Precisamos chegar à praia logo! E ainda temos, o que, quarenta minutos de viagem?!
Joanne não respondeu, apenas acelerou o carro novamente. Estava confusa, atordoada e com medo de onde diabos havia se enfiado. Esperava, de verdade, que Amanda tivesse como tirá-las daquela situação.
— Como se envolveram nisso tudo? — perguntou baixo.
— Isso não interessa a você — Amanda respondeu. — Quem deveria estar perguntando sou eu.
— Conhece Jullie Alexander? — perguntou. — Tenho certeza que sim. Ouvi dizer que ela andou salvando vocês por aí. Ligue para ela e pergunte quem eu realmente sou. Vim aqui a trabalho, estou com ela nesse inferno.
Amanda não respondeu, apenas o fitou por alguns segundos e puxou o celular do bolso. Discou os números de Jullie rapidamente e esperou a mulher atender.
— Achei que nunca fosse ligar, Amanda. — A voz irritada de Jullie ecoou pelos ouvidos da mais nova, fazendo-a revirar os olhos.
— . Qual deles é o verdadeiro? — Amanda foi direta. — Estou com um deles, Jullie. Na verdade, já estive com os dois. Por Deus, me diz que o que está mentindo é o que está comigo e completamente fodido.
Jullie ficou em silêncio por alguns instantes. Não sabia o que fazer. Sabia que o outro tal e Amanda se envolveram por sua culpa, agora ela precisaria abrir o jogo com a garota e dizer logo a maldita verdade.
— Me desculpe, Amanda. De verdade. Não quis mentir para você, mas foi necessário. Era o meu trabalho. — Jullie suspirou. — O que está com você é o verdadeiro.
— Então quem diabos é o outro com quem me envolvi, Jullie?! — Amanda elevou o tom de voz e arqueou uma das sobrancelhas. Então todo aquele maldito problema era porque ela estava apaixonada pelo outro cara? — Que merda, que merda, que merda! Onde você me envolveu dessa vez?
— Você não queria tanto saber sobre sua família? Aí está ela. Esse homem que você salvou hoje é seu primo. De verdade. Me desculpe por isso.
— Que inferno, Jullie! Que inferno! Você levou aquele maldito para minha casa! — Amanda gritou e Joanne engoliu a seco. — Ele virá atrás de mim, não é?
— Não vou deixar que nada te aconteça, miss .
— Foda-se! Não quero saber da sua proteção! — Amanda praticamente gritou mais uma vez. — Eu perguntei se ele virá atrás de mim.
— Se ele souber onde você está, sim, irá. Mas ele não vai saber. Não precisa nem me dizer para onde está indo, basta largar esse aí em qualquer lugar. Eu o pego e te mando proteção pra cidade que voc...
— Não vou fugir por causa dele — Amanda disse firme. — Estarei na casa de praia. Você sabe onde é, vá buscar seu amiguinho lá.
— Você sabe que eu não pos...
Amanda não esperou Jullie acabar de falar, apenas desligou o celular. Estava irritada e, além de tudo, sentia-se extremamente triste. Fora enganada. Completamente enganada por um trabalho idiota de Jullie. Poderia, simplesmente, fazer tudo dar errado para ela, mas ainda se lembrava de tudo que Jullie fizera. Não queria ferrá-la totalmente. Só de fazê-la ter que ir para a maldita casa de praia já era um grande castigo.
Punta Raisi: Aeroporto Internacional de Palermo.
abraçou Emma com força, suspirando em seguida. A viagem não fora tão longa, mas estava cansada. Odiava viajar, sempre sentia-se cansada e irritada. Quando eram viagens boas, ela ainda fazia um esforço. Mas viagens a trabalho e pelo motivo que ela estava ali em Palermo, não era algo tão bom e aceitável assim.
— Como você está? — Emma perguntou baixinho, enquanto caminhava ainda abraçada com . — Sabe que ele irá surtar quando te vir aqui, certo?
deu uma risada fraca, respondendo:
— Ele surtaria de qualquer forma, porque mesmo estando em Londres me meteria nessa — ela deu de ombros. — Eu diria que estou bem, mas acredito que você logo notaria o contrário. Mas enfim. E você, como está?
— Cansada, esgotada e irritada — Emma suspirou. — Nicholas ficou com a Beth e o Jesse, sim?
— Sim — suspirou. — Está tudo bem por lá, não se preocupe. Elizabeth sempre tem tudo sob controle e Jesse é um homem extremamente prestativo e inteligente. Quanto ao Nicholas, é um rapaz adoravelmente curioso.
— Estou com saudades do meu bebê — Emma suspirou. — Enfim! Vamos rápido, porque você ainda precisa se ajeitar e descansar um bocado. Eu e Charlie estamos hospedados em um dos apartamentos de um amigo dele, você ficará lá com a gente enquanto estiver aqui. O apartamento é até aconchegante, você vai se adaptar bem.
— Obrigada, mas não precisa se preocupar muito com isso — disse baixo. — Eu só devo usar o lugar para dormir. Você sabe que eu vou atrás de todos os nomes que tenho aqui.
— Sei. Mas, se eu fosse você, não arriscaria isso agora — Emma abriu a porta do carro. — Isso não vai dar certo sem o com você.
— Relaxe, Emma — jogou suas coisas de qualquer jeito no banco de trás. — Tenho meus contatos e um jeito único de trabalhar. Vou me sair bem. Só preciso de notícias do antes de fazer qualquer coisa. Ele com certeza não vai querer se meter nisso, então… — ela deu de ombros.
No exato momento em que dissera isso, o celular de Emma tocou e o nome de Charlie piscou na tela do mesmo.
— Fala, Charlie — Emma atendeu e ligou o carro.
— Já está com a ?
— Sim — Emma respondeu. — Estamos indo para o apartamento.
— Diga para ela, então, que a sorte está do nosso lado.
— Hã? Por quê? — Emma parou no primeiro sinal.
— Parece que sente o cheiro dessa mulher. Foi ela aparecer para recebermos notícias. Uma das primas dele acabou de ligar para Jullie dizendo que está com ele. Vivo. Salvo. Bem. Com alguns machucados, mas, ainda assim, vivo. Não vá para o apartamento, venha para a delegacia.
Após dizer isso, Charlie desligou e Emma deixou um suspiro aliviado escapar. Virou-se para com um sorriso no canto dos lábios e murmurou:
— Parece que você realmente nos dá sorte, .
desceu do carro e seguiu Amanda em direção à casa. Era até uma casa bonita, mas ele nem sequer se preocupou em observá-la. Estava cansado demais, com sono demais, com fome demais, sede demais... , definitivamente, não estava bem. Nem sequer sabia quanto tempo ficara trancafiado com aqueles caras, mas sabia que pegaria um por um e mataria. Não lentamente porque não teria tempo, mas mataria cada um deles. Cada um da forma que brincara de roleta russa. Um tiro no olho, outro na boca, outro na cabeça, só por diversão. Eles realmente não vão gostar do de verdade quando se encontrarem novamente. Caras idiotas. Quem eles pensavam que eram, afinal? Os incríveis? Os melhores do mundo? Os mais espertos? Bando de idiotas, isso, sim. Não sabiam nem criar uma boa quadrilha. só precisava, agora, descobrir quem era o cabeça daquilo tudo. Quem comandava. Apolo ele tinha certeza que não era. Se fosse, teria lhe dado um belo tiro no meio da testa em vez de um gole de água.
— ? — Joanne chamou. — Pode entrar. Fique à vontade. Vou ver se tem algumas roupas aqui para você.
— Vocês trazem homens para cá? — arqueou uma das sobrancelhas e Joanne corou levemente.
— Alguns amigos sempre deixam roupas aqui — ela respondeu, revirando os olhos. — Mas a maioria das que temos são dos nossos tios. Algumas até mesmo do nosso pai — ela deu um sorrisinho fraco. — Enfim. Senta aí e descansa um pouco, vou ver se a Amanda faz algo para você comer. Está precisando, eu suponho.
— Estou — deu uma risada fraca. — Obrigado por isso. Vocês estão sendo ótimas.
— Não agradeça — Joanne deu de ombros. — Pelo menos não a mim, porque eu não concordava com nada disso. Foi tudo ideia da Amanda, sem nem mesmo saber que você é o nosso verdadeiro primo. Enfim, espere aí. Vou buscar as coisas para você.
— Tudo bem — respondeu baixo, mas Joanne já estava subindo as escadas. Tinha primas maravilhosas e nem sabia daquilo, nunca nem sequer tivera vontade de saber. E agora estava ali, sob seus cuidados. sentia-se um bocado idiota naquela situação, e isso só aumentava sua vontade de socar todas aquelas pessoas. Incluindo os que fizeram ou tentaram fazer mal às suas primas.
deixou o corpo cair sobre o sofá e respirou fundo. Não demorou muito para Joanne aparecer na sala com algumas roupas e toalha nos braços.
— Foi o que consegui encontrar — Joanne murmurou. — Vá tomar um banho e se trocar. Acredito que eu e Amanda conseguimos fazer algo para comermos nesse meio tempo.
— Obrigado — pegou as coisas das mãos de Joanne e sorriu fracamente.
— Por nada — ela retribuiu o sorriso. — O banheiro é a terceira porta à direita, naquele corredor — ela apontou.
não disse nada, apenas balançou a cabeça e seguiu na direção indicada. Assim que deixou a sala, Joanne seguiu até a cozinha, onde sua irmã estava.
— Mandy...
— Que inferno, Jo, que inferno! — Amanda murmurou, deixando as panelas de lado. — Eu não esperava por isso. Eu sabia que tinha que salvar esse cara, mas eu jamais iria imaginar que ele era nosso primo — ela suspirou. — E pior: jamais imaginaria que aquele outro... Aquele desgraçado, estava se passando por outra pessoa. A Jullie sabia disso, só não nos contou.
— Eu disse para você não se envolver nisso — Joanne suspirou e abraçou a irmã. — Você não tem juízo algum. Mas pelo menos salvamos o verdadeiro e eu espero que ele nos conte tudo, ou pelo menos o que puder contar. Espero que ele pelo menos preste e que não se envolva com você e...
— Jo! — Amanda deu uma risada fraca. — Você sabe que sou completamente apaixonada pelo de mentira — ela riu novamente. — Mas não me importo mais com isso, vamos focar no que está conosco agora. Não me meto mais com primo nenhum.
— Até porque não temos mais nenhum... — Joanne brincou novamente, fazendo com que Amanda lhe desse um tapa fraco e voltasse para o fogão. — Você sabe que eu te amo, não sabe?
— Sei — Amanda sorriu e se virou para apertar as bochechas da irmã. — E eu te amo também. Agora me ajude a acabar com isso, porque o deve estar morrendo de fome. E eu confesso que estou também.
Ficaram ali conversando e fazendo macarrão com um molho qualquer. Não havia nada que relaxasse Amanda se não cozinhar com a companhia da irmã. Já que a merda estava feita, o jeito era tentar se distrair e aproveitar os poucos minutos de paz que ainda restavam.
Alguns minutos se passaram e saiu do banho. Sentia-se um novo homem. Era impossível não se sentir daquela forma depois de um banho tão maravilhoso. Melhor que aquele banho, só, provavelmente, a comida que as meninas fizeram. Porque o cheiro estava incrivelmente delicioso.
— Ah, senta aí, — Joanne murmurou ao vê-lo na entrada da cozinha. — Amanda inventou um macarrão com um molho qualquer por cima, mas é delicioso. riu fracamente e Amanda revirou os olhos.
— Na verdade, é só macarronada simples — Amanda rebateu enquanto entregava um prato para . — Joanne me ajuda na cozinha, mas não entende absolutamente nada.
— Não seja mal agradecida! — Joanne resmungou e abriu a geladeira, pegando uma grande jarra de suco. — Vamos comer, por favor. O parece faminto.
— E eu estou — ele murmurou, rindo fracamente em seguida. — Obrigado por tudo isso, garotas. De verdade.
— Não precisa agradecer — Amanda murmurou. — Enfim, vamos comer!
Serviram-se e começaram a comer calmamente, com exceção de , que tentava não se descontrolar. Por Deus! Ele estava sem comer direito sabe-se lá quantos dias e aquela macarronada estava boa para caralho! Amanda sabia bem como cozinhar. Aquilo estava realmente delicioso, tão delicioso que sequer se importou se estava se sujando de molho e se as risadas das garotas eram por sua causa. Ele tentara ao máximo não perder o controle para não comer feito um bicho, mas estava impossível.
Aquela macarronada de Amanda estava, definitivamente, no seu topo de comidas favoritas.
— Onde aprendeu a cozinhar assim? — perguntou enquanto limpava a boca. — Estava realmente bom.
— Obrigada — Amanda riu fracamente. — Cresci na cozinha. Sempre gostei. Aprendi praticamente tudo com a mamãe enquanto a Jo ficava com o papai falando sobre carros.
— Eu não nasci para ficar na cozinha, já disse — Joanne murmurou. — Enfim, eu vou descansar um pouco. Boa noite para vocês.
— Boa noite, Jo — Amanda murmurou e apenas deu um sorriso fraco.
— Pode me emprestar o celular um minuto, Amanda? — perguntou um bocado sem jeito.
— Tudo bem — a garota pegou o aparelho que estava em seu bolso e entregou nas mãos do primo. — Fique à vontade. Vou tomar um banho.
— Certo — ele mordeu o lábio inferior. — Obrigado, Amanda — ele disse um bocado mais alto, já que a garota saía da cozinha. — Por me tirar de lá. Por me trazer até aqui. Por tudo o que está fazendo sem nem ao menos me conhecer.
— Por nada — ela sorriu. — A propósito, não é como se eu não te conhecesse. Bem, a Jullie deixou bem claro que você é o meu primo de verdade. Não tem motivos para você me fazer mal. Tem?
Amanda piscou um dos olhos e saiu da cozinha de vez, sem esperar por uma resposta.
balançou a cabeça negativamente e discou o número de Emma rapidamente. Não demorou muito para que ela atendesse. Com certeza Emma já esperava sua ligação.
— Ei, Emma — murmurou e esperou por um xingamento que não veio.
— Como você está? Quase que você me mata, .
— Estou bem, não se preocupe — ele riu fracamente. — Estou com as minhas primas.
— Mas já estão assim? Para quem não queria nem saber dos parentes...
— Cala a boca — ele riu mais uma vez. — Elas são piradas, Emma. Você precisa ver. Está escrito nas testas delas que são dessa porra de família.
— Eu sei, a Jullie já tinha comentado sobre elas. Mas ei, me diz: o que fizeram com você?
— Prefiro não falar sobre isso agora. Deixe isso para quando nos vermos pessoalmente, acredito que já estejam a caminho. Jullie parece conhecer bem o lugar onde estamos.
— Sim. — Emma riu. — Dentro de uma hora estaremos aí. As meninas já foram dormir?
— Só a Joanne. Por quê?
— Que bom, porque parece que o assunto é só com a Amanda. Enfim. Tenho que te falar uma coisa.
— Fala.
— A . Eu não sei se você sabe, mas ela...
— Está aí — a cortou. — Certo?
Emma não respondeu, apenas suspirou. No mesmo segundo, sentiu seu coração acelerar. Sentia tanta saudade que nem sequer tivera tempo para se estressar com aquilo. A única coisa que queria era poder abraçá-la mais uma vez.
— Posso falar com ela? — ele perguntou baixo. — Ela está acordada, não está?
— Sim, , está — Emma riu.
— Chame-a, por favor.
— Posso jurar que seu tom é de súplica. — Emma debochou e revirou os olhos. — Espere aí.
— Talvez seja, e eu não me importo.
Alguns segundos se passaram e pôde ouvir um suspiro do outro lado da linha. Automaticamente um sorriso brotou no canto de seus lábios.
— ? — ele chamou baixo e podia jurar que ela estava de olhos fechados e apertando o celular contra a orelha com força. — Fala comigo.
— Você é um idiota. Um filho da puta idiota. — murmurou, fazendo-o rir. — Tem ideia de como eu fiquei quando soube o que te aconteceu? Eu achei que nunca mais fosse te ver...
— Mas estou aqui agora. E bem — ele sorriu. — Senti sua falta. E em alguns momentos eu também pensei que jamais iria te ver de novo. Pensei em desistir, também. E em deixá-los me matar. E em não fugir com a Amanda. E em me matar. E em mais um monte de merda. Mas aí eu lembrava de você a cada pensamento idiota desses e via que eu tinha que continuar tentando. Por você. Sabe, toda essa luta, toda essa coisa, foi tudo por você. Só pra gente ter um pouquinho de paz. E olha só, está dando certo.
— Como pode estar dando certo se ainda estamos nesse inferno, ? — ela perguntou baixinho e achou, por um momento, que ela começaria a chorar no segundo seguinte. — Ainda estamos em Palermo e pessoas morrem o tempo inteiro. Você provavelmente está tão machucado que mal se aguenta em pé e pensando em como vai se vingar de quem fez isso com você. Não diga que isso é por mim, por favor. Eu só quero que você fique bem. Comigo, mas bem. Sem pensar nessas coisas. Por favor. Vamos voltar para casa assim que amanhecer. Não quero correr riscos de novo. Não quero que você corra riscos. Imagine só, , se você morrer? Por Deus, eu não sei o que faria e...
— Ei! — a cortou. — Para com isso. Não vou morrer e você também não. Não podemos ir embora agora, você sabe disso. E não é só porque quero pegar os caras, é porque tem mais coisa envolvida. Tinha gente usando meu nome por aqui, . Eu quero saber o porquê. Me desculpe, de verdade, ser esse idiota filho da puta que sou. Mas não posso e muito menos consigo mudar agora. Eu amo você, isso não é o suficiente? Eu estou bem agora, juro que estou. E eu prometo que logo vamos nos ver e você, depois, se quiser, poderá voltar para Londres tranquila. Mas eu vou finalizar esse maldito trabalho e, de brinde, acabar com todos esses desgraçados que me fizeram mal.
— Não sei por que diabos ainda pensei que conseguiria te convencer do contrário. De qualquer forma, daqui a pouco estarei aí junto com Emma.
— Não fica chateada — pediu, rindo fracamente. — Quando você chegar aqui vai ver que eu estou bem, apesar dos poucos machucados. Só estou um pouco cansado, mas não me importo de me cansar ainda mais se for com você...
— Vai se foder, — murmurou revirando os olhos enquanto tentava não rir.
— Você sabe bem o que eu vou foder...
— Tchau, . Até daqui a pouco. — disse sem segurar uma risada.
— Até daqui a pouco. E não se faça de difícil, — ele rebateu ainda com um sorriso nos lábios e gargalhou, fazendo com que se sentisse mais aliviado. Ela não estava realmente brava, talvez só um bocado preocupada. Mas não tão puta quanto ele pensou que estava.
— Tchau, .
— Tchau, .
Apolo respirou o mais fundo que conseguiu, tentando se acalmar. Aquele moleque, Andy, era um idiota. Um completo idiota que não podia ver um rabo de saia que logo ia atrás. Onde já se viu confiar naquela Joanne que de santa só tinha a cara? Andy comia algum tipo de merda.
— Para mim já chega — Apolo disse firme, tentando não gritar. — Olha aqui, Andy, você vai dar o seu jeito mas vai encontrar aquelas vagabundas e o , depois vai matá-los da forma que quiser. Apenas os quero mortos. A já está por aqui, a siga. Faça o que quiser mas encontre o . Eu o quero morto junto com aquelas desgraçadas.
— Apolo, pare de ser dramático — o outro homem presente, que estava em silêncio até então, se pronunciou. — Não acha que o Andy conseguirá matar a Joanne depois de tudo o que nos disse, acha? — ele revirou os olhos. — E a Amanda é gostosa demais para morrer agora — ele mordeu o lábio inferior enquanto lembrava-se de seus momentos com a garota. — Sem contar eu já expliquei que o momento de distração dele foi minha culpa.
— Não te perguntei porra nenhuma — Apolo rebateu. — Quero todos mortos. Pouco me importo se você, Andy — Apolo se virou para o rapaz que mantinha-se calado —, está apaixonado pela Joanne. Se não quiser matá-la, recomendo que fuja — Apolo se aproximou mais e finalizou sua fala: — Para outro planeta, meu amigo. Porque eu te encontro com aquela vadia em qualquer lugar.
O outro homem presente riu e jogou o cigarro pela janela, falando em seguida:
— Não seja tão malvado com o rapaz. Dê outra chance a ele, Castellamare.
— Vá para o inferno e não se meta nos meus negócios. Eu simplesmente cansei de você — Apolo tentou manter a calma. — Antes eu tivesse te deixado morrer quando aquela maluca me pediu ajuda. Você não serve para absolutamente nada. Por mim esse trabalho já está feito, você que decidiu lerdar a porra toda. Agora vou consertar as merdas que você fez, então trate de calar a maldita boca e não se meter no que eu mando! — Apolo gritou, de uma vez por todas, sentindo-se mais leve em seguida. — Espero que tenha ficado claro para você, Andy. Não caia na ladainha desse desgraçado aqui — Apolo apontou para o homem ao seu lado — mais uma vez. Ou eu acabo com você e todos eles com minhas próprias mãos. Vocês dois sabem que sou capaz disso e de coisas muito piores. Portanto, tratem de fazer o que eu mando.
— Você não manda nem em si mesmo, Apolo — o homem murmurou numa calmaria tão grande que nem sequer parecia que havia acabado de sumir de suas vistas. — Pare com todo esse teatro, por favor. Está ficando cansativo. Todos nós sabemos que, agora, virá nos procurar. Saiba esperar, Castellamare. É tudo questão de tempo. Já ouviu falar que a pressa é inimiga da perfeição?
— Vá para o quinto dos infernos com esses seus ensinamentos — Apolo bufou. — Eu já disse o que quero. Não se atreva a se meter nisso — disse firmemente para o homem, encarando-o nos olhos. — Não quero ter que matar você também.
O homem apenas riu e revirou os olhos. Entretanto, Apolo pouco se importou com o deboche. Queria mais é que ele se metesse em seus negócios mais uma vez, aí teria um grande motivo para matá-lo também. E aí acabaria todo aquele circo.
ouviu a campainha tocar e seu coração, automaticamente, acelerou. Talvez por nervosismo, talvez por ansiedade, talvez por medo. Ele não tinha certeza do porquê daquilo, já que qualquer um poderia estar do outro lado da porta. Poderia, sim, ser Charlie, assim como poderia ser aquela quadrilha filha da puta que estava tentando matá-lo a todo custo. E ele estava ali, sentindo como se tivesse que cuidar de duas garotas e completamente desarmado.
A campainha tocou mais uma vez, tirando-o daquele transe. E então Amanda surgiu na sala, encarando-o sugestivamente. Pelo olhar da garota ele percebeu que não teria como ser aqueles desgraçados, mas ainda estava nervoso e pensando no que faria caso eles estivessem ali.
— , toma isso — Amanda puxou uma pistola da gaveta de um dos móveis da sala, que ele até então não havia reparado. — Estarei lá em cima com a Joanne.
— Certo — ele pegou a arma da mão da garota. — Obrigado.
— A propósito, a última porta à esquerda é a sua, caso fique por aqui o resto da noite — ela sorriu fracamente e se retirou da sala.
suspirou e caminhou até a porta de uma vez por todas. Engatilhou a arma e segurou a maçaneta com força. Estava parecendo um iniciante sem experiência alguma, mas todo aquele nervoso era pelo simples fato de que ele poderia dar de cara com depois de tudo o que passou e simplesmente não sabia como agiria. Se fosse Apolo e seus vermes, ele os mataria facilmente. Tinha essa certeza. Mas simplesmente não sabia o que faria assim que visse sua garota em sua frente depois de tantas coisas.
Por fim, abriu a porta enquanto mirava a arma na direção da pessoa. Uma risada conhecida ecoou por seus ouvidos e relaxou os ombros com um sorriso no canto dos lábios.
— Mas que recepção calorosa! — Emma exclamou enquanto puxava o amigo para um abraço forte. — Eu achei que nunca mais fosse te ver, seu idiota desgraçado.
riu fracamente e apertou-a mais contra seu corpo, beijando o topo de sua cabeça em seguida. E então seus olhos foram para o carro que estava parado atrás de Emma, em frente a casa. estava saindo do carro no mesmo segundo e pôde jurar que iria vomitar seu coração naquele instante.
— Desculpe pelo susto — murmurou ainda abraçado à Emma e observando de longe, que tinha um sorriso fraco nos lábios. — Daqui a pouco conversamos de verdade. Tenho que fazer uma coisa e...
— Vai, , vai — Emma revirou os olhos de forma teatral e desfez o abraço. Não demorou muito para passar por ela e seguir em direção à , que, ironicamente ou não, também caminhava em direção a ele.
Se perguntassem a o que ele estava sentindo naquele momento, ele seria incapaz de responder. Assim como .
Cada segundo que passara preso naquele inferno ele pensara em ; em como ela estava, como ela ficaria caso ele morresse, o que ela faria se algo de ruim acontecesse, se ele arrumaria outro, se ela se mataria... Inúmeras coisas ridículas passara por sua cabeça enquanto ficara amarrado naquela cadeira. E, no fim de tudo, ela estava ali: vindo em sua direção com um sorriso fraco brincando nos lábios, e ele não estava tão diferente dela. Qualquer pessoa que observava de fora seria capaz de sentir as emoções do casal. Quem diria, afinal, que eles realmente dariam certo a ponto daquilo tudo? Quem sequer pensara que eles passariam mais de dois meses juntos? Quem pensara que mesmo com todas aquelas brigas e olhares raivosos eles estariam nessa situação? Corações acelerados, olhos marejados e sorrisos nos lábios. Tudo porque estava ali, vivo, bem. Salvo. Talvez realmente o destino deles fosse aquele: ficarem juntos em qualquer circunstância.
parou de andar no exato segundo em que se aproximou de , fazendo-a pensar duas vezes se deveria ou não jogar-se em seus braços. No fim das contas, a puxara pela cintura numa pressão tão grande que ela ficou assustada porém não se importou, apenas aproveitou o abraço.
— Eu achei que fosse perder você — sussurrou enquanto apertava mais a cintura de . — Eu realmente pensei. Você é um idiota, não deveria ter vindo para cá e...
— Shhhhh — apertou-a mais contra o próprio corpo. — Eu estou aqui agora. Tá tudo bem. Você não me perdeu e nunca vai perder, . Você deveria saber disso.
o encarou nos olhos e preferiu não respondê-lo — afinal, o que tinha para falar? —, juntando seus lábios num beijo caloroso. não sabia descrever exatamente o que estava sentindo naquele momento, e talvez nem precisasse. Seu coração, assim como o de , estava tão acelerado que ele chegara a pensar que poderia ter algum ataque enquanto a beijava. Céus, como diabos ele poderia viver sem aquela mulher e seus toques? Em nenhum momento de sua vida pensara que poderia se sentir daquela forma por causa de outra pessoa. E que essa pessoa seria justamente . Em momentos como esse que julgava sua saúde mental. Como pôde, um dia, dizer que a odiava? Era impossível odiá-la, mesmo com sua curiosidade extrema. Susa era encantadora. E dele. Completamente dele.
Afastaram-se um bocado e deu um sorriso fraco ao observar o rosto de com um semblante aliviado. Ele ainda tinha os olhos fechados e as mãos segurando sua cintura firmemente. Ela sentira tanta falta dele. Tanta que não seria capaz de encontrar palavras que descrevesse aquilo. E ter ficado tão perto de perdê-lo fora extremamente desesperador.
— Vamos entrar — sussurrou enquanto descia os lábios por todo seu rosto, chegando em seu pescoço. — Charlie quer conversar com você. E eu acho que todo mundo já entrou. A Jullie é ou era amiga das suas primas, né?
— Uhum — murmurou ainda com o rosto enterrado no pescoço de . Após deixar uma leve mordida por ali, subiu os lábios novamente e colou-os contra os de numa pressa que beirava ao desespero.
Com um sorriso nos lábios, o empurrou levemente pelo peito.
— Vamos entrar. Alguém pode estar atrás de você ainda — ela murmurou. — Sem contar que já está tarde e você provavelmente está cansado...
— Quando chegou aqui? — perguntou puxando-a para dentro da casa.
— Pouco antes da Amanda falar com a Jullie — respondeu e fechou a porta atrás de si. — Parece que eu te dou bastante sorte, né?
riu fracamente e puxou-a pela cintura novamente.
— Parece que sim...
Quando estava prestes a colar seus lábios novamente, uma voz — extremamente irritante, em sua opinião — ecoou pela sala.
— Vocês poderão ir para um quarto daqui a pouco, então, por favor, se controlem enquanto estivermos por aqui — Jullie falou enquanto revirava os olhos. — Estão todos na cozinha, seria ótimo se você fosse para lá nos contar o que aconteceu, .
não respondeu nada, apenas bufou e segurou a mão de , puxando-a para longe.
poderia jurar que se Jullie abrisse a boca mais uma vez, voaria em seu pescoço. Não sabia se aquilo era simplesmente antipatia, mas aquela Jullie não parecia uma boa pessoa. Parecia alguém envolvido em toda aquela merda propositalmente. Mas preferiu não comentar aquilo com , apenas o deixou guiá-la para a cozinha da casa.
— Finalmente... — Charlie murmurou revirando os olhos teatralmente e riu. — Vamos lá, o que aconteceu, ? Você nos deu um susto.
— Eu não lembro de muita coisa — ele deu de ombros e sentou numa cadeira, puxando para ele e fazendo-a sentar em seu colo. Não, ele não desgrudaria dela depois de tudo. — Eu saí da delegacia e fui pegar o carro no estacionamento, e aí eu senti uma porrada na nuca. Quando eu acordei, já estava amarrado. Depois... Bem, depois vocês não vão querer ouvir. Mas enfim. Aquilo, provavelmente, é uma quadrilha da região. Não diria antiga porque só duas pessoas dali sabiam trabalhar como um chefe, e não foi nenhum dos caras que ficaram comigo. Por mais que soubessem torturar, não sabiam se portar como bandidos de quadrilha — ele apoiou o rosto no ombro de , voltando a falar em seguida: — O Apolo apareceu lá. E um outro cara com ele que eu não reconheci, mas a Amanda conhece muito bem.
— O Apolo? — A voz de Jullie ecoou pelo local e pôde jurar que ela estava preocupada. — O outro homem não é importante, eu garanto.
— Não me venha com essa história de novo, Jullie — foi a vez de Charlie falar. — Todos os envolvidos nisso são importantes, você sabe disso. Não somente pelo que aconteceu com o , mas pelas pessoas que morreram aqui e por causa deles. E isso inclui seus pais.
— Não fale dos meus pais, Raymond. Você não sabe de porra nenhuma! — Jullie elevou a voz. — Vocês são um bando de idiotas que não sabem com quem estão lidando...
— Já lidei com gente muito pior — manteve a calma. — Inclusive tinha um conhecido meu naquilo, irmão de um rapaz que prendi. Na verdade, matei o pai deles e, depois de um tempo, prendi os dois.
Jullie preferiu não dizer mais nada, apenas balançou a cabeça negativamente e saiu do cômodo. De qualquer maneira, ela sabia que eles iriam atrás de todos aqueles desgraçados que nem um trabalho sabiam fazer direito e, logo depois, cairiam em cima dela sem acreditar em uma só palavra que dissesse para se defender. Se envolvera sim com todos eles e não se arrependia, entretanto. Fora por trabalho, por vingança, por ódio e por amor — de certa forma. E não seriam eles — um grupinho idiota de ingleses, em sua humilde opinião — que mudaria seus planos.
Após Jullie sair do local, o silêncio reinou na cozinha. Amanda, que até então estava quieta apenas observando a discussão — por mais que a envolvesse —, se levantou e murmurou:
— Eu realmente não sei quem é aquele outro homem. Eu pensava que ele era o , então... — ela deu de ombros — Enfim. Falemos disso quando amanhecer, por favor. Se quiserem, tem quartos o suficiente para todos, sintam-se em casa. Vou dormir agora. Boa noite.
Ninguém sequer teve tempo de responder e Amanda já estava fora da cozinha.
— Nós vamos embora — Charlie murmurou. — Temos coisas para ajeitar, ainda. Se cuidem, por favor. Não nos dê outro susto, . Aproveite que está aqui e nos ouça mais.
— Pare de resmungar, Charlie — rebateu. — Até quando tenho que ficar trancafiado? Não posso ir atrás deles?
— Vai ficar aqui com suas primas até termos certeza de que você pode tentar pegá-los — Emma se intrometeu firmemente. — Precisamos esperar a boa vontade da Jullie em nos ajudar.
— Sem estresse. Logo ela vai ceder, Antoni disse que ela é assim mesmo — Charlie deu de ombros. — Bom, vamos indo porque já está tarde.
— Tem certeza que não vão ficar? É perigoso dirigir a essa hora — murmurou, levantando-se, finalmente, do colo de . — A Amanda mesmo disse que tem como e...
— Não precisa — Emma a cortou sorrindo. — Até daqui a pouco.
Despediram-se com abraços apertados e levou o casal até à porta, fechando-a somente depois de vê-los arrancar com o carro.
suspirou pesadamente e a fitou, ainda encostado contra a porta. E então, ficaram assim: se encarando como se não houvesse mais nada para fazer.
Um sorriso galanteador brotou no canto dos lábios de , fazendo com que engolisse a seco por pura tensão. Aquele sorriso a tirava do sério, completamente.
mordeu o lábio inferior e se afastou da porta, andando lentamente em direção a em seguida. Estava com tantas saudades dela que queria que os bons modos e respeito à casa das outras pessoas fossem para o caralho. seria dele, mais uma vez, naquele momento; fosse naquela sala, fosse no quarto que Amanda lhe oferecera, ou em qualquer outro lugar. O lugar era o de menos, no momento. só queria e precisava senti-la. Urgentemente.
podia ler claramente a mensagem que os olhos de Luka passavam, e queria tudo aquilo tanto quanto ele — ou mais. Sem se importar com o que poderia acontecer, avançou em direção a mais rapidamente, puxando-o pela nuca e juntando seus lábios de uma forma desesperada. agarrou-a pela cintura e colou mais seus corpos, aumentando a velocidade do beijo. fora a empurrando para trás com pressa, jogando-a no sofá sem se importar se alguém poderia aparecer ali e pegá-los naquela situação. As garotas já deveriam estar dormindo, e mesmo se não tivessem... Não eram burras. Sabiam que aquilo aconteceria, não sabiam? Foda-se — era tudo o que passava pela cabeça de naquele momento, não largaria nem mesmo se o papa aparecesse naquela sala. Tudo o que ele mais desejava era arrancar todas as roupas de e ficar dentro dela o máximo de tempo que conseguisse. E ele faria aquilo o mais rápido que conseguisse.
arfou ao sentir as mãos de passearem de sua barriga até seus seios, por baixo de sua blusa. Céus, como ela sentia falta daqueles toques... Não querendo ficar para trás, puxou a camisa de para cima, afastando-se dele apenas para tirá-la por completo e jogá-la o mais longe possível. Ele não precisaria daquele maldito pedaço de pano tão cedo.
segurou uma das coxas de e puxou-a para cima, fazendo-a envolver sua cintura. Naquele momento, pensou que simplesmente não aguentaria. lhe dava tantas sensações maravilhosas que ela ficava tonta, perdida, desesperada. era exatamente tudo o que ela desejava, sem tirar nem pôr. Seus toques, seus beijos, seu corpo, seu jeito, sua pegada, tudo a deixava perdida e implorando por mais. O que sentia por ele era simplesmente indescritível.
desceu os lábios para o pescoço de com uma pressa que ela jamais vira. Ele parecia tão perdido quanto ela; não sabia onde deixar a boca e as mãos. No fim das contas, optou por arrancar a blusa de para contemplar seus seios que, para ele, eram as coisas mais belas de todo o Universo. Fitou-os com calma, ainda cobertos pelo sutiã, e, com uma das mãos, fora abaixando uma das alças lentamente. podia sentir seu coração a ponto de rasgar-lhe o peito a cada mísero movimento de , mas sabia que aquilo era apenas o começo do que ele faria com ela, do prazer que lhe daria.
Quando se dera conta do que estava acontecendo, já estava sem seu sutiã e já tinha a boca em um de seus seios, enquanto massageava o outro lentamente. mordeu o lábio inferior com força, apenas aproveitando a sensação maravilhosa que era ter a língua quente de passeando pelo bico de seu seio. fazia aquilo com tanta vontade e delicadeza que a excitava mais que o esperado.
, então, deixou que uma de suas mãos se enfiasse entre os cabelos de enquanto a outra arranhava suas costas lentamente. suspirou fracamente, descendo os lábios pela barriga de tão lentamente quanto a massagem que ainda fazia em um de seus seios, dando leves mordidas pelo caminho.
Ao chegar no fecho da calça jeans que usava, largou seu seio para dar total atenção no que estava prestes a ser revelado. parecia uma criança com um brinquedo novo pela forma que abria a calça de , descendo-a pelas pernas torneadas da mulher lentamente. Após tirá-la completamente, jogou-a para longe e voltou a atenção para o corpo de que, aos poucos, ia ficando totalmente à mostra do jeito que ele gostava. Apenas mais uma peça e ele poderia diverti-la da forma que sempre adorara.
a encarou nos olhos e, lentamente, levou uma das mãos em direção a intimidade de , fazendo-a morder o lábio inferior. pousou apenas um dedo sobre a intimidade ainda coberta de , fazendo-a se arrepiar instantaneamente, o que o fez sorrir da forma mais safada que conseguia.
ainda tinha o lábio inferior preso entre os dentes quando começou a estimulá-la lentamente.
— Sentiu falta disso? — murmurou enquanto aumentava a pressão sobre o clitóris de , fazendo-a fechar os olhos. — Sentiu, não sentiu? Pois é... Eu também senti falta de te ver molhada assim... — mordeu o lábio inferior e puxou a calcinha de para o lado e passou o dedo, lentamente, por toda a intimidade de . — E como senti... Ah, se você soubesse o quanto senti falta disso — sussurrou enquanto se aproximava mais de , ficando quase totalmente por cima dela. — Torturar você, excitar você, fazer você gritar meu nome e implorar para que eu fique dentro de você... — ele deu um selinho leve em , fazendo-a arfar, enquanto começava a movimentar o dedo com mais velocidade sobre seu clitóris — Senti falta de tudo isso, . Mas, me diz, você também sentiu? — ele perguntou enquanto afundava o rosto na curva do pescoço de , fazendo-a abrir mais as pernas automaticamente. — Não precisa responder agora, meu amor. Sei que está sem ar. Mas espero que saiba que isso é só o começo. Será que ainda tem fôlego para me aguentar?
soltou um gemido não muito alto ao sentir o dedo de penetrar-lhe de surpresa. ergueu mais o corpo apenas para observá-la se contorcer de tesão embaixo dele. Só de vê-la daquela forma o deixava completamente fora de si, perdido, tonto, mais que excitado. E isso fazia com que ele movimentasse ainda mais o dedo dentro de , para torturá-la, para fazê-la pedir por mais, para fazê-la falar com todas as letras que somente um dedo não era o suficiente, para fazê-la gritar de excitação e implorar para ele invadi-la de uma maneira mais bruta. Ele queria ouvi-la dizer que dedos não eram o suficiente, queria ouvi-la gritar seu nome com toda a vontade que sentia, queria ouvi-la urrar de tanto prazer.
— Por favor... — murmurou enquanto mordia o lábio inferior e dava leves reboladas sobre o dedo de — ... Por favor. Me dê mais que isso. Por favor.
Um sorriso safado surgiu nos lábios de , fazendo-o colocar mais um dedo dentro de , enquanto estimulava, também, seu clitóris com o polegar. Naquele momento fechara os olhos com força e segurou os próprios seios, tentando segurar os gemidos mordendo o lábio inferior.
— Você fica maravilhosa nesse estado — murmurou enquanto acalmava os movimentos dos dedos dentro dela, fazendo-a protestar e rebolar mais os quadris. — Shhh, calma, amor. Guarde o desespero para daqui a pouco.
— ... — murmurou, mas não conseguiu formular nenhuma frase coerente. Estava cega de tanta excitação. Queria sentir de todas as formas possíveis, quantas vezes aguentasse.
tirou seus dedos de dentro da mulher e puxou sua calcinha para baixo de uma vez por todas, jogando-a tão longe quanto o resto de suas roupas. Observou-a ali, completamente nua e embaixo de seu corpo. Uma fina linha de suor já se formava entre seus seios e aquilo a deixava muito mais erótica. estava com as duas pernas abertas, em sua frente, completamente nuca e levemente descabelada, seus lábios estavam vermelhos e sua respiração acelerada, seus olhos estavam estreitos e era possível sentir o tesão que eles transbordavam. Não havia cena mais perfeita e excitante que aquela. Não havia. era uma obra de arte. E completamente dele.
— Você tem noção do quanto eu amo seu corpo? — ele perguntou, enquanto passava, devagar, uma das mãos desde o pescoço de até sua intimidade novamente. — Você é maravilhosa, . Maravilhosa — mordeu o lábio inferior e curvou-se sobre ela novamente, grudando seus lábios num beijo rápido. Encarou-a nos olhos por alguns segundos e sorriu, descendo os lábios por seu queixo, pescoço, seios e barriga lentamente, enquanto voltava a estimular seu clitóris com calma.
voltou a morder o lábio inferior para evitar que algum gemido alto escapasse, mas simplesmente não ajudava, fazia de tudo para que ela perdesse o controle e estava conseguindo aquilo.
deu uma leve mordida na barriga de , fazendo-a estremecer. Com um sorriso nos lábios, desceu de uma vez por todas, ficando frente a frente com a intimidade de . Puxou a perna direita da mulher e colocou-a sobre seu ombro. Com a mão livre, segurou firmemente a coxa esquerda de , que jogou a cabeça para trás ao sentir somente a respiração de tão próxima de sua intimidade. Céus, ela poderia explodir a qualquer momento somente com aquelas provocações.
se aproximou mais da intimidade de e, lentamente, passou a língua por toda a extensão, fazendo-a soltar um gemido arrastado. sorriu com aquilo e voltou a fazer o mesmo movimento duas, três, quatro, cinco vezes. Ao notar que não aguentava mais provocação alguma, abocanhou sua intimidade com vontade, fazendo-a gemer mais uma vez. seria incapaz de descrever o que estava sentindo naquele momento. era simplesmente incrível. Ora movimentava a língua somente em seu clitóris, ora a penetrava com ela. E ficara naquela brincadeira até notar que estava, definitivamente, indo à loucura. Ao perceber que ela já não aguentava mais segurar os gemidos, largou sua coxa esquerda e levou dois dedos para sua intimidade, penetrando-a rapidamente enquanto ainda fazia movimentos com a língua em seu clitóris.
Ali tivera a total certeza de que não aguentaria mais segurar gemido algum. Amanda e Joanne que a perdoassem, mas seria impossível.
rebolava o quadril a cada movimento que fazia, tentando saciar aquela maldita vontade de senti-lo mais, porém, a cada vez que fazia isso, a segurava firmemente e a fazia parar. Queria que ela ficasse parada, apenas aproveitando suas carícias, aceitando suas torturas.
— , por favor! — exclamou com a voz arrastada. — Eu preciso de você... Por favor, por favor...
sabia que ela já estava perto de alcançar seu primeiro orgasmo da madrugada. Mas ele não pretendia parar, queria fazê-la ficar tão cansada a ponto de não aguentar ir para o quarto. E ele o faria perfeitamente.
afastou-se da intimidade de e deixou que sua perna direita caísse sobre o sofá novamente, sem parar de penetrá-la com o dedo.
— Vamos, — ele murmurou, encarando-a nos olhos. — Você sabe o que tem que fazer agora...
— Mais... Rápido... Por favor... — ela murmurava desesperadamente. — Não para, , não para.
— Eu não vou parar... — ele respondeu, ainda fitando-a nos olhos. — Não vou parar até que você goze pra mim mais uma vez.
mordeu o lábio inferior e fechou os olhos, enquanto voltava a movimentar o quadril. não a pararia mais, estava conseguindo o que queria. Ele, agora, a penetrava com três dedos e estimulava seu clitóris com a mão livre, fazendo-a ir ao céu e voltar. movimentava as mãos com maestria, fazendo com que perdesse o ar.
Um gemido alto escapou do fundo da garganta de enquanto todo seu corpo tremia de puro prazer. mordeu o lábio inferior com força ao observar a cena, chegando a conclusão de que era extremamente maravilhosa quando chegava ao orgasmo.
Ele fora, então, diminuindo os movimentos aos poucos, enquanto alguns espasmos ainda atingiam o corpo de , fazendo-a soltar pequenos gemidos.
encarou o rosto de e ele tinha um sorriso safado nos lábios, ela sabia o que aquilo significava: ainda não tinha acabado. Mordeu o lábio inferior e, sem se importar com as pernas ainda bambas, sentou-se no sofá e se aproximou dele, juntando seus lábios com pressa. Era a vez dela provocá-lo. E ela o faria tão bem quanto ele.
empurrou de forma que ele ficasse completamente sentado no sofá e sentou-se em seu colo de forma que ele ficasse entre suas pernas. fora descendo lentamente as mãos por todo o peitoral de , deixando-o arrepiado por conta das unhas grandes. Ao chegar perto da calça de — onde um grande volume já era completamente visível —, deu um pequeno sorriso, parando de beijá-lo no mesmo momento. a fitava com tanto desejo que ela jamais conseguiria explicar o que sentia quando o olhava. Parecia que a excitação triplicava por causa de um simples olhar.
Com a cara mais safada que conseguiu fazer, saiu do colo de e ajoelhou-se de frente para ele. Brincou com o botão e zíper da calça dele, passou a mão por suas coxas, membro e barriga, fizera de tudo para provocá-lo. apenas suspirava e jogava a cabeça para trás, até que finalmente abaixou sua calça e cueca juntas, revelando seu membro completamente rígido. Ela, então, passou a língua pelos lábios, mordendo-os em seguida. Aquilo fora o suficiente para sentir seu membro pulsar, ele simplesmente perdia todo o foco quando fazia aquilo.
, sem pressa alguma, envolveu o membro de com uma das mãos e se aproximou devagar, depositando um leve beijo em seu topo. Deu mais um de seus sorrisos eróticos e, sem aviso prévio, abocanhou todo o membro de , fazendo-o morder o lábio inferior com força e segurá-la entre os cabelos para guiá-la melhor. Porém tirara sua mão e o encarou nos olhos, fazendo os movimentos que queria e da forma que queria. ao entender o recado, apenas sustentou o olhar e deixou que fizesse o que quisesse. Ele ia gostar de qualquer forma.
passava a mão por todo o corpo de enquanto botava e tirava seu membro da boca; arranhava suas coxas, barriga, peito, parava de chupá-lo apenas para masturbá-lo com as mãos e observar suas expressões. estava brincando com ele da mesma forma que ele fizera com ela. E ele estava adorando aquilo.
, agora, apenas o masturbava com uma velocidade incrível que sequer se lembrava que ela tinha. Mas estava tão maravilhoso que ele pouco se importava. Tudo o que passava pela cabeça dele naquele momento, era que ele precisava tê-la urgentemente.
— Eu preciso de você — ele murmurou enquanto botava uma das mãos por cima da de , fazendo-a parar os movimentos devagar. — Eu quero e preciso estar dentro de você, . Agora.
mordeu o lábio inferior e não esperou que a chamasse mais uma vez. puxou-a com uma certa brutalidade e colocou-a em seu colo novamente, posicionando-a em seu membro rapidamente.
puxou-a para baixo com pressa, penetrando-a com força e fazendo-a soltar um gemido alto. Mas não se importava, pelo contrário, fechou os olhos e movimentou o quadril com vontade. Estava adorando aquilo tudo. era maravilhoso.
grudou os lábios na orelha de e deixou seu corpo subir e descer com força e velocidade, deixando seus gemidos ecoarem no ouvido de . Murmurava coisas obscenas, provocações, o nome dele da forma que gostava, dava mordidas, tudo isso sem parar os movimentos, levando ao delírio.
Num movimento rápido, segurou pela cintura e virou-a para o lado, jogando-a no sofá. Livrou-se das calças que ainda estavam seus pés e encarou na mesma posição tentadora de antes: de pernas abertas no sofá e com a típica cara de safada. Puta que pariu, como aquilo o excitava!
Mordeu o lábio inferior e se posicionou entre as pernas de novamente, que se ajeitou para recebê-lo de bom grado. Sem esperar mais nada, enterrou seu membro em novamente, fazendo-a gemer alto mais uma vez.
cravou as unhas nas costas de e jogou a cabeça para trás, aproveitando dos movimentos incríveis que fazia por cima dela. Ela estava amando aquilo, estava incrível, estava a deixando louca da forma que adorava. estava levando-a para o paraíso, como sempre fazia.
diminuiu a velocidade mais uma vez, fazendo resmungar no mesmo momento e encará-lo sem entender. Ele sorriu fracamente e murmurou da forma mais suja que pôde:
— De quatro.
arfou e mordeu o lábio inferior só de imaginar por trás dela. Sem pensar duas vezes, ficou de joelhos no sofá, de costas para . Empinou a bunda o máximo que pôde e mordeu o lábio inferior enquanto virava o rosto para encará-lo.
estreitou os olhos e balançou a cabeça negativamente, fazendo-a rir e movimentar o quadril lentamente enquanto ele se aproximava. Sem esperar mais, penetrou-a mais uma vez, porém sem tanta pressa, fazendo-a soltar gemidos arrastados e rebolar mais contra seu membro. adorava vê-la excitada daquela forma. ficava completamente sem vergonha e pensava somente em saciar suas vontades.
— ... — ela murmurou com a voz fina — Por favor!
não respondeu, apenas atendeu o pedido dela e penetrou-a com mais força e velocidade, fazendo-a gemer e morder o lábio inferior. a segurava firmemente pela cintura com uma das mãos e, com a outra, a segurava pelos cabelos, puxando-a com vontade e fazendo-a gemer ainda mais. já não tentava mais controlar os gemidos, desistira de morder o lábio inferior ou tentar segurar qualquer grito, seria impossível segurar qualquer gemido na garganta com puxando seus cabelos e penetrando-a daquela forma maravilhosa.
Sem parar de penetrá-la, puxou-a para trás pela cintura, caindo sentado no sofá, novamente, com em seu colo e de costas para ele dessa vez.
soltou uma risadinha safada e começou a cavalgar no colo de , enquanto passava as mãos pelos próprios seios. ora cavalgava, ora rebolava, ora enterrava o membro de completamente em seu interior e cruzava as pernas, para senti-lo ainda mais. estava agindo de uma forma que raramente via, e ele gostava daquilo. O deixava muito mais excitado.
Àquela altura, já sentia seu corpo prestes a relaxar e seus pelos se arrepiarem aos poucos. Mordeu o lábio inferior com força e fez abrir mais as pernas, levando uma das mãos até o clitóris dela.
gemeu alto mais uma vez no mesmo momento em que começou a masturbá-la, enquanto um arrepio percorria todo seu corpo ao sentir a respiração dele bater contra seu pescoço.
sabia que logo atingiria seu orgasmo, então parou com suas reboladas e saiu do colo de , deixando-o completamente confuso até que ajoelhasse em sua frente. Ela sorriu e se aproximou do membro de , colocando-o na boca novamente. fazia movimentos rápidos com a boca e mão no membro de , fazendo-o jogar a cabeça para trás enquanto um gemido rouco e baixo escapava de sua garganta. não precisou ficar ali por muito tempo, logo já a puxava pelo cabelo e explodia entre seus seios, da forma que mais gostava, enquanto mordia o lábio inferior com força.
sorriu mais uma vez e levantou lentamente, se aproximando dele mais uma vez para juntar seus lábios. Enquanto se beijavam, voltava a passear as mãos por todo o corpo de , parando em sua intimidade que ainda continuava devidamente molhada, o que o fez sorrir e puxar o lábio inferior dela com os dentes.
— Não achou que sairia perdendo, achou? — Ele murmurou enquanto beijava o pescoço dela e acariciava seu clitóris devagar. — Eu jamais faria isso com você.
soltou um gemido baixo no ouvido de , fazendo-o acelerar o movimento. Àquela altura, já rebolava novamente sobre os dedos de , que logo começou a penetrá-la e estimulá-la no clitóris ao mesmo tempo.
tinha os olhos fechados com força enquanto subia e descia nos dedos de . Ela simplesmente não conseguia pensar em nada que não fosse e seus dedos maravilhosos.
também não precisou fazer tanto esforço, logo já soltava um gemido alto e cruzava as pernas, estremecendo fortemente, continuou forçando os dedos mais alguns segundos até que caiu exausta sobre ele. tirou o cabelo de de seu rosto e sorriu fracamente para ela enquanto acariciava seu rosto. Ambos tinham as respirações e corações acelerados, mas sentiam-se extremamente bem. Não havia mais medo, insegurança, nada de ruim. Só o que pairava naquela sala, era o amor que sentiam um pelo outro.
Encararam-se por alguns segundos e riram do que haviam acabado de fazer. balançou a cabeça negativamente e escondeu o rosto no pescoço de , fazendo-o abraçá-la com força e murmurar:
— Eu amo você.
Capítulo 15
rolou na cama e abriu os olhos lentamente, dando de cara com dormindo feito um bebê. Ele dormia de uma forma tão bonitinha, de acordo com ela, que nem sequer parecia o estressado de sempre. era simplesmente amável quando estava relaxado daquela forma — seus olhos sempre fechados com força e a boca levemente aberta, os braços sempre envolvendo alguma coisa; fosse o corpo de ou um travesseiro, como se fosse fugir a qualquer momento, os cabelos bagunçados e um cacho ou outro caindo sobre sua testa. Em momentos como aquele, percebia que jamais cansaria de olhá-lo.
— Para de me encarar — ele murmurou sem sequer abrir os olhos, fazendo-a rir baixinho.
— Não quero — ela sussurrou de volta, fazendo-o abrir os olhos finalmente. — Bom dia.
— Bom dia — respondeu dando um selinho rápido em . — Dormiu bem?
— Sim — ela sorriu e aconchegou-se mais nos braços de . — E você?
— Foi minha melhor noite de sono desde que cheguei aqui — ele riu fracamente e encarou o teto.
— O que realmente aconteceu nesses últimos dias? — se sentou e acariciou os cabelos de , fazendo-o fechar os olhos e sorrir. — Seu rosto está marcado. Você está bem abatido, sua barba está crescendo e você não costuma fazer isso por mais que eu diga que adoro...
— Você sabe exatamente o que aconteceu, não preciso dar detalhes — ele deu de ombros e saiu da cama. — Esquece isso.
— Como é que eu posso esquecer que você está jurado de morte até aqui na Itália, ? — perguntou um bocado mais alto e levantou-se logo em seguida.
Por um momento se esqueceu completamente de como se falava. Ver somente de roupas íntimas mexia com sua cabeça de uma forma indescritível, e ela nem parecia notar. Pelo menos até olhar seu próprio corpo.
bufou e puxou o lençol da cama, enrolando-se nele em seguida.
— Você é um idiota — ela murmurou, irritada.
— Porra, — revirou os olhos. — Tudo bem, eu falo, tá legal? Saí da delegacia e estava voltando para o hotel para tentar falar com você. Apolo simplesmente me pegou de surpresa e me prendeu, me torturou das formas que ele e seus capangas quiseram por horas, brincaram de roleta russa comigo e me deixaram sem água e comida. Eu pensei mil vezes em como faria para acabar logo com todo aquele maldito sofrimento sem prejudicar você, porque a cada segundo eles faziam questão de falar que te pegariam também — bagunçou ainda mais os cabelos e suspirou. — Pensei em você a cada segundo que fiquei preso naquele inferno e então desisti de achar uma forma de desistir — ele riu. — E então, a Amanda surgiu e salvou minha vida. Agora estou aqui. E tudo o que sei, além de toda essa merda que passei, é que tem um filho da puta usando meu nome por aqui e enganando todo mundo.
suspirou e piscou os olhos rapidamente. Sentia-se uma completa idiota por ter exigido que falasse tudo aquilo. Era difícil para ele e ela sabia disso.
— Certo, desculpa... — ela murmurou. — Desculpa, eu só...
— Shhh — ele se aproximou dela e puxou-a para um abraço apertado. — Tudo bem. Peço desculpas também, não estou sabendo lidar com tudo o que está acontecendo e o que sinto… Eu fui um idiota, não precisava falar desse jeito.
assentiu levemente e apertou-o mais entre seus braços.
— Descobri que posso ter sido adotada — ela sussurrou, enquanto apertava o corpo de contra si. — Camille me procurou e me entregou alguns documentos e... E, bem, depois uma tal de Lindsay me procurou e disse que é minha mãe biológica. Mas isso não faz sentido, , não faz.
— Como é? — ergueu uma das sobrancelhas. — Isso é basicamente impo... — foi cortado pela voz de Amanda do outro lado da porta, chamando-o para tomar café.
— Vamos comer. Depois conversamos — murmurou, afastando-se de em seguida.
apenas soltou um suspiro pesado antes de começar a se trocar.
Pouco mais de dez minutos depois, o casal já se encontrava na cozinha com Joanne e Amanda.
— Emma pediu para avisar que se você se sentir bem já pode voltar à delegacia, — Amanda murmurou. — Só que... — ela parou para pensar e, segundos depois, balançou a cabeça negativamente. — Deixe quieto.
— Pode falar, Amanda — pediu, colocando o copo de suco em cima da mesa. — Eu sei que você sabe bastante sobre tudo o que está acontecendo aqui. Eu gostaria de entender e saber por que diabos você está metida nisso.
— Digamos que o porquê de eu estar nesse meio não é da sua conta — Amanda disse calmamente e arqueou uma das sobrancelhas. — Eu só ia pedir para que ficasse longe da delegacia. Apolo deve estar louco atrás de você... E de mim também, aliás. Me meti na maior confusão porque tinha um coração mole e sentia que deveria te ajudar — ela revirou os olhos. — Pelo que vejo, você não é do tipo que não se mete em confusão. Isso me deixa um tanto preocupada porque pode me atrapalhar. Ou atrapalhar a idiota da Jullie, que mentiu esse tempo inteiro. Não confie nela, aliás. Ela abre as pernas para o Apolo sempre que pode.
deixou um sorriso brotar em seus lábios. Não havia como negar: aquela garota era, definitivamente, de sua família. De uma parte que ele nunca tivera a chance de conhecer, entretanto. O que era uma pena. Porque se ela estava agindo daquela forma mesmo vivendo longe dele a vida inteira, imagine se ela tivesse crescido ao seu lado? Ele com certeza a teria transformado numa policial tão boa quanto ele. E desaforada também, obviamente.
— E vê se tira esse sorriso ridículo da cara — Amanda disse alto, levantando-se em seguida.
e Joanne estavam em um completo silêncio, apenas observando a cena. , de fato, não estava entendendo absolutamente nada. Mas que achara engraçado a forma que Amanda tratou , achara. Mas se começasse a gargalhar ali, Amanda certamente a alfinetaria também. E bem, não era educado arrumar encrenca com parentes de seu companheiro. Certo?
— Eu preciso sair agora — Joanne se levantou. — ... Eu... — ela suspirou — Eu queria pedir para que você fique aqui. Pelo menos hoje. Apolo deve estar mesmo louco atrás de você. Ele provavelmente vai me procurar hoje e eu não falarei nada e eu gostaria que você também não desse pista alguma. Não fique afobado para sair daqui, seus amigos irão te ajudar com certeza. Então por favor — ela sorriu fracamente —, só fique aqui. Mate as saudades de sua namorada.
abriu a boca para responder, mas Joanne saiu apressadamente da cozinha. estava levemente corada, aquelas garotas eram mesmo primas de . Não havia dúvidas.
— Elas são como você — murmurou enquanto começava a retirar as coisas sujas da mesa. — A Amanda, principalmente.
— Sim — riu. — A Amanda é fora do comum.
soltou uma risada fraca e começou a lavar a louça, sem pressa alguma.
Alguns segundos depois pode sentir segurá-la pela cintura com firmeza e depositar um beijo em seu pescoço, deixando-a completamente arrepiada, do jeitinho que somente ele sabia deixar. Seu coração acelerou daquele jeito delicioso que ela já estava acostumada, mas era sempre bom sentir novamente — como se fosse a primeira vez que o via demonstrar carinho. Estar com era uma das melhores sensações que já provara. O amor que ele lhe transmitia parecia ser sem limites e tão verdadeiro que ela jamais se cansaria. Se pudesse, ficaria dias inteiros somente sentindo aquelas sensações que somente ele poderia lhe dar; fosse com beijos, abraços, sexo ou um simples afago no cabelo. Ela só queria poder estar com ele sem preocupações. Daquele jeitinho simples; numa casa no meio do nada e sozinhos.
— Quer me dizer o que tanto te incomoda? — sussurrou, ainda segurando-a pela cintura.
— Camille me incomoda. Essa tal Lindsay me incomoda. Sua situação me incomoda — suspirou e largou a louça pela metade. — Não saber se realmente conheço minha vida me incomoda. Minhas decisões me incomodam. Tudo me incomoda, . Eu só queria poder viver normalmente; sem ter pessoas atrás de mim o tempo inteiro, sem precisar me esconder, sem precisar te ver correndo tanto perigo.
soltou um suspiro pesado e virou de frente, fitando-a nos olhos.
— Nada de ruim vai acontecer com você, eu prometo — ele murmurou enquanto ajeitava alguns fios rebeldes que caíam sobre o rosto dela. — Estamos juntos agora, não há motivos para se sentir assim. Quanto a essa Lindsay... Deixe rolar, é tudo o que posso aconselhar agora. Espere mais provas, peça um exame de DNA, não acredite na Camille. Uma hora a verdade virá à tona, . Não precisa se preocupar. Eu vou te ajudar em tudo que puder — ele depositou um selinho demorado em seus lábios. — Está tudo bem agora. Quando você notar, já estaremos na nossa Inglaterra novamente, como se nada disso tivesse acontecido. Eu te prometo, . Vamos sair daqui o mais rápido que pudermos, só preciso jogar Apolo na cadeia e descobrir quem é o desgraçado que está usando meu nome por aí — ele a fitou. — Pode esperar por isso? Huh?
apenas suspirou e envolveu a cintura de com os braços, abraçando-o fortemente. , com um sorriso fraco nos lábios, apenas apoiou o queixo na cabeça de .
Tudo o que ele queria era fazer com que ela se sentisse protegida.
***
Emma olhou em volta e mordeu o lábio inferior. Seria ousada pela primeira vez em seu trabalho. Não que ela nunca tivesse aprontado antes, mas dessa vez ela aprontaria contra o culpado de tudo e na cara dura — pior: sem Charlie sequer saber que ela aprontaria. Ou seja: seu plano tinha que dar certo, de qualquer forma. Só precisava ser rápida, e rapidez não era seu problema.
Olhou em volta uma última vez e, em passos rápidos, caminhou até à sala que normalmente Apolo se trancava e passava horas e horas no telefone. Naquela manhã Apolo não aparecera e, para sua sorte, estava destrancada por algum motivo que ela desconhecia. Jullie, talvez? Ou até mesmo o próprio Antoni. Emma não saberia dizer e pouco se importava.
Abriu a porta com pressa e fechou-a em seguida. Não se daria o luxo de trancá-la, já que alguém poderia aparecer de repente. Caso isso acontecesse, daria uma desculpa qualquer. O telefone da sala onde Charlie ficava poderia parar de pegar de repente, quem sabe. Talvez ela pudesse ter esquecido o celular e ido para aquela sala telefonar para Jullie. Qualquer coisa. Após alguns segundos olhando para a sala e pensando no que poderia mexer primeiro, Emma rumou em direção à mesa. Olharia aquele maldito computador que, para sua sorte, estava ligado.
Apolo estivera ali e isso se tornou um fato assim que viu o computador desbloqueado, livre, leve e solto para ser fuçado por sua curiosidade excessiva. Emma devia se lembrar de andar menos com , estava ficando tão curiosa e enxerida quanto ela.
Com um sorriso no canto dos lábios, Emma conectou o pequeno pen drive que carregava consigo para todos os cantos na entrada USB do computador e começou a fuçar todas as pastas possíveis. Seu sorriso aumentou assim que encontrou uma pasta escondida dentro de tantas, com todas as anotações de desvio de dinheiro.
Emma sentia todo seu interior vibrar em pura satisfação ao encontrar tudo aquilo. Sabia que olhando com um pouco mais de cuidado encontraria tudo. Não perdendo mais tempo, copiou todos aqueles arquivos para seu pen drive e guardou-o no bolso da calça jeans que usava. Mas nem por isso parou de procurar coisas ali, talvez encontrasse alguma outra coisa. Porém, passos vindos do lado de fora chamaram sua atenção. Sem pensar muito, jogou-se no chão e deu um jeito de enfiar-se debaixo daquela grande mesa. Não que fosse um bom esconderijo, mas talvez a pessoa fosse embora logo. Ou talvez não a veria caso fosse sentar-se ali.
Afinal, as pessoas não têm o hábito de olhar embaixo da mesa antes de começar a usar o computador... Certo? Bem, ela esperava que sim.
— Eu já disse que está tudo bem, Antoni — Emma pôde ouvir a voz de Apolo falar alto e a porta bater em seguida. — Não, não preciso que envie ninguém. Já resolvi todos os problemas. Sim, Antoni, estou na minha sala agora. Vim pegar algumas coisas e estou indo para casa. Está tudo bem com a Jullie, sim, eu espero. Ela também não me atende. Tudo bem, até mais.
Apolo bufou e desligou o celular em seguida.
— Velho chato — murmurou. — Que morra junto com aqueles desgraçados ingleses.
Emma mordeu o lábio inferior e se encolheu um pouco mais contra a mesa. Se Apolo a visse ali estaria morta, sem sombra de dúvidas. Aquele moleque — sim, moleque! — era tão demoníaco e ruim como o pai. Malditos Castellamare.
Emma podia ouvir os passos de Apolo se afastando devagar e um suspiro inaudível escapou de seus lábios. Quando ouviu a porta abrir um alívio percorreu seu corpo, fazendo-a relaxar. Só que, em questão de segundos, seu celular tocou. Um som baixo, quase inaudível. Mas a sala estava em um completo silêncio e, com toda certeza, o toque de Apolo não seria uma música romântica qualquer. Com os olhos arregalados e o coração acelerado, Emma desligou o aparelho e preparou-se para Apolo puxá-la dali pelos cabelos e arrastá-la com violência.
Uma risada escapou dos lábios de Apolo, como se já desconfiasse que alguém invadiria sua sala. Virou-se, então, em direção à mesa, dando passos curtos e lentos. Estava mais que preparado para matar quem quer que fosse para ver se aliviava sua frustração de ter perdido para Amanda, a queridinha de seu chefe, e, para completar, Jullie, sua amante de todas as horas, também estava por trás daquilo tudo. Ridícula.
Apolo se aproximou da mesa e se preparou para dar a volta e pegar seu invasor, mas, um baque na porta o fizera pular de susto — assim como Emma, que estava ali embaixo.
— Apolo, o que diabos você aprontou agora?! — A voz de Jullie ecoou alta pela sala, fazendo-o suspirar.
— Posso saber o porquê do escândalo? — ele perguntou calmamente e apontando para a mesa à sua frente, mas Jullie preferiu ignorar seu código.
— Não. Você só precisa vir comigo — ela respondeu, revirando os olhos. — Você não tem nada para fazer, ande logo.
— Não posso — ele foi firme e, novamente, apontou para a mesa. — Aguarde do lado de fora, por favor.
— Eu sei onde o está — Jullie foi direta. — Seja lá o que você precisa fazer nessa mesa, não é mais importante que o paradeiro do nosso queridinho. Agora pare de fogo nesse rabo e saia dessa sala!
Apolo ficou sem ação por alguns segundos, mas logo um sorriso brotou em seus lábios. Seu invasor ele procuraria depois, nas câmeras que instalara na sala para sua própria segurança. Apolo não confiava em ninguém à sua volta. Mesmo que Antoni fosse um velho legal, mas Apolo sabia que, quando ele descobrisse tudo, logo abriria a boca para Charlie.
— Vamos logo que não tenho o dia inteiro — Apolo disse firmemente e puxou Jullie pelo braço. Jogou-a para fora da sala e fechou a porta com força em seguida. Apolo abriu um sorriso maldoso quando trancou a porta e virou-se para Jullie em seguida. Seu dia até que estava melhorando.
***
desligou o celular e bagunçou os cabelos em seguida. Seu dia estava sendo maravilhoso, até receber aquela ligação de Emma — que tinha a voz totalmente descontrolada e parecia a ponto de surtar.
o fitava apreensiva; não sabia se deveria perguntar o que estava acontecendo ou se tentava acalmar seu amado. No fim das contas, fizera os dois. Aproximou-se de e puxou-o pelo rosto, fazendo-o encará-la.
— O que houve?
— A Emma está trancada na sala do Apolo — respondeu. — E ela ouviu uma conversa que ele teve com a Jullie. A maldita vai abrir a boca para ele e dizer onde eu estou. Ou seja: nós temos míseros vinte minutos para sairmos daqui com as garotas.
passou a mão pelo rosto e suspirou.
— Vai na frente — murmurou. — Pega o carro que a Joanne te trouxe e sai.
— E vocês vão sair daqui como? — perguntou, soltando uma risada forçada. — Eu não vou deixar vocês sozinhas.
— Quanto a isso não precisa se preocupar, priminho — a voz de Amanda ecoou pela sala. — Eu já sabia que a Jullie faria algo assim, não poderia esperar menos dela. Tenho outro carro aqui, a Joanne pode nos levar para outro lugar assim que voltar da rua. Acredito que você saiba andar por aqui.
— Garota, de onde você surgiu? — murmurou. Sua prima era tão inteligente – e só aparecia nos momentos mais complicados desde que pisara naquele lugar – o que o deixava tonto e levemente assustado. — Não é como se eu conhecesse Palermo como a palma da minha mão.
— Não seja por isso — Amanda deu de ombros e jogou um papel no peito de . — Isso é um mapa. Está riscado para onde você deve ir. Eu e a iremos até onde a Emma está mais tarde. Por enquanto vamos apenas despistar o Apolo.
— Em quanto tempo a Joanne volta? — perguntou enquanto analisava o mapa em suas mãos. — Pelo que a Emma disse, eles chegarão aqui logo.
— Eles chegariam aqui bem rápido se não tivesse acontecido um pequeno acidente no meio do caminho — Amanda sorriu. — Mas isso não é assunto para agora.
Pegue o carro e suma daqui enquanto você tem tempo. O acidente dá, pelo menos, vinte minutos de vantagem. Aproveite-se disso e me agradeça mais tarde. Você pode vir comigo, ? Precisarei de sua ajuda para uma coisa.
piscou os olhos algumas vezes, confusa. Como diabos Amanda podia ser tão mandona daquele jeito? Chegava a ser insano o jeito daquela garota agir. Ela tinha o que, vinte anos? Vinte e dois, no máximo.
— Posso saber para que precisa dela ou...? — perguntou, arqueando uma das sobrancelhas e Amanda o fitou.
— Você não quer que ela esteja aqui assim que Apolo chegar, não é mesmo? — a garota perguntou, suspirando em seguida. — Não seja idiota. Você tem que sumir daqui, eu não posso. A casa é minha. Apolo me conhece, sabe que fui eu quem te tirou de lá. E acredito que ele saiba que já está aqui, mas não precisa ficar tão na cara que ela está com você.
— Ele pode machucar você — murmurou. — Sabe que ele é perigoso, não precisa se arriscar assim.
Amanda riu.
— Acreditem — ela fitou os mais velhos, com um sorriso maldoso nos lábios —, Apolo não é louco de sequer pensar em me machucar. Se ele me tocar, é um homem morto. Ele sabe disso, a Jullie sabe disso. Todos sabem.
— Você por acaso tem algum tipo de relacionamento com a pessoa que usa meu nome por aqui, Amanda? — jogou a pergunta, fazendo a mais nova desfazer o sorriso.
— Não seja ridículo — Amanda respondeu. — Vai fazer o que eu disse ou vai ficar aqui esperando tudo dar errado para se foder no final?
— Como você sabe tanto, Amanda? — insistiu. — E que porra de acidente foi esse?
— Não te interessa — ela respondeu. — Não pense que só porque é meu primo pode vir falar assim comigo. Salvei e continuo salvando a droga da sua vida. Pare de querer enfiar o nariz onde não é chamado. Da minha vida cuido eu, .
— A partir do momento que você passou a ter o caso com o tal italiano, Amanda, sua vida passou a ser da minha conta — se aproximou da prima e deu um passo à frente, também. — É por isso que Apolo não pode tocar em você. Agora eu realmente entendi. Já desconfiava que tinha alguém acima de Apolo, mas não sabia quem era. Você e sua irmã deveriam ser mais cautelosas na hora de comentar e fazer certas coisas.
— Você é ridículo — Amanda murmurou. — Quer saber? Fodam-se. Se quiserem continuar aqui, continuem. Não vou interferir em mais nada — a garota deu as costas, mas voltou-se para mais uma vez. — Com quem eu durmo ou deixo de dormir, não é da sua conta, priminho. Não se meta na droga da minha vida. Cate suas coisas e suma daqui antes que eu perca a paciência e, em vez de esperar pelo Apolo, te dê um tiro no meio da testa.
engoliu a seco e arqueou uma das sobrancelhas, observando a cena em silêncio. Amanda era tão irritante, prepotente e mandona quanto . Naquele momento ela chegara a se questionar se eles não eram irmãos em vez de primos distantes.
— Fale direito comigo! — exclamou e Amanda riu de forma debochada. — Você é só uma pirralha prepotente que acha que sabe demais. Será que não percebe que se me contar tudo o que sabe as coisas melhorarão para nós dois?
— Ser prepotente é de família, então — ela sorriu. — Tem coisas que você não pode e muito menos precisa saber, . Aliás, você já perdeu quase metade do seu tempo de vantagem para sumir dessa casa. Consequentemente, está atrasando o meu trabalho também. Faça o favor de pegar a porra do carro e o mapa e suma daqui. Não aguento mais ter que olhar para sua cara.
abriu a boca para gritar algo bem feio para a garota, mas segurou-o pelo braço e sussurrou alguma coisa para que ele se acalmasse. Amanda, com um sorriso satisfeito nos lábios, virou-se e correu em direção ao quarto.
a seguiria depois, ela sabia. não era burro, com toda certeza faria o que lhe fora mandado. Mesmo que contra sua vontade, faria. Aquilo salvaria sua vida.
***
soltou um suspiro pesado e estacionou o carro. Amanda era a maldita garota na faixa dos vinte anos mais inteligente que conhecia. Aquela garota insolente fora capaz de preparar um mapa marcado em todos os pontos que deveria ir e, atrás dele, tinha escrito o que deveria fazer. Ela frisava bastante que não importava como, ele só precisava fazer. E isso incluía pegar o garoto mais magro e, quem sabe, talvez, até mesmo inocente do primeiro ponto e lhe dar um susto. Entre parênteses, ela colocou: "Pode ser uns socos na cara ou talvez mirar a arma em sua cabeça".
De onde aquela garota tirava aquelas coisas e, o mais importante: por quê?
Mesmo confuso, seguira todos os passos. No início só recebia algumas ameaças e informações, como: "Apolo vai te matar, desgraçado!", mas aí bastava ele usar os métodos de Amanda que os caras abriam a boca e lhe contavam a verdade: "O dinheiro está todo na conta da Suíça! Não faça mais nada comigo, por favor! Não é totalmente culpa do Apolo! Tem outro por trás dele!".
Com tudo isso ecoando em sua cabeça, dirigiu para o último lugar do mapa: a maldita delegacia onde Emma estava. Sobre aquilo, não havia nada. Não havia sequer uma informação, um número de telefone ou o nome de alguém. Absolutamente nada. Talvez fosse para ele fazer o que realmente quisesse quando chegasse ali.
Tomando todos os cuidados necessários, subiu para onde Antoni e Charlie costumavam ficar naquela delegacia. Mas, naquele momento, estava tudo estupidamente silencioso e vazio. Após alguns segundos olhando tudo em volta, pode ouvir alguns sussurros e xingamentos. Logo depois, suspiros e mais xingamentos frustrados. Aproximou-se da porta lentamente e deu duas batidas fracas. E então o silêncio voltou.
Como uma lâmpada que acabara de se acender em sua cabeça, sorriu.
— Emma? — chamou.
— ?! — Ela praticamente gritou. — O que está fazendo aqui?
— Não sei — ele deu de ombros. — Está aí há muito tempo?
— Mais do que eu poderia e queria ficar — ela suspirou. — Charlie não me atende e eu achei que você sequer fosse aparecer por aqui, já que Apolo está querendo sua cabeça.
— Afaste-se da porta — pediu. — Vou atirar na maçaneta.
— Está louco? — Emma perguntou. — Se Apolo vir isso...
— Quero que o Apolo se foda — puxou a pistola que carregava em sua cintura e mirou na maçaneta. — Temos muitas coisas para correr atrás agora, querida Emma.
Após dizer isso, dera dois tiros certeiros e empurrou a porta para que Emma saísse já lhe jogando uma pergunta:
— O que houve?
— Amanda me entregou isso — ele estendeu o mapa. — Tem umas anotações estranhas atrás, não entendi bem o motivo disso tudo, mas fui atrás. O que mais ouvi nesses lugares foi que Apolo tentaria me matar e que tinha uma grande quantia de dinheiro em uma conta na Suíça — suspirou. — Ah, ouvi dizer que tem alguém que vale mais que Apolo. Um chefão maior que ele, talvez.
— Posso te contar mais que isso, mas precisamos sair daqui logo — Emma murmurou. — Mexi no computador do Apolo e peguei praticamente tudo dele, por isso estava trancada lá — ela explicou rapidamente e puxou pela mão. — Apolo foi atrás de você. Como conseguiu sair de lá tão rápido?
— Amanda — respondeu, bufando em seguida. — Ela disse que eu tinha que seguir esse mapa porque o Apolo e a Jullie demorariam para chegar lá, por causa de um acidente que teve no caminho. Sendo que eu não ouvi nada sobre isso... Está sabendo de alguma coisa?
— Não. Mas do jeito que sua prima é, provavelmente ela armou algo por já saber que isso aconteceria. O problema é: — fez uma pausa para fitar o amigo. — Como? Como essa garota sabe tudo o que está acontecendo por aqui? Por que o nome dela está no meio de alguns arquivos do Apolo? Como diabos ela conseguiu se meter nessa roubada toda?
— Isso é uma coisa que só ela pode nos dizer — suspirou. — Mas ela não abre a boca. Tentei arrancar algo dela, mas ela simplesmente me ignorou e armou uma discussão das grandes. Parecia que eu estava conversando com a minha versão feminina, Emma.
— E a ? — Emma perguntou enquanto abria a porta da sala onde ela e Charlie ficavam.
— Ela está incrivelmente tranquila quanto a isso e faz tudo o que a Amanda diz — bagunçou os cabelos. — Por que eu sinto como se fosse o único a não saber o que está acontecendo?
— Talvez porque você realmente seja — Emma deu de ombros. — Mas você não sabe porque se recusa a abrir os olhos, . já sabia da existência das suas primas, está escrito em algum lugar daqueles papéis entediantes que ela te deu sobre seus parentes. Lá fala um bocado de Apolo, você não se deu ao trabalho de ler.
revirou os olhos. Quanto mais lutava para se afastar do passado, mais se sentia preso a ele. Aqueles papéis eram desnecessários, ele não queria saber de onde ou como veio. Não tivera laço algum com sua mãe, por que diabos ficaria caçando sobre a vida dela? Ela já estava morta, assim como seu pai. Para que tentar descobrir sobre a vida dos Castellamare? Porque, se ele bem se lembrava, Apolo também era seu primo. Ele não queria conhecer a parte suja da família de sua mãe. Já conhecera o resto do seu pai, coisa que sempre fizera questão de ignorar porque ninguém nunca quisera explicar o que realmente acontecera.
— , entenda — Emma virou-se para ele —, seu pai sempre quis te manter afastado daqui. Você não pode simplesmente continuar ignorando isso. Seja lá qual for o motivo disso tudo, é coisa antiga. Seu pai se separou de sua mãe por causa de Castellamare. Se não fosse por ele, você e teriam sido criados juntos e nada disso aconteceria.
— Não quero falar disso — murmurou. — Eu só quero acabar o nosso trabalho por aqui e ir embora, Emma. Esse não é o meu lugar. Talvez seja o do Apolo e da Amanda, mas não é o meu. Eu não nasci aqui, não convivi com ninguém daqui; nem a parte do meu avô paterno e nem a parte da minha mãe. Eu não quero saber disso, é tudo podre demais. Talvez por isso meu pai me escondeu todas essas coisas.
— Pare de falar como se seu pai fosse algum tipo de santo — Emma suspirou. — Provavelmente ele te escondeu tudo isso para você não ir atrás de Castellamare e conseguir coisas sobre sua mãe. E nunca quis que você viesse visitar seu avô porque descobriria coisas sobre ele que não eram tão dignas assim. Mas nada disso é da minha conta, então nunca parei para procurar detalhes.
não respondeu, apenas encarou a amiga. Do que ela estava falando, afinal?
Será que todo mundo naquelas famílias malditas eram uns filhos da puta?
— O que quer dizer com isso? — perguntou.
— Quero dizer que você foi e continua sendo um idiota por só ter escutado seu pai — Emma respondeu diretamente. — Seu pai foi um ótimo policial, um ótimo amigo, sim, foi. Eu o admiro até hoje. Mas ele te tirou de seus parentes e o criou sozinho, . Ele fez de você o que ele quis. Ele te privou de ver seu avô, te privou de ver a Amanda nascer, te privou de conhecer a história de sua mãe, te privou da história do Castellamare, te escondeu que tinha um primo quase de sua idade e que esse primo é o Apolo, que infelizmente herdou o sangue ruim daquele velho. Seu pai simplesmente te escondeu coisas que você merecia saber. Ele deveria ter te contado tudo assim que percebeu que você seria um ótimo policial — ela suspirou. — Ele deveria ter te preparado melhor.
— O que tem de tão importante nessas famílias, Emma? — praticamente sussurrou. — Não acho nada disso necessário. Não quero saber de Castellamare, não quero saber do meu avô ou da Amanda ou de quaisquer outras pessoas. Só quero voltar a viver minha vida normalmente!
— O que tem de importante, ? — Emma o fitou. — Todos ficaram de olho em você por muito tempo. Acha que esses atentados foram por acaso? Por Deus! Você está sendo mais idiota que pensei. Mas tanto faz, isso não é assunto para discutirmos agora. Pelo menos você já sabe que isso é uma briga de família. Agora vamos sair daqui antes que Apolo volte com aquela maldita Jullie.
— Emma, se você sabe de alguma coisa a mais é melhor me dizer logo — murmurou, segurando-a pelo braço. — Você nunca me escondeu nada e eu espero que não faça isso agora.
— Só o que eu sei é isso que eu falei, . Seu pai te privou de tantas coisas que agora você só receberá informação atrás de informação — ela suspirou. — Apolo com certeza quer vingar a morte do pai, assim como você queria. A Amanda acabou se desviando porque seu avô era um mafioso infeliz, assim como seus outros tios que seu pai se recusava a falar sobre. Para seu pai só existia a mãe de Kennedy, porque ela saiu daqui e foi viver a vida dela — ela o encarou. — A mãe da Kennedy teve coragem de dizer ‘não’ para o seu avô e foi viver a vida dela. Seu pai preferiu acreditar nas armações de Castellamare, que por sinal estava com seu avô nessa coisa de ser contra o namoro só porque as famílias eram rivais nos negócios. Você só foi vítima disso, . Assim como o .
— Como sabe disso? — engoliu a seco. — Por quanto tempo me escondeu isso?
— Ao contrário de você, li o que a tinha — Emma respondeu sem medo algum. — Você não se interessou, mas nós sim.
***
O rapaz de estatura média e rosto inocente caminhava calmamente pelo estacionamento. Havia recebido uma grana bem forte por aquele trabalho, nunca pensara que fabricar bombas caseiras e a ajuda de um primo mecânico lhe renderia tanto dinheiro.
A ambição já estava gritando em seu interior.
Com um sorriso nos lábios, caminhou até o carro que lhe fora indicado. Olhou em volta e notou estar sozinho. Era um estacionamento aberto; seria tão fácil que ele já estava vibrando.
Disfarçadamente, abaixou-se e rolou para debaixo do carro. Pegou suas ferramentas necessárias e instalou sua belezinha ali, mexeu nas ferragens pela última vez e deixou tudo programado. Bastava entrar no carro que sua amiguinha iniciaria uma contagem de dez segundos e pausaria até que a pessoa ligasse o carro.
E então tudo iria para os ares.
Seria um espetáculo e tanto.
Conferiu tudo mais uma vez e puxou o celular do bolso, ainda deitado no chão.
Aguardou seu superior atender e, abrindo mais um sorriso, disse:
— Está tudo feito, chefe. Só mandar nossas amigas.
O homem do outro lado da linha riu e agradeceu. Estava tudo dando certo. Ele era um gênio. Criara uma bomba tão perfeita, de uma forma tão inteligente. Ela faria um estrago naquele lugar. Não sobraria nada do dono ou dona daquele carro.
Azar o deles.
O rapaz saiu daquele lugar desconfortável e voltou a seguir seu caminho, não ficaria para ver. Já havia testado a belezinha em outro lugar e já sabia o que e como aconteceria, que o resto fosse para o inferno.
Estava saindo daquele lugar cercado de carros quando sentiu algo acertar-lhe a perna. Resmungou de dor e se preparou para olhar o que tanto queimava em sua perna. Mas não tivera tempo, a mesma dor e ardência que atingira sua perna, em questão de segundos depois, atingira em cheio sua testa.
Fora só mais um idiota ambicioso que achara que aquele homem lhe daria tanto dinheiro por fabricar algo como aquela bomba e deixá-lo vivo.
Pura inocência. Ele jamais arriscaria seu posto de mandante de inúmeros crimes assim; não deixaria que um rapaz de vinte e poucos anos que, em vez de estar cursando uma faculdade, fabricava algumas bombas caseiras interessantes.
O homem queria matar, aquele trombadinha metido a esperto poderia voltar e ameaçá-lo depois para arrancar-lhe mais dinheiro.
Fora realmente inocente demais por achar que sairia vivo dali.
Coitado.
***
Fazia um pouco mais de uma hora que estava com Amanda naquele prédio enorme. Há vinte minutos a garota havia entrado em uma sala e simplesmente não saíra mais. queria ligar para e saber como estava, queria contá-lo o que Amanda fizera e explicá-lo que ela estava mais envolvida do que esperavam. Mas sabia que se fizesse isso perderia a confiança da garota, e ela não podia se arriscar tanto assim.
Mais alguns minutos se passaram e Amanda saiu da sala onde havia entrado com uma expressão fechada e os olhos levemente vermelhos.
— Vamos embora — ela murmurou. — Daqui passamos na delegacia para falar com o .
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou calmamente. — Você não parece muito bem.
— Ele só foi ridículo como sempre é — Amanda respondeu e alguns segundos depois abriu um sorriso. — Mas vamos embora. Não me importo com ele. Está tudo bem, não se preocupe.
preferiu não insistir, Amanda poderia se irritar novamente. Não que estivesse com medo da garota, apenas não queria irritá-la e, consequentemente, se irritar também. Até porque seria uma situação ridícula discutir com Amanda depois do que a garota fizera por ela e por .
Saíram do grande prédio e caminharam em direção ao estacionamento aberto, próximo dali, onde deixaram o carro. Sabiam que algum capanga de Apolo poderia estar atrás delas, então optaram por deixar o carro um pouco mais afastado de onde iriam.
Amanda puxou o celular do bolso do short que usava e discou alguns números rapidamente. Fez um sinal para que entrasse no carro e a esperasse. E assim a mais velha fez. Sentara no banco do carona e colocara o cinto de segurança.
pôde ver os olhos de Amanda se arregalarem e podia jurar que ela estava gritando com a pessoa do outro lado da linha, mas não deu muita atenção àquilo.
Aquela garota só sabia gritar com quem quer que fosse. Com um sorriso nos lábios, pegou o celular e preparou-se para discar o número de . Mas desistiu assim que viu a silhueta do amado aparecer correndo no início do estacionamento.
Com um sorriso nos lábios, preparou-se para sair do carro novamente. Mas a porta simplesmente não abrira, fazendo-a estranhar aquilo. Decidiu tentar de novo, porém não obtivera resultado algum. E aquilo simplesmente a deixara um tanto quanto nervosa. Aquilo nunca havia acontecido. Olhou para fora mais uma vez e pode ver Amanda com as mãos na cabeça, assim como Emma — que também surgira do nada —, enquanto gritava coisas que ela não conseguia ouvir bem.
Com os olhos transbordando preocupação, apareceu na janela ao seu lado e apontou para o celular que tocava e ela nem percebera.
— O que foi? Por que não consigo abrir essa porta? — perguntou. — Me tire daqui, . Agora.
não respondeu, apenas suspirou. Estava tão confuso quanto ela. Recebera uma ligação esquisita enquanto estava com Emma, onde a pessoa apenas lhe dissera que estava em perigo naquele lugar. O porquê daquilo ele não entendera de primeira, mas ao chegar no local e encontrar Amanda com os olhos arregalados e as mãos trêmulas, conseguira juntar as coisas. Na verdade, sabia que era uma situação de alto risco. Mas não esperava que fosse tanto. Amanda poderia estar ali dentro, também.
— Eu... — tentou falar, mas não sabia o que dizer. Estava confuso, preocupado, com medo, desesperado. — Não tente sair do carro — ele murmurou. — Não ligue esse carro, não se mexa. Só fique aí, por favor.
— O que está acontecendo? — insistiu, apertando mais o telefone contra a orelha. — , por Deus. Talvez isso esteja com defeito, é só levarmos ao mecânico mais...
Antes que pudesse continuar falando, a cortou com uma frase curta e grossa que a fizera calar-se no mesmo instante:
— Tem uma bomba nesse carro.
— Para de me encarar — ele murmurou sem sequer abrir os olhos, fazendo-a rir baixinho.
— Não quero — ela sussurrou de volta, fazendo-o abrir os olhos finalmente. — Bom dia.
— Bom dia — respondeu dando um selinho rápido em . — Dormiu bem?
— Sim — ela sorriu e aconchegou-se mais nos braços de . — E você?
— Foi minha melhor noite de sono desde que cheguei aqui — ele riu fracamente e encarou o teto.
— O que realmente aconteceu nesses últimos dias? — se sentou e acariciou os cabelos de , fazendo-o fechar os olhos e sorrir. — Seu rosto está marcado. Você está bem abatido, sua barba está crescendo e você não costuma fazer isso por mais que eu diga que adoro...
— Você sabe exatamente o que aconteceu, não preciso dar detalhes — ele deu de ombros e saiu da cama. — Esquece isso.
— Como é que eu posso esquecer que você está jurado de morte até aqui na Itália, ? — perguntou um bocado mais alto e levantou-se logo em seguida.
Por um momento se esqueceu completamente de como se falava. Ver somente de roupas íntimas mexia com sua cabeça de uma forma indescritível, e ela nem parecia notar. Pelo menos até olhar seu próprio corpo.
bufou e puxou o lençol da cama, enrolando-se nele em seguida.
— Você é um idiota — ela murmurou, irritada.
— Porra, — revirou os olhos. — Tudo bem, eu falo, tá legal? Saí da delegacia e estava voltando para o hotel para tentar falar com você. Apolo simplesmente me pegou de surpresa e me prendeu, me torturou das formas que ele e seus capangas quiseram por horas, brincaram de roleta russa comigo e me deixaram sem água e comida. Eu pensei mil vezes em como faria para acabar logo com todo aquele maldito sofrimento sem prejudicar você, porque a cada segundo eles faziam questão de falar que te pegariam também — bagunçou ainda mais os cabelos e suspirou. — Pensei em você a cada segundo que fiquei preso naquele inferno e então desisti de achar uma forma de desistir — ele riu. — E então, a Amanda surgiu e salvou minha vida. Agora estou aqui. E tudo o que sei, além de toda essa merda que passei, é que tem um filho da puta usando meu nome por aqui e enganando todo mundo.
suspirou e piscou os olhos rapidamente. Sentia-se uma completa idiota por ter exigido que falasse tudo aquilo. Era difícil para ele e ela sabia disso.
— Certo, desculpa... — ela murmurou. — Desculpa, eu só...
— Shhh — ele se aproximou dela e puxou-a para um abraço apertado. — Tudo bem. Peço desculpas também, não estou sabendo lidar com tudo o que está acontecendo e o que sinto… Eu fui um idiota, não precisava falar desse jeito.
assentiu levemente e apertou-o mais entre seus braços.
— Descobri que posso ter sido adotada — ela sussurrou, enquanto apertava o corpo de contra si. — Camille me procurou e me entregou alguns documentos e... E, bem, depois uma tal de Lindsay me procurou e disse que é minha mãe biológica. Mas isso não faz sentido, , não faz.
— Como é? — ergueu uma das sobrancelhas. — Isso é basicamente impo... — foi cortado pela voz de Amanda do outro lado da porta, chamando-o para tomar café.
— Vamos comer. Depois conversamos — murmurou, afastando-se de em seguida.
apenas soltou um suspiro pesado antes de começar a se trocar.
Pouco mais de dez minutos depois, o casal já se encontrava na cozinha com Joanne e Amanda.
— Emma pediu para avisar que se você se sentir bem já pode voltar à delegacia, — Amanda murmurou. — Só que... — ela parou para pensar e, segundos depois, balançou a cabeça negativamente. — Deixe quieto.
— Pode falar, Amanda — pediu, colocando o copo de suco em cima da mesa. — Eu sei que você sabe bastante sobre tudo o que está acontecendo aqui. Eu gostaria de entender e saber por que diabos você está metida nisso.
— Digamos que o porquê de eu estar nesse meio não é da sua conta — Amanda disse calmamente e arqueou uma das sobrancelhas. — Eu só ia pedir para que ficasse longe da delegacia. Apolo deve estar louco atrás de você... E de mim também, aliás. Me meti na maior confusão porque tinha um coração mole e sentia que deveria te ajudar — ela revirou os olhos. — Pelo que vejo, você não é do tipo que não se mete em confusão. Isso me deixa um tanto preocupada porque pode me atrapalhar. Ou atrapalhar a idiota da Jullie, que mentiu esse tempo inteiro. Não confie nela, aliás. Ela abre as pernas para o Apolo sempre que pode.
deixou um sorriso brotar em seus lábios. Não havia como negar: aquela garota era, definitivamente, de sua família. De uma parte que ele nunca tivera a chance de conhecer, entretanto. O que era uma pena. Porque se ela estava agindo daquela forma mesmo vivendo longe dele a vida inteira, imagine se ela tivesse crescido ao seu lado? Ele com certeza a teria transformado numa policial tão boa quanto ele. E desaforada também, obviamente.
— E vê se tira esse sorriso ridículo da cara — Amanda disse alto, levantando-se em seguida.
e Joanne estavam em um completo silêncio, apenas observando a cena. , de fato, não estava entendendo absolutamente nada. Mas que achara engraçado a forma que Amanda tratou , achara. Mas se começasse a gargalhar ali, Amanda certamente a alfinetaria também. E bem, não era educado arrumar encrenca com parentes de seu companheiro. Certo?
— Eu preciso sair agora — Joanne se levantou. — ... Eu... — ela suspirou — Eu queria pedir para que você fique aqui. Pelo menos hoje. Apolo deve estar mesmo louco atrás de você. Ele provavelmente vai me procurar hoje e eu não falarei nada e eu gostaria que você também não desse pista alguma. Não fique afobado para sair daqui, seus amigos irão te ajudar com certeza. Então por favor — ela sorriu fracamente —, só fique aqui. Mate as saudades de sua namorada.
abriu a boca para responder, mas Joanne saiu apressadamente da cozinha. estava levemente corada, aquelas garotas eram mesmo primas de . Não havia dúvidas.
— Elas são como você — murmurou enquanto começava a retirar as coisas sujas da mesa. — A Amanda, principalmente.
— Sim — riu. — A Amanda é fora do comum.
soltou uma risada fraca e começou a lavar a louça, sem pressa alguma.
Alguns segundos depois pode sentir segurá-la pela cintura com firmeza e depositar um beijo em seu pescoço, deixando-a completamente arrepiada, do jeitinho que somente ele sabia deixar. Seu coração acelerou daquele jeito delicioso que ela já estava acostumada, mas era sempre bom sentir novamente — como se fosse a primeira vez que o via demonstrar carinho. Estar com era uma das melhores sensações que já provara. O amor que ele lhe transmitia parecia ser sem limites e tão verdadeiro que ela jamais se cansaria. Se pudesse, ficaria dias inteiros somente sentindo aquelas sensações que somente ele poderia lhe dar; fosse com beijos, abraços, sexo ou um simples afago no cabelo. Ela só queria poder estar com ele sem preocupações. Daquele jeitinho simples; numa casa no meio do nada e sozinhos.
— Quer me dizer o que tanto te incomoda? — sussurrou, ainda segurando-a pela cintura.
— Camille me incomoda. Essa tal Lindsay me incomoda. Sua situação me incomoda — suspirou e largou a louça pela metade. — Não saber se realmente conheço minha vida me incomoda. Minhas decisões me incomodam. Tudo me incomoda, . Eu só queria poder viver normalmente; sem ter pessoas atrás de mim o tempo inteiro, sem precisar me esconder, sem precisar te ver correndo tanto perigo.
soltou um suspiro pesado e virou de frente, fitando-a nos olhos.
— Nada de ruim vai acontecer com você, eu prometo — ele murmurou enquanto ajeitava alguns fios rebeldes que caíam sobre o rosto dela. — Estamos juntos agora, não há motivos para se sentir assim. Quanto a essa Lindsay... Deixe rolar, é tudo o que posso aconselhar agora. Espere mais provas, peça um exame de DNA, não acredite na Camille. Uma hora a verdade virá à tona, . Não precisa se preocupar. Eu vou te ajudar em tudo que puder — ele depositou um selinho demorado em seus lábios. — Está tudo bem agora. Quando você notar, já estaremos na nossa Inglaterra novamente, como se nada disso tivesse acontecido. Eu te prometo, . Vamos sair daqui o mais rápido que pudermos, só preciso jogar Apolo na cadeia e descobrir quem é o desgraçado que está usando meu nome por aí — ele a fitou. — Pode esperar por isso? Huh?
apenas suspirou e envolveu a cintura de com os braços, abraçando-o fortemente. , com um sorriso fraco nos lábios, apenas apoiou o queixo na cabeça de .
Tudo o que ele queria era fazer com que ela se sentisse protegida.
Emma olhou em volta e mordeu o lábio inferior. Seria ousada pela primeira vez em seu trabalho. Não que ela nunca tivesse aprontado antes, mas dessa vez ela aprontaria contra o culpado de tudo e na cara dura — pior: sem Charlie sequer saber que ela aprontaria. Ou seja: seu plano tinha que dar certo, de qualquer forma. Só precisava ser rápida, e rapidez não era seu problema.
Olhou em volta uma última vez e, em passos rápidos, caminhou até à sala que normalmente Apolo se trancava e passava horas e horas no telefone. Naquela manhã Apolo não aparecera e, para sua sorte, estava destrancada por algum motivo que ela desconhecia. Jullie, talvez? Ou até mesmo o próprio Antoni. Emma não saberia dizer e pouco se importava.
Abriu a porta com pressa e fechou-a em seguida. Não se daria o luxo de trancá-la, já que alguém poderia aparecer de repente. Caso isso acontecesse, daria uma desculpa qualquer. O telefone da sala onde Charlie ficava poderia parar de pegar de repente, quem sabe. Talvez ela pudesse ter esquecido o celular e ido para aquela sala telefonar para Jullie. Qualquer coisa. Após alguns segundos olhando para a sala e pensando no que poderia mexer primeiro, Emma rumou em direção à mesa. Olharia aquele maldito computador que, para sua sorte, estava ligado.
Apolo estivera ali e isso se tornou um fato assim que viu o computador desbloqueado, livre, leve e solto para ser fuçado por sua curiosidade excessiva. Emma devia se lembrar de andar menos com , estava ficando tão curiosa e enxerida quanto ela.
Com um sorriso no canto dos lábios, Emma conectou o pequeno pen drive que carregava consigo para todos os cantos na entrada USB do computador e começou a fuçar todas as pastas possíveis. Seu sorriso aumentou assim que encontrou uma pasta escondida dentro de tantas, com todas as anotações de desvio de dinheiro.
Emma sentia todo seu interior vibrar em pura satisfação ao encontrar tudo aquilo. Sabia que olhando com um pouco mais de cuidado encontraria tudo. Não perdendo mais tempo, copiou todos aqueles arquivos para seu pen drive e guardou-o no bolso da calça jeans que usava. Mas nem por isso parou de procurar coisas ali, talvez encontrasse alguma outra coisa. Porém, passos vindos do lado de fora chamaram sua atenção. Sem pensar muito, jogou-se no chão e deu um jeito de enfiar-se debaixo daquela grande mesa. Não que fosse um bom esconderijo, mas talvez a pessoa fosse embora logo. Ou talvez não a veria caso fosse sentar-se ali.
Afinal, as pessoas não têm o hábito de olhar embaixo da mesa antes de começar a usar o computador... Certo? Bem, ela esperava que sim.
— Eu já disse que está tudo bem, Antoni — Emma pôde ouvir a voz de Apolo falar alto e a porta bater em seguida. — Não, não preciso que envie ninguém. Já resolvi todos os problemas. Sim, Antoni, estou na minha sala agora. Vim pegar algumas coisas e estou indo para casa. Está tudo bem com a Jullie, sim, eu espero. Ela também não me atende. Tudo bem, até mais.
Apolo bufou e desligou o celular em seguida.
— Velho chato — murmurou. — Que morra junto com aqueles desgraçados ingleses.
Emma mordeu o lábio inferior e se encolheu um pouco mais contra a mesa. Se Apolo a visse ali estaria morta, sem sombra de dúvidas. Aquele moleque — sim, moleque! — era tão demoníaco e ruim como o pai. Malditos Castellamare.
Emma podia ouvir os passos de Apolo se afastando devagar e um suspiro inaudível escapou de seus lábios. Quando ouviu a porta abrir um alívio percorreu seu corpo, fazendo-a relaxar. Só que, em questão de segundos, seu celular tocou. Um som baixo, quase inaudível. Mas a sala estava em um completo silêncio e, com toda certeza, o toque de Apolo não seria uma música romântica qualquer. Com os olhos arregalados e o coração acelerado, Emma desligou o aparelho e preparou-se para Apolo puxá-la dali pelos cabelos e arrastá-la com violência.
Uma risada escapou dos lábios de Apolo, como se já desconfiasse que alguém invadiria sua sala. Virou-se, então, em direção à mesa, dando passos curtos e lentos. Estava mais que preparado para matar quem quer que fosse para ver se aliviava sua frustração de ter perdido para Amanda, a queridinha de seu chefe, e, para completar, Jullie, sua amante de todas as horas, também estava por trás daquilo tudo. Ridícula.
Apolo se aproximou da mesa e se preparou para dar a volta e pegar seu invasor, mas, um baque na porta o fizera pular de susto — assim como Emma, que estava ali embaixo.
— Apolo, o que diabos você aprontou agora?! — A voz de Jullie ecoou alta pela sala, fazendo-o suspirar.
— Posso saber o porquê do escândalo? — ele perguntou calmamente e apontando para a mesa à sua frente, mas Jullie preferiu ignorar seu código.
— Não. Você só precisa vir comigo — ela respondeu, revirando os olhos. — Você não tem nada para fazer, ande logo.
— Não posso — ele foi firme e, novamente, apontou para a mesa. — Aguarde do lado de fora, por favor.
— Eu sei onde o está — Jullie foi direta. — Seja lá o que você precisa fazer nessa mesa, não é mais importante que o paradeiro do nosso queridinho. Agora pare de fogo nesse rabo e saia dessa sala!
Apolo ficou sem ação por alguns segundos, mas logo um sorriso brotou em seus lábios. Seu invasor ele procuraria depois, nas câmeras que instalara na sala para sua própria segurança. Apolo não confiava em ninguém à sua volta. Mesmo que Antoni fosse um velho legal, mas Apolo sabia que, quando ele descobrisse tudo, logo abriria a boca para Charlie.
— Vamos logo que não tenho o dia inteiro — Apolo disse firmemente e puxou Jullie pelo braço. Jogou-a para fora da sala e fechou a porta com força em seguida. Apolo abriu um sorriso maldoso quando trancou a porta e virou-se para Jullie em seguida. Seu dia até que estava melhorando.
desligou o celular e bagunçou os cabelos em seguida. Seu dia estava sendo maravilhoso, até receber aquela ligação de Emma — que tinha a voz totalmente descontrolada e parecia a ponto de surtar.
o fitava apreensiva; não sabia se deveria perguntar o que estava acontecendo ou se tentava acalmar seu amado. No fim das contas, fizera os dois. Aproximou-se de e puxou-o pelo rosto, fazendo-o encará-la.
— O que houve?
— A Emma está trancada na sala do Apolo — respondeu. — E ela ouviu uma conversa que ele teve com a Jullie. A maldita vai abrir a boca para ele e dizer onde eu estou. Ou seja: nós temos míseros vinte minutos para sairmos daqui com as garotas.
passou a mão pelo rosto e suspirou.
— Vai na frente — murmurou. — Pega o carro que a Joanne te trouxe e sai.
— E vocês vão sair daqui como? — perguntou, soltando uma risada forçada. — Eu não vou deixar vocês sozinhas.
— Quanto a isso não precisa se preocupar, priminho — a voz de Amanda ecoou pela sala. — Eu já sabia que a Jullie faria algo assim, não poderia esperar menos dela. Tenho outro carro aqui, a Joanne pode nos levar para outro lugar assim que voltar da rua. Acredito que você saiba andar por aqui.
— Garota, de onde você surgiu? — murmurou. Sua prima era tão inteligente – e só aparecia nos momentos mais complicados desde que pisara naquele lugar – o que o deixava tonto e levemente assustado. — Não é como se eu conhecesse Palermo como a palma da minha mão.
— Não seja por isso — Amanda deu de ombros e jogou um papel no peito de . — Isso é um mapa. Está riscado para onde você deve ir. Eu e a iremos até onde a Emma está mais tarde. Por enquanto vamos apenas despistar o Apolo.
— Em quanto tempo a Joanne volta? — perguntou enquanto analisava o mapa em suas mãos. — Pelo que a Emma disse, eles chegarão aqui logo.
— Eles chegariam aqui bem rápido se não tivesse acontecido um pequeno acidente no meio do caminho — Amanda sorriu. — Mas isso não é assunto para agora.
Pegue o carro e suma daqui enquanto você tem tempo. O acidente dá, pelo menos, vinte minutos de vantagem. Aproveite-se disso e me agradeça mais tarde. Você pode vir comigo, ? Precisarei de sua ajuda para uma coisa.
piscou os olhos algumas vezes, confusa. Como diabos Amanda podia ser tão mandona daquele jeito? Chegava a ser insano o jeito daquela garota agir. Ela tinha o que, vinte anos? Vinte e dois, no máximo.
— Posso saber para que precisa dela ou...? — perguntou, arqueando uma das sobrancelhas e Amanda o fitou.
— Você não quer que ela esteja aqui assim que Apolo chegar, não é mesmo? — a garota perguntou, suspirando em seguida. — Não seja idiota. Você tem que sumir daqui, eu não posso. A casa é minha. Apolo me conhece, sabe que fui eu quem te tirou de lá. E acredito que ele saiba que já está aqui, mas não precisa ficar tão na cara que ela está com você.
— Ele pode machucar você — murmurou. — Sabe que ele é perigoso, não precisa se arriscar assim.
Amanda riu.
— Acreditem — ela fitou os mais velhos, com um sorriso maldoso nos lábios —, Apolo não é louco de sequer pensar em me machucar. Se ele me tocar, é um homem morto. Ele sabe disso, a Jullie sabe disso. Todos sabem.
— Você por acaso tem algum tipo de relacionamento com a pessoa que usa meu nome por aqui, Amanda? — jogou a pergunta, fazendo a mais nova desfazer o sorriso.
— Não seja ridículo — Amanda respondeu. — Vai fazer o que eu disse ou vai ficar aqui esperando tudo dar errado para se foder no final?
— Como você sabe tanto, Amanda? — insistiu. — E que porra de acidente foi esse?
— Não te interessa — ela respondeu. — Não pense que só porque é meu primo pode vir falar assim comigo. Salvei e continuo salvando a droga da sua vida. Pare de querer enfiar o nariz onde não é chamado. Da minha vida cuido eu, .
— A partir do momento que você passou a ter o caso com o tal italiano, Amanda, sua vida passou a ser da minha conta — se aproximou da prima e deu um passo à frente, também. — É por isso que Apolo não pode tocar em você. Agora eu realmente entendi. Já desconfiava que tinha alguém acima de Apolo, mas não sabia quem era. Você e sua irmã deveriam ser mais cautelosas na hora de comentar e fazer certas coisas.
— Você é ridículo — Amanda murmurou. — Quer saber? Fodam-se. Se quiserem continuar aqui, continuem. Não vou interferir em mais nada — a garota deu as costas, mas voltou-se para mais uma vez. — Com quem eu durmo ou deixo de dormir, não é da sua conta, priminho. Não se meta na droga da minha vida. Cate suas coisas e suma daqui antes que eu perca a paciência e, em vez de esperar pelo Apolo, te dê um tiro no meio da testa.
engoliu a seco e arqueou uma das sobrancelhas, observando a cena em silêncio. Amanda era tão irritante, prepotente e mandona quanto . Naquele momento ela chegara a se questionar se eles não eram irmãos em vez de primos distantes.
— Fale direito comigo! — exclamou e Amanda riu de forma debochada. — Você é só uma pirralha prepotente que acha que sabe demais. Será que não percebe que se me contar tudo o que sabe as coisas melhorarão para nós dois?
— Ser prepotente é de família, então — ela sorriu. — Tem coisas que você não pode e muito menos precisa saber, . Aliás, você já perdeu quase metade do seu tempo de vantagem para sumir dessa casa. Consequentemente, está atrasando o meu trabalho também. Faça o favor de pegar a porra do carro e o mapa e suma daqui. Não aguento mais ter que olhar para sua cara.
abriu a boca para gritar algo bem feio para a garota, mas segurou-o pelo braço e sussurrou alguma coisa para que ele se acalmasse. Amanda, com um sorriso satisfeito nos lábios, virou-se e correu em direção ao quarto.
a seguiria depois, ela sabia. não era burro, com toda certeza faria o que lhe fora mandado. Mesmo que contra sua vontade, faria. Aquilo salvaria sua vida.
soltou um suspiro pesado e estacionou o carro. Amanda era a maldita garota na faixa dos vinte anos mais inteligente que conhecia. Aquela garota insolente fora capaz de preparar um mapa marcado em todos os pontos que deveria ir e, atrás dele, tinha escrito o que deveria fazer. Ela frisava bastante que não importava como, ele só precisava fazer. E isso incluía pegar o garoto mais magro e, quem sabe, talvez, até mesmo inocente do primeiro ponto e lhe dar um susto. Entre parênteses, ela colocou: "Pode ser uns socos na cara ou talvez mirar a arma em sua cabeça".
De onde aquela garota tirava aquelas coisas e, o mais importante: por quê?
Mesmo confuso, seguira todos os passos. No início só recebia algumas ameaças e informações, como: "Apolo vai te matar, desgraçado!", mas aí bastava ele usar os métodos de Amanda que os caras abriam a boca e lhe contavam a verdade: "O dinheiro está todo na conta da Suíça! Não faça mais nada comigo, por favor! Não é totalmente culpa do Apolo! Tem outro por trás dele!".
Com tudo isso ecoando em sua cabeça, dirigiu para o último lugar do mapa: a maldita delegacia onde Emma estava. Sobre aquilo, não havia nada. Não havia sequer uma informação, um número de telefone ou o nome de alguém. Absolutamente nada. Talvez fosse para ele fazer o que realmente quisesse quando chegasse ali.
Tomando todos os cuidados necessários, subiu para onde Antoni e Charlie costumavam ficar naquela delegacia. Mas, naquele momento, estava tudo estupidamente silencioso e vazio. Após alguns segundos olhando tudo em volta, pode ouvir alguns sussurros e xingamentos. Logo depois, suspiros e mais xingamentos frustrados. Aproximou-se da porta lentamente e deu duas batidas fracas. E então o silêncio voltou.
Como uma lâmpada que acabara de se acender em sua cabeça, sorriu.
— Emma? — chamou.
— ?! — Ela praticamente gritou. — O que está fazendo aqui?
— Não sei — ele deu de ombros. — Está aí há muito tempo?
— Mais do que eu poderia e queria ficar — ela suspirou. — Charlie não me atende e eu achei que você sequer fosse aparecer por aqui, já que Apolo está querendo sua cabeça.
— Afaste-se da porta — pediu. — Vou atirar na maçaneta.
— Está louco? — Emma perguntou. — Se Apolo vir isso...
— Quero que o Apolo se foda — puxou a pistola que carregava em sua cintura e mirou na maçaneta. — Temos muitas coisas para correr atrás agora, querida Emma.
Após dizer isso, dera dois tiros certeiros e empurrou a porta para que Emma saísse já lhe jogando uma pergunta:
— O que houve?
— Amanda me entregou isso — ele estendeu o mapa. — Tem umas anotações estranhas atrás, não entendi bem o motivo disso tudo, mas fui atrás. O que mais ouvi nesses lugares foi que Apolo tentaria me matar e que tinha uma grande quantia de dinheiro em uma conta na Suíça — suspirou. — Ah, ouvi dizer que tem alguém que vale mais que Apolo. Um chefão maior que ele, talvez.
— Posso te contar mais que isso, mas precisamos sair daqui logo — Emma murmurou. — Mexi no computador do Apolo e peguei praticamente tudo dele, por isso estava trancada lá — ela explicou rapidamente e puxou pela mão. — Apolo foi atrás de você. Como conseguiu sair de lá tão rápido?
— Amanda — respondeu, bufando em seguida. — Ela disse que eu tinha que seguir esse mapa porque o Apolo e a Jullie demorariam para chegar lá, por causa de um acidente que teve no caminho. Sendo que eu não ouvi nada sobre isso... Está sabendo de alguma coisa?
— Não. Mas do jeito que sua prima é, provavelmente ela armou algo por já saber que isso aconteceria. O problema é: — fez uma pausa para fitar o amigo. — Como? Como essa garota sabe tudo o que está acontecendo por aqui? Por que o nome dela está no meio de alguns arquivos do Apolo? Como diabos ela conseguiu se meter nessa roubada toda?
— Isso é uma coisa que só ela pode nos dizer — suspirou. — Mas ela não abre a boca. Tentei arrancar algo dela, mas ela simplesmente me ignorou e armou uma discussão das grandes. Parecia que eu estava conversando com a minha versão feminina, Emma.
— E a ? — Emma perguntou enquanto abria a porta da sala onde ela e Charlie ficavam.
— Ela está incrivelmente tranquila quanto a isso e faz tudo o que a Amanda diz — bagunçou os cabelos. — Por que eu sinto como se fosse o único a não saber o que está acontecendo?
— Talvez porque você realmente seja — Emma deu de ombros. — Mas você não sabe porque se recusa a abrir os olhos, . já sabia da existência das suas primas, está escrito em algum lugar daqueles papéis entediantes que ela te deu sobre seus parentes. Lá fala um bocado de Apolo, você não se deu ao trabalho de ler.
revirou os olhos. Quanto mais lutava para se afastar do passado, mais se sentia preso a ele. Aqueles papéis eram desnecessários, ele não queria saber de onde ou como veio. Não tivera laço algum com sua mãe, por que diabos ficaria caçando sobre a vida dela? Ela já estava morta, assim como seu pai. Para que tentar descobrir sobre a vida dos Castellamare? Porque, se ele bem se lembrava, Apolo também era seu primo. Ele não queria conhecer a parte suja da família de sua mãe. Já conhecera o resto do seu pai, coisa que sempre fizera questão de ignorar porque ninguém nunca quisera explicar o que realmente acontecera.
— , entenda — Emma virou-se para ele —, seu pai sempre quis te manter afastado daqui. Você não pode simplesmente continuar ignorando isso. Seja lá qual for o motivo disso tudo, é coisa antiga. Seu pai se separou de sua mãe por causa de Castellamare. Se não fosse por ele, você e teriam sido criados juntos e nada disso aconteceria.
— Não quero falar disso — murmurou. — Eu só quero acabar o nosso trabalho por aqui e ir embora, Emma. Esse não é o meu lugar. Talvez seja o do Apolo e da Amanda, mas não é o meu. Eu não nasci aqui, não convivi com ninguém daqui; nem a parte do meu avô paterno e nem a parte da minha mãe. Eu não quero saber disso, é tudo podre demais. Talvez por isso meu pai me escondeu todas essas coisas.
— Pare de falar como se seu pai fosse algum tipo de santo — Emma suspirou. — Provavelmente ele te escondeu tudo isso para você não ir atrás de Castellamare e conseguir coisas sobre sua mãe. E nunca quis que você viesse visitar seu avô porque descobriria coisas sobre ele que não eram tão dignas assim. Mas nada disso é da minha conta, então nunca parei para procurar detalhes.
não respondeu, apenas encarou a amiga. Do que ela estava falando, afinal?
Será que todo mundo naquelas famílias malditas eram uns filhos da puta?
— O que quer dizer com isso? — perguntou.
— Quero dizer que você foi e continua sendo um idiota por só ter escutado seu pai — Emma respondeu diretamente. — Seu pai foi um ótimo policial, um ótimo amigo, sim, foi. Eu o admiro até hoje. Mas ele te tirou de seus parentes e o criou sozinho, . Ele fez de você o que ele quis. Ele te privou de ver seu avô, te privou de ver a Amanda nascer, te privou de conhecer a história de sua mãe, te privou da história do Castellamare, te escondeu que tinha um primo quase de sua idade e que esse primo é o Apolo, que infelizmente herdou o sangue ruim daquele velho. Seu pai simplesmente te escondeu coisas que você merecia saber. Ele deveria ter te contado tudo assim que percebeu que você seria um ótimo policial — ela suspirou. — Ele deveria ter te preparado melhor.
— O que tem de tão importante nessas famílias, Emma? — praticamente sussurrou. — Não acho nada disso necessário. Não quero saber de Castellamare, não quero saber do meu avô ou da Amanda ou de quaisquer outras pessoas. Só quero voltar a viver minha vida normalmente!
— O que tem de importante, ? — Emma o fitou. — Todos ficaram de olho em você por muito tempo. Acha que esses atentados foram por acaso? Por Deus! Você está sendo mais idiota que pensei. Mas tanto faz, isso não é assunto para discutirmos agora. Pelo menos você já sabe que isso é uma briga de família. Agora vamos sair daqui antes que Apolo volte com aquela maldita Jullie.
— Emma, se você sabe de alguma coisa a mais é melhor me dizer logo — murmurou, segurando-a pelo braço. — Você nunca me escondeu nada e eu espero que não faça isso agora.
— Só o que eu sei é isso que eu falei, . Seu pai te privou de tantas coisas que agora você só receberá informação atrás de informação — ela suspirou. — Apolo com certeza quer vingar a morte do pai, assim como você queria. A Amanda acabou se desviando porque seu avô era um mafioso infeliz, assim como seus outros tios que seu pai se recusava a falar sobre. Para seu pai só existia a mãe de Kennedy, porque ela saiu daqui e foi viver a vida dela — ela o encarou. — A mãe da Kennedy teve coragem de dizer ‘não’ para o seu avô e foi viver a vida dela. Seu pai preferiu acreditar nas armações de Castellamare, que por sinal estava com seu avô nessa coisa de ser contra o namoro só porque as famílias eram rivais nos negócios. Você só foi vítima disso, . Assim como o .
— Como sabe disso? — engoliu a seco. — Por quanto tempo me escondeu isso?
— Ao contrário de você, li o que a tinha — Emma respondeu sem medo algum. — Você não se interessou, mas nós sim.
O rapaz de estatura média e rosto inocente caminhava calmamente pelo estacionamento. Havia recebido uma grana bem forte por aquele trabalho, nunca pensara que fabricar bombas caseiras e a ajuda de um primo mecânico lhe renderia tanto dinheiro.
A ambição já estava gritando em seu interior.
Com um sorriso nos lábios, caminhou até o carro que lhe fora indicado. Olhou em volta e notou estar sozinho. Era um estacionamento aberto; seria tão fácil que ele já estava vibrando.
Disfarçadamente, abaixou-se e rolou para debaixo do carro. Pegou suas ferramentas necessárias e instalou sua belezinha ali, mexeu nas ferragens pela última vez e deixou tudo programado. Bastava entrar no carro que sua amiguinha iniciaria uma contagem de dez segundos e pausaria até que a pessoa ligasse o carro.
E então tudo iria para os ares.
Seria um espetáculo e tanto.
Conferiu tudo mais uma vez e puxou o celular do bolso, ainda deitado no chão.
Aguardou seu superior atender e, abrindo mais um sorriso, disse:
— Está tudo feito, chefe. Só mandar nossas amigas.
O homem do outro lado da linha riu e agradeceu. Estava tudo dando certo. Ele era um gênio. Criara uma bomba tão perfeita, de uma forma tão inteligente. Ela faria um estrago naquele lugar. Não sobraria nada do dono ou dona daquele carro.
Azar o deles.
O rapaz saiu daquele lugar desconfortável e voltou a seguir seu caminho, não ficaria para ver. Já havia testado a belezinha em outro lugar e já sabia o que e como aconteceria, que o resto fosse para o inferno.
Estava saindo daquele lugar cercado de carros quando sentiu algo acertar-lhe a perna. Resmungou de dor e se preparou para olhar o que tanto queimava em sua perna. Mas não tivera tempo, a mesma dor e ardência que atingira sua perna, em questão de segundos depois, atingira em cheio sua testa.
Fora só mais um idiota ambicioso que achara que aquele homem lhe daria tanto dinheiro por fabricar algo como aquela bomba e deixá-lo vivo.
Pura inocência. Ele jamais arriscaria seu posto de mandante de inúmeros crimes assim; não deixaria que um rapaz de vinte e poucos anos que, em vez de estar cursando uma faculdade, fabricava algumas bombas caseiras interessantes.
O homem queria matar, aquele trombadinha metido a esperto poderia voltar e ameaçá-lo depois para arrancar-lhe mais dinheiro.
Fora realmente inocente demais por achar que sairia vivo dali.
Coitado.
Fazia um pouco mais de uma hora que estava com Amanda naquele prédio enorme. Há vinte minutos a garota havia entrado em uma sala e simplesmente não saíra mais. queria ligar para e saber como estava, queria contá-lo o que Amanda fizera e explicá-lo que ela estava mais envolvida do que esperavam. Mas sabia que se fizesse isso perderia a confiança da garota, e ela não podia se arriscar tanto assim.
Mais alguns minutos se passaram e Amanda saiu da sala onde havia entrado com uma expressão fechada e os olhos levemente vermelhos.
— Vamos embora — ela murmurou. — Daqui passamos na delegacia para falar com o .
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou calmamente. — Você não parece muito bem.
— Ele só foi ridículo como sempre é — Amanda respondeu e alguns segundos depois abriu um sorriso. — Mas vamos embora. Não me importo com ele. Está tudo bem, não se preocupe.
preferiu não insistir, Amanda poderia se irritar novamente. Não que estivesse com medo da garota, apenas não queria irritá-la e, consequentemente, se irritar também. Até porque seria uma situação ridícula discutir com Amanda depois do que a garota fizera por ela e por .
Saíram do grande prédio e caminharam em direção ao estacionamento aberto, próximo dali, onde deixaram o carro. Sabiam que algum capanga de Apolo poderia estar atrás delas, então optaram por deixar o carro um pouco mais afastado de onde iriam.
Amanda puxou o celular do bolso do short que usava e discou alguns números rapidamente. Fez um sinal para que entrasse no carro e a esperasse. E assim a mais velha fez. Sentara no banco do carona e colocara o cinto de segurança.
pôde ver os olhos de Amanda se arregalarem e podia jurar que ela estava gritando com a pessoa do outro lado da linha, mas não deu muita atenção àquilo.
Aquela garota só sabia gritar com quem quer que fosse. Com um sorriso nos lábios, pegou o celular e preparou-se para discar o número de . Mas desistiu assim que viu a silhueta do amado aparecer correndo no início do estacionamento.
Com um sorriso nos lábios, preparou-se para sair do carro novamente. Mas a porta simplesmente não abrira, fazendo-a estranhar aquilo. Decidiu tentar de novo, porém não obtivera resultado algum. E aquilo simplesmente a deixara um tanto quanto nervosa. Aquilo nunca havia acontecido. Olhou para fora mais uma vez e pode ver Amanda com as mãos na cabeça, assim como Emma — que também surgira do nada —, enquanto gritava coisas que ela não conseguia ouvir bem.
Com os olhos transbordando preocupação, apareceu na janela ao seu lado e apontou para o celular que tocava e ela nem percebera.
— O que foi? Por que não consigo abrir essa porta? — perguntou. — Me tire daqui, . Agora.
não respondeu, apenas suspirou. Estava tão confuso quanto ela. Recebera uma ligação esquisita enquanto estava com Emma, onde a pessoa apenas lhe dissera que estava em perigo naquele lugar. O porquê daquilo ele não entendera de primeira, mas ao chegar no local e encontrar Amanda com os olhos arregalados e as mãos trêmulas, conseguira juntar as coisas. Na verdade, sabia que era uma situação de alto risco. Mas não esperava que fosse tanto. Amanda poderia estar ali dentro, também.
— Eu... — tentou falar, mas não sabia o que dizer. Estava confuso, preocupado, com medo, desesperado. — Não tente sair do carro — ele murmurou. — Não ligue esse carro, não se mexa. Só fique aí, por favor.
— O que está acontecendo? — insistiu, apertando mais o telefone contra a orelha. — , por Deus. Talvez isso esteja com defeito, é só levarmos ao mecânico mais...
Antes que pudesse continuar falando, a cortou com uma frase curta e grossa que a fizera calar-se no mesmo instante:
— Tem uma bomba nesse carro.
Capítulo 16
sentia o coração bombardear-lhe o peito com força, causando um leve desconforto e falta de ar. Naquele momento, tudo o que passava por sua cabeça era se sobreviveria, se aguentaria tudo aquilo e, principalmente, quanto tempo aquela bomba tinha até explodir. O desespero pairava no ar, assim como a tensão, de uma forma quase palpável.
, do lado de fora, tentava distraí-la através do celular até que pensassem numa boa alternativa para tirá-la daquele carro. Era estranho estar numa situação como aquela mais uma vez. Na verdade, até achara que demorara para acontecer algo. Em sua cabeça, pela forma que todos falavam que estava sendo perigoso, cogitou até mesmo que explodissem seu avião. Mas, não. Decidiram esperá-la por ali e tentar explodir o carro em que estivesse. Inovador. Mas não era como se realmente estivesse preocupada com isso; queria sair daquele carro correr para os braços de e contar-lhe tudo o que sabia, o que escondia e o que achava que deveriam fazer. Era como se… Aqueles minutos dentro do carro fizessem pensar sobre sua vida; seus medos, seus segredos, seus desesperos, seus amores, suas prioridades. Fazia tempo que não pensava sobre todas aquelas coisas. Era estranho como a vida sempre lhe pregava peças quando menos esperava.
Ficar trancada naquele carro e ouvir da boca de seu amado que ali havia uma bomba fez com que pensasse sobre tudo o que aconteceu e, como o próprio clichê dizia, visse toda sua vida passar diante de seus olhos. Foi um banho de água fria. Estava prestes a morrer, se tudo desse errado, e não tinha contado metade das coisas que sabia para o homem em quem deveria confiar completamente. Talvez por falta de coragem, talvez por medo, talvez por saber que existia a possibilidade de perdê-lo... Ela não sabia, mas queria sair daquele inferno e ter mais uma chance, mesmo que já tivesse desperdiçado muitas outras.
Os gritos abafados de adentraram seus ouvidos, despertando-a de seus devaneios desnecessários. E então olhou para o lado de fora, finalmente. , assim como Emma e algumas outras pessoas que ela não conhecia, corriam de um lado para o outro ao mesmo tempo em que gritavam uns com os outros.
— Eu vou te tirar daí — a voz de adentrou seus ouvidos novamente, fazendo-a encará-lo através do vidro. Ele tinha medo nos olhos; medo de tudo, podia sentir. O que mais queria era sair dali viva e abraçá-lo até cansar.
Com ele, obviamente, não era diferente. Queria tê-la de volta para si, mimá-la, beijá-la como se não houvesse outros dias. Queria salvá-la como sempre fazia. Mas, ali, naquele momento, não podia fazer nada a não ser tentar falar pelo celular até que Emma dissesse o contrário. De acordo com ela e os especialistas que conseguiram contatar às pressas, a bomba poderia ter algum tipo de sensor ou algo assim — não prestara muito atenção — para detectar alguns movimentos ou toques em determinados lugares do carro como, por exemplo, ligá-lo. Normalmente essas eram as usadas por bandidos para matarem outros ou policiais que entrassem em seus caminhos. Bastava girar a chave para ligar o carro e boom, a explosão aconteceria, matando quem estava dentro e nos arredores do automóvel.
tinha medo de aquele ser o caso de . Tinha medo, na verdade, de perdê-la. De não conseguir salvá-la. De fracassar com a mulher de sua vida. Nunca ficara tão perto de perdê-la para sempre como naquele momento.
— Imprestáveis! — Emma gritou de repente, fazendo com que se virasse para ela. Porém, antes que o homem pudesse perguntar qualquer coisa que fosse, ela já se encontrava no chão indo diretamente para debaixo do carro.
tentou pará-la, mas fora inútil; Emma já tinha todo o corpo enfiado embaixo daquela porcaria que poderia explodir a qualquer momento.
— Emma! — gritou para atrair a atenção da mulher, mas não obtivera resposta alguma.
Era como se Emma estivesse perdida ou como se, talvez, houvesse entrado em estado de choque. Curioso, se abaixou para chamar a mulher novamente, fazendo-a apenas levar o olhar em direção a ele e engoliu a seco.
Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, pela segunda vez no dia, fora empurrado para trás pelas perna de Emma, que já se esgueirava para fora dali.
— Um minuto — Emma praticamente gritou, levantando-se do chão às pressas. — É tudo o que temos, um minuto!
continuou parado, fitando a mais velha agir e dar mil e uma ordens para todos que estavam ali. Um minuto. Um mísero minuto; sessenta segundos. Era tudo o que tinha para salvar a mulher de sua vida. Engoliu a seco, suspirou, bagunçou os cabelos e ignorou seus olhos que começavam a lacrimejar. Estava claramente em pânico, fora de controle, sem saber o que fazer. Sua respiração começava a ficar ofegante, o fazendo pensar que infartaria ou se teria uma crise de ansiedade a qualquer momento. Enquanto pensava no que fazer, seu nome era gritado ao longe, em desespero por várias pessoas. Mas seu corpo não queria obedecê-lo; estava completamente travado, em estado de choque.
Tudo ao seu redor estava em câmera lenta e ele sentia como se estivesse tendo um dejavú, como se houvesse passado por aquilo em algum outro momento. E de fato havia passado; mas não com tamanha gravidade. Passara por momentos tensos como aqueles, mas nunca com tanta intensidade, nunca deixara que a adrenalina abandonasse seu corpo a ponto de ficar completamente em choque. Embora estivesse daquela maneira somente há alguns segundos, sentia como se fossem horas. Fora preciso que Amanda, aos gritos, o puxasse pelos ombros e o sacudisse com força, fazendo-o piscar os olhos rapidamente.
Da mesma forma que ficara chocado, virou o corpo em direção ao carro em que se encontrava presa e correu; correu como se sua vida dependesse daquilo — e realmente dependia. A sua, a de , a de Emma. Havia perdido segundos preciosos num momento de desespero extremo, mas teria que engolir seu medo, desespero e o inferno que fosse se quisesse salvar sua . Sem se importar com as pessoas em volta, pulou sobre o capô do carro e socou a lateral do vidro e, obviamente, machucou a mão. Ignorou a dor e voltou a socar o mesmo local algumas vezes mais, fazendo com que arregalasse os olhos em sua direção, como se implorasse para que ele não se machucasse daquela maneira. Antes que pudesse gritar qualquer coisa para o amado, sacou a arma que carregava no cós da calça e fez movimentos frenéticos com as mãos para que se afastasse do vidro, para que fosse para o lado da forma que pudesse, para não haver a mínima chance de ser atingida. Tentara quebrar o vidro com socos, obviamente para não atingi-la. Mas não tinha tanto tempo.
— Trinta segundos! — Emma gritou enquanto imitava e sacava sua própria arma, mirando-a para o vidro. estava no banco do carona, observando tudo desesperada.
Afastou-se para o lado o máximo que conseguira enquanto tentava arrebentar o cinto de segurança que ainda a prendia com força. Perguntava-se, assustada, como conseguiram travar tantas coisas num carro como aquele. E quanto mais pensava sobre o assunto, mais sentia o desespero crescer em seu interior. Tateou o porta-luvas do carro a procura de qualquer coisa afiada que pudesse cortar o cinto, ignorando os tiros quase ensurdecedores devido à aproximação. Por sorte encontrara um canivete ali perdido. Não sabia por que diabos Amanda tinha um, mas agradecera.
Tentou cortar o cinto, mas sequer fazia ideia de que material era aquele; ele não cortava, ela não sabia se por sua qualidade ou se era por estar trêmula demais. Por fim, arrebentara uma boa parte o mais rápido que conseguira. Encarou mais uma vez e pôde vê-lo mandando-a esconder o rosto para que ele chutasse o enorme vidro do automóvel. Antes, pôde ouvir Emma gritar algo como “quinze segundos!” e se desesperou ainda mais. Passou o cinto pelo ombro e ergueu o corpo da forma que deu, tentando empurrá-lo para baixo e passar “por dentro” dele.
— Chuta essa porra, ! — A própria gritou, enquanto, com uma das mãos, protegia os olhos. Sem ter o que fazer, e Emma empurraram o vidro juntos, fazendo-o cair praticamente todo em cima de , que pouco se importou e jogou os cacos para o lado e o maior pedaço para frente para que o tirasse dali por completo. Antes mesmo que terminassem o trabalho, se jogou para frente, indo para cima do capô do carro. E só então fora como se tudo ao redor voltasse a velocidade normal, escorregou pelo capô o mais rápido que conseguiu, sendo segurada por em um dos braços quando ameaçou a cair no chão.
— Corram, corram! — Emma gritava sem parar, enquanto apertava os próprios passos. Ao longe, um dos rapazes que os estava ajudando gritava a contagem e, de acordo com ele, tinham sete segundos para se afastarem daquele carro para que, assim, tivessem ao menos a chance de obterem ferimentos leves.
Ao ouvir a palavra “um” ser gritada, empurrou o corpo de para frente, na direção de Emma, fazendo com que as duas se esbarrassem e se segurassem ao mesmo tempo. Obviamente, não perdera tempo antes de jogar-se contra as duas, abraçando-as antes de sentir o impacto da explosão logo atrás de si. Fora como se tudo houvesse acertado suas costas, mas não se importava, desde que saísse vivo e com as duas mulheres sãs e salvas em seus braços. O barulho fora ensurdecedor e sua cabeça latejava de forma absurda. e Emma, embaixo de seu corpo, tossiam e tentavam se levantar, igualmente tontas, para que pelo menos saíssem daquela fumaceira. Mas nenhum do três conseguia se mexer de maneira correta; os corpos doíam, os ouvidos zumbiam, as cabeças latejavam de forma absurda, como se tivessem levado uma forte paulada no local. Com o resto de consciência que ainda tinha, ergueu o olhar para as duas mulheres tentando conferir se estavam bem, ou, pelo menos, melhores que ele — já que essa era a intenção quando correra o mais rápido que pôde e as empurrara para frente. Ao notá-las ainda acordadas e com poucos ferimentos, deixou que seus olhos se fechassem. Seu corpo ainda tremia levemente devido a adrenalina e o nervoso que passara, mas sabia que tudo estava bem agora. Todos estavam salvos, todos estavam bem. Deixou, por fim, que a inconsciência o levasse. Desmaiara ali, entre as duas mulheres que tentara salvar, de tanto nervosismo. Sentira seu coração acelerar como nunca havia acontecido antes, a dor em sua cabeça era tão, tão desesperadora que queria que passasse logo. Não havia por que tentar lutar contra a vontade de apagar de uma vez por todas, então deixou a escuridão levá-lo, nem que fosse por alguns minutos, o suficiente para fazer todo aquele desconforto pós-acidente passar.
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— Você não acha que está próxima demais do Apolo?
O homem encarou a morena à sua frente, que mexia as mãos nervosamente. Tentava se distrair, esquecer aquelas provocações e tentativas do tio de arrancar-lhe coisas. Ela sabia que estava ali a trabalho e não para morrer de amores por um desgraçado mais uma vez, porém ninguém conseguia mandar naquela coisinha irritantemente manhosa chamada coração. Obviamente não iria desistir de sua missão e cumpriria o que prometera; estava ali para fazer um bem (inter)nacional e não para ficar revivendo o passado embora tivesse tido alguns mínimos deslizes.
— Não se preocupe com isso — respondeu. — Você sabe, não importa o quão próxima dele eu esteja; eu vou conseguir o que tanto queremos. Ele já deslizou muitas vezes comigo, eu tenho provas o suficiente. Por que acha que preferi ficar por aqui a ir ver essa última confusão que os ingleses arrumaram? Não preciso saber deles, Apolo é o meu trabalho. Estou focada. Você às vezes fala como se não conhecesse a sua própria sobrinha, a Jullie verdadeira. Eu. Sabe? Pare com isso.
— Você sempre foi apaixonada por ele — rebateu. — Não minta, Jullie. Por Deus. Não minta. Não se entregue a ele novamente, eu não a quero sofrendo como antes. Não a quero desistindo de seu trabalho como fizera da última vez.
— Apolo já está no papo — levantou-se. — É tudo o que precisamos. Logo ele será nosso, se o não atrapalhar. Então ponha-o em seu devido lugar, diga-o para não se meter comigo e muito menos com Apolo, ele pode morrer nessa brincadeirinha. E eu também. Mas eu já te disse, titio Antoni — aproximou-se do mais velho sorrindo: — Eu só vou morrer quando eu quiser. Por enquanto não quero, então mantenha o longe das minhas coisas, enfie-o nos trabalhos de Charlie que é para isso que está aqui. Apolo é assunto meu, não quero saber se o priminho dele está revoltadinho e quer matar todos só por achar que está envolvido em morte de, sei lá, da mamãezinha dele.
— Só tome cuidado — Antoni murmurou. — Apolo é perigoso demais. Ouvi dizer que…
— Que há outro na jogada, sim — Jullie o cortou. — Há outro na jogada e já está no papo, também. A nossa querida Amanda que o diga, huh?
— Só tome cuidado — repetiu. — Por favor.
— Tomarei, titio, tomarei — Jullie respondeu enquanto pegava sua bolsa que estava sobre a mesa. — Até porque, bem, você sabe — sorriu —, a brincadeira de verdade começa agora.
****
soltou um suspiro fraco e acariciou a própria nuca, sentindo leves dores pelo lugar. Já havia sido liberada do hospital junto com , já que ambos tiveram um desmaio devido a fumaça e nervosismo em excesso. Alguns arranhões e marcas arroxeadas que logo melhorariam foram adquiridas pelo casal, mas nada que realmente os deixasse desesperados ou assustados. A preocupação, entretanto, era o que viria a seguir. Naquele dia fora uma bomba, mas, e depois? Ela, assim como o amado, sabia que as coisas não parariam por ali e que a tendência era piorar. Sabia que quem estava por trás daquilo tudo iria tentar matá-los novamente e de maneira mais eficiente; talvez pessoalmente, mirando uma arma de alto calibre em suas cabeças. Estourar os miolos era a “melhor” solução para todos, ao que parecia, e , infelizmente, notara isto na prática e da pior forma possível, sempre vendo amigos, parentes e conhecidos morrerem de forma brutal em sua frente. Nunca esqueceria da imagem de Paul, por mais que os anos se passassem, morto em sua frente.
Ao lembrar das imagens de pessoas mortas e todos os momentos terríveis que passara desde que aceitara fazer parte daquilo, sentiu o coração apertar e as lágrimas tomarem seus olhos lentamente. Lembrara-se, de repente, como se sua consciência quisesse torturá-la mais, do bebê perdido e da decisão que tomara devido àquele trabalho e momentos ruins que passava: não adiantaria de nada tentar de novo, porque, bem, os problemas iriam aumentar, principalmente depois que descobrisse quem está por trás de todas essas coisas terríveis que vem acontecendo. E tudo pioraria, por mais impossível que parecesse, assim que descobrisse que ela estava, de certa forma, envolvida em muitas coisas. não sabia de grande parte das decisões que tomara nos útimos meses. Assim como não sabia quem estava por trás de tudo aquilo, como ela sabia. Também não fazia ideia que sua prima se deitava com ele há muito tempo. Também não sabia que ela o investigara. Também não sabia de onde ela vinha de verdade. Também não sabia muito de sua família, como ela sabia da dele.
não sabia, no fim das contas, de muitas coisas que a envolvia. Não sabia de seu passado, não a lera e investigara como ela fizera; nada do que acontecera três anos fora por acaso, todas as brigas e gritos e desesperos e decisões da parte de foram em vão. Mas sequer fazia ideia disso. Talvez ele nem ao menos soubesse com quem estava se deitando todo aquele tempo.
Talvez não tivesse sido sincera em tudo.
Secou algumas lágrimas que deixara escapar e suspirou baixinho, voltando a fitar o corpo de deitado na cama do quarto da casa isolada de suas primas. Dormia tão calmamente que nem parecia ter passado por um dia perturbador como que passaram.
tentou não chorar, tentou não soltar ruído algum.
Encostou-se na cabeceira da cama e abraçou os próprios joelhos, apoiando a cabeça ali em seguida. Não se importava em estar se molhando com as próprias lágrimas e nem se estava com o cabelo bagunçado e grudando nas bochechas molhadas. Só queria que toda aquela angústia e medo sumissem de seu corpo, queria esquecer-se de tudo o que fizera, do que passara, do que precisara esconder, do que precisara enfrentar sozinha para livrar-se de alguns fantasmas do passado. Acima de tudo, queria saber como iria fazer para fugir das poucas e terríveis lembranças que estavam voltando, como se fossem voltar ativa a qualquer momento.
Estava com tanto medo que não sabia como expressar. Queria ter forças para contar a como contara para Amanda algumas horas mais cedo, naquele mesmo dia. Mas era apena uma fraca que fizera questão de se esconder por anos.
Uma fraca que não confiara em si mesma para ser sincera pelo menos uma vez e abrir o jogo com a pessoa que mais amava no mundo.
Fungou baixinho, apertando mais o próprio corpo ao se lembrar de toda a conversa com Amanda.
Fora uma conversa crucial, tudo o que precisava para ter a certeza de que corria tantos riscos (se não mais) quanto ou a própria Amanda, que tornara-se peça chave para todo aquele mistério italiano. De acordo com o que Amanda dissera, o homem que se passara por estava por trás de tudo aquilo. E ela, , sabia bem quem ele era e do que era capaz.
“Não foi um trote, , não seja boba”, Amanda murmurou durante a conversa, “era mesmo ele, você sabe. Eu pensei esse tempo todo que ele era o mas… Bem…”, a garota riu de forma nervosa, fazendo com que a mais velha arregalasse os olhos e olhasse em volta, a procura de qualquer vestígio. Mas não havia nenhum, como sempre.
sempre tivera a certeza de que poderiam confiar em Amanda e Joanne, não sabia ao certo o porquê, simplesmente sentia. As garotas eram inteligentes, com raciocínios rápidos, as perfeitas cópias de . Era impossível que fizessem ou dissessem algo errado. Confiava em Amanda e decidiu perguntá-la sobre aquele tal que estava escondido em Palermo. Ela sabia que não era seu homem, mas que era alguém pelo menos próximo ou parecido. Tinha certeza.
Como um flash, em meio à conversa com Amanda, lembrou-se de um dia que receba a ligação misteriosa. E, ali, no silêncio de um fim de tarde, com ao seu lado ressonando baixinho no mais profundo sono, e suas lágrimas rolando do outro lado, lembrou-se da cena completamente. Lembrou-se das palavras. Lembrou-se do medo e susto que sentira.
Flashback.
Alguns meses atrás.
riu de alguma besteira que dissera e o empurrou para trás, obrigando-o a entrar no banheiro. Ainda segurando o lençol contra o corpo, caminhou até até à sala, levando consigo uma taça de vinho que bebericava antes de ser agarrada por um sedento por uma típica rapidinha no meio da madrugada.
Estava indo em direção à cozinha para pegar mais bebida e alguns petiscos para beliscar e voltar ao trabalho quando o som do telefone ecoou por todo o apartamento, fazendo-a dar meia volta e caminhar até o aparelho. Provavelmente era algo relacionado a trabalho, já que sempre ligavam nos momentos em que não deveriam de fato ligar.
— Alô?
— Oi docinho! Quanto tempo, não? — uma voz masculina ecoou do outro lado da linha, fazendo-a estranhar.
— Quem está falando? — perguntou.
— Oras, não está reconhecendo minha voz?! — ele riu. — Como é que pode esquecer a voz do cunhadinho tão rápido assim?
— Jesse, é você? — perguntou impaciente. — Isso não são horas para brincadeirinhas e trotes, está bêbado? Chame a Elizabeth.
— Ewww, não me xingue assim, ! Está louca? — o homem riu mais uma vez. — Não me chame pelo nome desse traíra idiota. Só estou ligando para avisar que estou de volta por aí e na hora certa vocês vão me encontrar. Eu espero que você se lembre do seu acordo com o falecido Crowley, porque, bem, você sabe, ele morreu e eu fiquei no comando das coisas — explicou devagar, porém num tom de voz sério que infelizmente conhecia melhor do que ninguém. — Mande um beijo para minha Lucy caso a veja… Ah, abra a boca sobre esta ligação e você não terá muito tempo para explicar o porquê dela. Tenha uma ótima madrugada, beijos do seu cunhadinho.
A ligação fora cortada, fazendo-a sentir o coração palpitar com mais força. Estava confusa, porque aquilo era humanamente impossível e seu cérebro só trabalhava no nome de uma pessoa. Afinal, quem diria ser seu cunhado a não ser ele? Quem citaria o maldito acordo com Crowley daquela forma se não a conhecesse tão bem e soubesse do real acordo que fizera? Sua cabeça estava a mil, o desespero tomava conta de seu corpo e sua respiração falhou. Virou, em um gole só, todo o resto de vinho que estava em sua taça e largou o telefone de qualquer jeito, indo sentar-se no sofá para que suas pernas parassem de bambear. Não podia ser quem ela estava pensando, era impossível, definitivamente impossível. Ela vira seu corpo. Ela presenciara o enterro. Ela estava lá o tempo inteiro. Ele nunca estivera de fato envolvido com Crowley. Não sabia de nada, não havia como saber.
Num estalo, lembrou-se da pasta que escondia à sete chaves. Correu até o quarto, sem se preocupar com a tontura que a atingira e se o lençol em seu corpo que poderia escorregar a qualquer momento. Abriu a última porta do guarda-roupa e, com pressa, procurou pela caixa que mantinha escondida entre roupas velhas. Nada. Não encontrou nada.
E como diabos aquilo sumiria dali se… Céus.
Haviam entrado em seu apartamento, com certeza. Só havia encontrado roupas antigas, algumas meias de que nem ao menos sabia como foram parar naquela parte em especial, caixas com bijuterias e um envelope vermelho que não estava ali antes.
Abriu-o com pressa e sentiu as pernas fraquejarem novamente.
“Permaneça em silêncio. Faça de conta que não sabe da minha existência. Seus segredos estão bem guardados comigo, apenas finja que nada disto aconteceu. Faça de conta que estou morto. Com muito ódio e desejo de vingança, .
(Ou você prefere que eu use o , cunhadinha?)”
Fim do flashback.
soluçou, mesmo sem querer. Estava desesperada, precisava colocar para fora todo aquele medo e desespero. Mas não tinha forças para se levantar e sair do lado de , que ainda dormia sem saber de nada. Secou as lágrimas com as costas da mão um tanto irritada, engolindo os outros soluços que estavam escapando baixinho.
— ?
Escutou a voz rouca de ecoar pelo quarto e virou a cabeça para o outro lado, tentando conter as lágrimas e sorrir para disfarçar. Mas sabia que não conseguiria enganá-lo, sabia que ele notaria seu desespero e teria que criar coragem para dizer a verdade, ou pelo menos dar uma desculpa aceitável. Precisava pensar rápido para criar algo que fizesse sentido e não mentisse totalmente sobre o que estava sentindo.
— O que aconteceu? — sentou-se apressadamente. — Está machucada?
— Não! — respondeu soltando uma risada fraca. — Está tudo bem. Não se preocupe, volte a dormir. Você está cansado.
— Já dormi o suficiente, o que você tem?
suspirou e esticou as pernas sobre a cama, pensando no que responder. Como já esperava, não tinha coragem suficiente para dizer a verdade ou pelo menos parte dela, para tentar alertá-lo, nas entrelinhas, sobre o que estava por vir ou sobre sua crise de choro. Mas, no fim, tudo o que conseguira responder, fora um “está tudo bem”. Murmurava para si mesma, para ele, para o que fosse. Queria acreditar naquelas três palavrinhas; queria que fossem mágicas.
— Só estou um bocado assustada — voltou a falar, baixinho. — Não é nada demais, só um medinho bobo de continuar por aqui.
— Eu espero que seja só isso mesmo — respondeu suave, baixo, porém a fitou nos olhos de maneira intensa, fazendo-a estremecer por completo. No fundo, ainda se perguntava como conseguia manter aquelas trocas de olhares com que sempre era tão intenso; ele era capaz de arrepiá-la por completo com apenas um olhar, fosse ele desejoso ou preocupado. Era simplesmente incrível a forma como se expressava através daquele ato tão… Simples. Uma mínima troca de olhares era o suficiente para que ele notasse que havia algo errado. Por isso nunca desconfiara de nada; mascarava tudo tão bem, raramente mostrando-se tão instável quanto naquele momento.
Quis desviar os olhos e fugir dali, pular do alto de um prédio depois de gritar tudo o que sabia, todas as vezes, todos os medos reais.
— Me beije — pediu, num sussurro arrastado.
Era como se o beijo de pudesse fazê-la esquecer todas aquelas coisas que a perturbava; como se o beijo dele pudesse fazer com que renascesse, com que se sentisse segura — e realmente estava, em seus braços —; beijá-lo era sempre a solução de seus problemas, fazia com que esquecesse que estavam no meio de uma guerra que não tinha previsão para acabar, fazia com que esquecesse de quaisquer inimigos que pudessem ter e, o mais importante, fazia com que se lembrasse de todo o amor que sentiam um pelo outro, a fazia ter certeza que, mesmo que estivesse errada e feito muitas coisas prejudiciais a ambos, ele não a deixaria. Nunca. Porque, mesmo que precisasse morrer ou matar por , ela também não o deixaria. Permaneceria ao seu lado sempre, lutaria por e com ele. Esconderia mais coisas se fosse necessário para eternizar aquele sentimento tão bonito que nutriam um pelo outro, sabotaria documentos alheios mais uma vez, atiraria em outras pessoas, correria todos os perigos e enfrentaria outra bomba só para que ainda pudesse descansar entre aqueles braços, para que pudesse continuar sentindo seus lábios juntos; para sentir o gosto daquele policial irritantemente maravilhoso.
o amava com todo coração e saba que era prontamente retribuída. Queria mostrá-lo isso o tempo inteiro, queria fazê-lo lembrar que ela estava ali, que ela era a mulher de sua vida, que não importava quantas coisas erradas fizera no passado, ela o amava com todas as suas forças, o amava tanto que era capaz de sentir seu coração doer; o amava a ponto de dar sua vida pela dele, a qualquer momento que lhe fosse pedido.
Ao vê-la tão fragilizada, debruçou-se sobre seu corpo devagar, colando seus lábios com uma delicadeza fora do comum. No mesmo momento ambos sentiram os pelos se arrepiarem, como de praxe, e um sorriso fraco brotara no canto de seus lábios. Com pressa e algumas poucas lágrimas rolando pelas bochechas lentamente, levou ambas as mãos até a nuca do amado, puxando-o contra si e, automaticamente, abrindo as pernas para que ele se ajustasse ali.
O beijo permanecia lento, num ritmo conhecido, porém tão novo ao mesmo tempo para os dois; as línguas se entrelaçavam devagar, degustando dos sabores tão maravilhosos que não se viam sem, numa clichê sincronia maravilhosa. Os olhos fortemente fechados, as mãos fortemente agarradas às partes do corpo sem algum toque ousado demais. Simplesmente usufruindo de toda a intensidade que possuíam quando estavam juntos; com o amor transbordando por todos os seus seres.
afastou-se um bocado, fazendo com que colasse suas testas e permanecesse de olhos fechados. Com calma, limpou os rastros de lágrimas da amada, fazendo-a abrir os olhos devagar e encará-lo.
— Não quero que se preocupe com o que pode acontecer — ele murmurou. — Não quero que chore quando estiver comigo; sorria. Eu te amo, , porra, como eu te amo. Não vou deixar que nada de ruim te aconteça, é uma promessa.
sentiu o coração acelerar e os olhos lacrimejarem mais uma vez, porém apenas deixou que um sorriso sincero brotasse em seus lábios. Não pensara em palavras para respondê-lo, apenas juntou seus lábios em mais um beijo tão intenso quanto o primeiro. Queria que se fodesse o passado e o futuro; iria desfrutar de seu presente, agradecendo por estar viva, por estar naqueles braços que tanto amava. Desfrutaria de o máximo e enquanto pudesse. O amaria de todas as formas; o faria seu; o mostraria que ela era capaz de sentir o mesmo, de retribuí-lo e fazê-lo tão feliz quando ele a fazia.
a puxou pela cintura, forçando-a a deitar-se por baixo de si. Desceu os lábios devagar por todo o rosto de , seguindo, lentamente, até seu pescoço. Demorou-se ali por alguns segundos, fazendo-a arquear-se em puro deleite. a beijava, chupava e lambia, deixando marcas avermelhadas por todo o local.
só conseguia suspirar e puxar os cabelos de , vez ou outra apertando-o entre os dedos, enquanto murmúrios desconexos já escapavam de seus lábios. As grandes mãos de passeavam livremente por todo seu corpo, parando, vez ou outra, para apertar-lhe nas coxas, arranhando-a com as unhas curtas. Ele sorria e suspirava por vê-la tão entregue, enquanto descia os lábios para um dos ombros da mulher. Abaixou, com a boca, a alça da blusa fina que ela usava, deixando todo o ombro à mostra, da forma que ele gostava.
Com uma suavidade — que não lembrava de ter visto muitas vezes — misturada à agressividade natural de , ele a acariciava e a despia devagar, aproveitando-se de cada mínimo canto de seu corpo, como se não o conhecesse melhor que ela mesma. Era como se gostasse de descobri-la a cada nova experiência; novos pontos sensíveis, lugares que nunca explorara bem, lugares que nunca notara que a daria prazer; simplesmente aproveitava tudo, amava cada mínima coisa naquela maldita mulher que sempre jurou odiar.
Queria mostrá-la, de alguma forma além de palavras, o que sentia. Queria fazê-la sentir-se segura em seus braços, mais do que já se sentia. Queria fazê-la feliz em todos os pontos possíveis, de todas as formas. Queria fazê-la implorar por ele sempre. Queria fazê-la desfalecer intensamente em seus braços. Queria possuí-la por horas. Queria fazê-la mais dele que já era.
Num piscar de olhos, já estava praticamente nua, tendo somente uma calcinha de renda azul no corpo. a fitava com a respiração acelerada, sentindo-se cada vez mais feliz e excitado devido à cena e também por tê-la ali, sabendo que o pertencia por inteiro. Ah, … Sempre tão bela aos seus olhos, sempre tão maravilhosa; os cabelos levemente bagunçados e espalhados pela cama, caindo levemente sobre os ombros e testa; os lábios entreabertos e a respiração ofegante, fazendo com que seus seios balançassem devido a velocidade que o ar saía de sua boca; as coxas torneadas e chamativas; tão dele.
Com um sorriso sujo nos lábios, deixou que suas mãos passeassem por todo o corpo de ; desde seu rosto até suas coxas, indo e voltando para arrepiá-la e excitá-la mais. Seu sorriso se abriu ao vê-la estremecer e encará-lo como se implorasse por alguma ação logo. Mas ele permanecia de joelhos sobre a cama, encarando-a como se fosse a mais bela obra de arte já pintada. Ainda de maneira lenta — e levemente irritante pra ela, que estava ansiosa —, pousou as mãos sobre o elástico da última peça da mulher. Sem surpresa alguma, puxou para os lados, rasgando o tecido em dois. deixou um suspiro aliviado escapar e mordeu o próprio lábio, sabendo que ainda a maltrataria de maneira deliciosa.
Não demorou para que ele começasse a acariciá-la devagar, somente com as pontas dos dedos, arrepiando-a por completo, somente para senti-la tão molhada de uma forma que somente ele a deixava.
— Peça — ele sussurrou calmamente, enquanto pousava apenas um dedo sobre a intimidade de , acariciando-a tão levemente que chegava a ser agoniante. — Gosto de ouvir sua voz manhosa pedindo para que eu te possua de todas as maneiras possíveis. Peça, meu amor, peça.
sentiu suas pernas moverem-se praticamente sozinhas, abrindo-as um bocado mais para que desfrutasse de toda a visão. Que a visse completamente entregue, entorpecida, pronta para ser possuída por ele mais uma vez.
— Não me torture mais - pediu tão baixo quanto ele, soltando um gemidinho baixinho e manhoso ao sentir a leve movimentação que ameaçara a fazer. — Me faça sua, — movimentou o quadril para baixo a fim de ter maior contato. — Por favor.
sorriu, mas não estava totalmente satisfeito. Movimentou o dedo sobre o clitóris de , fazendo-a se contorcer sobre a cama.
— Me diga o que quer, meu amor — pediu, enquanto mexia o dedo ainda devagar, fazendo-a mover o quadril inconscientemente. — O que quer que eu faça?
Com a voz arrastada e sem pensar bem em algo que fizesse sentido, murmurou:
— Quero que me leve ao paraíso.
não se deu o trabalho de respondê-la ou torturá-la mais, apenas acrescentou mais um dedo sobre a intimidade da mulher ao mesmo tempo em que se debruçava sobre ela para beijar-lhe a barriga, enquanto aumentava os movimentos sobre seu clitóris. suspirava e mexia os quadris, implorando de forma muda para que a penetrasse e descesse os lábios de sua barriga.
Mas ele parecia querer enlouquecê-la; mas ela sabia, aquilo era necessário para chegar até seu paraíso. Era o caminho que deveria percorrer se quisesse visitar aquele universo alternativo que criara em sua mente; sabia que precisava esperar para que a presenteasse com toda sua experiência.
Sem aviso prévio, escorregou a boca para a intimidade de , chupando-a de forma tão intensa que a fizera tremer sobre a cama e soltar um gemido mais alto. Gostando da reação de sua amada, aproveitou para penetrá-la com dois dedos de uma só vez, enquanto a estimulava com a boca também. revirava os olhos, apertava o lençol e soltava gemidos um tanto quanto desesperados; estava descontrolada da forma que gostava de ver, da forma que o estimulava e enlouquecia; era delicioso vê-la tão entregue e submissa à ele.
a masturbava com velocidade, aproveitando-se de todas as formas que podia e conseguia; ora a lambia, ora a chupava, ora ficava somente com os dedos; estava realmente empenhado a dá-la o imenso prazer de sempre. Sabia que logo ela soltaria um gemido mais alto, chamando seu nome e desfaleceria em seus lábios. E ele a chuparia com ainda mais vontade. Porém, para sua surpresa, fora puxado pela nuca e tivera seus lábios tomados por uma completamente desesperada e trêmula. Entretanto não se importara, apenas agarrou-a pela cintura e deixou que fizesse qualquer coisa que quisesse.
No fim das contas, , com a ajuda de , arrancara todas as peças de roupa que ele ainda vestia, jogando-as o mais longe possível. Estava tão duro somente com o que vira de sua garota que simplesmente não se dera o trabalho de pedí-la algo em troca, apenas deixou que seu corpo ficasse sobre o dela, roçando seu pênis em sua intimidade e sentindo-se cada vez mais excitado e alucinado. era incrível demais para ser verdade, era sua demais. Nunca se cansaria de dizer aquilo. Com os lábios e corpos colados, empurrou-se para dentro da mulher, penetrando-a de uma só vez. deixou a cabeça pender para trás e gemeu alto, implorando por mais movimentação por parte de ; não queria esperar mais, queria sentí-lo de todas as formas possíveis; queria que ele fosse rápido e o mais fundo que conseguisse; queria que a estocasse intensamente. Estava cega e perdida em meio a tanto desejo.
ia e vinha rapidamente sobre ela, segurando-a fortemente pela cintura, puxando-a contra si, beijando-a os lábios, rosto e pescoço quando possível, enquanto somente deixava os gemidos escaparem alto.
mexeu-se de forma rápida e dominadora, de maneira que raramente via - e amava com todas as suas forças -, ficando por cima e puxando-o pela nuca ao mesmo tempo. Por um segundo se viu tonto e perdido por agir daquela forma, querendo e fazendo tantas coisas ao mesmo tempo, mas apenas deixou-se levar, adorando vê-la descontrolada.
movia o quadril no ritmo que desejava, deixando que os gemidos morressem contra os lábios de , que a segurava pelas coxas e a apertava com força; vez ou outra dando-lhe alguns tapas que eram aceitos de bom grado, tendo gemidos manhosos e sorrisos safados em troca, o que o fizera estapeá-la algumas vezes mais. Ambos já sentiam o suor começar a escorrer pelos corpos, mas não se importavam, apenas se deixavam levar por aquela sensação maravilhosa que era estarem tão próximos, se amando de maneira tão intensa; no tão almejado paraíso, onde, num universo alternativo, era somente deles dois, onde somente eles existiam e usufruíam de toda aquela adrenalina deliciosa.
No quarto só era possível ouvir os gemidos, os corpos se chocando e o ranger da cama, fazendo-os ficarem ainda mais excitados e intensos durante o ato. Não havia nada melhor e delicioso que aquela cena; eles podiam se ver claramente naquela situação tão prazerosa, trocando arranhões, mordidas e beijos enquanto seus corpos se chocavam e encaixavam com força e de maneira perfeita, como se tivessem realmente nascidos um para o outro. Um clichê tão fora do comum que os deixava perdidos, tontos, felizes e com vontade de rir e gritar em meio tudo aquilo; um misto de sensações e sentimentos que se modificava a cada segundo que passava, a cada movimento novo. Era algo deles, íntimo.
deixou a cabeça pender para trás e um gemido mais alto escapar, enquanto ainda maltratava seu pescoço com a boca e suas coxas com as mãos, forçando-a sobre ele, fazendo-a estremecer por completo, atingindo o orgasmo de maneira tão intensa e conhecida. Um arrepio gostoso tomou todo seu corpo, fazendo-a dar leves reboladas e contrair-se com intensidade sobre o pênis de , fazendo-o murmurar palavras de baixo calão contra sua pele e fechar os olhos fortemente. Não aguentaria tanto, afinal. Movimentou-se devagar, mas de maneira forte; afundando-se completamente dentro de e saindo devagar, para voltar com ainda mais força no segundo seguinte, fazendo-a tremer dos pés à cabeça e apertá-lo os ombros, cravando as unhas longas ali. a estocou com vontade mais algumas vezes, fazendo-a rebolar sobre seu membro até que chegasse ao seu máximo também, permanecendo parado ali em seguida, normalizando a respiração e sentido os espasmos lhe tomarem.
Caíram exaustos e lado a lado na cama, ofegantes e suados, porém com sorrisos enormes nos lábios. Aquele momento fora o suficiente para que notasse que a amava de qualquer maneira, que talvez ele fosse capaz de perdoá-la por quaisquer erros do passado. Ela esperava, com todo coração, que ele pudesse ser capaz disso. Esperava que ele a entendesse e a acolhesse com todo aquele carinho, que lhe desse a atenção necessária para que ela explicasse tudo quando chegasse a hora.
Deixou um “eu te amo” escapar da garganta em forma de sussurro e fechou os olhos, pegando no sono em seguida. Seus olhos se fecharam e a inconsciência a tomou por completo, tendo como última imagem um sorrindo bobo enquanto a fitava de maneira encantada.
estava prestes a pegar no sono também quando ouvira o celular de vibrar sobre a mesinha de cabeceira ao lado da cama. Ponderou sobre ver ou não - talvez fosse algo de trabalho - o que era. Talvez fosse Elizabeth mandando notícias através de mensagem, já que o celular vibrara somente uma vez. Curioso, esticou-se e pegou aparelho, e mesmo sentindo que estava fazendo algo errado (e não era pra desconfiança), desbloqueou a tela e abriu a mensagem, que vinha de um número desconhecido.
Logo, viu-se em alerta. Sentou-se na cama com cuidado e leu a mensagem pelo menos três vezes para entendê-la totalmente. Não se lembrava de conhecer ninguém por ali e muito menos de ter feito amizades naquele meio tempo.
Sentiu-se, por um momento, desconfiado pela primeira vez naquele relacionamento. Pensou em acordá-la e perguntar, mas, ao ler a mensagem novamente, decidiu sair do quarto e ligar para aquele tal número. Talvez fosse algo importante ou talvez ela estivesse correndo em perigo, ou um simples engano - o que era menos provável devido a exatidão de informação no ponto de encontro.
“Me encontre em uma hora no estacionamento em que quase morreu hoje, queridinha.”
fechou a porta do quarto devagar e caminhou para a cozinha, o cômodo mais longe de onde dormia. Ponderou alguns segundos, ou talvez minutos, não fazia ideia, não sabendo se ligava ou simplesmente ia até o local; ou se não fazia nada. Não queria invadir a privacidade da namorada, mas, também, não queria ficar ainda mais para trás em relação a tudo — ele sabia que sabia demais, e isso não o incomodava até então. Talvez, se fosse, pudesse ter algum problema maior; mais um atentado, ou qualquer merda que fosse. Se ligasse, a pessoa poderia pensar ser a própria e abriria o jogo, talvez adiantasse alguma coisa por menor que fosse.
Por fim, decidiu ligar. Ali, do celular de mesmo, para que a pessoa o atendesse sem pestanejar. Fosse quem fosse, iria descobrir e arrancar o que queria com num lugar tão… Inconveniente. Todo o relaxamento de minutos atrás fora embora, deixando somente a desconfiança e agonia tomar conta de seu corpo. Sua cabeça estava uma bagunça e seus pensamentos pareciam jogados em sua consciência. Fora capaz de ouvir, mais uma vez, Emma lhe dizer que somente ele não se interessara pela própria história e que tinha ido atrás. E então uma pontada de ira invadira seu peito, ocasionando uma tensão quase palpável pairando pelo ar.
Clicou para que ligasse para o tal número desconhecido e levou o celular até à orelha. Esperou alguns segundos e logo uma voz ecoou por seu ouvido, fazendo-o travar e arrepiar-se completamente por ser tão conhecida. Piscou os olhos devagar e respirou fundo. A voz ecoara novamente, da mesma maneira debochada que se lembrava e, de brinde, viera acompanhada de uma risada que ele nunca se esqueceria.
Praticamente crescera a escutando. Convivera com aquilo durante anos. Amara aquela risada como amara aquela pessoa que estava se lembrando.
— Achei que nunca fosse retornar minhas ligações e mensagens, .
não respondeu, ainda estava um tanto quanto chocado.
Talvez estivesse bêbado? Ainda dopado depois de ter ido parar no hospital? Talvez fosse uma piadinha de péssimo gosto inventada por e alguém da Inglaterra?
— Ué, ficou muda? — a voz perguntou novamente e sentiu um nó na garganta, uma ânsia desesperadora. Sua cabeça pesava e o coração bombardeava-lhe o peito com força.
— É o .
E então tudo foi tomado por silêncio. Um silêncio agonizante, desesperador, apreensivo. só conseguia ouvir a respiração do homem do outro lado da linha, enquanto sua vontade era invadir aquele pequeno aparelho e socá-lo até que morresse. Ou então bater a própria cabeça contra a parede com força, por estar delirando e preso num pesadelo como aquele.
Aquilo não podia ser verdade.
— Ops — a voz sussurrou do outro lado da linha. — Não era para você descobrir assim…
— Eu matei você — praticamente sussurrou de volta, completamente chocado. Apoiou-se numa parede qualquer e deixou o corpo trêmulo escorregar até o chão. — Eu. Matei. Você.
Era isso. Estava ficando louco. A fumaça da explosão de mais cedo invadira seu cérebro e o destruíra; o deixara completamente louco. Estava ouvindo vozes e lendo mensagens inexistentes. Louco, estava completamente louco.
— Eu acho que não, irmãozinho — rira mais uma vez. — Me sinto muito vivo, não consegue notar pela minha voz?
— Eu te matei há três anos atrás, — rebateu. — Eu vi o seu corpo. Eu fui ao seu enterro.
— Você viu meu corpo caindo, não seja idiota — respondeu do outro lado e pôde jurar que ele estava revirando os olhos. Era estranho como ainda lembrava-se claramente de todas as manias daquele desgraçado. — Acho que vai ter que tentar de novo e de maneira mais eficiente agora, bro.
queria dizer mais coisas, queria gritar, queria vê-lo para ter certeza de que tudo aquilo não era um trote, queria fechar e abrir os olhos e ter certeza de que estava sonhando. Queria esquecer-se que aquele celular era de .
Não queria pensar no pior.
queria dizer qualquer coisa, mas estava em completo choque. Sua cabeça girava e pesava de tanto que se questionava e procurava qualquer falha em três anos atrás. Qualquer coisa que explicasse aquela situação insana. Qualquer coisa que explicasse o envolvimento de naquilo tudo. Por que ela sabia da existência daquele número? Por que tinha contato com ela? Por que ele estava vivo? Por que ela não disse nada?
A risada conhecida e debochada ecoou mais uma vez do outro lado da linha, fazendo com que apertasse o aparelho contra o rosto. Não tinha o que dizer, só tinha certeza de que sua vida se tornaria o mais completo inferno a partir daquele momento. Por um segundo, sentiu medo. Medo de morrer. Medo de estar cercado de inimigos. Medo de ter sido enganado. Medo por . Medo do que ela era. Medo da situação. Medo de como aquilo iria acabar. Medo de estar preso numa armadilha. Medo de estar completamente sozinho. Medo de tudo dar errado.
— Eu senti sua falta irmãozinho — murmurou. — E você, sentiu a minha?
, do lado de fora, tentava distraí-la através do celular até que pensassem numa boa alternativa para tirá-la daquele carro. Era estranho estar numa situação como aquela mais uma vez. Na verdade, até achara que demorara para acontecer algo. Em sua cabeça, pela forma que todos falavam que estava sendo perigoso, cogitou até mesmo que explodissem seu avião. Mas, não. Decidiram esperá-la por ali e tentar explodir o carro em que estivesse. Inovador. Mas não era como se realmente estivesse preocupada com isso; queria sair daquele carro correr para os braços de e contar-lhe tudo o que sabia, o que escondia e o que achava que deveriam fazer. Era como se… Aqueles minutos dentro do carro fizessem pensar sobre sua vida; seus medos, seus segredos, seus desesperos, seus amores, suas prioridades. Fazia tempo que não pensava sobre todas aquelas coisas. Era estranho como a vida sempre lhe pregava peças quando menos esperava.
Ficar trancada naquele carro e ouvir da boca de seu amado que ali havia uma bomba fez com que pensasse sobre tudo o que aconteceu e, como o próprio clichê dizia, visse toda sua vida passar diante de seus olhos. Foi um banho de água fria. Estava prestes a morrer, se tudo desse errado, e não tinha contado metade das coisas que sabia para o homem em quem deveria confiar completamente. Talvez por falta de coragem, talvez por medo, talvez por saber que existia a possibilidade de perdê-lo... Ela não sabia, mas queria sair daquele inferno e ter mais uma chance, mesmo que já tivesse desperdiçado muitas outras.
Os gritos abafados de adentraram seus ouvidos, despertando-a de seus devaneios desnecessários. E então olhou para o lado de fora, finalmente. , assim como Emma e algumas outras pessoas que ela não conhecia, corriam de um lado para o outro ao mesmo tempo em que gritavam uns com os outros.
— Eu vou te tirar daí — a voz de adentrou seus ouvidos novamente, fazendo-a encará-lo através do vidro. Ele tinha medo nos olhos; medo de tudo, podia sentir. O que mais queria era sair dali viva e abraçá-lo até cansar.
Com ele, obviamente, não era diferente. Queria tê-la de volta para si, mimá-la, beijá-la como se não houvesse outros dias. Queria salvá-la como sempre fazia. Mas, ali, naquele momento, não podia fazer nada a não ser tentar falar pelo celular até que Emma dissesse o contrário. De acordo com ela e os especialistas que conseguiram contatar às pressas, a bomba poderia ter algum tipo de sensor ou algo assim — não prestara muito atenção — para detectar alguns movimentos ou toques em determinados lugares do carro como, por exemplo, ligá-lo. Normalmente essas eram as usadas por bandidos para matarem outros ou policiais que entrassem em seus caminhos. Bastava girar a chave para ligar o carro e boom, a explosão aconteceria, matando quem estava dentro e nos arredores do automóvel.
tinha medo de aquele ser o caso de . Tinha medo, na verdade, de perdê-la. De não conseguir salvá-la. De fracassar com a mulher de sua vida. Nunca ficara tão perto de perdê-la para sempre como naquele momento.
— Imprestáveis! — Emma gritou de repente, fazendo com que se virasse para ela. Porém, antes que o homem pudesse perguntar qualquer coisa que fosse, ela já se encontrava no chão indo diretamente para debaixo do carro.
tentou pará-la, mas fora inútil; Emma já tinha todo o corpo enfiado embaixo daquela porcaria que poderia explodir a qualquer momento.
— Emma! — gritou para atrair a atenção da mulher, mas não obtivera resposta alguma.
Era como se Emma estivesse perdida ou como se, talvez, houvesse entrado em estado de choque. Curioso, se abaixou para chamar a mulher novamente, fazendo-a apenas levar o olhar em direção a ele e engoliu a seco.
Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, pela segunda vez no dia, fora empurrado para trás pelas perna de Emma, que já se esgueirava para fora dali.
— Um minuto — Emma praticamente gritou, levantando-se do chão às pressas. — É tudo o que temos, um minuto!
continuou parado, fitando a mais velha agir e dar mil e uma ordens para todos que estavam ali. Um minuto. Um mísero minuto; sessenta segundos. Era tudo o que tinha para salvar a mulher de sua vida. Engoliu a seco, suspirou, bagunçou os cabelos e ignorou seus olhos que começavam a lacrimejar. Estava claramente em pânico, fora de controle, sem saber o que fazer. Sua respiração começava a ficar ofegante, o fazendo pensar que infartaria ou se teria uma crise de ansiedade a qualquer momento. Enquanto pensava no que fazer, seu nome era gritado ao longe, em desespero por várias pessoas. Mas seu corpo não queria obedecê-lo; estava completamente travado, em estado de choque.
Tudo ao seu redor estava em câmera lenta e ele sentia como se estivesse tendo um dejavú, como se houvesse passado por aquilo em algum outro momento. E de fato havia passado; mas não com tamanha gravidade. Passara por momentos tensos como aqueles, mas nunca com tanta intensidade, nunca deixara que a adrenalina abandonasse seu corpo a ponto de ficar completamente em choque. Embora estivesse daquela maneira somente há alguns segundos, sentia como se fossem horas. Fora preciso que Amanda, aos gritos, o puxasse pelos ombros e o sacudisse com força, fazendo-o piscar os olhos rapidamente.
Da mesma forma que ficara chocado, virou o corpo em direção ao carro em que se encontrava presa e correu; correu como se sua vida dependesse daquilo — e realmente dependia. A sua, a de , a de Emma. Havia perdido segundos preciosos num momento de desespero extremo, mas teria que engolir seu medo, desespero e o inferno que fosse se quisesse salvar sua . Sem se importar com as pessoas em volta, pulou sobre o capô do carro e socou a lateral do vidro e, obviamente, machucou a mão. Ignorou a dor e voltou a socar o mesmo local algumas vezes mais, fazendo com que arregalasse os olhos em sua direção, como se implorasse para que ele não se machucasse daquela maneira. Antes que pudesse gritar qualquer coisa para o amado, sacou a arma que carregava no cós da calça e fez movimentos frenéticos com as mãos para que se afastasse do vidro, para que fosse para o lado da forma que pudesse, para não haver a mínima chance de ser atingida. Tentara quebrar o vidro com socos, obviamente para não atingi-la. Mas não tinha tanto tempo.
— Trinta segundos! — Emma gritou enquanto imitava e sacava sua própria arma, mirando-a para o vidro. estava no banco do carona, observando tudo desesperada.
Afastou-se para o lado o máximo que conseguira enquanto tentava arrebentar o cinto de segurança que ainda a prendia com força. Perguntava-se, assustada, como conseguiram travar tantas coisas num carro como aquele. E quanto mais pensava sobre o assunto, mais sentia o desespero crescer em seu interior. Tateou o porta-luvas do carro a procura de qualquer coisa afiada que pudesse cortar o cinto, ignorando os tiros quase ensurdecedores devido à aproximação. Por sorte encontrara um canivete ali perdido. Não sabia por que diabos Amanda tinha um, mas agradecera.
Tentou cortar o cinto, mas sequer fazia ideia de que material era aquele; ele não cortava, ela não sabia se por sua qualidade ou se era por estar trêmula demais. Por fim, arrebentara uma boa parte o mais rápido que conseguira. Encarou mais uma vez e pôde vê-lo mandando-a esconder o rosto para que ele chutasse o enorme vidro do automóvel. Antes, pôde ouvir Emma gritar algo como “quinze segundos!” e se desesperou ainda mais. Passou o cinto pelo ombro e ergueu o corpo da forma que deu, tentando empurrá-lo para baixo e passar “por dentro” dele.
— Chuta essa porra, ! — A própria gritou, enquanto, com uma das mãos, protegia os olhos. Sem ter o que fazer, e Emma empurraram o vidro juntos, fazendo-o cair praticamente todo em cima de , que pouco se importou e jogou os cacos para o lado e o maior pedaço para frente para que o tirasse dali por completo. Antes mesmo que terminassem o trabalho, se jogou para frente, indo para cima do capô do carro. E só então fora como se tudo ao redor voltasse a velocidade normal, escorregou pelo capô o mais rápido que conseguiu, sendo segurada por em um dos braços quando ameaçou a cair no chão.
— Corram, corram! — Emma gritava sem parar, enquanto apertava os próprios passos. Ao longe, um dos rapazes que os estava ajudando gritava a contagem e, de acordo com ele, tinham sete segundos para se afastarem daquele carro para que, assim, tivessem ao menos a chance de obterem ferimentos leves.
Ao ouvir a palavra “um” ser gritada, empurrou o corpo de para frente, na direção de Emma, fazendo com que as duas se esbarrassem e se segurassem ao mesmo tempo. Obviamente, não perdera tempo antes de jogar-se contra as duas, abraçando-as antes de sentir o impacto da explosão logo atrás de si. Fora como se tudo houvesse acertado suas costas, mas não se importava, desde que saísse vivo e com as duas mulheres sãs e salvas em seus braços. O barulho fora ensurdecedor e sua cabeça latejava de forma absurda. e Emma, embaixo de seu corpo, tossiam e tentavam se levantar, igualmente tontas, para que pelo menos saíssem daquela fumaceira. Mas nenhum do três conseguia se mexer de maneira correta; os corpos doíam, os ouvidos zumbiam, as cabeças latejavam de forma absurda, como se tivessem levado uma forte paulada no local. Com o resto de consciência que ainda tinha, ergueu o olhar para as duas mulheres tentando conferir se estavam bem, ou, pelo menos, melhores que ele — já que essa era a intenção quando correra o mais rápido que pôde e as empurrara para frente. Ao notá-las ainda acordadas e com poucos ferimentos, deixou que seus olhos se fechassem. Seu corpo ainda tremia levemente devido a adrenalina e o nervoso que passara, mas sabia que tudo estava bem agora. Todos estavam salvos, todos estavam bem. Deixou, por fim, que a inconsciência o levasse. Desmaiara ali, entre as duas mulheres que tentara salvar, de tanto nervosismo. Sentira seu coração acelerar como nunca havia acontecido antes, a dor em sua cabeça era tão, tão desesperadora que queria que passasse logo. Não havia por que tentar lutar contra a vontade de apagar de uma vez por todas, então deixou a escuridão levá-lo, nem que fosse por alguns minutos, o suficiente para fazer todo aquele desconforto pós-acidente passar.
— Você não acha que está próxima demais do Apolo?
O homem encarou a morena à sua frente, que mexia as mãos nervosamente. Tentava se distrair, esquecer aquelas provocações e tentativas do tio de arrancar-lhe coisas. Ela sabia que estava ali a trabalho e não para morrer de amores por um desgraçado mais uma vez, porém ninguém conseguia mandar naquela coisinha irritantemente manhosa chamada coração. Obviamente não iria desistir de sua missão e cumpriria o que prometera; estava ali para fazer um bem (inter)nacional e não para ficar revivendo o passado embora tivesse tido alguns mínimos deslizes.
— Não se preocupe com isso — respondeu. — Você sabe, não importa o quão próxima dele eu esteja; eu vou conseguir o que tanto queremos. Ele já deslizou muitas vezes comigo, eu tenho provas o suficiente. Por que acha que preferi ficar por aqui a ir ver essa última confusão que os ingleses arrumaram? Não preciso saber deles, Apolo é o meu trabalho. Estou focada. Você às vezes fala como se não conhecesse a sua própria sobrinha, a Jullie verdadeira. Eu. Sabe? Pare com isso.
— Você sempre foi apaixonada por ele — rebateu. — Não minta, Jullie. Por Deus. Não minta. Não se entregue a ele novamente, eu não a quero sofrendo como antes. Não a quero desistindo de seu trabalho como fizera da última vez.
— Apolo já está no papo — levantou-se. — É tudo o que precisamos. Logo ele será nosso, se o não atrapalhar. Então ponha-o em seu devido lugar, diga-o para não se meter comigo e muito menos com Apolo, ele pode morrer nessa brincadeirinha. E eu também. Mas eu já te disse, titio Antoni — aproximou-se do mais velho sorrindo: — Eu só vou morrer quando eu quiser. Por enquanto não quero, então mantenha o longe das minhas coisas, enfie-o nos trabalhos de Charlie que é para isso que está aqui. Apolo é assunto meu, não quero saber se o priminho dele está revoltadinho e quer matar todos só por achar que está envolvido em morte de, sei lá, da mamãezinha dele.
— Só tome cuidado — Antoni murmurou. — Apolo é perigoso demais. Ouvi dizer que…
— Que há outro na jogada, sim — Jullie o cortou. — Há outro na jogada e já está no papo, também. A nossa querida Amanda que o diga, huh?
— Só tome cuidado — repetiu. — Por favor.
— Tomarei, titio, tomarei — Jullie respondeu enquanto pegava sua bolsa que estava sobre a mesa. — Até porque, bem, você sabe — sorriu —, a brincadeira de verdade começa agora.
soltou um suspiro fraco e acariciou a própria nuca, sentindo leves dores pelo lugar. Já havia sido liberada do hospital junto com , já que ambos tiveram um desmaio devido a fumaça e nervosismo em excesso. Alguns arranhões e marcas arroxeadas que logo melhorariam foram adquiridas pelo casal, mas nada que realmente os deixasse desesperados ou assustados. A preocupação, entretanto, era o que viria a seguir. Naquele dia fora uma bomba, mas, e depois? Ela, assim como o amado, sabia que as coisas não parariam por ali e que a tendência era piorar. Sabia que quem estava por trás daquilo tudo iria tentar matá-los novamente e de maneira mais eficiente; talvez pessoalmente, mirando uma arma de alto calibre em suas cabeças. Estourar os miolos era a “melhor” solução para todos, ao que parecia, e , infelizmente, notara isto na prática e da pior forma possível, sempre vendo amigos, parentes e conhecidos morrerem de forma brutal em sua frente. Nunca esqueceria da imagem de Paul, por mais que os anos se passassem, morto em sua frente.
Ao lembrar das imagens de pessoas mortas e todos os momentos terríveis que passara desde que aceitara fazer parte daquilo, sentiu o coração apertar e as lágrimas tomarem seus olhos lentamente. Lembrara-se, de repente, como se sua consciência quisesse torturá-la mais, do bebê perdido e da decisão que tomara devido àquele trabalho e momentos ruins que passava: não adiantaria de nada tentar de novo, porque, bem, os problemas iriam aumentar, principalmente depois que descobrisse quem está por trás de todas essas coisas terríveis que vem acontecendo. E tudo pioraria, por mais impossível que parecesse, assim que descobrisse que ela estava, de certa forma, envolvida em muitas coisas. não sabia de grande parte das decisões que tomara nos útimos meses. Assim como não sabia quem estava por trás de tudo aquilo, como ela sabia. Também não fazia ideia que sua prima se deitava com ele há muito tempo. Também não sabia que ela o investigara. Também não sabia de onde ela vinha de verdade. Também não sabia muito de sua família, como ela sabia da dele.
não sabia, no fim das contas, de muitas coisas que a envolvia. Não sabia de seu passado, não a lera e investigara como ela fizera; nada do que acontecera três anos fora por acaso, todas as brigas e gritos e desesperos e decisões da parte de foram em vão. Mas sequer fazia ideia disso. Talvez ele nem ao menos soubesse com quem estava se deitando todo aquele tempo.
Talvez não tivesse sido sincera em tudo.
Secou algumas lágrimas que deixara escapar e suspirou baixinho, voltando a fitar o corpo de deitado na cama do quarto da casa isolada de suas primas. Dormia tão calmamente que nem parecia ter passado por um dia perturbador como que passaram.
tentou não chorar, tentou não soltar ruído algum.
Encostou-se na cabeceira da cama e abraçou os próprios joelhos, apoiando a cabeça ali em seguida. Não se importava em estar se molhando com as próprias lágrimas e nem se estava com o cabelo bagunçado e grudando nas bochechas molhadas. Só queria que toda aquela angústia e medo sumissem de seu corpo, queria esquecer-se de tudo o que fizera, do que passara, do que precisara esconder, do que precisara enfrentar sozinha para livrar-se de alguns fantasmas do passado. Acima de tudo, queria saber como iria fazer para fugir das poucas e terríveis lembranças que estavam voltando, como se fossem voltar ativa a qualquer momento.
Estava com tanto medo que não sabia como expressar. Queria ter forças para contar a como contara para Amanda algumas horas mais cedo, naquele mesmo dia. Mas era apena uma fraca que fizera questão de se esconder por anos.
Uma fraca que não confiara em si mesma para ser sincera pelo menos uma vez e abrir o jogo com a pessoa que mais amava no mundo.
Fungou baixinho, apertando mais o próprio corpo ao se lembrar de toda a conversa com Amanda.
Fora uma conversa crucial, tudo o que precisava para ter a certeza de que corria tantos riscos (se não mais) quanto ou a própria Amanda, que tornara-se peça chave para todo aquele mistério italiano. De acordo com o que Amanda dissera, o homem que se passara por estava por trás de tudo aquilo. E ela, , sabia bem quem ele era e do que era capaz.
“Não foi um trote, , não seja boba”, Amanda murmurou durante a conversa, “era mesmo ele, você sabe. Eu pensei esse tempo todo que ele era o mas… Bem…”, a garota riu de forma nervosa, fazendo com que a mais velha arregalasse os olhos e olhasse em volta, a procura de qualquer vestígio. Mas não havia nenhum, como sempre.
sempre tivera a certeza de que poderiam confiar em Amanda e Joanne, não sabia ao certo o porquê, simplesmente sentia. As garotas eram inteligentes, com raciocínios rápidos, as perfeitas cópias de . Era impossível que fizessem ou dissessem algo errado. Confiava em Amanda e decidiu perguntá-la sobre aquele tal que estava escondido em Palermo. Ela sabia que não era seu homem, mas que era alguém pelo menos próximo ou parecido. Tinha certeza.
Como um flash, em meio à conversa com Amanda, lembrou-se de um dia que receba a ligação misteriosa. E, ali, no silêncio de um fim de tarde, com ao seu lado ressonando baixinho no mais profundo sono, e suas lágrimas rolando do outro lado, lembrou-se da cena completamente. Lembrou-se das palavras. Lembrou-se do medo e susto que sentira.
Flashback.
Alguns meses atrás.
riu de alguma besteira que dissera e o empurrou para trás, obrigando-o a entrar no banheiro. Ainda segurando o lençol contra o corpo, caminhou até até à sala, levando consigo uma taça de vinho que bebericava antes de ser agarrada por um sedento por uma típica rapidinha no meio da madrugada.
Estava indo em direção à cozinha para pegar mais bebida e alguns petiscos para beliscar e voltar ao trabalho quando o som do telefone ecoou por todo o apartamento, fazendo-a dar meia volta e caminhar até o aparelho. Provavelmente era algo relacionado a trabalho, já que sempre ligavam nos momentos em que não deveriam de fato ligar.
— Alô?
— Oi docinho! Quanto tempo, não? — uma voz masculina ecoou do outro lado da linha, fazendo-a estranhar.
— Quem está falando? — perguntou.
— Oras, não está reconhecendo minha voz?! — ele riu. — Como é que pode esquecer a voz do cunhadinho tão rápido assim?
— Jesse, é você? — perguntou impaciente. — Isso não são horas para brincadeirinhas e trotes, está bêbado? Chame a Elizabeth.
— Ewww, não me xingue assim, ! Está louca? — o homem riu mais uma vez. — Não me chame pelo nome desse traíra idiota. Só estou ligando para avisar que estou de volta por aí e na hora certa vocês vão me encontrar. Eu espero que você se lembre do seu acordo com o falecido Crowley, porque, bem, você sabe, ele morreu e eu fiquei no comando das coisas — explicou devagar, porém num tom de voz sério que infelizmente conhecia melhor do que ninguém. — Mande um beijo para minha Lucy caso a veja… Ah, abra a boca sobre esta ligação e você não terá muito tempo para explicar o porquê dela. Tenha uma ótima madrugada, beijos do seu cunhadinho.
A ligação fora cortada, fazendo-a sentir o coração palpitar com mais força. Estava confusa, porque aquilo era humanamente impossível e seu cérebro só trabalhava no nome de uma pessoa. Afinal, quem diria ser seu cunhado a não ser ele? Quem citaria o maldito acordo com Crowley daquela forma se não a conhecesse tão bem e soubesse do real acordo que fizera? Sua cabeça estava a mil, o desespero tomava conta de seu corpo e sua respiração falhou. Virou, em um gole só, todo o resto de vinho que estava em sua taça e largou o telefone de qualquer jeito, indo sentar-se no sofá para que suas pernas parassem de bambear. Não podia ser quem ela estava pensando, era impossível, definitivamente impossível. Ela vira seu corpo. Ela presenciara o enterro. Ela estava lá o tempo inteiro. Ele nunca estivera de fato envolvido com Crowley. Não sabia de nada, não havia como saber.
Num estalo, lembrou-se da pasta que escondia à sete chaves. Correu até o quarto, sem se preocupar com a tontura que a atingira e se o lençol em seu corpo que poderia escorregar a qualquer momento. Abriu a última porta do guarda-roupa e, com pressa, procurou pela caixa que mantinha escondida entre roupas velhas. Nada. Não encontrou nada.
E como diabos aquilo sumiria dali se… Céus.
Haviam entrado em seu apartamento, com certeza. Só havia encontrado roupas antigas, algumas meias de que nem ao menos sabia como foram parar naquela parte em especial, caixas com bijuterias e um envelope vermelho que não estava ali antes.
Abriu-o com pressa e sentiu as pernas fraquejarem novamente.
“Permaneça em silêncio. Faça de conta que não sabe da minha existência. Seus segredos estão bem guardados comigo, apenas finja que nada disto aconteceu. Faça de conta que estou morto. Com muito ódio e desejo de vingança, .
(Ou você prefere que eu use o , cunhadinha?)”
Fim do flashback.
soluçou, mesmo sem querer. Estava desesperada, precisava colocar para fora todo aquele medo e desespero. Mas não tinha forças para se levantar e sair do lado de , que ainda dormia sem saber de nada. Secou as lágrimas com as costas da mão um tanto irritada, engolindo os outros soluços que estavam escapando baixinho.
— ?
Escutou a voz rouca de ecoar pelo quarto e virou a cabeça para o outro lado, tentando conter as lágrimas e sorrir para disfarçar. Mas sabia que não conseguiria enganá-lo, sabia que ele notaria seu desespero e teria que criar coragem para dizer a verdade, ou pelo menos dar uma desculpa aceitável. Precisava pensar rápido para criar algo que fizesse sentido e não mentisse totalmente sobre o que estava sentindo.
— O que aconteceu? — sentou-se apressadamente. — Está machucada?
— Não! — respondeu soltando uma risada fraca. — Está tudo bem. Não se preocupe, volte a dormir. Você está cansado.
— Já dormi o suficiente, o que você tem?
suspirou e esticou as pernas sobre a cama, pensando no que responder. Como já esperava, não tinha coragem suficiente para dizer a verdade ou pelo menos parte dela, para tentar alertá-lo, nas entrelinhas, sobre o que estava por vir ou sobre sua crise de choro. Mas, no fim, tudo o que conseguira responder, fora um “está tudo bem”. Murmurava para si mesma, para ele, para o que fosse. Queria acreditar naquelas três palavrinhas; queria que fossem mágicas.
— Só estou um bocado assustada — voltou a falar, baixinho. — Não é nada demais, só um medinho bobo de continuar por aqui.
— Eu espero que seja só isso mesmo — respondeu suave, baixo, porém a fitou nos olhos de maneira intensa, fazendo-a estremecer por completo. No fundo, ainda se perguntava como conseguia manter aquelas trocas de olhares com que sempre era tão intenso; ele era capaz de arrepiá-la por completo com apenas um olhar, fosse ele desejoso ou preocupado. Era simplesmente incrível a forma como se expressava através daquele ato tão… Simples. Uma mínima troca de olhares era o suficiente para que ele notasse que havia algo errado. Por isso nunca desconfiara de nada; mascarava tudo tão bem, raramente mostrando-se tão instável quanto naquele momento.
Quis desviar os olhos e fugir dali, pular do alto de um prédio depois de gritar tudo o que sabia, todas as vezes, todos os medos reais.
— Me beije — pediu, num sussurro arrastado.
Era como se o beijo de pudesse fazê-la esquecer todas aquelas coisas que a perturbava; como se o beijo dele pudesse fazer com que renascesse, com que se sentisse segura — e realmente estava, em seus braços —; beijá-lo era sempre a solução de seus problemas, fazia com que esquecesse que estavam no meio de uma guerra que não tinha previsão para acabar, fazia com que esquecesse de quaisquer inimigos que pudessem ter e, o mais importante, fazia com que se lembrasse de todo o amor que sentiam um pelo outro, a fazia ter certeza que, mesmo que estivesse errada e feito muitas coisas prejudiciais a ambos, ele não a deixaria. Nunca. Porque, mesmo que precisasse morrer ou matar por , ela também não o deixaria. Permaneceria ao seu lado sempre, lutaria por e com ele. Esconderia mais coisas se fosse necessário para eternizar aquele sentimento tão bonito que nutriam um pelo outro, sabotaria documentos alheios mais uma vez, atiraria em outras pessoas, correria todos os perigos e enfrentaria outra bomba só para que ainda pudesse descansar entre aqueles braços, para que pudesse continuar sentindo seus lábios juntos; para sentir o gosto daquele policial irritantemente maravilhoso.
o amava com todo coração e saba que era prontamente retribuída. Queria mostrá-lo isso o tempo inteiro, queria fazê-lo lembrar que ela estava ali, que ela era a mulher de sua vida, que não importava quantas coisas erradas fizera no passado, ela o amava com todas as suas forças, o amava tanto que era capaz de sentir seu coração doer; o amava a ponto de dar sua vida pela dele, a qualquer momento que lhe fosse pedido.
Ao vê-la tão fragilizada, debruçou-se sobre seu corpo devagar, colando seus lábios com uma delicadeza fora do comum. No mesmo momento ambos sentiram os pelos se arrepiarem, como de praxe, e um sorriso fraco brotara no canto de seus lábios. Com pressa e algumas poucas lágrimas rolando pelas bochechas lentamente, levou ambas as mãos até a nuca do amado, puxando-o contra si e, automaticamente, abrindo as pernas para que ele se ajustasse ali.
O beijo permanecia lento, num ritmo conhecido, porém tão novo ao mesmo tempo para os dois; as línguas se entrelaçavam devagar, degustando dos sabores tão maravilhosos que não se viam sem, numa clichê sincronia maravilhosa. Os olhos fortemente fechados, as mãos fortemente agarradas às partes do corpo sem algum toque ousado demais. Simplesmente usufruindo de toda a intensidade que possuíam quando estavam juntos; com o amor transbordando por todos os seus seres.
afastou-se um bocado, fazendo com que colasse suas testas e permanecesse de olhos fechados. Com calma, limpou os rastros de lágrimas da amada, fazendo-a abrir os olhos devagar e encará-lo.
— Não quero que se preocupe com o que pode acontecer — ele murmurou. — Não quero que chore quando estiver comigo; sorria. Eu te amo, , porra, como eu te amo. Não vou deixar que nada de ruim te aconteça, é uma promessa.
sentiu o coração acelerar e os olhos lacrimejarem mais uma vez, porém apenas deixou que um sorriso sincero brotasse em seus lábios. Não pensara em palavras para respondê-lo, apenas juntou seus lábios em mais um beijo tão intenso quanto o primeiro. Queria que se fodesse o passado e o futuro; iria desfrutar de seu presente, agradecendo por estar viva, por estar naqueles braços que tanto amava. Desfrutaria de o máximo e enquanto pudesse. O amaria de todas as formas; o faria seu; o mostraria que ela era capaz de sentir o mesmo, de retribuí-lo e fazê-lo tão feliz quando ele a fazia.
a puxou pela cintura, forçando-a a deitar-se por baixo de si. Desceu os lábios devagar por todo o rosto de , seguindo, lentamente, até seu pescoço. Demorou-se ali por alguns segundos, fazendo-a arquear-se em puro deleite. a beijava, chupava e lambia, deixando marcas avermelhadas por todo o local.
só conseguia suspirar e puxar os cabelos de , vez ou outra apertando-o entre os dedos, enquanto murmúrios desconexos já escapavam de seus lábios. As grandes mãos de passeavam livremente por todo seu corpo, parando, vez ou outra, para apertar-lhe nas coxas, arranhando-a com as unhas curtas. Ele sorria e suspirava por vê-la tão entregue, enquanto descia os lábios para um dos ombros da mulher. Abaixou, com a boca, a alça da blusa fina que ela usava, deixando todo o ombro à mostra, da forma que ele gostava.
Com uma suavidade — que não lembrava de ter visto muitas vezes — misturada à agressividade natural de , ele a acariciava e a despia devagar, aproveitando-se de cada mínimo canto de seu corpo, como se não o conhecesse melhor que ela mesma. Era como se gostasse de descobri-la a cada nova experiência; novos pontos sensíveis, lugares que nunca explorara bem, lugares que nunca notara que a daria prazer; simplesmente aproveitava tudo, amava cada mínima coisa naquela maldita mulher que sempre jurou odiar.
Queria mostrá-la, de alguma forma além de palavras, o que sentia. Queria fazê-la sentir-se segura em seus braços, mais do que já se sentia. Queria fazê-la feliz em todos os pontos possíveis, de todas as formas. Queria fazê-la implorar por ele sempre. Queria fazê-la desfalecer intensamente em seus braços. Queria possuí-la por horas. Queria fazê-la mais dele que já era.
Num piscar de olhos, já estava praticamente nua, tendo somente uma calcinha de renda azul no corpo. a fitava com a respiração acelerada, sentindo-se cada vez mais feliz e excitado devido à cena e também por tê-la ali, sabendo que o pertencia por inteiro. Ah, … Sempre tão bela aos seus olhos, sempre tão maravilhosa; os cabelos levemente bagunçados e espalhados pela cama, caindo levemente sobre os ombros e testa; os lábios entreabertos e a respiração ofegante, fazendo com que seus seios balançassem devido a velocidade que o ar saía de sua boca; as coxas torneadas e chamativas; tão dele.
Com um sorriso sujo nos lábios, deixou que suas mãos passeassem por todo o corpo de ; desde seu rosto até suas coxas, indo e voltando para arrepiá-la e excitá-la mais. Seu sorriso se abriu ao vê-la estremecer e encará-lo como se implorasse por alguma ação logo. Mas ele permanecia de joelhos sobre a cama, encarando-a como se fosse a mais bela obra de arte já pintada. Ainda de maneira lenta — e levemente irritante pra ela, que estava ansiosa —, pousou as mãos sobre o elástico da última peça da mulher. Sem surpresa alguma, puxou para os lados, rasgando o tecido em dois. deixou um suspiro aliviado escapar e mordeu o próprio lábio, sabendo que ainda a maltrataria de maneira deliciosa.
Não demorou para que ele começasse a acariciá-la devagar, somente com as pontas dos dedos, arrepiando-a por completo, somente para senti-la tão molhada de uma forma que somente ele a deixava.
— Peça — ele sussurrou calmamente, enquanto pousava apenas um dedo sobre a intimidade de , acariciando-a tão levemente que chegava a ser agoniante. — Gosto de ouvir sua voz manhosa pedindo para que eu te possua de todas as maneiras possíveis. Peça, meu amor, peça.
sentiu suas pernas moverem-se praticamente sozinhas, abrindo-as um bocado mais para que desfrutasse de toda a visão. Que a visse completamente entregue, entorpecida, pronta para ser possuída por ele mais uma vez.
— Não me torture mais - pediu tão baixo quanto ele, soltando um gemidinho baixinho e manhoso ao sentir a leve movimentação que ameaçara a fazer. — Me faça sua, — movimentou o quadril para baixo a fim de ter maior contato. — Por favor.
sorriu, mas não estava totalmente satisfeito. Movimentou o dedo sobre o clitóris de , fazendo-a se contorcer sobre a cama.
— Me diga o que quer, meu amor — pediu, enquanto mexia o dedo ainda devagar, fazendo-a mover o quadril inconscientemente. — O que quer que eu faça?
Com a voz arrastada e sem pensar bem em algo que fizesse sentido, murmurou:
— Quero que me leve ao paraíso.
não se deu o trabalho de respondê-la ou torturá-la mais, apenas acrescentou mais um dedo sobre a intimidade da mulher ao mesmo tempo em que se debruçava sobre ela para beijar-lhe a barriga, enquanto aumentava os movimentos sobre seu clitóris. suspirava e mexia os quadris, implorando de forma muda para que a penetrasse e descesse os lábios de sua barriga.
Mas ele parecia querer enlouquecê-la; mas ela sabia, aquilo era necessário para chegar até seu paraíso. Era o caminho que deveria percorrer se quisesse visitar aquele universo alternativo que criara em sua mente; sabia que precisava esperar para que a presenteasse com toda sua experiência.
Sem aviso prévio, escorregou a boca para a intimidade de , chupando-a de forma tão intensa que a fizera tremer sobre a cama e soltar um gemido mais alto. Gostando da reação de sua amada, aproveitou para penetrá-la com dois dedos de uma só vez, enquanto a estimulava com a boca também. revirava os olhos, apertava o lençol e soltava gemidos um tanto quanto desesperados; estava descontrolada da forma que gostava de ver, da forma que o estimulava e enlouquecia; era delicioso vê-la tão entregue e submissa à ele.
a masturbava com velocidade, aproveitando-se de todas as formas que podia e conseguia; ora a lambia, ora a chupava, ora ficava somente com os dedos; estava realmente empenhado a dá-la o imenso prazer de sempre. Sabia que logo ela soltaria um gemido mais alto, chamando seu nome e desfaleceria em seus lábios. E ele a chuparia com ainda mais vontade. Porém, para sua surpresa, fora puxado pela nuca e tivera seus lábios tomados por uma completamente desesperada e trêmula. Entretanto não se importara, apenas agarrou-a pela cintura e deixou que fizesse qualquer coisa que quisesse.
No fim das contas, , com a ajuda de , arrancara todas as peças de roupa que ele ainda vestia, jogando-as o mais longe possível. Estava tão duro somente com o que vira de sua garota que simplesmente não se dera o trabalho de pedí-la algo em troca, apenas deixou que seu corpo ficasse sobre o dela, roçando seu pênis em sua intimidade e sentindo-se cada vez mais excitado e alucinado. era incrível demais para ser verdade, era sua demais. Nunca se cansaria de dizer aquilo. Com os lábios e corpos colados, empurrou-se para dentro da mulher, penetrando-a de uma só vez. deixou a cabeça pender para trás e gemeu alto, implorando por mais movimentação por parte de ; não queria esperar mais, queria sentí-lo de todas as formas possíveis; queria que ele fosse rápido e o mais fundo que conseguisse; queria que a estocasse intensamente. Estava cega e perdida em meio a tanto desejo.
ia e vinha rapidamente sobre ela, segurando-a fortemente pela cintura, puxando-a contra si, beijando-a os lábios, rosto e pescoço quando possível, enquanto somente deixava os gemidos escaparem alto.
mexeu-se de forma rápida e dominadora, de maneira que raramente via - e amava com todas as suas forças -, ficando por cima e puxando-o pela nuca ao mesmo tempo. Por um segundo se viu tonto e perdido por agir daquela forma, querendo e fazendo tantas coisas ao mesmo tempo, mas apenas deixou-se levar, adorando vê-la descontrolada.
movia o quadril no ritmo que desejava, deixando que os gemidos morressem contra os lábios de , que a segurava pelas coxas e a apertava com força; vez ou outra dando-lhe alguns tapas que eram aceitos de bom grado, tendo gemidos manhosos e sorrisos safados em troca, o que o fizera estapeá-la algumas vezes mais. Ambos já sentiam o suor começar a escorrer pelos corpos, mas não se importavam, apenas se deixavam levar por aquela sensação maravilhosa que era estarem tão próximos, se amando de maneira tão intensa; no tão almejado paraíso, onde, num universo alternativo, era somente deles dois, onde somente eles existiam e usufruíam de toda aquela adrenalina deliciosa.
No quarto só era possível ouvir os gemidos, os corpos se chocando e o ranger da cama, fazendo-os ficarem ainda mais excitados e intensos durante o ato. Não havia nada melhor e delicioso que aquela cena; eles podiam se ver claramente naquela situação tão prazerosa, trocando arranhões, mordidas e beijos enquanto seus corpos se chocavam e encaixavam com força e de maneira perfeita, como se tivessem realmente nascidos um para o outro. Um clichê tão fora do comum que os deixava perdidos, tontos, felizes e com vontade de rir e gritar em meio tudo aquilo; um misto de sensações e sentimentos que se modificava a cada segundo que passava, a cada movimento novo. Era algo deles, íntimo.
deixou a cabeça pender para trás e um gemido mais alto escapar, enquanto ainda maltratava seu pescoço com a boca e suas coxas com as mãos, forçando-a sobre ele, fazendo-a estremecer por completo, atingindo o orgasmo de maneira tão intensa e conhecida. Um arrepio gostoso tomou todo seu corpo, fazendo-a dar leves reboladas e contrair-se com intensidade sobre o pênis de , fazendo-o murmurar palavras de baixo calão contra sua pele e fechar os olhos fortemente. Não aguentaria tanto, afinal. Movimentou-se devagar, mas de maneira forte; afundando-se completamente dentro de e saindo devagar, para voltar com ainda mais força no segundo seguinte, fazendo-a tremer dos pés à cabeça e apertá-lo os ombros, cravando as unhas longas ali. a estocou com vontade mais algumas vezes, fazendo-a rebolar sobre seu membro até que chegasse ao seu máximo também, permanecendo parado ali em seguida, normalizando a respiração e sentido os espasmos lhe tomarem.
Caíram exaustos e lado a lado na cama, ofegantes e suados, porém com sorrisos enormes nos lábios. Aquele momento fora o suficiente para que notasse que a amava de qualquer maneira, que talvez ele fosse capaz de perdoá-la por quaisquer erros do passado. Ela esperava, com todo coração, que ele pudesse ser capaz disso. Esperava que ele a entendesse e a acolhesse com todo aquele carinho, que lhe desse a atenção necessária para que ela explicasse tudo quando chegasse a hora.
Deixou um “eu te amo” escapar da garganta em forma de sussurro e fechou os olhos, pegando no sono em seguida. Seus olhos se fecharam e a inconsciência a tomou por completo, tendo como última imagem um sorrindo bobo enquanto a fitava de maneira encantada.
estava prestes a pegar no sono também quando ouvira o celular de vibrar sobre a mesinha de cabeceira ao lado da cama. Ponderou sobre ver ou não - talvez fosse algo de trabalho - o que era. Talvez fosse Elizabeth mandando notícias através de mensagem, já que o celular vibrara somente uma vez. Curioso, esticou-se e pegou aparelho, e mesmo sentindo que estava fazendo algo errado (e não era pra desconfiança), desbloqueou a tela e abriu a mensagem, que vinha de um número desconhecido.
Logo, viu-se em alerta. Sentou-se na cama com cuidado e leu a mensagem pelo menos três vezes para entendê-la totalmente. Não se lembrava de conhecer ninguém por ali e muito menos de ter feito amizades naquele meio tempo.
Sentiu-se, por um momento, desconfiado pela primeira vez naquele relacionamento. Pensou em acordá-la e perguntar, mas, ao ler a mensagem novamente, decidiu sair do quarto e ligar para aquele tal número. Talvez fosse algo importante ou talvez ela estivesse correndo em perigo, ou um simples engano - o que era menos provável devido a exatidão de informação no ponto de encontro.
“Me encontre em uma hora no estacionamento em que quase morreu hoje, queridinha.”
fechou a porta do quarto devagar e caminhou para a cozinha, o cômodo mais longe de onde dormia. Ponderou alguns segundos, ou talvez minutos, não fazia ideia, não sabendo se ligava ou simplesmente ia até o local; ou se não fazia nada. Não queria invadir a privacidade da namorada, mas, também, não queria ficar ainda mais para trás em relação a tudo — ele sabia que sabia demais, e isso não o incomodava até então. Talvez, se fosse, pudesse ter algum problema maior; mais um atentado, ou qualquer merda que fosse. Se ligasse, a pessoa poderia pensar ser a própria e abriria o jogo, talvez adiantasse alguma coisa por menor que fosse.
Por fim, decidiu ligar. Ali, do celular de mesmo, para que a pessoa o atendesse sem pestanejar. Fosse quem fosse, iria descobrir e arrancar o que queria com num lugar tão… Inconveniente. Todo o relaxamento de minutos atrás fora embora, deixando somente a desconfiança e agonia tomar conta de seu corpo. Sua cabeça estava uma bagunça e seus pensamentos pareciam jogados em sua consciência. Fora capaz de ouvir, mais uma vez, Emma lhe dizer que somente ele não se interessara pela própria história e que tinha ido atrás. E então uma pontada de ira invadira seu peito, ocasionando uma tensão quase palpável pairando pelo ar.
Clicou para que ligasse para o tal número desconhecido e levou o celular até à orelha. Esperou alguns segundos e logo uma voz ecoou por seu ouvido, fazendo-o travar e arrepiar-se completamente por ser tão conhecida. Piscou os olhos devagar e respirou fundo. A voz ecoara novamente, da mesma maneira debochada que se lembrava e, de brinde, viera acompanhada de uma risada que ele nunca se esqueceria.
Praticamente crescera a escutando. Convivera com aquilo durante anos. Amara aquela risada como amara aquela pessoa que estava se lembrando.
— Achei que nunca fosse retornar minhas ligações e mensagens, .
não respondeu, ainda estava um tanto quanto chocado.
Talvez estivesse bêbado? Ainda dopado depois de ter ido parar no hospital? Talvez fosse uma piadinha de péssimo gosto inventada por e alguém da Inglaterra?
— Ué, ficou muda? — a voz perguntou novamente e sentiu um nó na garganta, uma ânsia desesperadora. Sua cabeça pesava e o coração bombardeava-lhe o peito com força.
— É o .
E então tudo foi tomado por silêncio. Um silêncio agonizante, desesperador, apreensivo. só conseguia ouvir a respiração do homem do outro lado da linha, enquanto sua vontade era invadir aquele pequeno aparelho e socá-lo até que morresse. Ou então bater a própria cabeça contra a parede com força, por estar delirando e preso num pesadelo como aquele.
Aquilo não podia ser verdade.
— Ops — a voz sussurrou do outro lado da linha. — Não era para você descobrir assim…
— Eu matei você — praticamente sussurrou de volta, completamente chocado. Apoiou-se numa parede qualquer e deixou o corpo trêmulo escorregar até o chão. — Eu. Matei. Você.
Era isso. Estava ficando louco. A fumaça da explosão de mais cedo invadira seu cérebro e o destruíra; o deixara completamente louco. Estava ouvindo vozes e lendo mensagens inexistentes. Louco, estava completamente louco.
— Eu acho que não, irmãozinho — rira mais uma vez. — Me sinto muito vivo, não consegue notar pela minha voz?
— Eu te matei há três anos atrás, — rebateu. — Eu vi o seu corpo. Eu fui ao seu enterro.
— Você viu meu corpo caindo, não seja idiota — respondeu do outro lado e pôde jurar que ele estava revirando os olhos. Era estranho como ainda lembrava-se claramente de todas as manias daquele desgraçado. — Acho que vai ter que tentar de novo e de maneira mais eficiente agora, bro.
queria dizer mais coisas, queria gritar, queria vê-lo para ter certeza de que tudo aquilo não era um trote, queria fechar e abrir os olhos e ter certeza de que estava sonhando. Queria esquecer-se que aquele celular era de .
Não queria pensar no pior.
queria dizer qualquer coisa, mas estava em completo choque. Sua cabeça girava e pesava de tanto que se questionava e procurava qualquer falha em três anos atrás. Qualquer coisa que explicasse aquela situação insana. Qualquer coisa que explicasse o envolvimento de naquilo tudo. Por que ela sabia da existência daquele número? Por que tinha contato com ela? Por que ele estava vivo? Por que ela não disse nada?
A risada conhecida e debochada ecoou mais uma vez do outro lado da linha, fazendo com que apertasse o aparelho contra o rosto. Não tinha o que dizer, só tinha certeza de que sua vida se tornaria o mais completo inferno a partir daquele momento. Por um segundo, sentiu medo. Medo de morrer. Medo de estar cercado de inimigos. Medo de ter sido enganado. Medo por . Medo do que ela era. Medo da situação. Medo de como aquilo iria acabar. Medo de estar preso numa armadilha. Medo de estar completamente sozinho. Medo de tudo dar errado.
— Eu senti sua falta irmãozinho — murmurou. — E você, sentiu a minha?
Capítulo 17
se mexeu na cama algumas vezes e tateou, às cegas, todo o móvel à procura de . Encontrou apenas lençóis desarrumados e o travesseiro vazio ao seu lado. Um suspiro escapou de seus lábios e, de maneira automática, jogou-se para o lado onde o homem deveria estar dormindo. Com um sorriso nos lábios, inalou todo o cheiro que o tecido da fronha exalava. Por algum motivo que ela desconhecia, até mesmo o cheiro daquele homem a acalmava, a fazia sentir-se bem e completamente protegida só em saber que ele estaria por ali, em qualquer canto daquela casa em que se hospedavam. A calmaria tomava conta de todo seu ser somente ao lembrar-se que estaria ali sempre para ajudá-la no que fosse necessário, mesmo que ela não merecesse tanto assim. Com esse pensamento, sentiu-se estranha.
Num pique só, levantou-se e caminhou meio sem saber para onde estava indo, na esperança de encontrá-lo logo. Era como se, em algum lugar no fundo de seu coração, gritasse que ela precisava encontrá-lo o mais rápido possível, talvez enchê-lo de beijos, talvez de perguntas. Só precisava vê-lo. Algo em suas entranhas gritavam que aquilo era necessário, como seu sexto sentido agindo e causando-lhe certo desconforto. não tinha muita noção da hora, talvez já fosse madrugada, não sabia dizer.
Ao chegar próximo à sala da casa, sentiu o cheiro de cigarro invadir as narinas. Um sorriso automático tomou conta de seus lábios, não por gostar de cigarro, mas por ter total certeza de que ele ainda estava ali e talvez não quisesse acordá-la ao fumar.
estava totalmente esparramado no sofá, com a cabeça jogada para trás, de calça jeans e sem camisa. Seu peito subia e descia de maneira serena, mas, a julgar por sua posição e a vontade que sugava o cigarro entre os dedos, estava apreensivo. Suas piscadas demoravam mais que o normal, fitava o teto e voltava a fechar os olhos enquanto cuspia a fumaça para fora. Estava incomodado.
Antes que pudesse abrir a boca, a encarou e, em questão de segundos, viu apenas o vulto de um objeto voar em sua direção. Em puro reflexo, segurou-o nas mãos. Quando se deu conta, tinha seu celular entre os dedos e o olhar pesado de sobre si. Assustou-se por alguns segundos e, no mesmo momento, ficou incomodada com todo aquele desdém que demonstrava. Fitou o aparelho nas mãos e, no primeiro impacto não entendeu bem o que o homem queria, mas, ao desbloquear a tela e observar o registro de ligações aberto, entendeu. Não era burra e sabia muito bem de quem era aquele número, só não sabia o porquê de estar com seu celular e com aquela parte em especial destacada no aparelho.
Quase em um sussurro dissimulado, disse:
— Não entendi.
— Sem problemas — respondeu enquanto apagava o cigarro no cinzeiro na mesa à sua frente e se levantava. — Eu te explico.
— Quer dizer… — tentou recomeçar. — Eu conheço o número, mas não entendo por que…
— Está aí? — a cortou. — É que alguém te enviou uma mensagem marcando um encontro. Fiquei um pouco enciumado, confesso, então decidi ligar para o número e descobrir quem era, por mais que seja errado. Peço desculpas por isso, , eu não queria desconfiar de você. Afinal, vivemos como um casal há praticamente três anos; eu não queria invadir sua privacidade, juro que não. — Pausou a fala para dar um sorriso triste. Aproximou-se mais da mulher e segurou-a pelo rosto, acariciando-a devagar, um carinho tão terno que sequer parecia irritado; estava anestesiado tamanho o susto que ainda sentia, seu choque e tristeza eram quase palpáveis. — Mas aí, na ligação, descobri que este número pertence a ninguém mais, ninguém menos que meu falecido irmão, .
— Eu…
— Desde quando? — a interrompeu mais uma vez, soltando o rosto que tanto admirava, dando um passo para trás. — Desde quando me engana com ele? Desde quando mente para mim? Melhor: alguma vez você já me disse a verdade? Porque eu sinceramente não sei mais.
cuspiu as palavras de maneira calma, mas magoada. Estava profundamente sentido, quase chorando. Seus olhos brilhavam fortemente, deixando claro as lágrimas que queriam transbordar — ele não estava conseguindo se conter.
abria e fechava a boca num ato desesperado de tentar pronunciar alguma fala, porém seu medo e susto eram tão grandes que continuava em total silêncio, parecendo uma louca sem saber como se defender. Sabia que aquilo poderia acontecer a qualquer momento, sabia que deveria ter aberto o jogo com o namorado desde o primeiro contato, mas seu instinto de jornalista falara mais alto; queria tentar juntar todas as informações sozinha antes de dizer qualquer coisa, queria tentar mostrá-lo provas concretas, queria fazer com que sentisse orgulho de tê-la ao seu lado. Mas, como também sabia, não era somente esse lado que falava alto. O medo de ter seu passado exposto também estava ali, escondido nas mais profundas memórias, mas estava. Não queria que descobrisse de onde aquele contato vinha, não queria que a deixasse por conta de coisas que já passaram. No fundo, ela sabia que jamais seria deixada, mas a insegurança continuava ali; e se ele não acreditasse em sua história? E se não a levasse a sério? E se desistisse de tudo? E se, e se, e se…?
— Eu não te engano com ele — foi a primeira coisa que disse antes de dar um passo para trás, sentindo-se exposta e frágil demais. — Nunca te enganei com ele. Eu só…
— Fingiu que ele estava morto — completou, ainda estranhamente calmo. — Por quê?
— Porque tive medo e porque eu queria que você soubesse na hora certa, ! — exclamou, começando a andar de um lado para o outro. — Eu queria tê-lo nas mãos antes de te contar qualquer coisa.
— Me responda: desde quando? — repetiu enquanto a encarava nos olhos e se aproximava novamente. — Não minta mais.
— Faz alguns… Meses… — respondeu num fio de voz. — Eu tentei te contar várias vezes, mas nunca achava ser a hora certa.
— Meses — riu. — Meses. É a primeira vez que mente para mim desta forma? Tem mais alguma coisa que eu ainda não saiba?
não respondeu, apenas fitou o chão. Tinha tantas coisas que não sabia. Em momentos como aquele em que a culpa voltava a tomar conta de todo seu corpo, a vontade de sumir da vida de crescia ainda mais, a vontade de morrer por esconder dele tantas coisas, o remorso pela forma que decidira aproximar-se dele e de todos ao seu redor quatro anos atrás, era quase massacrante. Um misto de sensações ruins que não desejava para ninguém. Com algumas lágrimas brotando nos cantos dos olhos, deixou escapar uma resposta que talvez não quisesse de fato falar, assim como não queria ouvir:
— Tudo… Eu te escondi e menti sobre tudo.
deu uma risada fraca e bagunçou os cabelos num ato de nervosismo. Uma parte de si não acreditava que aquela situação estava acontecendo, a outra, pelo contrário, já esperava aquilo tudo. Não que vivesse de desconfiança de , a amava com todas as forças que tinha, daria sua vida pela dela. Mas… algo em seu interior dizia que ela ainda escondia coisas importantes, podia ver nos olhares que vez ou outra ela lhe lançava, nos beijos culpados que compartilhavam. Não era como se ele fosse um santo, também tinha seus segredos obscuros que preferia não contá-la com detalhes, mas… Sentia-se imensa e profundamente traído naquele momento, por causa da situação específica. Era como se tivesse levado aquela típica apunhalada pelas costas; fora sua mulher com seu próprio irmão que, pior, estava morto. Antes isso não faria diferença; todos tinham seus próprios segredos. Mas se ela o enganava sobre seu falecido irmão, o que mais não escondia?
era um homem que carregava muitas culpas, mortes e remorsos em seu ser. Mas nunca fora capaz de mentir ao dizer que estava perdidamente apaixonado por aquela jornalista impulsiva e curiosa, não era mentira quando dizia que a protegeria de tudo e todos, que cuidaria dela até seu último segundo de vida; seu coração realmente batia mais forte por aquela mulher; e sabia que ela faria o mesmo por ele, e justamente por isso era difícil de aceitar aquela situação.
Estava tão perdido naquele momento que ao menos sabia o que dizer ou fazer, tudo o que passava em sua cabeça era sair daquele lugar e enfiar uma bala na cabeça de . Queria destruí-lo de uma vez por todas, como deveria ter feito tempos atrás, quando tivera a oportunidade perfeita. Deveria ter descido por aquele barranco, mesmo baleado e à beira da morte, para mirar a arma em sua testa e matá-lo sem sombra de dúvidas. Talvez aquilo não acontecesse caso ele o tivesse matado realmente.
Mas talvez também aquilo não aconteceria se tivesse dito toda a verdade para ele. Estava confuso, louco para sumir um bocado, afastar-se de toda aquela sujeira.
Em situações como aquela, via que não queria mais viver daquilo; queria e precisava de paz. Com ou sem .
— Por favor, me dá uma chance de te explicar tudo, mesmo que isso demore — pediu enquanto abraçava o próprio corpo e fitava o chão. Sentia tanto, tanto por aquilo estar acontecendo. — Eu só pensei que seria melhor…
— Esconder nunca é o melhor, — murmurou virando-se de costas para a mulher e caminhando em direção ao sofá mais uma vez, pegando uma camiseta que estava jogada por ali. — Você já deveria ter aprendido isso, meu amor. Mentir nunca, nunca é a melhor opção.
— Para onde você vai? — perguntou apreensiva ao vê-lo conferir se a arma estava carregada e prendê-la no cós da calça jeans em seguida. — …
— Eu vou acabar com isso de uma vez por todas.
Após dizer isso, não deu tempo para que fizesse ou dissesse algo. Simplesmente saíra porta afora com uma pressa incomum. Por um segundo sentiu medo, por outro, mágoa. Não pelo que estava fazendo, sabia o quão triste ele estava. Mas não era como se ela já não tivesse passado por aquilo com ele, não era como se ele nunca houvesse mentido. A diferença entre eles era que o passado de e tudo o que ele fizera viera à tona três anos atrás.
não se deu ao trabalho de ir atrás dele ou gritá-lo ou implorar para que ele ficasse. Nada adiantaria de qualquer forma. Tudo o que lhe restara fora jogar-se contra o chão e encolher-se entre a parede e um outro móvel qualquer, enquanto lágrimas silenciosas escapavam-lhe dos olhos, com soluços baixinhos vindo ao fundo.
A vida era uma coisa ironicamente engraçada. Em um piscar de olhos, tudo mergulhava no mais profundo caos. Sua vida estava devidamente enterrada e sob controle quando, de uma hora para outra, uma mulher dizendo sua mãe biológica apareceu, sua prima desgovernada voltou a ameaçá-la com seu passado, seus medos tomaram conta de seu corpo e voltaou a dar as caras depois de alguns dias adormecido.
Sua cabeça estava uma completa confusão, não sabia bem o que fazer ou falar. Só conseguia ter alguns flashes do motivo pelo qual se envolvera naquilo, no porquê de ter jogado toda sua vida montada fora para mergulhar de cabeça na vida investigativa e em campo para a polícia inglesa.
Fora tudo um jogo de interesse. Sentia-se burra. Porém, sobretudo, sentia-se sozinha. Sabia que voltaria, sabia que a aceitaria, sabia que a amava mais que tudo. Mas ainda estava ali sozinha. Passara de namorada perfeita e enxerida para desconhecida que deitava-se na cama de um policial famoso e apaixonado.
Ela o amava também, mais do que imaginou ser capaz de amar alguém.
****
As gargalhadas escapavam do fundo de sua garganta, como se tivesse acabado de assistir o filme mais engraçado de todo o Universo sendo que, na realidade, somente havia aberto o jogo e assumido que estava ali; são e salvo, vivo e pronto para voltar à briga.
sabia que logo o encontraria e estava tão ansioso por isso que todos seus pelos eriçavam-se somente com o pensamento de ver seu irmãozinho em sua frente mais uma vez. Queria tanto aquele reencontro, estava com saudades; das brigas, daquele olhar desesperado e medonho que costumava lançá-lo, sentia falta até mesmo da sede de vingança que o mais velho exalava, sentia falta da adrenalina. Nunca esqueceria o dia em que jogara toda a verdade para e assumira todas as besteiras que havia feito; sentira-se livre no mesmo momento e, ali, novamente, estava sentindo-se assim. Livre. Sendo o próprio sem mais precisar fingir-se de para a sociedade.
Agora, até o próprio sabia de sua verdadeira identidade, sabia que quem estava passando-se por ele era ninguém mais ninguém menos que o irmãozinho mais novo que deveria estar morto. Desta vez, planejara tudo diferente. Sabia que voltaria mais forte, mais vívido, mais enfurecido. E , obviamente, não ficaria tão diferente quando soubesse da verdade. Justamente por isso agira monitorando os mínimos detalhes daqueles planos que fizera enquanto estava morto no interior de algum país pequeno da Europa. Tivera todo o suporte de Lucy, sendo levado para longe logo que caíra naquele buraco terrível. Tivera a certeza que morreria, mas, por algum motivo, seu corpo aguentara toda a dor. Talvez fosse seu desespero e sede de vingança e curiosidade. Sempre quisera saber de onde viera, por que razão fora transformado naquele monstro enquanto fora simplesmente sufocado de amores pelo pai que deveria ser dos dois. Queria entender por que justamente ele que Castellamare escolhera para foder toda a família . Talvez tudo isso o houvesse segurado e o feito sobreviver. Assim que se vira completamente a salvo, começara a planejar sua volta triunfal. E como havia imaginado, tudo dera certo. Ninguém desconfiara quando, três anos depois, ele voltara a dar as caras por aí. Aparecera pela Itália como quem não queria nada, logo encontrando-se com Apolo, seu priminho maravilhoso que o ajudara nos mínimos detalhes enquanto buscava pela vingança da morte do pai. Não demorou muito para que os documentos ficassem prontos e ele passasse a ser, oficialmente, seu irmão: .
Não seria por muito tempo, somente o suficiente para atrair o restante da família , que o pobrezinho sequer desconfiava que existia; aquela parte italiana e apagada que o pai fizera questão de privá-lo de conhecer por medo de que descobrisse que a bandidagem, a máfia, vinha de berço. Estava no sangue dos ser mau caráter. Não era à toa que ele estava naquela família, embora não carregasse o sobrenome.
Perguntava-se se seu pai se orgulharia dele como se orgulhava de , mesmo sabendo todas as coisas ruins que o outro fazia mesmo quando era novo. Provavelmente não. E isso o fazia rir mais porque, no fundo, ainda continuava sendo um moleque revoltado que fora privado de amor. Fora criado sob o ódio do tio e a revolta de ter perdido a mãe sem sequer entender o porquê.
balançou a cabeça negativamente e levantou-se de uma vez, ajustando a roupa social que vestia. Empinou o nariz, mostrando-se superior a tudo ao seu redor, como sempre, e saíra de uma vez por todas da sala que Apolo montara para ele.
Estava o tempo inteiro embaixo do nariz de todos, mas eles preferiam não enxergar. Ou talvez a pessoa que ajudava Apolo naquilo tudo, na realidade, fosse forte e inteligente demais para que os fizesse pensar que nada aconteceria ali.
****
deixou que as lágrimas escorrem novamente enquanto xingava-se mentalmente. Poderia ter ao menos tentado fazer com que continuasse ali ao seu lado, mesmo que completamente emburrado e pronto para matar alguém. Sabia que se encontrasse com aconteceria uma desgraça. Sabia que alguém sairia morto e aquela não era a hora certa. Sua cabeça trabalhava a mil, bagunçada e dividida entre lembranças e o que poderia fazer para ajudar o homem que tanto amava.
Por algum motivo que desconhecia, suas lembranças estavam deixando-a completamente tonta e perdida na situação; não conseguia raciocinar, escolher se iria atrás de ou se ficava por ali remoendo o que estava acontecendo.
Um grito escapou-lhe a garganta, ao mesmo tempo em que levantava-se de onde estava. Estava frustrada, transtornada e tudo o que queria era colocar todos aqueles sentimentos para fora. Jogou um vaso qualquer que encontrara naquela sala contra a parede e bagunçou os cabelos em seguida. Precisava fazer alguma coisa antes que fosse tarde demais. Precisava abrir-se para .
Precisava esquecer seus malditos fantasmas do passado. Precisava esquecer sua maior dor. Precisava salvá-lo, nem que isso custasse sua própria vida. Sabia bem do que era capaz, sabia que planejava matar e inflar ainda mais seu ego, satisfazendo-se através da dor do outro. E não queria e nem iria permitir aquilo. Não enquanto soubesse tudo o que sabia.
Com esse pensamento, desistiu de destruir a sala que nem à ela pertencia. Correu até o quarto e trocou de roupas o mais rápido que conseguiu. Não se deu o trabalho de pegar nada além do celular, colocando-o no bolso da frente da calça que vestira. Sua mente estava completamente focada em apenas uma coisa: ir atrás de e salvá-lo de qualquer risco que estivesse correndo. Sabia que o melhor a fazer era esperar, não era um homem burro e com certeza sabia que ele apareceria onde quer que fosse.
não teve tempo de fazer muita coisa logo que saiu da casa, não lembrava bem como fazia para chegar no lugar que a mensagem de indicava e nem sequer sabia se teria um carro para isso, já que provavelmente usara o único que ficara para eles. Sua única esperança era recorrer à Emma, porém tinha total certeza que a amiga estava igualmente abalada, e não queria incomodar. Num momento que não devia, estava perdida numa briga interna.
Como se os céus ouvissem sua crise, ouviu um ronco de moto ao fundo e olhou para trás rapidamente, dando de cara com as duas primas de chegando. Um alívio percorreu todo seu corpo ao reparar bem e notá-las em cima de uma moto. Sorriu e correu de encontro às garotas, praticamente aos berros:
— Me emprestem essa moto!
Amanda, que tirava o capacete e soltava suas madeixas loiras, estreitou os olhos sem entender o que estava acontecendo.
— Ué, não sabia que você se aventurava sobre duas rodas — murmurou, enquanto Joanne a acompanhava com um olhar curioso. — O que está acontecendo? Por que a pressa?
— Você não sabe muitas coisas sobre mim, Amanda — respondeu e puxou o capacete da mão da garota, pouco se importando se machucaria suas mãos ou não. — Ou eu saio daqui agora com essa moto ou o seu primo morre.
As duas garotas arregalaram os olhos levemente e Joanne não hesitou em dar todo o espaço que precisava para montar no automóvel.
— Só tome cuidado, — Joanne pediu baixo, como sempre falava. — Acredito que você também não possa ficar dando as caras por aí.
— E não posso mesmo — sorriu para as garotas. — Mas não é como se eu não estivesse acostumada com isso. Obrigada, meninas. Eu juro que mando notícias quanto estiver com a salvo.
— E você vai assim, sozinha? Sem avisar a ninguém? Não seja louca como ele! — Amanda exclamou enquanto revirava os olhos. — Vocês ingleses não têm nada, absolutamente nada na cabeça!
não se deu ao trabalho de respondê-la, apenas enfiou o capacete na cabeça e montou na moto, acelerando-a em seguida. No segundo seguinte, tudo o que Joanne e Amanda viram fora a poeira que a mulher jogara para o alto ao dar partida.
****
Ao chegar no lugar marcado — em que quase morrera mais cedo —, acendeu um cigarro e apoiou-se numa parede suja qualquer, escondendo-se entre as sombras de uma pilastra e outra. Os cabelos totalmente bagunçados e maiores que deveriam caíam-lhe sobre a testa e olhos, vez ou outra atrapalhando sua visão, mas pouco se importava com aquilo. Sua cabeça estava a mil, tão a mil que sequer se deu conta de que seus cigarros já estavam no fim. Estava tão nervoso com toda a situação que estava vivendo com que ao menos notara o quanto fumara desesperadamente, um cigarro atrás do outro. Muito provavelmente até sua alma fedia àquela essência forte e levemente incômoda.
Um ronco de motor cortou todo o silêncio e a paz de que desfrutava. O cigarro permaneceu preso em seus lábios enquanto, ainda entre as sombras, observava mais à sua frente, vendo uma moto surgir em seu campo de visão com uma silhueta feminina sobre ela. Uma risada escapou-lhe os lábios junto à fumaça do cigarro, enquanto uma de suas sobrancelhas erguia-se de maneira curiosa. De cabeça erguida e a típica pose de nariz empinado, continuou fitando a mulher que se aproximava cada vez mais, tendo dificuldade em ver qualquer coisa que não fosse a silhueta da moto e de seu corpo.
A mulher guiou o bicho de duas rodas, fazendo uma pequena curva fechada, parando o automóvel e colocando um dos pés do chão para se apoiar. Não demorou muito para puxar o capacete e movimentar o pescoço, fazendo com que seus cabelos caíssem sobre os ombros em cascata ao mesmo tempo em que o vento os bagunçava.
Por um segundo, pensou que seu coração pararia. Principalmente ao reconhecer a mulher que agora descia da moto e corria os olhos por todos os cantos daquele imenso estacionamento, onde ainda haviam alguns destroços espalhados pelo acidente de mais cedo.
— ? — chamou num tom ameno, quase hipnotizado que foi o suficiente para que ela o escutasse e soltasse um suspiro aliviado, logo indo em sua direção.
— Ainda bem que te encontrei — murmurou enquanto deixava o corpo cair sobre o de , abraçando-o pela cintura num ato automático. — Você precisa sair daqui. Nós precisamos. vai tentar algo, por favor, vamos embora daqui.
— Você sabia dos planos dele também? — perguntou quase num sussurro, ainda com o corpo imóvel enquanto o abraçava, puxando-o para si cada vez mais. — E há quanto tempo você pilota motos? Tem mais alguma coisa sobre você que eu não sei? — estreitou os olhos, encarando a mulher que, agora, o soltava aos poucos. Sabia que já havia perguntado para se havia mais alguma coisa que ele não sabia, mas ela não parava de surpreendê-lo.
— Não sabia de nada, só deduzi — respondeu. — Há tempo o suficiente para ter certeza que vou conseguir te tirar daqui antes que venham te metralhar — continuou de maneira firme e determinada, como nunca havia visto antes. — E sim, tem algumas coisas que você ainda não sabe sobre mim, mas estou disposta a contar. Só vamos embora daqui, por favor.
Antes que pudesse abrir a boca para dizer qualquer outra coisa, uma luz forte no início do estacionamento os iluminou, fazendo-o levar o braço até o rosto para proteger os olhos e segurar a cintura de ao mesmo tempo, totalmente em estado de alerta. Faróis de carro. Não precisava de muito para saber que haveria outro — ou, quem sabe, outros — carro vindo logo em seguida.
Naquele momento sentira que realmente precisavam sair dali, mas, em sua cabeça, as dúvidas ainda dançavam livremente, como se quisessem todas resolvidas naquele mesmo instante. Sabia, porém, que mal teria a resposta para o “como ela sabe disso tudo?” que tanto ecoava em sua cabeça.
Não quiseram perder mais tempo e, como se estivessem conectados, caminharam a passos rápidos, juntos, até a moto que estava parada logo ali. Não demorou muito para o carro a alguns metros de distância acelerar para que se aproximasse o suficiente para executarem seu trabalho, seja lá qual fosse, fazendo com que ficasse ainda mais apreensivo. E se algo desse errado? Ambos morreriam fuzilados por aquele bando de marginais? Simples assim? No entanto, não tivera muito tempo para se preocupar, já havia jogado o capacete em sua direção e pulado sobre aquele negócio de duas rodas com uma maestria que ele nunca imaginara que ela teria.
Ainda levemente assustado e completamente encantado, enfiou o capacete na própria cabeça um tanto contrariado, já que ficaria sem nada para protegê-la, e montou na moto em seguida.
— Quem é você e o que fez com a que conheço? — perguntou num tom debochado e um sorriso ladino nos lábios, fazendo com que, mesmo no meio daquela situação, desse uma risada fraca já montada sobre a moto. A fim de provocá-lo e talvez deixá-lo apreensivo ao ver que armas já eram expostas pelas janelas do carro logo atrás deles, virou o pescoço para trás, apoiando o queixo no ombro e fitou , que se ajeitava logo atrás dela. Encarou-o por alguns segundos e mordeu o lábio inferior em pura excitação por estar mostrando-se como realmente era. Por fim, deixou um sussurro lhe escapar a boca:
— Não precisa agradecer por eu estar salvando sua vida, meu amor. Agora segure-se.
E então a primeira rajada de tiros ecoou por todo o espaço antes tão silencioso. não hesitou em acelerar e segurou-a pela cintura com força, com uma das mãos, fazendo o possível para não cair dali e levá-la junto. Com a mão livre, arrancou a arma que estava no cós de sua calça e mirou-a para trás mesmo sem saber se aquilo daria certo. Às cegas e completamente vidrado na adrenalina que viviam e no vento que cortava seu corpo, apertou o gatilho quantas vezes lhe fora possível. Atrás de si, os homens também atiravam em sua direção, mas realmente estava veloz em cima daquela moto. Ele poderia jurar que ela sorria enquanto balançava, vez ou outra, a cabeça para tirar seus cabelos do rosto. Podia jurar também que ela realmente salvara sua vida. E, pela primeira vez, em meio a um tiroteio que parecia não ter fim e lhe ensurdecer aos poucos, teve a total noção de que fora burro o suficiente para deixar o impulso tomar-lhe o corpo e ir até aquele encontro.
Encontro este que lhe daria como presente sua própria morte.
****
— Será que , à essa hora, já está finalmente morto?
A frase cortou a sala, fazendo com que saísse de seu transe e encarasse o primo, que se encontrava apoiado no batente da janela enquanto fumava um cigarro.
— Não faço ideia, priminho — suspirou. — A vadia deve ter vindo salvá-lo. — Por que você não acabou com tudo quando teve chance, ? — Apolo perguntou de maneira séria, virando-se para o outro e encarando-o de forma curiosa após livrar-se da binga de cigarro. — Creio que tenham sido muitas nesses últimos três anos.
— Por que você não acabou com tudo quando teve a chance, Apolo? — repetiu a pergunta, direcionando-lhe o olhar curioso que anteriormente era jogado sobre ele.
— Porque algo me disse para esperar. Esperei e, veja só, priminho, você se revelou para mim — Apolo sorriu. — E não era como se eu já não soubesse que era você esse tempo inteiro. Mas saiba que a morte do pai das fedelhas caiu nas minhas costas, mas tudo bem.
soltou uma risada fraca, murmurando em seguida:
— Aquilo foi necessário.
— Foder a Amanda nas horas vagas também foi necessário? — Apolo rebateu, erguendo uma das sobrancelhas. — Nossa priminha é linda, realmente. Mas estamos aqui a trabalho, .
— A trabalho ou não, eu precisava me distrair de alguma forma e tirar qualquer resquício meu daqui. Precisava fazer com que aceitassem o novo e não desconfiassem de mim — revirou os olhos. — Eu não me meto quando você está com aquela mulherzinha metida a roqueira de quase trinta anos.
— Não fale da Jullie — Apolo pediu calmamente. — A questão aqui, priminho, é que preciso que cumpra o que combinou. Caso contrário, você sabe, eu não vou hesitar em te matar.
— Estou cumprindo com nosso combinado, não seja tão radical — riu e se levantou, fitando o primo de perto. — Eu também não hesitaria em te matar caso você ameaçasse meus negócios, Apolo. Na verdade, eu posso matá-lo agora se eu quiser.
Um silêncio pesado instalou-se na sala naquele momento. Nem mesmo as respirações fracas de ambos faziam ruídos por ali, deixando a tensão mais explícita. Ambos, em movimentos lentos, levaram as mãos para trás dos corpos.
— Eu também posso te matar agora se me der vontade, — Apolo sussurrou e, num movimento rápido, sacou a arma que sempre carregava consigo, fazendo com que também puxasse uma de suas costas na mesma velocidade.
Com a tensão quase palpável naquele lugar, os primos miravam as armas uma para a cabeça do outro, encarando-se sempre nos olhos e respirando fundo enquanto sorrisos contornavam seus lábios. Estavam se divertindo com aquilo tudo. Porém, no fundo, tiveram a certeza que estavam trabalhando em conjunto somente por algum tempo. Eram inimigos no fim das contas.
Cerca de dois minutos se passaram e ambos abaixaram as armas ao mesmo tempo, não conseguindo segurar as gargalhadas que escaparam juntas, mostrando que ao menos se importavam com aquilo; não tinham medo de morrer. Com o que mexiam o tempo inteiro, poderiam morrer a qualquer momento. Poderia entrar um tiro pela janela e acertar os dois, assim como poderiam atravessar a rua e um carro qualquer pará-los e assassiná-los em praça pública. Não se importavam nem um pouco com aquilo, faziam pelo dinheiro, pelo prestígio, pela vingança. Num movimento rápido e que Apolo não esperava por ainda estar perdido entre risadas, acertou-lhe um soco em cheio no rosto, fazendo-o cambalear para trás enquanto segurava o próprio queixo, sentindo-o doer. Fechou e abriu os olhos com força, ignorando o gosto de sangue que tomava conta de seu paladar aos poucos.
— Isso é para você aprender a nunca mais me ameaçar — murmurou com um sorriso nos lábios, fazendo com que Apolo risse novamente e revirasse os olhos.
Não se importava em levar porradas; já levara e dera tantas que nem fazia diferença. Mas aquele soco o deixara levemente afetado; parecia que queria brincar com seu ego sempre tão inflado, queria ameaçar sua masculinidade e segurança interior. Porém tentou não se abalar tanto.
— Parece que alguém aqui andou treinando como se dá socos, não é, priminho? — Apolo murmurou ainda sorrindo e caminhando devagar até onde estava. Parou de frente para o primo e, ainda encarando-o sem fingindo não se importar, esticou-se com a mão que não segurava a arma até a mesa que ficava ao lado do primo. Ali ficava o baldinho metálico com gelo para seu uísque de marca. Enfiou a mão por ali e puxou duas pedras de gelo, levando-as até o rosto.
Num movimento que também não esperava por achar que o primo não o revidaria, Apolo ergueu a mão que ainda segurava a arma e acertou o objeto contra o rosto do primo com força, fazendo-o cambalear também e soltar um murmúrio de susto e dor. Não demorou muito para um filete de sangue escorrer no canto dos lábios de por conta da pancada.
Levar um soco era muito diferente de levar uma porrada com a arma na cara, pensou. Fora ingênuo demais em achar que Apolo não o revidaria; mas era claro que sim. Talvez aquela fosse a forma de selarem outro acordo e ficarem em paz com aquilo, focando somente no que deveriam fazer juntos, pegar cada um a sua parte do dinheiro e sumir do mapa novamente.
Apolo aproximou-se do primo mais vez, que o fitava enfurecido, e murmurou:
— E isso é para te mostrar que não me intimido com você. Nunca mais encoste em mim, .
****
O som de pneu arrastando sobre o asfalto ecoou por toda a rua vazia e desconhecida, fazendo com que virasse para frente e agarrasse a cintura da mulher à sua frente com força. Implorava mentalmente para que aquela coisa não virasse e os jogasse em direção à morte. Porque era mais que óbvio que o carro que corria em alta velocidade atrás deles queria isso, a morte de ambos. Se caíssem daquela moto seria a oportunidade perfeita para que tivesse sucesso em mais uma falcatrua.
O vento batia com força contra ambos os corpos banhados em adrenalina, fazendo com que, no fundo, sentissem aquela ponta de liberdade, como se fossem capazes de sumirem por completo depois que se livrassem daqueles marginais. Era como se… Realmente quisessem aquilo; sumir. Desaparecer. Esquecer de tudo aquilo. Num ato desesperado ao ver que o motorista do carro não desistiria, subiu numa calçada qualquer, cortando para o outro lado da rua, onde era mais escuro ainda. Esperava com todo seu coração conseguir achar um lugar que pudesse se infiltrar para escondê-los de uma vez. Queria sentir-se salva.
— À direita. Vire à direita — gritou ao notar que conhecia um bocado daquelas ruas. — Há vários becos por ali, enfie-se no mais estreito que encontrar!
E o obedeceu, aumentando ainda mais a velocidade daquela moto que parecia que ia desmontar a qualquer segundo. Não demorou muito para encontrar um lugar que pudesse passar de moto e, em desespero, foi. Jogou-se na escuridão de um dos becos que encontrara e passara para uma outra rua desconhecida e vazia. Continuou seguindo, agora com a velocidade menor. Olhando em volta, conseguiu encontrar um beco ainda mais estreito e escuro que o de que saíra, e sem pensar duas vezes seguiu para o mesmo.
Ao notarem que não se ouvia mais nenhum barulho, nem de carros e nem gritos, desacelerou totalmente a moto e estacionou-a em meio à escuridão que tomava aquele espaço abafado. não demorou muito para arrancar o capacete de sua cabeça e pular da moto em seguida.
— Você está bem? — ela perguntou baixo, encarando o homem nos olhos.
— Estou, eles não me acertaram — respondeu com um sorriso fraco e parou de frente para , que continuava montada na moto. — E você?
— Sim, estou. Só fiquei preocupada porque você estava atrás… — ela sorriu fraco enquanto saía de cima da moto, parando em frente a em seguida. — Eu tive tanto medo…
deixou escapar uma risada fraca e puxou-a pela cintura, colando-a em seu corpo num abraço carinhoso que mostrava tudo o que não sabia como dizer. Queria saber de tudo o que atormentava a cabeça da mulher que amava, sim, queria, mas, acima de tudo, a queria bem. E vê-la frágil daquele jeito logo após salvar suas vidas era de partir o coração, o que fazia com que ele só a quisesse entre seus braços. As explicações viriam depois, sempre vinham. Ele sabia que, por mais que tivesse escondido coisas importantes, ela tinha lá seus motivos. Não concordava, de jeito nenhum, mas também não queria perdê-la. Se ela fora capaz de perdoá-lo depois de tantos erros, depois de destruir tantas vidas, por que ele não a perdoaria também?
— Quando eu tinha dezoito anos… — começou, devagar, num sussurro. tentou soltar-se dela para encará-la, porém foi preso pelas mãos da mulher que, agora, forçava-se mais contra ele. — Só… Só escute. Quando eu tinha dezoito anos aconteceram muitas coisas comigo que influenciaram muito no que sou hoje… Foram situações difíceis que tive que aprender a me virar sozinha, sem poder contar a verdade para ninguém…
Flashback.
Anos atrás...
deixou um suspiro escapar dos lábios e fechou os olhos por alguns segundos, passando as mãos pelos cabelos. Estava perdida, completamente perdida. Não sabia mais o que fazer, com quem falar, para onde ir.
Tinha míseros dezoito anos e acabara de ser aceita na universidade dos sonhos, para o curso dos sonhos. Mas, como se tudo estivesse desmoronando desde que conhecera aquele maldito garoto, Chace, recebera mais uma péssima notícia. Sabia que algo daria errado, tinha total certeza. Só não entendia o porquê de não ter escutado as pessoas à sua volta de uma vez por todas. Talvez pela adrenalina, talvez pelo prazer de ser do contra e poder viver como quisesse. Agora estava ali, sozinha, chorando em seu quarto e sentindo uma culpa esmagadora tomar conta de seu interior.
— O que aconteceu, hein, garota? — o grito de Camille ecoou por todo o quarto que, só naquele momento, notou estar com a porta aberta.
— Nada, inferno, nada! — gritou de volta e se levantou para empurrar a porta com força, fazendo-a bater na cara da outra e fechar-se num estrondo violento.
Algumas poucas lágrimas rolaram por seu rosto angelical mais uma vez, fazendo-a pensar se aquilo realmente estava acontecendo. Não sabia como dizer a ninguém o que estava acontecendo. Até porque, bem, a única pessoa que de fato deveria ajudá-la e saber de tudo o que estava acontecendo lhe dera uma risada debochada em resposta.
jogou-se na cama novamente e pegou o papel com as mãos trêmulas, lendo-o mais um milhão de vezes sem conseguir acreditar naquelas palavras. O que tinha em mãos nada mais era que um exame médico que dizia com todas as letras que ela estava grávida. No auge de seus dezoito anos, provando para todos que conseguira ingressar numa universidade de alto escalão, estava grávida. Carregava uma criança dentro de si por conta de um deslize. Não sabia bem o que fazer porque tinha duas opções e uma delas a perturbava por completo. A primeira era ter a criança e desistir de todos os seus sonhos para que desse um bom futuro à ela; a segunda, nada mais era a que Chace lhe propusera enquanto a olhava nos olhos e lhe dava uma risada debochada, já que pouco se importava: o aborto. Sua cabeça estava uma completa bagunça, porque não tinha dinheiro para nenhuma das duas e com toda certeza do Universo sua tia a colocaria para fora de casa, por não ter mais como alimentar mais uma boca. já estava ali puramente de favor, porque seus pais haviam falecido há pouco tempo e ela simplesmente não soubera lidar com a dor, dando toda a dor de cabeça para a tia que Camille não dava. Ou, se dava, elas escondiam muito bem.
Ainda tonta e na confusão de saber o que fazer ao mesmo tempo em que não, se levantou e saiu casa afora. Ignorou completamente a chuva de perguntas da tia e da prima e rumou para a rua. Encontraria o namorado e diria de uma vez sua decisão. Certa ou não, precisava pensar em seu futuro e em si mesma, era jovem demais para lidar com aquilo, nunca pensara que passaria por tudo aquilo. Estava vivendo sua primeira crise existencial, seu primeiro fim do mundo.
Após correr por alguns minutos, parou em frente à casa do namorado. Não bateu na porta, tampouco se dera o trabalho de gritá-lo e avisá-lo que estava ali novamente. Caminhara às pressas até o quarto do garoto, de onde a música alta saía. Muito provavelmente estava ali desfrutando de seu cigarro enquanto berrava aquela música ridícula que ouvia. Adentrou o cômodo sem se importar se ele a empurraria para fora novamente, se ele ficaria com raiva ou qualquer coisa assim. Em seguida, desligara o rádio e parara de frente para ele, que assistia tudo em silêncio, sem entender absolutamente nada.
— Você vai arranjar a grana? — perguntou, fazendo-o erguer uma das sobrancelhas. — Me responda, Chace!
— Eu já estou com a grana — ele respondeu. — Eu sabia que você viria ainda hoje, , você é previsível.
— Eu sinceramente não sei onde estava com a cabeça quando decidi me envolver com você — ela murmurou sem encará-lo. — Você fez da minha vida um inferno quando eu pensei que poderia me dar um ombro amigo e me consolar pela morte dos meus pais.
— Pensou errado, meu amor. Agora pegue o dinheiro, eu já liguei para o amigo do meu pai — Chace jogou um envelope grande contra o corpo franzino da garota. — Eu não vou com você.
— O quê? — perguntou, confusa. — Você quer que eu encare… Aquilo… Sozinha? Que tipo de humano você é?
— Do tipo que não quer essa criança e nem ver o rumo que ela vai tomar — rebateu friamente. — Eu sempre disse isso para você, . Não finja que não sabia.
Com os olhos lacrimejando, apertou o envelope contra o corpo e aproximou-se mais do outro, falando em seguida:
— Eu não quero nunca mais ver você depois disso.
O garoto sorriu ladino e encarou-a no fundo dos olhos, com firmeza e frieza, sussurrou:
— Pois saiba que eu também não quero mais ver você. Nossa brincadeira acaba aqui.
voltou para casa cabisbaixa, pensando no que diabos faria de sua vida, no que estava acontecendo, como lidaria com toda aquela culpa. Porém, no fundo, no fundo sabia que aquilo era o melhor. Fora preciso aquele tombo gigantesco para que acordasse e visse o quão burra fora ao não ouvir as pessoas à sua volta que sempre lhe disseram para que caísse fora daquele rapaz. Nunca mais cometeria o mesmo erro.
Fim do flashback.
fungou e virou-se de costas para , evitando encará-lo nos olhos e deixar claro que chorava. Ele não precisava vê-la naquele estado novamente, já bastava conhecer um pouco de sua história e toda a dor que lhe atormentava. Lidar com aquele peso nas costas e o arrependimento no fundo de seu coração sempre fora muito difícil, colocar tudo para fora e compartilhar com a deixava, de certa forma, leve, porém, ao mesmo tempo, fazia com que voltasse no tempo e se visse novamente naquela situação, fazendo as mesmas burradas e sendo a garota inconsequente de sempre.
— Depois disso — voltou a falar —, fui à clínica que ele havia falado. Não chamei ninguém, até porque eu nem ao menos tinha explicado o que estava acontecendo. Já havia feito burradas demais para chegar e dizer tudo, nos mínimos detalhes, para minha tia. E no fim das contas ela me faria desistir da faculdade, o que era minha última opção. Sabe, — virou-se para ele. — Eu nunca tinha pensado nessa opção até aquele dia. Não foi certo, eu sei que não foi. Mas eu tinha duas opções: uma era ser mãe solteira aos dezoito, ter que trabalhar e ir embora da casa da minha tia sem ter nenhuma noção da vida; a outra: foi fazer o que fiz e chegar aqui, onde estou agora. Foi uma decisão difícil e eu vou carregar essa culpa comigo para sempre, mas eu não consigo me arrepender. Era a única opção viável no momento.
— … — tentou falar mas a mulher virou-se para ele novamente, com um sorriso leve nos lábios e os olhos ainda derrubando algumas lágrimas.
— Shhh — murmurou, voltando a narrar sua história: — Eu não tinha maturidade o suficiente para ser mãe, nem tinha mais a minha ao meu lado para me ajudar e me dizer o que poderia acontecer. Fui inconsequente e revoltada após tudo que me aconteceu, fui, sim, fui. E me arrependo disso: das minhas inconsequências. Mas não adianta chorar agora, já passou. De certa forma, superei. Precisei de muita coragem para tudo o que fiz e para lidar com o depois. Porque, bem, você pode imaginar que isso não parou por aí. Eu tive que lidar com as consequências e meus próprios fantasmas.
Flashback.
Sentia-se fraca. Em todos os sentidos possíveis.
estava sentada no canto do quarto, como se quisesse fundir-se à parede. O suor frio escorria por todo seu rosto, enquanto seu queixo batia por conta de um frio inexistente. Provavelmente estava mais pálida que o normal e seu corpo estava realmente fraco, como se fosse desmaiar a qualquer momento.
A cor vermelha não saía de sua mente. A poça de sangue continuava a perturbar-lhe a consciência. Lembrava-se vagamente de como ficara; semi-dopada, sendo manuseada como uma marionete por qualquer pessoa que adentrasse aquele lugar. O desespero foi ainda maior do que o que sentia naquele momento. E a cada segundo que fechava os olhos, via mais vermelho.
Sangue.
Seu próprio sangue.
Escorrera-lhe as pernas e melecara-lhe as mãos, deixando-a tonta, com vontade de gritar.
Estava perdida no tempo e no espaço, estava perdida em si mesma. Estava perdida no que fizera; completamente banhada às lembranças tão vermelhas que lhe cercavam ali. Ainda sentia-se suja. Sentia-se escorrer, mesmo que já estivesse limpa — por fora, somente por fora, pensou.
Sentia-se desnorteada; banhada em sangue. Não aguentava mais tudo aquilo dentro de si, levando-a à beira da loucura.
Enxergando o vermelho.
Aquele vermelho que tornara-se a sua cor mais fria.
O quarto estava uma completa bagunça devido ao ataque de fúria de minutos antes, deixando a cena ainda mais melancólica e desesperadora. Tudo o que queria era parar de sentir aquelas coisas esquisitas e as dores internas que a dominavam quase por completo, queria ir embora, sumir daquela casa, daquela cidade, daquele mundo. Mas sequer tinha forças para manter-se de pé. Não tinha força para ao menos gritar alguém e revelar que estava, quem sabe, à beira da morte. No fundo, era assim que se sentia.
Morta.
Vazia, também.
Principalmente vazia.
A porta do quarto se abriu e não se deu o trabalho de encará-la. Continuou fitando o chão à sua frente com o olhar inexpressivo, sentindo a dor aumentar gradativamente. Pensou, por um momento, em pedir ajuda. Mas não estava conseguindo abrir a boca. Não conseguia sequer raciocinar direito. A garganta estava seca e o suor parecia mais forte, fazendo com que seus cabelos grudassem em sua testa e bochechas.
— ? — a voz de Camille ecoou por todo o quarto, fazendo-a, lentamente, erguer o olhar. Sentiu-se tonta no mesmo momento e engoliu a seco, tentando ignorar o enjoo que a tomara. Camille não obteve resposta da prima, vendo-se, então, obrigada a caminhar até a mesma. Foi a passos largos e por um segundo perguntou-se aquela era mesmo a que conhecia.
Ajoelhou-se em frente à prima e passou a mão por todo seu rosto, tentando tirar o suor que pingava e os cabelos que ali grudavam. Encarou-a nos olhos e viu-a completamente perdida, implorando por ajuda silenciosamente.
— O que aconteceu? — perguntou baixinho, enquanto tentava erguer a prima sozinha. — Você está há quanto tempo aqui sozinha? Que merda, , que merda. Vem, vou te levar ao hospital.
— Não… — murmurou, mas não tinha forças para contrariar Camille que continuava arrastando-a pelo quarto. — Hospital… Não.
Mas já era tarde, Camille já tinha em mente que a levaria dali. definitivamente não estava bem. E o maior medo de Camille naquele momento era de ver a prima morrer em seus braços. Logo, a passos rápidos, tirou forças do fundo de seu ser e carregou-a para fora até onde o carro antigo que possuía estava estacionado. Seus poucos anos a mais que lhe davam aquela vantagem; a de ter algo com que pudesse locomover-se pela cidade sem depender de ninguém.
— Vai ficar tudo bem, ok? — Camille murmurou, colocando-a no banco de carona e prendendo seus cabelos novamente. — Só por favor, aguente mais um bocado. Você não pode morrer agora, temos muito o que brigar.
Tudo o que conseguira fazer fora dar um sorriso fraco e suspirar ao mesmo tempo em que fechava os olhos. Em sua cabeça, conseguira sussurrar algo para que a prima ouvisse:
“Obrigada.”
Fim do flashback.
— Quando acordei no hospital — chamou a atenção de —, o médico disse que eu tive algumas complicações devido ao… Você sabe, ao aborto — ela apertou os dedos, fitando o chão. — E isso fez com que eu adquirisse uma dificuldade para engravidar ou manter a gravidez, ele foi bem claro que eu não conseguiria gerar um bebê normalmente. Quando a mulher passa por isso, nas condições que passei, ela acaba precisando de certos cuidados especiais. Principalmente na gravidez seguinte, o que já demora a acontecer ou nem mesmo acontece. É preciso repouso e muita supervisão médica. Eu nunca soube fazer repousos, aliás — encarou , que permanecia em silêncio. — A gravidez, após um aborto induzido, acaba se tornando de alto risco. Foi o meu caso. Antes de… — pausou e soltou um suspiro, encarando nos olhos. — Antes de perder o nosso, eu… Bem, eu passei pela mesma coisa. Foi uma felicidade momentânea, porque eu estava no auge da minha carreira e não quis parar. Pensei que estava tudo bem, mas não estava. Acabei não conseguindo ir até o fim da gestação, porque eu vivia numa correria sem fim. Me estressava demais, também. Foram coisas relativamente pequenas que fiz no início da gestação que fez com que tudo saísse do controle outra vez. E depois, parei de pensar sobre algum tratamento ou sei lá; estava quase conformada.
sentia um aperto indescritível no coração. Talvez fosse medo do que poderia ter acontecido, talvez fosse peso na consciência por sempre trazer à tona aquele assunto para a mulher que tanto amava. Sentia-se levemente culpado agora, depois de pedir para que tentasse novamente. Ouvir a história da jornalista o deixara totalmente boquiaberto, talvez com mais dó do que deveria. Mas, no fundo, sabia que a amava com todas as forças e fizera a escolha certa quando a aceitara por completo, quando a colocara em sua casa.
era muito mais forte do que pensava ser. Era muito melhor do que ele imaginava. Talvez ela fosse a melhor mulher de todo o Universo.
— Depois nos envolvemos… — começou a falar num tom baixo, a fim de ligar os pontos em sua própria cabeça. — E aconteceu de novo.
— Sim — praticamente sussurrou, pensando nas coisas que ainda precisava contar. Abrir parte de seu passado para ainda não era o suficiente. Ele precisava saber o quanto ela sabia sobre ele, precisava saber e principalmente entender o porquê de ambos estarem ali, o quanto ela lutou para que tudo acontecesse da forma que ela queria e o como tudo dera certo e errado ao mesmo tempo.
— Está tudo bem agora — murmurou encarando-a nos olhos. — Eu prometo que assim que voltarmos para Londres daremos um jeito.
— Esqueça isso, — deu um meio sorriso. — Pelo menos agora. Eu tenho mais coisas para te contar.
— Eu não quero saber — rebateu firmemente. — E precisamos sair daqui o mais rápido possível, logo eles voltarão a nos perseguir e nos encontrarão. Sem contar minhas primas, elas podem estar em perigo e…
— Eu me aproximei de você por interesse — o interrompeu, segurando-o pelo rosto e puxando-o em sua direção. — Eu sempre soube quem você é. Sempre soube tudo sobre você e seu passado.
Num pique só, levantou-se e caminhou meio sem saber para onde estava indo, na esperança de encontrá-lo logo. Era como se, em algum lugar no fundo de seu coração, gritasse que ela precisava encontrá-lo o mais rápido possível, talvez enchê-lo de beijos, talvez de perguntas. Só precisava vê-lo. Algo em suas entranhas gritavam que aquilo era necessário, como seu sexto sentido agindo e causando-lhe certo desconforto. não tinha muita noção da hora, talvez já fosse madrugada, não sabia dizer.
Ao chegar próximo à sala da casa, sentiu o cheiro de cigarro invadir as narinas. Um sorriso automático tomou conta de seus lábios, não por gostar de cigarro, mas por ter total certeza de que ele ainda estava ali e talvez não quisesse acordá-la ao fumar.
estava totalmente esparramado no sofá, com a cabeça jogada para trás, de calça jeans e sem camisa. Seu peito subia e descia de maneira serena, mas, a julgar por sua posição e a vontade que sugava o cigarro entre os dedos, estava apreensivo. Suas piscadas demoravam mais que o normal, fitava o teto e voltava a fechar os olhos enquanto cuspia a fumaça para fora. Estava incomodado.
Antes que pudesse abrir a boca, a encarou e, em questão de segundos, viu apenas o vulto de um objeto voar em sua direção. Em puro reflexo, segurou-o nas mãos. Quando se deu conta, tinha seu celular entre os dedos e o olhar pesado de sobre si. Assustou-se por alguns segundos e, no mesmo momento, ficou incomodada com todo aquele desdém que demonstrava. Fitou o aparelho nas mãos e, no primeiro impacto não entendeu bem o que o homem queria, mas, ao desbloquear a tela e observar o registro de ligações aberto, entendeu. Não era burra e sabia muito bem de quem era aquele número, só não sabia o porquê de estar com seu celular e com aquela parte em especial destacada no aparelho.
Quase em um sussurro dissimulado, disse:
— Não entendi.
— Sem problemas — respondeu enquanto apagava o cigarro no cinzeiro na mesa à sua frente e se levantava. — Eu te explico.
— Quer dizer… — tentou recomeçar. — Eu conheço o número, mas não entendo por que…
— Está aí? — a cortou. — É que alguém te enviou uma mensagem marcando um encontro. Fiquei um pouco enciumado, confesso, então decidi ligar para o número e descobrir quem era, por mais que seja errado. Peço desculpas por isso, , eu não queria desconfiar de você. Afinal, vivemos como um casal há praticamente três anos; eu não queria invadir sua privacidade, juro que não. — Pausou a fala para dar um sorriso triste. Aproximou-se mais da mulher e segurou-a pelo rosto, acariciando-a devagar, um carinho tão terno que sequer parecia irritado; estava anestesiado tamanho o susto que ainda sentia, seu choque e tristeza eram quase palpáveis. — Mas aí, na ligação, descobri que este número pertence a ninguém mais, ninguém menos que meu falecido irmão, .
— Eu…
— Desde quando? — a interrompeu mais uma vez, soltando o rosto que tanto admirava, dando um passo para trás. — Desde quando me engana com ele? Desde quando mente para mim? Melhor: alguma vez você já me disse a verdade? Porque eu sinceramente não sei mais.
cuspiu as palavras de maneira calma, mas magoada. Estava profundamente sentido, quase chorando. Seus olhos brilhavam fortemente, deixando claro as lágrimas que queriam transbordar — ele não estava conseguindo se conter.
abria e fechava a boca num ato desesperado de tentar pronunciar alguma fala, porém seu medo e susto eram tão grandes que continuava em total silêncio, parecendo uma louca sem saber como se defender. Sabia que aquilo poderia acontecer a qualquer momento, sabia que deveria ter aberto o jogo com o namorado desde o primeiro contato, mas seu instinto de jornalista falara mais alto; queria tentar juntar todas as informações sozinha antes de dizer qualquer coisa, queria tentar mostrá-lo provas concretas, queria fazer com que sentisse orgulho de tê-la ao seu lado. Mas, como também sabia, não era somente esse lado que falava alto. O medo de ter seu passado exposto também estava ali, escondido nas mais profundas memórias, mas estava. Não queria que descobrisse de onde aquele contato vinha, não queria que a deixasse por conta de coisas que já passaram. No fundo, ela sabia que jamais seria deixada, mas a insegurança continuava ali; e se ele não acreditasse em sua história? E se não a levasse a sério? E se desistisse de tudo? E se, e se, e se…?
— Eu não te engano com ele — foi a primeira coisa que disse antes de dar um passo para trás, sentindo-se exposta e frágil demais. — Nunca te enganei com ele. Eu só…
— Fingiu que ele estava morto — completou, ainda estranhamente calmo. — Por quê?
— Porque tive medo e porque eu queria que você soubesse na hora certa, ! — exclamou, começando a andar de um lado para o outro. — Eu queria tê-lo nas mãos antes de te contar qualquer coisa.
— Me responda: desde quando? — repetiu enquanto a encarava nos olhos e se aproximava novamente. — Não minta mais.
— Faz alguns… Meses… — respondeu num fio de voz. — Eu tentei te contar várias vezes, mas nunca achava ser a hora certa.
— Meses — riu. — Meses. É a primeira vez que mente para mim desta forma? Tem mais alguma coisa que eu ainda não saiba?
não respondeu, apenas fitou o chão. Tinha tantas coisas que não sabia. Em momentos como aquele em que a culpa voltava a tomar conta de todo seu corpo, a vontade de sumir da vida de crescia ainda mais, a vontade de morrer por esconder dele tantas coisas, o remorso pela forma que decidira aproximar-se dele e de todos ao seu redor quatro anos atrás, era quase massacrante. Um misto de sensações ruins que não desejava para ninguém. Com algumas lágrimas brotando nos cantos dos olhos, deixou escapar uma resposta que talvez não quisesse de fato falar, assim como não queria ouvir:
— Tudo… Eu te escondi e menti sobre tudo.
deu uma risada fraca e bagunçou os cabelos num ato de nervosismo. Uma parte de si não acreditava que aquela situação estava acontecendo, a outra, pelo contrário, já esperava aquilo tudo. Não que vivesse de desconfiança de , a amava com todas as forças que tinha, daria sua vida pela dela. Mas… algo em seu interior dizia que ela ainda escondia coisas importantes, podia ver nos olhares que vez ou outra ela lhe lançava, nos beijos culpados que compartilhavam. Não era como se ele fosse um santo, também tinha seus segredos obscuros que preferia não contá-la com detalhes, mas… Sentia-se imensa e profundamente traído naquele momento, por causa da situação específica. Era como se tivesse levado aquela típica apunhalada pelas costas; fora sua mulher com seu próprio irmão que, pior, estava morto. Antes isso não faria diferença; todos tinham seus próprios segredos. Mas se ela o enganava sobre seu falecido irmão, o que mais não escondia?
era um homem que carregava muitas culpas, mortes e remorsos em seu ser. Mas nunca fora capaz de mentir ao dizer que estava perdidamente apaixonado por aquela jornalista impulsiva e curiosa, não era mentira quando dizia que a protegeria de tudo e todos, que cuidaria dela até seu último segundo de vida; seu coração realmente batia mais forte por aquela mulher; e sabia que ela faria o mesmo por ele, e justamente por isso era difícil de aceitar aquela situação.
Estava tão perdido naquele momento que ao menos sabia o que dizer ou fazer, tudo o que passava em sua cabeça era sair daquele lugar e enfiar uma bala na cabeça de . Queria destruí-lo de uma vez por todas, como deveria ter feito tempos atrás, quando tivera a oportunidade perfeita. Deveria ter descido por aquele barranco, mesmo baleado e à beira da morte, para mirar a arma em sua testa e matá-lo sem sombra de dúvidas. Talvez aquilo não acontecesse caso ele o tivesse matado realmente.
Mas talvez também aquilo não aconteceria se tivesse dito toda a verdade para ele. Estava confuso, louco para sumir um bocado, afastar-se de toda aquela sujeira.
Em situações como aquela, via que não queria mais viver daquilo; queria e precisava de paz. Com ou sem .
— Por favor, me dá uma chance de te explicar tudo, mesmo que isso demore — pediu enquanto abraçava o próprio corpo e fitava o chão. Sentia tanto, tanto por aquilo estar acontecendo. — Eu só pensei que seria melhor…
— Esconder nunca é o melhor, — murmurou virando-se de costas para a mulher e caminhando em direção ao sofá mais uma vez, pegando uma camiseta que estava jogada por ali. — Você já deveria ter aprendido isso, meu amor. Mentir nunca, nunca é a melhor opção.
— Para onde você vai? — perguntou apreensiva ao vê-lo conferir se a arma estava carregada e prendê-la no cós da calça jeans em seguida. — …
— Eu vou acabar com isso de uma vez por todas.
Após dizer isso, não deu tempo para que fizesse ou dissesse algo. Simplesmente saíra porta afora com uma pressa incomum. Por um segundo sentiu medo, por outro, mágoa. Não pelo que estava fazendo, sabia o quão triste ele estava. Mas não era como se ela já não tivesse passado por aquilo com ele, não era como se ele nunca houvesse mentido. A diferença entre eles era que o passado de e tudo o que ele fizera viera à tona três anos atrás.
não se deu ao trabalho de ir atrás dele ou gritá-lo ou implorar para que ele ficasse. Nada adiantaria de qualquer forma. Tudo o que lhe restara fora jogar-se contra o chão e encolher-se entre a parede e um outro móvel qualquer, enquanto lágrimas silenciosas escapavam-lhe dos olhos, com soluços baixinhos vindo ao fundo.
A vida era uma coisa ironicamente engraçada. Em um piscar de olhos, tudo mergulhava no mais profundo caos. Sua vida estava devidamente enterrada e sob controle quando, de uma hora para outra, uma mulher dizendo sua mãe biológica apareceu, sua prima desgovernada voltou a ameaçá-la com seu passado, seus medos tomaram conta de seu corpo e voltaou a dar as caras depois de alguns dias adormecido.
Sua cabeça estava uma completa confusão, não sabia bem o que fazer ou falar. Só conseguia ter alguns flashes do motivo pelo qual se envolvera naquilo, no porquê de ter jogado toda sua vida montada fora para mergulhar de cabeça na vida investigativa e em campo para a polícia inglesa.
Fora tudo um jogo de interesse. Sentia-se burra. Porém, sobretudo, sentia-se sozinha. Sabia que voltaria, sabia que a aceitaria, sabia que a amava mais que tudo. Mas ainda estava ali sozinha. Passara de namorada perfeita e enxerida para desconhecida que deitava-se na cama de um policial famoso e apaixonado.
Ela o amava também, mais do que imaginou ser capaz de amar alguém.
As gargalhadas escapavam do fundo de sua garganta, como se tivesse acabado de assistir o filme mais engraçado de todo o Universo sendo que, na realidade, somente havia aberto o jogo e assumido que estava ali; são e salvo, vivo e pronto para voltar à briga.
sabia que logo o encontraria e estava tão ansioso por isso que todos seus pelos eriçavam-se somente com o pensamento de ver seu irmãozinho em sua frente mais uma vez. Queria tanto aquele reencontro, estava com saudades; das brigas, daquele olhar desesperado e medonho que costumava lançá-lo, sentia falta até mesmo da sede de vingança que o mais velho exalava, sentia falta da adrenalina. Nunca esqueceria o dia em que jogara toda a verdade para e assumira todas as besteiras que havia feito; sentira-se livre no mesmo momento e, ali, novamente, estava sentindo-se assim. Livre. Sendo o próprio sem mais precisar fingir-se de para a sociedade.
Agora, até o próprio sabia de sua verdadeira identidade, sabia que quem estava passando-se por ele era ninguém mais ninguém menos que o irmãozinho mais novo que deveria estar morto. Desta vez, planejara tudo diferente. Sabia que voltaria mais forte, mais vívido, mais enfurecido. E , obviamente, não ficaria tão diferente quando soubesse da verdade. Justamente por isso agira monitorando os mínimos detalhes daqueles planos que fizera enquanto estava morto no interior de algum país pequeno da Europa. Tivera todo o suporte de Lucy, sendo levado para longe logo que caíra naquele buraco terrível. Tivera a certeza que morreria, mas, por algum motivo, seu corpo aguentara toda a dor. Talvez fosse seu desespero e sede de vingança e curiosidade. Sempre quisera saber de onde viera, por que razão fora transformado naquele monstro enquanto fora simplesmente sufocado de amores pelo pai que deveria ser dos dois. Queria entender por que justamente ele que Castellamare escolhera para foder toda a família . Talvez tudo isso o houvesse segurado e o feito sobreviver. Assim que se vira completamente a salvo, começara a planejar sua volta triunfal. E como havia imaginado, tudo dera certo. Ninguém desconfiara quando, três anos depois, ele voltara a dar as caras por aí. Aparecera pela Itália como quem não queria nada, logo encontrando-se com Apolo, seu priminho maravilhoso que o ajudara nos mínimos detalhes enquanto buscava pela vingança da morte do pai. Não demorou muito para que os documentos ficassem prontos e ele passasse a ser, oficialmente, seu irmão: .
Não seria por muito tempo, somente o suficiente para atrair o restante da família , que o pobrezinho sequer desconfiava que existia; aquela parte italiana e apagada que o pai fizera questão de privá-lo de conhecer por medo de que descobrisse que a bandidagem, a máfia, vinha de berço. Estava no sangue dos ser mau caráter. Não era à toa que ele estava naquela família, embora não carregasse o sobrenome.
Perguntava-se se seu pai se orgulharia dele como se orgulhava de , mesmo sabendo todas as coisas ruins que o outro fazia mesmo quando era novo. Provavelmente não. E isso o fazia rir mais porque, no fundo, ainda continuava sendo um moleque revoltado que fora privado de amor. Fora criado sob o ódio do tio e a revolta de ter perdido a mãe sem sequer entender o porquê.
balançou a cabeça negativamente e levantou-se de uma vez, ajustando a roupa social que vestia. Empinou o nariz, mostrando-se superior a tudo ao seu redor, como sempre, e saíra de uma vez por todas da sala que Apolo montara para ele.
Estava o tempo inteiro embaixo do nariz de todos, mas eles preferiam não enxergar. Ou talvez a pessoa que ajudava Apolo naquilo tudo, na realidade, fosse forte e inteligente demais para que os fizesse pensar que nada aconteceria ali.
deixou que as lágrimas escorrem novamente enquanto xingava-se mentalmente. Poderia ter ao menos tentado fazer com que continuasse ali ao seu lado, mesmo que completamente emburrado e pronto para matar alguém. Sabia que se encontrasse com aconteceria uma desgraça. Sabia que alguém sairia morto e aquela não era a hora certa. Sua cabeça trabalhava a mil, bagunçada e dividida entre lembranças e o que poderia fazer para ajudar o homem que tanto amava.
Por algum motivo que desconhecia, suas lembranças estavam deixando-a completamente tonta e perdida na situação; não conseguia raciocinar, escolher se iria atrás de ou se ficava por ali remoendo o que estava acontecendo.
Um grito escapou-lhe a garganta, ao mesmo tempo em que levantava-se de onde estava. Estava frustrada, transtornada e tudo o que queria era colocar todos aqueles sentimentos para fora. Jogou um vaso qualquer que encontrara naquela sala contra a parede e bagunçou os cabelos em seguida. Precisava fazer alguma coisa antes que fosse tarde demais. Precisava abrir-se para .
Precisava esquecer seus malditos fantasmas do passado. Precisava esquecer sua maior dor. Precisava salvá-lo, nem que isso custasse sua própria vida. Sabia bem do que era capaz, sabia que planejava matar e inflar ainda mais seu ego, satisfazendo-se através da dor do outro. E não queria e nem iria permitir aquilo. Não enquanto soubesse tudo o que sabia.
Com esse pensamento, desistiu de destruir a sala que nem à ela pertencia. Correu até o quarto e trocou de roupas o mais rápido que conseguiu. Não se deu o trabalho de pegar nada além do celular, colocando-o no bolso da frente da calça que vestira. Sua mente estava completamente focada em apenas uma coisa: ir atrás de e salvá-lo de qualquer risco que estivesse correndo. Sabia que o melhor a fazer era esperar, não era um homem burro e com certeza sabia que ele apareceria onde quer que fosse.
não teve tempo de fazer muita coisa logo que saiu da casa, não lembrava bem como fazia para chegar no lugar que a mensagem de indicava e nem sequer sabia se teria um carro para isso, já que provavelmente usara o único que ficara para eles. Sua única esperança era recorrer à Emma, porém tinha total certeza que a amiga estava igualmente abalada, e não queria incomodar. Num momento que não devia, estava perdida numa briga interna.
Como se os céus ouvissem sua crise, ouviu um ronco de moto ao fundo e olhou para trás rapidamente, dando de cara com as duas primas de chegando. Um alívio percorreu todo seu corpo ao reparar bem e notá-las em cima de uma moto. Sorriu e correu de encontro às garotas, praticamente aos berros:
— Me emprestem essa moto!
Amanda, que tirava o capacete e soltava suas madeixas loiras, estreitou os olhos sem entender o que estava acontecendo.
— Ué, não sabia que você se aventurava sobre duas rodas — murmurou, enquanto Joanne a acompanhava com um olhar curioso. — O que está acontecendo? Por que a pressa?
— Você não sabe muitas coisas sobre mim, Amanda — respondeu e puxou o capacete da mão da garota, pouco se importando se machucaria suas mãos ou não. — Ou eu saio daqui agora com essa moto ou o seu primo morre.
As duas garotas arregalaram os olhos levemente e Joanne não hesitou em dar todo o espaço que precisava para montar no automóvel.
— Só tome cuidado, — Joanne pediu baixo, como sempre falava. — Acredito que você também não possa ficar dando as caras por aí.
— E não posso mesmo — sorriu para as garotas. — Mas não é como se eu não estivesse acostumada com isso. Obrigada, meninas. Eu juro que mando notícias quanto estiver com a salvo.
— E você vai assim, sozinha? Sem avisar a ninguém? Não seja louca como ele! — Amanda exclamou enquanto revirava os olhos. — Vocês ingleses não têm nada, absolutamente nada na cabeça!
não se deu ao trabalho de respondê-la, apenas enfiou o capacete na cabeça e montou na moto, acelerando-a em seguida. No segundo seguinte, tudo o que Joanne e Amanda viram fora a poeira que a mulher jogara para o alto ao dar partida.
Ao chegar no lugar marcado — em que quase morrera mais cedo —, acendeu um cigarro e apoiou-se numa parede suja qualquer, escondendo-se entre as sombras de uma pilastra e outra. Os cabelos totalmente bagunçados e maiores que deveriam caíam-lhe sobre a testa e olhos, vez ou outra atrapalhando sua visão, mas pouco se importava com aquilo. Sua cabeça estava a mil, tão a mil que sequer se deu conta de que seus cigarros já estavam no fim. Estava tão nervoso com toda a situação que estava vivendo com que ao menos notara o quanto fumara desesperadamente, um cigarro atrás do outro. Muito provavelmente até sua alma fedia àquela essência forte e levemente incômoda.
Um ronco de motor cortou todo o silêncio e a paz de que desfrutava. O cigarro permaneceu preso em seus lábios enquanto, ainda entre as sombras, observava mais à sua frente, vendo uma moto surgir em seu campo de visão com uma silhueta feminina sobre ela. Uma risada escapou-lhe os lábios junto à fumaça do cigarro, enquanto uma de suas sobrancelhas erguia-se de maneira curiosa. De cabeça erguida e a típica pose de nariz empinado, continuou fitando a mulher que se aproximava cada vez mais, tendo dificuldade em ver qualquer coisa que não fosse a silhueta da moto e de seu corpo.
A mulher guiou o bicho de duas rodas, fazendo uma pequena curva fechada, parando o automóvel e colocando um dos pés do chão para se apoiar. Não demorou muito para puxar o capacete e movimentar o pescoço, fazendo com que seus cabelos caíssem sobre os ombros em cascata ao mesmo tempo em que o vento os bagunçava.
Por um segundo, pensou que seu coração pararia. Principalmente ao reconhecer a mulher que agora descia da moto e corria os olhos por todos os cantos daquele imenso estacionamento, onde ainda haviam alguns destroços espalhados pelo acidente de mais cedo.
— ? — chamou num tom ameno, quase hipnotizado que foi o suficiente para que ela o escutasse e soltasse um suspiro aliviado, logo indo em sua direção.
— Ainda bem que te encontrei — murmurou enquanto deixava o corpo cair sobre o de , abraçando-o pela cintura num ato automático. — Você precisa sair daqui. Nós precisamos. vai tentar algo, por favor, vamos embora daqui.
— Você sabia dos planos dele também? — perguntou quase num sussurro, ainda com o corpo imóvel enquanto o abraçava, puxando-o para si cada vez mais. — E há quanto tempo você pilota motos? Tem mais alguma coisa sobre você que eu não sei? — estreitou os olhos, encarando a mulher que, agora, o soltava aos poucos. Sabia que já havia perguntado para se havia mais alguma coisa que ele não sabia, mas ela não parava de surpreendê-lo.
— Não sabia de nada, só deduzi — respondeu. — Há tempo o suficiente para ter certeza que vou conseguir te tirar daqui antes que venham te metralhar — continuou de maneira firme e determinada, como nunca havia visto antes. — E sim, tem algumas coisas que você ainda não sabe sobre mim, mas estou disposta a contar. Só vamos embora daqui, por favor.
Antes que pudesse abrir a boca para dizer qualquer outra coisa, uma luz forte no início do estacionamento os iluminou, fazendo-o levar o braço até o rosto para proteger os olhos e segurar a cintura de ao mesmo tempo, totalmente em estado de alerta. Faróis de carro. Não precisava de muito para saber que haveria outro — ou, quem sabe, outros — carro vindo logo em seguida.
Naquele momento sentira que realmente precisavam sair dali, mas, em sua cabeça, as dúvidas ainda dançavam livremente, como se quisessem todas resolvidas naquele mesmo instante. Sabia, porém, que mal teria a resposta para o “como ela sabe disso tudo?” que tanto ecoava em sua cabeça.
Não quiseram perder mais tempo e, como se estivessem conectados, caminharam a passos rápidos, juntos, até a moto que estava parada logo ali. Não demorou muito para o carro a alguns metros de distância acelerar para que se aproximasse o suficiente para executarem seu trabalho, seja lá qual fosse, fazendo com que ficasse ainda mais apreensivo. E se algo desse errado? Ambos morreriam fuzilados por aquele bando de marginais? Simples assim? No entanto, não tivera muito tempo para se preocupar, já havia jogado o capacete em sua direção e pulado sobre aquele negócio de duas rodas com uma maestria que ele nunca imaginara que ela teria.
Ainda levemente assustado e completamente encantado, enfiou o capacete na própria cabeça um tanto contrariado, já que ficaria sem nada para protegê-la, e montou na moto em seguida.
— Quem é você e o que fez com a que conheço? — perguntou num tom debochado e um sorriso ladino nos lábios, fazendo com que, mesmo no meio daquela situação, desse uma risada fraca já montada sobre a moto. A fim de provocá-lo e talvez deixá-lo apreensivo ao ver que armas já eram expostas pelas janelas do carro logo atrás deles, virou o pescoço para trás, apoiando o queixo no ombro e fitou , que se ajeitava logo atrás dela. Encarou-o por alguns segundos e mordeu o lábio inferior em pura excitação por estar mostrando-se como realmente era. Por fim, deixou um sussurro lhe escapar a boca:
— Não precisa agradecer por eu estar salvando sua vida, meu amor. Agora segure-se.
E então a primeira rajada de tiros ecoou por todo o espaço antes tão silencioso. não hesitou em acelerar e segurou-a pela cintura com força, com uma das mãos, fazendo o possível para não cair dali e levá-la junto. Com a mão livre, arrancou a arma que estava no cós de sua calça e mirou-a para trás mesmo sem saber se aquilo daria certo. Às cegas e completamente vidrado na adrenalina que viviam e no vento que cortava seu corpo, apertou o gatilho quantas vezes lhe fora possível. Atrás de si, os homens também atiravam em sua direção, mas realmente estava veloz em cima daquela moto. Ele poderia jurar que ela sorria enquanto balançava, vez ou outra, a cabeça para tirar seus cabelos do rosto. Podia jurar também que ela realmente salvara sua vida. E, pela primeira vez, em meio a um tiroteio que parecia não ter fim e lhe ensurdecer aos poucos, teve a total noção de que fora burro o suficiente para deixar o impulso tomar-lhe o corpo e ir até aquele encontro.
Encontro este que lhe daria como presente sua própria morte.
— Será que , à essa hora, já está finalmente morto?
A frase cortou a sala, fazendo com que saísse de seu transe e encarasse o primo, que se encontrava apoiado no batente da janela enquanto fumava um cigarro.
— Não faço ideia, priminho — suspirou. — A vadia deve ter vindo salvá-lo. — Por que você não acabou com tudo quando teve chance, ? — Apolo perguntou de maneira séria, virando-se para o outro e encarando-o de forma curiosa após livrar-se da binga de cigarro. — Creio que tenham sido muitas nesses últimos três anos.
— Por que você não acabou com tudo quando teve a chance, Apolo? — repetiu a pergunta, direcionando-lhe o olhar curioso que anteriormente era jogado sobre ele.
— Porque algo me disse para esperar. Esperei e, veja só, priminho, você se revelou para mim — Apolo sorriu. — E não era como se eu já não soubesse que era você esse tempo inteiro. Mas saiba que a morte do pai das fedelhas caiu nas minhas costas, mas tudo bem.
soltou uma risada fraca, murmurando em seguida:
— Aquilo foi necessário.
— Foder a Amanda nas horas vagas também foi necessário? — Apolo rebateu, erguendo uma das sobrancelhas. — Nossa priminha é linda, realmente. Mas estamos aqui a trabalho, .
— A trabalho ou não, eu precisava me distrair de alguma forma e tirar qualquer resquício meu daqui. Precisava fazer com que aceitassem o novo e não desconfiassem de mim — revirou os olhos. — Eu não me meto quando você está com aquela mulherzinha metida a roqueira de quase trinta anos.
— Não fale da Jullie — Apolo pediu calmamente. — A questão aqui, priminho, é que preciso que cumpra o que combinou. Caso contrário, você sabe, eu não vou hesitar em te matar.
— Estou cumprindo com nosso combinado, não seja tão radical — riu e se levantou, fitando o primo de perto. — Eu também não hesitaria em te matar caso você ameaçasse meus negócios, Apolo. Na verdade, eu posso matá-lo agora se eu quiser.
Um silêncio pesado instalou-se na sala naquele momento. Nem mesmo as respirações fracas de ambos faziam ruídos por ali, deixando a tensão mais explícita. Ambos, em movimentos lentos, levaram as mãos para trás dos corpos.
— Eu também posso te matar agora se me der vontade, — Apolo sussurrou e, num movimento rápido, sacou a arma que sempre carregava consigo, fazendo com que também puxasse uma de suas costas na mesma velocidade.
Com a tensão quase palpável naquele lugar, os primos miravam as armas uma para a cabeça do outro, encarando-se sempre nos olhos e respirando fundo enquanto sorrisos contornavam seus lábios. Estavam se divertindo com aquilo tudo. Porém, no fundo, tiveram a certeza que estavam trabalhando em conjunto somente por algum tempo. Eram inimigos no fim das contas.
Cerca de dois minutos se passaram e ambos abaixaram as armas ao mesmo tempo, não conseguindo segurar as gargalhadas que escaparam juntas, mostrando que ao menos se importavam com aquilo; não tinham medo de morrer. Com o que mexiam o tempo inteiro, poderiam morrer a qualquer momento. Poderia entrar um tiro pela janela e acertar os dois, assim como poderiam atravessar a rua e um carro qualquer pará-los e assassiná-los em praça pública. Não se importavam nem um pouco com aquilo, faziam pelo dinheiro, pelo prestígio, pela vingança. Num movimento rápido e que Apolo não esperava por ainda estar perdido entre risadas, acertou-lhe um soco em cheio no rosto, fazendo-o cambalear para trás enquanto segurava o próprio queixo, sentindo-o doer. Fechou e abriu os olhos com força, ignorando o gosto de sangue que tomava conta de seu paladar aos poucos.
— Isso é para você aprender a nunca mais me ameaçar — murmurou com um sorriso nos lábios, fazendo com que Apolo risse novamente e revirasse os olhos.
Não se importava em levar porradas; já levara e dera tantas que nem fazia diferença. Mas aquele soco o deixara levemente afetado; parecia que queria brincar com seu ego sempre tão inflado, queria ameaçar sua masculinidade e segurança interior. Porém tentou não se abalar tanto.
— Parece que alguém aqui andou treinando como se dá socos, não é, priminho? — Apolo murmurou ainda sorrindo e caminhando devagar até onde estava. Parou de frente para o primo e, ainda encarando-o sem fingindo não se importar, esticou-se com a mão que não segurava a arma até a mesa que ficava ao lado do primo. Ali ficava o baldinho metálico com gelo para seu uísque de marca. Enfiou a mão por ali e puxou duas pedras de gelo, levando-as até o rosto.
Num movimento que também não esperava por achar que o primo não o revidaria, Apolo ergueu a mão que ainda segurava a arma e acertou o objeto contra o rosto do primo com força, fazendo-o cambalear também e soltar um murmúrio de susto e dor. Não demorou muito para um filete de sangue escorrer no canto dos lábios de por conta da pancada.
Levar um soco era muito diferente de levar uma porrada com a arma na cara, pensou. Fora ingênuo demais em achar que Apolo não o revidaria; mas era claro que sim. Talvez aquela fosse a forma de selarem outro acordo e ficarem em paz com aquilo, focando somente no que deveriam fazer juntos, pegar cada um a sua parte do dinheiro e sumir do mapa novamente.
Apolo aproximou-se do primo mais vez, que o fitava enfurecido, e murmurou:
— E isso é para te mostrar que não me intimido com você. Nunca mais encoste em mim, .
O som de pneu arrastando sobre o asfalto ecoou por toda a rua vazia e desconhecida, fazendo com que virasse para frente e agarrasse a cintura da mulher à sua frente com força. Implorava mentalmente para que aquela coisa não virasse e os jogasse em direção à morte. Porque era mais que óbvio que o carro que corria em alta velocidade atrás deles queria isso, a morte de ambos. Se caíssem daquela moto seria a oportunidade perfeita para que tivesse sucesso em mais uma falcatrua.
O vento batia com força contra ambos os corpos banhados em adrenalina, fazendo com que, no fundo, sentissem aquela ponta de liberdade, como se fossem capazes de sumirem por completo depois que se livrassem daqueles marginais. Era como se… Realmente quisessem aquilo; sumir. Desaparecer. Esquecer de tudo aquilo. Num ato desesperado ao ver que o motorista do carro não desistiria, subiu numa calçada qualquer, cortando para o outro lado da rua, onde era mais escuro ainda. Esperava com todo seu coração conseguir achar um lugar que pudesse se infiltrar para escondê-los de uma vez. Queria sentir-se salva.
— À direita. Vire à direita — gritou ao notar que conhecia um bocado daquelas ruas. — Há vários becos por ali, enfie-se no mais estreito que encontrar!
E o obedeceu, aumentando ainda mais a velocidade daquela moto que parecia que ia desmontar a qualquer segundo. Não demorou muito para encontrar um lugar que pudesse passar de moto e, em desespero, foi. Jogou-se na escuridão de um dos becos que encontrara e passara para uma outra rua desconhecida e vazia. Continuou seguindo, agora com a velocidade menor. Olhando em volta, conseguiu encontrar um beco ainda mais estreito e escuro que o de que saíra, e sem pensar duas vezes seguiu para o mesmo.
Ao notarem que não se ouvia mais nenhum barulho, nem de carros e nem gritos, desacelerou totalmente a moto e estacionou-a em meio à escuridão que tomava aquele espaço abafado. não demorou muito para arrancar o capacete de sua cabeça e pular da moto em seguida.
— Você está bem? — ela perguntou baixo, encarando o homem nos olhos.
— Estou, eles não me acertaram — respondeu com um sorriso fraco e parou de frente para , que continuava montada na moto. — E você?
— Sim, estou. Só fiquei preocupada porque você estava atrás… — ela sorriu fraco enquanto saía de cima da moto, parando em frente a em seguida. — Eu tive tanto medo…
deixou escapar uma risada fraca e puxou-a pela cintura, colando-a em seu corpo num abraço carinhoso que mostrava tudo o que não sabia como dizer. Queria saber de tudo o que atormentava a cabeça da mulher que amava, sim, queria, mas, acima de tudo, a queria bem. E vê-la frágil daquele jeito logo após salvar suas vidas era de partir o coração, o que fazia com que ele só a quisesse entre seus braços. As explicações viriam depois, sempre vinham. Ele sabia que, por mais que tivesse escondido coisas importantes, ela tinha lá seus motivos. Não concordava, de jeito nenhum, mas também não queria perdê-la. Se ela fora capaz de perdoá-lo depois de tantos erros, depois de destruir tantas vidas, por que ele não a perdoaria também?
— Quando eu tinha dezoito anos… — começou, devagar, num sussurro. tentou soltar-se dela para encará-la, porém foi preso pelas mãos da mulher que, agora, forçava-se mais contra ele. — Só… Só escute. Quando eu tinha dezoito anos aconteceram muitas coisas comigo que influenciaram muito no que sou hoje… Foram situações difíceis que tive que aprender a me virar sozinha, sem poder contar a verdade para ninguém…
Flashback.
Anos atrás...
deixou um suspiro escapar dos lábios e fechou os olhos por alguns segundos, passando as mãos pelos cabelos. Estava perdida, completamente perdida. Não sabia mais o que fazer, com quem falar, para onde ir.
Tinha míseros dezoito anos e acabara de ser aceita na universidade dos sonhos, para o curso dos sonhos. Mas, como se tudo estivesse desmoronando desde que conhecera aquele maldito garoto, Chace, recebera mais uma péssima notícia. Sabia que algo daria errado, tinha total certeza. Só não entendia o porquê de não ter escutado as pessoas à sua volta de uma vez por todas. Talvez pela adrenalina, talvez pelo prazer de ser do contra e poder viver como quisesse. Agora estava ali, sozinha, chorando em seu quarto e sentindo uma culpa esmagadora tomar conta de seu interior.
— O que aconteceu, hein, garota? — o grito de Camille ecoou por todo o quarto que, só naquele momento, notou estar com a porta aberta.
— Nada, inferno, nada! — gritou de volta e se levantou para empurrar a porta com força, fazendo-a bater na cara da outra e fechar-se num estrondo violento.
Algumas poucas lágrimas rolaram por seu rosto angelical mais uma vez, fazendo-a pensar se aquilo realmente estava acontecendo. Não sabia como dizer a ninguém o que estava acontecendo. Até porque, bem, a única pessoa que de fato deveria ajudá-la e saber de tudo o que estava acontecendo lhe dera uma risada debochada em resposta.
jogou-se na cama novamente e pegou o papel com as mãos trêmulas, lendo-o mais um milhão de vezes sem conseguir acreditar naquelas palavras. O que tinha em mãos nada mais era que um exame médico que dizia com todas as letras que ela estava grávida. No auge de seus dezoito anos, provando para todos que conseguira ingressar numa universidade de alto escalão, estava grávida. Carregava uma criança dentro de si por conta de um deslize. Não sabia bem o que fazer porque tinha duas opções e uma delas a perturbava por completo. A primeira era ter a criança e desistir de todos os seus sonhos para que desse um bom futuro à ela; a segunda, nada mais era a que Chace lhe propusera enquanto a olhava nos olhos e lhe dava uma risada debochada, já que pouco se importava: o aborto. Sua cabeça estava uma completa bagunça, porque não tinha dinheiro para nenhuma das duas e com toda certeza do Universo sua tia a colocaria para fora de casa, por não ter mais como alimentar mais uma boca. já estava ali puramente de favor, porque seus pais haviam falecido há pouco tempo e ela simplesmente não soubera lidar com a dor, dando toda a dor de cabeça para a tia que Camille não dava. Ou, se dava, elas escondiam muito bem.
Ainda tonta e na confusão de saber o que fazer ao mesmo tempo em que não, se levantou e saiu casa afora. Ignorou completamente a chuva de perguntas da tia e da prima e rumou para a rua. Encontraria o namorado e diria de uma vez sua decisão. Certa ou não, precisava pensar em seu futuro e em si mesma, era jovem demais para lidar com aquilo, nunca pensara que passaria por tudo aquilo. Estava vivendo sua primeira crise existencial, seu primeiro fim do mundo.
Após correr por alguns minutos, parou em frente à casa do namorado. Não bateu na porta, tampouco se dera o trabalho de gritá-lo e avisá-lo que estava ali novamente. Caminhara às pressas até o quarto do garoto, de onde a música alta saía. Muito provavelmente estava ali desfrutando de seu cigarro enquanto berrava aquela música ridícula que ouvia. Adentrou o cômodo sem se importar se ele a empurraria para fora novamente, se ele ficaria com raiva ou qualquer coisa assim. Em seguida, desligara o rádio e parara de frente para ele, que assistia tudo em silêncio, sem entender absolutamente nada.
— Você vai arranjar a grana? — perguntou, fazendo-o erguer uma das sobrancelhas. — Me responda, Chace!
— Eu já estou com a grana — ele respondeu. — Eu sabia que você viria ainda hoje, , você é previsível.
— Eu sinceramente não sei onde estava com a cabeça quando decidi me envolver com você — ela murmurou sem encará-lo. — Você fez da minha vida um inferno quando eu pensei que poderia me dar um ombro amigo e me consolar pela morte dos meus pais.
— Pensou errado, meu amor. Agora pegue o dinheiro, eu já liguei para o amigo do meu pai — Chace jogou um envelope grande contra o corpo franzino da garota. — Eu não vou com você.
— O quê? — perguntou, confusa. — Você quer que eu encare… Aquilo… Sozinha? Que tipo de humano você é?
— Do tipo que não quer essa criança e nem ver o rumo que ela vai tomar — rebateu friamente. — Eu sempre disse isso para você, . Não finja que não sabia.
Com os olhos lacrimejando, apertou o envelope contra o corpo e aproximou-se mais do outro, falando em seguida:
— Eu não quero nunca mais ver você depois disso.
O garoto sorriu ladino e encarou-a no fundo dos olhos, com firmeza e frieza, sussurrou:
— Pois saiba que eu também não quero mais ver você. Nossa brincadeira acaba aqui.
voltou para casa cabisbaixa, pensando no que diabos faria de sua vida, no que estava acontecendo, como lidaria com toda aquela culpa. Porém, no fundo, no fundo sabia que aquilo era o melhor. Fora preciso aquele tombo gigantesco para que acordasse e visse o quão burra fora ao não ouvir as pessoas à sua volta que sempre lhe disseram para que caísse fora daquele rapaz. Nunca mais cometeria o mesmo erro.
Fim do flashback.
fungou e virou-se de costas para , evitando encará-lo nos olhos e deixar claro que chorava. Ele não precisava vê-la naquele estado novamente, já bastava conhecer um pouco de sua história e toda a dor que lhe atormentava. Lidar com aquele peso nas costas e o arrependimento no fundo de seu coração sempre fora muito difícil, colocar tudo para fora e compartilhar com a deixava, de certa forma, leve, porém, ao mesmo tempo, fazia com que voltasse no tempo e se visse novamente naquela situação, fazendo as mesmas burradas e sendo a garota inconsequente de sempre.
— Depois disso — voltou a falar —, fui à clínica que ele havia falado. Não chamei ninguém, até porque eu nem ao menos tinha explicado o que estava acontecendo. Já havia feito burradas demais para chegar e dizer tudo, nos mínimos detalhes, para minha tia. E no fim das contas ela me faria desistir da faculdade, o que era minha última opção. Sabe, — virou-se para ele. — Eu nunca tinha pensado nessa opção até aquele dia. Não foi certo, eu sei que não foi. Mas eu tinha duas opções: uma era ser mãe solteira aos dezoito, ter que trabalhar e ir embora da casa da minha tia sem ter nenhuma noção da vida; a outra: foi fazer o que fiz e chegar aqui, onde estou agora. Foi uma decisão difícil e eu vou carregar essa culpa comigo para sempre, mas eu não consigo me arrepender. Era a única opção viável no momento.
— … — tentou falar mas a mulher virou-se para ele novamente, com um sorriso leve nos lábios e os olhos ainda derrubando algumas lágrimas.
— Shhh — murmurou, voltando a narrar sua história: — Eu não tinha maturidade o suficiente para ser mãe, nem tinha mais a minha ao meu lado para me ajudar e me dizer o que poderia acontecer. Fui inconsequente e revoltada após tudo que me aconteceu, fui, sim, fui. E me arrependo disso: das minhas inconsequências. Mas não adianta chorar agora, já passou. De certa forma, superei. Precisei de muita coragem para tudo o que fiz e para lidar com o depois. Porque, bem, você pode imaginar que isso não parou por aí. Eu tive que lidar com as consequências e meus próprios fantasmas.
Flashback.
Sentia-se fraca. Em todos os sentidos possíveis.
estava sentada no canto do quarto, como se quisesse fundir-se à parede. O suor frio escorria por todo seu rosto, enquanto seu queixo batia por conta de um frio inexistente. Provavelmente estava mais pálida que o normal e seu corpo estava realmente fraco, como se fosse desmaiar a qualquer momento.
A cor vermelha não saía de sua mente. A poça de sangue continuava a perturbar-lhe a consciência. Lembrava-se vagamente de como ficara; semi-dopada, sendo manuseada como uma marionete por qualquer pessoa que adentrasse aquele lugar. O desespero foi ainda maior do que o que sentia naquele momento. E a cada segundo que fechava os olhos, via mais vermelho.
Sangue.
Seu próprio sangue.
Escorrera-lhe as pernas e melecara-lhe as mãos, deixando-a tonta, com vontade de gritar.
Estava perdida no tempo e no espaço, estava perdida em si mesma. Estava perdida no que fizera; completamente banhada às lembranças tão vermelhas que lhe cercavam ali. Ainda sentia-se suja. Sentia-se escorrer, mesmo que já estivesse limpa — por fora, somente por fora, pensou.
Sentia-se desnorteada; banhada em sangue. Não aguentava mais tudo aquilo dentro de si, levando-a à beira da loucura.
Enxergando o vermelho.
Aquele vermelho que tornara-se a sua cor mais fria.
O quarto estava uma completa bagunça devido ao ataque de fúria de minutos antes, deixando a cena ainda mais melancólica e desesperadora. Tudo o que queria era parar de sentir aquelas coisas esquisitas e as dores internas que a dominavam quase por completo, queria ir embora, sumir daquela casa, daquela cidade, daquele mundo. Mas sequer tinha forças para manter-se de pé. Não tinha força para ao menos gritar alguém e revelar que estava, quem sabe, à beira da morte. No fundo, era assim que se sentia.
Morta.
Vazia, também.
Principalmente vazia.
A porta do quarto se abriu e não se deu o trabalho de encará-la. Continuou fitando o chão à sua frente com o olhar inexpressivo, sentindo a dor aumentar gradativamente. Pensou, por um momento, em pedir ajuda. Mas não estava conseguindo abrir a boca. Não conseguia sequer raciocinar direito. A garganta estava seca e o suor parecia mais forte, fazendo com que seus cabelos grudassem em sua testa e bochechas.
— ? — a voz de Camille ecoou por todo o quarto, fazendo-a, lentamente, erguer o olhar. Sentiu-se tonta no mesmo momento e engoliu a seco, tentando ignorar o enjoo que a tomara. Camille não obteve resposta da prima, vendo-se, então, obrigada a caminhar até a mesma. Foi a passos largos e por um segundo perguntou-se aquela era mesmo a que conhecia.
Ajoelhou-se em frente à prima e passou a mão por todo seu rosto, tentando tirar o suor que pingava e os cabelos que ali grudavam. Encarou-a nos olhos e viu-a completamente perdida, implorando por ajuda silenciosamente.
— O que aconteceu? — perguntou baixinho, enquanto tentava erguer a prima sozinha. — Você está há quanto tempo aqui sozinha? Que merda, , que merda. Vem, vou te levar ao hospital.
— Não… — murmurou, mas não tinha forças para contrariar Camille que continuava arrastando-a pelo quarto. — Hospital… Não.
Mas já era tarde, Camille já tinha em mente que a levaria dali. definitivamente não estava bem. E o maior medo de Camille naquele momento era de ver a prima morrer em seus braços. Logo, a passos rápidos, tirou forças do fundo de seu ser e carregou-a para fora até onde o carro antigo que possuía estava estacionado. Seus poucos anos a mais que lhe davam aquela vantagem; a de ter algo com que pudesse locomover-se pela cidade sem depender de ninguém.
— Vai ficar tudo bem, ok? — Camille murmurou, colocando-a no banco de carona e prendendo seus cabelos novamente. — Só por favor, aguente mais um bocado. Você não pode morrer agora, temos muito o que brigar.
Tudo o que conseguira fazer fora dar um sorriso fraco e suspirar ao mesmo tempo em que fechava os olhos. Em sua cabeça, conseguira sussurrar algo para que a prima ouvisse:
“Obrigada.”
Fim do flashback.
— Quando acordei no hospital — chamou a atenção de —, o médico disse que eu tive algumas complicações devido ao… Você sabe, ao aborto — ela apertou os dedos, fitando o chão. — E isso fez com que eu adquirisse uma dificuldade para engravidar ou manter a gravidez, ele foi bem claro que eu não conseguiria gerar um bebê normalmente. Quando a mulher passa por isso, nas condições que passei, ela acaba precisando de certos cuidados especiais. Principalmente na gravidez seguinte, o que já demora a acontecer ou nem mesmo acontece. É preciso repouso e muita supervisão médica. Eu nunca soube fazer repousos, aliás — encarou , que permanecia em silêncio. — A gravidez, após um aborto induzido, acaba se tornando de alto risco. Foi o meu caso. Antes de… — pausou e soltou um suspiro, encarando nos olhos. — Antes de perder o nosso, eu… Bem, eu passei pela mesma coisa. Foi uma felicidade momentânea, porque eu estava no auge da minha carreira e não quis parar. Pensei que estava tudo bem, mas não estava. Acabei não conseguindo ir até o fim da gestação, porque eu vivia numa correria sem fim. Me estressava demais, também. Foram coisas relativamente pequenas que fiz no início da gestação que fez com que tudo saísse do controle outra vez. E depois, parei de pensar sobre algum tratamento ou sei lá; estava quase conformada.
sentia um aperto indescritível no coração. Talvez fosse medo do que poderia ter acontecido, talvez fosse peso na consciência por sempre trazer à tona aquele assunto para a mulher que tanto amava. Sentia-se levemente culpado agora, depois de pedir para que tentasse novamente. Ouvir a história da jornalista o deixara totalmente boquiaberto, talvez com mais dó do que deveria. Mas, no fundo, sabia que a amava com todas as forças e fizera a escolha certa quando a aceitara por completo, quando a colocara em sua casa.
era muito mais forte do que pensava ser. Era muito melhor do que ele imaginava. Talvez ela fosse a melhor mulher de todo o Universo.
— Depois nos envolvemos… — começou a falar num tom baixo, a fim de ligar os pontos em sua própria cabeça. — E aconteceu de novo.
— Sim — praticamente sussurrou, pensando nas coisas que ainda precisava contar. Abrir parte de seu passado para ainda não era o suficiente. Ele precisava saber o quanto ela sabia sobre ele, precisava saber e principalmente entender o porquê de ambos estarem ali, o quanto ela lutou para que tudo acontecesse da forma que ela queria e o como tudo dera certo e errado ao mesmo tempo.
— Está tudo bem agora — murmurou encarando-a nos olhos. — Eu prometo que assim que voltarmos para Londres daremos um jeito.
— Esqueça isso, — deu um meio sorriso. — Pelo menos agora. Eu tenho mais coisas para te contar.
— Eu não quero saber — rebateu firmemente. — E precisamos sair daqui o mais rápido possível, logo eles voltarão a nos perseguir e nos encontrarão. Sem contar minhas primas, elas podem estar em perigo e…
— Eu me aproximei de você por interesse — o interrompeu, segurando-o pelo rosto e puxando-o em sua direção. — Eu sempre soube quem você é. Sempre soube tudo sobre você e seu passado.
Capítulo 18
encarava o nada à sua frente. O copo plástico de café em suas mãos estava praticamente vazio, assim com o cigarro em seus dedos jazia queimando para o nada; estava tão perdido que esquecera até mesmo de seus vícios. No fundo, na verdade, queria uma boa dose de bebida alcoólica e os lábios de sobre os seus.
.
Céus, somente em lembrar-se de seu nome todo seu interior se agitava de maneira alucinante, deixando-o à beira da loucura. Suas palavras, seu desabafo e suas confissões ainda ecoavam por seus ouvidos, como se ela estivesse repetindo tudo aquilo num loop infinito. Como se quisesse torturá-lo ao máximo, embora essa não fosse sua intenção de fato.
sabia que tudo que lhe confessara fora para seu próprio bem, precisavam daquele momento de esclarecimentos se quisessem de fato continuar ali e com aquele relacionamento. Queria agarrar-se fielmente a isto, à hipótese e que tudo aquilo faria bem, mas seu coração ainda doía.
— Me desculpe por ter mentido tanto — finalmente disse, fazendo-o lembrar-se que ela ainda estava ao seu lado. — Eu queria saber sobre você, sobre o porquê dos meus pais confiarem em seu pai. E eu sabia que você estava envolvido em tudo. Foi quase como uma obsessão — riu, encarando-o de soslaio. — Acabei perdidamente apaixonada. Queimei qualquer coisa que pudesse te incriminar mais, mesmo sabendo que algumas coisas você realmente havia feito.
— E quando soube disso tudo aqui? — perguntou, apontando para onde se encontravam na intenção de representar Palermo.
— Não sei ao certo — respondeu sincera. — Eu não queria fazer tudo de novo. Procurei Elizabeth e pedi ajuda. Resolvemos procurar juntas.
— Sem me consultar, para variar — acordou, finalmente virando-se para fitá-la nos olhos. — Vocês não podem resolver tudo sozinhas sempre. E por que diabos a Elizabeth?
— Porque ela te conhece tão bem quanto eu — respondeu. — Descobrimos sobre seu irmão... , sobre . Estávamos prontas para contar quando ele entrou em contato comigo. Foi tudo muito rápido. Eu não levei a sério, mas fiquei assustada. Não disse nada porque não sabia em quem confiar.
— Você não confia em mim? — perguntou, direto. — Você confia mais na minha ex-namorada?
— Você correria para cá — explicou. — Contaria ao Charlie. Vocês matariam o , como fizeram com outros mil inimigos. E eu sei exatamente o porquê.
— Tudo bem, que seja — engoliu a seco. — O que tivemos... Também foi uma mentira, um interesse seu em comum com Elizabeth?
— Não — respondeu sem qualquer hesitação. — Eu te amo. Te amei quando me beijou. Te amei quando me tocou pela primeira vez. Te amei até mesmo quando dei ouvidos ao Crowley. Eu te amei todo esse tempo, . Só não tive a coragem que precisava. Hoje não pude fugir disso. Eles matariam você.
— Foram meses, — murmurou. — Você me escondeu tudo por meses.
— Eu precisava ter certeza — se aproximou, sentindo-se derreter ao ouvir o apelido que raramente lhe era usado. — Eu desconfiava que era alguém querendo te ameaçar. Você é muito pior do que eu no quesito impulso. Contudo... Me arrependo. Por isso decidi relembrar minha própria história e abrir o jogo com você. Eu precisava que você me conhecesse mais, que soubesse de toda a verdade. Agora precisamos ficar juntos; trabalhar juntos. Somos só nós dois.
— O que quer dizer com isso? — a fitou. — Não confia em nossos amigos, que são a nossa família?
— Não confio nas pessoas daqui e no poder que elas têm — explicou. — ... Não sabemos com quem estamos lidando. Você não é nada aqui, enquanto seu irmão é tudo.
— Ele se passa por mim durante três anos em outro país e, além de ninguém desconfiar e ir atrás, eu que não tenho valor? — amassou o copo e cigarro entre os dedos. — Do que diabos está falando?
— manda na Itália e você...
— Mando na Inglaterra — a cortou. — E sou o verdadeiro e único .
— Aqui eles pensam o contrário — o segurou pelo rosto. — Para eles, você é o impostor. Não podemos nem vamos confiar na polícia italiana.
sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo; nunca estivera daquela forma. A mulher diante de seus olhos estava mais determinada que o normal, seus olhos brilhavam em total sede de vingança e suas palavras eram sinceras o suficiente para fazê-lo engolir o orgulho e, às cegas, confiar em qualquer que fosse seu plano. Mesmo que seu coração estivesse ferido pela enxurrada de mentiras que lhe foram explicadas... Precisava confiar em sua garota, em seu amor. Não queria destruir toda aquela história por conta de coisas que, assim como ele, ela preferia manter dentro de si. Mesmo que isso envolvesse sua própria história.
No fim das contas, sempre estivera interligado à . Eram um só mesmo quando não queriam e fugiam um do outro; suas histórias eram iguais, fizeram sacrifícios demais para estarem ali.
E sabia que ainda tinha muito o que descobrir. era sua caixinha de pandora; misteriosa e encantadora, carregada de surpresas e segredos que poderiam salvar tudo à sua volta; quiçá suas próprias vidas e todo o mundo. era muito mais que todos esperavam; que ele esperava.
— E o que faremos se encontrarmos nas próximas horas? — perguntou, querendo, pela primeira vez, ouvi-la de verdade e entender seus planos; a relação poderiam discutir depois, na Inglaterra, no aconchego de seu apartamento e sob os lençóis.
lhe deu um sorriso e roçou seus lábios, respondendo num sussurro:
— Mataremos.
****
Londres, Inglaterra.
O dia já estava claro quando o som do celular de Colbie ecoou por todo o local, fazendo com que Nicholas, na cama ao lado, se mexesse incomodado ao mesmo tempo que balbuciava coisas sem sentido. Ainda sonolenta, Colbie esticou-se para pegar o aparelho. Desligou o mais rápido que conseguiu e se espreguiçou sobre a cama que Elizabeth havia preparado.
— Bom dia, Nicholas. Hora de acordar. Temos aula e meu pai logo estará aqui — a menina murmurou, pendurando-se em sua própria cama para sacudir o amigo do outro lado. — Por favor, não podemos nos atrasar hoje.
— Não quero ir para a aula hoje, e muito menos ver seu pai — respondeu, virando-se para o outro lado.
Colbie riu divertida e pulou da sua cama, seguindo para a do amigo e sentando-se sobre suas costas.
— Não faça assim, vamos — murmurou, abraçando-o como um coala faz com as árvores.
— Você não é tão leve quanto pensa, Colbie — Nicholas murmurou. — Vamos logo. Elizabeth não vai demorar a vir aqui, mesmo...
Colbie soltou um risinho baixo e depositou um beijo rápido na bochecha do melhor amigo abaixo de si. Pulou de onde estava com um bocado de pressa e um tanto envergonhada, logo saindo quarto afora.
Nicholas se perguntou se aquilo fora por causa do beijo — sendo que já haviam feito aquilo diversas vezes, inclusive nos lábios — ou por pura ansiedade em ver o pai depois de tanto tempo, mesmo que isso fosse contra a vontade de sua mãe. Este pensamento o fizera perceber que estava com saudades absurdas de seus pais e de . Podia até mesmo sentir seu peito doer, sua cabeça pesar e seu corpo quase afundar sobre a cama. Estava absurdamente nervoso e ansioso para o dia que veria as pessoas que tanto ama a mais uma vez. Poderia — e queria — ficar ali o resto do dia apenas se lamentando pela distância, mas o grito de Elizabeth ecoou pelo local com uma potência extraordinária. Bufando, Nicholas jogou as cobertas para o alto e saiu do quarto, murmurando coisas desconexas que seu cérebro achava ser necessário colocar para fora. TodosTodos corriam de um lado para outro, acabando de se arrumar; pareciam um bando de loucos e eram apenas quatro pessoas. A casa estava agitada, talvez por ser uma semana extremamente corrida e, dentro de alguns minutos, veriam o pai de Colbie sem poder fugir; Nicholas tinha o coração a boca enquanto sua cabecinha adolescente trabalhava em mil e uma ideias mirabolantes.
— Você está nervoso — Colbie sussurrou ao jogar-se sobre o colo do amigo. — Veja só, idiota, colocou os tênis nos pés errado. O meu pai não vai atacar você.
— Não seja boba — Nicholas despertou de seu transe. — Não sinto medo dele.
— É bom mesmo que não sinta — Colbie respondeu e sorriu de maneira doce. — Mas precisa arrumar esses tênis, ele nunca me deixaria namorar um garoto que sequer sabe se calçar.
Nicholas paralisou e fitou a amiga, que agora tinha as bochechas coradas. Olhou para os lados e para trás, notando a ausência de Jesse e Elizabeth.
— Está me pedindo em namoro? — Nicholas perguntou, sorrindo de lado. — Só temos treze anos... Sabe disso, não é?
— Não é como se ninguém nunca namorasse na nossa idade — respondeu baixinho. — Nos gostamos e sabemos que seremos sempre amigos; mesmo que isso não dure. O que tem demais?
— Você não existe e me deixa muito envergonhado — Nicholas riu. — Isso foi surpreendente.
— Pare de falar como adulto, ainda estamos entrando na adolescência — Colbie revirou os olhos. — Só me diga, Nicholas Cobain: você quer poder me beijar sem minha mãe pegar no nosso pé ou quer continuar me enrolando?
Nicholas e se aproximou de Colbie, murmurando contra sua boca:
— Minha escolha sempre será beijar você, namorada.
Colbie soltou um risinho tímido e colou suas bocas num beijo simples e casto, nada demorado.
Eram melhores amigos; não havia relação melhor que aquela. Sempre seriam confidentes um do outro; o pilar que todo ser humano merece, o apoio que só uma alma gêmeas pode dar.
Um pigarro ecoou pela sala no mesmo instante que a campainha, fazendo Colbie pular do colo do amigo e sentar-se no sofá enquanto arrumava seu uniforme. Nicholas riu e voltou a arrumar seus tênis, recebendo, antes, uma piscadela de Jesse.
— Vocês definitivamente não podem ficar sozinhos — Elizabeth comentou e seguiu em direção à porta.
A surpresa que a atingiu ao abrir e Colbie passar por si gritando "pai" fora indescritível e rápido demais. Sua boca estava entreaberta e a respiração curta; tão nervosa que sequer retribuíra o desejo de bom dia do homem, que lhe fora dado em total escárnio.
O homem que a mandara ter distância e surtara quando vira com estava bem diante de si. Em sua porta. Lhe dando sorrisos enquanto abraçava Colbie.
Jeff.
****
Palermo, Itália.
Amanda e Joanne foram acordadas por gritos de e , assustadas. Ambas estavam sonolentas, já que haviam dormido pouco tamanha fora a preocupação com o casal. Toda aquela recepção calorosa e gritante deixavam-nas um tanto irritadas, ao mesmo tempo que aliviadas. Porém, estava bem claro que o dia seria longo. O casal parecia agitado demais para que aquilo fosse um mero chamado para o café da manhã. A quem queriam enganar, afinal? Era óbvio que e estavam metidos em mais alguma merda.
— Precisamos da ajuda de vocês — foi direto.
— Quando falam assim, nunca vem coisa boa — Amanda murmurou após um bocejo. — O que querem?
— Quero que me dê todos os horários de — respondeu. — O seu namoradinho.
Amanda riu.
— Está louco? — perguntou. — Não vou me envolver nisso.
— Você já está envolvida até o pescoço — a voz de Joanne ecoou pelo local. — O que pretendem fazer?
— Jo! — Amanda exclamou. — Vocês já me colocaram em confusão demais!
— Se não nos disser irá morrer de qualquer jeito — explicou. — Você não sabe com quem está lidando.
— E com quem estou lidando? — perguntou de maneira atrevida. Embora quisesse ajudar, não poderia arriscar-se tanto. Sabia do que o outro primo — e amante — era capaz. Ainda precisava voltar para casa e dar satisfações.
— Está lidando com um assassino — foi firme. — O assassino de seu pai.
Amanda engoliu a seco, fitando o chão em seguida. Seu coração estava acelerado e os olhos marejados. Como pôde ser tão... Idiota? Sentia-se tão boba, uma burra.
Ofegante e de narinas infladas, Joanne se levantou.
— Como é?
— Vamos explicar tudo, mas antes se acalme — pediu, abraçando Joanne pelos ombros. — Nós queremos e precisamos pegá-lo o mais rápido possível. Sabemos que ele não trabalha sozinho, mas precisamos de ajuda para conseguirmos chegar em todos.
— O delegado — Amanda murmurou. — O que recebeu vocês, supostamente para ajudar. Ele planeja tudo junto com ... E com Apolo.
****
Londres, Inglaterra.
Jesse sentiu todo seu corpo ficar tenso e, protetoramente, passou um dos braços pela cintura de Elizabeth.
— Bom dia, papai — a voz de Colbie ecoou. — Estou feliz por ter vindo.
— Sua mãe irá me matar, mas o que eu não faço por você, né? — o homem sorriu, beijando a testa da menor. — Já está pronta?
— Sim, vou pegar minha mochila. Ah! Nicholas irá conosco!
E tão radiante quanto aparecera, adentrara o apartamento; saltitando, completamente alegre.
— Pensei que nunca mais iria te ver — Elizabeth sussurrou. — Saiba que estaremos logo atrás de você.
— Não me importo, Elizabeth. Pode me seguir o quanto quiser, desde que eu ainda tenha minha filha — Jeff respondeu firme. — Quando estou com ela, nada mais é relevante. Cuido bem da minha menina, e quem mais estiver com ela, com minha própria vida.
— Eu realmente espero que sim — Jesse murmurou, o encarando. — Qualquer deslize seu... Ah, Jeff, não irei hesitar em abrir um buraco na sua testa.
Jeff riu e revirou os olhos.
— Vocês estão obcecados por mim — sussurrou. — Vamos, crianças?
Em passos desconfiados e rápidos, todos saíram juntos do apartamento. Jesse ainda sentia todo seu corpo tenso e uma sensação ruim no peito. Elizabeth segurava sua mão com força, tentando passar uma calma e apoio que sequer ela possuía. Ambos pensavam nas crianças e no quão perdidas ficariam caso proibissem a visita de Jeff.
No entanto, a cicatriz que Elizabeth carregava mostrava que Jeff não deveria estar ali e que, se tivessem apenas um pequeno deslize dele, Jesse poderia prendê-lo naquele instante — e longe das vistas da pequena Colbie.
— Nós vamos no carro do meu pai, ok? — Colbie informou com um enorme sorriso ao chegarem do lado de fora. — Preciso matar as saudades e ele e Nicholas têm muito em comum!
— Tudo bem, pequena — Jesse sorriu e acariciou os cabelos da menor. — Mas antes... Você pode fazer companhia para a Elizabeth enquanto vou buscar a moto no estacionamento? Assim podemos sair juntos.
— Tudo bem — Jeff interferiu. — Não há problema algum, é sempre bom ter um policial em nosso encalço... Sem contar que seguiremos na mesma direção. Vá buscar sua moto, oficial.
Por algum motivo que desconhecia, Jesse sentiu que aquilo era algum tipo de aviso ou ameaça. Sentia-se ao incomodado com toda aquela situação e a presença daquele homem; e de brinde recebia os olhares pesarosos e assustados de sua amada. Por mais que Elizabeth tentasse fazer-se de mulher forte e sem traumas, estava escrito em sua testa que os episódios causados por Jeff ainda deixavam-na desesperada.
Após selar os lábios no rosto de Elizabeth, Jesse seguiu até o estacionamento com pressa. Não demorou para achar o veículo, logo montando sobre o mesmo e saindo em direção à rua. Estacionou logo atrás do carro que deduziu ser de Jeff e esperou que os outros se aproximassem. E a maldita sensação ruim continuava ali, fazendo-o desejar que o dia terminasse logo. Algo ruim estava prestes a acontecer e ele esperava, com todo o coração, que as crianças continuassem a salvo.
— Estaremos logo atrás de você — Jesse sussurrou para Jeff assim que o mesmo se aproximou.
Como se quisesse acalmar a situação, Elizabeth subiu na moto e abraçou a cintura de Jesse.
— Estudem direitinho, crianças! — Elizabeth exclamou. — Quero ambos em Cambridge daqui uns anos!
Ambos os jovens riram e lançaram beijos no ar para a mais velha; sabiam o quanto ela adorava todos aqueles mimos.
Jesse sorriu diante aquela cena e acenou para os menores que entravam no carro. Lançou um último olhar para Jeff e ajudou Elizabeth montar na moto.
E tudo que acontecera no segundo seguinte fora muito rápido; um carro preto passou no meio da rua, à frente de todos. O vidro do carona abaixou e o cano de uma arma de porte médio foi colocado para fora, logo disparando tiros certeiros em direção a Jeff. Os gritos foram instantâneos, e Jesse se viu obrigado a mergulhar no chão e arrastar-se em direção à Colbie e Nicholas, que pularam rapidamente para atrás do carro.
Não tivera tempo de sequer tentar atirar de volta; assim que os assassinos se deram conta de que seu alvo já estava estirado na calçada e totalmente sem vida, seguiram viagem em alta velocidade.
Ao se aproximar das crianças e ter certeza que Elizabeth estava bem, Jesse puxou o celular, falando rápido e em voz alta:
— Oficial Pender falando. Homicídio na Baker Street, com testemunhas. Preciso de reforços. Rápido!
****
Palermo — Itália.
subiu na moto mais uma vez, segurando a cintura fina de com cuidado. O dia mal havia começado e eles já seguiam em direção ao perigo outra vez; era como se vivessem somente para aquilo, não tinham paz, nunca conseguiam a tranquilidade que desejavam.
O destino daquela vez era a delegacia de Palermo, onde foram todos acolhidos assim que chegaram.
Saber que algo estava errado já ali dentro não fora uma surpresa, mas ambos ficaram chateados e desnorteados com o que estava acontecendo. Ter policiais corruptos por aí não era novidade; a novidade estava no fato de Charlie não ter sequer notado que o delegado Antoni era um deles. Não era do feitio de Raymond deixar coisas como aquelas passarem despercebidas.
Por um segundo, se viu com medo. De tudo. Da situação em que se encontrava, das pessoas que não conhecia, de e até mesmo de morrer naquele lugar que não o pertencia. Já estivera muitas vezes de cara com a morte, mas naquele momento ele conseguia sentir o cheiro da mesma; sua fragrância estava tão forte que lhe arrepiava o corpo inteiro. Algo em seu interior estava agitado e gritava que eles estavam se enfiando em algo muito pior do que parecia, que nem mesmo suas primas tão — inocentemente — envolvidas desconfiavam.
sentia como se precisasse, naquele segundo, matar seu irmão. Outra vez. E não hesitaria em fazê-lo.
— ? — chamou. — Chegamos, vamos.
— Acha que podemos morrer aqui? — perguntou baixo, com o capacete em mãos, já saltando da moto.
— O quê? — piscou os olhos algumas vezes. — Não, é claro que não. Confio em nós. Pare de pensar besteiras, isso não faz o menor sentido. Estamos aqui hoje justamente para isso: evitar a nossa morte e de muitas outras pessoas, outros amigos nossos.
— Você já matou alguém, ? — a encarou nos olhos. — Sabe qual a sensação e por que as pessoas viciam nisso?
engoliu a seco e sentiu todo seu corpo gelar. Pela pergunta, pelo olhar vago de — o quão estranho e perdido ele parecia estar — e por tudo o que estava acontecendo. Parecia que toda a calmaria que lhe envolvera durante o tempo que ficara somente trabalhando em coisas tranquilas e vivendo ao lado de sumira tão de repente quanto viera. E as lembranças que tanto guardava dentro de si, no baú mais escondido que seu cérebro pudesse criar, estava voltando à tona, gritando alto e em bom tom o quão idiota havia sido por se esconder tanto.
Flashback.
abriu os olhos assustada ao sentir mãos firmes puxarem sua cintura. Ainda estava fraca devido às emoções dos últimos dias, e tinha total certeza que pedira para não ser incomodada nem que a casa estivesse em chamas. Seria até mesmo bom, que seu sofrimento acabaria; o arrependimento sumiria e ela poderia sentir-se melhor ao saber que jamais teria outra chance com a que jogara fora.
— Vamos, , acorde — a voz máscula e agora tão nojenta para si ecoou em seu ouvidos, fazendo-a pular sobre a cama e afastar-se ao máximo. — Não fique assustada, sou só eu.
— O que faz aqui? — perguntou apavorada. — Vá embora, Chace. Suma daqui!
— Agora que você fez o que eu queria? Não mesmo, você ainda é minha namorada — Chace sorriu, aproximando-se mais e forçando uma das mãos na boca de , para que não falasse mais. — Você ainda quer viver, não é? — mostrou a arma em sua cintura, embaixo do casaco que já tirava de seu corpo. — Então fique bem quietinha enquanto lhe faço outro filho.
Desesperada, não se permitiu obedecer. Simplesmente começara a se bater de maneira rápida e firme, distribuindo tapas e socos no homem a sua frente. Não ficara surpresa ao notá-lo mais lento e sem reação; era efeito das drogas e bebidas que consumia.
Ao notar que Chace já se recuperava dos golpes e estava pronto para atacá-la mais uma vez, avançou sobre ele e agarrou a pistola em sua cintura. E em questão de segundos a arma fora engatilhada e disparada.
Fim do flashback.
suspirou e balançou a cabeça negativamente. Não pense mais sobre isso, disse a si mesma.
— Não, — respondeu por fim, de maneira firme. — Eu nunca matei. Agora vamos entrar, precisamos conversar com Antoni.
a encarou nos olhos por alguns segundos, não sabia se era sua mente confusa, mas podia jurar que vira a mentira cintilar nos olhos de sua amada naquele instante.
— Certo, vamos.
E lado a lado, começaram a caminhar de forma rápida em direção à sala tão desejada por ambos. Esperavam conseguir alguma informação forjando uma conversa natural e casual, algo sobre o trabalho.
Ao chegarem no local, a surpresa não fora o fato de Emma não estar ali como disse que estaria, mas sim a presença de Charlie e de Jullie, a sobrinha antipática do velho.
— Não esperava encontrá-los hoje — Charlie murmurou surpreso, depositando um beijo na testa de e apertando o ombro de ao mesmo tempo. — Onde estavam?
— Ouvi dizer que o senhor, , não pode ficar dando sopa por aqui — o delegado italiano comentou, sorrindo fracamente. — O que aconteceu? Talvez possamos ajudá-lo…
— Está tudo sob controle — riu. — As pessoas exageram de vez em quando… Eu só vim porque queria ver a Emma e conversar sobre como tudo está indo.
— Acredito que Antoni e Jullie podem te ajudar com isso — Charlie comentou. — Estou indo buscar nossa Emma no hotel. Ela precisou ir até lá. Deixem os celulares ligados, tudo bem? Não sumam como na noite passada. Vocês têm muito o que me explicar.
Após isso, Charlie saiu sem sequer esperar uma resposta.
— Vocês querem um café, água? — Jullie perguntou num tom baixo e tranquilo, que não gostou tanto assim, logo sentindo-se incomodada. — Temos muito trabalho para fazer hoje.
— Não, obrigada — respondeu, ainda a fitando de forma desconfiada, enquanto sentava em frente a Antoni de forma desleixada.
— Jullie, tenho uma pergunta para te fazer — disse tranquilamente, fazendo com que o encarasse.
— Pois faça — a morena sorriu, jogando-se na cadeira ao lado dele.
— Como vai o seu relacionamento com Apolo Castellamare? — perguntou sem tirar os olhos de Antoni, que engolira a seco no instante em que ouvira a pergunta. — Está surpreso por que, Antoni? Por eu saber ou por sua sobrinha manter um caso com o maior marginal que esse país já viu?
Jullie se levantou em questão de dois segundos, logo erguendo a mão na intenção de estapear , mas fora segurada pelo toque firme de em seu pulso.
— Eu não faria isso se fosse você — sussurrou.
apenas aumentou seu sorriso, reparando em como Antoni estava inquieto e tateando por baixo da mesa de maneira disfarçada; apostaria todo seu dinheiro que nem Jullie vira aquela mínima movimentação. Mas ele já deveria esperar por aquilo; e de fato esperava. Sabia que Antoni era a última pessoa que deveria confiar, graças a Amanda, que lhe fora tão útil nos últimos dias, provando-se uma verdadeira .
Ao mesmo tempo e rápido o suficiente para assustar ambas a mulheres, Antoni e se levantaram e apontaram pistolas um na direção do outro. Não restava mais dúvidas da índole daquelas pessoas; estavam cercados de mentirosos e assassinos sem freio. Todo o sentimento ruim que tivera ao pisar ali fora confirmado naquele momento, não da melhor maneira possível; poderia ter descoberto isso antes de embarcar, tudo seria mais simples.
No entanto, sempre estivera preparado para decepções como aquelas, acostumara-se com corruptos e coisas erradas, ele mesmo era um grande exemplo de tal, embora pregasse a favor de todas as coisas boas e tudo o que fazia era para proteger a si e aqueles que tanto amava.
A situação tensa naquela sala fora a deixa perfeita que Jullie precisava para dar uma forte cotovelada na barriga de , que ainda segurava um de seus pulsos, empurrando-a para trás, talvez na intenção de chamar a atenção de algum dos homens. Porém, ao dar-se conta que nenhum dos dois tirara os olhos um do outro, vira-se totalmente sozinha e bufara. Agora teria que dar conta da maldita jornalista que vinha em sua direção pronta para o ataque, sendo que sequer tinha aquela intenção. Jullie cambaleara com o golpe forte que lhe atingira o rosto, mas não deixara por isso mesmo, logo puxando a outra pela cintura e empurrando-a para o chão, para que, assim, talvez, esta parasse de tentar feri-la sem a devida necessidade; estava ali de paraquedas assim como eles, precisava daquilo para viver. Não estava brigando por Apolo, pelo tio ou por si; apenas queria finalizar seu trabalho sem aqueles malditos ingleses lhe importunando. E se isso incluísse sair no tapa com , ela o faria sem o menor peso na consciência.
— Eu estou com vocês — Jullie sussurrou tão baixo que jurou sequer ter escutado, talvez estivesse criando falas devido à situação.
ignorava cada som de tapa que ecoava pela sala, sabendo que na primeira chance que Jullie tivesse ajudaria o tio. Estava nervoso, tenso e louco para largar aquela arma e voar para cima daquela mulher e tirá-la de cima de sua , mas sabia que ela o entendia o suficiente para que não ficasse ressentida por não ter ajudado.
— Se ficar assim por muito tempo lhe garanto que minha sobrinha irá destruir sua amada, — Antoni disse calmamente.
— Confio na minha mulher — sorriu. — Tenho certeza que Jullie está tendo um bocado de trabalho, não é mesmo?
A pergunta fora completamente ignorada por todos os presentes, mas um gemido de dor vindo de Jullie o fizera dar uma risada fraca.
— O que quer? — Antoni finalmente perguntara. — Você só apareceu por aqui para causar a desordem, . Bombas, sequestros, tiroteios, fugas… Quer destruir o meu legado?
— Minha função no Universo é esta, delegado — riu. — Causar a desordem. O que quero é somente um endereço: o do meu irmãozinho. Você sabe, aquele que se diz e seu chefe, talvez. . Só preciso conversar com ele, nosso encontro ontem nao deu muito certo, como você já sabe e mencionou o fatídico tiroteio.
— Mais fácil você sair daqui com um buraco na testa e dentro de um saco preto — Antoni praticamente rosnou. — Não seja ansioso. Quando chegar a hora de encontrar o restante de nós…
E antes que Antoni pudesse continuar falando, Jullie voou de encontro a mesa em que se encontravam, derrubando alguns papéis e voltando a cair entre as cadeiras. No entanto, quando estava prestes a apertar o gatilho, o som de seu celular ecoou por toda a sala.
— Atenda — Antoni ditou. — Se eu quisesse te matar, já teria matado. Ainda preciso de você vivo.
A fala do mais velho deixara momentaneamente confuso e perturbado; para o que precisavam dele vivo? O que diabos estava acontecendo ali? Por que aquilo tudo? Céus, seria Palermo seu novo inferno?
Por fim, pegara o celular devagar; tirou-o do bolso, deslizara a tela ao reconhecer o número de Emma e apertara a tecla viva-voz, na intenção de deixar Antoni ouvir a conversa, presumindo que a amiga teria algo importante para ambos, não seria surpresa descobrir que ela já sabia de sua visita ao delegado acolhedor.
— Diga, Emma — murmurou.
— Irão atacar a cidade! — exclamou assustada. — Preciso que me encontre agora!
— Mas... O quê? — perguntou confuso. — E por que atacariam Palermo?
— Por sua causa.
.
Céus, somente em lembrar-se de seu nome todo seu interior se agitava de maneira alucinante, deixando-o à beira da loucura. Suas palavras, seu desabafo e suas confissões ainda ecoavam por seus ouvidos, como se ela estivesse repetindo tudo aquilo num loop infinito. Como se quisesse torturá-lo ao máximo, embora essa não fosse sua intenção de fato.
sabia que tudo que lhe confessara fora para seu próprio bem, precisavam daquele momento de esclarecimentos se quisessem de fato continuar ali e com aquele relacionamento. Queria agarrar-se fielmente a isto, à hipótese e que tudo aquilo faria bem, mas seu coração ainda doía.
— Me desculpe por ter mentido tanto — finalmente disse, fazendo-o lembrar-se que ela ainda estava ao seu lado. — Eu queria saber sobre você, sobre o porquê dos meus pais confiarem em seu pai. E eu sabia que você estava envolvido em tudo. Foi quase como uma obsessão — riu, encarando-o de soslaio. — Acabei perdidamente apaixonada. Queimei qualquer coisa que pudesse te incriminar mais, mesmo sabendo que algumas coisas você realmente havia feito.
— E quando soube disso tudo aqui? — perguntou, apontando para onde se encontravam na intenção de representar Palermo.
— Não sei ao certo — respondeu sincera. — Eu não queria fazer tudo de novo. Procurei Elizabeth e pedi ajuda. Resolvemos procurar juntas.
— Sem me consultar, para variar — acordou, finalmente virando-se para fitá-la nos olhos. — Vocês não podem resolver tudo sozinhas sempre. E por que diabos a Elizabeth?
— Porque ela te conhece tão bem quanto eu — respondeu. — Descobrimos sobre seu irmão... , sobre . Estávamos prontas para contar quando ele entrou em contato comigo. Foi tudo muito rápido. Eu não levei a sério, mas fiquei assustada. Não disse nada porque não sabia em quem confiar.
— Você não confia em mim? — perguntou, direto. — Você confia mais na minha ex-namorada?
— Você correria para cá — explicou. — Contaria ao Charlie. Vocês matariam o , como fizeram com outros mil inimigos. E eu sei exatamente o porquê.
— Tudo bem, que seja — engoliu a seco. — O que tivemos... Também foi uma mentira, um interesse seu em comum com Elizabeth?
— Não — respondeu sem qualquer hesitação. — Eu te amo. Te amei quando me beijou. Te amei quando me tocou pela primeira vez. Te amei até mesmo quando dei ouvidos ao Crowley. Eu te amei todo esse tempo, . Só não tive a coragem que precisava. Hoje não pude fugir disso. Eles matariam você.
— Foram meses, — murmurou. — Você me escondeu tudo por meses.
— Eu precisava ter certeza — se aproximou, sentindo-se derreter ao ouvir o apelido que raramente lhe era usado. — Eu desconfiava que era alguém querendo te ameaçar. Você é muito pior do que eu no quesito impulso. Contudo... Me arrependo. Por isso decidi relembrar minha própria história e abrir o jogo com você. Eu precisava que você me conhecesse mais, que soubesse de toda a verdade. Agora precisamos ficar juntos; trabalhar juntos. Somos só nós dois.
— O que quer dizer com isso? — a fitou. — Não confia em nossos amigos, que são a nossa família?
— Não confio nas pessoas daqui e no poder que elas têm — explicou. — ... Não sabemos com quem estamos lidando. Você não é nada aqui, enquanto seu irmão é tudo.
— Ele se passa por mim durante três anos em outro país e, além de ninguém desconfiar e ir atrás, eu que não tenho valor? — amassou o copo e cigarro entre os dedos. — Do que diabos está falando?
— manda na Itália e você...
— Mando na Inglaterra — a cortou. — E sou o verdadeiro e único .
— Aqui eles pensam o contrário — o segurou pelo rosto. — Para eles, você é o impostor. Não podemos nem vamos confiar na polícia italiana.
sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo; nunca estivera daquela forma. A mulher diante de seus olhos estava mais determinada que o normal, seus olhos brilhavam em total sede de vingança e suas palavras eram sinceras o suficiente para fazê-lo engolir o orgulho e, às cegas, confiar em qualquer que fosse seu plano. Mesmo que seu coração estivesse ferido pela enxurrada de mentiras que lhe foram explicadas... Precisava confiar em sua garota, em seu amor. Não queria destruir toda aquela história por conta de coisas que, assim como ele, ela preferia manter dentro de si. Mesmo que isso envolvesse sua própria história.
No fim das contas, sempre estivera interligado à . Eram um só mesmo quando não queriam e fugiam um do outro; suas histórias eram iguais, fizeram sacrifícios demais para estarem ali.
E sabia que ainda tinha muito o que descobrir. era sua caixinha de pandora; misteriosa e encantadora, carregada de surpresas e segredos que poderiam salvar tudo à sua volta; quiçá suas próprias vidas e todo o mundo. era muito mais que todos esperavam; que ele esperava.
— E o que faremos se encontrarmos nas próximas horas? — perguntou, querendo, pela primeira vez, ouvi-la de verdade e entender seus planos; a relação poderiam discutir depois, na Inglaterra, no aconchego de seu apartamento e sob os lençóis.
lhe deu um sorriso e roçou seus lábios, respondendo num sussurro:
— Mataremos.
Londres, Inglaterra.
O dia já estava claro quando o som do celular de Colbie ecoou por todo o local, fazendo com que Nicholas, na cama ao lado, se mexesse incomodado ao mesmo tempo que balbuciava coisas sem sentido. Ainda sonolenta, Colbie esticou-se para pegar o aparelho. Desligou o mais rápido que conseguiu e se espreguiçou sobre a cama que Elizabeth havia preparado.
— Bom dia, Nicholas. Hora de acordar. Temos aula e meu pai logo estará aqui — a menina murmurou, pendurando-se em sua própria cama para sacudir o amigo do outro lado. — Por favor, não podemos nos atrasar hoje.
— Não quero ir para a aula hoje, e muito menos ver seu pai — respondeu, virando-se para o outro lado.
Colbie riu divertida e pulou da sua cama, seguindo para a do amigo e sentando-se sobre suas costas.
— Não faça assim, vamos — murmurou, abraçando-o como um coala faz com as árvores.
— Você não é tão leve quanto pensa, Colbie — Nicholas murmurou. — Vamos logo. Elizabeth não vai demorar a vir aqui, mesmo...
Colbie soltou um risinho baixo e depositou um beijo rápido na bochecha do melhor amigo abaixo de si. Pulou de onde estava com um bocado de pressa e um tanto envergonhada, logo saindo quarto afora.
Nicholas se perguntou se aquilo fora por causa do beijo — sendo que já haviam feito aquilo diversas vezes, inclusive nos lábios — ou por pura ansiedade em ver o pai depois de tanto tempo, mesmo que isso fosse contra a vontade de sua mãe. Este pensamento o fizera perceber que estava com saudades absurdas de seus pais e de . Podia até mesmo sentir seu peito doer, sua cabeça pesar e seu corpo quase afundar sobre a cama. Estava absurdamente nervoso e ansioso para o dia que veria as pessoas que tanto ama a mais uma vez. Poderia — e queria — ficar ali o resto do dia apenas se lamentando pela distância, mas o grito de Elizabeth ecoou pelo local com uma potência extraordinária. Bufando, Nicholas jogou as cobertas para o alto e saiu do quarto, murmurando coisas desconexas que seu cérebro achava ser necessário colocar para fora. TodosTodos corriam de um lado para outro, acabando de se arrumar; pareciam um bando de loucos e eram apenas quatro pessoas. A casa estava agitada, talvez por ser uma semana extremamente corrida e, dentro de alguns minutos, veriam o pai de Colbie sem poder fugir; Nicholas tinha o coração a boca enquanto sua cabecinha adolescente trabalhava em mil e uma ideias mirabolantes.
— Você está nervoso — Colbie sussurrou ao jogar-se sobre o colo do amigo. — Veja só, idiota, colocou os tênis nos pés errado. O meu pai não vai atacar você.
— Não seja boba — Nicholas despertou de seu transe. — Não sinto medo dele.
— É bom mesmo que não sinta — Colbie respondeu e sorriu de maneira doce. — Mas precisa arrumar esses tênis, ele nunca me deixaria namorar um garoto que sequer sabe se calçar.
Nicholas paralisou e fitou a amiga, que agora tinha as bochechas coradas. Olhou para os lados e para trás, notando a ausência de Jesse e Elizabeth.
— Está me pedindo em namoro? — Nicholas perguntou, sorrindo de lado. — Só temos treze anos... Sabe disso, não é?
— Não é como se ninguém nunca namorasse na nossa idade — respondeu baixinho. — Nos gostamos e sabemos que seremos sempre amigos; mesmo que isso não dure. O que tem demais?
— Você não existe e me deixa muito envergonhado — Nicholas riu. — Isso foi surpreendente.
— Pare de falar como adulto, ainda estamos entrando na adolescência — Colbie revirou os olhos. — Só me diga, Nicholas Cobain: você quer poder me beijar sem minha mãe pegar no nosso pé ou quer continuar me enrolando?
Nicholas e se aproximou de Colbie, murmurando contra sua boca:
— Minha escolha sempre será beijar você, namorada.
Colbie soltou um risinho tímido e colou suas bocas num beijo simples e casto, nada demorado.
Eram melhores amigos; não havia relação melhor que aquela. Sempre seriam confidentes um do outro; o pilar que todo ser humano merece, o apoio que só uma alma gêmeas pode dar.
Um pigarro ecoou pela sala no mesmo instante que a campainha, fazendo Colbie pular do colo do amigo e sentar-se no sofá enquanto arrumava seu uniforme. Nicholas riu e voltou a arrumar seus tênis, recebendo, antes, uma piscadela de Jesse.
— Vocês definitivamente não podem ficar sozinhos — Elizabeth comentou e seguiu em direção à porta.
A surpresa que a atingiu ao abrir e Colbie passar por si gritando "pai" fora indescritível e rápido demais. Sua boca estava entreaberta e a respiração curta; tão nervosa que sequer retribuíra o desejo de bom dia do homem, que lhe fora dado em total escárnio.
O homem que a mandara ter distância e surtara quando vira com estava bem diante de si. Em sua porta. Lhe dando sorrisos enquanto abraçava Colbie.
Jeff.
Palermo, Itália.
Amanda e Joanne foram acordadas por gritos de e , assustadas. Ambas estavam sonolentas, já que haviam dormido pouco tamanha fora a preocupação com o casal. Toda aquela recepção calorosa e gritante deixavam-nas um tanto irritadas, ao mesmo tempo que aliviadas. Porém, estava bem claro que o dia seria longo. O casal parecia agitado demais para que aquilo fosse um mero chamado para o café da manhã. A quem queriam enganar, afinal? Era óbvio que e estavam metidos em mais alguma merda.
— Precisamos da ajuda de vocês — foi direto.
— Quando falam assim, nunca vem coisa boa — Amanda murmurou após um bocejo. — O que querem?
— Quero que me dê todos os horários de — respondeu. — O seu namoradinho.
Amanda riu.
— Está louco? — perguntou. — Não vou me envolver nisso.
— Você já está envolvida até o pescoço — a voz de Joanne ecoou pelo local. — O que pretendem fazer?
— Jo! — Amanda exclamou. — Vocês já me colocaram em confusão demais!
— Se não nos disser irá morrer de qualquer jeito — explicou. — Você não sabe com quem está lidando.
— E com quem estou lidando? — perguntou de maneira atrevida. Embora quisesse ajudar, não poderia arriscar-se tanto. Sabia do que o outro primo — e amante — era capaz. Ainda precisava voltar para casa e dar satisfações.
— Está lidando com um assassino — foi firme. — O assassino de seu pai.
Amanda engoliu a seco, fitando o chão em seguida. Seu coração estava acelerado e os olhos marejados. Como pôde ser tão... Idiota? Sentia-se tão boba, uma burra.
Ofegante e de narinas infladas, Joanne se levantou.
— Como é?
— Vamos explicar tudo, mas antes se acalme — pediu, abraçando Joanne pelos ombros. — Nós queremos e precisamos pegá-lo o mais rápido possível. Sabemos que ele não trabalha sozinho, mas precisamos de ajuda para conseguirmos chegar em todos.
— O delegado — Amanda murmurou. — O que recebeu vocês, supostamente para ajudar. Ele planeja tudo junto com ... E com Apolo.
Londres, Inglaterra.
Jesse sentiu todo seu corpo ficar tenso e, protetoramente, passou um dos braços pela cintura de Elizabeth.
— Bom dia, papai — a voz de Colbie ecoou. — Estou feliz por ter vindo.
— Sua mãe irá me matar, mas o que eu não faço por você, né? — o homem sorriu, beijando a testa da menor. — Já está pronta?
— Sim, vou pegar minha mochila. Ah! Nicholas irá conosco!
E tão radiante quanto aparecera, adentrara o apartamento; saltitando, completamente alegre.
— Pensei que nunca mais iria te ver — Elizabeth sussurrou. — Saiba que estaremos logo atrás de você.
— Não me importo, Elizabeth. Pode me seguir o quanto quiser, desde que eu ainda tenha minha filha — Jeff respondeu firme. — Quando estou com ela, nada mais é relevante. Cuido bem da minha menina, e quem mais estiver com ela, com minha própria vida.
— Eu realmente espero que sim — Jesse murmurou, o encarando. — Qualquer deslize seu... Ah, Jeff, não irei hesitar em abrir um buraco na sua testa.
Jeff riu e revirou os olhos.
— Vocês estão obcecados por mim — sussurrou. — Vamos, crianças?
Em passos desconfiados e rápidos, todos saíram juntos do apartamento. Jesse ainda sentia todo seu corpo tenso e uma sensação ruim no peito. Elizabeth segurava sua mão com força, tentando passar uma calma e apoio que sequer ela possuía. Ambos pensavam nas crianças e no quão perdidas ficariam caso proibissem a visita de Jeff.
No entanto, a cicatriz que Elizabeth carregava mostrava que Jeff não deveria estar ali e que, se tivessem apenas um pequeno deslize dele, Jesse poderia prendê-lo naquele instante — e longe das vistas da pequena Colbie.
— Nós vamos no carro do meu pai, ok? — Colbie informou com um enorme sorriso ao chegarem do lado de fora. — Preciso matar as saudades e ele e Nicholas têm muito em comum!
— Tudo bem, pequena — Jesse sorriu e acariciou os cabelos da menor. — Mas antes... Você pode fazer companhia para a Elizabeth enquanto vou buscar a moto no estacionamento? Assim podemos sair juntos.
— Tudo bem — Jeff interferiu. — Não há problema algum, é sempre bom ter um policial em nosso encalço... Sem contar que seguiremos na mesma direção. Vá buscar sua moto, oficial.
Por algum motivo que desconhecia, Jesse sentiu que aquilo era algum tipo de aviso ou ameaça. Sentia-se ao incomodado com toda aquela situação e a presença daquele homem; e de brinde recebia os olhares pesarosos e assustados de sua amada. Por mais que Elizabeth tentasse fazer-se de mulher forte e sem traumas, estava escrito em sua testa que os episódios causados por Jeff ainda deixavam-na desesperada.
Após selar os lábios no rosto de Elizabeth, Jesse seguiu até o estacionamento com pressa. Não demorou para achar o veículo, logo montando sobre o mesmo e saindo em direção à rua. Estacionou logo atrás do carro que deduziu ser de Jeff e esperou que os outros se aproximassem. E a maldita sensação ruim continuava ali, fazendo-o desejar que o dia terminasse logo. Algo ruim estava prestes a acontecer e ele esperava, com todo o coração, que as crianças continuassem a salvo.
— Estaremos logo atrás de você — Jesse sussurrou para Jeff assim que o mesmo se aproximou.
Como se quisesse acalmar a situação, Elizabeth subiu na moto e abraçou a cintura de Jesse.
— Estudem direitinho, crianças! — Elizabeth exclamou. — Quero ambos em Cambridge daqui uns anos!
Ambos os jovens riram e lançaram beijos no ar para a mais velha; sabiam o quanto ela adorava todos aqueles mimos.
Jesse sorriu diante aquela cena e acenou para os menores que entravam no carro. Lançou um último olhar para Jeff e ajudou Elizabeth montar na moto.
E tudo que acontecera no segundo seguinte fora muito rápido; um carro preto passou no meio da rua, à frente de todos. O vidro do carona abaixou e o cano de uma arma de porte médio foi colocado para fora, logo disparando tiros certeiros em direção a Jeff. Os gritos foram instantâneos, e Jesse se viu obrigado a mergulhar no chão e arrastar-se em direção à Colbie e Nicholas, que pularam rapidamente para atrás do carro.
Não tivera tempo de sequer tentar atirar de volta; assim que os assassinos se deram conta de que seu alvo já estava estirado na calçada e totalmente sem vida, seguiram viagem em alta velocidade.
Ao se aproximar das crianças e ter certeza que Elizabeth estava bem, Jesse puxou o celular, falando rápido e em voz alta:
— Oficial Pender falando. Homicídio na Baker Street, com testemunhas. Preciso de reforços. Rápido!
Palermo — Itália.
subiu na moto mais uma vez, segurando a cintura fina de com cuidado. O dia mal havia começado e eles já seguiam em direção ao perigo outra vez; era como se vivessem somente para aquilo, não tinham paz, nunca conseguiam a tranquilidade que desejavam.
O destino daquela vez era a delegacia de Palermo, onde foram todos acolhidos assim que chegaram.
Saber que algo estava errado já ali dentro não fora uma surpresa, mas ambos ficaram chateados e desnorteados com o que estava acontecendo. Ter policiais corruptos por aí não era novidade; a novidade estava no fato de Charlie não ter sequer notado que o delegado Antoni era um deles. Não era do feitio de Raymond deixar coisas como aquelas passarem despercebidas.
Por um segundo, se viu com medo. De tudo. Da situação em que se encontrava, das pessoas que não conhecia, de e até mesmo de morrer naquele lugar que não o pertencia. Já estivera muitas vezes de cara com a morte, mas naquele momento ele conseguia sentir o cheiro da mesma; sua fragrância estava tão forte que lhe arrepiava o corpo inteiro. Algo em seu interior estava agitado e gritava que eles estavam se enfiando em algo muito pior do que parecia, que nem mesmo suas primas tão — inocentemente — envolvidas desconfiavam.
sentia como se precisasse, naquele segundo, matar seu irmão. Outra vez. E não hesitaria em fazê-lo.
— ? — chamou. — Chegamos, vamos.
— Acha que podemos morrer aqui? — perguntou baixo, com o capacete em mãos, já saltando da moto.
— O quê? — piscou os olhos algumas vezes. — Não, é claro que não. Confio em nós. Pare de pensar besteiras, isso não faz o menor sentido. Estamos aqui hoje justamente para isso: evitar a nossa morte e de muitas outras pessoas, outros amigos nossos.
— Você já matou alguém, ? — a encarou nos olhos. — Sabe qual a sensação e por que as pessoas viciam nisso?
engoliu a seco e sentiu todo seu corpo gelar. Pela pergunta, pelo olhar vago de — o quão estranho e perdido ele parecia estar — e por tudo o que estava acontecendo. Parecia que toda a calmaria que lhe envolvera durante o tempo que ficara somente trabalhando em coisas tranquilas e vivendo ao lado de sumira tão de repente quanto viera. E as lembranças que tanto guardava dentro de si, no baú mais escondido que seu cérebro pudesse criar, estava voltando à tona, gritando alto e em bom tom o quão idiota havia sido por se esconder tanto.
Flashback.
abriu os olhos assustada ao sentir mãos firmes puxarem sua cintura. Ainda estava fraca devido às emoções dos últimos dias, e tinha total certeza que pedira para não ser incomodada nem que a casa estivesse em chamas. Seria até mesmo bom, que seu sofrimento acabaria; o arrependimento sumiria e ela poderia sentir-se melhor ao saber que jamais teria outra chance com a que jogara fora.
— Vamos, , acorde — a voz máscula e agora tão nojenta para si ecoou em seu ouvidos, fazendo-a pular sobre a cama e afastar-se ao máximo. — Não fique assustada, sou só eu.
— O que faz aqui? — perguntou apavorada. — Vá embora, Chace. Suma daqui!
— Agora que você fez o que eu queria? Não mesmo, você ainda é minha namorada — Chace sorriu, aproximando-se mais e forçando uma das mãos na boca de , para que não falasse mais. — Você ainda quer viver, não é? — mostrou a arma em sua cintura, embaixo do casaco que já tirava de seu corpo. — Então fique bem quietinha enquanto lhe faço outro filho.
Desesperada, não se permitiu obedecer. Simplesmente começara a se bater de maneira rápida e firme, distribuindo tapas e socos no homem a sua frente. Não ficara surpresa ao notá-lo mais lento e sem reação; era efeito das drogas e bebidas que consumia.
Ao notar que Chace já se recuperava dos golpes e estava pronto para atacá-la mais uma vez, avançou sobre ele e agarrou a pistola em sua cintura. E em questão de segundos a arma fora engatilhada e disparada.
Fim do flashback.
suspirou e balançou a cabeça negativamente. Não pense mais sobre isso, disse a si mesma.
— Não, — respondeu por fim, de maneira firme. — Eu nunca matei. Agora vamos entrar, precisamos conversar com Antoni.
a encarou nos olhos por alguns segundos, não sabia se era sua mente confusa, mas podia jurar que vira a mentira cintilar nos olhos de sua amada naquele instante.
— Certo, vamos.
E lado a lado, começaram a caminhar de forma rápida em direção à sala tão desejada por ambos. Esperavam conseguir alguma informação forjando uma conversa natural e casual, algo sobre o trabalho.
Ao chegarem no local, a surpresa não fora o fato de Emma não estar ali como disse que estaria, mas sim a presença de Charlie e de Jullie, a sobrinha antipática do velho.
— Não esperava encontrá-los hoje — Charlie murmurou surpreso, depositando um beijo na testa de e apertando o ombro de ao mesmo tempo. — Onde estavam?
— Ouvi dizer que o senhor, , não pode ficar dando sopa por aqui — o delegado italiano comentou, sorrindo fracamente. — O que aconteceu? Talvez possamos ajudá-lo…
— Está tudo sob controle — riu. — As pessoas exageram de vez em quando… Eu só vim porque queria ver a Emma e conversar sobre como tudo está indo.
— Acredito que Antoni e Jullie podem te ajudar com isso — Charlie comentou. — Estou indo buscar nossa Emma no hotel. Ela precisou ir até lá. Deixem os celulares ligados, tudo bem? Não sumam como na noite passada. Vocês têm muito o que me explicar.
Após isso, Charlie saiu sem sequer esperar uma resposta.
— Vocês querem um café, água? — Jullie perguntou num tom baixo e tranquilo, que não gostou tanto assim, logo sentindo-se incomodada. — Temos muito trabalho para fazer hoje.
— Não, obrigada — respondeu, ainda a fitando de forma desconfiada, enquanto sentava em frente a Antoni de forma desleixada.
— Jullie, tenho uma pergunta para te fazer — disse tranquilamente, fazendo com que o encarasse.
— Pois faça — a morena sorriu, jogando-se na cadeira ao lado dele.
— Como vai o seu relacionamento com Apolo Castellamare? — perguntou sem tirar os olhos de Antoni, que engolira a seco no instante em que ouvira a pergunta. — Está surpreso por que, Antoni? Por eu saber ou por sua sobrinha manter um caso com o maior marginal que esse país já viu?
Jullie se levantou em questão de dois segundos, logo erguendo a mão na intenção de estapear , mas fora segurada pelo toque firme de em seu pulso.
— Eu não faria isso se fosse você — sussurrou.
apenas aumentou seu sorriso, reparando em como Antoni estava inquieto e tateando por baixo da mesa de maneira disfarçada; apostaria todo seu dinheiro que nem Jullie vira aquela mínima movimentação. Mas ele já deveria esperar por aquilo; e de fato esperava. Sabia que Antoni era a última pessoa que deveria confiar, graças a Amanda, que lhe fora tão útil nos últimos dias, provando-se uma verdadeira .
Ao mesmo tempo e rápido o suficiente para assustar ambas a mulheres, Antoni e se levantaram e apontaram pistolas um na direção do outro. Não restava mais dúvidas da índole daquelas pessoas; estavam cercados de mentirosos e assassinos sem freio. Todo o sentimento ruim que tivera ao pisar ali fora confirmado naquele momento, não da melhor maneira possível; poderia ter descoberto isso antes de embarcar, tudo seria mais simples.
No entanto, sempre estivera preparado para decepções como aquelas, acostumara-se com corruptos e coisas erradas, ele mesmo era um grande exemplo de tal, embora pregasse a favor de todas as coisas boas e tudo o que fazia era para proteger a si e aqueles que tanto amava.
A situação tensa naquela sala fora a deixa perfeita que Jullie precisava para dar uma forte cotovelada na barriga de , que ainda segurava um de seus pulsos, empurrando-a para trás, talvez na intenção de chamar a atenção de algum dos homens. Porém, ao dar-se conta que nenhum dos dois tirara os olhos um do outro, vira-se totalmente sozinha e bufara. Agora teria que dar conta da maldita jornalista que vinha em sua direção pronta para o ataque, sendo que sequer tinha aquela intenção. Jullie cambaleara com o golpe forte que lhe atingira o rosto, mas não deixara por isso mesmo, logo puxando a outra pela cintura e empurrando-a para o chão, para que, assim, talvez, esta parasse de tentar feri-la sem a devida necessidade; estava ali de paraquedas assim como eles, precisava daquilo para viver. Não estava brigando por Apolo, pelo tio ou por si; apenas queria finalizar seu trabalho sem aqueles malditos ingleses lhe importunando. E se isso incluísse sair no tapa com , ela o faria sem o menor peso na consciência.
— Eu estou com vocês — Jullie sussurrou tão baixo que jurou sequer ter escutado, talvez estivesse criando falas devido à situação.
ignorava cada som de tapa que ecoava pela sala, sabendo que na primeira chance que Jullie tivesse ajudaria o tio. Estava nervoso, tenso e louco para largar aquela arma e voar para cima daquela mulher e tirá-la de cima de sua , mas sabia que ela o entendia o suficiente para que não ficasse ressentida por não ter ajudado.
— Se ficar assim por muito tempo lhe garanto que minha sobrinha irá destruir sua amada, — Antoni disse calmamente.
— Confio na minha mulher — sorriu. — Tenho certeza que Jullie está tendo um bocado de trabalho, não é mesmo?
A pergunta fora completamente ignorada por todos os presentes, mas um gemido de dor vindo de Jullie o fizera dar uma risada fraca.
— O que quer? — Antoni finalmente perguntara. — Você só apareceu por aqui para causar a desordem, . Bombas, sequestros, tiroteios, fugas… Quer destruir o meu legado?
— Minha função no Universo é esta, delegado — riu. — Causar a desordem. O que quero é somente um endereço: o do meu irmãozinho. Você sabe, aquele que se diz e seu chefe, talvez. . Só preciso conversar com ele, nosso encontro ontem nao deu muito certo, como você já sabe e mencionou o fatídico tiroteio.
— Mais fácil você sair daqui com um buraco na testa e dentro de um saco preto — Antoni praticamente rosnou. — Não seja ansioso. Quando chegar a hora de encontrar o restante de nós…
E antes que Antoni pudesse continuar falando, Jullie voou de encontro a mesa em que se encontravam, derrubando alguns papéis e voltando a cair entre as cadeiras. No entanto, quando estava prestes a apertar o gatilho, o som de seu celular ecoou por toda a sala.
— Atenda — Antoni ditou. — Se eu quisesse te matar, já teria matado. Ainda preciso de você vivo.
A fala do mais velho deixara momentaneamente confuso e perturbado; para o que precisavam dele vivo? O que diabos estava acontecendo ali? Por que aquilo tudo? Céus, seria Palermo seu novo inferno?
Por fim, pegara o celular devagar; tirou-o do bolso, deslizara a tela ao reconhecer o número de Emma e apertara a tecla viva-voz, na intenção de deixar Antoni ouvir a conversa, presumindo que a amiga teria algo importante para ambos, não seria surpresa descobrir que ela já sabia de sua visita ao delegado acolhedor.
— Diga, Emma — murmurou.
— Irão atacar a cidade! — exclamou assustada. — Preciso que me encontre agora!
— Mas... O quê? — perguntou confuso. — E por que atacariam Palermo?
— Por sua causa.
Capítulo 19
sentia o coração martelar o peito com força enquanto corria desesperado, sem ao menos olhar para os lados. A fala nervosa de Emma ainda ecoava em sua cabeça; estavam atacando a cidade por sua causa, como se ele fosse algo além de um mísero policial perseguido.
Ser caçado já era uma rotina, sabia desde o início que seria desse jeito.
Não se arrependia de escolher tal profissão já que, se quisesse, poderia simplesmente advogar. No entanto, jamais aceitaria que caçassem outras pessoas em seu lugar. Inocentes não deveriam morrer por sua causa; pelo contrário, ele, como homem da lei — apesar de não segui-las corretamente —, deveria proteger e cuidar de quem estivesse em volta, jurara perante a todos que o faria. Aquele era seu trabalho, era o que amava fazer. Arriscaria o quanto fosse necessário para proteger todos à sua volta.
O vento gelado batia em seu rosto suado como tapas, ainda corria às cegas tentando encontrar Emma no meio da praça.
Aparentemente, havia outra bomba por ali. O lugar estava agitado, pessoas agarravam suas crianças e afastavam-se ao máximo com os olhos arregalados. O medo impregnava toda a cidade, sobretudo aquela região em que estavam; ele podia ver e sentir, mas não se importava. O medo já fazia parte de si.
Ao parar em meio ao local, enquanto vasculhava tudo com o olhar à procura de Emma, sentiu uma mão macia juntar-se a sua. Olhou para o lado assustado, encontrando a única pessoa capaz de acalmá-lo naquele momento: . Havia esquecido que, ao sair da sala de Antoni sem ao menos se importar se poderia se ferir ao dar as costas para o delegado, a mulher o seguira em questão de segundos.
mostrava-se mais destemida que antes. Parecia uma outra mulher, mas com a mesma essência — o que o fazia apaixonar-se cada vez mais. a amava. Era encantado por aquela jornalista. Amava senti-la, tê-la.
era sua única companheira para todos os momentos. E ao constatar isso, o passado pouco o importava. O que esconderam um do outro, as palavras de baixo calão que já haviam sido trocadas, os sustos, os medos, as desconfianças, tudo sumia de sua mente; não valia a pena prender-se a coisas tão pequenas diante de sentimentos tão grandes e fortes.
— Estou aqui — murmurou. — Vai ficar tudo bem, sim?
— Está tão óbvio assim o meu medo? — sussurrou.
A jornalista segurou sua mão com mais força e sorriu fraquinho, não se dando o trabalho de responder aquilo; não era necessário. Logo encontrou Emma em meio a multidão de policiais, e murmurou:
— Vamos. Temos um atentado para impedir.
****
Londres, Inglaterra.
Jesse andava de um lado para o outro em uma das salas da delegacia. Havia recebido uma ameaça das grandes.
Normalmente não se importava com aquilo, era o mais comum em sua profissão; principalmente por ser o agente que mais se infiltrava entre os bandidos. Sua cara estava marcada. Contudo, a daquele dia fora diferente e ameaçava toda sua cidade. Sua tão amada Londres estava em perigo; e ele estava sozinho. Por mais que tivesse uma equipe totalmente capaz, os melhores agentes — e amigos — estavam longe dali.
Jesse não tinha em quem confiar, a não ser Elizabeth.
E tinha apenas cinco horas para encontrar a fonte daquela ameaça e impedir uma explosão num ponto turístico.
Sua cidade estava sendo ameaçada e os terroristas em questão ainda lhe deram um prazo; se não cumprisse, tudo iria pelos ares. Literalmente.
Com as mãos trêmulas, Jesse puxou o celular do bolso. Teria que recorrer a sua única opção, não tinha experiência com aquele tipo de situação, embora tivesse conhecimento necessário para lidar com aquilo. Mas precisava tanto, tanto de uma opinião em relação aquilo.
Seus amigos, em Palermo, era sua única opção. Algo em seu interior dizia que a ameaça, verdadeira ou não, tinha a ver com todos eles. Juntos. E precisavam resolver daquela forma: juntos.
O agente não esperou muito na linha, logo a voz tensa de Emma adentrou seus ouvidos.
— Pender. Oi. Estamos em missão.
— Estamos sendo ameaçados de sofrer um atentado, Emma.
— O quê? — Emma praticamente sussurrou. — Pender… Porra! As crianças, onde estão as crianças? Você já anunciou isso? Faça um toque de recolher, proíba a cidade de sair de casa, não sei! Estamos com uma bomba em praça pública aqui também!
— Tenho cinco horas para que a cidade não exploda. Não sei por onde começar, Emma. Estou tão apavorado quanto você.
— Por Deus, Jesse! — A mulher exclamou, nervosa demais para raciocinar. Sabia que aquela não era a área de Jesse e que alguém deveria ter ficado para ajudá-lo. — Escute. Entre em contato com as autoridades maiores. Faça um anúncio. Busque ajuda política, peça para que eles te guiem nos anúncios. Dê uma coletiva emergencial. Pare os noticiários. Fale para que as pessoas fiquem em casa e seguras até que vocês consigam resolver isso. Procure pelos lugares mais frequentados. Chame os especialistas. Nossos melhores estão aí. Eu preciso controlar o atentado daqui, temos menos de uma hora. Vire Londres do avesso, se necessário.
— Tudo bem — Jesse suspirou. — Me desculpe por te preocupar e obrigado por me guiar. Prometo que tudo ficará bem. Um desses atentados deve ser falso.
— Eu espero que o daí seja falso. Proteja nossas crianças, Pender.
Não foi preciso uma despedida maior; logo ambos desligaram. O coração de Jesse estava apertado, o medo corroía suas entranhas. Precisava proteger a população, as crianças, a si mesmo. E sabia, agora, que em Palermo não era tão diferente.
Só esperava que conseguissem cuidar de ambas as cidades e que as ameaças e atentados não se espalhassem pelo resto da Europa. Não saberia o que fazer se isso acontecesse; algo em seu ser ainda gritava que tudo aquilo era culpa deles.
****
Palermo, Sicília.
— O que vamos fazer se uma das ameaças realmente for falsa? — Emma perguntou baixinho, enquanto sentia as mãos tremerem em desespero. estava ao seu lado enquanto gritava ordens numa mistura de inglês e um italiano não muito bom.
— O de lá será o falso — disse firmemente. — Tudo dará certo, Emma. Não perca o controle. Precisamos de você.
— E onde está o Charlie? — mudou de assunto. — Não consigo ligar. Ele não responde as mensagens. Não sei o que fazer, .
— Quando chegamos ao gabinete de Antoni, ele estava saindo — respondeu a amiga. — Pensei que ele viria atrás de você.
— Inferno! — Emma revirou os olhos. — Que se dane. Vamos logo resolver isso. Se tivermos que morrer hoje, que seja logo.
tentou rebater, mas não tivera tempo. Emma já havia se levantado e ido para longe, ajustando o colete a prova de balas em seu corpo.
A jornalista continuou ali pensando sobre tudo. Estava em choque e preocupada; não sabia o que fazer, e tampouco poderia. Sabia que nada daquilo era por acaso, como tudo que os cercava desde sempre. Era tudo premeditado. Os acidentes, as ameaças, as mortes, tudo. Tinha alguém muito importante e grande por trás daquilo, ela sabia, sentia, e tudo o que podia fazer era torcer para que saíssem vivos… Para que nenhuma ameaça fosse real, para que todos ficassem bem como deveria ser. Não aguentava mais viver em alerta, em meio a tanta tensão e medo. Estava apavorada e, àquela altura, o suor frio escorria por seu rosto e morria em seu pescoço.
estava nervosa, trêmula, com medo. Mas engolia cada sentimento ruim que sentia, queria passar segurança e determinação para as pessoas que amava, mesmo que estivesse a ponto de desistir e render-se ao medo. Sua vontade era de sentar em um canto e chorar feito uma criança, porém precisava continuar firme e pensar. Alguma solução haveria. E foi então que lembrou-se, num estalo, da fala de Jullie enquanto se estapeavam. Se a mulher realmente estava com eles e tinha contato frequente com Apolo e, consequente, com … Talvez pudesse ajudar. Com isto em mente e, pensando não ter sido ser vista, se levantou do banco em que estava e saiu daquela praça, seguindo em direção aonde a outra mulher se encontrava.
De longe, a observava. Não a seguiu, não a ligou nem enviou uma mensagem. Apesar de nervoso e ter que ditar ordens atrás de ordens — mesmo que não estivesse no comando da situação —, estava confiando nela. Sabia que, de alguma forma, ela estaria ajudando a todos. Não entendia o porquê, mas sentia que estava fazendo algo em relação aquilo tudo. E eles só tinham mais vinte minutos antes da possível bomba explodir.
olhou em volta e suspirou. A área estava vazia, já que 80% dos policiais se encontrava na praça em que estava anteriormente, e aquele era o cenário perfeito para um ataque.
Ignorou tal pensamento e seguiu. Não tinha muito tempo, então não enrolou muito para adentrar a delegacia de Palermo, indo diretamente ao gabinete de Antoni sem ao menos ser parada, questionada ou anunciada. Não bateu na porta, também. Apenas entrou, encontrando Jullie, sozinha, passando uma maquiagem no rosto para esconder as marcas que recebera da jornalista, arrancando um riso fraco da mesma.
— O que faz aqui, ? — Jullie perguntou, jogando as maquiagens sobre a mesa do tio. — Pensei que havíamos terminado.
— Temos menos de vinte minutos para encontrar a outra bomba — foi direta. — O que sabe sobre isso?
— Sei tanto quanto vocês — a morena deu de ombros. — Por que eu saberia algo além?
— Algo me diz que isso tem dedo de Apolo e , e não é segredo que você se relaciona com os dois — respondeu calmamente. — Você disse que está do nosso lado, Jullie. Parece que chegou a hora de provar isso.
Jullie riu, revirando os olhos.
— Minha missão é outra, — levantou, encarando a jornalista nos olhos. — Vocês trouxeram o problema, vocês resolvem.
— Você é mesmo somente a sobrinha problema de Antoni? — perguntou, fazendo com que a outra sorrisse ladina.
— Sequer sou sua sobrinha de verdade — Jullie falou firme. — Mas isso não é da conta de vocês. E tenho a leve impressão de que estão perdendo tempo com a situação.
— Acha que não há bomba nenhuma?
— Tenho certeza disso. Para que atacar vocês quando se pode atacar a quem vocês amam? — Jullie a fitou nos olhos. — Vocês já provaram que podem se livrar facilmente de situações assim, não era você trancada no carro com uma bomba?
— Está me dizendo que…
— Estão brincando com vocês enquanto fazem um estrago maior — a morena interrompeu. — Talvez tenha algum outro atentado acontecendo, quiçá um assalto bilionário.
— Por que acha tudo isso, Jullie?
— Eu também sou uma agente, . Vocês não são os únicos na mira, nem os únicos que pensam — riu. — A diferença entre nós é que eu espero para agir. Para que a impulsividade quando se pode esperar algumas horas? Tenho certeza que bomba nenhuma explodirá em Palermo hoje. Mas, talvez, alguém possa acabar morto. Quem sabe?
— Fale claramente, Jullie — pediu, perdendo a paciência.
— Vocês estão no caminho errado, só isso que eu acho — respondeu calmamente. — Desde que chegaram aqui só andaram às cegas, foram enganados e quase morreram. Mas continuam achando que estão certos, não veem a verdade embaixo dos seus narizes, . Tem alguém querendo que façam isso, e vocês continuam sem desconfiar de nada.
— Acho que perdi meu tempo vindo aqui — murmurou, checando as horas no celular. — E nós ainda vamos pegar você também.
— Claro que perdeu — deu de ombros, rindo. — Vocês vão me pegar se eu não os pegar primeiro.
a fitou uma última vez e saiu daquele lugar que, de repente, havia se tornado sufocante. Estava confusa e com medo; não sabia mais o que fazer, não tinha opções, estava de mãos atadas.
Tinha pouco tempo para voltar à praça, mesmo com a cabeça a mil.
Correu, como havia corrido mais cedo, não demorando tanto a chegar em seu destino. Ao longe, podia ver policiais espalhados por todos os cantos, ainda sem encontrar nada. Estavam todos com semblantes tensos e amedrontados. Aquela situação não era muito comum por ali, embora toda a Sicília fosse palco de máfias perigosas. Os mafiosos da região costumavam respeitar bastante o local onde viviam e criavam suas famílias.
Ao longe, tinha um cigarro entre os lábios e as mãos afundadas nos cabelos bagunçados. Sem pensar mais, seguiu até ele.
— Quanto tempo temos? — perguntou, abaixando-se em frente ao amado, erguendo seu rosto com os dedos.
— Não muito, já perdi as contas. Estamos evacuando a região — respondeu. — Onde você estava?
— Fui tentar arrancar algo de Jullie — respondeu baixo. — Ela disse ter certeza que não há bomba alguma e que estamos seguindo pelo caminho errado, além de estarmos sendo enganados.
— Você realmente achou que ela abriria a boca? Ela está com eles, — suspirou, jogando o cigarro pela metade no chão. — E de qualquer forma, não podemos arriscar. Nós também precisamos sair daqui. Não temos tanto tempo.
— Eu… — se levantou e encarou . — Eu realmente estou considerando o que ela disse, . Ela estava calma demais para quem também poderia ser atingida. Se as informações que enviaram junto à ameaça estiverem corretas… Isso que colocaram vai explodir o bairro inteiro, praticamente. Porque está espalhado sob o chão.
— Por que acha que ela te disse a verdade?
— Porque enquanto rolávamos no chão, ela disse que estava com a gente — explicou. — E ela me deixou com uma pulga atrás da orelha dizendo que não enxergamos o que está embaixo de nossos narizes… Como se algum de nós estivesse conspirando. Mas vamos embora daqui. Precisamos saber como estão as coisas em Londres, Jesse também não tinha muito tempo.
****
Londres, Inglaterra.
Jesse odiava a sensação de estar fazendo a coisa errada. Algum tempo já havia se passado, e o prazo dos amigos em Palermo já estava chegando ao fim.
Àquela altura, já havia feito o que Emma sugeriu. Chamou o esquadrão antibomba, convocou os melhores agentes que tinha, reforços e recorreu à mídia. Ordenou um toque de recolher e pediu, em uma coletiva feita às pressas junto às autoridades, para que ninguém saísse de casa até que a situação se normalizasse. Estava tão nervoso quanto todos os seus cidadãos. No entanto, não podia dar-se o luxo de sentir medo ou pensar em desistir. Se tivesse que morrer naquele dia, morreria. Mas sua população continuaria a salvo, intacta, como prometera no dia que fizera seu juramento.
E devia aquilo aos amigos, em nome de tudo que viveram juntos.
A cidade estava um caos, e ele não sabia como lidar com isso. Tinha equipe de especialistas em bomba, agentes de campo e uma pequena equipe de inteligência em cada canto da cidade, de norte a sul, leste a oeste. Estava tudo cercado, e Londres parecia um cenário pós apocalíptico. As pessoas corriam para chegar a seus destinos, os policiais se misturavam aos cidadãos e Jesse Pender permanecia silencioso, observando tudo ao seu redor. Ia de um lado para outro, cruzando a cidade aos poucos e apenas observando. Nada parecia suspeito, não havia sequer um indício de bombas por ali. Não sabia o que esperar.
Seriam atacados, ele sentia isso. E ao sentir o celular vibrar no bolso da camisa, teve certeza de que Londres era o alvo da vez. O nome de Emma brilhava na tela, e ele conferiu a hora antes de atender.
A única hora que seus amigos tinham de limite em Palermo já chegara ao fim. E se Emma o estava ligando…
— Cobain — atendeu, tenso.
— Tudo sob controle por aqui, não explodimos — Emma foi direta, com a voz falhando.
— Ainda tenho algumas horas. A cidade está tomada por profissionais, não encontramos nenhum sinal de bomba por enquanto. Estão avaliando os túneis subterrâneos, estações de metrô e afins — Jesse suspirou. — Emma, escute. É um momento difícil, mas estamos bem e a salvo. Enviei Nicholas e Colbie para Bournemouth logo que recebi a ameaça. Beth foi com eles. Eu não sei o que me aguarda hoje, mas se o atentado for pesado como parecia na ameaça, a cidade vai ficar destruída e vocês perderão 90% dos policiais e especialistas, além de algumas pequenas equipes de inteligência que precisei chamar para criar uma rota segura. Não voltem para cá, mesmo que terminem o trabalho por aí antes da hora. Isso pode ser por causa de todos nós, para trazê-los de volta. Não voltem. Por favor, não voltem antes da hora.
— Nosso lugar é aí, Jesse.
— Não importa. Apenas não voltem antes da hora, tenho a sensação de que não vai parar por aqui, vão nos atacar de qualquer forma. E podem fazer algo pior com vocês — Jesse fitou o céu. — Mande Charlie entrar em contato.
— Certo. Obrigada, Jesse. Por tudo. Mantenha-se seguro.
Jesse guardou o celular após murmurar qualquer despedida. Não sabia o que fazer da própria vida, estava apenas observando a cidade se esvaziando rapidamente. Alguns agentes especiais transitavam por ali, davam-lhe informações e ele permanecia aéreo. Não havia nada que pudesse fazer, afinal. Ainda tinha três horas de vantagem, porém sequer sabia por onde começar a procurar alguma coisa. Todos os pontos turísticos famosos já estavam cercados, sendo avaliados minuciosamente.
Sua única opção era esperar a noite cair.
E ele esperaria.
****
Palermo, Sicília.
suspirou e olhou em volta do quarto em que estava. Já haviam voltado para a casa de Amanda e Joanne, junto com Emma. As garotas estavam assustadas e apreensivas, queriam ajudar, todos viam isso claramente, mas não tinham muito o que acrescentar a investigação. surgiu em sua frente, fazendo-a lembrar do que realmente era importante no momento: precisavam conversar.
O homem estava sem camisa, vestindo apenas uma calça jeans preta um pouco maior que seu corpo, deixando a cueca vermelha à mostra. E por um momento, considerou que o mais importante da situação era puxá-lo para uma transa demorada e selvagem.
— Você fica cada dia mais bonito — murmurou, com um sorriso fraco nos lábios.
riu, revirando os olhos.
— Mesmo com esse monte de cicatrizes? — perguntou, indo em direção a ela.
— Mesmo com esse monte de cicatrizes, — respondeu baixinho, puxando-o pelo pescoço para que aproximasse suas bocas. — Você é bonito se qualquer jeito, amor.
— Boba — soprou contra seus lábios, selando-os em seguida. — Você não sabe o que eu seria capaz de fazer para continuar aqui com você, assim, como se não tivesse nada acontecendo. Criando nosso mundo, como nas últimas férias em Bournemouth.
— Teremos outras chances — sussurrou, entrelaçando seus dedos. — Precisamos conversar, .
— … Se for sobre a noite passada, prefiro esperar estarmos em casa — o homem murmurou, olhando-a nos olhos.
— Eu não quero mais esperar, .
— Você esperou por mais de dois anos, . O que há de mal esperar mais uns dias?
— Olhe ao nosso redor — suspirou, soltando-se de e ficando de pé. — Nós não sabemos se estaremos vivos daqui a uns dias.
— E o que você quer falar? — perguntou, fechando os olhos por alguns segundos e voltando a encará-la logo em seguida. — Eu já entendi sua história, . E não me importo com as coisas ruins dela, já passou, e sei que você sabe a minha melhor do que eu mesmo. Sei que se aproximou por interesse e agora me ama tanto quanto te amo. O que mais pode ser tão importante?
— Aparentemente eu sou adotada e fiz todas essas coisas em vão, porque culpava seu pai pela forma que meus pais morreram e agora sei que ninguém teve nada a ver com aquilo. Foi apenas mais um ato de violência — murmurou. — Assim como boa parte da sua vida foi uma mentira, a minha também foi. Mas eu quero deixar isso para trás, quero que me perdoe por ter ido tão longe, por ter agido tão mal sem ao menos me conhecer realmente.
— E eu quero que me perdoe por ter sido tão estúpido tantas vezes — suspirou. — Estamos quites, . Nossos pais mentiram, nossos amigos, parentes, conhecidos, nós mentimos um para o outro. Mas agora já passou, não é mesmo?
sentiu um peso sair de suas costas ao ouvir as palavras de . O policial orgulhoso já não existia mais, ela sabia. E não podia estar mais feliz por tê-lo ao seu lado, apesar de tudo. As coisas estavam em seu devido lugar, o passado aos poucos era deixado de lado, para trás, onde deveria ficar para sempre.
— Sim, já passou — finalmente concordou. — Você me faz feliz, . Até mesmo quando agi mal, quando soube de e… você nunca desistiu de nós, mesmo lá no início quando afirmava me odiar.
— Não vamos falar sobre isso — referiu-se a . — Passou, amor. Passou. Mas, me diga, você me esconde mais alguma coisa?
— Não — respondeu, sem pensar. — Quero dizer… você me perguntou se eu já havia matado alguém. Eu disse que não, mas… — sua voz falhou, fazendo com que engolisse a seco e se aproximasse.
— Não é como se eu não tivesse notado a firmeza que você segura uma arma e tem boa mira, isso não partiu só dos treinamentos com seu pai ou sua experiência com a polícia — a confortou, abraçando-a e beijando seu ombro coberto pela blusa fina. — Eu não me importo com isso. Olhe só para mim…
— Foi o meu ex-namorado — sussurrou, escondendo-se no pescoço de . — Ele me fez coisas horríveis e depois voltou quando eu estava fragilizada, e estava armado. Pensei que ele…
— Shh, eu não quero saber — a interrompeu, apertando-a mais. — Eu já sei o suficiente sobre você, . Não preciso de mais. Seu passado não importa, assim como o meu não importou para você todo esse tempo.
— Tudo bem — suspirou. — Quando voltarmos para Londres, vou precisar que me ajude a lidar com minha mãe biológica. Ela é do tipo oportunista, Camille me explicou há uns dias quando liguei pra ela. Eu não queria saber de nada disso, mas… você me conhece.
— Nós vamos lidar com tudo isso juntos — afirmou. — Nada é capaz de nos separar, . Não depois de tudo o que passamos. E a cada dia eu percebo que te amo mais. Mesmo depois de tudo. Nosso passado… Não importa mais. Hoje eu entendo suas desconfianças antigas, entendo por que você fez cada coisinha e aprendi com cada uma delas, assim como você.
— Até mesmo quando você saiu do hospital e precisou enfrentar os tribunais e quase perdeu seu emprego e o direito de advogar? — murmurou.
— Principalmente nessa situação — riu com vontade. — Foi onde mais aprendi. E consegui ver que você é uma ótima aliada, porque retirou todas as queixas e ainda conseguiu contribuir para minha inocência; sendo que ela sequer existia em relação a certas acusações.
— O importante é que você ainda é o herói da nação — sorriu, lembrando das loucuras que fizera e como se desdobrara para modificar um pouquinho os papéis que provavam o quão culpado era.
No fim, naquele meio, ninguém era totalmente honesto. Nem mesmo quem estava acima deles, que por um punhado de dinheiro aceitou a testemunhar a favor do policial, três anos atrás. Mas isso continuaria guardando segredo, não precisava saber que ela gastou um pouquinho da própria herança limpando sua barra com um conhecido que tinha na patente alta.
— Tenho uma proposta para você — se afastou, secando as poucas lágrimas que deixou escapar. — Vamos queimar todas essas coisas sobre nosso passado e deixar somente o suficiente para acabarmos com . O que você acha?
— Eu acho perfeito — sorriu, indo até o criado mudo e pegando seu tão amado isqueiro.
riu e seguiu até sua mala, tirando duas pastas pretas de dentro da mesma. Leu rapidamente cada folha e separou-as organizadamente, enquanto ia até o banheiro pegar a lixeira de alumínio. Colocou-a no meio do quarto e riu, jogando papel por papel dentro da lixeira.
Incluindo os de sua adoção. E as explicações de sua mãe biológica e tudo que a envolvesse. Que se fodesse Lindsay, seu passado, a merda toda. Ali, era seu recomeço. Ao lado do homem que mais amava.
Atearam fogo nos papéis e abriram as janelas para que a fumaça não incomodasse tanto — esperavam, também, que ninguém se assustasse com aquela loucura.
sorriu e se aproximou de , segurando-o pela nuca.
— Assim que voltarmos a Londres, vamos recomeçar — sussurrou e sorriu, agarrando-a pela cintura e grudando seus corpos.
— Ao nosso recomeço, — murmurou e, sem esperar mais nada, grudou suas bocas como se fosse um brinde.
Ao nosso recomeço — pensou, sorrindo entre o ósculo que tanto amava.
Ao recomeço.
****
Londres, Inglaterra.
As horas passaram mais rápido do que esperava. Jesse sentia o coração apertado dentro do peito, o medo corria por suas veias e ele sentia que algo estava errado. Tudo o que mais desejava no momento era estar ao lado de Elizabeth e as crianças, protegendo-as como prometera, embora soubesse que, ali, de longe, também estava lhes dando proteção.
Estava próximo ao rio Tâmisa, olhando a grande London Eye de longe. Queria ter tempo o suficiente para aproveitar as coisas simples de sua cidade. Queria levar Elizabeth até ali, para depois saírem de mãos dadas enquanto riam feito dois adolescentes. Queria comer batatas fritas no jornal, como quando era jovem.
Jesse Pender sempre fora um homem de muitos sonhos e vontades, e tudo se intensificara após se relacionar com Elizabeth. Aquela mulher era tudo o que tinha, seu porto seguro. Estava ridiculamente apaixonado, e isso o fazia rir. Mesmo naquela situação tensa de só ter dez minutos para descobrir o que fazer em relação a um ataque terrorista.
O céu já estava escuro e não havia estrelas. As nuvens estavam carregadas, e sabia que a chuva cairia a qualquer momento.
Suspirou.
Não encontrara nada, era isso. E em breve todos iriam descobrir se aquelas ameaças eram verdadeiras ou não. As equipes permaneciam a postos. Todos armados, prontos para o combate. O esquadrão continuava a procurar por bombas ou qualquer outra coisa que pudesse causar algum dano à população. Não se preocupavam consigo mesmos. Morreriam se necessário, o importante era os cidadãos estarem sãos e salvos.
Ao checar o relógio no pulso uma última vez, Jesse revirou os olhos. Faltavam cinco minutos, ligaria para Elizabeth para ter certeza que tudo estava bem. Estava extremamente preocupado com Colbie após o incidente com o pai da menina, mas sabia que ela estava em boas mãos. Sua mãe havia se deslocado para Bournemouth junto a Elizabeth para que ela se sentisse mais segura; e estava dando certo, o agente esperava ao menos.
Elizabeth não demorou a atender o celular, Jesse sabia que ela estava nervosa.
— Amor! — a mulher exclamou. — Como estão as coisas?
— Oi, anjo — Jesse sorriu. — Na mesma, não encontramos nada. Faltam cinco minutos para sabermos até onde tudo era verdade.
— Nada disso é verdade, Jesse. Deixe de besteiras. Você se alimentou direito e bebeu bastante água? Sei que não parou um minuto sequer, mas espero que tenha se cuidado.
— Eu me cuidei, Beth. Se acalme, sim? — o homem riu. — Só liguei para saber como vocês estão e ouvir sua voz, ela me acalma.
— Sempre galanteador — Beth murmurou, e Jesse tinha certeza de que ela estava sorrindo feito uma boba. — Estamos bem, você cuida muito bem de nós. Não vejo a hora de tê-lo aqui comigo. Podemos emendar as férias depois desse susto.
— Ainda temos muito trabalho, mulher — Jesse riu mais uma vez, sentindo-se feliz. — Mas assim que aqueles desmiolados voltarem de Palermo, podemos viajar. Tirar férias. Ou simplesmente fugir do trabalho, o que acha? Podemos visitar Bora Bora no verão e nos casar por lá.
— Está mesmo me pedindo em casamento pelo telefone, agente Pender? — Elizabeth fez-se de ofendida, arrancando uma risada do namorado.
— É o que temos para hoje, querida. Mas me diz. O tempo está passando, não posso morrer sem sua resposta — brincou, fazendo com que Elizabeth bufasse contrariada. Não gostava de seu humor ácido.
— Pare com essas brincadeiras, idiota. E é claro que caso com você. Mas ainda quero um pedido oficial.
— Ótimo, então casaremos em Bora Bora no próximo verão. Que tal um noivado com seus pais, nossos amigos e um Jesse Pender de joelhos aos seus pés?
— Eu acho ótimo, Pender — Beth murmurou, ficando alguns segundos em silêncio. Voltou a falar com cautela, enquanto Jesse tentava manter a calma. — Falta um minuto, agora. Não vou desligar.
Jesse murmurou em concordância e continuou com o celular colado à orelha.
— Oficial?
Uma voz ecoou atrás de Jesse, fazendo-o virar e encarar o dono da mesma. Era um dos policiais, mas não lembrava de tê-lo visto.
Provavelmente algum novato que estava em seus primeiros trabalhos, do contrário Jesse o reconheceria.
— Sim?
— Trouxe uma surpresa para o senhor.
Jesse não entendeu o que aquele homem dizia, apenas arqueou uma das sobrancelhas e pensou ser uma surpresa de Elizabeth.
— Enviou uma surpresa para mim no meio do expediente, Beth? — perguntou, risonho.
No entanto, quando o homem abriu o grande casaco preto que vestia, Pender sentiu seu corpo tremer e a garganta secar.
— Surpresa? Que surpresa, amor? — Elizabeth o chamou, mas não conseguira responder. — Jesse Pender, me responda. Faltam só alguns segundos, não me diga que só agora você encontrou o problema! Jesse!
O agente não conseguia desviar os olhos do corpo minado à sua frente.
Poderia tentar correr, gritar, mas não resolveria. O homem tinha bombas espalhadas por todo o tronco. E aquilo faria um belo estrago no local em que estava; e ele não tinha mais salvação.
O atentado verdadeiro era aquele. Sobre ele.
Sobre sua cidade.
Homens bomba.
Mas não tiveram tempo de recorrer aos companheiros, não conseguira se expressar e algo lhe dizia que alguns estavam na mesma situação que a sua. Os olhos estavam lacrimejando e brilhavam como as estrelas que não estavam no céu. Ironicamente, toda sua. vida passara diante de seus olhos. Seus momentos com Elizabeth. O amor que sentiam um pelo outro. Como estava feliz. E não tinha o que fazer, se não entregar-se.
— Eu te amo, Elizabeth. Eu te amo.
E após essas palavras, tudo que Elizabeth ouvira do outro lado da linha fora uma explosão ensurdecedora, fazendo com que soltasse o celular sobre o sofá no susto.
Não.
Jesse.
Explosão.
Porra, não!
— Jesse? — chamou, mas a linha estava muda. — Amor, por favor… Jesse!
****
Palermo, Sicília.
A Europa estava alarmada, em total desespero. E era engraçado a ironia de tudo. Há algumas horas, ninguém era capaz de ao menos pensar que algo tão horrível poderia ser capaz de acontecer. Ainda mais em uma das cidades mais bonitas e seguras do continente. estava ofegante e o coração batia rápido, enquanto e Emma ao seu lado seguravam as lágrimas.
O susto foi inevitável quando Amanda apareceu gritando pela casa, e tudo pareceu acontecer em câmera lenta após a simples fala da garota. Londres sofrera um atentado de uma dúzia de homens bomba ao mesmo tempo. Se perguntavam por que diabos esses homens aceitavam tais condições, se acabariam morrendo junto às vítimas. Prazer, crença…? Ninguém sabia de fato.
— O Jesse… — Emma tentou falar, porém engasgou-se nas próprias lágrimas, permitindo-se desabar de uma vez por todas. E aquilo fora o suficiente para todos os presentes se permitirem também.
tinha o rosto banhado em lágrimas de uma forma que não se lembrava de já ter tido; os ombros sacudiram em agonia e os soluços saíam altos, enquanto abraçava seu corpo com força, no mesmo estado.
Não sabiam mais se choravam a perda de um amigo, de um profissional, de outras pessoas que não tinham a ver com aquilo, por culpa ou por pesar. Apenas choravam juntos, imaginando a agonia que todos haviam sentido ao dar de cara com a situação.
O celular de tocou alto no meio da sala, fazendo com que se soltasse de para atender. Ao ler o nome de Elizabeth na tela, sentiu o peito comprimir e não teve forças para falar. Apenas entregou o aparelho nas mãos trêmulas do amado, que ainda soluçava. Ele saberia lidar com Beth melhor do que ela, eram amigos acima de qualquer coisa.
— Beth — murmurou, ainda choroso. — Por que, Beth, o que fizemos de tão ruim nessa vida?
— Ele havia me pedido em casamento, — Elizabeth sussurrou, fazendo com que o choro do policial aumentasse. — Eu não sei o que fazer, não sei. Meu Deus, eu não sei o que fazer! Ele estava falando comigo na hora, só ouvi a explosão e… — calou-se em meio a explicação, voltando a chorar tão compulsivamente quanto .
Os corações doíam como nunca. Mesmo que Jesse não fosse o primeiro — e tampouco seria o último, qualquer um ali poderia ser o próximo — a perderem naquela profissão, estava doendo como o inferno.
O peito de queimava em culpa, sabendo que aquele atentado poderia ter sido contra ele. Preferia que fosse. Jesse era um amigo e tanto, ajudava ao máximo, se esforçava e amava a todos; não fazia questão de esconder, nos momentos de folga, o quanto adorava cada um daquela delegacia. Dava seu próprio sangue para cuidar da população e amigos. Era um ser humano digno. Um exemplo a ser seguido. Um verdadeiro herói.
— Eu vou encontrar quem fez isso, Beth — sussurrou, fungando. — É uma promessa.
Elizabeth murmurou algo que não se deu ao trabalho de entender. Não conseguia, não aguentava mais. Estava saturado daquilo tudo.
— Nós vamos encontrar o responsável — disse de maneira firme, embora ainda chorasse um pouco. — Juntos, . Nós vamos encontrar o responsável. Assim como Jesse lutou até o último segundo por cada um de nós, faremos o mesmo para honrar sua memória.
a fitou encantado, emocionado e mais um milhão de outras coisas que sequer conseguia distinguir. Só conseguia pensar na sorte que tinha por amar uma mulher como ela.
Olhou ao redor e Emma o encarava tão determinada quanto , lembrando-o que enquanto todos ali estivessem juntos, tudo daria certo.
Aquela tempestade iria passar.
Jesse seria vingado, marcado como um verdadeiro herói. Teria seu rosto estampado por todo o mundo como merecia. Seria o agente Jesse Pender que protegeu a população com a própria vida, assim como todas as outras vítimas. iria vingar-se em nome de cada um. Sabia exatamente por onde começar, e o mais importante: não estava sozinho.
— Beth, ainda está aí? — chamou ao dar-se conta que o celular ainda estava em sua orelha, segurando firmemente a mão de e entrelaçando seus dedos.
— Sim.
— Nós vamos encontrar quem fez isso e vingar cada vítima dessa tragédia premeditada.
— Eu sei que vamos — Elizabeth respondeu firme. — Confio no nosso trabalho.
— Estaremos de volta a Londres em dois dias. Não faça nada.
— Estarei esperando. Obrigada, . Por ainda ser meu amigo. Por ter confiado em mim e no Jesse. Por ter nos ajudado, por continuar firme. Isso não foi culpa sua.
não teve tempo de responder, a ligação logo fora cortada. Tentou mentalizar que não havia sido sua culpa, mas sabia que não era apenas uma coincidência ou um acordo entre terroristas que odiavam a Europa. Aquilo cheirava a . A podridão. A ódio. Ao seu próprio irmão.
— Não pense agora, amor — murmurou, tentando não chorar mais e beijando o topo da cabeça do amado. — Apenas não pense.
rendeu-se às lágrimas novamente, afundando o rosto na barriga de e a apertando com força. Ali, em seu porto seguro, permitiu-se enfraquecer por alguns instantes. Não ouviu as palavras de conforto das primas, tampouco reparou em um Charlie afobado adentrando a casa e indo em direção a Emma ainda desolada.
Apenas chorou e colocou para fora todos os seus medos no único colo que importava e amava. Em silêncio e com toda a força que tinha, o apertou nos braços e acarinhou seus cabelos. Seu coração estava estraçalhado. Em migalhas. Só queria que aquilo passasse, acabasse. Não mereciam passar por tantas coisas daquela forma, haviam mudado e lutado pela vida. Salvaram uns aqui, outros acolá. Não mereciam. Eram tão mais do que aquilo, tão maiores.
E sem perceber, deixou que o ódio corresse por suas veias de forma que não sentia há anos. Mais do que nunca, assim como cada um naquela sala, queria pegar quem fizera todo aquele inferno.
E pegariam. Juntos.
Ser caçado já era uma rotina, sabia desde o início que seria desse jeito.
Não se arrependia de escolher tal profissão já que, se quisesse, poderia simplesmente advogar. No entanto, jamais aceitaria que caçassem outras pessoas em seu lugar. Inocentes não deveriam morrer por sua causa; pelo contrário, ele, como homem da lei — apesar de não segui-las corretamente —, deveria proteger e cuidar de quem estivesse em volta, jurara perante a todos que o faria. Aquele era seu trabalho, era o que amava fazer. Arriscaria o quanto fosse necessário para proteger todos à sua volta.
O vento gelado batia em seu rosto suado como tapas, ainda corria às cegas tentando encontrar Emma no meio da praça.
Aparentemente, havia outra bomba por ali. O lugar estava agitado, pessoas agarravam suas crianças e afastavam-se ao máximo com os olhos arregalados. O medo impregnava toda a cidade, sobretudo aquela região em que estavam; ele podia ver e sentir, mas não se importava. O medo já fazia parte de si.
Ao parar em meio ao local, enquanto vasculhava tudo com o olhar à procura de Emma, sentiu uma mão macia juntar-se a sua. Olhou para o lado assustado, encontrando a única pessoa capaz de acalmá-lo naquele momento: . Havia esquecido que, ao sair da sala de Antoni sem ao menos se importar se poderia se ferir ao dar as costas para o delegado, a mulher o seguira em questão de segundos.
mostrava-se mais destemida que antes. Parecia uma outra mulher, mas com a mesma essência — o que o fazia apaixonar-se cada vez mais. a amava. Era encantado por aquela jornalista. Amava senti-la, tê-la.
era sua única companheira para todos os momentos. E ao constatar isso, o passado pouco o importava. O que esconderam um do outro, as palavras de baixo calão que já haviam sido trocadas, os sustos, os medos, as desconfianças, tudo sumia de sua mente; não valia a pena prender-se a coisas tão pequenas diante de sentimentos tão grandes e fortes.
— Estou aqui — murmurou. — Vai ficar tudo bem, sim?
— Está tão óbvio assim o meu medo? — sussurrou.
A jornalista segurou sua mão com mais força e sorriu fraquinho, não se dando o trabalho de responder aquilo; não era necessário. Logo encontrou Emma em meio a multidão de policiais, e murmurou:
— Vamos. Temos um atentado para impedir.
Londres, Inglaterra.
Jesse andava de um lado para o outro em uma das salas da delegacia. Havia recebido uma ameaça das grandes.
Normalmente não se importava com aquilo, era o mais comum em sua profissão; principalmente por ser o agente que mais se infiltrava entre os bandidos. Sua cara estava marcada. Contudo, a daquele dia fora diferente e ameaçava toda sua cidade. Sua tão amada Londres estava em perigo; e ele estava sozinho. Por mais que tivesse uma equipe totalmente capaz, os melhores agentes — e amigos — estavam longe dali.
Jesse não tinha em quem confiar, a não ser Elizabeth.
E tinha apenas cinco horas para encontrar a fonte daquela ameaça e impedir uma explosão num ponto turístico.
Sua cidade estava sendo ameaçada e os terroristas em questão ainda lhe deram um prazo; se não cumprisse, tudo iria pelos ares. Literalmente.
Com as mãos trêmulas, Jesse puxou o celular do bolso. Teria que recorrer a sua única opção, não tinha experiência com aquele tipo de situação, embora tivesse conhecimento necessário para lidar com aquilo. Mas precisava tanto, tanto de uma opinião em relação aquilo.
Seus amigos, em Palermo, era sua única opção. Algo em seu interior dizia que a ameaça, verdadeira ou não, tinha a ver com todos eles. Juntos. E precisavam resolver daquela forma: juntos.
O agente não esperou muito na linha, logo a voz tensa de Emma adentrou seus ouvidos.
— Pender. Oi. Estamos em missão.
— Estamos sendo ameaçados de sofrer um atentado, Emma.
— O quê? — Emma praticamente sussurrou. — Pender… Porra! As crianças, onde estão as crianças? Você já anunciou isso? Faça um toque de recolher, proíba a cidade de sair de casa, não sei! Estamos com uma bomba em praça pública aqui também!
— Tenho cinco horas para que a cidade não exploda. Não sei por onde começar, Emma. Estou tão apavorado quanto você.
— Por Deus, Jesse! — A mulher exclamou, nervosa demais para raciocinar. Sabia que aquela não era a área de Jesse e que alguém deveria ter ficado para ajudá-lo. — Escute. Entre em contato com as autoridades maiores. Faça um anúncio. Busque ajuda política, peça para que eles te guiem nos anúncios. Dê uma coletiva emergencial. Pare os noticiários. Fale para que as pessoas fiquem em casa e seguras até que vocês consigam resolver isso. Procure pelos lugares mais frequentados. Chame os especialistas. Nossos melhores estão aí. Eu preciso controlar o atentado daqui, temos menos de uma hora. Vire Londres do avesso, se necessário.
— Tudo bem — Jesse suspirou. — Me desculpe por te preocupar e obrigado por me guiar. Prometo que tudo ficará bem. Um desses atentados deve ser falso.
— Eu espero que o daí seja falso. Proteja nossas crianças, Pender.
Não foi preciso uma despedida maior; logo ambos desligaram. O coração de Jesse estava apertado, o medo corroía suas entranhas. Precisava proteger a população, as crianças, a si mesmo. E sabia, agora, que em Palermo não era tão diferente.
Só esperava que conseguissem cuidar de ambas as cidades e que as ameaças e atentados não se espalhassem pelo resto da Europa. Não saberia o que fazer se isso acontecesse; algo em seu ser ainda gritava que tudo aquilo era culpa deles.
Palermo, Sicília.
— O que vamos fazer se uma das ameaças realmente for falsa? — Emma perguntou baixinho, enquanto sentia as mãos tremerem em desespero. estava ao seu lado enquanto gritava ordens numa mistura de inglês e um italiano não muito bom.
— O de lá será o falso — disse firmemente. — Tudo dará certo, Emma. Não perca o controle. Precisamos de você.
— E onde está o Charlie? — mudou de assunto. — Não consigo ligar. Ele não responde as mensagens. Não sei o que fazer, .
— Quando chegamos ao gabinete de Antoni, ele estava saindo — respondeu a amiga. — Pensei que ele viria atrás de você.
— Inferno! — Emma revirou os olhos. — Que se dane. Vamos logo resolver isso. Se tivermos que morrer hoje, que seja logo.
tentou rebater, mas não tivera tempo. Emma já havia se levantado e ido para longe, ajustando o colete a prova de balas em seu corpo.
A jornalista continuou ali pensando sobre tudo. Estava em choque e preocupada; não sabia o que fazer, e tampouco poderia. Sabia que nada daquilo era por acaso, como tudo que os cercava desde sempre. Era tudo premeditado. Os acidentes, as ameaças, as mortes, tudo. Tinha alguém muito importante e grande por trás daquilo, ela sabia, sentia, e tudo o que podia fazer era torcer para que saíssem vivos… Para que nenhuma ameaça fosse real, para que todos ficassem bem como deveria ser. Não aguentava mais viver em alerta, em meio a tanta tensão e medo. Estava apavorada e, àquela altura, o suor frio escorria por seu rosto e morria em seu pescoço.
estava nervosa, trêmula, com medo. Mas engolia cada sentimento ruim que sentia, queria passar segurança e determinação para as pessoas que amava, mesmo que estivesse a ponto de desistir e render-se ao medo. Sua vontade era de sentar em um canto e chorar feito uma criança, porém precisava continuar firme e pensar. Alguma solução haveria. E foi então que lembrou-se, num estalo, da fala de Jullie enquanto se estapeavam. Se a mulher realmente estava com eles e tinha contato frequente com Apolo e, consequente, com … Talvez pudesse ajudar. Com isto em mente e, pensando não ter sido ser vista, se levantou do banco em que estava e saiu daquela praça, seguindo em direção aonde a outra mulher se encontrava.
De longe, a observava. Não a seguiu, não a ligou nem enviou uma mensagem. Apesar de nervoso e ter que ditar ordens atrás de ordens — mesmo que não estivesse no comando da situação —, estava confiando nela. Sabia que, de alguma forma, ela estaria ajudando a todos. Não entendia o porquê, mas sentia que estava fazendo algo em relação aquilo tudo. E eles só tinham mais vinte minutos antes da possível bomba explodir.
olhou em volta e suspirou. A área estava vazia, já que 80% dos policiais se encontrava na praça em que estava anteriormente, e aquele era o cenário perfeito para um ataque.
Ignorou tal pensamento e seguiu. Não tinha muito tempo, então não enrolou muito para adentrar a delegacia de Palermo, indo diretamente ao gabinete de Antoni sem ao menos ser parada, questionada ou anunciada. Não bateu na porta, também. Apenas entrou, encontrando Jullie, sozinha, passando uma maquiagem no rosto para esconder as marcas que recebera da jornalista, arrancando um riso fraco da mesma.
— O que faz aqui, ? — Jullie perguntou, jogando as maquiagens sobre a mesa do tio. — Pensei que havíamos terminado.
— Temos menos de vinte minutos para encontrar a outra bomba — foi direta. — O que sabe sobre isso?
— Sei tanto quanto vocês — a morena deu de ombros. — Por que eu saberia algo além?
— Algo me diz que isso tem dedo de Apolo e , e não é segredo que você se relaciona com os dois — respondeu calmamente. — Você disse que está do nosso lado, Jullie. Parece que chegou a hora de provar isso.
Jullie riu, revirando os olhos.
— Minha missão é outra, — levantou, encarando a jornalista nos olhos. — Vocês trouxeram o problema, vocês resolvem.
— Você é mesmo somente a sobrinha problema de Antoni? — perguntou, fazendo com que a outra sorrisse ladina.
— Sequer sou sua sobrinha de verdade — Jullie falou firme. — Mas isso não é da conta de vocês. E tenho a leve impressão de que estão perdendo tempo com a situação.
— Acha que não há bomba nenhuma?
— Tenho certeza disso. Para que atacar vocês quando se pode atacar a quem vocês amam? — Jullie a fitou nos olhos. — Vocês já provaram que podem se livrar facilmente de situações assim, não era você trancada no carro com uma bomba?
— Está me dizendo que…
— Estão brincando com vocês enquanto fazem um estrago maior — a morena interrompeu. — Talvez tenha algum outro atentado acontecendo, quiçá um assalto bilionário.
— Por que acha tudo isso, Jullie?
— Eu também sou uma agente, . Vocês não são os únicos na mira, nem os únicos que pensam — riu. — A diferença entre nós é que eu espero para agir. Para que a impulsividade quando se pode esperar algumas horas? Tenho certeza que bomba nenhuma explodirá em Palermo hoje. Mas, talvez, alguém possa acabar morto. Quem sabe?
— Fale claramente, Jullie — pediu, perdendo a paciência.
— Vocês estão no caminho errado, só isso que eu acho — respondeu calmamente. — Desde que chegaram aqui só andaram às cegas, foram enganados e quase morreram. Mas continuam achando que estão certos, não veem a verdade embaixo dos seus narizes, . Tem alguém querendo que façam isso, e vocês continuam sem desconfiar de nada.
— Acho que perdi meu tempo vindo aqui — murmurou, checando as horas no celular. — E nós ainda vamos pegar você também.
— Claro que perdeu — deu de ombros, rindo. — Vocês vão me pegar se eu não os pegar primeiro.
a fitou uma última vez e saiu daquele lugar que, de repente, havia se tornado sufocante. Estava confusa e com medo; não sabia mais o que fazer, não tinha opções, estava de mãos atadas.
Tinha pouco tempo para voltar à praça, mesmo com a cabeça a mil.
Correu, como havia corrido mais cedo, não demorando tanto a chegar em seu destino. Ao longe, podia ver policiais espalhados por todos os cantos, ainda sem encontrar nada. Estavam todos com semblantes tensos e amedrontados. Aquela situação não era muito comum por ali, embora toda a Sicília fosse palco de máfias perigosas. Os mafiosos da região costumavam respeitar bastante o local onde viviam e criavam suas famílias.
Ao longe, tinha um cigarro entre os lábios e as mãos afundadas nos cabelos bagunçados. Sem pensar mais, seguiu até ele.
— Quanto tempo temos? — perguntou, abaixando-se em frente ao amado, erguendo seu rosto com os dedos.
— Não muito, já perdi as contas. Estamos evacuando a região — respondeu. — Onde você estava?
— Fui tentar arrancar algo de Jullie — respondeu baixo. — Ela disse ter certeza que não há bomba alguma e que estamos seguindo pelo caminho errado, além de estarmos sendo enganados.
— Você realmente achou que ela abriria a boca? Ela está com eles, — suspirou, jogando o cigarro pela metade no chão. — E de qualquer forma, não podemos arriscar. Nós também precisamos sair daqui. Não temos tanto tempo.
— Eu… — se levantou e encarou . — Eu realmente estou considerando o que ela disse, . Ela estava calma demais para quem também poderia ser atingida. Se as informações que enviaram junto à ameaça estiverem corretas… Isso que colocaram vai explodir o bairro inteiro, praticamente. Porque está espalhado sob o chão.
— Por que acha que ela te disse a verdade?
— Porque enquanto rolávamos no chão, ela disse que estava com a gente — explicou. — E ela me deixou com uma pulga atrás da orelha dizendo que não enxergamos o que está embaixo de nossos narizes… Como se algum de nós estivesse conspirando. Mas vamos embora daqui. Precisamos saber como estão as coisas em Londres, Jesse também não tinha muito tempo.
Londres, Inglaterra.
Jesse odiava a sensação de estar fazendo a coisa errada. Algum tempo já havia se passado, e o prazo dos amigos em Palermo já estava chegando ao fim.
Àquela altura, já havia feito o que Emma sugeriu. Chamou o esquadrão antibomba, convocou os melhores agentes que tinha, reforços e recorreu à mídia. Ordenou um toque de recolher e pediu, em uma coletiva feita às pressas junto às autoridades, para que ninguém saísse de casa até que a situação se normalizasse. Estava tão nervoso quanto todos os seus cidadãos. No entanto, não podia dar-se o luxo de sentir medo ou pensar em desistir. Se tivesse que morrer naquele dia, morreria. Mas sua população continuaria a salvo, intacta, como prometera no dia que fizera seu juramento.
E devia aquilo aos amigos, em nome de tudo que viveram juntos.
A cidade estava um caos, e ele não sabia como lidar com isso. Tinha equipe de especialistas em bomba, agentes de campo e uma pequena equipe de inteligência em cada canto da cidade, de norte a sul, leste a oeste. Estava tudo cercado, e Londres parecia um cenário pós apocalíptico. As pessoas corriam para chegar a seus destinos, os policiais se misturavam aos cidadãos e Jesse Pender permanecia silencioso, observando tudo ao seu redor. Ia de um lado para outro, cruzando a cidade aos poucos e apenas observando. Nada parecia suspeito, não havia sequer um indício de bombas por ali. Não sabia o que esperar.
Seriam atacados, ele sentia isso. E ao sentir o celular vibrar no bolso da camisa, teve certeza de que Londres era o alvo da vez. O nome de Emma brilhava na tela, e ele conferiu a hora antes de atender.
A única hora que seus amigos tinham de limite em Palermo já chegara ao fim. E se Emma o estava ligando…
— Cobain — atendeu, tenso.
— Tudo sob controle por aqui, não explodimos — Emma foi direta, com a voz falhando.
— Ainda tenho algumas horas. A cidade está tomada por profissionais, não encontramos nenhum sinal de bomba por enquanto. Estão avaliando os túneis subterrâneos, estações de metrô e afins — Jesse suspirou. — Emma, escute. É um momento difícil, mas estamos bem e a salvo. Enviei Nicholas e Colbie para Bournemouth logo que recebi a ameaça. Beth foi com eles. Eu não sei o que me aguarda hoje, mas se o atentado for pesado como parecia na ameaça, a cidade vai ficar destruída e vocês perderão 90% dos policiais e especialistas, além de algumas pequenas equipes de inteligência que precisei chamar para criar uma rota segura. Não voltem para cá, mesmo que terminem o trabalho por aí antes da hora. Isso pode ser por causa de todos nós, para trazê-los de volta. Não voltem. Por favor, não voltem antes da hora.
— Nosso lugar é aí, Jesse.
— Não importa. Apenas não voltem antes da hora, tenho a sensação de que não vai parar por aqui, vão nos atacar de qualquer forma. E podem fazer algo pior com vocês — Jesse fitou o céu. — Mande Charlie entrar em contato.
— Certo. Obrigada, Jesse. Por tudo. Mantenha-se seguro.
Jesse guardou o celular após murmurar qualquer despedida. Não sabia o que fazer da própria vida, estava apenas observando a cidade se esvaziando rapidamente. Alguns agentes especiais transitavam por ali, davam-lhe informações e ele permanecia aéreo. Não havia nada que pudesse fazer, afinal. Ainda tinha três horas de vantagem, porém sequer sabia por onde começar a procurar alguma coisa. Todos os pontos turísticos famosos já estavam cercados, sendo avaliados minuciosamente.
Sua única opção era esperar a noite cair.
E ele esperaria.
Palermo, Sicília.
suspirou e olhou em volta do quarto em que estava. Já haviam voltado para a casa de Amanda e Joanne, junto com Emma. As garotas estavam assustadas e apreensivas, queriam ajudar, todos viam isso claramente, mas não tinham muito o que acrescentar a investigação. surgiu em sua frente, fazendo-a lembrar do que realmente era importante no momento: precisavam conversar.
O homem estava sem camisa, vestindo apenas uma calça jeans preta um pouco maior que seu corpo, deixando a cueca vermelha à mostra. E por um momento, considerou que o mais importante da situação era puxá-lo para uma transa demorada e selvagem.
— Você fica cada dia mais bonito — murmurou, com um sorriso fraco nos lábios.
riu, revirando os olhos.
— Mesmo com esse monte de cicatrizes? — perguntou, indo em direção a ela.
— Mesmo com esse monte de cicatrizes, — respondeu baixinho, puxando-o pelo pescoço para que aproximasse suas bocas. — Você é bonito se qualquer jeito, amor.
— Boba — soprou contra seus lábios, selando-os em seguida. — Você não sabe o que eu seria capaz de fazer para continuar aqui com você, assim, como se não tivesse nada acontecendo. Criando nosso mundo, como nas últimas férias em Bournemouth.
— Teremos outras chances — sussurrou, entrelaçando seus dedos. — Precisamos conversar, .
— … Se for sobre a noite passada, prefiro esperar estarmos em casa — o homem murmurou, olhando-a nos olhos.
— Eu não quero mais esperar, .
— Você esperou por mais de dois anos, . O que há de mal esperar mais uns dias?
— Olhe ao nosso redor — suspirou, soltando-se de e ficando de pé. — Nós não sabemos se estaremos vivos daqui a uns dias.
— E o que você quer falar? — perguntou, fechando os olhos por alguns segundos e voltando a encará-la logo em seguida. — Eu já entendi sua história, . E não me importo com as coisas ruins dela, já passou, e sei que você sabe a minha melhor do que eu mesmo. Sei que se aproximou por interesse e agora me ama tanto quanto te amo. O que mais pode ser tão importante?
— Aparentemente eu sou adotada e fiz todas essas coisas em vão, porque culpava seu pai pela forma que meus pais morreram e agora sei que ninguém teve nada a ver com aquilo. Foi apenas mais um ato de violência — murmurou. — Assim como boa parte da sua vida foi uma mentira, a minha também foi. Mas eu quero deixar isso para trás, quero que me perdoe por ter ido tão longe, por ter agido tão mal sem ao menos me conhecer realmente.
— E eu quero que me perdoe por ter sido tão estúpido tantas vezes — suspirou. — Estamos quites, . Nossos pais mentiram, nossos amigos, parentes, conhecidos, nós mentimos um para o outro. Mas agora já passou, não é mesmo?
sentiu um peso sair de suas costas ao ouvir as palavras de . O policial orgulhoso já não existia mais, ela sabia. E não podia estar mais feliz por tê-lo ao seu lado, apesar de tudo. As coisas estavam em seu devido lugar, o passado aos poucos era deixado de lado, para trás, onde deveria ficar para sempre.
— Sim, já passou — finalmente concordou. — Você me faz feliz, . Até mesmo quando agi mal, quando soube de e… você nunca desistiu de nós, mesmo lá no início quando afirmava me odiar.
— Não vamos falar sobre isso — referiu-se a . — Passou, amor. Passou. Mas, me diga, você me esconde mais alguma coisa?
— Não — respondeu, sem pensar. — Quero dizer… você me perguntou se eu já havia matado alguém. Eu disse que não, mas… — sua voz falhou, fazendo com que engolisse a seco e se aproximasse.
— Não é como se eu não tivesse notado a firmeza que você segura uma arma e tem boa mira, isso não partiu só dos treinamentos com seu pai ou sua experiência com a polícia — a confortou, abraçando-a e beijando seu ombro coberto pela blusa fina. — Eu não me importo com isso. Olhe só para mim…
— Foi o meu ex-namorado — sussurrou, escondendo-se no pescoço de . — Ele me fez coisas horríveis e depois voltou quando eu estava fragilizada, e estava armado. Pensei que ele…
— Shh, eu não quero saber — a interrompeu, apertando-a mais. — Eu já sei o suficiente sobre você, . Não preciso de mais. Seu passado não importa, assim como o meu não importou para você todo esse tempo.
— Tudo bem — suspirou. — Quando voltarmos para Londres, vou precisar que me ajude a lidar com minha mãe biológica. Ela é do tipo oportunista, Camille me explicou há uns dias quando liguei pra ela. Eu não queria saber de nada disso, mas… você me conhece.
— Nós vamos lidar com tudo isso juntos — afirmou. — Nada é capaz de nos separar, . Não depois de tudo o que passamos. E a cada dia eu percebo que te amo mais. Mesmo depois de tudo. Nosso passado… Não importa mais. Hoje eu entendo suas desconfianças antigas, entendo por que você fez cada coisinha e aprendi com cada uma delas, assim como você.
— Até mesmo quando você saiu do hospital e precisou enfrentar os tribunais e quase perdeu seu emprego e o direito de advogar? — murmurou.
— Principalmente nessa situação — riu com vontade. — Foi onde mais aprendi. E consegui ver que você é uma ótima aliada, porque retirou todas as queixas e ainda conseguiu contribuir para minha inocência; sendo que ela sequer existia em relação a certas acusações.
— O importante é que você ainda é o herói da nação — sorriu, lembrando das loucuras que fizera e como se desdobrara para modificar um pouquinho os papéis que provavam o quão culpado era.
No fim, naquele meio, ninguém era totalmente honesto. Nem mesmo quem estava acima deles, que por um punhado de dinheiro aceitou a testemunhar a favor do policial, três anos atrás. Mas isso continuaria guardando segredo, não precisava saber que ela gastou um pouquinho da própria herança limpando sua barra com um conhecido que tinha na patente alta.
— Tenho uma proposta para você — se afastou, secando as poucas lágrimas que deixou escapar. — Vamos queimar todas essas coisas sobre nosso passado e deixar somente o suficiente para acabarmos com . O que você acha?
— Eu acho perfeito — sorriu, indo até o criado mudo e pegando seu tão amado isqueiro.
riu e seguiu até sua mala, tirando duas pastas pretas de dentro da mesma. Leu rapidamente cada folha e separou-as organizadamente, enquanto ia até o banheiro pegar a lixeira de alumínio. Colocou-a no meio do quarto e riu, jogando papel por papel dentro da lixeira.
Incluindo os de sua adoção. E as explicações de sua mãe biológica e tudo que a envolvesse. Que se fodesse Lindsay, seu passado, a merda toda. Ali, era seu recomeço. Ao lado do homem que mais amava.
Atearam fogo nos papéis e abriram as janelas para que a fumaça não incomodasse tanto — esperavam, também, que ninguém se assustasse com aquela loucura.
sorriu e se aproximou de , segurando-o pela nuca.
— Assim que voltarmos a Londres, vamos recomeçar — sussurrou e sorriu, agarrando-a pela cintura e grudando seus corpos.
— Ao nosso recomeço, — murmurou e, sem esperar mais nada, grudou suas bocas como se fosse um brinde.
Ao nosso recomeço — pensou, sorrindo entre o ósculo que tanto amava.
Ao recomeço.
Londres, Inglaterra.
As horas passaram mais rápido do que esperava. Jesse sentia o coração apertado dentro do peito, o medo corria por suas veias e ele sentia que algo estava errado. Tudo o que mais desejava no momento era estar ao lado de Elizabeth e as crianças, protegendo-as como prometera, embora soubesse que, ali, de longe, também estava lhes dando proteção.
Estava próximo ao rio Tâmisa, olhando a grande London Eye de longe. Queria ter tempo o suficiente para aproveitar as coisas simples de sua cidade. Queria levar Elizabeth até ali, para depois saírem de mãos dadas enquanto riam feito dois adolescentes. Queria comer batatas fritas no jornal, como quando era jovem.
Jesse Pender sempre fora um homem de muitos sonhos e vontades, e tudo se intensificara após se relacionar com Elizabeth. Aquela mulher era tudo o que tinha, seu porto seguro. Estava ridiculamente apaixonado, e isso o fazia rir. Mesmo naquela situação tensa de só ter dez minutos para descobrir o que fazer em relação a um ataque terrorista.
O céu já estava escuro e não havia estrelas. As nuvens estavam carregadas, e sabia que a chuva cairia a qualquer momento.
Suspirou.
Não encontrara nada, era isso. E em breve todos iriam descobrir se aquelas ameaças eram verdadeiras ou não. As equipes permaneciam a postos. Todos armados, prontos para o combate. O esquadrão continuava a procurar por bombas ou qualquer outra coisa que pudesse causar algum dano à população. Não se preocupavam consigo mesmos. Morreriam se necessário, o importante era os cidadãos estarem sãos e salvos.
Ao checar o relógio no pulso uma última vez, Jesse revirou os olhos. Faltavam cinco minutos, ligaria para Elizabeth para ter certeza que tudo estava bem. Estava extremamente preocupado com Colbie após o incidente com o pai da menina, mas sabia que ela estava em boas mãos. Sua mãe havia se deslocado para Bournemouth junto a Elizabeth para que ela se sentisse mais segura; e estava dando certo, o agente esperava ao menos.
Elizabeth não demorou a atender o celular, Jesse sabia que ela estava nervosa.
— Amor! — a mulher exclamou. — Como estão as coisas?
— Oi, anjo — Jesse sorriu. — Na mesma, não encontramos nada. Faltam cinco minutos para sabermos até onde tudo era verdade.
— Nada disso é verdade, Jesse. Deixe de besteiras. Você se alimentou direito e bebeu bastante água? Sei que não parou um minuto sequer, mas espero que tenha se cuidado.
— Eu me cuidei, Beth. Se acalme, sim? — o homem riu. — Só liguei para saber como vocês estão e ouvir sua voz, ela me acalma.
— Sempre galanteador — Beth murmurou, e Jesse tinha certeza de que ela estava sorrindo feito uma boba. — Estamos bem, você cuida muito bem de nós. Não vejo a hora de tê-lo aqui comigo. Podemos emendar as férias depois desse susto.
— Ainda temos muito trabalho, mulher — Jesse riu mais uma vez, sentindo-se feliz. — Mas assim que aqueles desmiolados voltarem de Palermo, podemos viajar. Tirar férias. Ou simplesmente fugir do trabalho, o que acha? Podemos visitar Bora Bora no verão e nos casar por lá.
— Está mesmo me pedindo em casamento pelo telefone, agente Pender? — Elizabeth fez-se de ofendida, arrancando uma risada do namorado.
— É o que temos para hoje, querida. Mas me diz. O tempo está passando, não posso morrer sem sua resposta — brincou, fazendo com que Elizabeth bufasse contrariada. Não gostava de seu humor ácido.
— Pare com essas brincadeiras, idiota. E é claro que caso com você. Mas ainda quero um pedido oficial.
— Ótimo, então casaremos em Bora Bora no próximo verão. Que tal um noivado com seus pais, nossos amigos e um Jesse Pender de joelhos aos seus pés?
— Eu acho ótimo, Pender — Beth murmurou, ficando alguns segundos em silêncio. Voltou a falar com cautela, enquanto Jesse tentava manter a calma. — Falta um minuto, agora. Não vou desligar.
Jesse murmurou em concordância e continuou com o celular colado à orelha.
— Oficial?
Uma voz ecoou atrás de Jesse, fazendo-o virar e encarar o dono da mesma. Era um dos policiais, mas não lembrava de tê-lo visto.
Provavelmente algum novato que estava em seus primeiros trabalhos, do contrário Jesse o reconheceria.
— Sim?
— Trouxe uma surpresa para o senhor.
Jesse não entendeu o que aquele homem dizia, apenas arqueou uma das sobrancelhas e pensou ser uma surpresa de Elizabeth.
— Enviou uma surpresa para mim no meio do expediente, Beth? — perguntou, risonho.
No entanto, quando o homem abriu o grande casaco preto que vestia, Pender sentiu seu corpo tremer e a garganta secar.
— Surpresa? Que surpresa, amor? — Elizabeth o chamou, mas não conseguira responder. — Jesse Pender, me responda. Faltam só alguns segundos, não me diga que só agora você encontrou o problema! Jesse!
O agente não conseguia desviar os olhos do corpo minado à sua frente.
Poderia tentar correr, gritar, mas não resolveria. O homem tinha bombas espalhadas por todo o tronco. E aquilo faria um belo estrago no local em que estava; e ele não tinha mais salvação.
O atentado verdadeiro era aquele. Sobre ele.
Sobre sua cidade.
Homens bomba.
Mas não tiveram tempo de recorrer aos companheiros, não conseguira se expressar e algo lhe dizia que alguns estavam na mesma situação que a sua. Os olhos estavam lacrimejando e brilhavam como as estrelas que não estavam no céu. Ironicamente, toda sua. vida passara diante de seus olhos. Seus momentos com Elizabeth. O amor que sentiam um pelo outro. Como estava feliz. E não tinha o que fazer, se não entregar-se.
— Eu te amo, Elizabeth. Eu te amo.
E após essas palavras, tudo que Elizabeth ouvira do outro lado da linha fora uma explosão ensurdecedora, fazendo com que soltasse o celular sobre o sofá no susto.
Não.
Jesse.
Explosão.
Porra, não!
— Jesse? — chamou, mas a linha estava muda. — Amor, por favor… Jesse!
Palermo, Sicília.
A Europa estava alarmada, em total desespero. E era engraçado a ironia de tudo. Há algumas horas, ninguém era capaz de ao menos pensar que algo tão horrível poderia ser capaz de acontecer. Ainda mais em uma das cidades mais bonitas e seguras do continente. estava ofegante e o coração batia rápido, enquanto e Emma ao seu lado seguravam as lágrimas.
O susto foi inevitável quando Amanda apareceu gritando pela casa, e tudo pareceu acontecer em câmera lenta após a simples fala da garota. Londres sofrera um atentado de uma dúzia de homens bomba ao mesmo tempo. Se perguntavam por que diabos esses homens aceitavam tais condições, se acabariam morrendo junto às vítimas. Prazer, crença…? Ninguém sabia de fato.
— O Jesse… — Emma tentou falar, porém engasgou-se nas próprias lágrimas, permitindo-se desabar de uma vez por todas. E aquilo fora o suficiente para todos os presentes se permitirem também.
tinha o rosto banhado em lágrimas de uma forma que não se lembrava de já ter tido; os ombros sacudiram em agonia e os soluços saíam altos, enquanto abraçava seu corpo com força, no mesmo estado.
Não sabiam mais se choravam a perda de um amigo, de um profissional, de outras pessoas que não tinham a ver com aquilo, por culpa ou por pesar. Apenas choravam juntos, imaginando a agonia que todos haviam sentido ao dar de cara com a situação.
O celular de tocou alto no meio da sala, fazendo com que se soltasse de para atender. Ao ler o nome de Elizabeth na tela, sentiu o peito comprimir e não teve forças para falar. Apenas entregou o aparelho nas mãos trêmulas do amado, que ainda soluçava. Ele saberia lidar com Beth melhor do que ela, eram amigos acima de qualquer coisa.
— Beth — murmurou, ainda choroso. — Por que, Beth, o que fizemos de tão ruim nessa vida?
— Ele havia me pedido em casamento, — Elizabeth sussurrou, fazendo com que o choro do policial aumentasse. — Eu não sei o que fazer, não sei. Meu Deus, eu não sei o que fazer! Ele estava falando comigo na hora, só ouvi a explosão e… — calou-se em meio a explicação, voltando a chorar tão compulsivamente quanto .
Os corações doíam como nunca. Mesmo que Jesse não fosse o primeiro — e tampouco seria o último, qualquer um ali poderia ser o próximo — a perderem naquela profissão, estava doendo como o inferno.
O peito de queimava em culpa, sabendo que aquele atentado poderia ter sido contra ele. Preferia que fosse. Jesse era um amigo e tanto, ajudava ao máximo, se esforçava e amava a todos; não fazia questão de esconder, nos momentos de folga, o quanto adorava cada um daquela delegacia. Dava seu próprio sangue para cuidar da população e amigos. Era um ser humano digno. Um exemplo a ser seguido. Um verdadeiro herói.
— Eu vou encontrar quem fez isso, Beth — sussurrou, fungando. — É uma promessa.
Elizabeth murmurou algo que não se deu ao trabalho de entender. Não conseguia, não aguentava mais. Estava saturado daquilo tudo.
— Nós vamos encontrar o responsável — disse de maneira firme, embora ainda chorasse um pouco. — Juntos, . Nós vamos encontrar o responsável. Assim como Jesse lutou até o último segundo por cada um de nós, faremos o mesmo para honrar sua memória.
a fitou encantado, emocionado e mais um milhão de outras coisas que sequer conseguia distinguir. Só conseguia pensar na sorte que tinha por amar uma mulher como ela.
Olhou ao redor e Emma o encarava tão determinada quanto , lembrando-o que enquanto todos ali estivessem juntos, tudo daria certo.
Aquela tempestade iria passar.
Jesse seria vingado, marcado como um verdadeiro herói. Teria seu rosto estampado por todo o mundo como merecia. Seria o agente Jesse Pender que protegeu a população com a própria vida, assim como todas as outras vítimas. iria vingar-se em nome de cada um. Sabia exatamente por onde começar, e o mais importante: não estava sozinho.
— Beth, ainda está aí? — chamou ao dar-se conta que o celular ainda estava em sua orelha, segurando firmemente a mão de e entrelaçando seus dedos.
— Sim.
— Nós vamos encontrar quem fez isso e vingar cada vítima dessa tragédia premeditada.
— Eu sei que vamos — Elizabeth respondeu firme. — Confio no nosso trabalho.
— Estaremos de volta a Londres em dois dias. Não faça nada.
— Estarei esperando. Obrigada, . Por ainda ser meu amigo. Por ter confiado em mim e no Jesse. Por ter nos ajudado, por continuar firme. Isso não foi culpa sua.
não teve tempo de responder, a ligação logo fora cortada. Tentou mentalizar que não havia sido sua culpa, mas sabia que não era apenas uma coincidência ou um acordo entre terroristas que odiavam a Europa. Aquilo cheirava a . A podridão. A ódio. Ao seu próprio irmão.
— Não pense agora, amor — murmurou, tentando não chorar mais e beijando o topo da cabeça do amado. — Apenas não pense.
rendeu-se às lágrimas novamente, afundando o rosto na barriga de e a apertando com força. Ali, em seu porto seguro, permitiu-se enfraquecer por alguns instantes. Não ouviu as palavras de conforto das primas, tampouco reparou em um Charlie afobado adentrando a casa e indo em direção a Emma ainda desolada.
Apenas chorou e colocou para fora todos os seus medos no único colo que importava e amava. Em silêncio e com toda a força que tinha, o apertou nos braços e acarinhou seus cabelos. Seu coração estava estraçalhado. Em migalhas. Só queria que aquilo passasse, acabasse. Não mereciam passar por tantas coisas daquela forma, haviam mudado e lutado pela vida. Salvaram uns aqui, outros acolá. Não mereciam. Eram tão mais do que aquilo, tão maiores.
E sem perceber, deixou que o ódio corresse por suas veias de forma que não sentia há anos. Mais do que nunca, assim como cada um naquela sala, queria pegar quem fizera todo aquele inferno.
E pegariam. Juntos.
Capítulo 20
abriu os olhos naquela manhã ansiando por vingança. A dor da perda dilacerava-o por inteiro outra vez; era como se fosse seu destino: perder, perder e perder. Não se importaria, entretanto, se a perda fosse material. O problema se encontrava exatamente na perda de pessoas, e não quaisquer pessoas. Eram todas que amava, começando por seus pais. Não sabia muito sobre a mãe, já que tudo o que lhe fora contado desde criança era, em parte, mentira. O único irmão que tinha descobriu tarde demais e da pior forma possível, sendo que ele ainda podia ser seu melhor amigo. Seria uma felicidade, talvez a maior de sua vida, descobrir que era seu irmão em outras circunstâncias. Quantas vidas teriam sido poupadas se ambos não tivessem sido enganados? Quanto rancor poderia ter sido evitado? Quanto tempo ganhariam juntos ao invés de terem perdido brigando e se atacando?
Os anos haviam passado e muitas coisas continuavam iguais para . Ele ainda era . Ainda tinha ódio dentro de si, mesmo que numa escala menor. Emma continuava ao seu lado. Charlie ainda era seu segundo pai e ainda o seguia cegamente. Mas os sentimentos ruins continuavam ali também; pareciam fazer parte de quem era. A vida simplesmente não seguia. Estava estagnada naquilo.
Sua carreira se resumia em polêmicas e atos heróicos; além da quase condenação há pouco tempo. Ainda era visto como o homem agressivo e vingativo. Ainda sentia que era todas as coisas que diziam pelas revistas de fofocas; e sim, ainda era assunto delas. Ainda era visto com garrafas de cerveja e copos de uísque andando por aí, ainda infringia leis, ainda era considerado ruim; e talvez ainda o fosse. No entanto, ainda amava. De um jeito torto, errado às vezes, mas amava. Ainda faria qualquer coisa pelas pessoas que permaneciam ao seu lado. Isso, o seu amor, era algo imutável. Seu coração ainda era bondoso, embora deixasse que o medo e a raiva falassem por si; ficava cego quando sentimentos tão conflitantes tomavam-no o corpo.
— Não está pensando em jogar tudo para o alto, está? — A voz calma, porém cansada, de ecoou pelo quarto vazio e parcialmente escuro, tirando o policial de seus devaneios. — Nós precisamos manter o controle, .
— Na verdade, estava pensando em como nada mudou nos últimos anos — respondeu, dando de ombros. — Nós ainda vivemos como fugitivos, ainda nos arriscamos e ainda perdemos quem amamos. Qual o propósito disso tudo? Me enlouquecer? Sinceramente, , eu preferia enlouquecer na cadeia.
— Não fale assim, meu amor — a mulher se aproximou, sentando-se na cama ao lado dele. — Você sempre soube que seu índice de perdas pessoais seria mais alto que o normal. Nada disso é culpa sua, ou das coisas não terem mudado. É apenas a ordem natural das coisas, hoje choramos pelo Jesse, mas ontem era pelo seu pai, pelo Ryan; amanhã pode ser por você, por mim, pela Emma. Perda é perda; mas nossas profissões acabam intensificando isso para nós, acabamos nos tornando alvos facilmente e por qualquer mínima coisa que aconteça. Mas nós vamos conseguir resolver, sempre conseguimos.
— Matando todos eles? Porque eu só vejo essa solução.
— Se for necessário, sim. Já te disse uma vez e repito: vamos matar quem for necessário. Não estamos aqui para perder mais, nem para ficarmos de mãos atadas. Vamos reagir, fingir que isso não nos afetou. sabe que sim, mas ele não espera que ataquemos agora. Só temos hoje para irmos atrás dele e solucionar esse caso, .
— Está dizendo que vamos ter que partir para mais uma caçada a ? Ele está a milhares de passos à nossa frente.
— Mas nós somos mais inteligentes e mais fortes. Pare de se colocar para baixo, não suporto vê-lo assim. Sei que está doendo, e acredite: em mim também está. Mas nada do que façamos irá trazer nossos irmãos de volta. Só temos uns aos outros; os poucos que restaram.
— E o que você sugere?
— Que nos juntemos a Jullie.
****
O Sol estava fraco naquela manhã, mas, ainda assim, seus raios foram capazes de despertar Emma. Seu peito ainda pesava um sentimento esquisito; algo mesclado ao medo e à dor da perda. Acordar sabendo que nunca mais veria alguns dos amigos que conviviam consigo há mais de dez anos era doloroso; saber que todos morreram em prol da sociedade e de sua própria vida era ainda pior.
Sem se importar com o que sentia, a mulher se levantou e seguiu para o banheiro; fez tudo o que precisava e tomou um banho gelado, determinada em acordar totalmente e acabar com tudo aquilo naquele mesmo dia. Precisava voltar para casa. Todos eles precisavam. Eram a última esperança da população londrina — se é que ela ainda existia. A Inglaterra estava de luto; e banhada em sangue inocente.
Todo o continente estava. E era seu dever fazer valer cada lágrima que cada pessoa derrubou. Iria prender o causador de todo aquele caos nem que custasse sua vida; sua alma; cada gota de seu sangue. E sabia que tinha os melhores parceiros agora isso; sua equipe, sua família; todos estavam ali para ajudar. Eles venceriam, sempre venciam. Vestida de forma prática e à vontade dadas às condições, saiu da casa onde estavam hospedados com pressa. Enviou uma mensagem simples para informando onde estava e, em seguida, ligou para Charlie — não tinha notícias do parceiro desde a noite anterior e não estava gostando daquilo, principalmente pelo celular estar dando fora de área, não fazia sentido.
Com a preocupação a assolando e um mau pressentimento no fundo de seu ser, enviou uma última mensagem para :
“Estou indo até o gabinete de Antoni, se algo acontecer sabe onde me encontrar.”
Emma não sentiu que demorou para chegar ao seu destino, parecia estar ligada no modo automático mesmo que aparentasse ser a mesma mulher de sempre.
Passou pela recepção do local sem problemas, já que o crachá pendurado em seu peito lhe dava livre acesso por todos os cantos daquele prédio pequeno. Sentindo a sensação estranha e tensa aumentar a cada passo que dava, massageou o peito, em direção ao coração e parou em frente à porta de Antoni, podendo ouvir vozes abafadas e elas pareciam discutir.
Perdeu longos segundos ali, dando-se conta de que conhecia aqueles sussurros — e não eram somente de Antoni, assim como também não eram de sua sobrinha, Jullie.
Tinha certeza que uma das vozes era de Charlie. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar e em qualquer situação. No entanto, mesmo assim, hesitou em anunciar sua chegada. Queria invadir a sala de uma só vez, mas era como se algo a prendesse no lugar. Não deveria estar ali, sua intuição a dizia, entretanto, não conseguia recuar. Estava curiosa, extremamente curiosa. Por que Charlie não a atendia mas estava ali? Por que tudo parecia tão vazio naquele andar? O que estava acontecendo?
Um som abafado de algo batendo no chão a fez pular de susto em seu lugar, e ali decidiu que não era hora de hesitar. Precisava entender o que estava acontecendo e mau pressentimento nenhum a faria parar. Deu duas batidas na porta e foi prontamente ignorada ao mesmo tempo que um silêncio forçado surgiu naquele ambiente. Tentou novamente e mais uma vez não tivera resposta alguma. Decidiu, por fim, fingir que ia embora. Simulou passos se afastando e, silenciosamente, colocou a orelha na porta tomando cuidado para que sua sombra não fosse projetada por debaixo da mesma. E quase automaticamente as vozes voltaram a ecoar baixas e abafadas do outro lado.
Emma levou a mão até à arma presa em sua cintura e a puxou com cuidado, deixando tudo pronto para caso precisasse se defender. Com muita cautela, segurou a maçaneta e a girou devagar, abrindo a porta de forma que somente uma brecha lhe desse a visão do que acontecia ali.
Antoni tinha o rosto prensado sobre a mesa e Charlie o segurava pela nuca com força, fazendo-o resmungar coisas impossíveis de entender daquela distância.
Emma engoliu a seco ao reparar melhor nos dois homens ali. Charlie estava suado e os olhos estavam vermelhos, parecia não ter dormido e estava agitado demais, tinha uma pistola em mãos e a apontava para o rosto de Antoni, que também segurava uma arma em uma das mãos sem ter como usá-la — Emma arriscaria dizer que sequer estava engatilhada, dada a posição que se encontravam.
Enquanto ainda prestava atenção no que acontecia ali, puxou o celular com a mão livre e digitou uma mensagem rápida para :
“Algo estranho está acontecendo aqui, venha para cá. Precisarei de ajuda.”
— Me diga onde está — Charlie forçou mais o corpo de Antoni contra a mesae isso chamou mais a atenção de Emma. — Sabe que preciso do dinheiro e de Apolo para ir embora daqui. Você sabia do risco desde o início.
— E você achou que ninguém iria descobrir sobre isso? — Antoni murmurou. — Eu não sei onde Apolo enfiou a porcaria do dinheiro, nem onde ele está. Não são nem dez da manhã, Charlie, ainda não consegui falar com a Jullie.
— Não seja idiota, meu velho amigo — Charlie o soltou de uma vez, fazendo-o tossir um bocado. — Jullie não está do seu lado, nem se deita com Apolo em prol de informações e milhões de euros. Ela é uma agente esperta e, acima de tudo, fiel. Como não sabe isso sobre a mulher que criou? Não acredito que confiou nela todo este tempo. Você é um imprestável. Agora ficaremos sem o mais importante para nos livrarmos de tudo: o dinheiro.
— E como sabe disso? Jullie jamais me trairia.
— Não sou burro como você — Charlie rebateu de forma agressiva. — A Jullie já traiu você, o Apolo, o , a todos. Parece que ela é a única que raciocina no meio dessa maldita quadrilha que vocês criaram.
Bastou eu deixar o controle com vocês por uns meses para tudo ruir; não serviram nem para fazer um atentado decente.
Emma arfou ao ouvir aquela conversa, sentindo o coração apertar e um punhado de lágrimas tomar conta de sua visão. Não acreditava naquilo que ouvia; Charlie estava fingindo, certo? Tinha de estar. A melhor forma para pegar bandidos é fingir que está ao lado deles.
Antes que pudesse concluir suas teorias, percebeu que havia feito barulho demais e ambos os homens a olhavam. E não se escondeu, empurrou a porta de uma vez, escancarando-a, e mostrou-se para eles. Seu rosto estava vermelho e a respiração levemente descompassada. — Emma? — Charlie murmurou. — O que faz aqui?
— O que você faz aqui, Charlie? — rebateu. — Não me dá notícias desde ontem.
— Estava resolvendo uns problemas com Antoni, amor — o mais velho sorriu de forma forçada. — Fiquei muito abalado com os acontecimentos de ontem e precisei espairecer.
— Espairecer ou comemorar? — Emma perguntou de uma só vez, adentrando a sala e fitando-os com atenção, apertando mais a arma entre seus dedos.
— O que quer dizer com isso, querida?
— Sobre o que estavam falando? — a mulher ignorou a pergunta do namorado, voltando ao assunto que realmente a interessava. — Eu ouvi tudo o que disseram. Que dinheiro é esse? Por que precisa do Apolo, Charlie? Você faz parte dessa corja?
Charlie ficou alguns segundos em silêncio, apenas encarando a mulher determinada à sua frente. Seu coração batia acelerado no peito, deixando-o zonzo com tantas informações ao mesmo tempo; aquilo não deveria acontecer, Emma não deveria estar ali.
— Sinto muito, Emma, não era para você ter escutado nada — a voz sombria de Antoni ecoou pela sala, fazendo-a olhá-lo intrigada. O homem estava com a pistola apontada para ela e não demorou a engatilhá-la.
Rapidamente, visando se proteger, Emma ergueu sua própria arma, mirando-a em direção a Antoni.
— Solte a arma — Emma pediu, na defensiva.
Antoni não a obedeceu, apenas continuou encarando-a firmemente, enquanto Charlie permanecia em silêncio.
Numa fração de segundos, dois tiros ecoaram por toda a sala e Emma sentiu seu corpo queimar; a ardência começou bem no centro de seu tronco, vindo de dentro para fora, sentia-se rasgar ao meio. Antes de ir de encontro ao chão, com dois tiros no abdômen, conseguiu ver que Antoni não havia sequer movido um dedo; nem mesmo havia respirado e sua arma continuava parada e intacta. Os tiros não haviam vindo dele; e, por isso, sequer conseguiu reagir.
Contudo, ao lado de Antoni e sem sequer um pingo de remorso nas expressões faciais, Charlie abaixou sua própria arma e prendeu-a na cintura novamente.
— Você realmente não deveria ter escutado nada, meu amor.
No andar debaixo, a agitação foi inevitável. No mesmo instante que o caos se iniciou ao acharem que estavam sendo atacados, e atravessaram a entrada, prendendo os crachás nas blusas sem prestarem atenção naquilo realmente. A mensagem de Emma havia sido clara e tiveram sorte por já estarem aos arredores; tinham marcado um encontro com Jullie há alguns minutos.
estava extremamente confiante em relação à outra mulher, e não podia fazer mais nada a não ser confiar nela — ela era a mais inteligente que conhecia. Mas nada tinha a menor importância naquele momento; precisavam checar o que Emma havia dito — e logo.
Passando na frente de todos os funcionários, e chegaram ao andar da sala de Antoni, encontrando a pior cena que já
presenciaram na vida desde as mortes de seus pais. A porta estava escancarada e um rastro longo de sangue corria de dentro da sala até onde estavam.
No chão, ao centro da sala, Emma tremia e tentava pressionar os ferimentos com as mãos fracas ao mesmo tempo que controlava a respiração; sentia que morreria a qualquer instante, mas, ainda assim, lutava. E lutaria até seu último suspiro.
Tudo havia sido rápido demais. Charlie apertou o gatilho, disse o que quis e saiu com Antoni, deixando-a para trás. E logo em seguida , e os outros funcionários chegaram.
estava em choque com o que via, enquanto já estava ajoelhada no chão, sujando-se de sangue enquanto pressionava mais os ferimentos de Emma e colocava-a com a cabeça em seu colo.
— , preciso que me ajude — murmurou. — Ela está sangrando demais. E vocês, chamem uma ambulância! — Emma…
— Vá… — Emma tentou falar, os lábios estavam trêmulos e secos, e seus olhos pareciam pesar.
— Shh, não fale — pediu.
— Preciso — a ferida sussurrou. — Charlie. Prenda-o — tossiu um pouco. — Ele… Antoni…
ficou estático, sentindo as lágrimas brotarem seus olhos outra vez. — O que? — sussurrou.
— Ele fez isso — Emma gaguejou um pouco e segurou a mão de com força, ajudando a fazer mais pressão. — Pegue-o.
— Como?
— Jullie — Emma sussurrou antes de perder as forças e fechar os olhos.
não soube dizer se ela havia desmaiado de dor, pelo sangramento, nervoso ou se havia morrido. Mas também não teve tempo de ao menos tentar ajudá-la ou saber o que de fato havia acontecido. De forma rápida e eficiente, uma equipe de paramédicos invadiu o local, tirando-os de perto dela.
— Encontre-se com a Jullie e vá atrás do Charlie — murmurou de forma embolada. — Vou com ela para o hospital. Aconteça o que acontecer, pegue os responsáveis por isso. Me avise quando tiver uma pista e irei ao seu encontro. Vá!
não esperou gritar outra vez, levantou-se ainda tonto e sujo de sangue e correu o máximo que pôde, logo saindo daquele maldito ambiente que o sufocava.
E mais do que nunca, sentia ódio. Tanto ódio que poderia matar qualquer um que surgisse em sua frente — até mesmo Charlie.
****
Jullie sentiu o corpo gelar ao ler a mensagem de Apolo.
“Seu tio antecipou os planos. Te encontro em uma hora no heliporto. Não se atrase.”
— Droga! — exclamou baixo e sozinha. Tinha um encontro com o casal britânico e precisava deles ao seu lado já que as coisas estavam saindo do controle.
Ela não sabia o que de fato tinha acontecido, mas algo havia dado errado — muito, muito errado. Não sabia como se livrar daquela bola de neve de problemas e quanto mais tentava entender cada detalhe daquilo, parecia que ela rolava mais para seu lado, já cheia e pronta para engoli-la de uma só vez, e levar aqueles ingleses consigo — o que não podia acontecer.
A verdade era que Jullie era uma agente infiltrada — sequer chamava-se Jullie; apenas fazia-se da sobrinha perdida de Antoni e todos acreditavam. Sua missão era investigar o crescimento da máfia na Sicília, mesmo que ali já fosse o berço da bandidagem italiana.
As mortes aumentaram muito nos últimos meses pela Sicília, e ela, mais do que ninguém, sabia o porquê. Apolo Castellamare era sua maior missão, então seu envolvimento com o bandido era antigo. Jullie ia e vinha muitas vezes, o que fez com que o magnata ficasse jogado aos seus pés, sem sequer desconfiar que ela só estava juntando provas contra ele o tempo todo. Seus sumiços eram por conta de novas missões, e ela fingia ser porque não conseguia manter-se em apenas um lugar, com apenas uma pessoa e vivendo uma vida comum; passar a imagem de aventureira e assassina de aluguel lhe pareceu certo no momento.
E àquela altura, já tinha tudo planejado. No entanto, não contava com a aparição dos ingleses e tampouco com a morte dos pouquíssimos que viviam por ali há anos. Ainda assim, Jullie conseguiu se virar; criou planos novos, escondeu o máximo que conseguiu de sua história e se aproximou dos policiais recém chegados o suficiente para entender o que eles queriam e como trabalhavam; logo se dando conta que não se envolveriam em seus casos, estavam em Palermo apenas para entender o porquê do sobrenome existir fora da Inglaterra e por que diabos alguém se passava por ali. Não foi difícil montar um novo plano de forma que os fizesse correr diretamente atrás de , o impostor.
Seu trabalho continuava sendo Apolo Castellamare e todos os massacres que ele fazia mundo afora. E não importava se o pai de Apolo tinha um passado com aqueles ingleses; ninguém encostaria em sua missão, Jullie tinha certeza.
Mas também não contava que seu “tio” fosse perder o controle. Nem que ele tinha certos segredos com Charlie Raymond.
Aquilo fazia com que seus planos tivessem novos furos e ela precisasse escondê-los com pressa; e a pressa era inimiga da perfeição.
No fim das contas, Jullie juntou o útil ao agradável e deixou-se revelar para , e tinha uma proposta para ela e . E como já era de se esperar àquela altura do campeonato, mais coisas deram errado.
O que restou para Jullie foi montar um plano que fosse bom para ambos os lados às pressas. E agora, mais do que nunca, precisava de .
“Me encontre aos arredores deste heliporto em vinte minutos.”
Jullie enviou para junto a um endereço e não levou nem mesmo cinco minutos para receber um “ok” em resposta.
Pelo visto, o policial inglês também tinha pressa. E algo a dizia que aquilo tinha a ver com o que Antoni estava aprontando para querer antecipar todos os planos.
Era hora de abrir o jogo e trabalhar em equipe com .
****
Um helicóptero já estava pousado quando Charlie chegou ao topo do heliporto com Antoni em seu encalço. Ainda faltavam alguns minutos até terem de partir.
O delegado gostaria de dizer que estava arrependido de provavelmente ter matado a mulher de sua vida; mas não estava. Homens como Charlie não tinham peso na consciência, não se arrependiam. A regra era clara: não importava a pessoa que descobrisse seu segredo, ele teria de atirar para matar. E o fez. Não queria pensar no fato que havia amado Emma com todo seu coração, nem que acabara de deixar seu filho mais novo desamparado — não totalmente, pois sabia que daria um jeito de adotar Nicholas. Doía, mesmo que não quisesse aceitar.
— Você é mesmo o monstro que sempre descreveram para mim — Antoni murmurou enquanto acendia um cigarro. — Sequer hesitou antes de atirar na pobre Emma. Não se arrepende de tudo que causou?
— Alguém precisa ser o malvado da história, Antoni — ele respondeu enquanto encarava o céu aberto sobre si. — Em nosso meio há apenas uma regra: matar quem se meter no nosso caminho. Eu apenas fiz isso todos esses anos. Não tenho culpa se todos que matei confiavam em mim cegamente.
— E por que não matou o ainda?
— Ele não deve morrer, é útil para nós.
— A culpa sempre recai sobre ele, Charlie. E ele sequer até conosco, apenas fez um ou outro serviço sujo.
— Essa é a utilidade dele, Antoni: carregar a culpa em meu lugar. Se ele fez tudo o que pedi, foi porque confiou na pessoa errada em seus momentos de carência. Ele enxerga o pai em mim.
— E você quem fez o pai dele morrer e tomou seu lugar, não foi?
— Eu não fiz nada. John se deixou levar por coisas incompletas e acabou morto. puxou ao pai: é cego e idiota demais para perceber o que está bem embaixo de seu nariz.
— Acontece que agora eu consigo ver claramente o que está acontecendo, Charlie — a voz rouca e carregada de ódio de ecoou pelo heliporto, fazendo com que os mais velhos ficassem confusos. — E não irei hesitar em puxar o gatilho para você.
Charlie sorriu cheio de escárnio e levou a mão até sua cintura, pensando em puxar sua arma.
— Eu não faria isso se fosse você — uma voz feminina e firme invadiu seus ouvidos lentamente. Não demorou muito para Charlie e Antoni sentirem os canos gelados das armas em suas nucas.
Jullie estava atrás dos dois, armada e pronta para atirar caso notasse qualquer movimento errado.
A agente sabia todos os passos do “tio”, já que haviam montado juntos visando pegarem Apolo de uma vez, era um acordo que tinham. Antoni pegaria o que lhe pertencia — parte do dinheiro que transportariam —, e ela ficaria com Apolo e toda a droga e armas que seriam levadas no segundo helicóptero que logo chegaria ali.
Mas, tudo saiu do controle e precisou improvisar. E com isso, chegou ali antes de todos junto com . Fariam vingança juntos e cada um levaria para casa seu próprio troféu.
— Por que será que não estou surpreso? — Charlie perguntou retoricamente, erguendo as mãos até os ombros e mostrando rendição.
Antoni fez o mesmo.
— Você está preso, Charlie — disse firme, caminhando em direção ao mesmo velho, que apenas sorria e balançava a cabeça. Estava confiante demais, Jullie e perceberam, mas não tinham outro plano a não ser aquele, então precisavam seguir à risca. Caso algo desse errado, dariam um jeito de improvisar outra vez.
— Não me sinto nem um pouco preso, — Charlie sorriu mais uma vez. — Pelo contrário, me sinto mais livre do que nunca.
— , atrás de você! — Jullie gritou e tudo aconteceu rápido demais.
virou para trás a tempo de ver duas silhuetas conhecidas, e não pensou duas vezes antes de jogar-se para o chão e rolar para o lado enquanto fugia dos disparos feitos por eles. Ao mesmo tempo, do outro lado, Jullie dava conta de Charlie e de Antoni ao mesmo tempo, socando-os como podia, já que Charlie havia puxado sua mão fazendo com que soltasse uma de suas armas ao mesmo tempo em que Antoni fazia o mesmo, jogando ambas para longe dela.
Assim que teve certeza que um dos homens presentes era , não se importou de ficar na mira. Levantou-se rapidamente e mirou a arma para o irmão mais uma vez, atirando sem parar. Só queria acertá-lo e acabar com todo aquele maldito drama. Queria paz, e só teria quando todos aqueles desgraçados estivessem mortos.
Numa sintonia mórbida, o tiroteio cessou e permaneceu em alerta, apontando a arma para frente, onde se encontrava com Apolo em seu encalço. Olhou para o lado disfarçadamente e viu que Jullie havia recuperado uma de suas armas e a mirava em direção a Antoni e Charlie.
Quando sentiram suas costas baterem, tiveram certeza que estavam cercados.
— Hora de improvisarmos mais uma vez — Jullie sussurrou e cuspiu um bocado de sangue no chão. — Pelo menos até chegarem os reforços.
— Reforços?
— Não achou que faríamos isso sozinhos, achou? — Jullie riu disfarçadamente. — Também sou uma policial, . E além do mais, acredito que sua namorada logo chegará aqui armada até os dentes. Agora vamos dançar conforme a música. Me ajude a provocá-los ao mesmo tempo em que pensam que estão no poder.
— Dizendo as últimas palavras antes de morrer, Jullie? — Foi Apolo quem perguntou, fazendo-a segurar um sorriso. — Vadia traidora!
— Quem disse que eu o traí, Apolo? — a mulher perguntou alto. — Eu jamais faria algo contra você. Esses dois velhos — apontou para Antoni e Charlie — estavam tentando fugir com nossas encomendas. foi minha melhor saída — Jullie deu as costas para Antoni e Charlie, parando rente ao ombro de , finalmente sussurrando: — Me desculpe por isso, amigo, mas sei que você se sairá bem.
Após dizer isso e quando menos esperou, Jullie grudou a arma em sua cabeça, fazendo-o xingá-la mentalmente. Aquele não era o melhor método de distração até a ajuda chegar, não mesmo; ele poderia morrer!
— E ele é todo seu, meu amor! — Jullie gritou sorrindo, e Apolo vacilou.
Assim como todos ao redor. Ela tinha certeza que Charlie estava ao menos lhe dando o benefício da dúvida, assim como Antoni estava a odiando mais que o normal por achar que tanto ela quanto Apolo queriam tudo o que estava ali para eles.
E era melhor que ficassem confusos e pensassem assim mesmo. Era o plano de improviso, e teria de dar certo.
sentia o suor escorrer pelo corpo ao mesmo tempo em que começava a ofegar; estava nervoso e ansioso, mas tinha uma ideia para fazer aquilo dar certo. Porém, naquele momento, nos primeiros minutos, precisava seguir o clichê de “lavar a roupa suja” e fazer todos aqueles criminosos confessarem seus crimes.
Visivelmente desconfiado, porém achando graça da situação, soltou uma risada, dando alguns passos a frente.
— Sentiu minha falta, irmão? — Perguntou debochadamente. — Estava sendo divertido fingir ser você; mas depois se tornou entediante. Você tem uma péssima vida, .
— Tão péssima que você sempre quis tomar o meu lugar — o policial rebateu, rindo em seguida. A arma grudada em sua cabeça o incomodava, mas ele teria de confiar em Jullie. — Você jamais se daria bem sendo eu, . Não tem capacidade para tal; e só existe um . Eu.
— Logo nem mesmo você irá existir — ameaçou, o encarando nos olhos e se aproximando mais. — Faço questão de acabar com você usando minhas próprias mãos.
— E o que está esperando? — perguntou.
Antes que pudesse responder, uma movimentação suspeita atrás dos dois à sua frente chamou sua atenção. Charlie e Antoni corriam em direção ao helicóptero estacionado ali, com a intenção de fugir com toda a carga que estava lá dentro.
revirou os olhos e bagunçou os cabelos, fazendo um sinal para que Apolo seguisse os dois, o que foi desnecessário já que ele corria em direção aos dois mais velhos também. E aquela foi a deixa que Jullie precisava. Com movimentos rápidos e ensaiados, aproveitando a guarda baixa de , empurrou com toda sua força, fazendo-o cair sobre o irmão e, sem olhar para trás, correu em direção a Apolo e os outros dois. daria conta de , ela sabia. Sua intuição nunca falhava.
Jullie não hesitou em mirar no helicóptero e atirar nos dois homens que já embarcavam. Dali ela conseguia ouvir os urros e os sons que vinham de e , mas não se importou. Nada mais além de parar aqueles homens, que já ligavam o helicóptero, importava.
Atirou mais algumas vezes e conseguiu acertar Antoni antes que ele fechasse a porta do helicóptero. Com pressa e revidando os tiros, Charlie chutou o corpo ensanguentado de Antoni para fora do veículo, e aquilo foi o suficiente para que Jullie conseguisse acertá-lo também, porém não fatalmente.
Próximo dali, Apolo encarava todo o caos com o coração apertado.
Sabia que Jullie não estava ao seu lado. Era mesmo uma vadia traidora. E traidores não viviam. Não em seu território. Não quando o traído era ele.
Apolo puxou sua própria arma e mirou-a em Jullie, que não se importou nem um pouco e seguiu atirando no helicóptero, esperando que atingisse Charlie mais uma vez.
O Castellamare caçula engatilhou a arma e se preparou para apertar o gatilho, mas foi interrompido por um barulho quase ensurdecedor e uma ardência em seu braço direito, fazendo atirar completamente errado.
Jullie sorriu e balançou a cabeça levemente para , que estava atrás de Apolo, a alguns metros de distância. Sua mira era incrível. Havia sido uma entrada e tanto.
A jornalista estava vestida num colete a prova de balas, tinha uma arma nas mãos e atirava sem se importar se mataria ou não. Ora mirava em Apolo, que corria feito um cãozinho assustado, ora no helicóptero que já estava fechado e levantava voo, com Charlie no comando.
Um tiro de rachou o vidro da frente do enorme veículo, e o de Jullie o vidro da lateral. No entanto, mesmo assim, Charlie continuou.
Em sua cabeça só tinha um pensamento: fugir. Tinha de sair dali vivo, e sairia. Já havia escapado de tantas outras ciladas como aquela, não seria seu próprio pessoal, sua equipe, que o faria perder. Não, Charlie Raymond nunca perdia. Sempre estava no controle. As pessoas que o obedecia. Naquela situação não seria diferente.
Do outro lado, e ainda rolavam no chão trocando socos. Ambos só pensavam em matar, acabar um com o outro de uma vez por todas.
segurava pelo pescoço com ódio, sentado em seu quadril e sufocando-o com vontade. Queria vê-lo agonizar. Queria vê-lo morrer. Em suas mãos. Queria ter certeza que seu maldito irmão morreria de verdade — e desta vez não carregava sequer uma ponta de remorso por desejar a morte de alguém de seu próprio sangue.
sabia que já carregava uma lista enorme de mortos nas costas, assim como havia muito sangue em suas mãos. Entretanto, nada mais importava. Queria livrar-se de todos os seus demônios e fantasmas para sempre. O tiroteio à sua volta não importava, a voz de ao longe não importava, seus pensamentos bagunçados, embaixo de seu corpo; nada importava. enxergava vermelho naquele momento. Seu ódio havia tomado conta de todo seu corpo, corria sob sua pele e misturava-se ao seu sangue.
Quem estava ali, no controle, era o assassino; o sanguinário. E só ele importava. Somente sua vida importava.
Estava tão cego que sequer percebeu esticando-se ao máximo, até alcançar uma das armas que haviam deixado cair durante a briga.
Com raiva, acertou a pistola no rosto de , finalmente tirando-o de cima de seu corpo.
O policial ficou tonto por alguns segundos, porém, ao sentir o corpo pesado do irmão sobre o seu, voltou ao normal — forçou-se a voltar. Rolaram mais algumas vezes, deixando a arma entre ambos os corpos e ainda sob posse de .
Os irmãos lutavam bravamente, um tentando matar o outro. A arma estava engatilhada e entre ambos os abdomens, os dois pares de mãos apertavam o cano com força, estapeando-se quando tava, gritando um com o outro, mordendo, dando chutes no ar; eram uma bagunça de gritos, porradas e arma.
Até que o inevitável aconteceu, quando acabou por baixo do irmão: dois tiros ecoaram seguidos, fazendo com que todos ao redor prendessem a respiração e soltasse um grito agoniado; não aguentaria ver o amor de sua vida ferido e quase morto novamente.
Enquanto Jullie ainda tentava controlar Charlie Raymond e Apolo Castellamare, que estava ferido por ali, mas ainda possuía uma arma em mãos, correu em direção aos dois corpos jogados no chão, ainda por baixo do irmão. Ambos completamente imóveis.
Os policiais amigos de Jullie já estavam ali, todos armados até os dentes e alguns atiradores profissionais posicionados de forma que acertassem os tiros no helicóptero que já subia mais do que esperavam. Não demorou muito até alguém finalmente acertá-lo nas hélices e na região central, fazendo-o girar no ar por alguns segundos e seguir em direção ao chão novamente, sempre girando em alta velocidade. Todos correram e espalharam-se ainda de forma organizada, observando o helicóptero girar mais um pouco e atingir finalmente o solo do heliporto, arrastando-se por alguns metros até parar por completo.
A primeira reação de Jullie após o acidente foi correr em direção a Apolo que ainda lhe apontava uma arma, mas hesitava em apertar o gatilho. A mulher ajoelhou de frente para ele, que sangrava nos braços e nas pernas, onde havia sido atingido por e os outros policiais enquanto tentava correr.
— Você não é um homem mau — Jullie murmurou. — Mas se quiser me matar, essa é sua última chance.
Apolo não respondeu, apenas deixou o braço cair ao lado de seu corpo, largando a arma no chão.
— Eu te amei, Jullie. Meu pai sempre disse que eu não deveria me apaixonar por mulheres como você.
— E minha mãe sempre me disse para manter distância de homens como você, mas nunca consegui. Também te amei, Apolo, mas somos diferentes demais. Agora, você está preso e tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser poderá e será usado contra você no tribunal.
Apolo queria dizer que estava chocado por aquela mulher ser uma agente federal, mas não estava. Jullie tinha todos os indícios de que trabalhava com algo muito além de assassinatos de aluguel; ela nem ao menos mostrava-se má para isso. Evitava matar e hesitava para fazer certos trabalhos; ele havia sido cego e idiota ao pensar que ela era como ele e diferente das outras. No fim das contas havia sido apenas mais um detento nas mãos daquela mulher sedutora.
— Posso ao menos saber seu verdadeiro nome?
— Samara.
E após a curta resposta, Apolo teve os pulsos algemados.
Na companhia de alguns policiais, empurrou o corpo grande de , jogando-o para o lado e puxando logo em seguida. estava sujo de sangue e respirava forte, tentando manter-se acordado após a forte dose de adrenalina.
levou o olhar para e percebeu, de uma vez, de onde era todo aquele sangue no corpo de . tinha dois furos no peito que jorravam sangue sem parar, ele engasgava na própria saliva e no sangue que lhe subia a garganta, os olhos ainda estavam abertos e as mãos tremiam em espasmos. Um dos policiais ainda tentou estancar o sangue, porém não havia mais jeito. Não demorou muito para que o corpo de parasse de se debater. Os olhos reviraram levemente e pararam no meio do caminho, deixando uma imagem perturbadora e medonha.
— Está morto — o policial murmurou após verificar os batimentos.
suspirou e levantou-se de supetão. não entendeu inicialmente, mas logo que puxou um novo pente de balas do coldre que estava em sua cintura e desmontou a arma em sua mão, logo encaixando o pente novo na mesma, entendeu. Ela entendeu que ele ainda não havia acabado, e não tinha forças para impedir o que quer que fosse acontecer. Apenas permitiu-se observar o amor de sua vida caminhar em direção ao helicóptero onde os policiais tiravam um Charlie aparentemente zonzo e machucado.
Ao se aproximar, apontou a arma para o mais velho. Seu coração batia descompassado e sua cabeça estava a mil. Alguns policiais ao redor apontaram armas para também; e não havia nada que ninguém pudesse fazer. Se ele apertasse o gatilho, sendo policial ou não, morreria. Charlie não representava mais ameaça nenhuma; estava algemado e desarmado, além de ferido. Seria má conduta policial e homicídio.
As mãos de tremeram e ele engoliu a seco.
Num tom irônico, Charlie sussurrou:
— Você disse que não hesitaria em puxar o gatilho, .
sentiu a respiração acelerar ainda mais, porém não teve coragem de continuar. Principalmente depois de sentir os braços de abraçarem sua cintura.
queria gritar, jogar todas as coisas na cara de Charlie, enchê-lo de socos e pontapés para vingar toda a dor que ele havia causado a Emma, pouco se importava consigo mesmo e com a decepção que sentia. Emma era o mais importante ali; e estava no hospital, entubada e entre a vida e a morte. Por culpa daquele nojento em sua frente, que dizia amá-la.
Deixou-se levar pelos puxões sutis de e caminhou de costas, ainda encarando Charlie e lhe apontando a arma.
— Você não é como ele — sussurrou. — Abaixe a arma, . Se acharem que você vai atirar, nós dois morreremos.
Naquele momento soube que o melhor era abaixar a arma, e o fez. Porém, sua vontade ainda era de estraçalhar Charlie Raymond como ele havia feito com seu coração — o orgulho e carinho que sentia pelo delegado passou a ser puro nojo e decepção. O homem que escolhera como seu maior exemplo depois de seu pai era o mandante de tudo — Charlie havia arruinado sua vida de diversas formas, e sempre o fez acreditar que estava indo pelo caminho certo.
Para Charlie Raymond, nunca passou de um mero amuleto da sorte; a pessoa que poderia culpar sempre que necessário, aquele que faria os serviços sujos sem questionar por achar que estava fazendo o bem comum. era um menininho inocente perante aos olhos de Charlie. Um maldito menininho inocente e idiota.
Sem perceber, enquanto ainda andava de costas e encarava o mais velho sendo algemado, deixou um par de lágrimas rolar por todo seu rosto ferido.
Havia sido, mais uma vez, enganado por alguém em quem confiava.
E quase morreu por isso.
****
Algumas horas haviam se passado.
e estavam na sala de espera do hospital aguardando por novas notícias de Emma, que ainda estava em estado grave.
Ambos estavam presos nos próprios pensamentos, ainda trêmulos e confusos com toda aquela situação. fungava vez ou outra, não escondendo seu choro de desespero e decepção. Estava arrasado, além de se sentir culpado por todo aquele caos. Se não fosse ele e sua família miserável, nada daquilo estaria acontecendo. Pelo menos agora todos os maus caráteres estavam mortos ou presos — menos ele, por pura sorte. Os policiais sicilianos estavam loucos para enfiarem um tiro em sua testa, e com razão.
Mais algum tempo se passou até a médica responsável pelo quadro de Emma finalmente aparecer com as notícias que tanto queriam ouvir.
— Conseguimos controlar a hemorragia e fizemos a retirada das balas — a mulher explicou em um inglês calmo e perfeito. — Ela não corre mais nenhum risco, porém terá de ficar aqui por alguns dias até poder ser transferida para Londres para a fase de recuperação.
não segurou a vontade de chorar outra vez, apenas deixou as lágrimas de alívio escorrerem por seu rosto castigado de marcas roxas e cortes. Ele não sabia se ria, se pulava, se ligava para casa; estava perdido, porém feliz. Sequer acreditava naquela pontada de alegria que sentia no fundo do peito; há tempos não experimentava aquela sensação.
, ao seu lado, agradeceu à doutora e virou-se para o amado, abraçando-o pela cintura com cuidado, visando não machucá-lo ainda mais fisicamente. E juntos, naquele espaço branco ao extremo, sujos de mais uma aventura, choraram um nos braços do outro. Estavam vivos. Sobreviveram mais uma vez. Mesmo que por dentro estivessem devastados por conta da extrema tragédia que viveram, estavam vivos e poderiam recomeçar como sempre sonharam. Sem Charlie. Sem . Sem mentiras.
Apenas eles — e um bocado de felicidade, que sabiam merecer.
Alguns dias se passaram e Emma continuava no hospital, já acordada e falando um pouco. Conseguiram ligar para Elizabeth e explicaram toda a situação através de uma chamada de vídeo que a jornalista insistiu em fazer — queria confirmar que todos estavam bem na medida do possível. Choraram todos juntos, incluindo as crianças, e depois riram de algumas besteiras que Nicholas falou para acalmar o clima.
Emma teve a autorização para transferência no dia seguinte e fora levada direto para o aeroporto, para um voo especial, enquanto e foram para a casa das primas de para buscarem as malas — desta vez a casa de verdade, não esconderijos longe das vistas alheias. Não eram fugitivos, não mais.
Amanda e Joanne estavam felizes; totalmente livres do primo abusivo e assassino, sem Jullie por perto — elas não se gostavam — e com a morte do pai vingada.
— Espero que tenham uma boa viagem — Amanda sorriu. — Obrigada por tudo e me perdoem ter sido uma chata na maior parte do tempo.
— Nós entendemos o seu lado, Mandy — deu um beijo na testa da mais nova. — Não deixem de nos dar notícias.
— Vocês também.
— E não se metam em confusão! — Joanne completou, dando um abraço rápido em cada um.
sorriu para as garotas e agradeceu aos sussurros, trocando algumas poucas palavras baixinhas com cada uma.
— De volta para casa — sussurrou quando entraram no carro.
— De volta para casa — repetiu e entrelaçou ambas as mãos.
Estava feliz. Seu coração ainda doía devido às perdas, mas estava feliz. Ainda não havia tido tempo para de fato chorar por todas as mortes que aconteceram em Londres — incluindo de sua mãe biológica, a qual não teve tempo o suficiente para conhecer, já que ela estava pelos arredores na hora do atentado, mesmo que tivessem tentado evacuar o centro da cidade. Era quase impossível.
Tirou esses pensamentos da cabeça a força, e seguiu até o aeroporto segurando a mão de , que não se importou em dirigir com apenas uma mão — passar a marcha daquele jeito era difícil, mas sentir o calor de contra sua pele o acalmava.
Trocaram um sorriso cúmplice ao chegarem no aeroporto e logo seguiram para a fila do check-in. É, realmente estavam indo para casa.
****
Quando saíram do avião e pegaram as malas, Emma já estava os aguardando com alguns policiais ingleses, sentada em uma cadeira de rodas. Ainda estava abatida e sua primeira parada na cidade seria o hospital, porém não se incomodava. Pelo menos estava viva. Mesmo depois de tudo, estava viva.
se aproximou e agradeceu aos companheiros de profissão, logo tomando a cadeira de Emma enquanto carregava as malas.
— Lar, doce lar — Emma murmurou logo que sentiram o frio londrino contra o rosto.
A cidade já sempre tão cinza parecia estar mais. Mesmo que ainda estivessem longe do centro, era possível ver os sinais de destruição e luto por todo o caminho.
Um carro da delegacia já os aguardava ali com alguns rostos novos e outros já conhecidos, como os de Nicholas e Elizabeth, que fizeram questão de encontrá-los ali.
Os abraços emocionados e as lágrimas foram inevitáveis. Elizabeth jogou-se contra e ao mesmo tempo, abraçando-os com força enquanto Nicholas chorava no colo da mãe fragilizada e ferida; todos ali sentiram que perderiam uns aos outros.
— Obrigada por voltarem — Elizabeth murmurou para os três, secando as lágrimas. — Essa cidade não é a mesma coisa sem vocês.
Ninguém respondeu nada, apenas se encaminharam para o carro de grande porte que os aguardava.
O caminho foi longo até o hospital, onde seria a primeira parada de todos. Puderam ver de perto todo o estrago que fora feito no centro e nos pontos turísticos da região atingida pela bomba. Mesmo que fossem um Estado que se recuperava rapidamente, era difícil. Muitas vidas haviam sido perdidas por aquelas ruas. De uma só vez, numa tragédia planejada. Em algumas ruas haviam homenagens aos falecidos, além de pessoas rezando e deixando flores e velas bonitas. Londres ainda estava em luto, mesmo que semanas houvessem passado. A dor continuava viva.
Mas eles sabiam que conseguiriam reconstruir cada detalhe daquela cidade bonita. Iriam levantar cada ponto, cada prédio, cada casa.
Honrariam todos aqueles que haviam partido naquele desastre.
Londres iria se reerguer. E se dependesse daqueles sobreviventes em especial, seria logo.
Quando saíram do carro, antes de entrarem no hospital grande e silencioso, quebrou o silêncio incômodo com uma pergunta baixinha:
— Querem saber o que tenho aqui?
— O quê? — perguntou, confusa, ainda presa no cenário triste e destruído que Londres havia se tornado.
— A senha daquele cofre do Crowley — deu um sorriso sacana, enfiando as mãos nos bolsos da calça. — Aquele que sumiu há mais de três anos e que passamos todo esse tempo procurando, com todos os segredos londrinos.
soltou uma risada fraca, sendo acompanhada pelas outras duas amigas; estavam as três incrédulas e Nicholas permanecia confuso no meio daquilo tudo.
— Eu não acredito que ainda conseguiu arrancar isso do crápula do Charlie — sussurrou, passando as mãos pelos cabelos. deu de ombros e sorriu enquanto acenava positivamente. Sim, havia conseguido,
E sim, havia ficado frente a frente com Charlie antes de embarcar; mas fazia questão de fingir que aquele momento não havia acontecido. Fora a situação mais desesperadora em que se encontrou. O olhar falso de Charlie o enjoava. Sua voz. Seu verdadeiro ser. Tudo era um incômodo estratosférico para .
— Você é inacreditável — Emma murmurou, cortando seus pensamentos.
fitou as três e sorriu mais uma vez. Com calma e voltando a empurrar a cadeira de Emma, respondeu:
— É, eu sou.
Definitivamente iriam reconstruir tudo — nem que isso lhes custasse as vidas.
Os anos haviam passado e muitas coisas continuavam iguais para . Ele ainda era . Ainda tinha ódio dentro de si, mesmo que numa escala menor. Emma continuava ao seu lado. Charlie ainda era seu segundo pai e ainda o seguia cegamente. Mas os sentimentos ruins continuavam ali também; pareciam fazer parte de quem era. A vida simplesmente não seguia. Estava estagnada naquilo.
Sua carreira se resumia em polêmicas e atos heróicos; além da quase condenação há pouco tempo. Ainda era visto como o homem agressivo e vingativo. Ainda sentia que era todas as coisas que diziam pelas revistas de fofocas; e sim, ainda era assunto delas. Ainda era visto com garrafas de cerveja e copos de uísque andando por aí, ainda infringia leis, ainda era considerado ruim; e talvez ainda o fosse. No entanto, ainda amava. De um jeito torto, errado às vezes, mas amava. Ainda faria qualquer coisa pelas pessoas que permaneciam ao seu lado. Isso, o seu amor, era algo imutável. Seu coração ainda era bondoso, embora deixasse que o medo e a raiva falassem por si; ficava cego quando sentimentos tão conflitantes tomavam-no o corpo.
— Não está pensando em jogar tudo para o alto, está? — A voz calma, porém cansada, de ecoou pelo quarto vazio e parcialmente escuro, tirando o policial de seus devaneios. — Nós precisamos manter o controle, .
— Na verdade, estava pensando em como nada mudou nos últimos anos — respondeu, dando de ombros. — Nós ainda vivemos como fugitivos, ainda nos arriscamos e ainda perdemos quem amamos. Qual o propósito disso tudo? Me enlouquecer? Sinceramente, , eu preferia enlouquecer na cadeia.
— Não fale assim, meu amor — a mulher se aproximou, sentando-se na cama ao lado dele. — Você sempre soube que seu índice de perdas pessoais seria mais alto que o normal. Nada disso é culpa sua, ou das coisas não terem mudado. É apenas a ordem natural das coisas, hoje choramos pelo Jesse, mas ontem era pelo seu pai, pelo Ryan; amanhã pode ser por você, por mim, pela Emma. Perda é perda; mas nossas profissões acabam intensificando isso para nós, acabamos nos tornando alvos facilmente e por qualquer mínima coisa que aconteça. Mas nós vamos conseguir resolver, sempre conseguimos.
— Matando todos eles? Porque eu só vejo essa solução.
— Se for necessário, sim. Já te disse uma vez e repito: vamos matar quem for necessário. Não estamos aqui para perder mais, nem para ficarmos de mãos atadas. Vamos reagir, fingir que isso não nos afetou. sabe que sim, mas ele não espera que ataquemos agora. Só temos hoje para irmos atrás dele e solucionar esse caso, .
— Está dizendo que vamos ter que partir para mais uma caçada a ? Ele está a milhares de passos à nossa frente.
— Mas nós somos mais inteligentes e mais fortes. Pare de se colocar para baixo, não suporto vê-lo assim. Sei que está doendo, e acredite: em mim também está. Mas nada do que façamos irá trazer nossos irmãos de volta. Só temos uns aos outros; os poucos que restaram.
— E o que você sugere?
— Que nos juntemos a Jullie.
O Sol estava fraco naquela manhã, mas, ainda assim, seus raios foram capazes de despertar Emma. Seu peito ainda pesava um sentimento esquisito; algo mesclado ao medo e à dor da perda. Acordar sabendo que nunca mais veria alguns dos amigos que conviviam consigo há mais de dez anos era doloroso; saber que todos morreram em prol da sociedade e de sua própria vida era ainda pior.
Sem se importar com o que sentia, a mulher se levantou e seguiu para o banheiro; fez tudo o que precisava e tomou um banho gelado, determinada em acordar totalmente e acabar com tudo aquilo naquele mesmo dia. Precisava voltar para casa. Todos eles precisavam. Eram a última esperança da população londrina — se é que ela ainda existia. A Inglaterra estava de luto; e banhada em sangue inocente.
Todo o continente estava. E era seu dever fazer valer cada lágrima que cada pessoa derrubou. Iria prender o causador de todo aquele caos nem que custasse sua vida; sua alma; cada gota de seu sangue. E sabia que tinha os melhores parceiros agora isso; sua equipe, sua família; todos estavam ali para ajudar. Eles venceriam, sempre venciam. Vestida de forma prática e à vontade dadas às condições, saiu da casa onde estavam hospedados com pressa. Enviou uma mensagem simples para informando onde estava e, em seguida, ligou para Charlie — não tinha notícias do parceiro desde a noite anterior e não estava gostando daquilo, principalmente pelo celular estar dando fora de área, não fazia sentido.
Com a preocupação a assolando e um mau pressentimento no fundo de seu ser, enviou uma última mensagem para :
“Estou indo até o gabinete de Antoni, se algo acontecer sabe onde me encontrar.”
Emma não sentiu que demorou para chegar ao seu destino, parecia estar ligada no modo automático mesmo que aparentasse ser a mesma mulher de sempre.
Passou pela recepção do local sem problemas, já que o crachá pendurado em seu peito lhe dava livre acesso por todos os cantos daquele prédio pequeno. Sentindo a sensação estranha e tensa aumentar a cada passo que dava, massageou o peito, em direção ao coração e parou em frente à porta de Antoni, podendo ouvir vozes abafadas e elas pareciam discutir.
Perdeu longos segundos ali, dando-se conta de que conhecia aqueles sussurros — e não eram somente de Antoni, assim como também não eram de sua sobrinha, Jullie.
Tinha certeza que uma das vozes era de Charlie. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar e em qualquer situação. No entanto, mesmo assim, hesitou em anunciar sua chegada. Queria invadir a sala de uma só vez, mas era como se algo a prendesse no lugar. Não deveria estar ali, sua intuição a dizia, entretanto, não conseguia recuar. Estava curiosa, extremamente curiosa. Por que Charlie não a atendia mas estava ali? Por que tudo parecia tão vazio naquele andar? O que estava acontecendo?
Um som abafado de algo batendo no chão a fez pular de susto em seu lugar, e ali decidiu que não era hora de hesitar. Precisava entender o que estava acontecendo e mau pressentimento nenhum a faria parar. Deu duas batidas na porta e foi prontamente ignorada ao mesmo tempo que um silêncio forçado surgiu naquele ambiente. Tentou novamente e mais uma vez não tivera resposta alguma. Decidiu, por fim, fingir que ia embora. Simulou passos se afastando e, silenciosamente, colocou a orelha na porta tomando cuidado para que sua sombra não fosse projetada por debaixo da mesma. E quase automaticamente as vozes voltaram a ecoar baixas e abafadas do outro lado.
Emma levou a mão até à arma presa em sua cintura e a puxou com cuidado, deixando tudo pronto para caso precisasse se defender. Com muita cautela, segurou a maçaneta e a girou devagar, abrindo a porta de forma que somente uma brecha lhe desse a visão do que acontecia ali.
Antoni tinha o rosto prensado sobre a mesa e Charlie o segurava pela nuca com força, fazendo-o resmungar coisas impossíveis de entender daquela distância.
Emma engoliu a seco ao reparar melhor nos dois homens ali. Charlie estava suado e os olhos estavam vermelhos, parecia não ter dormido e estava agitado demais, tinha uma pistola em mãos e a apontava para o rosto de Antoni, que também segurava uma arma em uma das mãos sem ter como usá-la — Emma arriscaria dizer que sequer estava engatilhada, dada a posição que se encontravam.
Enquanto ainda prestava atenção no que acontecia ali, puxou o celular com a mão livre e digitou uma mensagem rápida para :
“Algo estranho está acontecendo aqui, venha para cá. Precisarei de ajuda.”
— Me diga onde está — Charlie forçou mais o corpo de Antoni contra a mesae isso chamou mais a atenção de Emma. — Sabe que preciso do dinheiro e de Apolo para ir embora daqui. Você sabia do risco desde o início.
— E você achou que ninguém iria descobrir sobre isso? — Antoni murmurou. — Eu não sei onde Apolo enfiou a porcaria do dinheiro, nem onde ele está. Não são nem dez da manhã, Charlie, ainda não consegui falar com a Jullie.
— Não seja idiota, meu velho amigo — Charlie o soltou de uma vez, fazendo-o tossir um bocado. — Jullie não está do seu lado, nem se deita com Apolo em prol de informações e milhões de euros. Ela é uma agente esperta e, acima de tudo, fiel. Como não sabe isso sobre a mulher que criou? Não acredito que confiou nela todo este tempo. Você é um imprestável. Agora ficaremos sem o mais importante para nos livrarmos de tudo: o dinheiro.
— E como sabe disso? Jullie jamais me trairia.
— Não sou burro como você — Charlie rebateu de forma agressiva. — A Jullie já traiu você, o Apolo, o , a todos. Parece que ela é a única que raciocina no meio dessa maldita quadrilha que vocês criaram.
Bastou eu deixar o controle com vocês por uns meses para tudo ruir; não serviram nem para fazer um atentado decente.
Emma arfou ao ouvir aquela conversa, sentindo o coração apertar e um punhado de lágrimas tomar conta de sua visão. Não acreditava naquilo que ouvia; Charlie estava fingindo, certo? Tinha de estar. A melhor forma para pegar bandidos é fingir que está ao lado deles.
Antes que pudesse concluir suas teorias, percebeu que havia feito barulho demais e ambos os homens a olhavam. E não se escondeu, empurrou a porta de uma vez, escancarando-a, e mostrou-se para eles. Seu rosto estava vermelho e a respiração levemente descompassada. — Emma? — Charlie murmurou. — O que faz aqui?
— O que você faz aqui, Charlie? — rebateu. — Não me dá notícias desde ontem.
— Estava resolvendo uns problemas com Antoni, amor — o mais velho sorriu de forma forçada. — Fiquei muito abalado com os acontecimentos de ontem e precisei espairecer.
— Espairecer ou comemorar? — Emma perguntou de uma só vez, adentrando a sala e fitando-os com atenção, apertando mais a arma entre seus dedos.
— O que quer dizer com isso, querida?
— Sobre o que estavam falando? — a mulher ignorou a pergunta do namorado, voltando ao assunto que realmente a interessava. — Eu ouvi tudo o que disseram. Que dinheiro é esse? Por que precisa do Apolo, Charlie? Você faz parte dessa corja?
Charlie ficou alguns segundos em silêncio, apenas encarando a mulher determinada à sua frente. Seu coração batia acelerado no peito, deixando-o zonzo com tantas informações ao mesmo tempo; aquilo não deveria acontecer, Emma não deveria estar ali.
— Sinto muito, Emma, não era para você ter escutado nada — a voz sombria de Antoni ecoou pela sala, fazendo-a olhá-lo intrigada. O homem estava com a pistola apontada para ela e não demorou a engatilhá-la.
Rapidamente, visando se proteger, Emma ergueu sua própria arma, mirando-a em direção a Antoni.
— Solte a arma — Emma pediu, na defensiva.
Antoni não a obedeceu, apenas continuou encarando-a firmemente, enquanto Charlie permanecia em silêncio.
Numa fração de segundos, dois tiros ecoaram por toda a sala e Emma sentiu seu corpo queimar; a ardência começou bem no centro de seu tronco, vindo de dentro para fora, sentia-se rasgar ao meio. Antes de ir de encontro ao chão, com dois tiros no abdômen, conseguiu ver que Antoni não havia sequer movido um dedo; nem mesmo havia respirado e sua arma continuava parada e intacta. Os tiros não haviam vindo dele; e, por isso, sequer conseguiu reagir.
Contudo, ao lado de Antoni e sem sequer um pingo de remorso nas expressões faciais, Charlie abaixou sua própria arma e prendeu-a na cintura novamente.
— Você realmente não deveria ter escutado nada, meu amor.
No andar debaixo, a agitação foi inevitável. No mesmo instante que o caos se iniciou ao acharem que estavam sendo atacados, e atravessaram a entrada, prendendo os crachás nas blusas sem prestarem atenção naquilo realmente. A mensagem de Emma havia sido clara e tiveram sorte por já estarem aos arredores; tinham marcado um encontro com Jullie há alguns minutos.
estava extremamente confiante em relação à outra mulher, e não podia fazer mais nada a não ser confiar nela — ela era a mais inteligente que conhecia. Mas nada tinha a menor importância naquele momento; precisavam checar o que Emma havia dito — e logo.
Passando na frente de todos os funcionários, e chegaram ao andar da sala de Antoni, encontrando a pior cena que já
presenciaram na vida desde as mortes de seus pais. A porta estava escancarada e um rastro longo de sangue corria de dentro da sala até onde estavam.
No chão, ao centro da sala, Emma tremia e tentava pressionar os ferimentos com as mãos fracas ao mesmo tempo que controlava a respiração; sentia que morreria a qualquer instante, mas, ainda assim, lutava. E lutaria até seu último suspiro.
Tudo havia sido rápido demais. Charlie apertou o gatilho, disse o que quis e saiu com Antoni, deixando-a para trás. E logo em seguida , e os outros funcionários chegaram.
estava em choque com o que via, enquanto já estava ajoelhada no chão, sujando-se de sangue enquanto pressionava mais os ferimentos de Emma e colocava-a com a cabeça em seu colo.
— , preciso que me ajude — murmurou. — Ela está sangrando demais. E vocês, chamem uma ambulância! — Emma…
— Vá… — Emma tentou falar, os lábios estavam trêmulos e secos, e seus olhos pareciam pesar.
— Shh, não fale — pediu.
— Preciso — a ferida sussurrou. — Charlie. Prenda-o — tossiu um pouco. — Ele… Antoni…
ficou estático, sentindo as lágrimas brotarem seus olhos outra vez. — O que? — sussurrou.
— Ele fez isso — Emma gaguejou um pouco e segurou a mão de com força, ajudando a fazer mais pressão. — Pegue-o.
— Como?
— Jullie — Emma sussurrou antes de perder as forças e fechar os olhos.
não soube dizer se ela havia desmaiado de dor, pelo sangramento, nervoso ou se havia morrido. Mas também não teve tempo de ao menos tentar ajudá-la ou saber o que de fato havia acontecido. De forma rápida e eficiente, uma equipe de paramédicos invadiu o local, tirando-os de perto dela.
— Encontre-se com a Jullie e vá atrás do Charlie — murmurou de forma embolada. — Vou com ela para o hospital. Aconteça o que acontecer, pegue os responsáveis por isso. Me avise quando tiver uma pista e irei ao seu encontro. Vá!
não esperou gritar outra vez, levantou-se ainda tonto e sujo de sangue e correu o máximo que pôde, logo saindo daquele maldito ambiente que o sufocava.
E mais do que nunca, sentia ódio. Tanto ódio que poderia matar qualquer um que surgisse em sua frente — até mesmo Charlie.
Jullie sentiu o corpo gelar ao ler a mensagem de Apolo.
“Seu tio antecipou os planos. Te encontro em uma hora no heliporto. Não se atrase.”
— Droga! — exclamou baixo e sozinha. Tinha um encontro com o casal britânico e precisava deles ao seu lado já que as coisas estavam saindo do controle.
Ela não sabia o que de fato tinha acontecido, mas algo havia dado errado — muito, muito errado. Não sabia como se livrar daquela bola de neve de problemas e quanto mais tentava entender cada detalhe daquilo, parecia que ela rolava mais para seu lado, já cheia e pronta para engoli-la de uma só vez, e levar aqueles ingleses consigo — o que não podia acontecer.
A verdade era que Jullie era uma agente infiltrada — sequer chamava-se Jullie; apenas fazia-se da sobrinha perdida de Antoni e todos acreditavam. Sua missão era investigar o crescimento da máfia na Sicília, mesmo que ali já fosse o berço da bandidagem italiana.
As mortes aumentaram muito nos últimos meses pela Sicília, e ela, mais do que ninguém, sabia o porquê. Apolo Castellamare era sua maior missão, então seu envolvimento com o bandido era antigo. Jullie ia e vinha muitas vezes, o que fez com que o magnata ficasse jogado aos seus pés, sem sequer desconfiar que ela só estava juntando provas contra ele o tempo todo. Seus sumiços eram por conta de novas missões, e ela fingia ser porque não conseguia manter-se em apenas um lugar, com apenas uma pessoa e vivendo uma vida comum; passar a imagem de aventureira e assassina de aluguel lhe pareceu certo no momento.
E àquela altura, já tinha tudo planejado. No entanto, não contava com a aparição dos ingleses e tampouco com a morte dos pouquíssimos que viviam por ali há anos. Ainda assim, Jullie conseguiu se virar; criou planos novos, escondeu o máximo que conseguiu de sua história e se aproximou dos policiais recém chegados o suficiente para entender o que eles queriam e como trabalhavam; logo se dando conta que não se envolveriam em seus casos, estavam em Palermo apenas para entender o porquê do sobrenome existir fora da Inglaterra e por que diabos alguém se passava por ali. Não foi difícil montar um novo plano de forma que os fizesse correr diretamente atrás de , o impostor.
Seu trabalho continuava sendo Apolo Castellamare e todos os massacres que ele fazia mundo afora. E não importava se o pai de Apolo tinha um passado com aqueles ingleses; ninguém encostaria em sua missão, Jullie tinha certeza.
Mas também não contava que seu “tio” fosse perder o controle. Nem que ele tinha certos segredos com Charlie Raymond.
Aquilo fazia com que seus planos tivessem novos furos e ela precisasse escondê-los com pressa; e a pressa era inimiga da perfeição.
No fim das contas, Jullie juntou o útil ao agradável e deixou-se revelar para , e tinha uma proposta para ela e . E como já era de se esperar àquela altura do campeonato, mais coisas deram errado.
O que restou para Jullie foi montar um plano que fosse bom para ambos os lados às pressas. E agora, mais do que nunca, precisava de .
“Me encontre aos arredores deste heliporto em vinte minutos.”
Jullie enviou para junto a um endereço e não levou nem mesmo cinco minutos para receber um “ok” em resposta.
Pelo visto, o policial inglês também tinha pressa. E algo a dizia que aquilo tinha a ver com o que Antoni estava aprontando para querer antecipar todos os planos.
Era hora de abrir o jogo e trabalhar em equipe com .
Um helicóptero já estava pousado quando Charlie chegou ao topo do heliporto com Antoni em seu encalço. Ainda faltavam alguns minutos até terem de partir.
O delegado gostaria de dizer que estava arrependido de provavelmente ter matado a mulher de sua vida; mas não estava. Homens como Charlie não tinham peso na consciência, não se arrependiam. A regra era clara: não importava a pessoa que descobrisse seu segredo, ele teria de atirar para matar. E o fez. Não queria pensar no fato que havia amado Emma com todo seu coração, nem que acabara de deixar seu filho mais novo desamparado — não totalmente, pois sabia que daria um jeito de adotar Nicholas. Doía, mesmo que não quisesse aceitar.
— Você é mesmo o monstro que sempre descreveram para mim — Antoni murmurou enquanto acendia um cigarro. — Sequer hesitou antes de atirar na pobre Emma. Não se arrepende de tudo que causou?
— Alguém precisa ser o malvado da história, Antoni — ele respondeu enquanto encarava o céu aberto sobre si. — Em nosso meio há apenas uma regra: matar quem se meter no nosso caminho. Eu apenas fiz isso todos esses anos. Não tenho culpa se todos que matei confiavam em mim cegamente.
— E por que não matou o ainda?
— Ele não deve morrer, é útil para nós.
— A culpa sempre recai sobre ele, Charlie. E ele sequer até conosco, apenas fez um ou outro serviço sujo.
— Essa é a utilidade dele, Antoni: carregar a culpa em meu lugar. Se ele fez tudo o que pedi, foi porque confiou na pessoa errada em seus momentos de carência. Ele enxerga o pai em mim.
— E você quem fez o pai dele morrer e tomou seu lugar, não foi?
— Eu não fiz nada. John se deixou levar por coisas incompletas e acabou morto. puxou ao pai: é cego e idiota demais para perceber o que está bem embaixo de seu nariz.
— Acontece que agora eu consigo ver claramente o que está acontecendo, Charlie — a voz rouca e carregada de ódio de ecoou pelo heliporto, fazendo com que os mais velhos ficassem confusos. — E não irei hesitar em puxar o gatilho para você.
Charlie sorriu cheio de escárnio e levou a mão até sua cintura, pensando em puxar sua arma.
— Eu não faria isso se fosse você — uma voz feminina e firme invadiu seus ouvidos lentamente. Não demorou muito para Charlie e Antoni sentirem os canos gelados das armas em suas nucas.
Jullie estava atrás dos dois, armada e pronta para atirar caso notasse qualquer movimento errado.
A agente sabia todos os passos do “tio”, já que haviam montado juntos visando pegarem Apolo de uma vez, era um acordo que tinham. Antoni pegaria o que lhe pertencia — parte do dinheiro que transportariam —, e ela ficaria com Apolo e toda a droga e armas que seriam levadas no segundo helicóptero que logo chegaria ali.
Mas, tudo saiu do controle e precisou improvisar. E com isso, chegou ali antes de todos junto com . Fariam vingança juntos e cada um levaria para casa seu próprio troféu.
— Por que será que não estou surpreso? — Charlie perguntou retoricamente, erguendo as mãos até os ombros e mostrando rendição.
Antoni fez o mesmo.
— Você está preso, Charlie — disse firme, caminhando em direção ao mesmo velho, que apenas sorria e balançava a cabeça. Estava confiante demais, Jullie e perceberam, mas não tinham outro plano a não ser aquele, então precisavam seguir à risca. Caso algo desse errado, dariam um jeito de improvisar outra vez.
— Não me sinto nem um pouco preso, — Charlie sorriu mais uma vez. — Pelo contrário, me sinto mais livre do que nunca.
— , atrás de você! — Jullie gritou e tudo aconteceu rápido demais.
virou para trás a tempo de ver duas silhuetas conhecidas, e não pensou duas vezes antes de jogar-se para o chão e rolar para o lado enquanto fugia dos disparos feitos por eles. Ao mesmo tempo, do outro lado, Jullie dava conta de Charlie e de Antoni ao mesmo tempo, socando-os como podia, já que Charlie havia puxado sua mão fazendo com que soltasse uma de suas armas ao mesmo tempo em que Antoni fazia o mesmo, jogando ambas para longe dela.
Assim que teve certeza que um dos homens presentes era , não se importou de ficar na mira. Levantou-se rapidamente e mirou a arma para o irmão mais uma vez, atirando sem parar. Só queria acertá-lo e acabar com todo aquele maldito drama. Queria paz, e só teria quando todos aqueles desgraçados estivessem mortos.
Numa sintonia mórbida, o tiroteio cessou e permaneceu em alerta, apontando a arma para frente, onde se encontrava com Apolo em seu encalço. Olhou para o lado disfarçadamente e viu que Jullie havia recuperado uma de suas armas e a mirava em direção a Antoni e Charlie.
Quando sentiram suas costas baterem, tiveram certeza que estavam cercados.
— Hora de improvisarmos mais uma vez — Jullie sussurrou e cuspiu um bocado de sangue no chão. — Pelo menos até chegarem os reforços.
— Reforços?
— Não achou que faríamos isso sozinhos, achou? — Jullie riu disfarçadamente. — Também sou uma policial, . E além do mais, acredito que sua namorada logo chegará aqui armada até os dentes. Agora vamos dançar conforme a música. Me ajude a provocá-los ao mesmo tempo em que pensam que estão no poder.
— Dizendo as últimas palavras antes de morrer, Jullie? — Foi Apolo quem perguntou, fazendo-a segurar um sorriso. — Vadia traidora!
— Quem disse que eu o traí, Apolo? — a mulher perguntou alto. — Eu jamais faria algo contra você. Esses dois velhos — apontou para Antoni e Charlie — estavam tentando fugir com nossas encomendas. foi minha melhor saída — Jullie deu as costas para Antoni e Charlie, parando rente ao ombro de , finalmente sussurrando: — Me desculpe por isso, amigo, mas sei que você se sairá bem.
Após dizer isso e quando menos esperou, Jullie grudou a arma em sua cabeça, fazendo-o xingá-la mentalmente. Aquele não era o melhor método de distração até a ajuda chegar, não mesmo; ele poderia morrer!
— E ele é todo seu, meu amor! — Jullie gritou sorrindo, e Apolo vacilou.
Assim como todos ao redor. Ela tinha certeza que Charlie estava ao menos lhe dando o benefício da dúvida, assim como Antoni estava a odiando mais que o normal por achar que tanto ela quanto Apolo queriam tudo o que estava ali para eles.
E era melhor que ficassem confusos e pensassem assim mesmo. Era o plano de improviso, e teria de dar certo.
sentia o suor escorrer pelo corpo ao mesmo tempo em que começava a ofegar; estava nervoso e ansioso, mas tinha uma ideia para fazer aquilo dar certo. Porém, naquele momento, nos primeiros minutos, precisava seguir o clichê de “lavar a roupa suja” e fazer todos aqueles criminosos confessarem seus crimes.
Visivelmente desconfiado, porém achando graça da situação, soltou uma risada, dando alguns passos a frente.
— Sentiu minha falta, irmão? — Perguntou debochadamente. — Estava sendo divertido fingir ser você; mas depois se tornou entediante. Você tem uma péssima vida, .
— Tão péssima que você sempre quis tomar o meu lugar — o policial rebateu, rindo em seguida. A arma grudada em sua cabeça o incomodava, mas ele teria de confiar em Jullie. — Você jamais se daria bem sendo eu, . Não tem capacidade para tal; e só existe um . Eu.
— Logo nem mesmo você irá existir — ameaçou, o encarando nos olhos e se aproximando mais. — Faço questão de acabar com você usando minhas próprias mãos.
— E o que está esperando? — perguntou.
Antes que pudesse responder, uma movimentação suspeita atrás dos dois à sua frente chamou sua atenção. Charlie e Antoni corriam em direção ao helicóptero estacionado ali, com a intenção de fugir com toda a carga que estava lá dentro.
revirou os olhos e bagunçou os cabelos, fazendo um sinal para que Apolo seguisse os dois, o que foi desnecessário já que ele corria em direção aos dois mais velhos também. E aquela foi a deixa que Jullie precisava. Com movimentos rápidos e ensaiados, aproveitando a guarda baixa de , empurrou com toda sua força, fazendo-o cair sobre o irmão e, sem olhar para trás, correu em direção a Apolo e os outros dois. daria conta de , ela sabia. Sua intuição nunca falhava.
Jullie não hesitou em mirar no helicóptero e atirar nos dois homens que já embarcavam. Dali ela conseguia ouvir os urros e os sons que vinham de e , mas não se importou. Nada mais além de parar aqueles homens, que já ligavam o helicóptero, importava.
Atirou mais algumas vezes e conseguiu acertar Antoni antes que ele fechasse a porta do helicóptero. Com pressa e revidando os tiros, Charlie chutou o corpo ensanguentado de Antoni para fora do veículo, e aquilo foi o suficiente para que Jullie conseguisse acertá-lo também, porém não fatalmente.
Próximo dali, Apolo encarava todo o caos com o coração apertado.
Sabia que Jullie não estava ao seu lado. Era mesmo uma vadia traidora. E traidores não viviam. Não em seu território. Não quando o traído era ele.
Apolo puxou sua própria arma e mirou-a em Jullie, que não se importou nem um pouco e seguiu atirando no helicóptero, esperando que atingisse Charlie mais uma vez.
O Castellamare caçula engatilhou a arma e se preparou para apertar o gatilho, mas foi interrompido por um barulho quase ensurdecedor e uma ardência em seu braço direito, fazendo atirar completamente errado.
Jullie sorriu e balançou a cabeça levemente para , que estava atrás de Apolo, a alguns metros de distância. Sua mira era incrível. Havia sido uma entrada e tanto.
A jornalista estava vestida num colete a prova de balas, tinha uma arma nas mãos e atirava sem se importar se mataria ou não. Ora mirava em Apolo, que corria feito um cãozinho assustado, ora no helicóptero que já estava fechado e levantava voo, com Charlie no comando.
Um tiro de rachou o vidro da frente do enorme veículo, e o de Jullie o vidro da lateral. No entanto, mesmo assim, Charlie continuou.
Em sua cabeça só tinha um pensamento: fugir. Tinha de sair dali vivo, e sairia. Já havia escapado de tantas outras ciladas como aquela, não seria seu próprio pessoal, sua equipe, que o faria perder. Não, Charlie Raymond nunca perdia. Sempre estava no controle. As pessoas que o obedecia. Naquela situação não seria diferente.
Do outro lado, e ainda rolavam no chão trocando socos. Ambos só pensavam em matar, acabar um com o outro de uma vez por todas.
segurava pelo pescoço com ódio, sentado em seu quadril e sufocando-o com vontade. Queria vê-lo agonizar. Queria vê-lo morrer. Em suas mãos. Queria ter certeza que seu maldito irmão morreria de verdade — e desta vez não carregava sequer uma ponta de remorso por desejar a morte de alguém de seu próprio sangue.
sabia que já carregava uma lista enorme de mortos nas costas, assim como havia muito sangue em suas mãos. Entretanto, nada mais importava. Queria livrar-se de todos os seus demônios e fantasmas para sempre. O tiroteio à sua volta não importava, a voz de ao longe não importava, seus pensamentos bagunçados, embaixo de seu corpo; nada importava. enxergava vermelho naquele momento. Seu ódio havia tomado conta de todo seu corpo, corria sob sua pele e misturava-se ao seu sangue.
Quem estava ali, no controle, era o assassino; o sanguinário. E só ele importava. Somente sua vida importava.
Estava tão cego que sequer percebeu esticando-se ao máximo, até alcançar uma das armas que haviam deixado cair durante a briga.
Com raiva, acertou a pistola no rosto de , finalmente tirando-o de cima de seu corpo.
O policial ficou tonto por alguns segundos, porém, ao sentir o corpo pesado do irmão sobre o seu, voltou ao normal — forçou-se a voltar. Rolaram mais algumas vezes, deixando a arma entre ambos os corpos e ainda sob posse de .
Os irmãos lutavam bravamente, um tentando matar o outro. A arma estava engatilhada e entre ambos os abdomens, os dois pares de mãos apertavam o cano com força, estapeando-se quando tava, gritando um com o outro, mordendo, dando chutes no ar; eram uma bagunça de gritos, porradas e arma.
Até que o inevitável aconteceu, quando acabou por baixo do irmão: dois tiros ecoaram seguidos, fazendo com que todos ao redor prendessem a respiração e soltasse um grito agoniado; não aguentaria ver o amor de sua vida ferido e quase morto novamente.
Enquanto Jullie ainda tentava controlar Charlie Raymond e Apolo Castellamare, que estava ferido por ali, mas ainda possuía uma arma em mãos, correu em direção aos dois corpos jogados no chão, ainda por baixo do irmão. Ambos completamente imóveis.
Os policiais amigos de Jullie já estavam ali, todos armados até os dentes e alguns atiradores profissionais posicionados de forma que acertassem os tiros no helicóptero que já subia mais do que esperavam. Não demorou muito até alguém finalmente acertá-lo nas hélices e na região central, fazendo-o girar no ar por alguns segundos e seguir em direção ao chão novamente, sempre girando em alta velocidade. Todos correram e espalharam-se ainda de forma organizada, observando o helicóptero girar mais um pouco e atingir finalmente o solo do heliporto, arrastando-se por alguns metros até parar por completo.
A primeira reação de Jullie após o acidente foi correr em direção a Apolo que ainda lhe apontava uma arma, mas hesitava em apertar o gatilho. A mulher ajoelhou de frente para ele, que sangrava nos braços e nas pernas, onde havia sido atingido por e os outros policiais enquanto tentava correr.
— Você não é um homem mau — Jullie murmurou. — Mas se quiser me matar, essa é sua última chance.
Apolo não respondeu, apenas deixou o braço cair ao lado de seu corpo, largando a arma no chão.
— Eu te amei, Jullie. Meu pai sempre disse que eu não deveria me apaixonar por mulheres como você.
— E minha mãe sempre me disse para manter distância de homens como você, mas nunca consegui. Também te amei, Apolo, mas somos diferentes demais. Agora, você está preso e tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser poderá e será usado contra você no tribunal.
Apolo queria dizer que estava chocado por aquela mulher ser uma agente federal, mas não estava. Jullie tinha todos os indícios de que trabalhava com algo muito além de assassinatos de aluguel; ela nem ao menos mostrava-se má para isso. Evitava matar e hesitava para fazer certos trabalhos; ele havia sido cego e idiota ao pensar que ela era como ele e diferente das outras. No fim das contas havia sido apenas mais um detento nas mãos daquela mulher sedutora.
— Posso ao menos saber seu verdadeiro nome?
— Samara.
E após a curta resposta, Apolo teve os pulsos algemados.
Na companhia de alguns policiais, empurrou o corpo grande de , jogando-o para o lado e puxando logo em seguida. estava sujo de sangue e respirava forte, tentando manter-se acordado após a forte dose de adrenalina.
levou o olhar para e percebeu, de uma vez, de onde era todo aquele sangue no corpo de . tinha dois furos no peito que jorravam sangue sem parar, ele engasgava na própria saliva e no sangue que lhe subia a garganta, os olhos ainda estavam abertos e as mãos tremiam em espasmos. Um dos policiais ainda tentou estancar o sangue, porém não havia mais jeito. Não demorou muito para que o corpo de parasse de se debater. Os olhos reviraram levemente e pararam no meio do caminho, deixando uma imagem perturbadora e medonha.
— Está morto — o policial murmurou após verificar os batimentos.
suspirou e levantou-se de supetão. não entendeu inicialmente, mas logo que puxou um novo pente de balas do coldre que estava em sua cintura e desmontou a arma em sua mão, logo encaixando o pente novo na mesma, entendeu. Ela entendeu que ele ainda não havia acabado, e não tinha forças para impedir o que quer que fosse acontecer. Apenas permitiu-se observar o amor de sua vida caminhar em direção ao helicóptero onde os policiais tiravam um Charlie aparentemente zonzo e machucado.
Ao se aproximar, apontou a arma para o mais velho. Seu coração batia descompassado e sua cabeça estava a mil. Alguns policiais ao redor apontaram armas para também; e não havia nada que ninguém pudesse fazer. Se ele apertasse o gatilho, sendo policial ou não, morreria. Charlie não representava mais ameaça nenhuma; estava algemado e desarmado, além de ferido. Seria má conduta policial e homicídio.
As mãos de tremeram e ele engoliu a seco.
Num tom irônico, Charlie sussurrou:
— Você disse que não hesitaria em puxar o gatilho, .
sentiu a respiração acelerar ainda mais, porém não teve coragem de continuar. Principalmente depois de sentir os braços de abraçarem sua cintura.
queria gritar, jogar todas as coisas na cara de Charlie, enchê-lo de socos e pontapés para vingar toda a dor que ele havia causado a Emma, pouco se importava consigo mesmo e com a decepção que sentia. Emma era o mais importante ali; e estava no hospital, entubada e entre a vida e a morte. Por culpa daquele nojento em sua frente, que dizia amá-la.
Deixou-se levar pelos puxões sutis de e caminhou de costas, ainda encarando Charlie e lhe apontando a arma.
— Você não é como ele — sussurrou. — Abaixe a arma, . Se acharem que você vai atirar, nós dois morreremos.
Naquele momento soube que o melhor era abaixar a arma, e o fez. Porém, sua vontade ainda era de estraçalhar Charlie Raymond como ele havia feito com seu coração — o orgulho e carinho que sentia pelo delegado passou a ser puro nojo e decepção. O homem que escolhera como seu maior exemplo depois de seu pai era o mandante de tudo — Charlie havia arruinado sua vida de diversas formas, e sempre o fez acreditar que estava indo pelo caminho certo.
Para Charlie Raymond, nunca passou de um mero amuleto da sorte; a pessoa que poderia culpar sempre que necessário, aquele que faria os serviços sujos sem questionar por achar que estava fazendo o bem comum. era um menininho inocente perante aos olhos de Charlie. Um maldito menininho inocente e idiota.
Sem perceber, enquanto ainda andava de costas e encarava o mais velho sendo algemado, deixou um par de lágrimas rolar por todo seu rosto ferido.
Havia sido, mais uma vez, enganado por alguém em quem confiava.
E quase morreu por isso.
Algumas horas haviam se passado.
e estavam na sala de espera do hospital aguardando por novas notícias de Emma, que ainda estava em estado grave.
Ambos estavam presos nos próprios pensamentos, ainda trêmulos e confusos com toda aquela situação. fungava vez ou outra, não escondendo seu choro de desespero e decepção. Estava arrasado, além de se sentir culpado por todo aquele caos. Se não fosse ele e sua família miserável, nada daquilo estaria acontecendo. Pelo menos agora todos os maus caráteres estavam mortos ou presos — menos ele, por pura sorte. Os policiais sicilianos estavam loucos para enfiarem um tiro em sua testa, e com razão.
Mais algum tempo se passou até a médica responsável pelo quadro de Emma finalmente aparecer com as notícias que tanto queriam ouvir.
— Conseguimos controlar a hemorragia e fizemos a retirada das balas — a mulher explicou em um inglês calmo e perfeito. — Ela não corre mais nenhum risco, porém terá de ficar aqui por alguns dias até poder ser transferida para Londres para a fase de recuperação.
não segurou a vontade de chorar outra vez, apenas deixou as lágrimas de alívio escorrerem por seu rosto castigado de marcas roxas e cortes. Ele não sabia se ria, se pulava, se ligava para casa; estava perdido, porém feliz. Sequer acreditava naquela pontada de alegria que sentia no fundo do peito; há tempos não experimentava aquela sensação.
, ao seu lado, agradeceu à doutora e virou-se para o amado, abraçando-o pela cintura com cuidado, visando não machucá-lo ainda mais fisicamente. E juntos, naquele espaço branco ao extremo, sujos de mais uma aventura, choraram um nos braços do outro. Estavam vivos. Sobreviveram mais uma vez. Mesmo que por dentro estivessem devastados por conta da extrema tragédia que viveram, estavam vivos e poderiam recomeçar como sempre sonharam. Sem Charlie. Sem . Sem mentiras.
Apenas eles — e um bocado de felicidade, que sabiam merecer.
Alguns dias se passaram e Emma continuava no hospital, já acordada e falando um pouco. Conseguiram ligar para Elizabeth e explicaram toda a situação através de uma chamada de vídeo que a jornalista insistiu em fazer — queria confirmar que todos estavam bem na medida do possível. Choraram todos juntos, incluindo as crianças, e depois riram de algumas besteiras que Nicholas falou para acalmar o clima.
Emma teve a autorização para transferência no dia seguinte e fora levada direto para o aeroporto, para um voo especial, enquanto e foram para a casa das primas de para buscarem as malas — desta vez a casa de verdade, não esconderijos longe das vistas alheias. Não eram fugitivos, não mais.
Amanda e Joanne estavam felizes; totalmente livres do primo abusivo e assassino, sem Jullie por perto — elas não se gostavam — e com a morte do pai vingada.
— Espero que tenham uma boa viagem — Amanda sorriu. — Obrigada por tudo e me perdoem ter sido uma chata na maior parte do tempo.
— Nós entendemos o seu lado, Mandy — deu um beijo na testa da mais nova. — Não deixem de nos dar notícias.
— Vocês também.
— E não se metam em confusão! — Joanne completou, dando um abraço rápido em cada um.
sorriu para as garotas e agradeceu aos sussurros, trocando algumas poucas palavras baixinhas com cada uma.
— De volta para casa — sussurrou quando entraram no carro.
— De volta para casa — repetiu e entrelaçou ambas as mãos.
Estava feliz. Seu coração ainda doía devido às perdas, mas estava feliz. Ainda não havia tido tempo para de fato chorar por todas as mortes que aconteceram em Londres — incluindo de sua mãe biológica, a qual não teve tempo o suficiente para conhecer, já que ela estava pelos arredores na hora do atentado, mesmo que tivessem tentado evacuar o centro da cidade. Era quase impossível.
Tirou esses pensamentos da cabeça a força, e seguiu até o aeroporto segurando a mão de , que não se importou em dirigir com apenas uma mão — passar a marcha daquele jeito era difícil, mas sentir o calor de contra sua pele o acalmava.
Trocaram um sorriso cúmplice ao chegarem no aeroporto e logo seguiram para a fila do check-in. É, realmente estavam indo para casa.
Quando saíram do avião e pegaram as malas, Emma já estava os aguardando com alguns policiais ingleses, sentada em uma cadeira de rodas. Ainda estava abatida e sua primeira parada na cidade seria o hospital, porém não se incomodava. Pelo menos estava viva. Mesmo depois de tudo, estava viva.
se aproximou e agradeceu aos companheiros de profissão, logo tomando a cadeira de Emma enquanto carregava as malas.
— Lar, doce lar — Emma murmurou logo que sentiram o frio londrino contra o rosto.
A cidade já sempre tão cinza parecia estar mais. Mesmo que ainda estivessem longe do centro, era possível ver os sinais de destruição e luto por todo o caminho.
Um carro da delegacia já os aguardava ali com alguns rostos novos e outros já conhecidos, como os de Nicholas e Elizabeth, que fizeram questão de encontrá-los ali.
Os abraços emocionados e as lágrimas foram inevitáveis. Elizabeth jogou-se contra e ao mesmo tempo, abraçando-os com força enquanto Nicholas chorava no colo da mãe fragilizada e ferida; todos ali sentiram que perderiam uns aos outros.
— Obrigada por voltarem — Elizabeth murmurou para os três, secando as lágrimas. — Essa cidade não é a mesma coisa sem vocês.
Ninguém respondeu nada, apenas se encaminharam para o carro de grande porte que os aguardava.
O caminho foi longo até o hospital, onde seria a primeira parada de todos. Puderam ver de perto todo o estrago que fora feito no centro e nos pontos turísticos da região atingida pela bomba. Mesmo que fossem um Estado que se recuperava rapidamente, era difícil. Muitas vidas haviam sido perdidas por aquelas ruas. De uma só vez, numa tragédia planejada. Em algumas ruas haviam homenagens aos falecidos, além de pessoas rezando e deixando flores e velas bonitas. Londres ainda estava em luto, mesmo que semanas houvessem passado. A dor continuava viva.
Mas eles sabiam que conseguiriam reconstruir cada detalhe daquela cidade bonita. Iriam levantar cada ponto, cada prédio, cada casa.
Honrariam todos aqueles que haviam partido naquele desastre.
Londres iria se reerguer. E se dependesse daqueles sobreviventes em especial, seria logo.
Quando saíram do carro, antes de entrarem no hospital grande e silencioso, quebrou o silêncio incômodo com uma pergunta baixinha:
— Querem saber o que tenho aqui?
— O quê? — perguntou, confusa, ainda presa no cenário triste e destruído que Londres havia se tornado.
— A senha daquele cofre do Crowley — deu um sorriso sacana, enfiando as mãos nos bolsos da calça. — Aquele que sumiu há mais de três anos e que passamos todo esse tempo procurando, com todos os segredos londrinos.
soltou uma risada fraca, sendo acompanhada pelas outras duas amigas; estavam as três incrédulas e Nicholas permanecia confuso no meio daquilo tudo.
— Eu não acredito que ainda conseguiu arrancar isso do crápula do Charlie — sussurrou, passando as mãos pelos cabelos. deu de ombros e sorriu enquanto acenava positivamente. Sim, havia conseguido,
E sim, havia ficado frente a frente com Charlie antes de embarcar; mas fazia questão de fingir que aquele momento não havia acontecido. Fora a situação mais desesperadora em que se encontrou. O olhar falso de Charlie o enjoava. Sua voz. Seu verdadeiro ser. Tudo era um incômodo estratosférico para .
— Você é inacreditável — Emma murmurou, cortando seus pensamentos.
fitou as três e sorriu mais uma vez. Com calma e voltando a empurrar a cadeira de Emma, respondeu:
— É, eu sou.
Definitivamente iriam reconstruir tudo — nem que isso lhes custasse as vidas.
Epílogo
Longos sete meses haviam se passado desde o ataque e todas as aventuras da Itália. A poeira havia baixado, Londres estava quase 100% reconstruída e já tinham novos policiais em todas as unidades que foram prejudicadas no ataque. Aos poucos, tudo estava voltando para seu devido lugar.
tinha tudo para estar no lugar de Charlie e no comando da unidade londrina, mas abriu mão de tudo porque, de acordo com ele, Emma merecia aquele posto mais do que qualquer um. Então ela era a nova chefe. A mulher já estava curada e não havia ficado com nenhuma sequela dos tiros que levara; apenas as cicatrizes pintavam seu abdômen bonito.
Sob comando de Emma, já tinham uma nova missão: finalizar o que Charlie havia começado há anos atrás.
Com o decorrer das investigações, descobriram que o mais velho desviava dinheiro público há mais tempo que se podia contar. Além de sempre ter estado envolvido nos maiores escândalos que eles investigavam e, aparentemente, solucionavam. Todos os problemas que aconteciam pelo país tinham ao menos o consentimento de Charlie. Ele era um crápula, um falso. Enganou todos ao seu redor com seu discurso pronto e cheio de falso afeto. Conseguiu manipular até mesmo os mais inteligentes; afinal, quem desconfiaria do homem mais íntegro da cidade? Ele havia aceitado prender seu aprendiz quando as coisas apontaram para o mesmo. Mas tudo não passou de um teatro bobo, um falso sacrifício.
Agora Charlie estava preso ali, sob o comando da ex-namorada. E havia sido algemado e levado por , seu fiel aprendiz.
A fim de concluir de vez aquela fase da vida e enterrar de uma vez por toda aquela história de horror, Emma autorizou que investigasse de forma extrajudicial o tão aclamado cofre, que, embora o policial houvesse arrancado de Charlie todas as informações, ainda continuava perdido em algum país europeu.
Não demorou muito para que Emma o encontrasse; ela ainda era muito boa em hackear sistemas e em rastrear coisas aparentemente perdidas. Com todas as dicas e comissões de Charlie não foi tão difícil assim encontrá-lo.
Eles deveriam fazer aquilo de forma oficial, já que tudo estava em nome do falecido Crowley; porém não tinham tempo a perder. A autorização oficial do juiz levaria tempo e eles seriam enrolados até que a investigação fosse encerrada e arquivada; ninguém queria encontrar o que havia escondido naquele maldito cofre que tanto os perseguiu. Tinham tantos podres lá que até mesmo o presidente preferiu se resguardar. Como Crowley havia juntado tantas coisas, ninguém sabia responder. Talvez nem mesmo ele soubesse; era incalculável a quantidade de podridão que ele foi capaz de juntar.
E jurando ser seu último ato fora da linha, aceitou o que Emma o propôs: visitar o cofre como se fosse seu dono. E com em seu encalço; ele já tinha aceitado, por fim, que ela era sua real parceira para todos os momentos.
Com um sorriso no canto dos lábios e ainda segurando a mulher pela cintura, atravessou as enormes portas do banco luxuoso e levemente escondido. , ao seu lado, parecia tensa, porém ansiosa. Era o último passo que precisavam para ficar diante de toda verdade. Descobririam juntos o que tanto perturbara os bandidos mais perigosos — e agora, mortos — de toda a Inglaterra.
— Bom dia — disse educadamente, em seu inglês carregado de sotaque. A mulher no balcão o encarou, sorrindo-lhe tão educada quanto. — Eu gostaria de visitar o meu cofre, de número 777.
— Seus documentos e nome completo por favor, senhor — a mulher pediu com um inglês tão perfeito quanto o dele.
Não demorou muito para lhe estender tudo o que fora pedido, percebendo uma apreensiva colada em seu corpo. Apertara-lhe a cintura mais uma vez, passando toda a tranquilidade que sentia. Aquilo daria certo. Não tinha como não dar.
A mulher não levou mais que cinco minutos para conferir toda a documentação e logo voltou a sorrir em direção ao casal, mostrando-se sempre muito simpática e saindo de trás do balcão que lhe pertencia.
— Ficamos muito felizes com sua presença em nosso banco finalmente, Sr. Crowley — a mulher devolveu os documentos para . — Normalmente o senhor movimentava sua conta e enviava as coisas para colocarmos no cofre, assim como papéis de trabalho, via internet, ficamos extremamente honrados em recebê-lo aqui pessoalmente depois de tanto tempo e confiança. Por favor, me acompanhem. Você e sua esposa aceitam uma taça de champanhe?
— Claro que sim — respondeu enquanto caminhavam por um espaço enorme que, se não lhe dissessem que aquilo era um banco, com certeza diria ser um palácio antigo de tão belo que tudo era. O lugar era espaçoso e decorado com paredes e móveis em tons brancos e salmão, mesclando uma cor com a outra o tempo inteiro, fosse em detalhes nos móveis, nas paredes ou na moldura de cada mísero quadro que havia espalhados por toda a parede.
ajustou a roupa social que vestia e olhou para sorrindo, vendo-a deslumbrada com tudo aquilo. Era realmente chocante porque, afinal, ela não era burra e sabia de onde tudo aquilo vinha, para que aquele banco funcionava e por que ele era tão escondido. Não era normal nada daquilo, mas ali que ficavam as contas mais importantes do mundo; seus donos nada mais era que os mais importantes, perigosos e poderosos do universo. Mas, por via das dúvidas, preferiam dizer que aquilo era para os governantes da Europa, para os homens que só cuidavam daquilo que lhe pertencia e que, no fim das contas, tudo iria para o povo de fora. Balela, mentira. Mas precisavam mentir e manter total sigilo de tudo o que acontecia ali dentro. Ninguém via nem ouvia nada, os depósitos eram feitos às escondidas, as encomendas que chegavam eram trancafiadas nos cofres escritos no pacote. Caso alguém quebrasse as regras e tentasse verificar qualquer mínima coisa que fosse era impiedosamente demitido.
Ou morto, dependendo da gravidade do produto.
— Você sabe que se isso não der certo sairemos mortos daqui, hum? — sussurrou enquanto bebericava sua taça de champanhe, sem tirar os olhos da mulher à frente deles que destrancava uma porta enorme com algum segredo.
, sorrindo, abaixou os óculos escuros que usava e fitou a mulher ao seu lado.
— Isso vai dar certo, meu amor — ele respondeu tranquilamente, piscando um dos olhos. — Apenas continue com o teatro. Você está maravilhosa passando-se de esposa do Crowley. E convenhamos, eu sou melhor do que ele.
— Preferia continuar brincando de ser esposa de — rebateu em sussurro, deixando um sorriso escapar sem querer.
Pararam com os sussurros e seguiram o caminho que a mulher, em silêncio e com um sorriso, indicou.
— Por favor, fiquem à vontade. A partir daqui é com vocês, pois não estou autorizada a entrar nesta ala. Sigam pelo corredor e virem à esquerda, é onde o cofre 777 está guardado — a mulher explicou. — Quando acabarem de conferir tudo, se quiserem retirar algo, basta sair de seu cofre e entrar no corredor à direita, lá haverá uma pessoa pronta para atendê-los.
— Muito obrigado, querida. Bom trabalho — agradeceu e elogiou com seu belo sorriso galanteador. revirou os olhos discretamente e puxou-o pela mão de uma vez.
Caminharam a passos rápidos até o local indicado pela funcionária e mal pôde acreditar quando pararam em frente à porta codificada. Estava prestes a revelar os maiores segredos que Crowley guardara tão bem e por tanto tempo.
Nomes de pessoas importantes estavam ali, seu nome estava ali, todo o dinheiro que Crowley roubara por tantos anos estava ali, as joias mais raras e maravilhosas da Europa, que foram roubadas tempos atrás, por volta dos anos ‘90 estavam ali.
sentia-se prestes a entrar no paraíso.
, porém, ao seu lado permanecia tensa. Queria ter esquecido tudo aquilo, queria ter enterrado toda aquela história junto aos cadáveres dos malditos que sempre correram atrás destas coisas. Queria que tudo acabasse de uma vez por todas, mas seu instinto jornalístico e o coração de esposa de gritara tão alto que não se atrevera a deixar o amado enfrentar aquele show de horrores sozinho. Estava em seu sangue seguir tudo aquilo. Sabia que tinha uma coisa ou outra sobre eles, não queria saber o que. Só queria ver se tudo era real e não uma maldita utopia que criaram durante aqueles anos para apavorar a todos os envolvidos.
— Chegou a hora. — sussurrou, fazendo com que logo saísse de seus devaneios.
Devagar, colocou a senha na porta e esperou alguns segundos, até que a máquina reconhecesse e fizesse um clique. O barulhinho do clique ecoara pelo ambiente vazio e sentiu como se um peso saísse de seus ombros.
Finalmente permitira-se sorrir junto ao amado.
Puxaram a porta metálica para frente e adentraram o lugar enorme, onde ainda precisavam colocar mais uma senha para destrancar o cofre de fato.
Quando conseguiram abri-lo de uma vez, fora como se um filme passasse, separadamente, na frente de ambos. Algumas notas de dinheiro e algumas joias caíram em frente aos seus pés, fazendo-os acompanhar tudo aquilo devagar, lembrando-se de cada detalhe que Crowley deixara antes de morrer, lembrando-se de cada mísera coisa que desaparecera pela Inglaterra naquela época. Várias e várias pastas pretas nomeadas com os mais diversos tipos de nome e classe social estavam espalhadas por ali, misturadas ao dinheiro e às joias roubadas. Tudo, exatamente tudo que acreditaram por vezes não existir estava ali, diante de seus olhos, embaixo de seus narizes. Era tudo real, era tudo verdadeiro, era tudo, tudo o que nunca esperavam ser.
deixou uma risada nervosa escapar e continuou a encarar tudo o que ia caindo de pouco em pouco do cofre por estar tão cheio, passou o olho pelas pastas e conseguira encontrar seu nome, porém ignorara por completo. Todo aquele dinheiro em sua frente estava deixando-o encantado, deslumbrado, desesperado. Sabia que tinha duas opções para escolher; ou entregava aquilo para a polícia ou fingia que nada havia acontecido, já que era uma investigação pessoal. Ninguém ao menos sonhava que ele estava ali, naquele momento, fazendo-se de bandido, como sabia que, no fundo, era.
— Parece que aqui está toda a vingança que eu sempre busquei — murmurou enquanto pegava um punhado de notas e admirava bem em frente aos seus olhos. — Ninguém nunca encontraria isso, , nunca.
virou-se para e poderia jurar que ele estava hipnotizado com tudo aquilo. Ela também estava, no fim das contas. Nunca ficara perto de tantas coisas valiosas e sujas em sua vida. Nunca tivera acesso à tanta informação como estava tendo naquele momento. Nunca fora tão rica.
— Isso é muito mais do que eu imaginava — murmurou, indo direto nas pastas nomeadas. Pegou a de primeiro e ele não pareceu se importar; não havia nada ali que ela já não soubesse. — Sua pasta é a maior.
— Crowley me odiava — respondeu dando um sorriso para a mulher. — , olhe para isso. É basicamente tudo o que sempre sonhei. Minha vingança foi toda para chegar até aqui, para entender o que sempre me esconderam, para saber como pegar os desgraçados que nunca consegui e continuam fazendo o mal por aí. E de brinde, veja quantos milhões têm.
O olhar que lançava para tudo era de dar medo. Estava realmente encantado com toda aquela porcaria que estava tendo em mãos, mesmo que em nome de Crowley. Só ao lembrar-se de quanto tempo esperara por aquilo e a quem pertencia, sentia vontade de gargalhar. Tudo estava extremamente certo. Tudo estava como ele quisera, como planejara. Passara por tantas coisas que chegar ali estava sendo surreal. Parecia um sonho. Livrara-se de tantas pessoas para pisar naquele cofre que não tinha como não sentir-se orgulhoso.
No fim das contas, aquele assassino de Owen Mangor nunca deixara seu corpo.
— Não está pensando em dar continuidade a isso e ficar com esse dinheiro, está? — perguntou levemente apreensiva.
Também ficara perdida em meio a tanto dinheiro fácil, mas não sabia se queria viver daquilo; fora dinheiro desviado de tantas coisas, talvez até mesmo boas. Não tinha como saber, queria distância de tudo aquilo, mas ao mesmo tempo era perturbador estar diante de tanto dinheiro e não se imaginar tomando posse daquilo.
— Você não pensou que eu não ficaria com pelo menos parte disso, pensou? — rebateu. — , isso também é meu. Meu pai estava envolvido. Charlie me roubou, me enganou, me manipulou e me fez vir até aqui. Isso não é nada além do que mereço por conta de todos esses anos fazendo as besteiras que eles mandavam. É tudo dinheiro de bandido, meu amor.
, após finalizar e a passos lentos, aproximou-se de que ainda continuava de frente para todo aquele dinheiro. Parou atrás da mulher e, com cuidado, levou um colar luxuoso e brilhante até seu pescoço, colocando-o ali e fazendo-a enxergar como ficava linda com a peça através do reflexo na porta metálica do cofre.
Encantada, porém ainda lúcida, sussurrou:
— Você não é um bandido.
sorriu de lado e aproximou os lábios da orelha da mulher, depositando ali uma mordida fraca para, em seguida, lhe responder num tom igualmente baixo:
— Você sabe que, no fundo, eu sou, sim.
Naquela tarde, cumpriu a promessa que havia feito para todos aqueles que perdeu no caminho daquela jornada dolorosa: vingou cada gota de sangue que fora derramada.
Apesar de toda a dor, todo desespero, vingou-se. Vigou-os.
E sua cidade, assim como ele, permanecia de pé.
tinha tudo para estar no lugar de Charlie e no comando da unidade londrina, mas abriu mão de tudo porque, de acordo com ele, Emma merecia aquele posto mais do que qualquer um. Então ela era a nova chefe. A mulher já estava curada e não havia ficado com nenhuma sequela dos tiros que levara; apenas as cicatrizes pintavam seu abdômen bonito.
Sob comando de Emma, já tinham uma nova missão: finalizar o que Charlie havia começado há anos atrás.
Com o decorrer das investigações, descobriram que o mais velho desviava dinheiro público há mais tempo que se podia contar. Além de sempre ter estado envolvido nos maiores escândalos que eles investigavam e, aparentemente, solucionavam. Todos os problemas que aconteciam pelo país tinham ao menos o consentimento de Charlie. Ele era um crápula, um falso. Enganou todos ao seu redor com seu discurso pronto e cheio de falso afeto. Conseguiu manipular até mesmo os mais inteligentes; afinal, quem desconfiaria do homem mais íntegro da cidade? Ele havia aceitado prender seu aprendiz quando as coisas apontaram para o mesmo. Mas tudo não passou de um teatro bobo, um falso sacrifício.
Agora Charlie estava preso ali, sob o comando da ex-namorada. E havia sido algemado e levado por , seu fiel aprendiz.
A fim de concluir de vez aquela fase da vida e enterrar de uma vez por toda aquela história de horror, Emma autorizou que investigasse de forma extrajudicial o tão aclamado cofre, que, embora o policial houvesse arrancado de Charlie todas as informações, ainda continuava perdido em algum país europeu.
Não demorou muito para que Emma o encontrasse; ela ainda era muito boa em hackear sistemas e em rastrear coisas aparentemente perdidas. Com todas as dicas e comissões de Charlie não foi tão difícil assim encontrá-lo.
Eles deveriam fazer aquilo de forma oficial, já que tudo estava em nome do falecido Crowley; porém não tinham tempo a perder. A autorização oficial do juiz levaria tempo e eles seriam enrolados até que a investigação fosse encerrada e arquivada; ninguém queria encontrar o que havia escondido naquele maldito cofre que tanto os perseguiu. Tinham tantos podres lá que até mesmo o presidente preferiu se resguardar. Como Crowley havia juntado tantas coisas, ninguém sabia responder. Talvez nem mesmo ele soubesse; era incalculável a quantidade de podridão que ele foi capaz de juntar.
E jurando ser seu último ato fora da linha, aceitou o que Emma o propôs: visitar o cofre como se fosse seu dono. E com em seu encalço; ele já tinha aceitado, por fim, que ela era sua real parceira para todos os momentos.
Com um sorriso no canto dos lábios e ainda segurando a mulher pela cintura, atravessou as enormes portas do banco luxuoso e levemente escondido. , ao seu lado, parecia tensa, porém ansiosa. Era o último passo que precisavam para ficar diante de toda verdade. Descobririam juntos o que tanto perturbara os bandidos mais perigosos — e agora, mortos — de toda a Inglaterra.
— Bom dia — disse educadamente, em seu inglês carregado de sotaque. A mulher no balcão o encarou, sorrindo-lhe tão educada quanto. — Eu gostaria de visitar o meu cofre, de número 777.
— Seus documentos e nome completo por favor, senhor — a mulher pediu com um inglês tão perfeito quanto o dele.
Não demorou muito para lhe estender tudo o que fora pedido, percebendo uma apreensiva colada em seu corpo. Apertara-lhe a cintura mais uma vez, passando toda a tranquilidade que sentia. Aquilo daria certo. Não tinha como não dar.
A mulher não levou mais que cinco minutos para conferir toda a documentação e logo voltou a sorrir em direção ao casal, mostrando-se sempre muito simpática e saindo de trás do balcão que lhe pertencia.
— Ficamos muito felizes com sua presença em nosso banco finalmente, Sr. Crowley — a mulher devolveu os documentos para . — Normalmente o senhor movimentava sua conta e enviava as coisas para colocarmos no cofre, assim como papéis de trabalho, via internet, ficamos extremamente honrados em recebê-lo aqui pessoalmente depois de tanto tempo e confiança. Por favor, me acompanhem. Você e sua esposa aceitam uma taça de champanhe?
— Claro que sim — respondeu enquanto caminhavam por um espaço enorme que, se não lhe dissessem que aquilo era um banco, com certeza diria ser um palácio antigo de tão belo que tudo era. O lugar era espaçoso e decorado com paredes e móveis em tons brancos e salmão, mesclando uma cor com a outra o tempo inteiro, fosse em detalhes nos móveis, nas paredes ou na moldura de cada mísero quadro que havia espalhados por toda a parede.
ajustou a roupa social que vestia e olhou para sorrindo, vendo-a deslumbrada com tudo aquilo. Era realmente chocante porque, afinal, ela não era burra e sabia de onde tudo aquilo vinha, para que aquele banco funcionava e por que ele era tão escondido. Não era normal nada daquilo, mas ali que ficavam as contas mais importantes do mundo; seus donos nada mais era que os mais importantes, perigosos e poderosos do universo. Mas, por via das dúvidas, preferiam dizer que aquilo era para os governantes da Europa, para os homens que só cuidavam daquilo que lhe pertencia e que, no fim das contas, tudo iria para o povo de fora. Balela, mentira. Mas precisavam mentir e manter total sigilo de tudo o que acontecia ali dentro. Ninguém via nem ouvia nada, os depósitos eram feitos às escondidas, as encomendas que chegavam eram trancafiadas nos cofres escritos no pacote. Caso alguém quebrasse as regras e tentasse verificar qualquer mínima coisa que fosse era impiedosamente demitido.
Ou morto, dependendo da gravidade do produto.
— Você sabe que se isso não der certo sairemos mortos daqui, hum? — sussurrou enquanto bebericava sua taça de champanhe, sem tirar os olhos da mulher à frente deles que destrancava uma porta enorme com algum segredo.
, sorrindo, abaixou os óculos escuros que usava e fitou a mulher ao seu lado.
— Isso vai dar certo, meu amor — ele respondeu tranquilamente, piscando um dos olhos. — Apenas continue com o teatro. Você está maravilhosa passando-se de esposa do Crowley. E convenhamos, eu sou melhor do que ele.
— Preferia continuar brincando de ser esposa de — rebateu em sussurro, deixando um sorriso escapar sem querer.
Pararam com os sussurros e seguiram o caminho que a mulher, em silêncio e com um sorriso, indicou.
— Por favor, fiquem à vontade. A partir daqui é com vocês, pois não estou autorizada a entrar nesta ala. Sigam pelo corredor e virem à esquerda, é onde o cofre 777 está guardado — a mulher explicou. — Quando acabarem de conferir tudo, se quiserem retirar algo, basta sair de seu cofre e entrar no corredor à direita, lá haverá uma pessoa pronta para atendê-los.
— Muito obrigado, querida. Bom trabalho — agradeceu e elogiou com seu belo sorriso galanteador. revirou os olhos discretamente e puxou-o pela mão de uma vez.
Caminharam a passos rápidos até o local indicado pela funcionária e mal pôde acreditar quando pararam em frente à porta codificada. Estava prestes a revelar os maiores segredos que Crowley guardara tão bem e por tanto tempo.
Nomes de pessoas importantes estavam ali, seu nome estava ali, todo o dinheiro que Crowley roubara por tantos anos estava ali, as joias mais raras e maravilhosas da Europa, que foram roubadas tempos atrás, por volta dos anos ‘90 estavam ali.
sentia-se prestes a entrar no paraíso.
, porém, ao seu lado permanecia tensa. Queria ter esquecido tudo aquilo, queria ter enterrado toda aquela história junto aos cadáveres dos malditos que sempre correram atrás destas coisas. Queria que tudo acabasse de uma vez por todas, mas seu instinto jornalístico e o coração de esposa de gritara tão alto que não se atrevera a deixar o amado enfrentar aquele show de horrores sozinho. Estava em seu sangue seguir tudo aquilo. Sabia que tinha uma coisa ou outra sobre eles, não queria saber o que. Só queria ver se tudo era real e não uma maldita utopia que criaram durante aqueles anos para apavorar a todos os envolvidos.
— Chegou a hora. — sussurrou, fazendo com que logo saísse de seus devaneios.
Devagar, colocou a senha na porta e esperou alguns segundos, até que a máquina reconhecesse e fizesse um clique. O barulhinho do clique ecoara pelo ambiente vazio e sentiu como se um peso saísse de seus ombros.
Finalmente permitira-se sorrir junto ao amado.
Puxaram a porta metálica para frente e adentraram o lugar enorme, onde ainda precisavam colocar mais uma senha para destrancar o cofre de fato.
Quando conseguiram abri-lo de uma vez, fora como se um filme passasse, separadamente, na frente de ambos. Algumas notas de dinheiro e algumas joias caíram em frente aos seus pés, fazendo-os acompanhar tudo aquilo devagar, lembrando-se de cada detalhe que Crowley deixara antes de morrer, lembrando-se de cada mísera coisa que desaparecera pela Inglaterra naquela época. Várias e várias pastas pretas nomeadas com os mais diversos tipos de nome e classe social estavam espalhadas por ali, misturadas ao dinheiro e às joias roubadas. Tudo, exatamente tudo que acreditaram por vezes não existir estava ali, diante de seus olhos, embaixo de seus narizes. Era tudo real, era tudo verdadeiro, era tudo, tudo o que nunca esperavam ser.
deixou uma risada nervosa escapar e continuou a encarar tudo o que ia caindo de pouco em pouco do cofre por estar tão cheio, passou o olho pelas pastas e conseguira encontrar seu nome, porém ignorara por completo. Todo aquele dinheiro em sua frente estava deixando-o encantado, deslumbrado, desesperado. Sabia que tinha duas opções para escolher; ou entregava aquilo para a polícia ou fingia que nada havia acontecido, já que era uma investigação pessoal. Ninguém ao menos sonhava que ele estava ali, naquele momento, fazendo-se de bandido, como sabia que, no fundo, era.
— Parece que aqui está toda a vingança que eu sempre busquei — murmurou enquanto pegava um punhado de notas e admirava bem em frente aos seus olhos. — Ninguém nunca encontraria isso, , nunca.
virou-se para e poderia jurar que ele estava hipnotizado com tudo aquilo. Ela também estava, no fim das contas. Nunca ficara perto de tantas coisas valiosas e sujas em sua vida. Nunca tivera acesso à tanta informação como estava tendo naquele momento. Nunca fora tão rica.
— Isso é muito mais do que eu imaginava — murmurou, indo direto nas pastas nomeadas. Pegou a de primeiro e ele não pareceu se importar; não havia nada ali que ela já não soubesse. — Sua pasta é a maior.
— Crowley me odiava — respondeu dando um sorriso para a mulher. — , olhe para isso. É basicamente tudo o que sempre sonhei. Minha vingança foi toda para chegar até aqui, para entender o que sempre me esconderam, para saber como pegar os desgraçados que nunca consegui e continuam fazendo o mal por aí. E de brinde, veja quantos milhões têm.
O olhar que lançava para tudo era de dar medo. Estava realmente encantado com toda aquela porcaria que estava tendo em mãos, mesmo que em nome de Crowley. Só ao lembrar-se de quanto tempo esperara por aquilo e a quem pertencia, sentia vontade de gargalhar. Tudo estava extremamente certo. Tudo estava como ele quisera, como planejara. Passara por tantas coisas que chegar ali estava sendo surreal. Parecia um sonho. Livrara-se de tantas pessoas para pisar naquele cofre que não tinha como não sentir-se orgulhoso.
No fim das contas, aquele assassino de Owen Mangor nunca deixara seu corpo.
— Não está pensando em dar continuidade a isso e ficar com esse dinheiro, está? — perguntou levemente apreensiva.
Também ficara perdida em meio a tanto dinheiro fácil, mas não sabia se queria viver daquilo; fora dinheiro desviado de tantas coisas, talvez até mesmo boas. Não tinha como saber, queria distância de tudo aquilo, mas ao mesmo tempo era perturbador estar diante de tanto dinheiro e não se imaginar tomando posse daquilo.
— Você não pensou que eu não ficaria com pelo menos parte disso, pensou? — rebateu. — , isso também é meu. Meu pai estava envolvido. Charlie me roubou, me enganou, me manipulou e me fez vir até aqui. Isso não é nada além do que mereço por conta de todos esses anos fazendo as besteiras que eles mandavam. É tudo dinheiro de bandido, meu amor.
, após finalizar e a passos lentos, aproximou-se de que ainda continuava de frente para todo aquele dinheiro. Parou atrás da mulher e, com cuidado, levou um colar luxuoso e brilhante até seu pescoço, colocando-o ali e fazendo-a enxergar como ficava linda com a peça através do reflexo na porta metálica do cofre.
Encantada, porém ainda lúcida, sussurrou:
— Você não é um bandido.
sorriu de lado e aproximou os lábios da orelha da mulher, depositando ali uma mordida fraca para, em seguida, lhe responder num tom igualmente baixo:
— Você sabe que, no fundo, eu sou, sim.
Naquela tarde, cumpriu a promessa que havia feito para todos aqueles que perdeu no caminho daquela jornada dolorosa: vingou cada gota de sangue que fora derramada.
Apesar de toda a dor, todo desespero, vingou-se. Vigou-os.
E sua cidade, assim como ele, permanecia de pé.
FIM
Nota da autora: PMI 2 está oficialmente FINALIZADA no ffobs!
Eu gostaria muito de agradecer o carinho de vocês nessa longa jornada que tivemos, os altos e baixos, hiatus, tumblr, ffobs... Vocês sempre estiveram aqui e isso foi o que me fez seguir firme até finalizar esse ciclo. Por vocês, por mim, pelos personagens, em respeito à nossa trajetória que foi pesada, tensa e intensa, mas valeu a pena. Muito obrigada por TUDO, sem vocês eu e a pmi não seríamos nada nesse mundo fanfiqueiro. Aqui nos despedimos, oficialmente, do policial e da jornalista. Mas não fiquem tristes porque temos um spin-off chegando e ele vai se passar alguns anos depois desse final, tenho certeza que vocês irão adorar! Assim que ele estiver disponível trarei o link pra vocês.
Bom, é isso. Fico muito emotiva quando falo da pmi e tudo que ela me trouxe de bom. Espero de verdade que vocês continuem me poiando como escritora e acompanhem as histórias que venho publicando. Isso me ajuda e é muito importante. Enfim, obrigada de novo, amo vocês!
Deixo aqui também toda minha gratidão e carinho à Mary, que foi uma beta incrível e paciente. Obrigada por tudo! <3
Até a próxima!
Outras Fanfics:
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Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
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