Capítulo 07
- Grazie! – Sorri para o casal que acabou de pagar a conta e coloquei o valor extra de gorjeta dentro do bolso do avental.
Eles se retiraram e eu aproveitei para retirar os pratos de porções e copos vazios e para passar um pano na mesa. Suspirei, observando o bar com poucas mesas ocupadas. Era pouco depois das 11, as músicas já tinham parado e as pessoas só papeavam e finalizavam suas comidas.
Olhei em volta rapidamente e dei um sorriso. Quem diria que algum dia eu trabalharia de garçonete e que iria gostar disso! Claro que minhas costas e pés ficavam moídos por carregar bandejas e ficar de salto a noite toda, mas eu gostava, estava aprendendo o ofício e realmente aproveitando. Talvez, só talvez, quando tudo se resolvesse, eu não poderia me manter nesse emprego ou em um similar? Além de que eu poderia me ocupar com outras coisas ao longo do dia.
Segui em direção ao caixa e coloquei a conta perto da mão de Dante e ele a pegou rapidamente, checando o valor e levantou o polegar para mim, eu assenti com a cabeça, seguindo para trás do balcão e segui até a cozinha, encontrando alguns companheiros lá dentro e despejei os itens sujos no local correto e voltei para o salão, abrindo um pequeno sorriso ao ver signor Alessandro no caixa com Dante.
- Signor Alessandro! – O chamei.
- Sì, ! – Ele disse, se aproximando um pouco.
- Gostaria de saber como vai ser amanhã? Por causa do jogo. – Perguntei, apoiando o braço no balcão.
- Normal, temos que aproveitar o jogo! Aqui vai lotar amanhã! – Franzi a testa, fazendo uma careta com a boca. – Por quê? O que está pensando? – Ele me perguntou e eu suspirei.
- O senhor sabe que eu sou amiga do Alisson Becker...
- Percebi que não só amigos, signorina! – Ele disse e eu senti minhas bochechas esquentarem. – O que vocês são? – Suspirei.
- Nós namoramos quando tínhamos 17 anos, no Brasil. – Ele arregalou os olhos.
- Hum, e agora se reencontraram aqui? – Suspirei.
- Depois daquela história que eu te falei minha, sabe? – Falei sugestivamente sobre minha prisão.
- Sì! – Ele disse.
- Alisson foi a única pessoa que me restou e que me acolheu. – Ele assentiu com a cabeça.
- Certo, e o que dizia do jogo?
- Ele conseguiu ingressos para todos para o jogo de amanhã, se você quiser...
- Para ver Roma e Barcelona de dentro do Estádio? – Ele falou alto, chamando atenção de outras pessoas.
- Sim! – Falei com uma careta no rosto. – Eu não sei que assentos ele vai conseguir e ainda talvez não seja o jogo ideal, levando em conta o resultado do primeiro jogo...
- Não diga mais nada! – Ele me segurou pelos ombros. – Vamos querer sim e torça muito para que a Roma ganhe! – Assenti com a cabeça, vendo-o se distrair rapidamente. – Atenção aqui, senhores! – Ele falou em alto e bom som para os empregados e as poucas mesas ainda presente. – Amanhã iremos assistir ao jogo da Roma de dentro do estádio... – As pessoas começaram a gritar animadamente e eu ri fracamente. - Como podemos fazer? – Ele virou para mim.
- O jogo é 15 para as sete, podemos nos encontrar aqui as seis mesmo e entramos todos juntos. – Signor Alessandro confirmou com a cabeça.
- Perfeito! – Ele falou. – Depois do jogo abrimos o bar normalmente. – Assentimos com a cabeça. – Espero que ganhem, assim as pessoas vem comemorar aqui!
- Prepare o hino da Roma, Julio! – Enzo gritou para o outro lado do bar.
- Roma, Roma, Roma, core de 'sta città, unico grande amore de tanta e tanta gente che fai sospirà... - Julio começou a cantar empolgadamente e os funcionários caíram na gargalhada.
- Menos, Julio! – Chiara falou colocando as mãos nos ouvidos.
- Então, posso dizer ao Alisson que querem os ingressos? – Pisquei para Alessandro que riu.
- Sì, signorina! – Ele falou e eu sorri, vendo as pessoas começarem a se dissipar rapidamente. – Chiara, faça um aviso para colar na porta que amanhã abriremos após o jogo, pois estaremos no jogo! – Alessandro gritou para a recepcionista e sorrimos cúmplices.
Giulia e Dante sorriram para mim e trocamos rápidos toques de mão, nos distraindo pelo bar. Assim que a última mesa foi embora, começamos a organizar o local para o dia seguinte. Como voltaríamos aqui quase nove horas, não conseguiríamos àquela hora no começo do expediente para organizar. Ajudei a limpar as mesas e a organizar as louças na cozinha e logo deu o horário de expediente.
Acenei para o pessoal e carreguei o casaco na mão dessa vez, os dias estavam ficando cada vez mais quentes, o que só conseguia pensar que eu precisaria criar vergonha na cara e comprar algumas roupas. Entrei no meu gol estacionado em uma das vielas em torno do estádio e dirigi na maior calma do mundo. Era sexta-feira à noite, então as ruas estavam um pouco mais movimentadas perto dos centros, mas quando peguei a estrada sentido Olgiata, estava bem mais calmo.
Entrei no meu canto da garagem e saí do carro, puxando minha bolsa de todo dia, o casaco e os saltos, que eu fazia questão de tirar assim que saía do bar. Fechei o carro e percebi uma luz vinda por debaixo da porta, empurrei a mesma devagar e encontrei Alisson e Muriel no chão da sala jogando FIFA no videogame. Entrei na sala e me aproximei dos dois distraídos e joguei a bolsa no sofá, fazendo um barulho oco na mesma, distraindo ambos.
- ! – Eles falaram quase juntos e eu sorri.
- Oi, gente! – Suspirei, me sentando na poltrona no canto. – O que fazem ainda acordados? – Cruzei uma das pernas e passei as mãos no pé, massageando-o por cima da meia calça.
- Acabamos nos distraindo jogando e... – Alisson deixou a frase no ar se levantando.
- Perderam a noção do tempo. – Falei e Alisson curvou o corpo em minha direção e colou os lábios nos meus delicadamente, me fazendo sorrir.
- Faz parte! – Muri deu de ombros e me esticou um balde. – Pipoca? – Ele ofereceu o balde quase no final e eu ri.
- Até aceito, mas depois que eu lavar as mãos. – Apontei as mãos que eu massageava os pés e eles riram.
- Justo! – Eles comentaram e eu me levantei, deslizando os pés no chão de madeira e entrei no banheiro, lavando as mãos e jogando uma água no rosto.
- Falou com seu chefe? – Alisson perguntou quando eu apareci no corredor.
- Falei sim, ele aceitou! – Abri um largo sorriso e ele me abraçou, me girando rapidamente pela sala.
- Para, Alisson! – Cochichei. – Pode acordar alguém! – Reclamei e ele mostrou a língua.
- Eu falei com o pessoal e eles trouxeram para mim. – Ele foi até a mesa de jantar, pegando um envelope gordo e me entregando. – Peguei 20, sei que lá fora trabalham umas oito pessoas, não sei lá na cozinha.
- Somos em 14. – Falei. – É mais que o suficiente. – Sorri, segurando seu rosto com a mão e colando nossos lábios novamente.
- Ah, vai começar essa melação novamente. – Muriel falou e Alisson suspirou. – Preferia quando vocês brigavam, era mais legal! – Revirei os olhos.
- Uhum, super! – Fui irônica e peguei o balde na mão de Muri, colocando algumas pipocas na boca. – Acho que isso não vai ser suficiente.
- Eu faço mais para ti, quer? – Muri ofereceu e eu dei um sorriso.
- Por favorzinho! – Falei e ele riu, pegando o balde de volta e seguindo de volta para a cozinha.
- Eu tenho algo para você! – Alisson cochichou e reparei uma caixa vermelha e amarela na mesa de jantar.
- O que é? – Franzi a testa, puxando a caixa para mais perto e desfiz o laço.
- Achei que gostaria de ir a caráter amanhã! – Ele falou e eu abri a caixa, tirando o papel de seda branco que a cobria e encontrei uma camisa verde escuro com o escudo da Roma na mesma.
Abri um sorriso para Alisson e puxei a camisa da caixa, esticando-a para cima. Era igual à camisa dele do jogo contra o Barcelona. Virei a mesma em meus dedos e percebi o “A. Becker” atrás, me fazendo lembrar de quando ganhei a blusa do Internacional lá atrás, me fazendo suspirar. Era a camisa de goleiro.
- O que acha? – Ele perguntou e eu abaixei a blusa na caixa novamente.
- É perfeito! – Sorri, passando as mãos pelos seus ombros e me aproximando dele.
- Eu sei que você gosta de ter minhas camisas. – Assenti com a cabeça, sentindo suas mãos em minha cintura.
- Sim, mais uma para coleção! – Colei meus lábios nos dele novamente, sentindo-o encostar a testa na minha.
- Aqui, madame! – Ouvi a voz de Muriel e senti o cheiro da pipoca.
- Você precisa ir dormir, cara! Dar um pouco de espaço. – Alisson falou para Muriel e eu peguei o balde de pipoca.
- Eu durmo na sala, cara. – Ele foi sugestivo também e eu ri, enchendo a boca de pipoca.
- Quer dormir no quarto? Eu fico com a aqui. – Alisson falou.
- Nem pensar! – Interrompi com a boca cheia, apoiando a mão livre em seu peito e engoli rapidamente antes de falar. – Você vai dormir no quarto, quietinho e sozinho! Você tem que estar muito disposto para o jogo de amanhã, está me entendendo? Você precisa ganhar! – Falei firme e notei que ele olhou assustado.
- Nossa, que interesse repentino é esse? – Ele falou, cruzando os braços.
- Eu gosto de te ver feliz, além de que você não ganhou nenhum jogo desde que eu cheguei aqui, isso precisa mudar. – Copiei seu movimento.
- Mas a gente precisa ganhar de pelo menos três gols de diferença. – Franzi a testa.
- Jogo é jogado, lambari é pescado! – Falei sorrindo e ele gargalhou, colocando a mão na boca para abafar o som.
- Usando minhas expressões contra mim? – Ele falou e eu sorri, dando de ombros.
- Claro! – Sorri. - Além de que se vocês ganharem, seria legal darem uma passada lá no bar, comemorar, vai saber! – Dei de ombros.
- Filha da mãe! – Ele falou, me fazendo rir.
- Ah, seria legal, vai? – Dei de ombros.
- Vamos lutar até o fim para isso, prometo! – Ele disse, dando um beijo em minha testa. – Você está cheirando fritura. – Ri fraco.
- Eu vou tomar banho. – Suspirei, colocando mais umas pipocas na boca. – Depois eu termino de comer. – Entreguei o balde a ele.
- Vai lá, eu cuido do seu namorado. – Ouvi Muriel falar e revirei os olhos.
- Quem vai matá-lo sou eu, se ele não parar de graça. – Comentei, mencionando mais cedo.
- Ah, qual é, gente! Eu fazia isso sempre quando vocês eram pirralhos, o que mudou? – Ele virou o rosto para trás no sofá.
- A gente não se vê há sete anos. – Falei. – Alivia no começo, Muri, por favor! – Falei com uma feição fofa. – Estamos começando tudo de novo, não sabemos o que vai dar ainda, lembre-se de que você não implicou tanto no começo.
- Ok, ok. – Ele revirou os olhos. – Mas só até vocês decidirem o que vão fazer. – Eu e Alisson rimos juntos, assentindo com a cabeça.
- E você, vá dormir! – Virei para Alisson. – Nos vemos no jogo.
- Ah, só uma coisa! – Ele falou. – Os ingressos são em cima do banco de reservas, do lado do túnel, então a gente se vê antes do jogo, no intervalo... – Assenti com a cabeça.
- Ok, mas seja discreto, não quero sua imagem manchada por ser relacionado comigo...
- Você acha que as pessoas se lembrarão de você? – Ele perguntou e eu dei de ombros.
- Se eu for só mais uma torcedora não, mas se eu for sua namorada, a história muda. – Ele negou com a cabeça.
- Você está livre e você vai sair dessa, então, relaxa! – Ele falou colando os lábios nos meus.
- É o que eu tento fazer todos os dias! – Dei de ombros, me afastando de costas. – Cuida da minha pipoca! – Falei e ele pegou algumas do balde.
- Ou eu cuido da sua pipoca ou eu vou dormir, decida-se! – Ele falou e eu somente ri, negando com a cabeça e seguindo até a lavandeira à procura da minha toalha no varal com outras diversas.
Fechei os olhos por alguns segundos pedido para que Deus nos desse forças e nos abençoasse para esse jogo*. Eu nunca pedia para que ele nos ajudasse a ganhar, não achava justo, mas pedia para que desse tudo certo, independente do resultado. Mas dessa vez, eu pedi uma forcinha para que, mesmo que a gente perca, que consigamos dar esperança para os torcedores que estão tão esperançosos por estar na semifinal.
- Andiamo! – O técnico falou ao lado de alguns organizadores da Champions League e nos levantamos. Peguei minhas luvas e segui para fora do vestiário atrás de De Rossi. – Buona fortuna, buon gioco.
Cumprimentei o técnico na porta do vestiário e segui cabisbaixo para a fila que se formava no túnel do nosso estádio. Nesse dia eu não pensava em nada, eu não tinha problemas, eu não tinha brigado com ninguém, eu estava bem. A única coisa que aparecia constantemente em minha cabeça era o sorriso de e aquilo fazia com que eu ficasse muito relaxado.
Chegamos no túnel antes do outro time, mas logo eles apareceram usando o segundo uniforme. Cumprimentei rapidamente alguns jogadores conhecidos, Paulinho que era companheiro da Seleção Brasileira quando ele passou para ir para o banco de reservas e meu parceiro de posição, Ter Stegen. Desliguei de tudo quando a fila começou a andar e me caminhei junto da criança ao meu lado até o meio do campo.
Abri um sorriso ao ver um rosto conhecido tentando enxergar para dentro do campo e ela acenou animadamente para mim, me fazendo tocar sua mão por alguns segundos antes de seguir na fila. Quando me coloquei em posição para o hino da Champions, pude ver com minha família nos primeiros assentos próximos ao banco de reserva da Roma, além de outros conhecidos de vista que trabalhavam com no bar. Todos estavam lá, todos contavam com a gente. Esse teria que ser um jogo fantástico.
Os times se separaram após os cumprimentos e corri para minha posição, ajeitando as luvas em minhas mãos. Acenei para os torcedores atrás do gol e me coloquei em posição, vendo o juiz também se aproximar do centro do campo. Respirei fundo mais algumas vezes e ouvi o soar do apito, me fazendo soltar todo o ar pesadamente.
O ataque do Barcelona começou bem, Messi passou a bola para outro jogador que fez o chute em minha direção, nada preocupante, mandei a bola de volta para a defesa que saiu tentando o contra-ataque. A bola cruzou para outro campo e Džeko a recebeu no peito e saiu correndo com a bola para dentro da área, encontrando Ter Stegen totalmente fora de posição e, com um pequeno toque de pé direito, ele jogou para dentro do gol!
- GOL! – Ergui as mãos para o alto, ajoelhando no gramado e ouvi a torcida da Roma ensurdecer o estádio, me fazendo abrir um sorriso e aplaudir abafadamente com as luvas.
Ok, agora faltam dois! Suspirei, acompanhando a bola voltar para o meio de campo e a Roma se empolgou, Fazio fez o passe para Schick que pulou e cabeceou, mas uh! A bola foi para fora. A Roma estava empolgada, então quando, em um passe errado, o Barcelona perdeu a bola, fomos ao ataque novamente. Lorenzi cruzou para Džeko, mas Ter Stegen defendeu por cima.
Depois disso, com exceção de dois cartões amarelos para Juan e Fazio da minha equipe por entradas violentas, nenhum dos dois lados tiveram lances significantes com chutes a gol, mas estávamos empolgados, a bola ficava mais com a equipe do Barcelona, mas estávamos tendo muito mais oportunidades de chutes a gol do que eles. O árbitro apitou o final do primeiro tempo e saí da minha posição seguindo para o túnel novamente.
Olhei sorrindo e com os polegares estendidos em minha direção e ela movimentou os lábios em algo como “vai que dá”, mas eu só acenei, entrando para o vestiário. Me sentando no meu espaço e enchendo a boca de isotônico, tentando respirar um pouco.
- Bom, gente! Vamos, estamos no caminho certo, mas precisamos de mais! – Ele falou firme. – Sejam mais ferozes, mais firmes, não deixem a bola passar para o meio do campo, nós vamos conseguir! – Eusebio falou firme e gritamos empolgados. Passei a mão no rosto e logo atravessamos o túnel novamente, voltando para o gramado, mudando de posições.
Eu tinha certa preferência pelo gol do lado esquerdo do campo, então me senti mais à vontade ali. O apito foi soado novamente e o segundo tempo começou. Tínhamos 45 minutos para fazer alguns milagres, mas se Deus quiser vai dar, como disse.
O jogo começou morno novamente, mas por volta dos 10, 15 minutos, as coisas começaram a esquentar. Com um chute forte, a bola saiu do meio de campo e foi para Džeko que tinha uma forte marcação de Piqué, ele conseguiu controlar a bola, mas Piqué estava visivelmente puxando-o pelo braço. Quando Džeko tentou se soltar para fazer o chute, foi Piqué, ele e a bola rolando dentro da pequena área.
O estádio foi abaixo e eu também! Todos gritavam pedindo o pênalti e a falta era clara! Ter Stegen tentou sair jogando, mas o juiz parou o jogo. Džeko começou a argumentar com o bandeirinha junto de outros jogadores da Roma e Piqué fazia o mesmo com o juiz. O pênalti foi dado, além de um cartão amarelo.
- Andiamo, andiamo! – Falei animado vendo a bola ser colocada na marca de pênalti e de Rossi se distanciar para bater.
A marcação estava pronta para receber a bola em caso de rebote, mas De Rossi, capitão do time, deu uma corrida em direção à bola, chutando-a no canto direito do gol, fazendo com que o Estádio Olímpico fosse abaixo novamente!
- Porra! – Gritei animado, pulando sozinho do outro lado do campo. Manolas se aproximou de mim e pulou em um abraço, nos fazendo gargalhar juntos.
- A gente consegue! – Ele gritou animado e o soltei rapidamente, vendo-o correr de volta para sua posição.
A gente consegue! Suspirei, soltando o ar novamente e vi que os jogadores começavam a colocar as mãos nas testas, roer as unhas e apertar o terço nas mãos, nervoso com os próximos 30 minutos de jogo.
A bola foi colocada no meio de campo, mas estávamos respirando fogo já, nem o tempo frio de Roma estava nos deixando para baixo, pelo contrário, o suor que escorria pelo corpo não era só da correria, era do nervosismo também, estávamos tão perto! Nada poderia entrar e precisávamos de mais um gol para empatar, mas como tínhamos feito um em Barcelona, ganharíamos por gols fora de casa. Agora, se eu deixasse um entrar, tudo mudaria de figura novamente. Fechei as mãos em punhos firmes e acompanhei os lances.
Fazio fez outro levantamento em direção à área e De Rossi pulou em posição para cabecear, olhei esperançoso para o movimento, mas a bola foi para fora. Soltei o ar forte e a bola foi mandada para o centro do campo, mas o Barcelona deixou com que ela voltasse para seu campo novamente. Dava para notar que tinha algo de errado com eles, parecia que eles estavam desestabilizados ou perdidos, não era o mesmo time que jogou no Campo Nou quarta-feira passada.
Quase no final do segundo tempo, foi a vez de Messi e Suárez aparecerem no jogo, mas não de uma forma boa, eles tomaram cartões amarelos por entradas violentas com pouca diferença de minutagem, 10 minutos no máximo. Eusebio decidiu fazer algumas substituições, tirou Schick e colocou Ünder e tirou Nainggolan e colocou El Shaarawy. Barcelona aproveitou a oportunidade e tirou Iniesta, colocando Gomes.
A bola foi atravessada quase dentro da área novamente e El Shaarawy deu uma cabeçada para dentro do gol, mas Ter Stegen estava em posição correta e ela rebateu na trave, me fazendo socar o ar de nervoso, já tinha perdido as contas de quantos chutes a gol tínhamos feito nesse jogo. Em compensação, eu estava no jogo só para assistir.
Olhei o tempo no telão e passava dos 80 minutos, fazendo com que eu começasse a ficar mais nervoso do que o normal, precisávamos de mais um, só mais um, tinha que dar. A bola saiu de escanteio para o nosso time e Ünder a cobrou, mandando-a para dentro da área. Eu só via jogadores de azul naquele dia, só um ponto vermelho ali no meio. E foi nesse ponto vermelho que a bola acertou.
Manolas, quase fora da pequena área, interceptou o escanteio antes que Semedo do Barcelona e deu uma cabeçada para trás na bola, fazendo com que aquele momento andasse em câmera lenta para mim. Esse movimento surpreendeu os jogadores do Barcelona e o goleiro, que só acompanhou a trajetória da bola com a cabeça, e não conseguiu fazer nenhum movimento quando ela entrou.
- Porra! – Gritei forte, ajoelhando no gramado, quando o Estádio comemorou novamente.
Manolas saiu correndo com os jogadores em direção ao banco de reserva e uma chuva de pessoas começou a subir em cima dele, fazendo com que eu não cansasse de gritar. Alguns jogadores pularam em mim, gritando animados da mesma forma e eu estava embasbacado. Agora faltavam pouco mais de 10 minutos de jogo e nós estávamos classificados. Nada poderia dar errado.
O Barcelona fez mais duas substituições tirando Semedo e colocando Dembelé, também tirando Busquets e colocando Alcácer. Eusebio preferiu não mexer no time, e nem precisava, estávamos fortes, estávamos indo bem, só precisaríamos passar pelos cinco minutos de acréscimos. O juiz estava dando chance ao Barcelona.
O jogo se seguiu e parece que o Barcelona finalmente acordou, observei a bola sendo passada para os jogadores de azul e se aproximando cada vez mais de mim, saí correndo do gol, vendo a passada de bola para o Piqué e antes que ele chegasse à bola, eu chutei a mesma rasteira, vendo-o passar por cima de mim. Arrepiei quando a bola rebateu no Dembélé e ele fez um chute alto, virei para trás, acompanhando a trajetória da bola e minha defesa correr em direção ao gol e aliviei quando a bola foi para fora.
- It’s ok? – Perguntei para Piqué, ajudando-o a se levantar, dando uns tapinhas em nele que assentiu com a cabeça retribuindo os tapinhas.
Depois desse lance, eu não conseguia tirar os olhos do telão que mostrava a minutagem do jogo. Voltei para minha posição, pegando a bola que saiu pela linha de fundo e chutei rasteira para Juan que estava ao meu lado e ele chutou para o outro lado alto. Antes da bola bater no gramado novamente, o juiz apitou e o estádio foi abaixo novamente.
Eu comecei a gritar loucamente, vendo os jogadores saírem correndo para todas as direções e ajoelhei no chão, colocando o rosto na grama, não parando de gritar. Senti alguns jogadores se jogarem em cima de mim e me levantei, abraçando Bruno, Gerson e El Sharaawy. Florenzi veio mais de longe e pulou em cima de mim e o segurei com uma mão, enquanto a outra se mantinha erguida comemorando. Antes que Florenzi pudesse se soltar, De Rossi se aproximou e também pulou em cima de mim gritando e comemorando.
- Porra! – Ele gritava forte também. – Estamos na semi!
- Estamos na semi! – Gritei junto dele e senti outros jogadores e equipe técnica se aproximando de mim e pulando em nossos ombros e, quando percebi, eu já tinha ido para o chão.
Consegui levantar e Strootman já me abraçava, Juan havia chegado para esse lado do campo novamente, Pellegrini também, além de todas as pessoas da equipe técnica. Segui andando pelo campo e a cada passo era uma pessoa que eu abraçava e gritava junto. Parei por alguns segundos no meio do campo e observei a festa da torcida, as bandeiras sacudindo, nosso hino ecoando alto, aquilo era emocionante!
- Andiamo! Andiamo! – Vi o pessoal da equipe técnica começando a nos chamar e sabia que a equipe técnica não queria que a gente ficasse abusando muito depois do jogo.
Para mim parecia que havia passado somente alguns minutos, mas as arquibancadas já tinham até alguns espaços vazios de torcedores indo embora. Abracei Juan quando nos encontramos próximo ao banco de reservas e desviei o olhar por alguns segundos, vendo uma pessoa comemorando loucamente próximo ao túnel com um largo sorriso no rosto.
- Já estou indo! – Falei para Juan, empurrando-o para o lado e entrei no túnel, vendo debruçada no mesmo junto de meus familiares e outros torcedores que queriam cumprimentar o jogador. Ela tinha metade do seu corpo para dentro do túnel e dava para perceber que meu pai e Muri a seguravam.
- Você conseguiu! – gritou alto o suficiente para que sua voz saísse junto da dos torcedores e ela me puxou pela gola da camisa e eu ainda precisei ficar na ponta dos pés para alcançá-la.
Ela juntou nossos lábios com urgência, mas logo se afastou apoiando as mãos na murada, me fazendo gargalhar. Acariciei seu rosto com a mão e foi aí que eu percebi que estava de luvas ainda, ela negou com a cabeça, segurando minha mão e eu estalei um beijo em sua mão, não querendo soltá-la, mas sendo constantemente empurrado pelos meus parceiros de time.
- A gente se vê no bar. – Ela gritou novamente e eu sorri, beijando sua mão novamente e finalmente a soltei.
- Se deu bem, hein?! – De Rossi passou o braço pelos meus ombros e eu gargalhei.
- É aquela garota que eu te falei. – Comentei.
- Sua ex? – Ele falou assustado e eu assenti com a cabeça, ouvindo-o gargalhar. – Aí sim, garoto! Falei para deixar a vida mostrar o caminho.
- Vamos só ver o processo como vai ficar.
- Cala a boca e aproveita, cara! – Ele falou, me fazendo gargalhar. – Ela, nossa vitória! – Ele riu e nos separamos.
Eusebio estava na porta do vestiário cumprimentando cada jogador que chegava e percebi que éramos uns dos últimos a chegar. Francesco Totti também estava lá, ele foi o maior artilheiro da Roma em muitos anos e ainda fez história na Seleção Italiana. O abracei com largo sorriso no rosto e entrei no vestiário, apoiando o braço em um dos armários, sentindo o cansaço bater.
Muitos jogadores já estavam sem camisa rodando-as para cima e gritavam no vestiário. Eles começaram a sacudir as garrafas de água para cima, espalhando para todos os lados e corri para o meio deles, me juntando para a foto, gritamos e gargalhamos e eles voltaram a pular. Eu aproveitei para cumprimentar o pessoal que não tive a chance no campo.
Era isso! Tínhamos conseguido! Tínhamos eliminado um dos maiores times da Europa e estamos na semi-final da Champions League. Era surreal!
*Veja os melhores momentos deste jogo aqui.
*Veja a comemoração da Roma aqui.
estava quase deitada na poltrona no lobby do hotel enquanto folheava, sem muito interesse, uma revista da Nigéria. Ela ficou muito feliz em saber que lá eles falavam inglês, então ela pelo menos podia usar seus anos de cursinho de inglês para se comunicar, não era tão fácil para ela, já que nunca tinha tido essa experiência, mas parecia que estava dando certo para, pelo menos, não passar fome.
Assim que ela avistou o ônibus da Seleção, ela abaixou uma das pernas que estava no braço da poltrona e fechou a revista, colocando na mesa de centro. Fazia pouco mais de uma hora que ela tinha voltado do jogo e nada de eles voltarem. Ela olhou esperançosa enquanto os jogadores saiam do ônibus e entravam no hotel.
Muitos deles estavam cabisbaixos, também, haviam perdido o jogo dessa tarde, mas ainda faltava um jogo dessa primeira fase, eles precisavam se manter empolgados. A garota se levantou quando viu seu namorado cabeludo sair do ônibus e aguardou com que ele entrasse e talvez o técnico dar algumas instruções antes de pular nos ombros dele.
Ela acenou timidamente para ele que sorriu e aguardou o restante do time sair. O técnico e a equipe técnica se aproximaram e reuniram a equipe mais próximo, mas a garota não conseguiu ouvir o que ele disse, ela se mantinha à distância, da mesma forma que poucos familiares que aguardavam com ela.
- Estão liberados, nos vemos amanhã cedo no treino! – Alisson assentiu com a cabeça e se retirou junto de alguns jogadores e foi reto em direção à .
Quando eles se encontraram no meio do caminho, ela passou os braços no ombro do rapaz, deixando que ela o abraçasse fortemente e tentasse acalmar seu coração após uma derrota para o México*. Ela se mantinha em pontas dos pés e ele levemente curvado para frente, mas encaixava tão bem que eles nem se importavam mais com as dores nas costas.
- Eu estou bem, eu prometo! – Ele falou contra o ouvido dela e ela colocou os pés nos chãos novamente.
- Eu não preciso que você fique bem sempre, Alisson. – Ela falou, acariciando o rosto do menino. – Você pode estourar de vez em quando. – Eles riram juntos e ele colou os lábios nos da garota por alguns segundos, se separando, pois ouviram gritos dos colegas de Alisson na direção deles.
- Já te apresentei a galera? – Ele perguntou para ela, negando com a cabeça e ambos se colocaram lado a lado para os poucos jogadores que se acumularam em volta deles.
- Vai finalmente apresentar sua garota para gente, é?! – Um rapaz bem mais baixo que e Alisson, com a pele morena e os cabelos bem ralos, perguntou cruzando os braços e a menina passou seu braço nos de Alisson.
- Não é como se eu tivesse escolha, Júnior! – Alisson brincou. – Galera, essa é a minha namorada. , esses são André, goleiro do Corinthians, Carlão* do São Paulo, Phillipe* do Vasco, Neymar* do Santos e Romário, Felipinho e Geovani que você conhece do Inter.
- E aí, gente? Tudo bem? – perguntou com seu habitual sorriso no rosto.
- Estaria melhor se tivéssemos ganhado, mas tá valendo. – Phillipe, dos cabelos cacheados, falou e todos ponderaram com a cabeça.
- Tem mais um jogo ainda, vai dar tudo certo! – sorriu.
- Deus te ouça! – Felipinho falou e todos riram.
- Por favor, minhas férias fora de hora não podem acabar já, faz só uma semana! – Ela comentou e Alisson riu ao seu lado.
- Bom, gente, se vocês não se importam, eu vou ficar com a minha garota essa noite! – Alisson passou o braço nos ombros da garota e eles sorriram.
- Aproveita que pelo menos você pode. – Carlão falou, fazendo Alisson rir.
- A gente te dá cobertura se aparecerem no quarto. – André falou e e Alisson se entreolharam.
- Valeu, gente! Boa noite! – Alisson falou e acenou com a ponta dos dedos.
- Um segundo! – Ela se afastou de Alisson e pegou sua bolsa que estava no pé da poltrona ainda e seguiram juntos em direção aos elevadores.
- Você estava aqui esse tempo todo? – Ele perguntou e ela assentiu com a cabeça, suspirando em seguida.
- Estava! Vocês demoraram demais! – Ela apertou o botão do quinto andar, onde acabou ficando seu quarto. Alisson não deveria, mas não conseguia resistir em ficar no quarto com ao invés dos meninos.
Ele ficou muito feliz pelos pais de deixarem ela vir e pagar os gastos da viagem, pelo menos ele poderia se distrair um pouco. Entre treinamento e competição, eles poderiam ficar um mês afastados e realmente não estava sabendo viver sem essa garota lhe acompanhando em todos os momentos de sua vida.
- Você pode ir tomar banho antes, se quiser! – falou quando abriu a porta do quarto e a primeira coisa que fez foi ligar o ar-condicionado, o tempo em Lagos era muito quente.
- Eu vou aceitar, tomei uma ducha rápida depois do jogo, mas acho que ainda tem grama nas minhas costas! – Ele reclamou e a garota gargalhou.
- Vai lá, eu estarei por aqui! – A garota se jogou na cama e ele riu, negando com a cabeça.
Alisson largou sua mochila em uma das poltronas do quarto e seguiu para o armário à procurou da mala que ele deixava ali. Ele pegou uma troca de roupa e seguiu para o banheiro. Enquanto isso, pegou o notebook ao lado da cama e o abriu, aguardou com que os programas abrissem e conectassem e ela entrou em seu MSN checando se algum de seus pais estavam online. Eram só três horas de diferença, isso quer dizer que eram sete da noite no Brasil.
Ela franziu os lábios ao ver que nenhum deles estavam online, mas abriu a conversa com sua mãe da mesma forma e escreveu um pequeno texto de que já estavam de volta no hotel, que o Brasil tinha perdido de um a zero para o México e que eles logo dormiriam, porque Alisson voltaria a treinar cedo no dia seguinte. Ela frisou que todos estavam bem e que não precisava se preocupar com eles. Finalizou dizendo que mandaria algumas fotos pelo e-mail.
E foi o que ela fez, pegou sua Sony Cyber Shot que estava enfiada em um dos mil bolsos de sua bolsa e puxou o cabo, transferindo as fotos do jogo para o computador e anexou cinco no e-mail de seu pai, copiando a mesma mensagem do MSN e mandando com cópia para o e-mail de seu José. Ela finalizou tudo e fechou o notebook, no mesmo momento em que Alisson abriu a porta do banheiro, saindo somente de bermuda e chinelos enquanto apertava a toalha contra os cabelos.
- Ah, você está cheirando sabonete. – Ela sorriu, fazendo-o rir.
- Tudo certo? – Ele perguntou pendurando a toalha na cadeira.
- Tudo certo, já passei o informativo para nossos pais sobre hoje. – Ela deu um pequeno sorriso, deixando o notebook de lado novamente.
- Bom... – Ele falou, dando a volta na cama e se sentando do outro lado da cama de casal.
- Como você está? – Ela perguntou, virando as pernas para dentro.
- Eu estou bem, já disse. – Ele disse virando o corpo também.
- Eu sei que você não está bem, baby. – Ela disse franzindo a testa. – Você odeia perder. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Eu odeio quando me chama de baby. – Ela abriu um largo sorriso, negando com a cabeça.
- Eu sei também! – Ela riu e ele deslizou o corpo na cama, colocando a cabeça no travesseiro.
- Eu estou bem, sério! Nem sempre dá para ganhar. – Ele segurou sua mão em cima da cama e ficou brincando com a ponta dos dedos. – Eu sabia que não seria fácil, todo mundo é da sub-17, todo mundo está começando, aprendendo, deslanchando...
- Mas todos estão muito bem. – Ela falou, se deitando ao seu lado e apoiando a mão no peito dele. – Todos serão grandes profissionais em breve, você vai ver. – Ele passou o braço por baixo da cabeça dela e a trouxe mais perto.
- Só você para pensar assim. – Ela ergueu o rosto, se sentando novamente.
- Ei, nem vem! Todos nós acreditamos em você. Os Becker e os ! – Ela disse sorrindo. – Você acha que eu viria até aqui se não acreditasse? – Ela brincou e ele se sentou também.
- Eu sei, eu confio em você. – Ele acariciou o rosto dela e colaram seus lábios novamente.
Eles se olharam por alguns segundos com sorrisos no rosto e logo colaram os lábios novamente. Ela se impulsionou para cima, ficando de joelhos na cama e ele passou os braços pela cintura dela, trazendo-a para mais perto. Ela passou as mãos na nuca do garoto e se afastou alguns segundos quando sentiu o ar faltar e colou sua testa na dele, respirando fundo e soltando o ar pesadamente pela boca. A garota sentiu algo roçar em seu corpo e deu uma leve afastada do mesmo, vendo o garoto ficar vermelho rapidamente.
- Eu... Me desculpe, ... Eu... – Ele tentava se explicar como todas as vezes, mas a garota não o soltou como fez em outras oportunidades. Ela respirou fundo, mordendo o lábio algumas vezes, tentando criar coragem em dizer aquilo, sabendo que quando o dissesse, não teria mais volta.
- Ei! – Ela o chamou, firmando suas mãos em seu pescoço, fazendo-o encará-la e sentiu seu lábio tremer. – Eu confio em você, Alisson. – Ela disse, mordendo o lábio e ele a afastou lentamente.
- O que você está dizendo? – Ele ergueu a mão para seu rosto e ela abaixou as dela, respirando fundo.
- Eu quero fazer isso. – Ela disse com uma leve tremedeira no lábio e ele riu fracamente.
- Você tem certeza? – Ele perguntou e a mesma suspirou.
- Se isso precisa ter uma primeira vez, eu quero que seja com você. – Ela falou e ele notava o nervosismo da garota, ela não focava em seus olhos e seus lábios tremiam como se tivesse muito frio.
- Mas não precisa ser agora. – Ele falou e ela suspirou, dando um pequeno sorriso.
- Eu sei, mas eu quero! – Ela falou e suspirou. – E seu corpo também. – Eles riram fracamente.
- Mas eu também não sei fazer isso. – Ele disse um pouco mais baixo, como se mais pessoas os ouvissem e ela riu fracamente.
- Acho que vamos ter que aprender juntos. – Ela falou no mesmo tom de voz que ele e o mesmo ponderou e assentiu com a cabeça. – Além do mais, quantas pessoas podem falar que tiveram sua primeira vez na Nigéria?
- Muitos e muitos nigerianos! – Ele falou e ela revirou os olhos.
- Alisson! – Ela o repreendeu.
- Ok, mas se você sentir dor ou desconfortável, nós paramos. Combinado? – Ele falou e ela confirmou com a cabeça.
- Ok, mas isso não está nada romântico. – Eles riram juntos.
- Ok. – Ele disse e passou as mãos na cintura da mesma, trazendo-a para mais perto novamente.
Ela passou os braços pelos ombros dele e colaram os lábios novamente. Parecia que ambos faziam os movimentos de forma mais lenta e calculada agora, eles estavam entrando em um território que nenhum dos dois tinham experimentado e aquilo os deixava visivelmente nervosos.
Alisson desceu as mãos delicadamente pela blusa verde de goleiro dela, igual ele usava nos jogos, e começou a deslizar os dedos lentamente pela mesma. Ele a puxou para cima, tendo ajuda da mesma para se livrar nos punhos e o cabelo da mesma caiu em seus ombros, deixando-a incrivelmente envergonhada. Tirando as aulas de natação na escola a qual ela usava maiô, ele nunca tinha a visto de roupa íntima. Ele olhou em seus olhos como se procurasse por alguma restrição por parte da garota, mas ela só deu uma risada envergonhada.
- Está tudo bem. – Ela disse e ele assentiu com a cabeça.
Alisson a amparou com as mãos e deitou seu corpo para trás, acomodando-a na cama devagar. Ela passou as mãos nos cabelos dele que insistiam em cair no rosto e ela esticou as pernas na cama que estavam viradas de um jeito muito estranho, deixando-a torta na mesma. Ele apoiou as mãos nas laterais de seu corpo e se colocou dela delicadamente, fazendo com que ela passasse as mãos em sua cintura.
Eles colaram os lábios novamente, movimentando-os mais lentamente e ele foi se sentindo mais confortável em deixar seu peso cair sobre o dela, enquanto ela o puxava para mais perto de si. Ele engoliu em seco quando suas mãos baixaram para a cintura dela e encontraram a beirada da calça jeans. Ela arqueou seu corpo, puxando o ar fortemente com o contato, mas desceu suas mãos para facilitar o trabalho.
Ele saiu de cima dela por alguns segundos e ela arqueou o quadril para cima para puxar a calça do quadril e ela deu um sorriso discreto para ele que a ajudou a tirá-la devagar. Assim que a peça foi parar no chão, ele encarou o rosto da menina rapidamente. Ela não usava um conjunto de calcinha e sutiã que combinavam, o sutiã era roxo e a calcinha verde. Também não era exatamente uma lingerie, era mais uma calcinha de algodão que ela achava incrivelmente confortável e sutiã com bojo, mas para ele, ela era a mulher mais linda do mundo.
- Você é linda! – Ele disse, deixando-a mais envergonhada, fazendo com que ela levasse as mãos ao rosto.
- Não diga isso! – Ela falou e ele riu, tirando as mãos dela do rosto e deu um beijo em seu rosto.
- Eu digo porque você é. – Ela sorriu.
- Você diz porque me ama. – Eles riram juntos.
- Sim, muito!
- Eu te amo também! – Ela disse e ele assentiu também.
Eles se encaram novamente, fazendo a garota morder o lábio inferior novamente e esticou os braços na direção do Alisson, passando as mãos nos ombros dele e trazendo-o mais para perto novamente. Eles colaram seus lábios novamente e dessa vez o garoto virou seu corpo na cama, trazendo-a para cima dele.
Ele passou as mãos em sua cintura e a apertou firmemente, mas só por alguns segundos, ela sentiu sua mão entre suas pernas, além de outra coisa, e se ajoelhou na cama para que ele tirasse sua bermuda com mais facilidade, revelando sua conhecida boxer preta que ela já tinha pego ele assim em vários momentos, principalmente após jogos.
Ele se ajoelhou em sua frente novamente e subiu as mãos pelo corpo da garota, enquanto a mesma o fazia arrepiar roçando a ponta das suas unhas em seu pescoço, ombros e peito. O beijo estava cada vez mais quente e fazia com que ambos suassem mesmo com a potência do ar-condicionado, isso porque ela era friorenta.
Quando a mão de Alisson atingiu seu sutiã, ele aproveitou e soltou o mesmo, dessa vez a menina não se acanhou tanto, quando a peça de roupa caiu entre eles, ela mordeu seu lábio inferior, olhando rapidamente para seus pequenos seios e para ele novamente que tinha as bochechas avermelhadas da mesma forma.
- A camisinha! – Ele lembrou rapidamente, saindo desajeitado da cama e procurando sua carteira na mala, deixando com que algumas notas e moedas caíssem no chão, fazendo-a rir e ele apareceu com um pacote na ponta dos dedos, deixando-o escorregar uma vez antes de voltar na cama.
Ela aproveitou as ações desastradas do garoto e tirou o pesado edredom de cima da cama e se colocou entre eles, fazendo com que o garoto entrasse ao lado dela. Ambos giraram seus corpos lado e lado e se encararam alguns segundos antes de trocar um beijo mais calmo e apaixonado, fazendo com que ela até soltasse o conhecido suspiro.
Ambos se olharam um tanto incertos do que fazer agora, mas confirmaram juntos com a cabeça, como se lessem seus pensamentos. Ele abaixou sua mão para sua cueca primeiro, puxando-a um tanto desajeitado para baixo, rindo sozinho e tirou-a, jogando para a lateral da cama. A menina tateou devagar seu corpo, encontrando a ereção do garoto e fechou os olhos, franzindo-os, não podendo ficar mais avermelhada do que já estava. Eles tiraram a calcinha da menina juntos enquanto se olhavam com suas mais engraçadas feições de vergonha e também a peça de roupa foi parar no chão do quarto.
- E agora? – Ela perguntou inocentemente e ele suspirou.
- Um segundo... – Ele disse se sentando um tanto desajeitado e abriu o pacote da camisinha, levando as mãos para baixo das cobertas novamente e fez uma careta enquanto vestia a proteção. – Acho que está ok. – Ele disse e a garota respirou fundo.
Ela se virou para cima, ainda com o corpo arqueado e a barriga afundada de tanto que ela prendia a respiração e ele se colocou em cima dela novamente, apoiando as mãos na lateral da cama. A menina abriu um pouco mais as pernas com a imaginação de que ajudaria e ele guiou com sua mão enquanto ela mantinha as mãos firmes nas cobertas, deixando-as avermelhadas.
Ela franziu a testa quando ele a atingiu, fechou os olhos e mordeu os lábios fortemente, sentindo a respiração falhar um tanto. Ele a encarou um tanto preocupado, mas ela segurou um de seus braços, querendo que pelo menos eles chegassem ao final.
Ao chegar, ele tentou fazer alguns movimentos seguidos, vendo que o rosto da menina se relaxava aos poucos, era só questão de costume dos dois lados. Ela soltou um pequeno gemido em seus lábios e o puxou pela nuca para colar os lábios nos dela mais uma vez.
- Está tudo bem? – Ele perguntou com a voz um tanto falha e ela olhou em seus olhos verdes.
- Está. – Ela disse com a mesma falha na voz e ambos sorriram.
Quando eles se soltaram alguns segundos depois, Alisson se afastou de cima dela cansado e sentia os pulsos doerem por apoiar tanto na cama e caiu ao lado dela, fazendo com que ambos olhassem fixamente para o teto do quarto com mil pensamentos sobre o que tinha acabado de acontecer ali e quais seriam as consequências disso para ambos.
- Nossos pais vão nos matar. – Ela falou baixinho e ele virou o corpo para ela.
- Eles não precisam saber. – Ele respondeu rapidamente e ela virou o corpo novamente, dando um pequeno sorriso e erguendo uma das mãos para acariciar seu rosto.
- Aposto que está escrito em nossos rostos. – Ela disse e ele riu fracamente, se aproximando mais uma vez e colando os lábios levemente.
- Acho que isso estava incluso nas regras de “se proteja”, não?! – Eles franziram a testa juntos e riram. – Ah, podia acontecer.
- Talvez eles já sabiam antes da gente. – Ela disse e eles suspiraram.
- Como você está se sentindo? – Ele perguntou.
- Está meio dormente, meio estranho... – Ela disse mordendo o lábio inferior. – Não sei. Foi estranho.
- Muito! – Ele disse junto e ambos gargalharam juntos, se abraçando fortemente.
- Você ainda está com a camisinha? – Ela perguntou, olhando para baixo das cobertas novamente.
- Eu preciso tirar. – Ele falou rodando o corpo para fora da cama e saiu correndo em direção ao banheiro, deixando a garota sozinha por alguns segundos, quando ele voltou, ele tinha as mãos em frente ao corpo.
- Vamos ter que se acostumar a nos ver assim. – Ela disse sobre ambos nus e ele entrou embaixo das cobertas novamente, abraçando-a pela cintura.
- Eu me acostumo. – Ele disse. – É muito fácil. – Ela riu, colocando a mão em seu rosto, fazendo-o lamber para ela tirar. – Eu te amo, ok? Para sempre! – Ela suspirou.
- Eu sei! Eu também! – Ela colou os lábios nos dele um pouco. – Para sempre. – Ela apoiou o rosto em seu peito, fechando os olhos devagar.
- Não vai tomar banho? – Ele perguntou baixo em seu ouvido.
- Eu deveria, mas estou muito cansada. – Ela suspirou. – Me dê só uns 10 minutinhos. – Ela suspirou e Alisson riu, com certeza não seriam só mais 10 minutinhos.
*Seleção Brasileira jogou contra o Japão no primeiro jogo, ganhando de 3x2 e perdeu do México no segundo.
*Carlão do São Paulo, Phillipe do Vasco e Neymar do Santos são, respectivamente, Casemiro do Real Madrid, Phillipe Coutinho do Barcelona e Neymar Júnior do PSG, eles e Alisson jogaram juntos no Mundial Sub-17 que a história menciona.
Eu estava muito feliz, mas porque ele estava muito feliz. Vê-lo pulando empolgado com seus companheiros de time pulando em cima dele era a maior felicidade que eu podia ter. Ele conseguiu! O time conseguiu! Eles estavam na semi-final da Champions League. Muriel me abraçou pela cintura e eu virei com ele, abraçando-o fortemente, comemorando com o resto dos familiares de Alisson e o pessoal do bar que não parava de gritar também.
- Me segura! – Falei para Muriel quando vi Alisson se aproximar do túnel novamente e não me importei se poderia cair de uma altura de três metros e pagar um grande mico, mas me debrucei pelo mesmo, sentindo meus pés saírem do chão, mas Muriel me segurou firme pelo cós da calça. – Você conseguiu!
Gritei para Alisson que vinha com um sorriso gigantesco no rosto, tentando fazer com que ele ouvisse minha voz com os gritos que a torcida fazia depois de uns 20 minutos que o apito soara. Eu não pensei em nada naquele momento, só o puxei pela gola da camiseta e senti seus lábios colarem nos meus rapidamente, me fazendo suspirar e abrir um largo sorriso. Senti alguém me cutucar e olhei para trás rapidamente, vendo meu chefe apontar para trás e sabia que era hora de ir embora.
- A gente se vê no bar! – Falei e ele ainda segurou minha mão por alguns segundos dando um beijo na mesma e o vi seguir para dentro do túnel. Fiz uma careta quando minha barriga raspou no alambrado e Muriel me puxou de volta.
- Ah, garota! – Elis gritou animada comigo e rimos juntas, nos abraçando.
- Vocês vão no bar com a gente? – Perguntei para os familiares de Alisson e todos se entreolharam e assentiram com a cabeça.
- Eu acho que não, Helena é muito nova para ficar no meio da confusão. – Dona Magali falou e eu vi a menina com a blusa da Roma tentar insistentemente morder o sapato.
- Talvez possamos dar um jeito. – Pensei um pouco e respirei fundo antes de estender as mãos em direção à menina que fez o mesmo. – Aposto que Helena gosta um pouco de música, não?! – A aproximei de meu corpo, vendo-a me encarar com aqueles olhos claros. – Melhor que as músicas que seu pai canta. – Brinquei, jogando seus cabelos loiros para o lado e acariciando seu rosto.
- Está tudo bem para você mesmo, ? – Magali perguntou e eu dei um sorriso para mesma.
- Está sim. – Sorri, olhando para a menina. – Eu preciso me acostumar se eu e Alisson ficarmos juntos. Não podemos simplesmente ignorar o destino, certo? – Ela assentiu com a cabeça. – Além de que ela tem um cheirinho de bebê tão gostoso! – Suspirei e eles riram. – Bom, vamos? Ela pode ficar lá nos fundos do bar se encher muito, vocês trouxeram o carrinho, certo?
- Sim!
- Então, andiamo! – Falei e eles riram.
Foi um pouco difícil sair do estádio. Estávamos em um dos melhores lugares, mas quando conseguimos e chegamos na frente do bar, as coisas estavam muito caóticas. Várias pessoas estavam acumuladas na frente esperando que ele abrisse. Não era possível que tantas pessoas quisessem entrar em um simples bar karaokê. Ele enchia, mas sempre as mesmas pessoas, os mesmos rostos carimbados, mas não, agora estava realmente lotado.
Assim que Alessandro abriu o bar, as pessoas ocuparam as mesas rapidamente e outras precisaram ficar em pé no bar. Fomos lá para os fundos rapidamente e não deu tempo de nos trocar, consegui só colocar a blusa que Alisson tinha me dado para dentro da calça e o avental por cima também, tudo estava bem caótico.
O karaokê não funcionou naquele dia, afinal, era um tanto impossível quando mal tinha espaço para que as garçonetes passassem com as bandejas cheias de canecas de chope, mas os torcedores cantavam animadamente o hino da Roma que eu só conhecia por causa dos outros funcionários e outras músicas que lembravam à Roma.
- Está tudo bem aqui? – Perguntei para a família do Alisson que conseguiu um lugarzinho em uma das mesas.
- Perfeito! – Muriel falou animado e eu ri, vendo as crianças animadas em cima das cadeiras, olhando toda a movimentação.
- Palitinhos de mussarela fritos? – Perguntei para Duda que assentiu com a cabeça animada. – É para já. – Ri e me aproximei de Magali. – Quer ir lá para dentro um pouco?
- Ela está gostando daqui. – Ela falou de Helena que estava em pé desajeitadamente em suas pernas.
- Muito bom! – Sorri, estalando um beijo na cabeça de Magali e senti ela me puxando novamente. – O quê? – Perguntei.
- Sua mãe estaria muito orgulhosa de você, querida! – Ela falou em meu ouvido e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Espero que sim! – Falei e saí para atender outros clientes que já me chamavam.
A festa rolava muito animada no bar, as pessoas se espremiam por entre as mesas, outras tantas ficavam na porta, minha roupa já cheirava cerveja e colava há muito tempo, mas aquela vibe animada, com os torcedores pulando, gritando bêbados e cantando, não tinha como não entrar na animação junto, mesmo que minhas costas já estivessem me matando e eu estivesse morrendo de calor dentro daquela camisa.
Quando era quase 11 horas, eu finalmente olhei no celular, franzi a testa e achei que Alisson não apareceria mais, talvez o time tivesse outras ideias de comemoração e ele seguiu junto, mas não, as pessoas gritaram em um momento, abrindo espaço para que os jogadores do time entrassem. Alisson foi o primeiro a entrar, com um largo sorriso no rosto, boné na cabeça e aquele rosto avermelhado de sempre. Reconheci também os autores dos três gols, De Rossi, Manolas e Džeko, além de Juan que eu havia conhecido quando eu fui no treino aberto lá atrás, Strootman, El Shaarawy e Florenzi, além de outros que eu não fazia a mínima ideia de quem era, mas os torcedores os abraçavam animados e sabiam que eles faziam parte do time.
Acompanhei a alegria de Alisson de longe com um sorriso no rosto, principalmente quando ele pegou Helena em um braço e Franthiesco no outro e mordi meu lábio inferior, suspirando. Ele é o homem da minha vida, e eu tinha certeza que não podia viver longe dele nunca mais, em nenhum momento da minha vida.
Ele me chamou com a mão e eu larguei a bandeja no balcão enquanto Dante enchia mais canecas de chope e ele livrou os braços e me puxou pela cintura quando me aproximei dele. Seus lábios colaram nos meus de forma apaixonada e eu passei meus braços pelos seus ombros, deixando com que minhas mãos se perdessem nos fios escuros de seus cabelos. Ouvi os gritos em nossa direção e mais uma vez senti o líquido gelado cair em minhas costas, fazendo meu corpo se arrepiar.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo! – Ele falou seguidamente com a testa colada na minha e eu assenti com a cabeça, acariciando sua barba carinhosamente.
- Para sempre e para sempre! – Suspirei, olhando em seus olhos verdes e ele assentiu com a cabeça sorrindo.
- Eu nunca mais vou te deixar escapar novamente. – Ele suspirou e senti meus olhos se encherem de lágrimas.
- Não vai, mas porque agora a situação é outra! – Suspirei. – Estamos maduros e independentes, então nós vamos fazer isso dar certo, não importando os percalços no meio do caminho. – Sorri e ele assentiu com a cabeça, pressionando os lábios nos meus novamente.
- Chope grátis para todo mundo! – Signor Alessandro gritou e eu abracei Alisson de lado, vendo o senhor gordinho e baixinho subir no balcão, enquanto os torcedores e jogadores gritaram com ele, nos fazendo gargalhar.
- Eu tenho que trabalhar! – Dei de ombros e Alisson riu, me soltando.
- ! – Ouvi um grito um pouco mais alto e vi Chiara vindo em minha direção e soltei Alisson, seguindo de encontro da atendente.
- O quê? – Perguntei.
- Fui lá dentro e seu celular tem umas 20 chamadas não atendidas. – Ela falou próximo ao meu ouvido e entregou meu aparelho em minhas mãos.
- O quê? – Falei olhando para o aparelho e desbloqueei o mesmo, vendo que tinha realmente 20 chamadas não atendidas de somente um número, Martina. – Eu já volto! – Falei para ela que confirmou com a cabeça.
Me desviei das pessoas para seguir até o vestiário que tínhamos lá no fundo e bati a porta quando cheguei no mesmo. Me assustei quando vi dona Magali ali e ela dava mamadeira para Helena que estava entre dormir e não dormir, me fazendo dar um pequeno sorriso.
- Eu preciso fazer uma ligação! – Falei, apontando para o telefone e ela afirmou com a cabeça.
- Algo importante? – Ela perguntou e eu me sentei ao seu lado no sofá.
- É a minha advogada! – Falei e ela olhou com os olhos arregalados para mim.
- Ligue logo! – Ela falou animada e senti minhas mãos tremerem quando eu apertei o número e o vi carregar a chamada.
- Ciao, ? – Ouvi sua voz do outro lado da linha e senti meu corpo arrepiar.
- Ciao, Martina. Sim, sou eu! Desculpe não atender, eu estou trabalhando e o bar está lotado. – Respondi.
- Ah, imagino que esteja trabalhando muito com a vitória da Roma, não é?! – Rimos juntas.
- Estou te atrapalhando em ligar a essa hora? – Perguntei colocando um dedo no outro ouvido, tentando abafar mais o som.
- Não, não tem problema. Eu recebi uma notícia agora pouco e não poderia deixar para te contar amanhã. – Senti meus lábios tremerem e algumas lágrimas começaram a surgir em meus olhos.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa? – Perguntei.
- Sim, , aconteceu! – Ela falou rindo e eu puxei o ar fortemente. – O ministério público italiano e a Interpol entraram em um acordo e decidiram não seguir com seu caso. – Arregalei os olhos e a boca.
- O quê? – Falei um tanto alto, me levantando.
- Sim, ! Você ouviu certo! Você não será mais julgada sobre o caso da embaixada italiana. – Coloquei as mãos na boca e senti meu corpo deslizar pelo chão e as lágrimas pela minha bochecha.
- ! – Ouvi Magali falar e se colocar ao meu lado.
- , ainda está aqui? – Ouvi Martina novamente e dei a mão para Magali, me levantando.
- Sim, estou! – Respondi engolindo em seco. – O que isso quer dizer? – Perguntei, puxando o ar fortemente.
- Isso quer dizer que eles não têm provas o suficiente para te indiciarem daquele crime, . Os documentos assinados em seu nome, todas as possíveis evidências que eles encontraram na embaixada e no seu apartamento não levam à nada. – Suspirei. – Você não corre mais nenhum risco de ser presa novamente. – Relaxei meu corpo, abraçando Magali fortemente, deixando-a totalmente sem entender. – Você até pode indiciá-los por calúnia, por terem te prendido sem nenhuma prova concreta.
- Ah não! – Neguei com a cabeça. – Eu não quero mais dores de cabeça, Martina. Eu só quero deitar minha cabeça no travesseiro e saber que tudo vai ficar bem. – Suspirei.
- E vai, . Agora vai. – Sorri.
- Isso quer dizer que eu posso ir embora? Eles vão devolver meu passaporte, minhas coisas, tudo?
- Ainda não! – Franzi a testa. – O julgamento do embaixador ainda vai acontecer e eles querem que você deponha contra ele.
- Não precisa pedir duas vezes. – Falei suspirando. – Quando vai ser?
- Eles estão vendo ainda, mas creio que em uma ou duas semanas, nada mais tarde do que isso. Se você contar o que você sabe, mesmo que não for muito, mas só de você ajudá-los, seu nome ficará limpo novamente. Apesar do seu julgamento não acontecer, ainda há divergências se você é realmente culpada ou não, então isso...
- Eles me verão como alguém bom.
- Exato! Você estará os ajudando a acabar com quem realmente merece. – Suspirei.
- Ah, Martina, muito obrigada! Você acabou de deixar minha noite mais feliz. – Sorri.
- Me deixa muito feliz saber disso. – Ela respondeu. – E não se preocupe, nós ainda nos encontraremos e eu vou te preparar para o julgamento do embaixador, mas vamos deixar isso para outro dia, pode ser?
- Por favor! – Falei rindo.
- Ok, agora vá comemorar, . Vai ficar tudo bem! – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Obrigada, Martina! Muito obrigada e durma bem! – Respondi.
- Você também, . Você também. – Rimos juntas.
- Pode deixar que eu vou! – Respondi e desliguei o telefone, vendo uma Magali bem confusa me olhar.
- O que aconteceu, ? Eu não entendo italiano! – Ela disse rapidamente ainda me segurando pela mão e eu segurei seus ombros.
- Eu não posso ser mais presa, sogrinha! – Respondi com lágrimas nos olhos. – Meu caso não será continuado. Eles não têm provas contra mim. Eles desistiram! – Falei mordendo o lábio inferior diversas vezes e ela abriu um largo sorriso.
- Ah, querida! – Ela me abraçou com sua mão livre, enquanto segurava Helena com a outra e permiti chorar em seus braços. – Eu sabia que você não tinha feito isso, eu sempre soube que você era uma pessoa boa, de coração! – Suspirei.
- Obrigada por acreditar em mim, porque muitas vezes nem eu acreditei! – Falei e ela beijou minha testa, limpando minhas lágrimas em seguida.
- E agora? Imagino que queria ir para casa, contar para seu pai! – Rimos juntas.
- Eu ainda vou depor contra o embaixador, então meu passaporte e minhas outras coisas ainda ficarão retidas por mais tempo. – Assenti com a cabeça. – Mas não importa, Magali. Eu posso esperar mais uma semana, um mês ou um ano, porque eu estou livre! – Falei e ela sorriu largamente, me abraçando novamente.
- Vá, conte ao Alisson! Isso vai deixá-lo mais feliz do que ele já está contigo e com o time. – Ela sorriu e eu arregalei os olhos.
- Meu Deus, Alisson! – Falei rindo e ela sorriu. – Já volto!
Saí do quartinho dos fundos e tentei passar correndo pela multidão que ainda ocupava o bar. Na teoria fecharíamos à meia-noite, mas aquilo estava longe de acabar! Provavelmente quando o chope acabar, mas isso era incerto! Tropecei em algumas pessoas até chegar em Alisson e o puxei pelo braço, interrompendo sua conversa com Juan.
- Ei, você voltou! – Ele perguntou, estalando um beijo em minha bochecha e pude notar que ele estava um pouco mais feliz de quando eu tinha ido. – Está tudo bem? Quem era?
- Era Martina! – Falei alto em seu ouvido e ele me olhou esperançoso.
- O que ela disse? – Ele perguntou.
- Ela disse que meu caso foi mesmo descontinuado, eles não têm interesse em seguir com o processo! – Falei em seu ouvido e me afastei, vendo um largo sorriso se formar em seu rosto e eu retribuí.
- Mentira! – Ele falou e eu neguei com a cabeça, sentindo-o me abraçar pela cintura e tentar me girar, mas minhas pernas bateram em Elis que estavam ao meu lado. – E agora? Acabou? – Ele perguntou.
- Ainda não, eu ainda vou depor contra o embaixador, aí tudo vai acabar! – Falei gritando e ele me abraçou fortemente, distribuindo beijos em meu ombro.
- Já está tudo bem! – Ele falou. – É só mais um pequeno percalço que você vai passar. – Ele disse e eu sorri, sentindo-o colar os lábios nos meus novamente, me fazendo sorrir mais uma vez.
- O que aconteceu? – Ouvi Muriel gritando para nós com o rosto mais próximo.
- Meu caso foi descontinuado! – Gritei para ele. – Eu não posso mais ser presa!
- O quê? – Ele gritou empolgado. – Isso é maravilhoso! – Sorrimos e os dois irmãos me abraçaram, me fazendo rir. – Precisamos comemorar, garçom! – Ele gritou e eu olhei para ele.
- Eu sou garçonete! – Falei e ele negou com a cabeça.
- Não você, outra pessoa! – Muriel disse e olhei para Alisson que gargalhava.
- Ele já está mais para lá do que para cá. – Alisson falou e eu neguei com a cabeça, colando meus lábios nos dele.
- Não importa, só importa é que temos motivos de sobra para ficarmos felizes! – Falei e ele me apertou em seu corpo por mais alguns segundos. – Mas eu ainda preciso trabalhar! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Chope para todo mundo! – Mais li seus lábios do que ouvi e sorri, piscando para ele.
- Podemos ir? – Perguntei à quando ela saiu dos fundos do bar com sua bolsa.
- Por favor! – Ela falou com cara de cansada e ri, olhando no relógio, eram quase três da madrugada. – Estou cansada.
- Imagino! – Falei. – Hoje foi foda!
- Foi muito bom! – Ela falou rindo enquanto saíamos do bar. – Você ganhou, eu sou uma pessoa livre novamente, ah, acho que vai ser uma boa noite de sono! – Ri fraco, passando o braço pelos seus ombros. – Vou tomar um banho bem quente e dormir.
- Se eu deixar! – Brinquei e ela me abraçou pela cintura, enquanto caminhávamos até o carro dela.
- Eles foram embora que horas que eu não vi? – Ela perguntou me soltando e entrando no lado do motorista.
- Faz uma hora e meia, por aí. As crianças estavam dormindo na mesa, meus pais também estavam bem cansados e Muriel estava um pouco mais bêbado do que deveria! – Ela assentiu com a cabeça. – Não te encontramos para avisar.
- Não precisava, você poderia ter ido também, eu sou a única sóbria mesmo! – Ela jogou sua bolsa para trás e ligou o carro, começando a seguir em direção à Olgiata.
- Não, estava divertido aqui, além de que meus companheiros de time também estavam, precisamos aproveitar!
- Sim, vocês mereceram! – Ela falou olhando para a estrada. – E como você está? Bêbado? Mais ou menos?
- Um pouco, mas nada drástico, ainda vou treinar na parte da tarde para o jogo contra o Lazio no domingo e Genoa na quarta-feira, a semana vai ser pesada, não podia exagerar. – Ela afirmou com a cabeça, virando o rosto para mim novamente.
- Faz bem, lembro que você ficava muito chato bêbado! – Ela falou e eu ri fracamente. – E você não podia beber na época!
- Ainda fico! – Comentei, vendo-a focar na estrada novamente.
Voltamos para Olgiata em silêncio, mas com uma música alta saindo pelas caixas de som de seu carro, nós dois estávamos cansados, mas não queríamos causar nenhum acidente que desviasse do nosso caminho. Com a estrada vazia, logo chegamos em casa, os cômodos da minha casa estavam todos escuros, provavelmente todos já tinham ido dormir, se eles estivessem cansados como eu, provavelmente desmaiaram em suas camas.
Eu e saímos do carro e entramos na sala pela porta da garagem, os roncos de Muriel já ecoavam pela sala e o observei esticado no sofá, rindo de como ele dormia com o braço para baixo, mais um pouco até ele caía junto. travou a porta da garagem e eu chequei a porta da frente, para ver se tudo estava certo e levei as chaves até a gaveta do rack da sala.
- Fica comigo no quarto hoje? – Cochichei para ela e segurei sua mão, fazendo-a sorrir.
- Acho que terei que fazer um esforço. – Ela respondeu dando um curto beijo em meu rosto e seguiu em minha frente até o quarto, ligando a luz quando entrou no mesmo.
Chequei rapidamente as outras duas portas, vendo se Helena dormia no berço e vi que estava tudo calmo por ali. Entrei no quarto bagunçado que eu e dividíamos e encostei a porta, vendo-a sentada na beirada da cama, tirando os tênis.
- Eu estou muito cansada. – Ela falou rindo e eu me sentei ao seu lado, também tirando meus sapatos.
- Vai tomar banho e dormir, eu ficarei aqui. – Falei e ela riu fraco.
- Não, quero aproveitar um pouco contigo enquanto estamos só nós dois. – Ela falou se afastando um pouco na cama e encostando as costas na cabeceira.
- Está difícil ter um tempinho a sós, não é?! – Me ajoelhei na cama, me aproximando dela e me encostando ao seu lado, passando a mão em sua cintura.
- Você sabe que eu não ligo para isso. Desde o ensino médio éramos sempre nós e nossas famílias. Conseguíamos namorar um pouco depois da escola, quando eles estavam trabalhando, mas agora é a nossa vez de trabalhar... – Ri fracamente.
- Eu te amo, você sabe disso, não é? – Puxei sua cintura para perto, olhando em seus olhos.
- Sim, eu sei. E eu acho que o tempo parou para nós, pois eu ainda te amo da mesma forma que anos atrás. Talvez mais. – Dei um curto beijo em seus lábios, sentindo-a acariciar minha bochecha.
- Mais, muito mais! – Falei, fazendo-a rir abafado. – A saudade me dá essa sensação. – Ela suspirou. – E agora? Como faremos? – Perguntei.
- O que quer dizer? – Ela mexia na gola da minha camisa polo da Roma.
- Depois do julgamento do embaixador, o que você vai fazer? Voltar para casa? Ficar aqui? – Ela soltou um longo suspiro e se ajeitou na cama, sentando na mesma. – Desculpe, não queria te pressionar.
- Não está! – Ela falou e eu me sentei ao seu lado. – Eu só penso que eu quero ficar aqui contigo, aqui em Roma, te acompanhar na Copa do Mundo e mais onde você for. – Ela falou e eu colei meus lábios nos dela rapidamente. – Se você quiser continuar de onde paramos, é claro!
- É claro que eu quero! – Falei sorrindo. – Mas eu ainda quero que você viva, trabalhe no que te faz feliz, viaje, conheça o mundo...
- Talvez eu vá um pouco para o Brasil quando isso acabar, dar uma respirada, rever meus familiares, descansar um pouco, mas acho que podemos planejar nossa vida juntos e, como o jogador de futebol famoso aqui é você, eu posso te acompanhar. – Sorri, acariciando seu rosto. – Da mesma forma que planejávamos lá atrás. – Rimos juntos.
- Eu vou adorar! – Falei e a ouvi suspirar.
- Sabe, eu sempre achei que em algum momento da vida, a gente fosse se aproximar de novo. – Ela falou me encarando.
- E não é isso que estamos fazendo agora? – Perguntei confuso.
- Ah, Alisson, do jeito certo, sabe? Que iríamos nos casar, ter filhos, que seríamos aquele casal de propaganda de margarina, sabe? – Ela suspirou. – Mas você já fez tudo isso. Você casou, teve uma filha, sei lá... – Ela deu de ombros. – Parece que nossos sonhos juntos já foram para o buraco. – Ela soltou um longo suspiro.
- Não, não, amor. – Falei segurando seu rosto. – Talvez aqueles sonhos que tínhamos com 17 anos, mas podemos criar novos, certo? Ou realizarmos juntos aqueles que tínhamos quando mais novos quantas vezes quisermos.
- Acho que você está certo, para variar. – Rimos juntos e ela passou os braços pelos meus ombros. – É só que eu ainda penso como seria se a gente tivesse continuado de onde paramos.
- Nós vamos descobrir! – Acariciei seu rosto e ela sorriu, colando os lábios nos meus por alguns segundos.
- Ah, eu preciso tomar banho, estou sentindo meu corpo grudento por causa da bebida ainda. – Ela se levantou, indo em direção à cômoda.
- Posso te ajudar com isso! – Falei e me levantei também.
- Ah, senhor Alisson. – Ela falou rindo e me fiz de desentendido.
- O quê? – Brinquei, me aproximando dela e ela riu.
- Você não me engana. – Ela passou os braços pelos meus ombros e eu ri. – Mas não vou negar, porque também estava com saudades.
Rimos juntos e eu colei meus lábios nos dela rapidamente, encostando-a contra a parede. Suas mãos subiram para meu pescoço e desciam para meu peito diversas vezes, enquanto eu procurava com urgência a barra de sua camisa verde. Nossos lábios movimentavam em sincronia da mesma forma de 17 anos, mas dessa vez, nós sabíamos o que estávamos fazendo.
Encontrei a barra de sua blusa e a puxei para cima, vendo seus cabelos caírem em seus ombros, enquanto eu tentava relembrar as curvas de seus seios e barriga. Ela me puxou pelo cós da calça, se colocando entre minhas pernas e começou puxar minha camisa para cima também. Nos separamos por alguns segundos para que ela pudesse fazer isso e logo a mesma foi jogada no chão.
Passei meus braços pelas suas pernas, pegando-a em meu colo e ela passou as pernas pela minha cintura e se enroscou em meu pescoço novamente, distribuído beijos na dobra do meu pescoço, fazendo com que meu corpo arrepiasse cada vez mais e minha ereção latejasse mais ainda.
A deitei na cama de solteiro e aproveitei para desafivelar minha calça e vê-la fazendo a mesma coisa, arqueando o quadril para cima para tirar com mais facilidade. Puxei sua calça pela barra e me ajoelhei na cama, colocando meu corpo delicadamente sobre o dela e ela me puxou para outro beijo, passando os braços ao redor do meu pescoço e as unhas em minhas costas, fazendo meu corpo arrepiar.
Ela girou o corpo na cama, nos fazendo rir quando quase caímos dela e desabotoou seu sutiã, abaixando o rosto novamente, depositando beijos em meu pescoço, peito e barriga, fazendo meu corpo se contrair com isso. Ela com certeza não era mais a mesma menina de sete anos atrás.
Ela puxou minha cueca para baixo, me fazendo arfar enquanto deixava beijos por toda extensão do meu corpo e passei a mão em seus cabelos quando ela subiu novamente, me fazendo sorrir com sua feição de cansada. Passei meus braços em seu corpo, trocando de posições novamente, dessa vez sem ter chances de cair e foi minha vez de tirar sua última peça de roupa, fazendo-a dar um sorriso envergonhado como da última vez.
Abri um sorriso, debruçando meu rosto sobre o dela e dando um longo beijo em seus lábios, sentindo-a acariciar meu rosto lentamente. Poucos segundos depois, o beijo deu lugar a nossos gemidos baixos pelos movimentos frequentes que eu fazia sobre seu corpo. Ela mordia fortemente seu lábio inferior e eu colava meus lábios em seu ombro para que o som fosse abafado o máximo possível.
Ela puxou meus cabelos para mais um beijo, suspirando quando eu me joguei ao seu lado. Passei a mão em sua barriga, sentindo-a retraída ainda e ela olhava para cima com a respiração acelerada, me fazendo sorrir. Eu estava da mesma forma. Ela girou o corpo na cama e passou a mão na minha cintura, apoiando a cabeça em meu braço.
- Não tão chique quanto um hotel cinco estrelas em Abuja, não é? – Brinquei e ela riu fracamente, abrindo os olhos e me encarando.
- Pelo menos a cama era de casal. – Ela falou acariciando meu rosto e eu passei meus lábios pelos dela devagar. – Mas nunca foi o lugar que importou, sempre foi você. – Sorri, suspirando, acariciando sua barriga devagar.
- Sim. – Falei, estalando um beijo em sua bochecha.
- Sua ex deve ser uma pessoa muito incrível para fazer você me esquecer. – Franzi a testa.
- Você quer falar da minha ex agora? – Perguntei e ela riu.
- Eu nunca fui coerente com hora, nem lugar, você sabe disso. – Ela falou, me fazendo rir. – É só uma curiosidade que surgiu.
- Ela era. – Falei, acariciando seu rosto. – Ela me devolveu a luz e a esperança depois que você foi embora. – Ela suspirou. – Mas se eu soubesse que te encontraria novamente depois de anos, provavelmente não ficaria com ela, teria ficado te esperando até hoje. – Ela riu fraco, negando com a cabeça.
- Não fale besteira, ela fez parte da sua vida da mesma forma que eu, a vida é assim, isso são lembranças, da mesma forma que nós, vocês tiveram momentos incríveis juntos, casaram, tiveram uma filha, isso nem o tempo apaga. – Sorri.
- Eu sei, mas eu nunca te esqueci. – Ela assentiu com a cabeça, me dando um curto beijo. – E você? Não teve ninguém depois de mim? – Já que ela perguntou, me senti na obrigação de devolver.
- Até tiveram alguns caras, mas nada era como a gente, sabe? Nada parecia o mesmo. – Ela suspirou. - E depois que eu vim para Roma, minha vida era trabalhar, eu mal tinha tempo para vida pessoal.
- Não? – Perguntei, puxando-a para mais perto.
- Como se pode ter vida pessoal com trabalho que eu tinha? – Ela suspirou, apoiando a cabeça em meu peito. – Eu era a primeira a chegar e a última a ir embora. Entrava as sete e saía depois das nove da noite. – Ela negou com a cabeça. – Normalmente pedia um delivery ou pegava alguma coisa na rua, chegava em casa, tomava banho, organizava a agenda do embaixador para o dia seguinte e dormia assistindo alguma série do Netflix. – Assenti com a cabeça.
- Você era muito boa no que fazia, não é? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- Mais do que deveria. – Ela suspirou. – Além de que eu nunca estive preparada para embarcar em outro relacionamento depois de nós. – Rimos juntos e eu colei meus lábios nos dela novamente.
- E agora está? – Perguntei ansioso.
- Eu sempre te amei e nunca te esqueci, então sempre ansiava por esse encontro, mesmo que eu não acreditasse que fosse acontecer. – Dei de ombros. – Principalmente depois que descobri que você namorava, a vida tomou outro rumo.
- Vamos colocar o trem de volta nos trilhos, então, porque eu tive que aprender a viver sem você lá atrás, mas agora eu não quero. – Falei e ela sorriu.
- Eu também não. – Sorrimos juntos e ela colou os lábios nos meus novamente, mas nos afastei rapidamente.
- Acho melhor trancar a porta ou podemos ter uma surpresa amanhã de manhã. – Falei e ela olhou para a mesma.
- Eu ainda vou querer tomar banho, agora estou colando mais ainda. – Rimos juntos.
- Ok, nós vamos, mas vamos ficar aqui só por mais cinco minutinhos. – Falei um tanto quanto sonolento, fazendo-a rir.
- Ok, mas só mais cinco minutos. – Ela colou os lábios nos meus novamente e a apertei contra meu corpo.
*Assista alguns vídeos da Seleção Sub-17 em 2009 aqui, aqui, aqui, aqui.
Capítulo 8
Despertei na manhã seguinte, mas eu não queria abrir meus olhos, principalmente sabendo que eu ainda estava nos braços de Alisson. Me lembrei da noite passada e nada podia ser melhor quanto ontem: a vitória e classificação da Roma, eu livre de investigações e nós dois juntos novamente.
Além da transa, que foi simplesmente maravilhosa! Tirando a falta de espaço nessa caminha de solteiro que ele tinha nesse quarto da frente. A última vez que tínhamos dormido juntos foi na Nigéria, que foi nossa primeira vez também. Com certeza não tínhamos experiência nenhuma naquela época, nós dois estávamos envergonhados e não sabíamos como fazer e só seguimos o ritmo. Na hora foi engraçado, incômodo e péssimo, mas eu fiquei feliz dele ter sido meu primeiro.
Abri meus olhos devagar, encontrando seu rosto a poucos centímetros dos meus e os olhos fechados. Ele tinha um braço no lugar do meu travesseiro e o outro me apertava pela cintura. Eu estava quase da mesma forma, um braço atrás de sua cabeça e outra apoiada em seu braço. Não estava exatamente confortável, mas ele estava perto de mim, ele estava aqui, nós estávamos aqui juntos, nada estragaria esse momento.
Ergui a mão livre até seu rosto e fiz um carinho de leve em sua barba. Eu estava acostumada com meu Alisson sem barba, lá com seus 17, 18 anos, mas depois de vir morar com ele em Roma, nossa, como eu tinha gostado disso. Abri um pequeno sorriso quando vi seus lábios se alargarem também e ele virou o rosto, dando um beijo em minha mão, me fazendo rir fracamente quando ele abriu seus olhos.
- Bom dia! – Ele disse e eu sorri, soltando um leve suspiro.
- Bom dia. – Respondi ainda um pouco sonolenta, sentindo o bocejo surgir e ele rir de mim.
- Como você dormiu? – Ele perguntou.
- Como você acha? – Perguntei, aproximando nossos rostos novamente e dei um curto beijo em seus lábios, sentindo-o aprofundá-lo por alguns segundos, me fazendo rir.
- Ontem eu acho que foi o melhor dia da minha vida! – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Eu estava pensando isso agora mesmo. – Falei e me aconcheguei melhor em seus braços, fazendo com que ele se ajeitasse com as costas completas na cama e eu apoiei os braços em seu peito, encostando a cabeça nas mãos. – Ontem foi perfeito, você ganhando, eu sendo uma pessoa livre novamente, nós dois...
- Ah, nós dois! – Ele apertou as mãos em minha cintura, fazendo rir. – Diz que nada mais vai nos atrapalhar. – Ri fraco.
- Espero que não, mas vamos esperar eu ter meu passaporte de volta para realmente fazermos planos, pode ser? – Ele assentiu com a cabeça, dando um beijo torto em minha cabeça.
- Tudo bem! Devagar. – Ele disse me apertando. – E o que faremos enquanto isso? – Ele perguntou.
- Eu preciso levantar um pouco e me alongar, meu Deus, está tudo doendo! – Reclamei, deslizando para fora de seu corpo novamente e me sentando na beirada da cama de solteiro.
- Ah, obrigado! – Ele falou, esticando os dois braços para cima e ouvi algo estralar, me fazendo franzir a testa. – Eu estava mesmo precisando.
- Não faz isso. – Reclamei do barulho e, para me provocar, ele estralou seu pescoço e seus dedos. – Ah, para! – Falei novamente e ele gargalhou, se levantando e colocando a calça do moletom que ele vestiu antes de dormir.
Fiz o mesmo que ele e estiquei os braços para cima e dei uma dobrada nas pernas, acho que dormir tão de conchinha assim não era recomendado, acho que eu ficaria com dores o dia inteiro e eu ainda precisaria carregar bandejas com canecas de meio litro de chopp à noite.
- Eu estava pensando aqui... – Me sentei novamente, esticando uma perna na cama enquanto ele tirava o moletom de frio.
- O quê? – Ele se sentou em minha frente.
- Que criatura conseguiu te tirar do Inter? – Ele arregalou os olhos surpreso com a pergunta inesperada.
- De onde veio isso? – Ele perguntou e eu estiquei as mãos na cama, segurando as suas.
- Logo que Muri chegou, nós falamos de você, e confesso que quando descobri que você estava aqui, fez uma confusão na minha cabeça, pois eu não imaginava nunca, na vida, você saindo lá de Porto Alegre. – Ele suspirou. – Você amava muito aquele time.
- Eu ainda amo e ainda sou colorado, para o resto da minha vida. – Ele coçou a testa com uma mão e logo me entregou novamente. – Mas chegou um momento da minha carreira que eu precisei seguir em frente ou estagnaria lá para sempre. – Ele deu de ombros.
- Por que não me conta isso? Eu adorava te acompanhar, você sabe disso. Eu aprendi a gostar de futebol por causa de você. – Ele riu fraco e se ajeitou na cama, me abraçando pela cintura.
- Você foi embora em 2010, certo? – Assenti com a cabeça.
- Sim, depois da formatura. – Suspirei e ele pensou por algum tempo.
- Bom, eu subi para o time principal em 2013, e também participei da Seleção Brasileira Sub-20 naquele mesmo ano. Eu era só terceiro goleiro na época, mas eu treinava com o Muri e com o Dida. – Assenti com a cabeça sorrindo.
- Deveria ser engraçado você e o Muri treinando juntos, vocês não se largam. – Rimos juntos.
- Era um pouco, o pessoal achava engraçada nossa parceria, a gente não se desgrudava mesmo, mas você sabe, eu sempre segui o Muri, ele sempre foi um exemplo para mim. – Sorri.
- Eu sei sim! – Acariciei seu rosto e ele beijou minha mão novamente.
- Bom, aí eu tive a chance de ser titular no final do campeonato brasileiro em 2014, participei da Libertadores em 2015, fomos muito bem, chegamos até a semi-final. – Arregalei os olhos surpresa. – Na troca de técnico do time eu virei terceiro capitão, aí nesse meio tempo eu fui convocado pelo Dunga para Seleção Brasileira principal no mesmo ano, acabei ficando mesmo depois que o Tite entrou. – Ele coçou a cabeça como se procurasse palavras. – Aí no final de 2015 começou as especulações de transferência, mas eu estava indo muito bem no Brasil, tinha ganhado a braçadeira de capitão, tínhamos grandes chances no campeonato gaúcho e eu não queria perder aquilo naquele momento. – Assenti com a cabeça.
- E ganhou? – Ele abriu um largo sorriso.
- Sim, foi a melhor forma de sair do Inter, com o campeonato em mãos e como capitão. – Ele suspirou. – O campeonato gaúcho vai de janeiro a maio, mas eu já tinha informado meu empresário que eu tinha interesse em crescer, falei que aceitaria rever as ofertas dos times europeus e foi aí que as buscas se seguiram. Nós fechamos depois que eu ganhei o campeonato gaúcho com o Inter e representei o Brasil na Copa América Centenário como primeiro goleiro, nós saímos na primeira fase igual no mundial sub-17 que eu participei naquela época, mas foi muito bom! – Rimos juntos.
- Acho que você tem o pezinho azarão, Alisson! – Ele fez uma careta.
- Não brinca com isso! – Rimos juntos. – O hexa vem, hein?!
- Espero mesmo! – Sorri.
- Enquanto eu estava no Inter, o Muri acabou virando meu reserva eventualmente, aí no meio de 2016 eu vim para Roma, estreei num amistoso pré-temporada e fui titular em poucas ocasiões, porque eles tinham o Szczesny como titular no primeiro ano, em 2017 ele foi para a Juventus e eu peguei a titularidade, que tem ido muito bem, obrigado!
- E como foi sair do Inter? Dar tchau ao clube que você nasceu? – Olhei em seus olhos e vi que ele soltou um suspiro muito alto antes de responder.
- Acho que foi o pior dia da minha vida. – Sorri e passei a mão em seus cabelos, jogando-os para trás. – Meu último dia foi na final do campeonato gaúcho, mas até lá, minha saída do clube já tinha sido confirmada, então todos já sabiam, todos apoiavam, estavam confiantes, então foi muito difícil. – Assenti com a cabeça. – Eu lembro que depois que eu ergui a taça, comemoramos com a torcida, no vestiário e tudo mais, quando o estádio estava vazio novamente, eu tirei uns minutos para mim. – Ele apertou minhas mãos firmes. – Eu fui para o meio do campo novamente, me apoiei na baliza e fiquei uns 40 minutos lá*, sozinho, chorando, lembrando dos momentos, rezando para tudo dar certo...
- Ah, Alisson! – Fiz um bico e ele riu fraco.
- Você não vai chorar, vai? – Ele perguntou e eu ergui o rosto, querendo que as lágrimas voltassem para dentro.
- Claro que vou! Eu sei o quanto você ama aquele clube, quantos momentos a gente passou lá dentro. – Rimos juntos. – Todas as vitórias, perdas, quedas, isso quando éramos mais novos ainda. – Suspirei e ele riu. – Como você conseguiu sair de lá? – Perguntei.
- Meus sobrinhos apareceram com Muriel. – Ele respirou fundo. – Eles falaram para meus pais “o dindo tá na goleira chorando”*, minha mãe fala que até hoje foi o dia em que o coração dela quebrou em dois. – Assenti com a cabeça.
- Imagino! – Suspirei, erguendo seu rosto com a mão. – Mas está tudo bem agora, você sempre tem para onde voltar. – Ele assentiu com a cabeça. – Além de que pode fazer novas memórias. – Suspiramos juntos e ele me abraçou desajeitadamente, me fazendo suspirar em seus braços.
- Depois que você se foi, minha vida virou o futebol, se eu estava bem, se eu estava mal, eu ia para o campo, acabou que deu certo! – Rimos juntos e eu dei um rápido beijo em seus lábios.
- Pelo menos isso! – Dei de ombros, vendo-o rir. – Mas vamos criar outras memórias, sim? Começando pela final da Champions League, depois com a Copa do Mundo e por aí vai. – Me levantei e ele riu.
- Começamos por onde, então? – Ele perguntou e eu procurei por um moletom e coloquei por cima da regata do pijama que eu usava.
- Pelo café da manhã, porque eu estou com fome e já são 10 horas! – Falei e ele riu, franzindo a testa logo em seguida.
- , acho que tem algo tocando. – Comecei a prestar atenção e percebi um barulho abafado repetido.
- Parece um telefone... – Falei e arregalei os olhos. – Meu Deus, o telefone do investigador! – Falei, procurando rapidamente dentro da minha bolsa preta, achando o telefone arcaico tocando e o atendi correndo. – Buongiorno?
- Signorina ?
- Sim, sou eu! – Respondi.
- Eu sou o inspetor Roman Burke da Interpol, se lembra de mim? – Arregalei os olhos chamando Alisson com a mão que se levantou.
- Sim, senhor. Claro que me lembro! – Falei.
- Sua advogada lhe informou que seu caso não irá mais para julgamento? – Abri um pequeno sorriso.
- Sim, ela falou ontem.
- Contudo, gostaríamos que você depusesse contra o embaixador, se possível, antes de te devolvermos seus documentos e pertences. Você é parte importante dessa investigação. – Engoli em seco.
- Claro, eu posso colaborar sim! – Engoli em seco. – O julgamento já tem data?
- Dia 20 de abril. – Arregalei os olhos.
- Isso é em 10 dias! – Falei um tanto surpresa.
- Você tem algum compromisso nesse dia? – Ele foi um tanto irônico.
- Não tenho lugar nenhum para ir. – Respondi à altura. – Só achei que teria uns dias a mais para me preparar.
- Diga a verdade que você não precisará se preparar para nada. – Ele disse e eu engoli em seco, era óbvio que eles não estavam felizes em não me julgarem a nada.
- Que horário eu preciso me apresentar? – Perguntei.
- 10 horas da manhã no Tribunale Ordinario di Roma, te vejo lá. – E a linha ficou muda, me fazendo olhar para o telefone diversas vezes.
- E aí? – Alisson perguntou animado.
- O julgamento do Miguel será em 10 dias! – Falei um tanto abismada ainda e Alisson arregalou os olhos.
- Isso é pouco mais de uma semana.
- Foi o que eu disse! – Engoli em seco e Alisson me abraçou apertado.
- Vai dar certo, amor! – Ele beijou minha testa diversas vezes e eu suspirei.
- Espero que sim! Deu para notar que eles ainda não acreditam que eu sou inocente. – Suspirei.
- Eles vão acreditar, você vai ver! – Ele falou suspirando. – Agora vamos tomar café que alguém estava com fome? – Ri fracamente.
- Acho que perdi o apetite! – Fiz uma careta e ele me segurou pela mão, seguindo em direção à porta.
- Ah não, essa não é a que eu conheci. – Rimos juntos e saímos do quarto, parando quando percebemos os olhos de todos na sala sobre nós.
- Olha quem decidiu aparecer. – Seu José foi o primeiro a falar dessa vez e eu senti meu rosto esquentar, rindo fracamente e escondendo o rosto no ombro de Alisson.
- Como foi a noite? – Muriel perguntou e olhei para Alisson que também estava vermelho.
- Foi ótima! – Ele falou e deu um rápido beijo em meus lábios, fazendo todos gritarem animados.
*Veja o primeiro momento aqui aqui
*Veja o segundo momento aqui aqui.
Observei ao meu lado e ela batia os pés freneticamente no piso do carro enquanto suas unhas batucavam irritantemente no painel do carro. Ela me deu aquela fuzilada com o olhar e eu preferi virar novamente para a estrada, rindo sozinho com a briga que deu lá em casa para convencer ela a vir comigo buscar seu pai no aeroporto.
Por causa da questão do passaporte confiscado e que permaneceria confiscado por mais cinco dias, ela estava desesperada em dar encrenca lá no aeroporto e ela ser presa por não estar com documentos. Mas isso não fazia sentido, ela só ia entrar, pegar o pai dela e voltar para dentro do carro, onde eu ficaria esperando no embarque e desembarque.
A briga durou uns 40 minutos, sem exageros, eu e meus pais falávamos da importância que seria dela ir receber seu pai que ela não via desde o natal, mas ela insistia que alguma coisa daria errado, foi aí que eu precisei usar um pouco da força adquirida nos últimos anos para que ela parasse de ser chata.
- Ah, pelo amor de Deus, ! – Me irritei, pegando as chaves em cima do rack e me aproximei dela novamente. – É seu pai, criatura! Ele está vindo lá do Brasil só por causa de você. Você vai.
- Não, Alisson, eu não vou! – Ela falava firme, cruzando os braços e olhei para meus pais em volta que já tinham desistido de discutir com ela. – E se acontece alguma coisa?
- Não vai acontecer nada! – Coloquei as mãos na cabeça. – Tu não pretende causar nenhum escândalo, certo? – Ela me olhou fixamente. – Então, pronto! – Suspirei. – É seu pai, , pelo amor de Deus.
- Não, Alisson, eu não... Ah! – Passei as mãos pelas suas pernas e a joguei em meus ombros, vendo Duda e Franthiesco gargalharem.
- Você vai! – Segui para a garagem. – Nós vemos mais tarde, gente!
- Tchau! – Muriel foi o único que respondeu e eu sentia ela sacudindo as pernas e mais um pouco eu iria derrubá-la no chão.
- Para de graça, , já estamos atrasados! – Abri a porta do carro com dificuldades e notei que ela parou de se agitar. – Está tudo bem?
- Deu dor de cabeça! – Ela gemeu e eu ri, colocando-a no chão e a segurei pelos ombros.
- Podemos ir da forma certa? – Perguntei e ela fez uma careta. – Eu te prometo que você não vai ser presa. – Falei firme. – Você mal vai passar da entrada.
- Ok... – Ela falou fracamente. – Mas se acontecer alguma coisa...
- Não vai acontecer nada. – Falei firme e ela finalmente se calou, me fazendo até suspirar.
Dei a volta no carro, vendo-a se ajeitar emburrada dentro do mesmo, passar o cinto e se calar pelo resto da viagem. Demorava cerca de meia hora para ir da minha casa até o Aeroporto Leonardo Da Vinci, mas como era justamente hora do almoço, as coisas sempre ficavam um pouco mais caóticas.
O pai da havia dito que seu voo chegava 11 e meia da manhã, eu estacionei na frente do embarque e desembarque internacional do aeroporto 45 minutos depois. Todo estresse de mais cedo foi totalmente desnecessário, pois não foi preciso nem que entrasse no aeroporto, já que avistamos seu Gilberto ao lado de sua mala enquanto olhava incansavelmente o celular. Agora havia percebido que o meu aparelho tinha ficado em casa com o escândalo da dona aqui do meu lado.
Parei o carro quase em frente a seu Gilberto e saiu animada. Enquanto eu fazia o mesmo movimento, a observei ela e seu pai abrirem sorrisos felizes e a garota pular no colo do pai, me fazendo até suspirar. Eles se abraçaram por longos minutos, podia ouvir as buzinas atrás de mim do trânsito caótico de Roma, mas não importava, a gangue estava completa novamente.
- Alisson Becker! – O senhor mais gordo do que eu me lembrava e de cabelos grisalhos abriu um sorriso para mim e eu fui até a calçada para abraçá-lo fortemente.
- Ah, seu Gilberto! – Falei animado, sentindo alguns tapinhas em minhas coisas e rimos juntos. – O senhor está ótimo!
- Eu? Olha você, garoto! Agora é jogador profissional, tá bonito, é famoso, é galã!
- Pai! – o repreendeu nos fazendo rir.
- É muito bom te ver! – Falei sorrindo. – Como tem passado?
- Tudo certo! Tentando me distrair da melhor forma possível há sete anos. – Peguei sua mala e coloquei no porta-malas.
- Ainda não superou? – Perguntei e ele deu um logo suspiro.
- Como superar a perda do amor da sua vida? – Ele foi poético e eu sorri, me lembrando dele com a tia Sandra.
- Só reencontrando novamente, pai. – falou me olhando e eu sorri.
- Não me diga que vocês dois... – Ele apontou para nós e eu a abracei de lado, dando um beijo em sua testa. - Ah, vocês estão juntos novamente! – Ele nos abraçou, me fazendo rir e logo nos soltou passando as mãos nos olhos. – Sua mãe ficaria tão feliz. Ela deve ter odiado ser o motivo da separação de vocês. – Rimos juntos.
- Talvez, mas tia Sandra era fenomenal, vai! – Falei e eles sorriram. – Vamos antes que a gente leve uma multa? – Perguntei e os dois prontamente entraram no carro.
- Então, além de vocês estarem juntos, o que aconteceu nesses últimos dias antes da viagem? – Ele perguntou e eu tirei o carro do aeroporto, seguindo de volta para Olgiata.
- Eu guardei uma coisinha para te falar quando você chegasse aqui! – falou e eu a observei virar o corpo de lado e olhar para seu pai que estava atrás do meu banco.
- O quê? O que aconteceu? Diz que é coisa boa! Uma noticiazinha boa já faria meu dia feliz.
- A gente ter voltado não é uma coisa boa? – O provoquei e ele me deu o mesmo olhar de quando eu era mais novo.
- Não é porque você tá todo bonito e famoso que eu vou facilitar, ok?! – Rimos juntos e ele sorriu. – Claro que é uma coisa boa, gente! Eu nunca quis que vocês terminassem, e agora que estão juntos novamente, é magnífico! – Sorri, esticando a mão para que deu seu sorriso fofo para mim. – Mas o que houve?
- Eles decidiram não prosseguir com meu caso por falta de provas! – Ouvi um grito alto que me assustou e eu quase saí da minha faixa.
- Mentira! – Arregalei os olhos, vendo com a mesma reação. – Acabou, então? É isso? – Ele falava aliviado e eu sorri.
- Eu ainda vou depor contra o embaixador na quinta-feira e só depois eles vão devolver minhas coisas, Martina diz que é uma barganha, eu falo o que eu sei, apesar de ser pouco, e eu provo que não tenho cumplicidade com Miguel. – Ela deu de ombros.
- E você acha que é uma boa ideia depor contra ele? – Franzi a testa, olhando para ele pelo retrovisor. – Sabe, você só está aqui por causa dele...
- E só perdi meu emprego por causa dele também. – falou rapidamente. – Por causa da mamãe, pai, eu sempre soube que o lado certo era o lado da justiça, da polícia e tudo mais e, se isso vai fazer com que eu fique livre, eu vou fazer quantas vezes forem necessárias. – Ela suspirou e eu sorri.
- Você está por dentro do caso, então se você acha que essa é a melhor maneira, estarei lá para te apoiar. – Ela assentiu com a cabeça esticando sua mão para trás.
- Obrigada! – Ela sorriu.
- E sua família, Alisson? Eles estão aqui?
- Sim, todos eles vieram ver essa preciosidade, faltava só o senhor para essa família estar completa. – Rimos juntos.
- Vamos relembrar um pouco os velhos tempos! – Ele falou e eu sorri.
- Espero que esteja com fome, meu pai está fazendo churrasco! – Falei.
- Churrasco dos Becker? Nesse caso eu estou sempre com fome! – Ele falou me fazendo rir. – Apesar de ter comido no avião. – Rimos juntos.
Demoramos mais uns 10 minutos para voltar para casa. Confesso que passei o resto da viagem me perguntando como eu colocaria mais um adulto para morar lá em casa. Eu e dividindo aquela cama de solteiro não estava dando muito certo, cada dia era um que acordava com dor no corpo e eu ainda tinha jogos e treinos para comparecer e ir bem. Bom, eu teria que dar um jeito nem que eu tivesse que comprar outro colchão de ar ou pedir emprestado para alguém.
Estacionei na garagem novamente e saiu animada, ficando mais um tempo abraçada em seu pai enquanto eu peguei a mala no porta-malas. Seguimos para dentro novamente, mas a sala estava vazia. Seguimos o cheiro da carne e quando abrimos a porta que dava para o quintal, todos gritaram comemorando.
- Gilberto! – Minha mãe foi a primeira a abraçá-lo empolgada e abracei de lado quando percebi que ela já estava com os olhos cheios de lágrimas novamente.
Minha mãe e a de haviam criado uma amizade totalmente imprevisível quando a gente namorou, então sempre que minha mãe se encontrava com alguém do lado de lá, emocionava, da mesma forma de quando minha mãe chegou e a abraçou como se fosse sua mãe mesmo. As lembranças eram muitas, as duas famílias tinham passados bons momentos juntos, mas a lembrança da morte de Sandra ainda era muito dolorida para os dois lados.
- Bom te ver, meu velho! – Meu pai falou cumprimentando-o, fazendo-o rir e eles se abraçaram apertado também.
- Acho que você está mais velho do que eu! – Seu Gilberto brincou, fazendo todos rirem.
- Estamos iguais e ninguém discute! – Rimos juntos e Muriel e Elis foram cumprimentá-lo sorrindo.
- Eh, tio Gil! Tá fortinho, hein?! – Muriel brincou, fazendo gargalhar.
- Vocês já estão muito velhos para nos chamar de “tios”. – Gilberto brincou, nos fazendo rir.
- É o tipo de coisa que pega, depois que acostuma, já era! – Comentei e sorriu.
- Duda, como você está bonita! – Meu pai sorriu. – Você se lembra de mim?
- Claro que sim, tio Gil! – Ela falou apertando meu pai fortemente, nos fazendo rir.
- E você, pequeno? – Franthiesco, que estava mais solto depois das últimas semanas, ponderou com a cabeça por algum momento e olhou para Elis como se perguntasse quem era.
- Eu lembro que você me dava chocolate! – Ele falou, fazendo todo mundo gargalhar.
- Era eu mesmo! – Ele falou.
- E normalmente ele mesmo comia depois! – denunciou, nos fazendo rir.
- E essa é a Helena? – Ele olhou sugestivamente de mim para minha filha e eu assenti com a cabeça, vendo-a nos braços de Elis e mexer as perninhas quando tio Gil chegou mais. – Ela é muito bonita, filho. – Assenti com a cabeça. – Só não sei a quem puxou. – Ele tirou gargalhadas do pessoal novamente.
- Obrigado, tio! – Sorrimos cúmplices.
- Puxa uma cadeira, gente! Vamos aproveitar um pouco. – Muriel falou empolgado.
- Vou pegar mais algumas cervejas! – Meu pai falou já entrando.
- Eu tenho que ir! – Falei e Gilberto me olhou assustado.
- Mas já? Eu acabei de chegar.
- Eu ainda tenho um jogo hoje, tio! Contra o Lazio. – Falei. – Seis e 45, eles pedem seis horas de retiro e relaxamento, de certa forma eu já estou atrasado para ir para o CT.
- Ah, que beleza, já vou ver o Alisson jogar na televisão italiana. – Ri com ele. – É tão difícil acompanhar no Brasil, os canais estão cada vez mais sem concessões, é horrível! – Franzi os lábios.
- Achei que chegaria cansado, por isso não peguei ingressos, mas o jogo é em casa hoje, quem sabe no próximo?
- Sim, quando isso acabar, de preferência. – falou meio sufocada, me fazendo abraçá-la pelo ombro e dar um beijo em sua testa.
- Vai ficar tudo bem! – Falei sorrindo. – Eu estou indo, gente! Até mais tarde.
- Até, filho! – Minha mãe falou.
- Bom jogo! - O pessoal falou e eu assenti.
- Vamos, eu te acompanho! – falou e seguimos para dentro novamente.
- Você quer que eu te encontre no bar depois do jogo? – Perguntei quando segui para dentro para pegar minha mochila.
- Não precisa, hoje é domingo, fecha um pouco mais cedo, além do mais, quero ficar com meu pai um pouco. – Assenti com a cabeça, dando um beijo em sua testa.
- Ok, eu venho para casa com a galera depois. – Seguimos em direção à garagem novamente.
- Beleza, eu te encontro aqui no máximo meia-noite e meia. – Assenti.
- Eu preciso ver onde vamos colocar seu pai ainda. – Ela negou com a cabeça.
- Relaxa, a gente dá um jeito, quando você voltar tudo já estará organizado. – Sorri. – Bom jogo, ok?! Faça umas defesas por mim. – Sorri, puxando-a pela cintura e dando um rápido beijo em seus lábios.
- Pode deixar! – Sorri. – É pedir demais que você cuide da Helena? – Perguntei franzindo o rosto. – Sei que vocês têm suas diferenças, mas minha mãe e Elis estão cuidando dela mais do que eu.
- Não se preocupe com isso, Alisson. – Ela sorriu, passando os braços pelo meu pescoço. – Nós já resolvemos nossas diferenças. – Sorri. – Eu cuido dela, não se preocupe com nada mais além do jogo. – Assenti com a cabeça.
- Ok, eu prometo! – Dei outro rápido beijo em seus lábios e segui para o carro. – Até mais tarde.
- Eu te amo! – Ela falou animada e eu sorri, sentindo o peito até bater mais forte.
- Eu também te amo! – Falei e a vi sumir quando fechou a porta, me deixando sozinho, sorridente e abobado no carro.
e Alisson trocaram um sorriso cúmplice quando o avião tocou a pista do aeroporto de Porto Alegre e ambos fizeram um sinal da cruz em agradecimento pela viagem e sorriram entre si para trocar um rápido beijo.
A viagem para a Nigéria tinha acabado um pouco mais rápido que o planejado, a intenção era que eles ficassem até o meio do novembro, mas o Brasil acabou eliminado logo na fase de grupos ao vencer o Japão, que também foi eliminado, e perder de México e Suíça. O jogo havia sido na sexta-feira, no dia seguinte eles já voltaram para o Rio de Janeiro e hoje cedo ambos pegaram um voo de volta para Porto Alegre.
estava preocupada com Alisson, ele não tinha dito muito sobre a eliminação, mas dava para notar que ele não estava muito contente consigo mesmo, afinal, durante três jogos ele levou cinco gols e isso poderia afetar a carreira profissional dele no futuro, olheiros para times profissionais e tudo mais. Mas como sempre, ele levava tudo como experiência, o que fazia sua namorada achar muito espirituoso para uma pessoa de 18 anos.
Eles pegaram suas malas e se espremeram no corredor do avião para sair junto dos outros passageiros. Seguiram de mãos dadas para a restituição de bagagem e aguardaram abraçados enquanto as malas começavam a aparecer na esteira.
- Fala algo. – Ela disse para ele que olhou para ela, estalando um beijo em sua testa.
- O que tem para falar? Tá tudo certo, amor. Eu estou bem. – Ela sorriu, enterrando o rosto na curva de seu pescoço.
- É o primeiro de muitos, você vai ver. – Ele suspirou, assentindo com a cabeça.
- Confio que sim! – Ele tirou o braço do ombro dela quando viu a mala cor-de-rosa da menina andar pela esteira e ele a puxou rapidamente.
Aguardaram sua mala preta aparecer e ambos seguraram suas respectivas malas, deram as mãos e saíram pelo salão de desembarque, procurando pelos pais de que viriam buscá-los. Atravessaram a multidão que esperava os diversos passageiros e Alisson ergueu os pés tentando enxergar tio Gilberto ou tia Sandra para que eles buscassem.
- Fala aí, galerinha! – Eles se viraram, franzindo a testa quando viram Muriel.
- Não era meu pai que vinha buscar a gente? – perguntou e Muriel fez uma careta.
- Oi para você também! Eu vou deixar vocês irem embora de ônibus, ok?! – Ambos riram e e Alisson o abraçaram rapidinho. – Eles tiveram um contratempo, então eu vim! – Eles sorriram.
- Está ótimo, Muri. Muito obrigada! – falou sorrindo.
- Vamos, então? Já devo ter levado uma multa por parar em lugar proibido! – e Alisson se entreolharam e seguiram Muriel por meio das pessoas até a parte de fora do aeroporto um tanto apressados.
Muriel liderou o caminho para eles, enquanto os pombinhos vinham atrás de mãos dadas, puxando suas malas. Muri respirou aliviado quando chegou ao carro e não tinha nenhuma multa no painel e os três entraram no veículo. Muri e Alisson na frente, no banco de trás. Eles tinham uma longa viagem até Nova Hamburgo de volta.
- Então, como foi lá? - Muriel perguntou quando pegou a estrada novamente.
- Bem, eu já vim embora, né?! Só por isso você deve imaginar como foi. – Alisson falou e o cutucou.
- Pare com isso, Alisson! Você me disse que estava bem! – A garota o repreendeu. – Não me faça ter que te dar mais colo.
- Ah, eu não sou de negar, você sabe! – Eles riram juntos. – Mas a experiência foi bem legal!
- E as cidades? Legal? – Muriel perguntou.
- Muito legal! – falou animada. – É uma cultura tão linda e tão diferente, foi uma experiência sensacional. Agora eu tenho certeza que quero fazer relações internacionais na faculdade para trabalhar com isso no futuro. – Alisson sorriu.
- Finalmente bateu o martelo! – Ele brincou. - Eu não consegui aproveitar muito, mas a tirou um monte de fotos, chegando em casa a gente mostra!
- Eu tive a capacidade de encher os três cartões de memória que vocês nos deram, se tivessem mais jogos eu teria que ir atrás de mais. – Os três riram e o silêncio se instalou no carro.
A viagem teve o tempo habitual de sempre, além de que era domingo, então as estradas para a capital estavam cheias, já para o interior estavam bem mais folgadas. Quando entraram em Nova Hamburgo, logo notaram a fina chuva que começava a cair e logo imaginou que faria frio mais para o fim do dia, era novembro, a temperatura não deveria cair mais, só aumentar, mas ela era friorenta e estava acostumada.
- Nossa! Quanto carro! – Alisson comentou quando entraram na rua da casa de e Muriel engoliu em seco, tentando manter o rosto sóbrio.
- Nossa! – também comentou e Muriel precisou entrar no recuo da garagem da casa dos para conseguir estacionar. – Isso é aqui em casa? – falou surpresa.
- Festa de boas-vindas? – Alisson falou engraçado e Muriel ergueu os óculos escuros.
- Não exatamente! – Ele disse saindo do carro.
Assim que eles saíram do carro, logo estranhou a movimentação no quintal da sua casa, após o portão. Várias pessoas de diversos grupos estavam ali. Amigos de seu pai, colegas da sua mãe da polícia, alguns amigos de Muriel e de Alisson, todos olhando para eles esperançosos.
- O que está acontecendo, Muri? – Alisson perguntou notando o clima pesado ali fora.
- Algo aconteceu enquanto vocês estavam fora... – Ele falou e seguiu mais apressada em frente aos dois, acenando rapidamente para os amigos de seus pais e entrou na porta aberta de casa, vendo sua sala de estar e de jantar bem mais cheia do que estava lá fora.
- Mãe? Pai? – Ela os chamou, seguindo para a cozinha, desviando das pessoas e dando de cara com seu José que apareceu na porta.
- Ah, vocês chegaram! – Ele falou abraçando a menina e, pelos ombros de seu sogro, ela pode notar o rosto avermelhado de Magali logo atrás.
- O que está acontecendo aqui? Por que isso daqui está tão cheio? – começou a perguntar repetidas vezes, sentindo seu corpo começar a responder em forma de suor.
- Vamos conversar, querida? – Magali falou segurando o rosto da menina e ela só conseguia desviar o olhar para todos os lados à procura de seus pais.
- Pode deixar, Magali! – Ela finalmente viu seu pai, fazendo-a respirar aliviado e ele se levantou da mesa da cozinha. – Eu falo com ela. – Ele deu um sorriso e a garota também notava os olhos avermelhados de seu pai.
- Tem certeza? – Magali perguntou e seu Gilberto somente assentiu com a cabeça.
- Pai, cadê a mamãe? – perguntou e seu pai passou os braços pelos ombros de sua filha e a puxou para o quintal.
- Vem, aqui, querida! – Ele falou e a menina sentia que algo não estava certo.
- Pai, o que aconteceu? Cadê a mamãe? Por que todos estão aqui? – Ele parou um pouco mais afastado da porta e segurou as mãos de sua menina.
- Aconteceu algo noite passada. – Ele falou pausadamente, sentindo as lágrimas o atingir novamente.
- Pai... – A garota já estava com a voz fraca.
- A polícia civil de Nova Hemburgo foi chamada para uma missão em Porto Alegre e sua mãe estava de plantão, então ela foi também. – Ela olhava fixamente para ele. – Eles foram patrulhar uma área de confronto na periferia da cidade...
- Pai! – A garota falou mais firme, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas. – Onde está a mamãe? – Ela falou mais irritadiça.
- Teve confronto direto entre policiais e bandidos... – Ele engoliu em seco para falar e se desmanchou em lágrimas em frente da filha, passou os braços pela menina, abraçando-a apertado. – Ela foi atingida, filha. – arregalou os olhos e empurrou seu pai um pouco.
- Onde está a mamãe, pai? – Ela olhou fixamente em seus olhos e ele somente negou com a cabeça.
- Ela foi para cirurgia, mas não resistiu. – Ele disse com os olhos molhados pelas lágrimas e a garota engoliu em seco.
- Não... Não! – Ela gritou. – Diz que é mentira, pai, por favor. – Sua voz começou a ficar esganiçada e as lágrimas deslizarem sem vergonha pelas suas bochechas. – Por favor, pai, não. Isso não pode ser verdade! – Ele tentava abraçar sua filha, mas ela tentava se soltar de diversas formas.
- Ela se foi, querida. Ela foi para o céu agora. – Ele disse fracamente e a menina sentiu seu corpo fraquejar, fazendo com que ela ajoelhasse com força no chão, mas a dor da queda não doía, mas seu coração sim.
- Não, não, não, não... – Ela falava repetidamente, apertando as mãos nos olhos como um desejo. – Por favor, pai. – Ela ergueu os olhos, olhando para seu pai que não tinha nem forças para erguer sua menina.
- Eu sinto muito, meu anjo. – Ele falava baixo e fez força para se levantar e a apertou fortemente em seus braços. – Me desculpe, me desculpe! – Ele falava repetidamente e sua menina estava travada em seus braços.
- A mamãe... – Ela dizia repetidamente quase sem voz e ele tentava abraçá-la o mais forte possível. – Pai! – Ela falou firme, olhando nos olhos de seu pai. – Diz que não é verdade.
- Eu gostaria muito de dizer isso, querida. Muito mesmo! – Ele falava para ela.
- Eu... Eu... – Ela se afastou um pouco dele. – Eu preciso de um tempo. – Ela disse se afastando dele, saindo correndo para dentro de casa novamente.
- ! – Seu pai gritou assustando a família de Alisson que estava na cozinha quando a menina passou igual um foguete, desviando das outras pessoas e subiu as escadas em direção a seu quarto.
- ! – Alisson, que também tinha os olhos avermelhados por causa da notícia, gritou, mas seu irmão puxou o braço.
- Ela precisa ficar um tempo sozinha. – Ele falou.
- Não, Muri. Ela precisa de mim. – Alisson puxou o braço fortemente da mão de seu irmão e saiu correndo escada acima também, encontrando a porta do quarto de trancada. – , amor, sou eu. – Ele falava baixo, com a testa encostada na porta. – Por favor, baby, abre para mim. – Ele falava baixinho, usando o apelido que ela tanto insistia em chamá-lo. – Por favor!
- Você sabia? – Ele ouviu uma voz fraca do outro lado da porta, sentindo seus olhos se encherem novamente.
- Não, baby! Eu não sabia. – Ele falou sentindo o peito doer.
Por causa da felicidade da viagem, nenhum dos dois tinha notado os olhos avermelhados de Muriel por trás dos óculos escuro. Ele já era um pouco avermelhado por causa dos incansáveis treinos no sol, mas agora não era sol.
- Por favor... – Alisson falou baixo quase em um gemido e ela destrancou a porta, abrindo uma fresta.
- Ah, ! – Ele empurrou a porta, apertando-a em seus braços fortemente e deixou que sua menina chorasse.
- Minha mãe, Alisson. – Ela balbuciava. – Ela se foi. – Ele apertava a menina em seus braços, não conseguindo evitar que suas lágrimas caíssem. – Eu não consegui me despedir dela. – Ela falava com a voz fina e se ele já sentia seu coração doer, não conseguia imaginar o que sua menina estava sentindo.
- Ah, meu amor! – Ele tentava procurar palavras para dizer, mas ele não poderia dizer para ela que tudo ia ficar bem, ela acabou de perder sua mãe, a pessoa mais importante na vida dela. – Eu estou aqui contigo, ok?! Para qualquer coisa, em qualquer momento. – Ele a apertava pela sua cintura.
- Você promete? – Ela falava chorosa e ele só conseguia confirmar com a cabeça.
- Sim, meu amor. Eu prometo. Para qualquer coisa! – Ele se manteve abraçado a ela fortemente, sem dizer nada, somente ouvido o choro da sua namorada em seu ouvido.
Ele se sentia impotente, ele não podia fazer nada para que ela se sentisse melhor. O pior de tudo era que eles estavam tão felizes com a viagem, sobre o local, sobre o profissional de Alisson, sobre a intimidade de ambos, e agora nada disso importava mais, pois Sandra tinha falecido.
- Senhorita , por favor, nos explique por que seu nome estava em vários documentos usados aqui nessa corte como prova? – Martina perguntou e eu respirei fundo mais uma vez.
- Meu trabalho no Consulado-Geral do Brasil aqui em Roma, apesar da minha formação, consistia prioritariamente em assistir ao cônsul Miguel Pereira. O trabalho de cônsul consiste em manter estreito os laços e as relações diplomáticas, então envolve muitas viagens e, na ausência do cônsul, eu sou sua representante direta. Então, em caso de decisões importantes a tomar ou documentos importantes a assinar, que são repassados para ambos os governos, eu que respondia por isso.
- E no que consistiam esses documentos? – Ela perguntou.
- São documentos públicos como de toda prefeitura ou presidência ao redor do mundo. Aprovações de orçamentos, entrada e saída de funcionários, viagens, gastos públicos, entre outros. – Ela sorriu.
- E quando você assinava esses documentos, você sabia o que estava assinando?
- Sim, sabia. – Falei. – Mas como eu era assistente pessoal do embaixador, eu só respondia ao que ele mandava, então se, ao assinar esses documentos, eu estava liberando uma grande quantidade monetária para fins pessoais do senhor Pereira, ou que levaram a esse julgamento hoje, eu não saberia diferenciar, já que meu cargo não permitia participar de reuniões orçamentárias.
- Muito bom, . – Martina sorriu. – Eu estou colocando mais confiança na sua voz. – Assenti com a cabeça. – Mais uma. – Ela olhou para suas anotações. – Até duas semanas atrás, você também estaria em julgamento aqui hoje, você confirma isso?
- Confirmo sim. – Falei.
- Seu julgamento não teve procedência por falta de provas, pois todas encontradas, foram ligadas ao Miguel Pereira como uma prova de subordinação, ele mandava, você fazia. – Assenti com a cabeça. – Como você se sentiu com a descoberta desse caso que analisamos hoje? – Ela perguntou e eu olhei para ela.
- Pegou pesado, hein?! – Falei para Martina que riu.
- Essa provavelmente será uma pergunta vinda da defesa de Miguel, eles tentarão te desacreditar, mas se você usar a emoção viraremos o jogo. – Ela sorriu e confirmei com a cabeça.
- Ok. – Falei, respirando fundo. – Descobrir que eu estava fazendo parte de um crime internacional foi o maior impacto negativo que eu já tive em minha vida. E eu já tive vários. – Frisei. – Quando eu fui convidada para vir para Roma, eu achei que tinha tirado a sorte grande, isso não acontece com frequência com pessoas da minha idade e, quando eu cheguei aqui, e os trabalhos começaram, eu me sentia realizada, feliz, realmente me sentindo útil em algo que eu realmente gosto de fazer, relações diplomáticas, conhecimento de culturas novas e tudo mais. – Respirei fundo. – Mas eu me senti sendo usada como mula, como se todos os anos dedicados a ele não tivessem servidos para nada.
- Muito bom, . Se você chorar ajuda! – Martina falou e Alisson riu ao meu lado.
- Essa vai ser fácil, ela chorava até em propaganda de natal. – Ele falava.
- Ei! – O cutuquei. – Você também. – Olhei para as outras pessoas na mesa que não entendiam a língua que falávamos.
- Bom, acho que é isso, . Você está pronta. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, respirando fundo.
- Ah, tomara, eu tremo só de pensar. – Ergui a mão que estava apoiada na mesa e Alisson segurou a mesma.
- Vai dar tudo certo, você é só uma testemunha, eles podem e vão perguntar sobre o seu envolvimento, principalmente a defesa de Miguel que estava contando com o seu julgamento para colocar toda culpa. – Assenti com a cabeça. – Mas eles não podem te atingir, você só precisa controlar seu temperamento, não se afobar, não se irritar, porque se eles perceberem que você está desestabilizada, aí eles vão cair matando em cima de você e pode até abrir precedente para checar seu caso novamente, ok?
- Ok! – Assenti com a cabeça.
- Deixa eu explicar como vai funcionar: caso você fosse julgada, você me teria em uma das cadeiras e o promotor público na outra, nesse caso, você é só uma testemunha, então eu não tenho espaço, será o advogado de Miguel Pereira e a promotoria pública. O trabalho da equipe de Miguel vai ser te desacreditar, tentar convencer o júri que você é culpada, que você se safou dessa por um erro das investigações, agora a promotoria pública te vê como testemunha chave nesse julgamento, vai ser você que vai ajudá-los para prender Miguel pelo resto da vida. – Assenti com a cabeça. - Então você terá de um lado um anjinho e do outro um demônio, se contenha, ok?! – Bufei alto.
- Ok, vou tomar uns calmantes antes do julgamento.
- Seria uma boa, mas melhor não, não tome nada que possa afetar seu julgamento ou que faça você ficar mais trêmula e nervosa. – Franzi a testa.
- Ok, obrigada, Martina.
- Além do mais, você não vai poder acompanhar as outras testemunhas, então você ficará com um oficial de justiça aguardando do lado de fora e eu estarei lá dentro, atrás da promotoria, mas não olhe para mim, olhe para quem fizer a pergunta.
- Ok, obrigada! – Sorri.
- Te encontro no tribunal sexta-feira oito horas da manhã, sem nenhum minuto de atraso, combinado?
- Combinado! – Sorri.
- Eu já vou porque sei que você ainda vai trabalhar, certo?
- Sim, e Alisson tem jogo.
- Boa sorte para vocês dois. – Eu, ela e Alisson nos levantamos, assim como nossos pais e irmão. – Vamos livrar você, suas coisas e seu passaporte. – Ela me abraçou apertado e eu sorri.
- Ah, só meu passaporte já me ajuda. – Falei e ela sorriu cumprimentando Alisson.
- Ciao! – Ela acenou e acenamos de volta, vendo-a sair.
- E aí? – Meu pai perguntou e eu respirei fundo. – Não entendi nada. – Sorri enquanto Alisson levava Martina até a porta.
- Ela explicou como vai funcionar o julgamento, me ajudou com as respostas e agora é esperar. – Dei de ombros. - Sexta-feira, oito horas da manhã.
- Nós iremos contigo. – Magali falou. – Estaremos lá para te apoiar.
- Sim, com certeza. – Alisson falou e virei para ele.
- Não, não, você não! – Falei firme.
- Quê? Por que não?
- Você é uma figura pública, Alisson, muito famosa aqui em Roma, só para deixar claro. Eu não vou deixar você se expor dessa forma, se você não esqueceu, eu ainda fui presa, eu ainda tenho uma fotinho simpática nos arquivos da polícia italiana, muitas pessoas ainda acham que eu sou uma criminosa. – Falei firme.
- Nem começa. – Ele falou firme. – Não vai ser uma carreira, uma fama ou o que for que vão me impedir de ficar ao seu lado nesse momento. Em todos os momentos. – Ele segurou minha mão. – Como eu disse quando você chegou aqui: primeiro eu sou seu amigo, depois um jogador de futebol, prioridades primeiro. – Assenti com a cabeça.
- Ok, mas tente se disfarçar de algum jeito. – Ele riu.
- Pode deixar! – Ele me deu um leve beijo na testa. – Bom, eu tenho que ir, quem vai para o jogo comigo e quem vai para o bar com a ?
- Jogo! – Os homens falaram.
- Bar! – As mulheres imitaram, nos fazendo rir.
- O jogo é seis e 45, então vamos juntos, as mulheres ficam comigo no bar e depois vocês nos encontram lá, beleza?
- Combinado! Eu tenho que ir, a gente se vê mais tarde! – Ele falou colocando sua mochila nas costas e deu um beijo em meus lábios rapidamente.
- Bom jogo, amor! – Falei e ouvi um choro abafado vindo do quarto.
- Ah, Helena. – Ele falou e eu coloquei a mão em seu peito.
- Eu vou. – Falei com um pequeno sorriso.
- Tem certeza? – Assenti com a cabeça.
- Não foi você que disse que temos que nos conectar? – Falei e ele riu. – Além de que sabia que eu sempre quis ter uma filha com o nome Helena? Por que não começar com uma enteada? – Brinquei e ele deu um largo sorriso que iluminou meu dia. – Bom jogo.
Não esperei que ele saísse e segui para o quarto de Helena. Abri a pequena cortininha que tinha em volta de seu berço e vi a pequena loirinha de olhos claros com a boca aberta e lágrimas escorrerem de seu rosto e a peguei em meu colo, apoiando-a em meu ombro.
- Ei, moça, o que foi? – Cochichei para ela, passando a mão em seus cabelos. – Tá com fome? Precisa trocar a fralda? – Chequei por baixo de sua calça. – O que foi? – Não foi preciso que eu procurasse por motivos, pois ela parou de chorar logo que eu a peguei. – Ei! – Falei sorrindo, ajeitando-a em meu braço e passei a mão em seus cabelos. – Você está suada. Foi essa roupa pesada que seu pai colocou em ti, não foi? – Brinquei e vi Magali na porta com um largo sorriso no rosto.
- Parece que ela gosta de você. – Magali comentou e Helena se virou para todas as direções, apontando para o móbile de seu berço.
- Você quer brincar? – Me aproximei de seu berço. – Estamos nos acostumando uma com a outra, não é, Helena? – Suspirei.
- Ele nunca quis te magoar, você sabe, não é? – Ela entrou no quarto.
- Na época eu só conseguia pensar na trairagem que ele fez comigo, agora eu vejo de forma diferente. – Suspirei. – Ele não tinha me esquecido. – Ela sorriu.
- Vocês são aquele casal predestinado a ficar juntos. – Ela sorriu. – A Natália é uma ótima pessoa, eles realmente foram felizes, mas acho que o primeiro amor a gente nunca esquece. – Sorri.
- É, talvez, mas estamos lidando aqui com dois casos paralelos, em nenhum momento Alisson precisou escolher uma de nós, as coisas simplesmente aconteceram. – Dei de ombros. – Eu fui, ela foi, eu voltei. – Sorri. – E ainda ele ganhou de brinde essa lindinha aqui. – Suspirei. – Você sabe que eu sempre gostei de crianças, não tem como eu ficar brava com ela, ela não tem culpa de nada. – Apertei-a em meus braços.
- Sei sim. Você brincava muito com a Duda e o Franthiesco quando era menor.
- Sim. – Sorri. – Depois que tudo isso acabar eu e Alisson vamos nos reinventar, aí sim que nossa história vai recomeçar. – Ela sorriu. – Mas uma coisa de cada vez.
- Sim, vai ser muito bom ter vocês perto de novo. – Ela me abraçou rapidamente e depositou um beijo em minha bochecha.
- Nem me fala. – Sorri. – Bons momentos. – Rimos juntas.
- E sabe a melhor coisa? – Ela falou. – Você está ficando a cara da sua mãe. – Senti meus olhos se encherem de lágrimas.
- Ah, Magali, não fala isso que eu choro. – Ela riu, passando as mãos em meu rosto.
- Você sempre chora! – Ela falou e rimos. – Por que você não vai se arrumar para trabalhar? Eu vejo se Helena precisa ser trocada.
- Combinado. – Entreguei Helena para a avó que a pegou prontamente.
Acabamos nos ocupando com besteiras o resto da tarde, filmes e videogames, eu estava cansada dos últimos dias, tinha aproveitado para fazer turismo em Roma com meu pai, ele só tinha vindo uma vez quando eu me mudei para cá, então aproveitamos para dar uma passeada.
Quando chegou perto do horário do meu trabalho, juntamos os cinco adultos e as três crianças em dois carros, Alisson havia alugado outro para facilitar o processo das visitas aqui em Roma, e seguimos para o bar. O jogo hoje era contra a Genoa e eles estavam esperançosos para uma vitória, o jogo contra o Lazio alguns dias atrás tinha finalizado no zero a zero, então eles estavam em busca de mais vitórias.
Entrei no bar e a turma que estava comigo já se arranjou em uma mesa de sempre, o bar estava abrindo ainda, então tinha só os funcionários e os familiares. Fui para os fundos do bar, cumprimentando meus companheiros e me troquei pelo uniforme do bar, tendo ajuda de Chiara para amarrar meu avental.
- Buon pomeriggio, ragazzi. – Signor Alessandro falou. – Vamos nos reunir aqui rapidamente, ok?! – Ele falou e todos nos aproximamos. – Hoje é quarta-feira e temos jogo, então até umas nove horas o bar ficará mais vazio do que o normal, mas depois dessa hora, esperamos uma grande galera, graças à nossa garota aqui que namora o goleiro e traz os jogadores com frequência aqui. – O povo gritou e eu ri, negando com a cabeça. – Se ganharmos, será uma comemoração como a última e não teremos como fazer o karaokê, mas caso perca, e espero que isso não aconteça, seguiremos para a noite italiana de todas as quartas. – Confirmamos com a cabeça. – Tudo certo? Vamos trabalhar.
- Eu posso falar uma coisa? – Falei rapidamente antes das pessoas se dissiparem.
- Claro! – Enzo falou.
- Eu prometi que não contaria isso, porque não é algo que me define, mas eu estou tão feliz trabalhando aqui, eu gosto tanto de vir aqui, trabalhar, cantar e rir com vocês que eu acho que eu não estaria sendo honesta se não falasse. – Todos me olharam atentos. – Eu só vim trabalhar aqui, pois eu fui acusada de um crime que eu não cometi. – Falei respirando fundo. – Como sabem eu sou brasileira e vim para Roma como assistente pessoal do embaixador aqui no país. – Engoli em seco.
- Não é ele que está sendo acusado de desvio fiscal? – Dante perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Exato, e eu estava sendo acusada de cúmplice dele.
- Meu Deus, . – Chiara me abraçou de lado e eu sorri, encostando minha cabeça na dela.
- Eles não tiveram provas o suficiente para me indiciar pelo crime, mas eu ainda vou depor contra o embaixador na sexta-feira e sei que eles ainda não acreditam na minha inocência, então seria muito importante para mim se vocês estivessem lá para me apoiar. – Falei com um pequeno sorriso no rosto e observei a feição de todos os funcionários que estavam lá.
- Mas é claro! – Alessandro foi o primeiro a falar. – Eu já sabia dessa história e eu acredito na sua inocência, eu estarei lá.
- Eu também. – Giorgia sorriu.
- Eu também. – Os outros funcionários começaram a falar e eu abri um largo sorriso.
- Eu também!
- Obrigada! – Senti as lágrimas escorrerem de meu rosto e eu as limpei. – Isso é muito importante para mim.
- Bom vamos trabalhar e ver o jogo, que é daqui a pouco! – Alessandro falou animado e nos dissipamos, os funcionários mais próximos de mim vieram me abraçar e eu sorri, sentindo que tinha feito a escolha certa, eu tinha criado uma família aqui nesse bar, uma família totalmente não planejada.
Seguimos para o bar e todas as televisões já estavam ligadas, algumas pessoas, tirando minha família, chegaram para acompanhar o jogo, então eu servi poucas bebidas e comidas, principalmente para os esfomeados Duda e Franthiesco que amam a porção de mussarela frita aqui do bar.
Rimos, gritamos e comemoramos à vitória da Roma por dois a zero, inclusive ao gol contra que a Genoa fez. Após o jogo, o bar encheu novamente de torcedores e poucos jogadores que vieram com Alisson gritando, comemorando e jogando bebidas para cima. A diferença da eliminação do Barcelona, foi que os ânimos estavam mais calmos e ninguém queria acordar de ressaca no dia seguinte.
- Está tudo bem? – Alisson me abraçou de costas enquanto eu esperava Dante tirar alguns chopps da tulipa e eu me virei para encará-lo.
- Sim, está tudo bem. – Sorri. – E sexta vai ficar melhor ainda. – Ele assentiu com a cabeça, dando um rápido beijo em meus lábios.
- Sem beijos no horário de trabalho! – Signor Alessandro apareceu, nos fazendo rir.
- Scusa, signor Alessandro. – Falamos juntos e ele riu abanando com a mão.
- Você errou feio hoje naquele gol da Genoa*. – Falei para ele, ajeitando a gola do seu casaco.
- Eu estava distraído. – Ele respondeu e eu neguei com a cabeça.
- Não, sem mais distrações. – Neguei com a cabeça e ele sorriu, roubando outro beijo meu rapidamente, sem que Alessandro visse.
*Veja o erro aqui.
Parei o carro em frente ao Tribunale Ordinario di Roma e tinha vários carros da imprensa e repórteres na porta. Respirei fundo, era óbvio que estaria cheio, um embaixador estava sendo acusado, então além da imprensa italiana, imprensa de várias partes do mundo estavam lá. Levei o carro um pouco mais adiante, procurando por um lugar onde parar e olhei para ao meu lado. Ela mexia nas mãos frequentemente e eu podia ver algumas gotas de suor escorrer pelas suas têmporas.
- Sabe o que é mais irônico? – Ela comentou engolindo em seco.
- O quê? – Perguntei.
- Eu estou usando exatamente a mesma roupa de quando eu fui presa. – Ela falou e eu reparei em seu vestido preto, meia-calça e sapatos da mesma cor e um grosso sobretudo vermelho por cima.
- Vai dar tudo certo. – Falei e ela suspirou.
- Eu só não entendo uma coisa: o embaixador não deveria ter imunidade diplomática ou algo assim? – Minha mãe perguntou no banco de trás e suspirou.
- Depende do crime e como o país de origem reage. Na maioria dos casos eles só substituem o diplomata, mas nesse caso, principalmente pelo Brasil já estar sofrendo com muitos casos de corrupção, o Itamaraty simplesmente retirou a imunidade ele. – Ela falou.
- E ele responde por uma pessoa normal? – Ela perguntou.
- Em tese, mas mesmo ele sendo culpado, ele nunca vai preso. Ele provavelmente vai pagar uma multa fenomenal, não vai mais representar o Brasil para nada e a carreira dele vai acabar, mas preso? Difícil. – Ela falou suspirando.
- E ele responde pelas leis do Brasil ou da Itália? – Meu pai perguntou.
- Itália! O crime foi cometido aqui. – Ela suspirou. – A Martina teve que me explicar tudo isso também, eu sabia pouco.
- Bom, você nunca precisou saber, não é? – Seu Gilberto falou e suspiramos juntos.
- Bom, acho melhor a gente entrar! – falou abrindo a porta e já saindo.
Ajeitei o boné mais firme em minha cabeça e os óculos escuros e saí com ela ao seu lado e nossos pais. Muriel e Elis ficaram em casa cuidando das crianças. Ela seguiu com seu pai ao lado e eu segui entre meus pais para tentar chamar o mínimo de atenção possível. Observei os jornalistas ficarem um pouco alvoroçados com a chegada dela, mas ela apressou o passo, entrando no tribunal.
Lá dentro já estava cheio, era pouco mais de sete e meia da manhã e várias pessoas esperavam a sala abrir para garantir seu espaço em um dos julgamentos mais populares que Roma já teve. Confesso que nem achava tão surpreendente um embaixador brasileiro cometer um crime de corrupção aqui na Itália, foi aqui que aconteceu um dos casos de corrupção mais famosos do mundo, a Operação Mãos Limpas.
- ! – Avistamos Martina e ela se aproximou de nós. – Bom te ver! – Ela cumprimentou e a todos e sorrimos. – Como está?
- Eu já vomitei meu café da manhã, mas eu estou bem. – Ela foi honesta e Martina assentiu com a cabeça.
- Esses são Carina e Luigi, eles vão assistir o promotor no julgamento hoje. Achei que deveria conhecê-los antes.
- Olá, muito prazer. – os cumprimentou e ambos deram sorrisos discretos.
- Logo nós vamos entrar, você seguirá um oficial de justiça para uma sala separada, longe das outras testemunhas e será só chamada na hora do seu caso, tudo bem?
- Tudo bem! – Falei e ela sorriu.
- Vai dar tudo certo. – Martina a chacoalhou pelos ombros e somente confirmou com a cabeça.
- ! – Vi algumas pessoas conhecidas do bar que trabalhava e a mesma abriu um sorriso, abraçando as quatro pessoas fortemente e eles acenaram para nós.
Observamos uma confusão começar dentro do tribunal, com pessoas falando alto e cliques de câmera estourando pelos cantos e um homem com um terno muito bem arrumado entrou no tribunal com uma equipe de umas 12 pessoas, contando rápido. Sabia que era o embaixador, pois ficou vermelha na mesma hora e pude jurar que ela ia cuspir fogo naquele momento.
- É ele. – Ela confirmou minhas suspeitas e todos o encaramos com feições não muito boas, principalmente enquanto ele vinha em nossa direção.
- . – Ele esticou a mão para e no segundo seguinte minha garota avançou em sua direção.
- Oh! – Eu e os outros homens avançamos para cima de e eu a abracei pela cintura, puxando-a para longe. Somente ouvi uma risada debochada do embaixador e ele saiu como se desse por vencido.
- Não foi isso que eu disse sobre se controlar. – Martina falou e respirou fundo, ajeitando seu casaco e cabelos.
- Desculpe! – Ela disse. – Eu só não o vi mais desde o caso e eu estou louca para enfiar a mão na cara dele.
- Ele não deveria estar esperando o julgamento preso? – Perguntei.
- Ele pagou fiança para esperar em liberdade. – Martina falou. – Tanto que ele saiu na mesma noite, só saiu três dias depois, porque ninguém a ajudou e porque não tinha provas concretas contra ela.
- Eu ainda quebro esse cara em dois! – falou raivosa e Martina deu um olhar duro.
- Você precisa me ajudar aqui, . Se acalme. – Ela suspirou, fechando os olhos e fazendo um mantra com as mãos, como se estivesse em uma aula de ioga. – Ele está com o ego nas alturas, achando que realmente vai sair dessa, eu e o governo italiano pedimos que você nos ajude.
- Que ótimo botar uma pressão dessas em cima de mim. – falou irônica.
- Sim, e eu preciso dessa pressão, porque eu quero muito que você saia dessa. Eu sei que todas as atenções estão voltadas aqui, a você, mas você precisa nos ajudar, se ajudar. – Ela suspirou.
- Vai dar certo! – Ela falou fracamente e eu assenti com a cabeça, apertando sua mão.
- Signorina ? – Ouvimos uma voz e nos viramos. – Eu sou a oficial de justiça Leone Matarazzo, vou te acompanhar durante a espera. – assentiu. – Pode me acompanhar, por favor?
- Claro! – Ela falou respirando fundo. – Nos vemos depois, ok?! – Ela falou para mim e nossos pais e me abraçou rapidamente e pude sentir seu coração em meu peito batendo forte demais.
- Vai dar tudo certo! – Cochichei em seu ouvido e a vir seguir a oficial de justiça. Engoli em seco e respirei fundo.
- Ela está muito nervosa. – Comentei e Martina apoiou a mão em meu ombro.
- Ela está do lado certo da lei, vamos conseguir. – Ela falou e a porta do tribunal foi aberta.
Entramos juntos e nos colocamos um pouco mais para o fundo. Tinha várias câmeras naquele lugar e, apesar de tudo, eu realmente não queria estar ligado a esse julgamento em especial. Martina seguiu mais para frente e vi as duas mesas, em uma o embaixador com cerca de sete pessoas e na outra uma mulher alta bonita e esguia, de cabelos pretos e pele bem clara junto dos dois assistentes que Martina nos apresentou alguns minutos atrás.
Do lado esquerdo tinha as cadeiras para o júri e do lado direito a cadeira para as testemunhas. No centro o espaço para o juiz e à frente o escrivão já estava posicionado. Bati minha mão levemente no braço da poltrona e a porta dos fundos se abriu, fazendo com que os oficiais de justiça entrassem.
- Todos de pé para receber o juiz Pietro Pascoalle! – Um deles falou e nos levantamos, vendo o juiz entrar e tomar seu lugar no tribunal.
Logo depois do juiz, várias pessoas entraram, pessoas de diversas raças e tamanhos e tomaram o lugar do júri, talvez umas 20. Olhei para eles e só conseguia pensar que, em partes, eles definiam o futuro de hoje.
- Podem sentar! – O oficial falou e o procedimento começou.
Eu nunca tinha participado de um tribunal antes, só conhecia o que eu via em séries de televisão, normalmente americanas, mas aqui não era tão diferente. Logo no começo da sessão, eles escolheram o conselho de sentença, dos 21 jurados, que eu acabei eventualmente descobrindo quantos são, somente sete definiriam o caso. Desses sete, três foram sorteados e os outros quatro foram escolhidos por perguntas aleatórias que o promotor e o advogado de defesa faziam para eles. Falando assim parece que foi algo rápido, mas não, o tempo se arrastava naquela sala apinhada de gente e cada minuto que passava, parecia que mais pessoas chegavam.
Conselho definido, o juiz apresentou o processo aos jurados, expondo os fatos, as provas existentes e as conclusões da promotoria e da defesa. Logo depois veio a parte que me interessava, as testemunhas. Cada lado tinha direito a cinco testemunhas para depor, começaram pelas de defesa, e a defesa fazia as perguntas e depois a promotoria. Eu já estava caindo de sono, quando chamaram o último nome de acusação: . Testemunha chave.
- A acusação chama , antiga assistente de Miguel Pereira. – Parece que as pessoas presentes, assim como eu, até deram uma acordada, causando rebuliço entre os presentes.
Observei minha garota entrando no tribunal e pude perceber que seus olhos até arregalaram com a quantidade de pessoas presentes e um oficial de justiça estendeu uma Bíblia para ela, fazendo-a apoiar a mão na mesa e assentir com a cabeça e responder algo a ele antes de tomar seu lugar no banco de testemunhas.
- Vamos começar pela defesa. – Ele apontou para a equipe do embaixador e o advogado principal do caso se levantou.
- Buongiorno, signorina . Come sta? – Ele perguntou e assentiu com a cabeça.
- Estou bem e você? – Ela respondeu e eu dei um pequeno sorriso.
- Você sabe por que estamos aqui?
- Claro! – Ela respondeu.
- Poderia me dizer, por favor?
- O senhor Miguel Pereira está respondendo a um caso de desvio fiscal.
- E por que você está aqui?
- Porque eu fui assistente pessoal dele por dois anos e também fui acusada como cúmplice. – Notei que ela tinha suas mãos paradas em frente ao corpo, tentando de alguma forma, fazer com que elas parassem.
- E por que você não está respondendo nesse processo?
- Protesto! – A promotora se levantou. – Ele está desacreditando minha testemunha.
- Negado, por favor, senhorita, responde à pergunta. – confirmou com a cabeça para o juiz e voltou os olhos para o advogado.
- Porque não foi encontrado nenhuma prova contra mim. – Ela falava tentando fazer com que sua voz saísse mais fluída.
- E por que não?
- Porque não há! – Ela falou. – Eu não fui cúmplice do senhor Pereira e a justiça provou isso.
- Nós temos diversas provas que comprovam a sua participação nesses crimes. – Ele falou pegando alguns papéis. – Permissão para me aproximar da testemunha?
- Permissão concedida. – O juiz falou e ele se aproximou entregando os papéis à .
- Pode contar para o júri o que tem nesses papéis?
- Aprovação e prestação de contas. – Ela falou.
- E essa é a sua assinatura, certo?
- Certo. – Ela confirmou e pude perceber que ela estava começando a ficar vermelha.
- Então, como pode dizer que você não foi você quem cometeu esses desvios? – Ele perguntou e ela o encarou profundamente antes de responder.
- Como a justiça italiana já provou, pelo meu cargo de subordinação ao do embaixador, eu o representava em suas ausências, então precisava fazer essas assinaturas a mando dele, como sei que tem diversas provas já apresentadas a esse tribunal. Além do meu extrato bancário das únicas duas contas bancárias que eu possuo, a italiana e a brasileira, de meu país de origem. – Ela falou e o tribunal começou a reagir animado e abri um sorriso, mas vi Martina fazer uma careta, me fazendo franzir a testa.
- Silêncio! – O juiz bateu o martelo para que o tribunal se calasse.
- Sem mais perguntas! – O advogado de defesa falou depois dessa tirada que deu nele e ele se sentou à mesa, dando lugar para que a promotora se levantasse.
- Olá, , como está?
- Tudo certo! – assentiu.
- Confortável? Precisa de uma água? Alguma coisa?
- Protesto! – O advogado já se levantou. – Ela está enrolando.
- Negado! – O juiz falou. – Ela nem começou.
- Eu estou bem, obrigada. – respondeu para a promotora.
- , você trabalhava com o senhor Pereira desde o Brasil?
- Não, eu trabalhava no Instituto que forma diplomatas no Brasil, eventualmente acabei conhecendo-o quando ele estava se preparando para essa missão. – falou e notei que ela estava até mais relaxada.
- Nos diga que missão é essa, por favor.
- Ser embaixador do Brasil aqui na Itália. – Ela explicou.
- Há quantos anos vocês estão aqui?
- Fará um ano e oito meses agora em maio. – Ela falou.
- E você veio com ele desde o começo?
- Sim, desde o primeiro dia, viemos juntos e fizemos a substituição de cargos desde o primeiro dia. – A promotora assentiu com a cabeça.
- E desde aquela época, você tinha algum motivo para suspeitar do trabalho do senhor Pereira?
- Não, senhora. – Ela falou.
- Como ele era profissionalmente? Você via algum erro de conduta nele?
- Não... – pensou um pouco para responder. – Ele sempre cumpria os compromissos em agenda, sempre estava presente nas viagens marcadas, nunca reparei em nada errôneo da parte dele.
- E pessoal? Vocês tinham contato?
- Pouco. – falou. – Apesar de trabalharmos de 12 a 15 horas juntos todos os dias, viajarmos juntos e comparecer em eventos e reuniões juntos, nós não tínhamos nenhum contato pessoal. Sei que ele tem uma esposa que veio com ele, e nos encontramos somente em algumas reuniões, nada mais.
- E quando você descobriu sobre esse crime? – Ela perguntou.
- Na manhã da nossa prisão. – Ela falou. – Eu cheguei no meu horário habitual e o encontrei em sua sala, o que era pouco comum, normalmente ele chegava umas duas horas depois. – Ela pensou um pouco antes de falar. – Ele estava picotando papéis em seu escritório...
- Você achou essa uma atitude estranha?
- Sim, mais pelo fato dele fazer isso, normalmente ele me pedia para fazer diversas coisas, inclusive isso. – Ela falou. – Todo fim de mês nós juntamos a papelada ordinária e picotamos, por serem documentos oficias que não podem ser reutilizados ou por conter assinaturas de pessoas importantes.
- Depois disso, o que houve? – Ela perguntou.
- Eu saí do seu escritório, falei que prepararia sua agenda diária e alguns minutos depois a Interpol e a Polizia di Stato entraram no prédio para nos prender. – A promotora confirmou com a cabeça.
- Qual foi sua reação ao descobrir que também estava sendo presa?
- Desespero! – falou rapidamente. – Eu estava sendo presa por um crime que eu não cometi, e o pior de tudo era que eu nem sabia qual era a acusação até o oficial me falar.
- Certo. – A promotora falou andando para mais perto de . – Três dias depois você foi solta, certo?
- Certo! – disse. – Não tinham provas que me mantivessem presa, mas eles retiveram meus documentos, meus bens, meu apartamento, meu emprego, tudo, enquanto as investigações estivessem em andamento.
- Mas recentemente descobrimos que nenhuma das duas polícias tinham interesse em seguir com o seu caso, por quê? – Ela perguntou.
- Depois da soltura, as investigações ainda continuaram, eventualmente eles acabaram juntado os pontos e ligando que todas as provas que ligavam a mim, eram a mando do senhor Pereira.
- Como um e-mail dessa forma, certo? – Ela voltou à sua mesa, pegando uma folha e entregando para que passou os olhos.
- Certo, era assim mesmo que eu procedia na ausência do embaixador.
- Pode dizer ao júri o que é esse papel?
- É um e-mail meu enviado para o senhor Pereira no começo de janeiro perguntando sobre um documento que havia chegado em mim sobre o aumento salarial de alguns funcionários. – Ela falou. – Eu enviei o arquivo em anexo, perguntando se poderia assinar e liberar, e ele me respondeu que sim, e ainda frisou para eu não esquecer de carimbar e rubricar todas as páginas antes de liberar. – Ela falou.
- Obrigada, . – Ela disse. – Uma curiosidade é que esse aumento nunca chegou para os funcionários. – Ela falou e vi arregalar os olhos. - Uma última pergunta, . Você disse que quando foi presa, as polícias retiveram seus documentos, bens, tomaram seu apartamento, entre outros. Como você sobreviveu na cidade? – Engoli em seco.
- Com sorte, eu ainda tinha grandes amigos na cidade, que me deram um teto para passar por esses meses e eu consegui um emprego como garçonete em um bar da cidade para poder arcar com os gastos do dia a dia.
- Obrigada, ! É só isso, vossa excelência. – Ela disse voltando ao seu lugar e o oficial de justiça guiou para fora do tribunal.
- Vamos fazer um recesso para almoço e voltamos às duas da tarde. – O juiz falou batendo o martelo e as pessoas começaram a se dissipar.
Esperamos esvaziar um pouco e vi Martina falando com a promotora rapidamente que assentia com a cabeça e confirmava com ela, dava a impressão de tudo estar bem. Esperei com que Martina se aproximasse de nós.
- E aí? Como ela foi?
- Ela foi muito bem. – Martina falou. – Paola também acha. – Ela falou. – Ela só foi um pouco truculenta em uma resposta com o advogado de defesa, mas creio que o júri está do nosso lado.
- Ah, eu não aguento mais isso. – Seu Gilberto falou com a mão na barriga e eu confirmei com a cabeça.
- Ela está saindo, se quiserem ir almoçar, voltaremos em uma hora. – Ergui o relógio e arregalei os olhos ao perceber que já era quase uma da tarde.
- Vamos lá! – Falei e acenei para Martina rapidamente, seguindo para fora com meus pais e os amigos da .
Chegamos lá fora no mesmo momento em que ela saía com o oficial de justiça e ela foi em direção a seu pai para abraçá-lo. Abri um pequeno sorriso e ela retribuiu. Ela veio em minha direção e me abraçou em seguida, respirando fundo.
- Como você está? – Ela respirou fundo.
- Acho que bem, mas eu estava sendo fuzilada com o olhar pela mesa do embaixador.
- Você foi muito bem. – Martina falou. – Estamos no caminho certo, uma das testemunhas de defesa se confundiu e contou uma história diferente da planejada, eles fraquejaram.
- Mesmo? – falou animada.
- Sim, todos estavam colocando a culpa em você, que você tem algo suspeito e tal, e ela disse que você nunca teve nada de errado e não tinha nada de suspeito. – sorriu.
- Quem? – Ela disse e Martina olhou rapidamente em volta.
- Aquela loira gordinha ali. – Ela apontou e virou seu rosto na mesma direção, mordendo o lábio inferior.
- É a Donatella. – Ela disse sorrindo. – Ela era minha assistente.
- Você tinha uma assistente? – Perguntei franzindo a testa.
- Tinha, ela me negou ajuda quando tudo aconteceu. – A loira olhou em nossa direção e acenou de longe. Ela deu um sorriso discreto e retribuiu.
- Acho que ela não está te negando ajuda agora. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Sim, quem sabe no futuro tudo volte ao normal. – Ela suspirou e me abraçou pela cintura.
- Vamos que ainda não acabou. – Martina falou e seguimos com ela para fora da corte, fugindo dos repórteres quando eles começaram a vir em nossa direção.
Capítulo 9
Almoçamos rapidamente em uma casa de massas tradicional de Roma, nós e boa parte do tribunal, segundo meu pai. Mas duas da tarde já estávamos de volta. Como eu já depus, pude entrar e ficar com o pessoal lá dentro. Me sentei ao lado do Alisson, sentindo-o segurar minha mão firmemente e esperamos recomeçar.
Logo o juiz voltou para o tribunal e a acusação e a defesa começaram a debater. Primeiro a promotora pública começou a falar da acusação do réu, no caso, meu ex-chefe. Eles citaram uma lista incontável de provas e constatações, além de usar o meu testemunho e de outras pessoas contra o mesmo, incluindo de Donatella que, supostamente, deveria testemunhar à favor de Miguel.
Confesso que tudo o que ela falava e apresentava ao júri, eu sentia que me lembrava disso, parecia que eu vivia um filme em minha cabeça, o que era realmente assustador. Eu sentia que aquele era o meu julgamento, não de Miguel, sentia que tudo isso poderia causar um plot twist incrível e desmoronar para cima de mim.
Principalmente quando o advogado de Miguel começou a falar, meu nome foi citado umas 200 vezes e eu não estou exagerando, ele falava bastante e sobre mim, acho que cada um poderia falar por duas horas e parecia que eles realmente estavam interessadas em falar por todo esse tempo. Só sei que eu perdi as contas de quantas vezes a frase “Como assinado por ...” foi dita na corte. Parecia que meu testemunho não tinha servido para nada e eu ficava com vontade de chorar e interromper tudo, mas aí sim eu poderia ser presa.
Alisson não soltou da minha mão em nenhum momento, o que fazia com que eu me mantivesse um pouco sã em não jogar tudo para o alto, mas ouvir aquelas palavras me doíam muito. Sentia que eu só tinha sido convidada para trabalhar aqui em Roma para isso: para ser feita de capacho para ele. Minha credibilidade, minha experiência, minha ética e compromisso profissional simplesmente não existiam para ele.
- Não dê ouvido a eles. – Alisson cochichou, colando a boca em meu ouvido e eu assenti com a cabeça, mas na realidade eu só queria ficar em posição fetal e chorar muito.
Pelo menos meu pai, nem os parentes de Alisson entendiam italiano, porque se soubessem, tenho certeza que seu Gilberto já teria intervisto há muito tempo. Mesmo não entendendo, ele podia notar que algo estava errado, que tudo o que era dito ali naquele tribunal me atravessavam como facas e causavam pequenos pontos de sangue em meu peito.
Quando o advogado de defesa terminou de falar, além de eu dar graças a Deus, o juiz perguntou se a promotora gostaria de fazer uma réplica, mas ela negou. Dava para notar que essa mulher tinha confiança no que estava fazendo, totalmente diferente do que tinham me indicado lá atrás para esse caso. Então, eu esperava que soubesse o que estava fazendo, pois senti que ele realmente me jogou dentro de um buraco e ainda fechou com areia por cima.
- Agora o júri pode se retirar para deliberar. – O juiz falou e as sete pessoas se retiraram para uma sala atrás do tribunal e o juiz voltou a falar quando a porta foi fechada. – Caso a decisão seja feita hoje até as sete horas desta noite, o veredicto e possível pena serão divulgados ainda hoje. – Ele falou, me fazendo olhar o relógio e perceber que eram pouco depois das cinco. – Esse tribunal está em recesso. – Ele bateu o martelo e as pessoas começaram a dissipar novamente.
Dei um pulo ao ouvir o martelo e apertei as mãos nos olhos novamente, abaixando meu rosto em meu colo novamente, sentindo somente a mão quente de Alisson em minhas costas e vários beijos em minha cabeça.
- Respira, respira! – Ele falava seguidamente e eu tentava parar de hiperventilar ali, no meio do tribunal.
- O que está acontecendo? – Ouvi meu pai me perguntar e senti que Alisson se levantou ao meu lado.
- Eles acabaram com ela, Gil. – Alisson falou. – Ela não está bem.
- Filha, por favor. – Meu pai falou e eu me levantei, passando a mão no rosto.
- Eu estou bem, é só que... – Passei a mão no rosto, respirando fundo. – Foi horrível ter que ouvir tudo aquilo do advogado de defesa. – Suspirei. – Eu fui usada, pai... Eu não vali nada para ele. – Suspirei, passando as mãos em meus olhos.
- Então, é mais um motivo para ele perder. Se ele calculou tudo isso, se ele planejou esse golpe, ele está tendo muito mais do que merece e você precisa ser forte para quando eles lerem a sentença, você sair por cima.
- Eu não confio mais nisso, pai. – Falei, negando com a cabeça. – O advogado dele é bom de lábia.
- O que está acontecendo? Não fique assim! – Martina apareceu me estendendo um lenço. – Não desista, , não ainda. Vamos! – Ela me apertou pelos ombros.
- O que eu faço agora? – Perguntei.
- Vamos esperar, é claro! – Martina falou. – O juiz deu duas horas, isso é muito para uma decisão dessas. As provas são incontestáveis, além de que estamos seis a quatro depois do que sua assistente falou. Força, , você vai sair daqui com a cabeça erguida. – Soltei um alto suspiro, assentindo com a cabeça. – Se quiser sair e dar uma respirada, pode ir, mas vá acompanhada, estão te rodeando como urubus.
- Eu só preciso ir ao banheiro e lavar o rosto. – Falei e ela afirmou com a cabeça.
- Vamos, eu te acompanho! – Martina falou, me puxando pelo ombro.
Fui junto dela, sentindo ser observada por todo lugar que eu passei, imprensa, testemunhas, curiosos, qualquer pessoa. Realmente, parecia que o julgamento era meu e eu não conseguia aguentar essa pressão em cima de mim, parecia que eu era um balão prestes a explodir.
Entrei no banheiro e segui direto para uma das cabines, feliz por estar vazio. Fiz xixi rapidamente, mas enrolei um pouco lá dentro para dar uma respirada. Minha cabeça parecia que era uma bigorna e ficava cada vez mais pesada. Saí da cabine, vendo que Martina respondia alguém no seu celular e segui direto para a pia, lavando as mãos e jogando bastante água em meu rosto e em minha nuca.
Eu não tinha muitos produtos de beleza, então meu batom, rímel e lápis, que eram as únicas coisas que ficaram na minha bolsa, já tinham saído há muito tempo. Ergui o rosto quando ouvi o barulho da porta e percebi que Donatella parou quando percebeu minha presença lá. Ela deu um pequeno sorriso e seguiu em minha direção.
- Me desculpe, me desculpe! – Ela falou rapidamente, me abraçando e eu a apertei em meus braços.
- Está tudo bem! – Falei, respirando fundo, vendo que seus olhos estavam molhados.
- Eu não deveria ter te ignorado, se eu soubesse de toda a sujeira...
- Está tudo bem! – Repeti, acariciando seu rosto.
- Quando eles pediram para eu testemunhar, achei que seria uma ótima oportunidade de limpar meus erros.
- Está tudo bem, Donna! – Sorri para ela. – Você fez o que pode, vamos torcer para dar certo.
- Como você está? – Ela me perguntou.
- Estou bem, tive ajuda de algumas pessoas que estão me ajudando a sair dessa. – Sorri.
- Alisson da Roma? – Ela perguntou e eu senti meu rosto enrubescer.
- Longa história! – Falei. – Ele foi meu namorado de infância.
- E você nunca me contou isso? – Ela perguntou e eu dei de ombros.
- Na época não era prioridade. – Rimos juntas.
- Acho melhor voltarmos. – Martina se intrometeu e eu sorri para Donatella.
- Vamos nos falando, eu ainda estou com o mesmo número! – Falei e ela me abraçou rapidamente, me fazendo sorrir.
- Eu entro em contato contigo. Vou torcer por você. – Donatella falou e eu sorri, saindo com Martina do banheiro.
- Se eu pudesse, até eu daria um abraço nessa mulher! – Martina cochichou e eu ri assentindo com a cabeça. – A testemunha chave foi ela, não você.
- Quem sabe...
- Vocês estão aqui! – Me assustei com Muriel. – O juiz já voltou!
- Já? – Falei assustada e corri de volta para o tribunal junto de Martina, vendo o júri já voltar novamente. – É agora! – Respirei fundo e entrei em meu lugar novamente, me sentando ao lado de Alisson.
- Respira fundo, vai dar tudo certo! – Alisson falou e eu apenas assenti com a cabeça, não conseguia pensar em mais nada.
- Me foi informado que o júri chegou a uma decisão. – O juiz falou para o primeiro jurado que estava em pé, mais próximo ao juiz.
- Sim, meritíssimo. – Ele falou.
- E qual foi? – Ele perguntou.
- Por uma decisão de cinco a dois, esse júri declara o réu Miguel Pereira culpado... – Senti um alívio passar pelo meu corpo, começando a chorar. - ...Pelos crimes de desvio fiscal.
- E o júri sugere alguma pena? – O juiz perguntou.
- Pena de 15 anos em cárcere privado e pagamento de multa equivalente aos valores desviados durante o um ano e meio de trabalho, com 30 por cento de juros. – Ele falou, mas eu já estava em outro mundo, as lágrimas escorriam de meus olhos e eu só via embaçado.
- Este tribunal aceita essa pena! O réu Miguel Pereira deve começar a cumprir à partir de agora. – Ele falou, batendo o martelo. – Caso encerrado.
- Obrigada, meu Deus! Obrigada, obrigada, obrigada! – Falava seguidamente e me levantei para ver os policiais prendendo Miguel e não pude evitar em dar um sorriso zombeteiro para aquele homem que bagunçou muito minha vida.
- Acabou! – Lembrei de Alisson ao meu lado e pulei em seus braços, escondendo meu rosto na curva de seu pescoço, sentindo-o me segurar pelas pernas. – Está tudo bem agora!
- Eu não acredito que acabou. – Suspirei, me afastando de seu rosto por um tempo e colei meus lábios nos dele.
- Acabou! – Ele sorriu quando nos separamos.
- Signorina ? – Saí do colo de Alisson e virei para o lado, encontrando um senhor uniformizado. - Roman Burke, inspetor da Interpol.
- Ciao, signor! – Falei, tentando me recompor.
- Gostaria de agradecer pela sua colaboração nesse caso. – Ele falou. – Você foi de importância vital para esse resultado. – Assenti com a cabeça.
- Fico feliz em ajudar, signor. – Falei e ele esticou um saco para mim.
- Você está livre para ir. – Ele disse. – Aqui estão seus documentos, também conversei com o governo brasileiro e você pode retirar seus bens assim que possível. – Abri um largo sorriso ao pegar o saco novamente.
- Grazie! – Sorri, vendo-o se afastar e abri o saco rapidamente, encontrando meu passaporte com uma capa roxa no mesmo. O abri rapidamente, encontrando minha foto ali, me fazendo suspirar. – É isso. – Virei para meus familiares.
- É isso, querida! – Meu pai falou. – Acabou! Você conseguiu! Você provou sua inocência!
- Obrigada! – Suspirei.
- O que você vai fazer agora? – Seu José perguntou e eu suspirei, olhando para Alisson.
- Eu não sei. – Sorri. - Por enquanto, ir para casa. – Suspirei e eles me deram um abraço grupal.
- Vou pedir para o Muriel acender a churrasqueira! – Alisson falou contra meu ouvido e eu ri.
Vê-la com um largo sorriso no rosto fazia com que meu mundo ficasse muito melhor. Não sei o que mudou, depois do susto inicial e da volta, ela tinha se acostumado com sua realidade e nem parecia que tinha algo de errado, mas agora ela estava bem mais solta do que antes, quase como a de sete anos atrás.
Seus olhos escuros pareciam brilhar mais, ela até se permitiu dividir uma cerveja com meu pai, algo que eu nem sabia que ela fazia. Um dos mil sertanejos que eu gostava tocava na caixinha do som lá fora, fazendo com que ela dançasse com Helena em seu colo, que gargalhava alto pelas caras e bocas que sua madrasta fazia, me fazendo abrir um largo sorriso.
Estava tudo certo! Com , com ela e Helena, em meu coração! Parecia que eu tinha realmente ganhado na loteria. Mas e agora? Como seria a vida dela daqui para frente? As nossas vidas daqui para frente? estava livre, feliz com o livro mais carimbado que o meu em mãos. Fisicamente, ela não tinha mais nenhum motivo para ficar aqui.
Mas eu queria que ela ficasse. Queria que ela ficasse aqui comigo, que pudéssemos continuar nossas vidas de onde paramos agora e no passado. Esquecer todos os erros, tudo o que fez com que nos separássemos lá atrás e começar de novo.
- Alisson, acho que ela deixou um presentinho para você! – comentou me tirando dos meus devaneios e passando a mão no bumbum de Helena por cima da calça de moletom.
- Para mim? – Falei e minha mãe riu de nós.
- Você é o pai! Eu sou a tia legal que brinca com ela de vez em quando. – Ela respondeu e eu ri fracamente.
- Me dá ela, eu vou trocá-la! – Falei, colocando meu copo na mesa e me levantei.
- Eu vou contigo! – Ela deu um sorriso e seguiu para dentro de casa com Helena em seu colo. – Preciso aprender, certo? – Ela deu de ombros, me fazendo rir.
Entrei em casa com ela, seguindo para o quarto de Helena e observei colocá-la no trocador e assoprar sua barriga, fazendo-a rir. Parei um pouco na porta observando a cena e suspirei. Acho que aquela era a cena mais feliz da minha vida. Minhas duas meninas tinham se ajeitado. Ri fracamente sozinho, percebendo se virar para trás.
- O que foi? – Ela perguntou me encarando.
- Eu só estou feliz! – Comentei. – Você está livre, você está se dando bem com Helena, você está aqui, estamos juntos de novo... Preciso de mais motivos?
- Eu acho que não. – Ela disse e eu suspirei. – Acho que eu cansei de ficar brava com as coisas e preferi aproveitar os momentos a partir de agora. – Ela sorriu. – Afinal, eu poderia não ter vindo para casa hoje.
- Não diga isso! – Me aproximei dela, passando as mãos em sua cintura. – Como muitas coisas que passamos, devemos deixar para trás. – Ela sorriu, com a mão apoiada na barriga de Helena que tentava virar para os lados em cima do trocador.
- Apesar de tudo, eu preciso ser grata a isso. – Ela virou o rosto para o lado. – Se não fosse tudo isso, eu nunca teria te reencontrado.
- Então, você agradece por ter sido presa, perder tudo que tinha e tudo o que aconteceu há uns meses só? – Perguntei franzindo a testa e ela ergueu a mão livre em meu rosto, assentindo com a cabeça.
- Eu talvez seja um pouco louca, mas sim. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça rindo.
- Então, obrigado embaixador corrupto! – Falei e ela gargalhou alto, e ouvi Helena rir também.
- Ah, sua linda! Calma que eu não me esqueci de você. Vai, papai, pegue as coisas para mim. – Ela disse e eu ri.
- Você não precisa fazer isso! – Falei, vendo-a já começar a tirar a roupa de Helena.
- Eu trocava o Franthiesco, o que muda? – Ela perguntou e eu fiquei sem resposta.
Peguei os itens para trocar Helena e coloquei em cima do trocador enquanto ela trocava minha filha e fazia caretas incansáveis para que ela se distraísse enquanto era trocada. Ri com a reação de quando ela tirou a fralda, mas fui respondido por um tapa em meu ombro, gargalhando junto dela.
- Você é um idiota! – Ela falou.
- Eu? Você que está fazendo caretas para ela! – Rimos juntos e colocou sua roupa novamente.
- Pronto, limpinha! – falou erguendo-a novamente. – Sua linda! – Ela disse assoprando a barriga de Helena.
- Pode colocar ela no berço, já está na hora de alguém dormir! – Falei e fez o que eu disse, ajeitando-a no berço e fechando a cortina.
- Por que a gente não conversa agora? – Falei quando ela se virou para mim novamente.
- O que você quer conversar? – A segurei pela mão, saindo do quarto de Helena e puxando-a para o corredor.
- Eu sei que o resultado só saiu há algumas horas, mas eu quero saber o que você vai fazer agora que pode ir embora. – Perguntei rapidamente e ela me encarou por alguns segundos e me abraçou fortemente, escondendo o rosto na dobra do meu pescoço. - Por que você não me responde?
- Porque eu não sei. – Ela foi honesta, voltando a me encarar. – O plano inicial era voltar para Brasília, apesar de tudo, minha vida aqui em Roma acabou.
- Não, não acabou! – Falei rapidamente, passando minhas mãos em sua cintura. – Fica, .
- Mas, Alisson...
- Fica comigo. – Falei rapidamente.
- Como? – Ela suspirou. – Eu estou queimada aqui, Alisson. Eu posso te queimar por isso também.
- Não, , não...
- Pensa com a cabeça de cima, amor. O julgamento foi todo televisionado, eu voltei a ser notícia aqui e no mundo, eu não posso ter ligação contigo.
- Não diga besteira! – Falei, apertando-a em meus braços. – Jogadores de futebol não assistem notícias de política. – Ela gargalhou, escondendo o rosto na dobra do meu pescoço. – Não somos tão inteligentes assim.
- Não brinca com isso, Alisson! – Ela disse. – Eu estou falando sério.
- Eu também estou! – Falei firme. – Não importa o que vão falar, o que vão fazer, aposto que você vai ser esquecida novamente em uma semana. – Ela riu fracamente.
- Mas e quando você for para a Copa e eu estiver lá te acompanhando? “Alisson Becker está acompanhado de sua namorada a internacionalista que recentemente foi acusada de desvio fiscal na Itália”...
- Não, não falarão isso! – Falei. – “ que recentemente provou sua inocência em um tribunal na Itália”.
- Ah, você é muito espirituoso! – Ela bufou, negando com a cabeça.
- O que eu quero dizer, , é que eu não me importo! – Subi as mãos e segurei seu rosto. – Eu não me importo se não me convocarem por causa de você, eu não me importo o que vão dizer de mim se eu estiver contigo, eu não me importo com nada disso, . Eu te amo e passei sete anos tentando esquecer desse amor que nos separou por um erro meu. – Falei firme. – Eu preciso de você na minha vida, eu preciso de você, . – Suspirei. – Por favor! – Ela mordeu o lábio inferior.
- Eu não sei o que dizer, Alisson. Eu não quero ser responsável por impedir você e sua carreira. – Ela deu de ombros. – Você vai viajar, viajar para jogos e eu talvez não poderei te acompanhar.
- Como diria aquele livro que você lia incansavelmente: um passo de cada vez. – Ela deu um pequeno sorriso. – Não se precipite, vai dar tudo certo.
- Eu preciso aprender a dizer não para você! – Ela disse e eu dei um pequeno sorriso. – E como faríamos isso?
- Casa comigo! – Falei em um relance e ela arregalou os olhos.
- Alisson... – Ela disse surpresa.
- A gente já pensava nisso lá atrás, o que mudaria? – Perguntei e ela riu, me apertando pela gola da camiseta.
- Mudaria que agora estamos começando do zero. – Ela falou. – Vamos ser sensatos aqui, Alisson, aquelas duas pessoas lá atrás já eram. – Ri fracamente.
- Você não pensa mais nisso? – Perguntei.
- Não agora. – Ela falou. – As coisas mudaram, Alisson. Nós mudamos, nosso percurso será diferente. – Ela falou sorrindo. – Não pense que eu não te amo por dizer não. – Ela acariciou meu rosto. – É um não para agora. – Ela deu um rápido beijo em meus lábios. – Eu quero ficar contigo, mas eu também quero descobrir tudo o que esse novo Alisson Ramses Becker tem a me oferecer...
- Te oferecer? – Brinquei e ela riu.
- Eu sou muito mais exigente atualmente. – Ela sorriu e eu ri. – Eu vou tentar colocar minha felicidade como prioridade, mas vamos devagar. Voltar à estaca zero e ver aonde isso vai nos levar, ok? – Ela suspirou.
- Sem fugir por problemas que podem acontecer. – Falei firme.
- Só se forem para problemas que me levem a ti. – Abri um sorriso. – Não vamos casar ainda, mas se você quiser me dar asilo por mais alguns dias, eu aceito. – Ela sorriu. – Talvez pelo resto da vida.
- Se for o suficiente para você ficar aqui comigo, eu aceito! Todos os seus termos e condições, signorina ! – Sorrimos juntos.
- Então, está combinado, senhor Alisson. – Ela me segurou pelos ombros. – Só não se esqueça que eu te amo muito, ok? Todos os dias da minha vida. – Ela apertou meu corpo.
- Todos, isso eu posso garantir! – Falei e ela colou os lábios nos meus novamente.
- Namorados, então? – Ela perguntou com os lábios colados e eu abri um sorriso.
- Vai ter que servir! Por enquanto. – Brinquei, beijando-a novamente.
Passei as mãos pela sua cintura, trazendo-a para mais perto de mim, enquanto ela apertou suas mãos em meus ombros, amassando minha camiseta. Ela colou nossas testas, abrindo um largo sorriso.
- Como eu consegui ficar tanto tempo sem você? – Ela sussurrou.
- Eu me pergunto isso a cada toque seu. – Fui honesto e rimos juntos.
- Eu gostaria de entrar no quarto agora, tirar nossas roupas e esquecer todos ao nosso redor, mas aposto que sua mãe apareceria para nos interromper igual no último ano. – Ela cochichou, me fazendo sorrir.
- Talvez mais tarde? – Perguntei inocentemente e ela negou com a cabeça.
- Esse é o Alisson que eu conheço! – Ela riu, colando nossos lábios mais uma vez.
Alisson reparou atenciosamente quando o Vectra parou na rua do cemitério, lateral aonde estavam. Suas mãos suavam e ele sentia muito calor dentro daquele terno que sua mãe lhe enfiara, mas não era o calor, era o nervoso. Fazia dois dias que ele não falava com sua menina e aquilo estava matando-o por dentro.
Ele se sentia muito mal por deixá-la sozinha naquele momento, mas preferiu ouvir seus pais uma vez na vida e deixar com que ela ficasse com seu pai nesse momento crucial. Mesmo assim, ele se perguntava milhares de vezes do porquê não ligaram para eles antes, por que esperaram que eles voltassem da Nigéria? Para não estragar a felicidade deles? Mas e o baque que foi chegar aqui e ter aquela recepção?
Ele também se perguntava o que aconteceria se eles tivessem passado de fase, eles demorariam mais duas semanas para contar para o que tinha acontecido? Ou deixariam que ela perdesse os últimos momentos de ver sua mãe, nem que fosse no necrotério e o funeral? Ele tinha muitas perguntas na cabeça, mas a única solução era que foi Deus quem quis assim, era a única explicação na cabeça de Alisson.
Mas em sentido de prioridade, o pior de tudo era que eles estavam de volta ao Brasil no sábado, mas ela acompanhou ele no Rio de Janeiro para finalizar com os deveres de CBF antes de voltarem para Nova Hamburgo no domingo de manhã. Eles talvez não pudessem evitar o acontecido, mas podia ter se despedido de sua mãe pela última vez.
Ele balançou a cabeça, sentindo a mão de seu irmão em seu peito e assentiu com a cabeça, suspirando. Ergueu os olhos por trás do óculos escuros e reconheceu alguns amigos do colégio, todos estavam cabisbaixos e não sabiam como agir em um local como esse, afinal, eles só tinham 17 anos, não deveriam lidar com isso tão cedo. Além dos diversos policiais fardados que estavam ali, amigos de seu Gilberto e professores e coordenadores da escola. Todos para apoiar .
Percebeu que seu Fernando e dona Janice atravessaram a grama macia e se aproximaram de outros dois idosos, provavelmente os pais de Sandra, que ele não teve a oportunidade de conhecer. Seu Fernando abraçou o garoto firmemente, fazendo com que ele tentasse mostrar a mesma força para o idoso, mas aquilo estava sendo pior que o esperado. Era a tia Sandra que estava dentro daquele caixão, era a mãe da sua menina, a mulher que os apoiava incondicionalmente e sonhava em ver ambos juntos. Não deveria acontecer dessa maneira.
- Esses são Iolanda e Damião, pais de Sandra. – Dona Janice disse. – Esse é o Alisson, namorado da .
- Ah, meu querido! – A senhora Iolanda, com os cabelos arroxeados pela pintura recente, abriu um largo sorriso, mesmo que choroso, para o garoto e o abraçou. – Pena nos conhecer em uma situação dessas.
- Meus sentimentos. – Ele falou um tanto baixo pela voz falha e abraçou dona Iolanda e depois seu Damião, sentindo uns tapinhas no ombro pelos seus novos parentes.
- Se precisarem de nós, não se acanhem em nos pedir, ok?! Eu e Sandra nos tornamos muito amigas pelos dois. – Dona Magali falou, tentando impedir inutilmente que as lágrimas escorressem de seu rosto e dona Iolanda acariciou o rosto da mais jovem, assentindo com a cabeça.
- Obrigada, minha jovem! Ela falava muito de vocês mesmo, como tinha encontrado a felicidade dela aqui em Nova Hamburgo. – Magali assentiu com a cabeça, apoiando a mão em cima da senhora.
- Fico muito feliz em saber disso. – Magali respondeu.
Seu José, Muriel e Elisângela cumprimentaram os avôs de mais rapidamente e deixaram com que eles se aproximassem do caixão fechado em meio à grama verdinha. Muriel esbarrou em seu irmão com o ombro, trazendo a atenção do mesmo e acenou para o Vectra prata novamente, onde finalmente saiu do mesmo acompanhada de seu pai.
Alisson foi contido por sua mãe para não correr em direção à menina, então esperou quieto em seu lugar para que ela viesse até ele. Acabou reparando, sem querer, no vestido preto bonito que ela usava, acompanhado de sapatilhas da mesma cor. Os cabelos, milagrosamente, estavam soltos nas laterais do corpo, mas o rosto estava avermelhado, ela não estava de óculos escuros e seus olhos estavam mais calmos agora, uma hora todo mundo precisava parar de chorar.
Seu Gilberto vinha ao seu lado, segurando a mão da filha. Ele já estava com uma aparição muito diferente da que Alisson estava acostumado em ver. A barba por fazer, os cabelos bagunçados, até um dos botões de sua camisa social preta estavam fechados errados, além dos olhos e rosto avermelhados.
Eles vieram na direção dos Becker, Alisson soltou da mão de sua mãe quando se aproximou e passou os braços fortemente pelos ombros de sua menina, sentindo-a passar os braços levemente pela cintura do garoto, ela não tinha forças nem para isso.
- Vocês têm certeza que querem acompanhar isso? – Seu José perguntou para Gilberto que somente assentiu com a cabeça.
- Eu preciso! – falou rapidamente, virando o rosto um pouco para o lado, fazendo com que Alisson a soltasse um pouco. – Fica comigo? – Ela perguntou para o menino que somente assentiu com a cabeça, depositando um beijo delicado na cabeça da menina.
- Sempre. – Ele sussurrou, dando a mão para ela e eles se afastaram um pouco do caixão e dos militares e ela se apoiou embaixo de uma das poucas árvores ali.
Alisson passou as mãos pela cintura da menina, encostando a cabeça na dela e ela firmou as mãos em cima da dele, tentando manter o contato com ele o máximo possível. Seu José passou o braço nos ombros do amigo e eles optaram por se aproximar mais do caixão.
O protocolo militar começou alguns minutos depois. A bandeira do Brasil estava aberta em cima do caixão lacrado de Sandra e o toque fúnebre foi soado por uma corneta. sempre achou incrível essa homenagem militar, só não esperava que visse isso justo no funeral de sua mãe. Ela já não tinha controle sobre si e as lágrimas escorriam livremente de seu rosto. Ela virou seu rosto para Alisson e o abraçou fortemente. O garoto tentava se manter firme pela sua garota, mas ele também se sentia machucado.
Ao final do toque fúnebre, os militares posicionados apresentaram suas armas e a ergueram três vezes para cima, na salva de 21 tiros. Logo em seguida só se ouvia o silêncio. Todos em silêncio prestigiando Sandra. E quando, mesmo com o minuto finalizado, o silêncio ainda estava instalado, os outros policiais se aproximaram do caixão e tiraram a bandeira do Brasil e o comandante de Sandra se aproximou em marcha até seu Gilberto e lhe entregou uma caixa que continha o cape de Sandra e uma medalha de condecoração, além da bandeira do Brasil.
O comandante fez uma continência para seu Gilberto e depois o abraçou fora do protocolo militar. Ele cochichou as mesmas palavras que Magali disse para os avôs de e acrescentou palavras bonitas sobre a bravura e coragem de Sandra. Gilberto sorriu educado, mas ele não precisava ouvir nada disso, ele sabia tudo isso, sabia também que sua esposa tinha um trabalho de risco, mas ele só queria sua garota de volta para ele.
Uma fila se formou perto de seu Gilberto para que os companheiros de Sandra cumprimentassem Gilberto e depois essa fila continuou perto de , aumentando pelos amigos da escola que vinham acanhados oferecer seus sentimentos ou só dar um abraço forte nela, para que ela soubesse que não estava sozinha. até tentou demonstrar um sorriso ou uma gratidão, mas sua cabeça estava a mil com tudo que tinha acontecido nos últimos dois dias. Aquilo era loucura!
Quando o local se esvaziou um pouco e eles puderam ter privacidade, se afastou de Alisson, pedindo em gesto para que ele esperasse um pouco e a menina foi para perto de seu pai, dando a mão para ele e puxando-o para mais perto do caixão em cima da terra ainda. Ali, mais perto de Sandra, eles choraram abraçados, tentando se manter forte com as novidades que viriam pela frente.
Agora eram só eles dois, mesmo que tivessem seus avôs, tudo seria diferente agora. arrancou uma flor de uma das coroas de flor e colocou em cima do caixão, sentindo um frio passar pelo seu corpo com o toque e um vento passou por eles, bagunçando os cabelos dela. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente.
- Você vai falar com ele agora? – Gilberto sussurrou para e a menina virou para trás rapidamente, vendo que a família de Alisson já tinha se aproximado dele.
- Isso não pode esperar. – Ela disse respirando fundo.
- Você tem certeza dessa decisão, querida? – Ele perguntou acariciando seu cabelo.
- Sim, pai, somos só nós dois agora, precisamos ficar juntos! – O mais velho assentiu com a cabeça, abraçando sua filha fortemente e eles logo se separaram.
- Eu vou ficar aqui mais um pouco, ok?! – Ele falou e assentiu com a cabeça, respirando fundo antes de andar em direção a Alisson.
- Como você está, querida? – Magali perguntou acariciando o rosto da menina que somente assentiu com a cabeça.
- Posso falar com Alisson? – Ela perguntou e o garoto até se surpreendeu por essa pergunta tão formal e pegou a mão estendida da menina e eles se afastaram um pouco dos pais de Alisson e pararam perto da rua.
- O que está acontecendo, ? Você parece séria! – Ele falou e ela suspirou, se sentando no rodapé da rua com ele.
- É um pouco sério sim. – Ela firmou, puxando o ar fortemente, procurando como falar isso. – Ok, lá vai. – Ela passou a mão no rosto, respirando fundo. – Eu e meu pai conversamos durante esses dias e ele decidiu que quer voltar para Brasília. – Ela falou calmamente. – E eu vou com ele.
- O quê? – Ele falou um tanto surpreso, afastando o corpo um pouco.
- Meu pai comentou que quer voltar a morar perto da sua família, lá em Brasília. – Ela respirou fundo. – E eu decidi que vou com ele.
- Não, , por favor! – Ele segurou as mãos de . – Você não pode fazer isso.
- Por favor, Alisson, tenta entender. – Ela dizia, sentindo suas lágrimas começarem a surgir. – Somos só nós dois agora, eu não posso deixá-lo sozinho.
- Não, . Você tem a mim, vocês têm minha família também! Vocês não podem ir, você não pode ir. – Ele falou um tanto afobado.
- Por favor, Alisson, entenda! – As lágrimas já escorriam de seu rosto.
- Mas e a gente? – Ele perguntou também com os olhos já avermelhados.
- Nós vamos dar um jeito! O amor sempre encontra um jeito! – Ela dizia com a voz embargada.
- Como? – Ele perguntou.
- Dando um jeito. – Ela deu de ombros, respirando fundo.
- Por favor, , não faça isso. – Ele apertou as mãos dela. – Fica! Fica comigo!
- Eu não posso! – Ela puxou a mão devagar. – Eu te amo, mas eu não posso. E eu também não posso fazer isso. – Ela falou e se levantou. – Me desculpe!
- , por favor! – Ele falou e a garota abanou com a mão, sentindo as lágrimas escorrerem com mais força que antes, e se virou, seguindo em direção a seus avôs.
- Parabéns! – Alisson ergueu o rosto ao encontrar Muriel ao seu lado. – Você conseguiu afastá-la!
- Ela vai embora, Muri! – Ele falou sentindo as lágrimas escorrerem.
- Imaginei que isso pudesse acontecer. – Ele se sentou ao lado do irmão.
- E o que eu faço? - Ele perguntou para Muriel.
- Você a ama, certo?
- Muito! – Ele falou quase em um gemido.
- Então, apoie-a, ela precisa mais de você do que você pode imaginar. – Ele puxou seu irmão para si. – Além de que vocês podem continuar juntos longe. Eu e Elis fizemos muito isso antes de casar.
- Mas é diferente! – Ele respirou fundo. – É em Brasília. – Muriel puxou seu irmão para um abraço.
- Vai dar certo! – Ele falou firme. – Só esteja lá para ela.
- , vai começar! – Ouvi a voz de Muriel e joguei sal de qualquer jeito dentro das três bacias e peguei uma com a dobra do braço e outras duas entre os dedos da mão direita e voltei para a sala, vendo todos ajeitados nos sofás, poltronas e chão para o jogo da Roma contra Liverpool, o primeiro da semifinal.
Entreguei um balde para meu pai, seu José e Muri que estavam sentados no chão, outro para Magali e Elisângela que estavam nas poltronas e fiquei com o terceiro, me sentando no meio de Duda e Franthiesco no sofá maior. Helena tinha dormido há pouco tempo e estava no cercadinho na lateral da sala.
- Apostas? – Seu José perguntou e eu e Muriel rimos quase juntos.
- Nem pensar! – Respondemos nos entreolhamos.
- Também não precisa gorar.
- Não é gorar, tio. – Falei estendendo a bacia de pipoca para Duda. – O Liverpool está muito bom! Eu confio no taco do meu namorado, mas vai ser acirrado.
- Namorado? – Meu pai perguntou e eu dei de ombros.
- Fica feliz que podia ser noivo! – Deixei escapar e todos viraram em minha direção.
- O quê? – Magali perguntou um tanto alto e eu dei um sorriso.
- Ele estava tentando fazer com que eu ficasse, eu falei que fico, mas não precisamos nos casar agora para isso. – Sorri. – Estamos nos conhecendo aos poucos de novo.
- Eu vou matar esse garoto. – Meu pai falou enchendo a boca de pipoca.
- Vai começar tudo de novo! – Muriel brincou e rimos, ouvindo o hino da Champions League estourar pelo home theater.
- Depois falamos disso! – Abanei a mão e eles riram, jogando pipoca em minha direção e voltamos a olhar para a TV.
Ajeitei meu corpo para o lado, sentindo Franthiesco encostar o corpo em minha perna e Duda em meu ombro, me fazendo sorrir e abraçar Duda pelo ombro. Ah, como eu gostava dessas duas crianças e elas ainda gostavam de mim depois de tanto tempo e depois de tantos trancos e barrancos. Ali, com essa confusão toda montada, parecia que nada tinha mudado. Só faltava Alisson por motivos óbvios e minha mãe. Mas eu quase podia vê-la sentada ao lado de meu pai e com o braço apoiado na poltrona de Magali, reclamando que não conseguiria levantar depois do jogo ou sobre lances que ela nem mesmo entendia. Mas apesar de tudo, era bom saber que eu ainda tinha minha família gaúcha e que eles ainda estavam aqui comigo, para o que der vier.
Respirei fundo quando o juiz apitou o início de jogo e fiz um sinal da cruz rapidamente pedindo por Alisson. Meu pedido não era que ele vencesse o jogo, era futebol, tinha 50 por cento de ganho e de perda, mas era para que ele não se machucasse, me lembro quantas vezes ele chegou lanhado dos jogos quando mais novo por se jogar de mal jeito e raspar os joelhos, barriga ou costas e eu precisava passar pomada. O mais engraçado era a posição que ele ficava enquanto não secava, parecia que eu estava vendo essa cena na minha frente.
A Roma começou com sangue nos olhos, Kolarov fez uma batida forte em direção ao gol, Karius, goleiro do Liverpool não pegou, fazendo com que todos na sala se empolgassem, mas a bola bateu com tudo no travessão, voltando para o meio de campo. A bola foi para o pé do Liverpool, mas Fazio, do time de Alisson estava impedido, ou seja, mesmo que tivesse sido gol, não valeria.
A bola atravessou para o campo da Roma e os vermelhos tentariam de todo jeito chegar no gol, e foi assim que eles fizeram, Milner passou para Robertson que atravessou a bola e a encontrou em frente a Alisson, fazendo um gol desajeitado. Alisson pulou na mesma direção, mas não conseguiu impedir com que a bola entrasse.
- Está impedido! – Falei com Muriel quando o bandeirinha levantou a mesma.
- Ufa! – Seu José falou, me fazendo rir.
- Não importa, ele levou, não deve estar feliz por isso. – Falei e Muriel concordou comigo acenando com a cabeça.
Depois dessa, o jogou seguiu com um pouco mais de normalidade, mas lá para o meio do primeiro tempo as coisas esquentarem novamente. Mané, o autor do gol impedido passou para Firmino, jogador brasileiro, que passou para Salah, que já tinha jogado na Roma anteriormente, ele ajeitou a bola mais para o meio da área e fez um chute em diagonal com o pé esquerdo. Alisson pulou em direção à bola, mas ela já tinha entrado.
- Um a zero. – Tia Magali falou e respiramos fundo.
Logo depois da bola saiu de escanteio para o Liverpool e a bola entrou na área e o jogador do Liverpool cabeceou para fora, bateu no travessão e saiu, fazendo com que eu me acalmasse. Estava vendo que aquele jogo seria tenso, além da torcida do Liverpool que parecia pressionar mais a cada segundo, contra a Roma e quando os jogadores do Liverpool davam erros como esse.
A bola atravessou novamente e Firmino dividiu a bola com o jogador da Roma, Alisson saiu da pequena área, ficando no limite da segunda e a bola passou para Salah. Ele deu um chute por cima de Alisson e o jogador da Roma até tentou correr atrás dela, mas ela entrou rasteira para o gol vazio.
- Não faz isso, cara! – Muriel reclamou e eu franzi a testa, respirando fundo. Dois a zero.
- Fim do primeiro tempo. – Falei.
- Eu vou pegar uma água. – Magali falou saindo e eu respirei fundo, esperando com os outros presentes o começo do segundo tempo.
Nos primeiros 10 minutos do segundo tempo, Alisson levou outra, e eu confesso que começava a pensar o motivo disso, ele não era um mal goleiro e agora com certeza ele não tinha motivos para estar distraído. Estávamos bem, eu era uma pessoa livre, ele estava na semifinal da Champions, só se fosse nervosismo, o que eu não me lembrava dele ter, ele sempre foi frio nessas situações.
O jogador do Liverpool mandou de meio de campo, mandando para Salah novamente quase dentro da grande área e, antes da defesa da Roma se aproximar, ele fez o passe, confundindo Alisson. Alisson até se reposicionou na frente de Mané, mas ele fez um chute rasteiro, até caindo com o mesmo e Alisson se arrastou no chão para defender, mas a bola já balançava a rede.
- Porra! – Gritei, colocando a mão na boca por causa das crianças. – Desculpe! – Olhei para Duda que riu.
- Estamos acostumados! – Ela disse e eu a abracei de lado.
Estava três a zero, a Roma precisava se mexer se quisesse se reerguer, eles não podiam fazer igual nas quartas de final e deixar tudo para última hora, além de que gol fora de casa conta mais. Forza, Roma!
Cinco minutos depois, outra bomba, dessa vez do companheiro de Seleção de Alisson, Firmino. Salah entrou na grande área e a atravessou a bola por dentro da primeira área, fazendo com que Alisson se arrastasse para alcançar a bola, mas Firmino chegou nela antes, fazendo um chute fraco em frente à linha do gol e respirei fundo, vendo Alisson jogado no chão com a desolação. Meu coração estava pequeno novamente, ele estava perdendo. Isso não podia acontecer, eu não estava pronta para isso.
Se eu achava que estava bom, eu estava muito enganada, o quinto gol veio sete minutos depois, de uma forma bem ridícula, por sinal. Liverpool cobrou o escanteio e foi para dentro da área, Firmino deu uma cabeceada e só deu tempo de ver Alisson caindo para o mesmo lado da bola, mas segundos que ela já tinha entrado.
Passei a mão na cabeça, quieta como todos os outros da sala e respiramos fundo, eles já estavam desestabilizados, estava parecendo o sete a um do Brasil contra a Alemanha, era um atrás do outro, não tinha como a ansiedade se acalmar, já tinha virado passeio, eles precisavam fazer alguma coisa, tentar tornar esse placar muito melhor!
A esperança veio nos 10 minutos finais, um dos colegas de Alisson atravessou a bola do meio de campo e mandou para Džeko, artilheiro da Roma na UCL, que a recebeu de cabeça. Karius se aproximou dele entre a grande e a pequena área, mas ele tentou o chute, acertando no canto esquerdo do gol. Nós não conseguimos nem comemorar, mas já era algo. Eu só sei que daqui a pouco ficaria sem unhas para roer.
Faltando cinco minutos para os acréscimos, Perotti pegou a bola quase na linha de fundo e passou para Strootman. Ele a ajeitou com o pé e a chutou em direção ao gol. Antes de chegar no gol, bateu na defesa e o juiz apitou.
- Pênalti. – Falei um tanto baixo, me levantando, até assustando o coitado do Franthiesco que dormia encostado em mim. – É pênalti!
- Vamos, Roma! Agora vai! – Muriel se empolgou comigo, me fazendo rir. – Bateu na mão do cara.
- Eita! – Respirei fundo, caçando pipoca no balde vazio e o coloquei de lado, entregando à Duda.
Perotti fez o lance, chutando a bola um pouco para cima de mais, me fazendo pensar que a bola iria para fora, mas não, ela pegou no topo fundo do gol, nos fazendo comemorar com esse gol. Faltavam só três para eles igualarem e irem no zero a zero para o jogo no Estádio Olímpico.
O jogo ficou por aí mesmo, o juiz ainda deu cinco minutos de acréscimo, mas a Roma não conseguiu pontuar mais nada e, graças a Deus, o Liverpool também não. Agora eles precisariam de pelo menos três a zero para ganhar do Liverpool em casa, indo para empate, eles ganhavam por gols fora de casa. Era esperar para a decisão no dia dois de maio.
- Bom, é isso! – Magali falou e ninguém tinha muitas palavras para o que dizer.
Já eram quase nove da noite em Roma quando o jogo acabou, então o pessoal começou a se ajeitar entre os banheiros para tomar banho e dormir. Cada um se ajeitou com as sobras do almoço e eu fiquei ajudando Elis com a louça. Hoje deixei que Muriel dormisse no quarto, falei que ficaria na sala caso Alisson chegasse e ninguém realmente acreditou em mim, falou que eu dormiria antes disso.
Obviamente isso aconteceu, eu estava muito cansada, o frio fazia isso comigo e parecia que essa história de trabalhar até tarde sempre acabava me deixando muito cansada. Ainda com a família de Alisson e meu pai aqui, eu não conseguia tirar aquela soneca boa de tarde e tudo acabava desmoronando. Além de que ficamos o fim de semana inteiro comemorando a minha vitória e retorno do meu passaporte, então a semana já começou errada e amanhã eu trabalharia normal.
Não estava acostumada a ter sono leve, mas parecia que meu corpo queria que eu acordasse quando Alisson chegasse. Ouvi o barulho das chaves na madeira do rack e entreabri os olhos, percebendo que ele havia chegado. Ele se aproximou de mim e se sentou na beirada do sofá, fazendo com que eu rolasse no meio e ficasse de barriga para cima.
- Ei. – Falei, bocejando em seguida.
- Desculpa se te acordei. – Ele respondeu e deu um beijo em seguida na minha testa.
- Está tudo bem, queria te ver quando chegasse. – Falei, erguendo a mão e acariciando sua barba. – Que horas são?
- Pouco depois das quatro. – Ele falou, deixando sua mochila no chão. – Por que está aqui?
- Queria te esperar. – Abri os olhos melhor, percebendo que ele não estava mais embaçado. – Como está se sentindo?
- O que quer dizer? – Ri fraco, negando com a cabeça.
- Você sabe do que eu estou falando. Do jogo. – Ele suspirou, passando a mão nos cabelos e eu me sentei, impedindo que ele se levantasse.
- Eu levei cinco gols, baby, como você acha que eu estou me sentindo? – Apoiei os braços em seus ombros, acariciando-os devagar.
- Por que você levou cinco gols? Você não tem mais desculpas para perder, está tudo bem agora, não está? – Acariciei seu rosto devagar.
- Estava pensando em você. Você me distrai! – Ri fracamente, negando com a cabeça.
- Colocando a culpa em mim? – Brinquei e ele sorriu, colando nossos lábios por alguns segundos, me fazendo abrir um sorriso.
- Eu te amo, você sabe disso? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sempre soube. – Brinquei e ele riu.
- O jogo foi difícil, parecia que não ia parar de vir gols, estou realmente cansado hoje, mas eu achei a torcida incrível. – Ele falou e eu tombei a cabeça.
- Como assim? – Perguntei.
- É diferente dos outros lugares, eles são fortes, imponentes, mostram presença. – Ele balançou a cabeça. – Não sei, foi incrível. – Ele falou.
- Está pensando em mudar de time, senhor Becker? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Não! – Ele falou rapidamente. – Não sei. – Ele me encarou. – Não quero decidir nada antes da Copa, o mercado da bola não está aberto de novo, mas eu senti alguma coisa, . Foi indescritível. – Assenti com a cabeça, acariciando a ponta dos seus cabelos.
- Bem, nós temos menos de dois meses para a Copa, as cotações começarão em breve, quem sabe você também não chamou a atenção deles?
- Só se foi de frango, levando cinco gols. – Rimos juntos.
- Para, meu amor. – Segurei seu rosto com as mãos. – Você sabe que eu não permito que você se coloque para baixo!
- Eu sei. – Ele deu um rápido beijo em meus lábios. – Eu vou tomar um banho e venho aqui. Tem espaço para mim?
- A gente sempre encontra um jeito. – Brinquei e ele riu. – Afinal, eu só preciso do segundo travesseiro quando não estou contigo.
- Eu sou o segundo travesseiro, eu sei, eu sei! – Rimos juntos e o vi sumir no banheiro.
Respirei fundo, pensando no que poderia passar na cabeça dele e cocei os olhos, percebendo agora que estava com vontade de ir ao banheiro. Suspirei, virando as pernas para baixo e peguei o copo de água que eu deixei na mesa de centro para dormir e virei os últimos três dedos para dentro, sabendo que eu precisaria pegar mais.
- ! – Virei para o lado, encontrando Alisson na entrada do hall. – O que acha da Inglaterra? – Ele me perguntou e eu ri fracamente, abrindo um largo sorriso.
- Se eles não tiverem problemas com minha ficha suja, eu vou adorar te seguir. – Respondi e ele sorriu, dando meia-volta e voltando para o banheiro. Ri fracamente sozinha e me levantei também, mas em direção à cozinha.
Coloquei meu moletom e saí do meu quarto, deixando meu pai roncando na cama de casal e atravessei o corredor, colocando a cabeça rapidamente para dentro do quarto de Helena, encontrando Elis dormindo na cama de solteiro e soube que minha filha estava segura. Continuei reto e entrei no quarto de , dando dois toques antes de abrir a porta completamente. Ela estava terminando de pentear o cabelo.
- Ei! – Ela disse e se virou, procurando pela sua bolsa.
- Tem certeza que quer fazer isso? – Perguntei apoiado na maçaneta da porta.
- Eu preciso! – Ela disse soltando um suspiro em seguida. – Afinal, não posso fugir disso para sempre, eu ainda amo essa cidade. – Assenti com a cabeça.
- Quando quiser ir, eu estou pronto! – Ela assentiu com a cabeça.
- Vamos, então. – Ela pegou sua bolsa e a atravessou no corpo. Estiquei minha mão e ela a pegou e saímos do quarto para a sala, onde minha mãe, meu irmão e seu pai assistiam à alguma besteira na televisão italiana.
- Estamos saindo! – Falei.
- Têm certeza que não quer que vamos juntos? – Seu Gilberto perguntou e se virou.
- Não, está tudo certo! – Ela sorriu, acenando com a mão livre.
- Tentaremos não demorar! – Eles assentiram com a cabeça e seguimos para a garagem.
Entramos no carro e seguiu em silêncio para dentro de Roma. Meu rádio tocava diversas modas de viola, mas nesse momento ela nem me acompanhava na cantoria, estava encolhida no banco do passageiro, soltando longos suspiros. Fazia uns dois, três meses que ela não voltava para lá, mas parecia que era muito tempo.
Assim que entramos em Roma, ela endireitou seu corpo e acompanhou o caminho com mais atenção. Passei pelas vielas que ela tanto conhecia e parei em uma um pouco afastada do nosso destino. Desci do mesmo, dando a mão para ela e seguimos em silêncio para os portais da Piazza Navona, antigo local de trabalho de .
- Pronta? – Perguntei enquanto passávamos pelo portal que dava para a praça.
- Está tudo bem, baby, é só um prédio! – Ela falou com o falso tom de calmaria na voz e pisamos para dentro da praça, observando os diversos turistas andando para lá e para cá e tirando fotos.
Ela seguiu um pouco mais à frente, caminhando um tanto mais apressada, mas não soltou da minha mão. Quase no meio da praça, ela parou abruptamente e eu esbarrei meu corpo em seu ombro, focando para onde ela estava andando. Ali, solitária, quase parada por causa do pouco vento, estava ela, a bandeira do Brasil, que marcava que ali estava a embaixada brasileira.
Nesse momento, soltou da minha mão e cruzou os braços em frente ao peito, encarando aquela bandeira verde e amarela ali. Senti que um filme passou pela sua cabeça, pois alguns minutos depois uma lágrima também solitária escorreu de seu rosto. Fiquei atrás dela e passei meus braços pela sua cintura, apertando contra mim e sentindo suas mãos acariciarem meus braços lentamente.
- Está tudo bem? – Perguntei baixo em seu ouvido, e ela suspirou.
- Foi aqui, baby. – Ela disse, prensando os lábios. – Foi aqui que tudo aconteceu. – Ela suspirou. – Eu saí da porta principal. – Ela apontou para as portas fechadas. – E o carro da Interpol estava estacionado um pouco mais à frente. – Ela alterou a posição do braço.
- Ei, não faça isso! – Falei, apoiando meu queixo em seu ombro. – Passou. – Ela suspirou. – Acabou, você não precisa repassar isso na sua cabeça.
- É difícil não passar. – Ela virou o rosto para o lado, tentando olhar em meus olhos. – Acho que foi meu momento de maior humilhação.
- E olha no que deu! Você está aqui, livre, andando pela rua, sem dever nada a ninguém, literalmente. – Ela riu fracamente.
- Eu sei, é só que... – Ela negou com a cabeça. – Isso foi só parte do meu ano, fico imaginando o que vai acontecer na outra parte.
- Pensa que tudo o que aconteceu nessa primeira parte, fez com que você voltasse para mim, então, eu não posso reclamar. – Deu um beijo em seu pescoço. – E a outra parte, podemos criar juntos boas memórias para esquecer essas.
- Olha, vai ser difícil esquecer essas memórias! Principalmente quando eu entrar em um país novo. – Sorri.
- Você acha que vai ter problemas para sair daqui? – Ela dá de ombros.
- O inspetor disse que eu estou livre para ir, imagino que minha ficha esteja limpa, mas eu vou morrer de medo toda vez que quiser voltar para casa. – Rimos juntos e ela virou seu corpo de frente para mim novamente e passou os braços em meu pescoço.
- Eu estarei contigo para te ajudar! – Ela sorriu, assentindo com a cabeça e colando os lábios nos meus delicadamente.
- Eu te amo, obrigada por tudo que você fez por mim. – Neguei com a cabeça.
- Você sabe que não precisa agradecer. – Acariciei seu rosto, colocando a franja atrás da orelha. – Estamos juntos nessa.
- E em todas as outras! – Rimos juntos. – Você se lembra.
- Simplesmente surgiu na minha cabeça! – Sorrimos.
- Vamos, precisamos passar em mais um lugar ainda. – Sorri e demos as mãos, deixando a embaixada brasileira para trás.
Voltamos para o carro, agora acompanhados de mais turistas atrás de nós. No caminho de volta para o carro, duas pessoas pediram para tirar foto comigo, as atendi feliz, já que eu sempre achava que não era muito reconhecido na Roma e tirou as fotos para eles. E algo que não foi surpresa para mim, foi que nenhuma das duas pessoas a reconheceram.
Eu até poderia provocá-la com isso, mas ela estava muito tensa por isso ainda, o julgamento era recente, e ela achava que toda pessoa no mundo era interessada em política como ela. Não sabíamos se ela teria problema em entrar e sair do país nas próximas vezes, mas ninguém se lembraria dela, o que, ironicamente, era algo bom.
- É aqui! – Ela apontou para o prédio na viela apertada e eu andei mais um pouco, parando em uma das ruas paralelas.
Descemos do carro novamente e dessa vez ela foi até mais animada para o nosso destino. A entrada do prédio era fenomenal! Inteira de mármore branco, com uma escadaria fantástica, de pensar que algo maravilhoso desse jeito estava escondido entre muitas vielas de Trevi. Bom, esse apartamento era do governo brasileiro, não de alguém qualquer.
- Signorina ! – Uma voz me distraiu e um senhor saiu de trás do balcão e abraçou .
- Matteo! Que bom te ver aqui! – falou e sorriu.
- Você está bem? Deu tudo certo? Como você está?
- Deu tudo certo, Matteo. Eu provei minha inocência, está tudo certo. – Ela sorriu e eu sorri com ela.
- E quem é esse moço bonito? – Ele perguntou, nos fazendo rir.
- Il mio ragazzo! – Ela disse sorrindo para mim e me puxou pela mão, nos fazendo rir.
- Parece que alguma coisa deu certo nessa confusão toda.
- Sim, deu! – Ela sorriu para o porteiro.
- Bom, aqui está sua chave, fique quanto tempo precisar. – Ele entregou uma chave para ela.
- Grazie, Matteo. Conseguiu o que eu pedi? - Ela perguntou.
- Sim, o que eu consegui já deixei lá em cima.
- Grazie! – Ela respondeu acenando para o homem e eu fiz o mesmo, entrando no elevador com .
- O que você pediu para ele?
- Caixas! – Ela disse. – Eu tenho muita coisa para levar, achei que pudéssemos usar a praticidade.
- Justo! – Falei e ela riu.
Paramos no andar de e saímos do mesmo, uma grossa parede de madeira nos esperava, era um apartamento por andar. Ela colocou a chave na porta e abriu-a. Foi inevitável que minha boca fosse direto para o chão. Aquele lugar era incrível, muito mais bonito do que minha casa.
Ela entrou no mesmo com um sorriso no rosto e deixou a chave na cômoda mais próxima e atravessou a larga sala. O barulho de suas botas no chão de mármore fazia até barulho por causa do silêncio. O local estava incrivelmente limpo, apesar de meses fechados, bom, talvez não tão fechado assim.
- Era aqui que eu morava. – Ela falou, seguindo em frente e eu parei para prestar atenção no local.
A cozinha era gigante à esquerda e à direita tinha uma sala de televisão sensacional. Aquele lugar era perfeito. Segui em frente, empurrando as portas duplas entreabertas e minha boca foi para o chão novamente. O quarto da era incrível! Havia saído de algum filme. Algumas coisas estavam bagunçadas ali dentro, provavelmente coisa da polícia, e também tinha algumas caixas de papelão que o porteiro havia deixado lá, mas ainda parecia o quarto de um filme adolescente.
- , isso... – Ela virou para mim.
- Era aqui que eu morava! – Ela deu um pequeno sorriso. – Sensacional, não é?
- Você tirou as palavras da minha boca. – Falei e ela sorriu.
- Você não viu nada. – Ela me chamou com a mão e seguimos por outra porta, que acendeu as luzes sozinha quando entramos na mesma e eu arregalei os olhos com o tamanho de closet que tinha ali.
Não tinha nenhum espaço vazio. Eram roupas, bolsas, sapatos, além de uma mesa de escritório em um dos cantos. Se eu achava que ela era uma sem teto com roupas de marca quando nos reencontramos, eu não conhecia isso daqui! Eu tinha algumas marcas favoritas, não, eram todos os tipos de grifes nesses três departamentos. Ela poderia brincar de festa do pijama com um estádio lotado que ainda sobrariam roupas.
- Meu Deus! – Deixei escapar e ela riu.
- Legal, não é?! – Sorri.
- Isso é incrível, . – Ela se apoiou na mesa.
- Todos conseguidos legalmente no período de um ano e meio com o meu salário incrível, tenho nota fiscal, se precisar! – Ri fracamente. – Bom, isso se a polícia não pegou elas para conferir tudo.
- Aparentemente eles devolveram tudo que pegaram como possível prova. – Me aproximei dela.
- Sim, rapidamente, não estou sentindo falta de nada. – Ela comentou.
- Você sentiria falta de algo? – Perguntei ironicamente e ela riu.
- Tonto! – Ela me empurrou e eu sorri, abraçando-a pela cintura. – Bom, acho melhor a gente começar, tem bastante coisa e eu nem sei se vai caber tudo no seu carro.
- Qualquer coisa fazemos mais viagens, mas você poderia ter pedido para o pessoal vir também para nos ajudar. – Comentei e ela riu.
- Eu queria ficar contigo! Queria que você conhecesse um pouco da minha antiga realidade. – Sorri, dando um beijo em sua bochecha.
- Eu agradeço por isso! – Apertei-a um pouco. – Mas eles realmente seriam de grande ajuda. – Ela me soltou e voltou para o quarto, sumindo alguns segundos e trazendo algumas caixas para dentro.
- Fica quieto e encaixota! – Rimos juntos e ela seguiu para perto dos sapatos e eu fui para perto dos vestidos.
- Quer separar por cores? Marcas?
- Só sobra e guarda! Depois eu organizo isso! – Ela disse, me fazendo rir. – Eu provavelmente vou vender várias dessas coisas, talvez fazer um leilão. – Franzi a testa, me sentando no chão do outro lado.
- Por quê? – Perguntei surpreso.
- Se de uma coisa serviu esse perrengue do começo do ano, foi me tornar alguém mais humilde. – Ela deu um sorriso de lado. – Eu reencontrei a de 2010 e ela já tinha se perdido há muito tempo. – Abri um sorriso, assentindo com a cabeça.
- E você prefere ela mais do que a de agora? – Ela pressionou os lábios uns no outro.
- Ironicamente sim! Mas a de agora consegue corrigir os erros da do passado. – Neguei com a cabeça.
- Ela não errou sozinha, não se esqueça disso. – Pisquei e ela assentiu com a cabeça.
- Além de que, conhecendo o mercado da bola como eu conheço agora, dificilmente você vai continuar na Roma depois da Copa do Mundo, principalmente trazendo o hexa para gente... – Soltei uma risada debochada.
- Deus te ouça! – Comentei e ela riu.
- ...E eu vou contigo, se você quiser, talvez eu possa investir ou abrir algo, eu realmente gosto de trabalhar no bar! – Rimos juntos.
- A patricinha trabalhando atrás de balcão de bar, esse foi o ponto alto do ano. – Ela gargalhou, me fazendo sorrir. – E sim, eu vou querer você comigo não importa onde eu for. – Sorrimos cúmplices e ela virou o rosto para os sapatos, começando a pegá-los um por um e encaixotá-los.
Capítulo 10
- Ah, que bom que deu para vocês pegarem o mesmo voo! – Falei abraçando Elis fortemente.
- É, todos vamos até Lisboa, depois seu pai pega um voo para Brasília e meus pais para São Paulo e depois para Porto Alegre. – Muriel falou.
- Nosso caminho vai ser um pouco mais longo. – Tia Magali falou e eu sorri para ela, apertando-a firmemente.
- Nos avise, ok?! E obrigada por tudo! – Ela acariciou meu rosto e deu um beijo em minha bochecha.
- Apareça, está bem? Sempre te considerei da família Becker, agora mais do que tudo. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça. – Nada pode separá-los agora, vocês já estão crescidos, responsáveis, sabem cuidar de si mesmo...
- Mãe! – Alisson apareceu, repreendendo-a.
- O quê? Agora eu faço meu trabalho e de Sandra, sim? – Ri fracamente, sentindo-a dar outro beijo em minha bochecha. - Se cuidem! – Ela falou entreolhando para nós dois.
- Vocês também e faça uma boa viagem!
- Ah, vai ser ótima, com seus pais e Muriel roncando na minha orelha. – Rimos cúmplices.
- Tchau, ! – Seu José me abraçou e eu sorri, sentindo-o dar um beijo em minha bochecha. – Se cuidem, ok?! E não façam nenhuma besteira!
- Mais? – Alisson brincou e eu revirei os olhos, sentindo-o esbarrar em meu ombro.
- Pode deixar! – Estalei um beijo em sua bochecha e segui para Muriel.
- Acabou as férias, hein?!
- Até parece! – Ele riu, me apertando pelos ombros, como Alisson também fazia. – A Copa tá chegando, aí sim que vai ser divertido.
- Só você mesmo. Ficou quase um mês de férias, agora já está pensando na Copa. – Ele deu de ombros.
- É ano de Copa, eu só penso nisso. – Ele estalou um beijo em minha testa. – Façam tudo direito, ok?! Vocês foram feitos um para o outro. Foi o destino que os separou, mas foi o destino que também os uniu, ele não costuma dar uma segunda chance, quiçá uma terceira, então aproveitem. – Assenti com a cabeça, estalando um beijo em sua bochecha.
- Obrigada, Muri! – Sorri. – Por tudo mesmo.
- Eu sei, eu sei! – Ele abanou a mão e eu ri, negando com a cabeça.
- E vocês dois... – Me abaixei para ficar da altura de Franthiesco e um pouco mais baixa que Duda. – Venham me visitar, pode ser?
- Pode deixar! – Eles falaram juntos, me abraçando apertado.
- Finge que é para visitar seu padrinho, mas eu sei que é para mim, ok?! – Cochichei, ouvindo Alisson chamar a atenção com a garganta e cada um me deu um forte beijo na bochecha rindo e me levantei.
- E você, eu sei que encontrou seu príncipe encantado novamente, mas me visite com mais frequência, ok?! E sem outra surpresa dessas, não sei se meu coração aguenta! – Meu pai falou me abraçando pelos ombros e eu ri fracamente.
- Pô, tio, príncipe encantado? Achei que depois desses anos eu teria sido promovido para rei, pelo menos! – Revirei os olhos com o que Alisson falou e rimos.
- Eu vou matá-lo! – Meu pai falou e eu ri, abraçando-o apertado.
- Tudo bem, eu mato ele depois que ele dormir. – Cochichei, vendo a cara fechada de Alisson atrás de meu pai e pisquei para o mesmo.
- Eu te amo, e qualquer problema, de preferência que não envolva polícia ou julgamentos, me chama, ok?! Você pode confiar em mim.
- Eu sei, pai! – Sorri, sentindo-o estalar vários beijos em minha testa. – Eu te amo e obrigada por vir.
- Eu também te amo. – Ele me soltou, me encarando. – Fica bem, ok?! E você, senhor Alisson, cuida dela, ok?! – Ele virou bruscamente para Alisson, me fazendo arregalar os olhos e meu namorado dar dois passos para trás com Helena em seu colo.
- Pode deixar, chefe! – Alisson falou.
- Vocês são mais velhos, moram juntos, se cuida, ok?! – Ele falou para mim e eu assenti com a cabeça.
- Pode deixar! – Sorri. – E essa pequena! – Estendi as mãos para Helena, vendo-a fazer o mesmo em minha direção, segurando-a em meu colo. – Eu amo você, princesa, ok?! Sei que tivemos nossas diferenças, mas você é importante para mim. – Cochichei para ela, sabendo que ela não entenderia o que eu falei e dei um beijo em sua bochecha, vendo-a recuar o rosto envergonhada. – Sua linda!
- Vocês terão outras oportunidades de se unir mais. – Alisson a pegou novamente de meu colo, me fazendo rir. – Feliz aniversário, minha princesa! Tudo de bom para sempre para você! – Alisson desejou e eu me senti mal por alguns segundos, amanhã Helena completaria um ano de vida e ele não estaria com ela, talvez nem com sua ex-esposa, porque a viagem para Porto Alegre seria longa.
- Precisamos ir! – Muriel falou e Alisson entregou sua filha relutante para sua mãe.
- Eu amo vocês! – Alisson falou, dando um último beijo em sua mãe e vimos os sete andarem em direção ao salão de embarque do aeroporto de Roma.
Alisson passou o braço pelos meus ombros e eu segurei sua mão quando ela pendurou do outro lado, entrelaçando nossos dedos. Nossos parentes seguiram pela fila do embarque internacional, apresentando seus passaportes e meu pai olhou rapidamente para trás, dando um rápido aceno para mim, fazendo com que eu derramasse uma lágrima solitária, retribuindo o sorriso e o aceno. Ele se virou novamente e sumiu de minha vista, me fazendo suspirar.
- Bom, somos só nós dois de novo. – Alisson comentou e eu virei o rosto para ele.
- Vai ficar bem ou vai ligar desesperado para seus pais de novo? – Zombei e ele fez uma careta, me fazendo rir.
- Eu estava desesperado, ok?! – Ele falou e eu sorri, apertando-o pela cintura.
- Vamos embora, vai! – O puxei pela cintura, dando meia volta e seguindo pelo aeroporto.
- Eu preciso ir treinar e a tarde tem jogo, mas estou com preguiça! – Ele falou entre um gemido e outro e eu ri.
- Posso ir junto? – Virei o rosto para ele. – Ou tem alguma restrição?
- Você já tem entrada liberada lá, pode entrar e sair quando quiser, só existem algumas restrições de uso de celular e afins, mas pode.
- São sete da manhã e eu só tenho que trabalhar à noite, vai ser estranho ficar sozinha na sua casa agora. Posso ficar contigo, quando forem para o jogo, eu vou para casa. – Comentei e ele riu.
- Nossa casa e é, finalmente vai estar quieto por um milagre da vida. – Rimos juntos. – Você me encontra lá em Trigoria, então?
- Sim, estarei logo atrás de você! – Ele me deu um rápido beijo e nos separamos para lados contrários no estacionamento do aeroporto.
O caminho do aeroporto para Trigoria era um pouco mais rápido do que para Olgiata, então, tirando o trânsito para sair do aeroporto, em 20 minutos estávamos em Trigoria. Tínhamos ido em dois carros para caber todo mundo, além da cadeirinha de Helena, o que vinha muito a calhar, se quer saber.
Cheguei um pouco depois de Alisson, já que ele tinha achado vaga mais próximo à saída e parei na portaria, mas nem foi preciso, já que os portões abriram assim que eu parei próximo ao mesmo, acho que era algo relacionado a placa, vai saber.
Alisson estava me esperando encostado em seu carro e seguimos juntos para dentro. Ele cumprimentou todas as pessoas possíveis e falei para ele que pararia na cafeteria para pegar alguma coisa, eu tinha perdido hora hoje cedo e não tinha conseguido comer nada. Ele se despediu de mim e eu peguei um café e um corneto com geleia para matar minha fome.
Segui as placas para a área de treinamento e subi na conhecida arquibancada até o último degrau, encostando minhas costas na parede e apoiando o copo ao meu lado, dando uma boa mordida no meu pão. Fazia tempos que eu não comia um corneto, desde que fui presa, e Alisson consumia muita comida brasileira, então era quase como morar no Brasil.
Ele acenou para mim assim que entrou no campo com os outros jogadores, provavelmente sendo zoado pelos seus colegas, já que ele recebeu muitos tapas e sorrisos presunçosos logo que acenou para mim e seguiu para seu lado do campo, onde começou a ajudar o treinador de goleiros a organizar o treino daquela manhã.
Eles tinham jogo as quatro da tarde contra o Chievo, lanterna do campeonato italiano, normalmente eles não treinavam em dias de jogo, mas eles estavam treinando para o segundo jogo da semifinal que seria no dia dois, daqui quatro dias, então qualquer ajuda valeria, principalmente depois do resultado do primeiro jogo.
Terminei de comer e fiquei sentindo o gosto da geleia de framboesa em meus lábios, quando me distraí pelo meu celular tocando. Franzi a testa, olhando meu relógio e passavam das oito da manhã ainda, quem me ligaria a essa hora? Ou melhor, quem me ligaria em qualquer hora? Signor Alessandro? Difícil, principalmente do bar ter fechado mais tarde ontem.
Peguei o aparelho e vi um número italiano desconhecido no mesmo, mas o que me chamou atenção foram os últimos quatro números, era os mesmos usados na embaixada daqui. Respirei fundo e deslizei o botão verde no mesmo.
- Ciao? – Atendi em italiano.
- Alô, senhorita ? – A voz feminina respondeu em português e eu franzi a testa.
- Sim, é ela! – Respondi. – Quem gostaria?
- Eu sou Amélia Soares, serei a nova representante brasileira aqui na embaixada italiana. – Arregalei os olhos.
- Sim, certo... – Falei um tanto confusa.
- Eu estou te ligando por dois motivos, você está ocupada agora? – Respirei fundo, me levantando da arquibancada e começando a andar entre elas.
- Não, eu posso falar! – Respondi ainda indecisa.
- Primeiro de tudo, eu gostaria de pedir desculpas em nome do governo brasileiro por toda confusão que aconteceu no começo do ano. Sentimos muito pelo transtorno causado a você e à sua reputação. Estamos disponíveis caso você precise de qualquer coisa. – Franzi os lábios, surpresa por isso.
- Nossa! Obrigada, Amélia, por isso eu não esperava. – Ela riu fracamente.
- É o mínimo que podemos fazer, principalmente quando tudo o que foi acusado contra senhor Pereira foi provado verdadeiro. – Assenti com a cabeça.
- Acontece... – Dei de ombros. – E a segunda coisa? – Perguntei querendo dar essa conversa como finalizada logo.
- Sim, claro! – Ela disse rapidamente. – Eu estou em Roma para começar meus trabalhos como nova embaixadora e gostaria de saber se você tem interesse em retomar seu posto como assistente pessoal do embaixador. – Arregalei os olhos, fixando os pés no chão. – Você sempre teve uma reputação excelente, sempre fez todo o trabalho com maestria e era reconhecida por qualquer lugar que você passasse. – Respirei fundo. – Eu adoraria tê-la ao meu lado, da forma certa, é claro!
- Nossa! Uau! Acho que por essa eu não esperava, mesmo. – Suspirei, me sentando novamente. – Eu não sei o que dizer, Amélia.
- Adoraria que dissesse que aceita. – Olhei para o campo, vendo Alisson fazendo diversas defesas seguidas e se retirar para o lado para começar tudo de novo e suspirei, abrindo um pequeno sorriso.
- Esse convite é muito lisonjeiro, Amélia, mas eu não posso aceitar. – Suspirei.
- Posso saber o motivo? – Mordi meu lábio inferior.
- Apesar de toda confusão que eu enfrentei nesse começo de ano, isso acabou vindo de forma bem positiva. Eu pude me reconectar com a pessoa que eu era há anos e descobrir novas paixões na minha vida. – Sorri. – Apesar de amar o trabalho de assistente e ter toda experiência internacional e cultural que eu tive nesses meses, ficar na eminência de ser presa, me abriu muitas novas portas e eu quero aproveitá-las enquanto posso. – Sorri, sentindo um orgulho dentro de mim.
- Acho que é um bom motivo. – Ela respondeu. – Bom, senhorita , saiba que enquanto eu for embaixadora, minha porta estará aberta para ti, caso decida mudar de ideia.
- Obrigada, senhora Amélia e boa sorte com tudo!
- Vou precisar! – Ela brincou e a ligação ficou muda.
Suspirei, deixando meu celular de lado e ri fracamente ao perceber que eu tinha acabado de fazer. Eu neguei meu emprego antigo. Eu neguei um dos melhores empregos do mundo. E por quê? Por Alisson, talvez? Não sei dizer, ficamos tantos anos separados que encontrá-lo agora parecia a melhor decisão da minha vida, mas acho que não era esse o motivo. Eu me sentia livre, despreocupada, com o sono em dia. Trabalhar em uma embaixada era o sonho de muitos internacionalistas, mas temos a oportunidade de mudar de ideia quando quisermos ou precisarmos, e eu mudei a minha.
Ao invés de priorizar a carreira, o dinheiro e a vida corrida, eu estava priorizando minha saúde, meu amor e meus amigos, além de novos caminhos que a vida pode me levar. Afinal, eu realmente estava gostando de trabalhar no bar, nunca pensei que diria isso, mas sim, era uma experiência fantástica!
- Ei! – Alisson me chamou e eu desci os degraus da arquibancada, me aproximando da grade que nos separava. – Estava no telefone?
- Sim, recebi uma ligação da nova embaixadora do Brasil na Itália. – Ele franziu a testa.
- É? E aí? – Ele perguntou, cruzando os braços em cima do peito.
- Ela pediu desculpas pelos transtornos causados este ano e blá, blá, blá... – Fiz uma careta, fazendo-o rir. – E me ofereceu meu trabalho de volta. – Ele arregalou os olhos.
- Sério? – Ele quase gritou.
- Sério! – Ri fracamente.
- E aí? O que você disse?
- Eu neguei! – Abri um largo sorriso e sua boca foi para o chão.
- Mentira! – Rimos juntos.
- Não. Eu descobri novos caminhos e quero explorá-los enquanto posso. – Sorri e ele me puxou pela cintura, fazendo com que meu corpo encostasse na grade gelada.
- O que aconteceu com minha ? – Ele perguntou e eu dei um curto beijo em seus lábios.
- Voltou para 2010! – Disse e ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- Bola! – Ouvi um grito e abaixei a cabeça, vendo a bola estourar na grade.
- Ei, cara! – Alisson virou, reclamando em português com Juan, o cara que havia me dito que Alisson estava em compromisso internacional lá atrás. – Sacanagem!
- Pode separar vocês dois, vamos! – Rimos juntos e me afastei um pouco da grade.
- Vai lá! – Acenei para Alisson, voltando ao meu lugar e ele fez o mesmo, passando por Juan e dando um tapa em sua cabeça, me fazendo rir.
Respirei fundo e deixei com que o barulho da torcida entrasse em meus ouvidos e fizesse com que meu coração começasse a aquecer. Era a nossa grande chance! Se conseguíssemos compensar a diferença de gols, estávamos na final. Fazer três gols e não levar nenhum, essa era a nossa meta! Se desse certo, estaríamos na final da Champions League, a Roma nunca conseguiu chegar tão longe assim na competição, quem diria na final!
Passei a mão em meu peito, sentindo o medalhão com a foto de Helena pendurado por baixo das duas camadas de blusas do uniforme e me lembrei de . Eu tinha colocado uma foto dela dentro do mesmo para me lembrar das duas mulheres mais importantes para mim. em especial agora, que deveria estar roendo as unhas dentro do bar, talvez mais nervosa do que eu.
O apitou soou novamente e abri os olhos, vendo os pontos vermelhos da Roma e os brancos do Liverpool começarem a se mexer pelo gramado. Foco, Alisson! É aqui e agora que importa! Deixe a cabeça limpa e pense nesses 90 minutos de jogo que podem decidir tudo. Derrotamos o Barcelona, mas ainda tem muitas batalhas pela frente!
O jogo começou devagar, a bola foi passando entre os pés dos dois times, começando em um ritmo lento, mas eu sabia que as coisas não seriam tão calmas assim e nem que o Liverpool se daria por vencido no outro jogo com resultado final cinco a dois, eles queriam mais e já estavam vindo em minha direção.
Firmino passou a bola para Mané e ele veio em minha direção, saí um pouco da pequena área para e ele chutou a bola rasteira, por baixo de meus braços e a bola entrou... Antes dos primeiros 10 minutos de jogo. Me levantei puto, tirando a bola do gol e jogando-a para trás. Você precisa focar mais, Alisson. Muito mais. Mais um gol e empatávamos em gols fora de casa.
O jogo continuou, fazendo com que meu time aproveitasse a deixa do primeiro gol e saísse com a bola novamente, atravessando o campo. Florenzi cruzou para El Shaarawy que cabeceou, mandando para a frente do gol, onde dois jogadores do Liverpool disputavam bola com um da Roma. A bola bateu no pé do jogador de branco mais próximo ao gol, em uma tentativa de mandar para fora, depois atingiu a cabeça do segundo e entrou no gol, me deixando de olhos arregalados.
- Gol! – Ajoelhei animado no chão.
Tinha sido uma sorte do caralho, mas era gol! Um erro do Liverpool havia nos dado nosso primeiro gol, que continuasse assim mais vezes. Confesso que me perguntava se o cara que tinha levado a bola na cabeça estava bem, parece que tinha levado uma bonita na orelha. Orelha milagrosa.
O último gol que eu levei naquele jogo veio 10 minutos depois, em uma cobrança de escanteio. O jogador do Liverpool cobrou, mandando a bola para dentro da pequena área, a bola foi tirada por Fazio do meu time de cabeça, mandando-a para trás, que foi para a cabeça de outro jogador do Liverpool que a mandou para frente de novo e cabeceou para dentro.
- Impedido! – Gritei junto dos outros jogadores do meu time, mas o juiz não estava nem aí, mandando a bola seguir. – Porra! – Gritei, dando um tapa em cada lado da cabeça, as coisas precisavam mudar, a gente precisava acelerar, empatamos no quesito gol.
Tivemos uma chance de gol logo em seguida, El Shaarawy conseguiu aproveitar a deixa da defesa do Liverpool e fazer um chute certeiro na lateral direita do gol, batendo direto no travessão. Levei as mãos à cabeça, não acreditando que não tinha entrado.
No intervalo acabamos ouvindo um pouco, mas o time já estava cansado, ninguém estava dando muita moral que conseguiríamos vencer. O técnico acabou nos dando uns puxões de orelha, tentando nos motivar para que lutássemos até o fim, então tentamos mudar nossa posição de cansaço, para voltar inteiros para o segundo tempo.
Liverpool tentou atacar logo no começo do segundo tempo, mas a bola foi longe demais, chegando rasteira em minhas mãos. Mandei a bola de volta para meu time e eles conseguiram atravessar, me deixando na ponta dos pés para ver o que acontecia do outro lado do campo. El Shaarawy entrou na grande área com a bola nos pés e mandou para o gol, Karius, goleiro do Liverpool fez a defesa, mandando uma chance de rebote para frente, em uma luta de Džeko contra quatro reds. O goleiro veio por cima dele também e ele a mandou para cima, batendo no lado esquerdo do gol.
Ergui o punho firme, animado com essa pontuação. Estava empatado, a luta era árdua pela frente, muito difícil, mas precisávamos fazer isso pelos torcedores que se animavam a cada lance.
Tentamos outro ataque logo em seguida, Naiggolan cruzou para Džeko que deu uma cabeceada desajeitada, fazendo com que o jogador do Liverpool também batesse desajeitado. El Shaarawy fez o chute junto do Liverpool e a bola saiu por cima do gol, me fazendo suspirar nervoso. Vamos, gente! Vamos! Prestei atenção no replay do lance e a bola claramente bateu na mão do jogador do Liverpool, é pênalti claro, mas é óbvio que, mais uma vez, o juiz não deu. Era por essas e outras que começava a realmente cogitar de jogo comprado.
Os minutos foram passando e as oportunidades começaram a ficar cada vez mais escassas, a bola não chegava nem cá, nem lá, então era quase como um dia sem vento, não ajudava, nem piorava, ficava tudo parado. Lá pelo fim do jogo as coisas começaram a animar novamente, mas já estava ficando cada vez mais tarde e tínhamos menos de 10 minutos para fazer três gols e ir para os pênaltis.
A Roma atravessou a bola mais calma no final do jogo, as pernas já começavam a doer com a correria e o ritmo ficava mais lento. Gonalons tentou chegar na grande área, mas a bola quase saiu de lateral, então ele a mandou para Kolarov que correu no meio do campo, mas preferiu passar para Naiggolan que não pensou e deu um chute forte. Karius achou que a bola ia para fora, mas ela entrou rasteira pelo canto esquerdo, me fazendo pular animado e o estádio gritar mais uma vez.
O juiz deu mais quatro minutos de acréscimos e a respiração ficava cada vez mais descompassada, dois gols, era pedir muito por mais dois gols? Se eu saísse do gol e fosse para a linha tinha chances de levar mais um? Aquelas perguntas não paravam de passar em minha cabeça.
O tempo passava e eu só conseguia ficar mais nervoso com a iminência do final. Estava chegando cada vez mais perto. A bola foi atravessada um pouco à frente da grande área do meu campo para Ünder que estava próximo ao goleiro do outro time. A bola ricocheteou e tudo parou.
- Pênalti! – Ouvi os torcedores gritando e vi a confusão acontecer próximo ao gol do outro lado. O juiz apitou e eu comemorei.
Naiggolan se preparou para fazer o chute e correu em direção à bola, fazendo um chute forte para o canto esquerdo do gol e o goleiro foi para outro lado, balançando bonito a rede. A bola foi novamente para o centro do campo, mas assim que o chute foi dado, o juiz finalizou o jogo, me fazendo respirar fundo e, apesar de tudo, agradecer a Deus por essa conquista.
Os jogadores do Liverpool começaram a comemorar e a se jogar no chão, também sentindo que o jogo foi difícil. Cumprimentei alguns companheiros de jogo e reparamos que os torcedores presentes no estádio nos aplaudiam. Retribuímos os aplausos e fomos nos retirando do campo devagar. Tirei minhas luvas e me juntei aos outros jogadores do lado esquerdo do campo para cumprimentar os torcedores.
Não demoramos muito no campo, o Liverpool estava comemorando, mas eles estavam fora de casa, então a comemoração estava concentrada entre eles mesmos. Voltamos para o vestiário alguns minutos depois e começamos a nos arrumar para sair dali.
O técnico até tentou fazer um discurso com palavras de consolo para gente, mas eu mesmo não conseguia ouvir muito, só queria sair dali. Havíamos lutado até o fim, acabou ficando um cumulativo de seis a sete, chegamos muito perto, mas não era para ser, o Liverpool estava com um ataque extraordinário e fomos pego no fogo cruzado.
Me sentei no meu espaço para aguardar os outros jogadores e peguei o celular, vendo minhas mensagens e só tinha uma, solitária ali. “Você fez o seu melhor”, seguido de um coração. Era de e eu não pude evitar em abrir um sorriso com isso, ela era a melhor, tenho me perguntado todos os dias como consegui viver sem essa mulher em minha vida e o pior, como não fui atrás dela em todas as oportunidades?
“Obrigado, eu te amo demais” – Respondi, suspirando, mas a resposta veio logo em seguida.
“Vou entender se não quiser vir aqui hoje, nos vemos depois da meia-noite na sua casa”.
Pensei um pouco e eu realmente não estava muito no clima de ir para o bar, principalmente depois do jogo. Mesmo tendo perdido, o bar que trabalhava tinha ficado famoso depois de nossas aparições lá. Olhei rapidamente para o treinador cabisbaixo no canto do vestiário e decidi que seguiria meu time até o fim.
“Te vejo em casa, tenho alguns compromissos ainda”. – Respondi.
E era verdade, logo depois de largar o celular, eu fui mandado para a entrevista para dar respostas genéricas para os jornalistas brasileiros e estrangeiros sobre a obviedade da eliminação do time.
Quando o estádio estava mais vazio, saímos com o ônibus da Roma e não tive a chance de ver como o bar da estava, as ruas estavam tomadas de torcedores ainda gritando e aplaudindo por nós. Era sobre isso que era o futebol. Não só sobre vitórias, mas sobre apoio incondicional ao seu time nos bons e nos maus momentos.
O ônibus voltou para Trigoria e nos separamos, sabendo que agora teríamos folga amanhã e o próximo jogo seria contra o Cagliari no dia seis. Três jogos nos separavam da final do campeonato italiano e dois da convocação para a Copa, dia 14 estava chegando e eu estava empolgado com isso.
Hoje foi a minha vez de dar carona para os brasileiros do time, então saímos de Trigoria em silêncio e deixei eles em suas respectivas casas em Olgiata, antes de entrar na garagem da minha, respirando até aliviado quando desliguei o carro.
Respirei fundo algumas vezes antes de sair e empurrei a porta da garagem, me surpreendendo pela luz fraca da luminária estar acesa e sentada no maior sofá, com a TV ligada. Ela virou o rosto para mim quando a porta rangeu e deu aquele sorriso que eu já conhecia, era a combinação de “sinto muito” com “vai ficar tudo bem”. Ela quase não sorria com os lábios e sim com os olhos.
- Vem cá! – Foi só o que ela falou e eu me aproximei dela, vendo que ela abriu a coberta que estava enrolada em seu corpo para que eu me sentasse entre ela e eu puxei a mesma pelos meus ombros quando sentei ao seu lado.
Ela ergueu uma mão e acariciou minha bochecha levemente, em um delicioso carinho e eu abri um sorriso. Ela se aproximou de mim lentamente e colocou nossos lábios delicadamente por alguns segundos, segurando meu queixo após se separar.
- Você fez o seu melhor, baby! – Ela falou, me fazendo abrir um sorriso. – Vocês lutaram até o fim.
- Por um momento eu achei que a gente fosse conseguir, mas...
- Não! – Ela me parou. – Não faça isso, não te mixa*, ok?! – Franzi a testa, vendo-a sorrir.
- Você usando minhas expressões contra mim? – Ela deu de ombros.
- Foca! – Ela disse. – Está tudo bem.
- Eu sei! – Dei um beijo em sua testa. – Eu tenho você, está tudo bem. – Ela deu um sorriso fofo e eu colei nossos lábios rapidamente mais uma vez.
- Assim que eu gosto! – Ela cochichou com os lábios colados.
- Eu vou tomar banho. – Falei, mas ela manteve os braços em meus ombros.
- Não, fica aqui comigo. – Assenti com a cabeça, encostando as costas no sofá e ela fez o mesmo, apoiando a cabeça em meu ombro e abraçando meu braço direito.
- O que você está assistindo? – Olhei para a televisão que passava vários vultos no meio da floresta.
- Crepúsculo. – Ela falou com a voz baixa e eu revirei os olhos, soltando a respiração fortemente.
- De novo, ? – Brinquei e ela gargalhou, apertando os braços mais fortemente em meu braço.
- Xí, só fica aqui comigo... E quieto! – Ela disse, me fazendo rir e eu tombei a cabeça para o lado, em cima da dela.
*Não te mixa = não te rebaixe.
Alisson apertava a mão de firmemente. Ele só tinha mais algumas horas com sua amada ao seu lado e não fazia a mínima ideia do que aconteceria depois que ela fosse embora. Era para ele ser um dos primeiros da fila de formandos, mas até a diretora tinha se cansado de pedir para ele sair dali. Todos sabiam que iria embora e todos sabiam os motivos que a levava embora, então eles tentavam ser compreensivos, o clima pesou bastante depois da morte de Sandra, a escola tem sido compreensiva com as recuperações de , mas nada disso importava agora. A diretora olhava para o jovem casal e torcia para que Alisson ficasse ao lado dela por mais alguns minutos.
Enquanto o paraninfo da turma falava sobre o grande passo que era a formatura do terceiro ano, poucos dos 40 alunos prestavam atenção, a maioria já estava entediado com aquele discurso maçante de meia hora, eles estavam pensando na parte legal em que receberiam o diploma e jogariam aqueles chapéus em suas cabeças para cima.
estava em outro mundo. Seu indicador fazia círculos na palma de Alisson, seguindo pelas linhas de sua mão. Ela ainda não estava certa sobre sua escolha, mas era a melhor coisa a se fazer. Era só ela e seu pai agora, e se seu pai achava que ficaria melhor sendo amparado por seus pais e pelos de Sandra em Brasília, ela confiava nele. Além de que ela não conseguiria deixar seu pai agora, e ficar em Nova Hamburgo já não era uma opção. Eles só estavam aqui por causa de sua mãe, e Gilberto colocava a culpa na cidade em que eles estavam.
A garota até entendia seu lado, mas ela não via dessa forma. Apesar da fatalidade, Nova Hamburgo tinha sido muito bom para os , eles conheceram pessoas maravilhosas, criaram vínculos que provavelmente durariam pelo resto da vida, fizeram amigos e a garota ainda conheceu seu primeiro amor. Nova Hamburgo tinha sido bom para ela, mas ver os lugares que ela passeava com sua mãe fazia seu coração doer e era tudo o que ela precisava agora.
Mas ela também pensava em Alisson, e agora? Como eles ficariam com essa distância. 1719 quilômetros para ser mais exata, ela tinha pesquisado. Eles conversaram com mais calma depois do incidente no velório, o plano era fazer dar certo. Conversas online, mensagens por celular, viagens, eles falaram que daria um jeito, mas no coração da garota, depois da colação de grau, ela sentia que nunca mais o veria.
Algo morreu dentro dela depois da notícia e não foi só sua mãe. A felicidade que emanava dentro dela, o ânimo, a empolgação, aquela faísca que sempre acendia, mesmo que o motivo fosse mínimo, se apagou e Alisson se preocupava quando acenderia de novo. Ele não fazia a mínima ideia como dariam certo, mas teria que trabalhar nos treinos e em algum emprego meio período para conseguir dinheiro para visitá-la em Brasília, mas ele estava disposto, só gostaria que ela se mostrasse um pouco mais empolgada, mas ele entendia. Fazia somente um mês do acontecido, eles correram com a mudança, com as provas finais, com tudo, para a garota pegar seu diploma e ir embora.
- E vamos à entrega de diploma! – A diretora falou, causando alívio em quase todos presentes, incluindo os pais, e os alunos até se ajeitaram na poltrona do teatro da cidade. – Aguinaldo Jordão. – A diretora falou, começando a chamada.
O garoto subiu solitário no palco, pegando o diploma e cumprimentando a mesa de docentes e representantes da escola, chegou ao final da fila, cumprimentando o professor de geografia, paraninfo da turma do ensino médio desse ano e eles tiraram uma foto. O garoto desceu logo em seguida e encontrou outro fotógrafo embaixo.
- Alisson Ramses Becker! – deu um sorriso, abraçando seu namorado de lado, recebendo um beijo em sua bochecha e os dois ouviram um grito em coro, vindo dos pais dele e de Muriel.
A garota tentou aparentar animada por ele, foi realmente difícil para que Alisson se formasse, principalmente com a repetência em biologia, mas aos trancos e barrancos, e com muita ajuda da sua garota, ele podia levantar aquele boletim com um histórico escolar com 95 por cento de suas notas na média, com exceção de educação física! Mas ela não estava animada nem por ela. Alisson se levantou, desviando de todas as pessoas da fileira, subindo para o palco.
2010 tinha sido um ano extraordinário para ela, ela considerava o melhor de todos em seus míseros 17 anos de existência, até o falecimento de sua mãe. Ela mesma sempre dizia que sempre quando algo estava muito bom, alguma força contrária destruiria tudo e destruiu, e ela não sabia em quanto tempo o coração dela voltaria a sorrir novamente.
Alisson voltou ao seu lado, fazendo a garota perceber que nem tinha visto ele lá em cima, mas voltou a encostar sua cabeça nele, suspirando. Ele abriu o canudo empolgado, puxando o papel grosso ali dentro e viu seu nome no mesmo, abrindo um pequeno sorriso.
- Você conseguiu! – cochichou para ele. Apesar de tudo, estava muito orgulhosa dele.
- Obrigado! – Ele falou, dando um sorriso para a garota e passando o braço em volta de seu ombro novamente.
Outros nomes foram chamados antes da garota ser anunciada. Quando falaram o nome dela, mesmo sem ser algo comentado, Alisson, diversos alunos e seus familiares se levantaram para gritar pela garota e aplaudir sua conquista. Até os professores e coordenadores entraram na dança. A intenção de todos era a mesma: fazer com que ela se sentisse bem e lembrasse disso de uma forma boa.
A menina sentiu seus olhos marejarem e apoiou a mão no peito em forma de agradecimento para todas as pessoas que gritavam por ela. Não era culpa deles que ela estava indo embora, mas era necessário. Ela subiu os degraus sem dificuldades, decidiu colocar um tênis mesmo, além do jeans e camiseta escondido por baixo da beca, não estava no clima para se arrumar e depois dali iria para Porto Alegre, pegar um voo para sua nova casa.
- Fique bem, ok?! – Sua diretora falou baixo enquanto a abraçava, tentando colaborar com que os cacos dentro da mesma fossem colados e lhe entregou o canudo, fazendo a menina sorrir fracamente.
Ela caminhou na frente da mesa, dando um rápido aperto de mão para cada uma das oito pessoas que estavam ali e encontrou um dos seus professores favoritos do outro lado. Ele a abraçou com a mesma empolgação que a diretora, sem cochichar nada para ela dessa vez e deu um sorriso acalentador para a menina que assentiu com a cabeça.
Eles se abraçaram para a foto e a menina desceu os degraus do outro lado do palco, encontrando outra fotógrafa. Se posicionou em frente a bandeira do Brasil e do estado do Rio Grande do Sul e tentou dar um sorriso simpático para a mesma. Não estava se sentindo bem agora, mas sabia que isso ficaria registrado pelo resto de sua vida, então que ela lembrasse de uma forma boa. Principalmente pelo carinho que seus colegas de sala tinham por ela, mesmo que ela não falasse com todos eles.
Se sentou novamente ao lado de Alisson e nem se deu ao trabalho de ver se seu diploma realmente estava lá, só queria que isso finalizasse e ela pudesse extravasar sozinha em um lugar bem escondido de todos. Com certeza não seria na viagem para Porto Alegre com seu pai e muito menos em um voo até Brasília. Talvez quando chegasse à casa de seu avô ou no seu quarto no apartamento antigo de seu pai, isso se eles voltassem para lá.
- E agora, os formandos do ensino médio da Escola João Ribeiro! – A diretora falou empolgada e os 39 alunos tiraram os capelos de sua cabeça e jogaram para cima, tentando buscá-los logo em seguida, já que teriam que devolver a roupa.
somente tirou o mesmo em sua cabeça e suspirou. Era isso. O fim de um ciclo havia chegado e ela não sabia se estava preparada para isso. Pediu licença para as três pessoas que estavam ao seu lado e saiu pelo corredor. Alisson se distraiu por alguns segundos à procura de seu capelo e saiu correndo atrás da menina.
- ! – Ele a chamou um pouco descontrolado, vendo que ela já era abraçada pelo seu pai.
- Parabéns pela formatura! – Muriel abraçou seu irmão e ele sorriu, apertando seu irmão de volta e entregando o capelo e o diploma para o garoto.
- Obrigado! – O garoto falou depois de abraçar seus pais e seu Gilberto e sua mãe tomou o diploma da mãe de Muriel para realmente acreditar que aquilo era verdadeiro.
- Finalmente! – Dona Magali falou, fazendo com que todos rissem.
- Acabou! – falou, soltando a respiração fortemente.
- Parece aliviada! – Muriel falou e Alisson o cutucou com o braço. A garota somente abaixou a cabeça.
- Gente, estão pedindo a roupa! – Laís, uma colega de sala de ambos, apareceu e eles se afastaram de seus pais rapidamente, puxando o zíper central da roupa e tirando aquela coisa quente de seus corpos.
- Obrigada! – A organizadora agradeceu e ambos se afastaram novamente.
Alisson entrelaçou seus dedos nos de e ela permitiu, passando a mão livre no braço do garoto, encostando a cabeça no mesmo, fazendo com que ele sorrisse. Seus pais perceberam sua chegada e foram saindo com a turma do teatro municipal, sentindo o sol cegar ambos por alguns segundos, comparado com a pouca luz de lá de dentro.
Os quatro pararam na escadaria do teatro e se entreolharam sem saber o que dizer. Era agora, a última despedida de ambos por um bom tempo. Provavelmente sem prazo determinado, já que ninguém sabia como seria a vida dali para frente. Ninguém sabia o que falar, muito menos o casal mais novo, eles só se mantinham abraçados o maior tempo possível, provavelmente para tentar capturar na memória o que eles perderiam. Seu Gilberto olhou em seu relógio o horário e fez uma conta rápida da viagem até Porto Alegre e quanto tempo antes precisavam chegar no aeroporto para pegar o voo.
- Bom, acho que está na nossa hora. – Ele falou finalmente, fazendo com que os corações nos peitos de Alisson e palpitassem fortemente.
- Tem certeza, Gil? Não querem almoçar com a gente? Ficar mais um pouco? – Magali falou prontamente.
- Obrigado, Magali, mas acho melhor não atrasar o inevitável. – Ele olhou para sua filha que mantinha os lábios franzidos.
- Por que não damos alguns minutos para ele? – Muriel entendeu o olhar de seu irmão e os adultos confirmaram com a cabeça.
- Estaremos lá embaixo. – Gilberto falou e ambos assentiram com a cabeça, esperando que eles descessem os degraus antes de se encarar.
- É isso... – A garota falou, com medo de encarar os olhos verdes dele.
- Nós vamos fazer dar certo, ok?! Eu te amo demais! – Alisson falou prontamente, passando os braços ao redor do corpo da menina e a apertando fortemente.
Ela estava entre a cruz e a espada, não sabia o que fazer, então só encostou a cabeça no ombro do garoto, derramando mais algumas lágrimas na blusa social que ele usava. Ela passou os braços ao redor dele, sentindo o cheiro de seu perfume, a força de seus braços, a intensidade do seu olhar, tudo aquilo que ela se apaixonou em sete meses de namoro. Contando assim parece pouco, mas para eles era uma eternidade.
- Eu te amo, tá?! – Ela conseguiu falar, livrando as mãos e passando em seus olhos. – Hoje, amanhã, sempre!
- Eu sei! – Ele disse. – A vida vai ser boa para gente, você vai ver, quando menos esperar, estaremos juntos de novo. – Ela assentiu com a cabeça, respirando fundo.
- Sim, estamos juntos nessa! – Ela disse.
- E em todas as outras! – Ele finalizou, fazendo-a sorrir e abraçá-lo fortemente de novo.
- Não importa o que aconteça, só me prometa algo? – Ela perguntou.
- O que está dizendo? Não vai acontecer nada! – Ele falou acariciando seus cabelos.
- Por favor, Alisson, só prometa! – Ela disse e o garoto respirou fundo, sentindo o que a garota estava sentindo.
- Prometo! – Ele falou em um sopro.
- Não me esqueça, ok?! – Ela falou firme. – Mesmo se a vida nos levar para caminhos e realidade diferentes, não me esqueça, tá? Porque eu sei que nunca vou te esquecer. – Ela falou com os olhos marejados novamente e ele não sabia o que aquilo significava, mas não lhe parecia algo bom.
- Eu prometo! – Ele falou. – Além de que é muito difícil eu me esquecer de você! – Eles deram uma risada fraca. – Mas isso não é o fim, eu vou tentar ir te visitar o mais rápido possível e você também pode vir! – Ela assentiu com a cabeça. – Vai dar certo.
- É... – Ela falou sem convicção e colou os lábios de ambos novamente.
Alisson apertou a menina novamente pela cintura, trazendo-a para mais perto de si e sentiu as mãos dela acariciando seus ombros delicadamente. Os pais de ambos observavam a cena de longe e eles tinham o mesmo sentimento, aquela não era a escolha para eles, mas sim de Gilberto. Eles eram o casal perfeito, não existia nada nem ninguém que tivesse uma interação tão boa, inclusive com suas famílias, mas estava certa em ir com seu pai, só eram os dois agora. Ela não conseguia deixá-lo, não em um momento tão triste como esse.
O casal se soltou e Alisson encarou fundo nos olhos da menina, assentindo com a cabeça em um movimento de pergunta e ela fez o mesmo movimento, respirando fundo. Eles deram as mãos e desceram pelos degraus do teatro, se colocando próximo de seus pais novamente.
- Acho que é isso. – A garota falou e Alisson afirmou com a cabeça.
- Bom, deixa eu te dar um abraço, então! – Muriel falou, passando pelas pessoas e abraçando sua cunhada fortemente. – Saiba que você sempre será bem-vinda aqui nos Becker, ok?! Nós te amamos e queremos muito bem! – Ele sorriu para ela. – Uma hora essa dor passa, você vai ver.
- Obrigada, Muri! Por tudo mesmo, você é incrível! – Ela sorriu para ele, assentindo com a cabeça.
- A Elis e as crianças te mandaram um beijo, ficaremos em contato! – A garota assentiu, abrindo espaço para que dona Magali lhe desse um abraço forte de urso, da mesma forma que sua mãe fazia.
- Você é como uma filha para mim, ok?! Venha nos visitar sempre que quiser, nossa casa estará aberta! – sorriu, estalando um beijo na bochecha de dona Magali e elas sorriram cúmplices.
- Vem cá, minha querida. – Seu José falou, chamando a garota com a mão e apoiou a mão no ombro dela. – Só tenho uma coisa para te dizer e se lembre bem disso em toda situação de despedida: quando você for, não importa para onde ou por quanto tempo, nunca se esqueça de onde veio, tudo bem? – A garota sorriu, assentindo com a cabeça. – Você é muito importante para todos nós.
- Obrigada, tio! – Ela falou, suspirando. – Eu amo muito vocês! – Ela voltou para Alisson, abraçando-o pela cintura.
- Nós também! – Seu José respondeu.
- Eu te amo! – A garota cochichou mais uma vez para Alisson, trocando um delicado selinho e eles se soltaram devagar.
- Eu também! – Ele respondeu de volta.
- Vamos embora! – Ela disse, seguindo lentamente para o carro do pai.
Os Beckers foram junto e a garota entrou no lado do carona, abaixando o vidro antes de fechar a porta. Ela excluiu qualquer coisa que seu pai dizia para os adultos e focou em Alisson em sua frente. Ele segurava sua mão com força e ambos tremiam, eles não estavam prontos para isso. Seu Gilberto acenou em direção aos amigos antes de entrar no carro. Ele se ajeitou no banco e deu partida no carro.
- Eu te amo, eu te amo! – falava repetidamente, com as lágrimas começando a cair com velocidade de seu rosto.
- Eu te amo! – Alisson tentava acompanhar, mas a menina falava em um mantra, quase em um sinal de desespero.
O carro começou a andar aos poucos, fazendo com que Alisson tentasse acompanhar o mesmo, até andando pelo meio da rua para colocar suas pernas para correrem mais rápido, para que pudesse acompanhar a menina por mais alguns segundos, mas o carro ganhou velocidade e ele não conseguiu mais acompanhar. Nesse momento a menina colocou a cabeça para fora, quase se debruçando por completo, vendo o garoto parado no meio da avenida do teatro, com diversos carros parados atrás dele.
- Eu nunca vou te esquecer! – Ela cochichou sozinha, sentindo seu pai lhe puxar pela blusa e se sentar novamente no banco do carona.
- Vai ficar tudo bem, minha filha, eu prometo! – Seu pai disse, mas a menina não acreditou.
- Grazie. – A cliente sorriu e eu assenti com a cabeça, me retirando de sua mesa e fui até o balcão, apoiando a bandeja na mesma.
O bar estava vazio ainda, poucas mesas ocupadas. Julie, a menina nova, treinava alguma melodia para a noite internacional que começaria em uns 20 minutos. Era sábado, estava acontecendo a penúltima rodada do campeonato italiano e a Roma havia sido eliminada da Champions League, o movimento ao redor do Estádio Olímpico estava bem fraco e isso incluía o bar.
- Luca, duas porções de mozzarella fritos, por favor. – Falei para o cozinheiro quando entrei na cozinha e ele assentiu com a mão e eu me retirei.
O tempo lá fora não estava mais tão frio para que eu gostasse de ficar no abafado que era a cozinha. Estava gostoso, era meio da primavera, então a blusa de manga comprida por baixo já tinha sido suspensa há algum tempo. Eu que era friorenta, adorava quando Roma esquentava!
- Seu namorado está aqui. – Dante comentou quando passei atrás dele e observei Alisson e Juan entrando no bar, Alisson me procurava com os olhos.
Acenei quando ele me encontrou e apontei para Chiara que os indicaria para um local para sentar. Estiquei duas canecas para Dante, esperando que ele as enchesse. Peguei uma bandeja, colocando as canecas em cima da mesma e segui em direção à mesa de Alisson, apoiando a bandeja na mesma e tirando as canecas.
- Para vocês! – Falei.
- Olha, que prestativa! – Juan brincou e eu revirei os olhos.
- Como foi com Leo? – Perguntei e ele suspirou. – Alguma novidade?
- Pode se sentar? – Ele perguntou e eu olhei rapidamente em volta, me sentando na cadeira livre e colocando a bandeja em meu colo.
- E aí? – Perguntei.
- Primeiro de tudo, como está? – Ele falou fofo e eu ri fracamente, inclinando um pouco em sua direção, sentindo-o dar um leve beijo em meus lábios.
- Tudo bem. – Sorri. – E você?
- Ah, vocês são muito fofos! – Juan falou, nos fazendo rir.
- Conte-me tudo e não esconda-me nada! – Falei olhando rapidamente em volta e ele riu.
- Bem, ele tem algumas novidades. Parece que nosso desempenho na Champions League foi visto de forma positiva...
- O seu desempenho na Champions League! – Juan falou bebericando seu chope e eu ri.
- É, isso aí! – Ele suspirou. – Alguns times já estão sondando ele, entraram em contato e parece que talvez role algumas ofertas. – Ele suspirou. – Até a Roma já está cogitando aumento de salário e outras coisas.
- Legal, baby! Mas você realmente quer focar nisso agora? – Apoiei o queixo no braço.
- Como assim? – Ele perguntou.
- A Copa está chegando, amor, a convocação é na segunda-feira, você ficará dois meses fora. Por que você não relaxa, aproveita e volta a focar isso após a Copa? Aposto que você não vai decidir isso agora. – Afastei meu corpo, cruzando os braços.
- Você acha? – Ele perguntou se inclinando na mesa.
- Você não vai decidir nada agora, certo? Tem o jogo amanhã, a convocação depois de amanhã e você já vai perder o último jogo da temporada se isso realmente acontecer...
- Até parece que não vai acontecer. – Virei para Juan. – Desculpe. – Revirei os olhos.
- Devo esperar, então?! – Alisson perguntou.
- Acho que já passou da fase de eu falar o que você tem que fazer, mas eu esperaria. – Ele me deu um sorriso cúmplice. - Na Copa você será muito mais visto, tenha um bom desempenho que as ofertas serão muito maiores. – Sorri. – Não que você precise de dinheiro, mas todo mundo gosta de ser valorizado.
- Eu acho que ela está certa! – Juan falou, me fazendo sorrir.
- O que eu faria sem você? – Alisson falou.
- O mesmo que você fez nos últimos sete anos. – Falei, me levantando prontamente quando vi Alessandro entrar pela porta da frente. – Eu tenho que ir.
- Você vai comigo não importa onde eu for? – Alisson perguntou rapidamente.
- Claro que sim, não foi para isso que eu fiquei contigo? – Perguntei animada e ele riu.
- Vai cantar hoje? – Alisson perguntou.
- Sim, uma bem especial para você! – Pisquei para ele, vendo seu rosto se avermelhar de vergonha.
- Estarei no aguardo! – Sorri e peguei a bandeja, saindo dali rapidamente.
Parei rapidamente no balcão, recebendo as duas porções que tinha pedido um pouco mais cedo para Luca e levei em suas respectivas mesas, voltando rapidamente para atrás do balcão, deixando a bandeja no local correto e seguindo em direção ao caixa.
- . – Alessandro falou e eu sorri.
- Como está? – Perguntei.
- Muito bem! – Ele sorriu. – Pronta para arrasar?
- Em alguns minutos, vamos deixar Julie se soltar um pouco. – Sorri, vendo a menina ao lado do técnico de som, provavelmente nervosa pelo seu começo. – Posso falar contigo rapidamente?
- Claro, vamos lá dentro! – Ele saiu de trás do caixa, apoiando em minhas costas e seguimos para o quarto dos funcionários. – Então, o que você precisa?
- Eu gostaria de pedir minha demissão, signor. – Falei rapidamente, causando um susto nele.
- Está tudo bem? – Ele perguntou se sentando no sofá e eu me sentei ao seu lado.
- Está sim. – Sorri. – E é exatamente por isso que eu estou me demitindo. Você sabe os motivos que me levaram a conseguir esse emprego, o processo, julgamento, a falta de dinheiro...
- Sim, e por tudo isso eu acabei conhecendo uma das minhas maiores estrelas. – Sorri, assentindo com isso.
- Obrigada, signor Alessandro, mas agora que eu estou livre, sem motivos que me façam ficar, eu quero descobrir o que a vida tem para me mostrar ainda. Aproveitar que eu não fui presa por 10 anos em uma prisão italiana. – Sorri. – Essa confusão toda fez com que eu encontrasse o amor novamente, conhecesse oportunidades para viver e conviver. – Suspirei. – Realmente viraram minha vida de cabeça para baixo, mas estou percebendo que foi para o meu bem. Eu sou uma pessoa muito melhor agora depois de tudo o que aconteceu. – Ele assentiu com a cabeça.
- Bem, , eu aceito sua demissão, mas você precisa me prometer que não deixará de cantar. – Ri fracamente. – Eu sei tão pouco da sua vida, mas te conheci em um momento de maior necessidade e sei que foi a música que te colocou nos eixos novamente. – Abri um pequeno sorriso. – Eu percebo as músicas que você toca, todas foram para o Alisson, sem exceção. Você fala com a música, você demonstra seus sentimentos com a música, então aproveite isso. – Ri fracamente. – E não digo em ser uma estrela da música, apesar que seria bem legal, mas só aproveitar a música. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada, signor! – Sorri. – Eu posso vir até amanhã e finalizar meus serviços.
- Vai ser um prazer! – Ele me abraçou rapidamente e eu suspirei. – Amanhã organizamos nossas contas. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada por tudo.
- Agora vai, cante mais uma vez para gente! – Assenti com a cabeça, me levantando novamente e saí da sala.
A música lá fora já rolava solta, Julie já tinha cantado e o microfone estava aberto para os outros funcionários. Me coloquei ao lado da mesa de som e escrevi meu nome em um papel, deixando com o funcionário e fiquei ouvindo os últimos toques de Piece of Me da Britney Spears. Observei Alisson com Juan e eles riam de alguma coisa, abri um sorriso. Como eu amava esse homem.
- Agora, nossa melhor cantora, ! – Signor Alessandro falou de volta para a mesa de som e os funcionários gritaram por mim e os clientes aplaudiram mais timidamente.
Subi no palco respirando fundo e me coloquei em frente ao microfone, sozinha dessa vez. Olhei para frente, encontrando Alisson algumas mesas para frente e dei um pequeno sorriso, respirando fundo, ouvindo a música começar a tocar devagar. Mordi meu lábio inferior, fechando os olhos e pensando no significado que essa música tinha para Alisson. Ele era minha droga e eu me desapeguei por sete anos, mas agora estava pronta para consumi-la pelo resto da minha vida.
- Something must've gone wrong in my brain, got your chemicals all in my veins, feeling all the highs, feeling all the pain. – Apertei as mãos no microfone, suspirando. - Let go on the wheel it's the bullet lane, now I'm seeing red not thinking straight, blurring all the lines, you intoxicate me. – Abri os olhos novamente, encontrando seus olhos verdes de longe. - Just like nicotine, heroin, morphine. Suddenly, I'm a fiend and you're all I need, all I need. Yeah, all I need. – Puxei o ar fortemente antes da batida, firmando uma das mãos no microfone.
- It's you, babe, and I'm a sucker for the way that you move, babe. And I could try to run, but it would be useless, you're to blame. – Botei minha voz forte para sair, fazendo com que os funcionários gritassem animados. - Just one hit of you I knew I'll never be the same. – Respirei fundo. - It's you, babe, and I'm a sucker for the way that you move, babe. And I could try to run, but it would be useless, you're to blame. – Abri um largo sorriso. - Just one hit, I knew I'll never ever, ever be the same. I'll never be the same. I'll never be the same. I'll never be the same. – Estiquei minha mão em direção a Alisson, vendo que ele até se ajeitou na mesa, inclinando o corpo para frente.
- Sneaking in L.A. when the lights are low. Off of one touch I could overdose. You said, "stop playing it safe, girl, I wanna see you lose control". – Firmei as mãos no microfone novamente. - Just like nicotine, heroin, morphine. Suddenly, I'm a fiend and you're all I need, all I need. Yeah, all I need. – Respirei fundo.
- It's you, babe, and I'm a sucker for the way that you move, babe. And I could try to run, but it would be useless, you're to blame. Just one hit of you I knew I'll never be the same. – Comecei a movimentar meus quadris no ritmo da música, ouvindo sua batida forte. - It's you, babe, and I'm a sucker for the way that you move, babe. And I could try to run, but it would be useless, you're to blame. Just one hit, I knew I'll never ever, ever be the same. I'll never be the same. I'll never be the same. I'll never be the same. – Alisson abriu um largo sorriso, dando uma piscadela para mim e eu respirei fundo, mordendo meu lábio por alguns segundos antes de suspirar e continuar.
- You're in my blood, you're in my veins, you're in my head, I blame. – Respirei fundo. - You're in my blood, you're in my veins, you're in my head, I blame. – Joguei meus cabelos para o outro lado, firmando as mãos novamente no microfone.
- I'm saying it's you, babe, and I'm a sucker for the way that you move, babe. – Forcei minha voz novamente, fechando os olhos. - And I could try to run, but it would be useless, you're to blame. Just one hit, I knew I'll never be the same. – Apontei para Alisson novamente, mantendo o ritmo de meus quadris. - It's you, babe, and I'm a sucker for the way that you move, babe. And I could try to run, but it would be useless, you're to blame. Just one hit, I knew I'll never ever, ever be the same. – Sorri largamente no final da música, ouvindo as pessoas do bar me aplaudirem animadamente.
- Quem quer ser o próximo depois desse show? – Alessandro brincou no microfone, fazendo as pessoas rirem e ele chamar o próximo da fila.
Vi Alisson me encarando e segui em sua direção quando saí do palco, abrindo um largo sorriso quando ele passou a mão em minha cintura e se levantou, colando os lábios firmes nos meus. Ergui a mão para sua nuca por alguns segundos, me afastando com a falta de ar rapidamente.
- Tirando meu fôlego? – Perguntei e ele riu.
- Se eu sou sua heroína, nicotina e posso te causar overdose, saiba que você também é a minha. – Ele falou, me fazendo rir.
- Até que o inglês não está tão mal. – Comentei.
- A tradução da música está aberta no celular dele. – Juan comentou e eu gargalhei, negando com a cabeça para Alisson.
- E você gosta da forma que eu me movimento? – Ele perguntou e eu senti meu rosto esquentar, colando minha boca em seu ouvido.
- Dentro de campo, na cama, dançando... – Encarei seus olhos novamente. – Em qualquer lugar.
- No aguardo de chegar em casa novamente. – Ele falou malicioso e eu ri, me afastando dele um pouco e seguindo para meu trabalho.
- Se você puder esperar mais três horas... – Dei de ombros, sorrindo, fazendo-o rir.
- Nós deveríamos cantar We Are the Champions, sabia? – Dante comentou comigo. – Nem pudemos aproveitar muito sua vitória no julgamento, seu romance e tudo mais.
- Eu concordo com ele. – Chiara se meteu, me fazendo rir.
- Eu topo. – Giorgia falou.
- Coloca na lista, então. – Disse sorrindo, virando para trás e percebendo que Alisson ainda me encarava.
Abaixei o volume da televisão e ajeitei o violão no meu colo novamente, passando as mãos nas cordas, pressionando-as e começando a dedilhar devagar, iniciando uma música que eu já conhecia de cor.
- Outra noite fracassada sem você do lado, 'tô saindo da boate todo incomodado, 'tá na cara que não te esqueci. – Comecei cantando baixinho. - Na saída um casal se beijando na rua, até pareceu nós dois, senti saudade sua, quase não reconheci. – Troquei as mãos nos acordes. - Até assustei, e o copo deixei cair da minha mão, era você beijando outro sem parar. – Ergui o rosto rapidamente, vendo as pernas nuas de andando pela cozinha e abri um pequeno sorriso. - Por isso eu liguei: melhor esquecer a última mensagem que acabei de enviar, melhor desconsiderar. Esquece, toda essa besteira que você já leu, não 'tá mais aqui o trouxa que escreveu. – Forcei mais os dedos nas cordas. - É culpa da bebida, foi só recaída. Pelo amor de Deus, esquece, percebi que 'tá bem melhor do que eu. Esse beijo que deu nele 'cê nunca me deu, continua o que 'cê 'tá fazendo, 'cê vai beijando, eu vou bebendo...
- Você só canta essa música! – apareceu na sala novamente, deixando o balde de pipoca na mesa de centro e se sentou ao meu lado novamente.
- Ah, nem vem! – Brinquei, segurando o violão e me debruçando para pegar algumas pipocas.
- Qualquer programa que você vai, você só toca isso. – Ela comentou jogando os pés para cima do sofá e ajeitando a coberta em cima de seu corpo seminu.
- Foi uma vez no programa do Gentili! – Falei e ela riu fracamente, mostrando a língua para mim.
- Eu vou continuar dizendo que você precisa aprender umas músicas que eu gosto, tá? – Ela pegou o balde e eu a encarei por alguns segundos.
- Eu aprendi, tá? Muitos pops só porque você gostava, Demi, Miley, Avril Lavigne e sei lá mais o quê! – Ela revirou os olhos.
- Aposto que não pratica há muito tempo! – Suspirei.
- Eu me lembro de uma. – Virei para ela. – Eu acabei me afeiçoando a ela porque combinava muito com a nossa história! – Ela franziu a testa.
- Qual? – Ela perguntou curiosa.
- Don’t Forget da Demi Lovato.
- Meu Deus! – Ela se surpreendeu. – Você me ligou àquela música? – Ela perguntou.
- Sim. – Dei um pequeno sorriso. – Você já viu a tradução? É a nossa história depois do término.
- Já, por isso minha surpresa, é muito depressiva. – Soltei um suspiro alto.
- Não quero trazer coisas ruins à tona, mas foi como eu me senti. Você deveria estar focada na perda da sua mãe, eu foquei na sua perda e na nossa separação. – Dei de ombros. – Não foi oficial, mas a gente terminou no dia em que voltamos da Nigéria. – Ela suspirou.
- Não, quando eu fui embora talvez, não quando voltamos. – Ela franziu os lábios. – Mas confesso que quando me despedi de você naquele dia, alguma coisa dentro de mim sabia que era uma despedida para sempre. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei! Sua cabeça já estava em outro lugar. – Ela confirmou.
- Bom, mas anos se passaram e o destino conseguiu nos juntar novamente! – Ela falou erguendo a mão e tocando meu ombro.
- Quando o amor é forte... – Brinquei e ela sorriu, inclinando o corpo em minha direção e me dando um beijo leve.
- Toca para mim. – Ela falou com um sorriso no rosto. – Don’t Forget.
- Só se você cantar. – Falei e ela riu.
- Bom, se algo der errado na vida para você, podemos formar uma dupla. Porque na minha já deu! – Gargalhei, empurrando-a com o ombro e arrumando o violão em meus braços novamente.
- Vai! – Falei, começando a dedilhar as poucas notas daquela música.
- Did you forget that I was even alive? – Sua voz doce começou a me acompanhar. - Did you forget everything we ever had? Did you forget? Did you forget about me? – Ela me deu um sorriso, me fazendo retribuir. - Did you regret ever standing by my side? Did you forget what we were feeling inside? Now I'm left to forget about us. – Ela tocou meu ombro novamente, ajeitando o corpo. - But somewhere we went wrong, we were once so strong. Our love is like a song, you can't forget it...
Pensando em tantos anos que eu ouvia essa música e só conseguia pensar nela. Em todas as coincidências estranhas da vida e todos os motivos que nós terminamos, provavelmente fizemos muita coisa errada. Eu ainda me sentia culpado pelo nosso término, ela tinha perdido a mãe dela, pensar que dinheiro foi o motivo de nos afastar, parecia tão ridículo agora.
Mas olhando para ela aqui, cantando novamente comigo, seminua depois de muitos amassos no sofá, percebi que a vida quis que fosse dessa forma. Só esperava que o destino não agisse novamente e fizesse outra gracinha de nos separar no fim do ano. Eu precisava dessa mulher da minha vida.
- Não está tão mal! – Ela falou cortando a música no meio do caminho e eu ri.
- Eu só lembro porque essa melodia é muito fácil. – Falei, abaixando o violão e ela riu fracamente.
- Bom, acho que todas nossas diferenças somem na música. – Ela falou, deslizando pelo sofá e se encostando em meu corpo, passei o braço em seu ombro, mas ela se inclinou para pegar o balde de pipoca.
- Na música, na cama, com nossas famílias. – Ela virou o rosto para mim e eu depositei um beijo em sua testa, vendo-a sorrir.
- Eu te amo muito, Alisson Becker. Não consigo nem quantificar. – Ela falou e eu tirei a mecha de cabelo que caía em seu rosto.
- Eu sei! – Respondi. – Porque eu sinto da mesma forma. Todos os dias, quando eu olho para o lado e você está dormindo ali, calmamente, roncando igual um trator. – Ela gargalhou, me dando um tapa no ombro.
- Não sou só que eu ronco, tá? – Ela falou.
- Eu não ronco! – Falei me fazendo de fingido.
- Claro que ronca! – Ela falou.
- Eu não sei, eu nunca me vi roncando. – Ela revirou os olhos caindo na brincadeira novamente e eu segurei em sua nuca, depositando um beijo em seus lábios. – Sua tonta! – Rimos juntos.
- “E estamos ao vivo...” – Ouvi na televisão e deu um pulo no sofá, virando para frente.
- Vai começar! – Ela disse, pegando o controle e aumentando o volume até quase estourar pelas caixas de som do home theather que por algum motivo estava ligado... Já sei, Crepúsculo!
Ela se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nas coxas e o queixo nas mãos e observou a televisão na Globo Internacional. Eram duas da tarde lá no Brasil, mas seis da tarde aqui. Era agora que a temida convocação aconteceria. Eu tinha 99 por cento de chances de convocação, já havia falado com Tite nas últimas semanas, repassado minhas informações pessoais, mas ainda tinha aquele um por cento que pensava que podia dar errado e essa lista mudar. Além de que era a primeira vez que eu realmente assistia a convocação, desde a primeira vez, eu sempre fazia questão de me ocupar, mas minha garota quis ver, então...
Mas eu não estava tão nervoso, bom, pelo menos eu não aparentava. estava muito mais. Seus pés batucavam desajeitadamente no chão e ela começou a morder a ponta das unhas, me fazendo sorrir, em breve ela conseguiria quebrar e ia reclamar de não ter lixas nessa casa.
Passei a mão em suas costas, vendo-a virar o rosto para mim rapidamente com um sorriso no rosto e logo focar na televisão onde Tite, Edu, Sylvinho e um dos dirigentes estavam organizados na mesa.
- “...Respaldado, seguro e com uma expectativa muito grande tal qual uma série de vocês, mas vamos direto”. – Ele falou e eu puxei a respiração, se fosse para eu ser convocado, eu seria o primeiro nome. – “Goleiros Alisson, Roma...”
- Ah! – Arregalei os olhos com a reação de , sentindo-a pular em cima de mim e me abraçar fortemente. – Você foi convocado! – Ri com a sua reação, sentindo-a distribuir vários beijos na dobra do meu pescoço. – Você vai para a Copa! – Arregalei os olhos.
- Meu Deus! Eu vou para Copa! – Falei um tanto assustado e ela riu fracamente, segurando meu rosto com as mãos.
- Não vai ficar nervoso agora. – Ela falou sorrindo. – Você já sabia que ia, vai. – Respirei fundo.
- Acho que a ficha caiu agora! – Suspirei.
- Você vai ser incrível! – Ela falou sorrindo. – Você vai ver, se já tá chovendo ofertas para ti, espera depois da Copa.
- Como você pode ter tanta certeza? – Perguntei e ela deu de ombros.
- Eu não tenho. – Ela riu fracamente. – Mas eu te conheço. Eu te vejo treinar desde lá atrás, eu sei que você sempre dá 110 por cento em todo jogo, que você é sempre o primeiro a chegar e o último a sair, que tem reflexos incríveis e que dificilmente deixa uma bola entrar por erro. Às vezes o atacante só é mais rápido. – Abri um pequeno sorriso.
- “Dificilmente”. – Frisei a palavra que ela disse e ela negou com a cabeça.
- Você é humano, não um robô, temos todo o direito de errar. – Ela colou os lábios nos meus novamente, se separando rápido demais. – Só não abusa, tá? – Ri fracamente, colando nossos lábios novamente.
- Até parece que eu vou deixar alguma coisa entrar! – Sorri e ela colou os lábios nos meus novamente.
Ela passou os braços pelos meus ombros e eu a apertei mais perto de mim, passando as mãos em sua cintura e trazendo-a para meu colo. Ela colocou os joelhos entre minhas pernas e passou as mãos nos fios dos meus cabelos, puxando levemente. Ela soltou um suspiro, nos separando e eu sorri, apertando-a mais em meus braços.
- Vai comigo. – Falei com os lábios ainda colados.
- Onde? – Ela se afastou um pouco.
- Para Rússia, para Copa. – Ela suspirou, abrindo um largo sorriso.
- Claro que eu vou. – Ela sorriu, me dando um rápido selinho. – Se meu passaporte deixar, é claro! – Ela falou e eu ri, começando a fazer cócegas nela, fazendo-a cair para trás, gargalhando.
- Para de falar isso, vai passar, você vai entrar!
- Para, Alisson, por favor! – Ela falava repetidamente e eu ri, parando alguns segundos depois.
- Ok, mas pare de falar isso, vai ficar tudo bem, você vai ver. – Ela suspirou, continuando deitada e eu debrucei meu corpo sobre o dela.
- Eu só preciso ir para casa um pouco. – Ela falou. – Faz muito tempo que eu não vou para casa. – Assenti com a cabeça.
- Bom, eu vou para o Rio na semana que vem para a apresentação na Granja Comary e uma semana de preparação, depois têm os amistosos em Londres e em Viena. De hoje é um mês até o início da Copa, porque você não aproveita um pouco? – Acariciei seu rosto levemente.
- Combinado, eu te encontro na Rússia, então! – Ela sorriu e eu colei nossos lábios delicadamente.
- Mas espero que volte para cá depois da Copa, ok?! – Falei firme e ela sorriu.
- Mas é claro que sim, seu tonto! Eu já disse que te sigo para qualquer lugar que você for. – Ela acariciou meu rosto novamente e eu assenti com a cabeça, deitando meu corpo em cima do dela e colando nossos lábios mais uma vez.
Epílogo
- Obrigada! – A cliente falou em inglês e sorriu, pegando as libras em cima da bandeja e voltou para atrás do balcão, esticando a bandeja para Joanna que estava no caixa e ela pegou as notas.
Ela se sentou em um dos bancos livres atrás do balcão e observou a rua pelas janelas de vidro. A farra já tinha saído de frente de Anfield, mas ela ainda podia escutar os gritos da torcida. Hoje tinha sido um dia emocionante para o Liverpool, começar o jogo as oito horas como um time eliminado da Champions League e finalizar como classificado.
Aquilo era surreal para , mas com a defesa de seu namorado nos acréscimos do segundo tempo, nem parecia que ela o conhecia há tantos anos. A noite seria longa, pelo menos para os torcedores, o bar de não estava muito movimentado ainda. Somente 12 das 20 mesas estavam ocupadas e ainda era algo muito contido.
- Yes, I've been brokenhearted, blue since the day we parted. Why, why did I ever let you go? – ergueu os olhos para o palco onde uma loira cantava. - Mamma mia, now I really know, my, my, I could never let you go.
sorriu quando ela finalizou, aplaudindo junto dos outros clientes, vendo a loira dos cabelos cacheados fazer uma flexão com a cabeça em agradecimento. E saiu do palco, entregando o microfone para o técnico de som.
- E agora, Annelise Collins. – O técnico falou e outra pessoa subiu no palco.
- Me vê um chope, por favor, ? – A loira se sentou no balcão e pegou uma caneca, enchendo para a menina e colocando em sua frente.
- Cadê as outras? Aproveitando a fama? – perguntou, apoiando os braços no balcão.
- Mais ou menos! – Ela fez uma careta. – Belga está comemorando e Tonya deve estar com algum cara. – A menina revirou os olhos e riu.
- Daqui a pouco aqui enche e elas aparecerem, você vai ver. – piscou para ela e saiu pela lateral, indo atender outra mesa, mas sua garçonete já tinha ido.
- Você deveria cantar conosco um dia, fazer uma parceria, seria legal. – Dana comentou. – Você canta melhor que todas nós juntas.
- Claro, claro! – revirou os olhos. – Eu já sou famosa, querida. Tenho toda a fama do mundo. – Elas riram juntas.
- Você namora o melhor goleiro da atualidade e blá, blá, blá. – Elas riram juntas.
A pessoa que cantava agora havia escolhido uma música animada também, então o pessoal começou a animar mais. abriu um largo sorriso quando a porta do bar se abriu, deixando o frio de Liverpool entrar, revelando Alisson, Firmino e Fabinho.
- Como vocês fazem isso com a gente? – A garota voltou para o seu português habitual e Alisson se debruçou sobre o balcão, colando os lábios nos dela rapidamente, fazendo-o sorrir. – Isso não justifica. – Ela falou, fazendo-o rir.
- Ah, qual é, ganhamos! – Firmino se sentou de um lado de Alisson e Fabinho de outro.
- É disso que eu estou falando. – falou. – Não poderiam ter resolvido antes? Sem sofrimentos? Sem depender de um placar muito específico?
- Para de reclamar! Ganhamos e passamos! É o que importa! – Firmino falou acenando para o garçom na tulipa e pedindo um chope.
- Vocês são impossíveis. – revirou os olhos. – Mas aquela sua defesa no final foi sensacional! – falou agora diretamente para seu namorado que sorriu.
- Confesso que eu só fui em cima da bola, se ela batesse errado, eu não saberia o que fazer. – A garota acariciou o rosto do namorado, sorrindo.
- Ainda bem que não precisou descobrir. – Ela deu de ombros rindo. – E as mulheres? Não vão nos encontrar aqui?
- Vão, as meninas vêm também, elas querem cantar. A Larissa daqui a pouco aparece com elas. – Firmino falou.
- E você, Fábio? – se virou.
- A Rebeca disse que vem também, vamos ver se não dá preguiça. – Ri com ele.
- Vamos ver! – Dei de ombros. – E o resto do time?
- Tá chegando aí! – Alisson falou se virando para trás, vendo que outros jogadores entraram no bar: Salah, Henderson, Milner, Keita, Mané, até alguns jogadores da base como Kelleher que treinava no time principal.
- Bebidas para todos, Brad, vamos animar isso daqui! – voltou ao inglês sorrindo para seu namorado.
- Vai cantar hoje? – Alisson perguntou e a garota respirou fundo, ponderando com a cabeça.
- Eu não sei. – Ela sorriu. – Acho que estou cansada demais para isso.
- Cansada demais para cantar? – Alisson brincou. – Cadê minha garota animada?
- Comprou um bar falido e é dona de um negócio até que popular aqui em Liverpool, sabia? – Ele riu fracamente. – Não éramos para ter aberto hoje, você sabe, só abrimos por causa do jogo.
- E valeu a pena! – Ele falou, fazendo-a rir.
- Mas sério, eu estou cansada, precisando tirar uma semana de descanso.
- Mas já? - Ele segurou sua mão em cima do balcão.
- Já. – Ela suspirou. – Ou deitar naquela banheira, encher de água quente e sais de banho e relaxar. – Ele sorriu.
- Eu posso fazer isso por você e até uma massagem nos seus pés se quiser. – A menina sorriu.
- Eu vou aceitar. – Ela abriu um largo sorriso e ele se inclinou no bar novamente, dando um beijo em seus lábios.
- Agora vai, canta uma para mim. – Ele pediu com aqueles lindos olhos verdes e ela suspirou.
- Você é terrível, Alisson Becker! – Ela brincou e eles riram. – Vou ver se Dana quer cantar comigo, o resto do trio largou ela hoje.
- Ela está falando com Kelleher, acho melhor não interromper agora. – Alisson falou e ambos viraram o rosto para observar a menina conversar com o goleiro reserva.
- Ela vive falando que não quer ficar com ele, porque ele é muito novo para ela, mas quando estão juntos, ninguém segura essa menina. – Eles riram juntos e seguiu seu caminho para a frente do balcão novamente.
Cumprimentou os jogadores que tinha mais intimidade e acenou para outros rapidamente. Viu que suas funcionárias atendiam as mesas lotadas agora e os diversos torcedores que tentavam entrar no bar por conta dos jogadores. A garota parou ao lado de Alisson novamente, tocando seu ombro lentamente, arqueando um pouco seu corpo e ele passou o braço pela cintura da mesma.
- Por que você não canta comigo hoje? – Ela cochichou para Alisson.
- Para toda essa galera? – Ele perguntou.
- Ei, você que tocou e cantou na sua semana de trote do Liverpool, nem vem. – Eles riram juntos.
- Ok, só se for Noite Fracassada. – Ela fez uma careta.
- Nem a pau! – Ela brincou e ele apertou a menina pela cintura, trazendo-a mais para perto.
- Se você topar, podemos ir embora mais cedo, Brad pode fechar para você hoje. – Ele cochichou próximo ao seu ouvido.
- Até parece que seu time vai deixar o herói do jogo ir embora cedo. – Eles riram juntos.
- Provavelmente! – Ele brincou. – Mas, então, depois que chegarmos?
- Porque não pensamos nisso depois e, agora, você coloca seu nominho lá na lista do karaokê?
- Porque eu estou fazendo algo melhor. – Ele disse, colando os lábios nos da garota novamente, sentindo-a passar os braços pelos ombros dele como sempre fazia.
- Eu preciso trabalhar! – Ela gemeu e eles riram juntos.
- Resolvemos isso em casa! – Ele cochichou em seu ouvido e ela piscou, se desvencilhando de seus braços.
- Talvez. – Ela sorriu, dando de ombros e seguiu pelo bar, pegando a bandeja de cima do balcão. Alisson observou a menina que ele amava se espremer pelo bar e abriu um sorriso, agradecendo mais uma vez por ter aquela garota de volta em sua vida. E poder compartilhar de novo todos os seus sonhos e desejos.
Ela se sentou em um dos bancos livres atrás do balcão e observou a rua pelas janelas de vidro. A farra já tinha saído de frente de Anfield, mas ela ainda podia escutar os gritos da torcida. Hoje tinha sido um dia emocionante para o Liverpool, começar o jogo as oito horas como um time eliminado da Champions League e finalizar como classificado.
Aquilo era surreal para , mas com a defesa de seu namorado nos acréscimos do segundo tempo, nem parecia que ela o conhecia há tantos anos. A noite seria longa, pelo menos para os torcedores, o bar de não estava muito movimentado ainda. Somente 12 das 20 mesas estavam ocupadas e ainda era algo muito contido.
- Yes, I've been brokenhearted, blue since the day we parted. Why, why did I ever let you go? – ergueu os olhos para o palco onde uma loira cantava. - Mamma mia, now I really know, my, my, I could never let you go.
sorriu quando ela finalizou, aplaudindo junto dos outros clientes, vendo a loira dos cabelos cacheados fazer uma flexão com a cabeça em agradecimento. E saiu do palco, entregando o microfone para o técnico de som.
- E agora, Annelise Collins. – O técnico falou e outra pessoa subiu no palco.
- Me vê um chope, por favor, ? – A loira se sentou no balcão e pegou uma caneca, enchendo para a menina e colocando em sua frente.
- Cadê as outras? Aproveitando a fama? – perguntou, apoiando os braços no balcão.
- Mais ou menos! – Ela fez uma careta. – Belga está comemorando e Tonya deve estar com algum cara. – A menina revirou os olhos e riu.
- Daqui a pouco aqui enche e elas aparecerem, você vai ver. – piscou para ela e saiu pela lateral, indo atender outra mesa, mas sua garçonete já tinha ido.
- Você deveria cantar conosco um dia, fazer uma parceria, seria legal. – Dana comentou. – Você canta melhor que todas nós juntas.
- Claro, claro! – revirou os olhos. – Eu já sou famosa, querida. Tenho toda a fama do mundo. – Elas riram juntas.
- Você namora o melhor goleiro da atualidade e blá, blá, blá. – Elas riram juntas.
A pessoa que cantava agora havia escolhido uma música animada também, então o pessoal começou a animar mais. abriu um largo sorriso quando a porta do bar se abriu, deixando o frio de Liverpool entrar, revelando Alisson, Firmino e Fabinho.
- Como vocês fazem isso com a gente? – A garota voltou para o seu português habitual e Alisson se debruçou sobre o balcão, colando os lábios nos dela rapidamente, fazendo-o sorrir. – Isso não justifica. – Ela falou, fazendo-o rir.
- Ah, qual é, ganhamos! – Firmino se sentou de um lado de Alisson e Fabinho de outro.
- É disso que eu estou falando. – falou. – Não poderiam ter resolvido antes? Sem sofrimentos? Sem depender de um placar muito específico?
- Para de reclamar! Ganhamos e passamos! É o que importa! – Firmino falou acenando para o garçom na tulipa e pedindo um chope.
- Vocês são impossíveis. – revirou os olhos. – Mas aquela sua defesa no final foi sensacional! – falou agora diretamente para seu namorado que sorriu.
- Confesso que eu só fui em cima da bola, se ela batesse errado, eu não saberia o que fazer. – A garota acariciou o rosto do namorado, sorrindo.
- Ainda bem que não precisou descobrir. – Ela deu de ombros rindo. – E as mulheres? Não vão nos encontrar aqui?
- Vão, as meninas vêm também, elas querem cantar. A Larissa daqui a pouco aparece com elas. – Firmino falou.
- E você, Fábio? – se virou.
- A Rebeca disse que vem também, vamos ver se não dá preguiça. – Ri com ele.
- Vamos ver! – Dei de ombros. – E o resto do time?
- Tá chegando aí! – Alisson falou se virando para trás, vendo que outros jogadores entraram no bar: Salah, Henderson, Milner, Keita, Mané, até alguns jogadores da base como Kelleher que treinava no time principal.
- Bebidas para todos, Brad, vamos animar isso daqui! – voltou ao inglês sorrindo para seu namorado.
- Vai cantar hoje? – Alisson perguntou e a garota respirou fundo, ponderando com a cabeça.
- Eu não sei. – Ela sorriu. – Acho que estou cansada demais para isso.
- Cansada demais para cantar? – Alisson brincou. – Cadê minha garota animada?
- Comprou um bar falido e é dona de um negócio até que popular aqui em Liverpool, sabia? – Ele riu fracamente. – Não éramos para ter aberto hoje, você sabe, só abrimos por causa do jogo.
- E valeu a pena! – Ele falou, fazendo-a rir.
- Mas sério, eu estou cansada, precisando tirar uma semana de descanso.
- Mas já? - Ele segurou sua mão em cima do balcão.
- Já. – Ela suspirou. – Ou deitar naquela banheira, encher de água quente e sais de banho e relaxar. – Ele sorriu.
- Eu posso fazer isso por você e até uma massagem nos seus pés se quiser. – A menina sorriu.
- Eu vou aceitar. – Ela abriu um largo sorriso e ele se inclinou no bar novamente, dando um beijo em seus lábios.
- Agora vai, canta uma para mim. – Ele pediu com aqueles lindos olhos verdes e ela suspirou.
- Você é terrível, Alisson Becker! – Ela brincou e eles riram. – Vou ver se Dana quer cantar comigo, o resto do trio largou ela hoje.
- Ela está falando com Kelleher, acho melhor não interromper agora. – Alisson falou e ambos viraram o rosto para observar a menina conversar com o goleiro reserva.
- Ela vive falando que não quer ficar com ele, porque ele é muito novo para ela, mas quando estão juntos, ninguém segura essa menina. – Eles riram juntos e seguiu seu caminho para a frente do balcão novamente.
Cumprimentou os jogadores que tinha mais intimidade e acenou para outros rapidamente. Viu que suas funcionárias atendiam as mesas lotadas agora e os diversos torcedores que tentavam entrar no bar por conta dos jogadores. A garota parou ao lado de Alisson novamente, tocando seu ombro lentamente, arqueando um pouco seu corpo e ele passou o braço pela cintura da mesma.
- Por que você não canta comigo hoje? – Ela cochichou para Alisson.
- Para toda essa galera? – Ele perguntou.
- Ei, você que tocou e cantou na sua semana de trote do Liverpool, nem vem. – Eles riram juntos.
- Ok, só se for Noite Fracassada. – Ela fez uma careta.
- Nem a pau! – Ela brincou e ele apertou a menina pela cintura, trazendo-a mais para perto.
- Se você topar, podemos ir embora mais cedo, Brad pode fechar para você hoje. – Ele cochichou próximo ao seu ouvido.
- Até parece que seu time vai deixar o herói do jogo ir embora cedo. – Eles riram juntos.
- Provavelmente! – Ele brincou. – Mas, então, depois que chegarmos?
- Porque não pensamos nisso depois e, agora, você coloca seu nominho lá na lista do karaokê?
- Porque eu estou fazendo algo melhor. – Ele disse, colando os lábios nos da garota novamente, sentindo-a passar os braços pelos ombros dele como sempre fazia.
- Eu preciso trabalhar! – Ela gemeu e eles riram juntos.
- Resolvemos isso em casa! – Ele cochichou em seu ouvido e ela piscou, se desvencilhando de seus braços.
- Talvez. – Ela sorriu, dando de ombros e seguiu pelo bar, pegando a bandeja de cima do balcão. Alisson observou a menina que ele amava se espremer pelo bar e abriu um sorriso, agradecendo mais uma vez por ter aquela garota de volta em sua vida. E poder compartilhar de novo todos os seus sonhos e desejos.
FIM.
Nota da autora: Oi, gente! Chegamos no final de mais uma história! Espero que vocês tenham gostado.
Esse final foi emocionante, mas fico feliz que o Alisson esteja rendendo ótimas histórias e que eu ainda estou com resquício Copa!
Muito obrigada para quem acompanhou e quem está chegando agora.
Uma história está finalizando, mas outras em breve chegarão aqui!
Obrigada, Naty por betar mais essa história minha.
Um grande beijo e não se esqueçam de deixar seu comentário abaixo!
Nota da beta: Ah, que fanfic mais incrível, me apaixonei por ela desde o dia quando você me contou da ideia, surtei logo para que você escrevesse hahahah! Amei a forma como você abordou a prisão dela, e como ela cresceu durante a história, ficou nítido a evolução dela na história! E essa interligação de passado e presente foi genial, amei! Esse Alisson todo apaixonante, apesar de no início ter duvidado dela, escutou o coração! Parabéns, arrasou!
Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.
Esse final foi emocionante, mas fico feliz que o Alisson esteja rendendo ótimas histórias e que eu ainda estou com resquício Copa!
Muito obrigada para quem acompanhou e quem está chegando agora.
Uma história está finalizando, mas outras em breve chegarão aqui!
Obrigada, Naty por betar mais essa história minha.
Um grande beijo e não se esqueçam de deixar seu comentário abaixo!
Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
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