Capítulo 15
Paddock McLaren, circuito urbano de Jeddah – Arábia Saudita
havia passado os 40 minutos antecedentes explicando o porquê de sua decisão definitiva em não competir nas últimas duas corridas da temporada com completa honestidade, desculpando-se com toda a sua equipe que engajara rumo à vitória junto dela e fechando o discurso com um pedido delicado.
- Eu sei que isso está muito fora do meu alcance e da minha alçada. – ela esclarece – Mas peço que, por favor, ao menos considerem essa possibilidade, vislumbrando acima de tudo o melhor para a equipe, claro.
Ela espera por alguma reação até que seu diretor chefe se levanta da cadeira o qual estava sentado, ao redor da mesa repleta com os membros superiores e diretoria da equipe.
disfarçadamente, mediante aos olhos dos demais, respira aliviada. Zak nunca havia discordado ou rejeitado qualquer sugestão da pilota.
Pelo menos, até então.
- Eu já esperava que fossemos acabar tento essa conversa depois do treino de ontem. – ele diz – E compreendo completamente o seu lado de mãe, ao proteger o seu bebê.
- Mas... – ela prevê.
- Mas não acho que seja uma boa ideia colocar Jamie Chadwick como sua substituta. – Zak completa com olhos pesarosos – E, pelo amor de Deus, não é por questões de gênero ou porque estaríamos sendo neutros no movimento, o qual você sabe que apoiamos junto com você em cem por cento.
assente.
- É porque teríamos apenas um treino livre para ela se adaptar ao carro antes da classificação, além de não ter tempo para passá-la todas as estratégias. Teríamos que focar em uma única jogada e qualquer erro arruinaria a corrida. São termos simplesmente técnicos e preferimos evitar nos arriscarmos desta forma porque temos muito em jogo aqui.
- Felipe sabe pouco mais que ela. – rebate – Está à somente um treino na frente e da mesma forma que ele se adaptou, acredito que ela também seja capaz. Além do fato dela já ter contato com carros de Fórmula 1 por conta da Willians, só terá que se moldar às nossas configurações e aos comandos.
Zak suspira pesadamente.
- Eu confio nela, passei a noite assistindo às corridas dela. E não digo por que seria conveniente para mim pelo movimento, mas porque tenho certeza de que ela é a pessoa de que precisamos. – a mulher insiste, falando com convicção.
- Não sabemos também se ela aceitaria, assim de última hora. – Andreas argumenta da ponta da mesa.
- Conversei com ela ontem à noite, logo depois que saímos do pronto atendimento, e ela disse que aceitaria se a ofertassem. – sorri. – Quem não aceitaria? Correr por uma das maiores construtoras da atualidade e representar toda uma massa oprimida nesse país. É uma oportunidade de ouro para fazer o nome e manter a McLaren no topo do campeonato.
Andreas e Zak se entreolham.
- Sei que não tenho direito de sugerir essa escolha, ou colocá-los contra a parede para que isso aconteça. Não estou aqui para pressioná-los. – ela esclarece – Mas, como uma amiga, estou sugerindo a melhor opção que vocês têm no momento. Porque além de ter um alto desempenho, que eu sei que ela vai ter aqui, a imagem da McLaren ganha uma nova notoriedade, sendo mais uma vez a única construtora no grid a competir com uma mulher e apoiar o movimento com elas.
A sala fica em silêncio novamente.
- Eu acho uma boa ideia. – se pronuncia de repente. – Ela está arrebentando na Fórmula europeia, se não me engano está em primeiro ou segundo lugar na tabela de classificação. E a W series, então? Ela domina.
Andreas pondera.
- Mas tem os acordos com a Willians, ela é piloto deles. – Zak rebate – Ela pode dizer aceitar no calor do momento, mas não deve ter considerado as entrelinhas do contrato. E isso pode acarretar em multas para nós.
- Se pedido com gentileza, e explicado toda a situação, pode ser que a Willians considere fazer uma negociação. Afinal, os seus dois pilotos estão disponíveis e eles não precisariam dela de qualquer forma. – fala. – Hoje em dia as equipes estão tão mais humanizadas que há alguns anos, estamos em constante boa convivência e tendo disputas saudáveis. Digo, não custaria nada.
Zak e Andreas, os maiores chefes da equipe, se entreolham por um instante.
- Ninguém quer perder um bom piloto. – Andreas fala ao mirar – E, se eles vêm esse potencial nela como você vê, sabe que é a deixa para que fiquemos com ela também na sua licença maternidade. Acaba sendo uma decisão definitiva por mais acordos que façamos. Uma vez aqui, ela não vai mais retornar à eles.
- Mas ela é uma pilota que eles nunca usaram, tudo o que ela precisa é de uma oportunidade real. Tenho certeza de que ela vai agarrá-la. – ela rebate – Considerem dar uma oportunidade para essa garota como deram para mim. Eu sei que não deve ter sido uma decisão unanime me trazer para cá naquela época, mas hoje nós podemos ver que foi o melhor à se fazer. Modéstia parte. – acrescenta.
- Eu concordo com ela. – Andreas diz sem desviar os olhos da pilota, que sorri pelo apoio. O engenheiro se volta à Zak – Se analisado e considerado o conjunto completo, tanto na visibilidade do apoio total ao movimento pode trazer para nós, o teste de desempenho que pode lançar mais uma carreira de consagro de uma mulher no campeonato, e tendo na linha de frente em uma boa posição do campeonato por menos de dez pontos dos líderes... Vislumbrando pela equipe, podemos não vencer o mundial de construtores, mas isso definitivamente vai repercutir em um bom marketing espontâneo, mantendo a nossa segunda posição no campeonato e tendo uma visão ampliada ao futuro já na próxima temporada.
A sala fica momentaneamente em silêncio enquanto as pessoas refletiam.
Zak suspira pesadamente e olha de à , e deles até a esquipe estratégica.
- Quanto tempo para integrar a menina? – questiona direto.
- Em média, cinco horas. – Bennedict, o estrategista principal, responde convicto.
- Farão isso até as duas da tarde, então. – ele ordena visando a tela de seu relógio de pulso. – Eu vou comunicar a nossa decisão aos superiores imediatamente. Depois, Andy, quero você comigo na conversa com a Willians. Você é mais carismático e é o que precisamos agora. É isso por hora, dispensados.
sorri e agradece pelo olhar os chefes.
Enquanto as pessoas se dispersão se adianta para alcançar Zak nos corredores do Paddock.
- Tio Buck. – ela chama sua atenção e ele, mesmo agitado, se vira para ouvi-la – Preciso conversar com você sobre outro assunto. Dessa vez à sós.
A vida é repleta de obstáculos e, por ter plena ciência disso, não fica surpresa ao serem informados que a FIA não aceitaria a troca de pilotos substitutos de última hora.
Uma vez nomeado Felipe como reserva e estando na metade do final de semana da corrida, era considerado imprudente uma troca.
E, não, não era por estarem implicando com o apoio ao movimento ou por simplesmente rejeitarem a vontade da construtora laranja.
Eram regras, estavam nas normas da FIA há anos.
Na reunião da FIA feita regularmente antes do horário de almoço, Nicolas esclarece a questão não só à McLaren como também as demais construtoras para clareza entre os competidores.
- Mas isso é incontingente. – Lewis se pronuncia, um ou outro na sala assentem em concordância – A troca não está sendo necessária por razões sem fundamentos, eles estão optando por uma segunda opção porque a pilota principal deles, a qual apoia o movimento, não poderá estar presente por questões de saúde. É inconveniente que eles deixem de apoiar uma questão tão importante só porque você os proibiu de uma troca a qual eles estão se submetendo. Mesmo arcando com todas as responsabilidades de conduta, tempo e se arriscando acima de tudo por uma boa causa.
vê Max e Daniel assentirem em veemência de suas cadeiras.
- Gostaríamos de poder interferir nisso, Hamilton. – Nicolas debate – Mas está no regulamento, e ele não pode ser mutável sem que antes tenha averiguação do conselho. E não temos tempo hábil para isso.
- É só serem mais flexíveis. – é quem se pronuncia agora – Não é uma questão muito complexa de ser reparada. Até porque é por uma boa causa.
- Não acredito que seja possível. – Nicolas declara.
- Tudo é possível, basta as pessoas terem vontade e se disporem à fazê-lo. – O diretor chefe da Willians se manifesta.
- Exatamente. – Lewis concorda – O que queremos dizer é que seja considerada uma exceção, e acredito que todos aqui concordem com isso, - ele olha os ouvintes ao seu redor – porque não é pela questão de fazer a substituição de um piloto de última hora qualquer e sim porque no momento em que esse povo, que nos assiste e nos apoia, mais precisa de suporte, que possamos colocar uma mulher para pilotar para representá-los. Porque por infelicidades do destino não temos Sarah presente e agora também não teremos a .
- Isso mesmo. – a pilota escuta soprar ao seu lado, com a face concentrada nas falas do homem e a cabeça assentindo inconscientemente.
- Isto não está em posição de averiguação neste instante. – o homem na bancada principal fala. – Assunto encerrado.
- Então qual o fundamento do movimento “nós corremos como um”? – Lewis argumenta – Já aceitaram ter que fazer uma corrida aqui, mesmo com toda essa turbulência de governo opressor, se não estão dispostos a realmente lutar pela minoria, isso se torna apenas uma jogada de marketing barata para causar uma boa imagem não condizente com as atitudes de vocês.
- Sr. Hamilton, por favor... – Nicolas tenta, mas Lewis está seriamente irritado.
O homem é um grande apoiador de causas e incentivador de lutas pela igualdade social, seja racial, de gênero, sexualidade, entre outras. E era isso que mais admirava nele, claro, além de todo o seu talento e ser cativante.
No entanto, ela se choca quando o homem se levanta de sua cadeira e diz: - Se a Jamie não correr em Jeddah, eu também não vou.
A sala se afoga momentaneamente em um silêncio devido ao choque.
- Lew... – Toto sopra baixo em sua direção, mas sua entonação não era de repreensão.
O homem olha para seu chefe confiante e pelo olhar pede que ele aguarde.
Em instantes depois, outro piloto se levanta.
O coração de está batendo violentamente no peito.
- Eu também não vou correr. – Max Verstappen surpreende ao declarar, tão determinado quando o colega.
- Eu também. – se ergue e sente seus olhos umedecerem.
- Estou com vocês. – não se demora a também levantar, sorrindo para a parceira de forma doce.
- Eu também. – Daniel se levanta num pulo e sorrindo, como sempre.
Em seguida piloto a piloto, todos de cada equipe, vão se juntando ao grupo com sorrisos desafiadores na direção de Nicolas, que fica cada vez mais pálido.
Era sobre isso.
Sobre ter a oportunidade de estar nos holofotes e consequentemente estar em uma plataforma bem-vista, de um esporte consagrado e aclamado por grande público e poder usar da voz no sentido de incitar mudanças, incitar justiça, oportunidades iguais e representação de todos os públicos.
Porque, querendo ou não, o exemplo de atitudes de pessoas com alta influencia é o mais bem visto. E começando com essas pequenas mudanças, pouco a pouco, pode trazer assuntos considerados tabus à normalidade num futuro não tão distante.
Os pilotos sabem que devem arcar com a responsabilidade das marcas que deixam na história, e trazer aos fãs a visão de que são bem representados é o significado mais puro e verdadeiro da própria Fórmula 1.
A paixão de correr pode e deve vir de todos os lugares, independente de gêneros, opções sexuais, classes sociais, ou raça.
Quando o último piloto se ergue, Lewis passa os olhos pela sala vagarosamente e se volta à Nicolas, para dizer: - Pois então, como haverá corrida se todos os pilotos oficiais não podem ser substituídos de última hora?
Nicolas respira fundo, fulminando o piloto com os olhos.
fica esperando por uma reação ansiosa, seu coração martelava em seu peito e ela mal conseguia acreditar. Sequer percebera que lágrimas escorriam pelos seus olhos ao se deparar com todos os seus colegas de grid aderindo à uma causa essencialmente imposta.
Estava orgulhosa, estava radiante.
Era mais um passo importante para as mulheres na história do campeonato.
Nicolas conversa em tom baixo com os demais fiscais da banca por um tempo, os homens de pé ficam atentos à todo movimento feito pelos mesmos.
Zak sorri confiante quando o mira e estica sua mão até a dela, que a agarra com carinho.
Depois de um tempo, eles revelam a sua decisão:
- Por decisão unanime da bancada presente, - Nicolas volta a falar, o rosto completamente contrariado – estaremos autorizando que somente a McLaren faça a substituição dos seu piloto reserva, nomeando então Jamie Chadwick como a pilota que assumirá os treinos e corrida a partir de agora.
Contudo, antes que toda a sala pudesse respirar aliviada, ele continua:
- No entanto, estaremos penalizando a mesma com dez pontos na tabela de classificação pela irregularidade dos acontecimentos, e todos os seus apoiadores com três pontos por cada piloto que se ergueu.
As pessoas se entreolham. Algumas negam com a cabeça em desapontamento, outras sacodem os ombros, alguns até grunhem em raiva, mas acabam por aceitando. Afinal, todos estavam no mesmo barco.
A reunião é então encerrada e a sala esvaziada rapidamente, afinal, todos tinham que voltar aos seus afazeres como de costume e agora trabalhar por recuperar a pontuação de – em alguns casos – toda uma corrida perdida, praticamente.
então sai em disparada atrás de Hamilton, a quem andava tranquilamente já pelos corredores adaptados da central da Federação.
- Lew! – ela chama sua atenção e ele se vira para ela, sorrindo ao constatá-la.
- ! – ele responde ao vê-la se aproximar – Você está estonteante, tenho que dizer. Agora está mais evidente a barriga.
vislumbra sua barriga média por baixo das vestes e sorri.
- É, dizem que agora sem os treinos e exercícios por definitivo ela vai deslanchar à crescer e eu vou inchar feito um balão. Mas tudo bem, mais para frente a gente se acerta. Não é, filho?
Lewis sorri encantado.
- Tenho certeza de que continuará estonteante, toda gravida é. Vocês ficam com um brilho bonito.
- É suor, pelo cansaço. Você que é muito gentil. – eles gargalham pela piada, mas logo ela se adianta em dizer depois de um suspiro feliz – Falando sério agora, quero te agradecer pelo que fez. Sei que não foi por mim, e sim pela causa, mas... Seu apoio significa muito e eu queria dizer que sou grata por te ter como colega de grid. Os outros também foram maravilhosos, mas você deu a sua voz... – ela sorri – Foi muito legal.
- Era o certo a ser feito. – ele assente sorrindo bondosamente – E se eu tenho influência o suficiente, por que não usá-la para o bem?
- Exato. – o sorriso da mulher cresce – Obrigada.
Eles se abraçam.
- São pessoas como você que também fazem a diferença no esporte. Já mudamos tanto por aqui. – ele diz depois que se separam – Você ainda vai brilhar muito na Fórmula 1, eu tenho plena certeza disso. E vou aguardar ansiosamente pelo seu retorno.
sorri, levemente menos entusiasmada.
Eles se despedem rapidamente e ela fica parada assistindo o homem se afastar enquanto pensamentos inundavam sua mente.
Contudo, antes que se afogasse, ela chacoalha a cabeça e sorri, seguindo para a saída e retornando ao Paddock da sua construtora sozinha.
Já tinham tido uma vitória e tanto.
GLOSSÁRIO
We race as one (Nós corremos com um) é uma força-tarefa sobre igualdade e diversidade para aumentar as oportunidades para grupos minoritários lançado pela Fórmula 1 em 2020.
No meio do caminho entre os Paddocks, ela encontra Felipe conversando entusiasmado com um rapaz o qual ela não conhecia. Ela passa por eles sem qualquer interação, mas para poucos metros depois.
O coração pedia que fizesse algo para mudar o clima que ela havia deixado entre eles da última vez que se falaram. O qual se tornara infinitamente mais tenso por ela liderar a ação de troca de pilotos reserva, deixando-o fora até então.
Sua situação com Felipe e Pedro já havia sido resolvida há anos, quando ela seguira em frente não se permitindo ter contínuas magoas por algo que ela já havia passado e resolvido. Superação. E só tinha que olhar para trás para consequentemente espelhar positivamente suas ações no futuro, não para se magoar com assuntos já acabados.
Portanto, agora sem interferência dos hormônios exaltados pela tensão, precisava amenizar suas últimas palavras à ele.
Assim, ela gira nos calcanhares vagarosamente e ao ver que os dois se despedem descontraidamente, se aproxima.
- Drugovich. – ela salda tímida. Estava claramente envergonhada.
- Oi, . – ele sorri gentil. – Está melhor?
- Melhor do quê? – ela questiona perdida, franzindo a testa.
- Do escape de ontem. – ele diz, em tom duvidoso – Você foi até o pronto atendimento... Não foi?!
- Ah, certo. – ela suspira em entendimento, havia até se esquecido daquilo. Parecia já ter acontecido há uma semana. – Estou bem sim, obrigada.
- Fico feliz em ouvir. – ele diz simpático.
assente e desvia os seus olhos do rapaz, procurando por qualquer ponto fora de seu alcance enquanto pensava exatamente no que diria.
- Olha... – ela começa, mordendo o lábio inferior e se interrompendo, calculando suas palavras. – Eu queria que soubesse que, referente ao seu contrato com a McLaren, eu não tive a intenção de te tirar por...
- Eu sei. – ele se adianta em interromper ao que parecia uma batalha interna fervorosa. – E está tudo bem.
Ela volta seus olhos à Felipe, surpresa.
- Eu sei o que parece, - ela continua – mas não fiz isso para te passar a perna. Sério mesmo.
- Eu sei. – ele repete afirmando com a cabeça – A causa é muito importante e é essencial que tenha uma mulher pilotando. Eu posso compreender isso. E ficou ainda mais específico quando todo o resto do grid aderiu à ela, pelo que eu ouvi dizer.
sorri fraco em silêncio, para em seguida engolir em seco.
- Quero me desculpar pela forma como te tratei ontem. – ela diz honesta – Estava em uma batalha emocional muito grande e então você apareceu e eu tive que direcionar esses tiros à alguém. Sinto muito que tenha sido tão grossa com você.
Felipe sorri.
- Tudo bem, sinceramente estava esperando por reações piores.
ri.
- Bom, apesar de tudo, eu não quero que pense que te ter aqui é insuportável. – ela prossegue – Porque não é. Você é um rapaz doce, gentil e que foi levado à cometer erros por decorrências de uma crueldade superior. E ainda que no passado você tenha errado por si só, não sou ninguém para te condenar. Afinal, quem não errou? E você parece ter amadurecido muito em cima disso, por isso eu me sinto orgulhosa de você. De verdade. – Felipe sorri abertamente – Você tem trilhado o próprio caminho da forma correta e sei que vai colher desses frutos muito em breve.
- Obrigado.
Ela então respira fundo, satisfeita.
- Bom, - ela suspira sorrindo. – acho que é isso que eu tinha para falar mesmo. Boa sorte, e... Nos vemos por aí.
Contudo, antes que ela lhe desse as costas e saísse, Felipe se adianta em dizer: - , eu realmente sinto muito pelo que aconteceu. Queria que soubesse que isso é verdadeiro e eu realmente me arrependi.
Ela sorri.
- Tudo bem, eu sei. Está tudo bem agora.
- Estou perdoado? – ele questiona com os olhos brilhando de ansiedade.
sorri de lado e assente uma vez.
Felipe comemora com uma palmada forte no ar e ergue os braços em sua direção, pedindo por um abraço.
Ela sorri e aceita, envolvendo o corpo dele com os próprios braços e apoiando seu queixo no ombro do rapaz.
- Obrigado. – ele diz com a sinceridade explicita – Acho que eu estava precisando desse perdão para definitivamente deixar o passado para trás e seguir em frente estando puro.
- Você vai brilhar muito, Lipe.
estava cada vez mais certa de suas decisões, e a reação do rapaz só afirmava que ela agira certo ao ter feito o acordo que fez com seu diretor chefe há algumas horas, afinal.
- Sandy, você viu a minha jaqueta da McLaren? – questiona em tom alto, entrando pela porta e dando de cara com o hall do quarto da empresária vazio. – Aquela ferrada, que esquenta para caramba. Eu deixei com você?
Eles iriam assistir ao terceiro treino livre, primeiro sendo conduzido oficialmente pela nova pilota reserva da construtora, e os ventos se tornaram terrivelmente fortes e gelados na parte da tarde. Uma vez que não estaria dentro de um macacão para aquecê-la, e nem coberta pela adrenalina de estar em alta velocidade, teria que procurar por outros meios ou congelaria na cabine de transmissão.
- Sandy?! – ela torna a chamar, já que não obtivera resposta da primeira vez, enquanto revirava algumas peças jogadas na poltrona almofadada, que decorava o ambiente ao lado de uma mesa com um vaso de flores rosadas.
- Você está aí? – ela questiona, mas não obtém resposta mais uma vez.
estranha a quantidade de roupas não só na poltrona, mas como pelo chão. Sua empresária definitivamente abominava a desorganização e encontrar aquilo era um tanto quanto suspeito.
Ela segue o rastro de roupas e colhe uma calça jeans do chão que nem de longe seria de Sandy, fosse pelo tamanho ou pelo modelo rasgado nos joelhos.
Aquela peça era estranhamente familiar.
Com a calça em mãos ela franze a testa e segue até o final do pequeno corredor instintivamente, adentrando finalmente ao espaço da própria suíte.
- Ai, meu Deus! – ela encontra Sandy e Fabio lado a lado na cama, cobertos do pescoço aos pés pelo cobertor de algodão, com olhos surpresos, já atentos à quem surgiria na entrada do quarto e serem pegos no flagra.
- Você não trancou a droga da porta?! – a loira ralha na direção do homem em tom baixo.
- Calma, . Isso não é o que você está pensando. – Fábio se pronuncia à sobrinha com cuidado.
- Então eu não acabei de interromper uma transa? – ela indaga aos risos – Porque é isso o que eu estou pensando.
- Não exatamente. – o tio contesta, se embaralhando nos dizeres. – Estávamos só procurando por um brinco da Sandy que caiu no meio das cobertas.
- Foram procurar o brinco e acabaram perdendo as roupas também? – ela ergue a calça no alto, estreitando os olhos na direção dos dois.
- Para não sujar os lençóis limpos...
- Ah, já chega Fábio. Isso é ridículo, é óbvio que ela sabe. – Sandy interrompe a desculpa esfarrapada com a voz irritadiça.
A empresária respira fundo e se envolve com um dos lençóis caídos ao chão para se levantar e caminhar na direção de uma que controlava o riso.
- Mon cherri, nós podemos explicar. – ela fala com a voz mais amena.
- Claro que vão, porque eu estou curiosa há meses querendo saber quando o ódio entre vocês se transformou em amor. – ela diz sorrindo. – E muito fogo, aparentemente.
- Você já sabia? – a empresária questiona e se volta com olhos ferozes a Fábio, que está levantando-se da cama, se cobrindo com o roupão que encontrara no meio das cobertas.
- Epa, não foi por mim, não! – ele se adianta em esclarecer, aproximando-se das duas. – E eu tenho absoluta certeza de que não deixei nada escapar, porque foi a coisa mais difícil que tive que fazer nos últimos meses. é minha confidente, não falar para ela foi tortura. – ele se vira para a sobrinha e a abraça – Não importa os meios, estou muito feliz que finalmente saiba.
ri quando eles se separam.
- Ele não me contou não, e nem foi preciso. – a pilota esclarece – Qual é, gente, não sou idiota. Meu tio nunca foi muito fã da Itália e está indo para lá todas as folgas, fora que vocês pararam de brigar de uma hora para outra, estão socialmente mais íntimos, fisicamente mais próximos, um cuidando do outro, passando muito tempo juntos... E aquela mensagem que você recebeu em Suzuka entregou tudo. – ela aponta para Sandy.
- Por que eu realmente achei que aquilo ia passar despercebido logo dos seus olhos?! – Sandy ri, cedendo.
- Olhos de águia, mia ragazza. – estreia os olhos, risonha. – A real questão aqui é: por que não me contaram antes?
Os dois se encolhem, envergonhados.
- A princípio pensamos que reagiria mal, depois sabíamos que seria tudo bem para você, mas nós quem queríamos segredo. – Sandy revela.
- Ela quis manter segredo. – Fabio adianta-se em deixar claro.
ri.
- Eu não estive em um relacionamento sério desde o acontecimento com Jean-Éric. – a loira explica – Estava insegura com a fama do seu tio e por ele ser um ogro. – ela faz uma careta na direção dele – Queria que as coisas estivessem mais estáveis para te contar.
- Tudo bem. – fala sorrindo – Eu já sabia que deviam ter motivos, e procurei respeitar, por mais que estivesse louca para saber. Mas eu já estava tão atrelada com todo o resto, que só passei a me acostumar com isso. – a mais nova pega a mão dos dois e as aperta animada – Eu fico tão feliz por vocês. Sério, mesmo. Não consigo imaginar pessoas que mais pudessem combinar, mesmo sendo tão opostas.
- Obrigado. – Fabio sorri maroto.
- E então, há quanto tempo isso está acontecendo oficialmente? – pergunta se sentando no recamier próximo à cama. – Acho que podemos colocar as fofocas em dia, temos uns minutinhos. – ela diz verificando o relógio de pulso.
- Já empatou a foda mesmo, não é?! – Fabio diz pegando a calça de sua mão, enquanto Sandy recolhia suas próprias roupas. – Está rolando desde o final do ano passado. – ele conta animado, podendo ser comparado à uma adolescente fofocando.
Como sempre fora quando se juntava para conversar com a sobrinha.
- Começo desse ano! – Sandy corrige antes de entrar no banheiro.
- Foi no começo desse ano que você finalmente cedeu, mas eu estou investindo pesado mesmo há mais tempo. – Fabio argumenta em tom alto para a loira ouvir, em seguida se volta para . – Ela não é lá das mais fáceis.
- E como esse interesse surgiu? – a pilota questiona animada.
- Na pausa de verão do ano passado, quando fomos à Floripa. – o homem conta. – Lembra que nós dois havíamos ficado para trás por conta da reunião com a TNT e pegamos o avião juntos?
- Sim. – ela afirma. – Lembro que chegaram um dia atrasado até, por conta do mal tempo, se não me engano.
- Isso mesmo. Tivemos algumas escalas e na última, por conta da tempestade torrencial, eles adiaram o voo para o dia seguinte. – o homem continua a contar enquanto se vestia por baixo do roupão. – Fomos obrigados a procurar por um hotel de última hora. O problema é que era época de final de campeonato da Champions e Paris estava lotadíssima, Santo seja o PSG, que sequer ganhou naquele dia. Mas, enfim, sem vagas na maioria dos hotéis.
- E aí? - ela indaga assistindo-o retirar o roupão para vestir a camiseta e demais casacos para completar as vestimentas de frio.
- Descolamos apenas um quarto num hotelzinho pequeno mais afastado da cidade. – o tio informa – O que não foi tão ruim, porque afinal era apenas uma noite. Nos acomodamos, fomos jantar num restaurante ali perto e começamos a conversar de coisas fora do trabalho, afinal estávamos de férias. Nos permitirmos estar acompanhados de algumas garrafas de vinho, que desceram fácil até demais.
- Sandy bebeu? – ela questiona boquiaberta.
- Pois é. – ele arqueia as sobrancelhas para intensificar sua afirmação – Depois da segunda taça ela já estava falando pelos cotovelos, conversando com pessoas de outras mesas em um francês que só ela entendia e revelando mais em uma noite do que soubemos em todos esses anos. – Fábio ri – Enfim, ela acabou falando que estava com receio da chegada dos assustadores 40 e quão atrasada ela se sentia no desenvolvimento da vida pessoal. Sem namorado, filhos, e afins.
- Uma coisa levou a outra... – incita.
- Não. – Sandy diz ao retornar ao quarto, já vestida da cabeça aos pés e com os cabelos penteados – Uma coisa não levou à outra nessa noite, porque eu ainda tinha dignidade.
- Mas não deixou de me falar horrores do quanto precisava transar, que estava com um acúmulo excessivo de tesão de anos, e que toparia qualquer rapidinha só para descontrair.
arregala os olhos e se vira para a empresária estupefata.
- Você disse isso? – indaga em choque – Não acredito!
- Sim, mas não estava me referindo diretamente à ele. Estava falando de qualquer um. – ela se adianta em esclarecer – Mesmo que sempre tenha achado seu tio um charme, minha consciência ainda estava sã o suficiente para cogitar a ideia de me entregar à um cafajeste.
- Vai me falar que naquela noite, por nenhum instante sequer, passou pela sua cabeça quão boa seria uma transa comigo? – ele arqueia uma sobrancelha na direção da empresária.
- É por isso que eu não bebo. – a loira grunhe, contrariada. – A carência que já é existente se multiplica. Aquela noite foi vergonhosa e o pior é que me lembro de tudo.
ri.
- E então? – ela incita ao tio, animada.
- Voltamos ao hotel e nos preparamos para dormir. – Fabio continua a história – Ela finalmente tinha se dado por vencida e capotou na cama. A bateria finalmente tinha ficado sem carga.
- Era uma cama só no quarto, hum? – ela indaga com um sorriso malicioso.
- Não, pior que não. – Fabio ri. – Eram duas camas superconfortáveis.
- E como que rolou alguma coisa? – franze a testa. – Estão acabando as minhas opções de clichê.
- Acontece que aquela era uma das noites mais frias do ano em Paris, e não tinha cobertor, meia, ou lã que conseguisse aquecer meus pés. – Sandy relata. – Você sabe que se não consigo aquecer meus pés, eu não durmo.
- Sei.
- Que nada, foi uma desculpa para se aproveitar no meu corpinho. – Fabio provoca e recebe um tapa no braço da loira, ele ri. – Ela só pediu por companhia para aquecer, realmente. – ele se corrige com a voz engraçada, enquanto piscava para a sobrinha.
- O mal-intencionado foi ele. – Sandy diz – Não fizemos nada, dormimos realmente.
- Abraçados. – Fabio sorri.
- Quando acordei peguei ele me olhando. – a loira diz – E pronto, depois disso não sossegou até me convencer da história de que um sexo sem compromisso fosse uma boa ideia. Que de sem compromisso não foi nada, aliás.
- A ideia foi sua, para começo de conversa. – ele rebate.
- A ideia de uma bêbada. – Sandy argumenta – No outro dia eu já estava O.K. com isso e ainda assim você, estando são, parecia vidrado em mim.
- Se deu conta de como a Sandy é uma mulher espetacular, não foi? – provoca o tio, sorrindo marota.
- Principalmente depois que vi ela num biquíni. – ele fala abertamente safado e elas riem. – Mas, falando sério, sim. – Fabio murcha o sorriso de leve, assumindo uma postura mais séria – Acho que eu sempre fui contra aos meus instintos sobre Sandy porque não queria aceitar que ia finalmente amadurecer se entrasse em um real relacionamento. E ela é o sinônimo da maturidade e responsabilidades.
- Sempre gostou dela? – pergunta levemente surpresa.
- Sempre a achei gostosa. – ele esclarece prontamente, mas ri em seguida. – Digo, como não reparar em uma italiana magnifica dessas? – aponta para a mulher, que sorri na mesma intensidade que suas bochechas se enrubescem. – Depois que tive esse insight, vendo-a tão leve e conhecendo mais sobre a sua personalidade fora a rigidez do trabalho, me dei conta de que se continuasse a ignorar todos os meus instintos, iria me arrepender depois. E sim, eu estou envelhecendo, não há o que eu possa fazer para impedir isso. Não conseguiria continuar na gandaia por muito mais tempo, “nós” iriamos acabar acontecendo cedo ou tarde. Isso só não me deixa tão abalado mais porque encontrei alguém que supriu tudo isso tão perfeitamente que chega a me deixar assustado.
- Meu Deus, eu estou apaixonada em vocês. – diz radiante.
- E ele por mim. – Sandy se gaba zombeteira.
- E ela por mim. – Fábio beija o ombro da loira carinhosamente. – Mas, na real, ela me deu uma chave de boceta tão bem dada, que não consigo realmente ter olhos para outra mulher.
- Você tem que estragar o momento bonitinho, não tem? – Sandy revira os olhos e gargalha.
- Faço piadas quando me sinto vulnerável, foi tudo muito sentimental para a minha masculinidade não querer se expor.
Eles riem descontraídos e logo surge no quarto, para avisá-los que estava na hora de seguir para o circuito.
Naquele instante o mundo inteiro seria testemunha de como Jamie se sairia.
Capítulo 16
Era a primeira vez que assistia a sua máquina característica laranja pelas telas de transmissão da garagem da sua construtora em tempo real e se sentir espetacularmente bem com o fato de não ser ele quem pilotava. A “papaya”, como eles costumavam chamar o carro, que antes era marcada com o número treze agora fora trocado pela numeração de Jamie, e seguia dando show em pista – em razão, claro, da talentosíssima pilota que a conduzia.
Nas últimas horas acompanhara de longe, respeitando o espaço da mais recente contratada, o seu esforço e dedicatória constantes para dar o seu melhor na equipe. O que transcendia os seus resultados daquele instante em questão, passando para a classificação do Q3 sem apuros ou qualquer sufoco.
Jamie era sucinta, focada, estava no auge dos seus 22 anos e entusiasmada pela busca de resultados positivos, toda a equipe já havia se encantado por ela.
Ela ouvia atentamente aos engenheiros e se punha ao extremo para dar o seu máximo na pista. Até mesmo surgia com sugestões atrevidas, causando desempenho notório.
Quando a britânica finalizara a última volta do treino marcando a quinta volta mais rápida, e logo na sequência passa marcando a segunda, toda a garagem explode em comemoração.
Com urros felizes, tapas entusiasmados nas costas, pulos, assobios e palmas. Muitas palmas.
Mesmo sendo apenas uma classificação e tendo plena consciência de que eles ainda teriam toda uma corrida pela frente para medir a capacidade dessa dupla, estavam confiantes que com os dois pilotos representantes eles iriam longe. E, por isso, se orgulha.
Nas entrevistas pós classificatória, ela observa plenamente feliz declarando sobre os desafios que enfrentariam e que estava confiante, acima de tudo, de um lado; Enquanto do outro Jamie celebrava saltitante a sua primeira classificação da Fórmula 1, a primeira vez correndo entre os melhores dos melhores e atingindo resultados exuberantes.
observa o seu andar, o seu sorriso e a emoção expressa no seu rosto enquanto era parabenizada pela equipe, e por um instante se vê refletida na garota.
Sua mente à leva ao começo de sua carreira, a sua primeira vitória na primeira temporada do campeonato e ela sorri radiante com a lembrança. As lágrimas de extrema felicidade, sentimento de satisfação, de euforia, a adrenalina que passou por seu corpo e permaneceu por horas. A sensação de realização, de simplesmente ser capaz.
Com o tempo todas aquelas emoções súbitas e intensas foram se tornando recorrentes e menos impactantes, e mesmo que não devessem acabaram caindo no costume. Ela se acostumara com aquilo, acabara se acomodando.
Ela precisava voltar à comemorar toda e qualquer conquista como se fosse o maior dos prêmios, novamente se sentir lisonjeada e absolutamente grata por estar ali – não que não fosse, mas a ponto de finalmente parar de focar tanto no que ainda faltava para conquistar e celebrar pelo que já tinha.
realmente esperava que o seu retorno pudesse desencadear todas aquelas sensações em seu corpo novamente, mas então torna a voltar aqueles pensamentos que a faziam se afundar em si mesma.
Será que ela estaria tão energizada quanto depois da gravidez?
O treino classificatório se encerra. Os jornalistas desligam suas câmeras, a torcida se esvai até deixar as arquibancadas vazias, as equipes recolhem os seus carros e pertences, se permitindo descansar por hora; os fiscais limpam a pista para o próximo dia e quando finalizada, ela fica livre.
Os ventos haviam dado trégua e a temperatura estava mais amena, resultado disso se dava pela quantidade de pessoas que se dispersam pela pista fazendo seus costumeiros exercícios, tanto pedalar quando caminhar descontraidamente.
, que ficara sentada nas divisórias da pit lane desde o encerramento da cerimônia dos três primeiros classificados, observa as pessoas passarem por ela e cumprimenta aos rostos conhecidos – em sua maioria.
Sandy, Fabio, e acompanharam todos os outros de volta ao hotel logo depois dela pedir por um tempo sozinha em seu “habitat natural”. sentia que precisava começar com as despedidas do local pelo tempo que passaria longe das pistas, - muito emocionada? Sim, ela era. Mas seria um ano longe daquilo que amava, e ela se prezava à manter-se conformada porque era para um bem necessário.
Fora isso, ela precisava tentar manter aquele poço de pensamentos desconexos em ordem, aqueles que vinham a amedrontando desde quando descobrira que estava grávida, e um momento completamente sozinha talvez ajudasse nisso.
está dispersa quando Kelly se aproxima timidamente.
- Oi, miga. – ela fala em português. – Tudo certo por aí?
- Kelly, oi. – ela sorri – Tudo sim, só estou... – ela puxa uma lufada de ar significativa – respirando ar livre. Oxigenando o cérebro, sabe?
- Sei. – a mulher sorri simpática. – Me acompanha na caminhada?
olha de uma ponta à outra da pista larga, por onde geralmente transitavam carros comuns, mas fechada especialmente para o evento em questão, e depois vislumbra Kelly sozinha.
dá de ombros.
Organizaria os pensamentos depois, pensa. Afinal, teria muito tempo livre.
- Acho que não faz mal. – ela salta da divisória e pousa no chão ao lado da mulher – Não sabia que estava por aqui este final de semana. Mas, também, mal tive oportunidade de conversar com Max.
Elas começam a andar, num ritmo tranquilo e vagaroso.
- Vim para fazer a cobertura sobre o movimento que vocês têm apoiado. – ela revela – Está repercutindo de forma positiva e meu supervisor concordou que seria bacana receber destaque na nossa coluna de mulheres no esporte.
Kelly, além de filha do célebre tricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet, era uma colunista e redatora de alto consagro. Trabalhava para revistas e sites de prestígio fugindo um pouco do tradicional ramo da sua família – mesmo que fosse completamente apaixonada pelo esporte em si.
A mulher trilhara o próprio caminho, se especializando constantemente e investindo em estudos, e hoje suas matérias, com a maioria sendo voltadas às conquistas históricas femininas, são mundialmente conhecidas. Sobretudo sem a interferência de seu sobrenome.
- Fico feliz que o apoio ao movimento esteja sendo visto de forma positiva e realmente espero que esse governo possa se moldar à uma gestão menos opressora. – diz.
- Ouvi rumores de que estão cogitando a possibilidade de sancionar alguns benefícios legais às mulheres. Claro, ainda nada muito impactante, mas já é alguma coisa. Há boatos que estão muito incomodados com a visibilidade que ganhou e quanto o público mundial se revoltou com a história. - ela informa.
- Sério? – se volta à mulher surpresa e ao mesmo tempo contente.
- Sim! – afirma sorrindo – E, claro, tudo graças à divulgação e apoio dessa plataforma gigante que é esse esporte.
suspira satisfeita, como se tivesse cumprido seu papel. Feito a sua parte.
- Eu realmente fico feliz em saber.
Kelly assente sorrindo.
- Onde está a Penélope? – questiona, notando a ausência da criança. A pilota raramente via a mulher sem a presença da filha.
- É a semana do Daniil. – ela releva – Essa acabou coincidindo com a semana de corrida, que a gente tentava evitar antes, mas como ele está fora da Fórmula 1 esse ano, ficou de boa. Eles estão na Rússia, visitando a mãe dele.
- Legal!
- E como está o pequeno aí? – ela questiona vislumbrando a barriga – Está de quanto tempo, mesmo?
- Amanhã completo 18 semanas. – responde sorrindo – E ele está forte feito um touro, ontem deu os primeiros chutes.
- Que gracinha! – ela diz encantada, com direito à mãos nas bochechas. – O primeiro chute é um momento mágico. A mãe parece se sentir mais conectada, não é?!
- É, foi tão maravilhoso. – sorri, recordando-se da sensação. – Não consigo não ficar ansiosa esperando por mais.
- Não se preocupe, vai ter sim. – Kelly diz – Lá para o começo do sexto mês vai parecer que ele está sambando aí dentro, de tanto que movimenta. Com a Penélope foi sofrido, não conseguia dormir direito porque assim que deitava ela dava o ar da graça e parecia querer me provar que estava mesmo ali.
- Putz! – ela solta com a testa franzida, mas risonha.
- Mas, sabe, acabei sentindo falta depois. – admite com olhar melancólico – A gente acaba se acostumando com aquele serzinho dentro da gente dia e noite, na sua rotina. Depois você sente um vazio na sua barriga e não consegue mais ficar longe deles, mesmo por necessidade de cuidados ou só para aproveitar cada instante. Eles crescem tão rápido. Mal pisquei e a Pen já toda independente, a países de distância de mim.
encara o rosto pleno de Kelly e se pergunta se poderia compartilhar de suas angústias. Afinal ela era mãe, tinha uma carreira e parecia levar a sua rotina muito bem, obrigada.
Elas não eram assim tão próximas, mas simpatizavam uma com a outra nas inúmeras vezes que estiveram presentes num mesmo evento, fosse num jantar entre amigos e, até mesmo, na noite de jogos que Max os convidara certa vez.
Kelly contradizia e muito do pensamento que tinha sobre os Piquet, embasado no primeiro membro da família que conhecera, que fazia-a hesitante em querer se envolver com qualquer um deles.
Por isso não se sentiu receosa ao declarar: - Eu tenho medo das mudanças que acontecerão na minha vida, sabe. – suspira – Sei que elas vêm para agregar à gente positivamente, mas tenho muito medo de que algumas possam interferir na minha postura como pilota.
Kelly mira o rosto frustrado de por um instante e sorri gentil ao se pronunciar: - Eu sei exatamente o que é isso que está passando pela sua cabeça. Passei pelo mesmo. O constante medo de perder tudo aquilo que construiu antes da criança.
- Sim, ainda mais com as pessoas falando que não vou ser mais a mesma. Não quero perder a minha vontade de estar aqui e de competir como também não quero ser uma mãe ruim. – continua, expondo-se até mais do que pensara estar disposta.
- Sabe que, as pessoas têm muito o que falar e aconselhar quando a gente engravida. – a mulher comenta – Muitos são comentários que não tem nada a agregar de forma positiva e, porventura, são só pejorativos. Principalmente os que vem da mídia. Mas o que você tem que fazer é idealizar a coisa toda na sua cabeça, sem considerar esses comentários, e determinar o que vai ser, pelo que você quer. Porque não tem que ser assim, escolher entre um e outro. Sua carreira ou o seu filho.
assente veemente.
- Você pode sim escolher os dois e manter ambos em equilíbrio. – Kelly continua – Claro que uma hora ou outra você precisa dividir o seu tempo, mas todo esse dilema em que as pessoas falam que a vida da mãe muda completamente é mentira.
- Mesmo? – indaga esperançosa.
- Mesmo! – Kelly sorri – Afinal, não fizemos o bebê sozinhas e o pai também deve arcar com as responsabilidades tanto quanto. As pessoas têm que tirar essa ideia da cabeça de que a mãe é quem cuida e o pai ajuda. Não, os dois cuidam. Às vezes as responsabilidades pesam consequentemente à mãe porque o bebê é muito mais dependente de nós do que do pai no início, mas sua vida só se transforma de maneira drástica se você permitir que seja.
reflete em silêncio.
- Você querer continuar lutando por tudo o que conquistou não te torna menos mãe, te torna uma mulher determinada. – Kelly continua, prevendo os pensamentos contestadores que a pilota poderia ter. Afinal, toda mãe de primeira viagem os tinha – Você não vai deixar de se importar com o seu bebê por se importar com sua carreira.
- Meu receio é confundir as minhas prioridades. Eu meio que sou uma workaholic, sabe – a garota admite.
- Então podemos dar as mãos. – Kelly diz bem-humorada e a encara com a testa franzida. – Eu também sou. Com laudo e tudo.
- Sério? – ela arqueia as sobrancelhas em surpresa e Kelly assente sorridente. – E como você fez para lidar com isso, então?
- Além de sessões de terapia, que eu aconselho que você comece a fazer desde já, para colocar a cabeça completa no lugar.
- Ah, sim, eu já faço. – ela assente. – Estamos... Progredindo.
Kelly sorri em aprovação.
- Você terá que colocar as suas prioridades em grau de necessidade e urgência. – a mulher continua – Do tipo, “eu realmente preciso sair agora em busca de uma matéria exclusiva e deixo minha bebê com fome, ou fico para a alimentar, me atraso e perco?” Na época eu ainda amamentava, e, mesmo que seja um exemplo bobo, colocou as minhas prioridades em conflito. Minha carreira e minha filha.
- Ficou para amamentar o bebê, certo? – ela questiona.
- Claro! – Kelly ri – Porque era a minha urgência e o outro uma necessidade. Com o passar do tempo fui adaptando, moldando uma forma de resolver as minhas urgências de forma que não atrapalhasse a resolução das minhas necessidades. Por exemplo, neste caso em específico eu tirava leite, colocava em reserva para o Daniil conseguir amamentá-la quando era preciso. Pronto.
- Simples assim?
- Simples assim. E você vai ver que as soluções surgirão à medida que você precisar delas. – a mulher afirma com a cabeça – Por vezes, enquanto eu precisava correr para pegar o depoimento de alguém, Daniil a levava para o centro de treinamento e ficava com ela nos simuladores, e vice-e-versa. Fomos nos dividindo nas tarefas e tudo correu tranquilamente bem. Por consequente a Pen desenvolveu um relacionamento muito forte tanto comigo quanto com o pai, e está lá de boa com ele agora.
- É legal ver essa cumplicidade. – ela elogia.
- Sim, foi uma fase muito gostosa. Acho que ambos soubemos aproveitar bem o crescimento dela, ainda estamos a aproveitar, aliás. Daniil é bem dedicado e eu fico muito satisfeita com isso. – Kelly suspira mirando o horizonte escuro mesmo com as lanternas de luz postas sobre a pista, e logo se volta à – Pelo que aparenta, já é bem dedicado. Então não acho que tenha com o que se preocupar realmente.
sorri verdadeiramente porque, realmente, estava preocupada à toa.
Aquela conversa com uma mãe fora do seu convívio fora fundamental para ter a compreensão e visão de que eles poderiam lidar com tudo por definitivo.
tinha tido conversas com , Emília, Patrícia e, até mesmo, Pascale, mas a procura por versões diferentes, de pessoas de culturas diferentes, a fazia ver um significado diferente.
Por mais compatível ou diferente que fossem, o conjunto dessas experiências e informações ainda não iriam se coincidir na sua vida, pois ela escreveria uma nova porque cada um vive de um jeito.
Embasada em todas aquelas lições aprendidas, somada ao próprio ponto de vista, esta seria a sua melhor versão para a sua vida.
estava satisfeita por finalmente ter compreendido aquilo, em não se comparar da maneira que um viveram os outros, como foram mães ou se moldar aos seus costumes, mas se inspirar e fazer o que era o mais conveniente à ela mesma.
- Obrigada, Kelly. – ela agradece genuinamente.
- Imagina. – ela dá de ombros de forma singela – Fico feliz em ajudar. Sempre que precisar, pode contar comigo.
- Fico feliz em saber disso.
- Sabe, tenho que admitir, que eu me sentia meio receosa em criar intimidade com você porque pensava que não era muito com minha cara pelo que aconteceu entre você e Pedro.
ri junto de Kelly, porém revela: - Eu não vou mentir, eu era um pouco sim. Mas percebi que era preciso diferenciar as coisas, pois são pessoas diferentes e uma não deve arcar com a sombra e consequências da outra. Por mais próximos que sejam. E você é tão gentil.
- Obrigada. – a mulher sorri feliz. – Fico contente que tenhamos esclarecido e deixado isso para trás.
- Com certeza. – ela assente veemente.
- E, não que isso interfira em algo, afinal já passou, mas quando eu soube o que ele havia feito fiquei muito puta. – ela revela, a sobrancelha em uma linha fina e dura – Imagina, uma mulher que exalta os feitos de outras mulheres ter como irmão alguém que tenta oprimi-las?! – Kelly bufa irritada – Como se tivéssemos tido ensinamentos diferentes, viemos do mesmo berço e por isso entendo o seu receio comigo.
- É que é meio que um pensamento automático. – fala – Mas isso só confirma o ditado de que “não devemos julgar o livro pela capa”.
- É, - ela sorri – e, se fizer você se sentir mais aliviada, ele saiu da Fórmula 2.
Elas riem.
- Eu ouvi alguma coisa sobre. – admite.
- Ele diz que não tem como forçar uma coisa que ele não é e finalmente se libertou dessa obrigação, não imposta oficialmente. Agora vai focar em outras coisas. – ela dá de ombros enquanto conta – Sabe, acho que agora as coisas podem melhorar. Meu pai não é do tipo que pressiona, mas todo o legado dele deixava o Pedro com muita responsabilidade e ele se autocobrava demais. Isso pode acarretar em alguns traumas. Não que justifique, mas... Eu acabo entendendo o lado dele. Sabe.
pensa na própria situação em autocobrança e se sente ainda mais empática.
- Eu sinceramente fico satisfeita em saber que ele esteja amadurecendo. – ela fala com verdade – Se submeter a admitir isso já é um começo, as pessoas têm que estar e fazer o que gostam e espero mesmo que ele consiga se encontrar.
-É... Esperamos.
Elas sorriem uma à outra e continuam pelo percurso, conversando sobre assuntos aleatórios como comida, cultura e história dos países que sedem o campeonato automobilístico em questão.
A atenção das suas, porém, é chamada pelo ruído de sapatos se chocando no asfalto em ritmo de corrida, e elas olham para trás encontrando .
- . Vai correr de calça jeans? – questiona com a testa franzida quando ele as alcança.
- Não. – ele ri fraco – Vim te buscar, na realidade. Oi, Kelly. – ele cumprimenta com um aceno de cabeça. E a jornalista devolve com um sorriso.
- Me buscar para quê? – questiona descontraída.
- Ma belle, o ultrassom! – ele arqueia as sobrancelhas e ri.
- Ultrassom? Fizemos exames ontem, Anthony já disse que está tudo bem. – ela dá de ombros.
- É aquele... Marcado para hoje. Desde antes. – ele diz com olhos significativos e um sorriso radiante.
franze a testa, buscando por datas e palavras-chave específicas para se recordar de tal ultrassom tão importante...
- Puta merda, não acredito que esquecemos. – ela diz com as sobrancelhas arqueadas quando se dá conta.
- Pois é. – ri – Já falei com o doutor, ele vai nos encontrar na clínica em 15 minutos.
- Então vamos! – ela sorri radiante e entrelaça os dedos nos do noivo.
- É aqui que me despeço, então. Vou fazer a minha corrida. – Kelly se pronuncia, fazendo-os relembrar de que não estavam sozinhos, de tão eufóricos que ficaram.
- Desculpa, amiga. – diz com os lábios alegres – É que é o exame para que finalmente possamos saber o sexo do bebê.
Kelly salda alegre: - Que legal! – a jornalista então se adianta em dizer – Então vão! Vão logo!
- Vamos, antes que o bebê escute isso e feche as pernas de novo. – brinca e eles riem.
- Vamos, sim. – diz e eles partem, afastando-se da mulher. No entanto, sem parar de andar, a pilota se vira na direção da jornalista e diz: – E, mais uma vez, obrigada.
- Imagina. – ela agita a mão em modéstia de longe – Depois me conta se teremos um pequeno corredor ou uma corredora.
- Pode deixar! – ela fala em alto tom e retoma o seu caminho ao lado de um entusiasmado monegasco em direção à saída da pista.
Estava tão empolgada que sequer percebera que estava indo sem se despedir da pista, das curvas, das retas e aquele clima de final de semana de corrida.
A conversa com Kelly a havia distraído do fato de que, a partir de então, ela estaria oficialmente fora daqueles circuitos por um longo ano.
E talvez tenha sido melhor daquele jeito.
Nas últimas horas acompanhara de longe, respeitando o espaço da mais recente contratada, o seu esforço e dedicatória constantes para dar o seu melhor na equipe. O que transcendia os seus resultados daquele instante em questão, passando para a classificação do Q3 sem apuros ou qualquer sufoco.
Jamie era sucinta, focada, estava no auge dos seus 22 anos e entusiasmada pela busca de resultados positivos, toda a equipe já havia se encantado por ela.
Ela ouvia atentamente aos engenheiros e se punha ao extremo para dar o seu máximo na pista. Até mesmo surgia com sugestões atrevidas, causando desempenho notório.
Quando a britânica finalizara a última volta do treino marcando a quinta volta mais rápida, e logo na sequência passa marcando a segunda, toda a garagem explode em comemoração.
Com urros felizes, tapas entusiasmados nas costas, pulos, assobios e palmas. Muitas palmas.
Mesmo sendo apenas uma classificação e tendo plena consciência de que eles ainda teriam toda uma corrida pela frente para medir a capacidade dessa dupla, estavam confiantes que com os dois pilotos representantes eles iriam longe. E, por isso, se orgulha.
Nas entrevistas pós classificatória, ela observa plenamente feliz declarando sobre os desafios que enfrentariam e que estava confiante, acima de tudo, de um lado; Enquanto do outro Jamie celebrava saltitante a sua primeira classificação da Fórmula 1, a primeira vez correndo entre os melhores dos melhores e atingindo resultados exuberantes.
observa o seu andar, o seu sorriso e a emoção expressa no seu rosto enquanto era parabenizada pela equipe, e por um instante se vê refletida na garota.
Sua mente à leva ao começo de sua carreira, a sua primeira vitória na primeira temporada do campeonato e ela sorri radiante com a lembrança. As lágrimas de extrema felicidade, sentimento de satisfação, de euforia, a adrenalina que passou por seu corpo e permaneceu por horas. A sensação de realização, de simplesmente ser capaz.
Com o tempo todas aquelas emoções súbitas e intensas foram se tornando recorrentes e menos impactantes, e mesmo que não devessem acabaram caindo no costume. Ela se acostumara com aquilo, acabara se acomodando.
Ela precisava voltar à comemorar toda e qualquer conquista como se fosse o maior dos prêmios, novamente se sentir lisonjeada e absolutamente grata por estar ali – não que não fosse, mas a ponto de finalmente parar de focar tanto no que ainda faltava para conquistar e celebrar pelo que já tinha.
realmente esperava que o seu retorno pudesse desencadear todas aquelas sensações em seu corpo novamente, mas então torna a voltar aqueles pensamentos que a faziam se afundar em si mesma.
Será que ela estaria tão energizada quanto depois da gravidez?
O treino classificatório se encerra. Os jornalistas desligam suas câmeras, a torcida se esvai até deixar as arquibancadas vazias, as equipes recolhem os seus carros e pertences, se permitindo descansar por hora; os fiscais limpam a pista para o próximo dia e quando finalizada, ela fica livre.
Os ventos haviam dado trégua e a temperatura estava mais amena, resultado disso se dava pela quantidade de pessoas que se dispersam pela pista fazendo seus costumeiros exercícios, tanto pedalar quando caminhar descontraidamente.
, que ficara sentada nas divisórias da pit lane desde o encerramento da cerimônia dos três primeiros classificados, observa as pessoas passarem por ela e cumprimenta aos rostos conhecidos – em sua maioria.
Sandy, Fabio, e acompanharam todos os outros de volta ao hotel logo depois dela pedir por um tempo sozinha em seu “habitat natural”. sentia que precisava começar com as despedidas do local pelo tempo que passaria longe das pistas, - muito emocionada? Sim, ela era. Mas seria um ano longe daquilo que amava, e ela se prezava à manter-se conformada porque era para um bem necessário.
Fora isso, ela precisava tentar manter aquele poço de pensamentos desconexos em ordem, aqueles que vinham a amedrontando desde quando descobrira que estava grávida, e um momento completamente sozinha talvez ajudasse nisso.
está dispersa quando Kelly se aproxima timidamente.
- Oi, miga. – ela fala em português. – Tudo certo por aí?
- Kelly, oi. – ela sorri – Tudo sim, só estou... – ela puxa uma lufada de ar significativa – respirando ar livre. Oxigenando o cérebro, sabe?
- Sei. – a mulher sorri simpática. – Me acompanha na caminhada?
olha de uma ponta à outra da pista larga, por onde geralmente transitavam carros comuns, mas fechada especialmente para o evento em questão, e depois vislumbra Kelly sozinha.
dá de ombros.
Organizaria os pensamentos depois, pensa. Afinal, teria muito tempo livre.
- Acho que não faz mal. – ela salta da divisória e pousa no chão ao lado da mulher – Não sabia que estava por aqui este final de semana. Mas, também, mal tive oportunidade de conversar com Max.
Elas começam a andar, num ritmo tranquilo e vagaroso.
- Vim para fazer a cobertura sobre o movimento que vocês têm apoiado. – ela revela – Está repercutindo de forma positiva e meu supervisor concordou que seria bacana receber destaque na nossa coluna de mulheres no esporte.
Kelly, além de filha do célebre tricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet, era uma colunista e redatora de alto consagro. Trabalhava para revistas e sites de prestígio fugindo um pouco do tradicional ramo da sua família – mesmo que fosse completamente apaixonada pelo esporte em si.
A mulher trilhara o próprio caminho, se especializando constantemente e investindo em estudos, e hoje suas matérias, com a maioria sendo voltadas às conquistas históricas femininas, são mundialmente conhecidas. Sobretudo sem a interferência de seu sobrenome.
- Fico feliz que o apoio ao movimento esteja sendo visto de forma positiva e realmente espero que esse governo possa se moldar à uma gestão menos opressora. – diz.
- Ouvi rumores de que estão cogitando a possibilidade de sancionar alguns benefícios legais às mulheres. Claro, ainda nada muito impactante, mas já é alguma coisa. Há boatos que estão muito incomodados com a visibilidade que ganhou e quanto o público mundial se revoltou com a história. - ela informa.
- Sério? – se volta à mulher surpresa e ao mesmo tempo contente.
- Sim! – afirma sorrindo – E, claro, tudo graças à divulgação e apoio dessa plataforma gigante que é esse esporte.
suspira satisfeita, como se tivesse cumprido seu papel. Feito a sua parte.
- Eu realmente fico feliz em saber.
Kelly assente sorrindo.
- Onde está a Penélope? – questiona, notando a ausência da criança. A pilota raramente via a mulher sem a presença da filha.
- É a semana do Daniil. – ela releva – Essa acabou coincidindo com a semana de corrida, que a gente tentava evitar antes, mas como ele está fora da Fórmula 1 esse ano, ficou de boa. Eles estão na Rússia, visitando a mãe dele.
- Legal!
- E como está o pequeno aí? – ela questiona vislumbrando a barriga – Está de quanto tempo, mesmo?
- Amanhã completo 18 semanas. – responde sorrindo – E ele está forte feito um touro, ontem deu os primeiros chutes.
- Que gracinha! – ela diz encantada, com direito à mãos nas bochechas. – O primeiro chute é um momento mágico. A mãe parece se sentir mais conectada, não é?!
- É, foi tão maravilhoso. – sorri, recordando-se da sensação. – Não consigo não ficar ansiosa esperando por mais.
- Não se preocupe, vai ter sim. – Kelly diz – Lá para o começo do sexto mês vai parecer que ele está sambando aí dentro, de tanto que movimenta. Com a Penélope foi sofrido, não conseguia dormir direito porque assim que deitava ela dava o ar da graça e parecia querer me provar que estava mesmo ali.
- Putz! – ela solta com a testa franzida, mas risonha.
- Mas, sabe, acabei sentindo falta depois. – admite com olhar melancólico – A gente acaba se acostumando com aquele serzinho dentro da gente dia e noite, na sua rotina. Depois você sente um vazio na sua barriga e não consegue mais ficar longe deles, mesmo por necessidade de cuidados ou só para aproveitar cada instante. Eles crescem tão rápido. Mal pisquei e a Pen já toda independente, a países de distância de mim.
encara o rosto pleno de Kelly e se pergunta se poderia compartilhar de suas angústias. Afinal ela era mãe, tinha uma carreira e parecia levar a sua rotina muito bem, obrigada.
Elas não eram assim tão próximas, mas simpatizavam uma com a outra nas inúmeras vezes que estiveram presentes num mesmo evento, fosse num jantar entre amigos e, até mesmo, na noite de jogos que Max os convidara certa vez.
Kelly contradizia e muito do pensamento que tinha sobre os Piquet, embasado no primeiro membro da família que conhecera, que fazia-a hesitante em querer se envolver com qualquer um deles.
Por isso não se sentiu receosa ao declarar: - Eu tenho medo das mudanças que acontecerão na minha vida, sabe. – suspira – Sei que elas vêm para agregar à gente positivamente, mas tenho muito medo de que algumas possam interferir na minha postura como pilota.
Kelly mira o rosto frustrado de por um instante e sorri gentil ao se pronunciar: - Eu sei exatamente o que é isso que está passando pela sua cabeça. Passei pelo mesmo. O constante medo de perder tudo aquilo que construiu antes da criança.
- Sim, ainda mais com as pessoas falando que não vou ser mais a mesma. Não quero perder a minha vontade de estar aqui e de competir como também não quero ser uma mãe ruim. – continua, expondo-se até mais do que pensara estar disposta.
- Sabe que, as pessoas têm muito o que falar e aconselhar quando a gente engravida. – a mulher comenta – Muitos são comentários que não tem nada a agregar de forma positiva e, porventura, são só pejorativos. Principalmente os que vem da mídia. Mas o que você tem que fazer é idealizar a coisa toda na sua cabeça, sem considerar esses comentários, e determinar o que vai ser, pelo que você quer. Porque não tem que ser assim, escolher entre um e outro. Sua carreira ou o seu filho.
assente veemente.
- Você pode sim escolher os dois e manter ambos em equilíbrio. – Kelly continua – Claro que uma hora ou outra você precisa dividir o seu tempo, mas todo esse dilema em que as pessoas falam que a vida da mãe muda completamente é mentira.
- Mesmo? – indaga esperançosa.
- Mesmo! – Kelly sorri – Afinal, não fizemos o bebê sozinhas e o pai também deve arcar com as responsabilidades tanto quanto. As pessoas têm que tirar essa ideia da cabeça de que a mãe é quem cuida e o pai ajuda. Não, os dois cuidam. Às vezes as responsabilidades pesam consequentemente à mãe porque o bebê é muito mais dependente de nós do que do pai no início, mas sua vida só se transforma de maneira drástica se você permitir que seja.
reflete em silêncio.
- Você querer continuar lutando por tudo o que conquistou não te torna menos mãe, te torna uma mulher determinada. – Kelly continua, prevendo os pensamentos contestadores que a pilota poderia ter. Afinal, toda mãe de primeira viagem os tinha – Você não vai deixar de se importar com o seu bebê por se importar com sua carreira.
- Meu receio é confundir as minhas prioridades. Eu meio que sou uma workaholic, sabe – a garota admite.
- Então podemos dar as mãos. – Kelly diz bem-humorada e a encara com a testa franzida. – Eu também sou. Com laudo e tudo.
- Sério? – ela arqueia as sobrancelhas em surpresa e Kelly assente sorridente. – E como você fez para lidar com isso, então?
- Além de sessões de terapia, que eu aconselho que você comece a fazer desde já, para colocar a cabeça completa no lugar.
- Ah, sim, eu já faço. – ela assente. – Estamos... Progredindo.
Kelly sorri em aprovação.
- Você terá que colocar as suas prioridades em grau de necessidade e urgência. – a mulher continua – Do tipo, “eu realmente preciso sair agora em busca de uma matéria exclusiva e deixo minha bebê com fome, ou fico para a alimentar, me atraso e perco?” Na época eu ainda amamentava, e, mesmo que seja um exemplo bobo, colocou as minhas prioridades em conflito. Minha carreira e minha filha.
- Ficou para amamentar o bebê, certo? – ela questiona.
- Claro! – Kelly ri – Porque era a minha urgência e o outro uma necessidade. Com o passar do tempo fui adaptando, moldando uma forma de resolver as minhas urgências de forma que não atrapalhasse a resolução das minhas necessidades. Por exemplo, neste caso em específico eu tirava leite, colocava em reserva para o Daniil conseguir amamentá-la quando era preciso. Pronto.
- Simples assim?
- Simples assim. E você vai ver que as soluções surgirão à medida que você precisar delas. – a mulher afirma com a cabeça – Por vezes, enquanto eu precisava correr para pegar o depoimento de alguém, Daniil a levava para o centro de treinamento e ficava com ela nos simuladores, e vice-e-versa. Fomos nos dividindo nas tarefas e tudo correu tranquilamente bem. Por consequente a Pen desenvolveu um relacionamento muito forte tanto comigo quanto com o pai, e está lá de boa com ele agora.
- É legal ver essa cumplicidade. – ela elogia.
- Sim, foi uma fase muito gostosa. Acho que ambos soubemos aproveitar bem o crescimento dela, ainda estamos a aproveitar, aliás. Daniil é bem dedicado e eu fico muito satisfeita com isso. – Kelly suspira mirando o horizonte escuro mesmo com as lanternas de luz postas sobre a pista, e logo se volta à – Pelo que aparenta, já é bem dedicado. Então não acho que tenha com o que se preocupar realmente.
sorri verdadeiramente porque, realmente, estava preocupada à toa.
Aquela conversa com uma mãe fora do seu convívio fora fundamental para ter a compreensão e visão de que eles poderiam lidar com tudo por definitivo.
tinha tido conversas com , Emília, Patrícia e, até mesmo, Pascale, mas a procura por versões diferentes, de pessoas de culturas diferentes, a fazia ver um significado diferente.
Por mais compatível ou diferente que fossem, o conjunto dessas experiências e informações ainda não iriam se coincidir na sua vida, pois ela escreveria uma nova porque cada um vive de um jeito.
Embasada em todas aquelas lições aprendidas, somada ao próprio ponto de vista, esta seria a sua melhor versão para a sua vida.
estava satisfeita por finalmente ter compreendido aquilo, em não se comparar da maneira que um viveram os outros, como foram mães ou se moldar aos seus costumes, mas se inspirar e fazer o que era o mais conveniente à ela mesma.
- Obrigada, Kelly. – ela agradece genuinamente.
- Imagina. – ela dá de ombros de forma singela – Fico feliz em ajudar. Sempre que precisar, pode contar comigo.
- Fico feliz em saber disso.
- Sabe, tenho que admitir, que eu me sentia meio receosa em criar intimidade com você porque pensava que não era muito com minha cara pelo que aconteceu entre você e Pedro.
ri junto de Kelly, porém revela: - Eu não vou mentir, eu era um pouco sim. Mas percebi que era preciso diferenciar as coisas, pois são pessoas diferentes e uma não deve arcar com a sombra e consequências da outra. Por mais próximos que sejam. E você é tão gentil.
- Obrigada. – a mulher sorri feliz. – Fico contente que tenhamos esclarecido e deixado isso para trás.
- Com certeza. – ela assente veemente.
- E, não que isso interfira em algo, afinal já passou, mas quando eu soube o que ele havia feito fiquei muito puta. – ela revela, a sobrancelha em uma linha fina e dura – Imagina, uma mulher que exalta os feitos de outras mulheres ter como irmão alguém que tenta oprimi-las?! – Kelly bufa irritada – Como se tivéssemos tido ensinamentos diferentes, viemos do mesmo berço e por isso entendo o seu receio comigo.
- É que é meio que um pensamento automático. – fala – Mas isso só confirma o ditado de que “não devemos julgar o livro pela capa”.
- É, - ela sorri – e, se fizer você se sentir mais aliviada, ele saiu da Fórmula 2.
Elas riem.
- Eu ouvi alguma coisa sobre. – admite.
- Ele diz que não tem como forçar uma coisa que ele não é e finalmente se libertou dessa obrigação, não imposta oficialmente. Agora vai focar em outras coisas. – ela dá de ombros enquanto conta – Sabe, acho que agora as coisas podem melhorar. Meu pai não é do tipo que pressiona, mas todo o legado dele deixava o Pedro com muita responsabilidade e ele se autocobrava demais. Isso pode acarretar em alguns traumas. Não que justifique, mas... Eu acabo entendendo o lado dele. Sabe.
pensa na própria situação em autocobrança e se sente ainda mais empática.
- Eu sinceramente fico satisfeita em saber que ele esteja amadurecendo. – ela fala com verdade – Se submeter a admitir isso já é um começo, as pessoas têm que estar e fazer o que gostam e espero mesmo que ele consiga se encontrar.
-É... Esperamos.
Elas sorriem uma à outra e continuam pelo percurso, conversando sobre assuntos aleatórios como comida, cultura e história dos países que sedem o campeonato automobilístico em questão.
A atenção das suas, porém, é chamada pelo ruído de sapatos se chocando no asfalto em ritmo de corrida, e elas olham para trás encontrando .
- . Vai correr de calça jeans? – questiona com a testa franzida quando ele as alcança.
- Não. – ele ri fraco – Vim te buscar, na realidade. Oi, Kelly. – ele cumprimenta com um aceno de cabeça. E a jornalista devolve com um sorriso.
- Me buscar para quê? – questiona descontraída.
- Ma belle, o ultrassom! – ele arqueia as sobrancelhas e ri.
- Ultrassom? Fizemos exames ontem, Anthony já disse que está tudo bem. – ela dá de ombros.
- É aquele... Marcado para hoje. Desde antes. – ele diz com olhos significativos e um sorriso radiante.
franze a testa, buscando por datas e palavras-chave específicas para se recordar de tal ultrassom tão importante...
- Puta merda, não acredito que esquecemos. – ela diz com as sobrancelhas arqueadas quando se dá conta.
- Pois é. – ri – Já falei com o doutor, ele vai nos encontrar na clínica em 15 minutos.
- Então vamos! – ela sorri radiante e entrelaça os dedos nos do noivo.
- É aqui que me despeço, então. Vou fazer a minha corrida. – Kelly se pronuncia, fazendo-os relembrar de que não estavam sozinhos, de tão eufóricos que ficaram.
- Desculpa, amiga. – diz com os lábios alegres – É que é o exame para que finalmente possamos saber o sexo do bebê.
Kelly salda alegre: - Que legal! – a jornalista então se adianta em dizer – Então vão! Vão logo!
- Vamos, antes que o bebê escute isso e feche as pernas de novo. – brinca e eles riem.
- Vamos, sim. – diz e eles partem, afastando-se da mulher. No entanto, sem parar de andar, a pilota se vira na direção da jornalista e diz: – E, mais uma vez, obrigada.
- Imagina. – ela agita a mão em modéstia de longe – Depois me conta se teremos um pequeno corredor ou uma corredora.
- Pode deixar! – ela fala em alto tom e retoma o seu caminho ao lado de um entusiasmado monegasco em direção à saída da pista.
Estava tão empolgada que sequer percebera que estava indo sem se despedir da pista, das curvas, das retas e aquele clima de final de semana de corrida.
A conversa com Kelly a havia distraído do fato de que, a partir de então, ela estaria oficialmente fora daqueles circuitos por um longo ano.
E talvez tenha sido melhor daquele jeito.
Capítulo 17
Estúdios Netflix – Albuquerque, Novo México. EUA
Ao lado deles, sobre uma mesa improvisada havia várias garrafas d’água vazias, embalagens de petiscos os quais se deliciaram e os papéis do roteiro de entrevista que o jornalista abandonou após liderar o rumo da conversa de uma forma completamente leve e natural.
Todos os demais presentes no estúdio também ouviam a história envolvente atentamente, permitindo-se até sentar-se ao chão em volta da mulher, como uma típica roda de histórias no jardim da infância.
Variados funcionários do estúdio, como as câmeras que deixaram a gravação rolando de forma automática; os cinegrafistas que abandonaram as anotações e, até mesmo, o diretor que ousou se aproximar para ouvir melhor; abdicaram momentaneamente das funções para essa troca de experiências e momentos reflexivos.
não estava nem um pouco cansada ou tímida, podia continuar falando de seu ramo e paixão por horas e horas. Porém ela tinha outros compromissos à cumprir e por esta razão estava afunilando os assuntos para finalizar a entrevista.
- Com certeza, Jamie é talentosíssima. – a pilota afirma veemente – Não é todo mundo que consegue um pódio logo na corrida de estreia, certo? – arqueia uma sobrancelha com vislumbre de sorriso nos lábios – A McLaren está cada vez mais competitiva e seu segundo lugar no campeonato de construtoras pelo segundo ano consecutivo mostra isso. Foi muito bem colocado e uma jogada estratégica sensacional a decisão da Jamie na segunda vaga.
- Isso torna o líder da equipe. – Tom comenta.
- E eu sei que ele vai usufruir dessa oportunidade maravilhosamente bem, porque é um cara muito visionário e cheio de ideias inovadoras. – ela elogia – A McLaren está muito bem amparada e já estou ansiosa para assisti-los trabalhar juntos.
Ela vê alguns rostos sorrirem verdadeiramente ao seu redor.
- Confesso que fiquei surpreso com o anúncio de ano sabático do , logo após seu primeiro título de campeão mundial. – O jornalista confesso – Digo, ele não ficou ainda mais estimulado em continuar depois de ter pego aquele troféu em mãos?
sorri pelas lembranças que a remetem do dia do título do rapaz.
Foram dias muito felizes, isso era um fato, e ficara satisfeitíssima de tê-lo podido assistir de camarote.
Faltava somente uma volta para o fim da última corrida do calendário, em Abu Dhabi, e a Ferrari vermelha que carregava o número 16 liderava a corrida já há mais de 25 voltas. Ninguém conseguia parar, segurar ou ultrapassar a vontade alucinante que o monegasco tinha da vitória.
Tendo ganhado a última corrida na Arábia Saudita e com sua atual posição naquela, ele quase já podia sentir o troféu do título em suas mãos. Não havia palavras no rádio, vibração, ventos, pneus gastos ou ruídos qualquer que pudesse tirá-lo da bolha de autoconfiança em que ele se encontrava. Ele estava completamente focado.
“E lá está vindo o Norris, tá vindo o Norris atrás do Leclerc.” – o comentador narra.
“Ele tem que aproveitar o vácuo do retardatário que está na frente, o Perez quem tá ali.” – o outro comentarista aconselha. – “Ele tem que ver que o Norris pode abrir a asa, aliás o Norris já está abrindo a asa na reta do DRS.”.
“Que reviravolta tivemos nesse final de temporada, hein, Clark?!” – questiona – “Com a Benedetti fora, Lewis com problema de superaquecimento de motor nesta corrida, fora também e Verstappen preso ali atrás do Sainz depois de um erro no pit stop, a disputa fica entre Norris e Leclerc.”
“E o Norris também tem chance de ganhar o título, ele está poucos pontos atrás do Leclerc na tabela, e ele vem mergulhando. Tá ali, coladinho, coladinho no Leclerc e...”.
“Leclerc defende!” - o narrador grita emocionado – “Norris jogou para o lado e o monegasco disse: Aqui não! Aqui não, que essa vitória é minha!”.
“Um show do moleque Leclerc!”
“Moleque este que vai ser papai, Clark! Falando nisso, olha lá, que imagem bonita da Benedetti sorridente das arquibancadas, mostrando que a rivalidade nas corridas não afeta em nada o orgulho pelo noivo. Ela está bem animada.”.
“A torcida também está vibrando, eles estão indo à loucura por essa pilotagem sensacional!”
“E agora ele vai, agora ninguém chega nele!”
“Norris tenta se aproximar, mas a McLaren não tem mais tempo. A Bandeira quadriculada já está sendo balançada”.
“Na ponta dos dedos vem ele! Leclerc!”
Fogos de artifício explodem no céu escuro cheio de estrelas, as luzes refletem no capacete de que urra em felicidade.
“Vence Leclerc, de Mônaco, o Grande Prêmio de Abu Dhabi e o campeonato de Fórmula 1 deste ano!”
chora, indiscutivelmente emocionado e levando as mãos à cabeça enquanto seguia com o carro mais lento à caminho do pódio. Ele vibra e grita no rádio, comemorando, agradecendo, homenageando: - Quero agradecer à toda a equipe que fez um trabalho incrível toda a temporada, mostrando que a Ferrari acordou e estamos aqui porque jogamos duro. Obrigado aos engenheiros, a assessoria, os mecânicos, estrategistas, pessoal da fábrica e muitos outros que estão envolvidos, essa vitória é nossa! Um muito obrigado à nossa Tifosi pelo apoio, pelas motivações, pelo amor incondicional. – ele respira, tomando fôlego – E eu quero oferecer essa vitória ao meu bebê que está à caminho. Eu te amo! – passa a línguas pelos lábios salgados, molhados pelas lágrimas que escorriam – E, também, à , que sempre esteve ao meu lado. Eu amo vocês dois incondicionalmente, muito obrigado por tudo.
desceu daquele palco e pódio não só molhado pelo champanhe, mas de mais animação, mais confiança, mais realizado e, antes de qualquer coisa – se secar com as toalhas que sua assessora lhe oferece, comemorar com a equipe ou mesmo ir ao banheiro – ele se direciona à sua noiva, que assistia à tudo com um sorriso enorme nos lábios ao lado do seu pessoal em uniforme vermelho, e a beija com veracidade.
O público ao redor vibra.
- Essa vitória não é minha. É nossa! – ele diz quando se afasta minimamente suas bocas, ainda colados testa a testa.
- Nós – ela declara indicando a barriga – estamos muito orgulhosos de você. Vou fazer questão de mostrar para o bebê essas fotos – diz referindo-se aos flashes das câmeras fotográficas que os iluminavam, citando dizeres do próprio monegasco – e dizer: “você já estava aqui quando seu pai foi campeão e nem por um segundo deixou de pensar em nós”. E eu sei que ele vai ter ainda mais orgulho do pai maravilhoso que têm.
A mulher suspira ao despertar da lembrança, está novamente sorridente.
- é muito focado no que ele quer e, apesar desse resultado maravilhoso de todo o trabalho que se esforçou por anos tê-lo deixado nas nuvens, ele também quer muito ser pai. – ela conta – Ambos queremos aproveitar o resto da gravidez e as primeiras fases com o bebê, sem perder nada. Sabe como é, pais de primeira viagem, né?! – ela ri fraco e os demais a acompanham – A Ferrari foi bem condescendente em compreender isso e, como ele já garantiu a permanência na vaga para o outro ano pelo troféu, está mais tranquilo por não ter que disputar vagas em outras construtoras.
O jornalista assente vagarosamente.
- E como você se sente, digo, saindo por definitivo da construtora em que conquistou 13 vitórias nesses três anos na Fórmula 1? – Tom questiona com um vislumbre tristonho no olhar – Você costuma dizer que a McLaren é sua casa, confesso ter ficado triste pelo anúncio da sua saída definitiva.
suspira com certo tom de melancolia, e respira fundo para evitar que os olhos fiquem mais uma vez molhados, como outras vezes ficaram por este mesmo assunto.
- Deixar a McLaren é muito difícil porque foi onde eu cresci e onde acreditaram em mim pela primeira vez na Fórmula 1. Ela é realmente o meu lar, o time em que sempre sonhei em estar desde criança. – a pilota sorri. – Foi onde fiz amizades realmente verdadeiras e significativas, relações além do trabalho que vou levar para o resto da minha vida. Não só com , que se tornou o meu melhor amigo, mas toda a equipe. – assente veemente – Fico muito triste por não ter conquistado um título junto deles, só eu sei o quão foi difícil tomar a decisão de abrir mão dessa temporada e deles. Não me arrependo nem por um segundo, porque afinal, foi por algo maior que nós. – ela passa a mão sobre a barriga representativamente – Mas sempre terei a McLaren e todo o time em meu coração e quem sabe um dia terei a oportunidade de retornar em outra situação em que ambos estaremos aptos à agregar mais valores uns aos outros. Nós dois, pilota e equipe, chegamos à conclusão de que nossos caminhos devem se separar por enquanto, porque apesar de meus objetivos continuarem os mesmos, os meios agora são outros e não coincidem com os deles no momento.
- E foram anos maravilhosos dessa parceria, hein?
- Porra! – ela sorri, intensificando a afirmação enquanto secava a lágrima que ameaçava escapar do canto dos olhos. – Eles deixaram a experiência ainda mais incrível. Nem tenho palavras para agradecer tudo o que fizeram por mim.
- A equipe gravou uma mensagem, por livre e espontânea vontade, e nos disponibilizou. Essa mensagem é direcionada à equipe a qual você fechou o contrato para as próximas temporadas em questão, mas também para você. – o jornalista revela com a voz doce. – Quer assistir?
- Como é que é? – ela questiona surpresa e logo uma tela que ela não havia reparado até então, pouco mais a sua frente, se liga. Todos na sala se viram para ela.
Na tela o vídeo se inicia com , com um sorriso tristonho nos lábios, sobre um fundo escuro e uma música leve de toque comovente.
- Aos nossos amigos da Red Bull Racing e aos seus queridos fãs. – ele fala olhando diretamente para a câmera. Seus olhos estavam brilhando, e Liza jurava que ele estava a um ponto de se emocionar – Hoje queremos enviar-lhes uma mensagem.
Em seguida entra Andreas, seu fiel engenheiro e chefe continua com o discurso: - Vocês foram e ainda estão entre os nossos mais antigos e ferozes rivais. Nós respeitamos a sua história e o seu legado como respeitamos aos nossos.
O próximo a ser mostrado é Nick, seu mecânico: - Nós saboreamos cada batalha com o time azul. A McLaren e a Red Bull são como dois polos opostos que constantemente se atraem.
Thomas então toma a vez no discurso, este um dos engenheiros da sua própria equipe: - Nós somos ambos oponentes, amigos, e nós temos tamanho respeito pela Red Bull e sua torcida. Então, neste momento especial, nós enviamos a vocês um presente, o qual viemos zelando por três anos.
Quando Zak Brown aparece com seu sorriso gentil já está em prantos silenciosos.
- Nós cuidamos dela e a ajudamos a crescer com prazer. E agora é a sua vez. Cuidem bem dela, como nós fizemos. Ela é uma menina de ouro que merece todo o carinho do mundo. Nos veremos na pista nas próximas temporadas.
reaparece sorrindo e finaliza o discurso com: - Eu não estou chorando, você está. – em português.
No final do vídeo aparece o escrito “#ObrigadoLizzie” no fundo preto e é quando ela limpa o seu rosto molhado rapidamente.
As pessoas se voltam à ela.
- Caraca... – ela fala com a voz fanha e nariz vermelho, com um sorriso fraco sobre os lábios. – Isso foi sacanagem.
Risos baixos ecoam pelo estúdio.
- O que mais posso dizer? – ela dá de ombros tentando controlar a tremedeira no queixo – Eles são minha família, continuaremos com a amizade, definitivamente. Estaremos nos encontrando constantemente. – ela respira fundo, tomando fôlego – O fato de eu ter que sair é triste, mas não me deixa menos ansiosa para o que está por vir. Essa nova fase é excitante, a RBR é excitante! E mesmo que uma parte minha esteja de coração partido e outra falta gritar aos ventos pela oportunidade de me juntar à eles.
- Essa foi a notícia mais polêmica dos últimos dias. – Tom diz arqueando as sobrancelhas em tom de alarde – Digo, pensávamos que a mais cotada, caso não permanecesse na McLaren, era a Mercedes e de repente temos esse anúncio. Eu mesmo fiquei chocado.
Liza ri, terminando de secar o rosto por definitivo.
- Eu admiro muito a Mercedes e ela é lendária por ganhar vários prêmios consecutivos, mas eles têm exigências que não posso atender agora. – seu sorriso desce para o canto dos lábios, meio de lado – George é perfeito para a vaga, sempre foi. É jovem, engajado, tem a disponibilidade que eles precisam e eu sei que vai brilhar muito pilotando aquela máquina.
- A saída de Helmut Marko da RBR foi algo crucial para a sua decisão? – Tom arqueia uma sobrancelha e controla o sorriso que queria crescer em seu rosto.
Marko era basicamente o responsável pela dança de cadeiras polêmica da segunda vaga da escuderia azul, como as pessoas já desconfiavam de uns tempos para cá, e suas crescentes implicâncias e declarações desmerecendo os próprios pilotos havia acarretado finalmente no seu total desligamento da construtora, feito pelo próprio Horner que decidiu prezar por um ambiente de trabalho saudável. Finalmente.
não poderia mentir para si mesma e falar que essa questão não fora um ponto essencial sim para a sua decisão. Mas, como estava diante de câmeras, ela mente ao contornar o assunto: - Na verdade foi apenas o timing perfeito. – sorri – No final do ano que vem acaba o contrato do Perez com a Red Bull porque ele vai se aposentar, então juntamos o útil ao agradável.
- Sei... – Tom brinca, espremendo os olhos em sua direção.
- Não, falando sério agora. – ela ri fraco – Christian se mostrou um visionário com os pés completamente no chão. Eu não tinha tido a oportunidade de conhecê-lo melhor antes e depois de umas conversas ele me mostrou o quanto a RBR tem a me oferecer dentro e fora das pistas, o que me deixou muito surpresa por, aliás, incluir no contrato total suporte com o bebê. – sorri impressionada – Sei que posso crescer muito com eles, afinal a RBR também é lendária com suas vitórias e tem muita história para agregar na minha. Estou realmente ansiosa para aprender com essas mentes brilhantes, crias novas laços, compartilhar experiências... Enfim, poder trabalhar e ficar com meu filho sempre. Então, vai ser muito bacana. Eu estou muito empolgada.
- Legal, muito legal. – Tom comenta. – Ao meu ver, indiretamente, você ajudou a alavancar a carreira de três pilotos no grid, então?!
- Calma aê, não ajudei alavancar carreira de ninguém não. – ela diz e causa risos, rindo também – Quem acha que eu sou, o Robin Hood da Fórmula 1?!
Eles riem por um tempo e depois que as risadas vão se cessando, ela diz: - Na verdade, não foi nada demais. Digo, foram só consequências de negociações. Vislumbrei o que era melhor para a minha equipe naquele momento, a minha carreira, e as outras coisas só se desenrolaram naturalmente pelo que as equipes também viram que era o melhor para elas mesmas.
- Tudo bem, tudo bem. Descartemos os casos de Jamie e George então. – ele diz sorrindo – Mas pode também ser considerado como “nada demais” os rumores de que você foi diretamente responsável pela indicação do novo contratado da Willians, Felipe Drugovich?
morde o lábio inferior, contendo um sorriso tímido, enquanto a conversa com Zak Brown repassava pela sua cabeça.
“Zak, queria te pedir mais um favor, se não for abusar muito da sua boa vontade” – ela se lembra de ter dito naquele dia em Jeddah.
“Me diga. Faço como este sendo meu presente de pré-natal.” – Brown disse. Ele já sabia que ela não renovaria com a McLaren, antes mesmo da mesma ter oficializado sua decisão. Mas em consideração aos bons anos que trabalharam juntos e amizade que pretendiam permanecer, não diz nada além.
“Eu não gosto de ser injusta, muito menos parecer vingativa quando minhas intenções passaram longe disso” – ela disse – “Sei que o Felipe teve uma chance única de entrar numa equipe da Fórmula 1 agora, e colocando a Jamie no seu lugar vai perder a vaga que já era garantida dele.”
“Vai desperdiçar seu presente comigo pedindo para eu desfazer o que fiz ao colocar a Jamie, coisa que você também acabou de pedir?!” – ele questionou confuso.
riu.
“Não. Só quero que garanta que trazer Jamie para o time não vai tirar a oportunidade de Felipe da Fórmula 1. Se possível, coloque o garoto em evidência, com certeza alguém vai se interessar por ele.” – ela esclareceu.
Ela lembra de Zak refletir por um tempo e por final sorrir.
“Acho que sei de uma vaga perfeita para ele.”
A vaga em questão era de piloto reserva da construtora britânica, mas visto a indisponibilidade consequente de Russell, ele assumira a vaga principal.
Quando ela desperta do rápido vislumbre de lembranças, dá de ombros e reponde sorrindo: - Não sei do que estão falando. Felipe tem se destacado muito por si só, não precisou de empurrões para conquistar o lugar que merece. É um cara talentoso. Não tenho nada a ver com isso.
- Então, tá. Prosseguimos assim. – Tom diz, mesmo que insatisfeito com a resposta que não esperava. Ele endireita sua postura e continua: – Benedetti já volta no outro ano. Isso é animador. O bebê vai ter quanto tempo, mesmo?
- 1 aninho. – ela diz sorrindo alegre – Está para nascer em março do ano que vem, então calha certinho com a pré-temporada do meu retorno.
- Vai conseguir conciliar o cuidado com o bebê e a intensidade do trabalho de se estar em uma nova escuderia, ainda mais sendo dupla de Max Verstappen, o garoto de ouro da RBR? – ele questiona com brilho nos olhos.
- Sei que não vai ser fácil, vou tropeçar nas próprias pernas algumas vezes, mas o erro é uma forma de aprender e eu sou uma eterna estudante. – ela diz recordando dos aprendizados que teve aquele ano com as pessoas que amava, e se importavam com ela – Gosto de desafios porque me sinto muito madura depois de ultrapassá-los e eu sempre deixei claro que o meu objetivo é único. O título, que eu vou continuar buscando ferozmente.
Tom assente animado.
- O bebê terá a mãe e o pai lá, não vamos deixar que nossas responsabilidades com o trabalho interfiram na criação do nosso filho, mas também não deixaremos que o nosso filho interfira no nosso trabalho. Afinal, filho não é um fardo. Ele vem para complementar as nossas vidas e eu sei que nossa performance vai melhorar com essa complementação.
- Isso é realmente inspirador. – o jornalista admite e algumas pessoas assentem em concordância – Pode nos dizer então o que você aprendeu com tudo isso que aconteceu na última temporada?
- Que eu nunca mais vou submeter meu corpo e mente a tanta pressão quanto aquela. – ela ri com intensidade.
Os demais a acompanham.
Logo que seu riso vai se cessando, e ela volta a falar: - Aprendi a lição. Demorou, mas aprendi. Na próxima gravidez vou manter as coisas mais tranquilas e longe de toda essa agitação, por mais que me doa. – admite com a face triste – Mas, afinal, na vida temos que fazer sacrifícios e ser flexíveis em algumas questões, para o nosso bem e daqueles que amamos. O bebê veio para me fazer entender que eu não sou perfeita e tudo bem. Ninguém é. E, também, que são por minhas imperfeições que hoje eu estou onde estou, e que precisava trabalhar mais essa parte humana em mim e entender que se eu não alcanço uma meta é perfeitamente comum e não devo me inferiorizar por isso, só estudar outras formas de alcançá-la. Como aceitar a ajuda daqueles que se importam comigo e me desprender mais de responsabilidades que às vezes não são tão fundamentais que eu assuma. Delegar, sabe.
- Isso acaba se tornando mais uma conquista, certo? – Tom fala – Digo, você como mulher tem conquistado não só os objetivos tangíveis, mas os intangíveis também. O amadurecimento, a percepção do seu próprio-eu...
- Com certeza. – ela afirma com convicção – Porque é isso, citando a minha inteligentíssima amiga : “mulheres nasceram para serem multitarefas” e posso ter me complicado um pouco, porque são muitas, muitas coisas mesmas que passam pela cabeça de uma mulher na gravidez. – ela ri – Mas farei o máximo para ir pelo caminho certo, me moldar e me adequar à essa nova aventura e provar que posso ser uma boa mãe e esposa sem diminuir quão boa pilota eu também sou.
- E que pilota! – ele suspira satisfeito e olha ao seu redor – Maravilha. Honestamente, isso foi um espetáculo. Não sei como vamos resumir tudo isso à um episódio, e será um grande desafio.
- Tem mesmo que ser colocado na série? – uma das cinegrafistas fala – Digo, por que não fazer um documentário sobre ela?
Tom gira a cadeira vagarosamente até a direção do diretor, que está a observar a cena de braços cruzados, e ele se pega como centro das atenções.
- Certamente seria um pecado tirar uma palavra sequer dos seus dizeres na edição. – ele fala à Liza, dando de ombros – Se sua empresária aceitar uma modificação no contrato, acredito que podemos fazer isso se tornar ainda maior. Condizente ao que você representa, .
A pilota sorri emocionada, os olhos brilhantes pelo reconhecimento e tamanha valorização que aquelas pessoas estavam a demonstrar pela sua história.
- Eu nem sei o que dizer, pessoal. – ela fala – Seria uma honra, claro.
Alguns no estúdio iniciam uma salva de palmas, que logo é ampliada para todos da sala.
corre os olhos até Sandy e Fábio, que está a secar os olhos molhados, e sorri ainda mais.
Quando as palmas se esvaem, Tom se vira para a pilota: - Então para fechar esse documentário com chave de ouro, você poderia nos agraciar com uma notícia exclusiva?
- Mais? – ela ri – Nunca falei tanto em uma entrevista, isso tudo aí é material exclusivo.
- Tá legal, - ele revira os olhos de forma divertida – mais uma notícia exclusiva, então.
- Que seria?
- A honra de sermos quem anunciará o sexo do seu bebê. – ele fala entusiasmado.
- Sim.
- Perfeito!
- Por favor. – as vozes das pessoas ao seu redor pedem ao mesmo tempo e Liza acaba por rir.
- Eu deveria fazer vocês esperarem como o bebê me fez esperar para saber. – ela diz arqueando uma sobrancelha, mesmo risonha – Eu e mesmo soubemos tem pouco menos de 15 dias.
- Ah, que maldade. – Tom diz num sorriso pidão.
ri.
- Mas, tudo bem. Estamos tão extasiados com a notícia que digo sim. – ela olha ao seu redor, mirando aqueles rostos ansiosos que não consegue evitar o sorriso radiante ao anunciar: - É um menino!
As pessoas celebram como um gol do seu time do coração, ou a vitória do seu piloto favorito, e a mulher fica extasiada com tanto carinho.
- Meus parabéns. – Tom salda alegremente – Literalmente é um mini-Leclerc.
- Pois é! – ela ri.
- E vocês já escolheram um nome?
espreme os olhos na direção do jornalista.
- Espertinho. – ela ralha em tom de brincadeira – Bom, o nome é realmente significante para nós, mas vou deixá-los com esse gostinho só para quando nascer.
- Aaaaah. – o coro solta desanimado, o que faz Liza rir ainda mais.
- Desculpem, mas este só nas cenas do próximo capítulo. – ela pisca na direção do jornalista.
Capítulo 18
“Uma sábia mulher me disse uma vez que todas as nossas experiências deviam ser vividas intensamente, excessivamente e abundantemente para que tirássemos o máximo de aproveitamento de cada instante. Como se aquele fosse o último. [...] O que acabei guardando daquele conselho foi que mesmo que esteja com os pensamentos desajustados e se sentir perdido, se você focar na intensidade a ser vivida conseguirá visualizar lados diferentes de uma mesma situação a modo de conduzi-las de forma positiva. O que te permite encontrar as soluções para os seus desamparos e assim, simplesmente... Voltar a aproveitar a sua vida. Foi o que aconteceu comigo, e demorou para me adaptar à esse novo modo de viver. Mas quando o fiz... Cara, foi no timing perfeito.”
30 de Janeiro
Limoges – França
olha seu reflexo no espelho de chão e suspira pesadamente.
Dentro daquele quarto de decoração romântica, com papéis de parede em tons pastéis, móveis antigos de época – bem conservados, lareira de tijolos à vista, carpete claro, colchas da cama no mais delicado azul turquesa e janelas de madeira branca que davam vista aos jardins verdes e arvoredo campestre –, era feita a preparação da noiva para o seu grande dia.
O dia do casório.
A claridade do dia de céu aberto e completamente azul adentrava o aposento e intensificava o branco do vestido longo de cetim que a mulher usava. Ela roda vagarosamente na frente do espelho e admira o corpo coberto pelo tecido solto, disfarçando de leve a barriga já redonda, e que se ajustava aos seus seios em uma faixa que contornava também os seus ombros e terminava em um laço às suas costas desnudas.
Seus cabelos estavam presos em um coque levemente frouxo, o qual permitia que duas mechas caíssem pela lateral de seu rosto até a altura do seu queixo e um véu fosse preso na terminação do amarro das madeixas.
No rosto uma maquiagem leve e simplória para uma cerimônia feita no jardim de uma pousada reclusa no interior da Itália, onde longe dos olhos da mídia dois amantes pudessem finalmente selar o seu relacionamento.
Louise se aproxima da mulher e lhe entrega o buquê de flores brancas e azuis com os olhos úmidos. a agradece com o olhar e se vira para o grupo de mulheres emocionadas.
Elas dão gritinhos de excitação para a produção finalizada.
- Você está tão linda! – é a primeira a pronunciar palavras coerentes e compreensíveis, enquanto as demais limpavam os cantos dos olhos com os seus lencinhos e se abanavam em emoção, balbuciando sons que provoca risos na noiva.
- Obrigada. – ela diz radiante e se aproxima do grupo choroso.
- A noiva mais bonita que eu já vi. – Emília afirma acariciando a lateral do rosto da neta com cuidado, para não borrar sua maquiagem.
- Não tenho como discordar, - Pascale se pronuncia, mas sussurra próximo a nora em segredo: – que a Alexia não saiba.
ri.
- Seu segredo está salvo comigo.
- Deus, eu não tenho nem palavras. – Patrícia confessa em seguida, secando o rosto completamente molhado – Minha maquiagem já foi para o saco.
- Deixa que eu te ajudo, tia. – diz e se adianta em levar a mulher até a penteadeira repleta de cosméticos para uns retoques.
- Temos 15 minutos, pessoal. – Moira avisa ao entrar pelas portas duplas de madeira branca, e ao se deparar com , põe a mão sobre o peito e diz com grande entonação: - Você é a noiva mais deslumbrante que eu já vi.
- Vamos fingir que você não diz isso para todas as suas clientes, porque eu realmente estou me achando agora. – a pilota diz e faz uma pose com uma das mãos na cintura, o grupo de mulheres ri.
- Estão todos prontos lá embaixo. – Moira informa à Louise e – A banda está tocando música ambiente e os convidados posicionados em seus lugares. Agora, o cortejo vai seguir a seguinte ordem, - ela chama a atenção de todas as demais – Pascale e vão abrir a passagem, depois temos e Daniel como padrinhos; Hérve, Yohan e Dakota entram jogando as pétalas de rosas, Marcella trás as alianças e Marcos e fecham a entrada. Alguma dúvida?
- Será que dá tempo de eu comer alguma coisa antes de tudo isso? – questiona ao erguer a mão. – Estou prevendo que o jantar vai demorar de sair, então quero dar uma estocada em algum lugar por aqui.
A mulheres riem.
- Eu estou falando sério. – ela diz com um sorriso fraco e Louise logo se adianta a arranjar mais petiscos, saindo pela porta. – Obrigada, Lou! – grita sorridente, para em seguida comentar com as demais do quarto: - Ela é um amor.
- Realmente é. E o que ela fez aqui... Cara, está um máximo. – assente e logo comunica ao grupo, depois de terminar os retoques de maquiagem na mãe de – Quem tiver que ir, vamos logo e, para quem fica, - ela junta suas mãos com as da amiga – boa sorte. E vê se não tropeça.
- Já preparem o guindaste, porque se eu cair vai ser foda para levantar. – ela brinca e ambas riem, pouco antes de se abraçarem.
Quando a dupla se separa as demais se despedem da noiva.
- Vou dizer ao seu pai que está pronta. – Moira diz, saindo do quarto e deixando-a sozinha.
gira nos calcanhares, fazendo a barra da saia do vestido rodar graciosamente. Ela para ao notar o colar sobre a mesinha de centro, o qual a personal style havia tirado de seu pescoço junto de sua roupa comum antes da arrumação.
Ela se aproxima da mesinha e o resgata, abaixando com a mão nas costas para alcançá-lo, e assim que o faz despenca no sofá ali perto respirando aliviada depois do esforço.
Ela enrola o cordão de prata no pulso e admira os pingentes delicados e significativos.
O antigo pingente da chave de sua casa com , que o monegasco havia a presenteado logo que eles adquiriram a propriedade, havia ganho a companhia de mais outros dois.
Um era a réplica de seu anel de noivado, em tamanho reduzido, e o outro uma chupeta – ambos em ouro branco para condizer com o conjunto. havia pensado em todos os detalhes ao presenteá-la na noite do jantar de ensaio, no dia anterior.
Ela suspira romântica quando vislumbres da noite refletem em sua cabeça.
O monegasco era tudo o que sempre procurou em seus relacionamentos antigos e até mais, superando todas as suas expectativas.
Ele aparecera de surpresa, sem qualquer aviso prévio ou planejamento, quando ela menos esperava e a ideia de relacionamento não era nem de longe a sua prioridade. fora ganhando seu espaço na vida de aos poucos. De degrau em degrau, ele trilhou o seu caminho até que se expandisse por todo coração da brasileira, tomando-o por completo e assim fez de sua moradia. Já era mais de do que da própria .
O casal estava a construir uma história linda e naquele dia estavam para dar mais um passo essencial, que os levaria à ainda mais conquistas juntas.
Ela fica ansiosa.
só percebe que seus olhos estão molhados quando ouve batidas gentis na porta.
A mulher limpa o rosto com delicadeza, sorrindo, e diz com a voz fanha: - Pode entrar, pai.
A porta se abre minimamente e pela fresta surge uma cabeça sorridente, mas não era a de seu pai.
- ? – Ela ri ao ver seus olhos azuis espremidos pelas bochechas elevadas pelo sorriso em seus lábios. se levanta em lentidão – Está fazendo o que aqui?
- Estou em missão. – ele sussurra colocando o corpo para dentro pela mínima fresta, tendo cuidado para não abrir demais a porta, e a fecha logo que entra no quarto por completo, revelando seu terno atípico na cor azul claro.
Atípico para a sociedade, típico de em ousar em trajes diferentes.
E sempre ficava bonito em qualquer um deles.
Quando ele se depara com de frente à ele, a encara de cima a baixo com olhos encantados: – Eu aceito.
A mulher ri e dá uma volta completa, para mostrá-lo o vestido por completo.
- Você gostou? – questiona com a sobrancelha arqueada ao parar de frente à ele novamente, com as mãos na cintura.
- Se eu gostei? Ainda dá tempo de voltar atrás naquela conversa sobre não estar apaixonado por você? – ele pergunta e eles riem bem-humorados – A gente foge para uma ilha, muda de nome, cria o moleque no litoral e sobrevive vendendo arte na praia.
A mulher gargalha, com direito até de mão sobre a barriga.
- Porra, você está deslumbrante. – ele elogia depois que cessado os risos, e se aproxima para entrelaçar as suas mãos. – Lacrou! – diz em português e sorri radiante.
- Obrigada!
- Caramba... – ele sopra mirando-a de cima abaixo novamente – Não estou acreditando que isso está mesmo acontecendo. Você vai casar!
- Vou! – ela diz alegre.
- é definitivamente um homem de sorte. – ele diz gentilmente – E falando em , - sorri significativamente – ele está aí fora, quer dar uma palavrinha com você antes da troca de alianças.
- O quê? – ele indaga franzindo a testa – Mas, ele já deveria estar à caminho do altar... E ele não pode me ver ainda, dizem que dá azar.
- Eu sei, eu sei. – o rapaz diz assentindo – Por isso que, “tecnicamente” – ele solta suas mãos para fazer as aspas no ar com os dedos – não estamos aqui. Estamos no banheiro porque ele está passando mal de ansiedade. A tal da Moira nos deu três minutos. – bufa – Três minutos, cara. Como se alguém com caganeira conseguisse se recuperar nesse tempo. Mas, tudo bem.
ri.
- É que ele me pediu esse favor e, você sabe, quem consegue recusar um pedido daquele cara?! – os olhos azuis de atenuam com veemência o fato – E, não se preocupe, já pensei em tudo para ele não te ver. Só, fica – ele a move delicadamente pelos ombros para ficar de costas para a porta. – aí, paradinha.
arqueia uma sobrancelha ao ver pelo reflexo do espelho o britânico fazer o caminho de volta até a porta e quase ri ao perceber que ele realmente não vira que ela estava à mercê de tudo o que acontecia em suas costas.
Por isso, para não trapacear, ela fecha os olhos.
abre a porta e Daniel é quem guia o monegasco adentro, pois o rapaz está com os olhos vendados.
- Seu idiota, deixou ela de frente para um espelho?! – Danny questiona inconformado.
- O que? Claro que nã... – escuta a voz do mais novo soar chocada e logo ela é puxada com cuidado para o lado. – Desculpe, .
Ela ri fraco ainda de olhos fechados.
O som abafado de passadas rápidas no chão indicam quando eles colocam de costas para ela e isso se confirma quando ele procura por sua mão direita.
Eles entrelaçam os dedos e sorrirem ao mesmo tempo.
- Tá, legal. – Daniel diz ao se afastar dos dois vagarosamente – Vamos deixar vocês à sós por alguns instantes. Juízo, crianças.
O casal ri.
- E, , - o australiano continua – tenho que dizer, você está linda para um caralho. Mandou bem, , sua esposa é uma delícia.
- Ei! – o monegasco repreende, mas está radiante.
- Cinquenta pratas que ele chora quando ver ela caminhando até o altar. – fala ao admirar a amiga mais uma vez.
- Aposto cem que ele chora no instante em que vê-la, certeza. – Danny assente.
- Tá, duzentos que esse lencinho no bolso dele não vai ser o bastante para o choro. – o britânico complementa.
- Calem a boca! – se pronuncia, interrompendo a sessão de apostas à suas costas – Só estão me deixando mais curioso.
- Desculpe. - Danny ri – Agora, vão rápido aí que logo aquela doida vem atrás da gente e sabe Deus o que ela vai fazer se souber o que sua caganeira realmente quer dizer.
Os quatro riem e logo e escutam a porta ser fechada, sinal de que estavam finalmente à sós.
O casal não se via de fato desde o ensaio de casamento na noite passada, foi levara à pousada assim que foi finalizado, junto de sua madrinha, mãe, avó, e organizadores enquanto o rapaz voltara para casa na companhia dos parentes e amigos que estavam hospedados lá.
No dia em questão ambos tiveram uma preparação separada e estavam mais que ansiosos para se ver novamente.
- Como você está? – pergunta atenciosamente.
- Um pouco nervosa. – ela confessa, massageando a mão do rapaz com o polegar – E você?
- Definitivamente! – ele admite e eles riem fraco juntos – Com um frio tremendo na barriga, mas de um jeito bom.
- É! – ela assente veemente, mesmo que ele não pudesse a ver – Muito bom, na verdade.
respira fundo.
- Ma belle, eu estava lá do meu quarto, pensando em toda a nossa trajetória até aqui, e pensei que poderíamos compartilhar desse momento de... Reflexão, ou o que quer que seja chamado.
- Eu estava daqui fazendo a mesma coisa. – admite.
- É, e eu só queria te dizer algumas coisas antes de tudo. – fala, a voz confiante – Antes de acontecer o que está para acontecer, sem testemunhas, fotógrafos, ou seu pai.
ri, mesmo que seu coração estivesse tamborilando freneticamente.
- Bem pensado, também há crianças presente para que você fale sacanagem nos seus votos. – ela concorda.
ri e tom fôlego antes de falar determinado: - Obrigado por tudo. – ela sente as borboletas brincarem no seu estômago – Obrigado por estar naquela noite daquele jantar trágico, - eles voltam a rir com a lembrança – por mais que Mattia tenha sido um grande otário, eu também sou grato à ele pelo convite que mudaria minha vida para sempre. - dito isso suspira – Então obrigado pela oportunidade que me deu ao continuar naquela mesa tomando cerveja comigo, por ter me chamado para aquele clube, por não ter fugido no dia seguinte. – sorri sozinha – Muito obrigado pela chance de ter te conhecido mais afundo, por me fazer me apaixonar completamente por você naquela mesma semana... Obrigado pelos bons e mesmo os maus momentos, por ter me perdoado, por ter caído de cabeça nisso tanto quanto eu... – a mulher intensifica ainda mais o aperto de suas mãos, mesmo de olhos fechados ela sente uma lágrima ultrapassá-los, cair e escorrer pela bochecha. – Por ter abdicado dos seus próprios resultados para me proteger, por ter me apoiado, me motivado... Por me conceder a honra de ser pai... – a voz de falha, e é então que percebe que ele também está chorando – Se também ser seu marido.
A mulher deita a cabeça no ombro do homem, segurando os ruídos que queriam escapar da garganta.
- Me perdoa se por algum momento fui irracional, injusto ou tenha exagerado... – ele funga – E eu te prometo, meu amor, que farei de tudo para ser o homem que você merece.
Ela seca o canto dos olhos com os dedos, sem ainda abrir os olhos.
- , eu te amo para cacete. Chega doer no peito o tanto que eu te amo. E eu sei que com você minha vida vai ser repleta de alegria.
A mulher não se contém mais e abre os olhos, endireitando a postura para virar na sua direção.
Ele está elegantemente vestido com um terno preto, gravata borboleta branca, sapatos finos e engraxados, com o cabelo alinhado para trás e uma gravata slim – que julgara ser de por coincidir com a cor de seu traje – amarrada sobre os seus olhos, tapando sua visão. Está simplesmente lindo, como se fosse possível ficar ainda mais deslumbrante do que já era.
Enquanto desfazia o laço atrás da cabeça do rapaz, ela declara: - Ouvindo você falar tudo isso só me faz pensar no quando você me transformou. De pouquinho a pouquinho, dia a dia, ao estar constantemente me motivando, me apoiando, me amando e engajando essa força de vontade para lutar pelo que eu quero e o que nós queremos. E para isso eu precisava de uns puxões de orelha vez ou outra.
Quando a gravata cai dos olhos molhados de , eles correm diretamente à amada para se arregalarem em completa surpresa e admiração.
- Mon amour, - ela suspira sorridente – eu não teria alcançado metade das coisas que tenho hoje e que ainda vamos conquistar, se não fosse por você. Com a sua doçura, a sua paciência, o seu cuidado... Simplesmente sendo você, estando lá do meu lado, me aquecendo nas noites frias e celebrando com champanhe nos pódios. Nenhuma vez sequer você foi irracional, injusto ou, o que disse mesmo? Exagerado? – ela ri fraco, mas os olhos de ainda estão travados na mesma emoção – Você é a pessoa mais sensata que eu conheço. E eu te amo tanto, mas tanto, que sei que nem mesmo uma superstição idiota de não poder ver a noiva antes do casamento pode nos trazer má sorte. Porque nós somos nós. e . Porra, isso sim é amor verdadeiro e me sinto muito abençoada em poder senti-lo com você. Por poder crescer com você.
O monegasco sobe os olhos aos da amada e lágrimas grossas caem por eles, o puxa para um abraço que ele retribui com vigor.
Eles choram livremente, agarrando-se um ao outro significantemente.
Depois que os ruídos de choro se amenizam por parte dos dois, se permite dizer com a voz fanha: - Quem será que ganha a aposta quando os dois caem no choro?
Eles riem juntos e se separam.
- Acho que fizemos os nossos votos. – ele diz agarrando ambas as mãos da mulher, entrelaçando seus dedos.
- Esse foi absolutamente mil vezes melhor que o discurso que eu tinha escrito. – ela fala, causando mais risadas. – E o mundo nunca vai saber.
- Então, você, senhorita Benedetti, aceita à este homem que vos fala como seu legítimo marido? – ele questiona com a voz intencionalmente mais grossa, imitando a do padre em questão.
- É claro que aceito. – ela diz sorrindo e pressiona os seus lábios contra os do noivo demoradamente, em um toque muito mais profundo do que aparentava.
Quando se separam, a mira encantado e, com uma das mãos, a gira em uma volta completa, admirando toda a sua beleza.
- É, eu sei que estou bonita. – ela dá de ombros – Mas só assim para estar à sua altura, meu gato. – arqueia uma sobrancelha, marota ao falar: - Você me faz querer ter uma penca de filhos, mesmo passando por tudo isso, só para abusar dessa perdição que você é.
ri.
- Caramba, desde quando você virou cardiologista para mexer com meu coração desse jeito? – o monegasco responde com os olhos charmosos.
gargalha alto, atraindo a atenção dos rapazes ao lado de fora, que adentram o quarto e se chocam com a cena.
- Não era para vocês se verem! – exclama.
- E eu pensando que podia deixar as crianças sem a supervisão de um adulto. – Daniel cruza os braços, mas sorria.
- Quem disse que a gente se viu? – questiona se fazendo de desentendido enquanto recuperava a gravata do chão – É a palavra de vocês contra a nossa e, até onde sabemos... Eu estava no banheiro. – dito isso ele volta a tampar os olhos, e faz um laço na gravata.
Aproveitando o magnifico céu azul, num altar encomendado de madeira enfeitado com ramos de flores silvestres em um jardim decorado, a cerimônia foi realizada.
Um padre os honrou e os denominou como oficialmente casados, na cidade e país que haviam escolhido em comum acordo para construir as suas raízes, fazendo com que a grande maioria dos convidados da cerimonia íntima se emocionassem.
Com enfeites em tons de branco e turquesa espalhados por todo o local bem arborizado e vivo, os comes e bebes de culturas diversificadas eram dispostos ao ar livre e agradaram ao gosto de todos e cada um.
Uma pista de dança improvisada ao lado da piscina fornecera a curtição ao modo brasileiro de entrega em movimentos corporais, como também o momento simbólico da valsa de marido e mulher, estes já mais descontraídos e tranquilos.
Os dois aproveitaram a noite demasiadamente, reflexo disso era o fato de terem acabado o final da noite dormindo no sofá de sua casa sem sequer se desfazerem dos trajes à rigor, com os pés sujos, corpos suados e cansados, mas sorrisos completamente satisfeitos no rosto.
(...)
“A minha lua de mel foi celebrada na minha própria casa, onde finalmente conseguimos batizar e rebatizar todos os cômodos com tranquilidade. Foi também onde passamos o restante da minha gestação e desfrutamos de forma demasiada a mágica do meu filho no meu ventre.”
Era a primeira vez que e finalmente ficavam sozinhos, em casa e por um longo período com a rotina livre. Desta forma, aproveitaram muito o final da gravidez.
Realizaram todos os desejos esquisitos de , com todo tipo variado de comida, assim como também se atualizaram com cantigas e histórias infantis, só para acabarem por cantar apenas as de suas próprias infâncias para o bebê ao som do piano de , conversando com ele a cada momento e explodindo de amor a cada resposta, em meio à chutes cada vez mais fortes.
Fizeram mais aulas de Lamaze, como preparação para o parto; se integraram de técnicas de primeiros socorros e leram todo tipo de livro sobre amamentação, gravidez, recém-nascidos e crianças; testaram os seus dotes como donos de casa ao irem eles mesmos ao mercado fazerem a compra de suprimentos, varrer as folhas secas no quintal, fazer reparos na casa e cuidar do jardim – com despencando da árvore do quintal ao tentar fixar a madeira de base para a casa na árvore que teimou em querer construir sozinho. Ele ficara com uma tala na perna por uma semana por causa daquilo.
Também se encantaram com o fato de o médico identificar que o bebê tinha mania de dormir com o dedo na boca por meio do ultrassom e idealizaram diversas situações futuras em que amavam e cuidavam daquele pequeno ser tão aguardado.
Claro que a gravidez é um milagre do corpo humano único e maravilhoso, mas não deixa de ter os seus momentos exaustivos e deselegantes, como os constantes gases, desenvolver hemorroida, a forma como o corpo da mulher se transforma, retenção de líquido e inchados.
Pour Dieu, a barriga de limitava os seus movimentos, e nas semanas antecedentes ao se concluir os oito meses de gravidez, ela precisou totalmente da ajuda de para o mais simples como amarrar meus tênis, pegar o controle que caíra no chão, sair da banheira de sua suíte após os banhos ou cortar as unhas dos dedos dos próprios pés.
Os seios? É, eles ficavam doloridos com frequência, soltavam colostro inconscientemente, que vazava e ficava uma nojeira, fazendo ter que substituir seus sutiãs e camiseta diversas vezes ao dia.
Só que nada era pior que a bexiga.
Ah, a sua bexiga!
Ela não segurava mais a sua urina de maneira nenhuma. Era pular, até mesmo andar, espirrar, ou se sentar que lá vinha o jato quente.
Um horror!
Apesar disso, a mulher conseguiu ser muito pacífica e ela e o marido ficaram muito ansiosos no último estágio da gravidez.
Oitavo mês, finalmente!
Usufruíram de ensaios fotográficos com o barrigão, organizaram a mala da maternidade com calma, decoraram juntos o quarto que tanto queria enfeitar com o tema de carros, compraram exageradamente diversos apetrechos para a segurança do pequeno e prepararam a mais nova aquisição motorizada, uma Hyundai ix35, com um motor não tão potente, mas com espaço suficiente para cadeirinha e porta-malas grande suficiente para carrinho, bolsas e mais bolsas que teriam que carregar quando fossem sair com o bebê.
“O dia do parto fora um dos dias mais felizes e engraçados da minha vida.”
25 de março
Limoges – França
estava extremamente ansiosa.
A data prevista para o parto já havia chego e nenhum sinal do bebê querer sair daquele ambiente seguro que vivera por oitos longos meses, o que o médico diz ser completamente normal.
Ela queria ver o seu rostinho o quanto antes, queria pegá-lo no colo, niná-lo, dar de mama e acabar com aquele desconforto e sensação de exaustão que dominavam o seu corpo por completo naquela última fase.
Apesar de não ter engordado muito devido a rotina leve de exercícios semanais, somente o suficiente para adequá-lo no ventre somado ao peso do próprio bebê, ela não suportava o quanto seus pés inchavam e suas costas doíam.
Sua frustração leva à sugerir que eles se distraiam com um pouco de videogame, relembrando a pilotagem com o jogo junto dos demais amigos.
Apesar da temporada daquele ano já ter se iniciado , George e Mick concordam em participar da corrida virtual na hora livre e assim os cinco se divertiam.
estava tão concentrada com as mãos no volante, relembrando mesmo que online momentos prazerosos, que simplesmente se esquece das dores e desconforto.
Os cinco estão conversando pelos microfones distraidamente enquanto jogam quando ouvem um barulho inusitado.
- “O que foi isso?” – questiona já aos risos.
- Parece ter sido... Um peido. – Mick responde com a voz anasalada.
Os cinco caem na risada, gargalham fortemente bem-humorados.
- “Veio de quem?” – questiona ainda rindo.
- Nem vem, eu estou com as coisas mais afrouxadas aqui embaixo, mas não fui eu. Dessa vez. – diz rindo.
As risadas continuam até que George admiti: - “Foi mal, mas eu pensei que vocês não ouviriam. Cacete!”
As risadas se intensificam.
- “Você se cagou, Russell?” – questiona rindo forte.
- “Pelo barulho...” – gargalha, com a voz fina e se contorcendo. – “Puta merda, todo jogo com vocês é uma comédia!”
- Caralho, eu vou fazer xixi nas calças. – diz com a voz falha, a respiração ofegante.
- “Pior que ultimamente nem tem sido piada.” – diz e as risadas aumentam.
fica quieta por um momento, notando algo diferente.
- Opa.
- “Hum, alguém vai dormir no sofá hoje.” – ri ao ver a expressão tensa da amiga pela câmera – “, não se caçoa de uma grávida, por mais que se mijar seja algo muito engraçado.”
Os rapazes riem enquanto faz uma careta, que se traduzia em: “Eu sei que falei merda, mas por favor não me coloca no sofá.”
- “Ma belle, foi só uma piada.” – ele diz receoso.
- Não é mais uma piada. – ela sopra no microfone levemente chocada – , corre aqui! É sério.
- “O que aconteceu?” – ele questiona atencioso do quarto ao lado, já se levantando da cadeira.
- Aconteceu e acho que não é xixi! – ela esbraveja. A este ponto todos na chamada estão quietos, prestando total atenção à mulher – Acho que a bolsa estourou!
Um momento de choque se dá por todos no grupo, o silêncio simboliza a surpresa.
- “Eita porra!”
- “Você está bem, ?!”.
- Sim, estou. – ela responde Mick sorrindo, aliviada por finalmente ter chegado o momento tão esperado.
- “Está sentindo dor?” – é quem pergunta.
- Ainda não.
Em menos de um minuto aparece na porta do quarto com a expressão assustada e os pelos do corpo arrepiados. Ele corre até a direção da mulher, mas ao não notar o chão molhado acaba por escorregar e cair.
- ?! – esbraveja preocupada. – Você está bem?
- Eu estou bem! – ele diz levantando-se num pulo, apesar da testa vermelha que colidira diretamente com o chão. e os rapazes riem fraco. – Vamos, vamos, vamos. – ele torna a se aproximar apressado.
- Tchau, meninos. Vou ali parir. Nos falamos depois. – ela fala no microfone.
- “Boa sorte, !”
- “Que o meninão nasça forte e bonitão!”
- “Tem certeza de que está bem?” – questiona com os olhos assustados. – “Que droga, só estão você e aí?”
- Calma, . – ela sorri docemente – Eu estou bem. Assim que entrar no carro vou ligar para meus pais e Pascale, ela chega aqui em até duas horas e eles até amanhã no máximo. Louise está por aqui de prontidão para nos dar uma mão e Anthony de sobreaviso, ele tem ficado aqui na França nas últimas semanas já para isso. Vou ficar bem.
Ele assente vagarosamente, parecendo ainda incerto, mas em seguida sorri verdadeiramente.
- “Se cuida, eu sei que vai fazer um bom trabalho. Espirra logo esse moleque daí que estou ansioso para começar a estragar ele.” – ele diz e o grupo todo ri – “Assim que acabar a corrida, eu entro num avião e vou direto para aí.”
- Tá legal. – ela fala e tira os fones do ouvido para aceitar a ajuda de para se levantar da cadeira. – Mon amour, calma, temos no mínimo umas 16 horas até que eu entre em trabalho de parto. Isso se eu der sorte.
E ela deu.
Em menos de cinco horas de trabalho de parto, com direito à gritos sufocantes pela dor extrema, cansaço absoluto pela pressão que tinha de fazer, até mesmo estapear o pobre nesse meio tempo por ter colocado o bebê que parecia ser impossível de sair de seu ventre lá, teve o seu primeiro filho.
O bebê nasceu em parto normal, com 3,5 kg, 50 centímetros e cordas vocais potentes.
Assim que ouvira o seu choro esgoelado pela primeira vez, algo mudara para sempre em seu coração. Seus pelos se arrepiaram dos pés à cabeça, seus olhos já molhados pelas lágrimas do esforço do parto ficaram ainda mais úmidos e todas as células do seu corpo pediam pelo toque com aquele pequeno ser.
As enfermeiras limparam o seu corpinho, enrolaram-no em uma manta quente e o trouxeram para perto de seu peito. acompanhava tudo com os olhos atentos e curiosos, estes também já inchados pela comoção que escorria por eles.
Quando finalmente pegou o seu bebê em seus braços, uma sensação de extrema satisfação apoderou todo o seu ser.
Todo o esforço havia valido a pena.
Era tanto amor que sentia em seu peito que ela tinha certeza que passaria por mais quantas horas em trabalho de parto fossem preciso para tê-lo.
- Ele é tão gordinho. – ela ri emocionada, passando o dedo indicador com delicadeza pela bochecha farta, a pele exageradamente macia. – Olha só esse rostinho, mon amour.
- É cabeludo. – comenta sorrindo radiante e passando a mão com cuidado pela cabeça repleta de fios castanhos, ainda sujos pelos resíduos da placenta.
No mesmo instante a criança estica os seus bracinhos espreguiçando-se e no movimento alcança a mão do monegasco, rodeando o seu dedo indicador com a mãozinha minúscula.
arfa de emoção e procura pelos olhos da esposa, que sorri com os olhos brilhando, pouco antes de voltarem ao pequeno em seus braços.
- Garotão forte. – o monegasco comenta com a voz fanha – Olha como agarra o meu dedo.
- Ele é perfeito. – a fala sai vibrada, pela emoção que fazia seu queixo tremer. – É lindo.
- Tem a sua boca, ma belle. – nota e o sorriso dela se alarga, ainda mais.
Então o bebê abre os seus olhos, vagarosa e preguiçosamente, de imediato procurando pelas vozes que falavam sobre ele. Suas pupilas eram grandes, curiosas e... Extremamente verdes. Idênticas as de .
suspira feliz.
- E os seus olhos.
Simplesmente maravilhosos.
Dois dias depois ele já era mais aclamado que os próprios pais, tantas eram as visitas que se deslocaram para vê-lo, presentes de montes que havia recebido, a notícia de seu nascimento que rodava os maiores veículos de comunicação e adoração extrema de todos que o rodeavam. Além dos fãs que já criavam fã clubes para ele.
- Então eu sou padrinho? – sorri encantado, com o bebê em seu colo pela primeira vez, três dias depois de seu nascimento – Que legal! – o rapaz solta um gritinho animado. – Valeu mesmo, gente. Esse moleque vai ser meu parceirinho. Você vai sim, vai sim. – diz em voz afetada na direção da criança.
- Quem é o outro? – Danny questiona sem tirar os olhos da criança, por cima do ombro de , junto à Carlos, que fazia caretas engraçadas para a criança. Ele tinha acabado de entregar o bebê ao rapaz, mas não queria se afastar de tamanha fofura.
- Lorenzo, meu irmão. – conta, voltando da cozinha e oferendo uma garrafa de cerveja ao australiano e uma ao espanhol, que aceitam depois de se afastarem do pequeno. – Tinha que ser alguém da família, sabe como eles enchem meu saco por causa disso.
- Mick se contentou com titio? Achei que ele ia entrar na disputa pela vaga. – Carlos questiona com a testa franzida.
- Ele disse que tudo bem, porque não é muito ligado em crianças, mas é um titio tão babão. – ri, recordando da visita do amigo naquela mesma manhã – Quando pega o RJ no colo, não passa para mais ninguém. Ficou só olhando ele, por horas se deixássemos.
- R.J.? O que diabos é R.J.? – questiona franzindo a testa – O nome dele não é Theodore?
- Sim. - sorri.
- E por que chamam ele de R.J.? Théo não é mais fácil? – Carlos indaga.
- Porque RJ também é o nome dele. - esclarece.
- O que R.J. significa, é uma homenagem ao Rio de Janeiro? – o britânico questiona rindo fraco.
Daniel termina de engolir o gole de cerveja que acabara de sugar antes de gargalhar alto.
tapa as orelhinhas do bebê com o braço.
- Não é R.J., idiota, é Arjay. Junto. – Daniel explica depois que cessada as risadas – São as iniciais do nome, não é o próprio nome.
- E o que significa RJ então? – questiona , que está tirando fotos dele mesmo com o bebê no colo com a máquina que comprara propriamente para isto. Registros e mais registros do garoto.
- Raul-Jules. – ela revela sorrindo, ao encarar . – A combinação nos agradou e... Bom, é uma forma de mantê-los sempre em nossos corações.
sorri comovido.
- É um nome muito bonito. – diz para voltar a encarar o bebê no próprio colo – Você é um carinha de muita sorte, Theodore Raul-Jules Leclerc, leva o nome de três lendas que eu admiro pra caramba.
- Quatro, na verdade. – corrige – O nome completo é Theodore Raul-Jules Benedetti Leclerc.
- Puta merda, tinha nome maior não? – o rapaz solta e os três outros riem. - Inclui Norris também. Um a mais, um a menos, ninguém vai notar.
- É tradição monegasca, . – diz após controlar o riso – O nome do mesmo é tão grande que uma volta rápida no Nürburgring leva menos tempo do que pronunciar o nome completo dele.
, , Carlos e Daniel gargalham.
- Vocês ficam falando do meu nome, mas já ouviram o do Carlos? - o rapaz contextua. – Quando ele começa à falar, não para mais.
- Não, qual é? – questiona ao espanhol.
- Muito longo para decorar, aposto que nem ele sabe tudo. – caçoa.
Carlos grunhe antes de pronunciar: - Carlos Sainz Vásquez de Castro Cenamor Rincón Rebollo Birto Moreno de Aranda de Anteruriaga Tiapera Deltún.
O grupo fica em silêncio por um tempo.
- Tá zoando, né?! – indaga com um sorriso despontando os lábios.
- Não. – ele nega.
- Por que... – Daniel fala vagarosamente, ainda absorvendo a quantidade de nomes. – Fica continuando, e continuando...
Carlos ri anasalado.
- São os nomes dos meus avós, e dos pais dos meus avós, e dos pais deles, e assim adiante. – o rapaz explica.
- É tipo toda uma arvore genealógica em um nome. – comenta.
- É. – ele assente.
- Isso deve ser bem comum na Espanha. – fala.
- Na verdade, não. – Carlos nega com a cabeça.
O grupo desata a rir.
- Entendi. – assente risonha – Então, definitivamente, o título de maior nome passa a ser todo seu.
ri e abre um sorriso satisfeito.
GLOSSÁRIO
Nürburgring - Autódromo na cidade de Nürburg, próximo de Colônia e de Frankfurt-am-Main, na Alemanha. Em sua configuração de traçado mais longo a volta mais rápida atinge 15:06.1.
(...)
“Não imaginei que seria possível, mas o ano sabático e longe das pistas foi tudo menos agoniante.”
Assistir Theodore crescer dentro desse um ano, tão rápido, foi de longe a melhor experiência da vida do casal de pilotos. Ganhava em disparada de todas as outras porque eles simplesmente se encantavam todos os dias com aquela miniatura de ser humano, que à cada dia ficava ainda mais parecido com – alimentando o ciúme de .
Óbvio que à um primeiro instante eles apanharam um pouco por serem pais de primeira viagem, o constante receio de machucar o pequeno era maior que tudo.
As cólicas e choros intermináveis os assustaram mais que uma bandeirada vermelha, mas com a ajuda de Pascale e Patrícia, que se ofereceram para aconselhar nessa fase inicial, logo conseguiram encontrar um ritmo.
Não queriam contratar babá e sim curtir o bebê de todas as formas possíveis, e foi notado pelo seu desaparecimento das mídias.
RJ, apelido que pegara, era um comilão e mamava 11 vezes por dia no primeiro mês, mantendo bem ocupada enquanto assumira o posto de trocador de fraldas – o monegasco ficou até especialista no assunto. Andava com o kit fralda, pomada, talco e lenço para todo canto da casa presos em uma pochete na cintura.
Ele chegara a ter que trocar sete fraldas em uma mesma tacada, devido à jatos inesperados de xixi da criança, que também o molhara e fizera gozar dizendo que aquele era o troco por ele zoa-la na gestação.
No seu trigésimo terceiro dia de vida, RJ sorriu pela primeira vez para , enquanto ela ninava-o para dormir. Ele passou a sorrir toma vez que a mulher cantava para ele, e ela pensava que voz nem era a das melhores, mas o pediatra disse que era porque havia se familiarizado com tal voz durante a gestação e esta foi a mais próxima dele por oito longos meses.
No entanto, uma risada verdadeira mesmo surgiu no terceiro mês, enquanto brincava com o carrinho de brinquedo em sua barriguinha rechonchuda. O piloto ficara tão feliz que gravou a risada dele num áudio e fez uma tatuagem com as ondas sonoras no antebraço. As variações podiam ser “tocadas” quando lidas por um determinado aplicativo, e mostrava-a todo orgulhoso para qualquer um que perguntava da criança.
O monegasco também conseguia prender a atenção do menino nas belas notas de piano que tocava, era o arranjo começar que em menos de três minutos RJ dormia feito um anjo.
Lá para o quarto mês o bebê finalmente decidiu dormir as noites inteiras e safar as olheiras causadas nos pais. Além de dá-los mais tempo dispostos para voltar a praticar alguns exercícios, principalmente , pensando na boa forma que teria que ter de volta o quanto antes.
e revezavam as atividades, mas a maior parte do tempo não conseguia ficar longe do pequeno. Assistindo-o dormir as tardes, dando-lhe banhos juntos, mesmo à amamentação.
No sexto mês, RJ já era um sorridente serzinho e que começava a impor suas vontades. Ele já se sentava sozinho, o que deixava o casal de pilotos mais tranquilos, balbuciava com sua voz doce sons adoráveis, colocava o pé na boca como também tudo o que encontrava no chão.
Foi nessa fase também que ele aprendeu a erguer as mãozinhas pedindo colo, e tinha um brinquedo favorito, que deixara os pais significantemente emocionados.
A miniatura de um Mustang, bem condizente os meios da família.
Apesar das visitas recorrentes dos familiares, no final do sexto mês e decidiram que finalmente podiam sair um pouco de casa com o bebê e levá-lo para conhecer ambos os países de origem e conseguintes casas de cada, aventurar-se em viagens pela primeira vez.
Prolongaram a viagem até a Bélgica, onde acontecia o GP da vez, e apresentaram o pequeno ao ambiente de trabalho e àqueles que não tinham tido oportunidade de conhecê-lo até então.
Com as devidas proteções auriculares, RJ assistiu à sua primeira corrida e sua atenção ficou presa pelos primeiros dez minutos inteiros, acompanhando principalmente o carro vermelho que chamava sua atenção, para então cair em um sono profundo com um sorriso no rosto.
No término do sétimo mês, o bebê já estava a todo vapor na engatinhada, tão agitado e feliz quanto se podia ser. e decidiram usufruir dessa energia e inscreveram os três em aulas de natação, entrando numa vibe gostosa de atividade em família.
Era explícito o quanto a criança gostava, sem sequer precisar de palavras para se expressar. Toda vez que chegava perto de uma piscina induzia o seu corpinho na direção da água e agitava os pezinhos nos movimentos do nado.
No seu nono mês e treze dias de vida, RJ falou sua primeira palavra, que não foi mamãe e nem papai, que tanto insistiram nessa ideia repetindo-as na frente da criança por diversas vezes.
“Pi-tópi” saíra num momento em que nenhum deles esperavam, enquanto assistiam à final em Abu Dhabi na própria casa, e eles demoraram alguns instantes para entender que se tratava de pitstop.
Ficaram tão extasiados que passaram uma semana pronunciando a palavra só para ouvi-lo repetir na sequência, e se encantavam em cada e todas as vezes que acontecia.
No décimo mês, os preparativos para a volta dos papais às pistas em nada interferiu no desenvolvimento do bebê, obrigada de nada.
diria que até havia intensificado o seu desenvolvimento por contato com outrem – e mesmo que tivessem sido obrigados a pedir ajuda de uma babá pelos compromissos recorrentes, das 20 horas que trabalhavam por dia ao menos dez delas passavam com RJ – e vice e versa pela divisão de tarefas.
O dicionário de palavras dele havia crescido consideravelmente e a “Mama” e o “Papa” não deixaram de acompanhar todas elas.
Ser mama do RJ é um máximo, não deixava de pensar por um dia sequer, por mais responsabilidades que haviam sido acrescidas à sua rotina.
Toda a sua energia havia sido também revigorada, e ela não sentia mais cansaço ou fraqueza em nenhuma parte do dia. O que era fantástico.
Com onze meses, RJ abandona a amamentação no peito de , é também quando ela descobre que aquele era o momento mais triste para uma mãe. Ele estava crescendo e não tão mais dependente dela, pensava aos prantos.
Porém , sendo o maravilhoso marido que era, a consola por três horas seguidas e a faz entender que aquilo era mais um ponto positivo que negativo.
Adiós sutiãs feios, e bienvenido de volta sutiãs sexys.
- Além de que agora as coisas ficam mais fáceis, já que vamos ter que viajar para destinos diferentes com frequência. – ele diz e ela procura se conformar. – Sem precisar do seu peito, posso levá-lo mais comigo.
É em uma dessas viagens que se depara com RJ se apoiando em uma cadeira na sala de reunião de estratégias na sede da escuderia Ferrari na Itália para se levantar e dar os primeiros passos. Os quais pôde acompanhar apenas via vídeo-chamada, novamente aos prantos, por estar longe na sede da nova equipe em Milton Keynes, Reino Unido.
No seu aniversário de um ano, RJ já andava como um especialista, fazendo com que e tivessem que correr atrás daquele velocista marrento a festa inteira para que não caísse no mar por acidente, visto que o evento fora realizado no iate dos Leclerc em Mônaco e orquestrada pelas vovós super dedicadas que desde o casamento vinham querendo organizar um evento para a família.
A festa contou com tudo do mais caro e mais requintado que a monarquia de monegascos poderia oferecer e o casal nem pensara em recusar, afinal era tanto um presente à eles e o filho quanto à elas próprias.
RJ se divertia como ninguém, todos queriam disputar pela sua atenção. A criança era adorável e sua personalidade começava a despontar como completamente carismática. Ele maravilhava aos adultos e, também, às crianças, principalmente Marcella, a quem muito se voluntariava para brincar com o bebê.
Na companhia de seus familiares e amigos mais próximos, eles fecharam o ano sabático por completo satisfeitíssimos e prontos para as próximas fases de suas vidas.
sente aquele frio bom na barriga retornar, ansiando pelo que viria a seguir.
(...)
30 de Março
Circuito de Albert Park – Melbourne, Austrália.
estava de volta à pitlane do circuito de estreia e seu retorno ao seu campeonato dos sonhos, e não poderia estar mais animada. Ouvindo todas aquelas vozes aclamarem pelo seu nome e erguerem bandeiras com o seu número, mesmo que ele tivesse passado a ser nas cores azul escuro, era completamente revigorante. Todo o seu corpo antecipadamente se enchia de adrenalina e emoção.
O ano cuidando do seu bebê fora maravilhoso, tão perfeito que se fosse mais estragaria, mas estar de volta era indescritível. Podendo-o ter ao seu lado então, fantástico.
Ainda era estranho olhar para o seu corpo e não ver o azul vivo do macacão da McLaren ou entrar no carro laranja “papaya”, mas toda aquela sensação de uma experiência nova supria a saudade e consolidava-a como boas e queridas lembranças.
Ela está acompanhando RJ caminhar de uma garagem à outra, assim que finalizado o primeiro dia de treinos, quando o garoto dispara a correr até a garagem de sua velha construtora ao ver sair de dentro dela.
Ele bate as palminhas, chamando a atenção do padrinho, que o pega no colo num impulso só, erguendo-o ao alto e voltando duas vezes seguida.
- Moleque, te vi não tem nem um mês e você já dobrou de tamanho! – o britânico diz impressionado e o menino gargalha, se divertindo ao extremo, como sempre acontecia quando estava com o britânico. – , o que tem dado para ele? Fermento?
ri enquanto se aproximava deles.
- É a altura do ! – ela diz – Daqui à alguns dias ele já vai estar me alcançando.
- Você fica com o garoto na barriga por nove meses para sair uma xerox do . – comenta risonho – Isso não é útero, é uma máquina copiadora.
Ela gargalha.
RJ então pega o boné na cabeça do padrinho e fica admirando-o por alguns instantes antes de tentar encaixá-lo na própria cabeça.
O rapaz dispara: - Tão jovem e tão sensato. Até ele sabe que a cor laranja é bem melhor que o azul sem graça da outra lá.
A pilota ri fraco.
- Eu sabia que levaria uma alfinetada de você alguma hora. – ela comenta. – Estava sendo bonzinho demais e não é do seu feitio.
- Principalmente por não ter me contado. – ele atenua. – Saber pelo Zak foi pior que uma facada nas costas.
- Me desculpe! – ela ri. – Eu não imaginei que assim que falasse com ele, ele sairia correndo para te contar. Não fui rápida o suficiente, o poder da fofoca foi mais eficiente.
ri.
procura por seus olhos azuis, que estão felizes por Raul estar apalpando as suas bochechas com suas mãozinhas, e quando ele a nota ela sorri.
- Eu sei que você sabe que nossa amizade continua muito além das cores que vestimos. Certo? – ela arqueia uma sobrancelha.
- Claro. Só estou enchendo o seu saco. – ele beija o rosto de Raul – Até porque agora o piloto líder daqui sou eu, e eu gosto dessa sensação de poder. – eles riem juntos.
- Só não deixa esse poder subir à cabeça. – ela alerta, risonha.
- Você me conhece, sabe como que lido com isso.
- Justamente por isso estou falando. – assente e eles rirem novamente. – A Jamie também está mandando muito bem, e a nona posição na tabela de pilotos do ano passado condiz com isso. – assente – Vocês se aproximaram mais?
- Ela é reservada, faz o trabalho dela. – ele dá de ombros – É educada e tudo, mas não tem nem comparação com você e Carlos, né, ?! Nós simplesmente não somos tão compatíveis. Mas tudo bem também. – RJ dá indícios de querer descer e andar e após colocá-lo de volta ao chão eles o seguem caminhando lado a lado.
Por onde a criança passava os funcionários sorriam para ele, acenavam, descontraindo-se do trabalho que faziam. Em um clima confortável e familiar.
- Como estão as coisas lá na Red Bull? Max tem sido insuportável como sempre? – questiona e ri por um instante.
- Ele está mais maduro, definitivamente. Não se parece em nada com o Max que conheci na minha primeira temporada. – ela diz. – Me ajudou com a adaptação lá na fábrica, deu dicas com as configurações, me apresentou à equipe, até me levou para almoçar no centro de tradições da RBR, que aliás me mostrou quão grande é a marca. Fiquei chocada. Enfim, - dá de ombros – nada de rancor pela rivalidade que têm só a aumentar, sabe. – declara impressionada – Poderia dizer que é o fato de que ele vai ser pai, mas essa maturidade vem bem antes disso. Ele merece esse reconhecimento.
- Verdade. Caramba, Maximilian também vai ser pai! – ele reflete abobado – Você, e Max pais. Estamos ficando velhos. – assente sozinho com as sobrancelhas arqueadas, em surpresa ao finalmente constatar este fato.
- Os novatos uma hora tem que crescer, não é?!
- Sim. – ele concorda para dizer com grande animação: - Mas, na real, vai ser tão divertido ver você e o Max competindo na mesma construtora.
- Principalmente porque eu estou sedenta por um título e Max quer fechar o segundo dele. – ela sorri – Eu sei que essa paz entre nós não vai durar muito, mas admito que estou ansiosa pela rixa. Senti falta desse clima.
Eles riem juntos e notam RJ entrar na garagem da escuderia vermelha.
- É incrível como ele sempre encontra o . – ela comenta vendo o bebê se encaminhar até o piloto que abre um grande sorriso ao vê-lo. – Eles são unha e carne, é tão bonito vê-los juntos. Eu me derreto. – admite já com a mão sobre o peito e sorriso maravilhado.
- Vocês são bons pais. – elogia.
- Obrigada. – diz com sinceridade.
- E bons pilotos.
- Com certeza somos. – ela assente veemente.
- Uma temporada toda sem vocês foi um saco, senti falta das nossas zoeiras. – declara. – Estou muito ansioso para ver como que vai ser esse ano.
- Sabe que eu também?!
Eles sorriem cumplices.
Limoges – França
Dentro daquele quarto de decoração romântica, com papéis de parede em tons pastéis, móveis antigos de época – bem conservados, lareira de tijolos à vista, carpete claro, colchas da cama no mais delicado azul turquesa e janelas de madeira branca que davam vista aos jardins verdes e arvoredo campestre –, era feita a preparação da noiva para o seu grande dia.
O dia do casório.
A claridade do dia de céu aberto e completamente azul adentrava o aposento e intensificava o branco do vestido longo de cetim que a mulher usava. Ela roda vagarosamente na frente do espelho e admira o corpo coberto pelo tecido solto, disfarçando de leve a barriga já redonda, e que se ajustava aos seus seios em uma faixa que contornava também os seus ombros e terminava em um laço às suas costas desnudas.
Seus cabelos estavam presos em um coque levemente frouxo, o qual permitia que duas mechas caíssem pela lateral de seu rosto até a altura do seu queixo e um véu fosse preso na terminação do amarro das madeixas.
No rosto uma maquiagem leve e simplória para uma cerimônia feita no jardim de uma pousada reclusa no interior da Itália, onde longe dos olhos da mídia dois amantes pudessem finalmente selar o seu relacionamento.
Louise se aproxima da mulher e lhe entrega o buquê de flores brancas e azuis com os olhos úmidos. a agradece com o olhar e se vira para o grupo de mulheres emocionadas.
Elas dão gritinhos de excitação para a produção finalizada.
- Você está tão linda! – é a primeira a pronunciar palavras coerentes e compreensíveis, enquanto as demais limpavam os cantos dos olhos com os seus lencinhos e se abanavam em emoção, balbuciando sons que provoca risos na noiva.
- Obrigada. – ela diz radiante e se aproxima do grupo choroso.
- A noiva mais bonita que eu já vi. – Emília afirma acariciando a lateral do rosto da neta com cuidado, para não borrar sua maquiagem.
- Não tenho como discordar, - Pascale se pronuncia, mas sussurra próximo a nora em segredo: – que a Alexia não saiba.
ri.
- Seu segredo está salvo comigo.
- Deus, eu não tenho nem palavras. – Patrícia confessa em seguida, secando o rosto completamente molhado – Minha maquiagem já foi para o saco.
- Deixa que eu te ajudo, tia. – diz e se adianta em levar a mulher até a penteadeira repleta de cosméticos para uns retoques.
- Temos 15 minutos, pessoal. – Moira avisa ao entrar pelas portas duplas de madeira branca, e ao se deparar com , põe a mão sobre o peito e diz com grande entonação: - Você é a noiva mais deslumbrante que eu já vi.
- Vamos fingir que você não diz isso para todas as suas clientes, porque eu realmente estou me achando agora. – a pilota diz e faz uma pose com uma das mãos na cintura, o grupo de mulheres ri.
- Estão todos prontos lá embaixo. – Moira informa à Louise e – A banda está tocando música ambiente e os convidados posicionados em seus lugares. Agora, o cortejo vai seguir a seguinte ordem, - ela chama a atenção de todas as demais – Pascale e vão abrir a passagem, depois temos e Daniel como padrinhos; Hérve, Yohan e Dakota entram jogando as pétalas de rosas, Marcella trás as alianças e Marcos e fecham a entrada. Alguma dúvida?
- Será que dá tempo de eu comer alguma coisa antes de tudo isso? – questiona ao erguer a mão. – Estou prevendo que o jantar vai demorar de sair, então quero dar uma estocada em algum lugar por aqui.
A mulheres riem.
- Eu estou falando sério. – ela diz com um sorriso fraco e Louise logo se adianta a arranjar mais petiscos, saindo pela porta. – Obrigada, Lou! – grita sorridente, para em seguida comentar com as demais do quarto: - Ela é um amor.
- Realmente é. E o que ela fez aqui... Cara, está um máximo. – assente e logo comunica ao grupo, depois de terminar os retoques de maquiagem na mãe de – Quem tiver que ir, vamos logo e, para quem fica, - ela junta suas mãos com as da amiga – boa sorte. E vê se não tropeça.
- Já preparem o guindaste, porque se eu cair vai ser foda para levantar. – ela brinca e ambas riem, pouco antes de se abraçarem.
Quando a dupla se separa as demais se despedem da noiva.
- Vou dizer ao seu pai que está pronta. – Moira diz, saindo do quarto e deixando-a sozinha.
gira nos calcanhares, fazendo a barra da saia do vestido rodar graciosamente. Ela para ao notar o colar sobre a mesinha de centro, o qual a personal style havia tirado de seu pescoço junto de sua roupa comum antes da arrumação.
Ela se aproxima da mesinha e o resgata, abaixando com a mão nas costas para alcançá-lo, e assim que o faz despenca no sofá ali perto respirando aliviada depois do esforço.
Ela enrola o cordão de prata no pulso e admira os pingentes delicados e significativos.
O antigo pingente da chave de sua casa com , que o monegasco havia a presenteado logo que eles adquiriram a propriedade, havia ganho a companhia de mais outros dois.
Um era a réplica de seu anel de noivado, em tamanho reduzido, e o outro uma chupeta – ambos em ouro branco para condizer com o conjunto. havia pensado em todos os detalhes ao presenteá-la na noite do jantar de ensaio, no dia anterior.
Ela suspira romântica quando vislumbres da noite refletem em sua cabeça.
O monegasco era tudo o que sempre procurou em seus relacionamentos antigos e até mais, superando todas as suas expectativas.
Ele aparecera de surpresa, sem qualquer aviso prévio ou planejamento, quando ela menos esperava e a ideia de relacionamento não era nem de longe a sua prioridade. fora ganhando seu espaço na vida de aos poucos. De degrau em degrau, ele trilhou o seu caminho até que se expandisse por todo coração da brasileira, tomando-o por completo e assim fez de sua moradia. Já era mais de do que da própria .
O casal estava a construir uma história linda e naquele dia estavam para dar mais um passo essencial, que os levaria à ainda mais conquistas juntas.
Ela fica ansiosa.
só percebe que seus olhos estão molhados quando ouve batidas gentis na porta.
A mulher limpa o rosto com delicadeza, sorrindo, e diz com a voz fanha: - Pode entrar, pai.
A porta se abre minimamente e pela fresta surge uma cabeça sorridente, mas não era a de seu pai.
- ? – Ela ri ao ver seus olhos azuis espremidos pelas bochechas elevadas pelo sorriso em seus lábios. se levanta em lentidão – Está fazendo o que aqui?
- Estou em missão. – ele sussurra colocando o corpo para dentro pela mínima fresta, tendo cuidado para não abrir demais a porta, e a fecha logo que entra no quarto por completo, revelando seu terno atípico na cor azul claro.
Atípico para a sociedade, típico de em ousar em trajes diferentes.
E sempre ficava bonito em qualquer um deles.
Quando ele se depara com de frente à ele, a encara de cima a baixo com olhos encantados: – Eu aceito.
A mulher ri e dá uma volta completa, para mostrá-lo o vestido por completo.
- Você gostou? – questiona com a sobrancelha arqueada ao parar de frente à ele novamente, com as mãos na cintura.
- Se eu gostei? Ainda dá tempo de voltar atrás naquela conversa sobre não estar apaixonado por você? – ele pergunta e eles riem bem-humorados – A gente foge para uma ilha, muda de nome, cria o moleque no litoral e sobrevive vendendo arte na praia.
A mulher gargalha, com direito até de mão sobre a barriga.
- Porra, você está deslumbrante. – ele elogia depois que cessado os risos, e se aproxima para entrelaçar as suas mãos. – Lacrou! – diz em português e sorri radiante.
- Obrigada!
- Caramba... – ele sopra mirando-a de cima abaixo novamente – Não estou acreditando que isso está mesmo acontecendo. Você vai casar!
- Vou! – ela diz alegre.
- é definitivamente um homem de sorte. – ele diz gentilmente – E falando em , - sorri significativamente – ele está aí fora, quer dar uma palavrinha com você antes da troca de alianças.
- O quê? – ele indaga franzindo a testa – Mas, ele já deveria estar à caminho do altar... E ele não pode me ver ainda, dizem que dá azar.
- Eu sei, eu sei. – o rapaz diz assentindo – Por isso que, “tecnicamente” – ele solta suas mãos para fazer as aspas no ar com os dedos – não estamos aqui. Estamos no banheiro porque ele está passando mal de ansiedade. A tal da Moira nos deu três minutos. – bufa – Três minutos, cara. Como se alguém com caganeira conseguisse se recuperar nesse tempo. Mas, tudo bem.
ri.
- É que ele me pediu esse favor e, você sabe, quem consegue recusar um pedido daquele cara?! – os olhos azuis de atenuam com veemência o fato – E, não se preocupe, já pensei em tudo para ele não te ver. Só, fica – ele a move delicadamente pelos ombros para ficar de costas para a porta. – aí, paradinha.
arqueia uma sobrancelha ao ver pelo reflexo do espelho o britânico fazer o caminho de volta até a porta e quase ri ao perceber que ele realmente não vira que ela estava à mercê de tudo o que acontecia em suas costas.
Por isso, para não trapacear, ela fecha os olhos.
abre a porta e Daniel é quem guia o monegasco adentro, pois o rapaz está com os olhos vendados.
- Seu idiota, deixou ela de frente para um espelho?! – Danny questiona inconformado.
- O que? Claro que nã... – escuta a voz do mais novo soar chocada e logo ela é puxada com cuidado para o lado. – Desculpe, .
Ela ri fraco ainda de olhos fechados.
O som abafado de passadas rápidas no chão indicam quando eles colocam de costas para ela e isso se confirma quando ele procura por sua mão direita.
Eles entrelaçam os dedos e sorrirem ao mesmo tempo.
- Tá, legal. – Daniel diz ao se afastar dos dois vagarosamente – Vamos deixar vocês à sós por alguns instantes. Juízo, crianças.
O casal ri.
- E, , - o australiano continua – tenho que dizer, você está linda para um caralho. Mandou bem, , sua esposa é uma delícia.
- Ei! – o monegasco repreende, mas está radiante.
- Cinquenta pratas que ele chora quando ver ela caminhando até o altar. – fala ao admirar a amiga mais uma vez.
- Aposto cem que ele chora no instante em que vê-la, certeza. – Danny assente.
- Tá, duzentos que esse lencinho no bolso dele não vai ser o bastante para o choro. – o britânico complementa.
- Calem a boca! – se pronuncia, interrompendo a sessão de apostas à suas costas – Só estão me deixando mais curioso.
- Desculpe. - Danny ri – Agora, vão rápido aí que logo aquela doida vem atrás da gente e sabe Deus o que ela vai fazer se souber o que sua caganeira realmente quer dizer.
Os quatro riem e logo e escutam a porta ser fechada, sinal de que estavam finalmente à sós.
O casal não se via de fato desde o ensaio de casamento na noite passada, foi levara à pousada assim que foi finalizado, junto de sua madrinha, mãe, avó, e organizadores enquanto o rapaz voltara para casa na companhia dos parentes e amigos que estavam hospedados lá.
No dia em questão ambos tiveram uma preparação separada e estavam mais que ansiosos para se ver novamente.
- Como você está? – pergunta atenciosamente.
- Um pouco nervosa. – ela confessa, massageando a mão do rapaz com o polegar – E você?
- Definitivamente! – ele admite e eles riem fraco juntos – Com um frio tremendo na barriga, mas de um jeito bom.
- É! – ela assente veemente, mesmo que ele não pudesse a ver – Muito bom, na verdade.
respira fundo.
- Ma belle, eu estava lá do meu quarto, pensando em toda a nossa trajetória até aqui, e pensei que poderíamos compartilhar desse momento de... Reflexão, ou o que quer que seja chamado.
- Eu estava daqui fazendo a mesma coisa. – admite.
- É, e eu só queria te dizer algumas coisas antes de tudo. – fala, a voz confiante – Antes de acontecer o que está para acontecer, sem testemunhas, fotógrafos, ou seu pai.
ri, mesmo que seu coração estivesse tamborilando freneticamente.
- Bem pensado, também há crianças presente para que você fale sacanagem nos seus votos. – ela concorda.
ri e tom fôlego antes de falar determinado: - Obrigado por tudo. – ela sente as borboletas brincarem no seu estômago – Obrigado por estar naquela noite daquele jantar trágico, - eles voltam a rir com a lembrança – por mais que Mattia tenha sido um grande otário, eu também sou grato à ele pelo convite que mudaria minha vida para sempre. - dito isso suspira – Então obrigado pela oportunidade que me deu ao continuar naquela mesa tomando cerveja comigo, por ter me chamado para aquele clube, por não ter fugido no dia seguinte. – sorri sozinha – Muito obrigado pela chance de ter te conhecido mais afundo, por me fazer me apaixonar completamente por você naquela mesma semana... Obrigado pelos bons e mesmo os maus momentos, por ter me perdoado, por ter caído de cabeça nisso tanto quanto eu... – a mulher intensifica ainda mais o aperto de suas mãos, mesmo de olhos fechados ela sente uma lágrima ultrapassá-los, cair e escorrer pela bochecha. – Por ter abdicado dos seus próprios resultados para me proteger, por ter me apoiado, me motivado... Por me conceder a honra de ser pai... – a voz de falha, e é então que percebe que ele também está chorando – Se também ser seu marido.
A mulher deita a cabeça no ombro do homem, segurando os ruídos que queriam escapar da garganta.
- Me perdoa se por algum momento fui irracional, injusto ou tenha exagerado... – ele funga – E eu te prometo, meu amor, que farei de tudo para ser o homem que você merece.
Ela seca o canto dos olhos com os dedos, sem ainda abrir os olhos.
- , eu te amo para cacete. Chega doer no peito o tanto que eu te amo. E eu sei que com você minha vida vai ser repleta de alegria.
A mulher não se contém mais e abre os olhos, endireitando a postura para virar na sua direção.
Ele está elegantemente vestido com um terno preto, gravata borboleta branca, sapatos finos e engraxados, com o cabelo alinhado para trás e uma gravata slim – que julgara ser de por coincidir com a cor de seu traje – amarrada sobre os seus olhos, tapando sua visão. Está simplesmente lindo, como se fosse possível ficar ainda mais deslumbrante do que já era.
Enquanto desfazia o laço atrás da cabeça do rapaz, ela declara: - Ouvindo você falar tudo isso só me faz pensar no quando você me transformou. De pouquinho a pouquinho, dia a dia, ao estar constantemente me motivando, me apoiando, me amando e engajando essa força de vontade para lutar pelo que eu quero e o que nós queremos. E para isso eu precisava de uns puxões de orelha vez ou outra.
Quando a gravata cai dos olhos molhados de , eles correm diretamente à amada para se arregalarem em completa surpresa e admiração.
- Mon amour, - ela suspira sorridente – eu não teria alcançado metade das coisas que tenho hoje e que ainda vamos conquistar, se não fosse por você. Com a sua doçura, a sua paciência, o seu cuidado... Simplesmente sendo você, estando lá do meu lado, me aquecendo nas noites frias e celebrando com champanhe nos pódios. Nenhuma vez sequer você foi irracional, injusto ou, o que disse mesmo? Exagerado? – ela ri fraco, mas os olhos de ainda estão travados na mesma emoção – Você é a pessoa mais sensata que eu conheço. E eu te amo tanto, mas tanto, que sei que nem mesmo uma superstição idiota de não poder ver a noiva antes do casamento pode nos trazer má sorte. Porque nós somos nós. e . Porra, isso sim é amor verdadeiro e me sinto muito abençoada em poder senti-lo com você. Por poder crescer com você.
O monegasco sobe os olhos aos da amada e lágrimas grossas caem por eles, o puxa para um abraço que ele retribui com vigor.
Eles choram livremente, agarrando-se um ao outro significantemente.
Depois que os ruídos de choro se amenizam por parte dos dois, se permite dizer com a voz fanha: - Quem será que ganha a aposta quando os dois caem no choro?
Eles riem juntos e se separam.
- Acho que fizemos os nossos votos. – ele diz agarrando ambas as mãos da mulher, entrelaçando seus dedos.
- Esse foi absolutamente mil vezes melhor que o discurso que eu tinha escrito. – ela fala, causando mais risadas. – E o mundo nunca vai saber.
- Então, você, senhorita Benedetti, aceita à este homem que vos fala como seu legítimo marido? – ele questiona com a voz intencionalmente mais grossa, imitando a do padre em questão.
- É claro que aceito. – ela diz sorrindo e pressiona os seus lábios contra os do noivo demoradamente, em um toque muito mais profundo do que aparentava.
Quando se separam, a mira encantado e, com uma das mãos, a gira em uma volta completa, admirando toda a sua beleza.
- É, eu sei que estou bonita. – ela dá de ombros – Mas só assim para estar à sua altura, meu gato. – arqueia uma sobrancelha, marota ao falar: - Você me faz querer ter uma penca de filhos, mesmo passando por tudo isso, só para abusar dessa perdição que você é.
ri.
- Caramba, desde quando você virou cardiologista para mexer com meu coração desse jeito? – o monegasco responde com os olhos charmosos.
gargalha alto, atraindo a atenção dos rapazes ao lado de fora, que adentram o quarto e se chocam com a cena.
- Não era para vocês se verem! – exclama.
- E eu pensando que podia deixar as crianças sem a supervisão de um adulto. – Daniel cruza os braços, mas sorria.
- Quem disse que a gente se viu? – questiona se fazendo de desentendido enquanto recuperava a gravata do chão – É a palavra de vocês contra a nossa e, até onde sabemos... Eu estava no banheiro. – dito isso ele volta a tampar os olhos, e faz um laço na gravata.
Aproveitando o magnifico céu azul, num altar encomendado de madeira enfeitado com ramos de flores silvestres em um jardim decorado, a cerimônia foi realizada.
Um padre os honrou e os denominou como oficialmente casados, na cidade e país que haviam escolhido em comum acordo para construir as suas raízes, fazendo com que a grande maioria dos convidados da cerimonia íntima se emocionassem.
Com enfeites em tons de branco e turquesa espalhados por todo o local bem arborizado e vivo, os comes e bebes de culturas diversificadas eram dispostos ao ar livre e agradaram ao gosto de todos e cada um.
Uma pista de dança improvisada ao lado da piscina fornecera a curtição ao modo brasileiro de entrega em movimentos corporais, como também o momento simbólico da valsa de marido e mulher, estes já mais descontraídos e tranquilos.
Os dois aproveitaram a noite demasiadamente, reflexo disso era o fato de terem acabado o final da noite dormindo no sofá de sua casa sem sequer se desfazerem dos trajes à rigor, com os pés sujos, corpos suados e cansados, mas sorrisos completamente satisfeitos no rosto.
“A minha lua de mel foi celebrada na minha própria casa, onde finalmente conseguimos batizar e rebatizar todos os cômodos com tranquilidade. Foi também onde passamos o restante da minha gestação e desfrutamos de forma demasiada a mágica do meu filho no meu ventre.”
Era a primeira vez que e finalmente ficavam sozinhos, em casa e por um longo período com a rotina livre. Desta forma, aproveitaram muito o final da gravidez.
Realizaram todos os desejos esquisitos de , com todo tipo variado de comida, assim como também se atualizaram com cantigas e histórias infantis, só para acabarem por cantar apenas as de suas próprias infâncias para o bebê ao som do piano de , conversando com ele a cada momento e explodindo de amor a cada resposta, em meio à chutes cada vez mais fortes.
Fizeram mais aulas de Lamaze, como preparação para o parto; se integraram de técnicas de primeiros socorros e leram todo tipo de livro sobre amamentação, gravidez, recém-nascidos e crianças; testaram os seus dotes como donos de casa ao irem eles mesmos ao mercado fazerem a compra de suprimentos, varrer as folhas secas no quintal, fazer reparos na casa e cuidar do jardim – com despencando da árvore do quintal ao tentar fixar a madeira de base para a casa na árvore que teimou em querer construir sozinho. Ele ficara com uma tala na perna por uma semana por causa daquilo.
Também se encantaram com o fato de o médico identificar que o bebê tinha mania de dormir com o dedo na boca por meio do ultrassom e idealizaram diversas situações futuras em que amavam e cuidavam daquele pequeno ser tão aguardado.
Claro que a gravidez é um milagre do corpo humano único e maravilhoso, mas não deixa de ter os seus momentos exaustivos e deselegantes, como os constantes gases, desenvolver hemorroida, a forma como o corpo da mulher se transforma, retenção de líquido e inchados.
Pour Dieu, a barriga de limitava os seus movimentos, e nas semanas antecedentes ao se concluir os oito meses de gravidez, ela precisou totalmente da ajuda de para o mais simples como amarrar meus tênis, pegar o controle que caíra no chão, sair da banheira de sua suíte após os banhos ou cortar as unhas dos dedos dos próprios pés.
Os seios? É, eles ficavam doloridos com frequência, soltavam colostro inconscientemente, que vazava e ficava uma nojeira, fazendo ter que substituir seus sutiãs e camiseta diversas vezes ao dia.
Só que nada era pior que a bexiga.
Ah, a sua bexiga!
Ela não segurava mais a sua urina de maneira nenhuma. Era pular, até mesmo andar, espirrar, ou se sentar que lá vinha o jato quente.
Um horror!
Apesar disso, a mulher conseguiu ser muito pacífica e ela e o marido ficaram muito ansiosos no último estágio da gravidez.
Oitavo mês, finalmente!
Usufruíram de ensaios fotográficos com o barrigão, organizaram a mala da maternidade com calma, decoraram juntos o quarto que tanto queria enfeitar com o tema de carros, compraram exageradamente diversos apetrechos para a segurança do pequeno e prepararam a mais nova aquisição motorizada, uma Hyundai ix35, com um motor não tão potente, mas com espaço suficiente para cadeirinha e porta-malas grande suficiente para carrinho, bolsas e mais bolsas que teriam que carregar quando fossem sair com o bebê.
“O dia do parto fora um dos dias mais felizes e engraçados da minha vida.”
Limoges – França
estava extremamente ansiosa.
A data prevista para o parto já havia chego e nenhum sinal do bebê querer sair daquele ambiente seguro que vivera por oitos longos meses, o que o médico diz ser completamente normal.
Ela queria ver o seu rostinho o quanto antes, queria pegá-lo no colo, niná-lo, dar de mama e acabar com aquele desconforto e sensação de exaustão que dominavam o seu corpo por completo naquela última fase.
Apesar de não ter engordado muito devido a rotina leve de exercícios semanais, somente o suficiente para adequá-lo no ventre somado ao peso do próprio bebê, ela não suportava o quanto seus pés inchavam e suas costas doíam.
Sua frustração leva à sugerir que eles se distraiam com um pouco de videogame, relembrando a pilotagem com o jogo junto dos demais amigos.
Apesar da temporada daquele ano já ter se iniciado , George e Mick concordam em participar da corrida virtual na hora livre e assim os cinco se divertiam.
estava tão concentrada com as mãos no volante, relembrando mesmo que online momentos prazerosos, que simplesmente se esquece das dores e desconforto.
Os cinco estão conversando pelos microfones distraidamente enquanto jogam quando ouvem um barulho inusitado.
- “O que foi isso?” – questiona já aos risos.
- Parece ter sido... Um peido. – Mick responde com a voz anasalada.
Os cinco caem na risada, gargalham fortemente bem-humorados.
- “Veio de quem?” – questiona ainda rindo.
- Nem vem, eu estou com as coisas mais afrouxadas aqui embaixo, mas não fui eu. Dessa vez. – diz rindo.
As risadas continuam até que George admiti: - “Foi mal, mas eu pensei que vocês não ouviriam. Cacete!”
As risadas se intensificam.
- “Você se cagou, Russell?” – questiona rindo forte.
- “Pelo barulho...” – gargalha, com a voz fina e se contorcendo. – “Puta merda, todo jogo com vocês é uma comédia!”
- Caralho, eu vou fazer xixi nas calças. – diz com a voz falha, a respiração ofegante.
- “Pior que ultimamente nem tem sido piada.” – diz e as risadas aumentam.
fica quieta por um momento, notando algo diferente.
- Opa.
- “Hum, alguém vai dormir no sofá hoje.” – ri ao ver a expressão tensa da amiga pela câmera – “, não se caçoa de uma grávida, por mais que se mijar seja algo muito engraçado.”
Os rapazes riem enquanto faz uma careta, que se traduzia em: “Eu sei que falei merda, mas por favor não me coloca no sofá.”
- “Ma belle, foi só uma piada.” – ele diz receoso.
- Não é mais uma piada. – ela sopra no microfone levemente chocada – , corre aqui! É sério.
- “O que aconteceu?” – ele questiona atencioso do quarto ao lado, já se levantando da cadeira.
- Aconteceu e acho que não é xixi! – ela esbraveja. A este ponto todos na chamada estão quietos, prestando total atenção à mulher – Acho que a bolsa estourou!
Um momento de choque se dá por todos no grupo, o silêncio simboliza a surpresa.
- “Eita porra!”
- “Você está bem, ?!”.
- Sim, estou. – ela responde Mick sorrindo, aliviada por finalmente ter chegado o momento tão esperado.
- “Está sentindo dor?” – é quem pergunta.
- Ainda não.
Em menos de um minuto aparece na porta do quarto com a expressão assustada e os pelos do corpo arrepiados. Ele corre até a direção da mulher, mas ao não notar o chão molhado acaba por escorregar e cair.
- ?! – esbraveja preocupada. – Você está bem?
- Eu estou bem! – ele diz levantando-se num pulo, apesar da testa vermelha que colidira diretamente com o chão. e os rapazes riem fraco. – Vamos, vamos, vamos. – ele torna a se aproximar apressado.
- Tchau, meninos. Vou ali parir. Nos falamos depois. – ela fala no microfone.
- “Boa sorte, !”
- “Que o meninão nasça forte e bonitão!”
- “Tem certeza de que está bem?” – questiona com os olhos assustados. – “Que droga, só estão você e aí?”
- Calma, . – ela sorri docemente – Eu estou bem. Assim que entrar no carro vou ligar para meus pais e Pascale, ela chega aqui em até duas horas e eles até amanhã no máximo. Louise está por aqui de prontidão para nos dar uma mão e Anthony de sobreaviso, ele tem ficado aqui na França nas últimas semanas já para isso. Vou ficar bem.
Ele assente vagarosamente, parecendo ainda incerto, mas em seguida sorri verdadeiramente.
- “Se cuida, eu sei que vai fazer um bom trabalho. Espirra logo esse moleque daí que estou ansioso para começar a estragar ele.” – ele diz e o grupo todo ri – “Assim que acabar a corrida, eu entro num avião e vou direto para aí.”
- Tá legal. – ela fala e tira os fones do ouvido para aceitar a ajuda de para se levantar da cadeira. – Mon amour, calma, temos no mínimo umas 16 horas até que eu entre em trabalho de parto. Isso se eu der sorte.
E ela deu.
Em menos de cinco horas de trabalho de parto, com direito à gritos sufocantes pela dor extrema, cansaço absoluto pela pressão que tinha de fazer, até mesmo estapear o pobre nesse meio tempo por ter colocado o bebê que parecia ser impossível de sair de seu ventre lá, teve o seu primeiro filho.
O bebê nasceu em parto normal, com 3,5 kg, 50 centímetros e cordas vocais potentes.
Assim que ouvira o seu choro esgoelado pela primeira vez, algo mudara para sempre em seu coração. Seus pelos se arrepiaram dos pés à cabeça, seus olhos já molhados pelas lágrimas do esforço do parto ficaram ainda mais úmidos e todas as células do seu corpo pediam pelo toque com aquele pequeno ser.
As enfermeiras limparam o seu corpinho, enrolaram-no em uma manta quente e o trouxeram para perto de seu peito. acompanhava tudo com os olhos atentos e curiosos, estes também já inchados pela comoção que escorria por eles.
Quando finalmente pegou o seu bebê em seus braços, uma sensação de extrema satisfação apoderou todo o seu ser.
Todo o esforço havia valido a pena.
Era tanto amor que sentia em seu peito que ela tinha certeza que passaria por mais quantas horas em trabalho de parto fossem preciso para tê-lo.
- Ele é tão gordinho. – ela ri emocionada, passando o dedo indicador com delicadeza pela bochecha farta, a pele exageradamente macia. – Olha só esse rostinho, mon amour.
- É cabeludo. – comenta sorrindo radiante e passando a mão com cuidado pela cabeça repleta de fios castanhos, ainda sujos pelos resíduos da placenta.
No mesmo instante a criança estica os seus bracinhos espreguiçando-se e no movimento alcança a mão do monegasco, rodeando o seu dedo indicador com a mãozinha minúscula.
arfa de emoção e procura pelos olhos da esposa, que sorri com os olhos brilhando, pouco antes de voltarem ao pequeno em seus braços.
- Garotão forte. – o monegasco comenta com a voz fanha – Olha como agarra o meu dedo.
- Ele é perfeito. – a fala sai vibrada, pela emoção que fazia seu queixo tremer. – É lindo.
- Tem a sua boca, ma belle. – nota e o sorriso dela se alarga, ainda mais.
Então o bebê abre os seus olhos, vagarosa e preguiçosamente, de imediato procurando pelas vozes que falavam sobre ele. Suas pupilas eram grandes, curiosas e... Extremamente verdes. Idênticas as de .
suspira feliz.
- E os seus olhos.
Simplesmente maravilhosos.
Dois dias depois ele já era mais aclamado que os próprios pais, tantas eram as visitas que se deslocaram para vê-lo, presentes de montes que havia recebido, a notícia de seu nascimento que rodava os maiores veículos de comunicação e adoração extrema de todos que o rodeavam. Além dos fãs que já criavam fã clubes para ele.
- Então eu sou padrinho? – sorri encantado, com o bebê em seu colo pela primeira vez, três dias depois de seu nascimento – Que legal! – o rapaz solta um gritinho animado. – Valeu mesmo, gente. Esse moleque vai ser meu parceirinho. Você vai sim, vai sim. – diz em voz afetada na direção da criança.
- Quem é o outro? – Danny questiona sem tirar os olhos da criança, por cima do ombro de , junto à Carlos, que fazia caretas engraçadas para a criança. Ele tinha acabado de entregar o bebê ao rapaz, mas não queria se afastar de tamanha fofura.
- Lorenzo, meu irmão. – conta, voltando da cozinha e oferendo uma garrafa de cerveja ao australiano e uma ao espanhol, que aceitam depois de se afastarem do pequeno. – Tinha que ser alguém da família, sabe como eles enchem meu saco por causa disso.
- Mick se contentou com titio? Achei que ele ia entrar na disputa pela vaga. – Carlos questiona com a testa franzida.
- Ele disse que tudo bem, porque não é muito ligado em crianças, mas é um titio tão babão. – ri, recordando da visita do amigo naquela mesma manhã – Quando pega o RJ no colo, não passa para mais ninguém. Ficou só olhando ele, por horas se deixássemos.
- R.J.? O que diabos é R.J.? – questiona franzindo a testa – O nome dele não é Theodore?
- Sim. - sorri.
- E por que chamam ele de R.J.? Théo não é mais fácil? – Carlos indaga.
- Porque RJ também é o nome dele. - esclarece.
- O que R.J. significa, é uma homenagem ao Rio de Janeiro? – o britânico questiona rindo fraco.
Daniel termina de engolir o gole de cerveja que acabara de sugar antes de gargalhar alto.
tapa as orelhinhas do bebê com o braço.
- Não é R.J., idiota, é Arjay. Junto. – Daniel explica depois que cessada as risadas – São as iniciais do nome, não é o próprio nome.
- E o que significa RJ então? – questiona , que está tirando fotos dele mesmo com o bebê no colo com a máquina que comprara propriamente para isto. Registros e mais registros do garoto.
- Raul-Jules. – ela revela sorrindo, ao encarar . – A combinação nos agradou e... Bom, é uma forma de mantê-los sempre em nossos corações.
sorri comovido.
- É um nome muito bonito. – diz para voltar a encarar o bebê no próprio colo – Você é um carinha de muita sorte, Theodore Raul-Jules Leclerc, leva o nome de três lendas que eu admiro pra caramba.
- Quatro, na verdade. – corrige – O nome completo é Theodore Raul-Jules Benedetti Leclerc.
- Puta merda, tinha nome maior não? – o rapaz solta e os três outros riem. - Inclui Norris também. Um a mais, um a menos, ninguém vai notar.
- É tradição monegasca, . – diz após controlar o riso – O nome do mesmo é tão grande que uma volta rápida no Nürburgring leva menos tempo do que pronunciar o nome completo dele.
, , Carlos e Daniel gargalham.
- Vocês ficam falando do meu nome, mas já ouviram o do Carlos? - o rapaz contextua. – Quando ele começa à falar, não para mais.
- Não, qual é? – questiona ao espanhol.
- Muito longo para decorar, aposto que nem ele sabe tudo. – caçoa.
Carlos grunhe antes de pronunciar: - Carlos Sainz Vásquez de Castro Cenamor Rincón Rebollo Birto Moreno de Aranda de Anteruriaga Tiapera Deltún.
O grupo fica em silêncio por um tempo.
- Tá zoando, né?! – indaga com um sorriso despontando os lábios.
- Não. – ele nega.
- Por que... – Daniel fala vagarosamente, ainda absorvendo a quantidade de nomes. – Fica continuando, e continuando...
Carlos ri anasalado.
- São os nomes dos meus avós, e dos pais dos meus avós, e dos pais deles, e assim adiante. – o rapaz explica.
- É tipo toda uma arvore genealógica em um nome. – comenta.
- É. – ele assente.
- Isso deve ser bem comum na Espanha. – fala.
- Na verdade, não. – Carlos nega com a cabeça.
O grupo desata a rir.
- Entendi. – assente risonha – Então, definitivamente, o título de maior nome passa a ser todo seu.
ri e abre um sorriso satisfeito.
GLOSSÁRIO
Nürburgring - Autódromo na cidade de Nürburg, próximo de Colônia e de Frankfurt-am-Main, na Alemanha. Em sua configuração de traçado mais longo a volta mais rápida atinge 15:06.1.
“Não imaginei que seria possível, mas o ano sabático e longe das pistas foi tudo menos agoniante.”
Assistir Theodore crescer dentro desse um ano, tão rápido, foi de longe a melhor experiência da vida do casal de pilotos. Ganhava em disparada de todas as outras porque eles simplesmente se encantavam todos os dias com aquela miniatura de ser humano, que à cada dia ficava ainda mais parecido com – alimentando o ciúme de .
Óbvio que à um primeiro instante eles apanharam um pouco por serem pais de primeira viagem, o constante receio de machucar o pequeno era maior que tudo.
As cólicas e choros intermináveis os assustaram mais que uma bandeirada vermelha, mas com a ajuda de Pascale e Patrícia, que se ofereceram para aconselhar nessa fase inicial, logo conseguiram encontrar um ritmo.
Não queriam contratar babá e sim curtir o bebê de todas as formas possíveis, e foi notado pelo seu desaparecimento das mídias.
RJ, apelido que pegara, era um comilão e mamava 11 vezes por dia no primeiro mês, mantendo bem ocupada enquanto assumira o posto de trocador de fraldas – o monegasco ficou até especialista no assunto. Andava com o kit fralda, pomada, talco e lenço para todo canto da casa presos em uma pochete na cintura.
Ele chegara a ter que trocar sete fraldas em uma mesma tacada, devido à jatos inesperados de xixi da criança, que também o molhara e fizera gozar dizendo que aquele era o troco por ele zoa-la na gestação.
No seu trigésimo terceiro dia de vida, RJ sorriu pela primeira vez para , enquanto ela ninava-o para dormir. Ele passou a sorrir toma vez que a mulher cantava para ele, e ela pensava que voz nem era a das melhores, mas o pediatra disse que era porque havia se familiarizado com tal voz durante a gestação e esta foi a mais próxima dele por oito longos meses.
No entanto, uma risada verdadeira mesmo surgiu no terceiro mês, enquanto brincava com o carrinho de brinquedo em sua barriguinha rechonchuda. O piloto ficara tão feliz que gravou a risada dele num áudio e fez uma tatuagem com as ondas sonoras no antebraço. As variações podiam ser “tocadas” quando lidas por um determinado aplicativo, e mostrava-a todo orgulhoso para qualquer um que perguntava da criança.
O monegasco também conseguia prender a atenção do menino nas belas notas de piano que tocava, era o arranjo começar que em menos de três minutos RJ dormia feito um anjo.
Lá para o quarto mês o bebê finalmente decidiu dormir as noites inteiras e safar as olheiras causadas nos pais. Além de dá-los mais tempo dispostos para voltar a praticar alguns exercícios, principalmente , pensando na boa forma que teria que ter de volta o quanto antes.
e revezavam as atividades, mas a maior parte do tempo não conseguia ficar longe do pequeno. Assistindo-o dormir as tardes, dando-lhe banhos juntos, mesmo à amamentação.
No sexto mês, RJ já era um sorridente serzinho e que começava a impor suas vontades. Ele já se sentava sozinho, o que deixava o casal de pilotos mais tranquilos, balbuciava com sua voz doce sons adoráveis, colocava o pé na boca como também tudo o que encontrava no chão.
Foi nessa fase também que ele aprendeu a erguer as mãozinhas pedindo colo, e tinha um brinquedo favorito, que deixara os pais significantemente emocionados.
A miniatura de um Mustang, bem condizente os meios da família.
Apesar das visitas recorrentes dos familiares, no final do sexto mês e decidiram que finalmente podiam sair um pouco de casa com o bebê e levá-lo para conhecer ambos os países de origem e conseguintes casas de cada, aventurar-se em viagens pela primeira vez.
Prolongaram a viagem até a Bélgica, onde acontecia o GP da vez, e apresentaram o pequeno ao ambiente de trabalho e àqueles que não tinham tido oportunidade de conhecê-lo até então.
Com as devidas proteções auriculares, RJ assistiu à sua primeira corrida e sua atenção ficou presa pelos primeiros dez minutos inteiros, acompanhando principalmente o carro vermelho que chamava sua atenção, para então cair em um sono profundo com um sorriso no rosto.
No término do sétimo mês, o bebê já estava a todo vapor na engatinhada, tão agitado e feliz quanto se podia ser. e decidiram usufruir dessa energia e inscreveram os três em aulas de natação, entrando numa vibe gostosa de atividade em família.
Era explícito o quanto a criança gostava, sem sequer precisar de palavras para se expressar. Toda vez que chegava perto de uma piscina induzia o seu corpinho na direção da água e agitava os pezinhos nos movimentos do nado.
No seu nono mês e treze dias de vida, RJ falou sua primeira palavra, que não foi mamãe e nem papai, que tanto insistiram nessa ideia repetindo-as na frente da criança por diversas vezes.
“Pi-tópi” saíra num momento em que nenhum deles esperavam, enquanto assistiam à final em Abu Dhabi na própria casa, e eles demoraram alguns instantes para entender que se tratava de pitstop.
Ficaram tão extasiados que passaram uma semana pronunciando a palavra só para ouvi-lo repetir na sequência, e se encantavam em cada e todas as vezes que acontecia.
No décimo mês, os preparativos para a volta dos papais às pistas em nada interferiu no desenvolvimento do bebê, obrigada de nada.
diria que até havia intensificado o seu desenvolvimento por contato com outrem – e mesmo que tivessem sido obrigados a pedir ajuda de uma babá pelos compromissos recorrentes, das 20 horas que trabalhavam por dia ao menos dez delas passavam com RJ – e vice e versa pela divisão de tarefas.
O dicionário de palavras dele havia crescido consideravelmente e a “Mama” e o “Papa” não deixaram de acompanhar todas elas.
Ser mama do RJ é um máximo, não deixava de pensar por um dia sequer, por mais responsabilidades que haviam sido acrescidas à sua rotina.
Toda a sua energia havia sido também revigorada, e ela não sentia mais cansaço ou fraqueza em nenhuma parte do dia. O que era fantástico.
Com onze meses, RJ abandona a amamentação no peito de , é também quando ela descobre que aquele era o momento mais triste para uma mãe. Ele estava crescendo e não tão mais dependente dela, pensava aos prantos.
Porém , sendo o maravilhoso marido que era, a consola por três horas seguidas e a faz entender que aquilo era mais um ponto positivo que negativo.
Adiós sutiãs feios, e bienvenido de volta sutiãs sexys.
- Além de que agora as coisas ficam mais fáceis, já que vamos ter que viajar para destinos diferentes com frequência. – ele diz e ela procura se conformar. – Sem precisar do seu peito, posso levá-lo mais comigo.
É em uma dessas viagens que se depara com RJ se apoiando em uma cadeira na sala de reunião de estratégias na sede da escuderia Ferrari na Itália para se levantar e dar os primeiros passos. Os quais pôde acompanhar apenas via vídeo-chamada, novamente aos prantos, por estar longe na sede da nova equipe em Milton Keynes, Reino Unido.
No seu aniversário de um ano, RJ já andava como um especialista, fazendo com que e tivessem que correr atrás daquele velocista marrento a festa inteira para que não caísse no mar por acidente, visto que o evento fora realizado no iate dos Leclerc em Mônaco e orquestrada pelas vovós super dedicadas que desde o casamento vinham querendo organizar um evento para a família.
A festa contou com tudo do mais caro e mais requintado que a monarquia de monegascos poderia oferecer e o casal nem pensara em recusar, afinal era tanto um presente à eles e o filho quanto à elas próprias.
RJ se divertia como ninguém, todos queriam disputar pela sua atenção. A criança era adorável e sua personalidade começava a despontar como completamente carismática. Ele maravilhava aos adultos e, também, às crianças, principalmente Marcella, a quem muito se voluntariava para brincar com o bebê.
Na companhia de seus familiares e amigos mais próximos, eles fecharam o ano sabático por completo satisfeitíssimos e prontos para as próximas fases de suas vidas.
sente aquele frio bom na barriga retornar, ansiando pelo que viria a seguir.
30 de Março
Circuito de Albert Park – Melbourne, Austrália.
O ano cuidando do seu bebê fora maravilhoso, tão perfeito que se fosse mais estragaria, mas estar de volta era indescritível. Podendo-o ter ao seu lado então, fantástico.
Ainda era estranho olhar para o seu corpo e não ver o azul vivo do macacão da McLaren ou entrar no carro laranja “papaya”, mas toda aquela sensação de uma experiência nova supria a saudade e consolidava-a como boas e queridas lembranças.
Ela está acompanhando RJ caminhar de uma garagem à outra, assim que finalizado o primeiro dia de treinos, quando o garoto dispara a correr até a garagem de sua velha construtora ao ver sair de dentro dela.
Ele bate as palminhas, chamando a atenção do padrinho, que o pega no colo num impulso só, erguendo-o ao alto e voltando duas vezes seguida.
- Moleque, te vi não tem nem um mês e você já dobrou de tamanho! – o britânico diz impressionado e o menino gargalha, se divertindo ao extremo, como sempre acontecia quando estava com o britânico. – , o que tem dado para ele? Fermento?
ri enquanto se aproximava deles.
- É a altura do ! – ela diz – Daqui à alguns dias ele já vai estar me alcançando.
- Você fica com o garoto na barriga por nove meses para sair uma xerox do . – comenta risonho – Isso não é útero, é uma máquina copiadora.
Ela gargalha.
RJ então pega o boné na cabeça do padrinho e fica admirando-o por alguns instantes antes de tentar encaixá-lo na própria cabeça.
O rapaz dispara: - Tão jovem e tão sensato. Até ele sabe que a cor laranja é bem melhor que o azul sem graça da outra lá.
A pilota ri fraco.
- Eu sabia que levaria uma alfinetada de você alguma hora. – ela comenta. – Estava sendo bonzinho demais e não é do seu feitio.
- Principalmente por não ter me contado. – ele atenua. – Saber pelo Zak foi pior que uma facada nas costas.
- Me desculpe! – ela ri. – Eu não imaginei que assim que falasse com ele, ele sairia correndo para te contar. Não fui rápida o suficiente, o poder da fofoca foi mais eficiente.
ri.
procura por seus olhos azuis, que estão felizes por Raul estar apalpando as suas bochechas com suas mãozinhas, e quando ele a nota ela sorri.
- Eu sei que você sabe que nossa amizade continua muito além das cores que vestimos. Certo? – ela arqueia uma sobrancelha.
- Claro. Só estou enchendo o seu saco. – ele beija o rosto de Raul – Até porque agora o piloto líder daqui sou eu, e eu gosto dessa sensação de poder. – eles riem juntos.
- Só não deixa esse poder subir à cabeça. – ela alerta, risonha.
- Você me conhece, sabe como que lido com isso.
- Justamente por isso estou falando. – assente e eles rirem novamente. – A Jamie também está mandando muito bem, e a nona posição na tabela de pilotos do ano passado condiz com isso. – assente – Vocês se aproximaram mais?
- Ela é reservada, faz o trabalho dela. – ele dá de ombros – É educada e tudo, mas não tem nem comparação com você e Carlos, né, ?! Nós simplesmente não somos tão compatíveis. Mas tudo bem também. – RJ dá indícios de querer descer e andar e após colocá-lo de volta ao chão eles o seguem caminhando lado a lado.
Por onde a criança passava os funcionários sorriam para ele, acenavam, descontraindo-se do trabalho que faziam. Em um clima confortável e familiar.
- Como estão as coisas lá na Red Bull? Max tem sido insuportável como sempre? – questiona e ri por um instante.
- Ele está mais maduro, definitivamente. Não se parece em nada com o Max que conheci na minha primeira temporada. – ela diz. – Me ajudou com a adaptação lá na fábrica, deu dicas com as configurações, me apresentou à equipe, até me levou para almoçar no centro de tradições da RBR, que aliás me mostrou quão grande é a marca. Fiquei chocada. Enfim, - dá de ombros – nada de rancor pela rivalidade que têm só a aumentar, sabe. – declara impressionada – Poderia dizer que é o fato de que ele vai ser pai, mas essa maturidade vem bem antes disso. Ele merece esse reconhecimento.
- Verdade. Caramba, Maximilian também vai ser pai! – ele reflete abobado – Você, e Max pais. Estamos ficando velhos. – assente sozinho com as sobrancelhas arqueadas, em surpresa ao finalmente constatar este fato.
- Os novatos uma hora tem que crescer, não é?!
- Sim. – ele concorda para dizer com grande animação: - Mas, na real, vai ser tão divertido ver você e o Max competindo na mesma construtora.
- Principalmente porque eu estou sedenta por um título e Max quer fechar o segundo dele. – ela sorri – Eu sei que essa paz entre nós não vai durar muito, mas admito que estou ansiosa pela rixa. Senti falta desse clima.
Eles riem juntos e notam RJ entrar na garagem da escuderia vermelha.
- É incrível como ele sempre encontra o . – ela comenta vendo o bebê se encaminhar até o piloto que abre um grande sorriso ao vê-lo. – Eles são unha e carne, é tão bonito vê-los juntos. Eu me derreto. – admite já com a mão sobre o peito e sorriso maravilhado.
- Vocês são bons pais. – elogia.
- Obrigada. – diz com sinceridade.
- E bons pilotos.
- Com certeza somos. – ela assente veemente.
- Uma temporada toda sem vocês foi um saco, senti falta das nossas zoeiras. – declara. – Estou muito ansioso para ver como que vai ser esse ano.
- Sabe que eu também?!
Eles sorriem cumplices.
Epílogo
7 meses depois
Circuito de Yas Marina – Abu Dhabi.
- Serra, serra, serrador. – canta a cação infantil deitando e levantando a criança em seu colo, que ria divertindo-se. – Serrou o papo do vovô!
Ela joga as mãos ao alto e o menino imita a sua vibração. Sua animação com o ar inocente por tão pouco deixava a mulher maravilhada.
- E ele pode serrar o papo do vovô o quanto quiser. – Marcos, quem se deliciava com alguns aperitivos na mesa disposta ao lado do sofá em que os dois estavam, se pronuncia sorridente. – Não é mesmo, RJ?!
Todos usufruíam do camarim da pilota, às vésperas da última corrida da temporada daquele ano e o clima não poderia estar mais descontraído. Patrícia, Ernesto, Fábio, Emília, , Fael e Sandy também jogaram conversa fora enquanto aguardavam. já havia feito o seu aquecimento corporal e estava até vestida com o característico macacão azul escuro, já pronta para entrar no seu cockpit dali a 50 minutos.
Os olhos verdes de Theodore brilham cintilantes e ela não resiste a tentação de agarrá-lo: - Ataque de beijos! – declara e ele gargalha, se encolhendo enquanto ela beijava o seu rosto ao mesmo tempo em que fazia cócegas por todo seu corpo.
- Não, mommy. – ele pede com as mãozinhas em seu rosto, tentando segurá-la – Cóquinha.
Os presentes na sala riem encantados.
- Tudo bem. - diz ainda risonha, cessando os próprios dedos – Então, serrador de novo? – questiona com uma sobrancelha arqueada e ele assente animado.
Ela se endireita e começa a cantar a canção novamente, com direito à mesma comemoração no final com as mãos ao alto.
Na televisão ao fundo um jornalista às margens do circuito em questão, informava sobre os fatos anteriores ocorridos naquele campeonato: “E com quinze pontos de diferença do segundo colocado, Max Verstappen lidera o campeonato graças à sua vitória na corrida antecedente à esta, que aconteceu há duas semanas no Brasil. Ele e a companheira de equipe, Benedetti, veem de uma longa sequência de corridas disputando as primeiras posições de forma equilibrada, deixando a RBR no topo do campeonato de construtoras. Benedetti teve um desempenho abaixo do esperado no GP da própria casa, chegando em quinta posição, enquanto seu ex-companheiro de equipe, Norris chegou em segundo e está há próximos cinco pontos dela na tabela, logo abaixo de George Russell, terceiro colocado e a frente do nonagésimo campeão Hamilton, quinto colocado. Esperamos poder ver grandes disputas na corrida de hoje, principalmente entre os pilotos da RBR, os da Mercedes, Norris, Leclerc, Pierre Gasly e Jamie Chadwick. Logo mais na tela da sua televisão. Essa corrida tem muito à prometer.”
Ela volta a atenção ao seu bebê, ignorando a pontada que tocara seu estômago ao ser mencionada a corrida do Brasil.
Aquela havia sido uma das suas únicas falhas em todo o campeonato, aquele o qual ela estava completamente focada desde o começo. Faltando duas voltas para o encerramento da corrida ela se desestabilizou quando seu engenheiro citou no rádio o nome da reta em que ela disputaria uma ultrapassagem com Hamilton, batizada de Palhares no circuito de Interlagos devido ao acidente.
Seu peito doeu, seus olhos marejaram imediatamente e ela não só perdeu a oportunidade de ultrapassar o colega como perdeu outras duas posições por afligir-se por alguns instantes.
Claro que aquele acidente ainda mexia com ela, a lembrança dos seus últimos instantes com o colega naquela pista era melancólica.
Porém ela respira fundo e chacoalha a cabeça para questionar ao bebê, com a voz animada: - Como é que você vai fazer quando mamãe atravessar a faixa hoje, filho?
- Mommy faz vrum! – ele esbraveja alegremente e ergue os bracinhos gordinhos ao alto. sorri radiante.
- Isso aí, mommy vai fazer vrum!
Dito isso o bebê se distrai quando Fábio pousa a mala com o capacete no sofá ao seu lado. RJ estica seu corpinho na direção dela.
- Já fizemos o serrador, RJ. Agora você tem que cumprir a sua parte do combinado e abrir o bocão para o papá. – ela diz segurando-o enquanto esticava-se para pegar o prato infantil sobre a mesa de centro em frente ao sofá. – O papai me contou que você não comeu bem no almoço.
RJ nega envergonhado e por isso quando ela direciona a colher em sua direção ele abre a boca obedientemente.
- Que gostoso, não é, meu bem?! – ela indaga e ele franze a testa para o gosto novo do purê de cenoura que a cozinha da RBR havia preparado especialmente para ele. – É a cenourinha, meu amor. Você gosta dela. Só não está em palitinhos.
tinha a hora da janta do bebê como prioridade, fazê-lo todos os dias era essencial. Independentemente de qual dia fosse, os compromissos que tinham, ou quão exaustos estavam, os pais eram quem alimentavam, davam banho no pequeno e sempre arranjavam tempo para brincar com ele, dispensando até a necessidade das babás que a construtora de origens austríacas haviam providenciado por conta das responsabilidades compartilhadas.
Sentir-se conectados com o filho era fundamental, RJ dissipava quaisquer preocupações, estresse ou frustrações. Eles poderiam estar os mais irritados possíveis por um motor que falhara, um pneu que perdera pressão em um momento importante, cair de posições ou, mesmo, por desentendimentos no grid, mas, a partir do momento em que a criança sorria para eles, nada naquilo parecia ser significativo o suficiente.
RJ era a própria luz que literalmente iluminava todos os seus dias, e por isso eram extremamente gratos.
Assim que a comida no prato do bebê se esvazia e ele percebe, engatinha do colo da mãe até a mala do capacete que tanto chamava a sua atenção. RJ era apaixonado pelos capacetes dos pais e dispensava até os mais elaborados brinquedos que tinha para se encantar com as cores deles. Rapidamente ele abre os zíperes que já eram familiares, abrindo a maleta.
- Como você está? – Fabio a questiona significantemente, sentando-se na mesa à sua frente e apoiando os braços nos joelhos para olhá-la nos olhos, enquanto os demais na sala continuavam com as conversas descontraídas.
- Bem. – ela dá de ombros, relaxando as costas no encosto do sofá, dando atenção ao tio mesmo que uma das mãos segurassem RJ pelas costas da blusa de forma firme, para que não caísse. – Menos ansiosa que pensei que estaria.
- Confiante? – ele arqueia uma das sobrancelhas.
- Com certeza. – ela assente sorrindo. – Mas se não for para ser, tudo bem também. Estou tranquila, eu sei do meu potencial e se algo não der certo lá na pista, é só trabalhar ainda mais para que da próxima vez dê.
Os olhos avelã de Fabio, idênticos aos da sobrinha, parecem mais brilhantes por um instante. Mas ele logo os desvia, limpando a garganta disfarçadamente.
- Eu não tenho como expressar o quanto eu estou orgulhoso de você. – ele diz depois de engolir em seco, voltando os olhos aos dela. – Não só pela pontuação no campeonato como por quem você se tornou, . Uma mãe responsável, uma mulher batalhadora, uma pessoa perseverante, autêntica e sensata. Àquela menina amedrontada que sequer queria voltar às pistas, se transformou nessa mulher e eu sou grato por estar presente nesse processo de amadurecimento.
- Que isso, tio. – ela sorri tímida, sentindo suas bochechas esquentarem. – Está até usando a sua voz séria.
- É porque é sério, porra. – ele ri fraco – Você sempre diz que é grata por eu ter te ajudado, te recolocar nos trilhos e estar ao seu lado, mas não tem ideia do quanto eu sou grato por te ter na minha vida. – sorri comovida – Você mudou a minha vida completamente, também me fez crescer em alguns aspectos, me permitiu estar satisfeito comigo mesmo, realizar meu sonho de fazer parte disso, tudo bem que trabalhei que nem um condenado para isso, mas... – eles riem juntos – Espero que nossa parceria se prolongue por muitos e muitos anos. Te amo e independente do resultado de hoje, você é uma campeã para mim.
- Nós somos campeões. – ela corrige sorrindo e se ergue, para abraçá-lo com um dos braços – Com certeza nossa parceria vai se prolongar, por anos e anos. Começou com nós dois e vai terminar com nós dois. Não teria chegado aqui se não fosse você.
Assim que se separam eles trocam um olhar intenso e, por mais silencioso que fosse, era cheio de significados.
- Quem diria que casar em Vegas te deixaria mais maduro. – comenta à Fabio, ao se aproximar dos dois. A dupla ri.
- A surpresa mesmo é ele ter convencido a Sandy se casar em Vegas. – rebate. – Logo ela que é toda tradicional.
- Era. – ele corrige – Ela também é uma nova mulher e com mais um pouco de insistência eu conseguirei a convencer à ir em uma rave.
e gargalham.
- Sandy dormindo em barraca, pisando em barro e ficando louca de tabela. – a loira vislumbra risonha. – Isso eu quero ver.
- Não faz mal sonhar. – Fábio dá de ombros.
- Quero aproveitar esse momento que todos ainda estão aqui, e já que o Fábio começou com as honras emotivas da noite, - começa se levantando do sofá, não sem antes se certificar que RJ estava seguro no mesmo, brincando com o capacete sob seu colo ao lado de Marcella, que observava atentamente – para agradecer pela presença, claro, e por estarem comigo.
Ela chama a atenção de todos e eles se aproximam do centro da sala.
- Não só aqui, neste exato momento, mas em um geral. – suspira sorrindo – Desde a gravidez com o apoio, os conselhos, as conversas, nos primeiros meses viajando para me ajudar com RJ, ao me aconselharem, me apoiarem, cuidando de mim de perto – ela olha para Fabio e Sandy, para depois voltar-se aos demais – mesmo de longe. Se fazerem presentes mesmo à milhas de distância, também as dicas, os puxões de orelha... Cada um de vocês fazem parte da minha história. Isso foi um trabalho em equipe, alguns dos demais membros não estão aqui presentes, mas tudo bem. – ela sorri - Eu sou grata por ter vocês e os amo. Profundamente.
- Abraço em grupo! – fala alto e todos se juntam, soltando o que tinham em mãos, de taças, petiscos à papéis, para se fecharem em um círculo completo.
- Hoje é um dia muito feliz e só está completo porque vocês estão aqui. – finaliza e o grupo bate palmas saudosamente.
Quando encerrada a salva de palmas eles escutam resmungos e alguns “É meu!” e “Da mommy!” se sobressaírem do barulho. Ao se virarem o grupo se depara com RJ e Marcella disputando pelo capacete de . Como o objeto ela muito pesado eles apenas espalmavam as mãozinhas sobre ele e discutiam ferozmente.
- Meu Deus, Má! – se adianta para pegar a filha no colo – Esse não é o seu, filha. – e se virando para a amiga explica – Ela tem aquelas miniaturas que você deu no quarto e está naquela fase em que dividir é um absurdo. Tudo ela quer para ela e faz um escândalo, só para soltar minutos depois. Me mata de vergonha.
ri.
- Tudo bem, acho que tem umas miniaturas ali no armário em algum lugar, eles sempre deixam para o RJ brincar junto com uns carrinhos. Pode pegar para ela, e acho que para ele também. – a pilota checa o horário no relógio de pulso – Ele vai ter que desgrudar já, já, está na hora de ir para a garagem.
Dito isso pega o bebê no colo, enquanto Fábio guardava o objeto de volta na maleta e as demais pessoas se ajeitavam para se retirar do camarim.
O grupo sai do Paddock e seguem pelo mesmo caminho, os que levavam às garagens e aos camarotes. percorria o caminho cumprimentando a todos que a saudavam e a desejavam boa sorte, naquele clima animado de antes de uma corrida.
RJ tinha em mãos a balaclava da pilota e tentava passar a touca pela cabeça da mãe, sem muito sucesso, enquanto ela caminhava e ria de suas tentativas.
Chegada à entrada da garagem para e beija a bochecha do filho profundamente, puxando o ar que o rodeava para manter o seu cheio consigo durante a corrida, e olha em seus olhos verdes diretamente.
- Se comporte, como sempre, feito o príncipe da mommy e logo nós nos vemos de novo. Tá legal? – ela indaga sorrindo e ele assente. – Me dá um abraço aqui.
Dito isso o menino rodeia o pescoço da mulher com os bracinhos e deixa cair a balaclava, mas pouco deu importância à isso.
Ele a solta alguns instantes depois ao identificar uma pessoa vindo na direção deles, que recolhe a touca do chão.
- Daddy! – esbraveja alegremente erguendo os braços na direção de , que também já estava caracterizado com o macacão vermelho.
- Oi, campeão. – ele fala animado, pegando-o no colo. E, ao se virar para o grupo, também salda. – Oi, gente.
Eles respondem em coro, de volta: - Oi.
- Você comeu tudo? – o rapaz pergunta ao filho, atentamente.
- Tudinho!
- Mesmo? – o monegasco sobe os olhos aos da mulher.
- Sim, o purê de cenoura deu super certo com as ervilhas. – ela sorri e arruma o cabelo que caia nos olhos da criança – Tomara que essa fase de mal paladar passe logo.
- Vai passar sim, porque ele vai ficar cada vez mais forte comendo tudo. – beija o rosto do bebê. – Agora dá um cheiro, que vocês precisam ir.
RJ esfrega o nariz no do pai duas vezes antes de abraçá-lo com os bracinhos curtos.
- Daddy faz vrum! – o pequeno celebra ao se afastar. – Mommy faz vrum!
- Isso mesmo, filho. – diz sorrindo e olha de relance, com olhar cúmplice.
- Vamos, RJ, vem com a vovó. – Patrícia diz ao se aproximar, esticando os braços para a criança.
- Cadê sua mãe? – questiona ao marido de lado.
- Já foi para o camarote com meu irmão, ela não curte muito todo esse barulho, você sabe. – ele comenta e identifica os ruídos das máquinas trabalhando nos pneus e carros próximos dali, tanto havia se acostumado com eles que sequer os ouvia mais. Ou o cheiro de borracha, álcool higienizador e suor contínuo.
- Tio Fábio. – RJ desvia dos braços da avó, apontando para o homem que de prontidão se aproxima do pequeno depois de entregar a maleta do capacete à Sandy.
- O quê? – Patrícia faz um bico exagerado para a criança enquanto ele passava alegremente do colo do pai para o do tio. Porém RJ não se sensibiliza nem um pouco. Patrícia resmunga ao irmão – Não acredito que comprou meu neto. Como ele pôde preferir à você do que a vovó?
- Acredite ou não, Paty, tem pessoas que se identificam desde o berço com os mais legais. Não culpe o moleque por querer ser popular. – Fabio caçoa com expressão esnobe.
O grupo ri.
- Mãe, é só porque ele sempre fica com o tio. Nos treinos, corridas, coletivas. Já está acostumado com ele. São parceiros. – explica pegando a touca que a devolvia, enfiando-a no bolso, enquanto observava Fábio colocar o menino sobre os ombros, como sempre fazia.
RJ sorri radiante, ele adorava estar no alto.
- Ah, não, RJ. Vovó quer ficar com você. – ela diz e segue Fábio que sai caminhando na direção dos camarotes depois de desejar uma “boa sorte” silencioso na direção do casal.
O grupo rapidamente se adianta em desejar sorte aos pilotos e se despedem dos dois para seguir pelo mesmo caminho que Fábio.
se vira ao marido e respira fundo, eles entrelaçam os dedos das mãos frente-a-frente.
- Expectativas para hoje? – indaga.
- Ao menos um pódio, e você? – ela rebate.
- Que minha esposa vença o campeonato. – ele diz sorrindo, encarando seus olhos avelã maravilhado.
- Que isso não seja um motivo para facilitar as coisas para o carro 13. – ela umedece os lábios, risonha.
- Não faz o tipo do carro 16. Sabe, ele é bem competitivo. – ele fala e eles riem.
- Boa sorte! – ela diz e o puxa para um abraço apertado.
- Boa sorte! – ele repete afagando seus cabelos.
Quando eles se separam tocam as mãos e sorriem.
- Vai arrasar hoje.
- Nós vamos.
Eles se separam e partem por corredores diferentes, condizentes com as garagens das próprias construtoras.
passa pelo pessoal que estava à todo vapor nas últimas checagens do carro na garagem cumprimentando-os com um aceno de cabeça.
Ela chega perto da sua assistente, Margareth, e ela sorri: - Seus cabelos estão tão arrepiados quanto os meus?
- Vão estar quando a quinta luz se apagar. – ela ri e aceita a camisa preta, com os dizeres “Corremos como um” escritos no peito. Tal que os pilotos sempre vestiam para a hora do hino do país.
A iniciativa que partira para um esporte mais igualitário, com oportunidades para todos começara a realizar ações, tirando as promessas dos papéis.
A Fórmula 1, no começo daquela temporada, havia oficialmente inaugurado uma academia de engenharia para jovens talentos, a Academia F1 de Engenharia e Mecânica Automotiva. Treinando-os, guiando-os e oferecendo à eles um lugar em tal esporte tão consagrado. Pessoas de qualquer gênero, classe social, cor, nacionalidade ou religião.
Era de se esperar que tinha orgulho de vestir aquela camisa.
- Vamos indo, eles já vão levar o carro para a pista. – Meg, como gostava de ser chamava, diz indicando o pit lane com a cabeça e elas seguem lado a lado até a pista principal.
Na faixa quadriculada, uma bandeira junta a banda que tocaria o hino com alguns dos pilotos já posicionados em seus lugares é o centro das atenções. Na arquibancada, inúmeras vozes que gritavam e vibravam ansiosamente pelo que aconteceria dali poucos instantes.
acena para alguns deles e os vê balançar uma bandeira com o seu rosto com emoção, seu número em evidência, porém com as cores da antiga construtora.
Significava que eram fãs fiéis que acompanharam a transição e continuavam ao seu lado. Ela sorri se encaminhando ao seu lugar em cima da faixa.
Chegando lá ela cumprimenta seus colegas, com à sua frente, e não demora muito para que surja ao seu lado.
- Tá sentindo esse cheiro? – ele questiona ao se aproximar.
- Ah não, . Tanto lugar para você fazer isso e vem peidar bem do meu lado. – ela diz fazendo uma careta enojada e cobrindo o nariz disfarçadamente.
O rapaz gargalha.
- Não! – ele diz entre risadas. – Não é isso.
- Não seria surpresa, se fosse. – ela ri.
- Estou me referindo ao cheiro da vitória. – ele esclarece cessando o riso aos poucos. – Você está coberta dele.
- Já está se retirando do jogo assim? – ela arqueia uma sobrancelha sorrindo.
- Tive troca de motor depois que o meu perdeu potência total nas últimas da classificação, dei sorte de terminar aquela volta. E ele é usado, claro, o carro já está no seu extremo. – ele dá de ombros – A McLaren sabe que um pódio está fora de cogitação para mim hoje.
- Sinto muito. – ela diz sincera.
- Não sinta, as mudanças no carro para o próximo ano vão render um título. Vamos voltar muito melhores.
- Assim fica mais divertido. – ela assente.
- Enfim, boa sorte.
- Para você também.
Terminado o hino, os pilotos dão as mãos e desejam uns aos outros sorte antes de seguirem para o seu lugar no grid.
estava em segundo lugar, Hamilton era o pole position da vez, mas em nada isso a assustava. Ele era um piloto muito talentoso, a largada era um de seus fortes, assim como de também era.
Max estava logo atrás, seguido de George, Sainz, , , Ricciardo, Jamie e Jessica Hawking, a pilota que substituíra Raul na Aston Martin.
Ela, junto de Jamie, Sarah e a própria formavam o quarteto fantástico da Fórmula 1. As quatro mulheres obstinadas e mostrando ao mundo que o esporte estava seguindo um percurso certo para a inclusão completa.
não era muito próxima delas, porém, hora ou outra as pessoas encontravam-nas jogando conversa fora, fazendo piadas umas com as outras e incentivando-se mutuamente. Tinham uma boa relação.
tira a camisa, entregando-a de volta à Meg que está ao seu lado de prontidão, pões os fones no ouvido e veste a balaclava enquanto recebia algumas instruções do seu mecânico Paul Monaghan, o senhor extremamente amigável e de dicas certeiras que progrediu a evolução de e a deixara completamente em sintonia com o carro desde o começo da temporada.
Meg a entrega a proteção de pescoço para em seguida dá-la o capacete, os veste com calma e afivela os fechos adequadamente enquanto observa a movimentação agitada dos mecânicos da sua e demais construtoras reconfirmando seus ajustes.
Pelo canto dos olhos, ela vê Max se aproximar dela, já trajado com capacete e adereços. O rapaz ergue a mão na sua direção.
- Que vença o melhor. – ele diz com a voz abafada.
- Obrigada, o farei sim. – ela diz tocando de leve o punho e eles riem.
- Desde que seja uma disputa justa... – Max provoca.
- Lá vem você de novo, - ela revira os olhos teatralmente – precisa superar o que aconteceu em Silverstone, cara. Fui tão culpada quanto você pela sua escapada, o próprio Horner disse que qualquer um dos dois poderiam ter cedido na disputa. Foi incidente de corrida, tomei 10 segundos de penalidade e você saiu da corrida, mas já foi.
- Foram 51G de impacto contra o guard-rail, . 51. – ele afirma com os olhos atenuantes.
- E eu sinto muito por isso, já disse. Mas, afinal, você está aqui inteiro, disposto, saudável e em nada afetou seu talento. Então, na paz, beleza? – ela pede e Max gargalha, fazendo-a fechar a cara. – Nem sei por que continuo me sentindo culpada, você é um cretino.
- É sempre ótimo ouvir você me elogiar. – ele fala controlando o riso – E eu nem preciso mais induzir isso, virou tão minha fã que sai de forma natural.
- Vai te catar, idiota. – ela ameaça dar-lhe um tapa, mas ele corre na direção do próprio carro, fazendo-a ter que gritar: - Boa sorte!
- Você também. – ele grita de volta.
então respira fundo e salta para dentro do cockpit.
Paul começa a afivelar os seus cintos, conectar os tubos e fazer todos os ajustes necessários para uma boa mobilidade e desenvoltura.
Ela ouve a voz de René Rosin soar através dos fones de ouvido e sente um forte déjà vu: “Checagem de rádio”.
- 1,2,3. Checando. – diz sorridente.
“Tudo certo com o rádio, .” – ele confirma.
apalpa o seu volante, as luvas percorrendo a superfície dura dele e sobrepondo aquele mar de botões. Seus olhos sobem para a pista abarrotada de gente.
- Caraca, que loucura. – ela sopra, já extasiada.
“O quê?”
- Digo, é uma puta nostalgia. – ela admite – Você checando rádio comigo me lembra da minha primeira vitória na Fórmula 2. – sorri com as lembranças que a atingem em cheio – Tirando a sacanagem no final, eu estava com essa mesma sensação de que estou agora, certa de que ia ganhar. Com você, com a nossa equipe. – a pilota sorri sozinha – É muito bom te ter de volta René.
René Rosin fora o primeiro engenheiro com quem trabalhara na sua volta ao automobilismo, ainda lá na Prema Racing, tempos de Fórmula 2. Ele fora o seu mentor, instrutor, conselheiro e guia quando ela ainda não tinha experiência. Fora ele quem moldou-a à nova fase do esporte, com tecnologias e estratégias modernas.
Fosse para deixá-la ainda mais a vontade na equipe ou porque ele estava cada vez mais se tornando um nome de destaque na área da engenharia, ficara muito contente quando soubera que a Red Bull havia o roubado da F2 para trabalhar com ela. E essa parceria certeira estava trazendo muitas conquistas, o que deixava Horner e o grupo de diretores muito satisfeitos.
se sentia confortável, se sentia integrada com aquela equipe. E isto era o suficiente para que o apoio que davam uns aos outros os conduzissem ao sucesso.
“Te vi ser a primeira mulher à ganhar uma corrida na Fórmula 2. E é uma grande honra estar novamente ao seu lado quando você se tornar a primeira campeã mundial na Fórmula 1.”
- Se é você quem está dizendo, eu acredito. – ela fala e vê todos os mecânicos se dissiparem da pista ao seu redor, recolhendo os seus apetrechos e ferramentas para que pudesse ser iniciada a volta de apresentação.
O telão indica que a pista está liberada e os motores são ligados.
sai com o carro e faz a movimentação para aquecer os seus pneus logo atrás da elegante pantera negra de seu colega, Hamilton.
Se sentia honrada por estar ao seu lado. Ao lado de tantos pilotos talentosos naquele momento.
Simplesmente desfrutando tudo e cada detalhe.
As luzes dos refletores gigantescos da infraestrutura moderna se abrangiam na pista e a iluminavam enquanto os carros a percorriam ainda tranquilamente, e é sob elas que vê toda a sua carreira passar diante de seus olhos simbolicamente.
As pessoas dizem que quando você passa por uma experiência de morte tem-se esse tipo de sensação, ela pensa, isso se enquadrava também para quando se atinge o próprio paraíso?
Por muito havia passado, gigantesca era a reviravolta que acontecera em sua vida, mais de uma vez e em diferentes aspectos.
Primeiro ela passa por aquela garota de 14 anos que disputava a Fórmula 4 com uma garra inexplicável para a sua idade, cercada de seu tio e amigo amáveis. Jovem, sonhadora e animada.
Na sequência ela passa pela mesma garota, pouco mais velha, extremamente magra, com olheiras profundas abaixo dos olhos, claramente depressiva e decepcionada com o que se tornara sua vida depois que arrancada da sua paixão. Ela sentira que havia perdido tudo.
E talvez tivesse mesmo, por alguns anos, a perspectiva, a positividade, a vontade e garra.
Em seguida ela passa pela garota, agora por volta dos 20 anos, formada, conceituada, independente, porém ainda não satisfeita com o que o destino havia reservado para ela. Sempre inquieta e descontente. Com nada muito promissor à vista, nem mesmo um relacionamento.
Daí então vem a mesma garota vestida com o macacão vermelho da Prema Racing, ao seu lado Mick, René, Angél, Sandy, Fábio e... . Ela parecia ter levado uma injeção de animo, tão corajosa e tão brava, mesmo com o receio do que enfrentaria e profundo medo dos julgamentos alheios ao seu eu. Mas determinada, decidida á conquistar seus objetivos. Além de apaixonada, entregue pela primeira vez ao amor.
Na antepenúltima curva do circuito ela vê a garota mais madura, com o macacão azul vibrante, ao lado do carro laranja da McLaren. Junto de , sua família e amigos. Feliz, porém insaciável, sempre em busca de provar algo à alguém. Cansando-se gradativamente, perdendo a vitalidade e tornando-se obcecada.
Já sabia o que viria a seguir, ela com um barrigão de grávida. Atingindo os seus limites, aprendendo, ouvindo, se moldando. Amadurecendo.
E, na última curva ela se vê ao lado do marido, agora com 28 anos, segurando o seu bebê e com um sorriso tão farto do rosto que fica estonteante só de vislumbrar. Simplesmente completa, conceituada, com o nome em alto consagro e conectada com todos aqueles que amava e se importavam com ela. Plena, feliz e saudável.
Quando para o seu carro na segunda posição novamente, olha de forma figurada na direção dos camarotes, onde estava a sua família te dando apoio, amigos e seu filho. A sua maior conquista.
Não percebe que os olhos estão úmidos até que a primeira lágrima escorresse, mas ela não se importa em secá-la. Eram lágrimas de felicidade, satisfação.
Não importava se ela não ganhasse aquele campeonato, poderia tentar, e tentar, e tentar quantas vezes fossem necessárias.
O título?
Ele não era mais uma prova. Ela própria sim era a afirmação de que era uma vencedora, que havia comprovado ser mais do que capaz à si mesma, o que era o mais importante.
Pois ao mesmo tempo se sentia humana, com seu amor, suas fraquezas, suas qualidades e defeitos. Sendo uma ótima pilota e uma ótima mãe ao mesmo tempo.
Ela conseguira.
Não precisava de um título para se sentir vitoriosa, sentir que havia atingido o seu objetivo.
“Cinco segundos”
As luzes no painel se acendem, pegando-a distraída em seus devaneios e ela logo se endireita no seu assento.
Uma a uma elas vão se acendendo.
Quatro, três, dois... Um.
Quando se apagam pensa rapidamente, pode ser que eu esteja plena, mas que mal faria correr atrás daquele título, mesmo assim?
Ela se divertiria.
E foi somente por aquilo que ela pisou fundo no acelerador para rapidamente passar as marchas do carro, com um sorriso radiante nos lábios.
“As luzes se apagam pela última vez esse ano, os motores gritam alto e começa o Grande Prêmio de Abu Dhabi aqui.” – o narrador diz vibrando – “À esquerda Lewis Hamilton, ele consegue manter a sua posição. As duas Ferrari vão tentando ganhar espaço, mas os quatro primeiros colocados mantêm as suas posições.”
“Hamilton, Benedetti, Verstappen, Russell, Sainz e Leclerc, Ricciardo faz uma boa largada, subindo no grid, e perdeu posição para a companheira de equipe, fazendo de Jamie a oitava posição.” – o segundo comentarista narra.
“Todo mundo teve muito cuidado, ninguém arriscou muito misturar tinta nos primeiros metros da corrida.” – o homem diz.
“Tem gente aí que tem muito a perder neste campeonato. A McLaren deve ter feito a mudança dos pilotos pela condição do carro do Norris, o que é uma pena porque gostaríamos e muito de vê-lo nessa briga.”
“Realmente queríamos. Mas vamos aguardar, Yas Marina sempre nos fornece emoções que são tiradas da cartola no último segundo e já estamos ansiosos por isso.”
O circuito árabe era caracterizado por ser muito técnico, os pilotos tinham que manter um foco contínuo mais do que o usual para não cometer erros. Apesar de visualmente propício a ter fáceis ultrapassagens, elas só se concretizam caso os próprios pilotos venham a cometer algum erro em freadas cedo ou tarde demais e curvas mais abertas ou fechadas que o adequado.
- René, me atualiza. – pede após completar a quinta volta com os olhos cravados na traseira da pantera negra.
- “Ele fez a volta mais rápida de novo, 1:45:357. Está cinco milésimos mais rápido.” – o engenheiro transmite pelo rádio. – “Você está há um segundo dele.”.
- No que eu posso melhorar? – ela questiona reduzindo para pegar a próxima curva, colando o carro no da frente e se atentando ao feroz que vinha atrás. Max, praticamente cheirando o seu cangote.
- “Seu tempo de frenagem na curva 11 está coisa de cinco décimos mais retardatário que o dele. E ele sai quatro décimos antes na curva 15.”
- Copiado. – ela responde e faz anotações mentais, aquelas eram informações muito mais valiosas do que aparentavam.
No entanto, ainda assim, quando chega na área onde podia-se usar o DRS para ultrapassá-lo na reta, fica milésimos de segundo atrás e ele tem tempo de sobra para fechá-la antes da próxima curva.
- René, me atualiza. – ela pede novamente, sua mente de caçadora averiguando todas as possibilidades, calculando todos os pontos em que pudesse pressionar para liderar aquela pista. Surpreendentemente mais fria que o esperado, menos afoita e emocional, o que tornava-a uma felina precisa.
- “Ele ainda está com a melhor volta, 1:44:597, mas você não está muito atrás. Fechou com 1:44:675. Está pegando o ritmo.”
- Em quê mas eu preciso melhorar? – questiona.
René cantarola rapidamente enquanto averigua suas estatísticas.
- “A margem de erro de vocês está absurdamente reduzida à dez por cento. São questões de um décimo disso e um décimo daquilo, está sendo indiscutivelmente incrível.”
- Onde, René? – ela insiste e é pega de surpresa ao ter que fechar a tentativa de passagem de Max no meio da curva.
A que vem em seguida a beneficia e ela sai na frente. Porém, ele não fica muito distante.
- René, não posso focar no Hamilton se o Max ficar me ameaçando, pede para o Horner falar com ele. – reclama.
- “O engenheiro do Max acabou de pedir que eles comparassem os desempenhos para fazer troca de posições, já que não está conseguindo passar.” – René informa cético.
- E... – ela pede, franzindo a testa enquanto forçava potência total na reta, mais uma vez ficando pouco atrás de Hamilton para conseguir uma ultrapassagem.
- “Max fez 1:45:101 na última curva. Horner vetou. Max está puto.” – o engenheiro diz com a voz fanha, claramente controlando risos.
sorri.
- Desculpe Max. – ela fala, apesar de saber que ele não ouviria de imediato. Em seguida pronúncia fora do rádio – Parece que a galinha dos ovos de ouro da RBR tem outro nome agora. – e ri sozinha.
- “Vamos com tudo, você reduziu mais dois milésimos do tempo de volta.” – René informa e ela volta ao foco completo.
Passadas mais 20 voltas, grunha ao rádio depois de, mais uma vez, não conseguir ultrapassar o líder à sua frente: - René, o que mais eu posso fazer, cara? Estou dando tudo aqui!
- “O motor dele é pouco mais potente, .” – ele diz suspirando em frustração, como a sua pilota – “Você marcou 1:42:569, dois décimos de segundo atrás dele!”
- Eu teria mais velocidade com pista livre, passando ele eu reduziria isso muito mais. – ela diz, para respirar fundo em seguida. Clareando as ideias. – O que tem para mim? Meus pneus não estão tão ruins, mas a aderência está indo para o saco.
- “Você está fazendo milagre aí! São 22 voltas em pneus médios de gama macia, a aderência não está ruim, não. Me diga, como eles realmente estão?” – René questiona.
passa os olhos rapidamente pelos dois, pouco distraindo-se da curva que vinha a seguir. E apesar de ver bolhas no seu dianteiro direito e o esquerdo estar cedendo em partes, fala: - Não tão lastimáveis.
A questão era que tudo o que estava envolto ali era um jogo. Não só as estatísticas de se melhorar na pista, as ultrapassagens, as estratégias ou a corrida em si. Mas sim o jogo mental, que se fazia por deveras impactante.
Uma vez que os rádios eram livres para todas as construtoras, os envolvidos, piloto e engenheiro, tinham que passar mensagens codificadas a modo de não revelar as suas reais intenções.
O não na frente de qualquer frase entre e René queria dizer o oposto. Então, sim, os pneus dela estavam lastimáveis e a aderência estava péssima.
- “Tudo bem.” – René respira fundo – “Lewis reclamou dos pneus há uma volta atrás.”
- E ainda assim fez a volta mais rápida. – ela rebate sem responder no rádio.
Lewis era um ótimo jogador no jogo mental.
Por diversas vezes faziam outros pilotos acreditarem que ele estava nas piores quando ele estava com milésimos de vantagem.
Minha chance é no undercut, ela pensa ao mesmo tempo em que René informa: - “Plano B. Estamos mudando a estratégia para o plano B.”
Bingo. Nunca suas mentes haviam pensado tão iguais e em exatidão.
- “Quantas voltas?” – René a questiona.
- Não me tirem antes de 8. – ela precisava ser tirada na sétima.
- “Copiado. Está à 6 milésimos, DRS logo a frente.” – René informa, mas ela sabia que era apenas uma distração.
Sete voltas depois e com a mesma concentração que o começo da corrida, René a chama: - “Box, box.”
pega a saída ainda em tempo e se encaminha para a entrada da pitlane.
Era o momento. Eles precisavam fazer um tempo ótimo na parada para que sua estratégia desse certo.
para e em menos de um 1,93 segundos ela está liberada para voltar à pista de pneus duros, estes que poderiam durar até o final da corrida se ela os administrasse bem.
A pilota pega a saída, e acaba voltando uma posição atrás. Max assumira a segunda posição.
- René. – o chama.
- “Não estão querendo liberar a troca.”
- Merda! – ela grunha fora do rádio. – Quanto tempo até ele?
- “Cinco milésimos, próxima reta liberado o DRS.”
- Pode ter certeza de que está.
Chegando na reta consegue parear o carro com o do companheiro, Max tenta jogar para o lado, mas a curva sai em benefício de .
Porém na curva que vem na sequência, Max corta por fora e quase eles tocam pneus. Se Lize não tivesse reduzido eles teriam se chocado.
Não seria a primeira vez, claro.
- Que merda ele pensa que está fazendo? – grita no rádio. – Quase fui para fora da pista!
- “Quatro milésimos de distância. Max já fez o pit stop.”
- Caralho! – ela fala em português e pensa em frustração: vamos perder o undercut.
- “Não temos outra opção, não podemos pressioná-lo.” – René diz, atenuando as últimas palavras e ela entende na hora.
- OK. – pronuncia sorrindo.
Nas duas próximas voltas inteiras passa com a dianteira colada na traseira de Max, ela sabia como estar tão próximo e mesmo assim manter a sua margem de erro baixa. O que não era o caso do rapaz, que por mais maduro que fosse, tinha os ânimos exaltados e incontroláveis quando irritado.
Não demorou muito para que ele cometesse um erro e freasse cedo demais em uma curva, que soube aproveitar jogando para o lado e o ultrapassou sem dificuldades.
- “Isso! P2, !” – René salda.
Mas para ela ainda não era comemoração.
Não até que ela alcançasse a pantera negra que tanto a desafiava.
Ele estava consideravelmente a frente, quase vinte e quatro segundos de diferença, devido ao embate com Max tê-los retardado.
Contudo, René a entusiasma com a notícia: - “Lewis entrou nos boxes.”
É a hora, ela pensa animada.
acelera, tirando tudo o que o carro podia oferecê-la.
Ela precisava chegar antes que ele saísse dos boxes. Ela precisava alcançá-lo.
O tempo médio que se perdia percorrendo a pitlane era de 20, mas ela precisava reduzi-lo.
Quando desponta no começo da reta de largada está na liderança, porventura, sem possibilidades de usar o DRS.
Merda, ela pensa, não vou conseguir.
Porém, ela logo avista um retardatário.
- “DRS disponível, . Pisa fundo, garota.” – René a informa com emoção na voz.
ultrapassa o retardatário e faz a curva seguinte.
Quando desponta a saída da curva vê o carro de Hamilton próximo a saída dos boxes.
acelera, e seu coração imita o velocímetro de seu volante ao aumentar as batidas.
O homem ainda tinha que respeitar a velocidade da pista, mas estava poucos metros à sua frente.
Tudo começou a correr em câmera lenta.
À medida que os carros se aproximavam, mais noção de espaço ela ficava.
Eles se aproximam, mais e mais e mais.
Ela não queria saber, não reduziria. Não daria preferência.
Não perderia posição.
sente vontade de apertar os olhos, estes receosos pelo tempo apertado.
Mas, ainda assim, permanecem abertos e testemunham seu próprio carro passar e ficar na primeira posição.
- “VOCÊ ESTÁ EM P1, CARALHO!” – René esbraveja no rádio. – “ESTÁ COM A PORRA DA LIDERANÇA DO CAMPEONATO, BENEDETTI!”
Ela ri contente. Contente não, radiante.
- “PUTA QUE O PARIU!” – Ela escuta o engenheiro respirar fundo, tomando fôlego – “P1!”
Ela sorri, mas fala: - René, a corrida ainda não acabou. Me dê as estatísticas.
- “Tá legal.” – ele diz, mais controlado, apesar de ainda sorridente. – “Tem pista livre, segue a mesma dinâmica das últimas voltas. Vamos também ganhar o ponto de volta mais rápida.”
- Porque não me contento com o mínimo.
Dito isso acelera ainda mais.
A cada volta reduzindo mais e mais milésimos.
Até que chegou a 1:40:101.
Na última volta.
“VOCÊ GANHOU!” – René esbraveja enlouquecido, tomado pela felicidade. – “O CAMPEONATO, A CORRIDA… É CAMPEÃ MUNDIAL!”
para por um instante, as mãos terminando de conduzir o carro em automático.
Ela absorve o significado daquelas palavras.
“, meus parabéns. Que corrida!” – a voz de Horner surge no rádio – “Que corrida! Muito merecido. O título de campeã é todo seu, aproveite!”.
Muitas outras palavras de parabenizarão tomam o rádio de forma ensurdecedora. Gritos, celebrações e comemorações.
No entanto tudo está abafado pela grande reflexão silenciosa da pilota.
Sem ao menos perceber ela está se debulhando em lágrimas. Soluços e mais lágrimas.
Uma luz se acende no seu painel, o motor estava perdendo força. De tão extremo que tinha alcançado, estava fadigado.
Sem antecedências ou aviso, o carro para. o direciona para a lateral da pista.
Fogos de artifícios estão espalhados pelo céu e iluminavam o circuito ainda mais, as cores estavam fabulosas, tornando ainda mais alegre aquele momento.
Ela sorri em meio ao choro e finalmente se pronuncia pelo rádio ainda ligado.
Como campeã mundial de Fórmula 1.
- Eu só tenho a agradecer, rapazes. – ela soluça – Somente a agradecer a todos os envolvidos nisso. Pessoal da fábrica, pessoal da mecânica, equipe estratégica, assessoria, marketing, almoxarifado, engenharia… Vocês foram incríveis e merecem este título tanto quanto eu. – ri alegre – Muito, muito, muito obrigada aos envolvidos. Aos que me ajudaram dentro e fora das pistas. Meus amigos, minha família, meu amor e meu bebê. Eles me fizeram amadurecer como ninguém. Hoje sou mulher. Mulher e campeã mundial de Fórmula 1, PUTA QUE O PARIU! – esbraveja radiante.
- “Pois então, venha desfrutar…Campeã.” – René diz.
desconecta o volante do painel, o tubo de água do capacete, os cintos de seu corpo e se levanta, ovacionada pelo público ao seu redor, que a assistiam vibrando enlouquecidamente.
Ela pousa o volante na dianteira do carro e salta para fora do cockpit.
Os fãs se aproximam até as limitações da arquibancada.
Gritando pelo seu nome.
O seu nome.
“Benedetti, Benedetti, Benedetti!” Ritmado. Como música para os seus ouvidos.
Ela ergue as mãos em sua direção e eles deliram.
se vira para o carro e o vê.
Gasto, com os pneus em bolhas e alguns arranhões no assoalho.
Ela precisava agradecer, fora o seu mais fiel companheiro naquele ano.
E é por isso que reverência-se para o carro.
O público grita emocionado.
Em seguida vai pelas áreas de escape na direção dos boxes, não faltava muito para chegar.
Ela corre. A melhor caminhada da sua vida.
Celebrada por cada um e todos por quem passava, cada arquibancada tremendo em vibrações. Eles não se aguentavam, muito menos.
Ela chega ofegante nas placas de classificação, pela corrida, pelo choro, pela felicidade que não cabia dentro de si.
Lewis é o primeiro a se aproximar.
- Ótima pilotagem, ! – ele diz com a voz abafada pelo capacete – Foi muito bom! – dito isso faz um sinal de reverência e ela sente os olhos marejarem ainda mais. – Você me inspira.
- Obrigada, Lew!
Assim que ele se afasta Max se aproxima.
- Você gosta de fazer jogo duro. – ele diz sorrindo – Muito bom! Foi uma honra disputar essa corrida.
- Seu cretino! – ela ri enquanto se abraçam. – Obrigada, foi ótimo!
Assim que se afastam, é chamada pela equipe e corre para se jogar neles.
O mar de mãos a segura enquanto gritam emocionados. Ela leva tapas no capacete, mas não liga nem um pouco.
Gritos e mais gritos ensurdecem os seus ouvidos. Ela mesma estava aos gritos, não podia e nem devia se conter. Era o seu momento.
As sensações não podiam ser limitadas a ser descritas em palavras de tão abrangentes que eram.
Alívio era uma delas.
Porque apesar do discurso de que ela já se bastava, ganhar o campeonato era sim sensacional.
Quando finalmente se afasta da equipe sente algo cutucar seu ombro e quando se vira desata a chorar ainda mais.
Ali estava carregando seu pequeno RJ no colo.
Os dois completamente sorridentes em sua direção.
Ela se aproxima dos dois e os rodeia com os braços, completamente exposta e emocionada.
Nada nunca havia a impactado tanto.
Também, nada mais era tão importante naquele mundo do que o sorriso daqueles dois indivíduos.
Os seus homens.
Sua família.
Os demais pilotos se aproximam. , com o seu sorriso de orgulho, Danny, Mick juntam-se ao abraço, em tempo de Fábio, Sandy, Marcos e os outros membros da família também terem a oportunidade de invadir a pitlane, para cercá-la com amor.
Era muito amor envolvido.
E é assim que se dá conta do quanto havia amadurecido.
Do quando havia crescido.
Do quanto era mulher.
E campeã de Fórmula 1.
“Saímos pelo mundo em busca de nossos sonhos e ideais. Muitas vezes colocamos nos lugares inacessíveis o que está ao alcance das mãos.” [COELHO, 2017]
GLOSSÁRIO
Sistema de Redução de Arrasto ou DRS (Drag Reduction System, em inglês) é uma tecnologia automobilística cuja finalidade é reduzir o efeito do arrasto aerodinâmico e permitir ultrapassagens na Fórmula 1.
Undercut - O undercut é uma estratégia da F1 em que um piloto vai para o pit stop para colocar pneus novos com o objetivo de ultrapassar o carro à sua frente, tendo como base a melhoria no tempo da sua volta versus o tempo da volta do adversário.
Nota da autora: Sem nota.
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Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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