Última atualização: 27/10/2017

Capítulo 1 - Roomates

Depois de seis horas de voo de Nova York à Califórnia e mais uma de trânsito, finalmente e chegaram ao prédio que seria seu novo lar nos próximos meses. O taxista tirou as malas do carro e se despediu educadamente dos dois, que entraram e só se deram o trabalho de acenar para o porteiro. Já estava tudo certo há algumas semanas.
Os dois entraram no elevador. apertou o botão “10” e só ao ver as portas se fecharem, falou:

– Acho que finalmente vai realizar seu sonho de morar comigo, rommie.
– Nós não moraremos juntos, ! – disse entredentes. – Seremos vizinhos...
– ...Que terão um quarto secreto interligando os dois apartamentos. – Ele completou com um sorriso sarcástico nos lábios. – Acho que isso nos classifica como colegas de quarto.

revirou os olhos. Já estava cansada de discutir com seu colega de trabalho que parecia ter o dom natural de lhe irritar.
As portas do elevador finalmente se abrem e eles seguem pelo corredor até as portas 1022 e 1023.

– E aí, em qual você quer ficar? – pergunta segurando as duas chaves.
– O vinte e três.
– Ótimo, então está aqui o mil duzentos e vinte e dois para você.

estreitou os olhos e pegou a chave que ele lhe oferecera sem a menor delicadeza, então foi para seu apartamento, batendo a porta com força ao entrar. Sete horas até chegar ali. Sete horas com sugerindo que sua colega aproveitasse o clima quente da Califórnia para voltar com marquinhas para Nova York.
Ela acendeu as luzes do apartamento. À sua esquerda, uma mesa de quatro lugares, ao lado da cozinha americana. Em frente estava o painel da TV sobre um rack no mesmo tom de madeira clara e ao lado um espelho que ia do teto ao chão. No outro canto da sala um sofá cinza em forma de L, ao lado de uma porta que dava à suíte, para onde foi já desejando um banho.

***
se jogou na cama soltando involuntariamente um gemido baixo entre os lábios. Uma viagem longa demais e que só marcava o início do que tinham para fazer.
Depois de tomar banho e arrumar – ou jogar de qualquer jeito – suas coisas dentro do guarda-roupa, se obrigou a levantar e olhar o quadro esquisito de dois metros de altura que escondia a porta até a sala secreta que juntava seu apartamento ao da agente . Depois de algumas tentativas falhas no controle remoto da TV, finalmente ele acertou a senha e o painel deslizou para a esquerda, dando acesso à sala.
O cômodo era todo fechado e sua única iluminação eram duas lâmpadas fluorescentes. A parede sul estava completamente tampada por uma estante que continha documentos e informações sobre as tais gangues, além de outras coisas que os agentes pudessem precisar como coldres, munição, pistolas extras, mapas da cidade, nomes que possam ajudar, entre outros. Já na parede norte, havia um quadro com algumas fotos e linhas para fazerem um mapa de ligação entre os membros das gangues, com tudo o que fora coletado até o momento.
No centro da sala havia uma mesa de madeira negra com duas poltronas pretas ao lado, sobre ela estavam dois notebooks, dois envelopes, cada um com o nome de um agente, alguns pen drives e outros aparelhos que não teve tempo de averiguar, pois a porta da parede em frente se abriu.

– Gostando do novo lar? – perguntou ao entrar.
– Já estive em lugares piores.
– Nos pubs que costuma frequentar em busca de prostitutas? – Ela disse, aproveitando a deixa para implicar, mas antes de receber uma resposta, mudou de assunto. – Já olhou isso? – Apontou para os envelopes.

ergueu uma sobrancelha, mas deixou passar o comentário anterior.

– Ainda não, mas suponho que sejam nossos documentos. Damas, primeiro.

pegou o envelope com seu nome e entregou o outro ao parceiro, então se sentou em uma das poltronas para abrir.

Denver... Uau, que original.
– Dê um tempo aos caras, eles tiveram todo um trabalho para encontrar um nome que não pudesse estar ligado a nada que levante suspeita. – abriu seu envelope e leu seu novo nome. – Knight.
– Deveríamos dar mais uma revisada nos arquivos.

concordou.

– E então nos tornar oficialmente Knight, o vizinho misterioso e irresistível, e Denver, a garota louca pelo vizinho.
– Ou podemos ser Denver e Knight, vizinhos que nunca se veem e que nem sabem da existência um do outro. – Ela sorriu ironicamente.
– E qual seria a graça? – se sentou, relaxadamente, sorrindo com malícia para ela.
– A graça seria eu não ter que ver sua péssima atuação diante de outros vizinhos.
Outch!

sorriu e pegou alguns arquivos guardados na prateleira, então jogou sobre a mesa. Só havia a história geral sobre o que acontecia por ali, os policiais locais não deram muita informação, levantando a suspeita de que eram pagos para manter o silêncio, e tudo o que tinham eram fotos de supostos revendedores de drogas. Nada que pudesse ligar o tráfico aos poderosos da cidade.

– Acho que devemos começar com o óbvio, por onde tudo começou. – falou.
– Não que a gente tenha muita coisa, né? Mas vamos.

O’Village foi fundada em 1850 por duas famílias muito importantes da época: os Walker e os Collins. Por um século as duas famílias governaram em parceria, até começarem os desentendimentos, a partir da década de 70, quando a droga se tornou grande fonte de lucro na cidade. Desde então as duas famílias vêm lutado pelo poder e controle da cidade. Ainda não se sabe como a droga entra e sai e nem há provas da ligação das duas famílias com ela, apesar da divisão de bairros criada pelos Walker e Collins, que nenhum morador tem coragem de denunciar.
De tempos em tempos há relatos não-oficiais de corridas combinadas nas ruas, com carros preparados especialmente para isso, no que seria uma espécie de festa. Não se sabe a frequência nem o organizador.
Ficha da família Walker:
Joseph Walker, 63 anos. Empresário do ramo de metais. Casado com May Walker.
Filhos: Simon Walker, 32 anos, diretor da sede da empresa em O’Village; e Walker, 28 anos, ocupação desconhecida.
Ficha da família Collins:
Benjamin Collins, 65 anos. Empresário no ramo da engenharia. Viúvo.
Filhos: Natasha Collins, 30 anos, designer de interiores, localização atual: Madrid, Espanha; e Benjamin Collins II, 27 anos, ocupação desconhecida.

– Acho que vamos ficar mais tempo do que o esperado por aqui. – suspira. – Pouca informação, nenhuma ligação... Esses caras estão praticamente limpos.
– Você fala como se não gostasse. Se fosse fácil, você nem estaria aqui e sabe disso. Gosta da adrenalina, do perigo, de missões cada vez mais e mais intrigantes... Aposto que era até a primeira a entrar nas cavernas nos tempos de escoteira.
– E eu aposto que você era o último.

riu com desdém.

– Tá vendo isso aqui? – puxou a gola da camisa, mostrando uma cicatriz de aproximadamente quatro centímetros na clavícula esquerda. – Cortei em um tronco de árvore salvando minha priminha de um afogamento durante as férias de verão do quarto ano.

levantou a mão direita e tirou o anel que usava no dedo mindinho, deixando a mostra um risco leve que o circulava.

– Quase perco o dedo em uma escalada de caça a bandeira. Fui a única a chegar lá e consegui trazê-la de volta... Em toda a história. – sorriu delicadamente. – Segundo ano.

sorriu maliciosamente e se inclinou sobre a mesa.

– Talvez esteja interessada sobre as histórias de algumas cicatrizes de lugares mais... íntimos. Mas acho que seria mais adequado em um lugar um pouco mais reservado. – Ele disse com a voz baixa e rouca.

ergueu uma sobrancelha e também se inclinou, diminuindo a distância entre os dois.

– Guarde-as para você, . Ou para alguém que tenha interesse. – Então levantou e saiu, levando seu envelope com o resto das informações sobre sua nova vida.

riu e esperou que a porta se fechasse para voltar a seu apartamento. Ele e tinham uma relação de gato e rato desde que começaram a trabalhar como parceiros, há dois anos, mas se conheceram mesmo na academia, onde os dois tinham uma competição pessoal que ele nem sequer lembrava como começara. Eles entraram juntos para a FBI depois de um ano e meio de treinamento, e tiveram algumas missões importantes, mas essa seria a primeira que ambos teriam que se infiltrar entre os bandidos para coletar informações.
Devido a grande influência das famílias fundadoras na cidade, apenas os dois agentes estavam ali. Todas as informações que conseguissem devem ser enviadas em relatórios, com a maior frequência possível, por e-mails criptografados. Sua primeira parte da missão era simples, conseguir entrar de alguma forma em algum núcleo próximo às famílias. pegou seu celular e revisou sua agenda, ou melhor, a agenda de Knight. O evento mais próximo estava marcado como muito importante:

Terça-feira: Entrevista na Collins Engenharia, às 7h.


Capítulo 2 - Mãos à Obra

Uma última ajeitada no cabelo em frente à porta de vidro, e então entrou. estava pronto para sua entrevista na Collins Engenharia, a companhia de uma das famílias fundadoras de O’Village. Era o terceiro dia de entrevista e, como ele esperava, estava se saindo muito bem, assim como os outros quatro concorrentes.
Não era de sua índole sabotar os outros para conseguir algo que queria, mas nesse caso, não poderia se dar o luxo de perder aquele cargo, então deu o jeito em dois de seus concorrentes colocando laxante de efeito imediato no café servido a eles.
Nessa terceira fase teriam que fazer as tarefas que fariam como contratados, mexendo com alguns números da logística. Mais uma oportunidade de trapaça descarada. Ao fim do dia, apenas ele tinha feito tudo como fora ordenado e seus resultados foram perfeitos. É claro, conseguiu o emprego.

– O senhor Collins não admite erros – a chefe do R.H. falou repetidas vezes, mas mantinha seu sorriso confiante no rosto, enrubescendo a mulher. – Você começa amanhã. Esteja aqui às oito horas e seu turno termina às dezoito horas. Cada segundo a mais conta como hora extra, mas isso é algo que raramente é necessário.
– Não se preocupe, não me importo em trabalhar. Agradeço pela oportunidade e saiba que farei tudo perfeitamente, pode ter certeza. Ah, foi um prazer conhecê-lo, senhora Roberts – depositou um beijo nas costas da mão da mulher, fazendo corá-la ainda mais. Ele costumava ter esse efeito sobre as mulheres, mesmo sem se esforçar para isso.

estava na porta da empresa, pronto para pegar um táxi, quando pensou melhor e decidiu “sou um morador de O’Village, melhor interagir com meus conterrâneos”, então, afrouxando a gravata, foi em direção ao bar mais próximo.

***

O Shelby Mustang GT500 ano 1967 preto, ano 1965, estacionou em uma rua estreita, pouco movimentada. Do outro lado da rua, em uma garagem com portão aberto, um careca de barba longa mexia em um motor, suspenso sob o capô aberto de um Austin-Healey 3000 vermelho, ano 1960. saiu de seu carro e observou o barbudo por um minuto.

– Eu não faria isso se fosse você – ela disse finalmente, antes que o homem desparafusasse uma parte do lado direito do motor. – Tire isso aí e você não vai conseguir repor o óleo que sairá. Dependendo do dano, estará perdido.

O homem a encarou com cara de poucos amigos.
– E o que uma mulher saberia sobre isso?
– Pelo visto mais do que você, Roll-On – ela provocou.

O cara deu um passo na direção dela, mas parou e deu um sorriso arrogante, então continuou a desparafusar. Não precisou de mais três voltas antes de um óleo negro começar a jorrar furiosamente, sujando a roupa já não muito limpa do barbudo.

– Mas que droga, Crash! – Alguém gritou vindo de dentro da garagem. – Ahhh, o vai ficar puto quando vir isso.

O dono da voz era também era um careca, mas aí se encerram as semelhanças com o brutamonte. Sua pele tinha cor de chocolate, sua barba era bem feita e seu rosto tinha traços bonitos.

– Que merda, Crash. O que você estava fazendo?
– Eu o avisei. – falou debochada, ouvindo o rosnar do primeiro em resposta.

Finalmente o recém-chegado a notou e franziu a testa.

– E você, quem é?

atravessou a rua estreita e se aproximou dos dois, com um sorriso desinteressado no rosto.

– Alguém que quando viu seu amigo aí mexendo em um motor, pensou que ele saberia sobre as oficinas da região. – Ela deu de ombros.

As sobrancelhas dele se uniram.

– E para que você queria saber? – Ele lançou um olhar para o Mustang estacionado do outro lado da rua, fazendo-a soltar uma risada.
– Sou nova na cidade, estou procurando um emprego.
– Em uma oficina? – O barbudo, Crash, debochou. – Pretende limpar a graxa do chão, gracinha?
– Não... Pretendo tirar motores de valor como esse – Ela apontou para a peça suspensa. – das mãos de imbecis como você e fazê-los funcionar da melhor forma para bebezinhos como esse. – Ela apontou para o carro vermelho.
– E você quer que eu acredite que você sabe algo sobre carros?
– Eu te avisei sobre o vazamento, não avisei? Você está falando com uma engenheira mecânica formada. Nascida e criada debaixo de motores de carros que você não poderia ter nem em seus pobres sonhos. Além do mais, eu sei arrumar esse motor sem fazer a cagada que você fez.

Crash estava pronto para rebater, mas foi interrompido pela risada do recém-chegado.

– Gostei de você. Sou Travis McCoy. – Ele se apresentou e estendeu a mão, que ela prontamente apertou.
Denver.
– Então, Denver. Se é tão boa como diz ser, o que faz aqui em O’Village procurando uma oficina, invés de estar trabalhando com uma montadora?
– Eu já trabalhei, mas muito trabalho teórico significa pouca mão na massa. Senti saudade de fazer algo com minhas próprias mãos.
– Interessante... Então digamos que eu sou uma espécie de gerente em uma espécie de oficina daqui. O que você teria para oferecer de diferente dos outros que procuram uma vaga lá?
– Digamos que sou muito boa em projetar soluções para os mais diversos modelos de carro... Posso dar um up em qualquer máquina que você quiser, só preciso dos recursos certos. Posso lhe dar uma amostra grátis, se preferir. – Ela apontou com a cabeça para o motor.
– Não vejo porque não tentar. Vamos ver se você consegue dar um jeitinho nesse aqui até as... dezoito horas, e aí vejo o que faço com você.

sorriu e assentiu.

– Vou chamar alguém para te auxiliar por aqui e mais tarde venho ver o resultado. E quanto a você – Travis olhou sério para o Crash –, vamos ter uma conversinha ali dentro.

Ver a cara do barbudo ao seguir Travis quase fez rir, mas se conseguisse o trabalho, não seria bom criar inimizades logo de cara.

Ela tirou sua jaqueta e atravessou a rua para deixa-la no carro. Ao voltar, já encontrou um garoto que parecia ter por volta de 14 anos, pele caucasiana bronzeada pelo sol e cabelos castanhos presos em tranças pela cabeça.

– Você deve ser Denver – ele disse sorridente. – Pode me chamar de M.J. Serei seu ajudante por um dia.

sorriu de volta e apertou a mão do garoto.

– Prazer em conhecê-lo, M.J. Desculpa perguntar assim, mas qual seu nível de conhecimento sobre peças e ferramentas?
– Altíssimo, madame! De carro, eu sei tudo.
– Mas não parece ter idade para dirigir.

Ele riu, fazendo-a rir também.
Ainda não... Mas isso nunca me impediu.
– Muito bem então, parceiro. Vamos dar um trato nesse bebezinho.

Enquanto trabalhavam, M.J. contou um pouco sobre sua história. Sua mãe era mexicana e vivia ilegalmente nos Estados Unidos, então o senhor Walker deu um trabalho para ela e ajudou para que ela pudesse se legalizar no país. Quando descobriu que estava grávida, ele cuidou de tudo para que o bebê nascesse com saúde e nunca a desamparou. Ele foi criado na casa de empregados da mansão Walker, mas sempre teve total liberdade para percorrer todos os cantos da residência, foi assim que entrou na garagem e se interessou por carros. Não demorou muito para se tornar parceiro de , o Walker mais novo, em sua oficina.

– As pessoas têm certo medo deles, sabe? – M.J. falou observando as mãos de trabalhar no motor. – Sabem que eles são poderosos e que o que falam é lei por aqui, mas também são muito gratas porque podem andar pelas ruas tranquilamente sem medo de serem assaltados, como em uma cidade de interior, porém, com todos os benefícios de uma cidade grande. Não sei se existem outros lugares assim na América.
– Aqui sempre foi tranquilo assim?
– Desde que me entendo por gente, sim... Bem, houve um “período das trevas” – Ele fez aspas com o dedo. – quando as duas famílias começaram a disputar. Não se fala muito sobre isso atualmente, você sabe.
– O que houve nesse período?

M.J. olhou ao redor, como se para ter certeza de que estavam sozinhos.

– As duas famílias começaram a brigar pelo controle da cidade, uma acusava a outra de roubar os lucros de algo. As duas famílias se separaram e começaram os ataques a estabelecimentos de protegidos ou que pertenciam às famílias. É claro que uma família culpou à outra, mas também tem boatos de que alguém de fora estava armando a briga entre elas. Você sabe, “separar para conquistar”.
– Seria uma jogada inteligente. Algum suspeito?

M.J. riu.

– Vários! As cidades vizinhas têm poderosos que invejam o poder e controle dos Walker e dos Collins, mas não são capazes de fazer com suas cidades o que eles já fizeram aqui, então querem roubar o império já construído. As famílias podem não estar em seu melhor momento de paz, mas jamais deixaria qualquer outro por os pés aqui. Eles ainda têm essa ligação, de qualquer forma, o que não impede que tenham seus próprios interesses na cidade, mas os inimigos sabem que tentar lutar contra os dois é assinar a própria derrota. Eles são muito influentes.
– Uau... Cheguei a uma cidade do velho oeste e nem sabia.

Os dois riram.

– O’Village é uma cidade muito interessante – M.J. continuou –, cheia de histórias e mistérios do topo dos arranha-céus ao mais profundo túnel do subsolo. Quanto mais tempo você passar aqui, mais vai sentir uma ligação com essa cidade. Posso jurar que ela realmente é mágica como contam as histórias de ninar daqui.
– Um belo lugar para nascer, uh?
– Você nem faz ideia.

e M.J. tomavam um refrigerante, sentados em um banco no canto da garagem, quando Travis chegou. Já era bem mais que 18h, mas não podia dizer com certeza, pois nem vira o tempo passar.

– Vejo que vocês se deram bem. – Travis disse ao vê-los.
– A é muito legal. Se depender de mim, ela já está contratada.
– Veremos.

Travis entrou no carro e deu partida. O motor roncou suavemente, respondendo de imediato. Ele acelerou e saiu com o carro para fazer seu teste. Alguns minutos depois ele estava de volta e saiu com uma expressão engraçada no rosto.

– Bom trabalho, garota. Está bem melhor do que antes.
– Tomei a liberdade de fazer uns pequenos ajustes. – disse se pondo de pé. – E então? Contratada?

Travis sorriu e a entregou um cartão.

– Vá amanhã nesse endereço depois do almoço. Tenho um trabalho pra você. Estará sendo supervisionada pelo patrão então, se conseguir impressioná-lo, se considere empregada.
– Beleza – ela disse empolgada.
– Se depender de mim, terá uma boa recomendação.
– Então serão duas boas recomendações – M.J. se animou. – Vou adorar ter uma parceira de trabalho como você.
– Valeu, gente! Fico feliz em agradar fazendo o que gosto. Bem, nos vemos amanhã então.
– Até lá – Travis disse.
– Tchau, !

sorriu e acenou em despedida, antes de entrar em seu carro e sair. Ia dar certo, ela estava sentindo.

***

A porta abriu e observou entrar, com um sorrisinho escapando nos lábios.

– Isso são horas, mocinha?

Por instinto, a mulher puxou a pistola escondida sob a blusa e apontou para um todo jogado em seu sofá.

– O que pensa que está fazendo aqui, ? – Ela disse guardando a arma novamente.

Ele levantou e se aproximou dela.

– Estava procurando cerveja, mas você só tem água na geladeira. – Ele a olhou dos pés à cabeça. – Você precisa de um banho.

Ela deu um passo à frente, diminuindo o espaço entre eles, e aproximou o nariz de sua boca, inspirando rapidamente duas vezes.

– Pelo visto, não sou a única. Encontrou o bar rapidinho, hein?

sorriu debochado.

– Sabe como é, socializar e tal. Quem melhor para falar do que bêbados?
– É quinta-feira, podia pelo menos esperar para beber amanhã.

Ela se afastou dele para pegar uma água na geladeira.

– Algum progresso?
– Começo a trabalhar amanhã na logística da Collins Engenharia e acho que a chefe do R.H. tem uma quedinha por mim... Bom, nada de novo nessa parte. Mas e você?
– O lugar que a fonte nos passou estava certinho. Fui bem no teste de hoje e consegui impressionar o cara que parece ter contato com os Walker. Também conheci um garoto com acesso à mansão e que gosta bastante de contar histórias. Amanhã serei supervisionada pelo “patrão”, imagino que seja alguém da família, então se ele gostar, eu estou dentro.
– Não se esqueça de usar uma roupa curta.

riu com desdém.

– Não sou como você, querido. Não preciso flertar para impressionar ninguém – ela se aproximou novamente dele. – Meu talento é natural.
– Então o que acha de deixar isso mais interessante?
– O que sugere?
– O primeiro que conseguir alguma prova da ligação das famílias com qualquer atividade ilícita, escolhe o lugar onde o outro vai pagar a conta.
– Qualquer lugar?
– Qualquer lugar – ele confirmou.

ergueu uma sobrancelha e estendeu a mão.

– Fechado.

Um aperto de mão fechou a aposta.

– Agora vai tomar banho antes que o seu cheiro de álcool impregne no meu apartamento.
– Podia vir comigo, está precisando mais do que eu.
– Boa noite, !

riu e tocou dois dedos na testa, depois os afastou, um aceno de despedida antes de partir pela porta.



Capítulo 3 - Contratados

passou o dia analisando dados antigos da logística para se habituar ao trabalho. Tudo muito bem categorizado e nada fora do comum. É só o primeiro dia, é claro que você não iria encontrar algo agora, pensou. Até gostava de ficar com a parte burocrática, mas invejava . Queria estar infiltrado em campo, mas ao analisarem as duas famílias, foi óbvio que ela e sua habilidade com carros se encaixariam melhor nos Walker.
Ele respirou fundo e soltou um longo suspiro. Sua salinha tinha uma boa vista, mas era muito pequena e o entediava, teria que fazer algo ali no futuro. Tentou continuar vendo os documentos antigos, mas aquilo estava chato demais.

– Quer saber? Que se dane, vou começar isso logo.

Ele procurou pelas pastas nomeadas como “atrasadas” e seguindo os padrões que viu, começou a categorizar e procurar erros, consertando-os quando necessário. Ele estava tão distraído que se assustou quando bateram na porta.

– Pode entrar – ele falou mais alto.

A porta abriu e uma moça loira entrou.

– Oi, sou Elizabeth Morgan, a contadora da sala no fim do corredor – ela riu sem jeito. – Você é o novato, né?

se levantou e deu a volta na mesa, se pondo na frente da loira.

– Eu mesmo, Knight. – Ele sorriu.

Eles trocaram um aperto de mão e a moça enrubesceu um pouco.

– Bem, eu imagino que você não conheça muita gente por aqui, então vim te convidar para um almoço de boas vindas. Por minha conta.

se surpreendeu e sorriu, dando uma olhada no relógio. Como assim já eram 13h?

– Uau, eu nem vi o tempo passar. Seria falta de educação minha recusar a um convite tão legal. Depois de você, Elizabeth.
– Pode me chamar de Lizzie.
– Como preferir.

Os dois se entreolharam e saíram da sala. O restaurante era a uma quadra dali, então eles foram a pé. descobriu que a loira era de Dallas, Texas, mas havia se mudado ainda pequena quando sua mãe se divorciou e a levou para O’Village. Sua irmã mais velha ficara com o pai. Ela começou a dizer o quanto gostava da cidade e contou de alguns “pontos quentes” da cidade.

– Tem uma boate aqui que é maravilhosa – ela continuou –, se chama O’Lust. Dica para novatos: todo estabelecimento que tiver “O’” no nome, significa que foi fundado junto com a cidade.
– Sério? – riu.
– Seríssimo. Com o tempo você vai encontrar alguns por aí. Inclusive... – ela apontou para cima.

seguiu seu olhar e encontrou um letreiro verde sobre portas rústicas de madeira na parede de tijolos vermelhos.

– O’Joe – leu tentando não rir. – Criativo.
– Pode rir, mas não faz isso muito alto. O nome é em homenagem a Joseph Walker – ela disse, olhando o letreiro.
– Ué, mas você não disse que quando tem “O’” é tão antigo quanto à cidade?
– E é! O Joseph homenageado não é o atual patriarca dos Walker, e sim o primeiro, o fundador. Inclusive o nome do atual é em homenagem a ele também.
– Do jeito que as coisas parecem ser aqui, daqui a pouco vejo Don Corleone escoltado por seus capangas.

tentou fazer uma imitação do personagem de Poderoso Chefão, fazendo Lizzie gargalhar alto.

– Você não existe, .

Eles entraram e escolheram uma mesa próxima a janela. Um garçom se aproximou e entregou um cardápio para cada.

– Mas é sério – disse. – Mal cheguei à cidade e já ouvi tanto sobre as famílias fundadoras e seu legado.
– É que os moradores daqui respeitam a história das famílias. Eles construíram essa cidade e a administraram como nenhuma outra. Aqui temos qualidade de vida, segurança, boa educação...
– Quase uma cidade utópica.
– Exatamente.
– Como os prefeitos conseguem deixar tudo assim, na mão deles?
– Só se candidata quem tem a aprovação das famílias. A importância delas na cidade é tanta que nada acontece sem seu consentimento. Antigamente já teve membros das famílias na política também, mas acho que é burocracia demais para eles.
– Quer saber? Já decidi o que quero ser quando crescer: um membro de família fundadora.
Os dois riram e então se voltaram a seus cardápios.

***

chegou ao local marcado, que era no setor industrial de O’Village, parte mais afastada do centro. O lugar parecia ser um enorme galpão de paredes cinza, cercado por grades altas com arame farpado no topo.

– Parece um presídio – ela murmurou consigo mesma, olhando por cima dos óculos de sol para ter uma visão mais clara.

Dirigiu até a entrada e abaixou o vidro quando parou ao lado da guarita. Uma mulher gordinha, de coque mal feito, na casa dos 40, apareceu na janelinha e a analisou por um segundo antes de falar:

– Posso ajudar?
– Meu nome é Denver, tenho uma reunião com Travis McCoy.
– Só um minuto. – A mulher pegou o telefone e discou algum número, depois de alguns segundos começou a falar com alguém e desligou. – Entrada liberada. Você vai seguir pela direita, no fim da parede vire a esquerda que ele vai te encontrar lá.
– Obrigada.

O lado do galpão era ainda maior que a frente, o que fez se perguntar o que escondiam ali. Um avião de carga, talvez? pensou.
Quanto mais avançava, melhor via o campo aberto na parte de trás, um descampado que serviria perfeitamente como pista de pouso para aviões pequenos. A parede chegou ao fim e ela fez a curva à esquerda, então entendeu porque o lugar era tão grande. O galpão formava um U ao redor da propriedade, deixando um espaço aberto no centro onde parecia ter sido formado um minicircuito demarcado por cones e pneus. No descampado tinha uma pista reta também demarcada por cones onde dois carros pareciam apostar um racha.
observava os carros tão concentradamente que teve um sobressalto quando Travis deu uma batidinha no seu vidro. Ele deu a volta no carro e fez sinal para que ela abrisse a porta. Ao entrar ele falou sorridente:

– Dá uma carona? É meio cansativo andar por aqui.
– Claro, senhor. – Ela sorriu de volta. – Para onde?
– Entrada K.
– Uh... Oi? – Ela o olhou desentendida, fazendo-o rir.
– Aquele portão no canto direito da parte da frente. – Ele apontou.
– Ah tá, por que não disse logo?

Ela seguiu pelo lado esquerdo, passando por oito portões fechados da parte oeste do galpão. No lado leste, que tinha o mesmo número de portões, os três últimos estavam abertos, havia carros dentro e alguns homens conversavam e riam na frente deles, assistindo mais outros dois carros se prepararem para correr na pista reta.
A parte norte do galpão só tinha três portões, mas tinha quase certeza que passaria um iate em cada sem nenhum arranhão.

– Pode estacionar lá dentro. – Travis disse e ela obedeceu, parando o carro ao lado de outro ali dentro.

Aquilo parecia uma montadora, só que sem os robôs industriais. Na parte de baixo haviam variados tipos de peças de tudo quanto é tipo de carro. Era tanta coisa que seria difícil focar em apenas uma. Havia pelo menos vinte pessoas ali, uns indo e vindo com peças, outros sob os carros, alguns apenas batendo papo. Sobre metade do lugar havia um mezanino, que ocupava a parede de um canto a outro. No lado mais distante, havia um carro amarelo que não sabia como subira lá. No canto mais próximo, tinha o que parecia ser uma área de lazer com uma mesa de sinuca, bar, uma mega TV de frente com os sofás e até um fliperama. No centro, havia um cômodo de vidro, mas não dava para ver o que tinha dentro.

– Uau – foi a única coisa que conseguiu dizer ao sair do carro.
– Você deve estar se sentindo no paraíso agora – Travis disse ao lado dela.
– Não acho que eu tenha sido boa o suficiente para merecer esse paraíso.

Travis riu e lhe deu um toque no ombro.

– Vem, vou te mostrar onde está seu teste.

Ela o seguiu pela escada que levava até o mezanino. Passaram pela área de lazer e pelo cômodo de vidro, que parecia uma sala de reunião, então chegaram à parte onde estava o carro, uma BMW M5 E39 amarela.

– Ah, então foi assim que ele subiu – ela disse ao notar o elevador de carros no canto da parede.

Eles chegaram ao carro e Travis virou para olhá-la, apesar do seu rosto bem humorado, sua voz se tornou séria:

– Será uma prova de arrancada, o primeiro a cruzar a linha no final da pista lá fora, ganha. Sua tarefa é bem simples, você tem que fazer essa BMW vencer aquele Eclipse verde ali embaixo.

se aproximou do parapeito de vidro e viu um Mitsubishi Eclipse GS verde claro com duas listas pretas nas laterais.

– Quais serão meus recursos? – ela perguntou ao se reaproximar de Travis.
– Tudo o que você achar aqui por cima e é claro... – sua voz assumiu um tom mais divertido – o M.J.

Ele apontou com o queixo para trás dela, fazendo-a se virar e encontrar um garoto sorridente de 14 anos.

– Ei, bom te ver aqui, parceiro! – Ela o cumprimentou animadamente.
– Não poderia te deixar nessa sozinha, quero que você venha trabalhar com a gente. Preciso de alguém para me apresentar umas amigas novas. – M.J. deu uma levantadinha de sobrancelha que a fez rir.
– Bem, não quero interromper o papo de vocês, mas você tem até as 18h para entregar então... Bom trabalho – Travis disse e acenou.

o seguiu com o olhar e o viu sentar em um sofá que não havia notado antes, perto do parapeito, onde um homem já sentado o cumprimentou amigavelmente. Ele parecia alto, tinha um rosto bonito, traços asiáticos, maxilar anguloso e cabelo preto bem arrumado. Ele estava vestido com uma blusa branca sob um colete preto, deixando a mostra seus braços, o esquerdo era fechado de tatuagem.
Sua analise durou um breve segundo, então ela se voltou ao M.J., que nem notou seu devaneio.

– Vamos trabalhar?
– Vamos trabalhar – ele concordou bastante sorridente.

Às dezoito horas em ponto Travis apareceu ao lado da BMW, acompanhado do cara de braço tatuado. estivera tão entretida que não saberia dizer se eles tinham ficado no sofá o tempo todo ou se tinham saído.

– Tudo pronto? – Travis perguntou sorrindo.
– Prontinho – ela retribuiu o sorriso.
– Você sabe que se tiver qualquer coisa errada nesse carro, você terá que pagar, certo? – O tatuado falou pela primeira vez. Sua voz era grave e tinha uma pontinha de arrogância. Combinava perfeitamente com o olhar que lançou a , parecia penetrar seu cérebro pelos olhos. Ela quase estremeceu, mas se conteve e lançou seu melhor sorriso de autoconfiança.
– Quando vir o que eu fiz nesse carro, você que vai querer me pagar.

Um sorrisinho desdenhoso apareceu nos lábios do tatuado. Ele tirou a mão do bolso da calça e jogou uma chave que pegou por reflexo.

– Hora de provar.

Apesar da intensidade do olhar dele, não deixou de encará-lo. Não podia demonstrar fraqueza. Então entrou no carro. M.J. correu para entrar no banco do passageiro e se adiantou em falar:

– É só até ali embaixo.

assentiu.
Quando o carro estava no elevador, M.J. sussurrou:

– Aquele é o Walker, melhor corredor da Califórnia e...
– Filho do chefão dos Walker.
– É. Ele pode parecer meio durão a primeira vista, mas depois que o conhece, vê que ele é um cara legal. Não precisa se intimidar.
– E quem disse que eu estou intimida?

M.J. a olhou com obviedade.

– Ele intimida todo mundo... Bem, menos o Travis... E a mim, é claro.

riu e conduziu o carro para fora, pelo portão no canto oposto do que ela entrara, que agora estava aberto. No descampado, no ponto de partida da pista reta, o Eclipse verde já a esperava. Ela parou a BMW a seu lado e quando o vidro do outro carro abaixou, ela viu o careca barbudo do dia passado.

– Olha quem temos aqui! – Ele disse fingindo animação. ¬– A Penélope Charmosa quer participar da Corrida Maluca? Seu carro não deveria ser rosa?
– E o seu não deveria ser de pedra, Capitão Caverna?

M.J. riu alto ao lado da moça.

– Vou nessa, . Estarei torcendo por você.
– Valeu, M.J. Aproveita e fala bem de mim para o intimidador – ela brincou.
– Pode deixar! – Ele bateu conferencia e saiu do carro apressado.

Será que ele entendeu no sentido literal? pensou. Ela não teve tempo de olhar para confirmar, pois Travis apareceu um metro a frente dos carros, de forma que eles pudessem passar a seu lado sem atingi-lo.

– Preparados? – Ele gritou para que os motoristas ouvissem.

Os faróis dos dois carros piscaram duas vezes.

– Liguem seus motores.

O ronco dos motores eram músicas para os ouvidos de . Seu corpo estava estranhamente relaxado apesar de sua mente estar a mil por hora. Se sentia bem ali com o volante sob seus dedos e o acelerador pronto para ser pisado. Tinha confiança em sua habilidade e iria ganhar.
Travis levantou os braços, deu uma olhadinha para os dois e gritou:

– JÁ! – Ele abaixou os dois braços de uma vez.

pisou fundo e sentiu a arrancada do carro.
Passou a marcha.
O tempo ironicamente pareceu mais devagar.
Passou a marcha.
O carro verde tomou a liderança.
Passou a marcha.
O vento soprava furiosamente e se arrependeu de não ter colocado seus óculos.
Passou a marcha.
A BMW alcançou o Eclipse e, por um milésimo de segundo, sorriu para o barbudo indignado.
Passou a marcha.
Seu carro ganhou ainda mais velocidade, passando a frente o Eclipse verde e atravessando a linha de chegada.

– UHUUUUUH! – não conseguiu conter o urro de animação.

Ela foi desacelerando relutante e fez a curva quase no fim do descampado. O sorriso ainda não tinha sumido do rosto quando voltou para o ponto de partida da pista. Sentia a adrenalina correndo por suas veias. Nem se lembrava da última vez que participara de uma corrida e parecia ter esquecido a sensação maravilhosa que trazia. A sensação de liberdade.
Ela desceu do carro e o outro carro encostou ao mesmo tempo, um pouco atrás do seu. O barbudo desceu com cara de poucos amigos e se controlou para não lhe lançar um olhar de superioridade. Tinha prometido a si mesma que não faria inimizades desnecessárias.

– Você até que não foi mal – ela falou quando ele passou, recebendo um olhar desconfiado.
– Tá – ele respondeu e foi se juntar ao grupo que assistiu e agora soltava piadinhas.

Mais uma vez teve que se controlar para não rir. Ela se aproximou dos três que já a esperavam. M.J. foi o primeiro a falar:

– Você é boa, . Já tinha corrido antes?
– Há alguns anos – ela admitiu.

O Walker a observava como um comprador prestes a adquirir uma nova pintura para sua coleção.

– Nada mal, novata.

o lançou um olhar de “eu te disse” e jogou a chave de volta para ele.

– Estou em meu habitat natural. – Ela deu de ombros. – Mas e aí, estou dentro ou tem mais testezinhos e suspense desnecessário?

Travis foi quem respondeu, estendendo a mão para ela:

– Bem vinda ao time, .



Capítulo 4 - Colegas de Trabalho

Lizzie entrou pela porta trazendo dois cachorros-quentes enormes nas mãos e uma sacola com duas latinhas de refrigerantes.

– Uma ajudinha ia ser ótimo. – Ela falou.
– Quê? Ah, foi mal! – fechou o notebook e levantou para ajudar a colega. Pegou um dos lanches e a sacola, então pôs as latinhas em cima da mesa. – Continue comprando lanches assim e vou ter que ir com mais frequência à academia.
– Você é todo metrossexual, . Tenho certeza que frequenta a academia mais do que uma pessoa normal. – Lizzie se jogou na cadeira de visitas. – E aí, como anda com a sua vizinha?

se sentou em sua cadeira e abriu um refrigerante.

– Não sei do que está falando.

– Ah, para! Você disse que uma ex-colega de faculdade que você era afim está morando no apartamento ao lado e nem falou com ela ainda? Fala sério. Se brincar, consigo pegar ela antes de você.
– É claro! Vocês mulheres são cheias de intimidades. Não duvido você embebedá-la e conseguir algo.

Ela riu.

– A gente se fala sim, até conversamos, mas tenho certeza que ficará nisso.
– Não desista antes mesmo de tentar, .

riu sem humor.

– É mais complicado do que parece.
– Então me conte e eu te ajudo.
– Um dia.

Lizzie revirou os olhos e se concentrou em seu cachorro-quente.
Já havia algumas semanas que estava trabalhando na Collins Engenharia e acabou criando um vinculo de amizade maior do que o esperado com sua colega de trabalho. Eles conversavam sobre tudo – quase tudo – e até costumavam sair para beber uma cerveja depois do expediente. Ele era um dos poucos da empresa que sabia que Lizzie era lésbica, então se divertiam bastante vendo os caras tentando xavecá-la.
Um dia, acabou soltando, sem querer, sua atração pela irritante vizinha, então teve que inventar que conhecera na faculdade e acabaram se reencontrando em O’Village.

– Você tem que me mostrar ela algum dia – Lizzie falou do nada. – Tenho que ver se aprovo.
– Não sei se tenho foto dela.
– Bom, posso te apresentar uma coisa mágica chamada redes sociais. – Ela espalmou as mãos em frente ao rosto e as abriu em arco, fazendo rir.
– Redes sociais são para adolescentes e gente que não tem o que fazer.
– Obrigada por me chamar de desocupada! – Ela pegou o celular. – Agora deixe de ser careta e vamos fazer uma para você... Depois que encontrarmos as dela. Qual é o nome mesmo?
... Denver – Ele deu uma pausa antes de quase soltar o sobrenome verdadeiro da parceira.

Lizzie deu mais uma mordida no seu lanche e começou a pesquisar usando apenas o dedo anelar para não sujar a tela do celular.

Voilà! Ela tem Instagram.

As sobrancelhas de se arquearam.

– Tem?! – se levantou puxando a cadeira para sentar ao lado da colega.
– Não tem muitas fotos, acho que é recente.

Tinham exatamente nove fotos. Apenas três eram “selfies”, duas eram de seu carro, uma da mão dela no volante enquanto dirigia na orla, uma dela com um garoto de trancinhas, uma da visão do pôr-do-sol pela janela da sala dela e uma de prédios que não reconheceu.

– Hmmm... Ela é bonita – Lizzie comentou olhando a última selfie postada.
– Tente não a roubar de mim como fez com a ruiva do bar, certo?

Lizzie riu.

– Desculpe por aquilo, nunca tinha beijado uma ruiva.

– Nem eu e continuo assim.

Ela revirou os olhos para o drama do amigo e guardou o celular.

– Você devia fazer um Instagram e seguir ela. Mostrar interesse, sabe?
– Não, valeu.
– Bom, então eu a sigo e te mando o que ela postar, pode ser?

a encarou com os olhos semicerrados, desconfiado.

– Não vou curtir nenhuma foto, prometo! Só vai ser para te ajudar, ver coisas que ela gosta para você saber. Por exemplo, ela claramente gosta desse carro antigo, então vamos descobrir qual é o dela para você puxar assunto.

reprimiu uma risada. Ele sabia o quanto gostava de carros, principalmente o Mustang 67 que ela fizera questão de escolher a dedo para essa missão. Na verdade, conhecia bastante sua parceira apesar de nem sempre se darem bem. Por causa de sua relação profissional, acabaram se aproximando e até chegou a limpar a barra dele algumas vezes com a ex-namorada ciumenta.
Ele gostava da parceira, gostava de seu jeito diferente das outras garotas, mas gostava ainda mais quando a via irritada com ele por alguma brincadeira que fazia. Gostava até mesmo de quando ela teimava ferozmente com ele quando discordavam de algo, mas odiava quando ela estava certa porque seu nariz empinava ainda mais. balançou a cabeça, afastado o pensamento. Essa proximidade extrema dos dois ultimamente não estava fazendo bem.

– Ai, droga, lembrei que tenho uma coisas atrasadas para atualizar. – mentiu. – Desculpa, Liz. A gente se vê no fim do dia?
– Claro. – Ela disse sem se importar, pegando o lixo que haviam feito. – Só não te prometo a cerveja de lei, hoje eu tenho um encontro.
– Não acredito que pegou o telefone da ruiva!

Ela riu e deu de ombros.

– Não sou como certas pessoas que fica esperando a iniciativa dos outros. – Ela deu uma piscadela e saiu.
– Como se eu tivesse esperando iniciativa de alguém – ele murmurou e abriu o notebook.

O aparelho estava conectado à CPU da empresa. trabalhava na invasão do sistema há algum tempo, mas finalmente estava tendo êxito. Conseguira passar por níveis acima de sua permissão e já fazia o download dos primeiros dados com total certeza de sua invisibilidade. Não sabia quando o download terminaria então deixava o notebook trabalhar enquanto fazia suas tarefas da empresa.

– Logo, logo terei alguma pista e alguém vai perder a aposta e me pagar um belo jantar.

***

! – Travis falou alto, procurando-a pelos cantos.

A garota escorregou de baixo de um dos carros enfileirados naquela parte da oficina.

– Eu!
está te procurando. Tem um trabalhinho para você.
– E esse aqui? – Ela falou se ponto de pé.
– Fica para depois, ele precisa de você agora lá no bloco C.

Ela deu de ombros e limpou as mãos, então saiu com Travis em seu encalço. O bloco C era no terceiro portão da parte oeste do galpão e, no momento, era o único aberto daquele lado.
Depois de alguns passos sob o sol escaldante do verão californiano, entrou no galpão dando de cara com um Dodge Challenger SRT 2010 prata e todo acabado.

– Viramos ferro velho agora? – Ela disse antes mesmo de olhar para , que riu do comentário.

– Não deveria falar assim do seu trabalho, Denver.
– Você me paga para melhorar carros, bebê, não para fazer milagres.

Travis a olhou com as sobrancelhas erguidas, se surpreendendo com a intimidade dela com . Essa não foi a primeira vez que ela recebia esse tipo de olhar. Ao contrário de 99% das pessoas naquele lugar, não media suas palavras para falar com o chefe, até o zoava algumas vezes, e sempre atraía reações parecidas, mas não se importava já que ele não parecia se aborrecer com isso.

– Eu o ganhei em uma... Aposta. – disse.

Ela ergueu uma sobrancelha e perguntou:

– E por que não vende e fica com o dinheiro?
– Porque a gente não se desfaz de um troféu mesmo que quebrado, Denver.

Ela espalmou as mãos na altura dos ombros, aceitando a decisão dele.

– Ok, chefe. O que quer que eu faça?
– Ainda não sei. Vamos analisar o dano e ver as melhorias que nós podemos fazer – ele disse colocando o relógio de ouro sobre a mesa na parede dos fundos e arregaçando as mangas.
Nós?
– Sim, nós. Ou você acha que vou perder a oportunidade de mexer eu mesmo em meu troféu?

Travis que se mantinha calado, falou:

– Apostei vinte pratas que ele não dava jeito nesse aí... Continuo com minha aposta.

levantou uma sobrancelha e sorriu.

– Um desafio? Melhor preparar o dinheiro, Travis. Também estou dentro.

riu.

– Viu só, eu disse que ela ia topar.

Ela olhou para o chefe, agora com as duas sobrancelhas erguidas.

– Você paga meu salário, eu teria opção?
– Não, mas está na sua cara que quer ver se dá conta.

riu.

– Ver? Eu tenho certeza que o deixo novinho em folha.
– Você é muito cheia de si, Denver. Vamos ver se é tudo isso que diz mesmo.

Os dois analisaram o carro de cima a baixo e começaram desmonta-lo. mandou Travis ir atrás de uma lista de peças que ele passou enquanto olhava a fiação interna. Então os dois foram para o motor. Após um tempo mexendo quase em silêncio total, perguntou do nada:

– Desde quando você gosta de mexer com isso?

levantou os olhos e viu que o chefe a olhava.

– É uma longa história.
– Nós temos bastante tempo – ele disse encostando no carro.
– Ok então... Todo verão, desde que nasci, eu e meus primos costumávamos ir para a casa dos meus avôs e meu vô tinha uma oficina ao lado de casa. Um dia, quando eu ainda era pequena, fui lá vê-lo trabalhando e pedi para ele me explicar como funcionavam as coisas ali, desde então, me apaixonei. Deixava meus primos de lado para passar o dia todo ajudando na oficina. – Ela sorriu, com o olhar perdido. – Quando fiz 12 anos, ele chegou com um Mustang Boss 1969 muito velho lá e disse que tinha encontrado o carro que ele ganhou do pai pouco antes de se casar com a minha avó, então o comprou e iria reformá-lo. Pediu que eu o ajudasse.

Ela se encostou ao lado dele e continuou:

– Levou alguns anos até ficar pronto porque tinham muitas peças faltando e meu vô queria tudo perfeito. Quando fiz 17 anos, ele me deixou dirigir o carro pela primeira vez. Foi incrível! Quando a gente estava voltando para casa, ele me disse que aquele seria meu presente de formatura. Você deve imaginar o quanto fiquei eufórica.
– Tenho uma ideia.

Ela respirou fundo antes de continuar.

– Três meses depois telefonaram lá em casa. Um bêbado em alta velocidade o acertou em cheio. Ninguém resistiu e o carro deu perda total.
– Sinto muito.
– Levei algum tempo até consegui voltar lá sem chorar. – Ela riu sem humor. – Depois vi que nada mais poderia me atingir como aquilo.

Ela o olhou e sorriu.

– Mas enfim, né... Isso é passado. Agora é sua vez, como foi que chegou até tudo isso – ela disse levantando as mãos.
– Minha história não é tão interessante quanto a sua. Sempre gostei de carrinhos de controle remoto e principalmente de ver como eles funcionavam por dentro, então quando ganhei meu primeiro Mini Buggy, eu o desmontei todo para ver como funcionava. Fiquei de castigo por meses.

Os dois riram.

– Sabia que ficaria encrencado por muito tempo, então ia à garagem toda noite para tentar remontá-lo, até que um dia eu finalmente consegui. Mostrei para o meu pai e ele ficou tão orgulhoso que me tirou do castigo e ainda me pagou um professor, que na verdade era só um mecânico, para me ensinar mais. O resto é história.
– Deve ser bem legal ter pai rico como o seu. Ter uma vida como a sua.
– Não quando você tem um irmão mais velho exemplar e é o problemático da família. Quando criança, não gostava do meu irmão porque ele era o certinho enquanto eu quebrava janelas jogando bola. – Ele riu. – Até que ele começou a assumir a culpa para eu não ser castigado.
– Ele parece ser um cara legal.
– Simon é meu parceiro para tudo. Na vida, nos negócios... Foi ele que me deu meu carro favorito. Aquele azul ali fora. Tinha acabado de ser lançado.

girou sobre os calcanhares e olhou com mais atenção o carro azul estacionado em frente ao portão. Era um Nissan Skyline GT-R R34.

– Levei um tempo até me acostumar a dirigir do lado direito, mas gostei tanto que comprei até o R35 depois. Só que esse é especial.
– Ele é lindo e você tem sorte por ter um irmão assim. Acho que eu nunca o vi, ele já veio aqui?
– Ele aparece de vez em quando. Acho que não veio nesse tempo que você tá aqui, mas algum dia, eu lhes apresento.
– Beleza.

Ele sorriu e se levantou, indo para a mesa no canto da parede para olhar o relógio.
– Já tá tarde, a gente continua amanhã, pode ser? Quero terminar ele o mais rápido possível.
– Tá bom. Estarei disponível sempre que quiser.
ponderou um pouco então falou:

– Sei que é sexta e você deve ter outros planos, mas combinei com o Travis e uns parceiros de tomar cerveja lá em casa. Se quiser ir...
– Você sabe que não tem nem dois meses que cheguei aqui, né? Meu circulo de amizades se resume a colegas de trabalho, um vizinho e o porteiro do prédio. – riu. – Vou com certeza.

riu e a olhou intensamente por um segundo.

– Quando eu chegar em casa te mando a localização então.
– Combinado. Bem, então vou pra casa tirar essa graxa. – Ela gesticulou para o próprio corpo, todo manchado de preto. – Nos vemos mais tarde.
– Até.

sorriu e saiu se perguntando o que levaria seu chefe a convidá-la para um happy hour.



Capítulo 5 - Happy Hour

chegou a um dos prédios mais chiques da cidade, de frente para o mar. O apartamento de era na cobertura.
Depois de passar pelo porteiro, subiu pelo elevador e assim que chegou ao último andar, as portas se abriram diretamente no apartamento, com a esperando ali.

– Bem vinda à minha humilde residência.

Ela o cumprimentou e ao olhar ao redor, reparou que de humilde não tinha nada. Era um duplex enorme. A sala tinha vista panorâmica da praia, no centro um sofá cinza formava um semicírculo de frente à televisão que deveria ter umas 70 polegadas. À esquerda, uma escada de madeira negra fincada à parede quase escondia um corredor “protegido” por uma armadura medieval negra de tamanho real. Um pouco mais a frete estava um elevador cilíndrico de vidro que levava ao segundo andar. Na parede a direita tinha uma porta de madeira escura, aberta, que levava à cozinha. Ao lado dela, a dois metros do sofá, três telas enormes de pintura abstrata cobriam a parede. se aproximou delas, mas levou um tempo para notar que eram carros em movimento.

– É futurismo – comentou.

Ele estava bem atrás dela, então girou para que os dois ficassem cara-a-cara.

– Um entendedor de arte? Uau! Walker é um homem multifacetado.
– Tem muita coisa que ainda não sabe sobre mim, Denver.
– E quando irei descobrir?
– Em breve... Se você se mostrar digna, é claro.

Ela revirou os olhos e ele riu. Então a conduziu até o elevador cilíndrico.
O segundo andar parecia ser menor, mas isso é porque metade dele era uma varanda cuja piscina de luzes coloridas ocupava toda a borda. A parte de dentro era um lounge. Atrás do elevador estava o bar muito bem abastecido. Mais à direita havia na parede uma TV tão grande quanto à da sala, de frente a ela, vários puffs retangulares cinzas que pareciam almofadas enormes, alguns com encosto e outros não.
Os amigos de já estavam ali. identificou Travis, que foi o primeiro a cumprimenta-la e mais dois caras da oficina, Max e Andrew. Ela os cumprimentou também e Max apresentou a namorada, Thalia. Tinham mais três homens e uma mulher que ela não reconhecia.

, esses são meus amigos de infância Ryan e Kyle.

Os dois se levantaram para cumprimentá-la.

– E aquele é meu irmão Simon e sua esposa Kate.
– Então você é a famosa Denver – Simon disse ao lhe apertar a mão.
– Bem, eu sou Denver, mas não sei sobre a parte de “famosa”.
– Todo mundo ficou comentando sobre a garota nova da equipe de – Kyle disse, de seu puff.

As sobrancelhas de se levantaram em surpresa.

– Coisas boas, eu espero.
– Pelo menos de , foram coisas boas – Kate disse, sorrindo. – Prazer em conhecê-la. Estava cansada de ser a única mulher além de Thalia aqui.
– Tem uma hora que eles começam a falar de futebol e nós sempre sobramos. – Thalia comentou.
– Lamento desapontar vocês, garotas, mas eu adoro futebol.

As mulheres lançaram um “ah não” enquanto os homens riram, zoavam as garotas ou se surpreendiam.

– Deu sorte, hein, . – Ryan disse.

revirou os olhos e ignorou o amigo.

– Fique à vontade, . Ignore as idiotices de Ryan.
– Ei! – Ele reclamou.
– Vou te preparar um drink que é minha especialidade como boas vindas.
– Valeu. – disse se sentando em um dos puffs.
– Aproveita e me faz um também, . – Ryan falou.
– Levante a bunda daí e faça você mesmo, Ryan. A prioridade é a visita nova.

Ryan choramingou e o seguiu para pegar a própria bebida.
Os que sobraram começaram a fazer perguntas à , curiosos sobre ela. A moça os respondia e aproveitava para fazer umas perguntas também, coletando algumas informações. Kate e Thalia eram enfermeiras, conheceram Simon e Max quando eles levaram no hospital após um quase coma alcoolico há alguns anos. Simon e Kate se apaixonaram e estavam casados há um ano, mais ou menos, quando Max e Thalia começaram a sair. Kyle estudou com e Ryan desde o jardim da infância, se tornaram amigos desde lá, hoje administra a loja de móveis do pai. Ryan era só um playboyzinho mesmo.
Simon contava o quanto insistira para se juntar a ele na administração da empresa de metais dos Walker, quando o mais novo chegou com a bebida, dizendo que aquele nunca seria a praia dele.

– É melhor você fazer um bom trabalho lá sozinho do que me ter para atrapalhar e ainda ouvirmos reclamações do pai – ele disse, entregando a taça a .

À medida que a noite ia passando, o nível alcoolico aumentava e o nível das conversas abaixava. Ryan tentou uma cantada barata em , mas ela deixou claro que ele não fazia o seu tipo.

– E qual é seu tipo? – Ele perguntou.

Pelo canto do olho, notou que o olhar de caiu sobre ela.

– Não tenho um tipo fixo, Ryan. Apenas sinto uma atração, independente de características físicas ou psicológicas. – Antes que ele terminasse de abrir a boca ela completou: – E não, eu não senti atração por você.

riu, atraindo o olhar dela.
Em algum momento da madrugada, Ryan convenceu Andrew e Kyle, e os três pularam seminus na piscina. As meninas entraram no jogo e logo estavam lá dentro também, levando seus namorados juntos.
tirou a roupa e estendeu a mão para .

– Primeiro as damas.

Ela riu e tirou o cropped preto, a calça jeans e os sapatos, então segurou a mão dele e os dois pularam juntos na piscina.

O céu começava a clarear quando Max e Thalia se despediram. Kyle estava apagado em uma cama improvisada com alguns puffs. desceu para preparar o quarto de hospedes com Simon e Kate. Andrew tinha sido o primeiro a ir embora, dando uma desculpa esfarrapada, mas e Max depois contaram que ele ia correndo para a mulher não descobrir sua saidinha. conversava com Ryan quando viu que ele começou a cochilar sentando, tentando não rir da cena, ela levantou, pegou os sapatos e foi para a escada.
Ela tinha acabado de por o último pé no chão quando ouviu uma voz vinda do corredor:

– Fugindo antes do café, Denver?

girou sobre os calcanhares e viu o dono da voz se aproximando, com apenas uma toalha enrolada no quadril e o cabelo molhado como o de alguém que acaba de sair do banho.

– Você é desconfiado assim? Deve fazer muito isso. – Ela riu.
– Menos do que você deduz, mas sabe como são as mulheres. Você sai uma vez e elas já esperam um anel de compromisso.
– Nem todas, Walker. Sabe, estamos no século XXI. Nós também curtimos um sexo casual.
– Sério? Então devo estar saindo só com interesseiras, porque elas me perseguem como loucas. Sabe como é, às vezes, descobrem meu número e não param de ligar e mandar mensagens.

riu e revirou os olhos.

– Você é exatamente o tipo de homem que eu tento evitar, Walker.

Ele deu mais dois passos, se aproximando mais dela.

– Olha que ironia. Você veio parar logo na minha casa.
– Para pagar a minha própria língua, talvez – ela soltou sem pensar.

também deu um passo, diminuindo quase por completo a distância entre os dois. Seus olhos deslizaram pelo seu rosto, pescoço e acompanharam as gotinhas que escorriam da clavícula para o peito, então começou a acompanhar os desenhos da tatuagem que cobria do peito esquerdo ao punho por completo.
notou a concentração da moça e riu baixinho, atraindo a atenção dela para seu rosto novamente.

– Grande, né? – Ele deu um sorrisinho malicioso.

mordeu a língua para não soltar um comentário impróprio.

– Você tem alguma? – Ele continuou.
– Sim. Acho que você estava bêbado demais para notar um pequeno desenho na minha costela esquerda.
– E por que não me mostra agora? – Ele disse com a voz mais baixa e grave, se aproximando o pouco que ainda dava.

Eu ainda devo estar bêbada, pensou assim que pegou a mão de e a deslizou por sua cintura até levantar suficientemente o cropped para que o pequeno revolver sob a barra do sutiã ficasse à mostra. Ela o soltou, mas sua mão continuou ali, com o polegar brincando no desenho.

– Sexy – ele murmurou com um sorrisinho torto que fez se arrepiar.
– Parabéns, você acabou de desvendar um dos meus segredos. Acho que mereço algo em troca.
– E o que sugere?

Ela não precisou falar mais nada, seu sorriso malicioso disse tudo. a puxou, colando seus lábios com urgência. Suas línguas se tocaram com uma necessidade incontrolável. pousou as mãos na nuca de , enrolando seus dedos em seu cabelo enquanto ele a puxava pela cintura como se quisesse fundir seus corpos.
Alguém derrubou algo no andar de cima, fazendo-os se separar rapidamente.

– Vamos pro meu quarto.

Não, você é meu chefe e ainda por cima alvo de minha investigação, queria dizer, mas de seus lábios saíram:

– Vamos!

Eles entraram no cômodo aos beijos e não notou muito além da kingsize de lençóis e fronhas cinza. realmente parecia gostar dessa cor.
se separou dele e tirou a blusa ao sentar na cama, depois desabotoou o jeans e foi tirando-o lentamente enquanto se arrastava para o centro da cama, ficando apenas em sua lingerie preta.
sorriu com malícia e com um puxão tirou a toalha, deixando a mostra seu membro já ereto. O luxuria parecia correr como fogo líquido pelas veias de , pois ela simplesmente se lançou “de quatro” para frente e com uma mão começou a massagear o brinquedinho de .

– Alguém está com pressa – disse com um sorrisinho safado no rosto, mas a puxou para cima. – Acontece que eu gosto de brincar bem devagar... – Ele deslizou o nariz pelo pescoço dela, deixando sua respiração acaricia-la. – Provocando.

Ele deslizou as mãos pelas costas dela e habilmente desabotoou o sutiã. Depois a deitou, se pondo sobre ela. Sua boca começou a despejar beijos pelo pescoço da moça e foram descendo até seus seios. Enquanto seus lábios cuidavam de um, sua mão acariciava ao outro.
Seus beijos foram descendo pela barriga até chegar ao ventre de , que soltou um gemido involuntário. levou as mãos à barra da calcinha e a tirou delicadamente, deixando completamente nua. Ele levantou os olhos, esperando por uma confirmação que apareceu em um sorrisinho, então afastou as pernas da moça e começou a beijar sua virilha, deslizando a língua lentamente e sugando nos momentos certos. O corpo de se arqueou e mais gemidos escapavam de seus lábios. Quando ela estava prestes a atingir seu ápice, ele parou.
abriu os olhos e antes mesmo que pudesse protestar, colou os lábios nos dela e encostou a cabeça de seu membro onde antes passeava sua língua.

– Foi só uma amostra grátis – ele murmurou, com um sorrisinho nos lábios.
– Espero que a versão completa seja... completa. – Ela ergueu uma sobrancelha, fazendo o sorriso dele aumentar.

a invadiu acelerando gradativamente. As unhas de se apertavam nos ombros e costas dele à medida que a velocidade aumentava e seus gemidos se tornavam mais e mais altos. Quando foi perdendo força, eles trocaram de posição. As mãos de que inicialmente se mantinham nos seios de , desceram para o quadril, incentivando-a a “cavalgar” com mais força.
Os gemidos agora escapavam de ambos. O suor dos dois se misturava e se sentiu perto do extremo mais uma vez, o que a incentivou a não parar apesar de suas pernas pedirem por isso. apertou sua bunda com um pouco mais de força, perto de seu próprio ápice, que chegou um pouco antes que o de .
Ela desabou exausta por cima do corpo dele e deslizou para o lado depois de um breve momento com os olhos fechados, apenas degustando a sensação. Eles ficaram por alguns minutos em silêncio e quando se deu por si, abriu os olhos encontrando o quarto já todo iluminado pelo sol da manhã.

– Tenho que mandar consertar as cortinas – falou, olhando para o teto. – Seis da manhã e o quarto já está todo claro porque elas não estão fechando.

riu.

– Isso não me incomodaria, sou acostumada a acordar cedo. Na verdade, durmo muito pouco.

virou a cabeça e a olhou.

– Tá aí uma coisa que não temos em comum.

o olhou e balançou a cabeça, fingindo indignação.

– Esses filhinhos de papai.

Ele semicerrou os olhos, fazendo-a rir. se sentou, procurando suas roupas pelo chão, depois levantou levando um lençol para pegá-las.

– Por que vocês sempre fazem isso? – perguntou com humor. – Não faz o menor sentido.
– É claro que faz. Vocês sempre ficam nos olhando desse jeito que você tá fazendo agora. É meio constrangedor.
– Isso é insegurança, não acha? Acabamos de transar, já vi tudo o que tinha para ver.

suspirou e soltou o lençol.

– Feliz?

a olhou maliciosamente dos pés a cabeça.

– Eu diria orgulhoso de mim mesmo.

revirou os olhos e começou a se vestir, de costas para ele. Quando ia colocar o sutiã, pulou da cama e puxou a peça de suas mãos.

– Isso fica comigo.
– Acho que vai ficar um pouco pequeno para você, Walker.

Ele riu e jogou o sutiã na cama.

– É o meu troféu.
– Você deveria ir a um psicólogo ver sua obsessão por troféus, – ela brincou, colocando o cropped.
– Não precisa se aborrecer, eu só guardo os que mais importam – ele respondeu, roubando um beijo dela.
– Não perderei um minuto de sono pensando nisso, pode acreditar.

Ela se olhou no espelho, agradecendo por não ter passado uma maquiagem pesada, arrumou o cabelo e foi em direção à porta.

– Não esquece que temos trabalho mais tarde, Denver.
– Pode deixar, chefinho – ela respondeu sem se dar o trabalho de se virar. Deixando-o sozinho.



Capítulo 6 - A Primeira Pista

A porta abriu e entrou apressada, toda suja de graxa, como sempre, encontrando sentado de braços cruzados já com sua camiseta e boné azul dos Giants.

– Você sabe que o jogo começa às 16hrs, né?
– Foi mal, eu acabei me distraindo no trabalho – ela disse passando direto para o banheiro.
– Já são três semanas que você tá trabalhando direto, . Espero que pelo menos esteja tendo algum progresso na investigação.

ouviu o barulho do chuveiro ligando e gritou para responder:

– Eu estou ganhando confiança, ! Estou trabalhando em um carro diretamente com o Walker. Nós decidimos terminar ele hoje. Vou ter meus finais de semana livres de novo.

Ele entrou no quarto para que ela o ouvisse melhor.

– Quer saber? Acho que você está gostando demais de trabalhar como mecânica. Está enrolando.
– Olha quem fala! O que conseguiu até agora em seu planinho de hackear o sistema da Collins?

O barulho de chuveiro terminou, dando lugar em seguida ao de secador.

– Hackear uma empresa não é tão simples quanto você pensa, .
– Deve estar enrolando para ficar mais tempo ao lado da Lizzie. – Ela disse o nome da outra com deboche.
– Ah claro, porque eu estou muito interessado na minha colega de trabalho que é GAY!

saiu do banheiro, enrolada na toalha.

– Então pare de amolar e me deixe fazer o meu trabalho do meu jeito. Agora dá licença que eu nem sequer te dei intimidade para entrar no meu quarto.

nem sequer ouvira o que ela disse, estava concentrado do único pedaço de pano que cobria o corpo de sua parceira.

– Você está a três segundos de levar um chute no saco.

Isso ele ouviu.

– Foi você quem saiu de toalha com um homem no quarto.
– Dois... Um.
– Te espero lá fora!

Ele se apressou, fechando a porta atrás de si. começava a desconfiar que o provocasse de propósito. Entrava em seu apartamento de camisola “procurando por leite”, saia do banheiro enrolada de toalha sabendo que ele estava ali...

– Ah, , se você está a fim de jogar, então nós vamos jogar – ele murmurou para si mesmo.

Alguns minutos depois ela saiu do quarto, vestida com a camisa verde dos Jets que era tão grande que só deixava a pontinha de seu short à mostra.

– Vai ficar sentado nesse sofá o dia todo, ? Vamos, já estamos atrasados. – Ela passou pegando a chave do carro no balcão.

reprimiu um palavrão.

– Como se a culpa fosse minha, né?! Tá me devendo uma cerveja!

deixou na entrada do bar chamado O’Pub e foi estacionar o carro, depois o encontrou ainda ali.

– Tenho que esperar Lizzie. Se quiser entrar – ele disse.
– O jogo começa em minutos. Ela já deve estar aí dentro.

revirou os olhos e a seguiu para dentro. O lugar era bem rustico, mas muito confortável. Ele procurou por Lizzie, mas 95% dos clientes vestiam camisas verdes, azuis ou brancas com detalhes vermelhos. Demorou um pouco, mas ele a encontrou acenando sentada em um dos bancos da parede, daqueles com uma mesa no centro. Os dois se sentaram, um por cada lado.

– E aí, ?
– Lizzie! – Ele a abraçou. – Essa é Denver, minha vizinha e ex-colega de faculdade. , Elizabeth Morgan.
– Pode me chamar de Lizzie – a loira disse estendendo a mão, que apertou.
– Poxa, Lizzie, você parece ser legal, mas essa camisa... – Ela chacoalhou a cabeça apontando para a camisa dos Giants dela.
– Ia te falar a mesma coisa.
– Vamos eternamente discordar nisso.
– Relaxa, Lizzie – falou. – Essa aí gosta de sofrer.

ergueu uma sobrancelha e o encarou.

– O que acha de deixarmos as coisas um pouco mais interessantes, Knight.

imitou a expressão da moça.

– Qual sua aposta, Denver?
– Vinte pratas nos Jets.
– Fechado!
– O ganhador me paga uma cerveja – Lizzie brincou.

Os dois concordaram. Cada um pediu uma para começar e uma porção de fritas, bem a tempo de o barman desligar a música e aumentar o volume das TVs. O jogo estava prestes a começar.
No primeiro tempo de partida, o placar foi muito parado, com apenas um touchdown dos Jets. No segundo tempo, o placar foi muito mais movimentado, entrando, entraram no intervalo com os Jets na frente.

– Alguém vai perder vintão! – cantarolou, antes de tomar um gole da sua bebida.
– Não cante vitória antes da hora, . Ainda não acabou.

O jogo voltou do intervalo com um empate, deixando os ânimos mais exaltados, quando no último quarto, os Jets, que venciam a partida desde o começo do jogo, tomaram uma virada faltando 2 minutos para o fim dapartida. Terminou 21 a 20 para os Giants

– NÃO! – reclamou antes de despejar uma boa lista de palavrões.
– Ah, garotos. Isso aí – disse beijando a camisa. – Passa meu dinheiro para cá, bebê.

Lizzie ria e comemorava com outros torcedores dos Giants, mas parecia a ponto de socar .

– Ei, não vale chorar. Aposta é aposta.

Ela respirou fundo e jogou o dinheiro na mesa.

– Você sabe aonde enviar esse dinheiro. Vou ao banheiro.

saiu pisando firme, fazendo rir.

– Vocês parecem ter mais intimidade do que me contou, – Lizzie comentou quando ela se afastou.
– Eu disse que era complicado.
– Não sei qual é a de vocês, mas essas provocações... Sei não, hein.
– O quê? Não viaja, Lizzie! A gente se suporta porque sempre nos esbarramos, então forçamos uma boa convivência.
– Aham, ! Acredito.

revirou os olhos, bem a tempo de voltar.

– Está mais tranquila? – Lizzie perguntou delicadamente.
– Agora, sim. Desculpe, mas é que seu amigo adora me tira do sério. – Ela olhou para ele. – Só para deixar claro, “bebê” é a sua mãe!

Lizzie riu.

– Vocês são uma graça. me disse que vocês fizeram faculdade juntos. Cursaram o quê?
– Nós não fizemos faculdade juntos, nos tínhamos algumas aulas em comum. Eu fiz Engenharia Mecânica e... Você fazia o que mesmo, Knight?
– Ciências da Computação – ele respondeu.
– Cof-cof, nerd, cof-cof – fingiu tossir.
– Uau, que engraçado, Denver. – Ele revirou os olhos.
– Vai negar? Lembro que ele não tirava a camisa do Homem-Aranha. Eu até o chamava de Peter Parker – ela inventou, sorrindo significativamente para , que deu um chutezinho no pé dela sob a mesa.

Então vai ser assim, ? Ele pensou e entrou na história.

– Não era para tanto – se defendeu.– Usei apenas no primeiro semestre. Mas sabe como são patricinhas, se não for um quarterbacks sem cérebro, elas nem notam, já classificam como nerds.
– Patricinha... ? – ela se esforçou para não chama-lo pelo verdadeiro sobrenome.
– Só faltou ser cheerleader, toda fresquinha.

Os dois trocaram olhares fuziladores. respirou fundo e sorriu para Lizzie.

– E você, Lizzie. Fez faculdade?
– Sim – ela disse tentando ignorar o clima anterior. – Fiz Ciências Contábeis. Trabalho com isso lá na empresa.
– Legal! Fazer o que se gosta é ótimo. Estou tão bem no meu trabalho atual que nem me imagino fazendo outra coisa.
– Percebe-se – murmurou, mas foi ignorado.
– O que você faz? – Lizzie perguntou.
– Eu trabalho em uma oficina.
– Sério? – Lizzie lançou um olhar significativo para . notou isso.
– Lizzie, você não está saindo com a ruiva? – Ele soltou, fazendo a loira cruzar os braços.

Não precisou de mais nada para entender.

– Uh... Lizzie... Eu sou hétero.

A loira deu de ombros, mas sorriu.

– Não custava nada tentar, mas é uma pena... pelo menos para mim. – Mais um olhar significativo.

, que tomava um gole de seu copo, quase engasgou.

– Vou ao banheiro. – Ele se levantou apressado.

Agora não entendeu o que aconteceu.

– Eu perdi alguma coisa? – Ela falou.
– Não. É que... Já rolou algo entre vocês? – Lizzie perguntou direta.
– O quê? Não!
– Nunca? Nada? Nem um climinha?
– Claro que não. Nunca tive muita paciência para a infantilidade de . Pensei que ele teria amadurecido com o tempo, mas claramente, não.

Lizzie riu.

– Então você também não percebe.
– Não percebo o quê?
– Essa provocação mútua... Não sei não, isso me parece outra coisa.

semicerrou os olhos, desconfiada.

– Ele falou para você dizer isso?
? Não. Na verdade ele diz que vocês jamais dariam certo.
Nós jamais existiríamos. Não tem a menor possibilidade. e eu somos muito diferentes e ele é... Impossível. Não leva nada a sério, entende? Para tudo tem uma piadinha e sempre que tiver uma oportunidade vai me encher o saco. São anos assim... Foram – se corrigiu.

Lizzie a olhava com interesse, não como alguém que sente atração por outra pessoa, mas sim como uma psicóloga analisando um paciente. O instinto policial de começou a apitar de repente. Bonitinha demais, boazinha demais e invasiva ao extremo. Bem desconfiável.
voltou sorrindo.

– Falando de rapazes? – Ele disse.
– Sim, o desprezo que temos por alguns deles – respondeu. – Desculpe, gente. Não estou me sentindo muito bem. , você quer ir agora ou pega um táxi?
– Eu posso deixar ele em casa – Lizzie falou.
– Ok, então. A gente se vê pelo corredor, . Tchau, Lizzie.

se levantou e foi ao balcão pagar sua parte da conta antes de sair.
Havia algo de errado naquela loira, ela tinha certeza disso. Não sabia o que, mas iria descobrir.

estava no quarto secreto, procurando algo sobre Elizabeth Morgan que pudesse incriminá-la, mas não teve muito sucesso. Apesar de ter descoberto que a loira a seguia na sua conta da “personagem” no Instagram. Ela estava olhando suas redes sociais quando entrou.

– Ei, você! Está bem?
– Estou sim.
– Melhorou?
– Melhorei de que, ?
– Você saiu do bar dizendo que não estava se sentindo bem.

o encarou, incrédula.

– Como é que entrou para a FBI, ? Eu estava mentindo.
– Por quê?
– Aquela sua amiguinha não estava me descendo. Tem algo de errado nela.

a encarou por um segundo, então sorriu.

– Com ciúmes, ?
– Ah, claro! É mais fácil eu conseguir pegá-la do que você, .
– Hmmm... Não sabia que jogava nos dois times.
– Ah, pelo amor... Cale a boca!

riu e se sentou, jogando as pernas sobre a mesa e pegando o seu notebook.

– Relaxe, ! Não precisa levar tudo tão a sério.

Ela o ignorou e mudou de assunto:

– Nenhum progresso ainda?
– Está cruzando dados – respondeu.
– Dois meses e ainda está cruzando dados?
– Você acha que é fácil como consertar seus carrinhos? Tive que analisar o sistema da empresa, criar um vírus indetectável, tentar passar centenas de vezes pelo firewall... – ele se interrompeu e suspirou. – Esquece. Seu cerebrozinho não deve entender muito além do Paint de um computador.
– É claro, , porque eu entrei para a FBI desenhando paisagens – ela ironizou.
– Seduzindo o diretor é que não foi.

estava prestes a rebater quando o computador apitou.

– O que foi? – Ela perguntou.
– O computador encontrou algo. Um arquivo que não deveria estar no sistema, como se fosse um vírus. “M-1-N-H-0-C-4-R-1-0”.

escreveu em um papel e então leu:

– Minhocário.
– Isso aí.
– Consegue abrir o arquivo?
– Ainda não, mas vou trabalhar nisso.
– Vou procurar alguma referência com esse nome.
– E assim terminamos um domingo perfeito.
– Só se for para você, foi o seu time que ganhou.

riu, mas não falou nada. Os dois se concentraram em seus trabalhos.


Algumas horas se passaram. voltou com dois copos de café e entregou uma para o parceiro.

– Demorou. – disse.
– Fui à biblioteca municipal. Achei uma coisa.

colocou o documento antigo sobre a mesa.

– Minhocário era o nome de um antigo projeto de túneis sob a cidade, que seriam usados para o transporte de minérios. Era um projeto em conjunto das duas famílias, mas que foi arquivado quando começaram os desentendimentos.
– Será que os Collins retomaram o projeto?
– Só tem uma forma de descobrir... As construções começaram sob as docas, mas com o arquivamento, a entrada foi lacrada. Porém, segundo essas plantas – Ela colocou os papeis sobre os outros. – tem uma escada de emergência no prédio administrativo que chega até lá.
– Que horas saímos?

olhou o relógio no pulso.

– Eu estou livre agora.



Capítulo 7 - O Minhocário.

dirigia seu carro em direção ao setor de oficinas de O’Village. Se quisessem percorrer os supostos túneis, precisariam de veículos menores. Ela chegou à entrada da oficina de Walker e abaixou o vidro. O segurança noturno a reconheceu e sorriu.

, no que posso ajudá-la à essa hora?
– Trabalho de última hora. me pediu para pegar umas motos que deixaram aí. Trouxe ele para cada um levar uma. – Ela respondeu, apontado para com a cabeça.
– As do bloco R?
– Exatamente.
– Vou pegar as chaves.

Não demorou nem um minuto até que ele voltasse com as chaves.

– Vou deixar meu carro lá, depois volto para buscá-lo e deixar as motos. E Albert, pediu completa descrição sobre isso, certo?
– Minha boca é um túmulo!

Ela sorriu e assentiu. deu a volta no galpão como sempre fazia e parou na frente da penúltima entrada da ala leste. Com um aperto no controle, o portão começou a se erguer, deixando à mostra três Kawasaki Ninja 300, uma verde, uma vermelha e uma preta.

– A vermelha é minha. – se apressou.
– Você sempre fica com as melhores. – reclamou no banco do passageiro.

Os dois saíram do carro e tiraram as duas motos para que estacionasse o Mustang dentro. Ela fechou o portão e guardou o controle na mochila que carregava, então entregou a chave da moto preta para .

– Próxima parada: docas.

As docas ficavam em uma pequena península ao sul da cidade, mas a entrada oficial para o túnel era um pouco mais a baixo, em uma área de descarga. Eles chegaram lá sem muita dificuldade, já que a estrutura se tornou uma espécie de marco histórico. Parecia um cilindro de concreto semi-enterrado no chão. Na parte plana mais alta, duas portas de aço enormes estavam fechadas, com uma placa de ferro que dizia “Entrada do Minhocário. Fechado”. De ambos os lados havia portas menores para pedestres, que também trancadas.
Eles pararam de frente à da esquerda e pegou ferramentas dentro de sua mochila para destrancar a porta. Não demorou muito para que se ouvisse um clique. empurrou, mas a porta não se mexeu mais que um centímetro. Ele tentou novamente, mas percebeu que algo servia de barricada.

– Tem alguma coisa atrás da porta. – Ele disse.
– Vamos tentar a outra.

Ele fez a mesma coisa na fechadura da porta à direita, mas encontrou algum obstáculo para abri-la também.

– Mesma coisa.

suspirou e disse:

– Vai ter que ser do jeito difícil. Um de nós entra pela escada de emergência do prédio administrativo, vem até aqui e tira o que está tampando a porta, enquanto o outro fica com as motos aqui fora.
– Eu vou. Só me deixe o mais perto possível de lá e fique escondida. Vou ficar com o ponto ligado, te aviso quando abrir para você trazer as motos.
– Certo.

montou na moto vermelha e subiu na garupa. Era madrugada de domingo para segunda, havia pouquíssimos seguranças e apenas alguns postes estavam acesos, então aproveitou os pontos cegos para deixar na porta dos fundos do prédio.

– Tome cuidado. – Ela disse ao deixá-lo.
– Sempre tomo.

Ambos assentiram e então se afastou. conferiu o bloqueador de sinal, que apagaria qualquer aparelho elétrico em um raio de dez metros. Nenhuma câmera ou alarme detectaria sua presença, em compensação, nada de luz também. colocou seus óculos de visão noturna assim que destrancou a porta, então entrou.
Apesar dos vários corredores, estudara o mapa do prédio e sabia exatamente aonde ir. Não demorou muito para achar a porta corta-fogo da escada de emergência. Alguns lances de escada abaixo, outra porta para ser destrancada.

– Voilà. – Ele disse ao ouvir o clique.

Ele abriu a porta cuidadosamente, fazendo o mínimo de barulho possível, dando de cara com um túnel comum. As luzes mais próximas estavam desligadas, por causa do dispositivo de , mas mais a frente haviam pequenas luzes presas à parede dando uma fraca iluminação amarelada ao lugar.
conferiu em uma bússola a direção que deveria seguir, então foi para à esquerda.
Muitos passos depois, chegou à entrada e viu o que impedia a abertura das portas. Atrás delas estavam carrinhos de transporte manual para cargas pesadas com duas caixas enormes sobre eles. se aproximou da primeira porta que havia aberto e puxou com força, fazendo o carrinho deslizar para a esquerda.

– Bravo, na escuta? – Ele falou.
– Bravo na escuta e se perguntando por que não é Alfa.
– Porque Alfa escolheu Alfa primeiro. Pode vir à porta da sua esquerda ou precisa de ajuda?
– Não, já estou chegado.

Não demorou muito para aparecer com as duas motos. fechou e colocou o carrinho no lugar, caso alguém aparecesse.

– Tá com o bloqueador de sinal ligado? – Ele perguntou.
– Sim.
– Então ponha os óculos e não ligue os faróis.
– Eu sei, Alfa.

Os dois colocaram o capacete e partiram.
O túnel que supostamente deveria ter apenas cinco quilômetros construídos, ia muito além. Em certo momento apareceu um cruzamento, então foi reto enquanto foi pela esquerda.

– Alfa, na escuta? – Ela falou após longo silêncio.
– Positivo. – confirmou.
– Encontrei uma espécie de estação, parece uma de metrô não terminada. Aparentemente vazia, mas tem uns caixotes vazios com indícios de terem sido recentemente abertos. Não há sinal do que continham.
– Procure algo que possa ser levado como amostra. Até o momento não achei nada, então vou mapear a área percorrida e voltar para o ponto de encontro.
– Certo. Nos encontramos em quinze minutos.

ligou uma lanterna que, assim como o ponto em seu ouvido, tinha dispositivo anti-bloqueador de sinal. Ela olhou cada caixote, até achar um pó branco e marrom no chão perto de um deles. De dentro da mochila pegou um coletor de amostras e passou ali, depois tampou e guardou de novo.
Com a lanterna ainda ligada, deu uma olhada nas paredes e achou uma plaquinha com uma sequência de números que resolveu anotar. Após mapear até onde havia chegado, guardou as coisas e montou na moto, pronta para voltar.

aguardava na entrada do túnel quando apareceu. Eles se cumprimentaram com um aceno e ela foi a primeira a sair.
riu. Precisou de certa força e fez o que disse, então trancou a porta de novo.

– Devíamos dar uma olhada no que tem nesse caixote, não acha? – Ela falou.
– Já olhei. São dois barris cheios de água.
– Muito bem, Alfa. Agora como faremos para por ele no lugar?
– Não botamos. Não tem como.
– Vão saber que alguém esteve aqui.
– Contanto que não descubram que somos nós, por mim... – Ele deu de ombros.

Apesar de não está muito confortável com isso, ela também deu de ombros e montou na moto.

– Uma corrida até a oficina do Walker? – Ele disse e sorriu.
– Valendo minhas vinte pratas do jogo. – Ele subiu na moto preta.
– Fechado.

Os dois colocaram os capacetes e dispararam.
Apesar de a oficina ser do outro lado da cidade, não tiveram problemas para chegar lá. Todo mundo estava em suas casas e os sinais de transito durante a madrugada não fechavam. preferia as pistas e avenidas maiores enquanto cortou por dentro dos bairros.
Como ela amava aquilo, a velocidade, o vendo batendo furioso contra seu corpo e a vibração de um motor rugindo sob seu controle. Não cansava de se deliciar com a sensação de pilotar o que quer que fosse. Não sabia se estava aproveitando tanto quanto ela, mas quase cogitou perder a corrida para poder andar mais. Quase.
chegou pelo menos uns dez minutos antes de e o esperou na esquina, para que entrassem juntos. Passaram pelo segurança da oficina e deixaram as motos exatamente como às encontraram. Depois entraram no carro e saíram.

– Parei no Burger King e comprei um lanche. – disse puxando duas sacolas de plástico de dentro da mochila. – Não deve estar muito quente, mas...
– Nunca pensei que falaria isso, mas eu seria capaz de te beijar, !

Ele riu e pegou uma batata de dentro da sacola.

– Que bom que pensa assim, porque paguei com seus vinte dólares.

semicerrou os olhos.

– Filho da puta.

riu ainda mais e entregou uma batata para a parceira.


Eles chegaram ao prédio que se tornara seu lar nos últimos dois meses e assim que chegaram no décimo andar, falou:

– Vamos lá para casa. Sei que amanhã... – Ela olhou o relógio. – Hoje tem trabalho, mas já estamos acordados mesmo, podemos ver um filme.

deu de ombros, tentando não ver duplo sentido no convite da moça, mas falhou miseravelmente.
Os dois entraram no apartamento de e enquanto ela esquentava os hambúrgueres, olhava o catálogo de filmes.

– E aí, o que assistiremos?

Ela se sentou do lado dele no sofá e lhe entregou um dos lanches.
– Não faço idéia. Do que você gosta?
– Comédia, ação, aventura... E você?
– Olha, temos algo em comum, mas também curto romance policial.

ergueu uma sobrancelha, sorrindo.

– O que é? – perguntou.
– Nada! Nadinha...
– Fala!
– Você me chama para assistir um filme, diz que curte um romance policial... Nós somos federais.

revirou os olhos.
– Você não tá achando que eu estou te cantando, né?
– Bem...
, nós somos parceiros de trabalho e atualmente vizinhos. Não sabemos por quanto tempo vamos conviver juntos, então estou apenas tentando criar algum vinculo de amizade para que eu não tente te esmurrar toda vez que me encher o saco, o que acontece com alta frequência.

Apesar de não ter acreditado 100%, levantou as mãos em rendição.

– Tá bom, tá bom! Não precisa se irritar, miss simpatia. Vamos ver algo de ação, então. Que tal: Bastardos Inglórios?
– Finalmente você disse algo que preste. Dá play aí.

O filme não tinha chegado nem ao final quando olhou para o lado e encontrou uma adormecida, quase caindo em seu ombro. Ele riu baixo e levantou, deitando-a no sofá com a cabeça sobre uma almofada, então pegou um cobertor no quarto para cobri-la.

– Boa noite, parceira.



Capítulo 8 - Parceiros.

andava a passos lentos e silenciosos pela casa quase toda destruída por balas que ela não soube de onde vieram. Sua arma estava em punho, pronta para acertar o primeiro que aparecesse em sua frente, mas não havia ninguém. Ela parou de frente à escada que mais a cima se dividia em duas, então resolveu subir. Ao chegar ao ponto de divisão, ela parou decidindo para que lado seguir.
Alguma coisa parece cair, fazendo um barulho quase inaudível vindo de um dos cômodos no segundo andar, então subiu pela direita.
Ela inspirou com força e soltou o ar lentamente, ao mesmo tempo empurrava devagar a porta com o pé. Quando a abriu por completo, encontrou seu parceiro deitado sobre uma cama de lençóis que eram brancos, mas agora estavam avermelhados de sangue. Seu rosto estava suado e contorcido em dor, suas mãos seguravam uma toalha, tão suja quanto os lençóis, sobre as costelas.

! – Ela se apressou e ajoelhou ao lado da cama. – , acorda, por favor, acorda!

descruzou as mãos dele e tirou a toalha que o cobria, deixando à mostra um buraco aparentemente provocado por uma bala.

– Ai meu Deus! – Sua voz quase não saiu.

Ela se levantou para buscar algo que pudesse servir para primeiros-socorros, mas a mão de apertou a sua.

– A culpa é sua. – Ele disse com a voz fraca. – Ele descobriu... Disse para eu mandar uma mensagem...
– Quem, ?! Quem fez isso?
– Ele não vai perdoar isso... Ele... – tossiu, engasgando.

se ajoelhou segurando o rosto do parceiro com delicadeza, seus olhos já embaçando com as lágrimas.

– Resista, . Você não pode me deixar, está ouvindo?! Não pode me abandonar, também. Você, não!
– Eu te avisei, . Isso ia acontecer.
– O que ia acontecer? O que você avisou?

Os olhos de foram perdendo foco e ficaram entreabertos, o aperto de sua mão foi ficando mais fraco até ela cair sobre a cama. Ele não se mexeu mais.

? ?! Não, não, não, por favor! !


acordou em um sobressalto, com o nome de seu parceiro engasgado em sua garganta. Seu coração parecia estar a mil por hora e suas mãos tremiam no mesmo ritmo. Ela olhou ao redor, reconhecendo a sala de sua atual casa. Estava deitada no sofá sob sua coberta. Suas mãos tatearam pelo pano até encontrar o celular, ela desbloqueou a tela e olhou relógio, surpresa.

– Dez horas?!

Não acordava tarde assim há anos.
Respirou fundo algumas vezes, mantendo os olhos fechados até sentir seu coração desacelerar e as mãos voltarem a ter firmeza. Quando se sentiu controlada, procurou por em sua agenda e lhe enviou uma mensagem se desculpando pelo atraso. A resposta veio poucos segundos depois:

: Tudo bem, Denver. Tire o dia de folga.

Ela suspirou e sorriu. Aquela folga tinha vindo no momento certo. guardou o celular e foi para o banho, já planejando seus próximos passos.

O Mustang preto seguia solitário pela auto-estrada, dos dois lados apenas areia e vegetação seca. O vendo balançava o cabelo de furiosamente, mas seus olhos se mantinham protegidos por óculos de lentes escuras. No banco do passageiro, uma sacolinha de pano sobre a jaqueta de couro que, com certeza, não seria utilizada naquele calor. Os dedos da moça tamborilavam no volante enquanto ela cantava junto com a música que tocava no rádio:

So you think you can stone me and spit in my eye... So you think you can love me and leave me to die. Oh baby, can't do this to me baby. Just gotta get out, just gotta get right outtahere!*

Mais alguns quilômetros e o carro fez a curva à direita em uma estrada de terra que levava a uma casa pequena de madeira, protegida por uma cerca de arame farpado. parou em frente ao portão e saiu do carro. Antes mesmo que batesse palmas, apareceu na porta um homem negro, por volta de 60 anos, com ralos cabelos brancos e um bigode bem aparado da mesma cor, em suas mãos, uma espingarda novinha.

– Caridade! Vim ler histórias a um idoso. – Ela disse sorrindo.

O senhor andou até o portão e o abriu.

– Idoso é o senhor seu avô.

Os dois sorriram e trocaram um abraço meio desajeitado.

– Já faz quase três meses que esteve aqui. Mas admito que pensei que demoraria mais a aparecer.
– Eu faço o meu melhor, Charlie. Podemos entrar?

Charles, ou Charlie, como o chamava, deu um sorriso paternal e abriu espaço para que fosse na frente. A casa era simples, tinha cheiro de couro, cabeças de alces nas paredes, uma lareira desligada de frente a duas poltronas e uma TV antiga perto do sofá maior. A cozinha era visível através do batente sem porta à direita e uma porta à esquerda deveria levar ao quarto. Uma casinha simples de um aposentado comum. Bem, isso é o que parecia, mas era a última coisa que aquele lugar era.
Em uma rápida olhada, identificou pelo menos dez pontos onde tinha certeza que haviam armas guardadas pelo ex-general à sua frente. Charles fora seu chefe durante seus primeiros anos de FBI, deveria ter se aposentado, mas sempre dizia que não nasceu para ficar em casa, então passou a ajudar em missões de infiltração, como essa, e atualmente agia como única ligação física de e com a base do FBI.

– O que conseguiu, agente? – A voz do senhor assumiu um tom sério. Não estavam mais descontraindo.
– Descobrimos sobre um projeto supostamente engavetado chamado de Minhocário. São túneis sob a cidade que aparentemente funcionam sem registro algum.
– Vocês foram até lá?
– Sim. Coletei isso aqui em uma espécie de estação de carga. – Ela entregou uma sacola de pano para ele. – Enviarei os relatórios detalhados até o anoitecer. Mas preciso de um favor, precisamos de equipamento para percorrer os túneis.
– Vou fazer o pedido e entregar isso à base. Acha que pode provar alguma ligação?
– Ainda não. descobriu sobre o projeto nos arquivos da Collins, mas não achou nada que os incriminem ainda. Com certeza estão envolvidos já que a extensão dos túneis é bem maior do que quando as obras supostamente pararam. E sendo eles uma empresa de engenharia, você sabe.
– Precisamos de provas.
– Nós conseguiremos, senhor.
– E os Walker?
– Estou conquistando a confiança do mais novo, . Ele está passando a confiar em mim. É questão de tempo até me confidenciar algo.
– Mantenha-nos informados.
– Sim, senhor.

bateu continência e sorriu, recebendo um sorriso de volta. Então se retirou sem falar mais nada.

***

chegou em casa e foi visitar sua vizinha, percebendo que passava mais tempo ali do que em seu apartamento. Ao entrar, encontrou a casa vazia, mas deixou uma mensagem no bloco de notas preso à geladeira: “Me encontre na academia”.
A academia que ele se referia, na verdade, era o antigo quarto do zelador no terraço do prédio. Os dois montaram uma pequena sala de treinamento com tatame, sacos de pancada, alguns pesos, entre outros equipamentos, então passaram a treinar lá invés de irem a uma academia.
Ele subiu para lá e depois de colocar seu equipamento e se aquecer, decidiu começar pelo saco de pancadas. Estava no meio de uma sessão de socos e chutes quando ouviu uma voz feminina atrás dele:

– Acho que você já o puniu suficientemente.

virou-se e encontrou de braços cruzados, encostada no batente da porta, com uma expressão divertida no rosto. Seus cabelos estavam presos em uma trança raiz, usava top e short pretos, luvas e caneleiras de treino. Parecia uma lutadora de UFC menos musculosa.

– Isso são horas, mocinha? – se aproximou dela, com um sorrisinho torto no rosto.
– Um de nós tinha que fazer os relatórios, .

Ela passou esbarrando nele e se posicionou no meio do tatame.

– Vamos treinar ou já gastou toda sua energia contra o saco?

riu e se colocou de frente para ela.

– Para você eu sempre tenho energia,

. Mas não deveria se aquecer antes?
– Já estou quente o suficiente.

Ela não esperou por uma resposta e partiu para cima dele. , por reflexo, desviava da sequencia de socos e chutes que a moça investia contra ele, mas em um cálculo errado, acabou levando um no queixo e outro no meio dos peitos. cambaleou e se apoio nos joelhos para recuperar o fôlego.

– Uau... – Ele disse ofegante. – Alguém está na TPM.
– Toda vez uma desculpa diferente. Por que não simplesmente admite que luto melhor que você? – sorriu e lhe estendeu a mão.
– Porque você não luta melhor que eu.

puxou a mão da parceira e com uma jogada de perna, lhe deu uma rasteira, fazendo-a cair de costas no chão. Ele sentou sobre seu corpo, prendeu um dos braços ali e o outro ele segurou sobre a cabeça dela com uma das mãos.

– Viu só?! – Ele disse inclinando-se para dar um beijinho no nariz dela.

Ela tentou lhe dar uma cabeçada, mas ele se esquivou sorrindo.

– Opa, a gatinha tá nervosa.

levantou uma sobrancelha, desafiante.

– Golpe de sorte e trapaça.
– Trapaça ou não, eu estou por cima e você embaixo... Mas pensando bem, eu ia gostar de inverter as posições também. – Ele deu um sorrisinho malicioso.
– Você não daria conta, .

Ela aproveitou a breve distração de para chutá-lo, desequilibrando-o para frente e liberando espaço para que ela lhe desse uma cotovelada, jogando-o de lado. O braço que a segurava, ela pegou e o torceu, prendendo o parceiro de bruços no chão. Agora ela estava por cima.

– O que você estava dizendo mesmo, ?

Ele tentou se mexer, mas aumentou a pressão contra o braço.

– Opa, o gatinho tá nervoso. – Ela riu. – Admita, , sou melhor lutadora que você.
– Eu chamaria isso de empate. Que tal um último round e a gente decide?

riu e revirou os olhos.

– Só porque te convém. – Mas ela se levantou e deu espaço para que ele se recuperasse também. ergueu uma sobrancelha e levantou o pulso, com um movimento de dois dedos, chamou-o para a briga.
Ela queria provocar? Então entraria no jogo.
Um cruzado bloqueado, um chute desviado e um soco que errou o rosto dela por centímetros. resolveu contra atacar. Sua perna foi com tudo em direção às costelas esquerdas de , mas ele foi mais rápido e a segurou contra o corpo. Por instinto, ela se equilibrou pela perna presa, pronta para chutar o abdômen dele e se soltar, mas previu o que ela faria e girou o corpo, redirecionando levemente o chute e prendendo a outra perna como fez com a primeira.
sentindo que cairia, puxou o corpo para frente, fazendo se desequilibrar e levar ambos para o chão, ela por cima novamente. Os dois estavam tão colados que sentiam a respiração um do outro. O coração de batia acelerado e conseguia senti-lo através de seus seios sobre o peito dele. O olhar de percorreu os fios grudados no rosto dela e desceu até seus olhos, que o encaravam na mesma intensidade, foi descendo por seu nariz e chegou aos lábios entreabertos e ofegantes.
Eles estavam próximos. Muito próximos. já começou a sentir a ereção atingir seu membro e por um instante temeu a reação de quando notasse, mas ela parecia tão perdida no momento quanto ele. Porém, foi a primeira a sair do entorpecimento.

. – Ela ofegou e limpou a garganta.

Só aí ele notou que ainda a segurava, então a soltou meio sem jeito e esperou que levantasse para fazer o mesmo, puxando a blusa sobre a área atualmente voluptuosa do seu corpo. não deixou de notar isso e corou levemente.
O quê? Eu fiz a miss simpatia corar? pensou se segurando para não soltar uma piadinha para não piorar a situação. Ele também limpou a garganta e quebrou o silêncio:

– Eu... Vou tomar um banho – gelado, completou mentalmente.

Ela assentiu e saiu apressado. A imagem do que acabara de acontecer aparecia em replay na sua mente enquanto ele descia as escadas para o décimo andar. Sempre enchia o saco de , fazia piadinhas de duplo sentido e até soltava umas cantadinhas baratas, mas nunca havia realmente sentido atração por ela... Bem, um pouco, mas não chegou a ter um interesse real já que a via como colega de trabalho. Só que não podia negar para si mesmo que desde que chegaram a O’Village, haviam se aproximado de forma mais pessoal do que nunca e, depois do que aconteceu, ele se sentia realmente confuso. – Só me faltava essa – ele resmungou girando o registro e levando um jato de água gelada na cabeça.

***

O que acabou de acontecer? se perguntava, olhando a si mesma pelo espelho embaçado do banheiro. Ela estava preste a beijar . ! Seu colega babaca que se fazia de pegador e a irritava sempre que possível. Seu atual vizinho e parceiro de trabalho desde a morte de seu melhor amigo. Aquele que a encobriu quando, no meio de uma missão, seu cérebro insistia em travar e mostrar a imagem de seu ex-parceiro sendo baleado.
De repente ela se lembrou do sonho que tivera mais cedo e estremeceu. Quando foi que se tornara alguém importante para ela? Até onde sabia, ele era só um colega que ela aprendera a lidar.
suspirou e jogou água fria no rosto. Não para limpá-lo, já que tinha acabado de sair do banho, mas sim para ordenar a mente que parecia a mil por hora. Não como de costume, entretanto. Isso não vai dar certo, ela pensou, saindo do banheiro sem se importar de secar o cabelo. Abriu o guarda-roupa e pegou uma regata branca e um short jeans. Não costumava se vestir tão casualmente, já que estando em missão qualquer coisa pode acontecer, mas não se importava com isso no momento
A campainha tocou e foi atender, sem muita vontade.

– Eu acho que a gente tem que conversar. – falou assim que a porta se abriu.
– Só assim para você tocar a campainha, pelo visto. – Ela brincou, dando espaço para que ele entrasse.

riu sem jeito, passando a mão nos cabelos.

– Uh, ... Olha, eu não quis...
– Tudo bem, . Eu sei, não precisa se desculpar. Só que isso não pode acontecer.
– Eu sei. Quer dizer, nós somos parceiros e você é minha amiga. Seria errado.
– Pois é. Vamos esquecer isso, está bem?
– Claro!

sorriu e estendeu a mão para ele.

– Amigos?

segurou a mão dela e a puxou para um abraço.

– Amigos.

Ela ficou ali mais tempo do que planejou. Seus olhos se fecharam por vontade própria e ela se deparou analisando o cheiro amadeirado de . Reparou no quanto ele era mais alto que ela, já que sua testa encaixava perfeitamente na curva do pescoço dele.
pressionou de leve os dedos na cintura dela, causando-a um arrepio involuntário. Não posso, uma voz na mente dela gritava, mas seu corpo respondia de outra forma. Os dois se separaram, olhando diretamente nos olhos do outro, mas seus braços se mantinham entrelaçados. Havia uma força que parecia puxá-los um contra o outro, fazendo-os se aproximar. Suas respirações se chocavam, fazendo a tensão ficar ainda maior.

– Talvez... Possamos ser amigos coloridos?

riu e revirou os olhos, empurrando-o.

– Cale a boca, .

Ele riu e passou a mão nos cabelos, então acenou antes de sair, deixando para trás uma ofegante e refletindo se deveria tomar outro banho frio.



Capítulo 9 - Os Testes.

chegou à oficina dos Walker e viu uma movimentação maior do que o normal. Tinha gente demais, carros demais, peças espalhadas demais. Tão cheio que ela não conseguia encontrar nenhum de seus colegas, até M.J. pular em sua frente.

– O que está acontecendo aqui? – Ela perguntou direta.
– Última sexta do mês, !
– E...?
– Dia de corrida, duh!

Ela continuou encarando-o sem entender ao certo o que isso significava, mas já desconfiando. M.J. deu um tapinha na testa e riu de si mesmo.

– Foi mal, esqueci que você é novata.

revirou os olhos, exatamente como fazia sempre que a chamavam assim. Três meses trabalhando ali e ainda era “a novata”. Ela tinha certeza que a chamavam assim para provocá-la.

– Toda última sexta-feira do mês acontece às corridas. A galera equipa seus carros o mês todo para essa festa.
– A corrida é uma festa?
– É mais um evento. Tem música automotiva, claro, pessoas dançando, bebida alcoólica e as corridas.
– Quem participa das corridas?
– Bom, tem alguns corredores que correm por si nos em rachas de arrancadas ou nas retas, mas tem também aqueles que pagam para entrar no ranking. – M.J. olhou ao redor e abaixou a voz. – Na verdade, vai para o ranking aqueles que querem trabalhar para as famílias. Eles mostram que são bons e são contratados para trabalhos por lá.
– Que tipo de trabalho?

M.J. sorriu, fazendo as covinhas de sua bochecha aparecer.

– Isso eu não posso te dizer, . Só sendo contratada para saber.
– Ok, então. E onde será a corrida de hoje?
– Ninguém sabe ainda, só tem tipo, uns três administradores além dos caras das famílias, então todo mundo fica na expectativa e à meia-noite em ponto, todos os inscritos e pessoas que querem participar da festa recebem uma mensagem com a localização do evento.
– Como eu me inscrevo?
– Já está inscrita, Denver. – Uma voz masculina disse atrás de .

Ela girou 180° e deu de cara com e seu sorriso torto no rosto.

– Eu estou?
– Você faz parte da minha equipe agora. Participará desses eventos com certa frequência.
– Por mim, tá beleza.
– Agora preciso de você na garagem M.

o seguiu sem questionar. Eles atravessaram o pátio desviando de uma grande quantidade de pessoas e automóveis ali.

– Você deve estar faturando alto hoje. – comentou. – Se cada pessoa tiver pagando um dólar por hora, já dá pra comprar um carro popular no fim do dia.

soltou um riso nasalado, mas não respondeu nada. Nem precisava. Ele estava cobrando bem mais do que um dólar por hora, disso tinha certeza.
Enfim chegaram à porta da garagem M, em frente a ela, havia um guincho com um carro coberto por uma capa cinza. Travis sorriu ao ver os dois e entrou na cabine do lado do motorista. abriu a porta e deixou que entrasse antes de subir.

– Ok... Esse dia está ficando cada vez mais estranho. – Ela soltou ao começarem a se mover.
– Relaxe, Denver – falou.
– Está todo mundo cheio de mistérios hoje, hein? Estão tirando uma com a minha cara ou...?
– É procedimento padrão, . – Travis que respondeu. – Você está chegando a outro nível aqui. Subindo de cargo, por assim dizer. Você não pode saber o próximo passo para que possamos analisar se você está apta para o que vai vir.
– E eu pensando que tinha me candidatado a uma vaga de mecânica normal.

riu com deboche.

– Ah, conte outra, Denver. – Ele disse humorado. – Você fez questão de jogar sua graduação assim que conheceu Crash. Não duvido que já tenha conhecimento sobre algo daqui para ter ido exatamente onde acharia alguém que te colocasse dentro.

o olhou, tentando buscar algum tipo de suspeita ali, mas os olhos de eram enigmáticos como o de ninguém que ela já conhecera. Ele a encarava com intensidade. Um arrepio cruzou sua coluna, mas não era medo. Na verdade, nem ela saberia dizer o que era.

– Posso ter ouvido alguns boatos e me interessado em vir para cá. – Ela deu de ombros.
– Eu imaginei. É uma rede bem grande, apesar de ter seus pontos de maior concentração.
– Como assim?
– Você saberá um dia, Denver... Se merecer. – Um sorrisinho malicioso brincou nos lábios de .

umedeceu os lábios e passou a olhar a estrada à frente. Ela franziu o cenho ao perceber que estavam passando por uma pista deserta, a mesma que percorreu para chegar à casa de Charles. Pelo canto dos olhos, ela observou aos dois, buscando qualquer sinal de que algo estava acontecendo, mas ambos pareciam distraídos.
Seu cérebro instintivamente começou a trabalhar em possibilidades. Se tentasse algo, ela o socaria bem nas bolas e puxaria a arma que tinha certeza que ele guardava na cintura. Travis provavelmente ajudaria o amigo, mas sem desacelerar, então ela teria que chutá-lo no rosto e torcer que ele desmaiasse na hora. Daria uma coronhada em e abriria a porta para jogá-lo, depois faria o mesmo com Travis e assumiria o volante do guincho.

– Acho que aqui está bom. – disse, tirando-a de seu plano.

Seu corpo estava pronto, só esperando pelo primeiro sinal.
Travis estacionou no acostamento. Ele e abriram as portas ao mesmo tempo e desceram, mas o segundo esperou que fizesse o mesmo antes de fechá-la. chegou primeiro à traseira do veículo e desencapou o carro que levavam. Era o Dodge Challenger SRT 2010, agora pintado de preto fosco, que consertaram juntos.

– Para que isso? – Ela perguntou, olhando os dois homens descerem o carro para a pista.
– Precisamos fazer uns testes com ele e lá estava muito cheio. – respondeu.
– Ok, chefe.

Travis pegou a chave do bolso e entregou a .

– Vamos levá-lo ao extremo. – Ele disse. – Vou deixar um cone aqui e por o guincho no que vai ser o limite da nossa pista, fica com um cronômetro aqui e eu com outro lá. Você dirige.
– Beleza – não deixou sua desconfiança transparecer na voz.

Depois de tudo posicionado, e Travis confirmaram suas posições através de um Walkie Talkie.

– Pronto, . Pode ir. – falou causando surpresa na moça.
?

levantou uma sobrancelha.

– Prefere que eu te chame de Denver pelo resto da vida?

Isso a fez rir.

– Para mim, tanto faz. Só foi engraçado vê-lo menos formal. Você é sempre todo durão... Aposto que adora quando as pessoas sentem medo de você.

Ele se aproximou dela e semicerrou os olhos.

– Você é boa em ler ar pessoas, mas também é um livro aberto. Sente medo de mim, Denver? – Ele se aproximou mais um passo, com o rosto sério. Involuntariamente, deu um passo para trás.
– Eu deveria sentir?

deu mais um passo, prendendo-a contra o carro.

– Você acha que deveria?
– Acho, se eu fosse uma inimiga, é claro. Mas não sou, , e vejo bem além dessa armadura de chefe malvado que você usa. Você é uma pessoa interessante de ler.

O rosto dele relaxou e um sorrisinho apareceu.

– Acho que posso dizer o mesmo sobre você.

sorriu de volta, sentindo seu coração se acalmar um pouco e só então percebendo que ele estava acelerado. Ela não disse mais nada, apenas deu a volta e entrou no carro puxando o ar com força antes de girar a chave. se posicionou a um metro dela, com o cronometro na mão. Quando ele fez sinal de positivo, ela acelerou.
Foi uma manhã um tanto repetitiva. Mediram a aceleração, testaram a velocidade máxima que o carro atingia, o testaram em pistas de terra e em curvas fechadas. mantinha-se atenta para a possibilidade de chegarem perto da casa de Charlie, mas não foram tão longe.
Já eram quase 15h quando terminaram os testes. O Dodge havia se saído melhor do que esperado, então o cobriram e reposicionaram sobre o guincho para poderem ir almoçar. Eles pararam em um trailer que servia de restaurante para viajantes em uma vila próxima à fronteira de O’Village.

– Vou levá-lo para lavar e estará pronto na hora da corrida. – Travis falava enquanto olhava o cardápio. – Vou querer o Mega Burger com fritas e um copo de Coca. – Ele disse à garçonete.
– Para mim, o mesmo. – falou, entregando-lhe o cardápio.
– Para mim também, só que suco de laranja no lugar do refrigerante.
– Querendo manter a forma, ? – Travis brincou.
– Sabe como é, né? Só academia não basta.

Os três riram e continuaram conversando sobre coisas aleatórias enquanto esperavam os pedidos. O lugar não estava cheio, mas tinham algumas mesas ocupadas.

– Como funciona essa corrida? – perguntou assim que o tema voltou a ser pauta da conversa.

esperou que a garçonete deixasse os pedidos antes de falar:

– Temos as corridas de arrancada, que é um contra um, normalmente essa é aberta para todos. Tem as corridas de drift, também um contra um, mas nem todo mundo tem habilidade nessa e é a “modalidade” que nem sempre acontece porque exigem locais específicos.
– Que tipo de locais? – Ela perguntou.
– Geralmente lugares não muito grandes, com curvas fechadas. Nem todo corredor é chamado para essas e a plateia costuma ser mais exclusiva. Porém, são as melhores quando se trata da festa em si.
– A de hoje é dessa?
– Não sei. – colocou uma batata na boca e sorriu sarcasticamente.

revirou os olhos.

– E o que mais? – Ela perguntou.
– Bem, além dessas, tem a ponto a ponto, que é a corrida principal. Nessa categoria são quatro corredores. Para participar tem que ser realmente bom porque é basicamente um vale-tudo e só a inscrição já é bem alta. São nessas que rolam as apostas mais altas e os carros mais equipados. Você verá.
– Só tem uma corrida nessa classe?
– Não. Elas são as últimas porque são as mais esperadas, mas normalmente tem umas cinco por noite. São elas que definem sua posição no ranking. Quanto melhor sua posição, mais dinheiro você ganha e maior a chance de competir na corrida da Califórnia.
– Espera aí. Tem uma corrida para o estado todo? Tipo Stock Car?
– Quase isso. Só que ilegal, o que torna tudo mais divertido e menos burocrático.
– Então tem um ranking por cidade?
– Não, é por região. Nós estamos na região sul da Califórnia, logo corremos com pessoas das cidades do sul. A equipe que conseguir as melhores classificações no fim do ano, disputa na Corrida da Califórnia.
– Como é possível que isso tudo ocorra por debaixo dos panos?
– Gente importante aposta alto nessas corridas, Denver. Chegam até a patrocinar os melhores corredores. Rola muita grana nisso. Sem contar com os trabalhos extras que acontecem em paralelo às corridas. Você acha mesmo que a polícia ousaria chegar perto? No máximo, atrapalham alguns rachas.
– Deixa eu adivinhar, você não vai me contar agora do que se tratam os tais trabalhos extras.

só precisou sorrir em confirmação.
Nenhuma informação viria de bandeja para . Se quisesse realmente descobrir tudo o que acontecia, teria que ir até o final. Teria que ser um deles. Um sorrisinho surgiu de seus lábios. A ideia não lhe parecia de todo mal, na verdade, estava bem ansiosa para a corrida de hoje e para saber como rolavam, mesmo que não fosse sua primeira vez em um racha...

esperou até ter certeza que o efeito do remédio faria efeito em todos. Duas horas dizia na embalagem e já haviam se passado três. Ela pegou sua jaqueta e foi para o corredor, parando de frente à porta ao lado. Ela abriu devagar, olhando para dentro do quarto do irmão que roncava alto. Foi difícil segurar o riso. Não era a primeira vez que fazia aquilo e, como de costume, a chave do carro dele estava na estante da TV.
Passos apressados a levaram até a garagem onde o Audi A5 Sportback prata a esperava. Seu irmão ganhava muito bem no trabalho, não entendia porque ele não saia da casa dos pais.
Ela entrou no veículo e esperou que o portão abrisse para sair com o carro. Na época, morava na cidade em que nasceu: Middletown, Nova Jersey. O ponto de encontro com os colegas de escola era em uma autoestrada a oeste da cidade.
Os rachas começaram por causa da rixa dos alunos do colégio de , o Middletown High School North, com os alunos da Middletown High School South. os descobriu através de um garoto que gostava na época, então, para impressioná-lo, decidiu entrar. Acabara se saindo tão bem que não deixavam que ela faltasse a nenhum.
A garota chegou ao ponto marcado, encontrando pelo menos umas vinte pessoas ali. Ela cumprimentou seus colegas e amigos assim que saiu do carro, e lançou seu melhor olhar de desprezo para os alunos da escola rival.

– E aí, cadê o babaca que me desafiou? – Ela perguntou para seu então crush.
– É aquele ali, o que tá encostado no carro vermelho. – Ele apontou com queixo. – Dave Anders.
– Bem, está na hora de ele conhecer a única visão que terá essa noite, os faróis traseiros de .
– Eu não ficaria tão autoconfie se fosse você. O cara é bom. Ele é um dos veteranos.
– Relaxa, Gabriel. Eu já corri contra veteranos e até o momento ninguém me ganhou.

sorriu e deu um beijo na bochecha dele, então foi até o cara encostado no carro vermelho.

– Você é Dave Anders?

Ele a olhou dos pés à cabeça como se não se impressionasse e respondeu:

– Imagino que você seja .
– Primeira e única.
– Fiquei sabendo que ganhou uma nota do meu irmão no último racha.
– Desculpa a sinceridade, mas seu irmão é um puta barbeiro. Nem sei por que ele ainda tenta.
– Você é bem petulante, não é, garota?
– Eu diria que sei o quanto sou boa. Mas nós não viemos para bater papo, não é? A não ser que queira desistir e se poupar da humilhação que seu irmão passou.

As pessoas ao redor soltaram um “UH” em uníssono. Dave levantou bufando.

– Você vai se arrepender por isso, garota.
– Cem pratas que não vou.
– Fechado.

Os dois foram para seus carros e se posicionaram um ao lado do outro na pista. Uma das meninas que estavam por lá foi encarregada de dar a partida e os dois arrancaram. Eles teriam que dar o retorno perto do limite da cidade e voltar para onde começaram.
Os dois disputavam praticamente lado a lado, sem conseguir uma boa distância um do outro, até que chegaram ao retorno. Foi aí que aconteceu. Dave, propositalmente ou não, encostou a lateral traseira do Audi de . O carro girou para esquerda, fechando o carro do veterano, que acabou arrastando . Quando ele freou, o carro de perdeu estabilidade e capotou algumas vezes. Dave apenas acelerou, deixando-a para trás junto com seu próprio para-choque.
não estava de cinto e acabou sendo lançada para fora do carro, sobrevivendo por milagre. Tudo o que aconteceu depois ela só soube pelas histórias que a contaram. Seus amigos chegaram ao lugar e a encontraram desacordada no chão. Sua cabeça sangrava, tinha alguns arranhões nas mãos e um corte na perna, a jaqueta teria protegido os braços e por sorte só quebrou o antebraço ao cair sobre ele.
Ela acordara no outro dia em uma cama de hospital com seus pais transtornados pelo que houve. Se não fossem seus amigos ligando para eles, a polícia poderia ter chegado primeiro e os problemas seriam ainda maiores. Assim que teve alta, eles a avisaram que seria transferida para um colégio militar em Nova York, onde moraria com seus avós. Ela não aceitou e ficou bastante irritada a principio, mas com o tempo se adaptou muito bem à nova rotina e foi graças a isso que ingressou na FBI.


deu uma risadinha nasalada e voltou a sua atenção à conversa dos dois homens na mesa. Não acreditava muito nessas coisas de destino, mas de repente começou a acreditar que algo a colocou ali em O’Village por alguma razão.



Capítulo 10 - A Corrida (Parte I).

entrou no apartamento e não encontrou sua parceira na sala, então foi para o quarto, encontrando o cômodo também vazio.

? – Ele chamou em voz alta.
– Oi – ela gritou de volta do banheiro.

A porta se abriu e por lá apareceu uma enrolada em um roupão branco, com o cabelo meio seco, meio úmido.

– Já que está aqui, poderia secar para mim? – Ela disse levantando o secador.

revirou os olhos e pegou o objeto. sentou-se na cadeira da penteadeira e ele conectou o secador na tomada, então começou a secar.

– Fui promovido – ele disse do nada.
– O quê? Mas já?
– Pois é. Pelo visto gostaram tanto do meu trabalho que decidiram me colocar na administração.

Ele viu a expressão de surpresa da colega pelo espelho e riu.

– Começo segunda-feira. – suspirou.
– Você não parece muito feliz com isso.
– Eu vou ganhar duas vezes o que comecei recebendo, . Estou conseguindo um cargo que muitos matam para ter e isso em três meses... Mas é tudo mentira. Não sou eu quem está sendo promovido, é o Knight, um personagem. Não sei... Isso me faz pensar no que eu teria conseguido se não estivesse trabalhando para o governo.

girou a cadeira e se levantou, ficando de frente para ele.

– Sei que ser executivo sempre esteve em seus planos, , mas você também é um ótimo agente e muita gente sonha com tudo isso que passamos, por mais perigoso que possa ser. E, sinceramente, não consigo me imaginar com outro parceiro durante esses últimos anos.
– Olha só! E eu pensando que me detestasse.

Os dois riram.

– A principio, sim, mas nós trabalhamos bem juntos e você me ajudou bastante depois do que aconteceu com o Nathan, mesmo que me irritasse em dobro.

sorriu. Nunca tivera muito contato com o ex-parceiro de , mas se lembrava de achá-los muito próximos. No enterro dele estava devastada e mesmo quando voltou à ativa, não parecia recuperada do trauma. diversas vezes salvara sua pele quando ela entrava em estado de choque.

– Digamos que também adorei encher seu saco nesses anos. – falou sorrindo. – Agora senta aí para terminar com o cabelo.

Ela sorriu de volta e obedeceu. religou o secador e mudou de assunto:

– Já sabe onde será a corrida?

havia o contado mais cedo sobre tudo que descobrira.

– Só meia-noite em ponto. Não tenho nem ideia de onde possa ser e, como eu disse mais cedo, só os organizadores sabem.
– O Walker é um deles?
– M.J. deu a entender que sim. Ele disse que além de umas três pessoas, apenas as famílias sabiam.
– Pelo visto as corridas são algo passado de geração em geração, né?
– É o que vamos descobrir.

terminou o cabelo de e lhe entregou o secador. Ela passou as mãos nos fios e se levantou.

– Olha, não sei se isso adianta de algo – disse olhando-o nos olhos –, mas eu fico feliz que tenha seguido a carreira militar.
– Afinal, o que seria de você sem mim?
– E o que seria de você sem eu para irritar, não é mesmo?

Os dois sorriam e ficaram apenas se olhando por alguns segundos, mas quebrou o silêncio:

– Tenho que terminar de me arrumar.
– Claro. Passa lá em casa antes de sair.
– Pode deixar.

se virou e saiu relutante. Queria ficar, queria tirar aquele roupão e passar a noite ali com ela, mas sabia que não podia. Não só pela missão, mas porque aquilo nunca daria certo. Estava se envolvendo demais com uma colega de trabalho, algo que jurara a si mesmo que nunca faria. Teria que por um fim naquilo e iria por.

***


Uma mensagem de “Número Privado” chegou com a localização do evento. encaminhou para e passou no apartamento dele antes de descer para a garagem no subsolo, mas ao chegar na porta do Mustang, seu celular tocou.

– Alô?
Vá para a entrada do seu prédio, estou passando aí para te buscar. – A voz de falou do outro lado da linha.
– Ahn... Tá bom então.

Ela o obedeceu e subiu para o térreo.
cumprimentou o porteiro da noite e foi até a entrada. Assim que pisou na calçada, já notou o Nissan Skyline GT-R R35 vermelho perolado de enormes rodas negras. Ela estava pronta para soltar um “uau!”, mas aos desviar o olhar para o homem encostado no carro, perdeu o fôlego. estava com uma camisa branca que desenhava perfeitamente seus músculos, as mangas dobradas até a altura dos cotovelos deixavam à mostra sua tatuagem e um relógio dourado de aparência bastante cara no braço esquerdo. Na parte de baixo usava jeans de lavagem escura e botas de cano médio em um tom de amarelo escuro.
Uma agitação apareceu em lugares inapropriados da moça.
, que olhava algo na pista, percebeu a movimentação na porta e direcionou sua atenção para a mulher igualmente estonteante em pé a um metro dele. Seu cabelo voando de lado, deixando à mostra o cropped preto sob uma jaqueta de couro vermelho, seu jeans era claro, com rasgos grandes nas coxas e com as barras dobradas na altura do cano da bota preta de bico fino.
Ambos trocaram um olhar dos pés à cabeça enquanto se aproximava dele. Quando ficaram frente a frente, ela imaginou pelo menos uma dúzia de coisas que poderia dizer sobre , mas decidiu que não era necessário aumentar seu ego.

– Podia ter me avisado mais cedo que iria me buscar, chefe.

desencostou do carro e respondeu:

– Eu jamais digo o que vou fazer, Denver. Faz parte do meu charme.

Ela ergueu uma sobrancelha e passou a língua nos lábios vermelhos, tentando controlar alguns pensamentos não adequados que passaram em sua cabeça. percebeu o efeito que estava causando na moça e deu um sorrisinho torto. Ele passou o braço pela cintura de , pressionando de leve os dedos contra a pele dela e sentindo um arrepio em resposta. Depois de deixá-la em seu lugar, deu a volta novamente e entrou pela direita, lado do motorista no Skyline.
olhava cada detalhe do interior enquanto dirigia. Os bancos de couro preto tinham detalhes vermelhos, assim como na marcha, no volante e nas portas. Ele ligou o som e o quase inaudível barulho do motor, sumiu por completo. Estava muito acostumada com seu Mustang e seu barulho natural.
a olhou e riu.

– Se você for uma boa menina, eu a deixo dirigir um dia.
– Sinto lhe informar, mas faço mais o estilo bad girl.

Ele ergueu uma sobrancelha e a olhou com malícia.

– E para falar a verdade, eu prefiro os carros americanos – ela completou, imitando a expressão dele.

Eles chegaram ao ponto marcado: o pátio das docas.
não havia brincado quando disse que era uma festa. O pátio e a pista em frente estavam lotados de pessoas que iam abrindo espaço para o carro passar. Espalhados pelo lugar haviam automóveis lotados de som, de onde vinha à música alta, e de frente aos enormes portões fechados na entrada dos túneis, havia uma barraquinha montada onde dois homens e duas mulheres pareciam trabalhar como barmans.
Cerca de trinta carros tunados formavam um semicírculo ao redor das pessoas. Alguns motoristas estavam sentados nos capôs e cercado de mulheres, outros mostravam o ronco de seus motores, já alguns carros só estavam ali ligados mostrando suas luzes de neon que mudavam de cor no ritmo da música.
sorriu. Sentia-se novamente uma garota de 16 anos indo escondida para rachas da cidade. Nunca tivera participado de um tão grande, entretanto.
estacionou entre o Dodge preto fosco que consertaram há algumas semanas e um Mitsubishi Lancer Evolution verde de capô e teto pretos, onde Travis estava encostado conversando com duas garotas.
Os dois desceram do carro atraindo a atenção deles. Travis recebeu-os sorrindo.

– E aí!
– Parceiro! – respondeu, dando-lhe um aperto de mão seguido de um bater de ombros, cumprimento padrão masculino.
– E aí, Travis – o deu um abraço.

foi cumprimentar as duas garotas e seguiu falando com o resto dos conhecidos. ficou conversando com Travis.

– Não é possível que todo mundo receba a localização ao mesmo tempo, olha a quantidade de gente que tem aqui.
– Todo mundo que vem para as corridas já fica na expectativa, . Muitos já estavam rodando, procurando o lugar.
– Problema de cidade de interior, qualquer coisa vira um mega evento. – Ela deu de ombros, zoando.
– Desculpe aí, miss Nova York!
Denver – uma voz feminina falou atrás dela.

girou e encontrou Thalia, namorada de seu colega de oficina Max. Atrás dela estava Kate, esposa do irmão mais velho de , Simon.

– Oi, garotas – ela disse animada, abraçando as duas. – Quanto tempo!
– Pois é! Nunca mais saiu com a gente – Kate disse.

Na verdade, nunca mais havia saído com elas, mas frequentemente saía com os homens do trabalho para tomar uma cerveja em algum bar e assistir aos jogos. Ficava feliz em ver que eles a viam como uma amiga e não olhavam apenas para seu sexo. Com exceção de Crash, é claro.
Ela sorriu e inventou uma desculpa para não causar possível ciúme desnecessário.

– Andei meio ocupada, mas estou de volta.

Elas ficaram conversando até Max e Simon se aproximarem. os cumprimentou, se surpreendendo em ver o Walker mais velho.

– Pensei que não fosse sua praia isso aqui – ela falou.
– Gosto de assistir, na verdade. Só não corro. me traumatizou.

Antes que ela conseguisse perguntar por que, o próprio apareceu com a resposta.

– Simon nunca conseguiu ganhar qualquer tipo de corrida contra mim. – Ele passou a mão pela cintura dela. – Ryan e Kyle estão perguntando por você ali.

foi com ele, encontrando os amigos de infância de ao lado Andrew, o outro colega da oficina, e Crash. Ela os cumprimentou e acabou batendo um papo, ignorando a existência do último assim como ele fazia com ela. M.J. também não demorou a aparecer com seu sorriso mostrando covinhas.
Toda essa socialização foi em tempo suficiente para o lugar, já cheio, lotar de vez. Um cara de pele achocolatada, tranças no cabelo e cavanhaque bem feito, subiu no palanque montado na calçada da pista. Na mão um megafone azul, por onde ele começou a falar:

– E aí, O’Village!

A multidão deu um grito em resposta.
– Vocês já conhecem o velho Jax aqui, então vamos cortar a enrolação, aumentar a música e ligar os motores porque a primeira corrida já vai começar! Quem ainda não se inscreveu ou não fez suas apostas, pode vir nessas mesas aqui do meu lado, que essas três belas moças estão te esperando. Elas levantaram para aparecer.

Uma das moças, a negra de cachos roxos, subiu no palco e entregou uma folha para ele.

– Já temos as primeiras corridas aqui – Jax disse no megafone. – Daniel Langdon e Rick Meyer, vocês abrirão os trabalhos. Levem seus carros para a pista. Jade, querida, vá lá dar a partida para nós.

A multidão, então espalhada pelo pátio, foi para a pista, se espalhando pela calçada enquanto Jax lia os próximos nomes a correr.
aproximou os lábios da orelha de e falou:

– Quer assistir?

o olhou com uma sobrancelha erguida e respondeu:

– É como oferecer doce a criança.

deu um assovio e fez um gesto com a mão, apontado para a pista. Quando começou a andar, toda a equipe o seguiu. Simon e Kate foram para o lado deles, foi aí que reparou no poder dos Walker ali. As pessoas simplesmente abriam caminho assim que os viam se aproximando, mulheres lançavam olhares fuziladores tanto para ela quanto para Kate ou encaravam descaradamente aos dois irmãos, já os homens os olhavam com respeito, temor ou até inveja.
Era impossível não se sentir um pouco só em estar ali.
O grupo ficou parado na calçada, de frente com os carros já posicionados. Jax os viu e foi até lá.

, meu amigo! Simon, adorei o novo corte. Kate, querida, bela como sempre. E você é...?
Denver – ela respondeu.

está trabalhando comigo – disse ao lado dela.
– Ah, a tão comentada garota do Walker! – Ele sorriu. – Prazer em conhecê-la, Anthony Jaxson, mas pode me chamar de Jax.
– Sou famosa e nem sabia. – Ela brincou. – Prazer, Jax.
– É o preço de andar com um Walker, gata. Com o tempo você pega o jeito. Agora se acomodem por aí que eu vou dar a partida.

Jax pegou seu megafone e se posicionou em frente aos carros, junto com uma garota de cabelos roxos.

– É isso aí, galera – ele falou pelo aparelho. – Vamos para a primeira corrida, Langdon aqui no carro alaranjado contra Meyer no carro azul.

A multidão gritou empolgada.

– Motoristas, prontos?

O ronco do motor veio em resposta. sorriu involuntariamente e viu pelo canto do olho um reagindo da mesma forma.
Jax foi para a calçada enquanto a garota dos cachos roxos assumia seu lugar. Ela apontou para o carro laranja, o motorista fez o motor roncar, depois fez o mesmo com o outro, que respondeu do mesmo jeito. Ela levantou os dois braços e, em um segundo, abaixou-os de uma vez.
Os dois veículos saíram cantando pneu. Era ida e volta, mas a pista era larga o suficiente para os dois não curvarem em segurança. Algumas pessoas gritavam em apoio a um ou a outro, ou simplesmente uivavam em animação, mas todos mantinham seus olhos nos dois pontinhos que agora voltavam. Foram segundos até que eles se aproximassem, obrigando à plateia a se apertar nas calçadas novamente.

– E o vencedor é... – Jax falou pelo megafone, completando assim que o carro laranja passou. – Danny Langdon!

Os dois carros frearam mais à frente, mas apenas o carro do Langdon voltou para receber o dinheiro. O motorista saiu sorridente e foi até Jax, que tirou um bolo de dinheiro do bolso e o entregou, tirando algumas notas para si.

– Vinte por cento para a banca – ele disse.

A festa acabou se concentrando mais por ali. Entre uma corrida e outra as pessoas curtiam a festa. Nem todas tinham uma plateia grande, dependia muito de quem iria correr.
Muitos dos motoristas consumiam algum tipo de bebida alcoólica e isso incluía .
Enquanto a próxima corrida não começava, foi conversando com os amigos, rindo e entrou na onda, bebendo com eles. Ela olhou ao redor e não encontrou , então foi até Travis ver se descobria onde ele estava.

vai correr? – Ela perguntou como se não quisesse nada.
– Os grandes não correm assim sem motivos, . Tem que ser desafiados.
– Quer dizer que nunca vou ver o que tem de tão especial no grande Walker?
– Você é novata mesmo. – Ele riu. – não é um corredor qualquer, como esses aí. Ele é muito bom mesmo.
– E o que o faz tão bom?
conseguiu trazer as corridas do sul para O’Village correndo nas que tinham nas cidades ao lado. Começou aos 16 anos. Ele só usava o primeiro nome, então ninguém o conhecia como o herdeiro dos fundadores. Teve que subir no ranking vindo baixo, como todo mundo, mas chegou ao topo. Ele ganhou a corrida do estado sem nunca perder uma sequer até lá. Só então revelou quem era e se tornou a lenda que é entre os rachas. Foi desafiado diversas vezes, inclusive pelo Ben Collins, mas continua invicto.
– Bem mais do que um rostinho bonito pelo visto.

Travis abaixou a voz e falou mais perto de :

não tem medo de nada. Ele desafiou muita gente grande para chegar aonde chegou. O dinheiro o tirou de umas boas, mas o que você vê é só a ponta do iceberg, . Ele não é respeitado só pelo nome que carrega, até porque fez questão escondê-lo por muito tempo. nasceu para liderar. Tem pulso firme como poucos e conquistou respeito independente de seu sobrenome.

Ele olhou ao redor, certificando-se que ninguém ouviria, e continuou:

– O Sr. Walker, pai dele, sempre controlou os negócios sozinhos e tinha em mente que apenas um dos filhos assumiria tudo. Seu preferido sempre foi o Simon, então provou que não precisaria dele para criar o próprio império. Ele conseguiu recuperar o controle da parte obscura dos negócios que já estava quase toda controlada pelos Collins. Simon fica no controle da empresa. Os dois vivem bem assim.

olhou por cima dos ombros os dois irmãos rindo e conversando, sentados no capô do Skyline. O irmão bom e o irmão mau, ela pensou. Quando virou o rosto para frente, Travis a olhava de forma engraçada.

– O que foi?
– Você – ele disse como se isso já explicasse tudo. – Sabe, , já tive minhas doses de namoradas que gostavam do meu estilo de vida, se sentiam importantes ou sei lá. Mas nenhuma delas realmente me acompanhava nisso, não entendiam e muito menos podiam se envolver. Você pode. Você já está dentro e sei que vai continuar quando entender tudo.
– Não está me pedindo em namoro, está, Travis?

Ele riu e levantou as mãos em posição de defesa.

– Não! Não sou louco! Quer saber, deixa para lá.
– Ei, agora você vai me contar isso direito.

Mas não deu tempo. Jax pegou seu megafone, chamando atenção de todos.

– Aí galera, vamos agora para nossa última corrida de reta e começar as corridas do ranking. Os últimos corredores já estão se posicionando na pista e, enquanto isso, vou ler os próximos a correr.

Ele pegou a lista e fez uma expressão engraçada.

– Opa, já vai começar pegando fogo. Quatro representantes de famílias importantes daqui.

Começaram os burburinhos e todos voltaram à atenção para ele.

– Mike T. correndo pela família Van Der Lan.

A multidão gritou animada. Pelo visto ele era conhecido.

– Pelos Manson, J.D. Smith.

Teve um alvoroço menor.

– Para os Collins, quem corre é o Tyler Fox.

Os gritos agora foram ainda mais altos.

– E para fechar com chave de ouro, em nome da família Walker, Denver.

cuspiu o gole de cerveja que acabara de por na boca.

– É o quê?!



Capítulo 11 - A Corrida (Parte II).

– Não é que eu não quisesse correr, mas podia ter avisado que me inscreveu, não acha?! – exclamou, cruzando os braços.
– Já te falei, . Nunca digo o que vou fazer.
– Só esqueceu um detalhezinho, Walker. Quem vai correr sou eu!

Ela expirou com força.

– Eu pelo menos posso correr no ranking assim de primeira?
– Você está correndo em meu nome. Claro que pode.

suspirou e olhou para o Dodge preto fosco. Haviam feitos testes com ele e os dois participaram pessoalmente na restauração do carro. confiava em seu talento com máquinas, sabia que ele daria conta, mas se sentiu nervosa em talvez não atender às expectativas de , que claramente confiava nela o suficiente para inscrevê-la logo em sua primeira corrida em O’Village.

– Não confia em seu taco, Denver? – disse sarcasticamente, notando a expressão dela.

A moça ergueu uma sobrancelha, ignorando o nervosismo e dando lugar à sua autoconfiança habitual.

– Melhor eu ter uma boa remuneração quando ganhar.

Ele gostou da resposta de e sorriu, então tirou um bolo de dinheiro do bolso e a entregou.

– Para você apostar – ele disse. – Se ganhar, toda a grana apostada entre os corredores é sua.

ergueu as duas sobrancelhas e pegou o bolo de dinheiro, sorrindo.

– Agora sim estamos negociando.
– Só para você entender a situação – disse, aproximando-se um passo dela. – Eu e mais dois... concorrentes de negócios estamos disputando um contrato com uma pessoa importante que está assistindo a essa corrida. O melhor fica com o trabalho. Muito dinheiro rolando. Então sugiro que você ganhe.
– Se é tão importante, por que escolheu a mim em vez de algum dos caras que você já confia?
– Você conhece muito bem o carro, provou ser capaz de dirigi-lo e, além disso, perder para uma garota vai ser um soco no ego daqueles babacas.
– Eu posso me sentir ofendida por isso?
– Faça o que quiser, contanto que ganhe.
– Sem pressão – ela ironizou. – Bem, hora de mostrar mais uma vez que as mulheres são melhores que os homens, inclusive em áreas consideradas deles.

riu.

– Não faça de regra a exceção, Denver.
– Duvidando de mim, Walker? Pois eu aposto que você nem é tudo isso que dizem. Eu ganharia fácil.

ergueu uma sobrancelha. Um sorriso sínico brincando em seus lábios.

– Está me desafiando?
– Entenda como quiser.

Ela girou a chave no dedo e abriu a porta do Dodge. Era hora de correr.

foi a última a posicionar o carro na linha de partida e quando saiu do carro, atraiu a atenção dos três outros corredores e de Jax.

– Garota Walker! – Ele disse se aproximando dela.
– ela o corrigiu.

Jax sorriu e piscou. pegou o bolo de dinheiro que a entregara e colocou na mão dele.

– Você deve ser muito boa para o Walker te colocar assim de primeira. Corria em algum outro lugar?

Ela ergueu uma sobrancelha.

– Digamos que já tive algumas experiências – anos atrás, completou mentalmente.
– Legal!

sorriu e foi para seu carro. Ela podia sentir o olhar de Jax sobre si, mas não perdeu a postura. Antes de entrar no Dodge, deu uma boa olhada em cada um dos outros corredores que a encaravam de volta.

– É isso aí, galera, vamos à corrida dos escolhidos. – Jax falou no megafone, causando euforia na multidão que já se apertava ao redor. – Da esquerda para direita: no carro laranja, Mike T. correndo pelos Van Der Lan; no carro prata, J.D. Smith pelos Manson; no carro preto, Denver pelos Walker; e no carro verde, Tyler Fox pelos Collins.

olhou para o careca de olhos intensamente claros do carro ao seu lado. Ele a encarava com desprezo. Todos conheciam a rixa entre os Walker e os Collins, mas agora estava prestes a se tornar uma peça desse jogo.
Ela respirou fundo e olhou para frente. Seus dedos apertaram o volante e um sorrisinho escapou de seus lábios. Estava em sua área, daria conta. Seus olhos focaram em Jax, alguns metros à frente.

– Corredores, preparados? – Ele falou pelo megafone.

O ronco dos motores se misturou aos gritos da multidão. O mundo ao redor de repente pareceu se dissolver. Só existia ela, seu Dodge Challenger SRT 2010 e uns babacas que ela veria pelo retrovisor. Sentia seu pé já coçando para acelerar.
Jax levantou um braço lentamente e levou o megafone a boca com o outro.

– JÁ!

Os quatro carros arrancaram ao mesmo tempo.
A ponte no fim da pista se aproximou rapidamente e ela se sentiu voar antes de alcançar o chão do outro lado. O GPS mostrava o caminho traçado para eles. A voz robótica feminina anunciou quando a primeira curva apareceu, ela girou o volante na hora certa, ultrapassando o carro prata. Do seu lado esquerdo, o carro verde dos Collins fez o mesmo, passando-a.

– Merda.

Ela passou a marcha e acelerou.
O caminho se estreitou, obrigando-os a formar uma fila. Fox assumia a liderança, estava em segundo, seguida pelo tal Mike T. e por último J.D. Smith. Eles entraram em uma área residencial e ela torceu para que nenhum morador decidisse dar uma voltinha pela rua.
Voltaram à pista mais larga. Apesar do horário, havia alguns carros por ali, então tiveram que ziguezaguear entre eles.
Atrás dela o carro laranja se aproximava tentando passar pelos lados. sorriu.

– Aqui não, bebê.

fingiu abrir para a esquerda, mas quando ele tentou ultrapassar, ela jogou o carro para o lado. Por reflexo, o motorista girou para o lado também, mas não teve tanto controle e colidiu com um poste.

– Não sabe brincar, não desce para o play, otário! – Ela uivou rindo.

A próxima curva era mais fechada, seria a chance de ela se aproximar do corredor do Collins. Pelo retrovisor ela viu que o prata estava longe demais para apresentar algum risco. sorriu e girou o volante, pegando o retorno marcado pelo GPS.
Eles voltaram para as áreas residenciais e conseguiu diminuir a distancia até o Fox, mas o carro prata também se aproximou.
Os três se mantiveram assim por metros, sem conseguir se afastar muito um do outro, até que chegaram à curva que levava para a pista principal. O Tyler Fox tomou a dianteira mais uma vez, fechando o carro prata que, para desviar, jogou para direita, dando de cara com outro carro que vinha na direção contrária.

– Ai caralho. – disse, olhando pelo retrovisor o motorista do carro normal sair do carro aos tropeços. Ela não podia parar, apesar de ter sido a primeira coisa que pensou.

pegou a marginal e acelerou, mais uma curva e chegariam à reta final. Ela se aproximou novamente do Fox e ambos os carros giraram juntos, entrando ao mesmo tempo na última reta.
Eles passaram pela ponte e assim que “aterrissaram”, o corredor do Collins soltou o nitro.
riu e chacoalhou a cabeça.

– Cedo demais, bebê.

Ele pegou uma boa dianteira, mas ainda faltava muito para a linha de chegada. Quando o carro dele começou a perder potência, acionou o nitro do Dodge. A velocidade a fez grudar contra o banco. Ela segurou o volante com mais força, já que o carro estava bem mais leve.
Cem metros...
Oitenta metros...
Cinquenta metros...

– Tchauzinho, otário!

O Dodge passou pelo carro verde e, apesar de perder o impulso do nitro, continuou no embalo.
Faltando cinco metros para a linha de chegada, girou o volante e freou. Ela atravessou o ponto final com um cavalo de pau e parou a menos de um metro da plateia ao redor.
desceu em meio à fumaça dos pneus e escutou o alvoroço da multidão. Os gritos aumentaram ainda mais quando a fumaça se dispersou, deixando-a visível. Seu sorriso era tão grande que ela não conseguia controlá-lo.

– É isso aí, galera – Jax anunciou pelo megafone. – Essa garota já chegou mostrando quem manda. Denver!

Uma multidão uivou e se fechou ao redor dela enquanto Jack a entregava o dinheiro da aposta.

– Vinte por cento para a banca – ele disse próximo ao ouvido dela, fazendo-a rir.

Pessoas que ela não faziam ideia de quem era a cumprimentavam e elogiavam, escutou algumas cantadinhas que ignorou e até algumas perguntas sobre moda, que também ignorou.
De repente, as pessoas à esquerda de começaram a abrir espaço e o motorista do carro laranja pareceu escoltando outro cara um pouco mais alto. Nenhum dos dois parecia nada amigável.

– Adam Van Der Lan! O que manda, parceiro? – Jax falou animado.
– Depois eu falo contigo, Jax. Meu papo é com ela.

levantou uma sobrancelha e disse:

– Posso ajudar?
– Você me deve um carro, vadia.

As pessoas ao redor se calaram, apenas assistindo. riu e apoiou as mãos na cintura.

– Como é que é?
– Você o ouviu! – O cara que correu com ela se meteu.
– Quando você sair da autoescola, aí sim dirija a palavra pra mim! E quanto a você, – Ela olhou para o mais alto. – eu não te devo porra nenhuma! Não tenho culpa se seu corredor aprendeu a dirigir em videogame.
– Olha aqui, ou você paga meu carro...
– Ou o quê? – falou, se metendo entre os dois.

O tal Adam o encarou, mas pareceu vacilar.

– Eu estou falando com a garota.
– E eu estou falando com você. O que vai acontecer se ela não pagar o carro? Porque pelo que eu bem vi, seu corredor que não teve capacidade de desviar do poste. Ou estava tão na seca que resolveu beijar ele.

As pessoas ao redor riram, aumentando a raiva dele.

– Vamos resolver isso nós dois então, eu e você, na pista. Valendo o carro – Adam rosnou.
– Pare de chorar, Adam. Ela ganhou, aceite! – Ele se virou para ir embora.
– Vai se esconder atrás de uma mulher, Walker?

parou e girou para olhá-lo. Por um segundo teve certeza que o Van Der Lan levaria um soco no meio dos olhos azuis, mas então riu.

– Olha... Eu até poderia mesmo. Acho que ela provou ser capaz de me defender. Mas você já está passando vergonha demais para uma noite, não acha, Vanzinho? Não quero humilhá-lo e fazer de você uma vergonha para sua família... De novo.

não entendeu o que quis dizer com o “de novo”, mas Adam perdeu o resto de confiança que tinha. deu mais um passo, parecendo realmente ameaçador perto do outro.

– Agora vá para casa com seu resto de carcaça antes que eu acabe contigo, ou melhor, antes que eu mande a minha garota dar uma surra em você também. Ou tem medo de perder para uma mulher?
– Próxima corrida, Walker. Valendo o carro.

Adam o encarou por mais um segundo e saiu pisando firme, seguido pelo seu corredor. Fez-se silêncio por uns instantes até Jax gritar:

– E é assim que se termina uma corrida, minha gente!

A multidão urrou animada e a música voltou a tocar.
passou a mão na cintura de e a conduziu para o banco do passageiro do Dodge, depois entrou pela outra porta.

– Valeu – ela disse assim que saíram da pista. – Não acho que eu conseguiria pagar um carro daquele.

riu.

– Você não tinha que pagar nada. Acidentes fazem parte da corrida. Foi como eu disse antes, aquele babaca só ficou com o ego ferido por ser derrotado por uma mulher.

Ele estacionou onde o carro estava antes do racha e saiu. Duas moças que passavam ali na hora o cumprimentaram com um uníssono “oi, ” e receberam uma aceno em resposta.
deu a volta no carro para se aproximar dele, dando uma leve encarada nas moças, que fizeram o mesmo com ela.

– E aí, chefe – ela disse, colocando as mãos na cintura. –, eu consegui te impressionar?
– Digamos que você enrolou demais para ficar em primeiro, não acha?
– Qual é? E que graça teria se eu ganhasse desde o início? Tem que rolar um suspense.
– Não quando tem dinheiro rolando.
– Ah para! – Ela deu um passo à frente. – Consigo ver o orgulho em seus olhos, Walker. Você gostou de me ver ultrapassando na última reta. Aposto que vai jogar na cara de todos eles por um bom tempo durante o “golfe das famílias”, ou seja, lá o que for que vocês ricos fazem.
– Você fala como se eu fosse só um filhinho de papai rico.
– Você é. Mas não é só isso. Sei que gosta de provar que é bem mais do que o sobrenome que carrega. Não é à toa que é respeitado por aqui.

também deu um passo, diminuindo o espaço entre eles a alguns centímetros.

– Desde quando sabe tanto sobre mim, Denver?
– Sou observadora. Sei ler as pessoas.

Ele aproximou o rosto do dela.

– Ah é? E o que eu estou pensando agora?

olhou para os lábios de , entreabertos em um sorrisinho malicioso. Sentiu o hálito alcoolizado dele atingir seu rosto e aquilo foi estranhamente excitante. Ela não sabia o que ele estava pensando agora, mas sentia um desejo incontrolável de beijá-lo.
Seus lábios se aproximaram como ímãs. Tão próximos... Quase colados... Até que alguém a chamou.

! QUE CORRIDA INCRIVEL.

Ela se afastou de , passando a língua nos lábios antes de se virar e encontrar um M.J. eufórico.

– Aquela fechada no laranja... E a ultrapassagem na curva, não, não, na reta. UAU! – Ele tagarelava sem parar, fazendo-a rir.
– M.J... M.J... M.J.! Respira!

Ele sorriu e tomou fôlego.

– Foi mal, é que... Caramba! Todo mundo vai saber quem você é agora, e eu vou poder dizer para todo mundo que sou amigo da primeira corredora de O’Village. O Van Der Lan vai te odiar, mas quem liga? O resto te ama. Bem, menos o Collins e os Manson porque com certeza perderam o contrato...
– M.J. – repreendeu e o garoto se calou de imediato. – Fim de semana é para se divertir, segunda ou terça-feira nós falamos de trabalho.
– Mas... Eu estou dentro? – perguntou.

sorriu, mas não respondeu. Ele apenas jogou a chave do Dodge para M.J.

– Entregue isso ao Travis. Vem, , vou te pagar uma bebida.

Mais uma vez passou o braço pela cintura de , conduzindo-a entre os carros. E mais uma vez ela ficou sem a resposta que queria.



Capítulo 12 - Blecaute

A porta abriu e começou a aplaudir antes mesmo que colocasse o primeiro pé dentro da sala secreta.

– Olha só quem está aqui! Ela mesma, a Harley Quinn de O’Village. Decidiu voltar à vida real, agente?
– Rá, rá! Muito engraçado, .
– Você sumiu o fim de semana inteiro, . Não atendeu uma ligação sequer e nem visualizou minhas mensagens.

suspirou e sentou em sua cadeira.

– Eu estava fazendo o meu trabalho, me infiltrando!
– Na boca do Walker?

Ela estreitou os olhos e depois os arregalou.

– VOCÊ FOI À CORRIDA?! – Gritou se pondo de pé.
– Sim, miss Hot Wheels.
– Você é louco, ?! Não é todo mundo que tem acesso as corridas, tem que ser convidado ou algo assim. Imagina se descobrissem que você é meu vizinho, ia acabar com o disfarce!
– Ah, claro! Porque o problema aqui sou eu ter ido a uma droga de corrida onde metade da cidade estava e não você estar dormindo com o inimigo! – Agora quem gritou foi ele.
– Eu... Não estou dormindo com ele.
– AH! Conta outra, . Você sumiu um fim de semana inteiro. – repetiu.
– O Walker fez uma after party com a galera da oficina. Ficamos de boa e eu quis participar e mostrar que sou de confiança.

deu os três passos que separavam os dois.

– Eu vi, . Vocês estavam quase se beijando quando um moleque de trancinhas apareceu e vocês dois sumiram.
– Nós fomos para o bar. Bebemos enquanto esperávamos o resto da equipe. Assistimos as últimas corridas e fomos para o apartamento de . TODOS nós. Lá bebemos mais um pouco, ouvimos músicas e dormimos. Acordamos e fomos para a piscina, depois pedimos pizza e ficamos nessa. Eu nem sequer fiquei sozinha com o Walker.
– E de lá foi direto para a oficina? Porque, caso não tenha notado, são oito da noite.
– Eu cheguei de madrugada, acordei cedo e fui para a oficina. Quando bati na sua casa ninguém atendeu, então imaginei que já tivesse saído... Quer saber, por que eu estou me explicando para você? É meu superior, por acaso?
– Não sou seu superior, mas sou seu parceiro. Preciso cuidar para que você não faça nenhuma merda como se envolver romanticamente com um dos alvos da investigação.
– Vou te explicar uma coisinha, , nossa missão aqui é nos infiltrarmos nas famílias. Sermos de confiança, descobrir os podres, ser um deles! Eu estudo as pessoas antes de qualquer passo, leio o perfil, faço uma analise e só então me torno exatamente aquilo que a pessoa precisa. Pode ser nossa primeira missão desse tipo juntos, mas não é a primeira da minha carreira.

respirou fundo e então se afastou dela.

– Ótimo, . Faça o que achar melhor.

Ele deu a volta na mesa e foi para seu apartamento, batendo a porta atrás dele.
Sentia-se um pouco infantil com essa atitude, mas não conseguiu pensar em nada melhor para fazer. O irritava vê-la tão próxima de um playboyzinho babaca como Walker, ainda mais sabendo a quantidade de merda que havia por trás do nariz empinado dele. Mas irritava ainda mais ver os olhos dela brilhando sempre que tinha que ir para a droga da oficina, ou sempre que voltava toda suja de graxa, falando extremamente rápido tudo o que fizeram em algum carro.
se jogou no sofá e expirou com força. Não sabia dizer por que, mas sentia que estava gostando demais de todo esse faz de conta.
Seu celular apitou e ele olhou para a tela. O computador que usava para fazer a leitura do sistema da Collins Engenharia havia encontrado algo. Ah, fala sério! Vou ter que voltar lá logo agora? pensou jogando o celular contra o sofá.
Ele se levantou carrancudo, deslizou para o lado o quadro abstrato em sua parede e entrou pela porta escondida atrás dele. digitava algo no notebook e nem se deu o trabalho de olhar para .
O agente sentou em sua cadeira, no lado contrário de , e pegou o próprio notebook, lendo os dados que o computador coletara. Não foi preciso muito para notar um enorme rombo nas contas da empresa. Rombo esse que estava acontecendo há anos. Como ninguém dera falta desse dinheiro?
Mais uma lida e a resposta: Essas informações eram ultra confidenciais. Apenas os diretores e acionistas majoritários sabiam disso.
levantou os olhos e viu que o olhava, provavelmente lendo sua expressão. Ele puxou um bom ar antes de falar:

– As contas da Collins não batem. Tem muito dinheiro sendo desviado e ninguém do alto escalão da empresa fez nada sobre isso.
– Para onde esse dinheiro está indo?
– Aparentemente, investimentos em empresas pequenas no exterior, doações anônimas, obras em patrimônios públicos... Tudo muito bem disfarçado, mas o nosso sistema cruzou dados e viu que o dinheiro simplesmente desaparece. Nunca chegou aos destinos.
– Não é possível que tanto dinheiro suma sem ninguém dar falta. A Collins faz muitas obras na cidade e a prefeitura nunca trocou seus trabalhos mesmo com essa quantia de dinheiro sendo desviada...

Os dois se entreolharam e acabaram respondendo em uníssono:

– Superfaturamento.
– A empresa deles praticamente construiu essa cidade, ainda faz provavelmente quase todas as reformas daqui, sendo do governo ou não. – falou.
– Cobram pelos materiais mais caros, mas usam os mais baratos. Provavelmente a prefeitura recebe sua porcentagem nisso e o dinheiro a mais é desviado como doações e ações pessoais dos grandes da Collins.
– Por isso ninguém da contabilidade ou de qualquer outro setor tem conhecimento disso. Acontece no topo da pirâmide e como os números finais batem...
– Ninguém desconfia – completou. – Essa cidade esconde cada podre.
– Não sei por que, mas meu instinto diz que parte desse dinheiro se destina ao Projeto Minhocário. Só assim para terem estendido tanto os túneis sob a cidade sem ninguém ter notado.
– Mas por quê? O que tem sob a cidade para fazê-los se arriscar tanto?
– Não sei. Mas é muito material gasto para manter as paredes dos túneis em pé.
– Materiais que poderiam muito bem ser concedidos por uma empresa de metais e minérios. Isso deve ter dedo dos Walker.
– Afinal, não era possível que a outra família fundadora não soubesse sobre isso.

passou a mão nos cabelos e pareceu perdida nos próprios pensamentos.

– O que foi? – perguntou.
– Provavelmente não tem nada a ver com isso. Só estava pensando em sexta-feira, na corrida. Quando os irmãos Walker passavam, todo mundo simplesmente abria caminho. Não simplesmente por educação, as pessoas desta cidade os temem, os respeitam. Será que imaginam que há bastante sujeira por trás deles?
– Você estava em uma corrida ilegal, . Organizada por eles. O que você acha?
– Mas você acha mesmo que os delitos deles se resumem a rachas?
– É o que temos até o momento, vamos focar nisso.

Ela deu de ombros.

– Devíamos vasculhar mais nos túneis. Ver se descobrimos algo como outra entrada ou se tem um ponto final – lembrou.
– Verdade. Podemos encontrar mais carregamentos, dessa vez com seus conteúdos, quem sabe. – Ele riu. – Falando nisso, alguma ideia de quando o resultado da analise sai?
– Deve sair nas próximas semanas. Enquanto isso, vamos apressar Charlie para ver se as motos chegam logo. Vamos ter que investigar do jeito antigo.

Os dois trocaram um sorrisinho travesso. Vasculhar o território inimigo, sozinhos, correndo o risco de serem pegos e desmascarados... Estavam fazendo exatamente o que gostavam.

– Vou mandar um e-mail para ele – ele disse.
– E eu continuarei meu relatório.

Um silêncio se instaurou por um longo tempo, até resolver falar:

– Me desculpe.

levantou os olhos e ergueu uma sobrancelha.

– Pelo quê?
– Ah, , não seja chata! Você tem razão, temos que conquistar a confiança deles e acima disso confiar um no outro. Afinal, somos só nós dois aqui. É que... Não sei. Foi estranho te ver tão próxima de um bandido.
, não temos nada contra ele ainda, não podemos chamá-lo assim. Sei que ele participa dessas corridas, mas nem sequer o vi correndo. Não tenho nada contra ele ou contra o irmão dele. Muito menos contra o patriarca. Por enquanto só os Collins estão sobsuspeitas. Inclusive tinha um corredor deles lá.
– Sério? Viu algum deles?
– Não consegui. Aconteceu uma confusão e nem sequer tive tempo de olhar para onde o corredor deles foi.

suspirou.

– Pelo menos sabemos que ele gosta.
– Deve ser só para competir com os Walker. Isso parece briga de sexta série.
– Tirando o fato que dura há anos e são todos bem grandinhos.

Os dois riram.

– Vou falar com Charlie para que uma equipe cuide da prefeitura. – falou. – Pode ser que encontrem algo por lá sem que precisemos nos meter diretamente. Você continua o trabalho com os Walker, vamos ver o quão longe o vai te levar.

fechou o notebook e o pôs de lado.

– Engraçado como estamos indo em direções diferentes – ela ponderou. – Os Collins envolvidos em desvios de dinheiro e construção de túneis secretos enquanto os Walker só parecem interessados em carros turbinados e corridas ilegais.
, você está lidando com o mais novo. Não tem como saber o que o chefão faz até estar dentro da família. Além disso, temos a possibilidade dos Walker disponibilizarem a matéria prima para os túneis.
– Acontece que as duas famílias vivem em rixa há anos. Não vejo como um ajudaria o outro.
– Mas ainda tem os tais trabalhos que eles mantêm escondidos de você, não é?

assentiu.

– Quer saber? Vamos deixar o trabalho para amanhã. Você vai jantar lá em casa, por minha conta.
– Vai pedir o que dessa vez?
– Pedir? Você vai provar um prato especial do chef .

***


cuidava das panelas enquanto o assistia sentada no balcão.

– Vai demorar muito? Meu estômago está colando nas costas – ela reclamou.
– Seria mais rápido se alguém ajudasse, né?
– Eu sou capaz de queimar macarrão instantâneo. Você realmente não vai querer minha ajuda.
– Você tem certeza que nasceu do sexo certo? A garota que consegue desmontar um carro inteiro em uma hora, mas não sabe fazer miojo.
– Isso não tem nada a ver com sexo, meu caro. Chama-se habilidade.
– Então t... – As luzes se apagaram de repente, fazendo se interromper. Apenas as chamas do fogão os iluminavam.

pegou o celular e ligou a lanterna. Ela foi à janela e encontrou a rua totalmente escura.

– Blecaute geral – ela disse.
– Estranho hein.
– Quer uma luz aí?
– Não precisa, já acabei. Tem como você pegar duas velas ali na gaveta de baixo?

pôs a mesa enquanto acendia as velas, depois ela as colocou no castiçal entre os pratos.
Os dois se sentaram e começaram a comer. não queria admitir, mas era realmente bom, a comida além de cheirosa, estava ótima.

– Por que estive pedindo comida por todo esse tempo?! – disse sorrindo.
– Porque o chef é muito requisitado. Só faz jantar com reserva de meses.
– Nem vem, . Sabe o quanto eu senti falta de comida caseira realmente feita em casa?
– Desculpe, madame. Prometo cozinhar com mais frequência daqui para frente.
– Acho bom.

Os dois terminaram de comer em silêncio, até que falou sorrindo:

– Que situação mais romântica. Jantar, luz de velas... Vamos abrir uma garrafa de vinho também?
– Não imaginava que você fosse do tipo que gosta de romantismo.
– Não gosto. Para mim isso é bem brega.

riu e, apesar da pouca luz, o viu revirar os olhos.

– Você sempre se faz de durona, né? Deve ter tido o coração partido pelo primeiro amor da infância.
– Como é que é? – Ela riu com deboche. – Meu amor, ninguém nunca será capaz de partir meu coração.
– Ele ficou com sua amiga ou...?
– Não teve nenhum amor de infância, !
– Não me convenceu.
– Foda-se.

voltou a rir e levantou.

– Vou buscar a sobremesa.

o seguiu, levando os pratos e tentando não tropeçar em nada. Depois que colocou as louças na pia, girou, dando de cara com uma bandeja de morangos recheados de chocolate.

– Você está planejando me pedir em namoro, ?
– Namoro? Até parece! Dentro de um deles tem uma aliança de noivado. Sou um homem sério – ele zoou.

revirou os olhos e pegou um dos morangos da bandeja.

– O recheio se chama brigadeiro. Aprendi com minha ex-namorada brasileira.
– Hm... É gostoso.
– Eu? Ah, sei que sou.

Ela riu e puxou a bandeja das mãos do parceiro.

– Você é ridículo, . Não merece esses morangos.

ia correndo cozinha à fora, mas a puxou pela cintura.

– Não tão rápido, mocinha.

Ela equilibrava a bandeja com uma mão, tentando mantê-la afastada de , enquanto ele tentava puxar o braço para conseguir pegar. Os dois foram andando para trás até que ficou presa entre e a parede ao lado do rack.

– Fim da linha – falou com um sorrisinho malicioso.

empinou o queixo, tentando sem muito sucesso, olhá-lo nos olhos.

– E o que vai fazer?
– Depende... – Ele pegou a bandeja da mão dela e a pôs sobre o rack. – Você vai me socar?

Ela sorriu e se equilibrou nas pontas dos pés.

– Só se me decepcionar.
– Se de uma coisa eu tenho certeza nessa vida, é que jamais decepcionei uma mulher... Pelo menos na cama.

riu e colou seus lábios nos de . Uma de suas mãos a segurava pela cintura enquanto a outra se enrolava entre os cabelos na nuca dela. , por sua vez, cruzou os braços pelo pescoço do parceiro, tentando aproximar ainda mais seus corpos, como se fosse possível.
O beijo entre os dois beirava a ferocidade, ambos pareciam famintos por mais. As mãos de desceram pelo abdômen de , até encontrar a barra da camiseta, então começou a puxá-la para cima, deixando à mostra a barriga perfeitamente definida dele.
reparou o olhar de cobiça da moça e sorriu com malícia.

– Ando treinando.

revirou os olhos e voltou a beijá-lo, no mesmo ritmo de antes.
se afastou da boca dela, para despejar beijos que começaram no queijo e foram parar no pescoço. arrepiou e suspirou.

– Vamos para o quarto? – sussurrou no pé do ouvido dela.

Sem conseguir fazer muita coisa, apenas assentiu e o seguiu, tentando não bater em nada.
O quarto estava ainda mais escuro, mas conduziu até a cama, onde a deitou e então apoiou o próprio corpo sobre o dela. começou a acariciá-la em sua coxa descoberta pelo short curto. Sua mão subiu pela peça até alcançar o botão que abriu sem muita dificuldade.
levantou o quadril e contorceu-o ajudando que tirasse seu short, então tirou a regata. sorriu e passou dedos na parte exposta dos seios dela, contornando o sutiã. Ele se levantou, para tirar a calça, e voltou a deitar-se sobre a parceira. podia sentir o membro rígido dele encostando em sua virilha.

– Impressionada?
– Já vi maiores.

estralou a língua no céu da boca e riu baixo.

– Não devia me provocar, .
– Ou o quê?

Sem a menor delicadeza, rasgou o sutiã no meio, não sabia se a peça teria salvação.

! – Ela repreendeu.
– Eu te avisei... E isso é só o começo.

começou a beijá-la no pescoço, enquanto suas mãos brincavam com os seios e mamilos de . Ele foi descendo a boca pela clavícula da moça até alcançar os bicos já atiçados. Ele beijava e sugava, fazendo soltar suspiros que se misturavam a seus gemidos. Sua mão desceu pela barriga dela, chegando à barra da calcinha, então a invadiu sem aviso.
apertou a mão no cabelo de e sentiu a risadinha dele contra a pele. Os dedos dele brincavam com o ponto de prazer de , fazendo seu corpo arquear involuntariamente. Os lábios deles foram descendo pelo abdômen da moça, dando leves chupões enquanto suas mãos puxavam a última peça que a cobria.
Assim que ele tocou a língua em sua virilha, mordeu o lábio com força, tentando segurar um gemido que acabou escapando. beijava, chupava, sugava e ainda brincava pela entrada dela com os dedos. As mãos de de fechavam no lençol com tanta força que pareciam prontas para rasgá-lo.
começou a introduzir um dedo e depois outros em . Ela estava enlouquecendo. Ele aumentava a velocidade e se sentiu a ponto de explodir.
Mas então ele parou.

– Mas que...?
– Seu castigo pelo comentário anterior.

se esticou e pegou algo na gaveta do criado mudo. Pelo barulho do pacote abrindo, deduziu ser camisinha.

– Acho que você não vai resistir o suficiente para manter o castigo, uh? – Ela disse sorrindo. – Então talvez seja eu quem deva aplicá-lo.

Ela o empurrou na cama e subiu sobre ele, sentando-se em seu quadril. As mãos de tentaram tocar suas coxas, mas as segurou e prendeu sobre a cabeça.

Tsc, tsc, tsc... Agora quem comanda sou eu.

deslizou a língua pelo pescoço de e soltou seus braços para correr as unhas por seu abdômen.

– V-você é... – não pode completar, fechou sua boca com o indicador enquanto descia seus beijos entre os gominhos da barriga dele.

Com a mão livre, segurou o membro já vestido pelo preservativo e começou a acariciá-lo, circulando o polegar pela ponta.

– Puta que pariu, ! – Ele gemeu.

Ela sorriu e encostou os lábios na ponta, depois passou a língua, sentindo o gosto de menta da camisinha. começou a colocar mais e mais da ereção de para dentro, mas então percebeu que não se aguentaria mais. Ela voltou a sentar-se no colo dele e delicadamente introduziu o membro para dentro de si.
levantou o tronco para poder beijá-la, então apoiou as mãos no quadril de , para ajudá-la a subir e descer. O ritmo foi ficando cada vez mais e mais rápido. Os dois não controlavam mais os gemidos e sentiam-se molhados pelo suor.
Quando cansou, voltou a ficar por cima, conduzindo o ritmo de forma mais lenta, porém com mais força. As unhas de se cravaram nas costas de , sentindo seus músculos se tencionarem à medida que ele acelerava. Ele realmente era bom no que fazia.
foi a primeira a atingir seu ápice. Apesar de ter perdido a força no corpo, a continuidade do movimento de fez seu corpo ter alguns espasmos a mais. Não demorou muito para ter seu próprio orgasmo e ter que se segurar pelos cotovelos para não desabar sobre a parceira. Suados e ofegantes, ele se jogou para o lado.

– Acho que podemos deixar isso fora dos relatórios – brincou.
– Eu diria que é a melhor opção. – riu.

Ambos ficaram deitados, apenas tomando fôlego por mais algum tempo.

– Quer água? – Ele perguntou.
– Pensei que não ofereceria nunca.

Os dois se levantaram para buscar, mas acabaram se agarrando e ficaram pela sala mesmo.



Capítulo 13 - Os Samurais

O Mustang era um ponto preto no meio de todo o marrom da tempestade de areia. Dentro dele fazia seu melhor para não cair nos buracos da pista, mas tinha alguns impossíveis de desviar. O carro de repente começou a perder potência até parar.

– Sério isso?! – Ela bateu no volante, buzinando sem querer.

colocou os óculos e puxou a gola da blusa sobre nariz antes de sair do carro, tentando enxergar algo além da tempestade, sem muito sucesso. Após algum tempo, faróis iluminaram a pista, mas não era possível ver o carro.

– EI! AQUI! – Ela gritou pulando e agitando os braços para que fosse vista.

O motorista deve ter escutado, porque começou a buzinar em uma sequência. O barulho ficava mais alto à medida que ele se aproximava. Mais alto e mais alto...


acordou.
O barulho da buzina em seu sonho tornou-se o toque de seu celular. O quarto escurecido pelas cortinas lhe era familiar, apesar de não ser o seu. Ainda debruçada, esticou o braço até alcançar o celular que quase caia na beirada da cama.

– Alô? – Sua voz saiu rouca.
– Está atrasada, Denver. – falou sério como sempre.
– O quê? – Ela afastou o celular da orelha para ver as horas. Quase onze. – Ai caramba, foi mal, . Já eu chego aí
– Esperando.

desligou e levantou da cama, praguejando mentalmente. Ela olhou para trás e não encontrou quem esperava ver ali.

– Que ótimo parceiro você é, . – Ela murmurou para si mesma, pegando suas roupas pelo chão e correndo para seu apartamento.


mal bateu a porta do carro e M.J. apareceu na frente, um pouco mais inquieto que o normal.

– Bom dia, eu acho – ela disse, vendo a animação do garoto.
– Fiquei sabendo que você vai participar da operação. Essa é minha garota! Sabia que você só me traria orgulho.

riu e o abraçou.

– O que seria de mim sem seus conselhos, não é mesmo?
– Pois é! Ah, o está te esperando lá na sala de reuniões.

Ela assentiu e subiu a escada para o mezanino. A sala de reuniões era um cômodo de vidro no meio da estrutura. No momento, as persianas que cobriam todas as paredes, e que costumavam ficar abertas, estavam fechadas.
entrou na sala e encontrou , Travis, Max, Andrew, Crash e mais alguns com quem ela tinha menos contato, sentados ao redor da mesa oval no centro do lugar.

– Não se pode dar uma trégua aos funcionários que eles abusam. – falou com sua voz séria, mas seu rosto tinha um ar brincalhão.

aprendeu a decifrar . Normalmente ele parecia sempre sério, intimidador, então era preciso prestar atenção nos detalhes para entender o que se passava em sua mente. E ela gostava desse jeito dele. Até se divertia em ver as pessoas nervosas ao falarem com ele.

– Ora, não exagere. Foi um problema com o despertador, não se repetirá.
– Pensei que estivesse acostumada a acordar cedo. – Ele deu um sorrisinho malicioso.

só havia dito isso a ele uma vez, na noite que dormiram juntos, e se surpreendeu em ver que ele lembrava. Os demais na sala se entreolharam sem entender o olhar significativo entre os dois.

– Estou aqui, não estou? Pensei que eu estivesse atrasada, o que deve significar que temos algo a fazer.

se sentou em uma das cadeiras livres, ao lado de Max e esperou alguém começar a falar.

– Bem – Andrew começou –, vou fazer um resumo do que falamos até o momento. Três caminhões da DKNY estarão nas estradas da cidade, mas supostamente apenas um deles tem a carga que queremos. O resto tem dispositivos que avisam caso encontrem qualquer problema. Eles farão três rotas diferentes e poderão trocar de caminho a qualquer momento.
– Hackeamos o sistema da empresa e conseguimos acesso ao GPS dos caminhões, calculamos as rotas e tem três possíveis lugares para cada um seguir seu destino. Todas passarão em um ponto cego devido à área preservada que não deixou a construção de torres – Max continuou o relato. – Acontece que não sabemos qual contém o que queremos, então...
– Vamos ter que atacar os três caminhões ao mesmo tempo – concluiu. – Entendo que tem o ponto cego, mas qual é a chance de conseguirmos que os três estejam nessa área ao mesmo tempo? Assim que atacarmos um que ainda esteja sendo monitorado, o alarme vai ser acionado.
– Por isso precisamos fazê-los entrarem juntos na zona de ponto cego – falou cruzando as mãos sobre a mesa. – E de preferência, sem chamar atenção.
– Podíamos direcioná-los para um caminho só – ela sugeriu.
– Já pensamos nisso – Travis disse –, mas eles também trabalham com essa hipótese e por isso calculam suas rotas com antecedência. Sabiam que não haveria problemas aqui e se algo aparecer vão cancelar a viagem.
– Nossa melhor opção é atrasá-los para que passem ao mesmo tempo na zona cega. – falou. – Teremos gente preparada para atrapalhá-los no caminho a partir do momento que entrarem na cidade, apenas o suficiente para que cheguem lá juntos. Nos dividiremos em equipes de quatro que estarão em caminhonetes, nas proximidades da zona cega. Assim que confirmarmos a rota certa, vocês seguem os alvos e a operação começa.

ligou a TV que estava atrás dele. Nela tinha um mapa da parte norte de O’Village, próxima à fronteira com a cidade ao lado. As prováveis rotas estavam marcadas por linhas laranja e a localização atual dos caminhões por pontinhos nas cores verde, azul e amarelo.

– Eles chegarão à zona por volta das três da madrugada. Vocês terão cerca de vinte minutos. É provável que tenham cargas semelhantes às originais nos outros dois caminhões, ou até que as tenham dividido entre eles, então teremos que roubar tudo. Alguma pergunta?

Eles se entreolharam, mas ninguém abriu a boca.

– Ótimo. – se levantou. – Max, Drake e Oliver, busquem as caminhonetes às nove da noite. Por enquanto, preparem o equipamento na entrada E.

Imediatamente todos se levantaram e seguiram para o mesmo destino. M.J., que esperava do lado de fora, se juntou a e a acompanhou. Apesar de não ter participado da reunião, ele parecia bem a par da situação, fazendo se questionar sobre a relação entre ele e .

– Sou esperto, sabe? – M.J. disse lendo a expressão da moça. – Escuto as coisas e acabo confirmando depois. não gosta disso, diz que não tenho idade para saber de certos assuntos e que não devo me meter. – Ele revirou os olhos. – Não me deixa participar também, mas eu sempre descubro.
– Realmente não acho que tenha idade para participar dessas coisas.
– Sou quase um adulto!
– Diga a verdade, M.J., quantos anos você tem?

Ele torceu os lábios e então suspirou derrotado.

– Quatorze – admitiu. – Mas meu aniversário está chegando!
– Isso não muda muita coisa.

parou na porta de pedestre da garagem E segurou o garoto pelos ombros.

– Olha, M.J., sabe que adoro ter você como parceiro de trabalho, mas é melhor se manter fora dessa parte. Se não quer você se metendo nisso, tem um motivo.
– Poxa, até você?

suspirou. Sabia que M.J. era um bom menino, estava ali porque gostava de motores e tinha algum tipo de ligação com , mas o que iriam fazer não parecia dentro da legalidade e não queria ver o menino respondendo futuramente por coisas que ele mal deveria entender.

– Vamos fazer um trato. – Ela abaixou a voz. – Você fica de fora quando o mandar e eu deixo você dirigir um dos carros daqui, qualquer um que você quiser.

M.J. semicerrou os olhos.

– Qualquer um aqui da oficina?
– Exatamente.
– E como você faria isso?
– Tenho meus métodos... E você tem minha palavra. Temos um acordo? – Ela esticou a mão para o garoto.

Ele pensou por uns segundos e então sorriu.

– Tá, tá bom! Fechado. – Ele apertou a mão dela. – Bom não se esquecer disso.
– Tenho boa memória.

M.J. assentiu e saiu, deixando que entrasse sozinha na garagem e se juntasse ao resto da equipe. Lá dentro tinha uma mesa comprida de ferro, sobre ela havia algumas pistolas, munição, três espécies de bazucas com arpão, coletes a prova de bala, roupas pretas e máscaras de esqui. Eles examinaram tudo, comentando animadamente entre si.
e os outros estavam rindo de uma imitação barata do Rambo que Andrew fazia com uma das bazucas-arpões quando apareceu. Por um segundo todos se calaram para recebê-lo, mas ao perceberem que ele não daria nenhuma ordem, voltaram a conversar e às brincadeiras.
parou em frente à e lhe entregou uma pistola preta com o dragão chinês dourado desenhado no lado esquerdo do cabo.

– Presente para você.

pegou a arma e a observou, depois tirou o carregador e viu que estava vazio, então o pôs no lugar.

– Tenho que admitir, já me deram coisas melhores – ela brincou.
– A não ser que tenha sido um carro, duvido que tenha lhe dado mais adrenalina.

Os lábios de começaram a formar um sorriso.
pegou algumas balas que estavam sobre a mesa ao lado deles e mostrou como colocá-las no carregador, depois pôs a arma nas mãos dela. Ele foi para trás dela e com as mãos sobre as delas, destravou e posicionou a arma apontando para a parede.

– HK P2000 semiautomática, nove milímetros – falou próximo ao ouvido da moça. – Vamos testar a sua mira lá fora.

o olhou por cima do ombro e encontrou um relaxado. Quase riu. Mal sabia ele o que ela podia fazer com aquela arma e os treze projéteis que continha. Poderia sair machucada, mas tinha certeza que acabaria com todos naquela sala se fosse o caso.
Ela sorriu, apagando a cena da cabeça. Não era hora para aquilo, mas o contato com a arma fazia seus músculos lembrarem de todo o tempo de treinamento e experiência em campo. Era como se ativasse o modo batalha. Porém seu rosto não demonstrava nada além de excitação pela experiência supostamente inédita para ela.
Os dois se retiraram dali, acompanhados pelos olhares curiosos de alguns, que ignorou. Já estava começando a ficar óbvia a ligação que criava com e sabia que já estavam notando isso.
Eles foram para o fundo do terreno, onde alvos pareciam ter acabado de ser pintados em placas de madeira.
mostrou passo-a-passo e explicou os detalhes que ela precisava saber sobre a pistola antes de atirar, acertando um pouco a direita do circulo vermelho no meio do primeiro alvo.

– Não é tão difícil, mas precisa ter firmeza no pulso por causa do coice. Isso é...
– Eu sei o que é o coice da arma, . – disse pegando a arma da mão dele. – Não acredito que me ache tão ingênua assim, chefe.

imitou tudo o que ele a ensinara, de forma mais rápida, e posicionou a arma. Ela destravou a arma, puxou o ar pelo nariz e fechou um olho, mirando com o outro. Quando expirou pelos lábios entreabertos, apertou o gatinho.
O buraco feito quase perfeitamente no meio do círculo vermelho fez arquear as sobrancelhas.

– Campeã de paintball por quatro anos seguidos e aluna exemplar nas aulas de tiro da escola de autodefesa. – Ela aproximou o cano da arma dos lábios e assoprou. Cena clichê de filme de faroeste, mas pareceu gostar.
– Você me impressiona cada vez mais, Denver. Parece ter feito sobre medida para cá.
– Sempre me perguntei por que não me sentia completa, por que não me encaixava entre as outras meninas... Eu roubava as roupas dos Max Steel dos meus primos para por nas minhas Barbies porque odiava aqueles vestidos rosa e gostava de fingir que elas eram lutadoras do Mortal Kombat. – Ela riu. – Mas finalmente, pela primeira vez em toda a minha vida, sinto que encontrei um lugar onde eu pertenço.

se aproximou de , olhando para a arma em suas mãos.

– Cansei de jogar pelas regras, sabe? De esperar que algo diferente aconteça na minha vida. Cansei de viver como todo mundo quando não sou como eles... – Ela o olhou nos olhos. – Escutei sobre o estilo de vida daqui e no exato instante soube que tinha que vir para cá. Sei que ainda me esconde muita coisa, , mas estou disposta a ganhar sua confiança nem que isso me custe tudo.
– Por quê? Por que quer tanto conseguir minha confiança?
– Porque você me dá adrenalina, . Não tem outro lugar em que eu queira mais estar.
– Adrenalina vicia, . Deveria ter cuidado com o que deseja.
– Sempre pensei demais antes de agir. Cansei disso também. – Ela deu de ombros. – Agora vou fazer aquilo que me der vontade, na hora que tiver vontade.
– E qual é sua vontade agora?
– Atacar uns caminhões, roubar algumas coisas, depois deitar em uma cama cheia de dinheiro tomando um bom champanhe.

riu, fazendo-a rir também.

– Não vamos atacar um carro-forte, .
– E daí? A fantasia é minha, eu a tenho como quiser.

Ele segurou pela cintura de e aproximou seus corpos.

– Quem sabe um dia – ele disse com a voz quase inaudível.

sorriu e pôs a mão livre no rosto dele, puxando-o até que seus lábios se colassem em um beijo. Não costumava ser do tipo doce e carinhosa, mas sentia que não tinha muito disso em sua vida, então teria que ocupar esse papel sempre que possível.
O beijo foi calmo, sem pressa alguma, mas o quebrou antes que se tornasse mais quente.

– Ahn... Acho melhor eu voltar para lá.

Antes que pudesse se afastar, a segurou de leve pelo braço.

– Eu não vou estar presente hoje à noite. – Ele parecia escolher as palavras certas para usar. – Só não estrague tudo... E tenha cuidado.

sorriu.

– Sem sentimentalismo, chefe. Os outros podem ficar com ciúmes.

Ela piscou e deu as costas, andando de volta para a garagem E.


tamborilava os dedos no volante da caminhonete. A estrada tinha pouca iluminação e os faróis estavam desligados. A luz mais forte vinha do tablet no colo de Travis, sentado ao lado dela. No banco de trás, Max e Crash repassavam os próximos passos.
Todos os quatro estavam com headsets de comunicação a curta distância. Como ainda não estavam no ponto cego, conseguiam sinal no tablet para falar com as outras equipes e com na oficina, mas uma vez lá dentro, estariam sós.

. – Travis disse, mostrando no tablet a rota agora confirmada do caminhão que seguiriam.
– Vamos lá.
– Atenção. Cinco minutos.

Travis desligou o tablet e colou a máscara de esqui. Os dois no banco de trás fizeram o mesmo. ligou o carro e se ajeitou no banco. Era hora do show.
Ela conduziu pelas últimas casas antes da parte desértica da região e quando se afastou o suficiente, tirou a caminhonete da pista e desacelerou, tornando-os invisíveis para qualquer motorista.
A luz do caminhão começou a iluminar a estrada, então voltou a acelerar aos poucos. Quando o automóvel maior passou, ela pisou fundo e entrou na estrada.
Eles estavam na área sem comunicação e tinham exatos vinte minutos para terminar.
Apesar da alta velocidade do caminhão, conseguiram alcançá-lo rapidamente. teve que ter um controle perfeito para literalmente grudar na traseira do outro automóvel.
Travis pegou a bazuca-arpão e pôs o tronco para fora da janela. Ele mirou na porta do baú e atirou. A ponta do arpão atravessou a porta direita e se fixou ali. Travis encaixou a arma em um suporte no teto da caminhonete e apertou o botão que puxava o cabo de ferro preso à ponta. A força era tanta que a porta se abriu.
Os três homens se puxaram para cima do carro através janela. Max se posicionou na carroceria, Crash no capô e Travis entrou na traseira do caminhão. Um minuto depois e a primeira peça saiu pela porta, era uma estatua de samurai de cerca de um metro. Parecia pesada, mas os três homens eram grandes o suficiente para conseguir passá-las de um para o outro, com um pouco de dificuldade.
A pista era quase uma reta, o que facilitou muito o trabalho deles, pois em caso de uma curva fechada, teria que se afastar do caminhão e isso atrasaria o trabalho.
olhou para o relógio. Só tinham mais três minutos e dezenove estátuas haviam sido transferidas. Travis passava a vigésima para Crash quando o barbudo se desequilibrou e teve que se apoiar na base da bazuca para se segurar. Acidentalmente ele soltou a trava e a arma foi puxada com tudo contra a porta, que fechou contra a estátua, fazendo um barulho alto.
O caminhão começou a desacelerar. Iria parar.
colocou a cabeça para fora e gritou:

– Temos que sair daqui!
– Eu sei! – Crash gritou de volta, se esticando para abrir a porta e puxar a última estatua, mas freou um pouco mais que o caminhão, fazendo samurai cair e se despedaçar na pista.

Ela tentou frear para diminuir o impacto, mas passaram com tudo sobre os restos da peça fazendo os três no carro darem um pulo bastante perigoso. Ela olhou para os dois e viram que estavam bem, então acelerou o suficiente para alcançar o caminhão parando no acostamento.
torceu que os samurais estivessem bem posicionados, então jogou o volante para a esquerda e freou.
Travis pulou do caminhão para a carroceria e Crash entrou pela janela no banco do passageiro.
acelerou de novo. Pelo retrovisor viu Travis ajudar Max a prender e cobrir as cargas, mais atrás a silhueta do motorista iluminado pelo farol traseiro do caminhão. Ela tinha certeza que ele viu a caminhonete, mas a noite estava tão escura que seria impossível identificar qualquer detalhe do veículo preto ou de qualquer um deles.
Minutos depois e estavam na cidade, totalmente parada, como é esperado para uma madrugada de segunda para terça-feira. Crash ligou o tablet e dizia para o caminho que deveria seguir para evitar as câmeras de vigilância. Eles não tinham exatamente se tornado amigos, mas aprenderam a conviver depois de algumas discussões e várias broncas de .
Não demorou muito para que chegassem à oficina. Eles estacionaram na ala norte, onde a primeira caminhonete já havia chegado. A outra apareceu pouco depois.
esperava ali, com os braços cruzados. Os doze desceram dos veículos e se aproximaram dele.

– Não acionaram a polícia – ele disse sorrindo. – Então minhas suspeitas devem estar certas.

O chefe caminhou até a carroceria da caminhonete mais próxima e descobriu os samurais.

– Vamos quebrar e ver o que tem dentro.

Alguns foram pegar as marretas e a balança enquanto o resto descarregava. Trinta estatuas ocas de samurais – agora vinte e nove – cheias de diversos tipos de drogas ilícitas como maconha, cocaína, anfetamina, entre outras.
parecia satisfeito enquanto anotava o peso e a quantidade das drogas recolhidas.
se aproximou e olhou os altos números no caderno.

– De quem estamos roubando? – Ela perguntou.
– Pergunta errada, Denver. A questão é: quem permitiu que eles passassem por O’Village sem minha autorização?

Ele a olhou, esperando uma resposta que não veio.

– Os Collins, . Eles receberam para deixar que essa droga fosse transportada por aqui e nem sequer me avisaram. Tentaram passar drogas dos outros pelo meu território e acharam que eu não descobriria. – Ele riu com escárnio. – Acontece que quando se faz planos por trás do chefe, se sai no prejuízo.

sorriu, imitando o divertimento dele.
assoviou, chamando atenção de todos ali.

– Distribuam tudo – ordenou. – Pagamento adiantado, nada de compra fiada.

Os homens responderam um uníssono “sim, chefe” e imediatamente começaram a colocar as cargas de volta nas caminhonetes. Três deles entraram nas caminhonetes, acompanhados por mais um parceiro, então os três veículos saíram. Para os que sobraram, falou:

– Amanhã vocês receberão o pagamento. Limpem tudo aqui e podem ir para casa.

estava pronta para seguir os outros, mas a segurou.

– Vem comigo. Já está na hora de você entender como funcionam as coisas por aqui.



Capítulo 14 - O Pagamento.

Noite seguinte do assalto aos caminhões. olhava o bolo de dinheiro que lhe dera mais cedo enquanto terminava de contá-lo.

– Três mil dólares – ele disse pasmo. – Três mil dólares para cada comparsa mais o lucro dele. Dá para acreditar nisso? Não é à toa que ele fica ostentando por aí.
– Eu sei. – suspirou.

Ela tinha noção do perigo que correram para conseguir roubar os caminhões, também sabia que haviam conseguido uma quantidade enorme de drogas, mas ter o dinheiro disso nas mãos era totalmente diferente. Estava em êxtase. Agora entendia na pele porque tantos arriscavam a vida nesse ramo.

– Vamos dar um jeito de entregar isso para o Charles amanhã. – disse, colocando as notas em uma sacola de lixo preta.
– Acho que não deveríamos fazer isso agora. pode perguntar ou sei lá, fazer um bolão. Ainda é cedo.
– Tentada a ficar com o dinheiro, ?

semicerrou os olhos, mas depois deu de ombros.

– Vai dizer que você, não? – Ela brincou.
– Podemos dividir dois mil e dizer que seu pagamento foi apenas mil.

Ela riu e puxou a sacola da mão dele.

– Não me ponha no caminho da tentação, . Não vamos gastar nada, mas é bom guardar aqui por um tempo.

A moça colocou a sacola pesada dentro de uma das gavetas com chave do armário na parede e a trancou. , por sua vez, sentou em sua cadeira e cruzou os pés sobre a mesa no centro da sala.

– E aí, quando vai me contar sua experiência de bandida?

se sentou na cadeira livre e imitou a posição do parceiro, então começou a falar:

– Senta que lá vem história... – contou detalhadamente desde o momento que chegou, ao momento que voltaram com a carga roubada para a oficina. –... Então ele mandou que alguns distribuíssem a droga e quem ficou, limpou os restos dos samurais do chão.
– Quem diria, , a própria miss simpatia, chefe dos escoteiros desde pequena e exemplo de agente perfeita roubando drogas de um traficante para um traficante. – riu. – Você surpreende qualquer um.
– Apenas parte do meu charme. – Ela endireitou o corpo antes de continuar. – Agora a parte dois da história.
– Ainda tem mais?
– Sim, meu caro , e é a parte mais interessante...


estava pronta para seguir os outros e limpar os restos das estatuas, mas a segurou.

– Vem comigo. Já está na hora de você entender como funcionam as coisas por aqui.

Eles foram para onde seus carros estavam estacionados.
falou para que ela o seguisse e isso acabou virando uma corrida do setor de oficinas ao setor de mansões de O’Village. Após passarem por algumas ruas sinuosas, o Walker parou em frente à entrada de uma das enormes casas da região. estacionou atrás dele e quando saiu do carro, o viu rindo, encostado no Skyline.

– Não foi você quem disse que me venceria numa corrida, Denver?
– Eu venceria se soubesse para onde viríamos e se não estivesse o seguindo. – Ela parou na frente dele, com uma sobrancelha arqueada. – Falando nisso, onde estamos?

olhou para a mansão atrás da moça.

– Onde eu nasci e cresci. Bem vinda à mansão Walker.

girou sobre os calcanhares e olhou através portão branco com um W dourado, para a enorme casa de paredes brancas com enormes colunas no estilo greco-romana na fachada e um belíssimo jardim na frente. Algumas luzes amareladas estavam ligadas do lado de fora, dando um tom dourado e ainda mais luxuoso à construção.

– Uau – soltou sem fôlego.

De repente uma moto apareceu na parte de dentro do portão e um homem de mais de dois metros, cabelo raspado e muito musculoso, desceu, apontando uma lanterna para eles.

– Jeffrey, sou eu. – riu. – Poderia abrir, por favor?
! – O homem disse animado, apertando o botão do controle em seu bolso. – Quanto tempo. Pensei que estivesse brigado com seu pai... De novo.

Os portões deslizaram para os lados.

– Não dessa vez. Só estive ocupado mesmo. – Ele virou para . – Vamos por os carros lá dentro.

seguiu o Skyline pela estrada de pedras cinza que fazia um círculo na frente da casa para rodear a fonte onde Zeus segurava um raio de ouro maciço, por onde jorrava a água. Zeus? Não deveria ser Poseidon? pensou e deu de ombros. Eles eram ricos, poderiam colocar o Olimpo inteiro se quisessem.
parou de frente à casa e estacionou atrás dele novamente, então saiu do carro.

– Já joguei muita bola nesse jardim. – falou quando ela se aproximou, seu olhar estava perdido pelo gramado e um sorrisinho brincava em seu rosto. sorriu em ver a expressão dele. Seu chefe era sempre tão sério que parecia ter nascido um adulto, mas obviamente, não.

O Walker passou o braço pela cintura dela e a conduziu pelos poucos degraus até a porta principal. Ele pegou o celular preto do bolso e destrancou a porta com algum código que pôs nele. Ao entrarem, o queixo de quase caiu, queria parecer indiferente, mas a casa era simplesmente espetacular. O hall de entrada era enorme, dos dois lados havia escadas que se encontravam no segundo andar; no centro do cômodo uma escultura abstrata dourada que, para , parecia uma bailarina; mais atrás, a parede era toda de vidro deixando visível a área de lazer onde a piscina de fundo infinito parecia se juntar ao mar.
Para os dois lados havia um portal que dava a um corredor, ambos com uma obra de arte de aparência cara na parede, mas não foi para lá que levou . Eles subiram as escadas e entraram em um labirinto de corredores. parecia se divertir com a expressão admirada da moça a cada obra de arte que via. Ele explicava o que significavam e a cada porta ele dizia para onde levava, mas não se deu o trabalho de decorar nada.
Finalmente eles pararam na frente de uma porta de madeira nobre, de frente a um quadro de pelo menos dois metros de largura e um e meio de altura. Era uma pintura bem tradicional da família Walker. Joseph, o pai, estava em uma poltrona ao centro; sua esposa May ao lado esquerdo dele, tocando-o no ombro; no braço direito da poltrona estava sentado um menino sorridente, de aparentes dez anos e com o cabelo cortado no estilo cogumelo, imaginou ser Simon; e sentado no chão, imitando a expressão dominante do pai, de cinco anos, com cabelos penteados para trás como seu velho.

– Você tinha cara de quem aprontava – disse, olhando a tela mais de perto.
– Alguém tinha que animar essa casa! – Ele parou ao lado dela, fazendo o mesmo. – Meu pai dizia que colocou essa pintura aqui, na porta do escritório dele, porque quando saísse de lá estressado pelo trabalho, se lembraria do porque de trabalhar.
– Deve ter orgulho dele.

deu um sorrisinho sem graça.

– Meu pai é um homem difícil... Vem, vou te mostrar o escritório.

Ele abriu a porta e esperou que ela passasse primeiro, antes de entrar e fechá-la.
O escritório era praticamente todo em branco e preto, com exceção dos livros que cobriam a parede esquerda inteiramente – o famoso clichê desses cômodos. A parede norte era toda de vidro, dando uma visão linda da piscina abaixo e do mar mais a frente. De lá era possível ver que tinha um desfiladeiro pequeno para chegar à praia. De frente à parede de vidro, uma cadeira branca moderna estava posicionada atrás de uma mesa de madeira preta, onde duas cadeiras mais simples estavam de frente. Perto da parede leste havia um sofá grande e preto com estofamento branco, que parecia muito futurista para ser confortável.

– Fique à vontade. Meu pai não acorda a essa hora nem que a casa esteja pegando fogo.

sentou no sofá, surpreendendo-se com a maciez do móvel.

– Estou me sentindo como uma adolescente tentando beber escondido na casa dos amigos.

riu, mas apontou para algo na parede da porta.

– Tem um bar ali, se quiser.

E realmente tinha: um balcão semicircular de vidro muito bem equipado.
foi para o armário e começou a procurar por algo entre os diversos livros. Levou alguns minutos até que ele achasse o que queria, então se sentou ao lado da moça e pôs o álbum de capa de camurça vermelha sobre suas pernas.

– Você mostrou diversas vezes que quer e merece ganhar minha confiança – disse, olhando-a nos olhos. – Bem, talvez você devesse saber onde está se metendo antes de se jogar de cabeça.
– Se for a história de O’Village, eu já sei.
– Versão resumida por M.J., eu imagino.

riu e assentiu.

– Então sabe que as famílias Walker e Collins fundaram O’Village, mas vou te contar alguns detalhes – ele falou. – Minha família sempre forneceu o minério que os Collins precisava para construir a cidade. Nossos antepassados eram muito amigos. Acontece que também eram muito famosos por suas festas, então quando o álcool era proibido pela Lei Seca, ambas as famílias traficavam para divertir seus convidados. Depois perceberam que lucrariam bastante vendendo para a população também, mas sabiam que isso era crime, então faziam isso através de terceiros. Alguns nem sequer sabiam para quem trabalhavam.

abriu o álbum na página que guardava a foto antiga de dois homens barrigudos rindo um para o outro. Na legenda: Clarke Collins e Boris Walker, ano novo de 1929-1930. Ele continuou:

– Eles planejaram a construção de túneis sob a cidade para que o transporte das bebidas não fosse notado, então falaram que era para transporte de minérios para não despertar suspeitas.

Uma luzinha se ascendeu no cérebro de . Os túneis que havia percorrido com , do projeto Minhocário, então era para isso que serviam a princípio.

– No final da década de 70 chegou à droga. O tráfico começou a vir de fora e as famílias estavam perdendo o controle, mas claro que não deixariam isso acontecer, então foram direto a fonte. Acho que você já ouviu falar de Pablo Escobar.
– Seu pai trabalhou com o Escobar?! – Os olhos de quase saltaram das órbitas.

deu um sorriso torto e apontou para o álbum. Uma foto um tanto desfocada do jovem Joseph Walker ao lado de Escobar. o olhou e viu o divertimento dele. realmente achava graça no envolvimento de sua família com o maior traficante de todos os tempos.

– Ele deu a melhor proposta e conseguiu o contrato, por assim dizer, mas ainda tinha que banir os outros traficantes já empregados aqui. Meu velho decretou: ou se juntava a ele ou morria. O Collins, para não perder totalmente o controle da situação, acolheu aqueles que estavam ameaçados pelo meu pai e encontrou sua própria forma de conseguir drogas. Aí começou a guerra pelo domínio da cidade, que se juntou à expulsão daqueles que vendiam drogas que não eram deles.

passou as páginas até chegar em recortes de jornais que falavam de vitimas da violência em O’Village.

– Ataques a comércios, brigas de gangues, disputas armadas na madrugada... A criminalidade aumentou ainda mais porque bandidos de fora se acharam no direito de tentar reivindicar a cidade para eles. Esses morreram logo – disse na maior naturalidade.
– Então as famílias sempre estiveram envolvidas tanto nos negócios limpos quanto nos sujos. – ponderou.
– Isso aí. Meu pai sempre deixou isso muito claro para nós e, por mais que não quisesse que nos envolvêssemos no submundo, sabia que era necessário para manter o controle na cidade.
– E como foi que você e Simon escolheram quem controlaria o quê?
– Quando alcançamos a maioridade, meu pai nos colocou na empresa. Simon sempre foi o filho exemplar e se saiu muito bem, eu, por outro lado, não me adaptei e constantemente ouvia os funcionários dizendo que eu só tinha aquele emprego por ser filho do dono. O filhinho de papai que afundaria a família. Minhas noites nas boates da cidade também não ajudaram muito.

Ele fechou o álbum e deixou de lado.

– Até que um dia uma moça que estava para ser promovida para o cargo que me colocaram, quando eu estava dando problema em outro setor, jogou isso na minha cara. Suas exatas palavras foram: “Você não merece estar aqui. Tem gente ralando todo dia para chegar a algum lugar e você roubando isso simplesmente porque papai dá tudo na mão para você. Se não fosse o seu nome, você não seria nada”. Aquilo foi um soco no estômago.
– O que você fez?
– Nada. Todos ficaram olhando, esperando uma reação que eu não tive. Eu terminei aquele dia de trabalho e me demiti. Cheguei em casa arrasado, falei para o meu pai que aquilo não era o meu lugar e acabei ouvindo ainda mais sobre ser irresponsável e não dar valor a nada. Foi aí que a ficha caiu que eu tinha que mostrar o meu valor, quem eu realmente era.
“Durante a noite eu fiz minhas malas, peguei meu carro e saí sem rumo. Tinha um dinheiro guardado, mas deixei os cartões de crédito em casa. Eu tinha que me achar e mostrar que eu não era somente aquilo que meu sobrenome me mandava ser. Fui parar em Los Angeles, onde conheci Travis, que nem sabia quem eu era, mas se tornou meu parceiro desde o princípio. Na época ele trabalhava para um cara que organizava corridas. Eu sempre fui muito bom no volante, então pedi uma ajuda para ele.“
– E aí começou o legado de Walker – deduziu.
– Comecei do zero, na base do ranking usando apenas o nome , mas fui ganhando e me tornando cada vez mais conhecido. Com o dinheiro que ganhava nas corridas, abri minha oficina em L.A. com o Travis. O que eu ganhava, investia na oficina que se tornou uma das maiores da região. Fiquei em primeiro no ranking da Califórnia e nesse ponto todo mundo já conhecia “, o invicto”.
“Foi aí que decidi que era hora de voltar para casa. Na minha última corrida em L.A. revelei meu sobrenome e disse que estava voltando para casa. Acredite ou não, me homenagearam nesse dia. – riu. – Pouco depois de chegar aqui, comecei a organizar algumas corridas. Alguns já me conheciam, então vinham para me ver correr, mas decidi que precisava trazer mais gente, então ofereci prêmios altíssimos para quem conseguisse me vencer no ponto-a-ponto, o que nunca aconteceu. As corridas se tornaram eventos para a galera daqui, que não tinha nada assim, e com o tempo se tornou uma espécie de tradição noturna. Todo mundo sabe que acontece ou até participam e para não ter que envolver a polícia, finge que não conhece.”

– Uau! – suspirou. – Mas como foi que você passou de organizador de rachas para organizador de assalto a caminhões?
– Quando eu voltei para cá e consegui consagrar as corridas aqui, meu pai viu potencial no que eu estava fazendo e disse que tinha um serviço para mim. Precisava que eu pegasse uma carga e passasse pela fronteira do México o mais rápido possível. Como eu precisava de uma equipe, fiz uma corrida eliminatória e foi assim que conheci Max e Andrew. Eles ficaram em primeiro e segundo lugar.
– Então você faz o transporte da droga para os outros.
– Antigamente sim, mas então meu pai começou a se cansar dessa vida e deixou o cargo para mim. Agora sou oficialmente o responsável pela parte obscura da família Walker e meu irmão, é atualmente o diretor da nossa empresa.


–... Depois disso ele guardou o álbum e me levou até o carro. – disse.
– Então o crime é legado de família – falou. – Agora temos que encontrar a ligação do túnel com os Walker.
– Talvez eles nem saibam que os Collins continuaram a construção. Talvez se o velho Walker ainda estivesse ativo, mas deixou claro que ele e o irmão assumiram os negócios e não parecem ter qualquer ligação com a outra família.
– Isso é o que vamos descobrir. Se você conseguir a foto do Walker com o Escobar...
– Tem dois jeitos de conseguir isso: ou sou convidada por de novo, ou invadimos lá, mas isso precisaria de um mandado.
– Vou atrás do mandado, mas pode demorar, então tente com o .
– Trabalharei nisso.

se levantou.

– Agora, se me der licença, vou para meu sono de beleza.
– Quer companhia? – Um sorrisinho malicioso brincou em seus lábios, fazendo-a revirar os olhos.
– Não, . – Ela foi até a porta para seu apartamento, mas antes de fechá-la, voltou a olhar para ele. – Hoje não.

foi direto para o banho e quando saiu, pegou apenas uma blusa folgada para vestir, deitou em sua cama e fechou os olhos. Foram longos minutos assim, mas seu sono não vinha.
Ela ainda conseguia sentir a vibração em seu corpo toda vez que se lembrava da noite passada. Não era o tipo de adrenalina que se encontra em pular de paraquedas, era algo bem mais perigoso, mais excitante. Lembrou-se do que a dissera: “Adrenalina vicia, . Deveria ter cuidado com o que deseja”. Talvez devesse mesmo.
Quando finalmente começou a pegar no sono, outras cenas da madrugada passada apareceram em sua mente, mas não aquelas que ela contara a e sim as que escondeu...


Depois que terminou de contar sua história, dobrou a perna sobre o sofá e se virou para ficar de frente para ele.

– Tenho que admitir, , não imaginava nem metade disso. Pensei que fosse só um playboyzinho indo contra a lei porque sabe que o pai tem dinheiro para livrá-lo.
– Nossa, obrigado, Denver! – Ele ironizou.
– Eu imaginava, verbo passado. Mas aí comecei a conviver com você e vi que não era o que eu pensei. Agora tenho certeza que minha primeira impressão foi totalmente errada. Acho que como nunca tive nada fácil na vida, então meio que tomei aversão à gente assim.

revirou os olhos, mas riu da lógica da moça.

– Gosto de saber que estou nessa com um alguém que prova o valor que tem.
– “Nessa”?
– Nessa de infringir leis, desafiar o perigo – ela sussurrou, inclinando-se na direção dele para que ouvisse. – A noite do assalto... Eu senti algo que eu nunca tinha sentido na vida. Nem sei se sou capaz de explicar.

deu um sorriso torto e se inclinou em direção a ela também.

– Sabe que posso te proporcionar ainda mais, não sabe?

sentiu algo dentro dela se agitar com o tom de voz carregado de malícia de . Involuntariamente começou a encarar os lábios do homem e passou a língua nos próprios.

– Não devia me provocar assim, Denver.

Ela se obrigou a olhá-lo nos olhos e viu que ele a encarava na mesma intensidade.

– Desde quando estou te provocando?
– Desde o maldito momento que entrou naquela oficina. Debruçando-se sobre o motor, empinando o nariz sempre que ia falar comigo, até quando anda toda cheia de si para o carro porque sabe o que está fazendo. Seria melhor perguntar quando não me provoca.
– Talvez se deixasse um pouquinho de ser tão marrento, podíamos ter chegado a um consenso sobre isso.
– E quem disse que eu quero? Gosto de você assim.

Aquilo que remexia dentro de assumiu o controle e ela simplesmente se lançou contra , colando seus lábios com urgência. Ela precisava daquilo, precisava sentir o gosto de e precisava sentir as mãos dele a puxando para si com aquela segurança que só ele parecia ter. Só ele era capaz de despertar um monstro dentro dela que nem lembrava que existia.
subiu para o colo dele, apoiando-se pelos joelhos no sofá. As mãos de pareciam tão desesperadas pelo contato de peles quanto as delas. Ele puxou a blusa de mangas cumpridas dela e a jogou em algum canto da sala. fez o mesmo com a camiseta cinza dele e passou os dedos pela tatuagem no peito dele.

– Porra, – ela ofegou. – Que droga você faz comigo, hein?

O monstro dentro dela já reclamava pelo breve tempo que suas bocas se mantinham longe.

– Acho que o mesmo você está fazendo comigo agora.

Esse espaço só durou um milésimo de segundo antes que eles se agarrassem novamente, mas se afastou e levantou para tirar a calça. ficou sentado, assistindo à pequena strip-tease. Quando finalmente tirou toda a peça, ficando apenas com a lingerie vermelha, ele se levantou e a puxou para o colo. As pernas de se cruzaram ao redor do quadril dele, sentindo a ereção dele. a levou até a mesa e a pôs sentada lá, então virou sua atenção para o sutiã que tirou em um segundo. Por um tempo, ele apenas admirou aos seios da moça, então abaixou o suficiente para beijá-los e suga-los, fazendo com que se apoiasse nas mãos para se manter.
voltou a beijá-la, deitando-a sobre a mesa enquanto uma mão puxava sua calcinha. Os beijos deles foram deslizando pelo pescoço, depois seios, passou pela barriga e chegou ao ventre de . Ela ofegou, sentindo aonde ele chegaria. Com uma mão em cada coxa, afastou as pernas da moça, enquanto a olhava com cobiça, então passou a língua pelo ponto mais sensível de . Ela gemeu baixo, mas ele escutou. Sua língua começou a brincar ali com uma perícia que estava fazendo delirar. Seus gemidos se tornaram cada vez mais altos e suas unhas arranhavam a mesa, não ligando nas marcas que poderia deixar. Ele acelerou os movimentos e começou a pressionar mais, então simplesmente não aguentou mais e sentiu-se derramar sobre a boca dele. deu uma última lambida antes de levantar e sorri ao ver uma totalmente entregue a ele sobre a mesa.

– Podia tirar uma foto desse momento e guardar para sempre, sabia?

tentou respondê-lo, mas ainda não tinha recuperado o fôlego.
deu a volta na mesa e pegou algo na gaveta, enquanto se sentava, ainda meio grogue. Quando ele voltou, tinha nas mãos um pacote de camisinha e um sorrisinho malicioso nos lábios.

– Sempre quis roubar uma dessas daqui, mas nunca tinha tido a oportunidade.

riu e pulou da mesa, então passou os braços ao redor do pescoço dele.

– Parece que terá sua primeira vez, então – ela disse, então passou a língua nos lábios dele. – Minha vez.

Ela pegou o pacote das mãos de e o empurrou contra a mesa, mas ele só se encostou nela. se ajoelhou e enquanto beijava a barriga deliciosamente travada dele, abriu sua calça e a puxou para baixo. A box branca já deixava a mostra a animação de .
abriu a embalagem e a posicionou na ponta do membro de , então com a boca, foi o vestindo, puxando com a mão até que a camisinha tivesse toda colocada. a segurou pelo cabelo e a guiou no movimento de vai e vem enquanto pode, mas teve que se segurar na mesa quando se dedicou apenas à cabecinha, onde sua língua fazia círculos e seus lábios beijavam demoradamente.
Ele não aguentava mais.
a puxou para o colo novamente, beijando-a com urgência do princípio, então e a deitou no sofá. As pernas dela jamais deixaram de envolvê-lo, e quanto ele deu a primeira estocada, sentiu o corpo dela arquear sob o seu. Ela definitivamente o deixaria louco. Ele tentou ir devagar a princípio, mas já estava tão louco pelo desejo que não conseguiu. O quadril de se mexia no mesmo ritmo que o dele e os dois gemiam na mesma intensidade.
Quando sentiu que ele estava se cansando, o empurrou e se sentou sobre ele, então começou a subir e descer. Seu quadril rebolava no mesmo ritmo. As mãos de apertaram-na com mais força.

– Caralho, – ele falou ao atingir seu ápice.

Mas ela não parou. Com a mão começou a estimular a si mesma enquanto se movimentava sobre , até chegar ao próprio orgasmo.
Eles ficaram imóveis, apenas desfrutando um pouco mais a sensação. Quando sentiu a força de suas pernas voltarem, saiu de cima de e se sentou ao seu lado. Os dois se olharam e riram.

– Acho que concordamos que essa foi melhor do que a última – ele disse ofegante.
– Se a tendência for sempre melhorar, acho que vai ter problemas em se manter longe de mim, uh?

sorriu e a puxou, beijando-a ainda com o mesmo fogo.

– Pelo visto, sim – sussurrou contra os lábios dele e voltou a beijá-lo.



Capítulo 15 - A Proposta.

A reunião acabou bem depois da hora marcada e nem precisou olhar o relógio para saber disso, era só ouvir seu estômago roncando de fome. Ele já estava na porta para o corredor, o último entre os outros executivos, mas o diretor Benjamin Collins II, ou apenas Ben Collins, o chamou:

– Knight!

parou e girou sob os calcanhares para voltar a se aproximar da mesa de reunião. Ele deu seu melhor sorriso apesar de querer socar àquele que roubava o tempo de seu precioso almoço. Ben tinha o rosto jovial e divertido de um garoto de faculdade, mas estava sério e parecia tão cansado quanto devido às longas horas que tiveram ali.

– Senhor?
– Oras, Knight, não sou mais velho que você, me chame pelo nome. Nós jovens temos que nos unir nessas empresas em que os velhacos se acham os mais inteligentes.

riu.

– Nunca diga isso na frente de um dos velhacos.
– Você viu aquele Schmitt? Aquele faz o cabelo junto com o Trump, mesma franjinha para esconder a careca.

Os dois gargalharam.

– Mas enfim, não te chamei para ficar zoando os idosos. Você tem um histórico impressionante, Knight. Tem sido muito produtivo para a empresa e bem, você sabe, todo aquele puxa-saquismo de chefe.
– Obrigada, Collins. Fico feliz em saber que meu trabalho está dando resultados.
– Resultados muito bons, mas tenho que destacar suas habilidades logísticas. Elas me parecem, na verdade, perfeitas para um projeto bastante exclusivo em que estou trabalhando.
– Posso perguntar que projeto seria esse?
– Infelizmente, ainda não. Apenas quem faz parte sabe dos detalhes, porém, estou aqui para te convidar a participar.
– Ahn... Bem, fico feliz pelo convite, mas como posso concordar com algo que não tenho conhecimento?
– Ainda vou te fazer a proposta, Knight. Se acalme. Vamos discutir isso em um almoço, certo? Estou faminto!

Os dois saíram juntos e um motorista da empresa os deixou em um restaurante a algumas quadras de distância. Eles almoçaram tranquilamente, conversando sobre assuntos quaisquer. Apenas quando a sobremesa foi servida, Ben entrou no assunto que interessava:

– Sabe, Knight, nos dias de hoje nós precisamos estar sempre um passo à frente de nossos inimigos. Infelizmente tivemos uma perda de mercado nas últimas décadas e meu pai não foi capaz de mudar o jogo, então sobrou para mim e para minha irmã tentar por ordem na casa. Acontece que isso está nos custando um preço alto, então pensamos em uma solução mais rentável, que está em processo.
– Desculpe a interrupção, mas não sabia que tinha uma irmã – mentiu.
– Ah, eu tenho. Natasha é minha irmã mais velha, uma mulher incrível. Atualmente está na Europa, cuidando de nossos fornecedores lá.
– Entendo.
– Enfim, esse projeto é bem exclusivo, como disse mais cedo, apenas algumas pessoas de confiança tem acesso ao planejamento dele e, é claro, os contratados que recebem muito pelo silêncio.
– E no que eu ajudaria?
– Preciso de alguém para supervisionar os gastos, o que entra, o que sai... Não pode sobrar nenhuma matéria prima, nenhum centavo pode ser gasto desnecessariamente porque tudo tem que estar perfeitamente calculado. Você é bom nisso.
– Admito que é uma proposta interessante, mas preciso saber o que eu ganho com isso.
– Uma vez dentro do planejamento, você se tornará um sócio. Uma porcentagem do lucro que teremos quando o projeto for concluído irá para a sua conta como horas extras e bônus bem gordos.

ergueu as sobrancelhas e deu um sorrisinho.

– Não posso negar que me deixou curioso com a proposta, Collins.
– Quando estiver dentro do negócio e ver das quantias que falo, você não se arrependerá dessa curiosidade.

Ben comeu a última fatia de sua torta e limpou a boca com um guardanapo.

– Eu tenho outras reuniões agora, mas a conta já está paga e caso queira pedir algo, fique à vontade, está tudo por minha conta. Tire o resto do dia de folga e pense no assunto.

Eles apertaram as mãos, com grandes sorrisos nos rostos.

– Vejo futuro em você, Knight. Não perca essa oportunidade.
– Agradeço pela confiança. Vou pensar bastante e pretendo te responder ainda amanhã.
– Ótimo. Até lá, então.

voltou a se sentar e assistiu Ben sair. Um “sim” e ele estaria realmente entrelaçado ao Collins. A resposta que ele daria era bem óbvia.


A porta abriu, iluminando o apartamento cuja única luz vinha da janela e do celular que tinha nas mãos.

– Finalmente! – Ele gritou em um pulo.

sacou a arma de imediato.

– Mas que merda, . Você não tem casa, não?
– Tenho sim, mas lá eu fico muito solitário.
– Você só pode estar querendo me matar de susto... Ou morrer. – Ela gesticulou para a arma.

riu, revirando os olhos, então notou um pequeno dragão dourado no punha da pistola de e ergueu uma sobrancelha.

– Essa não é a sua arma.

A moça guardou o objeto no cós da calça e fechou a porta atrás de si.

me deu de presente no último trabalho, achei inteligente deixar comigo.
– Então o namoradinho gangster está dando presentinhos agora? – Ele ergueu as sobrancelhas e se jogou novamente no sofá.
– “Namoradinho” uma ova. E você ainda não disse o que está fazendo aqui.
– Tenho novidades.
– Não podia ter esperado até mais tarde?
– Podia, mas não veria a cena de você se assustando. – Ele deu de ombros.

tirou a jaqueta e jogou contra o parceiro com força, fazendo-o rir novamente.

– Já que está aqui, pelo menos vai fazendo a janta.
– Você é folgada, hein? Já pedi pizza para a gente.
– Entra na minha casa sem permissão quase todo dia, me assusta por diversão e a folgada sou eu? Ah tá. Vou tomar banho porque tive um dia cheio, depois você me conta as novidades.

Enquanto estava no banheiro, recebeu a pizza e ficou a esperando na sala, tamborilando os dedos no braço do sofá com impaciência.
Um celular apitou sob a jaqueta de no sofá. tentou se conter, mas a curiosidade foi maior e ele pegou o aparelho para ver as mensagens na tela de bloqueio.

: Mas se você quiser voltar lá em casa... (Carinha de lua cheia).

semicerrou os olhos e desejou saber a senha do celular que apitou anunciando a chegada de outra mensagem, mas que ele não teve tempo de olhar, pois a porta do quarto fez barulho e em um segundo o celular foi para onde estava antes.

– Pensei que tinha descido pelo ralo! A pizza chegou há horas, já deve até estar fria. – Ele disse disfarçando.
– Deixe de resmungar, . Vamos comer logo porque estou desmaiando de fome.

foi à cozinha pegar os copos enquanto já pegava seu primeiro pedaço. Os dois se sentaram no sofá confortavelmente.

– E aí, quais são as novas? – Ela perguntou, cruzando as pernas para ficar de frente com ele.
– O Collins me fez uma proposta para participar de um projeto supersecreto que, quando finalizado, irá me render uma boa quantia como “bonificação extra”. Tenho até amanhã para dar a resposta.
– Projeto supersecreto? E isso seria...?
– Ele ainda não me disse. Apenas quem faz parte sabe sobre o que é, porém eu tenho um palpite: O Minhocário.

ergueu as sobrancelhas.

– Então quer dizer que os túneis ainda não estão prontos – ela concluiu.
– Pelo visto, não, e parece ser um projeto bem grande. Amanhã chegam os resultados daquelas amostras que pegamos lá, então estamos dando um grande passo.
– Isso é bom. Você precisa coletar provas concretas de que os túneis são feitos com dinheiro desviado e para quê serão usados.
– Sim, senhora! Tem mais uma coisa, eu acho que a primogênita dos Collins também está envolvida.
– Mas ela não está no exterior?
– Ben disse que ela está lá trabalhando com os fornecedores, só não falou do que.
– Família toda envolvida nos negócios, então.
– O que me faz ter certeza que todos estão ligados tanto na parte lícita como ilícita.

assentiu e bebeu o último gole de seu copo, então olhou as horas no relógio em seu pulso. Seu rosto de repente foi ganhando um ar travesso e ela sorriu.

– Quer saber, estamos há muito tempo focados demais nessa missão. O que acha de darmos uma voltinha?
– Agora?
– É, . Agora!

imitou a expressão de e levantou, puxando-a junto. pegou a carteira e as chaves, enquanto o parceiro ia em casa pegar o mesmo. Não demorou nem dez minutos para o Mustang estar saindo da garagem com os dois agentes dentro.
acelerava um pouco mais do que o necessário e podia ver a diversão dela nisso. Se não fosse da FBI, ela com certeza seria dublê de corrida ou até corredora. Talvez seja por isso que ela está se divertindo tanto nessa missão, pensou.

– Quero-te vê correndo no próximo racha – ele soltou.

o olhou rapidamente e riu.

– De onde tirou isso?
– Estou vendo sua animação em ultrapassar o limite de velocidade, quero ver isso quando você realmente puder fazer isso.

Ela ergueu uma sobrancelha e imediatamente se arrependeu do que disse.

– E quem disse que precisa esperar tanto?
– Merda.

O carro acelerou, fazendo o motor roncar alto. passou a costurar entre os carros na rua e entrou de uma vez na avenida.
viu a vida passando diante de seus olhos.

– Puta que pariu, ! – Ele gritou se segurando no banco.

Ela riu, mas não desacelerou. Continuou em alta velocidade até reparar que estavam na orla, então com um giro do volante, ela atravessou as duas faixas da mão contrária e estacionou perfeitamente ao lado da calçada. não teve certeza se o barulho que ele ouviu fora um grito dele ou dos pneus cantando no asfalto.
ria tanto que uma lagrimazinha escorreu pelo canto do olho.

– Vo-você tinha que ver a sua cara – ela disse gargalhando.
– Só lembrando que se eu tivesse vomitado, o carro é seu.

abriu a porta e se controlou para não beijar a terra firme. Seu coração parecia querer sair pela caixa torácica.
deu a volta no carro e se aproximou dele, agora rindo menos.

– Não me olhe com tanto ódio, . Foi você quem pediu.
– Eu disse que queria ver você dirigindo e não estar com você no carro.

Ela sorriu travessa e o abraçou.

– Prometo não fazer de novo, mas queria que você sentisse a sensação de velocidade.

Ele semicerrou os olhos e bufou.

– Vem, resmungão. Eu te pago uma cerveja para compensar. – Ela sorriu.

Eles foram para o barzinho que parecia uma cabana sobre a areia da praia. Não estava muito cheio, mas tinha alguns clientes.

– Vamos querer o chope da casa – disse para o garçom ao serem atendidos.
– Está se sentindo melhor? – perguntou quando ficaram sozinhos.
– Agora, sim. Sério, como você consegue fazer aquilo? Nem sequer olhou se estava vindo carro.
– É claro que olhei, ! Foi tudo planejado. Meu cérebro trabalha praticamente no automático quando estou dirigindo. Tenho experiência, sei quando dá para fazer algo e quando vai dar merda se eu fizer.
– Mas você não tem noção da aflição que é ser seu passageiro.
– Ah, vai dizer que não curtiu nem um pouquinho?
– Eu não estava preparado.

O garçom chegou e serviu duas canecas cheias de chope para eles. pegou a sua e já estava com ela chegando à boca quanto puxou de sua mão.

– Você está dirigindo – ele repreendeu.
– Ah, qual é?

Ela chamou o garçom novamente e acabou pedindo um suco.

– Você realmente gosta de dirigir, né? – voltou ao assunto depois de algum tempo de conversa.
– Você ainda tem duvidas?
– O que sente trabalhando com o Walker? – ele disse mais baixo.
– Eu me divirto, gosto de fazer isso. Duas coisas que eu amo ao mesmo tempo.
– Mas qual você gosta mais?

ergueu uma sobrancelha.

– Por que o questionário, ?
– Curiosidade, ué.

Ela continuou olhando desconfiada para ele, mas deu de ombros.

– Não posso escolher só um. Amo estar mexendo com carros, e quanto participei da corrida, foi uma sensação única, mas...
– Oi, desculpa interromper – um homem ruivo e magrelo apareceu do lado dela sorrindo de orelha a orelha. – Não pude deixar de escutar a parte de você mexer com carros e participar da corrida. Você é Denver, a corredora do Walker?
– Uh, sim.
– Caramba! Não acredito que estou do lado da Denver.
– Desculpa, nós nos conhecemos?
– Nossa, que indelicadeza a minha. Sou Alex Smith, eu sou corredor também, estou tentando entrar para o ranking. Te vi correr no último racha e uau! Você é muito boa mesmo.

e trocaram um olhar significativo.

– Obrigada – ela respondeu sorrindo.
– É sério, você foi demais. Desculpa perguntar assim, mas como foi que você conseguiu entrar na equipe do Walker? Você é nova por aqui, não é? Nunca tinha te visto nas corridas.
me viu correndo em outro lugar e gostou da minha habilidade – mentiu. – Me convidou para a equipe e eu aceitei.
– Eu posso ver o porquê. – Ele riu. – E-eu posso tirar uma foto com você?
– Foi mal, eu não gosto muito de fotos.
– Tudo bem! Claro. Obrigada mesmo assim. Uh... Se puder entregar isso ao Walker... – Ele a entregou um cartão em forma de carro.
– Claro, pode deixar que falarei de você.
– Você é demais, tanto como pessoa quanto como corredora, sério! E é muito bonita também... Com todo respeito, claro – ele se apressou em dizer –, quer dizer, sei que você está com o Walker, não me entenda mal, eu só...
– Ei, relaxa! Está tudo bem, agradeço pelo elogio. E sobre eu e o ... – ela balançou a cabeça em negativa, mas foi interrompida antes de dizer algo.
– Não precisa explicar. Todo mundo viu vocês lá. Não que seja da minha conta, ou da conta deles... Acho melhor eu ir – ele disse dando uma risadinha nervosa. – Foi um prazer conhecê-la.

Ele fez uma referencia desajeitada e saiu apressado. voltou a olhar para que tinha uma expressão de poucos amigos.

– O que acabou de acontecer? – riu.
– Você está ficando famosa, miss simpatia.
– Eu só fui à uma corrida. Não é possível que pessoas que não frequentem a oficina percebam quem eu sou.
– Você está trabalhando com o chefão da cidade, . É claro que se lembrarão de você. – Ele suspirou. – E aparentemente você está em um relacionamento sério com o Walker, o que ajuda na fama.
– As pessoas não podem ver uma mulher perto de um homem que já veem coisas onde não tem. – Ela revirou os olhos.
– Bom, eu vi vocês quase se beijando, então pode ter rolado algo a mais depois que eu saí. – disse tentando manter o tom de voz despreocupado.
– Não houve nada, .
– Tem certeza? Nem depois da corrida?
– Ok, , o que está acontecendo? Quer me dizer alguma coisa?
– Não sei, , me diz você. Vive enfiada naquela oficina, vai ao apartamento e até na casa do Walker, vive saindo com aquela galera. Você ainda está mesmo investigando?

Ela se curvou sobre a mesa e falou com o tom de voz mais baixo e ríspido:

– O que você está insinuando, ?

Eles ficaram se encarando tensamente por alguns segundos.

– Nada – ele disse sério e desviou o olhar.

endireitou o corpo, mas continuou encarando-o carrancuda.

– Acho melhor irmos embora – disse sem olhá-la.

Ela olhou a conta e deixou o dinheiro dentro da pastinha, então se levantou e saiu do estabelecimento, seguida pelo parceiro.
A viagem de volta foi quieta. Os dois se mantiveram calados e apenas o som baixo do rádio era ouvido. Os dois subiram até o décimo andar e andaram juntos pelo corredor. Quando chegaram à porta de , respirou fundo e falou:

– Desculpe pelo que disse. Eu não quis insinuar nada.

Ela o olhou, ressentida.

– Não, isso foi exatamente o que você quis! Pensei que fossemos amigos, . Mas se desconfia de mim, por que ainda está na missão?
– Eu não desconfio de você.
– Ah, não? – Ela riu sem humor. – Quer saber, ? Nós somos apenas colegas de trabalho. Se acha que estou comprometida, pode ir falar com o Charlie à vontade! Mas se não for, de agora em diante vamos manter contato estritamente profissional, está bem?
...
– Boa noite, .

Ela entrou no apartamento, batendo a porta atrás de si.



Capítulo 16 - Cada Um Em Sua Equipe.

Os dedos de tamborilavam na mesa em sintonia com o tique-taque do relógio. A sala era tão branca que lembrava um consultório médico. Há quanto tempo estava ali? Vinte? Trinta minutos? Nem ele sabia dizer, mas parecia uma eternidade. Não pela espera e sim pelo incomodo que sentia dentro de si desde a noite passada.
As palavras de rodavam em sua cabeça sem parar. De manhã, quando tentou abrir a porta que ligava a sala secreta ao apartamento da parceira, viu que estava trancada e aquilo era um sinal claro de “estamos com problemas”. odiava isso. Odiava brigar com as pessoas e ainda mais com quem gostava. Ele e tiveram implicância um com outro por muito tempo antes de se tornarem colegas e então amigos, mas nunca chegou a ser uma briga séria.
suspirou e ao mesmo tempo a porta se abria atrás dele. Ele levantou para receber um Ben sorridente.

– Knight! – Ben apertou sua mão. – Desculpe a demora, cara. Fiquei preso em um compromisso. Precisei contratar transporte de terceiros em cima da hora por incompetência de certos funcionários.
– Tudo bem, entendo como essas coisas são.
– Pois é. Enfim, sente-se e fique à vontade.

obedeceu e acompanhou com os olhos o chefe sentar na própria cadeira.

– Então, pensou sobre o assunto?
– Até demais. Não posso negar que você despertou meu interesse e curiosidade, Collins.
– Essa era a intensão. – Ele sorriu.
– Bom... Deu certo. Estou dentro!

O sorriso de Ben se aumentou.

– Eu sabia que você tinha potencial, Knight. Você será um parceiro valioso, eu tenho certeza. Venha, para falar desse assunto, temos que ir a outro lugar.

Desta vez Ben estava no próprio carro que identificou como uma BMW. Eles saíram do centro da cidade e entraram no bairro conhecido por seus diversos bares, prostíbulos e casas de jogos. Ben estacionou na frente de um bar com um letreiro de neon vermelho escrito “Paradise” sobre as portas.
Dentro do lugar, a decoração era vermelha, haviam sofás circulares vermelhos distribuídos pelo lugar e poltronas enfileiradas posicionadas de frente a um palco; na parede esquerda estava o bar e na direita haviam vários postes de pole dance sobre um palco menor. Não foi difícil notar que aquilo era uma boate, mas como ainda estava cedo, tudo estava claro e pessoas iam de um lado para o outro limpando.
Ben cumprimentou a todos que passaram por ele e foi direto para uma porta aos fundos, seguido por . Eles subiram dois lances de escada até o primeiro andar e seguiram por um corredor velho até a última porta. Atrás dela havia uma sala mal iluminada, no centro, uma mesa circular com várias cadeiras ao redor e apenas uma janela no fundo, mas uma cortina grossa a cobria.
Um homem de cabelos grisalhos e cicatriz que cortava da testa à bochecha estava sentado ali, lendo alguns papeis, mas quando levantou o olhar deu um sorriso grande, mostrando o dente de ouro.

– Jovem Ben, não esperava você aqui hoje – o homem disse levantando-se para cumprimentar o mais novo.
– Não foi planejado, Joe. Quero que conheça alguém. – Ele apontou para . – Este é Knight, mais novo sócio no negócio.

Joe o olhou dos pés à cabeça com desprezo.

– Não é bom colocar mais gente no projeto, chefe.
– Oras, você mesmo disse que estavam tendo problemas com os números. Estávamos em risco de algo transparecer na empresa e não queremos isso, certo?
– Não mesmo.
– Pois bem, Knight é ótimo com números e logística. Vai dar uma ajuda com os materiais da obra e, se fizer um bom trabalho, poderá até trabalhar no negócio em si.
– Se o senhor acha que ele pode ajudar, então eu concordo com você.

Ben sorriu.

– Sempre posso contar com você, Joe. Agora vamos fazer uma breve reunião para mantê-lo a par da situação e falar dos termos do acordo.

, que se mantinha calado, finalmente falou:

– Termos?
– Claro. Não podemos fazer um negócio desses com alguém que não saiba dos riscos – Ben disse.

Os três se sentaram ao redor da mesa e Joe pegou uma pasta e pôs na frente de . Sobre ela, um contrato.

– Assine – ele mandou.
– Se importam se eu ler?
– Óbvio que não, leia à vontade – Ben respondeu.

Não especificava nada no documento, apenas confirmava o sigilo total de qualquer ação feita ali. não sabia se aquilo realmente tinha validade ou era apenas uma forma de firmar o negócio, mas assinou.

– Bom, talvez eu deva começar do início para você entender – o Collins falou. – O’Village foi fundada por duas famílias...

Mesma coisa de sempre, duas famílias amigas que se tornaram rivais com a chegada das drogas, os Walker conseguiram o controle majoritário da cidade e agora os Collins lutavam para reaver sua parte. Por mais que já tivesse ouvido a mesma história centenas de vezes, escutou tudo, mostrando interesse e surpresa sempre que necessário.

– Mas desde que meu pai se aposentou, estou no controle das duas partes. Minha irmã queria conhecer novos ares fora daqui, mas sempre que conhece algo novo para ser comercializado aqui, faz contato.
– Entendo. O patriarca dos Walker também se aposentou? – perguntou.
– Sim. Eu e minha irmã desconfiamos que eles decidiram juntos acabar a rixa entre eles e deixar que nós decidíssemos o que fazer. Tempos de paz, eu diria.
– Isso é bom, eu imagino.
– Nat desconfia que os Walker estejam planejando algo, já eu acho que eles estão tão cansados dessa briguinha quanto eu. Nunca chegamos a ter um contato direto, nossa única rivalidade é nas corridas.
– Corridas?
– Nunca ouviu falar?
– Bem, ouvi comentários, mas ninguém nunca chegou a me explicar.

Ben o olhou como se não soubesse uma coisa tão obvia quanto “o oceano é feito de água”. Ele explicou o que eram as corridas e como se tornou conhecido nessa área. Ben gostava de carros assim como ele, então já correra contra o Walker algumas vezes, mas nunca ganhara, então começou a contratar corredores para desafiá-lo e desafiar a equipe dele em seu nome.

– Eu e estudávamos na mesma escola e tínhamos aula de mecânica juntos. Éramos os melhores na sala e provavelmente foi o maior contato que tivemos um com o outro sem brigas ou disputas. Trabalhávamos em dupla nós dois.
– Mas não se tornaram amigos.
– Digamos que acabamos com nossa boa convivência por causa de uma garota nova que chegou na turma. Sabe como é.
– Quem nunca passou por uma dessas, não é?
– Enfim, nos afastamos. O problema é que quando nossos pais saíram da jogada, já era bastante conhecido. Nos bairros de alta classe, os Walker tem domínio de 90%; nas periferias, estamos empatados; e no resto tenho controle de 40% da distribuição.
– Ou seja, eles têm controle de dois terços da cidade.
– E nós precisamos mudar isso. Aí entra o projeto que estamos trabalhando, ele se chama Minhocário.

conteve um sorrisinho convencido. Adorava estar certo em seus palpites.

– São túneis sob a cidade que atravessam as fronteiras, incluindo a do México.

O agente ergueu as sobrancelhas.

– Tá brincando!
– Não, meu caro. Ainda não está pronto, mas temos tudo aí em uma planta.

abriu a pasta e encontrou a folha que ele falava em meio à papelada. Era uma rede de túneis complexas que cruzavam a cidade em seus pontos principais, como as docas, fronteiras com as cidades ao lado e com o país latino vizinho. Havia também pontos conhecidos por casas de show e todos os lugares onde a droga tinha uma boa circulação.

– Isso deve custar milhões – arfou.
– Aí entra nossa ótima relação com a prefeitura. A cidade precisa de reformas, nós fazemos cobrando um custo mais alto que o real, o que sobra vem para nossos bolsos. Parte vai para eles, é claro. Também temos outros parceiros que nos ajudam, startups, empresas fantasmas, etc. Está tudo aí para você entender. Só tem um pequeno detalhe: esse projeto só acontece aqui dentro.
– Entendi. Mas no que esses túneis podem ajudar?
– Podemos trazer e guardar quantidades absurdas de drogas sem precisar nos preocupar com qualquer tipo de fiscalização. Só precisamos trabalhar para que as mercadorias cheguem ao México e trazer para cá é uma moleza. A ligação com outras cidades é para fazer negociação com os de chefes lá.
– Em quanto tempo os túneis estarão operantes?
– Mais do que gostaríamos, é por isso que você está aqui. Vai trabalhar a logística com nosso engenheiro, o nome dele é Patrick Hart. Vão acelerar a obra e garantir que nem uma grama de cimento seja gasto à toa ou apareça em qualquer tipo de documento fora daqui.
– Pode deixar comigo, chefe. Só mais uma pergunta: quando irei conhecer todos os sócios?
– Hoje à noite, durante uma corrida.


***


O sol começava a se pôr quando entrou no carro, carregando a quinta mala de dinheiro do dia. Toda a equipe estava na rua recebendo o pagamento das mercadorias vendidas em todo o território dominado pelos Walker e isso transpassava os fronteiras de O’Village até as cidades vizinhas. O império de crescia cada vez mais, mais homens eram recrutados e em permanecia a curiosidade de vê-lo realmente sendo o chefe que todos pareciam temer e respeitar tanto.
ligou o rádio e pegou o tablet sobre o banco do passageiro com a lista de nomes e endereços. Ela e a equipe estavam fazendo uma pequena competição de quem coletava mais. Os nomes riscados já tinham sido coletados por alguém que os pintavam da cor que o representava; nomes em itálico adiou o pagamento; e nomes sem nenhuma marcação ainda tinha que ser visitado. No momento só havia mais dois e um estava próximo de .
Seus dedos tamborilavam no volante no ritmo da música baixa que tocava no rádio enquanto dirigia pelo caminho que seu GPS marcava.
Ela parou em um sinal vermelho e segundos depois o Walkie Talkie preso ao lado do rádio apitou, avisando a proximidade de alguém da equipe. Meg apertou o botão que permitia conversa quando o aparelho apitou mais uma vez.

– Quem está por aqui? – Ela perguntou.
O mais bonito da equipe – a voz de Travis respondeu.
E com isso ele se refere a mim, claro disse em seguida.

Ela riu.

– O que está fazendo aqui, Walker?
Vim verificar se você estava fazendo o serviço direitinho, novata.
– Sim, chefe. Estou fazendo tudo como me foi determinado e agora vou buscar o último pacote do dia.
Vai sonhando que vai ser você – Travis se intrometeu. – Esse pacote é meu.
Seria uma pena se... falou e de repente seu Skyline (agora com uma película preta escondendo sua cor azul) apareceu do lado direito do cruzamento e curvou derrapando. – ... eu pegasse antes de vocês dois.
– Acabou de conseguir uma multa por sinal vermelho para esse Dodge, Walker.
Então terão duas multas – Travis disse.

O Lancer de Travis, também preto graças a uma película, passou ao seu lado pela contramão.
Filho da mãe, pensou e acelerou, cantando pneu.

Ainda bem que meus carros são invisíveis para radares disse e riu.

Os três carros costuravam entre os outros, levando várias buzinadas e se livrando por pouco de alguns acidentes. Mas todos os três tinham bastante domínio, o que ajudava na condução nada segura. mal podia pensar em quantas infrações estavam cometendo ali: atravessando sinal vermelho, passando pela contramão, andando com placa falsa para evitar serem reconhecidos, usando películas para esconder a cor original do carro e ainda tinham um dispositivo que os deixavam invisíveis para os radares.
Mas nada daquilo parecia importar naquele momento. O único foco no momento era ultrapassar Travis e alcançar , que estava com uma boa dianteira.
Em um dos cruzamentos um carro entrou de uma vez, obrigando Travis a frear bruscamente. jogou para o acostamento, por pouco não pegando no meio-fio, e continuou na corrida.

– Menos um – ela brincou.
Deu sorte, garota – Travis respondeu.

Mais a frente ela conseguiu identificar o carro de chegando perto de mais um cruzamento cujo sinal estava amarelo.

Merda! praguejou. – Polícia à esquerda.

desacelerou e entrou em um beco à esquerda, vendo pelo retrovisor a viatura passar sem problemas onde ela estava antes. Uma rápida olhada no GPS e ela viu que podia ir por ali para um usar um atalho, então refez seu curso até o destino. Cortar caminho é sempre válido, pensou.
Travis logo entendeu o plano dela.

Vai mesmo por aí, Meg?
– Vou sim, T. Sei que a pista é difícil, mas um bom motorista sabe dirigir em qualquer lugar.
Isso seria uma indireta? – Ele riu.
– Entenda como quiser.

Ela entrou pelo bairro, um dos mais simples da cidade em que estava. As ruas eram irregulares e tinham alguns buracos, mas isso não a impediu de acelerar. Os moradores que conversavam nas portas de suas casas se interrompiam para ver o Dodge preto voar pelo asfalto. Alguns metros depois e estava de volta à pista, pegando o viaduto que levaria ao alvo.

Nem eu dando dianteira, vocês conseguem me vencer. Tsc, tsc. Tenho que conseguir novos corredores mesmo zoou.

Pelo retrovisor viu o Skyline se aproximando até estarem lado-a-lado.

– Seu carro está mais equipado.
Não se trata do carro, e sim de quem conduz. – Ele deu uma piscadela e acelerou, deixando-a para trás.
– Filho da mãe. – Mas ela não pode evitar um sorrisinho.

Mais atrás, Travis se aproximava, mas não conseguiu passar.
pegou a saída um pouco antes dos outros dois que ainda disputavam por centímetros o segundo lugar. Após entrar na área residencial, foram apenas cinco minutos até a entrada do pátio cercado de casinhas simples.
O Walker já estava encostado no capô do Skyline quando parou ao seu lado, seguida de Travis.
Ela saiu do carro, olhando para o viaduto que fazia sombra ali apesar de estar a algumas centenas de metros de distância.

– Vocês são muito fracos. Eu não fiz nem esforço para ganhar – disse com um sorrisinho torto.
– Humildade claramente não é uma de suas características, Walker – brincou.
– Para que humildade quando se é o melhor?

Os dois fingiram se encarar por um segundo, então riram.

– Não querendo atrapalhar a discussão do casalzinho aí, mas temos um trabalho a fazer – Travis interrompeu.

Os dois trocaram um olhar e sorriram sem jeito. Estava se tornando cada vez mais frequente caracterizarem eles como um casal.

– Esse seria claramente um para a minha lista – afirma –, mas já que estamos todos aqui, vamos juntos.

Travis pegou o tablet no bolso da jaqueta e leu:

– Edwin Norman. Está com o pagamento de dois meses atrasados.
– O prazo dele acabou de acabar. É bom ele ter a grana.

foi a frente seguido por e Travis, um de cada lado. Ele tocou a campainha, mas não teve resposta, tocou novamente e nada.
Alguma coisa fez barulho do lado de dentro e os olhos de semicerraram, então ele deu um sorrisinho de deboche.
Ele olhou para Travis e fez sinal para que ele desse a volta na casa, depois disse, sem emitir som, para que se escondesse atrás da cerquinha viva ao lado do portão. Ela assentiu e obedeceu.

– Acho que vou ter que voltar outra hora – falou e saiu pisando com força.

Da casa, não dava para ver os carros na entrada do pátio, direção que fora.
Passaram-se alguns minutos até a porta se abrir. escutou passos cuidadosos descendo as escadas da varanda. O dono dos passos resmungou algo e abriu o portãozinho, olhando na direção que sumira. Meg então se levantou atrás dele, sorrindo.

– Olá, Edwin.

O homem se assuntou e girou em um pulo. Quando ia correndo de volta para casa, Travis se pôs na frente.

– Sem saída para você, meu chapa.

Não demorou muito para estar de volta, prendendo o cara magricela entre os três.

– Então ia me dar um calote, Edwin? – disse, olhando-o com frieza.

se viu pensando no quanto ele ficava sexy quando assumia a “postura de negócio”. O gelo em seu olhar era de dar arrepios, de repente ele parecia um lobo cercando sua presa a espera do momento de atacá-la. quase sorriu com a ideia.

– Eu... Não. Só não tenho a grana agora. Preciso de tempo.
– Você já teve seu tempo. Quero meu dinheiro, agora!
– C-chefe, eu vou arranj...
– Vamos conversar lá dentro – ele ordenou.

Edwin engoliu a seco e seguiu , escoltado por e Travis.
A casa era simples, pouquíssimos móveis e bem mal cuidada.

– Vocês dois, – falou – vasculhem a casa e peguem tudo o que for de valor.

Os dois assentiram e foram procurar. Apesar de sair olhando em todo canto, nada ali parecia valer alguma coisa. Tiraram tudo do lugar, apesar de não se sentir confortável fazendo aquilo. Mas que escolha tinha? Tinha que manter seu disfarce.
Ela entrou no quarto e começou a procurar, embaixo da cama, nas gavetas da cômoda, dentro do guarda-roupa, sob o coxão... Olhou tudo.

– Esse cara é um pobre coitado – ela murmurou consigo mesma quando ia sair, mas ao pisar em certo ponto no chão de madeira, ouviu ecoar baixo.

abaixou e começou a bater com a articulação do dedo no chão, até encontrar o ponto oco em uma das madeiras. Ela vasculhou até encontrar um jeito de abrir e deu de cara com vários pacotes de dinheiro.

, você vai gostar de ver isso.

Os três homens apareceram no quarto enquanto ela tirava os pacotes de dentro do buraco.
olhou para Edwin de um jeito que até ela estremeceu.

– Então você não tinha o dinheiro? – Ele cuspiu.
– E-eu posso explicar – o magricela disse se encolhendo contra a parede à medida que avançava. – O dinheiro não está completo então queria ter todo.
– Se continuar mentindo, vai ser pior para você.

Edwin engoliu a seco.
Travis apenas assistia de braços cruzados, empatando que ele fugisse pela porta.
pegou Edwin pelo pescoço, levantando-o do chão, então o soltou com força fazendo-o cair ajoelhado. Ele puxou a arma no cós da calça e apontou para a cabeça do homem que começou a tremer furiosamente. levantou por impulso, pronta para impedir aquilo, mas se conteve.

– Me dê um motivo para não explodir seus malditos miolos agora – rosnou.
– E-eu... Tinha que pagar o aluguel, ou seria despejado – Edwin falou embargado. – Depois ia atrás do seu dinheiro, eu juro. Por favor, cara... Minha família mora aqui.

olhou para Travis, que balançou a cabeça com cara de desdém.

– Vou te dar cinco segundos para falar a verdade antes de pintar a parede com seu cérebro.
– Não estou mentindo.

carregou a pistola.

– Quatro, três...
– Uns caras do Van Der Lan vieram comprar a droga, mas fizeram um teste e disseram que ela não era pura. Não me pagaram tudo, chefe. Não tive nem como cobrar, mas vou arranjar seu dinheiro, eu juro.

abaixou sobre ele.

– Como é?!
– Homens do Van Der Lan. Me perdoe, chefe. Por favor. Vou conseguir o dinheiro. Já vendi minha TV, minha moto... Vou conseguir o resto do pagamento.

jurou que fosse socar o homem naquele momento, parecia que uma aura de ódio o cercava de modo tão forte que até ela estava começando a se irritar. Então ele levantou, olhando com desprezo para o homem no chão.

– Você estava com dívidas com ele, não é?

O magricela abriu a boca, mas não falou nada.

– Quanto tem nos pacotes, Edwin?
– Três e quinhentos.

acertou o cabo da arma na boca do caído, fazendo-o sangrar muito.

– Você tem uma semana para conseguir o resto da minha grana ou vou colocar fogo nesse chiqueiro com você dentro, Norman. Fui claro?
– Sim, chefe.
– E só para te lembrar, eu tenho olhos em todos os lugares. Não é porque você não está na minha cidade, que eu não saberei se você fugir. Tente qualquer gracinha e o Van Der Lan ficará sabendo sua gracinha de me por contra ele. Não vou sujar as mãos da minha equipe com um verme como você.
– Não vou fugir, chefe. Vou arranjar seu dinheiro.
– Ótimo. Peguem o dinheiro e vamos embora.

e Travis dividiram os pacotes entre si e seguiram , que saiu discando um número no celular antes. se atentou à conversa:

– Fala, parceiro. Fiquei sabendo de uma dívida de um verme que vive debaixo do viaduto contigo... Esse mesmo. Está afim de uma troca de favores?

Ela queria terminar de escutar, mas ao ver que Travis dera espaço para que falasse, fez o mesmo.
Já na entrada do pátio, eles colocaram os pacotes no porta-malas do Skyline enquanto se despedia da pessoa que falava no telefone. o olhou e ele estava totalmente tranquilo, nem parecia que tinha acabado de apontar uma arma para um homem dentro de sua própria casa.
Os olhos dele, até então perdidos olhando a vizinhança, olharam diretamente nos dela, pegando-a no flagra. Ele desligou e deu um sorrisinho torto.

– O que foi, ?
– Nada... É só que... Você acha que ele vai conseguir o dinheiro? – Perguntou a primeira coisa que veio na cabeça.
– Não, não vai.
– E o que vai fazer quando voltar aqui?

a olhou com curiosidade, mas não demonstrava nada.

– Vou entregá-lo para o Van Der Lan que vai me pagar o que ele me deve.
– Por que ele faria isso?

riu.

– Negócios, . – Ele tocou o queixo dela com o indicador. – Eu lhe entrego um traidor, ele me recompensa por isso e nós mantemos nossa boa relação.

Ele ergueu rosto dela com delicadeza e lhe beijou os lábios, mas antes que se tornasse um beijo de verdade, Travis pigarreou e disse:

– Melhor irmos logo, ainda temos um bom caminho até em casa.

Os dois se separaram, mas ainda a olhava com cobiça.

– Corridinha até a oficina? – ela perguntou.
– Ainda tentando me vencer, Denver? – brincou.
– Acho que você já me conhece o suficiente para saber que eu nunca desisto, Walker.

Ela deu uma piscadela e entrou no seu carro, vendo passar a língua nos lábios e dar um sorrisinho antes de entrar no Skyline.



Capítulo 17 - Drift.

fechou o zíper da bota e se olhou no espelho. O short jeans e a bota de cano longo deixavam apenas uma parte de sua coxa à mostra; a blusa preta estava encoberta por uma jaqueta de couro da mesma; e os cabelos estavam soltos, como sempre. Apesar de não ser a maior adepta de maquiagem, resolveu passar um batom vermelho e um delineador desta vez.
Ela sentou no sofá e se viu inquieta, esperando a mensagem que diria onde ia ser a corrida da noite. Pensou em bater no apartamento do , mas seu orgulho fora mais forte, então decidiu dar uma passadinha na sala secreta.
Ao entrar, viu um bilhete sobre à mesa.

– “Chegaram os resultados. Olhe seu e-mail” – ela leu.

abriu o notebook e entrou na conta que era sua ligação com o FBI nesta missão. Lá estava o e-mail com o resultado das amostras que colheram nos túneis sob a cidade. Ela abriu e começou a ler.

– Vestígios de gesso e cocaína... – disse baixo. – Igual aos dos samurais que roubamos nos caminhões.

levantou e abriu a porta que levava ao apartamento de , mas estava tudo escuro e em silêncio. Ela puxou o celular do bolso e discou o número dele, que deu desligado. Repetiu mais três vezes até desistir.

– Merda, .

Ela suspirou e voltou ao seu apartamento.

– Ele deve estar bebendo com aquela loira azeda do trabalho – falou para si mesma. – Eu vejo isso amanhã, então.

Quando ia sentar-se novamente, o celular vibrou e o pegou de prontidão, esperando que fosse seu parceiro, mas era a mensagem com as coordenadas da corrida. jogou o endereço no GPS do celular e viu que era em um estacionamento cuja obra fora embargada.

– Hora de correr.

***

saiu do carro e bateu a porta. O prédio, apesar de ser bem extenso, já estava lotado de pessoas dançando ao redor de carros turbinados. A música alta combinava perfeitamente com o clima do lugar.
Ben parou ao lado dele e sorriu.

– Bem legal, não é? – Ele perguntou.
– Legal? Legal é pouco!

Duas moças de roupas bastante curtas passaram encarando-os.

– Olá, bebês! – Ben disse com um sorrisinho nos lábios. – Knight, você vai amar isso aqui. Se tiver um carro desses – Ele apontou para seu conversível. – consegue a mulher que quiser.
– Não que eu esteja reclamando, mas meu salário ainda não me permite.
– Relaxa, irmão. Agora você é meu sócio. Logo, logo terá isso e muito mais. Vem, vamos conhecer a equipe.

Em uma área que julgaria como V.I.P., estavam cinco homens e uma mulher.

– Ei, galera – Ben disse animado. – Aqui está o cara de quem tanto falei. Quero que conheçam Knight, nosso novo sócio.

Todos o cumprimentaram ao mesmo tempo.

– O Joe você já conhece – Ben disse apontando para o grisalho. – Esse aqui é Patrick Hart, engenheiro e seu novo parceiro de trabalho.

Patrick era alto, imponente, mas tinha um sorriso acolhedor. Ele apertou a mão de .

– Espero que você seja tudo isso que Ben dizia de você, porque estou realmente precisando de uma ajuda.
– Não sei o que ele disse, mas me garanto no meu trabalho.
– Confiante, gostei disso.
– Aqueles são meus parceiros Dan, Luke e Gabriel.

os cumprimentou e todos foram bem receptivos.

– E por último, mas não menos importante, nossa princesa de fogo: Hannah.

imaginou que o apelido tinha a ver com o cabelo ruivo quase vermelho da moça. Ela era bonita. Seus olhos eram muito negros e a pele branca com umas sardinhas no nariz. Ele pegou a mão dela e depositou um beijo de leve ali.

– Encantado.

Ela sorriu.

– Acho melhor avisá-lo logo que todo mundo aqui já tentou algum tipo de cantada comigo, mas não deu certo. Falso cavalheirismo inclusive.

riu.

– Vou ser original, então – ele disse espalmando as mãos, em defesa. – E isso foi uma piada. Não vou te cantar.
– Obrigada. – Ela riu. – Mas então, o que tem de tão especial para Ben te contratar?
– Modéstia à parte, eu sou bom em tudo o que me disponho a fazer.
– Mas para mim, parece meio deslocado no meio desses carros.
– É a minha primeira corrida. Digamos que estou saindo da minha zona de conforto. Já você, parece bem à vontade.

Ela sorriu e apontou com o queixo.

– Está vendo aquele Mustang Shelby GT500 Super Snake ali?

se virou e viu o carro vermelho com listras brancas a que ela se referia.

– É seu?
– Aham. Ganhei em uma corrida, com um carro que consegui em outra corrida, usando um carro que ganhei em um outro racha.

Ele riu.

– Uau! Você me lembra de alguém.
– Espero que essa alguém tenha o mesmo charme que eu.
– Na verdade, o seu está ganhando. – Ele deu um sorrisinho torto. – Talvez seja o perfume.

Hannah sorriu.

– Já que está tão perdido, vem comigo que te pago uma bebida.
– Já que está me oferecendo com tanta educação.

Eles sorriram um para o outro e seguiram para o bar montado perto de onde estava marcada a largada.

– O que vai querer? – ela perguntou.
– Vou deixar você decidir. Conheço as pessoas pelo gosto da bebida.

Hannah ergueu uma sobrancelha e sorriu, então se direcionou para o barman:

– Um Martini para mim e whisky com gelo para o cavalheiro.
– Então acha que tomo whisky? – perguntou, olhando-a.
– Não. Você tem cara de quem gosta de cerveja barata. Mas quero ver se aguenta bebida de macho também.
– Outch!

Ela riu e entregou o copo para ele quando o barman serviu.

– Um brinde aos negócios, novo sócio.
– Um brinde aos novos amigos.

Eles brindaram e beberam um grande gole.
Os olhos escuros de Hannah não desviavam um segundo dos de , e ele gostava disso. Ela era decidida e claramente estava pensando se ele valia à pena ou não investir. Mas sabia o efeito que tinha nas mulheres e se ela o visse de farda então... Porém, ele não tinha essa carta na manga, e ela parecia pronta para jogar com ele.
Oras, se pode se divertir, por que eu não posso? Vamos jogar! pensou.
Eles continuaram conversando e bebendo até um homem negro de tranças aparecer com um megafone no meio da pista.

– E aí, galera!

A multidão uivou em resposta.

– Vamos começar os trabalhos. Hoje, como devem ter percebido, a parada é drift, com o adicional de colunas de estacionamento. Aqui não é para amador não, é coisa de profissional!

A resposta veio de imediato. Pelo visto, quanto mais perigoso, mais as pessoas gostavam.

– Já vamos começar com estilo. Emmett Rogers desafiou Andrew da equipe Walker para correr. Vocês são os primeiros, se preparem.

A galera já foi se amontoando ao redor da pista.

– Ugh – Hannah reclamou. – Os corredores do Walker se acham o dono da cidade. Aliás, ele se acha o rei daqui. Não sei por que Ben não põe aquele babaca no lugar dele.
– Talvez eu ainda seja leigo no assunto, mas o Ben parece bem pacifico para mim.

Ela se aproximou mais de e abaixou a voz.

– Ele é! – Hannah revirou os olhos. – O Ben tem medo de uma afronta direta ao Walker. Não sei se você sabe, mas desde que os patriarcas saíram do comando, os herdeiros que assumiram. Enquanto do lado de lá eles colocaram o mais competente em cada área na sua área, do lado de cá...

A ruiva balançou a cabeça e virou o resto da segunda taça.

– Acontece que o já tinha um legado com esse pessoal, sabe? Conseguiu conquistar ainda mais território para o lado deles enquanto Ben está tentando trabalhar por debaixo dos panos. E olha que o Walker já atrapalhou alguns negócios dele.
– Como quais?
– Estávamos fazendo transporte de uma mercadoria. A equipe dele interceptou os caminhões na zona cega da cidade e levaram tudo. Os motoristas nem chegaram a ver quem eram, o que já deixa óbvio que só pode ter sido ele.
– Não existem outras equipes de nível por aqui?
– Pode ter nas cidades vizinhas, mas ninguém se atreveria a entrar em O’Village para fazer isso. Infelizmente tenho que admitir que hoje em dia isso é graças ao Walker, porque se apenas o Ben estivesse no controle... – Ela balançou a cabeça novamente. – Ah, se a Natasha voltasse.
– A irmã dele? Acha que ela seria melhor?
– Você não chegou a conhecê-la, não é?
– Não.
– Está explicado. – Ela riu. – Você ainda tem muito a saber por aqui, meu caro .

Hannah correu a ponta do indicador no lábio dele, acompanhando o caminho com os olhos.

– Vou ao banheiro.

Ela sorriu e levantou. Deixando-o ali.
passou a língua nos lábios e ajeitou a postura. Ela sabia jogar e fazia isso muito bem.
Ao ouvir o barulho dos motores, ele girou o corpo, ficando de costas para o balcão para ver a corrida que estava prestes a começar, então encontrou do outro lado da pista um par de olhos que conhecia muito bem. O queixo erguido e a sobrancelha levantada ajudaram a confirmar que estava ali e vira tudo.
ergueu o copo em um cumprimento disfarçado e a viu semicerrar os olhos, mas antes que fizesse alguma outra coisa, o Walker apareceu.
Foi a vez de semicerrar os olhos.
Mesmo com a distância, ele notou que a expressão dela mudara de imediato, semelhante ao que vira em Hannah. O Walker disse algo no ouvido dela e um sorrisinho apareceu em seus lábios avermelhados, então seus olhos voltaram para e uma sobrancelha se ergueu novamente.
riu e bebeu o resto da bebida no copo. Pelo visto, acabara de entrar em outro jogo.

***

parou na entrada do prédio de seis andares e abaixou o vidro. Um cara grande se aproximou já falando:

– Posso ver a mensagem?

a explicara que tinha que mostrar a mensagem com as coordenadas do lugar para poder entrar, como uma espécie de convite. Ela pegou o celular, mas assim que o homem chegou mais perto, o suficiente para vê-la melhor, sorriu.

Denver? Pode entrar. Já tem gente da equipe aí, inclusive .
– Uh... Obrigada.

Como foi que se tornara conhecida? Sem ter uma resposta, apenas deu de ombros e seguiu.
O primeiro andar do estacionamento estava vazio e escuro. Realmente parecia abandonado. O segundo e o terceiro também, mas era possível escutar a música. Já no quarto a multidão se reunia. Vários carros estavam estacionados por ali. Uma moça de cabelo roxo que vira no último racha parou a frente do carro e foi falar com ela.

– Olá! Equipe Walker no andar de cima.
– Valeu.

Ela dirigiu lentamente entre as pessoas até alcançar rampa. Era engraçado ver o olhar e os comentários que atraía quando passava. Pelo visto o tinha razão sobre ela ser famosa.
De longe ela viu o Lancer Evolution verde do Travis, então parou ao lado dele e já saiu o cumprimentando.

– E aí, T.
! Pensei que não ia chegar nunca.
– Nunca ouviu falar que é chique chegar atrasado? Perdi alguma corrida?
– Ainda não. Jax está fazendo os sorteios dos corredores.
– Beleza. Vou falar com o resto do pessoal.

Ela cumprimentou Max, a namorada Thalia, e Andrew, que estavam mais perto. Depois falou com Drake e foi até Oliver, que estava ao lado de Crash, seu primeiro desentendimento na equipe. Os dois trocaram um olhar, mas não se falaram.
A um carro de distância, estava com Simon e a esposa dele, Kate, que foi a primeira a vê-la.

! – Ela a abraçou. – Vai correr hoje?
– Ei, Kate!

não pode conter o sorriso ao ver a loira lhe recebendo tão calorosamente. Kate era uma pessoa tão positiva que era impossível não gostar. Apesar da pouca convivência, aprendeu a apreciar sua presença.

– Eu adoraria, mas acho que não vai rolar.
– Mas por que não?
– Meu Mustang não está equipado para isso, seria uma morte súbita. – Ela riu. – E não fala para ninguém, mas também não tenho muita experiência nessa área.

Kate fez uma carinha de descontentamento, mas de repente seu rosto se iluminou e ela saiu puxando pela mão.

– Ei, , por que você não dá umas aulas de drift para a ?
– Kate! – repreendeu. – “Não fala para ninguém”, lembra?
– Ah, relaxa garota. é da sua equipe, não é?
– Na verdade ela que é da minha – ele respondeu.
– Deveria tratar seu narcisismo, Walker – brincou.

Simon puxou a esposa para seu colo e disse:

– A é boa, cara. Iria ganhar uns carros aqui.
– As apostas aqui são carros? – perguntou.
– São, sim.
– Bem – ponderou. –, se você realmente quiser aprender, primeiro temos que te conseguir um carro.

Ele olhou ao redor.

– Eu já volto.

ergueu uma sobrancelha e olhou para o casal que sorriu um para o outro com cumplicidade. Tinha alguma coisa rolando ali, mas antes que pudesse perguntar, Jax apareceu na pista com seu megafone na mão.

– E aí, galera! – Jax falou no megafone.

Enquanto Jax falava, se aproximou da largada, assim como todo o resto. A primeira corrida era de Andrew com algum corredor que ela não se dera o trabalho de memorizar o nome.
Os carros se posicionaram na largada.

– Vai lá, Andrew! – Ela gritou, recebendo uma piscadela do colega em resposta.

Foi então que ela viu, conversando com uma ruiva no bar, do outro lado da pista.

? – Ela sussurrou.

Eles estavam próximos. Próximos demais.
A ruiva passou o dedo lentamente nos lábios dele e desejou ter uma faca para arrancá-lo. Ela então disse algo e se levantou. Deixando um todo sorridente para trás. Ele olhou ao redor, parecendo um bobo alegre, até encontrar o olhar de .
Ele ergueu o copo a cumprimentando.
semicerrou os olhos se controlando para não ir socá-lo. Mas sentiu alguém se aproximando, então suspirou e melhorou a expressão.

– As pessoas gostam de você, Denver – disse perto do ouvido dela. – Me perguntaram se você iria correr hoje.

sorriu e deu uma olhadinha para , que ainda assistia a cena com uma expressão cínica no rosto. Ele não estava desconfiando de mim? Pois agora darei motivos para isso, ela pensou.

– E o que você respondeu? – Ela se aproximou levemente de .
– Disse que hoje não. Que você estava apenas escolhendo carro.

Ela riu e ergueu uma sobrancelha.

– Escolhendo carro?
– As pessoas já te veem como uma corredora profissional, uma muito marrenta por sinal, tinha que dar uma resposta melhor do que “ela não sabe fazer drift”.

deu um soco de leve nele.

– É bom mesmo não manchar minha reputação, Walker.

Ele deu uma risadinha.

– Depois eu que sou o narcisista.

revirou os olhos, mas acabou rindo. a envolveu pela cintura e a conduziu para um pouco mais perto da pista, bem a tempo de ver os dois carros partindo.

Por mais que tentasse evitar, não conseguia tirar os olhos de ao lado da ruiva. Eles pareciam muito íntimos apesar de ela não fazer ideia de quem era.
aproveitou um momento de distração da equipe e foi para o outro lado, onde se encostou ao balcão do bar e pediu uma tequila. Enquanto esperava, sentiu alguém imitar sua ação.

– Não vai correr hoje, miss Hot Wheels? – falou baixo, olhando para frente como se não conversasse com ninguém.
– Isso não te interessa, Knight.
– Na verdade me interessa bastante, Denver. Ia gostar de vê-la correndo contra Hannah. Ela corre também, sabia?

O barman colocou os dois copos no balcão. virou a dose dela em um gole.

– Imagino que esse seja o nome da ruiva.
– Esperta você. Então, se quer vê-la correndo, a desafie você.

saiu, voltando em direção à sua equipe a tempo de Jax anunciar a próxima corrida.
– Temos um caso interessante aqui, minha gente! Walker desafiou o dono daquele Mustang Shelby GT500 Super Snake vermelho ali.

Do outro lado da pista, já ao lado de , a ruiva se levantou.

– Na verdade, é a dona. E eu topo!

A multidão enlouqueceu.
deu um sorrisinho malicioso e se aproximou de .

– Olha, Walker, se você ganhar dessa aí, vou ficar te devendo uma.

deu um sorrisinho torto e se aproximou mais dela.

– Vou cobrar depois que eu vencer.
– Estou contando com isso.

Ele sorriu um pouco mais, encarando os lábios vermelhos de intensidade.

– Na volta – ele disse e se afastou, indo para o Skyline.

No megafone, Jax falou:

– Façam suas apostas, pessoal. Corredores, vão querer o carro ou dinheiro?
– O carro – disse de imediato.

A ruiva riu, fazendo querer vomitar.

– Que seja o carro então.
– Estou sentindo uma tensão aqui – Jax falou. – Vocês conhecem as regras: tem que dar a volta completa no andar antes de pegar a subida, a pista está delimitada por cones. O primeiro a atravessar a linha, ganha.

Os dois corredores entraram nos carros e ligaram os motores. Uma garota que se equilibrava em saltos perigosamente altos se pôs entre eles.

– Preparado, corredor? – Ela apontou para e o Skyline roncou em resposta. – Preparada, corredora? – O Mustang também rosnou quando apontado.

A garota levantou uma mão lentamente, depois a outra. Então as abaixou de uma vez.

– JÁ!

Os carros arrancaram, cantando pneu. Os dois chegaram ao fim da pista e giraram, entrando de traseira na curva. Aquilo era lindo para os olhos de . Eles voltaram à reta e ela ficaria ali os vendo subir na rampa se não fosse Travis puxando-a.

– Vem, . Vamos subir!

Eles entraram no elevador, expulsando alguns que já estavam dentro para caberem. Quando as portas se abriram no quinto andar, assistiram a uma derrapada perfeita onde o Mustang levou a melhor. A ruiva era boa, mas jamais admitiria isso em voz alta.
Os dois carros passaram como um flash, jogando um jato de ar neles, então se apressaram para subir até o terraço.
As luzes da cidade iluminavam a área descoberta do prédio. As pessoas já se espalhavam, esperando pelos dois veículos que apareceram na curva fechada da rampa. O vermelho estava na frente e por um segundo acreditou que perderia seu carro, mas no fim da curva ele recuperou tração e acelerou, ultrapassando-a com facilidade e atravessando a linha de chegada primeiro.

– Esse é o nosso , minha gente! – Jax uivou pelo megafone.

Ele freou em um cavalo-de-pau, fazendo fumaça com os pneus. Como de costume, a multidão foi ao delírio, correndo para cercá-lo. e Travis se meteram entre eles até o alcançar.
Para a ruiva as pessoas abriram espaço. Ela andava confiante demais para quem acabara de perder.

– Você corre bem, Walker, mas não é tudo isso que falam. – Ela disse e jogou a chave do carro para ele. – Espero ter uma revanche.
– Jamais negaria esse pedido, madame. – disse debochado.

Porém, tinha outros planos. Ela se meteu entre os dois, atraindo um olhar confuso tanto de Hannah, quanto da multidão ao redor.

– Eu tenho outra sugestão. Próxima corrida você vai correr, sim, mas é comigo.

Houve um “UHHHH” coletivo.

– Vai proteger o namoradinho? Tudo bem, então. – Ela deu de ombros. – Vai ser moleza. Espero que use um outro carro porque eu já estava a fim de trocar mesmo.
– É melhor trazer um carro bonito, não estou a fim de ter que ir no ferro-velho deixa-lo lá.

Hannah riu e balançou a cabeça.

– Nos vemos na próxima corrida, Denver. – Ela se aproximou para falar mais baixo, encarando . – Vou fazer você engolir esse seu narizinho empinado.
– Será meio difícil fazer isso quando você bate no meu umbigo.
– Próxima corrida, Denver – ela repetiu e saiu, sendo seguida pelo olhar da multidão.
– Vocês ouviram isso, não é? Corrida que vem vai ter luta de gladiadoras. da equipe Walker versus Hannah da equipe Collins! Juntem sua grana, pessoal, porque as apostas serão altas! – Jax anunciou.

As pessoas irem à loucura, já fazendo suas apostas para uma corrida que nem tinha data certa de acontecer.

– Garota, você é foda! – Travis disse eufórico e a abraçou.

riu.

– Alguém tinha que trazer novidade para essas corridas, não acha?
– Quero ver você arrebentar com aquela água de salsicha.
– Pode ter certeza disso.

riu com os dois, então puxou a mão dela e pôs uma chave ali. A chave do Mustang que acabara de ganhar.

– Acho que você merece um brinquedinho novo para a ocasião. – Ele deu um sorrisinho travesso.

Levou um segundo para processar o que ele quis dizer e um sorriso de orelha a orelha aparecer em seu rosto. Então ela não se conteve. Ali, na frente de todos, mas sem se importar com ninguém, colou seus lábios nos dele com mais ferocidade do que o planejado.
As mãos dele desceram por suas costas para no fim lhe apertar a cintura com intensidade. Naquele exato momento ela percebeu que estava muito ferrada.



Capítulo 18 - Parceiros Coloridos

estava em meio a uma sequência de socos no saco de pancada quando escutou a porta de ferro da antiga sala do zelador e atual academia improvisada se abrir. Ele deu mais um soco e suspirou.

– Posso treinar com você? – disse com a voz baixa.

Houve um breve silêncio antes da resposta.

– Claro – disse sem vontade.

Ele se virou mostrando-se nem um pouco bem humorado, algo raro para .
A moça colocou suas luvas e se aqueceu enquanto esperava encostado à parede. Por mais que tentasse se manter neutro, em sua expressão era claro o aborrecimento. O silêncio também não ajudava no clima.
Quando finalmente estava pronta, os dois se posicionaram no meio do tatame e começaram uma coreografia de socos e chutes, erros e acertos. era a que mais atacava, enquanto se mantinha defensivo, apenas protegendo e se esquivando.

– Acho que a gente precisa conversar – ela disse ao desviar de um soco que iria direto a seu rosto.

Com as duas mãos ela puxou o braço de sobre seu ombro e usou o peso do corpo para derrubá-lo, depois aplicou uma chave de perna. Ele deu dois tapinhas no chão e ela o soltou.

– Conversar sobre o quê? – se pôs de pé. – Que há um dia você bateu a porta na minha cara dizendo que não tinha nada com o Walker, mas ontem a noite o beijou na frente de O’Village inteira?

suspirou e tirou os fios soltos do rosto, como se procurasse as palavras certas para dizer.

, aquilo faz parte do que nós fazemos aqui. Você acha que eu conseguiria as informações que tenho se fosse apenas mais uma mecânica na oficina?
– Engraçado porque acabei de entrar na equipe do Collins e não precisei beijar ele.
– Ele não, mas a ruivinha água de salsicha lá, talvez.
– Ah, não tente virar o jogo aqui, ! – Ele aumentou a voz. – Ou só vale quando é você beijado o criminoso? Além do mais, Hannah chegou agora. Você com o Walker estão se enroscando não é de hoje e você simplesmente escondeu isso de mim.
– Porque eu estava justamente tentando evitar essa ceninha de ciúmes ridícula – ela também subiu o tom.
– Ciúmes, ?! – riu sem humor. – Você realmente deve achar que o mundo gira ao seu redor, né? Presta atenção no que você está fazendo.
– Me infiltrando para conseguir informações confidencias deles? Sim, já prestei atenção e pelo visto estou fazendo isso muito bem.
– Acha que vão pensar isso quando descobrirem que você está dormindo com o alvo das investigações?
– Nem todo mundo tem cinco anos como você, ! Pessoas adultas não tratam sexo como um bicho de sete cabeças. Sou uma profissional, sei o que estou fazendo e não vou ficar aqui escutando sermão seu! – Ela se virou para sair.
– Claro! É muito mais fácil sair tampando os ouvidos do que escutar a verdade.

bufou e voltou como um touro contra ele.

– Acha mesmo que estou fazendo algo errado? Acha que estou comprometida ou comprometendo a missão? Me delata! – Ela pegou o celular dele sobre a mesa e o bateu contra o peito dele. – Anda, liga para o Charles e diz tudo isso que está me falando.

pegou o celular e jogou de volta na mesa.

– Sabe muito bem que se você sair vai estragar a missão. Sabe-se lá quando conseguiríamos infiltrar outro agente com o Walker.
– Então se não vai falar, me explica o porquê desse showzinho todo, ! Porque eu sinceramente não estou entendendo aonde você quer chegar!
– Eu estou tentando não deixar você ser morta, ! Você está se metendo com um bandido, tem noção disso? Se ele descobre ou se até desconfia que você é da polícia, vai te matar!
– Eu sei muito bem me cuidar, ! Sei os riscos e estou preparada para enfrentá-los se for necessário. Agora você deixar essa sua paranoia atrapalhar no meu trabalho é o que não faz sentido algum. Porque se não é ciúmes, precaução também não é.
– Quer saber? Que se foda! Faça o que achar melhor.

Ele tirou as luvas com rispidez e as jogou sobre a mesa, então pegou o celular e foi em direção à porta.

– Vamos mesmo ficar assim? – perguntou antes que ele saísse. – Mais sabe-se lá quantos meses tendo que conviver um com o outro sem mal olhar na cara?

Ele respirou fundo e disse sem nem se virar:

– Você mesma sugeriu que mantivéssemos contato estritamente profissional, não é? Se precisar saber de algo da missão, leia o relatório.

saiu, deixando-a só na sala.
Ele desceu as escadas até o décimo andar e entrou no apartamento batendo portas. Foi à cozinha e começou a procurar pelos armários por qualquer coisa que contivesse álcool. Acabou achando o resto de uma garrafa de whisky, então tomou um longo gole direto da boca. Se sentou no banco de frente ao balcão e apoiou a cabeça na mão livre. Queria socar algo, queria gritar, quebrar alguma coisa... Mas também queria puxar e mostrar a besteira que ela estava fazendo. Queria poder destruir esse clima horrível que estava.
suspirou e levantou a cabeça. Vendo seu reflexo na geladeira percebeu o quanto parecia alterado. Queria voltar lá e resolver as coisas, mas estava cansado de sempre ir atrás. Dessa vez se não engolisse o próprio orgulho e viesse atrás dele, provavelmente nunca mais voltariam a se falar.
Ele pegou o celular e colocou as músicas no aleatório, então ficou ali até beber o último gole da garrafa. Demorou um pouco até encontrar forças para se levantar e ir tomar banho.
Enquanto a água morna deslizava por seu corpo, não conseguia parar de pensar em todo esse problema com . Teria que ocupar a mente ou acabaria indo tentar resolver as coisas. Imaginou sua nova amiga Lizzie falando que isso seria culpa de seu signo. “Taurinos são muito fieis e apegados a seus amigos, por isso sempre fazem de tudo para não quebrar os laços” ela o dissera uma vez. Acabou rindo da fixação da colega por astrologia.
Talvez fosse exatamente isso que ele estivesse precisando, papos aleatórios sobre coisas quaisquer. Iria procurar Lizzie.
O banho terminou e se secou e enrolou a toalha no quadril. Iria se arrumar e ligar para sua colega de trabalho, faria qualquer coisa que ela inventasse só para não ter que ficar ali.
Ele abriu a porta do banheiro, levando uma lufada de ar frio e ao sair do banheiro, encontrou sentada em sua cama de cabeça baixa.

– Me desculpe – ela disse sem olhá-lo. – Eu devia ter sido sincera contigo desde o início, entendo sua preocupação com a missão. Mas tenho que pedir que confie em mim. Pode não acreditar, mas eu realmente sei o que estou fazendo... E não quero perder sua amizade por causa disso.

Toda a parede de raiva que ele havia construído se derreteu naquele exato momento. era do tipo de mulher que odiava demonstrar fraqueza e ele sabia disso, porém, mesmo relutante, lá estava ela pedindo desculpa. Uma vozinha no fundo de sua cabeça se orgulhava por tê-la deixado vir atrás primeiro e queria continuar sendo frio com ela, mas isso não era de sua natureza. a puxou pelos braços e a abraçou, sentindo cheiro de shampoo no cabelo dela.
Ele sentiu se acomodar ali e suspirar devagar.
Quem diria? Eles dois que nem se gostavam de repente se verem ali em um abraço estranhamente confortável para ambos.

– Ahn... – ela disse, desvencilhando-se do abraço. – Você está pelado.
– Tecnicamente estou coberto por uma toalha.
– Só da cintura para baixo.
– E daí? Você já viu tanto a parte descoberta quanto a coberta mesmo.

revirou os olhos, mas riu.

– Você é impossível.
– E você adora.

Ela o encarou com os olhos semicerrados enquanto ele revidava com um sorrisinho sem vergonha. A falsa carranca foi se desfazendo em um sorriso, confirmando a fala de , então ela fez algo que o surpreendeu: o beijou.
Por instinto, as mãos dele foram para sua cintura, aproximando a pouca de distância que ainda havia entre os dois, enquanto acariciava sua nuca com as pontas dos dedos, causando um arrepio involuntário. O beijo até então calmo, foi ganhando ferocidade. deslizou as mãos pela lateral do corpo da parceira e parou no quadril, onde segurou com mais força e puxou para seu colo. As pernas de se cruzaram ao redor do tronco dele e seus beijos passaram da boca para o queixo e pescoço.
a deitou sobre a cama, posicionando-se sobre ela. Sem dificuldade tirou o vestido largo que mais parecia uma camiseta enorme. não esperou para tirar o sutiã e jogá-lo em algum canto do quarto. olhou para o belo par de seios e dedicou sua atenção a eles. Os acariciou cada um com uma mão, apertando-os com desejo, então levou a boca a um deles. Sua língua brincava com o mamilo e o sugava com desejo. Sob ele, suspirava acariciando-o os cabelos em incentivo. trocou para o outro seio e repetiu o processo, arrancando gemidos baixos de .
Ela o puxou para cima e deu um longo beijo antes de jogá-lo de lado e puxar a toalha. A moça apoiou-se sobre os joelhos, um de cada lado do quadril de , e começou a rebolar e se esfregar sobre o homem que estava visivelmente excitado com a cena.
Ele se segurou enquanto pode, mas não aguentava mais. a deitou novamente na cama e se esticou para pegar um preservativo na gaveta do criado-mudo. Ela fez menção de ajuda-lo a colocar, mas ele prendeu seus pulsos contra travesseiro e sorriu malicioso.
começou a depositar beijos no pescoço dela e foi descendo lentamente pelos seios, barriga até chegar ao ventre, então puxou a calcinha com os dentes. levantou o quadril, ajudando-o a retirar a peça que voou pelo quarto. Ele sorriu com malicia analisando cada pedaço do corpo da parceira, então se posicionou entre suas pernas e começou a brincar com a ponta de seu membro na entrada dela.

– Porra, .

Ele penetrou e tirou lentamente, depois repetiu o movimento na mesma velocidade, ouvindo um gemido de reclamação em resposta. continuou assim enquanto beijava o pescoço de , então sussurrou em seu ouvido:

– Esse é seu castigo por ser uma menina má.
– Eu... Te odeio, – ela disse ofegante.

Ele saiu completamente de dentro dela, sorrindo.

– Como é que é?
– Mentira! Te adoro – ela o beijou. – Você é meu pudinzinho. – O beijou de novo. – Agora para de me torturar, por favor.

riu e a beijou.

– Como você é bandida – brincou. – Vou te ajudar só porque sou um policial bonzinho, mas só se você se comportar.
– Eu prometo, senhor – ela disse manhosa, roçando seus lábios nos dele.

sorriu e voltou a penetrá-la agora com mais força e aumentando gradativamente a velocidade. Seus quadris se chocavam intensamente. Os gemidos de foram se tornando mais altos, mas então parou.

– ela reclamou.
– Shiu! É seu castigo, lembra?

Ela fez bico, mas não contestou. a puxou e posicionou de costas para ele.

– De quatro – ele mandou.

obedeceu, apoiando uma mão na cabeceira da cama.

deslizou as mãos pelas coxas e pelo bumbum de , dando uma apertadinha nesse último, então depositou um beijo na curva de suas costas, fazendo-a arrepiar. Um sorrisinho apareceu em seus lábios ao vê-la ali tão entregue. Aquela era uma visão que todo homem gostava de ter, isso não dava para negar.
Ele se ajeitou e voltou a estocá-la. O vai e vem se tornando mais forte e rápido. Os dedos de estavam brancos de tanta força que ela segurava na cabeceira. Seus gemidos se misturavam a gritos que pareciam entornar com os de .
Ele não aguentaria mais, estava muito próximo.
Quando soltou um último grito, foi o suficiente para ele atingir o ápice que veio junto com o dela.
Ela sentiu as pernas tremerem e fraquejarem, então se deitou de bruços na cama. fez o mesmo ao lado dela, então tirou o preservativo que foi parar no chão. Queria acender um cigarro, mas havia parado de fumar há anos, então não tinha nenhum ali.
se ajeitou e encostou a cabeça no peito do parceiro. Ficaram alguns minutos assim, sem dizer nada.

– O que é que a gente tem? – ele perguntou.

Ela gemeu em protesto.

– Para que estragar o momento intitulando as coisas?

riu.

– Porque sou assim. Preciso saber onde estou na vida.

Apesar de não poder ver, teve certeza que ela revirou os olhos.

– Somos amigos... Com benefícios – ela disse por fim.
– Parceiros coloridos.

riu e levantou a cabeça.

– Acho que podemos ser definidos assim. Mas saiba que isso é um título supersecreto, apenas nós podemos saber.
– Com medo de me assumir, ?
– Não acho que pegaria bem lá no trabalho a gente assumir uma amizade colorida, iriam supor coisas demais.
– Certo, vamos manter entre nós por enquanto.

ergueu uma sobrancelha e entendeu sua pergunta silenciosa dela: Isso se tornaria algo mais sério? Ele também não sabia a resposta, então apenas sorriu.

– Relaxa! Não vou te pedir em casamento tão cedo.
– Assim espero hein? – Ela sorriu e o beijou.



Capítulo 19 - Ela Está de Volta.

As coisas estavam caminhando estranhamente bem para . Duas semanas trabalhando com a equipe ilícita de Ben e já havia feito amizade com todos, adiantado planejamento das obras dos tuneis, que voltaram à ativa, e havia conseguido marcar um happy hour com Hannah, a doleira dos Collins. Quanto ao outro lado de sua vida em O’Village, bem, ele e estavam em seu melhor estado de convivência, ambos coletando informações importantes sobre as atividades ilegais nas famílias e só esperando para ver quantos mais nomes estavam envolvidos. Afinal, precisavam saber de onde a droga traficada estava vindo.
Tudo muito bem.
estacionou seu Corola prata ao lado da calçada e entrou na boate Paradise, o ponto de encontro da equipe. Ele abriu a porta e encontrou Dan e Patrick jogando sinuca em uma das mesas.

– Knight! – Patrick o cumprimentou.
– E aí, galera. Cadê o resto da equipe?
– Joe está lá em cima arrumando o escritório, Hannah saiu apressada e disse que voltava logo, Ben está a caminho e Gabriel e Luke foram comprar cerveja – Dan respondeu.
– Saiu apressada? Aconteceu alguma coisa?

Patrick riu.

– Preocupado com a namoradinha?
– Não sei que namorada.
– Ela já deve ter te falado que todo mundo tentou, né, cara?
– Até Ben já teve interesse nela – Dan completou.
– Mas ela é durona.
– Ela é minha colega de trabalho, caras. Não é porque brinco que quero algo.
– E quem disse sobre você querer algo? – Dan riu. – Estamos falando dela. Acho que a ruivinha tá na sua.

Agora foi que riu.

– Bom... Estamos aí para jogo, não é?

Os três riram e logo em seguida a porta se abriu. Gabriel e Luke entraram com um engradado de cerveja em cada mão.

– Isso é uma boate, não tem cerveja aqui? – perguntou.
– Ter, tem, mas Joe come nosso fígado se a gente pegar daqui – Luke falou já indo para a escada. – Esse é para nosso estoque pessoal.

Mais uma vez a porta abriu e Hannah entrou falando:

– Ben mandou a gente ir para o escrito que ele está chegando.

Todos pararam suas atividades de imediato e prontamente obedeceram.
O escritório era a sala que tinha sido levado da primeira vez que fora ali com Ben. A mesa redonda estava toda organizada e Joe estava sentado esperando pela equipe. Todo mundo se sentou em seus determinados lugares e não demorou mais de cinco minutos até Ben se juntar a eles.

– Nossa obra está a todo vapor, graças a Patrick e – o chefe falou sorridente. – Não tem um resquício do desvio do dinheiro na empresa e estou conseguindo um contrato com um fornecedor muito bom. Já podemos armazenar a mercadoria que for chegando nos túneis e ir distribuindo. Vamos conseguir recuperar território tanto em O’Village quanto nas cidades vizinhas.
– Vou abrir mais algumas empresas para fazer a lavagem do dinheiro, mas seria bom se a prefeitura fizesse novos contratos com a gente – Hannah falou.
– Vou procurar alguma reforma de quadra ou parquinho para a molecada.
– Chefe, e quanto ao Walker? Acha que ele vai ficar tranquilo quando nos vê ganhando território? – Gabriel falou.
– Tranquilo não, mas não acho que ele tenha coragem de fazer uma afronta direta e quebrar o período de paz que estamos vivendo.
– Talvez, mas se ver que estamos tomando lugares do controle dele, vai ter retaliação.
– Bem, se houver qualquer retaliação nós...

A porta fez barulho e se abriu, interrompendo a fala de Ben e atraindo a atenção de todos na sala. Uma loira sorridente de cachos curtos entrou na sala.

– Lizzie?! – disse olhando a vestimenta um pouco mais extravagante do que costumava ver nela.

Lizzie deu uma piscadela para ele e afastou para o lado, dando espaço para uma segunda mulher entrar. O vestido de alcinhas douradas, deixando as costas nuas e marcando suas curvas perfeitas sobre o salto enorme; as pulseiras e brincos combinando com as unhas pontudas na mesma cor do vestido; os cachos negros e volumosos dando charme à pele negra. sentiu seu queixo despencar para a mulher que parecia atrair um holofote só em aparecer.

– Olá, bebês! Sentiram saudade da mamãe? – Seus lábios vermelhos se abriram em um sorriso deslumbrante.

olhou para os companheiros, esperando uma expressão tão abobalhada quanto a dele, mas eles estavam estupefatos. Seus sorrisos iam de orelha a orelha e os olhos brilhavam como se acabassem de ganhar o maior prêmio da loteria.

– Nat?! – Ben foi o primeiro a levantar e ir abraçá-la. – O que você está fazendo aqui?
– Cansei da Europa, Benzinho. Estou de volta e para ficar!

Todos se levantaram falando juntos com tamanha empolgação que ficou sem reação.

– Sabem o que isso significam, não sabem? – Ben disse aos amigos. – Fechem a boate O’Lust hoje porque faremos a festa de boas-vindas para minha mana! Tudo por minha conta.

Todo mundo uivou, menos que se sentia perdido.
Lizzie o olhou e riu, então falou algo no ouvido da outra mulher, que então o viu.

– Oras, quem é o novo rapazinho?

A loira acenou para que se aproximasse.

– Foi dele que eu te falei, Nat.

O resto do pessoal abriu caminho para que Nat se aproximasse dele. Ela deu a volta ao redor de e parou em sua frente, sorrindo.

– Prazer, querido. Sou Natasha Collins, sua nova chefe.

deu seu melhor sorriso e cavalheiramente beijou as costas da mão de Natasha.

Knight, a seu dispor madame.

Ela riu e apertou de leve o queixo dele.

– Gostei de você. Lizzie o elogiou muito, sabia? E você deve ser muito bom porque Ben o convocou antes mesmo de eu chegar.
– Lizzie me elogiou?
– Eu trabalho para a Nat, – a loira esclareceu. – Ela pediu para que eu ficasse de olho nos funcionários da empresa, em busca de potenciais aliados.
– Eu não sabia disso – Ben disse de modo acusatório.
– Ah, meu bem. Não fique triste, são negócios. Queria ficar de olho em tudo sem que achasse que eu estava te pressionando – Natasha falou, acariciando o rosto do irmão.

Por mais que não parecesse satisfeito com isso, Ben suspirou e se manteve calado. Algo em Natasha deixava claro sua posição de liderança sobre os outros.
não acreditava que houve qualquer um ali com coragem de bater de frente com ela.

– Bom, meus queridos, cheguei agora e preciso me divertir, então esqueçam o trabalho um pouquinho e preparem a minha festa. Amanhã falaremos de negócios, certo? E, ?
– Madame?
– Oh, você é uma graça. Quero me atualizar sobre os negócios, então faça um relatório e vá até a minha casa explicar tudo.
– Como quiser. – sorriu.
– Hannah, minha linda. Você está maravilhosa.
– Obrigada, Nat. Senti tanto a sua falta aqui.
– Eu senti mais de vocês. Você já vem comigo, quero saber como andam as corridas.
– Queria ter novidades para te contar, mas estamos na mesma.
– Ah, mas isso vai mudar. Está na hora de agitar as coisas por aqui, não acham? Lizzie e Hannah, vamos. , te espero lá em casa. Os outros preparem a festa e, Benzinho, volte para a empresa, certo?
– Claro, Nat.

Assim que Natasha saiu, todos foram apressados fazer o que lhe foi mandado, com exceção de Ben e , que ficou para reunir os documentos e fazer o relatório. Enquanto pegava os papeis, ouviu o Collins suspirar e se jogar na cadeira.

– Ei, chefe, está bem? – perguntou.
– Sim, tá... – Ben o analisou por um segundo. – Quer saber, acho que posso confiar em você. Pelo menos ainda não é um dos devotos da Natasha.
– Claro que pode confiar em mim, Ben! O que houve?
– Natasha de volta, é isso o que houve. Olha, eu quero recuperar território e poder para a nossa família, mas do meu jeito. Com ela aqui eu sou só mais um comparsa... Sem ofensas.
– Não ofendeu. – deu de ombros. – Realmente percebi que ela é a moral entre a galera.
– Moral? – Ele riu com deboche. – Se a Natasha mandá-los lamber lixo, eles fazem por ela. Sei que minha liderança não está sendo a melhor, mas sou cauteloso. Com ela no comando as coisas vão mudar por aqui e não sei se isso vai ser bom.
– Por que não?
– Digamos que minha irmã é um tanto radical. Se for por um “bem maior” – Ele fez aspas com a mão. –, ela sacrificaria até mesmo a mim.

ergueu as sobrancelhas e deu uma conferida no corredor vazio, então voltou para Ben.

– Pretende fazer algo?
– Talvez. Posso contar com seu apoio e total sigilo?
– Com toda certeza!
– Muito bem, então. Vou fazer a única coisa que talvez possa evitar uma confusão... Vou avisar o Walker.

***

Os carregadores deixaram as caixas na garagem e assinou os papeis, então os dispensou.

– Você vai realmente remontar o carro todo, hein? – M.J. comentou ao lado dela.
– Claro que não, vou aperfeiçoá-lo. Não quero que tenha nenhuma característica daquela vaca ruiva. O carro é meu, vai ficar do meu jeito.

M.J. riu.

– Pelo visto alguém não gosta mesmo da Hannah.
– Já ouviu falar da expressão: “o santo não bate”? Mal posso esperar para fazê-la engolir fumaça.
– Isso aí! Vai correr com o Mustang?
– Não, vou equipar ele para drift. Para a corrida, continuarei com o Dodge.
, invés de correr com o Dodge, por que não equipa o seu carro mesmo, outro Mustang?

A moça semicerrou os olhos e deu de ombros.

– Não é uma má ideia, mas não sei se o estará disposto a patrocinar outro carro para mim.

M.J. lhe lançou um olhar significativo e riu.

– Eu duvido que ele não vá. Enfim, se for equipar, melhor começar logo, porque estou apostando em você.
– Garoto, quem foi que disse que você tem idade para apostar?
– Desculpa aí, mãe – ele ironizou.

fingiu uma cara de brava e lhe deu um tapinha na nuca.
De cima do mezanino, Andrew assobiou atraindo a atenção de todo mundo para onde olhava: dois carros que acabaram de parar no meio do pátio da oficina. desceu as escadas acompanhado por Andrew, no térreo, Travis e Crash se juntaram e logo Max, Drake e Oliver fizeram o mesmo.

– M.J., vai lá para cima – mandou, quando o garoto abriu a boca para protestar ela o cortou: – AGORA.

M.J. bufou, mas obedeceu, então se juntou ao grupo e se posicionou ao lado de .
A BMW branca e o Corola prata parados lado a lado abriram suas portas dois homens desceram, Benjamin Collins e . O que esse idiota está fazendo aqui? pensou. Os recém-chegados pararam a uma distância de dois metros do outro grupo e os dois agentes trocaram um breve olhar significativo.
assumiu a postura de “chefão” e com um sorrisinho debochado falou:

– Collins, a que devo o prazer de sua visita?
– Não posso passar só para dar um “oi” a um velho amigo?
– Poderia... Se fossemos amigos.

segurou o impulso de revirar os olhos para a testosterona inflada de ambos. Homens sempre querendo ser o macho dominante, mesma postura ameaçadora e queixo empinado. Ela quase riu.
Ben riu e enfiou as mãos no bolso.

– Só vim trazer notícias.
– Virou jornaleiro agora?
– Olha, cara, eu vim na boa, mas se não quer a informação. – Ele fez menção de ir embora.
– Você não vem na minha área só para ficar de papinho, Collins. Diz logo o que quer aqui.

Os dois se encararam por um tempo até Ben falar:

– Natasha está de volta.

semicerrou os olhos e todo o resto se entreolhou, um pouco apreensivos.

– E por que você se daria o trabalho de vir me contar isso?

Ben andou alguns passos à frente. mencionou segui-lo e de imediato a equipe de se mexeu para avançar, mas Collins ergueu uma mão.

– Fiquem tranquilos. Eu só vim conversar.

Todos voltaram para a posição que estavam antes. se aproximou ficando no meio da roda junto ao outro chefe.

– Olha, Walker, estamos esse tempo todo numa boa, a cidade está tranquila, cada um na sua, mas você sabe como Natasha é. Só quero evitar brigas desnecessárias.
– Se veio até aqui, é porque sabe que não depende só de mim.
– Mas você tem sua parte nisso, não é?

deu de ombros com desdém.

– Agradeço pelo aviso, Collins, eu me lembrarei disso. Sabe que estou na minha, mas se sua irmã inventar qualquer gracinha, terá volta.
– Vou tentar segurar ela.
– É o melhor a fazer.

Ben assentiu, então fez uma menção com a cabeça para e os dois foram para seus respectivos carros. Já a equipe de se manteve em posição até os carros sumirem de vista. Então se voltaram para o chefe.

– Natasha de volta. Que droga – Travis falou.
– Acham que vai demorar quanto até ela arranjar problemas? – Andrew disse.
– A gente tem mais o que fazer do que ficar se preocupando com Natasha Collins – repreendeu. – Vamos manter nossa rotina normal e ficar de olho. Quero informações sobre as vendas dos Collins e mapeamento da área.
– Pode deixar, chefe – Drake disse e saiu.
– O resto, voltem para suas atividades. Oliver, tente apressar o próximo carregamento, já tem pontos ficando na reserva e não quero dar espaço para os Collins.
– Sim, chefe.

olhou para e gesticulou com a cabeça para que ela o seguisse. Os dois subiram para a sala de reunião, onde as persianas estavam fechadas.

– Imagino que queira saber sobre Natasha – ele disse, fechando a porta após ela entrar.

encostou na mesa.

– Preferia fazer outra coisa, mas acho que isso é mais importante.

riu e parou de frente a ela, então a segurou pela cintura. Toda aquela postura ameaçadora de antes relaxou e ele parecia só um homem normal.

– Por que fazer aqui quando posso te levar a uma das maiores mansões da cidade?

sorriu e o beijou.

– Vamos tratar de negócios então – ela disse e o empurrou. – Quem é essa mulher?

se sentou na cadeira ao lado de .

– Natasha é a irmã mais velha do Ben Collins. Quando nossos pais ainda estavam no comando, ela começou a trabalhar no submundo da família. Os Collins ganharam muito território nesse período, e olha que eles já não tinham quase nenhuma influência nas cidades vizinhas. O problema é que esses territórios eram parte nossos e muito dos nossos distribuidores fieis simplesmente desapareceram no processo. O Van Der Lan quase perdeu a cidade inteira para eles. Cheguei a pensar que nós perderíamos também.
– Você já estava aqui?
– Sim. Foi bem nessa época que meu pai me chamou.
– E aí?
, o que eu vou te dizer agora é totalmente secreto, está ouvindo? Apenas Travis sabe, além de mim e Simon.

se sentou no colo dele e o olhou nos olhos.

– Você pode confiar a sua vida em mim.

Um sorrisinho torto apareceu nos lábios de e ele continuou:

– Os nervos na cidade estavam à flor da pele. Uma guerra poderia surgir a qualquer momento porque encorajei meu pai a pegar pesado com aqueles que nos traíram por eles, eu faria o que fosse necessário para recuperar nosso território. Até as famílias das cidades vizinhas que se mantinham quietas estavam sendo pressionadas a escolher um lado. Mas então algo aconteceu. – suspirou profundamente antes de continuar. – Do dia para a noite, meus pais e o Collins com a namorada, sumiram.
– Como assim sumiram?
– Desapareceram. Desconfiamos que foi algo planejado, porque as coisas pessoais deles foram junto, mas não conseguimos contato desde então. Acontece que as coisas já estavam agitadas, se anunciássemos o sumiço dos patriarcas de O’Village, as famílias vizinhas com certeza invadiriam a cidade. Então nos reunimos os quatro... Seis, se contarmos com Travis e Hannah.
– A água de salsicha?

riu.

– Ela mesma.
– Argh. – revirou os olhos.
– Enfim, nós nos reunimos. Decidimos criar uma mentira juntos e acalmar as coisas, pois sabíamos que só conosco à frente de uma guerra as coisas sairiam do controle. Espalhamos que os patriarcas fizeram um acordo de paz e voltaram a ser sócios com as empresas. Agora, os Walker fornecem os materiais necessários para qualquer contrato ligado à prefeitura, porque sabemos dos esquemas de superfaturamento dos Collins e encobrimos isso.
“Quanto a Natasha, ela não aceitou muito bem o acordo de paz e Ben a obrigou a sair do país. Ela ficou alguns anos fora”.
– Até agora – concluiu. – Alguma chance dos patriarcas aparecerem com a volta dela?
– Não sei. Eu sinceramente não sei nem se ainda estão vivos.

semicerrou os olhos. não parecia sentido com isso, na verdade, ela diria que ele estava totalmente indiferente.

– Não lhe dói isso?

Ele suspirou.

– De início, sim, principalmente pela minha mãe. Mas prefiro fingir que eles simplesmente se cansaram de tudo isso e compraram uma ilha em algum lugar onde vivem em paz.

passou a mão pelo cabelo de , acariciando-o.

– Não sei como, mas nós vamos descobrir o que aconteceu com eles.
– Sabe, , às vezes penso ser melhor nem saber.

Ela assentiu e o beijou delicadamente.

– Melhor sairmos ou vão pensar que estamos fazendo besteira – disse sorrindo.
– Quero ver alguém ter coragem de falar na minha cara.

revirou os olhos e se levantou.

– Vou voltar ao trabalho. Você está ok?
– Sim, pode ir lá. Nos vemos depois.

A moça sorriu e se virou rumo à porta, deixando na sala sozinho, mas ao chegar na escada, deu de cara com Kate.

!

A esposa de Simon esticou os braços para abraçá-la, mas espalmou as mãos entre elas.

– Kate, eu estou toda suja de óleo e você está de jaleco.
– Ah, é verdade. O abraço fica para depois, então. – Ela riu.

Kate era um doce de pessoa, simpatizava bastante com ela desde o dia que a conheceu. Achava engraçado como ela sempre queria deixar todo mundo confortável, sempre participava de todos os assuntos e não era forçada. Simplesmente se encaixava.

– Adivinha que dia é hoje?

tentou puxar da memória alguma data especial, mas nada lhe veio em mente. Ela fez sua melhor cara de desculpas.

– Não faço ideia.
– Meu aniversário, sua boba!
– Poxa, Kate, me desculpe. Meus parabéns!
– Não precisa se desculpar, sabia que o Simon ia esquecer de avisar ao . Vou fazer uma festinha de aniversário, vai ser um luau lá na Mansão Walker, só para os mais chegados. Você está convidada, hein?
– Obrigada, Kate. Fico feliz em ser uma “chegada”. – As duas riram. – Claro que vou, será um prazer!
– Você é demais! Não podia esperar alguém melhor para meu cunhado. Não precisa ir montada, tá? Só usar um biquíni com um vestidinho ou short por cima e está ótimo. Também não é necessário levar presente, já que está tão em cima da hora.
– Até parece. Vou sair daqui e já te compro alguma coisinha.
...
– Sem reclamar, Kate. Vai ter presente, sim, ou eu não vou.

Kate suspirou derrotada, mas sorriu.

– Ok, teimosa. Eu vou chamar o resto da galera. Dez da noite na mansão, ok?
– Estarei lá.

Kate acenou e foi atrás do resto da equipe.
desceu as escadas, mas no meio do caminho parou e olhou ao redor, vendo sua atual equipe trabalhando e rindo entre si. Travis passou e lhe deu um sorrisinho que foi prontamente retribuído. Ao olhar para cima, viu sorrindo para a cunhada que tagarelava algo animadamente. Pessoas que criaram um vínculo com ela e que aparentemente estava sendo recíproco. Pela primeira vez em toda sua carreira sentiu um incomodo no peito por enganá-las tão friamente.

– Não – murmurou para si mesma e fechou os olhos com força.

Ela balançou a cabeça para afastar o pensamento. Eu não posso me sentir assim. Não posso e não vou! Pensou. Depois de puxar o ar com força para os pulmões, abriu os olhos e endireitou a postura, então voltou ao trabalho normalmente.



Capítulo 20 - All Night Long (Parte I)

O GPS guiava o caminho para o endereço que Ben dera. O setor de mansões de O’Village era bem maior e mais complicado de andar do que imaginava, mas ainda assim conseguiu chegar ao seu destino.
Depois de se identificar para o segurança, conseguiu entrar na propriedade e parou ainda na estradinha antes da piscina enorme que ficava em frente à casa. Quando finalmente alcançou a porta principal, Lizzie estava lá o esperando.

– Finalmente!
– Acha que é fácil organizar um relatório?
– Mais fácil que encarar Natasha irritada, com certeza é.

Os olhos de se abriram de espanto, fazendo Lizzie rir.

– Calma, ela está distraída. Nem deve ter notado o tanto que demorou. Vem, ela está na biblioteca.

a seguiu pelas salas enormes da casa. Os cômodos se conectavam, mas pareciam ter sido decorados em épocas diferentes, alguns quadros modernos, outras pinturas clássicas que deveriam valer uma boa nota como tudo naquele lugar.
Depois de andarem por alguns corredores, chegaram às portas duplas que já estavam abertas, deixando a biblioteca enorme visível a quem passasse. Natasha e Hannah conversavam sentadas em uma das poltronas negras, mas se interromperam ao vê-los chegar.

Knight, bem-vindo à minha casa – A Collins falou com um sorriso imenso. – Sente-se e fique à vontade, querido.
– Muito obrigada, madame.
– Não precisa dessas formalidades, pode me chamar de Natasha ou de Nat, como todo mundo. Foi muito difícil reunir os documentos necessários?

Graças à organização perfeita de Joe, não demorara quase nada para ter o suficiente para sua apresentação e ainda lhe sobrou tempo para xerocar tudo antes de ir à mansão. Mas ele apenas sorriu e respondeu:

– Algum tempo, nada demais.
– Ótimo! Por favor, me atualize, quero saber como andam os negócios.

contou todos os dados sobre a entrada das drogas e a construção do túnel que havia estacionado por um longo tempo até ele assumir o controle junto a Patrick Hart.
Natasha se levantou e pegou os papeis, então os jogou ferozmente no chão.

– Um terço da cidade? É isso o que temos? UM TERÇO?!
– O Walker tem muita influência na cidade, Nat – Hannah falou. – Sua popularidade triplicou desde que você foi embora. Apesar das corridas não serem organizadas exatamente por ele, na cidade, ele é o principal nome nelas e fez delas um evento que principalmente os jovens gostam de participar.
– E quanto à polícia?
– Muito bem paga para fingir não saber de sua existência. Até os próprios moradores se fazem de desentendidos se alguém de fora perguntar.

Natasha não parecia satisfeita, mas voltou a se sentar e em seu rosto era claro que ela planejava algo.

– Então é por aí mesmo que vamos começar a tirar os Walker do poder.

Ela e Hannah trocaram um olhar intenso, então a Collins se voltou para .

– Mas e quanto a você, querido? Fiquei sabendo de algo interessante ao seu respeito.
– Sério? O que seria?
– Lizzie me contou que você já conhecia uma tal de Denver, aquela lá que está saindo com o Walker e desafiou a Hannah.

Pelo canto do olho, viu a ruiva dar uma risadinha debochada.
Há algum tempo havia dito para Lizzie que tinha uma queda por e inventou que haviam feito algumas matérias da faculdade juntos, mas na época não fazia ideia de que ela era envolvida com a herdeira do Collins e só queria a opinião feminina de uma colega de trabalho que estava começando a considerar como amiga.

– Sim, nós fizemos faculdade juntos. Não éramos exatamente amigos, só trocávamos algumas palavras.
– Porém, se reencontraram em O’Village e agora são vizinhos.
– Não sei dizer se ainda somos vizinhos, não a via há um bom tempo. Na verdade, só soube que ela ainda estava aqui na última corrida – ele mentia com tanta naturalidade que parecia verdade.
– Então não sabia do envolvimento dela com o Walker?
– Não. Mas essa é uma boa explicação para ela não ter caído nos meus flertes. Sabe como é, não é todo mundo que resiste a esse sorriso. – Ele sorriu largamente fazendo pose.

Lizzie riu e Hannah revirou os olhos. Natasha apenas sorriu de volta.

– Gosto de você, . Adoro gente bem-humorada.
– Fico muito feliz por isso, chefe.
– Já vou lhe liberar, só preciso de mais um pedido. Será que conseguiria arrancar alguma informação dessa ? Charme para isso você tem.
– Com certeza posso conseguir algo, vou ficar de olho para caso encontre-a andando pelo prédio. Só tem um pequeno problema, tem a possibilidade de ela ter me visto com a equipe durante a corrida.
– Tente, caso ela saiba que você está com a gente, só fique de olho na movimentação no apartamento dela, veja quem entra e quem sai, coisas que chegam para ela. Compre o porteiro se necessário, nós te ressarciremos se necessário para interceptar tudo. Quero saber o que essa garota tem de especial para estar na equipe deles.
– Ai, Nat, ela deve ser só mais uma das putinhas do Walker – Hannah falou. – Não se lembra como ele era?
– Oh, minha querida. Ainda guarda mágoas tão antigas? Esqueça o Walker.
– Eu já o esqueci, Nat, e sabe disso. Mas esquecer não me fará gostar daquele babaca.

Natasha olhou para e piscou, então pronunciou sem soltar som: “dor de cotovelo”. Ele apenas sorriu de volta.

– Bem... você está dispensado, meu caro.

sorriu e levantou, então pegou um cartão no bolso da jaqueta e entregou a Natasha.

– Se precisar de mim, estarei sempre à disposição.
– Você é um doce. – Ela pegou o cartão e guardou no decote. – Hannah, leve até o carro, por favor.
– Sim, Nat.

A ruiva levantou e gesticulou com a cabeça para que ele o seguisse.

– Até mais ver, minha bela Natasha – ele se curvou cavalheiramente. – A gente se vê, Lizzie fofoqueira.
– Ei! – ela reclamou e lhe deu um soquinho. – Nos vemos por aí, Knight.

seguiu Hannah pelo corredor em silêncio até estar longe da biblioteca.

– O que aconteceu entre você e o Walker? Ele te deu um toco?

Ela o fuzilou com os olhos.

– Isso não é da sua conta, Knight.
– Uh! Deve ter sido bem pesado. Vocês estavam tendo algo sério ou...?

Hannah parou de uma vez e o encarou.

Walker é um manipulador que faz de tudo para ter o que quer. Ele me usou para conseguir informações sobre os Collins e eu fui tola o suficiente para cair no papinho dele. Eu poderia ser morta por traição por ter acreditado naquele filho da puta. Mas Natasha viu que meu arrependimento era verdadeiro e me deu uma segunda chance, e eu vou mostrar que valeu à pena. Não vou descansar até ver Walker humilhado.
– Uau! Você realmente odeia ele.
– Ódio não é exatamente a palavra que define meu sentimento sobre aquele verme.

Ela voltou a andar e fez o mesmo.

– Então... – ele falou. – O que você acha que a Denver tem de especial que possa interessá-lo?
– Eu ainda não sei, mas vou descobrir... Aliás, nós vamos. Você vai dar um jeito de arrancar algo dela e eu vou procurar com meus informantes.
– Será que ele não está realmente gostando dela?

Hannah o olhou por cima do ombro e riu com deboche.

Walker é incapaz de gostar de alguém além dele mesmo. Talvez no máximo o irmão e aquele Travis McCoy. Chego a desconfiar que ele é gay. – Ela riu de novo. – Tem algum motivo para ele querer a tal , enquanto ela for útil para ele ou até ele conseguir o que quer com ela, vai continuar no jogo, depois disso, vai ser descartada como todas as outras vadias que ele pegava.
– Você está se incluindo nisso?

A ruiva parou na porta e a abriu.

– Sim. Mas a diferença entre mim e elas é que essa vadia aqui nenhum homem jamais conseguirá enganar novamente, entendeu, ?

De repente a temperatura pareceu despencar uns vinte graus e ficou estático.

– Acho que quis dizer Knight.
– Não, você me ouviu muito bem, mas relaxe que não vou te dedurar – ela abaixou a voz. – Aqui não é um bom lugar para conversar, me encontre em um bar chamado La Bamba às dez horas.

Ela se afastou e fechou a porta deixando um perplexo na entrada da casa.

***

Às dez em ponto já estava pronta e com o presente de Kate nas mãos, mas não queria chegar cedo à festa, então foi ao apartamento de apenas para encontrá-lo vazio.

– Por que você nunca está quando eu preciso?

Ela voltou para casa e se olhou mais uma vez no espelho, então começou a reparar nos detalhes de si mesma: o vestido preto com flores rosas de tecido leve sob a jaqueta de couro sempre presente em seus looks, já que o frio do outono finalmente começava a aparecer, o cabelo alguns centímetros mais longos nesses últimos meses, a pele mais bronzeada pelo sol da Califórnia e o principal, seu olhar que parecia diferente. Por quê? não sabia dizer, mas tinha algo que não via antes.
A moça suspirou e olhou o relógio no pulso, ficara alguns minutos ali fazendo sua autoanálise, então decidiu sair.

Cerca de vinte minutos foi o suficiente para chegar à enorme mansão branca cuja a fonte circular tinha uma estátua de Zeus no centro. realmente havia implicado com a figura que permanecia ali parada segurando seu raio de ouro.

– Entendo sua cara fechada, meu caro amigo Zeus. O deus das tempestades em uma fonte também não me faz muito sentido – ela falou ao contorná-lo ouvindo os últimos acordes da música no rádio.

Assim que desceu do carro, notou dois homens vestidos em trajes formais. O primeiro se aproximou sorrindo.

– Boa noite, senhorita, vou acompanhá-la até a área da festa.

ergueu uma sobrancelha e se lembrou de Kate falando que seria uma “festinha de aniversário só para os chegados”. Pelo visto, não seria tão “inha” assim.
O segundo homem se ofereceu para estacionar o carro, então ela lhe entregou a chave e seguiu o primeiro pelo hall de entrada da mansão até os fundos. Os dois contornaram a piscina e desceram pela escada entre pedras até a praia mais abaixo onde uma estrutura bem grande de madeira estava montada com luzes amareladas e decoração havaiana.
Kate foi a primeira a vê-la e correu para abraçá-la.

! Que bom que veio.
– Eu disse que viria. – Ela sorriu e a abraçou. – Aqui está seu presente. Espero que goste.
– Já estou louca para abrir.
– Não, mocinha. Só depois da festa.

A loira revirou os olhos, mas sorriu.

– Vem, vou te apresentar a alguns amigos meus.

sorria e cumprimentava um por um dos homens e mulheres com cara de classe média-alta. Sempre que Kate falava que ela era da equipe de havia um ar de admiração que ainda estranhava. Alguns deles até a reconheceu das corridas.

– Bem, gente, desculpe ir saindo assim, mas tenho que falar com minha galera ali – disse sorrindo.
– Ah claro. Vai lá, ! – Kate a respondeu e voltou à conversa com os amigos.

A moça se aproximou do grupo que já conhecia muito bem e cumprimentou a todos com um “oi, gente”, mas notou que não estava ali e tinha umas garotas a mais do que o normal.

– Ei, , quero que conheça Sharon – Travis disse se referindo à moça negra de cachos curtos e sorriso bonito a seu lado. – Sharon, essa é Denver, nossa única corredora mulher da equipe.
– Prazer em conhecê-la. Já ouvi muito sobre você.
– Coisas boas, eu espero – brincou.
– Um pouco de tudo, na verdade. Mas é o preço da fama em O’Village, não é?
– Fama? Não sei disso não.
– Ou está sendo modesta ou não presta muita atenção. A garota do Walker é o assunto mais falado desde que você o beijou na última corrida. Na verdade, desde que você se juntou ao time, mas dessa vez foi o ápice.
– Ela não conversa muito com a galera daqui, baby – Travis disse, atraindo um olhar curioso da amiga. – é reservada, fica mais com a gente mesmo.
– Entendo.

Apesar de querer perguntar qual era a relação entre os dois, achou que seria inconveniente, então só deu um sorrisinho amarelo e por sorte Kate reapareceu bem na hora.

– Ei, , vem pegar algo para beber. Desculpe tirá-la de vocês, gente. – Kate saiu puxando-a pelo braço, então falou mais baixo. – Percebi que você estava meio sem graça ali.

suspirou e sorriu.

– Kate, você é minha heroína!

A loira riu e abriu o freezer.

– Eu tenho esse dom, mas e aí? O que vai beber?

A moça analisou a variedade de bebidas dali e optou por uma cerveja.

– Não quer ficar muito louca, não é?
– Na verdade, estou aqui para qualquer coisa, mas gosto de cerveja.
– Ótimo, porque quero ver todo mundo dançando até o chão comigo.

As duas acabaram rindo, até o olhar de Kate se distanciar do de para algo mais distante. Por instinto, o acompanhou para saber o que era, então viu os dois irmãos Walker entrado com suas bermudas claras, camisas semiabertas e o mesmo sorriso torto. Beleza era claramente uma herança de família.

– Somos as mulheres mais sortudas desse mundo, não somos? – Kate suspirou ao lado.

estava pronta para se fazer de desentendida, mas a brisa do mar soprou mexendo com o cabelo de ambos os irmãos e ela perdeu o fôlego. Seus olhos mapeavam detalhadamente cada pedaço do mais novo, mas se distraíram nas tatuagens do antebraço descoberto quando passou a mãos nos cabelos e depois na boca quando ele sorriu para ela. O sorriso da própria veio automaticamente em resposta.

– Oi, a segurou pela cintura e beijou-lhe a bochecha.
– Oi.

Kate deu um beijo demorado no marido e então se separou.

– Hora de animar essa festa, não acham? – ela disse com um sorriso travesso.

Uma ida ao DJ e então as músicas, até então mais calmas, se tornaram agitadas e dançantes, e as luzes amareladas deram lugar às negras.

– Você dança? – perguntou próximo ao ouvido de , sem tirar a mão de sua cintura.
– Isso depende do meu nível alcoólico, mas e você?
– Isso depende do nível da música.

Ele deu um sorrisinho para ela, fazendo-a revirar os olhos apesar de não ter segurado a risadinha.

– Vou pegar alguma coisa para beber, quer algo? – ele perguntou.
– Acabei de pegar, valeu.

Algumas garrafas depois e uma Kate muito alegre apareceu puxando do meio de uma conversa animada com , Simon, Travis e Sharon.

– Vem, , você tem que dançar essa comigo. Você tem cara de latina, deve saber.
– Quê? – riu mas acompanhou a loira que já começava a se remexer.

De início se sentiu meio perdida, mas então reconheceu o ritmo da música que não parava de tocar em todos os lugares. Seu corpo começou a se mover no ritmo eletrônico enquanto a voz feminina cantava algo que ela jugou ser em português.
e Kate começaram a rebolar em sincronia até a melodia se mesclar a outra música latina também muito tocada. Como se tivessem ensaiado a vida toda, uma acompanha à outra nos passos que inventavam na hora.
Um giro e então estavam de frente com os dois Walker que as encaravam sem nem sequer piscar. Normalmente coraria com a intensidade do olhar de sobre ela, mas o álcool em seu cérebro apagava qualquer sinal de inibição.
Quando finalmente a música acabou, Kate a abraçou.

– Você fica aí escondendo esse talento! Vou te arrastar para todas as festas comigo de agora em diante!

gargalhou como se a loira tivesse contado uma ótima piada. Mais um efeito do álcool.

– Pode deixar que eu irei.

Um vento mais frio assoprou, fazendo-a se arrepiar e só então perceber que estava com uma peça de roupa a menos.

– Alguém viu minha jaqueta? – ela disse voltando ao grupo.
– Você tirou e deixou jogada, então pedi para o mordomo pôr no seu carro – respondeu ainda com o mesmo sorrisinho sacana que estava em seu rosto ao assisti-la dançar.
– Ah, droga.
– Vamos lá buscar, está aqui pertinho.
– Ok, então.

ofereceu um braço para ela, que aceitou gratamente ao perceber que as coisas estavam girando mais que o normal. Os dois seguiram pela estradinha feita na madeira até as escadas de pedra e invés de passar por dentro, contornaram a mansão até os fundos da garagem.

– Uau! – soltou ao ver o espaço que havia lá dentro.

Além dos carros comuns dos convidados de Kate, estavam os carros da galera da equipe e mais alguns itens de luxo que fez se sentir como uma criança na Disney. Entre eles, estava o Austin-Healey 3000 vermelho, ano 1960 que ela havia consertado para impressionar Travis e ganhar o emprego.

– Seu pai é um homem de bom gosto – ela disse andando lentamente entre os automóveis, admirando-os.
– Isso eu não posso negar. Os clássicos eram... são seus favoritos.

Um pouco mais a frente estavam os dois Skylines de , o R34 azul e o R35 vermelho.

– Você deixa os seus aqui também?
– Geralmente sim, fico só com o que estou usando com mais frequência.

estava tão distraída que só lembrou o que estava fazendo ali quando encontrou seu Mustang preto. Quando parou na porta se tocou de um detalhe:

– Acho que eu preciso da chave.

Mas ao girar sobre os calcanhares, o alarme apitou e levantou o que ela procurava entre os dedos.

– Estava tão distraída que nem me viu indo pegar. Vai para o banco do passageiro, vou te levar em um lugar.
– Se tentar me sequestrar, meu carro tem GPS, Walker – ela brincou, mas fez o que ele disse.

Quando o carro deu partida, continuou:

– Você é a primeira pessoa que dirige a Blackie além de mim desde que eu a comprei.
– Blackie?
– Sim, meu carro se chama Blackie.
– Não me diga que é uma referência à cor dele, aliás, dela.
– Exatamente!

riu e balançou a cabeça.

– Você bêbada é uma graça.
– E quem disse que estou bêbada? Estou apenas levemente alterada – disse enrolando a língua e entregando a si mesma. – Droga! Acho que nem uma criança acreditaria em mim. – Ela riu.

A medida que eles subiam na colina, a rádio voltou a funcionar e começou a tocar alguma música que não conhecia, mas começou a cantarolar.

All I know, If I die, I'm a mother fuckin legend. It's too late for my cityI'm the youngest nigga reppin. Oh my God, oh my God if I die, I'm a legend. Oh my God, oh my God if I die, I'm a legend. I'm the one.¹

Ao olhar para o lado, notou o observando.

– O que foi?
– Você cantando. Percebi que nunca o vi fazendo isso.
– Assim como eu nunca tinha te visto dançar.

Ela deu de ombros e sorriu.

– Chegamos.

olhou pelo para-brisa e enxergou a cidade quase toda dali. Estavam no limite do penhasco.

– Estamos no topo de O’Village, conhecido como lugar que adolescentes escapavam para fazer coisa errada ou, como chamamos aqui, O’Sky.
– Lá vem vocês colocando esse “O’” na frente das coisas. – Ela revirou os olhos.
– Tradição é tradição, melhor se acostumar.
– É né.
– Vem, vamos ver lá de fora.

Os dois saíram do carro e então notou que tinha uma mureta antes do verdadeiro limite do penhasco o que a deixou mais segura apesar de não ter medo de altura. a abraçou pela cintura quando o vento frio começou a ficar mais forte.

– Muita gente matou aula para vir aqui com as namoradinhas – ele disse olhando o horizonte.
– Você também?

Ele riu.

– Mais vezes do que pude contar.
– Então sou só mais uma aqui – disse naturalmente, mostrando não ligar a mínima para isso.
– Isso era na época da escola. Depois de adulto não tinha mais razão para trazer ninguém aqui... Até agora.

girou para ficar de frente com ele.

– E tem uma razão agora? – ela perguntou.

a olhou intensamente e deu um sorrisinho torto, então aproximou seus rostos. Mas outra ventania apareceu fazendo o cabelo de se por entre eles. Os dois acabaram rindo.

– É melhor voltar para o carro – sugeriu.

Os dois voltaram para os bancos que estavam antes.

– Ainda não me respondeu – ela falou.
– A razão é você.

Como se combinado, no rádio começou os acordes de uma música mais lenta.

[N/A: Sugestão, deem play nessa música ;) clique aqui]

Found the truth beneath your lies
And true love never has to hide
(True love never has to hide)
”.

, sem pensar, se lançou sobre que de imediato a puxou para seu colo e grudou suas bocas com desejo, enquanto com a outra mão ajeitava o banco para deitá-lo no máximo. Quando finalmente conseguiu, suas duas mãos escorregaram para dentro do vestido pelas coxas de até alcançar seu quadril.

I'll trade your broken wings for mine
Trade your broken wings for mine
”.

Ela por sua vez abriu ferozmente os botões da camisa de e dedilhou lentamente o caminho desde o cós da calça até a nuca dele. Depois de mais um beijo ela se separou para finalmente abrir a bermuda e afastá-la do quadril o quanto conseguiu.

I've seen your scars and kissed your crime
Seen your scars and kissed your crime
”.

acariciou o membro já excitado de sob a cueca e sorriu para ele, que fez o mesmo, então se esticou até o porta-luvas e pegou um preservativo. Ela abriu o pacote e puxou a única peça que a impedia de ver a ereção. Delicadamente começou a vesti-lo enquanto dava beijos lentos e provocantes nos lábios de .
decidiu entrar no jogo e com uma das mãos puxou de lado a calcinha de e começou a brincar com seu clitóris. Ela lhe deu uma leve mordida no lábio para conter o gemido.

– A gente ainda tem uma festa para voltar – ela murmurou. – Melhor sem enrolação, o que acha?

Ele a beijou e sorriu.

– Só hoje.

sorriu de volta e se posicionou melhor sobre ele, então sentou lentamente introduzindo-o dentro de si. Ela começou subir descer, aumentando aos poucos a intensidade à medida que conduzia segurando pela sua bunda. Uma de suas mãos deslizou ainda mais para dentro do vestido, até alcançar um dos seios da moça e o apertou gentilmente. Os gemidos de se tornaram mais altos e ela começou a rebolar com mais força.

All I wanna, ain't no other
We together, I remember
Sweet love all night long

Ao sentir que atingiria o orgasmo, intensificou o ritmo, mas a puxou com força contra ele fazendo-a parar som o membro dele ainda dentro. Nesse exato momento ela atingiu seu ápice junto a ele. As mãos de subiram do quadril uma para a cintura e a outra para nuca de , então a beijou lentamente.
Ela saiu de cima do membro de para que ele se livrasse da camisinha, mas continuou em seu colo. Os dois se beijaram mais uma vez e encostaram suas testas, ficando assim em silêncio por um momento. Quando abriu os olhos viu que ele a olhava com um sorrisinho insistindo em aparecer no canto de seus lábios de onde saiu a frase que a desnorteou:

– Acho que eu te amo.

How I missed you, my love”².



Capítulo 21 - All Night Long (Parte II)

O letreiro em neon verde escrito “La Bamba” se aproximou e estacionou o carro do outro lado da rua em frente a ele. Uma puxada de ar e então começou a andar em direção às portas de vidro já vendo o cabelo ruivo de Hannah em uma mesa no canto esquerdo ao fundo.
entrou, mas nenhum dos poucos clientes ou o atendente no balcão lhe deram atenção, apenas Hannah levantou os olhos do cardápio para olhá-lo. Ele se sentou na cadeira e a encarou em silêncio.

– Nenhuma piadinha? Nenhum flerte? – ela disse e riu. – Deve estar realmente preocupado.
– Só faço piada com o que acho graça.
– Pois para mim isso tem algo engraçado.
– O que você quer? Se fosse me entregar, já teria feito isso, então suponho que possa ter algo para barganhar.
– Não está nem um pouco curioso em como eu descobri?
– Não.
– Mas eu vou lhe contar mesmo assim.

respirou fundo e assobiou para o garçom.

– Uma cerveja, por favor.
– Duas – Hannah completou.

Os dois se mantiveram em silêncio até o garçom entregar os pedidos e voltar para o balcão.

– DeepDoo, esse nome te lembra algo? – ela disse após dar um longo gole na bebida.

se lembrava muito bem...


Oscar, o então parceiro de , pegou o mapa e desenhou um círculo ao redor do prédio no centro de Nova Jersey.

– Daniel Dellawere ou DeepDoo, como preferir, está nesse prédio. Não temos certeza se ele está sozinho, mas tudo indica que sim. A única movimentação que teve no edifício hoje foi de um grupo de garotas de programa na madrugada.
– Provavelmente contratadas por ele – completou para os outros agentes que se reuniam ao redor da mesa. – Sabemos que tem câmeras de segurança e que estão todas conectadas ao computador dele, mas o zelador solicitou reparo no sistema elétrico da sala de segurança e é aí que nós entramos. Vamos desligar as câmeras, mas não teremos muito tempo. Vocês terão cerca de vinte minutos para entrar e revistar todos os apartamentos sem fazer alarde, se o DeepDoo desconfiar de algo, pode vazar os dados na internet e todos os agentes que temos infiltrados terão suas identidades expostas.
– O cara é esperto, vários apartamentos estão alugados em nomes de laranjas, os computadores dele podem estar espalhados, então não estraguem nenhum aparelho, precisamos de tudo para saber o que ele tem.
– Além de hacker, DeepDoo é um ótimo manipulador, tenham cuidado, pois ele pode ser qualquer um.
– Alguma pergunta? – Oscar esperou, mas ninguém falou nada. – Ótimo! Se preparem, sairemos em dez minutos.

Os agentes de campo se retiraram, então e Oscar trocaram um olhar significativo.

– Hoje a gente pega esse filho da mãe – Oscar disse.
– Depois de tanto tempo, acho que vou tirar minhas férias.

Os dois riram e seguiram para o vestiário.
Não demorou nem os dez minutos para estarem todos prontos e equipados indo para o ponto marcado. Enquanto os dois agentes especiais dirigiam um carro da suposta empresa de segurança, o resto da equipe estava divida em carros comuns e sem identificação da FBI. e Oliver estavam vestidos com os macacões de técnico, mas sob eles haviam colete, coldre, arma e munição extra.
Eles estacionaram estrategicamente na frente do portão da garagem e seguiram até a portaria.

– Boa noite, viemos fazer a manutenção da sala de segurança – falou dando seu melhor sorriso.

O porteiro, um senhor de meia-idade e óculos enormes, conferiu em uma agenda e então confirmou.

– Vou chamar o senhor Milton para acompanhar vocês, só um minuto.

Ele interfonou para o zelador e em minutos ele chegou.

– Finalmente, uh? Pensei que só viriam amanhã!
– Desculpe, senhor. Muito trânsito, sabe como é – Oscar se desculpou.

O zelador resmungou mais um pouco, mas acompanhou os dois à sala cheia de monitores onde o prédio todo era vigiado.

– O senhor poderia me dar um copo d’água? Passamos o dia todo trabalhando hoje – disse.

O homem bufou.

– Claro, por que não?

Quando ele saiu, correu para o computador e desconectou o sistema de câmeras de qualquer outro computador além do daquela sala enquanto Oscar dava sinal verde para a equipe entrar. – Esse prédio é morto – disse. – Não tem a menor movimentação em dias, só as garotas de programa.
– Acha que ele alugou o prédio inteiro?
– Não duvido.

Nas telas, as equipes invadiam todos os apartamentos, mas ao sair, faziam sinal de que estavam vazios.

– Alguma coisa está errada – ponderou. – Vou conferir uma coisa, fique de olho aqui e qualquer coisa me chame.
– Ok.

saiu para o corredor e correu para a escada de incêndio. A sala de segurança era no terceiro andar, então descer ao térreo foi rápido.

– Duas portas? – ele disse ao chegar.

Ao abrir a primeira, viu a portaria do prédio, então fechou, a segunda estava trancada. pegou um equipamento dos bolsos e sem muita dificuldade abriu a porta, mas atrás dela tinha outra com um teclado numérico ao lado.

– Droga.

pegou algumas ferramentas e soltou o teclado da parede, então com um computador de mão que levava no bolso, conectou alguns fios até encontrar a combinação, depois foi só colocar de volta no lugar e digitar os números para a porta se abrir.
Mais escadas levavam ao subsolo, quando chegou no último degrau e abriu mais uma porta, soltou um “UAU” mudo.
O que deveria ser a garagem do prédio, estava completamente ocupada por computadores e servidores, além de alguns sofás, mesas de jogos, uma cozinha e videogames ligados à televisões enormes.
sacou a arma e começou a andar lentamente, a única luz do lugar vinha dos monitores agora azulados pela perca de conexão com as câmeras. Então atrás dele algo se mexeu e só ouviu o barulho da bala acertando um dos monitores desligados.

– Parado, FBI! – gritou e se protegeu dos disparos seguintes atrás de uma mesa de pebolim.

Quando os tiros pararam, levantou apontando para ele, mas o homem começou a correr e o agente o seguiu.

– O prédio está cercado, Dellawere, não tem como sair!

Enquanto corria, DeepDoo empurrava coisas pelo caminho, mas conseguia pulá-las com facilidade. De repente a porta da garagem começou a se abrir.

– DeepDoo está no subsolo em direção à saída sul da garagem! – avisou, tocando o ponto em seu ouvido. – Fechem a rua, não deixem que ele escape!

Não podia deixar ele escapar, sacou a arma e tentou alguns disparos, mas não teve muito sucesso com a luz de fora o cegando.
Dellawere tropeçou em algo e isso o retardou o suficiente para se jogar contra ele e derrubar sua arma.

– Não vai conseguir, seu policialzinho de merda – o hacker rosnou e deu uma cotovelada na têmpora de e se desvencilhou dele.
– Filho da puta – sacou a arma novamente e deu um tiro certeiro na canela do outro, que já caiu gritando.

o empurrou de bruços e prendeu seus pulsos com a algema.

– Quem é o policialzinho de merda agora, hein? Daniel Dellawere, você está preso.

Ao final da análise dos computadores dele, foram coletados dados não somente dos agentes infiltrados nos carteis atuantes na Costa Leste americana, mas também informações dos maiores carteis do país e do envolvimento de empresários importantes com o tráfico. Muitos outros casos foram abertos a partir dos dados de DeepDoo incluindo o caso O’Village.


– Sua cara me diz que sim – a ruiva continuou. – Bem, a chantagem com o FBI não foi sua primeira. DeepDoo conseguiu muito dinheiro roubando informações de gente grande, como você deve saber, seu erro foi mexer com quem mexe com inteligência. Mas enfim, eu fui a responsável por cuidar do dinheiro dele, apesar de seus métodos de transferência online que eram indetectáveis. Eu estava lá na madrugada que ele foi preso.
– Você era uma das mulheres que saíram do prédio.
– Exatamente. Ele contratava prostitutas toda vez que eu ia lá para que minha identidade fosse protegida. Tive que ficar um bom tempo fora dos radares para ter certeza que não viriam atrás e mim.
– Como foi que descobriu sobre mim?
– Não sou uma bandidinha comum, . Tenho fontes confiáveis, sou esperta o suficiente para estar há anos nesse ramo e nunca ter sido pega. Também conheço alguém do FBI.
– Imagino que não vá me dizer quem é.

Hannah sorriu.

– Eu já sabia que o Daniel ia ser pego naquela noite, mas fui lá normalmente porque não queria que ele se alarmasse, era um garoto muito desconfiado. Já sabia que tinha sido entregue em suas mãos e soube no exato momento que você e seu parceiro descobriram a localização dele.
– Hannah, se é que esse é seu nome verdadeiro, você está querendo um acordo ou quer que eu te cace também?
– Você fica muito chato quando preocupado. – Ela deu de ombros. – Eu não notei a princípio, mas de repente, a gente conversando sobre você lá na casa da Natasha, eu me lembrei do seu rosto. Você demorou tanto a chegar que tive tempo de conferir se era você mesmo e adivinha?
– Acertou.
– Eu sou muito boa no que faço.
– E por que não me entregou?
– Esse negócio de lealdade até o fim não é comigo. Sempre soube que a única pessoa que seria por mim sou eu mesmo, então fico com alguém enquanto estiver confortável para mim, mas quando as coisas começam a se tornar perigosas, eu caio fora. Obviamente é questão de tempo até os Collins caírem, então...
– E qual a razão de simplesmente não sumir?
– Você me viu, não é? Poderia ir atrás de mim até me encontrar.
– Você acaba de se gabar por ser muito boa e de repente está com medo de um simples agente? Conta outra.
– Eu estou cansada. Não estou com os Collins exatamente porque eu gosto, estou porque estou sendo caçada de verdade por alguém que vai me matar no momento que eu sair de O’Village. Estou sobproteção aqui por questões de diplomacia.

semicerrou os olhos e Hannah riu.

– Essa parte não entra em questão, . Ainda não é hora para isso.

O jeito que Hannah falava estava o irritando, ela parecia saber coisas demais, coisas que ele não tinha conhecimento. Seu rosto devia estar deixando claro sua insatisfação porque ela o acariciou.

– Preciso que você me mande em segurança para fora do país. Novos documentos, uma história para encobrir, tudo completo. Em troca não te entrego agora e você vai ter uma fonte para o futuro.
– Para o futuro. Você fala como se tivesse certeza que vou precisar da sua ajuda.
– Confie em mim, você vai. Quer dizer, depende de como essa missão vai terminar, mas tenho plena confiança que você vai fazer a sua parte.

A forma com que Hannah se referiu a ele deixou claro que ela tinha conhecimento sobre outro agente na investigação, mas se sabia que era , ele não perguntaria.

– Como posso confiar em você?
– Você é a minha única chance de sair viva, . No momento que os Collins caírem, minha proteção cai junto e eu estou vulnerável. Se eu fugir, me acham, se for presa, me matam na hora. Eu me meti com gente muito poderosa.
– Vou ver o que posso fazer por você.
– Eu comecei esse negócio de te dar mole para não desconfiarem de nossa possível proximidade, então é melhor continuarmos.
– Você começou a me dar mole antes de descobrir quem eu sou.

Hannah parou por um segundo e praguejou.

– É, pelo visto não consigo disfarçar que me atraio pelos errados. – Ela o olhou intensamente. – Se você realmente fizer o possível por mim, então pode confiar em mim também. Posso não ser uma parceira eterna, mas sou muito benéfica enquanto eu quero.

se inclinou sobre a mesa.

– Quero tudo o que você tem sobre os Collins e sobre os Walker.
– Não é como se eu tivesse todo o histórico deles em um banco de dados. Mas farei o possível e te ajudarei na sua missão quando precisar.

Ela se levantou e inclinou ao lado dele, então o beijou delicadamente nos lábios.

– Nós daríamos uma ótima dupla, sabia?

Hannah sorriu e saiu enquanto tomava o resto do líquido na garrafa em um único gole. Ele deixou uma nota sobre a mesa e saiu também, mas já não a encontrou na rua.

***

dormia profundamente de bruços ao lado de , em seu quarto na mansão Walker. O corpo coberto somente pelo cobertor negro na altura do quadril e o cabelo bagunçado com alguns fios sobre o rosto.
levou o cigarro aos lábios, tragou e soltou a fumaça lentamente.
Começou a pensar no quanto havia amadurecido no decorrer dos anos e como estava diferente agora. Se sentia mais responsável e tinha confiança em sua capacidade de controlar os negócios como nunca, mas além disso, perdeu o gosto que tinha pelas festas e pela ostentação. Ainda gostava das melhores coisas e adorava ter os melhores carros, porém não fazia questão de mostrar seu poder aquisitivo para os outros como antes.
Entre suas mudanças, percebia sua falta de interesse em várias mulheres. Antigamente dava festas enormes com mulheres o suficiente para em encher o Miss Universo, provavelmente já havia dormido com todas elas, mas no fim do dia acabava sozinho assistindo seu irmão sendo feliz ao lado de Kate. Apesar de odiar admitir, sentia falta de alguém para todos os momentos assim como sua mãe era com seu pai. Tinha Travis, mas obviamente tinha coisas que não podia fazer com ele.
Então ela apareceu com seu queixo empinado e a sobrancelha sempre erguida, o brilho nos olhos sempre que vê uma máquina à frente e o sorrisinho involuntário quando sabe que pode mexer nela. Não sabia ao certo como foi que aconteceu, mas de repente se pegou observando-a suja de graxa rindo com M.J. Se aproximar foi inevitável e ela parecia fazer tudo ainda mais simples. Sem rodeios, sem frescuras. Ele quis, ela quis, eles foram e pronto.
O melhor de tudo é que ela o conhecia, não precisa tentar esconder seu lado negro ou ficar se fazendo de riquinho perfeito para agradá-la. já havia o visto em seus melhores e piores dias, e participava de tudo isso.
sorriu e a viu suspirar.
Ele deu a última tragada e jogou a bituca no cinzeiro, então se deitou olhando o teto. Ainda se sentia incomodo pelo que falara para ela no carro. Não que ele tivesse tido algum controle, simplesmente saiu sem permissão, mas vê-la daquele jeito, respiração ofegante e entorpecida no breve momento que tiveram no carro... Era ela que ele queria.
Os olhos de se abriram perdidos e sem foco, então ela remexeu até encontrar o peito de , onde se aninhou. Com a voz baixa e perdida como se respondesse a algo em seu sonho ela falou:

– Eu acho que também eu te amo.

parou por um segundo, mas a respiração dela voltou a ficar pesada e ela claramente ainda dormia. Seria aquela a resposta que ela não conseguira dar na hora? Maldita hora para Kate ligar! Ele pensou. Quando deixou escapar aquilo, ela apenas o olhou aparentemente em choque então sorriu e o beijou. Foi quando seu celular tocou e ela disse que estavam o chamando de volta. Ele riu e concordou, então voltaram.
Sem uma resposta.
Ele suspirou e passou o braço ao redor dela então fechou os olhos. Não precisava ter pressa, estava ali com ele. Quando ela estivesse pronta falaria conscientemente. Teriam todo o tempo do mundo para isso, não é?

¹ Tradução: “Se eu morrer, tudo que eu sei é que eu sou uma lenda. É tarde demais para a minha cidade eu sou o mais novo no rap. Oh meu Deus, oh meu Deus se eu morrer, eu sou uma lenda. Oh meu Deus, oh meu Deus e eu morrer, eu sou uma lenda. Eu sou o único” (Drake - Legend).
² Tradução: “Encontrei a verdade escondida sob suas mentiras / E o amor verdadeiro nunca tem que se esconder / (O amor verdadeiro nunca tem que se esconder) / Trocarei suas asas quebradas pelas minhas / (Trocarei suas asas quebradas pelas minhas) / Já vi suas cicatrizes, beijei seu crime / (Vi suas cicatrizes, beijei seu crime) / Tudo o que quero, não há outro / Estamos juntos, eu me lembro / Te amar gostoso a noite toda / Como senti saudades, meu amor” (Beyonce - All Night)



Capítulo 22 - Long Beach

Ressaca era uma droga e mais uma vez confirmava isso.
Chegou cedo em casa, tomou banho de água fria, bebeu um litro d’água e só depois de dormir mais algumas horinhas conseguiu se sentir bem o suficiente para seguir o dia, apesar do estômago ainda não parecer cem por cento.
foi ao espelho, onde fez um rabo de cavalo e vestiu seu “kit-casa”: uma camiseta enorme e shorts, então disse para si mesma:

– Café, você precisa de café.

Ela foi para a cozinha, mas ao ver a jarra suja na pia, mudou seus planos.

– Café do .

Ela atravessou pela sala secreta até o apartamento do parceiro e já foi se servindo. Ao voltar para a sala, viu a porta se abrindo e entrou assobiando até que notou a presença da parceira.

– Ora, a Bela Adormecida resolveu acordar – brincou. – Fui te chamar para tomar café, mas pelo cheiro de álcool que encontrei no seu quarto, suponho que a festa foi boa, então deixei você dormir.
– Ainda bem, ou teria vomitado o seu café.
– Não querendo ser o chato dessa missão e tal, mas não acha que devia maneirar nas festinhas?
– Quero ver quando os Collins te chamarem, já que você agora se tornou o braço direito do pequeno Ben, não é mesmo?

bufou e se jogou no sofá.

– Se você soubesse... Me tornei gente duplo dentro de um dos meus trabalhos como agente duplo.

sentou ao lado dele.

– Como é?
– Ben não confia na Natasha e ela já o jogou para escanteio na empresa, então ele pediu para eu mantê-lo atualizado de tudo que ela esconder dele.
– Nossa! Essa mulher deve ser o próprio capeta porque só em falar dela as pessoas já gelam. me contou umas histórias também. Uma inclusive me deixou curiosa, é sobre os patriarcas.

ergueu uma sobrancelha.

– Eu te conto depois, mas voltando à Natasha... Ela cheira a problemas.
– Pois é! E ela tem um controle sobre a equipe que é chocante de ver, uma persuasão enorme. O Ben só queria manter as coisas na paz, acho que ele não tinha coragem de enfrentar os Walker, mas ela...
Trouble, trouble, trouble¹ – Meg cantarolou fazendo rir.
– Bem, pelo menos tenho uma forma de conseguir ainda mais informações agora.
– Ah é? Como?
– Não posso falar agora, poderia por minha fonte em risco.
– Ah, e eu sou um risco?
– Devido às circunstâncias... Sim.
– Nossa, valeu, !
– É só por um tempo. E não questione meus métodos, cadê a confiança em seu parceiro?

ergueu uma sobrancelha e o encarou.

– Não me olhe assim, .
– Não vou falar é nada, senhor .

Ele riu e mudou de assunto:

– Eu já escrevi os relatórios, se quiser dar uma olhada.
– Está bem. Vou fazer o meu e leio os seus, aproveitar o dia de folga.
– A gente bem que podia fazer alguma coisa, não é? Sair um pouco da rotina.
– Fugir de O’Village correndo o risco de ser pego pelos nossos chefes e curtir uma aventura? Puft! Só se for agora. – sorriu maliciosa.
– Vou dar uma olhada no que podemos fazer.
– Enquanto isso, eu adianto meu trabalho para sairmos depois do almoço.
– Que almoço o quê? A gente come algo no caminho.
– Tá bom! Você quem manda, general. – Ela espalmou as mãos em sinal de rendição. – Vou trabalhar.
– Volte logo.

levantou e bateu continência, então sorriu e seguiu para a sala secreta.

Às uma hora da tarde em ponto, os dois agentes estavam prontos para sair. usava um jeans rasgado e uma regata preta sob sua usual jaqueta de couro, enquanto estava também de jeans e uma camisa azul de mangas longas dobradas até a altura do cotovelo.

– Vamos no seu carro, porque é mais comum que o meu – disse colocando os óculos.
– E eu dirijo porque tenho uma direção mais comum que a sua também.
– Que absurdo, sou uma motorista normal.
– Motoristas normais não excedem os limites de velocidade por diversão.
– Na verdade, fazem isso sim.
– Ah, cale a boca, você entendeu.

também colocou os óculos e então os dois saíram conferindo se não havia ninguém no corredor. Com a “fama” de na cidade e a afiliação oficial de aos , ser pegos juntos seria sinônimo de problema para ambos.
Eles desceram pelo elevador de serviço até a garagem e se escondeu quando um morador apareceu. o cumprimentou e quando ele sumiu, chamou a parceira novamente. Os dois entraram no carro rindo.

– Estou me sentindo uma adolescente saindo escondida.
– Essa é a graça desse nosso role.

Os vidros do Corola de eram escuros o suficiente para que eles pudessem andar na cidade tranquilamente. colocou no GPS a localização de onde iriam.

– Para onde vamos? – perguntou.
– É uma surpresa.
– Ui, todo cheio dos mistérios hoje. Está bem, , vou confiar em você.

riu e ligou o rádio. Quando começou a tocar “Remember The Time” do Michael Jackson, os dois se olharam sorrindo. Uma das razões de começarem a se aturar fora justamente o gosto parecido para música, em especial essa...


Era o primeiro ano dos dois juntos, ainda não se davam exatamente bem. dirigia o carro até o local onde encontrariam um informante do então caso deles. , já incomodado com o silêncio, foi o primeiro a falar.

– Olha, eu sei que não sou a pessoa que você queria aqui, agora. Também não escolhi isso! Mas nos colocaram juntos, vamos ter que fazer isso você gostando ou não, então sugiro pelo menos tentar nos darmos bem.
– Eu sinceramente não vejo a menor possibilidade disso, .
– Então vamos nos aturar, pode ser?
– Não tenho outra opção, tenho?

revirou os olhos.
– Como você é rabugenta.

o fuzilou com o olhar em resposta.

– Que tipo de música você gosta? – perguntou.
– Sei lá.
– Não conheço esse gênero, é nacional?

Ela bufou.

– Você é tão engraçado – ironizou.
– E você é um doce de pessoa. Vou colocar as minhas músicas, então, já que você não tem gosto próprio.
– Eu sou eclética, para mim tanto faz.
– Ora, ora, a Miss Simpatia sabe dar uma resposta concreta.
– Coloca a droga da música logo, antes que eu me arrependa.

riu e deu play, quando os primeiros acordes tocaram reconheceu a música e ergueu as sobrancelhas. Ela passara a infância ouvindo aquela música na oficina de seu avô e toda vez ele comentava o quanto gostava dela.
Do you remember
When we fell in love
We were young and innocent then
Do you remember
How it all began
It just seemed like heaven so why did it end?
”²
No final eles se pegaram cantarolando juntos o refrão.


E repetiram a cena na estrada que saia de O’Village.
Meg riu e colocou para tocar mais uma vez.

– Essa merece um replay.
– Posso considerar nossa música?
– Acho que sim. Considerando que nos conhecemos na academia quando mais jovens, só que invés de apaixonados, a gente se odiava.
– Já ouviu o ditado: “amor e ódio andam lado a lado”?

semicerrou os olhos para ele que apenas lhe lançou um sorriso travesso.

– Você não existe, .

Os dois continuaram a viagem cantando juntos quase noventa por cento da playlist criada por , só pararam para comer quando estavam na metade do caminho e depois de um pouco mais de duas horas de viagem, chegaram ao destino.

– Bem-vinda a Long Beach – disse sorridente.

Depois de uma breve passada nos pontos turísticos da cidade, eles foram para o Aquário do Pacífico, onde parecia uma criança em loja de brinquedo.

– Sempre gostei do mar – ele disse admirado vendo os peixes pelo túnel de vidro. – Antes de ir para a FBI, cogitei ser da marinha.

pegou o celular e tirou uma foto dele distraído, então riu.

– Ainda bem que não foi – ela falou. –, quem mais iria me trazer a um aquário como esse?
– Seu namoradinho Walker?
– Ei! – ela repreendeu. – Não faço ideia do que você está falando. Hoje somos apenas e , dois parceiros federais curtindo um dia de folga. Direto de Nova York para cá.

O sorriso do se abriu.

– Certo, senhorita . Apenas nós dois.

sorriu em resposta. então lhe ofereceu o braço, que ela aceitou na hora, e os dois seguiram pela visita.
Quando finalmente escureceu, os dois pararam em um parque de diversão que já estava começando a encher. Agora era vez de voltar a ser criança.

– Fazia tanto tempo que eu não vinha a um parque – ela falou eufórica.
– Eu também. Lembro que você já tinha dito algo sobre parques, achei uma boa virmos.

Ela andou mais um pouco e viu uma enorme lona vermelha e amarela.

– Se aquilo for um circo, , você acabou de ganhar uma rodada de Chopp por minha conta.

riu e olhou o relógio.

– Olha, segundo as minhas contas, acho bom comprarmos nossos bilhetes logo.

o olhou sem acreditar. O sorriso dela não sumia do rosto por um segundo sequer.
Depois de comprar os bilhetes, ele foram brincar no parque até a hora da apresentação, carinho de bate-bate, montanha-russa, barca, a segunda montanha-russa, um brinquedo que os deixavam de cabeça para baixo, a montanha-russa número três, então uma espécie de elevador e só então pararam para comer algo.
Com o cabelo agora preso em um rabo-de-cavalo, puxou até as barraquinhas de lanche onde pegaram cachorros-quentes e refrigerantes para a apresentação.

– Vamos logo, – ela disse puxando ele com uma mão e equilibrando a comida na outra. – Você é muito lerdo, vamos perder o começo.
– Meu Deus, parece que estou trazendo minha irmãzinha para ver o Bozo.

pensou em socá-lo, mas seria ainda mais tempo perdido, então o ignorou.
Depois de uma hora e meia de apresentação, os dois saíram de lá ainda rindo e de mãos dadas, coisa que só perceberam ao chegar no carro. olhou para baixo e então sorriu para ele.

– Obrigada, , de verdade. Nem tinha percebido o quanto eu precisava disso, parece que eu tirei um peso enorme de mim só com essa fugidinha.
– Podia fazer o mister nice guy e dizer que foi uma honra, mas acho que eu estava precisando também. O’Village é uma cidade louca.
– M.J. me disse uma vez que ela parecia te prender a ela, agora vejo que é verdade. Você se conecta de uma forma quase sobrenatural e quando sai...
– Vê que existe uma vida mais leve do lado de fora.
– Ou talvez seja só porque nós estamos misturados ao submundo da cidade. Quem sabe para os moradores normais não seja assim.
– Pode ser. Enfim, sem missão hoje, lembra? Nem sequer conhecemos esse lugar.
– Verdade. Mas e aí? O show acabou, o parque logo fecha... o que vamos fazer, voltar?

fez uma careta que fez rir.

– Ou podíamos encontrar um hotel por aqui e passar a noite – ela sugeriu.
– Devia ter pensado nessa possibilidade, mas só trouxe essa muda de roupa e um banho, seria ótimo.
– A gente passa em alguma lojinha de departamento e compra. Problema resolvido!

sorriu e a abraçou.

– Adoro quando você faz o papel de cérebro dessa dupla, tinha que deixar de ser os músculos de vez em quando.
– Idiota – ela disse, mas riu junto com ele.

Agora com no volante, eles seguiram até uma loja e então foram para um motel³ onde passariam a noite. Eles estacionaram e depois de organizar tudo com o gerente, foram para o quarto no segundo andar.

– Lar doce quarto de hotel – brincou.
– Vou tomar meu banho primeiro porque você demora demais.
– Olha que mentirosa, passa um ano no chuveiro e coloca a culpa em mim.
– Moças geralmente tem mais cabelo para lavar, e você, qual é a desculpa?
– Gosto de sair cheirosinho. Agora vá logo antes que eu entre na sua frente.

Ela o olhou com falso medo e correu para o banheiro. riu e ligou a pequena TV sobre a cômoda do quarto. A cama era de casal, porque era o mais barato e ninguém ali estava procurando luxo. Ele se sentou ali e começou a zapear pelos canais até ouvir gritar:

, pega a toalha para mim.
– Está vendo? Vai ser apressadinha e fica sem toalha. – Ele se levantou e pegou a toalha branquinha dobrada sobre a cama, então bateu na porta. – Na próxima vez vai ter que sair pelada.

A porta abriu e duas mãos o puxaram para dentro do pequeno cômodo. Ela entrou para o box, que era do tipo que tem banheira embutida e que já estava cheia quase pela metade.

– Ou você entra aqui todo vestido.

A água quente encheu o banheiro de vapor, mas ainda assim era possível ver uma completamente molhada e com tudo descoberto.

– Não vou mentir que estava pensando em umas besteirinhas, mas não esperava você ser tão apressadinha – brincou olhando-a dos pés à cabeça enquanto tirava os sapatos.
– Vai ficar aí só olhando ou vai vir logo?

O rosto de se cobriu de malicia e em um puxão sua blusa voou para algum canto, então ele se lançou contra ela embaixo do chuveiro, colando-a contra a parede. Suas bocas de chocaram intensamente e entrelaçou os dedos nos cabelos dele enquanto a outra mão abria o botão e o zíper da calça. Com um pouquinho de dificuldade a peça se juntou à blusa no chão.
As mãos de dedilharam o caminho pelo pescoço, seios, cintura, quadril e então coxas de , então ele a puxou para seu colo. de imediato cruzou as pernas ao redor dele para diminuir ainda mais o espaço entre os dois. Ainda com a cueca o protegendo, começou a roçar sua ereção na parte mais sensível de , que fechou os olhos e tombou a cabeça para trás. passou então a beijar o pescoço dela, lambendo lentamente as gotinhas de água ali e subindo até o lóbulo da orelha, onde deixou uma mordidinha que a fez gemer.
a colocou no chão e tirou sua última peça de roupa, então fechou o box e a pôs de cara para ele. Ele colou seus corpos e enquanto beijava suas costas e nuca suas mãos se dividiam entre os seios, então uma começou a deslizar pela barriga até alcançar o clitóris dela. soltou um palavrão e arranhou com força o vidro do box. A medida que seus gemidos iam aumentando, sentia-se ainda mais excitado, então não aguentou mais. Sem muito rodeio, entrou de uma vez em que mais uma vez xingou alto.
Ele começou lentamente, mas à medida que os quadris de aumentavam a intensidade, ele acelerou. foi sentindo a força das pernas diminuírem à medida que seu ápice se aproximava, abaixou ainda mais para se segurar na bordinha da banheira. Então sentiu o prazer lhe atingir por completo.
Ela permaneceu imóvel por um tempo, então ajoelhou na banheira e desligou o registro do chuveiro. A água já transbordava pelo chão, mas naquele momento, quem ligava?
o olhou maliciosamente e sorriu, já prevendo o que viria a seguir. Delicadamente ela aproximou os lábios do membro dele e começou a chupá-lo enquanto sua mão deslizava para cima e para baixo. enroscou uma mão em seus cabelos e ditava a velocidade que ela tinha que seguir, até que ela sentiu o orgasmo dele.

– Porra, – ele disse e abaixou para beijá-la.

Ele se deitou na banheira e ela se sentou sobre seu quadril, uma perna de cada lado.

– Sempre quis transar em um banheiro de hotel – ela admitiu sorrindo.
– Então já pode riscar da sua lista de coisas para fazer antes de morrer. – Ele a beijou. – Mas se não quiser riscar ainda e fazer mais uma vez...

riu e voltou a beijá-lo. Ainda tinham uma noite inteira ali.

¹ “Problema, problema, problema” - Trouble (Taylor Swift).
² “Você se lembra / Quando nos apaixonamos / Nós éramos jovens e inocentes, então / Você se lembra / Como tudo começou / Parecia como o céu então porque é que ele terminou” - Remember the Time (Michael Jackson).
³ Motel vem do termo em inglês motor hotels e, nos EUA, são hotéis para passar a noite durante viagens longas de carro e não necessariamente um lugar apenas para sexo. Mais basicamente falando, é uma pousada.



Capítulo 23 - Estratégias

andava no meio da pista, cercada por árvores altas dos dois lados. A noite era fria e iluminada pela lua cheia no céu limpo. Ela sentia como se tivesse andado por horas, pois suas pernas começavam a fraquejar, mas não desistiu. Caminhou até chegar ao ponto da pista que se dividia em duas, formando um Y que se abria cada vez mais. Na sua frente havia um espelho onde seu reflexo sorria, apesar de ela estar séria.

– Escolha – o reflexo perguntou.

olhou as duas estradas, elas eram escuras e não dava para ver aonde daria.

– Não sei qual escolher – ela admitiu.
– Vai ter que escolher uma.

O espelho de repente não estava mais lá e se viu no limite da estrada, tinha que decidir para onde ir.
De repente, dois pares de faróis se ascenderam, um em cada pista. Ela esticou o braço sobre o rosto, tentando enxergar os motoristas, mas não conseguia identificar nem os carros, quem dirá que os conduzia.

– Escolha! – duas vozes diferentes falaram em um uníssono como se estivessem próximas aos ouvidos de .
– Não. Isso é só um sonho. Eu não vou escolher.

Os faróis apagaram e se viu de frente a seu reflexo novamente.

– Mais cedo ou mais tarde terá que escolher. Não adianta se esquivar.

de alguma forma sabia que era verdade e quis socar o espelho, mas ao tentar dar um passo, suas pernas falharam e ela caiu com tudo no chão.

Então acordou em seu quarto. Ela acordou tão lúcida que não parecia estar dormindo profundamente segundos atrás. Se sentou na cama e encontrou dormindo ao seu lado. Os dois tinham passado o fim de semana inteiro em Long Beach, mas foi só entrar em O’Village que todo o peso que sentia carregar parecia ter voltado a seus ombros.
olhou o relógio no criado mudo e viu que já estava de manhã, então se levantou e foi tomar banho.
Alguns minutos depois e já estava pronta, preparando o café. apareceu na sala sorrindo.

– Não diga que ia me levar café na cama – brincou.
– Sou boazinha, mas nem tanto, .

Ele riu.

– Está meio cedo para você, não?
– Não consigo dormir até tarde, você sabe. Fico matando tempo no Mustang quando acordo muito cedo.
– Nunca vi gostar tanto de carro. – Ele balançou a cabeça. – Não vou atrapalhar sua rotina, afinal, a missão nos chama.

suspirou e assentiu, então colocou o café numa xícara e entregou a .

– Vamos prolongar nossa folga por mais uns cinco minutinhos – ela disse e sorriu.

***

– Tente ligar agora – falou debruçada sobre o motor do Maverick 1975.

O motor rosnou e respondeu. Uma senhora de 60 anos saiu do banco do motorista sorrindo.

– Você é um anjo, menina. Caiu do céu!

sorriu, mas negou.

– É apenas o meu trabalho.

O carro da senhora havia parado a alguns metros de distância da oficina e quando ela pediu ajuda a alguém que passava, empurraram o automóvel até o portão deles. logo se dispôs a ajudar quando a viu.

– Quanto te devo?
– Nada, foi só um probleminha no cabo da bateria, não precisa pagar.

A senhora Donavan sorriu e tirou uma nota da bolsa, então colocou no bolso de trás do macacão de .

– Para um lanchinho. Sempre voltarei aqui quando essa lata velha parar de novo.

sorriu e assentiu.

– Estarei a sua disposição.

A senhora acenou e voltou para o carro enquanto fechava o capô, então a viu partir. Desde que chegara, velhinhas e mulheres vinham com mais frequência consertar seus carros, pareciam ter mais confiança ao ver alguém do sexo feminino trabalhando em seus automóveis.
voltou para dentro da oficina bem a tempo de ver o Skyline azul e o Lancer verde de teto preto estacionarem ao lado dela. Ela parou onde estava e esperou e Travis descerem.

– Travis, reúne a equipe lá em cima – falou.
– Pode deixar, chefe.

deu a volta no carro e foi até .

– Temos trabalho? – ela perguntou.
– Na verdade, é carga nova chegando. Nosso fornecedor teve problema com o porto e vamos ter que transportar pela estrada.

a abraçou pela cintura e lhe selou os lábios.

– Sumiu o fim de semana todo.
– Uma tia minha que mora aqui no estado soube que eu estava em O’Village e fui obrigada a visitá-la num lugar que nem sinal tinha – mentiu fazendo uma careta. – Odeio roça! Pensei que segunda nunca chegaria.
– Podia ter avisado que iria.
– Desculpe, pai. Não sabia que tinha que dar satisfação do que eu faço ou deixo de fazer.
– Não é satisfação, é só que...
, seja lá o que for que nós temos, eu não fico te cobrando sobre por onde anda ou o que está fazendo. E olha que você dá perdido¹ com muita frequência.

passou a mão no cabelo e a língua nos lábios, mas então deu de ombros.

– Tem razão, foi mal. Mas e então, o que vamos fazer sobre isso? – ele perguntou.
– Sobre o quê?
– Sobre seja lá o que for que nós temos.

a olhava intensamente nos olhos e riu ainda confusa.

– Não sei. O que você propõe?

Ele pegou a mão direita de e puxou algo de dentro do bolso, então colocou o pequeno anel de falange dourado no dedo anelar dela. Ela olhou para aquelas duas fitinhas de ouro se entrelaçando e depois o encarou.

– É só um presente – explicou, sorrindo de lado. – Todo mundo já sabe mesmo, só... sei lá, oficializar contigo.

entendeu que aquele anel era um pequeno símbolo dessa oficialização, bem mais sutil que um anel de compromisso e que deixava claro que ele não usaria algo por enquanto. Isso a fez rir.

, se não está pronto para isso, não precisa tentar me mostrar que a gente tem algo ou...
, estou tentando te pedir em namoro, mas achei que falar isso tão explicitamente era meio infantil.

Ela olhou o anel novamente e riu.

– Este não é exatamente o anel que as pessoas usam para pedir as outras em namoro.
– É por isso que te dei ele, você não é como as outras pessoas.

Os lábios de se abriram em um largo sorriso e sentiu seu coração falhar uma batida. Aquilo era tão errado, ela estava brincando com fogo. O maior erro de um agente infiltrado era se envolver de modo pessoal na missão e ela já sabia disso quando decidiu a estratégia que tomaria para se aproximar dos Walker, mas confiou tanto na sua racionalidade que abaixou a guarda.
Apesar de todo o peso em sua consciência, sorriu de volta e se equilibrou na ponta dos pés, então o beijou sentindo seus batimentos acelerarem ainda mais.

– Eu aceito.

A equipe toda já estava na sala de reunião, então começou a falar:

– Os mexicanos tiveram problema para passar a mercadoria pelo posto, mas disseram que conseguem levar até a fronteira. Vamos precisar de todo mundo para pegar e levar até os Químicos, porque não dá para passar um caminhão na fronteira.
– Atravessar a fronteira é problema, mano – Andrew falou. – Os federais estão de olhos desde que o novo presidente entrou.
– Eu sei, mas temos que pegar a carga e um helicóptero chamaria bem mais atenção.

lembrou do mapa de túneis dos Collins, um deles atravessava a fronteira, mas ela não podia simplesmente dizer isso aqui e também não faria, mesmo que pudesse.

– Qual é a mercadoria? – ela perguntou.
– Cocaína – Travis respondeu. – O estoque da cidade está de boa e os Collins não abasteceram suas áreas ainda, mas as cidades vizinhas estão ficando sem.
– Se os Collins estiverem juntando a carga que seria distribuída na cidade para negociar com nossos vizinhos, teremos problemas – Drake disse. – Nós já temos domínio de quase 100% de O’Village, talvez eles estejam querendo aumentar o território fora antes de recuperar poder aqui.
– Se o Ben estiver mesmo tentando evitar uma guerra, essa é a escolha mais sábia – concluiu. – Por isso temos que trazer a carga.
– E como vamos fazer isso? – perguntou.

deu um sorrisinho, apoiou os cotovelos na mesa e cruzou os dedos sob o queixo.

– Tenho um plano.

***

se aproximou de Ben e falou baixo enquanto todo mundo conversava à espera da Natasha.

– O que você acha que ela vai falar? – ele perguntou.
– Provavelmente sobre mercadorias. Tive um spoiler em casa quando ela disse que eu estava negligenciando sobre essa parte de nossos negócios.
– Drogas?

Ben assentiu.
Natasha entrou na sala, acompanhada fielmente por Lizzie. Todo mundo cessou as conversas e acompanhou com o olhar até ela se sentar na cadeira à ponta da mesa.

– Bom dia, meus queridos – ela falou. – Sentem-se.

Todo mundo obedeceu. Do lado direito da mesa estavam Lizzie, Hannah, Joe e Luke; do esquerdo Ben, , Dan, Gabriel e na outra ponta da mesa Patrick.

– Tive uma conversa mais cedo com meu irmão – Ela lançou um olhar para Ben – e concluímos que nossos negócios secundários estão sendo deixado muito de lado ultimamente. Nossos números estão horríveis tanto na cidade quando fora dela. As famílias vizinhas estão trabalhando com os Walker e isso está dando um poder enorme para eles. Se nossas informações estão certas, o sul da Califórnia está quase todo dominado por eles enquanto nós... – Ela riu sem graça. – Prefiro nem falar.
“Isso é uma vergonha para o legado da família Collins, isso é uma vergonha para nós! Iremos reverter essa situação, vocês entenderam? Precisamos criar laços novos ou a droga do túnel que estamos gastando tanto tempo e dinheiro terá sido em vão!”

– O que tem em mente, Nat? – Hannah perguntou.
– Lizzie pegou informações para mim. O estoque de algumas cidades estão se esgotando e por algum motivo os Walker ainda não parecem ter enchido. Vamos negociar com eles, preços menores por uma mercadoria melhor.
– Nosso fornecedor é fraco, Nat – Dan falou. – Enquanto eles estão trabalhando com o quartel de Sinaloa, nós estamos tendo que negociar com gente lá da Colômbia, isso deixa nossos custos mais caros.
– É por isso que consegui contato com o Cartel de Juárez. Eles estão disputando a maior parte do México há anos. Nós damos suporte a eles e eles dão o melhor para nós. A princípio distribuímos a preços melhores para fortalecer as amizades, então começamos a aumentar.
– Natasha, pelo amor de Deus! – Ben se manifestou, colocando-se de pé. – Sei que muitos de vocês não gostam do meu jeito de gerenciar os negócios, mas estou tentando manter a merda da paz na nossa cidade. Pouco me importa as cidades vizinhas, só quero o melhor para o meu lar. Se esse Cartel de Juárez souber da história de disputa entre Collins e Walkers, você tem noção do tamanho que essa briga pode tomar?

Natasha o lançou um olhar que provavelmente faria qualquer outro naquela mesa tremer, mas Ben continuou firme.

– Você tem razão – ela disse. – Eles não gostam do seu jeito de gerenciar. Perdemos território e poder, o que significa que nosso nome está perdendo respeito...
– Natasha...

Ela se levantou batendo a mão furiosamente na mesa.

– NÃO, VOCÊ ME ESCUTA AGORA! Nossos pais confiaram que nós seriamos capazes de manter a família e nosso legado, mas você me mandou para fora e veja só aonde chegamos! Não vou permitir que destrua tudo que nossos antepassados construíram por medo! Não existe glória sem luta e se for preciso de sangue derramado para que os Collins voltem a dominar essa cidade, que seja então. Você tem duas opções: ou se junta totalmente a nós ou cai fora e veja de camarote. Nada do que você fizer vai me fazer desistir. Nós vamos recuperar nossa cidade você querendo ou não!
– Se fizer isso, estará declarando uma guerra que não será capaz de controlar.
– Se eu não fizer, nosso nome vai sumir nos livros de história, não posso deixar isso acontecer.

Ela suspirou e controlou a voz.

– Você está comigo ou não, Ben?

Benjamin balançou a cabeça e pegou o casaco sobre a mesa.

– Não vou fazer parte desse banho de sangue. E vocês, se realmente querem se juntar a ela, melhor estarem preparados para assumir as consequências. Mas se o nome Collins ficar manchado por causa disso, vou caçar cada um de vocês e isso inclui você, irmãzinha.

Ele correu os olhos em cada um dos homens e mulheres ali sentados, demorando um segundo a mais em , então encarou a irmã e saiu da sala.
olhou para Natasha e percebeu que todos ali faziam o mesmo, esperando a reação dela.

– Joe, Gabriel, Luke, entre contato com o Cartel de Juárez e acertem todas as negociações para ontem. Dan e Hannah, fale com as famílias vizinhas e já deixem o terreno limpo para nós. Qualquer coisa, entregamos o estoque já guardado como garantia. Patrick e , terminem a droga do túnel sob a fronteira e preparem os transportes para levarmos o que temos aos nossos futuros parceiros. É hora de recuperar nosso poder.
– Nat, e quanto à corrida? – Hannah perguntou.
– Ainda está de pé. Essa corrida irá mostrar que estamos de volta então é melhor vocês corredores estarem com seus carros prontos, porque vão enfrentar cada um dos Walker.
– Até o ? – Luke perguntou.
– Sim, mas fiquem tranquilos que não será nenhum de vocês. Para ele estou preparando alguém especial. Agora ao trabalho!

¹ “dar perdido” é uma gíria para sumir.



Capítulo 24 - Bienvenidos

– Guerra à vista – falou terminando de ler o relatório de .

Os dois agentes estavam na sala secreta, trocando as informações que coletaram enquanto comiam a comida japonesa que pediram. tomou o último gole da latinha de refrigerante e a bateu contra a mesa.

– Isso não é nada bom.
– Temos que preparar a abordagem e prendê-los. Já temos provas do envolvimento de ambas às famílias com tráfico, lavagem de dinheiro e corrupção.
– Ainda não podemos, . Se eles tiverem mesmo ligação com dois dos maiores carteis do México, a pena deles aumenta e muito. Não pode haver brechas. Sem contar que tem as famílias vizinhas que estão envolvidas, tirar só as duas vai abrir espaço para outra família dominar. Não podemos deixar isso acontecer.
– Não temos como levar todo mundo, . Nossa missão é com a cidade de O’Village.
– Mas como eu disse, se tirar eles, vai vir outra família. Temos que conseguir provas desses laços fora da lei entre as famílias daqui com as outras da região. Eles podem não pegar a mesma pena que os Collins e Walkers, mas já terão algo para outra investigação continuar. Ainda está cedo para jogar tudo no ventilador.
– Devíamos falar com o Charles antes de você ir nesse trabalho. Você vai está transportando droga pela fronteira, isso tem uma grande possibilidade de dar errado.
– Não temos tempo para isso, temos que pegar e preparar os veículos para o transporte, não tenho como fugir da oficina.
– Droga, !
– Vai dar tudo certo, o Cartel de Sinaloa tem muita polícia na sua folha de pagamento. Tudo vai acontecer durante a manutenção das câmeras de um ponto onde vão abrir caminho para a gente. Nós conseguiremos atravessar sem ser vistos.
– Você confia demais nessa equipe, .

Ela suspirou.

– Se eu não confiar, as coisas podem dar incrivelmente errado e aí complicaria tudo.
– Se você for pega...
– Posso falar com os policiais, se não for nenhum subordinado dos vilões, digo que preciso que deixem passar ou estarão interferindo em uma investigação da FBI.
– Mas e se acontecer no México?
– Os mexicanos nos livram.
– E se conseguirem a verdade sobre você no banco de dados?
– Eles não vão.
, se isso acontecer...
– Eu sei, eu sei. Mas não vai. Vamos sair e entrar dos Estados Unidos sem ninguém perceber e o trabalho estará feito. Vou dar um jeito do me deixar com Travis na distribuição e ver quais outras famílias estão recebendo a carga. Além disso, ainda terei vídeo provando a ligação dos Walker com o cartel.

Ela se levantou e pegou em uma das gavetas do armário um cinto preto cuja fivela era uma câmera.

– Vai dar tudo certo – falou sorrindo. – Agora você precisa de provas que liguem os Collins às famílias e ao outro Cartel também.
– Com as famílias é moleza, vai ser mais difícil à ligação deles com o Cartel.
– Mas é necessário. Vamos reunir tudo o que temos porque essa guerra vai estourar, isso é óbvio, mas dependendo de onde ela chegar, nós intervimos.
– Boa sorte para nós. – suspirou.
– Vamos precisar.

***

estacionou o Mustang e desceu olhando seu relógio marcar 10h. Como de costume, havia passado um bom tempo em seu carro estacionado em qualquer lugar antes de ir para a oficina e isso a fez chegar junto com o resto da equipe, os outros que trabalhavam apenas como mecânicos, já estavam por ali.
Andrew se aproximou dela.

– E aí, .
– Bom dia!
– Posso falar com você rapidinho?
– Claro.

Os dois se distanciaram um pouco do resto.

– Não me leve a mal, ok? Sei que você está há um bom tempo já com a gente, mas achei legal avisar. Esse trabalho... as coisas podem sair do controle, pode dar problema, é tudo muito incerto. Nós fazemos nosso melhor para correr tudo tranquilo, você sabe, mas não podemos prever tudo.
– Se estiver com medo de eu estragar algo para vocês, pode ficar tranquilo porque sei seguir ordens muito bem.
– Não, claro que não é isso! É que... digamos que... Ah, vou ser direto logo. Ninguém aqui é nenhum santo, . Tirando e o Max, eu acho, todo o resto já tem passagem por algum delito. Você não aparece nos registros da polícia, então suponho que não tenha feito nada de errado além daquele roubo ao caminhão.

ergueu uma sobrancelha e deu uma risadinha.

– Não sei como deixou você entrar nessa, se fosse minha namorada, eu nunca permitiria isso.
– Olha, Andrew, vou levar na boa porque sei que está falando isso para o meu bem. Mas o não é meu dono e mesmo que me mandasse ficar, eu só não iria se ele falasse isso como meu chefe e não como namorado. Sou tão parte dessa equipe quanto qualquer um e meu relacionamento com ele não interfere em meu papel aqui.
“Sei dos riscos do trabalho, sei dos riscos de estar aqui e sei muito bem o que estou fazendo. Aprecio a preocupação, mas já sou grande o suficiente para assumir as consequências dos meus atos, sejam eles bons ou ruins”.

Andrew espalmou as mãos em frente ao peito, em sinal de rendição, e sorriu.

– Wow! Tá bom então, senhorita independente. Não quis ofender.
– Não ofendeu, só quis deixar as coisas claras. Não quero que confundam uma coisa com a outra, sabe?
– Consigo entender. – Ele riu. – Gosto da sua postura, você tem peito... quer dizer, não peito desse jeito – Ele gesticulou com as mãos sobre o tórax. – Bom, você tem, mas não quis dizer assim.

Agora foi quem riu.

– Já entendi, Andrew. Não se complique mais.

Ele deu de ombros e acompanhou a risada.
No portão de repente apareceu o Skyline azul seguido por um caminhão pequeno. estacionou ao lado do Mustang de e o caminhão parou um pouco mais atrás.

– Fechem a oficina. Hoje temos trabalho a fazer – ele mandou e foi até a única mulher entre eles. – Ei, você.

Com a mão puxando-a para mais perto pela cintura, selou os lábios dela, mas antes que o beijo se intensificasse, os separou.

– Cuidado, chefe. Os outros estão começando a desconfiar que eu sou sua favorita.
– Por que será que eles pensam isso? – Ele deu um sorrisinho sem vergonha e a beijou de novo. – Dorme lá em casa amanhã, depois do trabalho.
– Vamos ver se você vai merecer.

mordeu os lábios e só conseguiu pensar o quanto ele ficava sexy fazendo aquilo. Ele a puxou mais uma vez e aproximou a boca da orelha dela.

– Se você for, vai ter uma surpresinha lá para comemorar nossa oficialização – ele sussurrou, fazendo-a arrepiar. – Se não for... serei obrigado a levar a surpresa até sua casa, mas aí vai ter um precinho maior.
– Já que insiste tanto. Passo em casa e de lá vou para seu apartamento.
– Estou na mansão por enquanto.
– Para a mansão, então. Mas agora é melhor a gente ir trabalhar.

Ele concordou e a soltou, então os dois seguiram para o caminhão onde Travis já esperava abrindo a porta da carroceria onde estavam oito motos Harley-Davidson com bagageiros dos dois lados da roda traseira.
assoviou, então sorriu para as máquinas a sua frente.

– Descarreguem as motos e levem para dentro da oficina. Vamos conseguir algum espaço nessas belezinhas – mandou.

O resto da equipe se dividiu em colocar as motos no chão e levá-las para dentro. Quando as oito estavam lá, planejaram onde os pacotes de cocaína seriam colocados e começaram a desmontar as partes da moto onde esconderiam alguns dos pacotes.

– Dentro dos bagageiros a gente coloca algumas peças por cima e roupas por cima, em baixo a droga estará guardada – falou.
– Se aparecer polícia, a gente se separa até despistar. Se estiver sendo seguido, só aparece lá nos Químicos depois que tiver certeza absoluta de que está sozinho, entenderam? – Travis continuou.

Todo mundo concordou.

– Ótimo! – concluiu. – Uma hora de almoço e depois voltamos para planejar as rotas lá na sala de reunião.

Cada um foi almoçar onde bem quis, mas ficou com .

– Está a fim de comer o quê? – ela perguntou.
– Que tal algo mexicano?

riu.

– Acho que não teria nada mais oportuno.

Ele passou o braço sobre o ombro dela e os dois foram até o Skyline, então saíram para o restaurante.
O restaurante escolhido era um tanto mais caro do que esperava, mas não falou nada. Durante todo o almoço fora um perfeito cavalheiro e durante aquela breve hora, realmente pareciam um casal normal, a única diferença era que volta e meia pegava alguém olhando com um ar de curiosidade. Fardos de namorar alguém tão importante na cidade.
Namorar.
se olhou no espelho do banheiro e ficou em choque ao perceber que, por um segundo, considerou séria sua relação com . Ela respirou fundo e olhou o anel de falange em seu dedo. Mais que droga estava fazendo? Ela tirou a pequena trança dourada do anelar e a analisou por um tempo.
Quase como seu sonho, ouvia uma voz falar para ela escolher, mas não teve coragem de levantar os olhos e conferir se era mesmo seu próprio reflexo.
Escolher o quê? O que escolher?
E então de repente ela sorriu. Isso tudo era temporário. Por que estava se preocupando tanto com algo que não iria durar mais que alguns meses? colocou novamente o anel e voltou a olhar seu reflexo, agora com um sorriso decidido no rosto.

– Quer que eu escolha? Pois bem. Eu escolho ter tudo!

Ela saiu do banheiro pisando firme e de cabeça erguida. Nunca em nenhuma de suas missões havia sido tão emocional quanto em O’Village. Já estava dentro, não adiantava ficar com esse drama pessoal. Se está no inferno, abrace o diabo, não é esse o ditado? Então era isso que ela faria. Não iria fingir ser Denver, a “garota do ”, corredora dos Walker e, por hora, fora da lei. Ela seria Denver.
já a esperava de pé e se surpreendeu ao ser beijado calorosamente.

– Hey, o que houve lá dentro? – ele perguntou com um sorrisinho torno no rosto.
– Tive uma conversa bastante interessante. Percebi que ainda estava em negação e não acredito que levei tanto tempo para cair à ficha. – Ela acariciou o rosto dele. – Quero ficar com você, , não importa o que aconteça. Estou cem por centro em tudo.

Ele sorriu e a beijou levemente.

– Não sei com quem falou, mas me lembre de agradecer a essa mulher.
– Agradeça depois que tivermos terminado o trabalho.
– Como a primeira-dama preferir.

Eles se beijaram mais uma vez e saíram do restaurante.

***

A noite caiu e então a oficina foi fechada. Além dos sete membros de confiança de , não havia mais ninguém ali. As motos já esperavam preparadas enquanto o chefe repassava o plano mais uma vez. Ao terminar as instruções, ele respirou fundo e olhou intensamente para cada homem e mulher ali.

– Sei que vocês são capazes de fazer isso. Qualquer coisa errada, nós abordamos, suas vidas valem mais do que a droga. Voltaremos todos vivos, entenderam?

Todo mundo assentiu, então ele pegou um celular de modelo muito antigo, único meio de contato com os mexicanos.

– Se preparem que quando eu voltar, nós saímos.

Ele se afastou colocando o aparelho no ouvido.
, assim como os outros, fechou o zíper jaqueta de couro e conferiu a pistola. Carregada e pronta para o que viesse. Ela pegou o capacete e se encostou em sua Harley-Davidson, então puxou o celular e digitou na conversa com Ian:

: Partiremos em breve.
: Tome cuidado! Tente mandar notícias.
: Pode deixar.

Ela guardou e levantou a cabeça bem a tempo de ver voltando.

– Está na hora. Tomem cuidados e voltem todos vivos!

Todos assentiram e começaram a colocar seus capacetes e montar em suas motos, mas antes de fazer o mesmo, se aproximou dela.

– Volte inteira para mim.
– Você também.

Eles encostaram seus lábios em um beijo leve, mas preocupado, então se separaram trocando um olhar de confiança. montou na moto, pôs o capacete e fechou o visor.
A Harley de roncou e todas as outras sete responderam da mesma forma, então ele acelerou e de um por um saíram o seguindo. O segurança acenou assim que o último passou e fechou o portão atrás deles.
Com liderando, o grupo formou uma espécie de A. Travis e Andrew logo atrás do líder, seguidos por Crash, e Max; um pouco mais atrás estavam Drake e Oliver.
As ruas vazias permitiram que eles chegassem à autoestrada rapidamente, mas ainda levaria pelo menos mais uma hora e meia para chegarem à fronteira. se arrependeu por não ter pegado seus fones de ouvidos para ouvir “Ride” da Lana Del Rey ou “This Life” do Curtis Stigers em looping. Ela riu com a ideia.
Adorava aquilo e não se cansava de dizer. A vibração do motor sob ela, a sensação de cortar o vento em alta velocidade. Estava em seu habitat natural.
Bem na hora marcada, eles chegaram à fronteira onde um grupo de policiais protegia. Os oito pararam, mas só desceu puxando um envelope de dentro da jaqueta.

– Cortesia do senhor De La Garza.

O policial que recebeu, passou o envelope para o outro ao se lado, que contou e então assentiu.

– Se a volta for por aqui, é melhor ter um mais generoso do que esse.

Apesar de estar de capacete, sabia que dera um sorriso de escárnio.

– Não se preocupe, seu guarda. Tudo está certo.

Assim que voltou a sua moto, os policiais abriram espaço e toda a equipe entrou no México. Mais uma hora dentro da cidade e finalmente chegaram ao sítio afastado do resto da vizinhança.
Pelo menos vinte homens muito bem armados os receberam no pátio de frente a um galpão.
Os oito americanos pararam e desceram da moto, retirando os capacetes. Dois homens que não seguravam armas se aproximaram; um alto musculoso, cabelo raspado rente à cabeça e braços cobertos por tatuagens e o outro mais velho era baixo e barrigudo, de longos cabelos lambidos para trás.

Bienvenidos! Walker, meu garoto! – O mais baixo abriu os braços, sorridente. Os dois trocaram um abraço.
– De La Garza, quanto tempo! – falou sorrindo.
– Quero que conheça meu filho, Juan.

O mais alto sorriu e apertou a mão de . tinha que admitir que ele era muito bonito.

– Meu pai fala muito de você – Juan disse. – Ele sempre quis esse encontro, diz que você é um ótimo exemplo de como cuidar dos negócios de família.
– Eu faço meu melhor, mas fico feliz em saber que sirvo de exemplo para alguém.

Os dois riram.

– Venham, vamos entrar, tomar alguma coisa. Passaram muito tempo na estrada, descansem um pouco antes de falar de negócios.

olhou para sua equipe e acenou com a cabeça para seguirem.

– Mostre o caminho.

e De La Garza conversavam animadamente, Juan ouvia calado ao encalço do pai. O resto da equipe andava um pouco mais atrás e alguns homens do mais velho seguiam a certa distância.

– O que está achando da experiência? – Travis perguntou sorridente.

Pelo canto do olho, viu Andrew se aproximar curioso.

– Mais tranquilo do que eu imaginava. Eles parecem parceiros de longa data. – Ela gesticulou com as sobrancelhas para os três na frente.
– Eles têm uma boa relação de negócios desde o tempo do pai de no comando – Andrew falou. – veio pessoalmente falar com ele e conseguiu mostrar confiança. O De La Garza gostou da atitude dele em assumir os negócios.
– Pelo visto quer essa mesma atitude no Garzinha.
– Mas ele não parece ter muito o perfil – Travis comentou.
– Não mesmo – Andrew concordou.

deu de ombros. Encontrara um jeito de conseguir informações do cartel, agora precisava apenas de um tempo com ele.
No fundo do galpão havia uma instalação muito confortável com uma grande sala de jantar e cozinha. O jantar foi servido em clima descontraído entre a equipe de e alguns homens de confiança de De La Garza.
A comida estava ótima e quando a sobremesa foi servida, achou que não aguentaria, mas não resistiu à bela torta de maçã na sua frente. Foi só então que notou o olhar de Juan De La Garza sobre si. Ao perceber que ela o viu, deu um sorrisinho torto, fazendo-a erguer uma sobrancelha. Pelo canto do olho, olhou rindo distraído.

– A comida estava muito boa, senhor De La Garza – ela disse.
– Especialidade de um dos nossos homens, querida. – O velho sorriu. – Qual o seu nome mesmo?
. Denver.
– É uma mulher de coragem, senhorita Denver – ele pronunciou o sobrenome de um jeito engraçado graças ao seu sotaque. – Não é comum ver damas nessa área.
– Não sou exatamente uma pessoa comum. – Ela sorriu.
– Bem, se confia em você, então eu também confio.

O casal trocou um breve olhar e sorriu.

– Essa aí dá de dez a zero em muito macho, Luís. Pode acreditar – disse sorrindo torto.

O jantar terminou e Luís mostrou as acomodações onde à equipe passaria a noite. Voltar a essa hora seria arriscado, já que a viagem seria longa e só chegariam pela manhã.

– Sintam-se à vontade. Amanhã de manhã lhes levarei em um lugar para que se divirtam um pouco em meu país.

Pela animação dos homens, até desconfiava do que seria.
Quando o velho saiu, a equipe se dividiu. Eram três quartos com quatro camas cada, três ficaram em um, três no outro e e dividiam o terceiro, juntando duas camas de solteiro para formar uma e casal.
O quarto era extremamente simples, nada além das camas, cada uma com um criado-mudo, e uma janela que dava visão ao galpão. tirou a jaqueta, camisa e tênis, então se deitou na cama que não parecia exatamente confortável. tirou a jaqueta e as botas e se acomodou ao lado dele.

– Espero que essa não seja a surpresa que você tinha planejado – ela disse sorrindo.

Ele passou o braço por baixo dela, puxando-a para se deitar em seu peito.
– Não, não era. Mas um dia voltaremos ao México de forma mais apropriada, aí sim você vai gostar.

se apoiou no cotovelo para olhá-lo e sorriu. Sabia que esse dia não chegaria e vê-lo fazer planos com ela a deixava com um sentimento no peito que não sabia explicar. Então o acariciou os cabelos e beijou delicadamente seus lábios, mas ao sentir a mão firme de lhe apertar a cintura, o beijo se tornou mais sedento e ela se pôs em cima dele.
se sentou, posicionando-a melhor sobre si e deslizou as mãos da cintura à barra da camiseta dela, que foi retirada em um breve puxão. por sua vez desabotoou a calça de e o ajudou a tirar antes de se levantar para tirar a própria. Apesar do fogo que causava nela em um simples toque, ela fez isso lenta e provocativamente, atraindo o olhar de extrema luxuria do companheiro. Quando finalmente a peça saiu de seu corpo, ele sorriu e a puxou para cama, deitando por cima desta vez.
Ele começou a beijá-la devagar, mas com tanto desejo que deixava seu corpo implorando por mais. Ele foi descendo pelo queixo, pescoço e alcançou o busto. Depois de tirar o sutiã, deu longos beijos ali, então continuou descendo pela barriga de , fazendo-a agarrar a cabeceira de ferro da cama para controlar a ansiedade do que viria.
A boca de alcançou o ventre dela e com a ponta dos dedos começou a tirar a última peça de roupa que ainda a cobria. Devagar demais para a sanidade de . Ele lhe afastou as pernas, dando uma bela olhada na mulher totalmente entregue ali. O sorriso que lhe apareceu nos lábios foi uma perfeita mistura de luxúria com orgulho, como se tivesse o item mais precioso do mundo esperando por ele. quis sorrir de volta, mas se abaixou e começou a beijar seu ponto mais sensível, então naquele momento ela se esqueceu até de como respirar. Teve que fazer uma força imensa para lembrar que o resto da equipe estava nos quartos ao lado e que não deveriam ouvir o que estava acontecendo ali.
Seus olhos não conseguiam se manter abertos enquanto a língua de a tocava nos lugares exatos para lhe fazer chegar ao paraíso. Quando finalmente chegou ao orgasmo, ouviu a risada baixa de e sentiu sua boca fazer o mesmo caminho de volta a sua boca.

– Essa é minha garota, sem fazer escândalos. – Ele deu um sorrisinho safado e a beijou.

A mão de acariciou a coxa de e a puxou para a altura de sua cintura, então começou a penetrá-la, devagar, mas com força. Ela mordeu os lábios, sentindo alguns gemidos escaparem. observava seu rosto, se deliciando com cada expressão de entorpecimento.

– Você está se esforçando para me fazer gritar para todo mundo, não é? – ela meio falou, meio gemeu, enquanto ele ia aumentando gradativamente a velocidade.

deslizou os lábios e nariz pelo pescoço de , deixando-a sentir sua respiração descompassada e a arrepiando mais uma vez, então murmurou em seu ouvido:

– Estou testando eu controle.

A velocidade foi aumentando e os gemidos dela foram se tornando mais auditivos, então ela puxou a mão dele e tampou a própria boca. Não conseguia focar os olhos para ter certeza, mas sabia que deveria estar com seu melhor sorriso sacana pela cena.
As unhas de se cravaram nas costas dele enquanto ela o sentia se segurar para não apertar o rosto na tentativa de controlar os próprios gemidos. Ambos já estavam suados quando ela atingiu seu segundo ápice, mas ele continuou fazendo-a delirar ainda mais. Foi quando ele chocou seus quadris mais uma vez, soltando uma lufada de ar contra o pescoço dela, mostrando ter tido o seu orgasmo ainda dentro dela.
Mentalmente agradeceu por estar com seu anticoncepcional em dia, pois essa teria sido uma transa bem arriscada, o que ela tinha que admitir que deixava ainda melhor.



Capítulo 25 - Caminho de Volta

terminava de se vestir quando voltou de banho, graças à sua tendência a acordar cedo, conseguiu ser a primeira a usar o banheiro, agora uma pequena fila se formava no corredor para o mesmo.
– O café já está servido lá na sala de jantar – ela avisou, então lhe deu um beijo. – Te encontro lá?

sorriu e assentiu, colando seus lábios por mais um tempo.

– Já, já vou.

Alguns minutos depois e toda a equipe se encontrava lá, junto a alguns homens do cartel. Todos já tinham comido quando De Le Garza chegou.

– Espero que tenham gostados da hospitalidade – ele disse.
– Não poderia ser melhor – respondeu.
– Fico feliz. Venham, depois de uma longa viagem vocês merecem uns drinks e um pouco de diversão.

O grupo seguiu em suas motos o carro de Luís até um prédio de três andares no centro da cidade. Pessoas iam e vinham na rua seguindo sua rotina normal. Quando eles entraram no edifício viu a placa dizendo “Heaven serviço de acompanhantes e casa de massagem”.

– Sintam-se à vontade rapazes! – De La Garza abriu os braços e de imediato as moças foram receber os homens.

Uma de cabelos pintados de vermelho se aproximou de e apenas ergueu uma sobrancelha. Não estava enciumada, pelo contrário, geralmente confiava tanto em si mesma que não dava a mínima para uma qualquer aproximando de seus homens, mas esperou a reação do seu então namorado.

– Deixe-o receber uma massagem, querida – o velho mexicano falou ao seu lado. – Falarei com ela que não vai ser mais que isso.

a olhou esperando uma reação. andou até ele e falou baixo, olhando-o nos olhos:

– Se transar com ela, entro lá com um facão e corto suas bolas.

Ela então sorriu e o beijou calorosamente. Depois de se separar, lançou um olhar significativo para a mulher de cabelos vermelhos enquanto se afastava para o bar.

– Você tem uma hora – ela avisou, escutando o riso de atrás dela.

No bar, ela pediu um suco e pegou o celular onde começou a digitar uma mensagem para .

: Estou em um bordel, você acredita? Provavelmente do chefão aqui.
: Não sabia que gostava de umas prostitutas, . Hahaha!
: Sabe como é, todo mundo tem seus fetiches.
: Hahaha!
: Até o momento está tudo tranquilo, ainda não estamos com a mercadoria, mas acredito que esteja nos caixotes que estão no galpão onde passamos a noite.
: É provável. Tenho que ir aqui, mas qualquer coisa é só chamar. Mantenha contato.
: Ok, vai lá!

A hora passou, mas não foi realmente conferir o que estava fazendo com a ruiva no quarto, nem ligava na verdade. O almoço foi servido quando todos já estavam na mesa, De La Garza e o filho se juntaram dessa vez. A tarde passou rápido e logo eles voltaram para o galpão.
Se formou uma mesa de poker na sala de jantar e a maioria dos homens que não jogavam, estava assistindo.
já estava entediada com aquilo quando resolveu dar uma volta. Alguns minutos depois e ela ouviu passos atrás de si. Em um milésimo de segundo, a agente girou já sacando a arma.

– Calma aí, moça! Sou eu – Juan apareceu das sombras com as mãos espalmadas na altura do peito.
– Nunca te disseram que é falta de educação seguir os outros assim em silêncio?
– Na verdade, não, mas eu geralmente não escuto a lição dos outros, então... – Ele deu de ombros, fazendo-a revirar os olhos.

guardou a arma e deixou ele se aproximar.

– Estava procurando alguma desculpa para falar com você, mas não consegui pensar em nada bom o suficiente. – O sotaque de Juan fazia ele ainda mais charmoso, apesar de desconfiar que ele fosse alguns anos mais novo.
– Um “oi” já está bom.
– Para pessoas comuns, sim, mas você não é uma pessoa comum.

riu. Ele se lembrara da breve conversa que ela tivera com seu pai no jantar passado.

– Então faça uma pergunta qualquer, mas aviso logo que a cada pergunta sua, eu tenho direito a outra.
– E é assim que se começa uma conversa. – Ele sorriu. – Está a fim de conhecer o galpão?

sorriu e assentiu. Os dois começaram a caminhar conversando sobre qualquer besteira até entrar nos assuntos de negócios.

– Mas então, , há quanto tempo está com a equipe do Walker?
– Alguns meses. Comecei trabalhando na oficina e fui subindo de cargo, por assim dizer.
– Você é mecânica?
– Modéstia a parte, uma muito boa. Posso montar e desmontar um carro antes de você falar papibaquigrafo.
– Pa- o quê?

Os dois riram.

– E você, como veio parar no meio disso? Trabalha com seu pai ou simplesmente o acompanha por aí? – Ela apontou para os caixotes onde imaginava está as drogas.
– Estou... entrando nos negócios. Nunca fui muito ligado nessas coisas, minha mãe sempre gostou de me manter à distância. Mas desde que meu pai conheceu o , ficou admirado com a perseverança dele em assumir o que o pai deixou. Começou a me introduzir nessa vida.
– Não parece muito feliz com isso.

Juan suspirou.

– Digamos que não é meu sonho de carreira.
– Entendo. O que você realmente gostaria de fazer?
– Você vai rir se eu disser.
– Claro que não, pode falar.
– Bem... eu gosto de cantar. – Ele sorriu sem jeito. – Sempre gostei.

De repente Juan parecia ainda mais jovem, apesar de seu corpo claramente mostrar a maturidade de uns 25 anos.

– Por que achou que eu riria disso?
– O filho de um gangster querendo seguir carreira de cantor? Qual o sentido nisso?
– O que seu pai é, não te define.
– Diga isso para o resto do mundo.

tentou lhe dar um sorriso de consolo e lhe acariciou o ombro, então deu um passo para trás e sorriu mais.

– Deixe-me ver se você é bom nisso.
– Sério?
– Seríssimo! Cante para mim, bebê.

Ele passou a mão na cabeça e riu.

– Vou cantar uma em espanhol porque minha voz sai menos feia.
– Sinta-se à vontade.

Juan limpou a garganta e começou:

Si es amor abrázame con ganas, si no lo es tal vez será mañana. Estando juntos mi mundo se llena de luz... Lo mejor de mi vida eres tú.¹

ergueu as sobrancelhas e aplaudiu.

– Uau! Você é bom. Podia virar cantor de reggaeton, faria sucesso.
– Valeu. Se eu conseguir, meu primeiro CD gravado será enviado autografado para você.
– Fico lisonjeada.

riu e ele acompanhou, mas logo suspirou desanimado.

– Você devia insistir no seu sonho, Juan.
– Meu pai nunca permitiria. Depois que minha mãe se foi, eu perdi meu único apoio para me manter fora dessa bagunça toda.
– Sinto muito por isso.
– Tudo bem, estou aprendendo a lidar.
– Mas se quiser minha opinião... você já é bem grandinho. Tem que fazer o que é o melhor para você e não para ele. A vida é sua.

Ele assentiu pensativo e humedeceu os lábios. Então sorriu para e a abraçou.

– Obrigada, você é uma ótima psicóloga.

retribuiu, sentindo o ótimo perfume do rapaz, então se afastou sorrindo.

– Se nada der certo, talvez eu tente essa carreira. – Ela deu de ombros.

A alguns metros atrás de Juan, alguém falou:

– Atrapalho algo?!

Juan girou para o lado dando espaço para ver um furioso ao lado de Luís De La Garza. Ele começou a se aproximar, sua postura tão ameaçadora quando a de um lobo prestes a atacar sua presa. Imediatamente previu o que estava por vi e tentou acalmar a situação.

– A gente só estava conversando, !

Mas ele sequer se deu o trabalho de ouvir e voou direto contra Juan, lhe acertando um belo soco no olho. o pegou pela gola da blusa e lhe socou mais uma vez, fazendo o mexicano cambalear para trás. Com o impulso, Juan tentou continuar se afastando, mas ainda marchava contra ele.

– Acha legal ficar de papo com a mulher dos outros sozinho, cabrón?
– O quê? – Juan mantinha as mãos esticada entre os dois em defesa. – Eu não sabia que ela era sua mulher, cara.
– Nem se quer tentou perguntar também, não é?

sacou a arma e de imediato se jogou na frente dele, puxando seus braços para baixo e o empurrando na direção contrária à do rapaz, enquanto isso Luís corria para se meter entre os dois.

! – repreendeu.
– Ei, ei! Vamos acalmar aqui – o mais velho gritou. – Nada de armas!

estava bufando de ódio, mas só encarava a um Juan ainda estático, que limpava o sangue da boca. No exato momento, tanto os homens do Walker quando os de De La Garza apareceram com suas pistolas em mãos.

– Não vamos estragar as relações por um mal-entendido – Luís falou. – Ninguém quer um banho de sangue aqui, não é?
, se você atirar nele, nenhum de nós sai daqui vivo – sussurrou, segurando os dois braços dele.

Ele finalmente a olhou nos olhos, nada amigável, mas guardou a pistola. Ela o soltou, sentindo o coração bater tão rápido que parecia querer atravessar o tórax.

– A gente conversa depois – ele disse entre dentes. – Vá com o resto da equipe.

Se fosse em qualquer outra situação, jamais aceitaria a ordem de daquele jeito, mas no momento, provocá-lo só iria colocar todos em risco, então suspirou e assentiu.
Luís dispensou seus homens e acenou para Travis que entendeu o recado e conduziu , com a mão em suas costas, em direção à sala de jantar com o resto da equipe. Antes de virar em uma das pilhas de caixotes deu uma última olhada para trás, bem a tempo de ver Luís dar uma bofetada no rosto do filho.
Droga!


– Que porra você estava fazendo? – Travis perguntou ao chegarem.
– Juan só estava me mostrando o galpão. nos viu conversando e surtou.
– Porra, !
– A gente só estava conversando! – ela frisou.
– Não importa se estavam conversando ou lendo a bíblia, você sabe como é!
– Não, Travis, eu não sei! E nem acredito que ele ficou putinho só por me ver falando com outro homem.
– Vocês estavam sozinhos, , há minutos!

suspirou e levantou a mão direita, mostrando o anel de falange no dedo anelar.

– Está vendo isso aqui? Símbolo da nossa oficialização.
– Então finalmente se assumiram.
– Supostamente sim... mas se ele não tem confiança em mim, para que droga me deu isso?! Para que oficializar desse jeito?

Travis abriu a boca para responder, mas olhou algo sobre o ombro de e mudou o que falaria:

– Melhor perguntar para ele.

virou e encontrou a um metro dela. Ele a lançou um olhar que a fez estremecer, mas não respondeu à pergunta, então se virou para o resto da equipe.

– Vamos pegar a carga e dividir nas motos, partimos assim que tiver tudo pronto.

Todos assentiram, sentindo o mau-humor do chefe, e de imediato seguiram os homens de De La Garza para pegar o carregamento. Alguns minutos depois e as motos estavam cheias, esperando no pátio do galpão. Toda a equipe já estava pronta para sair, apenas se despedindo de seus colegas e amigos dali.
e Luís se deram as mãos e trocaram um abraço.

– Me desculpe por isso, não era minha intenção causar problemas – disse.
– Tudo bem, filho – De La Garza falou. – Espero que não estrague as relações.
– Não. Está tudo tranquilo entre nós.

O mais velho sorriu.

– A próxima entrega vai acontecer normalmente, não se preocupe.

sorriu e assentiu.
Apesar de saber do risco que isso seria, se aproximou de Juan, que estava um pouco mais atrás. Havia um corte na sua boca e seu olho esquerdo estava levemente roxo.

– Você é louca, sabia? – ele disse ao vê-la próxima. – Seu namorado vai surtar.
– Ele não é meu dono! E eu só vim me desculpar, não sabia que ele reagiria desse jeito.

Juan balançou a cabeça, negando as desculpas.

– Relaxa. Acho melhor você ir, ele já está olhando.
– Ok. Mas me prometa uma coisa, não desista do seu sonho, está bem?

Ele riu sem humor.

– Me prometa! Ou vou voltar aqui e causar uma confusão ainda maior entre nossas equipes.

Juan a olhou, mas sorriu.

– Eu prometo.

sorriu e estendeu a mão para ele, que ao pegar sentiu um pequeno papel enrolado.

– Caso precise do incentivo de alguém.

Ele assentiu e colocou as mãos no bolso, guardando ali o número de . Ela então deu meia-volta e se sentou em sua moto, sendo acompanhada por vários pares de olhos, incluindo os fulminantes de .

– Ponha rédeas na sua mulher, filho – De La Garza falou sem fazer questão de que ela não escutasse.

quis socar a cara daquele mexicano, mas se limitou a lançá-lo um olhar frio de onde estava. Tinha a impressão de que não havia recebido a benção do “poderoso chefão”.
apenas assentiu e lançou um último olhar para Juan, que se mantinha de cabeça baixa.

– Até mais ver, mano.
– Até, jovem Walker.

montou na moto e liderou a partida, atrás do grupo, ia um carro com três homens de De La Garza para escoltá-los. Assim que saíram dali, o barulho dos motores fez o cérebro de esquecer das últimas horas e focar apenas na estrada, que iria ser ainda maior e mais complicada do que a de ida.
Mas ela nem ligava, como sempre estava em seu lugar.


Foram duas horas sem paradas. Depois de saírem da estrada, pegaram um caminho de terra que, com certeza, era usado por traficantes das mais diversas coisas... e pessoas. Não havia luz alguma além do farol das Harleys, a lua hoje não aparecera e deixava o brilho a cargo das estrelas. A visão era linda, sentia vontade de parar e apenas admirar por um tempo, mas não era nem um pouco possível.
Mais alguns minutos e então havia faróis à vista, justamente na parte da fronteira onde havia um rombo na barreira. O farol alto não os deixou identificar de primeira. Ao pararem, dois homens se aproximaram, e reconheceu os policiais que os deixaram atravessar na ida.

– Imaginei que passariam por aqui – ele disse com um sorriso falso no rosto. – Fugindo do pedágio?
– Passar por lá não era a melhor estratégia, se é que me entende – respondeu.
– Claro! Bem, mas eu já havia lhe avisado. A não ser que tenham o triplo do valor de ida, sinto informar que não poderão atravessar.
– O triplo? – riu com desprezo. – Vocês policiazinhos estão ficando muito ambiciosos.

Um dos homens do cartel desceu do carro e se aproximou falando:

– Melhor deixá-los passar, cabrón. Ordens de De La Garza.
– Vou deixar claro para vocês – o policial falou. – Não dou a mínima para quem é seu chefe! Temos um caminhão tampando a barreira ali e reforços de ambos os lados a caminho, se eu não os ligar avisando que é engano, estarão aqui em poucos minutos e vocês todos rodam. Então é melhor manter isso calmo, não?

olhou para o homem do cartel, mas assentiu para o policial.

– Certo. Vou pegar o dinheiro.

Ele lentamente abriu o zíper da jaqueta e colocou a mão dentro, então em um segundo puxou a arma e disparou contra o policial. O outro guarda tentou reagir, mas ao sacar sua pistola, foi atingido no meio da testa pelo mexicano.

– Merda! – murmurou.
– Tirem a porra desse caminhão da frente – ordenou.

Crash procurou nos bolsos de um policial enquanto Max olhava no outro, quando achou à chave ele ligou o automóvel e o tirou da frente do buraco que lhes dariam acesso.

– Não vai dar tempo de cuidar dos corpos – o mexicano disse. – Vão logo!

assentiu e lhe deu um aperto de mão.

– Vamos embora!

Todos correram para suas motos e o seguiram através da fronteira. tinha que se concentrar muito na estrada para não remoer o que tinha acabado de acontecer. Mas não precisou se preocupar por muito tempo, pois logo apareceram quatro pares de faróis em seu caminho. apontou dois dedos para cima e fez um movimento circular. Dispersar.
Eles aceleraram e passaram pelos carros da polícia que ligaram suas sirenes e giraram violentamente para os seguirem. escutou os tiros vindo deles, que logo foram revidados por aqueles que estavam mais atrás no grupo de motos. Um acertou no pneu de um dos carros que perdeu o controle e capotou.
O grupo conseguiu entrar na cidade e cada um pegou uma rua. Todos sabiam para onde ir, mas cada um seguiria seu caminho. Por sorte, não foi uma das pessoas a serem seguidas, mas sabia que logo haveria mais reforços.
pegou os caminhos mais alternativos possíveis e acabou encontrando com Andrew. Já tinha perdido a noção de quantas voltas deram até conseguirem chegar ao ponto de encontro, tendo certeza que não estavam sendo seguidos.
Ao entrarem, encontraram com Travis e Drake.
O ponto de encontro, onde todo mundo se referia como “Químicos”, era uma academia de luta que no momento estava fechada. Todo mundo se manteve calado, ansiosos por sinal dos outros.
Oliver foi o primeiro a chegar deles. Seu braço estava sangrando, provavelmente atingido por alguma das balas.

– Droga! – Travis correu para ajudar. – Drake, chame os irmãos.

Minutos depois apareceram pela porta aos fundos três loiros de cabelos cacheados, dois homens e uma mulher. A moça já estava com uma mala de primeiros-socorros nas mãos e correu para Oliver, gritando ordens para os outros dois.

– Quem são esses? – perguntou para Drake, enquanto assistia a menina retirar a bala do braço do homem.

– Os Químicos.

o olhou confuso.

– São eles que multiplicam a droga, . A que trazemos está pura, eles conseguem quadriplicar isso.
– E então o quê?

– Então entregamos para os distribuidores e pegamos nossa grana.

O olhar dela o fez rir.

– Acho que o não te explicou os detalhes. Nós não vendemos, , só transportamos. Claro que na nossa cidade quem distribui tem que pagar as taxas para não ter seu negócio destruído pela polícia e para garantir território, mas nós só cuidamos para a melhor mercadoria chegar lá e, é claro, darmos um jeito de aumentar nossos lucros. Pagamos uma porcentagem ao cartel, algo não muito significativo já que fomos nós que descobrimos os trigêmeos maravilha.

assentiu.

– Até as armas que atravessam por lá, passa por nós primeiro. Nada entra em O’Village sem nosso consentimento, sendo legítimo ou não.
– E de tudo tiram vocês uma fatia – ela concluiu.
Nós – ele corrigiu. – Você é uma de nós agora, . Se está aqui é um sinal claro da confiança de em você.

Ela assentiu e voltou a assistir a loirinha terminar de dar um ponto em Oliver.
Quase uma hora depois, chegou com Andrew e Crash, todos os três com sangue respingado em suas roupas, o último parecia ter rolado na terra. gelou antes mesmo de explicarem o que aconteceu.

– Dois deles conseguiram fechar Crash – disse. – Quando vimos, Andrew e eu chegamos atirando. Escondemos os carros em um estacionamento com os corpos dentro.
– Eram quantos? – perguntou.
– Quatro – Andrew respondeu se sentando.

Seis policiais mortos em uma só noite. Todos eles com famílias e amigos. Claro que dois deles não eram exatamente os mais corretos em sua moral, mas ainda assim, não era o jeito que deveriam pagar.
se afastou e se sentou em um dos bancos ao fundo da academia. Ela passou a mão nos cabelos, então apoiou os cotovelos sobre as coxas e deixou a cabeça pender sobre as mãos. Merda! Isso não devia ter acontecido.
Ela ouviu passos de alguém se aproximando, mas não fez questão de olhar, já imaginava quem seria.

– Não planejamos assim – disse. –, mas foi necessário.

ergueu o tronco e encostou na parede, então assentiu ainda sem olhá-lo.

– Só estou cansada, quero ir para casa.
– Vamos ter que esperar para voltar amanhã. Ligarei para alguém trazer o caminhão para buscar as motos e dois carros para nos levar.

assentiu novamente e se levantou, mas quando ia sair, a pegou pelo braço.

– A gente precisa conversar.
– Agora não – ela o cortou, então se afastou ainda mais do grupo.

¹ Ricky Martin - Lo Mejor de Mi Vida Eres Tú



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