Última atualização: 27/10/2019

*ATENÇÃO!

Essa história trata de tentativa de estupro e suicídio, que podem ser gatilhos para muitas pessoas. Se você é sensível a algum desses conteúdos, por favor, não leia.

Prólogo

O registro foi fechado e a água parou de correr livremente pelo chuveiro. saiu do box, já se enrolando com uma toalha e foi para o quarto. Antes que pudesse abrir o guarda roupa, encarou seu reflexo no espelho, sentindo sua respiração pesar.
Ela odiava aquele espelho, porque ultimamente odiava seu reflexo. Olhar para si lhe trazia lembranças horríveis, que ela preferia esquecer.
Respirou fundo e encarou todas as marcas daquele fatídico dia. Se lembrava de quase tudo, principalmente das sensações horrorosas, do medo, do desespero, da vontade de morrer.
Seu corpo carregava consigo as marcas de tudo que tinha lhe acontecido. Seus braços, pernas e barriga estavam arranhados, as unhas da mão estavam arroxeadas devido ao modo como foram forçadas, sua testa tinha um corte enorme e o pescoço tinha um grande roxo que rodeava toda aquela parte sensível, lhe lembrando constantemente do dia que ela quis desistir de tudo.
Mesmo com tantas marcas horríveis, sabia que a pior delas estava dentro dela. E essa ninguém conseguia ver, somente ela.


Capítulo 1

O consultório da doutora Smith era completamente branco, com exceção de algumas flores e plantas que decoravam o ambiente. A música clássica tocava baixinho e, para , só deixava tudo mais entediante.
Aquele não era seu tipo de ambiente. Ela sempre gostou das festas, da música eletrônica, dos festivais muvucados de gente, dos shows de rock. Nada daquela calmaria lhe chamava a atenção, pelo contrário, só lhe dava mais sono.
- Você prestou atenção em algo que eu lhe disse, senhorita Wright? – A psicóloga indagou, fazendo com que a garota voltasse sua atenção para ela.
- Desculpe – disse. – O que foi?
- Você precisa comer, – ela sorriu. – As enfermeiras me disseram que você não tem se alimentado e isso não é nada bom.
- Eu não tenho fome – deu de ombros, querendo correr daquele lugar.
- Eu sei que não, mas precisa tentar, nem que seja um pouco – suspirou. – Eu estou falando isso para o seu bem.
- Eu não tenho fome – repetiu, rolando os olhos.
Rolou os olhos, irritada. Não tinha fome, só queria dormir pelo tempo que fosse possível. Sua cabeça doía levemente e aquele branco já estava deixando-a sufocada.
- Eu sei que você não gosta daqui – a doutora disse e a garota riu debochada.
- Descobriu o mundo? – indagou encarando a médica.
- Não foi preciso, a maioria dos pacientes não gostam – respondeu. – Não é exclusividade sua.
- Então o problema está em vocês, não na gente.
- Não é isso que eu quero dizer – a mais velha disse. – Você não gosta daqui e quer sair, certo? – assentiu. – Você só vai receber alta quando melhorar e, se não comer, nunca vai apresentar melhora. – Smith sorriu. – Eu só quero seu bem, senhorita Wright. Eu estou do seu lado!
Antes que ela pudesse responder, o relógio apitou, indicando o fim da sessão daquele dia. suspirou, dando graças a Deus que aquele inferno tinha acabado. Levantou-se e foi em direção a porta, sem se importar em responder o tchau da doutora.
Assim que passou para o lado de fora, a enfermeira Brigitte já a esperava, para acompanha-la para o quarto. Caminharam em silêncio pelos corredores, escutando os gritos dos pacientes que não tinham controle das suas faculdades mentais, o que era completamente o oposto de . Aliás, bem que ela queria se desligar desse mundo, sem saber o que se passava ali, sem lembranças de quem era ou do que tinha lhe acontecido.
Mas esse não era seu caso. E ela estava fadada a lembrar-se de tudo, sempre.
Quando seu corpo finalmente entrou em contato com sua cama, ela agradeceu mentalmente. Era a única coisa que ela gostava em todo aquele hospital. Ali ela sentia que estava segura, onde podia chorar, desabafar e sofrer, sem que ninguém lhe incomodasse.
- Eu vou deixar você descansar um pouco, mas mais tarde vou trazer sua comida, – a enfermeira disse. – E eu espero que você coma.
A porta foi fechada e a mais nova respirou fundo. Virou-se para o lado, jogando a coberta por sua cabeça e fechou os olhos, desejando estar em qualquer lugar, menos ali.
Não demorou muito para que caísse no sono, mas não pode permanecer muito tempo naquele estado, pois logo ouviu alguns barulhos em seu quarto, que lhe despertaram.
Bufou, perdendo a paciência consigo mesma. Antes tinha o sono pesadíssimo, mas agora qualquer barulho já lhe acordava. Quando percebeu que não com conseguiria voltar a dormir, abriu os olhos, se remexendo na cama. Encontrou Brigitte depositando uma bandeja em seu criado mudo. A enfermeira a olhou, sorrindo.
- Oi, querida. Eu trouxe o lanche que prometi – disse, apontando. – Vamos tentar comer algo? Nem que seja só um pouquinho.
- Eu não quero – a encarou.
- Por favor, , é para o seu bem. – Respondeu. – Não precisa comer tudo, mas aceita só um pouquinho.
- Eu estou sem fome – deu de ombros. – Por favor, Brigitte, leva isso daqui, só o cheiro já me enjoa.
A enfeira respirou fundo e a encarou.
- Vem comigo – disse, caminhando em direção à porta.
- Aonde você vai me levar? – perguntou se sentando na cama.
- Só vem comigo, você vai gostar – sorriu e a acompanhou.
Passaram pelos corredores em silêncio, até que a enfermeira abriu uma porta e indicou para que a garota entrasse. Quando passou pela porta, vasculhou o local com os olhos e sentiu seu coração disparar de felicidade.
Lá no fundo, escorado em uma coluna, estava a melhor pessoa do mundo. Wright, seu irmão. Sorriu abertamente e correu até ele, agarrando seu pescoço e se jogando em cima dele. Quando sentiu os braços dele a apertarem em um abraço, sorriu ainda mais, fechando os olhos para abraçá-lo.
As mãos do rapaz foram embrenhadas em seu cabelo, fazendo um carinho gostoso, que ela sentia tanta falta. O bolo de lágrimas apertou sua garganta e ela fungou, se aninhando ainda mais em seu abraço.
- Não chora, meu amor – ele disse baixo, sem parar o carinho que fazia na irmã.
- Que saudade de você – disse, passando o nariz pelo pescoço do irmão, sentindo o cheirinho de casa que ele tinha.
- Também estava com saudades, desculpa não ter vindo antes – pediu e depositou um beijo na bochecha da irmã. – Mas agora eu estou aqui e quero saber de tudo... Como você está?
- Bem – mentiu. – E você?
- Estou bem – beijou sua bochecha mais uma vez e a puxou para sentar. – Me conta mais sobre como você tem passado.
- Tudo certo, – deu de ombros. – Mas eu quero ir embora logo.
- Eu sei, meu amor – ele sorriu. – Eu também quero que você volte logo, mas esse tempo aqui é necessário – entrelaçou sua mão à dela. – Tudo que aconteceu foi muito pesado, quando você voltar, quero te ver bem.
- Espero que isso seja logo – respirou fundo. – Não aguento mais.
- Mas enquanto você não volta, eu trouxe uma coisa – ele disse, sorrindo.
- O que? – indagou, curiosa.
O rapaz se esticou por cima da mesa e pegou uma sacola de papel do outro lado. tinha ficado tão animada por ver o irmão, que nem havia percebido que havia algo em cima da mesa.
Era uma sacola de um restaurante, que ele colocou em frente à garota e sinalizou com a cabeça para que ela abrisse. tirou de lá um pote com a salada que ela gostava e outro com um salmão. Uma garrafa com suco e um pote com um doce.
- Passei naquele restaurante que você gosta e comprei para você - sorriu. - Você ainda gosta né?
- Gosto, mas estou sem fome - a Wright disse, empurrando a salada para longe.
- Poxa, meu amor, come só um pouquinho - pediu, mas viu a irmã negar.
- Obrigada, , mas eu realmente estou sem fome - sorriu amarelo e passou a mão pelos cabelos.
- Quer que eu peça para que eles guardem para depois? - indagou e viu ela negar.
- Não vai ficar tão bom - deu de ombros. - Come você.
- Eu já comi, mas me disseram que você não anda comendo - disse, preocupado.
- Então você só veio me ver por causa disso? - indagou.
- Claro que não, mas eu fiquei preocupado.
- Faz três semanas que você não vem me ver e quando vem é porque esses médicos idiotas te ligaram dizendo que eu não estou comendo? - indagou, brava.
O tom de já não era mais calmo e denunciava toda sua raiva pelo que estava acontecendo. andava ocupado demais para visita-la, mas para ir controlar sua alimentação ele tinha arranjado tempo. O choro já estava entalado na garganta e ela já sentia o coração disparado.
- Você sabe que eu sou muito ocupado, mas estou sempre arrumando tempo para você, - o rapaz tentou se justificar, mas ela riu irônica e rolou os olhos.
- Eu tentei ser compreensiva, . Sei que você é um engenheiro importante e tem suas obrigações, sei que não é fácil ter uma irmã doente como eu, mas como eu vou acreditar nisso se você some e me aparece aqui para me forçar a comer? - passou a mão pelos cabelos, sentindo sua calma se esvair.
- , me escuta. Eu tenho sim, muita coisa para fazer, mas você sempre vai ser minha prioridade. Me desculpa se eu te fiz sentir de outro jeito, mas eu realmente fiquei preocupado quando me disseram que você não estava comendo - disse e tentou segurar as mãos da irmã, mas ela se levantou, não deixando ele a tocar.
- Vai embora, - pediu, sentindo as primeiras lágrimas começarem a rolar.
- ...
- SAI DAQUI, ! ME DEIXA SOZINHA, SOME DAQUI, EU NÃO QUERO TE VER! - gritou e esticou a mão, jogando os potes de comida para longe.
A porta do salão foi aberta com rapidez e a enfermeira Brigitte entrou acompanhada de dois enfermeiros. Os três caminharam na direção da garota, que ainda gritava com o irmão.
não conseguia se controlar. Sempre fora muito impulsiva e agora estava ali, completamente sem controle. Em momentos como esse realmente achava que estava perdendo o juízo e era isso que tinha mais medo.
Seu braço foi agarrado por um dos enfermeiros e ela se remexeu incomodada, tentando se soltar.
- Calma, , respira - Brigitte pediu, mas a garota não ouviu.
- ME SOLTA, ME LARGA!!! - continuou berrando. - ME LARGA AGORA, DEIXA EU IR, > ME AJUDA!
O irmão assistia à cena com os olhos marejados, sentindo seu peito se apertar cada vez mais por vez o estado da irmã. Brigitte preparou a injeção de sedativo, enquanto os dois seguranças tentavam controlar a garota, que se remexia e gritava.
- NÃO, EU NAO QUERO DORMIR, POR FAVOR NÃO! - gritou assim que viu a injeção. - , POR FAVOR, NÃO DEIXA!
Com o coração despedaçado, assistiu a irmã levar a injeção e se debater ainda mais, até que o sedativo começasse a fazer efeito. Quando seus olhos estavam quase fechando, ele se aproximou, a pegando nos braços, sentindo seu rosto todo marejado.
- Desculpa, meu amor - pediu e beijou sua testa. - Eu te amo!
Quando adormeceu, ele acompanhou a enfermeira até o quarto e a colocou na cama, ajeitando o travesseiro debaixo de sua cabeça e a coberta em cima dela. Depois, deu mais um beijo em sua testa e acariciou seu rosto, que agora parecia tão sereno, completamente diferente de minutos atrás.
Suspirou pesadamente e se levantou, indo embora com o coração despedaçado.




Continua...



Nota da autora: Sem nota.





Outras Fanfics:
Avec Amour, Votre Altesse [Shortfic - Finalizada] | 04. If You Could See Me Now [Ficstape The Script]


Nota de Beta: Achei bem interessante esse início, Má. Estou muito curiosas pra saber pelo que ela passou pra estar nessa situação. Fiquei bem sentida com a relação dela com irmão e commo parece que ele não dá importância. Quero mais o quanto antes.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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