Acordei ao som despretensioso de algo zumbindo na tevê. Meus olhos não encontraram lucidez suficiente para serem abertos e encarar a tela, então me permiti apenas ouvir, sem quaisquer tipos de comprometimento e vontade de acordar; minha cabeça deitava tonta no travesseiro, minha cama inteira era tão quente e aconchegante, o que deixava em segundo plano o que algum repórter qualquer tamborilava ao redor dos acontecimentos recentes em Nova York. — Anos após o atentado, famílias ainda... Assassinato de um universitário colombiano... Estupro coletivo como multa a uma mulher indiana infiel... A Bolsa de Valores... Times Square... George Bush... Drogas ilícitas e posse de armas...
“Feliz Ano Novo”, eles haviam dito, mas tudo continuava a mesma palhaçada absoluta de sempre.
Entorpecido e sonolento, virei meu corpo no colchão, puxando a coberta para me afundar sob o tecido pesado e aquecido, mas percebi uma forma ainda mais cálida ao que estendi meus braços em busca de conforto.
Alguém estava dormindo comigo.
Desta vez abri os olhos, atordoado, e tive que esfregá-los com meus punhos para me situar: numerosas mechas ruivas enfeitavam a fronha branca do travesseiro ao meu lado, enquanto a nuca deliciosamente exposta e feminina movia-se devagar enquanto ela se ajeitava na minha cama. Ela, dona dos cabelos ruivos que eu reconheceria entre milhões. Eu ainda estava tentando raciocinar o fato de que ela havia dormido ao meu lado, comigo, quando seu cheiro cítrico inconfundível impulsionou-se para dentro de minhas narinas, dilatando-as como por instinto. Todo o meu corpo reagiu, fraco demais para conter seu comportamento ingênuo — pois era assim que ela me fazia sentir: ainda mais tonto do que eu já era, um rapaz de 24 anos com uma carga simplória nas costas, desarmado o suficiente para lidar com sua existência de maneira adulta e coerente.
Seu nome? . A conhecia há dois anos, uma vez que ela sempre aparecia em casa para fazer os trabalhos da escola com , meu irmão mais novo. Durante todo aquele tempo, era isso o que ela havia sido pra mim: a amiguinha do , de voz suave, sempre disposta a fazê-lo rir em situações estranhas. Ela sempre prendia o cabelo ruivo num coque desleixado e vestia camisetas pretas com estampas engraçadas. Meu pai a adorava, minha mãe a idolatrava. Sempre que dizia que estava vindo passar a tarde com a família, minha mãe me fazia parar o que fosse que eu estava fazendo para arrumar a sala, além de me obrigar a arrumar meu quarto, que ficava no porão — o último lugar do mundo ao qual ela iria.
— Por que eu tenho que arrumar meu quarto se ela nem vai entrar nele? — eu perguntava. Não entendia o porquê tinha que me esforçar tanto para ficar apresentável pra ela, já que ela não era minha amiga. Era amiga do , ele que arrumasse as coisas.
Mas não! Pobre ! Ele tinha que estudar e, além disso, estava ocupado demais fazendo os cookies que a gostava.
Eu odiava aqueles dias. Odiava tanto que me trancava no porão e só saía quando precisava comer alguma coisa ou quando já havia ido embora. Enquanto desenhava, ficava atento à sua voz no andar de cima, esperando que ela fechasse a porta e só aparecesse na semana seguinte. Talvez eu tivesse pensado algumas vezes sobre o que ela pensava sobre mim. Devia me achar o “irmão estranho do ”, ou pensar que eu não dava a mínima para ela, o que era bom — e quase verdade. Além disso, ela nunca havia tentado ter algum tipo de conversa comigo...
Até a noite anterior.
A leve pontada de dor no canto esquerdo da minha cabeça foi traduzida como uma recordação carinhosa sobre a bebedeira da noite passada. Cerveja, doses de vodca, tequila... Eu havia misturado muitas coisas e vomitado no banheiro da casa da Aggie, segurando na privada como se fosse a minha válvula de escape e tentando manter meus cabelos longe do rosto para não deixá-los piores do que já estavam. Péssima ideia, . Você vai acabar se matando assim... Lembrei-me de ter rido por longos minutos até que alguém quisesse usar o banheiro, batendo na porta repetidas vezes, dizendo que precisava mijar. Dei descarga, minha visão totalmente fora de ordem, e usei aqueles enxaguantes bucais importados que só os pais da Aggie faziam questão de comprar para enfeitar seus hoteizinhos. Ricos e idiotas, pensei ao sair do banheiro, deixando as honras para a garota desesperada que entrou depois de mim.
Eu sabia que estava em algum lugar da festa, mas não tinha nenhuma intenção de procurá-lo. Porra, aquela era a festa da qual todo mundo estivera falando o ano passado inteiro, comentando sobre como Aggie Millers havia manipulado os pais a cederem um prédio inteiro de sua rede de hotéis para sua festa de aniversário na primeira semana de janeiro. E aquela ideia estava funcionando. Eu podia ouvir a música alta — qualquer babaquice que esses cantores ruins de hoje em dia gravam —, os barulhos frenéticos na piscina gigantesca e a gritaria de adolescentes famintos por diversão. Berros, coisas quebradas, pessoas procurando o banheiro mais próximo, muita bebida e muita, muita gente. Eu parecia um fantasma ali no meio, vestido de preto, tonto, rindo por dentro inteiramente sozinho enquanto todos os outros buscavam companhia ou fosse lá o que. Ouvi meu nome algumas vezes, mas não me importei em responder. Não estava a fim de conversar com ninguém.
Cambaleando pelos níveis superiores, obrigando meus pés a subirem um degrau atrás do outro, fui parar no terraço, que por alguma graça divina estava vazio; nada de música ruim, nada de gente me chamando, apenas uma grande banheira redonda que soltava vapor, mais nada. Ninguém, ninguém. Era só o que eu precisava para finalmente tirar o maço de cigarros do bolso da jaqueta e procurar tentativamente pelo isqueiro velho nos bolsos até encontrá-lo. Quase o havia perdido mais uma vez para o buraco no bolso dos meus jeans. Merda. Precisava costurar aquela droga mais tarde.
Não havia nada de extraordinário naquela noite. O único motivo de eu estar ali era porque precisava vir acompanhado... É claro que ele havia trazido , o que, para os meus pais, não era o suficiente. Se queria ir, ele precisava ir com uma companhia adulta. Isso dava a mim, , a responsabilidade de levá-los — sim, os dois — no meu Subaru XT, ouvindo-os cantar alegremente no banco traseiro do meu carro enquanto eu tinha que prestar atenção nos semáforos e nos idiotas bêbados de Jersey tentando dirigir e me ultrapassar, tentando mostrar suas bundas brancas nas janelas, como se eu fosse me ofender com tudo aquilo. Mesmo assim, não estava em meus planos esperar pelo meu irmão e sua amiguinha enquanto se divertiam, é claro, então decidi eu mesmo clarear as ideias e beber um pouco, até que um pouco virou muito e eu precisava deixar a sensação passar se quisesse trazer as duas crianças de volta para casa, sãs e salvas — do jeitinho que meus pais esperavam que eu fizesse.
Ri sozinho de novo, pensando na merda que havia feito. Precisava urgentemente de uma Coca-Cola. Minha cabeça estava girando. O céu parecia ter mais estrelas do que tinha. Ou menos... Ou mais... Ou...
Sentei-me à borda da banheira que estava cheia, sentindo a umidade quente que desprendia da água. Quase fui tomado pela vontade de me afundar ali, mas contive a mesma ao prender um cigarro entre os lábios e acendê-lo, dando uma longa tragada. Meu corpo relaxou instantaneamente, acostumado com o ato. Dei uma rápida checada nos bolsos, encontrando a chave do carro ali com um suspiro de alívio. Eu tendia a fazer besteiras quando enchia a cara, e nenhum dos meus amigos estava ali para me ajudar a sair de alguma furada caso algo acontecesse. Eu não gostaria nenhum pouco de ser carregado para fora daquela festinha pelos amiguinhos toscos da Aggie, ou por qualquer um. Me recusava a ser ajudado naquele tipo de situação. E eu nem estava tão bêbado assim... Muito bem, garoto, fique esperto.
Depois da terceira tragada, eu ouvi.
Um suspiro, sutil e longo, que me atraiu até o outro lado da banheira, contornando-a com passos grogues até encontrar ajoelhada no chão, montada num garoto que tinha as mãos imóveis em suas coxas. Pisquei para ver se era aquilo mesmo que eu estava vendo, e tirei o cabelo do olho para observar com atenção a amiguinha do meu irmão com vestido embolado na cintura, deixando-me ver, mesmo que de forma borrada, a sua calcinha. Mesmo que não fosse comigo, senti minhas bochechas corarem com a visão. Ela beijava o menino deitado sob seu corpo, mas ele não parecia retribuir. Estreitei os olhos para a cena, por um segundo acreditando que o garoto no chão era meu irmão. Após mais alguns segundos encarando-os, constatei que não. não seria idiota de não responder a um beijo daquele — sim, naquele ponto eu já estava ajoelhado diante deles, me perguntando como infernos eles não me viam, mas fixo demais na cena para me afastar. A boca de movia-se de um jeito que julguei estupidamente sensual, seus lábios entreabertos fechando-se em seguida em pequenos selinhos que imaginei depositados contra minha pele, corando mais um pouco só com o pensamento. De um jeito imbecil, tentei afastar meus pensamentos da cena, mesmo sem desgrudar os olhos dos dois... Nunca havia visto aquele garoto na vida, um loiro que parecia morto... Mas que gemia baixinho toda a vez que ela o beijava. Quando se afastou, erguendo o tronco, pude ver que seu rosto estava um pouco corado, e que o cabelo quase sempre liso e impecável estava bagunçado, como se ela estivesse dando uns amassos de verdade no carinha zumbi.
Então comecei a rir.
Minha risada soou como um comando automático, que fez com que se levantasse, deixando o menino estirado no chão. Seus olhos verdes e confusos me encararam antes que ela perguntasse:
— ?
— Oi. — Cumprimentei, tentando não soar bêbado enquanto me levantava, limpando as mãos suadas nos jeans ásperos.
— Nossa, que droga. — xingou baixinho, arrumando o vestido e o cabelo. Logo ela estendeu a mão ao garoto que estava no chão. — Big, acabou. Você tem que levantar.
— Eu... E-eu quero minha mãe... — O garoto choramingou, visivelmente bêbado ou drogado.
— Sua mãe não está aqui, Big. — Ela disse como se estivesse se dirigindo a uma criança abandonada. Que tipo de fetiche estranho era aquele?
Eu ri de novo, dessa vez mais alto.
— Do quê você tá rindo? — perguntou num tom afetado, me encarando por um instante com seriedade. Eu nunca havia notado como os olhos dela eram redondos e bonitos, eles brilhavam tanto...
— O nome dele é Big? — Tentei segurar meu estômago, mantendo o cigarro longe da roupa enquanto me forçava a parar de rir, batendo as cinzas que se acumularam ali. — É sério? Ele parece bem... Bem miudinho, assim...
— Cala a boca, . — Ela ainda tentava puxá-lo do chão. Não quis admitir, mas gostei do jeito que ela me mandou calar a boca. Parecia algo que ela estava guardando há tempos pra mim. — Big, você tem que levantar...
Decidido a ajudar, prendi o cigarro entre os dentes.
— O que ele tem? — perguntei.
— Levou um fora... Bebeu demais.
— Você também bebeu?
— Não, não bebi nada.
Acreditei nela. estava... Arrumada demais para estar bêbada. Achei bonitinha.
— Ele tomou mais alguma coisa?
— Você quer dizer... Drogas?
— É.
— Não. Ele não faz isso.
— E onde está ?
— Por aí. — Ela brincava com a barra do vestido de um jeito... Fofo. Quer dizer, os lábios dela pareciam um pouco vermelhos por ter beijado o cara estendido no chão, e ela estava um pouco corada por ter sido pega no ato, e com certeza o que quer que tivéssemos guardado um para o outro enquanto nos evitávamos estava deslaçado no simples ato de seus dedos pequenos brincando com a barra do vestido, evitando me encarar. Evitando o cara que a tinha evitado durante aqueles dois anos... Parecia justo.
— Você não sabe?
— Ele disse que ia tentar ficar com a Aggie.
Mordi meu lábio inferior para não rir. Segundos depois, desejei sorte ao meu irmão. Afinal, é isso que os irmãos mais velhos fazem... Até porque eu já havia tentado ficar com a Aggie e ela... Enfim, longa história.
— Ok... — Voltei minha atenção para o menino deitado. — Big, está me ouvindo?
— Sim. Você tem a voz de um anjo.
— Obrigado. Vou te levantar, está bem?
— Tá bom.
moveu-se, pronta para me ajudar, posicionando suas mãos nas pernas de Big enquanto eu me preparava para puxá-lo pelos ombros. Para isso, havia jogado meu cigarro no chão e o amassado com o sapato. No momento em que comecei a puxar o garoto, ele gemeu de agonia.
— Não, não, me deixem aqui! Por favor, não me tirem do chão! — Droga, ele estava chapado pra caramba, quase desesperado. — O chão me quer! O chão quer me beijar! Ela me disse isso! A maldita da Betty! Ela disse pra mim! Vocês têm que me deixar beijar o chão!
— Pra onde a gente leva ele? — perguntei pra , que me olhou tão confusa quanto eu.
— Eu não sei... Talvez pra qualquer quarto por aí?
Estávamos num hotel, com certeza havia algum quarto.
— Ok...
— OK NADA! EU JÁ DISSE QUE TENHO QUE BEIJAR O CHÃO!
E, num ato quase suicida, Big se jogou no chão e começou a beijá-lo.
O queixo de caiu.
Que lábios lindos ela tinha.
— Deixa ele, — foi o que ela disse, se afastando até sentar na borda da banheira, como eu havia feito anteriormente. Ela o olhou por cima do ombro. — Que babaca.
— Você o conhece? — perguntei.
Ela deu de ombros.
— A gente se vê de vez em quando.
Aproveitei as mãos livres para acender outro cigarro. Enquanto o tragava, prestei atenção aos mínimos detalhes do rosto dela, preso numa expressão que me levava a crer que ela estava um tanto quanto emburrada. Os lábios fartos e vermelhos haviam se cerrado num biquinho típico de uma criança; suas sobrancelhas estavam levemente forçadas, e os olhos vívidos encaravam suas botas, parecendo bravos. Assumi que todo o problema se resumia ao rapaz deitado no chão, e com um sorriso incógnito, considerei:
— Tudo isso é porque ele prefere beijar o chão a beijar você?
Ao invés de perfurar suas botas com o olhar, ela o fez comigo, visivelmente irritada com o que eu havia acabado de dizer.
— Você não sabe de nada, .
— Ah, você deve saber demais, senhorita.
— Cala a boca.
— Eu não.
não quis continuar a discussão, permanecendo com o rosto fechado, a respiração profunda e aquele biquinho que estava ficando difícil de ignorar. Ela era bonita de se ver. As pontas dos meus dedos começaram a tremer de leve, desejosas de tocá-la. Desde quando você está tendo pensamentos assim, ? Parecia ridículo, de tão repentino. Culpei a bebida, escondendo o sorriso idiota que queria ser aberto. Eu havia sido meu maior companheiro de bebedeiras, de forma que eu sabia que não estava nenhum pouco tão necessitado para culpar o álcool por ações irresponsáveis de inibições. Mesmo assim, era mais fácil julgar a situação como fruto de qualquer coisa, menos das minhas vontades idiotas.
Como não se opusesse, sentei-me ao seu lado, em seguida oferecendo a ela meu maço de cigarros.
— Não. — Ela afastou o maço com a mão devagarzinho. — Eu não fumo.
— Claro que não — murmurei, tirando meu cabelo do rosto. Estava longo demais, precisaria me render aos comentários dos meus amigos e cortá-lo. — Você é a amiguinha do que vem às festas pra acompanhá-lo, sem beber, beijando carinhas que levaram um fora.
— E você é o irmão mais velho do que não deveria estar bebendo! Está fedendo a álcool.
— Já vai passar.
— Ah, eu espero que sim. Você é minha carona pra casa.
— Eu já disse que vai passar. — Imaginei que o jeito descontraído com que eu estava lidando com a situação estaria deixando-a ainda mais irritada e, por mais que minha intenção fosse agir como se nada estivesse acontecendo, acrescentei para acalmá-la: — Foi só um pouquinho.
— Ah, ok. — Aquele tom de descrença... Eu juro que se eu não fosse tímido eu teria calado a boca dela com um beijo ali mesmo. — E depois ainda me perguntam por que eu não sou como vocês, punks.
— Hey, eu não sou punk! — protestei. — E a senhorita está sendo preconceituosa.
— Você tem esse cabelo oleoso e veste esses jeans surrados, se tranca no seu mundinho ouvindo Black Flag, só usa essa camiseta dos Misfits que está vestindo agora e... — Agora estava voltada para mim, cada palavra deixando seus lábios num tom minimamente agressivo, mas apenas isso. Parecia que ela queria cuspir aquilo em cima de mim há tempos. Ouvi tudo como um aluno interessado na matéria, até que ela baixou o rosto e disse, quase como quem quer se redimir: — Sim, eu estou sendo preconceituosa.
— Eu acho que te enten...
— Mas não é como se eu não gostasse, ok? — Adorei a forma como ela moveu as mãos para formar suas justificativas. E por mais que a bebida me fizesse tonto, meu cérebro mandou sinais de endorfina pelo meu corpo quando eu notei a maneira como os olhos dela fugiram dos meus, o quanto aquelas palavras estavam travando sua garganta para finalmente chegarem aos meus ouvidos. — Eu acho... Eu acho que é legal e tudo o mais, só não... Só não entendo por que eu nunca posso estar perto de você sem que você fique desconfortável. E desculpa estar sendo grossa com você.
— Tudo bem... Você acabou de ser trocada pelo chão. — Sorri, ainda absorvendo o que ela havia dito. — Tem todo o direito.
— ... — ela disse baixinho, sorrindo um pouco também. — Que panaca...
Agora, deitado na minha cama ao lado dela, eu tentava me recordar dos fatos passo a passo. havia trazido uma Coca pra mim, ficando de papo comigo até que eu me sentisse bem o suficiente para dirigir. Sobre o que falamos? Muitas coisas, tantas que meu cérebro de ressaca só conseguiu me contar algumas... Política, eu acho, porque ela ficava feliz em discutir as ações do governo e a forma como poderíamos mudar os meios de produção. Lembrei-me de tê-la chamado de comunista durante a coisa, ao que ela riu sem rebater, erguendo os ombros de um jeitinho que achei doce e... Oh, droga, daquele jeitinho que me fazia querer abraçá-la sem motivo. Minha cabeça doía em marteladas, e meu estômago roncou; o gosto ruim em minha boca deixava minha língua dormente. Com os olhos fixos em suas costas, tentei me lembrar de mais coisas... Falamos sobre personagens específicos de histórias em quadrinhos. Ela havia citado Rorschach como seu personagem favorito, ao que eu admiti que Nite Owl era o meu — e ela disse, ela disse, que ele era um pouco como eu em questão de personalidade, uma observação que me fez sorrir por dentro. Black Canary, Harley Quinn, The White Violin... Caralho, ela conhecia The Doom Patrol. Aqueles eram os meus quadrinhos favoritos e eu estava conversando com alguém — não só alguém, uma garota bonita e com senso de humor — que gostava deles assim como eu! Eu mal podia conter a excitação, falando alto e gesticulando loucamente, fazendo rir do meu comportamento de menino de cinco anos doido por quadrinhos e super heróis e vilões... Me lembrei de querer tê-la beijado pela segunda vez na noite, ali mesmo, enquanto ela passava as pontas dos dedos na água da banheira, desenhando formas aleatórias ali, me explicando exatamente todas as razões de Luke Skywalker ser seu personagem favorito do cinema. Depois de horas, encontramos sentado ao lado do meu carro, com uma garrafa de Heineken nas mãos, sorrindo triunfante enquanto ajeitava os óculos.
— Você ficou com ela? — havia perguntado, empurrando as pernas dele para dentro do carro para se sentar com ele, atrás. Eu me senti um maldito chofer; só faltava o chapeuzinho idiota e o sorriso falso na cara.
— Fiquei. — disse, grande idiota. Disse ainda no maior tom sonhador. — Gente, ela é linda!
— Eu sei, eu sei. — disse e, para minha surpresa, ouvi-a fechar a porta de trás e abrir a do passageiro, sentando-se ao meu lado. — Se importa se eu escolher a música? — ela perguntou, já pegando minha coleção de CDs do porta-luvas. Eu fiz que não, girando a chave e desviando meus olhos das coxas fartas dela que modelavam a parte inferior de seu vestido vinho.
Fiquei ainda mais surpreso quando, ao virar a primeira esquina, indo cada vez mais para longe do hotel, ouvi Misfits tocando, anunciando que ela, , a amiguinha do , a adorada da família , havia escolhido a melhor coisa que poderia selecionar.
This isn't really sex. This isn't really life.
This isn't really anything I think I like,
And I will not sit on broken glass,
Not for you or anyone.
I will not cut my ass.
E, para me deixar ainda mais estonteado, ainda menos lúcido, ainda mais sedento por saber quem ela era, começou a cantar.
We have no reasons, but we still have fun.
Down on the floor, baby, whisper my name. Yeah,
When you rip my back to shreds,
I’ll dig my boots into
The soft remains of your spine.
Aquela foi a cena mais inusitada da minha vida.
Meu irmão, bêbado de amor no banco traseiro, com as pernas largadas como lhe convinha, cantarolando baixinho; minhas mãos apertando o volante com força, a luz do semáforo mudando para vermelho e embebendo a garota ao meu lado com a mesma cor enquanto ela movia a cabeça livremente de um lado para o outro, deixando cada mínima e clara palavra escapar de sua boca direto para meus ouvidos apaixonados pela sua voz:
I wanna savage
Your spinal remains.
I wanna savage
Baby, your spinal remains
In chains.
Eu estava um pouco chocado, um pouco culpado. O que havia me mantido longe dela esse tempo todo? O que havia feito com que eu assumisse que ela era uma garota desinteressante enquanto ela entrava na minha casa semana após semana, sendo talvez a única amiga em que meu irmão confiava? Eu era inseguro demais, idiota ao extremo, burro ao quadrado... Por que não havia me tocado? E por que agora, deitado na minha cama, eu amava a forma como ela respirava devagar, e como seu perfume delicioso preenchia meus pulmões, e como ela ficava linda na minha camiseta dos Misfits? E...
Oh. Ela estava com a minha camiseta.
O que significava que ela não estava vestindo o vestido vinho da noite interior.
O que, por sua vez, significava que ela havia tirado o vestido.
E posto a minha camiseta.
Sentei em minha cama, tentando manter o controle e desembaralhar os pensamentos. Analisei a mim mesmo: usava uma boxer branca e uma camiseta velha dos Goonies. Afastei o cobertor para concluir que também vestia sua calcinha de tecido simples preto, o que me deixou meio feliz e meio desconcertado ao mesmo tempo. Feliz porque nenhum de nós estava pelado, não havia nenhuma marca de chupão no pescoço dela, e desconcertado porque, bem, ela era bonita e interessante, e estava com as coxas nuas na minha cama, ao meu lado, esquentando os lençóis que eu havia trocado da última vez que ela estivera em casa. Lençóis que... Que cheiravam a ela. Tentei fazer minha cabeça funcionar em busca de lembranças, mas só consegui me lembrar de estacionar o carro na garagem de casa e ajudar a chegar até seu quarto, onde ele desmontou em roncos. Em seguida, fui para a sala, onde encontrei sentada no sofá e... Droga, cérebro, funcione... E dividimos uma garrafa de cerveja. Sim, definitivamente havíamos feito aquilo. Sentados na sala... Meus pais não estavam, chegariam só na manhã seguinte... Eu dissera a ela que tinha alguns desenhos guardados no quarto, esboços de personagens que estava criando para uma história em quadrinhos própria... O sorriso enfileirado dela, sua voz, seus olhos fixos na minha boca...
E, de repente, como numa explosão, tudo veio à tona.
Tudo, tudo mesmo. Começando da maneira como os lábios dela ficavam modelados quando ela gemia em cima de mim à forma como eu esvaziei todo o meu líquido dentro dela sem poder mais conter, a maneira como ela chamou meu nome baixinho quando gozou, seus dedos puxando meu cabelo sem misericórdia alguma...
Droga.
Puta que pariu.
Porra.
Caralho.
Filho da puta.
Vai se foder.
Puta merda.
Meu Deus.
Levei as mãos ao rosto, massageando minhas têmporas e sentindo litros e litros de sangue circulando nas minhas bochechas, cada uma das sensações me mordendo como uma fera faminta. Eu estava prestes a ter um ataque de pânico ali mesmo, prestes a me deixar levar pela turbulência de todos os mínimos detalhes de nós dois transando na minha cama, prestes a...
Eu estava ferrado.
XXX
— Você tem certeza de que quer beber mesmo? — perguntei, sabendo da relutância que havia mostrado mais cedo ao me encontrar tonto no terraço.
— Tenho. — Ela deu de ombros, como se não fosse nada demais. — Vai ser só um pouco... Eu juro.
Por mais que ela já fosse maior de idade, aquele juramento fez com que parecesse uma menina de catorze anos prestes a desobedecer seus pais de uma forma branda e sem importância, cometendo um pequeno crime para o qual não havia castigo. Se ela fosse qualquer outra pessoa, eu teria mandado-a direto para o quarto de visitas, mas ela era responsável e legal, e estava em casa, na minha casa. Achei que não teria problema.
Tirei duas Heinekens da geladeira.
— Então você quer ser um quadrinista? — perguntou , jogando o cabelo pro lado enquanto dava um longo gole na cerveja. Fui automaticamente atraído pela forma com que sua garganta forçou a bebida para baixo, em junção à maneira quase deliciosa com que sua clavícula se moveu, enunciada. Aquele simples ato me deixou arrepiado dentro das roupas. Quis beijá-la ali, tocando-a com a língua, só pra sentir seu gosto.
— Sim… — respondi, afastando aqueles pensamentos. — Não só isso, sabe? — Também dei um gole na minha cerveja. Era a segunda garrafa dela; era a minha terceira, o que já começava a me deixar mais solto. — Eu gosto de escrever também.
— Você pode me mostrar?
— Posso sim. Os desenhos estão no meu quarto.
— Ah, no porão?
— Isso.
— Porque você dorme no porão? — O tom curioso e ao mesmo tempo excêntrico dela entregou que, em sua cabeça, dormir num porão era algo bem... Estranho.
— É o único lugar da casa em que eu consigo desenhar em paz, sem falar que tem espaço pra todos os materiais que eu uso. É isolado e quase ninguém me incomoda lá embaixo.
— Uau. — ergueu as sobrancelhas, virando a garrafa de cerveja até o fim. Ela já estava um pouco soltinha, bem mais do que eu. — é um isolado.
— Como se você já não tivesse notado... Em minha defesa, você também tem escondido coisas de mim por um longo tempo, mocinha.
— Não me chame de mocinha. — E lá estava aquele biquinho sensual de novo. — Eu não gosto.
— Ok, me desculpe.
— E eu não escondi absolutamente nada de você. Você é quem nunca quis saber.
Bem, ela tinha razão, e eu não tinha uma resposta esperta o suficiente para aquilo.
— Você devia saber que eu desenhava… — arrisquei. — nunca te disse nada?
— Sim, ele disse.
— E você nunca pensou em perguntar?
usou a mão livre para brincar novamente com a barra de seu vestido.
— Você não parecia querer falar comigo... Por que eu iria atrás de você? — A pergunta ficou como retórica quando ela pousou a garrafa de cerveja na mesinha de centro e me encarou outra vez, seus olhinhos divertidos e excitados acompanhando um sorriso nada usual. — Eu quero mais!
— O quê?
— Beber! É tão legal!
— Não, não. Você já bebeu demais.
— Não bebi! Estou perfeitamente bem.
— Mas se continuar bebendo vai querer beijar o meu chão também... — brinquei, em falso tom de aviso.
O que aconteceu em seguida foi o maior fator surpresa que já havia me acontecido.
Antes que eu pudesse impedir, estava montada no meu colo. Uma de suas mãos havia puxado meu cabelo para trás, expondo minha boca e meu pescoço aos seus lábios perigosamente próximos da minha pele. Sua boca me deixou tenso; todos os meus músculos ficaram retesados, e a mescla do aroma do álcool e de seu perfume me deixou zonzo. Suas coxas sobre as minhas fizeram com que eu arfasse, e logo fui sensibilizado pelo toque de sua língua no meu ouvido.
— Por que eu iria beijar o chão quando posso beijar você?
Eu era um homem, certo? O que não era desculpa nenhuma para que eu fosse estúpido e hipócrita e deixasse ficar comigo, porque ela estava tonta e eu também... E, além do mais, eu era um homem tímido e reservado, não havia absolutamente nada de Don Juan em mim; havia sido apontado como gordo a minha vida inteira na escola, e às vezes ainda me zoavam. Eu era um punk envergonhado perdido no meio de Jersey, e havia feito sexo algumas vezes. Sim, algumas vezes — com três garotas diferentes, duas delas haviam sido minhas namoradas. E agora estava sentada em mim, me apertando com suas coxas macias e expostas, com a barra do vestido alta o suficiente para que eu voltasse a observar o tecido de sua calcinha. Toda a minha boca salivou com a visão, enquanto sua boca quente distribuía beijinhos pelo meu lóbulo, baixando pelo meu pescoço e subindo, me deixando inteiramente arrepiado ao sentir o toque de sua língua alisando minha mandíbula. Calmamente, a mesma passou pelo meu queixo, me arrancando um suspiro nervoso, até que seus lábios estavam encaixados nos meus.
Nesse tipo de ocasião, seria natural que eu retribuísse. Mas eis uma coisa sobre mim: raramente eu fazia as coisas do jeito que deveriam ser feitas. Devo ter deixado isso bem claro quando perdi toda a noção de equilíbrio e espaço e deixei que minha garrafa de cerveja caísse em seu peito quando tentei me desvencilhar dela.
Aquela era uma tentativa de me afastar de , porque era o álcool que a fazia acreditar que ela deveria me beijar. Eu nem era atraente pra ela me querer! Se eu deixasse ela me beijar, o que eu diria depois? Com que cara eu olharia pra ela? Me afastar dela era uma tentativa de não fazer nós dois passarmos vergonha depois que o efeito da bebida passada. Uma tentativa de não fazer merda.
E foi merda o que eu justamente fiz quando vi os seios dela marcados no vestido pela cerveja que eu tinha acabado de derrubar.
Agora, a garrafa estava no chão, molhando o carpete.
E os seios dela estavam no meu rosto.
— Droga — xinguei, agradecendo mentalmente por ter se levantado, me dando espaço físico e mental para pensar no que fazer. Ergui a garrafa, decidindo me preocupar com a mancha de cerveja no carpete da minha mãe mais tarde. — Me desculpe, eu... Merda, s-sinto muito, ... Eu...
— Você me chamou de ? — perguntou ela com um leve ar de seriedade em seus olhos, o mesmo ar que ela espantou ao sorrir novamente. — Que fofo, ! Meu apelido fica tão bonitinho quando você fala assim.
Eu decidi ignorar o ataque de fofura que ela estava tendo.
— Eu… Eu vou te emprestar uma camiseta, ok? — Consegui balbuciar, pegando na mão dela e levando-a até as escadas para o porão, território restrito. Minha mão suava na dela, trêmula. Abri a porta do banheiro ao lado do meu quarto. — V-você pode se arrumar aqui dentro, tá? Eu vou pegar a camiseta num segundo...
Procurei por uma camiseta nas gavetas do armário, e a primeira que achei, do Goonies, foi a que entreguei a ela. Quer dizer, eu teria entregado a camiseta se já não tivesse tirado o vestido na minha frente, ficando só de lingerie... O sutiã preto combinando com a calcinha, os centímetros de pele que pareciam irresistivelmente tocáveis, a curva de seus seios e o contorno atraente de sua cintura, as coxas... Meus olhos passearam por ela inteira, pedaço por pedaço, e senti todo o sangue do meu corpo centrado nas minhas bochechas. Puta que pariu. Eu iria desmaiar ali.
Estendi a camiseta pra ela, sem dizer nada.
— Goonies? — O tom de sua voz foi totalmente manhoso ao que ela tocava o próprio sutiã com os dedos, como se tivesse apertando os peitos por cima da peça. Tentei controlar a respiração. — Posso usar a que você está vestindo? Ela é tão mais bonita...
deu um passo para a frente, e eu sabia que se ela chegasse muito perto, ainda mais seminua daquele jeito, as coisas ficariam difíceis pra mim. Então simplesmente tirei minha camiseta e a joguei para ela, que abriu um sorriso sapeca nos lábios antes de vesti-la. Assim, vesti a camiseta que havia pegado para ela, ainda mais corado por perceber que ela havia me visto sem camisa.
Na época, eu tinha fortes inseguranças sobre meu corpo. Nunca havia sido o tipo de rapaz a protagonizar histórias adolescentes, ou algo do gênero. Eu era estranho e sem jeito, com poucos amigos, e gordinho. não parecia se importar com isso, entretanto, me encarando de maneira cativante. Minha camiseta nela ia até a metade de suas coxas, e se eu acreditava que tampar seu corpo seria o suficiente para controlar os pensamentos sexuais sobre ela, eu estava totalmente enganado. Ela parecia ainda mais apaixonante assim, nas minhas roupas, com o sorriso instigador enfeitando sua boca. Boca que eu queria colada na minha o mais rápido possível. Era quase desesperador saber que ela, em tão pouco tempo, tinha esse controle sobre mim. Controle que ela estava começando a descobrir quando suspirou, jogando o cabelo pro lado.
— Você encharcou meu sutiã de cerveja… — disse, naturalmente. — Posso tirá-lo? Não, não, não tira essa porra! Pelo amor de Deus, não faz isso comigo...
O que eu disse foi:
— Pode.
Minha voz havia saído rouca, o que me fez limpar a garganta. Meus olhos acompanharam atentos cada um de seus movimentos, a forma como ela levou as mãos às costas para desprender o fecho e tirou as alças da peça por debaixo da camiseta. Seu olhar sustentava o meu, e ela apenas o desviou de mim para depositar o sutiã na maçaneta do banheiro, voltando a mexer nos cabelos ruivos.
— O que vamos fazer agora? — indagou , voltando seus olhos para mim.
Aquela pergunta... Eu estava ficando angustiado com o significado dela... Era quase demais para mim estar sob aquele tipo de ataque, ainda mais quando ela soava tão ávida pela minha atenção. Limpei a garganta de novo, engolindo em seco.
— V-você vai dormir aqui em casa, não vai? — perguntei, coçando a cabeça. Pense, , pense. — No quarto de visitas, não é?
— Vou… Foi o que sua mãe disse. Mas não estou com sono.
É claro que não estava. Ela estava soando como uma gatinha manhosa doida pra me arranhar.
— Mas eu acho melhor você ir pro quarto, mesmo assim. — Tentei soar confiante, falhando tão miseravelmente que quis bater com a cabeça na parede e me xingar de burro até sentir uma pequena pontada de piedade por mim mesmo.
— Mas… Mas eu mal virei sua amiga! — ela protestou. — Você já quer me afastar assim? — fez aquele maldito biquinho de novo, e em seguida mordeu o lábio, fazendo meus joelhos fraquejarem. — Eu só queria... Assistir Star Wars com você. Você escolhe, qualquer um. Eu nunca tive amigos que assistissem Star Wars comigo.
Respirei, inspirei. Esperei que encontrasse uma solução com aquele pedido, feito tão docilmente que só um louco diria não.
— Você promete que, se eu assistir Star Wars com você, você vai se comportar? — Mesmo sendo a única pergunta que eu poderia ter feito para ser esperto, eu a odiei. Eu a odiei. — Promete que você vai dormir depois que o filme acabar no quarto de visitas e não vai tentar me beijar de novo? , seu bosta.
cruzou os dedos e beijou-os; seus olhos cálidos e brilhantes genuinamente concordando com cada uma das minhas condições.
— Eu prometo.
— Certo. Eu vou... Vou colocar o filme, então. Pode sentar na minha cama, se você quiser.
Com os dedos tremendo, coloquei o sexto episódio, meu favorito, enquanto deitava na minha cama, me chamando pra deitar com ela ao alisar o espaço vazio ao seu lado. Deitei o mais longe que pude, fingindo estar concentrado no filme, disfarçando meu interesse em continuar a encará-la, linda na minha camiseta dos Misfits, o cabelo moldado de uma maneira atraente e o cheiro dela... O cheiro dela me intoxicando enquanto seu corpo se movia na cama, até que ela, é claro, fez questão de deitar colada comigo.
— Eu prometi que não ia te beijar — disse ela, quando me afastei centímetros suficientes para me manter são. — Relaxa, ... Só estou tentando me aquecer.
Pelo amor à minha sanidade e aos meus receios, aquilo estaria ótimo se fosse só até ali. Com muito custo e muita loucura, eu a havia amansado, e estava um pouco orgulhoso por tê-la manipulado com aquele acordo. No entanto, minutos depois, logo após Darth Vader ter aparecido no filme pela primeira vez, procurou pelas minhas mãos e começou a enlaçar meus dedos nos dela.
— Eu adoro suas mãos — murmurou, estupidamente concentrada em analisar meus dedos um por um, passando suas digitais por cada milímetro. Vi, em câmera lenta, seus lábios se aproximarem dos meus dedos e beijá-los. Beijos quentes, quase inocentes. Tentei não suspirar. — Elas são grandes e fortes... Você tem as unhas aparadinhas e limpas e... — Seu hálito quente aqueceu minha pele. — Dedos longos. E, olha só, eles encaixam nos meus.
O tom de diversão e veracidade na voz dela me deixou entontecido. Era verdade. Ela tinha as mãos frágeis, bem menores que as minhas, e as unhas pintadas de vermelho começavam a desbotar. Unhas um pouquinho longas, apropriadas se ela desejasse arranhar minha pele... Controle-se, homem. Você não pode pensar essas coisas sobre ela.
— Hmm... Obrigado? — falei em tom de dúvida. Não sabia muito o que dizer.
voltou a beijar meus dedos.
— De nada. Sabe, ... Eu nunca minto. Então é verdade quando eu digo que eu amo as suas mãos.
— Você ainda está um pouquinho alterada.
— Não. — A firmeza em sua voz me pegou desprevenido. — Só com um pouquinho mais de coragem, se posso dizer assim.
— É... Dizem que a bebida faz isso.
— Você não está tonto?
— Um pouco. — Muito, mas não por causa do álcool.
— Você se arrepende de ter bebido comigo?
— Sim. — Não.
— Você se arrepende de ter ficado tanto tempo me ignorando?
— É... — Muito.
— Você iria me impedir se eu beijasse você?
Houve um momento de silêncio antes que mordesse meu dedo provocativamente, passando a ponta de sua língua por ele, os olhos fixos nos meus, me desafiando a recusá-la. Ela se divertiu com o fato de eu ter corado de novo.
— V-você prometeu... — A lembrei, gaguejando.
— Sim, eu prometi que não beijaria você... Mas não disse nada sobre fazer você me beijar.
Oh, droga. Droga, droga, droga.
Ela voltou a se sentar no meu colo, me encarando de cima enquanto eu permanecia ali, deitado no colchão, com as bochechas ardendo e com meu membro começando a doer de excitação. era quente... Não era apenas a forma como o corpo dela aquecia o meu por toda a parte em que tocava, mas também seus lábios mordidos pelos seus próprios dentes, o olhar intenso e desejoso que ela me direcionava, pronta a fazer tudo devagar, me levar ao limite... Aquele joguinho que ela estava fazendo comigo ia muito além de só me beijar, eu suspeitava. tinha um ponto a provar, e ao constatar a forma como eu não lutei contra ela dessa vez, encantado demais para dizer não, ela ficou ainda mais confiante, esfregando quase que imperceptivelmente seu quadril no meu, voltando a enlaçar nossos dedos e se empenhando em raspar sua boca tentadora pela pele da minha mão.
— Seu gosto é bom, também... — ela suspirou, mordendo meu anelar. Contive o suspiro no fundo da garganta. — Sua pele é quente e... Macia. Você vai me tocar, .
Numa tentativa tosca de dizer que não, movi minha cabeça negativamente, umedecendo meus lábios, tão nervoso quanto estivera ao dar meu primeiro beijo.
— Você vai — ela repetiu, baixando minhas mãos até a barra da camiseta. segurou-as com firmeza, fazendo-a adentrar o tecido e sentir sua barriga nas palmas das mãos. Céus, ela era aveludada. Seria quase um crime renunciá-la naquele instante, quando suas mãos guiaram as minhas a sentir suas costelas sob a pele insuportavelmente macia, instigando, provocando, experimentando... Ela não precisou forçar minhas mãos contra seus seios, pois eu mesmo me vi apertando-os com força, apreciando seus mamilos duros contra minha pele, mordendo meu lábio inferior para evitar gemer com a sensação. havia jogado sua cabeça um pouco para trás, e ela mal havia se recuperado do toque quando a apertei de novo, provavelmente sabendo que ela estava sentindo meus dedos trêmulos em sua pele, que parecia a mais deliciosa que eu já havia tido a chance de tocar. Seus seios cabiam perfeitamente em minhas mãos, e salivei de vontade de vê-los. Parecendo ler meus pensamentos, livrou-se da camiseta, jogando-a ao chão, apertando suas mãos sobre as minhas. Baixei-as sem relutância, totalmente encantado pelo formato redondo e adorável de seus seios, os mamilos rosados enrijecidos, cada mínimo aspecto deles clamando pelos meus lábios.
Eu estava de pau duro, corado, morrendo por dentro, com aquela garota magnífica suspirando pelo meu toque. O fato dela me querer... O fato dela gostar das minhas mãos nela tornava tudo ainda mais difícil. Eu não iria conseguir dizer não, eu não iria...
— Porra, — xinguei, pousando minhas mãos em suas coxas, me segurando com todas as forças para não apertá-las do jeito que gostaria. — Isso é tão errado.
Tirando minhas mãos de seu corpo e prendendo-as de cada lado da minha cabeça, ela curvou-se em cima de mim, seus lábios a milímetros dos meus... Eles acariciaram minha bochecha enrubescida, e senti uma de suas mãos me soltando para que seu polegar passasse pelo meu lábio inferior, somando seu toque intenso com seu olhar de desejo. Merda.
— E você é tão lindo, tão... Delicioso... Eu quero tanto que você me toque, . — O jeitinho que ela falava... Fechei meus olhos, tomado pelas inúmeras sensações que ela me causava. — Eu quero tanto que você pare de lutar, que me beije... Eu quis isso por tanto tempo... — Abri meus olhos, encarando os dela. Eles eram de um verde sóbrio agora, tinham um aspecto quase sério demais. — Eu te via dia após dia me ignorando e... E eu nunca quis que você me rejeitasse, por isso eu nunca falei com você. Você não vai entender... — Foi a vez dela fechar os olhos, brevemente, para depois me encarar de novo, os lábios roçando na pele sensível da minha bochecha. — Eu preciso que você me aceite agora. Por favor, ... Se você disser que não, eu vou... Eu não vou aguentar, por favor...
Eu nunca saberia dizer de onde encontrei forças, mas no segundo seguinte meu corpo estava sobre o dela, e seus pulsos estavam presos por meus punhos contra o colchão. Seu olhar suplicante triplicou de intensidade, mesmo quando ela sentiu minha ereção contra sua coxa. Na verdade, a súplica deles parecia ser uma conseqüência... sabia o quanto eu estava excitado, podia constatar aquilo sem problema ao tocar com a coxa minha ereção escancarada, e talvez ela estivesse me encarando daquele jeito por suspeitar de que eu pudesse deixá-la, declinando cada um dos seus pedidos e saindo do quarto sem explicações.
E eu tinha que confessar uma coisa.
Só um idiota faria isso.
Meus lábios encontraram os dela com fúria, e provei do gemido de alívio que ela soltou contra eles. Desprendi seus pulsos, voltando minhas mãos nervosas aos seus seios, apertando-os com vontade. Sua língua aveludada encontrou a minha, atacando-a com desejo; suas mãos perderam-se no meu cabelo, puxando-o quase com deleite. Não pude evitar suspirar entre o beijo, totalmente inebriado como nossas bocas se encaixavam, e pareceu que eu poderia ficar séculos com a boca entreaberta para que nossas línguas se tocassem, transmitindo todo o gosto de sua saliva. Senti seus dedos pequenos erguendo minha camiseta, o que me fez afastar dela um pouco.
— O que foi? — perguntou, me encarando confusa.
— Eu... — tentei fazer minha voz sair, de uma forma ou de outra. Havíamos chegado ao ponto que ferrava com quase toda a minha autoconfiança. Ter sido gordo a minha vida inteira me desesperava para qualquer tipo de intimidade, e eu tinha medo de ser rejeitado. Já havia acontecido antes, e aquela não era a única imperfeição que eu tinha. Meu receio era que não gostasse nenhum pouco de me ver... Ali. Me obriguei a terminar a frase: — E-eu sou gordo e...
— Eu não ligo. — Ela se pronunciou de imediato, umedecendo os lábios já vermelhos pelos meus beijos. — Eu te quero inteiro. — Eu quase gemi só com aquela frase. Suas mãos adentraram minha camiseta, apertando minha barriga e descendo por ela com leves arranhões que me deixaram ainda mais sensível. me deu um selinho, que tentei corresponder apropriadamente antes de continuar: — Que se dane o resto. Me deixa cuidar de você.
Com aquelas palavras... Com aquele jeito, ela poderia fazer comigo o que quisesse.
— Ok — respondi simplesmente, puxando sua nuca para encaixar nossos lábios mais uma vez.
livrou-se da camiseta devagar, interrompendo nosso beijo carinhoso para passá-la pela minha cabeça, jogando-a em algum lugar do quarto. Suas mãos tocaram com avidez minha pele, apertando minha barriga de leve antes de traçar uma linha de beijos lentos do meu pescoço ao meu tronco, beijando cada uma das imperfeições que me haviam deixado inseguro segundos antes. Mordi meu lábio inferior com cada beijo, e ao notar como ela me deixava tonto, abriu um sorriso quente que acabou numa mordida fraca em algum ponto próximo ao meu umbigo. Respondi ao ato sorrindo também, puxando seu corpo para cima, calando meu desejo de beijá-la para recompensá-la por tudo aquilo.
Meus lábios tocaram seu pescoço e sua clavícula, agora sentindo suas unhas dividas entre me acariciar e me arranhar, tudo bem devagar... não estava com pressa: agora que ela me tinha, parecia querer aproveitar cada mínimo pedaço de pele que tocava, e quando ergui meu corpo para beijar seus seios, me deleitei com os pequenos beijos que ela depositou em meu antebraço. Ela cheirava àquele aroma cítrico que ficava impregnado no meu cérebro, cada vez mais forte, e me peguei movendo meu quadril contra sua coxa ao sugar seu mamilo para dentro da boca, acariciando-o lentamente com a língua, apertando o outro seio com minha mão livre. gemeu baixinho, voltando a segurar em meu cabelo com carinho, erguendo a cabeça para me encarar daquela maneira, faminto por ela enquanto lambia, sugava e chupava sua pele, tomando cuidado para não raspar meus dentes ali. Sua mão agarrada em meu cabelo e as pequenas mordidas dela no meu pescoço me fizeram notar que ela era particularmente sensível ali, fato que fez com que eu redobrasse meus esforços para fazê-la sentir prazer. Dei a mesma atenção ao outro seio, lambendo repetidas vezes seu mamilo cada vez mais duro, deixando um chupão ali, totalmente exposto aos seus gemidinhos que me excitavam monstruosamente.
Quando ergui meu rosto ao nível do seu, seu sorriso satisfeito me desconcentrou o suficiente para que virasse nossos corpos, ficando por cima. Ela tirou meu cabelo do rosto, prendendo-o atrás da orelha num ato atencioso, baixando sobre mim seu quadril.
— Perfeito — sussurrou ela, beijando meu queixo de um jeito tão sensual que não controlei a vontade de me esfregar nela. Um grunhido baixo e sôfrego saiu de sua boca. — Se você soubesse... Quantas vezes eu me toquei pensando em você, você não acreditaria.
— V-vo-você fez isso?! — perguntei, incrédulo.
— Tantas e tantas vezes... Metendo meus dedos e pensando em você em mim... De todas as formas possíveis — agora sua boca estava diretamente pressionada à minha orelha, mordendo meu lóbulo e explorando-a com sua língua. Eu tive que contar pra não me derreter ali mesmo. — Gemendo seu nome baixinho pra ninguém ouvir...
— ...
— Oh, o apelido de novo... Droga, , eu fico molhadinha só de ouvir você. — Eu quase gemi alto quando uma das mãos dela alcançou minha ereção, acariciando o volume sobre o tecido esticado dos jeans. — Só de sentir você assim, me querendo. Eu preciso provar você... — Ela apertou meu pau, que respondeu ficando ainda mais duro... Tão duro que doeu. — Com a minha boca.
Eu gemi. Vulnerável, como se tivesse acabado de levar um tapa na cara. Um tapa tremendamente excitante, tentando me recuperar do choque enquanto abria o zíper e se livrava dos meus jeans e do único tecido por baixo que poderia separar sua mãozinha do meu membro. Eu não sabia como, mas tínhamos nos livrado dos sapatos em algum momento anterior, o que fez com que ela chutasse minhas calças para longe com facilidade. Desmontando meu corpo, ela afastou-se com os joelhos até estar cara a cara com meu sexo, umedecendo os lábios. Em mais uma das minhas tentativas de não perder um segundo daquilo, ergui meu rosto e encarei, certo de que estava com a maior expressão de tesão do mundo, enquanto o polegar dela brincava com a base, satisfeita em vez a quantidade de pré-gozo que já estava ali. Havia muito mais do que a simples e erótica forma com que ela me tocava. Eu não poderia dizer se seria capaz de superar seu olhar, cada segundo de sustentação através dele me estimulando, me entorpecendo. Não havia superado seus beijos em minha barriga, ou a intensidade do desejo em seu olhar, algo que me deixava sem acreditar que ela pudesse me querer tanto, que ela estava ali, pertinho de me chupar, me enlouquecer, de estragar qualquer outra garota que quisesse fazer sexo comigo. Era demais para que eu acreditasse.
— Você é tão grande, — ela disse, aproximando sua boca dele, excitando-o com seu hálito quente. — Ainda maior do que eu achei que seria...
Me vi agarrando o lençol com o punho cerrado quando ela lambeu a base, subindo a língua tortuosamente até alcançar a ponta, movendo-a em seguida com movimentos circulares ao redor da pele sensível da glande. Toda a sua boca envolveu a ponta, me causando arrepios com sua saliva encharcando e tornando o contato ainda mais excitante, sua língua enrolada e empenhada em me fazer suspirar. Aquela era a cena mais erótica que eu já havia presenciado: de quatro, com meu pau dentro da boca, baixando lentamente a cabeça sobre ele para que coubesse mais. Sua garganta relaxou em contato com a glande, e ela tentou conter o reflexo, sugando suas bochechas ao redor do meu membro, me excitando absurdamente ao colocar tanto esforço em segurar aquele momento. Droga, ela era perfeita naquilo... Não consegui não gemer, suspirando fundo a cada sugada de suas bochechas, cada golpe carinhoso de sua língua, cada beijo que ela distribuiu pela minha extensão. Suas mãozinhas se encarregaram de acarinhar meus testículos, lidando com eles delicadamente, me torturando quando decidia diminuir a velocidade de sua boca em mim. Enchi um de meus punhos com seus cabelos ruivos, fechando os olhos com força quando mais uma chupada excepcional me deixou quase fraco.
— Você gosta? — perguntou ela, quebrando o contato com sua boca ao subir e descer uma de suas mãos pelo meu mastro.
— M-muito.
— Então me diz... Me diz que você gosta enquanto cora desse jeito. — Ela prendeu a parte debaixo da glande entre seu polegar e o indicador, suavemente apertando a região, me fazendo xingar baixinho. — Assim... Eu quero ouvir você.
Ela voltou a me chupar, sem tirar os olhos de mim.
— I-isso... — consegui dizer, percebendo a reação dela extremamente satisfatória ao que eu dizia se intensificando com suas sugadas e lambidas. — Porra, ... Você é tão boa nisso.
Seus olhos prenderam-se aos meus, e ela não deixou de trabalhar em mim com os lábios por um segundo até que eu fosse uma bagunça completa, corado violentamente, a mão no cabelo dela puxando-o com força sem querer.
— ... Eu v-vou... Não consigo segurar mais...
Não sei se esperava algum tipo de resposta dela a não ser a intensificação de seus movimentos em mim, enrolando sua língua angelical ao redor do meu membro cada vez mais rápido, afundando todo o silêncio com os barulhos molhados de suas bochechas estreitas e garganta relaxada. Todas as contrações do meu membro e meus gemidos me levaram a aliviar ali mesmo, em sua boca; meu peito subia e descia rapidamente, o ar preenchendo meus pulmões por um breve instante antes de ser expirado, acompanhando todo o ritmo do meu corpo derretido por ela, ao que ainda me lambia afavelmente, agora me tocando com a mão devagar, esperando que os espasmos passassem.
Senti seus lábios nos meus de novo e respondi à altura, sem pensar em mais nada, totalmente zonzo com o que havia acabado de acontecer. Se tão estivesse me beijando com tanta vontade, passando suas mãos pelo meu peito, eu não acreditaria que aquilo tinha sido real. Parecia demais, apenas... Parecia mentira.
— Você... — não tive nenhum controle sobre a pergunta que fiz em seguida: — Gosta de mim? De verdade?
Mais uma vez, tirou meu cabelo do rosto.
— Gosto — respondeu, com um sorriso amoroso. — Você é lindo, de todas as formas... E inteligente, talentoso, gostoso, feito pra que eu te beije. E se você soubesse o quanto me deixou excitada gozando daquele jeito...
Mordi o lábio inferior, automaticamente, e fui presenteado com um selinho doce. Ela continuou:
— Eu adorei cada segundo, . Cada segundinho...
Sorri de volta, mas a sensação logo deu espaço a um pouco mais de nervosismo. Um tipo estranho de nervosismo, que não me deixou pálido devido à alta quantidade de excitação que ele continha. notou a forma como eu uni as sobrancelhas, concentrado em meus pensamentos.
— O que foi?
— Eu estava pensando... — Não tirei meus olhos dos dela; era a minha vez de sentir seu lábio inferior com a ponta dos dedos, explorando o calor que eles transmitiam tão bem.
— Sim...
— Tem uma coisa que eu quero fazer.
Ela acariciou a lateral do meu rosto.
— O que é? — perguntou.
— Talvez... — Engoli a saliva. — Talvez se você me deixar te mostrar...
Algo na expressão de seu rosto — confiança, talvez — me disse que, fosse lá o que eu tivesse em mente, ela queria que eu mostrasse. Então, calma e cuidadosamente, a virei na cama, enchendo sua boca de beijos mais uma vez, ainda extasiado pelo seu gosto. Suas mãozinhas estavam nas minhas costas, arranhando-as sem doer, e adorei como seus cabelos enfeitaram meu travesseiro, contrastando com o branco que pintava a fronha. O ambiente iluminado pelas cenas do filme que passava na tevê fazia certo mistério sobre seu corpo, que agora eu exploraria. Comecei devagar, atento aos seus olhos para obter as devidas permissões, tocando seu pescoço e voltando a prender seus seios entre meus dedos, apertando suas costelas com igual vontade e descendo pela sua barriga. A virei de lado, encaixando-me às suas costas, erguendo sua coxa sobre a minha. Mantive seus joelhos afastados, dando minha total devoção aos seus suspiros de antecipação. Dessa vez, toquei suas pernas, sentindo sua pele arrepiada e branda, e subi pelas coxas, ameaçando tocá-la onde ela parecia mais precisar. Eu podia sentir o cheiro de necessidade que desprendia dela, e sem paciência para torturá-la, afastei o fundo de sua calcinha, tocando-a com os dedos. Céus, ela estava molhada... Não apenas molhada, e sim ensopada. Tão ensopada que senti meu dedo deslizar um centímetro dentro dela em ansiedade, e parei ali, subindo com a ponta dele sobre seu clitóris, pressionando-o de leve. Ela era tão macia ali, tão gostosa... E o gemidinho que ela me fez ouvir, tão próximo do meu ouvido... Porra, eu estava endurecendo de novo.
Não parei de pressioná-la ali, masturbando-a com um único dedo antes de adicionar outro, movendo minha mão em círculos sobre aquela parte sensível. buscou pelos meus lábios, gemendo dentro da minha boca enquanto eu correspondia, viciado no gosto de sua língua. Estava sendo demais para mim a forma como ela começou a se mover contra meus dedos, o movimento fazendo com que ela ora encontrasse minhas digitais com mais força, ora se esfregasse na ereção que começava a ficar desconfortável, mais uma vez. Devagar, penetrei-a com dois de meus dedos, batendo a palma de minha mão contra seu clitóris, sentindo seu sexo quente encharcando minha pele com o simples contato.
— ... — ela gemeu, segurando com força em meu braço. — Isso é bom.
— Você gosta? — perguntei, plantando longos beijos em seu ombro. Adorava ouvir os barulhos que meus dedos metendo nela faziam, e a forma como ela respondia a cada roçada da minha mão em seu clitóris me deixava ensandecido. Pouco a pouco, ficava ainda mais foda de controlar a vontade de meter nela de uma só vez.
— Sim, eu amo... — A rouquidão necessitada em sua voz me excitou mais do que pensei ser possível. — Eu já disse que amo seus dedos?
Sem poder controlar aquilo, sorri contra sua boca.
— Você disse. — Deixei que meus dedos parassem dentro dela, mexendo apenas a mão contra sua intimidade, ouvindo um gemido que mais se pareceu com um pequeno choro. contraiu seus músculos ao meu redor. Meu pau palpitou com o pensamento de que logo seria ele a ser apertado. Puta que pariu. — Tão a-apertada. E pingando na minha mão... Eu... Eu não sei o que você está fazendo comigo, garota.
Eu podia enxergar claramente a necessidade de gozar estampada nos olhos dela. Ninguém nunca precisara assim de mim, com tanta urgência, tanto desejo, tanta fome... Ter os músculos internos dela apertados ao redor dos meus dedos enquanto seus gemidos provavelmente acordariam qualquer um na casa, bem... Era demais para suportar. Eu já estava enlouquecendo de novo, mordendo meu lábio enquanto a tocava, amando o desespero em seus quadris ao movê-los contra meus dedos que a fodiam ora devagar, ora rápido. Eu podia ter continuado com aquilo até que ela gozasse, mas e suas palavras, suas ações, suas reações, me atormentavam ao ponto de não ser o suficiente. Ela havia despertado algo em mim, uma coisa mais forte do que a simples vontade de comer alguém, mais profunda do que o ato que se resumia a meter e a gozar. Eu nunca estivera tão confiante antes daquela noite, nunca estivera tão livre para dizer e para fazer o que queria... E eu queria prová-la, sentir seu gosto e ter sua carne tenra pulsando na minha língua. Parei de tocá-la, levando instintivamente meus dedos molhados de seu líquido até meus lábios, chupando-os com sede.
Ela era deliciosa.
— ... Você parou — ela disse com um biquinho. Eu o mordi, finalmente. — Eu não gozei.
— Eu sei. — Acariciei sua barriga, fazendo com que o colchão afundasse um pouco quando ergui meu corpo. — Mas você vai. Vou fazer você gozar na minha boca.
A imagem verbal daquilo sendo dito... xingou baixinho, encarando meus lábios.
— Faça isso — ela pediu, quase em desespero. — Por favor...
— Vou fazer. — Fiz com que ela deitasse de costas e fiquei entre suas pernas. Sem pressa, desci sua calcinha por suas pernas, afastando seus joelhos em seguida e contemplando todo o seu sexo encharcado. A visão me fez tremer um pouco. Não me demorando mais, curvei-me até ela, tocando-a com a ponta da língua. forçou o quadril contra o colchão; suas mãos já estavam em meu cabelo, acariciando-o desconexamente, enquanto minha boca procurava ensandecida por mais dela, gemendo gostosamente ao sentir seu gosto. Tive certeza de que o rosto dela devia estar perfeito, contraído em prazer... Por mim. Passei minha língua lentamente de baixo para cima, uma vez atrás da outra, mantendo os olhos abertos para encará-la, notando como ela devia gostar do meu rosto entre suas pernas, pois não desgrudava os olhos dos meus por um mísero segundo. Me vi salivando contra sua intimidade, fechando meus lábios ao redor de seu clitóris antes de baixar a língua e penetrá-la, captando todos os mínimos movimentos e pulsações de sua entrada molhada. A ponta do meu nariz chocou-se contra seu clitóris, e isso fez com que gemesse de forma pornográfica; querendo ouvir aquele tipo de som de novo, repeti o movimento, sendo pego de surpresa pela força em seus dedos segurando meu cabelo. Ela fechou os olhos, jogando a cabeça para trás e sorrindo com a sensação antes de seu rosto se contrair em prazer mais uma vez; seu quadril já não parava quieto, buscando por mais. Aquilo me fez querer estar ainda mais íntimo a ela. Segurei seu quadril com força, deitando minha cabeça em sua coxa e fazendo-a fechar as pernas ao redor de meu rosto. Estava concentrado, chupando-a com veemência, cada estímulo da minha língua atingindo-a com força, até que meus dedos afastaram seu bumbum para que minha língua a sentisse ali. pareceu se desmanchar, soltando um grunhido e uma risadinha.
— Você é tão faminto — ela disse, afagando meu cabelo como podia. Todo o seu corpo tremia, suas pernas apertavam meu rosto, seu sexo arquejava. Sua passagem traseira contraía a cada lambida, e deixei que um único dedo brincasse ali enquanto voltava a lamber sua vulva. Eu movia a cabeça de um lado para o outro, tocando-a com a ponta da língua repetidas vezes, quase sem parar, viciado demais na sensação de tê-la entregue para interromper o ato. — , e-eu... Estou perto...
Xinguei mentalmente, intensificando cada um dos meus movimentos nela. Meu único dedo provocou-a ali atrás enquanto minha boca pressionava toda a sua intimidade, beijando-a, desferindo tantas lambidas quantas eu podia dar. Minha mandíbula doía, porém era uma sensação satisfatória sentir cada pulsação de seu sexo somado às suas coxas apertando meu rosto. A penetrei com dois dedos livres, deixando minha boca entreaberta, devorando-a. Segundos depois, eu a tinha se desmanchando na minha boca, os músculos fortemente apertados em meus dedos, a mão em meu cabelo sem noção de força, seu gemido alto ecoando nos meus ouvidos... Teria sido o suficiente para me fazer gozar nas calças por ela... Se eu não quisesse gozar em outro lugar.
Minhas bochechas ainda estavam coradas, fosse pela pressão nas coxas dela no meu rosto ou pelo simples fato de que eu precisava dela... Agora.
— Céus... Se eu soubesse que seria assim, eu não teria esperado tanto. — O sorriso bobo no rosto dela me fez corar mais um pouco. Foi difícil encontrar ar naquele momento. — Eu disse que você era perfeito. — Ela se ergueu na cama, envolvendo meus ombros com os braços e me beijando. Quis que ela sentisse minha língua dormente e o gosto dela espalhado por cada canto.
— , eu preciso... De uma... Camisinha — sussurrei contra seus lábios perfeitos, sem querer parar de tocá-los.
— Eu tomo pílula, se você quer saber. — A inocência com que ela disse aquilo me deixou maluco. Eu a sentiria pele contra pele, músculo contra músculo... Sem nada entre nós.
Grunhi, meu peito subindo e descendo com minha respiração acelerada ao que me apoiei nos joelhos, segurando meu membro para guiá-lo à sua entrada. Vi afastou as pernas, prendendo-as ao redor da minha cintura, nossos olhares colados um no outro enquanto eu a conhecia intimamente, centímetro por centímetro, um completo pervertido, doente pela forma como a boca dela se modelou num gemido sôfrego. Continuei empurrando, sentindo o peso de toda a tensão, tirando meu cabelo do rosto enquanto meu membro pulsava totalmente dentro dela, preenchendo-a. Seus músculos moveram-se contra ele, recebendo-o e fazendo-o sentir apertado, e tive que ter aquele momento parado, em silêncio, tentando me acostumar com a sensação. Aquela era... A melhor coisa que eu já havia sentido, sem cobrança, sem medo, sem neura. Eu a senti inteirinha ao meu redor, deslizando fácil na superfície ensopada. Ofereci toda a minha adoração ao aperto de seu sexo junto ao meu. Ela era demais. Inteira. Sua boca, seus seios, seus olhos, suas costelas, seus dedos, sua língua, seu sexo, seu cabelo, os sons que ela fazia... Desejei que ela me olhasse com a mesma fome, a mesma veneração por cada um dos meus traços, e mal pude conter mais uma estocada quando encontrei tudo aquilo ali, nos olhos dela.
— Tão gostosa, eu... E-eu quero me perder em você.
Senti um de seus pés impulsionando minha bunda para frente, consequentemente me fazendo invadi-la com força. se apoiou em seus cotovelos, apertando o lençol sob seu corpo quando a penetrei de novo, agora mais rápido.
— Desse jeito... — ela me incitou, rebolando devagar os quadris. Porra, aquilo era tão bom. — Oh, droga. Sim... ... Mais rápido.
Eu a obedeci. A obedeci porque não poderia ter sido diferente. Eu estava implorando por ela, aumentando a velocidade das investidas a cada segundo, precisava que ela soubesse o quanto as coisas giravam por causa dela... Todos aqueles meses em que eu a ignorei... Parecia um borrão agora, enquanto nos movíamos em sintonia, enquanto ela chamava meu nome daquele jeitinho sensual e desinibido, enquanto eu havia perdido as minhas inibições com ela, fazendo da forma que secretamente sempre desejei fazer. Tomando-a, estreita, bagunçada, tão carente daquela sensação como eu. Observei todos os movimentos de seu corpo, segurando com força em suas coxas. Ela gemia, descompassada, unindo seus gemidos aos meus, que não podia segurá-los por razões explicitamente óbvias.
Eu tinha certeza de que estava uma bagunça com os cabelos suados grudados na testa, as bochechas vermelhas, meus lábios afastados um do outro para permitir que os gemidos saíssem, sem nenhuma vontade de escondê-los. Meu coração pulsava forte, retumbando por todo meu corpo. Só ela existia, me recebendo de forma inesquecível, cerrando a mandíbula a cada gemido. Estava totalmente despreparado quando virou nossos corpos, ficando por cima e me dando uma visão privilegiada de seus seios enquanto me cavalgava. Ela me puxou pelo pescoço para me beijar, e começou a xingar baixinho, lábios raspando nos meus a cada xingamento. Seus seios roçavam em minha pele, e eu beijei-os, sem saber onde o corpo dela terminava e o meu começava, tão perdido em seu cheiro e em seus toques que logo estaria anestesiado. Minhas mãos migraram para seus quadris, forçando-os ainda mais contra mim, e eventualmente tocaram sua bunda com firmeza. Ela não sabia se gemia ou se me beijava, se se demorava na sensação ou se me cavalgava mais rápido, sentada no meu colo, as coxas pressionando as minhas todas as vezes em que ela subia e descia sobre meu membro. Os movimentos de seus músculos estreitados me aproximavam cada vez mais do clímax, e afundei minhas mãos nela de maneira que, eu sabia, deixaria marcas. Mas não poderia me importar menos quando suas unhas aranhavam meu pescoço e puxavam meu cabelo, marcando minhas costas com seus arranhões de desespero. Seus olhinhos denunciavam o quanto ela estava próxima, todo o seu corpo em concordância, movendo-se freneticamente contra o meu.
— Você está perto? — perguntou ela com dificuldade, sem parar de se mover.
— Muito.
— Me toca.
Nem pensei duas vezes antes de tocar seu clitóris com o polegar, desenhando círculos sobre o pedacinho sensível, sendo recompensado por gemidos altos e... E, droga. Eu já estava gozando.
Quando ela me acompanhou, eu jurei que nunca iria me esquecer daquilo.
Era simplesmente a imagem mais linda do mundo... Toda a soma de seus traços contraídos em êxtase, as respostas imediatas de seu corpo capturado pela sensação forte, seu sexo agressivamente retesado quando jorrei dentro dela... Era inexplicável. Me vi chamando o apelido dela de novo e de novo, fissurado em seus movimentos, que pouco a pouco desaceleravam, sensíveis. mostrava-se atenta aos meus movimentos também, observando pacientemente meus traços para registrá-los. Nossas respirações se perdiam entre si, fora de ordem, e me peguei sorrindo quando ela mordeu meu lábio inferior, fazendo-me deitar na cama e deitando sobre mim para me beijar. Seus beijos agora eram calmos, como se há segundos não tivéssemos tentado preencher um o corpo do outro. Minha respiração vacilante contra o rosto dela me deu a sensação gostosa de um fraco sufocamento, que tinha o cheiro dela. Me perguntei, deitado na minha cama e de olhos fechados, se ela também gostava do meu cheiro de cigarros. Eu esperava que sim.
— Eu amo o seu nariz também — foi o que ela disse quando se afastou de mim, me desmontando e procurando pela sua calcinha. Ao vesti-la, pegou também a camiseta, tocando a ponta do meu nariz com o dedo antes de se cobrir; a estampa dos Misfits combinando um pouco com o que ela era, quer dizer... Com o que ela era para mim agora. — Ele tem o formato perfeito, sabia? E céus, eu absolutamente amo sua língua...
— E meu...
— Sim, isso também. Droga, amo você inteiro.
Eu também amava cada pedacinho dela. Gostaria de ter dito isso.
se aninhou em meu peito, beijando meu ombro devagarzinho. Eu ainda precisava daquele tempo para assimilar o que havia acontecido. Ainda sentia meu corpo necessitado de oxigênio, e tinha que tirar aquele sorriso bobo da cara antes que ele ficasse nos meus lábios para sempre.
— O que foi? — perguntou, gostosamente perto, extremamente próxima, perigosamente minha. — Está feliz?
Foi a minha vez de colocar uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.
— Quer dizer que você se toca pensando em mim? — perguntei, brincalhão (mas eu estava falando muito, muito sério).
respondeu com o mesmo tipo de sorriso, me beijando mais uma vez para evitar ter que justificar aquilo.
XXX
Eu estava ferrado.
Não, mais do que isso. Bem mais do que ferrado. Eu estava fodido.
Como eu... Como? Agora, assustadoramente, eu sabia que nenhum de nós dois estava bêbado o suficiente para ter feito tudo aquilo e culpar o álcool. Eu estivera inteiramente sóbrio o tempo todo, e também. Mesmo assim, minha cabeça martelava, e a tevê agora não mais mostrava Star Wars, mas o noticiário da manhã. E, o que era ainda pior, eu estava tendo uma puta de uma ereção e um ataque de pânico ao mesmo tempo. Calma, . Respire fundo. Devagar. Isso, assim é melhor. Você sabe o que fizeram... Ela também vai saber quando acordar e vocês vão ter que lidar com isso como os adultos que são. Sem pânico, sem neura. Você teve a melhor trepada da sua vida a noite passada, agora não pode voltar atrás. E ... Bem, ela gosta de você, ela te viu pelado e ela gostou. E... VOCÊ A FEZ GOZAR. Meu Deus. Aconteceu. Aconteceu e nem você e nem ela podem fazer alguma coisa para mudar isso — graças a Deus. Muita calma nessa hora, . Muita, muita, muita calma.
Por mais que eu estivesse pirando um pouco por dentro, fiquei ansioso para que acordasse. O que será que ela faria? Será que me beijaria? Que diria que tudo foi errado? Ou que foi tudo muito certo? Será que ela iria querer fazer sexo comigo de novo? Será que ela aceitaria ficar comigo? E se ela visse minha ereção? E se eu a pedisse em namoro e ela dissesse que sim? E se ela dissesse que não? E se eu estivesse exagerando?
— Puta que pariu, — eu murmurei, unindo as mãos como se estivesse rezando. — Acorda logo...
Minutos depois, foi exatamente isso o que ela fez. Fiquei vidrado como ela esticou os músculos na cama e abriu os olhos lentamente, me direcionando um pequeno sorriso ao me ver ali, ao seu lado.
— Oi — disse ela.
— Oi. — Eu disse.
— Que horas são?
— Eu... Eu não sei.
— Oh, acho que dormi demais.
Ficamos nos encarando um pouco. sorriu como se estivesse achando aquilo... Estranho, para dizer o mínimo. Ela estava linda com aquela cara de sono, mas não havia nada de ansiedade nela. Talvez um pouco de vergonha, mas não do tipo de quem acorda depois de um sexo bem feito.
— Desculpe ter te dado trabalho ontem. — Ela finalmente comentou, sentando-se, passando as mãos pelos cabelos que estavam milagrosamente arrumados. Eu me lembrava de tê-los bagunçado bem antes de dormirmos juntinhos... — E por ter te beijado daquele jeito no sofá. Eu estava um pouco fora de mim. E... Meu Deus, ! Me desculpe pelo carpete! Será que dá tempo de limpar antes da sua mãe chegar aqui?
Pisquei, atordoado. Ela não se lembrava de nada? Por quê? Talvez ela precisasse de um pouco mais de tempo pra assimilar tudo, como havia ocorrido comigo. E o que ela faria se ficasse surpresa com o que aconteceu?
Porra.
— , eu... — Forcei a pergunta: — Você não se lembra do que aconteceu?
— Ah... Eu me lembro de tudo. — Ela sorriu, sem jeito. Parecia extremamente envergonhada, mas pelos motivos errados. — E estou com tanta vergonha, me desculpe! — Nesse ponto, ela já havia se levantado da cama e estava com o vestido vinho e o sutiã, que havia pendurado da maçaneta da porta do banheiro, na mão. — Eu sinto muito ter te beijado daquele jeito, e por ter sujado seu carpete e por ter feito você aceitar que eu dormisse aqui depois que o filme acabou.
Mas...
Mas...
O QUÊ?
— Depois que o filme acabou? — perguntei, de queixo caído.
fez o máximo que pode para que eu não me sentisse um idiota.
— Você não lembra? Eu não quis ir pro quarto de visitas porque disse que estava frio demais e que você... Ai, merda, que vergonha. — Ela riu. — E que você era muito quente. Eu sei que teria tentado algo a mais, bêbada do jeito que estava, mas senti muito sono e acabei dormindo na sua cama. E você... Eu só posso te agradecer por não ter feito nada comigo daquele jeito. Sabe... Por não ter se aproveitado da situação. Eu não sei o que deu em mim, desculpe.
E, sem dizer mais nada, ela entrou no banheiro e se trancou lá dentro.
Minha mente girava, descontrolada. Então nós não... Eu e ela não havíamos feito nada? Como, se eu ainda podia sentir? Ela estava mentindo, não estava? Só podia ser isso! Mas... não parecia estar mentindo; na verdade, parecia acreditar profundamente em cada palavra que havia dito. Talvez um truque para fingir que nada havia acontecido e me por no meu lugar? Só podia ser aquilo, e além do mais...
Ah, merda.
Pouco a pouco, a verdadeira realidade apareceu. Pouco a pouco, eu fiquei boquiaberto e desesperançoso, me lembrando de tudo, pois ela não havia feito nada mais além de implorar pra dormir do meu lado, ao que eu tentei persuadi-la, mas era tarde demais. Antes que eu pudesse desligar o DVD, já estava dormindo ao meu lado, profundamente, absorta em seus próprios sonhos. E eu, ao invés de dormir junto com ela, havia decidido me embebedar mais com a cerveja que restava na cozinha.
Agora, parecia ridículo. Ridículo que eu tivesse bebido mais, por isso estava com ressaca; ridículo que eu tivesse ligado a tevê no meio da noite para assistir ao noticiário, o que explicava porque a tevê estava ligada naquele canal, naquele programa. Ridículo que eu havia dormido ao lado dela e tido aquele maldito sonho erótico tão vívido e real, que agora me deixava de queixo no chão, de quatro por ela, com vontade de chorar por nada daquilo ter acontecido.
Era simplesmente ridículo.
Uma grande merda.
Me deixei cair de costas na cama, tampando meu rosto com os punhos e enterrando fundo na garganta a vontade louca de gritar. Absolutamente nada, nenhum toque daquele foi real... Nenhum beijo, nenhuma chupada, nenhum movimento... Eu não estava com seu gosto na língua, e nem ela estava com o meu na dela. Tudo o que me restava era a droga de uma camiseta com o cheiro dela e os lençóis intoxicados pelo seu sono pesado de menina que não estava acostumada a beber.
Eu ia gritar.
Foi até bom que tivesse saído do banheiro tão rápido, agora usando o vestido da noite anterior e me entregando a camiseta dos Misfits cuidadosamente dobrada pelas suas mãozinhas — mãozinhas que, reais ou não, me fizeram morder o lábio com as lembranças daquele sonho (deliciosamente) idiota. Ela ainda estava um pouco corada.
— Eu... Eu acho que já vou embora — foi o que ela disse.
Eu deveria protestar, mas tudo o que pude dizer foi:
— Ah, ok.
Burro, idiota, imbecil, cretino, vagabundo, babaca, panaca, frouxo, tonto, maricas, filho de uma puta, covarde.
Covarde.
COVARDE.
já estava prestes a subir as escadas que levavam para fora do porão quando disse:
— Desculpa, de novo.
E subiu os degraus como se estivesse fugindo de um monstro.
Eu pude ouvir quando ela abriu a porta da frente e foi embora. Pude ouvir quando acordou aos poucos no andar de cima, e pude ouvir meus pais entrando em casa, a voz furiosa da minha mãe querendo saber quem havia sujado o carpete com a droga da cerveja que ela e meu pai estavam guardando para o final de semana.
Só quando ouvi seus passos irritados descendo o porão, foi que parei de cheirar a camiseta que ainda tinha aquele perfume cítrico e único.
Eu estava fodido.
Fim.
Nota da autora: (04/02/2016)
OUTRA FANFIC DA AUTORA: Public Pervert
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