Capítulo Único
— Vamos dançar. – Rony disse mau humorado olhando de Krum para Harry e pegando nas mãos de Hermione. Ela o acompanhou parecendo surpresa, mas também feliz.
Caminharam devagar em direção à pista de dança do casamento de Fleur e Gui, ziguezagueando entre os convidados e afastando-se bem da mesa que Krum agora dividia apenas com Harry. Hermione arriscou lançar um olhar para trás, apenas para certificar-se que o amigo ficara bem com a saída brusca deles de lá, mas se arrependeu logo em seguida ao encontrar os olhos de Rony. Ela sorriu fraco numa tentativa vã de fingir que nada tinha acontecido, mas suspirou em seguida ao identificar um semblante não muito receptivo no menino.
— Se você quiser voltar para lá... – Ele mencionou a contragosto, ainda andando para longe.
— Eu não quero.
— Mas se quiser... – Ele ofereceu de novo e Hermione apertou a sua mão, levando-o para longe de uma multidão que dançava frenética.
— Vamos dançar, a música está animada, não é? – Mudou de assunto sutilmente enquanto parava em um lugar que parecia bom. Rony concordou com a cabeça, ainda parecendo um pouco desconfortável. Hermione sabia que o menino estava com ciúmes de Vítor, mas não conseguia entender muito bem a importância enorme que ele dava a um antigo relacionamento passageiro. – Eu não vou voltar Rony, pode relaxar.
Ele soltou um pouco a musculatura tensa e começou a se mover de um lado para o outro, devagar, sendo acompanhado pela menina à sua frente. O som agitado incendiava o ambiente, e os convidados pareciam se divertir tanto que não havia nenhum resquício de preocupação em seus rostos sobre forças de artes das trevas.
— Eu sou muito ruim nisso! – Exclamou Hermione rindo, Ron deixou um sorriso pequeno escapar dos seus lábios e se permitiu apreciar a menina. Ela dançava bem, desengonçada era bem verdade, mas ela conseguia acompanhar o ritmo da música muito melhor do que ele.
— Você não é, é perfeitamente decente. Já parou pra reparar em mim? Eu sou pior nisso do que o Harry foi quando abriu a dança daquele maldito Baile de Inverno. – Rony reclamou, chamando a atenção da menina para a comparação, ainda que ele parecesse achar graça dela. Hermione mordeu seus lábios e se aproximou mais do garoto para que pudesse ser ouvida nitidamente.
— Deixa o baile de Inverno para trás, Rony. Tudo o que aconteceu lá passou. – Rony sentiu seu rosto esquentar um pouco, e, apesar de um pouco sem graça, não deixou de procurar os olhos de Hermione com os seus, como se tentasse confirmar o sentido implícito nas palavras dela.
— Nem tudo. – Ele respondeu baixinho, olhando para trás de Hermione e apontando com a cabeça um Vítor Krum visivelmente interessado nos dois. A menina virou para a mesma direção e encontrou os olhos de Krum, que sorriu para ela. Sentiu seu rosto corar instantaneamente e, sem pensar, afastou-se um pouco de Rony. O gesto não passou despercebido.
— Desculpe. – Ela exclamou voltando para o lugar que estava antes. Rony apenas concordou com a cabeça, ainda se mexendo no ritmo da música alegre, embora não houvesse nada de animado em seu rosto. Era ciúmes, Hermione sabia e conseguia se colocar no lugar dele quando lembrava de Lilá em seus braços no ano anterior.
— Você sabia que ele vinha? – Rony perguntou.
— Não, quer dizer, eu não tinha certeza. Pensei que pudesse vir, já é amigo da Fleur, mas não perguntei. – Ela disse suavemente e deixou sua mão escorregar em direção a dele, entrelaçando os dedos em seguida. Queria que o assunto pudesse ser esquecido, queria que ele entendesse que a presença de Vítor Krum não significava nada, mas sabia que Rony só seguiria em frente quanto a essas ideias quando tudo fosse posto na mesa.
— Não perguntou pro Krum? – Disse sério.
— Não perguntei para a Fleur, Rony. Não tenho falado com Vítor há muito tempo. – Hermione acrescentou propositalmente e viu a feição de Rony relaxar. Continuou dançando de mãos dadas com ele e se permitiu até ser conduzida pelo seu par em um rodopio.
— Ah... achei que estivessem em contato. Você disse que ele seria seu amigo por correspondência. – Ele falou falsamente desinteressado. Era óbvio que queria saber exatamente o que tinha acontecido. – Vocês brigaram?
— Não. – Hermione respondeu rápido e ficou em silêncio alguns segundos antes de continuar. – Eu parei de escrever.
A menina sentiu seu rosto esquentar e mordeu o lábio um pouco sem graça. Rony, por outro lado, sustentava uma feição bastante satisfeita no rosto com a revelação surpresa.
— Você parou de escrever. – Ele repetiu suprimindo um risinho.
— Parei. – Hermione confirmou aproximando-se mais ainda dele, já que a música estava gradativamente diminuindo de ritmo.
— E por quê? – Rony indagou ao mesmo tempo em que emendava outra pergunta. – Você quer sentar? Acho que agora vem a parte calma da dança, olha. – Ele apontou para os convidados que os rodeavam, mostrando à garota que todos que permaneciam na pista estavam abraçados e se movendo num ritmo lento.
— Eu quero ficar, isso é, se você quiser ficar também. Se você quiser voltar podemos ir. – Antes mesmo que Rony pudesse responder Hermione já tinha colocado seus braços em volta do pescoço do garoto, que, quase que automaticamente, depositou suas mãos na cintura dela, puxando-a para perto.
— Mas se você... – Ele começou novamente.
— Rony... eu só tenho interesse em fazer companhia para uma pessoa. – Deixou no ar e fez questão de não adicionar o “hoje” no final da frase, embora fosse a resposta mais direta. Esperava que assim ele fosse entender que a companhia só dele era o que ela queria, também, nos outros dias. Sentiu um leve pressão em sua cintura e viu Rony abrir um sorriso tímido. Sorrindo de volta, ela deixou a cabeça repousar no tronco dele. – Foi isso que disse quando parei de escrever, que não tinha interesse. – Completou apenas para que o assunto pudesse ser definitivamente encerrado, pelo menos por enquanto.
— Certo, ótimo. – Ele murmurou ainda incerto do que dizer. – Bom saber.
Hermione ficou quieta. Fechou os olhos por um momento e se permitiu aproveitar o balanço gentil de seus corpos movendo-se em conjunto. Ela mal conseguia prestar atenção na música que tocava na festa, estava mais interessada em acompanhar as batidas do coração de Rony, que estava disparado nos seus ouvidos. A menina sabia que o seu não devia estar muito diferente, e tinha certeza que estava em pé muito pelo apoio que recebia do corpo quente dele.
Muito embora os casais ao redor já tivessem começado com carinhos, os dois optaram por apenas apreciar a companhia e refletir, cada qual em seu próprio pensamento, até onde tinham chegado. Eram anos de admiração mútua, anos de amizade, e anos também de um sentimento maior do que apenas isso.
Hermione tinha sido a primeira a descobrir, mas, racional como era, optou por trancar o sentimento a sete chaves num primeiro momento. Tinha medo de que algo pudesse acabar com o vínculo de cumplicidade que compartilhava com ele, e sentia também que não era correspondida.
Mas ela era.
Rony descobriu um tempo depois, mas não de forma tão natural. Foi preciso um empurrãozinho do destino, e do um jogador de quadribol búlgaro, para que começasse a olhar para a amiga de forma diferente. Ele soube que algo diferente tinha despertado nele naquele Baile de Inverno, só que demorou demais para dar a devida importância.
Dentre altos e baixos mantiveram em segundo plano o anseio pessoal, sofreram em silêncio, mas não o suficiente para que passassem despercebidos. Outros sabiam, é claro que sim, era nítida a atração. Mas não foi até recentemente que entraram nesse limbo entre a amizade e algo mais sério, mas nenhum dos dois sabia muito bem aonde se encontravam.
Não estavam comprometidos, não mesmo. Não haviam nem ao menos se beijado! Mas sentiam-se ligados, como se estivessem caminhando para... alguma coisa. Havia muito mais toques do que antes, muitos olhares demorados, conversas ao pé do ouvido, segredos trocados, carinhos deixados. Bastava apenas o primeiro passo, mas faltava coragem.
Em meio a devaneios ele moveu sua mão para cima, colocando-a nos cabelos de Hermione e afastando uma mecha teimosa que insistia em cair em seus olhos. Ela levantou sua cabeça do peito dele e olhou diretamente em seus olhos, sorrindo tímida. Moveu uma de suas mãos para baixo e pegou na mão livre do menino, que não custou em entrelaçá-las rapidamente.
A música continuava lenta, romântica, numa atmosfera de total intimidade que os seduzia.
-Você quer, er, ir um pouco lá fora? – Rony perguntou com a voz grossa, como se tivesse lutando contra as palavras para falar. Hermione sabia que, dessa vez, o convite era sincero, e não relacionado com qualquer outro convidado de lá. Ele estava chamando-a para que saísse com ele de lá, e não que saísse de seu lado.
— Sim, vamos. – Ela respondeu, já pegando-o pela mão e abrindo caminho em meio a multidão. Viu Harry na lateral da pista procurando por alguém, pensou que talvez fosse por eles dois, mas sabia que ele poderia esperar. Rony, por outro lado, nem se importava mais em olhar para o lado para procurar Vítor Krum ou algum outro, “ela não tem interesse”, pensava, feliz, num mantra incessante.
Caminharam até ouvir os burburinhos da festa se afastarem e as luzes não mais estarem visíveis. Estavam sozinhos por lá, embora soubessem que uma ronda de segurança passava por todos os cantos do jantar de tempos em tempos. Hermione soltou a mão de Rony e acendeu sua varinha, encontrando um tronco de árvore caído ali por perto e indo em direção a este para sentar-se.
— Cuidado com os gnomos. – Comentou Rony sentando em seu lado, perto o suficiente para que sua respiração batesse no rosto da menina quando ele falava. – Eles são traiçoeiros, vão entrar pela saia do seu vestido e te importunar por horas.
— Eu acho que vou arriscar. – Hermione disse rindo baixinho. Ron limpou a garganta.
— Hermione, me desculpa por... – Ele começou sem graça, olhando para baixo.
— Sem desculpas, Rony. – A menina o cortou com delicadeza. – Não tem nada para se desculpar.
— Certo... obrigada. – Ele apertou a mão esquerda dela com a sua e iniciou uma brincadeira com seus dedos. Ela correspondeu e logo os dois estavam rindo da pequena bobagem. Se davam muito bem, apesar das implicâncias constantes, e se sentiam livres para serem tudo o que quisessem – crianças, adultos, bruxos ou falsos trouxas – perto um do outro.
— Acho que devíamos voltar. – Hermione comentou parecendo desanimada mas sincera. – Talvez estejam nos procurando, e , em tempos como esse, não é bom que desapareçamos assim.
Rony concordou silenciosamente e olhou para o seu rosto. Nenhum deles fez menção de levantar-se. O menino levou sua mão até a bochecha dela e iniciou um carinho devagar por ali. Hermione fechou os olhos, aproveitando, e ansiosa por pensar no que podia vir em seguida.
— Eu quero te beijar. – Ele falou baixinho e agora com os olhos também fechados. O medo da recusa era enorme, mas a vontade era tão maior que o corroía por dentro. Ele precisava tentar, precisava dar uma chance para o que quer que fosse que eles estavam compartilhando antes que embarcassem com Harry na viagem mais perigosa de suas vidas. Não teriam mais muito tempo sozinhos depois dessa noite, era agora ou nunca.
— Eu quero que você beije. – Ela respondeu num sussurro e mal conseguiu terminar a frase antes de sentir os lábios de Rony nos seus.
Uma explosão de sentimentos fazia festa dentro de cada um deles, embora ambos estivessem se controlando o máximo para não deixarem nada transparecer. O beijo começou devagar, tímido, com uma troca sutil de carinhos, mas não demorou muito para que se intensificasse e aprofundasse, misturando a saliva dos dois e deixando que conhecessem o gosto de seus corpos juntos. As mãos de ambos também pareciam ter ganhado vida e passeavam livremente para cima e para baixo, nenhum dos dois parecia se importar.
Tão rápido começou, terminou. Eles se afastaram assustados ao ouvirem barulho de passos, apenas para serem surpreendidos com Bichento, que parecia estar fazendo seu passeio noturno. Riram um pouco, ainda encabulados, e Rony se levantou estendendo a mão para Hermione, que prontamente a aceitou.
Voltaram devagar para a tenda da festa sem precisarem trocar palavra alguma, parecia que tudo tinha sido dito por meio do beijo. Hermione avistou Harry de longe e puxou Rony para a sua direção.
— Pode ir, vou pegar cerveja amanteigada para nós. – O menino exclamou. Ela concordou silenciosamente e tomou seu rumo, vendo no caminho Vítor e o pai de Luna envoltos numa aparente discussão segundos antes do primeiro se afastar enfurecido. Deu de ombros, seja lá o que fosse que os tivesse incomodado ela não se importava, sua cabeça conseguia pensar apenas no que havia acabado de acontecer entre ela e Rony.
Sentou com Harry e iniciou uma pequena conversa antes que o lugar virasse um caos. Os momentos bons se dissiparam com o terror da queda do Ministério e a vinda dos Comensais da Morte. A realidade os atingiu em cheio e fez com que o resto da noite fosse para os três o início do período mais sombrio que tinham enfrentado até então.
Mas, apesar dos percalços, o que tinha acontecido entre Rony e Hermione na festa tinha plantado uma pequena semente entre ambos e não poderia ser apagado por artes das trevas alguma. Tinha sido real, tão real que disparava o coração de qualquer um deles quando retornava à memória, e funcionava como um combustível interno para a espera de dias melhores que ainda estavam por vir.
Mas nem tudo havia sido perdido, afinal. Naquela mesma noite não hesitaram em dormir com as mãos entrelaçadas como num gesto mudo de intimidade.
Caminharam devagar em direção à pista de dança do casamento de Fleur e Gui, ziguezagueando entre os convidados e afastando-se bem da mesa que Krum agora dividia apenas com Harry. Hermione arriscou lançar um olhar para trás, apenas para certificar-se que o amigo ficara bem com a saída brusca deles de lá, mas se arrependeu logo em seguida ao encontrar os olhos de Rony. Ela sorriu fraco numa tentativa vã de fingir que nada tinha acontecido, mas suspirou em seguida ao identificar um semblante não muito receptivo no menino.
— Se você quiser voltar para lá... – Ele mencionou a contragosto, ainda andando para longe.
— Eu não quero.
— Mas se quiser... – Ele ofereceu de novo e Hermione apertou a sua mão, levando-o para longe de uma multidão que dançava frenética.
— Vamos dançar, a música está animada, não é? – Mudou de assunto sutilmente enquanto parava em um lugar que parecia bom. Rony concordou com a cabeça, ainda parecendo um pouco desconfortável. Hermione sabia que o menino estava com ciúmes de Vítor, mas não conseguia entender muito bem a importância enorme que ele dava a um antigo relacionamento passageiro. – Eu não vou voltar Rony, pode relaxar.
Ele soltou um pouco a musculatura tensa e começou a se mover de um lado para o outro, devagar, sendo acompanhado pela menina à sua frente. O som agitado incendiava o ambiente, e os convidados pareciam se divertir tanto que não havia nenhum resquício de preocupação em seus rostos sobre forças de artes das trevas.
— Eu sou muito ruim nisso! – Exclamou Hermione rindo, Ron deixou um sorriso pequeno escapar dos seus lábios e se permitiu apreciar a menina. Ela dançava bem, desengonçada era bem verdade, mas ela conseguia acompanhar o ritmo da música muito melhor do que ele.
— Você não é, é perfeitamente decente. Já parou pra reparar em mim? Eu sou pior nisso do que o Harry foi quando abriu a dança daquele maldito Baile de Inverno. – Rony reclamou, chamando a atenção da menina para a comparação, ainda que ele parecesse achar graça dela. Hermione mordeu seus lábios e se aproximou mais do garoto para que pudesse ser ouvida nitidamente.
— Deixa o baile de Inverno para trás, Rony. Tudo o que aconteceu lá passou. – Rony sentiu seu rosto esquentar um pouco, e, apesar de um pouco sem graça, não deixou de procurar os olhos de Hermione com os seus, como se tentasse confirmar o sentido implícito nas palavras dela.
— Nem tudo. – Ele respondeu baixinho, olhando para trás de Hermione e apontando com a cabeça um Vítor Krum visivelmente interessado nos dois. A menina virou para a mesma direção e encontrou os olhos de Krum, que sorriu para ela. Sentiu seu rosto corar instantaneamente e, sem pensar, afastou-se um pouco de Rony. O gesto não passou despercebido.
— Desculpe. – Ela exclamou voltando para o lugar que estava antes. Rony apenas concordou com a cabeça, ainda se mexendo no ritmo da música alegre, embora não houvesse nada de animado em seu rosto. Era ciúmes, Hermione sabia e conseguia se colocar no lugar dele quando lembrava de Lilá em seus braços no ano anterior.
— Você sabia que ele vinha? – Rony perguntou.
— Não, quer dizer, eu não tinha certeza. Pensei que pudesse vir, já é amigo da Fleur, mas não perguntei. – Ela disse suavemente e deixou sua mão escorregar em direção a dele, entrelaçando os dedos em seguida. Queria que o assunto pudesse ser esquecido, queria que ele entendesse que a presença de Vítor Krum não significava nada, mas sabia que Rony só seguiria em frente quanto a essas ideias quando tudo fosse posto na mesa.
— Não perguntou pro Krum? – Disse sério.
— Não perguntei para a Fleur, Rony. Não tenho falado com Vítor há muito tempo. – Hermione acrescentou propositalmente e viu a feição de Rony relaxar. Continuou dançando de mãos dadas com ele e se permitiu até ser conduzida pelo seu par em um rodopio.
— Ah... achei que estivessem em contato. Você disse que ele seria seu amigo por correspondência. – Ele falou falsamente desinteressado. Era óbvio que queria saber exatamente o que tinha acontecido. – Vocês brigaram?
— Não. – Hermione respondeu rápido e ficou em silêncio alguns segundos antes de continuar. – Eu parei de escrever.
A menina sentiu seu rosto esquentar e mordeu o lábio um pouco sem graça. Rony, por outro lado, sustentava uma feição bastante satisfeita no rosto com a revelação surpresa.
— Você parou de escrever. – Ele repetiu suprimindo um risinho.
— Parei. – Hermione confirmou aproximando-se mais ainda dele, já que a música estava gradativamente diminuindo de ritmo.
— E por quê? – Rony indagou ao mesmo tempo em que emendava outra pergunta. – Você quer sentar? Acho que agora vem a parte calma da dança, olha. – Ele apontou para os convidados que os rodeavam, mostrando à garota que todos que permaneciam na pista estavam abraçados e se movendo num ritmo lento.
— Eu quero ficar, isso é, se você quiser ficar também. Se você quiser voltar podemos ir. – Antes mesmo que Rony pudesse responder Hermione já tinha colocado seus braços em volta do pescoço do garoto, que, quase que automaticamente, depositou suas mãos na cintura dela, puxando-a para perto.
— Mas se você... – Ele começou novamente.
— Rony... eu só tenho interesse em fazer companhia para uma pessoa. – Deixou no ar e fez questão de não adicionar o “hoje” no final da frase, embora fosse a resposta mais direta. Esperava que assim ele fosse entender que a companhia só dele era o que ela queria, também, nos outros dias. Sentiu um leve pressão em sua cintura e viu Rony abrir um sorriso tímido. Sorrindo de volta, ela deixou a cabeça repousar no tronco dele. – Foi isso que disse quando parei de escrever, que não tinha interesse. – Completou apenas para que o assunto pudesse ser definitivamente encerrado, pelo menos por enquanto.
— Certo, ótimo. – Ele murmurou ainda incerto do que dizer. – Bom saber.
Hermione ficou quieta. Fechou os olhos por um momento e se permitiu aproveitar o balanço gentil de seus corpos movendo-se em conjunto. Ela mal conseguia prestar atenção na música que tocava na festa, estava mais interessada em acompanhar as batidas do coração de Rony, que estava disparado nos seus ouvidos. A menina sabia que o seu não devia estar muito diferente, e tinha certeza que estava em pé muito pelo apoio que recebia do corpo quente dele.
Muito embora os casais ao redor já tivessem começado com carinhos, os dois optaram por apenas apreciar a companhia e refletir, cada qual em seu próprio pensamento, até onde tinham chegado. Eram anos de admiração mútua, anos de amizade, e anos também de um sentimento maior do que apenas isso.
Hermione tinha sido a primeira a descobrir, mas, racional como era, optou por trancar o sentimento a sete chaves num primeiro momento. Tinha medo de que algo pudesse acabar com o vínculo de cumplicidade que compartilhava com ele, e sentia também que não era correspondida.
Mas ela era.
Rony descobriu um tempo depois, mas não de forma tão natural. Foi preciso um empurrãozinho do destino, e do um jogador de quadribol búlgaro, para que começasse a olhar para a amiga de forma diferente. Ele soube que algo diferente tinha despertado nele naquele Baile de Inverno, só que demorou demais para dar a devida importância.
Dentre altos e baixos mantiveram em segundo plano o anseio pessoal, sofreram em silêncio, mas não o suficiente para que passassem despercebidos. Outros sabiam, é claro que sim, era nítida a atração. Mas não foi até recentemente que entraram nesse limbo entre a amizade e algo mais sério, mas nenhum dos dois sabia muito bem aonde se encontravam.
Não estavam comprometidos, não mesmo. Não haviam nem ao menos se beijado! Mas sentiam-se ligados, como se estivessem caminhando para... alguma coisa. Havia muito mais toques do que antes, muitos olhares demorados, conversas ao pé do ouvido, segredos trocados, carinhos deixados. Bastava apenas o primeiro passo, mas faltava coragem.
Em meio a devaneios ele moveu sua mão para cima, colocando-a nos cabelos de Hermione e afastando uma mecha teimosa que insistia em cair em seus olhos. Ela levantou sua cabeça do peito dele e olhou diretamente em seus olhos, sorrindo tímida. Moveu uma de suas mãos para baixo e pegou na mão livre do menino, que não custou em entrelaçá-las rapidamente.
A música continuava lenta, romântica, numa atmosfera de total intimidade que os seduzia.
-Você quer, er, ir um pouco lá fora? – Rony perguntou com a voz grossa, como se tivesse lutando contra as palavras para falar. Hermione sabia que, dessa vez, o convite era sincero, e não relacionado com qualquer outro convidado de lá. Ele estava chamando-a para que saísse com ele de lá, e não que saísse de seu lado.
— Sim, vamos. – Ela respondeu, já pegando-o pela mão e abrindo caminho em meio a multidão. Viu Harry na lateral da pista procurando por alguém, pensou que talvez fosse por eles dois, mas sabia que ele poderia esperar. Rony, por outro lado, nem se importava mais em olhar para o lado para procurar Vítor Krum ou algum outro, “ela não tem interesse”, pensava, feliz, num mantra incessante.
Caminharam até ouvir os burburinhos da festa se afastarem e as luzes não mais estarem visíveis. Estavam sozinhos por lá, embora soubessem que uma ronda de segurança passava por todos os cantos do jantar de tempos em tempos. Hermione soltou a mão de Rony e acendeu sua varinha, encontrando um tronco de árvore caído ali por perto e indo em direção a este para sentar-se.
— Cuidado com os gnomos. – Comentou Rony sentando em seu lado, perto o suficiente para que sua respiração batesse no rosto da menina quando ele falava. – Eles são traiçoeiros, vão entrar pela saia do seu vestido e te importunar por horas.
— Eu acho que vou arriscar. – Hermione disse rindo baixinho. Ron limpou a garganta.
— Hermione, me desculpa por... – Ele começou sem graça, olhando para baixo.
— Sem desculpas, Rony. – A menina o cortou com delicadeza. – Não tem nada para se desculpar.
— Certo... obrigada. – Ele apertou a mão esquerda dela com a sua e iniciou uma brincadeira com seus dedos. Ela correspondeu e logo os dois estavam rindo da pequena bobagem. Se davam muito bem, apesar das implicâncias constantes, e se sentiam livres para serem tudo o que quisessem – crianças, adultos, bruxos ou falsos trouxas – perto um do outro.
— Acho que devíamos voltar. – Hermione comentou parecendo desanimada mas sincera. – Talvez estejam nos procurando, e , em tempos como esse, não é bom que desapareçamos assim.
Rony concordou silenciosamente e olhou para o seu rosto. Nenhum deles fez menção de levantar-se. O menino levou sua mão até a bochecha dela e iniciou um carinho devagar por ali. Hermione fechou os olhos, aproveitando, e ansiosa por pensar no que podia vir em seguida.
— Eu quero te beijar. – Ele falou baixinho e agora com os olhos também fechados. O medo da recusa era enorme, mas a vontade era tão maior que o corroía por dentro. Ele precisava tentar, precisava dar uma chance para o que quer que fosse que eles estavam compartilhando antes que embarcassem com Harry na viagem mais perigosa de suas vidas. Não teriam mais muito tempo sozinhos depois dessa noite, era agora ou nunca.
— Eu quero que você beije. – Ela respondeu num sussurro e mal conseguiu terminar a frase antes de sentir os lábios de Rony nos seus.
Uma explosão de sentimentos fazia festa dentro de cada um deles, embora ambos estivessem se controlando o máximo para não deixarem nada transparecer. O beijo começou devagar, tímido, com uma troca sutil de carinhos, mas não demorou muito para que se intensificasse e aprofundasse, misturando a saliva dos dois e deixando que conhecessem o gosto de seus corpos juntos. As mãos de ambos também pareciam ter ganhado vida e passeavam livremente para cima e para baixo, nenhum dos dois parecia se importar.
Tão rápido começou, terminou. Eles se afastaram assustados ao ouvirem barulho de passos, apenas para serem surpreendidos com Bichento, que parecia estar fazendo seu passeio noturno. Riram um pouco, ainda encabulados, e Rony se levantou estendendo a mão para Hermione, que prontamente a aceitou.
Voltaram devagar para a tenda da festa sem precisarem trocar palavra alguma, parecia que tudo tinha sido dito por meio do beijo. Hermione avistou Harry de longe e puxou Rony para a sua direção.
— Pode ir, vou pegar cerveja amanteigada para nós. – O menino exclamou. Ela concordou silenciosamente e tomou seu rumo, vendo no caminho Vítor e o pai de Luna envoltos numa aparente discussão segundos antes do primeiro se afastar enfurecido. Deu de ombros, seja lá o que fosse que os tivesse incomodado ela não se importava, sua cabeça conseguia pensar apenas no que havia acabado de acontecer entre ela e Rony.
Sentou com Harry e iniciou uma pequena conversa antes que o lugar virasse um caos. Os momentos bons se dissiparam com o terror da queda do Ministério e a vinda dos Comensais da Morte. A realidade os atingiu em cheio e fez com que o resto da noite fosse para os três o início do período mais sombrio que tinham enfrentado até então.
Mas, apesar dos percalços, o que tinha acontecido entre Rony e Hermione na festa tinha plantado uma pequena semente entre ambos e não poderia ser apagado por artes das trevas alguma. Tinha sido real, tão real que disparava o coração de qualquer um deles quando retornava à memória, e funcionava como um combustível interno para a espera de dias melhores que ainda estavam por vir.
Mas nem tudo havia sido perdido, afinal. Naquela mesma noite não hesitaram em dormir com as mãos entrelaçadas como num gesto mudo de intimidade.
Fim!
Nota da autora: sem nota
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