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Finalizada em: 31/12/2021

24 - Before The World Caves In

A sala da Profª McGonagall nunca esteve tão cheia e isso ficou evidente quando a mesma tentava ajeitar os móveis e objetos de forma que todos os presentes (que não eram muitos) pudessem se acomodar confortáveis. Na sala estava o professor Alastor Moody, sua carranca marcada demonstrava certo remorso? Black, que também estava presente, não soube dizer. O diretor Alvo Dumbledore, sempre com um sorriso simpático no rosto, estava tão sério quanto os demais. Por último, mas não menos importante, Percy Weasley, um dos irmãos da família Weasley que ainda não havia conhecido, estava sentado na cadeira de Minerva, um ar de superioridade pairava sobre ele, como se o mesmo fosse dono da sala. Porém, bastou Dumbledore pigarrear uma única vez para ele se levantar às pressas, amedrontado, e parar ao lado da cadeira onde agora o diretor sentava.
engoliu em seco.

— Bom, antes de começarmos esta conversa, creio que o professor Alastor Moody gostaria de dizer algumas palavras à você, — disse Alvo Dumbledore, passando a palavra para o professor. — Alastor?
— Ahm, sim, gostaria — disse o outro homem, apertando sua bengala em sinal de nervosismo. — Eu sinto muito, Black, por tê-la feito usar uma Maldição Imperdoável.
— E o que mais? — incentivou Minerva, cruzando os braços.
— E eu não vou mais usar feitiços não autorizados com os alunos — Moody resmungou baixo, revirando os olhos enfezados.
— Espera aí, você disse que tinha autorização! — acusou .
— Mas não tinha — disse Dumbledore, inclinando-se para frente. — Você colocou a vida deles em risco, Alastor!
— Ora, eu não pensei que a garota ia saber lançar uma Maldição! — exclamou o professor, olhando-a feio como se a garota fosse a culpada. — Deve estar no sangue dela…
— Já chega, Sr. Moody! — vociferou Minerva com irritação, ajeitando suas vestes. — Já pode ir.

E com seu característico som metálico, Alastor arrastou-se porta afora aos resmungos. afundou mais na cadeira, sabia que agora a bronca seria para ela e não poderia fazer nada além de ouvir e pedir desculpas. Entretanto, Dumbledore sorriu para a garota e pareceu relaxar um pouco depois da saída do professor. Minerva continuava fiel ao lado da aluna da Grifinória, sua responsabilidade, e parecia estar igualmente calma. A garota estava completamente perdida, sem saber bem o que esperar ou o que falar, então permaneceu em silêncio, revezando seu olhar do diretor para o ruivo ao lado dele que não parava de fazer anotações em um bloco de notas.

, primeiro de tudo, gostaria de saber como você está se sentindo?

Ao ouvir a pergunta do diretor, se segurou para não revirar os olhos. Por que todos insistiam tanto em perguntar isso? O que queriam que ela respondesse? Que estava mal, que sentia um peso e uma culpa em seu peito tão grandes que ela não sabia como estava conseguindo respirar? Que estava preocupada demais com Draco Malfoy e mesmo sabendo não ser o ideal, queria poder vê-lo naquele exato momento?
Tudo aquilo era verdade, por mais que odiasse admitir e ela não o faria. Sendo assim, apenas deu de ombros e olhou de relance para Percy que insistia em fazer anotações. O olhar não passou despercebido por Alvo Dumbledore que, sempre muito gentil, pediu para que o Weasley aguardasse do lado de fora.

— Mas eu tenho perguntas para fazer a ela!
— E poderá fazer em um instante — disse McGonagall, empurrando-o porta afora. Em seguida, voltou a se juntar a , apoiando uma mão no ombro da garota em sinal de apoio. — Pode falar, querida.

Aquilo foi o suficiente para a garota desatar a chorar, colocando o rosto entre as mãos e tentando balbuciar o que realmente estava sentindo, deixando para trás toda a tranquilidade que Cedrico Diggory a proporcionou. Confessou tudo ao diretor, o sentimento ruim quando lançou a maldição, o peso em seu peito e a sensação de prazer que a assustava mais que tudo. Quando terminou, agora mais calma, percebeu que Minerva a abraçava em consolo, olhando com preocupação para Alvo Dumbledore. O homem, por sua vez, apenas recostou na cadeira e cruzou as mãos na frente do rosto com os cotovelos apoiados nos braços de madeira da cadeira.

— O Professor Moody estava certo, talvez esteja mesmo no meu sangue — ela choramingou, aceitando um lenço que McGonagall ofereceu. A professora bufou, balançando a cabeça, e o mínimo que Dumbledore fez foi abrir um leve sorriso, assentindo.
— Te ver chorando e se sentindo tão mal com o acontecido me enche de alívio — disse o diretor calmamente. franziu a testa, confusa.
— Como assim?
— Isso significa que você não é má como pensa que é — ele respondeu, levantando-se da cadeira e dando a volta na mesa.
— Mas eu senti prazer em fazer aquilo — a garota retrucou, sem entender. — E eu sei que isso pode acontecer com a magia das trevas, pois é assim que ela nos seduz a continuar usando, mas…
— Você já disse tudo — ele a interrompeu, sorrindo tranquilo ao se apoiar na mesa, de frente para a garota. — É totalmente normal. O importante é você não repetir o uso e não se deixar ser seduzida pela magia negra. Se você deixar que ela te consuma, ah, aí sim estará perdida! Mas creio que isso não irá acontecer com você.

A garota assentiu, garantindo a ele que não o faria mais e sabia que falava com sinceridade.

— A culpa não foi sua — continuou o homem, olhando-a por cima dos óculos meia-lua antes de se afastar da mesa. — Lembre-se disso quando for falar com Percy Weasley.

Quando chegou na porta, Alvo Dumbledore a abriu para receber um afobado ruivo que quase caiu com o ato, pois estava colado na porta de madeira – claramente tentando ouvir algo. O garoto não perdeu tempo e, depois de agradecer Dumbledore desajeitadamente, apressou-se em se sentar à mesa da diretora da Grifinória, agindo novamente como se a sala fosse dele.
Cansada de ficar em pé e de ceder seu assento aos outros, McGonagall conjurou uma cadeira e se posicionou fiel ao lado da aluna, sem soltar sua mão. As duas esperaram que Percy começasse a falar e depois de pigarrear alto e estufar o peito, ele o fez:

— Senhorita … Black — leu Percy, ajeitando seus óculos de leitura que pareciam atrapalhar mais do que ajudar. — Você confirma que esse é seu nome?
— Confirmo — ela respondeu, trocando um olhar com a professora.
— Me fala sua idade, nacionalidade e situação sanguínea.

se remexeu na cadeira, incomodada.

— Situação sanguínea?
— É — Percy respondeu, mexendo a mão com desdém e sem tirar os olhos do bloco de notas. — Puro sangue, mestiça ou nascida trouxa...
— Certo… Ahm… Tenho quinze anos, sou brasileira e mestiça.
— Seu pai era trouxa? — Weasley perguntou, olhando-a por cima dos óculos como Dumbledore fazia. A bruxa fez uma careta.
— Você sabe que não — respondeu, cruzando os braços. — Meu pai é um bruxo, minha mãe era uma sereia.
— Nome deles? — Percy perguntou, desviando o olhar para seu bloco de notas.
— Artemisa e… Sirius Black.

O ruivo parou de escrever na mesma hora, sua mão trêmula derrubou a pena e, atrapalhado, ele se abaixou para pegar. As duas bruxas perceberam que ao voltar a escrever, Percy Weasley errou algumas vezes, o som de sua pena rabiscando o erro foi o único durante alguns longos segundos.

— Certo, agora onde você mora?
— Isso é mesmo necessário, Sr. Weasley? — a professora perguntou, olhando com preocupação para a aluna.
— É claro! É para a ficha criminal dela…
— Ficha criminal!? — as duas perguntaram, exasperadas.
— Achei que você ia interrogá-la primeiro! — exclamou a professora.
— E vou — ele respondeu, dando de ombros. — Estou fazendo isso, aliás, mas a ficha é apenas protocolo. Agora, por favor, seu endereço.

A aluna afundou na cadeira e encolheu os ombros, ela não fazia ideia do que responder. Ainda era a Castelobruxo? Afinal, suas coisas estavam lá e ela voltaria no final do ano letivo. Contudo, agora estava em Hogwarts, ali era como sua casa. Mas se perguntou também se seu pai havia arranjado uma casa para eles morarem e agora lá seria o seu lar.
Pensando na opção mais segura, a garota respondeu "Castelobruxo", sua voz saiu baixa e incerta.

— É lá que seu pai está? — Percy perguntou, sem olhar para a garota.
— Como!? — ela questionou, piscando confusa. — Ahm, não, eu não sei onde ele está…
— Conhecendo Sirius Black, você tem alguma noção de onde ele poderia estar se escondendo?
— Espera aí, você veio para perguntar sobre o que aconteceu na aula ou para saber onde meu pai está? — o questionou, inclinando-se para a frente.
— É importante para a…
— Sei, sei, para a "ficha"! — ela exclamou com raiva. — Mesmo se eu soubesse onde ele está, eu jamais te diria!
— Mas você tem mantido contato com ele, certo?

piscou atônita e apertou os braços da cadeira. Já McGonagall apertou o ombro da garota e sussurrou em seu ouvido para que ela ficasse calma, apesar de a mesma estar tensa e tão nervosa quanto ela.
— Sr. Weasley, se fizer mais alguma pergunta sobre Sirius Black, eu irei dispensar minha aluna e você não terá resposta alguma para a sua maldita ficha!
— Está bem, está bem! — Assustado com a reação da professora, Percy se endireitou na cadeira e limpou a garganta. — Me conte o que aconteceu exatamente.

Então contou aquela história de novo, desta vez se sentindo mais calma que antes e fazendo o que Dumbledore pediu, enfatizando o máximo possível que ela não era a culpada. Percy anotava tudo com precisão, mas seu semblante indicava que ele não estava satisfeito. Algo dentro de lhe alertava que o garoto não estava ali exatamente para perguntar sobre a aula e sim porque o Ministério queria saber sobre seu pai. A oportunidade era perfeita, pois Alvo Dumbledore não os deixariam questioná-la sobre Sirius Black se pedissem.

— Isso é tudo? — Percy perguntou com desânimo e assentiu. Ele suspirou. — Bom, você não vai ser presa ou condenada, a culpa não foi sua. Draco Malfoy não fez nenhuma acusação e vamos considerar o erro de Alastor Moody um acidente.

Diante da resposta, aluna e professora franziram a testa em clara confusão. Ficara claro que o Ministério da Magia nem ao menos iria acusá-la de algo, apenas aproveitaram a oportunidade para questioná-la sobre o paradeiro de seu pai. E mesmo que isso tenha deixado-a extremamente brava, não abriu a boca para questionar ou acusar Percy Weasley, apenas respirou aliviada quando o mesmo saiu da sala, e Minerva McGonagall fez o mesmo, sorrindo simpática para a garota.

— Viu só? Não foi nada mal — ela falou, acariciando o rosto da bruxa mais nova.
— Ele claramente não estava aqui por causa da Maldição, professora. — A garota pontuou, franzindo a testa.
— Eu sei, e fico feliz que tenha percebido e não o questionado — disse a mais velha, abrindo a porta da sala para ambas saírem. — Tivemos sorte que mandaram o Weasley. Apesar de bom profissional, o garoto é um tanto confuso. Se fosse outra pessoa...

concordou com um aceno de cabeça, mas continuou pensativa enquanto andava pelos corredores do castelo com a professora. Algo ainda a afligia, apesar de tudo estar resolvido. Então, antes que a professora se despedisse à porta da Grifinória, a garota pigarreou e apertou as mãos em sinal de ansiedade.

— Sim? — intrigou-se a professora.
— Será que eu… Ahm, talvez eu poderia, sabe, visitar o Malfoy na enfermaria? — Atropelou-se nas palavras, ainda apertando os dedos.
— Não acho que seja uma boa ideia, querida — respondeu McGonagall, sacudindo a cabeça.
— Será rápido, eu prometo! — A garota juntou as mãos em frente ao peito, suplicando. — Eu só queria me desculpar, não tive a chance de fazer isso mais cedo.

A professora torceu a boca, incerta, e passou longos segundos observando a mais nova com os olhos estreitos em desconfiança. Por fim, suspirou e concordou.

— Está bem, Black, mas eu irei junto e você terá apenas alguns minutos.

Assentindo freneticamente e agradecendo, voltou a segui-la pelos corredores que agora enchiam-se com os alunos que saíam de suas aulas e seguiam para o Salão Principal para a última refeição do dia. tentava se misturar e esconder o rosto para que ninguém a reconhecesse, não queria parar naquele momento para se explicar e sabia bem que seus amigos lhe dariam uma bela bronca por estar indo visitar Draco Malfoy depois do que aconteceu, como se o mesmo fosse a vítima. Em seu íntimo, ela acreditava que sim. Por mais que ele tenha provocado, nada justificava o fato de que ela o machucou o suficiente para que ele fosse parar na Ala Hospitalar de Hogwarts e a culpa era inevitável.
Após um tempo longo demais para o gosto de , ela e Minerva chegaram à porta da Ala Hospitalar por onde Crabbe, Goyle e Pansy saíam aos risos, como se tivessem visto uma peça teatral de comédia dentro daquela sala. Ao se depararem com as duas, os alunos pararam de rir, mas seus sorrisos não diminuíram nem um centímetro enquanto sustentavam o olhar da colega. Ela respirou fundo, deixando a raiva de lado e lembrando-se do motivo de estar ali. Colocando a mão reconfortantemente em suas costas, Minerva a guiou para dentro da Ala que ainda possuía algumas luzes acesas. A Srta. Pomfrey prontamente veio encontrá-las, seu humor um pouco menos ranzinza como de costume pois sua preciosa enfermaria parecia estar em completa paz – sem falar no alívio que a mesma sentiu após a saída das últimas visitas de Draco.
McGonagall explicou que a aluna ao seu lado gostaria de falar com o sonserino em questão. Se achava aquilo uma má ideia, Pomfrey não falou em voz alta, apenas indicou o leito em que Malfoy estava e se afastou, aproveitando para ir buscar a janta do garoto.

— Estarei aqui se precisar — Minerva falou baixo e no segundo seguinte, se transformou em uma gata de pelos malhados (cinza e preto) que enroscou-se nas pernas da menina e pulou em uma das camas em seguida.

já sabia que a professora era animaga como o seu pai, contudo, nunca viu a mesma se transformar daquela forma. Saber que McGonagall estava atrás das cortinas deixava a aluna mais calma, entretanto, suas mãos suavam de nervoso quando a mesma se aproximou da cama de Draco Malfoy. Ela abriu a cortina do leito e entrou, encontrando-o meio sentado e com o rosto virado para o outro lado, de forma que ele não percebera sua presença de primeira.

— Já disse que eu não quero comer nad… — ele se interrompeu ao virar a cabeça, uma breve expressão de surpresa passou por seu rosto antes de o torcer em falsa raiva e nojo. — Ah, é você.

Tudo o que Black conseguiu fazer foi assentir, apenas. Ainda sentia que pedir desculpas era o certo a fazer, mas as palavras pareciam ter desaparecido de dentro dela, tornando-a incapaz de dizer qualquer coisa. Ela engoliu em seco e olhou para os lados; saber que McGonagall ouvia tudo poderia ser confortante, mas igualmente vergonhoso.
Respirando fundo, ela finalmente falou:

— Eu só vim saber como você está e pedir desculpas — ela murmurou baixo, sem conseguir encará-lo. — Eu estava com raiva, mas deveria ter me controlado melhor…

Draco pareceu afundar em sua cama. Não é como se ele não conhecesse o suficiente para saber que ela iria, de fato, falar com ele para pedir desculpas sobre algo que ela não tinha culpa alguma. Acreditava, contudo, que a garota odiaria ele o suficiente para a culpa não ter espaço dentro dela e que nem ao menos o olharia na cara quando contasse a verdade do que aconteceu na aula. Mas ali estava , de pé ao seu lado, querendo saber como ele estava! A garota era boa demais para Draco e o mesmo tinha consciência que ele não merecia um por cento daquilo.
A culpa agora assolava ele, pois era ridículo, mas ele a amava. A amava de uma forma que o fazia sentir coisas como aquela merda de remorso, ou a se preocupar com ela como a porra de um idiota apaixonado. o fazia sentir coisas pelas quais ele lutava contra e isso o deixava exausto, porque pior que a dor de tentar afastá-la dele – mentindo, provocando-a e prejudicando-a – era a dor de vê-la mal com tudo isso e ainda se sentindo culpada.
Não podia evitar sentir-se um lixo. Sua garganta secou, e isso o impediu de lhe dar alguma resposta. entendeu que ele não iria respondê-la, então se virou, murmurando "me desculpa" uma última vez antes de ir embora.

— Espera — ele finalmente falou, segurando a mão da garota.

se virou novamente, surpresa pelo toque repentino. A feição de Draco havia mudado, agora ele parecia… arrependido? Chateado? Ela não soube dizer, mas algo estava diferente. Esperou que o garoto falasse dessa vez, mantendo-se firme ao lado dele.
O loiro engoliu em seco.

— Preciso te contar uma coisa. — Draco olhou para os lados, aflito. — Eu… Eu estou bem, estou ótimo...
— Que bom — respondeu com alívio verdadeiro, apertando a mão dele que ela ainda segurava. — Fico aliviada, mesmo.
— Não, não fique! — ele retrucou, sentando-se de vez na cama. Seus olhos azuis procuraram os dela e os encontrou tão confusos como nunca antes. — Eu estou bem porque… porque a Maldição que você lançou foi fraca.

Surpresa com o que ouviu, abriu a boca e soltou a mão do garoto. Essa mesma mão ela levou ao seu colar, como se de alguma forma, o objeto fosse ajudar a recuperar o ar que perdera.

— Mas… eu vi você se contorcendo no chão! — Ela pontuou, dando um passo para trás. A mão de Draco ainda estava com a palma para cima na esperança de que ela voltasse a pegá-la. — Você estava sentindo dor!
— Eu estava fingindo — ele confessou, seus ombros caindo de decepção com ele mesmo. A garota imitou seu gesto, igualmente decepcionada. — O máximo que senti foram câimbras fracas e rápidas, não me causou absolutamente nada.

assentiu, compreendendo tudo. A raiva que sentira mais cedo e que havia se esvaído estava voltando com força total. Ela cerrou os punhos com força e trincou os dentes, segurando o choro. Tentou disfarçar, em vão, pois seus olhos cheios de lágrimas entregavam sua chateação.

— Por que fez isso? — sua pergunta saiu como um sussurro fraco.
— Porque eu queria te machucar — admitiu Draco um tanto envergonhado. — Eu estava chateado e pensei que seria justo…
— Justo? — Balbuciou a garota, se aproximando da cama, sua voz saindo cada vez mais alta. — Você achou justo? Eu nunca fiz nada contra você, Draco! Nada! E desde a merda do meu primeiro dia, tudo o que você fez foi me magoar!
— Isso não é verdade… — Draco protestou baixinho, sendo interrompido pela risada alta e sarcástica da garota.
— Ah, certo, teve a pulseira que seu pai enfeitiçou para saber por onde eu andava, e teve a maldita dança que você só dançou para provocar Cedrico e fazer a gente terminar e, parabéns, você conseguiu!
— Não fale como se vocês já não estivessem juntos de novo! — exclamou Malfoy, irritado. — Eu vi vocês se beijando no lago depois da segunda prova.
— Quer saber!? É verdade sim! — ela exclamou, ficando cada vez mais brava. — E eu beijei ele agora a pouco e o beijarei pelo resto da vida porque Cedrico se importa comigo e ele não me odeia como você me odeia!
— Quem me dera te odiar, ! — Draco gritou, levantando-se da cama e ficando a centímetros de distância da garota. — Eu queria muito te odiar, mas eu te amo!

O silêncio que se fez na Ala Hospitalar depois dos gritos foi ensurdecedor. Ambos estavam ofegantes, mas estava mais que isso, ela estava muito chocada. Não queria ter ouvido aquilo, queria que ele retirasse o que disse, queria voltar no tempo e nunca ter entrado pelas portas duplas, queria ter tido a merda de uma visão para ter visto isso acontecer e fugir disso antes que fosse tarde demais. Mas era sim tarde, ele havia falado, ela havia escutado e nada mais poderiam fazer sobre isso. Ele a amava. E o que raios sentia por ele?
A aluna não reparou quando a professora Minerva, ainda em sua forma animaga, passou pela cortina branca e sentou-se fiel ao seu lado, recebendo um breve olhar enojado de Malfoy. O garoto voltou a sustentar o olhar da garota, esperando por alguma reação. Qualquer coisa serviria, um grito, uma risada, um soco em seu estômago, qualquer coisa. Menos o que ele ouviu.

— Retira o que disse, Malfoy.
— Não — ele retrucou com firmeza.

Ela passou as mãos pelo rosto, exausta. O sentiu molhado e só então percebeu que chorava. Ela olhou para suas mãos úmidas e soltou o ar.

— Draco, eu não aguento mais brigar com você...
— Eu também não, . Porque eu amo você
— Para de falar isso…
— E eu cansei de correr disso, de fingir que não amo, porque não é verdade — ele completou, ignorando-a.
— Mas eu estou com o Cedrico de novo — ela choramingou, mordendo o lábio. — E você não pode simplesmente fazer essas coisas toda vez que eu estou com ele e ser um babaca quando não estou!
— O timing não foi perfeito, realmente, mas isso não foi minha culpa — Draco respondeu, dando de ombros. — Eu entendo se você me odiar agora, você tem todo o direito. Mas será que podemos, por favor, recomeçar?

Maneando a cabeça e fechando os olhos, deixando assim mais lágrimas caírem, Black negou. Ela estava exausta demais, há dias, semanas, meses… E por mais que pudesse se lembrar de alguns momentos bons com Draco Malfoy, as lembranças boas sempre vinham seguidas por outras ruins, que a machucavam e faziam seu coração se despedaçar um pouquinho toda vez que pensava sobre. Esses momentos, dentre outras coisas, eram os motivos de sua exaustão. não conseguia ver como poderiam recomeçar com tanta coisa sujando o passado deles.

— Não dá para recomeçar, Malfoy — ela respondeu, enxugando as lágrimas. — O melhor é cada um ficar no seu canto e, por favor, não brigar mais, está bem?

Draco já esperava por aquilo, o que não diminuiu a dor que sentiu. Realmente, um soco no estômago doeria bem menos. Nada pôde fazer quando a garota deu as costas e saiu da Ala Hospitalar com o gato a seguindo, além de sentir-se a pessoa mais idiota do mundo.

***

Na manhã seguinte, antes mesmo de descerem para o café da manhã, Gina Weasley e Hermione Granger sentaram-se na cama de para ouvir a amiga contar tudo o que aconteceu no dia anterior. Ela sentia-se exausta e sem coragem alguma de descer, então a conversa servia também para adiar o momento de encarar os alunos de Hogwarts novamente. A notícia do que aconteceu na aula havia se espalhado com sucesso e é claro que as poucas pessoas que não tinham medo dela por ser filha de Sirius, agora tinham um bom motivo para ter.
As reações das amigas não ajudaram muito com a chateação que ela já sentia. Como esperado, ambas lhe deram uma bela bronca por ter ido ver o sonserino Draco Malfoy na Ala Hospitalar. Depois, o xingaram sem piedade por ter enganado todo mundo e por fim, o odiaram por ter assumido que a amava logo agora, quando tudo estava se resolvendo com Cedrico.

— E o que você disse? — questionou Gina enquanto Hermione ainda o xingava baixinho.
— Eu pedi para ele retirar o que disse, o que ele obviamente não fez… Depois falei que ele não podia fazer isso.
— Mas e você? — Hermione falou de repente. — O que você sente por ele?

abriu a boca, pronta para se defender, mas a amiga levantou a mão, indicando que ainda não acabara de falar.

— Admita que sente algo por ele.
— Eu… — começou, apertando o travesseiro, dando um longo suspiro em seguida. — Eu sinto sim, mas não igual ao que sinto por Ced. Eu acho que… talvez eu... ame o Cedrico...

Ela afundou na cama, um sorriso envergonhado surgiu em seus lábios quando finalmente admitiu aquilo. As duas amigas arregalaram os olhos, segurando-se para não darem pulos animados. Elas eram claramente a favor do lufano, é claro, e sabia que não tão fundo assim no seu coração, ela também era.

— Você já disse isso a ele? — Gina perguntou sorridente quando as três começaram a se mover para fora da Sala Comunal.

Pensativa, ela negou. Era verdade que tiveram vários momentos em que ela quis e pôde dizer, mas não disse. Não sabia se com Cedrico era igual, se ele sentia o mesmo e se ele queria realmente dizer aquilo a ela. De repente, suas entranhas se reviraram em ansiedade. E se ele não sentisse o mesmo? Céus, não era com isso que ela deveria estar se preocupando agora.
Quando finalmente desceram, apenas confirmou o que já esperava: todos no Salão Comunal cochichavam com os olhares medrosos fixos nela, como quando descobriram de quem ela era filha. Como naquela vez, seus fiéis amigos da Grifinória e o lufano Cedrico Diggory permaneceram ao seu lado, olhando feio para quem fizesse o mesmo para com a garota. Dessa vez, ela não se importou com o julgamento. Àquela altura, estava um tanto exausta do que estava acontecendo com ela. O ano letivo estava para acabar em alguns meses, então seu mantra era "aguenta firme, está acabando", o qual ela repetia sempre quando estava com a paciência no limite, como naquele momento.
O bacon com ovos e torrada pareciam muito apetitosos, contudo, ela não tocou em seu prato.

— Precisa comer algo — Harry disse, mastigando seu próprio bacon. — Ou mandarei uma carta para o seu pai falando que não tem se alimentado direito.
— Como se ele fosse responder — ela murmurou desanimada, magoada com o fato de que há dias não recebia notícias de Sirius Black.
— Você sabe que ele não faz por mal — Hermione intrometeu-se, igualmente preocupada com a amiga. — Está difícil se comunicar com ele agora que todos sabem que é seu pai.

sabia que a amiga estava certa, como sempre. Depois do interrogatório de Percy Weasley, ela mesma tinha receio de mandar alguma carta e a mesma ser interceptada. Ontem à noite, quando foi visitar Jack no corujal, o pássaro não parou de reclamar no quão sérias eram as corujas que estavam ali. podia jurar que viu Edwiges revirar os olhos enormes para ele.
Quando levantou o olhar para Granger, ela e Gina davam risinhos e cochichavam, olhando para algo atrás da amiga. Algo não, alguém.
Como nos velhos tempos, Cedrico sorria radiante atrás da bruxa, comprimentando os amigos dela com a simpatia de sempre. Ron murmurou alguma reclamação que apenas Harry ouviu e como consolo, apertou o ombro do amigo. Ced se abaixou para ficar na altura dela, que se virou para ele, sentindo o coração mais leve.

— Fiquei sabendo que seu segundo tempo é livre — Cedrico falou com um sorriso travesso no rosto.
— Como você soube? — o questionou, juntando as sobrancelhas.
— Um passarinho me contou — ele respondeu, piscando para Hermione que vermelha de vergonha, deu um sorriso amarelo para a amiga. — Enfim, pensei em te fazer companhia, a Professora Sprout me liberou das provas, então também estou livre. Vantagens de ser o campeão, sabe?
— Também quero essas vantagens — Harry reclamou, chateado por ainda não ter sido liberado das provas finais. Elas estavam se aproximando e Potter não podia negar que não estava estudando devidamente, sua cabeça estava cheia demais para isso.
— Você provavelmente terá — Cedrico o respondeu, voltando sua atenção para a garota. — E aí? O que me diz?
— Convite aceito — respondeu a garota, começando a achar a refeição um pouco mais apetitosa.

***

A primeira aula era de Adivinhação e desde que começara a aulas particulares com Trelawney, começara a gostar mais das aulas regulares. Começou também a se irritar demais com quem não levava a professora a sério, como Ron e Harry faziam ao seu lado. Ela sempre os cutucava quando ambos caíam no sono, bronqueava quando eles faziam piadas e quase os faziam desejar que ela fosse embora da aula como Hermione Granger fez no ano anterior. Quase.
A vantagem era que , além de ser uma ótima companhia – principalmente para Ron –, era muito boa na matéria, ela realmente se empenhava e com muita paciência, ajudava os dois amigos nos deveres que a professora passava. Era fato que desde que a garota chegou em Hogwarts, eles melhoraram consideravelmente nas aulas, pois agora, além de Hermione, tinham mais uma amiga inteligente e paciente para ajudá-los, apesar das broncas.
Naquela aula, porém, estava muito distraída para chamar a atenção dos garotos. A sala estava quente demais, fazendo Harry abrir a pequena janela ao lado deles, só o suficiente para que uma leve brisa os refrescasse. agradeceu, abanando a si mesma com um livro. O calor na região era equivalente ao calor que sentia no verão de Manaus, o que era um tanto impressionante. Percebeu que na Europa era sempre o extremo: quando fazia frio, era de nevar, e quando fazia calor, sentia que poderia derreter a qualquer momento.
Suas mentes estavam cheias demais para prestar alguma atenção à Professora Trelawney, mas fazia um grande esforço para tal. Ron afundou na cadeira, sua atenção era toda da pena em suas mãos. Sua feição séria indicava que sua mente estava viajando para muito longe daquela sala, mas também entregava que ele estava bravo com alguma coisa e a garota suspeitava o que era. Cansada, ela suspirou e passou a mão na nuca, afastando os cachos que esquentavam sua pele. Sibila desfilava pela sala, falando com a voz trêmula de sempre sobre a posição muito interessante, segundo ela mesma, de Marte. Enquanto amarrava seus cabelos em dois coques, um de cada lado, a professora diminuiu a luz da sala para que pudessem observar melhor o planeta vermelho. Ron olhou para a amiga e fez uma careta, gemendo no que pareceu uma reprovação. Ela estreitou os olhos e cruzou os braços, encarando-o de volta.

— O que foi dessa vez, Ronald? — ela o questionou sussurrando.
— Seu cabelo — ele sussurrou em resposta, apontando para a cabeça dela.
— O que tem ele? — respondeu assustada, mexendo no cabelo para ver se algo estava solto. Havia feito os coques de qualquer jeito, apenas para se aliviar do calor, mas estava acostumada a fazê-lo de um jeito que não ficasse feio.

Ron suspirou e deu um sorriso fraco, quase triste, para a garota.

— Nada, na verdade ele está adorável demais — murmurou baixinho, deitando a cabeça nos braços e continuando a encará-la.

Por sorte, a sala estava escura demais, ou todos teriam visto o quão vermelho o rosto da aluna estava. Ela apenas agradeceu baixinho, e desviou o olhar, envergonhada demais. Seu coração idiota errou uma batida, é claro, como sempre fazia quando Rony tinha esses ímpetos de carinho e falava algo fofo a ela.
Os alunos que ainda estavam acordados, aos poucos, foram abaixando a cabeça, sonolentos demais para manterem os olhos abertos por muito tempo. Harry Potter era um deles. Ele relutava contra o sono enquanto prestava atenção na professora apresentando o belo sistema solar, indicando onde estava Marte, qual o ângulo que o mesmo estava naquele momento e o que isso significava. Sua pálpebras pesaram, e de repente, sua mente desligou e ele não estava mais na sala de adivinhação.
Ron já estava mais do que acostumado com Harry balbuciando coisas sem sentido por dormir com ele todas as noites. No começo da amizade dos dois, Rony despertava no meio da noite e ia checar se o amigo estava bem antes de voltar a dormir com despreocupação. Agora, Weasley nem ao mesmo virou para olhá-lo, pois o próprio já estava cochilando. Contudo, observava Potter com atenção, pois o garoto não estava apenas balbuciando coisas sem sentido, algumas palavras nítidas escapavam de seus lábios. Mas o que lhe chamou realmente a atenção foi quando sibilou os nomes "Rabicho", "Nagini" e, por fim, sussurrou a Maldição que a garota evitava pensar desde o dia anterior: crucio.

— Harry? — ela o chamou quando o mesmo começou a se agitar, ainda dormindo. — Harry, acorde!

Assustando a todos na sala, o garoto soltou um grito alto e esganiçado, suas mãos apertavam a cicatriz quando ele caiu para trás, desmaiando em seguida. Ron e correram para o seu lado enquanto toda a turma se aproximava, junto a professora Trelawney que o olhava assustada, mas acima de tudo, curiosa.

— Harry! — o balançou, tentando acordá-lo. — Vamos, acorde!

Recobrando a consciência aos poucos, Harry finalmente levantou seu tronco. Ainda sentado no chão, ele olhou em volta com os olhos lacrimejados, a dor em sua testa ainda lhe fazia apertar sua cicatriz em pura agonia.

— Você está bem? — Ron o perguntou, olhando-o apavorado.
— É claro que não está! — disse uma afobada Trelawney. Ela ajeitou seus óculos para olhar Harry mais de perto. — O que foi, Potter? Uma premonição? Uma aparição? Que foi que você viu?
— Nada! — Harry respondeu irritado. Seu corpo ainda tremia e a sala girava um pouco, deixando-o tonto.
— Ora, Potter, eu tenho experiência nesse assunto! — insistiu a professora.
— Já disse, não foi nada!
— Aquilo não pareceu nada, Harry — falou desconfiada. — Você estava falando enquanto dormia, estava apertando a cicatriz e de repente desmaiou! Não queria concordar com a professora, mas…
— Então não concorde! — Exclamou Harry, chateando a garota. Sem se desculpar, virou-se para Sibila. — Preciso ir à ala hospitalar, acho. Dor de cabeça muito forte.
— Meu querido, sem dúvida você foi estimulado pelas extraordinárias vibrações premonitórias da minha sala! Se você sair agora, poderá perder a oportunidade de ver mais longe do que jamais...
— Eu não quero ver nada, a não ser um remédio para minha dor de cabeça.

Levantando-se de vez, Harry pegou sua mochila e saiu da sala, dizendo aos dois amigos que os veriam mais tarde. Sibila parecia totalmente abalada, entretanto, se esforçou para continuar a aula com naturalidade. e Rony se entreolhavam o tempo todo, seus olhares carregados de preocupação e chateação, a vontade insuportável de ir atrás do amigo não passava de forma alguma. Mas eles se contiveram, checando ansiosos o relógio enquanto a aula passava de forma extremamente lenta.
Quando a professora os dispensou, Ron e foram os primeiros a correr da sala quente e escura para o corredor abarrotado de alunos que saíam das outras aulas. Tão abarrotado, que dera um encontrão em Cedrico Diggory e nem percebeu de primeira que era ele. O garoto a olhou risonho, segurando-a pelos ombros para que a mesma não caísse para trás. Já Rony o olhou com mau humor, segurando a própria pressa para esperar pela amiga.

— Cedrico! — a garota exclamou surpresa, colocando a mão na testa. — Céus, não sei onde estou com a cabeça…
— Está tudo bem? — ele perguntou, lançando um sorriso para Ron que lhe devolveu outro, mas forçado.
— Harry passou mal, estamos indo ver ele na Ala Hospitalar…
— Eu vou sozinho, não se preocupe — Ron interrompeu, balançando a mão. — Vá com Diggory, depois nos encontramos.
— Ron…
— Não, sério, eu convivo com Harry há mais tempo, sei lidar com a fera — disse o ruivo, já se afastando. — Se divirtam!

A cabeleira ruiva de Rony se misturou com os demais alunos, se afastando cada vez mais. Cedrico observou a namorada suspirar, olhando-o com chateação.

— Se quiser ir…
— Não, fique tranquilo — ela respondeu, entrelaçando sua mão na dele, que sorriu com o ato. — Não sei se quero ficar perto de Harry agora, ele estava um tanto arisco antes de sair da sala.
— E Ron? — Ced perguntou, olhando-a de relance enquanto caminhavam para fora do castelo. A garota juntou as sobrancelhas, confusa.
— O que tem o Ron?
— Bom, ele claramente ainda gosta de você — respondeu envergonhado. — Como estão as coisas entre vocês dois?
— Bem... — respondeu, dando de ombros antes de sentar-se embaixo da árvore que sempre ficavam, aproveitando a sombra deliciosa que ela fornecia.
— É que… Sei lá, você foi para A Toca com ele e…
— E você foi para casa com a Chang — a garota retrucou, olhando-o com irritação. — Como vocês estão?
— Justo — Cedrico respondeu, novamente envergonhado. — Ela ficou chateada com o beijo que demos no lago, mas não pude evitar, não é? E ela entendeu.

o olhou curiosa e uma expectativa nova cresceu dentro dela. Desde que escaparam para o esconderijo de Newt, aquele era o primeiro momento totalmente a sós. Ela o viu hesitar, mexendo nas barras de suas vestes, sem coragem de encará-la. Por Merlin, era possível que ele ficasse ainda mais adorável?

— Eu só quero ter certeza de onde está o seu coração agora.

Compreensiva, sorriu para Cedrico com certo alívio, ela sabia bem que a preocupação do garoto não era em vão e não podia culpá-lo por isso.
A garota se aproximou dele e subiu em seu colo, pegando-o de surpresa e lhe arrancando uma risada gostosa antes de suas mãos segurarem com firmeza na cintura dela, como se não quisesse deixá-la ir embora nunca mais. o beijou com calma, se deliciando com a sensação gostosa que era aquele contato. Quando afastou seus lábios, um tanto relutante, ela pousou a mão no peito de Cedrico, sentindo o coração dele bater forte e rápido em sua palma.

— Meu coração está aqui, Ced, junto ao seu — ela falou sorrindo ao ver os olhos dele brilharem ao ouvi-la. — Eu te escolhi porque sempre foi e sempre vai ser você.

O lufano queria explodir de felicidade no momento em que beijou novamente a bruxa e a jogou para trás, deitando-a aos risos na grama fofa do terreno. A encheu de beijos, divertindo-se com as gargalhadas que ela dava e matando a saudade que sentiu da garota do tanto de tempo que passaram separados. Naquele momento ele teve certeza de que isso não aconteceria mais, ele jamais deixaria partir.

***

A rotina de Black nas semanas seguintes voltou a ser a mesma de quando ela namorava Cedrico. As pessoas ainda a evitavam, é claro, e ela não ousava nem olhar na cara de Draco Malfoy – nas aula de poções, ela preferia ouvir as broncas de Severo Snape a se sentar com o sonserino, espremendo-se na bancada com Hermione e Harry ou Ron e Neville. Ela não se importava mais, de qualquer forma, se as pessoas queriam ou não chegar perto dela, pois quem ela amava e queria por perto nunca a havia deixado.
agora se dividia em ajudar Harry e Cedrico para a terceira prova do Torneio Tribruxo e estudar para as provas finais. Ced estava certo, Potter também havia sido liberado das provas por ser um dos Campeões de Hogwarts. Depois de desmaiar na aula da Sibila Trelawney, Harry teve uma conversa com Dumbledore que, segundo ele, foi muito esclarecedora. Então agora ele ocupava sua mente apenas em estudar para a terceira prova, treinando feitiços de proteção e azaração com os amigos para usar no labirinto.
O corpo de já estava dolorido de tanto aterrissar nas almofadas da aula de feitiços que usavam nos lugares que estivessem desocupados entre as aulas e nos finais de semana. A vantagem é que ela, Ron e Hermione aprendiam tanto quanto Potter que, por sua vez, estava cada vez mais confiante em lançar os feitiços, o que fazia valer a pena o cansaço. E quando Black não estava com eles, estava ajudando Cedrico para os mesmos fins. Mesmo um tanto cansada, sentia-se aliviada e despreocupada em saber que ambos estariam preparados para o fim das provas. Ela, tanto quanto eles, desejava o fim do Torneio e que eles voltassem bem e a salvo.
Seu pai ainda não mandara notícias. Todos os dias, a garota esperava por alguma coruja lhe entregar ao menos um bilhete dele, mas tudo o que recebia era um alvoroço de corujas passando reto por sua cabeça. Lupin, por sua vez, mandou uma carta para ela e para Harry, tranquilizando-os a respeito deles e dizendo que, se tivessem sorte, se veriam em breve.
A garota relia a carta quando estava no esconderijo (que agora gostava de dizer que era dela e de Cedrico, não mais de Newt) enquanto o namorado estudava um grosso livro de azarações. O lufano não aguentava mais ler, sentia que surtaria se tivesse que abrir mais um livro, entretanto, também sabia o quão cansada estava sua namorada, então decidira tirar o dia para aprender apenas a teoria e não treinar a prática. Ele observava a garota que estava com a cabeça apoiada em suas pernas, tão concentrada na carta que nem ao menos reparou que ele mexia em seus cachos, sorrindo com a sensação dos fios macios em seus dedos. Ou assim ele pensou.

— Você não está estudando — ela murmurou, abaixando o pergaminho para olhá-lo. Ele piscou para ela.
— Sua beleza me distrai — Ced brincou, fazendo-a rir e fazer uma careta. Ele então batucou no livro que estava lendo. — Não tem mais nada interessante nisso aqui.
— Tem outros na minha mochila — respondeu, apontando para a mesma. — Pegue o de capa vermelha e letras garrafais.

Bufando derrotado, Ced se esticou para pegar a mochila da garota e começou a remexer dentro da mesma. A quantidade de livros que havia ali não era compatível com o espaço que a bolsa parecia ter, o que o fez acreditar que a mesma usara um feitiço indetectável de extensão de espaço para caber tudo aquilo, afinal, parecia ter uns vinte, no mínimo. Diggory já havia lido a maioria deles, ele sabia disso pois lera tanto que jamais esqueceria de como eles eram. Ele encontrou o livro indicado pela namorada, porém, o que chamou a atenção dele era mais fino que os demais e sua capa era verde com uma bela sereia na capa. Ele retirou os dois livros, mas deixou os de contra-feitiços de lado.

Contous de.. Da moe… Ma-mai… — O garoto tentou ler, sem conseguir pronunciar as palavras corretamente.
— Contos da Mãe D'Água — falou com seu português impecável, tocando a capa com sua varinha e murmurando "Verbis Transferendum Aglicus", fazendo as palavras se misturarem até traduzirem para o inglês.

Cedrico sorriu satisfeito ao finalmente entender o que significavam aquelas palavras, mas estava mais satisfeito ainda pela namorada lembrar do feitiço que o mesmo ensinou a ela quando ainda nem haviam se beijado. Uma nostalgia o atingiu ao lembrar daquela noite, lembrando-se também que já estava completamente rendido por ela sem ao menos conhecê-la direito.

 — É uma coletânea de contos da sereia Iara — explicou com um sorriso leve no rosto ao vê-lo folhear maravilhado o livro, admirando os desenhos do mesmo. — Dumbledore me deu de Natal, disse que me ajudaria a entender muitas coisas da minha ancestralidade, inclusive sobre essa flor aqui.

tocou o colar no mesmo instante que o garoto olhou para ele, assentindo. Ao vê-la morder o lábio, Cedrico soube que havia algo além do que ela falara e esperou paciente para que a mesma continuasse a falar, acariciando sua mão como incentivo.

— Ajudou, de fato, mas ainda tem algo que não faz sentido para mim — ela admitiu. — Na primeira vez que entrei no lago, os sereianos se mostraram muito interessados no meu colar. Depois disso, por várias vezes, Hagrid falou que eles queriam falar comigo e eu fiquei evitando, sabe? Não queria causar problemas para a escola criando alguma relação com eles.
— É, os sereianos não são tão fáceis de lidar — ele concordou, franzindo a testa. — Eles precisam confiar muito no bruxo para criar alguma relação, como o próprio Hagrid, o Dumbledore e a professora Sprout.
— Eu sei bem o que as sereias acham dos bruxos — ela falou com chateação. — E é exatamente essa insistência deles que me deixou curiosa, sabe? E na segunda prova, quando eu estava no lago, eu os ouvi falando de novo do colar, dizendo que precisavam achá-lo.
— E por que eles não fizeram nada?
— Porque não estava comigo — respondeu Black, olhando pensativa pela janela. Um pedaço do lago cintilou à luz do fim da tarde. — Estava com Ron, mas Dumbledore pegou, não o deixou entrar no lago com ele. Então eu contei ao diretor tudo o que ouvi e ele apenas disse para eu ler o livro.

Cedrico levantou os olhos das páginas amarelas do livro que a mesma falava e assentiu. Em silêncio, deixou seu cérebro resgatar algumas lembranças de semanas atrás onde o mesmo ouviu uma conversa enquanto estava em aula nas estufas com a professora Sprout. Uma luz se acendeu em sua mente após finalizar o conto sobre a Flor-Que-Nunca-Morre.

— Eu ouvi o Hagrid falar com a Sprout — ele falou de repente, sentando-se mais ereto. — Ele estava devolvendo uma Flor-Que-Nunca-Morre para a professora, era a última de sua coleção. Ouvi Hagrid dizer algo sobre a saúde de um deles…
— Então é isso! — exclamou, arregalando os olhos em realização. — Eles precisavam da flor para fortalecer alguém.
— Mas eles não aceitaram, ouvi o Hagrid dizer — Ced deu de ombros, voltando a ler o livro com muito interesse. — Talvez não precisem mais.

Novamente pensativa, mexeu em seu colar. Aquilo era uma das poucas coisas que ainda tinha de sua mãe e, de longr, a mais importante. Mas e se corriam risco de vida? E se aquele colar pudesse salvar um deles, será que Artemisa se importaria se ela entregasse aos sereianos? Algo em seu coração lhe dizia que sua mãe faria exatamente a mesma coisa e que se estivesse ao seu lado, sempre encorajaria o altruísmo.
Um nó se formou em sua garganta. Ela queria ajudá-los, é claro, mas não queria se desfazer de seu colar. Lembrou-se então da flor que Cedrico havia lhe dado meses atrás, quando a mesma se machucara; em sua mente viera a imagem do sorriso lindo de Diggory lhe esperando na porta da Ala Hospitalar, com um buquê mais lindo ainda. Por Merlin, ela estava à beira das lágrimas novamente.
piscou, expulsando as lágrimas e a vontade de chorar, e segurou a mão do namorado que voltou a olhá-la. Aquele olhar a derreteu por inteira.

— Você ficaria chateado se eu entregasse a flor que você me deu para eles? — mordeu o lábio, insegura.

O lufano sorriu, achando a feição da garota extremamente adorável. Também quis explodir de amores ao perceber qual era a ideia da namorada. Às vezes ele se perguntava como que não era da Lufa-Lufa, e não podia negar como lamentava ela não ser. A garota iria amar a sala comunal, os dormitórios, os colegas de sua casa, as escapadas para a cozinha... Não podia deixar de imaginar como seria tê-la o tempo inteiro, sem precisar se despedir na porta da Torre da Grifinória como faziam toda noite.
Céus, ele a amava tanto que chegava a doer, dessa vez era uma dor boa, nada tinha haver com a que sentiu quando esteve longe dela. Desejou, subitamente, dizer aquilo à garota e pensou que aquele seria o melhor momento para tal coisa.

— Não, eu não me importaria. — Com um sorriso simpático, ele depositou um beijo na bochecha da namorada — Se for preciso para ajudar alguém, é claro que eu não me chatearia.
— Ah, céus, você é adorável — a garota respondeu, segurando seu rosto e lhe dando um beijo demorado. — Te encontro mais tarde!

Arrumando suas coisas de qualquer jeito na mochila, se despediu e desceu as escadas com pressa. Antes, e claro, ela exclamou "leia os livros!" e só então Cedrico percebeu que a garota deixara alguns livros para trás. Ele suspirou pesado e, sem poder fazer muito, abriu o livro "Contra-azarações para iniciantes", decidindo que este seria o último que leria antes do jantar.

***

Antes de entrar no lago, se certificou várias vezes de que ninguém estaria por perto, afinal, não queria que acontecesse o que aconteceu há meses atrás com o garoto da Sonserina. Ela tentava espantar aquela lembrança desde o momento que pegou a flor que Cedrico lhe deu, diminuiu seu tamanho com o feitiço "Diminuendo" e a colocou em um vidro vazio onde antes tinha ingrediente para poção. Dessa vez, ela não ousou tirar nenhuma peça de roupa, apenas suas botas e meias; manteve sua varinha, que costuma esconder em sua bota, firme em sua mão.
entrou na água e respirou fundo antes de tocar o colar e mentalizar o que queria, mergulhando por inteira na água gelada do lado negro enquanto sentia a conhecida sensação incômoda de guelras surgindo em seu pescoço, possibilitando que a mesma respirasse embaixo d'água.
Ela estava mais nervosa que da outra vez, agora ela sabia o que a esperava nas profundezas do lago, só não sabia se a esperavam com tanta gentileza como antes. Quanto mais fundo nadava, mais escuro ficava, então ela murmurou "lumos" e conseguiu continuar seu caminho até avistar as grandes estátuas naufragadas no fundo do lago. A luz de sua varinha iluminou as silhuetas dos sereianos que já se aproximavam, sempre defensivos com suas armas nas mãos. parou, murmurou "nox" e levantou as mãos, o vidro com a Flor-Que-Nunca-Morre firme em uma delas e a varinha na outra, agora apagada. Aquela parte do lago ‒ e não soube explicar como ‒ era mais iluminada que o resto, como se estivessem próximos da superfície, então eles puderam ver quem era antes de se aproximarem mais. Nadando na frente, no meio dos sereianos armados, estava a sereiana que a aluna viu conversar com Dumbledore na segunda prova do torneio; lembrava-se também da criatura fiel ao lado do líder sereiano da primeira vez que entrara ali, porém, não o viu em lugar algum, nem mesmo com a colônia que se protegia atrás do grupo.

"", a criatura falou em serêiaco. Sua voz era gentil, mas sua postura impecável indicava que ela não estava relaxada. "Finalmente voltou".
"Me desculpe por demorar tanto", respondeu no mesmo dialeto, bolhas de ar subindo para a superfície que agora parecia estar longe demais.
A sereiana não respondeu de imediato. Sua reação foi entregar seu tridente para o sereiano ao seu lado e nadar até a garota, parando a centímetros dela.
"Nós não fomos formalmente apresentadas" falou finalmente, ainda com seriedade. "Sou Merchieftainess Murcus, líder da colônia".
não queria ser indelicada, mas não pôde disfarçar a expressão de surpresa que surgiu em seu rosto. Isso não passou despercebido pela líder.
"Creio que esteja se perguntando onde está nosso pai, o Metis".
Envergonhada, a garota apenas assentiu.
"Nosso pai e ex-líder ficou muito doente" explicou, parecendo se esforçar para não desmontar sua postura.
"É por isso que queriam meu colar, não é?" respondeu , relaxando um pouco. "Eu sinto muito por ter demorado tanto, mas eu só fui entender agora".
Dito isso, estendeu a mão com o vidro onde continha a flor e mostrou para Murcus, os olhos da líder brilharam de tal forma que era perfeitamente visível nas profundezas do lago. Contudo, ela não se moveu para pegar o objeto.
"É para ele, pode pegar", a garota falou, franzindo a testa.
"É tarde" disse a sereiana, abaixando a cabeça. "Metis morreu".

O peso da culpa afundou o coração da garota. Seus olhos perdidos fitaram a flor em sua mão, e ela não pôde evitar se sentir culpada por não ter vindo antes, quando Hagrid a falou diversas vezes que eles queriam falar com ela. Novamente, ela podia ter salvado uma vida e não o fez.

"Eu sinto muito" falou para toda a tribo com toda a sinceridade que conseguiu transmitir. "Ainda quero que fiquem com isso para caso precisem. Se tiver algo que eu possa fazer…"
"Na verdade, tem sim", Murcus respondeu, lançando um olhar para os demais sereianos. "Metis, o nosso pai, não aceitou a flor da Professora Sprout pois queria tentar algo."

Então Murcus contou à garota que Alvo Dumbledore ajudou o ex-líder com uma magia nunca antes feita. Bruxo e sereiano se juntaram para que ele pudesse se tornar sua própria Flor-Que-Nunca-Morre para crescer nos terrenos de Hogwarts e finalmente fertilizar a terra em volta do Lago Negro para que sempre que alguém da colônia morrer, se tornar uma flor. Contudo, eles não sabiam se havia dado certo, não conseguiram procurar apropriadamente na superfície.
estava surpresa, mas não podia negar que não estava crente de que a magia havia funcionado, por mais poderoso que Dumbledore fosse. Porém, ela saiu do lago com a promessa de que os ajudaria a procurar, pois era o mínimo que podia fazer por eles. Sendo assim, ela saiu à procura da melhor pessoa para ajudá-la naquela missão.
Em momentos de grande urgência, a cabana de Hagrid parecia ser tão longe quanto o vilarejo de Hogsmeade. estava ofegante quando bateu na porta enorme de madeira, depois de sair correndo do lago para falar com o professor de Trato das Criaturas Mágicas.
O latido forte do Canino ressoou alto pelo lugar e por mais que o enorme cachorro parecesse bravo, ele recepcionou com lambidas e o rabo balançando animado quando Hagrid abriu a porta, parecendo muito confuso e surpreso.

! O que faz aqui tão tarde?
— Oi Hagrid — ela falou ainda sem ar, acariciando atrás das orelhas de Canino que se deleitava com o carinho. — Está ocupado? Preciso da sua ajuda.
— Bom, eu estava indo para o jantar e… — O meio gigante se interrompeu ao ver a expressão de leve decepção da garota. — Acho que o filé de cordeiro pode esperar um pouco.

O sorriso de era radiante, uma empolgação cresceu dentro dela e contaminou o homem na sua frente que, sem conseguir negar, aceitou ajudá-la. Enquanto Rúbeo Hagrid pegava sua lanterna e caminhava de volta ao lago com a aluna e Canino, lhe explicava o que precisavam fazer, e o ex-bruxo não pareceu se surpreender tanto, muito menos duvidar do sucesso como a garota havia feito a pouco.

— Grande homem, o Dumbledore — bravejou Hagrid com certo orgulho. concordou na mesma hora, Dumbledore era mesmo um bruxo excepcional.

A garota, com sua varinha acesa e firme em sua mão, e o professor, com sua velha lanterna também em mãos, andavam em volta do lago com os olhos atentos a qualquer indício de uma flor diferente das demais nascendo pelo local. Não deveria ser uma tarefa difícil, afinal, a beira do lago não continha muitas flores além de dentes-de-leão comuns e grama, muita grama. A dificuldade real era não saber como a Flor-Que-Nunca-Morre seria, pois teve a intervenção de magia bruxa e não natural, como as das sereias da família da garota. Contudo, ela e Hagrid se baseavam em sua própria flor: branca e brilhante.
Mas depois de quase uma hora, com suas barrigas roncando e reclamando de fome, eles não haviam encontrado nada. se deixou cair de joelhos e sentou-se em seus calcanhares, se permitindo descansar enquanto observava o reflexo da lua na água escura à sua frente. Sentia-se frustrada por, novamente, não conseguir ajudá-los.

— Ahá! Aí está você! — Hagrid gritou animado a alguns metros de distância da garota. Canino o acompanhou na animação com latidos e saltos em volta do bruxo.

levantou-se em um pulo e, aos tropeços, disparou até onde Rúbeo estava. O bruxo levantou a mão e pediu calma antes que ela pisasse na flor azulada na frente dele. Admirada, a aluna se abaixou ao lado do professor e seus olhos brilharam ao observarem uma flor idêntica a sua, com exceção da cor. A Flor-Que-Nunca-Morre derivada da colônia de sereianos do Lago Negro tinha um belo brilho azul, diferente da sua flor que o brilho puxava para o dourado. Como se uma brisa passasse por eles (o que não era o caso naquele momento), a flor balançava graciosamente ainda no solo, como se os saudassem por terem lhe encontrado.

— Não acredito, Hagrid! Nós achamos! — Exclamou animada, abraçando o enorme braço do meio gigante que agora respirava aliviado e satisfeito.

Por suas mãos serem mais delicadas, foi a responsável por retirar a flor do solo e colocar em um pote de vidro. De longe, já a caminho para o castelo, a aluna da Grifinória se virou para observar Hagrid falando com Murcus na beira do lago e lhe entregando a flor. A garota viu a sereiana acenar com a cabeça para ela, em sinal de agradecimento, antes de afundar novamente no Lago Negro, a sua casa.
Naquela noite, pôde finalmente dormir mais leve e com a sensação de dever cumprido.



25 - The Third Task

O mês de Junho chegou rápido para a felicidade dos alunos ansiosos para a terceira prova do Torneio Tribruxo. Entre eles, é claro, estavam os grifinórios Ron Weasley, Harry Potter, Hermione Granger, e seu namorado da Lufa-Lufa, Cedrico Diggory. Para esse grupo em especial, a ansiedade era a mais forte de todas. Tinham entre eles dois campeões que, a cada dia que passava, treinavam e estudavam cada vez mais para a prova. Diferente das outras duas, Potter e Diggory sentiam-se particularmente confiantes para essa prova e muitíssimos aliviados, afinal, seria finalmente a última.
O mês também trouxe cartas inteiras de Sirius para a filha e para Harry, agora ele escrevia diariamente, esta era sua forma de ajudar Harry à distância. Já para , as cartas traziam mensagens de conforto, com palavras tranquilizadoras que apenas Sirius conseguia transmitir, garantindo para a mais nova que ele estava bem e que, com sorte, a veria no final do ano letivo, agora mais próximo do que nunca.
não tinha muito tempo para pensar que seu intercâmbio estava chegando ao fim, pois ainda dividia seu corrido tempo em ajudar o amigo e o namorado, e ela, Mione e Ron não estavam indo tão mal assim nas provas, apesar das distrações. Minerva McGonagall se cansou de surpreendê-los pelo castelo, então permitiu que eles treinassem em sua sala entre as aulas e nos intervalos. Ainda assim, com a confiança e os treinos, o nervosismo de Harry e Cedrico foi crescendo conforme o mês passava e o dia 24 de junho se aproximava sorrateiro. E o café da manhã desse dia, quando ele finalmente chegou, foi animado e barulhento em todas as mesas, cada uma com seu respectivo Campeão sentado nela. Os alunos da Sonserina não paravam de bajular Vítor Krum que, por sua vez, tinha os olhos apenas para Hermione Granger e a mente totalmente focada na tarefa; os da Corvinal enchiam Fleur com perguntas e dicas para ajudá-la na tarefa e, mesmo com dificuldade na comunicação, ela parecia tomar nota de tudo. Já na mesa da Lufa-Lufa, todos pareciam muito animados, até mesmo Diggory que, apesar de preocupado e ansioso, lançava sorrisos de tempo em tempo para .
A garota, por sua vez, respondia com sorrisos e piscadelas, mesmo que não se sentisse tão bem assim. Estava em meio a barulhenta mesa da Grifinória que parecia mais bagunçada que de costume. Naquela noite, Black mal pregara os olhos. Fora para a cama com a ansiedade lhe tirando o sono, e depois das pouquíssimas horas que conseguiu dormir, acordou com uma sensação terrível que lhe embrulhava o estômago e lhe causava dor de cabeça.
A sensação não lhe era estranha, costumava sentir isso antes de alguma visão involuntária. O que a intrigava é que graças à professora Sibila Trelawney, não tinha uma visão há semanas. Aquela mesma angústia que sentia desde a noite anterior não aparecia há um bom tempo e, claro, não era algo que ela achava ruim. Então estava, além de tudo, preocupada demais com isso. O último dia do Torneio Tribruxo era o pior para se ter uma visão.
Naquela manhã, quando mais precisava das palavras de seu pai, ela e Potter apenas receberam um pedaço de pergaminho com a impressão de uma pata enlameada de Sirius. Aquilo teria que bastar, e ambos gostaram dos bilhetes mesmo assim.
A atenção de Black só lhe foi tomada quando Granger abriu o Profeta Diário, leu algumas frases e cuspiu todo o seu suco de abóbora no jornal. Para o azar de , Fred e George não se sentaram ao seu lado naquele dia – os gêmeos não paravam quietos, indo de ponta a ponta das mesas de todas as Casas para fazerem apostas sobre quem iria ganhar o Torneio –, então parte do suco respingou em suas vestes. Ela pegou a varinha e limpou tudo, inclusive o jornal.

— Credo, Granger! O que você leu aí?
— Nada — mentiu a amiga, mas desconfiada, tomou o jornal de suas mãos firmes.
— Ah não, não mesmo… Como ela pôde!?

Curioso, Ron passou por debaixo da mesa e se enfiou entre as duas amigas, ignorando a reclamação de Mione e lendo a notícia. O ruivo arregalou os olhos e soltou um palavrão, furioso.

— Nem pensar. Hoje não. Essa vaca velha!
— Deixa eu adivinhar — falou Harry com desânimo. — Rita Skeeter de novo?
— Não — responderam , Ron e Mione ao mesmo tempo, os três tentando esconder o jornal.
— Fala de mim, não é? — Harry voltou a questionar.
— Não… — os três repetiram em um tom que não convencia a ninguém.

Harry estava prestes a pedir para ver o jornal ou pular na mesa para tomar o papel das mãos deles quando Draco Malfoy gritou da mesa da Sonserina para todos ouvirem.

— Ei, Potter! Potter! Como é que está a sua cabeça? Você está se sentindo legal? Tem certeza de que não vai endoidar para cima da gente?

Seus amigos riram, parabenizando-o pela brincadeira sem graça alguma. Ignorando-o como fazia há semanas, apenas revirou os olhos e entregou o jornal para um insistente Harry Potter. , que ainda não terminara de ler o artigo, imitou Ron e passou para o outro lado por debaixo da mesa, sentando-se ao lado de Harry para ler a seguinte matéria:

HARRY POTTER "PERTURBADO E PERIGOSO"

O garoto que derrotou Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado encontra-se instável e possivelmente perigoso, escreve nossa repórter especial Rita Skeeter. Há poucos dias vieram à luz provas assustadoras do estranho comportamento de Harry Potter, que lançam dúvidas sobre suas qualificações para competir em um torneio rigoroso como o Tribruxo, ou até mesmo para frequentar a Escola de Hogwarts.
O Profeta Diário está em condições de afirmar, com exclusividade, que Potter regularmente desmaia na escola, e com frequência se queixa de dor na cicatriz que tem na testa (relíquia de um feitiço com que Você-Sabe-Quem tentou matá-lo). Na última segunda-feira, no meio de uma aula de Adivinhação, a repórter do Profeta Diário presenciou a saída intempestiva de Potter da sala de aula, dizendo que sua cicatriz o incomodava em demasia para que pudesse continuar em classe.
É possível, dizem os maiores especialistas do Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos, que o cérebro de Potter tenha sido afetado pelo ataque que sofreu de Você-Sabe-Quem, e que sua insistência em dizer que a cicatriz continua a doer seja uma expressão de sua arraigada confusão.
"Talvez até esteja fingind", opinou um especialista, "o que poderia ser um mecanismo para receber atenção."
O Profeta Diário, no entanto, descobriu fatos preocupantes sobre Harry Potter, que Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts, tem cuidadosamente ocultado do público bruxo.
"Potter é ofidioglota", revela Draco Malfoy, um quartanista de Hogwarts. "Há uns dois anos, houve uma série de ataques a estudantes, e quase todos pensaram que Potter era o responsável depois que o viram perder a cabeça em um Clube de Duelos e açular uma cobra contra um colega. O episódio foi abafado. Mas ele também faz amizade com lobisomens, gigantes e o mais preocupante: ele é melhor amigo da filha de Sirius Black. Achamos que ele é capaz de qualquer coisa para ter algum poder."

Ao ler essa parte, fuzilou Draco com os olhos, desejando poder estrangulá-lo apenas com o olhar. O mais preocupante? Disse o garoto que há semanas atrás confessara que a amava. Ponderou o que Skeeter acharia disso caso ela quisesse abrir a boca, mas jamais seria baixa o suficiente para contar qualquer coisa à jornalista apenas para prejudicá-lo e essa era a maior diferença entre eles dois.
O artigo ainda dizia:

"Ofidioglossia, ou a capacidade de conversar com as cobras, é tradicionalmente considerada uma Arte das Trevas. Com efeito, o ofidioglota mais famoso dos nossos tempos não é outro senão Você-Sabe-Quem. Um membro da Liga de Defesa Contra as Artes das Trevas, que prefere se manter anônimo, declarou que consideraria qualquer bruxo ofidioglota "merecedor de investigação". Pessoalmente, eu encararia com muita suspeita qualquer pessoa que conversasse com cobras, pois esses animais em geral são malignos". Da mesma forma, "qualquer um que procure a companhia de criaturas selvagens como lobisomens e gigantes me parece ter inclinação para a violência".
Alvo Dumbledore deveria, sem dúvida, refletir se um garoto desses pode realmente competir no Torneio Tribruxo. Há quem receie que Potter possa apelar para as Artes das Trevas em seu desespero de vencer o torneio, cuja terceira tarefa será realizada hoje à noite."

— Francamente, ela é patética — falou, segurando-se para não amassar o jornal ao devolvê-lo para Hermione.
— Acho que ela está deixando de gostar de mim — disse Harry, despreocupado.

Na mesa da Sonserina, Malfoy, Crabbe e Goyle continuavam rindo e provocando Harry, dando pancadinhas na cabeça, fazendo caretas grotescas imitando loucos e agitando as línguas como cobras. Eles se viraram para continuar ignorando-os com sucesso como sempre faziam.

— Sinto falta de quando Malfoy estava obcecado demais por você para lembrar da minha existência — comentou Harry, dando um sorriso ladino.

Em seguida, ele exclamou um "ai!" quando lhe deu um soco no braço; essa foi sua resposta para o que o amigo disse.

— Afinal, como Skeeter descobriu sobre sua cicatriz doer na aula de Adivinhação? — perguntou Rony, mastigando seus ovos mexidos.
— Ela obviamente não estava lá — complementou . — Não poderia ter ouvido.
— A janela estava aberta — respondeu Harry, ainda não parecia nada aborrecido. — Eu a abri para respirar.
— Você estava no alto da Torre Norte — lembrou Hermione. — Sua voz não podia ter sido ouvida lá embaixo nos jardins!
— Bem, você é quem anda pesquisando métodos mágicos de grampear! — disse Potter, com certa impaciência. — Me diga você como foi que ela conseguiu!
— Estou tentando — defendeu-se Hermione, igualmente impaciente. – Mas eu... mas…

O rosto de Hermione pareceu se iluminar. Distraída, ela mexeu nos cabelos, perdendo-se em pensamentos. Ron parou de comer para observá-la e olhou para os amigos que, tão perdidos quanto ele, apenas deram de ombros, sem entenderem nada.

— Mione? — a chamou. — Está tudo bem?
— Sim, eu só… — ela falou, mas não terminou a frase. Olhando perdida para a mesa, Hermione levou a mão até sua boca, movendo os lábios sem emitir som, como se houvesse um microfone em suas mãos. — Tive uma ideia! Acho que sei... porque desse jeito ninguém poderia ver... nem Moody! E ela poderia ter chegado até o peitoril da janela... mas isso é proibido... decididamente é proibido... acho que a pegamos! Me deem dois segundinhos na biblioteca, só para ter certeza!
— Dois segun…? — se interrompeu ao ver a amiga pegar a mochila e sair em disparada para fora do salão. — Mione, nós temos exame de História em dez minutos! — ela gritou para a amiga. — Dez minutos!

Os gritos não surtiram efeito, Hermione nem ao menos olhou para trás. Os três amigos se entreolharam, confusos e curiosos.

— Caramba… Ela deve realmente odiar aquela Skeeter para se arriscar a perder o início do exame — comentou Rony.
— Pois eu perderia todo o ano letivo se fosse para acabar com aquela jornalista de quinta! — Retrucou , chateando-se novamente ao lembrar do que falaram na matéria. Lançou um olhar rápido para Malfoy que ainda ria com os amigos, e soltou um longo suspiro, reprimindo a vontade de gritar com ele. — O que vai fazer no seu tempo livre, Harry? Estudar mais azarações?
— Acho que sim — o garoto respondeu, dando de ombros. Ele não via muita graça em treinar e estudar sozinho, se distraía muito mais fácil do que com os amigos lhe ajudando. Porém, como havia sido liberado das provas e seus amigos não, ele teria que aproveitar o máximo de tempo possível para se preparar, mesmo que fosse sem eles.
— E nós temos que ir, — Rony falou com desânimo, sem vontade de ir para a sala do Professor Binns. Ele parecia pensar o mesmo que Harry: as aulas não tinham graça sem o amigo.

Contudo, antes que pudessem levantar, a Profª Minerva contornou a mesa da Grifinória, caminhando determinada na direção deles. Assustados, Ron e se sentaram novamente e esperaram a possível bronca vir. Eles estavam errados, desta vez, pois esse não era o objetivo de McGonagall.

— Bom dia, meninos— ela falou com simpatia e eles responderam em um uníssono receoso. Depois, voltou-se para Harry. — Potter, os campeões vão se reunir na câmara vizinha ao salão depois do café.
— Mas a tarefa só vai ser à noite! — exclamou Harry, derramando, sem querer, ovos mexidos na roupa, receoso de que tivesse se enganado da hora.
— Eu sei disso, Potter. As famílias dos campeões foram convidadas para assistir à última tarefa, entende. É apenas uma oportunidade para você cumprimentá-los.

Despedindo-se deles, Minerva se afastou. Harry acompanhou-a com o olhar, boquiaberto, enquanto os amigos voltavam a se levantar.

— Ela não está esperando que os Dursley apareçam, está? — perguntou a Rony sem entender.
— Bom, não seria meu pai, seria? — questionou retoricamente, dando de ombros.
— Sei lá, mas é melhor nos apressarmos ou vamos chegar tarde na sala de Binns, — Ron falou, segurando a mão da amiga e puxando-a para a porta. — A gente se vê depois.

Antes de saírem do salão, virou-se para trás, mais especificamente para a mesa da Lufa-Lufa onde Cedrico Diggory já havia levantado e a procurava entre os alunos. Quando seus olhares se encontraram, o sorriso dele se alargou. Ced acenou para a namorada que acenou de volta, balbuciando um "boa sorte" antes de ser finalmente arrastada por Rony.

***

Além do teste de História da Magia, os quartanistas da Grifinória ainda tiveram testes de Herbologia e Poções. Nem e nem Rony, diferente de Hermione, saíram confiantes dessa última. O professor Severo Snape nem ao menos se deu ao trabalho de guardar uma amostra do elixir para induzir euforia que fez. Na verdade, por ter errado a quantidade de folhas de helária, o líquido se solidificou de tal forma que não foi possível removê-lo do caldeirão – ela teve de jogá-lo fora.
Sendo assim, o fim das primeiras aulas e a chegada do almoço foram muito bem recebidas pelos alunos de Hogwarts. A filha de Sirius Black ainda reclamava com os amigos sobre sua falta de atenção com a poção quando viu, de longe, Cedrico Diggory acenar para ela, um sorriso largo esticando-se em seu rosto. A garota desviou seu caminho para encontrá-lo, andando rápido entre os alunos. Ela, porém, foi diminuindo sua velocidade ao perceber que o namorado não estava sozinho.
Ao seu lado, um casal de adultos olhava o garoto com olhos brilhantes de admiração e orgulho, tocavam-o com tanto carinho e pareciam alheios ao que acontecia ao redor. Tão alheios que não perceberam a aproximação da garota. A não ser, é claro, pelo lufano Cedrico, que a recebeu de braços abertos.

— Que bom te encontrar agora! — ele falou ao abraçá-la forte. Cedrico afundou o rosto no pescoço da namorada e parecia não querer soltá-la tão cedo, mas o fez. — Eu quero te apresentar para duas pessoas muito importantes.

Ele se afastou um pouco da garota e apontou para o casal. Só então entendeu que aqueles eram o Sr. e a Sra. Diggory, os pais de Cedrico, logo, seus sogros. A boca de secou e seu coração acelerou em puro nervosismo.

— Estes são meus pais. Pai, mãe…
— Ah, a famosa ! — A mulher mais velha sorriu com simpatia para a garota e a abraçou, sentindo a mais nova ficar tensa em seus braços. — Muito prazer, querida, eu sou Agnes e este mal educado aqui é o Amos.

O homem citado não moveu um músculo a não ser o da boca que entortou-se de desgosto. Ansiosa, os olhos de Black corriam de Cedrico para Agnes e depois para o chão.

— Amos — a mulher sussurrou, cutucando o marido.
— Não vou fingir que estou confortável com o fato de meu filho estar namorando a filha de Sirius Black — resmungou o bruxo, cruzando os braços. A mulher ao seu lado revirou os olhos e bufou, desculpando-se com que apenas balançou a cabeça.
— Não, eu entendo — ela falou, tentando sorrir para eles. Ced passou o braço pelos ombros dela e olhou feio para o pai. — Eu sei que é difícil acreditar que meu pai é inocente depois de tantos anos, eu não culpo você. Mas eu posso te garantir uma coisa.

Os olhos de Amos, que antes encaravam o teto, focaram na garota. ponderou o que dizer para o bruxo. A frase "eu amo o seu filho" subiu até seus lábios, mas ali ficaram, pois não achou o momento adequado. Se queria dizer isto a Cedrico pela primeira vez, seria apenas para ele.

— Eu adoro o seu filho e só quero o bem dele, eu te prometo isso. Enquanto Ced estiver comigo, não deixarei nada machucá-lo.

Os três puderam jurar que Amos Diggory amoleceu ao ouvir aquelas palavras, assim como Cedrico derreteu-se ao lado de , beijando-lhe a bochecha.

— Se o faz feliz — Amos disse, dando de ombros. — Isso é realmente o que importa.
— Ela faz — Cedrico afirmou, olhando sorridente para a namorada. — Muito.
— Ah, vocês dois — Agnes falou chorosa, abraçando o filho e . — Estou tão feliz em ver meu filho, o Campeão de Hogwarts, com uma garota tão adorável! Obrigada por cuidar tão bem dele.

Ela soltou os dois e olhou diretamente para , mexendo em seus cachos com carinho.

— Ced me contou tanto sobre você…
— Mamãe… — Ced falou envergonhado.
— Cartas e mais cartas sobre como você o fazia sentir e o quanto estava feliz…
— Mãe — repreendeu o garoto mais uma vez, suas bochechas coraram violentamente. — Temos que almoçar, vamos.

estava adorando saber que Cedrico falava dela para os pais dele. Amos ainda a olhava com desconfiança, mas por todo o caminho até o Salão Principal, ele fazia um esforço para participar da conversa, sendo encorajado pelos sorrisos da esposa.
A família Diggory seguiu para a mesa da Lufa-Lufa com a promessa de que se veriam novamente mais tarde. Já a mesa da Grifinória, reparou, estava com mais cabelos ruivos que o normal. Ao chegar na mesa, ela reconheceu Molly Weasley na mesma hora. A mais velha se levantou para abraçá-la forte, reforçando o quanto sentiu falta dela – fez questão de garantir que era recíproco. O outro Weasley que Black ainda não havia conhecido era Gui, um dos irmãos mais velhos da família. Enquanto almoçavam todos juntos (Harry e Hermione acompanhavam ela e a família), a garota apenas confirmou que Gui era tão incrível quanto os irmãos. Concluiu também que era difícil acreditar que Percy era parente dessas pessoas tão maravilhosas.
Ali, naquela breve hora de almoço, eles quase conseguiram fingir que estavam de volta A Toca, o tanto que se divertiram e sentiram-se leves. Podiam fingir também que não haveria prova alguma do Torneio Tribruxo; as preocupações realmente ficaram longe daquela mesa.
Mas logo o sino bateu e, com exceção de Harry, Molly e Gui, os demais alunos tiveram que voltar para seus testes finais, dessa vez, mais relaxados e confiantes do que nunca.

***

Por mais divertido que tivesse sido o almoço, decidiu que passaria o jantar com Cedrico e sua família. Com o horário da competição se aproximando, a euforia e ansiedade entre os alunos aumentavam. A Sra. Diggory era a que mais falava, contando tanta coisa sobre o filho que poderia facilmente dizer que o conhecia a vida toda. Entretanto, ela estava atenta ao namorado. Ced estava quieto, sua perna balançava incessantemente, uma mania que adquiriu de , com certeza. A garota levou a mão à perna dele, como ele sempre fazia quando ela estava ansiosa, e beijou seu rosto, lembrando-lhe que daria tudo certo em um sussurro carinhoso em seu ouvido.
O pressentimento com o qual ela acordou naquela manhã ainda estava ali, ela não conseguia negar, mas decidira ignorá-lo ao menos uma vez na vida. Passou o dia todo sem ter visões, exatamente como nas últimas semanas. Até mesmo seus pesadelos haviam diminuído, então por que se preocupar? Mas mesmo com o belo banquete, ela e o namorado mal tocaram em seus pratos.
Quando todos haviam acabado suas sobremesas e o teto encantado já estava pintado de estrelas, Alvo Dumbledore levantou majestoso e pigarreou alto, fazendo assim todos se calarem.

— Senhoras e senhores, dentro de cinco minutos, vou pedir a todos que se encaminhem para o estádio de quadribol para assistir à terceira e última tarefa do Torneio Tribruxo. Os campeões, por favor, queiram acompanhar o senhor Bagman até o estádio.

Cedrico pareceu congelar no banco, olhando fixo para seu prato como se, de repente, o mesmo se tornasse muito interessante. Suas mãos suavam frio, mas não se importou em segurá-las com firmeza, tentando passar um pouco da confiança que ela mesma estava tentando adquirir. Ela decidiu que iria com ele, mesmo se não pudesse, e o Sr. e a Sra. Diggory acataram a ideia, acompanhando-o também. O mesmo fizeram a família Weasley com Harry, e os pais de Krum e a mãe e a irmã de Fleur com os respectivos campeões.
e Cedrico foram caminhando em silêncio alguns passos à frente dos pais dele. Ced olhava reto, mais precisamente para o estádio de quadribol. Sua mão segurava tão firme a da namorada que era possível que nunca mais conseguisse soltá-la – e era isso que queria, ficar com ela para sempre.
Ao finalmente chegarem na entrada do estádio, os grupos que acompanhavam os campeões tiveram que se despedir. se afastou para deixar o namorado falar com seus pais e aproveitou o momento para abraçar Harry Potter com toda a sua força, desejando-lhe toda a sorte do mundo. Quando voltou para Cedrico, temia de não ter tempo o suficiente para falar com o garoto antes de o mesmo entrar no estádio. Alguma coisa dentro dela se remexia, incomodando-a. Ela só precisava dizer uma coisa.

— Deseje-me sorte — disse Ced com seu adorável sorriso torto.
— Boa sorte — ela falou de fato, e ficou nas pontas dos pés para beijar os lábios dele com ternura o máximo de tempo que pôde.
— Preciso te falar algo — os dois disseram ao mesmo tempo, ambos espantando-se com a coincidência. — Pode falar — disseram novamente em uníssono, desta vez caíram na risada.
— Certo, então falaremos juntos — Cedrico falou sorridente, segurando as mãos da garota. — No três, ok? Um…
— Dois… — ela continuou, também sorrindo.
— Eu te amo — disse Ced, precipitando-se.

Surpresa, derreteu-se na sua frente e seu sorriso poderia iluminar todo o terreno. Aquilo era exatamente o que ela queria dizer, nem ao menos irritou-se por ele ter falado antes. Ouvir aquilo era tudo o que ela mais queria e precisava. Cedrico era tudo o que ela queria e precisava. A garota jogou-se para frente, abraçando o pescoço do garoto que a abraçou de volta, relaxando em seus braços.

— Eu também te amo — ela sussurrou em seu ouvido, sem querer soltá-lo tão logo. — Volte inteiro para mim, está bem?
— É claro! — respondeu, seu sorriso atravessava o rosto de tão largo. — Eu te fiz uma promessa.
— E é bom cumpri-la — retrucou, beijando-lhe uma última vez na bochecha. Ao longe, ouviu Molly chamá-la e reparou que o lufano era o único que faltava entrar; seu pai o aguardava na entrada do estádio. — Certo, eu preciso ir. Eu amo você, não esqueça disso!
— Nem se eu quisesse — respondeu, se afastando. — Eu te amo!

riu, gritando a frase novamente enquanto se afastava e ouviu Cedrico repeti-la uma última vez em alto e bom tom antes de finalmente entrar no estádio. Black correu até a família Weasley, entrelaçando os braços com Hermione e Gina que também sentaram ao seu lado na arquibancada. Ron sentou do outro lado e os gêmeos atrás, com Molly. Então contou às amigas sobre ela e Ced terem finalmente falado "eu te amo" e as duas garotas, é claro, ficaram tão eufóricas quanto ela. Mal humorado ao seu lado, Rony resmungou para elas ficarem quietas pois os campeões estavam entrando no estádio. deu risada da cara de bravo que o amigo fez e, para aliviar seu humor, ela o abraçou de lado, sentindo-o ficar tenso.

— Não se preocupe, Ron, você ainda é meu ruivo favorito de Hogwarts.
— Hey! — os gêmeos gritaram em uníssono, chamando a atenção da garota e do irmão. — Estamos bem aqui!

riu e se desculpou, voltando em seguida a prestar atenção no estádio, ainda com os gêmeos resmungando atrás de si. O estádio, inclusive, estava totalmente diferente; uma sebe de seis metros corria a toda sua volta, formando um labirinto que parecia não ter fim, perdendo-se na névoa que a noite fria trouxe. Uma abertura era a entrada para o imenso labirinto. Aquilo fez se arrepiar inteira e a preocupação, antes esquecida pela deliciosa distração que eram os Weasleys e pelo seu momento com Cedrico, voltou com força total. Ela começou a esfregar as mãos, ansiosa. O ato não passou despercebido por Ron, que estava igualmente preocupado com Harry, o que o fez segurar as mãos da garota e dizer que ficaria tudo bem. O fato de Rony tentar acalmá-la era adorável, contudo, não adiantou muito – ela não falou isso a ele.
A arquibancada estava em pura euforia. Os presentes batiam os pés no chão, aplaudiam, gritavam e cantavam com a banda que tocava animada em algum canto da arquibancada. Aquele barulho todo parecia fazer o coração de bater mais forte ainda.
Bagman, junto aos professores Minerva, Hagrid e Moody, falava com os quatro campeões, provavelmente passando-lhes informações, regras ou algo do tipo. queria ser uma mosca para saber o que acontecia com mais precisão.
Então, Bagman apontou a varinha para a garganta e murmurou "Sonorus", fazendo sua voz magicamente amplificada ressoar pelo estádio.

— Senhoras e senhores, a terceira e última tarefa do Torneio Tribruxo está prestes a começar! Deixe-me lembrar a todos o placar atual! Empatados em primeiro lugar, com oitenta e cinco pontos cada, o Sr. Cedrico e o Sr. Harry Potter, os dois da Escola de Hogwarts!

Os espectadores foram à loucura novamente, gritando e aplaudindo a fala de Bagman. O barulho era tanto que os pássaros saíram voando da floresta para o céu crepúsculo. olhou a cena com certo assombro.

— Em segundo lugar, com oitenta pontos, o Sr. Vítor Krum, do Instituto Durmstrang! — Mais aplausos ressoaram, vindo principalmente de onde se concentravam os alunos da Sonserina. — E em terceiro lugar, a Srta. Fleur Delacour, da Academia de Beauxbatons!

Mais aplausos. As mãos suadas da garota já não tinham mais forças para o ato. Ela olhava para os lados, querendo confirmar se era a única aflita ali. Por sorte não era, mas a sensação não aliviou em nada. O pressentimento estava ali ainda, por mais que tentasse espantá-lo. A visão que teve um pouco antes da segunda tarefa voltava toda hora a sua mente e ela desejava que aquilo não fosse um sinal.
Cedrico e Harry, a distância, procuravam suas famílias em meio ao aglomerado de alunos e familiares, acenando uma última vez.

— Fique tranquila — Hermione murmurou quando contou sobre sua aflição em relação à visão. — Você não tem visões há semanas, não vai ser hoje que terá. Foque na tarefa e concentre-se no seu colar.

Black apenas assentiu, mas continuou incomodada.

— Então... quando eu apitar, Harry e Cedrico! — anunciou Bagman. — Três, dois, um...

O apito ressoou pelo estádio e, dando um último aceno, Potter e Diggory entraram no labirinto. Alguns segundos depois, Bagman apitou e Krum entrou por onde os meninos entraram; o som do apito foi ouvido uma terceira vez e Fleur entrou, agora todos estavam no labirinto. A frustração era coletiva, pois agora não era possível enxergar os campeões, muito menos saber o que faziam lá dentro.

— O quê será que está acontecendo com eles? — Hermione questionou, frustrada.
— Como querem que vejamos algo!? — reclamou, bufando alto.
— Seria incrível se alguém tivesse binóculos especiais, hein George? — disse Fred, inclinando-se para frente e ficando entre as duas garotas. Elas se olharam, desconfiadas.
— Seria mesmo, Fred — George respondeu, também inclinando-se entre Ron e . — Binóculos que alcançassem além do labirinto e da névoa…
— Como esse aqui! — Fred completou, tirando um binóculo laranja como seus cabelos de dentro das vestes. Ele olhou de esguelha para a mãe que não parecia prestar atenção, estava focada em tentar enxergar algo no labirinto.
— O que…? Como…? — Gaguejou Granger, boquiaberta. Era possível ver seu cérebro funcionando a mil por hora.

Ron tomou o binóculos das mãos do irmão e o testou. o olhava com atenção, curiosa com o objeto. Era de conhecimento geral que os gêmeos adoravam encantar e criar objetos que fossem úteis para suas pegadinhas e para as aulas – ou para fugir delas. Boa parte dessas ideias não davam muito certo, podendo causar machucados sérios em quem os usava (até então, apenas os gêmeos e Lino Jordan, que há alguns dias passou horas vomitando ao ter ingerido algo que os gêmeos lhe deram). Mas o grupo ouviu Rony murmurar um "uau", parecendo realmente impressionado. Ele passou o objeto para e a mesma, ansiosa, o colocou na mesma hora nos olhos. Sua visão parecia estar um pouco embaçada, como se a neblina do labirinto estivesse agora bem na sua frente. Mas assim que conseguiu focalizar Harry, arfou de surpresa, realmente impressionada.

— Essa coisa funciona mesmo — ela exclamou.
Essa coisa, ela disse — George falou em tom de desdém.
— Não entendi o tom de surpresa — Fred complementou, olhando feio para a amiga. — Afinal, fomos nós quem fizemos.
— O que fizeram? — Molly perguntou, apertando os olhos para o labirinto na esperança de ver algo.
— Nada — os gêmeos responderam juntos, gesticulando para que escondesse os binóculos.

Esta, por sua vez, tentava encontrar Cedrico em meio as sebes altas e névoa espessa. Encontrou-o sacudindo a varinha para um enorme explosivini de Hagrid que recuou em reação a algum feitiço que o loiro usou, dando chance de ele correr para onde Potter estava. soltou o ar, passando o objeto para Hermione; precisava se recuperar da ansiedade que ver os amigos lhe causou. Granger tentava não expressar muitas reações para não chamar a atenção de Molly Weasley, também tentava disfarçar o fato de que havia adorado os binóculos, pois não queria incentivar os gêmeos a fazerem coisas erradas. Porém, em determinado momento de aparente tensão, ela acabou deixando escapar uma exclamação.

— Céus, o que Krum está fazendo?
— É claro que procurou por ele — reclamou Rony, revirando os olhos.
— Não começa, Ron — respondeu Hermione, ainda olhando para o labirinto. — Tem algo errado com…

Um grito a interrompeu, fazendo-a abaixar os binóculos. Hermione estava pálida, paralisada, e seus olhos ainda estavam fixos no labirinto, como de todo o resto das arquibancadas. Um longo minuto se passou em que ficaram em pleno silêncio até Hagrid aparecer no centro do estádio carregando Fleur Delacour nos braços. Todos arfaram, assustados com a cena. Hagrid a deitou no gramado e, prontamente, Alvo Dumbledore, Madame Pomfrey e a mãe e a irmã de Fleur correram até ela. Longos e torturantes segundos se passaram até Dumbledore anunciar que ela estava bem. Coletivamente, todos soltaram o ar, aliviados ao ver a garota levantar-se e caminhar com a família para longe da entrada do labirinto, sendo aplaudida pelo estádio inteiro.
Menos um, pensou , bronqueando a si mesma por pensar nisso. Mas não pôde deixar de alimentar a esperança de que a chance de seu namorado e seu melhor amigo ganharem havia aumentado sem Delacour na competição.
Hermione entregou o binóculo de volta para os gêmeos e ficou estranhamente quieta. Black não queria incomodá-la naquele momento, vendo como a amiga estava abalada, mas não pôde deixar de se perguntar se o que a garota viu tinha a ver com a visão que tivera na noite em que saíram para um encontro em Hogsmeade. Tudo o que queria era ver o futuro do bulgaro com Hermione ou seu desempenho no Torneio, porém, viu o campeão com olhos brancos e sombrios, diferente do garoto doce que ele era.
Os comentários baixinhos de Fred e George a deixava curiosa, mas a aflição em seu peito a fez preferir não ver nada. Roia as unhas curtas como ratos roem um queijo de tão ansiosa que estava. Agora o objeto estava novamente com Rony, que observava o labirinto com uma concentração impressionante. De repente, sentiu Rony estremecer ao seu lado, agarrando a mão a mão da garota que olhou nervosa para os lados para garantir que ninguém percebesse o rubor em suas bochechas, mesmo assim, deixou o amigo segurar sua mão. O grupo não sabia ainda, mas o que o assustou foi uma aranha gigante, provavelmente uma das filhas de Aragogue, que atacou Cedrico, mas agora andava em direção à Potter.
O garoto lançava feitiços sem sucesso contra o bicho, narrou Ron – que ainda tremia com a visão da aranha atacando seu melhor amigo. prendeu a respiração e desejou com todas as forças que aquilo acabasse logo. Contudo, antes de fechar seus olhos, ela sentiu Rony colocar os binóculos em suas mãos, dando continuidade para o revezamento do uso do objeto. O mundo pareceu girar em sua volta, deixando-a tonta e fraca. Ela olhou para os binóculos mágicos e os viu deslizando por seus dedos, pois suas mãos fracas mal conseguiam segurá-los. Antes que pudesse passar para alguém, sua mente ficou vazia. Todo o barulho da arquibancada sumiu.
Agora ela estava em um terreno amplo e inclinado como um morro, a grama seca era uma cama para as lápides espalhadas de forma organizada, decoradas com anjos e nomes que ela não conhecia; concluiu, por fim, que estava em um cemitério. A garota olhava em volta, andando entre as lápides, tudo parecendo estar em câmera lenta, inclusive os seus passos. Ela se virou e viu Cedrico Diggory e Harry Potter lado a lado; Harry com a mão em sua cicatriz, parecendo sentir muita dor, e Cedrico apontando a varinha na direção de , com a Taça Tribuxo largada ao lado. Ela não conseguia entender porque o namorado a olhava com tanta estranheza.
"Cedrico, sou eu!" sibilou, mas nenhum som saiu da sua boca. Ela tentou correr até ele, mas seu corpo parecia pesar uma tonelada. parou de tentar alcançá-lo quando viu um raio verde passar lentamente do seu lado e indo em direção ao garoto. Ela se virou para ver a fonte da luz e se assustou ao ver um bruxo baixinho e gordinho; seu rosto estava borrado, então não conseguiu identificá-lo. Voltou a encarar Diggory e avançou em sua direção, em uma última tentativa de alcançá-lo. Entretanto, quando estava a centímetros do garoto,  o cenário mudou.
De repente, tudo virou névoa e voltou à focalizar em outra cena. Harry agora estava amarrado na lápide que tinha o nome Tom Riddle em relevo. Já não estavam mais sozinhos. Dezenas de bruxos encapuzados formavam um círculo em volta da lápide, mas apenas um lhe chamou a atenção. No centro, de frente para Harry, havia um bruxo alto, magro, branco com leite, segurando com maestria uma varinha apontada para o garoto. deu a volta para olhar seu rosto branco com olhos vermelhos e narinas iguais às de uma cobra. Observou-o falar sem ouvir nenhum som e um arrepio percorreu seu corpo.

arregalou os olhos e um um grito escapou por seus lábios, puxando todo o ar possível de uma vez só, como se tivesse passado todo esse tempo sem respirar. Ela sabia o que tinha acontecido: tivera uma visão.
Ron e Hermione a olhavam assustados, assim como Molly, Gina e os gêmeos. O binóculo que quase deixara cair agora estava com Rony.

, está tudo bem? — perguntou Hermione, suas mãos gentis seguravam as de , que estavam gélidas.

A morena olhou horrorizada para Mione, recapitulando tudo o que viu. Sem dizer nada, ela pegou o binóculo, ainda tremendo, e se levantou para olhar o labirinto, vendo Harry e Cedrico em uma discussão e ao lado deles, Krum estava estirado no chão, desacordado. Cedrico levantou a varinha e uma luz vermelha disparou para o céu no exato lugar onde o bulgaro estava. percebeu que não tinha muito tempo. Fez então a primeira coisa que veio à sua mente.
Passando pelos alunos, Black desceu as arquibancadas em disparada. Seu objetivo era tentar chegar a qualquer um que estivesse no gramado do estádio, e a primeira pessoa que encontrou foi Alastor Moody.

— Black, volte para o seu lugar!
— Professor — disse ela, ofegante, amparando-se em seus joelhos para recuperar o fôlego. — Algo ruim vai acontecer! Precisamos tirar eles de lá!
— Nada vai acontecer, garota, volte logo para a arquibancada antes que eu…
— Você fará o que, Alastor? — ouviu McGonagall falar atrás de si. Em resposta, Moody apenas resmungou, olhando contrariado para o labirinto.
— Professora McGonagall! — falou com um misto de alívio e desespero. — Eles estão correndo perigo! Ced e Harry! Eles precisam sair de lá!
, se acalme! Eles irão sair assim que encontrarem a taça. Agora, por gentileza…
— Eu tive uma visão! — A garota exclamou, desesperada. — Eles não vão voltar!
— Nós planejamos este campeonato com todo o cuidado, Srta. Black. Se eles precisarem de ajuda, farão como Krum fez.

Minerva apontou para onde o campeão saia carregado nos braços de Rúbeo Hagrid, como fizera Fleur. Essa, por sua vez, o olhava enfurecida. O que a fez ficar em seu lugar e não jogar uma maldição no garoto foram sua mãe e sua irmã.
Quando voltou a olhar a professora, a mesma já havia se afastado, deixando-a para trás. Ela bufou, frustrada, seu coração acelerando conforme seu desespero aumentava. Percebeu que aquilo seria inútil, ninguém a ouviria, então correu para fora do estádio e encarou o castelo majestoso no horizonte. Forçou sua mente a ter alguma ideia o mais rápido possível, elaborando algum jeito de entrar no labirinto. Sabia bem que os professores não a deixariam entrar por onde os campeões entraram, e mesmo se conseguisse passar por eles, demoraria demais para encontrar os dois.
olhou em volta, uma luz se acendeu em sua cabeça conforme uma ideia surgia. Se tivesse sorte, e ela precisava de toda sorte do mundo agora, a vassoura de Harry estaria no vestiário, lhe aguardando para ser usada.

Accio Firebolt! — gritou a garota, apontando a varinha em direção ao vestiário, desejando com todas as forças que o objeto viesse o mais rápido possível.
Para sua sorte, a vassoura estava, de fato, por perto. Contornando o estádio, um ponto marrom voando em disparada em sua direção se tornou a vassoura moderna que seu pai deu a Potter quando o garoto lhe ajudou a fugir. Ela esticou o braço e agarrou a vassoura, subindo em cima dela e tentando se lembrar dos ensinamentos dos Weasley. Com sorte, a vassoura avançou assim que ela deu impulso, e ela procurou equilíbrio segundos antes de subir alto o suficiente para enxergar Harry e Cedrico que já estavam perigosamente perto da taça.
Enquanto sobrevoava o labirinto, Black teve de desviar de feitiços dos professores que não a atingiram graças à velocidade da Firebolt – chegou a ponderar que se saísse viva daquele lugar, tentaria entrar para o time de quadribol. Os gritos que ela dava não foram o suficiente para chamar a atenção dos campeões, então ela teria de descer. Os feitiços dos professores passavam perto demais dela, era muito mais fácil de ser acertada agora que estava voando baixo, então ela apenas se jogou da vassoura, atingindo em cheio o chão úmido a alguns passos dos garotos. O único que pareceu perceber sua presença foi Harry, que olhou para trás quando a garota se levantou e correu na direção dos dois.

— NÃO ENCOSTEM NA TAÇA!

Seu grito de nada adiantou, já era tarde demais. Harry e Diggory a olharam confusos antes de ambos agarrarem cada alça da Taça Tribruxo. acelerou seus passos e, no último segundo, conseguiu agarrar a manga do uniforme do lufano, sentindo ser puxada junto com eles.
A sensação era estranha demais. sentiu como se algo a puxasse pelo umbigo, sua cabeça doía, como se a atmosfera a esmagasse e tirasse toda a pressão do ar. Mais rápido do que esperavam, os três caíram em um chão lamacento e desregular, cheio de raízes e folhas secas. Ao levantar a cabeça, ainda atordoada, reconheceu o lugar na mesma hora, e o pavor tomou conta dela.



26 - Priori Incantatem

Os alunos Harry Potter, Cedrico Diggory e Black perceberam rapidamente que estavam bem longe dos terrenos seguros de Hogwarts. Enquanto se recuperavam do baque, o trio olhava em volta na tentativa de identificar onde estavam exatamente. Ficou claro que era um cemitério (as lápides e a pequena e velha capela lhes informavam isso), mas nenhum dos três estiveram nele antes. Ao longe, um casarão antigo e mal cuidado pousava majestoso no alto de uma colina. O conjunto da obra era de causar arrepios.
se levantou o mais rápido possível, olhando em volta com pavor. Seu cérebro fez o favor de lembrá-la da visão que teve a pouco sobre aquele exato lugar.

— Não... — ela sussurrou para si mesma, passando as mãos pelos cabelos. — Não, não, não…
? — Cedrico se aproximou dela com o rosto retorcido em confusão e preocupação. — Você está bem? O que foi aquilo? O que você fez?
— Eu estava tentando evitar isso! — Ela balançou as mãos, indicando o espaço onde estavam.
— Vocês sabiam que a taça era uma chave de portal? — o lufano perguntou, olhando para o objeto a alguns metros. Harry e , aflitos e igualmente confusos, negaram. — Então… como você sabia disso aqui?

então reparou, um tanto tarde, que nunca contou ao namorado sobre suas visões. Nunca soube como contar tal coisa para Cedrico, depois, nunca teve a chance. Agora era o pior momento de todos. Ela engoliu em seco, olhando-o como se pedisse desculpas.

— Eu prometo que te conto tudo quando voltarmos, mas precisamos sair daqui! — Ela então se virou para Harry, que caíra perto deles, mas já se afastara alguns bons passos. — Potter, nós temos que ir!

O garoto a ouviu, mas não conseguiu responder nada. Uma dor latente e já conhecida atingiu sua testa, fazendo-o levar a mão até sua cicatriz e apertá-la na esperança de amenizar a dor aguda. Seu corpo se dobrou para frente em pura agonia, pontos pretos atrapalharam sua visão e a voz da amiga era apenas um ruído distante. Sem que percebesse, porém, ela já estava ao seu lado, muito alarmada e preocupada.
Aquele era um péssimo momento para a cicatriz do bruxo doer, pensou. Precisava tirá-los dali, mas o amigo parecia não querer, ou melhor, não conseguir se mover.
Quando a dor ficou insuportável, Harry Potter caiu de joelhos, deixando também a sua varinha cair. agachou-se ao lado do amigo, preocupada com o desespero dele e pensando em uma forma de saírem daquele lugar o quanto antes. Harry pareceu não perceber sua presença, ele ainda apertava sua cicatriz desesperadamente, urrando de dor de uma forma que jamais vira antes. Ele estava incapaz de se levantar, o que a deixava mais preocupada ainda. Ponderava carregá-lo à força quando ouviu Cedrico dizer baixo para eles:

— Tem alguém ali.

Harry tentou levantar a cabeça, mas seu grito de dor fez até alguns pássaros voarem assustados de uma árvore alta perto deles. O coração de acelerou quando um vulto apareceu no que restara da capela, porque ela sabia o que viria a seguir, mas Potter apertou seu braço tão forte que ela foi incapaz de se soltar.

— Harry, nós precisamos sair daqui agora — ela murmurou para o amigo, trocando um olhar preocupado com Cedrico.

O lufano, por sua vez, empunhava a varinha na direção do vulto. tentou puxar o braço que Harry ainda apertava, o garoto parecia prestes a desmaiar. não sabia se afogava Harry ou corrida até Cedrico.
Com o pouco de força que lhe restava, Harry falou:

— Ele está aqui.

Black só teve tempo de olhar para Cedrico e suplicar, com o olhar cravado no dele, para não fazer nada. E ele não fez. Uma voz aguda e fraca, acompanhada do som dos passos do estranho, foi ouvida pelos três.

— Mate o outro e desarme a garota. Precisamos dela viva.

O momento foi rápido demais, contudo, pareceu passar em câmera lenta para Black. Tudo o que ouviram a seguir foi uma segunda voz, mais aguda e trêmula, dizer "Avada Kedrava".
O aperto de Harry já havia afrouxado a tempos, mas não estava atenta a isso. Quando viu o raio verde cortar o ar,  puxou seu braço com força e correu aos tropeços em direção ao namorado antes que fosse tarde demais.
Mas já era tarde demais, e ela soube disso ao ver o corpo de Cedrico Diggory cair no chão com um baque seco e alto, quebrando as folhas secas embaixo dele. estagnou, sentia cada parte do seu corpo arrebentar em agonia. Nada havia lhe acertado ainda, nada, a não ser a imagem do garoto que ela amava morto na sua frente. obrigou seu corpo a continuar andando, impulsionando-o para frente, em direção a Cedrico. Mal deu um passo quando ouviu aquela mesma voz trêmula exclamar "expelliarmus" e o feitiço, ao invés de acertar a varinha, acertou seu corpo e o arremessou contra a mesma árvore de onde os pássaros fugiram. Atordoada, ela viu sua varinha rolar para perto do corpo de Diggory e a última coisa que viu antes de apagar foram os olhos abertos e sem vida do namorado.
O que despertou , muitos minutos mais tarde, foi o ar que lhe faltou. Algo a apertava e ela descobriu ser cordas apenas quando abriu os olhos pesados e olhou para baixo. Por centímetros, os pés não tocavam o chão. Cordas grossas a amarravam com firmeza na mesma árvore a qual ela havia colidido, logo percebeu que as cordas não eram comuns, pois quando tentava se mover, elas a apertavam mais ainda. Era aquilo que lhe tirava o ar.
Seus olhos varreram o lugar à procura de Harry. O encontrou preso na lápide que viu em sua visão, a lápide de Tom Riddle. Na frente do garoto, um caldeirão grande fumegava, caldeirão esse que não estava ali quando chegaram. Mas o bruxo de sua visão estava ali, encapusado, baixo e gordinho, desengonçado e esquisito, murmurava contra o caldeirão, recitanto feitiços que a garota não conseguia reconhecer. Ela gemeu, sentindo seu corpo todo reclamar de dor.
Um farfalhar de folhas a fez olhar para o chão. Se afastando de Potter, a maior cobra que já vira na vida arrastava-se em sua direção. O animal se aproximou, mexendo a língua para a garota, e então contornou a árvore, dando voltas como se estivesse vigiando-a. A bruxa estremeceu. Ela odiava serpentes, não sabia dizer se tinha medo, talvez era apenas muito ódio acumulado por muitos anos. Trauma, medo, ódio… Independente do que fosse, Black queria o animal o mais longe dela possível.
A movimentação da cobra chamou a atenção do bruxo que, parecendo alarmado, aproximou-se de a passos apressados. Ele a olhou com uma espécie de admiração e descontentamento, e passou a mão no rosto dela, agarrando o mesmo com certa brutalidade. O bruxo virou o rosto da menina para um lado, depois para o outro, e sorriu doentiamente. queria gritar, mas àquela altura, ela sabia que de nada adiantaria. Potter gritava há tempos – como agora, gritando para o bruxo se afastar da amiga – e ninguém apareceu. Eles estavam completamente sozinhos.

— Consigo ver a semelhança — o bruxo falou, fazendo-a olhá-lo bem nos olhos. reconheceu aquele rosto e uma raiva cresceu com força dentro dela. — Mas preciso que fique quietinha, estamos quase acabando!

Aquele era Pedro Pettigrew, também conhecido como Rabicho. Aquele era o homem que fez seu pai ficar 12 anos preso em Azkaban, mesmo sendo inocente. Reconheceu o homem por fotos que já viu dele quando seu pai, Remus e James ainda acreditavam que Pedro era um amigo de verdade. Nunca o viu antes, mas odiava o traidor com todas as forças.
Quando o bruxo se afastou, com a mesma agonia de antes, olhou em volta, analisando a situação. Nem ela e nem Potter poderiam se soltar; a maldita taça do Torneio Tribruxo estava há bons metros de distância, teria de fazer uma bela corrida até ela para conseguirem fugir. Há exatos seis metros estava o que a bruxa não queria olhar, então desviou os olhos rapidamente para Rabicho. Em sua mente, ela apenas desejava que Cedrico estivesse apenas estuporado. Ele vai acordar e nos salvar, ela afirmou enquanto lágrimas caíam de seus olhos.
Com a visão embaçada pelas lágrimas, Black viu Rabicho se aproximar do caldeirão. Em uma das mãos, ele segurava uma adaga. Ele choramingou ao olhar o objeto.

— Carne... do servo... dada de bom grado... reanime... o seu amo...

A bruxa virou o rosto na hora em que o homem cortou a própria mão, ouvindo-o urrar de dor, seguido do som de algo caindo no caldeirão. sentiu-se tonta. Voltou a olhar para frente e trocou um olhar desesperado com Harry. Ele parecia péssimo, sua energia se esgotou tanto quanto a da amiga. Rabicho, ainda choramingando, voltou a se aproximar de Potter, ainda com a adaga em mãos. arregalou os olhos.

— S-sangue do inimigo... tirado à força... ressuscite... seu adversário.
— Não! — gritou a bruxa, se debatendo contra a árvore. O aperto da corda lhe tirou o ar, fazendo-a tossir. — Fique longe… não machuque… ele…

É claro que Rabicho a ignorou. Nem ela e nem Harry puderam fazer algo para evitar o que estava por vir. O bruxo levantou a adaga, ainda tremendo por causa da dor, e fez um corte nas vestes de Potter, em seguida, fez um corte em seu braço, fazendo o garoto gritar em agonia. O sangue vermelho escorria pela lâmina prateada e reluzente enquanto Rabicho cambaleava de volta para o caldeirão, jogando o sangue dentro do mesmo.
No mesmo instante, uma névoa branca e densa tomou o lugar das faíscas que saíam do caldeirão, cobrindo todo o solo e dificultando a visão deles. A nuvem tomou conta do cemitério, contudo, ainda foi possível para Harry e verem surgir uma silhueta de um homem magro, alto, esquelético e que causou um arrepio terrível em ambos. Saindo de dentro do caldeirão, o homem murmurou:

— Vista-me.

Rabicho prontamente correu para buscar as vestes que largara no chão, ainda aninhando seu braço mutilado e gemendo com a dor que sentia. Porém, não vacilou, andou aos tropeços até o homem e fez o que ele lhe pediu, usando apenas uma mão – a que restara. O homem em questão olhava fixamente para Harry e foi possível ver o garoto estremecer.
Lorde Voldemort acabara de ressurgir.
nunca viu o rosto dele, contudo, soube que aquele era o homem (se é que podia considerá-lo um humano) que aparecia constantemente em suas visões e nos pesadelos de Potter. O garoto, como pôde concluir, descrevera Voldemort com perfeição. Ele desviou o olhar apenas para admirar seu próprio corpo, passando suas mãos com longos e finos dedos ossudos por seu rosto, por sua cabeça sem cabelo algum e por seu corpo, fechando os olhos ao se deleitar com a satisfação pelo corpo que ganhara. Os garotos não conseguiam dizer nada, tamanho era o assombro e a surpresa que sentiam. Rabicho, por sua vez, choramingava aos pés de Voldemort, suas vestes agora estavam cobertas com seu sangue e ele ainda agarrava o braço mutilado, tentando fazê-lo parar de sangrar.

— Milorde... — disse ele com a voz embargada. — Milorde... o senhor prometeu... o senhor prometeu...
— Estique o braço — disse Voldemort, indolentemente.
– Ah, meu amo... obrigado, meu amo…

Parecendo aliviado e muito grato, Rabicho esticou o braço sangrento. Voldemort deu uma gargalhada.

— O outro braço, Rabicho.
— Meu amo, por favor... por favor… — Implorou tolamente mais uma vez.

Ignorando seu pedido, Lorde Voldemort se curvou para puxar o braço esquerdo de Rabicho, o que ainda estava inteiro, e arregaçou a manga do mesmo, expondo uma tatuagem – um crânio, com uma cobra saindo da boca – que já vira antes, mas em Lúcio Malfoy. Quando a viu, porém, estava muito mais fraca, quase não conseguira identificar o desenho marcado na pele pálida do homem, mas aquela a qual Voldemort observava com admiração estava muito mais forte e viva. Aquilo não poderia indicar coisa boa.

— Reapareceu — comentou ele baixinho, parecendo orgulhoso —, todos deverão ter notado... e agora, veremos... agora saberemos…

Rabicho uivou de dor quando seu amo passou o indicador em cima da Marca Negra, sem delicadeza alguma. Harry retorceu o rosto, sua feição indicava pura agonia e dor. A marca se tornou ainda mais preta e viva. Voldemort pareceu satisfeito com a dor de ambos.

— Quantos terão suficiente coragem para voltar quando sentirem isso? — sussurrou ele, fixando seus olhos vermelhos e brilhantes nas estrelas. — E quantos serão bastante tolos para ficar longe de mim?

se perguntava a mesma coisa: quem iria aparecer ali? Ponderou se Severo Snape era um deles, e se Lúcio Malfoy viria, se teria coragem o suficiente para dar as caras. Ponderou também, e logo tratou de tirar tal pensamento da cabeça, se ele traria o filho. Estremeceu-se com tal ideia; Draco Malfoy poderia ser um idiota completo, poderia ter feito o que fez, mas jamais se tornaria um deles… ou se tornaria? O fato de ela não ter certeza a assustava profundamente.
O Lorde das Trevas caminhou entre Rabicho e Harry, voltando a observar o garoto com atenção.

— Você está em pé, Harry Potter, sobre os restos mortais do meu pai. Um trouxa e um idiota... muito parecido com a sua querida mãe. Mas os dois tiveram sua utilidade, não? Sua mãe morreu tentando defendê-lo quando criança... e eu matei meu pai e veja como ele se provou útil, depois de morto…

Sua voz era fria, parecia o sibilar de uma cobra, como a mesma que desfilava abaixo de Harry.
Voldemort ria, como se achasse tudo muito engraçado – era o único. O homem apontou para a velha casa no morro, sem desviar o olhar.

— Você está vendo aquela casa lá na encosta do morro, Potter? Meu pai morava ali. Minha mãe, uma bruxa que vivia no povoado, se apaixonou por ele. Mas foi abandonada quando lhe contou o que era... ele não gostava de magia, meu pai...
"Ele a abandonou e voltou para os pais trouxas antes de eu nascer, Potter, e ela morreu me dando à luz, me deixando para ser criado em um orfanato de trouxas... mas eu jurei encontrá- lo... vinguei-me dele, desse idiota que me deu seu nome... Tom Riddle..."

Voldemort andava sem parar, seus olhos correndo de um túmulo para o outro. De repente, parou de andar, seu rosto estampava um sorriso sombrio.

— Me vejam só recordando minha história de família... Acho que estou ficando sentimental demais — comentou ele, baixinho. não poderia concordar menos. — Muito rude da minha parte, já que temos uma convidada conosco! Uma convidada com uma família fascinante!

Voldemort olhou para e a mesma prendeu a respiração na hora. Seu plano de ficar o mais quieta, imóvel e invisível possível não funcionou. O homem se aproximou com passos lentos, um sorriso assustador esticando em seu rosto.

Black — sibilou a centímetros do rosto da garota, olhando-a fundo nos olhos. Ela, por sua vez, sentiu que poderia vomitar ali mesmo se continuasse olhando para ele. — Por que não falamos sobre a sua família?
— Deixe-a… em paz! — Harry grunhiu, sua dor ainda dificultando o simples ato de falar ou pensar direito.

Voldemort olhou por cima do ombro, depois voltou a encarar a garota. fechou os olhos com força quando viu a mão ossuda contornar seu rosto, sem tocá-la, mas muito próximo disso.

— A filha de Sirius Black se afeiçoando por Harry Potter… mas é claro! Que óbvio… ridículo… — Voldemort murmurou baixo para a garota. — Ele sabe o que aconteceu com sua mãezinha? Sabe como Artemisa foi uma idiota como a Lilian? Como ela também deu a vida para salvar você? — Ele finalmente tocou na garota, encostando seu dedo fino na têmpora dela. se encolheu, apavorada. — Você se lembra?

A garota não respondeu; ela não conseguia falar, nem ao menos conseguia abrir os olhos. Tudo o que conseguia pensar era em sua mãe, porque sim, ela se lembrava perfeitamente da noite em que ela morreu.

Artemisa agarrou sua lança e correu porta afora, deixando com Remus Lupin no dormitório onde moravam, dentro da Castelobruxo. A pequena garota de apenas 10 anos ficou parada na frente da porta fechada, uma preocupação descomunal crescia dentro de si. Seu padrinho apertou seu ombro em consolo, parando ao seu lado e pedindo para que fossem dormir, pois logo a mais velha estaria de volta. Artemisa havia sido comunicada que mais um ataque aos curupiras havia acontecido naquela noite, então ficará responsável em tentar identificar quem os atacou. Sua filha, porém, achou o comportamento da Professora Ursulina um tanto estranho quando a mesma veio falar com sua mãe, então ela não relaxou quando Remus a colocou na cama e saiu do dormitório. Se remexeu muitas vezes na cama antes de levantar, inquieta. Saiu do dormitório nas pontas dos pés, mas assim que conseguiu sair do castelo e adentrar a mata que o cercava, passou a correr até onde a maioria dos ataques aconteceu, a alguns metros do rio.
Continuou procurando-a, a escuridão dificultava tudo. Sentiu-se aliviada ao encontrar Remus Lupin, mesmo que o mesmo estivesse lhe dando uma bronca por ter saído do quarto. Porém, um grito foi ouvido e interrompeu a fala do padrinho, ambos olharam para a floresta e sabiam de quem fora o grito, contudo, não falaram em voz alta.
Remus segurou firme a mão da afilhada e empunhou sua varinha. Aquela noite era a pior de todas para se enfiar em uma mata com a garota, ele já conseguia sentir o efeito da lua cheia formigando suas veias. A poção que tomara antes de sair atrás de e Artemisa amenizava os efeitos, porém, ele não sabia até quando conseguia aguentar.
Um farfalhar de folhas fizeram os dois pararem. Encostada em uma árvore, Artemisa apertava seu abdômen com força, ainda empunhando sua lança e a apontando, sem muita firmeza, para algo no chão à sua frente. ameaçou soltar a mão do padrinho, mas Remus a segurou pelos ombros, pois já havia visto algo que a mais nova não vira. Uma enorme serpente estava com a cabeça erguida, recuando e balançando a língua em desafio. Lupin sabia o que o animal iria fazer, sabia que Artemisa não teria chance. A mulher finalmente reparou na presença deles e trocou um breve olhar com Lupin, então ele soube o que fazer. Virou , que já estava pronta para ir em direção à mãe quando viu o que iria acontecer, e a abraçou forte no instante em que a cobra deu seu bote, mordendo o pescoço de Artemisa de forma letal. Remus se segurou para não chorar ou deixar seus joelhos cederem, mas soltou quando viu a cobra fugir para longe. A garota soltou o padrinho e correu até a mãe, suas lágrimas já caíam impetuosamente. Artemisa, caída no chão, sorriu ao ver o rosto da filha uma última vez, por mais triste que ela estivesse. Sua menina continuava linda, e os olhos eram do homem que ela amava.

— Não se esqueça do seu pai — a mulher falou com a voz fraca, acariciando o rosto molhado da filha. — Ele é inocente…
— Mãe, pare de falar como se estivesse se despedindo.

O sorriso de Artemisa era triste. A mulher sabia que aquilo aconteceria, já havia previsto, só não sabia que a filha estaria ali. Aquilo tornava tudo mais difícil.

— Eu amo vocês. Diga a ele que o amo — ela murmurou ao ver Remus se aproximar, também chorando. O bruxo sabia do que ela estava falando, então assentiu. Em seguida, Artemisa focou em que soluçava sem parar. — Eu te amo.
— Eu também te amo, mamãe — a garota murmurou, vendo a mais velha fechar os olhos. — Mamãe? Não, por favor, não!

balançava o corpo sem vida da mãe, clamando por ela enquanto chorava, tentando, quem sabe, fazê-la acordar – ela sabia que era em vão. Delicadamente, Remus a puxou, afastando-a do corpo da mãe. Ao longe, Remus viu a serpente se aproximar novamente.

— Nós temos que ir — ele falou antes de puxá-la para longe.

Ambos correram, mesmo relutantes, pelo caminho de volta para Castelobruxo. O coração de , contudo, ficara na floresta onde sua mãe partia.

Diversas lágrimas caíam pelo rosto de enquanto Voldemort continuava encarando-a, seu rosto ofídio estava retorcido em concentração e esforço. A bruxa sabia o que ele estava fazendo, sabia que o Lorde das Trevas era um dos melhores na arte da Oclumência, tentava ler a mente da garota para puxar tal lembrança e se deliciar com o sofrimento dela, ou para saber onde Sirius Black estava (mal sabia ele que ela não tinha a menor ideia). O esforço, todavia, foi em vão, e para a surpresa de ambos, Voldemort não conseguiu extrair nada da mente da garota.

— Interessante — ele falou para si mesmo quando desistiu, seu rosto era sério, diferente do sorriso debochado que dava a pouco. — Mas acredito que se lembra da serpente, não é?

engoliu em seco.

— Eu também me lembro — o homem falou, seu sorriso sombrio voltou a estampar seu rosto igualmente sombrio. — Eu era a serpente.

Então o homem apontou para a mesma que ainda circulava aos pés de Harry Potter e, imediatamente, a mesma se aproximou. Só então a reconheceu; aquela era a cobra que matara sua mãe. Uma raiva subiu pelo seu corpo, esquentando-o, mas não adiantou nada se debater, as cordas a apertaram e tiraram seu ar novamente, o que fez o bruxo rir.

— Tola, lerda, igual aos pais. Sua mãe deu a vida por você, por seu povo, por seu pai… Você deve ter orgulho, é claro, mas eu tive nojo, pena... Ela realmente achou que um bruxo podia amá-la sendo o que era?
— Ele a ama — , com muito esforço, conseguiu falar. — E ela o amava.

O homem gargalhou e se afastou da bruxa, não demonstrando o quanto se afetou pelo fato de não conseguir ler a mente da garota. Aquele não era o momento para se importar com tal futilidade, pois se tudo der certo – e ele não iria tolerar erros naquela noite –, ele teria tempo suficiente para se preocupar com a filha do Black. Sua atenção naquela noite era toda de Harry Potter e dos Comensais.

— Eu adoraria continuar falando sobre o quão idiotas foram os nossos pais — disse o Lorde das Trevas, caminhando entre os dois jovens. Ele se aproximou do corpo sem vida de Cedrico e sorriu, enquanto se esforçava para não olhar. — Mas creio que a minha verdadeira família esteja chegando.

estremeceu ao ouvir o farfalhar da grama e das capas esvoaçando à medida que os comensais iam chegando, um por um, aglomerando-se em volta do túmulo de Tom Riddle. Em todo o espaço do cemitério, bruxos mascarados e encapuzados aparatavam e, cautelosa e lentamente, se aproximavam de Voldemort, admirando-o como se não pudessem acreditar no que viam. O bruxo, por sua vez, se manteve parado enquanto um por um, os Comensais chegavam perto do Lorde e beijavam a barra de suas vestes, saudando-o. Um deles, ao passar por , hesitou um segundo e a encarou. A máscara escondia seu rosto, mas os cabelos brancos, lisos e compridos embaixo de seu capuz não deixavam dúvidas de que aquele era Lúcio Malfoy. não podia dizer que estava surpresa, mas para o bem de Draco Malfoy, ela torcia para que ele não viesse.
Um círculo se formou em volta do túmulo onde Potter ainda estava preso. Black foi deixada de lado, mas sabia que não fora esquecida. Ela observava os Comensais da Morte se posicionarem, lado a lado, como se tivessem ensaiado os movimentos. Porém, quando terminaram de se arrumarem, foi perceptível que alguns espaços foram deixados entre eles, como se esperassem por mais Comensais chegarem, o que não aconteceu. Voldemort andou no meio do círculo, olhando para cada um deles, a varinha posicionada perigosamente em sua mão.

— Bem-vindos, Comensais da Morte — disse Voldemort em voz baixa. — Treze anos... treze anos desde que nos encontramos pela última vez. Contudo, vocês atendem ao meu chamado como se fosse ontem... então continuamos unidos sob a Marca Negra! Ou será que não?

As narinas dilataram e ele farejou, dando a volta pelo círculo e encarando os demais bruxos.

— Sinto cheiro de culpa. Há um fedor de culpa no ar.

Não aguentando ver a cena, mantinha os olhos fixos em Harry Potter. O garoto ainda gemia de dor, mas fazia um esforço descomunal para prestar atenção no que estava acontecendo. Hora ou outra ele olhava para a amiga, os dois assustados tentando transmitir uma calma inexistente para se consolarem.
Era perceptível que tal fala de Voldemort afetara os Comensais, todos pareciam querer sair correndo daquele lugar, mas a falta de coragem os mantinham ali. Voldemort sorriu, pois sabia bem disso.

— Vejo todos vocês, inteiros e saudáveis, com os seus poderes intactos, tão desenvoltos, e me pergunto... por que esse bando de bruxos nunca foi socorrer seu amo, a quem jurou lealdade eterna?

Ninguém falou nada. Ninguém se mexeu exceto Rabicho, que continuava no chão, chorando e aninhando seu braço ensanguentado.

— E eu próprio respondo — sussurrou Voldemort —, porque devem ter acreditado que eu estava derrotado, pensaram que eu acabara. Voltaram a se misturar com os meus inimigos e alegaram inocência, ignorância e bruxaria…

Voldemort começou a fazer um discurso sobre como estava decepcionado com a falta de lealdade de seus Comensais da Morte por não terem ido atrás dele. parou de prestar atenção, tentava engolir o choro para poder raciocinar direito e planejar como sairiam dali. Fez então o que estava evitando fazer desde que despertara; ela olhou para Cedrico Diggory, uma esperança idiota de que o lufano fosse se levantar para salvá-la se aponderou de seu coração, mas o mesmo se apertou em agonia por perceber que isso seria impossível. Mordeu o lábio inferior para reprimir um soluço enquanto mais lágrimas caíam de seus olhos. Tentou, mesmo com a visão embaçada, avistar onde estava sua varinha. Por sorte, não estava tão longe dela, mas não conseguiria alcançá-la enquanto estivesse presa. Entretanto, ao tentar se mexer, percebeu que as cordas não a apertavam mais. Olhou para Rabicho e viu que a varinha do mesmo estava no chão, a dor lhe tirava a concentração e tornava difícil para o bruxo manter sua magia forte. Mesmo assim, era quase impossível se soltar.
Distraída, a bruxa sobressaltou-se ao ouvir a voz de Voldemort exclamar:

Crucio!

Um de seus Comensais se contorcia no chão quando voltou sua atenção para a cena. Os gritos eram tão altos que imaginou ser impossível que algum trouxa que morasse nas redondezas não ouvisse. Trocou um breve olhar com Potter e soube que ele pensava – e desejava – a mesma coisa.
O Lorde das Trevas levantou a varinha, fazendo o Comensal se estatelar no chão, arfando.

— Treze longos anos... — Voldemort voltou a falar, ignorando o bruxo que acabara de torturar. — Quero um pagamento por esses treze anos antes de perdoá-los. Rabicho aqui já pagou parte da dívida, não foi, Rabicho? — Ele baixou os olhos para o bruxo mutilado, que continuava a soluçar. — Você voltou para mim, não por lealdade, mas por medo dos seus antigos amigos. Você merece sentir dor, Rabicho. Você sabe disso, não sabe?

serrou os punhos ao ouvir a fala do bruxo, pois os antigos amigos de Rabicho eram seu pai e seu padrinho, os quais ele traiu. Nunca entendeu porque os dois o deixaram vivo, pois se o tivessem matado, certamente ela e Potter não estariam naquela situação. Mas de uma coisa ela ousava concordar com o Lorde das Trevas: Rabicho merecia sentir muita dor.

— Sei, meu amo — gemeu Rabicho. — Por favor, meu amo... Por favor...
— Contudo, você me ajudou a recuperar meu corpo — disse Voldemort friamente, observando o servo soluçar ao seus pés. — Mesmo inútil e traiçoeiro como é, você me ajudou, e Lorde Voldemort recompensa quem o ajuda.

Voldemort tornou a erguer a varinha. Um líquido prateado saiu da varinha branca e pairou no ar. Momentaneamente informe, o fio se transformou na réplica brilhante e prateada de uma mão humana, que saiu voando e foi se prender ao pulso sangrento de Rabicho. Os soluços do bruxo pararam abruptamente e Black agradeceu por não precisar mais ouvir aquele som irritante. Com a respiração falha, ele levantou a cabeça e fitou, incrédulo, sua nova mão prateada, agora ligada sem costura ao seu braço, como se ele estivesse usando uma luva luminosa. O bruxo flexionou os dedos reluzentes, depois, trêmulo, apanhou um graveto no chão e pulverizou-o.

— Milorde — sussurrou ele, maravilhado. — Meu amo... Ela é linda... muito obrigado!

Ele avançou de joelhos e beijou a barra das vestes de Voldemort. nunca desejou matar alguém como desejava matar aqueles dois bruxos. Aquele sentimento era o pior de todos, mas era igualmente inevitável.
Pettigrew se levantou, ainda agradecendo seu amo, e tomou seu lugar na roda ao lado de Lúcio Malfoy. Este, por sua vez, parecia inquieto demais, e isso não passou despercebido por Lorde Voldemort.

— Lúcio, meu ardiloso amigo — murmurou ele, se detendo diante do bruxo. — Ouço dizer que você não renunciou aos seus hábitos antigos, embora para o mundo você apresente uma imagem respeitável. Acredito que continue pronto para assumir a liderança de uma torturazinha de trouxas?

O estômago de embrulhou ao ouvir aquilo. Não entendia porque se surpreendia com a maldade de Malfoy, mas saber que qualquer um daqueles na sua frente era capaz de tal atrocidade, lhe deixava enjoada e com medo.

 — No entanto, você nunca tentou me encontrar, Lúcio... As suas aventuras na Copa Mundial de Quadribol foram engraçadas, as brincadeiras em Hogwarts também, eu devo dizer... Mas será que suas energias não teriam sido melhor empregadas em procurar ajudar seu amo? Ou, talvez, encontrar Sirius Black?

Lúcio Malfoy estremeceu visivelmente, assim como a garota presa na árvore. Desejava que Voldemort tivesse a esquecido, citar seu pai foi um claro sinal de que ele estava muito ciente de sua presença ali. Malfoy também, pois lançou um breve olhar por sobre o ombro antes de dizer:

— Estive muito perto de conseguir, Milorde — ele gaguejou, sem encarar o homem. — E estive sempre muito alerta para qualquer sinal seu...
— Mas falhou — Voldemort sussurrou com o rosto próximo ao de Lúcio. — E você correu da minha marca quando um leal Comensal da Morte a projetou no céu no verão passado. Sem contar na falha ao deixar Draco se apaixonar pela filha de Sirius Black.

O Sr. Malfoy abriu a boca em choque, mas não tentou argumentar.

— É, sei de tudo que aconteceu, Lúcio... Você e seu filho me desapontaram... Espero serviços mais leais no futuro. Você terá uma nova chance de encontrar o Black.
— Naturalmente, milorde, naturalmente... O senhor é misericordioso, obrigado — respondeu Malfoy. Quando o outro bruxo se afastou, Lúcio olhou para , e o olhar que lhe lançou pelos buracos na máscara poderia congelar todo aquele cemitério.

Voldemort continuou a andar e parou, reparando no espaço – suficientemente grande para duas pessoas – que separava Malfoy do comensal seguinte. Por esse espaço, ele tinha a visão da garota presa à árvore.

— Os Lestrange deveriam estar aqui — disse Voldemort. — Mas estão enterrados vivos em Azkaban. Foram fiéis. Preferiram ir presos a renunciar a mim... Quando Azkaban for aberta, os Lestrange receberão honras que ultrapassarão todos os seus sonhos. — Ele apontou para e todos os Comensais acompanharam seu olhar. — Tenho um presente especial para Bellatrix brincar: sua sobrinha, Black…. a filha de Sirius Black.

Um buchicho coletivo se espalhou pela roda. Todos, exceto Lúcio, se surpreenderam com o fato da garota estar ali. Isso porque ainda não haviam reparado em Harry Potter.
Ignorando os sussurros, Voldemort continuou:

— Os dementadores se unirão a nós... são nossos aliados naturais. Chamaremos de volta os gigantes banidos, todos os meus servos devotados me serão devolvidos e um exército de criaturas que todos temem…

O bruxo continuou andando dentro do círculo, parando apenas para falar diretamente com Comensais específicos. Crabbe, Goyle, Nott… Nomes familiares para , mas que como Malfoy, não a surpreendia em nada em ouvi-los. Voldemort continuava falando, seus servos agradeciam, bajulavam, o idolatravam. Aquilo a assustava, pois se ele conseguiu reunir todos aqueles bruxos influentes e importantes do mundo mágico…

— Basta!

A exclamação de Voldemort interrompeu novamente os pensamentos de . Ela não percebeu que voltou a chorar, agora de medo, até sentir as lágrimas salgarem seus lábios.

— E aqui temos seis Comensais da Morte ausentes... três mortos a meu serviço. Um demasiado covarde para voltar... ele me pagará. Um que eu acredito ter me deixado para sempre... este será morto, é claro... e um que continua sendo meu mais fiel servo, e que já reingressou no meu serviço.

Os Comensais da Morte se agitaram; Harry e viram eles se entreolharem por trás das máscaras. Ambos copiaram o gesto, trocando um olhar apavorado.

— Ele está em Hogwarts, esse servo fiel, e foi graças aos seus esforços que o nosso jovem amigo chegou aqui esta noite…

"Sim", disse Voldemort, um sorriso crispando sua boca sem lábios, quando os olhares do círculo convergiram para Harry. "Harry Potter teve a gentileza de se reunir a nós para comemorar a minha ressurreição. Poderíamos até chamá-lo de meu convidado de honra."

Diferente da reação que tiveram ao verem , todos os bruxos se mantiveram em silêncio ao mirarem Potter. Lúcio Malfoy deu um passo à frente, mantendo a cabeça respeitosamente abaixada para falar com seu amo, sua voz saiu abafada por causa da máscara.

— Meu amo, é grande o nosso desejo de saber, suplicamos que nos conte... como foi que o senhor conseguiu este… este milagre! Como conseguiu voltar para nós…?
— Ah, que história extraordinária, Lúcio! — disse Voldemort. — E ela começa... e termina... com o meu jovem amigo aqui.

Ele caminhou descansadamente e parou ao lado de Harry, fazendo com que os olhos de todo o círculo se voltassem para os dois. A cobra continuava a rastejar em círculos, e se esforçava em tentar se soltar da corda que não parecia ter nó ou qualquer outro tipo de amarração.

— Vocês sabem, naturalmente, que muitos chamam este garoto de minha perdição! — disse Voldemort baixinho, os olhos fixos em Harry, cuja cicatriz começou a arder tão ferozmente que ele quase gritou de agonia. — Vocês todos sabem que na noite em que perdi meus poderes e o meu corpo, tentei matá-lo. A mãe dele morreu tentando salvá-lo e, sem saber, o resguardou com uma proteção que, devo admitir, eu não havia previsto... Eu não pude tocar no rapaz.

Voldemort ergueu um longo dedo branco e levou-o até próximo do rosto de Harry. A primeira reação de foi querer gritar para que o bruxo se afastasse de seu amigo, mas a essa altura, ela já percebeu que Lorde Voldemort não seria tão piedoso com ela como foi com seus Comensais.

— A mãe deixou nele os vestígios do seu sacrifício... isto é magia antiga, de que eu devia ter me lembrado, foi uma tolice tê-la esquecido... mas isso não importa. Eu agora posso tocá-lo.

Voldemort tocou Harry com a ponta fria do longo dedo branco e o garoto pensou que sua cabeça ia explodir de dor. O bruxo riu de mansinho na orelha do garoto, depois afastou o dedo e continuou a se dirigir aos Comensais da Morte. Aflita, Black soltou o ar que prendera enquanto assistia a cena.

— Minha maldição foi refratada pelo tolo sacrifício da mulher e ricocheteou contra mim. Ah... a dor que ultrapassa a dor, meus amigos; nada poderia ter me preparado para aquilo. Fui arrancado do meu corpo, me tornei menos que um espírito, menos que o fantasma mais insignificante... Mas, ainda assim, continuei vivo. Em que me transformei, nem eu mesmo sei... Logo eu, que cheguei mais longe do que qualquer outro no caminho que leva à imortalidade. Vocês conhecem o meu objetivo, vencer a morte. E agora fui testado, e aparentemente uma, ou mais de uma, das minhas experiências foi bem-sucedida... Pois eu não morri, embora a maldição devesse ter me matado. Contudo, fiquei tão impotente quanto a mais fraca criatura viva e sem meios de ajudar a mim mesmo... pois não possuía mais corpo, e qualquer feitiço que pudesse ter me ajudado exigia o uso da varinha...
"Só me lembro de me obrigar, sem dormir, sem cessar, segundo a segundo, a existir... fui morar em um lugar distante, numa floresta e esperei... certamente um dos meus fiéis Comensais da Morte tentaria me encontrar, um deles viria e realizaria por mim a mágica necessária para eu recuperar meu corpo... Mas esperei em vão."

O silêncio que se instalara era frio e tenebroso, Voldemort deixara ele se prolongar o suficiente para arrepiar todos os presentes antes de continuar falando.

— Só me restara um poder. Eu podia me apossar do corpo de outros. Mas eu não me atrevia a ir aonde viviam muitos humanos, pois eu sabia que os aurores continuavam a viajar pelo exterior à minha procura. Por vezes eu habitava animais, as cobras, é claro, eram minhas preferidas, mas eu não ficava muito melhor dentro delas do que como puro espírito, porque seus corpos eram mal equipados para realizar mágicas... e apossar-me delas encurtava suas vidas; nenhuma delas sobreviveu muito tempo...
"Então... há quatro anos... os meios para o meu retorno me pareceram garantidos. Um bruxo, jovem, tolo e crédulo, cruzou o meu caminho na floresta em que eu vivia. Ah, ele parecia exatamente a chance com que eu sonhara... porque era professor na escola de Dumbledore... era dócil à minha vontade... e me trouxe de volta a este país e, pouco depois, me apoderei do seu corpo para vigiá-lo de perto enquanto cumpria minhas ordens. Mas meu plano fracassou. Não consegui roubar a Pedra Filosofal. Fui impedido mais uma vez, por Harry Potter..."

Mais silêncio quando todas as atenções voltaram para Harry. Ele parecia prestes a desmaiar como efeito da aproximação de Voldemort. A dor lhe tirava a força ao mesmo tempo que tirava a esperança de . A garota já começava a pensar na possibilidade de que ela e Potter não sairiam vivos daquele lugar. Quando olhava rapidamente para Cedrico, ponderava se isso seria assim tão ruim se significasse que se juntaria a ele novamente.

— Então, há menos de um ano, quando eu praticamente abandonara toda esperança, aconteceu... Um servo voltou para mim: o Rabicho aqui, que simulara a própria morte para fugir à justiça, foi forçado a se expor por aqueles que no passado tinham sido seus amigos, e resolveu voltar para o seu amo. Ele me procurou no campo onde houvera boatos de que eu estaria escondido... ajudado, naturalmente, pelos ratos que encontrou em seu caminho. Rabicho tem uma curiosa afinidade por ratos, não é mesmo, Rabicho? Seus imundos amiguinhos lhe contaram que havia um lugar, no meio de uma floresta albanesa que eles evitavam, onde pequenos animais como eles encontravam a morte pelas mãos de um vulto escuro que os possuía.

Voldemort continuou contanto sobre sua viagem e seus desafios como se contasse um belo conto de fadas. Os Comensais o ouviam com adoração. Arfaram, admirados, quando ele contou sobre a pobre bruxa Berta Jorkins, como a usou e descobriu sobre o Torneio Tribruxo. Aquele foi o momento em que se arrependera totalmente de ajudar e incentivar o namorado a se meter nesse maldito campeonato e ajudar ele e Harry a estudar para as provas. Talvez, se não fosse por ela…
Ao continuar ouvindo a história, irritantemente interessada em saber como raios o Voldemort conseguiu voltar, descobriu que a culpa certamente não fora dela, pois foi tudo muito bem planejado para que Potter estivesse exatamente naquele lugar, ela e Cedrico haviam apenas sido um bônus. Com detalhes, Voldemort contou como descobriu sobre a poção que traria seu corpo de volta, com a ajuda de seu antigo Comensal da Morte infiltrado em Hogwarts e Rabicho. Black não pode deixar de pensar em Snape e como ele a ajudara enquanto, talvez, estava também ajudando o Lorde das Trevas. Aquilo a deixou furiosa.

— Aproveitando as informações de Berta Jorkins, é claro. Usando o meu fiel Comensal da Morte, baseado em Hogwarts, para garantir que o nome do garoto fosse inscrito no Cálice de Fogo. O usei também para garantir que o garoto ganhasse o Torneio. — Voldemort olhou para o corpo de Cedrico, e mais uma vez, quis gritar para ele não ousar tocar no garoto. — Quase houve um contratempo, mas como podemos ver, já foi devidamente resolvido. E aqui está ele, o garoto que vocês todos acreditaram que tinha sido minha ruína…

Voldemort avançou lentamente e se virou para encarar Harry. Ergueu a varinha.

Crucio!

Black desviou o olhar ao ver Harry ser acertado pela Maldição. Seus gritos, entretanto, não puderam ser evitados. Sua amiga conseguia imaginar a dor que ele sentia, apesar de nunca ter sentido tal coisa. Já a raiva e o medo que cultivava dentro de si apenas cresciam.
Quando o bruxo abaixou a varinha, temeu que Harry desmaiasse na frente de todos, mas o amigo continuou firme. Os Comensais gargalhavam a desgraça do mais novo.

— Estão vendo a tolice que foi vocês suporem que este garoto algum dia pudesse ser mais forte que eu? — ponderou Voldemort. — Mas eu não quero que reste nenhum engano na mente de ninguém. Harry Potter me escapou por pura sorte. E vou provar o meu poder matando-o, aqui e agora, diante de todos vocês, onde não há Dumbledore para ajudá-lo nem mãe para morrer por ele. Vou dar a Harry uma oportunidade. Ele poderá lutar, e vocês não terão mais dúvida alguma sobre qual de nós é mais forte. Espere mais um pouquinho Nagini — sussurrou ele, e a cobra se afastou, deslizando pelo capim, até o local em que os Comensais da Morte estavam parados observando. — Agora, desamarre-o Rabicho, e devolva sua varinha.

Obediente, Rabicho foi até o túmulo, parecendo orgulhoso em poder usar sua nova mão, e soltou Harry Potter, que caiu de joelhos no chão, parecendo exausto e sem forças. não pôde deixar de pensar novamente que Harry, assim como ela, certamente não sairia vivo dali. Ela se mexeu, tentando se soltar das cordas que não a apertavam mais. Sem sua varinha, aquilo era impossível. Para sua sorte – se é que podia dizer que tinha alguma – ninguém parecia estar prestando muita atenção nela, todos olhavam ansiosos para o duelo que iria acontecer.
A garota fechou as mãos em dois punhos apertados quando viu Rabicho se aproximar do corpo inerte de Cedrico Diggory. Achou que o bruxo iria fazer algo com seu namorado, mas o objetivo dele era apenas pegar a varinha de Harry que havia caído do lado do lufano, o que não era mais reconfortante. Os olhos dela se fixaram no namorado, seu estômago se revirou novamente e ela apenas queria gritar até sua voz sumir de vez. Ela se debateu novamente, tentando se soltar das cordas apertadas.
Um único Comensal se virou, encarando-a em desafio. Lúcio Malfoy não saiu de seu lugar, contudo, puxou sua varinha e apontou para a garota, ameaçando-a em silêncio. Funcionou, pois ela não estava em condições de enfrentar o bruxo, muito menos de fingir que não estava assustada, pois tudo o que conseguia sentir era medo em sua mais pura forma.

— Você aprendeu a duelar, Harry Potter? — perguntou Voldemort suavemente, seus olhos vermelhos brilhavam no escuro ao observarem seu servo colocar a varinha na mão de Potter.

, assim como Harry, engoliu em seco. A garota sabia das breves aulas de duelo que eles tiveram no segundo ano e não podia dizer que foi bem sucedida. Harry treinou e estudou para o Torneio, não para duelar com um dos bruxos mais poderosos do mundo mágico que deveria estar morto. O garoto não estava preparado e sabia que, em algum momento, seria a sua vez e ela também não estava nada preparada.

— Nos cumprimentamos com uma curvatura, Harry — disse Voldemort, se inclinando ligeiramente, mas mantendo o rosto de cobra erguido para Harry. — Vamos, as boas maneiras devem ser observadas. Dumbledore gostaria que você demonstrasse educação. Curve-se para a morte, Harry Potter.

O ar se encheu com as gargalhadas dos Comensais da Morte, os únicos que achavam alguma graça da situação. Harry, porém, não se moveu. Péssima hora para ser teimoso, pensou.

— Eu disse "curve-se" — repetiu Voldemort, erguendo sua varinha, e Harry se curvou no mesmo instante, arrancando mais risos dos Comensais. conhecia aquela sensação de não ter controle sobre seu próprio corpo, ela sabia que o Lorde das Trevas havia usado a Maldição Imperius com perfeição. — Muito bem… Agora você me enfrenta, como homem… De costas retas e orgulhoso, do mesmo modo que seu pai morreu. Vamos ao duelo.

O bruxo ergueu a varinha antes que Harry pudesse fazer alguma coisa para se defender. Não teve tempo, a Cruciatus lhe atingiu em cheio pela segunda vez naquela noite. Os gritos de Potter eram o único som possível de ser ouvido no cemitério, tão alto e agoniante que desejou ter algo para lhe tapar os ouvidos. Ver seu amigo sofrer lhe doía como se a Maldição tivesse atingido a si mesma. Não sabia mais há quanto tempo estava chorando, mas seus soluços se misturavam aos gritos de Harry, altos e sem controle.
De repente, os gritos dele pararam. Black observou com grande alívio quando o garoto se levantou e cambaleou alguns passos, ofegante, mas vivo e intacto.

— Uma pequena pausa — disse Lord Voldemort, as narinas de cobra se dilatando de excitação. — Isso doeu, não foi, Harry? Você não quer que eu faça isso outra vez, quer?

Harry não respondeu, parecia travar uma luta interna e intensa. Lançou um breve olhar para a amiga, resistindo firmemente por ela. Precisava tirá-la daquele lugar o quanto antes. Ele até poderia ter o mesmo destino que Cedrico, mas não deixaria isso acontecer com . Prometera para Sirius, quando descobriu que o mesmo era pai da garota, que cuidaria dela e era isso o que ele precisava fazer. Contudo, era difícil fazer qualquer coisa com Voldemort usando as Maldições para fazê-lo responder aos seus pedidos.
A Imperius fez sua mente ficar vazia. Tudo o que ouvia era a voz de seu inimigo pedindo para que ele respondesse "não", era tão simples, era só ele dizer… Mas não o fez, não se deixaria fazer as vontades de Lord Voldemort.

NÃO VOU RESPONDER! — ele berrou, sentindo a maldição sumir de seu corpo. O silêncio tomou conta do cemitério.

estava tão orgulhosa quanto apavorada. Tinha orgulho de Harry por resistir, mas talvez preferisse que ele apenas obedecesse Voldemort o suficiente para se manter vivo o máximo possível. Já Lorde das Trevas, nada satisfeito, entortou a cabeça, encarando Harry em claro sinal de desafio, como fizera durante toda aquela noite. Seus olhos anfíbios se estreitaram sombriamente.

— Não vai? — disse Voldemort suavemente, e agora os Comensais da Morte não estavam mais rindo. — Harry, a obediência é uma virtude que preciso lhe ensinar antes de você morrer... Talvez mais uma dosezinha de dor?

Voldemort ergueu a varinha, mas desta vez Harry estava preparado; ele se atirou para um lado no chão, rolou para trás da lápide de mármore do pai de Voldemort e a ouviu rachar quando o feitiço errou o alvo. Dando uma espiada, conseguiu enxergar presa a árvore a alguns metros de distância de Cedrico. Com rapidez e agilidade impressionantes, Potter apontou sua varinha para as cordas que prendiam a amiga e gritou "reducto". O feitiço fez com que as cordas arrebentassem e, pega de surpresa, Black caiu no chão de joelhos. Sem perder tempo, ela tropeçou até sua varinha e a pegou, mas é claro que aquele que ainda prestava atenção nela viu tudo acontecer. Aproveitando um segundo de distração da garota, Lúcio Malfoy aparatou atrás dela, já com a varinha em mãos apontada para a garota.

— Pare onde está! — ordenou Lúcio. Ele retirou a máscara de forma teatral, um sorriso maléfico pintava seus lábios. — Levanta e vire-se. Agora!

o obedeceu, paralisando exatamente onde estava: agachada ao lado de Cedrico e com a mão em cima de sua varinha. Lentamente, ela enfiou o objeto na manga de seu suéter e, na mesma velocidade, se levantou e virou-se para encarar o bruxo com as mãos levantadas em rendição. Estremeceu ao vê-lo. Sabia que não seria rápida o suficiente contra Lúcio, sabia que nada o impediria de matá-la daquela vez.
O homem gargalhou, divertindo-se com o pavor evidente no rosto da garota.

— Aqui estamos nós de novo, Black — ele murmurou, se aproximando dela. não ousou se mover. — Longe dos muros de Hogwarts. Sabe, eu realmente não aguento mais essa sua cara, nem a influência que você tem no meu filho…
— Draco me ama — ela falou, lembrando-se da fala do garoto semanas atrás. Relaxou um pouco seus braços, apenas o suficiente para a varinha descer até seus dedos. — Se você me matar, ele nunca vai te perdoar.
— Ah, claro que vai — riu-se o bruxo. — Vai gritar, chorar um pouco… Mas daqui alguns meses, minha querida, meu filho será um de nós, tão poderoso quanto qualquer um aqui… Não vai nem lembrar da sua existência.
— Então espero que você se lembre disso aqui — ela retrucou e, aproveitando a distração de Lúcio com seu monólogo, puxou sua varinha de uma vez e apontou para a árvore onde antes estava amarrada. — Bombarda!

Ela estava errada, pois conseguiu ser mais rápida que o bruxo que, pego de surpresa, teve tempo apenas de se jogar para o chão ao lado quando os destroços da árvore voaram em sua direção. Com o ódio lhe esquentando o corpo, Lúcio saiu do meio dos destroços e tropeçou em direção a bruxa. já estava correndo para longe, procurando por algum esconderijo que pudesse ficar até ser capaz de ajudar Harry. Mas os feitiços que Lúcio lançava passavam cada vez mais rápido ao seu lado, até que um finalmente acertou a lateral de seu abdômen, fazendo-a curvar de dor e cair no chão. Um corte fazia o sangue sujar sua roupa e uma dor insuportável a fazia se arrastar para atrás de uma das lápides altas. Black sentou-se, apertou o corte que sangrava sem parar e verificou o machucado. Estava feio, mas a dor era suportável. Olhando para atrás da lápide, percebeu que não conseguira se afastar tanto assim e, por causa do machucado, não iria conseguir ir tão longe. Ainda era possível ouvir com nitidez os sons da luta que acontecia entre Voldemort e Harry. Seu coração, já acelerado, parecia querer sair de sua boca. Era seu fim, ela teve certeza daquilo naquele exato momento.

— Você não pode se esconder para sempre! — gritou Lúcio Malfoy, também com alguns cortes pelo corpo, mas muito mais disposto.

Além da voz de Lúcio, era possível ouvir gritos distantes e insuportáveis, gritos esses que ela desejava não ser de Harry Potter. Em pleno desespero, apertou seu colar e fechou os olhos, pensando em sua mãe.

— Me ajuda, mãe. Por favor, me salva.

Seus olhos ainda estavam fechados quando sentiu algo frio tocar seu rosto. O toque, apesar de gelado, parecia convidá-la a abrir os olhos, acariciando seu rosto com carinho. Ela assim fez, deparando-se com a feição preocupada no rosto angelical de Cedrico Diggory. Fantasmagórico, iluminado, era impossível dizer que ele estava vivo, mas a emoção de vê-lo na sua frente fez levantar a mão e tentar encostar no namorado. Sua mão atravessou a massa gélida, pois não era possível tocá-lo. Foi então que se deu conta: ela estava morta. Essa era a única explicação possível, havia morrido e encontrara Cedrico no pós-vida. Não sabia se sentia-se eufórica por poder estar com ele ou triste por ter partido, pois precisava estar viva; por seu pai, por Harry, que precisava de sua ajuda, por Remus e por seus amigos. Ela não podia morrer, não agora que Voldemort havia voltado.

— Ced — ela choramingou, sua voz saindo fraca. — E-eu morri?
— Não diga uma bobagem dessa, você está viva e continuará assim — ele respondeu, finalmente esboçando um sorriso. — Preciso que me escute, não temos muito tempo. — Cedrico olhou para os lados, aflito. — Irei distrair Lúcio, você precisa estuporar ele e correr até o meu corpo. Espere por Harry e pegue a taça...
— M-mas eu não quero — disse com certa manha. — Quero ficar com você.
— Não é hora para ser teimosa — ele respondeu, mostrando conhecer a namorada bem demais. — Eu estou morto, , mas você precisa se salvar. Volte para Hogwarts e leve meu corpo com você. Me leve para o meu pai, está bem?

Black chorava sem parar, mas assentiu com obediência e apertou a varinha em sua mão. Diggory a mandou levantar e ela novamente obedeceu, apoiando-se na lápide e tentando ignorar a pontada que sentiu no corte. Como se aumentassem o volume de uma televisão, os sons do ambiente vieram com força. A batalha ainda acontecia, era possível ouvir Voldemort gritando com seus Comensais; uma bela canção era audível, baixinha, de onde estava. Não soube dizer de onde vinha, afinal, quem pensaria em colocar uma música em tal momento? Já Lúcio finalmente encontrara a garota, mas o sorriso se desfez ao ver Cedrico na sua frente, protegendo-a quase como um escudo.

— Um fantasma — Lúcio falou ao rir sem humor. — Essa é sua proteção?

Sem dizer nada em resposta, Cedrico avançou para o homem que, sem sucesso, lançava feitiços em sua direção. Nenhum o acertou, mas foi o suficiente para que Malfoy se distraísse e não se preparasse para o que viria a seguir.

Estupefaça! teve forças apenas para gritar e apontar para o bruxo na sua frente.

Cedrico saiu do caminho assim que o raio azul atingiu Lúcio Malfoy, arremessando-o para trás, desacordado. Seguindo as orientações do garoto, mancou o mais depressa possível até o espaço onde estava o corpo dele e a taça e, na sua frente, Harry mantinha a sua varinha interligada com a de Voldemort, ambos cercados pelos Comensais e as formas fantasmagóricas de um senhor e uma senhora que nunca vira antes, de Cedrico Diggory e de um casal que reconheceu, de fotos antigas de seu pai, serem James e Lily Potter, os pais de Harry. Percebeu, por fim, que a canção vinha da aura que cercava os dois bruxos. Black jogou-se no chão ao lado do corpo inerte de Cedrico e olhou novamente para seu amado que, naquele momento, ajudava Harry. Por um breve segundo, ele virou para a garota e foi possível ver seus lábios murmurarem um "eu te amo".
Todo o momento seguinte foi rápido demais. Harry puxou sua varinha e o elo se desfez, a gaiola de luz que cercava-os também se desfez e a música parou, mas as imagens das vítimas de Voldemort não sumiram. Elas se juntaram em volta dele, impedindo-o de alcançar os dois jovens. Potter correu até , agarrou seu braço enquanto ela abraçava Cedrico e, usando o feitiço Accio, trouxe a taça para si.
A sensação incômoda de que estavam sendo puxados pelo umbigo atingiram a dupla, mas apenas o que conseguiram sentir foi alívio por finalmente estarem saindo daquele lugar.

~***~

Como reação imediata, Hogwarts inteira comemorou a volta dos alunos, aplaudiam e cantavam o hino como se, de fato, tivesse algum campeão. Demorou alguns segundos até perceberem que algo estava errado.
Alvo Dumbledore foi o primeiro a correr até os três alunos caídos no gramado do campo de Quadribol. e Harry choravam de soluçar, ambos balbuciavam coisas sem sentido algum, ainda agarrados ao corpo de Cedrico. Em questão de segundos, professores e alunos se aglomeraram em volta dos três, finalmente entendendo o que havia acontecido: Cedrico Diggory estava morto. Diversas exclamações de surpresa e horror preencheram o ar conforme as pessoas olhavam para a cena.

— Por favor, acorda, por favor — balançava o corpo namorado enquanto mais lágrimas caíam de seus olhos, sem controle. — Você tem que acordar, vamos, volta para mim! Você me prometeu!
— Querida — ela ouviu a voz de Remus Lupin ao seu lado e, mesmo sendo uma surpresa ele estar ali, ela não esboçou reação nenhuma, apenas continuou agarrada a Cedrico e pedindo para que ele acordasse. —Vamos, você precisa ir à enfermaria…
— Não! — ela gritou quando seu padrinho a puxou enquanto Olho-Tonto-Moody puxava um Harry igualmente relutante, afastando-o de Cedrico. — Me solta, eu preciso ficar com ele, ele precisa de mim!
, ele está…

Remus foi interrompido pelas exclamações melancólicas do Sr. e da Sra. Diggory. Foi a vez de ambos se jogarem em cima do corpo do lufano, chorando tanto quanto os dois amigos faziam há pouco. Foi naquele momento que a ficha de caiu.
Seus joelhos cederam e ela gritou como nunca antes. Não tentava mais lutar contra seu padrinho para correr até o amado, apenas se deixou cair em seus braços enquanto chorava e gritava, abraçando Lupin com força. O peso de tudo o que havia acontecido no cemitério lhe atingiu em cheio, Black não conseguia se manter em pé. A dor em seu machucado não era nada se comparada a dor em seu coração, o que tornava muito mais difícil de respirar.

— Se acalme, , por favor, você está sangrando! — Remus pediu, mesmo sabendo que seria impossível naquele momento. Com a mão livre, tateou o bolso interno de seu paletó e retirou um frasco com a Poção de Dormir Simples, oferecendo para a afilhada.

empurrou o frasco, tentando se soltar dos braços do padrinho. Insistente, Remus ofereceu novamente, mas ela negou.

— Vai te fazer bem.
— Eu não posso dormir — ela choramingou, agarrando o paletó do bruxo. — Ele voltou, padrinho!
— Ele quem? — Remus perguntou, confuso. Só então ele reparou no desespero de Harry que, como , tentava dizer algo a Dumbledore antes de ser arrastado por Moody para fora do estádio.
— Voldemort voltou.

Ainda soluçando, a garota pegou o frasco e o virou em sua boca, ansiando pela promessa de que aquele líquido realmente lhe faria bem. Mal teve tempo de raciocinar, ela caiu novamente nos braços do homem, agora desacordada. Remus olhava a afilhada adormecida sem saber bem como reagir a aquela informação. Cedrico morto, Harry e desesperados… Lord Voldemort realmente voltou.
Olhou em volta à procura de seu amigo e o viu sair correndo da cabana de Hagrid. Dava para perceber o desespero de Sirius mesmo em sua forma animaga, ele cheirava sua filha, uivava e rosnava, algo que apenas Remus entenderia.

— Não fique bravo, eu precisava acalmá-la — ele falou ao amigo, pegando a filha do mesmo no colo e caminhando para o castelo com Almofadinha ainda rosnando ao seu lado.

~***~

Uma pontada de dor na barriga e o som de discussão foi o que despertou Black. Seus olhos demoraram para se acostumar com a claridade da Ala Hospitalar mas, assim que o fizeram, ela tentou se levantar para olhar em volta. Todo o seu corpo reclamou com o breve movimento, jogando-a de volta na cama confortável.
Sirius, ainda em sua forma de cachorro, estava deitado ao lado do leito. Ele levantou assim que a ouviu gemer de dor, deitando a cabeça na cama ao lado da mão da garota. Ainda se sentindo fraca e sonolenta, levantou a mão para acariciar o cachorro preto, lágrimas já brotavam de seus olhos – de felicidade em vê-lo e tristeza por se lembrar o que a levou até a enfermaria.
Seu choro chamou a atenção do grupo que estava reunido na porta da enfermaria. Remus Lupin, Minerva McGonagall, Alvo Dumbledore, Cornélio Fudge e Hermione Granger estavam reunidos com os integrantes da família Weasley (Molly, Gina, Carlinhos, Ron e os gêmeos). Rony foi o primeiro a correr para o lado da amiga, seguido por Lupin e Madame Pomfrey.
Quem discutia, apesar de o clima já parecer mais tranquilo, era Dumbledore e Fudge. O segundo a olhou espantado e ansioso. nunca havia conversado com o homem, e por ela aquela não seria a primeira vez.

— Onde está o Cedrico? — a garota perguntou, tentando se levantar para olhar em volta.
— Não faça esforço, querida — Pomfrey falou, fazendo-a se deitar novamente e começando a preparar uma poção ao lado da cama. — Seu corte vai cicatrizar logo, mas para isso, você precisa repousar.
— Não posso repousar — retrucou, ficando aflita. — Cadê o Cedrico?
, ele… — Lupin começou a falar, mas a garota o interrompeu com certa raiva.
— Eu sei o que aconteceu, eu estava lá.

Sirius Black rosnou e encostou o focinho na mão da garota e sua feição não era amigável. Ela sabia que ele estava repreendendo-a por ter sido grosseira com o padrinho. encolheu os ombros, sentindo-se imediatamente culpada ao ver a chateação no rosto de todos os presentes. Sim, ela esteve lá, mas isso não fazia sua dor e sofrimento maior que a dos demais.

— Desculpa — ela falou baixinho após tomar a poção para a dor. O efeito foi quase imediato.

Todos a encaravam com expectativa, como se esperasse que a qualquer momento, ela surtasse. A verdade é que ela não tinha forças para tal coisa, pois cada vez que se lembrava do que vivera, era como se levasse uma pancada que quase a derrubava de volta na cama.
Uma luz pareceu se acender na mente de . Ela olhou desesperada para o diretor.

— Dumbledore! Você precisa saber que…
— Nós já sabemos. — a voz do diretor, sempre forte e decidida, ressoou pela sala.

Só então percebeu que Harry Potter estava ao lado dele, cabisbaixo e exausto, seu rosto cheio de arranhões e marcas de fuligem assim como o dela.
Black saiu da cama em um salto, ignorando os protestos de Pomfrey, e correu meio mancando até o garoto, abraçando-o com força e deixando mais lágrimas caírem. Harry não soube muito bem o que fazer de início, seus braços não se moveram de imediato. Mas o abraço da amiga, abraço que já estava mais do que acostumado em receber, parecia ter um novo significado depois do que passaram naquela noite. Ele sabia melhor que ninguém naquela sala que a bruxa precisava do máximo de carinho e cuidado possível, e ele também.
Então Harry a abraçou de volta, permitindo-se chorar pela primeira vez desde que fora forçado a soltar Cedrico, assim como a garota. Ninguém ousou dizer nada, não queriam interromper aquele momento de forma alguma. Mas Harry pedia desculpas para , assim como ela pedia para ele, mesmo nenhum dos dois tendo culpa alguma. Alguns segundos haviam se passado quando Black sentiu a mão de Alvo Dumbledore em seu ombro, fazendo-a finalmente soltar Harry para encará-lo.

— Fico contente em ver que está bem — disse o bruxo, sorrindo com simpatia para a aluna.

não sabia se estava igualmente feliz em ver o diretor. Não queria culpá-lo pelo que aconteceu, mas se fosse para ser sincera com si mesma, ela não podia negar que aquilo passava por sua cabeça. Se a tivessem ouvido, se tivessem impedido eles… Cedrico Diggory estaria ali com ela, comemorando quem quer que tivesse ganho a maldita competição. Um nó se formou em sua garganta o qual ela desfez ao pigarrear. Decidiu não responder o diretor, pois não queria ser grosseira novamente.

— Não sei se fomos devidamente apresentados — Fudge intrometeu-se, esticando a mão com receio para a aluna que não a aceitou. — Sou Cornélio Fudge, Ministro da Magia.

Ela também não o respondeu, o que não pareceu chateá-lo. Algo nela – e podia imaginar que tinha a ver com o cachorro preto atrás dela – parecia causar certo medo ou repulsa em Fudge.

—Harry estava nos contando tudo o que aconteceu depois que vocês tocaram na chave de portal — Alvo continuou a falar, sem se importar com o silêncio da garota. — Mas gostaríamos de ouvir a sua versão.

lançou um olhar para Potter que já estava entre seus amigos e família. Seu rosto entregava um cansaço e uma chateação que nunca vira antes e não precisava se olhar em um espelho para saber que o seu estava exatamente igual. Ela deu de ombros ao responder:

— Não acredita nele?
— Oh, é claro que acredito — Dumbledore respondeu. — Mas dois ou mais pontos de vista são melhores que apenas um, não acha?

A garota concordou, envergonhada. Então ela se sentou novamente na cama, sendo seguida por todo o grupo, incluindo Dumbledore e Fudge, e desatou a falar sobre tudo o que aconteceu no cemitério. De tempos em tempos tinha que parar para se recuperar dos soluços e do choro. Quando contou sobre o que Voldemort fez com sua mãe, precisou acalmar o cachorro raivoso ao seu lado. Dumbledore lhe explicou o que aconteceu com a varinha de Harry e Voldemort e como aquilo fora diferente do que aconteceu entre ela e Draco. Nesse momento, a garota mordeu a língua e se forçou a não falar sobre Lúcio Malfoy. Contudo, não pôde mais esconder quando perguntaram quem lhe causou o machucado. Ninguém pareceu surpreso.

— Então Harry correu até onde eu estava e nós voltamos — ela finalizou, sua voz muito mais baixa e trêmula do que quando começou a história. Sirius, que subiu em sua cama, começou a lamber o rosto da filha na intenção de limpar as últimas lágrimas da garota.
— A história bate com a do Harry — Remus falou em um suspiro cansado. — Céus, então ele realmente… mas eu pensei que…

Lupin sempre sabia o que dizer, mas naquele momento, sua fala não acompanhava seu raciocínio. Todos pareciam estar do mesmo jeito, sem palavras.

— Ele não pode estar de volta, Dumbledore, simplesmente não pode… — Fudge murmurou com pavor. — Não podemos confiar nela, podemos? Está louca como o pai!

Nesse momento, Sirius avançou até o Ministro e rosnou para ele, fazendo o bruxo saltar de susto, tremendo apavorado. puxou seu pai para trás, mas sua vontade era deixá-lo morder Cornélio até que o mesmo deixasse de ser tão cego ao que acontecia bem na sua frente.

— Eu vi uma das pessoas que eu mais amo ser morto bem na minha frente por Lord Voldemort — protestou a garota, enfatizando o nome do bruxo, fazendo alguns presentes se arrepiarem e retorcerem o rosto em agonia. — Por qual razão doentia eu mentiria sobre isso?

Fudge nada respondeu, sem argumentos. Seu rosto apavorado, entretanto, mostrava que ele acreditava sim que Voldemort estava de volta, só não queria aceitar de jeito nenhum.
O bruxo foi convidado por Dumbledore a se retirar, pedindo para que ele esperasse em sua sala. Assim que o ministro saiu, Alvo deu tarefas a todos os adultos presentes e por fim, pediu para que Sirius Black retornasse para sua forma humana, o que o bruxo fez no mesmo instante. Sirius se vestia muito melhor que da última vez que os meninos o viram, e sua atenção era toda dos dois garotos em suas camas, ignorando totalmente os protestos de Molly e Severo Snape (que apareceu após ser chamado por Dumbledore) por tê-lo ali.
Harry se deitou na cama ao lado da de e não tirou os olhos da amiga enquanto era atendido por Madame Pomfrey que, como os outros, estava confusa e apavorada, mas não deixava de fazer seu excelente trabalho. Sempre muito protetora, Molly Weasley se aproximou da cama de Potter e ajeitou suas cobertas que já haviam sido devidamente arrumadas por Madame Pomfrey. Ela fez o mesmo na cama de e a fez deitar novamente, ajeitando suas cobertas como fez com Harry. O carinho maternal de Molly e o evidente esforço que a mulher fazia para não chorar fizeram os olhos de se encherem de lágrimas pela sabe-se lá qual vez naquela noite, perdera a conta a tempos atrás.
Quando Molly se afastou, se perguntou onde estariam o Sr. e a Sra. Diggory e, consequentemente, pensou onde estaria Cedrico. O pensamento levou sua consciência para longe, apenas conseguiu ouvir o diretor falando que ambos precisavam descansar, e a última coisa que viu antes de fechar os olhos foi seu pai sentando-se na beira de sua cama e alisando seus cachos com carinho. Ter Sirius ali ao seu lado lhe trouxe a sensação de segurança que permitiu com que ela dormisse novamente.



Epílogo

Nada no mundo parecia fazer querer sair daquele castelo. Ela parou trêmula no meio das portas duplas altas, grossas e fortes de madeira que protegem Hogwarts tão bem. Não tão bem assim, pensou Black ao ver muitos alunos vestidos de preto dos pés à cabeça e com a feição tão triste quanto a dela. Ela olhou a flor branca em suas mãos, a Flor-Que-Nunca-Morre que Cedrico Diggory lhe deu quando ela saiu da enfermaria depois de passar uma semana lá. Ele não a buscou quando foi liberada naquela manhã fria, porque ele não era como a maldita flor em suas mãos. Em uma delas estava o anel que o garoto lhe presenteou no Natal passado. Ela mostrava o humor da pessoa que a usava, naquele momento estava completamente cinza.
soluçou, derramando mais lágrimas antes do que gostaria. Queria poder rasgar aquela flor todinha, descontar nela todo o ódio que sentia em seu peito, mas ela sabia que cada pedacinho estraçalhado se juntaria em uma nova flor, pois nem mesmo um Avada Kedavra poderia destruí-la. A garota fechou os olhos e virou a cabeça, como se levasse um soco ao se lembrar da Maldição Imperdoável. Cedrico não era como a maldita flor.

— A professora Sibila Trelawney estava ao seu lado, a garota nem ao menos percebeu sua aproximação. Ela abraçou os ombros trêmulos da aluna e afagou seu braço. — Eu vou com você, está bem?

assentiu, respirando fundo e começando a dar os primeiros passos. Se não tivesse a Srta. Trelawney ao seu lado, ela com certeza teria caído de cara no chão e se fosse pela sua vontade, permaneceria ali dentro para sempre, caída com todos pisando em seu corpo. Os machucados recém-curados em seu corpo já não doíam mais, na verdade, ela nem ao menos sentia dor física se comparada ao que sentia por dentro. O que eram alguns ossos quebrados se seu coração estava destruído em mil pedaços? Nada.
As duas bruxas deram a volta pelo castelo até chegar no jardim ao lado do lago. paralisou de novo, fazendo Sibila parar de andar com ela. Como um pedido de desculpas e um gesto de gentileza (que a garota achava o mínimo), Alvo Dumbledore cedeu os terrenos de Hogwarts para realizar o funeral do lufano Cedrico Diggory. Ela observou as dezenas de fileiras de cadeiras posicionadas de frente ao caixão branco e aberto lá na frente, a paisagem era complementada pela Floresta Negra ao fundo. Duas enormes bandeiras da Lufa-Lufa flutuavam ao lado do caixão, e apesar do frio, o céu parecia limpo e claro. Ela avistou Hagrid ao lado de Dumbledore e de outros professores lá na frente, onde Sibila se juntaria em algum momento. O Sr. e a Sra. Diggory estavam lá com eles, e já perdera as contas de quantas vezes pediu desculpas a eles por não ter salvado seu filho e quantas vezes eles responderam que a culpa nunca foi dela ou de Harry. Os seus melhores amigos Rony, Hermione e o próprio Harry estavam algumas fileiras atrás, olhando em volta à sua procura. Ela ainda reconheceu muitos outros rostos, inclusive das escolas convidadas para o Torneio; até mesmo Draco Malfoy estava lá com genuína tristeza no rosto.
Chamando sua atenção, a professora lhe deu um aperto nos ombros e a aluna engoliu em seco, voltando a caminhar pelo corredor formado entre as duas fileiras de cadeiras. Todos os olhos marejados se viraram para as duas, observando em silêncio cada movimento que faziam até chegarem no caixão. Sibila deu um beijo na bochecha úmida da garota e se afastou, a deixando sozinha. a agradeceu, mas sabia que nada que dissesse seria o suficiente para expressar o quão grata ela era por tudo o que a professora fez por ela naquele ano.
Quando se aproximou mais do caixão, ela não sabia o que haviam feito para a feição do garoto estar tão serena. Cedrico parecia estar tão em paz e isso acalmava um pouco seu coração, que desejou com força que ele realmente estivesse bem onde quer que estivesse. deu um beijo demorado na flor e a colocou embaixo da mão gelada do garoto, em seguida, passou a mão pelo rosto dele com delicadeza. Suas bochechas estavam coradas e os lábios levemente puxados para cima. Se ela se esforçasse muito para esquecer as lembranças de algumas noites atrás, ela poderia fingir que seu namorado estava apenas dormindo. Mas ela não conseguia, as memórias estavam frescas demais e ela precisava delas para poder vingar a morte dele um dia.
Ainda observando o rosto sereno de Cedrico, se lembrou de uma canção brasileira que sua mãe sempre cantarolava enquanto cozinhava e limpava a pequena casa onde moravam, uma canção que sempre a deixava triste, mas no fundo a trazia essa paz que ela via no rosto do am ado. Ainda acariciando seu rosto, ela começou a cantarolar em português. Desde que seu pai deixou a enfermaria, não abriu a boca para falar absolutamente nada, nem mesmo para Dumbledore ou os amigos. Mas agora era um bom momento para isso.

De todo o amor que eu tenho, metade foi tu que me deu… Salvando minh'alma da vida, sorrindo e fazendo o meu eu…

Ela parou por um segundo, seu choro e soluços a impedindo de continuar. secou as lágrimas e respirou fundo, fechando os olhos na tola ilusão de que seria mais fácil. Mas o rosto dele ainda estava ali, em sua memória e em sua mão.

Se queres partir, ir embora, me olha da onde estiver… que eu vou te mostrar que eu tô pronta, me colha madura do pé… — ela cantou sem controlar o choro, era tolice tentar evitá-lo. Não percebeu quando a Sra. Diggory se aproximou e a abraçou de lado, ouvindo o que ela cantava. — Me mostre um caminho agora, um jeito de estar sem você… O apego não quer ir embora. Diacho, ele tem que querer...

não conseguia cantar mais. Ela se permitiu se aninhar nos braços da mulher ao seu lado e soluçava alto, junto a ela, incapaz de dizer qualquer coisa. Agnes Diggory apenas afagou seus cabelos, dizendo que ficaria tudo bem, mas a mesma sentia-se uma hipócrita, pois chorava tanto quanto ela e não tinha certeza se com ela e Amos ficaria tudo bem.

— Confesso que não entendi o que cantou, querida — Sra. Diggory fungou, mas deu seu melhor sorriso para a garota. — Mas obrigado por isso, aposto que foi lindo e com todo o amor que você sentia por ele, não é?

Ela assentiu, também forçando um sorriso triste, mas não conseguiu dizer nada. Todos observavam a cena com grande tristeza, os mesmos olhares a acompanharam até que ela se sentasse ao lado de Hermione e Harry que a acolheram no mesmo instante. Rony, mesmo uma cadeira distante, fez questão de segurar sua mão e não a soltar até que saíssem dali.

Um mês depois.

Dobrar as roupas e arrumar as malas para ir à Hogwarts foi divertido demais, e a ansiedade era tanta que fez com muitos dias de antecedência. Em contrapartida, arrumar as malas para ir embora, depois do ano letivo que tiveram, não estava sendo nada divertido. O ar de desânimo se espalhava por toda a Torre da Grifinória. Por mais difícil que tenha sido aquele ano, com tudo de ruim que havia acontecido em Hogwarts, ninguém parecia querer ir embora e encarar a difícil realidade que lhe aguardavam para além dos muros da escola.
finalizou suas malas com pesar. Demorou-se em observar a paisagem por uma das janelas do dormitório, alguns alunos ainda se despediam dos amigos no jardim. Desceu as escadas para a Sala Comunal sozinha, pois fora a última a terminar de arrumar suas coisas. Na sala, poucos alunos ainda se despediam, mas a atenção deles se voltou para a garota. Alguns a olhavam com curiosidade, outros, com desgosto. Era assim desde que voltou com Harry daquele maldito cemitério, já pegou muitos alunos buchichando sobre o quão estranho era os dois amigos terem voltado e Cedrico Diggory não.
Incomodada, tratou de descer apressada para o saguão principal onde seus amigos prometeram esperá-la. Black acreditou que seria uma das últimas a sair do castelo, porém, o local estava lotado de alunos de todas as casas, junto com os alunos da Academia Beauxbatons e do Instituto Durmstrang que aproveitavam o momento para se despedirem dos amigos que fizeram em Hogwarts. Hermione, é claro, estava aproveitando seus últimos momentos com Vítor Krum, ambos parecendo chateados demais por terem de se separar.
Ron, Harry e esperaram a amiga para seguirem para o Salão Principal onde Dumbledore convocou os alunos para um último discurso. Diferente de todos os outros dias, o Salão parecia mais escuro. Onde antes estavam bandeiras de cada Casa de Hogwarts, agora haviam bandeiras pretas com o símbolo apenas da Lufa-Lufa. O coração da intercambista se apertou, pois ela sabia muito bem para quem eram aquelas bandeiras. Sentou-se em silêncio entre os gêmeos Weasley como sempre faziam, e os garotos pareceram sentir que a amiga não estava bem. Mas ao invés de fazerem palhaçadas como sempre faziam para animá-la (Fred e George foram companhias excepcionais nesse último mês), eles apenas a abraçaram de lado e respeitaram o momento delicado.
não era a única de luto. Por todas as mesas, podia-se encontrar rostos tristes e lágrimas incontroláveis, como da corvina Cho Chang e dos alunos da Lufa-Lufa. Já na mesa da Sonserina, um par de olhos prateados encaravam a garota como nunca antes. Pela primeira vez em meses, retribuiu o olhar de Draco Malfoy. De repente percebeu que aquela poderia ser a última vez que jogavam o infinito jogo de se encararem e aquilo fez seu peito apertar novamente. Queria conseguir odiar Draco por tudo o que ele e o pai fizeram, mas não podia enganar a si mesma; ela sentia falta dele. E esse sentimento era totalmente recíproco.
Ainda encarando-o, Black viu as palavras "eu sinto muito" serem formadas nos lábios de Draco. Aquilo a pegou de surpresa, pois Draco Malfoy demonstrar o mínimo de compreensão e empatia era realmente peculiar. Contudo, ela apenas agradeceu com um aceno de cabeça e, relutante, desviou o olhar para prestar atenção em Alvo Dumbledore.

— O fim de mais um ano — disse Dumbledore olhando para todos.

Ele fez uma pausa e seu olhar pousou na mesa da Lufa-Lufa, e os demais alunos e professores repetiram seu gesto. A mais silenciosa de todas antes do diretor se levantar, e continuava a ser a mais triste e de rostos mais pálidos do salão.

— Há muita coisa que eu gostaria de dizer a todos vocês esta noite mas, primeiro, quero lembrar a perda de uma excelente pessoa, que deveria estar sentado aqui — ele fez um gesto em direção à mesa da Lufa-Lufa —, festejando conosco. Eu gostaria que todos os presentes, por favor, se levantassem e fizessem um brinde a Cedrico Diggory.

Todos obedeceram, mas estagnou por um segundo, observando sua taça se encher magicamente de suco de uva. Respirou fundo e, com o incentivo dos amigos, levantou-se. Um nó se formou em sua garganta e suas pernas enfraqueceram, mas as mãos firmes de George e Fred nas suas costas não a deixaram cair.

— Cedrico era o aluno que exemplificava muitas das qualidades que distinguem a Casa da Lufa-Lufa — continuou Dumbledore. — Era um amigo bom e leal, uma pessoa aplicada, valorizava o jogo limpo… — Seus olhos se recaíram em e, mais uma vez, ela sentiu que suas pernas iam vacilar. — Uma pessoa apaixonada, sempre muito leal e protetor com quem amava.

As lágrimas, é claro, desceram silenciosas pelo rosto de . Ela abaixou a cabeça, sua vontade era se sentar novamente. Viu de relance que Potter estava do mesmo jeito.
Sentiu alívio quando o diretor indicou para que se sentassem.

 

— Sua morte nos afetou a todos, quer vocês o conhecessem bem ou não. Portanto, creio que vocês têm o direito de saber exatamente como aconteceu.

ergueu novamente a cabeça, assim como Harry, e ambos encararam Dumbledore. Nenhum dos dois acreditava que o diretor ia mesmo falar a verdade.

— Cedrico Diggory foi morto por Lord Voldemort.

Um murmúrio de pânico varreu o Salão Principal. As pessoas olharam para Dumbledore incrédulas, horrorizadas. Alguns olhavam para e Harry, os nomes de ambos se espalhavam pelas mesas com rapidez e clareza. Dumbledore parecia perfeitamente calmo ao observar os presentes até pararem de murmurar.

— O ministro da Magia não quer que eu lhes diga isto — continuou Dumbledore. — É possível que alguns pais se horrorizem com o que acabo de fazer, ou porque não acreditam que Lord Voldemort tenha ressurgido ou porque acham que eu não deva lhes informar isto por serem demasiado jovens. Creio, no entanto, que a verdade é, em geral, preferível às mentiras, e qualquer tentativa de fingir que Cedrico Diggory morreu em consequência de um acidente ou de algum erro que cometeu é um insulto à sua memória.

Mesmo depois de se espantar por Dumbledore ter realmente dito a verdade, não podia deixar de concordar com o diretor. Assim como Sirius, Cedrico Diggory merecia ter sua verdadeira história contada. Ele não era burro, não era imprudente, ele jamais cometeria um erro depois de ter estudado tanto para a prova daquele maldito Torneio. Acreditar em tal coisa seria confirmar que, realmente, não o conheciam tão bem assim.

— Há mais duas pessoas que devem ser mencionadas com relação à morte de Cedrico — continuou Dumbledore, seu olhar novamente se direcionando à mesa da Grifinória. — Estou me referindo, naturalmente, a Harry Potter e Black.

Novamente um murmúrio atravessou o salão e algumas cabeças se viraram em direção aos garotos antes de tornarem a fitar Dumbledore. Seus nomes, mais uma vez, se espalharam pelas mesas.

se arriscou ao tentar salvá-los antes que os dois Campeões fossem transportados pela Taça que, na realidade, era uma chave de portal. Ela e Harry conseguiram escapar de Lord Voldemort e seus Comensais da Morte. Ambos arriscaram a própria vida para trazer o corpo de Cedrico de volta a Hogwarts. Eles demonstraram, sob todos os aspectos, uma bravura que poucos bruxos jamais demonstraram diante de Voldemort e, por isso, eu os homenageio.

Dumbledore virou-se solenemente para os dois e ergueu sua taça mais uma vez. Quase todos os presentes no Salão Principal seguiram seu exemplo. E murmuraram seus nomes, dessa vez com mais simpatia e gratidão, e beberam em homenagem a eles. Mas, por uma brecha entre os que estavam de pé, viu que Malfoy, Crabbe, Goyle e muitos alunos da Sonserina, num gesto de desafio, tinham permanecido sentados, os cálices intocados. Muitos ali poderiam não saber o motivo de tal desafio, mas a memória dos pais desses alunos ajoelhados aos pés de Lord Voldemort ainda atormentava profundamente.
Quando todos se sentaram mais uma vez, o diretor continuou:

— O objetivo do Torneio Tribruxo era aprofundar e promover o entendimento no mundo mágico. À luz do que aconteceu, o ressurgimento de Lord Voldemort, esses laços se tornam mais importantes do que nunca. — Os olhos do diretor mais uma vez encararam , depois passaram pelos integrantes da Durmstrang e Beauxbatons. — Cada convidado neste salão será bem-vindo se algum dia quiser voltar para cá. Repito a todos, à luz do ressurgimento de Lord Voldemort, seremos tão fortes quanto formos unidos e tão fracos quanto formos desunidos.

Sem medo algum, Dumbledore continuou falando sobre o retorno de Lord Voldemort e o que deveriam saber sobre o bruxo das trevas.

— Por fim, peço que lembrem-se de Cedrico Diggory. Se chegar a hora de terem de escolher entre o que é certo e o que é fácil, lembrem-se do que aconteceu com um rapaz que era bom, generoso e corajoso, porque ele cruzou o caminho de Lord Voldemort. Lembrem-se de Cedrico Diggory.

Cabisbaixa, limpou as lágrimas e esperou, como sempre fazia, os alunos irem um por um para fora do Salão. Quando restavam apenas ela, os amigos e alguns outros alunos espalhados, decidiu se levantar. Todavia, não pôde sair de imediato. Ouviu Alvo Dumbledore chamar seu nome, e quando se virou, viu o diretor bem atrás dela. Seus amigos, em respeito, deixaram os dois a sós.

— Professor Dumbledore — o cumprimentou formalmente, dando o melhor sorriso que conseguia no momento – breve e fraco.
— Olá, — disse Dumbledore com mais animação que a aluna. — Vejo que está pronta para partir.
— É — ela falou com desânimo, dando de ombros. — Devo confessar que não sei se estou tão animada em ir embora.
— Entendo completamente o seu sentimento — ele falou, assentindo. — Fico muito satisfeito em ver que muitos de seus colegas compartilham da mesma infelicidade em deixar Hogwarts, vejo isso como um bom sinal.

Mesmo por tudo pelo que passou em seus meses morando em Hogwarts, o lugar lhe trazia uma segurança que nunca sentira em sua casa na Castelobruxo, principalmente depois da morte de sua mãe. Então sair por aquelas portas, sabendo o que lhe esperava do lado de fora, era aterrorizante. Sem falar no fato de que os demais alunos iam embora com a certeza de que em alguns meses voltariam, mas estava indo embora com a certeza de que não voltaria. Seu intercâmbio acabava naquele dia e ela duvidava que seu pai iria deixá-la voltar no próximo ano.
Ela apenas assentiu em resposta a fala de Dumbledore, sem saber bem o que responder a ele. Não conseguia descobrir por qual razão o diretor estava ali para falar com ela.

— Não quero tomar muito do seu tempo — ele falou, aproximando-se mais da aluna. — Mas queria lhe dizer algumas palavras.

Black assentiu novamente e uma expectativa cresceu em seu íntimo, causando-lhe frio em sua barriga.

— Você fez grande diferença em nossa escola neste ano, . Sua inteligência, sua gentileza e seu altruísmo salvaram vidas.
— Nem todas — ela murmurou baixinho, desviando o olhar.
— Você fez o possível — ele retrucou. — Deu o seu melhor, mas tem coisas que nem mesmo o melhor bruxo do mundo não consegue evitar. Acredite, eu sei do que estou falando.

encolheu os ombros. A culpa nunca deixara seu coração, então poderia até concordar com Dumbledore, mas não achava que se enquadrasse naquela questão.
Dumbledore limpou a garganta antes de continuar.

— Sua presença em Hogwarts foi extremamente importante, principalmente para os seus amigos. Dito isso, gostaria de lhe convidar para retornar à Hogwarts no próximo ano.

Black arregalou os olhos, sinceramente surpresa.

— Voltar!? — ela o questionou, gesticulando para indicar o seu redor. — Para cá? No próximo ano?
— E no próximo, e no próximo, e no próximo…
— Mas… mas... — ela gaguejou, seu cérebro agora funcionava a mil por hora. — Meu pai…
— Ele já sabe e concorda com a decisão, naturalmente.
— Mas a Castelobruxo…
— Eles também já sabem e concordam que seria o melhor para você — o diretor afirmou, cruzando as mãos em frente ao corpo. — A única que precisa aceitar o convite é você.

Pela terceira vez naquela conversa, assentiu em silêncio. Enquanto seus olhos observavam os últimos alunos irem embora, seu cérebro trabalhava sem parar. Tudo naquele castelo a lembrava de Cedrico. Estar ali sem ele, mesmo que na companhia de seus amigos, era uma lembrança constante de que ele estava morto. Não sabia se conseguiria aguentar anos daquela ferida sendo constantemente aberta.
Por fim, não tinha uma resposta para dar ao diretor naquele instante.

— Eu posso pensar e lhe responder em outro momento?

Dumbledore, com o mesmo sorriso bondoso ao qual ela se deparou em seu primeiro dia em Hogwarts, assentiu para a aluna.

— Sua carta chegará em algum momento, estarei aqui esperando pacientemente por sua resposta — ele respondeu, se preparando para se despedir quando pareceu se lembrar de algo. — Oh! Estava quase me esquecendo!

Ele mexeu em suas vestes, procurando por algo, e retirou um pedaço de pergaminho dobrado, entregando-o para a garota. Ao desdobrar o papel, se deparou com um belo desenho de uma flor que ela conhecia bem até demais. Um desenho perfeito da Flor-Que-Nunca-Morre que, igual a do seu colar, movia-se como se uma brisa lhe atingisse. Na ponta da folha, uma assinatura com a letra cursiva mais bonita que a garota já viu indicava o artista da obra. Ou melhor, a artista.

— Luna Lovegood — ela leu, surpresa.
— Uma das nossas melhores alunas da Corvinal — disse Dumbledore, parecendo orgulhoso. — Luna queria lhe entregar pessoalmente, mas Xenofílio, seu pai, estava ansioso para levá-la para casa. Compreensível, é claro.

conversou com Luna poucas vezes, uma delas para agradecê-la por ter ajudado Draco e salvado sua vida. Contudo, ficou surpresa e muito emocionada com o presente. Anotou mentalmente que precisava agradecê-la por carta e também que, caso voltasse para Hogwarts no próximo ano, faria amizade com a corvina.
Quando se reencontrou com seus amigos, já a caminho de Hogsmeade, percebeu que todos estavam chateados demais para conversarem. Entretanto, Harry Potter, que estava caminhando ao seu lado, lhe fez a pergunta que a deixou mais pensativa durante todo aquele ano:

— Você se arrepende de alguma coisa?

Black olhou para ele, depois para Ron e Hermione, para os demais alunos e, por fim, se virou para admirar Hogwarts. Um sorriso surgiu em seus lábios quando ela respondeu.

— Nada. Não me arrependo de nada.



FIM.


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Nota da autora:Caramba, chegamos ao final de The Exchange Student e eu não sei por onde começar essa última nota de autora. Estou com lágrimas nos olhos, é claro, mas preciso começar pedindo desculpas às Team Diggory que me imploraram, desde o começo de TES, para deixá-lo vivo. Eu ouvi vocês, juro, mas o destino do Ced já estava meio decidido desde o começo. Tive dúvidas sim, mas a morte dele vai ser muito importante para a pp, então me perdoem e não desistam de TES, por favor! 🥺
Agora quero agradecer à todo mundo que leu essa fic, a primeira do universo de Harry Potter que me aventurei a escrever. Eu amei cada surto no insta, no whatsapp, cada comentário aqui na fic, enfim… Muito obrigada a cada leitore por todo o carinho, obrigada por lerem TES até o final, vocês foram essenciais para que eu conseguisse escrever cada página dessa história.
Um obrigada especial para a Chris, a melhor scripter que eu poderia ter escolhido. Um ano de parceria e fico muito feliz em poder dizer que além de uma scripter, ganhei uma amiga. Amo você Sra. Luluma, obrigada por fazer um trabalho incrível e por cuidar das minhas fics tão bem.
Obrigada para as meninas do grupo Igrejinha da Pati: Luísa, Elena, May, Gabs, Bex, Chris, Thaís, Ju e Diandra, VOCÊS SÃO TUDO PRA MIM! Eu amo vocês demais, agradeço por terem me aguentado durante esse um ano e me incentivado a sempre continuar. Um obrigada especial pra Luísa por ter me ajudado a betar alguns capítulos e me incentivado a escrever quando a preguiça falou mais alto; e pra May, pois ela foi a primeira pessoa a ler TES e me incentivar a postar. Devo muito a vocês.
Por fim, quero agradecer ao FFOBS pelo convite para participar do All Stars 2021. É uma honra estar entre autoras tão incríveis.
Quero desejar um feliz natal e um incrível 2022 ♥️ até logo!!
Obs: fiquem tranquilos, The Exchange Student: Ordem da Fênix vem aí 😉

Nota da Scripter: O que dizer desse final? TES ganhou um espaço especial no meu coração, mesmo com toda a raiva kkkkkk se tornou uma das minhas fics favoritas ♥️
Foi um ano inteirinho pertubando a Pati para que o morte do Cedrico acontecesse, muitos surtos no grupo da Igrejinha, e mil motivos para matar o Cedrico e veio aí, a morte que eu mais esperava, mas vou confessar, me abalou, não porque eu mudei de ideia, mas pela pp, a morte dele a destruiu, estou ansiosa para saber como ela vai lidar com tudo isso. LUÍSA EU SINTO MUITO 🥺
Pati, vou deixar meu agradecimento especial a você, essa autora incrivel! Obrigada por me confiar suas histórias, obrigada pela sua amizade, quem diria né? Eu achava que você era uma barraqueira que só ia me dar trabalho e cá estamos nós, amigas kkkkkk
É isso, que venha a segunda parte de TES com muitos surtos, muitos dramas, muito amor e claro muito Draquinho ♥️♥️♥️
Beijos sonserinos a todas vocês! ♥️



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