Capítulo 1 - Recrutada
Caminhei sem pressa pelo largo corredor. Algumas pessoas, que presumi serem agentes, circulavam preocupadas com seus trabalhos. Nem sequer olhavam pra mim. Eles pareciam bem mais interessados do que eu em tudo, apesar de ser a primeira vez em seis meses que entrava numa base da SHIELD.
Após todo o evento envolvendo a HIDRA e, consequentemente, a queda da SHIELD, tudo se dissolveu. Por ser uma das agentes que escolheu o lado do Capitão América, tive que me esconder de alguns membros da organização inimiga. A STRIKE me perseguiu por alguns dias até que me refugiei na mansão do cara mais egocêntrico da Terra. Tony Stark me deu abrigo e até que foi legal comigo. Se bem que isso só rolou por causa da Pepper.
Depois de todo esse tempo, quando minha vida já estava quase normal, já que eu nunca estaria cem por cento segura morando com um Stark, recebi uma mensagem confidencial por meio do meu velho comunicador. Deveria comparecer até o endereço que me informaram, em 24 horas.
Bem, aqui estava eu, seguindo até a sala que me indicaram. A sala do diretor. Só queria saber quem era esse novo biruta, pois só uma pessoa muito pirada teria coragem de assumir a responsabilidade de uma organização que se encontrava em migalhas. Bati uma vez na porta e esperei uma resposta, mas não ouvi nada. Revirei os olhos pela impaciência e então girei a maçaneta, abrindo-a. Estava sendo atrevida, eu sabia, mas a curiosidade me consumia.
Coloquei minha cabeça pra dentro e dei uma olhada no perímetro. Não havia ninguém. Estranho. Ainda assim entrei. Se eu ainda fosse uma agente, com toda certeza seria punida pela minha ousadia, mas agora eles não podiam fazer nada. A não ser me expulsar dali, é claro. Se bem que isso não aconteceria, pois tinha recebido uma mensagem para estar ali.
Fechei a porta e caminhei alguns passos. Foi quando avistei um mapa enorme grudado numa das paredes, a que ficava bem atrás da mesa principal. Aproximei-me, desviando da mesa e caminhei até o mapa. Tinham vários marcadores vermelhos e azuis espalhados sobre ele, especialmente no território dos EUA. Curioso. Estiquei a mão para tocar um deles.
- Não me lembrava que você era tão curiosa. – de repente, ouvi atrás de mim e dei um pulo.
- Santo! – levei a mão até o coração e fechei os olhos.
- Que tipo de agente reage assim a um ataque surpresa? – a pessoa perguntou.
- O agente que não faz ideia de quem seja o novo diretor da... – falei ao mesmo tempo em que me virava para a pessoa – SHIELD.
Completei minha frase após encará-lo estupefata. Eu só podia estar vendo fantasmas. Meus olhos estavam pregando uma peça em mim, era isso. Os semicerrei, mas ele ainda estava lá em minha frente, com um mínimo sorriso debochado. Eu só podia estar bêbada.
- Agente Coulson? – minha voz era de total espanto.
- Olá, agente Potts. – ele falou.
- Ah, meu Deus, é... É você mesmo? – continuei paralisada – Mas, todos... Todos viram você morrer.
- E eu morri. – ele caminhou em minha direção – Mas eles deram um jeito de me trazer de volta.
- Quer dizer que você, tipo assim, ressuscitou? – minha expressão se transformou de assustada para totalmente curiosa
- Depende do ponto de vista. – ele parou em frente à mesa.
- Cara, isso é muito... Doido! – olhei pro nada, mas então olhei desconfiada pra ele – Espera... Tem certeza que você é você? Que não é um clone do mal que pretende dominar nosso mundo?
- Você continua com uma mente incrível, agente. – ele sorriu – Mas que tal pularmos as perguntas e irmos direto ao assunto?
- Claro. – balancei os ombros – Só estava esperando o diretor.
- E estou aqui. – ele abriu os braços.
- Não! – abri um largo sorriso – Você é o novo diretor?
- Sim. – ele confirmou – Mas não tomo as decisões sozinho.
- Tá, vou ter tempo pra digerir tudo isso. – falei, saindo de perto do mapa – É melhor conversarmos sobre o motivo de terem me chamado ou meu cérebro vai explodir.
- Sente-se. – ele indicou a cadeira.
Nos sentamos, e ao perceber que eu o encarava como quem encarava uma aparição, Coulson riu levemente e começou a falar.
- Agente Potts, tenho certeza que sabe das dificuldades que estamos passando. – ele começou – A SHIELD está se reerguendo depois de tudo e estamos procurando os agentes que sabemos estar do nosso lado. Você é uma dessas pessoas. Lutou a nosso favor mesmo correndo riscos.
- E faria tudo novamente, senhor. – fiquei séria – Apesar do que aconteceu.
- Sei disso. – ele balançou a cabeça positivamente – É por isso que quero recrutá-la mais uma vez. Quero que volte a ser uma de nossas agentes.
- Com certeza, senhor. – sorri contente – Mas, creio que não fui chamada aqui apenas pra receber o convite de voltar para a SHIELD.
- Sempre observadora. – ele falou e parecia satisfeito – Sim, agente Potts, tenho um motivo maior para tê-la chamado. Tenho uma missão para você.
- Já era tempo. – falei animada.
- Quero que encontre uma pessoa. – ele disse – E que a traga para cá.
- Só isso? – franzi o cenho – Vai ser moleza.
- Talvez não. – ele apoiou os cotovelos sobre a mesa.
- Senhor, o que há de mais em encontrar uma pessoa? – ri levemente – A não ser que essa pessoa seja...
- O Soldado Invernal. – ele completou e eu me calei – Como uma agente nível 7 estou designando a você a responsabilidade de encontrar e trazer Bucky Barnes para a SHIELD.
- Mas... – tentei falar.
- Só um detalhe. – ele não me deixou continuar – Ele precisa vir por livre e espontânea vontade.
Arregalei meus olhos ao ouvir a última frase. Não seria tão difícil assim encontrar o Soldado Invernal e trazê-lo. Só precisava localizá-lo, apagá-lo com um tiro de tranquilizante e jogá-lo no fundo de uma van. Mas aquilo... Era algo totalmente diferente.
Mordi os lábios e xinguei todos os palavrões que conhecia mentalmente. Coulson me encarava, esperando que eu dissesse algo.
- Eu to ferrada... – falei após filtrar todas as palavras de baixo calão da minha mente.
Maldita hora que peguei aquele comunicador. Maldita hora.
Capítulo 2 - Nova Equipe
Soquei o saco de areia pendurado no teto. Ele se moveu para trás e quando voltou em minha direção, o soquei outra vez. Aquilo doía pra caramba, mas eu já estava acostumada, minhas mãos já estavam calejadas. Soquei três vezes seguidas e senti os músculos dos meus braços se enrijecerem. Aquela sensação era incrível. A melhor que sentia há meses.
Depois de tudo, não tive muito tempo para treinar. Já deveria até estar um pouco enferrujada. Viver em meio a todas aquelas regalias na mansão Stark me fizeram relaxar. Além disso, passei mais tempo estudando aquelas armaduras ridículas do que qualquer outra coisa. Mas nada que uns dias de treino não resolvessem.
Dei alguns passos pra trás, pronta para acertar um chute no saco. O diretor Coulson tinha me mostrado de forma superficial como as coisas aconteciam naquela base secreta e depois me deixou na sala de treinamento. Disse que buscaria alguma coisa. Eu já estava ali há uns vinte minutos e não resisti a todos aqueles equipamentos. Eles me chamavam para uma sequência de chutes e socos.
Ao chutar o saco vermelho, o fiz voar bem para trás, mas alguém o segurou ainda em movimento. Semicerrei os olhos, porém, não precisei me esforçar para reconhecer aquele ser. Ele fez questão de se pronunciar.
- Você está bem fraquinha. – ele falou e soltou o saco, me obrigando a segurá-lo com força – Tenho certeza que não dava um chute desses há meses.
- ? – arregalei os olhos pela surpresa – Mas... o que... o que faz aqui?
- É bom te ver também, Golden. – ele sorriu de canto – Vejo que continua educada.
- E você continua idiota. – larguei o saco e fui até ele.
Sem cerimônias o abracei. Não via há cinco meses. Ele era um de meus amigos e havia lutado comigo no dia em que a SHIELD caiu. Enquanto o apertava com força, ele riu abafado e me afastei.
- É sério, o que faz aqui? – voltei a perguntar
- Fui chamado pra uma nova missão. – ele disse – Você não vai acreditar no que eles querem que eu faça!
Antes que continuasse, algumas pessoas entraram na sala. Conduzindo-as, Coulson vinha com uma pasta branca e azul nas mãos. Atrás dele, havia duas garotas. Com certeza, mais velhas do que eu. Uma tinha os cabelos curtos escuros partidos ao meio e usava uma roupa preta bem apertada. Havia um dispositivo semelhante a luvas em suas mãos e ela parecia ser confiante. A outra tinha longos cabelos loiros e também vestia uma roupa preta, mas segurava um bastão de metal e o apoiava nos ombros. Parecia tão confiante quanto a morena.
Por um instante me senti constrangida. Eu me sentia assim perto de pessoas mais bonitas e poderosas do que eu. No entanto, tentei não transparecer e me aproximei, com logo atrás.
- Era isso que tinha que buscar? – apontei com a cabeça para a pasta.
- Mais ou menos. – Coulson disse e me entregou a pasta – Essa pasta contém as informações sobre o alvo e onde talvez ele esteja.
- Já sabem onde ele está? – ergui as sobrancelhas.
- Pra nossa sorte, a Daisy deu um jeito nisso. – ele apontou a garota morena.
- Você é hacker? – perguntei, mas não esperei uma resposta – Legal, mas o que são essas coisas em seus braços? Parece que a SHIELD começou a fazer um protótipo, mas não conseguiu terminar o trabalho. Seria falta de recursos?
- Golden... – sussurrou atrás de mim.
- Na verdade, isso não é um protótipo. Essas luvas me auxiliam a usar meus poderes. – ela respondeu e não parecia irritada – E, sim, sou uma hacker.
- Certo, você tem poderes. – disse e olhei para a loira - E quanto a você?
- Sou Barbara Morse, mas pode me chamar de Bobbi. – ela disse apenas.
Depois disso, ninguém falou mais nada. Eu precisava caçar o Soldado Invernal e ficávamos ali, nos encarando feito idiotas.
- Foi muito bom conhecer vocês, mas eu tenho assuntos a resolver. – ergui a pasta – Então, se me dão licença.
- Agente, Potts, espere. – Coulson pediu e me virei pra eles – Acho que não entendeu o que está acontecendo aqui.
- E o que há pra entender? – balancei os ombros uma vez.
- Não fará a missão sozinha, seria suicídio. – ele disse – Por isso, o agente e as agentes Morse e Johnson irão com você.
- Ah, claro. – fiz aquela cara de quem acabou de entender uma questão de matemática avançada – Isso é... cara, não sabe como estou aliviada.
- Está com medo, agente Potts? – de repente Bobbi perguntou
- E por que estaria? – ri nervosa
- Não sei. – ela olhou pro teto – Talvez o Soldado Invernal a faça ter vontade de correr pro colo da mamãe.
Franzi o cenho e cerrei os punhos. Ela não tinha dito aquilo. Olhei para os outros e vi que se afastavam, como se já previssem o que aconteceria em seguida. Voltei meu olhar para a agente Morse e ela havia apoiado seu bastão no chão. Ele era bem grande, mas não tive medo dos estragos que ele poderia causar.
- Ou talvez queira se esconder debaixo da cama. – ela me provocou outra vez
- Quem sabe eu te encontre por lá. – entrei naquele joguinho.
Sem dizer nada, Bobbi segurou o bastão com as duas mãos e o dividiu em duas partes. Ótimo, agora eu teria que me preocupar com dois bastões de metal. Ela bateu um no outro, causando um ruído forte e sorriu.
- Me mostre o que sabe, garota. – ela disse.
- Com prazer. – abri um largo sorriso.
Avancei com tudo em sua direção e tentei acertá-la com uma sequência de socos. Ela se desviou de todos, então comecei a revezar entre socos e chutes. Quando ergui minha perna uma vez, ela a acertou com um bastão e uma dor aguda tomou toda minha perna, me obrigando a abaixá-la. Ainda assim, fui rápida e tentei mais alguns golpes, dos quais ela fugia sem dificuldades.
Aquilo já estava me deixando irritada. Era difícil enfrentar alguém tão habilidoso, por isso resolvi forçar mais. Abaixei-me e tentei dar-lhe uma rasteira, mas ela pulou ao mesmo temo em que acertava a ponta de um bastão em minha testa. Agora a coisa tinha ficado séria. Desviei-me de outro golpe de bastão e joguei meu corpo para longe dela. Era hora de recorrer a minha melhor habilidade.
Me levantei e comecei a correr ao seu redor. Ela matinha as mãos erguidas, mas não se moveu, apenas acompanhando meu movimento com os olhos. Ela parecia saber que eu a observava. Precisava descobrir algum ponto fraco. Depois de duas voltas, finalmente o encontrei. Ela segurava os bastões a frente do peito, deixando a parte do abdômen mais exposta. Não era muita coisa, mas seria suficiente.
Parei de correr e então sorri. Ela ergue as sobrancelhas em um tom provocativo. Era o incentivo que precisava. Corri até ela e fingi que a socaria. Quando ela ergueu um dos bastões, deixou metade do tronco exposto e me aproveitei daquilo. A acertei ali com uma joelhada. Mas isso não foi suficiente para abalá-la, então dei mais um golpe em suas costelas com mais força. Na terceira tentativa, ela me bloqueou e acertou meu queixo em cheio. Cambaleei pra trás.
- Já chega... – falei enquanto sacudia a cabeça.
Nos encaramos e dessa vez ela avançou, mas eu já sabia o que fazer. Desviei-me de duas investidas e chutei, não seu corpo, mas uma das mãos que segurava o bastão, obrigando-a a largá-lo. Ela não pareceu acreditar e aproveitei sua mínima distração para repetir o processo. Minha força fez com que ela soltasse o metal.
Ficando sem armas, ela partiu para os mesmos golpes que eu. Dessa vez, lhe acertei um soco na boca. Mas, quando menos esperava, ela agarrou meu braço e o torceu pra trás. A dor foi instantânea, mas não gritei. Pelo contrário, tentei escapar e acertei suas costelas com meu cotovelo. Ela me soltou, porém, chutou minhas costas e caí de joelhos. Então, os golpes cessaram.
Olhei para trás e a encontrei parada, mas não tinha mais posição de luta. Parecia que a diversão tinha acabado. Bobbi se aproximou e me estendeu a mão, que aceitei.
- Vamos precisar treinar mais um pouco. – ela disse – Mas com certeza você vai voltar ao que era antes bem rápido.
- É o que espero. – sorri.
Ela retribuiu meu gesto e então apertamos as mãos. Os outros se aproximaram, chamando a nossa atenção. Coulson olhou diretamente para mim.
- Você foi bem, agente Potts. – ele disse – Agora vá pra casa e estude os arquivos.
- Certo, senhor. – balancei a cabeça positivamente.
- Esteja aqui amanhã às oito da manhã. – Daisy falou – Vamos testar alguns dispositivos.
- Tá. – concordei – Boa tarde pra vocês.
Despedi-me deles e enquanto caminhava até a saída, folheava os arquivos que o diretor havia me dado. Todas as informações conhecidas sobre o Soldado Invernal estavam ali, inclusive fotos. Não era muita coisa, mas poderíamos nos virar.
Agora, só precisava avisar minha tia doida de que era uma agente da SHIELD outra vez. Pelo que a conhecia piraria um pouquinho. Tá bem, ela surtaria. Especialmente quando soubesse que eu seria a nova babá de um psicopata que matava todos que via pela frente e não se lembrava nem do próprio nome.
Capítulo 3 - Mudança de Planos
Havíamos acabado de descer de um trem. Depois de dias fugindo, finalmente decidimos buscar a ajuda que eu havia mencionado. Iríamos para a casa de minha tia, Pepper Potts. Saímos de Washington pela manhã e agora estávamos em Nova York, mas precisaríamos ter cuidado. Alguns membros da STRIKE estavam em nosso encalço.
Olhei para , que seguia alguns metros à frente para que não chamássemos atenção. De onde estava, via em meio à multidão apenas seus ombros vestidos com uma jaqueta preta e seus cabelos loiros espetados, escondidos parcialmente por um boné. Eu caminhava com as mãos nos bolsos do meu casaco marrom, mas tirei-as de lá para ajeitar a touca que cobria meus longos cabelos .
Olhei em volta assim que saímos da estação e tudo estava limpo. Pelo menos por enquanto. Caminhamos por alguns quarteirões e então parei. Alguém nos seguia, eu tinha certeza. pareceu perceber e parou em frente a uma vitrine de uma confeitaria. Fui até lá e também observei pelo vidro. No mesmo instante fiquei com água na boca. Não comíamos há um bom tempo.
- Estamos sendo seguidos. – eu disse.
- Percebi. – ele disse – É a formação padrão deles. Dois por trás, dois de cada lado e dois pela frente.
- Temos que dar um jeito nisso. – falei e pelo reflexo da vitrine, vi um carro estacionado do outro lado da rua – Vamos.
entendeu imediatamente o que eu faria e me seguiu a passos apressados. Eles já tinham nos encontrado, então não havia motivos para disfarces. Sem cerimônias, quebrei o vidro da porta do motorista com meu cotovelo e a abri. sentou no banco do passageiro enquanto eu puxava os fios e fazia ligação para que o carro funcionasse. Em instantes, o motor ligou.
- Isso! – comemorei.
- Vamos logo, Golden, eles estão vindo. – ele olhou para trás.
Pisei o pé no acelerador e as rodas saíram riscando o chão. Ao verem nossa fuga, a STRIKE correu até seus veículos e duas motos logo estavam na nossa cola. pegou sua pistola e quando uma moto chegou ao seu lado, ele atirou pelo vidro e o estilhaçou ao mesmo tempo em que acertava o piloto, fazendo a moto se desgovernar e o homem cair.
Ao meu lado outra moto com dois agentes chegou bem perto. O de trás tinha uma submetralhadora e se preparava para atirar em mim.
- ! – gritei para ele.
- Já vi! – ele disse, passando para o banco de trás.
atirou nos dois homens e eles também foram ao chão. Então ele voltou ao seu lugar rindo. Eu fazia o mesmo. Aquele desgraçado era um dos melhores atiradores que já vi.
- Muito bem, agente . – falei num tom debochado.
- Ainda estou esperando um “obrigada, , por salvar minha vida”. – ele imitou minha voz.
- Por que não cala essa boca? – revirei os olhos.
- Nossa, está mal humorada! – ele se fingiu rendido.
- , será que... – mas não consegui completar minha fala.
Uma bala atravessou meu ombro e fui obrigada a parar o carro. Soltei um urro de dor e levei a mão até o lugar, que sangrava descontroladamente.
- Golden! – meu amigo se assustou.
- Estou bem. – disse entredentes.
Sacudi a cabeça para os lados e, mesmo com a dor, tentei ligar o carro outra vez. No entanto, agora era tarde. Estávamos cercados.
Flashback –off-
Estava parada em frente ao espelho, observando a cicatriz no meu ombro. Ela tinha ficado grande e feia. Suspirei, porém, ao me lembrar de que naquele dia aquele tiro foi o de menos.
Vesti minha blusa e caminhei até minha cama, me jogando nela. Já fazia algumas horas que havia chegado da base secreta da SHIELD e, por sorte, nem Pepper nem Tony estavam em casa. Seria um tempo a mais sem os chiliques da minha tia.
Peguei a pasta que o diretor Coulson me deu e a abri mais uma vez. Dessa vez, iria estudá-la de verdade. Precisava saber mais sobre o Soldado Invernal antes de tentar ser a salvadora dele.
- Será que não poderiam ter me pedido pra vigiar o Tony? – disse enquanto espalhava as folhas pelo colchão – Se bem que seria bem mais complicado. E chato.
Peguei a primeira folha, encontrando as informações básicas da missão.
MISSÃO: NÍVEL 9
ALVO: JAMES BUCHANAN BARNES
CODINOME: SOLDADO INVERNAL
LOCALIZAÇÃO: CANADÁ
HABILIDADES: ACROBACIA/ HABILIDADE COM ARMAS BRANCAS/ EXÍMIO ATIRADOR/ QUALIFICADO EM COMBADE CORPO-A-CORPO/ SUPERFORÇA DERIVADA DE BRAÇO CIBERNÉTICO.
COMPORTAMENTO: TEMPERAMENTAL, CONFUSO, VIOLENTO
PROCEDIMENTOS A QUE FOI SUBMETIDO: ANULAÇÃO DE MEMÓRIA POR TRATAMENTO DE CHOQUE
OBJETIVO DA MISSÃO: PERSUADIR O SOLDADO INVERNAL A ACEITAR A AJUDA DA SHIELD PARA QUE SEJA REABILITADO
EQUIPE DESIGNADA: BARBARA MORSE, DAISY JOHNSON, , POTTS
- Ótimo! Acabei de ser incluída numa missão nível 9. – joguei as mãos pro teto – Acho que o Coulson quer que voltemos bem mastigados. Se é que vamos voltar.
Reclamei pra mim mesma e peguei uma das fotos. Era antiga. Ele estava com os cabelos curtos e vestia a farda típica de um soldado que lutou na Segunda Guerra Mundial. Bucky, como já tinha visto o chamarem, sorria. E ele era bonito.
Ao perceber o que estava pensando, joguei aquela foto de lado e peguei outra. Essa era mais recente e mostrava Bucky dentro de uma câmara. Era possível ver apenas seu rosto. Era bem visível que ele estava congelado. Franzi o cenho ao pensar em como alguém poderia ser tão cruel. Como alguém poderia fazer algo assim com outro ser humano?
Engoli seco e larguei a foto sobre os arquivos. Era melhor terminar depois. Pensar em como as pessoas poderiam ser más não seria bom pra mim. Guardei tudo e desci até a cozinha. Procurei algo para comer e depois de encontrar pipoca e refrigerante, segui até a sala de TV. Necessitava relaxar um pouco. Apesar de tudo, voltar não seria tão fácil assim.
Deitei num sofá e coloquei o que trazia sobre a mesa de centro. Não liguei a televisão, apenas fiquei ali pensando. Deixei minha mente vagar e quando menos esperava, adormeci.
Acordei apenas com o bipe de alguma coisa me irritando. Enfiei a mão no bolso de minha calça em busca do meu comunicador. Era ele com toda certeza. O peguei, o colocando no ouvido.
- Agente Potts falando. – minha voz estava cansada.
- Agente Potts, aqui é a agente Morse. – ouvi Bobbi dizer – Quero apenas informar que nossos planos mudaram.
- Como assim? – me sentei mais interessada
- A HIDRA descobriu a localização do Soldado Invernal e está mandando pessoas atrás dele. – ela disse – Precisamos de você aqui agora.
- Mas achei que a HIDRA tinha sido destruída. – franzi o cenho.
- Muitos também pensam que a SHIELD não existe mais. – ela salientou – Prepare-se. Partiremos em uma hora.
Não respondi. Apenas segui apressada para meu quarto. Sorte minha ter estudado os arquivos. Pelo menos eu sabia o básico sobre Bucky Barnes. E era assim que eu o chamaria a partir de agora. Pelo que parece, nada do que ele havia feito foi por vontade própria. Ele teve a mente apagada e foi induzido a realizar atrocidades para a HIDRA. Agora era a nossa chance de dar-lhe uma vida diferente.
Vesti minha roupa de missões. Uma calça preta de couro com botas impermeáveis de cano médio e uma camiseta sem mangas da mesma cor. Por cima da camiseta, coloquei uma jaqueta preta e prendi meus cabelos num rabo de cavalo alto. Peguei meu coldre e o coloquei na perna e no quadril, um cinto de utilidades. Nas mãos, usei luvas de dedos para me auxiliar na hora do confronto. Só faltava uma coisa.
Corri até o laboratório de Tony. Precisava pegar algo que havia projetado depois de todo o estudo das armaduras. Entrei colocando a senha e fui até onde ficavam os protótipos. Lá estava ele. Se tratava apenas de um relógio de pulso, mas que serviria muito. O coloquei no braço e então voltei.
Ao chegar até a sala, olhei ao redor. Pepper e Tony ainda não haviam chegado e não poderia esperar por eles, então fiz a única coisa que me veio na mente. Escrevi um bilhete e o deixei sobre a mesa de bebidas. Com certeza o Stark o encontraria.
Ao sair da mansão, avistei um carro preto e fui até ele. Já era noite, então não precisei me preocupar com as pessoas me observando. Ao parar ao lado do carro, o vidro baixou, revelando . Ele estava sério.
- Vamos. – ele disse apenas.
Entrei no banco de passageiros e seguimos até a base secreta. Durante todo o caminho eu batucava os dedos em minha perna, pois estava ansiosa. Não tivemos tempo para treinar e eu não me sentia muito bem. Pelo menos não para uma missão como aquela. Ainda bem que teria ajuda.
Paramos o carro e entramos na base. Fomos até o hangar, como disse que tinha sido informado que deveríamos fazer. Ao chegarmos lá, encontramos os outros também prontos.
- Ótimos, estão todos aqui. – Coulson disse – Como foram informados, a HIDRA encontrou a localização do soldado Barnes e por isso precisamos que partam imediatamente. Sem perguntas, agente Potts.
- Mas, eu não ia dizer nada. – abri a boca, indignada.
- Melhor, pois estamos sem tempo. – ele disse – Para vocês dois que chegaram agora, poderão saber de tudo no caminho. A agente Daisy lhes dará os dispositivos que precisam e a agente Morse conduzirá a nave. Boa sorte.
Nos despedimos dele e entramos no quinjet. Havia espaço ali pra mais de quatro pessoas, mas agradeci mentalmente por irmos confortáveis. Bobbi se dirigiu para a cabine do piloto e Daisy veio até nós.
- Enquanto não chegamos, vamos conversar um pouco. – nos sentamos no chão – Agora que a HIDRA pode aparecer a qualquer momento, precisamos ser mais cautelosos e agir mais rápido.
- Mas, se formos muito rápido, o Soldado Invernal pode se sentir ameaçado e não querer vir conosco. – disse.
- Sabemos disso. – ela concordou – Mas teremos apenas algumas horas para tirá-lo de onde ele está, levá-lo até outro lugar e então convencê-lo de que pode confiar em nós.
- Achei que ele primeiro precisava confiar em nós. – ergui as sobrancelhas – Caso contrário, ele vai tentar nos matar.
- E é aí que você entra. – Daisy sorriu.
- Como assim é aí que eu entro? – fiz uma careta – Querem que ele me mate primeiro pra depois se acalmar e vir com vocês?
- Não, agente Potts. – ela achou graça do meu comentário – Você foi escolhida pra essa missão por um motivo que está além de suas habilidades físicas.
- Sério?– estalei a língua – E qual é esse motivo?
- Você tem o incrível dom de tocar o coração das pessoas. – ela falou.
- Eu o quê? – ri sem graça – Vocês só podem estar brincando. Querem que eu fale com ele?
- Sim, essa é a sua parte da missão. – ela balançou a cabeça positivamente.
Fiquei paralisada. Então eles apostaram em mim pelo meu dom de falar demais. Que incrível. Enquanto uns achavam que isso era ruim, a SHIELD me deixava responsável pela parte mais difícil da missão por que eu não conseguia segurar minha língua.
Eu ainda digeria tudo isso quando Daisy nos deu alguns dispositivos, como armas de choque e bombas de gás e de poeira. Coisas simples, mas eficazes. Após isso, decidimos tirar um cochilo.
Não sei quanto tempo dormi, mas só acordei quando senti a nave dar um grande solavanco. Abri meus olhos assustada e me levantei, notando que e Daisy também haviam despertado. Ela se levantou e foi até a cabine do piloto, voltando não muito tempo depois.
- O que foi isso? – perguntei.
- Não é algo muito bom – ela mordeu os lábios - Uma nave da HIDRA está bem atrás de nós.
e eu nos olhamos estupefatos. Como assim, ele haviam nos achado? Pensei que nós sabíamos a localização deles e não o contrário. Não tive tempo de falar nada, pois mais um solavanco sacudiu o quinjet e nós caímos. Pelo que parecia, os problemas só haviam começado.
Capítulo 4 - Tremor
Eu ainda estava no chão quando senti a mão de me agarrar pelo braço, me ajudando a levantar. Daisy, que estava mais afastada, levantou-se também e veio até nós. Ela não parecia nem um pouco contente.
- Vocês estão bem? – ela perguntou.
- Sim. – respondeu por nós.
- O que vamos fazer agora? – olhei em volta – Se eles conseguirem nos derrubar...
- Eles não vão. – Daisy sorriu de forma maléfica.
- Como é? – franziu o cenho.
- Venham comigo. – ela nos chamou.
A seguimos até a cabine do piloto e ela se sentou ao lado de Bobbi, que tentava se desviar de mais tiros. e eu ficamos em pé, atrás das poltronas. De lá, podíamos ver o céu noturno. Havia apenas escuridão e mais nada.
- Entraremos no território canadense em dez minutos. – Bobbi falou – Precisamos despistá-los antes disso.
- Pode deixar. – Daisy riu levemente.
- O que vocês têm em mente? – questionei, olhando de uma pra outra – Por que, pelo que parece, eles vão fazer picadinho de nós por onde quer que sigamos. Aposto que a nave deles tem detectores de calor.
- E quem disse que vamos fugir? – a agente Johnson olhou pra mim.
- Então o quê? – fiquei curiosa no mesmo segundo.
- Observe. – ela se virou pra frente outra vez.
Olhei para , que apenas balançou os ombros e então me escorei nas costas da cadeira de Daisy. Ela e Bobbi trocaram um olhar e então a agente Morse voltou a fitar o caminho à frente.
- Tem certeza? – Bobbi perguntou a ela.
- Absoluta. – ela respondeu firme – Faça nosso quinjet ficar atrás da nave deles. Terei uma melhor visão.
- Vamos lá então. – Bobbi soltou um suspiro enquanto falava.
Quando eu menos esperava, Bobbi girou a alavanca de comando e o quinjet se inclinou para a direita de uma só vez. Nos seguramos, mas não foi difícil manter o equilíbrio. Então, a agente Morse diminuiu a velocidade e a nave da HIDRA passou bem ao nosso lado, tomando nossa frente.
Quando estávamos bem atrás deles, Daisy chegou-se mais para frente da cadeira e ergueu as mãos. Ela havia dito que tinha poderes, mas eu não fazia ideia de quais poderiam ser. E algo me dizia que descobria agora.
- É hora do show, queridos! – Daisy falou.
Então ela impulsionou as mãos para frente e algo incrível começou a acontecer. A nave da HIDRA começou a sacolejar. Era como se um terremoto a tivesse atingido. E foi aí que o mais legal ocorreu. A nave explodiu.
- Uou! – vibrou ao meu lado – Você fez isso?
- Digamos que sim. – ela se levantou.
- Bom trabalho, Tremor! – Bobbi falou sem tirar os olhos do caminho – Pousamos em quinze minutos.
- Valeu! – Daisy deu um tapinha no ombro dela e depois se virou pra nós – Vamos voltar lá pra trás.
Voltamos e nos sentamos nas cadeiras, colocando o cinto. se sentou ao meu lado e Daisy de frente pra nós. Eu ainda estava sem fala. Como assim ela podia gerar tremores?
- Golden, você tá legal? – perguntou.
- Sim, é só que... – olhei pra todos os lados e então encarei a agente Johnson – Caraca, aquilo foi muito louco! Você, tipo assim, causou tremores naquela nave e depois a explodiu. Olha pra mim, estou toda arrepiada.
- Golden, menos, por favor. – tentava não rir.
- Foi mal, eu só... – soltei um suspiro animado.
- Tudo bem. – Daisy riu.
- Mas e agora? – me recompus – Essa nave nos encontrou, mas com certeza não é a única. E eles já devem ter informado a nossa localização pros outros.
- É por isso que, assim que descermos, vamos ficar o mais longe possível do quinjet. – ela falou – Vamos estacionar um pouco mais afastados e caminhar até onde localizamos o Soldado Invernal.
- Tá. – eu balancei a cabeça positivamente – Mas o que eu tenho que dizer pro Bucky acreditar que queremos mesmo ajudá-lo?
- Bucky? – ergueu as sobrancelhas.
- É o nome dele, não é?! – falei num tom óbvio – Bucky Barnes. E acho que deveríamos chamá-lo assim, afinal, ele é uma pessoa como nós.
- É claro, agente Potts. – Daisy disse – É por isso que estamos aqui.
- Então, o que eu digo? – perguntei outra vez.
- Acho que deveria ser você mesma. – falou – Apenas não dá uma de louca e começa a falar doideras, tá legal?
- Pode deixar. – sorri de canto.
Por dentro, porém, meu coração palpitava descontrolado. Invadir um local e render mercenários era algo fácil perto de ter que persuadir uma pessoa. Não sei de onde o diretor Coulson tirou que eu era uma boa porta-voz. No mínimo, eu diria algo bem idiota e Bucky tentaria me matar.
Recostei minha cabeça e fitei o teto do quinjet. Eu estava de volta. Aceitei voltar para a SHIELD e tudo parecia tão estranho. Aquela era a missão mais difícil que já fiz. Mas ainda do que lutar contra amigos e colegas de trabalho. Encontrar o Soldado Invernal e trazê-lo de volta. Algo que sozinha eu não poderia conseguir.
- Pousamos em dois minutos. – de repente Bobbi apareceu, me fazendo voltar para a realidade – Preparem suas armas, pois talvez alguém possa esperar pra nos dar as boas vindas.
Ela voltou e pegamos nossas armas e lanternas. Até mesmo Daisy se preveniu. Logo estávamos no chão. Abri meu cinto e me levantei, ficando bem em frente da porta da nave. ficou ao meu lado e Daisy foi ainda mais para frente.
- Vou ficar aqui pra desviar qualquer coisa que possam lançar contra nós. – ela explicou
Erguemos nossas armas e logo Bobbi apareceu do meu outro lado com seus bastões. Em questão de instantes, a rampa começou a descer. Esperamos até que estivesse totalmente baixa, e, como ninguém apareceu, saímos. Analisamos o perímetro, mas estava seguro.
- Tudo limpo. – disse – Podemos seguir.
Era um tipo de floresta com árvores médias e altas, que provavelmente levaria a uma estrada. Aquela área onde estávamos se assemelhava a uma clareira, um bom lugar para pousar. Seguimos mais e pisei em algo fofo. Olhei para baixo, apontando a lanterna também para lá e me surpreendi ao ver tudo branco. Era neve.
- Isso é neve? – parecia surpreso como eu.
- Estamos no inverno. – Daisy disse.
. Mas lá de cima não havia nenhum indício de que poderia ter nevado. – eu franzi o cenho.
- Deve ter acontecido há alguns dias. – Bobbi respondeu.
Caminhamos mais alguns metros. e Daisy iam à frente e Bobbi e eu protegíamos a retaguarda. Chegamos perto de algumas árvores e nos recostamos nelas. Eu fiz um sinal para e ele me acompanhou. Saímos de trás dos troncos cautelosamente e não havia nada. As duas vieram logo em seguida.
Continuamos por quase uma hora. Quando disseram que a localização de Bucky ficaria longe do quinjet, não exageraram.
- Quanto falta ainda? – resmunguei.
- Pouco. – Bobbi respondeu.
- Não seria mais fácil se o quinjet ficasse invisível? – parei por um segundo, baixando a pistola.
- GOLDEN, CUIDADO! – berrou.
Antes que eu pudesse ver do que ele falava, me segurou pela cintura, nos atirando no chão. Ergui a cabeça rapidamente e só aí vi o que acontecia. Dois agentes, provavelmente da HIDRA, atiraram em minha direção. Daisy ergueu uma de suas mãos e então as balas pararam no ar, caindo na neve.
Me levantei depressa e disparei contra os dois, mas eles se esquivaram e vieram até nós. Só podiam ser idiotas, pois estávamos em vantagem. Sem contar que um de nós tinha super poderes. Foi então que mais dois deles apareceram.
Sem esperar a ação de alguém, corri na direção de um deles. Desviei-me de dois disparos e quando cheguei bem perto, pulei, me apoiando em sua perna. Com isso, tomei impulso para cima e enlacei minhas pernas em seu pescoço, o fazendo girar e cair desacordado. Me apoiei com um joelho e uma mão no chão e olhei para os outros.
Bobbi acertava seu bastão bem no rosto de um, o fazendo cair desmaiado. Daisy precisou apenas lançar um dos homem contra uma árvore. Já atirou de onde estava, como sempre, acertando em cheio e fazendo o cara tombar de vez. Fui até eles e nenhum de nós havia se machucado.
- Vamos nos adiantar. – Bobbi disse – Esses foram apenas a entrada.
- Até imagino como será o prato principal. – fiz uma careta.
Começamos a correr pela floresta e graças a neve o som de nossos passos não eram ouvidos. Após dez minutos paramos atrás de alguns arbustos e a agente Morse apontou uma coisa. Erguemos nossas lanternas e eu pude ver. Era um galpão abandonado. A vegetação ao redor já tomava conta e os vidros das janelas estavam quebrados em sua maioria.
- Ele está aí? – perguntei.
- Sim. – ela respondeu.
Finalmente o havíamos encontrado. Eu só não fazia ideia do que faríamos agora. Eu entraria sozinha e rezaria pra que Bucky não me estrangulasse ou seria escoltada como o presidente dos Estados Unidos? Eis a questão.
Capítulo 5 - Soldado Invernal
Recostei-me na parede lateral do galpão com minha arma empunhada a altura do peito. Minha respiração estava levemente descompassada, mas eu consegui manter a calma. Dei uma rápida olhada em volta, não vendo mais do que alguns palmos à minha frente, então voltei minha atenção para os arbustos de onde havia acabado de sair.
Soltei um suspiro resignado, afinal, não podia mais voltar atrás. Tínhamos discutido há alguns minutos como entraríamos e, por insistência minha, ficou decidido que eu iria sozinha. Maldita língua essa que eu carrego dentro da boca.
- Eu tenho que convencê-lo, então tenho que entrar sozinha ou ele vai se assustar. – eu repeti irritada o que tinha dito para minha equipe – Ótimo, Golden. Agora você está à mercê de um completo insano.
Imediatamente após minhas palavras, fechei os olhos e respirei fundo, me condenando por pensar daquela forma. Bucky não tinha culpa de ser o que era. A HIDRA criou uma máquina de matar, mas a SHIELD podia mudar isso. Eu podia mudar isso.
Abri os olhos e fitei mais uma vez os arbustos, agora escuros por conta da noite e fiz o sinal combinado, mostrando que entraria. Em segundos, vi um vulto correr a passos inaudíveis para o outro lado do galpão. Era . Ele me cobriria na entrada, enquanto Daisy e Bobbi vigiariam os arredores.
Fiz mais uma vez o sinal, balançando levemente minha mão direita para frente e então fui. Caminhei a curtos passos, sentindo minhas botas afundarem na neve. Por sorte nossas roupas mantinham nossa temperatura. Parei e inclinei minimamente minha cabeça para que pudesse enxergar as portas de madeira na entrada. Estavam fechadas, mas não trancadas. Avancei e quando parei para abrir um lado do portão, senti às minhas costas com sua arma empunhada na direção da floresta.
Abri a tranca e com o pé empurrei a porta devagar, causando um baixo rangido, mas nada com que devêssemos nos preocupar. Aproximei-me, olhando pela fresta, mas tudo estava escuro, por isso peguei minha lanterna e a segurei sobre o braço que tinha a pistola.
- Vou entrar. – eu sussurrei para .
- Tem certeza que não quer que eu vá com você? – ele perguntou sem tirar os olhos do perímetro.
- Tenho. – respondi.
- Golden. – ele me chamou, antes que eu avançasse.
- O quê? – perguntei.
- Tome cuidado. – ele pediu.
- Certo. – balancei a cabeça positivamente, mesmo que ele não me olhasse.
Respirei fundo e empurrei a porta mais um pouco, passando espremida pelo pequeno espaço aberto para não chamar atenção. Naquele instante, mergulhei numa sufocante escuridão. O único ponto de iluminação que havia ali era de minha lanterna, que me mostrava pouco.
Há seis meses deixei a SHIELD e achei que nunca mais voltaria. Achei que não precisaria mais passar por coisas assim, nem que arriscaria minha vida. No entanto, o dever de proteger pessoas e lutar a favor de justiça foram mais fortes e não hesitei nem por um segundo quando aceitei retornar. E agora eu estava aqui, num galpão abandonado, torcendo para que o Soldado Invernal quisesse conversar comigo.
Passei a língua sobre os lábios enquanto minha lanterna iluminava caixotes vazios, empilhados um sobre o outro, latões de metal e algumas outras tralhas. Não havia nenhum sinal de que alguém sequer havia passado por aquele lugar. Ergui o feixe de luz e ele clareou algo semelhante a um interruptor. Suspirei aliviada e caminhei até lá.
Quando já erguia minha mão para ligá-lo, porém, senti alguém atrás de mim. Pelo jeito de andar, era um homem. Mas com certeza não era . Acho que ele percebeu que eu o tinha notado, pois assim que me virei, um punho veio em minha direção, me dando tempo apenas para desviar.
Me joguei no chão, rolando para o lado e me apoiando num joelho. Então ergui a lanterna e então o vi. Como um fantasma em meio à escuridão, o Soldado Invernal me encarava de forma mortal. Acho que ele não estava nem um pouco contente de ter sua casa invadida. Talvez essa fosse a explicação para ele avançar mais uma vez em minha direção.
- Droga... – murmurei e me levantei.
Eu não podia fazer muito barulho, pois chamaria a atenção dos outros e talvez dos agentes da HIDRA e isso colocaria tudo a perder. Por isso, minha opção foi tentar desacordá-lo. Bem difícil, mas não impossível. Também avancei e desviei de seus golpes. Todo cuidado seria pouco, já que se aquele braço de metal me acertasse, eu estaria ferrada.
Eu ainda segurava a pistola e a usei para barrar seu braço cibernético, dando-lhe um golpe suficientemente forte para lançá-lo pra trás. Então corri até o interruptor e o liguei, revelando todo o lugar e o quanto estava deteriorado. Olhei para o soldado e ele parecia ainda mais irritado.
Ele veio com o punho erguido, mas socou o ar. Tentei acertá-lo também, mas ele segurou meu punho com sua mão normal. Tentei chutá-lo do lado do corpo, mas então ele segurou minha perna. Merda. Nos encaramos por um instante e tive certeza de que morreria.
Porém, diferente do que esperei que ele faria, Bucky me lançou para longe e eu me espatifei sobre os caixotes de madeira, causando um barulho considerável. Entretanto, não me machuquei muito e me levantei, tirando outra arma de meu cinto. Essa só daria uma fritada nos circuitos dele, nada de mais.
Já estava prestes a disparar a arma de choque, quando ouvi a porta do galpão ser aberta com um chute e uma pessoa entrar. Com sua pistola apontada para o alvo, não hesitou em atirar. As balas foram bloqueadas, porém, quando Barnes ergueu seu braço, protegendo-se. continuou, mas nenhum tiro o acertou. Se aproveitando disso, Bucky correu até ele, que continuava a disparar. Ao perceber que atirar não adiantaria, o agente partiu para o combate corpo a corpo.
- , não! – eu o repreendi.
Ele não era tão bom em combate como com uma pistola em mãos. E isso ficou evidente quando, após apenas algumas tentativas, o Soldado Invernal segurou o seu braço e o torceu para trás, passando seu braço metálico no pescoço de , começando a enforcá-lo.
Assustada, corri na direção deles e apontei a arma de choque na direção de Bucky. No mesmo segundo ele me encarou, mas sem deixar de sufocar .
- Solta ele! – ameacei – Ou eu atiro!
Aquela ameaça não pareceu amedrontá-lo, pois ele apenas sorriu de forma sádica e apertou mais seu braço ao redor do pescoço de . Sem pensar, dessa vez ergui minha pistola. Dessa vez, Barnes ficou sério.
- Solta ele ou eu atiro. – sussurrei – Eu não estou blefando.
Apesar do perigo de perder a vida, Bucky Barnes não recuou. Continuou segurando o agente enquanto lançava um olhar assassino pra mim. Por um segundo senti o que as pessoas que o enfrentaram e que saíram vivas relataram. Aqueles olhos azuis refletiam violência. E eram assustadores.
No entanto, havia algo mais. E eu vi. Havia ali um pedido de ajuda escondido sob as camadas de defesa que ele criou. Eu vi. E foi isso que me moveu a agir como agi. Mesmo sem saber quais seriam as consequências.
- Tudo bem. – falei com calma e ergui as mãos, com se estivesse me rendendo – Não precisamos fazer isso. Não assim.
Abaixei-me lentamente e coloquei as duas armas no chão. Bucky continuava a me encarar. Eu sustentei o olhar e então chutei a pistola em sua direção. arregalou os olhos, mas eu sabia o que fazia.
- Eu não preciso disso, não quero te machucar. – minha voz continuava incrivelmente branda – Queremos apenas conversar com você. Sei o que está passando, só quero ajudar.
Bucky não expressou nenhuma emoção, continuando apenas com seus olhos sobre mim. Quando falei sobre ajudá-lo, o vi vacilar, mas isso foi tão rápido quanto o alívio que senti. Por isso, insisti.
- Por favor! – continuei com as mãos erguidas na altura dos ombros – Bucky, só queremos ajudá-lo, não somos seus inimigos.
Foi então que sua expressão se transformou. Em um segundo ele parecia estar disposto a nos matar, no outro, estava confuso. E mais uma vez, seus olhos me mostraram isso. Ele estava ponderando, pensava se podia mesmo confiar no que eu disse e fitou o chão de forma desorientada.
- Bucky, por favor... - inclinei minha cabeça um pouco para o lado e o chamei outra vez – Só queremos ajudá-lo.
Às minhas palavras, ele ergueu seu rosto e parecia ainda estar confuso. Arriscando-me, dei um passo para frente e comecei a baixar as mãos aos poucos. Mas, para minha surpresa, Bucky reagiu e largou , indo até a pistola e a pegando. Ele a apontou bem para minha testa, pois estávamos próximos.
- Me dê apenas um motivo para não atirar. – sua voz saiu entredentes.
Engoli seco. Eu realmente achei que ele havia cedido, mas me adiantei. Agora tinha um cano de arma apontado bem para meu cérebro, prestes a explodir meus miolos. E por essa eu não esperava.
Capítulo 6 - Teste
Continuei fitando Bucky e ele parecia determinado a explodir meus miolos. Não me movi, mas mentalmente, pensava em como havia sido estúpida. Era óbvio que ele não confiaria em mim assim. Não tão rápido.
- Achei que tinha dito que queria conversar. – ele disse e vi que estava furioso – Onde estão suas palavras agora?
Por um segundo, desviei meu olhar para a arma bem perto do meu rosto, mas logo voltei a encará-lo. Seus olhos estavam cravados em mim. Eu precisava dar um jeito nisso.
- Está bem. – tentei não vacilar – Achei que isso nunca aconteceria, mas se está me convidando pra um bom papo, eu não posso recusar o convite.
- Acha que estou brincando? – dessa vez ele encostou a arma na minha têmpora
No mesmo segundo, , que estava retomando o fôlego, pegou a arma de choque que eu havia deixado no chão e a apontou para o soldado. Isso não era nada bom.
- ! – o chamei antes que ele fizesse algo ou que Bucky percebesse sua intenção – Será que poderia sair?
- O quê? – ele franziu o cenho
- Nos deixe a sós, por favor. – pedi mais uma vez – Creio que o sargento Barnes e eu temos muito que conversar.
Vi na expressão do agente que ele pensava em questionar aquela decisão. Porém, mesmo contrariado, ele se levantou com calma e começou a se afastar. Provavelmente, ele havia percebido que seria de maior ajuda se chamasse as garotas. O acompanhei com os olhos até que ele chegou à porta do galpão. Por um segundo hesitou, mas logo saiu.
Agora, era apenas Bucky Barnes e eu. O Soldado Invernal e uma agente da SHIELD. Claramente inimigos. E as coisas não estavam ao meu favor. No entanto, eu sabia como driblar a situação. Pelo menos achava que sim.
- Estamos sozinhos agora. – eu falei e sorri minimamente – Pode atirar se quiser, ninguém vai atrapalhar.
- Quer mesmo me testar? – ele se aproximou mais, pressionando o cano frio em minha pele, a ponto de doer.
- Se considera isso um teste, lamento informar. Você foi reprovado. – continuei com meu sorriso – Se quisesse me matar, já teria feito isso. Não estaria esperando meu consentimento.
- Não sabe com o que está lidando. – ele aproximou o rosto do meu e senti sua respiração açoitar minha face.
- Sei, claro que sei. – continuei inabalável por fora – Você é Soldado Invernal. O homem transformado numa máquina de matar, um soldado que cumpre todas as missões que lhe são designadas, independente do que seja.
Ele franziu cenho e apertou os lábios, como se não tivesse gostado do que eu falei. Afinal, quem gostaria de ser chamado de assassino? Antes que ele pudesse agir ou dizer algo, porém, inclinei minha cabeça levemente para o lado e abrandei minha expressão, continuando a falar.
- Mas também sei que é James Buchanan Barnes e que lutou na Segunda Guerra Mundial a favor do seu país, você salvou pessoas. – eu disse – Você foi um herói.
Ao ouvir minhas palavras, Bucky recuou dois passos. Mais uma vez, vi a confusão tomar conta de sua face. Como se estivesse sentindo uma imensa dor de cabeça, ele levou as mãos até as têmporas e as apertou, fechando os olhos com força. Aquelas lembranças pareciam atormentá-lo.
- Bucky... – eu o chamei e ele grunhiu – Você está bem?
- Esse nome... – ele continuou de olhos fechados.
- É o seu nome. – completei – Quer dizer... Seus amigos te chamavam assim.
Hesitante, me aproximei, mas ele me deu as costas. Soltei um suspiro inaudível, pois percebi que não seria fácil lidar com uma pessoa com sérios problemas de identidade.
- O seu nome é James. – falei e me aproximei mais – Eu gosto desse nome, sabia?
Ele não respondeu nada, continuou rosnando como se fosse um cão raivoso. Era para eu ter medo, mas não. Aquela crise me convenceu ainda mais de que ele precisava de ajuda. Bucky precisava de suas lembranças de volta. Precisava de sua vida.
- Ei, podemos dar um jeito nisso. – sussurrei, mas num tom que ele pudesse ouvir – Está me ouvindo? Eu posso...
Mas não consegui completar minha fala. Bucky virou-se de uma só vez em minha direção e agarrou meu pescoço com seu braço cibernético. Com força, ele me jogou contra uma das paredes do galpão, continuando a me enforcar.
Surpresa, levei minhas mãos até a sua, tentando tirá-la de lá, mas foi em vão. Ele era forte demais.
- Você é da SHIELD. – seu rosto estava bem próximo ao meu – Acha que vou confiar em alguém assim?
- Você... fugiu da... HIDRA. – tentei falar – Quem além... da SHIELD... pode... te proteger?
- Eu não quero sua ajuda. – ele falou entredentes.
- Bucky... – murmurei.
- Não! – ele se afastou, me largando – Cale essa boca!
Caí no chão de joelhos e levei minhas mãos até meu pescoço enquanto puxava o máximo de ar possível para meus pulmões. Ergui os olhos e vi caminhar para o outro lado do lugar, murmurando coisas sem nexo.
- Você não sabe onde está, nem que tempo é esse. – falei entre a respiração descompassada – Está fugindo há quase seis meses, mas não sabe pra onde ir.
Levantei com calma e me recostei na parede. Meu pescoço ficaria marcado e pra mim isso já bastava. Ainda assim, não desisti. Eu tinha uma missão a cumprir.
- Você não gosta quando eu te chamo de Bucky. – falei e ri abafado – Já parou pra pensar que esse nome te incomoda tanto por que faz parte do seu passado? Você tinha uma vida e sei que sabe disso. Você...
- Eu sei disso. – ele me interrompeu – Sei que há algo que foi... Tirado de mim. Mas não consigo saber o quê.
Arregalei os olhos admirada. Ele estava quase aceitando, eu sabia. Tinha me dito algo além de ameaças. E sua voz saiu diferente. Mais serena. Talvez aquela fosse minha chance.
Respirei fundo e me afastei da parede. Fui até Barnes, que estava de costas pra mim e parei a apenas alguns passos.
- A HIDRA roubou seu passado de você. – comecei a dizer – E a SHIELD pode devolvê-lo.
Bucky me encarou por cima do ombro e parecia bem menos ameaçador do que antes. Apesar de a luz do galpão não ser suficiente para que eu percebesse todos os detalhes, eu notei algo incomum em seus olhos. Pelo menos incomum de se ver em alguém como ele.
Seus olhos azuis estavam marejados. E aquilo tocou meu coração de uma forma que nunca imaginei que fosse possível.
- Eu vou te ajudar. – ergui minha mão em sua direção – Vou fazê-lo se lembrar. Eu prometo.
Ele se virou totalmente pra mim e fitou minha mão estendida com receio. Ficamos longos segundos assim. Eu o encarava e ele não tirava os olhos de minha mão. Até que, finalmente, o vi erguer a sua.
Prendi minha respiração ao imaginar sua pele tocando a minha. Será que estava fria? Afinal, ele não usava nada além de um moletom vermelho por cima do restante de sua roupa.
Quando nossos dedos estavam próximos, nos encaramos e eu sorri, o incentivando a continuar. No entanto, antes que isso acontecesse ouvimos um tiroteio do lado de fora e Bucky se assustou, se afastando de mim.
- O que é isso? – ele questionou
- Eu não sei. – olhei pros lados – Talvez seja a HIDRA.
- Você está com eles? – ele semicerrou os olhos – Está com a HIDRA?
- O quê? – ri sem humor – Não, eu sou uma agente da SHIELD, eu já disse.
- Isso não quer dizer nada. – ele se afastou mais
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o galpão foi invadido por umas cinco pessoas armadas. Xinguei todos os palavrões que conhecia mentalmente e corri até eles, mesmo sem nada para me defender. Bucky fez o mesmo e, passando por mim, chutou o homem que vinha logo na frente, o lançando longe. Em seguida, correu até ele e pegou sua arma, começando a atirar nos outros.
Eu me perguntei onde meus parceiros estariam, mas não parei e desferi alguns golpes num dos caras, tomando sua pistola. Acertei dois deles e olhei redor. Bucky não estava mais lá.
- Droga! – disse entredentes.
Corri para fora para não perdê-lo de vista e me surpreendi com o que encontrei. Minha equipe estava cercada e lutava contra umas dez pessoas. Fiquei sem saber o que fazer por um segundo, até que ouvi Bobbi gritar.
- Vá atrás dele! – ela falou, dando um chute numa mulher – Cuidamos disso.
Não respondi, apenas fiz o que ela falou. Segui a toda velocidade me direção à floresta. Em meio à escuridão não conseguiria ver pegadas, por isso deveria seguir meu instinto de espiã. Ele só podia estar lá.
Passei por algumas árvores até que um tiro passou ao meu lado. Olhei rapidamente pra trás e constatei que um dos agentes inimigos me seguia. Era só o que me faltava. Acelerei meus passos e me escondi atrás de um tronco, esperando que ele passasse por ali. Graças ao escuro, o homem pareceu não perceber isso e passou direto. Eu apenas sorri vitoriosa e atirei em sua perna, o fazendo cair.
Aproximei-me, pronta para desacordá-lo, mas ouvi um grito e me assustei, olhando na direção do galpão. Foi quando ouvi o homem aos meus pés se mover e me virei para ele apenas a tempo de recebe um tiro bem no abdômen. Abri a boca pela surpresa, mas nenhum som saiu. Ele atirou outra vez, no mesmo lugar e então caí de joelhos. Não, aquilo não podia estar acontecendo. Não agora.
Sem conseguir mais controlar meu corpo, caí de costas e olhe para o céu. Não havia quase nenhuma estrela naquela imensidão negra. Tanto que não percebi quando meus olhos se fecharam e mergulhei na inconsciência.
Capítulo 7 - Salva
Havia carros dos dois lados da rodovia. Não poderíamos passar. Tentei pensar em algo, mas a dor não me deixava raciocinar direito.
- O que vamos fazer? – falou ao meu lado – Se eles nos pegarem, vão nos obrigar a falar e depois vão nos matar.
- Ótima forma de me animar. – falei e depois fiz uma careta de dor.
- Você está bem? – ele perguntou.
- Não esquenta. – falei e depois olhei para a estrada.
Havia um barranco coberto de vegetação do lado direito. Ninguém poderia ver o que havia lá, a menos que descesse. Aquilo me deu uma ideia.
- Vamos sair daqui. – eu falei e então pisei no acelerador.
- Golden, não tem como passar! – berrou.
- E quem disse que vamos passar? – segurei o volante com força.
Continuei seguindo em frente e quando estava a apenas poucos metros de distância do primeiro carro, girei o volante com tudo. As rodas riscaram o chão, fazendo um barulho ensurdecedor e o veículo bateu numa das motos antes de ir com tudo na direção do barranco.
- O que está fazendo? – gritou assustado.
- Pula agora! – gritei, já abrindo a porta ao meu lado.
Sem esperarmos mais nada, pulamos do carro, no momento que ele alcançou o chão e capotou três vezes. Graças aos arbustos altos, não era possível nos ver. Eu ainda sentia todas as dores da queda quando ouvi algo acertar os destroços e tudo explodiu. Baixei a cabeça e esperei até as chamas diminuírem, então ouvi o som dos carros e motos deixando o lugar.
Ergui meu rosto e comecei a me arrastar pelo chão em busca do meu amigo. Ele não deveria estar longe. Mas eu estava fraca, não parava de perder sangue e pular de tão alto a uma velocidade tão grande não ajudou nem um pouco. Parei e respirei fundo, tentando fugir da inconsciência. Foi quando senti uma mão tocar meu ombro bom.
- Golden. – sussurrou.
- ... – falei aliviada.
- Eles já foram, devem pensar que estamos mortos. – ele me ajudou a levantar – Vamos sair daqui.
Sem dizer nada, meu amigo me pegou no colo. Eu não protestei, sabia que precisava de ajuda até estar em melhores condições.
- Vamos pra casa do seu tio. – disse.
- Tony Stark não é meu tio. – resmunguei mesmo sem forças.
apenas riu levemente enquanto me conduzia em meio a todo aquele mato. Naquele momento, eu não tinha mais forças. Mas me ajudaria. Então eu apenas fechei os olhos e finalmente a luz foi substituída pela escuridão.
Flashback –Off-
Abri os olhos assustada. Minha respiração estava descompassada e eu suava. Apesar de ter despertado, não conseguia enxergar nada, tudo estava embaçado. Remexi-me, mas então senti algo queimar em meu abdômen. Foi então que percebi que os tremores que dominavam meu corpo não tinham nada a ver com o sonho que tive.
Tentei me mover mais uma vez, mas a dor foi tão forte que gemi alto, chamando a atenção de quem quer que estivesse perto. Logo senti a pessoa ao meu lado, tocando minha testa.
- Ela acordou. – era uma voz feminina – Mas está ardendo em febre.
- Vamos levá-la de volta. – alguém mais afastado disse – Vou nos colocar no ar.
- Ela vai sobreviver, não é? – outra pessoa perguntou, um garoto
- Não sei. – a garota ao meu lado falou mais baixo – Vamos torcer pra que nenhum órgão tenha sido atingido.
Tentei enxergar melhor, mas minha visão só piorou. E meu esforço me fez sentir ainda mais dor. Tanta dor que apaguei mais uma vez.
Algo estava me incomodando. E foi isso que me fez abrir os olhos. Assim que o fiz, olhei em volta e percebi que não estava mais na floresta e sim deitada numa cama de enfermaria. Foi então que me lembrei do que havia acontecido.
Eu tinha levado dois tiros no abdômen e desmaiado. E quem não desmaiaria, afinal, aquele filho da mão tinha uma boa pontaria. Olhei em volta e percebi que o que incomodava era a agulha de soro presa em meu braço. Fiz cara feia e tentei me levantar, mas foi praticamente impossível. Tudo doía.
- Achei que depois de levar um tiro no ombro você saberia que qualquer movimento é torturante. – de repente ouvi uma voz vir da porta, então olhei para lá
me observava com uma cara de desaprovação, talvez por eu estar me esforçando. Apenas soltei um suspiro e ele se aproximou, sentando na cadeira ao meu lado. O encarei e ele ergueu as sobrancelhas. Eu sabia qual pergunta viria a seguir, por isso tratei de falar.
- Não precisa perguntar se estou bem, tá legal?! – falei e minha voz saiu arrastada – Foram só dois tiros.
- Só dois tiros. – ele repetiu enquanto balançava a cabeça negativamente – Sabe quantos dias você ficou apagada?
- Uns dois? – calculei pela primeira vez que estive na mesma situação.
- Quatro dias! – ele ergueu os dedos para enfatizar – Por um momento achei que fosse mesmo morrer.
- Mas não morri. – revirei os olhos – O que talvez signifique que tive sorte.
- Golden, se você não tivesse chegado até o quinjet, não sei se teríamos te encontrado. – ele baixou os olhos – Sorte foi você ter conseguido caminhar até lá.
- O quê? – eu franzi o cenho.
me encarou confuso. Mas eu estava bem mais. Como assim, eu tinha caminhado até nosso quinjet? Se me lembrava bem, havia desmaiado na floresta. Não sei como aquele cara não terminou o serviço e acabou comigo de uma vez.
- , eu não caminhei até lá. – eu olhei pro nada – Eu desmaiei quase que de imediato.
- E como explica o fato de a termos encontrado perto da nossa nave, deitada sobre sua jaqueta? – ele disse e eu neguei com a cabeça – Até mesmo sua ferida estava enrolada com um trapo pra estancar o sangue.
Arregalei os olhos pela surpresa. Em minhas condições não havia nem mesmo como caminhar, imagine fazer um curativo improvisado. Vasculhei todas as possibilidades em minha mente, mas apenas uma fazia sentido. Sem que eu pudesse impedir, um sorriso surgiu em meus lábios.
- Foi ele. – murmurei ainda fitando o nada.
- Ele quem? – questionou.
- Bucky. – eu disse e então olhei para meu amigo – Bucky Barnes me salvou.
- Está querendo dizer que o Soldado Invernal fez isso tudo? – ele franziu o cenho – Desculpa, Golden, mas não tem como.
- E que outra explicação pode haver? – eu ri levemente – Nós éramos os únicos que tínhamos seguido floresta adentro.
- Eu sei, mas não faz sentido. – olhou pros lados.
- Por que não? – ergui as sobrancelhas.
- Por que ele é um assassino, não uma babá de garotas baleadas. – ele olhou pra mim ao falar.
Mordi meus lábios, tentando não falar nada que pudesse magoá-lo, o que foi bem difícil. Para minha sorte, Bobbi e Daisy adentraram o quarto, vindo até mim. Desviei minha atenção do agente e as encarei, mostrando um leve sorriso.
- Vejam só, a garota de ouro acordou. – Bobbi falou, parando ao meu lado.
- O agente nos contou por que te chamam de Golden. – Daisy riu – É uma boa história.
- É sim. – eu disse, mas não olhei para .
- Está se sentindo melhor? – Bobbi perguntou.
- Sim. – eu disse e continuei – Mas e a missão? O que vamos fazer agora?
Às minhas palavras, as duas se encararam e vi certo receio em suas faces. Dessa vez olhei para meu amigo, mas ele evitou meu olhar, o que me deixou inquieta. Havia algo errado.
- O que houve? – perguntei olhando de um para o outro – Algum problema com a missão?
- Bem, a missão é urgente. – Bobbi começou a falar ao perceber que ninguém o faria – Tínhamos um prazo para trazê-lo, mas depois do que houve, perdemos quatro dias.
- Prazo? – fiz uma careta.
- Sim. – Daisy falou dessa vez – Tínhamos duas semanas para trazê-lo, no máximo. Mas com você nesse estado não será possível.
- Por isso, o diretor Coulson está designando outra pessoa em seu lugar. – Bobbi completou.
- Não... – eu estava sem fala – Ele não pode...
- Sim, ele pode. – falou ao meu lado – Ele é o diretor.
Então, sem mais nem menos, ele se levantou e saiu. O acompanhei com os olhos e pensei que se estivéssemos sozinhos, eu lhe teria ditos muitas coisas inapropriadas. Assim que ele passou pela porta, voltei a fitar as garotas.
- O diretor não pode fazer isso. – apesar de estar irritada, minha voz ainda não tinha potência – Vocês precisam falar com ele.
- Já falamos. – Daisy disse.
- Então eu falo. – tentei me levantar, mas Bobbi me impediu.
- Nem pense nisso. – ela segurou meu ombro.
- Vocês não entendem. – mordi o lábio superior – O Bucky, ele estava quase concordando comigo. Se não fosse a HIDRA...
- É por isso que não podemos perder tempo. – a loira ressaltou – Eles o querem de volta.
- Mas... – falei e então soltei um suspiro e parei no meio da frase.
- É melhor que descanse. – Daisy falou e apertou minha perna de leve – Nos vemos depois.
Eu apenas balancei a cabeça positivamente. Elas saíram e então fiquei sozinha. Recostei a cabeça no travesseiro e fitei o teto. Eu não havia voltado para a SHIELD apenas para ser um peso morto. Concordei com aquela missão e a cumpriria, nem que precisasse levar outro tiro.
Sem cerimônias, arranquei a agulha do soro do meu braço e a deixei de lado. Ignorando qualquer dor, coloquei os pés pra fora da cama. Assim que meus pés descalços tocaram o chão me arrepiei, mas segui em frente. Ergui-me e mordi os lábios com força. Levei uma mão até a barriga e a apoiei lá.
Respirei fundo e caminhei até a porta, segurando em qualquer coisa que servisse de apoio. Segui pelos corredores da base e as pessoas me olhavam assustadas, mas não ousavam se aproximar. Talvez pelo fato de eu as encarar feio. Apesar de não ser de propósito, mas sim por conta da dor, até que tinha serventia.
Finalmente cheguei onde queria. A sala do diretor. Após dar algumas batidas na porta, ouvi Coulson dizer que eu entrasse. Puxei ar para os pulmões e girei a maçaneta, abrindo a porta. Entrei e todos os que estavam ali me encararam surpresos. Antes que alguém pudesse dizer algo, eu me pronunciei.
- Diretor, precisamos conversar. – tentei parecer o mais confiante possível e completei – A sós.
Capítulo 8 - Nova Chance
Todos os que estavam na sala ficaram olhando para minha cara como se eu fosse uma maluca que acabou de fugir do hospício. Se bem que minha cara deveria ser mesmo essa. Entre eles estavam Bobbi e , que pareciam estar à beira de um ataque de nervos. Eu, porém, não dei à mínima.
- Diretor, por favor, preciso falar com o senhor. – falei, apertando a maçaneta da porta – É urgente.
- Agente Potts. – Coulson não parecia surpreso – Achei que ainda não tivesse recebido alta.
Eu respirei fundo. Ficar de pé não estava sendo muito bom, principalmente pelo fato de que parecia haver alguém esfaqueando minha barriga. Fitei o teto, buscando forças e então entrei mesmo sem receber ordem para isso. Eu já tinha invadido a sala mesmo, que diferença faria?
- Agente Potts, eu disse que não deveria ter saído. – Bobbi se levantou da cadeira que estava e veio até mim.
- Eu preciso resolver esse assunto. – a ignorei e continuei caminhando.
- O assunto já foi resolvido. – Coulson então falou, me fazendo parar de caminhar.
O fitei sem saber o que dizer. Então ele tinha mesmo me chutado da missão. Ótimo. Mas eu não desistiria tão fácil. Travei o maxilar para suportar a dor e voltei a caminhar a passos lentos. Assim que cheguei até sua mesa, me apoie nas costas da cadeira onde Bobbi estava sentada antes e soltei o ar pela boca.
- Isso é loucura. – murmurou ao meu lado.
- Sim, é. – Coulson concordou – A levem de volta para o quarto e só a deixem sair quando estiver melhor.
- Não! – falei automaticamente – Senhor, por favor, eu só preciso de uma explicação. Apenas me diga o motivo de ter me removido dessa missão. Depois faço o que quiser.
Phill me encarou como se cogitasse minha proposta. Então, após longos instantes ele se levantou e olhou para os outros dois.
- Nos deixem a sós. – ele disse apenas.
- Mas, diretor... – tentou protestar.
- Não se preocupe, agente , não vamos demorar. – ele o interrompeu – Afinal, sua amiga merece uma explicação, não acha?
não respondeu. Apenas suspirou resignado e saiu, sendo seguido pela agente Morse. Comemorei mentalmente por ter sido mais fácil do que pensei e então o encarei. Eu precisava mesmo de uma boa explicação.
- Por que não se senta? – ele disse, apontando a cadeira onde eu me escorava – Parece não estar muito bem.
- Obrigada, senhor. – agradeci, me sentando.
- Engraçado. – ele também se sentou – Primeiro você chega aqui e invade minha sala exigindo explicações e agora é educada?
- Às vezes eu posso até passar dos limites, mas sei como tratar meus superiores. – ajeitei minha postura – Mesmo que eu não concorde com eles.
- E você não concorda comigo. – ele completou.
- Com todo respeito, não. – fui sincera – E acho que dessa vez o senhor vai ter que me explicar por que está me removendo da missão.
- Achei que não quisesse fazer essa missão. – ele ergueu as sobrancelhas.
- Bem, eu... no começo tive certo receio, não me sentia preparada. – admiti – Mas depois que vi Bucky Barnes mudei completamente minha forma de pensar.
- E por que diz isso, agente? – Coulson franziu o cenho.
Aquela pergunta me fez sorrir. Como eu poderia explicar o motivo de minha mudança de pensamento? Antes eu tinha dúvidas quanto a se aquela missão valia mesmo a pena. Agora, eu tinha certeza que sim.
- Eu conversei com ele, senhor. – eu falei – E em poucos minutos percebi que ele precisa de ajuda. Ele não é apenas um soldado que teve a mente apagada, é um homem que precisa de sua vida de volta. E precisamos ajudá-lo.
- Seus amigos a chamam de Golden, não é mesmo? – ele disse e eu apenas confirmei com um aceno de cabeça – A garota de ouro que vê o bem em todos.
- Quase todos. – ressaltei.
- Um dia gostaria de saber toda sua história. – ele disse – Mas, por enquanto, se recupere.
- Diretor, me dê apenas uma chance. – dessa vez eu implorei – Sei que não me recrutou de volta por nada, que não me escolheu como porta-voz a toa. O senhor me deu uma missão e eu gostaria de cumpri-la. Me dê só mais uma chance.
- Apenas me responda uma coisa. – ele disse e eu concordei – Acha que Bucky Barnes pode ser salvo?
- Todos podem ser salvos, senhor. – eu respondo convicta – Basta quererem isso.
Coulson sorriu de canto diante de minha resposta e se levantou mais uma vez. O observei circundar a mesa e caminhar até uma estante repleta de livros. Entre eles, havia uma caixa preta, o que me deixou curiosa. Ele a pegou e a abriu, tirando algo de lá. Depois veio até mim.
- Terá mais uma chance, agente. – ele disse e me estendeu o que tinha – Apenas uma.
Olhei para suas mãos, avistando um pequeno frasco de vidro com um líquido marrom. Parecia estranho. Mesmo assim, o peguei, voltando a fitá-lo.
- O que é isso? – perguntei.
- Vai fazer sua ferida cicatrizar três vezes mais rápido. – ele respondeu – Eu usei isso quando perdi meu braço.
- Espera... – abri a boca, abismada – O senhor perdeu o braço? Como assim?
- Isso é algo que não vai querer saber. – ele riu.
- Me desculpe. – baixei o rosto.
- Confio em você, garota. – ele disse e eu o fitei – Não me decepcione.
- Não vou. – sorri contente.
- Bem, acho que nossa conversa termina aqui. – ele se sentou novamente.
- Só uma pergunta. – me levantei – Por que me tirou mesmo da missão?
- Isso não importa mais. - ele sorriu.
Também sorri e depois caminhei na velocidade que podia, chegando até a porta. A abri enquanto apertava o frasco de vidro com força e saí, ainda sorrindo. Eu tinha conseguido. Eu traria Bucky de volta. Iríamos ajudá-lo. E isso me deixava muito feliz. Mais do que eu pensei que poderia ficar.
- Golden! – de repente, ouvi alguém me chamar e me virei na direção da voz.
- ? – franzi o cenho enquanto via meu amigo se aproximar – O que você...
Mas ele não me deixou terminar de falar. Pegou-me no colo e começou a caminhar, ignorando meus protestos. Ele caminhou sem dizer nada até que estávamos de volta ao quarto da enfermaria. Ele foi até a cama e me colocou lá, então se virou e caminhou para fora. No entanto, o chamei antes que passasse pela porta.
- Ei! – eu disse e ele parou, continuando de costas – Qual é o seu problema?
De início ele não respondeu, continuou apenas parado, imóvel. Aquele garoto estava me irritando de verdade.
- , por acaso está surdo? – insisti – O que há com você?
- O que há comigo? – ele ressaltou a última palavra – Por acaso sou eu que estou tentando me matar?
- Será que poderia parar de ser tão dramático? – ri sem humor – E olha pra mim, tá legal?
- Golden, eu só estou sendo realista. – ele finalmente se virou e veio até mim – Não pode continuar nessa missão, não está preparada.
- O diretor Coulson não pensa assim. – eu enfatizei.
- Então quer dizer que está de volta? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Para sua alegria. – sorri de maneira cínica.
- Você é impossível. – ele sacudiu a cabeça negativamente.
- Só estou cumprindo a minha missão. – dei de ombros – Deveria saber que um agente nunca foge de missões.
- E como acha que vai voltar se não se recuperou ainda? – ele questionou.
- Quanto a isso, não se preocupe. – eu pisquei para ele.
O agente apenas suspirou pesado e caminhou para a saída. Eu apenas revirei os olhos.
- Apenas descanse. – ele continuou andando – E não faça nenhuma doideira.
- Prometo que vou descansar. – falei alto e depois baixei minha voz – Quanto a fazer doideiras, nem tanto.
Fitei o frasco que o diretor havia me dado. Se ele tinha tomado daquilo e ainda estava de pé, significava que eu também ficaria. Pelo menos, eu contava com isso.
Eu tinha tomado o líquido marrom que Coulson me deu. E aquele troço era ruim demais. Meus colegas quiseram saber como me recuperei tão rápido, mas seria segredo. Era legal vê-los me encarando como se eu fosse o Capitão América ou algo semelhante.
Nesse meio tempo não voltei pra casa. Pepper e Tony não sabiam onde eu estava, mas já deveriam suspeitar. Eu não tinha sido muito clara no bilhete que deixei. Fiquei dois dias me recuperando, enquanto minha equipe buscava a nova localização do Soldado Invernal. E nós o encontramos.
- Precisamos nos adiantar. – Bobbi entrou na sala de treinamento – Daisy encontrou a posição do soldado.
- É Bucky! – eu a corrigi enquanto desferia dois socos nas mãos protegidas de .
- Que seja. – ela disse e foi até seus bastões – Se preparem, pois partiremos em uma hora.
- E para onde vamos? – nos aproximamos dela.
- Ele está em Paterson, Nova Jersey. – ela respondeu – Fica há uns vinte e sete quilômetros de Nova Iorque.
- Como esse cara consegue chegar até esses lugares? – abriu os braços – Há uma semana ele estava no Canadá.
- Não deve ser difícil pra alguém que viveu nas sombras por tanto tempo. – eu disse, desenrolando a gaze de minha mão direita.
Arrumamos nossos pertences e seguimos para o hangar. Daisy já nos esperava com um laptop em mãos. Juntos, subimos no nosso quinjet e logo a agente Morse já nos tinha colocado no ar. A viagem não demoraria, mas seria melhor nos prevenir. Uma nave no céu era bem mais segura do que um carro no solo. Eu bem sabia disso.
- Chegaremos em cinco minutos. – Daisy disse – Vamos fazer como antes, mas com uma diferença. A agente Potts ficará na retaguarda e não na linha de frente.
- Posso protestar? – inclinei a cabeça para o lado
- Não. – ela disse – Você ainda não está cem por cento bem, por isso não vamos arriscar seu pescoço assim. Já basta a primeira vez.
- Tudo bem. – fingi me render – E quem será meu guarda costas?
- Eu. – disse – Estou incumbido de não deixar que faça nenhuma besteira.
- É claro. – eu ri – Você não vive sem mim.
- Pode apostar. – ele revirou os olhos.
Daisy riu de nossa atitude, mas voltou a nos dar as instruções. Ela abriu seu computador portátil e nos mostrou um mapa. Eu o observei com atenção.
- Ele vai estar nesse quarteirão. Tem umas casas abandonadas bem aqui. – ela apontou uma rua – Ele chegou lá há dois dias.
- A HIDRA sabe disso? – perguntei.
- Não há como saber. – ela falou – Mas é provável que sim. Só não sabemos por que não foram até ele ainda.
- Então vamos ser rápidos. – falou.
- Sim, mas não poderemos nos expor. – ela nos alertou – Por isso estamos vestidos como pessoas normais. Entraremos em área urbana.
- Legal. – eu disse apenas.
Então, sentimos um solavanco, mostrando que o quinjet tinha acabado de pousar. Nos levantamos e esperamos Bobbi. Assim que ela se juntou a nós, saímos da nave. Ela a tinha pousado fora da cidade, para evitar problemas. Diferente da primeira vez, o dia estava quente. O sol da tarde brilhava sobre nós e eu já sentia o calor tomar conta do meu corpo. Mas aquela sensação era suportável. Já havia passado por outras bem piores.
Logo estávamos dentro da cidade, então seguimos em direção ao bairro onde Bucky provavelmente estaria. Por uns minutos paramos e compramos algo para comer numa pequena mercearia, então Daisy e Bobbi seguiram primeiro. Em seguida, e eu saímos do local, as avistando de longe. Caminhamos na direção que elas iam.
Tomei um gole do refrigerante que comprei depois de dez minutos de caminhada. Paterson era maior do que parecia. Olhei para as garotas e elas viraram no quarteirão de nosso destino. Apenas as seguimos e ao virar a esquina, encontramos uma rua como as outras, repleta de pessoas.
Foi quando, no meio do percurso, vi alguém nos observando do outro lado da rua. Olhei na direção da pessoa e um homem com um boné estava parado lá, com as mãos nos bolsos da calça jeans. No mesmo segundo o reconheci e instantaneamente um calafrio percorreu todo meu corpo. Era ele. Era o Soldado Invernal.
Capítulo 9 - Me Faça Entender
Assim que nossos olhos se encontraram percebi que ele havia me reconhecido. Bucky sabia quem eu era. No entanto, essa conexão não durou mais que alguns instantes suficientes para que eu soubesse quem ele era, então ele se virou e começou a caminhar novamente entre a multidão.
Nesse meio tempo, eu havia reduzido meus passos, a ponto de quase parar, deixando seguir alguns metros na frente até que notasse que eu não estava ao seu lado. Quando o Soldado Invernal me deu as costas, apressei meus passos e fui até meu amigo, tocando seu cotovelo escondido pela jaqueta.
- O que houve lá atrás? – ele não parecia preocupado, mas eu sabia que ele queria apenas disfarçar.
- Temos que voltar. – eu falei.
- As garotas já viraram aquela outra esquina. – ele apontou discretamente com o queixo – Devemos segui-las.
- , eu acabei de vê-lo. – eu finalmente disse – Eu vi Bucky Barnes.
Após minhas palavras, os passos do agente se tornaram mais lentos e ele fitou meu rosto. Parecia surpreso e, sinceramente, eu sabia como ele se sentia. Quando avistei Bucky, senti minhas pernas tremerem, até achei que virariam gelatina. Mas deveríamos deixar tudo isso pra lá e voltar para a missão.
- Onde? – ele perguntou.
- Do outro lado da rua. – minha voz estava num tom baixo para que apenas ele ouvisse – E agora está seguindo naquela direção.
Apontei discretamente na direção que Barnes seguiu e depois encarei . Ele parecia decidir o que fazer. Mas eu não esperaria que Bobbi e Daisy voltassem, tínhamos que ir em frente, elas nos alcançariam depois.
- Vamos. – eu fiz menção de que atravessaria a rua.
- Mas estamos designados para assumir a retaguarda. – ele falou receoso – Não podemos...
- Não podemos perdê-lo. – parei e fingi estar olhando se não vinha algum carro – A HIDRA pode aparecer a qualquer momento e acabar com a nossa festa.
- Tudo bem. – ele cedeu e parou ao meu lado - Vamos.
Atravessamos a rua com passadas rápidas e assim que chegamos ao outro lado, seguimos pela calçada. Nos desviávamos das pessoas sem problemas e bem afastado de nós eu o via caminhar entre elas. O acompanhamos de longe por longos minutos e aproveitou para avisar para as garotas onde estávamos indo.
De repente, ele virou numa rua e eu me alertei. Tínhamos que nos apressar ou Bucky poderia sumir.
- Vamos. – cutuquei e começamos a ir mais depressa
- O que esse cara quer, afinal? – ele questionou.
- O que quer dizer? – fiz outra pergunta.
- Se ele quisesse fugir de nós já teria feito. – ele falou.
Eu raciocinei no que ele disse e percebi que estava certo. Se Bucky quisesse fugir, já teria fugido e então precisaríamos sair de nossos disfarces, para persegui-lo melhor. Mas não. Ele andava como se... Era isso! Ele queria que fôssemos até ele. E eu iria.
Soltei um risinho ao virarmos a esquina e dessa vez havia menos pessoas na rua. Cada vez que avançávamos, menos as encontrávamos. Até que adentramos uma via deserta. Nela, poderíamos seguir adiante ou então virar mais uma vez. O problema era que perdemos o soldado de vista.
- Droga! – resmungou.
- Vamos nos dividir. – eu disse – Você segue direto e eu entro naquela rua.
- O quê? – ele franziu o cenho – Golden, não vou me afastar de você.
- As garotas já estão vindo, não é? – eu parei e me virei para ele – Diga a Daisy para me seguir e Bobbi vai com você.
- Golden... – ele tentou falar, mas o interrompi.
- Vou fingir que não estou te escutando. – me virei para o outro lado.
- Por que não deixa de ser criança? – ele estalou a língua, visivelmente irritado.
- Escuta, ... – me virei novamente em sua direção – Vou seguir por ali e você por lá. Se me seguir, vou derrubá-lo e deixá-lo no meio da rua, até que as meninas te encontrem.
- Você é uma pessoa irritante. – ele disse, mas notei que não falava a sério – Como podem te chamar de Golden?
- Eu posso ser boa. – balancei os ombros – Mas não sou idiota. Agora vamos.
Ele não me contrariou mais. Avisou as outras agentes nosso plano e depois seguiu reto. Eu entrei na rua, me deparando com uma menor que as outras. Ela era mais estreita e dava para o fundo de prédios e casas mais antigos. Pareciam estar abandonados. À frente com certeza deveria ser a rua que Daisy havia nos mostrado no mapa.
Seria muito óbvio que Bucky viesse pra lá. Se bem que ele não sabia que conhecíamos seu possível esconderijo. Pensando assim, segui e observei as casas. Analisei-as de longe para notar algo pelas janelas como um vulto ou uma sombra, mas não vi nada. Então cheguei mais perto. Estreitei-me pelas portas dos fundos, porém, não havia ninguém.
Quando estava na última casa, ouvi algo na casa anterior. Algo que uma pessoa comum não teria notado. Mas eu era uma agente da SHIELD e não acreditava em devaneios. Quando um agente escutava algo, realmente havia algo.
Voltei sorrateiramente e parei ao lado da grande janela de vidro que dava na cozinha. A casa tinha mais dois andares, era grande. Mesmo assim, com toda minha atenção, vi algo se mover do lado de dentro. De onde estava, vi um corredor que daria talvez na sala. Nele, abaixado como um tigre pronto para atacar, havia um homem. A escuridão causada pelas cortinas da frente não me deixaram vê-lo, mas eu não precisava. Sabia que era ele.
Discretamente, fui até a porta e girei a maçaneta. Estava aberta. Peguei minha arma por precaução e empurrei a porta com o pé. Eu tinha essa mania. Em seguida, entrei. Olhei novamente para o corredor, porém, nos poucos instantes que usei para entrar, ele não estava mais lá. Baixei a pistola e fitei o nada. Bucky não podia ser tão rápido.
Mas ele era.
Sem que eu esperasse, ele veio por trás de mim e segurou minha mão com a pistola, talvez para tomá-la de mim. Virei-me para ele após ser surpreendida e tentei me libertar, mas ele era forte e mesmo com seu braço normal, conseguiu torcer meus dois braços até minhas costas, me imobilizando.
- O que está fazendo? – eu berrei.
- Quem mais está com você? – ele questionou e senti sua respiração bater em minha nuca.
- Sou só eu. – falei rapidamente – Será que poderia me soltar?
- E pra que a arma? – sua voz estava perto do meu ouvido.
- Pra o caso de você reagir assim. – falei num tom óbvio – Achei que já tivéssemos passado dessa parte.
Após longos segundos calado, Bucky finalmente me soltou. Soltei um suspiro leve e me virei para ele. Nos encaramos e não precisei me esforçar muito para saber que ele não me machucaria. Pelo menos não naquele momento. Resolvi agir.
- Desculpe por isso, só não queria ficar desprotegida. – falei mais calma – A propósito, não disse antes, mas meu nome é Golden.
Ele franziu o cenho ao ouvir meu suposto nome, o que me fez sorrir. As pessoas costumavam reagir assim quando o ouviam. Entretanto, Bucky logo desviou a atenção desse fato e voltou a assumir seu tom de alerta.
- O que quer aqui? – ele murmurou.
- Quero falar com você. – respondi – E já sabe o quê.
- Esqueça isso e suma daqui. – ele me deu as costas, caminhando na direção do corredor.
Eu soltei um risinho afetado. Ele não tinha me ameaçado ou coisa do tipo. O que era uma coisa boa. Comecei a segui-lo.
- Você não tem medo de mim. – eu disse, mas ele continuou andando – Se tivesse, não teria me dado às costas.
- Eu poderia acabar com você num segundo. – ele falou sem me encarar.
- Acho que não. – ri novamente – Eu tenho amigos lá fora.
Bucky parou de supetão e quase me bati em suas costas. Como um raio, ele segurou meus ombros e me imprensou na parede. Mas eu continuei sorrindo. Pela força usada, ele não me machucaria.
- Disse que estava sozinha. – ele aproximou o rosto do meu.
- E estou. – falei – Meus colegas não sabem que entrei aqui, mas se você pirar, posso avisá-los disso.
Continuamos a nos encarar e sua respiração levemente descompassada açoitava minha face. Não me importei e sustentei o olhar. Ele precisava saber que eu não o temia. Que só queria ajudá-lo.
- Sei que é difícil confiar em alguém agora, mas confie em mim. – sussurrei sabendo que, pela distância, ele ouviria nitidamente – Venha conosco e o ajudaremos.
- Você não me conhece. – ele falou no mesmo tom – Não pode entender nada do que aconteceu comigo.
- Então me faça entender. – eu pedi com sinceridade – E talvez cheguemos a um acordo.
- Eu sou a sua missão, não é mesmo? - ele disse e não esperou resposta – Quer me levar apenas para cumprir o seu dever.
- Parece que você também não me conhece, James. – eu sorri levemente ao pronunciar seu nome.
Ele ainda me olhava atentamente, mas se afastou, soltando meus ombros. Eu me desencostei da parede e guardei minha arma no coldre escondido pela jaqueta. Em seguida, voltei a mirá-lo.
- Eu quase morri da primeira vez que saímos a sua procura. – contei – Sabia que eles me removeram da missão por causa disso? Mas eu não permiti que me afastassem, lutei para voltar.
- Por quê? – ele perguntou.
- Por que sei que precisa de alguém que possa entendê-lo. – me aproximei – Minha missão não é apenas levá-lo, Bucky. Preciso que acredite em mim. Mas se não quiser vir, não vou poder mudar esse fato.
- Não vão me obrigar a ir? – ele me olhou de soslaio.
- Não. – eu apoiei uma mão na cintura – E se alguém tentar, vai ter que passar por mim primeiro.
Como se minhas palavras fossem uma invocação, um tiro atravessou a janela da frente, acertando a parede bem ao meu lado. Abri os olhos estupefata e só tive tempo de me abaixar quando novos disparos foram realizados de fora para dentro.
- A HIDRA está aqui. – falei deitada no chão, enquanto ouvia os tiros encherem o ambiente.
- Vocês costumam atrai-los, pelo que parece. – Bucky resmungou ao meu lado.
- Até por que o alvo deles é você. – falei ironicamente.
De repente, os tiros cessaram. Olhei para Barnes e percebi que ele pensava o mesmo que eu. Deveríamos sair dali. Mas, como a casa provavelmente estava cercada, só havia um jeito. Subir.
- Temos que subir. – eu falei baixo.
Ele apenas assentiu com a cabeça. Ainda fitando-o, comecei uma contagem regressiva, pois precisávamos levantar e correr ao mesmo tempo.
- 5, 4... – eu falava sem emitir nenhum som – 3, 2... 1.
Nos levantamos juntos e corremos em direção à escada. No mesmo segundo os disparos voltaram a quebrar o restante das vidraças das janelas, assim como despedaçar os poucos móveis. Subimos velozmente os degraus e eu já esperava que Bucky passasse em minha frente. Para minha surpresa, porém, ele agarrou minha mão e me conduziu até estarmos lá em cima.
Paramos no primeiro andar, mas então ouvimos a som da porta sendo aberta com violência, então seguimos para o segundo andar. Ganharíamos mais tempo. Logo estávamos lá e adentramos um dos quartos. Havia apenas uma cama velha e empoeirada lá. Soltei a mão de Bucky e corri até a janela da sacada. De lá, vi vários agentes da HIDRA esperando para aniquilar quem quer que passasse no seu caminho.
Sem delongas, informei o que acontecia aos outros e eles disseram que já estavam se encaminhando para lá. Depois, me virei para Bucky e quando ele também me fitou, notei um verdadeiro pânico em seus olhos azuis. Ele não queria voltar. Por um segundo, imaginei as atrocidades que lhe fizerem, o que me levou a me aproximar determinada.
- Bucky... – parei bem em sua frente, erguendo a cabeça para olhá-lo melhor – Eu não vou deixar que o levem, tá legal?
Ele desviou o rosto, mas em minha ousadia, segurei seu queixo, obrigando-o a me olhar. Ele não pareceu se incomodar.
- Vamos dar o fora daqui. – falei com convicção.
Capítulo 10 - Confie em Mim
Voltei até a janela e Bucky veio logo atrás de mim. Os lobos da HIDRA ainda estavam lá fora, com aquelas máscaras pretas sobre os rostos. Acho que queriam intimidar. Atrás de nós, eu podia ouvir o som dos passos de mais agentes inimigos. Eles estavam quase chegando ao quarto.
- , onde vocês estão? – perguntei pelo comunicador
- Estamos chegando. – ele disse e pela respiração entrecortada, deveria estar correndo – Falta apenas uma rua.
- Deem um jeito nos caras aí fora. – eu falei – Cuidaremos do resto aqui dentro.
- Certo. – ele respondeu
Soltei o comunicador e me virei até Bucky. Ele parecia receoso com respeito a como as coisas se seguiriam. Mordi meus lábios e me aproximei.
- É o seguinte. – comecei a dizer – Vamos dar um jeito nessas pessoas que estão subindo. Meus amigos vão cuidar dos que estão lá embaixo.
- Não há outra forma de sair? – ele questionou – Não sei se... eu só...
- O que houve? – franzi o cenho ao vê-lo hesitar.
- Só não quero perder o controle e matar ninguém. – ele murmurou, desviando o rosto.
Por um segundo, fiquei sem palavras. Abri a boca algumas vezes, para tentar dizer algo, mas foi em vão. Foi incrível como aquela observação de Bucky sobre si mesmo me fez perder a fala. Aquilo me deixou ainda mais convicta de que a SHIELD não estava perdendo tempo ao nos mandar atrás dele. Ainda havia esperança.
De repente, ouvimos uma batida violenta na porta, que por sorte estava trancada e os segurariam alguns segundos a mais. Corremos e nos abaixamos atrás da cama. De lá tínhamos uma boa visão. Sem cerimônias, tomei a frente de Bucky, pretendendo usar meu corpo como um escudo para protegê-lo.
- O que está fazendo? – ele perguntou confuso.
- Fique atrás de mim. – falei firme.
- Acha que vai conseguir derrotá-los sozinha? – vi um leve tom de incredulidade na sua voz, o que me deixou irritada.
- Apenas fique atrás de mim. – repeti sem encará-lo.
A cada nova pancada contra a porta, as batidas do meu coração também aumentavam. Parecia que eu teria um ataque a qualquer momento, mas não podia deixar isso transparecer. Havia me recuperado o suficiente para continuar na missão, mas não para entrar em combate.
Ao ver que logo seríamos atacados, ergui meu braço direito e com a outra mão, baixei um pouco a manga de minha jaqueta. Um relógio foi revelado. Havia sido o mesmo que levei na missão no Canadá, mas que não tive a oportunidade de usar. Agora, era a hora de testar meu protótipo. Só esperava que ele não explodisse na minha cara.
Girei o visor do relógio e então ele começou a se transformar exatamente no que eu queria. Em um ruído de metal contra metal, várias pequenas fiações começaram a unir-se, tomando a forma de uma luva de metal. Por fim, ela estava completa, cobrindo toda minha mão. Felizmente não explodiu. Virei à palma para mim e sorri ao notar uma forte luz branca reluzir do centro do propulsor.
- Legal... – murmurei entusiasmada.
Não tive mais tempo para comemorar. A porta foi escancarada com um estrondo e me virei para ela no mesmo segundo que duas pessoas mascaradas adentravam o local. Sem esperar, ergui minha mão e acionei a luva, disparando neles de forma certeira.
- Uau! – vibrei com o sucesso de meu protótipo.
No entanto, um disparo passou bem ao meu lado e me fez acordar. Trinquei os dentes e atirei mais uma vez nas novas pessoas que entravam e acertei mais duas delas. Porém, quando tentei mais uma vez, o propulsor não funcionou.
- O quê? – tentei outra vez, sem sucesso – Ah não, eu não acredito!
Para piorar, a luva começou a soltar faíscas e a fazer um barulho estranho. Parece que iria mesmo explodir. Isso me fez destravá-la e jogá-la longe. Fiquei olhando para o protótipo sem acreditar, até que ele parou de funcionar e a luz se apagou lentamente. Eu estava decepcionada, mas os capangas da HIDRA não estavam nem aí. Mais disparos zuniram pelo quarto.
No último segundo, senti o braço metálico de Bucky bloquear uma bala que vinha em minha direção. Em seguida, ele me puxou para o chão. Só então pude processar as informações e percebi que teria que me virar até que os outros chegassem.
- Não saia daqui. – falei para Barnes.
Sem esperar sua resposta, tirei minha arma do coldre e me ergui, atirando na direção dos inimigos. Essa investida os obrigou a se proteger, então aproveitei para sair de trás da cama. Velozmente, me joguei sobre o colchão e girei, logo ficando de pé. Ao perceber que voltariam a atirar, fui mais rápida e disparei contra eles. Depois, corri até a saída.
Sem hesitar, eles vieram atrás de mim. Enquanto seguia pelo corredor, sentia meu machucado de bala latejar um pouco. Eu não deveria fazer esforços, mas não havia escolha. Olhei por cima dos ombros, avistando duas pessoas em meu encalço. Segui na direção das escadas, mas então parei de supetão, me virando a atirando contra elas. Acertei o ombro de um deles, que caiu. No entanto, o outro se desviou e revidou meu ataque.
Abaixei-me para evitar ser atingida pelos tiros e voltei a correr para a escada. O homem veio atrás de mim e antes que eu chegasse ao primeiro degrau, senti uma de suas mãos agarrarem a gola de minha jaqueta, me lançando com força pra trás. Caí sentada, mas não me abalei e tentei dar-lhe uma rasteira. Ele pulou no último segundo e tentou acertar meu rosto com um chute, mas segurei seu pé com as duas mãos e o torci, arrancando-lhe um grito de dor.
Ele soltou um urro enfurecido e desferiu uma coronhada com o fundo da arma bem no meu rosto. Vi estrelas no mesmo segundo e aquele desgraçado se aproveitou de minha desorientação para se libertar. O capanga da HIDRA se afastou dois passos e então voltou com tudo, dando-me um soco que me lançou ao chão. Tentei me levantar, mas ele foi mais rápido e chutou meu estômago com o bico da bota. Urrei assim que senti meu ferimento ser atingido e tentei me proteger.
A dor era tão grande que não tive mais forças para agir, apenas me encolhi em posição fetal para evitar ser atingida. De repente, ele parou e apontou a arma para mim. Consegui apenas erguer minha cabeça e me assustei quando vi alguém agarrar o homem por trás e o lançar contra a parede.
Arregalei os olhos ao ver Bucky parado, respirando pesadamente, com os punhos cerrados. Ele foi até o agente da HIDRA e o segurou pelo pescoço, deferindo-lhe vários socos seguidos. Mordi os lábios ao perceber que ele estava quase perdendo o controle e me esforcei para me sentar. Então chamei seu nome para tentar trazê-lo de volta a realidade.
- Bucky... – chamei o mais alto que pude e meu esforço me fez gemer.
Isso pareceu trazê-lo de volta. Ele soltou o homem, que foi ao chão desmaiado e então se virou para mim. Percebi algo diferente em seu olhar. Ele baixou os olhos e fitou as próprias mãos em punho e as abriu devagar. Respirei fundo e, com a mão apoiada no lugar atingido pelos chutes, tentei me levantar. Quando consegui, o encarei e ele me fitava da mesma forma estranha.
- Vamos... – soltei o ar de uma só vez pela boca e continuei - Vamos sair daqui.
- Está sangrando. – ele falou
Franzi o cenho e só então senti algo úmido escorrendo pelo meu nariz. Levei meus dedos até lá e constatei que o golpe do homem mascarado havia sido bem mais destrutivo do que o imaginado. Ainda assim, ignorei esse fato e comecei a caminhar até as escadas.
- Depois dou um jeito nisso. – segurei o corrimão e comecei a descer degrau por degrau – Meus amigos já devem ter limpado tudo, vamos.
Ao perceber que ele não me acompanhava, olhei para trás. Bucky olhava para o homem que havia espancado. Só depois que o chamei novamente é que ele me olhou e um pouco receoso, começou a vir em minha direção. Descemos e chegamos até a sala totalmente destruída pela chuva de balas. Cacos de vidro cobriam o chão e os poucos móveis estavam cheios de buracos. Parei um segundo para tomar fôlego e me recostei numa parede. Aproveitei para me comunicar com .
- Como estão as coisas aí fora? – perguntei enquanto encostava a cabeça na parede.
- Limpamos tudo, podem sair agora. – falou num tom animado, mas estão perguntou desconfiado – Golden, ele está com você, não está?
- Sim, ele está. – falei e então olhei para Bucky que me observava um pouco afastado – Estamos indo.
Tirei a mão de perto do ouvido e me desencostei da parede com um sorriso. Apesar da incomoda dor, eu estava feliz por termos concluído nossa missão. Bem, ainda estávamos em Paterson, mas não achava que Bucky fosse resistir.
- Podemos ir. – eu disse e então inclinei a cabeça levemente para o lado – Você vem, não é?
- Podem mesmo me ajudar? – ele semicerrou os olhos.
- Podemos sim. – alarguei meu sorriso – Confie em mim.
O soldado permaneceu imóvel por alguns instantes e eu estava ansiosa por uma resposta sua. Resposta essa que não veio. Bucky apenas caminhou até ficar bem em minha frente. Ele balançou a cabeça positivamente, o que me deixou aliviada. Continuei sorrindo e imitei seu gesto, mas de forma mais vigorosa, então me virei para a porta e iniciei minha lenta caminhada, o sentindo bem atrás de mim.
Saímos pela frente e logo avistei Bobbi, Daisy e parados do outro lado da rua, em frente a outra casa abandonada com a entrada coberta por vegetação. Eles me notaram também e ficaram aliviados com isso, porém, assim que Bucky saiu, todos ficaram tensos outra vez. Talvez tivessem medo do que ele poderia fazer a seguir. Desconsiderei isso e olhei para Barnes, o incentivando a continuar.
Atravessamos a rua e quando chegamos perto de minha equipe, o agente percebeu que eu estava machucada. Apesar disso, ele continuou onde estava e vi que seus dedos hábeis seguravam de leve a pistola no coldre. Suspirei zangada. Eles não confiavam em Bucky Barnes, viam-no apenas como o infame Soldado Invernal.
- Estamos aqui. – tomei a palavra assim que paramos – Podemos voltar para o quinjet.
- Certo. – Bobbi desviou os olhos entre o soldado e eu por um segundo – Vamos logo sair desse lugar.
- Vamos antes que alguém encontre aqueles caras. – Daisy disse – Os deixamos desacordados no quintal da casa, mas não podemos estar aqui quando a polícia chegar.
- Alguém chamou a polícia? – fiquei surpresa.
- Provavelmente. – disse – O barulho de tiroteio foi grande, mesmo numa rua deserta como essa.
Vi que ele ainda segurava a arma e lhe lancei um olhar de reprovação. Ele travou o maxilar, mas então baixou a mão. Acenei com a cabeça, aprovando seu ato. Em seguida, me virei para Bucky. Ele também estava em guarda. Não parecia confiar neles. Por isso, fui rápida em dizer.
- Estamos todos do mesmo lado. – eu falei e sorri de canto – Pode confiar neles também. Estamos todos aqui para te ajudar.
Minhas palavras o deixaram mais tranquilo e ele relaxou um pouco a postura. Com isso, virei para meus colegas e Bobbi nos deu a ordem de seguir em frente. Começamos a caminhar de volta para nossa nave e Bucky permaneceu todo o tempo ao meu lado. Também não pensei em sair de perto dele apesar de saber que ele não iria querer bater um papo.
Saímos da mesma forma que entramos e ninguém pareceu nos perceber. Nem mesmo quando paramos para que eu comprasse algo para comer. Fazer o que, minha fome não escolhia hora para chegar. Entrei numa lanchonete com Daisy enquanto os outros esperavam do lado de fora e compramos alguns sanduíches. Quando voltamos a caminhar, fui até Bucky e lhe ofereci um. Ele me olhou receoso.
- Pode comer, não tem veneno. – brinquei, mas ele continuou em dúvida, então dei uma mordida – Viu! Se você morrer, eu também morro.
Ele piscou algumas vezes e então pegou o sanduíche de minhas mãos. Ri abafado e enquanto bebia meu refrigerante, ele devorava tudo sem nem piscar. Não demorou e chegamos ao quinjet. Bobbi acionou a rampa e então entramos. Ela foi diretamente para a cabine do piloto e nós permanecemos ali e nos sentamos nas cadeiras. Bucky se sentou ao meu lado e de frente para . Travei meu cinto e só depois de erguer o rosto é que percebi que os dois se encaravam de forma nada amigável. Daisy pareceu notar também e agradeci mentalmente quando ela tentou puxar assunto.
- Então... Bucky, não é mesmo? – sua voz se fez ouvir sobre o silêncio – É bom saber que está disposto a aceitar nossa ajuda.
Bucky a fitou, porém, não respondeu. Ele não parecia estar disposto a conversar. Que novidade. Se bem que comigo ele ainda falava algumas coisas.
- Tudo bem, você não quer conversar. – Daisy fingiu se render – Apenas saiba que agora está seguro.
Olhei para ele e, pela forma que a fitava, parecia mesmo acreditar em suas palavras. Apesar de não parecer nada feliz, Bucky começava a se sentir seguro. Eu sentia isso.
O tempo passou e foi inevitável não dormir. Eu estava machucada e depois de limpar o sangue do nariz, não demorei a pegar no sono. O dia tinha sido cheio. Estava com a cabeça recostada no metal cinza da nave quando ouvi algo irritante. Uma sirene... Abri os olhos assustada e me vi cegada por uma luz vermelha que piscava, tomando todo o ambiente.
O que estava acontecendo agora? Só esperava não precisar me jogar céu a baixo. Isso era algo bem ruim.
Capítulo 11 - Interrogatório
Fazia três dias que havíamos escapado da STRIKE. Depois do que aconteceu, eles deveriam achar que estávamos mortos. Apesar disso não fazer muito sentido.
Eu estava deitada numa cama confortável, cheia de lençóis e travesseiros e não via a hora de comer. Era uma pena ter que ficar em observação, sem me levantar, tudo por conta de recomendações médicas. Olhei ao redor e suspirei. Pelo menos Pepper não me daria mais broncas. Acho que a cota dela havia se esgotado.
Remexi-me, tentando me sentar, mas então senti uma pontada no ombro, bem onde a bala havia perfurado. Mordi meus lábios e respirei fundo. Aquilo doía bem mais do que eu imaginei. Eu não podia nem mover meu braço sem gemer. Sorte a minha não terem precisado amputar. Ter só um braço não deveria ser muito legal.
- Golden?! – de repente ouvi e voltei à realidade.
Olhei para a porta e foi impossível não sorrir. estava lá, encostado na ombreira, segurando a maçaneta. Ele me encarava preocupado. Revirei os olhos.
- Vem aqui. – o chamei e ele se aproximou, se sentando na beirada da cama
- Como se sente? - ele perguntou
- Será que toda vez que você vier me ver, vai perguntar isso? – fiz uma careta – , eu estou bem. Só mais alguns dias e estarei de volta à ativa.
- Mal escapamos e já quer voltar pra briga? – ele riu abafado – Você não jeito mesmo.
- Fazer o que se sou uma garota que gosta do perigo. – falei num tom debochado, mas então me recompus – Além disso, precisamos revelar as pessoas o que está acontecendo. Precisamos mostrar quem está por trás de tudo antes que seja tarde.
- Eu sei, vamos fazer isso. – ele disse – Mas por enquanto descanse. Pular de um carro em movimento não foi bom pro seu braço.
- Ou era isso ou estaríamos mortos. – ergui as sobrancelhas – Deveria me agradecer.
- Ah, claro. – ele olhou pro teto e depois pra mim – Devo te agradecer por jogar nosso carro dum precipício e só avisar isso no último segundo.
- ! – eu ri
Mas ele não me acompanhou, permanecendo sério, o que me fez estranhar. Olhei em seus olhos e vi que havia algo que ele queria me contar. E parecia ser importante.
- , o que houve?- perguntei sem tirar os olhos dele
- Eu falei com a agente Hill... Golden, eles atiraram no diretor Fury. – ele falou, continuando – E agora estão convocando todos os agentes da SHIELD para uma nova missão.
- Que missão? – questionei assustada.
- Quando nos jogamos do penhasco, a STRIKE não foi embora por que achou que tivéssemos morrido. – ele falou num tom mais sombrio que o normal – Em comparação ao que estava acontecendo, nós erámos meros ratos. Não tínhamos mais importância.
- Que missão? – voltei a perguntar ao perceber que ele estava dando voltas.
- Encontrar o Capitão América. – ele falou me encarando – Agora ele é um fugitivo da SHIELD.
- Ele sabe. – murmurei – O Capitão deve saber sobre a HIDRA.
- Provavelmente. – ele concordou – Não haveria outro motivo para o perseguirem.
- O que vai acontecer agora? – olhei para ele, aguardando uma resposta.
- Vamos voltar. – ele respondeu - Temos cinco horas.
- Por quê? – perguntei, mesmo que já soubesse o que ele diria.
– Condição de Sombra Profunda. – ele respondeu.
Agarrei sua mão e ele retribuiu meu gesto, mostrando que estávamos juntos. Sabíamos a verdade. Agora, era a hora de pararmos a HIDRA.
Flashback –Off-
Abri meu cinto sem pensar duas vezes e olhei em volta. Daisy, e Bucky já estavam de pé e pareciam tão confusos quanto eu estava. Por um instante, me senti como no dia em que havíamos enfrentado a HIDRA para que eles não pudessem seguir em frente com o Projeto Insight. A cada novo minuto, nos deparávamos com mais obstáculos. Foi preciso até mesmo enfrentar nossos amigos para ajudar o Capitão América e seus aliados.
Balancei a cabeça para os lados, mandando embora aquelas lembranças e fui até os outros. No entanto, logo as luzes pararam de piscar e o som da sirene cessou.
- O que está acontecendo? – perguntei um pouco assustada.
- Não sei. – Daisy respondeu – Vou falar com a Bobbi.
Mas não foi preciso. Antes que ela fosse, a agente Morse apareceu e pela sua expressão, as coisas não pareciam estar tão ruins assim.
- O que houve? – perguntei para ela.
- Não se preocupem. – ela disse e sorriu de forma mínima – Essa sirene e essas luzes só querem nos avisar que precisamos abastecer a nave.
- E por que tanto alarde? – eu abri os braços – Eu quase morri do coração, sabia?
- Me desculpe, agente Potts. – ela soltou um risinho – Eu não projetei essas coisas.
- E o que vamos fazer? – Daisy perguntou – Precisaremos aterrissar aqui?
- Calculei o quanto falta para chegarmos e não será necessário. – ela balançou a cabeça – Pousamos em quinze minutos e a reserva de combustível será suficiente.
- Certo. – a agente Johnson concordou – Então, acho que podemos voltar aos nossos lugares.
Bobbi não disse nada, apenas olhou de relance para Bucky e depois voltou para a cabine. Eu revirei os olhos e caminhei até algumas armas que estavam penduradas em suportes que as deixavam um pouco abaixo de minha cabeça. Fiquei olhando para elas, como se realmente estivesse interessada. Mas eu não estava. E por isso percebi o olhar de Bucky sobre mim.
O fitei também, mas diferente do que achei, ele não desviou o rosto. Barnes continuou me encarando como se eu fosse à única coisa que existia ali. Pude perceber que ele tentava me reconhecer. Soltei um risinho por conta disso e então voltei a olhar para as armas. Ele não sabia quem eu era, mas eu sabia quem ele era. O Soldado Invernal, que havia atirado em Nick Fury e matado tantos outros. Mas eu não tinha raiva dele. Pelo menos não hoje. A culpa de todos os seus crimes pertencia a HIDRA.
Depois do tempo previsto pela agente Morse, finalmente chegamos. Assim que pousamos fui até Bucky, que estava sentando sem o cinto, e parei em sua frente. Ele parecia nervoso.
- Chegamos. – eu disse animada.
- Eu já percebi. – ele falou emburrado.
- Tá. – eu ignorei seu mau humor – Então me acompanhe, por favor.
Afastei-me, lhe dando espaço e, depois de me lançar um olhar nada feliz, ele finalmente levantou. Os outros já nos esperavam na rampa, que começou a descer assim que nos juntamos a eles.
Descemos, encontrando o Diretor Coulson. Pela sua cara, ele parecia contente com o êxito de nossa missão. Com ele, havia uma mulher com a aparência oriental. Por um segundo, me veio à cabeça a ideia de que ela não me era estranha.
- Sejam bem-vindos, agentes! – Coulson nos recebeu com um pequeno sorriso – Vejo que conseguiram.
- Não foi fácil, mas o soldado Barnes cooperou. – Bobbi disse e apontou para Bucky.
Todos olharam para ele no mesmo instante, o que o deixou bastante incomodado. E eu achava que era a única que sabia ser inconveniente. Depois da observação geral, todos voltaram à atenção para o diretor.
- A partir de agora, o Soldado Invernal ficará sobre a responsabilidade da Agente May. – Phill disse – Soldado, será que poderia acompanhá-la?
May se aproximou dois passos e esperou que Bucky a seguisse. Mas eu sabia que ele não faria isso. Se eu tivesse acabado de chegar a um lugar totalmente estranho, cheio de pessoas treinadas e que poderiam me matar a qualquer momento, eu também não moveria nem um dedo por vontade própria. Olhei para os lados e então me aproximei do diretor.
- Eu preciso de um minuto com ele. – murmurei.
- Como assim? – por sorte ele falou baixo também.
- Preciso convencê-lo de que pode confiar na May. – expliquei.
- Então quer dizer que ele confia em você. – ele não perguntou, mas confirmou.
Balancei os ombros e voltei. Segui até Bucky e segurei seu pulso, o puxando para um lugar mais afastado. Apesar de estar desorientado, ele veio comigo. Os outros acharam aquilo anormal, eu pude sentir. Mesmo assim, só parei quando tive certeza de que não nos ouviriam. Quando paramos, me coloquei em sua frente e ele me encarou com certa curiosidade.
- Escuta. – eu tentei ser rápida – Você precisa ir com a agente May, ela é uma de nós.
- Você a conhece? – ele perguntou.
- Errr... não. – mordi os lábios e continuei – Mas sei que ela vai ajudá-lo. Foi pra isso que o trouxemos, lembra?
- Não confio nela. – ele disparou.
- Sei que não confia, assim como não confiava em mim, nem nos outros. – soltei um leve suspiro – Mas precisa começar a...
- Eu só vou com ela se você também for. – ele disse, me pegando de surpresa.
Fiquei sem fala. Pela segunda vez naquele mesmo dia, eu não sabia o que dizer e por causa de Bucky Barnes. Algo impressionante, já que era bem difícil alguém conseguir algo parecido. Nem mesmo conseguiu me fazer calar a boca.
- Tá... – falei depois de engolir seco – Mas se eles não me deixaram ficar com você, não posso fazer nada.
Ele não respondeu, continuou com aquela cara mal humorada e tive vontade de socá-lo. Quem sabe meu embaraço não diminuísse. Fiz um sinal com a cabeça, mostrando que deveríamos voltar. Saí na frente e ele veio atrás de mim.
- Diretor, será que eu poderia acompanhar a agente May e o soldado Barnes? – falei assim que recebi a atenção dele.
- O que me diz, May? – ele se virou para a oriental.
- Acho que pode ser útil. – May disse e vi que eles se entendiam com simples trocas de olhares.
- Certo. – Coulson disse – Agente Potts, siga com a agente May. Os outros estão dispensados até segunda ordem.
Balancei a cabeça uma vez e então May nos mostrou por onde deveríamos ir. Olhei para trás antes de atravessarmos a porta e encontrei me encarando. Ele ergueu as sobrancelhas, então lhe dei língua, me virando para frente em seguida. Bucky, que estava ao meu lado, me olhou de forma esquisita, o que me fez rir alto. Minha reação, fez com que May olhasse para trás. Automaticamente, levei uma mão até a boca, abafando meu riso.
Seguimos por alguns corredores e pela frente de algumas salas. Os agentes paravam de fazer suas tarefas para nos verem passar. Senti-me uma celebridade. Depois de alguns minutos a agente May parou em frente a uma porta preta. Entramos e não havia nada dentro da sala, apenas quatro agentes armados ao lado de outra porta e uma grande janela com um vidro enorme ao fundo. Franzi o cenho ao reconhecer que tipo de lugar era aquele e, após lançar uma breve olhada para Bucky, me aproximei da agente May.
- May, que eu me lembre, essa é uma sala usada em interrogatórios – eu disse.
- Sim, é. – ela falou apenas.
- E o que estamos fazendo aqui? – eu questionei.
- Acho que não preciso explicar que precisamos do depoimento do soldado Barnes. – ela não me olhou, mas sim para ele – Precisamos saber de certas coisas, soldado.
Bucky semicerrou os olhos na direção de May. Se ele resolvesse nos matar e fugir, não teria dificuldades. Por sorte, ele continuou onde estava, me dando a oportunidade de interferir antes que qualquer pensamento assassino o fizesse perder o controle.
- Bucky... – o chamei e ele me fitou – Vai com ela, eu vou ficar por aqui até que saia.
Sua expressão facial se amenizou e eu suspirei aliviada ao vê-lo andar até May, passando por ela e indo direto até a sala ao fundo. Os dois entraram e pelo vidro, que eu sabia ser a prova de som, vi que se sentaram em cadeiras separadas por uma pequena mesa de metal. Eles não podiam nos ver, mesmo assim, Bucky olhou em nossa direção. Em seus olhos, havia um misto de medo e confusão, mas havia também a esperança de que talvez as coisas melhorassem.
Aproximei-me do vidro e apoiei uma das mãos nele, esperando que May começasse suas perguntas. Mas então, ouvi alguém me chamar e me virei para a pessoa atrás de mim. Era um dos agentes.
- Agente, não tem a permissão de ficar aqui. – ele disse.
- Como? – franzi a testa – Mas o diretor Coulson... ele disse que eu poderia vir.
- O diretor acabou de nos informar que você deveria ser dispensada. – ele falou – Lamento, mas terá que se retirar. Esse é um assunto confidencial.
Por incrível que pareça, eu não protestei. Estava tão cansada e dolorida que apenas balancei a cabeça positivamente. Antes de sair, porém, olhei pelo vidro e suspirei. Me desculpe, Bucky. Mas terá que se virar sozinho agora.
Capítulo 12: Manipuladora
Encarei meu rosto no espelho retangular do banheiro. Fiz uma careta ao notar minha aparência. Eu estava realmente, completamente, detonada. Meus cabelos desgrenhados pareciam ter passado por um vendaval e meu rosto brilhava por conta do suor que havia secado em minha pele. Havia também resquícios de sangue no meu nariz. A contragosto, retirei minha jaqueta e a deixei sobre a pia, então puxei minhas madeixas para trás e fiz um coque preguiçoso, apenas para facilitar as coisas.
Liguei a torneira e quando a água caiu forte e límpida, enfiei minhas mãos sob ela, sentido o quão fresca estava. Sem cerimônias, abaixei um pouco minha cabeça e comecei a molhar meu rosto. O alívio foi instantâneo. Passei uma mão no meu nariz e voltei a fazer cara feia, pois ainda doía. Aquele miserável havia acertado em cheio. Sorte que não sangrava mais. Passei o líquido em minha nuca também e então desliguei o registro.
Voltei a mirar minha face e ela estava bem melhor do que antes. Ainda assim, sabia que precisava de um banho, coisa que só poderia acontecer quando eu fosse pra casa. Por enquanto, esperaria Bucky sair da sala de interrogatório. Eu ainda não acreditava que tinham feito isso com ele. Não ofereceram nada de bom e já começaram com os questionamentos.
- Babacas. – murmurei após um estalo de língua
A SHIELD podia lutar pela justiça e a favor da paz, mas às vezes eram muitos radicais. E eu não curtia muito essa coisa de ou vai ou racha. Era bom deixar que as pessoas decidissem seu próprio destino, mesmo que isso significasse uma coisa não muito boa. Para mim, a verdadeira liberdade era essa, apesar de eu estar disposta a dar a minha vida pelo bem e pelas pessoas que amo.
Fiquei parada por alguns minutos, refletindo nos últimos dias. Haviam sido corridos e perigosos, mas se eu pudesse, faria tudo novamente. Afinal, eu ainda estava viva e meus amigos também. Bem diferente do que havia acontecido há seis meses, quando enfrentamos a HIDRA cara a cara.
Ainda parada, senti uma pontada no abdômen e semicerrei os olhos ao me lembrar dos chutes que havia recebido no meu machucado. Soltei um longo suspiro, me afastando um pouco da pia. Retirei meu coldre e em seguida a minha blusa preta, ficando apenas com um top da mesma cor. Quando o fiz, levei um grande susto. O lugar estava roxo.
- Mas que droga! – arfei, deixando as coisas junto à jaqueta.
Um pouco temerosa, toquei o local e mordi os lábios assim que meus dedos pressionaram minha pele. Doía mais do que o esperado. Desisti daquilo, já que não adiantaria nada e decidi que deveria procurar um remédio na enfermaria. Aquilo poderia ficar pior.
- Eu tinha mesmo que correr feito uma louca pelo corredor pra no final, o Soldado Invernal me salvar. – eu ri ao recordar aquela cena.
Foi quando ouvi uma estática no meu comunicador. Levei meu dedo indicador até ele, para ouvir melhor e esperei que alguém falasse. Depois de alguns segundos, a voz de se fez ouvir e eu revirei os olhos. Ele deveria estar me procurando.
- O que quer, atirador? – usei seu velho apelido.
- Onde você está? – sua voz parecia ofegante.
- No banheiro. – franzi o cenho – Por quê?
- Ele surtou. – falou e então percebi pelo falhar de sua voz que ele corria.
- Está falando do... – arregalei meus olhos.
- Sim, do Barnes. – ele completou, eufórico – Venham para sala de interrogatório agora!
- Estou indo! – falei.
Sem pensar, corri para fora do banheiro. Passei pelos corredores a toda velocidade, ignorando os olhares que recebia. Eu deveria ter previsto que algo assim aconteceria. Alguém como a agente May não deveria ter sido designada para fazer perguntas a um cara mentalmente desequilibrado. Se ele perdesse o controle, poderia arrancar a cabeça dela. E isso era bem capaz, de verdade.
Virei o último corredor e então avistei a porta preta, agora escancarada. Por sorte, ele ainda estava lá dentro, não havia saído pela base fazendo bagunça. Enquanto seguia, se juntou a mim. Apressamos mais ainda o passo e quando paramos em frente à sala, avistei uma cena nada agradável. Bucky acertava um dos agentes com seu braço cibernético, o lançando contra a parede.
- Precisamos pará-lo ou ele vai matar alguém. – meu amigo disse.
- Como se fôssemos páreos pra ele. – olhei ligeiramente para cima, mas logo voltei minha atenção para a cena que se desenrolava.
- Ei, cadê sua blusa? – olhou pra mim, espantado.
- Não dá tempo de explicar agora. – revirei os olhos.
Fiz menção de entrar, porém, parei ao perceber algo. Eu havia esquecido minha arma. Não que eu fosse usá-la, mas seria mais fácil rendê-lo. Ou não. Tentei desconsiderar esse fato e adentrei a sala. Eu não sabia o que fazer, já que partir para cima dele não daria certo, então corri até o agente caído e peguei sua arma, a apontando diretamente para Barnes.
- Bucky! – gritei seu nome – Já chega.
Ele estava de costas pra mim, mas parou assim que ouviu minha voz. Eu não estava muito longe, apenas alguns passos nos separavam. Isso me fez notar seus ombros subindo e descendo por conta da respiração pesada e seus punhos cerrados. Desviei um pouco o olhar para outro canto da sala e avistei a agente May em meio aos vários agentes desacordados. Ela, no entanto, estava desperta e após limpar um filete de sangue do canto da boca, fez que se levantaria. Antes que prosseguisse, balancei minha cabeça negativamente, mostrando que ela deveria continuar onde estava. Ela pareceu entender meu recado e parou.
Voltei a fitar Bucky e ele ainda estava virado. Encarei , que tinha uma pistola em mãos apontada para o soldado. Nós dois não seríamos suficientes para pará-lo, por isso resolvi usar, como Daisy havia salientado, meu incrível dom de tocar o coração das pessoas.
- Bucky... Olhe pra mim. – o chamei outra vez – O que está acontecendo?
Mas ele não o fez. Continuou de costas e sua respiração se tornou ainda mais desregulada. Insisti, afinal, essa era a minha função.
- Vamos lá, Bucky. – me aproximei dois passos – Olhe pra mim. Vamos conversar. Não precisar sair quebrando tudo, só queremos te ajudar.
- Ajudar? – ouvi sua voz sair num murmúrio.
Então ele se virou pra mim. Sua expressão era a de um completo assassino e, pelo visto isso me assustou, pois semicerrou os olhos e empunhou a arma com mais firmeza.
- Você me trouxe para esse lugar. – seus olhos não saiam de cima de mim – Me convenceu a vir ao dizer que me ajudaria.
- E vamos fazer isso. – falei com convicção – Bucky, eu vou...
- Você? – ele me interrompeu – Você é apenas mais uma mentirosa. Uma manipuladora.
- Eu posso até ter te convencido a vir. – baixei um pouco a arma – Mas você escolheu nos seguir por sua própria vontade.
- Depois de muito tempo eu confiei em alguém. – ele semicerrou os olhos – Mas cometi um erro. Um erro que não vai se repetir. Nunca mais.
Sem aviso, Bucky se lançou em minha direção e tomou minha pistola, usando-a para desferir um golpe em meu maxilar. Agradeci mentalmente por ele ter usado e mão normal, mas antes que eu pudesse reagir, ele me agarrou pelo pescoço e me imprensou contra a parede com tudo. Arfei com o impacto, mas comecei a perder o ar quando senti a pressão do braço de metal contra minha garganta. Por um segundo, achei que fosse mesmo morrer.
- Solta ela, agora! – de repente ouvi a voz autoritária de bem atrás do soldado
Com dificuldade, vi o agente parado com a pistola encostada na nuca de Bucky. Não sabia se ficava aliviada ou amedrontada, pois e uma pistola eram sinônimos de destruição.
- Eu não estou brincando, cara. Se quiser, estouro seus miolos agora. – ele falou calmamente – Da primeira vez que atirei em você não tive a intenção de atingi-lo. Mas dessa vez não vou errar, eu garanto.
Bucky não parecia ter medo daquela ameaça. Ele continuou me enforcando. Mas então ele olhou bem em meus olhos. Naquele instante o vi trancar seu maxilar, como se estivesse em dúvida do que fazer. Sustentei o olhar e isso o desequilibrou ainda mais. Ele iria recuar, eu sabia.
- Bucky... – agarrei seu braço com minhas mãos e murmurei com a voz estrangulada.
Minha súplica pareceu surtir ainda mais efeito. Ele arregalou os olhos, como se só agora percebesse o que fazia, fitando o vazio em seguida. Continuei segurando seu braço, até que senti seus dedos ao redor de meu pescoço se afrouxarem lentamente. Porém, antes que Bucky me soltasse, algo o lançou longe, obrigando-o a me largar. O impacto foi tão grande que arremessou para trás. Eu caí de joelhos e me apoiei com as mãos.
Ao levantar os olhos, vi Daisy parada na porta com as mãos erguidas. Ela as apontava na direção de Bucky. Olhei para ele e o vi paralisado contra a parede. Mesmo tentando, ele não conseguia se mover. Apesar de ainda não conseguir respirar direito, tentei me levantar. Mas foi em vão. Há algumas horas, havia recebido pancadas bem no lugar onde levei dois tiros, além de ter recebido uma coronhada bem no nariz. Juntando tudo aquilo a aquele novo episódio, minhas forças não foram suficientes, por isso permaneci onde estava.
- May... – eu ouvi Daisy dizer – Acabe logo com isso!
A agente May se levantou e foi até o soldado ainda imóvel. Vi certo misto de terror e raiva na expressão dele, especialmente quando ela tirou uma arma do coldre que ficava na perna. May a apontou para ele e, sem pensar duas vezes, atirou.
Se eu pudesse, teria gritado, mas apenas abri a boca assustada, quando vi Bucky cair desacordado. Que droga aquelas loucas pensavam que estavam fazendo?
- O que vocês... – minha voz saiu um pouco rouca.
- Golden, está tudo bem. – Daisy falou antes que eu continuasse.
- Eu não atirei nele de verdade. – May se aproximou e me mostrou a pistola que segurava – Essa é a arma boa-noite. Ela te faz... dormir por um tempo.
- E por que não usou isso antes? – falou enquanto se levantava.
- Eu até tentei, mas ele percebeu e me atacou. – ela explicou – Sorte que haviam outros agentes.
- Temos que tirá-lo daqui. – Daisy se aproximou de Barnes.
Os outros fizeram o mesmo e vi a agente May falar com alguém pelo comunicador. Eu continuava no chão, tentando processar tudo o que havia acabado de acontecer. Foi quando senti me ajudar a levantar.
- O que você disse pra ele? – perguntei um pouco mais alto que um sussurro.
- Como? – May se virou pra mim.
- O que perguntou a ele? – repeti mais alto dessa vez – Ele não surtaria assim por nada. Foi algo que você disse, tenho certeza.
- Não é minha culpa se o Soldado Invernal é uma pessoa mentalmente desequilibrada. – ela cruzou os braços.
- Não... Eu conheço... – comecei a dizer, mas hesitei por um segundo, reformulando minha frase – Das vezes que nos encontramos, ele não tentou me matar. E agora ele quase quebrou meu pescoço. Isso não foi apenas um acesso de ira, eu sei que não.
- Golden, você precisar ir para a enfermaria. – começou a me puxar pelo braço para fora – Depois resolvemos isso.
Desvencilhei-me dele e caminhei até Bucky. Ele permanecia desacordado. Abaixei-me perto dele e fitei seu rosto. Ele não podia estar tão perturbado a ponto de atacar todos. Eu conhecia a SHIELD. Eu trabalhava ali há anos. E eles já deveriam saber que não poderiam me ludibriar.
- Eu tenho o direito de saber o que conversaram. – ergui meus olhos com determinação – Também faço parte dessa missão e não podem ocultar nada de mim.
- Quanto a isso, fale com o Coulson. – May disse apenas.
Em seguida, ela saiu da sala, me deixando furiosa. Se eu estivesse em condições teria ido atrás dela e só Deus sabe o que teria feito. Olhei para Daisy e e eles também pareciam incomodados.
- Também não sabem o que está acontecendo, não é? – eu ri abafado – Nenhum de nós, que fomos buscá-lo, sabemos de nada.
- Esse não é o ponto, Golden. – se aproximou – Precisamos acatar as ordens que recebemos.
- Siga essas ordens idiotas, se quiser. – me levantei de supetão – Eu vou atrás de explicações.
Ignorando todas as minhas dores e minha dificuldade para caminhar e respirar, segui na direção da saída. Ao passar pelo agente , ele me segurou pelo braço, me impedindo de continuar.
- Não pode fazer isso. – ele me alertou.
- A única coisa que vou fazer agora é buscar respostas. – falei, sem me abalar.
Puxei meu braço com força, me livrando de seus dedos e saí da sala de interrogatórios. Eu tinha certeza que minha aparência deveria ser a pior possível e minha expressão de descontentamento também não deveria estar tão diferente. No entanto, não me importei com nada disso. Minha determinação agora era apenas uma: descobrir o verdadeiro objetivo da SHIELD para com o Soldado Invernal.
Capítulo 13: Eu Acredito Nele
Virei o corredor que me levaria até a sala do diretor. Meus passos, apesar de toda a dor que sentia, eram firmes. Por conta disso, minha respiração era pesada e vez por outra eu reduzia minha caminhada para esperar a dor aliviar um pouco. E naquele segundo, foi o que fiz.
Apoiei minha mão direita na parede e respirei fundo ao sentir novas pontadas em meu abdômen. Depois, quando me senti melhor, segui até a sala de Coulson. Ele precisaria me explicar o motivo de não estarmos permitidos a saber o que a agente May conversou com Bucky. Isso seria uma afronta bem grande, eu sabia, mas não estava nem aí. Se quisessem me punir, que me punissem. Já estava acostumada.
Parei em frente à porta e segurei a maçaneta. Pensei se deveria bater ou não antes de entrar, mas então revirei os olhos. Eu estava prestes a colocar meu superior contra a parede, não havia motivos para pedir permissão para nada. Ainda assim, respirei fundo, pois nunca havia sido tão atrevida. E olha que eu já havia desobedecido às regras várias vezes.
Assumi uma expressão decidida e agarrei a maçaneta com mais força. Antes que eu pudesse abri-la, porém, alguém o fez pelo lado de dentro, me obrigando a largá-la. Minha expressão transformou-se no mesmo instante quando vi o diretor Coulson aparecer bem em minha frente. Acho que meus olhos deveriam estar arregalados, pois eu podia vê-lo nitidamente confuso com minha presença.
- Agente Potts, a que devo essa visita? – ele perguntou, franzindo o cenho.
- Eu.... errrrr... – por um segundo não soube o que dizer.
- Você, o quê? – ele continuou com sua expressão.
Naquela hora tive vontade de socar minha própria cara. Como assim eu não sabia o que dizer? Eu sempre sabia o que dizer e agora não seria diferente. Ajeitei minha postura, erguendo um pouco o rosto e pigarreei levemente. Aquilo foi suficiente para me fazer recuperar a coragem.
- Diretor, precisamos conversar. – eu disse e esperei uma resposta.
- Precisamos? – ele sorriu de canto.
- Sim, precisamos. – imitei seu gesto – Prometo que não vou demorar.
- Não é com isso que me preocupo. – ele falou de maneira sugestiva.
Ainda assim, Phill deu espaço para que eu entrasse. Adentrei a sala sem demora e quando ele fechou a porta, o segui na direção de sua mesa. Sentamo-nos e ele me encarou como se já soubesse o que viria a seguir.
- Bem, essa é a segunda vez em menos de uma semana que recebo uma intimação sua para uma... Conversa. – ele inclinou a cabeça um pouco para o lado – Por que algo me diz que não está aqui para discutirmos os efeitos do medicamento que te dei?
- Sobre aquela coisa horrível, só me serviu para cicatrização. A dor continuou a mesma. – fiz uma careta – E se sabe que não vim aqui bater um papo, então creio que há algo que está escondendo de mim.
- E por que eu esconderia algo de você, agente? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Me responda o senhor. – cheguei para frente e apoiei os cotovelos na mesa – Se não há nada para esconder, por qual motivo não tive permissão para acompanhar o interrogatório que a agente May fez ao Soldado Invernal? E por qual motivo meus colegas de equipe também não sabem de nada?
Coulson riu abafado. Ele parecia um pouco tenso, eu podia perceber por mais que ele tentasse esconder. Eu tinha essa boa habilidade de conseguir ler as expressões corporais e faciais das pessoas. Era algo natural. Eu apenas as observava e conseguia dizer como se sentiam. Pelo menos na maioria das vezes. Algumas pessoas eram impossíveis de decifrar.
- Quando você chegou a SHIELD, todos diziam que era uma garota observadora. Uma pirralha, mas que tinha bom coração. – ele começou a dizer – E que era umas das melhores agentes, se saindo bem em todos os tipos de treinamento. Antes mesmo de conhecê-la pessoalmente, já havia escutado sobre a agente Potts, a suposta sobrinha de Tony Stark.
- Tony Stark não é meu tio. – bufei – A Pepper é minha tia, qual o problema de vocês com isso?
- Nenhum. – ele riu – As pessoas sempre te relacionaram com ele por causa da amizade que vocês têm. Nunca te viram muito com a senhorita Potts.
- Ela perde muito tempo cuidando das Indústrias Stark. – revirei os olhos – Mas, o que tudo isso tem a ver com a pergunta que fiz?
- Você também não muito paciente, não é? – ele ressaltou.
- E também não gosto muito de rodeios. – sorri sem mostrar os dentes – Deve ter ouvido falar sobre isso.
- Agente Potts, você tem suas virtudes. – ele suspirou – Mas ainda deixar a desejar em alguns aspectos. Como, por exemplo, acatar ordens. É nesse ponto que quero chegar.
- Eu sigo ordens. – falei automaticamente, mas completei – Se elas forem sensatas.
- Você escolheu fazer parte da SHIELD, creio que pelo fato de acreditar nos nossos objetivos. – ele continuou – Por essa razão, não vou admitir que continue com esse tipo de atitude.
- O quê? – franzi o cenho.
- Não estamos lidando com escolhas pessoais, agente. – ele ignorou minha interrupção – Não tem a ver com o que achamos ou com o que queremos, mas sim com fazer o que é certo.
Aquelas palavras foram como um soco em meu estômago. Eu estava recebendo uma repreensão. E apenas por querer saber o que eles estavam escondendo. Abri minha boca, incrédula. Aquilo só me fez ter mais certeza de que havia algo que eu tinha que saber.
- Escute, Golden. – Coulson usou meu apelido – Sei que parece injusto não contarmos a vocês o que está acontecendo, mas acredite, é o melhor. Quero protegê-los do que pode acontecer. Quero proteger você.
- Agora vai vir com essa conversa. – falei mais baixo do que gostaria – Me proteger de quê? Do Soldado Invernal?
- Agente... – ele tentou dizer.
- Acha que ele vai me matar? – eu o interrompi – Se ele quisesse, já teria feito isso.
- Não tem nada a ver com o soldado. – ele negou.
- Me desculpe, senhor, mas isso não é justo. – falei um pouco mais alto dessa vez – Fomos até ele, eu o convenci a vir conosco e agora se negam a dizer o que farão com ele.
- Quer mesmo saber o que vamos fazer com o soldado Barnes, agente Potts? – ele também elevou um pouco seu tom de voz.
- Não tem a ver com o que eu quero, mas sim com o que é certo. – usei suas palavras contra ele.
Phill ficou surpreso por um instante, mas logo se recompôs. Ele sorriu de maneira discreta e, chegando-se um pouco para frente, fitou meu rosto. Eu sustentei aquele olhar e esperei que dissesse algo.
- Vou dizer o que faremos com Bucky Barnes. – ele disse, mas continuou antes que eu dissesse qualquer coisa – No entanto, não posso mais permitir esse tipo de comportamento. Entendido?
- Entendido. – falei a contragosto.
Após minha resposta, o diretor abriu uma das gavetas da mesa e retirou uma pasta de lá. Parecia com a primeira que havia recebido, com os dados de Bucky, mas essa era totalmente preta. Coulson a estendeu para mim sem cerimônias e eu a peguei.
- O que é isso? – perguntei.
- Antes mesmo de vocês serem designados para a missão, buscamos as melhores maneiras de reabilitar Bucky Barnes. Mas não seria fácil, pois ele havia sofrido lavagem cerebral. – ele disse – Por isso, decidimos que deveríamos fazer perguntas a ele quando chegasse aqui para que, de acordo com suas lembranças ou a falta delas, pudéssemos utilizar o melhor método de recuperação.
- E já sabem o que fazer? – olhei para ele.
- Veja você mesma. – ele apontou para a pasta.
Fitei a capa escura com o símbolo da SHIELD na parte superior. Sob ele estava escrito a palavra “CONFIDENCIAL”. Receosa, abri a pasta e passei os olhos pelas informações na folha branca. Aqueles eram os resultados do curto interrogatório de May. O li superficialmente e então fui até a parte que me realmente interessava. Qual seria o meio usado para ajudar Bucky.
Li aquela sentença várias vezes, tentando captar as palavras que pareciam flutuar em frente a meus olhos. Não me lembro quando comecei a ter vertigens. Mas coisas começaram a girar em minha volta e as palavras antes flutuantes, passaram a rodopiar no papel. Pisquei algumas vezes, mas foi em vão. A última coisa que lembro ter ouvido foi à voz de Coulson gritando meu nome.
Abri os olhos assustada. Eu estava ofegante, mas não sabia o motivo, por isso olhei em volta para tentar me situar. Aliviei-me ao constatar que me encontrava na enfermaria da base. Eu estava deitada numa maca e uma agulha trazia soro a minha veia.
Respirei fundo, me sentindo um pouco melhor do que antes e só aí me lembrei do que havia acontecido. Provavelmente a fraqueza e as dores me fizeram desmaiar após eu ler os arquivos sobre a reabilitação de Bucky.
Bucky!
Sentei-me, mesmo sem saber se poderia e arranquei a agulha de meu braço sem o menor cuidado. Coloquei os pés pra fora da cama, notando que estava descalça. Mesmo assim, me levantei. Por alguns instantes precisei fechar os olhos para mandar embora uma leve tontura que me envolveu. Após isso, vasculhei a sala em busca de alguma coisa que me pertencesse, mas não havia nada. Eu continuava vestida apenas com minhas calças e um top preto. Agora, meus cabelos estavam soltos. Ignorando tais fatos, segui até a porta branca. Eu precisava falar com Bucky. Precisava falar com ele antes que decidissem seguir em frente com aquele plano idiota.
Não consegui correr, porém, caminhei o mais rápido que pude. Lutar contra minhas dores havia se tornado fácil depois de Washington. No meio do caminho avistei a agente May. Cerrei os punhos e fui até ela.
- May! – chamei seu nome, mas minha voz saiu rouca.
Ainda assim ela me ouviu e se virou para mim. Vi que estava ligeiramente surpresa, talvez por eu estar de pé. Desconsiderei seu olhar intimidador e fui até ela, parando a poucos passos. Olhei bem em seu rosto, pois éramos quase da mesma altura.
- Onde ele está? – fui direto ao ponto.
- Deve estar falando do soldado. – ela cruzou os braços.
- Sim, é sobre ele mesmo. – falei impaciente.
- Não vou dizer onde ele está. – ela falou apenas – Não tenho autorização para isso.
- Você não tem autorização para me dizer onde o Barnes está? – ergui as sobrancelhas – Então prefere que eu vasculhe toda essa base até que o encontre?
- Não vai conseguir fazer isso, está fraca. – ela observou.
- Mas ainda estou viva. – disse de forma ácida – Então...
- Agente Potts, eu realmente não posso dizer nada. – ela disse ao perceber que eu estava decidida – Coulson disse que quando acordasse, deveria liberá-la para ir para casa.
- Ele me mostra o que pretendem fazer e agora me manda embora? – franzi a testa – Onde o diretor está, afinal?
- Agente Potts! – ouvi uma voz ao fundo do corredor.
Olhei por cima do ombro de May e avistei a pessoa que me chamava. Era Coulson. Soltei um suspiro cansando e fui até ele.
- Diretor, me deixe falar com ele. – eu pedi antes de qualquer coisa – Por favor.
- Me responda uma coisa, agente. – ele me encarou – Por que se importa tanto com Bucky Barnes?
Parei para pensar nos motivos que me moviam a me importar com Bucky. Eram muitos. Eu entendia o quando ele sofria, como se sentia sozinho por estar fora do seu tempo. Sabia que ele queria mudar e que por isso poupou minha vida quando poderia ter me matado. Mas nenhum desses motivos parecia ser forte o suficiente para me impelir a agir a seu favor. Havia algo mais.
- Eu acredito nele, senhor. – falei com convicção – Acredito que há bondade em seu coração, acima de qualquer outro sentimento ruim.
Coulson sorriu minimamente. Ele sabia que eu falava sério. Sem dizer nada, ele se virou para May e a chamou. Ela se aproximou de nós dois.
- Leve a agente Potts até o Soldado Invernal. – ele disse.
- Tem certeza? – ela descruzou os braços.
- Sim, tenho. – ele balançou a cabeça positivamente e acrescentou – Mas antes dê algo para ela vestir.
Olhei para meu corpo e senti minhas bochechas esquentarem. Até havia me esquecido daquele fato. May apenas suspirou e fez um sinal mostrando que deveria segui-la. Antes, porém, balancei a cabeça e sorri na direção do diretor, mostrando que estava agradecida.
Caminhamos lado a lado e paramos brevemente na sala onde ficavam os armários dos agentes. May foi até o seu e tirou uma jaqueta preta de lá, me entregando. A vesti rapidamente e enquanto voltávamos a caminhar, fechei o zíper até um pouco acima do top. Não demoramos e logo estávamos numa ala com algumas salas isoladas. Eram brancas e tinham um grande vidro, como uma janela, num dos lados. Pareciam ser feitas para conter pessoas ou coisas poderosas.
Passamos por um deles e então pude vê-lo pelo vidro. Apesar de haver uma cama no local, Bucky estava sentado no chão, num dos cantos da parede branca. Ele não nos viu, pois estava com a cabeça recostada e os olhos fechados. Adiantei-me, parando em frente a porta e olhei para May, esperando que ele me deixasse entrar.
- Não se aproxime demais. – ela me alertou.
Em seguida, digitou uma senha num painel ao lado da porta e ela foi aberta. Adentrei o lugar a passos praticamente inaudíveis e Bucky continuou da mesma forma. Era impossível que não tivesse percebido toda aquela movimentação, mas mesmo assim, continuou imóvel. Aproximei-me dele, mas interrompi meus passos no instante que ele me fitou.
Tentei saber o que se passava em sua cabeça, mas seus olhos transmitiam muitas coisas. Aborrecimento. Cansaço. Raiva. Tristeza. Eles eram um misto de emoções que estava além de minha compreensão.
- Bucky... – falei após engolir seco – Eu vim conversar com você. Desculpe-me ter demorado tanto.
- Golden... – ele murmurou meu nome como se fosse uma prece – Eu deveria ter quebrado o seu pescoço.
Capítulo 14 - Ordens São Ordens
Quando as palavras de Bucky chegaram aos meus ouvidos, minha primeira reação foi abrir a boca, graças à incredulidade que sentia. Se eu pudesse, teria socado seu rosto várias vez, porém, aquela não seria a melhor hora. De forma involuntária, dei um passo para trás e vi que ele percebeu isso, mas continuou imóvel. Ele me encarava como se pudesse lançar raios pelos olhos diretamente na minha testa.
Apesar da explícita ameaça de ter minha cabeça separada do meu pescoço, incrivelmente, não senti medo. Bem, havia sim medo, mas ele não foi suficiente para me fazer recuar mais. Olhei bem fundo em seus olhos e cruzei meus braços, mostrando que ele precisaria de mais para me abalar.
- Não, você não deveria. – falei num tom suave, mas desafiador – Na verdade, não poderia.
- Acha que não? – vi sua voz sair quase tão mansa quanto a minha, mas com uma pitada de irritação – Que não teria forças para matá-la?
- Não é questão de poder, Bucky. – me aproximei dois passos – Mas sim de querer.
- Acha que não quero? – ele desencostou a cabeça da parede.
- Teve muitas chances e hesitou em todas elas. – balancei os ombros uma vez – Então, algo me diz que não, você não quer me matar. Assim como não quer matar mais ninguém.
Ele não me respondeu, continuou me encarando com uma expressão indecifrável. Soltei um leve suspiro e me aproximei mais. Mostrando que acreditava no que disse, me abaixei em sua frente, fazendo nossos olhares ficarem na mesma altura. Bucky parecia não acreditar na minha ousadia.
- Sei que foi você que me salvou naquele dia, na floresta. – comecei a dizer – Não posso estar errada, pois havia só nós dois e aquele cara da HIDRA lá. Meus amigos não sabiam onde eu estava e o homem que atirou em mim não me salvaria.
Ele continuou calado. Apenas me observava. O que me fez continuar.
- Eu tenho fé em você, Bucky. – falei de maneira mais gentil dessa vez – Sei que pode se redimir de tudo o que já fez até hoje e vou ajudá-lo. Eu prometi, não foi?
- Você prometeu que eles poderiam me ajudar. – dessa vez ele falou e havia rancor na sua voz – Mas me trouxe para que me tratassem mais uma vez como uma cobaia. SHIELD? HIDRA? Não há diferença. Todos só querem achar um jeito de conseguir mais poder. De ter as coisas sob seu controle.
- Sei que está com raiva, mas acredite, eu também estou. – continuei calma, mas minhas palavras eram sinceras – Eu acredito nos ideais da SHIELD, sei que querem ajudar a humanidade e que enquanto estiver ao nosso alcance, serviremos como um escudo para as pessoas. Mas, às vezes, eu não concordo com tudo que fazem. E já fui punida por desobedecer às regras.
- Você não parece ser do tipo que desobedece as regras. – ele falou com desprezo.
- E você é? – ergui as sobrancelhas, mas em seguida soltei um leve riso – Talvez a primeira impressão que eu deixei é a de que sou uma garota inofensiva e desmiolada, que só fala coisas sem nexo. Mas se me conhecesse, saberia que sou mais do que isso. Estou longe de ser a garota ideal, sei bem, mas quando luto por alguma causa, faço isso apenas quando sei ser o certo.
Bucky franziu o cenho e percebi que havia certa curiosidade em seu olhar. Curiosidade para saber mais sobre mim. Mas havia também receio. E eu sabia por qual motivo.
- Provavelmente, não vai acreditar em mim, mas eu não sabia o que pretendiam fazer com você. – eu salientei.
- A SHIELD mandou que me buscasse e não te diriam que pretendem me manter nesse lugar até que tenham estudado todos os aspectos de meu aprimoramento? – ele se afastou da parede, se aproximando de mim – Acha que vou acreditar que não sabia que pretendem devolver minhas memórias usando o mesmo processo que a HIDRA usou para removê-las? Pensa que sou algum tipo de tolo?
- Se você fosse, não teria fugido. – também me aproximei – Seu coração é maior do que qualquer programação que tenham feito em seu cérebro. E foi por isso que se lembrou de Steve.
Nossos rostos estavam próximos e por isso percebi quando seus olhos azulados arregalaram-se pela surpresa. Quando citei o nome do Capitão Rogers, algo despertou em sua mente. Eles tinham uma ligação muito forte.
- Você se lembra dele, não é? – eu sorri.
- Algumas coisas... – ele murmurou sem desviar os olhos.
- E não quer se lembrar de todo o resto? – sorri de maneira amigável – Não quer sua vida de volta?
- Eu quero... – sua voz continuava baixa – Mas... não assim. Durante anos eu fui submetido à lavagem cerebral e, quando acordava, a única coisa de que me lembrava era da dor que aqueles choques causavam. E essa dor era um dos motivos de eu cumprir todas as missões que recebia. Não conseguia me lembrar por que faziam aquilo comigo, sabia apenas uma coisa. Eu não queria senti-la outra vez.
Senti meus olhos umedecerem. Por um segundo, tive vontade de ir atrás de cada pessoa que o havia feito sofrer tanto, para que pudessem pagar por aquele crime. Como alguém podia ser tão cruel? Mordi meu lábio superior e baixei os olhos, tentando evitar que ele visse o quão perturbada eu estava.
- Golden... – o ouvi chamar meu nome e automaticamente, voltei a fitá-lo – Façam qualquer coisa. Podem me estudar. Mas isso não... Por favor.
Mordi minha bochecha por dentro. Não podíamos submetê-lo a aquele procedimento. Não podíamos expô-lo mais uma vez àquela tortura, apenas para tentar recuperar suas memórias. Deveria haver outras maneiras. Sempre havia outras maneiras para a SHIELD.
Baixei o rosto outra vez e fechei os olhos. Tentava pensar em algo que pudesse ajudá-lo. Mas não havia nada. Foi quando me lembrei de uma pessoa. Abri os olhos subitamente e encarei Barnes. Ele franziu o cenho diante de minha reação, mas me aproximei e passei meus braços em volta de seu pescoço, pegando-o num abraço apertado. Senti seus músculos se enrijecerem, mas sussurrei perto de seu ouvido.
- Fique aqui e não tente fugir. – eu disse apenas para que ele ouvisse – Prometi que iria ajudá-lo e vou cumprir o que disse.
Em seguida, me afastei e sorri de forma mínima. Sem dizer mais nada, me levantei, pronta para sair. Bucky acompanhou meus movimentos e ele estava perplexo. Talvez ele não estivesse acostumado a receber abraços.
- Até mais, Bucky. – eu disse.
Após, me virei e segui até a porta. Não demorei a ouvir um bipe e logo ela foi aberta. Saí, dando de cara com a agente May. Ela me encarava de maneira desconfiada. A ignorei e caminhei para fora daquele lugar. May veio atrás de mim.
- O que disse a ele? – ela me questionou.
- Não estava ouvindo nossa conversa? – fingi estar surpresa.
- Não os últimos momentos. – ela revelou.
- Desculpe, mas é confidencial. – brinquei, mas completei – Não vai querer se intrometer na minha vida pessoal, não é?
May não perguntou mais nada. No entanto, eu sabia que ela não havia engolido aquela desculpa. Infelizmente, o problema era dela. Continuamos andando e seguimos até a sala do diretor. Eu precisava falar com ele uma última vez.
Bati na porta e ele logo a atendeu, lançando um olhar descomplicado para nós. Entramos, mas nenhum de nós quis se sentar. Permanecemos de pé, cada um em um canto da sala. Coulson começou a falar.
- E então, conseguiu ter a conversa que desejava? – ele perguntou.
- Ele me ameaçou no começo, mas consegui driblar a raiva que ele sentia por mim. Quanto a que ele sentia pela SHIELD, não. – expliquei.
- Ótimo! – ele caminhou alguns passos – Isso mostra que precisaremos de você ao lado do soldado até que ele esteja pronto para o procedimento de recuperação de memória.
- Senhor... – mordi meus lábios – Quanto a isso, precisamos mesmo submetê-lo a algo assim? Será uma tortura.
- Não há outra forma. – May disse – Ele precisa se lembrar o mais rápido possível.
- Mas ele está traumatizado! – abri os braços, expondo minha indignação – Diretor, ele implorou que tentassem qualquer outra coisa. E agora eu peço por ele. Por favor, nos deem tempo, podemos fazê-lo se lembrar aos poucos.
- O tempo não está a nosso favor, agente Potts. – Coulson disse – Eu sinto muito.
Pensei em dizer mais alguma coisa, porém, me contive mordendo meu lábio inferior. Ri sem humor e fitei o teto. Eu havia tentado. Mas sem êxito.
- Tudo bem. – eu falei após respirar fundo – Eu vou para casa.
- Quer dizer que está concordando conosco? – o diretor perguntou.
- Não. – fui clara – Mas, o que eu posso fazer? Ordens são ordens.
Sem mostrar nenhum sinal de educação, dei as costas aos dois e me dirigi à saída. Passei pela porta, e segui até o estacionamento. Havia deixado uma moto lá no dia que Coulso me recrutou para a nova SHIELD. Ela era totalmente preta, assim como o capacete. O coloquei sobre meus cabelos soltos e segui a toda velocidade para a mansão de Tony.
Não demorei a chegar. Desci da moto e deixei o capacete pendurado no guidom. Enquanto seguia, ajeitei meus cabelos. Eu deveria estar um trapo. Em todos os sentidos. Parei em frente à porta e o sistema de identificação facial liberou minha entrada. Girei a maçaneta e entrei.
Eu fitava o chão, por isso, não percebi o momento que uma figura esbelta parou em minha frente, enlaçando seus finos braços em volta do meu pescoço.
- Ah meu Deus! – Pepper berrou em meu ouvido – Onde você estava? Pensei que nunca mais iria voltar. Olha pra você. Há quantos dias não toma um banho?
- Pepper, está me enforcando. – tentei afastá-la.
- É isso o que tem para dizer? – ela olhou em meu rosto – Passa quase duas semanas fora de casa e não dá satisfações?
- Eu deixei um bilhete. – tentei amenizar a situação.
- Um bilhete? – ela finalmente me largou, caminhando até a mesa de centro e pegando um pedaço de papel de lá – “Vou ficar fora de casa por uns dias. Não sei quando volto, mas não se preocupem. Amo vocês.” Acha que isso foi suficiente?
- Tia, eu... – tentei falar, mas ela estava começando a se irritar.
- Potts, você é minha responsabilidade, eu mereço saber para onde vai e com quem está andando. – ela voltou a se aproximar – Sabe há quantos dias estou sem dormir?
- Me desculpe. – fiz minha melhor carinha de anjo.
- Se não fosse pelo Tony, eu teria mobilizado todas as organizações possíveis para que a encontrassem. – ela se acalmou mais – Mas você estava com a SHIELD, não é?
- Sim. – falei e sorri – E por isso não precisa se preocupar. Sei me cuidar.
Antes que ela dissesse mais coisas, a abracei forte. Eu amava minha tia. Ela era a única família que eu tinha. Meus pais estavam mortos e eu precisava de Pepper. Afastei-me depois de longos instantes e ela estava mais relaxada.
- Tony está aqui? – perguntei.
- Sim. – ela suspirou – Mexendo naquelas coisas, como sempre.
Ri levemente e fui até a oficina. Avistei as portas de vidro e digitei a senha, entrando. O lugar continuava como sempre. Caixas de ferramentas para todos os lados, armaduras em exibição perto das paredes e ao fundo um frigobar enorme repleto de bebidas. Ao centro, havia uma mesa digital e Tony estava lá, analisando algo. Assim que me notou, sorriu e veio ao meu encontro.
- Então quer dizer que estava mesmo com a SHIELD! – ele me abraçou.
- É isso aí! – eu ri.
- É por isso que está tão detonada? – ele me olhou de cima a baixo.
- Bem delicado. – revirei os olhos.
- É sério, pirralha, o que fez nessas duas semanas? – ele se afastou, voltando até a mesa – Não deu notícias. A Pepper quase teve um ataque cardíaco.
- Eu tive algumas complicações. – tentei não entrar em detalhes – E sobre aquele protótipo que me ajudou a fazer, ele não funcionou.
- Isso é verdade? – ele parecia surpreso.
- Sim. Usei a luva numa missão e aquela coisa quase explodiu na minha cara. – fiz gestos exagerados com as mãos.
- Tem certeza que usou da forma correta? – ele me encarou.
- Tenho, mas não deu certo. – semicerrei os olhos – Mas agora preciso que me ajude com outra coisa.
- Que coisa? – ele franziu o cenho.
- Preciso disso aqui. – fui até a mesa digital.
Rapidamente criei um rascunho do que queria. Depois, dei dois toques na tela e o desenho na cor azul começou a flutuar em nossa frente em 3D. Olhei para Tony e ele me encarou desconfiado.
- O que você está aprontando, garota? – ele cruzou os braços.
- Nada. – balancei os ombros – Só quero ajudar um amigo.
O Stark semicerrou seus olhos em minha direção e continuei a encará-lo sem desviar. Ao perceber que eu falava sério, sua expressão se transformou e então ele sorriu. Sorri de volta. Era hora de começarmos a trabalhar.
Capítulo 15 - A Fuga
Estávamos sentados ao redor de uma mesa. Pelo menos alguns de nós. Outros preferiram ficar de pé enquanto discutíamos como acabaríamos com os planos da HIDRA. Não podíamos deixar que iniciassem o projeto Insight.
Além de e eu, havia a agente Hill, a agente Romanoff, Sam Wilson e Steve Rogers. E, é claro, Nick Fury. Ele não estava morto. Tudo não havia passado de uma encenação para que a HIDRA parasse de persegui-lo e eles pudessem agir sem preocupações adicionais. Mas agora era a hora de sairmos das sombras ou milhões de pessoas morreriam.
- Temos que impedir o lançamento. – Natasha disse.
- Acho que o conselho não vai mais aceitar minhas ligações. – o diretor Fury falou enquanto abria uma maleta, revelando três chips.
- O que é isso? – Sam e eu perguntamos ao mesmo tempo.
Hill nos explicou que quando os aero porta-aviões estivessem no ar, eles se alinhariam aos satélites da HIDRA e as armas estariam prontas para exterminar os alvos. Deveríamos invadi-los e substituir os chips deles pelos que estavam na maleta. Mas apenas se trocássemos todos os três poderíamos parar o sistema.
Eles discutiam como agir e durante aquele tempo, permaneci incrivelmente calada, apenas ouvindo as instruções. Em certos momentos, tive que segurar o riso, especialmente quando o Capitão disse que derrubaríamos também a SHIELD. Para mim, ele estava certo. Como confiar numa organização infestada de traidores?
- Eu não sabia sobre o Barnes. – de repente Fury falou, chamando minha atenção.
- E se soubesse teria dito? Ou teria compartimentalizado? – Steve falou com sarcasmo – SHIELD, HIDRA, todas já eram.
- Ele está certo. – Hill disse.
- Sim, ele está. – eu concordei – Não podemos mais confiar em ninguém, não podemos saber com certeza se estão ou não do nosso lado.
Ficamos nos encarando, esperando a palavra final de Nick. Ele parecia um pouco receoso e olhou de um para o outro antes de finalmente falar.
- Bom... parece que é você que dá as ordens agora, capitão. – ele se recostou na cadeira.
Após isso, resolvemos como entraríamos no aero porta-aviões. Steve entraria no primeiro, Sam no segundo e e eu no terceiro. Vesti um paraquedas e recebi um dos chips, o guardando no cinto. Terminamos de nos preparar e seguimos para nossa missão. Foi só então que percebi que o Capitão estava com um novo uniforme.
- Onde arranjou essa roupa? – perguntei, erguendo as sobrancelhas
- Não vai querer saber. – ele sorriu.
Ri levemente diante daquela observação e continuei seguindo ao lado de pelo meio da pequena floresta onde estávamos escondidos. Depois de um tempo de caminhada, avistamos a base da SHIELD. Logo chegamos e entramos, seguindo até uma das salas de comunicação.
Sem demora, tirei um dispositivo retangular do cinto, do tamanho de um comunicador, mas com um pequeno botão giratório no centro. O girei até a metade e esperei. Aquilo causaria interferência nos dispositivos de som. Não demorou muito a acontecer, pois logo um dos agentes veio até a porta, talvez para reparar aquele problema. Quando ele a abriu, deu de cara com nossa trupe.
- Com licença. – Rogers disse.
Sem hesitar o cara ergueu os braços e nos deu passagem. Tomamos a sala e então Steve foi para os microfones. O segui e, enquanto Sam e vigiavam os outros, Hill e eu demos um jeito no sistema para que todos pudessem nos ouvir.
- Pode falar agora, todos estarão ouvindo. – eu avisei ao Capitão.
- Atenção, agentes da SHIELD, aqui é o Steve Rogers. – ele começou a dizer.
O capitão Rogers contou tudo sobre a HIDRA, que eles estavam controlando a SHIELD. Contou que o líder deles era Alexander Pierce e que queriam controle absoluto.
- Eu sei que estou pedindo muito, mas o preço para a liberdade é alto. Sempre foi. E é o preço que estou disposto a pagar. – ele continuou – E se eu for o único então, que seja. Mas aposto que não sou.
Depois das palavras de Steve, Hill permaneceu na sala e nós seguimos para os porta-aviões. No meio do caminho, Hill informou pelo comunicador que haviam iniciado a decolagem.
- Droga. – murmurou – O que faremos agora?
- Só precisamos ir mais rápido. – eu disse.
Nos separamos e cada um foi em direção ao seu porta-avião. corria ao meu lado. Antes que pudéssemos chegar ao nosso destino, um grupo de agentes da HIDRA veio para nos interceptar. Não havia como passar, por isso nos escondemos atrás de várias caixas cinza.
- , precisa voltar e pedir apoio aéreo. – me virei para meu amigo.
- E você, o que vai fazer? – ele questionou – Não pode entrar lá sozinha.
- Vai ser mais fácil, posso passar despercebida. – eu disse – Agora, volte e traga ajuda.
mordeu os lábios e meio relutante, voltou. O vi se espremer entre as naves e sumir. Olhei em volta, pegando minha pistola. Eu precisaria entrar antes que o porta-avião subisse ao céu.
Flashback –Off-
Desci da moto e retirei o capacete. Olhei em volta e não havia ninguém no estacionamento da base. Os agentes deveriam estar começando a chegar, pois ainda era bem cedo. Deixei o capacete sobre a moto e segui para dentro.
Passei pelos corredores e apenas algumas pessoas já tinham começado a trabalhar. Entre elas, Bobbi. Virei o rosto, fingindo que não a tinha visto no laboratório e passei direto. Fui até o banheiro e tranquei a porta. Parei em frente ao espelho e respirei fundo. Eu estava prestes a fazer a coisa mais doida da minha vida. Nunca tinha sido tão audaciosa e por esse motivo minhas pernas não paravam de tremer.
- Vamos lá, Golden... – murmurei pra mim mesma – Sabe que é o certo a fazer.
Respirei fundo e passei as mãos nos meus cabelos presos num rabo de cavalo alto. Depois, me afastei do espelho e fui até a saída. Caminhei até a sala onde ficavam os computadores gerais. Adentrei o local e comemorei internamente por não haver ninguém lá. Com certeza deveriam estar tomando um cafezinho. Segui até um dos computadores e me sentei na cadeira giratória. Olhei para os lados e então tirei algo do bolso da minha jaqueta.
Era o dispositivo que Tony havia me ajudado a fazer. Passamos toda a noite elaborando aquela coisa e agora eu estava pronta para usá-la. Ele se assemelhava a um sofisticado pendrive, mas tinha uma função diferente. Ao invés de poder guardar informações, ele confundiria todo o sistema da base por algum tempo. Tempo suficiente para que eu pudesse alterar algumas coisas.
Conectei o dispositivo ao fundo do gabinete do computador e esperei. Em seguida, tentei acessar as informações, conseguindo. Comecei a fazer as mudanças necessárias. Congelei as câmeras e mudei as senhas de alguns lugares para que pudesse entrar. Também tranquei algumas portas para evitar que os agentes saíssem antes de mim e programei os quinjets para só decolarem após duas horas.
Aquilo deveria ser suficiente. Levantei-me e segui para a saída. No momento que abri a porta, levei um dos maiores sustos de minha vida. Bobbi estava do lado de fora, recostada na parede. Paralisei por um instante, até que a vi se aproximar.
- O que estava fazendo aí dentro? – ela questionou com os braços cruzados
- Como sabia que eu estava aqui? – tentei mudar de assunto.
- May disse que eu deveria ficar de olho em você. – ela falou sem parecer muito preocupada.
- Ela disse? – ergui as sobrancelhas, incrédula.
- Sim, só não entendi o motivo. – ela balançou os ombros, mas então me encarou – Será que poderia me explicar?
- Eu... estava... procurando o . – falei a primeira coisa que me veio na mente.
- E o que o agente estaria fazendo na sala de computadores? – ela franziu o cenho.
- Não sei. – dei de ombros – Mas não o encontrei em lugar algum. Talvez possa me dizer onde ele está ou se já chegou.
- Golden... – ela se aproximou alguns passos – O que está acontecendo?
Droga. Essa era definitivamente a palavra que descrevia minha situação. Como explicar para Bobbi o que acontecia, sem dizer quais eram minhas intenções? Mordi os lábios e fitei o nada por alguns segundos, mas logo voltei a mirá-la. A agente Morse era confiável e, assim como nós, não tinha sido informada do que fariam com Bucky. Talvez eu pudesse convencê-la a me ajudar.
- Nesses últimos dias nos esforçamos demais para então descobrirmos que não tínhamos acesso a certas informações da missão. – eu também cruzei os braços – Isso me deixou bem irritada. E sei que deixou você também.
- Sim, eu fiquei. – ela admitiu – Mas eles só querem ajudar o Barnes.
- Bobbi, eu conversei com o Bucky depois do episódio da sala de interrogatórios. – dei dois passos – Ele está desesperado. O tratamento de choque o deixou traumatizado e ele praticamente implorou para encontramos outra maneira de trazermos suas memórias de volta. Mas o diretor Coulson disse que não temos tempo. Isso não é estranho pra você?
- É... um pouco. – ela ficou pensativa – Aonde que chegar?
- Quero dar mais tempo ao Soldado Invernal. – eu concluí.
- Mas como? – ela parecia confusa – A decisão já foi tomada.
- Eu sei. – engoli seco e finalmente disse – É por isso que darei um jeito de tirá-lo daqui. Antes que possam submetê-lo ao tratamento.
- Você o quê? – ela deixou os braços penderem ao lado do corpo – Golden, está ficando louca?
- Bobbi, não posso deixá-lo passar por isso. - parei bem em sua frente – Mas preciso de sua ajuda.
Ela me olhou receosa por certo tempo, mas então baixou os olhos. Ela estava pensando no que fazer e quando voltou a me encarar, eu tive certeza de sua decisão. Estávamos do mesmo lado.
- Provavelmente, vou me arrepender disso. – ela apoiou as mãos na cintura – Então, o que devo fazer?
- Distraia os outros enquanto o tiro da contenção. – eu expliquei – Precisarei de dez minutos.
- Certo. – ela falou e começou a se afastar – Só você para acreditar tanto em uma pessoa.
Sorri graças as suas palavras e segui até a sala onde Bucky estava. Passei pelos corredores vazios e logo avistei a ala de isolamento. Parei em frente à porta branca e digitei a nova senha. Ouvi o bipe e empurrei o metal claro, entrando em seguida.
Olhei em volta, o procurando e o encontrei no mesmo lugar de antes, sentado no chão. Pensei por um segundo se ele tinha passado a noite ali. Quando ele me viu, se levantou quase que de imediato, continuando próximo a parede.
- Como você está? – perguntei, mas ele não respondeu, por isso insisti – Pelo menos dormiu?
- Não. – ele respondeu.
- Você é bem resistente, não é?! – me aproximei.
- O que faz aqui? – ele perguntou, desconfiado.
- Eu disse que te ajudaria. – sorri – E é o que estou fazendo.
- Não pode fazer nada. – ele disse – Seu diretor já veio aqui e me disse que vão continuar com o plano inicial.
- Eles podem até continuar. – apoiei uma mão na cintura – Eu não.
- Do que está falando? – Bucky franziu o cenho.
- Por que ao invés de ficar fazendo tantas perguntas, não me segue? – eu disse e lhe dei as costas.
Parei à entrada e esperei por ele. Logo o senti atrás de mim. Saímos juntos e começamos a caminhar para fora da ala de isolamento. De repente, ouvi passos e parei subitamente, me recostando na parede e fazendo um sinal para Bucky me imitar. Um agente passou olhando para seu tablete e não nos percebeu. Suspirei aliviada.
- O que estamos fazendo? – ouvi Bucky perguntar atrás de mim.
- Estamos fugindo. – falei sem rodeios.
- O quê? – ele segurou meu braço – Sabe que isso não é seguro.
- Só se for pra mim. – eu ri levemente.
- Exatamente. – ele olhou bem em meus olhos.
Engoli seco. Eu sabia muito bem que eu poderia me machucar ou se punida por conta daquela ação. Mas, Bucky ter se importado com isso me deixou visivelmente surpresa. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, mais pessoas se aproximaram. Olhei para o corredor, mas me aliviei ao ver Bobbi. Com ela vinham e Daisy. Fui até eles.
- Contou a eles? – perguntei para Bobbi.
- Sim. – ela respondeu – E eles também vão ajudar.
- Não é justo que o Bucky não possa escolher o que farão com ele. – Daisy disse – Ele é humano, afinal.
- Vamos sair logo daqui. – disse.
Começamos a caminhar com pressa pelos corredores em direção ao estacionamento. Os dez minutos já estavam no fim, logo o sistema reiniciaria e as câmeras voltariam ao normal. Mais dois minutos se passaram e quando estávamos perto do nosso objetivo, fomos surpreendidos por vários agentes, entre eles May. Não tive ao menos tempo para pensar. Senti um soco atingir meu rosto com a clara intenção de me parar, mas não de machucar. Os outros também estavam sendo atacados.
Foi quando percebi que alguns agentes tinham armas boa-noite e que as direcionavam para Bucky. Eles iriam apagá-lo e seria difícil tirá-lo dali assim. Esquivei-me de May e corri até um deles. Segurei sua mão e a torci, obrigando-o a largar a arma. Depois, lhe dei uma rasteira, o fazendo ir ao chão. Por fim, atirei nele e me virei para os outros.
- Eles têm armas boa-noite, não deixe que atinjam o Bucky! – falei, enquanto desviava dos golpes de May
- O que pensam que estão fazendo? – ela perguntou ao mesmo tempo em que segurava minha mão e me imprensava na parede – Você recebeu ordens, garota.
- Ordens bem idiotas por sinal. – falei irritada.
Tentei me livrar dela, mas May tomou a arma de minhas mãos e a jogou longe. Ela passou um dos braços ao redor do meu pescoço enquanto segurava meus pulsos com o outro. Tinha a intenção de me imobilizar. Antes que conseguisse, porém, lancei minha cabeça pra trás com força contra seu rosto e a deixei desorientada. Foi o suficiente para escapar.
Corri para o lado de Bucky, que acabava de desacordar um agente com um soco e agarrei seu braço.
- Vamos sair daqui. – eu disse e então me virei para a agente – !
- O quê? – ele perguntou após atirar com a arma boa-noite.
- Os segurem. – eu disse – Vou seguir em frente.
- Certo. – ele concordou
- Vá! – Bobbi concordou – Damos um jeito nisso.
Balancei a cabeça positivamente. Em seguida, peguei a pistola boa-noite do agente aos meus pés e puxei Bucky até o estacionamento. Alguns agentes vieram em nosso encalço, mas apaguei todos eles. Logo estávamos lá e seguimos até minha moto. Seria mais fácil fugir com ela. A liguei, mas antes que eu subisse nela, mais agentes apareceram.
- Droga! – falei contrariada.
Posicionei-me e apontei para eles, atirando. Derrubei dois, mas haviam muitos. Não conseguiríamos sem mais ajuda. Fiz mais um disparo, então ouvi o som da moto atrás de mim e olhei pra trás.
- Sobe! – Bucky falou com urgência.
Não hesitei um segundo sequer e passei a perna na garupa, me agarrando a sua cintura com uma mão. Com a outra atirava mais vezes. Chegamos perto da saída e ela se abriu automaticamente, graças ao detector de movimentos. Saímos e Bucky ia a toda velocidade. Quando percebi que não tinham mais agentes atrás de nós, passei minha outra mão ao seu redor.
- Pra onde estamos indo? – ele perguntou.
- Apenas siga direto. – eu disse – Vamos despistá-los antes.
Seguimos em direção à Nova Iorque. A cidade ficava há uns vinte minutos dali, mas não entramos, permanecendo aos arredores. No visor da moto, havia um GPS e também um detector de outros veículos. Quando tive certeza de que não estávamos sendo seguidos, eu disse a Bucky que acionasse o GPS.
- Aonde ele vai nos levar? – ele questionou.
Ainda agarrada a ele, sorri. Seus cabelos se esvoaçavam por conta do vento que nos açoitava sem pena e seus músculos estavam tensos. Fitei a estrada menos preocupada. Agora seria muito mais fácil ajudá-lo. Ajudá-lo da forma certa.
- Até umas pessoas que conheço. – eu respondi.
Havia sido mais fácil do que o esperado. Meu sorriso se tornou maior. Se Pepper soubesse no que eu havia me metido, definitivamente, teria um ataque cardíaco. Infelizmente, eu não me sentia nem um pouco arrependida. Tinha burlado as ordens que recebi por um cara que mal conhecia.
Só esperava estar certa. Espera poder fazer Bucky se lembrar sem precisar sofrer mais. Quanto ao meu futuro, eu não fazia ideia de como ficaria depois de tudo isso.
Capítulo 16 - Medo
Fazia duas horas que estávamos viajando. Mas eu não aguentava mais sentir o vento açoitando meu rosto, por isso praticamente obriguei Bucky a parar a moto. Ele queria que continuássemos até o destino final. Pelo que parece, havia se esquecido de que eu não era um super soldado.
Paramos na estrada e ele deu um jeito de esconder a moto além do acostamento, enquanto eu tentava me comunicar com . Caminhei um pouco para dentro da densa vegetação que havia na beirada da pista e disquei seu número em meu celular. Não demorei a ouvir a voz do meu amigo.
- Golden, seja rápida, eles podem estar rastreando essa linha. – ele foi direto.
- É bom falar com você também. – revirei os olhos, mas continuei – Como vão as coisas por aí?
- Eles estão se preparando para procurar vocês. – ele disse – E sabe que vão conseguir, não é?! Mais cedo ou mais tarde.
- Espero que seja mais tarde. – murmurei contrariada – E quanto a vocês?
- Estamos sendo contidos na ala de isolamento. – ele respondeu – Essas salas brancas... nem se quiséssemos, poderíamos escapar. Foram feitas para conter inumanos.
- Inumamos? – franzi o cenho.
- É melhor depois conversar com a Daisy, ela é um deles. – ele falou após um suspiro – Agora, preciso desligar.
- Só queria mesmo saber se estão bem. – mordi os lábios.
- Estamos bem. – ele disse – Leve o Barnes para onde quer que seja e não se preocupe.
- Tudo bem. – falei e sorri, mesmo que ele não pudesse ver – Nos vemos logo, agente .
- Não vejo a hora, agente Potts. – ele respondeu com um leve riso.
Em seguida, desliguei e guardei o celular no bolso da jaqueta. Virei-me para voltar e então avistei Bucky um pouco afastado com os braços pendendo ao lado do corpo, me observando. Por um segundo achei que fosse me atacar, mas então percebi que ele só estava curioso. Lancei-lhe um sorriso e caminhei em sua direção, tentando não enroscar meu pé nos arbustos mais baixos. Ao parar em sua frente, inclinei a cabeça para o lado.
- Estava ouvindo minha conversa? – perguntei num tom divertido.
- Eu não... tive a intenção. – ele respondeu um pouco desconcertado.
- Está tudo bem, não era nada de mais. – eu ri e fiz um gesto com a mão – Só prometa que na próxima vez, vai me avisar quando se aproximar. Não quero dar um tiro na sua cabeça sem querer.
- Você não seria tão rápida. – ele voltou a sua postura anterior.
- Acha que não? - ergui as sobrancelhas, mas estalei a língua, mostrando que não queria começar uma discussão sobre aquele assunto – É melhor ficar esperto, soldado. Você ainda não me conhece, talvez eu seja bem mais do que pensa.
Eu falei e pisquei uma vez. Bucky franziu o cenho diante da minha observação, o que me fez rir abafado. Sem mais, me virei e segui até onde ele havia deixado à moto. Logo senti seus passos atrás de mim. Chegamos até a moto e seguimos viagem, que duraria mais umas três horas.
- Para onde estamos indo? – ele perguntou outra vez, olhando por cima do ombro de relance.
- Você é bastante curioso, Barnes. – eu ri e soquei sua perna de leve – Nós já vamos chegar, apenas siga o GPS.
Bucky não disse mais nada e, por incrível que pareça, eu agradeci por isso. Também fiquei calada, pois desejava pensar um pouco no que faríamos a partir dali. Apesar de termos fugido, não poderíamos continuar assim para sempre. Precisaríamos voltar em algum momento, pois apesar de tudo, ainda havia a HIDRA. Eu não achava certo o que a SHIELD pretendia fazer com Bucky, mas sabia que eles seriam bem cruéis se o encontrassem.
Eu esperava poder ajudá-lo a se lembrar do seu passado. E sabia que assim ele poderia ser útil de alguma forma, já que tinha certeza que a SHIELD precisava de algo que James poderia recordar. Com certeza era algo importante, caso contrário, não estariam indo contra o tempo.
Quanto a mim, não fazia ideia do que aconteceria. Provavelmente, seria punida por ter sido tão desobediente ou quem sabe até mesmo expulsa. Para minha tia, seria algo ótimo, pois ela nunca aprovou essa minha vida de agente secreta. Mas, para mim, seria como perder uma parte de minha essência. Eu queria ajudar as pessoas e havia encontrado a melhor forma de fazê-lo. Agora, não tinha mais certeza de nada. Sabia apenas que deveria proteger Bucky Barnes.
Depois de vinte minutos a menos que o previsto, chegamos ao nosso destino. Estávamos em Washington DC. Aquela cidade havia deixado muitas marcas em mim e em vários outros, mas era preciso voltar. Encontraria auxílio ali. Bucky continuou seguindo o GPS, até que disse para ele parar.
- Vamos deixar a moto aqui e continuar caminhando. – eu disse – É mais seguro.
- E se precisarmos fugir? – ele questionou.
- O lugar para onde vamos não fica tão longe. – eu arrumei meu cabelo – Só precisamos andar até o fim da avenida.
Vi que ele ficou contrariado, mas não me importei. Segui em frente e não o esperei, pois sabia que viria. Ao olhar por cima do ombro, constatei que tinha razão. Bucky vinha, porém, mantinha certa distância. Ri internamente, balançando a cabeça, mas depois observei o perímetro. Não havia muitas pessoas circulando, então fiquei mais tranquila. Ao nos aproximamos da rua que tinha como rumo, diminui o passo para que ele me acompanhasse. Ficamos lado a lado e eu fiz um gesto com a cabeça, apontando para uma casa em especial.
- Chegamos. – eu disse.
Paramos em frente à porta e eu bati duas vezes. Esperamos enquanto eu trocava o peso do meu corpo da perna direita para a esquerda, alguém veio nos atender. E assim que a porta se abriu, revelando um cara totalmente surpreso, eu sorri largamente.
- Agente Potts?! – ele fez uma careta engraçada.
- E aí, Sam! – eu apoiei uma mão na cintura.
- Mas, o que... – ele desviou seu olhar de mim até Bucky e paralisou por um instante – Por favor, me diz que você não se tornou uma assassina da HIDRA. Se ainda não percebeu, eu não estou em condições apropriadas pra me defender.
- Relaxa. – eu ri abertamente – Eu continuo a mesma e o Bucky não é mais aquele cara.
- Tem certeza? – ele cruzou os braços.
- Sim. – eu disse – É por isso que preciso de sua ajuda.
- Essa não é a primeira vez que aparecem em minha porta. – ele falou sugestivo e nos deu espaço – Entrem.
Olhei para Barnes e fiz um sinal positivo com a cabeça, mostrando que estava tudo bem. Depois, entramos e seguimos até a sala da casa de Sam. Era um lugar simples, mas aconchegante. Sem cerimônias, me sentei no sofá marrom e soltei um suspiro de alívio. As quase cinco horas de viagem me deixaram exausta. Depois de acomodada, fitei os dois e ergui as sobrancelhas ao notar uma troca de olhares estranha entre eles. Não confiavam um no outro. Nenhuma novidade.
- Acho que podemos conversar agora. – chamei a atenção deles, que continuavam de pé.
- Claro. – Sam disse, se sentando numa poltrona – Pode começar a falar.
- Aconteceram muitas coisas, mas vou tentar resumir. – me ajeitei, apoiando os braços no joelho.
Comecei a contar toda a história da missão para Sam, de como foi preciso mais de uma tentativa para levar o Soldado Invernal para a SHIELD. Que eles queriam recuperar as memórias dele, mas de uma forma cruel e que por isso havíamos fugido. Ele e Bucky, que estava de pé, recostado numa parede perto de um abajur branco, prestaram bastante atenção ao meu relato.
- E é isso. – suspirei fundo – Agora somos fugitivos da SHIELD e a HIDRA com certeza também virá atrás de nós.
- Nossa... isso é bem tenso. – ele fitou o chão – Mas, como eu poderia ajudar?
- Precisamos de um lugar pra ficar. – eu disse – Pelo menos nesses primeiros dias.
- Podem ficar o quanto precisarem. – ele sorriu de forma mínima.
- E... – eu continue – Preciso que encontre alguém.
- Alguém? – ele semicerrou os olhos – E quem seria esse alguém?
Voltei a me recostar no sofá e fitei Bucky. Ele parecia também querer saber quem seria tal pessoa. Mordi meus lábios, voltei a fitar Sam e finalmente disse.
- Steve Rogers. – respondi convicta – A única pessoa que pode nos ajudar.
Acho que Bucky não gostou muito do que eu disse. Sua reação confirmou isso. Subitamente, ele se afastou da parede e saiu apressado. De onde estava, o vi abrir a porta da frente com urgência e sair. Era só o que me faltava.
- Ele está legal? – Sam perguntou.
- Eu não sei. – eu murmurei, me levantando – Já volto.
Corri até a porta da entrada ainda aberta e saí. Olhei em volta, preocupada com o fato de Barnes ter fugido mais uma vez, mas suspirei fundo quando o encontrei na calçada. Ele estava parado de costas para mim e passava as mãos na nuca, visivelmente perturbado. Respirei fundo e fui até lá.
- Bucky, você está bem? – parei a alguns passos.
- Você não disse que faríamos isso. – ele falou baixo, mas consegui ouvir – Que iríamos atrás... dele.
- Não, eu não disse. – admiti – Mas não por não querer, apenas não tive tempo. As coisas aconteceram muito rápido e essa foi uma ideia de última hora.
- Eu não quero falar com ele. – ele disse firme, mas ainda não me encarava.
- Como assim? – franzi o cenho – Até onde eu saiba, vocês eram melhores amigos. O Steve é a única pessoa que pode ajudá-lo agora.
- Você não entende... – ele passou as mãos no rosto.
- Por que não para de dizer isso? – fui até ele, parando em sua frente – Sei que não passei por nada do que você passou, não fui transformada numa assassina sem memórias. Mas isso não significa que não perdi coisas.
- Não é isso que quero dizer. – ele franziu o cenho – Eu só...
- Só está com medo. – completei sua fala.
Ele abriu a boca para dizer algo, porém, calou-se novamente. Sorri gentilmente ao perceber que ele não era do tipo que gostava de discutir e me aproximei mais. Estávamos bem perto, a ponto de eu poder ver nitidamente a cor azulada de seus olhos.
- Mas não se preocupe, eu também estou. – mordi os lábios por um instante – Não sei o que será de minha vida a partir de agora. Eu burlei todas as regras possíveis e deixei a família que me restava pra trás para ajudá-lo.
- Não precisava ter feito nada disso. – ele desviou o rosto.
- Mas eu fiz. – eu disse.
- Por quê? – ele voltou a me encarar.
- Por que quero que tenha sua vida de volta. Quero que possa escolher seu futuro. – suspirei, completando – Mas... há algo mais.
- Algo mais? – ele questionou confuso.
- Sim. – voltei a sorrir – Apenas não sei dizer o quê.
Bucky me encarou, ainda intrigado e sustentei seu olhar. Parecia haver algo que me movia a estar do seu lado. E após aquela fuga, eu estava convencida de que era mais do que minha vontade de fazer o bem. Mas o quê?
- Estou... atrapalhando algo? – de repente, ouvi Sam pigarrear atrás de nós.
- Não... – eu me afastei, um pouco surpresa – Só estávamos conversando.
- E então? – ele cruzou os braços – Vão ficar aqui?
- Sim, nós vamos. – eu passei por Bucky e fui até ele.
- Legal... – ele disse e lançou um breve olhar para Bucky – Venham comigo.
O seguimos e Sam nos conduziu até um quarto. Adentrei o cômodo primeiro e quase ri alto ao ver que a cama era de casal, mas deixei que Bucky entrasse para saber qual seria sua reação. Esperei alguns segundos, até que o vi olhar entre mim e a cama como se não acreditasse na situação que teríamos que passar. Com isso, foi impossível não rir.
- Me desculpem.... – Sam se esforçava para não me acompanhar naquela crise de risos – Só tem dois quartos na casa. Mas, se servir de consolo, tem um banheiro ali naquela porta.
- Relaxa. – tentei me recompor – Damos um jeito.
- Tá legal. – ele ergueu as sobrancelhas – Vou deixar que se ajeitem.
Em seguida, ele saiu, nos deixando sozinhos. Virei-me para Bucky, que parecia esperar que eu dissesse algo e tentei não rir mais. Caminhei lentamente, analisando o quarto. Passei a mão numa cômoda de madeira escura no canto, perto da porta e batuquei nela com os dedos. Depois, caminhei até a porta onde Sam tinha dito onde ficava o banheiro. A abri e espiei lá dentro, confirmando isso.
- Parece que temos água quente. – eu falei ao observar o chuveiro elétrico.
- Vamos ficar juntos mesmo? – ele perguntou.
- Depende do que quer dizer com isso. – fechei a porta e me virei para ele com um sorriso debochado.
Barnes não respondeu, apenas me deu as costas e sentou no colchão. Parece que ele não tinha muito senso de humor. Juntei-me a ele, sentando do lado oposto. Comecei a tirar minha bota, a deixando ao lado do criado mudo e coloquei os pés para cima. Peguei meu celular e olhei as horas. Eram quase cinco da trade. Suspirei determinada.
- Prepare-se, Soldado. – eu disse e Bucky me olhou por cima do ombro – Amanhã será um grande dia!
Capítulo 17 - Pesadelos
Fazia quase quarenta minutos que eu estava trancada no banheiro. Tinha conversado o resto da tarde com Sam sobre ele entrar em contanto com Steve, pois não seria seguro que eu o fizesse. A SHIELD, assim como a HIDRA, poderia estar nos rastreando, então precisaríamos de uma pequena distração. Expliquei tudo isso e ele disse que daria um jeito.
Enquanto a água quente caia sobre meus músculos, aliviando um pouco minha tensão, eu suspirei. Quando a adrenalina cessou, eu pude sentir muitas dores, bem mais do que gostaria. Especialmente a dor no abdômen. Ela me fazia perder o fôlego de vez em quando, o que não era nada bom. Resignada, desliguei o registro e saí, me enrolando numa toalha branca. Caminhei até a pia onde tinha deixado à roupa que usaria para dormir. Antes, mirei meu reflexo no espelho. Eu estava um pouco melhor do que antes, apesar de ter algumas olheiras sob os olhos.
- Esse é preço de ser a babá do Soldado Invernal. – apesar de minha fala, sorri e peguei a camisa cinza, a estendendo em minha frente – Acho que vai dar pro gasto.
Analisei a camiseta. Sam havia emprestado roupas para e mim e também para Bucky, mas como eu não era um garoto, elas só serviriam para passar a noite até que minhas roupas estivessem lavadas e secas. Sobre o fato de ter que usar uma cueca, eu preferia não comentar. Terminei de me vestir e me observei. A camisa ia até o meio de minhas coxas. Ignorei esse fato e penteei meus cabelos molhados com os dedos, apenas para tirar o excesso de água. Então decidi voltar ao quarto.
Saí, tentando organizar as roupas sujas em minhas mãos sem deixar a toalha cair e não percebi que Bucky estava de volta ao quarto. Parei por um segundo ao avistá-lo analisar uma camiseta assim como eu tinha feito instante antes. Parecia decidir se a vestia ou não. Pensei em dizer que ele ficasse do jeito que estava, pois a visão era ótima, mas mordi minha língua e tentei sair sem que ele me notasse. O que não aconteceu, é claro.
- Por que demorou tanto? – ele se virou em minha direção, me dando completa visão de seu peitoral – Estava com problemas?
- Não... – eu desviei meus olhos – Eu só... precisava pensar um pouco.
- Claro... – ele murmurou.
Então, o vi me examinar de cima a baixo. Apesar de tentar parecer discreto, tive certeza de que ele observava quão curta era à roupa que eu usava. E seus olhos pareciam querer queimar minha pele exposta. Isso me deixou constrangida. Como se pudesse me esconder, abracei as coisas que levava em minhas mãos e pigarrei, não olhando para ele.
- Eu vou... colocar isso pra lavar. – sorri sem mostrar os dentes.
Sem esperar uma resposta, saí apressada, tentando não deixar a camisa subir mais do que o necessário. Fechei a porta atrás de mim e então corri até a lavanderia. Só parei quando alcancei a máquina de lavar. Joguei tudo lá dentro e apertei o botão, logo vendo as roupas girarem. Enquanto as observava, eu tentava entender o que tinha acabado de acontecer.
Eu nunca havia sido uma garota tímida ou nada parecido, mesmo com garotos. Mas, no momento que recebi a atenção de Bucky, senti meu estômago revirar. Se eu pudesse, teria voltado e me trancado novamente no banheiro. Havia sido... estranho.
- Não pode ser... – eu murmurei e soltei um riso leve – Ele não estava olhando pra mim. Por que ele estaria?
- Com essa roupa? – ouvi a voz de Sam atrás de mim e me virei assustada – Acho bem fácil.
- Se quer me matar de susto é melhor entrar na fila. – levei a mão até o peito – E é só uma camisa, não tem nada de mais aqui.
- Eu sei que não tem. – ele se recostou na parede – Mas pra ele pode ter.
- Você está viajando legal. – eu fitei o teto.
- Golden, é sério. – ele riu diante de minha reação – As circunstâncias os deixaram bem próximos. Um sentimento mais profundo poderia muito bem surgir em meio a tudo isso.
- Definitivamente, você está pirando. – eu revirei os olhos.
- Como quiser. – ele fingiu se render – Mas, quando tudo isso terminar, não me faça dizer “eu avisei”.
- Você não vai. – eu pisquei.
- Sobre amanhã, o Steve virá. – ele disse e eu abri um largo sorriso – Ele deve estar aqui ainda pela manhã.
- Certo. – tentei conter meu entusiasmo – Obrigada!
- Por nada. – ele também sorriu – Só fica esperta com o que eu disse sobre o Barnes.
- Boa noite, Sam! – eu bufei.
Sam riu, balançando a cabeça negativamente e também me desejou boa noite, saindo em seguida. Imitei seu gesto e permaneci ali até a máquina parar. Depois, estendi nossas roupas num varal e fui até a cozinha. Peguei um copo com água e voltei para o quarto. Rezei para que Bucky já estivesse dormindo.
Entrei e o vi deitado de barriga para cima, escondendo o rosto com o braço normal. Graças a Deus ele tinha vestido a camiseta. O abajur estava aceso. Aproximei-me a passos lentos, sem saber se ele já dormia, e deixei o copo sobre o criado mudo. Sentei-me na beirada da cama de costas para ele e deitei calmamente, tentando fazer o menor ruído possível. Eu estava tão quieta que levei um pequeno susto quando ouvi sua voz ao meu lado.
- Você está bem? – ele continuou na mesma posição.
- Eu... estou. – franzi o cenho – Por quê?
- Você costuma ser bem barulhenta, mas está quieta. – ele observou.
- Eu só achei que estivesse dormindo. – me enfiei debaixo do cobertor – Se o acordei, me desculpe.
- Eu não estava dormindo. – ele disse e retirou o braço do rosto, passando a fitar o teto.
- Mas é melhor que durma. – eu sorri, olhando também para cima – O Sam falou com o Steve e ele virá amanhã. Não vai querer estar parecendo um zumbi quando reencontrar seu melhor amigo, não é?
- Pra mim, dormir é um pouco difícil. – ele murmurou – Eu tenho...
- Pesadelos? – virei meu rosto até ele.
- Sim. – ele admitiu.
- Consegue se lembrar deles quando acorda? – eu me interessei, me virando totalmente para ele – Ou das pessoas que estão lá?
- Na maioria das vezes, não. – ele disse e então me encarou – Mas tem um, em especial, que eu sempre me recordo. Não das pessoas, apenas do sonho.
- E o que você vê? – eu perguntei.
- Eu estou em uma de minhas muitas missões, eu tenho que matar alguém e pegar algo de volta. Algo que pertence a HIDRA. – ele franziu o cenho para se lembrar – Então eu vejo um homem e uma mulher. Ela segura algo nos braços. Aponto minha arma pra eles e, sem pensar, atiro neles. Depois vou até a mulher e pego o que ela segurava.
- O quê? – pergunto curiosa.
- Um bebê. – ele diz e parece confuso – Então eu acordo.
- Um bebê? – fiz uma careta – Acha que a HIDRA teria coragem de fazer isso?
- Eles fariam qualquer coisa. – ele ressaltou – Apenas não consigo ligar esses fatos. Acho que são apenas mais lembranças aleatórias que vêm me atormentar.
Fitei seu rosto perdido e ele também me fitou. Era improvável que eu quebrasse nosso contato visual agora, pois eu queria que ele soubesse que não estava sozinho. Não mais. E, muitas vezes, um olhar bastava para dizer isso. Por mais que eu fosse uma adepta às palavras.
- Por que está fazendo isso? – ele questionou mais uma vez.
- Você sabe o motivo. – ergui as sobrancelhas.
- Disse que tem uma família. – ele falou – E que os deixou pra trás.
- Mas eu vou voltar. – sorri.
- Como pode saber? – ele continuou – Não estamos indo apenas contra a SHIELD, mas também contra a HIDRA. Todos nós podemos morrer.
- Eu sei, Bucky. – suspirei – Mas essa foi uma escolha que eu fiz e, independente do que aconteça, sei que eles vão entender.
Ele não disse nada, permaneceu calado, me observando. Ri abafado e desviei o rosto. Eu estava mais envergonhada do que podia imaginar que um dia ficaria. E dividir a cama com Bucky não ajudava em nada. Mas, tentei manter minha postura. Virei-me para o lado oposto e puxei o lençol até o queixo.
- Boa noite, Bucky! – falei baixinho.
- Boa noite... – ele respondeu tão baixo quanto eu depois de certo tempo.
Sorri, pois não esperava uma resposta e agradeci mentalmente por ter virado para o outro lado antes disso. Desliguei o abajur e fechei os olhos, esperando o sono chegar. Amanhã seria um novo dia.
Abri os olhos, levemente incomodada. Olhei ao redor, relembrando onde estava e só estão percebi que era dia. Fitei a janela fechada do quarto e então encontrei o que me importunava. Uma brecha de luz do sol passava pelas cortinas e atingia meu rosto.
Suspirei fundo e me sentei na cama. Olhei para o outro lado e Bucky não estava mais lá, porém, o barulho de água caindo no banheiro me deixou aliviada. Espreguicei-me e levantei, indo até a lavanderia buscar minhas roupas. Hoje seria um grande dia. Esperava apenas que Bucky não surtasse.
Peguei tudo do varal e voltei, passando pela cozinha. Vi Sam mexendo no fogão e lhe desejei bom dia, então segui para o quarto. Quando entrei, encontrei Bucky já pronto. Ele vestia uma calça jeans, uma blusa vermelha e um casaco preto, que escondia a maior parte do seu braço metálico. Sorri quando ele me encarou.
- Bom dia! – eu disse, mas recebi apenas um aceno de cabeça como resposta – Está nervoso, não é?
- Não. – ele passou por mim.
- Não? – virei metade do corpo.
- Não. – ele repetiu, girando a maçaneta – Estou apavorado.
Em seguida, Barnes saiu, me deixando sozinha. Eu ri diante de sua atitude e segui para o banheiro. Tomei banho e vesti as mesmas roupas de antes. Uma calça preta, uma blusa branca e uma jaqueta também escura. Calcei minhas botas e prendi meus cabelos. Não demorei a estar pronta e me juntei a Sam e Bucky, que me esperavam para o café.
- Quando ele chega? – eu perguntei.
- A qualquer momento. – Sam respondeu e vi Bucky se remexer na cadeira.
Terminamos o café da manhã. Enquanto eu lavava os pratos e Sam os secava, Bucky foi ao banheiro.
- Golden, tem certeza que isso vai dar certo? – Sam perguntou
- Claro que vai. – eu passei um prato para ele – Eu espero.
Ainda lá, ouvimos a campainha tocar. Automaticamente olhei para Sam com um largo sorriso. Era Steve, sem dúvidas.
- Eu vou abrir a porta. – ele disse.
Acenei positivamente e sequei minhas mãos com um pano de prato. O larguei na mesa e corri até o quarto em busca de Bucky. Ao adentrá-lo, ele acabava de sair do banheiro.
- Bucky! – eu parei, mas meu corpo parecia vibrar – Ele está aqui!
Bucky arregalou os olhos pela surpresa, então me aproximei. Ergui minha mão para ele e quando ele a aceitou, o conduzi para fora de lá, em direção a sala. Ele vinha alguns passos atrás de mim deixando que eu o levasse, por essa razão, fui a primeira a ver o Capitão. Seu olhar se iluminou ao ver o melhor amigo. A única coisa que lhe restara do passado.
- Bucky... – Steve murmurou surpreso, mas então olhou para mim – Agente Potts?
- Olá, Capitão! – eu sorri – Não me pergunte nada agora, depois falamos sobre isso.
- Tudo bem. – ele sorriu de volta.
- Acho melhor deixarmos que conversem sozinhos. – de repente ouvi uma voz feminina.
Olhei na direção que ela vinha e me espantei ao reconhecer sua dona. Com os cabelos maiores que da última vez a ainda mais vermelhos, Natasha nos analisava com um sorriso de canto. Não consegui deixar de ir até ela.
- Nat? – eu a abracei – Você também veio?
- Não podia perder essa. – ela disse quando nos afastamos.
- É claro que não podia. – eu ri.
- E então, o que acha de deixá-los sozinhos? – ela perguntou.
- Contanto que não destruam minha casa. – Sam disse.
- Eles não vão. – me virei para Bucky e Steve.
Eles se encaravam. Steve estava radiante, afinal, quando poderia ter tido uma chance como essa para conversar com seu amigo? Já Bucky o fitava meio desconfiado. Ainda assim, ele parecei tentar se lembrar de qualquer coisa. Fui até ele.
- Ei! – chamei sua atenção – Vamos sair por um tempo, pra que possam conversar um pouco, mas voltamos logo.
Ele ficou receoso diante daquela proposta, mas peguei sua mão outra vez. Aproximei-me enquanto sentia seus dedos se fechando em volta dos meus e sussurrei apenas para ele ouvir.
- Eu sempre estarei com você. – eu disse – Não se esqueça.
Depois, me afastei e segui para perto de Sam e Natasha. Fomos até a porta da frente e quando passei pelo capitão Rogers, balancei a cabeça num sinal de que tudo estava bem. Saímos e a moto de Steve estava estacionada na entrada. Começamos a andar pela rua incrivelmente tranquila. Ainda assim, minha mente não conseguia se desviar do que poderia estar acontecendo. Será que Bucky se lembraria logo ou levaria tempo?
Andamos um pouco, conversando sobre assuntos aleatórios, até que um homem de boné passou por mim e esbarrou com força em meu ombro. O segui com o olhar, e vi Natasha fazer o mesmo, mas decidi ignorá-lo. Deveria ser só mais um mal-educado.
Minha única e verdadeira preocupação, pelo menos naquele momento, era que Bucky e Steve se entendessem. Eu havia arriscado tudo por isso. Porém, de certa forma, sabia que tudo ficaria bem.
Capítulo 18: Novo Inimigo
- Já chega! – eu levei minhas mãos até as têmporas – Não aguento mais esperar.
- Golden... – Natasha ergueu as sobrancelhas – Não tem nem quinze minutos que saímos de lá.
- Eu sei, mas eu não consigo parar de pensar no que pode estar acontecendo. – eu fitei os dois sentados a minha frente.
Tínhamos caminhando um pouco e então entramos numa lanchonete para comer alguma coisa. Na verdade, precisei insistir. Por sorte, Sam e Natasha eram menos teimosos que Bucky.
- É melhor relaxar. – Sam colocou seu copo de suco sobre a mesa – Eles devem estar bem.
- Mais o Bucky pode surtar... – eu fitei meu milk-shake – Eu deveria ter deixado meu comunicador por perto.
- Você está sendo paranoica. – Nat riu levemente e cruzou os braços.
- Vocês não entendem. – eu fitei o teto – O Bucky... ele é instável. Se sentir o menor sinal de ameaça, vai atacar, acreditem. Ele quase me matou uma vez.
- Não diga! – ela disse e vi o tom debochado em sua voz – Pois, pelo que vi, vocês dois são bem próximos.
- Como é? – fiz uma careta.
- Ela ainda está na fase de negação. – Sam falou.
- Eu vou ao banheiro. – revirei os olhos.
Levantei-me, disposta a fugir daquela conversa embaraçosa e segui até o corredor que me levaria ao banheiro feminino. Fechei a porta atrás de mim e me recostei nela. Ri sem humor, tentando entender de onde eles haviam tirado aquela história sobre mim e Bucky, mas antes que pudesse chegar a uma resposta, ouvi meu celular vibrar no bolso de trás de minha calça. O tirei de lá e quando vi o nome de no visor, vibrei. Estava com saudades e falar com ele talvez me deixasse um pouco mais calma. Atendi.
- Olá, atirador! - eu disse animada.
- Olá, agente Potts! – ouvi uma voz diferente – Obrigada pelo elogio, apesar de eu não ser tão bom assim com armas.
- Diretor Coulson?! – arregalei os olhos pela surpresa – Mas... como?
- Sabia que uma hora ou outra você entraria em contato com o agente . – ele disse, continuando – Golden... por favor, me escute. Precisa voltar.
- Me desculpe, senhor, mas não posso. – eu lamentei – Gostaria de obedecer, mas não vou deixar que façam isso com o Bucky.
- Agente, isso não tem a ver só com o Barnes. – ele disse e parecia realmente incomodado – Algo muito maior está envolvido.
- Algo muito maior? – franzi o cenho – O que seria esse algo?
- Não tem como explicar agora. – ele disse – Mas quando estiver aqui poderei esclarecer tudo.
- E por que não fez isso antes? – questionei – O que há de tão urgente agora que não valia a pena ser ressaltado quando eu ainda estava aí?
- Golden... apenas volte para a base. – ele falou mais firme – Isso é uma ordem.
- Uma ordem que terei que desconsiderar. – fechei os olhos – Eu sinto muito.
Ficamos em silêncio por longos instantes. Até pensei que ele havia desligado, porém, sabia que não. Só após uma respiração profunda é que Phill voltou a falar.
- Sei que está na casa de Sam Wilson. E que o Capitão Rogers a agente Romanoff estão com vocês. – ele disse, me surpreendendo.
- Como... – apesar de saber que isso era possível, fiquei sem palavras.
- Não importa como. – ele completou minha fala – O problema é que a HIDRA também sabe e eles estão indo até aí. Receio que já possam ter chegado.
- Isso não é possível. – murmurei – Tomei todos os cuidados para que não pudessem nos rastrear por pelo menos alguns dias...
- Você é uma boa agente. – ele falou – Mas existem muitas formas de detectar pessoas, especialmente uma como o Soldado Invernal.
- É claro! – eu ri sem humor.
- Só quero que saiba... – ele começou a falar, mas parou de repente e o ouvi conversar com outra pessoa.
- O que houve? – eu perguntei.
- Eles o acharam! – Coulson falou e senti meu coração acelerar – A HIDRA encontrou o Barnes.
O diretor disse mais alguma coisa, entretanto, não lhe dei mais atenção. Saí apressada e segui até Sam e Natasha que conversavam tranquilos. Assim que me avistaram, porém, suas expressões mudaram. Confusos, se levantaram e me esperaram chegar até eles.
- O que aconteceu? – Natasha perguntou.
- A HIDRA... estão indo pra lá. – falei o mais baixo que consegui.
Sem esperar mais, nós duas caminhamos até a saída enquanto Sam deixava uma quantia de dinheiro sobre a mesa. Logo ele se juntou a nós e começamos a correr até sua casa. A cada nova passada, meu coração parecia querer sair pela boca e eu não sabia se era por conta do esforço ou do que poderia acontecer.
Quando viramos a esquina, tudo parecia tranquilo. O que não durou muito. Já próximos, ouvimos um grande baque e algo foi lançado pela porta da frente. Na realidade, alguém. Vimos Steve atravessar o vidro e cair na calçada com o escudo no braço. Parei um segundo e retirei minha arma do coldre que ficava escondido pela jaqueta.
- Ah droga! – Sam parou ao meu lado – Eu só pedi que não destruíssem minha casa e olha isso!
- Vamos! – Nat gritou.
Em outra ocasião, eu teria rido da cara do Falcão, mas agora não era a hora. Bucky estava em perigo. Nós estávamos em perigo. Sabe-se lá quantos agentes haviam lá dentro. Paramos ao lado do Capitão quando ele já se levantava.
- É a HIDRA. – ele disse, segurando o escudo mais firme.
- Sabemos disso. – falei sem muita paciência – Onde está o Bucky?
- Está lutando com aquele cara. – ele arfou – Mas ele é muito forte.
- Aquele... cara? – Nat ergue as sobrancelhas – Está dizendo que só há uma pessoa aí dentro?
- Sim, mas creio que ele seja algum tipo de super soldado ou um aprimorado. – Steve salientou – É impossível que alguém normal tenha tamanha força.
- Que seja. – eu disse – Aposto que ele não ficará de pé após receber um tiro.
Decidida, atravessei a porta destruída, sentindo minha bota esmagar cacos de vidro pelo chão. Varri o ambiente com os olhos e avistei a cena mais improvável. Bucky era erguido pelo pescoço pelo tal homem. Abri a boca quando ele foi lançando com força contra a parede, derrubando consigo o abajur.
- Bucky! - reagi e empunhei minha pistola, atirando no estranho.
No mesmo segundo, ele se virou para mim e fiquei estupefata ao reconhecê-lo. Era o homem de boné que havia esbarrado em mim mais cedo. No entanto, o que mais me deixou abismada foi sua reação diante do disparo. Ele apenas ergueu o braço em minha direção e fez a bala parar a poucos centímetros de sua mão. Então ele me olhou nos olhos, como se me desafiasse. O que ele era, afinal?
Por um segundo, pensei em baixar a arma. Porém, travei o maxilar e a segurei mais firme, começando a atirar mais vezes. Sem parecer se esforçar, ele desviou todos os tiros, lançando-os para longe. Continuei e agora ele começou a se aproximar. Foi quando minha munição acabou. Arfei temerosa, mas dei um passo para frente, disposta a revidar seus ataques.
Antes que eu avançasse, Natasha passou por mim, e acertou o estômago dele com o joelho, o fazendo cambalear para trás. Quando ela tentou um segundo golpe, ele ergue as mãos e a arremessou para o lado, fazendo-a rolar pela força com que atingiu o chão. Mais uma vez, o estranho voltou sua atenção para mim. E, novamente, ele foi impedido de se aproximar.
O escudo do Capitão passou zunindo ao meu lado e acertou o cara de boné. Por não esperar o ataque, ele caiu de costas. Olhei para trás no momento que o escudo voltado para Steve e ele também me encarou.
- Tire o Bucky daqui. – ele disse – Vamos atrasá-lo.
Balancei a cabeça e corri até Barnes que continuava no chão. Abaixei-me em sua frente e agarrei seu braço normal, obrigando-o a me olhar. E ele não parecia realmente machucado. Não havia tempo.
- Bucky, precisamos ir. – eu disse.
Ele pareceu me entender, então se levantou. Não poderíamos passar pela porta, pois o confronto entre o estranho e Steve se iniciava outra vez. Tentei encontrar outro meio de escape até que senti Bucky me puxar. Ele nos levou até uma janela que ficava atrás de uma cortina branca. Sem cerimônias, ele quebrou a trava e a levantou. Sem que eu pudesse protestar, ele me ergueu e me fez passar, vindo em seguida.
Corremos para fora, ao som de socos e chutes, até que vi Sam. Ele estava do lado de um carro preto. Suspirei aliviada.
- Entrem! – ele disse.
Bucky se sentou no banco de passageiro e eu me enfiei de qualquer jeito no banco de trás enquanto Sam ligava o carro. Quando ouvi o motor soar, relaxei um pouco e me recostei no banco. Pensei que já estávamos salvos, mas olhei para trás e vi algo que me fez levar as mãos aos lábios. O homem saiu da casa arrastando Natasha, mesmo sem tocar nela. Ele apenas tinha a mão erguida e mesmo que ela se debatesse, ele a dominava e a trouxe até o asfalto. Então ele nos viu.
Como se a ruiva não tivesse existido, ele a deixou e correu em nossa direção. Sam pisou no acelerador, porém, ele se colocou em nossa frente, continuando lá mesmo quando a velocidade do veículo aumentou.
- Qual é a desse cara? – Sam berrou e vi o velocímetro chegar a 70 quilômetros
Estávamos perto do homem, porém, ele não parecia se importar. E entendemos o motivo. Ele ergueu seu punho e socou o ar em nossa direção. Então um impulso fez a parte frontal do carro pender na direção do chão e a parte de trás se ergueu, nos lançando para frente. Tentei me segurar, mas bati minha testa no banco onde Bucky estava.
Segundos depois, a força que parecia nos segurar foi interrompida e a parte traseira foi ao chão com tudo, causando um novo forte impacto. Olhei para frente e o homem vinha até nós.
- O carro não liga! – Sam pisava no acelerador, em vão
- Vamos sair daqui! – eu disse.
Abrimos a porta e saímos correndo na direção oposta. Eu estava lado a lado com eles, quando senti uma força me puxar para trás. Sem defesa, soltei um grito agudo e os garotos me olharam assustados.
- Golden! – Bucky berrou meu nome.
Não consegui responder até que caí aos pés do estranho. Ergui os olhos e ele me fitava de forma intimidadora. Ignorei tal fato e tentei escapar, dando-lhe uma rasteira, mas ele se desviou e ergueu a mão para mim, começando a me enforcar. Ele moveu os dedos para cima e, à medida que o fazia, eu era erguida até estar frente a frente com seu rosto.
Quase sem ar, notei o momento que sua atenção se desviou de mim. Sem avisos, ele me largou no chão e então o braço cibernético de Bucky o acertou em cheio, o fazendo dar um passo para trás. Porém, tão rápido como havia sido atacado, ele revidou e socou o ar mais uma vez, fazendo uma força invisível acertá-lo com tudo, jogando-o metros de distância.
- Não! – berrei mesmo sem respirar direito.
Levantei enfurecida e avancei contra ele, cansada de tudo aquilo. Tentei acertá-lo, mas ele desviava sem dificuldades. Numa última tentativa, ele segurou meu braço e socou meu rosto com força, me fazendo cair. Quando pensei que estava perdida, ouvi uma estática de eletricidade atrás de nós e então ele começou a se contorcer enquanto ondas elétricas percorriam seu corpo. Em alguns instantes, ele estava desacordado, no chão.
Olhei para cima e vi Natasha com o braço erguido. Havia um dispositivo piscando uma luz azul em seu pulso e o choque parecia ter saído de lá. Apesar de machucada, ela veio até mim e me ajudou a levantar.
- Você está bem? – ela perguntou.
- Sim. – olhei em volta e então o vi ainda jogado – Bucky...
Corri até ele e me ajoelhei ao seu lado. Ele estava desmaiado e sangue sujava sua testa. Tentei reanimá-lo, mas em vão.
- Ele não acorda. – bati de leve em seu rosto.
Nesse momento, Steve saiu da casa de Sam e parecia ter acabado de despertar. Ele vinha com o escudo e se aproximou de nós.
- O que houve? – ele perguntou.
- Aquele cara também conseguiu apagá-lo. – Nat respondeu – Precisamos sair daqui antes que ele acorde.
- Vamos. – Steve concordou – Onde está o Sam?
Nesse momento, ouvimos o ronco do motor do carro e olhamos para lá. Sam nos fitou com um sorriso convencido.
- É hora de dar um passeio. – ele disse.
- Estou super animada. – respondi.
Sem precisar de ajuda, Steve colocou Bucky deitado no banco traseiro e eu o ajeitei, sentando na frente, em seguida. Ele e Natasha foram até a moto. Sem delongas, saímos daquele lugar em busca de um mais seguro.
Meu coração ainda batia acelerado e a razão era o fato daquele homem ter atacado não só Bucky, mas também os outros. Especialmente a mim. Havia algo que SHIELD sabia e que estavam escondendo. Algo me dizia que tinha a ver com aquele episódio. Agora, eu estava mais curiosa do que nunca para saber o que seria.
Capítulo 19: Eu Sempre Soube
Eu continuava escondida. Com minha pistola apontada para baixo, olhei em volta. Precisava encontrar um jeito de entrar no aero porta-aviões sem que me vissem, mas estava difícil. Havia muitos agentes da HIDRA espalhados pelo perímetro. Ainda lá, ouvi uma estática em meu comunicador. Segundos depois, a voz de Steve encheu meu ouvido direito.
- Agente Potts, conseguiu entrar? – ele perguntou.
- Ainda não, eles são muitos. – eu falei o mais baixo que pude – voltou para pedir apoio aéreo.
- Não podemos esperar, logo o último aero porta-aviões estará no ar. – ele disse.
- Está bem. – concordei após o suspiro – Estou indo em frente.
- Tenha cuidado. – ele ressaltou.
Olhei mais uma vez e notei que havia menos agentes pelo lado esquerdo. Contei até três e me aproximei de forma sorrateira, ainda usando as caixas para me ocultar. Quando estava a uma boa distância, tirei uma pequena granada de meu cinto e lancei contra eles. Só no último segundo eles a viram, mas não tiveram tempo para se esquivar e a explosão os lançou para longe, abrindo caminho para mim.
Sem demora, corri até a entrada que ficava na área onde o painel com os chips estavam. Para alcançá-lo, eu deveria atravessar uma passarela de metal. Abaixo, toda a estrutura externa era de vidro, dando a ampla visão do lado de fora. Enquanto olhava para lá, o aero porta-aviões começou a ganhar altitude, por isso resolvi me apressar. Tirei o chip do cinto e corri até o painel.
Quando estava a poucos metros, ouvi um disparo e meus reflexos me fizeram me lançar ao chão. Surpresa, olhei para trás buscando o autor do ataque e quando o encontrei, senti um frio percorrer minha espinha. O Soldado Invernal estava parado na outra extremidade da passarela com uma pistola apontada para mim. Sem hesitar, ele disparou outra vez.
- Merda! – rolei para o lado e me coloquei de pé, correndo para me desviar
Me escondi atrás do painel e peguei minha pistola, revidando. O Soldado precisou se abaixar para se proteger e eu aproveitei isso para voltar ao meu objetivo. Continuei disparando ao mesmo tempo em que me aproximava do painel. No entanto, ele ergueu seu braço, desviando as balas e veio em minha direção. Perto de mim, ele segurou meu pulso, o forçando para o lado e meu último tiro passou por cima de seu ombro.
- Isso não é bom. – murmurei.
E eu estava certa. O Soldado Invernal arrancou a arma de minha mão e, com seu braço normal, me golpeou. Fui lançada contra a estrutura de aço e ao desabar no chão, urrei de dor.
- Capitão, preciso de ajuda. – falei com dificuldade – Ele está aqui.
- Estou indo. – ele respondeu.
Olhei para cima e tentei me levantar para fugir. Apoiei-me nos joelhos e levei a mão às costelas ao sentir uma pontada. Quando me ergui, senti uma mão agarrar meu braço e antes que eu pudesse reagir, ele me virou em sua direção, agarrando meu pescoço. Pela falta de ar, instintivamente tentei me livrar, em vão.
- Por favor... – sussurrei a muito custo – Esse não... esse não é... você.
Mas seu rosto estava impassível. Seu olhar mostrava que eu era insignificante. Que não era nada além de mais uma pessoa que estava entre ele e sua missão. Apenas mais uma que ele deveria exterminar.
Flashback –off-
Sam continuava a seguir a moto de Steve. Eu não fazia a menor ideia de onde estávamos indo, mas confiava neles. Bucky continuava desacordado e isso era estranho. Aquele homem era mesmo muito forte.
O fitei por cima do ombro e, sem conseguir mais me segurar, passei para o banco de trás. Ergui sua cabeça com cuidado e a deitei em meu colo. Analisei o machucado em sua testa e suspirei aliviada ao constatar que não era nada sério.
- Será que falta muito? – perguntei a Sam.
- Acho que não. – ele disse.
Voltei a Bucky e semicerrei os olhos. Já estava na hora dele acordar. Comecei a dar tapas leves em seu rosto enquanto chamava seu nome. Aos poucos, ele reagiu. Quando ele finalmente abriu os olhos, deixei meus ombros caírem graças à paz que senti.
- Já era hora! – eu sorri – Achei que não fosse acordar mais.
- O que houve? – ele fez uma careta – Onde estamos?
- Steve está nos levando para um lugar seguro. – respondi.
Continuamos nos encarando, até que senti algo esquisito dentro de mim. Algo quente e... bom. Mas, ele se levantou e no mesmo segundo essa sensação foi embora. Engoli seco e tentei ignorar aquele fato, focalizando meus olhos na estrada à frente. De repente, a moto do Capitão virou num atalho e Sam o seguiu.
Não demorou e paramos em frente a uma casa mais afastada, rodeada por uma clareira bem verde. Steve e Natasha desceram da moto e nós saímos do carro, indo até a entrada. Nat bateu na porta de madeira escura e esperamos. Após poucos instantes, alguém veio nos atender. A porta se abriu e, ao tempo que a pessoa aparecia, meu queixo caia pelo espanto.
- Achei que viriam mais cedo. – ele disse.
- Diretor Fury?! – passei por Sam e parei ao lado de Steve.
- Acho que não sou mais seu diretor, agente Potts. – ele falou sugestivamente e então nos deu espaço – Entrem.
Sorri e segui os outros. Adentramos a casa e Fury disse para ficarmos a vontade e cuidarmos de nossos machucados, pois depois gostaria de conversar conosco. Segui com Natasha para um dos quartos e Bucky, Sam e Steve foram para outro. Sentei-me na cama de casal enquanto esperava para usar o banheiro. Finalmente, ela saiu e eu entrei.
Lavei meu rosto e limpei os arranhões que tinha ganhado pelas mãos e na bochecha. Quanto ao meu maxilar, estava começando a ficar roxo graças ao soco que havia levado do cara de boné. Penteei meus cabelos e depois de uma última olhada no espelho, saí.
Natasha me esperava sentada no colchão. Quando me viu, ela sorriu levemente e se levantou. Aproximei-me e fomos até a porta.
- O que o Fury quer? – perguntei.
- Você é sempre tão curiosa. – ela riu abafado.
- Só queria ter algum tipo de vantagem quando a conversa começasse. – balancei os ombros – E, como você sempre tem informações valiosas, pensei que poderia me ajudar.
- Dessa vez terá que esperar, Golden. – ela me fitou e viramos o corredor.
- Então só pode ser algo sério. – bufei contrariada e ela riu.
Chegamos à sala e logo todos estavam acomodados nos dois sofás ali. Eu me sentei no braço de um deles, perto de Bucky. Sam estava ao seu lado e Nat e Rogers estavam no outro sofá, com Fury.
- Certo. – quebrei o silêncio – Chegamos até aqui. Qual é o plano?
- Plano? – Nick me encarou com seus óculos escuros – E por que haveria um plano?
- Bem... estamos fugindo da SHIELD, mas eles sabem onde e com quem estamos. – falei num tom óbvio – E a HIDRA mandou um psicopata com poderes atrás de nós. Será que precisamos de mais motivos para ter um plano?
- As coisas saíram um pouco do controle, mas vamos dar um jeito. – ele falou
- Como assim, as coisas saíram do controle? – franzi o cenho e então fitei os outros – E vocês, não vão dizer nada?
- Golden... – Nat chamou minha atenção – Enquanto estávamos vindo pra cá, eu conversei com o Fury e nós decidimos uma coisa.
- Ótimo! – eu me remexi, esbarrando em Bucky – Vão fugir do assunto.
- Esse é um assunto que não precisa ser discutido, agente. – Fury voltou a falar – Sabemos dos perigos, então nos apressamos em buscar uma solução.
- Que seria? – perguntei.
Aguardei uma resposta. Mas, pelo visto ninguém estava disposto a bater um papo. Aquilo me deixou ainda mais impaciente. Quando já me preparava para dizer algo, porém, Fury tomou a palavra.
- Agente Potts, será que poderíamos conversar a sós? – ele disse.
Aquele pedido me pegou de surpresa. Ponderei por alguns segundos e no fim apenas balancei minha cabeça positivamente. À minha resposta, ele se levantou e esperou que eu o seguisse. Olhei para os presentes e, sem escolha, me levantei e fui em sua direção.
Seguimos pelo pequeno corredor, até estarmos em frente a uma porta. Nick a abriu e pediu que eu entrasse. Tentei não deixar que minha curiosidade transparecesse e adentrei o que identifiquei ser uma biblioteca. Era modesta, mas aconchegante, com duas poltronas num canto perto de uma mesinha marrom.
- O que é tão importante que precise conversar apenas comigo? – perguntei assim que ele fechou a porta
- Sente-se, por favor. – ele apontou uma poltrona.
- Claro. – me sentei e cruzei as pernas – Vamos começar nossa conversa agora?
- Como desejar, . – ele disse.
- Meu pai tinha o costume de me chamar assim. – fitei o nada com um pequeno sorriso.
- Sim. – ele concordou – Até o dia que você o salvou, assim como salvou sua mãe.
- Eu não fiz sozinha. – me recostei – Eles eram agentes e sabiam se proteger.
- No entanto, uma garota com treze anos de idade, conseguiu apagar dois agentes da HIDRA numa luta corpo-a-corpo, sem contar os outros que derrubou apenas com estratégias. – ele se inclinou para frente.
- Eu usei bombas de poeira. – eu ri levemente – E armas de choque. Eles não podiam me ver. Só tive sorte.
- Você protegeu seus pais. – ele disse – E foi essa ocasião que nos fez querer recrutá-la.
- Mas só o fizeram quando eu tinha quinze. – ergui as sobrancelhas.
- Eles eram super protetores. – ele deu de ombros – Até perceberem que sua garota de ouro, sua Golden, era ainda melhor do que achavam que era.
- Agora você está exagerando. – revirei os olhos.
- Golden, já se perguntou algum dia o motivo daqueles agentes da HIDRA terem invadido sua casa? – ele perguntou – E por que mataram sua mãe quando ela a levava ao colégio? Pense bem.
- É a HIDRA. – tentei não deixar meus sentimentos me dominarem – É o que eles fazem. Eles sempre foram nossos inimigos e creio que isso nunca mudará.
Quando eu tinha quinze anos e cursava o ensino médio, costumava ir para o colégio com meus amigos, principalmente com . Mas, certo dia, minha mãe resolveu me levar. Ela disse que estava de folga e que queria aproveitar seu tempo comigo, pois papai estava numa missão. Nós conversávamos sobre garotos e ela me perguntou quando eu assumiria meu namoro com Jonathan Clark, meu colega na aula de álgebra avançada.
Lembro-me de ter dito que ele era um babaca e ela riu livremente. Parecíamos duas adolescentes. Seus cabelos loiros na altura dos ombros balançavam por conta do vento que entrava pela janela aberta e seus olhos extremamente azuis cintilavam em minha direção. Ela só olhava assim para mim e para meu pai. E eu a amava.
Por isso, quando uma bala atravessou sua cabeça, perdi meu chão. Apenas tive tempo de gritar seu nome e então ela tombou para frente e o carro perdeu o controle. Perdi a consciência e só acordei dois dias depois numa base da SHIELD com meu pai ao meu lado. Por um bom tempo, achei que não superaríamos. Mas, apesar de a dor continuar, ainda tínhamos um ao outro.
- Clarice Potts. – de repente ouvi a voz de Fury – Uma boa agente. Uma boa amiga. Sinto muito por ela.
- Não quero falar sobre isso. – murmurei, desviando o rosto.
- Me desculpe. – ele falou – Apenas queria que soubesse que as coisas que aconteceram não foram por acaso.
- Pelo que parece, nunca são. – me lembrei do homem que esbarrou em mim mais cedo – A HIDRA deve ter um cronograma bem apertado, pois costumam estar por trás de muita coisa.
- E dessa vez o cronograma deles está ainda mais cheio. – ele ignorou meu sarcasmo – Eles têm um novo alvo.
- Quem? – fui direta
Percebi certa tensão tomar conta do ambiente. O ar estava impregnado e carregado com ela, mas eu não desviei meu olhar, esperando a resposta. Esperando saber quem seria a próxima pessoa que iria ajudar. Nick apoiou os cotovelos nos joelhos e, mesmo com aqueles óculos escuros, sabia que me encarava diretamente. Então, ele falou.
- Você. – sua voz saiu grave e preocupada – Você, agente Potts, é o novo alvo da HIDRA.
- Eu? – engoli seco – Isso não faz sentido.
- Seus pais, eles foram mortos por esse motivo. – ele me ajudou a raciocinar – Eles sempre a quiseram, mas nunca conseguiram. Fizemos de tudo para protegê-la.
- Por que eu? – franzi o cenho – O que há de especial em mim?
- É isso que queremos descobrir. – ele disse - E agora temos uma vantagem.
- Bucky... – não precisei me esforçar para entender – É por isso que precisam restaurar as memórias dele. Ele... ele matou a minha mãe?
- Sim. – Fury respondeu após alguns instantes – Ele foi encarregado de levá-la, então não teve escolha.
Baixei a cabeça, tentando processar aquelas informações. A HIDRA queria a mim. Minha mãe não havia sido morta por nada. Ela estava me protegendo. Meus pais me protegeram todos aqueles anos de ser capturada. Mas, ela havia sido morta pelo Soldado Invernal. E agora, eu o estava ajudando.
- Qual o objetivo de terem me colocado nessa missão? – questionei cada vez mais angustiada
- Pensamos que, se ele tivesse contato direto com você, poderia se lembrar de algo. – ele esclareceu – Mas, pelo jeito, as coisas são mais complicadas do que aparentam.
- Não, não são. – falei pensativa.
Sem esperar uma resposta, me levantei e saí da biblioteca, deixando a porta aberta. Enquanto caminhava a passos largos de volta a sala, sentia meu coração pesar. Fazia tanto tempo que não me sentia assim. Eu podia sentir meus músculos rígidos e minha cabeça latejava por conta de minha raiva. Quando alcancei a sala, olhei para Bucky. Ele estava sentado com os outros, mas parecia um pouco tenso. Ele me encarou e sustentei nossos olhares por longos segundos. Em seguida, saí sem dizer nada.
Fui até a porta da frente e saí com tudo. Segui andando ao lado da casa, até estar no fundo dela. De lá, pude ver a porta da cozinha coberta com uma persiana marrom. Porém, o que me chamou a atenção, foram os passos que ouvi atrás de mim. No mesmo segundo soube quem era.
- Golden... – Bucky murmurou meu nome.
- Você sabe quem eu sou, não sabe? – eu sussurrei – Foi por isso que me salvou naquele dia. E que não me matou quando estávamos no aero porta-aviões. E agora? Vai me levar pra HIDRA?
- Não. – ele respondeu, então me virei em sua direção.
- Não o quê? – semicerrei os olhos.
- Não vou levá-la para a HIDRA. – ele disse.
- Mas sabe quem eu sou. – ri sem humor – Desde quando?
- Eu sempre soube. – ele disse – Você era minha missão.
Soltei o ar pela boca e fitei o céu azul com poucas nuvens. Eu não podia acreditar. Bucky se lembrava de mim. O tempo todo. E ele havia matado minha mãe. Ignorando quais seriam as consequências, me aproximei dele e acertei seu rosto com um soco. O mais forte que consegui, o mais forte que minha raiva permitiu, mas ele apenas virou o rosto para o lado e continuou assim.
- Deveria ter me contado. – empurrei seu ombro – Eu fiz de tudo para ajudá-lo, acreditei em você. Não tinha o direito.
Tentei empurrá-lo outra vez, mas Bucky segurou meus pulsos, me obrigando a parar. O olhei assustada e enfurecida ao mesmo tempo e tentei me livrar, porém, ele continuou me imobilizando. Soltei um grito engasgado e desisti. Só então senti seus dedos afrouxarem.
- Sabe que não tive escolha. – ele disse de repente e eu o fitei – Se tivesse, nunca teria feito nada disso.
- Mas fez. – falei sem me importar em ser má.
E eu realmente havia sido. Pude ver em seu olhar. Ele parecia não acreditar no que eu disse, mas não me importei. Naquele minuto, queria que ele soubesse como eu me sentia. Finalmente, ele soltou meus pulsos e eu me afastei.
- E eu não vou me esquecer disso. – murmurei por fim.
Sem mais, lhe dei as costas e voltei para dentro. Enquanto caminhava, senti meu coração apertar. Cada nova batida me fazia querer gemer de dor. Não como antes. Dessa vez, era a tristeza que me consumia. E ela parecia querer devorar cada parte do meu peito.
Capítulo 20: Retribuição
Recostei minha cabeça na parede branca atrás de mim e olhei para cima. Soltei um longo suspiro e após longos instantes, abracei meus joelhos e deitei minha cabeça neles, tentando evitar a claridade da lâmpada acesa no teto. Eu não sabia mais o que sentir. Apesar de toda raiva e tristeza, não havia conseguido chorar. Mas, talvez fosse melhor se tivesse conseguido. Provavelmente, me sentiria mais leve. Entretanto, eu não podia fazer nada, apenas esperar que aquilo passasse.
Havia perdido a conta do tempo que estava trancada no banheiro digerindo os momentos passados. E com certeza havia sido muito, pois Steve e Sam já tinham vindo aqui várias vezes para saber se eu estava bem ou se precisava de algo. Natasha foi um pouco mais firme e disse que se eu não saísse de lá, ela iria me obrigar a fazê-lo. Eu apenas ressaltei que ela não gostaria de tentar e ela realmente não tentou.
Mas eu sabia que uma hora precisaria sair e resolver as coisas. A HIDRA ainda estava atrás de mim. E de Bucky. E não poderíamos deixar que eles alcançassem seus objetivos, pois o mundo poderia estar correndo perigo. Estiquei uma das pernas no chão e meu pé tocou o tapete perto do box. Apesar de saber dos perigos, minha única vontade era voltar para casa e ficar com Pepper. Ela me entenderia.
Ainda lá, ouvi uma batida na porta. Suspirei contrariada e, a muito custo, me levantei para atendê-la. Antes, segurei a maçaneta e quis saber quem era.
- Agente Potts, sou eu. – Fury respondeu.
- O que quer? – tentei não parecer tão grossa, mas foi praticamente impossível. – Precisam de mim?
- Quero continuar nossa conversa. – ele disse.
Revirei os olhos e então girei a maçaneta. Abri a porta até a metade e coloquei apenas uma parte do meu corpo para fora. Nick estava parado com os braços cruzados, me esperando sair.
- Precisamos mesmo falar sobre isso agora? – tentei fugir daquele assunto.
- Infelizmente. – ele disse.
Saí e fechei a porta atrás de mim. Caminhamos juntos até a saída e seguimos para a sala, onde os outros já se encontravam. No mesmo segundo, meus olhos caíram sobre James sentando ao lado de Steve. Automaticamente, baixei o rosto e fui até Nat, me sentando ao seu lado. Infelizmente, ele me deixava de frente para Barnes. Ao sentir seu olhar sobre mim, me encolhi e cruzei meus braços. Por sorte, Nick passou entre nós e começou a falar.
- Creio que todos aqui já sabem o que está acontecendo. – Ele começou. – A HIDRA não quer capturar apenas o Barnes, mas também a agente Potts.
- E por que a iriam querer? – Sam questionou.
- Ainda não sabemos o motivo, mas eles devem ter algum propósito para ela. – Fury me fitou. – E, talvez, agora possamos descobrir.
- Como? – ele franziu o cenho.
- Pelo que parece, o Bucky recebeu da HIDRA a missão de capturar a Golden. – Steve disse. – Talvez ele saiba o que querem com ela.
- Mas ele ainda não se lembra de tudo. – Natasha disse. – E, mesmo que se lembre, pode levar tempo.
- Sabemos disso. – Nick olhou para ela e depois fitou todos nós. – Por esse motivo, conversei com o James e chegamos a uma resolução.
- Qual? – eu murmurei pela primeira vez e todos olharam para mim, me deixando visivelmente incomodada. – Parem de olhar pra mim como se eu fosse uma adolescente rebelde prestes a surtar. Só quero saber o que pretendem fazer.
- Nós, agente Potts, decidimos que a melhor coisa a se fazer agora... – ele parou e cruzou as mãos atrás das costas. – É voltar para a base.
- Como assim voltar? – franzi o cenho. – Depois de todo o trabalho que tivemos para sair de lá?
- Mas é necessário. – Nat ressaltou.
- Se voltarmos, eles vão fritar o cérebro dele. – apontei para Bucky. – Estamos aqui porque ele não queria ser submetido a isso outra vez.
- As coisas mudaram, Golden. – Sam se inclinou pra frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. – Talvez essa seja a única forma de evitarmos um desastre.
- Podemos achar outro jeito. – insisti, descruzando os braços.
- Não há outro jeito. – Bucky falou de repente e eu o olhei surpresa.
Na realidade, a discussão inteira cessou. Os presentes não sabiam se olhavam para Bucky com sua expressão decidida ou para mim, visivelmente perplexa. Ele não poderia estar falando sério. Não depois de todo o esforço que fizemos para chegar ali.
- Eu vou fingir que não disse isso. – disse, semicerrando os olhos.
- Mesmo que finja, sei que ouviu o que eu disse. – ele chegou mais para frente.
- Nós não vamos voltar. - também cheguei mais para a ponta do sofá.
- Essa não é uma decisão sua. – ele disse, olhando direto em meus olhos.
Mordi meus lábios e respirei fundo para evitar falar todos os nomes impróprios que vieram a minha mente. Continuei fitando seu rosto e ele sustentava nossa conexão. Por que eu estava mesmo me importando? Deveria deixar que ele fizesse o que bem entendesse. Acima de tudo, ele poderia ter chave para frustrarmos os planos da HIDRA. Eu deveria deixá-lo ir. Mas, eu não conseguia. Apesar disso, voltei a me recostar no sofá e cruzei os braços novamente.
- Faça o que quiser, eu não me importo. – murmurei e desviei o rosto.
- Certo, acho que chegamos a um acordo. – Nick interferiu, encerrando o assunto. – Voltaremos amanhã bem cedo, antes de o sol nascer.
- Entrarei em contato com a base. – Natasha disse, se levantando.
- Você vai conosco? – perguntei a Fury.
- Irei depois. – ele respondeu. – Preciso resolver algumas coisas por aqui.
- É claro que precisa. – sorri minimamente e então me levantei. – Nos vemos amanhã então.
Sem falar com mais ninguém, saí da sala e fui para o quarto que dividiria com a Romanoff. Quando entrei, ela estava sentada na cama conversando com alguém pelo celular. Ao me notar, ela se despediu da pessoa e desligou o aparelho, o deixando sobre o colchão.
- Prefiro não perguntar com quem conversava. – falei enquanto tirava minha jaqueta. – Com certeza, é confidencial.
- Golden, eu sei que está com raiva. – ela suspirou levemente. – Mas, se a SHIELD e seus pais esconderam isso de você, foi por que queriam protegê-la.
- Já percebeu que essa é a primeira desculpa que todos dão? – me sentei ao seu lado, colocando uma perna pra cima. – O que as pessoas ainda não perceberam, em todos esses anos de existência, é que a verdade sempre virá à tona. Cedo ou tarde.
- Às vezes, é melhor que seja tarde. – ela disse e, depois de passar a língua nos lábios, continuou. – Sei que está culpando o Barnes pelo que houve com sua mãe e isso é normal. Mas não deixe que esses sentimentos consumam você. Tente entender todos os lados, não só o seu.
Balancei a cabeça positivamente e ela me retribuiu com um sorriso. Em seguida, Nat se levantou e saiu do quarto. Acompanhei sua caminhada com os olhos até que ela fechou a porta. Suspirei e fui ao banheiro. Resolvi tomar um banho. Não demorei muito e logo saí, voltando para o quarto. Nat ainda estava lá. Aproveite isso e me deitei na cama com a pretensão de tirar um cochilo.
Quando despertei, vi pela janela que já era noite. Eu tinha dormido mais tempo do que pretendia. Bocejei e me sentei no colchão, ligando o abajur. Antes que pudesse me levantar, senti uma pontada na cabeça e levei os dedos até as têmporas, mas não me importei muito. Sabia que era apenas uma dor de cabeça causada pelos acontecimentos de mais cedo. Passei as mãos pelo rosto até alcançar meu maxilar que ainda doía. Soltei um leve gemido no mesmo instante que alguém bateu na porta.
- Entra. – eu disse, mais concentrada em meu hematoma.
Segundos depois, a porta foi aberta e Bucky adentrou o quarto. Parei de fazer o que fazia e o encarei. Mesmo assim, ele se aproximou. Vinha a passos lentos e parou quando estava a poucos metros de mim. Ele estava tenso, assim como eu. Ficamos nos encarando sem dizer nada, até que resolvi quebrar o silêncio.
- Posso ajudar? – fiz a minha melhor cara de indiferença.
- Sei que está com raiva. – ele começou. – E eu sinto muito, mas...
- Mas aquele não era você. – eu completei sua fala. – Eu sei disso, Bucky. Sei que, se pudesse, não teria matado minha mãe.
- Então por que está assim? – ele franziu o cenho.
- Porque durante todos esses anos eu nunca soube quem havia feito isso. – me levantei ficando de frente para ele. – E eu jurei que quando encontrasse essa pessoa, iria fazê-la pagar.
- Quer que eu responda pelo que fiz? – ele se aproximou mais.
- Eu deveria. – murmurei e ergui meu rosto para olhá-lo melhor. – Mas, eu simplesmente não consigo. Eu estou com raiva, mas eu entendo o que aconteceu. O que me deixa com ainda mais raiva.
- Está com raiva do que eu fiz? – ele perguntou.
- Sim... apesar de não ter sido você. – baixei o rosto. – Mas, o que me deixa ainda mais irada é o fato de se lembrar de mim, de tudo, e não ter me contado.
- Eu não podia. – ele murmurou, mas percebi que estava perturbado.
- Não podia? – ri sem humor. – Bucky, o que achou que eu faria? Que teria te matado?
- Se não me matou ainda, acho que não teria feito antes. – ele disse.
- Então qual era o problema? – questionei, abrindo os braços.
- Depois de tudo o que aconteceu, você foi a única pessoa que me tratou como um ser humano e não como uma arma assassina. – ele falou e franziu o cenho. – Eu não podia afastá-la.
E, mais uma vez, Bucky Barnes havia conseguido me deixar sem palavras. Abri a boca, admirada com sua sinceridade e tentei dizer algo, mas apenas consegui emitir um som parecido a um gemido abafado. Mordi o lábio inferior e me afastei um passo. Para minha surpresa, Bucky segurou meu braço, me impedindo de recuar mais. O encarei e seu olhar era tão profundo, que não tentei me afastar.
- Você fez tudo o que podia para me ajudar. Deixou sua família para me levar até o Steve. – ele disse. – Agora eu posso retribuir.
- Eu não quero que retribua. – balancei a cabeça negativamente.
- A decisão não é sua. – apesar de suas palavras, seu tom de voz era terno.
Ainda assim, detestei ouvir aquelas palavras outra vez. Fiz uma careta e me afastei, o obrigando a me soltar. Caminhei até o interruptor e acendi a luz, iluminando o quarto e me virei para ele.
- Já que não precisa de minha opinião... – soltei o ar pela boca. – Nos vemos amanhã.
Bucky fitou o chão por alguns segundos, até que caminhou em direção à saída. Ao passar ao meu lado, ele parou um instante e me lançou um olhar indecifrável, mas então saiu. Fui até a porta e a fechei, correndo para a cama outra vez. Tive vontade de socar alguém ou quebrar algo, porém, eu sabia que podia me controlar. E foi o que fiz o restante daquele dia.
Eu terminava de recarregar minha pistola quando vi Natasha adentrar o quarto. Ela parecia apressada e focada enquanto ajeitava seu coldre no quadril. Finalmente, terminamos de nos aprontar e seguimos para o carro de Sam. Os outros já estavam lá quando chegamos e não falamos muito enquanto nos distribuíamos. Como antes, Nat foi com Steve e eu fiquei com Bucky e Sam. Despedi-me de Fury e entrei no banco traseiro, sentando com as pernas cruzadas sobre o estofado.
- Será que vamos demorar? – olhei pelo vidro quando já estávamos de volta à estrada.
- Considerando o fato de termos acabado de começar a viagem, acho que sim. – Sam falou num tom óbvio.
- Parece que alguém acordou bem humorado hoje. – revirei os olhos enquanto via o céu ganhar um tom vermelho escuro perto do horizonte.
- É melhor você relaxar. – ele disse. – Por que não dorme mais? Você gosta de dormir, não é?
- Eu mereço. – joguei a cabeça pra trás.
- Mas que droga é essa? – Bucky resmungou alto.
No mesmo segundo, ergui meus olhos e vi o motivo. Uma pessoa estava parada no meio da estrada e caminhava na direção da moto de Steve, mas a escuridão não nos permitia identificá-la. O Capitão tentou frear a moto para evitar uma colisão, porém, o estranho ergueu um dos braços e fez um movimento para o lado. No mesmo momento, Steve e Natasha foram lançados para fora da estrada.
- Para o carro! – Bucky berrou e Sam pisou no freio.
- É aquele cara outra vez. – eu disse.
- Vamos sair daqui. – Sam olhou para trás e começou a dar ré.
O carro voltava com velocidade e eu me segurava para me manter no lugar. Quando olhei para frente, meu olhar encontrou o de Bucky. Mas então me distraí com o que vi pelo vidro. A moto de Steve vinha voando com rapidez.
- Cuidado! – eu gritei.
Os dois viram o perigo, mas era tarde. Sam se protegeu com as mãos e Bucky veio para o banco de trás, me agarrando com força e me protegendo com seu corpo, no segundo que a motocicleta atingiu o vidro frontal. O impacto foi tão grande que fez o carro virar para o lado e capotar três vezes, parando com o teto para baixo.
Quando finalmente senti o mundo parar de girar, percebi que havia me segurando em Bucky com força. Mas, então vi Sam desacordado, preso apenas pelo cinto de segurança.
- Você está bem? – ele perguntou.
- O Sam... – eu ignorei a pergunta e apontei para frente. – Tira ele daqui.
Ele acenou positivamente e o socou a porta, lançando-a longe. Bucky saiu e foi até Sam, o tirando com rapidez, mas tentando não machucá-lo mais. Enquanto isso, eu tentava sair sozinha. Foi então que percebi que minha perna estava lesionada. Ainda assim, destravei o cinto e me arrastei até o asfalto. Olhei em volta e, apesar de tudo estar escuro, vi Bucky deixando Sam deitado fora da estrada. Então ele me olhou e correu em minha direção.
Antes que chegasse perto de mim, algo invisível o puxou para trás e o lançou contra o tronco de uma árvore. Arregalei meus olhos e tentei me levantar, mas não precisei. A mesma força que puxou Bucky, me alcançou e me vi ser arrastada pelo asfalto. Quando parei, vi pés à altura dos meus olhos e eles se aproximaram. Então, ele se abaixou em minha frente. Ergui meus olhos, amedrontada.
- Olá, Elle. – ele falou e vi seus olhos castanhos cintilarem graças aos raios de sol que surgiam. – Hora de ir pra casa.
Capítulo 21: Não se Esqueça de Mim
Quem era Elle? Como assim, hora de ir pra casa? Franzi o cenho diante daquelas palavras, mas, antes que eu pudesse digeri-las, vi um zunido atrás de nós e algo acertou o estranho em cheio. Pelo impacto, ele foi lançado para o lado, ao chão. Confusa, olhei em volta e vi o escudo voltar para Steve, que corria em nossa direção.
- Golden, saia daí! – o Capitão berrou enquanto ia até o homem ainda caído.
Obedeci imediatamente e, mesmo com minha perna dolorida, me levantei e corri para o outro lado da pista, onde Sam estava. Abaixei-me ao seu lado enquanto via Steve começar uma luta corpo-a-corpo com aquele cara. O examinei rapidamente e suspirei aliviada ao constatar que seus ferimentos não eram graves, então me levantei outra vez. Nesse mesmo segundo, vi Natasha se juntar ao Capitão, tentando acertar o cara de boné com alguns chutes. Mas eu sabia que aquilo não duraria muito.
Ignorando a dor, que agora eu sabia ser em meu tornozelo, corri até onde Bucky estava. Ele acabava de se recompor e quando me viu, se levantou rapidamente. Parei em sua frente e ele agarrou meu braço.
- Precisamos sair daqui. – ele disse.
- Eu sei, mas e os outros? – apontei pra Sam. – Não podemos deixá-los.
- Nós não vamos. – ele me encarou.
- O que pretende fazer? – percebi que ele havia tido uma ideia.
- Vamos distraí-lo. – ele se aproximou mais de mim e sussurrou. – Quando achar que for a hora, atire.
- Quer que eu o mate? – arregalei os olhos.
- Se for preciso. – ele foi firme. – E sei que não será difícil.
- Não é. – afirmei. – Só não acho que seja a melhor forma.
- Faça como quiser. – ele soltou meu braço. – Mas, tem que derrubá-lo.
- Eu vou. – sorri sem mostrar os dentes.
Bucky acenou positivamente com a cabeça e então me deu as costas, correndo até a luta que se desenrolava no meio da pista deserta. Ele tentou acertá-lo por trás, mas o homem se desviou e revidou com um soco, que por sorte passou de raspão. Enquanto os observava, tirei a arma do coldre. Eu saberia a hora certa de atirar. Apesar de ser um melhor atirador, eu conseguia observar com mais precisão os pontos fracos e fortes de um oponente e quando ele estava prestes a baixar a guarda. Até aquele momento, não havia encontrado nenhum. Mas eles sempre estavam lá. Ninguém era perfeito, afinal.
Num certo momento, Natasha foi atingida com um chute, sendo arremessada para trás com força. Sem pensar, Steve usou seu escudo, acertando em cheio o peito do homem, que se desequilibrou. Bucky agiu no mesmo segundo, socando-o no rosto e ele cambaleou um pouco desorientado. Entrei em alerta. Era agora. O momento que eu precisava. Ergui a pistola com firmeza e então disparei. Vi o exato momento que a bala acertou o ombro do intruso e ele levou as mãos até lá, urrando de dor.
No entanto, ele continuou de pé. Franzi o cenho diante daquela resistência e decidi atirar mais uma vez. Empunhei a arma e inclinei minha cabeça para o lado, realizando não um, mas dois disparos. O primeiro acertou seu braço. O segundo, sua perna direita, acabando com o restante de seu equilíbrio e o obrigando a ficar de joelhos.
Sorri com o êxito de minhas tentativas e pensei em como ficaria ao saber que eu havia conseguido me sair bem. Ainda contente, fiz menção de me aproximar, porém, Steve ergueu a mão, mostrando que eu deveria continuar onde estava. Parei e baixei a pistola, segurando-a com apenas uma mão. Olhei para o homem e ele fitava o chão. Então o Capitão se aproximou dele.
- Acho que agora é o momento que você começa a falar. – Steve disse. – O que querem com a Golden e com o Bucky?
- Acha quem podem me parar? – o estranho disse após alguns segundos, ainda com a cabeça baixa.
- Olhe para si mesmo. – Natasha cruzou os braços.
- Vocês não podem lutar contra mim, não são fortes o suficiente. – ele disse e então ergueu o rosto em minha direção. – Mas ela é.
- Do que está falando? – Steve questionou.
- De algo grandioso demais para que possa entender, Capitão. – ele riu outra vez. – Algo que pertence apenas à Elle.
- Quem é Elle? – Bucky fez a pergunta que eu pretendia fazer.
- Como eu disse, é algo que não podem entender. – ele o encarou. – Ou, pelo menos, não têm permissão para isso.
- Você é louco. – Nat falou sem paciência e o agarrou pela gola do casaco. – Não vamos mais perder tempo com isso. É melhor nos dizer quais são os planos da HIDRA.
- HIDRA... – ele sussurrou. – Eu não me importo com o que eles querem.
- Então por que está aqui? – Steve franziu o cenho.
- Por ela. – ele voltou a me fitar. – E sempre será por ela.
Sem que ninguém esperasse, ele agarrou o braço de Natasha e a jogou contra o Capitão. Ao tentar segurá-la, eles foram juntos ao chão e o escudo saiu da mão de Steve. Coloquei-me em posição outra vez, mas antes que pudesse atirar, o homem se levantou e veio em minha direção. Bucky o parou no meio do caminho com um golpe e eles começaram a lutar.
O estranho não parecia estar machucado e, para minha surpresa, subjugou o Soldado Invernal com seu poder. Bucky foi paralisado no último segundo, com o braço metálico erguido na direção dele. Ele tentou se mover, mas em vão e o outro se aproximou com sua mão erguida, mostrando do que era capaz.
- É melhor ficar onde está. – eu finalmente reagi e ele me encarou.
- E o que acha que pode fazer agora? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Não queira saber. – meu dedo estava no gatilho.
Ele ficou por alguns segundos olhando para mim, mas então sorriu. Um sorriso ao mesmo tempo belo e perturbador.
- Eu sempre soube que resistiria, afinal, você tem uma vida ao lado dessas pessoas. – ele disse e veio até mim. – Uma vida que deram a você.
- Não... não se aproxime. – vacilei e me odiei por isso.
- Não tenha medo. – ele parou em minha frente. – Não quero machucá-la.
- Isso é uma pena. – inclinei a cabeça um pouco para o lado. – Por que esse é exatamente meu objetivo.
De surpresa, golpeei seu rosto com o fundo da pistola e ele o virou violentamente para o lado. Mas, como se aquilo não tivesse passado do um arranhão, ele sorriu e segurou meu pulso com força, tirando a arma de mim.
- Eu tentei fazer as coisas do jeito fácil. – ele balançou a cabeça negativamente. – Mas você não me deixou escolha.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele me soltou e caminhou até onde Bucky estava. Olhei ao redor e vi Nat e Steve correrem até nós, mas eles pararam ao perceberem a intenção dele. Eu também compreendi, mas era tarde. Ele ergueu a mão e, olhando para mim, atirou contra Barnes.
- Não! – gritei quando o disparo atingiu seu peito.
Senti algo revirar dentro de mim e corri até eles. Não pensei nas consequências, apenas queria pará-lo. Mas, como era de se esperar, ele me fez paralisar. Tentei forçar meus movimentos, porém, não adiantava. Ele era poderoso. Nenhum de nós poderia lutar contra ele.
- Ou vem comigo ou eu vou matar seu amigo. – ele continuou apontando a arma para Bucky. - A decisão é sua.
Com dificuldade, corri meus olhos até James e meu coração se apertou ao ver sua expressão de dor. O sangue escorria pelo tecido escuro da camisa, transformando-se numa mancha negra. Soltei o ar pela boca, tentando não deixar que meus sentimentos me dominassem. Mas, era impossível.
Se eu dissesse não, ele iria matá-lo. Iria matar todos eles. E, no fim, me levaria. Por que sacrificar suas vidas quando elas poderiam ser poupadas em troca da minha? Eu era apenas uma pessoa e não valia tanto. Não a ponto de causar tantas perdas. Em toda minha vida, sempre quis fazer o que achava ser o certo. E, para mim, aquilo era o certo a se fazer.
- Eu vou... – murmurei com a voz trêmula, mas tratei de me recompor e falei com mais firmeza. – Eu vou com você. Apenas deixe-os ir.
- Essa é uma boa escolha. – ele ergueu a pistola, deixando de mirar Bucky.
Ele andou a passos lentos e quando estava perto, interrompeu seu controle e eu finalmente pude me mover. Ao mesmo tempo, ele libertou Bucky, que foi ao chão arfando graças ao ferimento. Ele levou uma mão ao peito, mas ainda assim, olhou para mim. Mordi meus lábios quando li os seus. Ele pedia que eu ficasse, que não fosse com aquele homem. Entretanto, eu já havia decidido.
- Eu sinto muito. – murmurei apenas para ele.
Depois, ergui meus olhos para Steve e Natasha, que estavam espantados com o que se passava e sorri minimamente. A única forma de me despedir. Então respirei fundo e encarei o ser parado em minha frente. Minha única vontade era a de socá-lo infinitamente, mas apenas fiz um sinal positivo com a cabeça.
- Vamos. – eu disse, olhando em seu rosto.
- Sim, vamos. – ele sorriu e segurou meu braço.
- Golden... – de repente ouvi um murmúrio pesado.
Virei-me para Bucky e ele tentava se levantar, apoiando o peso do corpo no cotovelo de metal. Levei uma das mãos até a boca e, me desvencilhando do intruso, corri até ele. Abaixei-me ao seu lado e fiz uma careta ao sentir meu tornozelo, mas o ignorei. Desesperada, levei minha mão até seu peito, sentindo a umidade e o calor do sangue que já cobria boa parte do seu tronco. O empurrei para trás, levando-o a se deitar.
- Bucky, vai ficar tudo bem. – eu disse e me inclinei mais em sua direção. – Eu vou ficar bem, não se preocupe.
- Não... – ele segurou minha mão. – Fique. Por favor, fique.
- Eu não posso. – engoli seco. – Vocês são importantes demais, me desculpe.
- Não... – ele repetiu e fechou os olhos por conta da dor.
- Adeus, Bucky. – eu sussurrei e então beijei sua testa. – Não se esqueça de mim.
- Golden... – ele gemeu meu nome, mas ignorei.
Levantei-me e fiz um sinal para que Steve se aproximasse dele. Em seguida, caminhei até o estranho. Ele ergueu sua mão para mim. Depois de encará-la receosa, a segurei.
- Vamos para casa, Elle. – ele repetiu.
Não tive forças para retrucar ou algo assim. Apenas olhei por cima do ombro e vi meus amigos olhando para nós. Eles estavam tão desolados quanto eu estava. E não havia como voltar atrás. Nem que eu desejasse. Sem explicação, senti uma dormência tomar meu corpo. Em poucos instantes, contrariando a luz do sol que surgia tímida sobre o horizonte, tudo ao redor ficou escuro. E a escuridão consumiu todo meu interior.
Abri os olhos e senti uma pontada forte em minha cabeça. Aos poucos, minha visão entrou em foco e então percebi que estava dentro de uma sala escura. Entretanto, havia iluminação suficiente para que eu visse que não havia nada ali dentro. Estava deitada no chão duro e frio.
Sentei-me lentamente, tentando entender o que se passava e só depois de instantes é que me lembrei do que havia acontecido. Bucky havia sido baleado pelo estranho de boné e ele tinha me trazido para cá. Para a HIDRA. Um pouco alarmada, tentei me levantar, mas então ouvi um som metálico em meus pés. Desconfiada, tateei meu tornozelo e constatei o que pensei. Uma corrente estava presa nele.
- Deve estar se perguntando por que a prendemos dessa maneira. – de repente ouvi uma voz e dei um pequeno pulo.
- Quem está aí? – perguntei.
A voz vinha de cima e não precisei me esforçar para reconhecer de quem estava lá, pois uma luz foi acesa. Por um segundo, ela me cegou, me fazendo baixar o rosto até me acostumar com a claridade. Finalmente, voltei a olhar para cima e vi tal pessoa parada no topo de uma escada de ferro enferrujada.
- Você? – abri minha boca pela surpresa. – Mas é... impossível.
- Nada é impossível. – a pessoa desceu alguns degraus. – E você é a prova disso.
Eu não sabia o que dizer. Minha mente era um turbilhão de pensamentos. Meu coração pulsava velozmente e minhas pernas estavam bambas. Quando pensei que as coisas não poderiam ficar piores, o universo me mostrava que eu estava completamente enganada.
Capítulo 22: A Chave
Fechei os olhos, tentando respirar. No mesmo momento, o Soldado Invernal afrouxou seus dedos e caí de joelhos. Depois de puxar uma quantidade considerável de ar para meus pulmões, ergui a cabeça e o encarei confusa. Mas, antes que eu dissesse algo, ele apontou a arma para mim.
- O chip. – ele exigiu.
- O quê? – franzi o cenho.
- Sei o que pretende fazer. – sua voz era ameaçadora.
- Sabe? – eu sorri de canto.
- Apenas me dê o chip. – ele repetiu.
- Ou vai me matar? – perguntei, erguendo as sobrancelhas. – Desculpe, mas se quiser o chip, vai ter que pegá-lo.
Ele semicerrou os olhos, parecendo surpreso com minha ousadia. Para falar a verdade, até eu estava surpresa comigo mesma. O Soldado Invernal estava apontando uma arma para mim e eu ainda tinha coragem de desafiá-lo. Para completar, me levantei e passei a encará-lo. Eu só podia estar querendo morrer, era isso.
Antes que eu descobrisse qual seria sua reação, ouvimos passos na passarela de metal e eu olhei para lá. No mesmo segundo, senti um alívio indescritível ao ver Steve. Ele logo nos avistou e se aproximou. O soldado também o olhou e percebi que um conflito seria inevitável. Sem mais palavras, ele veio até mim e segurou meu pulso, prendendo uma algema nele. Tentei me desvencilhar, mas não consegui, especialmente quando ele prensou meu braço contra o corrimão de metal e aquela coisa se fixou nele, como se fosse um imã.
Então, ele me deu as costas e foi até o Capitão que corria em minha direção, o impedindo de continuar. Steve parecia aflito ao ver seu amigo naquela situação, mas precisávamos acabar logo com aquilo.
- Muitas pessoas vão morrer. Eu não deixarei, Bucky. – Steve disse, mas o soldado não lhe respondeu, continuando na passagem. – Pare, não me obrigue a fazer isso.
Ao perceber que ele não recuaria, Steve lançou seu escudo, mas o tal Bucky rechaçou o ataque com seu braço. Então, uma nova briga se iniciou. O soldado usou minha pistola para tentar acertar o Capitão e eu me abaixei para evitar ser atingida. Enquanto isso, tentava me livrar daquela algema magnetizada. Foi quando Bucky conseguiu acertar um tiro de raspão em Steve e eu xinguei, assustada.
Eles continuaram se enfrentando e eu, desistindo de me livrar daquela coisa, apoiei meu dedo indicador no comunicador e tentei falar com .
- , você está aí? – o chamei. – Precisamos de ajuda, onde está o apoio aéreo?
- Golden?! – ele finalmente respondeu. – Desculpe, não poderemos ajudar. O Soldado Invernal deu uma passada por aqui e destruiu os poucos quinjets que restavam à nossa disposição.
- E agora ele está aqui. – olhei em volta no momento que o soldado se jogava contra Steve e eles caíam da plataforma. – Ah, droga!
- O que houve? – percebi que ele arfava, talvez por ter corrido.
- O Capitão está aqui e eles estão lutando. – eu disse.
- Conseguiu trocar o chip? – ele perguntou.
- Eu meio que... estou presa. – mordi meus lábios.
- Presa? – ele parecia confuso.
- É uma longa história. – revirei os olhos e então me lembrei de algo. – , onde está meu pai?
- Golden... – ele murmurou e então franzi o cenho.
- Ele é o piloto chefe, deveria estar aí, não é? – esperei sua confirmação.
- Sim, ele deveria. – ele falou receoso. – Mas, como eu disse, o Soldado Invernal destruiu nossas naves. Seu pai havia decolado com mais dois agentes quando o quinjet explodiu no ar. Eu... eu sinto muito.
Levei minha mão livre até a boca, abafando um gemido que saiu involuntário por conta de minha perplexidade. Meu pai estava morto, era isso? Instantaneamente, sua imagem me veio à mente. O sorriso alegre que sempre estava presente, mesmo depois de tudo o que passamos, os cabelos já começando a ficar grisalhos, ainda que não fosse tão velho. De como preferia me chamar de , apesar de ter sido o primeiro a me apelidar como Golden. Lembrei-me de seus olhos azuis que conseguiam ser mais brilhantes do que os de Pepper.
Pepper. Como ela reagiria quando soubesse que seu irmão havia morrido? Não consegui pensar. Minha cabeça girava como um peão e a única coisa que senti foi uma dor incrivelmente torturante. Paralisada, as lágrimas escorreram pelos meus olhos e molharam o meu rosto. E elas eram tão quentes como as chamas que tomaram conta do meu coração.
Flashback –Off-
Eu continuava paralisada. Meus olhos não conseguiam deixar de encarar a pessoa parada no topo da escada. E ela me encarava de volta com um sorriso de canto. Os brilhantes olhos azuis me fitavam como se pudesse ler meu interior. Quando ele começou a descer os degraus restantes, percebi que era real, que não era uma visagem. Institivamente, me levantei, me recostando na parede e pisquei meus olhos algumas vezes. Aquilo não era verdade. Não podia ser.
- Pai... – murmurei atônita. – Você... o que faz...
- Sei que está confusa, mas não se preocupe. Logo terá todas as respostas que precisa. – ele parou a alguns metros. – Pelo menos as mais importantes.
- Não... – disse sem conseguir deixar de encará-lo. – Você... está com eles?
- Você sempre foi uma garota observadora. – ele inclinou a cabeça para o lado. – Até hoje me pergunto como não descobriu isso antes.
- Você é o meu pai. – sussurrei. – Como poderia pensar que... que é um agente da HIDRA?
- Falando assim... – ele se aproximou mais. – Parece um tipo de acusação.
- Você está com os caras maus. – falei de forma óbvia, apesar de meu tom ainda ser baixo. – Não precisa de uma acusação.
- Deve estar irritada e não esperaria outra reação de sua parte. – ele parou em minha frente. – Mas tudo isso tem um objetivo.
- Como pôde fazer isso? – minha voz saiu ainda mais fraca, mas tratei de me recompor. – Todos acham que está morto. Que sua nave explodiu naquele dia.
- E isso é bom. – ele sorriu minimamente e então se afastou começando a caminhar pela sala.
Acompanhei sua caminhada com o olhar, tentando entender o que estava acontecendo. Em certo momento, fechei os olhos rezando para acordar. Mas eu não acordaria. Os abri, e o fitei de novo. Agora ele estava de costas para mim, com as mãos cruzadas para trás. Mordi os lábios e engoli seco. Aquele era mesmo meu pai, o homem por quem jurei que morreria, caso fosse preciso? Naquele momento, estávamos de lados opostos. Mas eu me recusava a acreditar.
- Pai... – o chamei e ele se virou para mim. – Por que está fazendo isso? Sabe que a HIDRA só deseja o caos para o mundo. Não pode concordar com eles.
- A HIDRA deseja transformar o mundo num lugar melhor, onde apenas os merecedores poderão viver. – ele deu dois passos. – Se precisarmos, e sempre precisaremos, usaremos meios letais para isso.
- Eles só querem dominar o mundo. – balancei a cabeça negativamente. – E pessoas inocentes sempre pagam por isso.
- Ninguém é inocente, apesar de uns errarem mais que outros. – ele salientou. – Nós apenas queremos resolver as coisas.
- Escolhendo os merecedores. – falei de forma debochada. – Seriam... vocês?
- Todos aqueles que apoiam nossos ideais e que aceitam que somos o melhor para a humanidade. – ele falou de forma convicta.
- A HIDRA merece seu lugar nas sombras. – cerrei os punhos. – Ela não se erguerá novamente. A SHIELD não permitirá...
- A SHIELD teve nossos agentes infiltrados em seu meio por décadas e precisaram descongelar o Capitão América para perceber isso. – ele sorriu de lado. – Alexander Pierce, os membros da STRIKE, eu, sua mãe. Apenas alguns do que fingiam ser o escudo da Terra sem levantar qualquer tipo de suspeita.
- Minha mãe? – arregalei os olhos. – Ela era... Não, eu não acredito.
- Ela era uma de nós, mas passou a amá-la tanto, que desistiu de tudo. – ele disse. – Ela se recusou a machucá-la ou usá-la como uma arma.
- E por isso a mataram. – liguei os fatos e o olhei abismada. – Foi você?
- Não poderia fazer algo assim, eu a amava. – ele negou. – No entanto, algo maior estava em jogo e fui obrigado a levar isso ao nosso líder. Ele encarregou o Soldado Invernal dessa tarefa.
Eu não aguentava mais. Não queria ouvir mais nada. Deixando qualquer resquício de bravura ou dignidade de lado, desabei de joelhos e levei as mãos ao peito, respirando com dificuldade. Meus pais faziam parte da HIDRA. Eram os vilões. As pessoas em que confiei à vida inteira. E ninguém sabia.
- É demais para você, eu sei. – ouvi sua voz mais uma vez. – Mas não temos muito tempo.
- Tempo? – perguntei fitando o chão.
- Logo eles procurarão por você. – ele disse e se abaixou em minha frente. – Antes disso, sei que terá entendido o quão importante é para nós.
- Sim, eles virão. – finalmente o encarei e nossos rostos estavam próximos. – E quando isso acontecer, vocês irão perder.
- Estamos em todos os lugares, como poderão nos parar? – ele segurou o meu queixo. - Corte uma cabeça e duas nascerão no lugar.
Então ele se levantou e, sorrindo uma última vez, me deu as costas. Caminhou até a escada, mas antes que saísse o chamei e ele parou. Virou-se lentamente para mim com as sobrancelhas erguidas. Eu conhecia aquela expressão. Ele sabia que eu faria aquilo. Que buscaria mais respostas.
- Vocês querem dominar o mundo e isso não é novidade. – falei com desdém. – Mas o que eu tenho a ver com isso? Por que aquele cara estava atrás de mim?
- Porque você é a chave para que tenhamos êxito. – ele respondeu. – Existe algo dentro de você que poderá nos dar a vitória.
- E o que há em mim que precisam tanto assim? – franzi o cenho.
- Algo em seu DNA. – ele voltou a se aproximar. – Que está além da compreensão humana.
- E querem tirar isso de mim? – questionei.
- Queremos que aprenda a usá-lo. – ele voltou a tocar meu rosto com os dedos frios. – E que nos ajude.
- E o que os faz pensar que algum dia os ajudaria? – estalei a língua.
- Você sempre esteve disposta a ajudar as pessoas, sempre viu o melhor nelas. – ele disse e sorriu. – Não vai demorar que entenda nossa visão. Afinal, você é nossa garota de ouro. Nosso maior tesouro.
- O que quer dizer com tudo isso? – perguntei confusa.
- Você, Golden, é um ser especial. – ele enfatizou. – Sua herança é grandiosa.
- O que eu sou? – insisti. – Pare com tanta conversa fiada.
Ele riu abafado diante de minha impaciência. Como ele poderia estar tão calmo? Era como se estivéssemos conversando sobre minhas notas finais do ensino médio. Ou sobre meu primeiro namorado. Para meu pai, aquilo era o certo. E eu sabia que, quando ele se empenhava por algo, nada o fazia mudar de opinião. Nem mesmo minha mãe.
- Pai. – disse entredentes.
- Tudo bem, não pretendo perder mais tempo. – ele balançou a cabeça positivamente.
Para minha surpresa, ele beijou minha testa. Apesar de todos os sentimentos ruins, não consegui me afastar. Ele era meu pai e por seis meses achei que estivesse morto. Mas agora, ele estava em minha frente. Meu coração não podia ignorar isso. Fechei os olhos até que ele se afastou e eu voltei a fita-lo. Sem mais delongas, ele disse o que eu tanto queria saber.
- Você, minha pequena , é uma inumana. – ele me olhava com orgulho. – A maior criação da HIDRA.
- Uma o quê? – franzi o cenho e então me lembrei de algo. – Espera, eu tenho uma amiga que é inumana, mas ela tem... poderes.
- Existem muitos inumanos espalhados pela Terra com variadas habilidades. – ele contou. – Mas você é diferente de todos eles.
- Está querendo dizer que tenho poderes? – falei com incredulidade. – Isso é ridículo.
- Seus poderes ainda estão adormecidos, mas logo vamos despertá-los. – ele voltou a se afastar. – Antes disso, creio que precise saber qual é a sua história. Sua verdadeira história.
- Ótimo. – revirei os olhos. – E por onde começamos?
- Que tal, por sua família? – ele parou no começo da escada e se virou em minha direção.
- Minha família? – franzi o cenho assustada. – Está dizendo que você...
- Sim, Golden. – ele concordou com um leve sorriso. – Estou dizendo que eu não sou seu pai.
Maior do que qualquer outro impacto, até mesmo do que a dor de tê-lo perdido uma vez, foi ouvir aquelas palavras. Ainda abaixada, fitei o chão escuro enquanto sua voz se repetia vez após vez dentro de minha mente. Em um instante, como um tiro de canhão, todas as minhas estruturas foram abaladas. Em um segundo, tudo o que eu achava ser verdade, era uma grande mentira.
Capítulo 23:
- Eu não acredito em você. – foi à primeira coisa que consegui murmurar após aquele baque. – Sei que nada disso é verdade.
- Como poderia saber? – ele perguntou com certo divertimento na voz.
- Por que isso não é possível! – exclamei, erguendo meu rosto para fitá-lo. – Como a SHIELD não saberia de algo assim? Como não saberiam que você não é meu pai?
- Nunca disse que eles não sabiam. – ele soltou um longo suspiro.
- A SHIELD... sabe? – sussurrei surpresa.
Sem me responder, ele se sentou nos degraus da escada, podendo assim me encarrar de frente, já que eu continuava jogada no chão. E não levantaria dali tão cedo. Meu pai me olhou nos olhos e sorriu, só então começando a contar o que eu queria saber.
- Quando você foi encontrada, a SHIELD buscou agentes confiáveis para protegê-la e sua mãe e eu recebemos essa tarefa. A partir daquele dia, você seria nossa filha. – ele começou. – Nós a chamamos de e foi inevitável não nos apegarmos. Você era uma criança adorável, todos queriam estar ao seu lado.
- Onde me encontraram? – perguntei. – De onde eu vim?
- Você veio da HIDRA. – ele respondeu e eu abri a boca abismada. – Foi a maior criação que conseguimos realizar.
- Criação? – questionei, ainda tentando engolir aquelas palavras.
- A maior de todas. – ele sorriu sem mostrar os dentes outra vez.
- Você disse que eu sou uma... inumana. – mordi o lábio inferior. – Tem a ver com isso?
- Sim. – ele balançou a cabeça em concordância. – Durante décadas a HIDRA buscou o Soldado perfeito, a pessoa que seria a garantia de nossas vitórias.
- Então criaram o Soldado Invernal. – eu completei sua fala.
- Mas ele não seria suficiente, nem outros como ele, pois é um subordinado. – ele retomou sua fala. – E precisávamos de um líder. Alguém que fosse suficientemente poderoso para comandar nossa organização quando estivesse pronto.
- E como encontraram esse... líder? – ergui levemente as sobrancelhas.
Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nas pernas e fitou o nada. Baixei o rosto por um segundo e mordi os lábios. Então ouvi sua voz mais uma vez.
- Ouvimos falar de humanos que tinham poderes. Eles viviam separados dos demais e se denominavam inumanos. – ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nas pernas. – Começamos a estudá-los e descobrimos suas histórias. Suas habilidades eram derivadas de uma mutação genética que os havia transformado numa raça distinta da humana, apesar das semelhanças.
- Está dizendo que sou um tipo de experimento genético? – franzi o cenho.
- Esses experimentos ocorreram há muito tempo, mas os inumanos passaram seus genes a seus descendentes. – ele continuou.
- E como eu herdei esse gene modificado? – perguntei um pouco curiosa.
- De seus pais. – ele inclinou a cabeça um pouco para o lado. – Seus verdadeiros pais.
- Eles eram inumanos? – semicerrei os olhos. – E onde eles estão?
- Estão mortos. – ele foi direto. – Mas isso não importa. O que importa é que você está aqui.
Parei por um segundo e respirei fundo, puxando o máximo de oxigênio que consegui para meus pulmões. Mais pais mortos? Aquele dia só podia ser um tipo de pesadelo do qual eu não conseguia despertar. Meu coração não podia mais evitar os sentimentos ruins e eu já sentia a raiva me dominar aos poucos. E eu não era uma pessoa amigável quando estava com raiva.
- É claro que não importa. – ri sem humor. – Nenhuma vida tem valor para vocês.
- Isso não é verdade. – ele se levantou. – Veja você. Fizemos de tudo para protegê-la, para que continuasse viva até que estivesse pronta.
- E o que me faz tão... especial? – falei num tom debochado.
- Como eu disse, tentamos achar um líder e então começamos um novo experimento. – ele explicou. – Levamos inumanos voluntários para uma de nossas bases e fizemos testes, descobrindo como aumentar seus poderes. Mais tarde foi estabelecido que tivessem filhos entre si. Enquanto ainda estavam no ventre, injetamos nos fetos a substância que ampliaria suas habilidades.
- E eu sou um desses bebês? – engoli seco.
- Até chegarmos a seus pais e você, muitos morreram. Tanto mães, quanto filhos. Não eram fortes o suficiente. – ele disse e então sorriu. – Mas sua mãe era poderosa assim como a criança que ela carregava dentro de si. Quando você finalmente nasceu, sabíamos que havíamos conseguido.
- Mas vocês me perderam. – salientei. – Deixaram que a SHIELD me levasse e eu me tornei uma pessoa bem diferente do que queriam.
- Isso quase aconteceu, mas então percebemos que lá era onde você deveria estar. - ele se aproximou.
- O que quer dizer? – senti meu coração acelerar.
- Por que acha que nos oferecemos para sermos seus pais? - ele abriu os braços. – Você é o nosso acerto. Nossa líder.
Arregalei os olhos, estupefata. A HIDRA havia testado e matado pessoas, crianças, apenas para encontrar um maldito líder. E agora, meu pai dizia que eu era essa pessoa. Que tinham poderes além do comum. Fechei os olhos e pensei nos meus amigos e em Pepper. Eu precisava deles agora. No entanto, sabia que apenas uma pessoa me entenderia.
Bucky.
Ele era o único que poderia se sentar ao meu lado e dizer que ficaria tudo bem. Sua vida havia sido roubada, assim como a minha. A HIDRA a havia destruído e manipulado durante todo o tempo. Mas eu não podia parecer tão fraca. Não ali.
- Por que me queriam lá dentro? – perguntei tentando não gaguejar.
- Ter um líder dentro da maior organização de inteligência da Terra teria muitos benefícios. – ele disse. – Você poderá nos transmitir inúmeras informações.
- Acho que se esqueceu de que não estou do seu lado. – falei num tom óbvio. – Se quiser, pode me torturar, mas não vou dizer nada.
- Logo ganhará seus poderes, Golden. – ele disse, concluindo aquele assunto. – Então perceberá que sempre foi uma de nós.
Sem mais palavras, ele se afastou e começou a subir a escada a passos lentos. Continuei a acompanhá-lo com o olhar até que o vi chegar ao topo, se aproximando da porta de metal. Antes de sair, porém, ele me olhou lá de cima e disse algo que me deixou ainda mais confusa.
- Enquanto terminamos os preparativos, talvez queira saber mais sobre seus pais. – ele falou.
- Achei que estivessem mortos. – falei de forma ácida.
- E estão. – ele confirmou. – Mas, eles não são sua única família.
Então ele abriu a porta e se retirou, a fechando atrás de si. Mais uma vez me vi sozinha, com meu cérebro girando por conta de mais um dos seus enigmas. Meu pai, pois apesar de tudo, ele havia me criado, conseguiu me deixar perturbada. Algo que não acontecia com muita frequência. A última pessoa que havia me deixado assim havia sido Bucky Barnes.
Mordi a bochecha por dentro ao me lembrar dele e só então me lembrei de como o havia deixado. Ele estava muito mal. E pedia que eu ficasse. Sentindo a tristeza me consumir, me recostei na parede e abracei meus joelhos, apoiando a cabeça neles. Eu podia ouvir as batidas do meu coração e ao pensar nele, elas se tornaram ainda mais velozes. Eu sentia sua falta. Mais do que de qualquer outro. Mais do que Pepper. E apesar de parecer impossível, não tentei encontrar desculpas.
- Me desculpe, Bucky. – sussurrei e apertei os olhos com força. – Eu prometi que ficaria com você, mas falhei. Me desculpe.
Apesar do peso em meu coração, as lágrimas não vieram. Havia chorado por conta dos meus pais por muito tempo. E eu já estava cansada delas. Só uma dor infinitamente grande seria capaz de trazê-las outra vez.
Despertei ao ouvir o som de metal sendo arrastado. Abri os olhos e me sentei rapidamente, olhando em volta. Quando olhei para o topo da escada, franzi o cenho ao encontrar uma pessoa parada, me encarando. Era o cara de boné que havia nos atacado duas vezes. Ele havia aberto a porta, causando o ruído.
- O que faz aqui? – perguntei de forma grosseira, mas minha voz saiu um pouco rouca.
- Não quero brigar com você. – ele disse e começou a descer. – Quero apenas conversar.
- Conversar? - eu ri sem humor. – E que tipo de ideia eu teria para compartilhar com o cara que tentou matar meus amigos e a mim?
- Sei que fui agressivo e não gostaria de ter sido. – ele terminou os degraus. – Mas, se precisar fazer coisas assim para protegê-la, eu farei.
- Você quer me proteger? – minha voz saiu debochada. – Então por que me trouxe até aqui?
- Por que eles prometeram que você ficaria bem. – ele se abaixou em minha frente. – E que seria a nova líder deles.
- Mas isso não vai rolar. – balancei os ombros.
- Não pode fugir do seu destino. – ele disse e acrescentou. – Foi criada para isso.
Olhei bem em seus olhos castanhos e senti uma fúria indescritível me dominar. Travei o maxilar e, como uma cobra dando o bote, acertei seu rosto com um soco. Tão forte quanto meu descontentamento. Apesar disso, ele apenas virou o rosto e arfou surpreso. Mordi os lábios, visivelmente frustrada com minha tentativa falha. Havia sido quase tão decepcionante quanto tentar machucar Bucky.
- Não precisamos seguir por esse caminho. – ele voltou a me encarrar.
- Você machucou meus amigos. Atirou em um deles. – elevei meu tom aos poucos. – Acha que vou parar um minuto sequer para ouvi-lo? O que há de tão interessante que mereça minha atenção?
- Nossos pais. – ele disse e eu parei. – Talvez eles mereçam sua atenção.
- Nossos? – murmurei desorientada. – Eles também eram... seus pais?
- Sim, somos irmãos. – ele disse. – E estou aqui por que você é a única coisa que me restou. Você, Elle, é minha única família.
- Elle? – questionei, tentando não parecer tão abalada.
- É o seu nome. – ele sorriu pela primeira vez. – Na verdade você é Hellen, mas a chamávamos assim de forma carinhosa.
- Me desculpe, eu não consigo. – desviei o olhar e então me levantei. - São coisas demais. Eu preciso de tempo.
- Sei disso. – ele também se ergueu e ficamos frente a frente. – E também sei que quando entender tudo, vai perceber que essa é a sua casa. Que é a líder deles.
- Achei que não se importava com o que a HIDRA queria. – o olhei com o cenho franzido.
- Não me importo. – ele disse. – Mas, onde você estiver, eu também vou estar.
Antes que eu dissesse algo, ele se aproximou e se abaixou perto das correntes em meus tornozelos. Sem tocá-las, com um breve movimento de sua mão esquerda, ele fez com que o metal se rompesse e eu ficasse livre.
- Como faz essas coisas? – perguntei.
- Sou um inumano também. – ele se levantou. – Tenho poderes de telecinese e de cura acelerada. Também tenho uma força acima da média comum.
- Percebi. – falei de forma sugestiva. – Mas por que está me soltando?
- É hora de irmos. - ele respondeu.
- Para onde? – questionei.
- Rumo ao futuro. – ele me encarou.
Ficamos assim, até que ele segurou meu pulso e me conduziu ate é as escadas. Enquanto subíamos os degraus, via seus cabelos castanhos, pois estava sem boné. Aquele homem era meu irmão. E queria me proteger. Eu não confiava nele, mas talvez o odiasse menos que os outros.
- Ei! – o chamei baixo.
- Sim? – ele não parou até chegarmos à porta.
- Qual seu nome? – fiz a pergunta que não saia de minha mente.
- . – ele me olhou por cima do ombro.
- ... – eu repeti.
Voltamos a caminhar, saindo daquela sala imunda e escura. Estávamos agora num corredor. Seguimos por alguns deles até estarmos em frente a uma sala. Entramos e logo a identifiquei como um laboratório. Algumas pessoas vestidas com jalecos brancos andavam de um lado para o outro, conversando entre si. Haviam muitos maquinários sofisticados, computadores e visores de última geração que mostravam alguns dados numéricos.
Entretanto, o que mais chamou minha atenção, foi uma câmara de vidro com bordas de metal quase ao meio da sala. Ela tinha o formato cilíndrico e tinha espaço para uma pessoa, apesar de ser alta. Analisei tudo com cautela, até que avistei meu pai. Repreendi-me mentalmente ao chamá-lo assim e decidi que agora deveria usar seu nome. Adam Potts. Um traidor.
- Olá, . – ele sorriu. – É bom tê-la aqui.
- O que vão fazer comigo? – perguntei.
- Vamos dar-lhe seus poderes. – ele disse e apontou para a câmara. – Para isso, quero que entre ali.
- Não. – falei com firmeza. – Se quiser que eu entre, vai ter que me levar à força.
Adam sorriu com divertimento diante de minha resistência e fez um sinal para . Este apenas se virou para mim e me pegou em seus braços, me levando para a câmara. Apesar de meus protestos, ele só parou quando estava lá dentro. Após ele sair, o vidro se fechou automaticamente. Furiosa, apoiei minhas mãos no vidro e comecei a socá-lo com força, enquanto falava coisas indecentes. Não adiantaria nada, mas me ajudaria a desabafar.
- Vamos começar o procedimento – Adam anunciou.
Os cientistas, já posicionados, fizeram o que ele disse. Por um minuto, tudo continuou como estava, até que ouvi um som metálico acima de mim. Olhei para lá e vi um gancho de metal segurando um cristal azul. Ele não estava ao meu alcance e eu não me atreveria a tocá-lo, pois parecia ser perigoso, apesar de belo. Contentei-me a fitá-lo com curiosidade. Então, a garra esmigalhou o cristal e uma fumaça acinzentada me atingiu em cheio.
Cambaleei até parar contra o vidro e continuei olhando para cima. De repente, senti algo pegajoso subindo pelos meus dedos. Olhei minhas mãos e me sobressaltei ao ver uma gosma negra tomando conta dos meus membros.
- O que é isso? – olhei para as pessoas do lado de fora. – Tirem essa coisa de mim!
Enquanto falava, a gosma começou a se solidificar. Fechei os olhos assustada antes de ser completamente coberta. Quando a escuridão tomou conta, percebi algo. Agora, eu era uma imóvel estátua de pedra.
Capítulo 24: Lembranças
(15 de Janeiro, 1996)
Os corredores eram frios e sombrios. Enquanto caminhava, eu podia ouvir o som de minhas botas contra o piso. Naquele momento, todas as pessoas que trabalhavam naquela base secreta da HIDRA, estavam empenhadas em um só trabalho. Inclusive eu.
Quanto mais me aproximava do local para onde havia sido chamado, podia ouvir gritos de uma mulher. Ela parecia estar sentindo muita dor. Não me preocupei, porém, pois sabia o real motivo de seu sofrimento. O objetivo era produzir algo grandioso. A maior criação da HIDRA.
Parei em frente da enfermaria, posicionado ao lado direito da porta. Esperei por algum tempo até que, finalmente, os gritos cessaram. Não demorou a que alguém abrisse a porta e saísse. Olhei para a pessoa e soube ser uma das enfermeiras. Ela tirou a máscara branca que cobria metade de seu rosto e vi que sorria com satisfação.
- Está feito! – ela disse – É uma menina. A mais forte de todos os que chegaram a nascer.
- Tenho a missão de protegê-la. – me limitei a essas palavras.
- Sim, eu sei, soldado. – ela, que percebi ter os olhos esverdeados, concordou – Logo poderá levá-la para a base Russa. Por enquanto, vamos cuidar dela e de sua mãe. Mas, se quiser conhecer nosso pequeno tesouro, pode entrar. Afinal, ela será sua nova líder no futuro.
Vi quando ela segurou a maçaneta e a girou. Depois de me lançar um último olhar, a enfermeira adentrou a sala, me deixando sozinho. Ponderei por alguns instantes sobre o que ela havia dito. Eu realmente deveria conhecer minha protegida. E seria melhor fazê-lo logo. Olhei em volta, não vendo ninguém e então empurrei levemente a porta entreaberta.
Tudo ali dentro estava uma bagunça. Médicos e enfermeiros caminhando de um lado para o outro com papéis e pranchetas. Outros retiravam suas vestes usadas durante o parto. Andei entre eles, que abriam caminho assim que me avistavam. Então, vi a cama onde a inumana estava. Seus cabelos estavam emaranhados e ela parecia exausta, porém, nada disso era importante. E seu sorriso confirmava isso.
Me aproximei e então vi o motivo de sua felicidade. Havia um pequeno embrulho em seus braços. Era a criança tão esperada. Eles finalmente haviam conseguido. Continuava encarando o pequeno volume envolto numa manta branca até que a inumana me fitou.
- Não tenha medo, soldado. - ela disse com a voz arrastada – Chegue mais perto.
- E por que teria medo? – murmurei enquanto parava ao seu lado.
- Porque está prestes a conhecer umas das pessoas mais poderosas que já existiu. – vi um novo sorriso.
Franzi o cenho diante de sua declaração, mas minha atenção logo se voltou para a criança. Sua mãe a inclinou em minha direção e era delicada e serena. Os olhos estavam fechados, pois dormia. A pele era alva e, por conta do frio, as bochechas estavam rosadas, assim como os lábios. Pela primeira vez, em todos aqueles anos infames, pude contemplar algo realmente puro e belo.
- Essa é Hellen. – ouvia inumana declarar – E ela será nossa salvação.
Desviei meus olhos para ela novamente e, ao perceber minha expressão confusa, a mulher riu levemente. Não tinha entendido suas palavras, mas não a questionaria sobre isso.
- Deverá protegê-la, não é? – ela perguntou
- Sim. – balancei a cabeça uma vez e então voltei a fitar o bebê que continuava a dormir numa imensa paz – E eu irei.
Flashback –off-
Abri os olhos, sobressaltado. Eu arfava, sentindo meu peito subir e descer com ferocidade. Olhei em volta e, em questão de instantes, cheguei à conclusão de que estava numa sala de um hospital ou de uma enfermaria. As paredes e o teto brancos denunciavam isso.
Apesar de saber que deveria estar machucado, ou não haveria motivo para estar ali, ignorei completamente esse fato e me levantei de supetão, arrancando os fios que estavam grudados ao meu corpo. Inclusive uma agulha que levava soro ao meu braço. Existia uma pessoa que era mais importante do que eu. E eu sabia que ela estava em perigo. Quando tentei me levantar, porém, senti uma mão agarrar meu ombro, me impedindo de continuar.
- Bucky, não pode levantar. – olhei para a pessoa, encontrando Steve ao meu lado – Levou um tiro.
- A Golden... – falei e só então percebi como minha voz estava débil – Ela...
- Aquele aprimorado a levou, sabemos. – ele continuava a tentar me fazer deitar – E já estamos fazendo de tudo para resgatá-la.
- Não. – dessa vez tentei parecer mais firme – Vocês não entendem.
- O que não entendemos? – ele franziu o cenho.
- A HIDRA... eles tem planos para ela. – eu afastei sua mão de meu ombro – Ela é muito mais do que pensam.
- E como sabe de tudo isso? – ele questionou.
- Porque eu me lembrei. – o olhei nos olhos – Eu sei quem ela é.
Steve me encarou surpreso e eu sabia que era por conta de eu ter admitido recordar daqueles acontecimentos. Coisa que não fiz quando conversamos na casa de Sam. Ele insistiu que eu o conhecia e que éramos amigos e, apesar de minha mente ter flashes que provavam isso, eu estava decidido a reprimi-los. Agora eu sabia que era por medo. Medo de me agarrar à única coisa que me restava do passado, de minha verdadeira vida, e então isso ser arrancado de mim outra vez.
Após Golden, porém, entendi que as coisas não deveriam ser assim. Ela havia perdido tanto em tão pouco tempo, mas continuava a confiar nas pessoas e conseguia encontrar um lado positivo nelas, mesmo que fosse mínimo. Ela acreditou em mim e fez o impossível para me ajudar. Arriscou sua carreira como agente para me poupar de novos sofrimentos. Ela confiou em mim.
E eu confiei nela.
E precisava confiar em Steve. Eu sabia que ele era quem dizia ser. Caso contrário, não teria continuado aqui. E Golden me fez perceber isso. Engoli seco e me remexi na cama, recebendo sua atenção mais do que antes.
- Sei que não tivemos uma conversa muito amistosa naquele dia... – reuni coragem para falar – Mas saiba que sei o motivo de estar fazendo tudo isso.
- Está querendo dizer que... – dessa vez, seus olhos azuis se arregalaram – Que sabe quem eu sou?
- Como eu poderia não saber? – baixei o rosto e fitei meus dedos sobre meu colo – Você sempre esteve lá, mesmo quando tinha quarenta quilos e entrava em brigas apenas para apanhar.
- Bucky... – ele murmurou.
Eu ainda fitava minhas mãos, quando o senti me abraçar. Dessa vez, eu me surpreendi. Apesar disso, não o rechacei, continuando imóvel enquanto seus braços me esmagavam e recebia tapas afetuosos nas costas. Apesar de ser um gesto desajeitado, eu sabia que era importante. Para ambos.
Quando ele finalmente se afastou, olhei em seu rosto e ele tinha os olhos marejados e um largo sorriso.
- Apenas para ficar claro, eu não só entrava nas brigas pra apanhar. – ele disse.
- Claro. – soltei um leve riso abafado – É por isso que eu sempre precisava socorrê-lo.
Ele riu diante daquela observação. No entanto, não pudemos continuar a conversa, pois alguém bateu na porta, entrando em seguida. Era Sam e ele olhou pra nós de forma desconfiada ao perceber nossas expressões.
- Acho que atrapalhei algo. – ele falou sugestivo.
- O que houve? – Steve perguntou.
- Fury está começando uma reunião para tentarmos localizar a Golden. – ele respondeu.
- Não precisam disso. – eu disse.
- Como assim? – ele fez uma careta.
- Sei onde ela está. – anunciei.
- Certo, então vamos chamá-los aqui. – Rogers falou.
- Por quê? – Sam questionou.
- Bucky levou um tiro no peito a menos de quarenta horas. – ele respondeu – Outra pessoa não teria chance alguma de ainda estar viva.
- Estou bem. – ressaltei.
- O Capitão está certo. – Wilson concordou – Vou chamar os outros.
Então ele saiu do quarto, nos deixando a sós. Lancei um olhar nada contente para Steve e ele ergue as sobrancelhas, achando graça de minha reação.
- Não precisa me tratar como uma criança. – eu estava realmente insatisfeito – Já disse que estou bem.
- Não estou te tratando como uma criança. – ele disse - E, não. Você ainda não está bem.
Antes que eu argumentasse, ele levou os dedos até meu peitoral, que só agora percebi estar enfaixado com uma gaze branca e empurrou o local de leve. Ainda assim, senti uma dor imensa no lugar e, instintivamente, segurei sua mão com força.
- É disso que estou falando. – ele disse e então o soltei.
Suspirei com cansaço e me recostei no travesseiro. Instantaneamente, minha mente refletiu o sorriso de Golden. Era assim todos os dias, desde que ela resolveu lutar por mim. Mas agora era diferente. Eu sabia quem ela era, de verdade. Nossas vidas haviam se cruzado muito antes do dia que matei sua mãe adotiva.
Logo os outros estavam no quarto e então soube que estávamos de volta à base da SHIELD. Coulson e a agente May estavam em meio a Nick Fury, Sam e a Romanoff. A antiga equipe de Golden também estava lá. As agentes Johnson e Morse e o agente . As atenções estavam voltadas para mim.
- Então, quer dizer que deu certo. – Fury disse – Aproximá-los realmente trouxe suas lembranças de volta.
- Acho que sim. - murmurei, mas então os fitei tratando de continuar – E o que consegui me recordar não é algo muito animador.
- O que eles pretendem fazer com a agente Potts? – a agente May perguntou.
- Eles querem transformá-la em sua líder. – relatei – Esse foi o propósito do nascimento dela.
- Está dizendo que a Golden veio da HIDRA? – a Romanoff questionou sem acreditar – Como não sabíamos disso?
- Eles deram um jeito. – eu falei – Haviam muitos infiltrados na SHIELD.
- É claro. – Fury pareceu entender algo – Mas como a farão líder?
- Eles pretendem dar-lhe seus poderes. – contei.
- Espera, como assim poderes? – a agente Johnson perguntou, confusa.
- A Golden é uma inumana aprimorada para expressar seu poder além do limite. – olhei para ela – Isso garantirá que a HIDRA domine o mundo.
- Eu conheço a Golden, ela nunca concordaria com isso. – riu sem humor.
- Quanto a isso, não tenho dúvidas. – concordei com ele – E não consigo entender o que a faria mudar de ideia.
- Não podemos esperar para ver. – May descruzou os braços – Devemos resgatá-la. E logo.
- Nós vamos. – eu a fitei por um instante – Sei onde estão.
- E onde seria? – Coulson se pronunciou pela primeira vez.
- No lugar mais profundo do Mar Negro. – fitei o nada, recordando aquele lugar – É um ponto praticamente inalcançável, mas sei como chegar até lá.
- E o que estamos esperando? – disse inquieto.
Acenei com a cabeça para ele. Sabia o que ele sentia. Aflição por saber que alguém como Golden poderia sofrer ainda mais. Talvez ela chegasse ao seu limite e não aguentasse tanta pressão. Uma hora, toda pessoa desmorona diante de provações. E, apesar de ser tão especial, ela tinha sentimentos. E eles eram intensos e conseguiam me envolver completamente. Mesmo contra minha vontade.
Baixei o rosto enquanto a conversa continuava e adentrei em minha própria mente. Eu havia me lembrado dela e de minha missão. E eu cumpriria até o fim. Eu a protegeria. E, se fosse necessário, com minha própria vida.
Após uma longa discussão, finalmente chegamos a uma decisão. A antiga equipe de Golden iria com Steve e Sam até a base secreta. No princípio, eles não queriam que eu os acompanhasse por conta de minha condição ainda crítica. Porém, eu deixei claro que só colaboraria se também pudesse ir. Eles foram obrigados a concordar.
Mostrei onde ficava a base e como poderíamos chegar até lá sem sofremos nenhuma turbulência. Ressaltei que haviam armadilhas espalhadas por todo o local e que deveriam tomar cuidado. E que seria praticamente impossível chegar sem ser notado.
- Devemos estar preparados para retaliação. – eu disse e apontei uma área do mapa – Mas, se formos por esse lado, encontraremos menos obstáculos.
- Vamos usar dois helicópteros para o resgate. – Coulson disse – Agente e agente Johnson vão com o Barnes. O Capitão Rogers ficará com a agente Romanoff e a agente Morse e Wilson irá com vocês.
- Entendido. – disse.
- Vamos entrar primeiro – Daisy disse – Meus poderes nos darão alguma vantagem. Posso abrir caminho para os outros.
- Certo – Steve disse – Vamos descer assim que percebermos que as coisas estão menos perigosas.
- Quando todos tiverem pousado uma parte de nós ficará do lado de fora enquanto outros entrarão para encontrar a Golden. – eu tomei a palavra outra vez – Como conheço o lugar, vou entrar.
- Vou com você. – se prontificou.
- Com certeza as coisas lá dentro estarão bem piores, então pode contar comigo. – Daisy disse.
- Os outros devem manter a luta do lado de fora. – falei outra vez.
Terminamos de discutir os pormenores de nossa missão e logo estávamos prontos. Apesar do incômodo que sentia no peito, minha determinação era maior. Já havia sentido dores muito piores. Agora precisávamos ser rápidos. Se não fôssemos, Golden poderia estar perdida. E, se dependesse da HIDRA, todo o mundo também estaria.
Capítulo 25: Em Chamas
Senti minhas veias pegando fogo. Era como se, a cada segundo, um calor intenso se apossasse de cada uma de minhas células e fosse aumentando exponencialmente até tomar conta de todo o meu corpo. Tentei gemer, mas o casulo de pedra em minha volta me impedia de qualquer reação.
À medida que o fogo me consumia internamente, a dor aumentava e a única coisa que queria naquele momento era morrer. Sim, morrer. E quem sabe poder me aliviar daquela tortura. Eu não conseguia pensar em nada, em ninguém, apenas no meu sofrimento. E isso me deixava ainda mais aflita.
Foi quando tudo parou. Apesar de eu ainda sentir o calor correndo por cada parte dos meus músculos, não havia mais queimar, nem mais dor. Apenas uma temperatura que seria insuportável para qualquer pessoa. Entretanto, ela não me incomodava. Antes que pudesse pensar por qual motivo eu resistia, senti a rocha que me cobria, trincar. Aos poucos, eu podia ouvir sua estrutura cedendo, por isso comecei a forçá-la.
Sem muita resistência, os pedaços começaram a cair e cada vez que eu me movimentava, eles iam ao chão. Primeiro, meus dedos se libertaram e os pude mover. Em seguida, a escuridão diante de meus olhos se clareou e eu vi que continuava no mesmo cilindro gigante de antes.
Cansada de estar presa por aquela coisa, forcei meu corpo e a rocha não suportou, despedaçando-se completamente diante de meu movimento. Livre da contenção, olhei em volta e me assustei. Havia uma aura semelhante a fogo, mas tão fina como uma névoa, ali dentro. E ela desintegrava as pedras antes que pudessem atingir o chão, transformando-as em nada mais que poeira.
Ainda admirada, percebi que tal força fluía de mim. Eu sentia meu corpo se fundir com a aura. Na realidade, era como se fôssemos um só. Cerrei os punhos com força e apertei os olhos, tentando fazer aquilo parar, mas parecia impossível. Era poder demais. Estava além de minha capacidade.
- Eu não consigo... – murmurei e vi como minha voz estava rouca – É demais pra mim.
- Você é forte o suficiente. – ouvi Adam dizer e ergui meu rosto para fitá-lo – Apenas concentre-se.
Com os olhos ainda nele, mordi os lábios e tentei fazer o que ele dizia. Concentrar-me. Era a melhor forma de me controlar e de controlar aquela coisa que eu estava fazendo. Voltei a fechar os olhos e aproximei os punhos fechados do peito. Enquanto me obrigava a parar, sentia meu corpo pedindo o contrário. Era como se ele quisesse experimentar mais daquela sensação. Mas eu não podia.
- Elle. – de repente ouvi e ergui meus olhos, surpresa – Você consegue.
estava perto do vidro. Tão perto que me perguntei se ele não tinha medo de se machucar. Entre a aura alaranjada, pude ver seus olhos me fitando com afeição. De forma inconsciente, me aproximei e ergui minha mão. Antes que a pudesse o cilindro, me lembrei de que estava em chamas. Ou quase isso. Porém, ele sorriu e apoiou sua mão nele. Com a coragem restaurada, coloquei minha mão em frente da sua e nossos dedos estavam separados apenas pelo vidro.
- Você consegue. – ele repetiu, dessa vez apenas para eu ouvir.
Continuei a fitá-lo e enquanto gravava os traços de seu rosto que deveriam ter feito parte de minhas lembranças, comecei a sentir a temperatura diminuir. Aos poucos a aura se dissipou e voltei ao normal. Olhei em volta e todos me encaravam com admiração. No entanto, notei que havia algo mais. Eles tinham medo. Fariam qualquer coisa que eu ordenasse e não era preciso adivinhar.
- Me tirem daqui. – sussurrei.
- Tem certeza? – Adam parou ao lado de – Se não conseguir se controlar, pode destruir tudo.
- Se quer que eu me controle, terei que aprender a usar meus poderes. – eu disse e minha voz saiu um pouco mais firme – E isso não poderá acontecer aqui dentro.
Depois de pensar no assunto, meu pai finalmente concordou com meu raciocínio. Ele deu ordem a um dos agentes e ele apertou um botão. Logo a porta de vidro se abriu e, sem hesitar, eu a empurrei sem pressa. Saí do cilindro e respirei fundo. Quando o ar alcançou meus pulmões, senti que havia algo diferente em mim. Uma coisa nova e que não conseguia definir. Mas era forte e me fazia perder a concentração no mundo exterior.
- Precisa treinar. – Adam parou em minha frente.
- Para quê? – questionei, mas não o mirei, continuando a esquadrinhar a força dentro de mim.
- É nossa líder. – ele ressaltou – Precisa estar pronta para isso.
- E quem fará isso? – fitei a palma de minha mão com interesse
- Eu. – disse e o olhei
Abri um sorriso quase que involuntariamente e me aproximei dele. Ele parecia surpreso com minha mudança de humor. Eu também estava. De um segundo para o outro o interesse no que eu podia fazer me consumiu. Eu necessitava ter a plena compreensão do que eu era e do que poderia ser.
- Quando começamos? – perguntei.
- Quando quiser. – ele acenou com a cabeça uma vez – Líder.
Devolvi seu aceno e dei-lhe as costas, encarando meu pai. Franzi o cenho com meu modo de pensar. Não deveria chamá-lo de pai. Ele não merecia. Naquele momento, porém, ignorei meu ressentimento e me dirigi a ele.
- Preciso de um espaço para treinar. – eu disse.
- Não se preocupe, isso já foi providenciado. – ele sorriu minimamente – a levará até lá.
- Posso ir agora? – eu quis saber.
- Pode ir quando quiser. – ele cruzou os braços atrás das costas – E aconselho que seja logo. Precisaremos de você.
O medi com o olhar e voltei minha atenção para meu irmão. Ele esperava uma resposta. Inclinei minha cabeça um pouco para o lado.
- Me leve até o local de treinamento. – eu pedi.
- Claro. – ele concordou.
Com um gesto simples ele mostrou o caminho por onde eu deveria seguir. Analisei o lugar uma última vez, vendo todos parados me observando com interesse e então o segui. Caminhamos lado a lado por vários corredores, enquanto eu sentia minha mente ser coberta por uma névoa escura a cada novo instante. E essa névoa me fazia querer saber mais sobre quem eu era a partir de agora.
Andamos por alguns minutos até que paramos em frente de uma escada. A fitei com curiosidade e, sem esperar uma permissão, comecei a descê-la. O senti logo atrás de mim, mas continuei. Ao último degrau me surpreendi com a imensa sala de treinamento. Maior do que qualquer uma que já tinha visto. Havia equipamentos de todos os tipos e de vários materiais. Aproximei-me de algumas armas penduradas na parede e as observei. Depois segui para alguns pesos para musculação em outro canto.
No entanto, nada daquilo prendeu minha atenção por muito tempo. Eu precisava sentir aquilo outra vez. A sensação de poder fluindo de cada um de meus poros. Virei-me para , que me observava atentamente.
- Me mostre. – ergui minhas mãos em sua direção – Como controlar essa coisa?
- Não é tão simples assim. - ele tirou as mãos dos bolsos e caminhou até mim.
- Não é tão simples? – ri sem humor – Por que não me surpreende que diga isso?
- Elle, sei que está... curiosa. – ele parou em minha frente – Mas antes de saber o que pode fazer, precisa controlar suas habilidades.
- Como controlá-las se não sei o que são? – questionei.
- É sempre tão persistente? – ele sorriu.
- Mais do que imagina. – sorri de canto.
Sem que eu esperasse, segurou minhas mãos entre as suas. Senti um calafrio com esse contato, mas evitei transparecer o que ele causava em mim.
- Feche os olhos. – ele pediu e eu o fiz – Agora concentre-se.
- Estou concentrada. – murmurei.
- E o que sente? – ele perguntou.
Parei por alguns segundos para analisar o que havia dentro de mim. Outra vez o calor voltou. Uma temperatura extremamente alta começou a crescer de dentro para fora, tomando meu corpo, até que chegou a superfície. De repente, largou minhas mãos, me fazendo abrir os olhos assustada. Ele estava em estado de alerta, apesar de não detectar medo em sua expressão.
- O que houve? – eu perguntei num fio de voz.
- Está quente. – ele disse e então abriu a boca – Seus olhos...
- O que têm eles? – os arregalei.
- Estão vermelhos... – ele estava admirado – Como fogo!
Olhei para minhas mãos e vi a aura novamente em torno delas. Dessa vez estava mais forte. A cor se assemelhava as chamas de uma fogueira, o que me fez dar um passo para trás.
- Você pode controlar o fogo. – ele disse.
- Isso é... – arfei maravilhada – Incrível!
Levantei uma mão à altura dos olhos e movi os dedos levemente, fazendo a névoa aumentar até que se transformasse numa chama completa. Concentrei-me mais e conduzi o poder até que ele estava na palma de minha mão. A chama brilhava e ergui minha outra mão, dividindo-a entre elas. Fitei e ele sorria. Voltei para o fogo e, quando percebi o que era capaz de fazer, fechei as mãos de uma só vez e ele se apagou.
- Eu nunca senti algo assim. – confessei.
- Sei o que está sentindo. – ele riu abafado – Mas não se apresse, precisa saber se esse é seu único poder.
- E pode haver mais? – franzi o cenho.
- No seu caso, creio que sim. – ele balançou os ombros – Mas, por enquanto, vamos aprimorar seu controle sobre o fogo.
- E como pretende fazê-lo? – me interessei.
- Ajudar inumanos não é algo novo para mim, Elle. – ele sorriu.
- E quantos já ajudou? – perguntei.
- Muitos. – ele disse – No começo, todos ficam temerosos e não aceitam o que são. Leva um tempo até que entendam a dimensão da situação. Mas você é diferente. Parece estar bem interessada.
- Não é a primeira vez que escuto isso. – eu ri.
Comecei a caminhar pela sala enquanto fazia novas chamas surgirem em minhas mãos. Aquilo era mais impressionante do que achei que seria. Nem por um segundo me preocupei se poderia me ferir. E a dor que senti no princípio não passava de uma turva lembrança. Foi quando perguntou algo que me fez parar instantaneamente.
- Você conhece o Soldado Invernal, não é? – ele perguntou.
- Bucky... – eu sussurrei e por um segundo minha mente flutuou até ele.
Quando me lembrei de seus olhos intensamente azuis todo o resto se dissipou. Foi inacreditável como meu coração bateu mais forte à menção de seu nome. Senti-me uma completa tola. Balancei a cabeça levemente e, tão rápido como veio, aquele pensamento se foi. A névoa escura, que havia diminuído ao pensar em Bucky, voltou e com ainda mais força. Mas respondi a pergunta de .
- Sim, ele era minha missão. – cerrei o punho e o fogo sumiu.
- Ele era um soldado da HIDRA. – ele falou, completando – E matou nossos pais.
Mordi meu lábio superior. Até quando mais notícias ruins seriam lançadas contra mim como se fossem assuntos do cotidiano? Eu estava cansada. E quando eu me cansava, nem mesmo podia me animar.
. Por que sua recordação parecia tão vaga? Por que o carinho com que me lembrava dele não estava mais lá? Pelo menos não como antes. Respirei fundo e abri meus dedos. O fogo surgiu como uma labareda furiosa. Sem pensar, lancei-a contra e vi quando ele ergueu suas mãos, desviando-a. Ela atingiu as armas na parede, derrubando algumas delas, causando uma chuva de faíscas laranja.
- O que pensa que está fazendo? – ele perguntou após arfar.
Ergui as sobrancelhas para meu irmão. Ele estava surpreso com minha investida. Ignorei sua reação e fiz mais fogo, agora com uma chama em cada mão. Ele continuou me fitando estático.
- Achei que iria me treinar. – comecei a brincar com o fogo.
- Agora? – ele abriu os braços.
- Sim, agora. – eu ergui um pouco o rosto, decidida – E isso é uma ordem.
Capítulo 26: Arrebatada
Uma força invisível conseguiu me lançar ao chão. Tentei me equilibrar, mas foi praticamente impossível, por isso me deixei levar e encontrei o piso escuro em poucos segundos. Soltei um resmungo quase inaudível e me apoiei nos cotovelos, olhando para meu irmão parado do outro lado da sala de treinamento. Havia um sorriso divertido em seus lábios.
- Acha isso engraçado? – eu disse e me levantei.
- Se não parar de se poupar, nunca conseguirá me vencer. – ele disse e ergueu as mãos em posição de combate. – Esqueça o que te preocupa e apenas lute.
- E o que o faz pensar que estou preocupada? – imitei seu gesto.
- Quando você deixar sua mente livre e se concentrar no que pode fazer, vai entender. – ele disse. – Por um segundo deixe seus... amigos pra lá e mantenha o foco aqui, nesse momento.
- Quer que eu deixe meus amigos pra lá? – soltei um riso abafado.
Sem deixar de olhá-lo, cerrei os punhos e fiz com que as chamas os envolvessem. Com as mãos pendendo a cada lado do corpo, apontei meus dedos para baixo e então duas correntes de fogo saíram deles, alcançando o chão. Como se seguissem um rastro de pólvora, eles se uniram e seguiram até onde estava. Manipulei as chamas até que elas se transformaram num círculo em sua volta.
Quando ele tentou sair do alcance delas, movi minhas mãos para cima e as chamas também se elevaram, me permitindo ver apenas sua expressão admirada. Dei dois passos para frente.
- Por acaso você me deixaria pra lá? – questionei.
- Nunca. – ele falou com firmeza. – Você é a única que me resta.
- Então, por que estamos aqui? – inclinei a cabeça para o lado. – Se eu sou tão importante, por que me trouxe para as mãos dos meus inimigos e deixou que fizessem o que quisessem comigo?
- Porque era a única forma de trazê-la pra perto de mim. – ele respondeu.
Continuei a manter contato visual e ele também o sustentou. Sem avisos, ergueu os braços e os movimentou para fora, como se repelisse algo. Instantaneamente as chamas se desfizeram. Foi como se ele tivesse soprado uma vela. Abri a boca, perplexa.
- E farei o que for preciso para mantê-la comigo. – ele se aproximou.
- Ficarei onde eu quiser. – eu estalei a língua.
Fogo surgiu entre meus dedos e, num movimento rápido, tentei acertá-lo com um soco. se desviou e revidou o golpe do qual também me esquivei. Começamos um combate corpo-a-corpo. Enquanto eu revestia minhas mãos de chamas, ele usava sua força sobre-humana. Numa das tentativas, segurei um de seus braços e acertei dois socos em seu abdômen.
Tentado se libertar, ele usou sua mão livre para acertar meu rosto, mas o bloquei com o braço. segurou meu pulso e o torceu para trás, mas antes que conseguisse me imobilizar, soltei um urro enfurecido e o fogo começou a cobrir todo meu corpo. Ele me largou subitamente, saindo do alcance do calor.
- Está em chamas! – ele anunciou. – Completamente.
- E como parar? – olhei para meus membros reluzindo como labaredas. – !
- Esqueça todo o resto, eu já disse. – ele se aproximou um passo, apesar do perigo. – Pense apenas no que está sentindo.
- Eu estou apavorada! – admiti num tom óbvio.
- Tente mudar isso. – sua voz era calma, como se me desse instruções.
- Acha que é fácil? – eu me envolvi com meus próprios braços. – Essa coisa está fora de controle.
- Essa coisa faz parte de você agora. – ele deixou claro. – Controle-a.
Fitei o nada e pensei. tinha razão. Aquilo fazia parte de mim e não o contrário. Eu deveria ter controle sobre meus poderes. Descruzei meus braços que, assim como o restante do meu corpo, expeliam chamas. Fechei os olhos e respirei fundo. Aos poucos, consegui amenizar a temperatura e as chamas, então tive uma ideia.
Ergui a cabeça, forçando-me a manusear o fogo na superfície de minha pele e comecei a criar um tipo de escudo corporal. Quando achei ter terminado, fitei-me e agora as chamas não estavam mais descontroladas, mas se assemelhavam a uma segunda pele reluzente e quase imperceptível. Sorri satisfeita.
- Fez uma armadura? – parecia surpreso.
- Você pode vê-la? – perguntei.
- Apenas um reflexo avermelhado em algumas partes. – ele balançou a cabeça. – Está aprendendo rápido.
Ainda revestida com minha armadura praticamente oculta, sorri convencida. Era inacreditável que eu pudesse fazer algo daquela dimensão. Quanto mais eu descobria o que podia fazer, mais queria aprender. E esse desejo era mais forte do que qualquer outro. Tão forte, que o estranhei. Mas, superando minha desconfiança de que talvez algo pudesse estar errado, me obriguei a seguir o conselho de . Esquecer-me de tudo. Pelo menos por um momento.
E não foi tão difícil. Na realidade, quando aceitei a sugestão de me desligar do meu mundo, senti as lembranças serem lançadas para um canto mais recôndito de minha mente. Foi como se meus poderes as tivessem empurrado para dentro de uma prisão de grades. Eu sabia que elas estavam lá, mas não me importava. E, como se aquilo fosse o que faltava para que eu me descobrisse, comecei a finalmente entender a magnitude de minhas habilidades.
Sentindo a névoa escura de antes retornar à minha mente, avancei na direção de para testar minha armadura. Logo ele entrou em alerta. Começamos uma nova luta e eu podia sentir minha força aumentada. Confirmei isso quando acertei meu irmão com um chute e ele foi lançado contra a parede, caindo de joelhos. Ao tentar revidar, ele ergueu suas mãos e usou sua telecinese, porém, ela não foi suficiente para me abalar. Finquei os pés no chão e me forcei para frente, resistindo plenamente ao seu poder.
Ao notar que não conseguiria me deter assim, ele se levantou e começou a usar sua força em conjunto com sua mente. De onde estava, socou o ar e o impacto foi tão forte que me lançou para trás. Entretanto, não foi difícil para eu manter o equilíbrio. Com destreza, dei um salto mortal para trás e pousei com um joelho encostado no chão. A armadura de fogo agora estava mais reluzente do que antes.
- Você é mais forte do que pensei. – disse.
- Sim, eu sou. – eu disse, mas então franzi o cenho, confusa.
Meu corpo começou a se aperceber de algo que eu não sabia decifrar. Não era meu poder, pois não provinha de mim. Mas estava próximo. Era como uma energia que me chamava em sua direção. Atônita, desfiz minha armadura e a sensação aumentou. Era como a presença de algo inatingível. Mas eu podia identificá-la. E então vi de onde se originava.
- Por que está me olhando desse jeito? – questionou.
- Você... – arfei e dei dois passos para frente. – Eu sinto você.
- Como assim, você me sente? – ele semicerrou os olhos.
- Eu consigo sentir algo fluir de seu corpo. – parei perto dele. – E é forte.
Olhei em seus olhos e ergui minha mão para tocar seu rosto. A força que saia dele me convidava e eu necessitava senti-la. Quando meus dedos encostaram-se em sua pele, ele se surpreendeu, porém, continuou no mesmo lugar. Agora que eu estava próxima, a energia me envolvia. E quando menos esperei, comecei a senti-la dentro de mim. Arregalei os olhos quando percebi o que fazia e me afastei bruscamente.
- O que... – pareceu também ter percebido o que eu havia feito. – O que fez comigo?
- Eu não sei. – fitei meus dedos. – Mas algo penetrou em mim.
- Algo saiu de mim. – ele toucou o próprio rosto.
- Energia... – eu deduzi. – Eu absorvi sua energia? Eu... eu posso fazer isso?
- Sim, acho que sim. – ele parecia tão impressionado quanto eu.
Dei as costas para ele e comecei a caminhar pela sala de treinamento. Eu tentava digerir aquela nova informação. Nunca, em toda a minha vida, havia recebido tantas explicações em tão pouco tempo. Era como se eu estivesse aprendendo sobre uma pessoa estranha, não sobre mim. O que me deixava assustada.
- Eu preciso descansar. – eu murmurei, fechando os olhos.
- Tudo bem. – disse. – Vou levá-la ao alojamento.
Ele se aproximou, apoiando a mão em meu ombro. Sobressaltada, me afastei, prendendo a respiração. Meu irmão ergueu as sobrancelhas, diante de minha reação.
- Me desculpe. – desviei o olhar – Só não quero, de alguma forma... machucá-lo.
- Sei que pode conter seus poderes. – ele disse.
- Como? – me encolhi.
- Por que estarei ao seu lado. – ele falou baixinho. – E vou ajudá-la.
Virei-me em sua direção e, num momento de vulnerabilidade, deixei meus sentimentos falarem mais alto. Decidi não reprimi-los mais. Cheia de medo, ansiedade e preocupações, o envolvi num abraço apertado. Passei meus braços ao redor de sua cintura e apoiei meu rosto em seu peito. Nossa relação era muito recente, mas eu sentia que ele era o único que me restava do passado. De minha verdadeira vida. E havia prometido ficar comigo.
Eu não deveria me agarrar a nada naquele lugar, eu sabia. Mas, o que haveria para mim depois de tudo o que aconteceu? Como meus amigos me veriam a partir de agora? Eu não era mais como eles. Eu era diferente. Uma inumana. Para muitos, uma aberração. E não conseguia encontrar uma forma de me encaixar outra vez a minha antiga vida. Ela parecia inalcançável.
- O que vai acontecer agora? – perguntei num sussurro.
- Vai ficar tudo bem. – ele disse e beijou minha testa.
Resolvi confiar em suas palavras. Apesar de não ter base para isso. Entretanto, algo me movia a desprender-me do passado. Eu era uma nova pessoa. E entendia isso a cada novo instante.
Revirei-me na cama pela milésima vez. havia me levado para um dos alojamentos da base e eu disse que queria fica sozinha para dormir um pouco. Ele apenas acenou levemente com a cabeça e saiu. Durante o percurso que fizemos até ali, eu evitei trocar palavras com ele, pois me sentia constrangida por tê-lo abraçado. Eu não costumava ser tão sentimental.
Deitei de lado e fitei a escuridão. Eu precisava descansar. Minha cabeça estava muito cheia. Em um só dia tinha descoberto coisas que me deixaram sem chão. E agora eu tinha poderes. Com um simples movimento podia incendiar todo aquele quarto ou então absorver a energia de todos que trabalhavam naquela base apenas por tocar neles. Precisava me manter longe para não senti-los.
Ergui minha mão direita diante de meus olhos e com um leve movimento, fiz uma chama surgir entre meus dedos. Ela dançou entre eles e então a transformei numa pequena esfera e a levitei. Enquanto a via subir e clarear parcialmente o lugar, suspirei.
- O que eu sou? – perguntei a mim mesma.
Eu estava tão confusa. Minha mente estava tão turva. Havia tantos sentimentos, especialmente os ruins. E um deles me dominava. A tristeza. Quando pensava nos segredos que guardaram de mim e que a SHIELD o fez por tanto tempo. Nos meus pais, que não eram nada mais do que agentes infiltrados da HIDRA. E quando pensava em Bucky. Eu não entendia o motivo, mas tinha certeza de que ele sabia mais sobre mim do que me disse.
- Eu confiei em você, soldado. – sussurrei. – Mas por que não acredito que venha me salvar?
Bucky não tinha motivos para vir. Deixei claro que não queria nada de sua parte, que o que fazia era por vontade própria. Além do mais, eu não queria que ele viesse. Meu coração gritava que eu estava sendo estúpida, mas minha mente tinha se decidido. Agora eu agiria por minha conta. Não precisava mais de ajuda. Foi com esse pensamento que caí num sono profundo e sem sonhos.
Abri os olhos assustada ao ouvir alguém abrir a porta do alojamento bruscamente. Sentei-me rapidamente. Alarmada, olhei para lá, encontrando . Ele parecia preocupado.
- O que houve? – perguntei.
- Eles estão aqui. – ele disse e adentrou o recinto. – Precisamos mantê-la segura.
- Quem está aqui? – franzi o cenho enquanto ele me obrigava a ficar de pé.
- Não importa. – ele desconversou e começou a me conduzir para fora.
Sem entender nada, apenas o segui. Caminhamos apressados pelos corredores e logo estávamos em frente ao laboratório onde eu havia ganhado meus poderes. Mordi os lábios, mas continuei calada até entramos.
- O que estamos fazendo aqui? – voltei a questionar quando ele fechou a porta.
- Apenas fique aqui. – ele voltou a fugir do assunto.
- , responda minha pergunta. – cerrei os punhos. – Quem está aqui?
- Estamos sendo atacados... – ele revelou um pouco receoso. - Por alguns agentes da SHIELD.
Abri a boca, chocada. Eles tinham vindo? Conseguiram me localizar e agora estavam aqui? Num lugar que eu mal fazia ideia de onde seria. Mas eles me encontraram. Apesar disso, não conseguia ficar feliz. O que senti foi o calor aumentar dentro de mim gradativamente, como se tivesse sido atiçado por uma leve brisa. Fitei a porta que nos separava do exterior e engoli seco. Eu não poderia ficar parada.
Antes que pudesse ter qualquer reação, um grande tremor atingiu o lugar. Perdendo o equilíbrio, caí de joelhos, assim como . Nos encaramos, enquanto vários equipamentos caiam de cima das mesas de metal e frascos de vidro se partiam, derramando líquidos de diversas cores. Apoiei minhas mãos no chão e me concentrei.
Com os olhos fechados, consegui seguir o rastro de energia deixado pelo terremoto, chegando ao seu ponto de origem. Quando o fiz, constatei o que previ. Havia mais um inumano entre nós. E eu precisava encontrá-lo. Sua força era um convite grandioso e eu não podia recusar.
Arrebatada, criei em volta de mim à armadura de fogo que só era perceptível graças a alguns reflexos alaranjados aqui e ali. Desafiando a terra que tremia com violência, me levantei e corri na direção da saída.
- Elle, não! – ouvi berrar.
Ignorando seu chamado, chutei a porta com a sola de minha bota e ela se abriu com um baque intenso. Saí pelo corredor, ignorando as estruturas que começavam a rachar. Eu era conduzida apenas pela energia que o poder daquele tremor emitia. E eu a queria para mim.
Capítulo 27: Hellen
(17 de Novembro, 1996)
Fazia nove meses que Hellen havia nascido. Durante esse tempo, ela permaneceu com a mãe numa base da HIDRA, localizada numa região não navegável do Mar Negro. A garota recebeu tratamento especial. A inumana, chamada Amélia, foi treinada e aprendeu a usar os poderes melhor do que antes. Tudo estava saindo como planejaram.
Entretanto, havia algo errado. Eu havia sido alertado de que Hellen corria perigo e segui imediatamente para a ala onde ela ficava. Já havia me acostumado a tê-la como prioridade. Quando cheguei lá, tentei abrir a porta, mas estava trancada, o que me deixou mais atento. Arrombei a porta e entrei, analisando o perímetro, mas não havia ninguém.
- Elas não estão aqui. – eu disse pelo comunicador.
- Vá até a pista de decolagem, um helicóptero não identificado acabou de pousar. – recebi a ordem. – Leve o inibidor.
Saí apressado e após passar na sala de armas, corri com mais dois agentes para a pista de decolagem. Uma mulher loira e um homem de cabelos castanhos. Assim que saímos ao ar livre, ouvi o som das hélices e, sem hesitar, atirei contra o motor, fazendo-o faiscar. Quando tive certeza de que eles não poderiam mais fugir, fui até o helicóptero e arranquei sua porta. Amélia abraçava sua filha com força. Havia também um homem. O pai de Hellen. Ele havia ficado na outra base e as visitava apenas quando recebia permissão.
Antes que eles pudessem reagir, os acertei com o inibidor, que incapacitaria seus poderes por alguns minutos. O suficiente para resgatar o bebê. Tirei o homem de dentro e o lancei no chão, depois olhei para Amélia.
- Saia agora. – falei de forma intimidadora.
- Não pode parar o futuro. – ela disse.
- Apenas saia. – ignorei sua fala.
Por saber que não poderia lutar sem seus poderes, ela fez o que eu disse. Hellen estava abraçada ao seu pescoço. Aproximei-me para pegá-la, mas fui surpreendido com um chute. Ele não me machucou, mas fez com que eu me afastasse. Olhei para trás encontrando o inumano e, sem cerimônias, o agarrei pelo pescoço e o lancei com força contra o helicóptero.
- Harry! – Amélia berrou.
Ela correu até ele e se ajoelhou ao seu lado. Ele disse algo que não consegui ouvir e vi a mulher beijar o rosto da menina. Franzi o cenho, mas antes que reagisse, recebi uma nova ordem.
- Soldado, mate-os e traga a criança. – a voz masculina de algum dos agentes chegou a meus ouvidos. – Eles são traidores!
Hesitei por um segundo, assimilando minhas novas instruções. Matar os pais de Hellen? Eles eram os únicos que a tratavam como algo mais do que um simples experimento. Como ela cresceria sem eles por perto?
Levei a mão até o coldre e tirei uma pistola de lá. O que seria de Hellen daqui para frente não me dizia respeito. Minha missão era protegê-la e eu deveria fazê-lo a qualquer custo. Mirei para o homem e, ante o rosto horrorizado de sua esposa, atirei. Não esperei que ela protestasse e desviei o cano da arma para ela, acertando-a com um disparo na cabeça, evitando machucar o bebê.
Em instantes, os dois estavam mortos. Guardei a pistola e caminhei até os corpos. Abaixei-me ao lado de Amélia e peguei Hellen com cuidado. Apesar de um ser abominável, eu ainda conseguia tratá-la como o que ela era. Uma criança. Frágil e inocente.
Apesar de um pouco assustada, estranhei o fato de não ter chorado. Admirei-me mais ainda quando ela sorriu para mim e abraçou o meu pescoço com os pequenos braços. Soltei um suspiro e então me comuniquei com as pessoas que estavam dentro da base.
- Está terminado. – falei um pouco mais alto do que um murmúrio. – Hellen está comigo.
Dei as costas aos inumanos, fitando os dois agentes que tinham vindo comigo. O homem acenou positivamente com a cabeça para mim e depois olhou para a mulher. Ela se aproximou e pegou a menina de minhas mãos.
- Deixe isso conosco. – ela disse.
Não respondi e eles caminharam juntos para dentro da base. Fitei Hellen pela última vez, brincando com os cabelos curtos da agente. Então, deixando os corpos ao relento, os segui. O sol começava a se pôr no mar, mas não me importei. A garota era o mais importante. E agora ela estava segura.
Flashback -Off-
Suspirei cansando, sentindo uma pontada no peito. Havia sido baleado há pouco tempo e não tinha me recuperado totalmente. No entanto, apesar da dor que o esforço me causaria, não me importei. Tinha realizado missões em condições muito mais precárias e ainda estava vivo.
Olhei pela janela e vi o céu cheio de nuvens. Estávamos voando a algumas horas, mas sabia que logo chegaríamos. E cada vez que nos aproximávamos do Mar Negro, mais eu me recordava do tempo que passei lá. Enquanto os minutos corriam, eu me lembrava de Hellen.
Hellen.
Essa era o nome que Golden havia recebido ao nascer. Sua mãe era uma inumana, assim como seu pai, e eles a viam como uma criança especial. Todos a encaravam assim naquela base da HIDRA. Se soubessem o quanto ela era diferente do que esperavam, que era uma das pessoas mais bondosas que alguém poderia conhecer. Acima de tudo, ela não era boba e não se deixaria enganar por qualquer argumento deles.
Recostei a cabeça na poltrona e fitei os outros comigo. pilotava o helicóptero e estava concentrado em sua tarefa. Olhei para Daisy sentada em minha frente e então ela me encarou, sorrindo minimante. Ela não me via como um monstro, parecia entender minha situação e foi uma das poucas por quem deixei de ter desconfiança. Fiz um pequeno aceno com a cabeça e voltei a olhar pelo vidro.
Pensei no que poderiam fazer com Golden caso despertassem seus poderes. Ela havia sido modificada para ser uma inumana superior aos outros e, se juntasse a eles, causaria grandes estragos, independente de suas habilidades. Cruzei os braços e resolvi que deveria me acalmar. Se Golden ganhasse poderes, ela sairia de lá sozinha.
Após doze horas de voo, chegamos à área que eu havia indicado. Passamos por entre algumas nuvens e então avistamos a base abaixo. As águas escuras formavam ondas que batiam e quebravam contra o sopé da montanha onde havia sido construída. Tirei meu cinto de segurança e cheguei mais perto da janela, localizando a pista de pouso e decolagem.
- Vá pela direita. – eu disse para .
- Entendido. – ele disse.
Imediatamente, ele mudou a direção do helicóptero, e passamos a voar até a pista. Quanto mais nos aproximávamos, mais eu sabia que o perigo chegava. Logo eles descobriram que estávamos aqui e precisaríamos lutar.
- Vou descer. – anunciou.
Daisy também tirou o cinto, se levantando e parando ao meu lado. Olhávamos para fora e vimos o momento que várias pessoas armadas começaram a tomar a pista.
- Já sabem que estamos aqui. – Daisy falou e então se virou para . – Avise a Bobbi para esperarem enquanto limpamos tudo. Diga que daremos o sinal quando as coisas estiverem limpas.
O agente fez o que ela disse, passando a informação para o outro grupo que vinha mais atrás. Em seguida, ele começou a nos descer. Como era de se esperar, as pessoas começaram a disparar contra nós.
- Não tem como pousar assim. – berrou. – Se eu chegar mais perto, eles podem nos derrubar.
Parei por alguns segundos e então tive uma ideia. Coloquei um dos paraquedas que havíamos trazido e então abri a porta, fazendo o vento nos açoitar com força.
- O que está fazendo? – Daisy questionou.
- Você tem medo de altura? – falei, ajeitando o equipamento.
- Não, por quê? – ela franziu o cenho enquanto seus cabelos se esvoaçavam para todos os lados.
- Porque vamos pular. – disse, me aproximando dela. – , nos leve mais para baixo.
A prendi contra meu corpo e ela realmente não estava com medo. Num momento que os disparos se tornaram menos intensos, nos aproximei da borda e olhei para baixo. se aproximou mais e então anunciou.
- É o máximo que posso descer. – ele disse. – Conseguem pular daqui?
- Sim. – eu respondi.
- Vamos nessa. – Daisy balançou os ombros.
- , pouse apenas quando dissermos. – disse e por fim falei com Daisy. – Pronta?
- Sempre. – ela soltou o ar de uma só vez.
Contei mentalmente até três e então pulei. Não estávamos tão longe do chão, mas haviam muitos agentes armados e a agente Johnson serviria como um escudo, pois seus poderes poderiam desviar os projéteis. E, quando começaram a atirar em nós, foi exatamente o que ela fez. Usou as mãos livres para nos proteger. Quando julguei suficiente, abri o paraquedas e nossa velocidade diminuiu grandemente. Não demoramos a estar no chão e Daisy continuava a parar as balas.
Nos desprendemos do paraquedas e corremos para trás de um quinjet parado no lugar. Peguei minha pistola e, sem hesitar, comecei a atirar contra os inimigos. Derrubei três de uma só vez, mas ainda tinham muitos.
- Deixa comigo. – ela falou.
Num movimento rápido e calculado, ela se levantou e causou um tremor que lançou a maior parte dos agentes ao chão. Saí de onde estava e começamos a correr até a entrada do outro lado da pista.
- Steve, vamos entrar. – falei pelo comunicador. – Podem descer agora.
- Entendido. – ouvi a sua voz. – Estamos indo.
Continuamos seguindo para a entrada. A poucos metros de lá, mais agentes saíram e vieram ao nosso encontro. Ao mesmo tempo agentes no telhado começaram a atirar contra os helicópteros e elas não puderam mais se aproximar.
- Bucky, não tem como aterrissarmos. – Steve disse.
- Esperem mais um pouco. – eu disse ao mesmo tempo em que atirava num homem. – Vamos dar um jeito.
- Eu dou um jeito. – Daisy disse.
Sem cerimônias, ela fechou as mãos em punho e cerrou os olhos com força. Um tremor tímido se iniciou sob nossos pés e foi aumentando de intensidade. Foi um aumento tão impressionante que precisei me abaixar para não cair. Toda a base estava sendo sacudida e, por um segundo, tive medo de que ela pudesse destruir tudo. O chão começou a rachar e as armas no teto desabaram. O quinjet pendeu para o lado e deslizou, caindo no mar.
- Daisy! – gritei seu nome. – Vai derrubar tudo.
- Sei o que estou fazendo. – ela disse em resposta.
Após mais alguns segundos a terra balançou. Então, tudo ficou quieto novamente. Olhei em volta e os agentes estavam no chão, desacordados. Havia várias rachaduras no solo e nas paredes e as armas estavam destruídas. O perímetro estava limpo. Olhei para ela, que me lançou um sorriso divertido.
- Eu disse que daria um jeito. – ela me estendeu a mão.
Aceitei sua ajuda depois de alguns segundos e me levantei. Voltei a me comunicar com Steve e também com . Eles podiam descer agora. Ainda assim, precisávamos ser rápidos, pois mais homens iriam aparecer. Como se dizia sobre a HIDRA, corte uma cabeça e duas nascerão no lugar.
Após todos descerem, nos dividimos e, como estava decidido, , Daisy e eu entraríamos. Steve lideraria os outros do lado de fora. E eles teriam muito trabalho. Antes que pudéssemos adentrar a base, mais agentes vieram, mas o grupo logo tomou posição e uma luta se iniciou, nos dando passagem. Nós três fomos a todo vapor para dentro, passando por eles.
Alcançamos um corredor que daria acesso a outros corredores e alas importantes. Mas eu sabia para onde a levariam, por isso virei à esquerda e os dois me seguiram.
- Vamos por aqui. – eu disse.
- Para onde estamos indo? – perguntou.
- Para o laboratório. – respondi.
- É claro. – a agente Johnson revirou os olhos.
Dobramos um corredor e, para nossa surpresa, nos deparamos com quase uma dúzia de homens e mulheres. Eles vinham ao nosso encontro e começaram a atirar. Recuamos, nos escondendo contra parede e e eu revidamos os tiros. Franzi o cenho por Daisy não ter nos ajudado até aquele momento e então a fitei por um segundo. Apertei os lábios ao vê-la segurar o ombro com força. Pela sua cara de dor, havia sido baleada.
- Eles me acertaram. – ela murmurou. – Droga!
- Fique aqui, vamos abrir caminho. – eu disse.
- Nem pensar. – ela falou determinada. – Eu não conheço a Golden há muito tempo, mas ela é minha amiga. E só saio daqui quando a encontrarmos.
Em seguida, ela tomou a frente do combate e causou um novo tremor, derrubando metade dos agentes. Ela estava indo bem, até que uma das paredes revelou ter uma pequena abertura, de onde um dispositivo despontou e lançou algo contra ela. Não houve tempo para impedir que a corrente elétrica atingisse seu corpo, lançando-a contra o chão. Seus membros se retorciam e ela tentou se controlar, encolhendo-se em posição fetal. Os tiros pararam imediatamente e com isso correu até a agente Johnson.
- , não! – tentei impedi-lo, mas não consegui.
Ele se abaixou ao lado da garota e checou se estava viva. Para meu alivio, ele constatou que sim. Estranhei o fato de ninguém ainda ter atirado. Pareciam esperar ordens. Ignorando as consequências, empunhei minha arma e me coloquei na linha de fogo. Mas eles não atiraram, continuando apenas com suas armas apontadas para nós. Caminhei até e Daisy e ela continuava no chão, encolhida.
- Ajude-a a se levantar. – murmurei para ele.
Ele acenou positivamente com a cabeça e então a segurou pelos ombros, forçando-a para cima. Enquanto o fazia dizia coisas que eu não conseguia ouvir. Aquele movimento chamou a atenção dos demais e vi que agora sim revidariam. Um dos agentes mirou em e se preparou para alvejá-lo, no entanto, algo surpreendente aconteceu.
Uma chama veio graciosa e ao mesmo tempo com fúria e envolveu o homem por completo. A última coisa que ouvimos foi seu grito, antes de seu corpo inerte e desfigurado desabar ao chão. Todos ficaram paralisados, tentando entender o que se passava, de onde aquelas chamas haviam surgido. Então, uma figura se revelou ao fim do corredor. Baixei a pistola, abismado ao reconhecê-la.
Os homens olharam para trás e ao verem a pessoa ficaram agitados e temerosos. Olhei para e ele estava tão impressionado quanto eu. Então, ela se aproximou a passos lentos, mas intimidadores.
- Eu disse que não deveriam tocar neles. – ela falou num sussurro, mas sua voz conseguiu encher o ambiente.
- Senhora, nós... – um deles murmurou assustado.
- Apenas saiam daqui. – ela disse. – Cuidem dos outros lá fora.
Elas fizeram exatamente o que ela ordenou. Saíram, passando por nós como se não existíssemos, indo até Steve e os outros. Franzi o cenho. Ao meu lado, se levantou. Antes que eu pudesse dizer algo, ele se apressou, dando um passo para frente.
- Golden?! – o agente perguntou com a voz cheia de preocupação. – O que... o que aconteceu? O que eles fizeram com você?
- Eles não fizeram nada. – ela sorriu, inclinado a cabeça um pouco para o lado. – Apenas me mostraram a verdade.
Engoli seco. O que estava acontecendo ali? Aquela não era ela. Pelo menos não a garota que eu conhecia. O que eles haviam feito? Aproximei-me um passo.
- Golden, somos nós. – eu disse.– Viemos buscá-la.
- Sei muito bem quem são, soldado. – ela riu levemente. – E, com toda certeza, não preciso de sua ajuda.
- Golden... – tentei outra vez, mas fui interrompido.
- Meu nome é Hellen! – ela falou cerrando os punhos.
Havia nela uma fúria que achei nunca ser possível. Sua expressão estava transformada. Não era a mesma pessoa alegre e sorridente de antes. O vinco entre suas sobrancelhas deixavam claro que seu sofrimento era grande e que ela não estava contente. Mas seus olhos revelavam toda a raiva que agora ela sentia. E, quando eles perderam seus escuros ganhando uma coloração avermelhada como fogo, percebi que não só estávamos arruinados. A HIDRA havia conseguido abalá-la. Foram capazes de mudá-la.
Aquela não era mais Golden, a incansável e determinada agente da SHIELD. Aquela era Hellen, a poderosa inumana, Líder da HIDRA.
Capítulo 28: Volte Pra Mim
Quando as mãos de Golden se revestiram de chamas, dei um passo para trás. Fitei seu corpo e vi em algumas partes de sua pele um brilho peculiar, como fogo, mas contido. Seus olhos continuavam vermelhos e ela me encarava de forma intimidadora. Não parecia estar brincando.
Franzi o cenho, porém, quando ela parou de me olhar e voltou sua atenção para Daisy, que continuava deitada no chão. Golden parecia interessada nela. Sua expressão era alienada. Naquele momento, tive certeza de que a agente Johnson não estava segura. O que quer que Golden planejasse, eu não estava disposto a ver.
- Tire-a daqui. – falei para sem desviar meus olhos de Golden.
Ele não respondeu nada, mas logo o vi se mover até a garota. Deveria ter percebido que seria melhor levá-la, já que estava machucada. Entretanto, ele parou o que fazia no mesmo segundo, quando a voz de Golden se fez ouvir. E apesar de sua voz ser extremamente calma, havia um tom de aviso nela.
- Nem mais um passo. – ela cerrou os punhos e as chamas desapareceram. – Ela é minha.
- Como assim, ela é sua? – se levantou e riu sem humor. – Que história é essa? Por que não para com essa conversa estranha e vem logo conosco?
- Você sempre costumou dizer que eu sempre falava besteiras, não é mesmo? – ela adquiriu um ar falsamente pensativo. – Que eu era irritante e que tagarelava sem parar.
- Não está sendo diferente agora. – ele estalou a língua. – Encerrando o assunto, vamos logo sair desse lugar.
Assim, ele deu as costas a ela e se abaixou mais uma vez ao lado de Daisy, passando um de seus braços por seu ombro. A essa altura ela havia se recuperado um pouco e conseguiu se levantar. Meus olhos se desviavam deles até Golden e eu não fazia ideia do que poderia acontecer. Pela primeira vez, não saberia como agir. Poderia machucar qualquer um deles e não queria isso.
- Golden. – a chamei, recebendo sua atenção. – Vamos. Sua família está te esperando.
- Minha família? – ela ergueu as sobrancelhas. – Você fala da família que faz parte da HIDRA ou da que você matou?
Arregalei os olhos diante de sua declaração. Então ela já sabia que sua história era bem diferente do que lembrava. Que era uma pessoa criada para ser diferente. Era por isso que eu podia ver tanto rancor em seus olhos. Apesar disso, eu não podia desistir. Deixá-la para trás não fazia parte dos meus planos. Me aproximei dois passos.
- Estou falando sobre a família que a espera em casa. – eu disse. – Daqueles que se preocupam verdadeiramente com você. A HIDRA só quer que seja mais uma arma, mas não precisa ser assim. Você pode escolher o rumo de sua vida.
- Meu caro, soldado. – ela não quebrou nossa conexão de olhares. – Eu já escolhi.
Ela reacendeu as chamas entre as mãos com mais intensidade do que antes. Sem hesitar, ela mirou em e Daisy um pouco mais atrás e lançou o fogo contra eles. Com agilidade, se jogou ao chão, tendo o cuidado de não machucar a amiga. Olhei para eles, tranquilizado, mas logo fitei Golden. Ela estava frustrada por ter errado seu alvo e mostrava que não iria desistir.
Minha única opção foi tomar a frente deles. Não poderia deixá-la machucá-los. Como poderia conviver com isso depois? A verdadeira Golden não se perdoaria. Parei no seu caminho e tirei a pistola do coldre, por mais que não planejasse usá-la. Era apenas uma forma de fazê-la recuar. Ela ergueu as sobrancelhas de forma divertida. Estava me desafiando.
- Acha que pode me parar com isso? – ela apontou para arma com um balançar de cabeça.
- Não quero pará-la. – falei com sinceridade – Quero apenas que entenda que esse não é o seu lugar. Você não é Hellen, você é Golden.
- Eu sou quem eu decidir ser. – ela semicerrou os olhos.
Para minha surpresa, ela desfez as chamas e avançou em minha direção. Começamos uma luta corpo-a-corpo. Ferozmente, ela tentava me acertar e eu podia perceber que sua força se igualava a minha. Em alguns momentos, parecia até mesmo mais forte. Suas habilidades eram precisas. Em certo momento, Golden deu um salto ao mesmo tempo em que girava e acertou um chute em meu peito. Fui lançado contra a parede e caí, sentindo o ferimento da bala latejar. Ainda assim, me levantei.
Quando me coloquei de pé, ela não perdeu tempo e correu em minha direção, acertando meu estômago com o joelho, me imprensando na parede. Quando se preparava para me golpear outra vez, segurei um de seus braços e tentei imobilizá-la. Girei seu braço até as costas e passei o braço livre em seu pescoço, mantendo nossos corpos colados.
- Golden, por favor, tente se lembrar. – falei perto de seu ouvido. – Lembre de seus amigos. Lembre de mim.
- Eu me lembro de todos vocês. – ela murmurou entredentes. – Mas não me importo.
Sua pele se tornou mais brilhante, então ela se inclinou para trás, tirando os pés do chão, o que lhe deu impulso. Quando seus pés voltaram ao solo ela segurou meu braço com sua mão livre e me lançou por cima do seu corpo. Fui ao chão, sem poder reagir e ela continuou agarrando minha mão normal. Então, as chamas ressurgiram em seus dedos, alcançando os meus. Urrei ao sentir minha pele queimando. Involuntariamente, dei-lhe uma rasteira e ela, distraída em me torturar, foi ao chão.
Rapidamente, me libertei e subi sobre seu corpo, segurando seus braços sobre sua cabeça. Ela se contorcia violentamente, dificultando as coisas. Me inclinei mais em sua direção, aproximando nossos rostos. Sua respiração pesada açoitava minha face.
- Eu sinto muito. – falei com esforço. – Golden, me desculpe!
Ela parou por alguns instantes, tentando entender minhas palavras. Seus olhos avermelhados me fitavam com confusão e me aproveitei disso para tentar reverter a situação. Usaria palavras. Elas ajudariam muito mais do que punhos. Havia aprendido com ela.
- Eu não deveria ter matado seus pais. Nenhum deles. – continuei – Sei que tudo isso é demais para você, que é doloroso descobrir que nada do que te contaram é verdade. Mas não deixe que a dor te domine.
- Você não sabe nada sobre mim. – ela sussurrou.
- Eu a vi nascer. – revelei. – E desde aquele dia tive a certeza de que não pertencia ao destino que tinham traçado para você. Que era muito mais. Mas não pude fazer nada.
- Está tentando me convencer? – ela ergueu as sobrancelhas.
- Estou tentando mostrar a verdade. – corrigi sua fala. – Você tem uma escolha. Ficar com eles ou vir conosco.
- E o que eu deveria fazer? – pela primeira vez, vi sua voz vacilar.
- Volte para nós. – respirei fundo, olhando em seus olhos. – Volte... pra mim.
Golden abriu os lábios e soltou o ar levemente. Ela franziu o cenho e tive certeza que estava considerando o que eu disse. Apesar do pouco tempo, havia decorado muitas de suas expressões, inclusive aquela. A maneira concentrada de analisar as palavras das pessoas, o vinco entre as sobrancelhas. Ela estava cedendo. Ela tinha que ceder.
- Golden... – murmurei.
Ao meu chamado, ela fechou os olhos. Com calma, puxou o ar para os pulmões. Permaneceu assim por alguns segundos, até que ela os abriu e olhou, não para mim, mas para os dois mais afastados. Travando o maxilar, ela fez uma careta que não compreendi e, num movimento rápido, reverteu a situação. Se livrando de minhas mãos, ela segurou minha nuca e me lançou para o lado com força. Agilmente, se levantou.
- Eu também sinto muito. – ela falou. – Mas não consigo voltar. Não há mais lugar pra mim lá.
Então ela chutou meu rosto e vi estrelas. No mesmo instante, senti o sangue escorrer pelo meu nariz e levei a mão até ele. Ergui os olhos e a vi correr até Daisy. , tentando protegê-la, a deixou recostada na parede e pegou sua pistola, apontado para Golden.
- É melhor parar por aí. – ele empunhava arma com firmeza. – Sabe que não vou errar.
- A questão é... você quer acertar? – ela riu levemente.
Por saber que ele não a machucaria, Golden avançou contra o amigo. largou a pistola e resistiu aos seus golpes, mas ele não teria chances. Ela o dominou em pouco tempo, segurando seu braço e torcendo sua mão, o obrigando a se ajoelhar.
- Você não é tão ruim. – ela o segurava sem esforço.
- O que está fazendo? – ele perguntou e estava assustado.
Larguei meu nariz, ignorando qualquer dor que sentia e me levantei. Franzi a testa quando vi os lábios de ganhar um tom esbranquiçado. Seus olhos foram ficando cada vez mais opacos, como se perdessem a vitalidade. Só então percebi que quem o estava deixando assim era Golden. Parecia sugar a energia dele.
- Golden, não! – corri até eles.
Ao ver que eu me aproximava, ela levantou uma das mãos, continuando a segurar . Com ela, lançou contra mim uma rajada de fogo muito mais potente do que qualquer uma que já tinha usado. Parecia estar recarregada. Fui forçado a me jogar no chão, deslizando pelo piso. As chamas passaram por cima de mim, mas pude sentir seu calor abrasador.
Examinei e ele estava inconsciente. Ela tinha que parar ou iria matá-lo. E isso iria abalá-la ainda mais quando voltasse à realidade. Me levantei outra vez, mas antes que a alcançasse, algo aconteceu. Uma força atingiu Golden e, por estar distraída, ela foi lançada para longe do garoto e atingiu a parede atrás deles.
Encontrei de onde vinha tal força e me surpreendi ao ver Daisy de pé. Apesar de parecer abatida, ela tentava a todo custo dominar a outra. E por alguns instantes, conseguiu. Entretanto, Golden começou a forçar seu corpo para frente, desafiando o poder daquela vibração. Isso impeliu a agente Johnson a aumentar a intensidade de seu controle.
- Golden, não me obrigue a machucá-la. – ela falou com dificuldade. – Pare e pense. Somos seus amigos.
- Me solte! – Golden berrou, olhando para cima.
- Apenas quando nos ouvir. – Daisy falou firmemente. – Estamos aqui por você e só vamos voltar quando estiver conosco. Você é uma de nós.
Ignorando aquelas palavras, ela soltou um resmungo indecifrável. Olhando bem para o rosto de Daisy, Golden forçou seu corpo outra vez e novamente sua pele brilhou em algumas partes, como se fogo a cobrisse. Nos causando espanto, ela superou o poder das vibrações e se desencostou da parede, começando uma caminhada até a outra inumana. Quando estava a poucos passos, Daisy percebeu que não adiantaria tentar pará-la assim, recorrendo ao combate.
Acertou Golden com um chute no abdômen e um soco em seu rosto, mas aquilo não seria suficiente. Confirmando isso Golden segurou seu pulso e com o antebraço apoiado um pouco abaixo do pescoço dela, a imprensou contra a parede, imobilizando-a.
- Nós somos iguais. – Golden disse. – Duas aberrações. Tenho certeza que já percebeu como as pessoas temem você. Como preferem não estar perto.
- Você está enganada. – ela respondeu. – No começo achei que fosse diferente a ponto de não me encaixar mais entre as pessoas que conheciam. Mas elas demonstraram que me amavam do mesmo jeito, pois eu era a mesma. E sei que você também é.
Golden ficou certo tempo em silêncio, fitando a outra. Ela absorvia suas palavras, assim como havia absorvido as minhas antes. Porém, existia algo que bloqueava sua mente. Algo que a impedia de enxergar o óbvio. Precisávamos quebrar tal barreira.
- Golden, deixei-a ir. – eu pedi. – Sei que não quer nos machucar. E podemos ajudá-la.
Sua respiração se tornou descompassada e, subitamente, ela largou a agente Johnson. O fez como se pudesse mudar de ideia a qualquer momento. Daisy pareceu não entender aquela mudança de atitude. Eu, porém, não iria esperar uma nova. Fiz um sinal para que ela se afastasse.
- Leve o . – falei com calma.
- Tudo bem. – ela se afastou sem deixar de olhar para a outra.
Aproximando-se do agente , ela o segurou pelos braços e começou a arrastá-lo para longe. O máximo que pudesse. A acompanhei com o olhar até que virasse o corredor. Então, mirei a garota de costas para mim. Ela estava tensa.
- Ei! – a chamei com brandura e ela se virou pra mim. – Vamos pra casa.
- E onde seria minha casa? – apesar de suas palavras, ela deu um leve sorriso. – Porque não consigo... eu não...
- Está tudo bem? – perguntei, me aproximando.
- Não, eu não... – ela levou as mãos às têmporas. – É tão difícil.
- Estamos aqui para ajudá-la a entender. – estendi a mão para ela. – Você não está sozinha.
Ela fechou os olhos com força. Parecia lutar contra algo interno. Pensei em me aproximar, mas recuei quando vi seu corpo ser envolto por chamas. Completamente. Ouvi um gemido sofrido sair de seus lábios entreabertos e ela se ajoelhou. Apesar do perigo, me abaixei em sua frente a alguns metros, sentindo o calor me aquecer. Ela não me olhou.
- Sei que ainda está aí. – falei. – Lute contra o que a impede de se lembrar de todas as coisas boas que a cercavam.
- Coisas boas? – aquela era uma pergunta sincera.
- Seus amigos, sua família, o amor que eles têm por você. – listei algumas delas. – Eu.
- Você? – dessa vez ela me fitou com os olhos incandescentes.
- Como me salvou. – sorri minimamente. – Como me mostrou que eu podia me redimir. Por favor, volte. Sei que é forte o suficiente.
Ela baixou o rosto e abraçou o próprio corpo. Ela resistia a algo poderoso e sua expressão mostrava isso. Mas ela era capaz de superar essa coisa. Deixando um grito doloroso escapar por seus lábios, ela começou a tremer. Admirado, vi as chamas que cobriam toda sua pele, se desfazerem aos poucos. Finalmente, ela voltou ao normal. Ao me encarar, seus olhos vermelhos ganharam novamente o tom . Mas estavam cansados.
Ao perceber que ela desabaria, segurei seu corpo entre meus braços. Seus olhos estavam fechados e sua respiração era ofegante. Sua testa estava molhada de suor e alguns fios de seus cabelos grudavam-se ali. Ela ainda tremia um pouco. Toquei seu rosto, o que a fez abrir os olhos.
- Bucky... – ela murmurou.
- Estou aqui. – respondi.
Foi impossível não sentir meu coração bater com mais força. Ela estava de volta. Minha pequena Golden. Me inclinei em sua direção e beijei o topo de sua cabeça. A ouvi suspirar. Quando me afastei, ela sorriu. Com delicadeza, Golden apoiou uma mão em meu peito, onde havia recebido o tiro. Olhando em seus olhos, aproximei meu rosto do seu, sentindo sua respiração descompassada.
Sem esperar mais, terminei a pouca distância que havia entre nós e nossos lábios se tocaram suavemente. Os dela eram macios e quentes e aquele calor aqueceu meu corpo por completo. Ela estava segura. Nos afastamos após alguns instantes, permanecendo próximos.
- Eu sinto muito. – ela murmurou e seus lábios roçaram nos meus.
- Está tudo bem agora. – falei no mesmo tom.
Golden se aninhou em meus braços e deitou a cabeça no meu ombro, fazendo a ponta de seu nariz roçar meu pescoço. A envolvi com cuidado. Ela estava segura. Pelo menos naquele momento. E minha mente não queria se importar com mais nada.
Capítulo 29: Luz
Eu ainda estava estática, fora de mim. Receber a notícia de que meu pai havia morrido conseguiu me desestabilizar como nunca antes. Talvez pelo fato dele ser o único que me restava. Eu estava tão abalada que não percebi o momento em que o Capitão parou ao meu lado, quebrando a algema magnetizada em meu pulso com seu escudo. Apenas o ruído de metal se partindo me fez voltar à realidade.
- Agente Potts, tudo bem? – ele perguntou ao perceber meu rosto molhado de lágrimas.
- Precisamos... trocar o chip. – engoli seco e me levantei, tentando recompor minha postura. – Eu vou até lá.
- Não, você vai sair daqui, é muito perigoso. – ele falou firmemente. – Eu cuido do resto.
- Mas... – tentei questionar.
Entretanto, um tiro passou zunindo entre nós dois, nos obrigando a abaixar para não sermos atingidos. Olhei na direção de onde veio e vi o Soldado Invernal parado mais embaixo, com uma pistola em mãos. Minha pistola. Praguejei algo indecente e Steve me encarou surpreso, porém, o ignorei. Eu não poderia simplesmente abandonar o campo de batalha.
- Eu não vou sair. – murmurei, mas sabia que ele tinha ouvido.
- Agente Potts, você não tem armas. – ele falou num tom que mostrava que aquela discussão não iria muito longe. – Sei que quer ajudar, mas não pode enfrentar o Bucky.
Resolvi que não deveria questioná-lo. Na realidade, nem se eu quisesse conseguiria. Minha mente não estava em condições para criar frases elaboradas com o intuito de retaliar a decisão do Capitão, então a única coisa que fiz foi balançar a cabeça em concordância. Em seguida, estendi para ele o chip.
- Aqui. – falei baixinho.
- Certo. – ele o pegou. – Agora saia daqui. Nos encontramos lá embaixo.
- Apenas... apenas fique vivo. – foi o que consegui dizer.
Steve acenou com a cabeça e seguiu apressado até o painel, o vi digitar a senha e a plataforma com inúmeros chips se ergueu. Nesse meio tempo, corri pela plataforma até a escada que me levaria à superfície. Quando já subia os degraus ouvi mais um disparo onde Rogers estava. Olhei para trás subitamente no momento que o Soldado o acertou em cheio. Ele caiu antes que pudesse trocar o chip. Imediatamente, pensei em voltar, mas então ele se levantou, realizando a troca.
Suspirei aliviada ao constatar que milhões de vidas haviam sido salvas. Voltei a subir com velocidade e logo estava do lado externo do aero porta-aviões. Corri pela pista onde havia alguns quinjets, mas segui direto para a borda, pois não teria tempo de acionar nenhum deles. Parei na borda vendo a cidade lá embaixo, então tive uma visão inacreditável. Os aero porta-aviões começaram a disparar contra si mesmos e isso fez com que perdessem estabilidade e começassem a cair.
Eu fitava tudo com espanto quando os primeiros disparos atingiram o porta-aviões onde eu estava. A detonação foi intensa e fez tudo tremer. Aquele era o aviso para que eu desse o fora. Porém, não queria sair sem o Capitão. Mas ele não aparecia. Soltei o ar de uma vez, decidida a não deixá-lo para trás, entretanto, novas explosões me fizeram perder o equilíbrio. Tentei fixar meus pés na plataforma, mas foi em vão. O impacto me lançou para fora, a céu aberto.
Soltei um grunhido assustado enquanto girava descontroladamente pelo ar, vendo destroços passando ao meu lado e atingido o lago logo abaixo. Com agilidade, procurei a trava do paraquedas e a puxei. O paraquedas se abriu e senti meu corpo ser repuxado para trás com força. Arfei ao sentir minhas contusões latejarem, mas me concentrei em chegar ao chão. Quando meus pés tocaram a grama verde na margem do lago, soltei as travas e me ajoelhei.
Eu precisava esperar por Steve, eu sabia que ele sairia de lá logo. Tentei chamá-lo pelo comunicador, mas não obtive resposta. A angústia me massacrava, mas continuei ali, vendo as explosões e o fogo destruírem a estrutura do aero porta-aviões.
- Vamos, Steve. – murmurei, sentindo um aperto no peito.
Baixei o rosto por um instante, mas logo o ergui ao som de novas ferragens vindo à água. Levei uma mão aos lábios quando vi que, entre elas, havia um corpo. O corpo do Capitão. E parecia desacordado. Me levantei imediatamente, disposta a resgatá-lo, no entanto algo me fez parar. Outra pessoa também vinha de encontro ao lago, mas estava desperta. Era o Soldado Invernal.
Eles atingiram o lago com pouco tempo de diferença e quando Rogers não emergiu, corri em direção da borda, já molhando meus pés. Quando a água já chegava quase aos meus joelhos, vi algo estranho. O tal Bucky apareceu e, com seu braço de metal, ele arrastava Steve para fora. Tentei entender o motivo de ele fazer aquilo, mas não me movi. Nem mesmo quando ele passou por mim, puxando o Capitão pelo uniforme. Ele o largou e então caminhei cautelosamente até meu amigo, parando a certa distância.
O Soldado ergueu seus olhos em minha direção e pensei que faria algo contra um de nós. Porém, ele apenas suspirou pesadamente e começou a caminhar para longe. Quando julguei que não voltaria, corri até Steve, me abaixando ao seu lado. Ele estava muito ferido.
- Preciso de ajuda agora. O Capitão está ferido. – falei pelo comunicador. – Estamos do lado Oeste do lago que cerca a base.
Recebi uma resposta logo em seguida e agradeci. Depois, fitei o caminho por onde o Soldado havia ido. Ele havia salvado o Capitão. Talvez ele não estivesse totalmente perdido. Talvez.
Flashback – off
Minha mente estava muito bagunçada. Eram coisas demais para processar em tão pouco tempo. E isso não me fez bem. Com certeza, não. Eu me lembrava de tudo e todos, porém, havia escolhido não me importar. Queria construir uma nova vida onde talvez tivesse um lugar. Mas cada novo segundo era uma tortura e meu corpo não conseguiu mais suportar. Meu coração queria voltar.
E ele voltou. Quando vi meus amigos, as lembranças forçaram as grades de metal que as aprisionavam. Quando vi Bucky, elas praticamente se romperam. Mas, algo mais forte do que eu poderia controlar me impedia de me lançar aos seus braços compreensivos. Então ele falou. Me pediu desculpas e me fez perceber que eu já tinha uma vida. Que não precisava de uma nova.
Entretanto, aos sentir seus lábios se unirem aos meus, a prisão se despedaçou completamente como se fosse feita, não de aço, mas sim de vidro. Um vidro frágil que refletiu uma luz resplandecente em todo meu interior. E a luz superou a escuridão. Mandou embora a névoa negra que tanto me dominava.
Ainda em seus braços, abri os olhos e me afastei para poder fitá-lo. Ele fez o mesmo. Seus olhos azuis tinham um brilho que nunca havia visto antes. E isso me fez sorrir. Voltei a abraçá-lo, dessa vez com mais força. Ele retribuiu.
- Se lembra do dia que salvou o Steve? – murmurei perto do seu ouvido.
- Sim. – ele respondeu. – Você também estava lá.
- E você nos deixou viver. – o apertei mais. – Desde aquele dia, eu soube que talvez houvesse esperança de trazê-lo de volta.
- Talvez? – havia um tom debochado em sua voz.
- É, talvez. – eu ri levemente. – Mas agora sei que não deveria ter tido dúvidas.
Antes que pudesse responder, alguém o chamou pelo comunicador. Bucky suspirou e respondeu, parando um tempo para ouvir o que quem quer que fosse, dizia. Quando seus músculos, antes relaxados, ficaram tensos, tive certeza de que as coisas não estavam bem. A energia que fluía em seu corpo não era mais suave, corria por cada centímetro dele como se estivesse repleta de adrenalina.
- O que houve? – questionei.
- Temos um problema lá fora. – ele disse.
Nos levantamos e ele parou em minha frente, me analisando com certa preocupação. Revirei os olhos ao entender aonde ele queria chegar.
- Estou bem. – falei antes de qualquer pergunta. – Agora, é melhor que nos apressemos.
Um pouco contrariado, Bucky apenas acenou com a cabeça. Então seguimos para a área externa. Eu ainda não tinha ido até lá. Os dias que fiquei aqui, permaneci trancada em celas e laboratórios, descobrindo e aprimorando minhas habilidades. Tanto, que quando me deparei com a paisagem lá fora, arfei maravilhada. Ao redor de toda aquela base da HIDRA, existia apenas em grande e tenebroso mar. Suas águas violentas se chocavam contra a base da montanha e o céu era repleto de nuvens cinzentas.
Logo, porém, minha atenção foi desviada para a luta que se desenrolava na pista de decolagem. Levei um susto quando Natasha foi lançada contra um veículo parado, indo ao chão e soltando um longo gemido. Pensei em correr para ampará-la, mas então o avistei. Arregalei meus olhos com toda a confusão que causava. Sem hesitar, corri até ele.
- ! – berrei antes que ele avançasse contra Sam.
Ele me olhou imediatamente e parecia admirado. Ele cessou seus ataques, deixando a postura de combate. Parei a poucos metros e o fitei com o cenho franzido.
- O que está fazendo? – perguntei.
- O que você mandou. – ele disse. – Atacar os que estavam aqui fora.
- Novas ordens então. – semicerrei os olhos. – Nada de ataque, eles são meus amigos.
- Como assim? – dessa vez, ele franziu a testa. – O que quer dizer com isso, Elle?
- Por favor... – mordi meus lábios. – Não me chame... não me chame assim.
- Por que não? – ele soltou um riso leve. – É o seu nome.
- Não, não é. – falei com um sorriso de canto. – Eu sou Potts. Mas, se preferir, pode me chamar de Golden.
- Essa não é sua vida. – ele disse entredentes. – Você não pertence a eles. É uma de nós.
- “Uma de nós”? – falei confusa. – Nós quem?
- Os merecedores. – cerrou os punhos. – Mas parece que terei que lembrá-la disso.
Fiz uma careta diante daquela declaração e pensei em perguntar o que ele queria dizer. Entretanto, me pegou de surpresa, erguendo seu punho fechado em minha direção. Senti algo invisível me arrastar para ele. Quando seus dedos envolveram meu pescoço, seus olhos me encararam com dureza.
- O que está... – tentei dizer, mas ele apertou mais meu pescoço.
- Você é uma boa garota. – ele falou. – Mas precisa aprender muito. E estou aqui para ensiná-la.
- Achei que... que quisesse... me proteger. – falei com dificuldade.
- E quero. – vi um vislumbre de afeto em seu olhar. – Mas para isso, terei que ser inflexível em alguns momentos.
- Então... seguir as ordens... da HIDRA... está acima de... me proteger? – senti minha garganta arranhar.
- Isso não tem a ver com a HIDRA. – ele sorriu de forma estranha. – Tem a ver com algo muito maior.
Eu não fazia ideia do que ele falava. Só sabia que já estava ficando irritada. podia ser meu irmão, mas esse não era um empecilho para dar-lhe uma surra. Travei meu maxilar e, percebendo minhas veias se aquecerem ferozmente, o fogo surgiu em minhas mãos. Antes que virassem chamas descontroladas, o moldei o transformei em luvas. Com elas, segurei seu braço e me livrei do seu aperto. Em seguida, soquei seu peitoral, o fazendo cambalear para trás.
- Tenha certeza de que não me importo. – sibilei nada contente.
resmungou algo e tentou usar sua telecinese em mim novamente, porém, eu resisti aos seus ataques com facilidade. Se quisesse me atingir, teria que usar sua força em conjunto. E foi o que ele fez. Com destreza, começou a socar o ar e sua foça física junto com a mental, me acertaram uma, duas, três vezes. Na quarta vez, fui lançada ao chão. Ainda lá, pude ver que os outros também lutavam com os agentes da HIDRA.
Me levantei num impulso e envolvi meu corpo com a armadura de fogo. Só com esse movimento, sentia minha força se elevar consideravelmente. Porém, não avancei. E ele também não. Ficamos nos encarando sem fazer qualquer movimento enquanto o som do mar revolto e da luta ao nosso redor ecoava pelo ambiente.
- As coisas não precisam ser assim. – eu disse, desfazendo minha armadura. – , venha conosco. Sei que eles o perdoarão ao saber os motivos de ter ajudado a HIDRA.
- Me desculpe, Elle, mas não há como voltar atrás. – ele balançou negativamente a cabeça.
- Do que está falando? – finalmente o questionei. – Não estou entendendo nada do que diz.
- Sei que não. – ele concordou. – Mas logo irá.
Franzi o cenho quando algo queimou meu corpo por dentro. Não como meu fogo que eu podia controlar. Mas sim uma sensação de algo incendiando minhas células, pouco a pouco. Tentei me concentrar e localizei de onde vinha. Toquei minha nuca, encontrando um pequeno dardo grudado ali. O retirei sem acreditar e o analisei. Então encarei meu irmão.
- O que é isso? – senti minhas forças se esvaindo. – O que fez comigo?
- Não se preocupe. – ele se aproximou. – É apenas um inibidor de poderes. Não poderá usá-los por um tempo.
Ele tinha razão. O calor incomum ao qual eu já havia me acostumado começou a esfriar. Todas as auras das pessoas em volta, com sua energia forte ou fraca, já não podiam mais ser sentidas por mim. Fiquei assustada. Outra vez assustada. E quando parou em minha frente, eu soube que as coisas não acabariam nada bem.
Capítulo 30: Seu Maior Defeito
parou em minha frente e vi em seu rosto um sorriso presunçoso. No mesmo segundo, tive vontade de socá-lo, mas sabia que de nada adiantaria. Eu estava sem os meus poderes. Como ele conseguiu fazer aquilo, eu não sabia, apenas tinha a certeza de que estava encrencada.
- Nós podemos facilitar tudo isso. – ele disse.
- O que você quer? – fui direta.
- Apenas venha comigo. – ele respondeu.
- E por que eu iria? – cerrei os punhos.
- Por que sei que se importa com eles. – ele apontou com um aceno de cabeça para a luta que se desenrolava à nossa volta – E com certeza não vai querer vê-los machucados ou mortos.
- Eles não vão morrer. – dessa vez eu esbocei um sorriso convencido – Vão acabar com todos vocês. Não vamos cortar mais cabeças da HIDRA, vamos queimá-las completamente.
- E quem queimará a HIDRA? – ergueu as sobrancelhas – Você?
- Seu... – pensei em insultá-lo de todas as formas possíveis, mas então respirei fundo – Eu confiei em você. Você foi o único em que achei que poderia me... me apoiar. E agora tira meus poderes e quer matar meus amigos? É melhor esquecer, eu não vou com você.
- Sei que está chateada, mas tente entender. – ele passou a língua pelos lábios – Tudo isso faz parte de algo maior. Você nasceu com um propósito.
- Eu já conheço essa história. – torci o nariz – Eu sou a grande líder da HIDRA.
- Não da HIDRA. – ele me corrigiu – Você, Elle, é a nossa líder.
Franzi o cenho. Novamente, ele fazia referência a um outro grupo que, pelo que percebi, não tinha ligação com a HIDRA. O que era estranho. No entanto, meu principal objetivo naquele momento, era deter meu irmão. Para isso, precisaria de ajuda, mas os outros estavam ocupados demais. E sem poderes... eu não chegaria a lugar nenhum.
Baixei o rosto e então algo me veio à mente. Foi impossível não soltar um leve riso graças ao rumo que meu raciocínio seguia. Olhei novamente para e ele pareceu estranhar minha expressão. Mas eu não me importava. Se eu fosse mesmo a líder, poderia fazer o que quisesse e ele deveria me obedecer.
- Acho que é hora disso acabar. – eu abri um pouco os braços – Mande que os homens parem de atacar. Isso é uma ordem.
- Desculpe, Elle. – ele riu também, mas de uma forma mais divertida – Mas não é desse jeito que as coisas funcionam.
- O quê? – falei, confusa.
- Seu destino é ser líder, mas ainda não está pronta. – ele se aproximou – É por isso que estou aqui.
Sem esperar uma resposta, ele segurou meu rosto entre suas mãos. Seu toque era suave, mas firme e não entendi o motivo de sua aproximação em meio a aquele caos. Então, comecei a sentir meu corpo entorpecer. Era como se uma força me obrigasse a tombar. Tão poderosa que fechei meus olhos e a escuridão começou a me dominar. Mas, eu sabia que aquilo não era normal. Era quem estava me fazendo desfalecer. Agarrei suas mãos com as minhas, abrindo os olhos bruscamente.
- O que está... – minha voz estava cansada – , o que você...
- Não se preocupe. – sua voz saiu mansa – Você só vai dormir um pouco.
- Não... – murmurei
Se ele me fizesse apagar, tudo estaria perdido. Não poderia resistir ou pedir auxílio. Eu não podia me entregar. Era mais forte do que ele. Eu precisava ser. Fechando os olhos com força, segurei seus pulsos e me obriguei a continuar acordada. Aquele poder de não era novo, me lembrava de quando ele o usou para me apagar quando concordei em vir para a HIDRA. Daquela vez, não tive a oportunidade de lutar, porém, agora teria.
- Não tente resistir, Elle. – ele disse.
- Seja lá o que estiver fazendo, não vai conseguir. – minha voz saiu arrastada.
- Só estou mexendo com sua mente. – ele disse – Mas ela parece estar mais resistente.
- Pode apostar. – disse entredentes.
Larguei seus pulsos e, lutando contra o torpor que começava a possuir meus membros superiores, soltei um grunhido raivoso. Eu estava extremante irritada e isso não era bom. Voltei a chiar. Dessa vez, algo mais aconteceu. Como da primeira vez, minhas veias começaram a pegar fogo. E esse calor percorreu todas minhas células ferozmente. Soltei um grito quando as chamas me incendiaram por completo. Meus poderes estavam regressando.
- Mas o que... – murmurou surpreso quando sentiu o calor de minha pele.
- Acho que estou de volta. – sorri.
Já sabendo o que fazer, moldei o fogo em um de meus pés e, afastando as mãos do meu irmão de meu rosto, o acertei com o chute no abdômen. cambaleou para trás e me aproveitei disso, golpeando-o outra vez do mesmo jeito. Ele foi ao chão, arfando pelo impacto. Em posição de luta, inclinei minha cabeça.
- Já está cansado? – ergui os punhos e fiz o fogo envolvê-los.
- Você resistiu ao soro inibidor. – se levantou – É mais poderosa do que pensa.
- Acho que já disse isso. – revirei os olhos.
- Elle, você não entende... – ele começou.
- Você também já disse isso. – estalei a língua – Escuta, . Podemos ser irmãos, mas isso não significa que você sabe o que é melhor pra mim.
- Eu estou aqui por você. – dessa vez ele pareceu estar um pouco irritado – Não vou deixar que um amor estúpido fique em seu caminho.
Fiz uma careta quando ele ergueu sua mão. Entretanto, ao invés de mirá-la para mim, ela a apontou para trás de nós, onde haviam mais pessoas. Olhei para lá no momento em que uma parte da parede da entrada despencou sobre Bobbi, Natasha e Bucky. Arfei quando, antes de serem atingidos, Daisy fez com que os destroços fossem lançados para longe.
Mas não desistiu. Usou vários carros que estavam estacionados na pista, lançando-os contra o grupo. Daisy continuava a repeli-los com tremores. Mordi os lábios e corri até meu irmão.
- Já chega! – berrei.
Soquei seu rosto e ele se desequilibrou, revidando em seguida. Começamos a desferir golpes um no outro até que eu o imobilizei com uma chave de braço. Ele tentou escapar, mas foi em vão, eu era mais forte.
- Estou falando sério. – eu já havia perdido a paciência – Já basta, !
- Só... quando estiver... conosco. – ele falou com dificuldade.
Então ergueu sua mão. Diferente do que achei que faria, ele não tentou machucar meus amigos com avalanches ou algo semelhante. Dessa vez, ele foi mais específico. De onde estava, vi Bucky levar as mãos ao pescoço, como se estivesse sendo esforçado. E ele estava. Quando ele caiu de joelhos, arregalei os olhos.
- Pare... pare com isso! – minha voz tremeu mais do que gostaria.
- Sabe... o que deve fazer. – ele disse.
Nem por um segundo afrouxei meus braços que estavam em volta do pescoço de . E isso o fazia aumentar cada vez mais a intensidade do seu poder que estrangulava James. Mais uma vez ele o usava contra mim. sabia que Bucky era importante. E ele estava certo. Mas, eu não podia aceitar seus requisitos. Eu tinha a vantagem.
- Solte-o! – vociferei – Solte-o agora ou vou matá-lo!
- Você não vai. – ele riu.
- Não me subestime, . – falei ao pé de seu ouvido
- Você pode ter muito poder, mas é boa demais. – ele disse – E esse é o seu maior defeito.
Olhei novamente para Bucky e meu coração apertou quando ele desmoronou e Natasha e Bobbi correram até ele. Eu não podia matar . Mas também não podia deixar que ele matasse Bucky. Gemi diante daquela decisão e meu interior se aqueceu ainda mais. Como nunca havia aquecido até agora. A armadura de fogo envolveu meu corpo. Quando menos esperei, uma força me impulsionou para cima e a deixei me levar.
Ainda agarrada a meu irmão, nossos corpos foram lançados ao ar. Olhei para baixo e estávamos a alguns metros do chão. Ao analisar melhor, percebi que eu o havia feito. Eu estava... voando? Aquilo era tão hilário quanto o grito que soltei ao perceber que estávamos acima de todos.
Mas então, o impulso acabou e começamos a cair. Prendi a respiração quando o frio na barriga me pegou com tudo. Soltei e ele também parecia assustado. Não tivemos tempo de reagir. Atingimos as águas revoltas do mar negro. O impacto foi forte e, mesmo que ainda estivesse com a armadura, o senti em parte. Ao abrir os olhos consegui ver em volta graças a luz que refletia de minhas mãos.
Foi quando vi . Ele estava a poucos metros, desacordado. Não pensei duas vezes e nadei até ele, o segurando pela gola da camisa. Com braçadas apressadas, cheguei até a superfície e, indo contra as ondas que batiam em meu rosto, nadei até a borda da montanha. O coloquei deitado e tentei ouvir sua respiração, mas não havia nada. Alarmada, comecei a fazer-lhe uma massagem cardíaca.
- Vamos, . – murmurei, continuando a tentar trazê-lo de volta – Acorda!
Sem mais opções, comecei a fazer respiração boca a boca, revezando com a massagem. Quando achei que não adiantaria mais tentar, ele tossiu e água saiu pelos seus lábios. Suspirei aliviada e me sentei ao seu lado. Ele continuava desmaiado.
Enquanto bolava uma forma de voltar para a base, ouvi o som de hélices acima de nós. Olhei para o céu cinzento e vi um helicóptero. Steve estava na porta, olhando para baixo como se procurasse algo. Eu. Levantei-me de supetão e comecei a acenar freneticamente. Não demorou para que me vissem.
Logo nos resgataram e deixaram meu irmão deitado num canto, algemado ao pé da poltrona. Não que isso fosse adiantar. Fui até Steve que estava com Sam. Natasha conduzia o helicóptero.
- Onde está o Bucky? – perguntei antes de qualquer coisa.
- Está com os outros. – Steve respondeu.
- Ele está bem? – questionei – Capitão?!
Eles não me responderam, trocaram olhares entre si e presumi que não. Bucky não estava bem. Suspirei cansada e me aproximei da porta aberta, vendo a base abaixo. O outro helicóptero já havia decolado. Mordi meu lábio inferior e me lembrei de Adam. Meu pai parecia conduzir a HIDRA e não deveria estar mais ali. Furiosa, levantei minha mão e, sem pesar, lancei uma rajada de fogo em direção à estrutura bem trabalhada. Mas ela não atingiu muita coisa.
- Chegue mais perto. – eu disse e Natasha o fez.
- Tem certeza disso? – Sam perguntou.
- Absoluta. – respondi.
Agora mais perto, voltei a atacar a base. Lançava bolas de fogo e rajadas contra o que via. Logo as chamas tomaram conta, mas não me importei. As pessoas ali tinham meios de fugir. Não que elas merecessem fugir. Eu, porém, não tinha direito sobre a vida de ninguém.
Quando achei ter feito um bom estrago, entrei e me sentei ao lado de Sam. Ele e Steve me encaravam meio temerosos. Ri abafado com aquela reação.
- Não se preocupem, soldados. – fiz uma pequena esfera de fogo e a levitei – Prometo que não vou destruir tudo até chegarmos à SHIELD.
- Tem certeza que não precisaremos algemá-la também? – Sam ergueu as sobrancelhas, brincando.
- Desse jeito você não está ajudando. – fiz o fogo se dissipar – Eu posso me controlar, passarinho.
Às minhas palavras, eles sorriam e eu me recostei no banco. Steve fechou a porta e o vento parou de nos açoitar. Por alguns instantes, fitei o céu acinzentado. Em seguida, olhei para . Ele continuava apagado e seria melhor assim. Não queria ter que enfrentá-lo de novo.
Suspirei e cruzei os braços, encostando a cabeça no estofado. Foi inevitável não pensar em Bucky. A forma como caiu sem forças e não pude ir ao seu auxílio. teria mesmo o matado? Eu preferia não saber a resposta, apesar de estar imensamente preocupada.
Tentei me distrair, então pensei no beijo e um sorriso surgiu em meus lábios. Foi algo singelo, mas que significou muito. Pelo menos para mim. Decidi que não precisava me preocupar. O que importava era que agora estávamos voltando para casa. Minha única e verdadeira casa.
Capítulo 31: Família
Quando o helicóptero aterrissou no hangar, Steve abriu a porta e nós saímos. Enquanto as hélices ainda giravam, fazendo nossas roupas e cabelos esvoaçarem, olhei para a entrada do local. Puxei o ar para os pulmões e sorri. Estávamos de volta à SHIELD.
Ao ver um movimento atrás de mim, olhei para lá e Sam e Steve carregavam apoiando seus braços em seus ombros. Natasha desligou o helicóptero e desceu, parando ao meu lado. Observei os garotos levarem meu irmão para dentro e caminhei mais atrás com Nat sem baixar a guarda. Vai que resolvesse destruir todos outra vez.
Passamos pela porta que nos detectou e abriu automaticamente. Do outro lado, me surpreendi com a comitiva que nos esperava. Coulson e May estavam parados a frente com mais alguns agentes. A expressão que eles tinham em seus rostos transmitia certo tipo de alívio e fiquei feliz em saber que se importavam.
Caminhando à frente dos que vinham comigo, me aproximei deles. Ao parar em frente ao diretor, soltei o ar de uma só vez pela boca. Phil deu um meio sorriso.
- Oi. – eu disse.
- Olá, agente Potts. – ele continuou sorrindo – É bom vê-la novamente.
- É bom vê-lo também. – mordi os lábios – Mas, será que poderia me chamar de Golden, pelo menos por hoje?
- É claro. – ele riu abafado.
- Obrigada, diretor. – falei com certo alívio
Olhei para May e ela acenou com a cabeça. Imitei seu gesto, mas com um sorriso leve. Eu não ia sair abraçando ninguém, apesar de estar me sentindo em casa. Esse sentimento de acolhimento deveria bastar. Ainda contente, me lembrei do . Eu não o odiava, mas era um pouco difícil defendê-lo depois de tudo o que ele fez.
- Quem é esse? – May perguntou.
- É o inumano do qual falamos. – Natasha respondeu.
- O nome dele é . – eu completei – Ele é meu irmão.
Às minhas palavras, todos ficaram mudos. Suas caras de surpresa seriam engraçadas num outro momento, mas agora eu tinha de concordar que aquela era uma situação estranha. Em alguns dias, descobri coisas sobre minha vida que poderiam ser contadas numa história muito louca.
- O que acha que devemos fazer com ele? – Coulson me encarou.
- Ele nos causou grandes problemas. – raciocinei – É melhor deixá-lo onde possa ser supervisionado.
- Certo. – ele concordou – May, acompanhe o Capitão e o Falcão até a ala de isolamento.
May fez o que ele disse e eles a acompanharam. Nat e eu continuamos com os outros. Coulson dispensou os outros agentes, que voltaram aos seus serviços, ficando conosco. Tínhamos muito que conversar.
- Vamos até minha sala. – ele disse.
Caminhamos a passos largos e logo chegamos até a sala. Durante o percurso, encarei cada cantinho, vendo como era diferente da base da HIDRA. Aqui eu me sentia bem, apenas coisas boas tomavam conta de minha mente. Não havia dúvidas que estava no lugar certo. E nunca deveria ter saído.
Entramos e nos sentamos em frente à mesa amarronzada. Phil me encarou, como se esperasse que eu começasse meu relato. Eu não fazia ideia do que dizer, por isso resolvi não fazer rodeios.
- Bem, eu não bem por onde começar, então serei breve. – olhei para minhas mãos em meu colo – Depois que o , que é meu irmão, me levou pra HIDRA, descobri que meu pai está vivo e que sou uma inumana. Agora eu tenho poderes. E até que eles são legais.
- Golden, vamos com mais calma. – ele pediu - Está dizendo que Adam Potts está vivo?
- Sim. – confirmei – E ele parecia comandar aquela base onde eu estava. Ele é um deles e sei que não é meu pai de verdade.
- Golden, a SHIELD... – o diretor tentou explicar.
- Não se preocupe, diretor. – o interrompi com um sorriso amigável – Sei que queriam me proteger e eu agradeço por isso. Se estou aqui é por causa de seus esforços. No entanto, a SHIELD poderia ter me informado sobre algumas coisas. Não é muito legal você saber que veio da HIDRA por meio do seu pai que achou que estava morto, mas que na verdade não é seu pai.
- Você é realmente singular. – Phil balançou a cabeça negativamente – Qualquer pessoa teria ficado, no mínimo, abalada com essa situação. Mas você faz parecer que não é tão difícil.
- Acredite, eu já me exaltei bastante. Até tentei matar meus amigos. – sorri minimamente – Só que percebi que isso não vai resolver as coisas. Ter vocês é melhor do que não ter nada. Vocês são mais do que eu poderia querer. São minha família.
- Sim, nós somos. – Nat falou pela primeira vez – Saiba que pode contar conosco sempre.
- Obrigada. – estendi minha mão e segurei a sua.
Ela retribuiu e fiquei feliz ao estar com minha amiga. Como pude tentar esquecê-los? Como pude machucá-los? De certa forma, eu havia ferido a mim mesma e me sentia mal. Mas eles estavam ao meu lado. Após alguns instantes, soltei sua mão e o diretor perguntou mais coisas. Passei informações referentes à base da HIDRA, sobre meu pai e sobre o que faziam lá. Contei minha história, sobre os experimentos e eles ficaram surpresos ao saber que eu fazia parte de um projeto que planejava criar inumanos superiores.
- Então quer dizer que você pode destruir o que ver pela frente. - Coulson falou debochado.
- Literalmente. – eu ri – Mas são se preocupe, eu não costumo destruir coisas. Pelo menos não enquanto estou calma.
- Já que agora é um soldado de fogo, vamos ter que tomar cuidado com você. – Nat disse, mas então ela assumiu uma expressão vaga – Só um segundo.
Natasha disse e levou a mão até o comunicador no ouvido. Olhei para Coulson e ele balançou os ombros. Voltei a fitar minha amiga. Após ouvir algo, ela se virou para nós e falou à mensagem que recebeu.
- O segundo helicóptero chegou. – ela disse – Estão levando os feridos para a enfermaria.
Nos levantamos e saímos ao encontro deles. Meu coração batia com velocidade, pois queria saber como Bucky estava. Da última vez que o vi, ele estava no chão. Apressamos nossos passos até a enfermaria. Ao virarmos o corredor, avistei Daisy e Bobbi e elas pareciam apreensivas.
- Ei! - as chamei.
- Golden! – Bobbi veio ao meu encontro e me abraçou.
Retribuí seu gesto e agradeci por terem ido me buscar. Em seguida, fui até a agente Johnson. Ela parecia receosa com minha presença, mas para minha surpresa, me abraçou com força.
- É bom tê-la de volta. – ela sussurrou
- Eu sei. – a apertei mais – Obrigada por não desistir de mim.
- É o que amigos fazem. – ela disse.
Nos afastamos com largos sorrisos. Logo, porém, uma das agentes que trabalhava como enfermeira saiu pela porta branca e parou em nosso meio. Ela procurou o diretor e foi até ele.
- Bucky Barnes está bem. – ela disse – Deve acordar em alguns instantes.
Após aquelas palavras, não ouvi mais nada, mesmo que fosse algo importante. Deixando os outros para trás, adentrei a enfermaria e fui em busca de Bucky. Precisava confirmar que ele estava mesmo fora de perigo. Meus passos eram firmes e não demorei a vê-lo. Estava deitado numa das macas e tinha uma bolsa de soro pendurada ao lado. Corri até ele, parando ao seu lado.
Seus olhos estavam fechados, mas só dormia. Como a enfermeira disse, logo iria despertar. Inclinei-me em sua direção e pude notar alguns ferimentos em seu rosto. Seu nariz, onde eu havia acertado com um chute, estava um pouco inchado. O olho direito estava roxo e alguns arranhões marcaram suas bochechas.
- Bucky... – murmurei, mas ele continuou imóvel.
Levei a mão até sua testa e sua temperatura estava normal. Aproximei-me mais e depositei um beijo nela. Eu só queria que ele acordasse.
- Bucky... – o chamei novamente – Acorda, por favor.
Dessa vez, o vi se mover um pouco e meu coração parou por um segundo. Com dificuldade, Bucky abriu os olhos e logo eles se focaram em mim. Sorri aliviada e me joguei em seus braços, o abraçando abruptamente. O ouvi gemer ao meu movimento.
- Me desculpe. – me afastei um pouco – Só queria saber como está.
- Estou bem. – ele respondeu baixinho – E você?
- Estou bem. – eu disse e sentei à beirada do colchão – Mas não se preocupe comigo.
Suspirei fundo e peguei sua mão normal, que estava pousada sobre seu abdômen. Sem palavras, enlacei nossos dedos. Permanecemos em silêncio por um longo tempo. Eu não queria dizer nada até por que, se eu tentasse, poderia dizer alguma bobagem. Aquele era um momento que queria guardar sem precisar lembrar que fui uma tapada. Mas Bucky não parecia querer ajudar.
- Golden, eu... eu sinto muito. – ele disse - Por tudo.
- Ei, soldado. – fiz uma careta – Não precisamos falar sobre isso agora. Teremos muito tempo pra escrever, sei lá... minha biografia ou algo do tipo.
Bucky soltou um leve riso e aquilo me deixou satisfeita. Sem pensar, já que eu não costumava pensar muito em certos momentos, coloquei meus pés para cima da cama e me deitei ao seu lado.
- O que está fazendo? – ele perguntou risonho.
- Você é muito grande. – eu resmunguei e o empurrei para o lado – Será que poderia chegar pra lá?
Soltando um novo riso abafado, James me deu mais espaço, se deitando de lado. Fiquei de frente para ele e respirei fundo. Em seguida, foi impossível não rir ao me lembrar de uma situação semelhante que passamos.
- Lembra quando dividimos a cama na casa do Sam? – eu perguntei, rindo.
- É claro. – ele revirou os olhos – Você conversou bastante antes de me deixar dormir.
- Ei! – dei um empurrão de leve em seu ombro – Eu não falo tanto assim.
- É melhor não começarmos uma discussão sobre isso. – Bucky fechou os olhos – Não tenho argumentos suficientes pra competir contra você.
- Muito me admira que estejamos dialogando. – debochei.
Ele abriu os olhos e me fitou com um pequeno sorriso. Abri a boca para dizer alguma coisa, porém, o azul de seus orbes me distraiu por um bom tempo. Apenas quando seu braço de metal tocou minha cintura é que despertei. Bucky me puxou para mais perto. Aproximei-me, sentindo o calor entre nós aumentar. Enlacei minha perna nas suas. Sua respiração golpeou minha face, me causando cócegas.
- Não preciso de palavras quando estou com você. – ele murmurou
Soltei um riso baixinho, mostrando que estava sem jeito. Apenas Bucky Barnes me deixava daquela forma, mas ele não podia me desarmar assim, era constrangedor.
- Está me cantando, Barnes? – ergui as sobrancelhas.
- Acho que não preciso disso. – ele disse.
- É bastante convencido, sabia? – brinquei.
Ele riu abafado e me puxou mais para perto. Passei um braço em seu pescoço, alcançando sua nuca. A acariciei levemente, o que o fez terminar aquilo tudo. Bucky aproximou os lábios dos meus. Fechei os olhos quando ele me beijou pela segunda vez. Dessa vez, ele durou mais tempo e foi mais intenso. Ainda assim, sentia que ele avançava com calma.
Quando nos afastamos, baixei um pouco o rosto e ele depositou um beijo em minha testa, permanecendo com os lábios ali. Soltei um leve suspiro.
- O que estamos fazendo? – eu disse.
- Eu não sei. – ele respondeu.
- Ah, dane-se! – ergui meu rosto – Quem se importa? O que importa é que estamos juntos. Nós estamos juntos, não é?
- Acho que... sim. – Bucky franziu o cenho.
- Acha? – também franzi a testa.
- Você me deixa muito confuso. – ele mordeu os lábios.
- Foi mal. – estalei a língua.
Aninhei-me perto de seu peito e ele deitou a cabeça no braço. Com o outro, me envolvia de forma protetora. Ficamos assim por um longo tempo, até que senti o sono chegar. Quando menos esperei, dormi. Foi algo inevitável. Eu me sentia bem e protegida. Estava ao lado das pessoas que amava, dos meus amigos, minha família. O que poderia dar errado?
Capítulo 32: Contra o Tempo
Quando abri os olhos, percebi que continuava no mesmo lugar. A mão de Bucky ainda segurava minha cintura e nossas pernas continuavam entrelaçadas. Fitei seu rosto e sorri ao constatar que ele dormia. Sua respiração era calma, assim como o movimento de seu peito que subia e descia lentamente.
De maneira suave, toquei seu nariz, que continuava inchado. Deslizei meu dedo indicador por sua bochecha e a barba rala me fez cócegas. Cheguei ao seu lábio inferior e, por fim, toquei seu queixo. Ele continuou sereno. Soltei um leve suspiro e me remexi com cuidado para não o acordar. Olhei em volta e havia apenas duas enfermeiras organizando alguns materiais num armário.
Segurei a mão cibernética de Bucky e a coloquei sobre a cama, então me levantei. Ajeitei meus cabelos e fui até as agentes que estavam do outro lado da sala.
- Oi! – falei após pigarrear e elas se viraram pra mim.
- Ah, agente Potts! – uma delas, que usava óculos, disse com um largo sorriso.
- Desculpem se as fiz esperar, é que perdi a noção do tempo. – mordi meus lábios.
- Não se preocupe. – a outra, que tinha os cabelos loiros presos num coque, falou – O Barnes já está bem. Só precisa descansar mais um pouco.
- É bom saber disso. – fiz um leve aceno com a cabeça – Vou deixá-las continuar... o que quer que estivessem fazendo.
- Tudo bem, agente Potts! – a loira sorriu.
Retribuí seu gesto e caminhei até a saída. Passei por Bucky e ele continuava dormindo. Quando saí, dei de cara com Steve, Natasha e Sam. Eles pareciam apreensivos, mas tentavam não demonstrar. Parei à frente deles e cruzei os braços. Ficamos nos encarando em silêncio, até que Steve se pronunciou.
> - E então? – ele parecia aflito.
- E então o quê? – resolvi tirar com sua cara.
- Qual é, Golden. – Sam abriu os braços – Se você não falar como o Barnes está é capaz de o Capitão ter um ataque de nervos.
- Não se preocupem. – descruzei os braços, deixando-os ao lado do corpo – Ele está bem, só está dormindo.
- Isso é bom. – Steve suspirou, aliviado.
- Sim, é. – concordei – Mas, por que você não entrou para que pudesse vê-lo?
- Eu até entrei... – o Capitão coçou a nuca – Mas vocês meio que... estavam ocupados.
- O que ele quer dizer, minha cara Golden, é que você e o senhor Barnes estavam num daqueles momentos de casal de novela mexicana. – Nat debochou.
- Vocês viram? – arregalei os olhos, mas então os semicerrei na direção de Natasha – Espera... você assiste novela mexicana?
- Isso não vem ao caso. – ela revirou os olhos – O que importa é que o Sam e eu estávamos certos!
- Vocês... – pensei em contestar, mas me dei por vencida – É, vocês ganharam essa.
- Então você passou da fase da negação para a fase da aceitação. – Sam falou pensativo – Já estava na hora.
- Do que vocês estão falando? – Steve franziu o cenho.
- De nada. – soltei um riso leve – Por que não vão lá dentro?
- Tudo bem. – ele respondeu – Nos vemos mais tarde.
Esperei que entrassem e voltei a caminhar pelo corredor da ala médica. Ao passar em frente a um dos quartos para procedimentos especiais, estranhei o fato de haver movimentação lá dentro. Apesar de curiosa, continuei minha caminhada e segui até os armários onde guardávamos nossos pertences. Peguei roupas limpas e fui ao banheiro, pois precisava urgentemente de um banho.
Não demorei, por mais que quisesse, e logo estava pronta. Me encarei no espelho logo acima da pia e prendi meu cabelo num rabo de cavalo. Era melhor assim. Me olhei uma última vez e sorri. Revirei os olhos ao perceber que já havia sorrido bastante desde que havia voltado.
Estalei a língua e girei nos calcanhares, indo até a porta. Enquanto voltava para a sala do diretor, pois ele queria conversar mais um pouco, encontrei Daisy. Seus olhos estavam vermelhos, como se tivesse chorado. Aquilo me deixou preocupada.
- Daisy, o que houve? – franzi meu cenho, confusa
- Golden?! – só então ela me viu – Não... não foi nada.
- Como assim, nada? – ri sem humor – Você estava chorando.
- Não, eu não... – ela limpou o rosto apressada.
- Ei! – falei firme e ela parou – Não tente mentir pra mim. Sei que aconteceu algo.
- É claro que sabe. – ela tentou sorrir, mas o que vi foi uma careta.
- Apenas me diga. – falei de forma mais branda.
- É o . – ela baixou o rosto por alguns instantes
- O ? – arregalei os olhos – O que ele tem ele? Daisy, o que tem ele?
- Ele... – ela parecia tão confusa quanto eu – Ele não acorda.
- Mas o que... – pensei em perguntar por qual motivo, mas então me lembrei.
Flashback –On-
Por saber que não me machucaria, avancei contra ele. largou a pistola e resistiu aos meus golpes, mas ele não teria chances. O dominei em pouco tempo, segurando seu braço e torcendo sua mão, o obrigando a se ajoelhar.
- Você não é tão ruim. – eu o segurava sem esforço.
- O que está fazendo? – ele perguntou e estava assustado.
Respirei fundo e comecei a sugar sua energia. Quando vi, os lábios de ganharam um tom esbranquiçado. Seus olhos foram ficando cada vez mais opacos, como se perdessem a vitalidade. Eu drenava toda sua energia e a sentia dentro de mim. E meu poder aumentava. A cada novo segundo.
Flashback –off-
Por um instante minha visão ficou turva. Dei vários passos para trás até minhas costas se chocarem em uma das paredes. Fechei os olhos com força, enquanto sentia meu coração pulsar como um motor de carro velho. Eram batidas violentas e pesadas, tão sufocantes quanto mergulhar numa piscina gelada no inverno. E a agonia tomou todo meu corpo, me causando um calafrio.
- Fui eu... – murmurei – É minha culpa.
- Golden... – Daisy tentou dizer algo, mas a interrompi.
- É minha culpa! – falei e então fitei minhas mãos – Daisy, eu... eu o deixei assim. Drenei sua energia. Eu...
- Ei, se acalma, eles vão dar um jeito. – ela tentou me acalmar
Mas eu não a ouvi. Comecei a caminhar a passos lentos e desordenados de volta a ala médica. Logo, ganhei equilíbrio e comecei a correr. Escorreguei uma ou duas vezes e sentia Daisy em meu encalço, mas não parei. Alcançamos a sala, mas a porta continuava fechada. Parei e levei as mãos às têmporas.
- Golden, se acalma! – Daisy repetiu – Eles estão tentando trazê-lo de volta.
- Eu preciso entrar. – falei mais para mim mesma
- E o que faria lá dentro? – ela se aproximou, me segurando pelos ombros
- Eu não sei... eu só... – parei um segundo para pensar.
Baixei o rosto, fitando o piso e tentando não perder a calma. Foi quando ouvi os passos de mais pessoas se aproximando. Olhei na direção que elas vinham e franzi o cenho ao ver o diretor Coulson, May e Bobbi. Eles vinham apressados, como se tivessem recebido uma notícia ruim.
- Alguma notícia? – Bobbi perguntou
- Ainda não. – Daisy respondeu – Acabamos de chegar.
- Será que podemos entrar? – perguntei para o diretor.
- Vamos esperar mais um pouco. – ele disse.
Antes que eu pudesse questionar sua decisão, a porta da sala foi aberta, chamando nossa atenção. Prendi minha respiração quando um dos agentes saiu, retirando a máscara branca do rosto. Ele se surpreendeu ao nos ver ali, mas logo voltou sua atenção para Coulson.
- Terminamos de examinar o agente . – ele disse
- E então? – May descruzou seus braços.
- Os sinais vitais estão normais, ele não precisa de nenhum recurso para se manter estabilizado. – o médico parou por um segundo – E é por isso que não entendemos por que ele não acorda.
- Quer dizer que... – Bobbi franziu a testa.
- O agente está em coma. – ele completou – Ainda não descobrimos os motivos, mas estamos fazendo mais exames de sangue e...
- Ele está sem forças. – eu murmurei.
- Como? – o médico se virou pra mim.
- O . – falei mais alto – A força dele foi drenada, ele não está doente ou algo do tipo.
- Como tem certeza? – May questionou.
- Por que fui eu que fiz isso. – admiti, mordendo meus lábios – Eu posso absorver a energia das pessoas. E eu... absorvi a dele.
Ninguém disse nada. No entanto, pelas suas expressões, decifrei que estavam surpresos. E eu lhes dava razão. Em que mundo iria machucar meu melhor amigo? era o irmão que nunca tive. Crescemos juntos, em todos os sentidos. Estivemos juntos em grandes momentos. Salvamos a vida um do outro inúmeras vezes. E eu estaria disposta a abrir mão da minha pela dele se precisasse.
- Bem, e como podemos reverter essa situação? – o doutor perguntou.
- Eu... não sei. – arfei triste – Achei que soubessem.
- Estamos tentando, agente Potts. – ele disse.
- Eu sei. – balancei a cabeça positivamente – Será que eu poderia vê-lo pelo menos um pouco?
- Claro. – ele respondeu e pelo seu tom, vi que estava compadecido.
Olhei para meus colegas e eles fizeram sinais, mostrando que eu deveria seguir em frente. Coulson veio até mim, parando ao meu lado. Entramos juntos e andamos a passos lentos até a cama onde estava. Era a segunda vez no dia que eu me preocupava com uma pessoa importante. Dessa vez, porém, havia grande chances de eu perdê-la.
Haviam aparelhos ligados a ele, monitorando seus sinais vitais, assim como soro sendo enviado por uma das veias do braço. Me sentei na beirada da cama e o diretor parou do outro lado. Observei seu rosto e estava pálido. Os lábios brancos, mostravam que ele não estava bem. Segurei sua mão e a senti fria, mas os monitores confirmavam que seu coração ainda batia.
Aproximei sua mão dos meus lábios e sua pele os tocou. Dessa forma, pude senti-lo. Sua energia estava quase esgotada. E o que restava era o suficiente para mantê-lo vivo. Mas era impossível dizer quanto ela duraria.
- Ele não vai acordar. – falei e o nó pesou em minha garganta.
- Golden, não podemos afirmar nada ainda. – Phil falou gentilmente.
- Eu posso sentir, diretor. – eu o encarei – Ele não tem força suficiente para despertar.
- E o que faremos então? – ele pareceu preocupado.
- Não faço ideia. – passei a língua pelos lábios.
Respirei fundo e encarei meu amigo. Senti meus olhos arderem, mas as lágrimas não vieram. Eu não podia perder a esperança. Não ainda. Me inclinei em sua direção e acariciei seus cabelos dourados. Sua respiração fraca, porém ritmada, tocou de leve meu rosto.
- Eu sinto muito, . Eu sinto muito. – falei baixinho – Mas não vou desistir de você. Vamos dar um jeito nisso, eu prometo.
Depositei um beijo em sua testa e me afastei. Olhei para Coulson, mas ele havia se afastado e falava pelo comunicador. Esperei alguns minutos até que ele voltou até nós.
- O que houve agora? – falei cansada.
- O inumano acordou. – ele disse – E disse que quer falar com você.
- Estou indo. – semicerrei os olhos.
Me levantei e Coulson já me esperava. Fomos juntos até a ala onde estava. Eu tentava não pensar, pois se o fizesse, socaria meu irmão sem parar. E eu não costumava reagir com tanta violência. A não ser que me irritassem. Chegamos e May e Daisy se aproximaram. May apontou discretamente pra o local onde ele estava.
- Ele está aí dentro. – ela disse – E se recusou a falar com qualquer um de nós.
- E pra quem ele disse isso? – Phil perguntou.
- Pra mim. – Daisy respondeu – Fui a única pessoa com quem ele falou.
- Me deixem entrar. – eu pedi.
- Certo. – o diretor concordou – Apenas tenha cuidado.
- Ah, eu vou ter sim. – eu disse entredentes.
Esperei May digitar a senha. Enquanto isso, fitei pelo vidro da grande janela que nos separava. Estava sentado na cama e olhava para o chão. Quando as travas se abriram, entrei a passos lentos. Mas então ele me encarou e se levantou, vindo em minha direção.
- Elle, precisamos conversar. – ele disse.
Entretanto, eu não parei. Envolvi meu punho com fogo, o transformando numa luva resistente. Com força, soquei seu rosto e ele foi lançado contra a parede. Avancei e o agarrei pela gola da camisa, o arrastando e o jogando sentado sobre o colchão.
- Não precisa ser agressiva. – ele segurou o maxilar.
- O que você quer? – arfei, me controlando – E é melhor não dizer nada sobre eu não entender as coisas ou sobre eu ser especial. Isso já deu!
- Precisa me deixar sair. – ele foi direto.
- Te deixar sair? Sério? – eu ri sem humor - E depois o quê? Você vai tentar matar todo mundo outra vez?
- Eu não vou matar ninguém. – ele sorriu de canto – Não preciso.
- O que quer dizer? – me aproximei.
- Apenas me deixe sair e podemos resolver as coisas. – ele se levantou e abriu os braços.
- Por sua causa, eu quase matei meu melhor amigo. – parei em sua frente – Acha que vou confiar em você novamente?
- Se quiser que ele ou qualquer outro continue vivo, sim. – ele sorriu sem mostrar os dentes – Você vai me libertar.
Franzi o cenho diante de suas palavras. Mais uma vez ele ameaçava meus amigos. Dessa vez, porém, vi em seus olhos um brilho diferente. Havia certo tipo de receio neles. Cerrei os punhos.
- É melhor começar a falar. – falei num tom ameaçador.
- Podemos fazer um trato. – ele disse sem se intimidar – Você me solta e eu digo tudo o que quiser saber.
- Sem chance. – ri pelo nariz.
- A escolha é sua, minha cara Elle. – ele passou a língua entre os lábios – Mas o tempo é curto.
- Pare de falar entrelinhas. – fiz uma careta – Diga logo o que quer.
- Isso depende de você. – ele balançou os ombros – Mas, apenas para informá-la, as coisas podem se tornar irreversíveis.
Engoli seco. Outra vez me colocava contra a parede. Ele era tão bom em argumentar quanto eu era. Talvez fosse um traço de... família. Aqueles olhos eram cativantes e me faziam enxergar urgência. Estávamos sem tempo e sabia o motivo. Só precisava fazê-lo falar.
Capítulo 33: Aniquilação
continuava me encarando daquela forma intensa. Ele queria me persuadir a fazer o que ele dizia. Queria que eu o libertasse e, para isso, tinha como argumento uma suposta ameaça iminente. Mas eu não era estúpida. Seria muito difícil me convencer.
- É melhor encontrar uma desculpa mais convincente. – ergui as sobrancelhas – Quem sabe aí eu pense em te dar ouvidos.
Sorri de maneira cínica e, sem esperar mais, lhe dei as costas. Caminhei na direção da saída disposta a não mais voltar. Entretanto, meu irmão falou algo que me fez parar antes de alcançar a porta.
- Já que não acredita no que eu digo... – sua voz era branda, mas havia um pequeno tom argucioso nela – Por que não pergunta sobre isso ao seu... precioso soldado? Tenho certeza de que ele se lembra do motivo de ter matado nossos pais.
Não me virei em sua direção, mas fechei os olhos quando o ouvi falar de Bucky. Não seria possível que ele estivesse envolvido em mais coisas sobre minha vida. Tentando ignorá-lo, ri abafado. Voltei a caminhar e dei duas batidas na porta. Logo ela foi aberta.
Saí e os outros me esperavam. Não sabia se tinham ouvido a conversa, mas aquilo não faria diferença. Não tinha nada a esconder. Especialmente algo que tivesse a ver com .
- Vocês ouviram ou precisam de mais informações? – falei, cruzando os braços.
- Não que ele fale com nenhum de nós. – May imitou meu gesto.
- Ouvimos o suficiente, Golden. – Phil disse.
- A conversa foi bem acalorada. – Daisy franziu o cenho – Mas, o que ele quis dizer com o tempo é curto?
- O fala muitas coisas. – revirei os olhos – Não é muito bom levá-las em conta.
- O que ele disse é considerável. – o diretor observou – é um inumano e eles já nos causaram problemas antes.
- Somos mais perigosos do que imagina. – Daisy completou.
- Tudo bem. – suspirei fundo – Então seria melhor interrogá-lo ou usar outro método para fazê-lo falar.
- Certo. – Coulson disse – O que me intriga é o fato de ele não ter tentado fugir.
- Ele não vai fugir. – estalei a língua – quer que eu o liberte e deve esperar que eu o siga.
- Esse garoto é louco. – May deu uma rápida olhada para a janela da sala isolada.
- Eu sei. – dei um leve sorriso.
- Então... – Daisy perguntou – Quem vai interrogá-lo?
- Será que poderia fazer isso? – pedi a ela – Preciso resolver uma coisa.
- Acho que sim. – ela balançou os ombros.
- Diretor, posso me retirar? – esperei a resposta dele.
- Está liberada, agente Potts. – ele balançou a cabeça uma vez – Agente Johnson, já tem autorização para iniciar o interrogatório.
- Sim, senhor. – Daisy respondeu.
Depois ela olhou para mim e sorri. Retribuí seu gesto. Em seguida, acenei com a cabeça para May e Coulson e me retirei. Eu já tinha um rumo a seguir. Caminhei a passos largos e rápidos até a ala médica. Precisava da resposta a algumas perguntas.
Ao chegar lá, avistei Steve, Sam e Natasha vindo pelo corredor. Eles riam de algo que Sam havia dito e pareciam bem mais tranquilos do que quando os encontrei mais cedo. Quando me viram, eles diminuíram os passos até nos encontrarmos.
- Olhem só, a garota em chamas! – Sam abriu os braços.
- E aí, passarinho! – sorri minimamente.
- Passarinho? – ele franziu o cenho – Qual é!
- Foi mal. – fingi me render
- O que faz aqui? – Steve perguntou.
- Ela deve estar querendo ver o soldadinho dela outra vez. – Nat debochou.
- Isso não tem graça. – cruzei os braços – Ele está acordado?
- Sim. – Steve respondeu.
- E perguntou por você. – Sam disse e eles começaram a rir, até mesmo o Capitão.
- Eu não mereço isso. – joguei as mãos para cima.
- Se quiser falar com o Bucky, é melhor se adiantar. – Steve sorriu – Acho que esses aqui não vão deixá-la em paz por enquanto.
- Só quando o Steve arrumar uma garota. – Natasha se apoiou no ombro dele.
Dessa vez eu ri. Ainda sentindo o clima descontraído, me despedi deles e segui até a sala onde Bucky estava. Parei em frente à porta, mas antes que batesse uma agente saiu com alguns equipamentos nas mãos. Dei dois passos para trás e deixei que passasse.
- Olá, agente Potts! – ela sorriu.
- Olá... agente Simmons. – olhei o nome em seu jaleco – Será que eu poderia entrar?
- Claro! – ela continuava sorridente – O Barnes ainda está acordado.
- Obrigada. – agradeci.
Ela saiu pelo corredor e acompanhei com os olhos enquanto ia. Quando a perdi de vista, segurei a maçaneta e empurrei a porta, colocando metade do corpo para dentro. Avistei James sentado na cama de costas para a porta. Ele estava sem camisa e parecia distraído, observando sei lá o quê.
Entrei e caminhei até ele a passos lentos e inaudíveis. Mas eu deveria saber que seria impossível surpreender alguém como o Soldado Invernal. Quando estava na metade do trajeto, ele me olhou por cima do ombro com as sobrancelhas erguidas. Desisti de minha caminhada super discreta e me apressei, parando em sua frente. O analisei por alguns segundos, notando uma pequena cicatriz onde o havia baleado.
- Achou mesmo que iria me pegar desprevenido? – ele sorriu.
- Eu já disse que você é bem convencido? – fiz uma careta – Ah, acho que sim.
- Quando eu acordei, você já tinha saído. – ele disse.
- Eu precisava... resolver algumas coisas. – eu disse e então me lembrei do que havia vindo fazer.
- Temos muito que resolver. – ele assumiu um tom mais sério.
- É nós temos. – respirei fundo.
Olhei para a sala ao redor, observando superficialmente os aparelhos e afins, mas não estava interessada em nada daquilo. Só queria encontrar uma forma de sanar minhas dúvidas sem ser indelicada.
- Algum problema? – Bucky pareceu perceber meu desconforto.
- Na verdade, sim. – mordi meu lábio inferior – Preciso de uma resposta.
- Sobre o quê? – ele franziu o cenho.
- Sobre... meus pais. – engoli seco – Os biológicos.
Aquele questionamento pareceu surpreendê-lo, mesmo que ele tentasse disfarçar. Vi a energia dentro do seu corpo deslizar velozmente. Parte dela seguiu até seu peito e permaneceu ali, girando em círculos. Bucky estava nervoso. Me aproximei, ficando entre suas pernas e segurei seu rosto. Olhei profundamente em seus olhos.
- Está tudo bem, não se preocupe. – falei calmamente – Só quero que me diga por que eles... foram mortos.
- Não sei exatamente o motivo. – ele segurou minhas mãos entre as suas – Mas sei que foram considerados traidores. Parece que tinham um objetivo diferente do da HIDRA.
- Eles tentaram fugir? – deduzi.
- Sim. – Bucky confirmou – Foi nesse dia que eu...
- Tudo bem. – passei a língua pelos lábios.
- Mas por que quer saber disso? – ele perguntou.
- . – estalei a língua – Ele disse que você poderia me dizer algumas coisas sobre eles.
- Não posso confirmar nada. – Bucky balançou a cabeça negativamente – Só posso dizer que eles a consideravam uma criança muito especial.
- Eles... por quanto tempo eles... ficaram comigo? – fiquei curiosa.
- Até você estar com pouco mais de um ano. – ele respondeu – Mas seu pai só podia vê-la poucas vezes.
- Fiquei apenas com minha mãe? – franzi o cenho.
- Sim. – ele disse – E eu tinha que protegê-las.
- Então esteve comigo desde sempre. – sorri.
- E espero que dure mais tempo. – ele também sorriu
Segurei seu rosto mais uma vez e me inclinei em sua direção. O beijei suavemente. Suas mãos tocaram minha cintura e ele me puxou em sua direção, me fazendo sentar em seu colo. Ri entre o beijo e o abracei pelo pescoço, encostando nossos corpos. Seu peitoral desnudo estava quente, o que me causou um arrepio. Deslizei meus dedos até seu peito, tocando a cicatriz. Bucky arfou me apertando mais contra si.
As coisas estavam se tornando mais intensas. Sem pensar, passei uma de minhas pernas para o outro lado do seu corpo, ficando com uma em cada lado. Isso nos aproximou mais ainda. Passei meus dedos em sua nuca e ele segurou meus quadris, pressionando minha intimidade contra a sua. Dessa vez, ao perceber o quanto ele estava excitado, eu arfei.
Por falta de ar, nos afastamos e encostei nossas testas. Estávamos respirando com dificuldade. Entretanto, apesar de aquilo estar sendo muito bom, eu não poderia perder tempo. Eu queria estar com Bucky, mas havia muito para fazer. Precisava achar um jeito de salvar e ter certeza de que só nos estava dando um alarme falso.
Sem hesitar, me levantei e passei as mãos em meus cabelos presos, pigarreando um pouco sem jeito. Bucky pareceu não entender muito bem.
- Está tudo bem? – ele ainda respirava ofegante – Eu fiz algo...
- Não! – não esperei que ele completasse – Está tudo bem. Só acho que essa não seja a hora pra ficarmos... você sabe.
Bucky riu abafado. Em seguida, ele se levantou e caminhou até um balcão ao fundo do quarto. De lá, ele pegou uma camisa preta e a vestiu. Agradeci mentalmente por isso, já que seria bem difícil eu me concentrar caso ele continuasse sem se vestir.
- Precisa saber mais alguma coisa? – ele perguntou vindo até mim
- Sim, mas acho que melhor falar com . – olhei para seus lábios avermelhados – É melhor... eu ir.
- Vou com você. – ele disse.
- Nada disso. – o empurrei de volta para a cama – Você precisa descansar.
- A agente Simmons já me liberou. – ele riu levemente – Já estou bem, Golden.
- Tá. – falei, revirando os olhos – Mas nada de se esforçar, tá legal?!
- Entendido. – ele balançou os ombros e me encarou – Depois terminamos o que começamos.
Bucky se aproximou e beijou minha testa. Senti minhas bochechas esquentarem, então me virei e segui até a porta. Ele veio logo atrás. Seguimos juntos até a ala onde meu irmão estava. Durante o percurso, eu não sabia o que dizer. Um constrangimento inexplicável se abateu sobre mim e passei a andar fitando meus pés. Definitivamente, eu não estava agindo normalmente. Maldito Barnes.
Quando chegamos, um agente nos informou que havia sido levado para a sala de interrogatórios. Seguimos até lá. Adentramos o local e May e Coulson olhavam pelo vidro o que acontecia na sala. Junto a eles estavam Steve, Natasha e Sam. Nos aproximamos, chamando sua atenção.
- Como estão as coisas? – parei ao lado do diretor.
- Daisy é boa com perguntas, mas seu irmão consegue driblar muitas delas. – ele respondeu.
- É irritante. – ouvi Sam resmungar.
- Conseguiram algo? – eu quis saber.
- Ainda não. – Coulson balançou a cabeça – Apenas informações que nós já temos.
- E se eu falasse com ele outra vez? – eu sugeri – Talvez ele possa se abrir um pouco mais.
- Esse inumano é como um cofre com senha. – May observou – Precisará da combinação correta para abri-lo.
- Sei disso. – mordi os lábios – Mas ele se parece um pouco comigo, então acho que terei uma vantagem.
- Vamos aguardar mais um pouco. – o diretor deu a palavra final.
Apenas cruzei meus braços e observei a conversa que acontecia do outro lado. Daisy e estavam sentados frente a frente, separados por uma mesa pequena de metal. Ela tinha os braços cruzados e ele apoiava os seus, algemados, sobre a mesa.
- Então, . Quer dizer que você sabe algo importante, mas não quer nos contar. – Daisy descruzou os braços e chegou para mais perto – Tudo bem não querer dividir seus segredos comigo, afinal, não nos conhecemos. Mas aposto que sua irmã ficou bem chateada de não querer contar pra ela.
- Vai tentar usar a Elle contra mim? – sorriu de canto.
- Por quê? – ela apoiou os cotovelos na mesa – Ela é importante pra você?
- Ela é minha irmã, o que acha? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Eu acho que, se quisesse você poderia ter fugido. – Daisy observou – No entanto, estamos aqui, conversando. O que me faz crer que você não quer fugir.
- Estou bem aqui, obrigado. – se recostou mais na cadeira com um sorriso cínico.
- E enquanto está aqui, acha que pode proteger a... Elle? – ela sorriu sem mostrar os dentes – Creio que não.
Dessa vez ele não disse nada. Ficou apenas olhando para a agente Johnson e não parecia ter nenhum argumento para refutar o dela. Eu era mesmo importante para ele. Esperamos mais alguns instantes e Daisy voltou a falar.
- Se quiser proteger sua única família, sugiro que comece a colaborar. – ela disse – Não vai doer nada.
- Ela não virá falar comigo, não é? – ele riu sem humor.
- Não. – ela respondeu.
- Vocês da SHIELD se acham inteligentes, mas não sabem de nada. – ele assumiu um tom mais sério do que antes – Acham que podem proteger o mundo, mas não sabem com o que estão lidando.
- E você sabe? – ela questionou.
- Os inumanos são poderosos e isso os torna perigosos. – ele continuou – E muito de nós escolheram se esconder. Porém, existe um grupo que pensa diferente.
- Creio que seja o grupo do qual faz parte. – Daisy alegou.
- O grupo do qual faço parte está fora de controle. – semicerrou os olhos – Eles costumavam seguir minhas ordens, mas agora se recusam a ter um líder. É por isso que voltei para a HIDRA. Para que pudesse encontrar a Hellen e levá-la até eles. Quem sabe desistissem de seu plano.
- Que plano? – ela estava um pouco receosa.
- Inumanos tem o costume de se considerar superiores. – ele sorriu com desdém – Acham que são mais merecedores do que os outros.
Ao ouvir se referir aos inumanos como merecedores, me lembrei da conversa que tive com meu pai na base da HIDRA. Pelo visto, o grupo de tinha o mesmo ponto de vista arrogante. Por que vilões sempre se acham superiores aos outros?
- Sei muito bem disso. – Daisy suspirou – O que planejam dessa vez?
- Algo muito grande. – ele respondeu – Vão aniquilar boa parte do mundo.
- Como? – ela perguntou.
- Com a névoa dos cristais terrígenos. – ele contou – Eles estão espalhados em várias partes do mundo. Mas, só serão acionados quando o principal for quebrado.
Cristais terrígenos. Deveriam ser como a pedra que usaram para despertar os meus poderes. Mas, que problemas haveria se um humano tivesse contato com um deles? Será que causaria danos? Não precisei pensar muito, pois logo ouvi Daisy falar e ela parecia assustada.
- Isso é loucura! – ela ajeitou sua postura, franzindo o cenho - Se eles liberarem a névoa as pessoas...
- Sim, as pessoas vão morrer. – ele completou – A substância é tóxica para humanos.
Abri a boca, surpresa. Olhei para as pessoas comigo e elas pareciam tão assustadas quanto eu estava. Não era possível que eles fizessem isso. Iriam matar pessoas inocentes. Cerrei os punhos com força. Eu não poderia deixar que isso acontecesse. Não, eu não permitiria.
Capítulo 34: Descoberta
Minha respiração estava ofegante. Meus braços se moviam energicamente enquanto eu caminhava pelos corredores da base. Além de minha respiração descompassada, a única coisa que podia ouvir eram os passos das pessoas a minha volta. Apesar do silêncio, eu podia sentir a energia de cada uma delas circulando por seu corpo e era inquietante.
Fechei os olhos por alguns segundos, mas isso não adiantou, pois continuei a senti-los. E a tensão presente neles me sufocava. Ainda assim, fiquei calada e continuei minha caminhada. Havia coisas mais importantes a serem discutidas.
Chegamos até a sala do diretor e ele abriu a porta, nos dando passagem. Sem fitá-lo, entrei e permaneci de pé ao lado dos outros. Olhei para meus pés tentando me concentrar. Aquele poder era irritante. De certa forma, enxergar tanta força ao mesmo tempo me tirava o foco. Franzi o cenho quando Coulson parou em nosso meio.
- Precisamos criar medidas para evitar que esses inumanos acionem os cristais. – ele falou e vi urgência em sua voz – E algo me diz que o tempo não está a nosso favor. O que sugerem?
- Podemos localizar as supostas bombas que desencadearão o evento e nos dividir em equipes para impedir a ativação. – Steve sugeriu.
- É um bom plano, mas talvez não tenhamos como encontrar todos os cristais. – o diretor acenou com a cabeça – Mesmo que salvemos muitos, vários outros poderão morrer.
- Não podemos perder ninguém. – Sam disse.
- Sabemos disso, Wilson. – Coulson concordou – É por isso que estamos aqui. Para encontrar uma solução.
Eles continuaram discutindo sobre qual seria a melhor forma de deter os inumanos. Enquanto isso, permaneci quieta, com os braços cruzados e a cabeça baixa. Quem me visse, diria que eu estava cabisbaixa ou confusa. No entanto, eu só pensava. Buscava entender toda a situação, não só em partes, mas como um todo. Mas, tantas pessoas juntas não facilitavam as coisas pra mim.
Ergui o rosto e olhei em volta. Meus olhos encontraram os de Natasha e ela ergueu as sobrancelhas como se perguntasse se eu estava bem. Sorri para mostrar que sim. Em seguida, desviei o olhar e encarei o nada. Parecia que, a cada segundo, meus poderes se tornavam mais intensos. O que era uma droga.
- Mas que... – resmunguei mais alto do que gostaria
No mesmo segundo, todos me encararam. Fiquei um pouco constrangida, mas logo revirei os olhos. Deveriam estar pensando que eu iria colocar fogo em tudo ali. Suspirei e apoiei as mãos na cintura.
- Tudo bem, Golden? – Daisy perguntou.
- Sim, eu só... queria ficar... um pouco sozinha. – mordi meu lábio superior – Acho que posso pensar melhor assim.
- Tem certeza? – Phil perguntou.
- Sim. – balancei a cabeça uma vez – Será que poderia me retirar? Eu... não vou demorar muito.
- Tudo bem. – ele concordou – Está dispensada por meia hora.
- Obrigada. – disse aliviada
Sem esperar mais palavras ou questionamentos, dei as costas a todos e fui em direção à saída. Eles estavam olhando pra mim, eu sabia, mas não me importei. Assim que fechei a porta atrás de mim corri para longe. O lugar mais recôndito que encontrei foi à sala onde os armamentos ficavam guardados. Sentei-me atrás de uma mesa com algumas facas e adagas. Alguém as deveria estar limpando para guardá-las.
No chão, ergui meu braço e apalpei a madeira, passando meus dedos com cuidado sobre as lâminas. Peguei uma delas e a segurei pelo cabo. Era simples, mas afiada. Com um movimento rápido e preciso e lancei contra a parede à minha frente e ela se fincou ali sem dificuldades. Fiquei ali parada, encarando o estrago que tinha feito. Quando cansei, abracei meus joelhos e apoiei minha cabeça neles. Eu precisava me concentrar.
- Vamos lá, Golden. – murmurei baixinho – É só se esforçar um pouquinho.
De uma hora para outra comecei a me sentir daquele jeito. Completamente perturbada. E aquilo não era algo novo. Quando estava na base da HIDRA, vi o medo e a tristeza me dominar, o que não gerou bons resultados. Dessa vez, o medo me encontrava novamente e trazia junto o desespero e, de antemão, a culpa de não salvar pessoas inocentes. Mas eu podia vencer tudo isso. Eu sabia que sim.
Ergui minha mão um pouco abaixo da altura do meu rosto e uma chama singela surgiu. Movi meus dedos suavemente e ela começou a girar em círculos. Aquele era o único brilho dentro da sala. E era encantador. Fazia parte de mim.
- É lindo! – de repente ouvi atrás de mim.
Mas não me assustei. Já havia sentindo a pessoa se aproximar muito antes. Apenas deixei que se chegasse, pois sabia que ela poderia me ajudar. Ou pelo menos me entender. E eu gostaria que ela ficasse comigo.
- Como me achou? – eu disse e me virei para ele que estava de pé, quase ao meu lado.
Antes que me respondesse, fiz a chama levitar. A conduzi para perto dele e ela parou a poucos centímetros de seu rosto, iluminando seus olhos azuis. Bucky sorriu. Um sorriso tão pequeno quanto à chama. E tão bonito quanto ela. Me levantei e fui até ele, fazendo o fogo voltar para minhas mãos. Ele continuava me encarando, calado.
- Ainda não me respondeu. – parei em sua frente.
- Apenas saí para procurá-la e tive sorte. – ele respondeu – Seu tempo de dispensa está quase no fim.
- Já? – abri a boca – Mas eu...
- Golden... – ele chamou minha atenção – Por que saiu de lá?
- Não estava me sentido muito bem. – admiti.
- Tem a ver com o que seu irmão disse? – ele perguntou.
- Acho que sim. – balancei os ombros uma vez – O consegue me deixar atordoada, mesmo que nos conheçamos a pouco tempo. Ele é bom com as palavras, Bucky. Sabe exatamente como usá-las.
- Acha que ele pode estar blefando? – ele franziu o cenho.
- Eu queria que estivesse. – soltei um leve riso sem humor – Mas há algo em seu olhar que me faz enxergar sinceridade. E urgência.
- Mas, se ele queria evitar um desastre todo esse tempo, por que não deixou isso claro? – Bucky disse pensativo – Não sei se deveríamos confiar nele.
- Talvez não exista outro jeito. – soltei o ar pela boca.
Ficamos em silêncio e fiz a chama desaparecer. Todo o ambiente foi engolido pela escuridão e eu ouvia apenas nossas respirações. Com o tempo, me acostumei com a falta de luz e comecei a enxergar a silhueta dele. Espontaneamente me aproximei e o abracei. Se não conseguíssemos parar aquele plano de extermínio as coisas poderiam ficar feias. E eu poderia perder pessoas importantes.
- O que essas pessoas têm na cabeça? – resmunguei, o apertando mais – Será que não poderiam conversar como pessoas civilizadas?
- O poder pode cegar, Golden. – Bucky respondeu – Até mesmo as melhores mentes.
Não respondi, pois entendia sua comparação. Havia sentido em minha própria pele o que muito poder causa. Se quiser caos, dê a um humano poder além do que ele pode controlar. Ele se transformará em algo que as pessoas que o conhecem não conseguirão reconhecer.
- Vamos dar um jeito nisso. – ele disse – Vamos salvar o e tudo voltará ao normal.
- Acho que não ao normal. – levei meus dedos até seus cabelos.
Seus dedos apertaram minha cintura com mais firmeza. Respirei fundo e me afastei um pouco para que pudesse fitá-lo. Mesmo na escuridão enxergava os traços de sua face. O nariz curto, o maxilar forte, os lábios. Realmente, minha mente não estava muito sadia. Mas quem se importava?
O beijei avidamente, mesmo sabendo do problema que deveríamos resolver. Porém, eu precisava de um tempo. Um tempo para mim. Para nós dois e para aquilo que estávamos iniciando. Eu precisava ter certeza de que não estava dando nenhum passo em falso. Senti meu corpo esquentar alguns graus quando ele retribuiu o gesto com a mesma intensidade. Bucky segurou minha cintura, começando a me conduzir para trás.
Tudo a seguir foi muito rápido. Ao mesmo tempo em que sentia meu quadril encostar-se à mesa onde as facas estavam, via Bucky jogá-las para todos os lados. Antes que eu dissesse algo, ele me segurou outra vez pela cintura e me fez sentar na beirada do móvel. Ri internamente ao entender seu comportamento. Quando ele se aproximou e uniu nossos lábios, enlacei seu quadril com minhas pernas. Ele pareceu gostar disso.
Quando o ar nos faltou, nos afastamos e ele desceu seus lábios até meu pescoço, depositando selinhos ali. Arfei, inclinado à cabeça pra trás. Isso fez com que ele se inclinasse mais em minha direção. Sorri e me deitei sobre a mesa e Bucky me seguiu até estar com parte do peso do seu corpo sobre o meu. Ele se apoiava nos braços e podia sentir sua respiração descompassada bater em meu rosto.
- Isso é estranho. – murmurei.
- Estranho? – ele falou no mesmo tom.
- Eu nunca havia transado com ninguém numa sala escura. – ri como uma pateta.
- Isso não é coisa que se diga. – ele prendeu o riso.
- Por que não? – ri outra vez.
- Não é muito agradável saber que você esteve com outros caras. – ele disse.
- Você tem quase cem anos, querido. – rebati – Tenho certeza que não dormiu só com uma garota durante todo esse tempo.
- E você não se importa? – ele perguntou.
- Não. – respondi – Não me importo, pois você está comigo agora. O que é ainda mais estranho.
Bucky não falou, apenas riu abafado e me beijou. Um beijo lento que começou a evoluir para algo maior. Ele estava entre minhas pernas e nossos corpos se encaixavam. Aquilo estimulava meus piores desejos. Deslizei minhas mãos pelas suas costas até chegar à barra de sua camisa. Comecei a puxá-la para cima, expondo sua pele quente. Antes que eu pudesse retirá-la, ele se ergueu e o fez velozmente. Mas ele não voltou a se aproximar, continuando ajoelhado e minha frente.
Me ergui um pouco, me apoiando nos cotovelos. Esse foi o tempo para sentir suas mãos tocarem minha blusa, a puxando para cima. Bucky a levantou até abaixo dos meus seios, deixando meu abdômen de fora. Mordi meu lábio inferior quando seus lábios tocaram aquela área. A cada novo toque eu me contraia e sentia meu coração bater com rapidez. Até que não aguentei e gemi baixinho.
Toda aquela excitação me fez perder parte do controle que havia conseguido ao ver Bucky. Conversar com ele me acalmou. Mas agora tudo estava voltando. Eu podia sentir sua força selvagem e descontrolada. E ela era boa. Entretanto, não foi isso que me incomodou, mas sim o que eu via ao meu redor. Não era a energia de nenhum humano. Era o poder de coisas não vivas. Abri meus olhos, alarmada. Eu sentia a energia do armamento naquela sala.
James pareceu perceber minha mudança de humor repentina e parou o que fazia. Fiz uma careta e tentei me levantar. Ele me deu espaço, saindo da mesa.
- O que houve? – ele perguntou.
- Estou sentindo uma coisa... nova. – minha respiração ainda estava ofegante.
- Uma coisa nova? – ele parecia preocupado.
- É... – foi o que eu disse.
Também me levantei, abaixando minha blusa. Mais uma vez eu interrompia um momento como aquele. Talvez esse fosse o motivo de meu constrangimento. Ser uma estraga prazeres. Mas resolvi não pensar nisso. Fiz uma pequena esfera de fogo e a levitei para iluminar o local. Me aproximei das prateleiras onde haviam algumas armas de choque. Peguei uma delas.
- O que está fazendo? – Bucky perguntou.
- Descobrindo uma coisa. – olhei fixamente para a arma.
Eu podia identificar as correntes elétricas adormecidas ali dentro, apenas esperando para serem acionadas contra o primeiro idiota que entrasse no caminho. Passei a língua entre os lábios, raciocinando sobre um pensamento que me veio à mente. Logo o coloquei em prática.
Assim como havia feito com pessoas, fiz com a arma. Comecei a absorver sua energia. Diferente da primeira, que entrava pelos meus poros com facilidade e me causava satisfação, aquela força impessoal parecia rasgar minha pele. Penetrava em meus dedos vagarosamente e a muito custo, me deixando enjoada. Quando não aguentei mais, larguei a arma e ela foi ao chão. Dei dois passos para trás e me esbarrei em Bucky que me segurou pelos ombros.
- Você está bem? – ele perguntou – Está tremendo.
- Estou... – engoli seco.
- Golden, o que está acontecendo? – ele voltou a perguntar.
- Precisamos voltar. – me virei para ele – Bucky, eu tenho uma ideia.
Ele ficou um pouco surpreso, mas não perdeu tempo. Ele vestiu a camisa e segurou minha mão, me conduzindo de volta a sala do diretor. Corremos juntos e logo chegamos lá. Bati na porta uma vez e entrei quando recebemos autorização. Os outros ainda estavam lá e isso era bom.
- Finalmente. – Coulson descruzou os braços.
- Desculpem pela demora, mas nós estávamos... – desviei o rosto.
- Estavam? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Não importa. – desviei o assunto – O importante é que descobri uma forma de pararmos os inumanos. Bem, eu acho.
- Que seria? – May perguntou.
Soltei a mão de Bucky e fui para o centro deles, que pareciam estar verdadeiramente interessados. Olhei rapidamente para cada um e então comecei a falar.
- Durante o tempo que fiquei na mansão Stark, aprendi bastante sobre aquelas armaduras esquisitas. Se você encontrar um ponto em comum com o Tony, ele pode ser um cara legal e acessível. – estalei a língua – O ponto é que, todas as armaduras precisam de uma fonte de energia para serem ativadas. E se eles são ativadas a distância, precisam ter uma sequência que mande essa informação para elas. Essa sequência também precisa de uma fonte de energia.
- Aonde quer chegar? – Natasha perguntou
- Se os inumanos querem mesmo usar a névoa dos cristais a nível mundial, eles precisarão de dispositivos semelhantes a bombas para que isso aconteça. – me virei para Phil – E, como disse, há uma detonação principal que desencadeará as outras. Pra isso, uma sequência precisará ser enviada para os outros dispositivos.
- E nós poderíamos barrar essa transferência. – Bobbi apontou com o indicador.
- Isso evitaria a detonação. – Daisy completou – A névoa não seria liberada pela falta de comunicação.
- E então, diretor? – ergui as sobrancelhas.
- Pode dar certo. – ele cruzou os braços – Só nos resta saber onde está o dispositivo principal.
- Quanto a isso... – respirei fundo – Pode deixar comigo.
Capítulo 35: Traidor
A porta branca se fechou atrás de mim, mas minha atenção se direcionava apenas para meu irmão. Ele, porém, não parecia querer conversar. Respirei fundo e me aproximei. continuou sentado na cama com as costas escoradas na parede e os pés sobre o colchão. Seus olhos estavam fechados e sua cabeça pendia para cima. Entretanto, eu não podia esperar sua boa vontade.
- , precisamos conversar. – eu disse, mas ele ao menos se moveu – Por favor, não me faça perder a paciência outra vez. Não tenho tempo para suas voltas.
- Você é uma das poucas pessoas que consegue... decifrar o que eu digo. – havia um pouco de humor em sua voz.
- Não comece. – revirei os olhos – Apenas me diga uma coisa.
- O quê? – ele continuava com os olhos fechados.
- Onde está o detonador principal? – fui direta.
- Como assim, o detonador principal? – finalmente ele abriu os olhos.
- ... – passei a língua nos lábios – Pessoas inocentes vão morrer e eu não vou deixar. Com ou sem sua ajuda vamos encontrar os cristais. Para o seu bem, é melhor que colabore.
- E seu eu não colaborar o que você vai fazer? – ele sorriu de canto.
- Eu não vou fazer nada. – cruzei os braços – Falando a verdade, nem precisarei. Meus amigos não estão muito contentes com as coisas que você fez, então...
suspirou pesado e se desencostou da parede. Sentou na beirada da cama e passou as mãos nos cabelos . Andei mais dois passos, parando em sua frente. Ele ergueu o rosto e me encarou. Fiz um leve movimento com a cabeça, o incentivando a falar. Ele pareceu entender.
- Eles me consideram um traidor. – começou a dizer – Desde quando descobri que estava viva e voltei para a HIDRA.
- Você disse que liderava os inumanos. – fiquei curiosa – Por que deixariam de obedecê-lo?
- Nossos pais sempre pregaram que precisávamos mostrar ao mundo quem nós éramos. – ele apoiou os cotovelos nos joelhos – Quando souberam que a HIDRA planejava criar o inumano perfeito, não perderam tempo. Mas os planos deles para você eram outros. Queriam que desse continuidade ao ideal deles.
- Queria quem eu fosse à líder? – minha pergunta saiu como uma afirmação.
- Mas as coisas mudaram. A HIDRA descobriu que eles eram suspeitos. – disse – E eles foram mortos. Eu tinha acabado de completar oito anos de idade.
- E como saiu da HIDRA? – me sentei ao seu lado.
- Os inumanos. – ele me olhou com um pequeno sorriso – Eles me resgataram. Fiquei com eles até descobrir sobre você.
- Mas eu estava com a SHIELD. – completei.
- Não era a hora de nos mostrarmos ainda. - ele desviou o rosto outra vez - Foi quando eu soube que a HIDRA estava a sua procura. Era nossa oportunidade. Então me juntei a eles.
- Se o propósito de nossos pais sempre foi me fazer líder, por que os outros ficaram insatisfeitos com sua decisão? – eu questionei.
- Por que você não foi criada pela HIDRA e sim pela SHIELD. – ele respondeu – Todos esses anos a tornaram uma pessoa diferente do que esperávamos.
- E isso é ruim? – franzi o cenho.
- Para nossos planos, sim. – ele riu levemente.
- Então por que veio atrás de mim? – franzi o cenho.
- Por que você é minha irmã. – ele me olhou nos olhos – É minha família e não podia deixá-la. Além disso, eu tinha dúvidas sobre os planos do meu grupo. Não parecia certo.
- Tentou impedi-los? – engoli seco.
- Sim. – ele respondeu – Mas eles me ignoraram. É por isso que preciso que volte comigo. Talvez escutem a verdadeira líder.
- E se não escutarem? – engoli seco.
- Então é melhor nos prepararmos para o pior. – ele sussurrou.
Soltei o ar pela boca, sentindo a energia de circular por todo seu corpo. Era diferente da força dos outros. Era mais impactante, parecia ter vontade própria. Por um segundo fechei os olhos e a senti melhor. Era tão viva.
- Você está bem? – ele perguntou.
- Sim. – abri os olhos, completando – , eu vou com você.
- Como? – ele ficou surpreso.
- Se essa é a solução, eu vou. – reforcei minha decisão.
- E seus amigos? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Eles vão entender. – balancei os ombros uma vez e me levantei – Vamos.
- Vamos? – ele disse, confuso.
- Preciso que converse com os outros, que conte o motivo de tudo. – eu disse – E que nos diga onde estão os cristais.
Bati uma vez na porta e logo ela foi destravada. A empurrei com calma e então fitei meu irmão. hesitou por um segundo. Ele não parecia acreditar que eu tinha concordado em acompanhá-lo. Aquele, porém, era o único jeito de resolver as coisas. Ou pelo menos de tentar resolvê-las. Enfim, ele se levantou e se aproximou. Sorri e saímos juntos. Do lado de fora, May nos esperava.
- Ele está comigo. – eu disse.
- E qual a serventia dele? – ela perguntou desconfiada.
- Logo todos saberão. – eu acenei com a cabeça.
Passamos a caminhar até a sala de Coulson, onde os outros ainda estavam. Ao pararmos na frente da porta, May bateu e depois da permissão, entramos. Ela foi primeiro e logo em seguida. Quando adentrei a sala, notei a surpresa mesclada com desconfiança e raiva em todos ali ao verem meu irmão conosco. Me apressei em diminuir a tensão que se formava.
- Diretor, vai nos informar onde estão os cristais. – eu disse.
- Isso é bom. – ele olhou para – Vamos lá, rapaz. Nos diga o que sabe.
olhou para todos, especialmente pra Bucky e então soltou um leve riso, balançando a cabeça negativamente. Revirei os olhos. Será que ele não podia ser uma pessoa normal por um segundo?
- O mundo é bem grande, repleto de pessoas. – ele começou – Mas, definitivamente há uma nação central.
- Os Estados Unidos? – Natasha ergueu as sobrancelhas.
- Exatamente. – ele olhou para ela por um segundo – Aonde acham que colocaríamos os cristais principais?
- Está dizendo que estão aqui? – o Capitão questionou.
- Mais perto do que imaginam. – sorriu.
- Onde? – Daisy perguntou.
Ele olhou em volta, como se procurasse algo. Ao avistar um mapa na parede, atrás da mesa do diretor, foi até lá. Sendo acompanhando por todos os olhares, ele parou em frente ao mapa e apontou para um lugar específico. Meu coração gelou.
- Nova Iorque? – arregalei os olhos.
- Muito óbvio? – ele se virou para nós.
- Acho que sim. – Bobbi estalou a língua.
- Onde exatamente? – Sam perguntou.
Dessa vez olhou diretamente para mim. Havia algo muito sério a ser dito, eu podia notar. Ele voltou a se aproximar e fitou o chão por alguns segundos antes de responder. Aquilo me deixou inquieta.
- ! – chamei sua atenção.
- Achei que, se até o dia de executarmos nosso objetivo a Hellen não tivesse se transformado, isso poderia acontecer nesse dia. – ele revelou.
- Onde estão essas drogas de cristais? – falei entredentes.
- Na sua casa. – ele respondeu.
- Minha casa? – arfei.
- Ou a casa do Stark. Como preferir chamar. – ele mordeu os lábios.
- Ah, droga... – Natasha murmurou.
Levei a mão até a testa, ao sentir uma leve tontura. Como assim, os inumanos haviam instalado o dispositivo principal na mansão Stark? Puxei todo o ar possível para meus pulmões e reprimi um gemido de desespero. Eu precisava voltar para casa.
- Golden. – Coulson chamou minha atenção e eu o fitei – Avise ao Tony.
- Entendido. – acenei positivamente com a cabeça – Posso levar reforço?
- Sim. – ele me deu a permissão – Mas precisaremos de seu irmão aqui. Quero mais informações.
- Certo. – mordi meus lábios e fitei .
- Eu vou com ela. – Bucky se prontificou.
- Eu também. – Bobbi descruzou os braços.
- Talvez Tony precise de um rosto amigo. – Steve disse, se aproximando.
- Acho que é o suficiente. – sorri sem mostrar os dentes – Vamos.
Nos apressamos, indo até um dos carros. Bobbi assumiu a direção e Steve sentou no banco de passageiro. Bucky e eu nos sentamos no fundo. Aflita, o fitei e ele fez o mesmo. Para minha surpresa, Bucky passou seu braço de metal ao redor de meu ombro. Me aproximei mais dele e apoiei a cabeça em seu peito.
O trajeto não foi muito demorado e chegamos até a mansão. Toda a serenidade que senti naquele curto tempo com James se esvaiu. Saí do carro rapidamente, analisando a grandeza daquele lugar. Mas esse não era meu objetivo. Me concentrei, semicerrando os olhos e encontrei o que queria. Senti a energia de Tony e de Pepper. Estavam em cômodos diferentes.
- Eles estão aqui. – eu anunciei – Steve, Bobbi, sigam até o primeiro andar, Tony está na cozinha. Diga a ele para tentar localizar o dispositivo. Eu vou falar com a Pepper.
- Entendido. – Steve e Bobbi falaram em uníssono.
Paramos em frente à porta e o reconhecimento facial liberou minha entrada e a de Steve. Foi preciso que eu desse autorização para que Bucky e Bobbi pudessem entrar. O fiz rapidamente e entramos. Nos separamos e fui com Barnes até Pepper. Ela estava na sala de estar. Quando a vi de costas, senti meu coração bater mais forte, porém, aliviado.
- Tia Pepper?! – a chamei.
Ela se virou para mim e sua expressão era de total surpresa, misturada com alívio e felicidade. Eu senti o mesmo. Caminhei até ela quando se levantou e deixei que me abraçasse. Seus braços me seguraram com firmeza e afundei meu rosto em seu ombro. Olhei para Bucky mais afastado e sorri.
- Onde você estava? – ela perguntou – , eu fiquei tão preocupada.
Quando ela me chamou de , senti meus olhos arderem. Instantaneamente, me lembrei de meu pai. Ele era irmão de Pepper. Será que ela sabia que eu não era filha dele? Apesar da dor, tê-la comigo me fez me sentir em casa.
- Eu estou aqui agora. – murmurei – É o que importa.
- Ah, minha menina. – ela acariciou meus cabelos – Não faça mais isso. É a segunda vez que sai sem avisar por tanto tempo.
- Desculpe. – ri levemente e me afastei.
Pepper estava com os olhos marejados. Sorri e beijei seu rosto com carinho. Em seguida, segurei suas mãos.
- Tia Pepper, preciso que confie em mim. – tentei não assustá-la, mas era praticamente impossível
- Golden, como assim? – ela arregalou os olhos.
- É difícil de explicar, mas preciso que saia da mansão. – eu finalmente disse – Ela não é segura. Vá para longe daqui.
- , está me assustando. – ela franziu o cenho – O Tony sabe disso?
- O Steve está conversando com ele. – eu expliquei – Por favor, faço isso. Por mim.
- Tudo bem. – ela concordou – Vou arrumar algumas coisas.
- Certo, me encontre em meia hora no estacionamento. – dei a última palavra.
- Só uma coisa. – ela parou – Quem é ele?
Olhei para Bucky que continuava parado na entrada da sala. Aquela pergunta o pegou de surpresa. Falando sério, fiquei um pouco sem jeito. Como responder a aquela pergunta? Resolvi arriscar.
- Esse é o James. – mordi meu lábio inferior – Meu... namorado?
- Namorado? – Pepper arregalou os olhos sorrindo abertamente – Como assim, garota?
- Podemos conversar sobre isso depois. – eu comecei a empurrá-la para fora da sala.
Pepper passou por Bucky e acenou para ele, que acenou de volta, por não saber o que fazer. Tive vontade de rir, mas esperei minha tia subir as escadas. Ao perdê-la de vista, me virei para James, que me encarava com os braços cruzados.
- Então... – ele fitou o teto – Eu sou seu namorado?
- Eu acho que... que sim. – fitei meus pés, mas então o fitei – É, você é sim.
- Entendido. – Bucky falou num tom debochado e se aproximou.
Sem avisar, segurou meu rosto e me deu um selinho. Sorri quando ele se afastou e baixei o rosto. Mas, assim que senti os outros se aproximando, me virei na direção deles. Steve e Bobbi vinham com Tony.
- Pirralha! – o Stark disse assim que me viu.
- Falou com ele? – perguntei a Steve ao mesmo tempo em que dava um rápido abraço em Tony.
- Sim. – o Capitão respondeu.
- Precisamos encontrar esse dispositivo para impedir que se comunique com os demais espalhados pelo mundo. – eu expliquei.
- Certo. – Tony concordou – Eu só queria saber como esses caras colocaram isso aqui dentro.
- Eu também. – suspirei.
- Golden. – Bobbi me chamou de repente.
- O que houve? – perguntei
- É o diretor. – ela respondeu – Ele disse que os inumanos estão vindo. conseguiu contatá-los.
Respirei fundo, pensando no que fazer. Olhei para Tony e tive certeza de que ele daria um jeito de desligar aquela coisa. Eu precisava resolver a outra questão.
- Diga ao diretor que estarei no telhado da mansão. – falei para ela.
- Afirmativo. – ela levou a mão até o comunicador no ouvido.
- Tony. – me virei para – Será que poderia fazer isso pra mim?
- Pode deixar. – ele sorriu de forma discreta.
- Obrigada - agradeci com um aceno de cabeça.
- Os outros também estão vindo para cá. – Bobbi se aproximou.
- Vamos para o telhado. – eu disse – Steve, fique com o Tony.
- Onde está a Pepper? – Tony olhou em volta.
- Está lá em cima. – respondi – Bobbi, a tire daqui quando ela descer.
- Entendido. – ela concordou
Olhei para Bucky e ele entendeu minha expressão. Sem dizermos uma palavra começamos a caminhar juntos para os andares superiores. Chegamos até o telhado por meio de uma escada de emergência estreita. Assim que saí ao ar livre, senti o vento bagunçar meus cabelos que, mesmo presos, tinham dificuldades de se manter no lugar. Bucky veio logo atrás.
- Golden. – ouvi Bobbi pelo comunicador – Chegaram.
Mas eu não precisava daquele aviso. Comecei a sentir várias energias sobre nós e elas eram intensas. Apesar de poderosas, todas percorriam os corpos de seus donos com controle. Assim como a força interna de . Fechei os olhos e contei. Eram pelo menos cinco e se aproximavam rapidamente.
Ainda de olhos cerrados, ouvi o som semelhante a um vendaval. Olhei em volta institivamente, mas tudo estava do mesmo jeito. Fitei Bucky e ele apontou para o céu com a cabeça. Olhei para lá e me surpreendi com a visão. Um homem vinha voando ao longe. Cada vez que ele acelerava mais os seus movimentos, o som que ouvi se intensificava. Então ele pairou sobre nós e suas roupas escuras bloquearam parte do sol.
Mais atrás, havia duas pessoas. Uma garota flutuava dentro de uma bolha azul, quase transparente e seus cabelos loiros balançavam suavemente. Ao seu lado, um pouco afastado, um homem também pairava no ar e suas mãos estavam envoltas numa energia esverdeada. Os outros dois que senti estavam no telhado de outro prédio. Uma garota com o cabelo raspado e um garoto usando óculos escuros.
Olhei discretamente para Bucky. Aquilo era bem esquisito. Mas eu não podia voltar atrás. Era hora de mostrar que eu era a Líder. Talvez fosse o suficiente pra salvar a humanidade.