Capítulo 36: Líder
O inumano trajado de preto, que estava no centro e mais a frente, se aproximou. Lentamente, ele desceu, mas ainda assim podia ouvir o som semelhante ao de uma leve ventania causado pelo seu movimento. Ele pousou no parapeito e então o som cessou. Os outros dois inumanos continuaram no ar.
Respirei fundo e caminhei em sua direção, parando a poucos metros de distância. Eu precisava mostrar que não estava com medo. Apesar de aquele momento ser completamente anormal. Ergui o rosto e encarei o homem e ele também me olhou. Só então percebi que seus olhos eram de um azul quase transparente. Realmente muito bonitos. Ele deveria ter a mesma idade de , mas havia algo em sua postura que não me agradava.
Decidi deixar qualquer empecilho de lado, afinal, não seria certo julgar as pessoas pela aparência. Precisava conhecer suas intenções antes de tirar qualquer conclusão, mesmo que eu já soubesse qual era seu plano.
- Você é o representante dos inumanos? – eu perguntei.
- Nesse momento, sim. – ele respondeu com um leve aceno de cabeça.
- Eu poderia saber o seu nome? – inclinei minha cabeça um pouco para o lado.
- Meu nome é Ash. – ele respondeu.
- É um prazer conhecê-lo, Ash. – eu escolhia as palavras com cuidado. – É um prazer conhecer a todos vocês.
Fitei os outros acima de nós. Eles continuaram onde estavam, sem expressar qualquer emoção. Porém, acenaram com a cabeça. Foi um cumprimento respeitoso. Sorri em resposta, mas logo voltei minha atenção para Ash. Apesar de seu rosto mostrar indiferença, eu conseguia enxergar certa curiosidade em seus olhos. Eu era a garota tão esperada, afinal.
- Sei que sabem quem eu sou, então vamos pular essa parte. – voltei a falar ainda sorrindo. – Ash, preciso que transmita essa mensagem aos outros. Diga a eles que a sua Líder está de pé e que meu conselho é que desistam do seu plano.
- Seu conselho? – ele ergueu um pouco as sobrancelhas.
- Eu gostaria de ter dito ordem, mas não vou obrigá-los a fazer nada. – abri os braços. – Quero que enxerguem com seus próprios olhos o que estão fazendo. Vão exterminar a humanidade sem motivos justificáveis.
- Os inumanos sempre viveram escondidos, sempre tiveram medo de revelar o que eram. – Ash pulou do parapeito e ficamos ainda mais próximos. – Por muito tempo fomos tratados como aberrações e sofremos mais do que qualquer um pode imaginar. É hora de isso acabar.
- Eu entendo o que quer dizer. – eu me aproximei um passo. – Mas, Ash... acha mesmo que essa é a solução? Qual seria a diferença das nossas ações em comparação com as deles?
- Hellen... – ele sussurrou meu nome. – Você fala com se soubesse o que é ser uma de nós. Há quanto tempo ganhou suas habilidades?
- A tempo suficiente para saber que, mesmo que eu seja uma ameaça em potencial, às pessoas vão me respeitar e me amar da mesma forma. – eu respondi com um sorriso singelo. – Eu quase matei meus amigos, Ash. Mas eles continuam ao meu lado.
- Você é tão fraca quanto o . – ele soltou um riso anasalado.
- Somos fortes o suficiente para desistir de algo que não vale a pena. – falei firmemente.
- Seus pais se sacrificaram por isso. – ele franziu o cenho.
- E eu sinto muito por eles. Gostaria de tê-los conhecido, de verdade. – falei com sinceridade. – Mas não posso permitir que mais pessoas percam a vida.
Suspirei discretamente e voltei minha atenção para os inumanos no céu. Eles prestavam atenção a cada parte da conversa e vi uma leve dúvida surgir em suas expressões. A energia se agitando dentro de seus corpos também mostrava que havia confusão quanto a aquele assunto. E eu me aproveitei desse pequeno declínio de opinião.
- Não pensem que as coisas se tornarão melhores depois que executarem seu plano. – eu falei mais alto para que os inumanos no outro prédio também pudessem ouvir. – Vão ter que conviver com essa culpa pelo resto de sua vida sabendo que não há perdão para o que fizeram.
Eles não responderam, mas sabia que sua atenção se reservava apenas para mim. Continuei falando.
- Sei que querem um lugar no mundo e eu os ajudarei. Sou sua líder, não sou? – passei por Ash e me aproximei do parapeito.
Subi com um impulso e fitei a rua lá embaixo. O carro no qual viemos estava estacionado em frente à mansão. Aquela era uma área mais afastada da cidade. Ainda assim, haviam moradores naquele bairro nobre. Ergui meu rosto e levantei minhas mãos à altura do peito. Estava prestes a fazer algo novo. Só esperava não morrer tentando.
Movi meus dedos e as chamas começaram a surgir e logo estavam em todo meu corpo. As transformei na armadura que eu havia aprendido a moldar, mas dessa vez fiz algo a mais. Pressionei meu corpo para cima e uma rajada de fogo me lançou para o alto. Controlei-me para não subir demais, ajustando meus poderes. Minha velocidade diminuiu até que eu estava flutuando. Sorri animada e então me aproximei dos dois inumanos, ficando em sua frente.
- Isso é novo pra mim. – senti meu coração pulsando pela adrenalina. – Tudo isso é totalmente diferente de minha antiga vida. Mas não quer dizer que não sei como se sentem.
- Você fala como o . – a garota falou.
- Somos irmãos. – balancei os ombros. – Apesar de ele causar muito mais problemas do que eu.
- Ele era o nosso líder. – dessa vez o rapaz observou.
- E não é mais? – ergui as sobrancelhas.
- A opinião dele não era compatível com a nossa. – ouvi Ash dizer e o olhei de cima.
Então ele impulsionou seu corpo para cima e o som de vento forte se iniciou. Os outros pareciam acostumados. Logo ele estava ao nosso lado. Com toda certeza era algo estranho. Não era todo dia que se podia ver quatro pessoas voando lado a lado.
- Então quer dizer que se alguém pensa diferente, essa pessoa é dispensada? – questionei. – É isso que farão comigo?
- Isso dependerá de você. – ele falou num tom sugestivo.
- Já conhecem minha opinião. – eu disse. - E espero que possam entendê-la.
- Por que se importa tanto com os humanos? – a garota perguntou.
- Porque, assim como vocês, eles também são minha família. – respondi com um sorriso. – Esse planeta não é uma exclusividade deles e também não é nossa. Podemos dividi-lo.
Ela baixou os olhos esverdeados e parecia confusa. Ela estava cedendo, eu podia sentir. Preparei-me para argumentar a favor dos humanos, mas ouvi uma estática no meu ouvido. Alguém me chamava pelo comunicador.
- Golden, está me ouvindo – era Bobbi. – Precisamos de sua ajuda.
- O que houve? – virei o rosto e perguntei discretamente.
- Encontramos o dispositivo. – ela revelou. – Mas não há como acessá-lo. Se tentarmos, ele irá detonar. Estamos com as mãos atadas.
Respirei fundo e olhei para o telhado. Bucky me esperava e parecia apreensivo. Voltei a fitar os inumanos e eles pareciam ter percebido minha mudança de humor.
- Eu quero confiar em vocês. – eu disse. – Mas preciso que fiquem ao meu lado.
Sem mais palavras, abri meus punhos e a força que me fazia levitar deixou de ter influência sobre mim. De uma só vez fui ao chão, mas caí de pé, flexionando os joelhos um pouco para manter o equilíbrio. Aproximei-me de Bucky, parando ao seu lado e os fitei pela última vez.
Para minha surpresa, a garota veio ao meu encontro. Quando moveu sua esfera azulada, seus cabelos seguiram seu ritmo, formando uma bela visão. Então ela parou a poucos centímetros do solo e a desfez. Seus cabelos longos caíram sobre seus ombros e ela sorriu. Eu sorri de volta. Em seguida, os encarei novamente e vi que estavam surpresos com a mudança de ideia da garota.
- Mais alguém virá conosco? – eu quis saber.
Ninguém se moveu, por isso fiz um sinal para que a inumana e Bucky me acompanhassem. Demos as costas para os outros e seguimos na direção da saída de emergência. Mas, antes que descêssemos, ouvimos um grito e nos viramos em sua direção.
- Trisha! – Ash estava furioso. – O que pensa que está fazendo?
- Isso não é certo, Ash. – ela respondeu. – Não somos donos da Terra, não temos o direito de expulsar as outras pessoas.
- Se esqueceu do que passou para chegar até aqui? – ele disse e pousou apoiando um dos joelhos no chão, mas logo se levantou.
- Não, eu não me esqueci. – ela cerrou os punhos e se aproximou dois passos. – E esse é um dos motivos para que eu desista dessa... loucura.
- Está ouvindo o que está dizendo? – ele semicerrou os olhos e se aproximou. – Vai mesmo deixar que essa garota diga o que deve fazer?
- Desculpe, Ash... – ela mordeu os lábios. – Mas ela é minha líder.
Abri a boca ao ouvir aquelas palavras. Ser chamada de líder não era algo que eu achei que fosse ouvir um dia. Acho que eu estava enganada. Trisha retornou para nosso lado. Entretanto, Ash continuava descontente e não parecia querer aceitar aquela perda. Encolerizado, ele fincou os pés nos chão e ergueu os braços em nossa direção. No mesmo segundo, dois pequenos redemoinhos se formaram e eles os lançou em nossa direção.
Trisha ergueu as mãos, criando um campo de força em nossa frente. Mas ele não foi suficiente para nos proteger, logo se desfazendo. Fomos lançados para trás, nos encontrando com o chão. Caí de bruços e pude ver o momento que os outros dois inumanos pararam ao lado de Ash. Pelo que parecia a garota no outro telhado podia se teletransportar. Suspirei pesadamente e me levantei. Bucky e Trisha fizeram o mesmo.
- Não precisamos fazer isso. – eu disse.
- Você é mesmo como o . – Ash riu com desdém. – Aquele maldito traidor.
Franzi o cenho, cerrando os punhos. Ouvir aquele inumano chamar meu irmão de traidor não havia me deixado nada feliz. Apesar de não confiar completamente em , eu acreditava que ele estava falando a verdade. E ser julgado por fazer o certo não era justo.
- Pelo jeito, você tem muita vontade de assumir o posto que era dele. – eu havia perdido a paciência.
- Se for preciso. – ele admitiu.
- Felizmente, não é. – fiz com que as chamas cobrissem meus punhos.
Aquele movimento fez com que os outros ficassem em alerta. Ótimo. Precisaria lutar mais uma vez. Aquilo já estava me deixando irritada. Mas era necessário, eu sabia.
- Golden, onde vocês estão? – ouvi Bobbi perguntar.
- Acho que vai demorar um pouco pra que possamos descer. – respondi – Tentem achar outro jeito.
Sem esperar uma resposta caminhei alguns passos. Minhas mãos ainda estavam em chamas. O vento ainda acoitava nossas roupas e cabelos. Estávamos em três, eles em quatro. Inclinei minha cabeça para o lado e sorri de canto. Não deveria ser tão difícil assim.
Revesti-me da armadura de fogo e corri na direção deles. Tomando a frente, Ash veio ao meu encontro. Seria uma colisão memorável. A poucos centímetros tentei acertá-lo com um soco, mas ele se jogou ao chão, de joelhos, e deslizou para longe do meu golpe. Virei-me para trás, surpresa, e ele fez o mesmo, continuando com um joelho no chão. Antes que eu reagisse, ele ergue uma mão e um vento extremamente forte me lançou longe.
Bati no parapeito, quebrando parte dele e arfei ao me ver ao ar livre. Rapidamente, tentei me controlar e ganhei equilíbrio. Cerrei os punhos, fazendo força e então consegui parar, flutuando. Olhei para eles que me encaravam surpresos por ter resistido a aquela investida. Sorri convencida. Aquilo seria divertido.
Capítulo 37: Um Novo Plano
Continuei encarando todos abaixo de mim. Bucky e Trisha estavam um pouco mais afastados e tive vontade de dizer a ela que o tirasse dali, afinal, ele não poderia lutar contra pessoas como aquelas. Mas eu não podia me distrair, especialmente agora que Ash vinham lentamente em minha direção.
Quando ele parou em minha frente, a poucos metros, ergui as sobrancelhas, o fazendo cerrar os punhos. Meu sorriso desdenhoso ainda pintava meus lábios e eu percebia como isso o incomodava.
- Acha que pode nos parar? – ele perguntou com desprezo.
- Eu tentei conversar com vocês, tentei convencê-los a mudar de ideia. – eu suspirei. – Mas confesso que agora estou morrendo de vontade de te dar umas bolachas.
- Por que não tenta? – dessa vez, ele ergueu as sobrancelhas.
- Já que me deu a permissão... – falei num debochado.
Semicerrei os olhos e fiz com que chamas envolvessem minhas mãos. Sem demora, as lancei contra ele. Ash apenas ergueu uma das mãos e criou um vento que fez o fogo se apagar antes mesmo de se aproximar dele. Abri a boca um pouco surpresa ao sentir a corrente de ar balançar meus cabelos e vi um sorriso presunçoso surgir em seus lábios.
- É o melhor que pode fazer? – ele questionou.
- Nem de longe. – respondi sem me intimidar.
Eu não estava acostumada a voar, então aquilo já estava me cansando. Mas eu não poderia descer agora. Não enquanto os outros estivessem lá. Resolvi desfazer parte da armadura, deixando apenas meu tronco e meus braços cobertos. O esforço que eu fazia para mantê-la era bem grande e senti um alívio imediato quando diminuí minha defesa.
Criei mais fogo e o lancei contra o inumano que parecia não se preocupar muito com essa nova investida. Outra vez, Ash apenas ergueu uma mão e dissipou o fogo. Ele sabia exatamente como barrar meus ataques e não se esforçava para isso. Soltei o ar pela boca. Não poderia perder muito tempo ali, precisava descer e tentar ajudar os outros com o dispositivo.
Levei a mão até o comunicador em meu ouvido e, de forma discreta, tentei falar com Bucky.
- Ei, desça e tente ajudar os outros. – falei num sussurro.
Olhei para ele e tive certeza de que tinha me ouvido. Bucky me encarava fixamente e balançou a cabeça uma vez mostrando que havia entendido minha instrução. Suspirei aliviada e falei outra vez.
- Peça para Trisha te dar cobertura. – eu disse.
Ele logo se virou para ela, sussurrando algo perto de seu ouvido. Os outros inumanos não perceberam, pois olhavam para nós. Entretanto, Ash notou que minha atenção estava, não nele, mas sim no telhado. Ele olhou na mesma direção que eu e percebeu o que acontecia. Imediatamente, ele berrou para seus companheiros.
- Não deixem que eles saiam! – sua voz era firme.
Os três olharam confusos para Bucky e Trisha e os dois se colocaram em posição de alerta. Senti meu coração bater mais forte quando o rapaz que antes voava, soltou rajadas esverdeadas pelas mãos. Para se defender, Trisha criou um campo de força, repelindo o ataque.
Mas aquilo não foi suficiente para protegê-los. A garota de cabelos raspados se teletransportou, sumindo de nossa visão. Então ela reapareceu atrás de Bucky e o chutou do lado direito do seu tronco. Para a surpresa dela, ele apenas deu um passo para o lado e segurou seu tornozelo com o braço cibernético. Com agilidade e força Bucky a lançou para longe, mas ela desapareceu de novo, aparecendo ao lado de garoto de óculos.
- Isso é ridículo! – Trisha berrou. – Não podemos nos enfrentar desse jeito.
- Se não querem me escutar, escutem a ela que viveu com vocês. – eu gritei de cima. – Será que precisaremos lutar entre nós para acabar com isso tudo?
- É exatamente o que precisará fazer. – Ash bradou na mesma altura que eu.
Não tive tempo de retaliar sua resposta, pois ele veio voando como um jato em minha direção, me segurando pelos ombros. Tentei me libertar, mas cada vez que o barulho de ventania aumentava mais forte ele ficava. Em segundos, senti minhas costas se colidirem contra um dos prédios e aquela parte se despedaçou. Arfei e segurei seus pulsos com força. Aproveitei a parede e me impulsionei para frente, conseguindo o afastar um pouco.
Com o pé, chutei seu abdômen e a força que usei foi suficiente para lançá-lo para longe. Porém, ele logo avançou e fiz o mesmo. Nos encontramos no ar e começamos uma troca frenética de socos e chutes. Ele lutava muito bem, o que não me dava espaço para baixar a guarda nem por um segundo.
Irritada com minha falta de êxito, recobri meus dedos com uma chama extremamente quente. Quando Ash tentou me acertar com um golpe, segurei seu punho e acertei o meu em seu rosto. Ele urrou quando o toquei e assim que afastei meus dedos, percebi o motivo. O lugar onde eu havia acertado havia sido queimado e estava extremamente vermelho.
Com raiva, ele repeliu meu braço e segurou meu pescoço. E seu aperto era poderoso. Quando comecei a perder o ar, tentei puxá-lo para meus pulmões, entretanto Ash bloqueava todas as minhas tentativas de respirar. Sem forças, parei de voar, sendo erguida apenas por sua mão.
- Isso é tudo? – ele riu pelo nariz. – Foi mais fácil do que pensei.
Sem mais palavras, Ash abriu os dedos. Quando me soltou, comecei a despencar numa velocidade alarmante. O ar começou a voltar para meus pulmões, porém, eu ainda não conseguia reagir. O impacto seria iminente. Bastava apenas saber qual seria o estrago. Respirei fundo, tentando me concentrar, mas em vão. Então, a poucos metros do chão, senti algo envolver meu corpo. Uma força que reconheci imediatamente.
Aquilo me fez parar exatamente onde eu estava. Fitei o céu, assustada, mas aliviada por não ter me esborrachado no chão. De repente, a força começou a me levar lentamente para baixo. Ao olhar para lá, eu o encontrei. estava parado com sua mão erguida e me conduziu com cuidado. Ao seu lado estava Daisy e ela parecia preocupada.
Quando me aproximei o suficiente deles, estendi minha mão na direção da de e a segurei. Ele sorriu e fez com que eu ficasse de pé no solo. Quando me vi novamente numa superfície sólida, respirei fundo.
- Você está bem? – perguntou ainda segurando minha mão.
- Sim. – respondi com um pequeno sorriso. – Obrigada.
- Golden. – Daisy se aproximou. – O que está acontecendo?
- Os inumanos estão aqui. – eu disse e estalei a língua. – Mas não quiseram me ouvir.
- Aposto que o Ash tem a ver com isso. – disse e olhou para cima por um breve momento.
- Sim, foi ele que me jogou lá de cima. – revirei os olhos. – Pelo menos um deles foi mais sensato.
- Quem? – ele franziu o cenho.
- Trisha. – eu falei.
- Trisha está aqui? – ele arregalou os olhos.
- Sim. – estranhei sua repentina preocupação. – E preciso que vá até o telhado, pois Bucky também está lá.
- O que ele faz lá? – Daisy franziu o cenho.
- Ele estava comigo. – passei a língua entre os lábios. – Não achei que precisaria lutar.
- É melhor irmos logo. – ela olhou para cima.
- Não. – eu me aproximei dela. – Preciso que fique aqui em baixo e que ajude a Bobbi e os outros com o dispositivo.
- Qual o problema? – ela perguntou
- Eles não estão conseguindo interceptar o sinal. – eu disse – Você é hacker, ajude o Stark.
- Certo. – ela concordou.
Sem esperar, Daisy correu para dentro da mansão falando algo pelo comunicador. Me virei para meu irmão e suspirei.
- , como desligar aquela coisa? – apontei na direção que Daisy seguiu. – Você era o responsável, deve saber.
- Eu apenas dei ordens para espalharem as bombas pelo mundo. – ele negou com a cabeça. – Quando assumi a liderança, elas já estavam prontas.
- E não teve a curiosidade de saber como funcionavam? – franzi o cenho.
- Quando voltei para o grupo de inumanos, aprendi a não questionar, apenas obedecer. – ele mordeu os lábios. – Esse era o plano dos nossos pais, então eu deveria apenas executá-lo.
- Se você não sabe como desligar, então nenhum outro sabe? – me assustei.
- Para quê? – ele sorriu sem mostrar os dentes.
- Para o caso de alguém ter que desligar esse troço. – abri os braços.
- Esse é o ponto, Elle. – ele me olhou nos olhos. – Ninguém pode impedir a explosão dos cristais, pois não sabem como.
Dei dois passos para trás e apoiei uma mão na cintura. Que tipo de líderes meus pais eram? Não deixavam os outros opinarem? Se eu fosse à líder deles, seria bem diferente. Fitei a entrada da mansão, ainda pensativa. Tony, Daisy e os outros eram capazes de impedir a detonação.
- Vamos voltar para o telhado. – eu disse.
- Como vamos subir? – ele quis saber.
- Segure minha mão. – a estendi para ele.
a fitou e então a segurou. Enlaçamos nossos dedos e me aproximei de seu corpo, abraçando sua cintura com a mão livre. Fechei os olhos e me concentrei o suficiente para começar a levitar. Ele ficou surpreso quando nos afastamos do chão e também abraçou meu corpo. Continuei a subir e dessa vez era mais difícil, pois precisava erguer um peso muito maior. Mas consegui. Quando avistei o telhado, se aproximou do meu ouvido e sussurrou algo.
- Muito bem, Elle. – sua voz era macia. – A partir daqui eu me viro.
O encarei no momento que ele me largou e pulou para o telhado. Usando seus poderes, ele levitou por alguns instantes, mas logo deixou a gravidade se apoderar do seu corpo, caindo no chão e rolando uma vez. logo se ergueu ficando no meio dos inumanos. Pelo que parecia, eles não tinham lutado mais, pois Bucky e Trisha estavam no mesmo lugar. Apenas gostaria de saber onde estava Ash.
A resposta de minha pergunta veio em forma de ataque. Um chute potente me acertou nas costas e fui arremessada pelo ar. Mesmo sendo pega de surpresa, consegui me equilibrar depois de girar algumas vezes.
- ASH! – berrou.
- ?! – o outro falou com uma falsa surpresa na voz. – Achei que deixaria sua irmãzinha lutar sozinha.
- É melhor ficar longe dela! – ele não parecia contente.
- ?! – Trisha se aproximou.
Ele se virou para ela, que correu em sua direção. Observei surpresa quando ela o abraçou com força e ele retribuiu seu gesto. Não precisei ser nenhuma adivinha para saber que eles gostavam muito um do outro. Só queria saber o quanto.
- Golden. – ouvi Daisy pelo comunicador. – Está me ouvindo?
- Estou aqui. – respondi.
- Se tentarmos desativar a bomba, ela explode. – ela respondeu. – Foi programada assim.
- Deve haver outra forma. – mordi o lábio inferior.
- Talvez haja. – ela parecia tão aflita quanto eu estava. – Mas não temos tempo. A detonação vai acontecer em quinze minutos.
Abri a boca sem acreditar. Como assim quinze minutos? Olhei para todos os lados sem saber o que fazer. Toda aquela situação havia perdido a graça. Eu estava enganada, não era divertido. Era aterrorizante. E o medo fez minha mente paralisar. Levei as mãos até as têmporas. Eu precisava pensar.
- Saiam daqui! – ouvi dizer. – Não escutem o Ash, ele não se importa com vocês, sabem disso. Escutem a Hellen, ela é a nossa verdadeira líder!
Os inumanos estavam em dúvidas de quem ouvir. Realmente, a opinião de era importante para eles. Eu podia sentir o quanto eles a consideravam. Sua energia se agitava em confusão, tentando decidir de que lado ficar. Tentei me aproveitar daquele momento para descer e me juntar aos que estavam dentro da mansão.
Quando tentei, porém, Ash lançou uma rajada contra mim que me impediu de seguir em frente. O vento me obrigou a fechar os olhos. Irritada me encolhi e urrei. Quando voltei à minha postura, abri os braços, lançando rajadas de fogo para todos os lados. Ao me ver livre, voei o mais rápido que consegui. Ash veio atrás de mim. Para minha sorte, Trisha criou uma barreira entre nós e tive tempo de alcançar o chão.
Corri para a entrada da mansão e adentrei o local. Localizei meus amigos por meio de suas energias e segui até onde estavam. A oficina de Tony. Comecei a correr, mas parei assim que senti Bucky. Ele estava entrando e descia as escadas velozmente. Segui até ele e alcancei em alguns instantes. Ao avistá-lo, me lancei em seus braços, o agarrando com intensidade. Ele retribuiu meu gesto.
- Bucky... – murmurei seu nome. – Me desculpe por expô-lo assim.
- Está tudo bem. – ele afagou meus cabelos. – Não se preocupe comigo.
- Não me peça isso, Barnes. – me afastei e segurei seu rosto. – Eu sempre vou me preocupar com você.
- Você é a melhor pessoa que já conheci. – um sorriso discreto surgiu em seu rosto.
- E o Steve sabe disso? – eu ri e o puxei pela mão. – Vamos, temos menos de quinze minutos.
Descemos o restante dos degraus e seguimos para a oficina. Ao virar o corredor, demos de cara com Bobbi, que vinha apressada. Paramos antes de nos esbarrar e ela se acalmou quando nos viu.
- Até que fim... – ela se apoiou nos joelhos.
- Onde estava indo? – questionei.
- Fui atrás de vocês. – ele ajeitou a postura.
- Aposto que não iria querer ir lá em cima. – balancei os ombros uma vez.
- Vamos! – ela deu meia volta.
A seguimos até a oficina e entramos, encontrando os outros. Eles estavam ao redor da mesa digital. Sobre ela, estava o dispositivo. Me aproximei e o analisei. Era como uma bomba moderna, com um visor digital, mostrando que tínhamos onze minutos. Entretanto, havia algo a mais. Pequenas esferas prateadas estavam fixadas ao dispositivo. Elas piscavam, ficando azuladas por um breve momento e depois voltavam a ficar cinzas.
- Essas esferas foram responsáveis por impedir que meus sensores detectassem o dispositivo. – Tony se aproximou. – São muito sofisticadas.
- Onde estava? – eu perguntei.
- Fixado a rede elétrica do subsolo. – ele respondeu.
- Não tem como desligar mesmo? – olhei para ele.
- Essas esferas também nos impedem de desligá-la. – ele apontou para elas. – Se tentarmos, elas detonam a bomba.
- O que vamos fazer? – Bobbi apoiou as mãos na mesa.
Olhei para ela, escorada no metal. Seus dedos apontavam na direção da bomba. Imitei seu gesto, apoiando as mãos na mesa e fechei os olhos. Imediatamente, senti a energia que provinha do dispositivo. Era forte e me deixava enojada. Dentro dele estavam os cristais, esperando para liberar sua névoa.
Franzi o cenho quando uma ideia me surgiu. Tínhamos dez minutos e esse seria o único jeito de impedir uma aniquilação mundial. Afastei-me da mesa e fitei meus amigos. Eles também pareciam pensar numa solução. Mas eu já tinha uma.
- Sei o que fazer. – eu disse.
- O quê? – Daisy perguntou.
- Vamos tirar a bomba daqui. – cruzei os braços.
- E depois? – Steve franziu o cenho.
- Depois vocês vão para o mais longe possível. – engoli seco.
- Será que você poderia ser mais direta, pirralha? – Tony disse inquieto.
- O que está pensando em fazer? – Bucky perguntou.
- Eu vou absorver a explosão. – mordi meus lábios. – Ou pelo menos tentar.
Pela expressão de cada um ali presente, soube que aquilo seria uma completa loucura. Mas, que opção nós teríamos a não ser aquela? Não poderíamos barrar a explosão e, consequentemente, a transmissão de dados. Então, eu iria absorvê-los.
Capítulo 38: Sacrifício
- Não! – foi à primeira coisa que ouvi.
Franzi o cenho e olhei para a pessoa que havia falado com tanta firmeza. Encontrei Bucky parado do outro lado da mesa com uma expressão indecifrável. Entretanto, eu podia sentir o quão aflito estava.
Apesar de entendê-lo, sabia que não tinha o luxo de pensar em mim mesma. Uma pessoa não valia mais do que milhares.
- Por que não? – continuei com a testa franzida.
- Isso é loucura! – ele falou entredentes, tentando manter a calma.
- Não há outra forma. – abri os braços. – Esse é um dos meus poderes e posso fazer isso.
- Essa não é a questão. – ele respirou fundo. – Você... Você pode morrer.
- Eu não vou morrer. – ri sem humor.
- O esquisito aqui tem razão, pirralha. – de repente Tony falou.
Olhei para ele, surpresa. Será que todos ali ficariam contra mim? Será que não enxergavam que tínhamos nove minutos para decidir como salvar o mundo? Mordi os lábios, tentando pensar em minhas palavras, para que não fosse rude. Mas estava sendo difícil.
- Não temos tempo. – eu sussurrei.
- Não importa. – o Stark se aproximou da mesa. – Não vamos deixar que faça isso.
- Vamos achar outro jeito. – Daisy se aproximou dele.
- Mas... – tentei protestar.
- Golden, vamos dar um jeito. – Steve me interrompeu, me fazendo encará-lo.
Fechei os olhos e passei as mãos no rosto. Não havia jeito. Não havia. Não em oito minutos. Fitei os outros na sala e vi que eles sabiam disso. No entanto, não queriam me sacrificar. E era bom saber que eles se importavam tanto comigo. Infelizmente, não podia deixar que pessoas morressem por conta disso. Tudo aquilo que estava acontecendo, era culpa dos inumanos. Do meu povo. E não queria compartilhar dessa culpa.
Olhei para Bucky e ele pareceu perceber que eu estava angustiada. Quando dei um passo para frente, ele ergueu as sobrancelhas e fez o mesmo. Cerrei os punhos e fitei o dispositivo sobre a mesa. Em seguida, o encarei novamente.
- Golden... – ele murmurou e os outros me encararam.
- Me desculpem... – engoli seco.
Sem esperar reações, abri os dedos e fiz com que meu corpo fosse completamente envolto por fogo. Não o transformei na armadura, continuando em chamas. Os outros foram obrigados a se afastar. A única parte do meu corpo que deixei livre foi minha mão direita, que usei para pegar a bomba.
- Não faça isso! – Steve disse.
- Sabem que é o único jeito. – olhei para a saída.
- Golden! – Bobbi gritou.
- Eu tenho cinco minutos. – os ignorei. – Saiam daqui agora!
Sem esperar mais, saí apressada pela porta da oficina. Ainda pude ouvir os protestos dos meus amigos, mas não dei atenção a nenhum deles. Se quisessem, poderiam ter tentando me impedir. Mas eles haviam entendido que a decisão era minha e não deles. Pelo menos a maioria.
- Golden! – ouvi atrás de mim.
Olhei por cima do ombro e avistei Bucky. Ele corria tão rápido quanto eu. Não parei, mas aumentei minha velocidade. Porém, ele também deu mais de si e logo me alcançou, segurando meu braço para me obrigar a parar. Apesar de ele fazê-lo com o braço cibernético, eu apenas me virei em sua direção e me livrei dele, segurando seu pulso com força. Mas ele tentou novamente, dessa vez com a outra mão. Quando me tocou, soltou um urro doloroso, porém, não se afastou.
- Bucky! – arregalei os olhos ao perceber que o havia machucado.
Automaticamente, fiz o fogo se dissipar, voltando ao normal. Larguei a bomba e segurei sua mão, a afastando de mim. Arfei ao ver a grande queimadura em sua pele. Segurei seu rosto com preocupação e ele me encarou.
- Não faça isso. – ele pediu.
- Não se preocupe comigo. – tentei sorrir.
- Golden... – ele murmurou.
- É minha decisão. – falei com firmeza.
- Eu sei. – ele travou o maxilar. – Eu só... Eu...
- Ei! – aproximei meu rosto do seu. - Eu sempre estarei com você, lembra?!
Bucky balançou uma vez a cabeça, me fazendo sorrir de verdade. Uni nossos lábios intensamente. Eles se moldaram um ao outro como foi possível, mas senti o que aquele momento significava. Não era um adeus. Era um até logo.
Me afastei rapidamente e me abaixei, pegando o dispositivo. Ao me levantar, James se aproximou e beijou minha testa. Engoli seco, tentando não deixar minhas emoções em evidência.
- Eu vou voltar. – sussurrei.
- Vou estar aqui. – ele disse. – Sempre.
Então se afastou, resignado. Finalmente, James percebeu que não poderia lutar contra mim, que aquele era o meu desejo. Salvar o mundo da forma que eu encontrasse. Com isso em mente, lhe lancei um último sorriso e dei-lhe as costas, começando a correr para fora da mansão. Quando alcancei o lado externo, vi que tinha três minutos. Não poderia me afastar muito com aquele tempo. Mas poderia subir.
Me concentrei o máximo que consegui e comecei a levantar voo. Aquilo ainda era estranho para mim, mas decidi deixar minhas considerações para depois. Naquele momento, precisava ir o mais alto que conseguisse para evitar que qualquer energia ou matéria pudesse escapar e atingir alguém.
Passei da altura da mansão e observei os inumanos ainda sobre o telhado. conversava com eles, que o escutavam atentamente. Até mesmo Ash estava parado sobre o parapeito. Fiz uma careta quando ele pulou de onde estava e seguiu na direção do meu irmão, que também veio até ele. Eles pararam ao meio dos outros e pareciam discutir seriamente.
Continuei subindo, até que o inumano de óculos escuros olhou para o céu e me viu. Freneticamente, ele disse algo e apontou em minha direção. Os outros me olharam no mesmo segundo. O que me preocupou, no entanto, foi receber a atenção de Ash. Mesmo de longe vi que não estava nada contente. Ele deu um passo para frente, mas o segurou pelo braço. Furioso, ele socou meu irmão, que foi lançado a uma pequena distância.
Abri a boca, inconformada, mas sabia que não poderia fazer nada. Me revesti da armadura e esperei. Ash não me alcançaria. Não em trinta segundos. Ele tentou, mas Trisha criou uma barreira azulada em sua frente, que ele logo despedaçou. Os outros inumanos não se manifestaram, pois ainda não haviam decidido de que lado ficar.
Vinte segundos. se levantou e ergueu suas mãos na direção do inumano que começava a voar. Conseguiu segurá-lo por alguns instantes, mas ele logo se libertou de sua força, causando uma grande ventania que obrigou aos que estavam no telhado a se protegerem.
Dez segundos. Ash tentou outra vez, mas algo o lançou contra uma parede, prendendo-o ali. Olhei mais para baixo e vi Daisy com os braços erguidos. Ela fazia força para manter o outro aprisionado. Ao seu lado estavam os meus amigos.
Comecei a absorver a energia da bomba antes que fosse tarde. Uma energia suja e esmagadora. E aquilo me causou repulsa. Como havia sentido com a arma de choque. Prossegui, semicerrando os olhos.
Cinco segundos. Fechei os olhos de vez e tentei com mais vigor. Mas era demais para mim.
Quatro. Três. Dois... Um.
Senti todo o impacto em minhas mãos, mas não soltei o dispositivo. Fui lançada mais ainda para cima, mas Trisha me envolveu com um campo de força, me fazendo recuperar o equilíbrio. Continuei a absorver tudo aquilo e a cada novo segundo sentia meu interior se preencher. Eu estava ficando sobrecarregada. E isso começou a se refletir em meu corpo. Meus músculos estavam rígidos e meu peito começou a queimar.
- Vamos lá, Golden... – murmurei.
Quando minha cabeça começou a latejar, soltei um grunhido. Ainda assim, insisti no que fazia e a sensação que tive foi a de que aquilo nunca mais acabaria. Já estava me sentindo exausta, mas forcei meus poderes além do que sabia usar. Dessa vez, comecei a tremer. Eu não iria conseguir.
- Não! – respirei profundamente.
Fechei os olhos e, sem suportar mais, larguei a bomba. Não consegui absorver toda a explosão. Eu tinha ido além do que poderia suportar. Ao menos, era o que eu achava. O dispositivo começou a cair, porém, antes de se distanciar, algo o fez parar no ar.
o segurou e acenou para que eu continuasse. Voei até a bomba e, receosa, a segurei outra vez. Imediatamente, voltei a sugar a energia restante para impedir que as outras bombas fossem ativadas. Meu coração pulsava velozmente e minha respiração estava descompassada.
Eu não aguentava mais.
Mordi os lábios, tentando restaurar minhas forças. Voltei a tremer. Minha mente começou a girar. Mas eu não desistiria. Nunca. Forcei mais. Eu podia fazer aquilo.
- Só mais... um pouco... – arfei.
Era energia demais. Involuntariamente, fogo revestiu meu corpo. E não apenas a superfície. Tentei controlá-las, mas as chamas seguiram por minha pele até chegarem aos meus músculos. Em seguida, chegaram aos meus órgãos. Finalmente, às minhas células.
Quando compreendi o que se passava, não havia mais volta. Eu não estava em chamas, eu era as chamas. Literalmente, o fogo fazia parte de mim. Não, era mais do que isso. Muito mais. Agora éramos um só. E isso me causava cada vez mais dor.
Soltei um grito engasgado e me deixei levar. A partir daquele momento eu não senti mais nada. Foi como se tivesse me transformado em uma neblina. Quente e intangível. Meu corpo se dividiu em muitas partes sem que eu soubesse como. E não consegui impedir.
Eu ainda era eu mesma, mas não completamente. Tentei voltar a ser eu outra vez, mas foi impossível. Desespero me atingiu e levei as mãos até a cabeça. Mesmo sem mãos palpáveis. O que estava acontecendo comigo?
- Golden! – de repente ouvi um grito e tive certeza de que era Bucky.
- Elle, não! – dessa vez, gritou e percebi que estava mais perto.
Não podia vê-los, mas os sentia. Completamente. Todos ali me inundavam com suas energias. Estavam surpresos, aflitos, tristes, desesperados. Será que não podiam me ver?
- Por favor, por favor... – murmurei para mim mesma.
No que eu havia me transformado? Estava impossibilitada de compreender. Só sabia que precisava voltar. Eu tinha de voltar para meus amigos. Para Pepper. Para meu irmão. Eu tinha de voltar para Bucky. Era tudo o que meu coração dizia.
Capítulo 39: Libertação
Senti um aperto no peito. Era estranho, como se meu coração estivesse sendo esmagado a cada novo segundo. Não me lembrava de alguma vez já ter me sentindo daquela forma, mas ver Golden sair correndo pela porta com uma bomba nas mãos, desencadeou sensações dentro de mim que nem sabia que existiam. Ou pelo menos não me lembrava.
Assim como os outros, eu compreendia que a decisão era dela, que ela deveria escolher se arriscar ou não. Mas eu não podia deixá-la ir. Por isso, não pensei duas vezes antes de tentar impedi-la. Golden era boa demais para o mundo. Boa demais para qualquer um, inclusive eu.
Mas ela sabia como me convencer e me fez aceitar tudo aquilo. “Eu sempre estarei com você.” Ela repetiu a mesma frase que havia dito na casa de Sam, antes de tudo isso começar. E, como naquele dia, eu confiei nela. Eu não tinha o direito de não fazê-lo.
- Bucky! – ouvi atrás de mim, mas continuei parado onde estava.
Logo a pessoa se aproximou, tomando a minha frente. Era Steve. Ele estava ofegante e respirava pela boca, mas não pelo cansaço e sim por estar sobressaltado com a escapada repentina de Golden. Com ele vinha a agente Johnson e ela estava tão assustada quanto ele. Eu, no entanto, não disse nada.
- Barnes, onde ela está? – a garota perguntou.
- Bucky?! – Steve insistiu.
- Ela saiu. – respondi, olhando para a porta de vidro.
- Está lá fora? – Daisy franziu o cenho.
- Sim. – a fitei. – Vai tentar absorver a bomba.
- Mas que droga! – ela resmungou.
- Isso é muito perigoso. – Steve já havia se recomposto.
- Ei, Rogers! – o Stark falou ao longe.
Olhamos na direção que ele vinha e o encontramos com a agente Morse. Ela se aproximou da outra, já ele foi até Steve. Fiquei em silêncio, observando. Naquele momento, não queria me pronunciar.
- Onde ela está? – Bobbi perguntou.
- Está lá fora. – Daisy respondeu preocupada. – Ela pode precisar de nossa ajuda.
- E o que poderíamos fazer? – o Stark riu abafado. – Tivemos uma chance pra desarmar aquela coisa, mas não deu certo.
- Certo, vocês não podem, mas eu posso. – Daisy falou, cerrando os punhos. – Fiquem aqui.
Sem mais palavras, ela nos deu as costas e correu por onde Golden havia ido. Ficamos boquiabertos, mas não fizemos nada. Se existia alguém que poderia ajudar com aquela situação, essa pessoa era a agente Johnson.
- Elas vão se matar. – Tony levou as mãos até as têmporas. – E a Pepper vai me matar por causa disso.
- Seja otimista, Stark. – a agente Morse cruzou os braços. – Golden é muito poderosa e já demonstrou isso antes.
- E ela tem... – ele olhou o relógio no pulso. - Trinta segundos para provar isso outra vez.
- Apenas trinta segundos? – Steve disse e me encarou.
Eu sustentei nosso olhar por alguns instantes e depois o desviei, fitando o chão. Respirei fundo de maneira discreta. Nós não poderíamos fazer nada. E isso me deixava aflito. Golden fez tanto por mim e agora eu não podia ajudar. Me senti completamente inútil, continuando com o rosto abaixado.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, mas quando a agente Morse se afastou de nós com uma das mãos no ouvido, eu soube que havia algo errado. Logo ela voltou e, apesar de tentar disfarçar sua preocupação, sua expressão mostrava que eu estava certo.
- Daisy disse que os inumanos ainda estão lá fora. – ela olhava de um para o outro. – E que um deles está tentando impedir a Golden.
Eu sabia de quem ela falava. Com toda certeza, o inumano era Ash. Ele era o mais decidido a por aquele plano em prática. Soltei o ar de uma só vez e cerrei meu punho metálico. Olhei para Steve e ele balançou a cabeça uma vez de forma positiva. Não podia mais continuar parado.
Não esperei nenhum deles e segui apressado para o lado de fora. Entretanto, não demorei a vê-los em meu encalço, seguindo na mesma direção. O lado de fora da mansão. Passei pela porta de vidro e imediatamente avistei Daisy parada a alguns metros do carro que nos havia trazido. O que me chamou atenção, porém, foram suas mãos apontadas para o alto. Ela parecia se esforçar, com os pés fincados no chão e os joelhos levemente flexionados.
- Daisy! – Bobbi a chamou, se aproximando.
Todos a seguimos e então olhamos na mesma direção que Johnson mirava. Acima de nós, num dos prédios, o inumano que controlava o ar estava recostado a uma parede, preso pelas vibrações que a outra causava. Olhei ainda mais para cima e então a encontrei.
Golden pairava acima de todos. Em suas mãos, estava o dispositivo. Apesar de tantas pessoas estarem sob ela, havia concentração em sua postura. Um de seus pés estava levemente levantado para trás, deixando o seu voo gracioso. Mas toda aquela calma que ela emanava se desvaneceu quando a bomba explodiu.
Arregalei os olhos quando ela foi lançada para trás pela força do impacto, que apesar de poderoso, não causou nenhum ruído. De repente, uma esfera azulada apareceu em sua volta, ajudando-a a manter o equilíbrio. Deveria ser a outra inumana que havia ficado do nosso lado que o criou. Logo o campo de força se desfez e Golden continuou seu trabalho.
Tudo parecia correr bem, até que ela se encolheu e gritou, soltando a bomba no ar. Em segundos a segurou, impedindo que chegasse ao chão. Golden logo voou até o dispositivo e continuou a absorvê-lo. Aquilo era demais para ela, eu sabia. Eu tinha visto como ela ficou depois de sugar a energia de uma simples arma de choque. Ela se sentiu mal e perturbada. O que me preocupava.
- Conectei a bomba ao meu dispositivo de pulso. – o Stark ergueu o braço mostrando algo semelhante a um relógio. – Ele está lendo os sinais que a bomba emite, mas estão cada vez mais fracos.
- Ela vai conseguir! – Bobbi falou com entusiasmo.
- Ah, meu Deus... – Daisy murmurou assustada.
Voltamos nossa atenção para ela, mas logo fitamos a direção para onde ela olhava. O céu. Mais precisamente para Golden. Ao fazê-lo, franzi o cenho, confuso. Ela estava completamente em chamas. E elas se tornavam cada vez mais incandescentes.
- O sinal foi interrompido. – o Stark anunciou. – Ela conseguiu!
Sorri minimamente ao ouvir aquelas palavras. Entretanto, meu sentimento de admiração foi breve, logo substituído pelo anterior. Aflição. Golden gritou outra vez, porém, muito mais alto. Parecia sentir dor. Dei dois passos para frente sem deixar de mirá-la. O que estava acontecendo?
Em resposta ao meu questionamento, mais fogo surgiu ao redor dela e começou a ganhar uma coloração avermelhada. O vermelho se intensificou cada vez mais. Aquilo não estava certo.
- O que... Está acontecendo com ela? – a agente Morse murmurou, perplexa.
Antes que qualquer um de nós desse uma resposta, algo inacreditável aconteceu. Algumas chamas começaram a circular em volta do corpo de Golden, formando anéis de fogo. Seu movimento era em espiral e parecia querer consumi-la. E foi o que ocorreu.
Golden abriu os braços, como se quisesse se livrar de algo. Naquele instante, as flamas se aproximaram cada vez mais dela e se fundiram a sua pele. O fogo ganhou um brilho incomum e se tornou insuportavelmente quente, até mesmo para nós ali em baixo. Coloquei o braço na frente do rosto, mas pude ver quando subiu no parapeito da mansão. Mas ele não pôde se aproximar.
Quando a luz e o calor diminuíram, abaixei meu braço, buscando Golden com os olhos. Mas ela não estava mais lá. Em lugar algum. Apenas uma fumaça escura jazia no lugar do fogo.
- Mas o que... – Tony sibilou perplexo.
- Não... – eu murmurei.
- Ah, meu Deus! – Daisy baixou os braços, soltando o inumano.
- Não! – eu repeti mais alto, dando passos para frente e então gritei. - Golden!
- Elle, não! – gritou de onde estava.
Arfei, sem poder acreditar. Onde ela estava? Onde minha garota estava? Cambaleei para frente, sem deixar de olhar para cima na esperança de vê-la novamente. A única coisa que vi, porém, foi pular do parapeito. Mas ele não veio na direção do chão. Usando seus poderes, ele se impulsionou na direção de Ash, que ainda voava. O irmão de Golden o alcançou, o agarrando pelos ombros.
- ! – Trisha berrou.
usou sua força e isso impediu Ash de continuar a flutuar. Então começaram a cair. Enquanto despencavam, trocavam socos potentes. Quando atingiram o chão, um estrondo ensurdecedor nos fez dar passos para trás. Quando a poeira baixou, vimos os dois no centro de uma cratera rasa, mas considerável.
- Isso é sua culpa! – berrou enfurecido e socou o rosto do outro. – Eu disse que deveríamos parar com isso, mas você não me ouviu!
Ele desferiu socos seguidos em Ash, que não reagia. Daisy tentou pará-lo, mas ele resistiu aos seus poderes e a lançou longe com um movimento de mãos. Steve e Bobbi correram até ela e eu e o Stark continuamos parados. Eu não consegui me mover e ele deveria estar tão pesaroso quanto eu.
- , pare! – de repente ouvi a outra inumana berrar.
Ela vinha voando dentro de uma bolha azulada. O outro inumano que emitia raios verdes pelas mãos a seguia. No momento que eles pousaram, a garota que se teletransportava apareceu com o inumano de óculos escuros. ainda estava sobre Ash, mas olhou para os outros e se levantou.
- Não é desse jeito que vamos resolver as coisas. – a garota disse.
- Ele causou tudo isso. – ele cerrou os punhos. - Eu poderia matá-lo.
- Não, você causou tudo isso. – o outro se levantou. – Você envolveu sua irmã onde ela não precisava estar e agora... Agora ela está morta.
- Seu... – ele tentou avançar, mas a loira o segurou pelo braço.
- Por favor, não! – ela pediu.
- Deixe que ele venha, Trisha. – Ash riu abafado. – Vamos terminar logo com isso.
Todos permaneceram parados, sem mover um músculo sequer. Aquilo poderia acabar mal. As coisas ficariam ainda piores se uma nova batalha se iniciasse. Apesar de minha vontade ser a de matar aquele inumano miserável, eu não tinha capacidade para fazê-lo. Mas podia e meu coração repetia insistentemente que ele o dizimasse.
- Por favor, isso não resolverá nada. – Trisha pediu novamente.
- Hellen está morta. – ele sussurrou e senti o pesar em sua voz. – Não posso deixar isso pra lá.
- ! – Daisy entrou na conversa, se aproximando deles. – Ela não ia querer que fizesse isso. Independente do que aconteceu, ela não ficaria feliz se sujasse suas mãos.
- Parem com essa conversa sentimental. – Ash semicerrou os olhos. – Aquela garota não serviu para nada, apenas para estragar nossos planos. Planos que haviam sido determinados há décadas.
- Cale essa boca imunda! – foi pra cima dele.
Eles se atracaram com socos e chutes que faziam o chão vibrar levemente. Torci para que o matasse. Mesmo que Golden não fosse querer que ele cometesse aquele ato. Mas, ela não estava mais aqui. O inumano o segurou pelo braço e o torceu para trás, o prendendo numa chave de braço. Entretanto, ele foi além e quebrou o braço do irmão de Golden, que soltou um grito doloroso.
- Você é fraco! – Ash falou. – Todos vocês são!
- Eu vou matar você! – disse entredentes.
- E quando vai começar a tentar? – o outro debochou.
Não aguentei mais ouvir as palavras daquele homem. Tirei a arma do coldre que usava, me aproveitando do momento de distração dele e atirei. Um, duas, três vezes. Os disparos acertaram suas costas e ele soltou , cambaleando pra trás. Deixei a pistola de lado e fui até ele disposto a acabar com tudo.
- Bucky! – Steve chamou meu nome.
O ignorei, seguindo a passos largos. Ao alcançar o inumano, o virei em minha direção e soquei seu rosto com meu braço cibernético. Sua cabeça pendeu pra trás e ele caiu, arfando pela dor dos tiros. O agarrei, obrigando-o a se ajoelhar.
- Seu desgraçado! – falei entredentes, tentando controlar minha raiva. – Eu vou acabar com você.
- Deveria ter ficado fora disso, soldado. – ele sorriu e sangue sujava seus dentes.
Franzi o cenho ao ouvir sua ameaça, mas não dei importância a ela. Segurei seu pescoço com força e, apesar de estar quase sem ar, Ash riu com desdém. Minha raiva aumentou e apertei sua garganta com mais força.
- Vamos lá... – ele disse com dificuldade. – Me mate...
Travei meu maxilar. Aquela era minha maior vontade. Mas eu não conseguia. Só de pensar o que Golden acharia, eu hesitava. Algo dentro de mim me dizia que eu não deveria prosseguir. Eu era melhor que isso. Eu não queria mais ser um assassino.
O soltei de uma vez e me afastei dois passos, vendo-o cair com as mãos apoiadas no chão. Sangue escorria por seu tronco, mas ele parecia menos preocupado do que deveria.
- Isso mesmo... – ele tossiu ainda fitando o chão, mas então me encarou de baixo. – Seja tão estúpido quanto eles.
Ash franziu o testa, assumindo uma expressão que mostrava que fazia esforço. Mesmo machucado, ele começou a produzir uma ventania, apenas em minha volta. Tentei me proteger, colocando os braços na frente do rosto, mas era muito forte. O vento levantou poeira e os pedaços de concreto soltos do chão, que começaram a me atingir, mas me mantive de pé.
Por cima do som do vento, consegui identificar outro ruído. Era o som de um motor. Segundos depois, pude avistar uma moto que vinha em nossa direção. Semicerrei os olhos ao ver uma cabeleira ruiva se esvoaçar por conta da velocidade. Ash também a percebeu, mas estava debilitado e não teve tempo de reagir quando a Romanoff apontou uma pistola para ele e disparou. Daquela vez, não era uma bala, mas um dardo que o acertou no pescoço.
Instantaneamente, o vento começou a diminuir, até que se dissipou completamente. O inumano arrancou o objeto do pescoço e o jogou longe. Eu sabia o que era aquela coisa. Um inibidor de poderes. E havia funcionado.
- Me desculpe por interromper o espetáculo. – ela disse, após descer da moto. – Mas ele estava muito entediante.
- Natasha! – Steve se aproximou.
- Capitão! – ela se virou até ele. – Acho que cheguei a tempo.
- Onde encontrou o inibidor? – perguntei.
- . – ela apontou para com a cabeça. – Ele nos ensinou a produzi-lo.
- Foi uma boa hora. – Steve suspirou.
- Onde está a Golden? – ela quis saber.
Naquele instante, todos nós ficamos em silêncio. Novamente, a dor recaiu sobre meus ombros e fechei meus olhos com força. Me afastei deles sem dizer uma só palavra. Caminhei lentamente pra longe, enquanto ouvia Steve falar para Natasha o que havia acontecido. Mas eu não queria ouvir. Minha mente não estava bem e acho que esse foi o motivo de ter começado a escutar algo estranho.
- O que é aquilo? – Trisha disse, apontando pra cima.
Todos olhamos para lá. No mesmo segundo, meu coração aumentou de ritmo. Uma chama flutuava sozinha no meio do ar e queimava como uma fogueira. De repente, ela começou a girar em espiral e foi crescendo. Para minha surpresa, o fogo começou a ganhar forma. A silhueta de uma pessoa se formou avermelhada e abrasadora.
- É ela! – Daisy parou ao meu lado.
Confirmando sua afirmação, as chamas se tornaram cada vez mais fracas, até que pudemos ver quem estava por trás delas. Golden estava com os braços e pernas abertas e se empenhava em se controlar. Finalmente, todos os ruídos cessaram.
- Eu não acredito! – Tony passou as mãos nos cabelos. – Aquele pirralha... ela está de volta!
- Espera! – Bobbi franziu o cenho. – Tem alguma coisa errada.
Sim, havia. Não demorou a que Golden parasse de fazer força, deixando todo seu corpo pender. Automaticamente, a gravidade começou a realizar seu trabalho, a puxando para baixo. Ela estava em queda livre.
- Está caindo muito rápido! – Steve observou.
- Droga! – Tony resmungou.
Tanto Daisy, como Trisha e até mesmo se colocaram a postos para resgatá-la. No entanto, não foi preciso. No último segundo, aparecendo como um falcão em busca de sua presa, Sam mergulhou no ar e a alcançou, pegando-a nos braços. Suspirei aliviado.
Quando ele pousou no telhado da mansão, não perdi tempo. Corri para dentro e subi as escadas com pressa. Meu único objetivo era saber se ela estava bem. Eu precisava que ela estivesse. Caso contrário, não saberia o que fazer. Golden havia se tornado mais importante do que imaginei. Ela havia me libertado de todos os meus pesadelos. Aquela garota havia sido a minha salvação.
Capítulo 40: Eu Serei Sua Força
Eu podia ouvi-los. Eles gritavam meu nome e eu podia ouvi-los. Eu continuava no mesmo lugar de antes, mas era como se estivesse dividida em partes. Pedaços de mim intangíveis, como se fossem uma neblina quente e invisível.
Quando menos esperei, voltei a ouvir sons abaixo de onde estava. Dessa vez eram violentas batidas e tive certeza que uma luta tinham se iniciado. Fechei os olhos, tentando me acalmar. Por incrível que pareça, deu certo. Minha mente clareou e pude pensar melhor.
Como eu queria, voltei a sentir todos em minha volta. Por mais que não os visse, suas energias eram fortes o suficiente para me dar uma direção. Imediatamente soube que o conflito envolvia e Ash. Eu não compreendia plenamente o que estava acontecendo comigo, mas tinha uma leve ideia, então resolvi me basear nela.
Naquele momento eu era pura energia. Literalmente. Isso explicava o fato de eu estar invisível. Talvez a bomba tivesse sido forte demais, desencadeando aquele processo. Soltei um gemido inquieto. Eu não era boa com teorias. Meu cérebro não era científico e eu costumava pensar em muitas bobagens.
- Vamos, Golden. – falei mentalmente. – É hora de voltar.
Respirei fundo e cerrei os punhos, me concentrando o suficiente para tentar reverter o processo. E aquilo era uma droga. Tanto poder me deixava enjoada, eu precisava me livrar dele.
- É isso... – abri um sorriso. – É isso!
Eu precisava me livrar da energia que me deixava sobrecarregada para voltar ao estado físico. Apenas não fazia ideia de como fazê-lo. Me concentrei, apesar de já estar cansada, e tentei colocar tudo para fora. Mas não estava sendo fácil. Na verdade, eu não vi nenhuma mudança. O que me deixou levemente irritada.
Quando estava prestes a soltar alguma palavra indecente, ouvi disparos. Os tiros acertaram Ash e ele perdeu o equilíbrio. Franzi o cenho e então identifiquei a energia de Bucky. E ela se movia até o inumano. Quando ele o acertou com socos e tentou estrangulá-lo, meu coração pulsou velozmente. Pelo menos eu o sentia bater apressado. Bucky era melhor do que aquilo. Eu sabia.
- Por favor... – choraminguei.
Sem esperar mais, me forcei além do limite. A dor retornou com meu esforço, me fazendo gritar a plenos pulmões. Mas eu não me importei. Eu precisava voltar. Obriguei a energia a se separar de mim a transformando em fogo. E deu certo. Lentamente, uma pequena chama surgiu em minha frente e ela queimava como uma fogueira. Abri a boca quando ela começou a girar e me espantei mais ainda quando ela se tornou maior até estar em torno do meu corpo, como uma armadura.
O fogo era quente, mas não me incomodava nem um pouco. Pelo contrário, era aconchegante. Continuei a expelir mais energia suja e a cada novo instante me sentia mais leve. Finalmente, voltei a sentir meu corpo. Firme e abrasador como antes. Fechei meus olhos e eliminei o último resquício do que foi a bomba.
Quando tudo acabou, soltei um leve riso. Eu havia voltado. Eu tinha conseguido. Antes que eu pudesse fitar meus amigos, porém, uma fraqueza repentina envolveu meu corpo. Tentei continuar flutuando, mas foi impossível. Meu cérebro não podia mais controlar meus membros e eles penderam, inertes. Forcei qualquer tipo de movimento, entretanto, foi em vão. Aquilo havia sido demais para mim.
E foi pensando assim que despenquei na direção do chão. Eu não cairia, eu sabia, já que todos estavam lá embaixo. Ainda assim, o desespero tomou minha mente. Eu não conseguia me mover. Apenas meus olhos se fecharam pela velocidade em que eu estava. Então, de uma só vez fui resgatada por braços firmes e rápidos. O alívio foi instantâneo.
- Agora está tudo bem, garota em chamas. – a pessoa disse e tive certeza de que era Sam.
Logo ele pousou e pelo tempo no ar, deduzi que não tínhamos ido até o chão. Sam me segurava com firmeza e caminhou alguns passos. Meu braço direito pendia estático e balançava como um peso morto. Aquilo me causou mal estar e uma leve pontada de pânico atingiu meu interior.
Sam continuou andando. Foi quando novos passos se fizeram ouvir. Não tentei saber quem seria, o que não poderia fazer nem se quisesse. Mas não foi preciso, pois a pessoa se identificou com sua voz frenética e cheia de preocupação.
- Golden! – Bucky berrou.
Me agitei internamente ao perceber que ele se aproximava e meu esforço me fez soltar um gemido. Sam parou e gemi outra vez em protesto, mas logo entendi o motivo dele interromper seus passos. Duas mãos me tocaram com calma. Um era dura e fria, totalmente de metal. Já a outra era macia e quente e me causou um leve arrepio.
Sam me passou para os braços de James e meu coração se acalmou por um instante. Ele se abaixou, me apoiando em suas pernas. Em seguida, ele apoiou uma mão em minha nuca, me ajeitando mais perto dele. Mas eu não podia vê-lo. Não conseguia abrir os olhos. Gemi novamente.
- Ei, está tudo bem. – ele sussurrou perto do meu rosto. – Está segura agora.
- Tem algo errado com ela. – ouvi a voz de Sam um pouco mais afastada. – Ela não consegue se mover.
- Golden. – ele me chamou, mas não consegui respondê-lo. – O que houve?
- Talvez esteja muito fraca. – o outro sugeriu.
- Talvez. – ele falou pensativo. – Mas pode ser algo mais.
- Como assim, algo mais? – Sam perguntou confuso.
Bucky não lhe respondeu. Ele se inclinou mais uma vez em minha direção e senti sua respiração açoitar minha face. Tive vontade de erguer meus dedos para tocar seu rosto, mas não pude. De repente, ele disse algo que me chamou a atenção.
- Você ficou ao meu lado todo o tempo, é minha vez de retribuir. – ele dizia baixinho. – Se precisar, eu seria sua força.
A princípio, não compreendi o que ele quis dizer. Foi quando ele me beijou. Um beijo calmo e singelo. Mas pude sentir o quão sentimental era. Como se Bucky quisesse me dar algo além do seu carinho. Naquele segundo, uma luz iluminou minha mente. Se eu precisasse, ele seria minha força. E eu precisava.
Fazendo o maior esforço que conseguia, encaixei melhor nossos lábios. Foi mínimo, mas suficiente. Com a concentração que ainda me restava, absorvi um pouco do poder de Bucky. Suguei o mínimo possível, mas bastou. Senti a energia circular por meu corpo, reavivando cada parte dele. Aquele pequeno contato foi revigorador.
Enquanto Bucky ainda me beijava, ergui minha mão e a passei em seu pescoço. Ele se afastou, surpreso. Abri os olhos lentamente e encontrei os seus, azuis e com um brilho especial. Estavam marejados.
- Você não vai chorar, não é?! – foi a primeira coisa que eu disse. – Porque não combina muito com sua personalidade.
- Você... eu não acredito... – ele soltou um riso abafado.
- Essa garota não é real! – ouvi Sam rir.
Olhei em sua direção e ele estava sentado no parapeito. Só estão percebi que estávamos no telhado da mansão. Por mais que eu tivesse com as forças renovadas, ainda me sentia fraca. O esforço que fiz mais cedo foi grande. Me remexi um pouco nos braços de Bucky.
- Quer levantar? – ele perguntou.
- Sim. – balancei a cabeça.
Ele me ajudou a levantar e permaneceu ao meu lado, me segurando pela cintura. Sem avisos, me coloquei em sua frente e o abracei com força. No começo, ele ficou imóvel, mas logo me apertou com a mesma intensidade.
- Está tudo bem. – ele murmurou perto do meu ouvido.
- Eu sei, soldado. – ri abafado. – Só precisava fazer isso.
- Será que poderiam parar com essa coisa melosa? – Sam se aproximou – Já estou ficando enjoado.
- Foi mal, passarinho. – pisquei pra ele. – Obrigada por me resgatar.
- Vamos descer. – Bucky disse.
- Os outros ainda estão lá em baixo. – o Falcão explicou.
Descemos juntos até chegarmos ao andar inferior. Assim que passamos pela sala de estar, encontramos Tony e Steve. Sentindo uma imensa alegria, corri até o Stark e o abracei. Ele retribuiu meu gesto.
- Não faça mais isso, pirralha. – ele afagou meu cabelo uma vez. – Ou a Pepper vai me matar.
- Ela vai matar nós dois. – eu enfatizei.
Nos separamos e Steve me cumprimentou, dizendo que estava feliz por me ver bem. Meneei a cabeça e soltei um risinho, agradecendo. Em seguida, olhei em volta, procurando o restante das pessoas que estavam conosco.
- Eles ainda estão lá fora. – Steve disse ao perceber meu olhar perdido.
- Eles estão bem? – olhei de um para o outro. – A bomba... ela...
- Você conseguiu. – Tony sorriu. – Todos estão salvos agora.
- E Ash? – por um segundo parte de minha alegria se desvaneceu.
- O paramos. – Bucky falou ao meu lado.
- Pararam? – perguntou um pouco receosa.
- Natasha o acertou com um inibidor de poderes. – Steve respondeu pelo amigo.
Suspirei aliviada e segurei a mão de Bucky, enlaçando nossos dedos. Eu sabia que ele não faria mais algo daquele tipo. Matar pessoas foi algo imposto a ele, mas ele era um homem bom. No entanto, eu precisava resolver as coisas. Eu era a tal líder que os inumanos esperaram por décadas.
- Eu preciso ir até lá. – eu falei para todos.
- Está bem. – Tony concordou. – Mas vamos com você.
Não disse nada. Se eles quisessem vir comigo, tudo bem. Eu só achava um pouco constrangedor agir como uma pessoa responsável por um povo na frente de tantos conhecidos. Balancei a cabeça e ri internamente. O que eu estava pensando? Sem mais, comecei a caminhar para fora e Bucky veio comigo, pois nossas mãos ainda estavam unidas. Logo passamos pela entrada da mansão e meus olhos correram pela cena que se passava.
Ash permanecia ajoelhado no chão ao lado de uma cratera. Atrás dele estava Natasha, que apontava uma pistola para a cabeça do inumano. Mais afastados estavam os outros inumanos, entre eles . Parei meus olhos sobre ele e sorri ao saber que estava bem. Quando me notou, ele arregalou os olhos, surpreso. Antes de qualquer outro, ele caminhou em minha direção.
Também fui até ele e nos alcançamos em poucos segundos. Sentido meu coração pulsar estranhamente feliz, o abracei. Rodeei sua cintura com meus braços e apoiei a cabeça em seu peito, escutando seu coração também agitado. me apertou como se eu pudesse fugir a qualquer momento e apoiou o queixo no topo de minha cabeça.
- Você voltou. – ele falou e vi que estava admirado.
- É uma longa história. – ri contra sua camisa.
- Que eu vou querer saber em detalhes. – ele avisou. – Por enquanto, é bom que esteja aqui.
- Eu sei. – o apertei mais. – Obrigada!
- Pelo quê? – ele se afastou um pouco e olhou em meus olhos.
- Por acreditar que eu daria conta disso tudo. – sorri.
- Somos uma família, Golden. – ele também sorriu. – Eu sempre vou acreditar em você.
- Golden? – fiz uma careta. – Você me chamou de Golden?
- É o seu nome, não é?! – ele riu abafado.
- Quase isso. – mordi o lábio superior.
se afastou de mim e pude fitar os outros à nossa volta. Bobbi sorria e Daisy tinha os olhos marejados. Pisquei para elas. Em seguida, encarei os inumanos. Aquela cena pareceu surtir algum tipo de efeito sobre eles, pois sentia suas energias mais calmas e decididas. Eles haviam escolhido um lado. Por isso, me aproximei, ficando entre eles.
- Sei que estavam em dúvida do que seguir, mas não tenham medo, a culpa não é de vocês. – eu disse com firmeza. – Meus pais os fizeram serem pessoas que apenas aceitavam ordens, mas isso não é certo. Somos pessoas e pessoas pensam, sentem, fazem escolhas. É por isso que peço que façam a sua. Podem ficar do meu lado ou podem seguir seu caminho.
- Não sei se temos outro caminho. – a garota de cabelos raspados disse.
- Sempre temos. – sorri para ela. – Só precisamos descobrir por onde seguir.
Eles trocaram olhares entre si e se entenderam rapidamente. Parecia que não havia mais o que discutir ali. Finalmente, Trisha deu um passo à frente, mostrando que representava o grupo.
- Esperamos nosso Líder por muito tempo, não há motivos para deixá-la. – ela encheu o peito para dizer. - Estamos com você, Golden.
- Eu fico feliz. – balancei a cabeça.
Logo após, me virei para Ash. Nat continuava atrás dele com a arma erguida. Fiz um sinal para ela para que se afastasse do rapaz e ela acenou com a cabeça, baixando a pistola e dando passos para trás. Respirei fundo e fui até ele. Mesmo exausta tentei manter minha postura firme. Quando parei em sua frente, ele ergueu os olhos azulados e me encarou.
- Ash... – murmurei seu nome.
- Hellen... – ele falou e sua voz estava carregada de ira.
- Na verdade, é Golden. – estalei a língua. – Mas é uma história bem estranha.
- Não duvido que seja. – ele falou com desdém.
- Sabe, Ash... eu poderia puni-lo por ser um... rebelde. – apoiei a ponta do meu indicador em sua testa.
Ele continuou me encarando, mostrando que não tinha medo de mim. E eu não queria que tivesse. Todavia, semicerrei os olhos e comecei a absorver uma pequena quantidade de sua energia. Sorri maliciosa quando certo terror tomou conta de sua face.
- Está sentindo? – eu perguntei e me inclinei para mais perto dele. – Sou eu, Ash.
- O que está... – suas palavras se perderam.
- Estou sugando você. – ri abafado. – Mas acho que isso não me fará bem.
Me ergui, retirando meu dedo de sua testa. Ash continuou me olhando perturbado. O ignorei, me virando para a Romanoff e pedi que ela se aproximasse. Quando Nat parou ao meu lado, disse que levasse o inumano para a base da SHIELD.
- Tem certeza? – ela ergueu as sobrancelhas.
- Sim, vamos precisar interrogá-lo. – olhei de soslaio para ele.
- Certo. – ela concordou.
Em seguida, ela o obrigou a se levantar e junto com Sam e Steve o levou até um dos carros. Daisy também foi com eles para o caso de Ash se revoltar novamente. Se bem que eu queria ter ido para poder dar uma surra naquele babaca se fosse preciso.
Depois que o levaram, olhei para Trisha e os outros. Eles permaneciam ao lado do meu irmão e conversavam discretamente sobre algo. Fui até lá, me juntando ao grupo.
- Será que poderia participar da conversa? – apoiei meu cotovelo no ombro de .
- Claro. – ele passou o braço em minha cintura.
- E então? – olhei de um para o outro.
- Estamos tentando resolver o caso das outras bombas. – ele explicou. – Estão desativadas, mas ainda podem ser um perigo.
- Eu sugeri que a Dinah fosse até os locais e as tirasse de lá. – Trisha falou.
- Arthur e Levi poderiam me ajudar. – a garota de cabeça raspada apontou para o garoto de óculos escuros e para o que emitia rajadas esverdeadas.
- Acho um bom plano. – concordei. – Em seguida, podemos levar tudo para a SHIELD.
- Desculpe, mas acho melhor que isso fique conosco. – meu irmão balançou a cabeça. – Temos os projetos e as localizações de cada dispositivo. Podemos resolver isso.
- Claro. – mordi os lábios. – Mas... só se eu puder ir junto.
- Estávamos esperando apenas sua palavra final. – Trisha sorriu.
- Como? – franzi o cenho.
- Essa coisa de líder não é brincadeira. – deu um leve aperto em minha cintura. – Vai ter que se acostumar.
- Acho que vou sim. – fechei os olhos e ergui a cabeça. – Até lá, me deem um tempo.
- O quanto precisar. – ele disse.
Me separei do meu irmão e me preparei para voltar aos outros. Antes, me lembrei de algo e parei no meio do caminho, voltando aos inumanos. Eles me encararam, curiosos.
- Se quiserem, enquanto resolvemos os detalhes finais, podem ficar aqui na mansão. – apontei para a construção atrás de mim. – Não que a casa seja minha, mas...
- Não será preciso. – falou por ele. – Temos onde ficar.
- Vocês têm? – ergui as sobrancelhas.
- Onde acha que moramos? – ele inclinou a cabeça um pouco para o lado. – Logo você vai até lá.
- Certo. – sorri.
Finalmente, nos despedimos. Dinah desapareceu com Arthur, o garoto de óculos que eu não fazia ideia de qual seria o poder. Trisha formou uma bolha azul em volta dela e de e eles começaram a levitar. Levi fez a energia verde cobrir suas mãos e os seguiu. Fitei-os até estarem muito longe e soltei um suspiro.
Depois, fui até Bucky, Tony e Bobbi. Eles estavam parados um pouco longe então corri para alcançá-los. Bobbi reclamou comigo, enfatizando que eu estava fraca e que deveria me poupar. Revirei os olhos e ergui as mãos, fingindo me render.
- Parece que tudo está bem. – Tony observou. – É uma pena que os outros precisem ir. Poderíamos dar uma festa.
- Não, por favor. – falei imediatamente. – Nada de festas!
- Droga... – ele resmungou. – Então acho melhor buscar a Pepper.
Tony nos deu as costas e voltou para dentro da mansão enquanto tirava um celular do bolso da calça. Agradeci mentalmente por ele não ter precisado lutar com sua armadura. Não queria colocá-lo em perigo. Olhei para Bobbi quando ela parou ao meu lado.
- Vou voltar para a SHIELD. – ela avisou. – Querem uma carona?
- Sim. – eu disse.
Seguimos os três para o carro estacionado em frente da casa e entramos. Fiz questão de ir no banco traseiro e deixei que Bobbi e Bucky fossem na frente. Me deitei e fitei o teto de metal, enquanto os solavancos faziam meu corpo remexer levemente. Eu estava esgotada, queria apenas um bom banho e minha cama. No entanto, havia algo muito mais importante a ser feito.
Capítulo 41: Ainda Há Esperança
continuava desacordado. Meu melhor amigo poderia não mais voltar por minha culpa. E isso me consumia a cada segundo. Por mais que saber que os outros estavam seguros me deixasse alegre, esse pequeno ponto esmagava qualquer chama de contentamento dentro de mim. Isso, porque não era um pequeno ponto.
O agente precisava de mim e sem ele eu não era completa. Ele era irritante às vezes, me contrariando em muitas situações. No entanto, quando eu estava deprimida ou visivelmente melancólica, era ele que me animava. Nunca entendi como aquele babaca conseguia esse feito, mas merecia um prêmio. Se eu estivesse triste, apenas eu mesma decidia deixar de estar.
Havíamos voltado para a base da SHIELD. Eu não me importei em passar primeiro na sala do diretor, mas segui direto para a ala médica. Bucky e Bobbi me acompanharam e eu ia à frente a passos largos. Não podia esperar nem mais um segundo. Talvez agora houvesse uma chance de salvá-lo. Talvez.
Quando desativei a bomba dos inumanos, aprendi a expelir a energia que absorvi. Foi por instinto, mas no fim, deu certo. Se eu me concentrasse o suficiente poderia repetir o processo e agora, ao invés de deixar que a energia se dissipasse, eu poderia transferi-la para outro lugar. Se eu conseguisse, poderia fazer ter força para acordar.
- Golden, sabe que o diretor vai querer um relatório da missão. – Bobbi disse enquanto ainda seguíamos.
- Resolvo isso depois. – continuei mirando o caminho à frente.
- Ei! – de repente Bucky me segurou pelo pulso.
Mesmo a contragosto, parei e o encarei. De canto de olho, vi Bobbi se afastar um pouco, falando pelo comunicador. A deixei de lado e voltei minha atenção para Bucky.
- Sei que acha que pode reverter à situação... – ele parecia escolher as palavras.
- Eu vou reverter. – falei com convicção.
- Sei que é poderosa. – ele me segurou pelos ombros, se aproximando. – Mas não quero que... se decepcione.
- Eu não vou. – apesar de estar decidida, minha voz vacilou um pouco.
- Entenda que não estou... Desencorajando você. – ele me olhou nos olhos. – Eu só...
- Já entendi, Bucky. – balancei a cabeça uma vez.
Ele imitou meu gesto. Em seguida, se aproximou mais e beijou minha testa. Fechei os olhos até que se afastasse. Suspirei e, depois de segurar sua mão, me virei para a agente Morse. Ela ainda falava pelo comunicador, mas logo a conversa se encerrou. Ela olhou para nós, se aproximando.
- Avisei que já estamos na base, mas que seguimos para a ala médica. – ela informou. – Contei o que pretende fazer e os outros estão vindo para cá.
- Entendido. – sorri de forma mínima. – Vamos.
Voltamos a seguir nosso caminho e não demoramos a chegar até o corredor onde o quarto de ficava. Bucky e Bobbi, cada um de um lado, continuavam sem dizer nada. E isso foi bom, pois pude pensar melhor em como fazer a transferência de energia para o corpo do meu amigo.
Finalmente paramos em frente à porta do quarto dele. Olhei para o material branco e soltei o ar pela boca. Peguei a maçaneta e a girei de leve, como se pudesse derretê-la a qualquer momento. Lentamente, empurrei a porta, até que pudesse ter a visão do interior. Avistei uma mulher parada ao lado da cama e logo a reconheci. Era a agente Simmons.
Sem me importar, adentrei o quarto e ela ergueu os olhos um pouco surpresa. Ela sorriu de forma gentil e veio até nós. Parou em minha frente e vi que segurava uma prancheta marrom no braço esquerdo.
- Olá, pessoal! – ela continuou com seu sorriso agradável. - Vieram visitar o agente ?
- Olá, Simmons! – Bobbi a cumprimentou por nós. – É... Quase isso. Podemos ficar?
- Claro! – ela aumentou seu sorriso. – Eu estava apenas coletando um pouco de sangue para refazer alguns exames.
Depois de sua permissão passei por ela e segui até meu amigo. Os maquinários continuavam monitorando seus sinais vitais e o bipe a cada segundo era irritante. O soro era levado até sua veia por meio de uma agulha. Mas, o que mais me chamou a atenção foi a máscara de oxigênio transparente em seu rosto. Ela não estava lá antes.
- Por que colocaram uma máscara de oxigênio nele? – me virei para eles.
- Bem, ele piorou nas últimas horas. – Simmons respondeu, seu sorriso desaparecendo. – Os batimentos diminuíram, assim como a atividade cerebral. Também começou a ter dificuldades para respirar e decidimos que era melhor utilizar a máscara.
Baixei os olhos e engoli seco. estava ainda pior do que eu imaginava. Cerrei os punhos e puxei o ar para meus pulmões lentamente. Era hora de reverter o mal que havia causado. Era hora de salvar meu amigo.
Me sentei na beirada da cama e fitei seu rosto. Estava pálido. Toquei seus cabelos espetados e sorri. Em seguida, desci meus dedos até a máscara e a tirei de seu rosto com cuidado, deixando-a repousada sob seu queixo. Sem deixar de fitá-lo, apoiei uma mão a cada lado do seu rosto e me inclinei um pouco em sua direção.
- Hora de acordar, atirador. – sussurrei apenas para ele.
Nesse instante, ouvi passos e ergui os olhos. Coulson, Daisy e May entraram pela porta. Balancei minha cabeça para eles e voltei minha atenção para o que estava prestes a fazer. Ninguém fez nenhum comentário. Mesmo concentrada apenas em e em sua energia débil, podia sentir a de todos ao redor e estavam agitadas. Estavam ansiosos e com razão.
Fechei os olhos e mordi os lábios, dando o máximo que eu podia. Eu tinha energia suficiente dentro de mim, especialmente depois que absorvi um pouco da de Bucky e também da de Ash. Forcei meus músculos e, fazendo uma careta, senti minhas mãos formigarem. Abri meus olhos e as fitei, vendo uma luminosidade tímida as envolver. Ela era alaranjada e se tornou ainda mais intensa à medida que eu insistia.
De repente, senti algo sair de dentro de mim. Eu sabia muito bem o que era, mas mesmo assim arfei quando minha energia percorreu meus membros até se acumular em meus dedos. Vagarosamente, ela me deixou e penetrou a pele de . Pelo menos era o que eu presumia.
Forcei ainda mais, disposta a ceder a ele o que fosse necessário, mas não foi uma boa ideia. Meus músculos se contraíram quando uma dor aguda atingiu cada um deles. Foi como se várias agulhas tivessem sido enfiadas ao mesmo tempo em mim. Mordi meus lábios com força para segurar o grito, que ficou preso em minha garganta. Isso piorou a dor e foi impossível não gemer.
- Golden, você está bem? – no mesmo segundo Coulson perguntou.
- Sim... – murmurei. – Só preciso de mais um minuto...
Soltei outro gemido e mordi o lábio inferior. O fiz com tanta intensidade que senti o gosto de sangue. Apertei os olhos e continuei. Eu precisava salvá-lo. Eu tinha que fazer aquilo por ele. Ofeguei cansada e então senti algo escorrer pelo meu nariz. Mais sangue, dessa vez saindo de mim por conta própria. Ainda assim, continuei.
- Golden, isso está prejudicando você! – Daisy falou com preocupação.
- Só mais um pouco... – insisti.
- Agente Potts, já chega! – o diretor deu a ordem.
Apesar de querer desconsiderar sua ordem e prosseguir, eu havia chegado ao meu limite. Sem poder lutar contra a tortura que me afligia, larguei o rosto de e me apoiei no colchão, respirando pesadamente. Não demorei a sentir mãos tocando meus ombros. Era Bucky. Ele me ajudou a levantar e me afastou um pouco da cama.
- Eu... Tenho que... Continuar... – balbuciei as palavras. – Eu...
- Está tudo bem. – ele me virou de frente para ele. – Você fez o seu melhor.
- Os sinais melhoraram, mas... – a agente Simmons falou e todos a encaramos. – Ele continua em coma.
Aquelas palavras vieram acompanhadas de mais dor. Dessa vez meu corpo tremeu por conta do que acontecia com meu coração. Ele se despedaçava completamente. Em mil partes. Eu não havia conseguido. Eu tinha fracassado. Olhei para meu amigo no momento em que Simmons recolocou a máscara de oxigênio em seu rosto.
Cambaleei para longe de Bucky e olhei para os outros no local. Estavam tristes. Daisy até mesmo derramava algumas lágrimas. Mas não estavam como eu. não era para eles o que era para mim. E eu havia fracassado. Sem enxergar mais nada fui em direção à porta. Ouvi alguns deles me chamar, mas não parei. Quando cheguei ao corredor vi Natasha, Steve e Sam esperando, mas os ignorei.
Passei por eles e avancei sem rumo. Quando ouvi meu nome mais uma vez, comecei a correr e deixei que minhas pernas me conduzissem. Quando percebi, já entrava no banheiro e fechava a porta com força. Me recostei nela e fitei as luzes do teto. Minha respiração era descompassada e eu não tentei regulá-la. Olhei para todos os lados e avistei o espelho sobre a pia branca. Fui até lá.
Encarei meu reflexo e o sangue ainda sujava meu rosto. Instintivamente, abri a torneira e me limpei sem deixar de me olhar. E eu me odiava. Tudo o que havia acontecido era minha culpa. Se eu não tivesse nascido, tudo estaria bem. Semicerrei os olhos e, canalizando toda minha raiva para meu punho, acertei o vidro com tudo. O baque foi instantâneo e os cacos voaram para todos os lados. Antes, porém, deixaram um corte profundo em meus dedos.
Não me importei com o sangue que escorria e pingava no azulejo claro, colorindo de vermelho aquele ambiente sóbrio. Dei alguns passos para trás e senti a dor em meu peito aumentar ainda mais. Me recostei na parede, minha respiração se tornando violenta. Fitei o rastro de sangue no chão com dificuldades, pois meus olhos estavam embaçados.
Como em alguns minutos toda minha felicidade por salvar a humanidade havia se dissipado? Aquela sombra negra fazia de tudo para voltar à minha mente e quase entrei em pânico. Tudo se tornaria ainda pior se eu perdesse o controle. Mas, que diferença faria? Eu havia matado meu melhor amigo.
Apoiei a cabeça na parede quando ouvi a maçanetar ser girada. Quando Bucky entrou, nossos olhos se encontraram e minha última gota de forças se foi. Me entreguei ao pranto e deslizei até o chão. Depois de seis meses, depois de perder tudo uma vez, eu voltava a chorar. E era uma experiência horrível.
Logo ele se abaixou ao meu lado e me envolveu com seus braços fortes. Não hesitei em me agarrar a ele, chorando com ainda mais intensidade. Bucky iria dizer algo, mas então olhou em volta, vendo os destroços de vidro por todo canto, além de sangue.
- Golden... – ele arfou.
Sem mais, Barnes se levantou rapidamente e foi até a pia, pegando vários papéis toalha. Os molhou um pouco e voltou até mim, se abaixou e pegou minha mão a envolvendo com cuidado. Eu continuava a soluçar.
- Vamos para a enfermaria. – ele disse.
- Eu fracassei... – murmurei.
- Como? – ele segurou meu queixo e me fez levantar o rosto.
- Eu o matei... – fitei seus olhos azuis.
- Não... – ele arregalou os olhos. – Golden, não é culpa sua.
- Eu... Eu fiz isso. – um soluço me fez engasgar. – E agora não posso consertar.
- Olha pra mim, olha pra mim! – ele aproximou o rosto do meu. - Aquela não era você. Não sabia o que estava fazendo.
- E por que me sinto tão culpada? – desviei meu olhar. – Por que isso não passa?
- Porque você é uma boa pessoa. – ele acariciou meu rosto. – É uma garota de ouro.
O fitei outra vez, surpresa com aquela comparação que ele tinha feito. Bucky sorriu minimamente e limpou minhas lágrimas. Um pouco mais controlada, o abracei novamente, afundando o rosto em seu pescoço. Ele retribuiu o gesto e afagou meus cabelos.
- Ele não está morto, só dormindo. – ele disse em meu ouvido. – Ainda há esperança.
Agarrei sua camisa com a mão boa e me aproximei mais dele. Seu calor me fez bem e minhas lágrimas cessaram aos poucos. Ao ver que eu estava mais calma, James me pegou em seus braços e se levantou, caminhando para fora do banheiro. Enquanto seguíamos, minha cabeça começou a latejar. Não sabia se era uma consequência do meu choro ou do meu esforço. Independente da razão, resolvi ignorar aquele leve incômodo.
Bucky me levou até um quarto vazio. A agente Simmons fez um curativo em minha mão machucada e me fez beber um calmante. Aceitei de bom grado o comprimido. Em seguida, ela nos deixou. Me deitei de lado e passei a fitar o nada. Enquanto estava ali, Bucky se sentou numa cadeira ao meu lado e segurou minha mão. Eu apenas pensava em suas palavras.
“Ainda há esperança.”
Em silêncio, o sono me envolveu e finalmente dormi. Mas as palavras ainda estavam lá. Como um pequeno ponto de luz numa vasta escuridão.
Capítulo 42: Não o Deixe Ir
Quando abri os olhos percebi que me sentia um pouco melhor. Apesar de a claridade do lugar me incomodar, decidi ignorá-la. Por um segundo, não me lembrei do que havia acontecido, porém, não demorou a que tudo voltasse à minha mente. Soltei um gemido cansado e me virei de barriga para cima. Não demorei a perceber que alguém estava sentado ao meu lado e virei meu rosto para a pessoa.
- Achei que não fosse mais acordar. – me encarava com um meio sorriso. – Bem me disseram que você gosta de dormir.
- ? – franzi o cenho. – O que faz aqui?
- Eles me contaram o que aconteceu com seu amigo. – ele disse.
- E por que voltou? – continuei a encará-lo deitada.
- Fiquei preocupado. – ele inclinou a cabeça um pouco para o lado.
- É claro que ficou... – suspirei.
Sem a menor vontade, fiz um pequeno esforço e me sentei no colchão, colocando as pernas para fora da cama. Ela era um pouco mais alta do que o normal, por isso meus pés ficaram pendurados.
- Eu me preocupo com você, de verdade. - ele enfatizou. – Não duvide disso, irmã.
- Eu não duvido, irmão. – sorri de lado. – Só não sei se é muito bom em demonstrar isso.
- Me desculpe por não ser um exemplo de afeto. – ele riu abafado. – Mas fui criado assim.
- Tudo bem. – dei de ombros. – Com o tempo você aprende.
- Espero que sim. – dessa vez ele suspirou.
Ficamos nos encarando sem dizer mais nada. Eu não entendia o que havia nele, mas conseguia sentir a conexão. Tudo em era familiar, apesar de termos nos conhecido há pouco tempo. Desde o começo, nunca consegui odiá-lo, mesmo que não fosse com sua cara. Agora, algo que podia chamar de simpatia, crescia dentro de mim. Sim, eu gostava do meu irmão.
- Aposto que não veio aqui para falar de nossa relação. – quebrei o silêncio.
- Não. – ele riu, puxando a cadeira para mais perto de mim. – Vim tratar de algo mais urgente.
- Como assim, mais urgente? – franzi o cenho.
- Sei o que tentou fazer com . – ele ergueu as sobrancelhas. – De como tentou transferir energia para o corpo dele.
- É... – baixei o olhar, fitando o curativo em minha mão. – Mas não deu certo.
- Talvez não tenha dado certo agora. – ele apoiou a mão em meu joelho.
- , eu não consegui. – abri os braços. – O que há, além disso?
- Pode estar usando seus poderes da forma errada. – ele continuou.
- Agora você está parecendo o Bucky. – mordi os lábios. – Onde ele está, afinal?
- Eu pedi para conversar com você e ele saiu. – ele fez um careta. – Acho que ele não gosta muito de mim.
- Ele é sempre meio desconfiado. – eu observei. – Mas o que quer dizer com eu estar usando meus poderes da forma errada?
- Você é muito poderosa e todos já perceberam isso. – ele voltou a explicar. – Mas todos os inumanos precisam de treinamento pra descobrir o seu verdadeiro potencial.
- Acha que posso fazer mais? – eu disse com curiosidade.
- Com toda certeza. – ele balançou a cabeça. – E podemos ensiná-la.
- Quando? – me inclinei um pouco para frente.
- Meus planos era que resolvesse tudo aqui e fosse quando quisesse. – ele se levantou, ficando mais alto que eu. – Mas com o caso do seu amigo, seria melhor que fosse o mais rápido possível.
- Vocês me treinariam para que eu entendesse meus poderes. – eu deduzi. – E quem sabe pudesse salvar o .
- Sim. – ele confirmou. – Só por sua primeira tentativa, os sinais vitais dele melhoraram. Imagine o que poderá fazer quando entender a magnitude de suas habilidades!
Soltei um longo suspiro e olhei para o teto branco. Aquilo fazia todo o sentido. Eu sabia fazer muitas coisas com meus poderes e descobri isso em pouco tempo. Se eu treinasse com e os outros inumanos, conseguiria atingir um nível impensável. Poderia dominar a absorção e transferência de energia com muito mais maestria.
- Onde vocês moram? – perguntei.
- Temos um lugar aqui em Nova Iorque, mas para treiná-la, precisaremos ir até a sede. – ele falou um pouco pensativo.
- Sede? – cada vez eu ficava mais intrigada.
- Temos uma sede. Ela fica onde nossos pais começaram tudo. – ele explicou.
- Onde? – perguntei.
- Romênia. – ele respondeu.
- Isso é... – deixei meus ombros penderem. – Do outro lado do oceano.
- É longe, eu sei. – ele se aproximou. – E não quero que faça algo que não tenha vontade.
- , eu não sei... – murmurei.
- Pense e depois me dê a resposta. – ele baixou o rosto para me olhar nos olhos.
Com calma, ele se inclinou e depositou um beijo suave no topo de minha cabeça. Quando ele se afastou, eu o encarei, surpresa.
- Estou tentando melhorar. – ele sorriu.
Em seguida, se afastou e seguiu para a saída. Permaneci no mesmo lugar, sentada e balançado minhas pernas. Enquanto sentia sua energia se distanciar, pensava no que ele havia me dito. Ir para a Romênia para que aprendesse a usar meus poderes. Mas era tão distante. E meus amigos e Pepper estavam aqui.
Olhei para os lados e desci da cama. Caminhei de um lado para o outro pelo piso claro, enquanto pensava em todas as possibilidades. Eu não queria ir. Ficar longe de todos seria muito doloroso. Mas havia e a possibilidade de salvá-lo. Os outros poderiam esperar, não é mesmo?
Ainda ali, recebi uma mensagem pelo comunicador. Deveria comparecer à sala do diretor. Imediatamente, segui até lá. Ao caminhar, fitava os meus pés apressados. Elétrica, cheguei ao corredor, parando em frente da porta da sala de Coulson e bati. Ao receber a permissão, entrei. Ele estava sentado em sua mesa e tinha várias folhas de papel nas mãos.
- Ah, agente Potts! – ele fez um sinal com a cabeça para que eu entrasse. – É bom saber que está melhor.
- Ah... Obrigada. – fechei a porta, me aproximando dele. – O senhor queria falar comigo?
- Bem, eu gostaria de saber o relatório da missão. – ele parou de remexer os papéis e me encarou. – Mas não precisa fazer isso agora, pode descansar um pouco de quiser.
- Tem certeza? – franzi o cenho.
- Você fez muito, agente. – ele sorriu de forma mínima. – Além disso, a agente Morse e a agente Johnson também estão encarregadas de fazerem relatórios do ocorrido.
- Isso é de grande ajuda. – me sentei na cadeira de frente para ele. – Até por que eu queria conversar sobre algo.
- Tem a ver com a proposta do ? – ele ergueu sobrancelhas.
- Ele já veio até aqui. – estalei a língua.
- Sei que está disposta a fazer de tudo para ajudar o agente Davis e nós também estamos. – ele apoiou os cotovelos na mesa. – Mas você confia nele?
- Eu não sei se confiar seria a palavra certa. – mordi meus lábios. – Nesse momento, eu preciso entender o que eu sou e o que posso fazer. Ninguém melhor do que ele para me auxiliar.
- Entendo. – ele balançou a cabeça uma vez. – Se essa é sua opinião, então não há nada a dizer. A decisão é sua.
- Eu só achei que ouvir alguém mais experiente pudesse me direcionar melhor. – suspirei.
- E então? – ele sorriu sem mostrar os dentes.
- Foi de grande ajuda. – sorri de volta.
Após mais alguns minutos de conversa, finalmente, fui liberada. Saí pelos corredores em busca de meus amigos. Qualquer um deles. As primeiras que encontrei foram Bobbi e Daisy. Elas vinham com pastas de arquivos nas mãos e conversavam sobre um assunto sério. Mas, assim que me viram, abriram largos sorrisos. Até mesmo Bobbi.
Sem cerimônias, dei uma leve corridinha até elas e me lancei em seus pescoços. Daisy riu de minha atitude e Bobbi se equilibrou para não cair. As larguei logo em seguida e dei um passo para trás.
- Me desculpem, mas precisava fazer isso. – eu disse.
- Parece que já está melhor. – Bobbi observou.
- Um pouco. – fiz uma careta. – E o que estão fazendo?
- Vamos levar o relatório da missão para o diretor. – Daisy respondeu.
- Já estão prontos? – abri a boca.
- Você dormiu o dia todo, Golden. – ela riu. – Tivemos bastante tempo.
- Muito engraçado. - revirei os olhos.
- Precisamos ir agora. – Bobbi falou. – Mas nos vemos depois.
- Claro. – concordei.
Elas seguiram na direção que eu tinha vindo e eu fui à direção oposta. Eu continuava com meus passos largos, talvez por estar ansiosa com a decisão que havia de tomar. Andei por vários minutos, mas não encontrei os outros, por isso me concentrei em suas energias. A primeira que senti foi a de Natasha e estava em movimento. Juntos com ela, Sam e Steve permaneciam na sala de treinamento. Corri até lá.
- Ei! – berrei assim que entrei.
Nat parou um soco que pretendia acertar no saco de areia em sua frente. Atrás do peso, estava Steve e ele o largou. Sam, que observava, também me encarou. Os três pareciam surpresos, mas também contentes por saber que eu estava de pé. Ainda assim, continuaram onde estavam.
- Muito obrigada pela recepção calorosa. – debochei, apoiando as mãos no quadril.
- Foi mal. – Sam falou por eles. – É que nós achamos que você ficaria mais um tempo sozinha.
- Ficar sozinha é um saco. – eu fiz uma careta exagerada. – Especialmente quando você descobre coisas bizarras sobre sua vida.
- Por que você sempre fala tanto? – Nat revirou os olhos.
Antes que eu a respondesse, ela veio até onde eu estava e me envolveu num abraço apertado. O retribuí automaticamente, feliz por tê-la perto. Não demorou a que Sam também fizesse sua demonstração de afeto, apesar de mais tímida. No entanto quando cheguei ao Capitão, o abracei pelo pescoço e, ficando na ponta dos pés, sussurrei em seu ouvido.
- Obrigada por me ajudar com o Bucky. – eu disse. – Se você não estivesse aqui, talvez ele também não estivesse.
- Você está aqui. – ele se afastou um pouco. – É motivo suficiente para que ele fique.
- Mesmo assim. – senti minhas bochechas esquentarem. – Você é a única pessoa da vida verdadeira que ele já teve que está viva. Eu faço parte dos pesadelos que o atormentam.
- Não pode ter tanta certeza. – Steve franziu o cenho.
- Ele me contou sobre eles uma vez. – eu disse. – E eu estava lá.
- Eu sinto muito. – ele lamentou.
- Tudo bem. – suspirou. – Só me prometa uma coisa.
- O que quiser. – ele balançou a cabeça uma vez.
- Continue ao lado dele. – eu disse. – Vocês são o apoio um do outro. Você é o dele ainda mais. Por favor, não o deixe ir outra vez.
- Eu não vou. – vi sinceridade em seus olhos. – Eu prometo. Mas por que está me pedindo isso agora?
Eu não pude responder. Antes que o fizesse, senti que mais alguém estava presente na sala. Meu coração parou por um segundo e então voltou a pulsar descontrolado. Mas eu não me virei. Fechei os olhos até que o ouvi me chamar.
- Golden?! – sua voz saiu firme.
- Bucky?! – Steve respondeu por mim e se aproximou do amigo. – Onde você estava?
- Conversando com . – ele disse e eu cerrei meu punho bom.
Finalmente me virei para ele. Não precisei ler sua energia nem nada parecido para saber que ele estava tenso. Seus olhos refletiam os seus sentimentos, me afetando instantaneamente.
- Bucky... – eu sussurrei seu nome.
- Você vai embora? – ele foi direto.
- Como assim, a Golden vai embora? – Nat perguntou confusa.
- Não, eu não... – engoli seco.
- Golden, que história é essa? – Sam também estava perplexo.
- Eu... – tentei argumentar, mas desisti no mesmo segundo. – Conversamos sobre isso depois.
Sem explicações, caminhei na direção de Bucky e o segurei pela mão, o puxando para fora da sala de treinamento. Ele veio sem resistência e caminhamos por vários corredores, até estarmos no estacionamento. Parei ao lado de uma moto preta e peguei um capacete da mesma cor. Ele me encarava com o cenho franzido.
- Não posso conversar sobre isso aqui. – eu sacudi a cabeça. – Preciso ir pra casa.
- Então é verdade? – ele continuou com expressão descontente.
- Bucky, por favor... – passei a língua entre os lábios. – Só venha comigo e eu prometo explicar tudo.
Ele não respondeu nada. Apenas passou a perna na moto e esperou. Também quieta, caminhei até o painel onde as chaves dos veículos ficavam e digitei a senha. Após, peguei a chave do nosso veículo e voltei até ele. A estendi para Bucky, que a pegou sem me encarar. Ainda em silêncio, montei na garupa e ele ligou o motor. Não demoramos a sair.
Não tinha avisado a ninguém que o faria, mas cuidaria disso depois. Naquele momento, precisava conversar com Bucky e também com Pepper. Ela merecia saber o que eu pretendia fazer. Os dois mereciam uma explicação.
Enquanto o vento açoitava nossas roupas e cabelos, respirei fundo e me inclinei na direção de Bucky. O abracei pela cintura com firmeza e o senti respirar fundo. Queria mostrar que continuava ali ao seu lado. E que ninguém mudaria isso.
Capítulo 43: Eu Preciso de Você
Enquanto adentrava a mansão, tentei sentir a energia de Pepper ou de Tony. Mas ao mesmo tempo em que estava ansiosa para vê-los, não queria conversar sobre o assunto que sabia ser pendente: ir ou não com e os outros para a Romênia.
Logo vi que eles não estavam lá. Pensei que meus poderes talvez estivessem falhando e tentei outra vez, apenas para constatar que ninguém estava em casa. Parei na sala de estar e girei em volta de mim mesma, observando o vazio daquele ambiente enorme.
- Eles não estão aqui. – murmurei.
Me virei para James, que permanecia parado à entrada do cômodo com os braços cruzados. Ao ver sua expressão, soltei um suspiro e caminhei em sua direção, parando a poucos passos. Ele não moveu um músculo sequer, me causando uma leve agonia. Ergui as sobrancelhas, como se esperasse que ele dissesse algo, mas Bucky continuou com a mesma expressão de paisagem.
- Você está me provocando. – semicerrei os olhos.
- Estou? – ele disse apenas.
- Já deve saber muito bem que não gosto quando fica calado. – abri os braços. – Parece que está irritado comigo.
- Não estou irritado. – ele disse, descruzando os braços.
- Então o quê? – franzi o cenho ao perceber que ainda continuava com a expressão fechada.
- Eu só queria que me explicasse o que é tudo aquilo que seu irmão me disse. – ele se aproximou.
- Tá. – desviei o olhar. – Mas vamos lá pra cima.
- Por quê? – ele questionou.
- Quero te mostrar uma coisa. – respondi.
Comecei a caminhar de costas sem deixar de encará-lo, mas logo me virei até a escada e segui até ela, subindo os degraus. Não demorei a senti-lo em meu encalço. Segui sem pressa, pois incrivelmente, eu não estava com muita vontade de falar. Não fazia ideia do que dizer e isso me deixava aflita.
Chegamos até o corredor onde ficavam os quartos e parei em frente do meu. A porta estava fechada. Segurei a maçaneta e a girei com calma, como se pudesse destroçá-la apenas com meu toque. Abri uma fresta e me virei para Bucky. Ele me encarava com curiosidade.
- É o meu quarto. – eu sorri.
Ele não respondeu, por isso olhei para frente outra vez e terminei de abri-la, entrando. Parei ao lado da porta e esperei que ele também entrasse. Bucky não hesitou e caminhou para dentro, passando por mim. Empurrei a madeira escura e, ao ouvir o ruído do trinco, me afastei.
Fitei o quarto e estava como o havia deixado. Tudo estava no lugar, inclusive a pasta sobre minha cama, com as informações de Bucky. Olhei para ele e sorri. Podia reparar como observava com atenção cada detalhe do ambiente. O painel de fotografias pendurado na parede branca, a cama com lençóis escuros, minhas botas ao lado do criado mudo.
- Eu não sou muito organizada. – mexi em alguns pequenos objetos sobre minha escrivaninha.
- Percebi. – ele disse e então se virou pra mim.
- Tudo bem, você não quer enrolações. – suspirei. – Apenas me diga o que, exatamente, te disse.
Dessa vez, Bucky suspirou. Como se estivesse escolhendo as palavras certas para começar aquela conversa, ele passou a mão nos cabelos, tirando-os um pouco do rosto. Confesso que aquele simples movimento me fez perder um pouco o foco, mas sacudi discretamente a cabeça para que voltasse a prestar atenção à situação.
- Ele não falou muito, apenas o que perguntei. – ele respondeu. – Eu quis saber o que conversaram e ele contou sobre o , que você poderia salvá-lo, mas que precisaria aprimorar seus poderes para isso.
- É... – foi o consegui dizer.
- Mas ele disse que para treiná-la, precisarão ir para a Romênia. – ele completou sua fala.
- Sim. – continuei monossilábica.
- Você vai? – vi uma pontada de desespero em sua voz.
Aquilo fez com que meu coração apertasse. Ele não podia fazer aquilo comigo. Tornaria tudo mais difícil se continuasse me fitando com aquele olhar melancólico. Bucky não poderia gostar tanto assim de mim. Ou poderia?
- Eu... – hesitei um instante.
- Você confia em ? – ele perguntou.
- Não é essa a questão. – balancei a cabeça.
- Então qual é? – ele franziu o cenho.
- Você deve saber que eu faria tudo pelo . – deixei claro. – Ele sempre foi o meu melhor amigo. Desde que éramos crianças. Crescemos juntos, nos formamos juntos e iniciamos nossa vida como agentes juntos. Ele sempre esteve comigo.
Caminhei até o painel e retirei uma das fotos de lá, a entregando a ele. Bucky a pegou e a analisou com atenção. Parei ao seu lado e também fitei o papel. Nele, e eu usávamos becas vermelhas. Eu segurava meu capelo e o abraçava pelo pescoço com um dos braços. sorria largamente, apoiando uma mão em minha cintura.
- Essa, tiramos em nossa formatura do ensino médio. Temos praticamente a mesma idade. – eu disse com um sorriso. – Mas ele é alguns meses mais velho. Às vezes, isso é irritante, pois ele acha que sempre precisa me proteger.
- Irritante? – ele me fitou.
- Não preciso que me protejam, Bucky. – peguei a foto de suas mãos. - Posso cuidar de mim mesma muito bem. E de quem precisar de mim.
Coloquei o alfinete outra vez na foto, prendendo-a junto às outras. Fiquei alguns instantes parada, absorvendo tudo o que aquelas imagens significavam, mas então a voz de James encheu meus ouvidos.
- Sei que ele é importante. – ele disse. – E não quero que pense que estou tentando fazê-la escolher entre nós dois. Não seria justo.
- Eu não quero escolher. – mordi meus lábios. – Eu não posso.
- Golden... – ele se aproximou, parando ao meu lado.
- Eu não posso. – apoiei uma mão no painel, repetindo.
- Você não precisa. – ele disse.
O encarei sem entender. Como assim, eu não precisava escolher? Claramente, havia uma decisão a ser tomada e eu precisava resolver logo aquela questão. Só não sabia como.
- O que quer dizer? – murmurei.
- Estou dizendo que não há uma escolha. – ele segurou meu ombro e me virou para ele. – E todos vão entender sua decisão.
- Mas... – engoli seco. – E você?
- Você me salvou. Não posso exigir mais nada. – ele travou o maxilar. – Não mereço mais nada.
- Isso não é verdade. – segurei sua mão de metal. – Bucky...
- Eu tenho que entender que você não é exclusivamente minha. – ele fitou as fotos. – As pessoas precisam de você mais do que eu preciso.
Arfei ao perceber que ele tinha certa medida de razão. Eu o havia ajudado a voltar a ser uma pessoa quase normal, a confiar mais uma vez nos outros, mas agora Bucky tinha Steve e os outros começavam a aceitá-lo como ele realmente era. Agora, eu precisava continuar de onde havia parado. Deveria retornar a minha antiga vida, onde eu fazia de tudo para ajudar quem quer que fosse.
- Mas eu ainda preciso de você. – minha fala contrariou totalmente meus pensamentos. – Eu... Preciso de você, Bucky.
Ele abriu os lábios, um pouco surpreso e não disse uma só palavra. Mas eu sabia que tinha vontade de dizer. Seu olhar se tornou tão radiante quanto seu interior, porém, ele tentava se conter. Bucky não queria dificultar as coisas. Ele havia entendido a gravidade da situação.
- Eu também preciso de você. – ele admitiu com um leve suspiro. – Mas isso não é tudo. Não agora.
- Pra mim é. – respirei fundo. – Pelo menos agora.
Me inclinei em sua direção e aproximei meu rosto do seu. Quando nossos narizes roçaram um no outro, arfei, fechando os olhos. Bucky também se achegou e nossos lábios se tocaram. Estreitei meus braços ao redor de sua cintura e ele deslizou sua mão normal até apoiá-la em minha nuca. Com um movimento ligeiro, ele aprofundou o beijo.
Eu precisava daquele contato. Seu calor era suficiente para me acalmar, mais do que qualquer fogo que eu pudesse produzir. O tempo que passamos juntos me fez perceber que Bucky Barnes era mais do que um soldado. Ele era um homem com sentimentos demolidos e um coração machucado que precisava de alguém que o compreendesse. E eu estava ali para isso. Por ele.
Quando o ar nos faltou, nos afastamos e mordi meu lábio inferior. Abri os olhos e o encontrei me encarando intensamente. Lentamente, Bucky acariciou minha nuca sem deixar de me olhar. Abri a boca e agarrei sua roupa com força.
- Agora está me provocando. – minha voz saiu num murmúrio.
- Você começou. – ele respondeu com um sorriso de canto.
Antes que eu respondesse, ele me puxou e me beijou novamente. Não resisti e deixei que as coisas fluíssem. Larguei sua camisa e passei minhas mãos por baixo dela. Quando meus dedos tocaram sua pele, seu corpo se arrepiou. Subi meus dedos por suas costas até estar na metade dela. A essa altura, sua respiração já estava descompassada e ele apertou minha cintura com sua outra mão.
Sem nos afastar, ele desceu sua mão que estava em minha nuca e também a apoiou em minha cintura. Sem esforço, ele me fez dar passos para trás até que eu me encostasse a uma das paredes. Com seu corpo forte ele me imprensou e eu arfei quando suas mãos ergueram a barra de minha blusa. Passei minhas unhas em suas costas e ele agiu com ainda mais urgência, puxando minha roupa para cima.
Nos afastamos e eu o encarei, erguendo meus braços. Sem esperar, ele passou a blusa por eles e a largou em qualquer lugar. Respirando descontroladamente, recostei a cabeça na parede enquanto ele me observava vidrado. Não senti vergonha quando ele deslizou seus dedos por meu abdômen, parando a poucos centímetros da barra de minha calça. Pelo contrário, tive vontade que ele fizesse aquilo mais e mais vezes, então mordi meu lábio inferior sem deixar de fitá-lo.
Como se aquilo fosse um convite, ele enfiou seus dedos por dentro do tecido, tocando o pano de minha calcinha. Seus dedos brincaram com ela por alguns instantes, mas nenhum de nós dois aguentava mais esperar. Num movimento rápido, ele tirou a própria camisa e se aproximou, colocando um braço a cada lado da parede. Sua pele irradiava uma energia boa que me dominava por completo.
- Eu nunca achei que chegaríamos aqui. – apoiei uma mão em sua cintura e o trouxe mais para perto.
- Nunca achei que conheceria alguém como você. – ele aproximou o rosto de meu ouvido.
Seus lábios relaram em meu lóbulo, me causando um arrepio na espinha. Sua respiração ofegante açoitando minha orelha deixou a minha ainda mais descontrolada. E aquilo era só o começo. Segurei sua nuca e fiz que me encarasse. Seus olhos azuis brilhavam mais do que qualquer chama e me hipnotizaram por um instante. Quando voltei a mim, selei nossos lábios com vontade.
Suas mãos desceram por meu tronco até chegaram outra vez às minhas calças. Com agilidade, ele abriu o botão e o zíper e a peça deslizou por minhas pernas, revelando uma calcinha branca. Sem partir o beijo ele fez com que eu enlaçasse minhas pernas em seu quadril. Aquele movimento aumentou nossa proximidade e pude sentir o seu volume pressionar minha intimidade.
Comigo em seus braços, ele começou a caminhar a passos lentos, mas decididos. Quando percebi, ele já me deitava sobre os lençóis azuis escuros, ficando entre minhas pernas. James se apoiou em seu braço cibernético e se afastou um pouco me encarando sob ele. Meu peito subia e descia e vi quando sua atenção se voltou para aquela área. Me apoiei nos cotovelos e, chegando perto dele, depositei um leve selinho em seus lábios.
Quando voltei a deitar, apoiei uma mão em seu ombro e fiz com que viesse junto comigo. Ele se deitou sobre meu corpo e beijou meu queixo. Em seguida, desceu seus lábios até meu pescoço, deixando um rastro por onde passava. Bucky deu uma leve mordida naquela área me arrancando um gemido baixinho. Ele sabia muito bem o que estava fazendo. E tive certeza disso quando sua mão deslizou para baixo de mim, achando o feixe de meu sutiã. Ele o abriu e o retirou. Senti minhas bochechas esquentarem pela primeira vez quando ele me encarou por longos segundos sem piscar. Mas esse momento de vergonha passou quando suas mãos viajaram outra vez por meu corpo.
Bucky sabia exatamente onde tocar e deixei que ele conduzisse aquele momento. Se ajoelhando, suavemente ele segurou os lados de minha calcinha, a puxando para baixo. Também terminou de se despir e se deitou sobre mim novamente. Eu podia sentir sua energia fervilhando dentro do seu corpo, mas tentava me concentrar em seus olhos que me fitavam com desejo.
Aos poucos ele me penetrou, fazendo minhas pernas tremerem. Abri a boca, deixando escapar um gemido alto ao senti-lo completamente dentro de mim. Quando se movimentou, precisei fechar os olhos e morder os lábios para não gritar de prazer. Aquilo estava sendo melhor do que havia imaginado.
Sem cessar seus movimentos, ele segurou minhas mãos e enlaçou nossos dedos, apoiando-as sobre minha cabeça. Ele estava no controle. Com lascívia ele me beijou profundamente, aumentando seu ritmo. Meu corpo pedia por mais, então enlacei seu quadril com minhas pernas.
Quando ficamos sem ar, nos separamos e Bucky afundou o rosto em meus cabelos, arfando. Espalmei as mãos em suas costas largas, obrigando-o a apoiar mais do seu peso em mim.
- Eu... Quero você... Bucky... – minhas palavras saíram entrecortadas. – Eu preciso...
- ... – ele gemeu em meu ouvido, me surpreendendo.
Senti seus músculos ficarem tensos e ele apertou meus dedos com mais força. Instantes depois, ele se derramou em mim. Não demorei a chegar ao meu ápice. Um arrepio bom percorreu todo meu corpo, me fazendo tremer e arquear as costas em sua direção. Os espasmos continuaram, me proporcionando momentos extras de prazer.
Então Bucky me encarou. Estávamos saciados, mas parecia ser impossível que nos separássemos. Só depois de certo tempo é que ele retirou seu corpo do meu, se deitando ao meu lado. Fitei o teto enquanto normalizava a respiração, depois virei meu rosto em sua direção. Ele fez o mesmo.
Sem cerimônias, me aproximei dele e deitei a cabeça em seu peito. Ele soltou um leve suspiro e se ajeitou, me olhando de cima. Nossos corpos suados criavam uma aura de paz e aconchego que não sentia há muito tempo.
- Eu estarei sempre com você. – murmurei começando a ficar sonolenta. - Não se esqueça.
- Não vou. – ele respondeu. – Nunca.
Bucky depositou um beijo em minha testa e me puxou para mais perto dele. Me aconcheguei em seus braços, para que pudesse aproveitar o máximo daquela ocasião. Aquele momento era apenas nosso. E, por enquanto, eu não precisava de mais nada.
Capítulo 44: Sinceridade
Abri os olhos lentamente e soltei um longo suspiro. Fazia muito, muito tempo que eu não dormia tão bem. Os pesadelos, que me atormentavam quase todas as noites, não vieram. Apenas uma paz indescritível me fez ter um sono agradável e sem sonhos.
Tudo estava escuro e deduzi que dormi todo aquele resto de dia. Mas eu não me importava. Passei a mão no outro lado da cama, procurando por Golden, mas ela não estava mais lá. Não me preocupei, pois logo ouvi o som de água caindo no banheiro que havia no quarto. Me sentei, passando a mão no rosto e fitei um despertador sobre o criado mudo. Ele marcava pouco mais de uma da madrugada.
Suspirei outra vez e retirei o lençol escuro de cima de mim, colocando os pés para fora da cama. Eu já vestia minha roupa intima inferior, então caminhei pela escuridão até onde ela estava. No entanto, parei por um segundo em frente à porta, pensando se não a estaria incomodando. Revirei os olhos ao perceber como estava sendo estúpido. É claro que não se importaria.
Girei a maçaneta devagar e entrei a passos inaudíveis, ciente de que não precisaria bater, pois ela saberia que eu estaria ali. Fechei a porta atrás de mim, mergulhando na claridade da luz de led. O som do chuveiro se tornou mais forte e a fumaça fina da água quente deixou o lugar úmido. Olhei em volta, encontrando-a dentro do box. O vidro estava embaçado, mas eu podia ver sua silhueta.
- Achei que não iria entrar? – Golden falou.
- Não queria incomodá-la. – eu disse e me aproximei da pia.
- Isso é sério? – ela soltou um riso debochado.
- Eu sei. – passei a mão no espelho.
Abri a torneira e peguei um pouco de água com as mãos, lavando meu rosto. Em seguida, encarei meu reflexo. Fiquei um bom tempo assim até que ouvi o box ser aberto. Pelo espelho, vi Golden se enrolar numa toalha branca. Automaticamente, pensamentos impuros infestaram minha mente, então baixei os olhos.
- Sei o que está pensando. – ela falou.
- Agora você lê mentes também? – olhei outra vez para o reflexo e a vi se aproximar.
- Quem me dera. – ela brincou. – Por enquanto, eu só consigo sentir o que está aqui.
Ela parou atrás de mim e passou seus braços em volta do meu corpo, apoiando uma mão do lado esquerdo do meu peito. O calor de seu corpo úmido fez com que o meu se aquecesse, me causando um leve arrepio na espinha. Segurei sua outra mão e a beijei enquanto nos encarávamos pelo espelho.
- Dormiu bem? – ela perguntou, apoiando o queixo em meu ombro.
- Sim. – eu disse apenas.
- Nenhum pesadelo? – ela ergueu as sobrancelhas
- Não. – respondi.
Suspirei e me virei de frente para ela. Seus olhos estavam ainda mais brilhantes do que quando a conheci. Segurei seu rosto entre minhas mãos e me aproximei. Golden fechou os olhos, permitindo que eu a beijasse. Foi um contanto rápido, mas suficiente para reacender as chamas dentro de mim. Era quase como se aquela garota dominasse meus instintos.
- Você está muito estranho. – ela franziu o cenho.
- Talvez eu seja uma pessoa naturalmente estranha. – dei de ombros.
- Realmente, você é bem esquisito. – ela fez uma careta. – Mas não é isso.
- Então o quê? – eu disse, confuso.
- Eu não sei. – ela balançou a cabeça. – Deve ser só uma paranoia minha.
Ri abafado e ela revirou os olhos. Golden nunca deixaria de ser a garota encantadora que conheci. Apesar de tudo que enfrentou em tão pouco tempo, ela continuava com aquele belo sorriso no rosto. O sorriso que havia se tornado o motivo de me fazer querer acordar todos os dias.
- Vai ficar tudo bem. – murmurei.
- Também quero que fique. – ela mordeu os lábios. - Mas...
- Não precisamos falar sobre isso. – eu a interrompi. – Apenas se quiser.
- Eu não quero. – ela soltou o ar pela boa enquanto falava. – Não agora.
- Tudo bem. – balancei a cabeça uma vez.
A puxei para mais perto de mim e ela apoiou a cabeça em meu peitoral. Ficamos assim por um longo tempo, mas então ela se afastou um pouco e me encarou.
- Eu vou vestir alguma coisa. – ela falou. – Pode tomar banho se quiser.
- Prefiro que continue assim. – murmurei sem deixar de encará-la.
- Bucky... – ela fez uma careta, mas riu em seguida. – Está sendo pervertido.
- Se você soubesse o que estou pensando... – apoiei as mãos em sua cintura.
- Eu prefiro que, ao invés de me dizer, você faça. – vi um sorriso maroto surgir em seus lábios.
Abri a boca e foi impossível não sorrir. Aquela garota era segura de si, não havia nenhum vestígio de constrangimento em sua expressão. O que também me dava confiança. Sem cerimônias, a trouxe pra mais perto e a beijei. Ela passou seus braços ao redor do meu pescoço e colou nossos corpos. Subi uma de minhas mãos até seus cabelos presos num coque. Fiz com que se soltassem e emaranhei meus dedos nos fios escuros.
Golden arfou e arranhou minha nuca com as unhas. Com a mão livre, segurei um de suas pernas e a ergui a altura do meu quadril e meu membro pressionou sua intimidade. A toalha impedia nosso contato direto, mas logo deixou de ser um problema. Ela baixou sua perna e deixou que o tecido deslizasse por seu corpo, indo ao chão. Ver suas curvas me fez perder a cabeça.
Completamente excitado, fiz que ela envolvesse meu quadril com as pernas. Caminhei decidido para dentro do box e a imprensei na parede. Golden arfou quando minha mão apalpou seu glúteo, mas logo um sorriso encheu seu rosto. Ela me abraçou com um dos braços e com a mão livre, agarrou minha cueca, a puxando com força. O tecido cedeu e eu arregalei os olhos.
- Desculpe por isso. – ela riu, largando os restos da peça. – Arrumo outra pra você depois.
- E eu sou o pervertido? – eu disse.
Mas não esperei uma resposta. Liguei o registro e a água quente atingiu nossos corpos. Da primeira vez, tive receio de como tocá-la, pois temia machucá-la, mesmo sabendo quem ela era. Mas agora eu sabia exatamente o que fazer. Agarrei seu quadril e a penetrei, ouvindo-a gemer. fechou os olhos e apoiou a cabeça na parede branca, deixando suas mãos sobre meus ombros.
- Isso é tão... – ela disse, mas não completou sua fala, soltando outro gemido.
Entretanto, havia entendido o que quis dizer, o que me deixou ainda mais insano. Depositei beijos e leves mordidas em seu pescoço, enquanto investia com força. Perto do meu clímax, arfei e segurei seu quadril, trazendo-a para mais perto de mim. Instantes, depois, Golden me abraçou e continuou a gemer em meu ouvido enquanto tremia. Aquilo foi suficiente para que eu me lançasse dentro dela.
Com a respiração ofegante, continuamos na mesma posição, esperando que os espasmos passassem. Em seguida, ela desceu do meu colo e terminamos o banho. Enquanto ela se enrolava na toalha novamente, eu me enxugava.
- Se todas as vezes que entrarmos juntos no banheiro isso acontecer, vamos pagar bem mais caro pela água. – ela riu enquanto passava uma toalha menor nos cabelos.
- Isso não seria problema. – enrolei uma toalha no quadril.
- É, acho que não seria. – ela acompanhou meus movimentos, mas então desviou os olhos, pigarreando. – É melhor dormirmos mais um pouco.
- Quais os planos para o dia? – eu questionei.
- Tirando o que eu sei que está pensando que vamos fazer... – ela parou em minha frente. – Precisamos voltar para a base da SHIELD.
- E quanto a sua tia e ao Stark? – eu franzi o cenho.
- Eu... posso falar com eles... depois. – ela mordeu os lábios.
- Golden. – a segurei pelos ombros. – Precisa resolver isso logo.
- Eu sei. – ela balançou a cabeça. – Nunca tive tanta dificuldade para decidir uma coisa.
- precisa de sua ajuda e pode treiná-la. – argumentei.
- Você do lado do meu irmão? – ela sorriu debochada. – Isso é novo.
- É necessário. – eu disse.
- Tudo bem. – ela desviou os olhos. – Resolvo isso depois.
Suspirei diante de sua hesitação, mas não disse mais nada. Era visível que ela tentava adiar o máximo possível aquele assunto. Algo que achei que seria fácil para ela. Depois de mais alguns instantes, ela saiu primeiro do banheiro. Eu continuei lá por algum tempo. Quando voltei para o quarto, percebi que o abajur ao lado dela estava ligado. Como Golden havia prometido, encontrei roupas limpas sobre o colchão. Vesti apenas as de baixo e me deitei ao seu lado.
Me aproximei, me apoiando no braço de metal e por sua respiração leve, concluí que dormia. Ela vestia uma camisola fina e o lençol cobria metade do seu corpo. O ajeitei para que cobrisse o restante. A observei mais um pouco e suspirei. fazia parte de minha vida desde o dia do seu nascimento, porém, havia muito mais envolvido do que nós dois. Havia muito mais do que o que eu sentia. E eu compreendia isso. Ela não era minha. Não podia ser.
O que havia dentro de mim era grande, mas havia aprendido que minhas vontades não eram prioridade. Eu não poderia ser um empecilho que a impedia de tomar uma decisão e seguir em frente. Era grato por sua ajuda, mas agora outros precisavam dela muito mais do que eu. E queria que ela tivesse isso bem em mente.
Me inclinei em sua direção e beijei levemente sua testa. Ela se movimentou um pouco, mas logo voltou a ficar quieta. E estava tão serena. Ainda perto dela, sussurrei o que havia entendido a pouquíssimo tempo.
- Eu amo você, pequena. – minha voz saiu baixinha.
Meu coração era confuso, assim como minha mente. Mas eu tinha certeza daquele sentimento. Era a coisa mais sincera que já havia dito. Eu amava Golden. E esse amor me fazia querê-la ao meu lado sempre. No entanto, esse amor também me movia a querer o seu bem. Se eu pudesse, faria de tudo para livrá-la dos seus problemas. Mas eu não podia.
Porém, o que estivesse ao meu alcance, eu faria sem hesitar. Eu lutaria por ela, por nós. Mas, se precisasse, não lutaria. A fitei mais uma vez e travei o maxilar. Qualquer coisa. Sim. Por Golden, eu faria qualquer coisa.
Capítulo 45: Eu Sinto o Mesmo
Abri meus olhos subitamente. Eu havia dormido muito bem naquela noite, especialmente ao sentir o calor de Bucky e sua respiração leve em minha nuca. Mas não precisava mais descansar.
Suspirei levemente incomodada ao perceber que James não estava mais deitado, mas resolvi ignorar aquele fato. Me sentei, ficando com as pernas sob o lençol escuro e me espreguicei. De certa forma, estava renovada. Apesar de todos os males, meu coração batia feliz.
Ainda meio grogue de sono, me levantei, enquanto passava as mãos no rosto e segui até o banheiro. Bati na porta e esperei, porém, não houve nenhuma resposta. Tentei outra vez e o mesmo. Pisquei os olhos algumas vezes, recobrando os sentidos e então o chamei.
- Bucky?! – minha voz saiu arrastada.
Franzi o cenho ao perceber como o ambiente estava quieto. Quieto demais. Segurei a maçaneta e a abri, entrando no banheiro, mas não havia nada. Ele não estava lá. Um pouco confusa, caminhei até a pia e me olhei no espelho. Enquanto ajeitava meus fios descabelados, pensava aonde Bucky poderia ter se metido. Ele não parecia ser do tipo que sairia pela mansão sozinho.
Ri de meu pensamento idiota e lavei meu rosto. Bucky deveria estar por aí, vasculhando a cozinha, quem sabe. Me encarei no espelho outra vez. Havia certa dúvida em meu olhar, além da agonia de querer saber logo onde ele estava. Fechei meus olhos, me concentrando, para que pudesse localizar sua energia. Vasculhei toda a mansão. No entanto, não consegui senti-lo. Fui mais fundo, até o estacionamento e os arredores, mas não tive um bom resultado.
- Aonde você se meteu, soldado? – murmurei.
Voltei ao quarto e olhei as horas, sete e quinze da manhã. Resolvi tirar minha camisola e descer, mas algo chamou minha atenção. Meu notebook estava fechado sobre minha escrivaninha. No entanto, havia algo debaixo dele. Algo que não estava lá antes. Semicerrei os olhos para enxergar melhor e me aproximei, identificando o pequeno pedaço de papel.
Curiosa o peguei. Estava dobrado ao meio. Quando o abri, encontrei poucas palavras escritas em letras descuidadas, como se a pessoa que o fizera tivesse pressa. Mas elas foram suficientes para me fazer parar de respirar por um segundo.
“Golden...
Não sei o que dizer, então serei breve. Eu agradeço por tudo que fez por mim. Por absolutamente tudo. Mas sei que está hesitando em ir para a Romênia por minha causa. Não posso impedi-la de tomar uma decisão tão importante. Vá, salve . Faça o bem, como sempre fez. Esse é o seu verdadeiro destino, garota de ouro.
Não me procure, eu vou ficar bem. E sei que você também vai.
Bucky”
Levei minha mão até meus lábios e prendi um gemido que quase escapou. Sem conseguir deixar de encarar as letras sobre o papel claro, dei dois passos para trás. Ele não podia ter feito isso. Ele não havia ido embora. Tentando não me descontrolar, fui até o criado mudo e peguei meu celular.
Percebi que tremia quando desbloqueei a tela e busquei pelos contatos. Sem pensar duas vezes, liguei para Steve. Após alguns toques, alguém atendeu a linha.
- Alô! – uma pessoa falou com a voz de sono.
- Nat? – fiz uma careta quando reconheci seu timbre. – Mas o que você está fazendo com o celular do Steve?
- Golden?! – ela falou mais alerta e vi que estava um pouco desconcertada. – Podemos falar sobre isso depois. Diga por que ligou agora?
- É o Bucky. – voltei a atenção para minha verdadeira preocupação. – Ele... ele sumiu.
- Como assim sumiu? – ela falou com incredulidade. – Achei que estavam juntos.
- Nós estávamos. – admiti, sentindo minhas bochechas esquentarem. – Mas quando acordei, ele não estava mais.
- E o que te faz pensar que ele pode ter sumido? – ela questionou.
- Ele deixou um bilhete. – eu disse. – Ele foi embora, Nat.
- Mais que droga... – ela murmurou do outro lado da linha. – Golden, escuta. Vou falar com Steve e estaremos aí em vinte minutos.
- Entendido. – balancei a cabeça mesmo que ela não pudesse ver.
Em seguida, a linha ficou muda. Imediatamente, disquei um novo número. Enquanto caminhava até o closet, Daisy atendeu.
- Daisy, sou eu. – eu disse.
- Bom dia, Golden! – ela desejou.
- Onde você está? – eu perguntei.
- Estou na SHIELD. – ela respondeu. – Dormi aqui para que pudesse acompanhar o andamento do caso do .
- Ótimo! – eu disse. – Preciso que faça algo pra mim.
- Claro! – ela concordou.
- Quero que rastreie o Bucky. – fui direta.
- Como assim, rastrear seu namorado? – ela parecia um pouco confusa. – Achei que estivessem...
- Estávamos. – respondi outra vez. – Mas ele... sumiu e preciso que o encontrem. Antes que ele se meta em encrencas.
- Pode deixar. – ela respondeu.
Agradeci e desliguei o celular. O deixei de lado e escolhi uma roupa simples para vestir, pois estava com pressa. Uma calça jeans escura e uma blusa preta. Enquanto calçava minhas botas, sentada na cama, ouvi meu celular chamar. Amarrei o cadarço e o peguei. O atendi, enquanto deixava o quarto. Era Daisy.
- Pode falar. – eu disse enquanto descia as escadas.
- Golden, nós localizamos o Bucky por meio de reconhecimento facial. – ela disse. – Também captamos o sinal do rastreador de uma das motos da base que estava com ele. O encontramos em uma rodoviária, seis quilômetros ao norte da mansão.
- Entendido. – disse após receber a informação. – Vou até lá.
- Precisa de reforços? – ela perguntou.
- Melhor não. – mordi os lábios. - Mas diga ao diretor Coulson que eu mandarei informações. Desligando.
Após o fim da chamada, cheguei até a sala de estar. Imediatamente, senti que Tony e Pepper estavam em casa. Ela dormia no quarto que dividia com o Stark e ele estava na cozinha. Soltei um longo suspiro e decidi que conversaria com eles quando voltasse. Naquele momento, eu tinha que ser rápida.
Corri da maneira mais discreta possível até o estacionamento, onde havia deixado a moto da SHIELD. Confirmei que Bucky a havia levado, deixando um dos capacetes pra trás. Sem hesitar, fui até um dos carros de Tony e peguei a chave. Era um conversível vermelho, muito descolado por sinal. Liguei o motor e o sensor da porta da garagem reconheceu o movimento, abrindo-a. Dei partida a uma velocidade razoável.
Enquanto seguia pela estrada, acionei os sistemas de comunicação e de rastreamento. Liguei o GPS para que me levasse até a rodoviária e tentei rastrear Bucky com os programas de Tony. Enquanto isso, fiz uma nova ligação para Steve.
- Golden, é o Steve. – dessa vez, ele respondeu. – Natasha me contou o que houve. Estamos indo encontrá-la.
- Mudança de planos. – eu disse. – Sigam para a SHIELD e esperem até que eu entre em contato novamente.
- Tem certeza? – ele estranhou minha decisão.
- Sim. – virei numa curva. – Preciso fazer isso sozinha. Espero que entenda.
- Tudo bem. – ele concordou. – Apenas traga-o de volta.
- Vou trazer. – eu disse.
O silêncio anunciou que a ligação tinha terminado. Prestei atenção no caminho enquanto pensava nas palavras do bilhete. “Sei que está hesitando em ir para a Romênia por minha causa”. Mordi meu lábio inferior, pois sabia que ele tinha razão. Minha indecisão era causada por muitas fontes. Amigos, família, minha vida ali com eles. Porém, acima de tudo isso, havia Bucky.
Em pouco tempo, criamos uma conexão que jamais tive com qualquer outra pessoa. Apesar de quieto e calado, ele conseguia me entender. E eu o entendia. Algo muito clichê, mas era a verdade. Mesmo que eu não tivesse me apaixonado por ele, não conseguiria me imaginar longe por muito tempo. Nesses últimos tempos, onde eu estava, ele também estava. Eu o salvei e ele me salvou. Como ignorar isso?
Bucky Barnes era o principal motivo que me fazia pensar duas vezes antes de aceitar ir com . E agora ele estava prestes a partir para que não fosse mais um empecilho. Todavia, pra mim, não era assim que as coisas funcionavam.
Parei o carro algumas ruas antes para não chamar atenção indevida e segui a pé até a rodoviária. No caminho, encontrei a moto largada num canto. Bucky deve ter sido inteligente o suficiente para saber que seria rastreado caso estivesse com ela. Eu caminhava entre as pessoas, procurando por ele, mas eram energias demais. Meus sentidos estavam sobrecarregados.
Ainda assim, tentei. Parei ao lado de alguns bancos de espera e cerrei os punhos. Da forma mais sutil possível comecei a usar meus poderes. O interior das pessoas eram diferentes entre si. Uns eufóricos, outros calmos. Ainda outros estressados ou deprimidos. Foquei meus olhos em um ponto para me concentrar melhor. Finalmente o vi.
Estava parado num dos pontos, esperando o próximo ônibus. Sem demora, corri até lá. Não me importei em esbarrar nas pessoas e apenas pedia desculpas sem ao menos fitá-las. Quando cheguei do outro lado da rodoviária o avistei de pé com uma mochila nas costas e um boné que escondia parte de seu rosto.
Continuei seguindo até ele, então avistei o ônibus chegando. Arregalei os olhos, sentindo meu coração pulsar agressivamente. Aumentei meus passos ainda mais quando o vi ajeitar a alça da mochila no ombro. A porta do veículo se abriu e ele deu um passo em sua direção. Mas eu já estava perto o suficiente. Sem me importar em chamar atenção, gritei seu nome.
- BUCKY! – eu ofegava, mas insisti. – BUCKY!
No mesmo segundo, ele se virou, procurando por mim. Quando nossos olhos se encontraram, ele arregalou os seus. Mas eu não dei tempo para que nenhuma palavra saísse de sua boca. Me lancei em seu pescoço, o abraçando com força. Ele deu um passo pra trás, porém, logo senti suas mãos em volta de minha cintura.
- Golden?! – ele parecia surpreso.
- O que pensa que está fazendo? – o apertei ainda mais. – Por acaso é idiota?
- Eu só... – ele tentou dizer, mas o interrompi.
Eu o puxei para um canto mais reservado, longe da multidão. Paramos num corredor onde pouquíssimas pessoas transitavam. Nossas mãos estavam unidas, o que me deixou um pouco mais aliviada.
- Acha que pode deixar um bilhete e ir embora? – eu o olhei nos olhos. – Era isso que fazia com as garotas em 1945?
Mas ele não me respondeu, apenas baixou os olhos e mordeu o lábio inferior.
- Seu... estúpido. – o abracei novamente. – Acha que pode fugir de mim?
- Parece que não. – ele afagou meus cabelos soltos e eu engoli seco.
- Não pode fazer isso, entendeu? – comecei mais emotiva do que gostaria. – Não pode me deixar assim.
- Eu sou apenas um atraso de vida. – ele disse em meu ouvido. – Para todos.
- Não. – agarrei sua camisa entre os dedos.
- Sabe que sim. – ele se afastou e segurou meu rosto com as mãos grandes. – Eu não tenho uma vida, Golden. E se quiser refazê-la, não posso depender de você ou do Steve. Sei que querem o meu melhor, mas... não posso obrigá-los a deixar suas prioridades de lado.
- Bucky... – tentei dizer, mas dessa vez ele me interrompeu.
- Não quero que olhem pra trás e vejam que poderiam ter feito mais, porém, eu estava aqui para atrasá-los. – ele balançou a cabeça. – Posso cuidar de mim sozinho.
- Por que isso? – franzi a testa. – Por que essa mudança de uma hora pra outra? Achei que quisesse ficar comigo. Achei que... que me amasse.
Quando eu o disse, Bucky abriu os lábios graças a surpresa. Eu sorri sem mostrar os dentes por conta de sua reação. Na noite que passamos juntos, eu ainda não havia dormido, apenas cochilava. Foi quando ele se aproximou e sussurrou perto de mim algo que eu nunca vou esquecer.
Flashback –on-
Bucky se inclinou em minha direção e beijou levemente minha testa. Me movimentei um pouco, mas logo voltei a ficar quieta. Apesar de querer abrir os olhos, o sono falava mais alto. Ainda perto de mim, ele sussurrou algo que fez meu coração parar.
- Eu amo você, pequena. – sua voz saiu baixinha, mas foi suficiente para que eu entendesse que sentia o mesmo.
Flashback-off-
- Você... – ele murmurou.
- Sim, eu ouvi. – sorri um pouco mais. – E quer saber uma coisa? Eu sinto o mesmo.
- Você... me ama? – aquela ideia parecia absurda pra ele.
- Sim, eu amo. – ri sem graça. – E admitir isso é tão constrangedor. Admitir que passo praticamente todo o dia pensando em você e em nosso futuro juntos. É estranho, eu sei, mas... eu costumo me apegar muito às pessoas. E com você não foi diferente.
- Eu não mereço seu amor. – ele engoliu seco. – Você é demais pra mim.
- Por favor, não me venha com essa. – segurei seu rosto com as mãos e o olhei nos olhos. – Não é você que decide quem é bom ou não pra mim. Eu decido. E eu escolhi você.
Me aproximei mais dele, encostando nossos rostos. A situação estava sendo mais sentimental do que eu esperava, mas eu precisava reconhecer que era necessário. Bucky queria partir por achar que era um peso para nós, especialmente para mim. No entanto, eu não poderia permitir isso.
Com calma, encostei nossos lábios. Imediatamente, senti sua mão pousar em minha cintura, me puxando até que nossos corpos estivessem unidos. Soltei seu rosto e enlacei meus braços em seu pescoço. O beijo durou o suficiente para eu ter certeza de que o amava. Era um amor novo, mas que começava a crescer. Quando nos afastamos, mordi meu lábio inferior e encostei nossas testas.
- Bucky... – sussurrei. – Fique.
- E quanto a você? – ele quis saber.
- Eu vou com meu irmão. – sorri.
- Então essa é a sua decisão. – ele parecia triste, mas satisfeito com minha decisão.
- Sim, mas voltarei. – repeti – Eu vou voltar pra você. Por favor, me espere.
Encaramos um ao outro de perto, podendo ver todas as imperfeições e como elas se complementavam. Seus olhos azulados eram hipnotizantes, mas tentei me concentrar. Naquele momento eu queria apenas uma resposta. Precisava saber se ele esperaria por mim ou não.
Capítulo 46: Tia Pepper
O fluxo de pessoas aumentou quando um ônibus parou e vários passageiros desceram, começando a seguir para as saídas. Apesar disso, eu olhava apenas para Bucky. Me concentrei em sua energia e ela parecia fluir em minha direção. Dei dois passos, me aproximando mais e segurei sua mão, enlaçando nossos dedos.
- Bucky... – murmurei – Não se sinta obrigado a nada, eu...
- Golden... – ele me puxou pela mão para ainda mais perto e então sorriu sem mostrar os dentes – Nada que tem a ver com você é uma obrigação pra mim.
- Está sendo romântico, Barnes? – passei um braço em sua cintura, sem me importar de estarmos em público.
- Estou sendo sincero, Potts. – ele aproximou o rosto do meu.
- Você... vai ficar? – inclinei a cabeça um pouco para o lado – Vai me esperar?
- Se quisesse, eu até iria com você. – ele imitou meu gesto.
- Acho que não vai gostar de dividir o mesmo espaço com por mais de vinte e quatro horas. – eu brinquei.
- Tem razão, não vou. – ele riu levemente – Mas vou esperá-la, garota em chamas.
- Está andando demais com o Sam, soldado. – debochei.
Bucky revirou os olhos com a minha observação e aquilo me fez rir verdadeiramente. Tive uma de minhas crises e o abracei com força, mas não apenas por conta de sua reação ao nome de Wilson e sim por agora saber que ele ficaria. Ele me esperaria.
- Faz tempo que não te vejo rir assim. – ele passou o braço livre em meus ombros.
- Não haviam muitos motivos pra isso. – apoiei a cabeça em seu peito.
- Quer mesmo que eu fique? – de repente ele perguntou.
- James... – o chamei pelo primeiro nome – Por favor, não vamos mais falar sobre você ser bom ou não pra mim, já sabe o que eu penso.
- Acho que não posso questionar. – ele afagou minha cabeça.
- Claro que não pode. – ressaltei – Eu sou a líder.
- Sim, você é. – ele riu baixo outra vez.
Continuamos ali por alguns instantes, até que o celular vibrou em meu bolso. Nos afastamos e peguei o aparelho, olhando o visor. Era o Capitão. De certa forma, aquilo me deixou mais tranquila, pois mesmo que eu fosse pra longe por algum tempo, eu tinha certeza de que Steve cuidaria de Bucky. Mesmo sabendo que ele daria um jeito em tudo sozinho.
- É o Steve. – me virei pra Bucky e ele se surpreendeu – Quer falar com ele?
- Não. – ele ao menos pensou.
- Se fazendo de difícil, senhor Barnes. – eu ri abafado.
Em seguida, atendi a ligação e logo ouvi a voz do Capitão. Não nos cumprimentamos, pois a situação dispensava bons modos, por isso fomos direto ao assunto.
- Golden, conseguiu encontrá-lo? – ele perguntou.
- Sim. – eu respondi com um largo sorriso – Ele está comigo, não se preocupem.
- Isso é bom. – Steve tentava esconder o alívio – Diga ao Bucky que depois conversamos sobre isso.
- Claro que eu digo. – ri alegre.
- Nos vemos mais tarde, agente Potts. – ele disse.
- Até lá, Capitão! – me despedi.
Desliguei o celular e o guardei de volta no bolso traseiro da calça jeans. Depois me virei para James e apoiei as mãos na cintura. Ele me fitou e tinha as mãos enfiadas nos bolsos da calça.
- Parece que você vai levar uma bronca. – ergui minhas sobrancelhas.
- O quê? – ele franziu a testa.
- Vamos pra casa. - prendi meu riso.
Segurei sua mão outra vez e o arrastei para fora da rodoviária. Caminhamos pela calçada em silêncio até chegarmos ao carro de Tony. Aquela coisa poderia ser vista a quilômetros de tão chamativa que era. Olhei para Bucky e acho que era exatamente isso o que ele pensava.
Adentramos o veículo e comecei a dirigir. Mas eu não sabia para onde ir primeiro. Falar com Pepper sobre minha viagem ou ir até a SHIELD para resolver os assuntos pendentes com o diretor e com os outros? Suspirei fundo e apertei o volante. Mas que droga de dificuldade era aquela? Não me lembrava de ser assim tão indecisa e apegada as pessoas.
- Tudo bem? – Bucky perguntou.
- Sim. – respondi – Apenas não sei como conversar com a Pepper.
- Fale a verdade. – ele sugeriu – Ela é sua tia, não é?!
- A melhor de todas. – o fitei por um segundo.
- Conte o que está acontecendo. – ele disse – É melhor do que manter segredos. Eu bem sei disso.
- É... – eu sussurrei apenas.
Decidida, segui para a mansão numa velocidade razoável enquanto trabalhava num roteiro para iniciar a conversa com Pepper sem que houvesse nenhum imprevisto. As palavras se estruturavam em minha mente e eu já sabia exatamente como contar a minha história e minha decisão.
Assim que chegamos, levei o carro diretamente ao estacionamento. Saímos e seguimos juntos para dentro da mansão. A cada metro percorrido, meu coração pulsava mais rápido e isso piorou quando senti que Tony estava em sua oficina e Pepper em seu quarto. Me agarrei ao braço de James e ele me lançou um leve olhar, porém, não disse nada. E eu agradeci mentalmente por isso.
Chegamos a sala de estar e subimos as escadas. Nesse ponto, nos separamos e pedi que Bucky fosse até meu quarto e me esperasse um pouco para que depois fôssemos para a SHIELD. Ele acenou com a cabeça e seguiu na direção oposta a qual eu iria. O vi se afastar com aquela mochila surrada nas costas e soltei um suspiro. Depois, lhe virei na direção do quarto de minha tia. Comecei uma caminhada de passos lentos enquanto repetia as palavras que havia pensado. Talvez não as esquecesse.
- Pepper, precisamos conversar. – eu sussurrava sem parar meus passos – Eu não sou sua sobrinha de verdade, não sou filha do Adam, eu sou uma inumana criada pela HIDRA.
Repeti isso e mais coisas inúmeras vezes até parar à sua porta. Ergui o punho e bati, logo ouvindo sua voz suave dizer que eu entrasse. Girei a maçaneta e, mesmo receosa, entrei. Assim que o fiz, a encontrei sentada em sua cama lendo uma enorme papelada. Fiquei parada por um instante até que ela me encarou. Naquele momento não medi esforços e corri em sua direção.
Quando me joguei na cama, sobre os papéis e a abracei, ouvi um riso divertido escapar de seus lábios. Passei meus braços em seu pescoço e ela também me puxou para mais perto. Aquele era o abraço mais desajeitado que já tinha dado, mas valeu a pena.
- ! – ela disse com preocupação – Onde você estava? Sabe quanto esperei pra que pudéssemos conversar sobre esses inumanos que quase destruíram a mansão?
- Pepper... – tentei falar, mas ele me apertou mais ainda.
- Tony disse que você dormiu em casa com o seu namorado, então decidi não incomodá-la. Mas hoje pela manhã eu a procurei pela mansão inteira e não encontrei nem sua sombra. - ela continuou a soltar palavras sem ao menos respirar – A propósito, aquele rapaz é mesmo seu namorado?
- Sim. – eu me afastei dela, a encarando de perto – Mas ele não é bem um rapaz.
- Ele é muito mais velho que você? – ela arregalou os olhos.
- Você nem imagina. – prendi o riso.
- Querida, se vocês se amam, não vejo problema. – ela sorriu.
- Obrigada. – também sorri.
- Mas vamos voltar ao assunto. – ela segurou minhas mãos – Quero que me conte o que aconteceu. Por que passou tanto tempo fora de casa?
Pepper me encarava nos olhos. Eles eram claros e pareciam ser um convite para que eu pudesse senti-la. E eu senti. Havia tanto para ver. Felicidade, preocupação, ansiedade e carinho. No entanto, o maior de todos os sentimentos, que conseguia superar todos os outros era seu amor. E ele era direcionado a mim.
Meus lábios tremeram e eu já previa o que aconteceria. Ainda assim, engoli seco, tentando mandar embora aquele segundo sentimento. Eu precisava ficar calma e dizer tudo para ela.
- Você está bem, querida? – Pepper perguntou por conta do meu silêncio.
Mas ela não deveria ter perguntado. Franzi minha testa, ao mesmo tempo em que todas as palavras se esvaiam de minha mente. Tentei encontrá-las, mas tudo o que havia eram meus sentimentos. E eles me sufocaram. Sem conseguir mais me segurar, as lágrimas escorreram por meus olhos, por isso baixei o rosto e me deixei levar.
- Golden?! – Pepper falou alarmada – Querida, o que houve? Eu disse alguma coisa?
- Não... – a palavra saiu entre os soluços.
- Então, o que houve? – ela perguntou.
- São... são tantas coisas... – puxei um pouco de ar para os pulmões – Eu não sei... por onde... começar...
- Por que não tenta pela parte mais fácil? – ela sugeriu.
- Não sei se há uma parte fácil. – funguei.
Sem avisos, ela segurou meu rosto e o levantou para que pudesse me encarar. Em seus olhos havia um brilho especial me dizendo que estava tudo bem, que eu poderia confiar nela. E eu confiava.
Respirei fundo e comecei a relatar tudo para ela. Consegui criar um caminho cronológico rapidamente e relatei sobre meus pais inumanos, que se voluntariaram para uma das pesquisas da HIDRA. Desse experimento, eu nasci. Uma inumana modificada para que pudesse expressar meu poder além do meu limite inicial. Contei que Adam e Clarice não eram meus pais verdadeiros e que eles me adotaram como parte dos planos da HIDRA. Pepper escutava com atenção e sua expressão mostrava sua surpresa.
- Quer dizer que Adam era um agente da HIDRA? – seu tom carregava decepção – Mas meu irmão era tão bom.
- Ele não era um agente da HIDRA, tia. – eu ressaltei – Ele é.
- Como assim? – ela franziu o cenho.
- Meu... pai ainda está vivo, Pepper. – fiz uma careta – E ele me sequestrou para que eu abraçasse meu destino.
- Meu Deus... – ela levou uma mão aos lábios e seus olhos estavam marejados – Eu não... eu não sabia.
- Ninguém sabia. – passei a língua entre os lábios – Nem mesmo a SHIELD.
- E o que ele queria com você? – ela tentava se manter calma.
- Adam queria que eu ganhasse meus poderes. – eu ri sem humor – E foi horrível.
- Eles a machucaram? – ela arregalou os olhos claros.
- Não necessariamente. – balancei a cabeça – Mas era poder de mais e eu perdi a cabeça.
- O que você fez? – ela quis saber.
Dei um leve riso sem graça, pensando em como contar que quase havia matado meus amigos. Mas eu logo falei e ela me ouviu. Ficou parada pelo tempo que continuei a narrar a descoberta dos meus poderes e de como Bucky me ajudou a pensar com clareza e assim não matei nenhum deles.
- Eu achei que não poderia mais ser eu mesma. – cruzei minhas pernas – Mas Bucky estava lá e me fez ver quem eu era de verdade.
- Uma garota de ouro. – ela fez referência ao meu apelido então revirei os olhos.
- Por que todo mundo diz isso? – eu ri abafado.
- É a verdade, querida! – ela imitou meu gesto.
- Talvez... – mordi meu lábio inferior – Eu fiz uma coisa ruim.
- Uma coisa ruim? – ela inclinou a cabeça pro lado.
- Eu usei meus poderes e quase matei o . – falei de uma só vez.
Mas o efeito foi o mesmo. Com muitas ou poucas palavras, o espanto no rosto de minha tia era grande. Quase chorei outra vez, porém, me obriguei a continuar firme. Felizmente, consegui me segurar.
- Mas eu posso salvá-lo! – sorri sem mostrar os dentes – Só preciso treinar mais um pouco.
- Sei que vai conseguir. – ela segurou minha mão direita.
- Pra isso, eu preciso que meu irmão me treine. – fitei nossas mãos unidas.
- V- você tem um irmão? – ela abriu a boca.
- Tá, eu esqueci dessa parte, mas podemos falar sobre isso depois. – soltei o ar pela boca – Agora eu só preciso dizer que posso salvar meu amigo e que por isso tomei uma decisão.
- Decisão? – ela disse confusa.
- Eu vou para a Romênia, tia Pepper. – eu finalmente disse – E não sei quando voltarei.
Pepper paralisou por um segundo. Seu interior, porém, era uma completa bagunça. Ela não sabia o que sentir e seu exterior deixava isso bem claro. Finalmente, algo tomou conta de todo seu corpo. Achei que ela ficaria desesperada, mas não. A tristeza dançou dentro dela, dominando todas as partes. Como eu já esperava, ela se entregou ao pranto.
- Tia Pepper?! – a abracei novamente.
- Ah, meu Deus! – ela me agarrou – Você vai embora? , quer me matar?
- Não. – ri levemente – Só quero salvar o . Espero que entenda.
Ela balançou a cabeça positivamente. Ela estava cedendo. Na verdade, ela entendia o que eu faria. Apenas não queria que eu a deixasse. E eu não queria deixá-la. Doía só de pensar que ficaria longe de todos por um tempo indeterminado. Mas eu estava decidida. Eu iria com .
Capítulo 47: Estou Pronta
Caminhei pelo corredor com um discreto sorriso no rosto. Depois da conversa que tive com Pepper, fiquei com ela até que dormisse. Cochilei um pouco, pois estava cansada, mas havíamos nos entendido então a deixei lá e segui até meu quarto. Pedi que Bucky me esperasse lá.
Quando entrei, o encontrei deitado em minha cama e isso me fez sorrir ainda mais. Estava de barriga pra cima e com a cabeça apoiada num dos braços. Seus olhos fechados mostravam que estava relaxado. Caminhei sorrateiramente até ele e pude sentir que não tinha me notado. Ao estar bem perto dele, me joguei sobre seu corpo e Bucky abriu os olhos pela surpresa.
- Golden?! – ele ergueu sua cabeça, me fitando
- Não acredito nisso! – soltei uma gargalhada – Eu peguei você de surpresa? Isso é sério?
- Eu estava... distraído. – ele jogou a cabeça pra trás.
- Isso não é desculpa! – eu apoiei meu queixo em seu peitoral – Eu posso superá-lo agora, soldado.
- Tão modesta. – ele suspirou.
- Sem dúvidas! – eu disse.
Senti sua mão livre se apoiar em minha cintura e seus dedos fizeram um leve carinho naquela região. Bucky continuava fitando o teto, então decifrei que havia voltado a relaxar e era isso que sua energia me mostrava. Mas, quando eu menos esperava, ele me segurou com mais firmeza e me jogou na cama, ficando sobre o meu corpo. Abri a boca sem acreditar e vi um sorriso convencido surgir em seus lábios.
- É assim que se faz, pirralha! – ele disse.
- Você me chamou de pirralha? – ergui as sobrancelhas.
- Prefere criança? – ele imitou meu gesto.
- Não foi isso que você achou de mim ontem à noite. – o provoquei
Bucky abriu a boca algumas vezes para tentar responder minha afronta, mas não encontrou nada que se comparasse ao que eu havia citado. Sorri de canto quando ele revirou os olhos e riu abafado. Aos poucos eu conseguia ver seu humor mudar. No começo, ele era um soldado desconfiado, reservado e sem graça. Agora seus olhos brilhavam com os de um jovem que voltou vitorioso da guerra.
Quando ele sorriu pra mim de forma discreta, fiquei por um segundo reparando seus traços. Deus, ele era tão bonito e eu o amava tanto. Pensei em como aguentaria ficar longe por um tempo indeterminado, mas aquilo não me faria bem, por isso mandei aquele assunto para longe e o empurrei de cima de mim. Bucky entendeu meu movimento e se levantou, ficando de pé. Fiz o mesmo em seguida.
- Vamos para a SHIELD. – eu disse enquanto olhava ao redor – Eu preciso conversar com o diretor e com meus amigos.
- E sua tia? – ele perguntou.
- Ela está bem. – me aproximei dele – Entendeu a minha posição e que eu preciso ir.
- Todos nós entendemos, Golden. – ele disse.
- Eu sei. – segurei sua mão – Vamos.
Saímos do quarto e seguimos para a garagem. Mas eu não queria dirigir aquele conversível vermelho outra vez, por isso fui em busca de algo mais discreto. Felizmente, encontrei um carro preto que não fazia ideia de que modelo seria e entrei. A chave estava num compartimento no teto. A peguei e liguei o carro, ouvindo o ronco do motor.
- O Stark deixa que pegue os carros deles? – Bucky perguntou no banco de passageiro.
- Ele não sabe que pego os carros dele. – eu disse e lhe lancei uma piscada - Só se alguém contar.
Ele balançou a cabeça e eu ri, acelerando. Não demoramos a chegar à base da SHIELD. Deixei o carro no estacionamento interno e nós seguimos juntos pelos corredores até a sala de Coulson. No meio do caminho, demos de cara com Daisy e Bobbi. Elas vinham conversando, mas assim que nos viram, pararam e apressaram os passos chegando até nós.
- Finalmente vocês chegaram! – Daisy parecia aliviada – Ficamos preocupados.
- Não pode fugir assim, Barnes. – Bobbi falou, cruzando os braços – Deu certo trabalho para encontrá-lo se quiser saber.
- Me desculpem por isso. – para minha surpresa, Bucky disse.
- Você tem mesmo que se desculpar. – Daisy abriu os braços – Não pulamos juntos de um helicóptero com dezenas de agentes da HIDRA mirando em nós, pra depois não rirmos enquanto falamos sobre isso.
- Vocês fizeram mesmo isso? – a loira fez uma careta.
- Pode apostar – a outra respondeu.
- Não se preocupe, agente Johnson. – Bucky voltou a falar – Vamos ter muito tempo para falar sobre isso.
- Eu vou cobrar. – ela sorriu – E me chame de Daisy.
- Precisamos ir agora. – Bobbi anunciou – Nos vemos mais tarde.
Nos despedimos e recomeçamos nossa caminhada. Com a mão entrelaçada com a dele, cheguei mais perto.
- Parece que já tem novos amigos. – enquanto eu falava, viramos um corredor.
- Não sei se posso dizer amigos... – ele passou a língua entre os lábios – Mas elas são legais.
- Sim, elas são! – concordei.
Ao passarmos em frente ao laboratório, avistei pelas grandes janelas de vidro o trio de Vingadores. Parei e puxei James, apontado para lá. Steve e Sam observavam o trabalho de alguns agentes, enquanto Natasha auxiliava a agente Simmons.
- Olha só quem encontramos! – eu disse.
Depois, me desgrudei do meu namorado e coloquei metade do corpo para dentro da sala. Algumas pessoas me notaram, inclusive Sam. Ele logo fez um sinal para mim, avisando aos outros dois da minha presença em seguida. Juntos, eles se aproximaram e vieram comigo para o corredor, onde Bucky esperava.
- Então vocês estão aqui? – Natasha apoiou as mãos no quadril – Pensei que estivessem juntos na mansão do Stark.
- E eu pensei que você tinha atendido o celular do Steve pela manhã com voz de sono. – aproveitei para tirar com a cara dela.
- Sobre isso... – ela pigarreou e vi que Steve também estava sem graça – Não precisamos comentar.
- Espera... – Sam raciocinou – Vocês... dormiram juntos?
- O que eu disse sobre não comentar sobre isso? – a ruiva fez uma careta.
- Vamos deixar isso pra lá, nossa vida pessoal não diz respeito a ninguém. – o Capitão deu um passo à frente – Bucky, será que podemos conversar?
- Sim. – Barnes semicerrou os olhos.
Sorri para ele, que apenas acenou levemente com a cabeça. Observamos os dois se afastando pelo longo corredor e foi tão bom ver Bucky ao lado de Steve. Os velhos e grandes amigos que haviam crescido e lutado juntos. Meu garoto estaria em boa companhia durante minha ausência.
- Será que agora poderia explicar o que está rolando entre você e Capitão? – de repente Sam falou.
- Ai, droga! – Nat fitou o teto.
- Vocês estão juntos? – eu também quis saber.
- O quê? Não. – ela fez uma careta – Quer dizer... eu não sei.
- Como assim, não sabe? – eu enlacei nossos braços e começamos a caminhar.
- Não tem como dizer, só aconteceu. – ela disse como se não fosse nada de mais.
- Ah, qual é! – Sam falou ao nosso lado – O Steve não ficaria com uma garota só por ficar.
- Ele é um cara legal, Nat. – eu disse – Não deixe que ele escape, é bem trabalhoso encontrá-lo novamente. Experiência própria.
- Tá, eu entendi. – ela bufou – Agora, será que podemos mudar de assunto?
- Tudo bem! – fingi me render – Depois falamos sobre sua vida amorosa. Tenho que conversar com o diretor.
- Até depois! – Sam disse.
- Até depois, passarinho! - ergui o braço e acenei ao mesmo tempo em que caminhava – E até depois, senhora Rogers!
Ri ao ouvir um resmungo da Romanoff e continuei. Apesar de ter zuado sua situação com Steve, eu estava feliz que haviam dado um passo a mais. Sempre achei a amizade entre eles impressionante. Logo parei em frente da sala do diretor e bati na porta. Entrei assim que ouvi a autorização. Encontrei Phil sentado em sua mesa com alguns papéis.
- Agente Potts, se aproxime. – ele apontou a cadeira à sua frente.
- Olá, diretor! – me sentei.
- Então, como está o Barnes? – ele foi direto – Aceitou sua viagem?
- Estamos bem agora. – mordi os lábios – Ele vai esperar aqui enquanto eu treinar com na Romênia.
- É uma boa decisão. – ele balançou a cabeça positivamente – Creio que não seria bom que ele a acompanhasse. Barnes precisa refazer sua vida e seria praticamente impossível se estivesse lá. Sei que são unidos, mas ele precisa de ajuda. Uma ajuda que você não poderia oferecer.
- Eu entendo. – fitei os papéis sobre a mesa – É por isso que quero que ele fique. Steve está em melhores condições para ajudá-lo.
- E quanto a você, Golden? – ele questionou – Como está se sentindo?
- Pra ser sincera, estou desesperada, mas vou ficar bem. – eu brinquei - E sobre eu continuar a ser uma agente, será que...
- Sempre será bem-vinda, agente Potts. – ele disse – É uma de nós. Uma das melhores. E não desistirei de você.
- Obrigada! – murmurei.
- Quanto aos seus relatórios das últimas missões... – ele disse sugestivo.
- Entregarei tudo o mais rápido possível. – ergui as mãos – Prometo!
- Vou me lembrar de sua promessa. – ele riu abafado – Está dispensada, agente.
- Obrigada, senhor! – agradeci novamente.
Me levantei e caminhei até a saída, mas antes que pudesse abrir a porta, Phil me chamou outra vez. Me virei até ele com o cenho franzido.
- Sim?! – perguntei.
- Seu irmão está aqui, na sala de treinamento. – ele falou – Ele disse que gostaria de conversar com você.
- Entendido. – balancei a cabeça uma vez.
Finalmente saí e segui para onde Coulson havia me informado. A sala de treinamentos não ficava tão longe, porém, apressei meus passos para que pudesse ver logo. Assim que adentrei o lugar, presenciei uma cena deveras improvável. Meu irmão estava parado de frente para um saco de areia e ouvia instruções da agente May. Me aproximei lentamente, me recostando numa das paredes.
- Quando lutar com alguém mais alto que você, acerte o peitoral ou a garganta, vai deixá-lo sem ar por tempo suficiente para que possa investir outra vez. – ela demonstrou um movimento de soco com as mãos – Se a pessoa for mais baixa, tente o rosto, especialmente nas têmporas ou no queixo.
- Entendido. – ele disse.
- Tente agora. – ela ordenou.
Sem hesitar, iniciou uma sequência de socos. Vi que treinava a primeira instrução para atacar pessoas mais altas e ele era ágil e preciso. Apesar disso, ele continha sua força talvez para evitar estragar o saco pendurado. Quando ele parou, resolvi me aproximar.
- Definitivamente, isso era a última coisa que achei que veria. – eu disse e eles olharam para mim.
- Agente Potts! – May se aproximou – Chegou mais cedo do que eu esperava.
- Bucky colaborou. – eu disse – Ele não ficou fazendo doce, nem nada.
- Você pediu que ele voltasse? – também chegou perto.
- Sim. – eu balancei a cabeça.
- Apenas isso? – ele franziu o cenho.
- Mais ou menos... – fiz uma careta – Mas isso não importa. O diretor disse que queria falar comigo.
- Sim, eu quero. – ele confirmou.
- Vou deixá-los a sós. – May falou.
Esperamos que ela saísse para que começássemos nossa conversa. Ao sentir que May estava longe, dei dois passos na direção de . Naquela última hora eu tinha encontrado muitas pessoas e todas elas faziam parte de minha vida. Agora, eu encontrava a última delas. Quem eu nunca imaginei que ao menos existisse.
- Oi! – foi o que eu disse.
- Acho que não precisamos disso, mas... oi! – ele fez uma careta.
- Foi mal, eu não sei o que dizer. – eu ri sem graça.
- Pelo que percebi, você fala bastante, então isso com certeza é novo. – ele debochou.
- Sem dúvidas! – balancei um pé no ar e depois voltei a apoiá-lo no chão – É por isso que é melhor que você fale.
- Combinado. – ele riu.
Apontei para o chão onde um tapete de borracha preto estava, logo em frente a um grande espelho que ia do teto até o chão. Sentamos, ficando de frente para ele e encaramos nossos reflexos.
- E então? – perguntei.
- Só queria perguntar se está pronta. – ele balançou os ombros.
- Então quer dizer que não era preciso que nós nos sentássemos? – eu revirei os olhos.
- Na verdade, eu precisava. – ele disse e soltou o ar pela boca – A agente May me fez treinar pela manhã quase toda.
- Ela é durona. – eu ressaltei.
- E você também é? – ele me encarou pelo espelho.
Sem responder, abri minhas mãos apoiadas em minhas pernas cruzadas e fiz com que chamas surgissem. As conduzi e fiz com que dançassem ao redor de nós dois, como uma corrente. Depois, trouxe-as para baixo, fazendo um círculo de fogo a nossa volta. apenas me encarava.
- O que acha? – sorri de canto.
- Eu acho que você é boa. – ele ergueu a mão direita – Mas que poderá ficar ainda melhor.
Com um movimento simples, meu irmão repeliu meu fogo e ele se apagou como se um vento tivesse soprado sobre ele. Fiquei admirada e virei meu rosto, o encarando de perto.
- Pensei que o Ash manipulasse o vento. – falei confusa – O que faremos com ele, afinal?
- Isso que fiz não é manipulação de vento. – ele explicou, continuando – E Ash voltará conosco. Lá decidiremos qual será seu destino.
- Ele deveria pagar por se tão arrogante. – fiz uma careta.
- Ele vai. – ele deixou claro.
- E sobre seu feito, se não manipulou o vento, como apagou meu fogo? – questionei.
- Eu aprendi a fazer muitas coisas com meus poderes, Elle. – ele também me encarou – Imagine o que poderá fazer com os seus?
- Meu único desejo é salvar . – eu disse.
- Esse será apenas um dos benefícios. – ele sorriu de canto.
Fitei seus olhos escuros como os meus. Era quase impossível de ver minha imagem neles, mas aquelas íris eram familiares. Como se eu o conhecesse por toda uma vida. Soltei um leve suspiro e sorri para , que retribuiu o gesto. Seu movimento me trouxe certa medida de confiança.
- Estou pronta. – finalmente eu disse.
- Tem certeza? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Sim. – balancei a cabeça – Vamos para a Romênia!
Capítulo 48: Isso Não é Um Adeus
Soltei um longo suspiro e fitei a luz de led no teto. Eu não sabia a quanto tempo estava ali, mas o chão não era um lugar muito confortável para se deitar. Minhas costas podiam sentir o quanto aquele piso branco de banheiro era duro.
- Mas que droga! – eu resmunguei
Sem mais paciência para meditar, ou seja lá o que eu estava fazendo, me sentei e olhei em volta. Meu banheiro continuava do mesmo jeito. A única diferença é que metade de meus pertences não estava mais lá e sim numa de minhas malas no meu quarto. Pra mim, a parte mais chata de uma viagem era essa. Arrumar as bagagens e levar apenas o essencial.
Se eu pudesse, teria levado tudo. Todas as minhas roupas, meus sapatos, minhas meias, maquiagens e xampus. Quem sabe eu até levasse meu pote de balas coloridas que ficava sobre minha escrivaninha. E não poderia esquecer minhas armas. Mas, é claro, fez questão de ser um estraga prazeres e disse que eu levasse o mínimo possível, pois eu teria tudo o que precisasse lá na Romênia.
Em resposta, o expulsei do meu quarto, assim como todos os outros e fiz tudo eu mesma. Não precisava de pitacos, eu poderia fazer aquilo sozinha. Soltando um novo suspiro, me levantei a muito custo e segui para o quarto. Assim que passei pela porta do banheiro, parei subitamente. Encarei a pessoa sentada em minha cama.
- Bucky! – fiz uma careta – Como entrou aqui?
- Você só trancou a porta. – ele disse apenas.
- Então você arrombou minha fechadura? – arregalei os olhos – O Tony vai te matar, querido!
- Eu não arrombei nada. – ele disse e ergueu um pequeno grampo dourado – Essas coisinhas serviram pra alguma coisa.
- Onde encontrou meus grampos? – me aproximei dele.
- Você jogou todos os seus pertences desse tipo sobre a cama e, antes que nos chutasse daqui, eu peguei esse. – ele jogou o objeto no lençol azulado.
- Você é terrível! – eu ri abafado e parei em sua frente – Eu deveria colocar uma coleira em seu pescoço.
- Gostaria de vê-la tentar. – ele ergueu as sobrancelhas e segurou minha cintura com as mãos.
- Quem sabe mais tarde. – mordi meus lábios e olhei para cima com cara de inocente.
- Eu iria adorar... – ele sussurrou e eu o fitei.
Com um sorriso pequeno, me inclinei em sua direção e depositei um selinho em seus lábios. Em seguida, me sentei em seu colo e o abracei pelo pescoço. Ele me encarava com seus olhos incrivelmente serenos. Tão diferentes do quando o encontrei.
- Você não precisa de uma coleira. – apesar de citar nossa brincadeira, minha voz saiu séria – Precisa redescobrir sua vida. Você merece liberdade, Bucky.
- Eu preciso de algumas coisas. – ele disse e passou uma mão em minha cintura – Mas, com certeza, preciso ainda mais de você.
- Desde quando você é um galanteador, Barnes? – desviei meus olhos um pouco encabulada.
- Acho que... Desde sempre. – ele se esforçou para lembrar e eu ri.
- Eu também preciso de você, querido. Muito. – segurei seu rosto – Mas agora temos objetivos diferentes e precisamos alcançá-los. Eu vou voltar pra você, eu prometo!
- Eu sei que vai. – ele segurou minha mão direita – E eu estarei aqui, esperando.
Sorri outra vez e acariciei sua nuca com minha mão que antes estava apoiada em seu ombro. Bucky olhava em meus olhos e nunca havia visto tanta pureza neles. Mesmo sem senti-lo, eu podia perceber que tudo o que ele dizia vinha de seu coração. Sem conseguir mais me segurar, selei nossos lábios num beijo apaixonado. Imediatamente, ele me abraçou com mais intensidade.
Sem me incomodar com a possibilidade de alguém entrar no quarto, me inclinei sobre seu corpo, o obrigando a se deitar. Fiquei por cima dele e quando nos separamos tive a visão privilegiada de seus lábios avermelhados. Eu estava sentada em seu membro e podia sentir que ele já estava excitado, por isso sorri de canto.
- Essa foi rápida! – eu debochei.
- E acha que precisa se esforçar pra me deixar assim? – ele disse e eu ri com malícia.
- Só estamos começando, meu bem. – pisquei para ele.
- Estamos? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Estamos. – sussurrei.
Sem esperar mais respostas, me movimentei por cima dele, pressionando nossas intimidades. Isso arrancou um gemido abafado que Bucky tentou conter, sem êxito. Com um sorriso de lado a lado, me inclinei até ele e ficamos cara a cara. Nossas respirações ofegantes se misturavam e os corações batiam acelerados, deixando tudo ainda mais provocante.
- Eu amo você, soldado! – eu disse, o pegando de surpresa – Não se esqueça de mim.
- Como poderia esquecê-la? – ele respondeu – Você está aqui.
Bucky segurou minha mão e a colocou sobre o seu peito, perto do coração. Soltei um risinho e o beijei outra vez. Quanto nos afastamos, continuamos com os rostos próximos e ele sussurrou contra minha boca.
- Não importa quanto tempo passe, eu sempre vou amá-la, Golden. – sua voz era suave – Sempre!
Meus olhos marejaram e meu coração bateu mais devagar por um segundo. O segundo em que quase desisti de tudo. Entretanto, uma decisão havia sido tomada dentro de mim. E eu não voltaria atrás. O que me restava era aproveitar aqueles últimos momentos com Bucky. Foi por isso que o beijei mais uma vez.
- Ei! – me soltei de Bucky e me aproximei dela – Não fique assim.
- Meu desculpe... – ela me abraçou – É que você fará tanta falta...
- Ela tem razão, pirralha. – Tony disse – Você é uma garota legal.
- Gente, eu não vou morrer. – tentei brincar – Eu volto logo.
- Vou me lembrar disso. – Pepper me esmagou outra vez – E não demore!
- Tudo bem. – eu ri levemente.
Depois de me despedir deles, segui para fora da mansão com James. No jardim que havia mais à frente, dois jipes estavam estacionados. Além do meu irmão, meus amigos estavam lá. Abri um largo sorriso quando Daisy abriu a porta de um dos veículos e veio até mim. Nos jogamos uma nos braços da outra, ficando assim por um longo tempo.
- Olá, amiga! – ela disse em meu ouvido – Como se sente?
- Razoavelmente bem. – respondi, completando – Tem certeza que não quer vir conosco?
- Tenho. – ela confirmou – Estou melhor aqui. A SHIELD é a família que levei muito tempo para encontrar.
- Acho que já chega! – ouvi a voz de Bobbi atrás de nós duas, então nos separamos – Também queremos nos despedir da Golden, Tremor!
- Que seja... – ela revirou os olhos
Quando Daisy se afastou, Bobbi me abraçou de uma forma bem mais contida e me desejou boa sorte. Agradeci por seu apoio e então nos separamos. Olhei em volta e vi que Natasha, Sam e Steve nos olhavam de dentro do um dos jipes. Ela estava no volante, enquanto os garotos permaneciam no banco de trás. Me aproximei da janela traseira.
- É desse jeito que se despedem de mim? – fingi estar magoada.
- Foi mal, garota, mas deu muito trabalho entrar aqui. – Sam debochou.
- É bom saber que me estimam tanto. – fiz uma careta.
Em seguida, abri a porta e entrei, passando por cima deles e sentando em seu meio. Eles riram de minha atitude, especialmente quando coloquei minhas pernas sobre as de Steve. No mesmo segundo, vi Nat nos encarar pelo retrovisor.
- Tem muito mais espaço no outro carro, Golden. – ela disse.
- É. – o Capitão concordou – Seria muito mais confortável.
- Pode ficar tranquila, senhora Rogers, eu já tenho meu homem. – eu disse e Nat revirou os olhos.
Aquilo fez com que as risadas aumentassem. Então, entrou, se sentando no banco de passageiro e nos encarou como quem não estava entendendo nada. Lhe lancei uma piscadela e disse a Natasha que poderia ir. Olhei pelo vidro da frente e vi Bucky entrar no outro carro com as garotas. Ele foi no banco de passageiro, enquanto Bobbi dirigia e Daisy seguiu até a parte de trás do jipe.
- Coloquem os cintos. – a Romanoff disse e ligou o motor, dando partida.
Obedecemos a sua ordem. Com o passar do tempo, arrumei minha postura, me sentando como uma pessoa normal. A distância entre a mansão de Tony até o ponto onde indicava para Natasha seguir não era muito longa. Em vinte minutos estávamos lá.
Adentramos uma espécie de floresta com árvores altas, mas afastadas o suficiente para conseguirmos seguir. Em certo momento, a vegetação começou a diminuir e avistei uma clareira enorme. No meio dela, havia uma pista de decolagem onde um helicóptero estava. Imediatamente, senti que alguém nos esperava.
- Tem mais alguém aqui. – eu disse.
- Sim. – respondeu – Pedi que Trina ficasse para irmos juntos.
Natasha finalmente parou o carro e o que vinha atrás também estacionou fora da pista. Saímos dos veículos e fomos em direção a ela. Ao mesmo tempo, alguém desceu do helicóptero. No momento que o vento esvoaçou os cabelos loiros de Trisha, ela sorriu para nós.
- Bom dia, pessoal! – ela nos cumprimentou gentilmente.
- Olá, Trisha. – respondeu por nós.
- Eu não sabia que teríamos uma comitiva. – ela brincou ao ver a quantidade de pessoas.
- Muito engraçada. – meu irmão se aproximou dela – Eles são amigos da Elle.
- É bom ter pessoas que se importam. – ela sorriu diretamente pra mim.
- Sim, é. – sorri de volta e abri os braços – Esses pobres miseráveis me amam!
Um riso animado vindo dos presentes ecoou por toda a área aberta. Me virei para eles, soltando um longo suspiro. Eu havia voltado para a SHIELD depois de um grande desastre e em pouquíssimo tempo aprendi que uma família não é necessariamente a que tem o mesmo sangue. Uma família pode ser encontrada em qualquer lugar, em qualquer momento e ela pode ser constituída de quantos membros seu coração permitir. E meu coração era bem espaçoso.
Tentando mandar um pouco dos meus sentimentos para o lado, caso contrário eu choraria, me aproximei de meus amigos e os abracei uma última vez. Quando me afastei de Natasha, ela tirou um colar que usava no pescoço e o colocou em minha mão direita.
- Foi o Clint que me deu. – ela explicou – Ele disse que eu faço parte da família.
- E por que está dando pra mim? – franzi o cenho.
- Porque agora você faz parte da família também. – ela respondeu.
- Obrigada, Nat. – a abracei novamente.
Por fim, fui até Bucky. Ele permanecia parado ao lado de Steve, mas o capitão se afastou assim que viu minha aproximação. Esperei que ele se retirasse, então olhei para James. Nenhum de nós dois disse nada, então ele se aproximou e segurou meu rosto com delicadeza. Quando ele me beijou, eu apenas fechei meus olhos.
- Isso não é um adeus. – ele disse quando nos afastamos.
- Não é. – eu disse - Até mais, soldado!
Antes que meus olhos começassem a expulsar todas as lágrimas que eu continuava a guardar, me afastei dele e caminhei até e Trisha. Parei ao lado do meu irmão e esperei que ele dissesse que era hora de ir.
- Vamos. – ele finalmente disse.
Balancei a cabeça em sinal positivo e deixei que eles entrassem primeiro, fazendo-o por último. Antes, me virei para meus amigos e acenei. Em seguida, adentrei a cabine e me sentei, colocando o cinto de segurança. estava na cadeira de piloto e Trisha ao seu lado.
- Elle, está pronta? – perguntou.
- Manda ver! - respondi.
Não demorei a ouvir o som das hélices. Quando senti que estávamos subindo, olhei pela janela. A cada segundo, eles se tornavam menores lá embaixo. Ao perdê-los de vista, me ajeitei no meu lugar. Abri minha mão direita, analisando o colar que Natasha havia me dado. Era simples. Uma corrente prateada com uma pequena flecha. Fechei os olhos e recostei minha cabeça na poltrona.
- Isso não é um adeus. – repeti as palavras de Bucky.
E elas continuaram a ecoar em minha mente até se tornarem uma certeza. Eu voltaria, eu salvaria e tudo ficaria bem. A garota em chamas regressaria. Era só uma questão de tempo.
Capítulo 49 - CAPÍTULO ESPECIAL: Recomeço
Fitei o ambiente a minha volta sem esconder o sorriso de canto que se formava em meus lábios. Era tão familiar e me fez tanta falta. Agora eu estava mais uma vez ali e tinha a plena certeza de que aquele era o momento certo para ter retornado. Respirando fundo, coloquei uma mecha de meu cabelo atrás da orelha. Ainda me acostumava com seu comprimento um pouco acima dos ombros, mas teria tempo para isso depois.
Eu estava pronta. Após um treinamento exaustivo de quase dois meses com o auxílio de meu irmão, finalmente havia atingido boa parte de meu potencial. Eu sabia que ainda havia muito mais para aprender e desenvolver, entretanto, não aguentava mais esperar. Meus amigos estavam longe, assim como Pepper e Bucky. Além do mais, precisava de mim.
Depois de insistir que queria voltar, finalmente cedeu e regressamos juntos para os Estados Unidos. Usamos um helicóptero e seguimos até a mansão de Tony. Ao chegar lá, encontrei apenas minha tia, que quase teve um ataque do coração assim que me viu. Pepper me abraçou tão forte que, se eu não fosse uma inumana com super resistência, teria perdido o fôlego.
Após saber que Tony estava passando a maior parte do tempo na torre dos Vingadores e que Bucky havia sido levado para lá para ser treinado, não hesitei nem por um segundo em querer ir até lá. Mesmo com os protestos de , eu decidi ir. Especialmente após Pepper dizer que Bucky tinha algo pra mim.
- Como assim, ele tem algo pra mim? – arregalei os olhos. – Tia Pepper, me conta o que é!
- Nananinanão! – ela balançou a cabeça, sustentando um sorriso travesso. – Vai ter que descobrir sozinha.
- Pepper! – abri os braços, mostrando minha indignação.
- Elle, seria melhor descansar. – , sempre sensato, se intrometeu em nossa conversa. – Já é tarde e, como sua tia disse, eles podem nem estar lá.
- Vou arriscar. – mandei uma picadela para ele.
- Mas, precisamos ir até a SHIELD amanhã pela manhã. – ele tentou mais uma vez.
- Eu chego antes disso. – apoiei uma mão no quadril.
- Você não vai desistir, não é?! – meu irmão soltou um suspiro.
- Ela nunca desiste tão fácil. – Pepper cruzou os braços.
- Que bom que vocês me conhecem. – dei um sorrisinho cínico.
- Que seja. – ele deu de ombros.
Jogando-se no grande sofá que havia na sala de estar, mostrou que havia desistido de tentar me convencer. Apesar de ser bem teimoso quando queria, eu conseguia superá-lo nesse quesito. Não é a toa que estávamos aqui. Quanto a Pepper, continuava a me encarar e seus olhos transmitiam certa dúvida. Não precisei ao menos ler sua energia para constatar isso.
- Algum problema? – me virei para ela.
- Não, nenhum. – ela se aproximou, mas seu olhar persistia. – Eu só quero saber como você vai chegar até a Torre a uma hora dessas, afinal ela não fica perto daqui.
- Isso não é um problema. – abri um sorriso sapeca.
- Irmã. – de repente, ouvimos falar atrás de nós e nos viramos para ele. – Não está pensando em fazer o que acho que vai fazer, não é?!
- E por que não? – ergui as sobrancelhas.
- Precisa poupar energia. – ele salientou.
- , eu sei me controlar. – dessa vez revirei os olhos. – Treinamos isso, lembra?
- Crianças, do que vocês estão falando, mais exatamente? – Pepper parou em nosso meio, olhando de uma para o outro algumas vezes.
- Golden quer se teletransportar. – disse, usando meu apelido.
Era difícil vê-lo me chamar assim. Entretanto, ele já estava se acostumando com o fato de que eu não gostava nem um pouco de ser chamada de Hellen ou seus derivados. Era um bom nome, porém, me fazia parecer outra pessoa. Independente dele ser meu irmão de sangue e de eu ter criado um grande carinho por ele, eu era Potts e sempre seria.
- QUÊ? – o berro de minha tia me tirou de meus devaneios. – , o que seu irmão quis dizer com “se teletransportar”?
- Apenas observe. – soltei um riso leve.
- E lá vai ela. – jogou a cabeça pra trás, ignorando meu espetáculo.
Puxei um pouco de ar para os pulmões, me concentrando. Não precisei de muito e logo o fogo surgiu ao meu redor. Mas as chamas estavam completamente controladas e giravam em espiral, como se fossem um fino véu pelo qual eu podia ver a expressão entediada de e a surpresa de Pepper. A cada segundo as chamas passaram a girar mais velozmente, logo reluzindo um brilho amarelado.
- Potts! – Pepper disse, mas estava apenas assustada e não irritada.
Essa foi a última coisa que ouvi. Então meu corpo se tornou intangível e eu era, literalmente, fogo. Então completei meu teletransporte. Num segundo estava na sala de estar da mansão Stark, no outro me encontrava em alguma área da torre dos Vingadores. Por ser noite, tudo já estava escuro. Enquanto voltava a minha forma normal, percebi que as luzes também estavam apagadas. Era provável que estivessem dormindo, ou como Pepper disse, talvez nem estivessem por aqui.
Antes que eu pudesse completar minha transformação para então vasculhar o recinto, ouvi um som ensurdecedor. Só depois de uns dois segundos é que percebi ser o ruído de um alarme de incêndio.
- Droga! – resmunguei, assim que percebi que eu era a causa do disparo.
Antes que tivesse qualquer reação, ouvi mais um barulho. Esse era semelhante ao de uma mangueira sendo ligada. Arregalando os olhos, sabia o que estava prestes a acontecer, por isso olhei para o teto no mesmo segundo que água começou a jorrar de lá. Eram os detectores de fumaça fazendo seu trabalho.
- Mas que... – suspirei, passando as mãos em meus cabelos encharcados.
Entretanto, a viagem havia me deixado exausta. Sem resistência, me sentei no chão, recostando num móvel que estava ali. Agora que havia me acostumado com a escuridão, sabia estar na cozinha. Flexionei os joelhos, deixando meus braços apoiados neles. Da próxima vez, seria melhor ouvir meu irmão e me poupar mais.
Suspirei pesado e me virei de lado na cama onde me encontrava. Mesmo no escuro, podia enxergar a silhueta dos móveis no quarto, bem como das cortinas que escondiam a janela na outra extremidade do recinto. Depois de Golden ter ido com os inumanos para a Romênia, permaneci na SHIELD. Porém, não demorou a que Steve me trouxesse para a torre dos Vingadores. Estou aqui todo esse tempo, escondido, sendo treinando para me tornar um deles, mesmo que em segredo.
Enquanto isso, eu a espero. A espero como nunca pensei que esperaria. Conto os segundos, mesmo que não tenha dito qual seria a data do seu regresso. Ignorando esse fato, criei expectativas. Expectativas que eu sabia serem irreais, como ter uma vida ao seu lado ou uma família. Apesar de, por hora, ter me livrado da HIDRA, as cicatrizes do meu passado ainda estavam lá e muitas delas nunca desapareceriam. Não conseguia enxergar uma forma de me livrar completamente de minha culpa nem de minhas memórias ruins.
Mas eu a amava e algo dentro de mim dizia que isso era o que importava. Entretanto, eu sabia que não. Precisaria de mais para oferecer a mulher que eu queria ao meu lado. Mais uma vez suspirei, ligando o abajur e me levantando em seguida. Perder o sono por conta de pesadelos ou simplesmente não conseguir dormir era mais do que normal. Já estava acostumado.
Lentamente, caminhei até a escrivaninha que jazia ao lado da porta. Sem pressa, abri a gaveta que havia no móvel, tirando algo de lá.
Uma pequena caixa preta de veludo.
Passei o polegar pelo material delicado e sorri de canto, a abrindo. Assim que o fiz, pude ver, mesmo que com pouca luz, o anel dourado com uma pequena pedra de diamante no topo. Era simples, mas muito bonito. Tirei o pequeno objeto, o segurando entre os dedos, o trazendo para mais perto do meu rosto. Ao mesmo tempo, me lembrava como o havia conseguido.
Quando minha estadia na torre dos Vingadores chegava perto de um mês, resolvi contar a Steve o quanto Golden era importante pra mim. Havíamos nos tornado próximos outra vez e eu conseguia me abrir com ele muito mais. Certo dia, estávamos treinando e num período de descanso falei como me sentia e do que desejava construir com ela. Steve ouviu tudo e disse que ficava feliz por eu finalmente estar pensando em recomeçar. Até aí tudo bem. O problema foi quem mais escutou a nossa conversa.
Flashback –On-
Steve e eu caminhávamos pelos corredores da Torre após um longo dia treinamento. Eu havia contado a ele sobre os planos que fiz para minha vida e que Potts estava incluída em cada um deles. Caminhamos até o elevador e esperamos.
- Quer mesmo se casar com ela? – Steve perguntou.
- Sim. – respondi com firmeza.
- Então sabe que vai precisar comprar um anel para sua garota, não é?! – ele falou apoiando uma mão no meu ombro.
- O anel é o menor dos problemas. – soltei um riso abafado. – Antes de qualquer coisa, preciso saber se Golden também aceitará se casar comigo.
Naquele instante, as portas do elevador se abriram, revelando ninguém menos que Pepper Potts. Ela era a tia de Golden e namorava o Stark. A tinha visto por aqui poucas vezes, mas lá estava ela, com seus grandes olhos claros arregalados em nossa direção. Ficamos parados nos encarando, até que ela deu dois passos para fora e, ainda com os orbes esbugalhados, abriu um largo sorriso.
- Você e a Golden vão se casar? – sua voz saiu repleta de entusiasmo.
- Er... – eu não soube o que dizer.
- Ele ainda não tem um anel. – Steve brincou.
- Como assim, não tem um anel? – a ruiva apoiou uma mão na cintura.
- Não é bem isso... – ergui as mãos, como se me rendesse. – São só planos. Não sei se Golden vai... aceitar.
- Querido, se você não fizer o pedido, ela nunca vai poder dizer sim. – Pepper continuava com seu sorriso. – Vamos dar um jeito nisso.
Sem esperar qualquer resposta, ela segurou meu pulso e me puxou de volta para o elevador. Steve veio junto e seu rosto mostrava o quanto se divertia com toda a situação. Enquanto descíamos, a senhorita Potts tagarelava sobre achar aquela uma notícia maravilhosa, que torcia para que nosso relacionamento desse certo e que não via a hora de ter soldadinhos correndo pra lá e pra cá pela mansão que ela e Tony dividiam. Discretamente, olhei para Steve pedindo ajuda, mas ele apenas balançou a cabeça negativamente, mostrando que não havia escapatória.
E, realmente, não houve. Pepper me fez vestir um disfarce e então nós três fomos até uma joalheria. Mesmo estando completamente constrangido por conta daquela situação embaraçosa, analisei algumas joias, mas eram todas extravagantes. Foi quando o vi. Simples, escondido no meio dos outros, mas quando olhei melhor, vi o quão refinado era. Sem ter mais dúvidas o escolhi e Pepper aprovou. Só esperava que Golden também.
Flashback –Off-
Eu ainda encarava o anel, agora achando graça da situação ocorrida há poucos dias. Apesar de não compartilharem o mesmo sangue, Pepper e Golden se pareciam muito, com o mesmo entusiasmo e o mesmo brilho no olhar. Sem contar que as duas falavam bastante.
Balancei a cabeça negativamente, decidindo guardar a pequena joia. Não sabia o motivo, mas estar com ela entre meus dedos me deixou mais calmo. Talvez agora pudesse dormir.
Distraído, me assustei assim que o alarme contra incêndios disparou. Estranhando aquele disparo repentino, vesti uma camisa escura e corri para a cozinha. No meio do caminho, encontrei Natasha. Ela vestia uma camisola e empunhava uma pistola.
- O que está acontecendo? – ela perguntou.
- Não faço ideia. – disse enquanto continuávamos a correr.
Os outros Vingadores estavam numa missão. Por isso chegamos sozinhos até o cômodo, que agora se encontrava encharcado, graças ao detector de fumaça que jorrava água para todos os cantos. Vasculhamos o local minuciosamente, até que ouvi um gemido vir de trás do balcão. Natasha e eu nos entreolhamos, desconfiados. Ela acenou uma vez com a cabeça e foi a uma das extremidades da bancada, enquanto eu ia pelo outro lado.
Cerrei os punhos, no mesmo segundo em que entrava no campo de visão de quem estivesse ali. A Romanoff fez o mesmo, com sua arma erguida na direção da pessoa, todavia, nós dois paralisamos assim que avistamos a cena à nossa frente.
- O que significa isso? – Natasha franziu o cenho.
- Mas o que... – um murmúrio saiu de entre meus lábios.
No mesmo momento, a garota recostada na bancada olhou em minha direção sustentando um sorriso de canto.
- Bucky... – ela murmurou e seu sorriso aumentou.
Sentada no chão, apoiava os braços nos joelhos e parecia cansada. Ainda assim, se ergueu, nos dando uma visão de sua roupa preta de couro com alguns detalhes vermelhos em suas botas, assim como nas luvas de dedo. Permaneci estático, sem acreditar no que via, até que ela veio em minha direção.
Pisquei os olhos algumas vezes, tentando ter certeza de que aquilo era mesmo real. Então ela parou em minha frente e, ainda sustentando o sorriso, inclinou a cabeça para o lado, como sempre fazia.
- O que foi? – apoiou uma mão na cintura. – O gato comeu sua língua?
- Golden... – essa foi a única coisa que saiu de meus lábios.
- Sim, sou eu. – ela riu levemente, fazendo uma careta em seguida. – Ou essa roupa colada me deixou muito estranha?
- Quê? – franzi o cenho diante de sua pergunta. – Não, é que...
- Você está surpreso em me ver. – ela completou.
Pela expressão que Golden sustentava, tive a certeza de que ela sabia o que eu sentia. Literalmente. Tê-la assim tão perto depois de tanto tempo era surreal e meu coração descompassado refletia isso. Fitei o seu rosto emoldurado por seus cabelos soltos e agora à altura dos ombros. Sustentando nosso olhar, Golden ergueu uma de suas mãos e com os dedos molhados, tocou minha bochecha. No mesmo segundo, uma corrente elétrica atingiu meu corpo, me causando um calafrio.
- Você voltou. – falei, ainda surpreso.
- Eu voltei. – Golden balançou a cabeça positivamente. – Eu disse que voltaria, soldado.
Saindo de meu transe, segurei sua mão que permanecia em meu rosto, a puxando para perto de mim. A envolvi num abraço firme, logo sentindo seus braços em volta do meu pescoço. Afundei o rosto na curva de seu pescoço e fechei os olhos, apreciando o perfume que exalava de seus fios.
- Muito bonitinho esse momento e tal... – de repente, Natasha disse, chamando nossa atenção. – Mas, Golden, será que poderia explicar o que está fazendo aqui?
- Ah claro. – ela se afastou de mim, virando-se para a ruiva. – Eu cheguei faz algumas horas na mansão, mas só encontrei a Pepper lá. Ela me disse que, provavelmente, vocês estariam aqui na Torre, então me teletransportei pra cá. Só me esqueci dos detectores de fumaça e agora estamos encharcados.
- Espera! – a Romanoff fez uma careta. – Como assim, se teletransportou?
- É só mais uma das facetas de meus poderes. – Golden piscou. – Mas é uma longa história, então vamos deixar pra outro dia.
- Como quiser. – ela deu de ombros. – Apenas nos diga, por que voltou?
- Porque, minha cara Romanoff, eu evoluí. – Golden caminhou até a outra, parando em sua frente. – E finalmente estou pronta.
Sorri de forma amável, sentindo meu coração palpitar dentro de meu peito. No momento que ouvi a sua voz, meu estômago revirou e minhas pernas tremeram. Assim que ergui meus olhos, tive a maior certeza de minha vida: eu amava Bucky Barnes incondicionalmente.
Lentamente, fui até ele, segurando a sua mão. Eu não sabia qual seria o nosso futuro, entretanto, não me importava. Não agora, quando podia tê-lo tão perto.
- Você parece cansada. – ele observou, analisando meu rosto.
- E estou. – dei um sorrisinho.
- Vai dormir aqui? – Nat perguntou.
- Acho que sim. – falei pensativa.
- Estão vamos voltar pra nossos quartos. – a ruiva disse, pegando sua pistola sobre a bancada. – Amanhã será um longo dia.
- Falando nisso. – ergui o indicador. – Amanhã eu precisarei ir até a SHIELD.
- Se quiser, podemos acompanhá-la. - A Romanoff se ofereceu.
- Vou querer que estejam lá, com certeza. – eu disse, completando. – Mas antes terei que buscar o . Será que poderiam ir pra lá sem mim?
- Sem problemas. – ela deu de ombros.
Sem mais, seguimos até o corredor onde ficavam os quartos. Após nos dar boa noite, Natasha adentrou o seu, então seguimos juntos com as mãos dadas. Paramos em frente a uma porta e Bucky a abriu. Passamos por ela e ele a fechou em seguida. Curiosa, olhei em volta, analisando o ambiente razoavelmente grande. Não tinha muitos detalhes além dos móveis e a cama de casal com lençóis brancos era o que havia de mais chamativo ali.
Caminhei devagar, até que vi uma escrivaninha perto da porta. Sobre ela estavam inúmeros cadernos, todos usados. O que estava por cima ainda era usado, pois uma caneta marcava uma das páginas mais ao meio. Passei os dedos sobre a capa escura até que senti Bucky parado atrás de mim.
- São minhas memórias. – ele murmurou, mas pude ouvir bem. – Cada vez que uma delas retorna, eu anoto para não esquecê-la mais.
- Até as ruins? – questionei.
- Até as ruins. – ele confirmou.
Suspirando, me virei para ele, deixando nossos corpos quase colados. Olhei em seus olhos azulados e mordi os lábios. Céus, como eu havia sentido falta daquele homem. Em certos momentos, sentia até mesmo dores físicas só pelo fato de estar longe. Mas agora Bucky estava ali em minha frente e cada célula de meu corpo reagia a esse fato. Era como uma corrente elétrica inquieta que vagava de um lado para o outro sem cessar. E eu sabia o que significava: alegria.
- Bucky... – toquei seu rosto mais uma vez, vendo-o fechar as pálpebras. – Eu senti tanto a sua falta.
Minha frase fez com que reabrisse os olhos, me fitando com intensidade. Naquele momento, compartilhávamos os mesmos sentimentos. Saudade, alegria, carinho. Mas o maior de todos eles era o amor. Com os olhos marejados, me aproximei mais. Ainda com as mãos em sua face encostei meu rosto no seu, sentindo sua respiração descompassada. Não demorei a ter suas mãos em minha cintura, me segurando com firmeza e cuidado ao mesmo tempo.
Agoniada por ter estado tanto tempo longe, terminei a pouca distância entre nós, selando nossos lábios. Foi um beijo suave, como se quiséssemos relembrar o gosto um do outro. Após certo tempo, resolvi aprofundá-lo, passando meus braços pelos seus ombros, levando meus dedos para seus cabelos agora curtos. Bucky estreitou mais seu abraço, não deixando nenhum espaço sequer entre nós.
Quando o ar nos faltou, nos separamos lentamente, encostando nossas testas. Ainda recuperando o fôlego, soltei um riso abafado. Nos encaramos por longos segundos, até que ele me abraçou mais uma vez.
- Eu esperei você. – ele murmurou com o rosto enterrado em meus cabelos. – Cada segundo.
- Eu sei. – agarrei sua camisa. – E a cada segundo eu pensava em voltar. E voltei.
Nos afastamos um pouco e trocamos um sorriso cúmplice. Em seguida, Bucky me guiou pelo quarto, mostrando onde ficavam suas coisas e também o banheiro. Quando eu disse que não havia trazido roupas, ele me ofereceu as suas, que aceitei de bom grado. Após me trocar, colocando apenas uma camiseta larga, voltei para o quarto, deixando meu uniforme sobre uma poltrona perto da janela.
James estava deitado em sua cama e parecia pensativo, por isso apenas fui até ele, deitando ao seu lado. Automaticamente, seus olhos caíram sobre mim e ele abriu os braços, deixando que eu me aconchegasse em seu peitoral. Ficamos assim por um tempo incontável, até que me lembrei de algo.
- Bucky. – o chamei baixinho. – Pepper disse que você tinha algo pra mim.
No mesmo momento, senti os músculos dele se enrijecerem. Ele estava tenso. Seu corpo demonstrava isso, assim como seu interior. Toda a sua carga emocional veio sobre mim e eu senti sua insegurança, só não sabia o motivo dela.
- Eu tenho sim. – ele respondeu no mesmo tom. – Mas vamos deixar isso para um momento melhor.
- Como quiser. – decidi não pressioná-lo.
Cansada, o sono logo me derrubou. Em questão de minutos, dormimos. Acho que, de longe, aquela foi a melhor noite de sono que tive desde que havia partido.
- Eu disse que não deveria ter saído ontem. – ralhou comigo.
- Se prepare, irmãozinho. – ignorei sua fala, segurando sua mão.
Segundos depois, as chamas nos circundaram e desaparecemos entre a luminosidade amarelada. Em instantes, reaparecemos no lugar onde eu disse que todos deveriam nos esperar. Na sala do diretor, todos nos encaravam chocados, me fazendo soltar um riso debochado.
- E aí, galera! – foi a primeira coisa que eu disse.
Parados ali estavam o diretor Coulson, Bobbi, a agente May, além de Natasha e Bucky. Suas expressões eram as melhores, mas eu não estava muito no clima para piadas, então caminhei na direção de Phil. Estendi a mão em sua direção e ele a apertou, sustentando um sorriso de lado.
- Bem-vinda de volta, agente Potts! – ele disse.
- Obrigada, senhor. – sorri.
- Uniforme maneiro, pirralha. – Bobbi disse e me virei para ela, alargando meu sorriso.
- É bom te ver também, agente Morse. – a abracei apertado.
Após falar também com a agente May, expliquei para o diretor o motivo de meu regresso. Eu estava pronta. Conseguia controlar meus poderes e assim salvaria .
- Todo o tempo em que estive lá, treinei com . – apontei para meu irmão. – Ele me ensinou como me controlar e sei que consigo trazê-lo de volta.
- Ela pode mesmo fazer isso? – Coulson perguntou a .
- Elle foi uma das melhores a aprender a controlar os poderes até agora. – ele ressaltou. – Não tenho dúvidas de que se saíra bem.
- Bem... – o diretor se levantou de sua cadeira. – Se estão tão confiantes, vamos tentar.
Balancei a cabeça positivamente, sentindo o fervor crescer dentro de mim. respirei fundo, confiante de que tudo daria certo. Sem mais delongas, fomos conduzidos até a ala onde se encontrava. Coulson disse que o agente havia sido transferido para uma ala especial para que pudessem monitorar todos os seus sinais vitais sem deixar nada passar.
Atravessamos um corredor e chegamos até a última porta que havia nele. Era escura como todas as outras, no entanto a descrição nela a fazia se destacar.
Paciente:
- Seu amigo a espera, agente Potts. – Phil disse.
Cerrando os punhos, dei dois passos à frente, entrando na sala sem olhar para trás. Ao fazê-lo tive a plena visão da sala. Era completamente branca. Do chão ao teto. Os armários, as cadeiras e os aparelhos, todos com a mesma tonalidade. Deixei que ar saísse por minha boca de uma só vez ao avistar uma cama ao fundo do recinto. Entretanto, minha atenção logo se voltou para a garota sentada ao lado dela, numa poltrona.
- Daisy? – minha voz saiu surpresa.
- Golden! – ela ergueu os olhos marejados. – Finalmente você chegou!
Se levantando, ela veio em minha direção, me abraçando. Sem esforços, identifiquei seu alívio. De todos os presentes, ela era a mais eufórica e sua energia frenética me contagiou.
- Vai ficar tudo bem. – a apertei mais. – Vamos salvá-lo.
- Eu sei que vamos. – Daisy se afastou, me olhando nos olhos. – Confio em você, amiga.
Sorri verdadeiramente ao ouvi-la se referir a mim daquela forma. Ainda mais confiante, lancei um rápido olhar para os olhos mais atrás, logo voltando a fitar a cama. Daisy me conduziu até ela e quando avistei meu amigo, meu coração se apertou.
Deitado imóvel, tinha vários aparelhos conectados por meio de fios ao seu corpo pálido. Os cabelos loiros antes espetados, agora estavam um pouco maiores e cobriam parte de sua testa. Estava um pouco mais magro e um tubo grosso estava em sua boca, o ajudando a respirar. Caminhei até estar à beirada do colchão e me sentei ali, sem desviar meus olhos dele um segundo sequer.
Com certo receio, ergui minha mão, levando-a até seu rosto, o tocando. De imediato, senti sua energia. E estava tão fraca. Mais fraca do que da última vez que o tinha visto. Como sempre fazia, levei os dedos até seus cabelos e os acariciei, me inclinando um pouco em sua direção.
- Eu voltei, atirador. – falei mesmo que ele não pudesse ouvir. – É hora de acordar.
A essa altura a agente Simmons e alguns enfermeiros havia adentrado o lugar, por isso pedi que retirassem todos os equipamentos de , deixando-o livre. Mesmo um pouco receosa, ela fez o que eu disse e apenas o aparelho que monitorava seus sinais foi deixado.
Me sentei novamente ao seu lado, segurando a sua mão entre as minhas. Fechando os olhos, me concentrei. Aos poucos, senti a energia acumulada em meu corpo deslizar até estar na ponta de meus dedos. uma luz amarelada e brilhante envolveu minhas palmas e elas formigaram. Então, a força acumulada ali deslizou para a mão de . Vagarosamente, como eu havia treinado, a transferi para seu corpo e ela foi subindo até preenchê-lo por completo.
Fiquei ali por um tempo indeterminado. Foi quando pude sentir que era o suficiente. Sua energia falava por si própria sem precisar de mais auxílios. Era uma força alegre, cheia de vigor, assim como o agente . Ouvi algumas exclamações atrás de mim e abri os olhos. Assim que o fiz, encontrei aqueles grandes orbes me fitando. E eles brilhavam.
- ! – levei uma mão aos lábios, não conseguindo conter minhas lágrimas.
Ignorando a presença de todos ali na sala, me lancei em sua direção, o apertando com força. Minhas lágrimas escorriam, molhando sua roupa branca, mas eu não me importava. Eu havia conseguido. Meu melhor amigo estava de volta.
- Golden... – de repente, disse com dificuldade. – Você está me apertando.
- Ah, meu Deus! – me afastei, passando as mãos pelo rosto para limpar as lágrimas. – Foi mal.
Com minha ajuda, ele se sentou, olhando para todos em sua volta. estava confuso e eu não o culpava por isso. Ele havia perdido muitas coisas desde que ficou em coma e precisaríamos colocá-lo a par delas.
- Por acaso é meu aniversário? – perguntou com a voz um pouco cansada. – Porque não me lembro da última vez que tive uma recepção como essa.
- Cala à boca, seu babaca! – eu ri, o abraçando novamente.
Mesmo sem entender o motivo de todo aquele alarme, também me abraçou com força. Ficamos assim, até que decidi que os outros também deveriam cumprimentá-lo. Após acariciar seus cabelos, me levantei, dando lugar a eles. Imediatamente, Daisy tomou meu lugar, agarrando contra si, chorando baixinho contra seu ombro. Surpreso com aquela reação vinda da morena, ele demorou a retribuir seu gesto, mas logo seus braços estavam em volta dela, deitando sua cabeça na curva do seu pescoço.
Sorri feliz ao decifrar o sentimento que começava a nascer naquele instante entre meus dois amigos. Um sentimento que eu havia experimentado e comprovei ser muito bom: paixão. Mesmo que eles não soubessem, mesmo que demorassem a perceber, de uma forma ou de outra ela se tornaria grande a ponto de não conseguirem mais esconder.
Sem que pudessem me notar, deixei a sala com o intuito de tomar um pouco de ar. Todos estavam extremamente felizes com o retorno de e, mesmo sendo um sentimento bom, me senti sufocada pela quantidade que me atingiu. Eu havia gastado a maior parte de minha energia para trazê-lo de volta, por isso não conseguia controlar meus poderes com tanta precisão naquele momento.
Parei do lado de fora da sala, me encostando numa parede e fechando os olhos. Tudo ficou quieto, mesmo que os sentisse ao longe. Foi então que uma dessas energias se tornou mais próxima, mas, além de alegria, havia a preocupação.
- Você está bem? – sua voz chegou até meus ouvidos.
- Sim. – respondi ainda sem fitá-lo. – Só preciso descansar um pouco.
- Quer que eu a leve a algum lugar? – ele perguntou.
- Estou bem, Bucky. – dessa vez eu o encarei. – Não se preocupe.
- Sabe que não vai adiantar dizer isso, não é?! – ele se aproximou e ficamos cara a cara.
Suspirando, apoiei meu rosto em seu peito, me aninhando ali. Logo seus braços me circundaram delicadamente. Ficamos em silêncio enquanto eu ouvia as batidas rápidas de seu coração. Até que James disse algo.
- Golden, precisamos conversar. – ele disse sério.
- Tem a ver com o que vai me dar? – questionei curiosa.
- Sim. – ele respondeu depois de um tempo.
- Tudo bem. – me afastei dele. – Estou ouvindo.
Bucky me encarou por longos segundos que mais pareceram uma eternidade. Resolvi apenas esperar, pois sabia que ele não era tão bom assim em demostrar seus sentimentos. Finalmente, ele se pronunciou.
- Eu queria fazer isso de um jeito muito melhor, queria dar o que você merece, mas... – ele suspirou. – Eu não faço ideia do que fazer.
Discretamente, Barnes puxou o ar para os pulmões e enfiou a mão dentro do bolso de sua calça. Franzi o cenho, aguardando o que viria e, assim que vi o objeto entre seus dedos, fiquei sem ar. Abri a boca ao ver o pequeno anel entre seus dedos e me aproximei um passo sem deixar de olhar para a joia. Era simples. De ouro com uma pedra de diamante em cima.
- Bucky... – arfei, perplexa.
- Eu não sei o que dizer ou como agir. – ele continuou. – A única coisa de que tenho certeza é que quero passar o resto dos meus dias ao seu lado. Eu fiz planos para meu futuro e você, Golden, está em todos eles. Não consigo imaginar uma vida sem você. Não faria sentido algum. Eu a amo. Amo mais do que achei ser possível. E esse tempo que ficamos separados só confirmou isso. Eu vou entender se disser não, afinal, eu não tenho muito a oferecer, apenas os meus sentimentos e a minha dedicação. Mas preciso saber. Potts, você está disposta a construir uma vida comigo ao seu lado?
Permaneci estática com os lábios entreabertos. Eu respirava com dificuldade e minha visão se tornava cada vez mais embaçada. Então, pela segunda vez naquele dia, lágrimas escorreram pelos cantos de meus olhos. E, assim como as primeiras, essas também eram de alegria. Ainda sem reação, levei uma mão até a boca, prendendo um soluço que saiu abafado.
Bucky permanecia parado, segurando o anel com firmeza. Seus sentimentos eram intensos. E seu amor era tão grande que me moveu a agir. Decidida, toquei seu rosto com ternura, encarando aquele mar que eram seus olhos. Mesmo chorando abri um sorriso largo, deixando que meu coração falasse por mim.
- Você disse que não tem muito a oferecer, apenas seus sentimentos e sua dedicação. – comecei a dizer. – Pois sabia, Barnes, que isso é tudo o que eu preciso. Sei que podemos construir tudo que quisermos com o tempo e vamos conseguir. Eu sei que vamos. Porque eu também amo você. Então, James Buchanan Barnes, sim. Eu aceito construir uma vida ao seu lado.
Às minhas palavras, Bucky abriu um belo sorriso. O mais bonito que eu já havia visto em seus lábios. Sem demora, ergui minha mão em sua direção e ele colocou o anel em meu dedo anelar. Enquanto ele o fazia a felicidade transbordava dentro de mim.
- Eu nunca pensei que poderia recomeçar. – ele disse. – Não desse jeito.
- Todos podem recomeçar, Bucky. – entrelacei nossos dedos. – Basta querer isso.
Sorrindo, ele acariciou meu rosto, me dando um leve beijo em seguida. Ainda de mãos dadas, olhei para a entrada da sala onde outros estavam e suspirei contente.
- Quer voltar lá? – James perguntou.
- Sim. – balancei a cabeça e ergui minha mão. – Quero ver a cara deles quando eu mostrar o anel.
Bucky soltou um riso divertido e eu o acompanhei. Então, seguimos de volta para a sala.
A partir daquele dia, um novo capítulo de nossas vidas se iniciava. Estávamos em paz. Talvez ela não durasse, afinal éramos agentes, heróis, o escudo do mundo. Porém, enquanto ela durasse iríamos aproveitar da melhor forma possível, ao lado das pessoas que amávamos. Ao lado daqueles que, sem sombra de dúvidas, eu poderia chamar de família.
END
Nota da autora: Olá, agentes!
Meu Deus do Céu, eu não tô bem.
Eu não faço ideia de quando comecei a enviar essa fic pra o ffobs, mas sei que o senso de dever cumprido em estar perto de finalizá-la aqui nessa plataforma é grande.
Obrigada a todas vocês que acompanharam essa minha história e vamos agradecer a nossa querida Naty, que esteve a disposição até agora, betando a fic.
Enfim... chorem comigo, pois eu não choro fácil, mas essa é uma situação especial. Kkkkkkkkkk
Muito obrigada pelos comentários e por acompanharem a fic. Caso queiram conversar e interagir, vou deixar o grupo do Face(Cliquem no ícone) pra vocês entrarem. Bjos!
Nota da beta: E acabou, gente! Essa história maravilhosa, emocionante, intrigante, acabou! Estou num misto de sentimentos, porque eu me apeguei de um jeito tão louco nela, que nossa! Meus parabéns por esse trabalho incrível, Paloma, o jeito como você escreve envolve tanto o leitor, que a gente não quer parar e fica sedenta por mais. Não me agradeça por nada, porque foi um presente betar essa beluzura. A m e i! Meus parabéns, mais uma vez!
Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Meu Deus do Céu, eu não tô bem.
Eu não faço ideia de quando comecei a enviar essa fic pra o ffobs, mas sei que o senso de dever cumprido em estar perto de finalizá-la aqui nessa plataforma é grande.
Obrigada a todas vocês que acompanharam essa minha história e vamos agradecer a nossa querida Naty, que esteve a disposição até agora, betando a fic.
Enfim... chorem comigo, pois eu não choro fácil, mas essa é uma situação especial. Kkkkkkkkkk
Muito obrigada pelos comentários e por acompanharem a fic. Caso queiram conversar e interagir, vou deixar o grupo do Face(Cliquem no ícone) pra vocês entrarem. Bjos!