Trilogia Adele - Bônus

Última atualização: 27/12/2017

Capítulo Único

Michael: I've been thinking a lot the last couple days. About us, I mean.
Julianne: Have you? Well. There's a lot of memories to choose from, I guess.
Michael: It's more than that. I mean, it's embarrassing to say it this way, but... You've sort of been... Y'know, the woman in my life.
Julianne: You've been the man in mine.

(…)
Michael: I mean, you commit to this wedding. And then it seems like... This... momentum, you know? And then you forget you... Chose it.”
- My Best Friend’s Wedding – The Boat Scene.


Faltavam duas horas para o meu casamento.
Depois de uma sucessão de pessoas entrando e saindo do quarto onde nos arrumávamos, eu agora estava sozinho. O que não devia ser um problema... Se a visão do meu celular em cima da cômoda não tivesse me feito pensar em ligar para ela mais uma vez.
Me sentei na cama, olhando para o aparelho em minha frente e tentando colocar meus pensamentos em ordem. Por que eu estava pensando tanto em na última semana? O que eu diria a ela se fosse realmente fazer aquela ligação? Não seria errado com e com Emma se eu fizesse isso?
Sim, seria. O que me levava de volta a primeira pergunta. Mas era preciso voltar um pouco no tempo para tentar respondê-la.
Quando eu tinha 20 anos, meu pai, que era americano, me convidou para vir morar com ele nos Estados Unidos. Talvez ele só estivesse se sentindo culpado por todos os anos longe e querendo compensar o tempo perdido, mas a verdade é que ele me ofereceu algo irrecusável: Atravessar o oceano, ir morar com ele, fazer uma boa faculdade e, então, trabalhar em uma de suas empresas.
Eu morava em uma cidadezinha no interior da Inglaterra, oportunidades como essa não surgiam assim do nada para pessoas como eu. Não foi difícil tomar uma decisão, mas foi quase impossível executá-la.
Lógico que deixar minha mãe não foi fácil, mas eu sabia que nada mudaria entre nós. Éramos mãe e filho em qualquer parte do mundo em que estivéssemos, certo? A parte que realmente partiu meu coração em milhares de pedaços foi me despedir da garota que, até então, era minha namorada. Eu não queria deixá-la, eu não queria me despedir. era uma garota incrível e tinha potencial para ser o que quisesse, mas ela também era um pássaro engaiolado. Eu tinha medo que ela se deixasse levar pelas exigências de seus pais e se entregasse às opções que fossem mais fáceis – e que não eram os sonhos dela. Não que ela fosse fraca, mas nós tendemos a acreditar nas coisas se elas nos são ditas repetidamente (ainda mais se for por nossos pais).
Mas não me deixou pensar duas vezes, praticamente fez as malas para mim e ameaçou terminar comigo de qualquer forma se eu ficasse. Ela sabia que era uma chance em um milhão, que era indiscutível. Então eu juntei minhas coisas e fui... Tendo certeza de que um dia eu iria voltar e tudo estaria como antes... Nós ainda teríamos nosso casamento na praia e tudo o que havíamos planejado.
Achar que eu podia controlar o rumo da minha vida foi um erro juvenil, mas eu não me arrependo. A gente aprende desse jeito mesmo...
Meus primeiros meses nos Estados Unidos foram horríveis. Eu sentia falta de todas as horas de todos os dias. Eu não conseguia me concentrar, eu dormia pouco tentando acompanhar as aulas e conciliar nossos fuso-horários e eu não conseguia sair da minha bolha. Não era culpa dela; era minha maior incentivadora. Mas eu simplesmente não sabia lidar com viver no limbo entre não estar nem lá, nem cá.
Meu pai me chamou para conversar um dia. Ele percebeu que havia algo errado e me disse exatamente isso. Eu não era obrigado a ficar. Se não estivesse me sentindo adequado lá, poderia ir embora de volta para a Inglaterra e não haveria nenhum tipo de rancor ou mágoa. Se eu quisesse ficar, porém, eu tinha que estar 100% ali.
Naquele dia, eu bebi uma garrafa inteira de tequila sentado sozinho no meu quarto. Eu decidi que ia ficar e decidi que isso significava me afastar de . A situação como estava não podia fazer bem nem para mim e nem para ela. Ou eu assim achava. Hoje em dia eu não sei dizer quão certo ou quão errado eu estava. O que eu sei é que as coisas melhoraram. Para mim... Eu não podia falar por ela. Hoje eu vejo como fui egoísta, mas de novo: foi um erro juvenil.
E então a vida tomou o sentido que tinha que tomar. Eu me formei e fui trabalhar na empresa do meu pai, onde trabalho até hoje. Profissionalmente, eu era um homem muito realizado. Afetivamente... Foram longos anos procurando algo que eu não encontrava em nenhuma mulher com quem me relacionava. Eu procurava em todas elas. Eu queria os mesmos olhos, o sorriso de lado, o jeito de prender o cabelo, as conversas sobre tudo e sobre nada, a rapidez e inteligência para fazer um comentário engraçado na hora certa, o mesmo frio na barriga, a mesma forma de beijar... Eu queria .
E então eu conheci Emma, minha vizinha. Ela não era , mas era especial o suficiente para prender minha atenção. Tinha suas próprias qualidades, seu próprio charme, as coisas nela que eu amava, e que ainda amo.
Como alguém que guarda seus pertences antigos numa caixa de papelão em algum lugar empoeirado no sótão, eu guardei meus sentimentos por e as lembranças de nós dois. Coloquei em algum lugar da cabeça que eu não podia acessar facilmente. Achei que tinha esquecido como ela era linda, meiga e risonha (a não ser quando acordava. Mas eu me divertia muito com a versão ranzinza da minha ex-namorada, adorava irritá-la); como ficava fofa fazendo cara de concentração enquanto decorava um bolo e como roía as unhas quando parava para analisá-lo. Eu achei que tinha esquecido como era estar ao seu lado e não enxergar nada ao meu redor.
Na minha falha confiança de que não amava mais, pedi Emma em casamento. Não era uma escolha, a opção “” não existia mais. E de forma alguma foi algo “se não tem tu, vai tu mesmo”; meus sentimentos por Emma eram e são claros. Eram e são dignos da celebração que aconteceria em algumas horas.
Mas então nós voltamos às perguntas e, se estava fora da minha vida há tanto tempo, por que eu estava considerando ligar para ela?
No começo do ano, eu tinha recebido um convite de casamento. Meus melhores amigos, Daniel e Megan, da minha cidade natal iam se casar. Junto com a animação de revê-los, veio uma ansiedade sem fim de reencontrar o amor da minha vida. À essa altura, a caixa empoeirada guardada no sótão já tinha rolado escada abaixo e me acertado em cheio.
Ela foi a primeira pessoa que enxerguei, assim que cheguei à festa. Como se eu tivesse um radar e meus olhos pudessem captá-la a qualquer distância. Não havia mudado muito, fisicamente, mas parecia ainda mais bonita. Meu interior borbulhou de um jeito engraçado. Mais uma vez, tudo que não era naquele jardim virou um borrão diante dos meus olhos. Eu só queria vê-la de perto, tocá-la, ouvir sua voz...
tinha o coração mais puro e bom que eu já havia visto. Quando me aproximei para falar com ela, esperava que fosse rude comigo. Ela tinha todo o direito. Não iria gritar ou me bater, porque jamais causaria uma cena no casamento de seus melhores amigos, mas era o que eu merecia. Um gelo, que fosse. Se ela me ignorasse e saísse para o outro lado sem dizer uma palavra, teria sido pouco.
Mas ela sorriu. Ela sorriu e deixou que eu a carregasse para longe da multidão, me deixou dar palpites na sua vida, deixou que eu a abraçasse. E o que eu fiz em troca? Disse a que iria me casar no outono.
Estar junto dela me fez lembrar como eu me sentia antes, como as sensações eram sempre as mais amplificadas que já experimentei ou um dia vou experimentar. Segurar sua mão me causou taquicardia, abraçá-la gerou arrepios em todo meu corpo, cheguei a ficar zonzo. Eu estava embriagado de algo que não era vinho.
A volta da Inglaterra foi um teste para meu relacionamento com Emma. Eu estava confuso, cheguei a pedir o telefone de para Daniel. Pensei em ligar, pensei em perguntar se ela ainda sentia o mesmo por mim e propor a ela que tentássemos de novo.
Mas pelos mesmos motivos que as coisas não funcionaram oito anos atrás, eu desisti da ideia. Se me incomodava tanto que fosse um pássaro engaiolado, eu precisava ser o primeiro a libertá-la.
As memórias na caixa empoeirada estavam espalhadas por todos os lugares agora, mas eu recolhi cada uma delas e devolvi ao lugar onde ficavam. A caixa, porém, não foi escondida de novo. Ela ficou ali, no meio da sala. Quem não quisesse tropeçar nela, deveria contorná-la. E era o que eu estava fazendo.
Faltava uma hora e meia para o meu casamento e eu estava me sentindo estranho porque ia me casar e não era a noiva. Mas também estava feliz porque a noiva era Emma. E esse sentimento prevalecia.
Emma merecia 100% de comprometimento. Merecia que eu escrevesse “CUIDADO FRÁGIL” na caixa do meio da sala e depois seguisse em frente. Eu tinha escolhido estar ali. E eu não estava arrependido...
sempre teria um certo efeito sobre mim, isso era verdade. As mãos frias, a fraqueza nos joelhos... Uma forma adolescente de amor que nunca chegou a crescer. Eu puxaria a caixa do meio da sala para o canto e a colocaria num pedestal para fazer parte da mobília. Seria linda e intocável. Seria eterna. Mas eu já havia me conformado que até grandes amores às vezes se perdem no tempo e espaço.
Era melhor não ligar para .




Fim.



Nota da autora: Oi oi! Bom, se você chegou até aqui você leu 4 fics que eu escrevi e eu queria te agradecer muito por isso! Basicamente essa quarta parte vem para mostrar que o reencontro acaba com o emocional do protagonista também. Ele "sofre" tanto quanto a pp. Por isso, tá sempre segurando a mão dela... Porque é o máximo de contato que ele pode ter sem comprometer seu outro relacionamento, que também é importante para ele. Mas a gente não sabia disso porque a Liv conta as outras partes da história.
Espero que tenham gostado, não deixem de comentar!
Muito obrigada!

Outras fics minhas:
When We Were Young (Outros/Finalizada) - 1ª parte dessa trilogia
Daydreamer (Outros/Finalizada) - 2ª parte dessa trilogia
Someone Like You (Outros/Finalizada) - 3ª parte dessa trilogia
On The Third Floor (1D/Em Andamento)
Trap (1D/Finalizada)
While My Guitar Gently Weeps (Outros/Finalizada)
06. Glasgow (Ficstape Catfish and the Bottlemen/Finalizada)
08. Sound of Reverie (Fictape Lovely Little Lonely/Finalizada)



Nota da beta: Me tragam um lenço, pelo amor de Deus! Amei sua fic, Lary!

Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.


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