Última atualização: 25/05/2017

Capítulo Único

Lá estava ela, zanzando por mais um shopping, apenas com o intuito de esquecer que tinha um artigo para terminar. Se dependesse exclusivamente de sua vontade, ela estaria em casa, em frente a seu notebook, escrevendo. Mas quando tentou fazer isso naquela tarde, teve a impressão de que tinha esquecido tudo o que aprendeu durante os quase seis anos dedicados à universidade e a sua especialização.
Seu trabalho não ganhou uma linha sequer a mais.
Ele, por sua vez, desejava apenas assistir o lançamento do seu filme preferido de ação em paz. Pode parecer exagero, mas o simples fato de ir ao cinema tornava-se um verdadeiro inferno para ele, também pudera, ser um astro da música tem lá suas desvantagens (mesmo que às vezes não pareça).
estava saindo de uma loja, sem ter se dado ao luxo de comprar algo, já que sua bolsa de estudos não lhe permitia a tanto, quando puft!
O borrão que veio ao seu encontro a fez perder o equilíbrio e cambalear para trás. Ela só se manteve em pé porque suas costas encontraram uma parede. Talvez, ter caído não tivesse sido tão ruim assim, considerando a pancada que ela levou na cabeça, o que a fez perder os sentidos por alguns instantes.

— Você está bem? — ela ouviu uma voz aveludada perguntar e só então notou que havia duas mãos segurando-a pelos ombros.
— Sim! — respondeu, quando enfim lembrou-se de que precisava soltar o ar dos pulmões, caso quisesse continuar respirando.
— Então vem comigo!

Segurando-a pela mão, ele a puxou em direção à primeira porta que encontrou, poucos instantes antes de uma pequena legião de garotas histéricas aparecerem no corredor. começou a sentir o sangue fugir de seu rosto quando percebeu que o estranho estava a levando para dentro de um provador.
Droga!
Ela não saberia explicar porque não começou a gritar naquele exato momento. Talvez houvesse algo na postura do rapaz que a fizesse duvidar que ele fosse um aproveitador qualquer, atacando garotas solitárias no meio shopping.
Assim que se viu trancada no pequeno espaço, achou que sua intuição a enganara. O homem em sua frente possuía uns bons centímetros a mais do que ela e deveria passar algumas consideráveis horas puxando ferro. Só isso poderia explicar todos aqueles músculos em seus braços. Sem contar todas as tatuagens.
Ela ainda teve tempo de sentir pena da falta de tato do seu companheiro de prisão (porque era exatamente isso que aquilo estava parecendo) ao escolher sua roupa para sair de casa naquele dia. A combinação desarmoniosa faria os olhos de qualquer estudante de moda, como , doerem.
não conseguia entender porque diabos aquela garota estava lhe lançando um olhar de pena. Perguntou-se se seria apenas uma consequência da batida na cabeça ou se ela era louca, afinal. Analisou a situação rapidamente e concluiu que estava seguro e sabendo que realmente precisaria da garota para evitar um novo pandemônio de fãs, tirou os óculos escuros e a touca.
A atitude fez com que ela desse um pequeno passo para trás, provavelmente achando que o espaço era pequeno demais para caber tamanha beleza. Sua boca formando um pequeno o ao perceber que o desconhecido não era tão desconhecido assim.
A reação da garota não surpreendeu . Ele já estava acostumando com isso. Aproveitou o tempo que ela precisou para se recuperar do choque para arrumar seu cabelo. Ainda não havia se acostumado com o novo corte, muito mais curto do que anterior. Sentiu saudade de quando ainda podia prendê-lo em um coque samurai.

!

Ao menos ela o conhecia.

— Oi. — ele abriu seu melhor sorriso, deixando a mostra seus dentes absolutamente retos e brancos.
— Céus, o que é que você está fazendo aqui? — ela indagou e por trás de sua t-shirt que fazia referência a um seriado, sua calça jeans detonada e seu all star, ele poderia jurar que havia uma patricinha mimada.
— Estava no cinema. Mas fui descoberto na saída.
— Ao menos conseguiu assistir o filme até o final. — ela lhe disse, mantendo-se praticamente imóvel em seu canto. Ele estranhou, perguntou-se porque ela não estava agarrada em seu pescoço ou pedindo para que ele autografasse algum lugar indiscreto do seu corpo, como muitas faziam. — Não seria mais fácil você atender às pessoas ao invés de fugir delas?
— Eu teria feito isso, se tivesse alguma garantia de que sairia inteiro. — retrucou, sem gostar do tom de reprovação dela.
, você está aí? — eles foram interrompidos por uma batida apressada na porta.
— Fã! — ele moveu os lábios, mas sem emitir qualquer som. Começou a ficar preocupado com a possibilidade de ser descoberto novamente.
— Sinto muito! Estou sozinha aqui. — respondeu em voz alta, fazendo com as constantes batidas fossem interrompidas.
— Obrigado. — ele murmurou depois de constatar que estava seguro novamente.
Deus! Cedo ou tarde vamos precisar sair daqui. — a garota concluiu o óbvio e provavelmente percebendo que isso não seria nada fácil, sua voz soou um tanto desesperada.
— Eu escolho tarde. — opinou no instante seguinte, sabendo que a melhor opção seria esperar o tumulto se acalmar, a ponto de suas fãs acreditarem que ele já havia ido embora.
— Eu escolho cedo! — ela retrucou mais convicta do que nunca. — Qual o tamanho das suas roupas? — questionou em seguida, mantendo seu olhar decidido sobre ele.
— Que diferença isso faz?
— Vai ser mais difícil de ser reconhecido se você estiver vestido com outra roupa. Então apenas me diga os tamanhos e deixe-me resolver isso da maneira mais rápida possível.

Ele revirou os olhos, concluindo que de fato a garota era bastante convencida e muito mais autoritária do que qualquer outra mulher que já conheceu. Ainda assim, se viu dando as respostas que ela queria. Ao terminar, tirou a carteira do bolso, procurou por seu cartão de crédito e o estendeu a ela, que não fez qualquer menção de pegá-lo.

— Há seu nome nele. — ela deu de ombros, talvez um pouco intimidada pelo olhar penetrante que lhe foi lançado. — Não quero chamar a atenção de ninguém. Estamos tentando ser discretos, caso você não tenha notado.

Ele soltou um longo suspiro, tentando segurar a longa série de palavrões que lhe vieram à cabeça. A garota era realmente atrevida!

— Volto o mais rápido que puder. — ela avisou, esgueirando-se por ele, a fim de chegar até a porta. Queria apenas fugir para longe do cara que mais parecia querer arrancar seu pescoço do que precisar da sua ajuda.

Assim que se viu fora do lugar que se demonstrou claustrofóbico, ela considerou avidamente a possibilidade de deixar o cantor arrogante trancado no provador e simplesmente ir para casa. Não deixou de notar como ele se sentiu um verdadeiro deus ao perceber que ela sabia seu nome e em como se mantinha seguro em relação a toda sua beleza.
Humildade definitivamente não deveria ser seu forte.
Recordou-se do momento em que ele revelou sua identidade e em como seu olhar parecia dizer eu-sei-que-você-me-quer-e-estou-à-disposição. O pensamento a fez ter ainda mais vontade de deixá-lo, mas ainda assim, ela não o fez.
Enquanto vasculhava a sessão masculina de roupas, sentiu um leve latejar em sua cabeça. Repentinamente teve certeza que ele sempre esteve ali, mas que foi deixado de lado pela repentina surpresa de ver em sua frente. Lembrou-se então, de que apenas sabia o nome do astro, porque sua melhor amiga era uma fã apaixonada por ele. Ela não vai acreditar quando eu lhe contar! Sorriu ao imaginar a reação exagerada de Jenny.
De posse de uma calça jeans, de uma t-shirt de manga longa (para que as tatuagens do cantor se mantivessem escondidas) e de um boné, seguiu até o caixa com um pequeno aperto no coração, considerando que o saldo da sua conta bancária iria ficar menor do que já era.
Na sequência, dirigiu-se até o provador e bateu de leve, sussurrando em seguida:

— Sou eu. .

Logo percebeu que dizer seu nome não faria grande diferença, já que ao menos havia se apresentando, mas apesar disso, a porta se abriu.
— Você demorou! Pensei que não voltaria. — foram as primeiras palavras que ela ouviu, mas achando que ele não ficaria nada feliz em saber, decidiu não contar a ele que havia de fato cogitado ir embora.
— Aqui estão suas roupas. — ela disse, entregando a ele a sacola que trouxera consigo.

Sem fazer qualquer cerimônia, ele tirou a roupa que estava vestindo, ficando apenas com sua boxer preta. Ele definitivamente passa muito tempo se exercitando! pensou um pouco irritada com a atitude do rapaz em se trocar na sua frente, mas sem deixar de analisar, mesmo que discretamente, o belo corpo que ele possuía.

— Você tem bom gosto. — comentou, fitando seu reflexo no espelho. A roupa nova lhe caindo muito melhor do que aquela que estava usando anteriormente.
— Obrigada! — ela sorriu satisfeita, ao verificar que sua escolha o tinha agradado. — Podemos sair daqui agora?

Ele assentiu, pegando a sacola que possuía suas roupas velhas e estendendo a mão livre para . Ela lhe lançou um olhar indignado, incapaz de dizer se ele conhecia o significado da palavra limite.
Provavelmente não.

— Estou tentando ser discreto e convincente, caso você não tenha notado. — ele a encarou de sobrancelhas arcadas, contente em saber que enfim conseguiu deixá-la sem reação.

Revirando os olhos, ela estendeu a mão em direção à dele. Compreendendo que ele estava apenas criando um novo personagem, com a finalidade de não ser descoberto em meio a um shopping bastante lotado de fãs descontroladas.
O momento seguinte, quando as mãos de ambos se encontram, foi sentido por através de um efeito de dormência em sua pele. Teve a certeza que sentiu o mesmo quando ela tentou hesitar para longe do seu toque.
Decidido a manter a sensação, que agora lhe parecia bastante agradável, ele envolveu a mão da garota com firmeza, não possibilitando que ela recuasse e abriu a porta que até então, vinha mantendo-os escondidos do mundo.
tentou deixar com que a segurança do astro lhe contagiasse enquanto estava caminhando ao seu lado, mas a cada passo que dava, sentia-se um pouco menor e intimidada. Sabia que nenhum olhar dirigido a eles se alongava mais do que seria comum, mas ainda assim ela se perguntava o que aconteceria se fossem descobertos.
Para seu alivio, isso não aconteceu.
Seus nervos a tinham feito ignorar novamente o latejar da sua cabeça e o formigamento que sua pele apresentava onde havia o contanto eminente com a de , no entanto, assim que chegaram ao estacionamento, todas as sensações lhe arrebataram com uma força muito mais intensa do que antes.
Queria sair correndo dali, mas ao invés disso, se viu parada. Fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes, tentando se livrar da repentina tontura que lhe atingiu. Ouviu o barulho de algo caindo e em seguida sentiu mãos lhe segurando pelos ombros.

, o que aconteceu? — ouviu perguntar, mas não conseguiu lhe dizer nada em resposta. — Você está me deixando preocupado. Fale comigo, por favor!

Ela conseguiu abrir os olhos novamente ao perceber o tom de desespero na voz do homem. Esperou que ele pudesse notar por sua expressão que estava tudo sobre controle, mas pela aflição encontrada nos olhos de , soube que não estava dando certo.

— Me dê só mais um minuto! — foi capaz de dizer então, e concentrou-se mais uma vez em sua respiração, desejando apenas ir para casa e tomar um remédio que pudesse lhe livrar da dor terrível em sua cabeça.
— Vou levar você ao hospital! — ele declarou, duvidando que ela pudesse melhorar sem alguma ajuda médica.
— Não precisa! Estou ótima. Só preciso de um táxi e irei para casa. — ela se esforçou para sorrir, na esperança de que isso pudesse o convencer.
— Nem pensar. Você bateu a cabeça e definitivamente não está bem. — ele rebateu, abaixando-se para pegar a sacola de roupas que havia deixado cair. — Você vem comigo e não se fala mais nisso!
— Você está exagerando! — ela argumentou enquanto o observava abrir a porta de trás de um sedan preto e jogar a sacola no banco.
! — ele exclamou visivelmente sem paciência ao abrir a porta da frente do carro. Ergueu as sobrancelhas indicando que ela deveria entrar, sem fazer qualquer reclamação a mais e, cansada para iniciar uma discussão, ela se deu por vencida.

Seguiram para o hospital, envoltos em um silêncio que, para ela, se demonstrou irritante. Tantas pessoas andando por um shopping e por que ele tinha que ter esbarrado justamente nela? E por que depois que isso aconteceu, ele simplesmente não a deixou para trás e continuou a fugir sozinho?
Assim que estacionou o carro, pegou seu celular e procurou o número de seu melhor amigo que convenientemente, era médico. Ligou para Steven Mark certo de que ele poderia dar um jeito de atender , mesmo sem ter avisado com antecedência.

! — ouviu, com alivio, a voz do amigo.
— Steven! Preciso de sua ajuda.
— O que você aprontou dessa vez? — a pergunta o fez revirar os olhos, deveria ter previsto o tom de acusação que lhe seria dirigido.
— Juro que dessa vez não fiz nada! — se defendeu, desejando que às vezes o amigo não fosse tão desconfiado. — Preciso que você examine uma... — ele fez uma pausa e observou sentada ao seu lado, sem saber ao certo que termo usar para se referir à garota. — fã. — concluiu por fim.
— Tudo bem. Traga ela direto para minha sala.
— Okay, obrigado, Steven.

possuía uma expressão indignada no rosto quando a ligação foi encerrada. Detestou a forma que ele usou para se designar a ela e estava decidida a deixar isso claro.

— Não sou sua fã! — informou, assim que começaram a caminhar em direção à entrada do hospital.
— Não?!
— Não! — afirmou novamente, odiando o tom de duvida que a voz dele possuía. — Minha melhor amiga é quem morre de amores por você. Só ouço algumas de suas músicas porque ela me obriga.
— E o que você acha das minhas músicas? — ele indagou, sem conseguir esconder a curiosidade.
— Isso não vem ao caso. — resmungou, decidida a não dar o braço a torcer e confessar que de fato, ele era bom no que fazia.

O consultório ao qual foram dirigidos era bastante espaçoso e rebuscado. A garota observou conversar, aos sussurros, com o médico que havia adentrado há pouco na sala. Pela forma que os dois se tratavam, deveriam se conhecer há muito tempo. E pelos olhares discretos que lhe eram lançados, o assunto sendo abordado entre ambos, era ela. Odiou o fato de não conseguir ouvir uma palavra se quer do que diziam.

— Você pode me dizer o que está sentindo, ? — a voz de Steven soou bastante tranquila, um dos ofícios de sua profissão.
— Agora estou sentindo apenas um pouco de dor de cabeça. Senti uma leve tontura também, mas ela já passou. — lhe contou de forma sincera e em seguida foi cuidadosamente examinada.
— Acredito que isso vá resolver seu problema. — o médico tirou do bolso de seu jaleco uma caixa de analgésicos e entregou para ela. — A pancada não foi tão forte. Está tudo bem com você!
— Eu disse isso a , mas ele é um pouco exagerado. — respondeu, lançando ao músico um olhar que dizia claramente: “eu avisei, não avisei?”.
— Ah ótimo! Dá próxima vez lhe deixo plantada no estacionamento, passando mal. — ele retrucou irritado com a petulância da garota.
— Para minha sorte, não haverá uma próxima vez!
— Você não deveria ser tão mal agradecida. — ele lançou a ela um olhar zangado, incomodado com o fato de ela aparentemente não gostar da sua companhia.
— O que eu deveria mesmo, era ter deixado você naquele provador e ter ido embora quando tive a oportunidade. — ela disse, encarando-o com a mesma expressão dura que ele possuía na face.
— Vocês realmente se entendem muito bem! — Steven interviu de forma irônica. — Pelo que você me contou, , foi culpado por ela ter batido a cabeça e ainda assim ela lhe ajudou a sair do shopping sem ser reconhecido, por isso, faça ao menos o favor de garantir que ela chegue em casa em segurança, está bem?!
— Okay. — ele murmurou, irritado pela forma como o amigo se dirigia a ele. Já não era mais criança para ficarem lhe dizendo o que precisava ou não fazer.

sentiu agarrar sua mão enquanto o ouvia agradecer ao médico pela ajuda. Saiu do consultório praticamente arrastada. Detestava quando faziam isso com ela. Podia muito bem se deslocar sozinha, sem alguém lhe puxando para um lado ou para o outro. No entanto, sabia que o homem que seguia a passos largos em sua frente não estava nada feliz, então se manteve calada até chegaram ao carro dele.

— Você conhece Steven há bastante tempo? — ela decidiu quebrar o silêncio, assim que se sentou ao lado do cantor.
— Sim. Ele é meu melhor amigo. — resmungou aparentemente concentrado demais na estrada, para lhe dar atenção suficiente.
— Ele sempre lhe trata assim, como se você fosse... — mordeu o lábio ao perceber o que estava prestes a questionar.
— Uma criança? — concluiu seu raciocínio, soltando um leve suspiro. — Sim. Ele acha que sou um pouco irresponsável e adora pegar no pé por conta disso.
— Talvez ele tenha um pouco de razão. — ela praticamente sussurrou, lembrando-se das vezes em que sua amiga comentou sobre alguns escândalos com mulheres e bebidas que o astro estava envolvido.
, por favor, você também não! — foi advertida e após repassar a ele o endereço de sua casa, decidiu que estava na hora de fechar a boca novamente.
— Obrigada pela carona! — agradeceu, assim que o carro parou em frente a seu prédio.
— Não vai me convidar para subir? — questionou com um sorriso de canto. Já não parecia mais bravo como estava antes.
— Não há necessidade. — ela gaguejou, abrindo a porta para sair e amaldiçoou o destino ao notar que ele fazia o mesmo.
— Preciso garantir que você chegue em casa em segurança. — ele repetiu as palavras que Steven havia usado, mas não acreditou que esse fosse o real motivo pelo qual ele queria acompanhá-la.

Quando a porta do elevador se fechou, ela teve a sensação de estar tendo dificuldade para respirar. Era como se o ar estivesse carregado por algo que ela simplesmente não sabia descrever. Olhou para o lado e encontrou os olhos de sobre si. Ele também estava sentindo, o que significava que ela não estava enlouquecendo, afinal.
Abriu a porta do seu apartamento, sentindo-se um pouco envergonhada. Sabia que o rapaz estava acostumado a lugares completamente luxuosos e não a um lugar tão simples como sua casa era.

— Sobrevivo com a bolsa da pós-graduação... É o lugar mais confortável que consigo pagar... — ela se viu explicando, ao notar os olhos perplexos de percorrendo o lugar.
— Você tem cara de garota mimada. Estava esperando por, no mínimo, um duplex. — ele riu, ao perceber que se enganara em relação à garota.
— Ha ha ha. — ela revirou os olhos, não gostando do comentário irônico. — Sinto muito em desapontá-lo.
— Você tem uma caneta e um pedaço de papel? — ele pediu, tentando não deixar a garota ainda mais constrangida.
— Para que?
— Tem ou não tem? — ele perguntou, começando a se acostumar com a teimosia persistente dela.

entregou a ele o que havia sido solicitado e o viu rabiscar alguma coisa rapidamente. Queria apenas que ele fosse embora de uma vez. Não estava confortável com sua presença ali. Era como se o lugar e simplesmente não combinassem.

— O número do meu celular. — ela pegou o papel que ele estendia. — Mande uma mensagem com o número de sua conta para que eu possa transferir o valor que você gastou comigo hoje.

Ela encarou os números escritos em uma caligrafia puxada, de forma incrédula. Será que ele não era tão idiota como parecia ser?

— Você está entregue e eu preciso ir agora. — as palavras ditas por ele, quebraram sua linha de pensamento. — Obrigado pela ajuda.

Ela não acreditou que estava ouvindo um agradecimento justamente do homem mais instável que já conheceu. Acreditou menos ainda, quando sentiu os braços dele em volta do seu corpo, abraçando-a. Sentiu-o inspirar profundamente em seu pescoço, o que proporcionou uma onda de arrepios em seu corpo.

— Cuide-se. — ele disse, pela primeira vez parecendo não saber exatamente o que fazer.

Então apenas suspirou e foi embora.
O papel contendo o número de telefone de ficou esquecido sobre a escrivaninha de . O remédio havia feito sua dor de cabeça passar, mas ela ainda não tinha certeza se deveria entrar em contato novamente com o cantor.
Jenny, por sua vez, havia reagido exatamente da maneira que ela havia imaginado que faria quando ficou sabendo sobre o incidente no shopping. Foi obrigada a repetir a história algumas vezes porque a amiga queria garantir que ela não estava esquecendo-se de relatar nenhum detalhe.

Estava sentada em frente ao notebook e mais uma vez não conseguia fazer com que seu artigo se desenvolvesse. Qualquer pequeno barulho era capaz de distraí-la e seus únicos pensamentos relacionavam-se exclusivamente com . Sabendo que não conseguiria se concentrar direito enquanto não resolvesse o assunto, pegou seu celular e fez o que tanto tinha tentado evitar.
Precisava do dinheiro. Para um bolsista, cada centavo gasto poderia fazer diferença no final do mês. Não poderia se dar ao luxo de ignorar a proposta feita pelo cantor, mesmo que desejasse fazê-lo.
Confiante de que depois disso não haveria qualquer motivo para manter contato, não se deu ao trabalho de gravar o número do músico em seu celular, optou apenas em deixá-lo se perder entre os outros. Tinha certeza absoluta que não seria a única a fazer isso.
Ainda assim, ficou um pouco desapontada ao constar que não recebeu nenhuma resposta. No entanto, na manhã seguinte, para sua grande surpresa, seu extrato bancário mostrava uma transferência, cujo valor, era muito maior daquele que ela havia informado em sua mensagem.
Revirou os olhos. estaria louco ao supor que ela aceitaria. Era orgulhosa. Por isso, transferiu de volta o valor a mais que ele havia repassado. Provavelmente o montante não faria a menor diferença considerando a quantidade de zeros que o saldo da conta do cantor deveria ter, mas para ela, o gesto fazia toda a diferença, mesmo se não fosse percebido por ele.
Voltou aos seus estudos, reprimindo a repentina vontade de entrar no youtube e digitar o nome de na barra de pesquisa. Nunca mais ouviria sua voz ou o veria pessoalmente, então não tinha por que alimentar qualquer falsa esperança.
Soltou um resmungo de desagrado quando ouviu seu celular tocar. Parecia que quanto mais tentava se concentrar, mais distrações se materializam em sua volta. Olhou o número estranho na tela e, franzindo as sobrancelhas, atendeu.

— Alô.
— Por Deus! Você não poderia ser um pouco menos orgulhosa? — levou a mão à boca ao perceber quem era o dono da voz que se dirigia a ela.
! — sussurrou surpresa.
— Uma mensagem de agradecimento era suficiente, . Vou transferir o valor de volta agora mesmo.
— Não faça isso. — ela o alertou, recuperando-se parcialmente do choque. — Eu irei transferir de volta e vamos ficar nesse vai e vem interminável.
— Não seja teimosa!
— Não estou sendo. Só não preciso do seu dinheiro. — e de sua pena, ela se viu tentada a acrescentar, mas não o fez. — Estou bem. Não se preocupe. — falou apenas, mas o ouviu bufando do outro lado da linha.
— Ás vezes eu tenho vontade de... — a pausa feita, veio seguida de uma respiração pesada.
— Vontade do quê? — ela indagou, sentindo algo parecido com um pequeno choque elétrico percorrer seu corpo.
— Não acho que você gostaria de saber, . — ele respondeu. A garota nunca imaginou que seu nome poderia soar de uma maneira tão sexy.
— Como pode ter certeza? — ela indagou e a risada rouca que ouviu a fez ter certeza de que fosse o que fosse a vontade de , era algo bastante indecente.

A ideia a fez cravar os dentes em seu lábio. Sabia que o jogo que estavam jogando poderia ser perigoso. Mas considerando que provavelmente havia uma quantidade significativa de quilômetros os separados, os riscos pareciam valer a pena.

— Você vai estar em casa hoje à noite? — a pergunta a puxou de volta para a realidade.
— Sim. — gaguejou, sem entender porque ele queria saber isso.
— Ótimo! Vou estar aí às sete.
— O quê? — ela sentiu o sangue fugindo do seu rosto, sentindo-se uma verdadeira estúpida por ter deixado a conversa entre eles chegar a um ponto tão avançado.
— Vou fazer o jantar. Mas vou levar tudo o que precisar, fique tranquila. — ele informou, em uma voz absolutamente tranquila.
, eu não posso... — ela tentou encontrar uma desculpa, mas antes que o fizesse foi interrompida.
— Às sete, .

A garota ficou completamente sem reação.
A ideia de estar em sua casa a incomodava. Talvez, porque ainda não sabia como se sentia em relação ao cantor. Havia momentos em que queria apenas estar o mais longe possível dele, mas em outros momentos...
Enfim se viu digitando no site de busca. Queria saber mais sobre ele. Ela estava limitada somente as informações que Jenny lhe repassava e repentinamente isso não parecia suficiente. Em um primeiro instante ficou com medo do que poderia descobrir, mas logo em seguida se viu surpreendida.
As palavras , bebidas e mulheres eram encontradas em matérias que datavam de meses atrás. Nenhuma delas trazia informações recentes. Aparentemente ele havia abandonado a vida que levava ou aprendeu a ser discreto em relação a ela.
Ela se sentiu levemente aliviada e somente então se concentrou em organizar seu apartamento. Não que realmente precisasse. Mas queria evitar a todo o custo possíveis olhares de pena sobre si. Não precisava deles. Realmente adorava o lugar onde morava.
O único ambiente que de fato possuía quatro paredes era o banheiro. O restante dos cômodos eram integrados. Gostava da facilidade disso. Não se importava nenhum pouco pelo espaço ser pequeno. Ela morava sozinha, metros quadrados a mais não lhe seriam úteis.
No entanto, achava que nunca entenderia isso. Mas pudera, ele deveria estar acostumado com todas as regalias que uma conta bancária milionária pudesse pagar. Ela não conseguia ao menos imaginar qual deveria ser o tamanho da casa dele e duvida também que ele possuísse somente uma.
Decidiu esquecer momentaneamente as diferenças que envolviam os dois. Sabia que não adiantaria nada ficar pensando nisso. Resolveu dar uma chance ao rapaz. Algo lhe dizia que por trás de toda a arrogância apresentada pelo cantor, poderia haver alguém interessante de conhecer. E Deus! Ele era absurdamente bonito.
Teve a impressão que seu coração sairia pela boca quando ouviu a companhia tocar. Sentiu suas mãos começarem suar e parecia ter perdido qualquer noção de equilíbrio em suas pernas. Xingou-se mentalmente.
é apenas um amigo, como qualquer outro”, pensou. No entanto, assim que abriu a porta, constatou que seria ignorância sua tentar compará-lo. Seu rosto estava escondido parcialmente por um boné, mas era impossível não reconhecer aquele sorriso formado pelos dentes mais bem alinhados que a garota viu na vida.

— Olá! — ele a cumprimentou, parecendo satisfeito em estar ali.
— Oi. — ela retribuiu seu sorriso e deu a ele passagem para entrar, só então notando as sacolas de supermercado em suas mãos.

Ele dirigiu-se para a cozinha como se já estivesse habituado ao lugar. Largou as sacolas sobre a mesa e voltou-se para , que havia o seguido quase inconscientemente até lá. Seus braços envolveram o corpo da garota e ela sentiu-se grata por ter alguém lhe segurando. Suas pernas repentinamente viraram gelatina.

— Como você está? — ele perguntou sem desgrudar um centímetro se quer dela.
— Ótima! — respondeu, aproveitando para inalar o perfume oriundo do pescoço dele. Concluiu que nunca havia sentido algo tão bom. — E você?
— Muito melhor agora. — ele afastou apenas o rosto, a fim de poder fitá-la. — Vou fazer lasanha. Comprei a massa, mas o molho será por minha conta. Digamos que essa é a minha especialidade.
— Tudo bem! No que posso ajudá-lo? — indagou, pela primeira vez, sentindo-se confortável com a presença do astro.
— Você vai apenas se sentar e me observar.

E foi o que ela fez, literalmente. Sentou-se em uma cadeira junto à mesa e viu o momento em que ele tirou o boné e passou a mão pelos cabelos, transformando os fios em uma bagunça sedutora. Mais do que apenas observar, ela analisou com cuidado cada pequena característica do rapaz.
Sabia que dificilmente esqueceria aquela noite. Principalmente depois que tirou a camisa, reclamando que não suportava mais o calor que estava fazendo. Nesse momento, o cobiçou.
No fundo, sabia que ele estava exagerando. O calor não era tão forte assim. Achou apenas que ele queria se exibir, mas não ousou reclamar. Estava adorando vê-lo em sua cozinha, transpirando segurança, sem se importar que ela estivesse praticamente lhe devorando com os olhos.
Enquanto a lasanha estava no forno, ele se sentou ao lado dela e ambos engataram uma conversa animada. Falaram sobre assuntos absolutamente banais, como se fossem os mais importantes do mundo. Estavam absolutamente satisfeitos com a companhia um do outro. Nenhuma desavença foi criada, ao contrário do que aconteceu no primeiro encontro.
A especialidade de na cozinha se mostrou bastante saborosa. Mais uma vez ele conseguiu surpreender , que não estava esperando por uma lasanha à bolonhesa tão gostosa.
Compartilharam uma garrafa de vinho tinto durante o jantar, que foi totalmente esvaziada somente algumas horas depois, quando estavam sentados no sofá, conversando sobre a vida.

— Eu ainda estava deslumbrado pelo sucesso. — disse, depois de mencionar o fato de não ter encontrado nenhuma matéria recente tratando de escândalos que o envolviam. — E fiz um monte de coisas idiotas por conta disso.
— E o que te fez parar?
— Eu cansei. Realmente gostava de dormir com as garotas, mas acordar no dia seguinte sem saber onde e com quem estava não era interessante. — ele confessou e repentinamente pareceu lembrar de que estava sozinho em um apartamento, com uma garota absolutamente fascinante em sua frente.
— Não me olhe desse jeito! — ela o alertou, mexendo-se desconfortável no sofá.
— Que jeito?
— Do jeito eu-sei-que-você-me-quer-e-estou-à-disposição. — a resposta saiu de sua boca sem que ela percebesse e fez com sorrisse.
— Ele vem dando resultado com outras garotas.
— Eu não duvido que venha.
— Mas não acho que esteja dando resultado com você. — eles estavam jogando novamente. sabia disso e por um instante se viu sóbria o suficiente para recuar.
— Isso não vem ao caso. — murmurou, decidida a se concentrar no que é que fosse que estivesse passando na TV naquele momento.
— Você vem me dizendo isso mais vezes do que eu gostaria.
— Ás vezes não me sinto à vontade para falar sobre determinados assuntos com você, .
— Gostaria que isso não acontecesse. Quero que você se sinta à vontade ao meu lado, da mesma maneira que me sinto ao seu. — ele lhe disse, assumindo um tom um pouco mais sério.
— Prometo que vou tentar.
— Meu ego não suportaria ser ferido por você, então vou considerar que em algum momento da nossa conversa você disse que me acha atraente, está bem? — o comentário do cantor a fez sorrir e automaticamente seus olhos procuraram pelos dele.
— É claro que eu acho! — afirmou, sentindo-se aquecida, talvez pelo vinho, talvez pelo homem que estava sorrindo em seu sofá. — Olhe só para você! É como se você ofuscasse tudo que está a sua volta. Você é um pop star e faz jus a isso. É de longe o cara mais sexy que conheci.

Ela não saberia explicar como veio para ali. Mas quando deu por si, estava sentada no colo de . Não fez cerimônia. Enganchou suas pernas ao redor do quadril dele, feliz por enfim ter a oportunidade de tocar em sua pele despida.

— Meu ego agradece. — ele sussurrou e em seguida seus lábios reivindicaram os dela.

Beijaram-se de forma incansável, porém queria mais. Enquanto seus dedos dançavam de forma despreocupada pelas costas exposta de , sua boca dirigiu-se a orelha dele e ela o provocou, com beijos e leves mordidas.
Ele estava em seu limite.

— Seja minha garota! — implorou, enquanto explorava a pele exposta no pescoço de .
— Sim. — ela concordou e como se quisesse reiterar sua resposta, tirou sua t-shirt.

Ele soltou um suspiro satisfeito. A pele da garota estava finalmente à sua disposição. Queria acariciá-la. Queria que cada pedaço do corpo dela se lembrasse do seu toque. Com a facilidade de quem já havia feito isso incontáveis vezes, abriu o fecho do sutiã, enquanto depositava beijos em sua clavícula.
Ela gemeu.
Os lábios do músico poderiam ser muito bem comparados a brasa. Mesmo depois de deixar sua pele, a sensação ainda permanecia completamente viva. Apertou ainda mais as pernas em volta da cintura dele. Queria-o mais perto, como se realmente fosse possível...
Sentiu os músculos de se contraírem quando ele levantou do sofá. Carregar a garota até a cama não parecia ser problema algum para ele. Ele voltou a beijá-la, suas línguas se acariciando com desejo. pressionou o quadril contra o dele, sedenta. Soltou um novo gemido, dessa vez um pouco mais alto, quando os lábios dele se deslocaram até sua garganta.
Ele desceu um pouco mais e a beijou entre os seios. Seu toque fez com que ela se contorcesse. Sua respiração ficou ainda mais pesada quando notou o caminho que os lábios de estavam percorrendo, cada vez mais para baixo, cada vez mais próximo de onde ela queria que ele estivesse.

Aquela foi a melhor noite da vida de . Pena que não podia dizer isso do dia seguinte. Acordou sozinha, não que não esperasse por isso, mas ficou um pouco desapontada quando notou que não havia sequer um bilhete ou uma mensagem em seu celular.
Foi até o banheiro e encontrou a si mesma no espelho. Levou seus dedos até o pescoço e os guiou até a clavícula, a única prova que a noite havia sido real e não apenas um sonho seu, eram as manchas arroxeadas em sua pele.
Tomou um banho demorado e deixou que a água lavasse qualquer sentimento que tinha nutrido pelo cantor. Não que fosse tão fácil assim, mas era algo simbólico para ela. Não ficaria chorando pelos cantos, seguiria em frente.
Estava decidida.
Trabalhou em seu artigo como nunca e começou a imaginar o que faria dali dois meses, quando não teria mais sua bolsa de estudos para receber. Cogitou voltou para a cidadezinha em que seus pais moravam e viver com eles por algum tempo. Apesar de tentador, não era algo que ela conseguiria fazer. Nunca gostou de ser dependente de alguém. Precisava encontrar um emprego definitivamente.
Na sexta, Jenny Wislan passou no apartamento da garota. Estava um pouco preocupada com a atitude da amiga nos últimos dois dias. A repentina mudança de humor era um dos indicativos de que algo havia acontecido. Algo que aparentemente estava sendo guardado a sete chaves.
não imaginou que a visita da amiga lhe faria tão bem. Elas haviam trocado mensagens frequentemente, mas desde , era a primeira vez que a garota não estava sozinha. Sentiu-se muito melhor. Mesmo jurando a si mesmo que seguiria em frente de cabeça erguida, a solidão não se mostrou uma boa companhia.
Franziu as sobrancelhas quando ouviu a campainha tocar. Não estava esperando ninguém. Percebendo a hesitação da amiga, Jenny decidiu atender. Seu queixo caiu quando deu de cara com um entregador segurando um enorme buquê de rosas.

! — ela murmurou absolutamente abismada.

Encontrou o olhar da outra, ainda sentada no sofá. Viu supressa e logo em seguida compreensão. Sabendo que a possibilidade de não receber as respostas que tão almejava era grande, retirou o cartão do meio das flores e só então o entregou para a sua verdadeira destinatária.

— Jenny me dê o cartão aqui! — exigiu, a preocupação ressoando em sua voz. Se suas desconfianças estivessem certas, estaria encrencada. Mas já era tarde demais...
, sinto muito por tê-la deixado sozinha na quarta de manhã. — as palavras feitas em letras inclinadas estavam sendo lidas em voz alta. — Quero reparar meu erro. Amanhã à noite vou participar de um desfile e gostaria que você me acompanhasse. Me ligue para confirmar. Espero que aceite. .

— Droga! — ela resmungou, apertando os olhos.

Estava oficialmente encrencada.

— Quarta de manhã? — a amiga indagou ávida por explicações. — Vocês se conheceram na terça da semana passada! Isso significa que vocês voltaram a se encontrar.

Ali estava o assunto que a garota havia decidido evitar. Não havia tido coragem para contar a Jenny. Estava se achando uma tola por ter caído na lábia de um astro arrogante. Era tão previsível que a história acabaria daquele jeito... Mas acabara de surpreendê-la novamente.

— Podemos mudar de assunto? — implorou, encolhendo-se no canto do sofá.
— É claro que não! — a outra exclamou, sentando-se ao lado da amiga. — É por isso que você está tão chateada.
— Sim, é por isso. — confirmou, esperando que suas respostas evasivas fossem suficientes.
— Como vocês se encontraram?
— Ele veio até aqui.
— Vocês ficaram apenas aqui?
— Sim. Ele fez o jantar.
Oi?! — Jenny, que de boba não tinha nada, acabou pegando a deixa. — Ele fez o jantar?
— Sim. — confirmou, mas quando entendeu o motivo da empolgação da amiga, levou as mãos à boca, arrependida. Precisava aprender a ficar quieta.
— O cartão dizia que ele te deixou na quarta de manhã, . Se ele fez o jantar, significa que passou a noite inteira aqui. — ela disse, ligando todos os pontos que estavam soltos.
— Sim, ele passou! — falou já irritada com aquela conversa. — Satisfeita agora? Podemos falar sobre outra coisa?
— Ah, mas é claro que não! Quero saber o que aconteceu.
— E eu não quero falar sobre isso, está bem? — retrucou, mesmo sabendo que a amiga dificilmente recuaria.
— Mas vamos falar. Na verdade, se você tivesse me contando antes, não estaríamos passando por isso. — pontuou, decidida a saber a verdade, mesmo se precisasse arrancá-la.
— Não seja tão insistente, por favor.
— Vocês transaram, não foi? — questionou, talvez porque sabia que apenas isso explicaria tamanha relutância.
— Isso não vem ao caso. — praticamente sussurrou, sentindo-se constrangida.
— É claro que vem!
— Jenny!
? — continuou a pressioná-la, sentindo que estava a um passo de conseguir o que desejava saber.
— Eu detesto você!
— Eu também te amo! Mas agora responda minha pergunta! — exigiu, abrindo um pequeno sorriso.
— Sim. — murmurou, depois de um instante em silêncio.
Ah céus! — a outra soltou pequenos gritinhos empolgados. — Como ele é?
— Não vamos falar sobre isso, definitivamente! — afirmou, desejando que o sofá se abrisse para que ela pudesse se esconder.
— Não precisa falar sobre os detalhes. Apenas de uma forma geral... — disse, mal contendo sua curiosidade.
— Ele é quente. — se viu obrigada a responder e quase inconscientemente sua mão foi parar em seu pescoço, onde as marcas deixadas por já começavam a desaparecer. — O desgraçado é bom em tudo o que faz.
— Mas foi embora no dia seguinte. — concluiu, lembrando-se do que havia escrito no cartão.
— Exatamente. Ele apenas sumiu, sem deixar ao menos um bilhete.
— Cretino! — a amiga exclamou um pouco indignada.
— Agora que já lhe contei tudo, podemos apenas esquecê-lo?
— É óbvio que não! Ele te fez um convite, você precisa aceitá-lo. — anunciou, como se a decisão fosse exclusivamente sua.
— Você só pode estar de brincadeira!
— Quando é que você terá outra oportunidade como essa?
— Nunca, eu espero.
— Eu sei que ele sumiu, mas se arrependeu. Você precisar dar uma chance a ele.
— Ele já teve sua chance. E a desperdiçou.
— Não seja teimosa! Não quero que você passe o resto da vida se perguntando "e se?".
— Isso é uma péssima ideia, Jenny.
— Você já pode ligar para ele. — ela sorriu triunfante, indicando com o olhar o celular da amiga.
— Uma mensagem será suficiente. — a garota declarou e para seu alívio não foi repreendida. Afinal, uma mensagem era melhor que nada.

Lidar com a nervosismo foi a pior parte. Não fazia ideia do que esperar do reencontro. Ainda estava chateada, é claro, mas parte da garota ansiava pelo momento em que poderia ver novamente. Seus olhos estavam precisando de um colírio... E que colírio aquele homem era.
ouviu a campainha tocar exatamente no horário que constava na mensagem enviada por . Sentiu-se insegura. Desejou manter-se em silêncio até que o rapaz desistisse e fosse embora, mas ao invés disso, suas pernas a levaram até a porta.

— Oi! — ele disse, abrindo um sorriso caloroso.
— Oi. — ela respondeu, desejando parecer tão confiante quanto ele.
— Já podemos ir? — ele perguntou, colocando suas mãos no bolso da calça jeans. Aparentemente não sabia o que fazer com elas.
— Só preciso pegar minha bolsa. — ela comentou voltando para dentro do apartamento. Pegou o acessório que estava sobre o sofá e respirou fundo, criando coragem para encarar a noite que estava por vir.

Caminharam até a rua sem trocar mais nenhuma palavra. parecia bastante satisfeito em apenas andar ao lado da garota enquanto cantarolava baixinho uma de suas canções. teria adorado ouvi-lo, se não estivesse tão zangada por ele estar agindo como se a noite que passaram juntos nunca tivesse acontecido.
O astro ainda precisou de alguns instantes para atender alguns fãs que se aglomeraram em frente ao prédio da garota, já que ao contrário das outras vezes, ele havia dispensando qualquer item que poderia ocultar sua identidade.

— Onde está o sedan? — ela indagou, ao notar que o carro não estava em nenhum lugar da rua.
— Nada de sedan hoje. — o cantor respondeu, mais radiante do que nunca. — Hoje vamos de DB9 GT.

encarou o carro em sua frente de olhos arregalados. Procurou no fundo da sua mente alguma memória relacionada àquele impressionante veículo prateado. Sabia que já havia visto algo parecido em algum lugar. Sabia também que nunca havia visto pessoalmente, mas no cinema talvez...

007 – Casino Royale! — ela exclamou finalmente, lembrando-se do filme que havia assistido há pouco tempo atrás.
— Exatamente. — ele sorriu orgulhoso. — Ele é uma das 150 unidades da Bond Edition.
Deus! Isso deve custar uma fortuna.
— Mas é um belo investimento, você não acha?
— Acho, Bond. — ela acabou cedendo finalmente.

O carro era simplesmente incrível.

— Bond, Bond. — ele riu, abrindo a porta para a garota.
— Você realmente vai participar do desfile? — ela perguntou, depois de compartilharem alguns instantes, onde apenas o barulho do motor podia ser ouvido. Nesse meio tempo, ela começou a imaginar que talvez essa havia sido apenas uma desculpa usada por ele, para convencê-la a aceitar o convite.
— Sim. — ele confirmou, fazendo uma careta. — Sou o garoto propaganda da grife. Há uma maldita cláusula do contrato que me obriga a fazer isso.
— Você deveria ter me dito que é o garoto propaganda! — ela resmungou, cruzando os braços sobre o colo.
— Faria alguma diferença? — indagou, parecendo confortável na direção do seu carro.
— Claro! As atenções estarão voltadas a você, como nunca. Vou ficar completamente perdida lá!
, esse é o seu mundo! Você estará muito mais a vontade lá do que eu.

Ela duvidou disso. Sabia que se sairia bem. Bastava ele abrir seu sorriso e pronto, todos estariam apaixonados. Já ela... Bem, se sentiria absolutamente satisfeita se não fizesse nada estúpido.

— Não podemos entrar juntos. — a garota observou, enquanto analisava ainda sentada no carro, alguns fotógrafos se reunindo na porta de entrada do local onde o evento aconteceria.
— Por que não? — o cantor quis saber.
— Eles pensarão que estamos saindo.
— E não estamos? — retrucou levantando as sobrancelhas.
— Não. — ela afirmou instantaneamente, para o desapontamento dele. — Nos conhecemos por uma mera coincidência. Nosso primeiro encontro acabou da pior forma possível e só estou aqui hoje, porque Jenny me obrigou.
— Lembre-me de agradecê-la por isso. — ele resmungou, zangando-se com o comentário feito.
— Encontro você lá dentro. — ela murmurou em resposta.

Deixou sozinho no carro. Não estava disposta a aturá-lo irritado. Ficou feliz ao perceber que não chamara a atenção dos fotógrafos. Mas convenhamos, era apenas uma pessoa comum como qualquer outra. Nunca se sentiu tão feliz por isso. Não gostava de holofotes sobre si.
por sua vez, já estava acostumando com aquilo. Os flashes não lhe intimidavam. Abriu seu sorriso e deixou que o fotografassem por alguns instantes. Só então saiu a procura de . Assim que encontrou a garota, entrelaçou sua mão na dela e a puxou até os bastidores. Sabia que ela adoraria aquilo e como havia previsto, a estudante estava radiante.
se separou do cantor poucos instantes antes do desfile começar. Foi guiada por uma mulher até seu lugar e se surpreendeu quando descobriu que ele estava localizado bem em frente. Teria uma visão bastante privilegiada.
Viu em toda sua glória na passarela. O homem não deixava nada a desejar se comparado aos outros modelos. Pelo contrário, era muito mais interessante do que a maioria deles.

— Você foi incrível! — a garota vibrou enquanto voltavam para seu apartamento.
— Não exagere. — ele sorriu, contagiado pela empolgação dela.
— Obrigada por ter me convidado. Foi uma noite fantástica.
— Não por isso. — ele respondeu, desligando o motor do carro. — Espero que tenha sido suficiente para diminuir um pouco da raiva que você estava nutrindo por mim.
— Não estava com raiva de você. — ela defendeu-se, virando-se para o lado a fim de fitá-lo.
— Magoada, decepcionada, irritada, chateada... Seja lá o que for. Só quero que saiba que eu realmente sinto muito. — declarou da forma mais sincera que pode.
— Você não podia esperar que eu ficasse feliz com o fato de você ter sumido sem dar qualquer explicação.

Ele a ouviu murmurar e desejou poder tocá-la. Só não o fez porque estava com medo de que isso acabasse a afastando ainda mais. Não queria que isso acontecesse, em hipóstase alguma. Queria vê-la novamente. Ouvi-la falar incansavelmente sobre sua especialização. Encontrar seu olhar enviesado. Sentir seus lábios e o toque macio da sua pele.

— Quero que sua noite seja perfeita. Não vou estragá-la falando sobre esse assunto. Encontraremos outro momento para isso, está bem? — sugeriu, sabendo que isso poderia virar uma desculpa para vê-la novamente.
— Okay. — concordou, apenas porque queria guardar a noite entre suas boas lembranças e não entre aquelas que poderiam lhe fazer sofrer.

Ele a acompanhou até a porta do apartamento. Sem saber se ou quando o veria novamente, se deu a liberdade de abraçá-lo durante a despedida. Gostava da forma como os braços dele envolviam seu corpo. Inalou profundamente seu perfume e desejou que as coisas entre eles pudessem ser um pouco mais fáceis.
Mas não eram.
Um astro da música era um astro da música.
havia viajado para uma pequena turnê de duas semanas no exterior. Fez questão de ligar para a garota mesmo com um grande dificultador chamado fuso-horário. Não sabia exatamente porque estava se importando tanto, mas ia do show direto para o hotel e vice-versa.
estava nervosa pela proximidade da volta do cantor. Talvez ela pudesse vê-lo novamente. Talvez pudessem conversar e finalmente colocar as cartas na mesa. A ausência de uma explicação para seu sumiço depois da noite que transaram ainda incomodava a garota.
Sentiu-se ainda mais desapontada quando se deparou com uma matéria cujo título era: “ em jantar romântico com mulher misteriosa”. Não conseguiu reprimir sua curiosidade e acabou vendo as fotos do músico em um restaurante desfrutando da companhia de uma bela mulher.
As imagens não mostravam nada comprometedor, mas foram suficientes para a garota deixar de atender as ligações feitas por e de responder suas mensagens.

— Você sabe que deve existir uma explicação bastante razoável para essas fotos. — Jenny argumentava ao telefone por aquela que deveria ser a milésima vez.
— Eu sei. — a garota concordou, em um suspiro. — Mas acho melhor deixar as coisas do jeito que estão. Continuar com isso não parece uma boa ideia...
— Ainda há assuntos pendentes entre vocês. — fez questão de lembrá-la.
— Que continuarão pendentes para sempre se depender de . — declarou, recordando-se da relutância mostrada por ele, em todas as vezes que tentou chegar até o assunto. — Ele não quer falar. Não vou ficar insistindo.
— Tudo bem. Só não acho que ele vá aceitar seu não tão facilmente. — informou e mesmo não gostando, se viu obrigada a concordar.

Algo lhe dizia que não enxergaria com bons olhos sua recusa em se comunicar. Ambicionou que ele não soubesse onde ela morava. Isso facilitaria consideravelmente as coisas. Mas como o destino parecia estar conspirando contra a garota, era óbvio que ele sabia. E era evidente que procuraria.
Toda a vez que a campainha tocava, seguia até a porta temerosa. Estava ciente que mais dia, menos dia daria de cara com . Só não esperava encontrá-lo tão cansando quando isso aconteceu.

— Trouxe comida. — ele murmurou, erguendo as sacolas que segurava em suas mãos. — Posso entrar?
— Não tenho boas lembranças do último jantar que compartilhamos. — ela retrucou, mas parecia estar sem paciência para isso.
— Garanto que terá ótimas lembranças desse. Agora me deixe entrar, está bem?!
— Não tenho nenhum motivo para fazer isso.
— Você deveria me ouvir antes de sair me julgando. — ele disse, lançando a ela um olhar penetrante.

Finalmente conseguiu ter acesso ao apartamento da estudante. Se dirigiu até a cozinha e se contentou em apenas desembrulhar o jantar. Tinha certeza de que estava sendo observado, bem como sabia que o silêncio de não se prolongaria por muito mais tempo.

— Então jantares românticos são sua especialidade? — ela indagou enfim, com a voz carregada de desdém.
Ah não! Minha especialidade está no que acontece depois do jantar. — ele replicou, cansado de sempre ouvir o mesmo tom de acusação das pessoas.
— Você é um cretino! — ela elevou a voz, sentindo a raiva dominar seu corpo. — Não sei ao menos porque se deu ao trabalho de vir até aqui.
— Não grite comigo. — ele proferiu em voz baixa e por entre dentes.

A garota não reagiu, apenas observou ele se aproximar. Havia esperando tanto por aquele momento, mas agora já não estava tão certa se queria que ele acontecesse. Sentiu a mão de deslizar em seu pescoço e cambaleou para trás, até que suas costas encontrassem a geladeira.
Sua respiração vacilou quando sentiu o corpo do cantor pressionar o seu. Nesse instante, ela notou que o queria. Mas que antes disso, precisava de algumas respostas.

— Não faça isso. — ela pediu, quando observou os lábios dele se aproximarem dos seus. — Não antes de me dizer o que aconteceu.
— Eu não saí com aquela mulher. Eu não saí com mulher alguma depois que te conheci, porque não quero magoar você. — ele falou, apertando os olhos, como sempre fazia quando estava aborrecido. — Minha irmã me obrigou a acompanhá-la em um jantar. Aquela mulher é amiga dela. Eu não sabia que ela estaria lá também. Se soubesse, não teria ido.
— E por que sua irmã não aparece em nenhuma das fotos?
— Não seria um jantar romântico se ela aparecesse. — ele tentou explicar. — A mídia só costuma publicar o que lhe convém. Melanie havia ido ao banheiro quando as fotos foram tiradas. Essa é a verdade, .
— Às vezes gostaria que você fosse apenas um cara comum. — ela sussurrou, apesar de acreditar nas palavras que lhe foram ditas.
— Ainda vai chegar o dia em que você vai me agradecer por eu ser um astro da música. — ele sorriu de canto, abraçando-a em seguida.
— Por enquanto vou lhe agradecer apenas pelo jantar.
— Já é um começo!

Compartilharam uma refeição tranquila. Nenhum deles tocou em qualquer assunto que poderia desencadear algum aborrecimento. se responsabilizou por lavar a louça enquanto secava. A garota queria atacar a sobremesa, mas o rapaz insistiu que antes precisavam organizar a cozinha.

— Por que você ainda insiste em me procurar? — ela acabou perguntando, quando a dúvida surgiu em sua mente.
— Porque gosto de quem sou quando estou ao seu lado. Minha profissão não interfere na maneira como você me trata. Gosto disso.
— Gosta mesmo? — quis saber, ainda indecisa.
— Sim. As outras pessoas costumam me tratar de forma privilegiada. Posso fazer uma besteira do tamanho do mundo, mas ainda assim elas não brigarão comigo. Já você, briga quando acha necessário, não concorda com tudo que digo e deixa de atender minhas ligações quando está irritada. Você não finge apenas para me agradar. — ela sorriu, depositando o último prato sobre o escorredor de louças. Em seguida roubou a toalha da garota para poder secar as mãos.
— Nunca analisei as coisas desse ponto de vista. Na verdade, não consigo imaginar como alguém pode engolir o que está sentindo apenas para agradar outra pessoa. — ela comentou, recuperando a toalha para secar o restante dos utensílios.
— Infelizmente isso acontece com mais frequência do que você pode imaginar. — ele respondeu, fazendo uma careta de desagrado. — Eu gosto de saber o que as pessoas realmente sentem. E isso inclui você, .
— Posso lhe confessar uma coisa então? — ela pediu, apoiando o quadril na bancada da cozinha.
— Claro que sim. — ele afirmou, postando-se ao lado dela.
— O fato de ainda não termos conversado sobre o que aconteceu na noite em que dormimos juntos, me incomoda. — declarou e a primeira reação de foi soltar o ar pesadamente.
— Eu sei. — ele murmurou cabisbaixo. — Me incomoda também.
— Então por que simplesmente não conversamos? — ela sugeriu, mas para sua decepção, ouviu a campainha tocar.
— Você está esperando alguém? — questionou já se encaminhado para a porta.
— Não. — ela respondeu, seguindo-o de perto.

achou engraçada a forma idiota que Jenny encarrou , não riu somente porque sabia que provavelmente ela fazia o mesmo. Não podia culpar as mulheres por se sentirem atraídas por ele. Era impossível não se sentir.

Aí. Meu. Deus! — escutou a amiga exclamar pausadamente.
— Olá! — abriu um grande sorriso frente à reação da garota. — Jenny, não é? — ele desviou sua atenção para , em busca de uma confirmação.
— Exatamente. Minha melhor amiga. — ela respondeu, já que Jenny parecia ter perdido a capacidade de falar.
— Pelo que sei, você é minha fã. — o cantor voltou a encarar a mulher imóvel na porta e repentinamente abriu os braços, com um enorme sorriso no rosto.

Jenny entendeu o recado. Se jogou sobre , prendendo seus braços em volta do pescoço do astro. ficou apenas observando e deixou que a amiga aproveitasse o abraço. Sabia quanto ela havia esperado por esse momento.

— Você não quer entrar? — perguntou, assim que a garota se afastou.
— Não! — ela murmurou, um pouco sem graça. — Não quero atrapalhar vocês.
— Não está atrapalhando. — o astro afirmou e lhe encarou um pouco frustrada. — Nós já jantamos, mas há sobremesa suficiente para três.

Jenny cedeu. tinha absoluta certeza que ela faria. A garota sabia melhor do que ninguém quão impossível era dizer "não" ao cantor. Sentaram-se em volta da mesa e devoraram a sobremesa, que, aliás, estava maravilhosa.

— Vocês se conhecem há muito tempo? — indagou curioso.
— Nos conhecemos na especialização. — Jenny respondeu sorrindo. — Não sei o que teria sido de mim sem .
— Falando nisso, acho que preciso lhe agradecer. Fiquei sabendo que você tem convencido a sair comigo. — o astro comentou, levando em seguida a última colherada de comida a boca.
é bem bobinha às vezes. — Jenny baixou o tom de voz, como se o que estivesse contando era um grande segredo.
Hey! se pronunciou finalmente. Aproveitou que estava sentando ao seu lado e deu uma leve cotovelada nas costelas dele. — Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui.

O cantor riu, passando seu braço sobre os ombros da garota. O gesto absolutamente simples teve um significado maior para ela, considerando que os dois não estavam sozinhos.

— Acho que já está na minha hora. — Jenny pigarreou, sentindo-se um pouco intrusa.
— Ainda está cedo. — o astro argumentou. — Podemos assistir um filme.

achou que queria prolongar a visita da sua amiga para fugir da conversa que estavam tendo antes da chegada dela. Sentiu-se desapontada. Porém, quando encontrou os olhos esperançosos de Jenny, deixou o sentimento de lado, já que sabia que aquele provavelmente era o momento mais incrível da vida de sua colega de classe.

— Fique conosco. — ela reforçou o convite do músico. — Deixo vocês escolherem o filme.

Jenny estava em um estado de êxtase. Nunca havia imaginado que de fato conseguiria ficar frente a frente com seu maior ídolo. É claro que havia sonhado com o momento por várias vezes, mas tudo estava superando suas expectativas.
viu sua amiga se ajeitar na poltrona, enquanto deitava-se no sofá. Não havia alternativa se não deitar-se junto a ele. Mesmo não sendo um sofá grande, conseguiram se acomodar confortavelmente. Tanto, que a garota conseguiu se manter acordada somente até metade do filme.

? — ela murmurou, quando sentiu a fonte de calor que a aquecia, se afastar.
— Estou aqui. — ele respondeu, usando um tom de voz baixo. — Jenny já foi. Vou levá-la até a cama.

Ela não reclamou quando o cantor a pegou no colo. Aproveitou para passar seus braços em volta do pescoço dele e deitou sua cabeça em seu ombro. Poderia ficar ali por uma vida inteira.

— Obrigada. — ela sorriu, quando sentiu a maciez do seu colchão.
— Dispõe. — disse ele, sentando-se na beirada da cama.
— Você não vai dormir aqui? — indagou, quando notou que ele não fez qualquer movimento que indicasse isso.
— É uma proposta tentadora. — respondeu e ela notou quão sedutor o timbre de voz dele poderia ser. — Mas acho melhor ir para casa.
— Vou ver você novamente? — a pergunta foi feita quase inconscientemente por ela.

Ele abriu seu sorriso eu-sei-que-você-me-quer-e-estou-à-disposição e inclinou seu corpo em direção a ela. prendeu a respiração quando sentiu os lábios dele roçarem seu maxilar.

— Mesmo que você não queira. — afirmou, seu tom de voz ficando rouco.
— Eu quero. — ela confessou, erguendo a cabeça até que sua boca tocasse brevemente a dele. A forma encontrada por ela de selar a promessa.

viu começar a fazer parte da sua vida gradativamente. Adorava as visitas inesperadas que recebia dele e suas ligações fora de hora. Mesmo não tocando novamente os lábios do cantor, ela estava satisfeita com o que tinham.

— Não acredito que vamos ao show dele! — Jenny estava dando pulinhos de alegria. Ainda não acreditava que havia sido convidada pelo próprio ídolo.
— Acalme-se. — sorriu, começando a se contagiar pela animação da outra.

As duas garotas chegaram ao local do show e encontraram um grupo de garotas ao lado de fora do camarim de . Se identificaram para um homem enorme e intimidador e receberam autorização para adentrar no espaço.
O astro estava arrumando o cabelo em frente a um espelho. Assim que viu o reflexo das garotas, abriu seu melhor sorriso e se dirigiu até elas.

— Que bom que vocês vieram! — ele exclamou, abraçando primeiramente a Jenny e em seguida se voltou a . — Você está linda! — ele sussurrou, seus olhos com um brilho diferente.
Hora de atender às fãs. — ouviram uma voz masculina avisar.
— Fiquem à vontade. — disse as garotas. — Volto em um instante.

Grupos de cinco fãs entravam por vez no camarim. O astro atendeu a todas com muita atenção. Mas se sentiu um pouco deslocada. 09 em cada 10 garotas estavam um pouco histéricas. O restante pareciam modelos saídas diretamente das revistas de moda que ela via.
Não duvidou que as aspirantes a modelos estivessem ali na esperança de ter alguns minutos em particular com o astro. Na verdade, achava que todas elas nutriam essa expectativa. Revirou os olhos para a possibilidade.

Steven! arregalou os olhos ao ver o médico passando pela porta. Ele já não parecia tão sério como estava em seu consultório. Pelo contrário, parecia muito mais novo e atraente do que ela lembrava.
! Como você está? — ele sorriu, parecendo apenas um rapaz aproveitando sua noite de folga.
— Muito bem. — ela respondeu e sentiu alguém batendo discretamente em seu braço. Encarou a amiga de testa enrugada. Só então percebeu o que ela queria. — Ah, essa é Jenny, minha amiga. E, Jenny, esse é Steven, amigo de . — apresentou-os e percebeu que sua colega estava mais envergonhada do que na noite em que conheceu seu ídolo.

teria feito algo para deixá-la mais à vontade, se nesse mesmo momento, uma garota não tivesse se jogado sobre , beijando-o. Sentiu o estômago embrulhar e deu as costas para a cena.

— Vem comigo! — ouviu a voz de Steven e fez o que lhe foi mandado. Queria apenas sair do lugar que agora presenciava uma pequena confusão.
— Você está bem? — Jenny questionou assim que chegaram a um corredor vazio.
— Sim. — ela respondeu prontamente, ficando aliviada por sua voz não ter vacilado.
— Era só uma adolescente inconsequente, . — sentiu a mão de Steven em seu ombro e se esforçou para acreditar no que ele dizia.
?! — a garota estremeceu ao ouvir a voz de lhe chamando. — Podemos conversar? — ele pediu, quando enfim o olhar dos dois se encontrou.

Ela concordou com a cabeça e deixou que ele a guiasse de volta para o camarim, completamente vazio dessa vez.

— Sinto muito pelo aconteceu... Ela estava fora de si... Não sei ao menos como conseguiu entrar... — ele começou, assim que fechou a porta atrás de si.
— Está tudo bem. — ela disse, forçando um sorriso. — Já passou.
— Você está magoada. — ele afirmou, parando a alguns passos a frente dela.
— Isso realmente não vem ao caso. — ela respondeu, esperando que ele entendesse a dica e simplesmente fizesse o assunto morrer.
— Fugir não é a melhor opção, .
— Você está fazendo isso há um bom tempo, . — ela murmurou, sentindo-se repentinamente exausta.
— Sei disso! — ele lamentou, passando as mãos pelo cabelo, exasperado.
Cinco minutos, ! — eles ouviram alguém gritar.
— Você tem que ir. — a garota apontou, grata pela interrupção que tiveram.
— Não sem antes você prometer que irá me esperar.
— Fugir não é a melhor opção, . — ela sussurrou, deixando-o sozinho em seguida.

Tinha certeza que o problema não era a fã descontrolada que havia beijado , mas sim, o que aconteceu na única noite em que dormiram juntos. havia desistido de tocar no assunto há tempos, mas isso não significava que a questão estava resolvida.
Encontrou com Jenny e Steven e tentou aproveitar o show. Não podia negar que era algo impressionante. Se deu ao luxo de odiar por um instante. Perguntou-se se existia algo em que o astro não era bom. Concluiu que não.

? — escutou seu nome e virou-se, dando de cara com o homem que liberou sua entrada no camarim mais cedo.
— Sim.
— Venha comigo.
— Você vai ficar bem? — a garota pediu para a amiga, infeliz por deixá-la sozinha.
— Claro. Vá tranquila. — ela afirmou sorrindo, e teve a leve sensação que o motivo daquele sorriso era Steven.

seguiu o homem que a chamou, apenas porque tinha certeza que ele fazia parte da equipe de . O show tinha acabado e ela sabia que o cantor não a deixaria sozinha.
Para sua surpresa, ao invés de seguirem para o camarim, o homem a levou até a rua. O lugar possuía acesso restrito, provavelmente por conta do show e ela avistou apenas um carro nas redondezas. Reconheceu o sedan preto imediatamente.

— Para onde vamos? — indagou, assim que entrou no veículo.
— Para minha casa. — respondeu, procurando uma brecha para ingressar no trânsito movimentado da cidade.
— Você mora aqui? — ela perguntou, percebendo que nunca haviam conversado sobre isso.
— Sim. Me mudei há pouco tempo. Poucas pessoas sabem... Gosto de um pouco de privacidade. — ele sorriu e ela se sentiu importante por fazer parte desse número escasso de pessoas privilegiadas.

O ambiente em volta da casa de era arborizado. amou esse detalhe, mas ficou surpresa ao ver as quatro enormes colunas que sustentavam o hall de entrada. O carro parou em frente ao local e eles desceram. De mãos entrelaçadas passaram pela porta de vidro que os levou até o interior da casa. O piano de cauda foi o que fato chamou a atenção da garota.

— Você toca? — ela pediu, plantada no meio da sala.
— Um pouco. — disse modestamente. — Eu preciso tomar um banho. Fique à vontade para explorar a casa. Podemos fazer um tour depois, se você preferir.

Ela assistiu, ainda assimilando o absurdo que era aquele lugar. Quando ficou sozinha, dirigiu-se até o lado direito de onde o piano se encontrava. Lá havia uma mesa de dez lugares bastante rebuscada, combinava perfeitamente com o ambiente. Havia mais duas portas no lugar, achou que uma provavelmente levava até a cozinha, enquanto a outra, bem... não fazia ideia.
Deixou a sala de jantar para trás e percebeu que ao lado esquerdo do piano, logo depois das escadas que davam acesso ao andar superior, havia outra sala. Com dois enormes sofás e uma TV de plasma gigante. Notou ali uma enorme porta de correr e dessa vez não resistiu. Seu queixo caiu quando seus olhos recaíram sobre a maior piscina que ela já tinha visto na vida. Ficou ainda mais abismada quando percebeu que a área de lazer possuía uma cozinha completamente equipada e mais um ambiente com sofás, poltronas e uma TV.
Tudo aquilo era grandioso demais, mas nada se comparava à vista. Mesmo sendo noite, a claridade vinda da casa possibilitava ver nitidamente o enorme gramando e além dele, o contorno de árvores formando um pequeno bosque.
Ficou ali, observando o céu estrelado e tentando absorver a beleza daquilo tudo. Não foi à toa que se assustou quando sentiu o braço de pousar em seus ombros.

— Eu odeio a maioria dos móveis e a arquitetura exagerada da casa, mas essa vista... — ele suspirou, possivelmente não encontrando um termo que fosse capaz de descrever a beleza do que estavam vendo.
— Agora entendo porque você não gosta muito do meu apartamento. Se eu morasse aqui, também não gostaria. — ela sorriu, esquecendo-se momentaneamente do real motivo que a levara até ali.
— Eu gosto dele! Apenas achava que você morava em lugar muito maior do que minha casa. — ele se defendeu, grato por poder adiar a conversa que certamente teriam por mais alguns instantes. — Não me leve a mal, mas você tem cara de patricinha mimada.
— E você tem cara de playboy. Ah! Espere aí... Você é um. Como pude me esquecer?! — a provocação fez com que ele gargalhasse, mas em seguida, ambos se silenciaram. — Nós precisamos conversar.

Foi ela quem tomou a atitude e ele soube quando esse momento chegou, antes mesmo que ela pronunciasse as palavras. Sentiu os ombros da garota subirem e depois descerem, em sincronia com seu longo suspiro.
Ele a guiou de volta para o interior da casa, preferindo ficar de pé para observar sentada em seu sofá. Gostou de vê-la ali. Era como se a casa tivesse se iluminado com sua presença. Por isso, apesar de saber que não conseguiria lhe contar a verdade completa, tomou cuidado para escolher as palavras que diria, não querendo que ela saísse dali tão cedo.

— Você quer falar sobre o que aconteceu naquele dia, não é? — ele questionou ainda receoso.
— Quero apenas entender o que aconteceu. — ela respondeu e ouviu inspirar profundamente.
— Eu fui embora naquela manhã, porque achei que você me odiaria. — ele começou, tentando ignorar o olhar arregalado que lhe era dirigido. — Achei que me acusaria de ter me aproveitado de você, porque havíamos bebido. Eu podia ver você me dizendo que nossa noite juntos não passava de um erro. Que você estava arrependida...
— Você ficou com medo que eu ferisse seu ego, é isso mesmo que estou ouvindo? — ela indagou, sem conseguir esconder o tom incrédulo de sua voz.
— Eu estava com medo de encontrar seus olhos e ver neles repulsa ao invés de desejo.

Ela massageou as têmporas, arrependida de ter forçado o assunto. Não tinha certeza sobre o que esperava ouvir, mas sem sombra de dúvidas, não era aquilo. Os motivos de pareciam tão rasos que não conseguiu ao menos fingir que o compreendia.

— Por que voltou a me procurar?
— Porque não conseguia parar de pensar em você. — ele revelou, tentando desesperadamente fazer com que ela lhe entendesse, por mais difícil que fosse. — Eu não sabia e na verdade acho que ainda não sei como fazer isso dar certo, mesmo querendo loucamente que dê.

o viu se aproximar de forma cautelosa. Sentiu as mãos dele segurarem seu rosto e não soube exatamente porque, mas naquele instante lágrimas salpicaram seus olhos.

. — seu nome dançou nos lábios dele de forma sedutora. — Eu cometi um erro ao deixá-la. Sinto muito por isso.
— Você é um maldito idiota! — ela fungou. As justificativas do astro podiam ser pouco convincentes, mas seus olhos falavam por si.
— Eu sei. — ele deu um sorriso de canto e a abraçou, o mais forte que pode.
— Só mais uma coisa. — a garota sussurrou ainda agarrada ao pescoço dele. — Com que frequência suas fãs te atacam da maneira que a de hoje fez?
— Foi um caso isolado, eu juro! — ele sorriu, afastando-se apenas o suficiente para que seus dedos pudessem tocar o rosto da garota. — Durma aqui hoje. — ele sugeriu, depois de fitá-la atentamente por um longo momento.
... Eu não acho que consigo, não agora.
— Quero que você apenas durma comigo, no sentido literal da palavra. — ele abriu seu melhor sorriso, disposto a convencê-la. — Sua companhia me faz bem.

Ela acabou ficando, mas não antes de relutar um pouco. Teve a oportunidade de conhecer o andar superior que a surpreendeu da mesma maneira que o térreo havia feito. O quarto de era maior do que seu apartamento inteiro. Aquilo era um verdadeiro absurdo.
Antes de deitar, foi ao banheiro e não hesitou em usar a escova de dente do cantor. Precisa fazer sua higiene e não sairia mexericando a fim de encontrar uma escova nova. Achou mais prático usar a que estava disponível.
estava no closet quando ela voltou para o quarto. Olhou para a roupa que havia escolhido para ir assistir o show e concluiu que não seria nada confortável dormir de calça jeans. Tirou a peça. Bem, ele já a tinha visto em situações bem mais indecentes.
O cantor pareceu pensar exatamente na mesma coisa. Apareceu vestindo apenas uma calça de moletom. já tinha se acostumado com a mania de se exibir do rapaz e assim que ele se deitou ao seu lado, ela entrelaçou sua perna na dele e largou seu braço sobre seu abdômen despido.

Deus! Eu adoro você! — ele sussurrou, quando o cheiro de shampoo vindo dos cabelos dela chegou a suas narinas.
— Você ainda vai me adorar pela manhã? — ela indagou, refazendo a frase que fazia parte de um dos seus filmes favoritos.
— Para sempre, querida. — ele respondeu, exatamente da mesma maneira que o personagem masculino do filme havia feito.

sorriu satisfeita e fechou os olhos, mergulhando em uma noite tranquila de sono. Quando despertou, na manhã seguinte, a primeira coisa que notou foi o lado oposto da cama vazio. Abriu os olhos assustada, pensando que havia voltado para o dia que a tinha deixado sozinha em seu apartamento. Mas logo percebeu que não estava em seu apartamento e muito menos sozinha.

Hey, bom dia. — ele sorriu, terminando de fechar o botão de sua calça jeans.

o observou praticamente de boca aberta. Ele estava parado próximo à cama, sem camisa. Seus cabelos ainda úmidos indicando que ele acabara de sair do banho. Seu sorriso eu-sei-que-você-me-quer-e-estou-à-disposição brincando em seu rosto. Finalmente a garota havia encontrado algo mais estonteante do que a vista que a casa do rapaz continha.

— Bom dia! — ela saiu de seu transe, ao perceber os olhares curiosos que ele lhe dirigia.
— Adoraria ficar deitado com você. Mas tenho um comercial para gravar mais tarde. — ele fez um careta, odiando ter que deixá-la por conta do trabalho.
— Você deveria ter me acordado mais cedo. Não quero atrapalhar. — falou enquanto se levantava.
— Você não atrapalha. Nunca. — ele pontuou, observando-a vestir sua calça.

Ela bem que tentou, mas não conseguiu resistir. Foi até onde ele estava e jogou seus braços em volta do corpo dele. Seus dedos tocaram a pele ainda umedecida do astro com adoração. Ela precisou se conter para não soltar um gemido de prazer.

— Vá terminar de se vestir. — ordenou a ele. — Antes que eu acabe tirando a pouca roupa que você está usando.

Ela praticamente correu até o banheiro na sequência. Sabia que se continuasse ao lado de , ele provavelmente a trancaria no quarto durante o dia todo, dizendo um grande e belo foda-se para o comercial que gravaria.
Ainda assim, não soube dizer se ficou aliviada ou desapontada ao encontrá-lo totalmente vestido quando saiu do banheiro.

— Você deve ter um milhão de peças diferentes, não vai sair com essa. — ela informou, assim que notou que ele estava vestindo a t-shirt que ela comprou no dia que se conheceram.
— Eu gosto dela! — ele argumentou, mas a garota já estava o puxando de volta para o closet.

desejou ter a sua disposição pelo menos um quarto da quantidade de roupas que tinha. Já seria mais do que suficiente para se vestir decentemente pelo resto da sua vida. Deixou o pensamento para trás e saiu à procura do que queria.

— Aqui... Tente essa. — ela pediu, oferecendo a ele uma camisa jeans.

Ele tirou a peça que estava vestindo e colocou a nova. A estudante de moda imaginou que seria impossível ele ficar mais bonito do que já era, mas assim que o viu terminar de se arrumar, percebeu que se enganara completamente.

? — ela estava tão perdida em seus pensamentos que ao menos percebeu ele lhe encarando. — Não me olhe dessa forma.
— Como? — ela indagou confusa, sem entender o motivo do alerta feito por ele.
— Como se estivesse me despindo mentalmente.
— Bem... — ela murmurou, começando a cogitar a ideia que teve mais cedo. Talvez fosse ela quem o manteria preso no quarto o dia inteiro. — Eu estou.

a agarrou naquele mesmo instante. Era difícil resistir a tantas provocações. Principalmente depois dos dias que ficaram separados e da conversa complicada que tiveram na noite anterior.

— Ainda tenho alguns minutos. — o músico informou, com a voz repleta de desejo.
— É mais do que suficiente. — ela respondeu, colando seus lábios novamente nos dele.

No final das contas, saiu de casa com mais de meia hora de atraso. Deixou na cozinha, tomando café e deu as recomendações necessárias para Bertha Garcia, a governanta, a respeito da garota. Queria garantir que ela chegasse bem em seu apartamento.
não tinha do que reclamar. O dia havia começado de uma maneira espetacular e o café da manhã estava delicioso. Além disso, a conversa que teve com Bertha durante a refeição foi completamente agradável.

— O táxi já está lhe esperando. — a mulher informou, assim que a garota disse que precisava ir para casa.
— Obrigada. — ela agradeceu, não se surpreendendo ao descobrir, assim que parou na frente do seu prédio, que a corrida já havia sido paga.

Entrou em seu apartamento e notou a luz vermelha da secretária eletrônica piscando. Não soube por que, mas lembrou-se repentinamente de Jenny.

Hey, sei que você não deve ter chegado ainda, mas queira avisar que continuo lhe adorando. — ela sorriu feito uma idiota ao ouvir a voz de em seu telefone. — O pessoal aqui estava furioso com meu atraso, mas não me importo. Cada segundo ao seu lado valeu à pena. — ele fez uma pausa, mas ainda conseguia ouvir sua respiração leve. — Obrigado por confiar em mim. Não vou desapontá-la dessa vez, prometo. — uma nova pausa, onde ela pode ouvir novas vozes ao fundo, uma delas chamado pelo cantor. — Preciso terminar de gravar o comercial, me ligue mais tarde se puder. Se cuida.

Ela ainda estava nas nuvens quando decidiu ligar para a amiga.

— Que bom que você ligou, ! — o queixo da garota caiu quando ouviu a voz de Steven do outro lado da linha.
— Aconteceu alguma coisa? — balbuciou, tentando recuperar-se da surpresa.
— Nós saímos para jantar depois que o show terminou e Jenny descobriu da pior maneira que é alérgica a crustáceos. — o homem contou.
— Como ela está?
— Providenciei os antialérgicos e ela está em casa. Passei a noite aqui para garantir que ela ficaria bem. — ela se surpreendeu com a solicitude do médico. — Mas realmente preciso ir trabalhar.
— Claro! Assumo seu lugar a partir de agora. — ela disse, já procurando por sua bolsa. — Chego aí em dez minutos.

Jenny estava péssima. Os remédios estavam fazendo seu trabalho, mas ainda assim, ela mal tinha vontade de levantar-se da cama. Steven deu orientações a a respeito da medicação e informou que voltaria a noite para ver como as coisas estavam indo. Em resumo, não havia muito para ser feito a não ser esperar.
O mal estar estava deixando Jenny com os nervos a flor da pele. O único assunto que a deixava um pouco mais animada era Steven. Aparentemente a garota estava encantada pelo médico. E pelo que pode perceber quando ele veio fazer sua visita noturna, o sentimento parecia ser recíproco.
A garota acabou dormindo na casa da amiga. Teve uma noite horrível. Além de acordar de hora em hora para ver se estava tudo bem com Jenny, nos momentos que conseguia cochilar, acabava tendo pesadelos.
Acordou na manhã seguinte e foi direto para a cozinha. Amaldiçoou mentalmente a amiga por não ter um único frasco contendo café. Sabia que ela detestava a bebida, mas depois da noite mal dormida, tinha certeza que uma xícara de chá não resolveria seu problema.
Ainda assim, acabou apelando para ele. Teve disposição suficiente para organizar o apartamento de Jenny e preparar algo para ela comer. Depois de garantir que a amiga estava realmente bem, se deu por vencida e acabou saindo à procura de um pouco de cafeína, mesmo já estando próximo da hora do almoço.
estava dirigindo seu sedan preto, o carro que usava quando estava tentando ser discreto, desfrutando (ou não) da companhia da sua irmã, Melaine . Ela havia aparecido na cidade no dia anterior e apesar do cantor amar as visitas não planejadas que ela fazia, detestava quando ela o obrigava a ir almoçar fora. Parecia difícil para ela entender no que tudo isso implicava.
Já estavam quase chegando ao restaurante onde Melanie havia feito às reservas, quando notou uma garota sentada sozinha em um café. A viu de relance, mas foi suficiente para reconhecê-la. Sentiu seu coração bater mais rápido do que o normal enquanto procurava uma vaga para estacionar.

— O que foi? — ouviu a irmã perguntar, quando enfim conseguiu parar o carro.
— Preciso resolver uma coisa. — respondeu apressado, já abrindo sua porta. — Me espere aqui, está bem?

Colocou seus óculos de sol e baixou um pouco mais a aba do boné, os dois acessórios indispensáveis na tentativa de não ser reconhecido no meio da rua. Seguiu até o local onde sua garota estava e observou uma perdida em seus pensamentos encarando uma xícara de café.

— Olá! — ele disse, sentando-se na cadeira disponível em frente a ela.
! — ela sussurrou sorrindo, reconhecendo-o mais rápido do que ele imaginava.
— Você não me ligou ontem e não atende minhas ligações, devo me preocupar? — indagou e mordeu o lábio, tirando do bolso o celular completamente descarregado.
— Não. — afirmou, levando sua mão para junto da de que estava sobre a mesa. — Jenny não estava bem, acabei dormindo na casa dela e não notei que a bateria do meu celular tinha acabado. Sinto muito.
— Tudo bem. Steven me contou que Jenny teve uma alergia. — ele comentou, segurando a mão dela carinhosamente. — Você precisa descansar. Está terrível. — arrependeu-se instantaneamente do que disse, achou que ela poderia ficar irritada com seu comentário, mas ao invés disso, ela apenas gargalhou.
Céus! Eu sei. Mal consegui dormir essa noite!

Nesse instante foram interrompidos, por uma mulher, que julgou ser um pouco mais nova do que ela e muito mais bonita, é claro!

! — a mulher bufou. — Vamos nos atrasar.

sentiu suas bochechas corarem e quis sair dali. Tentou soltar sua mão da de , mas ele a impediu, segurando-a ainda mais firme. Detestou-o por isso. Estava se sentindo uma intrusa.

— Não faça drama, Melanie. — o músico sorriu, percebendo que sua garota estava em meio a uma crise de ciúmes. — Essa é . E, , essa é minha irmã, Melanie. — apresentou as duas, não querendo correr qualquer risco.

Elas se cumprimentaram, um pouco mortificada pelas suspeitas que tinha criado e que se demonstrarem bastante absurdas. Concluiu que precisava aprender a confiar um pouco mais em .

— Vá para o restaurante. — ele disse, estendendo a chave do carro para a irmã. — Amplie nossa reserva para três lugares. Preciso resolver algo importante e depois eu e encontramos você lá.
— Não demore! — ela o alertou.
— Tenho certeza que eles não vão se importar com meu atraso quando souberem quem sou.
— Maldito convencido! — revirando os olhos Melanie deu as costas para os dois e seguiu até o sedan.
— Ela tem razão. — sorriu, quando teve certeza que estavam a sós novamente. — Você é um maldito convencido.
— Ah bem... Digamos que eu posso. — deu de ombros, rindo. — Mas agora peça a conta. Você precisa de uma refeição decente.
— Preciso ficar com Jenny. Prometi a ela que só tomaria um café e voltaria.
— Podemos resolver isso facilmente. Não acho que ela vá negar um pedido meu.
— Maldito... — ela começou a dizer, mas foi interrompida.
— Eu sei, eu sei. — ele jogou os braços para o alto, em rendição.

Seguiram até o prédio de Jenny a pé, com as mãos entrelaçadas e contagiados pela conversa bem humorada que haviam tido. sabia que a presença do músico animaria instantaneamente à amiga.
usou todo seu charme e Jenny não pareceu se importar nenhum um pouco com o fato de que ele estaria roubando sua amiga por algum tempo. Na verdade, acabou incentivando-a a aceitar o convite e ir almoçar com o cantor e sua irmã.
não sabia se queria fazer aquilo. É obvio que adorava a companhia de , mas não estava segura em relação à irmã dele. Não queria se meter no almoço dos dois. E, além disso, não queria deixar a amiga sozinha.
Acabou cedendo apenas porque Steven acabou aparecendo e garantiu que só iria embora quando voltasse. Percebeu que as opções que tinha se restringiam a ficar de vela ou encarar a irmã de .
Já no elevador, a garota sentiu-se envolver por uma sensação conhecida. A sensação de estar em pequeno lugar com um homem arrebatador. Era como se todo o desejo que sentiam um pelo outro, se visse confinado ali, fazendo o ar se tornar carregado.

— É incrível, não é? — praticamente sussurrou, como se fosse capaz de ler os pensamentos dela. br>— A primeira vez que isso aconteceu, pensei que estava enlouquecendo. — ela contou sorrindo.
— Desde a primeira vez eu preciso me segurar para não lhe agarrar no meio do elevador e lhe reivindicar para mim. — ele revelou, sua respiração ficando pesada.
— Talvez um dia, eu peça para que você faça. — ela respondeu, porque no fundo era exatamente isso que seu corpo esperava.

Cedo demais as portas se abriram e ela precisou puxar para fora. Aparentemente ele estava pasmo demais para reagir. Ou talvez, queria apenas continuar no lugar e fazer exatamente o que havia sugerido. Seria mais seguro apostar suas fichas na última opção...
Os medos de se mostraram infundável. Melanie era uma garota incrível, tanto quanto o irmão. Tinha um riso fácil, era provocante e sabia deixar às pessoas em sua volta à vontade, abordando assuntos leves, mas interessantes.
Após a sobremesa, foi praticamente arrancado de sua mesa e acabou se tornando o centro das atenções. Aparentemente, todas as pessoas que estavam no restaurante viraram fãs do astro.

— Ele nunca me apresentou uma garota antes. — ela suspirou, olhando para o lugar onde o irmão estava. — Estou muito feliz que a primeira tenha sido você!
— Obrigada. — ela sorriu, sentindo-se envergonhada.
— Ele adora você. Posso ver pela maneira que ele te olha. E estou certa que isso é recíproco.
— Ele sabe como conquistar uma garota.
— Ah bem... Eu não duvido disso. — ela sorriu, conhecendo como ninguém o irmão.
— Em minha defesa, eu detestava ele no início. Ele sabe ser arrogante quanto quer. — comentou, lembrando-se da forma desastrosa que se conheceram.
— Certamente. É difícil aturar ele e todo seu ego. Apesar de às vezes valer à pena...
— Ele é um irmão protetor, não é? Ele tenta fingir que não se importa, mas morre de ciúmes de você. — contou uma das impressões que havia tido durante o almoço.
— Ele sempre foi assim. Tem um pouco de dificuldade de demonstrar o que sente. Vá se acostumando. — foi aconselhada, instantes antes de enfim conseguir retornar à mesa.

Os dias que se seguiram, passaram mais depressa do que o normal para . Dedicou-se a seu artigo, conseguindo praticamente concluí-lo, mesmo tento que lidar com a maior distração de todas: . O rapaz se mantinha fora da cidade em alguns dias, devido aos shows. Nessa situação, ligava constantemente para ela e quando estava na cidade, se encontravam sempre que podiam.
O mundo do entretenimento começou a especular a relação. Algumas fotos dos dois já haviam sido publicadas, mas para o alívio da garota, nenhuma delas era nítida suficiente para que sua identidade fosse revelada.
Não gostava dessa parte da vida de que envolvia a fama. Mas se precisava conviver com ela para continuar ao lado do cantor, estava disposta a fazê-lo. Pelo menos achou que estava até o dia que encontrou Melanie na porta de seu apartamento.

— Está tudo bem? — a garota perguntou, enquanto se sentavam no sofá. Algo lhe dizia que a visita que estava recebendo não era apenas algo ocasional.
— Sim. — ela afirmou com um sorriso de canto, ainda não tinha certeza se o que estava fazendo era certo. — Mas nós precisamos conversar sobre .
— Aconteceu alguma coisa? — indagou começando a se preocupar.
— Eu realmente não sei. — a outra soltou o ar pesadamente. — Não me leve a mal. Você é uma garota incrível, mas ele é meu irmão. Preciso me precaver.
— Melanie, você está me assustando. Por favor, me diga o que está acontecendo.
me contou sobre como vocês se conheceram e como as coisas entre vocês evoluíram. — ela contou, decidida a ser o mais sucinta possível. — Ele está apaixonado por você, . E por isso preciso lhe contar uma coisa sobre o passado dele. — as palavras ditas, fizeram com que todo o sangue fugisse do rosto de . Manteve-se congelada em seu lugar.
— E-estou ouvido. — ela gaguejou, mas sem saber se realmente queria escutar o que a mulher tinha a dizer.
— Há alguns anos, se envolveu profundamente com uma garota. Eles flertaram durante algum tempo e um dia ela o convidou para ir até sua casa para jantarem. Eles beberam. Eles transaram. — ela fez uma pequena pausa para recuperar o fôlego e começou a tomar nota das coincidências que a história estava apresentando. — Quando acordaram no dia seguinte, a garota enlouqueceu. Acusou-o de ter se aproveitado da situação. De ter forçado aquilo a acontecer. Foi horrível!
— Meu Deus! — ela sussurrou, agora conseguindo entender claramente porque havia ido embora na primeira noite em que dormiram juntos e porque ele havia hesitado tanto em falar a respeito do que aconteceu.
— Ele estava iniciando a careira. E ela estava exigindo dinheiro para não acusar formalmente. Nós estávamos desesperados, já que o escândalo poderia acabar com o maior sonho da vida dele. Mas felizmente tivemos muita sorte. Ela havia aplicado o mesmo golpe em outro rapaz... — a voz lhe falhou nessa hora.
— Ele nunca me disse nada a respeito. — lamentou, sentindo as lágrimas inundarem seus olhos.
— Ele não consegue falar sobre isso. Nunca falou abertamente com ninguém. Decidiu encontrar outra forma de lidar com o passado: bebidas e mulheres.
— Exatamente a combinação que poderia ter acabado com sua vida. — ela completou, ficando cada vez mais chocada.
— Irônico, não? — Melanie lhe fitou, sentindo-se um pouco mais aliviada por ter compartilhado o segredo com alguém. — Nunca consegui compreender direito também.
— Por que você está me contando isso tudo? — quis saber, sentindo que o pior ainda estava por vir.
, eu nunca pensei que um dia deixaria de ser inconsequente, mas ele deixou de ser. Você deve ter notado que há vários meses o nome dele não está relacionado a nenhum escândalo. Ele se tornou outra pessoa desde então. — disse, torcendo para que a compreendesse. Realmente gostava da garota e não queria que ela lhe odiasse.
— Melanie, por favor... — implorou para que ela continuasse, mesmo tendo lágrimas deslizando por sua face. Aquilo era doloroso demais.
— Eu sei que você também é apaixonada por ele, mas preciso ter certeza que você não vai deixá-lo quando os empecilhos aparecerem. Porque eles vão aparecer. é famoso e temperamental. A combinação pode ser explosiva às vezes. — falou, de maneira sincera. — E sempre haverá garotas ao redor dele. Acredite, eu também detesto isso, mas faz parte do trabalho do meu irmão.
— Eu sei. — ela concordou, fungando.
— Meu medo é que mais tarde você se canse disso. E se isso acontecer, não tenho dúvidas que vai buscar a mesma solução que encontrou quando foi decepcionado pela primeira vez. — Melanie sabia que estava sendo um pouco dura, mas se viu obrigada a continuar. — Se você acha que há alguma possibilidade disso acontecer, vá embora da vida de agora. Talvez fazendo isso os estragos não sejam tão grandes.

não soube o que dizer, sua mente parecia sobrecarregada demais e sentiu-se como se toda sua energia tivesse sido sugada do seu corpo.

— Eu não quero que você faça isso, . — sentiu as mãos da mulher a sua frente envolvendo as suas. — Quero muito que você fique. é louco por você e sua presença o torna melhor. — enfatizou suas palavras, tentando exprimir algum consolo. — Não vim até aqui para deixar você desse jeito. Só precisava ser sincera. Não queria magoá-la e muito menos lhe dar motivos para se afastar do meu irmão.
— Eu entendo, de verdade. — afirmou, talvez porque soubesse que se estivesse no lugar de Melanie teria feito o mesmo. — Agradeço por você ter confiado em mim e me contado tudo isso. O segredo de vocês estará bem guardado.

Quando se viu sozinha novamente, pensou em ligar para Jenny e despejar todas suas dúvidas na amiga. Mas isso significaria contar a história toda e ela não podia. Deixou que seu cérebro absorvesse todas as novas informações e iniciasse o conflito. Não sabia o que fazer. Deitou na cama e chorou até adormecer.
Inventou uma desculpa qualquer e evitou durante todo o dia seguinte. Precisava de um tempo sozinha para tomar sua decisão. Havia muita coisa em jogo e ela estava ciente disso.
No final das contas, sua decisão foi tomada considerando muito mais a sua insegurança do que qualquer outra coisa.
Assim que abriu a porta da frente de sua casa, se lançou em seus braços. O beijou com luxuria, sua língua reivindicando seu espaço na boca dele. Cambalearam alguns passos para trás. O cantor ficou surpreso com a repentina ferocidade de sua garota.

? — ele murmurou, sentindo que havia algo estranho acontecendo.

Os lábios dela deixaram seu pescoço e ela recuou um passo para trás. Fitou-o demoradamente. Disposta a gravar em sua memória cada pequeno traço do rapaz. Não queria correr o risco de esquecê-lo, nunca.

— Algum problema? — ela indagou enquanto arrancava seu vestido do corpo.

A visão fez com que ele perdesse o fôlego. Venerava aquela garota em todos os sentidos. Queria que ela soubesse disso, então eliminou com a distância que os separavam e a segurou pela cintura.

— Não. — respondeu-a.

Enquanto seus lábios buscavam os dela, sua mão desceu até a coxa de e ergueu a perna da garota, posicionando-a em volta do seu corpo. O gesto aumentou ainda mais o contato entre ambos, o que fez com que ele soltasse um gemido rouco.
O quarto estava longe demais. agarrou-se ao colo de e deixou que ele os conduzisse até a sala. Entregaram-se um ao outro no sofá de forma urgente. Ela sabia que provavelmente no dia seguinte seus lábios estariam inchados e que sua pele apresentaria marcas que simbolizariam a noite que estavam compartilhando, mas não se importou.
Precisava se despedir.
havia adormecido no próprio sofá. Estava cansado demais para se levantar dali e como parecia confortável em seu lado, acabou relaxando.
Ela esperou até ele apagar completamente. Quando teve certeza disso, se desvencilhou com cuidado para não acordá-lo. Recuperou suas peças de roupas que haviam sido jogas descuidadamente pelo chão e se vestiu.
Pegou um envelope de sua bolsa, mas antes de deixá-lo sobre o piano, deu-se a liberdade de absorver por uma última vez toda a beleza de .
Foi embora quando as lágrimas começaram salpicar seus olhos.

O quarto que pertenceu a ela na casa dos seus pais, estava diferente. A ausência de todas as coisas que ela havia levado quando se mudou tornava o espaço vazio. É claro que estava com saudade da pequena cidade em que foi criada e de sua família, mas sua volta se deu basicamente por um único motivo: .
Sabia que ele a procuraria quando localizasse o envelope. Mas não queria ser encontrada. Não suportaria vê-lo novamente e rezava para que os dias em que ficaria na casa de seus pais fossem suficientes para que ele a esquecesse.
Conversava com Jenny através do telefone fixo da casa. Sempre quando a amiga tocava no nome do cantor, ela tentava usar sua voz mais convincente e dizer que ele estava bem, já pensando em algo que diria para que a conversa mudasse de rumo. Não estava pronta para conversar a respeito do que havia acontecido. Sabia que Jenny a contradiria. Inventou que sua mãe não estava passando bem, quando foi perguntada a respeito da sua viagem repentina.
Somente no segundo dia da sua estadia é que teve coragem para ligar seu celular novamente. Não teria feito se não estivesse esperando que seu orientador entrasse em contato. Ele estava fazendo a última correção do artigo que possibilitaria a garota receber seu diploma de especialista e talvez precisassem marcar uma última orientação.
Para a sorte de , as orientações ocorriam via conferência. Então, desde que tivesse uma boa rede de internet à sua disposição, não fazia a menor diferença se ela estivesse em sua casa ou no Japão. Infelizmente a garota não estava tão longe assim de , apesar de desejar loucamente isso.
Não se surpreendeu ao perceber que havia um punhado de ligações e mensagens do astro em seu celular. Ignorou todas. Mas se obrigou a ouvir a mensagem de voz deixada. Talvez fosse do seu orientador, talvez não...

Uma carta?! — ela ouviu a voz desapontada de chiar. — Se você tivesse me dito que veio se despedir, teria te dado alguns motivos a mais para ficar... — ele fez uma pausa e ela pode ouvir o leve barulho de papel sendo desamassado. — “Pop Star...” — parou, soltando um longo suspiro. Ela desejou que ele não o fizesse o que estava prestes a fazer. Não queria ouvir as palavras que sofrera tanto para escrever. — “Um dia você me deixou dormindo sozinha, agora é minha vez de dar o troco. Sinto em desapontá-lo. Eu realmente achei que poderia, mas agora percebo que não sou capaz de fazer isso dar certo. Não sou forte o suficiente”.
“Talvez um dia você encontre alguém que tenha motivos para ficar. Posso apenas lhe garantir que esse alguém não sou eu. Não sei lidar com seu temperamento. Tanto que lhe detestei no início. Só depois comecei a me sentir atraída... Mas atração não é o bastante. Por isso estou indo. Por favor, não me procure. Apenas siga sua vida, como se aquele dia no shopping nunca tivesse acontecido. Como se nós nunca tivéssemos nos conhecido... Não faça nenhuma idiotice. Sinto muito, ”.
— ele fez uma nova interrupção, para soltar um longo suspiro. — Não consigo acreditar que você fez isso! Você está fugindo de novo, será que não percebe? Não pode simplesmente sentar e conversar?
“Eu apostei minhas fichas em você, garota. Mas você não entende o que isso significa. Não entende que um dia fui acusado injustamente de ter feitos coisas terríveis. Foi por isso que te deixei sozinha naquela noite. Porque tive medo que tudo aquilo que já havia acontecido comigo voltasse a se repetir. Não era medo de ter o ego ferido, como você achou...
— ela ouviu tudo com o coração apertado. Não podia acreditar que ele estava falando do seu passado, não quando Melanie havia afirmado que ele nunca fazia isso. — Transei com uma garota e no dia seguinte ela me acusou de ter me aproveitado dela, porque havíamos bebido. Eu não fiz isso. Nunca seria capaz de fazer, mesmo sendo temperamental do jeito que sou”.
“Fui inocentado, porque tive muita sorte. Mas eu gostava dela, . E foi por causa dela que quase cheguei ao fundo do posso.
— ele parou e a garota podia vê-lo claramente em sua frente, triste, apertando os olhos como se desejasse acordar de um maldito pesadelo. — Álcool e mulheres. Foi a solução que encontrei. Descobri que haviam mulheres que me queriam. Bêbado ou não. Mas estar bêbado simplificava as coisas. As tornavam mais fáceis. Diminuía o vazio. E eu era um astro! Quando tomei consciência disso é que percebi que o jogo havia virado. Eram as mulheres que se aproveitavam de mim... Foi aí que entendi o que era ser usado. E compreendi que estava fazendo isso com as mulheres também. Foi por isso que parei. Porque cansei. E sabe de uma coisa, é assim que estou me sentindo agora: usado por você!”.

Silêncio.
esperou que ele dissesse mais alguma coisa. Que ele não terminasse aquilo tudo de forma tão dura. Para seu desapontamento, ouviu apenas mais um longo suspiro, um momento em que talvez ele tenha cogitado continuar, mas em seguida, a ligação foi encerrada.
Ele tinha desistido.
Doeu-lhe entender isso.
Doeu-lhe entender que entre tantas pessoas, ele havia escolhido ela para falar de forma tão sincera a respeito do seu passado. Mesmo estando completamente magoado — ela não tinha dúvidas que ele estava, foi capaz de confiar nela.
Se sentiu horrível.
Digitou uma mensagem com apenas duas palavras e enviou a ele.

Sinto muito.


E como sentia.
Lembrou-se do quão difícil havia sido escrever a carta para ele. Tanto, que ela havia ficado curta demais. Não sabia o que dizer. Fingiu não se importar e tentou ser ríspida. Queria que ele entendesse o recado. Queria que ele ficasse furioso com ela. Que a xingasse. Que nunca mais a procurasse...
Ao invés disso, ele havia contado sua história.
se sentiu tão suja quanto à garota que o tinha acusado injustamente. Por isso não voltou atrás. Por isso não voltou correndo para os braços de — e porque não tinha tanta certeza se ele estava disposto a recebê-la.

— Você não veio para cá apenas porque estava com saudade. — Charles Mitchell, um amigo de infância de , observou. Estavam sentados na varanda da casa dos pais da garota. Ela ficou surpresa ao receber a visita do rapaz. Fazia muito tempo que não conversavam de verdade, mas ainda assim, ela o considerava um bom amigo.
— É bom fugir dos problemas de vez em quando. — ela respondeu, tentando parecer animada. Jogou para o fundo da sua mente a lembrança que a mensagem deixada por há três dias lhe remetia.
— Você está um caco. — ele murmurou, um tanto quanto sem jeito.

Lembrou-se de um determinado cantor lhe dizendo que ela precisava descansar, que estava terrível.
Droga!

— Meu artigo me deixou estressada. Orientadores acham que somos de ferro. — usava tanto essa desculpa, que já estava se tornando automático dizê-la.
— Você precisa relaxar! — ele lhe lançou um sorriso de canto. — Um amigo meu está dando uma festa hoje à noite. Você irá me acompanhar.
— Ah não! — ela se apressou em recusar. — Estarei muito bem aqui em casa.
— Nada disso! — ele afirmou. — Vou conversar com seus pais...
— Isso é chantagem. — afirmou, fazendo uma careta. Sabia que seus pais a obrigariam sair. Não aguentavam mais vê-la enfurnada em seu quarto.

Se viu obrigada a ceder. Não achava que teria muitas escolhas. Não queria que sua família ficasse mais preocupada do que já estava. Esperou pelo amigo e quando chegaram à bendita festa, ela realmente tentou se distrair. Sorriu para as pessoas, tentou interagir e até aceitou o convite de Charles para dançarem.
Deitou a cabeça no ombro do rapaz e só então se concentrou na música que estava tocando. Estremeceu. A voz aveludada de lhe atingiu como ela nunca imaginou que aconteceria. Para piorar a situação, as frases cantadas por ele eram de partir o coração. Ela já tinha ouvido a canção antes, mas agora, conhecendo o músico tão profundamente, ela possuía um significado novo para a estudante.

— Desculpe. — ela levantou o rosto ao ouvir a palavra. Achou que estava sonhando. — Mas essa é minha garota.

sorriu alegremente. Charles, meio confuso, acabou se afastando. Pelos olhos arregalados da amiga, achou que os dois realmente se conheciam e que havia algo mal resolvido entre eles.
não havia se dado conta que sua face estava úmida pelas lágrimas derramadas. Na verdade, ela só se deu conta que realmente estava ali quando sentiu os braços do rapaz envolverem seu corpo.
Suspirou. Estava com saudade daquele toque.

— Eu não sei se ouvi direito o que você disse. — ela murmurou, aconchegando-se junto aquele que fez tanta falta.
Você é a minha garota! — ele afirmou, enquanto ditava o ritmo da dança. — Na nossa primeira noite, eu pedi se você queria ser e você disse que sim. Não pode simplesmente voltar atrás agora. É um pouco tarde para isso.
... — ela lamentou, fechando os olhos. Não sabia o que dizer, por isso mudou de assunto. — Como você soube que eu estava aqui?
— Jenny me passou o endereço da casa dos seus pais. Fui até lá e eles me disseram que você havia saído. — respondeu e apesar de seus olhos não estarem direcionados ao rosto dele, ela teve a impressão que ele estava sorrindo. — Você vai precisar conversar com Jenny. Acho que o fato de você não ter contado sobre nosso desentendimento a deixou magoada.
— Ela é uma bela dramática! — exclamou, agora sorrindo também.
— Você também é. Nossa última noite, a carta, seu sumiço... — ele comentou, fazendo com o que sorriso dela morresse instantaneamente.
— Sinto por isso. Fiz o que achei certo.
— Espero que você tenha percebido o tamanho do seu engano.

As palavras ditas por ele pontuaram o final da música. Entrelaçou sua mão na dela e a puxou em direção ao quintal. Queria poder conversar em paz com sua garota. Resolver de uma vez por todas a situação de ambos.

— Melanie me contou sobre a conversa que teve com você. Eu deveria esganá-la por ter feito isso sem meu consentimento, mas apesar dos pesares, ela é minha irmã. — ele brincou, tentando fazer com que o clima entre eles ficasse mais leve.
— Ela estava certa em fazer isso. — murmurou, fitando o chão. Não tinha coragem para encará-lo.
— Talvez. Mas você deveria ter conversado comigo, antes de decidir o que iria fazer...
— Você não deveria estar aqui. — ela o interrompeu, ainda achando que a decisão que tinha tomado era a certa. — Pedi para que você não me procurasse.
— E eu realmente achei que você estava falando sério. — contou enquanto seus dedos tocavam o queixo da garota. Queria poder olhá-la nos olhos. — Somente depois de ler aquela carta umas quinhentas vezes é que percebi que quem quer que fosse que a tivesse escrito, não era a que eu conhecia. Aquelas palavras não eram sinceras. Havia algo errado acontecendo. Foi então que conversei com Melanie.
— Eu fui horrível. Você deveria estar furioso comigo. Eu usei você... — ela contestou ao perceber que os olhos do rapaz expressavam apenas ternura.
— Você não fez isso. — ele afirmou categoricamente. — Eu estava furioso quando deixei aquela mensagem. Mas logo me arrependi. Aquilo que aconteceu comigo no passado não pode ser comparado à situação nenhuma. Você não pode ser comparar aquela garota. Você não é como ela. — disse de forma convicta, desejando que ela pudesse ver tudo isso.
— Ainda assim, acho melhor deixarmos as coisas do jeito que estão. — ela relutou, mas no fundo estava se odiando por ser tão covarde.
— Ao invés de me deixar uma carta, por que você não disse tudo aquilo pessoalmente? — ele mudou a abordagem, não estava disposto a perdê-la mais uma vez.
— Isso não vem ao caso. — ela resmungou, mas se odiou ainda mais por tê-lo feito.
— Não fuja novamente! — o repreendimento veio em forma de um sussurro.
Deus! Eu não fiz isso porque não consigo! Quero ficar com você, mas não sei como isso pode dar certo. Não vejo como minha vida pode se encaixar na sua. — ela desabafou enfim. — Fui embora porque sou apenas uma maldita idiota insegura.
— Costumam me dizer que eu sou um "maldito convencido". Acho que formamos uma bela dupla. — ele ergueu as sobrancelhas sugestivamente. Ficou aliviado ao ver o sorriso voltar para os lábios da sua garota. — Melanie quer lançar uma coleção de roupas usando meu nome. Não vou deixá-la fazer isso se você não fizer parte do projeto. Você é minha única garantia que meu nome não estará associado a uma coleção bizarra. Confio cegamente no seu senso de moda.
— Isso seria incrível! — ela exclamou, certa de que seus olhos deveriam estar brilhando de entusiasmo. — Mas não acho justo eu aceitar.
— Deixe de ser orgulhosa, . — ele a repreendeu novamente. — Continuo apostando minhas fichas em você!

Ela mordeu o lábio, pensativa. Observou o homem na sua frente com cuidado. Ainda não conseguia acreditar que alguém poderia ser tão belo quanto ele. E ele a queria. Estava ali lutando para que ela voltasse. Criando formas para que as coisas entre eles dessem certo, mesmo depois dela tê-lo magoado.

— Eu espero que você não se arrependa. — ela disse, dando a ele um sorriso que ia de orelha a orelha.

Sentiu uma mão escorregar para sua nuca e um corpo forte encontrar o seu. Soltou um suspiro feliz. Desejou que estivessem sozinhos naquele momento e não em uma festa. Estava sedenta. Morta de saudade. Lábios quentes roçaram os seus. Sentiu que seu corpo explodiria de desejo, só não soube se foi pelo toque ou pelas palavras sussurradas que ouviu.

— Sei que não vou.





Fim



Nota da autora: Minha primeira história no site! Acho que empolgação define o que estou sentindo. Pensei carinhosamente em cada detalhe dessa história e espero que ela tenha sido aprovada por vocês.





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