Última atualização: 20/11/2018

Capítulo 1


! Não! – Falei a minha filha, enquanto ela corria em direção à uma loja de brinquedos localizada dentro do Aeroporto Internacional de Birmingham. – Filha, a mamãe já pediu pra você não sair correndo assim! – Alcancei a garotinha e a peguei no colo, ajeitando ela em meus braços.
– Mãe, brinquedo! – apontou para a loja infantil à sua frente. – Por favor, mamãe!
– Nós vamos na loja, , mas você não pode mais correr assim! E se você se perde igual aconteceu no mercado? – Reprendi-a, enquanto ela me olhava com um biquinho nos lábios. – Vem, a mamãe vai comprar alguma coisa pra você brincar durante a viagem.
Caminhamos as duas em direção a loja, e, depois de muito insistir, conseguiu que eu lhe comprasse um livro de colorir e uma caixinha de lápis de cor. Quando finalmente nos dirigimos para a parte do aeroporto onde era a estação de trem, sentamos em frente ao portão de embarque do nosso trem em direção à Londres, e eu pude relaxar pela primeira vez no dia.
Faziam somente quatro meses que minha mãe, Angelina, havia falecido devido ao câncer. Então eu e ficamos sozinhas no mundo. Minha mãe era tudo que eu tinha e minha única família. Meu pai havia sumido, quando, aos dezoito anos, eu anunciei minha gravidez. Não que isso fosse ruim, já que meu pai era violento e passou a vida inteira batendo em mamãe e em mim. Quando engravidei, ele me xingou, culpou Angelina, e finalmente disse que iria sair de casa. Pela primeira vez em anos, eu e minha mãe estávamos livres daquele homem que infelizmente, era meu pai.
Como eu sempre digo a todos, minha filha não tem pai. E é verdade. é fruto de um estupro que sofri pelo meu ex-namorado. Na época, para fugir dos problemas de casa, eu saía – ficar em casa significava apanhar e ver minha mãe apanhando – e bebia muito. Em uma das muitas noites de festa, eu acabei me deixando levar e experimentei uma droga nova que estava rolando. Meu namorado na época, aproveitou-se disso para me abusar. Eu ainda era virgem. Como todas as garotas, eu imaginava minha primeira vez de modo romântico, com a pessoa que eu amasse. Mas não foi bem assim. E graças ao machismo presente no mundo, eu não obtive ajuda. Não tive coragem de falar sobre aquela noite, então simplesmente guardei para mim. Contudo, quando descobri que estava grávida, não tive outra escolha se não falar a verdade. E ninguém, com exceção de Angie, acreditou em mim quando contei que havia sido estuprada. Claro, quem iria acreditar em uma garota que escondeu algo assim, não é? E como eu havia usado drogas ilícitas, eu era culpada, e o homem que me estuprou, não havia feito nada de errado. Sinceramente, o machismo do mundo me enoja. Nunca me passou pela cabeça procurar meu estuprador para lhe falar da gravidez, e era melhor assim.
Foi em abril de 2014 que nasceu. E quando eu vi aqueles olhinhos azuis me encarando de volta, eu tive certeza de que minha vida estava completa, e que a razão para ser feliz estava ali, em meus braços, e eu não precisaria de homem algum para me ajudar a cria-la. Afinal, eu tinha mamãe. Era tudo que eu precisava no mundo.
Quando ela completou seis meses, resolvi começar a faculdade que sempre quis cursar: Design de Interiores. Com a ajuda de mamãe, consegui conciliar a maternidade com meus estudos. Eu cuidava de durante o dia, enquanto mamãe trabalhava, e a noite, eu ia à faculdade e mamãe cuidava dela. Durante quase dois anos, fomos apenas eu, e mamãe.
Claro que eu não contava com o fato de que mamãe adoeceria. Quando descobrimos o câncer, em janeiro de 2016, o médico disse que Angie tinha apenas seis meses de vida restantes, no máximo um ano. Tentamos alguns tratamentos, mas o câncer de mamãe já havia se espalhado e não havia nada a ser feito. Cerca de oito meses depois, em novembro, Angie faleceu e eu me vi sozinha com .
Foi então que decidi me mudar para Londres, para recomeçar e deixar para trás traumas que eu gostaria de esquecer. Vendi nossa casa, tranquei a faculdade e procurei um apartamento para alugar em Londres. Quatro meses depois, em março de 2017, estamos aqui aguardando nosso trem em direção a nossa nova vida. A partir daquele momento, eu soube que seríamos apenas eu e contra o mundo.
– Mamãe? – Ouvi minha pequena me chamar, me tirando de meus pensamentos. – Fila, mamãe. – Falou e apontou para a fila que já estava formada, para entrar no trem que nos levaria à Londres.
– Já temos que ir, ursinha. Guarda seu livro de colorir na mochila, por favor? – Me levantei e comecei a juntar nossas coisas. Peguei nossos documentos, passagens e pertences. já estava me esperando com sua mochilinha nas costas. – Vamos, filha?
Já dentro do trem, coloquei-a sentada na poltrona da janela. Em poucos minutos e ela já estava entretida com seu livrinho de colorir, enquanto eu apenas rezava mentalmente para que nenhum ser desagradável sentasse na mesma cabine que a nossa. Não me sentia confortável estando sozinha no mesmo ambiente que homens. Depois de tudo que aconteceu comigo, não me relacionei com mais ninguém e quero distância do sexo masculino. Meu medo era que todos fossem iguais. E, bom, na minha cabeça, eles eram.
Para meu alívio, foi um casal simpático entrou na cabine e se sentou nas poltronas a nossa frente. Os dois pareciam que haviam saído de um filme. A mulher, loira, alta, de olhos cor de mel, e ele moreno, um pouco mais alto que ela, com olhos azuis. Santo Deus, que homem lindo! Formavam um belo casal, isso era fato. Não iria ser ruim passar a viagem de pouco mais de uma hora com esses dois na minha frente. Trocamos cumprimentos simples e senti me cutucar.
– Mamãe?
– Diga, ursinha. – Respondi, levando minha mão até seu cabelo, acariciando-o.
Ela olhou para o casal a nossa frente como se me perguntasse quem eram e o que estavam fazendo em nossa cabine, e voltou seu olhar para mim, com o cenho franzido em confusão.
– Eles só vão viajar conosco até Londres, filha. Volte a pintar, amor. Por que você não pinta um desenho para que a mamãe guarde junto com os outros?
Ela assentiu e voltou sua atenção ao livro de colorir. era um pouco tímida, e não gostava de estar na presença de estranhos. Desde sempre ela foi assim, pois cresceu somente comigo e minha mãe. Não era acostumada com outras pessoas.
– Quantos anos ela tem? – A mulher a minha frente quebrou o silêncio e perguntou.
– Três anos. – Respondi a ela.
– Ela é uma bonequinha! Ah, perdão. Me chamo , e esse é meu namorado, . – A loira se apresentou e apontou para o homem ao seu lado, que abriu um sorriso simpático.
, prazer. Essa é , minha filha. – Apresentei-nos e retribuí o sorriso do casal. – O que leva vocês a Londres?
– Nós moramos lá, na verdade. Viemos a Birmingham visitar minha família. – falou pela primeira vez enquanto segurava a mão de sua namorada. – E vocês?
– Nós estamos de mudança. Vida nova e tal. – Sorri de lado, torcendo intimamente para que não perguntassem meus motivos.
– Só vocês duas? E o pai dela? – perguntou e vi a cutucar na cintura. A loira revirou os olhos para o homem. – Perdão, não precisa responder se não quiser. Às vezes sou um pouquinho curiosa. – A loira sorriu se desculpando.
– Tudo bem – sorri um pouco sem jeito e continuei –, e sim, somos só nós duas. Minha mãe faleceu e decidi que precisava recomeçar em outra cidade. – Respondi apenas o necessário, ignorando sua pergunta sobre o pai de .
– Sinto muito. – A mulher disse, a sinceridade transparecendo em sua voz. Ela abriu um sorriso e apontou para minha filha. – Ela dormiu.
estava adormecida com a cabeça encostada na janela do trem, com seu livro de colorir em seu colo, enquanto segurava seus lápis de cor na mão. Não pude evitar um sorriso ao observá-la, e, com cuidado, peguei seu livro de colorir e seus lápis de cor e guardei em sua mochilinha, aconchegando-a em mim em seguida.
– Acordei ela muito cedo para sairmos de casa. Quis pegar o primeiro trem para poder arrumar as coisas quando chegarmos.
– Irão morar em que região de Londres? – perguntou.
– Em Bloomsbury. Aluguei um apartamento para nós duas. – Respondi para o casal. – Só preciso encontrar um trabalho, única coisa que ainda não consegui.
– Nós moramos em Westminster, mas meu irmão mora em Bloomsbury. A empresa de também é por lá. – comentou e eu não pude deixar de me perguntar se seu irmão era tão bonito quanto ele.
– Você é formada, ? – perguntou a mim. – Aliás, quantos anos você tem?
– Eu fiz 2 anos e meio de Design de Interiores, mas tive que trancar quando minha mãe adoeceu. Faço 23 anos esse ano.
pegou sua bolsa ao seu lado e começou a procurar algo dentro dela. Assim que achou, ela me estendeu um cartão. Peguei-o de sua mão.
– É da empresa de Engenharia e Arquitetura do meu pai. Eu sou arquiteta, atrás tem meu numero pessoal. Mesmo não sendo formada ainda, posso te ajudar achar algo na sua área, nem que seja um estágio. – sorriu e eu não pude acreditar na minha sorte.
– Obrigada! Eu irei te ligar, com certeza. - Abri um sorriso sincero para ela, agradecendo-a em seguida.
Alguns minutos depois, uma voz avisou que já estávamos chegando a Londres. Acordei calmamente e ela me olhou com os olhinhos semiabertos.
– Já chegamos, mamãe?
– Sim, meu amor. Vamos para nossa nova casa? – Perguntei a minha filha, me levantando para ajeitar nossas coisas.
– Sim, pirilim! – Ela respondeu batendo palminhas, empolgada, mas logo se acalmou quando se lembrou de que não estávamos sozinhas.
Ri para ela e lhe dei um beijo na bochecha, recebendo um em seguida. Continuamos sentadas durante mais alguns momentos, enquanto esperávamos a parada total do trem.
, me ligue, sim? Estarei esperando sua ligação! – falou quando ela e se levantaram para sair da cabine. – Tchau, !
– Claro, é só o tempo de eu ajeitar as coisas em casa e te ligarei. Foi um prazer conhecer vocês! – Respondi aos dois, enquanto segurava minha filha pela mão, e ela se escondia atrás de minhas pernas.
– Tchau, . . – sorriu para nós duas e em seguida os dois saíram do trem.
Eu e seguimos direto para a área de desembarque a fim de pegar um taxi. Nossa mudança já havia vindo no dia anterior, de caminhão. Eu mantive alguns móveis e eletrodomésticos da nossa antiga casa e comprei somente o que realmente precisava. Eu tinha que economizar, não passávamos necessidades, nunca passamos. Porém, não tínhamos dinheiro de sobra. Era por isso que eu queria terminar minha faculdade, para conseguir um trabalho decente e proporcionar um futuro bom para .
Levamos cerca de vinte minutos para chegar ao nosso novo lar. Era um prédio pequeno, com 12 apartamentos, dois por andar, sendo de 6 andares. O nosso ficava no 3o andar e era composto por três quartos, dois banheiros, uma sala, cozinha e uma sacada pequena. Ótimo para nós duas.
Assim que saímos do elevador, eu peguei a chave do apartamento dentro de minha bolsa e coloquei-a na porta, abrindo-a em seguida. entrou devagar, olhando para todos os lados e explorando cada cantinho do novo apartamento. Eu havia pedido a empresa de transportes para que me indicasse alguém para montar os móveis, de modo que quando chegássemos já estivesse praticamente tudo instalado, somente faltando objetos pessoais e decoração.
, leve sua mochila para seu quarto, por favor! É a segunda porta do corredor! – Falei um pouco mais alto para que ela ouvisse, já que estava andando pela casa.
– Quarto só meu, mamãe? – apareceu correndo com os olhinhos brilhando.
Eu sorri, indo em sua direção e me abaixando para pega-la no colo. Ajeitei-a em meus braços e caminhei em direção ao seu quarto com ela. Quando entramos no cômodo, coloquei-a sentada em cima de sua cama.
– Sim, ursinha! O que achou? Agora você não precisa mais dormir com a mamãe e pode dormir no mesmo lugar que guardamos seus brinquedos! – Falei, enquanto a observava descer de sua cama, meio atrapalhada.
Ela andou pelo quarto, percorrendo cada cantinho com o olhar. Ainda faltavam suas roupas, brinquedos e algumas coisas mais. Porém, o quarto de era o único cômodo totalmente novo da casa. Em Birmingham, ela dormia comigo em meu quarto. Aqui, teria seu próprio.
– Mas e se eu ver o monstro? – Perguntou assim que parou em minha frente e curvou o canto dos lábios para baixo, fazendo um beicinho.
– Não vai ver, meu amor. Mas qualquer coisa, o quarto da mamãe é aqui do lado, e você pode me chamar qualquer hora! – Disse, me abaixando para ficar da sua altura. – Além do mais, você já é grandinha, nem quer mais dormir comigo, mesmo... – Fingi uma cara triste e ela gargalhou, jogando os braços ao redor do meu pescoço, me abraçando.
– Mamãe boba! Eu amo você! – Ela disse contra meu ombro ainda me abraçando.
– Eu também te amo, ursinha. Agora, vamos arrumar seu quarto e depois você ajuda a mamãe a arrumar o dela, pode ser? – Sugeri. Mal terminei de falar e ela começou a pular animadamente, batendo palminhas.
Passamos o dia inteiro na função de organizar nossa mudança. Arrumamos nossos quartos e minha filha acabou caindo no sono logo em seguida. Aproveitei para organizar a sala e a cozinha. No fim do dia, estava esgotada. Quando acordou, pedi uma pizza para nós duas jantarmos. Depois, tomamos um banho e fomos dormir, cada uma em seu novo quarto. dormiu sozinha pela primeira vez, e para minha surpresa, não foi ao meu quarto durante a noite. Cada vez mais eu tinha certeza de que essa mudança seria maravilhosa para nós duas.


Capítulo 2


Acordei eram 9h com o despertador que coloquei na noite anterior. Tomei uma ducha rápida e fui ao quarto de acordá-la. Iríamos tomar café da manhã em alguma cafeteria próxima de casa e depois faríamos visitas em algumas escolas para decidir a melhor, para que ela começasse a estudar o mais rápido possível. Quando terminei de me arrumar, já estava me esperando sentadinha no sofá da sala.
– Vamos te matricular em uma escolinha hoje, ursinha.
– Sério, mamãe? – Ela perguntou com os olhinhos brilhando. – Vou fazer amiguinhos!
– Vai sim, filha! Vamos? – Perguntei quando me aproximei e parei em sua frente, estendendo a mão para ela.
Ela colocou sua mãozinha na minha e se levantou. Andamos juntas e saímos do apartamento. Quando eu estava trancando a porta, ouvi alguns latidos vindo em nossa direção. Assim que me virei, estava de frente para um buldogue francês que pulava freneticamente ao redor dela, querendo brincar. Só então me dei conta de que, obviamente, o cachorro não estava sozinho. Levantei meu olhar e encontrei um par de olhos azuis me encarando com curiosidade.
, meu amor, não faz assim! – Reprendi minha filha quando ouvi ela dar uma gargalhada para o cachorro, que tinha a derrubado no chão e agora pulava e babava quase em cima dela.
– Bóris! – O homem a minha frente falou, puxando o cachorro pela guia, afastando-o de minha filha, que fez um biquinho triste na mesma hora. – Me desculpe, ele não tem educação alguma! Já paguei um adestrador, mas, sem sucesso. Ele sempre fica assim perto de crianças.
Abri um pequeno sorriso para ele e assenti. Peguei minha filha pela mão e segurei-a perto de mim. Ela ainda estava com um biquinho triste em seus lábios.
– Tudo bem, não é como se ela não estivesse se divertindo. – Respondi e logo depois me lembrei de me apresentar. – Sou . Essa é , minha filha.
. – O moreno me estendeu a mão para que eu a pegasse e assim o fiz, cumprimentando-o. – Moradoras novas? – perguntou e eu assenti. – Sejam bem-vindas! Eu moro aqui – apontou para a porta em frente à minha.
Oh, Deus, um vizinho gato. Muito gato. Acalme-se, , nenhum homem ao seu redor presta, lembra? São todos iguais. Abri um sorriso sem mostrar os dentes.
– Obrigada. – Olhei para , que fazia carinho na cabeça do cachorro, que surpreendentemente, estava quieto. – Vamos, ursinha? Precisamos tomar café ainda e temos muitas coisas para fazer. – Ela me olhou e balançou a cabeça em confirmação, e depois veio até mim, pegando em minha mão. – Bom te conhecer, .
– ouvi-o dizer e o olhei sem entender –, pode me chamar de . – Completou e sorriu em minha direção.
O homem piscou de um jeito totalmente irresistível para mim e se virou, entrando em seu apartamento com Bóris em seu encalço, fechando a porta em seguida.

xxx

Depois que e eu tomamos café em uma padaria próxima ao apartamento, seguimos para as escolas que tinham pelo bairro. Eu havia pesquisado um pouco sobre elas e defini que visitaríamos três. Não gostamos da primeira, logo de cara. Apesar de ser a mais próxima de casa, era muito grande e tinha alunos até o ensino médio. Eu queria algo menor e mais focado no ensino infantil. Seguimos para a segunda, e nem fomos para a terceira. A Sunshine School era perfeita. Pequena, mas não muito. adorou o parquinho e já conheceu sua professora e algumas das crianças que estudariam com ela. Fiz sua matrícula e minha filha já começaria amanhã mesmo. Ela não conseguia esconder sua empolgação.
Ao sairmos da escola, fomos ao mercado para que eu comprasse algumas coisas, já que não tínhamos nada em casa. Depois, aproveitei para passar em uma livraria para comprar o material escolar de . Almoçamos em um restaurante na rua mesmo e agora estávamos no parque na rua da frente de nosso prédio. Minha filha e eu caminhávamos, de mãos dadas, conversando sobre diversos assuntos.
– Mamãe, podíamos ter um cachorro! – Ela sugeriu e eu parei, olhando-a.
– De onde surgiu isso, ?
– O Bóris é muito fofo! – Ela falou, sua voz saindo mais alta por conta da empolgação.
ergueu suas mãos e colocou as uma em cada lado de seu rosto, apertando as próprias bochechas. Eu ri e balancei a cabeça.
– Fofo ele é, mas cachorros dão muito trabalho, filha. Quem sabe quando você crescer um pouco e puder ajudar a mamãe a limpar a bagunça dele, a gente pensa nisso, tudo bem? – Perguntei e me abaixei em sua frente, para ficar da altura dela.
– Mas eu já tenho três anos! – Ela levantou as duas mãos, mostrando dois dedos em uma mão e um em outra. Não reprimi uma risada. – Já cresci!
– Você já é quase uma mocinha. Mas vamos esperar mais um pouco. – Falei assim que me levantei, voltando a andar com ela em meu lado.
– Promete? – Ela me olhou e juntou os lábios em um biquinho adorável.
– Prometo que vamos pensar, ursinha.
Foi o suficiente para que ela abrisse um sorriso enorme, me fazendo sorrir também.
– Vamos para casa? Mamãe precisa ligar pra moça que conheceu no trem, lembra? – Ela fez que sim com a cabeça e seguimos para o outro lado da rua.
Assim que entramos em casa, correu para seu quarto, gritando algo sobre seu livro de colorir. Já eram quase 17h, um bom horário para ligar para a loira do trem. Peguei o cartão de dentro da minha bolsa e disquei o número que havia na parte de trás.
Alô. falou ao attender a ligação.
? É a , você me deu seu cartão no trem. – Falei, torcendo para que ela se lembrasse de mim.
Vai saber, né?
! Oi! – Sorri aliviada enquanto via voltar e sentar no chão da sala com seu livro de colorir e seus lápis de cor. – Tudo bem? Já arrumou a mudança?
– Tudo bem, e você? Já arrumei, sim. Tinha pouca coisa pra fazer, na verdade.
E a , como ‘tá?
– Tudo bem, também. Matriculei ela na escolinha hoje mais cedo. A Sunshine, conhece? – Me sentei no sofá.
Conheço, ! É uma ótima escola, meu sobrinho estuda lá. Ele adora.
– Fico mais tranquila. Eu ‘tô te ligando pra saber do emprego que você comentou... – Mencionei o emprego meio insegura, não queria parecer insistente, muito menos desesperada.
Claro, claro! Na verdade, por que não saímos para jantar agora a noite e conversamos melhor sobre isso?
– Por mim ‘tá ótimo. Só precisamos ir a um lugar que eu possa levar ... – Assim que falei isso, minha filha me olhou, curiosa por ter ouvido seu nome ser mencionado.
Fica tranquila, conheço um lugar ótimo! Esse é seu celular? – É, sim.
Vou salvar aqui e já te mando uma mensagem com o endereço. 19h ‘tá bom?
– Perfeito, . Até depois!
– Até, . Beijo!
Desliguei o celular e não pude deixar de sorrir, pensando que talvez eu e poderíamos ser amigas. Boas amigas.
– Mamãe, onde você pode ter que levar eu? – perguntou se enrolando nas palavras e eu gargalhei ao ouvi-la.
– Nós vamos jantar com a , a moça do trem! Tudo bem? – Ela fez que sim com a cabeça e se sentou no chão novamente, voltando sua atenção para seu livro.
Alguns minutos depois e eu senti meu celular vibrando. Era uma mensagem de com o endereço.
– Filha, vamos tomar um banho com a mamãe? – Me levantei do sofá e confirmou, fechando seu livro de colorir e se levantando também.
Estávamos indo em direção ao banheiro, quando a campainha tocou. Franzi o cenho, pois não conhecia ninguém no prédio, além do vizinho gato. Mas não poderia ser ele, poderia?
correu até a porta e ficou na ponta dos pés para girar a maçaneta. Abriu a porta, e sim, era ele. Fui até a minha filha e ela logo se escondeu atrás de mim.
? – Perguntei, um pouco surpresa por vê-lo em minha frente.
. – Corrigiu, abrindo um sorriso galanteador.
Tenho certeza que é com esse sorriso que ele conquista várias mulheres. Não que isso me interesse, claro.
– Trouxe uma torta, como sinal de boas vindas. – Ele me estendeu uma caixa e eu a peguei.
– É de chocolate? – Ouvi perguntar antes mesmo de eu pensar em agradecer.
riu e assentiu. Minha filha é uma chocólatra.
– Muito chocolate! – Ele falou e puxou minha mão, me fazendo olhar para ela.
– Não me olha com essa carinha, você não pode comer agora, vamos sair pra jantar, lembra? – Avisei e ela fez um bico ao me ouvir e cruzou os bracinhos, emburrada.
Ouvi rir e voltei minha atenção para ele.
– Obrigada, ...
. – Me interrompeu, corrigindo-me novamente.
– Obrigada, – dei ênfase no –, pela gentileza, mas não precisava.
– Faz muito tempo que esse apartamento ‘tá vazio, preciso ter uma relação amigável com minhas vizinhas de porta. – Ele sorriu e não pude deixar de fazer o mesmo. – Bom, já vou indo. Espero que gostem da torta. Costuma ser muito boa, mas se não estiver, me avise que reclamo na padaria onde comprei.
Eu ri de seu comentário e balancei a cabeça, assentindo para ele.
– Tenho certeza que vai estar boa. Obrigada, mais uma vez.
– Não foi nada. – Ele piscou e virou para ir ao seu apartamento, mas deu meia volta assim que ouviu a voz de .
– Bóris? – Ela perguntou, animada, com os olhinhos brilhando. Eu estranhei, pois minha filha não costumava falar com estranhos.
– Ele foi tomar banho, bonitinha. Quando ele estiver de volta e limpinho, eu te chamo pra você brincar com ele, tudo bem? Se sua mãe deixar, é claro – Ele respondeu e olhou para mim, sorrindo de lado.
Céus, que sorriso. Senti o olhar de sobre mim, como se me perguntasse se eu deixaria e dei de ombros.
– Por que não? – Sorri e peguei no colo. abriu um sorriso lindo e acenou para minha filha, que acenou de volta. Entrou em seu apartamento, e eu fiz o mesmo, fechando a porta do nosso em seguida.
– Banho? – Perguntei a ela e ela sorriu, confirmando. Levei a torta até a cozinha e fomos até o banheiro.

xxx

Eram 19h quando descemos do taxi em frente ao restaurante em que iríamos encontrar . Andei com até a porta e logo a vi, sentada em uma mesa no canto. Ali por perto, havia uma área infantil, com brinquedos para crianças. Sorri e nos aproximamos.
– Oi, ! – Cumprimentei assim que ela se levantou para me dar um beijinho na bochecha. se escondeu atrás de mim.
– Oi, ! Oi, ! – A loira sorriu e se abaixou, ficando da altura de minha filha. – Tudo bem com você?
não respondeu, e se encolheu mais ainda.
– Filha... – Eu reprendi, olhando-a. Ela abriu um sorriso tímido e logo voltou a se esconder.
– Você quer brincar, ? Tem um monte de brinquedos aqui do lado! – falou, apontando para a área infantil, e olhou para onde ela apontava.
– Mamãe? – Me perguntou, meio insegura.
Eu sorri para ela, incentivando-a. saiu de trás de mim e olhou para .
– Isso é um sim, é o máximo que você vai conseguir dela por hoje. – Falei e ri, enquanto me sentava a mesa.
– Já é o suficiente! – respondeu.
Ela se virou e foi até a área infantil, com em seu encalço. Vi se abaixar novamente e falar algo para minha filha, que somente balançou a cabeça e começou a brincar timidamente.
– Ela é uma graça! – Ela falou, assim que se voltou a mesa e se sentou em minha frente.
– Ela é muito tímida, sempre conviveu somente comigo e com minha mãe. Não tá acostumada. – Expliquei e assentiu.
– Tenho certeza que agora entrando na escolinha, isso vai melhorar. – falou e sorriu, chamando o garçom em seguida.
Este veio e nos trouxe dois cardápios. Pedi uma salada com carne e um suco para mim e , enquanto pediu um risoto.
– E então, o que tá achando de Londres? – Ela perguntou.
– tTô gostando, na verdade. As pessoas são mais receptivas do que eu achava que seriam. Você, meu vizinho... – Falei, me lembrando do episódio de mais cedo.
– Alguns londrinos costumam ser mais fechados, mas são só alguns. – Ela piscou e sorriu. – Vizinho, hm?
– É, um cara de no máximo trinta, que mora em frente ao meu apartamento. Acredita que ele apareceu com uma torta de chocolate na porta da minha casa hoje?
– Torta de chocolate? Um homem? – Ela riu e eu assenti. – Sinto te dizer, mas ou ele é gay ou só quer te levar pra cama.
– Mesmo sendo gay ou não, zero chances disso acontecer. – Respondi, fazendo uma careta e balançando a cabeça em negação.
No mesmo mento, nossas comidas chegaram. Fiz sinal para que viesse até a mesa e ela logo apareceu.
– Por que? Você é lésbica ou algo assim? – perguntou na maior naturalidade e eu quase cuspi minha comida.
me olhou com uma cara engraçada pela minha reação.
– O quê? Não! – Ri nervosa. – Digamos que eu apenas prefiro manter distância de homens, já que nenhum que passou pela minha vida prestou. – Dei de ombros, torcendo para que ela encerrasse o assunto.
Não encerrou.
– Ah, mas todas passamos por desilusões amorosas, . Isso é normal. Só não podemos desistir. – Ela sorriu e fez uma cara apaixonada. – Se eu tivesse desistido, não teria encontrado o .
– É muito mais do que uma desilusão, . Quem dera fosse somente um coração quebrado. – Falei enquanto cortava pedacinhos de carne para comer. – Você e o parecem feitos um para o outro.
Seus olhos brilharam e ela sorriu, enquanto limpava a boca em um guardanapo.
– E somos. Eu acho. – Deu uma risada. – e eu nos conhecemos desde os 16 anos. Nós dois engatamos um namoro falso pra fazer ciúmes nas pessoas em que gostávamos, vê se pode! Óbvio que acabamos nos envolvendo e foi com ele o meu primeiro beijo. Mas eu mudei de escola, comecei a namorar um garoto, e perdemos um pouco o contato. Quando entrei na faculdade, nos reencontramos e estamos juntos desde então.
– Quando é pra acontecer, né? A vida sempre da um jeitinho. – Eu sorri para ela e dei suco para tomar.
– Mamãe, posso brincar mais? – perguntou e eu assenti. Ela saiu correndo em direção aos brinquedos.
– Então, ... Vamos ao assunto principal do nosso encontro. – disse e eu sorri em expectativa. – Como eu disse, sou arquiteta. Eu não gosto de mexer com a parte de interiores, então pensei em te contratar como minha estagiária até você se formar, para então poder ser contratada como Designer. Topa?
, eu nem sei o que falar! Muito obrigada! É claro que eu topo! – Respondi sem conter minha animação e ela riu.
– Ótimo. Se você quiser, já pode começar amanhã mesmo. Como é estágio, é somente meio período. Você pode ir trabalhar quando a for para a escola a tarde. – Ela deu uma pausa e tomou um gole de seu suco. – Mas preciso que você volte para a faculdade o quanto antes. Eu posso até lhe indicar algumas babás, caso você precise, conheço algumas por causa do meu sobrinho.
– Eu não tenho palavras para agradecer, .
– Pode começar me chamando só de . – Ela falou e eu ri.
– Tudo bem, . Obrigada! Eu vou contatar a faculdade o mais cedo possível para dar entrada na transferência.
Ficamos mais algum tempo conversando e logo eu disse que precisava ir para casa, pois dormia cedo e já estava demonstrando sinais de sono. insistiu em nos dar uma carona até o prédio.

– Estão entregues, senhoritas. – sorriu quando parou o carro em frente ao prédio e destravou as portas para que saíssemos.
– Obrigada, mais uma vez. E até amanhã! – Me despedi dela dando um beijinho em seu rosto e abri a porta. Peguei no colo e ela murmurou um “tchau” baixinho.
Enquanto carregava minha filha quase adormecida em meu ombro, procurava minha chave dentro de minha bolsa para abrir a porta. Enquanto estava no corredor, ouvi uma porta sendo aberta atrás de mim e vi se despedindo de dois amigos que não vi o rosto. Assim que me viu, ele sorriu e eu sorri de volta. Finalmente achei a bendita chave e abri a porta de casa, murmurando um “boa noite” baixinho para meu vizinho antes de entrar no meu apartamento.
Levei até seu quarto e a vesti com seu pijama e deitei-a na cama, dando um beijo em sua testa e encostando a porta em seguida. Fui para o meu quarto, colocando uma camisola confortável e logo deitei. Com o pensamento de que as coisas estavam melhorando, logo adormeci tranquila, como há algum tempo não fazia.


Capítulo 3

Acordei com duas mãozinhas em meu rosto. Assim que abri os olhos, encontrei me encarando com um sorriso enorme no rosto.
– Acorda, mamãe adormecida! – Ela falou e eu sorri, me espreguiçando em seguida.
– Bom dia, ursinha! Acordou antes que a mamãe, hein? – Me sentei na cama e a coloquei sentada ao meu lado. – Hoje é seu primeiro dia na escolinha! – Sim, mamãe! – Ela sorriu empolgada e bateu palminhas.
Olhei para o relógio ao lado de minha cama e vi que já eram 10h.
– Por que você não vai brincar um pouco com seus brinquedos enquanto a mamãe toma um banho e faz o almoço pra gente? Se você se comportar, te dou um pedacinho da torta de chocolate de sobremesa!
– Torta de chocolate! – Ela gritou e levantou os bracinhos, logo saindo correndo do meu quarto e indo em direção ao dela para brincar.
Eu ri e levantei, arrumando minha cama. Tomei um banho rápido e logo já estava na cozinha finalizando nosso almoço.
, vem comer, amor! – Gritei para que ela me ouvisse de seu quarto.
Ela apareceu depois de alguns segundos, quando eu terminava de colocar os pratos na mesa. Coloquei ela sentada em uma cadeira ao meu lado e me sentei, servindo a nós duas em seguida.
– Não, ! Você tem que comer direitinho! – Falei, repreendendo-a por estar de boca fechada sem tocar na comida que havia em seu prato.
– Quero torta, mamãe. – Ela fez bico, e eu rolei os olhos, querendo matar .
– Se você não comer o que tem no seu prato, não vai ter torta pra você. – Ela desfez o bico e abriu a boca, finalmente comendo sua comida.
Alguns minutos depois, eu já estava lavando a louça e ela esperava ansiosa pela sua torta. Cortei um pedaço pequeno para dividirmos e dei uma colher para ela. Ela pegou um pedacinho com um pouco de dificuldade e levou a boca, mastigando e dando um sorriso satisfeito em seguida. Eu balancei a cabeça rindo de sua reação e comi um pedaço também. Céus! Precisava pedir ao onde ele comprou essa torta. Derretia na boca.
– Quero mais! – falou quando viu o prato vazio. Eu neguei com a cabeça.
– Agora chega, ursinha. Vamos trocar de roupa e colocar seu uniforme pra ir pra escolinha, sim?

xxx

Uma hora depois, estávamos em frente a porta de sua nova sala. Eu estava abaixada conversando com ela e ela me olhava assustada.
– E se não gostarem de mim? – Ela perguntou, fazendo bico.
Levei minhas mãos até o seu rosto e acariciei-o, sorrindo para ela.
– Isso é impossível, meu amor. Vai, vai fazer amiguinhos. A professora Emma já ‘tá te esperando e a mamãe vem te buscar mais tarde!
Ela olhou para a professora que a aguardava sorrindo na porta da sala e assentiu, pegando em minha mão novamente.
– Fica comigo, mamãe. – Pediu.
, ursinha, olha só. A professora Emma vai cuidar de você aqui, vai ficar tudo bem. Pode confiar nela. A mamãe vai vir te buscar e depois vamos pra casa! Enquanto isso você vai poder brincar com seus amiguinhos novos. Não era isso que você queria? Amiguinhos? – Perguntei e ela sorriu meio a contragosto, assentindo. – Então promete pra mamãe que vai se divertir.
Ela abriu um sorriso para mim e passou seus braços ao redor de meu pescoço, me abraçando. Vi sua professora se aproximar e se abaixar para ficar da altura de .
, vamos? As crianças já estão esperando pra te conhecer! – A professora Emma falou e a olhou, curiosa.
Depois de alguns segundos, ela finalmente pegou na mão que a professora estendia para ela e a seguiu, indo com ela para a sala. Porém, antes de entrar, minha filha me olhou e voltou correndo, abraçando minhas pernas em seguida.
– Vou ficar saudades, mamãe. Vem buscar eu logo. – Ela falou e eu sorri, passando a mão em sua cabeça.
– Até depois, ursinha. Te amo!
– Também te amo, mamãe.
E saiu em direção a sala, sem nem olhar pra trás novamente. A professora sorriu para mim e fechou a porta da classe. É, minha ursinha estava crescendo.
Logo após deixar em sua escola, fui direto para a empresa de , que ficava a poucas quadras dali. Quando cheguei, me apresentei à recepcionista, que prontamente me levou até a sala de , que ficava no segundo andar. Deu duas batidinhas na porta e abriu a mesma, fazendo sinal para que eu entrasse.
! – disse e se levantou de sua mesa, vindo em minha direção, me dando um beijinho na bochecha.
Sua sala tinha duas mesas, uma maior, que provavelmente era dela e ficava no meio da sala, e outra vazia, que ficava na outra parede, somente com alguns papéis e canetas em cima.
– Hey, ! Acabei de deixar na escola. – Fiz um biquinho triste e ela riu.
– E como foi? – Ela perguntou e voltou a se sentar em sua mesa, fazendo sinal para que eu sentasse em uma das cadeiras à sua frente.
– Ela fez um pouco de manha, mais ficou tudo bem. Pediu pra eu ir buscar ela logo. – R, mei lembrando do que ela tinha falado e sorriu para mim.
– Logo ela nem vai querer ir embora de lá.
– Não fala uma coisa dessas, ! – Pedi, enquanto ria e ela também.
– Então, o que achou? Essa aqui será sua sala de trabalho, aquela ali é sua mesa – apontou para a outra mesa –, e você será minha estagiária! Trabalhará das 13h até às 17:30, que é o horário que sai da escola. Tudo bem pra você?
– Perfeito, . Eu não poderia ter encontrado algo melhor. – Sorri sincera e ela fez o mesmo.
– Hoje vou te mostrar como funcionam as coisas aqui na construtora. Meu pai ‘tá viajando, se não eu já te apresentava pra ele hoje mesmo. – Ela deu de ombros e sorriu. – Vamos começar?

xxx

Eram 17:35 quando eu entrei na Sunshine School. Caminhei pelos corredores até a sala de . Quando cheguei na porta, a professora sorriu e veio em minha direção. estava em uma mesa com mais três crianças, conversando.
– Ei. Como ela passou o dia? – Perguntei à professora de .
– Muito bem! Ficou bem quietinha no início, mas logo fez amizade com as outras crianças que sentam na mesma mesa que ela.
– Fico aliviada! Muito obrigada! Somos só e eu, ela não é acostumada com mais ninguém.
– Isso logo muda, . Fique tranquila.
Nesse momento, me viu e abriu um sorriso enorme. Antes de pegar sua mochila, a vi falar algo para seus colegas e todos acenaram para ela. E então, veio correndo em minha direção.
– Mamãe! Fiz amiguinhos! – Apontou para a mesa onde estava antes e todas as crianças nos olhavam, curiosas. Eu sorri para ela.
– Fico muito feliz, ursinha! Agora vamos pra casa e amanhã você volta, tudo bem? - Perguntei e ela assentiu e pegou em minha mão.
– Tchau, professora Emma! – Falou acenando para ela, enquanto já andávamos em direção a saída.
Voltamos andando para casa, com tagarelando sem parar me contando tudo que fez na escola. Quando estávamos quase chegando em frente ao prédio, estava saindo com Bóris. largou minha mão e foi correndo na direção dos dois.
– Bóris! – Falou já em frente ao cachorro, que agora pulava animado, sendo segurado pelo dono.
Eu me aproximei e logo sorriu para mim.
– Olá, . Estamos indo dar uma caminhada.
– Oi . – Ele fez uma cara feia quando me ouviu chamando-o de e eu ignorei. – , amor – eu falei e virei para ela, que ria enquanto Bóris lambia sua bochecha –, vamos subir? Você tem que fazer lição de casa e precisamos te dar um banho.
– Quero brincar, mamãe! – Pediu, enquanto acalmava Bóris e o fazia ficar sentado. – Por favorzinho! – Ela juntou as mãos em frente ao rosto, pedindo por favor. Eu rolei os olhos.
, não vai ficar aqui. Eles estavam saindo.
– Na verdade, eu posso ficar no parque com vocês – deu de ombros –, não é como se Bóris já não tivesse caminhado hoje.
Eu o olhei, surpresa pela sua proposta. Virei meu olhar para e ela já sorria, animada, parada ao lado de Bóris, que tinha a língua para fora. Ergui os ombros, me dando por vencida e concordei com a cabeça.
– Tudo bem. Mas dá a mão pra mamãe pra atravessar a rua.
Ela pegou minha mão e atravessamos a rua, logo chegando ao parque. Fomos em direção a um banco e eu me sentei ali.
soltou a coleira de Bóris e ele correu em direção a , que corria dele gargalhando alto, com observando os dois de perto.
O que esse homem tem que não me faz sentir medo dele? Por que eu não sinto vontade de evitar sua presença? E principalmente, por que parece se sentir à vontade com ele?
Alguém se sentou ao meu lado e logo me dei conta de que era ele, sentando-se no banco comigo. Sorri brevemente e voltei minha atenção para e Bóris, que agora rolava na grama enquanto minha filha fazia cócegas em sua barriga.
– Parece que ele vai ter que tomar outro banho. – Eu falei, vendo o cachorro ficar cada vez mais sujo conforme se virava na grama. Ouvi rir.
– Não tem problema. Eu costumo dar banho nele em casa, ontem o levei no petshop pois ele precisava tomar vacina também.
– Ele é adorável. me pediu um cachorro ontem mesmo depois de conhecê-lo. – Comentei e ele me olhou. – É claro que eu disse que não, ela ainda é muito nova e dá muito trabalho cuidar de um cachorro e dela.
– Bóris é muito agitado, ainda tem 1 ano, tem muita energia. Já destruiu alguns móveis meus, mas eu não me arrependo de nada. Ele traz alegria pra dentro de casa. – falou e eu sorri, concordando. – Já pensou em um gato? Eles são mais independentes. Eu tenho um também.
– Você tem um cachorro e um gato dentro do seu apartamento? – Perguntei surpresa e ele riu, fazendo que sim com a cabeça. – Céus, você é louco.
– Ah, qual é? Eu moro sozinho, antes mesmo de pegar o Bóris eu já tinha a Léia. Ela ‘tá comigo desde que... – ele engoliu em seco, desviando o olhar e eu levantei as sobrancelhas, curiosa. – Ela ‘tá comigo faz tempo. – Finalizou.
Me vi com vontade de saber qual seria o resto de sua frase, mas me mantive quieta. Sabia como era chato falar sobre algo que não queríamos, então resolvi continuar a conversa ignorando essa parte.
nunca demonstrou interesse por gatos. Não me lembro dela já ter conhecido algum. Mas é algo a se pensar. – Dei de ombros e ele sorriu.
– Se você quiser, podem conhecer a Léia a qualquer momento. Só me avisar. – Ele piscou e voltou sua atenção a Bóris e , que corriam em nossa direção.
precisava urgentemente parar de dar essas piscadas. Elas estavam começando a me instigar. De um jeito bom, mas estavam. E eu não me sentia confortável com isso.
– Cansou, ursinha? Vamos subir? – Ela assentiu e eu me levantei.
fez o mesmo, colocando a coleira em Bóris novamente, enquanto o cachorro respirava ofegante.
– Acho que vou te chamar pra brincar com ele mais vezes, . Se ele ficar cansado assim toda vez, quem sabe não destrua as coisas em casa. – Ele riu e deu uma risada sapeca.
– Eu quero! – Respondeu animada e eu sorri. Ela se sentia à vontade, e isso era bom.
– Então, vamos? A senhorita precisa de um banho e eu tenho algumas coisas do trabalho pra resolver. – Ela pegou em minha mão e seguimos para o outro lado da rua, Bóris e vinham logo atrás.
Pegamos o elevador juntos, conversando sobre coisas sem importância, até o momento em que achou uma boa idéia comentar sobre Léia com , que deu um gritinho animado e um pulinho, como nunca a vi fazer antes.
Eu ia perder minha filha para meu vizinho gato e seus bichos de estimação.
Já estávamos em casa, ambas de banho tomado e já havíamos jantado. havia feito sua tarefa de casa, que era somente desenhar algo novo que conheceu nos últimos dias. Ela desenhou Bóris. Ou um borrão parecido com ele. Agora, ela estava sentada no tapete da sala com vários brinquedos, enquanto eu estava no sofá com meu notebook trabalhando em um projeto. Ouvi meu celular apitar avisando que uma nova mensagem tinha chego e o peguei para ler a mesma:

! Vem aqui em casa na sexta-feira. O que acha de um churrasco? chamou alguns amigos e eu pensei em chamar você e . Minha irmã vem com meu sobrinho, eles podem brincar juntos. Você vai adorar minha irmã. O que acha? xx”

Sorri para o celular e respondi logo em seguida, dizendo que iríamos com certeza. Estava feliz com seu convite. Sair seria bom para mim, uma vez que não mantinha uma vida social decente desde que havia nascido. Simplesmente não via necessidade. Com mamãe falecendo, me vi sozinha. Fazer amigos não seria uma má ideia.
Pouco tempo depois coloquei na cama e voltei até a sala para finalizar um projeto pequeno que havia me passado. Estava feliz. Trabalhando na área que eu gosto, fazendo amizades e estava finalmente se soltando. Tudo estava mais do que bem.


Capítulo 4

Eram 19h e alguns minutos quando descemos do taxi em frente à casa de . Ela havia me passado o endereço mais cedo no trabalho. Era uma casa grande, branca, com uma arquitetura moderna e alguns detalhes em marrom. e eu nos aproximamos da porta e ela mesma apertou no botão da campainha. A porta não demorou a se abrir e esboçou um sorriso imenso ao nos ver.
! ! – Ela me cumprimentou com um beijinho e se abaixou para abraçar , que ficou parada e apenas sorriu.
– Oi, . Obrigada pelo convite, sua casa é linda! – Falei em quanto me abaixava para pegar minha filha no colo. – Ursinha, da um beijo na tia . Ela que nos convidou para vir aqui hoje. Por favor?
me olhou e fez um biquinho. sorriu e se esticou, aproximando-se dela. Minha filha fez um bico com os lábios e encostou-os na bochecha a loira, dando um beijinho estalado nela.
, tem alguém aqui que quero que você conheça! – falou, e eu logo vi outra loira se aproximando de nós três com um menininho em seu encalço.
se mexeu em meu colo e eu a coloquei no chão. Ela saiu correndo em direção ao menininho.
– Nicholas!!! – disse e abraçou o garotinho, que a abraçou de volta.
Eu, e a outra mulher que eu ainda não sabia o nome, observávamos a cena confusas. Nicholas e estavam de mãos dadas e ela me olhava sorrindo.
– Mamãe, Nicholas é meu amiguinho da escola! – Falou feliz, com um sorriso enorme no rosto.
– A gente senta na mesa juntos! – Nicholas falou.
– Quem diria que isso ia acontecer? – falou, rindo, enquanto a loira se aproximava de nós. – , essa é minha irmã, Anne, mãe do Nicholas. – Apresentou-a.
– Nicholas falou que tinha uma amiguinha nova na escola, mas eu nunca ia imaginar que era a tal que tinha comentado. – Ela sorriu em minha direção e nós três começamos a andar em direção a parte de trás da casa.
Era um gramado grande, com uma edícula com churrasqueira ao fundo, onde haviam mais algumas pessoas que eu ainda não conhecia. Tinha também uma piscina e um jardim. Nicholas e já estavam correndo de mãos dadas pelo gramado, indo em direção à uma casinha de brinquedos que havia por ali. Eu, e Anne logo chegamos a edícula.
– Amor, olha quem chegou! – Ouvi falar e veio em nossa direção.
! – Ele me cumprimentou com um abraço e eu fiquei um pouco surpresa, afinal tínhamos nos visto apenas uma vez. – Que bom que você veio. Vejo que já ‘tá mais que à vontade. – Ele riu, apontando com a cabeça para o lugar onde as crianças brincavam. Eu sorri, concordando.
– Oi, . Eles se conhecem da escolinha, pelo visto.
Logo vi outro homem se aproximar e abraçar Anne por trás. Ela sorriu para ele e ele deu um selinho nela.
– Prazer, sou Mark, marido de Anne. – Ele estendeu a mão simpático e eu o cumprimentei, sorrindo.
– Sou . – Sorri para ele e logo me puxou para me apresentar a outras pessoas.
Conheci sua mãe, Louise, muito simpática. Seu pai ainda não havia voltado de viagem. Conheci também outros amigos de e logo nos sentamos em uma mesa só de mulheres, eu, , Anne e Louise. Engatamos um papo sobre a escola das crianças até nos interromper.
– Desculpa atrapalhar, meninas. , você pode ligar para meu irmão? Já era praquele panaca estar aqui. A carne já ‘tá quase pronta.
No momento em que pegava seu celular para ligar, a campainha tocou. Ela levantou e saiu em direção a casa para atender a porta. veio em minha direção com Nicholas em seu encalço.
– Mamãe! Nicholas e eu queremos entrar na piscina! – Os dois estavam parados em frente a mim e Anne, com carinhas quase impossíveis de se dizer não. Eu disse quase.
– Meu amor, agora já ‘tá de noite e você não tem outra roupa. Não quero que você fique gripada. – Ela fez bico e cruzou os bracinhos. Nicholas fez o mesmo.
– Nicholas, por que você não convida sua amiguinha para vir passar a tarde aqui no domingo e daí vocês podem entrar na piscina? – Anne falou e Nicholas se virou para , empolgado.
– Você quer vir na piscina domingo? – Ele perguntou a e os dois olharam para mim. Não tive como negar. – Tudo bem, a gente vem, ok? – Os dois gritaram e saíram correndo felizes de volta para seus brinquedos.
Eu e Anne rimos da empolgação de nossos pequenos e logo voltou, acompanhada de um homem muito bonito, com os olhos azuis iguais ao de . Espera aí...
? – Ele falou, surpreso, quando se aproximou da nossa mesa.
Eu sorri sem acreditar e me levantei para cumprimenta-lo, Anne e Louise fizeram o mesmo.
. – Cumprimentei-o e ele sorriu sem jeito.
– Vocês já se conhecem? – perguntou, confusa.
– Somos vizinhos de porta. – Respondi para ela e ela me olhou com um sorriso cheio de segundas intenções.
Revirei os olhos.
– Tio ! – apareceu correndo em direção a .
Observei minha filha, confusa e surpresa. Tio? O que eu havia perdido?
– Oi, ! – Ele falou, se abaixando para que minha filha o abraçasse e assim ela o fez.
Enquanto eu observava a cena embasbacada, falou baixinho para que só eu ouvisse:
– Ele não é gay. E porque a gosta mais dele do que de mim?
Eu ri alto de seu comentário e fiz sinal com a mão, deixando claro que também não sabia.
– Talvez porque ele tem animais de estimação e ela os ama. – Dei de ombros e sorriu para nós, afastando-se para ir se juntar aos outros homens.
Nos sentamos na mesa novamente com em meu colo e Nicholas no colo de Anne.
, é irmão mais velho de comentou.
– E solteiro, se me permite dizer. – Louise falou e arrancou risadas das filhas enquanto eu ficava sem jeito.
– Não tenho interesse, Louise. Mas obrigada pela informação! – Respondi sorrindo e Anne e Louise me olharam surpresas.
– Não, mãe, ela não é lésbica. – disse e sua mãe a olhou feio. – O que foi? Eu já perguntei. – Deu de ombros e eu e Anne rimos.
– Mas por que não, ? – Anne questionou.
Respirei fundo e olhei para e Nicholas sentados em nossos colos. Elas entenderam que eu não queria falar disso naquele momento com as crianças ali, e para minha sorte, apareceu e anunciou que a comida estava pronta. Comemos enquanto conversávamos sobre diversos assuntos. e Nicholas haviam voltado a brincar e logo o assunto voltou para mim.
– Então, ? Vai nos contar? – Anne perguntou e eu sorri, nervosa.
Nunca tinha falado sobre meu passado com ninguém além de minha mãe e uma psicóloga, na época da gravidez. Ninguém sabia sobre meu pai. Ninguém sabia sobre meu ex namorado. Respirei fundo algumas vezes e me olhou, entendendo o que estava acontecendo.
– Mãe, Anne... Vamos deixar a falar sobre isso quando ela se sentir à vontade, por favor? – As duas deram de ombros e assentiram.
Eu agradeci com o olhar e sussurrei um “obrigada”. Logo Louise voltou a falar:
– De qualquer maneira, podemos falar de . – Ela comentou baixinho e todas rimos.
– Mãe, a senhora não tem jeito mesmo! – Anne falou.
Algum tempo depois, e Nicholas vieram em nossa direção. Nicholas disse a mãe que estava com sono e Anne e Mark decidiram ir embora, não sem antes firmarem o convite para uma tarde de piscina domingo na casa de mesmo. Agora estávamos eu, , e sentados na edícula. Louise já havia ido para casa e estava adormecida em meus braços.
– Bom, eu acho que já vou também. – Falei, apontando para e me levantando, com cuidado para não acordá-la.
Os três se levantaram logo depois de mim. Eu fui mais a frente com enquanto e estavam mais atrás.
– Desculpa pela minha mãe e minha irmã. Curiosidade é de família. – sorriu sem jeito e eu retribui.
– Não tem problema algum. Eu só... – fiz uma pausa e espirei fundo – Eu nunca falei sobre isso com ninguém. Quando eu me sentir bem, eu te conto. Prometo.
- Tudo bem. - respondeu simplesmente.
– Chama um táxi pra mim? – Pedi a ela quando chegamos à porta.
– Táxi? – Ouvi falar, se aproximando com .
– É, eu não tenho carro. ? – Ela assentiu, pegando seu celular, mas logo a interrompeu:
– Eu te levo, .
me olhou me incentivando e fiquei sem saber o que fazer. Não acreditava que era ruim, porém ficar em um carro fechado sozinha com ele não me agradava.
– Eu não quero atrapalhar... – Falei, meio sem jeito com o convite.
– Somos vizinhos, não é trabalho algum. Além do mais, pode ir dormindo tranquila no banco de trás, eu tenho cadeirinha. – Ele respondeu.
Pensei em questionar o porque de ele ter uma cadeirinha de criança em seu carro, mas achei melhor não. Por fim, acabei concordando com a cabeça e sorriu, satisfeita.
abriu a porta para que saíssemos.
– Aparece aqui de tarde domingo também, cara. – falou, enquanto se despedia de . – Traz cerveja! – Falou mais alto enquanto já se afastava e obteve um dedo do meio como resposta do irmão.
– Tchau, amiga. – disse e eu sorri ao ouvi-la me chamar de amiga. – Até amanhã! - Dei um beijinho nela e saí em direção ao carro de .
Ele já havia aberto a porta de trás e eu coloquei na cadeirinha. passou o cinto por ela e logo fechou a porta. Abriu a porta para mim e eu sorri em agradecimento, entrando e colocando o cinto. Logo ele já se sentava no banco do motorista e dava partida no carro. Eu estava um pouco sem jeito de começar uma conversa, então permaneci olhando pela janela, observando as ruas conforme o carro andava.
– Não sabia que conhecia . – Ele comentou, me fazendo olhar para ele.
– Nos conhecemos no trem de Birmingham pra cá. – Respondi e ele me olhou por um instante, surpreso, logo voltando sua atenção ao trânsito.
– Birmingham? Sério? Minha família...
– Sua família é de lá – sorri, interrompendo-o. – Eu sei, comentou.
– Vocês moravam lá? – Ele questionou e eu confirmei, balançando a cabeça.
– Sim. Nasci e cresci lá. – Sorri para ele.
– Por que resolveu se mudar?
– Não tinha mais nada pra mim por lá. – Respondi apenas, e ele assentiu, entendendo que eu não queria mais falar sobre isso.
Voltamos ao silêncio de antes e eu observava novamente as ruas, às vezes notando o olhar de sobre mim. Isso me deixava um pouco sem graça, pois eu não estava completamente confortável naquela situação. Apesar de nunca ter demonstrado algum comportamento estranho, eu mal o conhecia. E algo me dizia que ele era muito mais do que esse cara simpático que demonstrava ser. Ele me instigava a querer saber mais, a querer conhecê-lo melhor, ao mesmo tempo que a voz da razão me pedia para manter distância. E era ela que eu sempre costumava ouvir.
– Chegamos. – Ouvi sua voz anunciar assim que estacionou o carro na garagem do prédio e saiu do mesmo.
Eu saí do carro atrás dele e ele abriu a porta do banco de trás onde minha filha estava. Porém, antes mesmo de eu pensar em pegar , já estava aconchegando ela em seus braços.
– Fecha a porta, por favor? – Ele pediu, enquanto andava devagar em direção ao elevador. Fechei a porta do carro e fui andando atrás dele, surpresa demais para dizer qualquer coisa. Entramos no elevador e eu apertei o botão do nosso andar.
– Hm, ? Deixa que eu carrego . Você não ‘tá acostumado, ela é pesada. – Falei e quis me dar um tapa na testa.
O peso de não era nada para ele, , sua anta! Ele riu baixinho e negou com a cabeça:
– Não se preocupe, . E quando é que você vai começar a me chamar de ?
Eu sorri sem jeito e dei de ombros. O elevador se abriu e andamos em silencio até a porta de meu apartamento. Destranquei-a e me virei para pegar de seus braços, mas ele negou com a cabeça mais uma vez.
– Deixa que eu levo ela. Só me mostra onde fica o quarto.
Assenti e entrei em casa com ele atrás de mim. Fui até o quarto de e arrumei sua cama, apontando para a mesma. depositou ela ali com calma, cobrindo ela em seguida. Por último, deu um beijinho em sua testa. Não pude conter um sorriso, enquanto observava a cena, me perguntando se aquele homem era mesmo real. Quando me dei conta, ele estava me encarando curioso.
– O que foi?
– Nada – dei de ombros. – Você tem jeito com crianças.
Ele deu um sorriso triste e no mesmo instante o brilho sumiu de seus olhos. Passou por mim e saiu do quarto, e eu fui atrás. Quando já estávamos na porta do apartamento, resolvi quebrar o silêncio:
– Obrigada pela carona.
– Quer carona domingo?
Falamos os dois ao mesmo tempo e acabamos rindo.
– Aceito a carona. Obrigada, . – Falei e ele revirou os olhos de novo.
– Boa noite, . – Ele se aproximou um pouco de mim e beijou minha bochecha.
Fiquei em choque e nem tive tempo de responder, já que no segundo seguinte ele já havia entrado em seu apartamento e fechado a porta. E eu fiquei ali, me perguntando o que aquele homem tinha que me fazia baixar a guarda desse jeito.


Capítulo 5

Na manhã de domingo, eu acordei no susto, com meu celular tocando. Assim que o peguei, ele parou de tocar. Aproveitei e verifiquei as horas. Eram 10h30. Nem dez segundos depois, o celular tocou novamente.
– Alô? – Atendi, ainda meio sonolenta, e acho que percebeu.
– Não me diga que eu te acordei?
– Não digo. – Respondi e ela riu. Levantei da cama, indo até o quarto de .
– Então, bom dia, amiga! – Ela falou – ‘Tô ligando pra confirmar se você e vêm mesmo hoje a tarde.
estava sentadinha no chão de seu quarto brincando com seus blocos de montar. Quando me viu, se levantou e veio me abraçar. Sorri para ela e fiz carinho em sua cabeça.
– Nós vamos sim. já ofereceu carona – falei, enquanto abraçava e ela me olhava curiosa e perguntava “quem é, mamãe?”. – É a tia , ursinha. Quer falar com ela? – Ela negou com a cabeça e eu ri.
Hm, já combinou a carona, é? – Ela riu e continuou – Óbvio que ela não vai querer falar comigo, ela ainda não gosta de mim. Diz pra ela que eu tenho um presente pra ela hoje!
, você não vai mimar minha filha!
Ah , deixa de ser assim. Só um presentinho pra ver se ela começa a gostar de mim, já que eu não tenho animais de estimação pra conquistar ela. – Acabei por rir de seu comentário.
– Tudo bem, mas só um presente. – me olhou novamente quando ouviu a palavra presente. – Ela já entendeu que o presente é pra ela. – Comentei com e revirei os olhos. riu, feliz.
Espero vocês aqui as 15h. Traz biquíni também. E aproveita sua carona, depois te conto mais sobre o . – Juro que pude ouvir o tom de malícia em sua voz.
! – Reprendi, ouvindo a rir na linha. – O que te faz pensar que eu quero saber mais sobre ele? – Questionei.
Seu olhar, , seu olhar! – Ela riu e eu não pude conter uma careta.
Eu não era tão transparente assim, era? E eu não estava interessada em .
– Até depois, amiga. se despediu.
– Até depois, . Beijo! – Desliguei o celular e soltei-o em cima da cama de minha filha. – Bom dia, ursinha! Acordou faz tempo?
negou com a cabeça, sem tirar os olhos de seus brinquedos.
– Mamãe vai começar a fazer o almoço pra gente, tudo bem?
– Quero macarrão. – Ela pediu.
– Vou fazer macarrão com carninha, do jeito que você gosta. – sorriu agradecida e veio até mim, me dando um beijinho na bochecha.
Ela se virou e foi sentar no chão novamente, voltando sua atenção para seus brinquedos. Saí de seu quarto e caminhei em direção a cozinha para preparar o almoço.

xxx

Eram 13h, já tínhamos almoçado e eu já havia arrumado nossas coisas para irmos a casa de mais tarde. Estávamos as duas sentadas no sofá da sala. estava deitada em meu colo assistindo desenho na TV, enquanto eu fazia carinho eu seu cabelo castanho.
– Mãe?
– Oi, amor. Diga.
– Eu não tenho papai? – Ela perguntou, me olhando.
Fiquei chocada com sua pergunta. Eu nunca havia conversado sobre isso com , meu amor. A mamãe teve você sozinha. Você lembra da vovó? – Ela assentiu, seus olhos fixos em mim, prestando atenção em minhas palavras. – Algumas pessoas tem a ajuda de um homem pra cuidar de seus filhos, que é o caso da mamãe e do papai do Nick. Outras, cuidam sozinhos. E algumas, como eu, tem ajuda da vovó. – Ela fez uma cara confusa e eu percebi que não estava sendo clara. – Mamãe não fez você sozinha, mas fui eu quem te cuidou, desde que você nasceu.
– Meu papai não me quis? – Ela perguntou, triste.
– Você não tem um papai, amor – fiz carinho em sua cabeça quando a vi abaixar o olhar, triste. – O que a mamãe quer que você entenda, é que algumas pessoas têm só mamãe. Você entende isso? – Ela fez que sim com a cabeça e eu continuei - Mamãe sempre cuidou de você sozinha, desde que descobri que ia ter você. Somos só nós duas. Tinha a vovó também, mas ela foi morar no céu – fez um biquinho, triste –, consegue entender? – Ela permaneceu quietinha e eu percebi que estava exigindo demais de uma criança de três anos. – O que importa é que você tem uma mamãe que te ama muito, e cuida de você, do mesmo jeito um papai também cuidaria. Você não acha?
Ela levantou a cabeça em minha direção e balançou-a, concordando. Sua boca se abriu em um sorriso pequeno.
– Eu te amo muito, mamãe. – Declarou a mim e eu sorri, meus olhos se enchendo de lágrimas no mesmo momento.
– Eu também te amo, ursinha. Somos só nós duas contra o mundo, lembra? – Perguntei, citando a frase que sempre digo a ela.
– Nós duas contra o mundo! – Repetiu sorrindo e jogou seus braços ao redor de mim, me abraçando.
Soltei um suspiro baixinho e sorri, abraçando-a de volta e acariciando seus cabelos, aliviada por esse momento ter acabado. Ficamos abraçadas até o barulho da campainha soar e fazer com que nós duas nos separássemos. Ela me olhou em interrogação e eu coloquei a sentada no sofá antes de me levantar e ir até a porta.
? – Exclamei, surpresa ao ver em minha frente.
logo veio e parou ao meu lado, sorrindo.
– Vim convidar vocês para conhecerem minha casa antes de irmos pra casa de . – Ele sorriu de lado. – O que você acha de conhecer a Léia, minha gatinha, ?
Ele não precisou falar mais nada. Antes mesmo de eu pensar em aceitar o convite, saiu correndo para seu quarto. Alguns segundos depois, voltou com seus sapatinhos na mão e começou a tentar calçá-los, apoiando-se em mim.
– Acho que ela respondeu por mim, né? – Falei para e dei de ombros, rindo.
Me abaixei para ajudar a calçar seus sapatos e quando terminei, ela imediatamente segurou a mão de , pronta para ir.
– Vamos, mamãe! – falou, empolgada, pedindo para que eu me apressasse.
Eu e rimos e ele me olhou. Eu assenti fazendo sinal para que eles fossem em minha frente. Voltei para dentro do apartamento só para pegar minhas coisas e as de e logo saí, trancando a porta atrás de mim.
Quando entrei no apartamento de meu vizinho, percebi que seu apartamento era idêntico ao meu, só mudava a decoração. Minha filha e ele estavam sentados no chão da sala, com a gatinha, Léia, no colo dele. Bóris estava deitado dormindo no canto do sofá. Sorri com a cena e, resolvendo observar mais o apartamento de , me virei e me aproximei de uma prateleira que estava encostada em uma parede.
Me pus a olhar as fotos que tinham por ali. Havia uma de com e um casal mais velho, que julguei serem seus pais. com e . vestido com um jaleco e um estetoscópio. Ele era médico? Fiz uma nota mental para me lembrar de perguntar depois. estava certa, eu realmente queria saber mais sobre . Minha atenção logo se desviou para uma foto onde ele estava sorrindo, abraçado a uma mulher ruiva de olhos azuis e uma menininha também ruiva, que julguei ter dois anos de idade. Pareciam felizes.
– Minha esposa. E minha filha. – Eu o ouvi dizer.
Nem mesmo havia percebido que ele tinha se aproximado de mim, e agora ele estava ao meu lado. Não contive a surpresa quando o ouvi falar e o olhei com as sobrancelhas arqueadas. Seu olhar era triste, e por um momento, pensei que ele pudesse ter tanta bagagem emocional quanto eu.
– Elas são lindas. – Disse a ele, sincera.
Aí estava o defeito de . Ele era casado. Ou estava separado? Não sei. Resolvi não perguntar e encerrar o assunto. Me virei e vi com Léia no colo, fazendo carinho em sua cabeça. seguiu meu olhar e abriu um sorriso.
– Ela tem muito jeito com os animais. Léia não costuma dar muita abertura.
– Eu tô pensando seriamente em adotar um gatinho pra ela. Faz bem crescer na companhia de animais. – Comentei e ele me olhou, balançando a cabeça e sorrindo.
– Vai fazer bem pra ela, com certeza. – Respondeu, virando-se de frente para mim. – Você quer beber algo? Uma água, um suco? Tenho cerveja também, se preferir.
– Aceito uma água – me virei para . – Quer um suco, ursinha? – Ela fez que sim com a cabeça. – Obrigada, .
– Vou pegar, fica à vontade. – Ele piscou e foi em direção a cozinha.
Eu ignorei sua piscada e me sentei no sofá ao lado de Bóris, que levantou sua cabeça para me olhar. Levei minha mão até sua cabeça e acariciei-o, recebendo uma lambida em minha mão como forma de agradecimento. levantou Léia em minha direção, meio sem jeito e eu ri, pegando a gata e sentando-a em meu colo. Ela ficou em pé por alguns segundos e depois se aconchegou, deitando em cima de minhas pernas.
– Você gostaria de ter um gatinho? – Perguntei a minha filha.
– Sim! Sim! Sim, pirilim! – Bateu palminhas animada e eu ri alto de sua reação. – A gente vai ter um?
voltou para a sala nesse momento, segurando um copo de água para mim e um copinho infantil com suco para .
– Copo da Bela? – Ela perguntou para , depois de tomar um gole de seu suco e observar seu copo.
– Sim, gostou? – Ele falou e ela assentiu.
– É a minha princesa favorita. Mamãe fala que ela parece eu. – Sorriu orgulhosa e eu ri baixinho. sempre trocava as palavras e isso era extremamente fofo.
– Parece mesmo, . Você é linda, sabia? – comentou e ela sorriu, envergonhada. – Quer ver algo legal? – Ele pediu e ela concordou na hora.
se levantou e saiu da sala, indo em direção ao corredor. Quando voltou, tinha algo parecido com uma varinha em sua mão. A varinha possuía um fio pendurado na ponta, e um ratinho que fazia barulho estava preso ao fim dele. Léia se levantou do meu colo no mesmo instante em que ouviu o barulho e foi em direção à . Ele começou a mexer a varinha fazendo com o que o ratinho balançasse para lá e para cá, e Léia pulava de um lado para o outro tentando pegá-lo. estava dando gargalhadas e eu observava a cena sorrindo, enquanto fazia carinho em Bóris. Léia às vezes dava um pulo para trás e caía, e ria alto. Foi ali, naquele momento, que eu decidi que iríamos adotar um gatinho. Valeria à pena, só para ver minha filha feliz daquele jeito.

xxx

Quando o relógio marcou 15h, saímos de casa em direção à casa de . Já me sentia bem mais confortável na presença de , se comparado a antes. Enquanto estávamos no carro, me lembrei de perguntar:
– Você é médico?
– Sim, psiquiatra. – Ele sorriu orgulhoso e eu o acompanhei. – Meu consultório fica perto de casa, há algumas quadras. Você trabalha com , né? É arquiteta também?
Neguei com a cabeça.
– Sou estudante de Design de Interiores. Quer dizer, ainda não voltei a estudar, mas falta só um ano e meio pra eu terminar... – dei de ombros – Tive que trancar quando minha mãe faleceu, pra cuidar de .
– Sinto muito pela sua mãe. – Ele disse e eu pude sentir sinceridade em sua voz. – E o pai dela? Não te ajuda?
As pessoas ao meu redor eram muito curiosas. Eu teria que me acostumar com isso. E definitivamente eu não queria falar pela segunda vez no dia sobre o pai de , que não existe.
– Ela não tem pai – respondi apenas e ele me olhou, surpreso. – Não quero falar disso, por favor.
Ele assentiu e voltou sua atenção ao trânsito.
Mais alguns minutos e logo chegamos à casa de e já estávamos batendo na campainha. A porta se abriu e sorriu para nós.
– Oi me deu um beijo na bochecha –, oi – se abaixou para dar um beijo na bochecha dela –, e você já é de casa. – Deu um tapinha no ombro de e eu ri.
– Oi, ! Todo engraçadinho, né? A noite foi boa? – Falei enquanto entrava.
riu e deu uma piscada para mim. Qual era o problema desses irmãos com piscadas?
pegou minha bolsa de minha mão e fez sinal de que levaria lá para fora, começando a andar com o acompanhando.
‘tá na cozinha, ! – disse antes de sair pela porta da sala em direção à piscina. me puxou pela mão e eu a olhei.
– Nicholas, mamãe! – Ela apontou para a piscina onde Anne estava sentada passando protetor solar em Nicholas. Anne nos viu e sorriu, acenando, nos chamando com a mão.
– Vai lá, meu amor. Mas não sai do lado da tia Anne até a mamãe voltar, tudo bem? Só vou dar oi pra tia . – Mal terminei de falar e ela saiu correndo em disparada para a piscina. – Não corre, ! – Disse um pouco mais alto e ela diminuiu a velocidade, andando. Ri sozinha e segui em direção a cozinha. – Amiga? – Chamei por quando entrei no cômodo. Ela estava terminando de tirar um bolo do forno. – Que cheiro maravilhoso!
! – Ela soltou o pano que tinha nas mãos e veio em minha direção, me dando um beijinho. – Bolo de chocolate, minha especialidade.
– Esse era seu presente pra ? Porque ela é uma chocólatra de primeira – falei, me aproximando do bolo e roubando uma casquinha que estava por cima. Ela me deu um tapinha na mão e riu.
– Não, é um gatinho de pelúcia. Acha que ela vai gostar? – Ela perguntou e eu sorri, confirmando.
– Ela vai amar. Ainda mais agora que conheceu a Léia, gata do .
– Conheceu, foi? A Léia me odeia. Já me atacou duas vezes, acredita? – Ela falou e eu a olhei espantada.
Estávamos falando da mesma gata?
– Tá falando sério? Aquela gata só faltou babar no meu colo, e a apertou tanto que até fiquei surpresa por ela não ter feito nada.
– A demoninha do gostou de você e da ? – Ela me olhou indignada enquanto virava a cobertura de chocolate no bolo. – Você ‘tá de brincadeira? – Eu neguei com a cabeça – Isso só pode ser um sinal!
– Sinal de quê, sua maluca? Que eu e nos damos bem com gatos e devemos adotar um?
– Disso também! – Ela riu e pegou uma jarra, servindo suco na mesma. – Sinal de que você e o podem dar em algo.
É o quê? Você pirou? – Perguntei, ajudando-a a colocar a jarra de suco e alguns copos em cima de uma bandeja. – O é casado e tem uma filha! E eu não tô interessada. – Assim que falei isso, ela parou de fazer o que estava fazendo e me olhou, surpresa.
– Você não sabe?
– Não sei de quê? – Devolvi a pergunta, confusa.
– A filha de faleceu, . E a esposa dele o deixou. – Ela esclareceu e eu engoli em seco. – Não me surpreende ele não ter te contado, ele não fala muito sobre isso. E não sou eu que vou te contar detalhes. Um dia ele te conta. – Ela sorriu para mim e pegou o prato de bolo, começando a caminhar lá para fora.
Eu peguei a bandeja de com a jarra de suco e os copos e a segui. Como assim era separado? E pai? Aquilo não poderia ter me deixado mais surpresa, e mais curiosa ainda a seu respeito. Percebi que realmente queria saber mais sobre . Cada vez mais eu tinha certeza de que ele não era um homem ruim.
– Mamãe, olha! – me chamou quando cheguei a piscina com . Deixamos a bandeja e o bolo em cima de uma mesa e eu me aproximei de minha filha. Ela esticava os bracinhos para mim, que estavam com duas boias, uma em cada um. – Nick me emprestou.
– Que legal, meu amor! Vamos passar protetor solar? – Perguntei a ela, me sentando em uma das espreguiçadeiras.
– Já passei nela, . Fica tranquila! – Anne falou e eu sorri em agradecimento.
– Posso entrar, mãe? – perguntou.
Vi que Nick já estava dentro da piscina com , Mark e .
– A mamãe só vai passar protetor. Espera um pouquinho.
– Deixa ela entrar, . A gente cuida dela aqui – Mark falou e eu sorri, confirmando.
deu uma risadinha feliz e foi andando em direção a eles. se aproximou da borda da piscina e esticou os braços para pegá-la. Ela foi em seu colo sem pensar duas vezes. Ele a afundou devagar e ela boiou na água com as boias nos braços.
– Ela parece gostar dele. – Ouvi Anne comentar ao meu lado e virei meu olhar para ela.
– Ela se sente à vontade com ele, eu nunca vi ela fazer isso antes, tão rápido. – Comentei e as duas irmãs trocaram um olhar cúmplice.
– E você? Como se sente? – perguntou e eu a olhei torto. – Ai, , não adianta negar. Eu sei que você ‘tá curiosa pra conhecer ele melhor.
Anne riu e deu de ombros, concordando.
– Vocês duas não tem jeito, viu? Já falei que não tenho interesse. – respondi, enquanto tirava meu vestido, ficando só de biquíni.
Notei o olhar fixo das duas mulheres em meu corpo.
– O que foi?
– Tem certeza que sua filha saiu de dentro de você? – Anne perguntou, me fazendo rir.
– Olha quem fala, né, senhora mãe do Nicholas! – Peguei o protetor e comecei a passar pelo meu corpo.
Olhei em direção a piscina e notei o olhar de sobre mim. Sorri sem graça para ele e ele deu uma de suas piscadinhas em minha direção.
– Eu vi isso! – falou.
Eu revirei os olhos em sua direção e me deitei em uma das espreguiçadeiras, colocando meus óculos em seguida.
– Alguém aí quer cerveja? – perguntou, enquanto saía da piscina indo em direção a geladeira dentro da edícula.
Eu, Anne e erguemos as mãos, indicando que aceitávamos uma cerveja. Logo ele voltou e entregou uma garrafinha para cada uma de nós. Dei um gole e suspirei.
– Que delícia. Quase me esqueci o gosto disso. – Comentei após deixar minha garrafinha de lado. e Anne sorriram para mim.
– Você não sai muito, né? – Anne disse.
– Não saio nada, na verdade. Desde que nasceu, vivo pra ela. E aí a mamãe faleceu e eu não tive mais ninguém pra me ajudar – dei de ombros, enquanto elas me observavam atentamente. – Sempre fomos só eu, e minha mãe.
– E seu pai? – perguntou.
Pela primeira vez, eu me senti a vontade para responder sobre ele. Por isso, quando as palavras saíram da minha boca com certa facilidade, não me espantei.
– Ele nos deixou quando contei que ‘tava grávida. Mas foi bom, sabe? – Falei, e pude ver a confusão nos olhos das duas. – Meu pai batia em minha mãe e em mim. Quando ele foi embora, conseguimos ser felizes pela primeira vez. – Me forcei a abrir um sorriso, mesmo sem muita vontade.
– Eu sinto muito, – Anne disse, sincera, e concordou com ela. – Você nunca mais soube dele?
Neguei com a cabeça.
– E nem tenho vontade. – Concluí.
– Eu admiro você, sabe? Tão nova e já tão adulta – disse, abrindo um sorriso de lado. – É uma mãe maravilhosa. Sua mãe teria muito orgulho de você, tenho certeza.
Sorri verdadeiramente e concordei. Ali, naquele momento, eu tive certeza de que não poderia ter arranjado amigas melhores. Era isso que Anne e eram: minhas amigas. E eu gostava cada vez mais disso.
Já eram 20h e já havíamos saído todos da piscina. Nicholas e estavam assistindo a algum filme infantil na sala de TV, e tenho certeza que logo estariam dormindo. Brincaram na piscina o dia inteiro, se entupiram de bolo de chocolate, tomaram banho e agora estavam quietinhos. Eu observava os dois da porta da sala, sorrindo, ao ver minha filha abraçada com o gatinho de pelúcia que havia ganho de . Ela fez um escândalo ao ver o gatinho e, para minha surpresa, abraçou e murmurou um “obrigada, tia ”, o que deixou extremamente feliz e orgulhosa.
, vem comer! – Ouvi Anne me chamar e me virei, indo em direção a sala de jantar.
Eles estavam todos na mesa, ao redor de algumas caixas de pizza. Me sentei na única cadeira livre, que era ao lado de . Sorri brevemente para ele antes de pegar um pedaço de pizza e começar a comer. Comemos conversando sobre diversos assuntos, até Mark começar a contar suas aventuras com quando os dois eram solteiros. A história da vez era de quando eles viajaram e encontraram Gerard Butler, ídolo de .
– E aí o falou: cara, você é muito gostoso! – Mark disse, arrancando gargalhadas de todos na mesa, menos de .
– Eu não falei isso – respondeu, se defendendo. – Eu disse que ele era muito bonito. Só. Porque ele é mesmo. – Deu de ombros. – Isso, vindo de você, amor, é quase a mesma coisa. Se eu não te conhecesse tão bem, duvidaria da sua masculinidade. – comentou, fazendo com que todos nos rissemos.
mostrou o dedo do meio para , que gargalhou.
– Bom, galera, ‘tá tudo muito legal, muito divertido, mas preciso levar minha criança pra casa pra dormir. – Anne disse, se levantando, sendo seguida por todos nós.
– Acho que já podemos ir também. Né, ? – me perguntou e eu sorri, assentindo.
– Vou lá pegar . – Falei enquanto me levantava da cadeira, indo em direção a sala, logo atrás de Anne.
– Eles se dão tão bem. – Anne comentou, ao vermos e Nick dormindo lado a lado no sofá. – Mark e eu estamos pensando em ter outro.
– Jura? Isso é maravilhoso, Anne! – Disse a ela, enquanto aconchegava em meus braços.
– Vamos ver, quem sabe esse ano ainda eu não fique barrigudinha. – Sorriu, sonhadora, enquanto saíamos com os dois no colo.
Fomos em direção a porta e nos despedimos dos dois casais. foi na frente e já me esperava no carro para colocar na cadeirinha. Após ajeitar ela e guardar nossas coisas, me sentei no banco da frente, sendo seguida por . Logo ele deu partida no carro e estávamos a caminho de casa.
– Hoje o dia foi bom. – Comentou, quebrando o silêncio.
– Foi divertido. – Respondi, concordando com ele.
– Então, você vai mesmo adotar um gatinho? – Ele perguntou, me olhando rapidamente. – ‘tá empolgada, sabe. Não parou de falar nisso um segundo enquanto estávamos na piscina. Em como Léia e seu futuro gatinho poderiam ser amigos e brincar juntos.
Eu ri de seu comentário, aquilo era algo que falaria, mesmo.
– Vou ver pra adotar já essa semana. Ela vai pirar! – Falei, imaginando sua reação.
– Posso te levar onde adotei Léia, se quiser. – ofereceu.
– Iria ser ótimo, , obrigada.
– Não é nada – Ele falou. – Você nunca vai me chamar de , não é?
é bonito. – Dei de ombros, sorrindo.
Sabia que isso o incomodava, mas não me importava.
– Só fica bonito sendo dito por você. – Ele respondeu e virou seu rosto para mim, dando uma piscadinha.
Eu fiquei extremamente sem graça e desviei o olhar do dele, sorrindo sem jeito. Não falei mais nada, e antes que eu percebesse, já estávamos em casa. Ele fez questão de carregar até lá em cima novamente. Quando entramos em meu apartamento, foi direto para o quarto dela e a deixou em sua cama. Eu me demorei um pouco tirando meus sapatos e deixando nossas coisas em cima da mesa. Quando finalmente fui até o quarto de , parei na porta, observando a cena.
estava com o olhar fixo em , com os olhos marejados e os ombros baixos, deixando claro que ele estiva triste. Eu poderia não ter entendido essa cena, mas como agora sabia que sua filha havia falecido, eu entendi. Entendi que ele sentia muita falta dela. E foi imaginando como seria ficar sem , que me aproximei dele e coloquei a mão em seu ombro, transmitindo conforto. Ele apenas colocou sua mão sobre a minha e a apertou. Ali, vendo aquele homem já vivido, tão frágil, eu senti vontade de abraçá-lo, porém, achei melhor não fazer nada.
respirou fundo e se virou para mim, sorrindo tristemente. Eu retribuí seu sorriso e logo o segui para fora do quarto. Surpreendentemente, ele não foi até a porta para ir embora. Ele sentou no sofá e eu, sem pensar duas vezes, sentei ao seu lado, em silêncio. Eu sabia que não devia falar nada. Ele falaria quando se sentisse confortável. Eu também era assim. Então apenas fiquei ali, fazendo companhia a ele. Já haviam se passado alguns minutos quando ele finalmente quebrou o silêncio:
– Eu sinto muito a falta dela. – Confidenciou, e eu me virei, ficando de frente para ele no sofá.
– Eu não consigo nem imaginar, ... – comentei. – Mas sei que onde quer que ela esteja, ela te ama muito. Você foi um ótimo pai, tenho certeza disso, pelo jeito como age com .
Ele me olhou, surpreso, como se perguntasse como eu sabia.
. – Respondi, esclarecendo.
– Ela nasceu com uma doença rara, os médicos nos falaram que ela não tinha muito tempo de vida... – ele disse, baixinho –, mas mesmo sabendo disso, não teve como estar preparado no momento em que ela se foi. Ela ficou conosco dois anos. E foram os dois anos mais felizes da minha vida. Sara era tudo pra mim. E quando ela faleceu... – ele fungou, passando a mão pelos olhos. – Quando ela faleceu, tudo veio por água abaixo. – Finalizou, apoiando os braços nas pernas e segurando a cabeça entre as mãos.
Eu me aproximei dele e passei o braço pelos seus ombros. Ao vê-lo assim, sofrendo, eu tive certeza de que era um homem maravilhoso. E talvez, eu pudesse baixar a guarda para ele. Talvez, ele precisasse de alguém para ajudá-lo a viver um dia após o outro, e, quem sabe, dividir suas tristezas. E mesmo eu já tendo tristeza demais em minha vida, percebi que não me importaria em confortá-lo.
– Minha esposa foi embora depois de um ano. Eu recebi os papéis do divórcio pelo correio – Ele disse, com um sorriso triste. – É irônico você trocar juras de amor com alguém e no primeiro momento, ela te deixar. Tudo bem, eu também não estava na minha melhor fase. Bebia muito, não parava em casa. Mas deixa-la nunca passou pela minha cabeça. Será que ela não pensou que seria menos difícil se continuássemos juntos? – Ele me olhou, e notei que ele lutava para que lágrimas não saíssem de seus olhos. – Já fazem 4 anos que Sara se foi.
Sem pensar duas vezes, eu o abracei. Ele deitou a cabeça em meu ombro, enquanto eu fazia carinho em seu cabelo. Eu não ficava próxima assim de um homem já faziam alguns anos. Não entendia direito o que estava acontecendo comigo, e porque eu me sentia tão segura com . Resolvi parar de tentar entender. Ficamos assim por alguns momentos, até ele se afastar, segurar em minhas mãos e abrir um sorriso triste.
– Obrigado. – Ele falou, segurando em minhas mãos. – Foi bom falar um pouco sobre isso.
– Tenho certeza que sim, . – Pude vê-lo erguer as sobrancelhas em surpresa ao ouvir como o chamei.
O homem em minha frente abriu um sorriso imenso, fazendo com que eu sorrisse também. Seu olhar ficou preso ao meu durante alguns instantes e eu pude jurar que seu rosto estava se aproximando do meu. Mas, ele apenas suspirou e se levantou.
– Bom, já ‘tá tarde. É melhor eu ir.
Assenti e levantei, indo atrás dele até a porta. Quando abri a porta, ele saiu, e ficou de frente para mim.
– Obrigado, de novo, . – Ele sorriu de lado e se aproximou, colocando uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha.
– Não precisa agradecer, . – Respondi, sincera.
– Eu estava errado.
- Hm? – Questionei, sem entender.
- soa ainda melhor que na sua voz. – Ele disse, abrindo seu sorriso irresistível para mim.
Acabei por abrir um pequeno sorriso, e no segundo seguinte, vi seus lábios se aproximarem de minha bochecha, deixando ali um beijo carinhoso. Quando ele se afastou, seus olhos azuis me encararam com intensidade.
- Boa noite, .
– Bo-boa noite, – eu falei, gaguejando um pouco, mas ele pareceu não perceber, e se percebeu, apenas ignorou meu momento de fraqueza.
Quando ele fechou a porta de seu apartamento, logo entrei no meu e me permiti levar as mãos até minha bochecha, no local onde ele havia dado um beijo. Antes mesmo de eu perceber, estava sorrindo e desejando que ele fizesse aquilo mais vezes.


Capítulo 6

- Bem-vinda a Universidade de Londres, . - O senhor falou, estendendo sua mão para que eu o cumprimentasse.
- Muito obrigada, senhor.
- Agora você só precisa passar na secretaria e pegar seu horário. Pode começar a frequentar as aulas segunda-feira, só o tempo de terminar o processamento dos seus documentos.
- Eu estarei aqui. Obrigada!
Ele fechou a porta e pude finalmente sorrir aliviada. Havia conseguido completar a transferência para a Universidade de Londres. Finalmente eu conseguiria concluir meus estudos! Antes de ir para o trabalho, passei na secretaria para pegar meu horário. As aulas seriam pela manhã. O que, de certo modo, facilitava um pouco as coisas. Eu poderia matricular no período integral na escola. De manhã, levaria ela para a escola e seguiria para a faculdade. A tarde trabalharia e quando saísse do trabalho, buscaria minha filha na escola, e a noite conseguiríamos ficar juntas. Seria corrido, mas eu teria que dar um jeito.
- Consegui, ! Tô dentro! - falei assim que abri a porta de minha sala com no escritório.
- Te falei, amiga! Quando começa? - perguntou.
- Segunda-feira. As aulas são de manhã. Vou matricular a no período integral na escola - dei de ombros. - Acho que ela não vai gostar muito de ficar tanto tempo longe, mas...
- Ela vai acostumar, . E é só por um ano e meio. - disse, tentando me tranquilizar. - Aliás, você já pensou se vai mesmo fazer uma festinha de aniversário pra ela? Faltam duas semanas.
- Vou sim, mas só vou fazer um bolinho e arrumar uma decoração pequena para os mais próximos - Respondi enquanto me sentava em minha mesa para começar a trabalhar. - E eu ia adotar o gatinho agora, mas decidi esperar e dar de presente de aniversário, o que você acha? - perguntei a ela, mas ela estava distraída demais digitando algo em seu celular. - ? - nada - ? - nada de novo - ? - Joguei uma bolinha de papel nela, que finalmente me olhou.
- Ai, o que foi? Credo, eu hein, só tava respondendo uma mensagem do . - Ela disse se justificando e deu de ombros, fazendo uma cara de safada em seguida. - Ele tava dizendo o que vai fazer comigo quando chegarmos em casa e...
- Eu não preciso saber detalhes das mensagens com conteúdo sexual que vocês trocam, ! - A interrompi, rindo. Ela fez uma careta e rolou os olhos.
- Não é porque você não transa e tá com desejo reprimido pelo que eu não posso aproveitar meu namorado.
- Eu não sei de onde você tira essas coisas. Não tem nada entre e eu - eu respondi, tentando esconder minha frustração.
Depois de domingo a noite, quando desabafou comigo, eu não o havia visto mais. Já fazia uma semana que ele não dava sinal de vida, e isso estava me incomodando de uma maneira que eu não achei que fosse incomodar. Nos primeiros dias, eu apenas achei que ele queria ficar sozinho. Depois, quando eu finalmente bati na porta de sua casa - só porque insistiu muito que queria ver Bóris e Léia -, ninguém atendeu. Não ouvi nem os latidos e miados dos animais. É claro que eu não perguntei a , porque ela iria ter certeza de que eu estou sim, um pouquinho interessada nele. Podia também pedir a ela o número do celular de , mas, novamente, eu não daria esse gostinho.
Já havia me perguntado se eu tinha feito algo de errado. Ou se ele precisava de um tempo. Mas repassei a noite de domingo na minha mente várias vezes, e não havia nada que tenha me feito entender seu sumiço.
Eu estava irritada.
Ele quase me beija - ok, não foi quase um beijo, mas para mim era algo muito grande - e depois some? Qual era o problema? Por um momento, eu me arrependi um pouco de ter abaixado a guarda para ele. Eu estava muito irritada. Não tanto por ele ter sumido, mas por eu estar me sentindo assim.
- Você tá com essa cara de frustração há alguns minutos e eu chuto que é porque o tá viajando. - falou, me tirando de meus pensamentos.
- Ele viajou? - perguntei, de repente mais interessada.
Ela abriu um sorriso esperto e balançou a cabeça, confirmando.
- Ele foi em um congresso, parece - deu de ombros, sorrindo. - Você não tem o número dele? - neguei com a cabeça -, vou te passar, mesmo achando que você não vá ligar pra ele, acho que ele gostaria de saber que você sentiu falta dele durante a semana inteira.
Revirei os olhos, irritada. É claro que eu senti falta dele, ele sumiu durante segunda, terça, quarta, quinta e hoje já era sexta-feira - não que eu estivesse contando -, mas ninguém precisava saber disso. E é óbvio que eu não ligaria para ele.
Voltei a me concentrar em meu trabalho e deixei para lá. Quando vi, já era hora de buscar na escola. Me despedi de e fui andando até a Sunshine. Assim que cheguei lá, minha filha veio correndo em minha direção.
- Mamãe!
- Ursinha! - peguei-a no colo e a abracei. Enchi o rosto dela de beijinhos e ela riu.
- Tá babando toda eu! - Ela falou, rindo. Coloquei-a no chão e saímos andando de mãos dadas em direção ao nosso apartamento.
- Tem alguém que vai fazer 4 aninhos daqui duas semanas - comentei, e ela me olhou, sorrindo.
- Vou ficar mais grande ainda do que já sou! - Ela falou, empolgada. Eu concordei com a cabeça.
- Mamãe vai fazer uma festinha pra você!
- Da Bela? - perguntou, com os olhinhos brilhando.
- Você quer que seja da Bela? - perguntei e ela confirmou com a cabeça - Então vai ser da Bela. - Ela deu um gritinho empolgado e correu até o portão do prédio. A observei rindo e logo abri o portão para que entrássemos.
Quando saímos do elevador, vi abrindo a porta de seu apartamento. Ele tinha uma mala e duas caixas de transporte de animais, que julguei serem Léia e Bóris.
- Oi. - Cumprimentou quando nos aproximamos da porta do meu apartamento.
- Oi - respondi um pouco sem jeito.
tinha se abaixado e estava olhando dentro das caixas de transporte, curiosa. Bóris babava pela portinha enquanto Léia estava dormindo.
- Por que eles estão dentro dessas coisas? - perguntou para , que riu baixinho.
- Eles estavam passando alguns dias fora, . Eu fui viajar e não podia deixar eles sozinhos, não é? - Ele se abaixou, ficando da altura dela. Ela negou com a cabeça e colocou as mãozinhas na cintura.
- Eles podiam ter ficado comigo! - falou, e eu e rimos. - Sua mãe iria me matar, bonitinha.- Ele disse, fazendo carinho no cabelo dela, que riu.
- Mamãe não mata nem as moscas em casa, tio - Ela respondeu. deu uma gargalhada e eu olhei para indignada. Ela estava ficando cada dia mais esperta e às vezes dava umas respostas que me deixavam sem palavras.
- Vou lembrar disso quando a senhorita me chamar pra matar mosquitinhos no seu quarto! - falei a ela, que apenas me mostrou a língua.
se levantou e colocou as duas caixas de transporte dentro de seu apartamento, logo abrindo-as e soltando os animais. Eu e apenas observávamos a cena. Quando me dei conta de que estava encarando demais, abri a porta do meu apartamento e chamei minha filha.
- Meu amor, vamos entrar? - Ela me olhou e fez um biquinho. Entendi na hora que ela também havia sentido falta de , de Bóris e Léia, e não queria ficar longe por agora. Mas o que eu podia fazer? Ele sequer havia trocado uma palavra comigo a não ser pelo "oi".
- Quero brincar, mamãe. Por favorzinho! - Ela pediu e eu suspirei.
- chegou de viagem agora, filha. Deixa ele descansar, outra hora você brinca, tudo bem? - respondi, e me olhou na mesma hora, com a sobrancelha arqueada em sinal de surpresa.
- Voltamos a , então? - Ele disse e eu apenas dei de ombros. - Não tem problema, . Eu só preciso tomar um banho e logo chamo pra brincar. Tudo bem pra você?
Assenti e sorri sem vontade. Ele chamaria para brincar, e pelo jeito que falou, eu não estava inclusa nesse convite. Aliás, ele também havia me chamado pelo meu nome, e não pelo apelido. E por que eu estava me importando tanto? Desde quando eu era assim? Desde quando um homem estava frequentemente nos meus pensamentos?
Peguei pela mão enquanto ela acenava dando tchau para e entramos em casa. Levei-a direto para o banheiro, onde dei um banho nela e aproveitei para tomar um também. Nos vestimos e fui para a cozinha preparar algo para jantarmos. Enquanto eu terminava de esquentar as sobras do almoço, a campainha tocou.
Larguei o que estava fazendo e fui em direção a sala, encontrando já com a porta aberta e segurando a mão de . Se qualquer dia desses, minha filha quisesse dormir na casa dele, eu não me surpreenderia. Nunca vi ela se ligar tanto a alguém. Por um momento, pensei que ela pudesse ver em a figura masculina que não tinha em casa, mas logo tratei de espantar esses pensamentos.
- Eu pedi comida chinesa. Você gosta, ? - perguntou a ela. Ela fez que sim com a cabeça.
- Quando quiser vir pra casa, me avisa, tá, meu amor? Não vem muito tarde - me abaixei e fiquei da altura de minha filha.
- Você não vem junto? - Ouvi perguntar, e o olhei na mesma hora, me levantando. - Eu pedi comida pra você também. Pensei que pudéssemos comer juntos enquanto se diverte. - Ele encolheu os ombros e sorriu de lado.
- Achei que o convite era só pra - sorri, sem jeito. - Mas já que envolve comida chinesa, eu vou também.
Ele riu e eu fechei a porta do meu apartamento, entrando no dele logo em seguida. Léia e Bóris estavam deitados lado a lado no meio da sala. Bóris se levantou assim que viu e andou até ela, cheirando-a e lambendo suas mãos. Ela riu e foi até o meio da sala, onde alguns brinquedos estavam jogados no tapete. pegou um dos brinquedos de Bóris e jogou em direção a ele para que o pegasse.
- Vou servir a comida pra gente, tudo bem? - perguntou e eu assenti.
- Deixa que eu te ajudo - falei, indo atrás dele até a cozinha.
- Não precisa, .
- Faço questão - disse e ele sorriu.
- Você pega o suco pra e duas taças pra gente, então. - Ele apontou um armário para que eu soubesse onde encontrar as coisas. Assenti.
- Vinho? Alguma ocasião especial? - perguntei, enquanto voltava para a sala e colocava as coisas em cima da mesa de jantar.
- Minha apresentação no congresso que fui foi um sucesso. - Ele disse, orgulhoso. Eu sorri.
- Parabéns, . Fico feliz por você! - falei sincera e ele retribuiu o sorriso, enquanto abria as comidas para que pudéssemos comer.
- Você toma vinho, né? Nem perguntei - ele riu e eu fiz que sim com a cabeça.
Ele foi até uma geladeira pequenininha e tirou uma garrafa de vinho de lá. Abriu-a e serviu nossas taças, me entregando a minha logo em seguida. veio até nós com um biquinho, e Bóris e Léia vinham logo atrás dela.
- Tô com fome - ela disse. Eu a peguei no colo e coloquei ela sentada na cadeira ao meu lado.
logo serviu comida para nós três e eu cortei a comida de em pedacinhos pequenos e lhe entreguei uma colher.
- Cuidado pra não fazer bagunça, ursinha. Tio vai ficar muito bravo se você derrubar comida no chão! - Avisei a ela, e vi olhar para ele. Pelo canto de olho, pude perceber que ele sorria para ela enquanto fazia sinal de não com a mão. Rolei os olhos. - Come direitinho e depois você ganha suco.
Comemos conversando e rindo das besteiras que falava. Bóris ficou o tempo todo ao redor da mesa tentando ganhar alguma comida, enquanto Léia apenas dormia. Mesmo pedindo para não dar comida para Bóris, às vezes pegava um pedacinho e deixava cair no chão para que ele comesse, achando que estava sendo discreta. Eu e prendíamos o riso cada vez que ela fazia isso.
Logo terminamos de comer e já havia voltado para o sofá e estava brincando com Léia. e eu continuamos sentados, terminando nossas taças de vinho.
- Desculpa por não avisar que iria viajar - ele falou, de repente.
- Você não tinha porque avisar, - respondi.
- Mas eu poderia ter te avisado. Sei que você ficou se perguntando onde eu tava... - Ele falou e abriu um sorriso de lado, convencido. Eu o olhei confusa. - .
- Eu vou matar aquela... - Eu falei, sem saber onde enfiar a cara. Ele deu uma gargalhada e me interrompeu:
- Ah, para, vai. Foi bonitinho saber que você sentiu minha falta - ele sorriu e soltou sua taça na mesa. Aproximou sua mão do meu rosto e colocou uma mecha de cabelo atrás de minha orelha, enquanto olhava em meus olhos. - Você fica extremamente adorável quando tá sem graça.
Eu sorri para ele, prevendo o que viria a seguir. Ele foi aproximando seu rosto do meu devagar, alternando seu olhar entre meus olhos e minha boca. Mas o que eu faria? Eu não beijava ninguém desde os 18 anos. Fazia tempo que nenhum homem se aproximava de mim dessa maneira, eu nunca mais permiti. Senti seu polegar acariciar minha bochecha e seu rosto estava praticamente colado no meu.
- , eu... - falei, baixinho.
- Você não quer? - perguntou, e pude sentir seu hálito perto de minha boca.
- Quero, mas, não é isso... - respondi, sem jeito. Eu realmente queria, queria muito.
- Então só fecha os olhos. Confia em mim? - ele disse, como se soubesse exatamente o que se passava em minha cabeça.
E eu confiava? Mal sabia ele que essa pergunta significava mais do que somente confiar nele para me beijar. Eu estava com medo. Medo de, além de não saber o que fazer, não saber lidar com o que eu estava sentindo. Eu nunca havia sentido aquilo antes. Mas, sim, eu confiava nele. E foi com esse pensamento em mente, que fechei os olhos.
Alguns segundos depois, senti seus lábios encostarem nos meus. Sua boca era quente e macia. Ficamos algum tempo assim, apenas encostando nossas bocas e trocando selinhos, e então ele subiu sua mão para minha nuca e sua língua contornou meus lábios, pedindo passagem para aprofundar o beijo. Eu permiti, e passei os braços ao redor de seu pescoço, abraçando-o. Seu beijo era um dos melhores que eu já havia provado - tudo bem que não eram muitos -, se não o melhor. Tinha gosto de vinho e era doce. Às vezes, ele voltava a acariciar meu rosto, alternando com minha nuca e eu fazia carinho em seu pescoço. Não sei quanto tempo passamos nos beijando, mas só nos separamos quando precisamos respirar. Ele me olhou e sorriu, me dando um selinho e se afastando.
- Você é linda - ele disse. Eu sorri em agradecimento e passei a mão por seu cabelo, fazendo carinho. Os olhos dele se desviaram dos meus por um segundo, olhando por cima de meu ombro. Ele abriu um sorrisinho. - Vem ver isso - comentou, levantando de sua cadeira. Segurou em minha mão e me levou até o sofá.
estava deitada, dormindo com a cabeça na barriga de Bóris, e Léia estava esticada em seus pés, também dormindo. Eu abri um sorriso imenso com a cena e olhei para , que estava do mesmo jeito.
- Eu sou completamente apaixonada por ela - falei, baixinho -, ela é minha vida todinha.
me abraçou de lado e me deu um beijo na bochecha.
- Eu sei. Sara era a minha - ele abriu um sorriso triste. - Você é uma mãe incrível. Criar uma criança sozinha não é fácil, ainda mais sendo nova. E você faz um trabalho mais do que ótimo com .
Eu sorri e concordei. Me virei e lhe dei um selinho demorado.
- Acho melhor eu ir pra casa e colocar ela na cama - falei e ele concordou. - E você deve estar querendo descansar. - Ele negou com a cabeça e eu o olhei com a sobrancelha arqueada.
- Ok, talvez só um pouco - riu baixinho. - Vamos, eu te ajudo.
Ele caminhou até e a pegou no colo. Eu fui até a porta de seu apartamento e saí, abrindo a do meu apartamento em seguida. Logo entramos e ele levou direto para o quarto dela.
- O que acha de irmos a um encontro amanhã? - perguntou, quando já estávamos na porta de meu apartamento.
- Amanhã? - Olhei para ele, surpresa com o convite repentino.
- É, amanhã é sábado - deu de ombros. - pode ficar com Anne ou com ...
- Não sei, ... Nunca fiz isso.
- Nunca fez o que? - Ele ergueu as sobrancelhas em forma de interrogação. - Nunca saiu sem ou nunca foi a um encontro?
Eu sorri meio sem jeito e respondi:
- Os dois. - Dei um sorriso amarelo, encolhendo os ombros.
- Isso é sério? - Perguntou, surpreso e eu assenti, balançando a cabeça. - Ah, mas então você vai ter o melhor primeiro encontro da sua vida. Eu prometo.
Abri um sorriso enorme e me aproximei, lhe dando um selinho. Ele passou a mão por minha cintura, me puxando para mais perto e logo estávamos nos beijando novamente. Quando nos afastamos, ele me deu um selinho e falou baixinho:
- Boa noite, .
- Boa noite, - beijei sua bochecha e me afastei. Ele deu uma piscadinha e entrou em seu apartamento.
Naquela noite, minha cabeça quase explodiu de tanto que pensei. Eu sabia que podia estar dando um passo grande me permitindo estar com , afinal, meu último relacionamento havia terminado de uma maneira bastante traumática, e havia sido há mais de 3 anos.
Mas eles não eram todos iguais, eram?
Era o que eu queria acreditar, era o que estava me fazendo achar. Eu decidi que tentaria não pensar no futuro, e que em qualquer sinal de alerta, me afastaria. Fui dormir tarde, repassando as cenas do nosso beijo em minha mente. E sem perceber, dormi com um sorriso nos lábios.

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Acordei com um bom humor fora do comum na manhã de sábado. Assim que abri os olhos, as cenas da noite anterior vieram a minha mente e eu sorri instantaneamente. Logo apareceu na porta do meu quarto e subiu em minha cama com um pouco de dificuldade. - Bom dia, mamãe linda! - Ela falou e eu sorri, puxando-a para mim e fazendo cócegas em sua barriga.
- Bom dia, ursinha! Dormiu bem? - perguntei, e ela sorriu, confirmando. - Vamos tomar café da manhã? Mamãe vai fazer panquecas!
Os olhinhos de brilharam, e no segundo seguinte, ela já estava descendo da cama e correndo para a cozinha. Ri de sua atitude e me levantei, indo atrás dela. Nem me dei ao trabalho de tirar o pijama, apenas coloquei um chinelo e prendi meu cabelo. Coloquei sentada na mesa e peguei os ingredientes necessários. Primeiro, cortei algumas frutas. Depois, comecei a fazer a massa.
- Você quer com gotas de chocolate ou sem gotas chocolate? - perguntei a ela, enquanto misturava os ingredientes.
- Com chocolate! - gritou, batendo as mãozinhas na mesa, animada. Eu ri e rolei os olhos.
- Não sei nem porque eu pergunto... - comentei, rindo.
Acrescentei gotas de chocolate na massa e comecei a fazer as panquecas. Logo, já tinha uma pilha de mais ou menos 20 panquecas na mesa. - O almoço é panqueca? - perguntou, me fazendo dar uma gargalhada.
- Não, amor. A mamãe exagerou na medida - respondi e ela sorriu.
Servi panquecas para nós duas e acrescentei as frutas por cima. Cortei a de e lhe entreguei uma colher para que ela comesse.
- Melhor panqueca do mundo, mamãe. - Ela falou. Eu sorri, concordando.
- Prometo fazer mais vezes, ursinha.
Um pouco depois das 17h, estava em minha cama brincando com suas bonecas e eu estava revirando meu guarda-roupa para encontrar algo decente para usar no encontro com , lembrei que precisava ligar para e ver se ela poderia ficar com essa noite. Peguei meu celular e disquei seu número. Ela logo atendeu:
- Oi, !
- Oi, amiga. Tudo bem por aí? - perguntei, enquanto me sentava na cama.
- Tudo bem, e vocês? Encontrou com o ontem? - Ela perguntou e deu uma risadinha. Em outra ocasião, eu teria rolado os olhos. Mas, surpreendentemente, eu apenas ri.
- Sobre isso... - comecei -, a senhorita podia manter a boca fechada de vez em quando, não? - falei e ouvi ela rir alto.
- Ah, então vocês se encontraram mesmo? - Ela perguntou.
- Sim, e eu preciso da sua ajuda - falei, ouvindo ela murmurar um "fala". Respirei fundo e soltei a bomba: - Elemebeijou e temosumencontrohoje.
- É o quê? Fala mais devagar, amiga! - Ela disse, enquanto eu revirava os olhos.
- Ele me beijou e temos um encontro hoje. - Falei, pausadamente. Ela deu um berro e eu podia jurar que ela estava pulando do outro lado da linha.
- O quêêê? ! Como você não me ligou mais cedo pra me contar? Meu deus do céu! - Ela desatou a falar e eu apenas ria - Eu sabia! Eu sabia que isso ia acontecer! Me conta tudo! Não! Espera, eu tô indo pra sua casa! - Ela disse e antes mesmo que eu pudesse responder, a linha ficou muda.
Ri, deixando o telefone ao meu lado. Inclinei meu corpo pra trás e deitei na cama. me olhou e sorriu.
- Sua tia é maluca, . Não bate bem da cachola.
- O que é cachola? - Minha filha perguntou, me fazendo rir alto.
- Cabeça, amor. Ela é meio doidinha, sabe? - Perguntei, apontando o dedo indicador para minha cabeça e girando o mesmo e ela entendeu na hora, rindo alto comigo. - Não conta pra ela que eu falei isso! - coloquei o dedo indicador sobre os lábios, pedindo segredo. Ela concordou, rindo, e logo voltou a brincar com suas bonecas.
Vinte minutos depois, a campainha tocou insistentemente, várias vezes seguidas, e eu sabia que era . Assim que abri a porta, ela entrou correndo e me olhou, animada.
- Vamos, desembucha! Pode começar a contar tudo! - falou, juntando as duas mãos em expectativa.
a olhava com uma cara estranha. Segurei o riso.
- Oi pra você também, . Seja bem vinda a minha casa! - Falei, revirando os olhos.
- Ah, para com essa baboseira - Falou, e olhou para , que ria de seu jeito. - Você tá rindo de que, gatinha? Sua mãe solta uma bomba e não me dá detalhes! - Se aproximou dela, pegando-a no colo e fazendo cócegas. gargalhava e quando parou, ela imitou meu gesto de antes, girando o dedo indicador ao lado da cabeça, dizendo que ela era doida. - Você tá me chamando de maluca? - falou.
gargalhou, jogando a cabecinha para trás, fazendo minha amiga segura-la.
- Eu falei, ursinha! - dei de ombros, rindo.
soltou no chão e me pegou pela mão, me puxando para o sofá.
- Desembucha, ! - Ela falou, séria, e eu prendi o riso de novo. - Meu deus, anda, criatura!
Respirei fundo e parei de rir. Olhei para que nos observava curiosa e sorri para ela, que logo começou a brincar com alguns brinquedos que estavam espalhados pela sala.
- Ontem, quando eu cheguei com , tava entrando em casa. No início, eu achei que ele tava muito estranho. Disse que viria buscar depois que tomasse banho, pra ir na casa dele brincar com Bóris e Léia, e nem comentou nada sobre mim - fiz um biquinho e ela revirou os olhos -, mas depois, quando ele veio buscar ela e eu pedi pra ele não trazer ela tarde, ele disse que havia encomendado comida chinesa pra gente comer juntos.
bateu palmas, empolgada e eu ri, continuando:
- Ele serviu até um vinho, pra comemorar o sucesso da apresentação dele no congresso. A gente comeu e depois ele pediu desculpas por não ter avisado que iria viajar. Obviamente, eu falei que ele não precisava me avisar, mas qual foi a minha surpresa quando ele disse que um certo alguém, vulgo você - olhei feio para ela - havia lhe contado que eu senti falta dele?
riu alto e piscou os olhos, fazendo uma carinha inocente.
- Enfim, depois de mais algum tempinho, rolou um clima bem romântico e ele me beijou.
- E você beijou assim, fácil? - Ela perguntou e eu a olhei sem entender. - Eu achei que seria mais difícil, com você falando o tempo todo que não tava interessada...
Suspirei, sorrindo meio sem jeito. Não sabia se era o momento de falar tudo, mas resolvi abrir um pouco.
- É que a última vez que eu fiquei com um cara foi com 18 anos, . - Ela arregalou os olhos e eu fiz sinal para que ela esperasse antes de falar algo. - Eu tenho medo - mordi o lábio, desviando o olhar do dela por um segundo -, de homens - concluí. Ela ficou em silêncio por algum tempo e suspirou, assentindo. - Mas com o as coisas são diferentes, sabe? Me assusta, porque eu nunca me senti segura com homem nenhum, e com ele, é tão fácil... Parece tão certo.
- Por que eu sinto que tem mais nessa história e você não tá me contando? - Perguntou, colocando a mão em meu ombro. Eu fiz uma carinha culpada. - Tá tudo bem, amiga. Você me conta quando se sentir confortável.
- Prometo que sim. - Sorri de lado e ela me abraçou.
- Eu fico feliz que você esteja confiando em mim, . De verdade. É bom saber que o carinho que tenho por você é recíproco.
Eu a abracei de volta e sorri com suas palavras. Era verdade. Eu confiava em e não gostava nem de imaginar meus dias sem sua amizade. Senti dois bracinhos pequenos nos envolverem e ri, sabendo que era .
- Também quero! - Ela falou, e eu e a incluímos no abraço.
- - disse, quebrando nosso abraço -, o que você acha de ficar lá em casa essa noite pra sua mamãe poder sair? Prometo que vamos comer muito bolo de chocolate assistindo todos os filmes que você quiser!
Os olhos de brilharam e ela sorriu.
- Você consegue ficar longe da mamãe, ursinha? - perguntei, fazendo biquinho. Peguei-a e a coloquei sentada em meu colo.
- Onde você vai sair? - perguntou, trocando as palavras. riu e eu sorri.
- Mamãe vai sair jantar com um amigo - respondi e rolou os olhos.
- Tio ? - Ela perguntou e eu levantei as sobrancelhas, surpresa.
- Como você sabe? - perguntei a ela, e ela deu uma risada sapeca.
- Mamãe não tem muitos amigos meninos - respondeu, fazendo uma careta, demonstrando que aquilo era óbvio. Eu fechei a cara e gargalhou. - Nick vai? - Ela perguntou a .
- Podemos chamar ele, o que você acha? - falou e logo balançou a cabeça, confirmando. - Ótimo, vou ligar pra Anne e avisar. E agora, a gente precisa escolher o seu look de hoje - finalizou, dirigindo-se a mim e se levantando do sofá. - Vamos escolher uma roupa bem linda pra mamãe usar hoje? - perguntou a , pegando-a do meu colo e carregando ela junto a si, enquanto andava em direção ao meu quarto.

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Eu me olhava no espelho, checando minha roupa, enquanto estava sentada em minha cama brincando com . Depois de muito trocar de roupa, decidi por um vestido preto simples e um salto não muito alto. fez uma maquiagem leve em mim e eu estava de cabelo solto, com cachos nas pontas. Eram 19h e eu estava ansiosa. já havia tentado me tranquilizar de todas as maneiras possíveis, me contando o quanto era um homem bom, romântico e merecia ser feliz, assim como eu. Segundo ela, ele nunca me machucaria, mas caso o fizesse, ela mesma se certificaria de matá-lo de maneira lenta e cruel.
Quando o relógio marcou 19h30, eu estava na porta de casa, me despedindo de e . Minha filha estava em meu colo enquanto eu falava com ela:
- Mamãe vai correndo te buscar caso você queira. É só me chamar - falei a ela, que apenas sorria para mim - você vai mesmo conseguir dormir longe de mim? - perguntei, fazendo uma cara triste.
- Você não vai tá longe, mamãe linda - ela falou e colocou sua mãozinha em seu coração -, você 'ta aqui o tempo todo.
Abri um sorriso imenso, sentindo meus olhos marejarem. Abracei , apertando-a contra mim. Minha filha não existia. Não era possível que ela fosse real.
- Tá esmagando, mamãe. - Ela disse e eu ri baixinho, soltando-a no chão. Ela pegou sua mochilinha e seu gatinho de pelúcia e entregou para , que antes observava a cena em silêncio, com um sorriso nos lábios. Assim que abri a boca para falar com ela, ela me cortou:
- Já sei, já sei! - revirou os olhos - Não deixar ela comer demais, não esquecer de escovar os dentes, não esquecer de colocar a fraldinha no colchão caso ela faça xixi, não deixar ela dormir muito tarde, não pensar duas vezes antes de te ligar - ela respirou fundo -, mais alguma coisa?
Eu sorri, e neguei com a cabeça.
- Obrigada, amiga. Por tudo. - A abracei rapidamente e ela sorriu, concordando.
- Vamos, ? Antes que a gente atrapalhe o encontro da mamãe com Tio .
assentiu e deu seu gatinho para ela segurar. Com a mão livre, ela segurou na mão de e as duas foram andando até o elevador. se virou e acenou, dando um tchauzinho e gritando:
- Te amo, mamãe!
Eu sorri com os olhos cheios de lágrimas e apenas respondi um "eu também", enquanto via a porta do elevador se fechar e minha filha ir passar a primeira noite longe de mim.


Capítulo 7

Eu andava de um lado para o outro da sala, impaciente. Eram 20h10 e nada de aparecer. Não tínhamos marcado um horário, mas já era para ele ter dado sinal de vida, não? Quando finalmente resolvi me sentar e mentalizar que não havia motivo para estar tão nervosa, a campainha tocou.
Me levantei, ajeitando meu vestido e dando uma última olhada no espelho. Não me lembrava de já ter ficado tão nervosa assim na vida, a não ser quando estávamos esperando o médico dar o diagnóstico de mamãe. Balancei a cabeça, espantando os pensamentos. Esse nervoso era um nervoso muito melhor. E eu definitivamente nunca o havia sentido.
Quando abri a porta, e vi em minha frente, vestindo uma camisa social branca que realçava seus braços musculosos, uma calça escura e um sapato da mesma cor, não pude conter um sorriso de lado. Acho que perdi algum tempo apenas o observando, e só lembrei de olhar para seu rosto quando escutei um pigarro e uma risada baixinha.
- Boa noite, . - Ele falou, e se aproximou para encostar sua boca na minha em um selinho rápido. - Você tá linda. Como sempre.
- Você também. - Respondi, sorrindo enquanto respirava fundo para sentir seu perfume pela primeira vez na noite.
- Vamos? - Ele perguntou e estendeu a mão para mim. Assenti com a cabeça, fechando a porta de casa e segurando sua mão.
- Onde vamos? - Perguntei, enquanto andávamos em direção ao elevador. - Que graça teria se eu contasse? - Falou, sorrindo de lado. - tá com a ?
- Sim. Foi com ela sem nem pensar duas vezes. - Fiz um biquinho, lembrando de como ela ficou animada para dormir fora. - Achei que ela fosse chorar, mas quem chorou fui eu.
Ele riu de meu comentário, ao mesmo tempo que a porta do elevador se abriu e começamos a caminhar em direção ao seu carro. Ele abriu a porta para mim e eu sorri, agradecendo, me sentando logo em seguida e ele fez o mesmo.
- Não é longe o lugar, é bem pertinho, pra falar a verdade. - Falou e eu o olhei, curiosa. Ele deu partida no carro e logo estávamos a caminho do misterioso lugar.
- Você tá com fome? - Perguntou.
- Sim. - Respondi.
- Que bom. Já chegamos.
Estranhei a rapidez e olhei para fora do carro. Juntei as sobrancelhas em confusão e o olhei. Ele tinha uma expressão divertida no rosto. Antes de eu perguntar qualquer coisa, ele desceu do carro e veio até mim, abrindo a porta e estendendo a mão para que eu a pegasse.
- O que estamos fazendo em casa? Você esqueceu alguma coisa? - Perguntei, confusa, enquanto andávamos em direção ao elevador do nosso prédio.
- Não teria graça se eu simplesmente abrisse a porta do meu apartamento pra você. - Ele piscou e eu sorri, finalmente entendendo que o nosso encontro seria em sua própria casa.
Quando saímos do elevador e nos dirigimos até a porta, ele a abriu e fez uma reverência exagerada para que eu entrasse em sua frente. Ri de seu gesto e dei alguns passos, entrando no apartamento.
O local estava escuro, e somente a mesa de jantar no canto da sala estava iluminada por algumas velas e a luz da lua que entrava pela janela. Haviam dois pratos na mesa com uma rosa vermelha em cima de cada um, duas taças e os talheres. Uma música tocava baixinho e eu abri um sorriso, observando tudo ao meu redor. Pude ver Bóris deitado em sua caminha, usando uma gravata borboleta. E Léia estava esparramada no sofá.
Me virei para e ele estava com as mãos no bolso e me olhava em expectativa. Caminhei até ele e sorri de lado.
- , isso é... - sorri, sem palavras. Nunca ninguém havia feito nada nem parecido para mim. - Obrigada.
Ele se aproximou e colocou as duas mãos no meu rosto, me dando um selinho em seguida. Logo se afastou e segurou em minha mão, me puxando até a mesa. Ele afastou a cadeira e eu me sentei.
- Aceita vinho, senhorita? - Ele perguntou, imitando um garçom e eu não pude conter uma risada. Concordei com a cabeça.
Ele se afastou, voltando em seguida com uma garrafa de vinho em mãos. Serviu um pouco nas duas taças e saiu em direção a cozinha. Quando voltou, segurava uma travessa e a colocou no meio da mesa. Sentou-se na cadeira em frente a minha e sorriu.
- Espero que você goste de macarrão ao molho quatro queijos com filet mignon. - Falou, enquanto servia um pouco do macarrão em meu prato e depois no dele.
- É um de meus pratos favoritos. - Sorri para ele em confirmação.
Ele pegou sua taça e eu levantei a minha também. Tomamos um gole do vinho ao mesmo tempo e logo começamos a comer em um silêncio agradável.
- Foi você quem preparou? - Perguntei, enquanto levava mais uma garfada do macarrão a boca.
- Minha especialidade - Ele sorriu de lado e deu de ombros.
- tá mais que aprovado. - Comentei, sorrindo.
- Espera até você provar a sobremesa. - Falou e deu uma piscadinha, enquanto juntava seus talheres no meio do prato, sinalizando que já estava satisfeito. Fiz o mesmo.
- Tem chocolate? - Perguntei em expectativa e ele riu.
- Você falou igualzinha a . Até parece que vi ela aqui na minha frente. - Comentou rindo e eu fiz o mesmo, tomando mais um gole de meu vinho. - É petit gatteau.
- Onde você aprendeu a cozinhar desse jeito? - Questionei enquanto ele levava nossos pratos sujos para a cozinha.
Me levantei e peguei a travessa de macarrão, mas ele foi mais rápido, retornando e tirando-a de minhas mãos.
- Você fica sentadinha aí. - falou, soltando a travessa na mesa na novamente e me guiando pelos ombros até que eu me sentasse novamente.
- Eu vou ficar mal-acostumada, . - Falei um pouco mais alto, pois ele já havia ido para a cozinha novamente. - Assim eu vou querer repetir isso aqui várias vezes.
- Eu não veria problema algum - falou, enquanto, retornava com dois pratos de sobremesa na mão -, e é essa minha intenção.
Ele deixou os dois pratos sobre a mesa e me deu um beijo na bochecha, indo se sentar em sua cadeira na minha frente em seguida. Começamos a comer a sobremesa e eu não podia acreditar no sabor daquilo. Era extremamente bom, e imaginei a reação de se um dia provasse essa sobremesa. Ri baixinho com esse pensamento.
- O que foi? - perguntou.
- Só tava imaginando a reação de comendo isso aqui.
- Ela provavelmente comeria só o bolinho de chocolate. - Ele falou, concordando.
- Sem dúvida alguma - respondi, rindo -, o sorvete seria esquecido. - Sorri de lado. - Onde você aprendeu a cozinhar assim?
- Minha mãe - deu de ombros -, a maioria das comidas que sei, ela quem me ensinou.
Sorri, lembrando-me de que minha mãe também havia me ensinado alguns pratos. Na verdade, tudo que eu sabia fazer na cozinha, eu devia a ela. Talvez não só em relação ao que sei cozinhar, mas sim em tudo que sei fazer, de um modo geral. Tudo fora mamãe quem me ensinou. Enquanto pensava nisso, percebi que gostaria de dividir esses pensamentos com .
- Angie também era boa na cozinha - comecei, baixinho -, talvez não tão requintada, mas tudo que sei, ela quem me ensinou.
- Sua mãe? - perguntou, sorrindo de lado. Eu apenas assenti e esbocei um sorriso triste. - Faz quanto tempo que ela faleceu?
- Vai completar cinco meses agora, início de abril. - Esclareci e apertei meus lábios um contra o outro, sentindo meus olhos arderem.
Ele se levantou e veio em minha direção, pegando em minha mão e me fazendo levantar também. Passou o braço por minha cintura e grudou meu corpo ao seu, enquanto colocava meu cabelo atrás da orelha com a outra mão. Eu mantive meu olhar baixo, pois não queria que ele me visse nesse estado.
- Eu sinto muita falta dela. - Antes que me desse conta, a frase havia saído de meus lábios.
me apertou mais contra ele e colocou a mão em meu queixo, levantando-o, me fazendo olhar para ele. Limpou uma lágrima que teimou em escapar e sorriu para mim.
- Tenho certeza que se ela pudesse ver a mãe responsável e dedicada que você se tornou, ela sentiria tanto orgulho de você quanto eu sinto. E olha que eu nem te conheço há muito tempo - falou, me fazendo fungar baixinho. - , você tem uma força incrível. Tem apenas 22 anos e carrega o mundo nas costas. Trabalha, estuda e cuida de . Você tem noção disso? - Ele perguntou, enquanto acariciava meu rosto. - tem muita sorte de ter você como mãe. E, mesmo sem conhecer a sua mãe, eu sei que você aprendeu tudo isso com ela. Mesmo sem você perceber, sua mãe tá sempre com você.
Assim que ele terminou de falar, mais algumas lágrimas haviam escapado, mas eu não me importava. Nunca havia conversado com ninguém sobre minha mãe quando ela faleceu. Não recebi um consolo, além de alguns tapinhas nas costas vindos da equipe do hospital. Eu e lidamos com isso sozinhas, e eu sempre evitava chorar na frente dela.
Quando um soluço escapou de minha boca e eu me aninhei mais a , escondendo meu rosto em seu pescoço, eu senti alívio, por finalmente estar colocando tudo para fora. Ele me abraçava forte, me mantendo perto de seu corpo e fazendo carinho em meus cabelos, enquanto esperava eu me acalmar. Após algum tempo, finalmente meu choro foi diminuindo e eu me afastei dele, que logo limpou minhas lágrimas e sorriu para mim.
- Me desculpa, tenho certeza que você não se imaginou limpando minhas lágrimas no nosso primeiro encontro... - Ri meio sem jeito e ele negou com a cabeça.
- Para de ser boba. Não tem problema algum. - Ele disse, ainda sem tirar o sorriso do rosto. - Você pode falar comigo quando quiser. Eu estudei pra isso, lembra? Sou profissional. - Ele riu baixinho e eu o acompanhei. - Vou sempre estar aqui pra te confortar, enquanto você quiser.
- Ok, Dr. , da próxima vez eu marco um horário, tudo bem? - falei, e ele fez uma careta, torcendo a boca.
- Não foi isso que quis dizer... - Começou, mas eu logo levei meu dedo indicador ao seu lábio.
- Shh, eu sei. Foi brincadeira. - Comentei, abrindo um sorriso de lado. Aproximei meu rosto do dele e lhe dei um selinho.
- Quer dançar? - Perguntou. Olhei-o com uma sobrancelha arqueada.
- Eu não sei dançar. - Respondi.
- Nem eu. - Ele falou e deu uma piscadinha, rindo em seguida.
se afastou e foi até uma caixinha de som que eu ainda não havia visto. Aumentou o volume e voltou até mim. Passou um braço por minha cintura e segurou minha mão com sua mão livre. Nossos corpos se grudaram e eu levei uma mão até seu ombro. Começamos a nos mexer lentamente, ambos sem jeito. Sua mão deslizou por meu braço, até parar em meu pescoço, perto de meu rosto. Eu passei ambos os braços por seu pescoço e me permiti olhar em seus tão expressivos olhos azuis, que brilhavam. abriu um sorrisinho de lado e aproximou seu rosto do meu, sem desviar nossos olhares. Roçou sua boca na minha lentamente e logo iniciamos um beijo lento.
Suas mãos passeavam pelo meu pescoço e nuca, entrelaçando-se em meu cabelo. Levei uma das mãos até sua nuca, minhas unhas arranhando levemente a área. O beijo foi se intensificando e começou a andar em direção ao sofá. Ele me deitou com calma e inclinou-se, deitando seu corpo por cima do meu. Continuamos a nos beijar e eu estava totalmente entregue ao momento.
A mão de desceu para minha cintura e ele a apertou levemente. Eu deslizei minhas mãos pelas suas costas, passando a ponta dos dedos pela mesma. Sua mão passeava por meu corpo e logo subiu em direção a um de meus seios.
Foi quando eu travei. Meu corpo se endureceu inteiro e eu fiquei tensa. O que eu estava fazendo?
se afastou de mim, quebrando o beijo, e me olhou com uma expressão que continha um pouco de dúvida, mas ele sorria de lado.
- Desculpa, eu... - Falei, baixinho, completamente sem jeito pela situação. Minhas mãos suavam e eu estava visivelmente nervosa.
- Tá tudo bem. - Me tranquilizou, passando a mão pelo meu rosto e ajeitando meu cabelo.
Depositou um beijinho em meus lábios e se afastou, ajeitando sua roupa e sentando-se no sofá. Fiz o mesmo e sentei ao lado dele. Logo ele me puxou e me abraçou de lado, encostando-me ao seu corpo. Antes mesmo que eu começasse a falar, ouvi:
- Você não precisa se explicar - disse.
Assenti e agradeci silenciosamente, enquanto olhava para frente, ainda um pouco assustada pelo momento anterior. Ficamos em silêncio durante algum tempo, fazia carinho em minha cabeça e eu estava com o olhar perdido. Eu ainda estava tensa, e me perguntava como havia deixado me levar tão rápido. Esse era o efeito de sobre mim?
Eu não tinha ideia do que se passava em sua cabeça. Provavelmente ele estava pensando que sou imatura e muito nova, afinal, tenho 22 e ele tem quase 30. Ou ele pensava que eu somente não queria transar em nosso primeiro encontro, o que, para um cara de 30, deveria ser ridículo. Mas talvez, só talvez, ele havia percebido meu corpo tenso, meu nervosismo e meu medo, e pensasse que havia algo mais do que somente não querer transar.
Soltei um suspiro baixinho e ele se virou em minha direção, levantando minha cabeça para que eu o olhasse. Seu olhar transmitia tranquilidade, enquanto o meu, demonstrava nervosismo e medo.
- Tá tudo bem? - Perguntou.
Balancei a cabeça em concordância e ele aproximou seus lábios de minha testa e deixou um beijinho ali. Sorri com o gesto e me aninhei mais a ele, sentindo seu perfume. Respirei fundo algumas vezes e logo fui me acalmando. Eu não sentia medo de ficar perto de . Eu não sentia mais medo em beijá-lo, ou ficar no mesmo ambiente que ele. Mas sexo era um trauma. Assim como não havia ficado com mais ninguém desde meu ex-namorado, eu obviamente também não havia transado com ninguém. Uma única vez foi o suficiente para que eu sequer pensasse em repetir. Eu não sei se iria superar isso. Não sei se entenderia isso. Mas não passou por minha cabeça em momento algum deixá-lo ciente de meus pensamentos. Era muito cedo, e não havia porque assustá-lo. Ele poderia não querer se envolver com alguém com tanto trauma, como eu.
- Quer ir pra casa? - Perguntou enquanto mexia nas pontas de meu cabelo. Neguei com a cabeça. - Quer fazer o quê?
- Só ficar aqui, com você - falei baixinho, abrindo um sorriso inseguro -, e talvez tomar mais uma taça de vinho.
Ele riu e levantou do sofá, indo até a mesa buscar nossas taças e o vinho. Voltou para o sofá e serviu nossas taças, me entregando a minha. Deixou a garrafa na mesinha de centro e se sentou no sofá.
- Então vamos conversar sobre alguma coisa. Sobre o que você quer falar? - Perguntou, dando um gole em sua taça.
Pensei por um momento e sorri, sentando de frente para ele, dobrando minhas pernas uma cima da outra.
- Me conta sobre Sara. - Pedi, mordendo o lábio. Bebi um gole de meu vinho.
Ele arqueou as sobrancelhas em surpresa, mas logo sua expressão se tornou feliz e seus olhos brilharam.
- Ela era perfeita. Seus cabelos ruivos eram a coisa mais linda. - Ele sorriu. - Se eu me esforçar muito, ainda consigo sentir seu cheirinho de morango. Ela era louca por Léia, e Léia era louca por ela. Ela tinha mania de ficar mexendo no meu cabelo, toda vez que eu a pegava no colo. Emaranhava as mãozinhas no meu cabelo e era o melhor carinho do mundo. - deu um suspiro apaixonado e eu sorri, imaginando o quão adorável ela era. - Ela tinha meus olhos azuis e meu nariz, mas o cabelo e a boca eram de sua mãe. e eram loucos por ela, também. Você, se a conhecesse, também seria. Ela e seriam boas amigas, com certeza.
Ele sorria e seus olhos demonstravam o quanto ele era apaixonado pela filha. E eu entendia, porque eu me sentia do mesmo jeito com .
- Tenho certeza que ela te amava muito! - Falei, levando minha mão até seu cabelo, acariciando-o.
- Eu sei. Eu também a amo muito. - Respondeu, sem conter um sorriso. - vai dormir na casa de ou precisamos buscá-la?
- Vai passar a noite lá, parece que o Nick foi também. - Respondi.
- e estão tendo uma noite de pais postiços hoje, então. - respondeu, rindo em seguida. - tá planejando pedir ela em casamento - minha boca se abriu em surpresa e antes mesmo que eu pudesse falar algo, ele completou -, e você não vai contar isso pra ela!
Dei uma gargalhada e murmurei um "é claro que não!", porque eu não ia mesmo.
Passamos mais algum tempo conversando sobre diversos assuntos. Ele quis saber mais sobre minha mãe, e eu contei, surpreendentemente, sem derrubar uma lágrima sequer. Falou sobre seu trabalho e como amava o que fazia. Conversamos sobre Léia e Bóris, que estavam estranhamente quietos na noite de hoje, como se soubessem que não deveriam atrapalhar.
Em algum momento da noite, as taças de vinho começaram a fazer efeito e meus olhos começaram a pesar, e eu acabei adormecendo.
Acordei algum tempo depois, com me carregando para meu apartamento. Ele já estava me deitando em minha cama quando eu abri os olhos.
- Sh, dorme, . - Ele falou baixinho, enquanto puxava a coberta e colocava sobre mim.
- Não vai embora - pedi, sonolenta -, fica aqui comigo?
Ele se surpreendeu com meu pedido, mas logo sorriu e balançou a cabeça, confirmando. Tirou seus sapatos e se deitou ao meu lado na cama, me puxando para si. Deitei de lado e coloquei a cabeça sob seu peito.
- Me desculpa por chorar e por dormir no nosso primeiro encontro. - Murmurei e pude ouvi-lo rir baixinho.
- Você é uma boba, sabia disso? - perguntou, enquanto fazia carinho em meu cabelo. - Nosso encontro não poderia ter sido melhor.
Eu levantei a cabeça e o olhei, incrédula. Ele sorriu e falou:
- Sabe quantas mulheres fogem quando ficam sabendo que sou separado e que sou pai, mesmo que Sara não esteja mais aqui? - neguei com a cabeça - Praticamente todas. Ninguém quer um homem com 29 anos e tanta bagagem emocional. Mas você é diferente. Muito se deve ao fato de você ser mãe, também. Você se interessa pela minha vida e não se chateia quando desato a falar sobre Sara, ou sobre meu trabalho. Aliás, você poderia ter se assustado quando chorei no seu sofá semana passada - ele riu baixinho -, mas, não, você se mostra interessada quando falamos sobre qualquer assunto, e sempre tem algo bom pra falar. Não sei o motivo disso. Talvez seja porque você precisou amadurecer muito cedo. Ou porque você também tem tanta bagagem emocional quanto eu - ele me olhou, enquanto sorria de lado. - Você é fora do comum, , e é isso que me atrai em você.
Quando ele terminou de falar, não sei quanto tempo fiquei em silêncio, apenas olhando em seus olhos, assimilando suas palavras. Acho que eu nunca havia ouvido algo parecido em minha vida. Só percebi que ainda não havia falado nada, quando a expressão em seu rosto se tornou um pouco tensa.
- Falei demais, não foi? - Ele disse. Eu neguei com a cabeça e me aproximei dele, dando um beijinho em seus lábios.
- Não. Você falou exatamente o necessário. - Sorri de lado, e me aconcheguei a ele novamente, deitando minha cabeça em seu peito. - Você também é fora do comum, , e é exatamente isso que me atrai em você.
Antes mesmo de perceber, adormeci em seus braços.


Capítulo 8

Eu abri a porta de meu apartamento e me deparei com segurando uma caixinha de transporte. Fiz sinal para que ele fizesse silêncio ao entrar. Ele se aproximou de mim e juntou nossos lábios em um selinho rápido, e cochichou:
- Ela ainda tá dormindo, né?
Fiz que sim com a cabeça. Ele soltou a caixinha no chão e fez sinal para que eu me aproximasse. Me abaixei e olhei para dentro da caixinha, encontrando um minúsculo gatinho cinza de olhos verdes, me encarando assustado. Não pude deixar de sorrir.
- Ela vai ficar maluca, . Vai amar! - Eu disse enquanto o puxava para um beijo rápido.
Haviam se passado duas semanas, e quando eu vi, já era aniversário de . Hoje era sábado, e ficou de passar no local onde ele adotou Léia, para escolher um gatinho macho para minha filha. Por isso, eram 10h quando ele deu três batidinhas em minha porta, para que o barulho da campainha não acordasse .
Eu havia feito panquecas com gotas de chocolate para tomarmos café da manhã juntos. E mais tarde, no mesmo dia, teríamos uma pequena festinha de aniversário com a decoração da Bela, do jeitinho que ela pediu. havia ficado responsável em buscar um bolo de chocolate, na mesma padaria onde sempre comprava suas tortas. A festinha seria na edícula na casa de , e eu, ela e Anne havíamos cuidado da decoração.
Eu e estávamos juntos desde nosso encontro. Não ficávamos na frente de , não queria confundir a cabecinha dela. Ela estava radiante pois andava frequentando mais nosso apartamento e nós duas íamos frequentemente ao dele também.
me fazia muito bem e nunca me fazia perguntas invasivas, respeitando meu espaço. Não tentou mais avançar comigo, e eu agradecia mentalmente por isso. Sabia que uma hora ou outra teria que me abrir e superar, mas eu não estava pronta. Eu só tinha uma certeza: a de que queria ele comigo, e que quando eu superasse meu trauma, queria que fosse com ele.
agora estava indo para a escolinha em tempo integral. No início, ela bateu o pé dizendo que não queria passar o dia inteiro longe de mim. Mas eu a expliquei que precisava estudar na escola de gente grande também, e que sempre a buscaria no fim da tarde. Meu estágio na empresa de estava ótimo, e eu ganhava muito bem para as poucas horas que trabalhava diariamente.
Eu não poderia estar mais feliz.
- Vamos acordá-la? - perguntou, e eu assenti. - Vou levar o gatinho na caixinha mesmo e deixar em frente a cama dela.
Fomos andando em silêncio até o quarto de . Ela dormia tranquilamente, com uma expressão serena no rosto. Não pude deixar de sorrir ao observá-la. colocou a caixinha de transporte em frente a cama e se afastou. Eu me aproximei e sentei na beirada da cama. Comecei a passar a mão por seus cabelos devagar. Ela se mexeu, virando-se para o outro lado.
- Ursinha... - Chamei, baixinho.
Ela se mexeu novamente e então abriu os olhos devagar. Levou a mão até eles e os esfregou, olhando para mim e sorrindo em seguida.
- Mamãe linda! - falou, pulando em cima de mim e me abraçando. Eu ri e a abracei de volta.
- Feliz aniversário, meu amor! - eu disse, enquanto ainda a abraçava.
Ela soltou uma gargalhada gostosa e olhou para o lado, encontrando por ali. E então, olhou para o chão, onde estava a caixinha de transporte.
- É a Léia? - perguntou, provavelmente lembrando-se de quando encontramos Léia e Bóris dentro de caixas de transporte há algumas semanas atrás.
Ela se afastou de mim e desceu da cama. Seu olhar estava fixo em , que negou com a cabeça.
- Por que você não espia dentro da caixinha, bonitinha? - Ele falou e ela fez o que ele disse.
Os olhos de se arregalaram e ela deu alguns pulinhos.
- É meu? - Perguntou, alternando seu olhar entre mim e . Ambos balançamos a cabeça em concordância. se aproximou da caixa e a abriu.
- Vamos deixar ele sair sozinho da caixa e se acostumar com o local, tudo bem? - Falou, e assentiu, sem tirar seus olhos do gatinho.
Depois de alguns momentos, uma cabecinha cinza curiosa surgiu para fora da caixinha. riu e continuou a observar o gatinho. Ele colocou as patinhas lentamente para fora da caixa e se aproximou de , cheirando ela em seguida. observava o gato, maravilhada. O gatinho andou pelo quarto, um pouco desajeitado, e, como se soubesse que pertencia à , parou na frente dela novamente. Ela aproximou sua mãozinha dele devagar e tocou em sua cabeça, fazendo um carinho desajeitado.
- Ele é muito pequetitititico! - Comentou encantada, enquanto sorria.
Eu e apenas trocávamos olhares. Eu fui até e peguei o gatinho, colocando-o em suas mãozinhas. O gatinho prendeu as unhas em seu pijaminha e escalou, parando em seu ombro. ria sem parar, quase assustando-o.
- Qual vai ser o nome dele, filha? - Perguntei, e ela me olhou, pensativa.
Depois de algum tempo, ela abriu um sorriso e falou:
- Panqueca!
Eu e rimos. O gatinho pulou de seu ombro e voltou a explorar o quarto.
- Falando em panqueca, adivinha o que vamos comer de café da manhã? - Os olhinhos dela brilharam. - Mas, primeiro, você precisa dar um abraço no Tio . Ele que escolheu o Panqueca pra você! - Disse a ela, enquanto me levantava da cama.
olhou para , que continuava parado no mesmo lugar. Ela se levantou e correu até ele, que se abaixou, pegando-a no colo. Ela passou seus bracinhos ao redor de seu pescoço e falou:
- Obrigada, tio ! Melhor tio do mundo! - exclamou, enquanto dava um beijo em sua bochecha, com os olhos brilhando em felicidade.
- Você merece, bonitinha. Mas tem que cuidar bem dele, tudo bem? - Ela assentiu e a soltou, pegando o gatinho e indo para a sala, enquanto eu arrumava .
Tirei o pijama dela e coloquei uma roupinha para que ela ficasse confortável. Logo estávamos os três sentados na mesa da cozinha, comendo panquecas com gotas de chocolate e frutas.
- O Panqueca pode comer panqueca com a gente? - perguntou, fazendo eu e rirmos, e eu neguei com a cabeça.
- Não, meu amor. Ele tem sua própria comidinha. Não pode comer comida de gente.
- E se a gente perder ele aqui dentro? - Ela falou, olhando para os lados e não encontrando ele. - Cadê Panqueca?
- É impossível perder ele, ursinha - falei, rindo baixo -, ele gosta de você, sabia?
- Como você sabe? - Perguntou, curiosa.
- Ele tá deitado em baixo da sua cadeira. Você só não consegue ver. - respondeu e sorriu.
- Quero ver, quero ver! - Exclamou, soltando os talheres na mesa.
- Você não quer mais comer? - Perguntei e ela negou com a cabeça.
desceu da cadeira com certa dificuldade e se abaixou para ver o gatinho, que dormia tranquilamente.
Alguns minutos depois, enquanto eu levava a louça que usamos para a pia, guardou as sobras de panqueca na geladeira e limpou a mesa. Eu estava lavando a louça, quando senti me abraçar por trás e depositar um beijo em minha nuca. Um arrepio percorreu meu corpo e eu fechei a torneira, secando minhas mãos, e deixando o pano em meu ombro. Me virei de frente para ele e falei:
- O que conversamos sobre não nos beijarmos na frente de ?
- Mas eu não tô te beijando. - Ele respondeu, sorrindo de lado e me roubando um selinho. Eu fechei a cara pra ele e ele gargalhou. Peguei o pano de meu ombro e bati nele com o mesmo.
- Ouch! É assim, é? - Ele perguntou, colocando as mãos em minha barriga e me apertando. Soltei um gritinho por causa das cócegas e ele continuou, me fazendo gargalhar.
- Mamãe tá bem? - Ouvimos perguntar e nos afastamos.
- Seu tio gosta de implicar comigo, filha, mas tá tudo bem. - Peguei a no colo e dei um beijinho em sua bochecha.
- , você sabia que sua mãe também tem cócegas, igual você? - falou e ela negou com a cabeça. - Agora já sabe. Um dia, você pode pegar ela de surpresa e encher ela de cosquinhas. - Falou, voltando suas mãos para minha barriga e me apertando novamente. Eu ri alto e me acompanhou, gargalhando.
- , para! - pedi entre as risadas, segurando firmemente junto a meu corpo. Ele finalmente parou e eu pude respirar fundo.
- Céus, você mal fez quatro anos e já tá mais pesada, ! - Ela riu e fez uma carinha sapeca. Soltei-a no chão e ajeitei minha roupa e meus cabelos.
Ouvimos um miado agudo e olhamos para o chão. Panqueca nos encarava com a cabecinha virada para o lado, curioso. logo o pegou no colo e foi em direção a sala e nós a seguimos, sentando no sofá junto com ela. Até parecíamos uma família.

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Eram 15h30 quando chegamos em frente à casa de . Quando a porta se abriu, entrou igual um furacão, sem dar oi pra ninguém, correndo em direção a edícula. Eu, e nos entreolhamos e demos de ombros.
- Boa tarde, casal maravilha! - nos cumprimentou e nos abraçou, ficando no meio de nós dois, entrelaçando um braço em cada um de nós.
Caminhamos juntos até lá fora e a edícula estava toda decorada em tons de amarelo e dourado. Na mesa principal, haviam algumas réplicas da louça do filme "A Bela e a Fera" como decoração. Algumas bonecas imitando a Bela também estavam espalhadas pela mesa. No centro, um bolo branco com detalhes em dourado e uma vela com o número quatro.
estava usando um vestido branco com amarelo, para combinar com a decoração. Havia uma faixinha em sua cabeça, prendendo seu cabelo para trás. Ela não parava de falar que estava se sentindo uma princesa.
- , querida! - Louise, mãe de e Anne se aproximou, me abraçando. - Parabéns pela filha, ela tá linda!
- Obrigada, Louise. - Respondi sincera. Ela chamou um homem com cerca de 60 anos com a mão e ele se aproximou.
- Acho que vocês ainda não se conhecem, não é? Phillip chegou ontem de viagem. - Louise falou. - Querido, essa é , amiga de e Anne. , esse é meu marido, pai das meninas.
- Prazer, senhor. - Estendi a mão e ele riu, afastando minha mão e me dando um abraço em seguida. Eu olhei surpresa para Louise e ela apenas riu.
- Então é você a nossa nova design de interiores e amiga da família? - Phillip falou e eu assenti, sorrindo, enquanto ele quebrava o abraço. - É um prazer finalmente te conhecer, !
- É um prazer conhecer o senhor também, Phillip. - Comentei, e senti uma mão se entrelaçar a minha. Sorri, sabendo que era .
- Phillip, Louise. - Ele cumprimentou.
- . - Phillip falou, estendendo a mão para , que a apertou.
Louise me olhou e deu uma piscadinha. Eu sorri sem jeito. se virou para mim e falou:
- Você precisa ir cumprimentar os pais dos amiguinhos de que estão chegando.
Assenti, dando um beijo no canto de sua boca e me afastando, enquanto ele continuava a conversar com Louise e Phillip.
Quando os convidados terminaram de cantar os parabéns, todos começaram a bater palmas e fazia o mesmo atrás de seu bolo de aniversário, com um sorriso enorme no rosto. Ajudei-a a assoprar a velinha e mais uma salva de palmas e gritinhos animados se fizeram ouvir.
- Olha pra foto, meu amor! - Falei a ela quando a peguei no colo e a abracei, para que uma foto nossa fosse tirada.
Depois, foi a vez de se juntar a nós. ficou entre eu e ele, e passou um braço por cada um de nossos pescoços. Depois vieram e , Louise e Phillip e por último, Anne, Mark e Nick.
, Nick e alguns de seus coleguinhas da escola que ainda não haviam ido embora, corriam por todo o gramado. Havia uma cama elástica e eles já tinham enjoado de pular na mesma. Começava a anoitecer, e nós estávamos sentados em uma mesa na edícula, conversando.
De repente, ouvimos um grito agudo e um choro estridente. Todos nos levantamos correndo e eu vi no chão chorando, enquanto seus amiguinhos estavam ao redor, assustados. Nick chorava junto com ela. Corri em sua direção, sendo seguida por todos. Cheguei perto dela e me abaixei:
- O que foi, ursinha? A mamãe tá aqui! - Falei, sentando-me ao seu lado e puxando-a com cuidado pra mim.
Ela apenas chorava e não conseguia falar nada. Meus olhos já estavam cheios de lágrimas.
- ... - se aproximou, olhando o corpinho de para ver se achava algum machucado. - , o que dói?
Ela apontou para seu braço que estava dobrado sob sua barriga e assentiu. Ele aproximou a mão devagar e ela gritou, apavorada com a ideia dele encostar em seu braço. Parecia que ela havia quebrado o bracinho. Mordi os lábios, nervosa.
- Vamos ao hospital, tudo bem? Você deixa eu carregar você? Prometo que não vai doer. - falou para ela e ela assentiu, ainda chorando.
a pegou de meus braços com cuidado para não mexer em seu braço e foi andando para dentro de casa. Me levantei com a ajuda de e logo estava ao meu lado.
- Fica calma, amiga. Essas coisas acontecem, você sabe disso. Logo ela vai ficar bem - falou, me abraçando pelo ombro.
- Sei disso, . Mas é agoniante vê-la chorando desse jeito. - Encolhi os ombros.
- Pode ir tranquila, que eu e ficamos aqui até todas as crianças irem embora. Pode ir direto pra casa depois, não se preocupa com nada. - falou e eu sorri, lhe abraçando rapidamente e depois corri para alcançar e . Ela já estava em sua cadeirinha e ainda chorava, mas estava um pouco mais calma.
- Mamãe vai sentar aqui atrás com você, tudo bem? - Perguntei quando entrei no carro, sentando-me no banco de trás, ao lado de sua cadeirinha.
- Ela tem plano de saúde, ? - perguntou e eu confirmei. - Ótimo, assim vai mais rápido.
Ele deu partida no carro e em menos de dez minutos já estávamos na recepção do hospital. falava com várias pessoas tentando agilizar o atendimento. Depois de alguns minutos de espera, um médico se aproximou de nós e eu respirei aliviada.
- ? - falou, e nós nos levantamos.
Assim que olhou para o médico, seu corpo ficou tenso. Eles se conheciam?
Os olhos do médico passaram por , depois por mim e então por . Acompanhamos o médico até uma salinha. carregava minha filha no colo e seus olhinhos estavam inchados de tanto chorar.
- Então, ! Não sabia que havia se casado novamente e tido outra filha. - O médico falou e eu mordi os lábios, um pouco surpresa.
- Não casei e não é minha filha, Charles. é a mãe. - respondeu e o médico me olhou, assentindo.
- Faz tempo que não nos vemos, hm? Uns 3 anos? - Charles perguntou e assentiu. - O que temos aqui hoje? - perguntou, dirigindo-se a . Coloquei-a sentadinha na maca que tinha no centro da sala.
- Ela caiu e acho que quebrou o braço - comecei a contar -, encontrei ela chorando e ela não nos deixou tocar em seu braço.
- , vou ter que mexer no seu braço, tudo bem? - Perguntou, e se encolheu, olhando para mim com uma expressão assustada. - Amor, ele vai te ajudar. Mas precisamos que você deixe ele tocar no seu braço. Ele não vai te machucar. - Ela fez um biquinho e confirmou com a cabeça.
Charles tocou no braço de e ela soltava gemidos e gritos baixinhos.
- Provável que esteja fraturado, mesmo. Vamos tirar um raio-x para confirmar, tudo bem? Já volto, aguardem aqui. - Avisou antes de se retirar da sala.
estava tenso no canto da sala e estava aninhada a mim.
- Hm, ? Tá tudo bem? - perguntei e ele assentiu, sorrindo fraco. Mas, eu o conhecia, e sabia que não estava tudo bem. Era por causa do médico? - Você pode falar... - fui interrompida pela porta da salinha se abrindo.
Charles entrou com uma máquina de raio-x portátil. Pediu para eu e sairmos da sala por um momento e colocou um colete de proteção em , ajeitando seu bracinho. Logo o raio-x foi tirado e já tínhamos a confirmação: fraturado.
Enquanto Charles engessava o bracinho de , eu e apenas observávamos. Quando ele acabou, fui até e a peguei no colo. Ela ainda estava chorosa, então deitou a cabeça em meu ombro e fechou os olhinhos.
- Prescrevi um medicamento pra ela tomar nos primeiros dias para aliviar a dor - Charles falou -, e tem meu celular, caso precisem de alguma coisa. Vai ficar tudo bem, - finalizou, fazendo carinho na cabeça dela.
Eu sorri para ele, assentindo em forma de agradecimento.
- Obrigado, Charles. - falou, estendendo a mão para ele, que a pegou e eles trocaram um cumprimento rápido.
Eu me afastei um pouco dos dois, acalmando em meus braços, mas ainda pude ouvir quando Charles falou:
- Pela idade dela, , se ela fosse sua filha, eu teria certeza que você traiu minha irmã enquanto ainda eram casados, e eu quebraria sua cara.
Parei no lugar em que estava e comecei a prestar atenção.
- Você sabe que eu nunca faria isso, Charles. Me surpreende que tenha pensado isso de mim. Você sabe que sempre fiz tudo pelo nosso casamento, pena que Melissa não fazia o mesmo - ouvi responder.
Então era Melissa o nome dela?
- Tudo bem, , ela não é sua filha. Mas, e a mãe? - Charles perguntou.
- É apenas minha vizinha e amiga - respondeu.
Aquelas palavras me atingiram em cheio. Eu dei mais alguns passos, me afastando dos dois. Comecei a caminhar em direção ao carro e as palavras de ecoavam em minha cabeça.
Apenas minha vizinha e amiga.
Apenas.
Vizinha.
Amiga.
Era isso que eu era para ele?
Ouvi seus passos atrás de mim e logo o carro se abriu. Coloquei , que agora estava adormecida, na cadeirinha e passei o cinto por ela. Não fiz questão de me sentar no banco da frente ao lado de , então fiquei atrás com .
Ele entrou no carro em silêncio e deu partida, e eu não fiz questão de falar algo. Não sabia se ele só estava chateado por ter encontrado o irmão de sua ex-mulher ou se ele sabia que eu havia ouvido o que ele disse. Quando vi, já estávamos na garagem e subimos o elevador ainda em silêncio. Ele carregava , e quando chegamos em meu apartamento, ia levá-la para seu quarto, mas eu quebrei o silêncio:
- Ela vai dormir comigo hoje. - Falei, e ele assentiu, levando-a para o meu quarto.
Eu fui até o quarto de para pegar seu pijama e encontrei Panqueca dormindo ao lado da cama dela. Peguei-o no colo e o levei para meu quarto, colocando-o em cima de uma almofada que havia no canto do quarto. Fui até e tirei seu vestidinho, colocando um pijama e deitando-a na cama novamente. fez carinho em Panqueca, que deu algumas lambidinhas em sua mão e logo voltou a dormir.
Fomos para a sala, e continuava em silêncio. Ele se sentou no sofá e fez sinal para que eu me sentasse ao seu lado. Meio a contragosto, sentei, apenas para ouvir o que ele iria me dizer.
- Charles é meu ex-cunhado, irmão de Melissa - falou, enquanto me olhava.
Continuei com o olhar para frente e ele levou sua mão em direção a minha, entrelaçando nossos dedos. Nem me mexi.
- Eu sei que você ouviu. Me desculpe - ouvi ele comentar, e virei o rosto para ele, esperando que continuasse -, eu... Não sei porque falei aquilo. Não sei também porque isso mexeu tanto comigo. Eu nunca mais vi a Melissa, e até hoje, não havia visto ninguém de sua família também.
Suspirei baixinho e olhei em seus olhos. Eles estavam sem o brilho de sempre, e arrisco dizer que demonstravam incerteza.
- Você ainda sente algo por ela? - perguntei, mordendo o lábio.
Eu temia sua resposta. Não esperava que ele estivesse caindo de amores por mim ou que já estivesse tão apaixonado quanto eu estou por ele. Só esperava que a resposta dele não me machucasse.
- Sinto - ele falou baixinho e eu respirei fundo, desviando o olhar -, mas não a amo mais. Eu sinto saudade, sinto carinho e queria que tivéssemos uma última conversa. Só isso.
Assenti, um pouco aliviada por saber que ele não a amava mais. Mas ainda não entendia porque ele havia dito que eu era apenas sua vizinha e amiga. Por que isso importava para o ex-cunhado? e Melissa eram separados. Que problema teria se ele estivesse com outra pessoa?
Eu não esperava que ele me chamasse de namorada, não estamos juntos há tanto tempo, mas nós definitivamente não éramos só vizinhos e amigos. Ele apertou minha mão e colocou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha, me fazendo olhar para ele novamente.
- Me desculpa. Eu acho que entrei em pânico e não soube o que falar. E acabei falando o que não devia... - passou seu polegar por minha bochecha, acariciando a mesma. - Você até pode ser minha vizinha, mas não é só minha amiga. Eu gosto de verdade de você.
- Tudo bem, ... Não esperava que você me apresentasse ou algo assim, mas me surpreendi quando ouvi aquelas palavras daquele jeito, ainda mais quando descobri ser irmão de sua ex-mulher - falei, levando minha mão até a dele e segurando-a -, pra mim, pareceu que você queria me esconder. - Concluí, e ele suspirou, negando com a cabeça.
- Não foi isso, eu juro. Acredita em mim? - Perguntou, olhando em meus olhos.
Eu concordei, balançando a cabeça positivamente.
- Obrigado.
Sorri de lado e ele me deu um beijinho na ponta do nariz. Ri baixinho e passei meus braços ao redor de seu pescoço, trazendo-o para perto de mim e unindo nossos lábios em um selinho, que logo virou um beijo. Uma de suas mãos desceu para minha cintura e a outra deslizou para minha nuca. Ele entrelaçou os dedos em meu cabelo, puxando-o levemente, me fazendo arrepiar. Mordi seu lábio inferior e puxei de leve, o que o fez soltar um gemido baixinho.
Ele me segurou pela cintura, me puxando e me colocando em seu colo, com uma perna de cada lado de seu corpo. Suas mãos passeavam por minhas costas e ele partiu o beijo, deslizando sua boca até meu pescoço, deixando uma trilha de beijos por ali. Um arrepio percorreu meu corpo e eu me grudei mais a ele.
Uma de suas mãos tocou minha cintura por baixo de minha blusa e eu gelei. Meu corpo travou mais uma vez e eu soltei um suspiro frustrado. se afastou e me olhou.
- ... Eu não vou fazer nada que você não queira. - Falou, enquanto me encarava.
- Eu não consigo, . Me desculpa. - Murmurei, abaixando a cabeça e escondendo-a nas mãos em sinal de frustração.
Ouvi soltar um suspiro alto, e suas mãos foram até meus punhos, fazendo-me afastar minhas mãos de meu rosto. Olhei para ele e mordi o lábio.
- Você sabe que pode falar comigo, não sabe? - perguntou. Fiz que sim com a cabeça. - E você sabe que pode confiar em mim, então, qual o problema?
Apenas desviei o olhar e saí de seu colo, sentando ao seu lado. Peguei sua mão e entrelacei nossos dedos. Fiquei brincando com eles, até que falei:
- Não é algo que eu já tenha dividido com alguém. Você me pede pra confiar em você, e mesmo sendo extremamente difícil pra mim, eu confio - olhei para ele e ele prestava atenção em mim -, mas preciso que também confie em mim quando digo que preciso de um tempo, e eu vou me abrir com você. Só eu posso lidar com isso... E enquanto eu não conseguir, você também não vai. - Finalizei e ele ficou em silêncio durante alguns segundos, depois assentiu e me puxou para um abraço.
- Tudo bem. Eu prometo ser mais paciente e te ajudar no que eu puder. - falou e abriu um sorriso de canto. - Agora, acho melhor eu ir pra casa dormir e a senhorita ir deitar com . Amanhã ela provavelmente ainda vai sentir dor.
- Eu fiquei apavorada, . Nunca a vi chorar daquele jeito, ela nunca havia se machucado antes.
- Ela é criança, . É provável que não seja o último osso que ela irá quebrar na vida - ele deu de ombros -, o bom é que na idade dela, cicatriza fácil e logo ela estará bem.
Assenti, e ambos nos levantamos do sofá. Fui com ele até a porta e passei meus braços ao redor de seu pescoço.
- Obrigada. Por tudo. - Falei, encostando meus lábios nos dele devagar. Ele sorriu e pousou as mãos em minha cintura.
- Sempre. E me desculpe novamente. - Murmurou contra minha boca, e eu neguei com a cabeça.
- Já até esqueci. - Sorri, sincera.
- Mas sabe que eu adoro essa coisa de sermos vizinhos?
- Ah, é? E por quê? - Perguntei.
- Porque eu posso te ver a hora que eu quiser - disse enquanto olhava em meus olhos -, te abraçar - me apertou contra seu corpo, me abraçando -, sentir seu cheirinho de baunilha - afastou meu cabelo de meu pescoço, passando o nariz levemente pelo mesmo, me fazendo arrepiar -, e te beijar - encostou seus lábios nos meus e me deu um selinho demorado, me fazendo abrir um sorriso logo em seguida.
- Boa noite, vizinho. - Falei, fazendo o abrir um sorriso de lado.
- Boa noite, vizinha. - Ele disse, dando sua irresistível piscadinha e entrando em seu apartamento.
Depois de tomar um banho rápido e colocar meu pijama, estava pronta para deitar na cama, quando ouvi falando baixinho:
- Panqueca? - pediu sonolenta, e eu não pensei duas vezes antes de ir até o gatinho e pegá-lo.
Coloquei-o deitado em sua frente e ela levou sua mãozinha livre do gesso até a patinha do gato, segurando-a levemente. Fechou os olhos em seguida e voltou a dormir. Não pude deixar de pegar o meu celular e tirar uma foto da cena.
Encaminhei a foto para e , com uma mensagem dizendo: "Tudo bem por aqui. xx". Me deitei ao lado dos dois e logo meu celular vibrou. Peguei-o e era uma mensagem de :

"Família feliz. Só falta o . xx"

Revirei os olhos e ri baixinho de sua resposta, e logo outra mensagem chegou. Era de :

"Você precisa de uma cama maior para que eu possa dormir aí também. xx"

Dormi com o celular na mão, aberto na mensagem de .


Capítulo 9

Já estávamos no final de maio. Era uma quinta-feira. havia viajado na segunda para outro congresso. Ele voltaria hoje, mas não tínhamos combinado nada e eu nem sabia que horas seu trem chegaria em Londres. As coisas entre nós não poderiam estar melhores. Justamente por esse motivo, eu não me assustei quando ele disse que seus pais viriam a cidade e que teríamos um jantar em família (incluindo nós dois, e , Anne e Mark, Louise e Phillip e as crianças) na sexta-feira, para que, obviamente, eles pudessem me conhecer. Claro que eu perguntei a ele se sua mãe me acharia muito nova e se seu pai me julgaria por ser mãe solteira. Ele apenas respondeu citando uma fala de sua mãe: "estamos muito ansiosos para conhecer a mulher que colocou cor em sua vida novamente, filho", foram as palavras exatas dela, segundo .
Após o trabalho, eu e buscamos e Nick na escolinha. Passamos no hospital para que o gesso do braço de fosse retirado, e depois fomos para o shopping encontrar com Anne. Nós três andávamos lado a lado, passando por algumas lojas, enquanto e Nick andavam mais a frente, de mãos dadas.
- Esses dois vão ser melhores amigos quando crescerem. - Falei enquanto observava os dois conversando baixinho enquanto andavam.
- Acho que eles vão se casar no futuro. - Anne concordou, completando.
- E irão me dar muitos sobrinhos e sobrinhas! - disse, fazendo com que eu e Anne a olhássemos, assustadas. - O quê? Vocês duas estavam aí fazendo planos, e eu só completei. - Deu de ombros.
- Ela ainda não tem filhos, Anne. Não sabe como é. - Afimei rindo fraco em seguida. - Sequer consigo imaginar saindo de casa e casando, imagina ter filhos.
- Eu consigo imaginar o Nick no futuro. - Anne disse. - Mas acredito que seja porque ele é menino. Se fosse menina, acho que eu também não conseguiria.
- Me lembrem por que viemos ao shopping, mesmo? - questionou.
- Porque você e precisam de uma roupa nova para o jantar de sexta-feira, já que seus queridos sogros estarão presentes. - Anne respondeu e e eu fizemos uma careta.
- , você já os conhece, e eu, que nunca nem os vi? - Falei, enquanto entrávamos em uma loja.
Ela deu de ombros e disse que sempre ficaria nervosa ao encontrar os pais de seu namorado.
e Nick ficaram sentadinhos em um banco na frente do provador, enquanto eu e provávamos os infinitos vestidos que Anne nos passava pela porta, murmurando sempre algo como "esse é a sua cara!", "meu Deus, esse é perfeito pra você", "vai ficar maravilhoso no seu corpo", "definitivamente, esse é o mais bonito", cada vez que nos entregava uma peça nova. Se dependêssemos do julgamento de Anne, e eu sairíamos da loja com, no mínimo, dez vestidos cada uma, todos perfeitos para nós, segundo ela. Quando finalmente escolhemos nossos vestidos, fomos todos em direção a praça de alimentação. Para alegria de Nick e , nossa janta foi Burguer King, e eles ganharam um brinquedinho cada um.
Eram 21h quando abri a porta de meu apartamento e me surpreendi ao ver dormindo sentado em meu sofá, com Panqueca em seu colo. Sorri imediatamente ao ver a cena, deixando nossas coisas no chão. Fiz sinal de silêncio para , e ela se aproximou devagar, pisando na ponta dos pés. Ela subiu no sofá com cuidado e colocou as mãozinhas no rosto de , cobrindo seus olhos. Ele se remexeu acordando, e ela riu baixinho. Ele levou suas mãos até as mãos de e foi subindo pelos braços dela até chegar em sua barriga. Começou a fazer cócegas até que ela tirou as mãozinhas dos olhos dele. se revirava no sofá de tanto rir.
- Bonitinha! - ele falou e ela riu mais ainda. - Vocês queriam me dar um susto, é? - perguntou, parando de fazer cócegas nela.
- Você tava dormindo, tio . - falou, levando as mãos ao lado direito do rosto, inclinando a cabeça para o lado e fechando os olhos, fingindo que estava dormindo.
- Cansei de esperar vocês duas! Posso saber onde vocês estavam? - falou, olhando pra mim e pra .
Ela estendeu o bonequinho que ganhou no Burguer King e mostrou a ele.
- Vocês foram comer no Burguer King e não me chamaram? - Ele fez uma cara de indignado e abaixou a cabeça, triste. Fez um barulho de choro e eu segurei o riso.
me olhou sem saber o que fazer, e eu fiz sinal de que não sabia também, apenas observando tudo, enquanto Panqueca se esfregava em minhas pernas, pedindo carinho.
- Não fica triste, tio . Eu empresto meu brinquedo pra você! - falou, colocando a mãozinha no ombro dele.
Eu sorri e levantou a cabeça, olhando para . Ele a pegou no colo e a girou, rindo.
- Você é uma linda, bonitinha! - Exclamou e ela gargalhou, repetindo as palavras dele:
- Linda bonitinha? - Ela olhou para mim e fez sinal de que ele era maluco, exatamente como eu havia lhe ensinado há algum tempo atrás.
Não contive uma gargalhada nesse momento e me aproximei dos dois, dando um selinho em , que sorriu para mim.
- Por quê mamãe beijou a boca do Tio ? - perguntou.
Eu arregalei os olhos percebendo o que havia feio e riu de minha cara.
- Porque tio e sua mãe gostam muito um do outro - respondeu.
- Mas mamãe não me beija na boca. Ela não gosta de mim? - fez um bico enorme e fechou a cara, percebendo que havia piorado a situação.
Eu ri baixinho e me sentei no sofá, puxando comigo. nos acompanhou, sentando-se também.
- A mamãe te ama, bobinha. Muito! - eu falei, enquanto ela ainda me olhava com um bico nos lábios. - Mamãe e se gostam igual a Bela e a Fera. Entendeu?
A expressão dela se suavizou e ela sorriu, balançando a cabeça concordando.
- A diferença é que mamãe não é uma princesa e tio não é um príncipe - Falei e ela riu, ficando de pé no sofá e se apoiando em mim e em .
- É porque a princesa sou eu! Então você é uma rainha e tio é um rei! - Completou, orgulhosa por ter chego à essa conclusão.
Eu e nos entreolhamos e rimos, concordando com a cabeça.
- Agora tem uma certa princesinha que precisa tomar banho! - Falei, enquanto me levantava e ela fez uma careta enquanto descia do sofá.
- Não quero. - Declarou, cruzando os bracinhos.
se aproximou dela, cheirando-a e fez uma cara feia.
- Tá com cheirinho ruim... - Ele disse, e ela olhou para ele com uma cara mais feia ainda.
- Eu não tô fedida! - Ela falou mais alto e saiu batendo os pés, emburrada, em direção ao banheiro.
Nós dois trocamos olhares assustados pela reação dela, e depois rimos. se aproximou de mim e eu passei meus braços ao redor de seu pescoço. Ele me deu um selinho e me apertou contra seu corpo.
- Oi. Senti saudades. - Falou baixinho, perto de meu ouvido.
- Oi. Eu também - respondi -, faz tempo que chegou?
Ele negou com a cabeça.
- Uma hora, mais ou menos. Deixei a mala no meu apartamento e vim direto pra cá. Mas vocês não estavam. - Ele fez um bico fofo e eu não me aguentei e mordi seu lábio. Ele gemeu e eu ri baixinho.
- MAMÃE! VEM ME DEIXAR CHEIROSA! - berrou do banheiro, fazendo com que e eu caíssemos na gargalhada.
- Me espera? - Perguntei e ele assentiu, pegando Panqueca no colo e sentando no sofá, enquanto eu ia em direção ao banheiro.

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- Ela dormiu - falei, assim que sentei ao lado de no sofá.
- Hmm, você tomou banho também. Tá cheirosa. - murmurou contra a pele de meu pescoço, passando o nariz por ali e eu arrepiei.
- Eu também tava fedida antes? - Perguntei e ele riu contra meu pescoço.
- Não, só a . - Falou e passou os lábios pelo meu pescoço até chegar em minha bochecha e deixar um beijo ali.
- Ela tava muito emburrada quando cheguei no banheiro. Tava passando sabonete seco no bracinho. - Contei e ele riu.
- Viu como você se preocupou à toa em relação a ela saber que estamos juntos? - Ele perguntou, me aconchegando em seus braços.
- O problema não era ela saber... - Comecei, enquanto entrelaçava minha mão na dele. - O problema era nós não darmos certo e ela criar um vínculo com você e...
- Tá brincando que esse era seu medo? - Me interrompeu.
Concordei com a cabeça.
- , enquanto você quiser, eu vou estar aqui. Eu não tenho planos de ir a lugar algum, a não ser que você e me acompanhem.
Aquilo confortou meu coração, e naquele momento, eu soube, que se dependesse de mim, nunca sairia de nossas vidas.
- Dorme aqui hoje? - Perguntei.
- Com certeza. - Ele confirmou, beijando meu nariz em seguida, me fazendo rir.

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No outro dia de manhã cedo, deixou na escola e depois me deu uma carona até a faculdade, antes de seguir caminho até seu consultório. A manhã passou rapidamente e depois de almoçar, fui para o trabalho.
- Oi, amiga. - Cumprimentei assim que entrei em minha sala com .
- Oi, . - Ela disse sem ânimo, e eu estranhei.
- Aconteceu alguma coisa? - Perguntei enquanto deixava minhas coisas em minha mesa e me sentava.
- O ... Ele tá muito estranho essa semana. E hoje ele saiu sem me dar um beijo de bom dia! - Exclamou, indignada. - Nos dois anos que estamos morando juntos, ele só fez isso quando eu passei a noite inteirinha vomitando por causa de uma intoxicação alimentar. Você tem noção disso?
Tive que segurar o riso. Era muito engraçado ver indignada com alguma coisa. E eu tinha uma leve ideia do motivo pelo qual estava estranho e tenho certeza que ele estava fazendo por gosto.
- ... Às vezes aconteceu alguma coisa no trabalho. Vai ver ele saiu atrasado e acabou esquecendo! - Eu disse, tentando acalmar minha amiga. - Você sabe que ele sempre tá cheio de processos importantes.
- Eu sei, amiga.. Mas mesmo assim... Não é normal dele fazer isso - ela disse, derrotada.
- Por que a gente não foca no trabalho agora, pro tempo passar mais rápido e você poder sair daqui e falar com ele? - Propus e ela concordou, voltando sua atenção ao seu computador.

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Meu celular não parava de tocar e eu já estava quase atrasada. já estava pronta, e eu tentava, sem sucesso, fechar o fecho do meu vestido que ficava nas costas. Bufei irritada e saí de meu quarto, passando pela sala onde estava brincando com Panqueca, e ela me olhou em dúvida. Fui até a porta do apartamento e a abri.
- Fica aí que a mamãe já volta.
Ela assentiu com a cabeça e voltou sua atenção para o gatinho que estava em seu colo. Abri a porta do apartamento de e Bóris veio correndo em minha direção.
- Sai. Não pula em mim. Meu vestido é preto e não quero pelos. - Falei apontando o dedo para ele. Bóris abaixou as orelhas, se afastando.
- ! - chamei. - Preciso da sua ajuda!
- ? Serve eu? tá no banho. - apareceu na sala vestido com uma camisa social azul e uma calça preta.
Céus. Eu às vezes esquecia quanto o irmão de meu namorado era gato. Namorado? Balancei a cabeça para espantar meus pensamentos. Isso não vem ao caso agora.
- O que você tá fazendo aqui? - Perguntei indo em sua direção e me virando de costas para ele, apontando o fecho do vestido.
Ele logo entendeu e puxou o fecho para cima. Me virei e sorri em agradecimento.
- Resolvi me arrumar aqui, pra deixar a mais maluca ainda por eu não ter ido pra casa. - Ele disse e riu.
- Não acredito! É por isso que ela tá me ligando sem parar! ! Você é ruim! - Exclamei, fingindo indignação e ele gargalhou.
- Ela falou muito no seu ouvido hoje? - Perguntou, indo até o bar de e servindo-se de um copo de uísque. Me ofereceu e eu neguei com a cabeça.
- Ela tá meio triste. Me contou que você saiu sem dar um beijo de bom dia nela e que você só fez isso quando ela passou a noite vomitando. - Contei, e ele riu, colocando a mão no bolso e tirando dali uma caixinha preta de veludo.
- Você acha que ela vai gostar? - perguntou, abrindo a caixa para que eu visse o anel.
- Meu Deus, ! - Exclamei, levando as mãos a boca. - É maravilhoso! Ela vai amar!
Ele sorriu orgulhoso e fechou a caixinha, guardando-a no bolso novamente.
- Tô tão nervoso. - Confessou, passando a mão pelos cabelos, bagunçando-os.
- Sei que não adianta nada eu falar isso, mas, não precisa. Ela já é sua e você sabe disso - Pisquei pra ele, e ele assentiu, sorrindo de lado.
- Mamãe? - Ouvi me chamar da porta e dei um tapa em minha testa. Esqueci minha filha. - Oi, ursinha! - Falei, indo em direção a ela. - Mamãe veio pedir pro tio fechar o vestido pra mim. Você quer ficar aqui com ele enquanto eu termino de me arrumar?
Ela fez que sim com a cabeça e foi em direção a .
- Oi, lindinha! - Pude ouvir ele exclamar antes de voltar para meu apartamento.

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Vinte minutos depois, já estávamos os quatro na frente da casa de Louise e Phillip. Eu não queria nem ver a expressão no rosto de quando visse chegando conosco. Ela iria me matar por não ter atendido nenhuma das doze ligações que ela me fez.
A porta se abriu e Phillip nos recebeu, sorridente, com um copo de uísque na mão. Entramos e cumprimentamos ele e Louise, depois passando por Mark e Anne. já havia ido brincar com Nick e eles estavam correndo pela casa. Os pais de e ainda não haviam chegado, nem , para meu alívio.
Logo ela chegou, com uma expressão que beirava tranquilidade, porém, seus olhos denunciavam que ela estava triste. E isso não era bom. Ela passou reto por e cumprimentou a todos, menos ele, e pela expressão no rosto de , eu podia jurar que ele iria desmaiar a qualquer momento.
Quando os pais de chegaram, quem iria desmaiar a qualquer momento, era eu. Não havia ficado nervosa até agora. Mas de uma hora pra outra, a ideia de que eles talvez não gostassem de mim, começou a me dar calafrios. segurou em minha mão quando eles se aproximaram para nos cumprimentar e eu agradeci aos deuses por ele fazer isso, se não, eu cairia ali mesmo.
- Filho! - A mãe dele falou, abraçando-o. Ele retribuiu na mesma hora, soltando minha mão e eu soltei um muxoxo baixinho.
Notei que seu pai me observava com um pequeno sorriso nos lábios. Seus olhos azuis, iguaizinhos aos dos filhos. E como se não bastasse a semelhança, ele piscou para mim. Eu entendi que era sua forma de me tranquilizar, mas, piscadas? Sério?
- Você parece que vai desmaiar. - Ele disse quando se aproximou, com um tom divertido em sua voz.
e sua mãe se separaram nesse momento, e ela voltou sua atenção para mim. A mão de se entrelaçou a minha e ele apertou a mesma, me transmitindo conforto.
- Mãe, pai... Essa é alie) - me apresentou. - , esses são Claire e Richard, meus pais.
Eu abri um sorriso e estendi a mão para seu pai, que a apertou prontamente e sorriu para mim. Sua mãe, por outro lado, continuou me analisando com uma expressão curiosa no rosto. Seus olhos só se desviaram de mim quando eu senti dois bracinhos envolverem minha perna e olhei pra baixo, encontrando me olhando com os olhinhos curiosos.
- Mamãe? - Minha filha chamou.
- Oh meu Deus, e quem é essa fofura? - Claire perguntou.
- Minha filha. - Respondi, colocando meu braço no ombro de , guiando-a para que ela ficasse em minha frente.
Claire se abaixou para falar com ela e se encolheu, envergonhada.
- Qual seu nome? - Ela perguntou.
não respondeu.
- Fala, ursinha. Ela é a mamãe do tio . - Falei, para que ela entendesse quem estava em sua frente.
Suas sobrancelhas se ergueram em surpresa.
- Tio tem mamãe? - Perguntou, fazendo todos rirem.
- Sim, bonitinha. Todo mundo tem uma mãe. - respondeu e ela assentiu.
- Meu nome é . - Ela falou baixinho. - É um lindo nome. - Claire disse, sorrindo. Ela se levantou, finalmente abrindo um sorriso para mim.
- Você é linda e sua filha é mais linda ainda. - Ela declarou, se aproximando de mim e me dando um abraço.
Eu respirei aliviada, retribuindo o gesto, e pude ver e Richard se entreolharem e rirem.
- Eu tô aqui no meio, não tô enxergando nada, mamãe! - disse, e nós nos separamos na hora, rindo.
- Desculpa, meu amor. - Falei para ela, passando a mão por seu cabelo. - Cadê o Nicholas?
- Ele tá chato hoje. - Ela fez bico.
- Por quê? - questionou.
- Ele não quer brincar de casinha comigo. - Como se fosse possível, seu bico aumentou mais ainda e eu tive que segurar a risada.
- Mamãe vai lá com você e vamos encontrar uma brincadeira que os dois queiram, tudo bem? - Falei, e ela assentiu, estendendo a mão para mim.
Sorri para os pais de e deixei me guiar até os sofás, onde Anne, Nick e estavam.
- Sobreviveu? - Anne perguntou e eu assenti.
- Qual o problema com os homens dessa família e piscadas? - Perguntei, fazendo as duas rirem.
- Achei que era só eu quem notava isso. - comentou, seu tom de voz demonstrando desânimo.
- Como não notar com aqueles olhos azuis piscina? É impossível - Anne falou -, até eu já percebi.
- Nick - chamei o garoto, que estava emburrado sentado no sofá -, por que você e não escolhem uma brincadeira que os dois gostem?
- Ela não quer brincar de dinossauro - ele falou, de cara fechada -, e eu não quero brincar de casinha, é chato!
- Não é chato! - respondeu, se defendendo.
- É sim!
- Não é não!
- Sim!
- Não!
- Ei, ei, ei! - Anne chamou a atenção dos dois, prendendo o riso. - O que é isso? Vocês dois sempre brincam juntos. São amigos. Não podem discutir assim.
- E se vocês brincarem de casinha de dinossauros? - falou, aproximando-se dos dois. - Os dinossauros podem morar dentro da casinha e os dois ficam felizes.
Nick e trocaram olhares e sorriram. Os dois levantaram e sentaram no meio do tapete da sala, pegando os brinquedos para começar a brincar.
- Quem diria que a única que não é mãe aqui resolveria a situação? - Comentei divertida e Anne concordou.
A expressão no rosto de se tornou algo engraçado. Seus olhos adquiriram um brilho que antes não estava ali e ela sorriu, mordendo o lábio, levantando as sobrancelhas para nós duas.
Espera aí...
- Você tá grávida? - Eu e Anne falamos juntas, um pouco alto.
murmurou um "calem a boca, suas idiotas!", e nos puxou para o outro cômodo.
- Eu não acredito! - Falei, desatando a rir.
- Eu vou ser titia! - Anne exclamou.
- Eu fiz o exame ontem. Deu positivo. É 100% certeza - ela falou, com um sorriso imenso nos lábios, mas que logo se desfez -, e eu ia contar ao hoje, mas ele resolveu sumir e me dar um gelo justo agora.
- Como assim sumir? Por que isso? - Anne perguntou e eu percebi que ela não tinha ideia do que aconteceria hoje.
- Eu não sei! Ele tá estranho a semana inteira e hoje sumiu durante o dia... Nem foi pra casa se arrumar. - Ela suspirou, triste.
- Amiga, você tá grávida! - Exclamei, mudando o rumo da conversa. - Tenho certeza que tudo vai se ajeitar e ele vai ficar tão feliz quanto você! - Concluí e Anne concordou comigo.
Louise apareceu naquele momento, nos chamando para comer. Nós fomos até a sala de jantar e nos sentamos. sorriu para mim no momento em que me sentei ao seu lado, e aproximou seu rosto do meu, me dando um selinho rápido.
e passaram o jantar todo trocando farpas. Ele tentava falar com ela, e ela o cortava. Eu e quase não conseguíamos segurar o riso, e, em alguns momentos, recebemos olhares de repreensão de Claire e Louise. Quando terminamos de jantar, Phillip apareceu com um champanhe para brindarmos.
Eu, Anne e trocamos olhares nervosos. Ela não poderia beber. Alguém perceberia, porque nunca diz não ao álcool. Depois de todas as taças estarem cheias, Phillip voltou para seu lugar na mesa e ergueu sua taça. Quando ele abriu a boca para falar algo, levantou de sua cadeira e o interrompeu:
- Com licença, Phillip, o senhor se importaria se eu falasse algumas palavras? - De maneira nenhuma, . - Phillip sorriu em resposta.
estava surpresa com a ação do namorado, assim como a maioria na mesa. Eu e trocamos sorrisos cúmplices. ficou algum tempo em silêncio, enquanto todos o observavam. colocou a mão em seu ombro, incentivando-o, e ele pareceu finalmente criar coragem.
- ... - Ele começou e ela prendeu a respiração. - Eu sei que as coisas entre nós dois sempre foram meio atravessadas, a gente começou a namorar e só depois demos nosso primeiro beijo - ele sorriu de lado, e todos na mesa riram - e agora moramos juntos, mas ainda não somos um do outro oficialmente. E eu juro que pensei em várias maneiras de fazer isso, mas nenhuma parecia boa o suficiente pra você. Pensei em fazer uma surpresa no meio da rua, mas lembrei de como você odeia esses pedidos em público - falou, e ela riu, concordando -, pensei em colocar a aliança no fundo da sua taça de champanhe, mas seria muito clichê...
Eu e Anne nos olhamos, pensando que teria dado tudo errado, pois ela não poderia tomar o champanhe.
- Pensei em pedir para Nick e te chamarem e pedir pra você ir falar comigo, mas eles estavam muito ocupados discutindo a relação deles com os dinossauros. - falou, arrancando gargalhadas de todos na mesa. - A única coisa que eu tinha certeza é que de precisava ser inesperado. E que jeito melhor de fazer isso, deixando você irritada comigo? - fingiu estar brava, mas logo voltou a sorrir. - Por incrível que pareça, eu ensaiei várias vezes esse discurso, mas nenhuma palavra que repeti a semana inteira veio a minha cabeça agora. Por fim, eu decidi que seria hoje, aqui, porque sei o quanto você valoriza a família acima de tudo. Então, eu gostaria de aproveitar que estão os dois lados da família aqui, hoje... - levou a mão até seu bolso, pegando a caixinha preta de veludo e abrindo-a, mostrando a o maravilhoso anel que havia ali dentro -, para pedir a mão da minha linda namorada em casamento. , você quer casar comigo?
mal tinha acabado de falar quando se jogou em seus braços, murmurando "sim, sim, sim, é claro que sim", repetidas vezes. Todos na sala batiam palmas e as Louise e Claire se abraçavam, comemorando. Quando eles se afastaram, pode finalmente deslizar o anel pelo dedo de sua noiva. Os dois sorriram e entrelaçaram as mãos, exibindo seu anel para todos na mesa verem.
- Bom, acho que isso pede um brinde! - Phillip falou e todos concordaram, com exceção de , que ficou quieta.
Todos levaram sua taça ao meio da mesa, juntando-as e dando leves batidinhas, brindando. Quando foi a hora de beber, todos levaram sua taça a boca na mesma hora, porém, apenas segurou-a em frente ao seu rosto e abriu um sorriso. observava a cena com o cenho franzido, enquanto eu e Anne sorríamos abertamente. apertou minha mão e murmurou um "o que tá acontecendo?", mas antes mesmo que eu pudesse pensar em responder, falou:
- Eu não posso beber - explicou, enquanto todos os olhares estavam presos nela -, porque eu estou grávida.
Houveram alguns segundos de silêncio e então a mesa explodiu em comemoração. não sabia se beijava os lábios ou a barriga de sua noiva.
- Meu Deus, é muita emoção pra um dia só! - Claire falou, secando algumas lágrimas que escorriam pelo seu rosto.
sorriu para mim e levou minha mão até sua boca, beijando-a. Ele se virou para frente e pigarreou alto, chamando a atenção de todos. Eu fiquei em choque, branca feito papel. O que estava fazendo?
- Eu gostaria de aproveitar o momento extremamente propício para - ele se virou para mim, sorrindo - perguntar se essa linda moça aceitaria namorar comigo? - concluiu.
Eu rolei os olhos e ri, puxando-o pela gola da camisa e selando nossos lábios.
- Mas é óbvio que sim. - Confirmei, me afastando um pouquinho em seguida, vendo-o abrir um sorriso enorme.
- Você sempre tem que roubar o meu momento? - perguntou com um sorriso divertido nos lábios. riu e deu dois tapinhas em seu ombro.

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Estávamos todos conversando ainda sentados ao redor da mesa de jantar. O assunto já havia passado por todos nós. Claire e Richard estavam curiosos para saber mais sobre minha vida, mas, toda vez que eles perguntavam algo sobre isso, e mudavam o rumo da conversa.
- Vou lá ver as crianças, já volto, ok? - dei um selinho em avisando-o, e me levantei da mesa, indo em direção à sala de TV, onde eles estavam.
Ao chegar lá, vi os dois deitados lado a lado, já dormindo. Sorri com a cena e me aproximei, ajeitando eles no sofá. Me sentei ao lado de e fiquei fazendo carinho em seu cabelo.
Deixei meu pensamento voar e antes que eu percebesse, já estava agradecendo pelo rumo que minha vida vinha tomando desde que chegamos a Londres. Nem se eu imaginasse, poderia prever tudo que estava acontecendo nos últimos meses. Eu havia feito amigos, tinha um namorado, voltei à faculdade, estava na escola e havíamos adotado um gatinho. Angie estaria muito orgulhosa de mim. Em alguns dias eu faria 23 anos. E as coisas não poderiam estar melhores.
- Com licença. - Ouvi uma voz falar. Era Claire.
Ela tinha um sorriso no rosto e eu sorri de volta. Me levantei do sofá e dei um beijo na testa de e de Nick. Fui até ela e nos aproximamos de outro sofá mais afastado das crianças.
- Não tivemos tempo de conversar direito até agora. - Ela falou e eu concordei com a cabeça, me sentando no sofá junto com ela.
- Vocês já vão embora amanhã? - Perguntei.
- Temos um evento em Birmingham amanhã à noite. Devemos pegar o trem logo depois do almoço. - Sorriu docemente e eu retribuí. - Você é uma mãe muito dedicada, . Consigo ver em seus olhos o quanto ama essa menina. - Comentou, pegando em minha mão.
- Ela é minha vida, Claire. Somos só nós duas. - Expliquei a ela.
- disse que sua mãe faleceu há menos de um ano. Eu sinto muito.
- Obrigada. - Suspirei baixinho, já prevendo que ela perguntaria sobre coisas que eu não gostaria de falar.
Mas, surpreendentemente, não foi isso que aconteceu.
- Eu percebi que toda vez que tentávamos saber mais sobre você, e davam um jeitinho de desviar o assunto. - Riu baixinho e eu sorri de lado, meio sem jeito. - Não precisa ser muito observadora pra perceber que você tem muitos fantasmas do passado. Isso transparece em você. E eu fico feliz que você tenha meu filho e ao seu lado para te apoiarem. - Ela apertou minha mão contra a sua e sorriu, sincera. - já passou por muita coisa também, sabe? Quando Sara faleceu e Melissa o deixou, eu fiquei com medo que ele não fosse se recuperar - ela disse, desviando o olhar do meu por um segundo, mas logo retornou e abriu um sorriso de lado -, porém, não sei se foi por causa da profissão dele, ele procurou ajuda de colegas, e conseguiu, do jeito dele, retomar sua vida. Adotou aquele babão do Bóris, comprou um apartamento pra ele, e manteve somente o essencial para que não esquecesse de Sara, como se fosse possível esquecer daquela menininha. - ela sorriu tristemente.
"O que eu quero dizer, , é que você também precisa enfrentar seus problemas e tentar superar seus medos. Eu vejo em você muito do que eu já fui um dia. Eu guardava tudo pra mim e não contava à ninguém. Até o dia que isso começou a me deixar maluca e eu enfrentei algumas crises de pânico. Se não fosse por Richard, que foi meu psiquiatra na época, eu não teria colocado minha vida nos eixos, não teria me casado com meu médico e não teríamos dois filhos lindos de morrer. Se não conseguir conversar com , procure alguém com quem consiga. Por favor. Eu vejo o quanto meu filho gosta de você, e se ele está feliz, eu também estou."
Eu fiquei algum tempo em silêncio, assimilando suas palavras e finalmente concordei com a cabeça.
- Vou... - falei e minha voz saiu mais baixa do que eu queria. Pigarreei e continuei -, vou fazer isso. Prometo.
Ela abriu um sorriso enorme e me abraçou. Eu me assustei com seu gesto, mas logo a abracei também. Olhei por cima do ombro dela e vi encostado na porta nos observando. Ele tinha as duas mãos nos bolsos da calça e um sorriso lateral. Deu uma piscadinha pra mim e entrou na sala.
- Mãe... A senhora não acha que já alugou muito a , não? - Ele falou, enquanto se aproximava de nós.
- Não? - Ela perguntou como se fosse óbvio e nós dois rimos.
Eu e Claire nos levantamos e logo me abraçou de lado.
- Vamos pra casa? - Ele perguntou e eu assenti, lhe dando um selinho, e fomos os três em direção à sala de jantar para nos despedirmos.

xxx

- Meus pais gostaram de você. - afirmou, tirando a camisa e deitando em minha cama.
- Eu também gostei deles. - Respondi sincera, enquanto ia em direção ao banheiro para colocar meu pijama.
- Será que um dia você vai se trocar na minha frente? - perguntou e eu gargalhei do banheiro.
- Sim, eu prometo. - Falei e me deitei ao seu lado, colocando a cabeça em seu peito. - Conversar com sua mãe me fez bem.
- É? Fico feliz. - Ele disse, dando um beijo no topo de minha cabeça.
Ficamos algum tempo em silêncio, e quando eu estava quase dormindo, chamei:
- ?
- Hm? - Ele disse enquanto fazia carinho em minha cabeça.
- Obrigada. Por ser esse homem maravilhoso e por ser bom comigo e com . - Falei, me aninhando mais a ele e fechando os olhos.
Ele ficou quieto por um tempo e respondeu:
- É pouco perto do que você merece.
Adormeci.


Capítulo 10


Aviso de gatilho: Esse capítulo contém cenas de violência doméstica.

Assim que fechei a porta de casa, subi as escadas e bati na porta do quarto de mamãe. Meu pai nunca estava em casa à tarde, então eu tinha uma coisa a menos para me preocupar.
- Entra.- Ouvi Angie falar.
Respirei fundo e abri a porta. Ela percebeu que havia algo errado comigo assim que olhou para mim. Meus olhos estavam marejados e eu não sabia se seria capaz de falar.
- O que aconteceu, filha? - Mamãe perguntou, levantando-se da cama ao me ver.
Eu comecei a chorar desesperadamente.
- ?
? - Segurou em meus ombros - Pelo amor de Deus, fala alguma coisa! - Implorou, puxando-me para a cama dela.
Mamãe sentou e eu deitei com a cabeça em seu colo. Soluços saíam de minha garganta, eu tremia e ela me olhava desesperada, me abraçando sem saber o que fazer.
- Mãe... - Gemi, baixinho.
- Shh, eu tô aqui. Se acalma, filha. - Pediu, fazendo carinho em minha cabeça.
Eu continuei chorando, até que, quando percebi, meu choro foi cessando sozinho. Não sei quanto tempo levou. Não sei quanto tempo ficamos ali. Sei que, quando eu finalmente falei, soltei tudo de uma vez:
- Eu estou grávida.
Angie ficou em silêncio por alguns segundos e me abraçou de novo.
- Eu estou com você. Você sabe disso.
- Mãe, o pai, ele... - falei, fungando -, ele vai me matar.
- Não vai, não. Eu não vou deixar. Ele não vai encostar um dedo em você. Eu prometo. - Assegurou-me, enquanto ainda fazia carinho em meu cabelo.
Me sentei na cama, olhando-a. Meus olhos ardiam e mamãe me olhava com compaixão.
- É daquele menino, o seu namorado? - Perguntou.
No mesmo momento, voltei a chorar. E agora? O que eu falaria?
- Filha, não tem problema. Não precisa ficar assim... Vai ficar tudo bem, tenho certeza que ele é um bom menino e vai...
- Mãe, não. - A interrompi, negando com a cabeça. - Ele não vai ficar sabendo. Esse bebê não vai ter pai.
- O quê? E como você espera criar esse filho sem um pai? - Perguntou, a indignação presente em sua voz. - , você não pode. Não pode fazer isso sozinha!
Respirei fundo, criando coragem para contar de uma vez por todas.
- Eu não queria, mãe! - Falei de uma vez, meu tom de voz saindo baixo.
- Oh meu amor, é claro que você não queria! Ninguém quer ter um filho aos 18 anos. Mas...
- Não, mãe. Eu não queria ter feito esse filho. - A interrompi, e ela ficou em silêncio, assimilando o que eu havia dito.
Quando ela finalmente entendeu, um soluço escapou de seus lábios e ela me puxou para si, começando a chorar junto comigo.
- Por que você não me contou? Como, quando isso aconteceu? ... - Exclamou, ainda em choque pelo que eu tinha acabado de contar. - Meu Deus, minha filha, minha menina...
Eu apenas chorava, abraçada à minha mãe. Eu sabia que ela sempre estaria comigo. Sabia que poderia ter contado para ela antes. Mas como se conta à sua mãe que você foi estuprada enquanto estava sob o efeito de drogas? Eu tinha medo. Comecei a pensar em contar a ela, assim que vi aquelas duas listras no exame de farmácia. Quando fiz o exame de sangue, tive certeza que não teria mais como esconder.
- O que está acontecendo aqui? - Ouvimos a voz de John perguntar e levantamos da cama no mesmo momento, secando as lágrimas.
- Na-nada. - Mamãe respondeu imediatamente.
- Não minta para mim, Angelina! - Ele se aproximou dela, segurando-a pelos braços com força.
Mamãe se encolheu e eu fui até os dois, colocando-me no meio, o que fez com que ele abrisse um sorriso maldoso.
- O que é isso? Você acha que pode me impedir de bater em sua mãe? - Perguntou, seu tom de voz cheio de raiva. - Você não pode!
Sua mão foi até meu peito e ele me empurrou, fazendo com que eu batesse as costas no guarda roupa. Soltei um gemido baixinho e minha mãe gritou:
- Não encosta nela! - Mamãe gritou, exaltada. - Não ouse encostar um dedo nela, seu canalha!
- Mãe, não...
- , fique quieta. - Mamãe pediu, uma determinação que eu nunca havia ouvido em sua voz antes.
- Escuta aqui, sua vagabunda de quinta... - ele se aproximou dela, segurando seu rosto com força -, você não pode me dizer o que fazer! - John deu um tapa estalado em seu rosto.
Mamãe soltou um gemido baixinho, mas continuou firme, com o rosto levantado, enfrentando meu pai. John levantou a mão para bater nela novamente, mas eu gritei:
- Eu estou grávida!
O choque em seu rosto apareceu de maneira instantânea. Ele soltou minha mão e se virou para mim.
- Você o quê? - Ele deu uma risada incrédula. - Você abriu suas pernas pra alguém? Você é uma vagabunda, igualzinha a sua mãe!
- John, não... - Mamãe começou, mas foi interrompida.
- CALA A BOCA! - John gritou para ela, espumando de raiva.
Continuou a caminhar em minha direção, e quando eu já estava novamente contra o armário, ele parou em minha frente, e para minha surpresa, começou a rir. Mamãe e eu trocamos olhares assustados.
- Você... - ele disse, entre o riso - Você é mesmo filha de sua mãe! - Cuspiu contra meu rosto, dando dois passos para trás e se afastando. - Vocês duas só trazem desgraça pra minha vida. Imaginem, eu, avô! Mas nunca! Nunca, em minha vida, eu vou assistir isso acontecer! - Ele disse, enquanto se dirigia à minha mãe novamente. - Você deve estar satisfeita, Angie. Essa menina é a sua cara.
John deu uma boa olhada no rosto de Angie, e então se voltou para mim. Veio andando em minha direção e segurou meu rosto entre sua mão.
- Eu não sei como você conseguiu que alguém te comesse, sua vadiazinha. - Disse a mim, enquanto apertava meu rosto com força.
Mamãe se aproximou de nós dois e antes mesmo que tentasse nos separar, ele me soltou, e eu gemi, levando minhas mãos ao meu rosto, onde antes ele segurava. Ela veio até mim e me abraçou.
- Não precisa nem tentar me impedir, Angelina - falou, se virando e indo em direção a porta -, não vou mais encostar em vocês duas. Não valem nada. Não tem mais valor algum pra mim. Não valem mais à pena. São só duas vadias e eu não tenho mais nada pra fazer aqui.
Nós duas estávamos em choque. Era isso mesmo? Ele iria nos deixar?
- Quero ver como vocês duas vão se virar sem mim! - John disse, levantando a voz. Parou em frente a porta e se virou para nós duas. - Até nunca mais. - E saiu pela porta, batendo-a com força considerável em seguida.
Eu e mamãe não ousamos nos mexer. Ficamos ali, abraçadas, até que ouvimos a porta do andar de baixo bater.
- Estamos livres? - Perguntei, um pouco incrédula, olhando para ela.
- Estamos livres. - Ela suspirou, abrindo um sorriso de lado. Levou sua mão até minha barriga. - Agora somos só nós três, contra o mundo.

- ? ? - Ouvi uma voz distante me chamar.
- Mamãe? - Outra voz.
Algo tocou em minha testa. Eu me mexi um pouquinho, me virando de lado.
- Amor? - Ouvi a primeira voz novamente me chamar.
- Mamãe adormecida, acorda...
E e então eu abri meus olhos. Encontrei e me encarando. Ele tinha uma expressão preocupada no rosto e minha filha estava confusa.
- Mamãe tava sonhando? - perguntou, colocando as mãozinhas em meu rosto.
Eu sorri de leve e confirmei com a cabeça.
- Bom dia! - Exclamei, me levantando devagar enquanto esticava os braços para cima, me espreguiçando. - Que horas são?
- Quase meio-dia. - falou e eu arregalei os olhos.
- Meu Deus, a faculdade! O que tá fazendo em casa? E você? Devia estar no trabalho! - Falei, atordoada, colocando os pés no chão e me levantando em um pulo.
me encarava com uma cara engraçada, quase como se eu fosse maluca, e ainda continuava com a expressão preocupada no rosto.
- O que foi?
- Amor, hoje é sábado... Dia 10 de junho... - disse.
- Seu aniversário! - exclamou, levantando os bracinhos, empolgada.
Eu franzi a testa e voltei a cama, me sentando.
- Hoje é meu aniversário? - Perguntei, um pouco confusa.
- , por que você não vai brincar com Panqueca um pouquinho enquanto eu converso com a mamãe? - perguntou a ela, se abaixando e ficando em sua frente.
Ela fez um biquinho, mas, por fim, acabou concordando.
- Posso dar parabéns pra mamãe? - Perguntou e fez que sim com a cabeça.
- Parabéns, mamãe! - disse, pulando em cima de mim para que eu a abraçasse.
Sorri, passando os braços ao redor de minha filha, grudando-a ao meu corpo, abraçando-a apertado.
- Obrigada, ursinha! - Enchi seu rosto de beijos e ela sorriu para mim, descendo de meu colo em seguida.
- Tio ? Não esquece do presente! - Ela pediu, sorrindo sapeca antes de sair correndo do quarto chamando por Panqueca.
- Presente? - Perguntei, quando ele se sentou ao meu lado.
- Sim, mas isso fica pra depois. Com o que você tava sonhando? - questionou e eu me virei de frente para ele, respirando fundo e mordendo o lábio antes de responder.
- Com minha mãe. E meu pai. - Respondi apenas.
Ele ergueu as sobrancelhas em sinal de surpresa e assentiu, balançando a cabeça levemente.
- Quer falar sobre isso? - Perguntou simplesmente.
Neguei com a cabeça e ele suspirou, frustrado.
- ...
Ignorei-o e me levantei finalmente, indo em direção ao meu guarda-roupa para escolher o que vestir. Seus olhos me seguiam pelo quarto e ele me olhava como se desaprovasse minha atitude.
- . Para e me escuta, por favor... Você tem tido esses sonhos faz alguns dias... - Ele disse assim que se aproximou de mim, segurando em meus ombros, visivelmente preocupado.
- . Eu não quero falar sobre isso. - Pedi, desviando o olhar do seu.
- Você nunca quer falar sobre, ! - Exclamou, um pouco exaltado, fazendo com que eu o olhasse surpresa pelo seu tom de voz. - Eu não sei nada sobre seu passado. Não sei nada sobre seu pai, não sei nada sobre o pai de , não sei nada sobre você! Você tava se revirando na cama há algum tempo e...
- Para! - Pedi um pouco alto, interrompendo-o. - Você realmente quer discutir agora? Eu recém acordei e hoje é meu aniversário! Por favor. - Levei minhas mãos até a cabeça, massageando as têmporas lentamente.
Ele pareceu cair em si e, por fim, concordou com a cabeça. Deu um passo em minha direção e grudou nossos corpos, passando os braços por minha cintura.
- Me desculpa. Hoje é seu aniversário e é o primeiro que passamos juntos - falou, baixinho, enquanto colocava uma mecha de meu cabelo atrás da orelha -, e não iremos discutir hoje.
Eu passei meus braços por seu pescoço e depositei um beijinho em seus lábios.
- Tá tudo bem. Eu vou trabalhar nisso. Eu prometo. Mas hoje eu não quero pensar em nada que não seja meu aniversário. - Garanti a ele.
- Parabéns, amor. - Desejou, grudando seus lábios nos meus rapidamente. - fez uma surpresa pra você!
- O que? - Perguntei, curiosa, e ele balançou a cabeça em negação. - Ah , por favor! Me conta!
- E vou estragar a felicidade da criança? Nem pensar. Troca de roupa e vai lá pra sala. Vamos estar te esperando! - Ele disse, selando nossos lábios novamente antes de se virar e sair do quarto.
Quando apareci na sala, alguns minutos depois, a cena que vi me fez abrir um sorriso imenso. , , Panqueca, Bóris e Léia usavam chapéus de aniversário. Estavam todos ao redor da mesa de jantar. segurava Panqueca, segurava Léia e Bóris estava no chão ao lado deles. Na mesa, havia um bolo, que reconheci ser a mesma torta de chocolate que nos deu há meses atrás. Nela, haviam duas velas com o número 23. Alguns desenhos feitos por estavam espalhados em cima da mesa.
Desde o momento em que apareci, eles estavam cantando parabéns. Meus olhos se encheram de lágrimas, e eu me aproximei deles, pegando no colo, enquanto ela ria, e me abraçou de lado. Dei um selinho em seus lábios e falei:
- Vocês não existem. Que coisa mais linda! Obrigada, obrigada!
- Olha os desenhos, mamãe! - falou, e eu a soltei no chão. Fiz carinho em Bóris, Léia e Panqueca e então me dirigi aos desenhos em cima da mesa.
Peguei a primeira folha e sorri, observando-o. Haviam três pessoas no desenho: eu, e Angie. Estavam identificadas com uma caligrafia adulta, que julguei ser a de . Na segunda folha, estávamos eu e , e uma frase, também escrita por , completava a folha: "Nós duas contra o mundo". Sorri enormemente e deixei uma lágrima rolar pelo meu rosto. Peguei a próxima folha, e ri baixinho ao ver o desenho. Era com um borrão cinza que parecia Panqueca ao seu lado, e estava escrito: "Te amamos, mamãe!". Na quarta e última folha, havia eu, , , Bóris, Léia e Panqueca, e em cima, com uma caligrafia torta de quem ainda não sabia escrever, estava a palavra "Família". Foi quando eu finalmente comecei a chorar e correu em minha direção.
- Por que mamãe tá triste? Não gostou?
Limpei algumas lágrimas e me abaixei, ficando na altura dela.
- Mamãe 'ta feliz. Seus desenhos estão lindos. Você é linda! Obrigada, ursinha - Disse a ela. Minha fiha jogou os bracinhos ao redor de mim, me abraçando.
- Eu te amo! - falou, enquanto dava um beijinho na minha bochecha.
- Também te amo, meu amor. Tio te ajudou a escrever? - perguntei e ela concordou. Levantei e fui em direção à .
- Obrigada, amor. Eu amei! - Agradeci e assei meus braços pelo seu pescoço, abraçando-o. Ele passou os braços pela minha cintura e me deu um selinho demorado.
- Você merece. Mas ainda não acabou - ele piscou, se afastando de mim.
Franzi o cenho enquanto ele caminhava até a porta do apartamento. me olhava com carinha de sapeca.
- O que vocês estão aprontando, hein? - Questionei, curiosa.
Antes mesmo de obter uma resposta, abriu a porta e , , Mark, Anne e Nick entraram, segurando balões e cantando parabéns. Eu comecei a rir abertamente e fui em direção a eles, abraçando um por um.
- Vocês planejaram tudo isso quando? - Perguntei, rindo.
- Acredite ou não, hoje de manhã. Enquanto você decidiu hibernar, eu e queríamos te fazer uma surpresa. Liguei pro e ele chamou o resto do pessoal e cá estamos nós! - respondeu, dando de ombros e abrindo um sorriso orgulhoso.
- Esse é o melhor aniversário de todos! Muito obrigada! Desde que cheguei à Londres, vocês têm sido ótimos! Fiz amigos maravilhosos e tenho um namorado mais maravilhoso ainda - dei uma piscada para , que me mandou um beijo e todos me olhavam, sorrindo -, e uma filha que tá mais esperta a cada dia! Eu amo vocês, amo cada um de vocês! - Finalizei com um sorriso imenso nos lábios e eles bateram palmas, empolgados.
- Amiga, eu agradeço sempre por termos ficado na mesma cabine no trem de Birmingham pra cá! - falou, vindo a até mim e me dando um abraço.
- Eu também, , eu também! - Respondi enquanto a abraçava. Logo sentimos vários braços ao redor de nós, nos abraçando.
- Não consigo respirar! - Verrei, e eles se afastaram, rindo.
- Quem quer bolo? - perguntou e todos foram em direção a mesa, murmurando vários "eu", "por favor, eu!", "eu quero!".
Eram cerca de 17h. Estávamos sentados na sala e a mesa de centro estava cheia de garrafas de cerveja vazias. Eu e estávamos no sofá, abraçados, e estavam no chão, encostados ao sofá, com no meio das pernas de , e Anne e Mark estavam sentados em duas poltronas que haviam ali. Nick e estavam brincando com Bóris afastados de nós.
- O que acham de pedirmos pra mamãe e papai cuidarem das crianças hoje e irmos à algum pub? - Anne perguntou e todos nós nos entreolhamos.
- Tô dentro! - respondeu instantaneamente.
- Eu topo! - Mark disse.
- Gente, não sei... só dormiu fora de casa uma vez, vocês sabem. - Eu disse, dando de ombros.
- E ela dormiu super bem, obrigada! Qual é, , é uma boa ideia! - falou e eu olhei para , em dúvida.
- O que você acha? - Perguntei.
- Eu acho que deveríamos ir. É seu aniversário. - Ele falou e sorriu, colocando meu cabelo atrás da orelha.
- Vamos, gente! Três casais, como nos velhos tempos! - falou e eu o olhei em dúvida. murmurou um "cala a boca, panaca" e lhe deu um tapa.
Só então percebi que ele havia se referido ao tempo em que Melissa e eram casados. Que bom.
- Vou ligar para mamãe e papai. - Anne anunciou, levantando-se e pegando seu celular.
e discutiam baixinho enquanto ele questionava o que falou de errado.
- Amor? - perguntou.
- Hm? - falei, olhando para ele.
- Nós vamos, não vamos?
- Vamos. - Dei de ombros e sorri de lado. - Acho que vai me fazer bem, você sabe. - Ele sorriu e concordou, me dando um selinho.
- ! Vem, vou te ajudar agora mesmo a escolher uma roupa, porque faz tanto tempo que você não sai a noite que nem deve saber mais como se vestir! - falou, enquanto se levantava e vinha até mim, me puxando pela mão.
Olhei para pedindo para ele me salvar e ele apenas riu, dando de ombros, engatando uma conversa com e Mark. Me deixei ser puxada por até meu quarto e me sentei na cama, enquanto ela abria meu guarda-roupa procurando alguma roupa para mim. Ficamos em silêncio durante algum tempo, com ela jogando alguns vestidos, saias e blusas em cima de minha cama, até que ela quebrou o silêncio:
- Quando o ligou pro de manhã, ele disse algo sobre estar preocupado com você e você estar tendo pesadelos recorrentes.
- Oi? - Perguntei, fingindo que não havia lhe ouvido. Ela rolou os olhos e continuou:
- Não, nem adianta fingir, - veio até a cama e se sentou ao meu lado. - Quando é que você vai me contar pra eu poder te ajudar?
- Eu não quero falar sobre isso. Já discuti com essa manhã e não vou discutir com você também! - Exclamei, me levantando da cama e olhando as roupas que ela tinha jogado na mesma.
- Amiga, por favor! Você tem noção do quanto é ruim pra mim te ver guardando as coisas pra si mesma? E se é ruim pra mim, você consegue imaginar o quanto é ruim pro ? - Ela argumentou.
Suspirei, derrotada e passei a mão pelos cabelos de maneira nervosa.
- Eu prometo que vou trabalhar nisso. Já prometi a ele também...
- Você já falou isso antes. Eu sei que dói e sei que seus traumas devem ser grandes, mas, você precisa de ajuda. E profissional.
Ela estava sugerindo um psiquiatra? Eu não precisava de remédios, eu só... Precisava colocar tudo para fora. Quem sabe um psicólogo? Imediatamente me lembrei da conversa com Claire, mãe de . Ok, talvez um psiquiatra. Mas definitivamente não poderia ser . Eu não teria coragem.
- Não são pesadelos, são lembranças. - Corrigi-a, brincando com o lençol de minha cama.
- Tudo certo! Mamãe e papai vão ficar com as crianças! - Anne falou entrando no quarto, empolgada. Fechou a porta e olhou para mim e para , estranhando o clima entre nós duas. - O que tá acontecendo? - Questionou.
- estava me falando sobre seus pesadelos, que não são pesadelos. - disse eu a olhei feio. - O que foi? Você pode confiar em nós duas e tá cansada de saber disso.
- Eu conheço um psiquiatra muito bom, sabe - Anne falou, baixinho.
- Não! Essa não é uma opção. Além de ser antiético. - Falei, cortando-a. - Eu nunca conseguiria me abrir dessa maneira com .
- Tá, tá! - Anne falou, rendida. - Mas podemos procurar outro.
- Eu já até sei quem - disse -, estamos fazendo o projeto da clínica dela, lembra, ? A Dra. Stevens - finalizou.
- A loira aguada que parece uma barbie? Não, definitivamente não! - Exclamei, decidida.
- , assim fica difícil! Você quer ou não quer ajuda? - se irritou comigo.
Eu encolhi os ombros e fiquei em silêncio.
- Eu desisto! - exclamou, derrotada. Levantou-se da cama e foi em direção a porta - depois, quando você e tiverem a briga do século porque ele não sabe de nada sobre sua vida e porque você não confia nele, não vem correndo pra mim - finalizou e saiu do quarto, batendo a porta.
Olhei para Anne e ela suspirou, se aproximando de mim.
- Não liga pra ela. Ela fica frustrada quando não sabe mais o que fazer pra ajudar - ela falou, enquanto eu assentia, mordendo meu lábio.
- Anne, eu...
- . Não precisa se explicar - ela disse, colocando a mão em meu ombro - Eu sei que o que você passou deve ser pesado e te traz muitas lembranças ruins que você gostaria de esquecer - eu concordei com a cabeça -, mas, por mais pacientes que as pessoas sejam, , elas se cansam de ser as únicas que se doam em um relacionamento. Eu sei que você não teve muitas experiências, mas um namoro é uma via de mão dupla. Confiança vai e vem. O provavelmente sente que você não confia nele o suficiente e não se sente bem pra dividir seus pensamentos com ele. Deus, eu não consigo imaginar se Mark se fechasse e não me contasse seus problemas - falou, suspirando. - Pensa nisso, por favor. Ela sorriu e deu um beijo em minha bochecha, levantando-se e indo até a porta. - As 21h, ok? Não se atrasem - Ela disse antes de sair do quarto.
Deitei meu corpo para trás e me deixei cair sobre a cama. Peguei o travesseiro e cobri meu rosto, soltando um grito frustrado. Qual era o meu problema? Eu iria afastar todos de mim.
Não sei quanto tempo fiquei ali, olhando para o teto e tentando organizar as ideias. Pensando que poderia me deixar por eu não contar as coisas para ele. Ele faria isso? Eu achava que não e queria acreditar nisso. Meu coração apertava só de imaginar ele longe de mim e de . Ficar sem seus carinhos pela manhã? Nem pensar. Sem seus beijos e seu corpo grudado no meu? Não era uma possibilidade. Ver triste pois eu e ele não estávamos mais juntos? Definitivamente, não. Eu queria presente em minha vida por muito tempo, por muitos anos. Eu queria dormir e acordar ao seu lado todos os dias. Queria poder chama-lo de meu pela vida toda. Queria que, no futuro, depois de algum tempo juntos, o visse como o pai que ela nunca teve. Eu queria poder ser transparente e dividir meus traumas com ele. Queria me entregar por completo. Queria sentir como nunca havia sentido antes. Eu queria ficar com ele para sempre.
Foi então que, como um estalo, eu percebi. Percebi que estava completamente entregue a . Completa e totalmente apaixonada. Céus, eu amava aquele homem. Como nunca amei ninguém antes. E ao perceber isso, decidi que me tornaria uma pessoa melhor, por mim. Eu procuraria ajuda e lidaria com meu passado. Mas faria isso segunda-feira, porque agora eu precisava me arrumar para ir à um pub.


Capítulo 11


Aviso de gatilho: Esse capítulo contém cenas de assédio.

Eram 21h15 quando parou seu carro no estacionamento do tal pub. Havíamos passado para deixar na casa de Louise e Richard mais cedo e agora já estávamos caminhando em direção a entrada do pub. e eu caminhávamos de mãos dadas. Assim que entramos, vimos a mesa de nossos amigos e eles acenaram para nós, nos chamando. Fomos até lá. Estavam todos bebendo, menos .
- Boa noite, gente. - Cumprimentei-os enquanto me sentava em uma cadeira e se sentava ao meu lado.
- Achei que não iriam chegar nunca! - Mark falou, bebendo um gole de sua cerveja.
- Um dia eu aprendo a me despedir de mais rápido. - Falei, rindo.
- Você quer tomar o que, amor? - perguntou.
- O que você for beber - Respondi a ele, que sorriu e me deu um selinho em seguida.
- Duas cervejas, cara, por favor. - Ele pediu ao atendente e ele assentiu, se afastando.
Eu e não havíamos trocado nenhuma palavra desde que me sentei a mesa. E aquilo estava me incomodando. Eu não estava brava, só havia ficado um pouco surpresa e chateda pelo jeito que ela falou comigo. Anne havia me dito que era normal e que ela logo me pediria desculpas, mas, eu também precisava me desculpar. Ficamos bebendo cerveja e conversando durante um bom tempo. Nenhum de nós arriscava levantar e dançar. Uma banda agradável tocava aquela noite. Tudo estava bem, estávamos nos divertindo.
- Vou ao banheiro! - Anunciei, enquanto dava um ótimo gole em minha cerveja. Deixei a garrafa vazia na mesa, dei um selinho em e me levantei - Alguém quer ir comigo? - Perguntei, olhando para e Anne. As duas negaram. Dei de ombros e me afastei da mesa, andando em direção ao banheiro.
Assim que entrei, fui direto fazer xixi. Ao sair, retoquei meu batom e me dirigi à porta, saindo logo em seguida. Senti uma mão me puxar e quando vi, já estava grudada contra a parede.
- Ei, gatinha - o cara falou e eu pude sentir seu hálito de cachaça bater contra meu rosto.
Estremeci.
Ele grudou seu corpo no meu e eu senti meus olhos arderem, apavorada.
- Não vai falar nada? - Perguntou, levando seus lábios até meu pescoço, dando chupões por ali, sem delicadeza alguma. - Melhor, prefiro quando ficam quietas.
Eu estava em choque. Isso não podia estar acontecendo comigo. Não de novo. Fechei os olhos e mentalizei que era só mais um pesadelo, e quando eu os abrisse, ele não estaria mais ali.
Mas não foi o que aconteceu.
As mãos dele percorriam todo meu corpo e eu não ousava me mexer. Pensei em meu namorado e meus amigos na mesa e torci para que sentissem minha falta logo.
O homem apertava minha coxa com força e sua mão começou a entrar por baixo de minha saia. Não. Por favor, não.
Lágrimas já rolavam soltas pelos meus olhos.
Quando a mão dele tocou minha calcinha, eu deixei um soluço escapar pela garganta. Já previa o que vinha a seguir, mas, surpreendentemente, no segundo seguinte, o homem se afastou bruscamente de mim e eu senti dois braços me envolverem, me tirando dali.
Não vi o que aconteceu. Não vi quem afastou o cara de mim. Não vi quem estava me abraçando e me levando para fora do pub. Eu apenas chorava, enquanto a pessoa que me guiava me abraçava com força, me mantendo próxima ao seu corpo. Eu sabia que não era , pois não sentia seu perfume.
- ? ? - Ouvi uma voz me chamar mas eu só conseguia chorar.
- Amiga... - Era Anne e senti seus dedos passarem pela minha cabeça.
- O que ele fez? Ele te machucou? , ele tocou em você? - Agora era . Ele estava muito exaltado. - Vamos levar ela pra casa, por favor, vamos levar ela pra casa! - Ouvi falando, desesperada.
- Eu não vou sair daqui enquanto não acabar com ele! - falou, seu tom continha raiva, muita raiva.
e Mark falavam algumas coisas para tentar acalmá-lo, mas, sem sucesso. Eu estava assustada e a última coisa que precisava era meu namorado batendo em alguém.
- ... - Eu gemi, baixinho.
Os dois braços que me abraçavam - que agora eu sabia serem de - se afastaram e veio até mim, levantando meu rosto.
- Por favor, quero sair daqui. - Implorei, escondendo meu rosto em seu peito.
Ele assentiu e eu o ouvi falar:
- Mark, você dirige meu carro, eu vou atrás com ela. , você leva e Anne pra casa já que vocês vieram juntos e... - ele foi interrompido por .
- Não! Eu não vou pra casa! Eu vou ficar com ela! - falava, exaltada.
- Amor... - a chamou, mas ela negou.
- Não. Eu vou junto, e ponto final. Nós brigamos antes e eu não vou deixar ela sozinha agora. - Explicou, seu tom de voz saindo firme.
- Vamos pra nossa casa, é mais perto daqui - Anne disse, encontrando uma solução boa para todos.
No segundo seguinte estávamos todos andando em direção aos carros e quando eu vi, já estávamos entrando na casa de Anne e Mark.
- Levem ela pro quarto de visitas. - Anne pediu.
- Banho. - Pedi. - Eu quero tomar um banho.
Eu, , e Anne começamos a subir as escadas. Anne se afastou dizendo que iria buscar uma roupa para mim. Nós entramos no quarto de visitas e eles me levaram para o banheiro.
- , você...? - pediu a ela e ela o olhou sem entender.
- Eu? Por que eu? Você é namorado dela. coçou a cabeça sem jeito. - Vocês não...? - perguntou e ele negou, sem graça. - Ah! - Ela exclamou, surpresa, e depois confirmou com a cabeça. - Pode deixar.
- Obrigado. Vou estar aqui fora se precisar. - falou e fechou a porta do banheiro, deixando nós duas ali dentro.
- Me desculpa, eu... - Comecei a falar, mas me abraçou com força, negando.
- Não precisa falar nada, tá tudo bem e eu amo você - ela falou e eu desatei a chorar em seu ombro.
- Eu não acredito que isso aconteceu de novo - Falei baixinho, e ela se afastou de mim, me olhando, surpresa.
- De novo? - perguntou e eu assenti, voltando a chorar na mesma hora. - É por isso que você...? Oh. - falou, concluindo sozinha e voltando a me abraçar. - Meu Deus. Eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo.
Eu chorava no ombro dela como há muito tempo não fazia. Estava soluçando sem parar enquanto ela fazia carinho em minha cabeça. Três batidas na porta foram ouvidas e ouvimos a voz preocupada de :
- ? O que tá acontecendo? Tá tudo bem? Vocês precisam de algo?
Eu neguei com a cabeça e ela entendeu na hora. Respirei fundo, mentalizando que precisava me acalmar.
- Tá tudo bem, . Vou colocar ela no banho agora. - Explicou a ele e eu sorri fraco para ela, agradecendo.
não falou mais nada.
- Como você quer fazer isso? - perguntou. - Quer que eu te ajude? - Balancei a cabeça, concordando. - Tudo bem, então, vamos levantar. - Ela estendeu a mão para mim e eu a peguei, me levantando.
levantou minha blusa, tirando-a e soltou um gritinho quando olhou para meu pescoço e minha cintura.
- O que foi? - Perguntei, me virando de frente para o espelho.
Um soluço escapou por meus lábios e meus olhos voltaram a arder. Meu pescoço estava todo marcado e minha cintura estava com marcas de apertões. Aquilo não sairia tão cedo.
me virou de frente para ela novamente e abriu minha saia, fazendo com que ela caísse no chão. Tirei minha calcinha e meu sutiã e logo eu estava em baixo do chuveiro junto com . Ela havia tirado sua roupa e estava só de calcinha e sutiã. Me virou e começou a passar sabonete em minhas costas, enquanto eu só sentia a água cair pelo corpo e rosto, levando junto as lágrimas que eu ainda não havia parado de derramar.
Logo já estávamos as duas enroladas em toalhas e saímos do quarto, que estava vazio. Em cima da cama havia a roupa que Anne havia separado para mim. me ajudou a me vestir e eu me deitei na cama. Ela voltou para o banheiro e vestiu suas roupas. Depois, veio até mim e se sentou ao meu lado.
- Eu sinto muito, muito mesmo. - Ela disse, enquanto fazia carinho em meu cabelo - Eu sabia que era algo grave, mas eu nunca imaginei que fosse algo assim.
Eu mordi o lábio, assentindo. Ninguém nunca imaginava.
- Agora, mais do que nunca, você precisa de ajuda... Precisa conversar. Não vai conseguir guardar isso pra você mais uma vez.
- Eu sei - concordei, enquanto me encolhia e me virava de lado -, eu tinha decidido procurar ajuda quando vocês foram embora lá de casa - confessei. - É por isso que eu e nunca... Nós nunca... Eu não consigo.
- Eu entendo. Quer dizer, eu não entendo porque nunca vivi isso, mas agora, eu compreendo - falou. - Eu quero perguntar uma coisa, mas você não precisa responder se não quiser. - O pai de , ele... - não deixei ela terminar.
- Sim.
Ela ficou em silêncio, assimilando o que eu tinha falado. Agora que ela já sabia de tudo, estranhamente, eu sentia vontade de continuar a contar. E foi o que eu fiz.
- Ele era meu namorado. Nós nunca havíamos feito nada. Fomos a uma festa, e eu acabei provando uma droga nova... Ele se aproveitou de mim e... Quando eu vi, já tava acontecendo e eu não conseguia afastar ele de mim - Contei, soltando um soluço baixinho e me encolhendo mais.
Ela subiu na cama e se deitou ao meu lado, me abraçando por trás, fazendo carinho em meu braço.
- , não precisa... - ela disse, mas eu a cortei novamente.
- Eu preciso, . Preciso falar. Por favor - pedi e ela assentiu. - Foi a pior noite da minha vida. Sentir ele em cima de mim, doeu tanto... Terminei com ele, obviamente, mas eu não contei pra ninguém. Dois meses depois, eu descobri que tava grávida. - Funguei baixinho e ela continuava em silêncio, me ouvindo.
"Contei só pra mamãe. Foi nesse dia que meu pai nos deixou, mas antes de ir, ele bateu em mamãe, como sempre. Eu tentei ajudar, mas não consegui. Quando ele disse que iria embora, eu e mamãe achamos que ele tava louco. Mas ele foi. E nunca mais voltou. Na semana seguinte, mamãe me levou na delegacia. Eu contei tudo que havia acontecido. Mas, ninguém acreditou em mim e ainda me culparam por eu estar drogada. Apesar disso, me deram a opção de tirar . Eu nunca cogitei essa possibilidade. Eu não vejo ela como algo ruim, que me faz lembrar dessa noite sempre que a vejo. Eu vejo como meu milagre. Porque de algo tão sujo e tão doentio, ela surgiu. E não poderia ser mais perfeita."
sorriu e me abraçou mais forte. Eu me permiti chorar mais um pouco e me afastei, me virando para ela.
- Por favor, não conta pro . - Pedi a ela.
Ela ia falar algo, mas a porta se abriu, com , Anne, e Mark entrando em silêncio, me olhando preocupados. beijou minha bochecha e se levantou, indo em direção ao noivo.
- Eu e ligamos para o pub - Mark falou. - Solicitamos as filmagens da noite de hoje e se eles negarem, abriremos um processo contra eles, pois estarão encobrindo um crime que aconteceu dentro do estabelecimento deles.
- Eles têm uma semana. Vai ficar tudo bem - disse, sorrindo em minha direção.
- Obrigada pelas roupas - eu falei à Anne. - Obrigada a todos vocês. De coração. Não sei o que teria acontecido se... Se vocês não tivessem chego.
suspirou e veio em direção a cama, sentando-se ao meu lado, onde antes estava.
- Vamos dormir aqui hoje, tudo bem? Amanhã cedinho passamos buscar e vamos pra casa. - Bom, nós vamos pra casa. Qualquer coisa nos liguem. - falou pegando a mão de .
- Se precisarem de algo, me chamem, por favor! - Anne falou.
Os quatro se viraram para sair do quarto, mas eu chamei:
- ? - ela se virou e me olhou. - Obrigada.
Ela sorriu e balançou a cabeça, confirmando, antes de sair do quarto.
se levantou e tirou sua roupa, ficando só de boxer. Antes de deitar, me olhou em dúvida.
- Posso?
- Claro que sim, por que não poderia? - Perguntei, estranhando sua pergunta.
- Eu não sei, eu... - coçou a cabeça, sem graça. - Achei que depois do que aconteceu você teria... Você sabe...
- Medo? - Falei e ele assentiu. - De todos os homens do mundo, você é o único que me traz segurança, . Eu nunca teria medo de você.
Ele deu um suspiro de alívio e abriu um sorriso. Se aproximou da cama e deitou-se, me puxando para o seu peito. Me aninhei ali e fiquei quietinha, apenas sentindo sua presença.
- Você me perdoa? - Perguntou.
- Perdoar? Pelo que? - Perguntei sem entender.
- Por ter te deixado ir ao banheiro sozinha. - Ele explicou. - Eu podia ter ido e ter esperado do lado de fora, e isso não teria acontecido, e...
- . Não. - O interrompi. - Você não tem culpa. Eu não tenho culpa. Só existe um culpado e eu e você sabemos bem quem é.
Ele assentiu, soltando o ar que estava prendendo. Me abraçou mais forte, e depois de um tempo eu quebrei o silêncio:
- Eu preciso de ajuda. - Confessei.
- No quê? Eu te ajudo, no que precisar. - Ele disse, enquanto seus dedos passeavam lentamente pelos meus braços.
- Não, . Eu preciso de ajuda. Profissional. - Esclareci, e ele me olhou, surpreso. Abriu um sorriso de lado e assentiu.
- Vamos conseguir ajuda. Vai ficar tudo bem.
Eu sorri para ele e ergui minha cabeça, lhe dando um beijinho no queixo. Voltamos a ficar em silêncio. Eu estava sem um pingo de sono. parecia estar da mesma maneira, pois ainda passava os dedos pelos meus braços, me acariciando.
Eu me sentia extremamente segura. Ali, deitada nos braços do homem que eu amava, eu tive certeza de que enquanto eu tivesse ele em minha vida, eu sempre conseguiria superar meus medos e traumas. era meu porto-seguro. Quando finalmente eu comecei a sentir meus olhos pesarem, me lembrei de uma coisa. Mas e se ele se assustasse? Decidi por falar apenas o necessário:
- ?
- Hm?
- Gosto muito de você. - Declarei.
Mesmo estando de olhos fechados, eu sabia que ele estava sorrindo quando me respondeu:
- Eu também gosto muito de você, .


Capítulo 12

Eu estava sentada na recepção esperando ser chamada. Minhas mãos estavam suando e eu não parava de sacudir minhas pernas. colocou sua mão sobre a minha coxa, me fazendo parar de sacudi-la.
– Se acalma. – Pediu, sua voz calma.
? – Uma voz chamou e eu levantei meu olhar, encarando a médica. Sorri brevemente e olhei para , que sorriu, me incentivando. Caminhei até a médica e sorri brevemente. Entramos na sala e ela fechou a porta.
Depois do episódio no pub, eu havia pedido ajuda à para encontrar um profissional que me ajudasse. Ele não se ofendeu. Não estranhou. E não se importou quando eu disse que não conseguiria me abrir com ele. Apenas disse que estava orgulhoso de mim, pois sabia como isso era difícil, e que sabia exatamente a quem iria me encaminhar.
Então, depois de ter passado o mês de Julho inteiro desmarcando a consulta inúmeras vezes – ficou muito bravo quando descobriu – eu estava finalmente dentro daquele consultório. Eu criei incansáveis diálogos em minha cabeça, de como eu contaria tudo que já aconteceu comigo ao profissional que me atenderia. Mas eu não sabia como começar. Não podia simplesmente falar “então, eu sou assim porque meu pai bateu em mim e em minha mãe até meus 18 anos, que foi quando eu engravidei porque fui estuprada, aí meu pai nos deixou e dois anos depois minha mãe morreu. Aí eu vim para Londres com minha filha e fiz amigos e me apaixonei por , até que eu quase fui estuprada de novo em um pub e agora estou aqui”. Podia?
? – a mulher à minha frente falou, e eu finalmente a olhei. – Nós já estamos sentadas há alguns minutos e você não falou nada.
Suspirei e me mexi desconfortável na cadeira.
– Eu sei que isso é difícil pra você. Quando Dr. te encaminhou para mim, ele me explicou que você passou por muita coisa e que não falava sobre isso, mas que finalmente havia pedido ajuda – ela disse, enquanto a ouvia em silêncio. – Quero que saiba que pode confiar em mim. Eu estou aqui pra te ajudar. Nada mais que isso. E não vou desistir enquanto não atingir meu objetivo, que é te fazer lidar com seus traumas.
Continuei em silêncio. O fio solto na barra da minha blusa estava muito mais interessante do que conversar com ela. Mas aí eu me lembrei que prometi. Prometi à mim mesma, a , a , a Anne... A Dra. Watson continuava a me olhar, me analisando. Mordi o lábio e respirei fundo.
– Eu não sei como fazer isso. – Confessei mexendo na barra de minha blusa de maneira nervosa, vendo-a assentir.
– Apenas comece a me contar o que você acha que é relevante.
Ótimo. A minha vida inteira, quem sabe?
– Me fale sobre seus pais. – Pediu.
– Hm... Meu pai era violento. – Disse e ela fez uma anotação em sua prancheta. – Ele batia em Angie e em mim.
– Angie é sua mãe? – Perguntou.
– Era. Ela faleceu.
– Tem quanto tempo? - Perguntou, erguendo as sobrancelhas.
– Já estamos em Agosto, então, 9 meses. Ela tinha câncer. – Expliquei, mordendo o lábio. Ela novamente fez anotações em sua prancheta e voltou sua atenção para mim.
– Quando seu pai começou a bater em sua mãe? – Perguntou.
– Eu não sei. Desde que me conheço por gente, acho... – falei, encolhendo-me na cadeira. – Eu nunca tive momentos bons com ele, então realmente não me lembro.
– Você presenciava as agressões sempre?
– Desde pequena.
– E quando ele começou a agredir você também?
– Quando eu atingi a adolescência.
– Ele tocava em você de maneira sexual?
Respirei fundo e neguei com a cabeça.
– Mas já aconteceu... – Confessei, minha voz saindo em um sussurro. – Digo, outra pessoa já fez isso comigo.
Ela levantou as sobrancelhas, surpresa e fez uma anotação em sua prancheta.
– Vamos continuar falando sobre seu pai e sua mãe, tudo bem? Isso fica para outra seção.
Assenti e continuamos a conversa. Não foi tão ruim quanto eu achava que seria.
Depois de incontáveis minutos, a consulta acabou. Eu ainda não me sentia mais leve, mas, já era um começo.
– Sobreviveu? – perguntou assim que me aproximei dele. Eu sorri de lado e assenti.
– Não foi tão difícil. Semana que vem tenho que vir de novo. – Falei, torcendo a boca. Ele levantou e pegou em minha mão. Saímos juntos do consultório, e como era perto de casa, fomos andando.
– Vai ficar mais fácil com o decorrer do tempo, você vai ver... – ele falou. – Quer me contar sobre o que conversaram hoje?
Mordi o lábio, pensando. Não seria ruim, seria?
– Sobre mamãe e meu pai. Contei como foi crescer vendo ele agredi-la praticamente todos os dias. – Desatei a falar.
me olhou surpreso.
– Eu perguntei pra ser simpático, não achei que você fosse realmente falar. – ele falou e eu sorri sem graça. – Obrigado por ter me contado.
– Eu quem agradeço. Por não desistir de mim. - Disse e me aproximei dele e dei um beijo em sua bochecha.
– Nunca vou desistir de você. Paciência é uma das minhas maiores virtudes. Estamos juntos, lembra? Já disse que não vou a lugar algum sem você e .
Sorri abertamente e apertei sua mão, enquanto ele me olhava. Sorrimos um para o outro.
– O que acha de passarmos na padaria pegar aquela torta maravilhosa de chocolate que amamos? – pediu e meus olhos brilharam na hora.
– Não precisa nem falar duas vezes!
Chegando em casa, me joguei no sofá e coloquei os pés na mesinha de centro. foi para a cozinha preparar um chá para tomarmos enquanto comíamos a torta. Era uma quinta-feira, porém, havia me dado folga hoje, pois sabia o quão importante era esse dia para mim. Panqueca pulou no sofá e se aninhou a mim. Fiquei fazendo carinho em sua cabeça, até que voltou para a sala com um pedaço de torta e dois garfos para dividirmos, e duas xícaras de chá.
– Daqui 1h tenho que buscar ... – Murmurei, pegando uma garfada da torta e levando a boca.
– Eu busco, amor. – respondeu, comendo junto comigo.
– Ela vai gostar. Você nunca a buscou, né? – Perguntei e ele negou com a cabeça. – Vai ter que fazer chá pra mim mais vezes. – Comentei assim que terminei meu chá, deixando a caneca na mesa de centro.
– Faço sempre que quiser. Agora vem aqui... – falou, me puxando.
Coloquei o prato de torta junto à xicara e sentei ao seu lado. Ele se ajeitou, virando-se de modo que ficou atrás de mim. Levou a mão até meu cabelo e afastou-o de meu pescoço, expondo-o. Aproximou seus lábios e ficou roçando-os por ali, me fazendo arrepiar inteira.
... – falei, em meio a suspiros.
– Hm? – ele disse, sem tirar a boca de meu pescoço.
– Você... – Soltei um gemido baixinho quando senti-o dar uma mordidinha no lóbulo de minha orelha, arrepiando-me por completo.
– Eu...? – Perguntou, passando a língua por ali. Eu me encolhi, grudando mais meu corpo ao dele. – Você quer que eu pare? – Perguntou, sem tirar sua boca de meu pescoço.
– Não! – falei, exaltada e ele riu contra minha pele – Digo, não... Por favor. – Ele sorriu e voltou a dar beijos, traçando um caminho até o meu ombro.
Levei minha mão até sua nuca, entrelaçando meus dedos em seu cabelo, passando as unhas de leve pela região. parou com os beijos e me virou de frente para ele. Seus olhos brilhavam cheios de desejo. Logo nossas bocas estavam grudadas em um beijo intenso. Suas mãos percorriam minhas costas, mantendo meu corpo perto do seu. Eu tinha minhas mãos em sua nuca, acariciando-a. Passei minhas pernas por seu corpo, posicionando-me em seu colo e entrelacei os dedos em seus cabelos, puxando-os e fazendo nossas bocas se afastarem. me olhou em dúvida e eu sorri de lado, aproximando meus lábios de seu pescoço. Dei alguns beijinhos, roçando a boca por ali e logo comecei a passar a língua. Senti-o se arrepiar e sorri contra seu pescoço. As mãos dele foram até minha cintura, me pressionando, apertando-me contra seu corpo.
– Você ainda vai me deixar louco, ... – Murmurou, enquanto eu me afastava e levava meus lábios até os seus, mordendo o inferior e puxando-o.
Começamos a nos beijar novamente, e as mãos de estavam brincando com a barra de minha camisa. Suas mãos finalmente adentraram minha roupa, entrando em contato com minha pele. Me arrepiei instantaneamente ao senti-lo passar a ponta dos dedos por minha pele nua.
... – chamei, baixinho.
– Eu sei. Não vou fazer nada. – Falou, com a boca contra a minha – Não vamos passar disso. – Me tranquilizou, voltando a grudar sua boca na minha.
Sua língua explorava todos os cantos de minha boca, e às vezes ele mordiscava meus lábios. Com nossos corpos grudados um ao outro, pressionei minha cintura contra a dele e ele gemeu baixinho.
– Não faz isso... – pediu, quase em súplica. Suspirei baixo e me afastei dele.
– Acho melhor pararmos por aqui, e... – Comecei a falar, mas ele me interrompeu, me tirando de seu colo e se levantando exaltado.
! – falou, enquanto arrumava suas roupas e ia em direção a porta – Esquecemos de !
– Meu Deus, !
– Volto em 10 minutos. – Disse e no segundo seguinte ouvi a porta batendo. E eu fiquei ali, no sofá, pensando em como eu queria conseguir ir até o fim com ele.
– Mamãe! – Ouvi a voz de quando ela entrou em casa. entrou logo atrás e fechou a porta.
– Ursinha! – Disse indo em sua direção e me abaixando, lhe dando um beijo na bochecha.
– Por que não foi buscar eu na escola? – Perguntou e eu sorri, pegando em sua mão e indo até o sofá.
– Mamãe achou que você iria gostar se tio te buscasse hoje! – falei.
– Eu gostei! Só que é sempre você que busca eu... – fez um biquinho e eu ri, passando as mãos por seu cabelo.
– Quer dizer que você não quer que eu te busque mais, bonitinha? – perguntou, sentando ao sofá junto com nós duas. balançou a cabeça para os lados, negando.
– Eu quero que mamãe e tio busquem eu juntos, igual as mamães e papais dos meus amiguinhos fazem! – falou animada.
Eu e trocamos olhares e ele sorriu.
– Amanhã vamos os dois juntos, ursinha. Prometo.
– Podemos jantar pizza? – Perguntou, juntando as mãozinhas em súplica.
– Hoje é quinta-feira, meu amor...
– Por favorzinho, mamãe! Por favorzinho! – Implorou, dando alguns pulinhos animados. – Tio , pede pra mamãe, por favor!
me olhou e fez igual , colocando as duas mãos juntas em frente ao seu rosto. Rolei os olhos e não consegui reprimir um sorriso.
– Tá, tá! – Dei de ombros e os dois se olharam e bateram palmas, animados. – Mas vai todo mundo pro banho antes! – Falei, e já começou a andar em direção ao banheiro.
– Até eu? – perguntou.
– Até você. – Confirmei me aproximando dele e lhe dando um selinho. – Vai pra casa, toma banho e pega a pizza pra gente. – Sorri e vi-o revirar os olhos.
– Tudo eu nessa casa, tudo eu! – Exclamou, fingindo uma indignação, enquanto ria e se levantava.
Mostrei a língua para ele e dei um tchau com a mão, me virando e indo ao banheiro atrás de . Quando cheguei lá, ela já havia tirado sua roupinha e me esperava, pacientemente. Me despi e nós duas entramos no chuveiro.
– Mamãe, eu posso escolher alguém pra ser meu papai? – perguntou, e eu esfregava shampoo em seu cabelo.
– Como assim, ursinha? – perguntei, agora passando shampoo em meu cabelo.
– Eu quero ter um papai agora – ela falou ensaboando desajeitadamente seu corpinho e eu suspirei –, e eu quero que seja o tio .
... – Reprendi-a, enxaguando meu cabelo.
– Mamãe, eu sei que não tenho um papai de verdade, mas quero um de mentirinha! – Exclamou, batendo o pé no chão e me encarando com seus olhinhos azuis.
– Meu amor, não... – eu disse, enquanto passava água em seu corpo, tirando o sabonete. Fiz o mesmo em mim.
– Mas por quê? – insistiu.
Desliguei o chuveiro e saímos do box. Enrolei-a em sua toalha e depois me enrolei na minha.
– Porque mamãe e tio são só namorados, ursinha. – Expliquei enquanto saíamos do banheiro e íamos em direção a seu quarto, para escolher uma roupa.
– Mas e se eu – apontou para si mesma - pedir pra ele ser meu papai? – finalizou enquanto eu vestia uma blusa nela. Peguei uma calcinha e um shorts e vesti nela também.
– Você não pode pedir, meu amor. Não é assim que funciona... – falei, enquanto ia até meu quarto para me vestir.
veio atrás de mim e eu percebi que ela não desistiria tão cedo.
– Mas eu quero! – Ela falou mais alto, se exaltando.
... – repreendi-a, vestindo uma camiseta de uma série qualquer e um shorts.
– Não! Você não quer me deixar ter um papai! – Gritou, enquanto batia os pezinhos no chão.
– Não é isso, filha! Não se pode pedir para que alguém seja seu papai, não se escolhe quem vai ser seu pai! – Rebati enquanto penteava meus cabelos. começou a chorar e gritou:
– Você é muito chata! Eu te odeio, mamãe, eu te odeio! - Berrou, vindo até mim e dando tapinhas em minhas pernas.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Pronto, agora minha filha me odiava. Me abaixei ficando em sua frente.
– Filha, por favor! ! – Ela continuava a me dar tapinhas. Segurei seus braços sem colocar força alguma – ! – Gritei e me arrependi no momento seguinte.
Seus olhos se arregalaram em susto e ela se virou, saindo correndo do meu quarto imediatamente. Bufei irritada e deixei que algumas lágrimas caíssem. Ouvi a porta da frente bater e segundos depois entrou em meu quarto.
– O que foi que aconteceu? – Perguntou, estranhando o clima estranho.
– Cadê a ? – Perguntei a ele enquanto passava por ele e saía do quarto.
– Tá trancada no quarto dela. – Disse, dando de ombros. – Eu vim pra cá e a porta do quarto dela ‘tava fechada.
Fui até a porta de seu quarto e girei a maçaneta, devagar. Tinha algo bloqueando a porta, mas nada que me impedisse de abri-la. Quando entrei em seu quarto, percebi que o que estava atrás da porta era sua cadeirinha. Não pude deixar de abrir um sorriso com sua tentativa de trancar a porta. estava deitada em sua caminha, escondida em baixo das cobertas.
– Filha... – chamei.
Ela se mexeu na cama, mas não falou nada.
– Escuta a mamãe, vamos conversar?
– Sai daqui, mamãe, eu não quero falar com você! – Ela disse, sua voz abafada pelas cobertas.
Suspirei e levei a mão aos meus cabelos em frustração.
...
– Eu não quero! – Gritou e eu bufei, irritada.
, eu ‘tô falando sério. Vamos conversar agora. – Eu disse, agora com a voz mais firme.
Sem resposta. Sentei em sua cama e ela se encolheu no canto.
– Vai embora! – Pediu.
Suspirei e deixei mais algumas lágrimas rolarem. se aproximou e colocou a mão em meu ombro. Olhei para ele, e ele tinha um sorriso terno nos lábios.
– Deixa que eu falo com ela. – Ele disse baixinho. Assenti e me levantei. Mas antes de me afastar da cama, falei:
– A mamãe te ama, filha. Nós duas contra o mundo, lembra?
Não obtive resposta de novo. Abaixei os ombros, derrotada, e saí de seu quarto, indo até o meu e fechando a porta. Me deitei na cama e soltei um grito abafado contra o travesseiro. Panqueca, que estava ali deitado em sua almofada preferida, subiu na cama e se aproximou de mim, passando a cabeça por meu rosto, pedindo carinho. Sorri, enquanto fazia carinho em sua cabeça e ele se aninhava perto de mim.
e eu nunca havíamos brigado antes. E mesmo sabendo que ela não falava sério, meu coração quebrou em vários pedaços quando ouvi que ela me odiava. Eu sei que era difícil, ver todos os coleguinhas com seus pais e não ter um. Mas eu e não éramos casados, e eu tinha medo. Mesmo querendo que não acabássemos nunca, eu precisava ser realista. Se eu e terminássemos, inevitavelmente, ele e teriam que se afastar. E eu não gostava nem de pensar em como ela ficaria caso isso acontecesse.
Acabei adormecendo e só acordei quando senti se deitar ao meu lado na cama, puxando meu corpo para si.
– Que horas são? – Perguntei, ainda de olhos fechados.
– 22h, amor. dormiu.
– Vocês comeram? - Ele concordou. – Ela me odeia, .
– Ela não te odeia, . E você sabe disso. Não fala besteira. – Ele disse, passando a mão pelo meu cabelo.
– O que você falou pra ela?
– Disse que você só queria o bem dela, e que ninguém ama ela mais do que você – ele disse, sorrindo e eu retribuí –, e falei que aceitava.
– Que aceitava o que? – Perguntei, me sentando de frente para ele. Ele fez o mesmo.
– Ser seu papai. – Deu de ombros, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
! – Exclamei, repreendendo-o.
– Qual o problema? – Ele perguntou.
– Eu não acho isso boa ideia!
– E por que não? Nós estamos juntos, gostamos um do outro...
– E eu não quero que ela sofra. – Falei, completando sua frase.
– O quê? E por que ela sofreria? – Perguntou, se exaltando e levantando da cama.
... – Murmurei baixinho, sem saber como responder.
– Fala, . – Insistiu. - Você acha que eu vou sumir ou algo assim?
– A gente não sabe se vai ficar juntos pra... – Comecei, mas ele me interrompeu.
– Você tá brincando comigo, né? – Ele estava indignado. – , se você não acha que vamos ficar juntos por muito tempo, não tem porque continuarmos!
Eu o olhei, incrédula. Ele tinha mesmo dito isso?
– Eu não disse isso, ! – Me levantei da cama também, indo até ele. – e eu já passamos por muita coisa, eu não quero que ela sofra pela falta de um pai que não é de verdade! – Falei um pouco mais alto – Todos os homens da minha vida me decepcionaram! Um me batia, o outro... – minha voz morreu e eu desisti de falar, não era aquele o momento.
Ele passou as mãos na cabeça, bagunçando os cabelos, frustrado.
– Eu sei que não sou o pai dela! E eu não sou como os outros que passaram por sua vida! Achei que você soubesse disso. – Rebateu, seu tom de voz mais alto que o normal. – tem apenas 4 anos, . Precisa de uma figura masculina e...
– Eu e sempre nos viramos bem sem um homem, . Não é agora que precisamos de um!
O olhar de se apagou, e nesse momento eu percebi que tinha falado demais. Mordi meu lábio, nervosa. Meus olhos arderam.
, eu não... – Falei baixinho, me aproximando dele, mas ele deu dois passos para trás.
– Eu sei – ele riu, irônico –, você não queria dizer isso, né? Mas você disse, . Eu não consigo te entender! Qual o problema de se entregar a mim? Qual o problema em aceitar que eu estou com você e não tenho planos de ir à lugar algum? – continuou a falar, andando pelo quarto – Quer dizer, não tinha planos. Porque ouvir que você e não precisam de mim é demais até pra um cara como eu.
– Um cara como você? – Perguntei, baixinho, segurando as lágrimas que cairiam a qualquer momento.
– Um cara completamente apaixonado, ! Um cara que sempre viu em você e a chance de recomeçar e ser feliz de novo! Ter uma família! Era isso que eu via toda vez que acordava ao seu lado, e era isso que eu via sempre que abria seu maior sorriso ao me ver!
Me sentei na cama, derrotada. As lágrimas finalmente rolaram pelo meu rosto e eu abracei meu corpo.
– Era? – Perguntei, baixinho.
olhou para mim e não falou nada. Seu olhar era triste. Ele caminhou até a porta.
– Vou pra casa. – Disse simplesmente, girando a maçaneta.
... Por favor, vamos...
, eu vou pra casa. Boa noite. – Despediu-se e abriu a porta, saindo do quarto.
Eu fiquei parada, em choque, enquanto ele saía. Ouvi a porta da frente bater e soltei um soluço alto, caindo na cama derrotada e chorando até dormir. Eu havia ferrado com tudo.


Capítulo 13

Acordei com barulho de algo caindo. Me levantei e saí de meu quarto. estava no banheiro, tentando, sem sucesso, pegar sua escova de dente.
– O que você ‘tá fazendo, meu amor? Por que não chamou a mamãe? – perguntei entregando a escova a ela. pegou a escova, me olhou e passou reto por mim, saindo do banheiro.
Fui atrás dela. Ela andou até a sala e foi até sua mochilinha. Guardou sua escova de dentes lá, colocou a mochila nas costas e pegou Panqueca que estava no sofá.
? – chamei, e ela nem me olhou.
Meu coração apertou.
– Filha, fala com a mamãe... – pedi, me aproximando dela.
Ela andou até a porta de casa e girou a chave, abrindo-a sem dificuldade alguma. Atravessou o corredor e bateu na campainha do apartamento de .
, por favor! - chamei.
Panqueca me olhava como se estivesse confuso. Não sei como ainda tinha lágrimas depois da noite de ontem, mas senti meus olhos arderem.
A porta do apartamento de se abriu e meu coração se apertou mais ainda, como se isso fosse possível. estava com algumas olheiras, mas estava lindo, como sempre. Usava só uma boxer e estava com cara de quem recém tinha acordado. Seu olhar estava triste e percebi que ele tentava, a todo custo, não me encarar.
– Papai, eu quero morar com você – falou.
É o quê? Não sei o que me chocou mais em sua frase. Se foi o jeito que se dirigiu a ou seu pedido.
– Ursinha, não faz assim, a mamãe... – Implorei, me aproximando dela.
– Por favor? – pediu, me interrompendo.
Eu não estava acreditando naquilo. me olhou sem saber o que fazer. Soltei um soluço baixinho e escondi o rosto nas mãos.
, vem, vamos conversar. – Ele disse e ela entrou em seu apartamento, sem nem olhar para trás. – Nós vamos conversar e depois você volta pra casa, tudo bem? – falou, olhando para mim, como se me avisasse que iria dar um jeito naquilo.
– Eu não quero. – disse, decidida.
– Você quer panquecas? Eu faço, mas você tem que conversar comigo. Promete? – Propôs e ela assentiu, concordando e andando para dentro de casa.
se virou para mim e sorriu tristemente antes de fechar a porta e me deixar ali, desolada, no corredor.

xxx

Eu estava na cozinha desde que havia ido para casa de . Não fui a faculdade e nem ao trabalho. Nem me importei em avisar . Nunca faltava, então, esperava que ela entendesse. Já havia assado 5 bolos. Dois de chocolate, um de baunilha, um de fubá e um red velvet. Eram 14h, eu acho.
não havia voltado, nem . Essa hora ela devia estar na escolinha e , trabalhando. E nenhum dos dois queria falar comigo. Eu não tinha ninguém para me fazer companhia, nem Panqueca.
Suspirei, largando as coisas em cima da pia. Saí da cozinha e fui até o banheiro. Resolvi tomar um banho. Liguei o chuveiro e pensei no que poderia fazer. Eu precisava ajeitar as coisas com , e principalmente, com . Eu esperava que ele conseguisse colocar um pouco de juízo na cabecinha dela e que ela viesse para casa e falasse comigo. E depois eu tentaria conversar com .
Assim que saí do banho, ouvi a campainha tocando incessantemente. Vesti uma camisola qualquer que estava em cima da cama e corri para a porta. Quando abri, entrou como um furacão.
– Meu Deus, o que foi que aconteceu com você? – perguntou, enquanto me olhava. – Você não apareceu no trabalho e nunca fez isso antes, eu sabia que tinha acontecido alguma coisa, mas... – ela olhou por cima de meu ombro em direção a cozinha. – Você resolveu abrir uma padaria e não me falou?
– Eu asso bolos quando tô triste. – Respondi, dando de ombros.
– E por que você tá...
Antes que ela terminasse de falar, joguei meus braços ao seu redor e comecei a chorar em seu ombro. se assustou mas logo me abraçou de volta enquanto pedia para eu me acalmar.
– Eu briguei com a e com o . – Contei assim que me afastei dela.
– Como você conseguiu fazer isso? – perguntou, e eu a olhei feio. – Desculpa, amiga, mas não consigo imaginar!
Fui até o sofá e me sentei, ela me seguiu e fez o mesmo. Contei tudo que aconteceu à ela, desde o pedido de , minha briga com e o acontecimento dessa manhã.
– Nossa. - Comentou, assim que terminei de falar.
– É... – exclamei, derrotada. – O que eu faço?
– Primeiro, você precisa resolver as coisas com ... E depois, conversar com o e pedir desculpas. – Falou como se fosse extremamente simples.
– Ele não vai querer falar comigo. Eu ferrei com tudo, ...– Mordi meu lábio e suspirei, deitando meu ombro na cabeça dela.
– Ele gosta muito de você, . Ele vai te ouvir. – disse. – Tenho certeza.

Eu queria ter a certeza dela.

xxx

Quando a campainha tocou, perto das 18h, eu sabia que era . Larguei tudo que estava fazendo na cozinha e corri para abrir a porta. e estavam ali. Ela estava com sua mochilinha nas costas e segurava Panqueca. Ele pulou de seu colo assim que a porta se abriu e entrou, subindo no sofá e ficando por ali.
quer te falar algumas coisas... – disse, e eu desviei meu olhar do dele, olhando para ela.
Ela olhou para ele em dúvida mas logo se virou, andando em minha direção em passos desajeitados.
– Eu não odeio você, mamãe. – Ela disse, com os braços cruzados em frente ao seu corpo. Eu abri um sorriso de lado.
– Eu sei disso, ursinha... – Respondi, me abaixando para ficar na mesma altura que ela.
– Você não é chata e eu te amo. – Ela fungou baixo e então jogou os bracinhos ao redor do meu pescoço, me abraçando com força.
Sorri abertamente e envolvi seu corpinho com meus braços, abraçando-a. Olhei para e sussurrei um “obrigada” e ele apenas sorriu e acenou com a mão, saindo de meu apartamento e fechando a porta.
– Mamãe fez bolo de chocolate? – perguntou quando nos afastamos e olhou para a cozinha.
– Mamãe fez vários bolos. Você quer comer? - Ela assentiu e sorriu. Eu a peguei no colo. – Você desculpa a mamãe? Eu não queria ter gritado com você, ursinha... – falei e ela fez um biquinho, mas balançou a cabeça, concordando.
– Eu tenho um papai! – Anunciou, erguendo os bracinhos, animada.
Eu sorri sem vontade e concordei com a cabeça. Coloquei ela no chão e andamos até a cozinha.
– Tem bolo de chocolate, fubá, baunilha e aquele vermelhinho que você gosta. Qual você quer?
Ela pensou por um segundo e respondeu o óbvio:
– Chocolate! – Ergueu as mãozinhas e eu sorri, servindo-lhe um pedaço.
Depois de nos entupirmos de bolo, tomamos um banho e fiz dormir. Fui até a cozinha e coloquei o bolo red velvet em um prato. Decorei com chantilly e escrevi “Me desculpa?” em cima. Antes que desistisse, saí de meu apartamento e apertei a campainha de . Alguns segundos depois, ele abriu a porta e sua expressão denunciou sua surpresa ao me ver ali, segurando um bolo. Sem dizer nada, abri um sorriso tímido e estendi o bolo em sua direção e ele o olhou, mas não esboçou reação alguma.
...
, só me escuta, por favor. – Pedi e ele suspirou, concordando com a cabeça. – Eu não posso entrar porque tá dormindo, você se importa de irmos pro meu apartamento?
Ele hesitou por alguns segundos e depois suspirou, fechando a porta e andando comigo até meu apartamento. Ele entrou, mas ficou parado perto da porta. Eu deixei o bolo na mesa e voltei até perto dele.
– Eu sei que fui uma idiota e sei que falei muitas coisas que não deveria – comecei, e ele me olhava, prestando atenção em cada palavra –, eu sei que tenho muitos defeitos e muita bagagem, mas, pela primeira vez em muito tempo, isso aqui, nós dois – fiz sinal, apontando para mim e para ele – é a primeira coisa real que eu vivo e que tenho certeza que quero continuar. Eu não quero você fora da minha vida, não quero você longe de mim e de . Eu sempre soube disso e já havia pensado que queria me casar com você e até ter filhos, mas, , eu tenho um passado que infelizmente sempre me lembra que homens não costumam prestar – vi ele suspirar e mordi meu lábio, segurando minhas lágrimas –, mas você é contrário deles, amor. Você é um homem maravilhoso e sempre me prova isso. Eu sabia que você era diferente, quando nos beijamos pela primeira vez na sua casa. Vou te contar algo que você não sabe…
, você não precisa me contar. - Interrompeu-me e eu o ignorei, decidida a continuar até finalizar tudo que tinha para falar.
, quando nos beijamos, faziam quatro anos que eu não me envolvia com ninguém. Sendo mais clara, faziam quatro anos que eu não beijava ninguém – suas sobrancelhas se ergueram e ele estava surpreso –, e foi por isso que eu tive medo no início. Eu não tive experiências boas e tudo que você ‘tava me fazendo sentir era novo pra mim – uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu sequei-a antes de continuar e finalmente falar o que queria já há algum tempo:
– Eu te amo, , eu te amo tanto que chega a doer me imaginar ficar sem você no futuro. Eu quero um futuro com você ao meu lado e ao lado de , e se ela te quiser como pai, pra mim ‘tá tudo bem, só quero ver ela feliz, e você faz ela feliz. Você me faz feliz. Por favor, me desculpa.
respirou fundo e passou a mão pelo cabelo, nervoso. Ele andou de um lado para o outro e parecia ter algo o afligindo. Eu não sabia o que pensar.
– Fala alguma coisa... – Pedi, cruzando os braços e passando as mãos por eles, de forma a me confortar.
Ele parou, me olhou, e falou a última coisa que eu imaginaria que sairia de sua boca:
– Melissa apareceu em meu consultório hoje.




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