Capítulo Único

Música da história: Augustine - Nevertheless


Era uma sexta-feira e beirava a meia noite quando chegou na praia cheia de jovens e alguns adultos. Ela encontrou alguns amigos antigos, bebeu uma ou duas cervejas e decidiu que deveria ir para casa. Ela decidiu que iria, mas imaginou, claro, que seus amigos não encarariam isso tão bem. Entregaram para ela outra garrafa e com duas ou três palavras a convenceram a ficar um pouco mais. Ela suspirou, se rendeu e deu um gole na cerveja. Não podia ser tão ruim, certo?
- Tem alguém sentado aqui? – uma garota sorridente perguntou, apontando para o vão ao lado dela.
- Ah, não. Tá tranquilo.
A garota se sentou e deu um gole na garrafa de cerveja que trazia na mão. Ela era muito bonita, notou. Os cabelos longos e castanhos caíam sobre os ombros e ela exibia um sorriso largo e feliz, uma felicidade que há tempos não via em alguém.
- Então, você é daqui? – a garota perguntou.
- Sou sim. E você?
- Também, mas não moro mais aqui, só estou de férias.
- E estão sendo boas férias?
- É, pode se dizer que sim. Foram bem calmas, na verdade.
- Bom, acho que é o máximo que nossa pequena cidade tem a oferecer. – ela riu e colocou uma mexa do cabelo atrás da orelha.
- Eu sou Augustine. E você?
- Ah, . Prazer. – elas bateram os gargalos das garrafas em cumprimento e deram um gole.
- Gostei do seu cabelo.
- Ah, obrigada. O seu também é lindo.
- Você vem muito aqui? Acho que a última vez que vim eu era uma adolescente.
- Ah, só às vezes, quando meus amigos insistem muito ou quando estou com muito tédio. Gosto do clima, do vento. E da cerveja.
- Te entendo. A coisa que mais sinto falta quando estou longe é a praia.
- Onde você mora?
- Na verdade não tenho um lugar certo, eu trabalho viajando.
- Parece bem mais interessante do que ficar preso nessa cidade, uhn?
- Ouço muito isso. – ela sorriu e deu um último gole em sua cerveja, jogando então a garrafa no chão – E você, o que faz?
- Ah, bom, eu trabalho com finanças. É meio chato, mas é isso aí.
- É o que você gostaria de estar fazendo?
- Na verdade, eu não faço a mínima do que gostaria de estar fazendo. Eu simplesmente agarrei a primeira boa oportunidade que surgiu, era melhor que ficar esperando descobrir o que eu queria, certo?
- É, talvez. Eu sempre soube que o que queria, desde pequena, então não posso opinar muito sobre.
- Isso é muito bonito. Mas aposto que sente falta de casa.
- É, eventualmente. Mas não tenho muito do que sentir falta. Meu pai me criou sozinho e ele já faleceu há um tempo. Eu nunca tive muitos amigos, mas os poucos sumiram pelo mundo. E nada de relacionamentos. O último deu muito errado.
- Muito errado?
- É. Distância, sabe. É complicado manter um relacionamento sim. Hoje em dia já deixei essa ideia pra lá.
- Relacionamentos são complicados. O meu último também foi por um caminho bem chato. Nós éramos diferentes demais para dar certo.
- Eu entendo.
- Ela não estava pronta pra se assumir, acho. – deu de ombros – Não sou do tipo de pessoa que gosta de ser enrolada.
- Ela?
- Bom, é. Algum problema com isso? Por que, olha, eu sou muito lésbica. Absurdamente lésbica. – ela riu, fazendo a outra moça sorrir.
- Você realmente acha que sentei do seu lado por acaso?
As duas riram e ficaram se encarando por um tempo, o som do mar e das vozes ao redor como trilha sonora. Os olhos de Augustine eram gentis e quando estavam próximos daquela forma, faziam sonhar em ver todo o mundo que a garota já havia visitado. As duas se aproximaram sem mais demora e chocaram seus lábios, aprofundando o beijo por alguns minutos e então se afastando com alguns selinhos.
- Eu sou péssima em flertar. – resungou, sem graça.
- Sorte a sua que eu sou ótima nisso. – riu e roubou mais um beijo da moça – Vou pegar algumas cervejas pra gente, não suma, ok?
A mulher esperou pacientemente por Augustine, aguentando com as bochechas coradas enquanto seus amigos faziam piadas sobre os beijos que ela acabara de dar. Ela definitivamente não era o tipo de pessoa que beijava em público, mas depois de algumas cervejas e vendo uma mulher tão linda na sua frente era meio difícil de segurar ou lembrar sequer que era tímida ou reservada.
- Quer ir para um lugar mais reservado? – Augustine perguntou ao voltar com uma sacola com algumas garrafas de cerveja na mão.
- Você prefere?
- Bom, eu ouvi seus amigos brincando e você pareceu envergonhada. Sei como é, meus amigos antigos sempre faziam graça comigo. Se preferir que fiquemos a sós, sei o lugar perfeito.
Augustine estendeu a mão e sorriu, segurando e se levantando. As duas caminharam por cerca de dez minutos, as mãos desconhecidas entrelaçadas e risadas quase inaudíveis se misturando ao som do mar. Elas andaram até que as vozes e cantoria dos jovens não pudesse mais ser ouvida, andaram até um pedacinho de chão deserto e calmo onde poderiam ficar só as duas.
Alguns troncos aparentemente muito velhos estavam derrubados a pouca distância do mar e logo ao lado grandes formações rochosas começavam a se formar. pode imaginar as ondas quebrando ali na maré alta e sorriu com a ideia, ela amava a selvageria do oceano.

We watched the ships come in
(Nós assistimos os navios entrando)
From across the bay
(Do outro lado da baía)
I watched your lips move in
(Eu assisti seu lábios se movendo)
Wondering what to say
(Se perguntando o que dizer)
That was good enough
(E aquili foi o suficiente)
That was strong enough
(Aquilo foi forte o suficiente)
That was good enough for you
(Aquilo era bom o suficiente pra você)

- Você gostou?
- É lindo. Como você conhece esse lugar? – perguntou enquanto as duas se sentavam na areia.
- Meu pai costumava me trazer aqui há muitos anos. Eu gosto de vir aqui pra pensar, relaxar ou simplesmente ficar sozinha.
- E para namorar. – riu.
- Não exatamente. – disse séria, mas com um meio sorriso – Eu nunca trouxe ninguém aqui. Era um lugar meu e do meu pai e depois que ele morreu, preferi que continuasse assim.
- Ninguém? Ninguém mesmo? – a garota negou novamente – Então porque eu? Mal nos conhecemos.
- É exatamente esse o ponto. Nós não nos conhecemos e não vamos nos ver de novo, então qual a complicação?
- Não vamos nos ver de novo?
- Eu te disse que trabalho viajando.
- Mas podemos trocar telefones, certo? – perguntou esperançosa.
- Eu acho que esse é um daqueles momentos intocáveis, sabe? Não precisamos estragar isso, não como nossos relacionamentos anteriores. Vamos só aproveitar, ok? Sem telefones, sem sobrenomes. Augustine e . Curtindo uma noite juntas. – ela riu.
As duas se beijaram novamente, deixando seus corpos caírem na praia e se sujarem de areia. Rindo, Augustine afastou a garrafa de cerveja e virou os corpos das duas, ficando por cima de . Continuaram se beijando por alguns minutos e então pararam e começaram a se encarar com sorrisos marotos no rosto. Elas não conseguiam tirar os olhos uma da outra, como se algum tipo de magnetismo estranho as puxassem uma para dentro da outra. Era lindo, poético e ao mesmo tempo estranho.
- Você é realmente muito linda. – disse afastando uma mecha do cabelo da outra moça do rosto, colocando-a atrás da orelha – Confesso que talvez também esteja ficando bêbada.
- Quando eu era adolescente sempre ficava bêbada aqui nessa praia. Quando eu tinha quinze anos, alguns amigos apareceram com maconha e eu resolvi tentar. Fiquei estupidamente chapada... Meu pai quase me matou quando cheguei em casa.
- Eu consigo imaginar uma Augustine chapada de quinze anos tropecendo por esses troncos... – riu – Eu fazia muito isso, deixava meus pais loucos.
- Eu sempre fiz mais o tipo certinha, mas tive minha cota de vacilos – deu de ombros – Ou de diversão.
Augustine se levantou e do nada começou a tirar a roupa, jogando as peças de roupa uma a uma aos pés de e sorrindo.
- Vamos nadar!
- Ei, espera! – não teve tempo sequer de gritar e logo já estava sem roupa também, correndo atrás da garota.

Love is an ocean
(Amor é um oceano)
Caught in a storm
(Preso em uma tempestade)
Breaking down walls
(Derrubando muros)
And taking its form
(E tomando sua forma)
The farthest from safety
(O mais longe da segurança)
But the closest I've come
(Mas o mais perto que eu cheguei)
As we come undone
(A medida que se desfazem)
In Augustine
(Em Augustine)

A água estava quase congelando, mas as duas logo estavam abraçadas, rindo, pare se aquecer. Se beijaram novamente e sentiram o gosto de sal da boca uma da outra, ambas se controlando para que as mãos famintas não começassem a explorar o corpo uma da outra.
- Você está me fazendo me sentir como uma adolescente! – riu enquanto jogava os braços no pescoço da garota.
- E você gosta disso?
- Como não gostar? – ela sorriu e acariciou o rosto da garota – De certa forma parece que eu realmente deveria estar aqui, hoje, agora. Parece loucura? Eu nem te conheço... Não se asssute!
- Não parece loucura. Faz completo sentido para mim, aqui, agora.
As duas sorriram e aproximaram suas bocas lentamente para um beijo intenso. Já sem conseguir se segurar, deslizou suas mãos até a cintura da garota, que em resposta colou seu corpo ainda mais no dela. Os beijos cada vez mais salgados e profundos, suas respirações descompassadas cheias de suspiros e leves gemidos foram cada vez mais se mutiplicando e ficando mais altas, mais vorazes. E elas se amaram ali, por horas, talvez. Perderam completamente a noção do tempo enquanto se perdiam uma na outra. Quando saíram da água estavam tremendo de frio e com a pele completamente enrugada. Elas procuram suas roupas enquanto notaram o dia quase amanhecendo.
- Acho que exageramos um pouquinho. – riu – Já é quase manhã.
- Eu acho que acertemos perfeitamente na medida e no tempo. E em tudo. – ela puxou a mulher para mais perto e beijou-a com força – E tudo, mesmo. Mas eu realmente preciso ir. Meu avião sai em três horas e eu estou atrasadíssima.
- Você realmente não vai me passar nenhum contato?
- Não. – ela disse rindo – Não é suficiente saber que hoje a noite foi perfeito?
- É, sim, quer dizer... É que você tem algo. Esquece.
As duas caíram em um silêncio melancólico enquanto acabavam de pegar as coisas jogadas pela areia e rumaram até a rua, que não era tão distante. As duas não seguraram as mãos ou falaram muito, apenas andaram por dez minutos uma do lado da outra até que Augustine parou em frente a uma casa e sorriu.
- Eu paro aqui. Essa é minha velha casa. E eu preciso de um banho e correr pro aeroporto. Muito obrigada por tudo, .
- Se quiser uma carona pro aeroporto, seria melhor que gastar com um táxi. Meu carro não está longe daqui.
- Eu não te incomodaria com isso. De verdade.
- Não é incomodo. Eu pego o carro, você pega suas coisas. 30 minutos?
- Ok. – ela se rendeu, abaixando os ombros.
E foi assim que, trinta minutos depois, estava parada na porta da casa dela com os cabelos sujos de sal e o corpo todo melado. Não demorou muito para Augustine bater no vidro do carro, dando um susto na outra mulher. Não só por bater do nada, mas também por vê-la em uma farda do exército, fazendo sua boca cair completamente. Algumas coisas começaram a fazer sentido na cabeça dela e preferiu não dizer nada, apenas dirigiu.
- Você entende agora porque não quero manter contato?
- Acho que sim. – respodeu frustrada.
- Sou fuzileira e estou no Iraque há anos. Meu pai era da marinha, lembra que disse que eu sabia meu caminho desde pequen? É difícil, longe e dolorido. Você não mereceria sofrer assim por uma garota com a qual passou uma noite com. Acredite em mim.
não respondeu, apenas continuou prestando atenção na estrada. Não demorou para chegarem no aeroporto e ela sentia como se seu coração fosse pular pela boca a qualquer momento, o que não fazia sentido nenhum, já que só conhecia Augustine por poucas horas.
- Eu te ajudo com as malas. – ela disse, tentando se gentil, e a outra não recusou.
Caminharam até o embarque lado a lado e então saltou as malas no chão, olhando nos olhos de Augustine.
- Obrigada pela noite. Você é uma mulher incrível, Augustine. Gostaria de ter mais tempo com você, mas entendo sua decisão.
- Você é linda e gentil. E tem mãos maravilhosas – elas riram – Eu sei que te descompassei noite passada, mas prometo que alguém por aí vai fazer você se sentir da mesma forma. Ou até melhor.
- Eu sei. Não sou do tipo que se apaixona em uma noite, nunca fui. Mas é que tem algo em você... Não sei.
- Eu também não. – ela riu – Mas sinto o mesmo.
- Fique bem.
- Você também.
As duas sorriram uma última vez e Augustine se afastou, acenando. resolveu não prolongar muito o momento e virou as costas, caminhando lentamente em direção a saída. Em poucos minutos ela conseguiu pensar em milhares de coisas, mas principalmente na forma como as mãos firmes daquela moça desconhecida a fizeram sentir segura e feliz naquela madrugada. O gosto do sal ainda estava na boca dela e agora também transbordava pelos outros. E ela se sentia uma idiota por chorar por alguém que conhecia há horas, mas não conseguia evitar.

We dangled our feet
(Nós balançávamos os pes)
Over water from the wall
(Na água da parede)
I took your hand
(Eu peguei sua mão)
Ready for the fall
(Preparada pra a queda)
I'd fall fast enough
(Eu cairia rapido o suficiente)
I'd fall hard enough
(Eu cairia forte o suficiente)
I'd fall fast enough for you
(Eu cairia rapido o suficiente por você)

- , espera!
A garota se virou, assustada, e deu de encontro com o corpo de Augustine se chocando ao seu. As duas trocaram um abraço forte seguido de um beijo tão apaixonado quanto os outros da noite que passaram juntas. Augustine colocou um papel no bolso dela, sorrindo de forma triste.
- Esse é meu número. Eu nem sempre posso atender, mas pode me escrever. E eu não faço ideia de porque eu estou fazendo isso, mas... Você estava certa. Parece que algo nos trouxe aqui hoje e fez meu coração bater assim. E eu soube quando eu te vi.
- Eu também soube.
- Me ligue. Me escreva. Qualquer coisa. E fique com isso. – ela tirou um cordão fino do pescoço – E me devolva quando eu voltar. Quero ter algo para o qual voltar.
As duas sorriram e se beijaram uma última vez antes que Augustine de fato andasse até o embarque, mas dessa vez a acompanhou o tempo todo com os olhos. Elas acenaram uma última vez e colocou o cordão no pescoço, respirando fundo e sorrindo.
Alguma coisa naquela mulher definitivamente a puxava como uma imã, como paixão a primeira vista e como a maior estupidez que poderia cometer. Mas ela não se arrependia nem por uma fração de segundo.

Don't say a word
(Nao diga uma palavra)
I hope that you know
(Eu espero que voce saiba)
There's truth in the way that we feel
(Existe verdade no jeito como nos sentimos)
The current is strong
(A corrente e forte)
I'll never let go of you
(Eu nunca vou deixar voce ir)
We'd fall fast enough
(Nos cairiamos rapido o suficiente)
We'd fall hard enough
(Nos cairiamos forte o suficiente)
We'd fall sure enough
(Nos cairiamos com certeza suficiente)
And never look back
(E nunca olhariamos para tras)





Fim?



Nota da autora: Querem falar comigo? Algum erro, comentário, elogio ou crítica? Podem me encontrar no meu Facebook e no meu email. xx





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