Última atualização: 12/08/2021

Prologo

Passei a mão embaixo de meus olhos, tentando impedir que mais lágrimas caíssem. As últimas semanas haviam sido uma completa bagunça em termos profissionais, mas agora que a adrenalina baixou, eu não conseguia deixar de não pensar nisso e como eu havia perdido essa luta lá atrás, quando fiz minha decisão em finalmente me afastar.
Vi a porta se abrir e ergui os olhos, vendo Agnelli, Pavel e Allegri saírem com os olhares baixos e limpei os olhos rapidamente, puxando a respiração devagar. Allegri passou por mim, me dando um sorriso de lado e o presidente e o vice trocaram um olhar que eu bem conhecia: pena.
- Eu aguento. – Falei e Pavel se colocou em minha frente, apoiando a mão em meu ombro e negou com a cabeça.
- É isso mesmo. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, soltando a respiração fortemente.
- Eu imaginei mesmo. – Engolindo em seco. – Eu tentei por um ano, gente.
- Não estamos preocupados com isso, você sabe, não sabe? – Agnelli falou, apoiando a mão em meu ombro.
- Eu vou ficar bem, Andrea. – Engoli em seco. – Não se preocupe que, apesar de tudo, eu sei separar, eu sempre soube. – Ele negou com a cabeça, apoiando a mão em meu ombro.
- Também não estou preocupado com isso agora, . – Ele pressionou os lábios. – Me prometa que vai ficar bem, uma hora ou outra.
- Eu vou, eventualmente. – Suspirei forte. – Já passamos por coisas piores...
- Mas vocês nunca se afastaram... – Pavel falou com a voz fraca, recebendo um olhar repreensivo de Agnelli e eu neguei com a cabeça.
- Agradeço o apoio, gente. Vocês nem precisavam fazer isso...
- Estamos juntos há mais de sete anos, precisamos nos apoiar. – Agnelli falou e confirmei com a cabeça.
- Grazie. – Dei um sorriso, sentindo-o dar um beijo em minha bochecha.
- Você pode falar com ele agora, se quiser. – Pavel falou. – Te vejo na coletiva?
- Não sei se aguento. – Respirei fundo.
- Fino alla fine, . – Agnelli falou e eu confirmei com a cabeça.
- Estamos aqui contigo. – Pavel falou, dando um beijo em minha bochecha e suspirei, vendo-os seguirem para a outra sala.
Engoli em seco, vendo a porta encostada e empurrei-a devagar, vendo Gigi sentado na poltrona, com o braço apoiado na mesa e olhando em volta. Mordi meu lábio inferior, sem me preocupar com o batom, pois ele já tinha saído há muito tempo, passei as mãos em meus olhos e tive um impulso de coragem, entrando na sala e fechando a porta atrás de mim. Vi seu olhar se virar para trás e segui até a mesa, me sentando na poltrona ao seu lado.
- Veio tentar me convencer a ficar? – Ele perguntou e apoiei os materiais em meus braços na mesa.
- Não dessa vez. – Suspirei, encarando seus olhos claros. – Eu tentei por um ano inteiro, não vai ser agora que você vai desistir. – Levei minha mão até a sua na mesa, segurando-a.
- Veio se despedir? – Ele perguntou.
- Não, vim conversar com você. – Abanei a cabeça. – Ou melhor, agora é a hora de você ouvir. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça, me dando liberdade para seguir em frente. – Eu sei que você está indo embora por causa de mim...
- , eu...
- Xi. – Falei, negando com a cabeça. – Você só vai ouvir agora. – Ele assentiu com a cabeça. – Eu te conheço há 17 anos, há mais tempo do que muita gente nesse time e até da sua vida pessoal, então você não precisa me falar nada para que eu saiba das coisas, suas ações dizem tudo. – Suspirei. – Então, eu sei que foi por causa daquele basta no ano passado que você decidiu sair do time. – Mordi meu lábio inferior, segurando o choro. – Para ajudar, essa foi uma de nossas piores temporadas, o que deixou nossas emoções muito mais afloradas e tornou tudo mais difícil. – Suspirei, passando a mão no rosto.
- Eu preciso tentar coisas novas, ...
- Eu não acredito em nada disso, Gigi. – Ri fracamente. – Você tem 40 anos, qual é, vai começar a tentar coisas novas agora? Em outro time? – Neguei com a cabeça.
- Eu preciso fazer isso. – Ele falou fracamente, desviando o olhar.
- Ok, se é isso que você precisa para cuidar da sua sanidade mental, encaixar sua vida ou o que for, você tem todo meu apoio, sempre teve e sempre terá, você sabe disso. – Confirmei com a cabeça. – Mas resolva todas as suas pendências e volte para gente. E eu não digo voltar para mim, mas digo voltar para time. – Ele olhou para mim.
- Por quê?
- Você passou 17 anos da sua vida aqui, Gigi, aqui é seu lugar, aqui é seu time, aqui é sua família. Não se aposente em outro lugar. – Neguei com a cabeça. – Faça todos os experimentos que você quiser, tente coisas novas, bata mais recordes, ganhe mais prêmios, faça mais erros, o que quiser, mas volte para gente. – Puxei a respiração, sentindo que estava com vontade de chorar de novo.
- Você estará aqui? – Ele perguntou. – Se eu voltar?
- Eu sempre estarei aqui, Gigi. Minha vida é esse time, essas pessoas... – Neguei com a cabeça. – Você. Mia squadra, mia famiglia, mia Juve, se esqueceu? – Puxei a respiração forte. – Eu nunca precisei ouvir você dizer que me ama para sentir isso e espero que sinta o mesmo, mas isso... Sua decisão... – Dei de ombros. – Não faz sentido...
- Eu não posso fazer mais isso, ...
- Você só poderia ter dito para mim anos atrás. – Puxei a respiração fortemente.
- Sinto muito... Mesmo. – Ele disse fracamente.
- Eu sei... – Engoli em seco. – Mas volte para nós, ok?! – Suspirei. – Nem se for por seis meses, mas você precisa me prometer que vai encerrar sua carreira aqui. – Falei.
- Eu não posso prometer isso para você... – Ele falou baixo. – Você aprendeu a viver sem mim, comigo ao seu lado, eu preciso aprender também. – Puxei a respiração fortemente.
- O que mudou agora, Gigi? – Perguntei.
- Nada. – Ele falou fracamente. – Eu só não posso mais fazer isso... – Engoli em seco. – Mas fico feliz que você foi conseguiu seguir em frente...
- Seguir em frente? Por acaso essa é a aparência de alguém que conseguiu seguir em frente? Se afundar em trabalho? Não ter vida pessoal? Chorar pelos cantos? Crise de ansiedade ligada o tempo inteiro? Carregar o mundo nas costas? Além de ser rejeitada pelo homem que eu amo há 17 anos? – Ri fracamente.
- , eu...
- Eu não segui em frente, Gigi. Eu sobrevivi! – Minha voz se sobressaiu à dele.
- Mas de alguma forma você conseguiu e isso já me acalma. – Ele puxou a respiração fortemente. – Eu vou para outro lugar, entrar em um retiro, tentar fazer outras conquistas pessoais...
- Paris não é a melhor escolha, você sabe disso. – Falei e ele ergueu o olhar para mim. – Eu sei de tudo, Gigi.
- Eu tenho que tentar, . – Confirmei com a cabeça.
- Ok, mas, por favor, não vá com a desculpa de precisar de uma conquista pessoal, você não precisa mentir para mim.
- Achei que não soubéssemos mentir para o outro. – Ele comentou.
- Eu também achava, mas de uma forma ou outra aprendemos e foi aí que tudo começou a dar errado. – Soltei sua mão, inclinando meu corpo para frente. – Só prometa que vai se cuidar.
- Eu vou. – Ele falou fracamente e eu confirmei com a cabeça.
- Eu estarei aqui de braços abertos quando você se arrepender. – Me levantei, apoiando a mão na mesa.
- Como você pode ter tanta certeza de que eu vou me arrepender? – Ele perguntou.
- Porque eu te conheço. – Ri fracamente. – Tem algo te atormentando, Gigi. Algo que eu ainda não descobri o que é. Só acho que você está tentando passar por isso de forma errada... – Suspirei. – Só te falta coragem, uma coragem que você nunca teve antes. – Ele fechou os olhos.
- Você não sabe nada, . – Ele disse e eu suspirei.
- Beh, a vida é sua, não é mesmo? A vida, as escolhas... Agora o futuro também. Só seu! – Pressionei os lábios, inclinando meu corpo para frente e dei um beijo em sua testa, acariciando seu rosto. – Só não se esqueça que eu te amo, ok?!
- Não faça isso... – Ele sussurrou. – Não agora...
- Falar ou não falar, não muda o sentimento. – Dei de ombros. – Não vai mudar nada, já tentei, não tem por que eu esconder. – Suspirei, endireitando o corpo. – In bocca al lupo, Gigi. – Falei, pegando meus materiais.
- Você vai assistir a coletiva? – Ele perguntou.
- Não sei se aguento. – Suspirei. – Mas eu vou estar no seu último jogo, porque eu preciso, não porque eu quero. Não vai ser fácil para mim. – Engoli em seco e ele assentiu com a cabeça.
- A gente ainda se vê? – Ele perguntou e puxei a respiração, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
- Eu não sei. – Suspirei. – Provavelmente. Sétimo scudetto di fila, é algo a se comemorar, outra Coppa Italia, sua carreira, a saída do Lich, Asa... Marchisio talvez saia também... – Neguei com a cabeça. – É um ciclo muito grande para não fechar. – Ele assentiu com a cabeça. – Eu vou sentir sua falta... – Minha voz saiu falha.
- Eu também. – Ele falou e eu balancei a cabeça, andando até a porta, sentindo as lágrimas deslizarem pela minha bochecha. – ... – Ele me chamou e eu parei na porta.
- Hum...
- Me desculpe por tudo. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Me desculpe também. – Falei, pressionando os lábios fortemente.
- Eu sempre vou te amar. – Fechei os olhos quando sua voz saiu quase em um sussurro e as lágrimas deslizaram pela bochecha.
- Eu também... – A voz saiu falhada, mas não tive capacidade de repetir e saí pela porta, ouvindo-a bater com a força.
Apoiei minhas costas na parede e puxei a respiração, sentindo minhas pernas fraquejarem e o corpo desfalecendo aos poucos em direção ao chão. Senti duas mãos me puxarem pelos ombros e me apertaram contra seu corpo.
- Xi, xi! Estou aqui! – Ouvi a voz de Chiello em minha orelha e apertei meus braços ao redor de seu corpo. – Aguenta só mais um pouco... – Ele puxou a respiração forte, denunciando suas emoções também. – Só mais um pouco, . – Engoli em seco e assenti com a cabeça, com o queixo apertado em seu ombro.



Capitolo uno

Stagione 2001/2002
Lei


20 de junho de 2001


- Ah, amiga, vamos ser bem honestas, só você não via que ele ainda gostava da ex. – Giulia falava em minha orelha e eu suspirei, observando os carros passarem com rapidez na estrada.
- Mas eu achei que ele tivesse mudado. Que ele tivesse esquecido dela e... – Minha amiga suspirou, pegando minha mão em cima do meu colo.
- Eu entendo que é difícil, mas a gente simplesmente não escolhe por quem nos apaixonamos, quem vai ser o amor da nossa vida. – Virei para ela.
- Obrigada, Giulia, não está ajudando, também não precisa jogar na minha cara assim. – Bufei, suspirando.
- Não é isso, , digo que você também vai encontrar alguém que vai passar por cima de todas as pessoas por você, a diferença é que o Luigi achou mais rápido. – Revirei os olhos, ignorando o que ela disse e olhei para a estrada enquanto o ônibus avançava para fora da cidade com somente nós duas a bordo. – Não me entenda mal, eu...
- Eu entendo, Giulia, mas acho que eu tenho direito de ficar chateada, estávamos juntos há sete meses, poxa, é bastante coisa. – Passei a mão na bochecha, secando a lágrima solitária antes que borrasse minha maquiagem.
- Eu sei, amiga, me desculpe. – Ela falou, apoiando a cabeça na minha e suspirei. – Mas veja pelo lado bom, agora você vai fazer essa entrevista, vai arrasar, vai passar e aposto que terão vários jogadores lindos para você, pelo menos, dar uma olhadinha. – Ri fracamente.
- Eu só vim por causa de você, você sabe disso. Eu não entendo nada de futebol, não vejo o porquê deles me contratarem. – Ela ponderou com a cabeça.
- Porque você é demais, você é inteligente, incrível, além de que o salarinho deles viria muito bem a calhar para você. – Pressionei os lábios, assentindo com a cabeça.
- Viria mesmo, é o melhor salário que eu já vi para estágio. – Suspirei. – E são só quatro horas de trabalho por dia, não precisaria mudar para noite, ganho vale transporte... – Suspirei. – É no fim do mundo, mas tem ônibus direto de casa. – Dei um pequeno sorriso.
- Além do mais, você faz contabilidade, não acho que você precise saber muito sobre o jogo de futebol em si, você precisa saber de dinheiro e isso você é foda. – Ela falou esticando a mão e eu sorri, batendo na dela.
- É, mas metade da minha sala veio para essa entrevista, isso sem contar no pessoal que já não passou na dinâmica de grupo.
- Você passou na dinâmica, isso é muito bom, você sempre teve o espírito de liderança. – Franzi a testa, virando para ela.
- Giulia, você está me deixando com expectativas, ok?! Vamos devagar! – Falei e ela riu fracamente.
- Ah, mas pensa, amiga, ia ser demais! Além de que você poderia me apresentar algum jogador gato. O Zidane é lindo demais. – Ela falou, me fazendo rir fracamente.
- Você que deveria conseguir emprego no time, não eu, você sabe até quem joga aqui. – Falei, fazendo-a rir.
- Meu pai é torcedor roxo do Torino, né?! Eles são rivais direto, aí eu acabo aprendendo alguma coisa. – Ela deu de ombros.
- Ah, mesmo assim.
- Eu não ia me importar, mas não abriu vaga para o setor administrativo, se abrir, me avise, por favor... – Ri fracamente.
- Eu não sei nem se eu vou passar, Giulia! – Falei firme.
- Se continuar pensando com essa negatividade toda, não vai passar mesmo. – Ela disse, fingindo que havia se emburrado e cruzou os braços.
- Eu preciso passar. – Sussurrei, voltando a olhar pela janela e vi os muros branco com o escudo do time. – Puxa aí! – Falei rápido, vendo-a esticar a mão e puxar a cordinha, fazendo o som de parada ser soado no ônibus quase vazio.
Ela se levantou de seu lugar e eu me levantei atrás dela, segurando nas barras do ônibus. Quando o motorista parou, gritamos um “grazie” para ele e descemos. Esperando o ônibus sair de nossa visão. Observei a construção baixa, com um portão eletrônico logo na frente e as palavras “Juventus 1897” no muro em Vinovo. Do lado esquerdo, algumas pessoas estavam paradas em uma fila, atrás de uma grade, supus ser torcedores.
- Vem logo! – Giulia falou e ela puxou minha mão. Olhei rapidamente para os dois lados e corri para atravessar a rua com ela. Seguimos até os dois seguranças nos portões.
- Buon pomeriggio. – Um deles falou.
- Ciao! – Disse, pegando o papel em minha bolsa. – Eu tenho uma entrevista com Giorgio Bianchi.
- Qual seu nome? – Ele perguntou, pegando uma prancheta.
- . – Falei, vendo Giulia assentir com a cabeça.
- Certo, três horas?
- Isso. – Falei, checando o relógio e vendo que faltava uns 20 minutos ainda. Ele falou algo para o outro segurança e o portão foi aberto.
- Está vendo aquele prédio ali? – Ele me mostrou um prédio na diagonal e eu assenti com a cabeça. – É lá, só informar a recepcionista. – Ele me entregou um crachá escrito “visitante”.
- Beleza, obrigada. – Falei, colocando o crachá no pescoço.
- E a senhorita? – Ele perguntou para Giulia.
- Eu só vim acompanhar. – Ela falou.
- Se importa de esperar aqui? Teremos que fazer registro caso queira entrar e...
- Não, eu espero. – Ela falou rapidamente. – Boa sorte, amiga!
- Obrigada! – Sorri, abraçando-a fortemente.
Passei pelos portões e respirei fundo, olhando para o crachá e engoli em seco. Poucas pessoas cortavam meu caminho, e tentei manter ao menos o olhar sereno ao passar por todos. O prédio que me foi indicado era logo o primeiro, mas dava para ver que tinha outros seguindo em frente, inclusive estruturas de campo de futebol no canto extremo.
Passei pela calçada, entrando no caminho até o prédio indicado e empurrei a porta lentamente, vendo uma recepcionista sorrir para mim. Entrei na porta, tomando cuidado para ver se ela não batia e me aproximei da mesma.
- Ciao. – Falei, vendo-a sorrir. – Tenho uma entrevista com...
- Senhorita , certo? – Ela perguntou.
- Isso. – Sorri.
- Venha comigo! – Ela falou, tirando o fone do ouvido e cruzou sua mesa, segui atrás dela.
Passamos por algumas salas, tentei não ficar curiosa demais e a segui até outra sala. Ela abriu a porta e reconheci três alunos da minha sala ali e os três me deram aqueles sorrisos de “o que você está fazendo aqui?”, mas só os cumprimentei com um rápido aceno de mão.
- Pode esperar aqui, eles te chamam quando for sua vez. – A recepcionista falou e eu assenti com a cabeça.
- Grazie. – Falei, sorrindo e me sentei no local vazio no canto do sofá.
- Não sabia que viria, . – Luca falou.
- Também não sabia que viria. – Dei um sorriso, esperando que ele entendesse que não queria papo e vi uma revista do time jogada na mesa de centro e peguei, começando a folheá-la devagar.
Os três foram chamados um a um enquanto eu via um pouco das conquistas do time e tentava conhecer algum rosto. Quando vi o tal Zidane, o reconheci na hora, até eu que era fora desse mundo, já tinha visto-o na TV ou em propagandas. Além dele, não conheci nenhum dos outros. Passei para as conquistas do time do ano, descobri que estávamos no fim de uma temporada e início de outra, estávamos no fim de junho.
Segundo essa revista, a temporada nova começaria em julho. Eles haviam ficado em segundo lugar no campeonato italiano, perdendo para a Roma, foram eliminados nas oitavas da Coppa Italia e na fase de grupos, como último do grupo, na Champions League. Não entendia nada, mas não me parecia muito bom.
- ? – Ergui o rosto.
- Sim! – Deixei a revista na mesa de novo e me levantei.
- Eu sou Giorgio, come sta? – Ele perguntou e esticou a mão.
- Bene e lui? – Apertei a mão dele sorrindo.
- Venha comigo! – Ele disse, atravessando para dentro de uma sala e fui com ele. – Pode se sentar. – Ele disse e eu me sentei em sua frente, deixando minha bolsa do lado. – Então, senhorita . – Ele disse, se ajeitando em sua cadeira e eu sorri. – Universidade de Turim, contabilidade?
- Isso! – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Por que você decidiu fazer contabilidade? Acho que essa é a pergunta mais importante. – Ele falou, rindo fracamente.
- Eu sempre fui muito boa com números, desde mais nova, acho que acabei indo para o lado que eu tinha mais talento. Acabei tendo apoio de alguns professores no ensino médio e fiquei entre economia ou contabilidade. Fui na contabilidade, pois é um mercado mais acessível. – Ele assentiu com a cabeça.
- Certo, muito bem! – Ele disse. – Você tem razão, além de que cuidar de bolsa de valores, micro e macroeconomia, porcentagem e tal é bem chato. – Ele falou, me fazendo rir fracamente. – Aqui no time cuidamos mais da contabilidade do time mesmo, entrada e saída de dinheiro, transferências de jogadores, pagamento de jogadores e funcionários, investimentos, temos várias responsabilidades, então temos uma equipe de contadores bem grande para dar conta de tudo. – Assenti com a cabeça. – Cada um conectado a uma dessas áreas que eu citei, mas como estagiário, queremos dar a oportunidade para futuros profissionais terem o máximo de vivência, então você acaba participando um pouco de cada área.
- Ah, legal, é bom para aprender. – Sorri.
- Você é de Turim mesmo? – Ele perguntou.
- Não, sou de Palermo.
- Ah, está um pouco longe de casa. – Dei um pequeno sorriso. – O que veio fazer em Turim?
- Eu passei na Universidade de Turim e, como sempre gostei do tempo mais frio, decidi vir. – Sorri.
- Seus pais apoiaram sua decisão? – Ele perguntou.
- Eu perdi meus pais muito cedo em um acidente, sem família, morei em um orfanato até chegar à maioridade, aí eu vim. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Sinto muito. – Neguei com a cabeça.
- Sem problemas.
- E por que a Juventus? – Ele perguntou. – Você gosta de futebol? Tem alguma relação conosco?
- Sendo bem honesta, senhor, eu não sei nada de futebol, nem sei nada sobre o time. – Ri fracamente. – Eu vim pela oportunidade da vaga mesmo, pelo aprendizado e pelo salário que é o melhor oferecido para estagiários da nossa área, como eu moro sozinha e não tenho muito apoio, seria um alívio em algumas partes. – Falei e ele confirmou com a cabeça.
- Interessante. – Ele falou, se ajeitando na cadeira. – Todos os candidatos que vieram aqui falaram o quanto torciam para a Juventus, como gostavam dos jogadores e tudo mais, mas você veio pelo emprego mesmo. – Assenti com a cabeça.
- Queria ser mais entendida do assunto, talvez ter estudado um pouco antes de vir, mas tudo o que eu sei de futebol, eu aprendi lendo a revista na outra sala agora pouco. – Falei, engolindo em seco.
- Não ache que isso é algo ruim. – Ele falou. – Todos nesse clube, inclusive os jogadores, aprenderam sobre o futebol, aprenderam a jogar futebol, você pode aprender também. – Assenti com a cabeça. – Se for aprovada.
- Eu aprendo muito rápido, meus professores falam que eu tenho muita atenção a descobrir erros no meio de cálculos ou papeladas, trabalhei em um mercado quando mais nova, nunca tivemos problema no caixa, estou realmente disposta a aprender e me dedicar ao time. – Sorri e ele assentiu com a cabeça, retribuindo.
- Você disse que não tem tanto contato com o futebol, mas você tem contato com algum esporte? – Ele perguntou.
- Eu faço parte do time de vôlei da faculdade. – Falei.
- Ah, então está ótimo. – Ele disse, rindo fracamente. – Bom, senhorita, , nosso serviço aqui é das duas às seis da tarde, de segunda a sexta, salário e bônus são os mesmos que anunciamos na vaga. – Assenti com a cabeça. – Aqui dentro você vai ter contato direto conosco e com o administrativo e, ocasionalmente, temos algum evento, a presença de algum jogador, coisas que mudam a rotina do time, aí você participa de todas essas questões. – Assenti com a cabeça. – Como eu disse, o foco aqui é formar profissionais competentes para o mercado de trabalho. – Confirmei com a cabeça.
- Isso é muito bom. – Sorri.
- Bom, senhorita , eu acho que por aqui é só, você tem alguma dúvida? – Ele perguntou.
- Acho que não. – Falei, sorrindo.
- Vamos analisar os casos e daremos o feedback até a semana que vem. – Ele falou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Tudo bem, obrigada. – Sorri, me levantando. – Obrigada pela oportunidade.
- Eu que agradeço, fico feliz pelo seu interesse. – Apertamos as mãos novamente e peguei minha bolsa.
- Arrivederci. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
Saí da sua sala, vendo que tinha mais dois garotos ali e um deles era da minha sala. Acenei com a cabeça e fui de volta para a recepção. Acenei para a moça, ouvindo-a me desejar in bocca al lupo e fui até o portão novamente, acenando para o porteiro e ele abriu para mim. Fui para o lado de fora, acenando para os seguranças e vi Giulia se levantar do rodapé rapidamente quando me viu.
- E aí? – Ela falou rapidamente.
- Parece que fui bem. – Falei, assentindo com a cabeça. – Mas tinha muita gente lá. – Suspirei.
- Perguntou se você gostava de futebol? – Ela perguntou.
- Mas é claro! – Falei, rindo.
- E aí?
- Eles disseram que acham interessante eu estar lá pela vaga e não pelos jogadores. – Dei de ombros.
- Isso é bom, não?!
- Parece! – Falei e ela me sacudiu.
- Ah, amiga, vai dar tudo certo, você vai ver. – Ela me fez rir.
- Tomara, amiga, tomara! – Suspirei.

Lui


25 de junho de 2001


- Ciao, Gigi! – Silvano falou quando abri a porta para ele.
- Entra! – Falei, abrindo espaço para meu empresário.
- Maria Stella, está muito bela hoje! – Ele falou para minha mãe e eu evitei a vontade de revirar meus olhos. – Senhor Adriano, tudo bem? – Ele cumprimentou meu pai e eu fechei a porta, me sentando na poltrona livre.
- Como está, Silvano? – Minha mãe perguntou.
- Quais as novidades? – Meu pai foi direto ao assunto.
- Apesar de todos os problemas do Parma e dos escândalos por acidente no começo, tive a impressão de que isso foi esquecido, pois o Gigi teve um uma boa atenção dentro do futebol italiano e temos alguns interessados. – Ele falou e eu apoiei os cotovelos nas pernas.
- Ofertas boas? – Minha mãe perguntou.
- Boas demais. – Ele apoiou sua pasta na mesa de centro do meu apartamento em Parma e tirou alguns papéis. – Temos algumas ofertas do Barcelona, da Roma, mas a melhor é a da Juventus. – Ele apoiou as mãos no colo.
- A Juventus não está em baixa, não?! – Meu pai perguntou. – Eles foram bem medianos nessa última temporada.
- Sim, isso é verdade. – Silvano falou. – Mas eles acabaram de vender Zidane para o Real Madrid por uma bagatela de 77 milhões de euros e eles querem investir na próxima temporada. – Ele falou, me estendendo um papel. – Junto de você, eles também estão negociando com Lilian Thuran aqui do Parma, Pavel Nedvěd e Marcelo Salas do Lazio. – Ele falou.
- 45 milhões de euros? – Falei, abismado.
- O quê? – Meus pais se levantaram rapidamente e meu pai puxou o papel da minha mão.
- E mais oito milhões em bônus não-declarados. – Silvano falou e eu suspirei, engolindo em seco.
- 53 milhões de euros? – Meu pai corrigiu.
- Sim. – Ele falou com um sorriso no rosto. – A maior transferência de goleiro é de 19 milhões, se querem saber.
- Cazzo! – Falei, levando a mão à boca.
- Pois é, é uma bolada bem grande. – Ele falou e eu respirei fundo. – O que acham?
- É demais! – Minha mãe falou, feliz.
- É grana para caramba. – Meu pai falou e eu só consegui deitar o corpo na poltrona atrás de mim.
- Eles falaram que você é o maior goleiro da atualidade e que eles não vão medir esforços para te ter. E como seu contrato com o Parma está acabando, é uma ótima oportunidade para você ir sem ter que pagar a multa. – Suspirei, passando a mão em meus cabelos cumpridos.
- Fala algo, filho! – Minha mãe falou e eu olhei para seus olhos azuis.
- Eu não sei o que falar. – Engoli em seco. – Isso é incrível!
- Apesar da última temporada eles terem sido bem medianos, eles estão investindo e não podemos nos esquecer que ganharam a Champions em 96. É recente, colocaram os olhos neles depois do desastre Heysel em 85. – Confirmei com a cabeça.
- Quais as condições? – Perguntei, segurando as mãos.
- Titularidade a partir do primeiro jogo e a camisa número um! – Ele falou e eu suspirei, levando a mão à cabeça.
- Vai ser sua oportunidade de ganhar um scudetto, filho! – Meu pai falou.
- Eu nem sei o que dizer. – Falei, pegando o papel da mão de meu pai e observando o número de novo.
- Imagino que você vá aceitar essa oferta. – Silvano falou.
- Mas é claro que sim! – Meu pai falou, animado.
- Gigi? – Minha mãe perguntou e eu tirei os olhos do papel.
- Sim, claro! – Falei, abanando a cabeça.
- Ele está abismado ainda. – Ela passou a mão em meus cabelos e eu suspirei.
- Eu não tenho noção do que é isso de dinheiro. – Falei e Silvano gargalhou.
- Meu garoto, esse é só o começo. Você tendo um desempenho melhor do que no Parma, vai começar a chover dinheiro para você. – Ele falou. – E mulheres! – Ele falou mais baixo e eu sorri.
- Vamos ficar no dinheiro por enquanto, né?! – Minha mãe falou.
- Eu já tenho 23 anos, mãe, qual é! – Falei, vendo-a rir.
- Você gostaria de analisar mais um pouco ou posso marcar a reunião, assinatura do contrato, exame médico e apresentação para imprensa? – Silvano perguntou.
- Por mim está feito, pode marcar sim. – Falei, entregando a folha novamente para ele.
- Meus parabéns, então, garoto! – Ele se levantou e eu fiz o mesmo, recebendo um forte aperto de mão e um abraço. – Você acabou de se tornar o goleiro mais caro da história! – Ele disse, dando dois tapas em minhas costas.
- Grazie! – Falei com um sorriso no rosto, vendo-o retribuir.
- Eu ligo para falar da data, mas já vai preparando a mudança para Turim. – Ele disse, cumprimentando meus pais.
- Eu te acompanho! – Minha mãe falou, seguindo até a porta com ele e eu me sentei na poltrona de novo.
Apoiei os cotovelos nas pernas e abaixei o rosto entre as mãos. Aquilo era coisa de outro mundo. 53 milhões! Eu não tinha a menor ideia do que era aquela grana toda. Ainda mais que o país mudou a moeda de lira para euro, então isso piorava um pouco minha cabeça, nunca fui muito bom em contas.
- Mio figlio! – Minha mãe falou e eu ergui o rosto. – Que alegria! – Ela falou, seguindo em minha direção e me levantei, deixando-a me abraçar. – Você merece todo sucesso desse mundo! – Ela falou, acariciando meu rosto.
- Grazie, mama! – Falei, sorrindo e ela deu espaço para meu pai.
- Parabéns, filho! Coisas extraordinárias virão para você! – Ele disse, me apertando e dando tapinhas em minhas costas.
- Ah, precisamos comemorar! – Minha mãe falou, animada e eu ri fracamente.
- Que foi, filho? Parece que está assustado. – Meu pai falou e eu ri fracamente.
- Eu estou surpreso, pai. Depois do rolo lá com o Parma, aquela história da polícia e a confusão com o slogan do fascismo, o número relacionado ao Hitler, achei que tudo ia desandar.
- Você é novo e errou, agora precisa tomar cuidado para não fazer mais esse tipo de besteira, a Juventus está confiando em você e você precisa ser o goleiro que eles esperam. – Meu pai falou.
- Não o pressione. – Minha mãe falou.
- Tudo bem, eu entendo minha responsabilidade, jogo na Serie A faz seis anos, é só que é muita grana. – Suspirei. – Mas estou animado em morar em Turim, fazer minha parte com o time. – Ele falou.
- Assim que se fala! – Meu pai me sacudiu um pouco. – Vamos comemorar, tem algum champanhe nessa casa, filho?
- Deve ter um vinho branco perdido por aí. – Falei, rindo fracamente e me sentei de novo na poltrona, largando o corpo nela.
- Você não me parece muito animado, filho. – Minha mãe falou, se abaixando ao meu lado.
- Eu só estou abismado, mãe. – Suspirei, dando um pequeno sorriso. – Isso vai ser um salto gigantesco na minha carreira e eu não sei se estou preparado para isso. – Ela colocou a mão sobre a minha.
- Vai sim, filho, mas achei que você estava acostumado depois de ir para o profissional com 17 anos e jogado a última Copa, mesmo como reserva. – Dei um pequeno sorriso.
- Eu sei, é que... – Abanei a cabeça. – É tanto dinheiro. – Rimos juntos.
- Faça bom uso dele. – Confirmei com a cabeça.
- Vamos comemorar, ligar para suas irmãs, arrumar a mudança... – Meu pai falou, trazendo as taças em uma mão e eu peguei uma e minha mãe a outra.
- Elas vão ficar muito felizes. – Falei, sorrindo.
- Todos estamos felizes por você, meu filho. – Minha mãe falou.
- Um brinde a Gigi. O goleiro mais caro da história. – Meu pai estendeu sua taça e eu fiz o mesmo, ouvindo o tilintar do vidro.
- Grazie! – Sorri, bebendo um gole do vinho branco. – Acho que eu devo informar o time. – Falei, apoiando a taça na mesa novamente.
- Vai lá! – Minha mãe falou e eu segui até o telefone.
- Está confuso de tudo, coitado! – Ouvi minha mãe comentar.
- Nosso filho será um sucesso, amor. Esse é só o começo. – Meu pai respondeu e eu sorri antes de pegar o telefone.

Lei


Um de julho de 2001


- Eu ainda estou chocada que você conheceu o Zidane! – Giulia falou, devolvendo a bola para mim e eu toquei, mandado para ela de volta.
- Eu não conheci o Zidane, eu estava no fundo da sala, acompanhando quietinha! – Ela mandou uma forte e eu dei uma manchete, erguendo a bola, antes de devolver no toque.
- Mesmo assim! – Ela falou, animada. – Ele é tão lindo quanto parece? – Ela suspirou feliz e eu mandei um corte para ela, vendo-a receber nos braços.
- Ele é careca, Giulia! – Falei, recebendo a bola alta e pegando-a com as mãos, parando o jogo.
- Ele não é careca, ele...
- Ele tem uma falha na cabeça que mostra que ele vai ficar careca em breve. – Olhei sugestivamente para ela e ela revirou os olhos.
- E daí? Ele é lindo! – Ela falou sonhadora, me fazendo rir.
- Tirando um “bonjour” geral, eu não entendi nada. Ele fala francês.
- Ah, ele falando francês! – Ela falou sonhadora e seguimos para a arquibancada.
- Falando nisso, eu vou precisar me matricular em algum curso de línguas o mais rápido possível se quiser entrar nesse mundo. – Suspirei, abrindo minha mochila e pegando minhas joelheiras.
- O salário dá para isso? – Ela perguntou, fazendo o mesmo.
- Eu preciso fazer umas contas quando receber, mas acho que sim, é mais do que eu ganhava na farmácia, e eu me virava bem. – Dei de ombros.
- Não, você se desenrolava bem, aquilo era uma miséria! – Ela disse e eu me sentei na arquibancada. – Meu pai pagava mais...
- Giulia! – A repreendi.
- Ok, ok. – Ela se sentou ao meu lado. – Você pode ver com o pessoal da faculdade de linguística, às vezes tem alguém dando aula particular mais barato, o pessoal dos intercâmbios da vida...
- Acho que eu deveria começar pelo inglês, né?! – Tirei os tênis, começando a colocar as joelheiras.
- É praticamente a língua oficial do mundo, né?! – Ela deu de ombros. – É um bom jeito de começar.
- Vou ver isso, o estágio está realmente legal, como meu chefe disse, agora é a época de transferência, então é mais agitado, depois dá uma reduzida.
- Quando você puder ver um jogo, favor pensar na sua amiga. – Ela falou, me fazendo rir.
- Achei que você torcesse para o Torino. – Falei.
- Meu pai torce para o Torino, eu não torço para ninguém...
- Você torce para o Zidane. – Comentei e ela sorriu.
- Ele vai para onde mesmo?
- Real Madrid. – Falei e ela riu.
- Bom, então agora torço para eles. – Rimos juntas. – Mas eu não nego de ver jogador bonito, vai que...
- “Vai que” o quê, sua louca? – Terminei de colocar as joelheiras, voltando a calçar os tênis.
- Ah, o destino bate, um jogador se apaixone por mim? Precisamos investir no nosso futuro. – Revirei os olhos.
- Trabalhe para caramba e seja o seu investimento. – Falei, me levantando e ajeitando a barra dos shorts do uniforme.
- Você é uma pessoa evoluída, , eu nunca serei assim. – Ela falou, me fazendo rir.
- Eu tive que me manter desde pequena, Giulia, imagina se eu tivesse esperado alguém todos esses anos?
- Eu sei, me desculpe, falei sem pensar, mas nunca na vida vamos ganhar igual jogadores de futebol. Isso simplesmente não acontece.
- É, isso é verdade, 77 milhões é uma grana que nem em sonhos eu imagino. – Suspirei.
- Cara, quanta grana! – Ela falou, se levantando. – O que eles vão fazer com isso?
- Pelo o que eu ouvi, eles vão investir em mais jogadores. Eles compraram um goleiro por 53 milhões. – Suspirei. – “Compraram”? Contrataram? Não sei o termo correto, mas é.
- 53 milhões, gente! Goleiro? Essa é surpreendente. – Ela falou.
- Eu não entendo nada, mas falam que é quase o triplo do que pagam mais ou menos por outros goleiros.
- Não me diga que é o Buffon. – Ela falou e eu virei rapidamente para ela.
- Ouvi esse nome aí. – Falei.
- Nossa! – Ela falou, surpresa. – Ele era do Parma, ele foi uma das grandes surpresas da Serie A. – Ela disse. – Eles conseguiram a Copa UEFA por causa dele.
- Ele parece ser sensacional. – Falei, pegando a bola ao seu lado e a bati no chão.
- Ele é! Só tem 23 anos. – Arregalei os olhos.
- Novo. – Comentei.
- Sim, ele foi com a Itália na Copa de 98, não jogou, mas jogou nas eliminatórias.
- Com 23 anos? – Perguntei.
- Não, né? Com 20, já faz três anos.
- Gente! – Falei, surpresa.
- Pois é! A Juve está apostando forte nele se comprou por essa grana toda. – Ela disse.
- Pelo o que falaram, eles querem melhorar o time depois da última temporada, e compensar a saída de sei lá quem.
- Se for isso mesmo, começaram bem. – Ela falou, pegando a bola da minha mão. – Eles já têm Del Piero e o Trezeguet no ataque.
- Eu estou ouvindo grego, Giulia, calma, eu estou lá há uma semana. – Falei, vendo-a rir.
- Eu vou te ensinando, amiga. – Ela disse.
- Giulia, , venham! – A nossa treinadora falou.
- Você vai conhecer o Buffon? – Ela perguntou.
- Não sei mesmo, ele vai na sexta. – Dei de ombros.
- Ele é gatinho também. Cabelos pretos, olhos claros...
- Agora entendo por que você gosta de futebol. – Brinquei com ela, me aproximando do resto da equipe.
- Não é só sobre isso, mas isso ajuda e muito! – Ela sussurrou a última parte, me fazendo gargalhar.
- Eu te aviso se o conhecer. – Empurrei sua cabeça para o lado e ela riu, me abraçando de lado.
- Vamos fazer time A com time B, , você é capitã do A, Antonia do B, tirem os times e vamos começar. – Ela disse e eu me aproximei.
- Par. – Falei.
- Ímpar. – Ela disse e sorteamos, dando o número seis.
- Eu quero Giulia. – Falei primeiro, vendo Antonia começar a selecionar seu time. Jogávamos assim faz tempo, os times já eram de praxe.

Lui


Três de julho de 2001 • Trilha SonoraOuça


Ouvi alguns gritos quando Silvano parou em frente aos portões do CT da Juventus e abaixei o vidro, acenando para alguns fãs que estavam grudado nas grades. Silvano guiou o carro para dentro do CT e um pessoal já nos aguardava ali. Era o pessoal engravatado de sempre, donos do dinheiro, como diria meu empresário.
Silvano estacionou no local indicado e eu saí dele vendo o fotógrafo e o cinegrafista já posicionarem suas câmeras em minha direção, me fazendo engolir em seco. Eu tinha meu nervosismo e incertezas como todos, mas eu estava me sentindo otimista. Era um novo time, uma nova temporada, uma estrutura visivelmente melhor do que o Parma, uma cidade diferente...
- Gigi! – Vittorio, presidente da Juventus, me cumprimentou.
- Ciao! – Estendi a mão, apertando-a fortemente.
- Que bom que está aqui! – Ele disse, passando a mão pelos meus ombros e cumprimentou meu empresário.
- Estou feliz em estar aqui! – Falei, sorrindo.
- Esses são Giorgio, nosso gerente de contabilidade. – O cumprimentei. – Lauro, gerente de comunicação e Stefano, nosso médico. – Ele falou e eu cumprimentei todos.
- Como está, Gigi? – O tal do Giorgio falou e eu sorri.
- Bene, grazie!
- Vamos lá para dentro? – Vittorio falou e eu assenti com a cabeça.
Segui os quatro com Silvano, o fotógrafo e cinegrafista para dentro do primeiro prédio e passamos pelos corredores, seguindo para o segundo andar. Vittorio abriu uma porta e entramos na mesma. Era uma grande sala de reuniões, com algumas pessoas já lá dentro.
- Ciao! – Acenei para elas, recebendo sorrisos de algumas mulheres e homens também engravatados.
- Gente, apresento a vocês, Gianluigi Buffon. – Vittorio falou, animado.
- É um prazer! – Falei, sentindo que estava com vergonha.
- Esse é Marcello Lippi, técnico do time. – Ele me apresentou ao técnico bastante conhecido na Itália
- Ciao, é um prazer. – O cumprimentei.
- O prazer é meu! – Ele sorriu.
- Nicola, gerente de marketing. – Acenei. – Enrico, nosso advogado, Michelangelo, nosso treinador de goleiros. – Ele me deu um forte abraço, me fazendo rir com a empolgação. – Giovanni, preparador físico, Matteo, gerente do time, Luciano diretor esportivo, Giraudo, diretor geral... – Ele foi falando e eu acenava e cumprimentava todo mundo.
Estava acostumado com uniforme e pés descalços, então me sentia um pouco intimidado no meio de tanta gente engravatada, apesar de alguns serem da equipe de treino. Eu era bem mais simples que isso, gente. Por favor.
- Pensamos em fazer a assinatura do contrato, depois tirarmos algumas fotos com a imprensa e, por último, vamos para o centro médico já fazer seus exames, o que acha? – Vittorio falou e eu virei para meu empresário.
- Tudo bem. – Ele falou e eu confirmei com a cabeça.
- Pode se sentar, então. – Ele falou e o tal Giorgio se aproximou.
- Alguma cláusula foi alterada? – Meu gerente mudou.
- Não, está tudo conforme enviado na outra vez. – Ele mexeu rapidamente nos papéis, conferindo as folhas. – Espera um pouco, está faltando uma folha aqui. – Ouvi dois toques na porta.
- Com licença. – Ouvi uma voz feminina e virei o rosto.
- ! – Giorgio falou e a moça colocou a cabeça para dentro.
- Esqueceu isso. – Ela falou, estendendo tipo uma apostila para ele.
- Ah, minha salvadora. – Ele falou, fazendo-a rir.
- Eu tomei liberdade para imprimir inteiro mais uma vez, a folha deu uma amassada. – Ela falou.
- Grazie, grazie! – Giorgio falou, animado. – Entra, acompanhe de perto. – Ele falou e a menina entrou.
Ela era bonita. Diferente de todos ali, ela estava de calça jeans escura e uma blusa branca com o escudo da Juventus do lado direito do peito. Os cabelos estavam presos para trás e caindo um pouco em seus ombros devido ao tamanho. Seus olhos eram e notei que ela desviou quando tentei focar neles. Ela também aparentava ser bem mais nova do que todos ali.
- Ciao. – Falei automaticamente, olhando para ela e vi que ela demorou para destravar.
- ? – Giorgio falou.
- Ciao! – Ela olhou para ele e depois para mim. – Ah, ciao! – Percebi que ela ficou envergonhada ao olhar para mim e suas bochechas enrugaram quando ela deu um sorriso.
- Gigi, essa é , ela é nossa estagiária de contabilidade, entrou no time faz pouco tempo.
- Prazer em te conhecer. – Ela falou sorrindo e eu retribuí.
- O prazer é meu. – Disse e ela desviou o olhar mais uma vez.
- Vamos, então? – Giorgio entregou o contrato e me deu uma caneta.
- Bem-vindo à Juventus, menino. – Vittorio falou e eu olhei para frente, vendo a tal no fundo da sala agora, tentando se esconder no meio das outras pessoas e eu sorri, mas não era um sorriso para as fotos, era para ela.
Ela era bonita demais para se esconder no meio do pessoal, bonita demais para estar estudando para ser contadora também, mas eu não me importava, só estava feliz por ter alguém mais despojado do que eu e mais ou menos da minha faixa etária ali.
Assinei o contrato, feliz por pelo menos a minha letra ser bonita e me levantei para apertar a mão de Luciano e sorrir para os flashes que estouravam em meu rosto. Virei para Silvano, vendo-o confirmar com a cabeça e o pessoal começou a aplaudir animado e eu assenti com a cabeça para eles.
- Perfeito! – Vittorio falou. – Vamos que a imprensa está esperando.
- Não vai ser uma coletiva, eles vão tirar só algumas fotos e você pode dar uma declaração. Nada demais. – Lauro falou e eu confirmei com a cabeça.
Todo o pessoal começou a sair da sala e eu esperei que todos saíssem, inclusive a estagiária, para ir atrás deles junto de meu empresário. Observei seguindo sozinha um pouco mais a frente e dei um passo mais rápido para poder encontrá-la.
- Ciao. – Falei e ela se virou para o lado, dando um sorriso.
- Ciao. – Ela respondeu.
- Você trabalha há muito tempo aqui? – Perguntei.
- Não, duas semanas, mais ou menos. – Ela ponderou com a cabeça.
- Ah, legal! – Falei, colocando as mãos dentro dos bolsos da calça. – Torce para Juventus ou algo assim? – Ela riu fracamente.
- Ironicamente, eu não sou muito de acompanhar futebol, o estágio foi uma sorte para mim, na verdade. – Ela deu um sorriso de leve, voltando a olhar para seus pés dentro do tênis.
- Você não conhece nada? – Perguntei, ouvindo-a rir fracamente.
- Eu sei um pouco sobre você, se servir. – Ela riu fracamente. – Só falaram de você nessa última semana.
- O que falaram de mim? – Perguntei, curioso e ela ergueu o rosto para mim, dando um sorriso de lado.
- Te chamaram de Superman, que você fez umas coisas bem incríveis no Parma, por isso o valor alto de mercado na transferência. – Assenti com a cabeça, sorrindo.
- E você acha que eu mereço? – Ela franziu o rosto, olhando um pouco para cima para chegar em meu olhar.
- Eu não entendo nada desse mundo ainda, preciso de um pouco mais de experiência para isso. – Ela deu de ombros.
- Se você precisar de alguma ajuda ou algo assim... – Dei de ombros e ela riu fracamente.
- Claro. – Ela sorriu. – Pode deixar. – Percebi que suas bochechas se enrugaram de novo, provavelmente de vergonha. – Vai lá. – Ela acenou com a cabeça para onde os repórteres e fotógrafos estavam posicionados e eu respirei fundo.
- Me deseje sorte. – Falei.
- Não acho que precise. – Ela ergueu o rosto para mim, sorrindo.
- Vamos, Gigi! – Lauro falou e eu suspirei.
Segui em direção onde ele mostrou e respirei fundo, relaxando os ombros e me coloquei em frente às câmeras. Acho que essa era a pior parte, eu não era fotogênico e não me achava muito bonito, além de que eu me sentia meio acuado em fazer isso. No meio de um jogo ou uma rápida entrevista, era fácil, agora ser apresentado quase como um modelo era um pouco pior. Eu nunca ficava bem nas fotos posadas para o Parma.
Foquei em atrás dos fotógrafos e ela tinha os braços cruzados e o corpo apoiado na parede. O que uma pessoa que não entendia nada de futebol fazia em um time de futebol? Era meio loucura pensar na possibilidade, mas me senti na necessidade de contar tudo o que eu sabia para ela, tudo mesmo, inclusive pensava já em quando nos encontraríamos novamente.
- Gigi, algumas palavras, por favor. – O repórter falou e eu me aproximei deles. – Como se sente em estar aqui hoje?
- Estou muito feliz em estar aqui na Juventus, esse time gigante que se mostra cada vez maior aqui na Itália. Vai ser um prazer poder jogar aqui nessa nova temporada. – Sorri.
- Como é ter somente 23 anos e ser o goleiro mais caro da história? – Outro perguntou.
- Nem sei o que é isso ainda. – Ri fracamente. – É um pouco surreal tudo isso, mas espero realmente mostrar para o que vim e deixar minha marca aqui no time. – Sorri.
- Grazie, ragazzi. – Lauro falou e eu acenei com a mão, seguindo Lauro novamente. – Muito bom, Gigi. – Ele falou. – Vamos te levar agora para os exames médicos com Stefano. – Ele falou para o outro profissional.
- Claro, só... – Virei para o lado novamente, procurando a estagiária da contabilidade e o lugar que ela estava antes agora estava vazio.
- O que foi? – Ele perguntou e eu olhei rapidamente em volta.
- Nada! – Falei rapidamente. – Vamos lá. – Sorri.
- Vamos lá! – Ele me repetiu e senti sua mão em minhas costas me empurrando para a outra direção.
Meus olhos giraram em todas as direções possíveis e suspirei, abanando a cabeça. Esperava que aquilo não tivesse sido coisa da minha cabeça, pois ela estava ali há poucos minutos. Entre o sim e o não, só esperava a próxima oportunidade de encontrá-la novamente.



Capitolo due

Lei


Cinco de outubro de 2001


Larguei a caneta e guardei na bolsa, me levantando antes de colocá-la nas costas. Peguei o material embaixo da carteira e a prova em cima da mesa e segui degraus abaixo, vendo o professor me dar um pequeno sorriso e entreguei a prova para ele. Ele me entregou uma caneta e eu assinei a presença ao lado do meu nome.
- Grazie. – Ele disse baixo e eu assenti com a cabeça.
Subi os degraus novamente, seguindo para fora da sala e senti um ventinho gelado passar pelos corredores abertos da universidade. Encontrei Giulia largada no andar de baixo e desci os lances devagar, sentindo os ombros ainda tensionados por causa da prova. Eu amava a profissão que havia escolhido, mas essas provas longas com milhares de cálculos me irritaram um pouco.
Giulia estava deitada no chão, com a cabeça em cima de sua mochila e uma perna dobrada em cima da outra como se fosse a sua casa e seu moletom cobrindo seu rosto dos raios de sol que denunciavam o horário já.
- Giorno! – Falei um pouco alto, empurrando sua perna e ela se assustou, tirando a blusa de seu rosto rapidamente.
- Ei, olha quem apareceu! – Ela falou, se sentando devagar.
- Estava em prova, matemática financeira. – Falei.
- Ah, eca! – Ri fracamente, sentando-se de pernas cruzadas em sua frente. – Não sei como você gosta disso.
- Cada um tem um dom, né?! – Dei de ombros. – E você? Estava me esperando ou teve prova também?
- Os dois, na verdade, mas eu acabei minha prova faz 50 minutos, né?! – Ela me deu um sorriso e eu ri fracamente.
- Desculpe. – Suspirei. – Eu tive pouco tempo para estudar, só queria saber de dormir no fim de semana. – Abri minha mochila, pegando meu lanche.
- É, eu percebi que você não ligou. Aconteceu alguma coisa?
- Ah, é só o trabalho, está um pouco mais cheio do que eu esperava. – Suspirei, dando uma mordida e estendi para ela. – Quer?
- Mas é claro! – Ela riu, dando uma grande mordida no meu lanche de atum. – O que está acontecendo?
- A temporada começou e eu achei que o trabalho ficaria mais calmo, mas não, a gente também cuida dos gastos de cada jogo, eu fico fazendo planilha o dia inteiro e ligando para todo mundo. – Suspirei. – Saí três dias mais tarde para conseguir finalizar.
- Pô, que chato!
- Eu não preciso ficar, sabe? Mas eu estou querendo mostrar serviço. – Suspirei. – Pelo menos a janela de transferência fechou. – Dei de ombros. – Menos um problema.
- E aí? O que está achando do trabalho?
- Estou surpresa como eu estou gostando, fico confusa às vezes, mas o pessoal é bem legal, assim como meu chefe! – Sorri e ela assentiu com a cabeça.
- Isso que é bom! – Sorrimos juntas e eu olhei em volta, vendo se tinha mais alguém conhecido. – Já aprendeu tudo de futebol?
- Eu não vi nenhum jogo ainda, Giulia. – Falei e ela virou o rosto para mim.
- Como não? Já foi umas seis rodadas. – Ela falou um tanto exaltada.
- Não precisa anunciar para faculdade inteira também, né?! – Falei, vendo-a fazer uma careta e olhar em volta. – Mas não, da mesma forma que eu não estou ligando para você, eu não estou vendo. Os jogos são de fim de semana, eu só penso em morrer na cama, isso se não tem prova na semana seguinte. – Suspirei.
- Ah, , qual é, ninguém está te pedindo para ir no estádio, o que seria legal também, é só ligar a porcaria da TV.
- 22 caras correndo atrás de uma bola não me parece a melhor forma de entretenimento, sabia? – Ela bufou, revirando os olhos.
- Você precisa começar a fazer mais parte desse time, realmente se tornar uma juventina, qual é.
- Por que isso é tão importante? Se nem eles se importaram quando me contrataram?
- Aí que está, meu anjo, você precisa pensar no futuro. Fazer carreira no time, o emprego é bom, qual é. Você pode ser efetivada. – Ela disse, bufando. – Diferente de mim que caio fora assim que me formar. – Ela suspirou.
- Talvez te contratem como comissionada, vai. – Falei.
- Valeu, amiga, mas eu vi a realidade lá, é difícil, além de que tem muito estagiário que entrou antes de mim. – Assenti com a cabeça.
- Se eu souber algo no time, eu te aviso. – Ela sorriu.
- Enfim, você precisa assistir a um jogo.
- Eu vou ver um dia, está bem?! – Rimos juntas e ela puxou um papel da lateral de sua mochila, abrindo-a quase como um mapa.
- O próximo é contra o Torino no dia 14 de outubro. – Ela arregalou os olhos. – Oh, é derby! Vai ser bom. – Franzi a testa.
- Quê? – Perguntei.
- São jogos clássicos contra rivais diretos. Juventus e Torino são rivais diretos, pois ambos são da cidade de Turim, sacou?
- Saquei. – Falei.
- Chamam de Derby dela Mole. – Ela falou. – Meu pai odeia ver esse derby.
- Torino perde mais?
- É um time mais fraco, então sim, mas ele se irrita demais. – Ela gargalhou. – A gente pode ver na sua casa, que tal? Podemos pedir uma pizza.
- Domingo? – Perguntei, fazendo umas contagens rápidas.
- É, três da tarde. – Ela falou.
- Acho que pode ser, eu acho que as provas já vão ter acabado. – Finalizei meu lanche, fazendo uma bolinha com o embrulho.
- Assim você também pode ver o Buffon jogar. – Ela piscou e deu um sorriso sapeca para mim.
- Ah, Giulia. Qual é. – Senti meu rosto esquentar e ela gargalhou alto.
- Você já encontrou com ele depois daquele dia? – Ela perguntou, empolgada.
- Não, eu não tenho contato com o time de forma alguma. Eu trabalho no primeiro prédio, o centro de treinamento e parte de treinos são um dos últimos. – Suspirei. – Eu não vou lá a pé. – Falei, rindo debochadamente.
- Ah, mas...
- E eu não tenho tempo, eu chego em cima no estágio e costumo sair um pouco depois do horário de treino. – Ela bufou.
- Ah, qual é, você que me disse que ele não desgrudou de você naquele dia. – Sorri.
- Vai ver ele só estava querendo se enturmar com alguém da idade dele. – Falei e ela riu fracamente.
- Uhum, claro. Com toda certeza. – Ela disse e eu sorri. – Admita, amiga, Gianluigi Buffon ficou caidinho por você.
- Ok, ok, eu admito, mas não estou pensando nisso agora, está bem?
- Ah, desiste do Luigi, tem um Gianluigi prontinho para te...
- Ah, fica quieta! – Joguei o embrulho do lanche em sua direção, ouvindo sua risada ecoar novamente. – E esse trocadilho foi péssimo.
- Assumo, mas...
- E não! Eu só vi o Gianluigi uma vez, posso te garantir que não foi paixão instantânea, pelo menos não para mim.
- Ah, , qual é, você não consegue nem me encarar quando eu falo dele. – Ri fracamente, negando com a cabeça. – Ele mexeu contigo, vai.
- Ele tem um metro e 92 de altura, ok?! Eu sou alta, mas eu me senti uma anã ao lado dele, isso é meio intimidador.
- Quanto maior a altura, maior a mão e sabe o que mais é maior também? – Ela deu um sorriso sacana.
- Sei, o tapa que eu vou te dar com essa mão aqui! – Estendi a minha para ela, fazendo-a rir.
- Sem graça. – Ela revirou os olhos. – Enfim, mas se você não encontra com ele ainda, você pode criar uma paixão platônica por ele, sabe como?
- Como? – Perguntei, desinteressada.
- ASSISTINDO AOS JOGOS! – Ela falou um pouco mais alto e eu revirei os olhos.
- Está bem, eu assisto aos jogos, gamo nele e aí? – Cruzei os braços.
- Aí a gente bola um plano para esse encontro ser frequente. – Ela falou.
- Ah, Giulia, por favor, agora eu preciso focar no fim do semestre e relaxar para as férias de inverno.
- Aí depois vai vir o campeonato e mais provas e as férias de verão e o ciclo é esse. – Ela falou, desanimada.
- Eu acabei de terminar com o Luigi, qual é, deixa eu curtir esse momento de solteira um pouco.
- Eu deixo você curtir o momento de solteira, acho até legal, mas falar que é porque acabou de terminar com o Luigi é um pouco ridículo, já faz seis meses. – Bufei, franzindo os lábios.
- Está bem, mas eu gostava dele, ok? Achei que essa parte de me julgar já tinha passado.
- Não estou julgando, estou tentando te ajudar. – Ela falou firme. – Eu entendo os motivos dele para terminar e tal, mas ele não pensou muito em você, então o certo seria você querer ficar com todos na sua frente e...
- Eu não sou muito dessa, ok?! E ele também foi meu primeiro, ainda não me acostumei tanto com isso. – Ela assentiu com a cabeça.
- Está bem, amiga, entendo. – Ela falou, abrindo um largo sorriso. – Mas me fala...
- Ah, lá vai. – Revirei os olhos.
- Se o Buffon tivesse interessado você topava? – Ela se aproximou de meu rosto, perguntando baixo e eu ri fracamente, desviando o olhar de novo. – Aí a minha resposta! – Rimos juntas.
- Ah, Giulia, eu não fiquei analisando muito o tamanho das mãos, mas só pela altura eu sei que ele deve ter uma pegada boa. – Falei rindo e ela gargalhou.
- Agora estamos falando a minha língua. – Ri fracamente. – Jogo na sua casa, domingo que vem, três horas da tarde, vou levar minhas coisas para dormir lá. – Neguei com a cabeça, rindo junto. – Vamos fazer um dia à lá Buffon.
- Ah, só você mesmo. – Rimos juntas.
- Ei, falando em jogo, será que você não consegue uns ingressos para gente assistir a algum jogo? – Ela perguntou. – Pode ser aqui em Turim mesmo.
- Não sei, não tinha nada disso no meu contrato, e confesso que tenho vergonha de perguntar, principalmente porque eu falei que não me interessava pelo futebol, né?! – Ela franziu os lábios.
- É, isso te queimou um pouco, principalmente por não pensar na sua amiga que ama futebol, mas ok, isso a gente conserta. – Rimos juntas.
- Eu tenho um contrato de dois anos, relaxa. – Falei, vendo-a rir.
- Menos quatro meses, nem vem, daqui a pouco é Natal. A gente precisa aproveitar. – Arregalei os olhos.
- Você é muito imediatista, pelo amor. – Suspirei.
- O tempo passa, amiga, qual é.
- Desacelera aí, vai. Por você a gente já tem 40 anos e não vivemos nada. – Olhei para ela.
- Ou vivemos tudo, depende da forma que você vê o copo.
- Sempre meio cheio. – Falamos juntas a frase da nossa treinadora e rimos.
- Enfim, o que eu preciso saber para ver um jogo de futebol?
- Para ver? Acho que podemos começar pela posição dos jogadores. – Ela falou, pegando rapidamente seu caderno e uma caneta, abrindo em uma folha qualquer.
- Ok... – Falei, vendo-a desenhar um retângulo, depois um círculo, até que percebi o desenho de um campo de futebol.
- No futebol temos quatro posições base: goleiro, defensor, meio de campo e atacante, e eles seguem nesse alinhamento, do gol nosso, até o gol do rival. – Ela fez a setinha. – Temos algumas variáveis como defensor central ou atacante zagueiro, enfim, eles estão começando a trabalhar mais em um jogador ter várias posições para não se prenderem a posição e sim a quem faz mais pelo time.
- Certo... – Falei.
- O goleiro é o cara que fica solitário lá atrás, ele fica sempre para dentro da linha, pois passando dela, se ele estiver com a bola, é gol. – Assenti com a cabeça. – Ele pode segurar a bola com a mão até essa grande área aqui, fora ele é um jogador normal e só pode usar os pés. – Confirmei. – Tudo certo até aí?
- Na paz, pode continuar. – Falei.
- Beleza, o defensor...

Lui


21 de dezembro de 2001


- Ah, que felicidade, meu filho! – Minha mãe me apertou pelos ombros.
- Aqui não, mãe, por favor. – Falei baixo, vendo minhas irmãs rirem.
- Ah, qual é, Gigi, a mamãe só está feliz por você. – Veronica falou.
- Eu sei, mas eu não posso ser sempre o bebê da família, né?!
- Mas você sempre vai ser o mais novo...
- Pelo menos não na festa do meu time. – Falei sugestivamente e ela e Guendalina sorriram.
- Tudo bem, mas estamos orgulhosas de você, vai! – Guendy falou e eu revirei os olhos.
Passamos por entre os fotógrafos na entrada da festa de Natal da Juventus e eu acenei rapidamente para eles, ouvindo-os me chamarem, mas me mantive no aceno. Entrei no local da festa e sorri ao ver a decoração tradicional de Natal misturada com as cores do time. Vi meus pais falando com uma pessoa com uma prancheta e me aproximei.
- Buona sera! – Falei.
- Gianluigi Buffon. – Ela falou rapidamente e eu assenti com a cabeça. – Venham comigo. – Ela disse.
Enquanto nós a seguíamos para nossa mesa, eu dei uma rápida olhada no local, alguns jogadores acenaram para mim, alguns funcionários desconhecidos me encaram e eu comecei a procurar a estagiária da contabilidade no meio da galera. Se era festa para os funcionários, ela estaria ali, não?!
- Quem está procurando? – Guendalina perguntou próximo ao meu ouvido.
- Aquela estagiária? – Veronica perguntou de lado.
- Sim, ela. – Falei, ficando de costas para ambas rapidamente, me colocando na ponta dos pés para olhar por cima do salão.
- Hum, Gigi ficou apaixonado. – Veronica brincou, me fazendo rir.
- Apaixonado não, mas interessado. – Falei. – Eu pensei que a gente se veria mais, mas não. – Bufei, acenando para a moça que nos levou à mesa. – Grazie.
- E não a viu desde a sua contratação? – Guendalina perguntou e meus pais e elas se distribuíram nas mesas.
- Não, nenhuma vez mais. – Suspirei.
- Vai ver é a área de trabalho dela, ela não precisa ficar com os jogadores, nunca pensou em ir na sala da contabilidade? – Veronica falou.
- Eu já fui na sala da contabilidade, bom, na sala do gerente do setor, eles que pagam a gente. – Falei.
- Vai ver é uma sala diferente, é estágio, né?! Não deve lidar com coisas muito diretas como pagamentos. – Guendalina falou.
- Não sei, mas eu fiquei interessado em vê-la novamente. – Olhei ao longe, desviando das pessoas em minha frente. – Ela era... – Suspirei.
- Ih, tem certeza de que não se apaixonou? – Veronica falou, me fazendo sorrir.
- Não tive a chance ainda, mas ela era bonita, sabe? E ela era alta, é difícil achar mulheres altas. – Falei, suspirando.
- Caham! – Ela e Guendalina falaram.
- Que não sejam minhas irmãs. – Elas riram.
- Entendemos, irmão. – Elas me deram tapinhas nos ombros, me fazendo rir.
- Alta quanto? – Veronica perguntou.
- Ah, um pouco mais alta que meu ombro. – Comentei, medindo rapidamente. – Do tipo que eu não ficaria com dor nas costas em um beijo.
- Ah, Gigi! – Elas gritaram, me cutucando na barriga.
- Para! – Falei firme. – Não me façam pagar mico. – Quase supliquei.
- Não prometemos nada. – Elas riram juntas.
- Gigi! – Ouvi uma voz e vi Pavel e Zambrotta.
- Ciao, ragazzi! – Falei, cumprimentando-os.
- Bene? – Eles perguntaram.
A festa propriamente dita começou com garçons passando com bebidas e aperitivos, além de uma música animada orquestrada por um DJ. Os jogadores e gerentes do time passavam ocasionalmente pela mesa para nos cumprimentar e eu também dava umas rápidas voltas para ver se encontrava ela.
O local era bem grande, realmente não tinha ideia de quantos funcionários tinham na Juventus além dos jogadores, mas com certeza era mais do que eu esperava, deveria ter umas 800 pessoas ali dentro, se não mais, além dos familiares que cada um foi liberado de trazer. Eu trouxe mais quatro, se cada um tivesse trazido mais isso, vish! Não conseguia nem pensar. E o espaço era tão grande que não tinha fim.
- Eu já volto. – Anunciei na mesa e tirei o guardanapo do colo, seguindo em direção ao banheiro. A quantidade de cerveja que eu tinha bebido já passava níveis estratosféricos, a bexiga já havia inchado e eu com certeza já estava mais alegre que o planejado.
Quando eu voltei para a mesa, finalmente a vi. Ela estava alguns metros mais longe, conversando e dançando com uma outra menina enquanto tinha na mão algum drink. Ela usava um vestido curto preto, meia calça e uma bota que subia pelas pernas. Sua amiga estava mais empolgada do que ela, quase pulando, ela estava mais contida, somente mexendo os ombros.
Ela percebeu que eu a encarava quando seu olhar se encontrou com o meu. Sua boca perdeu o canudo e percebi que um pequeno sorriso surgiu de seu rosto. Ela estendeu a mão e eu copiei o gesto. Esse movimento fez sua amiga virar o rosto para mim também e ela também abriu um sorriso.
Ambas começaram a cochichar e era claro que falava mil vezes “não” para a amiga e na minha cabeça eu já começava a pensar se não deveria me aproximar dela. Por sorte ou não, sua amiga venceu e ambas vieram em minha direção. Respirei fundo.
- É ela? – Ouvi Veronica atrás de mim.
- Não começa! – Falei entredentes.
- Mas é, não é?! – Foi a vez de Guendalina.
- É! – Falei, respirando fundo.
- Agora vai! – Guendy falou e notei que ambas estavam mais próximas.
- Ciao! – Sua amiga falou, sorrindo e eu olhei para com o olhar baixo.
- Ciao. – Falei, olhando para ela que sorriu.
- Ciao, Gigi. – Ela falou, desviando novamente o olhar do meu.
- Você não é fácil de encontrar, sabia? – Comentei, vendo-a rir fracamente.
- Você também. – Sorri, vendo-a morder seu lábio inferior.
- Ecco... – Ouvi sua amiga e minhas irmãs falarem.
- Ah sim. – Virei para o lado.
- Espera um pouco. – Ela falou rapidamente. – Vocês são Guendalina e Veronica? – Virei para minhas irmãs. – Giulia, olha isso!
- Meu Deus! – Sua amiga falou, animada.
- Da Nazionale de vôlei? – Ela continuou.
- Sim, somos. – Veronica falou, ambas se colocando ao meu lado.
- Meu Deus! Buffon! É óbvio! – Ela gargalhou e percebi que sobrei ali.
- Vocês são fãs? – Guendalina perguntou.
- Sim, nossa! – A tal Giulia falou.
- A gente joga vôlei na faculdade. – falou. – Estamos na final do campeonato universitário.
- Ah, mesmo? – Guendalina perguntou, sorrindo.
- Que posição vocês jogam?
- Eu sou oposto e a Giulia é levantadora. – Ela falou, sorrindo.
- Vocês são bem parcerias, então. – Veronica falou.
- Sim, ela é minha baixinha! – abraçou Giulia de lado e ambas riram.
- Agora faz sentido a altura. – Guendy sussurrou em meu ouvido, me fazendo rir fracamente.
- Quem diria que você é irmão de duas grandes jogadoras da história? – falou para mim e eu ri fracamente.
- Minha família inteira é de esportistas. – Comentei. – Minha mãe era lançadora de disco e meu pai fazia levantamento de peso.
- Ciao. – Vi que ambos se aproximaram e eu contive a vontade de revirar os olhos.
- Ciao, come stai? – perguntou, sorrindo.
- Essa é e Giulia, mãe. A trabalha para o time.
- O que faz? – Minha mãe perguntou, dando dois rápidos beijos nela.
- Eu faço estágio na contabilidade. – Ela sorriu. – Giulia veio como minha família hoje.
- E ouvi que joga vôlei? – Minha mãe perguntou.
- Sim. – Ela sorriu.
- Já pensou em seguir carreira no vôlei? – Meu pai perguntou.
- Estamos tentando com o campeonato universitário, vai que dá certo... – Ela deu de ombros.
- É assim que os olheiros acham mesmo, pode dar certo. – Veronica falou. – Você é oposto, eles adoram quem mata ponto.
- Ela mata bastante. – Giulia falou, rindo. – E é boa no saque, não erra um.
- Isso é ótimo. – Senti alguém me cutucar e vi Guendalina, ela movimentou a cabeça e me afastei um pouco da conversa, dando alguns passos para trás.
- O que foi agora? – Perguntei, irritado.
- Desculpe. – Ela fez uma careta. – Empatamos você, né?!
- Quais são as chances de elas serem suas fãs? – Perguntei em tom de sofrimento e ela riu fracamente.
- É, até eu me surpreendi. – Ela colocou a mão no queixo. – Ela é jogadora de vôlei também, eu e Veronica temos nosso público, ok?! – Ri fracamente.
- Eu sei, mas agora tudo isso foi por água abaixo. – Suspirei.
- Eu sei, me desculpe. – Ela disse e viramos a cabeça para meus pais que conversavam animadamente com ela. – Pensa bem, pelo menos ela já conheceu a família inteira, vai ser mais fácil quando virarem namorados. – Suspirei.
- Tem nem como eu pedir o número dela assim, qual é! – Neguei com a cabeça.
- Desculpe. – Ela disse, fazendo uma careta e eu suspirei.
- Eu vou fumar. – Falei, colocando a mão no bolso.
- Ei, vai nada! – Ela me puxou pelo ombro. – Fica aqui e acompanha o papo, vai quê? Vai criando afinidade, pô.
- Como com a mãe e vocês em cima dela? – Ela riu fracamente.
- Qual é, Gigi, você não quer só entrar nas calças dela, quer? – Ela olhou sugestivamente para mim.
- Não, quero conhece-la, mas com vocês aqui perto, minha tarefa acabou de ficar um pouco mais difícil. – Suspirei.
- Pensa pelo lado positivo, a mãe está em um papo superanimado com ela, ela gosta de mim e da Veronica, então tudo isso já é ponto para você, além de que ela vem na festa de fim de ano da empresa, a gente não vem ano que vem e pronto. – Ela deu de ombros.
- Deus, eu vou precisar esperar um ano? – Franzi os olhos. – Ela é estagiária, ela pode não estar aqui ano que vem.
- Fica aqui e analisa o papo. – Ela disse e me deixou sozinho, voltando para o papo. Suspirei e fiz o mesmo.
- Então, , você disse que é estagiária, faz faculdade aqui em Turim mesmo? – Guendy perguntou.
- Sim, Ciências Contábeis pela UNITO. – Ela falou, sorrindo.
- Ah, bacana. E você está em que ano? – Ela perguntou e eu ri fracamente. Minha irmã era demais.
- No terceiro, tenho a finalização dele e depois o quarto. – Ela falou.
- Ah, legal e você pretende ficar aqui na Juventus? – Guendy perguntou.
- Sim, eu tenho contrato até me formar, mas espero que me efetivem, estou gostando bastante daqui. – Ela sorriu e vi a mão de Guendy se estender atrás de meus pais e bati na dela, rindo fracamente.
- E você gostava de futebol quando veio para cá, como foi? – Minha mãe perguntou.
- Ironicamente, não. – Ela riu, encabulada. – Tudo o pouco que eu sei de futebol foi a Giulia que me ensinou. Eu sou mais do vôlei mesmo.
- Ah, mas aprende. – Veronica falou. – O Gigi nos ensinou muita coisa sobre futebol, aposto que ele pode te ensinar muitas coisas também. – Tentei manter minha feição calma, mas eu queria encontrá-la com meu pensamento.
- Claro. – respondeu e virei rapidamente para ela, vendo-a sorrir levemente.
- Quando quiser. – Disse, sentindo Guendalina me cutucar por trás e dei um tapa em sua mão.

Lei


13 de abril de 2002


Observei as adversárias erguerem a bola e pulei junto de Antonia, sentindo a bola batendo na ponta dos dedos e virei rapidamente para trás. Martina pegou de mal jeito, debruçando na quadra, mas ergueu, a bola passou para Giulia e ela olhou para mim. Assenti com a cabeça e ela ergueu em minha direção. Pulei próximo à rede e enchi a mão na bola.
As adversárias recuperaram a bola, fazendo quase o mesmo tipo de jogo que a gente e, de repente, a bola havia passado para nosso lado. Monica a recebeu e a bola foi muito para o lado, fazendo com que Giorgia precisasse sair da quadra para alcançar, mas ela caiu no chão antes que ela chegasse.
- Cazzo! – Reclamei, respirando fundo.
As jogadoras se juntaram no clássico cumprimento e vi a bola vir em minha direção. Suspirei, olhando para minhas companheiras de time e bati a bola contra o chão algumas vezes e fui para o fundo da quadra. Olhei para o placar e respirei fundo. Estava 25x25. Estávamos liderando por 15 pontos de diferença, foi só a gente relaxar e elas haviam aproximado. Iríamos até 27, então.
Soltei o ar pela boca devagar, desligando os ouvidos dos gritos e buzinas que tocavam no ginásio da universidade e ouvi somente a bola quicando no chão e voltando para meus dedos enfaixados. Segurei-a, ouvindo o apito e suspirei. Dei dois passos compridos, ergui a bola com a mão esquerda e senti a mão direita bater com força nela, causando um estalo forte e a bola foi com tudo para o outro campo.
No que meus pés bateram no chão novamente, o tempo voltou ao normal. Elas pegaram na bola meio desajeitada, mas pegaram! A bola passou para nosso campo e Giulia não perdeu o tempo, já levantou a mesma. Atravessei o campo com Antonia e meti a mão na bola para baixo, vendo-a bater com tudo no chão, deixando as defensoras do outro campo também no chão.
- Isso! – Giulia gritou, sendo a primeira a vir me abraçar e nos abraçamos, rindo.
- Só mais um, gente! – Antonia falou, batendo uma mão na outra.
- Só mais um! – Giulia aproximou o rosto do meu e eu assenti com a cabeça.
- Só mais um! – Disse baixo, voltando para o fundo da quadra, recebendo uma bola.
- Faz um especial! – Ela disse e eu ri fracamente.
- Nem vem! – Falei e olhei para frente.
O nosso especial era quase um suicídio nessa altura do campeonato, era sacar de forma que a bola desse a impressão de ir para fora, distraindo as adversárias, mas a bola acabava batendo poucos centímetros antes da linha, isso se não tocassem nela antes e o jogo seguisse.
Voltei para o fundo da quadra, sentindo os braços já arderem devido ao quinto set seguido e minha cabeça começou a funcionar rápido demais com a ideia. Se acertasse, seria vitória na certa, se eu errasse, tudo se igualaria e precisávamos de mais dois pontos de diferença. Olhei para meu lado direito, vendo três pessoas mais bem arrumadas no meio da moçada da faculdade, bem que a treinadora disse que teríamos olheiros ali hoje.
Ouvi o barulho da bola bater no chão normalmente quando eu me posicionei no fundo da quadra novamente e suspirei. Olhei para minhas companheiras e Giulia mostrava o número cinco atrás das costas, o número do especial. Virei o rosto para minha treinadora e ela já estava descabelada com isso tudo. O jogo foi seguindo, seguindo, seguindo e deixamos chegar a isso.
Ouvi o apito e engoli em seco mais uma vez, me fazendo respirar fundo. Ajeitei a bola na minha mão esquerda, estendendo-a e olhei para as adversárias posicionadas ali. Observei o local vazio no centro da quadra e era ali. Elas jogavam na posição 6-0, e a jogadora central estava mais perto da rede do que da quadra. Era perfeito.
- Cazzo! – Reclamei, rindo sozinha e suspirei, dando dois passos para frente e ergui a bola, deixando que a direita enchesse a mão na bola.
A expectativa andou em câmera lenta para mim. A bola saiu retinha na rede, enquanto meu corpo era fincado no chão novamente. A bola passou para o outro campo e fiquei marcando o ponto exato em minha mente, quase como se realmente tivesse um X vermelho marcado ali. Voltei para minha posição, engolindo em seco e vi a jogadora do meio tentar recuar quando percebeu onde a bola atingiria.
O estouro da bola no chão fez com que o tempo voltasse ao normal novamente e Giulia foi a primeira a vir em minha direção, me segurando pelas pernas e me erguendo no alto, me fazendo gritar e vi que a torcida da nossa faculdade já invadia o campo com a gente.
- VENCEMOS! – Giulia gritou a plenos pulmões, me fazendo gargalhar.
- VENCEMOS, CAZZO! – Gritei, sentindo-a dar um forte beijo em minha cabeça e encostar nossas testas.
As outras jogadoras e as reservas vieram nos abraçar e começamos a pular pela quadra, enquanto os torcedores da nossa faculdade gritavam à nossa volta, querendo participar da nossa comemoração, mas aquilo era nosso! Nosso mérito.
- SIAMO NOI! SIAMO NOI! I CAMPIONI DELL’ITÁLIA, SIAMO NOI! – Começamos a gritar, pulando e rindo.
- Parabéns, meninas! – A treinadora falou, passando uma a uma para abraçar. – Genial, ! – Ela falou, segurando meu rosto com as mãos e eu sorri.
- Ideia da Giulia! – Falei e ela gargalhou.
- Minhas duas louquinhas! – Ela falou e eu ri fracamente, sentindo-a me apertar pelo pescoço. – Os olheiros gostaram do que viram! – Ela falou e Giulia piscou para mim.
- Isso que a gente estava falando! – Ela me abraçou pelos ombros, me fazendo rir.
- Vão lá receber as medalhas! – A técnica falou, nos empurrando e rimos juntas.
A bagunça ainda estava formada no meio da quadra, como o jogo era em Turim, nossa faculdade estava em peso lá, mas conseguiram montar um pódio. O campeonato universitário era bem-visto aqui, jogamos contra uma universidade de Roma e havíamos ganhado, era simplesmente sensacional. Tinha um ano ainda de faculdade, um ano ainda para mostrar nosso valor e, com sorte, ser chamada para algum time profissional.
Não que eu fizesse questão de ser jogadora de vôlei profissional, longe disso, mas posso garantir que a grana seria muito mais fácil, apesar de que eu estava gostando e muito da minha vida na Juventus, só que também tinha consciência que dificilmente isso seria para a vida. Só a vida iria me dizer, mas ter um plano B seria uma boa.
Conseguiram despachar o pessoal de volta para as arquibancadas e eu pude, finalmente, cumprimentar as nossas rivais. Dei um rápido abraço e um beijo em cada uma, como capitã, eu precisava dar o exemplo. Ganhar de Roma era sempre bom, pois elas sempre nos zoavam, desde a primeira competição, então minha vontade é falar “toma essa”, mas eu fiquei feliz pelo exemplo. Elas receberam as medalhas de prata, se colocando no lado mais baixo do pódio e formamos uma fila para poder receber as nossas.
As meninas não paravam de gritar e pular e, enquanto cada uma das 11 anteriores recebiam suas medalhas, a gente gritava o nome delas, vendo a torcida nos animar. Quando chegou a minha vez, elas também gritaram e eu abri um largo sorriso, feliz por ter realmente encontrado meu lugar aqui.
Me coloquei para andar, me colocando na frente do responsável pelos jogos e ele colocou a medalha em minha cabeça, me dando dois beijos e eu sorri, agradecendo com um aceno de cabeça. Seguimos lado a lado alguns passos e ele me entregou o esperado troféu. Quem olha de fora deve achar que era besteira, mas os jogos universitários eram bem famosos na Itália, o pessoal realmente aloprava com isso e só as 12 melhores faculdades de cada modalidade participava, e o vôlei sempre estava dentro, mas era a primeira vez que esse time ganhava.
Segurei o troféu entre minhas mãos, seguindo até o meio do pódio e subi nele, sentindo minhas amigas me ajudarem. Fiz uma gracinha com ele e o ergui, gritando junto de minhas amigas e do pessoal da arquibancada, me fazendo gargalhar.
Tiramos algumas fotos e o troféu começou a passar de mão em mão, me fazendo sentar no chão e relaxar um pouco. Cinco sets direto era algo que nem a gente estava acostumada, ainda mais cinco de 25, o negócio foi aumentando e aumentando até o apito final ser soado. Meu corpo estava doendo demais devido a tensão e aquilo daria uma travada boa à noite. Ainda bem que era sábado e amanhã eu poderia descansar o dia inteiro.
- Ei! – Ergui o rosto, vendo Giulia se sentar em minha frente. – Va bene?
- , un po’ stanca. – Suspirei.
- Eu também estou. – Ela suspirou. – Você fez o especial! – Ela disse, me fazendo rir fracamente.
- Comecei a pensar o que a gente perderia se eu errasse...
- Nada! Você nunca erra! – Ela disse e eu ri fracamente.
- Pode acontecer! – Falei, suspirando e mexi no ombro. – Ah, estou dolorida.
- Eu também, quero uma massagem.
- Nem fala. – Ri fracamente. – Pelo menos amanhã é domingo, podemos relaxar o dia inteiro.
- Amanhã tem jogo! – Ela disse.
- Ah, que jogo o quê, deixa eu dormir! – Ela sorriu.
- É Juve e Milan, é jogão, poxa! – Sorri.
- Eu vou pensar, ok?! Eu real preciso descansar. – Suspirei.
- Eu também, mas valeu à pena. – Ela esticou a mão para mim e eu bati, sorrindo. – Agora faltam menos de dois meses para as aulas acabarem, a temporada do futebol também está acabando... Já sabe como vai ser suas férias? – Ela perguntou.
- Tenho nem ideia. – Suspirei. – Mas o último jogo do campeonato é dia cinco de maio, depois eles têm a final da Coppa Italia nos dias 25 de abril e 10 de maio consecutivamente, aí acaba. – Estralei o pescoço.
- Mas você tem férias, não tem?
- Tenho sim. – Falei. – Eu vou me informar, você tem algum plano?
- Não sei, pergunta para o Buffon. – Revirei os olhos.
- Ah, você está obcecada, Giulia, eu não tenho tido nenhum contato com ele desde o Natal, ou melhor, eu nunca tive. – Falei firme e ela gargalhou, se levantando.
- Bom, você deixou o coitado chupando o dedo na festa de Natal, né?! – Ela esticou as mãos e me ajudou a levantar.
- Eu não deixei ninguém fazendo nada, mas não é culpa minha se as irmãs dele são Guendalina e Veronica Buffon, qual é. – Ela riu.
- É, eu fiquei surtada também, confesso, pior que eu nunca fiz a ligação, sabia?
- Eu também não. – Falei firme. – Quem diria...
- Acho que elas seriam ótimas cunhadas e eu não tenho interesse nenhum nisso. – Ela passou o braço pelos meus ombros, me fazendo negar com a cabeça.
- É claro que não. – Revirei os olhos, seguindo com ela de volta para o vestiário.
- Mas eu acho que você está perdendo a oportunidade da vida, qual é, ele é...
- Ele é o maior goleiro da atualidade, Giulia, por que ele daria bola para mim? Eu sou só uma estagiária. – Suspirei. – Ele deve ter modelos aos pés dele diariamente.
- Não sei, mas ele parecia bem encantadinho por você, eu aproveitaria antes que ele conheça alguma modelo. – A empurrei para longe. – Ai!
- Eu também tenho meus valores, ok?! – Empurrei a porta do vestiário, vendo-a seguir atrás de mim.
- É por conhecer seus valores, amiga, que eu digo isso. – Ela sorriu e cumprimentamos algumas meninas que já tinham entrado. – Investe! Investe! – Ela falou firme e eu abri meu armário.
- Do que estão falando? – Antonia perguntou e eu bufei, me sentando no banco e tirando os tênis.
- Estou falando para investir no Buffon, ele é irmão da Guendalina e da Veronica, qual é, seria perfeito. – Giulia falou e eu puxei as joelheiras também.
- Ah, ele é bonito. – Antonia se sentou ao meu lado. – Você está afim dele? – Ela perguntou e eu bufei.
- Ele me... Deixou intrigada, ok?! – Falei, vendo as duas gargalharem.
- Eu não o acho tão gato, acho ele meio estranho, mas iria super pelo investimento. – Martina se aproximou também.
- Ele é intrigante. – Suspirei.
- Ele é gato e ele é simpático com ela, ele está na sua, amiga. – Suspirei, revirando os olhos.
- A gente não tem contato, caramba. São duas áreas totalmente diferentes do time, vocês sabem o tamanho daquele lugar? Eu canso quando eu preciso ir no administrativo, imagina se eu fosse para o CT?
- INVESTIMENTO! – Giulia falou alto e eu revirei os olhos.
- Você só está pensando no dinheiro e na carreira por causa das irmãs. – Falei, olhando-a firme nos olhos.
- Não, também não, qual é, você viu o tamanho das mãos dele? Cazzo, ! – Ela revirou os olhos. – Imagina aquilo te pegando de jeito. – Ela espalmou minha coxa, me fazendo rir fracamente. – Ter um parceiro sexual decente na vida também é algo incrível.
- Falou a expert no assunto. – Ela me deu a língua.
- Eu não sei de nada disso, mas acho que a Giulia está certa, . – Martina falou e viramos para ela. – Se o cara gosta de você, vai fundo. Quantas de nós pode falar que um jogador de futebol rico e famoso olhou para gente? – Suspirei.
- Eu não sei, ele é fofinho, sabe? Mas é o que a Giulia falou, só o tamanho das mãos me diz que ele não deve ser fáci...
- Pequeno. – Giulia falou rapidamente.
- Ah, para de pensar só naquilo! – Dei dois tapas em seus ombros, ouvindo-as gargalharam. – Vamos parar esse assunto, ok?! A temporada está acabando e eu não vou mais vê-lo, isso é fato.
- Você precisa começar a ir em jogos, vê-lo mais. – Giulia falou, me fazendo suspirar.
- Não me dão ingressos como estagiária e não quero gastar meu salarinho suado nisso, ok?! – Falei firme.
- Ok, então vamos focar em você ser efetivada no final da faculdade. Meta de vida! – Ela falou.
- Se não for para ficar com ele, , pensa na carreira que você pode fazer lá dentro. – Antonia falou e eu suspirei.
- Eu sei, é o que eu mais penso. – Suspirei.
- Além de vários outros jogadores que entram e saem dos times todos os anos. – Ela disse.
- O Del Piero é gato também, vai. – Martina falou e eu ri fracamente.
- O Del Piero tem 26, ele é areia demais para o meu caminhãozinho. – Rimos juntas.
- E o Buffon não? – Giulia perguntou.
- O Buffon já gostou de mim, aparentemente, ok?! Já temos um avanço. – Falei e elas irem. – Mas vamos mudar de assunto, chega da minha vida pessoal! – Me levantei rapidamente.
- Ok, , mas se vale de algo, a Giulia tem razão, é um investimento em vários níveis. – Martina disse, piscando para mim e rimos juntas.
- Ah, vamos nos arrumar que eu ainda quero pizza de celebração. – Empurrei as três e elas gargalharam, cada uma voltando para seu armário.
- Eu queria um Buffon de celebração, isso sim. – Giulia falou e eu revirei os olhos.

Lui


Cinco de maio de 2002 • Trilha SonoraOuça


Quando entrei no Stadio Friuli e vi os torcedores gritando por nós, eu já tinha a responsabilidade cravada em minhas costas. Sabíamos que a única coisa que poderíamos querer agora era uma vitória. Com a vitória do Lazio em cima do Internazionale por quatro a dois e vitória da Roma por um a zero em cima do Torino, isso abria nossas portas para ganharmos em cima da Udinese e finalizássemos o campeonato em primeiro lugar.
Estávamos em terceiro com 68, Roma em segundo com 70 e Internazionale em primeiro com 69. A diferença era que éramos os únicos com um jogo a menos e ele se resolveria agora, três da tarde, em Udine.
A Udinese estava com 40 pontos, mas já tinha saído da zona de rebaixamento com Verona, Lecce, Fiorentina e Venezia perdendo nos jogos de hoje, então eles não fariam questão de três pontos, não mudaria nada para eles, mas estávamos na casa deles e com a torcida deles, apesar de ter muito preto e branco embaixo daquele sol de cinco de maio.
Garantir nossa vitória foi fácil. Trezeguet abriu o placar aos dois minutos de jogo e Del Piero alongou a diferença aos 11, então sobrava 79 para gente aguentar todas as tentativas de ataque da Udinese. Fiz algumas defesas cruciais para conseguirmos manter o placar de dois a zero, mas quando o apito final foi soado, eu simplesmente me perdi!
Era o meu primeiro ano no time e havíamos ganhado o scudetto! Não passamos da fase de grupos da UEFA e tínhamos a final da Coppa Italia em alguns dias e estávamos indo com vantagem para Parma, mas o campeonato italiano era nosso! O pessoal estava aloprando já e com a perda massacrante da Inter, não poderia ficar melhor.
Os torcedores invadiram o campo segundos após a finalização do jogo e, antes mesmo que eu pudesse chegar em algum dos meus companheiros de time, eu já havia perdido as calças e a blusa. Ainda entenderia essa fissura no pessoal em deixar os jogadores seminus em pleno campo, mas quem se importava? O scudetto era nosso!
Jogadores e seguranças chegaram em mim com a mesma rapidez que os torcedores. Não tinha como fugir, eu estava encurralado, então só saí abraçando quem é que aparecia no meu campo de visão. Del Piero, Conte, Pavel, Thuram, Zambrotta e deixei que a loucura dos torcedores começasse a ser exalada por mim e aproveitei.
Encontrei o técnico e ele me deu um forte abraço, falando palavras de apoio para mim, ele poderia ter me xingado de todos os nomes que eu não saberia repetir o que ele disse, mas me fez rir naquele momento. Apareceram faixas, banners, mais torcedores e a festa era bianconera. Por um momento eu perdi os jogadores da Udinese para cumprimentá-los, mas não estava pensando muito nisso, só queria saber de curtir a festa.
Del Piero conseguiu levantar o 26ºscudetto da Juventus minutos depois. Os torcedores ainda estavam em cima, mas não tinha como conter e nem ter uma celebração apropriada. Ainda ganhamos o prêmio de melhor artilharia com 64 gols no campeonato e eu ganhei o prêmio de melhor goleiro com a melhor defesa. Foram 19 jogos sem levar gol, era meia temporada, então era bem legal!
As comemorações se seguiram para o vestiário e a festa com champanhe se alongou por mais algumas horas. Até Lippi foi para a banheira gelada e a gente simplesmente não conseguia parar. Alguns repórteres entraram no vestiário para poder falar com a gente, mas só saíam de lá molhados igual a todos.
Apesar de toda adrenalina, eu só conseguia pensar no dia seguinte, ainda tínhamos alguns dias de temporada com a final da Coppa Italia, depois era um mês de descanso e eu estava precisando disso. A temporada foi boa demais, mas eu estava exausto. Precisava realmente desse tempo para me preparar.
Apesar de que eu já havia recebido uma ligação de Giovanni Trapattoni, técnico da Seleção Italiana, e ele queria me convocar daqui três dias para o Mondiale no Japão e Coreia do Sul, então o tempo para descanso seria pouco, dia 17 seria o último amistoso e dia três de junho a gente estrearia na competição. Então seria uma semana agora e um pouco após a finalização da competição, se Deus quiser, com a taça de volta.
Apesar de querermos ir para casa e levarmos o prêmio para o pessoal que trabalhava nos bastidores, a festa se alongou bastante. Conseguimos sair para valer do vestiário do Udinese por volta das dez da noite. Premiação, festa, coletiva e organizar tudo acabou levando mais tempo que o esperado, mas depois da aguaceira rolada no vestiário, precisamos encontrar roupas secas para voltar e quem disse que encontramos?
Acabamos por dormir em Udine mesmo e pegamos o trem sete da manhã de volta para Turim. Apesar de também ficar no Norte, Udine ficava quase na Eslovênia, então foram umas nove, dez horas de viagem de volta para Turim. Ficamos curtindo no hotel até quase três da manhã, então acordar cedo fez o ânimo do pessoal se apagar drasticamente, então todo mundo capotou assim que nos ajeitamos em nossas poltronas.
Chegamos em Turim quase cinco da tarde e estávamos prontos para sair em carreata pelas ruas da cidade para celebrar junto de nossos torcedores, mas não sem antes ir até o CT levar o prêmio para o pessoal que não pôde nos acompanhar. Quando percebi que estávamos dentro do horário de expediente de , fiquei empolgado em vê-la novamente.
Eu sei que estava vivendo uma experiência levemente frustrada em estar caidinho por ela, mas em cada uma das oportunidades que eu a via, eu ficava cada vez mais intrigado com ela e queria saber mais sobre ela, sair com ela e o que a vida mais me permitisse, nem que eu ficasse vivendo à distância até isso acontecer.
Assim que chegamos de volta ao CT, os funcionários já estavam em peso para nos recepcionar e nunca havia me dado conta de quantas pessoas trabalharam por trás, creio que passava de 200, sem contar o resto da equipe que estava com a gente. Eu não conhecia mais da metade, mas nosso capitão, Del Piero, não se intimidou e desceu do ônibus com a taça, recebendo gritos e aplausos do pessoal.
Acho que agora eu entendia o que era ser capitão de um time. Era ser capitão de todos que faziam parte do time e não só dos jogadores. Ele foi em direção ao pessoal, a taça começou a passar de mãos em mãos, os abraços e os gritos começaram e eu só conseguia olhar para aquela cena com orgulho do que eu havia conquistado em um ano de time.
Recebi abraços de um pessoal do alto escalão, acenos de outro pessoal, mas eu estava totalmente avoado, só queria encontrá-la, de preferência antes de tomarmos as ruas de Turim. Dei uma andada pelo estacionamento, procurando entre o pessoal sentado no chão, encostado nas entradas dos prédios, até que eu a vi.
Um sorriso se formou em meu rosto inevitavelmente. Ela estava da mesma forma que eu havia visto-a na primeira vez: calça jeans, tênis no pé e a camiseta polo branca do time. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto, ela tinha um copo na mão e conversava com um colega próximo à entrada do prédio principal.
Me aproximei dela devagar, percebendo que seu olhar se encontrou com o meu e ela cochichou algo com seu colega e se afastou dele devagar. Ela bebeu o que restava em seu copo e jogou em uma lata de lixo ali perto.
- Ciao, Gigi! – Ela falou, sorrindo.
- ... – Falei com o mesmo sorriso no rosto.
- Parabéns pelo título! – Ela falou, me abraçando pelo pescoço e confesso que fiquei surpreso e travado com esse movimento, mas não perdi a oportunidade de apertar suas costas com as mãos. – Acho que o pessoal fala sério quando diz que você é bom mesmo. – Ela disse, se afastando e me contive em manter seu corpo mais próximo do meu.
- Eu fui contratado para isso! – Falei, vendo-a rir fracamente.
- Acho que aquele valor todo compensou, então. – Ela deu de ombros, sorrindo.
- O título não é só nosso, você sabe disso, certo? – Ela suspirou, olhando para a bagunça.
- Eu sei, mas as vezes eu me sinto meio fajuta aqui no meio do pessoal. – Ela riu fracamente. – Não entendo nada. – Sorri.
- Você está assistindo aos jogos, não? Sua amiga parece entender bastante. – Apoiei as costas na parede.
- Quase todo domingo estamos vendo os jogos, eu não tenho descansado mais de domingos por causa dela. – Rimos juntos. – Nem quando finalizamos o torneio de vôlei. Eu só queria dormir e ela “vamos ver o jogo, vamos ver o jogo”. – Gargalhei ao seu lado.
- E o que você está achando? – Perguntei, cruzando os braços.
- Nós ganhamos, então estou adorando! – Ela falou, me fazendo gargalhar. – É brincadeira, mas estou gostando sim. Você é bom mesmo. – Sorri.
- Obrigado. – Olhei para ela.
- E agora, o que acontece? – Ela perguntou, virando o rosto para mim.
- Como assim? – Perguntei.
- Férias? Descanso em ilhas gregas ou você é do tipo mais caseiro que vai para casa? – Rimos juntos.
- Eu vou ter pouco descanso, na verdade, vou para o Mondiale. – Ela arregalou os olhos.
- Meu Deus! Verdade! Vai começar, né?! – Ela falou surpresa demais.
- Vai sim, começa dia 31 de maio agora. – Ela sorriu.
- E você vai jogar?
- Sim! – Ri fracamente.
- Meu Deus! – Ela riu fracamente. – Isso é incrível, parabéns! – Ela riu sozinha. – Espero que vocês ganhem! – Ela suspirou.
- Também espero. – Rimos juntos e notei-a morder o lábio inferior, deixando um pequeno sorriso no rosto.
- Pelo menos eu vou ter mais jogos para ver nas minhas férias. – Sorri.
- Você vai ficar por aqui? Vai visitar sua família? – Perguntei.
- Vou ficar por aqui mesmo, minha amiga vai viajar com a família, me chamou para ir junto, mas não decidiram ainda para onde. – Sorri. – Mas eu devo voltar antes de vocês.
- Então, isso quer dizer que eu vou te ver na próxima temporada? – Perguntei, virando o rosto para ela.
- Acho que sim. – Ela sorriu, virando o rosto para mim. – Eles fizeram minha avaliação de estágio há uns dias e estão gostando do meu desempenho.
- Você vai longe! – Disse.
- Como você sabe disso? – Ela virou o corpo para mim, colocando as mãos nos bolsos da frente da calça.
- Eu não sei, mas ia gostar de te encontrar aqui outras vezes. – Ela sorriu, rindo fracamente.
- Talvez até com hora marcada... – Ela deu de ombros, sorrindo.
- Eu ia gostar. – Falei, vendo-a sorrir.
- Posso dizer algo? – Ela perguntou.
- Claro. – Falei e ela riu fracamente.
- Eu prefiro seu cabelo mais cumprido, esse corte não te valorizou em nada. – Ela disse, gargalhando em seguida e eu passei a mão em meus cabelos ralinhos.
- Eu perdi uma aposta. – Falei, brincando e ela sorriu.
- O bigode também não ajudou. – Ela mordeu o lábio inferior, fazendo uma careta.
- Ok, já entendi! Mais longo é melhor?
- Com certeza! – Ela disse, rindo em seguida.
- Gigione! – Ouvi um grito e vi Pavel se aproximar.
- Fala, Pavel! – Falei, sentindo-o me abraçar fortemente.
- Vamos andar pela cidade, cara! – Ele falou e eu ri fracamente.
- Alguém já está mais para lá do que para cá! – comentou e ele virou para ela.
- ! – Ele falou, animado, passando o braço pelos seus ombros. – Gigi, essa é a , ela é da contabilidade. – Ele falou e bateu a mão na testa, me fazendo rir fracamente. – Ela estava lá quando eu assinei com o time.
- Estava quando eu assinei também! – Falei. – Somos amigos. – Ela olhou para mim por cima de Pavel, escondendo um riso entre os lábios.
- Por que você está escondida aqui? Vamos lá, você precisa se enturmar mais com a gente! Vamos, vamos! – Ele começou a puxar .
- Pavel, não! – Ela falou, me fazendo rir. – Eu não sou do tipo que se enturma assim.
- Agora vai ser! – Ele falou. – Vem também, Gigione! – Ele me puxou pela blusa e saí gargalhando com ele, vendo os olhos arregalados de .
- Ele é louco! – Ouvi-a dizer.
- Pode ser, mas ele está certo, você precisa se enturmar com o pessoal! – Comentei, dando de ombros. – Quem tem amigos, tem tudo na vida. – Arqueei os ombros e ela sorriu.
- Talvez você esteja certo. – Ela disse, me puxando pelo braço e fomos enfiados no meio da galera.



Capitolo tre

Stagione 2002/2003
Lei


18 de junho de 2002

- Vai, Gigi! – Me levantei, apressada, suspirando quando ele pegou a bola. – Ufa! – Falei baixo.
- Você está mais surtada do que eu e eu não sabia que era possível. – Giulia falou e eu me joguei ao lado dela novamente, enchendo a mão de pipoca e levando à boca.
- É que eu não gosto de vê-lo levando gol. – Fiz um bico, colocando as pipocas uma a uma na boca.
- Você está super a fim dele, .
- Não é isso, é só que... – Dei de ombros. – Ele é meu amigo.
- Uhum, amigo? Vocês nunca saíram juntos, qual é! – Ela falou, apoiando os braços nos joelhos.
- A gente não se encontra lá na Juventus, eu já te falei isso um milhão de vezes. – Ri fracamente, assistindo ao jogo das oitavas do Mondiale.
- Mas você já foi lá na área de treinos? Uma coisa é você não poder ir, outra coisa é você não tentar. – Ela disse e eu suspirei.
- Não, mas é que...
- Você está no time há um ano, , aposto que pode dar uma voltinha lá na área de treinos. – Suspirei.
- Eu não sei, não sei se ele gosta de mim desse jeito. – Ela virou o rosto para mim.
- Você nunca vai descobrir se não tentar. – Ela falou. – Ele me pareceu bem interessado na festa de Natal.
- Mesmo? Para mim ele pareceu desinteressado. – Coloquei mais algumas pipocas na boca.
- Bom, a gente ficou em cima das irmãs dele, né?! Não teve muito espaço. – Gargalhamos juntas.
- Vai, Gattuso! – Giulia gritou, se levantando quando o jogador italiano se aproximou do gol, dando um tiro forte, mas o goleiro sul-coreano defendeu a bola. – Ah! – Ela reclamou. – Assim não dá!
- Calma, ainda tem um tempo. – Suspirei.
- É a prorrogação, se não resolver agora vai para pênalti, você quer ver seu garoto encarando uma disputa de pênalti? – Ela falou alto para mim.
- Ele não é meu garoto...
- Porque não quer.
- E não, não quero. – Ignorei-a, suspirando e deslizei o corpo no sofá. – E eu estou falando dos pênaltis.
- Mas você quer ficar com ele? – Ela virou para mim.
- Eu não sei, ok? Parece meio fora da minha realidade. – Apontei para televisão.
- É um pouco fora da realidade sim, mas você trabalha na realidade dele, qual seria o problema? – Ela se virou para mim.
- Eu não sei, jogador de futebol tem uma fama ruim, acabei de terminar com o Luigi e...
- Faz um ano, ! Por favor. – Ela falou e eu ponderei com a cabeça.
- Ok, mas...
- E agora tem um Gianluigi na parada... – Ela fez a piadinha ridícula com os nomes mais uma vez e eu revirei os olhos, ouvindo-a gargalhar sozinha no sofá.
- Você é ridícula, Giulia. – Falei, cruzando os braços.
- Só estou zoando contigo, mas já faz um ano para valer, se for essa a sua desculpa, sinto muito, não vai colar. – Ela disse.
- Ok, vou voltar ao fato de que jogador de futebol tem fama ruim, é mulherengo, não vale nada...
- Estou falando só para você dar uns beijos no cara, não prometer amor eterno e casamento. – Ela falou mais calma.
- Eu sei, mas ele é um cara legal, sabe?
- Então! Se ele é um cara legal e está te dando bola, aproveita! – Ela falou, enfiando a mão no balde de pipoca e eu suspirei.
- Eu não sei quando vou vê-lo de novo...
- Logo mais se eles NÃO FIZEREM A PORRA DE UM GOL E VOLTAREM PARA CASA! – Ela gritou com a televisão, jogando uma pipoca nela.
- Cata agora, eu limpei a casa ontem. – Falei e ela se ajoelhou no chão para pegar. – E se ele não quiser nada comigo?
- Meu Deus! Nem beijou o cara e já está sofrendo por antecipação. – Ela falou, virando o corpo no sofá. – , você é bonita, incrível e chamou atenção do goleiro mais caro da história! – Ela falou. – Não sei se ele vai querer namorar contigo, o que vai acontecer no futuro ou se o beijo vai ser bom, sei lá, mas ele está te olhando, ele está indo atrás de você, começa por aí. Depois você vê se vai dar namoro ou é só uma paixão boba. – Ela deu de ombros.
- É, você tem razão. – Disse, suspirando.
- AGORA FAZ ESSE GOL, VIERI! – Ela gritou para o atacante ou centroavante da Azzurra e eu suspirei.
- Você está começando a me dar dor de cabeça. – Falei, colocando as pipocas uma a uma na boca.
- Não, você que ficou pensando no Gigi e agora está falando que a culpa foi minha. – Ela disse e eu suspirei.
Virei para a televisão, vendo os jogadores de azul e os de vermelho correrem de um lado para o outro, enquanto os dois times tentavam evitar que o jogo seguisse para os pênaltis. Fazia um ano que eu estava na Juventus, eu já tinha aprendido bastante coisa no mundo do futebol, mas não era uma grande conhecedora ainda, pelo menos sabia ver quando algo era falta ou não.
Esse jogo Itália e Coreia do Sul só me irritou, o jogo foi marcado por uma arbitragem horrível. Horrível mesmo, até eu falava isso. Eles tiveram direito a um pênalti, mas Gigi pegou, o que eu fiquei bem feliz, algum tempo depois a Itália abriu o placar e a Coréia conseguiu empatar no final do segundo tempo levando para prorrogação.
Totti havia sido expulso minutos atrás por uma possível simulação de pênalti, mas o próprio narrador falou que havia sido de verdade e nada havia acontecido. Coco teve uma dividida com um coreano e precisou sair para fazer curativo com a quantidade de sangue que saía de sua cabeça. Parecia que eu estava vendo a luta livre, não um jogo de futebol. Agora faltava pouco menos que cinco minutos para o final da prorrogação e aquilo me deixava incrivelmente nervosa.
Não era só por Gigi ou pela Itália que eu assistia ao jogo, apesar de serem dois motivos bem plausíveis para acompanhar o Mondiale, mas tínhamos Iuliano, Zambrotta e Del Piero da Juventus na seleção e, com exceção de Zambrotta, que não entrou, e de Del Piero que saiu no começo do primeiro tempo da prorrogação, todos participaram desse jogo desastroso.
- Olha a Coréia! – Giulia falou, se levantando.
O coreano fez o cruzamento da bola, passando-a para a grande área e um outro cabeceou ela para dentro do gol. Prendi a respiração quando vi Gigi se aproximar da bola e acho que ele chegou a tocar nela antes dela entrar.
- NÃO! – Giulia gritou e eu suspirei, vendo os coreanos saírem correndo para comemorar e eu joguei a cabeça para lá.
- Tem mais três minutos, quem sabe eles não fazem mais um e empata? – Falei baixo, vendo que ela estava estressada demais.
- Não tem mais, . Acabou, é isso! A Itália está fora! – Ela falou.
- Mas tem três minutos ainda, não?! – Me ajeitei no sofá.
- Não, é o que eles chamam de gol de ouro, o primeiro a fazer gol nos acréscimos leva.
- Então acabou? – Me levantei rapidamente.
- Acabou. – Ela disse, se jogando no sofá de novo e eu olhei abismada para a TV, vendo filmarem Gigi sentado dentro do gol, abraçado na bola. – Não pode. – Fiz um pequeno bico.
- É isso, amiga. – Ela disse.
- Não é justo! – Falei.
- Tem gente que fala que não, outros que falam que sim, vai entender, não sei o que é correr por 120 minutos, deve ser foda para os jogadores. – Giulia acariciou minha cabeça e eu engoli em seco.
- Ele parece estar bem mal.
- Não é culpa dele, são coisas que acontecem. – Ela falou. – Não quer dizer que ele seja um mal goleiro, as vezes a gente perde, as vezes a gente ganha.
- Mas o juiz foi horrível! – Falei. – Ele beneficiou a Coréia em vários momentos, você viu!
- Todo mundo viu, mas se ele é o juiz e faz isso, quem vai contra ele? – Ela deu de ombros. – Posso ir ao banheiro?
- Vai lá, você sabe o caminho. – Suspirei, vendo-a rir, minha quitinete não era gigante para ela precisar andar muito para chegar lá.
Vi a comemoração da Coreia e os italianos tristes e peguei o controle, desligando a televisão. Eu não queria ver aquilo, agora que começava as conjeturas do que deu errado, qual foi o problema, mas todos sabiam que o problema era o juiz.
Segui até minha escrivaninha e peguei a pasta que eu tinha recebido da Juventus durante minhas férias que acabavam em alguns dias. Eles às vezes mandavam algumas informações para gente ficar por dentro ou um possível trabalho para quando a gente voltasse. Eram informações sobre jogadores entrando e saindo do time, algo para eu ficar por dentro da próxima temporada.
- O que está vendo? – Giulia voltou, secando as mãos na calça.
- Está sem toalha lá? – Perguntei.
- Não, mas não queria usar a sua. – Ela falou e eu revirei os olhos.
- Alguns jogadores entrando e saindo do time. – Falei.
- Alguém interessante? Não se ouve falar muito durante o Mondiale, só depois. – Ela disse.
- Hum, vamos ver... – Passei a mão nas listas. – O goleiro Carini vai sair, eles querem um francês... Eles estão de olho em três defensores... – Mostrei o papel para ela.
- Não sei quem são. – Ela disse. – Mas eles querem o Camoranesi. – Ela disse.
- Não sei quem é. – Falei.
- Ah, ele está aparecendo no Verona, é interessante. – Confirmei com a cabeça.
- E sem novidades no ataque. – Falei, fechando a pasta. – Parece que eles estão mais vendendo do que comprando, vai entender...
- Ah, um time funciona bem com uns 25, 26 jogadores, depois é demais. – Giulia falou.
- Entendi! – Deixei em cima da escrivaninha de novo. – É isso.
- Quando você volta a trabalhar mesmo? – Ela perguntou.
- Na segunda-feira. – Suspirei. – Ah, preciso fazer tanta coisa que dá até preguiça.
- Ah, deu para aproveitar as férias vai. – Ela deu de ombros.
- Metade do tempo eu fiquei me bronzeando com a sua família e a outra vendo a eliminação da Itália... É, dá para o gasto. – Falei e ela deu um tapa em meio ombro. – Ah, ainda estou dolorida.
- Mas não tinha ficado bronzeada, linda? – Rimos juntas e eu passei o braço pelos seus ombros.
- O que você quer fazer agora? Quer sair para comer algo? Cinema?
- A gente acabou de comer pipoca. – Giulia falou.
- Ah, mas é pipoca, não enche. – Falei.
- É, você tem razão. – Rimos juntas. – Apesar que as ruas vão estar lotadas de gente irritada pela derrota, melhor a gente pedir alguma coisa, pizza?
- Nunca nego! – Falei e ela abriu minha gaveta com diversos cardápios de restaurantes.

Lui


15 de agosto de 2002

- Acho que foi o pior jogo da minha vida. – Comentei, puxando a camisa para fora.
- Foi... – Del Piero falou, negando com a cabeça em seguida e se sentando em seu espaço no vestiário. – Parecia dominó, ficava cada vez pior.
- Nós fizemos tudo e mesmo assim... – Iuliano falou, negando com a cabeça.
- Maldito juiz! – Del Piero falou.
- Maldito gol de ouro. – Falei, começando a colocar a roupa de treino.
- A gente viu e, cara, foi roubado na cara dura. – Conte falou e assentimos com a cabeça.
- Vocês viram que deu merda no jogo contra a Espanha também, né?! – Trezeguet falou.
- Nem vi nada depois, só queria vir para casa e dormir por um mês. – Falei, me sentando no meu espaço para colocar as caneleiras e as chuteiras.
- Anularam dois gols perfeitamente válidos. – O francês continuou falando. – Falam que é esquema da FIFA para expandir o mercado para aquele lado.
- Pelo menos eles não ganharam! – Iuliano falou.
- É, mas ganhou o Brasil e agora eles têm cinco. – Zambrotta falou. – Vocês têm noção do que é isso? Eles foram os primeiros a ganhar a Jules Rimet, agora têm cinco campeonatos. É loucura.
- A gente precisa alcançar eles logo. Eles já ganharam a última em 94... – Falei.
- Em cima da gente! – Pessotto falou e eu assenti com a cabeça.
- E agora 2002, é loucura! – Finalizei.
- Isso é muito de sorte. – Del Piero falou. – Eles ganharam todos os jogos. E aposto que não tiveram problemas com arbitragem.
- Mas os caras estavam bons, viu?! A gente zoa o Ronaldo aqui na Internazionale, mas foi a campanha perfeita. – Iuliano falou.
- Falando em Ronaldo, foi lá para Espanha agora, defender o Real Madrid. Não o veremos mais por aqui. – Del Piero falou e o vestiário gargalhou junto.
- Vá com Deus. – Conte disse, rindo.
- Bom, vocês falando de Mondiale, a República Tcheca nem foi, então vocês estão no lucro! – Pavel falou, nos fazendo gargalhar.
- Quem sabe daqui quatro anos? – Falei, vendo-os rirem.
- E o Coco? Como ficou? – Thuram perguntou.
- Não foi tão feio. – Zambrotta falou. – Só pareceu pela quantidade de sangue que tinha.
- Parecia luta livre. – Chimenti comentou ao meu lado.
- Foi quase isso, deu vontade de voar no pescoço deles, viu?! – Del Piero falou. – Quando expulsaram o Totti... – Ele negou com a cabeça, revirando os olhos.
- Estou ouvindo muito papo nesse vestiário, andiamo, ragazzi! – Lippi gritou da porta do vestiário e dispersamos o papo.
Finalizei de calçar minhas caneleiras e meias e depois calcei as chuteiras. Me levantei novamente, vestindo a camiseta de treino e peguei as luvas. Segui para fora do vestiário junto de uma primeira leva, passando pelos corredores do vestiário e depois saí para o sol do começo da tarde, me fazendo franzir os olhos com a claridade.
Era o primeiro treino depois do desastre da Copa do Mundo. Aquele gol de ouro passava na minha cabeça ainda mesmo quase dois meses depois. Era totalmente defensável e eu deixei passar. Por mais que o pessoal falasse, falava que o jogo havia sido totalmente injusto, o que foi, eu não conseguia esquecer.
- Gigi! – Parei o passo ao ouvir alguém me chamando e virei o rosto para os lados, me surpreendendo ao encontrar ali.
Como assim ela estava ali? Ela nunca vinha ali. Sua roupa e seus materiais jogados ao seu lado denunciavam que ela não estava em horário de trabalho ainda. Seus cabelos estavam bagunçados e ela se levantou do chão quando eu me aproximei, passando as mãos na calça por estar sentada na grama.
- Ei, você está aqui! – Falei e ela sorriu.
- Vim um pouco antes do meu horário para ver se encontrava vocês treinando. – Ela falou. – Nunca vi um treino de vocês.
- E eles deixaram? – Ela fez uma careta.
- O Lippi sabe, se servir de algo. – Rimos juntos. – Tenho liberdade dentro do CT, só não posso bobear no meu horário de serviço. – Ela deu de ombros.
- Que horas você entra? – Perguntei.
- As duas, tenho... – Ela checou seu relógio. – 45 minutos para ver você levando umas boladas. – Gargalhamos juntos, me fazendo sorrir. – Desculpe pelo Mondiale.
- Ah! – Franzi a testa.
- Não quero trazer péssimas lembranças. – Ela adiantou, tocando meus braços rapidamente.
- Não, é que... – Suspirei, relaxando os ombros. – Foi um desastre. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Me desculpe, realmente sinto muito, foi horrível o que aconteceu. – Ela suspirou. – Precisa de um abraço? – Ela fez uma careta, abrindo um pouco os braços e rimos juntos.
- Seu? Sempre. – Falei e ela sorriu, passando os braços pela minha barriga e me apertando por alguns segundos, me fazendo relaxar a ponto de fechar os olhos e acariciar seus cabelos.
- Veja pelo lado positivo: temos uma nova temporada a caminho, eu já sei mais sobre futebol e posso começar a dar palpite sobre as coisas. – Ela disse, se afastando devagar e quase a puxei de volta novamente.
- Algum conselho prévio? – Brinquei e ela riu fracamente.
- Não deixem que aquele juiz julgue qualquer outro jogo na carreira dele. – Ela falou, me fazendo gargalhar.
- E então, como foram as suas férias? – Perguntei. – Você está bronzeada. – Ela riu fracamente, ajeitando a alça da camiseta regata onde uma linha de biquini deixava seu corpo mais claro.
- Eu fui para Forte dei Marmi com a família da Giulia, eles gostam bastante de mim e me convidaram para ir, melhores 15 dias da minha vida. – Ela falou, me fazendo rir. – Depois ficamos vendo a competição e logo eu voltei a trabalhar.
- E seus pais? Não ficaram contigo?
- Vamos dizer que temos uma relação mais distante e nem tantas condições quanto os pais da Giulia. – Ela falou, ponderando com a cabeça.
- Eles moram longe daqui? – Perguntei.
- Eu sou de Palermo, bem lá no sul.
- Uau, está longe de casa, então. – Ela assentiu com a cabeça.
- E você? De onde são os Buffon? – Ela perguntou.
- Carrara. – Falei.
- Ei, eu passei por lá, é do lado do Forte dei Marmi, não?!
- É sim. – Sorri.
- Eu acho que tirei uma foto na frente da catedral de lá... – Ela ponderou com a cabeça. – Os pais da Giulia param tanto na viagem que é difícil lembrar. – Rimos juntos. – Duomo di Sant’Andrea, né?!
- Isso mesmo. – Falei, rindo, e ela sorriu.
- Catedral de mármore, né?! – Assenti com a cabeça. – Que legal, eu fui para sua cidade. – Ela riu fracamente.
- Quem sabe um dia eu não vá contigo? – Falei e ela deu um sorriso, enrugando suas bochechas e eu sabia que ela estava com vergonha.
- Ok. – Ela disse.
- Andiamo, Gigi! – Virei o rosto, vendo Bonnefoi gritar.
- Já vou! – Gritei de volta.
- Ei, se não é a aqui! – Virei para o lado, vendo Pavel se aproximar e ela sorriu.
- E aí, Nedvěd? – Ela falou e ele a abraçou, tirando-a do chão alguns centímetros.
- Veio me ver jogar? – Ele perguntou.
- Ah, com certeza. – Ela falou, rindo em seguida. – Faça bastante gols para mim.
- Ei! – Falei, vendo-a rir fracamente.
- Tem outros dois goleiros que ele pode fazer gol, vai. – Ela se explicou e rimos juntos.
- Ei, quem temos aqui? – Del Piero se juntou à roda.
- Ciao, capitano! – Ela falou, sorrindo.
- Ei, milagre te ver aqui fora! – Ele falou, cumprimentando-a com um rápido abraço. – Achou o caminho, foi?
- Não... – Ela disse, rindo. – Bom, sim, mas eu vim um pouco antes para ver vocês treinando, eu sempre venho depois e, quando vou embora, já acabou... – Ela deu de ombros. – Aproveitei que não tive a última aula e vim.
- Bom te ver aqui, você sabe que é sempre bem-vinda, não sabe? – Ela assentiu com a cabeça.
- Agradeço, Alex. Prometo vir quando der. – Ele a abraçou mais uma vez.
- Vamos, galera! – Ele falou para nós e se afastou com Pavel.
- Pessoal parece gostar de você. – Comentei.
- Bom, eu fiz o que você falou no fim da temporada passada, tentar me enturmar. – Ela sorriu. – Mas o Alex agrega muito fácil, ele é muito simpático. – Ela falou, rindo fracamente.
- Por isso que ele é o capitão.
- Talvez. – Ela deu de ombros. – Mas eu também tenho mais proximidade com você, com o Lilian, Pavel e Salas, mas porque eu estava lá acompanhando a contratação.
- Quem sabe eu não te vejo mais vezes? – Comentei, virando para ela e ela deu um pequeno sorriso, com o olhar no campo.
- Bom, eu tenho mais um ano aqui, isso é garantia. – Ela virou para mim. – Agora que eu já sei o caminho, posso encontrar mais vezes, apesar dos horários mudarem sempre.
- É, tem isso também, a gente costuma começar mais tarde, mas o primeiro treino da temporada é sempre o mais lento.
- Espero que vocês conquistem bastante coisas esse ano. – Ela suspirou. – Quanto mais prêmios, mais trabalho e quem sabe uma efetivação?
- Você ia gostar disso? – Virei para ela.
- Bastante. – Rimos juntos. – E não é só pelo salário que é muito bom, mas eu gosto do ambiente, dos meus colegas de trabalho, de vocês. – Ela virou para mim. – Eu me sinto feliz em trabalhar aqui, sabe? – Ela suspirou.
- Vou torcer por você. – Disse, vendo-a sorrir.
- E eu por você. – Ela sorriu.
- Andiamo, Gigi! – Lippi apareceu ao meu lado. – . – Ele desviou do seu caminho. – Você por aqui?
- Para você ver! – Ela sorriu e ele deu um rápido beijo e abraço nela.
- A gente tem uma reunião amanhã, hein?! – Ele falou e ela riu.
- Você tem uma reunião com o Giorgio, com sorte você me vê lá. – Ela disse e ele acenou.
- Vamos, Gigi! – Ele disse e rimos juntos.
- Vai lá, eu vou ficar mais um pouco, logo preciso me trocar e entrar também. – Ela disse, checando o relógio mais uma vez.
- Aparece mais vezes, ok?! – Falei.
- Pode deixar! – Ela falou e ficou na ponta dos pés rapidamente para deixar um beijo em minha bochecha e eu sorri. – O cabelo está muito melhor. – Ela falou e eu sorri, passando as mãos nos cabelos mais longos.
- E como está o vôlei? – Perguntei, afastando alguns passos, tentando evitar a cara de quem havia dormido com um cabide na boca.
- Está indo bem! – Ela sorriu, assentindo com a cabeça. – Voltamos na semana que vem, ganhamos o campeonato no começo do ano. – Ela abriu um largo sorriso.
- Mesmo? – Sorri, esbarrando em uma pilastra, vendo-a rir.
- Não são só vocês que podem gritar “i campioni dell’Italia siamo noi”. – Ela abriu um largo sorriso e eu retribuí.
- Até mais. – Falei.
- Não se sinta pressionado comigo aqui, ok?! – Ela falou um pouco mais alto e rimos juntos.
- Não, pressionado não. – Falei, acenando mais uma vez e virei para o campo, vendo seu sorriso uma última vez. Não me sentia pressionado, mas sim com a necessidade de dar meu melhor nesses poucos minutos que restavam dela ali.

Lei


13 de novembro de 2002

- Scusa, Giorgio? – Abri a porta lentamente após dar dois toques nela.
- Oi, , viene! – Ele disse e eu entrei em sua sala.
- O pessoal da prefeitura está aqui! – Falei.
- Ah, que ótimo! – Ele falou, se levantando. – Pode pedir para eles entrar?
- Claro! – Falei, dando um sorriso.
- Ah, ? – Virei para ele novamente.
- Diga! – Falei.
- Quer comprar um estádio? – Ele perguntou e eu franzi a testa.
- Até gostaria, mas acho que meu salário de estagiária não dá, senhor. – Brinquei, vendo-o rir.
- Participe da reunião, ok?! – Fiquei surpresa.
- Mesmo? – Sorri.
- Claro, você precisa participar mais se quiser ficar conosco. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Eu vou chamá-los! – Falei, tentando esconder o sorriso no rosto e puxei a porta, dando pulinhos animados para fora.
Atravessei o corredor da sala de contabilidade, chegando na grande sala onde ficava os outros funcionários e vi os três membros do conselho de Turim presentes, inclusive Antonio Giraudo, diretor geral da Juventus.
- Boa tarde, senhor Giraudo. – Falei para ele. – Eu sou , estagiária da contabilidade.
- Ah, , prazer em te conhecer! Giorgio disse ótimas coisas de você! – Ele esticou a mão para mim e eu sorri, apertando-a firmemente.
- O prazer é meu. – Sorri.
- Há quanto tempo está conosco? – Ele perguntou.
- Quase um ano e meio, senhor. – Sorri.
- Ah, que bom! Gostando daqui?
- Claro, é ótimo! – Sorri. – Vamos? Giorgio já está esperando vocês! – Falei e os quatro se levantaram, assentindo com a cabeça.
Segui na frente deles de volta para a sala do Giorgio, pegando meu caderno e caneta quando passei pela minha mesa, e abri a porta, deixando que eles entrassem e eles se cumprimentassem. Giorgio fez um movimento para eu entrar e fiz o que ele pediu, vendo-os se ajeitarem na grande mesa de reuniões colocadas no centro da sala e me coloquei na extremidade contrária.
- Então, Giorgio, Antonio, prontos para fechar negócio? – Um dos caras da prefeitura falou.
- Claro! Estamos empolgados com isso. – Giorgio falou e o baixinho de óculos tirou o contrato da maleta, esticando-o em cima da mesa.
- Temos só algumas dúvidas sobre algumas questões. – O mesmo homem falou e eu abri meu caderno, só para fingir que estava anotando alguma coisa.
- Claro, pode mandar! – Giorgio falou, relaxando na cadeira.
- Com a compra, vocês vão proibir os jogos do Torino no Delle Alpi? – Ele perguntou.
- Não temos intenções nenhuma de mudar nada agora. – Giorgio falou. – Por enquanto vamos só comprar o estádio. – Ele falou.
- Mas os planos são demoli-lo no futuro? – Outro perguntou.
- Sim, temos um projeto com o arquiteto Gino Zavanella para fazer um grande estádio com um shopping, museu, centro médico, hotel, centro de treinamento, tudo de melhor qualidade. – Giorgio falou.
- É, com isso, a intenção é esse se tornar o Juventus Stadium, aí sim o Torino não poderá mais ter o estádio como mandante.
- Qual o plano para esse projeto? – Outro perguntou.
- Cerca de 20 anos para ter tudo pronto, é um projeto bem grande. – Giorgio falou e eles assentiram com a cabeça. – O plano para ter o estádio pronto é de 10 anos. Depois vamos acrescentando as outras coisas até finalizar com um grande projeto.
- É bastante coisa.
- Não pensamos pequeno aqui na Juventus. – Antonio falou e eu dei um pequeno sorriso. Era muita coisa.
- Estamos com novos patrocinadores e novos projetos e queremos que até 2012 o Delle Alpi seja o novo lar da Juventus. – Giorgio falou. – Ainda sem data para construção, mas pretendemos demolir e limpar o terreno assim que possível. Vocês mencionaram sobre a renovação do Stadio Olimpico, certo?
- Sim, com a compra do Delle Alpi, pretendemos renovar o Stadio Olimpico, já que ele está parado desde 1990, o foco principal vai ser para os Jogos de Inverno de 2006, mas também precisamos ajustar algumas coisas para ficar melhor para os dois times quando vocês demolirem o Delle Alpi. – Um dos homens da prefeitura disse.
- Bom, então podemos programar nossa demolição para depois dos Jogos de Inverno. – Antonio falou, sorrindo.
- E dividimos o Stadio Olimpio com o Torino até a finalização da nossa nova casa. – Giorgio falou.
- Parece bom. – Eles falaram, sorrindo.
- Vamos falar de números, então? – Giorgio falou, se ajeitando na cadeira. – Vocês aceitam nossa oferta?
- Qual foi a última oferta? – Antonio perguntou.
- 26 milhões, mais alguns privilégios quando o novo estádio ficar pronto, camarote exclusivo, cadeira cativa, entre algumas outras coisas. – Giorgio explicou para ele que confirmou com a cabeça.
- Sim, aceitamos a oferta. Faltam só as assinaturas, então. – O baixinho da prefeitura falou, estendendo o contrato.
- Vamos fechar isso. – Antonio falou, pegando a caneta do homem e assinou.
Se eu não estivesse ouvindo falar da compra desse estádio praticamente desde o meu primeiro dia aqui, eu acharia até fácil a compra do estádio, mas essa oferta foi e voltou umas 12 vezes, cada vez era um valor diferente ou uma nova exigência, até que a Juventus jogou um valor mais alto, que pelo visto vai ajudar na reforma do Stadio Olimpico, para eles aceitarem. Beh, deu certo!
- Bom, senhores, foi um prazer fazer acordo com vocês. – Giorgio se levantou, cumprimentando os três e eu só via sorrisos no rosto.
- O prazer é nosso! – Eles falaram, animados e eu suspirei.
Fazer parte desse time estava melhor do que eu jamais imaginaria. Entrei aqui pelo salário, morar sozinha e me bancar sem ajuda de ninguém não era fácil, mas poder ver as decisões acontecendo, participar das reuniões, festas e até poder ter contato com os jogadores, era incrível. Ficava feliz quando Giorgio deixava eu participar de momentos como esse, de quando as pessoas me cumprimentavam quando eu chegava, até os jogadores que começavam a me reconhecer.
Ser reconhecida por Gigi, Pavel, Alex, além de alguns outros que eu participei da assinatura de contrato, era demais! Eles eram grandes estrelas do time e eu só a estagiária, mas eu me sentia bem, era sensacional. Claro que Giulia tinha razão, eu talvez estivesse gostando de Gigi de outra forma, talvez de uma forma que eu não devesse, mas juro que dessa vez eu estou falando sobre ele como jogador. Ele no campo era uma pessoa e ao meu lado era só o Gigi, ainda era um pouco difícil juntar essas duas pessoas, mas não era caso para agora.
O fechamento do Delle Alpi era o começo de um plano gigantesco no time, estávamos em expansão, mas sabíamos que não seria fácil. Giorgio e o pessoal falava em um plano de 20 anos, gente, eu acabei de fazer 21 anos, daqui 20 anos eu vou estar com 41, era loucura pensar assim, mas quem sabe eu não possa ver tudo isso acontecer? Só preciso garantir antes a minha efetivação no meio do ano que vem e tínhamos muitas coisas para acontecer ainda, inclusive as festas de fim de ano.
- Eu saio com vocês! – Antonio falou, indicando a porta e ele cumprimentou Giorgio e deu um aceno de cabeça para mim e eu acenei para os outros homens quando eles saíram.
- ISSO! – Giorgio falou, animado quando a porta fechou e eu ri fracamente.
- Celebrando um gol, Giorgio? – Brinquei e ele riu fracamente.
- Olha, , eu posso estar enganado, mas acho que esse vai ser o melhor fechamento das nossas vidas. – Ele falou, animado.
- Nossas? – Perguntei.
- Bom, eu já tenho 64 anos, não devo ficar por aqui muito tempo, mas quem sabe você não possa? – Ele falou e eu sorri.
- Se o senhor permitir, eu gostaria e muito. – Ele assentiu com a cabeça.
- Não é só de mim que isso depende, , mas saiba que eu estou muito satisfeito com seu desempenho aqui no time, de pensar que você não sabia nada quando chegou aqui. – Rimos juntos.
- Passos de bebê, Giorgio, mas parece que quando eu vejo essas coisas acontecerem, eu me sinto fazendo parte da história.
- Se Deus quiser, vai ser. O projeto do Juventus Stadium é algo sensacional, mas precisamos de espaço e dinheiro para isso. Acabamos de conseguir o espaço, agora juntamos dinheiro para demolir, depois mais um pouco para construção e por aí vai. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Vai dar certo, você vai ver. – Assenti com a cabeça.
- Gosto da forma que você pensa! – Ele disse, me fazendo rir. – Bom, já passou das seis, você pode ir embora se quiser. – Ele falou e eu chequei o relógio no pulso.
- Ah, eu tenho treino as oito, vou sim. – Falei, apressada, pegando o caderno na mesa. – Parabéns pela compra! – Sorri.
- Parabéns para nós dois! – Ele disse, esticando a mão e eu bati na dele.
- Até amanhã! – Sorri e saí da sala.
Voltei para sala principal e algumas pessoas já tinham saído. Fechei o caderno, ajeitei minha mesa, desliguei o computador e puxei minha mochila debaixo da mesa. Eram 18:10, o ônibus das 18:05 já tinha passado, o próximo seria em 20 minutos e eu demorava quase uma hora e meia para chegar na faculdade. Com o trânsito do fim do expediente, eu já iria trocada.
- Ciao, ragazzi, a domani! – Falei para as poucas pessoas que sobraram.
- Ciao, . – Eles responderam e eu saí dela, andando um pouco pelo corredor e entrei no banheiro feminino, me fechando em uma das cabines.
Tirei a jaqueta, a blusa polo e a outra blusa por baixo, dei uma renovada no desodorante e coloquei a segunda pele de manga comprida por baixo da camiseta de meia manga de treino e fiz questão de colocar o corta-vento da Juventus por cima novamente, aqui era descampado e Turim não sabia aliviar muito no frio. Pelo menos não tinha nevado ainda.
Fiz o mesmo com a calça, tirei a jeans que eu usava, coloquei a segunda pele colada no corpo e o short de treino por cima de tudo, pena que não tinha um corta-vento para as pernas. Ajeitei minhas joelheiras para ser a primeira coisa que eu pegasse e troquei meus All-Star pelo tênis de ginástica.
Saí apressada da cabine, desfazendo meu rabo de cavalo e fiz um mais apertado e mais alto, dando várias voltas no lacinho até sentir o rosto dar aquela esticada. Abaixei os fios rebeldes com gel e dei uma rápida olhada em corpo inteiro para ver se estava ok. Esperava só não passar frio até a faculdade.
Peguei um lanche que eu havia trazido mais cedo, grata por não ter tido tempo de lanchar mais cedo ajeitando as planilhas de novembro, pelo menos eu teria um pouco de sustância para o treino, porque eu ia chegar na hora e ainda teria que correr faculdade adentro. Dei uma mordida nele enquanto seguia para fora do prédio administrativo, sentindo o frio gelado bater em meu rosto.
- É, talvez ficar com o cabelo solto até a faculdade não seria tão mal. – Comentei baixo, sentindo meu corpo arrepiar.
- !
- Ah, que não seja eu, que não seja eu. – Falei baixo, virando o rosto para o lado e suspirei ao encontrar Del Piero acenando para mim. – É, é para mim. Ciao, ragazzi! – Falei baixo, andando para mais perto deles no estacionamento, finalizando de engolir o pedaço do lanche.
- Você por aqui? – Pavel perguntou e eu ri fracamente.
- Saí um pouco mais tarde hoje. – Falei, checando o relógio novamente. – O que estão fazendo aqui nesse frio? – Perguntei, já sentindo meu corpo voltar a tremer.
- Decidindo se vamos para o bar ou para pizzaria. – Thuram falou.
- Nesse frio? Pizzaria sempre! – Falei, ouvindo-os rir. – Com um vinho de preferência.
- Aí sim, hein?! – Virei para o lado, vendo Gigi apoiado no carro e senti meu rosto esquentar na hora.
- E você? Para onde vai? – Del Piero perguntou, apontando para meus trajes.
- Eu tenho treino de vôlei as oito. – Chequei o relógio. – E eu tenho que ir logo ou vou perder o ônibus.
- Fica mais um pouco, eu te dou uma carona. – Gigi falou e eu dei um pequeno sorriso, abaixando a cabeça para esconder.
- É melhor...
- É, boa ideia! – Pavel falou rapidamente. – Dá para comer uma pizza com a gente até lá.
- Já estou lanchando. – Ergui o lanche, aproveitando para dar outra mordida nele, minha barriga estava pedindo.
- Não é uma pizza, mas faz parte. – Eles riram.
- Nem sempre dá para correr, né?! – Brinquei, dando de ombros e eles riram. – Mas eu realmente preciso ir, o caminho é longo. – Falei.
- Eu te dou uma carona, falei sério. – Gigi falou e minha cabeça começou a pensar em mil desculpas do porquê não seria bom eu entrar em um carro sozinha com ele.
- Não precisa, sério. – Dei um pequeno sorriso, erguendo o rosto para ele. – Você vai sair com os caras. Vocês precisam continuar ganhando.
- E você acha que isso afetaria alguma coisa? – Ele perguntou, me encarando com aqueles olhos azuis e só faltou eu desfalecer, se acontecesse, poderia ao menos culpar a tremedeira de frio.
- Eu não sei, afetaria? – Devolvi a pergunta com uma coragem que surgiu no meio desse frio e ele deu um sorriso, abaixando a cabeça. Abri um pequeno sorriso, sentindo o gosto da vitória e percebi o silêncio que havia ficado à nossa volta. – Ah, eu vi vocês nas eliminatórias para Euro.
- Viu a gente perder? – Del Piero falou e eu sorri, dando de ombros.
- Não dá para ganhar sempre, né?! – Eles riram. – Bom, se vai rolar pizza...
- ! – Virei o rosto para trás, encontrando Giorgio se aproximando do estacionamento. – Ciao, ragazzi! – Ele disse, cumprimentando alguns jogadores.
- Diga. – Virei para ele.
- Eu estou indo para a perto da UNITO, gostaria de uma carona? – Virei para Gigi que jogou a cabeça para trás e eu abri um pequeno sorriso.
- Claro, Giorgio! Agradeço! – Pavel segurava a risada com Thuram.
- Não dá para ficar bobeando nesse frio, gente! – Ele falou, seguindo em direção ao seu carro.
- Não dá para dizer não para o chefe. – Dei de ombros e eles assentiram com a cabeça. – A gente se vê. – Falei para todos, mas olhando para Gigi e dei alguns passos para trás, virando o corpo depois de um tempo.
Tirei a mochila das costas e entrei no carro de Giorgio, não era a primeira vez que eu aceitava carona de Giorgio, sua irmã morava perto da universidade e ele aparecia lá de vez em quando. Sempre que eu falava que ia para o treino, ele oferecia carona.
- Se importa se eu terminar de comer? – Perguntei.
- Não, fique à vontade. – Ele falou e eu puxei o cinto de segurança com uma mão, travando-o e senti o carro de movimentar.
Olhei pela janela, vendo os meninos me encarando, inclusive Gigi e ergui a mão livre, acenando em direção a ele que repetiu o gesto, desviei o rosto quando o carro virou e suspirei, imaginando o que teria acontecido se eu fosse embora com ele. Só sei que eu havia deixado ele desconcertado e estava louca para chegar na faculdade e falar com Giulia que ela tinha razão. Gianluigi Buffon sentia alguma coisa por mim.
Não sei o quê, mas alguma coisa tinha e eu estava empolgada e receosa ao mesmo tempo em descobrir.

Lui


19 de dezembro de 2002 • Trilha SonoraOuça

- Uma cerveja, por favor. – Falei ao apoiar no bar e fiquei de costas para ele, enquanto passava os olhos pelo local.
- Aqui. – O atendente falou e eu peguei a long neck aberta, levando à boca no mesmo instante.
- Fala, Gigione! – Camoranesi se aproximou, batendo a mão na minha e me deu um rápido abraço.
- E aí, cara? – Sorrimos.
- Que festança, hein?! – Ele se apoiou no bar também.
- Festa de Natal da Juventus, eles levam a sério essas comemorações. – Falei, rindo fracamente.
- Eu agradeço, no Verona não tinha nada disso. – Rimos juntos.
- Ciao, ragazzi!
- Capitano! – Cumprimentamos Del Piero que também parou no bar.
- Se divertindo?
- Sim, bastante! – Falamos.
- E você? – Perguntei.
- Fiquei uns 40 minutos preso com acionistas, presidência e contabilidade, mas sempre! – Sorrimos. – Não trouxeram suas famílias?
- Hoje me liberaram para vir sozinho. – Comentei, rindo.
- Minha família mora na Argentina e sem namoradas, a intenção é aproveitar aqui! – Camoranesi falou, dando passos para trás e eu ri fracamente.
- Falando em aproveitar, eu estava com a sua garota agora, o que rola entre vocês? – Del Piero perguntou.
- Como assim? – Perguntei.
- Você e a da contabilidade? É óbvio que ela gosta de você e é óbvio que você também gosta dela. – Ele deu de ombros. – O que rola entre vocês?
- Eu a conheci no dia da minha assinatura e ver todo aquele pessoal estranho, de terno, meio que me causou aquela estranheza, me senti...
- Entrando em um lugar que não pertence... – Ele finalizou e eu assenti com a cabeça.
- É, e ela estava lá, eu acabei me aproximando dela de alguma forma, não sei. – Suspirei. – A gente se vê super pouco, mas eu me sinto atraído por ela, ano passado eu queria ficar com ela na festa, mas eu descobri que ela era fã das minhas irmãs e... – Del Piero gargalhou.
- Empatou o esquema? – Ele brincou.
- Total! – Rimos juntos. – Guendy fala que foi bom, assim a gente a conhecia e ela conhecia a nossa família, mas depois não rolou mais nada. Aquele dia eu tentei dar carona para ela e não deu certo de novo. – Suspirei. – Não vai ser fácil.
- Bom, ela está sozinha aqui hoje. – Ele comentou e eu virei o rosto rapidamente para ela.
- Mesmo?
- Parece que sim! – Ele disse, dando de ombros. – Ela estava com o Giorgio e o pessoal do administrativo, não vi ninguém desconhecido com ela. – Ele deu de ombros.
- Onde você a viu pela última vez?
- Próximo aquela porta que dá para o jardim, sabe? Perto do banheiro.
- Sei sim. – Deixei a long neck no balcão e saí a passos rápidos em direção onde ele tinha indicado.
O local era muito cheio, todos os funcionários do time estavam lá, além de amigos e familiares que podiam vir junto, a altura ajudava na procura dela, mas era difícil quando parecia que todo mundo estava vestido do mesmo jeito. O aquecedor até tentava, mas estava frio demais hoje, seria um Natal com muita neve, certeza.
Passei os olhos pelo local que Del Piero havia dito e encontrei Giorgio e um pessoal da turma de engravatados, mas bufei ao notar que ela não estava ali. Virei para trás, empurrando a porta que dava para o jardim e percebi que tinha algumas pessoas na área coberta, algumas crianças brincando, alguns casais e senti o corpo arrepiar com o frio.
A neve não era forte, mas acumulava no cabelo e deixava o chão branco e levemente empoçado conforme derretia. Suspirei, andando mais um pouco pelo corredor, até o portão de estacionamento e nada.
- Procurando por mim? – Virei o rosto para algumas direções, encontrando se levantando da murada totalmente encapuzada, escondida por causa das plantas.
- Ei, estava se escondendo? – Me aproximei dela, vendo-a sorrir.
- Mais ou menos. – Ela suspirou e passei uma mão pela sua cintura, dando um abraço nela e um beijo em sua bochecha, sentindo seus braços me apertarem também. – Giorgio está me apresentando para todas as pessoas possíveis, falei que ia no banheiro para respirar um pouco. – Rimos juntos e me sentei ao seu lado. – O problema é só o frio aqui fora mesmo. – Ela disse, colocando as mãos enluvadas dentro do seu casaco de novo.
- Ele parece gostar de você. – Comentei, esticando as pernas para frente.
- Espero que sim, meu estágio logo acaba, a faculdade também, um emprego garantido seria muito bom.
- Vai dar certo, você vai ver. – Ela virou o rosto para mim, dando um pequeno sorriso que ficava quase escondido no capuz e no pelinho que o rodeava.
- Vou confiar em você. – Sorri também.
- Então, cadê Giulia? – Perguntei, ouvindo-a dar uma risada nasalada.
- Viajou com os pais para França. Vão passar o fim do ano lá. – Ela suspirou.
- E não te levaram dessa vez? – Ela sorriu.
- Eu amo demais os pais da Giulia, mas às vezes sinto que incomodo, sabe? Eu sempre estou junto e eles sempre fazem questão de pagar tudo para mim, sabendo que eu não ganho tanto e preciso do dinheiro... – Ela deu de ombros. – Usei uma desculpa que ia trabalhar, o que nem é tão mentira, porque eu volto do recesso assim que virar o ano, tem jogo em casa dia 12 já. – Ela suspirou e eu sabia que a contabilidade cuidava de algumas coisas assim.
- E sua família? – Perguntei, virando o rosto para ela e percebi sua feição fechada.
- É complicado. – Ela disse, mordendo o lábio inferior e abaixou seu rosto.
- O que aconteceu? – Virei o corpo para ela, erguendo uma perna para a murada e ela puxou a respiração forte, rindo fracamente.
- A Giulia é a minha família, Gigi. – Ela falou, virando o rosto para mim e notei seus olhos avermelhados. – Ela é o que eu tenho de mais próximo de uma família.
- Como assim? – Perguntei e ela mordeu o lábio inferior avermelhado de frio e engoliu em seco.
- Eu perdi meus pais em um acidente de carro quando eu tinha oito anos. – Ela falou. – Meus pais não tinham uma relação muito boa com seus pais, então eu fui para um abrigo. – Ela disse, passando a mão no nariz. – Estava convencida que viveria lá até fazer 18 anos, mas o governo tenta achar algum parente seu para você não ficar no abrigo...
- E não encontraram? – Perguntei e ela riu fracamente.
- Preferia que não tivessem encontrado. – Ela puxou a respiração forte, soltando-a com a mesma intensidade. – Eles conseguiram achar minha avó materna quando eu tinha 14, eu fui morar com ela, mas ela só aceitou por causa da ajuda que o governo dava, então pode imaginar como era... – Ela passou as costas da mão no nariz e eu apoiei uma mão em sua perna em sinal de apoio. – Ela odiava minha mãe por ter casado com meu pai, então era horrível, eu tinha que me virar sozinha, consegui um trabalho para ficar fora de casa e ganhar uma grana por mim mesma, quando chegou a idade de fazer vestibular, eu peguei o local mais longe que consegui, me matei de estudar para passar e, quando eu recebi a notícia, eu fugi.
- Me desculpe. – Falei baixo e ela virou o rosto em direção ao meu, dando um pequeno sorriso.
- Me desculpe, não tinha intenção de deixar o clima tão pesado. – Ela disse, olhando para cima e piscando algumas vezes.
- Está ok, eu perguntei porque me importo. – Falei e ela deu um pequeno sorriso. – É por isso que você diz que quer o emprego, porque eles pagam bem.
- Sim, com o meu salário no estágio eu consigo pagar o aluguel, as contas, comprar uma coisinha ou outra e não preciso me matar de trabalhar, como quando eu fazia bicos, eram jornadas duplas, dormia mal, aí afetava o desempenho na faculdade, perdia treinos... – Ela ponderou com a cabeça, como se lembrasse desse momento. – Eu estou feliz aqui e gostaria de ficar.
- A faculdade é gratuita? – Perguntei.
- Não, mas eu tenho bolsa por jogar vôlei, isso já ajuda e muito. – Rimos juntos.
- E aí você conheceu a Giulia aqui? – Perguntei.
- Sim. – Ela deu um sorriso aliviado. – Nos conhecemos nos primeiros dias e ela virou minha melhor amiga de cara, sua família é rica, então quando eles souberam minha história, eles tentam me ajudar de diversas formas e eu me sinto mal de vez em quando, apesar de gostar de viajar para lugares diferentes sempre que possível. – Ela riu fracamente e eu sorri.
- Isso quer dizer que eles gostam de você. – Ela virou o rosto para mim, assentindo com a cabeça.
- Sim, demais, mas eu sinto muita inveja deles, sabe? Uma invejinha boa, mas ainda assim...
- Pelo o quê? O dinheiro?
- A família. – Ela soltou um suspiro. – Ela tem dois irmãos pequenos, gêmeos, Gianni e Pietro, têm três anos, então às vezes eu me pego pensando neles e que aquela é a família que eu queria ter. – Ela abriu um sorriso para o nada. – Uma família apoiadora, cheia de irmãos, brigas, risadas, viagens de carro com todo mundo gritando. – Ela pressionou os lábios um no outro. – Tipo a sua... – Sua voz afinou e vi uma lágrima escorrer pelos seus olhos.
- Não chore! – Falei, passando meus braços ao redor do seu corpo, trazendo-a para perto de mim.
- Me desculpe. – Ela disse, erguendo uma mão por dentro de meu abraço e passou no olho. – Só a Giulia e algumas meninas do time sabem disso, é só inevitável não ficar triste pensando.
- Eu só consigo imaginar como deve ser. – Falei, apertando-a mais perto de mim e apoiei o queixo em sua cabeça.
- Não se preocupe com isso. – Ela suspirou.
- Eu me preocupo contigo. – Falei, sentindo-a se mexer e afrouxei os braços. – Eu vou me preocupar sim com seu bem-estar. – Falei e ela sorriu, virando de frente para mim.
- No momento? Estamos bem, o time acaba sendo uma família também, o que me ajuda um pouco. – Ela sorriu.
- Eu sei que a gente não se encontra sempre, mas se você precisar de algo, pode vir até mim, ok?! – Apoiei uma mão em cima da sua. – Minha família adorou você, por sinal. – Rimos juntos.
- Por sorte, eu acabo me dando bem com todo mundo. – Ela abriu um largo sorriso e eu retribuí.
- E você vai ser efetivada aqui, posso dar uma cantada lá com o pessoal influente. – Ela riu fracamente. – E um dia você vai ter a família que tanto quer. – Ela assentiu com a cabeça. – Por enquanto, continue agregando pessoas que você já vai criando a família que você escolheu.
- Obrigada, Gigi. – Ela ergueu seus olhos para o meu. – Isso é bem legal.
- Nessa vida de jogador de futebol, a gente acaba aprendendo a fazer pequenas famílias por onde passamos, eu passo mais tempo aqui do que com minha família de verdade, né?! – Dei de ombros.
- Isso é verdade. – Ela suspirou, assentindo com a cabeça. – Mia famiglia, mia squadra, mia Juve. – Ela disse e eu sorri.
- Assim que se fala. – Disse e ela me abraçou mais uma vez, apoiando o queixo em meu ombro e eu suspirei.
Passei uma mão em sua cintura, sentindo seu corpo inclinado sobre o meu e ela se afastou segundos depois. Ela deu um sorriso, assentindo com a cabeça e passei a mão esquerda na lateral de seu olho, tirando uma manchinha preta da maquiagem e senti sua respiração quente em meu rosto.
Ergui minha mão até seu rosto por dentro do capuz que ela usava e, por um momento, eu me esqueci do frio. Seu sorriso foi reduzindo conforme eu me aproximava dela e seus lábios entreabertos estavam convidativos demais. Senti uma mão em cima do meu braço e ela se aproximou também, me dando sinal verde para colar nossos lábios.
Meu corpo relaxou quando isso aconteceu e parece que o filme de um ano atrás passou em minha cabeça. Ano passado a vontade era outra, ficar com ela sim, talvez até no sentido sujo da palavra, mas agora, depois desse papo, senti uma necessidade de cuidar dela, protegê-la, fazer tudo para que esse time a acolhesse para sempre.
Ela aproximou mais seu corpo do meu, apoiando sua mão livre em minha perna no meio de nós e entreabriu mais os lábios para que minha língua encontrasse a sua. Minha outra mão subiu para sua cintura, apertando seu casaco pesado com firmeza e a puxei um pouco mais para perto e ela subiu uma perna na murada também, colocando-a em cima da minha.
Suas mãos subiram para meus ombros e ela deu algumas mordidas de leve em meus lábios, colando-os novamente enquanto meu polegar acariciava sua bochecha devagar. Suas mãos desceram para meu peito e ela nos afastou rapidamente, descolando nossos lábios e me fazendo abrir os olhos com pressa.
- Calma! – Ela disse abafado e franzi a testa. – Só espera! – Ela falou, com os lábios entreabertos e a respiração acelerada, eu não deveria estar tão diferente.
- O que...
- Espera! – Ela disse rápido, tirando as mãos de meu peito e endireitou seu corpo e olhou para cima, abrindo e fechando a mão diversas vezes.
- , o que...
- Só me dá um minuto. – Ela disse, virando o corpo para o lado e tirando sua perna de cima da minha.
Observei-a ter uma crise interna, pelo menos era o que pareceu. Ela parecia que falava sozinha. Ela olhava para cima, movimentava as mãos, se levantou, sentou de novo e eu não estava entendendo nada. Até que ela soltou a respiração forte e virou para mim.
- Ok. – Ela disse.
- O quê? – Perguntei, tentando esconder a cara de perdido em um sorriso.
- É melhor se a gente não fizer isso... – Ela fez uma careta, mordendo meu lábio inferior e eu ri fracamente. – Não porque eu não gostei... Eu gostei... – Ela riu fracamente. – Demais até, mas... – Rimos juntos. – Sabe aquela efetivação? – Ela mordeu a ponta da sua luva, me fazendo rir fracamente.
- Está com medo de que, ficando comigo, você não seja efetivada? – Perguntei.
- Assim, não falaram nada nesse departamento quando eu entrei aqui, mas vai que... – Ri fracamente de sua careta. – Você é um dos astros do time, acho que você só fica atrás do Del Piero e do Pavel... – Ela suspirou. – Você é mais importante do que eu aqui. – Ri fracamente.
- Ok, eu entendi. – Falei.
- Não fica chateado, sei que você também queria isso faz tempo...
- Um pouco. – Rimos juntos. – Mas não vou ficar chateado, decepcionado talvez seja a palavra... – Ela sorriu. – Por não poder te beijar mais. – Ela mordeu o lábio inferior de novo e levei uma mão até seu rosto de novo. – Consiga aquela efetivação, ok?!
- É? Para quê? – Ela perguntou.
- Para eu poder te beijar mais. – Roubei um rápido selinho de seus lábios, ouvindo-a rir fracamente quando me levantei da murada. – Agora vamos entrar! – Estendi minha mão para ela. – Vai ser um perigo ficar aqui perto de você! – Ela gargalhou, segurando minha mão e se levantando quando eu a puxei.
- Vamos lá, acho que eu não conheci a bancada acionista inteira do time ainda. – Ela suspirou com um sorriso nos lábios e eu retribuí, apesar de pensar que eu precisaria encontrar outra forma de aliviar o tesão por essa garota e que não a incluísse.



Capitolo quattro

Lei
17 de janeiro de 2003

Ouvi uma buzina e abri uma fresta da janela, vendo o carro dos pais de Giulia na porta e ela pelo vidro do passageiro. Acenei com a mão e fechei a janela novamente, travando nas laterais. Peguei o casaco em cima da minha cadeira, vestindo-o por cima do jeans e camiseta, feliz pelo tempo ter dado uma aliviada e a neve ter ido embora, pelo menos por enquanto.
Sei que falei para Giorgio que amava o inverno quando vim para cá, mas era mentira, eu falei aquilo para evitar falar de meus pais, minha avó e aquela história chata, então usar como desculpa que amava frio, me pareceu bom na hora. Acabei precisando dar uma pincelada rápida no assunto, mas eu odiava frio. Turim nem era tão insuportavelmente fria, mas quando inventava de nevar, ah, eu odiava.
Puxei minha bolsa, colocando-a atravessada em meu corpo e fui até a porta, abrindo-a e tirei a chave, trancando-a novamente. Saí pelo largo corredor de quitinetes, descendo os poucos degraus até a rua e abri o portão, fechando-a em seguida.
- Oi, família querida! – Falei, animada, vendo Giulia na porta do carro e ela me apertou com força.
- Ah, ! – Gargalhei com seu abraço de urso. – Que saudade, que saudade, que saudade! – Ela falou repetidamente. – Da próxima vez você vai com a gente.
- Ah, senti sua falta também, amiga! – A apertei pelos ombros, abrindo um largo sorriso para sua mãe que nos observava da janela do carro. – Da próxima vez você vai com a gente, não quero nem saber.
- Ah, vai dizer que fiz falta? – Ela entrou no carro, pegando um dos gêmeos no colo e eu me espremi ao seu lado. – Ciao, ragazzi!
- Ciao, querida, como você está? – Sua mão esticou a mão para mim e eu a apartei, dando um beijo nela.
- Oi, meninos! – Sorri para os gêmeos.
- Oi, ! – Eles falaram, sorrindo e dando acenos animados.
- Fez falta demais! – Giulia foi dramática. – Ah, Paris era tão chata...
- Adoro esse papo de rica. “Ah, Paris era tão chata...” – Afinei a voz, ouvindo seus pais rirem.
- Eu ia completar, ok?! Falar que sem você Paris era chata! – Gargalhamos juntas.
- Bom, qualquer lugar fica chato sem mim, então daremos um desconto. – Me fingi de metida, ouvindo-a rir. – Mas sério, como foi? – Perguntei.
- Ah, foi ótimo. – Ela deu de ombros. – O lugar é lindo, os caras não são tão bonitos, mas tirei algumas fotos, quando a gente pegar, eu te mostro.
- Vou querer ver sim. – Sorri.
- Mas senti sua falta! – Ela afirmou, me fazendo gargalhar e apoiei a cabeça em seu ombro.
- Eu também senti. – Suspirei.
- E você? Como foi? – Ela falou, animada.
- Ah, na noite de Natal eu comprei algumas comidinhas gordas para cear, depois no ano novo eu fui lá para o centro ver a queima de fogos e logo depois eu voltei a trabalhar, aí ficou melhor, foram só uns oito, nove dias sozinha. – Dei de ombros. – Posso garantir que eu dormi demais. – Sorrimos juntas.
- E a festa da empresa? – Ela deu um pulo.
- Ai! – Seu irmão reclamou ao bater a cabeça no teto.
- Ah, desculpa, desculpa! – Ela falou, dando beijos na testa do irmão, nos fazendo rir.
- Ah, foi boa... – Falei, dando um pequeno sorriso e mordendo meu lábio inferior.
- “Foi boa” em que sentido? – Ela perguntou e eu ri fracamente. – Beijou ele?
- Beijei. – Falei baixo.
- AH! – Ela gritou, empolgada, fazendo seu pai se assustar ao volante e eu e sua mãe gargalhamos.
- GIULIA! – Seu pai a repreendeu.
- Desculpe, mas eu esperei um ano por esse momento, Senhor! Mais, na verdade! – Ela falou rindo. – Conta tudo! – Ri fracamente. – Você foi embora com ele?
- Giulia! – Sua mãe a repreendeu.
- Calma! – Falei rápido, ficando envergonhada pelos seus pais. – Foi só um beijo, ok?! Um beijo.
- Um beijo? – Ela falou desanimada. – E aquela pegada? Aquelas mãos?
- CALMA! – Falei mais alto.
- Deixa ela contar a história. – Sua mãe a repreendeu novamente.
- Ok, fala! Mas eu vou te bater se não tiver uma boa explicação. – Rimos juntas.
- Ok, eu cheguei à festa sozinha e você sabe como é a festa, um lugar muito grande com muita gente.
- Uhum... – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu logo encontrei meu chefe e ele parece satisfeito com meu trabalho, então me apresentou para todo mundo, todo mundo mesmo. Presidente, secretários, alto escalão de outras áreas da empresa, enfim... – Revirei os olhos.
- Isso é bom, querida, quem sabe vem a sua efetivação? – Sua mãe falou.
- Eu vou chegar lá! – Suspirei. – Enfim, eu fiquei lá conversando com o pessoal e não estava sendo fácil procurar o Gigi com aquela gente em cima de mim, aí eu usei a desculpa que iria no banheiro e sumi...
- Essa é minha garota. – Giulia falou e nós rimos.
- É, mas eu fui lá fora e estava nevando para caralho... Encurtando o papo, ele me achou.
- “Achou”? – Giulia perguntou.
- É, ele estava claramente me procurando, aí ele sentou do meu lado, papo vai, papo vem, eu falei de mim.
- Ok... – Giulia falou.
- Não, Giulia, eu falei de mim, da minha vida, meus problemas...
- Espera! Você falou dos seus pais?
- Falei. – Suspirei. – Ele perguntou de você, aí entramos naquele papo família, quando eu vi já estava chorando... – Neguei com a cabeça.
- Isso é ótimo, amiga.
- Como? – Perguntou.
- Poucas pessoas sabem da sua história e você se sentiu confortável o suficiente em compartilhar com ele. – Dei de ombros.
- Eu não sei, eu falei tudo para ele, de forma resumida, mas falei tudo, expliquei por que ser efetivada era importante para mim, por que eu tinha vontade de montar uma família, eu só falei. – Ri fracamente.
- E como ele reagiu? – Sua mãe perguntou.
- Ele ouviu, ele me abraçou, ele ficou lá me dando força, sabe? Esse papo ainda era meio difícil para mim, mas ele lidou bem demais. – Suspirei. – Aí ele me beijou.
- Ah! – Giulia gritou mais contida novamente, recebendo um olhar de seu pai e eu sorri. – E como foi?
- Foi ótimo, sabe? – Mordi o lábio inferior. – Assim, eu estava meio desajeitada, o corpo inclinado para frente demais, mas foi bom, a mão dele no meu rosto, apertando minha cintura... – Suspirei.
- A mão dele... – Ela suspirou e eu colei os lábios em sua orelha.
- A mão dele é muito grande, amiga, fiquei imaginando o tamanho do... – Cochichei para ela, ouvindo-a rir.
- IMAGINA? – Ela disse alto, gargalhando.
- Quando ele me apertou... – Falei mais contida, ouvindo-a rir. – Amiga do céu...
- São grandes? – Ela sussurrou e eu assenti com a cabeça.
- Ele segurou meu braço. – Apertei o seu, explicando. – Ele fechou a mão dele aqui em cima, não foi no pulso, não...
- Você sabe o que dizem... – Ela disse, gargalhando.
- Ainda bem que chegamos. – Seu pai disse aliviado, me fazendo rir fracamente.
- Desculpe. – Ri fracamente, vendo-o parar em frente ao restaurante e eu fui a primeira a descer para o valet pegar o carro.
- E por que ficou só nisso se você gostou? Ele não gostou? – Ela perguntou e eu dei um tapa em seu braço.
- Gostou, ok?! Mas aí começou a passar um filme na minha cabeça de “se alguém nos pegar aqui, eu posso perder minha efetivação” e aquele papo todo. – Suspirei, ajeitando a bolsa no ombro e fui ao seu lado até entrar no restaurante. – Então, eu o freei. – Neguei com a cabeça. – Não sei se o assustei, mas eu parei de pensar com o coração e pensei com a razão um pouco. – Suspirei, vendo seu pai falando com a recepcionista.
- E qual foi a reação dele?
- Ele pareceu entender, sabe? Mas percebi que ele desanimou, depois ele mesmo me falou que estava desapontado, sabe? – Neguei com a cabeça, acenando para a recepcionista e entramos logo atrás deles.
- Bom, imagino que ele, assim como eu... – Ela frisou. – Imaginou que se daria bem naquela noite, né?! – Rimos juntas, passando pelos ambientes do restaurante chique. – Não que você fosse até o fim com ele.
- Pensei, aí depois de ver o tamanho da mão, confesso que recuei um pouco. – Ela gargalhou, passando o braço pelo meu ombro, me puxando para perto.
- Ele deve ter pensado nisso, aí agora pensa comigo: serão pelo menos seis meses nessa indecisão? O cara estava querendo te pegar e, de repente, esse balde de água fria? – Ela suspirou.
- Eu não sei, talvez eu tenha perdido ele, talvez não, talvez eu também não seja efetivada e nunca mais o veja após o fim do semestre... – Neguei com a cabeça.
- Pegou o telefone dele, pelo menos? – Fiz uma careta. – Ah, meu Deus! Você é pior do que eu para namorar.
- O quê? Ele é gato, famoso, rico, superimportante para o time, eu fico meio assim, sabe? – Ela sorriu.
- Bom, eu quero te bater por não continuar, nunca mais te deixo ir sozinha, mas ok, entendo seu lado. – Sorri e ela deu um beijo em minha bochecha.
- Meninas? – Seu pai nos chamou e olhamos para ele.
- O quê? – Giulia perguntou.
- Vão querer abaixar o tom de voz ao saber que o “gato, famoso e rico” está há algumas mesas de nós. – Ele falou baixo e eu arregalei os olhos.
Desviei os olhos de Fabrizio e tombei um pouco o corpo para o lado direito, procurando com o olhar pelas mesas e percebi na mesa encostada na parede ele, seus pais e suas irmãs. E a pior parte? Seu olhar também havia me encontrado.
- Oh, merda! – Giulia falou e eu voltei a me esconder atrás do pai dela, fechando os olhos em uma careta.
- Eu não esperava isso. – Sussurrei para ela e seu pai saiu de nossa frente, dando à volta na mesa.
- A gente já volta! – Giulia falou para mesa e me puxou pelos ombros para o lado contrário, fazendo meu pescoço doer. Ela me puxou alguns passos, me encostando na parede. – E agora?
- E eu sei? Ele me viu, não posso fingir que não o vi depois de dar uma bela encarada, né?! – Cocei a cabeça, jogando os cabelos para trás.
- É, eu encarei também. – Ela suspirou.
- Ah, que droga! Não faz nem um mês. – Suspirei. – O que eu faço?
- Será que ele contou para família dele? – Ela perguntou. – Homens fofocam também. – Ela constatou sozinha e eu desviei o rosto, olhando de esguio para sua mesa, vendo-o conversar com suas irmãs. – E a família dele gostou de você.
- Eu vou ter que ir lá, não?! – Suspirei.
- Acho que sim, amiga, quer companhia?
- Não, eu vou só dar um oi, logo vou para mesa. – Falei, suspirando e ela ajeitou a gola do meu casaco.
- Vai lá, amiga! – Ela apertou meus ombros e saímos juntas do local escondido.
Fomos até sua mesa e ela se sentou em um dos lugares vagos e eu parei no outro para deixar minha bolsa e respirei fundo, vendo Giulia erguer os polegares. Virei o corpo, vendo-o em sua mesa e seu olhar encontrou o meu novamente e senti meu rosto esquentar. Ele ergueu a mão em um aceno e eu suspirei. Droga! Desviei das mesas no meio do caminho, me aproximando dele e ele se levantou, mordi meu lábio inferior ao notá-lo de blusa social e um paletó por cima.
- Ciao. – Ele falou primeiro e os outros quatro membros da mesa viraram para nós.
- Ciao. – Disse, sorrindo.
- ! – Sua irmã Veronica falou, se levantando.
- Ciao, ragazzi! – Sorri.
- Mãe, pai, vocês se lembram da da festa de Natal do ano passado? – Ele falou.
- Retrasado já. – Falei e ele riu fracamente. – Feliz ano novo, falando nisso.
- Claro que me lembro. – Sua mãe se levantou, me dando um abraço. – Feliz ano novo para você também, querida.
Me senti na obrigação de passar pela mesa inteira, cumprimentando seu pai, depois recebi abraços calorosos de suas irmãs e, por último, recebi um abraço desajeitado dele e um beijo em minha bochecha, me fazendo retribuir.
- Então, veio com a Giulia? – Ele comentou.
- Vim sim, eles voltaram de Paris e ela está toda animada contando da viagem. – Sorri, inventando qualquer coisa.
- E você, como está? – Ele perguntou.
- Tudo bem. – Assenti com a cabeça. – E você?
- Tudo bem também. – Sorri.
- Eu vou deixar vocês jantarem, foi um prazer ver todos vocês. – Falei, olhando para seus familiares e eles sorriram.
- O prazer é nosso. – Guendalina falou e eu assenti com cabeça e dei um aceno com a mão para Gigi.
- Ah, parabéns pelo jogo de domingo passado, 5x0 em cima do Reggina foi legal. – Falei e ele sorriu.
- Esperamos continuar as vitórias daqui dois dias em cima do Chievo. – Assenti com a cabeça.
- Vou torcer por vocês. – Falei, sorrindo e acenei novamente, dando alguns passos para longe de sua mesa, aliviando os ombros quando virei de frente para Giulia que tinha os olhos arregalados para mim.
- ... – Virei para o lado, vendo Gigi ao meu lado.
- Ei. – Falei, entendendo o olhar dela.
- Eu quero que saiba que não tem motivo para ficar esse clima entre a gente. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- É um pouco inevitável. – Disse, rindo fracamente.
- Não precisa ser. – Ele deu um sorriso, coçando os cabelos.
- Ok. – Falei, rindo fracamente e ele sorriu. – Bom jantar.
- Para você também. – Ele disse e acenou para Giulia que sorriu em sua direção e eu voltei meu caminho para a mesa, me colocando ao lado de minha amiga, de costas para sua mesa.
- E aí, como foi? – Ela perguntou.
- Estranho, desconfortável... – Falei, suspirando, colocando o guardanapo no colo.
- É, não me pareceu muito bom, não. – Ela disse, fazendo uma careta e eu ri fracamente.
- Ah, foi um desastre. – Fingi drama, abaixando a cabeça na mesa e ela riu.
- Vamos, amiga, pensa que são só mais seis meses. – Ela disse, dando de ombros. – Das duas uma: ou vocês vão se ver sempre, ou vocês nunca mais vão se ver, mas aí trate de pedir o telefone dele, ok?!
- É, vamos ver... – Abanei a cabeça, tentando voltar para a vida real, mas sentia meu corpo tenso por quem parecia encarar minha nuca com muito interesse.

Lui
15 de fevereiro de 2003


- Dois meses fora, Alex! – O médico do time falou para Del Piero que bufou.
- Cazzo! – Ele reclamou, tentando mexer o joelho e reclamou com o movimento, voltando para cima da maca.
- A gente vai fazer mais exames para entender melhor a extensão, mas por enquanto é fora. – O médico continuou.
- Dois meses, cara, até fim de abril você está de volta, até antes. – Ferrara falou, tentando dar uma força para nosso capitão, mas eu sabia o quão frustrante era uma lesão.
- Descansa, deixa o inchaço diminuir, depois fazemos mais exames para analisar melhor. – O médico falou e saí da porta da sala médica e voltei para meu canto no vestiário, pegando minha mochila e segui para o chuveiro.
Dei uma olhada no relógio, vendo que faltava uns 20 para as seis e apressei o banho. Eu ainda pretendia ir para Carrara. Era aniversário da minha irmã e minha mãe insistia em uma festinha para família, pena que Carrara ficava há três horas e meia de Turim, sem paradas. Com sorte eu chegaria para cortar o bolo.
Franzi a testa ao pensar nessa possibilidade e abanei a cabeça. Eu já tinha falado que ia, não dava para voltar atrás, pelo menos o próximo jogo seria em Parma, dava para eu ir direto, só precisaria conversar com Lippi antes disso, mas eu resolveria isso amanhã cedo, só realmente não podia esquecer.
Saí do banho, apressado, vestido uma calça jeans e uma blusa social e dei uma rápida penteada em meus cabelos, enfiando tudo de volta na necessaire e na mochila e joguei-a nas costas, deixando a toalha no local correto e ouvi uma voz no vestiário.
- Beleza, gente? Quem tiver contrato a vencer no fim da temporada, peçam para seus agentes e advogados entrarem em contato comigo. – Era Giorgio da contabilidade. – Bom fim de semana para vocês. – Ele falou, saindo do vestiário, acenando para o pessoal.
- Problemas de contrato? – Perguntei para Thuram.
- Problema no servidor, pelo o que eu entendi. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Não é meu caso, eu estou indo, até domingo, gente! – Falei, acenando com a mão.
- Ciao, Gigi. – Ele falou, batendo na minha mão.
- Ciao, ragazzi! – Falei um pouco alto.
- Ciao! – Eles responderam e eu saí do vestiário, cumprimentando alguns membros da equipe técnica e passei por alguns corredores, empurrei algumas portas e encontrei Giorgio e Lippi conversando.
- Já está de saída, Gigi? – Lippi perguntou.
- Sim, tenho um compromisso, precisa de algo? – Perguntei, parando ao lado dele.
- Não, não, pode ir. Você sempre é um dos últimos a ir. – Ele falou, dando um tapinha em minhas costas. – Eu preciso ir também.
- Vamos, Gigi, eu te acompanho. – Giorgio falou, passando pelo caminho em direção estacionamento.
- Então, você é chefe da , não? – Perguntei, olhando para ele.
- Sim, boa menina ela! A conhece? – Ele comentou e eu ri sozinho.
- Sim, ela é gente fina. – Falei. – A gente se esbarra por aqui.
- Ela é muito boa no que faz, tem me ajudado bastante. – Ele comentou.
- O contrato dela acaba no meio do ano, né?! – Perguntei.
- Sim, ela se forma na faculdade, aí o contrato acaba, é uma parceria que a gente faz com universidades. – Ele falou.
- Há alguma chance de ela ser contratada? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Me parece que você tem algum interesse nisso, Buffon. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Que isso, senhor, ela só realmente comenta como gosta do estágio e como o dinheiro ajuda muito ela, ela não tem pais, sabe? Não deve ser fácil para ela.
- Sim, eu sei. Ela comentou comigo. – Ele disse. – Sendo bem honesto, eu gosto bastante dela, mas vai ser difícil convencer os acionistas a colocar uma garota na equipe administrativa do time.
- Nós já temos algumas mulheres, não?! – Perguntei.
- É diferente. – Ele falou. – O contato não é direto com vocês. – Assenti com a cabeça, entendendo o que ele queria dizer.
- Acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra, se ela faz um bom trabalho, seria burrice não a manter. – Dei de ombros.
- Você tem razão, garoto, vou ver o que consigo fazer. – Ele disse e eu assenti com a cabeça. – Agora, é uma pena o que aconteceu com ela, não?! – Franzi a testa.
- Como assim? – Perguntei e ele indicou um ponto com a cabeça e eu olhei.
Uma pessoa saía da sala do administrativo há vários metros de nós e eu não poderia reconhecer que era , mas ele sabia que era ela. Ela estava com uma perna enfaixada da coxa ao pé e usava duas muletas para se movimentar, enquanto equilibrava uma mochila nas costas.
- É ela? – Perguntei.
- É sim, ela teve um acidente no vôlei, algo assim. – Ele negou com a cabeça. – Eu tento dar carona para ela, mas nem sempre dá. Eu tenho uma reunião hoje.
- Entendo. – Falei, sentindo-o bater em minhas costas.
- Até mais! – Ele falou.
- Até! – Disse, acenando com a cabeça.
Observei-a andar incrivelmente devagar e imaginei que ela ainda ia pegar o ônibus ou o trem para chegar a sua casa. Olhei o relógio, vendo que passava um pouco das seis e suspirei, minha irmã ia entender.
Corri até o carro, abrindo-o e jogando a mochila de qualquer jeito no banco de trás e ajeitei o banco do carona de forma que ele ficasse bem mais para trás e um pouco mais reto do que estava. Olhei rapidamente para onde estava e a vi parada conversando com Giorgio. Esperei-o sair antes de me aproximar a passos rápidos.
- Oi. – Falei, deslizando para sua frente.
- Gigi! – Ela se assustou, rindo em seguida. – Você não pode fazer isso com uma pessoa nessas condições. – Ela falou e eu sorri.
- Me desculpe. – Falei, vendo-a sorrir. – Foi atropelada por um trem, é?! – Brinquei e ela riu fracamente.
- Quase isso. – Ela ponderou com a cabeça. – Conto os detalhes depois, eu vou perder o ônibus.
- Você pode me contar os detalhes agora e deixar eu te dar uma carona. – Falei, tentando esconder o sorriso.
- Eu não deveria... – Ela suspirou, mas dava para ver que ela cogitava isso.
- Você está com sua perna direita inteira engessada, , se foi pelo que houve no Natal, já faz tempo...
- Não é sobre isso, é que você é um jogador, eu sou uma estagiária...
- E ainda continua com a perna direita inteira enfaixada. – Falei e ela checou o horário em seu relógio.
- Não é fora de mão para você? Não vai te atrapalhar? – Ela começou a perguntar.
- Eu não me importo! – Falei e ela soltou um longo suspiro.
- Eu não posso...
- Fico imaginando como é pegar ônibus cheio assim... – Cantarolei.
- Não é muito bom, mas o ônibus ainda não está cheio aqui. – Ela disse e eu dei um sorriso.
- Qual é! São só alguns quilômetros. – Falei e ela negou com a cabeça.
- Ia me ajudar muito. – Ela falou, deixando os ombros caírem e eu dei um sorriso.
- Vem! – Indiquei com a cabeça o caminho e ela começou a seguir ao meu lado.
Dava para perceber que o negócio era recente quando ela fazia caretas para andar. A cada movimento com as muletas, eram uma franzida no rosto. Abri a porta para ela quando me aproximei do carro e ela soltou um suspiro.
- Muita calma nessa hora. – Ela disse.
- O que posso fazer? – Perguntei.
- Segura essa aqui! – Ela me deu a muleta do lado direito e se sentou devagar no carro, fazendo uma careta com o movimento e tirou sua mochila das costas, a peguei para ela. – Ok, agora... – Ela disse, colocando a perna direita para dentro e eu estava achando incrivelmente fofa todas as feições em seu rosto. – Pronto.
- Vou colocar aqui atrás. – Falei, pegando a outra muleta e coloquei no banco do carona, junto de sua mochila. Ela já tinha colocado a outra perna para dentro do carro e eu fechei a porta devagar para ela, dando a volta no automóvel.
- Tudo certo? – Perguntei, vendo-a colocar o cinto de segurança.
- Sim, tudo certo. – Ela falou e eu liguei o carro.
- Para onde? – Perguntei.
- Conhece a Piazza San Carlo? – Ela perguntou.
- Sou novo na cidade, mas já faz quase dois anos. – Rimos juntos. – Conheço a praça mais famosa da cidade.
- Eu moro lá perto, próximo ao Museu Egípcio. – Saí da vaga, seguindo em direção à portaria.
- Vou para lá, aí você vai me dando as direções. – Falei e ela assentiu com a cabeça, dando um rápido sorriso. – Agora, me conte, o que aconteceu?
- Sabe aquelas situações em que você se sente um idiota por ter feito aquela besteira? – Ela virou o rosto para mim.
- Muito bem. – Ri fracamente. – Vira e mexe eu dou de cara com a baliza ou bato a virilha. – Ela fez uma careta. – É... – Rimos juntos.
- Foi uma dessas situações. – Ela riu sozinha, levando a mão até o rosto. – A quadra de vôlei lá na faculdade fica em um lugar mais alto, então em volta dela é tudo morro, para chegar lá, no vestiário, enfim... – Ela riu sozinha novamente. – E eles colocam aquelas redes nos espaços abertos para evitar que alguém role lá de cima...
- Você rolou lá de cima. – Falei, virando para ela por alguns segundos e ela tinha um largo sorriso no rosto.
- Rolei! – Ela riu novamente e eu retribuí.
- Como? – Perguntei, ouvindo minha voz mais nasalada.
- Eles tiraram a rede para fazer manutenção, eu e a Giulia estávamos com um tempo livre e fomos fazer alguns treinos de recepção de saques fortes, só que eu não percebi que a cada saque dela, eu ia mais para trás. – Dei de ombros. – Eles têm uma murada de uns 20 centímetros que rodeia a quadra, eu tropecei nela, caí de costas e saí rolando até lá embaixo.
- Ah, meu Deus! – Falei, rindo fracamente e ela sorriu, negando com a cabeça. – Me desculpa, isso não é engraçado.
- É sim! – Ela sorria. – A Giulia se matou de dar risada, até perceber que eu não me mexia. Eu torci o tornozelo e o joelho. – Suspirei.
- Quanto tempo de repouso? – Perguntei.
- Dois meses, depois ainda vamos avaliar de novo. – Ela suspirou. – Só sei que dói para caramba.
- Quanto tempo faz? – Perguntei.
- 10 dias. – Ela suspirou. – É recente ainda.
- Por isso que você está com alguns arranhados no rosto.
- Ah, deve ser de esfregar a cara na grama por vários metros. – Rimos juntos novamente.
- O trabalho não te deu uma folga? – Perguntei.
- Me deram uma semana, mas não dá para ficar para sempre, né?! O corpo ainda dói um pouco, mas ainda bem que foi leve, o médico disse que eu poderia ter fraturado uma costela, quebrado de verdade alguma parte do corpo, mas foram só torções.
- Vai estar nova em breve. – Sorri e ela retribuiu.
- Vamos ver, o médico disse que torção é pior para resolver, talvez só com cirurgia, então vamos ver. – Ela suspirou.
- Vai dar certo, você vai ver. – Ela suspirou.
- Tomara, o vôlei é o único momento de lazer que eu tenho. – Suspirei. – E eu já vou perder o campeonato esse ano, tive vários olheiros me acompanhando ano passado, era a esperança de conseguir alguma coisa...
- Achei que você quisesse ficar no time. – Comentei.
- Ah, o trabalho no time é algo real, sabe? – Ela suspirou. – Trabalhar jogando em um time de vôlei profissional é o sonho. – Ela deu de ombros. – É tipo você, você se imaginaria sendo professor de educação física? Ou o que é que você sonhava ser quando criança além de ser um jogador de futebol.
- Entendo. – Falei, assentindo com a cabeça.
- Aposto que você estudava igual todos nós até ter a oportunidade de se tornar profissional, eu largava tudo para isso também. – Suspirei.
- Sim, eu larguei o último ano da escola para ir para o Parma. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- É tipo isso. – Sorrimos juntos. – A gente sonha com os pés no chão. A faculdade é isso para mim. – Ela deu de ombros. – Se o vôlei der certo, eu vou de olhos fechados, se não, meu diploma de contabilidade vem em poucos meses.
- Se forma no meio do ano? – Perguntei.
- Sim, a formatura vai ser em agosto. – Ela disse.
- Vai ter festa? – Perguntei e ela sorriu.
- Até vai, mas eu vou de convidada da Giulia, o preço era meio salgado. – Ela fez uma careta, suspirando. – Mas tem tempo até lá, preciso ficar dois meses com essa coisa antes. – Ela disse, suspirando.
- Os pais da Giulia vão na colação? – Ela se virou para mim.
- Ah, vão sim, vão fazer questão de tirar várias fotos e fazer nós duas pagarmos mico. – Ela deu um pequeno sorriso.
- É bom, a gente não deve aproveitar esses momentos sozinho. – Falei e ela sorriu.
- Relaxa, Gigi, eu não estarei sozinha. Estou criando minha nova família, lembra? – Assenti com a cabeça, deixando o sorriso em meu rosto aumentar e desviei o rosto para a rua novamente.
Quando chegamos no centro da cidade, ela me indicou os caminhos e acabamos na frente de um prédio universitário de uns três andares. Ele era branco e tinha várias janelas, cada uma de um quarto talvez. Não era exatamente um lugar com cara de confortável, mas pelo menos era movimentado.
- Eu te ajudo! – Falei, saindo apressado do carro.
- Me dá minha mochila antes, por favor. – Ela falou e eu fiz o que ela pediu.
Entreguei para ela e ela pegou suas chaves, colocando a mochila nas costas em seguida. Ela tirou uma perna do carro e guiou a outra para o mesmo caminho, fazendo uma careta com o movimento. Entreguei a primeira muleta e ela apoiou o corpo nela, ficando em pé e soltando o ar pesadamente quando o fez. Depois entreguei a outra, deixando-a mais firme.
- Me dá a chave. – Pedi e ela esticou para mim.
- É o segundo portão. – Ela disse, apontando para ele e fui até lá, destravando-o e ela seguiu em direção a ele. – No fim do corredor, a última porta à direita. – Ela disse e fui para onde ela tinha mandado e destranquei também, vendo-a vir devagar e subir os poucos degraus com dificuldade.
Abri a porta e acabei espiando o pequeno espaço ali dentro, era bem pequeno, mas era bonitinho e ideal para uma estudante morando sozinha. Me afastei da porta para ela entrar e ouvi seu suspiro quando ela me alcançou.
- Obrigada pela carona. – Ela falou, dando um pequeno sorriso. – Não acredito que não é nem sete e eu já estou em casa. – Rimos juntos.
- Quando precisar, pode me chamar. – Falei, dando um pequeno sorriso e ela concordou com a cabeça. – Falando nisso, tem papel e caneta? – Perguntei e ela entrou pouco no local, pegando ambos e esticando para mim, anotei meu nome e o número do meu celular rapidamente. – Pronto, agora pode me chamar quando quiser. – Ela riu fracamente.
- Agradeço mesmo. – Ela sorriu.
- Se quiser carona, estiver triste, só quiser conversar... – Dei de ombros.
- Obrigada. – Sorri. – Eu não posso te chamar para entrar, está uma bagunça.
- Não se preocupe. – Ela abaixou a cabeça, sorrindo. – Eu preciso passar no mercado antes de ir para casa. – Ela confirmou com a cabeça.
- É melhor você não enrolar muito aqui, o pessoal é viciado em futebol, se der bobeira, você não sai nunca mais. – Rimos juntos.
- Entendi o recado. – Ela sorriu. – Até mais, .
- Até mais, Gigi! Obrigada de novo! – Ela sorriu e me aproximei dela, dado um beijo em cada bochecha sua.
Ela ergueu seu olhar para mim e senti sua respiração em meu rosto e não contive, colando nossos lábios. Soltei um suspiro com isso e subi uma mão para sua nuca, acariciando-a de leve. Ela me beijou de volta, mas seus novos meios de transporte não deixavam que nossos corpos se aproximassem muito, então findei o beijo com uma mordida em seu lábio inferior, vendo-a sorrir, encabulada.
- A gente não...
- Não estamos no território do time. – Falei rapidamente e ela sorriu, rindo fracamente.
- È vero! – Ela disse, visivelmente encabulada.
- A gente se vê. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Até mais! – Ela sorriu e me afastei alguns passos, vendo um sorriso dançar em seus lábios. – Bate o portão para mim, por favor?
- Claro! – Acenei com a mão, descendo alguns degraus e a vi morder seu lábio inferior. – Ciao.
- Ciao! – Ela retribuiu e dei às costas, com um largo sorriso no rosto.
Saí na rua novamente, puxando o portão e olhei para trás novamente, vendo-a me espiar e neguei com a cabeça, voltando para o carro. Entrei, procurando o celular dentro da mochila e disquei o número da minha irmã, feliz por ela atender logo.
- Ciao, fratellino! – Ela falou, animada. – Onde você está?
- Eu vou me atrasar um pouco, consegui sair do treino só agora.
- Ah, nossa! – Ela me pareceu, desanimada.
- Podem festejar, cortar o bolo, só não durma antes de eu chegar.
- Tudo bem, algum problema? – Ela disse.
- Não, não, está tudo certo. – Dei um pequeno sorriso, olhando para o portão fechado novamente.

Lei
12 de maio de 2003


- Como você se sente? – O técnico perguntou, finalmente livrando minha perna do gesso.
- Aliviada. – Falei, vendo-o rir fracamente.
- Quer guardar de recordação? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Não, obrigada! Pode triturar e jogar fora! – Falei, vendo-o rir fracamente.
- Agora relaxe o corpo e me deixa dar uma olhada. – Ele falou, colocando as duas mãos em meu joelho e minha perna e começou a mexer minha perna e pude ouvir um estralo saindo do mesmo.
- Não gostei desse som. – Falei.
- Relaxa, respira fundo. – Ele falou e fez o mesmo com meu tornozelo que fez o mesmo barulho. – Ok...
- O que isso quer dizer? – Perguntei.
- Agora é com o médico, vamos lá? – Ele falou, me estendendo a mão para me levantar e o obedeci.
Ele me levou até outra sala e eu sentei, ficando sozinha por poucos minutos. Suspirei, mexendo minha perna, ouvindo o estralo com pouco movimento e suspirei, apoiando a cabeça no encosto da poltrona, me assustando quando o médico entrou na sala.
- ! Quanto tempo! – Ele falou e eu me levantei para cumprimentá-lo.
- Oi, doutor, tudo bem? – Perguntei, vendo-o apontar para a cadeira e eu me sentei novamente.
- Tudo bem e você? Se acostumou com as muletas? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Minhas axilas estão assadas, doutor. – Falei e ele riu fracamente.
- É ruim sim, mas aposto que ajudou. – Ele perguntou.
- Sim, mas ainda bem que acabou! – Falei, vendo-o rir fracamente e apoiar a pasta em sua mão na mesa.
- Vamos dar uma olhada nesse joelho e nesse tornozelo? – Ele perguntou, apontando para a maca atrás de si e eu assenti com a cabeça, me levantando e subindo nela. – Como foram esses dois meses?
- Quase dois meses e meio, né?! Foi difícil marcar horário. – Ele riu fracamente.
- Foi um teste para você. – Neguei com a cabeça, me deitando na maca e ele foi até minha perna, começando a fazer os mesmos movimentos que o técnico, apertando e ouvindo os estalos que o joelho fazia.
- Me diga que você tem novidades boas para mim, doutor. – Falei, passando as mãos nos olhos.
- Eu tenho boas notícias para você sim. – Ele disse, me dando a mão para me sentar na maca novamente. – Mas não as que você espera ouvir.
- Como assim? – Perguntei e ele pegou a pasta, tirando minha radiografia dali de dentro.
- Sua nova radiografia é quase idêntica à que você fez quando fraturou. – Ele falou, colocando-a na máquina e ligando a luz. – Em compensação, o desgaste do osso só está maior.
- Ok... – Falei para ele, franzindo a testa.
- Isso quer dizer, , que seu joelho está bom, seu tornozelo está bom, mas eles estão bons para o dia a dia, para você andar por aí, fazer uma atividade física ou outra, mas eles não estão bons para você pular em cima deles, se jogar no chão em cima deles, abusar da utilização deles...
- O que você está dizendo? – Perguntei.
- Do jeito que está agora, se você fizer atividades físicas muito intensas, você vai sentir muita dor, o desgaste pode aumentar e isso vai prejudicar sua vida. Se ajoelhar no chão vai ser difícil, correr longas distâncias, subir grandes escadarias vai ser difícil.
- E não tem como consertar isso? – Perguntei, pressionando os lábios uns no outro.
- Tem a cirurgia...
- Então, eu faço...
- Mas eu não indico você fazer isso agora. – Ele me cortou, olhando para mim. – Você é nova demais, ativa demais, essa cirurgia requer muita atenção, muitos cuidados, longo tempo de repouso, não é algo que eu indico para uma pessoa de 22 anos. – Suspirei.
- Mas então... – Ele suspirou. – Eu jogo vôlei, doutor, é tudo o que eu tenho nessa vida.
- Eu sei, e eu gostaria de ter notícias melhores para você, mas torção é pior do que quebrar, o tratamento é totalmente diferente. – Suspirei, negando com a cabeça, sentindo a respiração ficar pesada.
- Então, eu tenho que desistir? – Falei um pouco alto.
- Não, eu estou te dando uma sugestão, simplesmente. Se você falar que quer fazer, eu faço, seu plano cobre, você faz todo o tratamento com a gente. – Ele suspirou, se apoiando na mesa atrás de si. – Eu estou te indicando, como seu médico, a não fazer. – Ele tirou os óculos. – A cirurgia é a parte mais fácil disso tudo, mas depois são seis meses de repouso e, para você voltar ao nível que você está hoje, são muitas sessões de fisioterapia...
- Eu posso fazer fisioterapia para melhorar ou...
- Sim, você pode e deve, na verdade, vou te passar algumas sessões para fazer, pode fazer conosco mesmo, mas isso ainda é fortalecimento para o dia a dia, fazer coisas que eu e você fazemos, não encarar uma vida de esportista.
- E jogadores de futebol? – Perguntei rapidamente. – Eu vivo isso, doutor, eu vejo os jogadores se lesionando todo dia e...
- É uma vida que eu não indico para você. – Ele disse. – São formas de esportistas lidarem com isso, com a dor, com as fraturas, com as lesões. Algo igual você, eles resolveriam em três meses ou menos... – Suspirei. – Mas eles estão preparados para isso, eles dedicam a vida a isso. Fisioterapia constante, tratamentos constantes, utilização exagerada de remédio, vivem com a dor, se for preciso. – Abaixei a cabeça, sentindo uma lágrima escorrer de meus olhos.
- E se eu quiser viver assim? – Perguntei.
- Então, vamos para a cirurgia e fazemos todo o tratamento, mas o percurso é longo, cansativo e, quando se começa, precisa ir até o fim.
- Não pode ser só isso. – Suspirei, passando a mão nos olhos.
- Como eu disse, existem opções, só não quero ver uma moça como você, 22 anos, bonita, esforçada, confiante, ficar presa a isso para sempre. – Ele disse, apoiando a mão em meu ombro. – Não é viver, . – Engoli em seco, erguendo o rosto. – Vá para casa, respire fundo, avalie a notícia e depois volte para gente avaliar suas opções, ok?! – Ele disse. – Ainda temos um processo pelo meio do caminho.
- O que eu faço enquanto isso? – Perguntei, passando as mãos em meus olhos, suspirando.
- Faça algumas caminhadas, descubra seu corpo com essa lesão, veja o que te incomoda, se você sente dor ao fazer algum movimento, coisas assim. A gente se vê no mês que vem, pode ser? – Ele passou a mão em minha cabeça e eu assenti com a cabeça. – Se você sentir alguma dor muito aguda, aí você venha direto para cá, ok?! Não é para sentir, mas como você ficou bastante tempo com esse gesso, pode sentir alguma diferença.
- Ok, doutor. – Suspirei, me levantando da maca.
- Sinto muito, . – Assenti com a cabeça.
- Grazie. – O cumprimentei novamente e ele tirou a radiografia da máquina e me entregou dentro da pasta novamente.
- Estarei te esperando. – Ele falou e eu assenti com a cabeça. Fui até a porta da sala e a abri, saindo da sala de espera.
Puxei a porta logo depois, tentando conter as lágrimas que enchiam meus olhos e encostei as costas na parede, tentando normalizar a respiração. Pressionei as têmporas, soltando uns suspiros para o alto. Passei a mão nos olhos, balançando a cabeça e saí pelo corredor dos consultórios, voltando para a sala de espera, aonde todas as pessoas, inclusive Giulia, estavam de olho na TV.
- Amiga, vem ver! – Ela me chamou quando me viu e segui até ela, virando para a televisão.
Reconheci Lippi, Del Piero, Zambrotta, Davids, Ferrara e Pessotto na televisão, a imagem mudou e apareceu Lilian e Gigi escondendo o rosto com a mão, visivelmente envergonhado. Alguns estavam de terno e outros estavam com a blusa que representava o 27º scudetto, ironicamente, a blusa que eu estava usando agora. Eles haviam selado o scudetto no sábado após o empate contra o Perugia em casa. Não entendi o que falavam, mas Gigi ficava lindinho envergonhado e mais lindo ainda de terno, mas eu não estava muito animada para saber disso agora.
- Podemos ir? – Perguntei para ela, seguindo para fora do consultório e empurrei a porta, vendo-a correr para me alcançar.
- Ei, amiga, o que aconteceu? – Ela perguntou e deixei que as lágrimas corressem pelos meus olhos. – Ah, não! – Ela me apertou em um forte abraço.
- Eu não posso mais jogar. – Falei, apertando-a contra meu corpo também.
- Ah, não, amiga, não pode ser – Ela disse contra meu ouvido, suspirando e eu puxei a respiração fortemente.
- Ele disse que só cirurgia para corrigir de verdade, mas que a recuperação é muito lenta e que não aconselha que eu faça. – Disse, passando a mão nos olhos e ela suspirou, olhando para mim.
- Ah, amiga. – Ela olhou para mim. – Vai ficar tudo bem, eu prometo.
- Como? – Perguntei. – O vôlei é a melhor coisa que eu tinha. – Falei.
- A gente pode não fazer parte da liga profissional, mas seremos as melhores no clube de campo. Vamos bater as velhinhas facinho. – Ri fracamente.
- Você ainda pode jogar.
- Eu sei, mas sem você o vôlei é só um hobby. – Ela disse, dando de ombros. – Sem você a gente perdeu o campeonato, então sabemos quem é a forte do time, né?! Capitã. – Suspirei, passando a mão no nariz. – Talvez seja na hora da gente treinar um pouco de boxe. – Ela falou e eu ri fracamente, negando com a cabeça.
- Só você para me fazer rir agora. – Suspirei.
- Não poder realizar nossos sonhos é triste, amiga, eu sei, mas também sei que eles podem ser renovados diariamente. Você vai encontrar um novo sonho, você vai ver. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Só espero que minha efetivação se concretize. – Falei, suspirando.
- Falando nela, vamos te levar para lá o mais rápido possível para você não perder mais hora. – Ela disse, correndo até o carro que sua mãe havia nos emprestado e eu entrei do lado do carona.
- Obrigada, Giulia, você é a melhor. – Ela apertou minha mão.
- Você é minha irmã, , eu nunca vou te abandonar. – Sorri, assentindo com a cabeça. – E eu falei sério quando disse sobre o boxe, talvez seja uma ótima forma de extravasar a raiva. – Ri fracamente.
- Talvez, mas vamos esperar o semestre acabar, a formatura... Depois a gente vê o que faz da vida.
- Eu tenho que procurar emprego e, se Deus quiser, você não.
- Ah, tomara, o time é bom demais. Imagina se me efetivam e ao menos o salário dobra? – Virei para ela. – De quatro, eu trabalho oito horas e o salário só dobra.
- Seria demais.
- Seria bom demais! – Suspirei. – A primeira coisa que eu faço é arrumar um apartamento onde meu quarto não cheire fritura se eu fizer algo diferente na cozinha. – Gargalhamos juntas.
- E sair de perto da UNITO, lá é ótimo, mas você precisa morar mais perto de Vinovo, uma vez ou outra até vai, mas aqui é totalmente fora de mão para você. – Ela disse.
- Visualiza, Giulia, “eles pagam bem”.
- Ah, sim, claro, me esqueci! – Ela disse, rindo fracamente.
- E é legal, né?! Aprendi bastante coisa já, o pessoal é legal, meu chefe é legal...
- Os jogadores são gatos per um cazzo! – Rimos juntas. – Você viu o Gigi de terno? Amiga, vocês se viram depois daquela carona?
- Não, não o vi e não vamos falar disso agora, ok?! Eu ainda estou triste.
- Eu sei, mas ele passou o número dele e...
- Por favor, Giulia. – A repreendi.
- Ok, não está mais aqui quem falou. – Ela disse e eu suspirei, olhando para a janela e ela aumentou o som, fazendo All The Things She Said da t.A.T.u sair pelos alto-falantes e nós duas começarmos a competir quem cantava mais fino do que elas.
Deixei que minha cabeça entrasse na música e apoiei o rosto no vidro, suspirando com as imagens da estrada passando agilizada em minha cabeça. Eu não havia levado a sério isso quando aconteceu o acidente, achei que fosse alguma besteira. Eu estava dolorida sim, ralada, amassada no chão, mas eu não sentia nada de diferente, não era aquela dor de quebrado. E agora isso.
Eu me dediquei ao vôlei pelos últimos quatro anos, havia sido um dos esportes que aprendi a jogar no orfanato e usei ele para me desestressar de diversas formas. Pensar nele me lembrava a calmaria, que eu era capaz de enfrentar todas as coisas. Bater a mão na bola, ouvir o som alto dela com a minha mão e depois no chão, me trazia lembranças de felicidade. E agora não poder fazer isso?
Ok, era um pouco exagero, pelo o que o médico falou, eu podia jogar como lazer depois de passar pelo tratamento, fins de semana e quadras de areia estão aí para isso, mas perder a chance de fazer uma carreira era um pouco decepcionante.
Não que eu não soubesse lidar com decepções, acho que já tive várias nessa vida. Acho que isso tornava tudo mais frustrante. Parecia que sempre que eu encontrava formas divertidas de viver, ela era tirada de mim. Pensar nisso me fazia voltar para o time. Era sim uma coisa divertida que tinha acontecido comigo, eu não gostaria de perder também, mas meu contrato ia até dia 30 de junho, tudo poderia acontecer. Ainda era começo de maio, tinha outra avaliação em breve e esperava que desse certo.
- Chegamos, amiga! – Giulia falou e eu suspirei.
- Obrigada, viu?! – Falei, abrindo a porta do carro.
- Não precisa agradecer, amiga. Quer carona para voltar? – Ela perguntou.
- Não se preocupe comigo, um ônibus lotado no horário de pico é tudo o que eu preciso para pensar um pouco. – Ela riu fracamente.
- Estarei aqui as seis. – Ela disse e eu assenti com a cabeça, me debruçando sobre ela e dei um rápido abraço.
- Grazie mile. – Disse e saí do carro, percebendo muitos fãs amontoados na entrada do CT. – Mais essa agora. – Suspirei.
Me aproximei da muvuca que se aglomerava na frente do portão e me enfiei no meio do pessoal, parando na portaria e puxei meu crachá de dentro da blusa, mostrando para o mesmo porteiro que eu via todos os dias e ele assentiu com a cabeça. Ele abriu uma fresta tão pequena, que eu passei raspando para dentro, isso fez com que o pessoal gritasse um pouco, mas logo fechou, me fazendo franzir a testa.
- Pessoal doido. – Ajeitei a mochila nas minhas costas e dei dois passos, parando logo em seguida ao notar que os gritos não eram só do lado de fora. – Ah, o scudetto.
Com certeza o programa que Giulia estava vendo na sala de espera do médico era gravado, pois no meio de todos os funcionários do CT estavam os jogadores com as blusas do scudetto e alguns de terno, igual os vi há minutos na televisão. Parecia um ano atrás novamente, os jogadores tinham trazido a taça, o pessoal tirava fotos, conversava, gritava e tudo mais.
Era legal para o clube e para o meu currículo, posso colocar que fiz parte da conquista dos títulos 26 e 27 do time, o que não deixava de ser verdade, mas eu não estava a fim de festejar agora. Me trancar no banheiro e chorar até o fim do expediente me parecia uma ótima ideia. Ou ficar apática, acho que eu não tinha tantas lágrimas para quatro horas, era mais raiva mesmo.
Andei em direção ao prédio administrativo, passando o mais longe possível da galera e abaixei a cabeça perto dos jogadores que eu tinha mais contato, a última vez que eu vi a maioria foi com o gesso, então contar que eu tirei o gesso e se estava tudo bem, realmente não estava nos meus planos. Relaxei os ombros quando passei pela porta do prédio e suspirei, me sentindo mais segura, ouvindo as conversas mais baixas.
- ! – Franzi a testa ao me chamarem e eu reconhecia aquela voz rouca, me fazendo suspirar. – ... – Me chamou de novo e eu me obriguei a virar, encontrando Gigi com os cabelos bagunçados e arrepiados e aquele terno cinza escuro.
- Ei. – Falei, franzindo os lábios.
- Tentando fugir de fininho? – Ele perguntou, se aproximando mais alguns passos e eu ri fracamente.
- Vemos que não deu certo. – Mordi meu lábio inferior.
- Vejo que tirou o gesso. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- É, acabei de sair de lá, na verdade. Preciso colocar uma calça. – Ele riu fracamente.
- Eu não me importo. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Parabéns pelo scudetto, dois em dois anos, acho que logo a conta vai ser paga. – Brinquei, vendo-o rir.
- É, pois é! – Sorrimos. – Faltando duas rodadas para acabar.
- E tem o jogo de volta da semi da Champions, não?! Contra o Real Madrid? – Perguntei.
- Sim, é quarta. – Ele suspirou forte. – Perdemos o jogo de ida, mas conseguimos deixar um gol lá, então precisamos ganhar em casa e compensar.
- Vai dar certo, você vai ver. Del Piero também voltou, não?! – Ele sorriu.
- Ainda bem! – Ele disse, nos fazendo rir.
- Vai dar tudo certo. – Sorri, assentindo com a cabeça. – Eu tenho que ir, tenho umas coisas...
- Não vai comemorar com a gente hoje? – Ele perguntou e eu engoli em seco.
- Eu não estou no clima, Gigi. – Neguei com a cabeça.
- Está tudo bem? – Ele se aproximou mais alguns passos e pressionei os lábios um no outro. – Você pode me dizer, eu estou aqui para o que precisar, lembra? – Suspirei, sentindo os olhos encherem de lágrima de novo, mas ergui o rosto para evitar que elas caíssem.
- Eu acabei de voltar do médico, meu joelho e nem meu tornozelo curaram como deveriam, para ficar perfeito só se eu fizer cirurgia e ele me acha muito nova para isso. – Suspirei. – Mas sem isso, jogar vôlei se torna muito para meu corpo, o impacto é muito forte... – Senti uma lágrima escorrer e passei a mão para limpar rapidamente. – Resumindo: o corpo não aguenta.
- Não acredito... – Ele falou e eu assenti com a cabeça, sentindo-o passar os braços pelo meu corpo e me puxar para um abraço, me fazendo suspirar.
Passei meus braços por baixo dos seus, segurando em seus ombros e ele me apertou forte pelos ombros. Suas mãos passaram pelas minhas costas e eu deixei algumas lágrimas escorrerem até chegarem em seu paletó. Eu queria ficar lá por muito tempo, mas fiquei com medo de alguém aparecer e abanei a cabeça, passando as mãos nos olhos.
- Eu não sei o que te dizer, mas se ele acha que realmente não é uma boa ideia, você deveria ouvir. Qualquer cirurgia é chata, por isso que evitamos tanto aqui no time, o trabalho de recuperação é foda, a volta pior ainda, eu vejo o pessoal mais velho aqui, seis, oito meses sem jogar por isso, mas não pense que é o fim do mundo, ok?! – Ele acariciou minha bochecha com o polegar, limpando uma lágrima. – Você pode encontrar um esporte com menos impacto que você goste e ame do mesmo jeito. – Suspirei.
- Talvez, mas difícil entrar para o profissional, né?! – Arqueei os ombros. – Mas a Giulia disse boxe, talvez seja uma boa para me desestressar.
- É, talvez seja uma boa. Você deve ficar bem naquelas roupinhas. – Rimos juntos e senti meu rosto esquentar.
- É melhor eu ir... – Falei, apontando automaticamente para trás.
- Não quer comemorar um pouco mesmo? – Ele perguntou. – Eles liberaram o álcool. – Ri fracamente.
- É melhor não, acho que preciso lidar com o “luto” ainda, está cedo demais. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça.
- Tudo bem, eu entendo. – Ele disse, se aproximando mais uma vez e dando um beijo em minha bochecha, e um sorriso começou a dançar em meus lábios. – Fique bem.
- Você também. Vai dar tudo certo quarta-feira. – Falei e ele cruzou os dedos das duas mãos em figas, me fazendo rir fracamente.
- Torça por mim.
- Sempre! – Falei, rindo fracamente e ele deu dois passos para trás antes de se virar e sair do prédio, me fazendo soltar um longo suspiro.
Levei a mão até a bochecha onde ele havia beijado e suspirei, sentindo o corpo relaxar. Deixei o sorriso se formar em meu rosto e balancei a cabeça. Aquele homem mexia comigo sempre que estávamos juntos, nos outros dias eu até esquecia dele, mas quando o via, sentia que eu ficava diferente. Seu abraço, seu beijo, seu sorriso torto, seus olhos azuis, a quantidade incrível de cabelo em sua cabeça, eu sabia que seria um problema enorme se essa efetivação realmente viesse, mas isso não me fazia desistir, só me dava vontade de consegui-la custe o que custar.

Lui
28 de maio de 2003


O juiz apitou o final da prorrogação e eu levei as mãos até a testa, respirando fundo. Depois de 120 minutos, eu consegui evitar que vários gols passassem pelas minhas balizas. Eu fiz minha parte, mas o goleiro Dida também havia feito a dele e nenhum gol bianconero passou por ele.
Caminhei até nosso técnico, recebendo um squeeze do assistente e virei-o na boca e um pouco no rosto, passando a toalha logo em seguida, jogando os cabelos para trás. Lippi e seus assistentes mantinham uma roda em volta de si com os 10 jogadores em campo e eu só acompanhava suas conversas, a única certeza era que eu seria o goleiro.
Após pouco tempo de conversa, ficou decidido que Trezeguet, Birindelli, Zalayeta, Montero e Del Piero fariam as cobranças. Lippi cumprimentou cada um dos cinco e veio em minha direção, colocando as mãos em minha cabeça e olhando firme em meus olhos.
- Você está fazendo um trabalho incrível, garoto! – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Faça seu melhor.
- Sim, senhor. – Falei, respirando fundo e larguei a toalha e o squeeze com os assistentes e ouvi o apito do juiz.
Voltei para o gol sul, passando pelo outro goleiro e ele passou o braço pelo meu ombro, acompanhando comigo. Ele não me disse nada e eu também preferi não, mas agora era com a gente. Quem fizesse o melhor, sairia daqui como campeão. Era simples assim, não tinha uma alternativa.
Nós bateríamos antes, então Dida se posicionou em seu lugar e eu aguardei na lateral. Tentei ignorar os gritos de Old Trafford em Manchester, mas eram ensurdecedores, mesmo assim tentei limpar a cabeça e respirar fundo. Eu tinha 25 anos, segundo ano na Juventus, oito anos no profissional e estava em uma final de Champions League. Era um sonho para qualquer jogador de futebol. Eu sabia o trabalho que tinha sido chegar até aqui, agora precisaríamos finalizar isso da melhor forma possível.
O juiz apitou e Trezeguet já estava em sua posição. Ele correu e fez um chute para o lado direito do gol. Dida se jogou para o mesmo lado e defendeu a bola, me fazendo suspirar. Começamos mal.
Ambos se cumprimentaram e trocamos de lugar. Me posicionei no centro do gol, ouvindo as observações do juiz em não me mexer antes do chute assenti com a cabeça. Serginho faria a batida. Ele correu em direção à bola e preparou o chute. Por causa do movimento do seu pé esquerdo, pulei para o mesmo lado, mas a bola foi à minha direita, entrando.
Birindelli se aproximou para bater e Dida tomou meu lugar novamente. Nosso defensor se preparou para bater e a bola seguiu para o centro do gol, enquanto Dida se jogava para a esquerda, me fazendo comemorar.
Seedorf faria a segunda batida do Milan. Arrumei minhas meias, me posicionando para receber a bola e o vi se afastar um pouco demais para fazer a batida. O juiz apitou e fui para a direita, espalmando a bola um segundo após o chute. Levantei em comemoração, ouvindo a torcida juventina gritar.
Me joguei do outro lado do campo, ficando de frente para a torcida e fechei os olhos. Era a vez de Zalayeta. A torcida acalmou os nervos e só ouvi o chute, vendo o pessoal comemorar e virei o rosto para o gol, vendo Dida comemorar. Ele havia salvado outro.
Voltei para meu lugar, vendo o milanista Kaladze se colocar em sua posição e me ajeitei também, soltando a respiração devagar. Ele fez o chute e eu pulei para esquerda, vendo a bola vir pelo centro do gol e chutei a mesma, sentindo a pancada da bola em minha panturrilha, me fazendo comemorar. Ergui o punho e pulei em frente à torcida bianconera.
Montero veio para a batida e fiquei na mesma posição que antes, de costas para o chute e soltei a respiração fortemente, ouvindo o barulho do chute na bola e logo em seguida a comemoração de novo. Dida comemorava. Ele havia salvado outra. Cazzo de merda! Isso estava virando surreal já.
Nesta, companheiro de Seleção, se aproximou para o quarto chute do Milan. Respirei fundo e fiquei em posição. Ele fez o chute e eu e a bola fomos para o mesmo lado, por questão de milésimos de segundo, eu não consigo espalmá-la. Levei as mãos à cabeça em frustração e dei espaço para Dida, voltando para meu lugar anteriormente e me joguei no chão novamente, respirando fundo.
Era a vez de Del Piero bater, do nosso capitão. Se ele acertasse, dependia de mim. Se ele errasse ou Dida defendesse, acabou para gente. Respirei fundo. Mal deu para ouvir o barulho do chute e vi o pessoal comemorando logo depois. Virei com pressa e vi nosso capitão beijando o escudo do time. Ele tinha acertado. Isso só queria dizer uma coisa: dependia de mim.
Era a vez de Shevchenko bater. Respirei fundo, soltando o ar devagar e me coloquei em posição, batendo as luvas uma na outra. Ele se afastou para fazer o chute. E assim que ele tocou na bola, eu pulei para a direita, sentindo o corpo cair, mas a bola foi para minha esquerda. Assim que a bola entrou no gol, eu suspirei, ouvindo a comemoração dos milanistas no estádio.
Agarrei a bola, colocando-a entre minhas pernas e abaixei o rosto nos joelhos, sentindo as lágrimas caírem sem dó. Não demorou muito para eu sentir alguns tapas nas costas e ergui o rosto ao ver Del Piero.
- Vamos, Gigi, não chore. Levante-se! Seja forte! – Ele disse firme e suspirei, sentindo-o me puxar para eu me levantar e seguir com ele em direção ao banco de reservas.
- Boa, rapaz! Defesas sensacionais! – Lippi veio em minha direção, me abraçando também e assenti com a cabeça, agradecendo.
Os jogadores também vieram me cumprimentar, falaram algumas palavras de apoio, mas tudo estava girando e eu só queria que tudo aquilo acabasse. Eles podiam dizer o que quisessem, mas eu sabia que tinha sido muita culpa. A desvantagem de ser goleiro era que, em pênaltis, realmente não tinha outra pessoa para culpar.
Dida foi muito bem, ele fez grandes defesas ao longo do jogo e defendeu três pênaltis. Eu defendi dois e já estava achando surpreendente. Pênalti era sorte. Você escolhia um lado e ia. Saber sobre os jogadores ajudava e eu os estudava muito bem, mas às vezes damos azar e nem todo jogador que bate com a direita joga na direita e o mesmo vale se o jogador é canhoto.
O Milan comemorava enquanto montavam o palco para o início da premiação. Me joguei no chão enquanto tudo era preparado e os outros jogadores ficaram à minha volta. Eu cheguei tão perto, tão perto e havia deixado escapar. Era realmente frustrante, não tinha outra palavra para defender isso melhor.
O Milan fez um corredor de honra e nos aplaudiram na hora de pegarmos nossas medalhas de prata. Dida me deu um forte abraço quando passei por ele, falando palavras de apoio e motivação para mim e eu dei dois tapinhas em suas costas. Agradeci muito pelo apoio, mas seria difícil alguma coisa me animar agora.
Após vê-los levantarem a taça em sinal de respeito, demos meia volta e entramos de volta para o vestiário. Ninguém falava nada, nem Lippi, que costumava falar grandes palavras de apoio para gente, tinha algo para falar. Não era hora de brigar e nem de apontar os erros, a gente sabia disso, mas o completo silêncio não era muito confortável.
Peguei minha mochila e fui para o banho, deixando que a água escorresse em meu rosto e precisei engolir as lágrimas novamente. Não era hora para isso. Fiz questão de tomar um banho bem demorado para ocupar o tempo das entrevistas, coletivas e afins. Me vesti com a roupa de viagem do time e voltei para meu ponto no vestiário, calçando os tênis e guardando as chuteiras e as luvas.
- Beh, ragazzi... – Lippi falou finalmente, me fazendo olhá-lo. – Eu sei que não foi o resultado que esperávamos, mas quero tirar um minuto para agradecer todos vocês pela garra que eu vi hoje. Foi um jogo bonito de se ver. – Ele sorriu, tirando os óculos. – Eles estavam muito mais fortes do que estamos acostumados a ver no campeonato, mas vocês conseguiram segurar até o último minuto. – Ele assentiu com a cabeça. – Gigi, você foi impecável hoje, suas defesas, seus saltos, sua parceria junto de Lilian... Não fique pensando nisso, você foi incrível. – Ele disse e Del Piero puxou uma salva de palmas, me fazendo assentir com a cabeça e dar um meio sorriso. – Teremos outras oportunidades, mas não pensem que algum de vocês tiveram culpa no que houve. Hoje quem ganhou foi a sorte... – Ele deu de ombros. – Acontece. – Ele disse, nos fazendo assentir com a cabeça e todos puxamos uma salva de palmas para ele que agradeceu, colocando a mão no peito. Desviei o rosto por entre meus colegas e vi o rosto de Del Piero avermelhado e inundado de lágrimas, me fazendo suspirar.
- Descansem hoje, voltamos para Turim amanhã ao meio-dia. 11 horas saímos do hotel. – O assessor de imprensa falou e assentimos com a cabeça.
Não demorou muito para que saíssemos de lá e voltássemos para o hotel. Era quase duas da madrugada quando chegamos. Alguns jornalistas e torcedores estavam na porta, mas eu ignorei-os, seguindo direto para o elevador com outros jogadores atrás de mim. Não falamos sobre nada. Só trocamos um boa noite quando nos separamos no corredor.
Entrei no quarto, fechando a porta devagar e deixei a mochila aos pés da cama, antes de me jogar de braços abertos nela. Agora que eu podia chorar e desabafar sozinho, sentia que as lágrimas se recusavam a sair na frente de meus colegas.
As imagens da última defesa passavam em minha mente. Ou a anterior, que foi coisa de centímetros para eu tocar na bola. Centímetros que me impediram de levantar a taça naquela noite. Meu sonho sempre foi ganhar um título no campeonato italiano, o que eu havia conseguido atingir por dois anos seguidos, agora eu bati na trava ao tentar ser campeão da Europa.
Eu não consegui chorar, por mais que eu insistisse em passar as imagens em minha cabeça. Eu não estava triste, havíamos chegado até a final e só nós sabíamos como foi difícil enfrentar tudo e todos, mas eu estava frustrado comigo mesmo. Apático, tentando entender onde eu tinha errado. Eu havia estudado o jogador, eu havia marcado com Nicola os pontos de impacto dos jogadores, mas, mesmo assim, algo deu errado.
Era o que Lippi havia falado: hoje quem ganhou foi a sorte. Em muitos casos, futebol era um jogo de azar, na hora do pênalti, tínhamos seis opções. Escolher se ficávamos no centro ou se pulávamos para esquerda ou para direita, e em que altura a bola poderia ir, para cima ou para baixo.
Soltei a respiração forte e ergui meu rosto do travesseiro, apoiando minhas mãos no colchão e me levantei, me sentando na cama. Tirei o casaco e a camisa do time e peguei minha mochila, puxando-a cima da cama. Procurei pelo meu celular e vi que tinha várias chamadas não atendidas, duas de minha mãe, duas de Guendy e umas quatro de um número estranho. Só sabia que era da Itália pelo DDI. Capaz de ser de algum jornalista.
Sem pique para retornar para minha família agora e ouvir palavras de apoio e consolação, deixei o celular de lado, deixando o corpo cair no colchão novamente. Eu deveria me levantar, me trocar, pedir alguma coisa para comer, já que meu estômago roncava, mas eu não estava no pique, acho que nenhum jogador, para falar a verdade.
O celular começou a tocar de novo e o peguei, vendo o mesmo número desconhecido e apertei o botão vermelho, negando novamente e deixei o celular de lado, me fazendo suspirar. Virei o corpo na cama, abraçando um travesseiro e fechei os olhos, tentando espantar os pensamentos do dia. Muita coisa havia acontecido, eu precisava relaxar.
O celular começou a tocar de novo e eu sentei com raiva na cama, puxando o aparelho na pressa e bufei. Observei o código de área da Itália e franzi a testa ao perceber que o outro era código de Turim. Normalmente era o pessoal da RAI ou da Sky Sports e o código era sempre de Milão ou Roma. O aparelho ainda tocava e eu, curioso, apertei o botão verde, colocando-o na orelha.
- Ciao? – Atendi.
- Gigi? – Uma voz feminina falou e eu franzi a testa.
- Chi è? – Perguntei.
- Eu sei que você está se sentido mal, mas achei que precisava de alguém para conversar. – A voz disse e um suspiro saiu pelo bocal logo em seguida.
- ? – Perguntei, surpreso.
- Sou eu. – Ela falou e dei um pequeno sorriso.
- Foi você que ligou todas essas vezes?
- Foi sim. – Ela riu fracamente. – Eu imagino que não queira conversar, só queria que soubesse que se eu posso contar contigo, saiba que pode contar comigo também, ok?! Para desabafar, conversar ou só ficar ouvindo a respiração pelo telefone. – Dei um pequeno sorriso.
- Que horas são aí? – Perguntei, vendo que no relógio marcava 2:28.
- Quase três e meia. – Ela disse.
- Você deveria estar dormindo. – Falei, suspirando.
- Eu estava vendo o jogo. Sinto muito. – Ela disse com sua voz baixa.
- Valeu.
- Se vale de algo, você foi incrível hoje, sabia? – Ela disse. – Você fez defesas sensacionais. – Ela riu fracamente.
- Você acha? – Dei um pequeno sorriso.
- Com certeza. E acho que já posso me considerar mais entendida depois de dois anos de clube. – Rimos juntos.
- Por que você está falando baixinho? – Perguntei.
- Giulia está aqui, eu estou escondida no banheiro. – Ela falou, me fazendo gargalhar.
- Ela está dormindo? – Perguntei.
- Sim, ela diz que não torce para Juventus, mas ficou bem triste também, dormiu assim que o jogo acabou. – Ela suspirou.
- Aposto que é por causa de você. – Ela riu fracamente.
- Bom, eu não poderia, nunca na minha vida, torcer para outro time se não fosse a Juventus, né?! É meu primeiro time e espero que seja o último. – Sorri.
- Acabou seu estágio, né?! – Perguntei.
- Eu ainda tenho até dia 30 de junho, depois vou conversar com Giorgio. – Ela suspirou.
- Alguma chance de eu te ver depois das férias? – Perguntei.
- Acho que sim, ele não me adiantou nada, mas fui bem elogiada no meu relatório. Espero que dê tudo certo.
- Vai dar sim, você vai ver. Você é boa. – Ela riu fracamente.
- Eu sou uma estagiária, Gigi, não sei que nível de boa eu sou, mas eu sei fazer café. – Gargalhei, derrubando meu corpo na cama novamente. – Viu?! Sabia que ia te animar um pouco. – Sorri.
- Você sabe quanto custa um interurbano para Inglaterra? – Perguntei, ouvindo-a rir fracamente.
- Sei sim, mas te fiz rir, então já valeu à pena. – Dei um pequeno sorriso, apoiando a mão no peito. – Você pode não ter ganhado hoje, Gigi, mas você deixou claro mais uma vez para o mundo quem você é, que você existe e que você é bom. – Ela disse. – Nem sempre podemos ganhar, mas podemos sempre tentar de novo. – Sorri.
- Você é boa com palavras, sabia? – Ouvi sua respiração.
- Eu sou melhor com números. – Ri fracamente. – Mas já precisei que me falassem palavras de apoio, seria egoísmo não repassar. – Sorri, suspirando.
Ficamos em silêncio por um momento e fiquei feliz, e surpreso, por ela ter ligado, nunca imaginei. Sabia que tinha passado meu número para ela me ligar se precisasse de algo, mas nunca imaginei que eu precisaria dessa ligação.
- Acho que está ficando tarde para você. – Falei, ouvindo sua respiração, sabendo que ela ainda estava do outro lado da linha.
- Gigi... – Ela me chamou.
- O quê?
- Por que você decidiu ser goleiro? – Ela perguntou. – Você é bom, não é essa questão, é só que parece que goleiro sempre leva. – Ela falou, rindo e eu gargalhei junto dela.
- Dizem que é uma profissão sofrida, mas tem algumas vantagens. – Sorri.
- Então, por quê? – Ela perguntou. – Foi paixão instantânea?
- Na verdade, não. Eu joguei como centro-campista quando era mais novo.
- Mesmo? – Ela falou, rindo fracamente.
- Mesmo! – Sorri.
- Não consigo imaginar... – Rimos juntos.
- Honestamente, acho que nem eu consigo mais. – Sorri.
- Como decidiu mudar isso? – Suspirei.
- Thomas N’Kono.
- Scusi? – Ela falou.
- É um ex-goleiro camaronês.
- Camaronês do país Camarões? – Ela perguntou.
- Exato. – Sorri. – Era Copa de 1990, eu tinha 12 para 13 anos. Argentina e Camarões. Eu fiquei surpreso com as cores de Camarões, estava um calor infernal...
- Foi aqui na Itália, não foi?
- Sim, foi! – Sorri, feliz por ela saber disso. – Acho que foi um dos dias mais quentes do ano e os jogadores de Camarões usavam uniforme completo, as cores muito vibrantes. Até que eu vi esse homem, goleiro. Ele fez uma defesa que ele pulou tão alto no meio dos jogadores e socou a bola uns 30 metros para cima.
- Foi aí?
- Foi aí! – Falei, rindo fracamente. – Nesse momento eu decidi que queria ser goleiro. Não um goleiro comum, alguém que faça essas loucuras, essas grandes defesas.
- Isso é legal! – Sorriu. – E depois você correu para jogar bola, aposto.
- É, tipo isso. – Rimos juntos. – Eu fui encontrar meus amigos e estávamos surpresos. Camarões teve dois jogadores expulsos e ainda ganharam o jogo.
- Caramba! – Ela falou, surpresa. – Que louco! – Rimos juntos.
- É, e as coisas foram acontecendo e oito anos depois eu estava sendo convocado para um Mondiale.
- Isso é incrível, Gigi. Sério, é inspirador te ouvir falar assim. – Sorri.
- Grazie. – Disse, suspirando.
- Sabe, acho que para ser goleiro você precisa não ter medo de nada, né?!
- Por que você diz isso? – Ri fracamente.
- Assim, você se joga no chão de uma forma que eu falo “pronto, agora quebrou de vez” e você levanta e já está pronto para próxima. – Gargalhei, ouvindo sua risada também.
- Talvez um pouco, mas a gente aprende a cair do jeito certo.
- Pode me ensinar? – Ela riu. – Acho que eu não teria me estabacado no chão. – Sorri.
- Como você está, falando nisso?
- Ah, eu vou lá semana que vem, ele quer que eu faça algumas sessões de fisioterapia, mas não estou muito animada.
- Vai sim, vai te fazer bem. – Falei e ela suspirou. – Pelo menos um fortalecimento.
- É, vamos ver. – Ela suspirou. – Acho que estou com fome.
- À essa hora? – Brinquei e ela riu.
- Pior que eu só comi guloseimas, deve ter um buraco no estômago.
- Eu comi antes do jogo, mas já faz quase oito horas. – Rimos juntos.
- Mah dai, ninguém aguenta também, né?! – Sorri. – Ainda mais depois de queimar tanta caloria hoje.
- Foi sofrido. – Suspirei, ouvindo-a bocejar do outro lado da linha. - Acho que alguém está com sono, isso sim.
- A adrenalina está baixando, a Giulia ficou aqui o dia inteiro e depois vimos o jogo, comemos muita coisa açucarada. – Ri fracamente.
- Vai dormir, eu acho que vou também e como no café da manhã.
- Tapeando a fome com sono? – Ela perguntou e eu ri fracamente.
- Às vezes funciona. – Falei.
- No meu caso vai ter que funcionar, se eu abrir a geladeira ou o armário, capaz de eu derrubar tudo o que está secando na pia. – Rimos juntos. – A Giulia é meio irritada quando acorda.
- E você não?
- Acho que eu sou bem relaxada para isso. A não ser que quebrem pratos e copos ao meu lado.
- Acho que até eu acordaria irritado assim. – Rimos juntos e ela bocejou novamente.
- É, acho que está dando minha cota. – Ela suspirou.
- Vai sim, eu logo vou. – Falei.
- Promete que vai ficar bem? – Ela perguntou e eu dei um pequeno sorriso.
- Eu já estou melhor. Obrigado pela ligação, foi bom. – Ela suspirou.
- Eu vou lá, então. Boa noite, Gigi. Dorme bem, ok?!
- Você também. – Falei.
- Parabéns, viu?! Foi incrível. – Ela disse e eu sorri.
- Obrigado. – Falei e logo a ligação foi desligada.
Soltei um suspiro, olhando para o aparelho e deixei o braço cair ao lado do corpo. Deixei que um pequeno sorriso escapasse de meus lábios e girei o corpo na cama, chutando os tênis para fora dos pés e puxei a coberta para cima de mim. Olhei para o horário mais uma vez, bati a mão no interruptor da luz e mordi meu lábio inferior, tentando tirar o sorriso de meu rosto.



Capitolo cinque

Stagione 2003/2004
Lei

16 de agosto de 2003

- Senhoras e senhores, vamos abrir espaço para a mais nova analista de contabilidade da Juventus. – Giulia gritou entre as pessoas assim que eu desci do táxi e começou a aplaudir junto de nossas amigas do time.
- Você é ridícula. – Falei e ela abriu os braços, me apertando fortemente e eu fiz o mesmo, gargalhando.
- Parabéns, amiga. – Ela me ergueu alguns centímetros do chão, me fazendo bater nela.
- Eu ainda não acreditei quando ele falou. – Suspirei. – Ele disse que teve muita relutância, por eu ser mulher, mas que eu merecia um lugar no time. – Falei, abraçando Giorgia e Antonia.
- Ah, esse preconceito com mulher gostar de futebol já está ridículo, merecemos nosso espaço também. – Giulia disse, abanando a mão.
- Entrei no time sem saber nada e me apaixonei. – Falei, dando de ombros. – Mas preciso agradecer muito ao Giorgio e aos jogadores, acho que eles tiveram algo a ver com isso.
- Como assim? – Giulia perguntou, seguindo comigo até a lateral de fora do teatro, para eu pegar minha beca.
- Ah, o Giorgio foi super honesto, falando que o time dificilmente efetivava mulheres pela relação e tal, mas que os jogadores até falaram que gostavam de mim no time e que valeria à pena me dar uma chance... – Dei de ombros.
- Será que algum jogador falou com ele? – Ela perguntou.
- , contábeis. – Falei para moça, vendo-a ticar a lista e pegar uma beca preta e me entregar, coloquei-a e logo ela veio com a faixa bordô do meu curso e ajeitou o capelo em minha cabeça. - Só o Gigi sabia que eu queria ser efetivada, não lembro de falar com outro jogador. Eu tenho contato com o Del Piero, Pavel e Conte, mas é algo mais estilo “oi e tchau”.
- Será que o Gigi falou com ele? – Ponderei com a cabeça e dei de ombros, voltando para perto de nossas amigas. – Quando foi a última vez que conversaram?
- Na final da Champions, faz tempo.
- Se ele falou algo, é a prova perfeita que ele gosta de você, . – Suspirei, rindo fracamente.
- Talvez, ok?! Mas eu não sei como vai ficar as coisas, tá?! Tem muita coisa para acontecer. – Ela bufou.
- Olha, você esperou por essa efetivação por dois anos para finalmente ficar com ele e agora não vai ficar? – Ela apoiou as mãos em meus ombros.
- Meu chefe foi bem específico sobre o problema de não querer me contratar ser a relação com os jogadores. Vai ser ótimo, não?! Primeiro ano de trabalho e eu pegar um dos astros do time. – Coloquei as mãos na cintura, me incomodando com as mangas bufantes.
- É, você tem razão. – Ela franziu o rosto. – Mas vai que ele...
- Calma, Giulia. Aguenta o coração. – Falei. – Primeiro eu vou atrás de um apartamento novo, meu salário vai triplicar, amore, isso já me dá uma folga incrível.
- Onde você pensa em alugar? – Suspirei.
- Perto de Vinovo, mas não sei se em Vinovo, meu salário vai melhorar, não tem mais gastos de faculdade, mas também não quero abusar. – Ela gargalhou.
- Vamos comprar uma daquelas mansões em Vinovo para você, seria legal! – Neguei com a cabeça.
- Quem sabe no futuro? – Rimos juntas.
- Bom, a gente vê um lugar bom, acessível e decente. – Assenti com a cabeça, vendo-a me abraçar de lado.
- Sim, mas vamos nos formar antes, né?! – Abracei-a pelos ombros e sorrimos.
- Cara, a gente se formou! – Ela disse, suspirando em seguida e eu assenti com a cabeça.
- É, amiga, a gente conseguiu. – Suspirei, sentindo uma emoção repentina me tocar.
- Você está bem? – Ela perguntou.
- Sim, é só que... – Puxei a respiração fortemente para não sujar a maquiagem.
- Eles estão orgulhosos de você, amiga. Eu tenho certeza! – Ela disse, passando os braços pelos meus ombros e eu suspirei, apertando-a fortemente também e foi inevitável não deixar algumas lágrimas cair.
- Obrigada por tudo. – Falei, olhando-a novamente e ela assentiu com a cabeça, passando o dedo embaixo de meus olhos.
- Estou aqui para sempre. – Ela disse e eu sorri.
- Três filas, gente! – Ouvimos alto. – Administração, Ciências Contábeis e Economia. – Ela falou e eu e Giulia nos abraçamos fortemente.
- A gente logo se vê de novo. – Ela disse e eu assenti com a cabeça, indo para a fila de contábeis e ela foi para a de administração, fazendo nossas mãos soltarem com o afastamento.
Passei as mãos nos olhos devagar e depois ajeitei o capelo conforme todos faziam, me fazendo respirar fundo. Olhei para o céu, fiz um discreto sinal da cruz e agradeci por essas duas conquistas. Fazia tantos anos, mas nesses momentos que eu me vencia, eu sentia muita falta de ter alguém para sentir orgulho de mim e me abraçar forte e feliz pela minha conquista. Tinha os pais da Giulia, eles haviam se tornado quase meus pais, mas não era a mesma coisa.
Eu era a quinta ou sexta da fila e Giulia estava um pouco mais à frente na fila do lado esquerdo, mas conseguimos dar as mãos e sorrimos uma para a outra. A organizadora fez um sinal de espera com a mão e quando uma música estourou do lado de dentro, as filas começaram a andar lado a lado.
Assim que passamos pelas portas do teatro Stabile, os diversos convidados sentados nas últimas fileiras e em cima, começaram a gritar e nos aplaudir animados. Tinha cerca de 70 formados, entre os três cursos, então o teatro estava realmente lotado, algumas pessoas até estavam em pé, sem lugar para sentar.
Prestei atenção na música e tocava Get the Party Started da Pink, me fazendo sorrir. Seria um bom jeito de se formar. Os organizadores nos indicaram as fileiras e fiquei ao lado de Antonia que era da minha turma, enquanto Giulia estava na fileira do lado esquerdo. Quando todos se ajeitaram e a música parou, a cerimônia começou.
- Bem-vindos formados 2003 da UNITO. – O reitor começou a falar, nos fazendo aplaudir. – Hoje é um dia de festas e celebrações. Vocês concluíram o curso e estão prontos para conquistar o mundo. Roma não foi construída em um só dia e vocês mostraram que tudo é capaz se tiver perseverança, coragem e atenção. – Ele disse.
A cerimônia seguiu com o discurso dos diretores dos três cursos presentes e rolou toda aquela tradicional agradecimento a Deus, aos pais, aos professores, aos amigos e tudo mais. Nem preciso dizer que aquilo me deixou mais emocionada, não é? Depois seguiu com o discurso dos oradores de turma, foi dividido um texto muito bonito entre um de cada curso e eles conseguiram dar um tom especial para as três turmas.
Quando chegou a hora dos juramentos, começaram pela turma de administração, que fez com que eu desse um sorriso ao ver Giulia levemente emocionada, o que era difícil ver, já que ela era sempre minha rocha e, depois, foi minha vez, fazendo com que a turma de Contábeis se levantasse e repetisse as palavras do nosso orador, esticando a mão direita.
- “Ao receber o grau de Bacharel em Ciências Contábeis, juro, perante Deus e a sociedade, exercer a minha profissão com dedicação, responsabilidade e competência, respeitando as normas profissionais e éticas. Juro pautar minha conduta profissional observando sempre os meus deveres de cidadania, independentemente de crenças, raças ou ideologias, concorrendo para que meu trabalho possa ser um instrumento de controle e orientação útil e eficaz para o desenvolvimento da sociedade e o progresso do país. Comprometo-me ainda a lutar pela permanente união da classe contábil, o aprimoramento da ciência contábil e a evolução da profissão.” - O pessoal nos aplaudiu e foi a vez de Giulia sorrir para mim e dar uma piscadela.
A turma de economia fez seu juramento e chegou a tão esperada hora da entrega dos diplomas. Fizeram a cerimônia tradicional do capelo com os três oradores e depois seria a entrega para os demais. Os nomes do curso de administração começaram a ser chamados e Giulia me olhou, entediada, sempre irritada por seu sobrenome ser um dos últimos do alfabeto, me fazendo rir fracamente.
- Giulia Vitale! – Chamaram e eu e Antonia, além de outras meninas do time e os familiares de Giulia, nos levantamos e começamos a gritar por ela.
- VAI, GIULIA! – Gritei, vendo-a gargalhar envergonhada, atravessar o corredor e subir no palco.
Sentei na poltrona novamente, vendo-a cumprimentar a mesa diretora e receber o canudo do outro lado. Gritei por ela mais uma vez quando ela fez uma pose para o fotógrafo, fazendo-a rir e descer pelo outro lado do palco, sorrindo e voltando para seu assento.
A turma de administração logo acabou e foi a vez da turma de Ciências Contábeis começar a ser chamada e eu esfreguei uma mão na outra, nervosa com a aproximação do meu nome, me fazendo suspirar devagar.
- ! – Me chamaram e eu sorri, ouvindo agora o pessoal gritar por mim.
Antonia me abraçou rapidamente e eu saí da minha fileira, olhando rapidamente para trás e encontrei a família da Giulia em um dos andares mais baixos, mas franzi a testa quando vi um grupo de pessoas em pé lá no fundo também gritarem por mim, tornando o som bem mais alto que o de Giulia.
Franzi a testa, confusa e fui em direção ao palco, subindo as escadas. Espremi os olhos para enxergar um pouco mais longe e vi algumas mãos acenando para mim e contei sete pessoas. Sete homens de roupa social e óculos escuros. Não podia ser. Neguei com a cabeça, rindo sozinha e cumprimentei o pessoal, recebendo meu tão esperado diploma e até suspirei quando o empunhei. Abracei meu paraninfo e segui até a bandeira da Itália e da faculdade e tirei algumas fotos sorrindo e Giulia gritou mais uma vez, me fazendo rir e piscar para ela.
Voltei para meu lugar, abrindo o canudo apressada e puxei meu diploma lá de dentro. Não era um diploma, na verdade, era meu histórico universitário, mas isso já me deu um alívio enorme, me fazendo suspirar e passei a mão embaixo de meus olhos novamente, deixando uma lágrima secar solitária ali e enrolei-o, guardando de novo.
Olhei para Giulia e ela sorria para mim. Assenti com a cabeça e ela retribuiu, piscando para mim. A cerimônia se seguiu, finalizando as entregas para o curso de economia e eu sabia que estava quase na hora de tudo aquilo ser finalizado.
- Gostaria de pedir para todos ficarem em pé. – O reitor falou e todos nos levantamos. – Apresento a vocês, a turma de Administração, Ciências Contábeis e Economia de 2003 da Universidade de Turim. – Ele disse e pegamos nossos capelos e jogamos para cima, me fazendo abrir um largo sorriso.
Observei a imagem dos capelos subindo para o teto do teatro em câmera lenta, mas logo todos estavam atrás dos seus, me fazendo gargalhar. Peguei o meu no ar mesmo e coloquei-o embaixo do braço.
- CONSEGUIMOS, . – Antonia falou ao meu lado e eu sorri, abraçando-a apertado.
- Sim, conseguimos! – Falei, soltando um suspiro de orgulho. Eu tinha uma sensação de dever feito no peito e era muito bom.
- ! – Ouvi um grito e virei para o lado, vendo Giulia acenando para mim do corredor e saí da minha fileira desviando de algumas pessoas e a abracei fortemente quando saí no corredor central do teatro.
Ela me apertou pela cintura e passei os braços com as mangas bufantes pelos seus ombros, apertando-a com a mesma intensidade e ela me ergueu no ar um pouco, me fazendo gargalhar e quase foi as duas para o chão com largos sorrisos no rosto.
- Formamos! – Ela abriu os braços de forma dramática, quase acertando a cabeça de outro aluno e gargalhei, fazendo a mesma pose, mas mais contida.
- Formamos, amiga! – Suspirei, passando os braços pelos seus ombros de novo, suspirando.
- Ah, finalmente, meu senhor Deus pai! – Ela fez drama e rimos juntas.
- Vem, vamos falar com seus pais! – Falei, puxando-a para longe da muvuca que formava de formandos e pais e andamos mais para o centro do teatro.
- É impressão minha ou parte do time da Juventus veio na sua formatura? – Ela falou e procurei rapidamente com o olhar as pessoas que vi de cima do palco, encontrando o grupo e consegui identificar melhor o rosto de Gigi, Pavel e Del Piero com óculos escuros, com sorrisos em minha direção.
- Eu não consigo acreditar que eles vieram. – Disse para Giulia. – Como eles descobriram?
- Eu não sei de nada, eu juro! – Giulia logo se defendeu, nos fazendo rir.
- Maninha! – Gianni e Pietro vieram correndo pelo centro do corredor e cada um pulou em uma de nós e peguei Pietro no colo.
- Parabéns! – Ele falou todo fofo.
- Ah, meu lindo! – Estalei um beijo forte em sua bochecha, girando com ele no colo, ouvindo-o rir. – Gostou da cerimônia? – Perguntei.
- Não, muito chata. – Ele disse, me fazendo rir e ponderei com a cabeça, tendo que concordar com ele.
- Foi linda, gente! – A mãe de Giulia apareceu e eu entreguei meu capelo para Pietro, colocando-o no chão e minha amiga correu até a mãe, enquanto eu me abaixei no chão para abraçar Gianni que puxava minha beca.
- Você ‘tá linda, ! – Ele falou e deixei-o estalar um beijo em minha bochecha.
- Ah, obrigada, meu amor. – Retribuí o beijo e coloquei meu capelo em sua cabecinha, vendo-o tombar, me fazendo rir fracamente.
- , querida. – Me levantei, vendo a mãe da Giulia com os braços abertos para mim e eu sorri, seguindo em sua direção e abraçando-a fortemente. – Estamos tão felizes e orgulhosos de você. – Ela acariciou meus cabelos e escondi meu rosto no ombro da mais nova.
- Obrigada, tia Gio. – Falei, sorrindo e ela segurou meu rosto com as mãos.
- Eu não tive o prazer de conhecer seus pais, mas eu tenho certeza de que se eles eram um por cento da mulher que você é, eles estariam muito orgulhosos de você. – Assenti com a cabeça, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas e ela abaixou meu rosto para beijar minha testa. – Você merece todo o sucesso do mundo. Toda felicidade, alegria, tudo o que é de melhor na sua vida, meu amor. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada. – Falei baixo, pigarreando para a voz sair e a abracei mais uma vez.
- E sempre estaremos aqui para o que precisar, ok?! – Ela disse e eu assenti com a cabeça, virando para ela.
- Chega de fazer a menina chorar, Giovanna. Me deixa dar um abraço nela! – Seu Fabrizio falou e eu ri fracamente, mudando de abraço, sentindo-o me abraçar fortemente. – Parabéns, minha garota! Que sua vida seja repleta de felicidades e conquistas. – Sorri, sentindo um beijo em minha testa e ele me segurou pelos ombros. – Vamos começar a competir de verdade por causa do time? – Ri fracamente.
- A Giulia te contou da efetivação?
- Ah, ela contou para mim e para o condomínio inteiro. – Rimos juntos.
- Sei bem, ela não sabe falar como uma pessoa normal. – Sorri.
- Sucesso, viu, minha filha? Você é da família, não se esqueça nunca disso. – Ele segurou meu queixo e eu assenti com a cabeça, suspirando. – Agora, você pode me explicar por que metade do time da Juventus está sendo assediado lá atrás? – Virei para trás, vendo o grupo de pessoas conversar com alguns torcedores e eu ri fracamente.
- Honestamente? Eu não faço a mínima ideia. – Disse e ele me abraçou pelos ombros.
- Vai logo lá. – Ele sussurrou para mim e eu ri fracamente.
Mordi meu lábio inferior, olhando para Giulia e ela deu aquele sorriso sacana dela, me empurrando para frente e eu acabei tropeçando um passo, empurrando-a com o feito, ouvindo-a gargalhar. Segui corredor acima, devido a inclinação do teatro e joguei meus cabelos para trás que deveriam estar bagunçados pelo capelo e a beca não ajudava muito, mas ok. Desviei de algumas pessoas, finalmente chegando perto de Pavel.
- Me digam que vocês têm algum familiar se formando aqui hoje, por favor! – Falei, tocando o braço de Pavel.
- Temos, você! – Ele disse, me abraçando apertado e eu ri fracamente. – Parabéns!
- Não, vocês não vieram aqui só para mim. - Falei, rindo.
- Eu posso estar errado, mas a mensagem falava especificamente “formatura da ”. – Lilian falou e eu o abracei, sentindo-o me erguer do chão.
- Que mensagem, gente? – Passei para Del Piero que me abraçou pelos ombros.
- O Gigi comentou sobre sua família e sua formatura, não queríamos que você passasse por isso sozinha. – Ele falou e eu olhei para Gigi que atendia umas três crianças, pressionei meus lábios fortemente.
- Não acredito que ele fez isso. – Suspirei.
- Desculpa se não podia falar sobre sua família, mas... – Interrompi Pavel.
- Não isso, não acredito que ele combinou com vocês de vir na minha formatura, isso é...
- Ele gosta de você. – Conte falou. – Todos nós, na verdade. – Sorri, abraçando-o.
- Você é da família Juventus, garota, nós somos sua família. – Trezeguet falou e eu sorri, abraçando-o.
- Eu ainda estou surpresa, desculpe. – Falei, rindo e abracei Camoranesi.
- Falou em festa, eu estou dentro! – Ele brincou e eu neguei com a cabeça. – Parabéns, garota.
- Então, eu ouvi falar sobre uma nova analista de contabilidade, é isso mesmo? – Del Piero falou e virei para ele novamente, rindo.
- É isso mesmo. – Abri um largo sorriso. – Serei figurinha frequente em Vinovo agora.
- Vai ser bom te ter. – Ele sorriu. – Já sabe de futebol para começar a sugerir jogadores para o nosso time?
- Acho que a equipe só cuida do dinheiro e valorização de mercado, mas... Quem sabe? – Dei de ombros e senti alguém me apertar pela cintura.
- Parabéns, ! – Ouvi a voz de Gigi próximo de minha orelha e virei para ele, dando um tapa em seu peito. – Ei!
- Como assim vocês aparecem aqui do nada? – Falei, ouvindo-o gargalhar e abri um largo sorriso.
- Você me disse que se formaria em agosto, eu só precisei ligar na faculdade e descobrir o dia. – Ele deu de ombros, sorrindo e eu pressionei os lábios, assentindo com a cabeça.
- Obrigada! – Falei e ele me abraçou pela cintura e os saltos me ajudaram a ficar mais próximo de sua altura quando o abracei pelos ombros.
- Você merece todo o sucesso do mundo. Toda felicidade e alegria do mundo, . – Ele sussurrou próximo ao meu ouvido. – A Juve é uma família e nós somos sua família, estaremos contigo para o que precisar. – Me afastei devagar, dando um sorriso e segurei sua nuca com as duas mãos.
- Você não precisa se certificar disso sempre, Gigi. – Falei, dando um sorriso e voltei a falar quando ele abriu a boca. – Mas obrigada. Não acredito que vocês vieram. – Ri fracamente. – Tenho certeza de que vocês tinham algo melhor para fazer num sábado à noite.
- Ah, sabe como é, acompanhar três horas de colação de grau é o sonho de toda pessoa. – Lilian falou, nos fazendo gargalhar.
- Então, Giorgio falou que te efetivou. – Gigi falou ao meu lado.
- Falando nisso... – Virei para ele. – Você falou algo com ele? Algum de vocês? – Virei para os outros e todos me olharam com cara de paisagem.
- Não, por quê? – Del Piero perguntou.
- Ele disse algo que me fez pensar que sim. – Suspirei e vi Gigi segurando a risada. – Você falou com ele! – Dei um soquinho em seu ombro.
- Ei, você é forte, a temporada logo vai começar, eu preciso do meu braço, sabia? – Gigi fez drama, nos fazendo rir.
- Falando nisso, parabéns pela Supercoppa, isso mostra que vai ser uma temporada sensacional. – Sorri.
- Não sei se a temporada vai ser sensacional, mas foi bom dar o troco no Milan pela Champions. – Pavel falou.
- Mostrar quem é o melhor goleiro. – Sorri, virando para Gigi.
- Não foi o mesmo goleiro da fin...
- Xí! – Coloquei o dedo na boca. – Eu sei. – Rimos juntos. – Vamos fingir que era. – Vi Giulia acenando com a mão. - Beh, gente, eu preciso ir.
- Festa? – Conte perguntou, animado.
- Sim, mas temos fotos e mais um monte de coisa para fazer antes disso. – Abanei a mão.
- Aproveita! – Gigi falou, me abraçando pela cintura e estalou um beijo em minha bochecha.
- Grazie mile. – Falei para ele, acariciando seu rosto e ele sorriu.
- Sempre que precisar. – Ele disse e eu segui cumprimentando os outros.
- Obrigada mesmo, gente! Vocês são demais!
- Somos sua família. – Del Piero falou e eu assenti com a cabeça.
- Agora eu sei o que essas palavras significam. – Sorri e ele assentiu com a cabeça, dando um beijo em meu rosto.
- Ci vediamo a Vinovo? – Gigi gritou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, nos vemos lá! – Acenei com a mão, mordendo meu lábio inferior e deixei que mais torcedores os atacassem quando eles viraram para sair.
Suspirei, sentindo uma lágrima solitária cair em minha bochecha e passei a mão levemente sobre ela. Um sorriso escapou de meus lábios e senti dois braços me apertando pela cintura e era Giulia.
- E aí? – Ela perguntou, me fazendo rir.
- Eles vieram para me ver mesmo. – Sorri, passando o braço pelos seus ombros e trazendo-a para perto de mim.
- Isso é legal. – Ela sorriu.
- É, eles disseram que são minha família. – Virei o rosto para ela, vendo-a sorrir.
- Isso é muito bom, amiga. – Ela suspirou. – Quem sabe Gigi não possa ser mais família do que só palavras e ações? – Ela esticou o dedo anelar da mão esquerda e eu neguei com a cabeça.
- Só você! – Falei, vendo-a rir e estalar um forte beijo em minha bochecha.
- Vamos para festa! Eu estou com fome.
- Ah, eu também. Demorou demais. – Reclamei, franzindo o rosto.
- A beleza de uma colação de grau... – Ela foi irônica e deixei meu olhar ir até a porta, vendo Gigi olhando para mim enquanto deveria estar dando atenção a algum torcedor. Dei um pequeno sorriso e saí por uma das portas laterais.

Lui

29 de agosto de 2003

- Ciao, ragazzi! – Falei, entrando no vestiário.
- Ciao, Gigi. – O pessoal presente já falou e segui para meu espaço, deixando a bolsa na parte de cima do armário.
- E aí, cara. – Lilian apareceu ao meu lado, o cumprimentei com um toque de mão. – Como foi lá?
- Ah, nada muito animado. – Rimos juntos. – Não é nenhum Gran Galà, né?! – Ele riu fracamente.
- É o prêmio da UEFA, cara. – Ele disse e eu neguei com a cabeça. – Em Monte Carlo.
- Já foi para lá? – Perguntei.
- Não, nunca.
- É bonito, viu?! Caramba. Mais interessante que a premiação em si. – Rimos juntos.
- Você mereceu, cara. – Ele estendeu a mão e eu bati na dele. – Melhor goleiro da Champions...
- Só faltou a gente ganhar.
- Você tem só 25 anos, cara, terão outras oportunidades. – Rimos juntos.
- Agora focar no começo da nova temporada, tentar fazer as mesmas conquistas que no ano passado. – Disse, tirando os tênis antes de sentar.
- Relaxa, Gigi, é só o primeiro jogo. – Del Piero apareceu, se sentando à nossa frente. – Você não deve nem conseguir aproveitar as férias. – Ri fracamente.
- Ah, eu acabo indo para casa da minha família mesmo. Eles gostam de ir para Forte dei Marmi, então aproveitamos todos juntos.
- É, a pré-temporada foi mais curta esse ano. – Del Piero falou.
- Sem competições internacionais, sem nada do tipo, deu para relaxar. – Lilian falou e eu assenti com a cabeça.
- Ciao, ragazzi! – Pavel entrou no vestiário, seguindo para nosso lado. – E aí, gente? – Ele começou a bater em nossas mãos.
- Tudo certo, cara? Parabéns pelo prêmio. – Lilian falou.
- Ah, valeu! – Ele sorriu.
- Verdade! Vocês foram receber, parabéns. – Del Piero falou e eu e o tcheco sorrimos.
- Eu vi sua garota chegando, Gigi. – Pavel falou.
- Quem? – Perguntei.
- Ah, quem você acha? – Del Piero brincou, se levantando.
- A , né, cara?! – Conte se aproximou e meu rosto esquentou.
- Ela não é minha garota, gente. – Falei, coçando a nuca.
- Pô, você nos arrastou para formatura dela, cara. – Lilian falou. – Vai me dizer que não teve segundas, terceiras e quartas intenções aí? – Ri fracamente.
- Teve, muitas intenções. Ainda tem, na verdade, mas não sei se vai rolar. – Suspirei.
- Por que não? – Del Piero perguntou.
- Quando eu falei com o chefe dela, para ele efetivá-la, ele disse que eles não gostavam de contratar mulheres por causa da proximidade com os jogadores. E bem...
- Você e ela explica um pouco as coisas. – Lilian falou e eu assenti com a cabeça.
- E ela conseguiu o trabalho, ela foi efetivada, são oito horas da manhã e ela está aqui... – Dei de ombros. – Não podíamos ficar juntos por ela ser estagiária e talvez agora não possamos porque ela é contratada aqui, não sei se vale investir. – Suspirei.
- Mas você gosta dela? – Del Piero perguntou.
- Ah, gosto... – Eles começaram a me zoar, me fazendo rir fracamente. – Mas não conheço muito dela também, nos encontramos pouquíssimas vezes.
- Ah, vamos ser honestos, cara. Você pode não saber muito dela, mas você se preocupa com ela.
- Isso sim, mas é por causa da história dos pais dela que eu contei para vocês. – Suspirei. – Ela me falou na festa de Natal do ano passado. Desde aquele dia, senti necessidade de estar lá por ela. – Dei de ombros.
- Eu achei legal o que você fez na formatura dela, mas você gosta dela sim. – Lilian falou.
- E ela gosta de você também. – Pavel falou. – É só ver a alegria nos olhos dela na formatura.
- Eu não sinto isso, sabe? Quer dizer, ela gosta de mim, se preocupa comigo, mas ela não mostra se quer ficar comigo. – Suspirei. – E nos encontramos pouco aqui.
- Chama ela para sair, caramba, só vocês dois. – Lilian falou.
- Acho que se tem essa situação do emprego mesmo, não vai dar certo. – Conte falou. – Ele vai só colocá-la contra a parede e ela vai ficar entre ele e o emprego.
- Ela precisa do emprego, caras. – Cocei a cabeça.
- Olha, honestamente, nem sei que conselho te dar, cara. – Del Piero falou. – Mas deixa a vida rolar, a vida só acontece vivendo, não apresse nada, mas também não se prenda a ela. – Ele deu de ombros.
- Isso não é exatamente um conselho. – Eles gargalharam. – Eu estou vivendo desse jeito há dois anos.
- Mas continua sendo legal para ela. Tem vezes que você só precisa de um amigo e, pelo que eu vi, você já é isso dela. – Assenti com a cabeça.
- Valeu, capitano. – Ri fracamente.
- Então, as mocinhas estão falando de amor? – Virei para o lado, vendo nosso treinador.
- EI, LIPPI! – Lilian falou de forma engraçada e rimos juntos.
- Quem quer dicas de amor aí? – Ele falou.
- Gigi! – Todos viraram para mim.
- Ei, valeu, galera. – Fui irônico, dando um tapa em Lilian que estava mais perto.
- Bom, conselho de um cara que está casado há quase 30 anos... – Lippi falou. – Corteje-a.
- Essa palavra não é usada há muito tempo, meu caro. – Del Piero falou, nos fazendo rir fracamente.
- Estou falando sério. As mulheres são diferentes, não são ordinárias iguais nós que só precisam de sexo e atenção. – Rimos juntos. – Elas são preciosas, delicadas, elas demoram para se excitar, com elas é preciso uma preparação totalmente diferente. – Dei um pequeno sorriso. – Mas elas precisam de muito mais do que só alguém para se divertir. – Ele olhou para mim. – Às vezes elas só precisam de alguém para escutá-las, se você fizer isso, você já tem sua atenção e seu afeto. – Assenti com cabeça.
- Você é um tipo de psicólogo? Guru ou algo assim? – Perguntei e ele riu fracamente.
- 30 anos com a mesma mulher, Gigi. Quero ver quem aqui vai ser capaz de fazer isso. – Ele disse, me fazendo sorrir. – Aprender a amar uma mesma pessoa com todas as suas mudanças, seus erros, seus problemas, suas frustrações e saber lidar com elas e com as nossas da mesma forma durante anos. – Ele falou. – Aquela história de “eu amo minha mulher da mesma forma de quando eu a conheci” é a maior mentira do mundo, pois todos mudamos, nós e elas. E para fazer um relacionamento dar certo, é preciso acompanhar e apreciar todas essas mudanças ao longo de todo tempo, ragazzi. – Ele piscou para mim e eu assenti com a cabeça. – Agora chega de papo e vamos treinar para destruir o Empoli domingo. – Ele falou, batendo as palmas e se afastou.
- Acho que todos concordamos que aquilo foi um conselho decente, não?! – Camoranesi comentou, nos fazendo gargalhar.
- Não compartilho mais minha sabedoria com vocês. – Del Piero falou e meias voaram em sua direção.
Me levantei novamente, começando a tirar minha roupa e trocar pela do treino. Eu realmente não sabia o que pensar sobre minha história com . Ela gostava de mim, do contrário ela não retribuiria meus beijos, nem ficaria encabulada quando eu a olhasse por muito tempo, mas essa incerteza me deixava agoniado.
Não que eu estivesse esperando-a para alguma coisa. Eu ainda ia para baladas e festas, me divertia com outras mulheres e não me sentia apaixonado por , mas eu também não deixava de pensar no que estava acontecendo conosco.
Quando eu estava perto dela, sentia a necessidade de abraçá-la, beijá-la, me preocupava se ela estava bem, mas fora do time, longe daqui, ela não atravessava meus pensamentos. Era quase como se nossa relação estivesse ligada ao time. E estava, né?! Todos nossos momentos foram aqui dentro ou com alguma conexão à aqui.
Não sei, isso me dá um pouco de dor de cabeça, confesso. Eu só gostava de tê-la perto de mim, talvez, por agora, isso fosse o suficiente. Teria que ser o suficiente. Mas a vantagem é que agora ela trabalhava aqui. Eu podia arranjar qualquer desculpa para dar uma volta no prédio administrativo e podia torcer para ela descer aqui no CT.
Só sei que é uma temporada nova, muitas coisas para acontecer, jogos para ganhar, prêmios para conquistar e o melhor: mais uma temporada conosco aqui.

Lei

14 de outubro de 2003

Peguei a pasta em cima da pilha e a abri, olhando as diversas informações no contrato da Nike, novo patrocinador do material esportivo do time. Girei as páginas uma a uma, procurando pelo negrito no valor e cheguei à última página, encontrando a assinatura de Giorgio, do presidente e vice-presidente do time e do pessoal da Nike.
Durante meus dois anos de estágio, eu tive pouco contato com os valores do time, era mais as coisas do jogo que não eram grandes valores, era muita coisa que o pessoal da equipe técnica, mandava para o pessoal de compras deixar ajeitado para os jogos e a gente deveria fazer o repasse para os fornecedores, mas eram coisas simples, tipo toalhas, Gatorade, uniformes, enfim, coisas utilizadas nos jogos e nos treinos.
Mas agora, depois que eu fui efetivada, eu comecei a ver os grandes valores do time. Salário de jogadores, valores de reforma e, agora, valor de contrato de patrocínio com a Nike. Eram valores que eu provavelmente não ganharia nunca na vida e teria que batalhar bastante para chegar em um ano de salário deles.
Tentei não me abalar com esse pensamento e ficar feliz pelo meu salário triplicado e peguei a folha do cheque preso nele e passei os valores para a planilha que eu preenchia, não me esquecendo de nenhum dos milhares zeros no contrato e prendi o cheque no clipe novamente, precisando só da assinatura de Giorgio agora para liberar a quantia.
Peguei a pasta e me levantei da mesa, vendo os outros oito funcionários trabalhando ali, entre analistas como eu, coordenadores e um novo estagiário e segui até a sala de Giorgio, dando dois toques na porta.
- Viene! – Ele disse e eu a abri.
- Scusa, Giorgio, preciso de uma assinatura. – Falei, esticando o contrato em minha mão e ele movimentou a mão para que eu entrasse e percebi que ele estava no telefone.
- Sim, ok, nos vemos logo mais. – Ele falou, desligando o telefone.
- Preciso da assinatura do cheque para repasse para a Nike. – Falei, ficando ao seu lado na mesa e coloquei o contrato em sua frente.
- Ah, perfeito! – Ele falou, pegando uma caneta e assinando o cheque que eu havia preenchido há pouco. – Acho que é só, não?!
- Sim, após isso já começa a produção do material esportivo para venda para torcedores e só comemorar.
- Ótimo! – Ele riu fracamente. – Hoje é a sessão de fotos do time, então eu já fico com isso, vou encontrar por patrocinadores daqui a pouco.
- Lá no Delle Alpi?
- Sim, queriam fazer aqui, mas achamos melhor fazer direto no estádio. – Assenti com a cabeça.
- Deve ser legal! – Sorri. – Enfim, o senhor precisa de algo a mais por enquanto?
- Não, acho que não. – Ele disse.
- Perfeito, a Roberta precisa de ajuda para preencher umas planilhas e...
- Espera! – Ele falou antes de eu dar um passo. – O que você quis dizer com “deve ser legal”? – Ele perguntou.
- Como? – Perguntei
- Agora pouco, falei que ia no estádio e você disse que deve ser legal.
- Ah, o estádio. – Sorri.
- Você nunca foi no estádio? – Ele perguntou.
- Nunca, senhor. – Falei, franzindo os lábios.
- E nunca viu um jogo da Juventus? – Neguei com a cabeça. – Ok, ok, espera! – Ele passou a mão na testa. – Vamos mudar isso agora. Você vai comigo para o Delle Alpi. E você sabe que temos uma cota de ingressos para funcionários, certo?
- Mesmo? Eu perguntei ano retrasado e...
- Não liberamos para estagiário, pois não é algo frequente, quando contratamos alguém, temos a convicção de que ele passará um bom tempo com a gente, então, liberamos alguns. – Ele falou.
- Uau, e como eu consigo isso? – Perguntei.
- Não tem limite de jogo, mas são só jogos em casa, caso você queira ir em algum jogo que seja em outra cidade ou país, aí você precisa comprar. – Assenti com a cabeça. – Você precisa falar com o setor esportivo e eles te colocam em uma lista, quando quiser ver o jogo, só falar na bilheteria seu nome e documento que eles te liberam. – Ele pegou um post-it, anotando um telefone. – Esse é o ramal do setor esportivo, só falar com eles.
- Grazie mile. – Sorri. – Vou me programar de ir em um jogo o mais breve possível.
- Sim, mas saímos em cinco minutos. – Ele apontou para mim e eu franzi a testa. – Para ir ao Delle Alpi, é claro. – Ele disse.
- Você não precisa fazer isso, senhor. – Falei.
- Você que sabe, mas eu não perderia a oportunidade. – Ele disse.
- Aprendi desde cedo que oportunidade é a única coisa que não se deve deixar passar. – Falei e ele assentiu com a cabeça. – Te espero lá fora. – Ele assentiu com a cabeça, sorrindo.
Voltei para minha mesa e dei uma rápida olhada no relógio, passava das quatro, dependendo de quanto demorasse no estádio, eu chegaria depois das seis, mas não me importava com isso, eu finalmente iria conhecer o famoso Delle Alpi. Nunca tinha ido nem perto dele, ele ficava no extremo norte da cidade, Vinovo ficava a sul e eu morava no centro, não era como se desse umas voltinhas ao entorno sempre que dava.
Dei uma rápida olhada nas minhas tarefas e saí fechando as planilhas e programas abertos e desliguei o computador, vi Giorgio sair da sua sala poucos minutos depois. Ele acenou com a cabeça e eu peguei minha bolsa pendurada na cadeira e fui atrás dele, também não falando nada para ninguém.
Seguimos para fora dos escritórios de Vinovo e um motorista já estava na frente do prédio nos esperando. Ele entrou na frente com o garoto jovem e eu entrei logo atrás, cumprimentando-o rapidamente.
- Para o Delle Alpi, Giovanni. – Giorgio falou, segurando no apoio e eu coloquei o cinto atrás dele.
A viagem para o Delle Alpi durou cerca de meia hora. Estávamos do outro lado da cidade, né?! Literalmente. Para juntar com o trânsito da estrada, devido ao começo do horário de pico, demorou um pouco, mas não importava, eu estava empolgada.
Foi fácil perceber que havíamos chegado, depois de passar por todas as casas e prédios da cidade em um local mais vazio, o estádio simplesmente se abriu diante de meus olhos. Uma construção gigantesca com cobertura metalizada que brilhava e cegava os olhos devido ao sol forte que fazia naquele começo de setembro.
O motorista Giovanni parou bem próximo ao estádio, então foi só saltarmos do carro e entrar, praticamente. Seguimos pela entrada principal, me fazendo olhar surpresa com toda a decoração dele. Ela estava misturada entre Juventus e Torino, então tinha o nosso preto e branco e nossa zebra, e o vinho e touro do time menos relevante da cidade.
Passamos pelos corredores do estádio, seguindo as placas, pelo menos eu as seguia, era claro que Giorgio sabia para onde estava indo como se viesse com frequência aqui. Sobe e desce, volta aqui e volta dali, me vi no corredor de entrada dos jogos, me deixando surpresa.
- Você pode entrar, sabia? – Giorgio falou ao meu lado e eu suspirei.
- Não é um lugar sagrado ou algo assim? – Perguntei.
- É sim, só trate-o com respeito e carinho, como se fosse a sua casa.
- De certa forma é, não?! – Virei para ele.
- Assim que se fala. – Ele disse, me empurrando pelo ombro e seguiu para dentro do estádio, me fazendo rir.
O segui a passos lentos, totalmente ansiosa pelo que eu iria encontrar. Eu acompanhava os jogos pela televisão, mas sabia que não era nada perto do que eu via ali, a visão era totalmente diferente.
Respirei fundo quando saí para fora do estádio, sentindo o sol me cegar por alguns minutos e fui vendo o estádio se formar em minha frente, me fazendo dar um pequeno sorriso. Ele tinha uma pista de atletismo em volta, então eu não pisei na grama quando saí. Isso dava a impressão do estádio ser maior ainda e o campo menor.
Falando em campo, tinha várias pessoas nele. Jogadores, equipe técnica e uma equipe de fotografia que tentava montar os jogadores enfileirados para a foto oficial do time. Olhei mais para frente e Giorgio falava com alguns homens engravatados e imaginei que fosse o pessoal da Nike.
- , viene! – Giorgio disse e me aproximei deles, passando as mãos nos cabelos arrepiados no rabo de cavalos. – Senhores, deixe-me apresentar , ela é analista de contabilidade, uma das nossas grandes descobertas. – Evitei sorrir demais.
- È un piacere. – Disse, cumprimentando os três com um aperto de mão.
- O prazer é nosso, signorina. É difícil ver mulheres em times de futebol, Giorgio. – Ele disse.
- Aqui enxergamos talento, não gênero. – Evitei olhar surpresa para Giorgio, mas dei um sorriso.
- Mulheres também são fanáticas por futebol e posso te garantir que não são só pelos jogadores. – Falei, forçando uma risada para parecer piada para aliviar o ânimo e eles riram comigo.
- Vamos conversar lá dentro, senhores? – Giorgio falou. – , fique à vontade. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, vendo-os se retirarem e revirei os olhos.
- Homens. – Suspirei, dando alguns passos para frente, chegando mais perto do campo e vendo os jogadores enfileirados em três níveis. Procurei Gigi entre eles e tive que desviar do fotógrafo para encontrá-lo, já que ele estava exatamente no meio da foto, sentando na primeira fila.
Eu não queria ser a chata do negócio, mas a Nike teria que me perdoar. O uniforme esportivo da Lotto, antigo patrocinador, era muito mais bonito. Essa blusa rosa sem graça que o Gigi estava usando parecia pijama. O uniforme dos jogadores de linha era até que bonita, o calção preto havia sido substituído pelo branco e dava uma cara totalmente diferente para o uniforme.
Percebi alguns olhares para mim e ergui a mão, acenando para os jogadores e neguei com a cabeça, vendo-os retribuírem e me afastei alguns passos, não queria ser a que atrapalhava as coisas.
- Aqui, ragazzi! – Ouvi o fotógrafo e prensei os lábios.
Após a foto com os jogadores, a equipe técnica entrou na foto e logo todos se separaram, fazendo algumas risadas ecoarem pelo ambiente e os jogadores pareciam aliviados disso ter acabado, imaginei que as fotos individuais já tinham sido feitas ou nem seriam, vai saber. Não demorou muito para alguns jogadores virem em minha direção.
- É uma miragem que eu vejo?! – Lilian foi o primeiro a brincar e eu revirei os olhos.
- Engraçadinho. – Falei, sentindo-o me abraçar, me tirando do chão, me fazendo rir.
- Bom te ver. – Ele disse, dando um beijo em minha bochecha.
- Você também. – Empurrei-o pela sua careca, vendo-o abrir espaço para Gigi que tinha um sorriso no rosto.
- O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou, passando os braços pela minha cintura e eu ri fracamente, abraçando-o pelos ombros e ficando levemente na ponta dos pés com o feito.
- Oi, para você também. – Brinquei, sentindo-o beijar minha bochecha.
- Oi. – Ele sorriu e mordi meu lábio inferior, nos afastando.
- Eu vim acompanhar Giorgio, queria conhecer o estádio. – Me afastei dele, cumprimentando Del Piero rapidamente, depois Pavel.
- Espera, “conhecer o estádio”? – Trezeguet perguntou.
- É, eu nunca tinha vindo aqui. – Dei de ombros.
- Como? – Vários perguntaram juntos e eu dei um passo para trás.
- É longe de casa? O ingresso é caro? Posso achar vários motivos para isso. – Dei um sorriso sarcástico.
- Ok, você trabalha em um time de futebol e nunca veio em um jogo? – Gigi perguntou.
- Também não precisa me julgar tanto assim. – Brinquei, vendo-o rir. – Pretendo mudar isso em breve.
- Por favor, hein?! – Lilian falou, me abraçando de lado. – Avisa quando vier.
- Por quê? – Ri fracamente.
- Para gente garantir a vitória. – Ele disse, rindo fracamente.
- Vou falar que vou em todos, então. – Disse, ouvindo a roda rir.
- Andiamo, ragazzi. – Olhei ao fundo, vendo Lippi. – Tinha que ser a . – Ele gritou, me fazendo rir.
- Ciao, Lippi! – Gritei para ele.
- Ciao, . – Ele disse, acenando.
- A gente se vê, garota. Bom te ver. – Del Piero falou e eu sorri, acenando para eles que seguiram para dentro, me deixando com Gigi.
- Então, você nunca foi em um jogo. – Ele disse e eu o empurrei para trás, ouvindo-o rir.
- Não começa. – Disse e ele sorriu.
- Como está o trabalho?
- Está indo bem, começo de temporada, está tudo meio calmo ainda. – Suspirei.
- Bom saber. – Ele sorriu. – Beh, em partes.
- Por quê? – Perguntei, franzindo a testa.
- Porque isso quer dizer que... – Ele deu um passo para frente, nos aproximando. – Eu não posso fazer isso. – Ele segurou meu rosto com a mão e colou nossos lábios devagar, me fazendo suspirar.
Fechei os olhos, levando minha mão em cima da sua no automático e deixei seus lábios encaixarem nos meus como se pertencessem àquele lugar. Sua mão acariciou minha nuca devagar e eu tive um lapso de coragem, nos afastando.
- Gigi! – Falei, olhando rapidamente em volta.
- Desculpe. – Ele disse, rindo fracamente.
- Você diz que não pode fazer isso e faz mesmo assim? – Ele deu de ombros, sorrindo. – Ah, você não vale nada.
- Eu já entendi que não podemos ficar juntos, mas eu não acho justo. – Ele disse, se aproximando e eu dei um passo para trás.
- Não! – Falei firme. – O idiota da Nike acabou de fazer uma piada super machista sobre mulheres e futebol e você me beija onde todo mundo pode ver?
- Isso quer dizer que se fosse escondido...
- Gigi! – O repreendi.
- Ok, ok, já entendi, sem beijos. – Ele revirou os olhos, abanando a mão e eu olhei rapidamente em volta, vendo que só o pessoal da fotografia ainda estava lá.
- Eu gosto de você, Gigi, mesmo, eu só não quero perder tudo. – Ele assentiu com a cabeça, acariciando meu rosto de uma distância considerável.
- Tudo bem, eu entendi. – Ele falou sério, assentindo com a cabeça. – A gente se vê?
- Sempre. – Suspirei, dando um rápido beijo em sua bochecha, vendo um curto sorriso passar pelos seus lábios.
- Até mais. – Ele falou e eu acenei com a mão.
- Ah, Gigi! – O chamei, vendo-o se virar. – Esse uniforme é horrível. – Falei, fazendo uma careta e ele riu fracamente.
- Concordo! – Sorrimos juntos. – Pena que, de nós dois, eu que vou ter que usar, né?! – Dei de ombros, gargalhando.
- Faz parte. – Ele sorriu e seguiu para dentro do estádio e eu suspirei, tentando não me sentir culpada por isso.

Lui

Nove de novembro de 2003

A fila começou a andar e eu segui atrás de Del Piero, entrando no Delle Alpi e seguindo a formação de fila ao lado do juiz e do assistente. O Delle Alpi estava vazio hoje, bom, vazio, se comparar que metade estava vazio. O estádio tinha capacidade para quase 70 mil pessoas, então divida isso por dois que você terá um número mais real de como estava mais ou menos lá.
O sol das três da tarde também não ajudava muito, estávamos no final do outono, o frio começava a dar sinais, mas o sol a esse horário realmente não ajudava. O hino da Série A foi tocado, nos juntamos para tirar foto e eu corri para o meu lado, girando os braços e arqueando as pernas para um último alongamento.
O juiz apitou e saímos com a bola. O jogo começou bem lento, a Udinese não era um grande time, então a bola ficou no campo deles durante boa parte do jogo. O time podia não estar muito bom, mas o goleiro De Sanctis ia muito bem em todas as tentativas de Del Piero, Zambrotta, Trezeguet, Lilian, Tacchinardi e Pavel.
Eu tive pouco aparecimento no jogo, fiz uma tirada antes do chute no gol, mas havia sido meu grande feito. Tivemos um pênalti a favor de nós, mas Del Piero meteu no travessão e não tinha ninguém para receber o rebote.
Após meu grande feito, eu fiz outro, mas dessa vez não foi legal, eu fui tirar a bola do jogador, acabei indo um pouco exagerado demais e eu derrubei o jogador dentro da área. Cartão amarelo para mim, pênalti para ele. Cada um foi para um lado e 1x0 para eles em 66 minutos de jogo.
Após isso, Lippi optou por fazer algumas mudanças. Tirou Del Piero, Camoranesi e Zambrotta, colocando Tudor, Miccoli e Di Vaio, pareceu que o jogo começou a andar finalmente. Di Vaio fez um aos 79 e estávamos contentes com o empate, mas Miccoli veio aos 85 com outro, Di Vaio novamente aos 88 e Trezeguet fechou os 90+5 com o quarto. Aposto que deixando o time inteiro surpreso.
O apito final soou e comemoramos animadamente essa vitória esperada, mas não desse jeito. Aposto que Lippi puxaria algumas orelhas no vestiário, inclusive a minha por cometer aquele pênalti, mas havíamos conseguido os três pontos e era o que importava de primeira instância.
Lippi e os outros membros de equipe técnica nos abraçaram animadamente, feliz por terminar essa rodada bem. A última havia terminado em empate fora de casa, justo no dia de aniversário do time, primeiro de novembro. Eles gostavam de fazer algumas comemorações nesse dia quando o jogo era em casa, confesso que fiquei feliz por não ter sido.
Puxei a blusa para fora quando o goleiro De Sanctis se aproximou de mim e nos cumprimentamos com um aperto de mão e um abraço, trocando nossas camisas e seguimos de volta para o túnel do Delle Alpi. Alguns outros jogadores nos cumprimentaram também e logo segui em direção ao nosso vestiário, cumprimentando os roupeiros e fisioterapeutas que estavam ali e peguei um squeeze, apertando-o na boca.
Lippi já estava no centro do vestiário andando de um lado para outro, com a mão na cintura por dentro do paletó e a mão no queixo. Segui para o meu espaço, me sentando nele e passei a toalha em meu rosto, respirando fundo. Os outros jogadores foram entrando e se ajeitando também, esperando a reunião pós-jogo.
- Ok, ragazzi... – Ele começou. – Nem sei muito o que dizer. Tivemos algumas falhas hoje sim, mas o problema maior foi o goleiro adversário. Ele estava muito preparado e só conseguimos adentrar depois do primeiro gol. Acho que ele deu uma bambeada. – Ele ponderou com a cabeça. – Gigi, Alex, nem preciso citar os erros de vocês, certo? – Ele perguntou e nós dois negamos com a cabeça. – Terça-feira fazemos alguns treinos mais específicos nisso.
- Beleza. – Eu e Del Piero falamos juntos.
- Acho que por hoje é só, podem ir se arrumar. – Ele disse e eu e a maioria dos jogadores nos levantamos.
Tirei as chuteiras, meias e caneleiras, organizando onde cada uma ia e peguei minha bolsa, seguindo para o banheiro. Pegando uma toalha quando passei pelo local de retirada e entrei em um dos chuveiros, fechando o box. Tomei meu banho com a cantoria conhecida de Lilian, e Trezeguet fazia questão de acompanhá-lo. Pelo menos as músicas francesas haviam parado um pouco e agora todo mundo podia cantar com eles.
- Ragazzi, não saiam sem roupa do banheiro, mulher no vestiário. – Ouvi um grito e franzi a testa.
- Como, cara? – Alguém gritou e a pergunta foi boa, ninguém trazia roupa para o banheiro.
- Sai de toalha, pelo menos. Cobre com alguma coisa. – Revirei os olhos, deixando a água cair nos olhos.
Quem era essa agora? Acionista? Patrocinador? Os membros da família Agnelli? Poderia ser qualquer um deles, ainda mais depois de uma vitória muito empolgante como essa. Finalizei meu banho sem qualquer pressa de ir lá e me banhei com uma calma incrível. Ok, ainda tínhamos algum tempo aqui antes de ir embora mesmo, nem tinha motivo para ter pressa.
Desliguei do chuveiro, ouvindo algumas risadas do vestiário e enrolei a toalha na cintura, calçando os chinelos novamente. Passei as mãos nos cabelos, dando uma batidinha nele e segui em direção ao vestiário.
- Nem vem, já ia achar que eu estava azarando o time. – Ouvi uma voz feminina e me surpreendi ao encontrar lá fora.
Dei um pequeno sorriso, me desligando da resposta de Lilian para ela. Ela estava com uma blusa de linha da Juventus, com uma blusa de manga comprida por baixo, uma daquelas faixas da torcida enrolada no pescoço como um cachecol, um boné também da Juventus e uma estrela preta e outra branca desenhada na bochecha.
- Não, eu ia ter que pedir demissão, qual é! – Ela gargalhou. – Perder logo no primeiro jogo? Não! Sem condições.
- Aprende, , às vezes não é azar, às vezes o outro time só está mais preparado. – Conte falou.
- Achei que a gente fosse o melhor time da Itália... – Ela falou no seu jeito sarcástico, dando um sorriso.
- Uh! – Eles gritaram, fazendo-a rir.
- Até os melhores tem dias ruins. – Gritei e ela virou o rosto em minha direção.
Ela, sem nenhum pudor ou vergonha, desceu os olhos pelo meu corpo, arregalou os olhos com o feito e ainda pressionou os lábios um no outro, deixando um sorriso desenhar entre eles. Confesso que aquilo me deixou levemente desconcertado.
- Vocês precisam aprender a se arrumar lá no banheiro. – Ela falou, nos fazendo rir.
- Não é todo dia que recebemos uma mulher no vestiário. – Del Piero falou, fazendo-a rir.
- Eu tentarei não fazer disso um hábito, mas é meu primeiro jogo, queria dar um ciao para vocês. – Ela deu um pequeno sorriso, cruzando os braços.
- O que você achou do jogo? – Perguntei.
- Melhor que o da semana passada, né?! – Ela disse.
- Argh! – Vários fizeram caretas ao se lembrar. Casa lotada, o Milan abriu o placar aos 65 minutos e, com muito esforço, a gente conseguiu empatar aos 84 com Trezeguet, mas também ficou nisso.
- Eu estou brincando, gente, não foi tão mal assim. – Ela disse, rindo fracamente.
- Não, o empate fica pior por ter sido fora de casa e no dia do aniversário do clube. – Pavel falou.
- É, fiquei sabendo disso. – Ela riu fracamente.
- Como assim? – Perguntei, seguindo até meu posto, vestindo ao menos uma blusa.
- Meu aniversário é dia um de novembro também.
- Mentira! – A gente falou animado.
- Você faz aniversário no dia do aniversário do time? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- Confesso que só soube esse ano por causa do jogo, nos meus dois primeiros anos não teve.
- Ah, parabéns, então, garota! – Del Piero gritou.
- TANTI AUGURI DA TE! – Lilian puxou o coro, deixando-a encabulada.
- TANTI AUGURI DA TE! TANTI AUGURI DA TE! TANTI AUGURI DA TE! TANTI AUGURI DA TE! – Cantamos, batendo palmas altas e ela gargalhou.
- Grazie mile, ragazzi. – Ela levou as mãos até o rosto, totalmente envergonhada.
- Quantos anos? – Lippi perguntou.
- 22. – Ela sorriu.
- Ah, ela é novinha ainda. – Del Piero brincou, fazendo-a revirar os olhos.
- Falou o velho! – Ela brincou. – 28 anos. – Ela apontou para Del Piero. – 29. – Apontou para Pavel. – 25. – Apontou para mim, rindo. – O Conte já sai da linha. – Gargalhamos.
- Em minha defesa... – Ele começou.
- A tecnologia está avançando, Conte, relaxa, vocês poderão jogar até os 40 em breve. – Rimos juntos. – Bom, você talvez não. – Ela fez uma careta e uma toalha voou em sua direção. – Ah, toalha suada. – Ela jogou de volta, nos fazendo rir. – Beh, ragazzi, foi um prazer ver vocês em seu habitat. – Ela sorriu, juntando as mãos em frente ao corpo.
- O prazer foi nosso. – Falamos juntos.
- Ah, Gigi, parabéns pela centésima aparição pelo time. – Ela falou, se virando para mim. – Eu queria ter ido no jogo, mas na Grécia não dava, né?! – Ela deu de ombros, me fazendo rir.
- Obrigado. – Sorri.
- A gente se vê! – Ela disse, acenando, dando alguns passos para trás e deu um rápido abraço em Lippi antes de sair do vestiário.
- “Ah, Gigi, parabéns pela centésima aparição”. – Trezeguet fez uma péssima imitação dela e eu revirei os olhos.
- Ah, Gigi! – O pessoal gritou, jogando toalhas e squeezes em minha direção, sendo a minha vez de ficar encabulado.
- Ainda não avançaram? – Lippi perguntou.
- Ela não me dá abertura, cara. – Falei.
- Vocês bem que se beijaram naquele dia aqui no estádio. – Pavel falou.
- É, e ela me bloqueou. – Dei de ombros. – Sei lá, caras, talvez não seja para ser. – Dei de ombros.
- Não seja apressado, cara. Ela não vai a lugar nenhum, você também não. – Lippi deu de ombros, me fazendo rir. – Mas sabe o que você poderia fazer? – Ele falou.
- O quê?
- Ir atrás dela?! – Ele falou como se fosse óbvio e eu assenti com a cabeça.
Corri colocar uma cueca e a calça do moletom de chegada ao estádio novamente e joguei a toalha em meu espaço, seguindo para fora do vestiário pelo caminho de antes, parando assim que a vi no corredor, com o celular na orelha.
- Ei, não precisa me apressar, você que não quis vir. – Ela disse, rindo em seguida. – Deserdaria nada, qual é! Só usar a desculpa de que o Torino não chega nem aos pés da Juventus que ele deixa. – Ela disse, virando de um lado para o outro. – Bom, se ele te deserdar, você pode morar comigo, seria até legal ter uma companhia. – Sorri. – Ok, vai lá para casa, você tem a cópia da chave, isso. – Ela disse sorrindo. – Chego até as sete. – Ela suspirou. – Ônibus, trem, eu estou do outro lado da cidade, linda. – Ela riu. – Até já. Ciao. – Ela disse, desligando o telefone.
- Giulia? – Perguntei, assustando-a.
- Ei, Gigi! – Ela sorriu, se aproximando um pouco mais de mim. – Acho que é um look mais apresentável. – Ela apontou para mim, rindo fracamente.
- Não costumamos receber muita mulher, sabe? – Disse e ela assentiu com a cabeça.
- Bom, pensando em uma opinião pessoal, eu não me importo nem um pouco. – Ela disse, franzindo as bochechas e rimos juntas. – Talvez seja parte do trabalho. – Ela deu de ombros.
- Do seu?
- Ah, podemos sonhar, né?! – Ela brincou, rindo fracamente.
- Então, Giulia não pode vir ao estádio porque alguém torce para o Torino? – Perguntei.
- O pai dela. – Rimos juntos. – Ele super aceita e fica feliz pelo meu trabalho aqui, mas a gente acaba discutindo em algumas coisas. – Ela sorriu. – Mas meus conhecimentos de futebol não saem muito da Juventus, então sempre vou achar vocês os melhores jogadores do mundo. – Ela sorriu.
- Eu não ia me importar se você me achasse o melhor jogador do mundo para sempre. – Dei de ombros.
- Quem sabe? – Ela sorriu, negando com a cabeça. – Você gosta de ficar feio, né?! – Ela disse, apontando para seu próprio rosto.
- Não ficou legal? – Perguntei, rindo fracamente.
- Acho que costeletas e barbicha não ficam bem em ninguém. – Ela falou, rindo fracamente.
- Como você acha que eu fico bom? – Perguntei e ela franziu os lábios da mesma forma de sempre.
- Barba por fazer, mas completo, barba e bigode junto, cabelos jogados para trás... – Ela sorriu. – Só dizendo. – Ri fracamente.
- Dica anotada. – Sorrimos. – Então, acabei ouvindo um pouco do seu papo, Giulia vai morar contigo?
- Não, mas bem que ela queria. – Rimos juntos. – Ela está com uns problemas em casa, sabe? Sem emprego, pai pressionador. – Ela ponderou com a cabeça. – Acho que todos tivemos isso um pouco. – Ela deu de ombros. – Bom, eu não, mas gostaria que tivesse tido.
- E vocês morariam lá no seu espaço? – Perguntei.
- Na verdade, eu encontrei um apartamento perto de Vinovo, pequenininho também, mas agora os cômodos são separados, não tudo junto. – Rimos juntos. – Se eu fizer alguma fritura na cozinha, meu travesseiro não cheira, mas é um começo. – Sorri com ela. – Dois quartos, um banheiro... – Ela ponderou com a cabeça. – É legal. Me mudo para lá em janeiro ou fevereiro, só esperando algumas liberações, o pai da Giulia entrou de fiador para mim.
- Que bacana, parabéns! – Falei, sorrindo.
- Sim, é bom mudar. Mudar para melhor. – Ela suspirou.
- Sim, é. – Sorri, encarando seus olhos.
- Então, você vai me beijar ou... – Ela me olhou, franzindo os olhos.
- Posso? – Perguntei, vendo-a suspirar, soltando o ar para cima.
- Eu não sei. – Ela mordeu seu lábio inferior. – Eu quero, mas...
- Eu entendo. – Falei, assentindo com a cabeça. – Eu vou me comportar, prometo. – Falei, vendo-a brincar.
- Eu gosto de você, Gigi, mesmo, para valer, mas eu não sei o que fazer nessa situação. – Ela suspirou.
- Um dia você saberá. – Falei. – Posso te dar um abraço, pelo menos? – Ela sorriu.
- Com certeza. – Ela disse, passando os braços pela minha cintura e eu passei os meus pelos seus ombros, sentindo-a apoiar a cabeça em meu ombro e dei um beijo em sua cabeça coberta pelo boné.
- Fica bem, está bem?
- Você também. – Ela falou, se afastando devagar. – Parabéns pelo jogo.
- Valeu! – Disse e ela se afastou alguns passos, olhando para os lados.
- Você sabe como sair daqui? – Ela fez uma careta e eu apontei para o meu lado esquerdo, vendo-a rir.
- Obrigada! Ciao. – Ela disse, saindo pelo caminho que eu havia indicado e eu ri fracamente. Suspirando.
- Eu sou um idiota. – Sussurrei, passando a mão na lateral do meu rosto, sentindo a costeleta. – Eu preciso tirar isso.



Capitolo sei

Lei
24 de janeiro de 2004 • Trilha SonoraOuça

Bati o pé impacientemente na fila da loja e chequei o relógio mais uma vez. Giulia chegaria em menos de 20 minutos lá em casa e eu ainda estava presa aqui com uma cafeteira na mão. Acho que eu deveria ter comprado uma cafeteira depois de ter finalmente ido para meu apartamento, não antes, mas a ansiedade em meu peito estava me matando.
- Próximo! – A mulher do caixa gritou e quase corri em sua direção, colocando o item em sua frente e passei a mão no bolso com os euros quase contados e coloquei em cima. – Mais alguma...
- Não! – A interrompi, apressada, vendo-a franzir o rosto. – Scusa, eu estou atrasada. – Falei, vendo-a assentir com a cabeça e contar rapidamente o dinheiro, dando as poucas moedas de troco e guardei tudo no bolso de trás da calça, pegando a caixa. – Grazie! – Falei, saindo desesperada da loja.
Corri em direção à entrada do shopping que ficava mais perto da minha casa e desviei de várias pessoas enquanto fazia o percurso. A cena de uma louca correndo pelo shopping com uma cafeteira na mão deveria ser realmente interessante. Mas não seria o primeiro mico que eu pagaria na vida, para que se importar de pagar mais um, não?!
Parei na beirada da rua junto de algumas pessoas e esperei o carro passar para continuar minha correria, sem me importar com o sinal fechado para pedestres. Avistei a banca que ficava à um quarteirão de casa e sabia que estava chegando. Do shopping para minha casa era cinco minutos, agora da loja para a saída do shopping era a mesma distância.
- Ciao, seu Manuel! – Gritei para o jornaleiro, passando mais devagar.
- Ei, , para que é essa correria? – Ele perguntou e me obriguei a parar, respirando fundo.
- Hoje é dia de mudança! – Falei, rindo fracamente.
- Então vai me abandonar? – Ele brincou e eu sorri.
- Nunca vou te abandonar, seu Manuel, o senhor tem as melhores revistas e... – Franzi a testa ao observar uma das diversas revistas penduradas na estrutura da banda e me aproximei de uma delas, equilibrando a cafeteira em uma mão e a puxei.
- sempre vai nas revistas de fofocas! – Seu Manuel riu fracamente, mas não fui capaz de responder, eu já havia saído de foco.
A revista Chi era a maior revista de fofoca do país sim, mas eles trabalhavam com fotos muito explícitas, se quer saber, sem pudor ou preocupação em afetar os envolvidos, e com certeza eles não pensaram em mim ao publicar aquelas fotos. Era Gigi saindo de uma boate ou algum lugar aberto. Ou melhor, era ele saindo de uma boate com as mãos entrelaçadas na de uma outra mulher, claramente desviando dos flashes.
Na foto menor que ficava na lateral direita, ele agarrava a mesma mulher pela cintura e tinha os lábios colados nos dela enquanto ela mantinha as duas mãos em seu rosto. Na chamada de cor vermelha estava uma piadinha infame, como todas as chamadas da Chi “O goleiro pegou de jeito”. E embaixo em letras menores “Gianluigi Buffon, goleiro da Juventus, e a corredora Vicenza Calì curtem noite de amor em Riccione”.
- Está tudo bem, ? – Seu Manuel perguntou e eu abanei a cabeça.
- Oi, desculpa, está sim. Vou ficar com ela, quanto é? – Perguntei, esticando a revista para ela.
- Fica com ela, meu último presente para você. Com a promessa que volte para me visitar. – Sorri, me aproximando do senhor atrás do balcão e dei um beijo em sua bochecha.
- Vai ser um prazer. – Sorri, colocando a revista dentro do casaco fechado.
- Sucesso, viu, garota? – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Obrigada. – Mandei um beijo para ele e andei alguns passos de costas, voltando a correr o último quarteirão até a minha casa.
Desacelerei o passo quando vi o caminhão que Giulia havia arranjado para a minha mudança parado na frente do meu prédio e ela apertando com uma força descomunal o botão do meu apartamento.
- Ei! – Gritei. – Calma, aí!
- Ah, você está aí. Estava quase invadindo achando que você tinha morrido. – Ela disse, vindo em minha direção. – Ei, finalmente teremos café! – Ela disse e eu entreguei a caixa para ela, procurando as chaves dentro do bolso.
- Depois de você ter estourado minha jarra? Teremos! – Falei, vendo-a rir. – Oi, tio! – Gritei para seu pai no volante. – Me dá uns minutinhos?
- Claro, vai lá! – Ele disse e eu abri o portão.
- Vem cá! – Falei para Giulia, entrando no meu prédio e segui até minha porta, colocando a chave nela.
- Nossa, , você está bem? Parece meio irritada! – Ela disse, apoiando a caixa em seus braços em minha escrivaninha.
- Eu estou irritada! – Falei alto, puxando a revista de dentro do meu casaco e a bati com força em seu peito. – Olha o que eu achei. – Falei, sentando no colchão caído no chão, já que a cama já estava desmontada.
- Hum, isso não é bom! – Ela falou, olhando para a capa da revista. - “O goleiro pegou de jeito”. – Giulia leu. – Deus, eles são péssimos com títulos. – Ela falou. - “Gianluigi Buffon, goleiro da Juventus, e a corredora Vicenza Calì curtem noite de amor em Riccione”.
- Olha isso! – Falei, sentindo as lágrimas quererem sair de meus olhos e passei as mãos neles.
- Ok, vamos ver! – Ouvi as folhas das revistas passando de um lado para o outro, até parar e o colchão afundar ao meu lado. – “Em uma festa exclusiva em Riccione, Gianluigi Buffon (26), atual goleiro da Juventus e melhor goleiro da Europa pela Champions League 2002/2003, foi visto em um momento bem quente com a aposta da Itália no atletismo para as Olimpíadas de 2004, Vincenza Calì de 20 anos. A corredora de Palermo e o goleiro de Massa-Carrara foram vistos aos beijos e a carícias durante toda a festa.”
- Ah, ela é de Palermo. – Fiz uma careta, respirando fundo.
- Palermo é um saco.
- EU SOU DE PALERMO! – Gritei, vendo-a franzir o rosto.
- Calma, amiga! – Ela falou, voltando para revista. – “O casal saiu junto da festa em um carro dirigido por ele com risinhos e segundas intenções”.
- “Casal”. – Fui irônica.
- É, amiga... – Giulia falou e eu ouvi o barulho da revista no chão. – Casa caiu.
- Como assim? – Virei para ela, passando as mãos nas bochechas.
- A casa caiu, amiga. – Ela falou, dando de ombros. – Ele está com alguém.
- Como minha melhor amiga, essa é a única coisa que você vai falar? – Perguntei.
- O que você quer que eu fale, amiga? Posso falar que, como a gente imaginava, ele tem uma pegada de dar inveja. – Ela se levantou.
- Argh! – Disse.
- Essa mulher só é magra demais, mas...
- Giulia! – A repreendi. – Você deveria me dar apoio. – Falei, puxando fortemente a respiração.
- Ah, desculpa, meu amor, mas eu não vou te apoiar nessa não. Ficar brava com ele? Por quê? Ele é solteiro, não?! – Ela falou. – Ou vocês finalmente ficaram juntos e você não me disse? – Ela perguntou e eu suspirei. – Ele te deu todas as oportunidades possíveis, amiga, ele demonstrou interesse, ele te beijou, mostrou que gosta de você, mostrou que se preocupa com você, foi na sua formatura para mostrar isso e nem assim você se abriu. Quer que eu fale o quê? – Ela disse, se ajoelhando em minha frente. – Você não o escolheu em nenhuma opção. Uma hora ele ia desistir, é óbvio.
- Você deveria me dar colo. – Falei com a voz embargada e ela riu fracamente.
- Eu vou te dar colo, amiga, só não vou passar a mão na sua cabeça como se você estivesse certa. – Ela falou. – Ele não fez nada de errado.
- Mas eu gosto dele. – Franzi os lábios, sentindo as lágrimas deslizarem pelas bochechas de novo.
- Você tem um péssimo jeito de mostrar isso. – Ela falou.
- Eu já disse isso para ele. – Suspirei.
- É, mas você diz isso para ele e não deixa ele te beijar, não chama ele para sair, é como gostar de um amigo, tem tudo, menos as partes legais. – Ela deu de ombros, apoiando as mãos em meus joelhos.
- Eu não sei o que fazer, ok? – Suspirei. – Eu gosto muito dele.
- Eu percebi isso agora, não imaginei que te veria chorando por causa de um cara. Ainda mais um cara que você teve pouco contato.
- Ele mexe comigo de uma forma diferente. Ele é carinhoso, ele entende meu lado, ele se preocupa comigo. Eu não tinha contado da minha família nem para o meu ex, Giulia, e com ele foi tão fácil. – Funguei, passando as costas da mão no nariz. – Eu me sinto protegida com ele.
- Beh, ele é grandão mesmo, deve ser tipo um urso... – Dei um tapa em sua cabeça. – Ai!
- Não desse jeito. – Suspirei. – É... Eu não consigo explicar.
- Eu não consigo te dar uma sugestão, amiga. – Ela falou com seu tom de voz carinhoso. – Já pensou em falar com ele?
- Sobre?
- Você não querer nada agora por causa do trabalho, precisar e tal.
- Ele já sabe tudo isso, Giulia, eu me abri completamente com ele, achei que ele entendesse. – Suspirei.
- Essas fotos não provam nada, , aposto que ele entende sim, você só não esperava que ele ficasse de braços cruzados te esperando para sempre. Ou esperava? – Ela falou e eu fiz um pequeno bico, respirando fundo. – Ah, qual é.
- Ok, não esperava, mas se ele foi atrás de outra garota, provavelmente é porque ele não sente nada por mim...
- Ou porque homens tem necessidades sexuais mais afloradas do que nós mulheres. – Ela disse de forma cantada. – Qual é, isso daqui não é amor, isso daqui é uma pegada de um cara bem ubriaco. – Ela disse, gargalhando. – Olha isso, não tem sintonia, é bem de bêbado mesmo. – Dei um pequeno sorriso. – Além dos olhos vermelhos, é claro. – Suspirei.
- Obrigada. – Falei e ela sorriu.
- Eu realmente não sei o que falar para você, amiga, se você deveria ignorar tudo e se envolver com ele, se você deveria falar no RH se há a possibilidade de se envolver com alguém do time, se você deveria fazer tudo às escondidas, não sei... – Suspirei.
- Isso não importa mais, Giulia, ele está com outra. – Neguei com a cabeça. – Isso pode não ser amor, mas ninguém pega alguém com essa vontade se não tiver nenhum interesse, ainda mais na frente de paparazzi.
- Eu não conheço muito o mundo dos tabloides no quesito futebol. – Ela falou, revirando os olhos. – Mas eu não acreditaria muito nisso, fala com ele.
- O quê? – Falei um tanto alto. – “Oi, eu vi sua revista e comecei a chorar de desespero, você está junto daquela mulher?”
- É, não seria muito bom, principalmente pois é capaz de você começar a chorar de novo. – Ela falou, fazendo uma careta e eu suspirei.
- É melhor eu não vê-lo até a poeira baixar.
- Eu só estou um pouco confusa. – Ela disse e eu a olhei.
- O quê? – Perguntei.
- Vocês não estão juntos, amiga. – Ela falou com um tom de cuidado na voz. – Ele não te deve nada. Você fala como se estivessem em um relacionamento, mas... – Ela me abraçou de lado.
- Eu sei, é só que... – Suspirei, negando com a cabeça.
- Você gosta dele. – Ela disse e eu assenti com a cabeça e engoli em seco.
- Mais do que eu imaginava. – Suspirei.
- Eu entendo, amiga, e sinto muito por isso. – Ela soltou a respiração fortemente. – Mas você não pode ser assim. – Ela disse. – Você precisa ter um pouco mais de amor-próprio, qual é. Chorar por causa de homem? – Ela segurou minhas mãos, me forçando a ficar em pé. – Nem pensar. E dessa vez ele não está errado, não, por querer seguir em frente, mas não vou deixar você chorar por homem nenhum. – Dei um pequeno sorriso. – Nunca mais.
- Vai passar, eu juro, só fui pega desprevenida. – Falei, passando as mãos em meus olhos.
- Então, coloca um sorriso nessa cara, nós estamos indo para o seu novo apartamento... – Ela disse, animada. – E você não tem móveis para encher aquilo. – Ela falou, franzindo a testa.
- Eu vou ajeitando aos poucos. – Suspirei.
- Bom, o quarto de visitas é meu, então eu coloco uma cama lá. – Assenti com a cabeça. – Agora vamos, está melhor? Vamos tornar esse dia feliz? – Ela perguntou, pegando a revista no chão e eu assenti com a cabeça. – Ótimo! Porque hoje é uma nova etapa na sua vida. – Ela disse, seguindo até o banheiro e jogando a revista no lixo.
- Eu já tirei o lixo.
- Opa! – Ela falou, pegando de novo e olhou rapidamente em volta. – Espera aí. – Ela disse, saindo pela porta e vi seus movimentos até meu vizinho da frente e ela enfiou a revista embaixo da porta. – Amostra grátis! – Ela gritou e voltou, me fazendo gargalhar.
- Você é louca!
- Você é minha amiga, farei de tudo para você ficar bem. – Ela disse e eu sorri, passando os braços pelos seus ombros, abraçando-a apertado.
- Obrigada. – Suspirei.
- Agora vamos? Você está pagando o aluguel do caminhão por hora, caso tenha se esquecido.
- Droga! – Falei, vendo-a rir.
- Eu vou chamar meu pai. – Ela disse, saindo para o corredor.

Lui
Cinco de março de 2004

Entrei à direita, parando no portão do time, ouvindo o grito de alguns torcedores e abaixei o vidro, vendo-os se amontoarem próximo ao carro e sorri, ouvindo alguns gritos. Me entregaram camisetas e cadernos e assinei alguns, vendo-os sorrirem e o portão se abriu.
- Ciao, ciao! – Falei.
- Grazie, Gigi! – Eles falaram e coloquei o carro para andar, acenando para os porteiros.
Entrei em Vinovo, descendo um pouco pela longa rua, seguindo para próximo ao CT, onde fazíamos os treinamentos. Um pessoal já estava ali em volta, com suas mochilas nas costas, da mesma forma que eu estava chegando. Puxei-a, saindo do carro e tranquei-o. Joguei a chave de qualquer jeito na mochila e coloquei-a nas costas.
- Ciao, ragazzi! – Falei, vendo o pessoal acenar.
- Fala aí, Gigi! – Eles falaram e cumprimentei o pessoal mais perto, Pessotto, Ferrara e Chimenti.
- E aí, quais as novidades? – Perguntei.
- Você viu a lista do Pelé? – Del Piero perguntou.
- Que lista? – Franzi a testa, vendo Pavel com um grande pôster aberto e o pessoal amontoado em cima.
- Ontem teve uma festa em comemoração aos 100 anos da FIFA, aí o Pelé divulgou uma lista de 125 melhores jogadores vivos. – Conte explicou.
- Nossa! Estou totalmente avoado, ontem cheguei em casa e morri na cama. – Comentei.
- Agora está namorando, precisa ser presente. – Lilian brincou e eu revirei os olhos.
- Eu não estou namorando, a gente saiu algumas vezes, mas não vai rolar. – Falei, vendo-os rirem.
- Confesso que não entendo isso, você claramente gosta da e aí ficou com essa velocista aí. – Trezeguet falou.
- A não quer nada comigo, gente! – Falei um pouco mais alto. – Ela está preocupada com o trabalho dela aqui e, depois de descobrir que ela precisa desse trabalho para se manter, eu não tenho coragem de pedir para ela largar tudo e ficar comigo. – Suspirei. – Mas um cara tem suas necessidades.
- Bom, você podia pedir isso para ela e mantê-la. – Camoranesi falou.
- Estamos falando da , não a conheço tão bem, mas tenho certeza de que se eu chegar a sugerir isso, eu ganho um tapa na cara. – Falei e eles riram.
- Eu te bateria só por sugerir, com toda certeza. – Lilian falou.
- E não estamos tão próximos assim, só nos beijamos algumas vezes. – Suspirei.
- Esse vai ser tipo um daqueles dramas clássicos, só acaba quando um dos dois sair do time. – Pavel falou.
- Eu tenho um contrato até 2007 que eu pretendo cumprir, só se ela sair. – Rimos juntos.
- Bom, isso já anda há o quê? Três anos? – Del Piero perguntou. – Mais um pouco vira uma montanha-russa para sempre.
- Não, não, eu desisti, não vale à pena. – Suspirei. – Enfim, quem tem de bom nessa lista aí? – Fiquei atrás de Pavel, olhando por cima de seu ombro.
- Você! – Ele falou.
- Mesmo? – Arregalei os olhos, vendo o dedo de Conte ir até meu nome e foto no pôster. – Uau! O Pelé fez essa lista?
- Fez, cara! – Lilian falou, rindo fracamente.
- Eu, você, Lilian, Trezeguet e Del Piero estamos nela. – Pavel falou.
- Isso é loucura! – Falei.
- Não é?! – Trezeguet falou. – Isso é algo que eu não esperava.
- Ninguém acho. – Rimos juntos.
- Congratulazione, ragazzi. – Del Piero falou.
- A tutti noi. – Lilian disse.
- ‘Giorno, ragazzi! – Viramos para o lado, vendo Lippi com alguns assistentes técnicos. – Prontos para ir à Brescia? – Ele perguntou.
- Andiamo! – Tudor falou.
- Calma! – Ele falou, nos fazendo rir fracamente. – Primeiro, parabéns pela lista do Pelé, fiquei muito feliz em saber que tem cinco jogadores nossos nela. Isso é muito importante. – Ele começou, puxando aplausos dos jogadores e o copiamos, alguns soltando alguns gritos animados. – Vamos compensar no jogo de amanhã, beleza? – Rimos juntos.
- É o mínimo que dá para fazer. – Del Piero falou.
- Ótimo! – Lippi disse, sério.
- Agora, antes de irmos, o Giorgio pediu para vocês irem receber o salário lá na sala da contabilidade, porque não tem como ele vir aqui hoje, depois já podem ir dentro do ônibus. – Ele falou, apontando para o ônibus estacionado próximo à entrada.
- Vamos, galera! – Iuliano falou, animado.
- Espera aí! – Lippi falou. – É a sala da contabilidade, não uma discoteca, vai alguns de cada vez. – Rimos juntos.
- Vamos por ordem, ok?! – Del Piero falou. – Número de um a cinco, depois de cinco a 10 e por aí vai... – Ele disse. – Vai, Gigi!
Coloquei minha mochila no chão, próximo as outras e segui com Ciro Ferrara, Alessio Tacchinardi, Paolo Montero e Igor Tudor para o prédio administrativo, os outros vinham atrás também, tinha que andar cerca de um quilômetro para chegar lá, então já adiantamos em grupo. Conte e Del Piero vieram perto de mim.
Entramos no prédio, Del Piero tomando a frente do grupo como sempre e subimos os degraus, seguindo pelo longo corredor do prédio administrativo, procurando pela sala da contabilidade e Del Piero parou na porta quando a encontrou.
- Ei, falaram para gente vir aqui receber. – Ele falou.
- Ah, claro! – Uma voz masculina falou. – Quem ficou responsável pelos pagamentos? – Ouvi a pessoa gritar pela sala.
- Eu! – Ouvi uma voz feminina.
- Vai lá na sala do Giorgio, melhor. – Ele falou e eu franzi aqui. – Pode ir com ela.
- Vai lá, Gigi! – Del Piero falou e desviei de alguns jogadores no corredor, entrando na sala e vi em pé, apoiada em sua mesa, com uma pasta na mão.
- Ei. – Falei, abrindo um sorriso, percebendo que não seria tão fácil fazer o que eu disse há poucos segundos: deixar para lá.
- Vem cá! – Ela disse, mantendo o rosto sério e segui com ela para o fundo da sala principal, acenando para os poucos funcionários na sala principal e foi atrás dela em uma longa sala, estilo sala de reuniões, com uma mesa avulsa no fundo dela. – Giorgio precisou viajar, ele me deixou com os cheques, só precisa assinar, porque eu vou ter que reportar para ele depois.
- Tudo bem. – Falei, vendo-a seguir até a mesa, pegando um caderno preto e o abriu na página demarcada. – Você está bem?
- Sim, estou. – Ela deu um pequeno sorriso. – Pode sentar. – Ela disse, se sentando em uma cadeira na mesa de reuniões e eu sentei ao seu lado. – Gianluigi Buffon Masocco. – Ela falou. – Você tem um nome do meio? – Ela perguntou.
- Da minha mãe, uso pouco, mas ainda está aí. – Disse e ela assentiu com a cabeça.
- Ecco... – Ela disse, me entregando a caneta. – Só assinar e colocar a data.
- Que dia é hoje? – Perguntei.
- Cinco de março. – Ela falou e eu fiz minha assinatura, datando, enquanto ela procurava algo na outra pasta, colocando um envelope em cima da mesa logo em seguida.
- Pronto. – Falei e ela esticou a mão, pegando a caneta e assinou o envelope na linha pontilhada com sua caligrafia bonita e colocou a data, não sei por que aquilo me fez sorrir.
- Aqui também. – Ela me entregou o envelope e tentei estudar seus olhos.
Ela estava diferente, não me encarava diretamente, tinha o olhar baixo na mesa e, com certeza, não tinha um sorriso nos lábios como eu costumava ver. Ela parecia brava de alguma forma, será que eu havia feito alguma coisa para ela e não sabia? Não sei, ela parecia estranha.
- Acho que é isso... – Falei.
- É, você pode pedir para o próximo entrar? – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Claro. – Falei, pegando o envelope e me levantei, seguindo até a porta. – ... – Chamei-a.
- O quê? – Ela virou o rosto para mim.
- Bom te ver. – Falei, dando um sorriso e ela assentiu com a cabeça.
- Você também. – Ela disse, assentindo com a cabeça.
Suspirei, saindo da sala e apontei para Ferrara que estava parado na porta ainda e ele entrou, seguindo pelo caminho que eu estava. Acenei para os outros funcionários da sala e saí pelo longo corredor, vendo o povo todo organizado em um canto, deixando o espaço livre.
- E aí, é a , né?! – Del Piero falou, me puxando pela blusa.
- Sim, é! – Falei, me encostando na parede à sua frente.
- Que cara é essa? – Ele perguntou.
- Não sei, ela estava estranha. – Franzi a testa.
- Estranha como? – Ele perguntou.
- Estranha, ela costuma ser mais animada e tal, não sorriu, parecia meio seca. – Cocei a testa.
- Aconteceu alguma coisa entre vocês? – Ele perguntou.
- Eu não falo com ela desde o jogo, tirando alguns acenos de longe quando chegamos juntos. E o jogo foi ano passado. – Suspirei.
- Ela gosta de você, não gosta? – Ele perguntou.
- Era o que eu pensava. – Dei de ombros.
- Será que ela não viu você com a Vincenza? – Ele perguntou e eu franzi a testa. – Qual é, Gigi, tem saído em um monte de revista, vocês não são exatamente cuidadosos.
- Não pode ser isso. – Franzi a testa.
- Uma mulher enciumada é o que tem de mais perigoso nesse mundo, amigo. – Ele disse, rindo fracamente.
- Mas por que ela estaria com ciúmes? – Perguntei. – Ela mesma não quer nada comigo, ela sabe que depende dela...
- Ah, não tente entender as mulheres, amigo. É onde você acaba se ferrando. – Ele falou, dando um toque em meu peito.
- E o que eu faço? – Perguntei, erguendo as mãos.
- Normalmente eu falaria para você acalmar a fera, agradar e tal, mas no seu caso não tem muito o que fazer. Ela está com ciúmes e não fica contigo. – Ele gargalhou. – Complica.
- Eu estou ferrado. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça.
- Tipo isso. – Bufei, passando a mão no rosto. – Foca no jogo de amanhã, depois você pensa nisso! - Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Até já! – Falei, abanando a mão e segui pelo corredor, encontrando o caminho para sair do prédio administrativo.

Lei
25 de abril de 2004

Bati a mão no rosto ao ver o Lecce fazer o terceiro gol em 20 minutos e abaixei a cabeça, me escondendo por trás do boné da Juventus, ouvindo os gritos da torcida vermelha e amarela que ocupava 25 por cento do estádio, já que 50 por cento estava vazio.
Ninguém esperava que esse fosse ser um jogo difícil, o Lecce estava em décimo ou nono na tabela, com certeza em nono após esse três a um e estávamos finalizando o primeiro tempo. Tinha outros 45 minutos pela frente.
Respirei, aliviada, quando o juiz apitou o intervalo e joguei o corpo para trás na poltrona, suspirando, cobrindo o rosto com as mãos, soltando um suspiro alto, tentando me conter para não gritar ali. Senti uma mão em minha perna e virei o rosto para o lado, vendo Giulia me encarando com os lábios franzidos no maior sentido de “está dando tudo errado” e neguei com a cabeça.
- Eu quero só deixar claro que eu não torço para o Torino, ok?! É meu pai, então não espero estar dando azar ao time. – Ela comentou e eu suspirei.
- Eu não sei o que aconteceu, parece que deu um apagão em todo mundo. – Falei, ajeitando o boné em minha cabeça a tempo de ver os jogadores entrarem cabisbaixos no vestiário e eu sabia que era impossível me identificar perfeitamente, mas abaixei a cabeça quando Gigi passou.
- Olha, não que seja a pior temporada da Juventus, mas eles estão capengando desde março. – Ela comentou e eu suspirei.
- Eu não sei o que está acontecendo. Quanto está o jogo da Roma? – Apontei para o radinho em sua mão.
- Um a zero para eles, gol do Totti. – Ela disse e eu franzi os lábios, travando a mandíbula.
- Deus, nem se, por algum milagre da natureza, o Empoli virar, se a Juventus não ganhar esse jogo, não adianta nada.
- O Milan já é campeão, o que você está procurando? – Giulia perguntou e eu puxei um papel da minha bolsa, abrindo minha tabela do campeonato.
- O segundo lugar na tabela. – Falei. – Se classificar direto para Champions League. Ficando em terceiro, eles precisam passar pela rodada classificatória. – Disse, apontando para os diversos números marcados na tabela que eu tirei da revista do time.
- Meu Deus! – Ela puxou a tabela da minha mão. – Você está mais obcecada do que eu. – Ela disse e eu suspirei.
- Eu gostei da brincadeira, ok?! – Puxei a tabela da mão dela novamente.
- Bom, o Empoli é lanterna do campeonato, vai ser rebaixado com certeza. – Ela disse, apontando para eles em 16º lugar. – Ainda temos três rodadas, mas é impossível, só que, como você falou, por algum milagre, eles ganharem, mas é a Roma do Totti, qual é. – Suspirei.
- O Lippi precisa colocar o Del Piero para ver se ele faz algum milagre aqui também. – Comentei.
- Ok, então, para a Juventus chegar em primeiro, eles precisam ganhar esse jogo e a Roma perder?
- Não. – Falei, franzindo os lábios. – A Roma está com 67, a gente está com 63. Se eles perderem e a gente ganhar, vamos para 66 e aí é adiar para a próxima rodada essa decisão. Se eles ganharem e a gente perder, já era, não tem como alcançá-los mais. – Falei e vi que ela tentava acompanhar meu raciocínio.
- Ok, tela azul! – Ela falou, abanando a mão. – Você fez essas contas e, mesmo assim, eles não passam se ganhar?
- Não. – Dei um sorriso falso e ela revirou os olhos.
- Ok, ok! Você está ficando pior do que meu pai. – Ela suspirou. – A Juventus precisa primeiro reduzir essa diferença de placar, 3x1 dói, depois a gente reza para o Empoli perder, mas, levando em conta a tabela...
- É, eu achava que esse jogo ia ser fácil também, mas olha o que aconteceu. – Comentei e ela sorriu.
- Eu concordo com a ruiva! – Viramos um rosto para um grupo de quatro homens que nos encaravam. – A gente reduz essa diferença e reza para o Empoli perder lá em Palermo. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Espero também, senhor, muito! – Comentei baixo.
- Viu? Mais esperança, vai! – Giulia me cutucou e eu ri fracamente.
- Espero que o Lippi dê um belo xingo neles lá no vestiário. Não sei o que aconteceu com o Gigi, parece que ele entrou em curto. – Falei mais baixo, suspirando.
- Você está aqui, isso não deveria acontecer. – Ela comentou e eu suspirei, negando com a cabeça.
- Para começar que ele não sabe que eu estou aqui, para finalizar, não temos mais nada, Giulia. Acabou, é isso. – Suspirei.
- Ah, verdade! Ele criou vergonha na cara e foi atrás de outra freguesia. – Virei para ela. – O quê? Eu já falei: não vou te proteger nessa. – Suspirei.
- Você só poderia parar de falar nisso, você sabe tudo o que aconteceu, eu não te escondi nada, mas ficar jogando na minha cara que eu não posso ficar com aquele homem lindíssimo, de olhos azuis, sensual e que faz minhas pernas tremerem sempre que me olha, por valorizar mais meu trabalho, não me ajuda. – Bufei, enfiando a mão no saco de pipoca dela e enchendo a boca em seguida. – E ele está em outra. – Falei, com a boca cheia, pegando meu refrigerante no chão e bebendo um gole, que me ajudou a engolir as pipocas.
- Não o julgo. – Ela deu de ombros. – Eu só não acho justo, amiga. Qual é! Não estamos falando que vocês vão se casar, só dar alguns pegas escondidos aqui e ali.
- Você já viu como eu reagi com aquela revista, eu gosto dele, de verdade. Uns pegas nele só vai fazer com que eu me apaixone por ele e o limbo ficar cada vez mais fundo. – Suspirei. – Eu sou uma tonta, me apaixono fácil, me conheço. – Neguei com a cabeça.
- Não acho que se apaixone fácil, você só sente falta de ter um amor, amiga. Isso, se a gente for analisar psicologicamente, vem tudo da história dos seus pais...
- Você não é a minha psicóloga, Giulia, e a minha psicóloga me deu alta há uns quatro anos. – Comentei, virando o rosto para ela.
- Ok, eu paro de te analisar. – Ela colocou algumas pipocas na boca. – Mas você precisa agir como o homem evoluído aqui. – Ela suspirou. – Não ficar mordida de ciúmes sempre que vocês se encontrarem. São poucas as ocasiões, mas elas existem. – Ela disse e eu suspirei.
- Eu só não consegui me conter, ok?! – Falei. – Vê-lo todo sorridente, sendo todo simpático comigo e só consegui imaginar naquelas fotos... – Levei as mãos ao rosto, pressionando os olhos.
- Sem explodir os olhos aí, vai... – Ela afastou meus braços e eu os apoiei nos joelhos, suspirando.
- Eu sou uma tonta, eu sei e assumo, mas eu queria ficar com ele. – Disse.
- Então fica! – Ela e os outros quatro homens gritaram, nos assustaram.
- Dio mio! – Comentei e eles riram.
- Desculpa, mocinha, a gente acabou ouvindo, não sabemos quem é o cara, mas você claramente gosta dele, por que é tão difícil ficar com ele se, pelo visto, ele também gosta de você? – Um deles falou.
- Obrigada, senhor! – Giulia falou, se levantando e se aproximando do grupo.
- Nós trabalhamos juntos. – Tentei ser vaga, falar que gostava do Buffon ali para um bando de torcedores bêbados e desolados não me pareceu uma melhor opção.
- E qual é o grande problema nisso? – Outro perguntou.
- É complicado, é um mundo masculino, sabe? Eu nem conseguiria esse emprego exatamente por ser mulher e tudo mais, aí isso acabou ficando na minha cabeça e eu realmente preciso desse emprego. É muito bom. – Comentei e os cinco pensaram, já que Giulia parecia imitar os trejeitos deles.
- Eu iria no que a sua amiga falou, fique com ele às escondidas, se for algo sério, vocês vão no RH e avisam. O máximo que vai acontecer é algumas regras de conduta, mas, no geral, se for sério, eles não podem fazer nada. – Um terceiro disse e ouvimos o grito da torcida com a volta dos jogadores.
- Valeu, gente! Vou pensar nas sugestões. – Falei por falar e eles acenaram. Giulia voltou a se sentar do meu lado.
- Viu? Que dica valiosa de torcedores! – Ela falou e eu revirei os olhos.
- É, o problema é: se não for nada sério, nós nunca mais seremos a mesma coisa e dificilmente conseguiremos ficar no mesmo ambiente. – Disse e ela suspirou.
- Bom, ele é um excelente goleiro e um jogador exímio, tirando hoje, é claro... – Franzi a testa, fazendo uma careta. – Logo alguém vai comprar ele e levá-lo para um time maior, ele vai embora da Juventus e problema resolvido. – Ri fracamente.
- Adoro como você é prática. – Suspirei.
- Bom, ele não vai ficar na Juventus para o resto da vida. Ele só tem 26 anos, já foi convocado para dois Mondiale, chegou em uma final da Champions, ganhou como melhor goleiro da Champions, entrou na lista do Pelé... – Ela começou a listar. – O mundo está olhando para ele, aposto que ele vai para Inglaterra em breve. Até quando é o contrato dele? – Ela perguntou.
- 2006, 2007, não me lembro agora. – Suspirei.
- Bom, dificilmente algum jogador cumpre o contrato completo, ainda mais se tiver ofertas em cima, eu aproveitaria enquanto posso. – Ela disse e mordi meu lábio inferior.
- É, talvez você não esteja tão errada, o problema é se eu me apaixonar e ele realmente for embora. – Suspirei.
- Nesse caso não tem muito o que fazer mesmo. – Ela franziu os lábios e eu apoiei o rosto na mão, vendo a bola ir de um lado para o outro e os jogadores também.
- Ah, o Del Piero vai entrar! – Ela disse, animada, me sacudindo pela blusa que eu usava. – MEU DEUS, HEIN?! – Ela gritou, me fazendo revirar os olhos. – Ele está muito gato.
- É, está. – Ri fracamente. – Ele deixou o cabelo crescer, está com uma barba rala, Del Piero já sabe o poder de uma barba. – Falei e ela riu fracamente.
- Bom, em caso de não ter mais GB1, tem sempre ADP10. – Ela disse e eu revirei os olhos.
- O Alex namora há sei lá quantas décadas e eles vão casar. – Falei.
- Vão? – Ela falou, surpresa. – Como você sabe disso? Virou amiguinha pessoal já? – Suspirei, sentindo-a me sacudir.
- Eu assinei o cartão de congratulações do time pelo meu chefe. – Falei.
- Você... – Ela parou de falar. – Como é isso?
- Nem sempre ele está presente para assinar tudo o que passa, então, coisas menores, a gente acaba assinando por ele. – Fiz uma careta.
- Isso não é...
- Fraude? Não sei. – Rimos juntas. – Mas um cartão de “parabéns pelo seu noivado”, não deve dar problema, né?!
- Não, isso não! – Rimos juntos.
- E mais um do Lecce! – Ela falou do gol e eu suspirei.
- Eu quero acreditar que o Gigi não está bem, que aconteceu alguma coisa. – Suspirei. – Ele está sempre segundos atrasado.
- Cara, que orgulho! – Ela disse, me abraçando forte pelos ombros. E eu suspirei.
- Já faz três anos, Giulia, alguma coisa eu deveria aprender. – Suspirei.
- Você deve estar craque em goleiros, né?! – Ela fez uma careta.
- Não só, ok?! Sou boa na defesa também, olha aquele cara ali, se ele der dois passos para frente, a nossa chance de gol vai ser impedida e...
- GOL! – Ela gritou antes de mim e eu levantei, animada, vendo Vincenzo Maresca sair correndo para comemorar nosso segundo gol naquele jogo e Giulia pulou comigo, gritando tão alto quanto eu.
- Nossa! Achava que não torcia para a Juventus. – Brinquei e ela gargalhou.
- Acho que estou começando a torcer. – Rimos juntas. – Meu pai me deserda se souber.
- Isso não pode acontecer, por favor. – Falei, ouvindo-a rir.
- Vai falar com os jogadores depois? – Ela perguntou.
- Não mesmo. – Suspirei.
- Ah, poxa, quando eu não vim, você falou.
- Eu estou escondida aqui, Giulia, você acha que eu já não teria gritado se quisesse encontrá-lo?
- GIGI! – Ela fez questão de gritar, mas obviamente ele não ouviu, mas fez meu coração acelerar com o susto e a possibilidade. - É, ele não viu. – Revirei os olhos.
- Eu não quero encontrar o Gigi, Giulia. – Suspirei. – A gente não falou disso há alguns minutos?
- Meu Deus! Você precisa superar esse homem. – Ela suspirou. – Eu e você, sábado que vem, balada! – Ela disse. – Você talvez não possa namorar caras do time, mas ninguém disse nada de fora, né?! Ou eles barram sua vida pessoal também?
- O time não tem nada a ver com isso, Giulia, para. – Dei uma cotovelada nela. – Eu só disse o que meu chefe me disse, ok?! Que eles não queriam me contratar por ser uma mulher perto dos jogadores.
- É, e você montou todo o resto do quebra-cabeça. – Ela falou sarcasticamente, colocando o rádio na orelha.
- E estou errada? – Virei para ela, vendo-a estender a mão para eu esperar.
- Gol da Roma. – Ela disse e eu revirei os olhos, colocando as mãos nos olhos.
- Já está em 65 minutos, eles precisam fazer mais três gols para passar. – Me levantei, batendo as mãos. – Dai, ragazzi, dai! – Gritei, me jogando na cadeira de novo.
- E não, amiga, você não está errada. – Ela disse. – Eu sei todo o esforço que você passou na faculdade e o quão importante o emprego é para você. – Ela passou o braço pelos meus ombros. – Nem pelo emprego em si, apesar que milagrosamente te fez acompanhar futebol comigo, o que eu gosto muito, mas pelo dinheiro mesmo. – Assenti com a cabeça. – Eu vou tentar parar de me meter nas suas decisões, ok?!
- Obrigada, mas você e eu sabemos que você não vai parar. – Falei e ela sorriu, me apertando em seus braços.
- É, tem isso também. – Ela disse, me fazendo rir. – Mas então vamos sair, ir para balada, ficar bêbadas e se distrair com os caras errados da vida, já que os certos... – Ri fracamente.
- Você falar que ele é o cara certo para mim, não me ajuda. – Ela riu fracamente.
- Não falei no sentido amoroso, mas vai ser difícil achar um espécime ao menos parecido com aquele ali. – Ela apontou para Gigi no gol e eu suspirei, apoiando a mão no queixo.
- Eu sei. – Suspirei. – Mas vamos sim, eu preciso sair. – Falei.
- É assim que se fala. – Ela disse, batendo forte em minha perna e eu fiz uma careta.
Del Piero até conseguiu reduzir a diferente para 3x4, mas não passamos disso. Em Palermo, Totti ampliou a vantagem para 3x0 em cima do Empoli. Isso queria dizer que acabaríamos a temporada em terceiro lugar, já que a Internazionale estava uns 10 pontos atrás de nós, mesmo se ganhassem os últimos jogos e a gente perdesse, não daria para nos alcançar.
Aquilo me deixou desanimada, era difícil perder para quem estava acostumada com duas outras temporadas de vitórias. O único prêmio havia sido a Supercoppa Italiana em agosto, havíamos caído fora da Champions nas oitavas e tinha a final da Coppa Italia em pouco mais de duas semanas, mas havíamos perdido de 2x0 na ida em Roma, compensar em casa seria difícil.

Lui
29 de maio de 2004 • Trilha SonoraOuça

- Ah, Gigione! – Alex falou assim que abriu a porta e eu o abracei fortemente. – Valeu por ter vindo.
- Que isso. Até parece que eu não viria. O Lippi merece muito. – Disse, vendo-o fechar o portão e seguirmos lado a lado para dentro da sua casa. – Como ele está?
- Beh, surpreso, né?! Ganhamos só a Supercoppa esse ano, ele não esperava um convite desses à essa altura do campeonato.
- Mas ele já vai para Euro? Está meio em cima, não? – Perguntei, atravessando o primeiro andar de sua larga mansão.
- Não, para Euro vai continuar o Trapattoni, mas assim que acabar, ele vai cair fora e o Lippi já está informado. – Ele disse. - Por enquanto é só um pedido informal, mas, se concretizar, não o veremos até as próximas convocações, achei legal fazer algo para nos despedir. – Ele falou e saímos em seu grande quintal que tinha uma área gigantesca com campo de futebol, piscina, um salão coberto e algumas pessoas já estavam lá. – Nem chamei muita gente para não fazer tanto alarde. – Ele falou.
- Posso pensar que muitos querem que a gente falhe.
- Com o Trapattoni é quase como jogar sem técnico, né?! – Ele disse e rimos juntos.
- Gigione! – Zambrotta falou, vindo em minha direção.
- Ciao, ragazzi! – Acenei para o pessoal mais próximo.
Del Piero pode falar que convidou só um pessoal mais próximo, mas contei todos os jogadores do número um ao 21, que era Lilian, o que tornava tudo engraçado, já que ele e Trezeguet são franceses, Pavel tcheco, Tudor croata e Montero uruguaio, então aquilo não passava de uma confraternização. Além deles, algumas namoradas, esposas e um pessoal do administrativo que eu não conhecia.
Cumprimentei a namorada de Alex e acenei para as outras mulheres e segui até o homem do momento. A escolha de Lippi para a Nazionale era ideal, não havíamos ganhado nada esse ano, mas ele com certeza era um grande homem e fazia muito pela Juventus pela segunda vez, tendo conquistado uma Champions na temporada 95/96. Ele se daria muito bem, assim que Trapattoni fosse chutado de seu posto. Ele era bom também, mas nada como seu antigo técnico na Seleção, não é mesmo?
- Marcello! – Me aproximei dele, vendo-o sorrir.
- Gigi! – Ele sorriu e eu o abracei fortemente, dando um tapinha em suas costas.
- Parabéns, cara! Você merece! – Falei, sorrindo e ele riu fracamente.
- Você e os meninos estão fazendo grande caso com isso, nem é tanto assim. – Ele sorriu.
- É sim, você merece! – Entreguei a caixa de madeira em minhas mãos para ele. – Seu favorito. – Falei e ele sorriu com os charutos.
- Agora isso está compensando. – Rimos juntos e dei um tapinha em seu peito. – Espero que possamos comemorar juntos. – Sorri.
- Tomara! – Rimos juntos. – Tudo bem, Simonetta? – Fui até sua esposa, dando um abraço e um beijo nela que sorriu.
- Tudo bem, Gigi! – Ela segurou minhas mãos, sorrindo.
- Vamos fazer um último jogo depois, hein?! – Brinquei com Lippi que riu.
- Com certeza. – Ele falou.
Me afastei deles, desviando de algumas mesas montadas na parte coberta, sentindo um cheiro delicioso de carne subindo no ar e voltei perto dos jogadores, sentindo Lilian me puxando pelos ombros.
- Veio solo, Gigione? – Ele comentou.
- Vim sim, ela vai para as Olimpíadas, está se preparando. – Falei.
- Achei que não iria se envolver com ninguém agora, falou que não ia rolar. – Alex comentou, me estendendo uma long neck e eu acenei para sua noiva, vendo-a me cumprimentar com um aceno de cabeça.
- Bom, jogou na rede é gol, né?! – Falei, dando um gole e eles gargalharam. – Mas não posso falar que é um namoro, eu aqui em Turim, ela em Palermo, vários compromissos... – Abanei a cabeça. – Vamos ver, estamos aproveitando. – Eles riram e Lilian deu um tapinha em meu peito.
- O Gigi é assim, ele tem uma namorada lá no Sul, mas ele só tem as partes boas, Natais, aniversários, etc, no resto do ano ele é solteiro e também tem só as melhores partes. – Pavel falou, fazendo o pessoal rir e eu revirei os olhos.
- Eu vou... – Sonia falou para Alex quando a campainha tocou de novo.
- Vocês falam muito de mim, cara. Eu sou mais novo que muitos de vocês aí, não se divertiram também? – Falei, ouvindo-os rirem.
- Eu vou precisar defender o cara. – Conte falou e assenti com a cabeça.
- Grazie. – Disse, batendo minha mão na dele. – Vou sentir falta de você me apoiando. – Ele riu fracamente.
- Eu só estou me aposentando, gente, eu não morri ainda não, podem me convidar para as coisas. – Ele falou, nos fazendo rir.
- Ok, ok, só estou falando, ele estava real de quatro pela menina lá da contabilidade, foi na formatura dela porque gostava dela e não ficou com ela? – Pavel falou.
- Eu já disse, gente, ela tem as prioridades dela, não vou ficar insistindo, mas também não vou esperar, sabe lá quanto tempo. – Abanei a mão.
- Você sabe que vai ser zoado por isso pelo resto da sua vida, não? – Lilian falou.
- Ou enquanto ele ou ela estiverem no time. – Trezeguet falou e eu revirei os olhos.
- Eu só não falaria sobre isso agora, pois ela acabou de chegar. – Alex falou e todos viramos o rosto para entrada.
saía da casa com Sonia, noiva de Alex. Ela usava um short jeans, uma blusa rosa comprida e solta no corpo e tênis sem meia nos pés, e segurava um embrulho nas mãos. Ela percebeu que estava sendo observada e parou por um tempo, nos encarando de volta.
- Ciao! – Ela disse e suspirei, desviando os olhos dela.
- ! – Lilian e Trezeguet correram em sua direção.
- Cuidado! – Ela gritou, tentando se proteger com o embrulho e eles riram, abraçando-a com cuidado.
- Bom, quero ver você se esquecer dela depois de ver essas pernas. – Pessotto cochichou e eu empurrei sua cabeça para baixo, ouvindo-o rir.
- Ciao, ragazzi. – Ela acenou para gente de longe, seguindo em direção a Lippi que abriu um largo sorriso quando a viu.
- Você a convidou? – Virei para Alex que virou um gole de sua cerveja. – Cara...
- O quê? Ela é da nossa idade, o Lippi a adora e ela não tem tantos amigos no time, já que a contabilidade só tem homem e velhos. – Ele deu de ombros.
- Cara! – Coloquei as mãos nos olhos. – A ideia é eu tentar esquecer dela, não ficar analisando como sua bunda fica bem ajeitada naquele short. – Sussurrei, ouvindo os outros jogadores gargalharem.
- Bom, tenho que dizer que a sua Vincenza nem se compara com a . – Di Vaio comentou e eu suspirei.
- Dai, ragazzi. Agradeço muito pelo apoio. – Fui irônico, sentindo uns tapinhas nas costas.
- Alex, está servido. – Sonia falou.
- Beh, vamos comer! – Alex falou e o pessoal saiu desesperado para a mesa servida, me deixando um tanto atordoado.
Observei Lippi soltar depois de um forte abraço e sua risada ecoar pelo local por alguma coisa que o técnico havia dito a ela. entregou o embrulho para ele, comentando alguma coisa e Lippi abriu, acho que era um quadro, até que grande. Ele abriu um sorriso e abraçou-a novamente. Desviei um pouco o olhar e parecia uma montagem com várias fotos em preto e branco do time.
- Para de encarar! – Trezeguet falou e eu segui até a mesa de comida, pegando um prato e começando a me servir de um pouco de salada, massa e carne.
continuou no meu radar, seguindo para a mesa das namoradas e Sonia a apresentou para todas ali presentes. Eu já sabia que se dava bem com todo mundo, então não foi surpresa ouvir risinhos e altas apresentações por onde ela passava. Só de espiar, dava para perceber que ela era mais próxima de Ivana, esposa de Pavel, Béatrice, esposa de Trezeguet, Karine, namorada de Lilian, e Sonia, que era uma ótima anfitriã.
- Vem, vamos comer! – Ouvi Sonia falando e as mulheres se levantaram, agora que tínhamos livrado a mesa.
Segui até uma mesa, vendo Pessotto, Conte e Chimenti sentarem comigo e tentei me distrair, mas, por algum motivo, eu não conseguia tirar os olhos de na mesa e juro que dessa vez nem era de suas pernas. Ela estava bem diferente do que eu a via no time ou em jogos. Ok, calça jeans e aquela blusa da Juventus não valorizavam nem um pouco as suas curvas, mas já havia visto-a de vestido, por que eu parecia tão surpreso agora?
Eu havia decorado o local onde ficavam os convidados do time, então sempre a procurava nos jogos, mesmo que ela não fosse mais ao vestiário nos ver. Talvez tenha a ver pelo mesmo motivo que eu não gostava de encontrar ela sempre ou a forma que ela me tratou da última vez que nos vimos, mas não poderia garantir. Ela estava indo a poucos jogos, mas eu sabia quando ela estava lá. Confesso que, por algum motivo, eu ficava nervoso com a sua presença.
Ela deixou seu prato na mesa que ela ficaria com Sonia e começou a vir cumprimentar os jogadores. Alguns eram mais contidos com ela, agora outros a erguiam no colo, faziam gargalhar por algum motivo e eu só a observava se aproximando cada vez mais de onde eu estava e agilizei engolir minha comida e limpar a boca.
- Ciao, ragazzi! – Ela disse, apoiando as mãos nas costas de Conte e Chimenti, dando um sorriso para mim.
- ! – Conte foi o primeiro a levantar, abraçando-a fortemente e ela sorriu.
- Fiquei sabendo sobre sua aposentadoria, te desejo muito boa sorte, ok?! – cochichou, abraçando-o fortemente.
- Obrigado, , é muito importante para mim. – Eles sorriram.
- Já sabe o que vai fazer? – Ela perguntou.
- Ah, vou fazer o curso de treinadores lá em Coverciano, quero tentar seguir carreira. – Ela sorriu.
- Quem sabe não vem treinar esses tontos em alguns anos? – Ela brincou.
- Nossa! Seria demais! – Eles riram e seguiu pela mesa.
- Como vocês estão? – Ela cumprimentou Chimenti e Pessotto.
- Ei, garota! – Pessotto a abraçou sorrindo e, quando percebi, ela estava ao meu lado.
- E aí, Gigi? – Ela me deu um sorriso discreto e eu me levantei, passando meus braços pelo seu corpo.
- Tudo bem? – Perguntei, acariciando suas costas e ela se afastou um pouco.
- Tudo bem e contigo? – Ela apoiou uma mão em meu ombro e eu assenti com a cabeça.
- Bom te ver. – Ela falou mais baixo e eu assenti com a cabeça. Ela pressionou os lábios uns no outro e seguiu até a mesa das mulheres novamente.
- Gelado demais, hein?! – Conte comentou e eu dei uma cotovelada nele, vendo-o rir.
- Não é exatamente algo confortável. – Comentei, colocando mais uma garfada na boca.
As conversas cessaram conforme o pessoal começou a aproveitar a comida e só era possível ouvir os talheres nos pratos e as garrafas e copos contra a mesa. Conforme o pessoal terminava de comer, as conversas e as risadas voltavam a ficar mais altas e o pessoal começava a andar novamente. Eu logo estava de pé novamente também.
- Eu quero mais um jogo! – Lippi falou, se levantando e aproximando de Del Piero que já havia voltado para o gramado fora do local descoberto.
- Dá para fazer. – Alex disse.
- Acho justo as mulheres participarem também. – Lippi disse. – Que tal, ?
- Ah ‘tá! – Ela disse, gargalhando logo em seguida.
- Por que não? – Lippi perguntou e ela se levantou.
- Eu sou do vôlei, gente! – Ela disse. – Eu era, na verdade.
- Vai dizer que nunca chutou uma bola antes? – Pavel perguntou.
- Já, mas no vôlei. – Ela disse. – Quando não dava para mergulhar para chegar na bola. – Ela disse e o pessoal riu. – Não que a treinadora gostasse, mas às vezes só dava assim. – Rimos juntos.
- Ah, qual é, vamos lá. – Conte falou, se levantando e eu segui com ele.
- Não! – falou, gargalhando.
- Vai ser ótimo, todo mundo jogar de barriga cheia. – A esposa de Pavel falou ironicamente.
- Viu?! A Ivana tem um ótimo motivo do porquê isso é uma péssima ideia. – Rimos juntos.
- Amor? – Alex falou com Sonia.
- Não vou jogar com vocês, amor, a gente brinca em casa, é diferente.
- Tem isso também. Vocês são profissionais, eu nunca joguei futebol na vida. Acho que educação física no primeiro grau foi a última vez. – falou, nos fazendo rir.
- As meninas eu entendo, mas você trabalha no time, , você precisa aprender as coisas. – Lilian falou.
- Eu aprendo toda a teoria, agora a prática... – Ela disse.
- Cuidado! – Iuliano gritou quando Alex jogou uma bola na direção da e ela recebeu com uma manchete perfeita, fazendo a bola estourar em seu braço.
- Não era assim! – Alex reclamou.
- Ah! – Ela reclamou, sacudindo as mãos. – Nossa, é pior do que bola de vôlei nova. – Ela reclamou, fechando as mãos em punhos.
- A ideia era você chutar, mas ok. – Alex falou e ela riu.
- Ajuda a gente aqui, Gigi! – Camoranesi falou.
- Eu? – Falei, surpreso. – Desde quando eu tenho alguma influência? – riu fracamente.
- Um pouco, talvez. – deu um sorriso, pressionando os lábios e eu suspirei. Era impressão minha ou ela estava concordando com Camoranesi? Eu não estava entendendo mais nada.
- Ninguém vai levar a sério, gente. É só brincadeira, vamos lá. Todo mundo descalço, assim dá para garantir que ninguém via se machucar. – Lippi falou e suspirou.
Ela pareceu olhar para Lippi que tinha os olhos ansiosos, depois ela olhou para mim que a encarava fixamente, depois ela virou para o resto do pessoal que tinha sorrisos quase sádicos nos rostos.
- Se eu me machucar, eu peço para o Giorgio descontar isso como multa no próximo salário de vocês. – Ela disse, começando a juntar seus longos cabelos e a prendê-lo com laço que estava em seu braço.
- É! – O pessoal comemorou e, como crianças de oito anos, saíram em peso para dentro das grades que separavam o campo demarcado de Del Piero.
- Dio mio! – falou, seguindo com Ivana e Sonia para dentro do campo e sorri, vendo Lippi se aproximar da gente.
- , você jogava em que posição no vôlei? – Lippi perguntou.
- Oposto. – Ela falou e Lippi ficou olhando para ela. – Eu sou a pessoa que faz o ponto. – Ela explicou em palavras mais simples, fazendo-o rir.
- Ok, atacante, então? – Ele disse.
- É, mas não inventa! – Ela falou, apoiando na grade e tirando o tênis que usava.
- A Sonia eu sei que é defesa. – Lippi disse e ela confirmou.
- Vamos começar devagar, Lippi, não assusta a menina. – Falei, tirando meus tênis do lado de fora da grande também.
- Vamos fazer um bobinho, então. – Ele disse.
- Ah, isso eu conheço. – falou.
- Mas é com o pé, está bem, lindinha? – Pavel falou, fazendo-a rir.
- Não prometo nada. – Ela deu de ombros, sorrindo. – Gigi... – Virei para ela. – Grazie. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça.
Segui para dentro junto do pessoal e o pessoal abriu uma larga roda, alguns jogadores optaram por ficar de fora, outras mulheres também entraram, então estava bem misturado. Alex, Conte e Trezeguet foram para o meio da roda e todos sabiam como funcionava. Se alguém do centro pegasse a bola após o passe de alguém de fora, esse de fora entrava e o do centro ia para roda.
A brincadeira começou devagar. Eu estava super desatento, só olhava para que parecia fugir da bola em qualquer situação, fazendo o pessoal à sua volta dar sorrisos. Quando ela finalmente tocou na bola, talvez por não ter noção de sua força, ela deu uma forte que passou por todo mundo e estourou no gol do outro lado.
- Opa! – Ela disse, nos fazendo rir.
- Assim que é bom! – Falei, vendo-a dar um sorriso para mim.
O jogo continuou com vários toques, eram quase 20 na roda, então todo mundo lutava para impedir que a bola parasse no meio. Eu já tinha ido para o meio e saído várias vezes. Deu para perceber que, com o passar do tempo, o pessoal começou a abusar mais, os jogadores, para ser mais honesto. Os chutes começaram a ficar mais fortes, as corridas também e algumas derrapadas começaram a acontecer.
Todo mundo já estava suando por causa do sol de fim de maio e de meio da tarde e até as mulheres já tinham sorrisos nos lábios. Em um momento que Lilian foi para o meio, ele, como sempre gostava de provocar, começou a circular a roda mais de perto, fazendo-o derrapar em alguns movimentos. Quando a bola chegou no pé de , aposto que ela pensou que estava no vôlei. Ela deu uma bicuda na parte de baixo da bola, fazendo-a subir alta, isso se Lilian não estivesse no meio do caminho e não tivesse levado uma no queixo.
- Ah, Dio mio! – disse, colocando as mãos na boca surpresa, o resto da roda caiu na gargalhada. – Desculpe, Lilian, você está bem? – Ela se aproximou dele, segurando sua mão para tentar ver o local atingido no francês.
- Acho que você acertou em cheio. – Ele falou, passando a língua pelo dente, fazendo-a rir fracamente.
- Você está bem? – Ele riu fracamente.
- Podia ser pior, ela podia ter atingido outro lugar em cheio. – Falei, ouvindo o pessoal gargalhar.
- Eu estou bem, prometo. – Ele falou. – Que força, hein? Você não parece ter essa força toda, não. – Ele falou e ela riu fracamente.
- Me desculpe. – Ela disse, tentando segurar a risada.
- Está tudo bem. Se acalma. – Ele disse, batendo a mão nos ombros dela.
- Acho que chega para mim, gente, foi uma boa experiência. – Ela disse, rindo sozinha.
- Fica aí, eu gostei! – Conte brincou.
- Vocês ainda têm a Euro, gente, eu machuco alguém, quero só ver. – Ela disse e Lilian veio ao meu lado.
- Você está bem? – Cochichei, vendo-o pressionar os olhos.
- Não, eu mordi minha língua. – Ele cochichou e eu precisei colocar a mão na boca para segurar a risada.
- Vamos dar um tempo! – Lippi falou, segurando para não rir do lado de fora.
O pessoal saiu apressado do campo, indo atrás de água ou banheiro e eu fui atrás de , vendo-a rir ao lado de Sonia, colocando a mão no queixo, como se entendesse a dor de Lilian. Segui atrás dela, vendo-a se abaixar para pegar o tênis.
- Você foi bem. – Comentei, vendo-a dar uma olhada nos pés sujos como de todos nós.
- É, talvez para luta-livre. – Ela falou, me fazendo rir fracamente.
- Ele vai ficar bem, talvez tenha matado alguns neurônios, mas é o Lilian! – Falei e ela sorriu.
- Eu ouvi isso! – Ele disse, nos fazendo rir e ela suspirou, fechando sua feição.
- Me desculpe. – Ela disse.
- Pelo o quê? Lilian? Relaxa, ele vai ficar bem.
- Não, pela última vez que conversamos. – Ela disse, mordendo seu lábio inferior. – Eu estava um pouco... – Ela suspirou.
- Diferente. – Falei.
- Com ciúmes. – Ela disse, engolindo em seco logo em seguida. – Eu vi você em uma revista.
- Ah... Ah! – Falei, tentando entender. – Você não precisa ficar com ciúmes, eu e ela...
- Não precisa me explicar nada, Gigi. – Ela suspirou. – Você quis ficar comigo, eu fugi. Não posso ficar enciumada. – Ela deu um pequeno sorriso. – São escolhas da vida, não? – Ela deu de ombros e eu percebi que havia ficado travado quando ela saiu do meu campo de visão, seguindo em direção ao banheiro.
Eu não poderia ficar mais perdido depois disso. Isso quer dizer que ela gosta de mim? Ela sente ciúmes de mim com outras mulheres? Ela queria ficar comigo? Ou o melhor: ela ficaria comigo? Sentia que para essa última a resposta era não.
Talvez ainda não.
Mas então quando?
Acho que eu nunca ia saber.



Capitolo sette

Stagione 2004/2005
Lei

23 de junho de 2004

Passei pelos portões de Vinovo, acenando para os porteiros e os vi darem sorrisos para mim. Era milagre passar por ali e não ver os diversos torcedores gritando pelos jogadores, mas em época de pré-temporada, era assim mesmo. Eu estava voltando de férias, peguei só 10 dias para relaxar em casa um pouco e dormir. Não havia feito muitos planos dessa vez, principalmente por estar economizando qualquer moedinha possível para finalmente comprar meu carro.
Passei para dentro dos escritórios, atravessando os locais e fui para outro canto dessa vez, a contabilidade, e todo o administrativo, agora ficavam nos últimos andares, eram seis, normalmente ficávamos no segundo e eu nem sentia, agora a preguiça matinal me fazia pegar o elevador para o quarto andar, ou aposto que já chegaria suando lá em cima. O local ainda estava um pouco bagunçado, não tinha muitas placas ainda, mas foi fácil achar a sala da contabilidade: vários homens de todas as idades.
- Buongiorno! – Falei, entrando na sala, vendo o pessoal todo espalhado pela sala.
- Ei, chegou mais uma mão para ajudar! – Marco falou, abaixado em uma das mesas.
- Uau! Ficou legal aqui! – Falei, apoiando minha bolsa em uma mesa vazia.
- Ficou, né?! – Giorgio apareceu atrás de mim. – Tudo bem, querida? – Ele falou, me dando um rápido abraço e eu retribuí.
- Tudo bem e com vocês? – Sorri.
- Tudo bem também, conseguiu descansar? – Ele falou, se seguindo até Gianluca, ajudando-o a empurrar uma mesa.
- Sim, foi bom, obrigada. – Sorrimos.
- Separamos aquela mesa ali no canto, sabemos que gosta de ficar observando tudo. – Nicola falou e eu ri fracamente, feliz pela minha mesa ser no canto da sala, com a poltrona virada para frente.
- Ainda não tem nada funcionando, o pessoal do suporte está subindo aos poucos, tentei pressionar, mas eles estão lá no segundo andar ainda. – Levei minha bolsa até minha mesa. – Eu separei suas coisas aqui. – Giorgio disse, me entregando uma caixa.
- Ah, obrigada, nem tem muita coisa. – Falei, vendo uma foto minha e de Giulia na formatura, meu porta-canetas e alguns blocos de anotação.
- Testa aí, . – Angelo falou e eu me abaixei na mesa, ligando a CPU, ouvindo-a começar a funcionar.
- Ligar, liga! – Falei, apertando o monitor e vendo-o acender.
- Ok, o da está ligado, está faltando o do Claudio e do Lorenzo. – Marco falou, abaixando novamente.
- E aí, viu o jogo ontem? – Angelo perguntou.
- Vi sim. – Suspirei. – Fala sério, não me conformo, a gente ganhou o jogo e, por um milagre divino, a Suécia e a Dinamarca fizeram exatamente dois a dois? – Suspirei.
- Foi muito azar. – Ele disse, cruzando os braços e apoiando o quadril em minha mesa. – Foi dormir irritada também? – Rimos juntos.
- O jogo acabou quase meia-noite, aí esperei o outro jogo acabar, podia ter dormido achando que a gente ganhou.
- Ganhar, ganhamos. Só ficamos em terceiro na tabela. – Sorri.
- Bom, sem Euro para gente esse ano de novo. – Disse, jogando os cabelos para trás.
- Pelo menos a pré-temporada vai começar antes. – Sorrimos.
- Sim, temos um scudetto para ganhar. – Disse e batemos as mãos juntos.
- Deu certo aí? – Marco falou.
- Nada! – Lorenzo disse.
- Deixa aí, Marco, espera o pessoal do suporte vir, vamos lá na minha sala fazer uma reunião, agora com a podemos centralizar as informações para a nova temporada. – Ele falou e assentimos com a cabeça.
Todos nos levantamos e, depois de receber abraços de alguns dos meus colegas de trabalho, fui a última a seguir pelo corredor que eu havia vindo. Entramos na porta do lado, onde abriu uma larga sala, que era de Giorgio. Diferente da anterior, não tinha uma mesa no meio e sim alguns sofás e poltronas em volta de uma mesa de centro.
- Sentem-se, gente! – Ele falou e eu sentei em uma poltrona sozinha.
- Ficou legal aqui. – Falei, vendo o escudo do time cravado na parede.
- Eles me deixaram decorar como eu quisesse, mas acho que vou deixar assim. – Ele falou e eu sorri.
- Eu curti. – Disse e ele me entregou uma pasta.
- Se importa de ser nossa brifadora? – Ele perguntou, me estendendo uma caneta também.
- Nunca! – Sorri, ajeitando o corpo na poltrona e abri a pasta, vendo vários itens. – Item número 1: técnico.
- Ok, vamos começar bem, então! – Giorgio se sentou em uma poltrona do outro lado. – Como sabem, o Lippi saiu da Juventus no fim da temporada passada e foi convidado para comandar a Seleção Italiana, imagino que a demissão do Trapattoni é iminente e Lippi deve assumir o comando logo em seguida. – Confirmamos com a cabeça.
- Já era de se esperar, né?! – Lorenzo comentou, rindo fracamente e eu sorri.
- Todo mundo esperava que ele falhasse, nem os jogadores conseguiram ajudá-lo nisso. – Comentei.
- Bom, a comissão técnica e o presidente conversaram e eles optaram pelo Fabio Capello. – Giorgio falou. – Ele está em fim de contrato com a Roma e achamos que será uma boa pessoa para comandar o time. Ele já jogou conosco de 70 a 76 e sempre mostrou o interesse em dirigir a Juventus. – Assentimos com a cabeça. – Ele é um técnico com menos experiência, só trabalhou em times italianos, então seu salário é menor que o de Lippi, acabando compensando para a gente. – Assenti com a cabeça.
- Quando ele começa? – Perguntei.
- Fim de julho, 15 acho. – Giorgio falou. – A final é dia quatro de julho, os jogadores que chegarem na final ganham alguns dias a mais e todos voltam juntos dia 22, daqui um mês. – Assentimos com a cabeça.
- Dia 10 de agosto já tem a terceira fase de classificatórias da Champions, certo? – Marco perguntou.
- Sim, ele vai ter menos de um mês com o elenco para ganhar o jogo de ida, que vai ser aqui em casa. – Giorgio suspirou. – Vamos ganhar, gente! – Rimos juntos.
- Ok, próximo item: jogadores de saída. – Falei, olhando para o próximo item.
- Isso é algo importante. – Ele falou. – Estamos acostumados a trabalhar com vários jogadores no elenco, alguns até demais do que os suficientes para um time, isso acaba sendo por volta de 28, 29 jogadores. – Giorgio se ajeitou para falar. – Estive conversando com a diretoria, com o presidente e eles optaram por manter menos jogadores, mas investimentos mais expressivos, nomes que realmente podem fazer a diferença no time. – Assentimos com a cabeça. – Por isso, vamos vender ou emprestar vários jogadores. – Ele falou e apontou para mim.
- Fresi, Miccoli, Di Vaio, Mirante, Baiocco, Urbano, Chiumiento, Scicchitano, Onwuachi, Bartolucci, Konko, Palladino, Avitabile e a aposentadoria de Antonio Conte. – Li todos os sobrenomes, vendo o pessoal surpreso.
- É bastante gente! – Claudio falou.
- Sim, é! São jogadores que não jogaram ou tiveram poucas aparições na temporada passada. Alguns tiveram outras ofertas e aceitamos, mesmo que seja pouco, mas o time quer ficar com um elenco mais enxuto. Isso já fica para vocês para as próximas temporadas. A Juventus quer qualidade, não quantidade. – Ele disse, frisando as últimas palavras.
- São menos 14 jogadores, Giorgio, a gente vai ficar com 20 no elenco? – Perguntei.
- Não, temos alguns jogadores voltando de empréstimo, vamos subir um pessoal do Primavera para treinar com os seniores, além de que faremos algumas contratações. Nossa intenção é ficar com 29 jogadores para essa temporada e fazer um teste. – Assentimos com a cabeça. – Pode ler o próximo item.
- Contratações. – Falei.
- Aí entra a parte divertida. – Ele até abriu um sorriso. – Nós temos três contratações de maior peso para essa temporada. – Ele falou. – A primeira é o Emerson da Roma, foi a única exigência do Capello.
- Brasileiro, 28 anos, defensor, na Roma há quatro temporadas. Começou sua carreira no Grémio do Brasil... – Achei estranha a língua diferente. – Veio para a Europa no Bayer Leverkusen. Oferta de 12 milhões mais troca de Matteo Brighi que está avaliado em 16 milhões, além de bônus e gastos de transações avaliados em quatro milhões. – Falei, lendo a folha de trás da pasta. - Eles vão aceitar? – Perguntei.
- Vão sim, mas por precaução, quero que você ligue para ele pessoalmente e dê uma sondada no negócio. – Ele falou, olhando para mim.
- Eu?
- Sim, você, às vezes um toque feminino é tudo o que a gente precisa. E eu digo isso de forma boa, honestamente. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Vou colocar na minha agenda. – Disse e todos assentiram com a cabeça.
- Próximo contrato...
- Zlatan Ibrahimović. – Falei e os meninos arregalaram os olhos. – Eu conheço esse nome.
- É aquele sueco louco. – Marco falou e rimos juntos.
- De louco e gênio todo mundo tem um pouco. – Giorgio falou. – Esse acordo está quase fechado, a última oferta foi de 16 milhões e é pegar ou largar, mas imagino que ele vai aceitar. – Ele disse.
- Sueco, 22 anos, atacante, Ajax há três temporadas, fez 35 gols em 74 jogos, iniciou sua carreira no Malmö BI, em sua cidade natal, até chegar no profissional pelo mesmo time. – Falei, lendo a próxima folha.
- Estamos sondando-o tem um tempo, imaginamos que ele possa fazer muito bem para o time. Inicialmente ele vai para o banco, mas depende dele para subir para o line-up, algo que será conversado com ele e com Capello quando todos estiverem na mesma sala.
- Ele está indo bem na Eurocopa. – Marco falou.
- Sim, está e isso só faz com que seu valor de mercado aumente, por isso será indicado ele fechar logo. Ele é meio louco sim, por isso precisamos selar esse acordo antes do fim da competição, mesmo sem anunciar. – Giorgio disse.
- Algo que podemos fazer para agilizar?
- Nesse caso não, o garoto está se sentindo muito estrelinha, então precisamos deixar o tempo dele. – Ele falou, suspirando. – Pelo menos o próximo da lista é mais legal. ...
- Fabio Cannavaro. – Falei.
- Fabio Cannavaro. – Giorgio falou, sorrindo.
- Ele é nosso capitão na Euro. – Lorenzo falou.
- E lindo para caramba! – Falei, ouvindo o pessoal rir à minha volta. – O quê? – Deu de ombros e Giorgio sorriu para mim. – Só dizendo...
- Quais as especificações, ?
- 29 anos, zagueiro, na Internazionale há dois anos. Iniciou no Napoli e ficou no Napoli no profissional durante três anos antes de seguir para o Parma por sete, onde jogou com Gianluigi Buffon e Lilian Thuram. – Falei, erguendo o rosto para Giorgio que assentiu com a cabeça. – Oferta de 10 milhões, possível troca pelo Fabio Carini.
- Esse negócio eu posso falar que é nosso. Fabio gostou muito da Juventus, veio nos visitar em alguns jogos na temporada passada como desculpa para ver seus amigos do Parma, e podemos comemorar isso. – Sorrimos. – O Fabio tem sido uma pessoa confiável em qualquer time que ele vá, tanto que foi escolhido como capitão na Euro, após a declarada aposentadoria de Maldini depois daquele fracasso na Copa de 2002. – Todos ponderamos com a cabeça, acho que todo mundo tinha algo para reclamar daquela Copa.
- Eu não lembro de tê-lo visto em algum lugar, mas ele demonstra seriedade. – Comentei.
- Eu só vi os jogos da Inter contra a Juventus e confesso não ter prestado atenção. – Lorenzo falou.
- Teremos adições de peso no elenco, tudo para voltarmos a ganhar o scudetto e, se Deus quiser, todas as outras competições que tiver pelo meio do caminho. – Giorgio disse.
- Acho que não é só questão de elenco, Giorgio, motivação conta muito e o time pareceu dar uma desandada no fim da temporada. – Falei.
- A tem razão, até novembro a gente só tinha perdido um jogo e empatado um, depois foram sete empates, três perdas, parece que desandou um pouco. – Lorenzo falou.
- É arranjar forças para manter uma constância na temporada inteira. Ok, o Del Piero se machucou por dois meses e isso depois o pessoal um pouco baqueado, mas não é porque perde um que os outros precisar se aquietar. – Falei.
- Acho que vou te colocar para motivar os jogadores antes dos jogos. – Giorgio falou e rimos juntos.
- Se for preciso, a gente dá até cambalhota! – Disse, ouvindo-os rirem.
- Bom, falta só um assunto, . – Giorgio disse e eu voltei as folhas, vendo o último item.
- Primavera, De Ceglie. – Falei.
- Uma das opções para vir para o sênior e começar a trabalhar com o profissional é o Paulo De Ceglie, ele tem 17 anos, está com a gente desde 95, por enquanto é um teste, temos outras opções, mas os técnicos acham que ele está melhor preparado. – Assentimos com a cabeça.
- Esse eu nem sei quem é! – Lorenzo falou, nos fazendo rir.
- É novato, mais novo até que a . – Giorgio disse, me fazendo rir. Realmente eu deveria ser uns 10 anos mais nova que os mais novos ali. O último estagiário não deu certo, então eu era a mais nova.
- Mais alguma surpresa para esse ano? – Perguntei, entregando a pasta e a caneta de volta para Giorgio.
- Esperamos que várias, mas a temporada precisa começar antes. – Giorgio falou, rindo fracamente.
- Precisa ser a temporada perfeita. – Marco falou. – Sinto falta de comemorar um scudetto. – Ele se fez de dramático e Claudio empurrou-o com o ombro.
- Bom, tínhamos vencidos todos desde que eu entrei aqui, eu que deveria estar triste. – Falei e eles riram.
- é rapa scudetto. – Giorgio disse, se levantando. – Não me importo, vamos continuando vencendo, porque como disse nosso querido benfeitor Giampiero Boniperti, para a Juventus “vincere non’è importante, ma è l’unica cosa che conta”. – Ele falou a frase estampada em vários lugares do time, nos fazendo rir. – Vamos tentar organizar nossa sala e voltar trabalhar?
- Vamos! – Falei, me levantando rapidamente. Todos fizeram o mesmo e fiquei por último na sala.
- ? – Virei para trás, vendo Giorgio. – Continue o bom trabalho, sim? Pesquisando de futebol e tudo mais. – Assenti com a cabeça, não conseguindo evitar de franzir os olhos. - Você vai longe nesse time. – Dei um pequeno sorriso, confirmando novamente com a cabeça.
- Grazie, signor. – Ele assentiu com a cabeça e segui para fora da sala com ele, voltando para a outra.

Lui

18 de dezembro de 2004 • Trilha SonoraOuça

- Tem que estar no pique para ouvir isso. – Camoranesi falou ao meu lado e eu confirmei com a cabeça, virando o resto do uísque em minha mão e apoiando no bar, acenando com a cabeça para o garçom.
- O que me irrita é que fizemos um começo de temporada bom. – Del Piero falou. – Perdemos somente uma vez na Série A, podemos recuperar no jogo de volta da Coppa Italia e fica essa coisa velada de que precisamos vencer, vencer. A gente sabe disso, eu sei disso há 12 anos. – Rimos juntos.
- Bom, eles não podem perder a chance de juntar todo time no mesmo lugar e nos pedir por vitória. – Trezeguet falou.
- Acho que isso é em todo time, não é prerrogativa da Juventus não. – Fabio Cannavaro falou e todo mundo ponderou com a cabeça. – É a forma velada de dar um feliz Natal com uma faca na mão. – Ele falou, bebericando seu vinho e gargalhamos.
- Bom, a vantagem é que depois que esse chato do Franzo ficar quieto, acaba a festa. – Del Piero disse, deixando também seu copo no bar.
- É, eu preciso achar minha namorada. – Falei, dando uma rápida olhada em volta.
- Falando nisso, e a ? – Trezeguet perguntou, se virando para mim.
- Não a vi aqui e eu estou com a Vincenza agora, gente, gostaria que ao menos as piadinhas parassem. – Falei, bufando.
- Não é piada, cara, é que, sei lá, é a pergunta de sempre. Você e essa Vincenza não parecem muito... Namorados. – Trezeguet falou.
- Ah, o beijo é bom, o sexo também, passamos boa parte do ano separados, não tenho o que reclamar. – Dei de ombros, cogitando pedir aquele uísque para o garçom de novo.
- Mas você não olha para ela do jeito que olhava para . – Bufei, acenando para o garçom que logo começou a servir o líquido.
- Eu não sei, ok?! A é meio bipolar, sei lá, uma hora ela me dá gelo, depois ela é simpática comigo, como na festa do Lippi. Eu não posso cruzar os braços e esperar por ela para sempre. – Eles riram.
- Não... – Del Piero falou. – Mas você pode sentar como pessoas normais e perguntar o que ela quer, sem frescura, como dois adultos.
- Eu estou bem, ok?! Não a vi desde aquela festa, o que é bom, pois não entendi nada das desculpas dela. Ela é complicada. – Abanei a cabeça.
- Quem é complicada? – Virei para o lado, vendo Vincenza chegando novamente com Sonia e olhei para os meninos com olhos de desespero.
- A diretoria, olha que discurso mais complicado... – Trezeguet falou rapidamente e abracei-a pelos ombros.
- Um pouco de pressão, né, amor? – Ela me abraçou pela cintura e eu assenti com a cabeça, dando um rápido beijo em seus lábios, vendo-a sorrir.
- Bom, vocês já sabem o que eles querem: passar para as quartas da Coppa Italia e vincere, vincere, vincere. – Del Piero disse, revirando os olhos e o garçom me entregou o copo.
- Começo de temporada é fichinha, a segunda parte que complica. – Cannavaro falou, deixando o copo na bancada e eu virei o meu em um gole só.
- Coppa Italia, Champions, scudetto, pelo menos o time voltou a ter sincronia. – Trezeguet falou.
- E você está de volta, aquele Ibrahimović é meio louco, cara. – Camoranesi falou e gargalhamos.
- Talvez um pouco de loucura seja o que a gente precise. – Del Piero falou.
- Beh, um feliz Natal a todos e um próspero ano novo. – Franzo, presidente do time falou e o pessoal puxou os aplausos.
- Acho que mais gente estava desesperado para isso acabar. – Falei, vendo o pessoal começar a sair quase em debandada para fora.
- Acho que está na nossa hora também. – Del Piero falou, checando o relógio. – O que acha, amor? – Ele perguntou para Sonia.
- Está bem caída mesmo.
- E você? Quer ir embora? – Virei para Vincenza, ouvindo a música alta voltar a tocar.
- Podemos ir para sua casa. – Ela falou, passando as mãos pela minha cintura e eu sorri, acariciando seu rosto levemente.
- Aposto que teríamos mais utilidade lá. – Falei e ela riu fracamente, ficando na ponta dos pés e colando os lábios nos meus por alguns segundos. - Bom, a gente está indo. – Falei para o pessoal.
- Vou aproveitar a saída. – Del Piero falou.
- Vamos embora! – Trezeguet falou, deixando o copo na bancada e fiz o mesmo.
- Grazie, buon natale! – Cannavaro falou para os garçons e acenamos.
Passei o braço pelos ombros de Vincenza e seguimos para onde boa parte do pessoal estava indo. Creio que só a diretoria e alguns altos cargos haviam ficado. Até o jantar superchato só dos jogadores havia sido mais legal do que isso daqui. Del Piero e Trezeguet saíram um pouco à minha frente.
As noites de dezembro ficavam muito frio, mas ainda não tínhamos sinal de neve, o que eu agradecia, jogar no frio não era muito bom, na neve era pior ainda e eu já tinha tido algumas experiências.
Apertei Vincenza mais próxima com o forte vento que nos atingiu e seguimos para o lado esquerdo do estacionamento, aonde boa parte dos jogadores haviam estacionado. A música do lado de fora parecia tão mais alta do que lá dentro e Trezeguet e Lilian faziam passos ridículos com a música em inglês que eu já havia ouvido no rádio, não conhecia.
- ! – Me assustei com o grito de Trezeguet e olhei para frente, vendo-o correr alguns metros à frente e pulando nas costas de e Lilian foi atrás.
- AH! – Ela gritou e Del Piero e Camoranesi começaram a gargalhar quando os três foram para o chão. Giulia, amiga de , gargalhava um pouco mais afastada.
- Meu Deus. – Sonia falou, preocupada.
- Sai de cima de mim! – falou e Lilian a ajudou a se levantar, tentando inutilmente segurar a risada e a vi se levantar, ajeitando seu casaco e, apesar da raiva no olhar, ela começou a gargalhar junto e foi inevitável não sorrir. – Você está louco? – Ela gritou, batendo em Lilian, que desviava com os braços e ria cada vez mais alto.
- Quem é ela? – Vincenza perguntou e eu engoli em seco, tentando me desviar do sorriso de .
- Ela é da contabilidade. – Del Piero falou rapidamente. – Ela ajuda nas contratações.
- FOI TROCO DAQUELA VEZ? – gritou novamente e Trezeguet a abraçou pelos ombros, tentando conter a fera.
- Não foi, mas poderia ser. – Lilian disse e ela deu um chute em sua perna, fazendo-o rir. – Scusi, ok?! – Ele disse.
- Ah, se não fosse esses 30 quilos de roupa, eu teria dado de queixo no asfalto. – Ela disse, fechando mais firme o casaco que usava.
- Viu? Olha a vantagem! Eu levei uma bolada a seco, à menos de dois metros de você. – Ele fingiu tristeza.
- Ô, tadinho. – abraçou-o de lado. – Quem olha para você até te acha santo, né, Karine? – Ela falou para sua namorada.
- Quem não te conhece que te compre, amor. – Ela disse e sorriu.
- E aí, garota? – Del Piero se aproximou, abraçando-a. – Não te vi lá dentro.
- Ah, que festa chata. – Ela comentou. – A música era boa, pelo menos, mas deixaram o Franzo falar por 40 minutos. – Ela disse, rindo.
- A gente estava falando isso. – Del Piero comentou e vi o olhar de parar em mim e Vincenza e ela fez um aceno com a cabeça.
- Ano passado a festa para os funcionários foi mais legal. – Ela comentou.
- Não é?! – Comentei. – Estava pensando isso. – Ela deu um sorriso de lado.
- Não vai apresentar sua amiga, ? – Camoranesi falou e ela riu, revirando os olhos.
- Para você não. – Ela disse, rindo. – Pessoal, essa é a Giulia; Giulia, esse é o pessoal que você já conhece. – Ela falou.
- Ciao, ragazzi, è un piacere. – Giulia falou e eu acenei, vendo-a sorrir para mim.
- Tira o olho, Mauro! – Ela empurrou o rosto de Camoranesi para o outro lado, nos fazendo rir.
- Eu não estou fazendo nada. – Ele disse, irritado.
- É, conheço você. – Ela disse.
- E aí, , vai ficar por aqui no Natal? Vai viajar? – Trezeguet perguntou.
- Eu vou para Londres fazer um curso de inglês. – Ela falou, sorrindo. – Terminei o curso aqui, agora vou lá para praticar, tenho alguns dias para tirar de férias, vou emendar tudo e ir.
- Não vai perder nosso casamento, né?! – Sonia falou.
- Não se preocupem. – Ela falou, rindo.
- Isso é legal! – Trezeguet falou, sugestivamente olhando para mim. – Vai conhecer alguns ingleses e... – Ele falou cantando e ela riu.
- Não que isso seja da sua conta... – Ela o copiou e eu ri fracamente. – Mas eu sou solteira, querido francês. – Ela falou.
- Falando em francês, está na hora de aprender a nossa língua. – Lilian falou, passando o braço pelos ombros dela.
- Você e o Trezeguet poderiam me ensinar, né?! – Ela falou. – Agora que eu finalizei o inglês, preciso ir para outras.
- Voulez‐vous coucher avec moi ce soir? – Lilian falou, fazendo biquinho.
- Primeiro: eu não preciso saber francês para saber o que essa frase significa, segundo: sua namorada está aqui do lado! – Ela deu um tapinha na cabeça dele.
- Ele não tem jeito, . – Karine falou e ambas assentiram com a cabeça.
- Mas eu topo as aulas! – Ela falou, apontando para Lilian e Trezeguet. – Aceito de espanhol também, Mauro. Você é naturalizado italiano, mas sei que é da Argentina. – Ela falou.
- Bom, na falta de mim, temos Montero, Olivera, Zalayeta... – Camoranesi começou a falar.
- É, mas pensa como seria engraçado você me dando aula? – falou e Del Piero gargalhou.
- Mal sabe falar o italiano, imagina o espanhol. – Ele disse, nos fazendo explodir em risadas.
- Giusto. – fez uma careta. – Bom, gente, eu preciso ir. Buon natale para vocês, nos vemos no ano que vem. – Ela sorriu.
- Tchau, , até. – Falamos juntos e ela acenou, abraçando Giulia pelos ombros e ambas seguiram em frente.
- Ei, quer carona? – Del Piero gritou e ela virou de novo.
- Oi? – Ela se virou.
- Carona, vai embora como? – Alex gritou de novo.
- Com o meu carro! – Ela falou, puxando um chaveiro do bolso e sacudindo para gente.
- Mentira! – Trezeguet gritou, correndo em direção a ela e não evitei em sorrir.
- Sem me derrubar! – Ela falou, se protegendo com a perna.
- Juro que não. – Ele falou e ela se aproximou de um Fiat Panda vermelho.
- Juntei todas as moedinhas possíveis e... – Ela apoiou no carro feliz, quase como se o abraçasse. – É usado, mas...
- É seu! – Falei e ela assentiu com a cabeça sorrindo. – Parabéns!
- Grazie mile. – Ela sorriu, suspirando. – Estou feliz, é a primeira coisa boa que eu tenho em meu nome, porque já não basta conta. – Rimos juntos.
- Parabéns, garota, você merece! – Del Piero falou, dando um rápido abraço nela.
- Obrigada, gente. – Ela suspirou. – Até mais.
- Até, vê se não atropela ninguém. – Lilian falou.
- Só se for você! – Ela gritou, nos fazendo rir.
Voltei a andar com Vincenza e observei me olhar por cima do carro sem nenhuma expressão definida no rosto e seu rosto sumiu para dentro dele, me fazendo suspirar. Cheguei perto do meu carro e abri, entrando de um lado, vendo Vincenza entrar do outro.
- Essa tem muito contato com vocês? – Ela perguntou.
- Pouco, ela ajuda na parte de contratação, mas o pessoal é mais próximo dela. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- E você não? – Ela perguntou.
- Ah, pouco, não a ponto de fazer o que o Lilian e o David fizeram. – Falei e ela riu fracamente.
- É, eles derrubaram a menina no chão, não foi legal. – Rimos juntos.
- Pois é, mas a gente se encontra pouco. – Falei, tentando finalizar o papo. – Vamos para minha casa?
- Por favor, está bem frio. – Ela disse, sorrindo e eu virei para ela, dando um curto beijo em seus lábios antes de ligar o carro.

Lei

Cinco de fevereiro de 2005

- É aqui na casa à direita, por favor. – Falei para o motorista.
- Pronto, moça. – Ele falou, parando no meio da rua e eu estiquei o dinheiro para ele.
- Grazie. Pode ficar com o troco. – Falei e desci do carro, sentindo o vento gelado sacudir meus cabelos.
Ajeitei meu sobretudo preto em cima do vestido da mesma cor e fiquei feliz por ter optado por colocar meia calça e um sapato fechado na frente, pelo menos os pés ficariam protegidos. Para ajudar, o casamento era no fim do dia, então quando o sol fosse embora, aí sim a gente veria o que é frio.
- Nome, por favor? – A moça falou e eu sorri.
- . – Falei, vendo-a checar na prancheta.
- Seja bem-vinda! – Ela falou e eu assenti com a cabeça, passando para dentro dos muros da casa de Alex.
Ao invés de entrar, como da outra vez, um tapete branco seguia pela lateral direita da casa e eu segui por ele. Um túnel me jogava pela lateral da casa e tinha várias fotos de Alex e Sonia em uma montagem bonita. Sorri, acompanhando o túnel e mal consegui me localizar. O espaço que eu havia vindo há pouco mais de seis meses, agora estava inteiro coberto com uma tenda.
Várias flores e plantas contrastavam com os detalhes em branco. O campo de futebol e a parte coberta haviam sumido e aposto que a piscina também estava coberta. Um corredor central dividia as mesas em dois lados e um pequeno altar estava montado no centro da tenda, só não me pergunte onde era o centro, eu já havia perdido a localização.
- Buona sera, qual é seu nome? – Um outro homem perguntou.
- . – Falei.
- Você está na mesa 12. – Ele falou. – Venha comigo, por favor. – Ele falou e eu franzi a testa.
Odiava esse negócio de rico de montar mesa, que eu não tenha ficado na mesma mesa que Gigi, pelo amor de Deus. Andei atrás do homem e quase respirei aliviada quando ele apontou para uma mesa com Lilian e Karine, Pavel e Ivana, Trezeguet, Camoranesi, Iuliano e agora eu. Ufa, oito lugares, mesa completa.
- Ciao, ragazzi! – Falei, vendo-os sorrirem.
- Ah, tinha que ser. – Lilian falou, sorrindo e todos se levantaram para me cumprimentar.
- Sem gracinhas aqui hoje, hein?! – Pavel falou e eu ri fracamente, abraçando-o e seguindo para sua esposa.
- É, sem destruir a decoração, sem me derrubar ou derrubar alguém. – Falei para Lilian, dando um rápido beijo em seu rosto, seguindo a roda.
- Vou segurar a cerveja até o final. – Karine falou e eu sorri, abraçando-a rapidamente. – Você está linda, adorei o vestido.
- Ah, mesmo? Obrigada. – Suspirei. – Fiquei indecisa no que vestir.
- Está ótima, amei o sobretudo. – Ivana falou e sorri, seguindo a fila.
- Garota! – Trezeguet me abraçou, depois segui para Iuliano e Camoranesi.
- Como vocês estão? – Perguntei, seguindo até o lugar vago entre Trezeguet e Karine e me sentei, estando mais ou menos em diagonal para a cerimônia.
- Tudo bem, como foi em Londres? – Trezeguet perguntou.
- Very good. – Falei, ouvindo-os rirem. – Foi muito bom, fazer algo diferente, conhecer gente nova, conhecer outro país... – Ele sorriu.
- Primeira vez fora do país? – Camoranesi perguntou.
- Sim, mas sempre tive vontade, então foi muito bom, o pessoal é bem legal. – Sorri.
- Que bom! Agora já podemos contratar ingleses. – Ele disse.
- Vamos ver. Eu não tenho voto para nada, eu só observo. – Falei, suspirando.
- O que você faz exatamente? – Pavel perguntou.
- Minha parte é mais repasse de dinheiro, liberação para o pessoal fazer as coisas, recebimento e entrega. – Ponderei com a cabeça, vendo alguns pontos de interrogação. – Por exemplo, se o setor de vocês, o Capello, pede novas bolas para os treinos. Ele faz um pedido para o departamento de compras e o departamento de compras faz a cotação de valores. Depois eles falam com a gente, a gente vê a real necessidade disso, libera o dinheiro e por aí vai.
- Ah sim. – Eles falaram.
- Isso para qualquer tipo de gasto do time, se precisarem de pastas, vendas de ingressos para jogos em casa, repasse de jogos fora, compra de jogadores, pagamento de funcionários, de vocês... Real tudo passa pela gente. Meu trabalho é basicamente receber as informações, preencher planilhas e pedir liberação para meu chefe e depois fazer o caminho inverso.
- Você sabe de tudo, então. – Pavel falou e eu ri fracamente.
- Não tudo, mas eu tenho acesso a tudo, se eu quiser. – Eles riram.
- Tudo mesmo? Tipo, por quanto cada um daqui foi contratado? – Camoranesi perguntou.
- Sim. – Falei.
- Salários nossos?
- Sim! – Repeti. – Multas de atrasos de cada um também. – Falei e eles riram fracamente. – A parte de compra e venda de jogadores é a mais significativa do time, mas isso acontece somente duas vezes por ano, tem muito mais coisa por trás. – Sorrimos.
- A é a dona do dinheiro. – Ivana falou e eu sorri.
- Ainda não, quem sabe um dia. – Eles sorriram.
- Ciao, ragazzi! – Gigi e seu projeto de namorada pararam ao nosso lado e evitei um suspiro. Ele estava muito bonito, de terno, sem gravata com os últimos botões abertos, os cabelos mais cumpridos jogados para trás com gel, os olhos azuis brilhando, pena que a companhia não era eu.
- Ei! – O pessoal falou e seus olhos azuis se encontraram com os meus rapidamente e me contentei em dar um sorriso de lado, o que deve ter ficado bem falso.
Neguei com a cabeça quando eles foram para a mesa do outro lado do corredor e eu suspirei, apoiando os cotovelos na mesa e passando a língua pelos dentes, soltando um suspiro forte em seguida.
- Ok, fala. – Olhei para Trezeguet que me encarava.
- O quê? – Perguntei, voltando à minha posição anterior.
- O que está acontecendo com vocês dois? Eu achei que você não queria ficar com ele. – Ele perguntou mais baixo e eu suspirei, virando o rosto para lado, percebendo que Gigi me olhava e ele desviou o olhar no momento.
- É complicado. – Suspirei.
- Não é complicado, . – Pavel falou. – Vai, fala aí! – Suspirei alto.
- É complicado, porque eu não sei. – Falei. – A gente se conheceu, começamos a nos olhar, então ficamos uma vez, mas eu estava estagiando ainda, tinha medo de não me efetivarem, aí quando eu fui efetivada descobri que não queriam contratar uma mulher para ficar no meio dos homens com medo de acontecer exatamente o que aconteceu e eu preciso muito desse emprego, então eu vi ele com outra, então minha amiga mandou eu largar de besteira, e eu fiquei pensando “o que pode dar de tão errado? Se a gente quiser ficar juntos, avisamos no RH, nem trabalhamos tão próximos assim”, então tentei me abrir com ele naquele dia que viemos aqui no Alex, porque ele nunca estava com a menina da revista, até que ela surgiu. – Suspirei, apoiando a mão no rosto, me arrependendo segundos depois pela maquiagem.
- Muita informação em pouco tempo. – Pavel falou, massageando as têmporas e eu ri fracamente.
- Resumindo: quando ele me queria, eu não quis. Agora que eu quero, ele já está com outra. – Suspirei.
- Eu realmente não sei o que te dizer, mas se valer de alguma coisa, ele gostava de você, para valer. – Lilian falou. – Ele só não... – Ele fez uma careta.
- Não queria me esperar, eu sei. – Falei, assentindo com a cabeça. – E nem deveria, na verdade, eu sei que fui contraditória em muitas coisas, mas eu não posso perder esse emprego, gente. – Suspirei. – Não sei se sabem, mas eu sou órfã, eu não tenho mãe, nem pai, ou uma família para me ajudar em caso de aperto, e o time paga muito bem. É uma oportunidade única.
- Sim, o Gigi nos contou aquela vez. – Pavel falou. – Sinto muito.
- Tudo bem, já faz 16 anos. – Eles assentiram com a cabeça.
- Mas isso explica muita coisa. – Trezeguet falou. – Seu medo com o emprego, a formatura... – Ele virou para Pavel. – Ele sabe?
- Sabe sim, fui bem clara para ele desde o primeiro beijo. – Suspirei. - Acho que ele levou vocês na formatura, pois imaginou que eu não teria com quem comemorar, o que ele não estava tão errado assim. Aquela minha amiga Giulia é basicamente minha única família. – Suspirei, coçando a testa.
- Isso é pesado, . – Lilian falou e eu confirmei com a cabeça. – Você se vira desde então?
- Sim, eu tinha oito anos quando aconteceu o acidente, aí meus pais eram brigados com seus pais e morávamos em outra cidade, aí fui para um abrigo. Aos 14 encontraram uma avó que estava mais interessada na ajuda do governo do que em mim e eu fui ficar com ela, mas o abrigo era melhor. – Suspirei. – Eu fazia alguns bicos aqui e ali e, quando cheguei aos 17 anos, era fase de vestibular, prestei para o local mais longe possível e vim.
- Turim? – Lilian perguntou.
- Sim, Turim é meu conto de fadas. – Ri fracamente. – Para o bem ou para o mal. – Virei para o lado, vendo Gigi conversando com o restante do pessoal da sua mesa. - Mas é a vida, não?! – Dei de ombros. – Eu vou seguir em frente também.
- Bom, aposto que temos outros espécimes melhores que Buffon. – Iuliano falou e ri fracamente.
- Oh, Dio! – Fingi drama. – As melhores opções estão namorando, gente, sem ofensa. – Camoranesi fez uma careta e rimos juntos em seguida.
- Sou eu ou o Zlatan, você escolhe. – Ele falou e eu fiz uma careta.
- Solteira sempre. – Falei, ouvindo a mesa explodir em risadas. – Pior que às vezes eu olho para o Gigi e ele me parece tão mais maduro do que eu. – Suspirei. – Me pareço uma criança perto dele.
- Não acho, não. – Pavel falar. – É que ele é muito alto, muito grande...
- Muito bonito... – Karine falou e rimos juntas.
- Amor! – Lilian a reprendeu e eu sorri.
- Muito sexy. – Falei.
- Ok, estamos saindo do foco! – Pavel falou, nos fazendo rir. – Mas acho que você tem essa impressão porque só vê o quadro completo, mas ele é um cara legal, um tonto nos treinos, nos jogos, tem certa presença sim, mas ele é uma criança... – Rimos juntos.
- E você é alta também. – Trezeguet falou.
- Não 1,92, gente! – Eles riram. – Uns 12, 13 centímetros a menos, mas ok. – Eles sorriram.
- Qual sua idade? – Lilian perguntou.
- 23. – Falei.
- Que novinha! – Iuliano falou. – Acho que a melhor opção dela é o Zlatan mesmo. – Ele cutucou Camoranesi e explodimos em risada.
- Dio mio, no! – Falei, vendo Zlatan na mesa de Gigi, rindo de alguma coisa que Fabio falava. – Dio, não mesmo.
- Viu? Ela até pensou! – Iuliano falou e eu neguei com a cabeça.
- Fica quieto, por favor. – Falei, ouvindo Trezeguet rir ao meu lado.
- Gigi tem quantos anos? 26?
- 27, ele fez aniversário semana passada. Eu só faço 24 em novembro.
- Ok, são três anos e uns nove meses de diferença?
- É, por aí. – Suspirei.
- Bom, temos o Camoranesi da mesma faixa etária, quem mais? – Trezeguet falou.
- Ah, eu posso mudar de mesa? – Brinquei, vendo-os rirem.
- Tem lugar lá na do Gigi, vai lá! – Lilian falou e eu neguei com a cabeça.
- Eu quero acreditar que isso é só desvio de percurso. – Karine soltou e todos viramos para ela.
- Como assim? – Perguntei.
- Se por acaso vocês forem almas gêmeas, a vida vai dar um jeito de juntar vocês. – Fiz uma careta.
- Não acho que seja nesse nível, eu gosto dele, mas não sei se o amo. – Falei, ponderando com a cabeça.
- Bom, a vida vai mostrar se eu estou certa ou você. – Karine falou e eu ri fracamente.
- Eu sou muito cética para acreditar nessas coisas de destino. – Suspirei e ela deu de ombros.
- Beh, a gente vai conversando. – Ela disse e eu assenti com a cabeça.
- Combinado. – Ela disse, sorrindo e uma música mais alta começou a tocar.
- Nossa, verdade! Estamos em um casamento! – Lilian comentou, nos fazendo rir quando Del Piero entrou no local de braço dado com sua mãe, imagino eu.
Os jogadores do time gritaram por ele e eu entrei na deles, aplaudindo também. Ele acenou para as mesas, me fazendo rir e se colocou em frente ao altar, sua mãe se colocou em um dos bancos que tinha na lateral. Após alguns minutos de silêncio, a música mudou e quatro casais de padrinhos e madrinhas entraram na cerimônia. Um deles eu reconheci como o irmão de Alex, agora os outros eu não fazia a mínima ideia de quem seriam.
Eles se colocaram da mesma forma que a mãe de Alex, que agora se encontrava ao lado do pai, e a marcha nupcial começou a tocar. Todos nos levantamos e sorri ao encontrar Sonia na entrada do túnel de braço dado com seu pai. Ela usava um vestido rodado de mangas compridas e um véu fino que cobria seu rosto. Ela entrou lentamente no salão e foi inevitável não dar um sorriso.
Virei o rosto para o lado, percebendo que alguém me encarava e vi o olhar de Gigi em mim mais uma vez, me deixando levemente encabulada. Meu olhar também focou no seu por alguns segundos e fiquei travada. A visão de Sonia de branco fez com que minha visão mudasse de foco e fiz questão de mudá-la antes de ficar presa em seus olhos azuis de novo. Senti seu olhar ainda em mim, mas preferi ignorar, não era eu quem estava acompanhada. Ele que se resolvesse com sua namorada depois.
A cerimônia se seguiu como toda celebração católica de casamento. Sonia e Alex pareciam muito felizes com isso e, como boa manteiga derretida, eu chorei no momento do sim. Eu, Karine, Ivana, Lilian e Trezeguet, se me permite confessar. Assim que o casal oficializou a união com um beijo, os padrinhos jogaram pétalas de flores neles e os convidados puxaram uma salva de palmas.
Assim que o feliz casal saiu de volta para o túnel, uma banda começou a tocar algumas músicas mais agitadas em um palco lá no fundo, onde eu nem conseguia ver, provavelmente na área que seria o campo de futebol, e as bebidas e comidas começaram a passar. O local começou a ficar abafado e muitos tiraram os paletós e casacos. Eu fui uma delas. Tinha bastante controle sobre o álcool no meu sangue, mas eu começava a suar rápido demais.
Sonia e Alex voltaram para a festa quase uma hora depois e começaram os cumprimentos mesa por mesa. Eu estava aproveitando para comer e tentando ignorar o cara que não tirava os olhos de mim na outra mesa que já estava me incomodando. Ok, eu estava bonita e um arraso, mas ele tinha uma namorada ao seu lado. Eu errei ao me anunciar como disponível da última vez que viemos aqui no Alex, mas não sabia que o negócio dele com a menina da revista era verdade, afinal, ela nunca estava com ele. De repente, ela apareceu, então acho que ele deveria um pouco de respeito com ela.
Apesar de que confesso que estava gostando. Não sei como estava o papo na outra mesa, mas seus olhos azuis pareciam buscar por mim a todo momento, quase como um radar. Espero que sua namorada não percebesse, pois ele claramente estava mais interessado em mim do que nela e eu nem estava fazendo nada. Beh, tirando comer bastante, pois tudo estava uma delícia. Mas era bom saber que eu não era a única complicada nessa montanha-russa e que, sim, Gianluigi Buffon ainda gostava de mim.
- Ah! – Falei, animada, quando o casal apareceu na nossa mesa e eu me levantei, limpando a boca para abraçar Sonia. – Auguri! Auguri! – ela me apertou fortemente.
- Grazie mile! Obrigada por ter vindo. – Ela disse e sorri.
- Eu que agradeço pelo convite. – Seguindo para Alex. - Ah, capitano! Auguri!
- Ah, , obrigado por ter vindo. – Ele falou, me abraçando fortemente e eu assenti com a cabeça.
- Vocês merecem toda a felicidade do mundo. – Falei e ele sorriu, estalando um beijo em minha bochecha e eu retribuí.
Ele passou pelo resto do pessoal da mesa ganhando abraços e outras palavras de incentivo, inclusive piada dos jogadores. O fotógrafo que os seguia tirou uma foto com todo mundo e logo eles seguiram para as outras mesas, nos fazendo sentar novamente e eu pude finalizar meu delicioso jantar.
Depois de passar em todas as mesas, Alex e Sonia fizeram um rápido discurso e abriram a pista de dança. Várias pessoas foram direto para lá, mas eu, sem acompanhante, preferi ficar dançando perto da mesa mesmo, passando as músicas pelos meus lábios e movimentando o corpo no ritmo.
Para minha surpresa, Gigi e sua pseudo-namorada foram para a pista de dança também. Beh, ela dançava com o corpo colado no dele e ele mal se mexia, só se fosse para beber mais um gole de sua cerveja. A mão livre apoiada na cintura dela, enquanto ela tentava dançar contra uma parede. Seus olhos ainda me encaravam, mas eu já estava ficando craque em fingir ignorar.
- ! – Virei para o lado, vendo Trezeguet.
- Fala! – Disse e ele estendeu a mão para mim.
- Vem dançar!
- Com você? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.
- Não sou tão mal, vai! – Ele disse e olhei para Lilian e Iuliano que riam e dei de ombros.
- Por que não? – Falei, segurando sua mão e dando a volta na mesa. – Não deve ser pior que Lilian. – Brinquei e ele fez uma careta.
- Engraçadinha. – Lilian me cutucou e rimos juntos.
Achei que dançar com o David seria uma forma de me divertir e me tirar da mesa, mas acho que ele tinha outros planos quando começou a me girar e fazer passos engraçados e não era ficar comigo. Ele queria fazer ciúmes no Gigi. Ou melhor, me ajudar a fazer ciúmes em Gigi. Não que o goleiro do time já não tirasse os olhos de mim, mas agora muito mesmo e eu até que dançava bem, tinha um bom gingado e sabia rebolar um pouco.
- O que você está fazendo? – Cochichei para David quando ele me segurou pela cintura, dançando mais próximo de mim.
- Ele está olhando para cá, aproveita! – Ele falou e eu ri fracamente, negando com a cabeça.
- Você é pior do que Lilian. – Falei e ele deu de ombros, me abraçando pela cintura.
- Aproveita! – Ele disse e eu ri fracamente, apoiando minha cabeça nos ombros dele.
Foi bom, David sabia dançar na música lenta, então foi real divertido, sem segundas intenções, principalmente porque ele era casado e não sabia o porquê Béatrice não estava ali. Dançamos umas oito músicas até eu precisar parar para ir ao banheiro.
- Grazie. – Falei para David e ele riu, estalando um beijo em minha bochecha e eu segui em direção ao banheiro dando risada sozinha.
A Juventus era uma família mesmo e, apesar de faltar vários parafusos na cabeça desse pessoal, principalmente na dos franceses, eu gostava de perder boas horas com eles. Estava criando minha família nos lugares mais improváveis.
O banheiro ficava do lado de fora da tenda, na parte coberta onde havia sido a festa do Lippi, então foi bom sair um pouco e realmente ver a noite. As luzes coloridas contrastavam com a tenda branca e deixava tudo de outra cor. Um pouco de luz clara era o que eu precisava para clarear um pouco a vista.
Esperei uma pequena fila no banheiro, fiz minhas necessidades, sentindo o sapato finalmente doer os pés, mas teria que aguentar, minha meia-calça ia rasgar se eu colocasse os pés no chão. Passei um papel no rosto, tentando dar uma ajeitada na maquiagem que estava toda borrada e ajeitei a barra do vestido, me recompondo melhor e logo saí.
- Ciao. – Virei o rosto para o lado, vendo Gigi apoiado na parede com um cigarro na mão e eu suspirei.
- Ei. – Falei, querendo apressar os passos para dentro, mas ele segurou meu braço.
- Espera aí. – Ele disse, me puxando levemente e eu virei o corpo para ele.
- O quê? – Perguntei, vendo-o soltar a fumaça para o lado contrário. – Achei que isso fizesse mal para todo mundo, ainda mais para um jogador que precisa ter uma saúde perfeita.
- Alguns vícios ficam. – Ele disse, dando de ombros e eu revirei os olhos.
- O que você quer? – Perguntei, cruzando os braços, sentindo o vento passar pelas minhas pernas.
- Você e David dançando? – Ele perguntou e eu mordi meu lábio inferior para não deixar um sorriso escapar.
- Legal, né?! Não sabia que ele dançava. – Falei com deboche, rindo sozinha. – Ele dança bem...
- Você está tentando... – Ele parou a frase no meio do caminho e eu ergui o olhar para o seu.
- O quê? Te fazer ciúme? – Perguntei, dando um pequeno sorriso.
- Parece. – Ele deu de ombros, jogando o cigarro no chão e pisando com seu sapato social.
- Primeiro de tudo: eu sou solteira, livre e desimpedida, dançando com um amigo que gentilmente quis me tirar da mesa. – Falei, dando um passo para mais perto dele. – Segundo: achei que fazer ciúmes em mim fosse o seu trabalho. – Falei baixo, com o rosto mais próximo dele. – Não tira os olhos de mim. – Dei um pequeno sorriso ao vê-lo abrir a boca e não falar nada e me afastei um passo novamente. – E terceiro: pega esse cigarro e joga no lixo. – Disse, negando com a cabeça.
- , espera! – Ele falou, tentando me puxar pelo braço e eu movimentei o mesmo antes que ele o alcançasse.
- Não, Gigi. Eu não vou entrar nessa brincadeira. Você tem uma namorada e eu tenho uma festa. Ci vediamo! – Falei, suspirando e voltei rapidamente para dentro, sacudindo a cabeça para tentar tirar da cabeça o que é que tinha acontecido ali.

Lui

Cinco de fevereiro de 2005 • Trilha SonoraOuça

Observei o pessoal restante da mesa da frente começar a levantar e observei pegar seus sapatos no chão e se apoiar em Iuliano para colocar, recebendo um olhar engraçado dele e ambos caíram na gargalhada com o feito. Senti uma mão em minha perna e virei o rosto, sorrindo para Vincenza.
- Quer ir? Você me parece cansado. – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Acho que podemos ir, o que acha? – Dei um beijo em sua bochecha. – Podemos aproveitar melhor em casa. – Falei e ela deu um sorriso, abaixando o olhar.
- Vamos, então. – Ela disse e eu me levantei.
- Já vão? – Fabio perguntou.
- Sim. – Falei, pegando meu paletó na cadeira e o vesti.
- Vamos aproveitar também, então. – Ele falou, se levantando junto de sua esposa.
- O pessoal já está indo também. – Falei, indicando os jogadores da mesa da frente e ele assentiu com a cabeça.
O pessoal seguiu em direção à Alex e Sonia e começaram os cumprimentos. era a última da fila e falava alguma coisa com Iuliano. Ambos gargalhavam e pude ouvi-los quando me coloquei atrás deles na pequena fila que havia se formado.
- Está horrível! – Iuliano falou e ela empurrou-o com o ombro.
- Não sirvo para isso, Mark. – Ela comentou e vi que sua meia havia se rasgado, provavelmente depois do tanto que ela havia dançado após o corte do bolo.
- Acho que se você usar assim, vai virar tendência. – Ele disse e ela negou, gargalhando.
- Vou pensar no seu caso. – Ela brincou e chegou sua vez de abraçar Del Piero. – Ah, Alex!
- Obrigado por ter vindo. – Ele falou, abraçando-a pela cintura.
- Eu que agradeço pelo convite. Desejo toda a felicidade do mundo para vocês, sério! Vocês merecem! – Ela falou, seguindo para Sonia.
- Obrigada, . Obrigada por vir. – Sonia disse e estalou um beijo em sua bochecha.
- Vocês merecem. A festa está linda, vocês estão lindos, tanti auguri per voi! – Ela disse.
- Grazie mile! – Alex disse e ela saiu da fila.
- Parabéns, cara! – Iuliano falou, dando uns tapinhas nas costas de Alex. – Felicidades para os dois!
- Obrigado, Mark. Obrigado pela presença. – Alex falou e Mark seguiu para a noiva. – Gigione! – Alex gritou e eu sorri.
- Parabéns, cara! – Dei dois beijos em seu rosto e o abracei.
- Grazie mile! Obrigado por terem vindo! – Ele falou, dando uns tapinhas em minhas costas.
- Eu que agradeço, obrigado mesmo! – Falei, colando nossas testas e ele sorriu. – Sonia!
- Ah, Gigi! – A abracei fortemente, vendo-o sorrir.
- Auguri! – Falei, dando um beijo em seu rosto. – Boa sorte com esse aí! – Ela riu fracamente.
- Pode deixar! Obrigada por ter vindo.
- Eu que agradeço. – Falei, abrindo espaço para Vincenza dar um rápido abraço nela.
Passei a mão pelos ombros dela, sentindo-a me abraçar pela cintura e segui em direção ao túnel de volta, recebendo um pequeno pacote de lembrança do casamento. Ouvi algumas risadas altas e encontrei o pessoal unido lá fora.
- Gigione! – Trezeguet falou, me abraçando de lado e eu ri.
- Alguém está feliz! – Comentei.
- Ah, que isso! – Ele falou, me fazendo negar com a cabeça.
- Eu sou o mais normal aqui! – Pavel falou.
- Ei! – e Karine falaram juntas.
- Ok, elas! – Pavel disse, nos fazendo rir.
- Gigi não bebeu tanto, né?! – Vincenza falou e eu desviei olhar para ela.
- É, fui comportado. – Falei.
- Ah ‘tá! – Lilian falou, irônico, gargalhando em seguida.
- Não está batendo bem da cabeça mais. – Karine comentou.
- Bom, vamos embora? – Ivana falou. – Estou cansada.
- Eu também. – comentou, suspirando. – Vocês têm jogo só na quarta, mas eu trabalho amanhã cedo!
- É uma da manhã ainda! – Lilian falou com a voz embolada.
- É, mas até chegar em casa, tomar banho, deitar... – Ela falou, fazendo uma careta. – E a ressaca... – Rimos juntos.
- Vamos embora, então. Em caridade a você! – Fabio falou e ela revirou os olhos.
- Vocês são uns amores. – Ela disse, irônica e seu olhar focou nos meus por alguns segundos.
- Andiamo! – Pavel falou.
- Lilian, você mora em Vinovo, né?! – perguntou.
- Moro! – Ele falou.
- Me dá uma carona? Eu vim de táxi.
- Eu te dou uma carona, . – Karine falou. – Não o deixo dirigir nem a pau. – Ela falou, nos fazendo rir.
- Está morando em Vinovo agora? – Perguntei, até surpreso de como saiu rápido demais.
- Sim. Me mudei no ano passado. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Imagino que tenha uma mansão imensa lá. – Lilian falou, apoiando o braço nos ombros dela.
- Claro! Com certeza. – Ela disse, irônica, rindo em seguida. – Sabe aqueles prédios que ficam logo na entrada?
- Uhum! – Todos falamos juntos.
- Moro ali! – Ela disse.
- Bom saber! – Trezeguet falou.
- “Bom saber” nada, não inventem. – Ela falou, nos fazendo rir.
- Qual o prédio e qual o apartamento? – David ainda tentou.
- Ah claro, maior sonho é ter você e o Lilian me importunando.
- Anota o prédio, a gente depois descobre o apartamento. – Trezeguet sussurrou para Lilian e riu, negando com a cabeça.
- Ah, acho que eu vou de táxi. – falou, nos fazendo rir.
- Ele vai dormir antes de chegarmos em Vinovo. – Karine disse.
- Ótimo! – Rimos juntos.
- Beh, ragazzi, andiamo! Até terça! – Pavel falou.
- Ciao, ciao! – O pessoal começou a falar e simplesmente seguiu com Lilian e Karine pela rua. Tudo bem, não que ela devesse algo para mim, mas ao menos um tchau só para mim ou qualquer coisa.
Eu não sei o porquê, mas ela estava me deixando verdadeiramente louco. Primeiro ela não queria ficar comigo por causa do estágio, ok, é uma desculpa plausível, depois ela novamente não quis ficar comigo por causa do trabalho, eu cansei de esperar. Sou homem, preciso ter um pouco de atividade lá embaixo, gastar energia e tudo mais. Finalmente consigo me relaxar, sai foto em uma revista e ela fica toda seca comigo, alguns meses depois até me pediu desculpas. O que ela queria comigo?
EU NÃO ESTAVA ENTENDENDO MAIS NADA.
Pior de tudo é que eu poderia ignorar tudo isso e seguir minha vida normalmente, mas por algum motivo eu não conseguia tirar os olhos dela. Vê-la jogando futebol na festa do Alex foi algo que eu gostei de presenciar, sua experiência era quase zero, mas foi divertido vê-la tentar driblar o pessoal, e a bolada na cara do Lilian seria lembrada para sempre. Agora vê-la dançando com o David e rindo alto com o pessoal também. Não poderia falar nem que eram roupas provocantes ou algo assim, pois estava muito frio e seu vestido, casaco e meias eram pretos e não deixavam nada para a imaginação.
Era algo com ela. Ela mexia comigo, na cabeça, no peito, na virilha... Logo após nosso rápido papo, eu precisei tirar alguns minutos no banheiro para me aliviar. Não o melhor local e nem a melhor vestimenta, mas eu fiquei excitado e não dava para voltar para festa daquele jeito.
Agora novamente também. A mão de Vincenza estava apoiada em minha perna enquanto eu dirigia e eu sabia o que aconteceria quando chegássemos em casa, mas minha cabeça não estava na mulher ao meu lado que eu transaria em alguns minutos, estava na . Che cazzo!
Por que ela mexia tanto comigo?
Ela podia fazer o que quisesse da vida dela, mas não me envolver nas loucuras dela! Como que desliga isso? Como que paro de me importar com ela? Como paro ao menos de pensar nela? Parece que eu ainda consigo ouvir a risada dela em deboche para mim. Como se ela estivesse em meus pensamentos se divertindo da minha frustração.
- Você está um pouco quieto, amor. – Virei para o lado, vendo Vincenza e sorri, levando minha mão para sua perna.
- Só pensando em você. – Falei e ela sorriu, estalando um beijo em minha bochecha.
- Seus amigos são legais. – Ela disse.
- Sim, eles são ótimos. – Sorri.
- Aquele francês...
- Lilian?
- O outro.
- David.
- Ele correndo atrás do buquê foi demais. – Rimos juntos.
- O melhor foi ele competindo contra todas as mulheres da festa. – Falei, ouvindo-a rir.
- Quase todas, aquela menina que estava com eles não foi. – Ela disse e eu virei o rosto para ela.
- A ?
- É! – Ela falou.
- Vai ver não quis. – Dei de ombros. – Não sei muito sobre a vida dela. – Senti a saliva descer com dificuldade.
- Você sabia que ela não morava em Vinovo antes.
- É, uma vez alguém deu uma carona para ela e comentou que ela morava no centro. Deve ter se mudado agora que foi efetivada. – Falei, entrando na garagem de casa.
- Ela parece legal. – Ela falou.
- Uhum, a gente tem pouco contato com ela, mas ela é divertida. – Disse, desligando o carro e saí do mesmo. – Mas vamos falar sobre nós.
- Hum, o quê? – Ela brincou, vindo em minha direção e eu passei o braço em sua cintura, trazendo-a para perto de mim e fui até a porta de casa.
Travei o carro e abri a porta de frente de casa, deixando-a entrar antes e entrei logo atrás, tirando a chave e trancando do lado de dentro. Observei-a andar pela sala e passei minha mão na dela, sentindo-a apertar e segui para o andar de cima, ouvindo seus sapatos baterem fortemente contra o piso. Andei pelo corredor e entrei em meu quarto.
Puxei-a pela mão, trazendo-a para perto de mim e levei minha mão até seu rosto, acariciando-o de leve e ela sorriu, apoiando a mão na minha. Inclinei meu corpo em direção a seus lábios devido a diferença de altura e colei nossos lábios. Sua mão desceu pela minha cintura, apertando as diversas peças de roupa e levei minhas mãos até o botão do paletó, abrindo-o e puxando-o para trás.
- Relaxa, amor, eu vou chegar lá! – Ela sussurrou e eu ri fracamente, passando as mãos pela minha cintura e colei nossos lábios novamente.
Desci minhas mãos de sua nuca para sua cintura, pressionando meu corpo no seu e desci as mãos mais um pouco, segurando em suas pernas e ergui seu corpo, ouvindo-a soltar um gritinho baixo, apertando as pernas em minha cintura. Aproximei-a da parede, pressionando seu corpo sobre os seus, ouvindo um baixo gemido vindo dela e colei nossos lábios novamente.
Enfiei minha língua em sua boca com rapidez, segurando-a firmemente por uma perna e subi a outra mão para sua cintura, subindo a mão devagar. Pressionei-a fortemente contra a parede, puxando o zíper de seu casaco para baixo, abrindo-o.
Afastei meu rosto do seu e desci os beijos para seu pescoço, dando algumas sugadas no local e senti suas mãos acariciando meus cabelos enquanto ela soltava a respiração para cima, alterando a pressão em minha cabeça.
Segurei suas pernas firmes novamente e desencostei-a da parede, caminhando até minha cama e derrubei seu corpo nela. Passei as mãos pela minha camisa social e puxei os botões, arrebentando alguns e joguei-a para o lado. Ela se sentou na cama, tirando seu casaco e deu um sorriso para mim.
- Você está com pressa. – Ela comentou, rindo fracamente e eu sorri.
- Você não tem nem ideia. – Falei, tirando os sapatos e me aproximei dela e ela se deitou novamente.
Inclinei meu corpo sobre o seu, colando nossos lábios novamente e senti suas mãos geladas em minhas costas e contraí o corpo para mais perto do seu. Desci meus lábios para seu pescoço novamente e apertei suas pernas, pressionando minha virilha na sua. Desci os lábios para o decote de seu vestido, tirando o tecido da frente.
- Cuidado para não rasgar. – A ouvi comentar, rindo fracamente de novo e suspirei.
Ergui meu corpo, me ajoelhando na cama e passei as mãos em sua cintura, descendo pelas suas pernas e adentrei minhas mãos embaixo de seu vestido, passando a mão em suas pernas e encontrei sua calcinha, segurando as laterais e puxando-a para baixo. Abaixei o corpo, dando um beijo em seu tornozelo esquerdo.
Subi os beijos pela sua perna, acariciando a outra com a mão e fui intercalando entre beijos e sugadas em sua pele. Deslizei minhas mãos para dentro do seu vestido, dando um beijo na parte interna de sua coxa.
- Gigi, não. – Ela falou, apoiando a mão e eu ergui o rosto até encontrar o seu. – Eu não gosto disso.
- Ah, difícil assim! – Falei, suspirando e sentei na cama, vendo-a apoiar os antebraços no colchão.
- Você está estranho. – Ela disse.
- Eu estou com tesão e quero sexo, mas você está matando o clima.
- Você que está diferente, muito rápido, querendo outras coisas. Podemos fazer amor, calmo, gostoso...
- Perdi o interesse. – Falei, me levantando e suspirei, seguindo até o banheiro e bati a porta quando entrei.
Me debrucei sobre a pia, suspirando e vi meu reflexo no espelho. Abri a torneira, jogando um pouco de água no rosto, molhando um pouco os fios e suspirei, apoiando a cabeça na pia. Fechei os olhos e suspirei quando o sorriso de veio em minha cabeça, me fazendo erguer a cabeça com pressa.
- Não, não começa! – Suspirei, deslizando a torneira e apoiei as costas na parede, suspirando.
Tirei o cinto da calça, jogando-o no chão e abri o botão e o zíper, abaixando a peça de roupa, vendo-a deslizar pelas minhas pernas. O pior de tudo era que eu não estava ereto. Era como se não tivesse acontecido nada. E não aconteceu, né?!
Apoiei a cabeça na porta, fechando os olhos e a cena do meu primeiro beijo com passou em minha mente, me fazendo suspirar e pressionar os lábios. O segundo no corredor de sua quitinete, o terceiro no estádio também veio e o quarto no corredor. Ri sozinho como em todos os momentos ela me afastou e, por algum motivo, eu queria mais.
Passei a mão em meu pênis, segurando-o e suspirei, deixando as imagens de aparecerem em minha frente e suspirei, movimentando minha mão levemente pela extensão do meu pênis e suspirei ao ver dançando na festa algumas horas atrás. Não sei se ela havia bebido muito, mas ela cantava todas as músicas, sendo italianas ou estrangeiras e movimentava o quadril no ritmo.
Às vezes David, Lilian, Mark ou Mauro abraçavam-na pelos ombros, cantando alto junto dela, fazendo-a gargalhar alto e esconder a boca com a mão, tentando conter sua risada alta. Abri um sorriso, sentindo meu membro firme em minha mão e soltei a respiração pela boca, agilizando os movimentos.
Contraí meu corpo, lembrando dela chegando na casa de Alex, suas pernas à mostra graças ao short curto que ela usava e seus cabelos movimentando para todas as direções quando ela tentava correr atrás da bola e caía na gargalhada também, deslizando sobre o gramado já gasto.
Passei a língua nos lábios, agilizando os movimentos de minha mão em meu pênis e repassei seus olhos serenos me olhando quando conversamos na casa do Alex na confraternização. Como ela parecia fofa e ingênua. E então repassei seu olhar duro e irritado para mim há algumas horas na festa. Ela podia ser tudo, menos fofa e ingênua.
Ela era difícil, complicada, mas ela também era incrível e não saía de meus pensamentos. Passei nosso beijo apressado no estádio mais uma vez, naturalmente movimentando a mão com força em meu pênis e suspirei, sentindo o orgasmo se aproximar. Contraí meu corpo, apoiando a mão livre na parede e suspirei quando o gozo saiu em minha mão.
Deixei o suspiro sair pelos lábios e movimentei a mão mais devagar na extensão de meu pênis, sentindo meu corpo relaxar aos poucos e passei a mão livre na testa, sentindo-a molhada. Soltei meu pênis, me fazendo suspirar e relaxei os ombros. Apoiei a cabeça na parede novamente, vendo o sorriso de novamente e suspirei.
- Maldita, . – Suspirei.
Puxei a toalha de mão, passando-a em minha mão e em meu pênis e joguei-a no cesto de roupa suja e puxei a cueca e a calça, vestindo-as novamente. Me aproximei da pia, abrindo a torneira mais uma vez e coloquei minhas mãos embaixo dela, lavando-as com sabonete e joguei mais água em meu rosto, respirando fundo. Sequei meu rosto com a outra toalha e bufei alto. Hora de me resolver com Vincenza.
- Ei. – Ela falou assim que abri a porta e suspirei.
- Ei. – Falei, vendo-a com o casaco novamente e me sentei na ponta da cama.
- Você está bem? Não entendi o que aconteceu aqui.
- Só estava irritado. – Falei, suspirando.
- É algo que eu fiz? – Ela perguntou. Foi algo que você não fez.
- Não, não foi nada contigo. – Suspirei. – Eu só acho que não estamos na mesma sintonia.
- O que você quer dizer com isso? – Ela se virou para mim.
- Isso não está funcionando, pelo menos não para mim. – Falei.
- Você está terminando comigo? – Ela perguntou.
- Sim, me desculpe, não queria que fosse assim, mas não posso ficar brincando contigo.
- Eu não esperava por essa. – Ela falou e ergui meu rosto para ela. – É por eu não querer que você me chupe?
- Não, mas foi uma das coisas que me mostrou que não estamos no mesmo ritmo. – Falei. – Acho que quando é para dar certo, tudo se encaixa. – Suspirei.
- Não posso acreditar. – Ela disse. – É só sexo. – Ri fracamente.
- Para mim é uma parte bem importante. – Falei, olhando para ela.
- Isso é ridículo. – Ela disse e eu dei de ombros.
- Bom, isso explica o que eu falei. – Suspirei, me levantando. – Está tarde, se quiser pode dormir aqui. Eu vou ficar lá no outro quarto. – Puxei um travesseiro.
- Eu vou embora. – Ela se levantou.
- São duas da manhã, fica aqui, amanhã você vai embora. – Falei.
- Obrigada, mas prefiro não. – Ela disse, calçando seus sapatos novamente. – Adeus, Gigi. Até nunca mais. – Ela disse, me fazendo suspirar e saiu a passos rápidos do quarto.
Fechei os olhos, passando as mãos em minhas têmporas e me assustei com a batida na porta, me fazendo suspirar. Era melhor eu descer, ela não ia conseguir abrir o portão sem controle. Bufei alto, negando com a cabeça. Maldita, . Puta que pariu. Agora eu não ia mais conseguir transar? É isso?



Capitolo otto

Lei
10 de fevereiro de 2004

- Então, o que acharam? – Giorgio perguntou, voltando a se sentar em sua poltrona e eu e o resto da equipe soltamos um longo suspiro.
- Isso vai ficar incrível. – Suspirei, pegando o projeto em minha mão e folheando as outras páginas.
- Quando vocês começaram a falar em reforma, pensei que era reformar o que já tinha, não comprar o hipódromo aqui do lado. – Lorenzo falou, tão surpreso quanto eu.
- A gente não vai nem reconhecer esse lugar, né?! – Perguntei, abaixando o projeto e Claudio pegou-o do outro lado.
- Provavelmente não. Muita coisa vai mudar, inclusive vamos conseguir separar um pouco mais o administrativo. – Giorgio falou.
- Quantos campos de treino temos hoje? - Marco perguntou.
- Só dois. – Giorgio falou.
- E teremos oito? – Marco completou, surpreso.
- Sim, além dos campos para os times juvenis, vestiários, sala de reuniões para os jogadores, sala de fisioterapia, piscinas para tratamento, entre outras coisas. – Giorgio falou e eu estava abismada.
- Isso tudo, junto do estádio que também vai ser construído do zero? – Perguntei.
- Exato! – Giorgio disse. – Mas a construção desse novo CT aqui em Vinovo está planejado ficar pronto para uso logo após o Mondiale. O estádio vai demorar mais.
- O Mondiale? – Lorenzo falou alto.
- Ano que vem já? – Perguntei e Giorgio assentiu com a cabeça.
- Sim, por isso a mudança de sala, a bagunça que aconteceu no começo da temporada, era tudo preparando terreno para fechar isso. – Ele falou.
- E onde os jogadores vão treinar? – Claudio perguntou.
- No Delle Alpi. – Ele falou. – O estádio é nosso, só não podemos usá-los em dias de jogos do Torino, mas podemos compensar isso em outras ocasiões. – Ele disse. – Conversamos com o staff técnico e eles não estão preocupados com isso. Também a reforma vai começar no hipódromo, então teremos uns seis meses antes de começar a fazer bagunça aqui em Vinovo mesmo.
- Vocês querem fazer uma reforma desse tamanho em um ano e meio... – Falei, surpresa. – Isso é loucura.
- Um pouco! – Giorgio disse, rindo fracamente. – E depois de tudo pronto, vamos pensar no Delle Alpi. – Ele falou.
- Aí vamos para o Olimpico. – Falei.
- Sim. – Giorgio confirmou. – Quando a reforma aqui em Vinovo ficar pronto, vamos encerrar o Delle Alpi e aí temos o nosso cronograma de demolição e construção.
- Isso vai ficar mais lindo ainda! – Suspirei.
- Vai sim e espero que todos vocês possam ver isso pronto. – Giorgio falou.
- Já fechou? – Perguntei.
- Já sim. – Ele puxou uma folha com as assinaturas. - Começa em um mês. – Ele falou.
- Caramba! – Ele gargalhou.
- Estou adorando a cara de surpresa de vocês! – Ele disse, nos fazendo gargalhar junto com ele.
- O time está crescendo, Giorgio, isso é muito legal! – Apoiei a mão no rosto, suspirando.
- Eu tive uma reunião com os acionistas na semana passada para mostrar o projeto, vamos dizer que eles viram cifrões com o projeto. – Rimos juntos.
- Se o time crescer, nossa visibilidade fica maior e tudo aumenta, é a conta perfeita. – Falei, dando de ombros.
- É sim! – Ele suspirou, olhando seu relógio. – Bom, vocês estão na hora de almoço, nos vemos daqui a pouco. – Ele falou e todos nos levantamos.
- Até mais. – Os meninos falaram e eu juntei meu material.
- , pode levar isso lá para o Danielle do segundo andar? – Ele fechou o projeto, me entregando.
- Claro. Até mais. – Juntei o grosso projeto e saí da sala de Giorgio, passando rapidamente pela nossa sala e deixei o que era meu na mesa e peguei minha bolsa, seguindo para fora da sala.
Como para descer todo o santo ajuda, desci os dois lances de escadas até o segundo andar, caminhando pelo igualmente longo corredor do segundo andar e bati na porta da sala do administrativo.
- Viene. – Ouvi e empurrei a porta levemente. – Ciao, .
- Ciao, Danielle. – Entrei na sala. – Giorgio pediu para te entregar. – Estiquei o projeto impresso para ele.
- Ah, obrigado. – Ele falou. – E aí, o que acharam? – Ele perguntou.
- É sensacional. – Rimos juntos. – Vai ficar incrível.
- Sim, com certeza. Até a próxima década seremos um time totalmente renovado e reformulado. – Ele disse, tomando a cadeira para trás e apoiando o projeto em uma pilha de papéis.
- Parabéns para todos os envolvidos, mal vejo a hora de ver tudo pronto. – Sorri.
- Obrigado, você faz parte disse. – Ele disse, me fazendo rir.
- Mia Juve, mia famiglia. – Falei e ele sorriu.
- Exatamente! – Ele disse.
- Bom, deixa eu ir, preciso almo...
- Juve, storia di un grande amore... – Ouvi uma cantoria abafada e franzi a testa. – Bianco che abbraccia il nero, coro che si alza davvero per te...
- O que é isso? – Perguntei.
- Ah, nova campanha da Juventus em parceria ao hospital Sant’Anna. – Ele falou.
- Ah, eu repassei esses papéis. – Comentei. – Fondazione Crescere Insieme, não? Que o marketing pediu.
- Exatamente. – Ele disse. – Eles estão cantando há umas duas horas, eu não consigo parar de rir.
- Eles?
- É, os jogadores, colocaram todos para cantar. O Gigi nem canta tão mal assim, agora o Pavel... – Ele disse, gargalhando sozinho.
- Onde eles estão? – Perguntei.
- Lá no estúdio de foto, era o único lugar capaz de enfiar todo mundo. – Ele disse. – Vai lá rir um pouco. – Sorri.
- Pode deixar! – Falei, seguindo para fora da sala. – Até mais!
- Até, grazie. – Ele disse e puxei a porta, saindo da sala.
- Juve, nel cuore. Ridere e piangere in tanti, con quell'amore che senti. – Fechei os olhos com a desafinação e senti meu corpo arrepiar. - Juve, l'amore. Un cielo a strisce che appare, e noi con loro a volare.
Encontrei a placa da sala da fotografia e empurrei a porta um pouco, vendo que a sala havia se transformado em um estúdio, do lado de cá do vidro dois técnicos de som e o pessoal do marketing estavam ali, e do lado de lá os jogadores enfileirados com fones de ouvido, folhas de papéis e microfones espalhados.
Encontrei Zlatan, Fabio, Alex, Gigi, Camoranesi, Zambrotta e Pesotto muito fácil. Encostei a porta atrás de mim, vendo Chiara do marketing me olhar e arqueei os ombros, vendo-a segurar a risada e encostei meu corpo na parede ao seu lado.
- Forza Juventus, il sogno vien con noi. Forza Juventus, vincerai per noi. Ed insieme tutti in coro a gridare nello stadio. Juve, Juve, Juve, Juventus, vinci per noi. Juve, vinci per noi, Juve con te!
Neguei com a cabeça, cruzando os braços e levei meu olhar para Gigi que parecia se divertir lá dentro com Camoranesi. Em coro eles nem eram tão maus assim. Imagino que Danielle estivesse ouvindo-os desde que começaram.
As três músicas da Juventus “Storia di un grande amore”, “E’Bianconero” e “Vinci per noi” foram mescladas quase como um remix, então era até divertido, mas com certeza a cara de desânimo dos técnicos de som não eram das mais animadas. Mas o que eles queriam? Que eles fossem bons jogadores de futebol, gatos – a maioria – e ainda cantassem bem? Não dá para fazer tanto milagre assim.
- Ok, vamos do começo, mais uma vez. – O técnico falou e vi os jogadores bufarem lá dentro. – Fabio, você. – Ele falou, soltando a música e percebi que era um ritmo mais lento do que o cantado no estádio.
- Simili a degli eroi, abbiamo il cuore a strisce. – Fabio começou a cantar e ele não era ruim. - Portaci dove vuoi, verso le tue conquiste. – Ele cantou.
- Ogni pagina nuova sai, sarà ancora la storia di tutti noi. – Nicola começou a cantar, me fazendo franzir o rosto com a voz fina demais.
- Solo chi corre può, fare di te quello che sei. – Gigi cantou e pressionei os lábios.
Nada mal, Gianluigi.
Suspirei. Ah, só me faltava essa. Ficar mais caidinha por esse homem só porque ele cantava bem? Não, , desiste. Game over, ele está com aquela atleta baixinha e magricela. Não, não! Suspirei alto. Não mesmo.
- Ok, espera... – O técnico de som falou. – Vamos mais uma vez. – Ele falou e os jogadores lá dentro fizeram caretas, batendo a mão no rosto.
- Vamos parar para o almoço, olha o horário! – Chiara falou e o técnico olhou para ela. – Eu preciso de um tempo.
- Ok, ragazzi, vamos dar um tempo aqui, voltamos depois. – O técnico falou, tirando o fone e ele foi o primeiro a deixar o estúdio.
- Tão mal assim? – Virei para Chiara.
- Eu não sei o que ele espera. Não são cantores. – Ela disse, suspirando.
- Foi o que eu pensei, e nem está tão ruim. – Falei.
- Enfim... – Ela abanou a cabeça. – Já volto.
- Ok. - Falei, vendo o pessoal se retirar da sala e vi os jogadores do outro lado do vidro, tirando os fones de ouvido e ajeitando os cabelos.
Percebi que todos usavam blusas do Crescere Insieme e tinham boas caras entediadas nos rostos. Ponderei com a cabeça e vi a mesa de som desligada. Virei o rosto para a porta que dividia as salas e a empurrei, estando no mesmo espaço do que eles, ouvindo suas conversas agora que não tinha o vidro de isolamento e coloquei dois dedos na boca, assoviando, vendo vários se assustarem para olhar para mim.
- Olha, não sei o que está acontecendo, mas o pessoal não está feliz.
- ! – Eles falaram quase em coro e sorri, vendo os olhos de Gigi se arregalarem em minha direção.
- Eu dou nota sete para o canto em grupo. Seis para o Nicola e oito para o Fabio e Gigi, o resto eu não ouvi. – Eles gargalharam.
- Não queira ouvir. – Pavel falou e Alex foi o primeiro a me abraçar.
- Ei, você estava indo bem. – Camoranesi falou, me fazendo rir.
- Estamos aqui há duas horas, estamos muito cansados. – Alex falou e Trezeguet me abraçou, me tirando do chão por alguns segundos.
- O cara está achando que está lidando com a Destiny’s Child. – Dei de ombros.
- Quem? – Fabio perguntou.
- Deixa quieto. – Abanei a mão. – Às vezes esqueço que vocês vivem em uma bolha.
- Ah, engraçadinha. – Lilian cutucou minha barriga, me abraçando em seguida e sorrimos. – Eu conheço, ok?
- Você é parceiro, Lilian. – Demos um toque de punhos.
- Ei, . – Gigi falou um pouco para trás.
- Ciao, Gigi. – Falei, suspirando.
- Como você está? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Bem. – Sorri. – Com fome. E você?
- Nem fala! – Zambrotta falou. – Eu quero comer algo e... – Pesotto deu um soco nele. – Ai.
- Bem também. – Gigi falou, olhando para mim e reparei que, diferente do casamento, ele começava a deixar uma barba rala crescer. – Bom te ver. – Engoli em seco.
Por que ele faz isso? Ele não podia me deixar em paz e viver com sua nova namoradinha? Ah, que raiva!
- Bom ver vocês também. – Falei, tentando mudar de assunto. – Beh, eu preciso ir. – Falei, suspirando.
- Quer almoçar com a gente? – Trezeguet perguntou.
- Nem dá, mas obrigada, preciso resolver algumas coisas na rua. – Suspirei. – Continuem o bom trabalho. Na verdade, falta ainda para ficar bom! – Eles riram.
- Engraçadinha! – Eles falaram, me fazendo rir.
- Você devia ter visto a sessão de fotos, as crianças todas assustadas e a gente não sabendo o que fazer. – Alex falou.
- Quem saiu melhor foi o Lilian. – Chimenti falou, me fazendo rir.
- Estamos falando de crianças doentes, vocês precisam ter jogo de cintura com elas, qual é! – Lilian disse, me fazendo rir.
- O Gigi também não foi mal. – David falou.
- Eu me dou bem com crianças, ok?! Às vezes eu só pareço um monstro por causa da altura, mas dá certo... – Ele disse, nos fazendo gargalhar.
- Entendo esse sentimento. – Suspirei. – Se eu coloco salto, então... – Dei de ombros.
- Mal vejo a hora de quando isso sair. – Zambrotta falou.
- Eu não tenho pressa, vamos ser zoados por três gerações. – Pesotto falou.
- Provavelmente. – Falei, dando de ombros. – Eu preciso ir, gente. Bom ver vocês.
- Você também, . – Eles gritaram e acenei meio rapidamente para alguns, voltando para antessala e quase saindo correndo pelo corredor.
O que aquele idiota queria? Falar comigo como se nada tivesse acontecido? Como se não tivesse aquela namorada à tiracolo? Eu tentei, ok?! Me abri, saí da minha zona de conforto, não que eu esperasse que ele fosse me esperar, mas já que não esperou, colocasse um ponto final nisso e não ficasse jogando charme para cima de mim com aqueles olhos azuis e os cabelos para trás. Eu precisava falar com a Giulia ou eu ia surtar.
Ou melhor, eu já estava surtando.
Ah, maldito, Gianluigi. A vida seria tão mais fácil se ele não fosse tão complicado e sexy. Que raiva!

Lui
19 de março de 2005 • Trilha SonoraOuça

(Atenção: a próxima cena apresenta uma crise de pânico)

Ouvi o despertador tocar pela segunda vez naquele dia e virei o corpo para o lado, batendo a mão nele. Eu havia dormido quase 12 horas na noite anterior, dormi mais quatro na parte da tarde e ainda me sentia cansado. Passei a mão no rosto, soltando um suspiro e joguei as pernas para fora, calçando os chinelos nos chãos e ergui meu corpo.
Franzi a testa, estranhando a tremedeira e inclinei meu corpo para frente, apoiando a mão na parede, apertando a coxa esquerda com a mão, franzindo a testa com o que estava acontecendo. Voltei o corpo na cama novamente, esticando as pernas novamente e passei a mão nelas, conseguindo enxergar por baixo da pele os músculos se remexendo.
Firmei minhas pernas no chão, vendo-as pararem e assenti com a cabeça, seguindo até o banheiro bocejando e passei as mãos no rosto, debruçando meu corpo sobre a pia e abri a torneira, jogando bastante água gelada em meu rosto, colando um pouco os cabelos compridos e joguei-os para trás, vendo meu reflexo no espelho.
Não conseguia entender tanto cansaço, eu nem havia saído para curtir ontem à noite, me contive com uma dose de uísque aqui em casa mesmo e fui dormir relativamente cedo, após um pouco de relaxamento à base de pornografia. Depois do término com Vincenza, eu estava literalmente no 0x0 e precisava me aliviar de outras formas.
Olhei para fora do quarto, enxergando o horário no relógio e ainda tinha um pouco de tempo. Tirei a cueca, largando-a no meio do banheiro e entrei no chuveiro, ligando-o gelado mesmo para ver se eu despertava. Deveria ser alguma virose, alguma coisa estava estranha. Os ombros estavam tensionados, as pernas não paravam de mexer e o bicho do sono com certeza havia me pegado. Estava tudo muito estranho.
Me ensaboei rapidamente, sem muito tempo para realmente me despertar e saí do banho, me secando rapidamente e me enrolando na toalha. Segui em direção ao quarto, caminhando até o closet e peguei minha mochila da Juventus já arrumada e peguei o kit de moletom para os jogos, vestindo-o rapidamente.
Voltei para o banheiro, pendurando a toalha no box e joguei a cueca no cesto de roupa suja. Parei em frente ao espelho, passando um pente nos cabelos molhados e voltei para o quarto. Puxei a mochila novamente, checando se meus itens estavam lá e fechei-a, jogando-a nas costas. Desliguei as luzes e segui para o andar de baixo.
Apoiei minha mão no corrimão quando senti as pernas tremerem novamente e suspirei. Isso só pode ser coisa da minha cabeça. Apertei-as com força, sentindo meu corpo inteiro sacudir com a sensação e joguei meu corpo para trás, sentando alguns degraus acima, me fazendo suspirar. Isso estava estranho.
Senti o corpo estabilizar novamente e me levantei, firmando as pernas no chão, apertando as mãos nos corrimãos dos dois lados e abaixei um pouco o quadril, checando se estava tudo bem. Desci os degraus devagar e peguei as chaves do carro, seguindo em direção à garagem, trancando a porta quando sair.
Dirigir os poucos quilômetros da minha casa em Vinovo até o CT não foi fácil. Meus pés sacudiam junto com as pernas e tive que parar no acostamento duas vezes para evitar causar algum acidente. Minhas pernas não respondiam aos meus comandos e me contive na pista mais lenta para ao menos chegar ao CT inteiro.
Estacionei na primeira vaga que encontrei, mesmo que ela fosse longe do ônibus estacionado lá embaixo, tudo para sair do carro, com um medo incomum de morrer. Eu era goleiro, um pouco masoquista sim, mas nunca tive esse medo. Joguei minha mochila nas costas e segui a passos lentos até o ônibus, além das tremedeiras, sentia os pés formigando, quase como se estivessem dormindo.
Eu estava enlouquecendo, era a explicação perfeita.
- Gigi! – Capello falou.
- Desculpe o atraso. - Falei, cumprimentando-o.
- Precisamos do nosso Gigione! – Ele falou e dei um sorriso de lado.
Entrei rapidamente no ônibus, acenando para alguns companheiros e me joguei na primeira fileira vaga, jogando minha bolsa no banco do lado. Os 20 minutos até o Delle Alpi foram marcados pela mesma tremedeira nas pernas, agora junto de uma salivação exagerada, quase como se eu estivesse mascando chiclete ou fumando, mas dessa vez eu não estava. Tentei me distrair com a paisagem lá fora, com as gritarias dos torcedores quando nos aproximamos do estádio, mas senti um estranhamento com tudo aquilo, me fazendo puxar a cortina com força.
Fui um dos primeiros a sair do ônibus, sentindo um arrepio passar pelo meu corpo e segui em direção ao vestiário, acompanhado dos meus outros colegas de time que falavam comigo ou à minha volta e eu não era capaz de processar ou fazer alguma outra coisa, só soltava risadas desconfortáveis e abaixava a cabeça.
Entrei no estádio, seguindo para meu lugar de sempre e deixei minha mochila ali. Começando a tirar minha roupa e trocar pelo uniforme de treino, colocando as calças primeiro e sentei no meu espaço, começando a arrumar as caneleiras, meias, fitas bem firmes nas pernas e chuteiras, me fazendo suspirar.
Passei a mão na testa, sentindo o suor pingar pela minha testa e passei as duas mãos, tentando limpar. O ambiente estava fresco, era fim de março, não estava calor ainda e eu não havia feito nenhum tipo de exercício ainda.
Endireitei meu corpo, sentindo meu peito igualmente suado e olhei para os jogadores à minha volta e ninguém estava suando como eu. Soltei um suspiro forte, sentindo a respiração demorar para voltar e puxei a respiração fortemente, sentindo o ar entrar com dificuldade e entreabri os lábios, puxando e soltando a respiração com força, quase como se eu estivesse me afogando em uma piscina.
Minha respiração estava alta e ofegante e meu corpo parecia não responder aos meus comandos. O coração batia forte e alto, e eu podia ouvi-lo sacudir em meu peito. Minha visão parecia estar embaçada e os arrepios e tremores passavam pelo meu corpo como se realmente fizesse parte disso. Isso não podia ser normal, eu nunca tinha sentido isso.
Passei as mãos nas pernas, vendo o suor molhar o tecido mais claro e olhei para os lados, checando se ninguém havia reparado em mim. Nada. Todos se trocavam e faziam sua meditação pré-jogo, ouviam músicas e andavam de um lado para o outro.
Não. Não. Não!
Pressionei os olhos fortemente, puxando saliva com força novamente e senti uma náusea subir e me levantei rapidamente, sentindo meu corpo balançar e corri em direção ao banheiro, apoiando as mãos nos lugares que consegui e entrei em uma cabine, fechando a porta com força e abri o tampo da privada, esperando que algo saísse, mas nada.
Soltei a respiração fortemente, deixando meu corpo cair para trás, sentando em meus pés e suspirei, sentindo a respiração sair e entrar com força. A náusea bateu forte novamente e debrucei meu corpo sobre a privada, tentando forçar alguma coisa e nada novamente. Fechei-a e me levantei, me sentando nela.
Passei as mãos nos cabelos, sentindo-os suados e respirei mais fracamente, sentindo-a voltar ao normal devagar. Abaixei o corpo, abaixando minhas pernas e os olhos encheram de lágrimas quando o corpo voltou a responder pelos meus sentidos.
Eu não queria chorar, eu não me sentia triste ou emocionado, mas as lágrimas escorriam pelas minhas bochechas sem controle. Joguei a cabeça para trás, sentindo-a bater na parede e soltei a respiração forte algumas vezes, sentindo o peito até doer pelo movimento exagerado.
O que estava acontecendo?
A tremedeira reduziu um pouco e pude sair da cabine com calma. Fui até a pia, ligando a água e coloquei minha cabeça embaixo dela, sentindo a água gelada cair na cabeça e na nuca, fazendo meu corpo relaxar um pouco, apesar do suor, das tremedeiras e do corpo incrivelmente cansado.
Eu não estava nada bem, eu não poderia jogar assim.
Desliguei a torneira, sacudindo os cabelos molhados e apertando-os com a ponta dos dedos e voltei para o vestiário, vendo tudo como estava anteriormente, como se nada tivesse acontecido e, por um momento, me perguntei se realmente aconteceu. Eu fui, voltei e era como se nada houvesse mudado.
Fui até meu espaço novamente, pegando a toalha e passei em meus cabelos e no peito encharcado seja de suor ou de água e coloquei a blusa de treino por cima de tudo, jogando a toalha de volta ao meu espaço. Segui até onde Ivano, o preparador de goleiros, estava e o puxei para o lado.
- Ei, Gigi. – Ele falou.
- Melhor você preparar o Chimenti para o jogo de hoje. – Falei, fechando as mãos fortemente, tentando estabilizar a tremedeira.
- O que aconteceu?
- Eu não sei, mas não estou me sentindo bem. – Respirei fundo, soltando o ar pesadamente.
- É algo físico ou...
- Não sei, estou cansado, com tremores, respiração ofegante. – Ele disse.
- Talvez você esteja doente, alguma virose. – Assenti com a cabeça. - Eu aviso o Capello e você vai falar com o médico. – Ele disse, apontando para a sala da fisioterapia e eu assenti com a cabeça, sentindo um tapinha em minhas costas.
Segui para a sala da fisioterapia, vendo alguns jogadores nas macas fazendo massagens e preparação para o jogo e me aproximei de Claudio, vendo-o conversar com Trezeguet que havia voltado de lesão há pouco tempo.
- Ei, Claudio. – Chamei-o.
- Ei, Gigi, não te esperava aqui hoje. – Ele falou.
- Não vou fazer nada, podemos conversar? – Indiquei a cabeça para o lado e ele assentiu com a cabeça, seguindo em minha direção e nos afastamos um pouco do pessoal.
- O que houve? – Ele perguntou.
- Eu não sei. – Suspirei. – Eu acordei cansado, apesar de ter dormido a noite toda. As pernas estão tremendo muito, foi difícil chegar em Vinovo de carro. Muito suor, dormência nos membros inferiores, parece que o ar não está entrando, arrepios esporádicos, visão turva...
- Você fez algo de diferente nos últimos dias? – Neguei com a cabeça. - Mudança na vida pessoal?
- Terminei com a minha namorada, mas já faz um mês e meio e nem foi algo tão difícil. – Suspirei.
- Há quanto tempo você está sentindo isso? – Ele perguntou.
- Primeira vez. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça.
- Você vai jogar?
- Não, pedi para o Ivano mudar.
- Ótimo. – Ele disse. – Observa melhor pelos próximos dias e me avisa, ok?! Mas não se preocupe. – Ele falou, batendo em meus ombros.
- Por quê? O que pode ser? – Ele soltou um suspiro, coçando a testa.
- Eu não sou especializado nessa área, mas me parece que você teve uma crise de pânico. – Franzi a testa.
- Crise de pânico? Mas por quê?
- Exatamente, isso é algo que só um profissional especializado pode dizer e, com uma crise de pânico, pode desencadear outras coisas, por isso quero que você analise bem seus sintomas, ok?!
- Outras coisas, o quê? – Perguntei.
- Problemas psicológicos diversos, até depressão. – Ele disse e eu franzi o rosto.
- Mas como? Eu não sou um cara triste. Eu tenho tudo o que eu poderia querer: o emprego dos meus sonhos, dinheiro, fama, mulheres que eu quiser...
- Esses problemas não são óbvios de entender, Gigi. – Ele disse. – Se analise, ok?! Primeiro de tudo, vamos acompanhar os próximos dias, pense nos seus sintomas. – Suspirei. – Depois vamos atrás de um profissional para lidar contigo, se for preciso da ajuda de algum medicamento...
- Remédio não. – Falei rapidamente.
- Não estamos falando de coisas fortes, talvez um ansiolítico, alguma coisa para...
- Se isso for algo psicológico, doutor, usar um remédio só vai me fazer ficar à base deles, eu preciso enfrentar isso comigo mesmo. – Ele suspirou, dando um tapinha em meu ombros.
- Vamos devagar, ok?! Calma! Foi só uma crise, não vamos acelerar as coisas ainda. – Suspirei. – Respire, descanse, fique com pessoas e não se isole, é o primeiro passo. – Assenti com a cabeça. – Me liga amanhã, ok?!
- Ok, obrigado. – Suspirei.
Voltei para o meu canto, um pouco perdido com o que ele havia me falado. Crise de pânico? Depressão? Isso não era possível. Eu tinha realmente tudo no mundo e mais um pouco, como eu poderia estar triste? Depressivo? Não, não! A depressão não funcionava assim, não era isso. Com certeza era alguma virose ou mal-estar. Claudio deveria estar ficando louco.
Ou talvez eu esteja ficando.

Lei
20 de maio de 2005

Mexi na panela, vendo a quase pronta deliciosa mistura de óleo e milho e comecei a ouvir os primeiros pops. Coloquei a tampa correndo na panela e coloquei as luvas térmicas para sacudir um pouco da panela para não queimar o fundo. Ouvi o interfone tocando e suspirei, me afastando dela rapidamente e coloquei o fone.
- Ciao?
- Sou eu! Abre logo! – Giulia respondeu e eu apertei o desenho da chave. – Abriu! – Ela disse e devolvi o interfone na orelha.
Voltei correndo para a panela e desliguei a chama, abrindo-a e me assustando com um milho estourando no momento e eu ri fracamente. Joguei-a numa tigela, colocando a panela na pia e ouvi o chiado quando joguei água nela. Peguei o sal e joguei um pouco na pipoca, ouvindo algumas batidas na porta e saltitei rapidamente até a porta, vendo Giulia com cara de cansada na mesma.
- Nossa, o que houve? – Perguntei e ela me abraçou fortemente.
- Eu que pergunto! O que está acontecendo que as ruas estão tomadas? Hoje não é dia de jogo! – Ela falou e eu voltei para cozinha, pegando o balde de pipoca e entregando para ela.
- Não, hoje é dia de jogo do Milan. – Falei, abrindo a geladeira e peguei uma garrafa de refrigerante e os copos em cima da geladeira.
- Eu deveria entender? – Ela perguntou e empurrei-a com o ombro para ela andar até a sala.
- Se o Milan empatar ou perder, a Juventus sela o scudetto hoje! – Apoiei a garrafa de refrigerante no móvel da televisão.
- MESMO? – Ela gritou animada, se sentando no sofá.
- Sim e está 3x3, faltando cinco minutos de jogo! – Falei.
- Contra o Palermo? – Ela perguntou. – Meu Deus, Palermo é fim de tabela.
- Sexto ou sétimo, também não exagera! – Rimos juntas. – Mas é, Milan fez três gols logo no primeiro tempo, Palermo fez um, que, na verdade, foi contra... – Ela gargalhou. – Agora pouco Toni fez dois e o Barone fez três.
- Meu Deus! Que dia maravilhoso! – Ela falou e eu sorri, começando a servir os refrigerantes. – E quando vocês jogam?
- Domingo, em Livorno, mas se o placar do Milan continuar assim, não importa mais o nosso resultado nas duas últimas rodadas. – Estiquei o copo para ela e dei um gole no meu.
- E a Juventus volta a ser campeã. – Ela disse, esticando o copo e fiz o mesmo, batendo os copos.
- Salute! – Falei, ouvindo-a rir. – Meu terceiro scudetto como juventina e como trabalhadora. – Falei.
- Isso sim é algo para se comemorar. – Rimos juntas. – Por um minuto achei que você tivesse caído e batido a cabeça. Sei lá. – Neguei com a cabeça, me sentando ao seu lado.
- Não, não. Foi difícil ser eliminado da Champions em casa, mas faz parte. Agora é trabalho do Liverpool meter um soco no Milan na final!
- Nossa! Verdade! Milan está na final da Champions, maluca! – Rimos juntas.
- Contra o Liverpool e o Liverpool eliminou a Juventus. – Falei, desanimada, pegando um pouco de pipoca e enfiando na boca.
- E você vai torcer para o Liverpool?
- Apesar da situação, me sinto obrigada, até parece que vou torcer para Milan, né, amiga? – Rimos juntas.
- Essa é a minha amiga! – Ela bateu a mão na minha.
- E perdemos a Champions para o Milan, isso que me irrita mais. Como eles conseguiram duas finais em três anos? – Bufei.
- Sorte? – Ela disse e eu neguei com a cabeça, mostrando a língua para ela.
- Enfim, se quiser ir no jogo na última rodada, dessa vez eu vou, consegui ingressos antes de começar a vender. – Falei.
- Para qual? – Ela perguntou.
- O da premiação. Dia 29. – Falei. – Vai ser Juve e Cagliari em casa.
- Ah, nossa! Sim! – Ela falou, animada. – Nunca fui nessas premiações, parece ser bem legal.
- Eu também nunca fui e não ganhamos ano passado, então quero aproveitar. – Suspirei. – Só espero que o Gigi jogue.
- Como assim? – Ela perguntou.
- Ele está jogando super esporádico. – Falei. – Às vezes ele joga, às vezes o Chimenti, estou achando muito estranho.
- Ele está lesionado? – Ela perguntou.
- Não que eu saiba, o pessoal também não me soube informar e não chegou processo médico nenhum dele para analisar. – Dei de ombros.
- Estranho. Vai ver é lesão muscular, o negócio não é tão chato, não precisa ficar fora por muito tempo. – Ela comentou.
- É, talvez, mas eu queria vê-lo jogar. Quem sabe no último jogo? – Coloquei minha mão na tigela, pegando mais pipoca.
- Você o viu depois do casamento? – Ela perguntou.
- Sim, na gravação daquela propaganda e ele claramente estava me cantando. – Suspirei.
- Não teve nenhuma outra oportunidade? Tipo, alguma que o time inteiro não estivesse junto? – Rimos juntas.
- Não. – Suspirei. – E eu estou muito atolada com serviço, entrando mais cedo, saindo mais tarde. Também não tenho tanta intimidade com o Capello como eu tinha com o Lippi para ir lá no treino. Ah, apesar que desde que começou a reforma lá em Vinovo, os treinos passaram para o Delle Alpi.
- Já faz o quê? Três meses? – Ela perguntou.
- Por aí. – Suspirei. – Achei que depois que ele terminou com a namorada, ele viria atrás de mim, ele demonstrou isso aquele dia da propaganda, mas parece que eu estava lendo as coisas errado de novo. – Tombei a cabeça para o lado.
- Nem sei o que dizer, amiga, mas vocês se merecem. – Ela disse. – Ele vai atrás de você, você corta. Ele vai atrás de você, você corta.
- Nem vem, ele queria trair a namorada comigo. Eu não sou esse tipo de pessoa. – Suspirei.
- Não sei como você resiste àquele homem com aqueles olhos. Eu acho que não teria a mesma força que você. – Rimos juntas.
- Ele não tentou nada, ele só insinuou que queria algo, senão acho que não conseguiria resistir também. – Virei o copo de refrigerante. – Mas a namorada dele estava na festa, Giulia! Olha que cara de pau!
- É, realmente, mas você fala que ele não tirou os olhos de você a festa inteira. – Suspirei.
- Não mesmo, me senti em um episódio de Grande Fratello. – Enchi a boca mais uma vez de pipoca. – Acabou! – Me levantei, empolgada. – ACABOU! – Gritei, pulando no lugar, ouvindo várias buzinas e gritos do lado de fora. – SIAMO NOI, SIAMO NOI, I CAMPIONI DELL’ITALIA SIAMO NOI!
- Empolgou! – Ela falou, me puxando pelo braço para sentar novamente. – Senta aqui!
- Eu não vou falar disso, Giulia. Principalmente porque depois eu fico três dias repassando essa conversa na minha cabeça e não resolve em nada, porque eu não encontro com ele.
- Tudo bem, tudo bem! Só estou checando se realmente não aconteceu nada depois disso. – Ela falou.
- Não. – Falei, entediada. – No começo do ano passado eu vi a foto dele na revista, aí na festa do Lippi eu super me abri, quase falei “se você me quer, eu estou aqui agora”, mas ele não quis.
- Provavelmente porque ele realmente estava com a moça da revista.
- É! – Puxei o ar fortemente. – Aí no casamento do Alex, eu estava super na boa, me divertindo, dançando com o pessoal e ele vem perguntar se eu estava fazendo ciúmes nele.
- Tem certeza de que não estava? – Ela falou eu fiz uma careta. – !
- O quê? Eu estava dançando, ok?! E tinha três quilos de roupa em cima de mim, não estava dando para sensualizar muito. – Suspirei.
- Mas você fez ciúmes nele.
- Ah, o Trezeguet me chamou para dançar uma hora falando que era com essa intenção, mas ele é casado, era óbvio que não ia acontecer nada. – Suspirei.
- Mas ainda deixou ele com ciúmes.
- Não importa, Giulia! Eu estou solteira, quem tem problemas agora é ele. Tinha, né?! Pelo jeito o negócio desandou. – Suspirei.
- Vai ver ela terminou com ele e ele está triste. – Ela disse, dando de ombros.
- Eu aposto mil euros que ele não ficou triste com esse fim, se ficou, ele é um verdadeiro puttano! – Falei alto a última parte.
- Ok, se acalma, só estou supondo. – Ela disse, movimentando as mãos. – Vocês também não tiveram oportunidades de se encontrarem de novo, vai ver é isso.
- Ele tem meu telefone, Giulia. E aposto que o Lilian deve ter falado onde eu moro. Não tem desculpa. – Suspirei.
- Vai ver aconteceu alguma coisa, sei lá. – Ela encheu a boca de pipoca. – Ele claramente te cantou no dia da propaganda.
- Eu preciso esquecer esse homem, para valer! – Suspirei.
- E lá vamos nós de novo. – Ela falou, passando a tigela para o meu colo e se levantou.
- O quê? – Ri fracamente.
- Você já falou isso antes, amiga, e eu estava junto. E vemos que não deu muito certo. – Suspirei, franzindo os lábios.
- Mas agora a culpa é dele, ele que...
- Não importa se a culpa é dele. Quando ele vem atrás de você ou te dá uma piscadela, você já fica caída por ele de novo. Complica no processo de esquecimento. – Revirei os olhos. – O ideal seria você ficar um ano sem vê-lo, dois talvez, aí seria tipo desintoxicação de viciado em drogas.
- Há, há, há, engraçadinha! – Falei, empurrando sua cabeça, ouvindo-a rir.
- Só estou dizendo. – Ela deu de ombros.
- Por que a gente não sai hoje à noite? Podemos ir naquela boate da outra vez.
- A gente até pode sair, mas em outro lugar. Não se esqueça que quase fomos expulsas quando você encontrou seu ex lá.
- Você sabe que...
- Sim, ele foi trouxa em tentar ficar contigo depois de tudo o que aconteceu. – Ela falou, desanimada, abanando com a mão.
- Viu? Eu não tenho culpa.
- Dessa vez, né?! – Ela falou, rindo fracamente. – Mas confesso que estou mais animada em alugar algum filme, pedir duas pizzas e ficar papeando até seu vizinho de cima gritar ameaçando chamar a polícia.
- Duas pizzas? Em duas? – Virei para ela.
- Por que não? – Ela deu de ombros, me fazendo rir. – Se sobrar, você tem janta para amanhã. – Rimos juntas.
- Verdade! – Suspirei.
- Apesar de que uma é capaz de eu comer inteira.
- Deus, que fome! Tem comida no armário, ok?!
- Culpa sua! – Ela falou, se levantando. – Você que me arrastou para aquela academia.
- Você foi porque quis e eu fui por indicação do meu fisioterapeuta, ok?! Eu precisava voltar a me mexer. Você que está tentando virar a Mulher Maravilha. – Rimos juntas.
- É, eu exagerei, acho que distendi um músculo. – Ela fez uma careta.
- Depois a culpa é minha! – Dei de ombros.
- As férias estão chegando, podíamos chamar as meninas do time e ir para praia, né?! Jogar um pouco, ficar longe dos meus pais. – Ela disse.
- A ideia não é ruim, mas será que seu chefe te libera? – Ela fez uma careta.
- Do jeito que eu conheço o meu pai, ele vai me fazer pagar essas horas, ou pior, descontar do meu salário. – Rimos juntas.
- Você precisa de um novo trabalho, amiga.
- Preciso! – Ela falou, jogando a cabeça para trás.
- Me dá seu currículo, eu posso entregar para o Danielle do administrativo. – Dei de ombros.
- Meu pai me mataria, mas eu ia adorar! – Ela falou, me fazendo rir fracamente.
- Vai que dá em alguma coisa. – Ela deu de ombros.
- Eu trago da próxima vez que eu vier. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Fechado.
- E a gente combina com as meninas.
- Combinado. Eu entro de férias no dia 17 de junho e peguei o mês inteiro dessa vez. – Falei. – Não deu para aproveitar nada da última.
- O que acha de Forte dei Marmi? É perto, de fácil acesso.
- Depende de onde em Forte dei Marmi, né?! As meninas talvez achem caro.
- A gente fala com elas e vê. – Ela disse.
- Ok, mas eu topo. Completamente. – Rimos juntas.
- E eu vou contigo no último jogo.
- Combinado! – Falei, batendo a mão na dela. – Agora podemos descer um pouco e comemorar?
- Sim, quem sabe não encontramos alguns gatinhos? – Ri fracamente. – Ah, qual é, vai que... Na falta do goleiro, podemos nos contentar com algum torcedor.
- Que morte horrível. – Suspirei, ouvindo-a rir.

Lui
29 de maio de 2005 • Trilha SonoraOuça

Ouvi o apito do jogo e respirei fundo, aliviado pela vitória de 4x2 em cima do Cagliari e o fechamento oficial da temporada. Os outros membros do vestiário gritaram animados e eu coloquei a cabeça entre as pernas, respirando fundo. Eu estava feliz pela conquista do título, mas parte de mim não conseguia gritar em comemoração como o resto do pessoal ao meu lado.
Olhei para o pessoal comemorando pela televisão do vestiário e fiquei feliz por termos conseguido selar o scudetto dois jogos atrás e consegui dar o espaço definitivo ao Chimenti até o fim da temporada, pelo menos. Eu tinha cerca de dois meses e meio para respirar fundo, continuar meu tratamento e voltar novo para a próxima temporada.
O barulho da torcida acima de minha cabeça era ensurdecedor, o que foi bom para abafar os pensamentos incômodos de meu cérebro. Por mais que eu tentasse ignorar, eles sempre estavam lá. Os assistentes técnicos, roupeiros, médicos e fisioterapeutas que nos ajudaram a conquistar isso se aproximaram de mim e todos me abraçaram, dando fortes tapas nas costas e foi inevitável não dar um sorriso para eles.
- Aproveite isso, Gigi, isso é bom. – Claudio falou, colando a testa na minha e eu assenti com a cabeça.
- Grazie, Claudio. – Falei para o médico e ele passou a mão em minha cabeça, olhando fundo em meus olhos.
- Você sabe que pode contar comigo para o que for, sim? – Ele perguntou e eu confirmei com a cabeça.
- Eu vou para minha casa nas férias, ficar com a minha família, o psicólogo disse que é bom! – Ele confirmou com a cabeça.
- É bom sim, mas aproveite hoje, ok?!
- Vou sim, obrigado! – Ele sorriu, me sacudindo pelos ombros um pouco.
Finalizei de cumprimentar os outros funcionários e todos sabiam da minha condição, todos mesmos, muitos ficaram inconformados por não ter percebido meu problema há dois meses e faziam questão de me ajudar de outras formas. Ficar sozinho eu nunca estava, o que era uma vantagem.
Apesar do alívio do fim da temporada, por finalmente não precisar ficar de aparências para câmeras, por poder fugir um pouco dos treinos para realmente cuidar de mim, pensar que ficaria sozinho também era um pouco complicado. Desde que meus problemas começaram, minha mãe veio ficar comigo e sempre algum colega de time me chamavam para fazer alguma coisa ou só passavam em casa para dar um oi e acabava jantando.
Posso garantir que ao menos comer melhor eu estava, quando eu sentia fome. Minhas refeições sempre foram macarrão e atum, com a mãe comigo, ela variava sempre e me obrigava a comer ao menos um pouco, o que tinha momentos que era um grande esforço.
- Gigi! – Alex foi o primeiro a entrar no vestiário após a partida, abrindo os braços e dei um sorriso discreto quando ele abriu os braços em minha direção e abracei o mais baixo, sentindo-o me apertar fortemente, dando tapinhas em meus ombros.
- Congratulazione, capitano! – Falei, sentindo-o colar minha testa na tela.
- Per tutti noi! – Ele falou sugestivamente. – Você foi parte importante nessa conquista e é parte importante nesse time, ok?!
- Grazie, grazie! – Ri fracamente e ele deu um beijo em minha bochecha.
- Você vai puxar a fila hoje! – Ele falou e eu franzi a testa, vendo-o se afastar e Lilian e Trezeguet vieram em minha direção.
- Gigione! – Trezeguet pulou em meu colo e gargalhei, sentindo minha cabeça bater na parede com o impacto. – Opa! Cabeça dura! – Ele falou e rimos juntos, sentindo-o esfregar minha cabeça.
- Olha quem fala! – Falei, abraçando-o um de cada vez de forma correta, sentindo Lilian me erguer alguns centímetros e neguei com a cabeça.
- Auguri, ragazzi! – Lilian falou. – É nosso! – Ele falou, sorrindo.
- Sim, é nosso! – Comentei, vendo-o colar a testa na minha e bagunçar meus cabelos com o feito.
- Gigione! Gigione! Olê! Olê! Olê! – Pavel gritou, me abraçando fortemente e eu sorri, bagunçando os cabelos do loiro. – Bem? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Be’! – Falei e ele sorriu.
- Ah, Gigi! – Cannavaro veio em seguida e o mais baixo me abraçou pela cintura, me fazendo rir e apertei-o pelos ombros. – Un scudetto!
- Un scudetto! – Falei, mostrando o número um para ele e rimos, era tudo o que mais desejávamos na época do Parma.
- Congratulazione, Gigi!
- Anche a te! – Falei e ele sorriu.
Outros jogadores que eu tinha mais proximidade veio em minha direção: Camoranesi, Bonnefoi, Chimenti, Zambrotta, até o novato Zlatan, vieram em minha direção me dar fortes abraços e palavras de conforto ou compensação.
- Blusa comemorativa! – O pessoal do staff começou a distribuir a blusa da comemoração.
Era o uniforme de jogador de linha com o número 28 atrás, equivalente a 28 títulos e a frase “Just Do It” no lugar do nome, patrocínio da Nike, né?! Eu estava com minha blusa casual da Juventus e a calça de moletom, não havia nem trocado para o uniforme, já que não estava relacionado e só vim para a premiação mesmo, e troquei as blusas.
- Vamos juntar aqui um momento, gente! – Capello falou, juntando os jogadores e entrei na roda, passando os braços pelos ombros de Fabio e Camoranesi. – Eu quero agradecer muito a todos vocês, essa foi uma temporada sensacional e completamente inesperada para mim, então eu tenho muito o que agradecer mesmo, este scudetto... – Começamos a aplaudi-lo e gritar por ele, vendo-o sorrir verdadeiramente emocionado. – Grazie, grazie! – Sorrimos. – Sei que todo ano temos alguma perda, alguns vão, outros vêm, mas eu estarei aqui com vocês novamente e sei que será uma grande temporada também, pois vocês são pessoas sensacionais e incríveis!
Todos gritamos, chacoalhando-o pelo ombro e alguns deram tapinhas em sua cabeça, vendo-o ficar realmente encabulado e sorri com aquela empolgação. Capello havia sido uma verdadeira surpresa para todos nós. Estávamos acostumados com Lippi, seu jeito mais “paizão” de ser e, apesar de ainda encontrá-lo na Nazionale, essa experiência com o Capello havia sido muito boa e havíamos voltado a criar a empolgação de vencer e a emoção para continuar.
Apesar de tudo.
- Quero também aproveitar esse momento para cumprimentar o Ciro que está encerrando sua carreira aqui com a Juve. Foram momentos importantes e somos gratos por tudo. – Capello falou e aplaudimos forte, vendo Ciro assentir com a cabeça sorrindo, colocando a mão no peito em forma de agradecimento. – Agora eu quero que todos vocês agora vão lá para fora, comemorem bastante, depois teremos a carreata e, por último, a festa, então se preparem que o dia está só começando.
Algumas pessoas aplaudiram e eu acabei indo no embalo, mas eu não tinha muita vontade de ir lá fora, apesar de estar ali exclusivamente para receber minha medalha e o prêmio, mas eu me sentia uma fraude na frente de tantas outras pessoas. Eu sei que elas me valorizavam e tudo mais, mas agora eu não sentia que merecia nada disso, principalmente ter precisado me ausentar em diversos momentos no fim da temporada.
- Vamos chamar um por um pelo nome, na ordem do número da camiseta, vocês vão receber a medalha e, por último, vai ser o Del Piero, vocês levantam a taça e é isso, seus familiares estarão no campo para tirar fotos com vocês, com a taça e tudo aquilo de sempre. – O assessor de comunicação falou e todos assentimos com a cabeça. – Gigi, começa com você. – Assenti com a cabeça, respirando fundo.
- VAI, GIGI! – Lilian gritou e eu ri fracamente, ouvindo o pessoal gritar e bater nas portas dos armários e eu assenti com a cabeça, vendo o organizador me chamar.
Segui em fila para fora do vestiário, vendo o resto do pessoal me seguir na ordem dos números, sendo Ciro e Alessio os dois próximos e o grito dos torcedores era muito alto, principalmente ali, na borda do campo. Próximo de nós, do outro lado do túnel, o presidente da Serie A, além de outros, estavam esperando também sua vez para começar.
Um narrador começou a chamá-los e eles saíram pelo pessoal, fazendo o barulho ficar um pouco mais alto. O presidente da Liga era presidente do Milan, então todos queriam que ele se ferrasse, pelo menos todos os torcedores da Juventus, talvez até do Cagliari, nosso adversário de hoje. Principalmente depois que eles perderam a Champions há quatro dias.
- Prepare-se... – O organizador falou ao meu lado.
- IL NOSTRO NUMERO UNO! – Ele gritou. – GIANLUIGI...
- BUFFON! – O público gritou e eu puxei fortemente a respiração, antes de sair a passos largos para fora do estádio.
O pessoal gritou alto por mim quando eu saí e dei um sorriso, me sentindo na obrigação de aplaudi-los também pelo carinho e pelo apoio, apesar de nunca ter aberto sobre essa questão de crises de pânico e ansiedade para a imprensa. O estádio estava abarrotado de gente, acho que nunca tinha visto tantas pessoas juntas. Pela primeira vez o Delle Alpi estava lotado.
Corri até o palco montado, batendo na mão das crianças ali e subi no palco, cumprimentando os dois homens e recebi minha medalha, me colocando na lateral do palco, vendo os outros jogadores sendo chamados um por um, se colocando à minha lateral.
Quando Zlatan saiu, o estádio inteiro o ovacionou, me deixando feliz. Ele era novato no time e na Itália, então ele teve que mostrar bastante serviço para encontrar seu lugar, e ele encontrou. Ele me abraçou assim que recebeu sua medalha e apertei-o em meus braços, ouvindo-o rir.
- Grazie, Gigione! – Ele falou.
Pavel veio em nossa direção, nos abraçando e bagunçamos seu cabelo, vendo-o rir e se colocar atrás de nós. Os números continuaram a ser chamados e consegui tirar minha cabeça de tudo um pouco, estar no ambiente que eu mais gostava no mundo, com meus amigos que realmente se demonstraram ser minha família e os nossos torcedores gritando por nós deu uma calma incrível para mim. O técnico Capello e o staff foi o último a entrar, já nos fazendo pular abraçados à espera do capitano que levantaria a taça para nós.
- IL NOSTRO NUMERO DIECI! – O narrador gitou. – ALESSANDRO.
- DEL PIERO! – Gritamos juntos, vendo Del Piero entrar correndo da mesma forma que todos nós para receber sua medalha.
- Olê, olê, olê, olê! Juve! Juve! – O estádio cantava alto e sincronizado. – SIAMO NOI! SIAMO NOI! I CAMPIONI DELL’ITALIA SIAMO NOI!
A taça do Campeonato Italiano foi entregue à Del Piero e ele fez aquela pequena brincadeira de sempre, antes de erguer a taça, junto dos fogos e confetes que estouraram atrás de nós. Zlatan e Zebina começaram a pular, me movimentando junto e pulei com eles, cantando junto do estádio. Era uma sensação boa, apesar de tudo.
A clássica We Are the Champions começou a tocar e seguimos para outro lado do campo, atrás da placa da Série A Tim para tirar mais fotos, fazendo a taça passar de mão e mão. O pessoal começou a pular animadamente, alguns filhos já tinham invadido o campo e tudo virou bagunça.
Del Piero passou o braço pelo meu ombro, me puxando para dar a tradicional volta pelo estádio e os segui, vendo os cinegrafistas correrem atrás da gente para alguma imagem. Segurei o prêmio pela primeira vez naquela festa e o ergui alto, seguindo em direção à torcida que cantava agora a música Magica Juve Alè a plenos pulmões. Passei o prêmio para Appiah, vendo-o seguir correndo em volta do estádio.
Os familiares se juntaram a nós e vários amigos, familiares ou jogadores ergueram uns aos outros. Ciro foi um deles, ovacionado pela torcida, o que não era para ser diferente, ele estava na Juventus desde 94. Era muito tempo de Juventino e muito tempo para ser prestigiado.
Terminamos a volta no estádio e muitos começaram a tirar fotos com a taça e com suas famílias, eu só queria encontrar a minha que deveria estar perdida em algum lugar ali. Ergui a medalha em meu peito, feliz por mais essa conquista e suspirei, deixando-a cair em meu peito. Passei o olhar rapidamente e vi minhas irmãs acenando animadamente para mim.
- Gigi! – Elas gritaram e fui em direção a elas, abraçando Guendy primeiro, sentindo-a me apertar fortemente.
- Ah, irmãozinho, estou orgulhosa de você. – Ela falou, me fazendo sorrir e segui para Veronica que também me apertou com força.
- Você é muito forte, meu irmão! – Ela disse, me fazendo assentir com a cabeça e senti ambas darem beijos em minha bochecha!
- Meu menino! – Minha mãe falou, abrindo os braços para mim e sorri, sentindo-a me apertar. – Está feliz?
- É... – Ponderei com a cabeça e ela deu um beijo em minha bochecha.
- Tudo ficará bem. – Assenti com a cabeça.
- Meu garoto! – Meu pai me apertou, dando um tapinha em minhas costas e eu sorri, sentindo-o apertar meus ombros. – Parabéns, filho!
- Valeu, pai! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Você vai na carreata? – Guendy perguntou, me puxando pela cintura.
- Ainda não sei.
- Vai sim, irmãozinho! – Veronica falou. – Você precisa aproveitar.
- Eu sei, é que essas coisas demoram bastante, depois tem festa. Eu não estou muito no pique. – Falei.
- Podemos ir contigo, na festa, é claro... – Rimos juntos.
- É, vamos ver. – Abracei Guendy de lado, sentindo-a dar um beijo em minha testa.
- E sobre ela? – Veronica perguntou e eu franzi a testa.
- Quem? – Perguntei e ela apontou há alguns metros de nós para Trezeguet com seu filho Aarón e prendi a respiração ao notar que era e Giulia.
- Eu não a vejo desde fevereiro. – Falei, engolindo em seco.
- Oh, che? Parla l’italiano? falava com uma voz infantil, abaixada e o garoto assentiu a cabeça. – Como?
- Papá me ensinou! – O pequeno falou e sorriu.
- Ele é uma graça, David! – falou, se levantando e abraçando o francês.
- Diga grazie. – David falou.
- Grazie! – O pequeno Aarón falou e sorriu, bagunçando a cabeça do pequeno.
- E você se dá bem com crianças!
- Ela sim! – Giulia falou. – As crianças choram ao me ver e sorriam para ela.
- Ah, cada um tem um dom que merece! – deu de ombros, fazendo-os rirem. – Eu preciso encontrar o Fabio, eu quero segurar o Andrea, filhinho dele. – Ela comentou.
- Eu vi o Christian e a Martina correndo por aí. – David falou.
- Relaxa, depois eu acho. – Ela abanou a mão e engoli em seco quando seu olhar encontrou o meu e ela levantou a mão e eu retribuí.
- Fala alguma coisa! – Guendy falou, me cutucando pela barriga.
- ! – Ela se distraiu com o grito e os dois meninos de Lilian, Marcus e Khéphren vieram correndo em sua direção, abraçando-a pelas pernas.
- Ah, meu Deus! Mais pestinhas para mim! – Ela falou, rindo, bagunçando o cabelo de ambos.
- Me desculpa, . – Lilian apareceu correndo atrás deles com Karine.
- Não se preocupe, eles gostaram de mim, né?! – Ela falou, dando um beijo em cada um deles que alargaram os sorrisos.
- Sim! – Eles falaram, animados.
- Eu só não sei como eles se lembram de mim. – Ela sorriu, apoiando as mãos nos ombros deles.
- Ah, aquele dia que você foi em casa me entregar os documentos. – Lilian falou e ele respirava com dificuldade.
- Ainda vai desmaiar aí! – falou.
- Eles correram o campo inteiro! – Ele falou, nos fazendo rir, com a mão apoiada no peito.
- Seu pai está velho já. – riu, falando com os meninos.
- Fala com ela. – Guendy falou novamente.
- Eu não sei, eu não posso... – Suspirei.
- Não pode o quê? – Veronica perguntou. – Você está solteiro, disse que naquela festa ano passado ela pareceu interessada. O que mudou?
- Eu não estou bem, meninas. – Suspirei, engolindo em seco com as palavras. - Não quero envolvê-la nessa minha bagunça. Não quero arrastá-la para meus problemas.
- Você não vai ficar assim para sempre, Gigi. – Guendy disse e observei pegar o mais novo de Lilian no colo, fingindo uma careta enorme com o feito e sorri. – Você vai melhorar e vai sair dessa.
- E ela é uma boa menina. – Minha mãe falou.
- Eu sei, mãe, mas agora não. Ela é boa demais para isso. – Suspirei, vendo colocar o menino no chão. – Ela vai querer se envolver, tentar me ajudar e eu não posso...
- Por que não? – Veronica perguntou.
- Eu gosto dela, de verdade. E ela não merece isso.
- Pelo menos fale com ela. – Guendy sussurrou e vi olhando para mim e ela mordeu seu lábio inferior. – Um oi, pelo menos. – Guendy sussurrou, me empurrando levemente pela cintura e parece que Giulia fez o mesmo, fazendo-a dar um olhar atravessado para a amiga, que me fez sorrir.
- Ciao, Gigi! – Ela falou, dando um tapa na mão da amiga e eu me contive em fazer o mesmo com Guendalina.
- Ciao, . – Falei, vendo-a sorrir e abaixar o olhar.
- Parabéns pelo scudetto. Conseguimos mais um. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Três para nossa conta. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Então, sua família! – Ela falou, acenando rapidamente para os quatro. – Faz tempo que a gente não se vê!
- Oi, garota! – Veronica falou, animada, indo cumprimentá-la e Guendalina fez o mesmo em seguida.
- Como vocês estão? – sorriu.
- Bem e você? Ainda jogando? – Guendy perguntou e fez uma careta.
- Parei tem dois anos, joelho e tornozelo foram para o saco. – Ela falou.
- Mentira! – As duas falaram surpresas.
- Pois é! – Ela deu de ombros. – Já me acostumei, jogamos mais por diversão mesmo.
- Pelo menos ainda joga. – Veronica falou.
- Sim, já é algo! – Elas riram juntas. – Estamos combinando de ir para Forte dei Marmi com nosso time para tirar umas férias e jogar. Estou empolgada. – Ela falou.
- Vai para Forte dei Marmi? – Perguntei e seu olhar encontrou com o meu.
- Sim, estarei perto da sua cidade de novo. – Ela sorriu.
- Vocês podem se encontrar! – Giulia falou e deu uma cotovelada na amiga, e ela fez uma careta. – Acertou em cheio.
- Desculpa! – falou, fazendo uma careta igual.
- Ciao, Giulia! – Acenei e ela fez o mesmo.
- Ainda lembra de mim, hein?! – Giulia falou, me fazendo rir.
- Difícil te esquecer. – Falei, rindo.
- É, louca desse jeito! – falou, sorrindo. – Mas é, se você estiver lá, podemos nos encontrar. – Ela disse.
- Não sei ainda onde vou passar as férias, mas eu te ligo. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Legal! – Ela sorriu.
- Tia ! – Virei para o lado, vendo Ivana, filha da Pavel, vindo abraçar .
- Como todas eles te conhecem? – Perguntei.
- Precisei fazer alguns registros para a contabilidade de familiares, dependentes e tudo mais com todas as mudanças, aí fui na casa do pessoal com filhos e eu acabei conhecendo. – Ela abraçou Ivana, acariciando o rosto da loira igual Pavel.
- Eles gostam de você. – Comentei, vendo-a assentir com a cabeça.
- Sim, gostam. – Ela riu fracamente. – Como você está? – Ela perguntou para Ivana, beijando sua cabeça.
- Você vai ser uma boa mãe. – Comentei, vendo-a erguer o rosto para mim e assentir com a cabeça.
- Grazie, Gigi! – Ela falou, mordendo o lábio inferior. – A gente se vê?
- Sim. – Falei, vendo-a confirmar com a cabeça.
- Preciso dar atenção para esse pessoal. – Ela falou, indicando as crianças à sua volta com a cabeça.
- Vai lá! – Sorri e ela assentiu com a cabeça.
- Onde está seu pai? – perguntou para Ivana e a menina apontou para os pais que vinham em sua direção com o mais novo, Pavel também. Ivana e Pavel, Ivana e Pavel, era para bagunçar a cabeça de todo mundo.
- Viu o que dá criar intimidade com as pessoas? – Pavel falou, cumprimentando rapidamente.
- Ah, eu não me importo. – abraçou o mais novo dos Nedved. – Eu gosto deles, de verdade.
- Só não diga que não avisei. – Pavel falou, fazendo-a rir.
- Está tudo bem! – sorriu, virando o rosto para mim e desviei, virando para minha família.
- Por que não disse que ia passar as férias em casa? – Minha mãe perguntou.
- Eu não posso fazer isso agora, mãe. – Disse. – Ainda não. – Suspirei.
- Bom, vamos nos cuidar para poder, então! – Guendy falou e eu sorri, assentindo com a cabeça.





Continua...



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Nota da autora: É novo por aqui? Que tal ler algumas informações abaixo?
1. Essa história se passa durante os 20 anos do Buffon na Juventus e sua vida pessoal, de 2001 até os dias de hoje, onde ele ainda joga. Então contém bastante slow burn (designação para histórias onde os pps demoram para ficar juntos).
2. Eu não me preocupei com o tamanho da história, então ela vai ser bem longa - mais do que estão acostumados - mas prometo que vai valer à pena, sinto que esses pps são os melhores que eu já escrevi em todos meus anos de escritora e é um roteiro bem fechado.
3. Estou escrevendo há um ano, então as atualizações serão frequentes. Optei por adiantar bastante antes do post por causa do próximo item quatro.
4. Essa história terá alguns crossovers durante ela. Outros personagens irão aparecer e alguns deles terão seu próprio enredo. Quando elas começarem, eu aviso vocês.
5. A história é muito visual, por isso criei um Instagram para postar fotos, vídeos, dream cast, entre outros, conforme eu for atualizando, mas cuidado! Eu vou atualizar as informações do capítulo quando enviar para minha beta, então se não quiser pegar spoiler antes de ler, deixe para encontrar as informações nos links que forem aparecendo durante a leitura.
6. A história também tem uma playlist, então em algumas cenas vocês poderão encontrar um link ao lado da data para aproveitar enquanto lê!
Ufa, acho que é isso, gente! Achei importante fazer esse textão logo no começo para vocês saberem o que vem por aí! Aproveitem!





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