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Capitolo nove

Stagione 2005/2006
Lei
15 de agosto de 2005

- Lorenzo, vem cá! – O chamei, movimentando a mão.
- Fala! – Ele falou, seguindo para mim rapidamente.
- O contrato do Chiellini é confuso assim mesmo ou eu que estou fazendo confusão? – Perguntei, apontando para o contrato aberto em minha mesa.
- É isso mesmo, ele era da Roma, aí a Juventus o contratou na temporada passada... – Confirmei com a cabeça. – Mas ele foi imediatamente emprestado para o Livorno e depois para a Fiorentina...
- Sim, isso acontece muito. – Comentei.
- Mas ele tinha um contrato com o Livorno ainda nas categorias de base. – Ele falou e eu franzi a testa.
- Continua... – Falei, vendo-o rir.
- Então, a questão de direitos dele está toda misturada nesses quatro times.
- Deus, que confusão! – Suspirei.
- Enfim, na temporada passada fizemos o repasse de três milhões para a Roma e a Fiorentina fez o repasse dos outros três milhões e meio para o Livorno. – Confirmei com a cabeça. – Mas agora a equipe técnica o quer no time, então você vai fazer o repasse dos últimos 4,3 milhões para a Fiorentina e tornar o jogador total da Juventus.
- Se você diz... – Brinquei, vendo-o rir.
- Eu não posso falar nem que você está errada, pois isso é confuso para caramba. – Ele negou com a cabeça.
- Obrigada. – Suspirei. – E o Marchisio. – Perguntei. – É igual do DeCeglie na temporada passada?
- Isso! Ele vai fazer alguns treinos com a squadra principal, será dado um número para ele e, caso o Capello se interesse, ele pode até ser banco em alguns jogos, então só fazer a mudança no contrato dele, passar para o agente dele e mudar o pagamento para o mesmo do DeCeglie. É base nesses casos.
- Beleza, obrigada! – Falei. – Ah, mas eu somo ou...
- Só soma! – Ele falou e assenti com a cabeça. – Ele vai continuar com o Primavera também.
- Obrigada! – Rimos juntos e Lorenzo voltou para sua mesa.
Peguei o talão de cheques em minha gaveta, junto com a calculadora e coloquei os dedinhos para começar a escrever o cheque de grandes milhões que ainda parecia loucura na minha cabeça, mal via a hora das transações eletrônicas começarem a se popularizar para todos, não só para bancos. Vai facilitar muito!
Assinei no lugar de testemunha no contrato e prendi o cheque no clipe, fechando o contrato. Voltei para o computador, mexendo o mouse, vendo a tela se acender e procurei os arquivos dos jogadores do Primavera, setor juvenil da Juventus e encontrei o nome Claudio Marchisio, 19 anos, natural de Turim mesmo e coloquei a senha para liberação do documento e o esperei abrir.
Virei o resto do café na boca e fiz as alterações no contrato de Marchisio, salvando o documento como uma nova cláusula e reli três vezes antes de liberar a impressão. Enquanto a impressora cuspia as folhas, segui até a cafeteira, enchendo mais uma vez minha xícara, dando um gole e fiz uma careta, colocando duas colheres de açúcar, mexendo o copo.
Devolvi o copo na mesa e peguei as folhas na impressora, juntando tudo e chequei a quantidade de páginas, confirmando com o arquivo original e segui até a última página, já assinando a área de responsável pela alteração e juntei à pilha de coisas que precisava pedir para Giorgio assinar, voltando para atrás da minha mesa.
- Sera, ragazzi! – Giorgio entrou na sala, com suas pastas e papéis.
- Sera, Giorgio! – Respondemos em coro.
- Quem está cuidando das entradas do time?
- Eu estou com dois e a com mais dois. – Marco falou.
- Eu estou finalizando, preciso só de algumas assinaturas. – Falei e ele apoiou seus materiais em minha mesa, puxando uma cadeira para perto.
- Precisamos de um novo goleiro. – Ele falou e eu arregalei os olhos.
- O negócio do Buffon foi sério? – Perguntei.
- Sim. – Ele suspirou. – Luxação no ombro, fez cirurgia lá em Milão já, está bem, mas fora por pelo menos três meses. – Fiz uma careta.
- Nossa, ele saiu mal, mas não parecia tão ruim. – Comentei.
- Pois é! – Ele suspirou. – Eu estava com a equipe técnica, com o diretor esportivo e com os diretores e todos concordam que o Bonnefoi não aguenta um campeonato como titular, ainda mais por três meses.
- E o Chimenti saiu. – Ele assentiu com a cabeça.
- Exatamente. – Ele comentou.
- Ok, qual a opção? – Perguntei.
- Já entrei em contato com o Milan, eles vão emprestar o Abbiati para gente.
- Ok, eu vou preparar um contrato de empréstimo. – Falei, me ajeitando na cadeira e abrindo os documentos padrões.
- Um ano só, beleza?
- Beleza! – Falei, abrindo o sistema da Federação, procurando pelas informações dele.
- O que eu preciso assinar?
- Aqui! – Falei, pegando os dois contratos de Chiellini e Marchisio, pegando uma caneta no meu porta-lápis e abri para ele.
Observei que ele não checou mais uma vez as informações e escondi um sorriso pressionando os lábios. Ele já confiava em mim o suficiente para não precisar fazer mais dupla checagem nos meus arquivos e aquilo era muito bom, mas tinha uma pequena pressão em cima, mas eu não tinha medo de pressão. Eu estava lá para fazer meu trabalho.
- Obrigada, , tudo certo. Se possível, depois que acabar aí, pode já levar no administrativo para eles já liberarem o repasse. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, vendo-o se levantar.
- Giorgio, por favor... – Marco o chamou e voltei a focar em meu computador.
Desviei um pouco de fazer o contrato da Abbiati e abri os documentos do time, procurando os mais recentes e encontrei os últimos registros médicos de Gigi. Abri o arquivo, lendo rapidamente as informações no relatório médico.
“No último dia 14 de agosto, durante o Trofeo Luigi Berlusconi em San Siro, Milão, Gianluigi Buffon, ao fazer uma defesa, se chocou com o jogador do AC Milan, Kaká, o que causou uma luxação no ombro direito. O jogador passou por um procedimento cirúrgico, passa bem, mas ficará fora por três meses, voltando a fazer tratamento fisioterapêutico com o time assim que houver o ok da equipe médica.
Sendo assim, a partir de agora, o time entrará com atestado e seguro médico para o jogador até segunda ordem”.
Che cazzo!
Cocei a cabeça, fechando as janelas e peguei meu celular dentro da bolsa, abrindo as mensagens e procurei o número de Gigi, começando um novo SMS, pensando um pouco no que eu poderia escrever, principalmente por não termos conversado em nenhum momento depois da vitória na temporada passada. Ele estava com a família dele, eu fui atacada por diversas crianças que eu nem imaginava que se lembrariam de mim.
Apesar que foi muito legal, eu amava crianças, tinha meu sonho de ser mãe, então poder brincar com as crianças dos jogadores foi sensacional. Tão sensacional que eu deveria ir em umas cinco casas por dia, mas fui uma por dia, de tanto que me seguravam. Mas mais sensacional ainda foi o olhar de Gigi sobre mim, ele me deu aquele olhar gostoso, sabe? Um olhar bom mesmo.
Pensa que ele não havia me ligado nas férias, em nenhum momento. Eu estava em Forte dei Marmi, do lado da cidade dele, seria o momento perfeito para gente se encontrar, fazer alguma coisa, agora que nenhum dos dois tinha nenhum compromisso, pelo menos eu acho, né?! Da última vez eu achava que também não tinha. E dessa vez não havia visto nenhuma revista de fofoca, apesar de estar fugindo delas depois da última vez.
“Ciao, Gigi, soube que o acidente ontem foi sério. Como você está?” – Escrevi, ponderando com a cabeça e respirei fundo, antes de enviar, guardando o celular de novo na bolsa.
Respirei fundo, voltando ao trabalho que Giorgio havia pedido e montei o contrato de empréstimo do Christian Abbiati, nosso novo goleiro titular por pelo menos três meses. Isso era loucura, Gigi saiu de maca ontem, mas não parecia algo tão ruim, só parecia, pelo visto. Já havia visto várias lesões nesses quatro anos, mas era a primeira de Gigi. Não sei, ele parecia realmente um pouco Superman para mim, como os torcedores do Parma o chamavam, pelo visto até o Superman se machuca de vez em quando.
Mandei o documento imprimir e segui mais uma vez até a impressora, dessa vez com a caneta comigo e aproveitei para fazer a assinatura como testemunha e scaneei e fiz cópia dos outros documentos que Giorgio tinha assinado para fazer o envio para os respectivos donos. Tomando cuidado para não fazer a básica confusão entre os documentos.
- ? – Virei para Lorenzo.
- Oi!
- Vai para o Giorgio?
- Vou sim.
- Leva esses contratos para ele, por favor? Só assinar.
- Claro! Fechamento de contrato? – Perguntei.
- Empréstimo, não fecharam nada com ninguém dessa vez. – Ele falou, nos fazendo rir.
- “Vamos manter o elenco enxuto, hein, ragazzi?” – Brinquei com a informação do ano passado e ele riu.
- Pois é, né?! – Ele falou e eu dei de ombros.
- Pelo menos a gente recebe uma boa grana. – Falei, juntando seus papéis e ele riu.
- Tem sempre uma vantagem nisso! – Ele disse, esticando a mão e eu bati na dele, pegando meus contratos e saí da nossa sala, seguindo para a de Giorgio e dei um toque na porta.
- Viene! – Ouvi um som baixo e empurrei a porta, vendo-o girar em sua cadeira.
- Aqui, Giorgio, o contrato do Abbiati. – Entreguei o primeiro papel. – E contrato de empréstimo do Tudor, Chimenti, Miccoli e Tacchinardi. – Falei, checando os nomes nas capas e entreguei para ele também.
- Eu adoro minha equipe! – Ele falou, me fazendo sorrir.
- Aqui é assim, tarefa dada, é tarefa cumprida. – Falei e ele sorriu, abrindo as folhas uma a uma e assinando ou rubricando as páginas necessárias.
- Tudo certo aqui! – Ele falou. – Pode levar tudo para o administrativo, quando eles retornarem, pode preparar os malotes para gente enviar. – Assenti com a cabeça.
- Posso enviar pelo e-mail também? – Perguntei.
- Espera o administrativo liberar, depois você já envia e pede uma confirmação para o endereço de envio. – Assenti com a cabeça. – Pode levar o cheque também.
- Beleza, obrigada. – Falei, juntando os documentos e segui para fora da sala.
- Espera, ! – Virei para trás.
- Oi!
- São quase sete horas, vão embora, pelo amor de Deus! Terminem isso amanhã. – Rimos juntos. – Nossa! Olha isso! – Rimos juntos.
- Buona notte, Giorgio! – Falei.
- Buona notte! – Ele disse e segui para fora da sala, voltando para a nossa.
- Giorgio mandou a gente ir embora. – Falei.
- Eu já olhei o horário duas vezes, mas estava acabando. – Lorenzo falou.
- Eu vou entregar isso lá embaixo e vou. Alguém tem mais alguma coisa para o administrativo? – Perguntei.
- Pode levar esses cheques? – Claudio perguntou.
- Claro! – Falei, pegando os envelopes e colocando na pila.
- Eu vou aproveitar a saída e vou também! – Angelo falou.
- Andiamo, ragazzi! – Falei e segui até meu computador.
Finalizei o café já gelado em minha xícara e desliguei o computador após fechar todos os documentos. Peguei minha bolsa, puxando o celular e vi que não havia tido retorno, me fazendo suspirar e neguei com a cabeça. Senti o celular vibrar e fiquei levemente decepcionada ao ver uma mensagem de Giulia.
“Oi, sei que é segunda, mas topa jantar fora? Estou fugindo de casa um pouco”. – Ri fracamente, imaginando o que é que poderia ter acontecido agora.
“Estou saindo do trabalho, te encontro onde?” – Respondi, guardando o celular na bolsa.
Segui até a área de trás da sala, onde tinha uma pequena copa e lavei minha xícara, deixando-a no escorredor e vi Angelo pegando sua mochila, se levantando e terminando de desligar seu computador também.
- Ciao, ragazzi! – Ele falou.
- Ciao, ciao! – Disse, acenando e segui para fora da sala.
- Ciao! – Eles responderam.
- Isso que é só segunda, hein?! – Angelo comentou, nos fazendo rir.
- Pior que eu gosto dessa época do ano, sabe? Contrato de jogadores, etc, depois fica mais sem graça. – Dei de ombros.
- Isso você tem razão! – Ele falou, me fazendo rir e apertei o botão do elevador.
- Vamos que amanhã tem mais! – Falei, vendo-o rir.
- Vamos! – Ele suspirou.

Lui
17 de setembro de 2005 • Trilha SonoraOuça
Sober
- Eu tenho a consciência de que eu preciso melhorar, eu só não consigo. – Passei a mão no rosto, me afundando na poltrona.
- Ainda, Gigi. O que você está passando não é um humor que você altera conforme sua vida passa ou os dias passam. É diferente de você viver um momento de alegria e ficar feliz, ou uma derrota e ficar triste. – Ellen falava com aquele tom calmo em sua voz. – É quase um estado de espírito, você precisa passar por todo o processo e se curar.
- Mas por que eu preciso passar por isso? – Virei para ela. – Por que as coisas não podiam ficar boas iguais estavam no meio do ano? Eu estava melhorando, mas sinto que estou pior. – Suspirei.
- Você estava vulnerável, Gigi, em processo de cura, mas com essa sua nova lesão, as coisas desandaram um pouco aí dentro. – Suspirei, passando a mão no olho molhado. – Apesar de ser valorizado exclusivamente como o jogador Gianluigi Buffon, isso te faz bem, te dá vontade de levantar da cama e, com a lesão, isso afetou um pouco.
- As coisas mudaram depois daquela nossa primeira conversa. – Suspirei. – Eu me senti pertencido à equipe, que eu realmente tenho amigos no time, que as pessoas realmente se preocupam comigo.
- E continuam se preocupando, não? – Ela perguntou. – Você me contou que várias pessoas te mandaram mensagens, mesmo você aqui, inclusive àquela menina...
- É, eles são bons amigos. – Suspirei.
- Você respondeu alguém? Encontrou alguém?
- Algumas pessoas, o Alex e o Fabio vieram me visitar no fim de semana.
- E como foi? – Ela perguntou.
- Foi bom, a gente bebeu uma cerveja, papeamos sobre o time... – Ela assentiu com a cabeça.
- Bom, muito bom. – Ela sorriu. – E àquela menina? – Ri fracamente.
- Você realmente quer falar dela? – Perguntei e ela cruzou as pernas, olhando para mim.
- Claro! Eu sei que ela te faz bem de alguma forma, quero entender qual o problema seu com ela. Você gosta dela, não gosta? – Ela perguntou.
- Gosto. – Suspirei. – Não sei como posso gostar tanto dela, tendo tido tão pouco contato ao longo desses anos. – Neguei com a cabeça, passando as mãos nos olhos, sentindo as lágrimas deslizando pela bochecha.
- Ela tocou você de alguma forma, e você gostou. – Suspirei. – Qual o problema?
- Ela não conhece esse Gigi. – Passei as costas da mão no nariz. – Ela conhece o Gigi confiante, poderoso, goleiro da Juventus... – Suspirei.
- Você quer dizer que ela não te conhece vulnerável?
- É... – Ergui o rosto para ela.
- E você acha que ela não gostaria desse novo Gigi? Do Gigi que conhece mais a si mesmo? Conhece os próprios sentimentos? – Mordi o lábio inferior, suspirando. – Você sabe a resposta.
- Eu a conheço o suficiente para saber que ela não se importaria com esse novo lado. – Ela assentiu com a cabeça.
- E qual o problema? – Ela perguntou.
- Exatamente esse. Ela vai querer... Cuidar de mim. – Ela sorriu. – Ela tem essa qualidade, sabe? Meio mãe coruja, querendo fazer com que todos estejam bem...
- E você não quer que ela se envolva? – Suspirei, mordendo o lábio inferior.
- Ela não merece isso. – Neguei com a cabeça. – Ela já teve os problemas dela. Ela perdeu os pais, morou em orfanato, com uma avó que não era uma boa pessoa, pelo visto, e...
- E você acha que ela não aguenta?
- Não sei, mas ela não merece isso. Ela é boa, ela é... – Neguei com a cabeça. – Não, não posso fazer isso.
- O que você pode fazer? – Ela perguntou, olhando em meus olhos e suspirei.
- Eu não sei.
- Tudo! – Ela falou firme. – Você sempre pode fazer tudo, o que mudou? E não digo isso como o maior goleiro da Itália, como Superman, digo como pessoa. Você, como todas as pessoas no mundo, pode fazer tudo. – Suspirei e ela se ajeitou na poltrona, apoiando os cotovelos nas coxas. – Você vai passar por isso, Gigi, não é uma suposição, é uma convicção, mas é algo que pode acontecer futuramente em níveis menores, e você não vai poder parar de viver. – Ela disse. – Foi o que aconteceu em março, abril, certo? Você precisou continuar a trabalhar, precisou conviver com outras pessoas, e isso foi bom, não foi?
- É, foi! – Suspirei e ela assentiu com a cabeça.
- Vamos continuar assim. – Confirmei com a cabeça. – Como você nivela seu humor hoje?
- Cinco, eu acho. – Suspirei.
- Cinco? Isso é bom! – Ela pegou seu bloco de anotações.
- Talvez seis, se eu parasse de chorar à toa. – Passei a mão nos olhos, pegando um lenço na mesa do lado. – Eu não quero chorar...
- Isso acontece com frequência? – Ela perguntou.
- Quando estou aqui ou quando eu fico sozinho, normalmente quando eu vou dormir, que eu acabo demorando para dormir...
- Vá analisando, ok? E me avise. – Assenti com a cabeça. – E como estão suas atividades extras? O que tem feito? – Ela perguntou.
- Eu comecei um livro novo. – Suspirei.
- Algo interessante?
- Eu larguei as biografias de esporte, é meio que tudo igual... – Ela riu fracamente.
- Você acha?
- Ah, sempre a pessoa passou por alguma dificuldade e se tornou alguém incrível depois. – Neguei com a cabeça.
- E você não gostou? Você pode se identificar, não?!
- Ainda não, nem na parte ruim e nem na parte boa. – Suspirei.
- Não o que eu ouvi por aí, mas acredito em você. – Rimos juntos. – O que está lendo, então?
- Minha irmã me trouxe Harry Potter, eu nunca tinha lido.
- Você nunca leu Harry Potter? – Ela riu fracamente.
- Não... – Fiz uma careta. – Na verdade, agora sim, li os dois primeiros já e assisti aos filmes.
- Você gostou?
- Sim, é legal! – Rimos juntos. – Vão ser sete livros, né?!
- Sim, vão, falta um. – Assenti com a cabeça.
- Pensando em Harry Potter, qual casa você se identificaria? – Ela perguntou e eu franzi a testa.
- Grifinória.
- Mesmo? Por quê? – Ela perguntou.
- Eu sou corajoso, falam que o goleiro é meio louco, então... – Ela assentiu com a cabeça. – E sou um pouco enxerido igual o Harry, eu acho... Me meto em fazer as coisas...
- Eu concordo contigo, Gigi. Você é corajoso. – Ela falou. – Em vários sentidos.
- Eu não me sinto corajoso agora, mas...
- Você não precisa ser corajoso sempre, mas é bom se sentir assim. – Assenti com a cabeça.
- Obrigado. – Falei, suspirando.
- Acho que estamos bem por hoje, Gigi. – Ela falou. – Vamos nos encontrar novamente na semana que vem? – Ela perguntou, fechando seu bloco de notas e confirmei com a cabeça.
- Claro. – Suspirei.
- Se você sentir a necessidade de me ligar de novo, fique à vontade...
- Eu vou tentar esperar até semana que vem. – Suspirei e ela assentiu com a cabeça.
- E não se esqueça de continuar suas atividades extras, procure sempre algo novo para fazer e se distrair, combinado? – Ela juntou suas coisas, guardando em sua bolsa.
- Combinado. – Suspirei, vendo-a se levantar. – Obrigado por hoje.
- Estou aqui por você. – Ela apoiou a mão em meu ombro e me puxou para um abraço, me fazendo assentir com a cabeça.
- Obrigado. – Falei, dando um tapinha nas costas da mais baixa.
- Mesmo horário na semana que vem?
- Sim, eu vou ficar aqui enquanto... – Apontei para o curativo subindo pelo pescoço e ela assentiu com a cabeça.
- Melhoras também nessa parte, ok?! – Ela falou.
- Pode deixar. – Rimos juntos. – Em outubro o médico disse que talvez me dê alta, aí eu volto para a fisioterapia com o time.
- Ah, aí já é muito bom. – Ela sorriu.
- Eu te pago agora ou...
- Nos acertamos no final do mês. – Ela falou e eu confirmei com a cabeça. – Ciao, Gigi.
- Ciao. – Falei, abrindo a porta da sala em que estávamos e ela saiu, me fazendo suspirar.
A vi descer as escadas e saí da sala, puxando a porta em seguida e debrucei no corrimão da escada, vendo meus pais conversarem com Ellen no andar de baixo e suspirei, negando com a cabeça. Segui em direção ao meu quarto, pegando meus óculos escuro, carteira e coloquei no bolso.
Peguei o celular e o encarei por alguns segundos, clicando nele e fui para as mensagens, procurando a mensagem de e ela não era respondida há um mês. Bom, a primeira mensagem, depois ela mandou outras duas e, também, não foi respondida. Suspirei, lembrando das palavras de Ellen, mas guardei o celular no bolso em seguida. Já fazia um mês, ela já deve ter esquecido disso.
Saí do quarto, puxando a porta e desci as escadas, percebendo o olhar de meus pais sobre mim e suspirei, já desacelerando os passos ao vê-los se levantarem do sofá e passei a mão no corrimão, suspirando.
- Ei, como foi? – Minha mãe perguntou.
- Acho que tudo bem. – Falei, assentindo com a cabeça.
- Aonde vai?
- Vou no bar, a Veronica está lá?
- É para estar! – Meu pai falou, rindo fracamente.
- Eu vou lá um pouco. – Falei e minha mãe acariciou meu rosto, dando um beijo em minha testa e eu assenti com a cabeça.
- Ok, estaremos aqui! – Meu pai falou e eu assenti com a cabeça.
Segui para fora da nossa casa em Marina di Massa e fui para o fundo, entrando por trás do nosso clube à beira da praia e fui cegado pelo sol forte do meio da tarde. Era setembro e meio de semana, o clube estava quase vazio, tanto que não tínhamos muitos funcionários trabalhando fora da alta temporada.
- Ei, irmãozinho! – Veronica falou e eu me sentei em um banco na beirada do bar.
- Ei, Veronica. – Falei. – Posso beber uma cerveja?
- Podemos fazer um acordo? – Ela perguntou, pegando uma cerveja no cooler.
- Qual? – Perguntei, ouvindo-a rir.
- Você fazer essa barba em troca da cerveja. – Ela a abriu e entregou para mim.
- Adoro que você faz o acordo e me entrega antes de eu aceitar. – Ela deu de ombros.
- Eu não sei fazer muitos acordos. – Sorri, dando um gole.
- Eu vou fazer, um dia. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Mas eu gosto do cabelo mais longo, combina contigo. Fica parecendo roqueiro dos anos 80. – Ela comentou, se virando para trás e pegou umas porções que vinham da cozinha.
- É, existem algumas vantagens. – Virei o rosto na banqueta, apoiando o antebraço nela e dei mais um gole na cerveja.
Vi Veronica sair de trás do balcão e seguir em direção à uma mesa com duas mulheres muito bonitas de biquini e deixou a porção ali. Uma delas se virou para mim, dando um sorriso discreto e suspirei, dando mais um gole em minha long neck.
- Ela gostou de você. – Veronica comentou, voltando para trás do balcão e eu neguei com a cabeça, revirando os olhos.
- Não começa. – Falei.
- O quê? Só estou dizendo...
- Eu não posso fazer isso agora. – Ela riu fracamente.
- Talvez seja um pouco bom um pouco de atividade aqui embaixo. – Ela falou, apontando para meu quadril e eu empurrei sua mão, ouvindo-a rir.
- Você é impossível. – Falei, vendo-a sorrir.
- Bom, ela quer... – Ela falou, se afastando e eu franzi a testa, virando para o lado e vendo a morena das duas se apoiar no balcão ao meu lado.
- Ciao. – Ela falou com um forte sotaque.
- Ciao. – Falei, virando o corpo de frente para ela.
- Você é Gianluigi Buffon, certo? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim. – Falei.
- Eu sou Alena. – Ela disse, sorrindo.
- Bom te conhecer, Alena. – Falei, mordendo meu lábio inferior. – Você tem um sotaque diferente.
- Eu sou tcheca. – Ela falou, sorrindo.
- O que faz aqui na Itália? – Perguntei.
- Sou modelo, apresentadora e atriz, tenho alguns trabalhos para fazer. – Ela sorriu e foi inevitável não descer o olhar para seus seios sobressaindo o pequeno biquini.
- Eu poderia ter adivinhado isso. – Falei, percebendo como ela era bonita e ela riu fracamente.
- Então, você quer dar uma volta? – Ela perguntou e virei o rosto para minha irmã que estava um pouco mais distante e ela arregalou os olhos, assentindo com a cabeça.
- É, pode ser uma boa. – Falei e ela assentiu com a cabeça, sorrindo. Deixei o restante da cerveja no balcão e me levantei, seguindo Alena pela faixa de areia do nosso clube.

Lei
21 de outubro de 2005

Ouvi o despertador tocar e franzi os olhos, sentindo como se eu tivesse dormido por poucas horas, o que não deixava de ser verdade. Desde que Gianluca e Nicola saíram do time por ofertas melhores em outros times da liga italiana, não tivemos novas contratações, então a equipe de oito mais Giorgio, virou seis mais Giorgio e as coisas começaram a aloprar. Também não tínhamos estagiários para compensar um pouco a demanda. Depois que eu fui efetivada, bloquearam um pouco a contratação de estagiários para gente, pois o que eles pagavam para mim, pagavam três estagiários trabalhando metade do tempo cada um.
Resumindo: estava um caos. Tinha dias que eu não saía do trabalho antes das oito da noite, em véspera de jogo era quase 22 horas, mas oito horas em ponto eu tinha que estar no time de novo. Isso tinha afetado até minha alimentação, eu chegava rápido agora morando em Vinovo, mas eu não tinha pique para fazer comida 23 horas da noite e muitas vezes só queria banho e cama, e muitas vezes eu ainda trazia serviço para casa.
A vantagem era que eu ganhava hora extra e uma hora extra bem generosa, então estava juntando dinheiro para comprar algo para mim futuramente. Sair do aluguel havia se tornado meu sonho número um, mas não era exatamente algo fácil, principalmente depois de eu ter limpado minha poupança na compra do carro no ano passado. E eu não era exatamente a pessoa mais metida em investimentos, eu era muito medrosa e eu podia fazer tudo, menos perder dinheiro.
Bati a mão no despertador ao meu lado e olhei para o relógio 7:15. Eu havia até aumentado meu despertador em 15 minutos para eu tentar dormir um pouco mais e tomar café no caminho, mas nem isso fazia com que eu descansasse mais. Estávamos no meio de outubro, o campeonato tinha começado há sete rodadas e eu não tinha conseguido ir em nenhum jogo, isso sem contar os jogos da fase de grupos da Champions que eu também não tinha ido. Só sabia que os jogos aconteciam pelas constantes transações que eu fazia.
- BUONGIORNO! – Fechei os olhos quando Giulia abriu a porta animada e suspirei, colocando as mãos no rosto. – Vamos levantar, raio de sol! É sexta!
- Me deixa aqui! – Falei, puxando o lençol para minha cabeça.
- Vamos, meu amor! Meu trabalho é se certificar que você não vai se atrasar. – Ela disse, puxando o lençol e eu suspirei.
- De quem foi essa ideia mesmo? – Perguntei baixo, coçando os olhos.
- Sua mesma! – Ela falou e eu suspirei. – “Giulia, você pode ficar em casa até essa merda passar e me acordar caso eu me atrase?” – Ela afinou sua voz ao me imitar. – Não que eu vá negar ficar um tempo longe do meu pai, né?! Mas é...
- Por que as pessoas afinam a voz ao me imitar? Eu pareço um gato falando e não sei? – Ela riu fracamente e eu estiquei as mãos, sentindo-a me puxar para mim.
- Não, sua voz é gostosinha! – Ela falou, se sentando ao meu lado. – Quantas horas você dormiu hoje? – Suspirei.
- Umas quatro, eu acho. – Neguei com a cabeça.
- Você está demorando muito para dormir. – Ela falou e eu me levantei.
- Eu sei. – Suspirei. – Eu estava fazendo umas contas ontem e as coisas não estavam batendo, eu fiquei pensando onde errei. Eu não erro esses tipos de conta, nunca! – Falei, abrindo meu armário e pegando uma calça, uma blusa da Juventus limpa e um sutiã.
- Vai ver tem algum valor repassado errado, algum número errado... – Ela disse.
- Eu chequei, Angelo e Claudio olharam também, não tem nada errado. – Suspirei.
- Bom, você chegou em casa ontem quase 23 horas, quanto tempo você ficou fazendo essas contas?
- Honestamente? Não sei. – Suspirei, ligando a luz, estranhando a diferença de iluminação e balancei a cabeça.
- Faz hoje, certeza que vai sair. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, mas era repasse da Federazione, isso precisa estar certo cada centavo, e o Giorgio também está aloprado com tudo isso.
- Duas coisas! Primeiro: que repasse?
- Repasse dos jogos, após todo jogo em casa, nós fazemos um repasse para a Federazione repassar para os times que vieram jogar em casa. E a Federazione também faz o mesmo repasse para nós quando eles vão jogar fora. – Falei. – Isso inclui tudo, desde pagamento de ingressos, pagamento dos árbitros, jogadores, dirigentes, enfim, mistura marketing, equipe técnica e precisa ser feito certinho, se der um centavo errado, pode dar problema para quem receber! – Respirei fundo.
- Você precisa falar mais devagar e respirar. São 7:20. – Giulia falou e eu sacudi a cabeça, voltando para o armário, puxando a camisola para fora e peguei o desodorante e o perfume, passando ambos. – Segundo: por que não contratam alguém para ajudar?
- Porque o administrativo não liberou ainda, tem algo a ver com o contrato dos antigos funcionários que só acabam quando confirmar no outro time, sei lá... – Abanei a cabeça, guardando os itens e vesti o sutiã, ajeitando as alças.
- Ou seja, os caras saíram do time, trocaram por times ridículos e ainda deram problema para contratar outro?
- É, tipo isso. – Falei, rindo fracamente e vesti a calça, dando alguns pulos para ajeitar e fechei o botão e o zíper.
- Traíras... – Ela sussurrou, me fazendo rir.
- Não sei até que ponto é trairagem, melhor salário ou ficar mais próximo da família, tem muita gente que trabalha no time, mas não é de Turim.
- Sério? – Ela perguntou.
- Sério! – Bocejei, vestindo minha camisa polo da Juventus. – Muita gente pensa que Turim ainda é fim de mundo.
- Em partes, é mesmo. – Ela falou, nos fazendo rir. – Mas a Juventus é grande, qual é... – Dei de ombros.
- Eu realmente não sei. – Saí do quarto, seguindo até o banheiro e fiz minhas necessidades e coloquei minha cabeça na pia para lavar o rosto.
- Se te oferecerem um salário maior em algum outro lugar, você ia? – Ela perguntou, parando na porta do banheiro e eu coloquei a escova de dente na boca.
- Não sei, eu estou fazendo minha vida aqui em Turim há quase oito anos, mas nunca se sabe, né?!
- E você trairia a Juve? – Ri fracamente, cuspindo a pasta.
- Não é porque mudaria de time que deixaria de torcer para eles. Os jogadores vivem fazendo isso, não? – Falei, fazendo-a rir.
- Giusto! – Ela disse e eu coloquei a escova na boca de novo. – Mas em outro lugar você não teria o Gigi. – Revirei os olhos.
- Ah, cala a boca! – Falei, empurrando-a e fechando a porta, ouvindo-a rir do lado de fora.
- Só estou dizendo! – Terminei de escovar os dentes, escovando a língua e coloquei água na boca para bochechar um pouco.
- Primeiro de tudo: eu não falo com ele desde aquele dia. Segundo de tudo: você mesma disse há uns anos que ele dificilmente ficaria para sempre na Juventus e, olha só: o contrato dele acaba em 2007 e tem Copa do Mundo chegando, tudo pode acontecer. – Falei ao abrir a porta novamente.
- Ele está lesionado, né?! – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, está. – Passei a toalha na boca e na escova e a guardei, pegando a escova de cabelos.
- Quando volta?
- Novembro, acho. – Suspirei. – Mas deixa isso quieto, por favor, ele não me ligou nas férias, ele não retornou minhas mensagens. Ele deve ter sido a pessoa evoluída e percebido que esse chove e não molha não leva a lugar nenhum. – Passei a escova nos cabelos, começando a montar um rabo de cavalo alto.
- Seria uma primeira vez que um homem teria um pouco mais de consciência. – Ela falou, irônica, e eu ri fracamente, amarrando meus cabelos com um lacinho da cor dos cabelos.
- Deixa quieto, pode ser? – Pedi, apoiando a mão em seu ombro.
- Ok, amiga. – Ela falou, suspirando.
- Além do mais, a Internazionale está com um goleiro tão lindinho quanto. – Comentei, ouvindo-a rir.
- O brasileiro, né?! Ele é bonitinho mesmo! – Ela falou, me fazendo rir. – Vamos lá, eu te fiz café. – Ela falou, saindo da porta do banheiro e logo fui atrás dela. – Eu fiz torrada, pois era o que tinha, mas agora acabou o pão. – Ela falou e cheguei na cozinha, vendo-a me esticar uma xícara e suspirei.
- Eu preciso ir no mercado, no fim de semana eu só queria dormir, nem vi o jogo. – Comentei.
- Eu posso ir para você. – Ela comentou e eu ri fracamente.
- Você não precisa fazer tudo por mim, Giulia. Agradeço por ser meu despertador, mas você não precisa ser minha empregada, ou eu vou começar a te pagar. – Ela riu fracamente.
- Só estou achando forma de me ocupar, ficar em casa está cada vez mais difícil. – Ela suspirou.
- Por que você não fala com seu pai? – Perguntei, bebendo um gole do café, surpresa por estar adoçado como eu gosto.
- Porque eu não sei o que eu quero. – Ela falou. – Eu estou perdida. Aposto que se eu falar “pai, vou fazer isso”, ele me apoia, mas essa incerteza é complicada. – Franzi os lábios, mordendo a torrada com manteiga.
- Você poderia contar piada na televisão. – Falei, ouvindo-a rir.
- Ah, sabemos que eu seria muito boa nisso! – Ela disse, me fazendo rir.
- Trabalha no Striscia la Notizia. – Falei e ela gargalhou.
- Ah, amiga, aquele programa é péssimo. – Fiz uma careta.
- Isso é verdade! – Fiz uma careta, bebendo mais um gole do meu café e, de repente, um estalo surgiu em minha cabeça. – Eu sei o que você pode fazer! – Falei, apoiando a xícara na pia num barulho alto.
- O quê? – Ela perguntou.
- Você pode trabalhar no Le Iene! – Falei e ela abriu a boca, surpresa.
- Eu adoro aquele programa.
- Eles são demais! – Falei. – E você é sarcástica igual eles. Você seria um sucesso! - Ri fracamente.
- Eu nunca pensei nisso, mas agora que você falou... – Dei de ombros. – Será?
- Não deve ser fácil, mas eles gravam onde? Roma? Milão? – Ela negou com a cabeça. – Tem aquele quadro dos fãs, você pode gravar algo e mandar, vai que...
- Mas sobre o que eu falo? – Ela perguntou.
- Sei lá, eles gostam de escândalos, comenta alguma coisa que está em alta e manda. – Falei.
- Vou contar sobre sua vida e do Buffon. – Revirei os olhos.
- Eu estou te dando as pedras para você criar algo e você vai me queimar? O que eu fiz para você? – Falei, ouvindo-a rir.
- Estou brincando, mas a ideia não é nada má... – Olhei para ela. – De eu trabalhar com comédia e tal, não falar sobre você, eu sou uma boa amiga, ok?!
- Uhum, ok! – Falei, vendo-a rir e terminei de comer, colocando os itens na pia. – Grazie. – Falei.
- O que você quer comer de jantar? – Ela perguntou e eu olhei para ela. – Já estou perguntando da janta, faz tempo que você não volta para o almoço. – Suspirei.
- Sei lá, preciso comer direito, acho que faz uns três dias que eu como fast food. – Comentei, seguindo de volta para o banheiro.
- Posso pedir um parmegiana, que tal? Com arroz, batatas... – Suspirei.
- Eu te aviso quando sair de lá, pode ser? Aí você pede, gela, fica sem graça. – Comentei e ela assentiu com a cabeça.
- Combinado! – Ela falou, sua voz ficando mais alta. – Se importa se eu ficar aqui? – Ela perguntou.
- Nunca me importo, você sabe disso. – Falei.
- Vou pensar no que você falou. – Assenti com a cabeça.
Terminei de me arrumar com pressa, escovando os dentes mais uma vez, passando um batom leve nos lábios e calcei meus tênis de sempre, pronta para mais um dia. Arrumei minha cama, deixando-a prontinha para a volta dali algumas horas e peguei minha bolsa, colocando atravessada em meu corpo.
Saí do apartamento dando tchau para Giulia, vendo-a se ajeitar no sofá, provavelmente para dormir de novo, já que não tinha motivos para ela ficar acordada as sete da manhã, só realmente por mim, e segui para o CT da Juventus, demorando os habituais 15 minutos de sempre. Estacionei em uma vaga pouco longe, já que chegava faltando minutos para o horário e desci do carro.
Ouvi um assovio alto e virei o rosto, vendo Pavel, Alex, Lilian e Fabio encostados em um carro, provavelmente esperando para irem para o Delle Alpi treinar e acenei para eles, passando os olhos rapidamente pelos lados, à procura de Gigi, mas nada. Eles acenaram de volta e segui a passos rápidos para o prédio do administrativo, chamando o elevador assim que cheguei. Ele demorou alguns minutos, mas logo estava entrando na sala da contabilidade.
- Buongiorno, ragazzi. – Falei, apoiando minha bolsa na mesa.
- ‘Giorno, ! – Eles responderam e sentei na mesa, apertando os botões para ligar o computador.
- Alguma novidade de ontem? – Perguntei.
- Nada! – Eles responderam com tom de sofrimento e eu suspirei, sabendo que seria outro dia daqueles.
Enquanto o computador ligava, observei as planilhas abertas em minha mesa e suspirei, vendo os diversos valores grifados com marca texto e neguei com a cabeça. Peguei a calculadora ao lado e comecei a bater os valores de ontem. Se eu começasse com isso, talvez eu não ficasse zonza no final do dia e poderia finalizar isso para repassar para os pedidos do próximo jogo contra a Sampdoria ou contra o Lecce? Nem eu sabia mais.
- Tentando de novo, ? – Lorenzo perguntou.
- Sim, isso precisa bater. – Falei, suspirando.
Conferia os valores com a mão esquerda, enquanto a direita batia com força no teclado da calculadora, apertando enter diversas vezes entre uma operação e outra e checando mil vezes se o sinal de subtração era apertado também, ao invés do de soma. Finalizei a conta, suspirando e neguei com a cabeça a ver sete dígitos aparecendo na tela. Não era possível.
- Não é possível. – Falei, suspirando.
- Não bateu? – Claudio perguntou.
- Não e continua o mesmo valor de ontem. – Comentei, batendo a unha na mesa.
- ... – Virei para Marco. – Se você já fez essa conta várias vezes e o número está batendo, o erro está na planilha, não em você. Fala com o Giorgio. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, suspirando.
- Ele está aí?
- Sim, chegou cedo hoje. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, me levantando e pegando as planilhas e a calculadora, seguindo até a sala do lado, dando dois toques na porta.
- Viene! – Ele falou e eu respirei fundo. – ‘Giorno, .
- Buongiorno, Giorgio, está ocupado? – Perguntei.
- Tenho dois minutos. – Ele falou e eu encostei a porta, seguindo até sua mesa.
- Talvez precise de mais de dois minutos. – Falei, apoiando as coisas em sua mesa.
- O que está acontecendo? – Ele perguntou.
- Sabe os repasses de setembro? Não estão batendo. – Falei, mostrando a calculadora para ele. – Já fiz as contas 200 vezes, ontem, hoje e sempre dá esse número.
- Para cima ou para baixo?
- Para cima. – Falei.
- Está dando um valor extra de mais de sete milhões? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça. – É para ter tudo isso a mais em nossa conta?
- Sim, mas eu sei que essa conta precisava zerar, pois são repasses feitos, nada era para ficar com a gente. – Falei e ele concordou com a cabeça.
- Posso? – Ele perguntou.
- Claro. – Falei, vendo-o anotar o valor da calculadora e esperei que ele batesse todos os números, ouvindo o estalo da calculadora ecoar na sala vazia e ele ignorou duas ligações para continuar as contas, antes de finalizar.
- Deu o seu valor. – Ele falou e eu olhei para ele.
- O que isso quer dizer, Giorgio? – Perguntei.
- Que tem dinheiro aqui que não é nosso e precisamos descobrir de quem é. – Ele comentou, suspirando alto.
- Tem algo que eu possa fazer? – Perguntei.
- Deixe aqui, eu vou falar com Danielle do administrativo e te aviso assim que descobrir o que está acontecendo, pode ser? – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Tudo bem, vou continuar os outros trabalhos. – Falei e ele assentiu com cabeça.
Me levantei, seguindo para fora da sala e olhei para Giorgio com meus papéis na mesa, vendo-o coçar a testa e suspirar. Aquilo não me parecia nada bom, mas eu não poderia me preocupar com aquilo agora. Voltei para minha mesa e sentei em minha poltrona, checando minha lista de afazeres do dia.

Lui
23 de outubro de 2005 • Trilha SonoraOuça

Apertei minhas mãos no quadril de Alena, mantendo o movimento frequente do quadril, sentindo meu pênis deslizar dentro dela e joguei a cabeça para trás, sentindo alguns fios de cabelo colar em minha testa. Ela soltava gemidos altos, me estimulando cada vez mais e passei minha mão em suas costas, apertando sua bunda com força e ela virou o rosto para trás, mordendo o lábio inferior.
Senti o orgasmo se aproximar, fazendo meu corpo inclinar um pouco para frente e inclinei o corpo um pouco para frente, acelerando os movimentos. Entreabri os lábios, sentindo meu corpo se contrair e fechei os olhos, atingindo o orgasmo e gozando. Soltei a respiração forte, sentindo Alena inclinar o corpo mais para frente e apoiei a cabeça em suas costas, dando alguns curtos beijos.
Soltei a respiração fortemente, relaxando as mãos em sua cintura e endireitei meu corpo, saindo de dentro dela devagar e ela deitou seu corpo na cama, soltando a respiração fortemente. Segui em direção ao banheiro, encostando a porta quando passei e tirei a camisinha, jogando-a no lixo e segui até a pia, apoiando as mãos nela.
Olhei meu reflexo no rosto, sem demonstrar nenhuma reação e neguei com a cabeça. Abri a torneira, passando um pouco de água no rosto e joguei os cabelos para trás, soltando a respiração fortemente. Levei as mãos ao rosto por alguns segundos, assoprando a água dos lábios e nada.
Eu tive um sexo sensacional e nada. Eu não sentia nada. Não me sentia feliz, não me sentia triste, culpado, nem nada do tipo. Era como eu me sentia minutos antes. Talvez Veronica ou Ellen estivessem erradas, não adiantou nada. Neguei com a cabeça, puxando a toalha e sequei meu rosto, esfregando um pouco no couro cabeludo que misturava suor com molhado.
Saí do banheiro, encontrando Alena deitada de lado na cama, com seu corpo perfeito sorrindo para mim mais uma vez e subi os olhos pelas suas pernas, seus seios, até chegar em seus olhos, vendo-os me encararem de volta e um pequeno sorriso se formar em seus lábios, me senti obrigado a retribuir.
- Então, quando vou te ver de novo? – Ela perguntou e segui até minha cueca, pegando-a do chão e colocando-a.
- Eu vou voltar para o time amanhã. – Falei, procurando minha calça e vestindo-a também.
- Voltar a jogar?
- O médico me liberou, agora começo a fisioterapia com o time. – Falei, apoiando a mão em meu ombro direito e movimentei-o devagar.
- Podemos nos encontrar, se quiser...
- Vai ficar por aqui? – Perguntei, pegando minha blusa por último e vestindo-a.
- Tenho alguns trabalhos ainda em Roma e Milão, devo ficar por aqui até maio, mais ou menos. – Ela comentou e sentei na cama para calçar a meia e os tênis.
- Eu te ligo. – Falei da boca para fora.
- Eu aviso quando estiver em Milão. – Ela comentou, passando a mão em minhas costas e virei o rosto para trás, vendo-a com um sorriso para mim.
Inclinei meu corpo para trás, sentindo sua mão em meu rosto e colei meus lábios nos dela por alguns segundos e me afastei, vendo-a com um sorriso entre os lábios. Me levantei, ajeitando a blusa e ela deu uma piscadela para mim.
- Ciao. – Falei e ela acenou com a mão.
- Bye, bye. – Ela falou e suspirei, seguindo até a porta e saí do quarto.
Segui para fora do hotel, colocando os óculos escuros e neguei com a cabeça. Eu sabia que tudo isso estava errado, eu estava todo errado, mas uma coisa não controlava a outra. Eu ainda podia transar, eu só não sentia mais nada além de tesão. Ela era gata e gostosa para caralho, tinha um corpo realmente moldado pelos deuses, mas eu não sentia mais nada do que excitação.
Senti o vento fraco bater em meus cabelos e fui parado por alguns fãs, dando alguns sorrisos, autógrafos e fotos de forma automática e segui em direção ao clube da minha família, entrando pela praia, seguindo até o bar, encontrando Veronica e Guendalina ali.
- Ciao. – Falei, sentando na banqueta.
- Hum, decidiu aparecer. – Veronica falou.
- Não é como se eu tivesse muito o que fazer. – Falei, olhando para a TV, vendo Juventus e Lecce. – Quanto está?
- Um a zero, gol do Ibrahimovic. – Guendy falou e eu confirmei com a cabeça.
- Onde estava? – Veronica perguntou.
- Com a Alena. – Comentei, suspirando. – Dando uma relaxada. – Falei.
- Sei bem que tipo de relaxada era essa. – Guendy falou, me fazendo rir fracamente.
- Aproveitando, já que vou voltar. – Falei. – Me dá uma cerveja, por favor?
- Não. – Veronica falou. – Você está bebendo demais. – Ela falou e eu suspirei. – Uma Coca-Cola para você. – Ela colocou uma garrafinha em minha frente e a abriu, me fazendo negar com a cabeça.
- Serve. – Falei, virando-a na boca e dando um longo gole.
- Você quer que eu vá contigo para Turim? – Guenda perguntou. – Eu posso...
- Acho que a mãe vai, não sei. – Neguei com a cabeça.
- Vai ser bom voltar. – Veronica falou. – Você vai encontrar o pessoal de novo, vai volta a fazer o que você gosta... – Bebi mais um gole de refrigerante, apoiando a garrafinha no balcão.
- Sim, só espero que a fisioterapia dê efeito logo, preciso voltar a jogar. – Suspirei.
- Logo mais, irmãozinho, o pior já passou. – Veronica falou e assenti com a cabeça.
- Pelo menos já tirei a tala, aquilo incomodava para dormir, para tudo...
- Para transar... – Guendy falou e ergui o olhar para ela. – Não pense que eu não sei o que você está fazendo com a Alena. – Ela falou.
- É só sexo. – Falei.
- Eu sei que é só sexo, mas é difícil não se apegar. – Guenda falou.
- Mas você disse...
- Não, a Veronica disse. – Ela falou e eu suspirei. – Eu nunca achei que você devesse voltar a transar e sei lá o quê...
- Eu não sinto nada, ok?! É real só sexo. – Falei firme.
- Sinto pena pela mulher, então. – Guendy falou, rindo fracamente.
- Eu não sou uma pessoa ruim, mana...
- Eu sei que não, você só está passando por um momento ruim, mas você já está querendo sair, pelo menos. Voltou a querer suas necessidades fisiológicas, isso é bom. – Rimos juntos.
- Melhor do que nada. – Falei, virando os últimos goles do refrigerante. – Que horas são?
- Quase quatro, por quê? – Veronica falou.
- A Ellen ia vir aqui para conversarmos. – Falei.
- Ela deve ter chegado já, ouvi vozes. – Veronica falou e eu deslizei meu corpo para fora da banqueta e segui para dentro de nossa casa, entrando devagar quando vi meus pais e Ellen conversando na sala.
- Gigi! – Minha mãe falou.
- Oi, gente! – Falei, vendo Ellen se levantar.
- Demorou para voltar. – Minha mãe falou.
- Estava dando umas voltas. – Falei, vendo-a assentir com a cabeça. – Oi, Ellen.
- Tudo bem, Gigi? – Ela perguntou, me cumprimentando e eu assenti com a cabeça.
- Sim, tudo bem. – Falei. – Vamos lá em cima?
- Claro! – Ela disse e segui à frente, subindo os degraus de casa e seguindo até a sala do andar de cima que fazíamos os atendimentos e dei espaço para que ela entrasse. – Então, Gigi, como você está? – Ela perguntou e fechei a porta, trancando-a.
- Ah, um dia de cada vez. – Segui até uma poltrona e me sentei, vendo-a fazer o mesmo na outra.
- Alguma novidade desde a semana passada?
- O médico me deu alta. – Falei.
- Mesmo? Que bom! – Assenti com a cabeça.
- Eu volto para Turim amanhã, começo a fazer a fisioterapia com o time.
- Isso é muito bom. – Assenti com a cabeça. – Como você está com isso? – Ela perguntou.
- Um tanto receoso, mas penso que vá ser bom.
- Mesmo? – Ela perguntou.
- Sim, eu gosto de jogar bola, vou voltar a ficar mais perto do pessoal...
- E você vai sozinho para lá? – Ela perguntou.
- Não sei ainda. Às vezes penso que vai ser bom, aí penso que pode não ser também...
- Isso é você que vai precisar nos dizer, ok?! – Assenti com a cabeça. – Mas como está se sentindo aqui perto da sua família?
- Ah, é bom ficar com as minhas irmãs, aqui é muito gostoso. – Falei. – Minha mãe enche o saco um pouco, mas... – Rimos juntos.
- Mães, né?! – Ela comentou, me fazendo rir.
- É, às vezes eu não tenho muita privacidade e para um cara de quase 28 anos que mora sozinho desde os 14, é meio foda... – Ela riu fracamente.
- Isso são coisas que dá para ajeitar, vai analisando devagar. E não se sinta incomodado em falar que não quer ela lá ou que quer um dia só para você, ela entende o que está passando, mas ela é mãe, então se preocupa mesmo. – Confirmei com a cabeça.
- Acho que eu vou amanhã sozinho e vejo como vai ser... – Ela assentiu.
- É uma boa. E você tem seus amigos lá... – Confirmei com a cabeça.
- Sim, falei com o Pavel e com o Alex, eles já falaram para gente fazer alguma coisa amanhã...
- Faz sim, coloca o papo em dia, reencontra o pessoal... – Confirmei com a cabeça.
- Sim, vai ser bom. – Ela sorriu, confirmando com a cabeça.
- Então, o que mais? – Ela perguntou.
- Não sei...
- Se encontrou novamente com aquela mulher que você conheceu aqui? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Estava com ela agora pouco. – Falei e ela olhou para mim.
- E como vocês estão?
- A gente transa de vez em quando... – Falei, pensando com quais palavras eu ia usar.
- Só transam? – Ela perguntou.
- Só sim. – Suspirei.
- E você não gosta dela? Não sente algo a mais?
- Não... – Suspirei. – É estranho, é automático demais... Não sei se isso tem a ver com a depressão ou se sou eu mesmo... – Ela suspirou.
- Pode ser os dois. Pode ser algo relacionado à sua condição, que te deixa com menos interesse pelas coisas, inclusive no âmbito amoroso, mas também pode ser que você não gosta dessa mulher dessa forma. Realmente é só sexo...
- E como eu sei disso? – Perguntei e ela suspirou.
- Precisamos te resgatar antes, assim você vai voltar a ver a vida e as relações de outra forma. – Confirmei com a cabeça.
- É, vamos ver. – Ela me olhou.
- Me diga uma coisa... – Ergui os olhos para ela. – Como você se sente por essa mulher e por aquela de Turim? – Soltei um longo suspiro.
- Com a é diferente. – Falei. – Tivemos já alguma coisa antes, é complicado dizer. – Suspirei.
- E você ainda não se sente confortável em falar com ela? Seguir sua vida?
- Ainda não. – Suspirei. – Ela é especial. – Falei.
- Bom, a partir disso, você já tem sua resposta. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu não sei. A Alena é uma boa pessoa, mas eu e a tivemos já algumas coisas, vivemos em uma montanha-russa meio bagunçada, mas não sei. Tive mais com Alena do que com , sendo bem honesto. – Rimos juntos.
- A intimidade é algo muito maior do que só tirar a roupa, Gigi. – Ela comentou. – Você pode ter uma intimidade com uma pessoa e nunca a ver nua, por exemplo. Como você pode não saber nada sobre outra pessoa e vê-la nua frequentemente. – Assenti com a cabeça.
- Acho que eu e a somos assim, então. – Falei, vendo-a confirmar com a cabeça. – Nos beijamos duas ou três vezes, mas ela é importante para mim de uma forma tão diferente...
- E você já falou com ela?
- Ainda não. – Suspirei.
- Achei que você fosse corajoso. – Ela falou e eu ergui o olhar para ela. – O que te impede?
- Isso... – Apontei para nós dois.
- Você já teve uma grande evolução do mês passado, Gigi. – Ela disse. – Você precisa voltar a viver. – Ela falou.
- Eu estou com medo. – Ela confirmou com a cabeça.
- Passos de formiguinha sempre. – Ela falou. – Você não precisa voltar toda sua vida de uma vez só, mas vai aos poucos. Continuaremos o tratamento, você continua a fazer suas atividades extras e vai mesclando suas duas vidas, uma hora vai virar uma coisa só. – Ela falou e eu confirmei com a cabeça.
- Eu sei, só... – Suspirei.
- Não é fácil mesmo, Gigi, mas é importante que você tente. – Confirmei com a cabeça. – Qualquer evolução, mesmo que pareça pequena, é importante.
- Eu vou continuar tentando. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- E atividades extras, o que tem feito? – Ela perguntou.
- Estou fazendo umas aulas de violão... – Falei, rindo fracamente e ela sorriu.
- Por que está rindo? – Ela perguntou.
- Eu sou péssimo! – Falei, ouvindo-a rir.
- Você também não gostaria de ser bom em tudo, né?! – Ri fracamente.
- Não, mas um pouco menos pior... – Rimos juntos.

Lei
Primeiro de novembro de 2005

- Não é possível! – Falei, passando as mãos nos cabelos e juntando em um rabo de cavalo.
- Quem fazia isso antes? – Claudio perguntou.
- O Gianluca. – Marco falou, se afastando dos quatro.
- E ele não notou isso? – Perguntei, irritada. – Olha isso, desde setembro de 2004, não é possível que ele deixou isso passar. – Falei, apertando a ponta da caneta no primeiro valor.
- Isso está muito estranho mesmo. – Angelo falou, se levantando do chão. – Já são 13 meses estranhos.
- Vamos ver agora em novembro, né?! – Lorenzo falou, seguindo até a mesa e pegando mais um pedaço de bolo.
- Mas por que isso está ficando aqui? São milhões de euros, gente. – Perguntei, suspirando e bebi o resto do meu refrigerante. – Seria ótimo sobrar essa grana sempre, mas isso não está certo. – Falei.
- O que o administrativo falou? – Claudio perguntou.
- Também não sabem o que está acontecendo. – Falei. – Daniele ou Marissa, ninguém sabe. – Falei.
- E a gente vai ter que se contentar com isso? – Angelo perguntou.
- Nem a pau. – Lorenzo falou. – Isso é algo novo, algo que estamos deixando passar, começou em setembro. O que começa em setembro? – Bati a mão nos lábios, respirando fundo e todos nos entreolhamos e um estalo veio em minha cabeça.
- A temporada. – Falei baixo, mordendo o lábio inferior.
- O quê? – Eles viraram para mim.
- A temporada do futebol começa em setembro. – Falei, seguindo rapidamente até os arquivos no fundo da sala e puxei com força a gaveta da temporada passada, procurando pelos arquivos de setembro e peguei a primeira pasta, colocando-a em cima do arquivo e procurei pelos arquivos do primeiro jogo. – Aqui, 12 de setembro. – Falei, voltando a me aproximar dos meninos. – De quando é o primeiro valor sobrando? – Perguntei.
- 15. – Marco falou, checando na lousa.
- É o tempo que demora para fazer a transferência. – Comentei.
- Você acha que uma coisa tem relação com a outra? – Claudio perguntou.
- Eu não sei, mas é suspeito. – Suspirei. – Qual a segunda data de transferência extra? – Perguntei.
- 22 de setembro. – Angelo falou.
- Três dias depois do jogo também, veio junto com os repasses. – Comentei, suspirando.
- E depois? – Claudio perguntou.
- 25 e 28. – Angelo falou.
- Teve jogo dia 22 e 25. – Suspirei.
- Ok, então o que a gente descobriu é que as transferências extras estão vindo com as transferências de repasse... É isso? – Lorenzo perguntou.
- Sim. – Falei.
- Mas por quê? – Ele perguntou.
- Acho que a pergunta certa seria para quem. – Falei e eles viraram para mim.
- Como assim? – Eles perguntaram.
- Uma vez seria um erro, gente, agora 13? Alguém daqui do time está recebendo esse dinheiro. – Falei, seguindo até a mesa e enchi meu copo de refrigerante.
- Quem? – Lorenzo perguntou e nos entreolhamos.
- Eu só sei que não é da contabilidade, nem do administrativo. – Falei, engolindo em seco.
- Será que o Gianluca e o Nicola não estão envolvidos nisso? – Angelo perguntou e eu ponderei com a cabeça.
- Não seria difícil, eles saíram pouco antes de eu descobrir isso. – Falei e nos entreolhamos.
- Cazzo! – Marco falou.
- Que merda, cara. – Claudio falou.
- Estamos esquecendo só uma coisa. – Falei e eles me olharam. – Quem está mandando esse dinheiro também está envolvido...
- Isso deve ser muito maior do que parece. – Lorenzo disse e confirmei com a cabeça.
- Merda. – Angelo socou o arquivo, fazendo o barulho alto ecoar pela sala.
- Já estou com dor de cabeça. – Suspirei.
- Ragazzi! – Viramos para trás, vendo Giorgio entrar apressado na sala.
- Oi, Giorgio. – Falamos e ele veio em nossa direção.
- Ainda aqui? – Ele perguntou.
- Nós esclarecemos algumas coisas. – Comentei, me apoiando na parede e Giorgio veio em minha direção.
- Tanti auguri, . – Giorgio me deu um abraço e eu sorri, sentindo um beijo em minha bochecha. – Tudo de bom para você sempre, o que precisar, estaremos aqui para você.
- Grazie, Giorgio. – Sorri. – Eu trouxe um bolo e refrigerante. – Falei.
- Se os meninos não acabaram ainda. – Marco falou. Nos fazendo rir.
- Desculpe não aparecer antes, fiquei em reuniões o dia inteiro. - Ele se aproximou do bolo. – Posso pegar?
- Claro, fique à vontade.
- Acho que preciso de um pouco de açúcar. – Ele disse.
- Foi o que pensamos também. – Claudio falou, suspirando.
- O que descobriram? – Giorgio perguntou.
- ... – Marco me indicou e eu olhei para ele. – Você descobriu, você diz. – Suspirei.
- Todas os repasses são repasses da federação ou para a federação. – Falei. – Eles começam em setembro do ano passado, toda vez que tem jogo, três dias depois vem o repasse e sobra dinheiro. Às vezes menos, mas tudo por volta de três milhões. – Falei, vendo-o arregalar os olhos enquanto enchia a boca de bolo.
- Isso começou quando? – Giorgio perguntou.
- 15 de setembro do ano passado. – Falei. – Mas não acontece exatamente sempre, tem algumas semanas, poucas, que não entra esse extra, mas a gente ainda não conseguiu pegar um padrão... – Giorgio confirmou com a cabeça.
- E para durante a folga dos jogos, voltando em agosto, quando voltou a temporada.
- E quem cuidava isso antes? Por que a gente não percebeu antes? – Ele perguntou.
- Era o Gianluca. – Falei.
- Estamos pensando se ele não estava envolvido de alguma forma. – Angelo falou. – A saída dele e do Nicola foram do nada. – Giorgio respirou fundo.
- Cazzo! – Giorgio reclamou, deixando o prato do lado. – Já chega, eu vou envolver os advogados nisso. Isso não pode ficar assim. – Ele falou, seguindo até a mesa mais próxima, pegando o telefone. – Se a Federazione descobrir, isso pode dar muito mal para gente.
- O problema é que a gente não sabe o que está acontecendo, só sabemos que tem algo errado. – Falei, respirando fundo.
- Mesmo assim, a gente precisa se preparar. – Giorgio falou, discando algum número. – Sebastian? Giorgio da contabilidade. – Ele falou e virei o resto da bebida. – É, está tarde mesmo. – Ele falou. – Pode vir aqui amanhã cedo? Preciso de uma ajuda. – Ele suspirou. – Não sei ainda, mas não me parece bom. – Ele disse. – Pode ser as 10? A equipe inteira está aqui ainda. Ok, grazie. – Ele falou, desligando o telefone. – Ele vem amanhã, deixem tudo como está, vocês mostram tudo isso para ele. – Ele falou e confirmamos com a cabeça.
- Beleza. – Falamos juntos.
- Agradeço muito gente, mas vão embora, por favor. É seu aniversário, , você não deveria comemorar aqui.
- Não se preocupe, é terça-feira, não tem muito o que fazer. – Falei, vendo-o assentir com a cabeça.
- Mesmo assim, leva o resto do bolo, come em casa, pede uma pizza, bebe um vinho, só não fica aqui. Nenhum de vocês. – Ele falou e confirmei com a cabeça.
- Vai também, Giorgio. – Marco falou.
- Eu vou sim, só vou ver o que vocês fizeram. – Ele disse e confirmamos com a cabeça. – Ah, amanhã venham só as 10, ok?! Descansem.
- Grazie, Giorgio. – Falamos juntos.
O cumprimentamos, levamos para a copa todos os copos, pratos e talheres usados na pequena festinha que o pessoal fez para mim e optamos por organizar tudo amanhã, provavelmente o primeiro que chegasse que seria o primeiro a fazer café. Fechei o restante do bolo na caixinha e levei até minha mesa, lambendo os dedos sujos de creme. Tinha combinado de sair para jantar com Giulia, mas já passavam das oito, teria que deixar isso para amanhã ou para o fim de semana. Apesar que, da forma que eu a conheço, ela deveria estar me esperando lá em casa.
Terminei de desligar meu computador, vendo que estava da mesma forma de quando havia chegado do almoço e toda a bomba começou a estourar. Vi minha xícara ainda com café e segui até a pia, jogando-o fora e deixei a xícara para lavar amanhã também. Peguei minha bolsa, cruzando-a em frente ao corpo e peguei a caixa de bolo.
- Ciao, , auguri sempre. – Marco passou por mim, me abraçando rapidamente.
- Grazie per tutto, ragazzi. – Falei, abraçando um a um e todos saíram pela porta. Virei para trás, vendo Giorgio encarando nosso quadro. – Vai ficar aí, Giorgio? – Ele se virou.
- Vou sim, querida. Pode ir, tudo de bom. – Assenti com a cabeça e suspirei, seguindo o caminho com o resto do pessoal.
Acompanhei a voz deles pela escada e segui por ali também, os elevadores já tinham parado fazia um tempo, afinal, era para ter pouquíssimas pessoas ali ainda. Assim que saímos do prédio, cada um seguiu para um lado, acenando para o pessoal. Suspirei, vendo o quão longe meu carro estava e comecei a andar em direção à calçada.
Apesar de tudo, havia sido um dia muito gostoso, era meu aniversário, estava completando 24 anos, os meninos no trabalho, apesar de todos serem homens e bons 10 anos mais velhos do que eu, fizeram uma festinha para mim, e estávamos chegando em algum lugar nesses repasses errados. Era quase o dia perfeito. E ainda poderia entrar só as 10 amanhã. Poderia até pensar em sair ainda hoje, apesar do cansaço.
Me aproximei do meu carro, apoiando a caixa do bolo no teto e procurei pela minha bolsa a chave, encontrando-a rapidamente. Ouvi outro alarme tocar próximo e ergui o rosto, vendo um pessoal saindo da área dos jogadores e reconheci facilmente Alex, Pavel, Fabio, Lilian, David e... Gigi? Ele estava de volta? O vi caminhar um pouco à frente dos demais em direção ao seu carro e franzi a testa.
- Gigi! – O chamei, vendo-o parar por alguns segundos e me procurar com o olhar, me encontrando. Abri um sorriso e ergui a mão por alguns segundos, acenando. E como se nada tivesse acontecido, ele abaixou a cabeça e entrou em seu carro. – Mas que merda! – Comentei, fechando minha bolsa rapidamente, mas não antes dele sair com o carro. – Gigi! – Gritei, erguendo as mãos, sem entender. – Cazzo!
- Ciao, . – Virei para o lado, vendo o resto do pessoal se aproximar.
- Oi, gente. – Falei, me aproximando deles.
- Hoje é seu aniversário, né?! – Alex perguntou e antes que eu confirmasse, ele me abraçou fortemente. – Tanti auguri.
- Grazie, capitano! – Falei, vendo-o sorrir e fui passando de abraço em abraço, finalizando em Pavel.
- Tudo de bom para você, garota. – O tcheco falou e eu sorri.
- Obrigada, gente. – Sorri. – O que está acontecendo com ele? – Perguntei, indicando a vaga em que Gigi estava. – Ele voltou?
- Fisioterapia, por enquanto. – Alex falou.
- Mas aconteceu alguma coisa? Não falamos desde maio e agora ele me ignorou completamente. – Falei, virando para eles.
- Ele só está chateado com a lesão, irritado que está demorando demais, coisas assim. – Trezeguet falou.
- Mas eu não fiz nada para ele. – Suspirei, vendo seu carro parado na portaria ao longe.
- Ele só está bravo consigo mesmo. – Alex falou. – Se preocupa, não. Logo ele volta a te encher o saco. – Ele disse e eu suspirei.
- Eu tenho que ir, gente. Até mais! – Falei rapidamente.
- Vai lá, . Muitas felicidades! – Lilian falou e eu sorri.
- Obrigada! – Falei, pegando a caixa em cima do carro e entrei nele, jogando-a no banco do carona. Puxei meu celular rapidamente da bolsa e segui mais uma vez em direção às mensagens de Gigi.
“Ciao. Era eu hoje em Vinovo, você não me reconheceu? Saudades de você”. – Nem reli a mensagem e enviei, escrevendo outra logo em seguida. – “Fica triste por causa da lesão, não. Logo você volta a ser nosso Superman”. – Enviei e larguei o celular de lado.
Saí da vaga, apressada, antes que os jogadores saíssem junto e Gigi acabava de passar pela portaria. Me lembre de agradecer aos meus colegas que chegavam cedo e paravam perto do nosso prédio. Mostrei meu crachá para o porteiro e ele logo me liberou.
- Grazie. – Falei um pouco alto e saí da área do time.
O carro de Gigi saía um pouco mais à frente à direita e eu ignorei qualquer outro compromisso que eu podia ter e, como qualquer pessoa que o conhece minimamente para saber que ele não faria isso se não tivesse algum problema, segui atrás dele.
Ok, talvez eu estivesse um pouco louca ou surtada, mas ele não estava no normal dele e eu não conseguia me lembrar o que é que eu tivesse feito de errado. Depois de todo rolo do casamento do Del Piero, só nos vimos na gravação daquela propaganda e depois na celebração do scudetto, o qual conversamos normalmente, ele me deu aquele olhar fofo dele e foi só.
Eu estava em Forte dei Marmi, perto da família dele e ele não me ligou, depois que eu mandei mensagem para ele na lesão, ele me ignorou, depois eu enviei outra e nada também. Agora ele me ignora na cara dura? Ah, isso não era normal de Gianluigi Buffon.
O Gigi que eu conheço, mesmo com nossas diferenças e relacionamento conturbado, nunca me ignoraria desse jeito. Ao menos um aceno ele ia me dar. Independentemente do que fosse, eu o conheço há mais de quatro anos, ele não era assim. Alguma piadinha ou comentário ele sempre tinha.
Talvez ele estivesse com uma namorada, eu entenderia ele não me responder ou não querer me encontrar em Forte dei Marmi, mas um aceno de mão? Eu não estava exigindo demais. Ou estava? Não, não estava. Gigi não me parece ser o tipo de pessoa que simplesmente pararia de falar com os amigos por causa de namorada. Se eu fosse a namorada dele...
Ah, , cala a boca.
Mesmo assim, ele era uma pessoa querida demais para eu simplesmente ignorar. E eu posso garantir, tinha alguma coisa errada. E talvez eu esteja fazendo outra coisa errada ao segui-lo pelas ruas de Turim, mas eu só queria entender. Vai ver ele fosse encontrar outra mulher. Ou vai ver ele fosse encontrar um homem? Não, ele não tinha cara de quem gostava de homens, pelo menos não da forma que ele me olhava... As pessoas podem mudar, será?
, cala a boca.
Balancei a cabeça, cansada de fazer conjeturas e pulei ao ouvir meu celular tocar. Peguei-o no banco do carona e vi o nome de Giulia e ignorei. Depois eu retornaria para ela, eu só queria saber aonde ele ia. Que me desse alguma pista do porquê essa repentina vontade de me ignorar. Se fosse algo que eu não pudesse saber... Bom, eu provavelmente não deveria segui-lo. Mas vamos todos que moram dentro do meu cérebro louco concordar que eu estou fazendo isso porque me preocupo? Vamos!
Ah, a quem eu estou querendo enganar? Eu faço isso porque gosto dele e quero saber se ele ainda está solteiro, vai.
Já havíamos passado o rio Pó e eu não tinha ideia de onde esse homem morava aqui em Turim, os jogadores moravam em dois lugares aqui na cidade: em Vinovo mesmo, na área residencial, ou no Colle della Maddalena e, pelo fim de mundo que estávamos indo, era nesse segundo que ele estava indo.
Quando o tráfego ficou mais calmo, me mantive um pouco mais longe do carro dele, guardando a placa dele em minha cabeça diversas vezes, caso eu perdesse o carro preto. Até que ele abriu o portão de uma casa e parei algumas casas atrás e o vi entrar com o carro e logo o portão baixou.
Aproximei o carro um pouco mais para frente, feliz pelos vidros do meu carro serem escuros e pelo portão ser vazado. Então vi Gigi sair do carro, trancar o carro e entrar na casa, fazendo as luzes da entrada se acenderem.
- É isso? Ele veio para casa? – Suspirei. – Não podia ser só isso.
Ok, agora é sério, alguma coisa estava acontecendo ou eu estou ficando louca. Não sei qual opção era pior.

Lui
24 de novembro de 2005 • Trilha SonoraOuça
Ashley
- Desculpa, Gigi. – Claudio falou e eu respirei fundo, segurando sua mão e ele me ajudou a sentar na maca.
- É ruim igual da outra vez? – Perguntei, vendo-o pegar alguns produtos e começar a massagear meu ombro direito, eu fiz uma careta com o feito.
- Não, daquela vez você teve uma luxação, os ossos do seu ombro se deslocaram e foi ajustado com cirurgia. – Assenti com a cabeça. – Agora é problema muscular. – Ele seguiu com a massagem. – Serão uns meses mais chatinhos, mas logo você volta para fisioterapia e depois já vai para campo.
- Eu só estou preocupado. – Suspirei.
- Que isso vá afetar seu tratamento psicológico? – Ele perguntou e eu confirmei com a cabeça.
- É! – Neguei com a cabeça, vendo-o pegar a bandagem e começar a enfaixar meu ombro e parte do meu braço.
- Você está melhor, não está? – Ele perguntou, olhando para mim rapidamente.
- Sim, voltar me distraiu um pouco, encontrar a galera e tudo mais, mas foi a lesão que me deu uma recaída em agosto. – Ele confirmou para mim.
- E o que sua psicóloga diz? – Ele perguntou, apertando um pouco meu ombro e eu fiz uma careta, soltando a respiração pesada pela boca.
- Não falei com ela disso ainda, nos falamos na segunda-feira, eu tento esperar uma semana para falar com ela. Vejo como fico durante os dias. – Comentei.
- E como está sendo? – Ele perguntou.
- Está indo bem, eu acho. – Assenti com a cabeça e ele confirmou. – Estou ficando sozinho também, tentando voltar à normalidade e parece que está dando certo.
- Isso é muito bom, Gigi. – Ele falou. – Logo tudo vai passar, mesmo. – Confirmei com a cabeça.
- É, ela disse que a depressão não tem cura, né?! São momentos de estabilidade e instabilidade. – Senti ele passar o esparadrapo, fechando o curativo.
- Vamos garantir que você tenha mais momentos estáveis do que instáveis, então. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, eu vou analisar como vai ser os próximos dias, mas estou sempre fazendo algo novo. – Assenti com a cabeça. – Esses dias eu comprei uma mesa de pingue-pongue, acabou saindo do controle. – Ri fracamente.
- Por quê? – Ele perguntou, rindo também.
- Ah, eu e o Fabio somos meio competitivos demais. Quase quebramos a mesa. – Ele gargalhou e eu neguei com a cabeça.
- Pelo menos se divertiram. – Ele falou.
- Ah, com certeza, uma cerveja, um jogo de futebol, os amigos, precisa de mais nada. – Rimos juntos.
- E a sua parte amorosa?
- Você quer falar da minha vida amorosa? – Perguntei, ouvindo-o rir.
- É que a maioria dos jogadores são casados e você não. Não pensou em se envolver com ninguém nesse meio tempo?
- Até me envolvi com uma mulher enquanto estava em Forte dei Marmi, mas não é a mesma coisa. – Falei, vendo-o assentir com a cabeça. – Parecia tudo meio automático, sabe. – Ele confirmou com a cabeça.
- E a garota da contabilidade? – Respirei fundo.
- Por que todo mundo fala dela? – O olhei e ele riu fracamente.
- Porque todos sabemos que você gosta dela, pode não ser óbvio para alguns, mas nós que estamos contigo sempre, sabemos. Não somos cegos, Gigi. – Rimos juntos. – Vê se dá para mexer. – Ele falou e eu ergui o braço, vendo-o travar até a altura do ombro e fiz uma careta com a dor.
- Está bom. – Comentei e soltei um longo suspiro. – Eu pensei muito nela durante esse tempo, ela chegou a me mandar mensagem. Um dia ela me viu aqui e eu fingi que não a vi... – Neguei com a cabeça. – Eu não quero envolvê-la nisso, Claudio, ela é muito boa. – Ele confirmou com a cabeça.
- Entendo seu lado, mas fugir dela não me parece uma boa opção. – Ele comentou. – Uma hora isso vai passar, você vai querer voltar a ficar perto, mas agindo assim, só vai fazer com que ela fique com raiva de você...
- É, eu não quero isso. – Cocei a cabeça, jogando os cabelos para trás. – Mas também não quero trazê-la para essa bagunça. Já tem muita gente envolvida. Vocês, o time...
- E nós não estamos te fazendo bem? O pessoal não está te fazendo bem? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Sim, estão, mas... – Suspirei, sem respostas.
- Mas? – Ele perguntou, com um sorriso nos lábios.
- É, você está certo. – Ele riu fracamente.
- E talvez ela precise desestressar também, esses dias precisei ir lá e estava todo mundo meio surtado. – Ele comentou.
- Fim do ano, né?! – Comentei.
- Não sei, mas estava uma loucura.
- Eu vou pensar no que eu vou fazer, eu tenho o quê? Mais um mês fora? – Perguntei.
- Você não vai fugir tanto dela, duas semanas só. – Rimos juntos. – Assim que o inchaço reduzir, você volta aqui e avaliamos de novo.
- Eu não estou fugindo, eu só...
- Ah, está, Gigi! – Rimos juntos. – Não achei que você fosse de fugir de mulher.
- Normalmente eu não me preocupo com elas. – Suspirei.
- Comece a se preocupar consigo mesmo também, se ela te faz bem, ela vai te fazer bem agora também. – Ele se afastou e eu me levantei, vendo-o pegar minha camisa. – Não que ela seja a cura, mas ela pode fazer parte dela.
- É exatamente por isso que eu não quero envolvê-la. – Falei, me levantando e ele me ajudou a colocar a camisa. – Ela vai querer me ajudar e eu sei como às vezes a gente só não quer isso. – Ele confirmou com a cabeça, me ajudando do outro lado e consegui fechar os botões sozinho.
- A decisão é sua, Gigi, mas tente sempre fazer coisas que te motivem a melhorar. – Ele falou, confirmando.
- Sim, eu estou fazendo, lendo umas coisas diferentes, fazendo aulas, entrei para o coral da igreja... – Ele riu fracamente.
- Essa é nova para mim. – Sorrimos juntos. – Você gosta de museus? – Ele perguntou.
- Como assim?
- Ir a museus, você não gosta?
- Nunca me importei. – Falei e ele deu de ombros.
- Seria algo diferente.
- Sim, é uma boa. – Assenti com a cabeça. – Grazie, Claudio.
- Que isso. – Ele falou. – Você já sabe o esquema, tome os remédios, descanse, sem muito esforço físico, se precisar de ajuda com o curativo, só vir aqui que eu refaço para você.
- Beleza, talvez eu precise. – Comentei e ele assentiu com a cabeça.
- Você sabe os horários. – Ele disse.
- Valeu, Claudio. – Dei um rápido abraço nele, sentindo-o dar um tapinha em minhas costas.
- E se precisar de algo fora a lesão, também sabe onde me encontrar.
- Valeu. – Falei, assentindo com a cabeça.
Peguei o pacote com as medicações e segui para fora do centro médico em Vinovo, vendo que o sol começava a baixar. Dei uma rápida olhada no estacionamento, vendo se não estava lá e segui em direção ao carro, entrando o mais rápido possível. Era hora de saída, eu sabia que Claudio estava certo, mas não poderia enfrentar isso agora.
Também não sei dizer quando estaria pronto para enfrentar isso, mas era uma pessoa muito boa. Realmente, ela era uma boa pessoa, mesmo já tendo passado por diversos problemas na vida. Eu não podia jogar isso nas costas dela e pedir para ela aguentar, principalmente sabendo que ela abandonaria tudo para enfrentar isso comigo.
E eu não podia pedir para ela isso.
Mas também não queria perdê-la, então a melhor situação era eu passar por tudo isso, ficar cem por cento e depois falar com ela. Ela provavelmente vai ficar brava e brigar comigo por não ter compartilhado isso com ela, mas eu não posso fazer aquilo agora.
Eu sentia que estava bem. Minha taxa de humor havia subido para oito na última consulta com Ellen, e eu também sentia que isso era uma evolução muito boa, mas eu ficava com o pé atrás pensando: eu estou melhorando mesmo ou estou me obrigando a melhorar? Era complicado, mas agora eu precisaria me manter firme e não ter outra recaída.
Me vi no cruzamento para a cidade e para o meu bairro que era um pouco fora da cidade e pensei no que Claudio falou. Nunca fui muito fã de museus, nunca soube apreciar as obras ao ir em um museu. Museu para mim eram histórias de futebol ou aqueles interativos que você podia realmente fazer alguma coisa, agora os daqui de Turim eram mais artísticos, tirando o de automóveis, mas a FIAT era daqui, então...
Ouvi uma buzina e segui pelo lado esquerdo, deixando a entrada para o meu bairro para trás. Passei pelas longas avenidas de Turim e me vi no centro da cidade, perto do museu Egípcio, de arte Oriental e da Galleria d’Arte Moderna, onde tinha um banner “Exposição de Chagall”. Franzi a testa, já havia ouvido esse nome, mas não me recordava de onde ou aonde, mas havia decidido aonde iria.
Estacionei em uma das vagas na frente do grande completo da Galleria e saí do carro, empurrando a porta. Tirei os óculos escuros e coloquei-o pendurado na gola da blusa, jogando os cabelos que caíam no rosto para trás. Segui em direção a bilheteria e confesso que não fazia a mínima ideia do que deveria pedir ali.
- Eu quero ver a Exposição do Chagall. – Falei, tirando os euros da carteira e entreguei para a mulher, vendo-a pegar o ingresso e me dar o troco.
- Bom divertimento. – Ela falou e dei um meio sorriso, seguindo para dentro.
Entrei um tanto receoso ao museu, acho que tirando em época da escola, eu nunca realmente tinha ido a um museu, então aquilo era um tanto novo para mim. Entreguei o museu para a outra mulher da porta e entrei no espaço, surpreso pelo local. As paredes eram incrivelmente brancas com pinturas expostas longe uma da outra. Algumas no meio penduradas com holofotes colocados acima e algumas poltronas para as pessoas descansarem no meio do caminho.
O local estava quase vazio, era pouco depois das seis horas, talvez logo fecharia, mas não havia nenhum guia, nenhum grupo, nada, era só entrar e observar. Então foi o que eu fiz. Coloquei as mãos nos bolsos e comecei a andar pelo local devagar, acenando com a cabeça quando passava por algum segurança ali perto, dificilmente esbarrando em algum outro visitante.
Minha experiência com arte era igual a zero, mas as pinturas de Chagall me pareciam desenho infantil. Coisas muito coloridas, pessoas flutuando do centro do papel, muitos casais apaixonados, flores e cidades. Creio que tinha quase umas 200 pinturas naquele lugar, a maioria não me chamava a atenção, foram somente uma ou duas que realmente eu parei para observar.
Eu realmente não sabia o que eu estava procurando ali. Algo diferente como sempre, mas o quê? Tentar sentir alguma coisa, com certeza. Alguma coisa diferente do que é que estivesse acontecendo comigo. Suspirei, andando devagar e parei em frente a uma nova pintura.
Assim como as outras, era quase uma pintura infantil, um homem no chão, com a mão esticada para cima e uma mulher voando nos ares, quase como se fosse um balão. Ao fundo uma cidade em tons verde escuro e rosa. Eu não era bom de desenho, mas era interessante como eu quase poderia ter feito esse desenho. Ele era simples, um pouco fora da realidade, mas era algo normal, ordinário.
Abri um sorriso imediatamente, mas não sabia o porquê. Me aproximei do quadro, lendo o papel ao lado dele “La Passeggiata”, de Marc Chagall, 1918, período cubista. Soltei um suspiro, levando a mão no peito e parecia que tudo estava bem, incrivelmente bem.
Olhei para trás rapidamente, procurando algum lugar para sentar, mas não tinha, então acabei me sentando no chão mesmo, abraçando as pernas com o feito e respirei fundo, tentando captar cada um dos detalhes daquela pintura. O homem parecia ter os olhos arregalados, a barra do vestido da mulher se confundia com os pés dela. Todas as casas eram verdes, menos a igreja ao fundo. Uma vaca ou cavalo pastava ao longe e parecia uma mesa de piquenique com uma garrafa de vinho ao lado esquerdo. Além de alguns ramos azuis, existiam folhas azuis?
Acho que essa era a beleza da pintura, poderia ser o que a gente quisesse. A vida não precisava ser preto no branco, tinha muitas cores entre elas que nem sempre víamos. Soltei um suspiro, sentindo uma lágrima deslizar pelo meu olho e engoli em seco, não compreendendo o porquê de eu estar chorando, eu me sentia bem, normal. Olhar para essa pintura me acalmou de uma forma estranha, não era nada extraordinário, era até normal demais.
Talvez seja isso. Tem momentos que precisamos nos tornar vulneráveis para enxergar melhor a vida, mas precisamos desses momentos de normalidade, felicidade e simplicidade para manter os pés no chão. Não adiantava eu ser tudo aquilo que diziam sobre mim na TV e nos jornais se eu não compreendesse que eu sou tudo isso e mais um pouco. Tem alguém atrás do Gigi Buffon goleiro, mas eles não são duas pessoas diferentes, eles são a mesma pessoa e ambos precisam desse estímulo para viver. Para relaxar e para ser feliz.
Eu precisava disso na minha vida. Coisas simples, coisas normais, coisas que estimulem meu lado profissional e meu lado pessoal, pois somos um só, não tem como diferenciar. E a vida é feita de altos e baixos, essas coisas podem acontecer, é normal se sentir feliz, triste, satisfeito ou insatisfeito, mas como iremos melhorar com isso?
Suspirei, sentindo uma felicidade estranha dentro do peito, e pela primeira vez em muito tempo, eu senti que poderia dar a nota 10 para Ellen. Meu primeiro 10 desde março. Oito longos meses. Passei a mão nos olhos e chequei o horário, era quase oito horas e eu não havia percebido. Provavelmente o museu logo fecharia. Levantei do chão, me aproximando mais uma vez da pintura e assenti com a cabeça, quase como se conversasse com ela.
- Grazie... – Sussurrei.
Senti os pés presos no chão quando tentei sair, mas me forcei assim mesmo, sabendo que estava na hora. Ignorei o resto das obras, seguindo em direção à entrada, aonde poucas pessoas também me acompanhavam e desci as escadarias da entrada, puxando o celular do bolso e disquei o número de Ellen automaticamente, colocando o telefone na orelha, enquanto eu seguia em direção ao carro.
- Ciao, Gigi? – Ela atendeu.
- Oi, Ellen, tudo bem? – Perguntei.
- Tudo, querido...
- Desculpe o horário, mas queria saber se está em Turim, queria fazer uma consulta de emergência. – Falei, abrindo o carro e entrando nele.
- Sim, estou. Podemos fazer sim. Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem? – Ela perguntou e suspirei, olhando meu reflexo sorrindo no espelho.
- Sim, ironicamente está. – Falei.


Capitolo dieci

Lei

25 de novembro de 2005 -2005 • Trilha SonoraOuça

Afundei meu corpo no banco quando vi Gigi sair apressado do centro médico e observei-o ir até seu carro e sair da mesma forma que ontem: rapidamente. Esperei-o chegar na portaria e liguei o carro, sentindo meu bumbum já doer de tanto esperar. Havia sido quase 40 minutos. Parecia que ele havia feito questão de chegar enquanto eu estava quase saindo, talvez quisesse evitar me ver, depois da última vez, ainda bem que eu já tinha decorado seu carro e começado a parar aqui embaixo de propósito.
Cheguei na portaria, mostrando meu crachá para o porteiro e ele logo me liberou. O dia mais uma vez estava vazio, sem fãs para impedirem e observei seu carro seguir em frente pela avenida. Esperei alguns carros passarem e logo fui atrás. Observei seu carro uns quatro à frente e tentei não perdê-lo de vista. Ontem eu quase o perdi, quando ele, depois de muitos dias indo do time para casa, finalmente foi para outro lugar, parando na Galleria d’Arte Moderna.
Isso tudo estava muito estranho. Primeiro ele me ignorava sem motivo, depois ele parecia chegar à Juventus minutos antes de eu ir embora para não esbarrar comigo e agora ele havia ficado duas horas no museu? Ok, não conhecia tão bem o Gigi, mas ele não me parecia ser alguém que gostasse de arte e, mesmo assim, depois de tudo isso, eu fiquei quase duas horas do lado de fora do museu esperando que ele fosse embora, para ele ir para casa?
Franzi a testa quando ele seguiu para o lado contrário de sua casa, da mesma forma que ontem, e o trânsito seguiu constante, muitas pessoas iam mais para o centro do que para os bairros mais ricos da cidade. Sabia bem o que era isso quando morava lá no centro e dependia de ônibus para chegar em Vinovo.
Franzi o rosto quando Gigi estacionou novamente em uma das vagas da Galleria d’Arte Moderna e passei devagar, a tempo de vê-lo saindo do carro e neguei com a cabeça. Sem vagas para eu parar, dei mais uma volta no quarteirão e parei na primeira vaga que eu vi, do outro lado da rua, alguns metros do carro de Gigi. Isso estava muito estranho.
Bati as unhas no volante, ouvindo o barulho oco ecoar pelo carro e suspirei, sentindo o pé bater com força no chão. Não faz isso, . Não faz isso. Puxei minha bolsa, tirando o celular dela e chequei se tinha alguma mensagem e vi que tinha uma de Giulia, abri-a, olhando para o visor esverdeado.
“Você vai seguir o Gigi hoje de novo? Se precisar de ajuda, adoraria ficar de tocaia com você. Sabe, não tem nada melhor para fazer”. – Ri fracamente, negando com a cabeça e suspirei.
“Já estou seguindo, amiga. Ele veio para o museu de novo”. – Respondi, olhando para a entrada do museu e depois para o carro de Gigi estacionado na porta. Me assustei quando o celular tocou de novo.
“De novo? Vou começar a acreditar em você, isso não me parece ser algo que ele faria”. – Ela respondeu e eu suspirei, ouvindo o telefone tocar de novo e vi outra mensagem. – “Vai atrás dele”. – Franzi a testa.
“O quê? Está louca?” – Respondi rapidamente.
Se eu fosse atrás dele dentro de um museu, ia ficar meio óbvio que eu estava indo atrás dele. Não, eu não tinha a cara de quem vai a museus, acho que usar a desculpa que eu estava casualmente visitando a um museu para uma exposição do Chagall em plena sexta-feira à noite, seria mentir muito na cara dura. Além de que eu sou péssima em mentir, um dos meus muitos defeitos. Ouvi o celular tocando e olhei-o novamente.
“Você acha que algo está errado com ele, talvez seja hora de perguntar se tem algo acontecendo. Já faz quase um mês, amiga. Vai segui-lo até quando? Isso precisa acabar”. – Suspirei, ponderando com a cabeça, ouvindo-o apitar de novo. – “Que mal tem? Você está preocupada, isso são coisas que amigos fazem. Ele não pode te julgar por isso”.
- Ela não está errada. – Suspirei, negando com a cabeça.
“Eu vou entrar, te mando mensagem mais tarde”. – Respondi, negando com a cabeça.
Tirei o som do celular, sabendo que ela me encheria de mensagens para saber o que estava acontecendo e desci do carro, puxando minha bolsa comigo e pendurando-a no braço. Andei devagar até a entrada do museu, pronta para sair correndo caso ele aparecesse e observei a entrada mais uma vez antes de parar na bilheteria.
- Buona notte. – A mulher falou.
- Oi, moça, tudo bem? Eu queria ir na exposição do Chagall. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Claro. – Ela falou e coloquei o dinheiro na entrada da cabine e ela pegou, trocando-a pelo ingresso, devolvendo algumas moedas de troco que eu joguei na bolsa.
- Grazie. – Falei, respirando fundo e segui devagar escadas acima, nervosa com o que eu fosse encontrar.
Muitas besteiras passaram pela minha cabeça. O desconhecimento estava causando um buraco dentro do meu peito que eu sabia que sumiria em segundos, mas eu tinha um receio enorme por descobrir. E eu juro que não ficarei triste se ele estiver lá com outra mulher, ok, não posso garantir, mas eu pensava que poderia ser algo muito pior e eu só não queria perder meu amigo. Ao menos isso somos, não? Ou será que tinha o perdido lá atrás em meio às minhas escolhas?
Engoli em seco ao entregar meu ingresso para a atendente na porta e olhei o museu quase vazio quando eu entrei ali. Acho que eu só havia vindo ao GAM quando eu me mudei para Turim, há uns seis, sete anos por turismo ou falta do que fazer. A organização da exposição continuava igual, mas quadros diferentes ocupavam as paredes. Poucas pessoas andavam por ali e acho que nem poderia dizer que era o horário ou talvez o preço, mas a valorização ou a falta de valorização de exposições como essa.
Eu mesma não sabia valorizar algo assim, as pinturas nem eram tão bonitas assim. Tinha um tom bem jovial, algo quase infantil, não era algo que eu olhasse e falasse “nossa, que lindo”, mas eu não perdi muito tempo analisando as obras, fiquei me escondendo atrás das paredes e procurando por Gigi em meio às diversas obras que estava em exposição ali.
Dei alguns passos para trás quando encontrei Gigi e me escondi atrás de uma parede, aproximando o rosto da borda para espiá-lo e me surpreendi ao encontrá-lo sozinho. Andei beirando a parede, seguindo pelo outro lado e consegui ter uma visão melhor dele de costas. Ele estava parado em frente à um quadro, com as mãos dentro da calça jeans e o corpo ereto, só olhando.
Olhei em volta, vendo que essa parte do salão estava vazia e não tinha mais ninguém ali. Só tinha ele e um quadro em especial. Suspirei, tentando tombar a cabeça para ver o quadro, mas minha visão não me ajudava a esse ponto. Alguns minutos passaram e ele não desviou o olhar, só continuou ali, parado em frente a um quadro, com as mãos enfiadas dentro do bolso. Ninguém chegou, ninguém saiu, ele só ficou ali.
Percebi que estava sendo observada e virei o rosto, vendo um segurança me olhando e dei um sorriso sem graça, me afastando da parede. Eu estava perto demais de um quadro. Entendia a preocupação, mas não dava para eu enfiar o quadro no bolso e sair correndo, moço, desculpa, mas aproveitei isso para respirar fundo algumas vezes e olhei novamente para Gigi. Eu tinha que ir lá.
Eu não sabia o que era, mas sentia que tinha alguma coisa errada. Com ele, com essa situação, alguma coisa estava errada. E mesmo que ele nunca mais quisesse olhar na minha cara, eu não poderia ser julgada por me preocupar, poderia? Talvez houvesse um pouco de receio em encontrá-lo com outra, mas poderia ser outra coisa também. Esse não era o Gigi que eu conhecia, em quase quatro anos e meio, ele nunca havia me ignorado, sempre me dava um sorriso que fazia minhas pernas tremerem, tentava ser compreensivo mesmo eu sabendo que era pedir demais, me cantava em momentos inoportunos, mas sei que ele nunca me ignoraria.
Balancei a cabeça, colocando as mechas que escapavam do rabo de cavalo atrás da orelha e saí de onde eu estava, andando lentamente em sua direção. Meus tênis mal fizeram barulho no piso claro do museu, apesar do silêncio. Me aproximei devagar, parando alguns centímetros de Gigi e finalmente consegui ver o quadro que ele encarava, “La Passeggiata”. Um homem segurando uma mulher que flutuava e uma cidade ao fundo. O quadro era até grande, deveria ter quase a minha altura e largura, mas ele mesmo não era muito bonito, ou eu que não sabia apreciar arte mesmo. Mas eu também não achava a Mona Lisa tudo isso, e ela é o quadro mais famoso do mundo, vai saber.
Soltei a respiração devagar pela boca e dei os últimos passos, me colocando exatamente ao lado de Gigi e coloquei minhas mãos no bolso também, buscando as palavras certas para começar essa conversa, mas não conseguia. Eu não fazia a mínima ideia o que estava fazendo ali, não era como se eu tivesse feito um roteiro para isso. Esperava encontrá-lo com uma mulher, dar a volta e tenta ir para casa sem chorar, não isso.
Percebi seu olhar sobre mim e engoli em seco, criando vergonha na cara para virar e soltei a respiração devagar antes de fazê-lo, encontrando seus olhos azuis nos meus. Não consegui decifrar se eles me diziam alguma coisa, mas uma lágrima escorrendo pelo seu olho direito denunciou que algo não estava bem. Tirei a mão esquerda do bolso e segurei seu braço, vendo-o abaixar o olhar para o contato repentino e apoiei minha cabeça em seu ombro, ouvindo-o soltar um longo suspiro que ecoou no salão.
Eu não sabia o que falar, ele também não falou nada, então dei o tempo dele. Ele tirou sua mão do bolso e segurou minha mão firme e entrelaçou os dedos. Achei esse movimento surpreendente e um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Ele deu um beijo em minha cabeça, mantendo os lábios em meus cabelos por um momento e engoli em seco.
- Eu não estive bem esses dias, sabe? – Ele falou com a voz baixa e rouca e ergui o rosto, virando-o para ele.
- Eu imaginei. – Falei, me colocando em sua frente. – Não achei que fosse um cara de museus. – Um sorriso de lado apareceu em seus lábios.
- Eu não sou. – Ele disse e ergui a mão, passando embaixo de seu olho, vendo-o fechar os olhos por alguns segundos.
- Eu estou aqui por você, Gigi. Lembra? Para o que precisar... – Falei baixo e ele passou os braços pela minha cintura, me apertando fortemente e apoiando a cabeça em meu ombro.
Abracei-o pela cintura, dando um beijo em sua cabeça e ouvi seu soluço ecoar pelo salão e suas mãos me apertaram mais forte. Subi os braços para seus ombros e acariciei seus cabelos longos, passando a mão pelos fios.
- Vamos conversar em um lugar mais privado? – Sussurrei para ele, vendo-o erguer o rosto e seus olhos me encararem de novo, com lágrimas deslizando pelas suas bochechas mais uma vez.
- Como você sabia onde eu estava? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Eu estou te seguindo desde que nos vimos na Juventus. – Falei. – Eu imaginei que alguma coisa estivesse errada.
- Me desculpe por aquilo, só...
- Xi... – Falei, segurando seu rosto com as mãos. – Não vamos falar sobre isso agora. – Passei a mão embaixo de seus olhos mais uma vez. – Você quer ir a outro lugar? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça, afrouxando as mãos de minha cintura e evitei um suspiro frustrado. Estava tentando ignorar, mas aquilo era bom.
Segurei-o pela mão, andando a passos lentos para a entrada do museu e apertei seu braço com a outra mão, tentando passar alguma confiança para ele. Ele não perguntou nada e eu também não falei nada, mas seguimos em direção ao meu carro e ele entrou no banco do carona. Dei a volta no carro, entrando e joguei minha bolsa no banco de trás, ligando o carro e voltei a dirigir.
Segurei sua mão apoiada em sua perna e seguimos em silêncio de volta para Vinovo. O caminho foi silencioso, mas ele não chorava mais, o que me pareceu algo bom. Devido ao horário, a estrada estava um pouco mais vazia, então foi possível chegar muito mais rápido em meu apartamento. Estacionei em uma vaga, puxando minha bolsa e Gigi saiu do carro do outro lado. Segui até seu lado novamente, segurando-o pelo braço e tranquei o carro à distância.
Abri o portão do prédio, abrindo espaço para ele entrar e o fechei novamente. Meu prédio era pequeno, tinha só três andares, então não tinha elevador, por sorte meu apartamento ficava no primeiro andar, então logo chegamos e eu abri a porta, sentindo a diferença de temperatura, e dei espaço para ele entrar na frente e o segui, colocando a chave na porta e trancando-a.
- Scusa. – Ele falou.
- Fica à vontade. – Falei, entrando um pouco à frente e deixei minha bolsa na mesa, tirando o casaco pesado que eu usava também. – Quer algo para beber? Água? Refrigerante? Deve ter um vinho aqui também...
- Não, obrigado. – Ele falou e se sentou no sofá.
Observei-o tombar a cabeça para trás e senti um aperto no coração. Eu não era uma grande expert no assunto, mas já tive meus problemas psicológicos quando mais nova quando perdi meus pais, quando estava no orfanato e mais ainda quando fui para Turim, e aquilo estava me parecendo isso. A pior coisa era: por quê? O que tinha afetado esse homem incrível em vários sentidos?
Segui em sua direção e me sentei ao seu lado, segurando sua mão mais uma vez, tentando demonstrar que estava ali. Eu queria ouvir dele o que estava acontecendo, mas sabia como essas coisas aconteciam, precisava dar um tempo a ele. O tempo que fosse. Ele tombou a cabeça em meu ombro e apertei sua mão em meu colo, entrelaçando os dedos.
- Eu não queria te envolver nisso. – Ele falou baixo e dei um pequeno sorriso.
- Deixa que eu decido isso, ok?! – Falei e ele riu fracamente, erguendo o rosto.
- Eu sabia que você ia fazer isso. – Ele falou e virei o rosto para ele, franzindo a testa. – Querer cuidar de mim.
- E isso é mal? – Perguntei, virando o corpo para ele e erguendo uma perna no sofá. Ele soltou um longo suspiro. – Olha para mim, Gigi. – Falei, segurando seu queixo bem demarcado. – Não importa nossa situação ou o problema, se você precisar de mim, eu estarei aqui, ok?! Mas você precisa falar comigo. – Seus olhos azuis me encaravam. – Eu tenho um sexto sentido muito bom, mas ele falha às vezes... – Ele riu fracamente.
- É só que... – Ele negou com a cabeça, abaixando o olhar.
- O quê? – Perguntei, sentindo-o apertar minha panturrilha que estava quase em seu colo.
- Eu tenho um problema e nós temos nossos problemas e... – Ele ergueu o rosto para mim, soltando um longo suspiro. – Eu não sei se consigo mais resistir a você. – Ele falou e eu deixei um curto sorriso escapar de meus lábios.
- Se você tivesse ligado para mim nas férias ou respondido a alguma das minhas mensagens, saberia que eu não quero que você resista mais. – Acariciei seu rosto devagar, sentindo os fios recentes de barba pinicarem minha mão e notei àquela luz que ele estava bastante bronzeado. – Achei que tivesse deixado claro na comemoração do scudetto.
Minhas palavras causaram certa confusão em seu olhar e ele parecia tentar estudar se eu estivesse falando sério. Ignorei tudo e inclinei meu corpo sobre o seu, passando meus braços pelos seus ombros e segurando em sua nuca. Ajoelhei no sofá, passando a outra perna sobre seu corpo e apoiei o joelho do outro lado, sentando em seu colo.
Ele pareceu entender o recado e deu uma risada fraca, incrédulo, me fazendo sorrir. Suas mãos me apertaram pelas nádegas e inclinei meu corpo sobre o dele, procurando pelos seus lábios e quase consegui ouvir fogos explodindo quando eles colaram. Soltei um suspiro baixo, roçando meus lábios nos dele levemente, até sua língua abrir passagem para encontrar a minha.
Subi minhas mãos para seus cabelos, sentindo-o deslizar as suas pelas minhas costas e o beijo foi criando velocidade à medida que nossas mãos passeavam pelo corpo um do outro. Ele mordeu meu lábio inferior, nos separando por alguns segundos e soltei um suspiro, colando nossas testas e tentei normalizar a respiração, sentindo o peito subir fortemente.
- Não podemos fazer isso. – Ele falou e eu afastei meu rosto do dele devagar. – Não porque eu não quero, mas porque eu não estou bem. Não quero brincar contigo. – Ele falou baixo, com sua respiração batendo forte em meu rosto e eu assenti com a cabeça, acariciando seu pescoço devagar.
- Você acha que vai mudar de opinião sobre isso quando estiver melhor? – Perguntei, passando as mãos em seus cabelos, jogando-os para trás.
- Não, porque eu quero isso há muito tempo. – Ele falou, descendo as mãos pelas minhas costas. – Eu só não quero que você ache que estou me aproveitando de você nessa situação.
- Não se preocupe, eu sei que não está. – Falei, aproximando nossos lábios novamente. – Talvez eu esteja. – Ele riu fracamente e colou os lábios nos meus.
Sua língua encontrou a minha mais rápido dessa vez e eu descia as mãos pelo seu peito e subia pelo seu pescoço novamente, impossibilitada de mantê-las quietas naquele corpo. Ele desceu as mãos pela minha bunda, seguindo para minhas coxas e a apertou-as, firmando as mãos nela. Passei minhas mãos pelos seus ombros, apertando-os levemente e ele soltou um gemido de dor.
- O que eu fiz? – Afastei meu rosto do dele rapidamente.
- Eu estou com curativo do lado direito. – Ele falou e eu fiz uma careta.
- Ah, sua lesão. Me desculpe! – Falei, passando a mão em seu ombro direito, sentindo o local mais alto. – Licença. – Falei, olhando em seus olhos e levei minhas mãos para os botões da blusa social que ele usava.
Abri seus botões um a um, vendo seu peito peludo começar a aparecer embaixo da camisa branca e mordi meu lábio inferior ao encontrar um corpo perfeito que ficava escondido embaixo de uniformes largos boa parte do tempo. Ele deu um beijo em minha testa e ergui o olhar para ele por alguns segundos. Subi os olhos para seu ombro, vendo o curativo começar próximo de meu mamilo e as mangas compridas não deixavam-me ver até onde ia.
- Vem cá. – Falei, me levantando e ele fez o mesmo.
- Você está se divertindo, não?! – Ele perguntou e eu ri fracamente, passando as mãos em seus ombros, vendo a blusa dele cair a seus pés e tive uma visão bem mais privilegiada de seu corpo musculoso.
- Dói muito? – Passei a mão em seu peito, vendo o curativo quase como uma manga em seu braço direito.
- Só quando aperta e com movimentos mais bruscos... – Ele falou, passando as mãos em minha cintura.
- Movimentos mais bruscos, você diz... – Falei, passando os braços em seus ombros e ele riu fracamente, me apertando pela cintura.
- Eu aguento. – Ele disse, aproximando de mim e colamos nossos lábios mais uma vez, abafando uma risada.
Ele me pressionou contra o móvel da televisão atrás de mim e apertei minhas mãos em seus cabelos. Suas mãos desceram pela lateral do meu corpo, encontrando minhas coxas novamente. Ele me segurou e me ergueu no ar, me sentando no móvel, nivelando a altura, me fazendo deixar um sorriso escapar.
Passei minhas pernas pela sua cintura, trazendo-o mais para perto de mim e suas mãos subiram pela lateral de meu corpo, subindo um pouco da camiseta polo da Juventus que eu ainda usava. Afastei meu corpo do seu, assentindo com a cabeça e ele segurou as laterais da minha blusa e puxou-a para fora, afrouxando mais um pouco o rabo de cavalo que eu usava.
Foi sua vez de encarar meu corpo coberto pelo sutiã e eu mordi meu lábio inferior, sentindo sua mão subir pela minha barriga e ele jogou meus cabelos para trás. Ele inclinou o corpo para frente, dando um beijo em meu ombro e passou a língua pelo meu pescoço. Fechei os olhos, apertando minhas mãos nas laterais da sua barriga e joguei a cabeça para trás, sentindo-o deixar beijos e curtas chupadas no local.
Soltei um suspiro, sentindo seus lábios descerem em direção a meus seios e ele deu um beijo em meu peito, passando a língua entre eles. Minha respiração saiu forte e passei as mãos em seus ombros, passando a ponta dos dedos delicadamente em cima de seu curativo. Suas mãos subiram pelas minhas costas, me fazendo endireitar o corpo e ele soltou meu sutiã com facilidade, afrouxando-o em meu peito.
Joguei a peça de roupa para o lado e ele imediatamente abocanhou um seio, me fazendo soltar a respiração fortemente. Passei a mão em seus cabelos, puxando levemente os fios e ele sugou meu mamilo por alguns segundos, passando a língua em volta deles. Soltei um suspiro alto e desci as mãos pela sua barriga.
Ele pressionou seu corpo mais sobre o meu e senti sua ereção roçar em meu corpo por baixo da calça jeans, colaborando com minha respiração acelerada. Passei as mãos pela sua cintura, soltando minhas pernas de seu corpo e levei minhas mãos para sua calça, abrindo o cinto e puxando-o do passador, ouvindo um tilintar baixo do chão, provavelmente da fivela. Passei a mão pelo botão, soltando-o e desci o zíper devagar.
Soltei um gemido quando Gigi mordiscou meu seio e apertou o outro com a mão, me fazendo suspirar. Ele ergueu o rosto em direção ao meu e passei as mãos em seus ombros, puxando-o para perto de mim e seus lábios colaram nos meus novamente, me fazendo fechar os olhos. Ele movimentou o corpo e pude ouvir o barulho do tecido pesado e dei uma mordida em seu lábio inferior, afastando o rosto devagar e observei-o abaixar sua calça jeans e ele a pegou com a mão, tirando a carteira dela.
Ele abriu-a rapidamente e tirou a camisinha de lá, desci o olhar para seu quadril e mordi o lábio inferior ao ver sua ereção por cima da cueca, seu olhar encontrou o meu e joguei seus cabelos para trás mais uma vez naquele dia. Puxei seu rosto com as mãos e dei um curto beijo em seus lábios.
Ele esticou o pacote para mim e segurei-o entre a mão, sentindo-o me segurar pelas pernas novamente e me tirar do móvel, me fazendo apertar as mãos em seus ombros novamente, vendo-o fazer uma careta e franzi os olhos, mordiscando seus lábios.
- Para o quarto da esquerda. – Sussurrei e ele confirmou com a cabeça, andando pelo curto corredor de casa e entramos em meu quarto.
- Cama de solteiro, é?! – Ele sussurrou e eu ri fracamente.
- Para você ficar pertinho de mim. – Brinquei, sentindo-o me deitar na cama e ele riu fracamente.
Observei o corpo de Gigi iluminado à pouca luz que ainda entrava pela cortina e mordi meu lábio inferior. Era perfeito. Os músculos torneados, as entradas bem demarcadas e o pacote bem generoso dentro da cueca, era quase como se o Natal tivesse chegado mais cedo em formato desse homem. Eu já tinha visto um dia, mas não assim, tão entregue para mim. Giulia tinha razão, como eu tinha conseguido resistir todo esse tempo?
Ele inclinou seu corpo para frente, subindo em cima de mim e suas mãos foram direto para minha cintura, abrindo o botão e o zíper e ele deu um beijo em minha barriga antes de puxar minha calça jeans pelas laterais, fazendo minha calcinha descer um pouco com ele. Contraí minha barriga, mordendo meu lábio inferior e ele passou as mãos pelas duas peças de roupa e puxou-as junto, me fazendo contrair as pernas, fechando-as quase no automático.
Gigi passou a mão em meu corpo, do meio de meus seios até minha virilha e mordi meu lábio inferior, acompanhando seus olhos que estudavam todos os detalhes do meu corpo sem nenhum pudor. Ele inclinou o corpo sobre o meu, começando a distribuir beijos pela minha barriga e apertou minhas coxas, me fazendo suspirar.
Ele desceu os lábios pela minha virilha, dando um beijo leve e separou minhas coxas, me fazendo jogar a cabeça para trás, puxando a respiração forte. Apertei os lábios quando os seus tocaram minha vagina e soltei a respiração fortemente para cima, deixando um gemido baixo escapar. Subi uma mão até meu seio, apertando-o fortemente e senti Gigi lamber a extensão de minha vagina, adentrando a língua nos grandes lábios, me fazendo suspirar.
Levei a outra mão até sua cabeça, acariciando-a devagar e Gigi acelerou os movimentos, lambendo e sugando minha vagina, fazendo meus olhos revirarem de tesão, deixando gemidos escapar de meus lábios. Ele subiu os lábios um pouco, dando um beijo em meu clitóris e senti as pernas contraírem com o estímulo. Ele trocou seus lábios pelos seus dedos e ergui os olhos para ele, vendo-o mais próximo de mim e ele tinha um sorriso safado nos lábios. Soltei a respiração fortemente, sentindo-o me estimular cada vez mais rápido e puxei-o para cima de mim, colando nossos lábios apressadamente.
Chupei sua língua para dentro da minha boca, sentindo o beijo ganhar velocidade e os dedos de Gigi se movimentavam cada vez mais rápido em meu órgão, fazendo meu corpo começar a ter pequenos espasmos, me fazendo suspirar. Mordi seu lábio inferior, soltando um gemido baixo e encontrei os olhos de Gigi focados nos meus.
- Eu quero você... – Falei fracamente, soltando a respiração fortemente. – Agora.
Um sorriso se formou em seus lábios e ele não esperou mais. Ele se levantou e abaixou sua cueca, me fazendo morder meu lábio inferior ao ver seu pênis e lembrei da minha conversa com Giulia sobre o tamanho de sua mão anos atrás e era muito real. Me distraí um pouco e sentei na cama, abrindo o pacote de camisinha. Virei as pernas para fora da cama, puxando-o para perto de mim pelas suas coxas e levei minha mão até seu pênis, vendo-o jogar a cabeça para trás com o toque e foi minha vez de sorrir.
Aproximei minha boca de seu pênis, dando um curto beijo na glande e Gigi suspirou, contraindo o corpo para trás. Passei a mão em sua cintura, trazendo-o para perto de mim e chupei-o devagar, deslizando meus lábios pela extensão de seu pênis, sugando-o devagar. Gigi contraiu as pernas com o movimento e apoiou a mão em minha cabeça.
Dei fortes chupadas, estimulando o resto da extensão com a mão e tirei-o da boca, dando curtos beijos e chupadas em sua glande, ouvindo a respiração forte de Gigi. Dei algumas sugadas em seu pênis, acariciando suas bolas e afastei o rosto, querendo voltar a participar daquela brincadeira. Levei a camisinha até seu pênis, vestindo-o e passei as mãos em sua virilha, inclinando o corpo para trás novamente.
Ele inclinou o corpo em cima do meu, se colocando entre minhas pernas. Abri as pernas, apoiando os pés na cama e com uma mão ele segurou meu joelho, mantendo meu corpo colado ao seu e, com a outra, ele guiou seu pênis para minha entrada, pincelando-a devagar, fazendo meu corpo dar espasmos com essa brincadeira. Soltei a respiração forte quando ele finalmente me penetrou e gemi alto, sentindo-o apertar a mão em minha cintura.
Ele deslizou seu pênis devagar para fora de mim e me penetrou fortemente de novo, me fazendo suspirar e levei minha mão até sua barriga, sentindo os músculos contraídos. Seus olhos azuis focaram nos meus e ele começou a fazer movimentos frequentes com o quadril, deslizando seu pênis cada vez mais rápido pela minha vagina, fazendo os gemidos escaparem sem vergonha, quase na sincronia nos momentos.
Apertei uma mão em meu seio, jogando a cabeça para trás e suas mãos me apertaram pela cintura, auxiliando nos movimentos. Os únicos sons no quarto eram o encontro de nossos corpos, os gemidos que se misturavam pelo ambiente e meu corpo começava a suar com o atrito constante.
Desci uma mão até meu clitóris, auxiliando no estímulo e mordi meu lábio inferior, sentindo suas mãos me puxarem contra si. Os gemidos ficaram cada vez mais altos, os espasmos mais frequentes e sentia que meu corpo se contraía cada vez mais com o orgasmo iminente. Ergui os olhos para Gigi, acelerando o movimento de meus dedos conforme ele acelerava as estocadas e soltei um gemido alto quando atingi o orgasmo, apertando minha mão em meu clitóris.
Ele arfou alto, jogando a cabeça para trás e soube que ele também tinha atingido quando relaxou os movimentos. Joguei a cabeça para trás, sentindo a respiração sair e entrar toda bagunçada. Apertei minhas pernas ao redor da sua cintura, sentindo seu pênis movimentar mais apertado dentro de minha vagina e ele suspirou, olhando em meus olhos.
Ele inclinou o corpo em direção ao meu, apoiando o braço esquerdo na cama e me apoiei com os antebraços para evitar que ele se inclinasse tanto e ele colou os lábios nos meus em um beijo incrível. Nos separei devido ao cansaço, jogando a cabeça para trás, sentindo meu corpo explodir em espasmos, mantendo a respiração ainda acelerada.
- Dio mio, Gigi. – Falei baixo, puxando o ar fortemente.
- Eu já volto. – Ele falou, deslizando para fora de mim, me fazendo soltar mais um curto gemido e o vi sair pelo quarto, me fazendo suspirar e relaxar as pernas.
Meu Deus! O que tinha sido isso?
Passei a mão na testa, sentindo o suor escorrer e passei a mão em meus cabelos, puxando o laço que os prendia quase no fim dos fios e joguei-o para o lado. Passei a mão no peito, tentando normalizar a respiração e o corpo não cansava em mandar estímulos para mim, dando leves pontadas em minha vagina, dificultando a respiração de voltar ao normal.
Gigi voltou sem camisinha e deslizei meu corpo para o canto da cama, me encostando na parede do outro lado e ele deitou de bruços ao meu lado, passando a mão em minha barriga e eu respirei fundo, erguendo a mão até seu rosto, acariciando-o devagar. Virei o rosto para ele e ele colou os lábios nos meus por alguns segundos, me fazendo sorrir.
- Grazie. – Ele sussurrou e franzi a testa.
- Pelo quê? – Perguntei, virando o corpo e ficando de frente para ele.
- Agora? Por tudo. – Ele falou e eu sorri, colando os lábios nos dele por alguns segundos.
Ele me puxou pela cintura, me trazendo para mais perto de si e fechei os olhos, apoiando a cabeça em seu peito, sentindo-o dar curtos beijos em meu ombro e movimentar a mão devagar em minha cintura. Fechei os olhos e soltei um último suspiro, deixando um sorriso escapar de meus lábios.

Lui

26 de novembro de 2005 2005 • Trilha SonoraOuça

Soltei um suspiro, abrindo os olhos devagar e fechei-os novamente com a iluminação repentina que entrava pela cortina. Tentei abri-los novamente e encontrei os cabelos de próximo a meu rosto e foi inevitável não sorrir. Desci meus olhos pelo seu corpo e minha mão estava passada em sua barriga, e sua mão estava apoiada em cima.
Movimentei meu corpo devagar, soltando seu corpo e fiquei de barriga para cima, coçando os olhos. Eu estava no limite da cama e eu nunca tinha agradecido tanto pela falta de espaço. Sentei, procurando por alguma coberta ou algo assim, mas havíamos deitado em cima. Passei a mão em seus braços arrepiados e dei um beijo em seu rosto, tirando os cabelos que caíam em sua bochecha.
Muita coisa havia acontecido nos últimos dias, mas ontem havia sido a melhor de todas as coisas. Eu me sentia bem, psicologicamente, e ainda ter essa noite com , eu me sentia melhor ainda. Muitas coisas ainda passavam pela minha cabeça, eu estava muito confuso com tudo o que estava acontecendo e mais ainda com o que tinha acontecido ontem. Nós tínhamos problemas para ficar juntos, não? E por algum motivo, todos esses problemas sumiram ontem à noite.
Só precisava dizer que todos estavam certos. queria sim se meter e cuidar de mim, mas eu não esperava que fosse tão bom e que me permitiria ficar tão vulnerável perto dela. Ainda bem que ela havia notado que algo estava errado e veio atrás de mim, pois não sei se eu teria coragem de enfrentar tudo isso por conta própria.
Ela se preocupou comigo a ponto de me seguir por três semanas. Será que eu tinha sido tolo demais em esconder tudo dela? Será que as coisas poderiam ter ficado melhores antes? Eu nunca esperava algo assim, mas aqui estávamos. E eu estava me sentindo bem, sabia que antes de ontem eu tive uma visualização incrível e Ellen falou que realmente havia visto um avanço depois de um tempo, falou que eu comecei a falar de forma mais clara, mais concisa.
Agora a e o sexo... Meu Deus! O que tinha acontecido? As coisas aconteceram de forma tão sincronizadas que eu havia me surpreendido. Deus, ela tinha me chupado, fazia tempos que isso não acontecia. Ela também respondia a meus estímulos de uma forma espetacular, deixando as coisas rolarem sem pudor ou vulgaridade, foi algo tão natural, e bom demais. Se não fosse ela dormindo aqui, poderia falar que havia sido um sonho.
Não sabia o que aconteceria comigo, conosco, mas nunca pensei que a Galleria d’Arte Moderna fosse ser uma surpresa em vários sentidos. Precisava falar com Ellen novamente. Antes de ontem falamos como aquela pintura havia melhorado meu humor de forma surpreendente, agora precisava entender outro tipo de sentimentos, um que não fazia um sorriso sair de meus lábios.
Senti uma mão em minhas costas e virei o rosto para o lado, vendo se mexer. Ela se sentou na cama e passou os braços pela minha cintura e deu um beijo em minhas costas, me fazendo fechar os olhos. Ela subiu os braços e me abraçou pelos ombros, colando seu peito em minhas costas e sorri, sentindo-a dar uma mordiscada em minha orelha e segurei suas mãos que caíram em meu peito.
- Buongiorno. – Ela falou baixo e eu virei o rosto, dando um beijo em sua cabeça, vendo-a sorrir. – Dormiu bem? – Ela perguntou, se afastando de mim e se encostou na parede.
- Ironicamente sim. – Falei, virando meu corpo para ela, subindo uma perna para cama e ela sorriu, jogando os cabelos para trás. – Não está com frio?
- Um pouco, mas dormi quentinha. – Ela falou e eu inclinei meu corpo em sua direção e colei nossos lábios por alguns segundos, sentindo-a acariciar meu rosto devagar. – Precisamos conversar. – Ela sussurrou, afastando o rosto devagar e olhou em meus olhos.
- Eu sei. – Falei, encostando minhas costas na cabeceira e suspirei.
- Acabamos nos distraindo ontem. – Ela falou e eu ri fracamente, vendo-a se levantar rapidamente e ela foi até o armário, pegando uma coberta na parte de cima e voltou para meu lado.
- Foi uma boa distração. – Falei e ela esticou a coberta em nossas pernas e eu a abracei pelos ombros, trazendo-a para perto de mim.
- Foi sim. – Ela mordeu o lábio inferior e acariciei seu rosto com a outra mão, vendo-a sorrir e colei nossos lábios novamente.
Ela soltou um suspiro, aproximando o corpo do meu e ergueu a mão para minha nuca. Ela entreabriu os lábios e passei minha língua na dela, sugando-a para minha boca e ela suspirou, mordendo meu lábio inferior, soltando a respiração fortemente.
- Estamos saindo do foco igual ontem. – Ela sussurrou fracamente e eu suspirei, abrindo os olhos de novo.
- Eu não sei por onde começar. – Falei, afastando meu rosto e ela se encostou na cabeceira novamente.
- Toda história tem um começo. – Ela falou, segurando minha mão e eu assenti com a cabeça.
- Devo começar pedindo desculpas para você, acho. – Falei, vendo-a franzir os olhos. – Por fugir de você, por te ignorar, por não achar que deveria compartilhar isso contigo. – Ela negou com a cabeça.
- Você não precisa me pedir desculpas de nada, Gigi. Só quero entender por que você fez isso. O que aconteceu contigo? – Ela comentou e eu suspirei.
- Tudo começou em março mais ou menos.
- Março? – Ela falou um tanto alto, surpresa. – Ah, Gigi. – Ela falou, apoiando a cabeça em meu ombro e dei um pequeno sorriso.
- Eu comecei a sentir que estava muito cansado, estava me desgastando demais nos treinos, cada salto era um esforço fora do normal, as coisas começaram a ficar estranhas. – Falei, apoiando a cabeça na sua também, apertando sua mão. – Um dia antes de um jogo, minhas pernas começaram a tremer demais, eu mal consegui dirigir para o time. – Senti uma lágrima deslizar em minha bochecha e suspirei. – Nesse mesmo dia, eu tive uma crise de pânico antes de um jogo. – Engoli em seco. – Eu achei que ia morrer, eu sentia uma dor forte no peito, quase como um ataque cardíaco. E o pior de tudo é que ninguém percebeu. Eu no vestiário, todos lá, e eu senti sozinho.
- Alex? David? Lilian? Pavel? – Ela perguntou.
- Não, ninguém. – Falei e ela apertou minha mão.
- O que aconteceu depois? – Ela perguntou.
- Eu falei com o médico, pedi para preparar o Chimenti e comentei para ele o que tinha acontecido e ele falou que parecia princípio de depressão. – Falei, engolindo em seco, esperando sua reação.
- Como você reagiu? – Ela perguntou, continuando a apertar minha mão.
- Eu não entendia o porquê. – Falei. – Eu tenho tudo, . Meu emprego dos sonhos, dinheiro, mu... – Franzi os lábios.
- Mulheres... Continua. – Ela falou e dei um pequeno sorriso.
- Eu não conseguia entender. – Falei.
- Doenças psicológicas acontecem de formas que a gente não entende mesmo. – Ela falou. – Nem tudo é tão óbvio. – Confirmei com a cabeça, dando um beijo em seus cabelos.
- Foi aí que eu percebi. – Falei baixo. – Mesmo com tudo, eu sentia que faltava algo. – Falei.
- E o que você fez? Como foi o processo?
- Eu fui atrás de um profissional e comecei a me tratar. Naquela época ela disse que eu estava no centro de uma crise de ansiedade, então começamos a tratar como isso. – Falei. – Lembra na festa do scudetto? Que a gente se encontrou?
- Sim, lembro. – Ela suspirou.
- Eu estava melhorando naquela época, minhas irmãs falavam para eu falar contigo, sair contigo, mas eu não queria te trazer para minha bagunça. – Ela riu fracamente.
- Você devia ter me deixado escolher isso. Eu me preocupo contigo, Gigi. Eu gosto de você.
- Eu não sei o que pensei. Achava que você ia me afastar ou que não gostaria de me ver vulnerável... – Ela riu fracamente.
- Até parece que não me conhece. – Ela falou, erguendo o rosto e sorri, dando um beijo em sua testa.
- Por outro lado, eu sabia que você agiria da mesma forma que está agindo agora. – Falei, vendo-a sorrir.
- Mesmo assim você não fez nada. – Ela disse.
- Não. – Neguei com a cabeça. – Eu estava andando por um caminho desconhecido, não sabia como seria, o processo foi bem lento. – Falei, suspirando.
- O time te ajudou, não? Aquele dia que você fugiu de mim, eu falei com eles, eles são péssimos mentirosos. – Rimos juntos.
- É, eu acabei contando para eles e foi muito bom. – Suspirei. – Todos me apoiaram demais, começamos a fazer várias coisas para distrair. Eu ia a menos treinos, jogava menos jogos, mas minha psicóloga via um avanço, sabe... – Ela confirmou com a cabeça.
- E o que aconteceu? Estamos quase em dezembro, Gigi, é muito tempo. – Ela suspirou.
- Beh, eu estava melhorando nas férias, acabei ficando escondido aqui em Turim para não te encontrar em Forte dei Marmi... – Ela negou com a cabeça, revirando os olhos e eu ri fracamente. – Quando voltamos, minha psicóloga disse que estava para me dar alta, mas aí veio a lesão no Luigi Berlusconi e isso me abalou, fazendo com que eu me afundasse totalmente na depressão.
- Ah, Gigi. – Ela suspirou e era possível ver seu olhar triste. – Você não tem noção como isso explica muita coisa.
- Eu imagino. – Falei, suspirando.
- E então? – Ela perguntou.
- Eu e minha família montamos um clube em Forte dei Marmi e eles estavam lá, então eu fui para lá, minha psicóloga conseguia ir lá, achamos que fosse um lugar bom para eu recuperar.
- Isso explica seu bronzeado todo. – Ela falou, me fazendo rir fracamente.
- É, eu dava voltas todos os dias, tentava fazer coisas diferentes, ler livros, tive aula até de violão, se quer saber. – Ela deu um sorriso.
- E como você está hoje? – Ela perguntou.
- Muito bem, na verdade. Eu voltei para fisioterapia e, quando voltei aos treinos, tive outra lesão, muscular dessa vez. Aí na quinta o médico do time sugeriu que eu fosse no museu e acabou sendo uma experiência muito boa. – Falei, dando um pequeno sorriso. – Aquela pintura que eu estava vendo me acalmou de uma forma estranha, sabe? Mas muito boa. Foi como se eu entendesse tudo o que eu estava passando. – Suspirei. – Que eu não preciso estar sempre bem, sempre feliz. Não preciso ser sempre o Gianluigi Buffon que as pessoas vêm.
- E está tudo bem com isso. – Ela disse, acariciando meu rosto.
- Por isso eu voltei ontem. – Comentei, rindo fracamente. – A mulher até perguntou se eu tinha gostado da exposição por voltar. – Ela sorriu. – Não gostei muito, mas aquela pintura me fez bem, e me fez bem ontem de novo. – Me aproximei dela. – E você me fez ontem também. – Ela sorriu, colando seus lábios nos meus rapidamente.
- E agora? Você vai continuar seu tratamento? – Ela se desencostou da parede, me olhando.
- Sim, vou. Falei com a minha psicóloga na quinta mesmo e ela disse que estamos chegando em algum lugar, que foi muito bom. – Ela sorriu. – Só não posso deixar isso me abater. – Ela confirmou com a cabeça.
- Não vai, Gigi, você é forte, corajoso, uma pessoa sensacional e um jogador incrível. – Ela disse, segurando meu rosto com as duas mãos. – Além de ser incrivelmente sexy e ter me feito a mulher mais feliz do mundo ontem. – Ela falou mais baixo, me fazendo rir fracamente e aproximei meu rosto do seu, roubando mais um beijo de seus lábios, vendo-a sorrir. – Então, eu sei como é sentir que as coisas não estão do jeito certo, como tudo pode parecer que está perfeito, mas por algum motivo não está. – Ela negou com a cabeça. – E mesmo se isso acontecer de novo, não tenha medo, você já passou por isso e vai ser forte para encarar de frente. – Confirmei com a cabeça. – Nunca deixe essa doença te colocar para baixo. Se ela voltar, enfrente-a. – Ela jogou meus cabelos para trás. – Também não se esqueça: eu estou por aqui. Eu, sua família, seus amigos. Você não está sozinho. Nunca vai estar. – Puxei-a pela cintura, sentindo-a encostar as costas em meu ombro e suspirei, sentindo suas mãos em minha perna.
- Grazie. – Falei baixo, dando um beijo em seu ombro.
- Você não precisa me agradecer, eu já passei por isso, sei como as coisas podem ficar assustadoras. – Ela suspirou.
- Você teve isso? – Perguntei.
- Não cheguei a ser diagnosticada com depressão, mas tive minhas crises de ansiedade, longos tratamentos psicológicos e acompanhamentos esporádicos para checar se está tudo certo. – Ela suspirou.
- Como foi? – Perguntei.
- Beh, eu perdi meus pais em um acidente aos oito anos, né?!
- Eu esqueci disso... – Suspirei, negando com a cabeça.
- Não, ironicamente não foi por isso. – Ela comentou. – Eu fui para um orfanato, então fizeram acompanhamento comigo durante um tempo para checar se não havia trauma, nem nada. – Suspirei. – Depois, quando eu fui morar com a minha avó, o conselho tutelar manteve contato por um tempo, fiz outra sessão de tratamento, também nada. – Franzi a testa.
- Então, quando? – Perguntei.
- Quando eu fugi. – Ela falou, rindo fracamente.
- Mesmo? – Perguntei e ela ergueu o corpo, virando para mim.
- Sim. – Ela deu um pequeno sorriso. – Minhas primeiras duas semanas em Turim foram as piores da minha vida. Eu entrei em uma crise de ansiedade louca, estranha. Eu finalmente estava livre de algo que me fazia mal, estava livre para ser quem eu queria ser, me livrei de um problema e estava mal? Não fazia sentido, né?! – Assenti com a cabeça, vendo-a sorrir. – Aí eu quebrei. – Ela suspirou. – Eu era nova na cidade, as aulas não tinham começado ainda, não conhecia a Giulia, nem outros amigos, era só eu, em uma cidade totalmente nova. Eu entrei em crise. – Foi minha vez de segurar sua mão.
- E o que sua psicóloga disse? – Perguntei.
- Ela disse que, apesar de todos os meus problemas, eu sempre tive alguém. Sempre tive um ponto que era meu guia. Meus pais, depois as moças do orfanato, até minha avó que era horrível... – Confirmei com a cabeça. – Quando eu me joguei no mundo e falei foda-se para tudo e todos, eu me vi sozinha e agora era por minha conta. – Ela falou e dei um pequeno sorriso. – Não teria mais ninguém para passar a mão na minha cabeça se eu errasse, não teria ninguém para brigar comigo, me ajudar com as coisas ou ser a minha âncora, era só eu. Eu era minha âncora. – Ela deu de ombros. – Quando eu finalmente entendi isso, tudo começou a ficar melhor.
- Isso faz muito sentido. – Falei.
- Sim, e foi isso que aconteceu contigo ontem. Você entendeu, agora tudo vai ficar melhor. – Ela sorriu e eu confirmei com a cabeça. – Mas isso ainda leva algum tempo, ok?! Então vá no seu tempo. – Confirmei com a cabeça.
- Sim, eu tenho a consciência que ontem não aconteceu um milagre, mas ajudou. – Ela confirmou com a cabeça. – Talvez eu volte lá hoje mais tarde.
- Precisamos pegar seu carro, posso ir contigo, se quiser. – Assenti com a cabeça, sorrindo e me aproximei dela, dando um beijo em seus lábios rapidamente.
- Sim, eu quero. Você me fez muito bem ontem. – Ela sorriu.
- Você também. – Acariciei seu rosto devagar. – Eu não vou a lugar nenhum, Gigi. Você entende isso?
- Sim. – Falei, vendo-a sorrir e passei a mão em seu rosto.
- Bom, porque eu já virei craque nesses dias de tocaia, não me faça te seguir de novo. – Ela falou, me fazendo gargalhar e joguei a cabeça para trás.
- Você realmente me seguiu? Por quantos dias? – Ela sorriu, dando de ombros.
- Nossa, comecei no dia do meu aniversário. Teve uns dois ou três dias só que não. – Neguei com a cabeça. – Mas vejo que valeu à pena, não me arrependo de nada. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- E sobre nós? – Perguntei e ela soltou um longo suspiro. – Seu chefe magicamente liberou de ficarmos juntos?
- Meu chefe está com os cabelos em pé com a quantidade de bagunça que está lá no nosso departamento. – Rimos juntos. – Mas agora que estivemos isso... – Ela disse, mordendo seu lábio inferior e inclinou seu corpo em direção do meu e abracei-a pela cintura. – Eu não sei o que fazer.
- Podemos ir devagar. – Falei, dando um beijo em seu queixo. – Eu venho aqui, você vai na minha casa. Nas dependências do time agimos como antes. – Ela riu fracamente.
- Tem que ser o antes como alguns meses atrás, não antes ano passado em que você me cantava e me beijava em qualquer oportunidade. – Ela disse, apoiando as mãos em meu peito e eu ri fracamente.
- Beh, eu estou melhorando, posso...
- Não! – Ela falou firme e eu sorri, deslizando as mãos pela sua cintura e ela se sentou em meu colo.
Colei meus lábios nos dela mais uma vez, sentindo suas mãos subirem para minha nuca e apertei sua cintura, deslizando as mãos pelas suas costas. Ela colou os lábios sobre os meus em curtos selinhos e só queria aproveitar o momento, ficar ali com ela, ignorando tudo o que acontecesse fora dali.
- Eu preciso de um banho. – Ela falou baixo, subindo a mão para meu rosto e acariciando devagar. – E comida. – Ela falou, me fazendo rir fracamente. – Eu não comi nada ontem.
- Podemos fazer isso. – Falei, apertando-a pela cintura. – Tomamos banho e podemos pedir alguma coisa para comer, mais tarde pegamos meu carro. – Ela riu fracamente, assentindo com a cabeça. – Isso se não rebocaram ainda.
- Há chances. – Ela brincou, me fazendo rir.
- Que horas são? – Perguntei e ela virou o rosto para o lado, vendo seu relógio ao lado da cama.
- Nem 10 ainda. – Ela fez uma careta e colei meus lábios nos dela novamente.
- Podemos pedir o café da manhã e o almoço. – Rimos juntos e ela empurrou a coberta, se levantando.
- Tem uma padaria boa aqui perto, posso ir lá rapidinho. – Ela falou e eu fiz o mesmo, me levantando atrás dela e abraçando-a pela cintura.
- Vamos tomar banho, depois a gente pensa. – Falei, apoiando meu queixo em seu ombro e ela apertou minhas mãos.
- Você não quer sair daqui, né?! – Ela comentou e eu ri fracamente.
- Eu ainda acho que isso não aconteceu. – Comentei, sorrindo.
- É, eu tenho essa mesma sensação. – Ela falou, virando o rosto para mim e dei um beijo em sua bochecha. – Espera um pouco, eu preciso fazer xixi. – Ela fez uma careta e eu assenti com a cabeça, soltando-a e ela seguiu para fora do quarto.
- Finalmente, hein?!
- AH! – gritou, voltando rapidamente para dentro.
- O quê? – Perguntei, vendo-a colocar a cabeça para fora.
- O que você está fazendo aqui? – Ela perguntou alto.
- Eu vim atrás de você. – Ouvi uma voz feminina. – Disse que me mandava mensagem em pouco tempo, não mandou, não atendeu as ligações...
- Quem é? – Sussurrei.
- Giulia. – Ela falou.
- Pelo menos, com todas essas roupas jogadas, sei que você está mu-u-uito bem. – Ela falou e ri fracamente.
- Ah, você é impossível. – se levantou, abrindo o armário com pressa e pegou uma calcinha, vestindo-a e pegou um vestido solto atrás da porta, jogando por cima de tudo.
- O quê? Eu estava preocupada com a minha amiga, ok?! – Giulia falou e peguei a coberta na cama e enrolei em minha cintura. – Diz que é o Gigi que está aqui, diz. Me dá uma felicidade nessa vida! – Ela falou dramática e saí do quarto atrás de . – Ah, meu Deus! – Ela falou, animada e apoiou as mãos na testa.
- Ah, você é muito dramática! – falou e fui até ela, abraçando-a pela cintura.
- O quê? Eu só estou feliz. – Ela falou com os olhos brilhando e negou com a cabeça, apoiando a cabeça em meu ombro. – Esse lenga-lenga já estava rolando há muito tempo, pelo amor. – Ela revirou os olhos. – Então, agora vocês estão juntos?
- Giulia! – a repreendeu.
- Vamos devagar, Giulia. – Respondi por , dando um beijo no ombro dela.
- Ah, já está ótimo! – Giulia suspirou. – Fiquei tão feliz ao ver as roupas jogadas e não sangue, morte e...
- Ah, dramática. – esticou a perna, tentando dar um chute nela e ela desviou, apesar da distância. – Que horas você chegou?
- Ah, tem uma hora mais ou menos. Eu vi as roupas e estava com medo de ir lá no quarto e encontrar vocês desprevenidos ou no fervo ainda.
- Agradeço, pois estávamos desprevenidos. – Falei e Giulia deu um sorriso, movimentando a língua dentro da boca.
- Ah, isso é melhor do que a encomenda. – Ela falou, cruzando os braços e negou com a cabeça, claramente envergonhada.
- Você poderia ir embora? – perguntou.
- Não! – Giulia riu, cruzando os braços. – Eu quero saber tudo.
- Eu te conto, o que eu puder te contar, depois. – falou. – Mas você podia deixar eu aproveitar com ele um pouco. Você mesma disse que já estava enrolando demais, pois então, deixa a gente aproveitar. – Ela ponderou com a cabeça.
- Ok, mas só por isso. – Ela se levantou rapidamente. – Me liga depois. – se aproximou e ambas se abraçaram rapidamente e Giulia me olhou por cima dos ombros de . – Se deu bem, amiga! – Ela sussurrou e eu ri fracamente.
- Ah, cai fora daqui! – falou, dando um tapa em sua bunda e ela riu fracamente, seguindo até a porta.
- Te amo! – Giulia gritou, empolgada.
- Também te amo! – falou bem menos empolgada e Giulia saiu pela porta, puxando-a em seguida e se virou negando com a cabeça. – Ah, Giulia. Me desculpe por isso.
- Como ela entrou aqui? – Perguntei, vendo-a rir.
- Ela tem a chave, ela tem passado bastante tempo aqui comigo, tenho feito muita hora extra. – negou com a cabeça e eu ri fracamente.
- Não devemos nos preocupar, não é?! – Perguntei e ela veio em minha direção.
- Não! Ela é louca, animada demais, meio pancada da cabeça, mas ótima com segredos. – Ela falou e eu passei os braços pela sua cintura de novo.
- Bom! – Falei, vendo-a sorrir. – Onde estávamos mesmo? – Perguntei, aproximando nossos lábios.
- Eu tenho uma vaga lembrança. – Ela falou, passando as mãos pela minha cintura e soltou a coberta enrolada como toalha.
- Bom! – Falei, colando nossos lábios mais uma vez.

Lei

19 de dezembro de 2005

Passei minhas mãos pelos ombros de Gigi, sentindo-o morder meu lábio inferior e ele colou os lábios nos meus novamente. Suas mãos desceram pela lateral do meu corpo, apertando minhas nádegas e sua língua encontrou a minha rapidamente. Subi as mãos para sua nuca, brigando espaço com seu cachecol. Ouvi algumas vozes e nos separei rapidamente.
- Xi... – Falei, colocando minhas mãos na boca de Gigi e seus olhos azuis me encaravam profundamente, ele me apertou mais contra a parede no canto que estávamos e desci minha cabeça para seu ombro.
- Parece que passou. – Ele falou com a voz abafada e abaixei minhas mãos, sentindo-o me apertar e seus lábios roçavam levemente nos meus.
- Precisamos parar isso. – Falei baixo, sentindo-o apertar minha cintura e movimentar o rosto, roçando os lábios levemente nos meus. – Gigi! – Falei.
- O quê? – Ele falou, rindo fracamente e neguei com a cabeça.
- Você não está prestando atenção. – Falei.
- Estou sim, só preferi ignorar. – Ele disse, mordendo meu lábio inferior.
- Eles vão sentir sua falta. – Comentei, sentindo-o descer os lábios pela minha bochecha. – E meu chefe pode sentir a minha.
- Eu quero ficar com você. – Ele sussurrou, deslizando os lábios pelo meu pescoço.
- O Franzo já fez o discurso dele? – Falei, respirando fundo, sentindo meu corpo já suar.
- Acho que está começando agora. – Ele falou baixo, passando os lábios pelo meu pescoço.
- A gente pode entrar, depois que ele acabar, vamos embora. – Falei, suspirando.
- A gente vai para onde? – Ele perguntou, voltando a olhar para mim e suspirei.
- Podemos ir para sua... – Franzi a testa. – Ah, Giulia!
- Ah, esqueci dela. – Ele falou e rimos juntos. – Onde ela está, falando nisso?
- Provavelmente com os jogadores. – Suspirei, apoiando a cabeça na parede atrás de mim.
- Eu não disse para ninguém sobre a gente ainda. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- É para ela não falar também. – Disse e rimos juntos.
- Se ela falar, a gente a deixa para fora. – Ele disse e sorri, colando meus lábios nos seus por alguns segundos.
- Concordo com isso. – Falei, vendo-o sorrir. – Vamos lá, antes que ela faça alguma besteira. – Falei, vendo-o se afastar um pouco e puxei meu casaco para baixo e ele ajeitou o cachecol em seu pescoço.
- Adoro a Giulia, mas por que você a trouxe? – Ele perguntou e ri fracamente.
- Para despistar. – Rimos juntos. – Todo ano eu a trouxe, só não quando ficamos juntos, ficaria meio na cara, né?! – Ele ponderou com a cabeça.
- Não acho que eles são muito espertos. – Ele falou, me fazendo rir.
- O Lilian é mais esperto do que parece, viu?! – Falei e ele negou com a cabeça.
- É, mais ou menos! – Ele deu de ombros. – Eu vou dar uma passada no banheiro. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- A gente se encontra lá dentro. – Falei e ele pressionou seu corpo no meu mais uma vez, colando nossos lábios rapidamente, me fazendo rir e neguei com a cabeça, vendo-o dar uma olhada em volta e sumir de meu campo de visão.
Respirei fundo, mordendo meu lábio inferior e suspirei. Passei as mãos em meus cabelos, ajeitando-os na lateral do rosto e saí do canto do jardim, vendo a parte de fora do salão de festas mais vazia. Segui para dentro.
A parte interna do salão estava muito mais quente do que lá fora, então para mim que já estava suando, foi como entrar em uma sauna. Dei uma rápida olhada em Franzo fazendo algum discurso lá e ignorei. Provavelmente era algo sobre o desempenho no começo da temporada, expectativa para a segunda parte do ano, etc...
Tirando a loucura na contabilidade que ainda não tínhamos conseguido desvendar o mistério e Giorgio acionou até os advogados para isso, com receio da Federazione cair em cima da gente, estávamos bem. Nos 16 jogos até agora, vencemos 14, empatamos um e perdemos outro, algo surreal. Na Coppa Italia tínhamos empatado no jogo de ida das oitavas, mas imaginava que podíamos compensar no jogo de volta em casa. E passamos a fase de grupos da Champions League com cinco vitórias e só uma derrota. Não sei muito do que ele estava falando, mas me parecia que estávamos na melhor temporada desde a minha entrada no time.
Me aproximei do bar, onde os jogadores costumavam ficar acumulados e vi Giulia gargalhando de alguma coisa que Camoranesi falava. Giulia era comunicativa demais e se dava com qualquer pessoa, mas sério, o Camoranesi? Não que tivesse tantas opções melhores e solteiras, acho que eu estava com uma das últimas, mas tínhamos opções melhores.
- Olha quem decidiu aparecer! – Trezeguet falou, passando o braço pelo meu ombro e eu ri fracamente.
- E aí, gente? – Falei para o pessoal de sempre com adição dos novatos Adrian Mutu e Emerson.
- Como está, garota? – Del Piero perguntou e me aproximei de Sonia para dar um rápido beijo nela.
- Tudo certo. E vocês? – Falei geral.
- Sua amiga é ótima! – Camoranesi falou e eu olhei para Giulia que me dava um sorriso sarcástico.
- Eu só faço amizade com pessoas legais. – Falei e eles riram.
- Aposto que isso não inclui ele. – Lilian falou, fazendo o pessoal explodir em risadas e Camoranesi deu um tapa na cabeça do francês.
- Beh... – Dei de ombros.
- Demorou para aparecer, onde estava? – Karine perguntou.
- Ah, sabe como é, a equipe de contabilidade está enxuta, então tive que sorrir para acionistas e fingir que realmente me importo com a alta das ações no Natal. – Inventei alguma coisa rapidamente, ouvindo-os rir.
- Parece bem interessante. – Trezeguet pressionou os lábios e todos viramos para ele.
- Essa não é a minha área.
- E você acha que é a minha? – Ele falou e explodimos em gargalhadas de novo.
- Vocês podem pelo menos fingir que estão prestando atenção no discurso? – Capello passou por nós e fui a primeira a me colocar ao lado de Giulia, ficando ao menos de frente para o palco.
- Essa é uma das melhores temporadas nossas, deixa ele prestar conta com os acionistas e com a mesa diretora sozinho. – Del Piero falou e rimos juntos.
- Isso é mais para vocês do que para mim, eu já estou pronta para ir embora. – Comentei, vendo Gigi entrar e mordi meu lábio inferior, virando para Giulia.
- Assim que acabar, eu também vou. – Lilian falou.
- Ciao, ragazzi. – Gigi falou, jogando os cabelos para trás e eu mordi meu lábio inferior.
- Achei que tivesse ido embora. – Del Piero falou.
- Eu fui no banheiro, aí fui parando há cada dois metros. – Ele falou.
- Como você está? – Lilian perguntou e Pavel deu uma cotovelada nele. – O quê? – Ele reclamou e todos olharam para mim.
- Cara, vocês são péssimos mentirosos. – Falei, revirando os olhos. – Eu falei com o Gigi, ok?! Ele me disse o que está acontecendo.
- É... – Ele falou, coçando a nuca.
- Vocês são tão delicados quanto uma pata de elefante, pelo amor de Deus! – Falei, ouvindo-os rir fracamente.
- Ela percebeu que eu estava estranho e acabamos conversando. – Gigi falou um tanto aleatório e Giulia começou a tossir atrás de mim.
- Desculpe, acabei engasgando. – Ela comentou. – Chega de vinho para mim. – Ela disse, apoiando a taça no balcão.
- É, melhor mesmo. – Falei, pressionando os dentes e ela deu de ombros.
- Mas eu estou bem, gente. Valeu. Melhor a cada dia. – Gigi deu um sorriso e assenti com a cabeça, sorrindo para ele.
- Buon Natale e allo prossimo ano. – Franzo falou e respirei, aliviada, aplaudindo junto com o resto do pessoal.
- Liberdade! – Lilian foi dramático e rimos juntos.
- Eu vou aproveitar a deixa e ir embora, vamos viajar amanhã cedo, né, Giulia? – Falei, abraçando Giulia pelos ombros e ela pareceu demorar para entender a mentira.
- É! Vamos! – Ela disse, franzindo a testa.
- Vai passar as férias fora? – David perguntou.
- Sim, vamos para França. – Falei a primeira coisa que apareceu em minha cabeça.
- Aí sim, hein?! – Lilian falou, esticando a mão para mim e eu franzi a testa, batendo na dele.
- Terminou o curso de francês agora? Que ano passado foi o de inglês na Inglaterra. – Del Piero falou.
- Não, não. Eu estou fazendo o curso de francês, mas não, é só para diversão mesmo. – Eles assentiram com a cabeça.
- Logo você está poliglota. – Pavel falou.
- É a intenção. – Rimos juntos. – Pretendo ir para o espanhol e o português, acho que assim consigo me comunicar com quase todos os jogadores que puderem vir.
- Português é bom. – Emerson falou e assenti com a cabeça.
- Sim, temos muitos brasileiros vindo jogar na Itália, logo devemos ter mais do que só você. – Falei. – Além de que isso melhora meu currículo, né?! Pretendo crescer no time. – Passei os olhos para Gigi e ele sorria.
- Você está certinha! – Del Piero falou.
- Bom, melhor a gente ir, então. – Giulia falou. – Apesar que com o tanto que eu bebi, eu durmo rapidinho.
- Que bom, não?! – Falei, rindo fracamente e vi Gigi morder o lábio inferior.
- Bom Natal, gente. – Falei. – Vocês ainda têm um jogo dia 21, então bom jogo. Fiquem bem, bom ano novo, mandem um beijo para os filhos de vocês e esposas que não vieram. – Falei rapidamente.
- Ciao, . Para você também. – Eles falaram.
- Melhoras, Gigi. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Grazie! – Ele disse, tentando evitar contato direto em meus olhos e segurei uma risada. – Acho que vou aproveitar a deixa também. – Ele comentou.
- Mas já, Gigi? Fica mais um pouco. – O pessoal começou a falar e aproveitei a mudança de foco e puxei Giulia para fora da roda.
- Quero só ver o que vocês vão fazer se inventarem de saírem em debandada e virem vocês juntos no mesmo carro. – Giulia falou baixo para mim.
- Xi! – Falei, puxando-a pelos ombros. – A gente demorou demais?
- Um pouco, pelo menos eles pareceram cair na mentira de vocês. – Ela falou e eu suspirei.
- Eu não quero falar nada por causa dos meus chefes, vai que sai? Pode dar merda para mim, além de que estamos juntos há pouco menos de um mês, é algo novo ainda. – Falei, suspirando, saindo do salão de festas, sentindo o vento gelado bater em meu rosto.
- Eu concordo contigo, amiga. Vocês demoraram muito para dar esse primeiro passo, mas não se afobe tanto. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Não, não, nunca. Além de que ele não está cem por cento ainda, vamos devagar. – Falei, seguindo pelo estacionamento.
- E sobre o Natal? Vocês já conversaram sobre? – Ela perguntou.
- Vamos passar separados. Ele vai passar em Forte dei Marmi com a família dele e tem muito paparazzi. – Ela assentiu com a cabeça.
- Além de ser algo bem família, né?! Sei que a família dele te conhece e gosta de você, mas seria muito apresentar a namorada para mãe, né?! – Ela disse e rimos juntas.
- Tem isso também, vamos desacelerar. – Ela riu fracamente. – Mas vamos passar o ano novo juntos.
- Como vão fazer? – Ela perguntou.
- Só nós dois, na casa dele. – Falei. – Vamos comer alguma coisinha, beber alguma coisa, aproveitando a companhia um do outro...
- Pelados! – Ela disse, animada e eu empurrei-a com o ombro, vendo-a rir. – Mas é muito bom, amiga, estou feliz por ti. – Sorri.
- Obrigada. – Puxei-a pelos ombros, abraçando-a.
- Passa o Natal com a gente, então?
- Por favor. – Falei, sentindo-a me apertar pela cintura.
- Já que não vamos para a França... – Ela revirou os olhos e eu gargalhei.
- Um dia, amiga. Um dia. – Falei.
- Você tinha que parar no fim do estacionamento? – Ela perguntou e eu ri fracamente, puxando a chave do bolso.
- Os jogadores param lá na frente, é para despistar. – Falei. – Você também é para despistar.
- Ah, você pensou em tudo, cara. – Rimos juntos e virei para trás, vendo Gigi alguns metros de nós.
- Eu o segui, qual é! – Falei, abrindo o carro e entramos.
- Me lembre de nunca fazer nada sem você saber. – Ela falou.
- Oi? Você que foi lá em casa só porque eu não te respondi, qual é! – Falei.
- Eu achei que alguma coisa poderia ter acontecido, vai! – Ela disse. – A gente achava que ele estava com outra, vai ver você ficou triste e se isolou do mundo? Pode acontecer. – Rimos juntas.
- Ok, então nenhuma julga a outra. – Falei.
- Combinado. – Ela disse e demos um toquinho. Gigi entrou no banco de trás, fechando a porta.
- Pronto! – Ele falou e eu liguei o carro.
- Vamos antes que alguém saia. – Falei.
- Eles estavam saindo. – Gigi disse.
- Vamos para minha casa. – Disse e vi Gigi sorrindo para mim pelo retrovisor.
Giulia ligou o som, deixando seu CD do Black Eyed Peas rolar e seguimos até meu apartamento em Vinovo que era perto do salão de festas. Entrei em minha vaga e nós três saímos. Subimos as escadas em silêncio, já passava das nove da noite. Abri a porta e deixei-os entrarem, ficando para trás.
- Eu vou escovar os dentes e me esconder no outro quarto. – Giulia anunciou, me fazendo rir.
- Bom! – Gigi disse, me abraçando pela cintura. – Mas não vamos ficar em silêncio. – Dei um soquinho em seu ombro.
- Eu bebi quatro taças de vinho, eu vou dormir até amanhã. – Ela falou e eu assenti com a cabeça para Gigi.
- Boa noite, amiga. – Falei.
- Boa noite! – Ela disse e seguiu até o banheiro, fechando a porta.
- Vem! – Falei, começando a andar e ele veio comigo, me abraçando.
Entrei no meu quarto, vendo-o fechar a porta e passei as mãos nos botões do meu casaco, destacando-os. Gigi passou as mãos em meus ombros, me ajudando a tirá-lo e ele me abraçou novamente. Passei minhas mãos por cima da sua e ele beijou meu pescoço, sentindo-o roçar os lábios devagar, fazendo meu corpo arrepiar.
Virei meu corpo para ele, vendo-o sorrir. Ele apoiou uma mão em minha cintura e levou a outra a meu rosto, acariciando minha bochecha devagar. Passei minhas mãos eu seus ombros, acariciando sua nuca e ele colou nossos lábios em um curto selinho, me fazendo sorrir também. Ele passou as duas mãos em minha cintura, me apertando fortemente e suspirei, apoiando a cabeça em seu peito, sentindo-o me apertar fortemente.

Lui

31 de dezembro de 2005 2005 • Trilha SonoraOuça

- Ciao. – Falei ao abrir a porta e encontrar sorrindo do lado de fora.
- Ei! – Ela falou e puxei-a para dentro, passando as mãos pela sua cintura e colei meus lábios nos dela.
- Senti sua falta. – Falei, vendo-a fechar a porta.
- Eu também. – Ela acariciou meu rosto e inclinei meu corpo sobre o dela, encostando-a na parede. – Como foi o Natal?
- Tudo certo e contigo? – Ela encostou nossas testas, me fazendo sorrir.
- Tudo bem também. – Sorrimos.
- Foi difícil inventar uma desculpa para minha família do porquê eu precisava passar o ano novo em Turim. – Rimos juntos.
- E qual foi a desculpa? – Ela falou e eu dei um rápido beijo em seus lábios, antes de endireitar o corpo.
- Falei que o Fabio ia dar uma festa. – Rimos juntos.
- Esperto! – Rimos juntos.
- Entra aí, estou fazendo nosso jantar. – Falei, voltando para a cozinha.
- Hum, não sabia que cozinhava. – Ela comentou, vindo atrás de mim, puxando o cachecol que usava.
- Não, eu não cozinho. – Rimos juntos. – Eu só sei fazer um prato. – Ela riu fracamente, apoiando o cachecol no balcão e tirou também o casaco.
- Qual é o grande prato de Gianluigi Buffon? – Ela tirou o casaco, mostrando a blusa de manga comprida preta que ela usava por baixo e apoiou os antebraços do outro lado do balcão.
- Penne com molho marinara e atum enlatado. – Falei e ela riu fracamente.
- Não é um grande prato, mas va be’! – Rimos juntos.
- Ei, não fale do meu prato! Ele me alimenta desde a época do Parma. – Ela gargalhou.
- Quantos anos isso? – Ela perguntou, endireitando o corpo e eu desliguei o fogo, seguindo para o macarrão escorrendo na pia.
- Eu entrei no Parma em 95.
- Nossa! 10 anos! – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça. – 10 anos e meio, né?!
- É, entrei em julho. – Falei, colocando o macarrão no refratário.
- Quantos anos você tinha? – Ela perguntou.
- 17 anos. – Falei. – Mas eu já estava no Parma desde 91, nas categorias de base. – Virei para ela, vendo-a pensar e peguei a panela com o molho, misturando na massa.
- 17 anos? Eu estava na escola ainda. – Ela falou.
- É, eu larguei a escola. – Falei, virando para ela.
- Você não se formou na escola? – Ela perguntou, rindo fracamente e eu neguei com a cabeça.
- Faltou o último ano só, mas o futebol estava dando certo, então eu escolhi. – Ela negou com a cabeça, me fazendo rir.
- Bom, digo que você não perdeu nada! – Ela sorriu. – Está aí, sendo um sucesso. – Virei para ela vendo-a piscar para mim e finalizei o macarrão com queijo em cima.
- Aonde você se formou? – Perguntei, virando para ela e coloquei as louças na pia. – Eu sei que você é de Palermo, mas não sei para onde foi depois que encontraram sua avó. – Falei, apoiando o refratário na bancada.
- Nápoles. – Ela falou, erguendo o corpo.
- Hum... – Fiz uma careta e ela riu fracamente.
- Não se preocupe, também odeio. Prometi para mim mesma que nunca mais coloco os pés lá. – Assenti com a cabeça, me aproximando dela.
- Nem se for para ver a gente jogar? – Ela ponderou com a cabeça.
- Eu vou pensar sobre isso, mas minha promessa não tinha condições. – Rimos juntos e dei um curto beijo em seus lábios.
- Como foi essa fase para você? – Perguntei e ela franziu a testa. – Seus pais, sua avó...
- É uma parte um pouco nebulosa da minha vida. – Assenti com a cabeça. – Eu tinha só oito anos, né?! Não guardamos muitas lembranças daquela época. Naquela época eu não sabia que meus pais tiveram problemas para ficar juntos, e por isso se afastaram de seus pais. Sabia menos ainda que eu tinha outros parentes vivos. – Ela ponderou com a cabeça. – Aí veio o acidente, eu não estava no carro com eles e automaticamente fui para um orfanato. – Passei as mãos em sua cintura, acariciando-a devagar. – Minha realidade virou aquele orfanato, eu sabia que tive uma mãe e um pai, tenho fotos deles, lembranças, então não era uma vontade ser adotada. Era um meio para um fim.
- Certo. – Falei, sentindo-a me abraçar pelos ombros.
- Quando eu tinha 14 anos, encontraram essa avó, que era mãe da minha mãe e fui morar com ela. No início achei incrível, pois meus pais me esconderam essa realidade, até começar a conviver com ela e perceber que eu não era bem quista naquela casa. – Confirmei com a cabeça, abraçando-a fortemente. – Ela falava mal dos meus pais, falava que eles fugiram para ficar juntos, que eu havia sido fruto de um relacionamento errado, enfim... – Ela balançou a cabeça, afastando as memórias. – Foram quase quatro anos muito ruins. Eu morava só com ela, mas tudo o que eu precisasse, eu tinha que me virar. Comida, roupas, coisas legais que as outras crianças tinham... Era quase morar em uma pensão, só não pagava o aluguel. E ela fazia questão de demonstrar que eu não era querida.
- Por que esse ódio? – Perguntei.
- Não conversávamos muito, mas pelo que eu peguei meio por cima, minha mãe ia se casar com um cara rico e poderoso de Nápoles, aí nos 45 do segundo tempo, ela conheceu meu pai que era o segurança do pai desse cara. – Arregalei os olhos, vendo-a rir fracamente. – Aí minha mãe desistiu por amor. Minha avó não gostou, a tal família poderosa muito menos... – Dei de ombros, vendo-o rir fracamente. – Eles fugiram.
- É quase Romeu e Julieta. – Falei.
- É, tipo isso, o final foi o mesmo, mas...
- Me desculpe, esqueci desse detalhe. – Ela negou com a cabeça, acariciando meu rosto.
- Eu sei que eles se amavam muito. Gosto de acreditar que eles morreram juntos, pois não conseguiriam viver sem o outro. – Ela puxou a respiração forte, olhando para cima e dei um beijo em sua bochecha.
- E eles deixaram você, uma mulher incrível. – Apertei-a em meus braços, sentindo-a me apertar pelos ombros.
- Sim, acho que eles não pensaram nessa possibilidade, pois realmente não tinha mais ninguém. – Suspirei.
- E a família do seu pai? Amigos? Ninguém? – Perguntei.
- Em uma das conversas da minha avó, eu descobri que meu pai vinha de uma família não muito boa de Nápoles, tipo a máfia, mas com muito menos dinheiro, gente que se envolvia com coisas erradas. – Ela ponderou com a cabeça. – Ele meio que se afastou dos “negócios” da família e se virou sozinho. Tanto que o conselho tutelar fala que não encontrou a família dele, mas minha avó fala que encontrou, mas que optaram por uma família sem ficha na polícia.
- Dio mio, ! – Falei e rimos juntos.
- Olha com quem você está se envolvendo, Gianluigi. – Ela disse e eu neguei com a cabeça.
- Você é perigosa. – Dei um beijo em seu pescoço, ouvindo-a rir.
- Talvez eu tenha algo no sangue. – Sorri, puxando-a para perto de mim. – E meus pais tinham dois grandes amigos, Olga e Ricky, eles até tentaram ficar com a minha guarda, mas sem parentesco ou comprovação de relacionamento, não foi possível. Eu tive contato com eles até voltar para Nápoles...
- E não tem mais? – Perguntei.
- Não. – Ela negou com a cabeça. – Eles me visitavam no orfanato e eu não lembro dos sobrenomes deles para ir atrás.
- Você poderia tentar ir no orfanato ou ligar lá. Aposto que deve ter algo nos registros. – Falei e ela nos afastou, olhando fundo em meus olhos. – O quê?
- Oh, meu Deus, Gigi, isso é perfeito! – Ela falou, animada. – Já faz 10 anos que eu saí, mas não é impossível.
- Quer ajuda para encontrá-los? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- Por favor. – Ela sussurrou e colei meus lábios nos dela rapidamente, sentindo-a sorrir. – Grazie.
- Prego. – Falei e ela tinha um sorriso nos lábios. – O próximo jogo é em Palermo, não estou relacionado, mas posso ir e...
- Xi... Você já me deu uma esperança de voltar a me conectar com meus pais, já é demais. – Ela sorriu e eu confirmei com a cabeça, colando meus lábios nos dela.
- Eu também estou aqui por você, não se esqueça. – Ela assentiu com a cabeça. – Vem, vamos comer antes que meu grande prato gele. – Falei e ela riu fracamente.
- Quer que eu coloque a mesa? – Ela perguntou.
- Já coloquei. – Peguei o refratário. – Vem comigo. – Ela franziu a testa, pegou suas peças de roupa e seguiu comigo. – Me diga, e como foi fugir? – Perguntei, andando à frente, subindo as escadas para o segundo andar.
- Ah, eu já imaginava que queria fazer algo com números e tal, aí quando começam a falar de faculdades na escola, mostrar as melhores faculdade e tal, eu vi isso como minha passagem para sair dali. – Andei pelo segundo andar, seguindo até meu quarto. – Minha avó não se importava comigo mesmo, então eu cuidar de mim ali ou em outra cidade, não faria diferença. Vim fazer a prova com uma desculpa de que era excursão escolar, eles mandaram meus resultados direto para escola, foi fácil. – Coloquei o refratário na mesa que eu havia improvisado dentro de meu quarto, próximo à porta da sacada. – Ah, Gigi! – Ela falou. – Que fofo! – Ela sorriu.
- Você gosta? Pensei que não precisamos sair mais daqui. – Ela sorriu, assentindo com a cabeça e foi sua vez de me abraçar pela cintura.
- É perfeito! – Ela disse e passei minha mão em seus ombros, dando um beijo em sua cabeça.
- Vem cá! – Falei, soltando-a e segui até uma das cadeiras e puxei para ela, vendo-a sorrir e se sentar. – E depois que você passou na faculdade? – Sentei em frente dela, pegando seu prato e servindo-a.
- Honestamente? Não sei! – Rimos juntos. - Eu ainda tinha o controle do conselho tutelar, né?! E eu fazia 18 só em novembro, mas eu planejei tudo antes, cerca de um mês das aulas voltarem, minha avó saiu e eu fui para estação de trem, comprei uma passagem para Turim e, seis horas depois e paradas em Roma, Florença e Milão, eu cheguei aqui. – Entreguei o prato para ela e sorriu, me servindo também. – Ninguém me procurou ainda. – Rimos juntos.
- Não conhecia a cidade e não conhecia ninguém? – Perguntei-a, vendo-a colocar a comida na boca.
- Nada, mas acabou se tornando meu lar! – Ela riu fracamente. – Hum, Gigi, isso é gostoso! – Ela disse e eu ri fracamente.
- Viu? – Falei e ela riu fracamente. – Um pouco de vinho?
- Pode ser. É ano novo, precisamos aproveitar. – Ela falou e eu peguei o saca-rolhas, abrindo a garrafa.
- Trouxe uma troca de roupa? – Perguntei, servindo as taças.
- Até trouxe, mas deixei no carro, imaginei que não fosse usar tão cedo. – Ela ergueu o olhar para mim e eu ri fracamente.
- Isso você tem razão. – Falei e entreguei a taça para ela.
- Vamos brindar algo? – Ela perguntou, levantando sua taça.
- A nós? Por finalmente ficarmos juntos? – Ela sorriu.
- A nós, a você por ter enfrentado muita coisa esse ano... – Sorri. – Ao time, a um novo ano sensacional. – Assenti com a cabeça.
- E a você, por ter me ajudado, por ser minha âncora. – Ela sorriu, colando nossas taças em um tilintar fraco e dei um gole.
Inclinei meu corpo para frente, vendo-a fazer o mesmo e demos um curto selinho, deixando um sorriso em nossos lábios. Desviamos os olhares para nossos pratos e finalizamos a refeição falando sobre amenidades do time. Eu estava pronto para voltar depois de seis meses, então estava bem empolgado, talvez no segundo jogo do ano eu voltava, precisava só fazer mais alguns fortalecimentos.
- Eu vou estar lá por você, ok?! – Ela falou, descansando os talheres e eu assenti com a cabeça.
- Eu vou gostar disso. – Falei e ela sorriu, se levantando e vindo em minha direção.
Passei a mão em sua cintura e puxei-a para sentar no meu colo, sentindo-a colocar as mãos em meus ombros. Apoiei a outra mão em sua perna, puxando-a para mim e ela levou uma mão para meu rosto, acariciando-o levemente. Ergui o rosto, focando meus olhos nos dela e ela roçou nossos lábios levemente.
- Eu sempre vou estar aqui por você, ok?! – Ela falou. – Independente de tudo, bons momentos, maus momentos, eu estarei aqui. Você aqui, você fora, não importa, eu estarei aqui. – Assenti com a cabeça, colando nossos lábios por alguns segundos.
- Não vamos apressar as coisas, eu não vou a lugar nenhum. – Falei e ela deu um meio sorriso.
- Beh, o Mondiale está chegando, e agora que você está cem por cento, certeza de que o Lippi vai te convocar, e sabemos que o mercado fica aloprado nesse momento. – Rimos juntos.
- Temos tempo. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
Colei meus lábios nos dela novamente e passei minha mão por baixo da perna e levantei da cadeira, sentindo-a me apertar pelos ombros e desviei da mesa, seguindo pelo quarto e deitei-a na cama. Inclinei meu corpo sobre o dela, colando meus lábios nos dela e ela apoiou as mãos em meus ombros e sorri.
Passei meus lábios pelos seus e segui até a beirada da cama, passando as mãos em suas pernas cobertas pela calça jeans e ela mordeu seu lábio inferior. Desfiz o laço de suas botas de cano baixo, puxando-as para fora uma a uma e ouvi o barulho delas no chão. Puxei suas meias para fora, vendo-a contrair os dedos dos pés e inclinei sobre ela, ajoelhando na cama.
Passei minhas mãos em suas coxas, subindo-as pela sua cintura e subi um pouco da camisa que ela usava e passei os lábios pela sua barriga, vendo-a contraí-la e subi meu rosto até o seu, deitando sobre seu corpo devagar. Ela passou os braços pelos meus ombros e apoiei os braços na lateral de seu rosto. Ela tinha um sorriso nos lábios e colei nossos lábios devagar. Ela me apertou contra si e girei meu corpo na cama, puxando-a para cima de mim.
Passei minha língua em seus lábios, sentindo-a abrir espaço e suas mãos foram para meus cabelos rapidamente. Desci minhas mãos pelo seu corpo, adentrando sua blusa e deslizei as mãos pelas suas costas, sentindo sua pele quente. Desci as mãos pelo seu corpo, apertando sua bunda e ela mordeu meu lábio inferior, sorrindo para mim.
Ela ergueu o corpo, sentando em meu quadril, colocando uma perna de cada lado e soltei um suspiro. Ela pressionou seu corpo no meu, me fazendo contrair a barriga, e deslizou suas mãos por dentro da camiseta que eu usava. Ela pressionou as mãos em meus músculos, como se estudasse cada centímetro e ri fracamente. Ela gosta disso.
Passei as mãos pela sua cintura, pressionando seu quadril mais sobre o meu e subi minhas mãos pela sua barriga, ela inclinou seu corpo para frente, apoiando as mãos em meu peito e puxei sua blusa, vendo seus cabelos caírem em seu peito. Ela inclinou seu corpo sobre o meu, deixando um curto beijo em meus lábios e subi meu corpo com o dela, segurando firme em sua bunda.
Ela virou o corpo de lado, saindo de cima de minhas pernas e fiz o mesmo, levando minha mão para sua cintura e dei um beijo em seus lábios, sentindo-a passar as mãos na barra da minha camiseta. Afastei o corpo dela, sentindo-a puxar para cima e ajudei-a com as mangas, jogando a peça de roupa para o lado.
- Hum, tirou o curativo de vez? – Ela comentou, passando a mão em meus ombros e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Finalmente. – Falei e ela riu fracamente.
Ela colou os lábios nos meus novamente, empurrando meu corpo para trás e deitei novamente, observando seus movimentos. Ela passou as mãos em minha calça, acariciando minha ereção por cima da roupa e soltei a respiração pela boca devagar. Ela abriu meu cinto, soltando o botão e abaixou o zíper devagar, me fazendo contrair a barriga. Empurrei a calça um pouco para baixo e ela fez o mesmo com minha cueca, fazendo meu pênis ereto escapar pelo tecido.
Ela mordeu o lábio inferior, puxando um pouco mais para baixo as duas peças de roupa e senti meu corpo arrepiar quando ela levou as mãos até ele. Joguei minha cabeça para trás, sentindo-a estimulá-lo devagar e soltei a respiração fortemente quando sua boca encostou nele. Ela abocanhou o quanto conseguiu, sugando-o devagar e apertei uma mão em seus cabelos e a outra no tecido da cama.
Um gemido escapou de meus lábios conforme os estímulos ficavam cada vez mais rápidos e ela intercalava as sugadas com curtos beijos na glande, enquanto movimentava uma mão pela extensão dele e outra estava apoiada em minha virilha. Ergui os olhos para ela, respirando fundo e seus olhos focaram nos meus, tirando seus lábios e suspirei alto.
- Dio, . – Sussurrei e ela riu fracamente.
- Você gosta quando eu faço isso, né?! – Ela disse inclinando seu corpo em direção ao meu e eu sorri.
- Demais! – Falei, puxando-a pela nuca e colei meus lábios nos seus novamente por alguns segundos.
Ela jogou seu corpo ao lado do meu e eu empurrei minha calça e cueca para baixo, me livrando completamente das peças de roupa e virei meu corpo com pressa em cima do dela, segurando-a pelas pernas e ela riu fracamente. Abri sua calça, puxando-a e a calcinha para baixo, vendo-a chutar as peças com pressa para baixo e levei minha mão até sua vagina. Ela soltou a respiração fortemente pela boca e adentrei dois dedos em seus grandes lábios, encontrando-a úmida e penetrei-a devagar.
Ela apertou seu seio com a mão, contraindo a barriga e tirei os dedos, levando até seu clitóris, começando a estimulá-la rapidamente. Ela jogou a cabeça para trás, soltando gemidos frequentes. Inclinei meu corpo para frente, dando um beijo em seus lábios e ela soltou a respiração fortemente, me apertando pelos ombros.
- Não... Não vai até o fim... – Ela falou, suspirando e aliviei os movimentos. – Eu quero você. – Ela falou com a respiração acelerada e dei um curto beijo em seus lábios.
Desviei minha atenção para outro lado e segui até a mesa de cabeceira, pegando uma camisinha na última gaveta e deitei de barriga para cima e abri o pacote, desenrolando a camisinha em meu pênis. passou a mão em minha barriga, inclinando seu corpo ao lado do meu e passei a mão em seu corpo, puxando-a pela coxa para mais perto de mim e virei de lado também.
Ela levou a mão até meu pênis e guiou até sua entrada e pressionou os olhos quando encontrou, soltando a respiração forte pela boca. Apertei-a contra meu corpo, puxando-a para cima de mim e ela soltou um gemido com o movimento. apoiou suas mãos em meu peito e mordeu o lábio inferior, movimentando seu quadril devagar.
Apertei-a pelas nádegas, vendo-a morder seu lábio inferior e jogar a cabeça para trás. Apoiei os pés na cama e comecei a movimentar o quadril cada vez mais rápido, ouvindo-a soltar gemidos cada vez mais altos. Subi minhas mãos para sua cintura, vendo-a jogar os cabelos para trás e morder o lábio inferior. Seus movimentos eram hipnotizantes. Ela apertou meu peitoral, inclinando o corpo para frente e soltei a respiração fortemente.
Senti meu corpo contrair cada vez mais, me fazendo acelerar os movimentos e ela respondia à altura, contendo alguns gemidos ao morder seus lábios. Atingimos o orgasmo algum tempo depois e ela inclinou seu corpo, levei minha mão para seu rosto, acariciando-a e ela deu um beijo em meus dedos, sugando-os por alguns segundos e soltou um suspiro longo, contraindo seu corpo.
Ela jogou o corpo para trás novamente, tentando normalizar a respiração e vi seu abdome contraído. Ela movimentou o quadril mais algumas vezes bem lentamente e relaxou alguns segundos depois. Passei a mão em sua barriga, vendo-a com um sorriso nos lábios e sentia que não estava diferente.
Ela inclinou seu corpo para frente e meu pênis deslizou de seu corpo, fazendo-a se deitar de barriga para cima ao meu lado. Virei meu corpo, encontrando-a de olhos fechados enquanto tentava normalizar a respiração e passei minha mão em seus cabelos, tirando de seu rosto e ela abriu os olhos devagar, sorrindo para mim.
Virei meu corpo de lado, passando a mão pela sua cintura e colei nossos lábios levemente, tentando normalizar a respiração. Passei meu braço pelas suas costas e ela me abraçou pela barriga e apoiou a cabeça em meu ombro. Deixei um beijo em sua cabeça, passando a outra mão pelas suas costas, suspirando devagar.
Me assustei com um estouro lá fora e olhei para a porta da sacada, vendo um clarão no céu e logo outros seguiram, iluminando o céu com fogos de artifício. Era possível ouvir alguns gritos alegres lá fora também. riu fracamente e virei meu rosto para ela, vendo-a sorrir.
- Feliz ano novo. – Ela cochichou e subi minha mão para seu rosto, acariciando-a de leve.
- Feliz ano novo. – Falei e colei meus lábios nos dela, vendo-a sorrir.
- Vem! – Ela falou, se levantando, apressada e eu franzi a testa, vendo-a ir até a sacada e se esconder na lateral, observando devagar.
Sorri, levantando atrás dela e puxei a coberta da cama, me enrolando nela. Caminhei até ela, passando a coberta pelos seus ombros e apertei-a perto de mim, sentindo-a me abraçar pela cintura. Abri a porta, sentindo o vento gelado entrar e saímos na sacada. Os fogos iluminavam o céu ali perto e virei o rosto para , vendo-a sorrir enquanto franzia os olhos com os estouros.
Apertei-a em meus braços, dando um beijo em sua testa e ela ergueu o olhar, sorrindo para mim. Dei um beijo em seus lábios, colando nossas testas enquanto o céu era iluminado e as pessoas comemoravam a chegada de um novo ano.
- Sabe o que eu quero agora? – Ela perguntou, apoiando a cabeça em meu ombro novamente.
- O quê? – Perguntei.
- Comida. – Ela falou, me fazendo rir.
- De novo? – Brinquei e ela sorriu.
- Você me cansou, nada mais justo. – Rimos juntos e inclinei o rosto, deixando outro beijo em sua testa, apertando-a mais contra mim.



Capitolo undici

Lei
15 de janeiro de 2006

- Quanto tempo está? – Perguntei.
- 37 minutos. – Giulia falou. – Relaxa, , ele está indo bem, olha isso! – Ela apontou para o campo e eu suspirei.
- Só estou com medo de ele se machucar de novo. – Apoiei os cotovelos nos joelhos, vendo Gigi do lado direito do capo, próximo à Curva Sud, a torcida organizada.
- Ah, eu adoro vocês! – Ela apoiou os cotovelos em minhas costas e eu levantei com a dor.
- Ah, para! – Empurrei-a, sentindo-a passar o braço pelos meus ombros.
- Só estou dizendo! É legal, sabe? Ver vocês assim, juntos. – Sorri. – Demorou demais!
- Às vezes penso que é mentira, sabe? Porque é tudo bom demais, amiga. – Rimos juntas e ela pressionou a língua na parte interna da bochecha e eu ri. – Ele tem um corpo sensacional que fica escondido dentro desse uniforme gigantesco, ele tem uma pegada de dar inveja... – Tombei a cabeça em seu ombro, ouvindo-a rir. – E o pênis... – Sussurrei, ouvindo-a rir.
- Como a gente imaginou? – Ela perguntou.
- Melhor! – Rimos juntas. – E ele sabe o que fazer com ele. – Falei, suspirando.
- Ah, amiga, eu fico muito feliz por você, sério! É o pacote completo.
- Eu sei, ele deve ter algum defeito, não é possível! – Falei e ela riu fracamente.
- Ronca para dormir? – Ela perguntou.
- Sim, mas eu também... – Ela ponderou com a cabeça.
- Mal hálito? – Neguei com a cabeça. – A família dele gosta de você...
- Sim, mas não sabe de nós ainda. – Falei.
- É, mas duvido que vá ter problemas. – Rimos juntas. – Ele tem olhos azuis lindíssimos, ajeitou o cabelo, é alto, forte, pegada boa, sexo bom...
- Ah, o sexo! – Suspirei, afundando o rosto em seu ombro. – É compatível, sabe? É natural. Não tem aquilo do que fazer e o que não fazer. É all-in. – Ela gargalhou.
- Ah, eu quero um desses! – Ela gemeu, nos fazendo rir.
- O Luigi não gostava que eu... – Movimentei a língua pelos dentes. – Agora o Gigi ama e eu amo receber também.
- É o sonho de toda mulher, e o Luigi era gay? Que cara não gosta de ser...? – Ela fez o movimento igual ao meu, rindo comigo.
- Não sei, mas tendo algo com o Gigi, posso garantir que é algo totalmente diferente. – Ela sorriu.
- Aposto que ele tem algo errado ou é um robô. – Rimos juntos.
- Com essas defesas, eu voto pela segunda opção! – Falei, vendo-a rir. – Quantos minutos?
- 42, está quase. – Suspirei, olhando a bola voltar para o campo da Reggina.
- Um a zero é bom, começa devagar. A Reggina é um time mais fraco... – Ponderei com a cabeça.
- É, ele fez umas defesas, mas nada muito impossível, não. – Ela falou.
- Sabe o mais engraçado? – Virei para ela. – Foi no jogo da Reggina que ele teve a primeira crise.
- Mesmo? Que ótimo jeito de recomeçar. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- É, espero que seja o fechamento do ciclo. – Suspirei.
- Como ele está? – Ela perguntou.
- Ele está ótimo. Não o vejo todos os dias, mas ele está ótimo. – Virei para ela. – Mas eu não o vi no pior momento dele, né?! Quando eu o encontrei, ele já estava melhorando... – Ela assentiu com a cabeça. – Ele ainda está em tratamento, mas a psicóloga dele já está espaçando as sessões.
- Você o ajudou, , tenho certeza. – Ela falou e eu ponderei com a cabeça.
- Não, Giulia. Eu só mostrei que estava lá por ele, como várias pessoas fizeram. – Ela assentiu com a cabeça.
- Ninguém mais o ajudou... – Ela fez um movimento com a mão e eu abaixei-a correndo, ouvindo-a gargalhar.
- Ok, isso não, mas depressão é algo sério, para! – Falei, ouvindo-a gargalhar.
- Eu vou parar! – Ela falou, erguendo as mãos.
- E isso não sai daqui, ok?! Ele não contou para imprensa e não imagino que queira. – Ela confirmou com a cabeça.
- Eu ainda não faço parte do Le Iene, amiga. – Rimos juntas.
- Alguma novidade nisso? – Perguntei.
- Recebi um e-mail, falando que receberam meu DVD e avaliariam. – Ela respondeu.
- Oh, isso é legal! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- É, vamos ver! – Sorrimos juntas. – Um minuto! – Ela falou e eu me levantei, observando o pessoal correr de um lado para outro.
- VAI, GIGI! – Gritei, animada.
- Você vai no vestiário? – Ela perguntou.
- Queria ir, não sei se vai ficar muito na cara. – Falei, mordendo o lábio inferior.
- Ah, é um dia especial para ele. Todo mundo está feliz por ele. – Ela disse, apontando para o campo onde Lilian abraçava Gigi, fazendo-o rir.
- É, seis meses fora é bastante coisa. – Suspirei. – Posso usar isso com essa desculpa.
- Eu posso ir junto? – Ela perguntou e eu estiquei o crachá para ela. – Ok, já entendi. – Ela fez uma careta, me fazendo rir fracamente. – Você poderia arranjar um desses para mim, né?!
- Entra no Le Iene que te dou acesso a eles para fazer as piadinhas que você quiser. – Falei e ela sorriu.
- Mesmo?
- É óbvio que não. – Ela franziu os lábios. – Mas eu posso te dar o ramal direto do setor de comunicação.
- Já ajuda muito! – Rimos juntas e estiquei a mão, batendo na dela.
Os jogadores cumprimentaram os torcedores e gritamos juntos com a torcida. Havia sido vitória de um a zero, três pontos garantidos, mas para mim havia sido muito melhor que isso. Gigi havia voltado depois de seis meses lesionado. O caminho foi longo, mas ele estava de volta. Fazendo saltos e defesas como se nada tivesse acontecido.
- Eu vou comer alguma coisa enquanto você vai lá, beleza? – Ela falou quando o estádio já estava mais vazio e entramos novamente.
- Mas a gente não vai jantar na sua casa, criatura? – Perguntei.
- Você não vai se encontrar com ele? – Ela perguntou.
- Não, ele tem que voltar para Vinovo, aí depois ele ‘tá livre, mas nisso já vai umas horas, e amanhã é segunda, né?! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Não que isso faça alguma diferença, mas... – Rimos juntas.
- Apesar de nos conhecermos há quase cinco anos, não quero apressar as coisas, ou seja, não posso morar na casa dele sempre. – Ela ponderou com a cabeça.
- Ah, vai saber... – Ela deu de ombros.
- E por incrível que pareça, eu conheço pouca coisa dele. Cada dia é uma descoberta.
- É igual namoradinhos, começando devagar e fofinho. – Ela passou o braço pelos meus ombros.
- É, tipo isso, mas sem a palavra “namorados” ainda. – Ela riu fracamente.
- Scusi. – Ela falou, me fazendo rir e voltamos para parte de dentro do estádio. – Quer alguma coisa?
- Você vai comer?
- Vou! – Ela deu de ombros. – Nem me deixou pegar uma pipoca no intervalo...
- Porque você tinha comido uma no come... Ah, deixa. Vai comer, amiga! – Abanei a mão, vendo-a rir. – Logo volto.
- Fechado! – Ela disse e batemos nossas mãos rapidamente.
Andei pelo estádio, seguindo pelos caminhos que eu já conhecia e esticava meu crachá de funcionário para os seguranças que tentavam me barrar. Após várias voltas, cheguei no túnel que dava para os vestiários. Respirei fundo, passei a mão em meus cabelos, ajeitando o boné que eu usava e balancei a cabeça. Eu nunca me preocupava com isso, por que me preocuparia agora?
Neguei com a cabeça, colocando as mãos dentro do casaco que eu usava e fui devagar até o vestiário, vendo alguns jogadores e equipe técnica conversando ali e dei dois toques na porta, vendo Del Piero ser o primeiro na entrada.
- Ei, olha quem está aí! – Ele falou e eu sorri.
- Posso entrar? – Perguntei e ele deu uma rápida olhada no vestiário em si.
- Mulher entrando! – Ele gritou e fui em sua direção, abraçando-o fortemente.
- 186 gols pela Juve, é isso? – Perguntei, falando da premiação que ele havia recebido no começo do jogo.
- Para você ver.
- Parabéns, capitano! – Falei, esticando a mão para ele que bateu.
- Grazie! – Sorri.
- E aí, garota, fazia tempo que não vinha, hein?! – Ele comentou.
- Ah, eu venho com frequência, mas não venho muito aqui. – Falei, acenando para Capello de longe, não tínhamos tanta intimidade igual tinha com Lippi.
- E qual foi o motivo hoje? Eu? É claro! – Rimos juntos.
- Não, foi o Gigi, seis meses é bastante coisa. – Falei e ele confirmou com a cabeça.
- Isso é! – Ele disse. – Vem cá! – Ele falou, jogando a toalha em seu pescoço para o lado e saímos do corredor da entrada e entramos no vestiário aonde a maioria do pessoal estava sem blusa, sem calção ou sem ambos, mas eu ignorei.
- Ciao, ragazzi! – Falei.
- Cia-a-ao, ! – Eles falaram em coro, sorrindo e vi Gigi no fundo do vestiário, ainda de uniforme.
- Como estão? – Perguntei, sentindo Trezeguet me abraçar rapidamente, dando um beijo em minha bochecha.
- Tu-u-udo bem e com você? – Eles falaram cantados e franzi a testa.
- Vocês já eram estranhos assim ou... – Vi vários sorrisos em minha direção e virei para Gigi. – VOCÊ CONTOU? – Gritei, ouvindo as risadas explodirem pelo vestiário.
- Sim, ele contou. – Del Piero falou ao meu lado e eu revirei os olhos.
- Não era para contar! – Falei, vendo-o rir e dar de ombros.
- A gente já sabia! – Fabio falou. – Ficou meio óbvio no Natal. – Revirei os olhos.
- Como? – Perguntei.
- Ah, deixa eu pensar: vocês sumirem juntos e aparecerem quase juntos? – Pavel falou.
- Ou você, magicamente, saber sobre os problemas dele porque ele te contou?! – Del Piero falou. – Qual é, ele estava te escondendo isso desde lá atrás.
- Além de que seu casaco estava sujo de cal, o que queria dizer que você ficou escorada em alguma parede branca. – Trezeguet falou ao meu lado e eu abri a boca, surpresa. – Imagino fazendo o quê. – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Cazzo! – Reclamei, vendo eles rirem.
- E eu saí logo depois e vi o Gigi indo para o mesmo carro que vocês. – Lilian falou e franzi os lábios.
- É, eu sou ruim de mentir mesmo. Desisto! – Suspirei.
- Relaxa, , a gente promete que não sai daqui. – Pavel falou e neguei com a cabeça.
- É, o que acontece no vestiário, fica no vestiário. – Fabio falou e neguei com a cabeça.
- Gostei disso. – Dei de ombros e Gigi veio em minha direção.
- E vocês não deveriam ter escondido da gente, todos torcemos por vocês. – Del Piero falou, dando um tapinha em minhas costas.
- Ah, é recente e tem meu trabalho. – Dei de ombros, sentindo Gigi passar os braços pela minha cintura.
- Não sai daqui, posso garantir para vocês. – Capello falou e sorri para o treinador.
- Grazie, mister. – Gigi falou.
- Agora dá um beijinho, vai! – Lilian falou e eu neguei com a cabeça. – Só para comprovar que estão juntos mesmo. – Gigi olhou para mim, me fazendo rir.
- Só um beijinho? – Ele perguntou baixo e eu sorri, vendo-o aproximar o rosto do meu e colou os lábios nos meus por alguns segundos, fazendo o vestiário explodir em gritos.
- Satisfeitos? – Perguntei, sentindo Gigi me abraçar pela cintura.
- MUITO! – Eles falaram juntos e eu sorri.
- Eu vou jantar com a Giulia, nos falamos amanhã? – Perguntei baixo e ele assentiu com a cabeça.
- Eu vou na sua casa depois do seu trabalho. – Ele disse e confirmei com a cabeça.
- Como foi hoje? – Perguntei. – Foi bom voltar?
- Demais! – Ele sorriu e coloquei a mão em seu rosto, dando um rápido beijo em seus lábios.
- Estou feliz e orgulhosa de você. – Ele sorriu, acariciando meu rosto. – Deixa eu ir antes que alguém apareça aqui. – Falei, soltando-o e percebi que as pessoas ainda nos olhavam. – Meu Deus, vocês são difíceis! – Falei, vendo eles rirem.
- Vocês são muito fofos juntos, sério! – Lilian disse.
- Agradeço, mas isso eu já sabia! – Mostrei a língua, ouvindo-os rirem. – Ciao, ragazzi!
- Cia-a-ao, ! – Eles falaram cantado e virei para Gigi, vendo-o negar com a cabeça.
- Agora aguenta! – Falei, vendo-o dar de ombros e mordi meu lábio inferior, dando de ombros.

Lui
28 de janeiro de 2006 • Trilha SonoraOuça

Dei uma olhada rápida no espelho, jogando meus cabelos para trás, mas mudei de ideia ao ver o grande topete que formou e passei as mãos neles, sacudindo-os para voltar a posição anterior. Peguei o perfume, borrifando um pouco em meu pescoço e peito e voltei para o quarto. Peguei a blusa de manga comprida que eu tinha separado e vesti, dando mais uma rápida olhada no espelho e estava ok.
Puxei a porta do meu quarto, sabendo que não voltaria para lá tão cedo e segui pelo corredor, descendo as escadas e já ouvindo as risadas da minha família lá embaixo. Minha mãe, meu pai, minhas duas irmãs e o namorado de Veronica, Stefano.
- Ah, como ele está bonito! – Minha mãe falou e eu dei um sorriso de lado. 28 anos e ela ainda fazia isso.
- Eu preciso falar com vocês antes do pessoal começar a chegar. – Falei, me sentando na poltrona livre ao lado de meu futuro cunhado.
- O que foi? – Meu pai perguntou rapidamente.
- Está tudo bem? – Guendy falou.
- Está tudo bem, se acalmem, pelo amor de Deus! – Falei rapidamente.
- O que está acontecendo, então?
- A vem. – Falei.
- Hum... – Veronica falou, pressionando os lábios.
- É, e é exatamente por isso que eu estou falando com vocês. – Falei. – Dá para não fazer essas brincadeirinhas?
- A gente só faz com você, irmãozinho. – Veronica falou. – Nunca sai daqui.
- É, eu sei, mas umas coisas mudaram desde a última vez que vocês a viram. – Falei, coçando a nuca e franzindo os olhos.
- O quê? – Minha mãe e irmãs perguntaram juntas.
- A gente está ficando...
- O QUÊ?! – Guendy gritou.
- VOCÊS ESTÃO JUNTOS? – Veronica perguntou, segurando meu braço.
- Calma! Calma! – Falei, esticando minhas mãos em direção às minhas irmãs.
- Quando isso começou?
- O que você não está nos contando?
- É por isso que você não passou o ano novo com a gente?
- Ah, meu Deus! – Levei as mãos à cabeça, ouvindo meu pai e meu cunhado gargalharem. – A gente começou a ficar no fim de novembro e as coisas estão caminhando devagar. – Falei. – Não estamos namorando ainda, mas estamos juntos e as coisas estão indo bem. – Foquei nos olhos empolgados de minhas irmãs. – Eu não queria contar para vocês ainda, pois é muito recente, também não vou apresentá-la como minha namorada para vocês, mas é o meu aniversário e eu a chamei para vir e gostaria de beijá-la quando ela chegasse. – Falei, olhando firme para elas.
- É que...
- Guendy! – A repreendi.
- Ah, desculpa, Gigi, mas é muita coisa para processar assim do nada. – Veronica falou e Guendy confirmou, minha mãe só ria no sofá.
- O quê? – Perguntei.
- Eu falei que um dia vocês ficariam juntos... – Minha mãe deu de ombros e ri fracamente.
- As coisas aconteceram de forma bem natural e eu estou gostando muito disso, mas ela ainda tem o problema do trabalho dela, então vamos manter a calma e, principalmente, não deixar essa informação sair daqui. – Falei firme.
- Os outros jogadores já sabem?
- Já e só. – Falei firme. – Posso contar com vocês?
- Pode, mas eu preciso te zoar, irmãozinho. – Guendy falou, apertando minha bochecha e eu revirei os olhos.
- Tudo bem, mas não a assustem, por favor. – Falei baixo, franzindo os lábios. – Nada de “bem-vinda à família” ou qualquer outra piadinha que vocês possam pensar. Ainda não.
- Eu vou ficar quieta. – Veronica falou. – Mas saiba que eu estou muito feliz por você. – Ela esticou a mão para minha, sorrindo.
- Eu também, maninho. – Guendy falou, me abraçando de lado e Veronica fez o mesmo, me fazendo revirar os olhos.
- Vocês são muito dramáticas. – Revirei os olhos.
- Quatro, quase cinco anos esperando isso, irmãozinho. Nos deixe! – Guendy falou e eu neguei com a cabeça.
- Eu não a conheço muito fora do time, mas ela é uma boa moça. – Minha mãe falou e eu assenti com a cabeça.
- Ela também teve vários problemas, mãe, só queremos ser felizes. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- Por mim está tudo certo, mas elas vão te encher o saco por muito tempo! – Ela apontou para as duas penduradas em meus ombros e eu assenti com a cabeça.
- É, estou sabendo. – Falei, ouvindo a campainha. – Vocês prometem?
- Prometemos. – As duas falaram, desanimadas.
- É, não sei por que eu não acredito. – Falei baixo e me levantei, seguindo até a porta.
O pessoal começou a chegar e o barulho começou a ficar mais alto. O pessoal se concentrava na sala ou no quintal lá fora, apesar do ar gelado que do fim de janeiro. Não era para ser uma grande festa, principalmente porque sairíamos cedo amanhã para ir para Ascoli jogar contra eles. Inicialmente eu e jantaríamos na casa dela, mas meus pais apareceram e tudo mudou do nada. Tínhamos lasanha e cerveja, teria que servir.
Pavel, Alex, Fabio, Trezeguet, Lilian, Camoranesi e Zambrotta vieram, alguns trouxeram suas namoradas e esposas. acabou chegando junto com Lilian e Trezeguet, com um sorriso fofo nos lábios que eu sempre amava.
- Tanti auguri! – Ela falou, e inclinei meu corpo sobre o dela, colando nossos lábios levemente. – E sua família? – Ela perguntou, apoiando a mão em meu peito e nos afastando um pouco.
- Eu falei meio por cima, já te peço desculpas se eles falarem algo que te deixe mal. – Ela deu um sorriso, assentindo com a cabeça e colou nossos lábios novamente.
- Eles gostam de mim, pensa bem, é um avanço! – Rimos juntos e ela me entregou um embrulho. – Espero que goste.
- Não precisava me comprar nada. – Falei e ela deu de ombros.
- Não foi fácil achar, já avisando. Se ficar pequeno ou grande, não tem como trocar. – Rimos juntos e assenti com a cabeça. – Ciao, ragazzi.
- Ciao, ! – Minhas irmãs foram as primeiras a falar e eu desviei dos abraços, focando no meu presente, abrindo-o, empolgado.
Era uma caixa de camisa com algo escrito em inglês. Abri a mesma e achei estranho o pano colorido, até tirar ela da caixa, ficando completamente em choque. Era uma blusa igual do Thomas N’Kono na Copa de 90. Foi com aquele kit que eu decidi virar goleiro, foi ali que minha vida como jogador de futebol sério começou.
- Gostou? – Ela cochichou ao meu lado e eu ri fracamente, virando para ela.
- Isso é loucura! – Falei e ela sorriu. – Como você encontrou?
- Quando eu fui para Londres, encontrei uma loja de blusas clássicas do futebol, eles não tinham, mas ficamos em contato. Estou com ela desde agosto, tivemos todos aqueles problemas. Quando nos ajeitamos, achei legal guardar para uma data importante. – Sorri, passando minhas mãos pela sua nuca.
- É o melhor presente que eu recebi na vida. – Rimos juntos e colei meus lábios nos dela por alguns segundos.
- Beh, eu sou boa para dar presentes. – Sorri, sentindo-a me abraçar pela cintura.
- Vai para um quadro ficar muito bem guardada. – Falei e ela riu.
- Falta só o autógrafo agora. – Ela disse.
- Hum, talvez isso seja um pouco difícil, mas posso tentar. – Ela assentiu com a cabeça.
- Vou lá com o pessoal, vamos? – Ela perguntou.
- Vou só namorar ela um pouco mais. – Ela riu fracamente e me deu um beijo na bochecha, antes de se afastar.
Eu não fazia a mínima ideia como ela tinha encontrado essa blusa, até como ela tinha se lembrado disso, parecia uma eternidade que conversamos sobre, mas aposto que ela não deve ter pagado barato isso, a blusa era de 1990, estava fazendo quase 16 anos. Era loucura. E a blusa ainda parecia nova, era real uma relíquia.
Deixei meu novo brinquedo de lado, guardando-o de volta na caixa e segui para resgatar que falava com Guendalina e Veronica, rindo de alguma coisa que uma delas falava. Me aproximei das três, passando o braço nos ombros de e ela virou para mim rapidamente. Dei um beijo em sua testa e sorri.
- Viu?! – Guendalina falou.
- O quê? – Perguntei.
- Eu estou tentando me conter, mas olha isso! – Ela apontou para nós dois e rimos juntos.
- Vocês prometeram. – Falei e Veronica abanou as mãos.
- Ele jogou essa bomba para gente há 30 minutos, ok?! – Veronica falou para . – Me desculpe pelo surto, mas desde aquela festa de Natal que a gente fala para ele, mas ele é muito cabeça dura. – Ela bateu duas vezes em minha cabeça e desviei dela, rindo fracamente.
- Está tudo bem, minha amiga sempre falou também, mas gosto de acreditar que essas coisas acontecem quando tem que acontecer. – falou olhando para mim e assenti com a cabeça.
- É, mas demorou muito tempo. – Guendy falou.
- Relaxa que ainda temos que nos ajeitar na parte do trabalho dela. – Falei.
- Vocês façam o que precisam fazer para se ajeitar. – Minha mãe falou. – Só não deixa essas duas irritarem vocês.
- Viu? Ainda existe alguém sensato na minha família. – Sussurrei, sentindo Guendy me cutucar na costela. – Ai!
- Só queremos seu bem, ok?! – Ela falou e ri fracamente.
- Todos nós, né?! – Lilian passou o braço em meus ombros e riu. – Mas fala se não é o casal da propaganda de margarina? – Ele apertou minhas bochechas e eu franzi o rosto.
- Deus! Como eu me arrependo do dia que eu contei para vocês! – Falei, afastando meu rosto.
- Não é como se precisasse contar muito, né?! – Alex se meteu. – Ficou claro na festa de Natal do time. Ambos sumiram, voltaram quase juntos, as respostas estavam muito programadas...
- Vocês passaram o ano novo juntos, certo? – Veronica perguntou e eu franzi os lábios. – Fabio, não teve festa ano novo, né?!
- Eu não fiz festa nenhuma. – Fabio falou.
- Ah, filho da mãe! – Veronica falou e riu ao meu lado.
- Você falou que eu ia dar uma festa para você e a passarem o ano novo juntos? – Fabio perguntou um pouco mais alto, nos fazendo gargalhar.
- Beh... – Falei, vendo-o negar com a cabeça.
- E onde vocês passaram? – Minha mãe perguntou.
- Aqui mesmo, como tem a situação do meu trabalho, não queremos ser vistos na rua para não ter perigo de paparazzi e tudo mais. – explicou.
- Isso faz muito sentido. – Meu pai falou e assentiu com a cabeça.
- É, mas vamos mudar de assunto, né?! Vamos comer, beber que...
- Ah, nem vem, irmãozinho, você não vai fugir dessa. – Veronica falou. – Queremos saber de tudo.
- É, verdade! Foi uma surpresa para todo mundo, pode contar aí. – Karine, esposa de Lilian, falou e eu e nos entreolhamos.
- Agora aguenta. – Falei e riu fracamente.
- Ok, vamos lá. – disse. – Desde o dia que ele voltou para o time, eu notei que ele estava estranho, inclusive me ignorando, e comecei a segui-lo. – Ela falou, me fazendo rir. – Esse pessoal é muito ruim de mentir também. – Ela apontou para Alex e Pavel.
- Ei! – Pavel reclamou.
- Ah, qual é, gente! Eu não sei mentir também, mas vocês não ficam para trás. – falou, me fazendo rir.
- É, bom... – Ele deu de ombros.
- Continuando...

Lei
Seis de abril de 2006

Me mexi na cama, sentindo um frio passar pelo meu corpo e tentei puxar o lençol com a ponta dos dedos, mas não alcancei. Franzi os olhos, abrindo-os devagar e vi uma iluminação fraca no quarto. Virei o rosto para o outro lado e encontrei a cama vazia e a luz do banheiro acesa. Suspirei, me sentando na cama e passei as mãos nos cabelos, jogando-os para trás.
Virei as pernas na cama, procurando minha calcinha e a vesti quando encontrei. Olhei para o relógio na mesa de cabeceira do outro lado e era 3:47 da madrugada. Segui em direção ao banheiro, incomodada com a mudança de iluminação e suspirei ao encontrar Gigi debruçado na pia, somente de cueca e a cabeça baixa. Me aproximei dele, passando os braços pela sua cintura e ele se endireitou.
- Ei, você acordou? – Ele perguntou e dei um beijo em suas costas, sentindo-o passar o braço pelos meus ombros.
- Sim, por que você acordou? – Perguntei, vendo-o se virar de frente para mim e vi seus olhos cansados.
- Só pensando. – Ele falou e passei a mão em seu rosto.
- No jogo? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça. - Acontece, Gigi, não precisa ficar se martirizando. – Falei, abraçando-o pela cintura.
- Não, , a gente jogou em casa, precisávamos ganhar. – Ele falou, olhando para os olhos.
- Acontece, Gigi. – Falei, segurando seu rosto com as mãos.
- Você trabalha na contabilidade de um time há cinco anos e fala isso? – Ele perguntou.
- Eu sei o que ser eliminado de uma Champions significa no aspecto monetário, mas eu me preocupo mais com você, com os meninos... – Falei, forçando-o a olhar para mim. – Não tem o que fazer, por isso falo que essas coisas acontecem. – Falei firme, acariciando seu rosto.
- Eu sei, eu só... – Ele balançou a cabeça, bufando.
- O quê? – Perguntei.
- Eu quero muito isso! – Ele disse.
- Uma Champions? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça. – Você pode tentar de novo no ano que vem, o campeonato está quase ganho, eventualmente vai dar certo, mas temos que lembrar que são os melhores times da Europa, todos estão lá pelo mesmo foco.
- É que depois de 2003, foi difícil superar aquilo. – Acariciei seu rosto.
- Você é novo ainda, vai acontecer um dia. – Passei as mãos em seus ombros.
- Eu não consigo não me cobrar. – Ele falou e suspirei.
- Entendo e acho que está certo, mas agora não podemos fazer nada por isso. – Disse e ele assentiu com a cabeça. – Muito menos de madrugada. – Ele suspirou e fiquei na ponta dos pés, dando um beijo em seus lábios. – Volta para cama. – Sussurrei com os lábios colados nos seus.
Ele não falou nada, soltou um longo suspiro, coçando os olhos. Segurei sua mão, puxando-o de volta para o quarto, vendo-o apagar a luz do banheiro e nos deixar cegos por alguns segundos. Segui até o abajur mais perto, acendendo-o e ele se sentou na beirada da cama. Soltei um suspiro, sabendo que aquele era seu jeito de passar pelas coisas.
Dei a volta na cama, me sentando do outro lado e puxei-o pela mão, forçando-o a deitar na cama, ouvindo-o rir fracamente. Puxei o lençol na beirada da cama e cobri nossos corpos, deitando de bruços na cama e me aproximando dele, apoiando um braço em cima de seu peito. Ele passou o braço em minhas costas, acariciando-a levemente.
Dei um beijo em sua bochecha, começando a dar curtos beijos em seu queixo e pescoço, vendo-o mexer o rosto com as cócegas e ele virou o corpo em direção, finalmente olhando em meus olhos e sorri, levando a mão até seu rosto.
- O que você quer? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Nada, mas você me acordou. – Falei, sentindo-o levar uma mão até minhas costas, na base da minha coluna. – Na verdade, quero que você pare de pensar nisso.
- Eu não consigo dormir, então vai ser difícil. – Suspirei, roçando meus lábios nos seus levemente.
- Vamos voltar ao jogo lá em Londres... – Falei, acariciando sua nuca. – Você me ligou, feliz que estava comemorando 200 jogos pela Juventus...
- E aí eu deixei dois gols entrarem, dois gols ridículos. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, em partes... Mas o que eu falei para você depois? – Perguntei, sentindo-o acariciar minha cintura.
- Para eu respirar fundo, relaxar e fazer meu melhor em casa.
- Exato. – Falei, dando um curto beijo em seus lábios. – E você fez isso, não?
- Não. – Ele falou.
- Como não? – Afastei meu rosto um pouco. – O jogo terminou zero a zero. – Ele bufou. – Você fez sua parte. – Falei. – Fabio, Lilian, Zebina, vocês fizeram sua parte. Agora faltou a outra metade do time... – Ele riu fracamente. – Trezeguet, Zlatan, Mutu...
- Eu não posso pensar assim, somos um time. – Ele falou.
- Eu sei, mas não estavam na mesma sintonia. Não levou, mas também não fez. – Ele suspirou. – Olha para mim. – Falei e ele virou o rosto, tentando dar um sorriso de lado. – Essas coisas acontecem. – Falei firme. – No jogo de ida foram seis amarelos, sendo que dois viraram vermelhos. Aqui foram três amarelos e um virou vermelho. – Dei de ombros. – Acontece, Gigi.
- Você não entende... – Ele balançou com a cabeça.
- Talvez não. – Suspirei, me sentando na cama. – Mas eu sei que sempre tem outro jogo. Isso eu estou certa, não?! – Falei e ele assentiu com a cabeça. – Então, pronto. – Sorri, vendo-o rir fracamente. – Você tem 28 anos, Gigi. Até que idade você pode jogar? 45? – Ele gargalhou e eu sorri.
- Um pouco menos. – Ele subiu o corpo, pegando meu travesseiro e colocando atrás da sua cabeça, ficando mais alto.
- 40?
- Uns 38, depende do corpo, lesões, enfim... – Assenti com a cabeça.
- Ok, vamos colocar 38 anos, então. – Ele disse. – Isso são 10 anos, Gigi. 10 temporadas, 10 novas oportunidades para você.
- Eu sei, mas também se não der certo, reduz para nove anos, depois oito, depois sete...
- Ei, desacelera aí! – Falei, apoiando a mão em seu peito, ouvindo-o rir. – Daqui 10 anos eu vou estar com 34 anos. Muito longe. – Ele apoiou a mão em minha perna.
- Você que começou a falar dos anos, das oportunidades... – Ele afinou a voz, revirando os olhos.
- Primeiro: eu não falo assim. – Ele sorriu. – Segundo: sim, você tem todas essas oportunidades, mas o tempo passa, então você precisa aproveitar essas chances, mas não é porque o tempo passa que não podemos tentar de novo. – Ele suspirou.
- Um pouco contraditório, mas ok. – Ri fracamente, inclinando meu corpo sobre o seu.
- Nós temos tempo, você tem tempo. – Apoiei as mãos nas laterais de seu corpo. – Se não deu certo nessa temporada, tentamos na próxima. – Falei.
- Sem Champions, sem Coppa Italia... – Ele suspirou.
- Temos ainda seis rodadas de campeonato. – Falei. – E vocês só perderam uma vez lá em outubro, sabe o que é isso?
- Sorte. – Ele falou e eu revirei os olhos.
- Talvez. – Rimos juntos. – Mas é um milagre também. – Acariciei seu rosto.
- Também estávamos ganhando mais enquanto estava o Abbiati, agora sempre ficamos no empate.
- Ah, você deve estar um pouco enferrujado ainda. – Desci a mão para onde havia sido sua lesão e ele riu fracamente.
- Você é incrível, sabia? – Ele ergueu a mão para meu rosto, jogando meus cabelos para minhas costas.
- Eu sei disso tudo, mas por que você diz? – Ele riu fracamente.
- São quatro da manhã, você vai trabalhar em algumas horas e está acordada tentando me distrair. – Dei de ombros.
- Posso garantir que no trabalho eu não vou estar com essa mesma empolgação.
- Por que você escolheu contabilidade? Não tinha algo mais legal? – Ele perguntou e eu deitei meu corpo em cima do dele, ficando entre suas pernas e ele me abraçou pela cintura.
- Eu trabalhei um pouco em comércio e percebi que era boa com números. – Falei. – Eu não tinha muita expectativa, nem nada, naquela época, então acabou combinando. Era algo que eu realmente era boa, acabei seguindo. – Ele deu um beijo em minha cabeça. – Hoje talvez eu fizesse alguma outra coisa.
- O quê? – Ele perguntou.
- Ah, algo relacionado a comunicação, relações públicas, RH, eu sou boa nisso.
- Com certeza, mas você também é boa na contabilidade. – Espalmei seu peito, apoiando o queixo nas mãos e olhei de perto.
- Sim, e vejo um grande avanço meu no time, então acho que escolhi certo. – Ele sorriu, acariciando meu rosto.
- Te trouxe para perto de mim. – Sorri.
- Acho que te trouxe para perto de mim, eu entrei no time uns dois meses antes do que você. – Ele riu fracamente.
- Ok, eu aceito isso. – Ele segurou meu rosto e colou nossos lábios por alguns segundos. – Você precisa dormir. – Ele falou.
- Você também. – Falei, rolando para o lado dele na cama, puxando meu travesseiro de volta, vendo-o fazer uma careta.
- Eu não tenho treino amanhã. – Ele me puxou pela cintura, me trazendo para mais perto de si.
- Deveriam, assim íamos juntos para o time.
- E seu chefe? – Ele perguntou.
- Ah, precisamos pensar nisso ainda. – Suspirei.
- Por que não pensamos na próxima temporada? – Ele virou para mim e eu fiz o mesmo. – Dia 14 de maio é o último jogo, dia 15 é a convocação para a Copa, logo depois já começam os treinos...
- É, pode ser. – Me aproximei dele, apoiando a cabeça em seu peito e ele me abraçou. – Mas estamos na mesma sintonia, não estamos?
- Faz quase cinco meses, se não estamos, alguma coisa está errada. – Ele falou, me fazendo rir fracamente. – Eu gosto de você, . Como eu nunca gostei de ninguém.
- Eu também. – Falei, com um sorriso no rosto e ele acariciou meu queixo, colando os lábios nos meus. – É diferente, é gostoso...
- É certo. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Demais. – Ele deu um beijo em minha testa e eu sorri, fechando os olhos.
Ele me abraçou pela cintura, acariciando-a levemente, fazendo um arrepio passar pelo meu corpo. Soltei um suspiro, sentindo meu corpo relaxar aos poucos e Gigi se mexeu um pouco, deixando tudo escuro novamente. Ele virou seu corpo em direção ao meu e coloquei uma perna no meio das suas, sentindo nossos pés brigarem por espaço.
Ele deu um beijo em minha testa e eu ergui o rosto, sentindo-o dar um beijo em meus lábios e abaixei minha cabeça novamente, apoiando em seu peito. Passei os braços pelo seu pescoço e senti meu corpo relaxar aos poucos com os leves toques de Gigi em meu corpo, fazendo com que eu adormecesse aos poucos com um sorriso nos lábios.

Lui
Sete de maio de 2006 • Trilha SonoraOuça

O juiz apitou o fim de jogo e foi um verdadeiro alívio. Apesar do jogo ser contra o Palermo, um time que havia acabado de subir para a Série A novamente depois de 31 anos, os últimos minutos haviam sido um tanto sacrificante para mim e para defesa com várias investidas. Apesar de tudo, pelo segundo jogo consecutivo, havíamos vencido e agora faltava somente um ponto e uma rodada para ganharmos o segundo scudetto consecutivo novamente e meu quarto no time. E rezar para o Milan perder ou empatar, mas não é como se fosse algo novo desejar isso.
Apesar da vitória e da animação pelo título iminente, tinha um tom levemente amargo na boca, havíamos jogado o último jogo no Delle Alpi. Esse estádio havia marcado muito a minha carreira como jogador. Eu apareci para o mundo aqui, me consagrei campeão aqui, tive alguns momentos memoráveis com a minha família aqui, beijei a aqui. Era muita coisa para eu simplesmente ignorar, então as lágrimas acabaram deslizando pelas bochechas sem pena.
Os jogadores se abraçaram pelos ombros, distribuindo sorrisos e tapas nas costas, os torcedores comemoraram empolgados, mas todos tínhamos os mesmos olhos brilhantes e lábios tremendo. Não sabia detalhes sobre a construção do próximo estádio, mas sabia que em breve esse estádio seria só entulho e pedaços de ferro, mas levaria muitas lembranças com ele.
Optei por não trocar minha blusa hoje, essa seria uma das que eu guardaria para sempre. Sete de maio de 2006, um grande marco para esse clube, para mim e para muitas pessoas. Eu me emocionava fácil até demais, normalmente por qualquer coisa, então não me importei com isso, compartilhando um pouco da minha felicidade e emoção com os torcedores.
O treinador e os assistentes técnicos também nos abraçaram empolgados e emocionados e procurei na arquibancada, encontrando-a no mesmo lugar de sempre, com Giulia ao seu lado. Só meus companheiros de time sabiam sobre a gente, então não acenei e nem denunciei sua presença, mas ela tinha aquele sorriso perdido em seus lábios pressionados de quem também estava se segurando para não chorar.
Ela acenou para mim, podendo estar acenando para qualquer um perto de nós e deu aquele aceno com a cabeça. Copiei o movimento, levando a mão até o peito e abri um sorriso. Ela fez um movimento para trás e sabia que ela nos encontraria no vestiário mais tarde.
Aproveitamos aquele momento e fizemos uma volta olímpica no estádio, cumprimentando nossos torcedores, os torcedores do Palermo, inclusive os jogadores do Palermo que ainda estavam no campo conosco. Parecia que eles também entendiam a importância do jogo de hoje, da nossa despedida. Além disso, vários jogadores conhecidos meus da Seleção Italiana jogavam no Palermo, como Zaccardo, Grosso, Barzagli, Barone e Toni. Alguns eu havia encontrado em poucos amistosos, agora outros eu tinha contato constantemente.
Acabamos entrando de volta para o vestiário quase 30 minutos após o apito final, e boa parte disso foi porque os seguranças começaram a expulsar gentilmente o pessoal do estádio. Tudo bem, estávamos acostumados. Nem era fim de temporada para enrolarmos demais. Entrei no vestiário cumprimentando o pessoal do departamento médico, roupeiros e outras pessoas que sempre estavam com a gente e segui até meu espaço. Tirei a camiseta, jogando-a dentro da minha mochila e sentei, tirando as chuteiras, meias e joelheiras.
- Ragazzi, vamos nos juntar um pouco rapidamente? – Capello falou e todos nos levantamos, abraçando uns aos outros pelos ombros. – O jogo foi muito bom e estamos há somente um ponto para ganhar o scudetto. Acabamos deixando para a última rodada, mas vamos conseguir. Nossa batalha foi difícil, tivemos vários de vocês se lesionando ao longo da temporada, ficamos literalmente sangrando, mas está valendo à pena. – Ele disse, olhando para cada um de nós. – Tivemos somente uma derrota em toda temporada, o que acaba sendo um recorde incrível para todos nós. – Assentimos com a cabeça. – Semana que vem teremos um jogo incrível e sei que conquistaremos isso. Obrigado a todos vocês, estamos fazendo uma segunda temporada incrível. – Começamos a aplaudi-lo, vendo-o sorrir.
Logo nos distraímos e fui para o banho. Eu iria para casa de depois daqui, aproveitaríamos um pouco juntos, já que o último jogo da temporada seria fora em Bari, logo eu teria que ir embora para a Copa, então queríamos aproveitar os últimos momentos juntos. O pessoal estava empolgado no chuveiro, Lilian e David continuavam com as suas cantorias de sempre, então foi só risada como sempre.
Saí do banho, me secando e voltei para o vestiário, esperando encontrar rindo com os caras, mas nada, só o pessoal de sempre. Achei estranho, mas depois mandaria mensagem para ela caso ela não aparecesse, mas havíamos deixado combinado antes de tudo que eu sairia daqui, voltaria para Vinovo com o time, de lá pegaria o carro e iria até sua casa. Vai ver ela tinha combinado de levar Giulia para casa ou algo assim.
Me arrumei com o moletom do time, terminando de arrumar as coisas em minha mochila e vi o clã engravatado entrar. Franzo, Moggi, Giraudo, Giorgio, duas pessoas da presidência que eu não sabia o nome e no fundo de tudo. Ela deu uma piscadela para mim quando me viu e contive qualquer reação, meus companheiros de time entenderam a deixa.
- Ciao, ragazzi. Podemos interromper um pouco? – Franzo, atual presidente do time, foi o primeiro a falar.
- Entra aí! – Capello falou no seu jeito modesto de sempre e eu escondi um sorriso nos lábios.
- Só passei aqui para parabenizá-los pelo jogo e falar que esse é um momento importante na nossa história. – Ele disse. – Hoje foi o último jogo aqui no Delle Alpi, a partir da próxima temporada iremos jogar no Olimpico e queria só agradecer pelos momentos incríveis que passamos nesse estádio. Eu estou aqui faz três anos, mas acompanho bem antes disso... – Olhei para ao fundo e ela me olhava, se escondendo atrás de seu chefe e retribuí o sorriso. – ...Obrigado por tudo. – O pessoal começou a aplaudi-lo e percebi que havia perdido parte do discurso.
Franzi, Giorgio e os gerentes esportivos Moggi e Giraudo, esses dois últimos que tínhamos mais contato, nos cumprimentaram, deram tapas em nossas costas, falaram algumas palavras motivadoras, mas eu não tirava o olhar de que estava mais fora do vestiário do que dentro. Eu estava louco para acabar tudo aquilo, ir para casa e finalmente abraçá-la. Se não fosse o presidente, vice, gerente de contabilidade e gerentes esportivos, só o quinteto mais importante do time, eu já teria beijado-a ali, mas ainda queria certificar que ela tivesse um emprego na próxima temporada.
Ela fez um movimento com a cabeça, indicando o lado de fora e afirmei com a cabeça, não sabendo muito o que queria dizer, mas ela acenou rapidamente para dentro, recebendo um beijo de Capello e saiu, sorridente, logo sendo acompanhada pelos poderosos do time.
- Isso é que é empatar foda. – Pavel sussurrou para mim e ri fracamente, empurrando-o pelo ombro, vendo-o rir.
- Eu vou para casa dela depois daqui. – Comentei e ele sorriu.
- Me parece um bom jeito de terminar a noite. – Ri fracamente.
- Bom, são seis horas ainda, a noite vai ser longa. – Comentei, ouvindo-o rir. - E ela vai me xingar por dormir tarde e ter que acordar cedo.
- Isso é bom, Gigi. Estou feliz por você. – Ele disse, batendo a mão em meu ombro e eu sorri. – Já pensaram quando vão se abrir? Se vão se abrir?
- Ficamos de falar sobre isso depois da Copa, ela disse que está tudo meio louco lá na área dela, ela quer que o clima esteja mais calmo para jogar a bomba...
- As chances de eles não encrencarem são maiores, ela está certa. – Ele falou e confirmei com a cabeça.
- Temos uns dois meses até aí, então.
- Mais se considerar as férias. – Ele ponderou com a cabeça.
- Be’.
Após todos os jogadores finalmente terminarem de se arrumar, seguimos para fora do estádio. ainda estava presa com o quinteto da presidência e fez uma leve cara de sofrimento para mim. Às vezes seu chefe abusava um pouco demais do tempo dela, inclusive fora do serviço, mas eu gostava de vê-la sempre embaixo de sua asa, significava que ele gostava dela e ele poderia ajudá-la ter uma verdadeira carreira aqui no time. Por mais que eu também quisesse chegar em sua casa e passar o resto da noite com ela, esses esforços poderiam valer à pena no futuro.
Chegamos em Vinovo, nos cumprimentamos e cada um seguiu para seu carro. Puxei o celular da mochila e encontrei uma mensagem solitária de ali:
“Estou saindo daqui agora, vou deixar a Giulia na casa dela e logo chego”. – Assenti com a cabeça.
“Te espero na sua casa”. – Respondi.
Giulia morava perto de onde eu morava, num dos melhores bairros da cidade, então ela estava mais perto do estádio do que daqui e, daqui, eu chegaria em sua casa em menos de 10 minutos, já que não tinha trânsito para esse lado agora. Sem muita escolha e sem vontade de ficar trancado aqui dentro do centro, dirigi até sua casa, parando em uma das vagas do outro lado da rua e esperei sua chegada.
A adrenalina pós-jogo estava finalmente batendo, então acabei pulando de susto quando ela deu dois toques na janela do meu carro, gargalhando com a minha reação, negando com a cabeça. Empurrei a porta do carro, ouvindo sua risada mais alta e puxei minha mochila.
- Estava tirando uma soneca? – Ela perguntou e eu ri fracamente, passando a mão pela sua cintura, abraçando-a fortemente. – Aqui não, Gigi. – Ela me empurrou de leve pela barriga. – Eu tenho vizinhos! E muitos que são torcedores.
- Só tem nós dois aqui. – Falei, estendendo a mão e ela negou com a cabeça, seguindo em minha frente e eu ri fracamente.
- Só vem! – Ela falou, abrindo o portão e eu passei para dentro, dando um beijo em sua testa, vendo-a revirar os olhos.
- Estressadinha. – Falei.
- O Giorgio me segurou por quase uma hora. – Ela falou, trancando o portão e indo em minha direção. – Nem consegui cumprimentar você ou os meninos. – Ela falou.
- Você pode me cumprimentar agora. – Falei, seguindo atrás dela pelo corredor do seu prédio.
- Está todo solto, né?! – Rimos juntos.
- Beh, hoje foi um dia especial. – Comecei a subir as escadas. – Ganhamos, estamos há um ponto do scudetto, último jogo no Delle Alpi.
- Ah, nem fala, eu fiquei chorando durante todo o jogo. – Ela falou, procurando a chave e abrindo a porta de seu apartamento.
- Eu chorei um pouco também, conquistei tanta coisa nesse estádio. – Comentei e ela deu espaço para eu entrar antes.
- Foi o primeiro estádio que eu fui na vida, o primeiro jogo, tudo. – Ela suspirou, se virando para trancar a porta e parei atrás dela. – Mas sei que vai vir algo sensacional. – Ela se virou e eu sorri, vendo-a rir.
- Você já viu o projeto? – Perguntei, apoiando o braço na porta, mantendo nossos lábios bem próximos.
- Ainda não, mas um arquiteto superfamoso está fazendo, não me pergunte quem. – Rocei meus lábios nos dela levemente.
- Não conheço muitos arquitetos. – Comentei, vendo-a rir e finalmente colei meus lábios nos dela, endireitando o corpo e colei minha barriga na sua. – Hum, agora sim. – Ela riu fracamente.
- Não fica tão próximo, eu preciso tomar banho. – Ela falou, fugindo por baixo de meu braço e eu ri fracamente. – Estava muito sol hoje.
- Ah, eu não ligo. – Comentei, vendo-a seguir para seu quarto e fui atrás, apoiando minha mochila na mesa.
- Eu ligo! – Ela puxou a camisa da Juventus que usava com seu sobrenome e o número um e sorri, só faltava ser uma blusa de goleiro, mas o kit atual não era muito bonito, pelo menos era meu número. – Eu já volto, ok?! – Ela disse, vindo em minha direção e deu um rápido beijo em meus lábios, antes de sumir pelo banheiro.
Dei uma rápida olhada em volta e tirei os tênis e o moletom antes de deitar em sua cama para esperar. Passei os olhos pela sua mesa de cabeceira e vi a foto dela com seus pais quando mais nova, segundo ela, poucos dias antes do acidente. Me surpreendia como ela era a cara de sua mãe. Pelo que ela falava, eles haviam sido pessoas incríveis e isso explicava muito quem era hoje.
Na mesa havia uma dela com Giulia em sua formatura, com as becas, capelos e caras engraçadas e, em frente à essa, somente apoiada no porta-retrato, uma polaroid minha e dela em meu aniversário. Fabio havia levado sua câmera polaroid e acabamos tirando várias fotos, umas delas foi essa. Eu abraçando-a pela cintura, dando um beijo em sua bochecha, enquanto ela falava alguma coisa, saindo com a boca aberta. Me levantei da cama, pegando a foto e a virei, vendo a mensagem que eu havia deixado para ela “Noi per sempre – 28/01/06”, e sorri mais uma vez, deixando a foto do jeito que estava antes.
Peguei minha mochila, puxando a carteira e peguei minha versão da foto, tirada segundos depois. Agora ela me abraçava pela cintura, tinha um largo sorriso para a câmera e eu tinha o rosto sério, com o queixo apoiado em sua cabeça. Virei a foto, vendo sua letra “Tanti auguri per noi – 28/01/06” e sorri, guardando-a no lugar de antes e joguei a carteira na mochila de novo.
Bati o pé no chão, ouvindo o barulho do chuveiro no banheiro e ponderei com a cabeça, rindo fracamente com meus próprios pensamentos. Me levantei novamente, puxando minha camiseta para cima e tirei as calças, deixando em cima de sua mesa. Segui em direção ao banheiro, feliz por ela não ter trancado e a vi pelo reflexo do espelho antes de eu entrar.
- Gigi! – Ela gritou, me fazendo rir e fechei a porta, apoiando na porta.
- Vim te fazer companhia. – Falei, vendo-a passar a mão no vidro embaçado e observei seu corpo molhado e a água caindo em seu rosto e cabelos.
- Companhia? – Ela perguntou e eu dei de ombros, tirando a cueca. – Você não acabou de tomar banho?
- Quem disse que eu quero tomar banho? – Comentei, abrindo o box e entrei, sentindo alguns respingos de água pelo box menor.
- Ah, Gianluigi! – Ela falou, me fazendo rir.
Ela passou as mãos nos cabelos, tirando o resto da espuma e levei as mãos até sua cintura, acariciando-a levemente, vendo seus olhos acompanharem meus movimentos enquanto desviavam do jato de água vindo de cima. Subi minhas mãos pela sua barriga, delineando sua cintura devagar e aproximei meu rosto do seu, sentindo a água bater em minha cabeça e colei meus lábios nos dela.
Suas mãos subiram pelos meus ombros, segurando em minha nuca e colei meu peito no seu, trazendo-a para mais perto de mim. Ela afastou os lábios aos poucos, assoprando a água que nos afogava e desci meus lábios pelo seu pescoço, dando um beijo no espaço livre, sentindo a água morna cair em minhas costas. Empurrei seu corpo para a parede, desviando dos registros e colei nossos corpos novamente.
Suas mãos desceram pelas minhas costas, acariciando-a levemente, fazendo um arrepio passar pela minha espinha e desci meus beijos para o meio de seus seios, lambendo-o e suguei um deles, ouvindo-a arfar e deixar as mãos deslizarem pela lateral do seu corpo. Desci minhas mãos pelos seus braços, segurando suas mãos e as ergui acima de sua cabeça, erguendo meu rosto em direção ao seu.
Seus olhos encontraram os meus e dei um sorriso, colando nossos lábios. Senti seu pé subir pelas minhas pernas, fazendo meu corpo arrepiar e desci suas mãos, segurando-a pela cintura e ela segurou meu pescoço. Sua língua abriu espaço entre meus lábios e colei mais meu corpo sobre o seu, sentindo a respiração começar a ficar falha conforme o beijo ganhava velocidade.
Ela finalizou o beijo, descendo os olhos pelo meu corpo e passou as mãos em meu peito em um carinho leve, levando os lábios para o local, dando curtos beijos e chupadas. Desci minhas mãos pelo seu corpo, chegando em sua virilha e seus movimentos ficaram mais espaçados conforme minha mão chegava em sua vagina.
Ela subiu os lábios pelo meu pescoço, apoiando a cabeça conforme eu começava a movimentar meus dedos pelos seus grandes lábios, sentindo-a abrir espaço para minhas carícias e apoiei meu antebraço na parede. Ela ergueu o rosto, focando seus olhos nos meus e subiu as mãos para meu rosto.
Movimentei os dedos devagar, vendo-a pressionar os lábios com os movimentos e cheguei em seu clitóris, começando a movimentar os dedos mais rapidamente, sentindo-a me abraçar pelos ombros, puxando meu corpo para mais perto de si. Ela soltava a respiração forte pela boca, pressionando o lábio inferior e eu sentia minha ereção começar a apertar contra sua pele. Ela desceu os olhos por um momento, dando um sorriso para mim.
Ela desceu uma mão pelo meu corpo, me fazendo contrair a barriga. Agilizei os dedos em sua vagina, ouvindo-a suspirar e apertar as mãos pelo meu corpo conforme atingia seus pontos. Ela segurou meu pênis, sendo minha vez de suspirar. Ela começou a movimentar a mão devagar pela extensão de meu membro e eu tentava, sem sucesso, manter o ritmo em seu corpo.
Ela pegou a oportunidade e agilizou os movimentos conforme eu desacelerava, sentindo meu corpo responder a ela, como sempre respondia com facilidade, e passei minhas mãos pela sua cintura, segurando-a. Desci meus lábios pelo seu pescoço, deixando alguns beijos, intercalando com a respiração forte que respondia aos seus estímulos.
- Eu quero você dentro de mim... – Ela sussurrou e eu ergui o rosto até o seu, acariciando-o levemente.
- Eu estou sem camisinha. – Falei baixo.
- Tenho na última gaveta. – Ela disse e eu suspirei quando ela parou de me estimular e ela deu um sorriso, mordendo seu lábio inferior.
Abri o box na pressa, tentando não molhar todo seu banheiro e abri a última gaveta, encontrando algumas embalagens e já a abri, jogando a embalagem no lixo e voltei para o banheiro, vendo-a embaixo da água novamente. Estudei seu corpo mais uma vez, dando um sorriso e ela retribuiu. Ela veio em minha direção, me pressionando contra a parede e pegou a camisinha de minha mão.
Mordi meu lábio inferior, prendendo a respiração por um momento e ela colocou a camisinha em mim, abaixando as mãos. Ela pressionou seu corpo contra o meu, acariciando minha perna com o pé e passei a mão pela sua perna, erguendo-a até a altura de minha cintura. Ela levou as mãos até meu pescoço e colei meu corpo ao seu, deslizando meu pênis pela extensão de sua vagina e ela colou nossos lábios.
Deslizei uma mão pelo seu corpo, acariciando da lateral de seus seios até a cintura e segurei meu pênis, posicionando-o em sua entrada e deslizei para dentro dela devagar, sentindo-a soltar a respiração pelos lábios, afastando nossos rostos. Deixei os movimentos começarem a fluir automaticamente e subi a mão para sua nuca, segurando-a e colei nossas testas novamente.
Nossos gemidos entraram em sincronia e isso me estimulava a movimentar meu quadril cada vez mais rápido. Suas mãos subiram pelas minhas costas, me apertando e dava um curto beijo para cada movimento de meu corpo. Ela mordia os lábios e lutava para manter os olhos abertos, revirando-os quando conseguia focar nos meus.
Suas unhas pressionaram em minha cintura quando seus gemidos ficaram mais altos e ela abaixou a cabeça em meu peito, suspirando fortemente. Deslizei dentro dela mais algumas vezes, apoiando a cabeça na parede e atingi o orgasmo, soltando a respiração fortemente.
Travei os movimentos, sentindo a respiração pesada. Ela passou as mãos em meus ombros, acariciando-os levemente e desci o olhar para ela, vendo-a sorrir. Deslizei para fora dela, sentindo-a descer sua perna e minha mão acariciou-a levemente, subindo a mão para sua cintura. Aproximei meu corpo do seu, sentindo-a me apertar meu pescoço e colei nossos lábios em um longo beijo, vendo seu sorriso quando me afastei novamente.
- Eu vou sentir sua falta quando for para Copa. – Ela disse e eu ri fracamente.
- Me encontra lá. – Sussurrei e ela riu fracamente.
- Não, você precisa se concentrar... – Ela disse e eu sorri. – Para ganhar.
- Você vai torcer para mim? – Perguntei.
- É claro. Vou torcer pelo meu país. – Ela falou, sorrindo e colei nossos lábios mais uma vez.
- Vai ser uma forcinha a mais. – Falei e ela riu fracamente.
- Podíamos não estar juntos, mas eu torço para você desde que eu entrei no time. – Ela disse. – Copa de 2002, Euro 2004... – Sorri, sentindo-a dar alguns passos para trás e me puxar pelos ombros. – Eu sempre vou torcer por você.
- Sempre? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- Sempre. – Ela sorriu e a beijei antes que a água atingisse nossos corpos.



Capitolo dodici

Lei
12 de maio de 2006 • Trilha SonoraOuça

- Minha esposa gosta de esportes de aventura, ela quer escalar em Fiji, cara! – Lorenzo falou, nos fazendo gargalhar. – Eu quero ficar em casa, abrir uma cerveja e acompanhar a Copa do Mundo.
- Como vocês estão juntos mesmo? – Angelo perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Ela é irmã do meu melhor amigo. – Ele assumiu, nos fazendo gargalhar mais alto.
- Não sei como vocês fazem isso, mas funciona. – Marco falou e assenti com a cabeça.
- E você, ? Quais os planos das férias? – Claudio perguntou e eu desviei os olhos das planilhas de fim de temporada.
- Ah, acho que vou fazer o que o Lorenzo gostaria de fazer. – Rimos juntos e Lorenzo fez uma careta. – Sem viagens para mim esse ano.
- Ninguém vai na Copa? O setor ganhou ingressos, se for esse o problema. – Marco falou.
- Ah, quem sabe? – Comentei. – Se eles chegaram às quartas ou até na semi...
- Eu vou na fase de grupos. – Claudio falou. – Não tenho coração para aguentar decisão.
- Vai ver o quê?
- Itália e Estados Unidos, o jogo do meio. O primeiro é contra Gana, então certeza que eles vão ganhar. Aí eles podem ganhar ou perder no que eu for que não vai fazer tanta diferença para decisão. – Ele disse.
- Esse daí é esperto! – Angelo falou, nos fazendo rir.
- Imagina se eles chegam na final? – Lorenzo falou.
- Nossa, bom demais. – Comentei, pensando em Gigi.
- Não ganhamos desde 82, está na hora de voltar a ganhar. O Brasil virou penta, oh! – Marco falou.
- É. O Brasil não pode ganhar de novo! – Angelo comentou.
- Quem sabe não chegou a nossa hora? – Claudio disse. – A última Copa foi triste demais, cara! Muita roubalheira. Muita... – Ele disse, sendo distraído pelo telefone em sua mesa. – Buona sera? – Ele atendeu. – O QUÊ? – Ele falou alto, nos deixando em alerta. – Como assim? Descobriu? – Ele apoiou a mão na cabeça. – Que merda! – Ele suspirou. - Ok, até logo. – Ele disse, abaixando o telefone.
- O que foi? – Perguntamos juntos e ele se levantou, apressado.
- Sabe aquele problema do dinheiro em excesso desde setembro de 2004 nas suas contas, ? – Ele perguntou e eu me levantei também.
- Sei... – Falei, nervosa.
- O Giorgio achou o dono. – Ele engoliu em seco e saiu de nossa sala.
- Claudio? – Angelo o chamou e eu não esperei, empurrei minha cadeira e saí correndo atrás dele, vendo-o entrar na sala de nosso chefe.
- CLAUDIO! – O chamei alto. – O que está acontecendo? – Perguntei, vendo-o pegar o controle e ligar a grande televisão na sala de Giorgio antes de se virar para mim.
- O maior escândalo de manipulação de resultados já visto no futebol. – Ele falou e eu prendi a respiração, ficando ao seu lado para encarar a TV que agora era colocada no RAI.
O pessoal da outra sala entrou e se colocou ao nosso lado, focando os olhos na televisão também. As imagens e palavras passavam muito rápido e parecia que aquilo estava sendo passado ao longo do dia, mas só nós, as seis pessoas que buscavam o dono do dinheiro, não estávamos sabendo disso.
- “Várias interceptações telefônicas comprovaram a relação entre as equipes técnicas dos times Juventus, Milan, Fiorentina, Lazio e Reggina e árbitros durante as temporadas de 2004/2005 e 2005/2006. Eles escolhiam árbitros para favorecer os resultados dos jogos para se beneficiarem em apostas.” – O apresentador do jornal falava.
“O escândalo veio à tona como consequência das investigações dos promotores da agência italiana de futebol GEA World. Transcrições de conversas telefônicas gravadas publicadas em jornais italianos sugeriram que, durante a temporada 2004/2005, os gerentes gerais da Juventus, Luciano Moggi e Antonio Giraudo, conversaram com vários dirigentes do futebol italiano para influenciar as nomeações dos árbitros. Em uma dessas conversas, Moggi acusou Pierluigi Collina e Roberto Rosetti de serem ‘objetivos demais’ e pediu que fossem ‘punidos’ por não ajudarem no escândalo”.
“Os investigadores estão nomeando essas investigações como Calciopoli, por analogia com Tangentopoli pela combinação da palavra "suborno" e a palavra grega polis que significa "cidade", originalmente referindo-se a Milão como a ‘cidade dos subornos’”.
“Ao todo, os magistrados em Nápoles investigaram formalmente 41 pessoas e analisaram 19 partidas da Série A na temporada 2004/2005 e 14 partidas da Série A na temporada 2005/2006. Os promotores em Turim examinaram Antonio Giraudo, da Juventus, sobre transferências, suspeitas de falsificação de contas e evasão fiscal. Além dele, outros 22 presidentes, dirigentes e treinadores desses cinco times também serão investigados, além de jogadores”.
“Entre os nomes mais famosos estão Marcelo Lippi, atual técnico da Nazionale, devido a envolvimento direto de seu filho com o GEA World, Fabio Cannavaro, Gianluigi Buffon, Enzo Maresca, Antonio Chimenti e Mark Iuliano...”
- Gigi? – Sussurrei, me afastando alguns passos e me sentando no sofá.
- Não acredito que os jogadores estão envolvidos nisso... – Engoli em seco, pressionando os lábios um no outro, tentando evitar chorar ali. Passei as mãos nos olhos e abaixei a cabeça por alguns segundos, tentando normalizar a respiração.
Eu não sabia o que sentir, era como se o tempo tivesse parado para mim. Eu estava, junto da minha equipe, buscando motivos para o excesso de dinheiro nos repasses e a explicação estava óbvia nesse tempo todo. Moggi e Giraudo, um dos cinco mais poderosos dentro desse time, estavam comandando um escândalo de manipulação de resultados diretamente daqui, embaixo de nossos narizes.
Nunca fui muito com a cara daqueles dois, na verdade, o único que eu realmente ia com a cara era Giorgio, e esperava que ele não estivesse envolvido nisso, mas agora Gigi também estava nessa bagunça toda? Como ele pôde fazer isso? Como ele nunca contou nada para mim? Ele sabia que eu estava atolada de serviço. Por mais horrível que fosse, começava a pensar se sua depressão havia sido real.
Não, , não confunda as coisas.
Eu sentia uma dor em meu estômago como se eu tivesse acabado de levar um soco enorme ou como se eu tivesse a maior cólica de todas. Enquanto isso, minha garganta produzia saliva excessiva como quando eu tinha vontade de vomitar, além da queimação na garganta. Meus olhos estavam marejados e eu não conseguia saber no que priorizar agora: eu, meu relacionamento com Gigi ou o time, parecia que tudo tinha explodido de uma hora para outra.
Beh, tinha, né?!
- Vocês viram? – Virei o rosto, vendo Giorgio entrar na sala e eu me levantei rapidamente.
- Me diga que você não tem nada a ver com isso. – Falei alto, sentindo minha voz sair fina demais e puxei a respiração fortemente, sentindo algumas lágrimas finalmente caírem.
- Respira, . – Angelo me abraçou pelos ombros e eu soltei a respiração fortemente, tentando conter as lágrimas.
- Não, . Eu não tenho nada a ver com isso. – Giorgio falou, se aproximando de mim e Angelo se afastou. – Eu estou tão surpreso quanto você. – Passei as mãos nos olhos e ele apoiou as mãos em meus ombros, me puxando para um abraço.
- Como isso aconteceu, Giorgio? – Ouvi Claudio e Giorgio tirou alguns minutos para olhar em meus olhos e eu assenti com a cabeça.
- Eu não sei. – Ele falou, se virando para Claudio. – A gente foi atrás de todos, nossos advogados batalharam muito para descobrir o dono do dinheiro, vasculhamos todas as contas ligadas ao time. – Giorgio me soltou e eu voltei a sentar no sofá.
- Como a gente deixou isso passar? – Perguntei baixo, soltando a respiração forte.
- Não, . Você não deixou nada passar, você descobriu isso para gente. – Ele falou e a vontade de chorar só foi aumentando. – A gente só não conseguiu achar os donos antes.
- Isso é sério, Giorgio. Manipulação de resultados? – Marco comentou e ele me estendeu um copo. – É água com açúcar. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, pegando o copo gelado e dei um curto gole.
- Tempos difíceis virão, gente. – Giorgio falou. – Franzo, Moggi e Giraudo foram demitidos há poucos minutos, por isso eu demorei. – Ele falou e fui bebericando a água devagar.
- A gente vai sofrer, não vai? O time, digo. – Lorenzo perguntou.
- Provavelmente. – Ele falou. – A investigação é gigantesca, isso está acontecendo por baixo dos panos desde o dia primeiro, só agora que saiu na imprensa. – Pressionei os olhos fortemente. – O presidente da Federazione também foi demitido, entre outros dirigentes. Eles serão punidos, mas os times também. Só não sabemos como ainda.
- E os jogadores? – Perguntei baixo.
- Eles vão sofrer investigações individuais. O time pode optar por dar uma multa maior, dependendo do resultado. – Ele disse. – Mas o processo vai longe ainda.
- Isso vai queimá-los, não vai? – Angelo perguntou. – A convocação é em três dias. – Giorgio suspirou, se sentando em uma poltrona, colocando a mão no rosto.
- O Lippi me parecia um cara tão íntegro. – Claudio falou.
- O Lippi não tem muito envolvimento com isso. O filho dele é dono da GEA World e ele acaba sendo mencionado. – Giorgio falou. – Mas não achava que o Gigi, Fabio, Chimenti, Iuliano estivessem envolvidos também e estão...
- Tem mais jogadores envolvidos? – Perguntei.
- A lista é grande. – Ele falou, suspirando.
- Del Piero? Pavel? Lilian? Trezeguet? Camoranesi? – Ele foi negando conforme eu falava os nomes.
- Conosco foram só esses quatro mesmos. – Engoli em seco.
- O que fazemos? – Angelo perguntou.
- Honestamente? Nem eu sei. – Giorgio falou, apoiando os cotovelos nos joelhos. – Quero só que vocês saibam que eu não tenho nada a ver com isso, ok?! – Ele olhou para mim. – Em nenhum momento eu fingi que não sabia de nada, em nenhum momento eu tentei esconder algo, eu realmente não sabia e, sei que é difícil, mas gostaria que confiassem em mim. – Assenti com a cabeça. – Eu já falei com os advogados, eles estão trabalhando para resolver isso, a comunicação também para tentar abafar, mas temos muito trabalho pela frente. – Ele falou, suspirando. – Se vocês puderem mudar suas férias para nos ajudar até isso acalmar, eu agradeço, prometo que farei de tudo para recompensá-los. Seja com folgas ou monetariamente.
- Acho que estamos juntos nessa, né?! – Comentei, vendo os outros homens concordarem com a cabeça.
- A gente vai sair dessa. Com alguns arranhões, mas vamos.
- As ações do time vão cair para caramba. – Lorenzo falou.
- Já estão caindo, desde o dia nove. – Giorgio falou. – Não sabíamos o motivo até hoje... – Ele suspirou, levando as mãos até a cabeça.
- Tem algo que possamos fazer? – Angelo perguntou.
- Tem, descansar. – Giorgio falou, como quem despertasse. – Vão para casa, tenham uma boa noite de sono se conseguirem, e voltem amanhã para enfrentarmos isso. Sei que é sábado, mas... – Assentimos com a cabeça. – Eu tenho reunião com acionistas, então vou ficar por aqui. – Ele suspirou.
- Podemos ficar para ajudar e... – Marco disse.
- Não, melhor vocês irem. Os repórteres estão começando a acumular aqui na porta, preciso conversar com o setor de comunicação também, são coisas que não tem como vocês ajudarem. – Ele falou.
- Os jogadores estão aqui? – Marco perguntou.
- Não, estão de folga. – Falei rapidamente.
- Menos mal. – Ele falou.
- Ah, uma última coisa: se vocês se sentirem lesados de alguma forma, quiserem sair do time ou qualquer outra coisa, eu dou maior apoio a vocês, mas eu confio muito nessa equipe, então gostaria que ficassem, mas a decisão é de vocês, daremos todo apoio, pagamentos devidos, tudo... – Assenti com a cabeça.
- Pensaremos. – Marco falou e todos concordaram com ele, mas minha resposta era óbvia: eu ia ficar.
- Bom descanso, então. Só tentem fugir da TV, só está passando isso. – Ele disse, pegando o controle e desligando a televisão.
- Grazie, Giorgio. – Falei, me levantando.
- Fique bem, ok?! – Ele falou para mim e eu assenti com a cabeça, respirando fundo.
Com alguma força estranha ou sobrenatural, eu consegui sair da sala de Giorgio, desliguei meu computador, deixando os papéis e contas espalhadas em minha mesa e puxei minha bolsa, saindo correndo dali. A caminho do carro, puxei o celular da bolsa, mandando uma mensagem para Giulia.
“Vai para minha casa, por favor. Chego logo”.
Chequei se tinha mais alguma coisa e joguei a bolsa no banco do carona e não precisei nem pensar para onde eu iria, o carro acabou seguindo para Colle della Maddalena automaticamente, passando o limite de velocidade em vários momentos, mas eu realmente não me importava, da mesma forma que não me importava com os diversos repórteres batendo na janela do meu carro, achando que, por algum momento, eu poderia ser alguém importante.
Cheguei na casa de Gigi com 10 minutos a menos do que eu faria em horário normal ou em velocidades normais. Embiquei em frente à sua casa e vi diversos carros parados na frente. Eu sabia que ele tinha combinado de passar a tarde com alguns jogadores e estava pronta para começar a xingar todos eles.
As lágrimas já haviam secado de minha bochecha, agora parecia que tinha um buraco em meu peito e a cabeça estava mais quente do que normalmente. Parte de mim queria entender por que ele fez isso, mas parte de mim também queria dar um soco na cara dele por ele não ter me contado nada. Estamos juntos há seis meses. Sei que não definimos o “namoro” como um namoro por causa do meu trabalho, mas era como se fosse. Ele vivia em casa, eu vivia aqui, conhecia sua família, torcia por ele, ele torcia por mim, só faltava a confirmação.
Desci do carro, fechando a porta com força e apertei a campainha três vezes, ouvindo algumas conversas lá dentro. Apertei mais algumas vezes e bati os nós dos dedos na porta, sentindo que os toques haviam virado socos conforme minha raiva crescia.
- CALMA! – Ouvi um grito de lá de dentro e as chaves giraram antes de Gigi abrir a porta.
Foi como se tudo tivesse parado quando seus olhos fixaram nos meus. A saliva desceu difícil tanto na minha garganta quanto na dele e foi como se as palavras sumissem de meus lábios. Ele sabia o que eu estava fazendo ali, sua feição apática sabia o que eu estava fazendo ali e ele não se atreveu a falar nada. Foi preciso que eu respirasse algumas vezes, tentasse tirar a tensão dos ombros para falar alguma coisa.
- Me diga que é mentira. – Falei, empurrando-o pelo ombro e entrei em sua casa, vendo a turma de sempre nos encarando na sala.
- ...
- Me diga que é mentira. – Repeti, tentando evitar a voz de sair trêmula ou que eu começasse a chorar novamente. – Diga, Gigi. – Ele abaixou o olhar e eu fechei os olhos, levando a mão até a minha cabeça.
- Eu não posso. – Ele falou e eu engoli em seco.
- É melhor a gente ir. – Ouvi Alex falou.
- Não se mexam! – Falei, apontando para eles. – É bom o Fabio ouvir isso também. – Falei, focando meus olhos no defensor sentado no chão. – Como vocês puderam fazer isso? – Perguntei, olhando para Gigi. – Vocês sabem que isso é fraude, né?! Vocês sabem que isso pode ferrar o time muito mais do que vocês, não é?!
- ...
- Você vai me escutar, Gianluigi! – Falei alto, virando para ele. – Você sabe o que é estar buscando o motivo de ter milhões de euros a mais na conta do time desde setembro? – Perguntei. – Você sabe o que é ficar dias sem dormir achando que todas as suas contas estão erradas? – Olhei para ele. – A mobilização que a área de contabilidade fez para tentar descobrir o motivo de ter dinheiro sobrando na nossa conta? Quantos advogados foram envolvidos nisso? – Suspirei, sentindo meus olhos começarem a marejar. – Eu descobri isso. – Falei, batendo no peito. – Um erro de um ano, eu encontrei. – Neguei com a cabeça. – E você sabe como eu fiquei feliz por estar certa? – Passei a mão na boca. – É péssimo para o time, mas eu encontrei. Por um momento eu fiquei feliz, aliviada que tudo ia acabar... – Mordi meu lábio inferior. – Até que eu descobri que você está envolvido nisso. – Empurrei o ombro de Gigi. – E o Fabio também. – Virei para ele. – Iuliano, Chimenti... Pessoas que eu confiava...
- , por favor, me deixa...
- É por isso que vocês só perderam um jogo nessa temporada. – Continuei falando. – Não foi por merecimento, foi por compra de resultado. E você reclamando que estavam empatando demais. – Respirei fundo. – Você sabia quais seriam os resultados, era só para aparecer, não é? Para compartilhar coisas do trabalho? – Movimentei as mãos, rindo fracamente. – Sinto pena do Capello, sabia? – Suspirei. – Ele lutou tanto por vocês, batalhou tanto, para quê? Não era ele que mandava no jogo mesmo. – Ri fracamente. – Como funcionava? “Hoje será 2x1? Na outra semana vocês precisam empatar para não ficar tão na cara”?
- Não diga o que você não sabe. – Gigi falou e eu engoli em seco.
- Então, me diga, porque na minha cabeça a imagem que eu tinha de você simplesmente sumiu. – Falei firme. – Do Fabio também, que eu acreditava ser alguém íntegro. – Virei para ele, que evitava olhar para mim. – Alguém que merecia ser capitão da Nazionale. – Virei para Gigi de novo. – Eu nunca te achei fácil ou ingênuo, sempre gostei de você pelo que você era, mas não como alguém que frauda resultados por dinheiro. – Dei de ombros. – Só me diga: alguma parte da depressão foi real? Desculpe, eu preciso perguntar.
- Foi. – Ele falou. – Eu não participei esse ano, parei em março do ano passado por causa disso. – Ele falou. – Eu não tinha cabeça para nada. – Assenti com a cabeça.
- Quantas vezes eu reclamei para você que eu estava atolada de trabalho? – Virei para ele. – Tudo por causa disso. E VOCÊ NÃO ME FALOU NADA. – Falei um pouco mais alto, respirando fundo.
- ISSO NÃO É SOBRE VOCÊ! – Ele falou no mesmo tom, jogando a cabeça para trás, frustrado, e eu respirei fundo.
- Sabe o que é pior? Você nem negou que fez. – Falei, negando com a cabeça.
- Porque eu fiz, eu sei que eu errei, mas...
- Você assume que errou porque foi descoberto ou realmente porque errou? – Perguntei, vendo-o pressionar os lábios e eu suspirei. – Você não tem noção da vontade que eu estou em te dar um soco, mas vai doer mais em mim do que em você. – Suspirei, fechando as mãos em punhos.
- Eu quero falar com você, eu só não sei o que dizer... – Ele levou uma mão ao meu ombro e eu tirei-o de lá rapidamente.
- Eu não sei se consigo acreditar em qualquer coisa que você possa me dizer agora. – Suspirei, pressionando os lábios.
- , por favor... – Ele levou a mão até meu rosto e eu neguei com a cabeça.
- Não, Gigi, eu preciso pensar e analisar tudo o que aconteceu. – Suspirei. – Isso é loucura! – Gritei, negando com a cabeça.
- Tira o tempo que você precisa, só fala comigo, por favor. – Ele comentou e eu virei o corpo para sair, voltando segundos depois.
- Só me diga uma coisa: o que a gente teve...
- Não confunda as coisas, por favor. – Ele segurou meu rosto com as mãos. – Uma coisa não tem nada a ver com a outra. – Olhei em seus olhos, tentando procurar algum sinal de mentira em suas palavras, mas eu simplesmente não conseguia decifrar.
- Eu tenho que ir. – Engoli em seco e sacudi o rosto, sentindo-o soltar e saí de sua casa, correndo de volta para o carro.
Observei seu olhar acompanhar meus movimentos e desviei rapidamente, saindo com o carro o mais rápido que consegui, errando a chave na ignição algumas vezes, sentindo as lágrimas deslizarem pelas bochechas finalmente. Eu havia vindo atrás de informações, talvez com a esperança de que ele não tivesse feito isso ou que tinha sido algum engano e havia saído só com a certeza de que ele realmente fez.
Eu poderia desejar que coisas de ruim acontecessem a ele por isso, não ser convocado pela Copa ou que perdêssemos o scudetto no último jogo no fim de semana, mas eu simplesmente não conseguia. Na verdade, eu não conseguia fazer nada, nem parar de chorar. Só queria que a dor em meu peito passasse e levasse embora todos esses problemas também.

Lui
15 de maio de 2006 • Trilha SonoraOuça

Levantar o scudetto em Bari não havia sido nem de perto como levantar em casa. E não era nem por causa da torcida, pois muitos de nossos torcedores lotaram as arquibancadas, apesar de Reggio Calabria estar ao extremo sul da Itália, mas não era a mesma coisa. Nunca seria, na verdade. Nossa casa era nossa casa, apesar de estarmos sem uma casa fixa agora.
O motivo eram os pensamentos que voltavam para toda a questão da manipulação de resultados, então foi uma comemoração mais velada. O sorriso aberto para as câmeras, mas a cabeça estava longe dali. No meu caso, não era nem por causa da questão toda, talvez eu não me arrependa mesmo de ter feito isso, eu parei, pois a depressão acabou se tornando um fato mais importante para mim, com isso veio e minha vida foi se ajeitando automaticamente, só não pensava que as situações voltariam de maneira mais forte e causariam essa bagunça toda.
Meu problema maior era que estava decepcionada e aquilo mexia comigo de uma forma muito estranha. Sei que estamos – ou estávamos, vai saber – seguindo para um relacionamento sério e um futuro juntos, então ver seus olhos marejados de decepção, era muito pior do que qualquer outra coisa.
Então, levantar o scudetto, receber a medalha, fazer uma gracinha no palco, dar a volta olímpica, sorrir para os torcedores e tirar fotos, foi só uma forma de distrair as coisas. Ela não falava comigo há dois dias, sei que havia dado um tempo para ela processar as coisas, mas essa falta de resposta não me acalmava nem um pouco.
Eu me sentia muito burro em não ter contado a ela o que eu fiz, mas havia sido oito meses antes de começarmos a ficar, como eu me lembraria de contar para ela algo que não fazia mais parte da minha realidade? E quando ela falava que o trabalho estava puxado, que precisava fazer hora extra, que os números não estavam batendo, não foi ingenuidade, mas nunca pensei que uma coisa estava ligada à outra.
Mas estavam e eu realmente não tinha a mínima ideia de como ficariam as coisas. Nem nossa, nem minhas e nem do time. Eu já tinha data para depor, já havia falado com meu advogado e ele disse que minhas chances eram boas exatamente por eu ter parado no começo, agora ele já avisava que o time acabaria levando algo muito mais forte, principalmente pelo envolvimento direto de Moggi e Giraudo, que acabaram orquestrando o esquema inteiro.
Não poderia dizer que eles foram os culpados sozinhos, não, eu sabia que não. Eu me envolvi nisso, Fabio também, Chimenti, Iuliano e outros mais, além de vários dirigentes, treinadores e muitos outros. A lista era enorme e eles estavam pegando um por um. Eu só queria que isso não matasse o clima de Copa do Mundo. No momento eu não estava nem um pouco preocupado com a minha carreira, tinha outras coisas para me preocupar, outras pessoas.
Apesar do clima estranho no time, comemoramos ao menos a aposentadoria de Pessotto, depois de 11 anos na Juventus. Ele já havia anunciado que voltaria na próxima temporada como assistente técnico ou algum outro posto dentro do time, então era só um “até logo”. Ele era um grande professor para gente, então seria bom tê-lo do outro lado.
Acordei com a mesma dor de cabeça que me acompanhava há três dias. Já havia falado com Ellen para checar se meu psicológico havia sido afetado por essa bagunça toda, mas isso ao menos estava em ordem, por algum motivo. Ela insistia em falar que havia me ajudado de uma forma incrível, eu não sabia em que sentido ela falava disso, se era no sentido real ou psicológico, mas eu não precisava de prova nenhuma de que ela me fazia bem internamente.
Chequei meu celular, na esperança de que ela houvesse me mandado alguma mensagem, mas não, só meu advogado, meu agente e uma mensagem de minha irmã Veronica, checando se eu estava bem, não quem eu realmente não estava pensando agora.
Terminei de arrumar minha mochila, enfiando as coisas de qualquer jeito dentro dela e desci para o refeitório. As coisas não melhoraram quando as pessoas começaram a bater em minhas costas e me parabenizar pela convocação. Apesar de tudo, Lippi ainda me escolheu como seu goleiro, da mesma forma que ele havia escolhido Fabio como seu capitão. Se as coisas já estavam confusas, isso com certeza ficou ainda pior.
Para a Itália, do nosso time, ele também chamou Zambrotta, Camoranesi e Del Piero. Vieira, Lilian e Trezeguet foram convocados pela França, Emerson pelo Brasil, Zlatan pela Suécia, Pavel pela República Tcheca, e jogaríamos contra na fase de grupos, e por último, Kovac pela Croácia. 12 jogadores de 29 do time. Era um dia feliz para a Juventus, e o time estava colapsando. E sim, eu fazia parte dos responsáveis por isso.
Saímos por volta das 10 horas do hotel e seguimos em direção ao aeroporto. O clima estava meio estranho, apático. Todos estavam felizes pelo scudetto, pelo fim da temporada, pelas convocações, mas ligar a televisão e ver os nomes da Juventus, Moggi, Giraudo, meu e de Fabio sendo citados sempre que tinham a oportunidade, causava só uma agitação incrivelmente desconfortável.
Chegamos em Turim depois das três da tarde e seguimos direto para Vinovo, tínhamos que levar o troféu para casa. Eu não estava muito empolgado com isso, acho que poucos estavam, na verdade, não tinha clima para isso, mas pelo menos seria uma oportunidade de eu ver , ver como ela estava depois do fim de semana. Três dias e eu estava surtando, em quatro deporia e em seis eu iria para Coverciano para começar os preparativos para a Copa do Mundo.
Eu estava ferrado!
Assim que chegamos no CT, repórteres, fãs e muitas pessoas estavam acumuladas do lado de fora, foi até difícil para o ônibus entrar. Quando conseguiu, o clima lá dentro não era dos mais festivos, parecia que só tinha metade do pessoal que costumava estar lá, pude garantir que a contabilidade não estava lá antes mesmo de descer do ônibus.
Alex, Pavel, Zlatan e Lilian foram em direção à galera com o prêmio, junto do pessoal mais animado do time. Eles fizeram gracinhas, participaram de todas as fotos possíveis e eu segui atrás, aceitando cumprimentos, apertando algumas mãos e tentando evitar os olhares, apesar de não saber distingui-los se era por causa do escândalo ou por mim mesmo.
Eu havia ferrado tudo, lindamente, eu sei disso.
Passei os olhos pelo local, um tanto frustrado por não encontrar em meu campo de visão e foi fácil demais para eu fugir da pequena comemoração e adentrar ao prédio administrativo. Eu sabia que não deveria fazer isso, talvez eu acabasse denunciando tudo o que tivemos, não sei se era a melhor hora para isso, mas quando eu percebi, estava passando pelos corredores do quarto andar, passando os olhos pelas placas.
Suspirei ao começar ouvir algumas vozes mais baixas, conversas ou ligações telefônicas e desacelerei o passo, me aproximando devagar da porta. Não foi preciso que eu chegasse mais perto, pois, com sorte, a mesa de era logo na porta. Mordi meu lábio inferior ao vê-la falando agilizado com alguém no telefone enquanto mordia a tampa de sua caneta e percebi seu rosto cansado e seus olhos fundos com olheiras.
Fiz um movimento com a mão, tentando chamar sua atenção e tive sucesso, vendo-a erguer os olhos em minha direção e ela parou de falar com quem fosse que estivesse no telefone. Ela me encarou por alguns segundos e o cansaço em seu rosto só fez com que o buraco em meu peito ficasse mais fundo. Como eu poderia tê-la atingido tanto com isso? Eu não conseguia entender, mas a culpa me consumia cada vez mais.
- Mi dispiace. – Ela falou para a pessoa no telefone e disse outras palavras antes de desligar.
Ela devolveu o telefone no gancho e se levantou, pedindo licença para sua equipe e veio em minha direção. Me afastei um pouco da porta, vendo-a passar as mãos em seu rosto quando o fez e ela parou em minha frente, apoiando o ombro na parede que eu também estava apoiado.
- O que está fazendo aqui? – Ela perguntou.
- Eu precisava te ver. – Falei e ela suspirou, assentindo com a cabeça. – Você não estava lá embaixo, trouxemos o prêmio.
- Ouvi falar, mas estamos cheios de coisa para fazer. – Ela falou e eu pressionei os lábios.
- Por causa do...
- Sim... – Ela falou, suspirando.
- Me desculpe, , eu não fazia ideia como isso ia te afetar, eu...
- Por favor, Gigi, isso não vai adiantar de nada agora. – Ela falou.
- Eu só quero que você acredite em mim, que saiba que eu não queria te magoar... – Ela segurou meu braço.
- Eu acredito em você, Gigi. – Ela falou. – Mas infelizmente isso não faz os problemas sumirem. – Ela disse, me fazendo suspirar. – As coisas estão desabando demais. – Ela negou com a cabeça.
- E sobre a gente? – Ela abaixou o rosto, engolindo seco. – ...
- Eu não sei, Gigi, honestamente. – Ela suspirou, erguendo os olhos para mim. – Isso é muito confuso para mim, muito difícil para eu entender. Eu...
- ! – Ela virou para trás, vendo um de seus colegas na porta e o olhar dele subiu para mim, antes de descer para ela de novo. – Problema. – Ela assentiu com a cabeça e o homem entrou.
- Eu tenho que ir. – A segurei pelo braço.
- Precisamos conversar, não dá para ficar assim... – Falei.
- Eu tenho que ir agora, Gigi, nos falamos depois da Copa, as coisas já vão ter passado. – Ela disse.
- Como eu vou enfrentar isso sem você? – Ela negou com a cabeça.
- Eu sempre vou torcer para você, independente dos seus erros. Isso não vai mudar. – Ela falou, se afastando um passo para trás.
- , por favor...
- Eu não consigo lidar com isso agora e nem você, Gigi. – Ela disse, se afastando mais um pouco. – Parabéns pela convocação e boa sorte na Copa, espero que ganhem, seria muito bom nas atuais circunstâncias. – Ela respirou fundo e eu neguei com a cabeça.
- , eu não posso, eu... – Pressionei os olhos, respirando fundo e ela passou a mão em meu rosto.
- Vai dar tudo certo. – Ela falou, pressionando os lábios em um sorriso. – Eu tenho que ir.
- , eu... – Ela abaixou a mão e deslizou o corpo para dentro da sala antes que eu pudesse falar mais alguma coisa.
Respirei fundo, negando com a cabeça e apoiei o rosto nas mãos, tentando evitar um grito, choro ou qualquer reação que eu pudesse ter. Senti meu coração começar a bater acelerado e podia estar no começo de uma crise de pânico de novo, mas não. Dessa vez era só aquela costumeira impossibilidade de não poder fazer nada para nos ajudar ou ajudar os outros. E eu não sabia quando passaria.
Eu só queria que os dias começassem a passar mais rápido para eu ir e voltar da Copa, com a esperança de que tudo já estivesse melhor e que pudéssemos conversar e tentar de novo, mas ela havia falado uma coisa que havia deixado marcado para mim. Ganhar uma Copa do Mundo nessas circunstâncias com certeza seria algo bom, talvez limpasse minha barra e a de Fabio.
E assim, tendo mais certeza de que eu já não era ninguém sem essa mulher, tinha aparecido outra oportunidade para enfrentar esses dias de cabeça erguida. Os dias só precisavam começar a passar, um depois do outro.

Estate 2006
Lei
12 de junho de 2006 • Trilha SonoraOuça

- Vai começar... – Lorenzo falou e ergui os olhos para a TV, sentindo dor nas costas pela mudança de posição.
Cannavaro puxava a fila da Itália e Gigi vinha logo atrás, fazendo meu estômago revirar, depois dele vinham Zaccardo, Nesta, Grosso, Perotta, Pirlo, De Rossi, Totti, Gilardino e Toni, só lendas do futebol italiano. Eu tentava me manter afastada de Gigi, tentar realmente pensar com clareza com tudo o que tinha acontecido comigo, com o time ou conosco, mas acabava fissurada em frente da televisão esperando qualquer notícia sobre a Itália na Copa do Mundo.
Quando eles começaram a cantar nosso hino, não senti nenhuma vontade em segui-los, eles cantavam nosso hino com tanto amor e paixão, mas haviam quase conseguido fazer tudo ir pelos ares por causa desse escândalo que fazia parte da minha realidade há um mês, se eu contar a partir do momento que descobrimos.
Um mês do Calciopoli e 27 dias que eu não falava com Gigi. O dia que ele veio para minha sala, havia sido o último dia que havíamos conversado, ele não insistiu em me mandar mensagens e eu não me sentia confortável em fazer o mesmo. Eu não sei, era complicado, me sentia em cima de um portão que estava abrindo e eu teria que decidir se ia para um lado ou para o outro.
Eu gostava muito dele, isso é verdade, havia pensado na palavra com A em diversas situações, principalmente quando estávamos juntos na cama que eu ficava muito extasiada pelo que ele fazia comigo, mas agora eu estava negando tudo o que eu sabia dele. Foram cinco anos, mas, por algum motivo, eu conseguia ver o Gigi que eu conhecia no Gigi que participou dessas fraudes. Não que eu suspeitasse alguma coisa, quem dera, mas parecia e isso não fazia a imagem que eu tinha dele, era como se eu sempre soubesse.
Era como eu havia falado para ele: ele nunca me pareceu alguém fácil ou ingênuo, sempre tive essa imagem de pessoa forte, bruta, mas carinhosa nele, só que ele estar envolvido em algo que eu fiquei oito meses procurando, perdendo noites de sono, me irritando e me frustrando, foi um grande balde de água fria. Foi como se ele fosse minha resposta para tudo e me escondeu tudo isso.
E a pior parte? Eu ainda gosto dele. Não queria perder tudo o que finalmente construímos, mas meu coração estava machucado demais, confuso demais. Eu havia perdido um pouco de confiança nele e sei como isso é a base mais importante em um relacionamento. Estou tentando lembrar dos nossos momentos juntos, nossos momentos felizes, nossos beijos, abraços, o apoio que um sempre deu para o outro, as conversas até tarde, tudo havia sido incrível e importante, eu estava lutando para não acabar isso, mas não sabia se estava tendo algum avanço nisso.
- Quer café, ? – Virei para o lado, vendo Marco ao lado da máquina de café.
- Não, obrigada. São mais de nove da noite, quero chegar em casa e dormir. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça.
- Depois disso a gente vai conseguir descansar um pouco mais. – Angelo falou, apoiando a mão em minhas costas inclinadas e eu assenti com a cabeça.
- Dependendo do resultado, né?! – Marco falou e afirmamos com a cabeça.
- É, vai vir mais bomba aí, podem se preparar. – Lorenzo falou e suspirei baixo.
- Eu acho que sim também. – Comentei, suspirando. – O negócio foi muito feio para o time.
- Espero que esses putos ao menos ganhem a Copa para gente. – Claudio falou, irritado e não consegui conter um riso fraco, fazendo Angelo e Marco rirem comigo. – Exagerei?
- Um pouco. – Angelo falou e sorrimos.
Ergui o rosto para o jogo, vendo a Itália com uma incrível facilidade em cima de Gana, era só o primeiro jogo, como Claudio disse um tempo atrás, era relativamente fácil, então eles não deveriam ter muitos problemas, o De Rossi só não estava facilitando, conseguindo um cartão amarelo em 10 minutos de jogo. Fala sério! O jogador da Roma era meio irritadiço, isso todo mundo sabia só de olhar na cara dele, mas não precisava exagerar.
- Buona notte, ragazzi. – Virei o rosto para porta, vendo Giorgio entrar na sala dele junto de Sergio, advogado do time.
- Como foi? – Lorenzo perguntou antes que todos e Giorgio coçou a cabeça falha de cabelos e se sentou no espaço vazio no sofá e Sergio se sentou na poltrona.
- Muito ruim? – Perguntei.
- Muito! – Ele falou, negando com a cabeça.
- Sergio? – Marco perguntou para o advogado que tirava algumas papeladas de sua maleta.
- Vocês querem a notícia boa ou a ruim? – Sergio perguntou.
- A boa. – Falamos juntos.
- Não sei nem por onde começar. – Sergio falou.
- Do começo. – Giorgio falou e ele suspirou.
- Bom, nós fomos relegados para a Série B.
- O QUÊ? – Todos gritamos para ele que assentiu com a cabeça.
- É, estamos na Série B na próxima temporada. – Sergio falou.
- Só nós. – Giorgio falou e virei para ele.
- Como assim? A punição vai vir só para nós? – Perguntei.
- Estamos fazendo apelações desde o mês passado, assim como os outros times. – Ele falou. – Primeiro nos mandaram para Série B com menos 30 pontos. – Arregalei os olhos. – Depois conseguimos reduzir para 17 e finalmente conseguimos começar a temporada com menos nove pontos. – Suspirei. – Além de uma multa de 75 mil euros.
- Mio Dio! – Marco falou e eu apoiei a mão na cabeça.
- O Milan conseguiu uma redução de 15 pontos para o início da próxima temporada e vai perder 44 pontos do campeonato 2005/2006 e não vai poder jogar a Champions. – Assenti com a cabeça. – Após a apelação vão reduzir 30 pontos para a próxima temporada e um jogo de portas fechadas. – Giorgio falou.
“A Fiorentina teve algumas reduções de pontos para a próxima temporada, seria relegada para Série B também, mas acabou somente ficando fora da Champions da próxima temporada e dois jogos de portas fechadas. A Lazio também teve sua relegação cancelada, iam perder alguns pontos tanto na Série A ou na B, mas ficaram somente fora da UEFA Cup e terão dois jogos a portas fechadas. E a Reggina, acabou se dando mal também, teria só uma redução de pontos, mas após novas investigações, multa de 100 mil euros, o presidente recebeu multa de 30 mil euros e foi banido do futebol por dois anos e meio”.
- Espera, só nós fomos para Série B? Não teve nenhum sucesso da apelação? – Claudio perguntou.
- Essa é a boa notícia? – Perguntei.
- Sim, pois a má notícia é pior. – Sergio falou e eu engoli em seco. – Após novas investigações... – Ele suspirou.
- Eles nos tiraram dois títulos. – Giorgio falou e eu arregalei os olhos.
- Como assim? – Marco perguntou.
- Eles tiraram de nós os títulos das temporadas 2004/2005 e 2005/2006.
- O quê? Co-como? – Perguntei, senti que minha boca tremia.
- Simples assim. – Giorgio respirou fundo. – Teremos que conquistar o vigésimo oitavo e o vigésimo novo scudetto de novo. – Ele levou a mão ao rosto. – Como se nunca tivesse acontecido.
- Isso é possível? – Perguntei.
- Pelo visto sim. – Ele falou, nos fazendo suspirar. – O de 2004/2005 vai ficar sem dono, mas o de 2005/2006 vai ser entregue a Internazionale, o segundo lugar na tabela. – Suspirei.
- Isso... – Todos se olhavam surpresos.
- É loucura! – Sergio falou o que pensávamos e ergui o olhar para a televisão, totalmente sem ânimo para jogo.
- O novo presidente queria recorrer mais uma vez, mas estamos cansados e podemos acabar com uma pena pior ainda, nove pontos a menos na Série B, a gente sobe em um ano de novo. – Giorgio falou. – Queriam menos 30, seria quase impossível subir, se repensam nessa decisão, vai ser mais complicado para nós.
- É como perder 10 jogos, teria que ganhar todos os outros 28 e rezar para os outros times perderem vários. – Marco falou.
- Exato! Por isso, vamos ficar com essa pena e tentar nos erguer aos poucos. – Giorgio falou.
- Os jogadores vão sair em demandada, você sabe, né?! – Lorenzo falou.
- Sim, eu sei, e preciso pensar em possíveis acordos para isso, quando acabar a Copa, teremos mais trabalhos ainda. – Giorgio comentou.
- Acho simples, paga a multa e cai fora. – Falei, dando de ombros e todos olharam para mim. – É assim que funciona, não é?!
- É, mas nenhum jogador fechou com a gente para jogar a Serie B. – Claudio falou.
- Não, mas sabemos que isso são coisas que podem acontecer no futebol. – Falei. – Com a multa podemos investir em alguns jogadores para nos ajudar a subir de novo e ainda teremos bastante caixa para a contratação após um ano. – Falei.
- Ela não está errada, Giorgio. – Sergio falou. – Tem cláusula disso no contrato. – Dei um pequeno sorriso.
- A decisão é sua, Giorgio, mas precisamos proteger o time. Muitos não participaram disso, mas teve quem participou e merece sua parcela de culpa nisso. – Falei.
- Como foram as outras penalidades para dirigentes? Jogadores? – Lorenzo perguntou.
- Bom, que nos interessa... – Sergio pegou seus papéis. – Moggi foi banido do futebol por cinco anos e prisão por cinco anos e quatro meses, e Giraudo, cinco anos de banimento e três de prisão.
- Caramba. – Angelo falou.
- Dificilmente eles cumpram essa prisão, mas é um começo. – Sergio falou.
- E os jogadores? – Não contive em perguntar.
- Todas os casos foram arquivados por falta de provas. – Ele falou e senti meus ombros relaxarem.
- Que propício para o início da Copa do Mundo. – Claudio cochichou.
- Eles são inocentes? – Perguntei.
- Ser inocente e não ter provas para prosseguir o caso são duas coisas diferentes, minha cara. – O advogado falou. – Mas estão livres desse problema. – Ele falou. – O Buffon assumiu que apostava na Juve no passado, mas que parou quando a Federazione proibiu apostas de jogadores em seus campeonatos e diz que só aposta fora agora, de acordo com as leis. – Assenti com a cabeça.
- É isso, então? Acabou? – Perguntei.
- Honestamente? Acho que só está começando. – Giorgio falou e nos assustamos com o barulho da televisão, quando Andrea Pirlo acabava de fazer um gol pela seleção italiana e todos nós bufamos. Acho que ninguém estava no pique para jogo* mais.
*Jogo contra os EUA e contra a República Tcheca que não são citados.

Lui
27 de junho de 2006

- Não, vocês precisavam ter visto! – Fabio falava alto, gargalhando. – A gente lá, 50 minutos naquele jogo horrível de ontem, e o árbitro expulsa o Materazzi. – Neguei com a cabeça, escondendo o rosto com as mãos. – Fica aquele clima tenso, estranho e o Gigi começa a gritar há 20 metros de mim “eu não quero ir embora, Fabio, não desse vez. Não pode acontecer de novo”, por causa do que havia acontecido com o Totti... – Ele apontou para o Francesco. – Na Copa de 2002.
- Beh... – Falei, ouvindo a roda de jogadores gargalhar. – Aquele jogo foi um desastre.
- Arbitragem péssima! – Totti confirmou e assentimos com a cabeça.
- E eu assim “ok, Gigi, mas estamos no meio do jogo, será que podemos deixar o papo para depois?” – A mesa gargalhou e puxei Fabio pelos ombros, ouvindo-o rir também.
- O que importa é que passamos a Austrália e estamos nas quartas de final! – Lippi falou e começamos a bater animados na mesa.
- Você nunca vai esquecer disso, né?! – Falei para Fabio e ele gargalhou.
- Não mesmo. – Neguei com a cabeça.
Me levantei, pegando meu prato e segui mais uma vez para o buffet, me servi de um pouco mais de massa e peguei um pedaço de carne dessa vez. Voltei para a mesa, tomando um gole de suco antes de pegar os talheres para repetir a refeição. Havíamos conseguido dormir até mais tarde por causa da classificação de ontem e hoje estávamos de folga, dentro do hotel, mas ainda de folga, então poderíamos aproveitar um pouco mais.
- GIGI! LIPPI! – Virei o rosto com o grito, vendo Fabio me chamando com a mão do outro lado da mesa. – VEM LOGO! – Ele gritou e eu me levantei rapidamente, empurrando a cadeira para trás e segui as pressas até ele, vendo-o com Del Piero, Zambrotta, Pirlo e Grosso em frente à televisão.
- O quê? – Perguntei e ele engoliu em seco antes de apontar para a TV.
- “O ex-jogador da Juventus, Gianluca Pessotto, de 35 anos, se jogou do sexto andar do prédio administrativo da Juventus em Vinovo.” – Arregalei os olhos. – “Ele tinha em suas mãos um rosário e acredita que a tentativa de suicídio foi resultado da relegação do time à Serie B como consequência do escândalo do Calciopoli”.
- O Pessotto tentou se matar? – Lippi sussurrou ao meu lado e eu estava travado.
“Sua esposa Reana disse que não foi uma tentativa de suicídio e que o ex-jogador teve um blecaute, causando uma queda de 15 metros. Pessotto sofreu múltiplas faturas e hemorragia devido à queda e seu caso é grave. Após completa recuperação, mais exames serão feitos e saberá melhor a extensão dos danos físicos e psicológicos”.
- Eu não posso acreditar nisso. – Fabio falou.
- A gente fez isso. – Falei.
- Não brinca com uma coisa dessa. – Del Piero voou para perto de mim.
- Nós erramos, nós causamos isso e é sorte ele estar vivo. – Falei um tanto alto.
- Não, Gigi, não pensa assim. – Lippi falou e eu levei as mãos ao rosto, percebendo algumas lágrimas solitárias escorrendo.
- Ele não está errado, Lippi. – Fabio falou, olhando para mim. – Eu preciso ligar para o time, preciso saber como ele está...
- Calma, gente! – Lippi gritou. – Se acalmem. Vamos atrás de informações, mas se acalmem, vocês dois. – Ele falou firme. – Zambrotta também. – Viramos para o mesmo que estava igualmente chocado no sofá. – Acalmem-se.
- Como? – Perguntei e o mesmo olhou para mim.
- Respira fundo.
- GIGI! – Del Piero gritou e olhei para ele. – Essa não é a ?
Virei o rosto com pressa para a televisão, vendo andando apressada para fora do prédio administrativo da Juventus enquanto Giorgio afastava os repórteres de perto dela que insistiam em fazer perguntas para ela.
- “A analista de contabilidade de 24 anos do time, , foi a primeira pessoa a ver o ex-jogador caído no primeiro andar. Ela se recusou a dar entrevistas, mas foi retirada do prédio administrativo por colegas em estado de choque”.
- ELA O VIU SE JOGAR? – Gritei.
- GIGI! – Lippi me segurou pelos ombros. – Se acalma.
- Como eu posso me acalmar com isso? Ela já está uma bagunça pelo que eu fiz, agora isso? – Eu não conseguia enxergar mais nada pelas lágrimas que insistiam em cair de meus olhos.
- Calma, Gigi! Pelo amor, você está muito nervoso. – Lippi falou.
- Eu preciso falar com ela. – Soltei os braços de meu treinador e segui correndo até a mesa, pegando meu celular.
- Se mantenha calmo, ela não deve estar bem. – Del Piero falou e encontrei seu número na agenda do telefone e coloquei os DDIs antes de deixar o telefone começar a tocar.
Levei a mão livre até a cabeça, ouvindo o telefone tocar devagar e bati o pé no chão impaciente. Os olhares de Alex, Fabio, Lippi e Zambrotta, além dos outros jogadores e equipe técnica não me deixavam mais confortáveis. Suspirei quando parou de tocar.
- Gigi?
- ? – Perguntei na pressa.
- É a Giulia. – Ela falou.
- Giulia, eu vi a matéria, como está a ? – Perguntei apressado.
- Ela está aqui, ela... – Ouvi alguns barulhos.
- Gigi? – Ouvi a voz de e suspirei, aliviado.
- Eu fiquei sabendo do que houve, eu vi você...
- POR FAVOR, ME PROMETA QUE VOCÊ ESTÁ BEM. – Ela gritou, com a voz chorosa. – ME PROMETA QUE ESTÁ TUDO BEM COM VOCÊ, POR FAVOR.
- Eu estou bem, , eu estou preocupada contigo. – Ela engoliu em seco.
- Eles dizem que foi depressão, Gigi. – Sua voz era fina de choro e minhas lágrimas escapavam sem dó. – Me desculpe pelo que eu disse para você, me desculpe por duvidar de você. – Neguei com a cabeça, levando a mão livre até os olhos. – Me prometa que está tudo bem contigo.
- Eu estou bem, eu prometo. – Falei fracamente.
- Me desculpe pelo que eu disse, por ter duvidado de você, eu estava brava, eu...
- Xí... Nada mais importa, está tudo bem. – Falei, ouvindo-a puxar a respiração fortemente. – Respira, por favor. – Falei e ela ficou em silêncio, puxando sua respiração algumas vezes.
- Eu o vi, Gigi. – Ela falou baixo com a voz sumindo aos poucos. – Eu ouvi o barulho e o vi. – Ela soltava a respiração forte pela boca.
- Co-como? – Perguntei baixo.
- Minha mesa fica perto da janela, eu vi uma sombra... – Seu choro ficou mais alto. – Uma sombra grande... Eu não pensei que pudesse ser uma pessoa, o Pessotto, Gigi! – Ela falou baixo.
- Amiga, não faz isso, não... – Ouvi a voz de Giulia.
- Eu corri para janela e ele estava caído no chão... – Ela falou, chorosa. – Tinha muito sangue, Gigi, eu não sei como ele não morreu.
- Deus estava com ele, .
- Eu não sei, eu só... – Ela perdeu a voz por alguns segundos. – Ele deveria estar muito mal com tudo...
- , está tudo bem...
- Ele se jogou do último andar, Gigi. Como ele está bem? Ele não está bem. – Ela falava baixo.
- Deixa eu falar com ela! – Ouvi Fabio falar e neguei com a cabeça, me afastando um pouco dele e de Alex que vinham igual águias em cima de mim.
- Ele vai ficar bem, , o pior já passou. – Falei. – Você precisa se cuidar, você precisa...
- Eu já falei com a minha psicóloga, eu fiquei travada, eu não conseguia me mexer, eu...
- Você ficou em choque...
- Parecia um filme de terror. – Ela falou baixo e eu puxei a respiração, passando as mãos nos olhos. – Me prometa que você está bem, se não tiver, vá atrás de ajuda, eu estou aqui, todos estamos aqui por você.
- Eu estou bem, eu prometo. – Puxei o ar fortemente. – É hora de você se cuidar.
- Eu já comecei, ela fala que foi uma crise momentânea, mas eu não consigo tirar as imagens de minha cabeça, eu não consigo dormir, eu...
- Quando foi isso? – Perguntei apressado.
- Ontem no fim do dia...
- ONTEM? – Falei um tanto alto e Alex arregalou os olhos, puxando o celular de minha mão.
- Alex! – O repreendi.
- , sou eu, Del Piero. Como você está? – Ele perguntou, se afastando de mim e eu andei até ele. – Estamos aqui por você, ok?! Para qualquer coisa. – Ele falou. – Esqueça tudo o que você viu e... – Puxei o celular novamente, empurrando-o pelo ombro.
- , é o Gigi, me desculpe. – Falei, dando olhar repreensivo para Alex. – Estamos perdidos, achávamos que tinha sido hoje.
- Não, foi ontem, mas só tivemos notícias dele hoje. – Ela falou, tossindo em seguida.
- Você me promete que vai ficar bem? – Perguntei.
- Eu vou tentar, eu só quero esquecer isso. – Ela disse baixo. – Ele é uma pessoa tão boa, por que ele fez isso? – Ela falou baixo, começando a chorar de novo.
- Eu não sei, mas ele vai ficar bem, ele vai sair dessa, ele vai voltar para gente, ok?!
- Não sei se quero isso, foi por causa da relegação, isso fez mal para ele. – Engoli em seco.
- Lembra quando você me disse que cada pessoa enfrentava as coisas de um jeito diferente? – Perguntei, suspirando.
- Lembro. – Ela falou baixo.
- Esse foi o jeito dele, ele achou que teria jeito que... – Suspirei. – Que fosse a solução para os problemas.
- Mas ele não teve nada a ver com isso, ele acabou de se aposentar, ele... – Ela pigarreou, fazendo sua voz voltar ao normal. – Ele não podia ter feito isso.
- Não, mas ele vai sair dessa. – Suspirei.
- ? – Ouvi uma voz próximo dela.
- Eu tenho que ir, Gigi, os pais da Giulia chegaram. Eles vão me levar para fazer uns exames que a psicóloga pediu.
- Fica bem, ok?! Eu estou aqui. – Falei, engolindo em seco.
- Você também. – Ela disse, suspirando.
- Eu estarei sempre aqui por você. – Falei.
- Eu também. – Ela repetiu, suspirando. – Gigi...
- Oi?
- Só faltam três jogos, tentem vencer, ok?! – Dei um pequeno sorriso.
- Ok. – Falei e a ligação foi desligada, me fazendo abaixar o telefone.
- Como ela está? – Alex e Fabio perguntaram juntas.
- Péssima. – Suspirei. – Ela não conseguia parar de chorar, me pediu para prometer que eu estava bem várias vezes... Falam que foi depressão. – Guardei o aparelho no bolso e passei as duas mãos nos olhos.
- Ela é uma moça forte, vai ficar tudo bem. – Lippi falou, me apertando pelos ombros.
- Eu sei, é por isso que eu me preocupo com ela, uma hora isso pesa demais. – Soltei a respiração fortemente.
- Ela viu mesmo? – Fabio perguntou.
- Viu, disse que viu uma sombra pela janela, abriu para ver e ele estava jogado lá embaixo, disse que tinha muito sangue e se surpreendeu por ele não ter morrido pela queda. – Falei baixo, suspirando.
- Dio mio. – Fabio falou.
- Que Deus o proteja e proteja a também. – Lippi falou e eu assenti com a cabeça.
- Ela disse para tentarmos vencer. – Falei e os três deram curtos sorrisos.
- Faremos isso, pelo Pessotto. – Fabio falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu vou ver se conseguimos ir visitá-lo, não posso ficar aqui sem fazer nada. – Alex falou, seguindo para fora do restaurante e eu suspirei.
- Vai ficar tudo bem, Gigi, com todos. – Lippi falou. – E, já que você prometeu à que ficaria bem, fique mesmo, ok?! E se não estiver, não se acanhe em pedir ajuda.
- Pode deixar, Lippi. – Suspirei. – Só estou surpreso como as pessoas reagem com as coisas, ele não tinha nada a ver com isso e eu que tenho, estou bem. – Neguei com a cabeça.
- É por isso que precisamos cuidar da nossa cabeça. Às vezes ela nos prega peças que nos tiram de órbita. – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Agora vá terminar de comer, tenta esquecer disso um pouco.
- Ok... – Suspirei, levando a mão à cabeça. – Valeu. – Ele assentiu com a cabeça, dando um tapinha em meus ombros.



Capitolo tredici

Lei

Quatro de julho de 2006


- VAI, GIGI! – Gritei segundos antes dele espalmar uma bola e relaxei meu corpo no sofá novamente.
- Eu estou passando mal já. – Giulia falou ao meu lado e eu suspirei.
- Essa bola não entra, cazzo! – Passei as mãos nos cabelos, respirando fundo.
- E o Gigi está trabalhando duplamente, eles estão metendo uma atrás da outra. – Ela falou e eu peguei mais um pedaço de pizza com as mãos, dando uma mordida na mesma.
- Falta para Alemanha, amarelo para o Camoranesi, que ótimo! – Suspirei, respirando fundo.
- E o Gigi está puto. – Ela falou e eu observei-o gritar algo que não pode ser entendido, mas o narrador da RAI falava dele reclamando da reação do Camoranesi.
- Ele só levou um gol na competição inteira, e ainda foi contra do Zaccardo, o pessoal precisa facilitar para ele. – Falei com a boca cheia.
- Guardanapo, linda, conhece? – Giulia falou, me entregando um.
- Grazie. – Falei baixo, passando o papel na boca. – Uh, alto demais. – Falei quando a falta foi cobrada, saindo do outro lado e o defensor conseguiu recuperar.
- Três de acréscimo. – Giulia comentou quando a placa foi erguida.
- Essa porra vai para prorrogação. – Falei baixo, respirando fundo. – Eu não aguento se isso for para pênalti, Giulia!
- Você trabalha em um time e não aguenta pênalti? – Ela perguntou e eu suspirei.
- É o Gigi, Giulia. – Engoli em seco. – Se ele não pegar, vão jogar a culpa no goleiro... Sempre colocam.
- Ele é bom, ! Eu nunca o vi tão ligado como nessa Copa, eles querem ganhar. – Suspirei, mordendo os lábios.
- Ah, gente, faz um gol, só unzinho! – Gemi baixo.
- E vocês dois? – Ela perguntou.
- Como assim? – Virei para ela, limpando minha mão no guardanapo.
- Não se falaram mais? Não se ajeitaram? – Ela perguntou.
- Não desde aquela vez que ele me ligou. – Suspirei. – Nem quero que ele se distraia com outra coisa que não seja a competição. – Comentei, olhando para a TV.
- Mas e sobre vocês? – Ela perguntou. – Estão juntos? Não estão?
- Não sei, honestamente. – Engoli em seco. – Depois que o escândalo estourou, acho que terminamos, eu pedi um tempo para pensar nas coisas. Aí quando ele me ligou para ver como eu estava, eu senti que ele se importava comigo ainda, sabe? – Suspirei, vendo o jogo finalizar no 0x0. – Agora eu não sei.
- Você gosta dele, amiga. – Giulia falou.
- Muito! Acho que nunca gostei de ninguém assim, nem do Luigi. – Ela deu um meio sorriso.
- Será que você não am...
- Não fala isso, por favor. – Falei rapidamente.
- Por que não? – Ela perguntou.
- Porque eu já pensei nisso em vários momentos, principalmente no sexo, eu não sei explicar, é incrível... – Ela sorriu. – Mas se agora foi nosso fim mesmo, quem vai ficar sofrendo sou eu. – Puxei a respiração forte, vendo os times se reunirem para uma rápida reunião antes do primeiro tempo da prorrogação.
- Por que você não fala com ele, amiga? Acho que é compreensivo que você ficou nervosa com a situação, desconfiada, brava e... Bom, muitas coisas... – Ri fracamente. – Mas se você gosta dele, fala com ele.
- São meus planos quando ele voltar. – Suspirei. – Apesar que com o time indo para a Serie B, eu nem sei como vai ser...
- Uma coisa de cada vez, . Ele pode não querer ir para a Série B, mas vocês podem fazer dar certo... – Ponderei com a cabeça.
- É! – Falei e ela sorriu, me puxando pelo ombro. – Eles só precisam fazer um gol nessa prorrogação e não deixar chegar em pênaltis.
- Por favor, já passa das 23, a ideia era dormir antes da meia-noite. – Rimos juntas.
- Acho que já não vai ser possível. – Fiz uma careta e ela franziu os lábios.
- Eu ainda estou com fome. – Ela falou.
- Tem tiramisù na geladeira, não se esqueça. – Falei e ela arregalou os olhos.
- Eu quero! – Ela disse, se levantando. – Quer?
- Não, ainda não, vou acabar com essa pizza ainda. – Falei, pegando o último pedaço.
- Você come quando fica nervosa, esqueci disso! – Ela falou e eu fiz uma careta, mordendo o outro pedaço da pizza e puxando o queijo para dentro da boca.
Ela seguiu para a cozinha e o juiz apitou o início do tempo pela terceira vez. A bola simplesmente não queria entrar. Eles tiveram várias chances nos dois primeiros tempos e a bola simplesmente não entrava. Pior que eu podia falar o mesmo para os alemães, Gigi, Fabio e o resto da defesa estavam muito focados, então era difícil as bolas quiçá chegarem em Gigi. Só que a pressão alemã era maior por esse jogo estar sendo lá, em um estádio com 65 mil pessoas, onde a maioria usava o branco da Alemanha.
O narrador já havia falado mil vezes que esse jogo parecia como a final de uma Copa do Mundo, pois a tensão podia ser palpável, tanto entre os jogadores, tanto entre a equipe técnica – Lippi e os reservas estavam aloprando – e entre as torcidas que gritaram para qualquer lance. E haja lance nesse jogo, assim que começou a prorrogação, Gilardino foi direto para o ataque, mas não deu. Zambrotta também tentou e estourou no travessão.
- Que maldição! Que maldição! – O narrador gritava e eu suspirei, pegando o último pedaço da pizza.
- Maldição mesmo! – Sussurrei, mastigando devagar. – Não deixa ele se aproximar, Fabio! – Falei baixo, suspirando.
- Del Piero vai entrar! – Giulia falou, empolgada e eu suspirei. – Agora ele faz!
- Coitado! Está com o desempenho tão baixo na Copa, mal ouço falar dele. – Fiz um bico.
- Mas ele vai fazer milagre nesse jogo, por favor. – Ela falou e eu ri fracamente.
- Espero! Vamos para uma final, gente! Vamos ganhar isso! – Falei baixo.
- Vamos fazer um acordo? – Ela perguntou e eu franzi a testa.
- Qual? – Perguntei.
- Se eles ganharem e forem para final, a gente vai para Berlim. – Ela falou.
- Ver a final da Copa? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- É! – Ela disse e eu suspirei. – Você vê com seu chefe se ele ainda tem ingressos e eu banco a passagem e o hotel.
- Vai ser difícil achar hotel à essa altura do campeonato, né?! – Falei e ela riu fracamente.
- Bom, pode ser, mas se ele tiver ingresso, a gente não pode perder a oportunidade, qual é! – Ela falou e eu ponderei com a cabeça. – Nem que a gente durma no aeroporto ou na estação de trem. – Rimos juntas.
- Bom, se ele tiver ingressos, são com passe para os vestiários, eu posso falar com o Gigi e comemorar com ele.
- Assim que se fala! – Ela falou animada e eu ri fracamente.
- Acho que precisamos ganhar esse jogo antes. – Comentei e ela fez uma careta. – E se ganhar, ganhar a final e...
- Pensa mais para frente, amiga. Vamos lá! – Ela falou e eu ri fracamente.
- Ok, combinado. Se a gente ganhar aqui, eu peço amanhã para ele. – Falei.
- Você não vai tirar férias, não?! – Ela perguntou, bocejando em seguida.
- Acabei nem tirando por causa do Calciopoli e nem vou tirar agora, depois da Copa teremos que falar com cada jogador para ver o que eles vão fazer por conta da Série B, aí no meio de agosto já tem a Coppa Italia que engloba todas as séries, então eu não sei. – Suspirei. – Talvez no fim do ano se estiver tudo mais calmo.
- Com o time na Série B, talvez seja mais calmo, não? – Ela perguntou.
- Confesso que não faço a mínima ideia o que muda. – Suspirei. – Essa é a primeira vez em 104 anos que o time vai para a Série B, ninguém sabe o que esperar.
- Que queda dolorida. – Ela falou e assenti com a cabeça.
- Menos 15 minutos. – Comentei, vendo o juiz apitar.
- Essa porcaria vai para pênalti. – Ela falou um tanto alto, enchendo a boca de tiramisù e eu suspirei.
- Você já está atacada e ainda comendo algo que tem café expresso, você não vai dormir tão cedo. – Ela disse.
- Se eles ganharem, não vai ser possível com o barulho, agora se eles perderem, eu vou ficar muito brava! – Ela disse e rimos juntas.
O intervalo passou e os últimos 15 minutos começaram, era agora ou pênalti. A torcida em Dortmund estava muto animada, então quando o contra-ataque veio, os alemães empolgavam seus jogadores.
- O Podolski está chegando... – Giulia falou.
- Vai, Gigi! – Respirei fundo, vendo o chute e ele espalmou a bola, fazendo-a ir para fora. – Eu vou passar mal. – Falei, vendo Gigi se levantar e sinalizar com um positivo para seu time.
- VAI, DEL PIERO! – Giulia gritou, mas a bola foi para fora.
- Dois minutos, vai para pênalti, Giulia. Pelo amor de Deus! – Falei, afundando o rosto em seu ombro.
- Dai, Pirlo! – Ela gritou e a bola foi defendida pelo goleiro alemão.
- É agora, ou eles fazem, ou já era. – Falei, vendo Del Piero no escanteio. – Vai, gente, o time inteiro na grande área. – Comentei, vendo até Fabio se aproximar.
Del Piero fez o cruzamento, Gilardino cabeceou para trás, mas Pirlo estava lá atrás, ao invés dele fazer o chute, ele chutou para Grosso que estava do lado direito. Ele não pensou, ele só chutou, me fazendo prender a respiração por alguns segundos. A bola fez a curva perfeita e parecia que ia para fora, até que...
- GOL! – Gritei, me levantando, animada, ouvindo os gritos vindo dos outros apartamentos e prédios em volta.
- GOL! CAZZO! É NOSSO! – Giulia gritou também, me fazendo rir.
- Non’è vero! – Grosso gritava quando os jogadores, incluindo Gigi, o jogaram no chão e pularam em cima dele.
- Enrola, gente! Enrola! – Giulia gritava, mas o árbitro havia dado três minutos de acréscimo.
- Não deixa empatar, Gigi, pelo amor de Deus! – Falei, me sentando no sofá de novo, segurando as mãos em sinal de reza.
- E eles estão indo para cima. VAI, GILARDINO! – Giulia gritou para a televisão e eu respirei fundo.
Gilardino, se vendo no meio de dois defensores, pegou Del Piero que vinha do lado direito e fez o passe para ele. Alex, bem ao estilo do nosso ADP10, apesar de ser sete na Seleção, chutou alto e a bola entrou perfeitamente ao fundo.
- GOL! – Gritei mais uma vez. – ESTAMOS NA FINAL! ESTAMOS NA FINAL! – Sentia minha garganta raspar com força.
- EU FALEI QUE ELE IA FAZER MILAGRE! – Giulia me puxou pelos ombros, me abraçando fortemente.
O juiz até tentou levar a bola para o centro do gol, mas os jogadores italianos já se dispersaram, os reservas invadiram o campo e o sorriso de prazer de Lippi, Gigi, Fabio, Alex, Zambrotta, era incrível. Eu esqueci totalmente o que eles haviam feito. Realmente, se eles ganhassem a Copa, apesar das penalizações, tudo isso seria esquecido.
- ANDIAMO A GERMANIA! – Giulia gritou, me sacudindo pelos ombros.
- ANDIAMO A BERLINO! – Gritei igualmente a ela, gargalhando e virei para tela, vendo Gigi e Fabio abraçados e suspirei. – Andiamo a vincere! – Falei, abrindo um sorriso.
- Vamos, amiga! Vamos vencer. – Giulia falou mais calma e eu suspirei.
- Vamos atrás dos ingressos e como chegar em Berlim antes? – Brinquei e ela riu fracamente.
- Vamos! – Ela disse, me fazendo sorrir.
Foi difícil abaixar a adrenalina depois daquele jogo. Gols em 119 minutos e em 120 mais um, era para qualquer um passar mal, além do tanto que eu comi que achei que eu realmente fosse passar mal, principalmente depois que a gente ainda desceu um pouco – de pijamas - e ficamos comemorando com os torcedores juventinos e italianos.
Daí, fomos deitar só quase quatro horas e eu ainda queria chegar cedo no time no dia seguinte, pois imaginava que todos teriam a mesma ideia de pedir ingressos, agora que tudo estava mais calmo e que tínhamos chegado na final, mas será que tinha ingresso para todos?
Quando eu estava deitada, tentando fazer com que a adrenalina baixasse, eu peguei meu celular e procurei as mensagens, encontrando algumas mensagens bem esporádicas minha e dele. Ele dificilmente respondia, os treinos tomavam boa parte dos dias, e quando ele podia, ambos estávamos cansados devido ao trabalho.
“Agora só falta um, hein? Boa sorte.” – Enviei, deixando um sorriso se formar em meu rosto.
Fui chegar no time umas 7:30, eu nunca chegava tão cedo assim, Claudio já estava na sala, mas ele já tinha ido no jogo contra os Estados Unidos e imaginava que ele não fosse voltar, mas por precaução, deixei minhas coisas na mesa e segui para a sala de Giorgio, rezando para que ele ainda estivesse lá.
- Viene! – Ele falou e eu abri a porta devagar, colocando a cabeça para dentro.
- Ciao, Giorgio. Posso entrar?
- ! Entra aí! – Ele falou e eu entrei, fechando a porta. – Chegou cedo! Não aproveitou a festa ontem? – Ri fracamente.
- Aproveitei até demais, não fui dormir antes das quatro. – Rimos juntos.
- Muita adrenalina, né?! – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Mas diga, o que manda?
- Sei que está um pouco em cima da hora, mas será que você consegue ingressos para a final para mim e para uma amiga? – Perguntei, fazendo uma careta.
- Imaginava que era algo assim. – Ele falou, me fazendo rir fracamente.
- Ah, sabe como é, apesar do que eles fizeram, seria legal se eles ganhassem e ir comemorar com o Alex, com o Fabio, com...
- O Gigi! – Ele falou e eu olhei para ele, dando um sorriso de lado.
- É, também. – Tentei me parecer desinteressada.
- Eu sei sobre vocês, . – Ele falou.
- Sabe? – Perguntei, franzindo os lábios.
- Não sei muitos detalhes, pois vocês sabem ser incrivelmente discretos, mas eu notei os olhares dele em você desde o primeiro dia. – Mordi o lábio inferior. – E você fica facilmente envergonhada quando falamos dele. – Ri fracamente. – Além da preocupação exagerada sobre os jogadores durante o Calciopoli.
- Eu tentei fugir, senhor, mas eu gosto mesmo dele. – Suspirei. – Enrolamos durante quatro anos, mas acabamos nos envolvendo meio sem querer em novembro do ano passado.
- Jura? – Ele perguntou. – Vocês sabem ser discretos. – Ele disse.
- Vamos dizer que jantamos muito em casa. – Falei, vendo-o rir. – Eu realmente gosto dele, senhor. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça, abrindo sua gaveta.
- E vejo que ele gosta de você também. – Sorri.
- Parece que sim. – Suspirei.
- Se vocês dois forem sério e engrenaram em um relacionamento, só peço para vocês falarem no RH, ok?! – Ele falou.
- Só isso? – Perguntei.
- Bom, vocês estão tentando ficar juntos há cinco anos. – Ele disse, rindo. – Não há muito o que eu possa fazer para impedir vocês, vocês deram um jeito, mesmo não sendo ideal. – Assenti com a cabeça.
- Grazie, Giorgio. – Ele sorriu e estendeu duas credenciais na mesa.
- Divirtam-se, ok?! – Ele falou. – E esperamos vencer. – Rimos juntos e eu peguei-as na mesa. – Só preencher com seus dados e documento.
- Você não vai? – Perguntei.
- Provavelmente, se a final for contra a França, é certeza. Teremos sete Juventus em campo, né?! Além do Zidane que é ex-jogador. – Ele falou.
- Não tinha pensado nisso. – Suspirei. – Descobriremos mais tarde. – Ele sorriu.
- Com certeza. – Ele falou.
- Tem alguma tarefa especial para mim? – Perguntei.
- Por enquanto não, está bem calmo, só tem você, o Claudio e o Angelo, os outros tiraram férias. – Assenti com a cabeça. – Mais tarde apareço lá.
- Beleza! – Falei, saindo de sua sala e namorei as credenciais da Copa do Mundo, nunca pensei que seria tão fácil.
Eu ia para final da Copa! Giorgio não havia encrencado com meu relacionamento! Gigi não havia sido culpado pelo negócio do Calciopoli, apesar de ele ter assumido para mim que sim, parecia que as coisas estavam começando a se resolver. Esse trabalho realmente era o melhor trabalho do mundo!
*Jogo contra a Ucrânia (quartas de final) não citado.

Lui

Nove de julho de 2006


O juiz apitou o final dos acréscimos e eu respirei fundo, mais um jogo, mais uma prorrogação. Era para testar nossa paciência até o fim, literalmente. O cansaço já tomava conta do corpo e a ansiedade de tocar a Copa do Mundo aumentava cada vez mais.
Havia sido 90 minutos difíceis. Eles abriram o placar aos sete minutos com um pênalti, Zidane bateu muito bem e foi a primeira pessoa – depois de Zaccardo contra os Estados Unidos – que eu não consegui parar, a única. Haviam sido quatro jogos sem levar nenhum gol, uma campanha boa, penso eu.
Materazzi deixou tudo igual novamente aos 19 minutos, com uma cabeceada. Conforme os minutos passavam, menos eu achava que a gente fosse conseguir. Parecia que a situação ficava cada vez mais longe e que levantar a Copa do Mundo ficaria para outra oportunidade. Já havíamos perdido uma final para a França na Euro de 2000, eu não havia participado dessa campanha por quebrar o metacarpo da mão esquerda ao bater em uma das balizas na preparação contra a Noruega dias antes, mas Fabio, Alex, Iuliano e Totti sim e eles sabiam o que era perder para França. Acho que a Itália inteira sabia o que isso queria dizer e como doía.
No segundo tempo, Toni conseguiu aumentar essa diferença, trazendo a emoção e a esperança de volta, mas foi só olhar para o auxiliar e perceber a bandeira levantada e sabíamos que estávamos no 1x1 novamente e os minutos só passavam, chegando aqui. Ao começo da prorrogação.
Tínhamos 30 minutos para resolver isso ou tudo ficaria entre mim e Barthez. Eu estava confiante, havia feito grandes defesas durante esse campeonato, mas não sabia se conseguia carregar nas costas uma possível derrota em final de Copa do Mundo, já bastava a desolação da Champions de 2003. Não, apesar de tudo, eu não podia carregar essa barra sozinho. Meus companheiros de time me apoiavam e me falavam palavras de força e perseverança, mas quem estaria no meio das balizas era eu. Quem teria que encarar os 90 mil torcedores, sejam italianos, franceses ou de outras nacionalidades, seria eu. Eu não estava pronto para encarar isso.
No começo do primeiro tempo, em uma subida de bola, Zidane cabeceou e eu só consegui erguer a mão, espalmando-a para trás. Não sei como eu havia conseguido fazer isso com a velocidade da bola e a aproximação, mas a feição de raiva de Zidane me mostrou que havia sido algo sobre-humano. Talvez a melhor defesa da minha carreira até hoje, talvez batesse a do Inzaghi na final da Champions.
O primeiro tempo da prorrogação acabou sem mais surpresas, agora, no começo do segundo, o clima começou a ficar mais tenso. Após uma defesa minha, eu recoloquei a bola em jogo, os jogadores correram em direção ao centro de campo novamente. Ao meu lado esquerdo, Zidane e Materazzi trocavam algumas palavras e, por algum motivo, Zidane abaixou seu corpo e meteu sua cabeça no peito de Materazzi, fazendo-o cair no chão.
Aquilo foi surreal! E parecia que só eu havia visto aquilo. Os outros jogadores seguiam o jogo normalmente. Fiquei alguns segundos atordoado e sinalizei para o bandeirinha e o juiz parou o jogo.
Zidane parecia irritado com meu aviso e eu tentei sinalizar para ele que existia uma diferença entre amizade e parceria para o que ele havia feito. Materazzi estava largado no chão com a mão no peito e os médicos entraram para ver o que acontecia. Isso foi fazendo o tempo passar e a iminência de uma decisão por pênaltis aumentava.
O mundo sabia que Zizou se aposentadoria após a Copa do Mundo, ele já havia falado isso em diversas situações, mas quando o juiz ergueu o cartão vermelho, eu não esperava que sua carreira fosse encerrada daquele modo. Foi quase como se o estádio ficasse quieto após a sua expulsão. Todos ficamos sem reação.
Minutos depois, o apito anunciou o fim da prorrogação e agora era comigo.
Eu fiquei completamente sem reação. Acho que nem tinha uma reação exata para agir sobre isso, já havia pensado nessa possibilidade diversas vezes nesses quase dois meses, só parecia que sempre conseguíamos fugir, e deixar para uma final? Me parecia uma forma péssima em finalizar tudo.
Eu confiava em mim, tinha fé que daria tudo certo, mas também sabia que muito do futebol era sorte e a sorte havia estado conosco tantas vezes nesses últimos seis jogos que talvez todas as nossas fichas haviam acabado para esses próximos 10, 15 minutos.
Eu fiquei parado, olhando para o centro do campo enquanto toda bagunça acontecia à minha volta. A decisão de quem seriam os nossos cinco batedores se aceleravam para finalizar isso o mais rápido possível. Alguns de meus companheiros se aproximaram de mim, acariciavam minha cabeça, me abraçavam e davam beijos, mas eu não tinha nenhuma reação diferente do que pensar e focar. Lippi também queria falar alguma coisa para mim, me dar algum tipo de força, mas eu só conseguia dizer:
- Lascia, mister!
Eu sabia o que tinha que fazer, treinava desde os 12 anos para isso, para esses momentos de completa tensão, mas o peso em minhas costas era grande demais. Dessa vez eu estava sozinho. Em um estádio com 70 mil pessoas, eu não teria ajuda física de ninguém. Era comigo, só comigo agora.
Andrea Pirlo, Marco Materazzi, Danielle De Rossi, Alessandro Del Piero e Fabio Grosso. Esses eram os outros cinco jogadores que dividiriam a responsabilidade comigo. Não prestei muita atenção em quem eram os batedores da França antes da hora, mas sabia da potência deles, mesmo sem Zidane, então eu teria que dar o meu melhor.
A moeda foi jogada novamente e nós começaríamos chutando. Eu e o goleiro Barthez fomos para nosso lugar e nos abraçamos, dando tapas nas costas um do outro. A gente sabia o peso, não era novidade para ninguém, também não era nenhuma rixa direta, era nosso trabalho e era o que precisávamos fazer.
Pirlo foi primeiro. Um chute no centro da rede e gol. 1x0.
Quando chegou a minha vez, eu sacudi os pensamentos ruins da minha cabeça e tentei me manter positivo, era ganhar ou perder, não tinha alternativa, mas para essas duas opções, eu precisava enfrentar, então vamos lá. Eu e o francês fomos para lados contrários, 1x1.
Materazzi chutou do lado direito, Barthez foi para o mesmo lado, mas a bola entrou. 2x1.
David Trezeguet, meu querido amigo da Juventus, era o segundo a bater. Já havia encontrado ele, Thuram e Vieira antes do jogo. Era um tanto injusto, já que treinávamos juntos, então estava acostumado com seus chutes e batidas, então quando ele se aproximou de mim, eu sabia para onde ir. Ele chutou e eu pulei para o lado esquerdo, mas para minha surpresa, a bola bateu no travessão. 2x1.
Não tive tempo de ficar triste pelo meu amigo, pois Danielle vinha atrás, metendo uma do lado direito do gol. 3x1.
Novamente, fui para o centro do gol, mas fui para o lado contrário do francês e era gol. 3x2.
Del Piero veio logo atrás e completou seu dever como meu querido capitão. 4x2.
O próximo francês veio atrás e se ele errasse ou eu defendesse, estava ganho, era isso, mas não, lados contrários de novo. 4x3.
Era isso, eu não defendi nenhuma e Barthez também não, mas se Fabio Grosso fizesse era nosso. Todo o medo e preocupação nesse momento, deixados no pé esquerdo milagroso de Grosso que havia feito um gol milagroso a Austrália nas oitavas nos cinco minutos de acréscimos do segundo tempo e havia feito outro aos 119 da prorrogação contra a Alemanha. Era isso, ele era nosso jogador milagroso. Tudo dependia dele.
Tudo passou em câmera lenta, era um contra outro, parecia que até os torcedores paravam de gritar. Minha vida passou como um filme naqueles segundos antes do apito, desde que eu jogava na rua de casa descalço, depois nas categorias de base do Parma, depois no profissional com somente 17 anos, o apelido de Superman, todos os prêmios e indicações, minha vida na Juventus, tantas pessoas que eu conheci por causa desse time, todos os erros, acertos e conquistas. Todas essas pessoas vieram em minha mente, inclusive , que veio somente com seu sorriso.
Tudo me adiantou para esse momento, quando o juiz apitou.
Grosso correu para a bola, chutou e tudo parou por alguns segundos, antes do grito da torcida chegar em meus ouvidos e fazer relaxar tudo o que estava aqui dentro. Era nosso! Havíamos conseguido! Somos campeões do mundo!
Corri em direção aos jogadores que invadiam o campo e muitos vieram em minha direção, me abraçando fortemente, inclusive Fabio e Alex que se jogaram em meus braços, dali começou uma comemoração que eu nunca havia visto. Lippi e os outros técnicos vieram me abraçar e foi como se eu desligasse por um momento de ecstazy.
Sempre havia sido um sonho ganhar a Copa do Mundo, acho que esse era o maior sonho de qualquer jogador de futebol ao redor do mundo inteiro, de que país ou posição fosse, mas realmente ganhar? Isso era maior do que qualquer sonho que eu já havia sonhado, e havia acontecido. Estava acontecendo.
Grosso veio em minha direção, pulando em meu colo e me abraçando fortemente. Nós tínhamos conseguido. Nós enfrentamos isso e agora era nosso. Merda, cara! Como isso tinha sido possível? Com todos os problemas que enfrentamos antes e durante a competição, com tantas distrações, como isso foi possível? Era muita loucura!
Os torcedores das arquibancadas gritavam e cantavam e, quando eu percebi, estava dançando com eles, aproveitando o som ensurdecedor de italianos no estádio. Pena que eu estava super tensionado, foram quase três horas de completa tensão e os ombros estavam pesando demais. Assim que eu vi uma cadeira, me joguei, tentando respirar fundo e jogando um pouco de água no rosto.
Sem querer ser deixado de lado na festa, Oddo se sentou em meu colo e Nesta pulou em minhas costas, fazendo os três quase irem para o chão, fazendo as gargalhadas ficarem cada vez mais altas.
Seguimos os outros jogadores para dar uma volta pelo estádio e os torcedores nos jogavam diversos itens de nosso país, Materazzi até havia conseguido um chapéu estilo aqueles de festa. Eu, como a maioria de nós, consegui uma bandeira e pendurei no pescoço.
O palco de cerimônia foi montado e voltamos para lá para finalmente receber nossas medalhas. A França foi antes e, apesar da empolgação, cumprimentei alguns velhos conhecidos e os aplaudimos. Havia sido uma competição de igual para igual, tanto que realmente só foi resolvida no fim.
Confesso que ficava chateado por Trezeguet, ele era um jogador exemplar, já bateu pênaltis tantas vezes e havia errado no momento mais importante de todos. Eram dias mesmo, às vezes estávamos bem, às vezes não. Hoje, depois de tudo, eu estava.
Eu era o último, antes de Lippi, a entrar na fila para receber nossas medalhas. O pessoal que foi à frente já sondava a taça, dando abraços nela e eu acho que nunca havia visto algo tão incrível antes. Ela era linda, de verdade! Fabio disse para tentar ignorá-la na entrada do jogo, mas foi difícil, estávamos todos ali por ela, não é?! E agora, poder finalmente erguê-la, seria sensacional.
O presidente da FIFA, da Itália, da Alemanha e outros chefes de estado que não me recordava quem eram, me parabenizaram, dando forte tapa em minhas costas e colando as testas e eu só consegui sorrir, eu queria a Copa agora e queria agora! Me lembro de dizer e ouvir isso em outras situações bem distantes agora.
Fabio subiu em cima da mesa em que a taça antes estava e o presidente da FIFA entregou-a para ele. Eu só conseguia sorrir pela felicidade de tudo isso, os outros companheiros pulavam e Fabio beijou a taça, antes de erguê-la para cima, fazendo papéis picados explodirem para cima à nossa volta, tornando minha vista comprometida por alguns segundos.
Assim que Fabio desceu a taça, os jogadores começaram a passar de mão em mão e eu estava paciente com isso. Os jogadores mais novos ou com menos experiência eram os mais aloprados, então deixei-a chegar até mim. Fabio me abraçou, passando as pernas pela minha cintura de novo e eu sorri.
- É nossa, Gigi!
- É nossa! – Falei e ele estalou um beijo em minha testa, antes de ir para o chão novamente.
O pessoal começou a andar pelo estádio enquanto a taça seguia de mão em mão. Muitos familiares estavam no estádio hoje, esposas, namoradas, então imaginei que eles iam para perto de onde eles estavam, como Alex quando ele fez o gol da semifinal, foi comemorar perto de Sonia.
Meus pais não estavam aqui hoje, minhas irmãs sim, mas eu não sabia em que parte elas estavam. também havia dito que nem viria para cá e depois da questão do Calciopoli e do Pessotto, talvez as coisas não estivessem tão bem entre nós, só pensava se ela estava torcendo para mim hoje. Ela mexia comigo de uma forma indescritível e eu esperava que conversássemos quando eu voltasse para casa.
Na verdade, tinha muita coisa para conversarmos, eu também tinha uma decisão a fazer, a relegação para a Série B acabou mexendo com todos nós e agora, sendo campeão do mundo, não seria o ideal ficar na Série B, mas não achava certo simplesmente dar adeus para esse clube, sendo que eu fiz parte disso e ele foi responsável por eu estar aqui nessa final hoje.
Pirlo veio em minha direção com a taça e foi como se o ar faltasse quando minhas mãos foram para ela. Aquilo deveria ser a maior conquista da minha vida. Só levei dois gols durante toda a competição, um sendo contra do Zaccardo, mas fiz muito mais defesas, os machucados e ralados diziam por si só.
Trouxe a taça para perto da boca, dando um beijo nela e a ergui, sentindo um grande sorriso aparecer em meus lábios. Meus companheiros sorriam para mim, os torcedores gritavam e sentia que podia ficar aqui para o resto da vida, dentro do estádio Olímpico de Berlim no dia nove de julho de 2006. Sei que já tive muitos dias felizes na minha vida, mas esse era o primeiro, pelo menos no profissional. A sensação era incrível!

Lei

10 de julho de 2006 • Trilha SonoraOuça


As lágrimas deslizavam de meus olhos desde o momento em que eu havia pisado no estádio Olímpico de Berlim. O único estádio que eu havia entrado na vida era o Delle Alpi lá de Turim e eu já o achava incrível, mas entrar aqui, cara! Esse estádio era magnífico! Só conseguia pensar em sugerir para Giorgio algo tipo esse para o nosso. Apesar que tínhamos o Olímpico de Turim, mas precisava ser algo sensacional.
Eu continuei chorando quando o jogo começou. Ver Gigi, Fabio, Alex, Zambrotta, até Trezeguet, Lilian e Vieira entrando para enfrentar aquela final, era incrível. Claro que eu queria que a Itália ganhasse, era meu país, mas se qualquer um dos dois ganhasse, sabia que estava em boas mãos.
O jogo foi emocionante, placar aberto rapidamente, mas depois ficou assim até o fim dos 90 minutos, também ao fim dos 30 de prorrogação e veio o que eu mais temia: os pênaltis. Eu gostava muito de Gigi, mas vê-lo enfrentar aquilo não seria fácil para mim. Estávamos em um dos milhares de camarotes ali, o que eu fiquei bem feliz, mas os lugares mais baixos eram muito melhores, com toda certeza.
Tendo uma visão boa ou não, eu sofri e chorava durante cada gol que entrava, independente do lado. Da Itália em comemoração e emoção de estar chegando perto e da França por ser Gigi que estava levando e eu sabia o quanto ele se sentiria mal depois de tudo. Quando Trezeguet errou, eu fiquei em surto. Primeiro que ele errou em uma final de Copa do Mundo, meu amigo francês se sentiria muito mal com tudo isso. E segundo que era nossa chance de virar isso.
Quando Fabio Grosso, o jovem que jogava no Palermo, fez o último gol, eu fiquei em surto. Bom, eu e 50 por cento do estádio. Era nossa! Havíamos ganhado a Copa do Mundo. Tudo por causa daqueles 23 jogadores que corriam desesperados pelo gramado. Tudo por causa do Gigi que manteve o gol bem protegido durante a competição inteira. Tudo por causa de Lippi que fazia milagres por onde passava.
As lágrimas não cessaram nem quando Fabio levantou a taça, nem quando os fogos iluminaram Berlim. Eles só pioravam e eu já puxava a respiração fortemente, sentindo o nariz entupido. As bochechas já formavam aquela camada de lágrimas que secavam e deixavam os olhos colados, como quando acordávamos.
Todos pareciam loucos e agitados, mas Gigi parecia em outra realidade, ele brincava, parava e se divertia, mas o cansaço era visivelmente em seus olhos. Ele tinha trabalhado para caramba e merecia tudo aquilo. Ele merecia muito mais, na verdade. Ele era incrível em vários sentidos, aprontava também, eu não havia esquecido disso, mas agora parecia que tudo podia ser deixado de lado. Esquecido ou varrido para debaixo do tapete.
Quando ele finalmente ergueu a taça, eu me desmanchei em lágrimas novamente. Meu Deus! Que sensação maravilhosa era aquela, que imagem linda era aquela! Gianluigi Buffon, 28 anos, erguendo a Copa do Mundo. Cazzo! O sorriso em meu rosto se alargou de uma forma que eu nem sabia que era possível. Parecia que eu havia dormido com um cabide enfiado na boca.
Eu me sentei na poltrona enquanto a festa acontecia. O estádio já estava com metade de sua capacidade, os franceses já deveriam ter ido embora, pelo menos não conseguia encontrar nenhum no meu campo de visão. Os convidados dos camarotes que eu estava e outros mais importantes também iam embora a cada minuto que passava e eu só conseguia olhar para Gigi andando de um lado para outro com aquele largo sorriso no rosto.
Os minutos passavam devagar e eu já havia perdido noção do tempo, eu e Giulia voltaríamos para o aeroporto depois daqui, mas nosso voo era só oito da manhã, que diferença fazia eu chegar lá as duas ou as seis? Principalmente quando eu só esperava o estádio esvaziar para bater essa credencial nos vestiários. Eu não tinha vindo até aqui para ir embora sem ao menos dar um abraço em Gigi. Além do resto dos jogadores que eu conhecia, é claro! E em Lippi, não podemos esquecer.
Assim que a festa dos jogadores acabou do lado de fora, levando a taça para dentro, os seguranças começaram a retirar o pessoal das arquibancadas. Eu estava em um camarote de alguém importante da FIGC, reservado especificamente para times, dirigentes e pessoas ligadas aos times da Itália mesmo, então eles não nos pediram para sair, mas depois de um tempo, havia sobrado somente eu e Giulia lá.
Já passava da meia-noite há muito tempo, mas foi só perto da uma da madrugada que eu me levantei dali. Era possível ouvir os poucos burburinhos dentro do estádio algumas pessoas indo e vindo, subindo e descendo os níveis do estádio, seja por escada ou elevador.
Eu comecei a descer calmamente as escadas para o térreo. Eu nunca havia vindo aqui, mas eu conhecia a organização básica de um estádio e esperava que todos seguissem de certa forma. Eu não sabia falar alemão, mas o inglês me ajudou durante todo meu percurso até ali, então eu só fui esticando a credencial e vendo as portas serem abertas para mim. De pensar que eu não era nada e estava entrando no vestiário dos mais novos campeões do mundo.
Quando eu cheguei ao local correto, não foi difícil eu encontrar o vestiário da Itália, tinha muita gente lá! Começando pelo lado de fora. Não conhecia muitas pessoas, mas era fácil reconhecer quem era pai, quem era namorado e quem era da comissão técnica.
- Dio mio! – Giulia falou para mim e rimos juntos.
- O Lippi ali, vem comigo! – Puxei Giulia pela mão e ela entrelaçou os dedos, só esperava não perdê-la ali. – Lippi! – Cutuquei o senhor de cabelos brancos com um charuto na mão.
- ? – Ele pareceu surpreso em me ver e, antes que eu pudesse gargalhar, ele me abraçou pelos ombros, me fazendo rir.
- Parabéns pela conquista, mister! – Falei, ouvindo sua risada grossa em meu ouvido.
- Não acredito que você está aqui!
- Não poderia perder isso, né?! – Ele sorriu, me puxando para mais um abraço, me fazendo gargalhar.
- Os meninos estão lá dentro, vai lá! – Ele falou e eu assenti com a cabeça, dando um beijo em sua bochecha e deixando-o falar com quem fosse.
Finalmente entrei no vestiário e, cara, era tão bagunçado quanto o da Juventus, tinha vários corredores e as pessoas passavam agitadas dentro dele. O chão colava o solado do tênis e eu sabia que champanhe tinha sido derrubado aqui, o que não era muito difícil, os jogadores também já estavam bem animados e com os olhos vermelhos, apesar que podia ser também de sono, nem imaginava o que era a pressão antes de uma copa do mundo.
Passei por algumas pessoas, os jogadores ainda estavam com o calção do uniforme e a maioria deles estavam sem blusa, mas eu não conhecia muito gente, os mais famosos estavam na Juventus e isso era fato. Totti, Gattuso, Materazzi e Inzaghi eram lendas, Grosso havia sido uma surpresa na Copa do Mundo, De Rossi estava aparecendo também na Roma, mas não me senti confortável em falar com eles, pelo menos não nesse momento tão importante. Encontrei Alex com Sonia e segui até eles.
- Olha quem está aqui! – Sonia falou e eu sorri, abraçando ela e Alex pelos ombros.
- ? – Ele falou, surpreso e eu ri, dando um beijo na bochecha de cada um.
- Parabéns, campeão do mundo! – Falei, ouvindo-o gargalhar e o abracei propriamente agora.
- O que está fazendo aqui?
- Ah, dando uma volta. – Falei sarcasticamente, vendo-o rir.
- Eu não sabia que viria. – Ele disse, aproximando a boca de meu ouvido devido ao barulho.
- Decidi vir de última hora. – Falei.
- Gigi sabe que está aqui? – Ele perguntou.
- Vai saber logo mais! – Falei e ele assentiu com a cabeça. – Parabéns mais uma vez!
- Grazie mile! – Ele disse, sorrindo e me afastei dele um pouco.
Chequei se Giulia ainda estava do meu lado e dei uma rápida olhada por cima, feliz pela minha altura, tentando enxergar os números de cada vestiário e vi que estavam em ordem, eu só estava do lado totalmente contrário. Encontrei o número um e me aproximei devagar, tentando não tropeçar em algumas pessoas e abrindo espaço entre elas.
Quando um pequeno corredor abriu em minha frente, eu engoli em seco e travei, imediatamente me lembrando do porquê eu não gostava de receber surpresas, quem as fazia acabava surpreendido e quem havia sido surpreendida agora havia sido eu.
Gigi estava ali, há cerca de dois metros de mim, sentado em seu espaço, ele tinha um largo sorriso no rosto, a medalha de ouro pendurada em seu peito nu e as meias abaixadas deixando suas caneleiras à mostra, feliz como todo campeão do mundo deveria se sentir nesse momento tão único para ele.
O problema era o que estava no colo dele. Não o quê, quem. Uma morena muito bonita, com a pele clara, cabelos soltos brilhosos e seios fartos que saltavam para fora da blusa da Itália, estava sentada em suas pernas, com os braços em volta de seu pescoço e gargalhava de alguma coisa que as outras pessoas em volta falavam para eles.
O olhar de ambos se encontrava em meio às risadas e ela aproximava os lábios dos dele, colando-os em um forte beijo, aonde ele já a procurava com a língua segundos depois. A mão dele também não estava muito discreta, segurando-a firme pelas nádegas, apertando-as conforme o beijo tornava mais intenso. Aquilo revirou meu estômago e não sei como não vomitei ali mesmo.
Eu ainda tinha esperança de que pudéssemos resolver nossas diferenças, mas parece que ele não. Eu sabia que tinha feito essa escolha quando o afastei após o Calciopoli, mas não achei que ele levaria tão a sério e tão rápido. Eles claramente tinham intimidade, isso não aconteceu agora, não foi alguém que veio e aproveitou o goleiro campeão do mundo de bandeja, tinha mais nisso e era o que mais doía.
Não éramos nada? Nossa sincronia não existia? Era só mais um de seus papos? Eu não deveria ser completamente ingênua com a questão do Calciopoli, talvez tivesse muito mais do que só manipulação de resultados nessa história toda. Talvez outra mulher em sua vida que eu não vi chegar.
Minha mente passou por todos os nossos momentos juntos e as lágrimas finalmente começaram a molhar meu rosto. Quatro anos tentando, quatro anos desejando, quatro anos lutando por nós para chegar a isso. O que era isso afinal? O que estava acontecendo aqui? Por que eu me sentia tão machucada por dentro? O que éramos? Eu não me sentia nem no direito em cutucá-lo e pedir explicações, pois não éramos nada, não é mesmo? Conversaríamos quando tudo isso acabasse.
Acho que havia acabado naquela nossa conversa lá atrás e só eu fui boba o suficiente para acreditar que teríamos essa conversa depois. Essa era a conversa de depois, essa era a pessoa depois de mim, e eu havia me tornado a maior tola de todas nessa história. A paquera que achava que era algo a mais, a namorada sem título... A trouxa que estava chorando no meio de um vestiário em festa.
- ? Achou ele? – Giulia cochichou em meu ouvido e eu só consegui assentir com a cabeça, sentindo seu ombro esbarrar no meu e ela entrou em meu campo de visão. – Cazzo! – Ela reclamou, me segurando pelos ombros. – Vamos sair daqui agora! – Ela falou, mas eu havia travado aquela imagem em meu cérebro e ela simplesmente não saía. – Vamos!
- Eu não consigo... – Engoli em seco, tendo dificuldades para tirar aquela visão da minha mente e focar em seus olhos.
- Vamos! – Ela falou firme, me empurrando pelos ombros e eu dei alguns passos para trás, sentindo que esbarrei em alguém. Aquilo pareceu me livrar de volta para a realidade.
- Me desculpe! – Falei, virando rapidamente e me afastando um pequeno passo para trás quando notei que estava muito perto de um moço sem blusa e com medalha no pescoço.
- Sem problemas! – Ele falou, abrindo um sorriso. – Está tudo bem?
- Eu... Hum... – Passei as costas das mãos nos olhos.
- ! – Me assustei, virando para o lado e vendo Fabio.
- Fabio... – Falei com a voz fraca, sentindo-o me abraçar pelos ombros.
- O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou com um sorriso divertido nos lábios. – Conheceu o Andrea aqui? – Ele apoiou a mão no ombro do outro homem.
- Barzagli, né?! Número seis? – Perguntei fracamente, olhando para o garoto que assentiu com a cabeça, sorrindo.
- Ela trabalha com a gente. Quem sabe não te contrata um dia? – Fabio falou, rindo e eu tentei dar um meio sorriso, ainda um pouco desnorteada.
- Talvez...
- Ei, o que foi? – Ele perguntou e eu engoli em seco, negando com a cabeça e o sorriso de Fabio foi sumindo aos poucos, como se a felicidade fosse tirada dele aos poucos. – O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou mais sério e desviou o olhar de mim por alguns minutos. – Oh, cazzo!
- Vamos embora, . – Giulia falou.
- Meu Deus, , me desculpe, eu não sabia que vocês estavam juntos ainda e...
- Não estamos. – Engoli em seco, sentindo as lágrimas voltarem a escorrer pelas bochechas. – Não mais. – Suspirei.
- Me desculpe, eu... – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Você não precisa se desculpar por ele. – Suspirei, passando as mãos nos olhos. – Não fala para ele que eu estive aqui, por favor.
- Mas, , se vocês estão juntos...
- Por favor, Fabio. – Falei firme, olhando em seus olhos. – Eu nunca estive aqui, ok?! – Engoli em seco. – Me prometa. – Falei e ele negou com a cabeça, me puxando para um abraço.
- Eu prometo. – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Me promete que vai ficar bem? – Ele nos afastou e olhou em meus olhos.
- Sempre. – Senti aquela palavra descer com dificuldade. – Eu juro. – Neguei com a cabeça. – Prazer em te conhecer. – Falei para Andrea e ele assentiu com a cabeça como quem não entendesse nada.
- Eu vou quebrar a cara dele. – Giulia falou próximo ao meu ouvido.
- Não vai fazer nada, só me tira daqui. – Pedi, vendo Fabio assentir com a cabeça. – Parabéns pela conquista! – Falei, abraçando-o mais uma vez e Giulia me puxou pela mão, começando a desviar das pessoas para finalmente sair dali.
Minha respiração melhorou quando saímos do vestiário abafado, mas Giulia continuou me puxando para longe de todas as pessoas, ela só parou quando percebeu que estávamos nós duas ali. Nesse momento eu fui para o chão, abraçando minhas pernas e deixei que o choro ficasse mais alto conforme a intensidade. Ela se sentou ao meu lado e passou o braço pelos meus ombros, me puxando para si.
Eu nunca me arrependi tanto de uma coisa, mas aquilo havia acabado de entrar no primeiro lugar da minha lista. Ver a final de uma Copa do Mundo, ver meu país vencer, ver meus amigos jogadores, havia sido a minha maior felicidade, mas pelo epílogo, tudo havia acabado ali. Nunca acreditei, mas era o que diziam: o que os olhos não veem, o coração não sente.
Aposto que se eu estivesse em casa agora, deitada em minha cama, com o sorriso de orelha a orelha pela conquista dele, meu coração estaria em paz. A situação poderia estar acontecendo aqui nos bastidores, mas talvez eu nunca soubesse. E nesse momento, eu só queria não ter vindo e ter ficado em Turim, onde havia felicidade e esperança.

Lui

10 de julho de 2006


Me mexi no local macio, sentindo meu corpo dolorido e abri os olhos devagar, encontrando o teto acima da minha cabeça. Uma luz fraca iluminava o quarto e não era das lâmpadas, era da fresta que entrava pela cortina. Ergui o corpo, tentando enxergar a fresta, mas isso só fez minha cabeça doer.
Levei minha mão até o local, jogando os cabelos para trás e suspirei, olhando para meu corpo nu parcialmente coberto pelo lençol. Franzi a testa, tentando me lembrar um pouco da noite passada e só me lembrava de levantar a Copa do Mundo, nada mais, o que tornava tudo um pouco mais complicado.
Senti o local ao meu lado mexer e franzi os olhos, receoso de quem eu fosse encontrar lá e virei devagar, vendo cabelos castanhos virados para mim. As costas estavam nuas e a única peça de roupa era uma calcinha preta rendada, denunciando quem era aquela mulher. Apesar de ter um pouco de esperança, não era , ela usava calcinhas maiores e com desenhos fofos de coração e bichinhos, e eu gostava muito, achava fofo. Combinava com ela.
Ergui um pouco o corpo, tentando enxergar o rosto da pessoa ao meu lado, mas foi em vão, mas pela calcinha, pelas costelas em destaque nas costas e pelas diversas vezes que nos esbarramos durante a competição, eu sabia que era Alena.
Ela era da República Tcheca e jogamos contra eles. Ela acabou indo atrás de mim, falando que fazia tempo que eu não falava com ela e tudo mais e eu tentei fugir em diversas situações, juro que sim, mas, pela dor de cabeça, eu havia bebido demais na noite passada, ela apareceu lá e terminamos a comemoração aqui.
Ótimo, Gianluigi! Parabéns! O trabalho de um mês finalizado em uma noite.
Cazzo!
Minha cabeça acabou indo para imediatamente. Mesmo que não tivéssemos oficializado nosso relacionamento, mesmo ela estando brava comigo pela questão do Calciolpoli, eu sentia meu corpo sujo, eu sabia que não deveria ter feito isso e bagunçava meu cérebro de uma forma estranha.
Deveríamos conversar quando tudo isso acabasse, mas como eu falaria com ela agora? Eu não tinha cara para fazer isso e, também, não tinha cara para olhar para Alena e falar “obrigado e até a próxima”. Eu estava fodido e eu nem estava pensando sobre o Calciopoli ainda. Meu agente queria falar comigo assim que eu voltasse para Turim, o que seria em uma semana, mais ou menos.
Iríamos para Roma hoje levar a taça para o presidente, depois teria uma cerimônia no palácio presidencial e, por fim, comemoraríamos com o povo italiano nas ruas. Depois teríamos alguns outros compromissos, alguns inclusive com a Federazione, só depois estávamos livres. Apesar que eu sabia que não era assim, a janela de transferências estava aberta, meu time caiu para a Série B e eu tinha muitas decisões para fazer.
Afastei esses pensamentos da minha cabeça um pouco e encontrei minhas roupas quase como uma caça ao tesouro, a cueca, depois o moletom da Itália e por último a blusa. Olhei rapidamente em volta se havia alguma outra coisa minha ali e nada. Observei Alena dormindo calmamente e meus olhos desceram para seus seios, seu corpo e suas pernas. Era um corpo totalmente diferente do que eu estava acostumado com , com era tudo natural, na medida certa, perfeito. Ela podia usar lingeries fofas e não ter os maiores seios, mas eu gostava dela assim. Ela era simplesmente perfeita.
Abanei a cabeça, não perdendo tempo para que Alena acordasse e saí do quarto, fechando a porta devagar. Eu estava um pouco perdido no espaço e tempo, mas eu sabia que aquele era o meu hotel. Segui até o elevador, chamando-o e vi pelas luzes, quando ele chegou, que eu estava no terceiro andar, ótimo.
Entrei, apertando o botão oito e esperei-o subir devagar. Deveria ser muito cedo, os corredores estavam vazios, mal tinha funcionários neles e nenhum assistente técnico passou por mim para me dar algum xingo ou trocar algumas palavras. A Copa acabou, né?! Não teriam mais xingos.
Cheguei em meu quarto, feliz pela minha mochila estar na frente da porta e peguei-a, procurando pelo cartão-chave e coloquei na porta, abrindo-o e entrei, encostando a porta. Amelia roncava em sua cama e eu suspirei. Alguém aproveitou muito bem ou nem aproveitou. Deixei a mochila em minha cama e tirei o moletom, seguindo diretamente para o banho. Eu não lembrava nem se havia tomado banho após o jogo, então fiz questão de fazer tudo duas vezes só por precaução. Me lembrava de bebida voando pelos ares no vestiário, as roupas molhadas, mas só. Se eu tinha tomado banho, fazia muito tempo.
Saí do box e enrolei a tolha em minha cintura, sacudi os cabelos em frente ao espelho e passei desodorante e um perfume pelo corpo. Amelia continuava roncando em seu canto e eu só conseguia rir. Como era possível roncar tanto assim? Fui até minha mala no pé da minha cama e peguei uma cueca e uma bermuda, vestindo-a ali mesmo. A Bela Adormecida não ia acordar tão cedo.
Voltei para o banheiro, passei a toalha em meus cabelos, tentando reduzir a umidade e a pendurei no box. Fui para o quarto novamente e puxei minha mochila, pegando meu celular e me deitei na cama, puxando o lençol até a cintura.
Desbloqueei o celular e vi 46 mensagens não lidas. Meu Deus! Acho que era isso o que queria dizer ser campeão do mundo. Abri todas e fui passando pelos nomes um a um, vendo todas que foram enviadas, das mais antigas as mais recentes, procurando somente um nome. Sorri ao encontrar. Era 8:43, a mensagem havia sido enviada há pouco menos de duas horas. Ela deveria estar comemorando até agora, ainda mais morando em Vinovo, onde o pessoal respira futebol por causa da Juventus.
“Parabéns, campeão do mundo”.
Abri um sorriso, sentindo meu corpo relaxar. Eu tinha dormido com Alena essa noite, mas uma mensagem de já fazia com que eu ficasse feliz, igual um adolescente. Apesar de tudo o que estávamos passando pelo Calciopoli, ela não desfez sua promessa. Ela sempre me disse que torceria por mim, independentemente de como estava nossa relação, e essa era a prova disso. Essa e outras mensagens que ela mandou conforme a competição ia passando.
Era isso, eu tinha que me resolver com ela, dar um corte em Alena e deixar as coisas acontecerem naturalmente. Eu sabia que só tinha espaço para uma em meu coração e esse espaço é de .
Coração? Deus! Isso só significava uma coisa e era loucura eu pensar nisso, mas sabia que me fazia bem. Então, por que não?



Capitolo quatordici

Stagione 2006/2007
Lei
24 de julho de 2006 • Trilha SonoraOuça

- Você quer que eu vá com você? – Giulia me perguntou, apertando meus ombros e eu neguei com a cabeça, vendo seu reflexo no espelho.
- Você não pode ir comigo trabalhar, né?! – Falei e ela deu um meio sorriso.
- É que eu não quero que você fique sozinha. – Suspirei.
- Isso é a última coisa que eu vou ficar. – Engoli em seco e peguei um batom rosado, passando nos lábios. – Como estou? – Virei para ela.
- Você precisa de uma base boa urgente. – Ela disse, passando as mãos embaixo de meus olhos, nas olheiras.
- Eu preciso melhorar minha aparência para os outros. Sempre me achei bonita, mas não para competir com uma modelo. – Engoli em seco.
- Você não precisa competir com ninguém, ele não te merece. – Ela falou e eu assenti com a cabeça. – Você é a mulher mais linda, inteligente, forte e poderosa que eu já conheci na vida...
- Eu...
- Eu não estou falando isso só porque sou sua amiga. – Ela disse e eu dei um meio sorriso. – Digo por que sei e confio.
- É, mas depois que eu o vi com aquela mulher... – Abanei a cabeça, tentando impedir as lembranças de voltarem. – Eu posso me cuidar mais. – Ela assentiu com a cabeça.
- Posso te levar para um banho de salão. – Ela disse, me fazendo sorrir. – Cabelo, unhas, massagem, o que mais?
- Talvez não seja uma má ideia, não devo cortar o cabelo desde que entrei na faculdade, porque alguém inventou de cortar meu cabelo ao invés da minha blusa. – Falei sugestivamente, olhando para ela.
- Bom, pensa bem, eu te fiz um favor ou não seríamos amigas. – Sorri e abracei-a pela cintura.
- Irmãs, Giulia. – Ela me apertou pelos ombros. – Você já passou do nível amiga há muito tempo. – Ela segurou meu rosto, colando nossas testas.
- Minha irmã. – Sorri e ela deu um beijo na ponta do meu nariz e eu franzi a testa. – Eu tenho que ir trabalhar, mas eu estou no celular, ok?! Meu chefe entende que se você liga, é emergência. – Rimos juntas.
- Seu pai deveria te demitir, você é uma péssima funcionária. – Ela sorriu, franzindo os olhos.
- Beh... – Revirei os olhos.
- Eu tenho que ir. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Vamos lá, eu vou descer contigo. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
Saímos do banheiro e eu passei em meu quarto, pegando minha bolsa na escrivaninha e engoli em seco ao ver minha foto e de Gigi apoiada no quadro de Giulia. Eu olhava essa foto todos os dias e ainda não tinha coragem de guardar em outro lugar. Não queria jogar fora, pois, apesar de tudo, havia sido um momento bom e sei que não adiantava jogar as coisas fora, a dor não iria embora.
Peguei-a, virando-a e vendo sua mensagem, me fazendo suspirar, e segui até meu armário, pegando um pacote de fotos reveladas com o nome “Juventus”, e joguei a polaroid no saquinho. Ficaria com as minhas lembranças do time, jogos, festas, eventos, fotos com jogadores e com colegas de trabalho. Precisava seguir em frente.
- Vamos? – Virei para o lado, vendo Giulia e assenti com a cabeça.
Deixei o saco na prateleira mais alta do armário e fechei-o, puxando minha bolsa e saí. Giulia já estava com a porta aberta e sua mochila nas costas. Ela segurou minha mão e tranquei tudo antes de descer até o térreo, se aproximando de nossos carros estacionados em frente ao prédio.
- Seja forte, ok, amiga? – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Não imagino que vá ser complicado, já não tinha mais nada entre nós. – Engoli em seco. – Nem sei se falaremos nisso agora, eu só acho que vai ser difícil fugir dele pessoalmente. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu estou no telefone e cruzo Turim se for preciso. – Ela me abraçou mais uma vez e dei uma batidinha em suas costas.
- Eu vou ficar bem, já enfrentei coisas piores. – Falei baixo e ela assentiu com a cabeça.
- Odeio quando você fala isso, pois sei que tem razão.
- Deixa eu ir, só vai ser pior adiar. – Falei e ela me apertou mais uma vez antes de me soltar. – Me avisa quando chegar lá.
- Ok, mãe! – Ela brincou.
- Você vai pegar estrada, é perigoso...
- Ah, nem 10 minutos e você vive fazendo esse caminho.
- Eu me preocupo, ok?! Não me contradiga, estou triste. – Falei firme e ela revirou os olhos.
- Até mais. – Ela deu um rápido beijo em minha bochecha e sorri, vendo-a seguir até seu carro.
Entrei em meu carro, respirando fundo algumas vezes, antes de ligá-lo e tirar o carro da vaga. Os 10 minutos que eu levava para chegar ao CT, pareceram mais rápido do que normalmente. Eu sabia que era o nervosismo, mas não tinha o que fazer, eu precisava encarar.
Depois da final, eu perdi o rumo, mas eu não tinha obrigação de exigir nada, não tínhamos nada oficializado e eu o afastei com a questão do Calciopoli, só podia me conformar e tentar seguir em frente. Apesar de ser difícil, eu sabia que essa dor em meu peito não era só uma paixão, era a... Era am... Vocês entenderam. Então eu sabia que seria mais difícil superar.
Apesar de tudo, eu prometi que estaria torcendo para ele para sempre, então não podia deixar passar algo tão importante como uma Copa do Mundo, talvez fosse a maior conquista da vida inteira dele. Maior que scudetti, Champions League e qualquer prêmio de melhor goleiro do ano ou da década que ele poderia ganhar.
Então, quando Giulia finalmente se distraiu com nosso embarque de volta para Turim, eu enviei uma mensagem para ele. Sim, eu fui trouxa assim, mas eu não costumo quebrar promessas e odeio que as quebrem comigo. Acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Giulia me chamou de idiota quando descobriu, mas era uma Copa do Mundo, e eu também não queria que ele soubesse que eu havia ido lá, isso só tornaria as coisas piores.
Ele ia ficar chateado, eu ia ficar chateada, a gente ia brigar e tudo sem motivo, pois eu decidi pedir um tempo. Eu era a Rachel da relação. E eu sabia que Fabio havia mantido segredo, pois Gigi até tinha me mandado outras mensagens, mas nada que denunciasse minha presença lá. Eu ignorei, aí depois eu ignorei quando ele me mandou mensagem após ganhar as medalhas de honra do presidente, depois quando ele voltou para Turim e tenho ignorado até hoje, inclusive suas ligações.
Eventualmente ele parou, acho que percebeu que eu não queria falar com ele, mas agora eu não tinha como fugir. Hoje teria uma reunião com os jogadores para decidir sobre a relegação para a Série B. O time havia deixado eles escolherem, mas hoje Giorgio abriria as condições e, como eu e a equipe havíamos o ajudado durante todo o caminho, ele nos queria lá.
Entrei no time e, apesar do estacionamento cheio de carros, estava tudo calmo do lado de fora. Passar por lá, depois do que houve com Pessotto, me perturbava ainda, então entrei rapidamente no prédio administrativo e segui diretamente para a sala de reuniões, era o único lugar que caberia 29 jogadores mais sete da contabilidade, isso se mais alguém não decidisse participar.
Ouvi as conversas lá de dentro e engoli em seco antes de abrir a porta. Todos os olhares se viraram para mim e me senti incomodada. Às vezes tinha desvantagens em ser a única mulher em algumas situações, essa era uma delas. Apesar de todos os olhares em mim, identifiquei Gigi com muita facilidade. Ele não estava diferente da última vez que eu o vi, sem barba, os cabelos mais compridos, as costeletas maiores, e isso fez com que as imagens da última vez que eu o vi voltassem com pressa e desviei os olhos para fechar a porta, mas Angelo chegava comigo.
- Ciao. – Ele falou.
- Ciao. – Dei um pequeno sorriso.
- , Angelo, venham! – Giorgio falou e eu respirei fundo. – Acho que podemos começar.
Senti meus ombros relaxarem um pouco e fiz questão de dar a volta pela mesa pelo lado contrário e me sentei ao lado de Claudio, vendo Angelo se sentar ao meu lado e os jogadores em pé ocuparam os lugares restantes da mesa. Por sorte, Gigi acabou ficando há umas quatro cadeiras de mim, mas seus olhares estavam fixos em mim.
Quando olhei para cima, finalmente tirando os olhos do meu colo, vi que tinha muito mais pessoas do que o esperado, agentes. Imaginei que os jogadores não viriam sem respaldo, ainda mais algo tão importante quanto esse.
- Beh, vamos começar, né?! – Giorgio falou. – A conversa não vai ser fácil, mas vai ser rápida. – Ele disse. – Sei que essa relegação acabou pegando todos de surpresa e entendemos que muitos de vocês não querem jogar na segunda divisão, principalmente após a Copa do Mundo, mas ainda precisamos de uma equipe para jogar essa temporada e, se liberarmos todos vocês sem multa, o time quebra. – Ele falou e eu respirei fundo, apertando uma mão na outra. – Então, quem quiser sair, pode sair, mas vai ter que se responsabilizar pela multa...
As conversas automaticamente ficaram mais altas e eu até ergui os olhos para olhar para os diversos homens falando ao mesmo tempo, seja com Giorgio, sejam entre si, com os agentes, não sei, mas era muito homem falando. Levei as mãos até a cabeça, apertando as têmporas e engoli em seco, sentindo minha cabeça latejar.
- PELO AMOR DE DEUS, CALEM A BOCA! – Falei alto, ouvindo as conversas cessarem e os olhos viraram para mim imediatamente. – É o que dá para fazer hoje. Deu ruim, o time caiu por erro de algumas pessoas desse time, algumas até nessa sala, acontece. Mas vai fazer o quê? Morrer por ficar uma temporada na Série B? Ah, por favor. Deixa o ego de lado um pouco. – Suspirei, virando para Giorgio que tinha um sorriso nos lábios e virei para Angelo e Claudio que se seguravam para não rir.
- Grazie, . – Giorgio falou e eu preferi abaixar a cabeça novamente. – É difícil eu pedir para vocês isso, mas gostaria que analisassem com carinho, com um time consistente, voltamos para a Série A na próxima temporada e tudo volta ao normal. Sei que os torcedores valorizariam muito isso, nós também. – Ele suspirou. – Claro que para os que decidirem ficar, será feito um novo contrato para a Série B, o salário será ajustado, já que perdemos muito monetariamente por causa da multa, os jogos também têm menos torcedores, os patrocinadores saíram em retirada, então tem algumas alterações. – Suspirei. – Mas vocês terão nossa gratidão para sempre. – Ele olhou para os papéis em sua mesa. – Podemos liberar sem multa os jogadores que têm somente um ano de contrato sobrando conosco, quem tem mais, não tem o que fazer.
A sala ficou em silêncio após as palavras de Giorgio e parecia que todo mundo se entreolhava tentando descobrir o que o outro faria. Eu sabia que aquilo não sairia dali, mas não seria eu a dar o primeiro passo. Principalmente depois de chamar todos os jogadores de egocêntricos. Acho que por hoje já estava de bom tamanho.
- Eu preciso da resposta de todos até dia primeiro. – Ele falou. – Tem jogo da Coppa Italia dia 19 e o novo técnico precisa de uma equipe pronta para jogar. Além dos amistosos.
- Já tem o novo técnico? – Alex perguntou.
- Sim, Didier Deschamps. – Giorgio falou e o pessoal se entreolhou, interessados. Ele havia sido jogador da Juventus de 1994 a 1999, ajudando o time a chegar em três finais seguidas de Champions e até a vencer uma em 96.
O silêncio se manteve mais uma vez e eu suspirei, evitando erguer a cabeça. Giorgio fechou sua pasta em um baque e empurrou sua cadeira, fazendo várias pessoas fazerem o mesmo. Suspirei, empurrando a cadeira e meus olhos encontrarem os de Gigi e eu engoli em seco. Me levantei, seguindo atrás de Angelo e eu tentei fugir, mas sua mão quente encontrou a minha e eu engoli em seco antes de virar para ele.
- O quê? – Senti minha voz sair baixa e desviei meus olhos dos dele quando ele procurou por eles.
- Sei que você está brava comigo por causa disso tudo, mas a gente não conversou depois que eu voltei. Sobre a Copa ou sobre nós...
- Não tem mais "nós", Gigi. Achei que tinha ficado claro. Você fez sua escolha.
- Você ainda não acredita em mim...
- Você não sabe como minha vida virou de cabeça para baixo por tudo isso, tudo que eu soube, tudo que eu vi... Algumas coisas ficaram claras demais.
- Entendi... Eu achei que estávamos bem depois do Pessotto ou quando você mandou a mensagem para mim. – Engoli em seco.
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra. – Puxei minha respiração. – Prometemos estar lá pelo outro sempre que precisasse, lembra? – Engoli em seco. – Eu precisava de você naquele dia. – Senti minha voz baixa sair falhada e um pouco esganiçada. – E eu achei que você ia gostar de receber os parabéns por uma conquista tão importante...
- Gostei e muito. – Ele apertou minha mão e eu puxei-a devagar, cessando o contato.
- Apesar que você tinha bastante gente para te parabenizar, não deve ter feito muita diferença.
- Você sempre faz. – Fechei os olhos, tentando evitar as lágrimas. – Eu não quero te perder, , eu não...
- Você já me perdeu, Gigi. – Suspirei. – Quando você fez aquela escolha... – Engoli em seco.
- Achei que podíamos passar por isso e...
- Tem coisas quem nem uma Copa do Mundo pode limpar. – Ergui o olhar para ele. – Não serão dois meses que vão limpar isso, Gigi, eu preciso de tempo, espaço...
- Entendi... – Ele falou e eu suspirei.
- Mas eu sempre vou torcer por você, onde quer que esteja. – Falei, sentindo aquelas palavras rasparem em minha garganta.
- É, obrigado... É melhor eu ir... – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Gigi... – O chamei. – Você não é uma pessoa má, você só precisa aprender a fazer melhores escolhas para a sua vida.
- É, eu vejo isso agora. – Ele falou, se afastando de mim e eu engoli em seco, levando a mão até a boca para tentar abafar o choro que ficava cada vez mais forte.

Lui
27 de julho de 2006

- Eu estou pensando em ficar. – Falei, apoiando os braços na poltrona.
- Eu acho loucura. – Silvano, meu agente, falou. – Você acabou de ganhar a Copa do Mundo, você levou somente dois gols na competição, sendo um contra. Está concorrendo à Bola de Ouro, estou com 14 ofertas de times por você, incluindo Milan, Inter, Arsenal, liga espanhola e inglesa e você quer jogar na Série B?
- Deixa ele falar, Silvano. – Meu pai falou e eu suspirei.
- Este clube me ajudou a vencer, Silvano, e, se eu me tornei campeão do mundo, foi por causa deles. – Falei, suspirando. – Eu posso lidar com um ano na segunda divisão. – Suspirei. – Vai ser quase como tirar férias... – Minha mãe deu um sorriso de lado. – E eu vou ganhar o título da Série B para eles.
- Acho honrosa essa sua atitude, filho. – Minha mãe falou.
- Eu fiz merda, mãe. – Suspirei. – Sei que aconteceu muito mais depois que eu me afastei, mas eu sei que parte da culpa é minha, seria muita hipocrisia abandonar o barco enquanto ele está afundando.
- O que os outros jogadores vão fazer? – Silvano perguntou.
- Não sei e não quero saber. – Falei firme. – Não quero que minha decisão seja baseada na deles. – Ele assentiu com a cabeça.
- É isso, então? – Silvano perguntou. – Está seguro de sua decisão?
- Sim. – Falei. – Não tem por que eu continuar adiando isso. Eu tenho pensado desde que soube da notícia. – Suspirei. – Eu tenho todo dinheiro do mundo, conquistei o maior campeonato da minha profissão, ganhando mais dinheiro por isso, às vezes não é sobre dinheiro.
- Eu acho uma ideia ótima. – Minha mãe falou.
- Aí no ano que vem eu penso de novo. – Falei. – Um ano só não vai matar.
- Seu valor de mercado pode reduzir e...
- Eu ainda ganhei uma Copa do Mundo levando somente dois gols. – Falei, olhando para Silvano. – Eu me decidi, Silvano. – Falei. – Não vou mudar.
- Ok... – Ele se levantou. – Vou informar ao time.
- Não se preocupe sobre isso, eu informo. – Falei. – Tenho que ir lá resolver outras coisas, já faço isso também. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Combinado. – Ele falou e eu me levantei, apertando sua mão.
- Vamos nos falando. – Falei e ele confirmou com a cabeça.
- Eu vou até a porta contigo. – Meu pai falou se levantando e eu me joguei no sofá novamente, respirando fundo.
- Você escolheu direito, filho. – Minha mãe falou, se apoiando ao meu lado.
- Eu sei, mãe. É só um ano, passa rápido. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- Ok, agora fala... – Virei o rosto para Guendy. – Sua decisão teve a ver com a , vai, fala. – Ela disse e eu joguei a cabeça para trás, suspirando.
- Eu partes, não sei. – Suspirei. – Nós não estamos mais juntos.
- Como não? – Ela e Veronica perguntaram juntas.
- Não estamos mais juntos. – Falei novamente.
- Como? O que aconteceu? – Guendy perguntou.
- O Calciopoli aconteceu. – Suspirei. – Ela trabalha da contabilidade do time, ela encontrou o erro e estava atrás do dono do dinheiro. Ela ficou meses sem dormir por causa disso. – Neguei com a cabeça. – Estourou na cara dela. – Joguei a cabeça para trás. – E quando ela descobriu que eu estava envolvido nisso, ela brigou comigo, ela gritou comigo, ela... – Suspirei. – Ela pediu um tempo.
- Mas você...
- Aí, para ajudar, o Pessotto tentou se matar, por quê? Por causa do Calciopoli. – Suspirei. – Quem o viu se jogar? . – As três arregalaram os olhos.
- Ela viu o Pessotto se jogar? – Minha mãe perguntou.
- Viu. – Suspirei, sem saco para explicar os detalhes. – Eu liguei para ela, ela desabafou comigo, achei que estivéssemos bem. – Passei a mão no rosto. – Conversei com ela na semana passada e ela nem conseguia olhar para mim.
- Você fez algumas escolhas erradas, filho, junto do Pessotto, deve ter dado muita dor de cabeça para ela.
- Eu nunca tinha visto-a tão acabada, sabe? A maquiagem mal escondia o cansaço e as olheiras. – Engoli em seco, lembrando-me dela.
- Dê um tempo para ela, filho. A raiva passa, uma hora ela vai te perdoar. – Suspirei.
- Eu não sei, mãe. Ela parecia muito... Decepcionada comigo.
- Você errou, filho, e ainda caiu nas costas dela. – Ela disse. – Imagina como ela deve ter ficado... – Suspirei, negando com a cabeça.
- E não vamos esquecer que ela viu um cara tentar se matar. Deve ser difícil passar por isso. – Veronica falou.
- Eu não sei, talvez seja isso. A vida mostrando que realmente não fomos feitos um para o outro... – Engoli em seco.
- Baseado no que eu vi, eu duvido, mas a escolha é sua. – Veronica falou.
- É, acho que sim... – Neguei com a cabeça. – Eu encontrei a Alena na Copa, sabe? As coisas pareciam mais fáceis.
- Como assim? – Minha mãe perguntou.
- Aquela modelo que eu conheci em Forte dei Marmi, ela estava lá e acabamos nos encontrando...
- Ah, Gigi. – Minha mãe levou as mãos na cabeça e minhas irmãs negaram com a cabeça. – O que você aprontou?
- Nada, ok?! A já tinha colocado o ponto final na gente, mas não é esse o caso. – Falei, suspirando. – É que parecia mais fácil, sabe? Sem preocupações ou impedimentos, chefe não querendo que ela fique comigo. – Suspirei. – A sempre foi complicada, mãe. Sempre tinha algum problema.
- Você não está sendo justo, filho. – Ela falou.
- Não acho que ela foi comigo também.
- Você queria que ela te escolhesse ao invés de um emprego que deve pagar super bem? – Ela perguntou, olhando para mim. – Ela não tem como se bancar, filho. Não é igual você que sempre estaremos aqui para te apoiar. – Seu tom de voz aumentou. – Não tente sair por cima nessa história, pois você não vai. – Engoli em seco, suspirando. – Você mentiu para ela, filho, para nós também, mas somos sua família, não vamos te abandonar. Mas você errou sim! Ela tem direito de estar brava contigo. O que fez foi fraude. – Me levantei no sofá.
- Não importa mais, ok? Não estamos mais juntos. Ela deixou isso bem claro. – Segui para a cozinha, ouvindo seus passos mais rápidos.
- Mas não faça mais nada, filho. Espera um pouco, deixa a raiva passar. Não corrija um erro com outro. – Seu tom de voz abaixou e virei para ela.
- Eu sei cuidar de mim, ok?
- É, bem vejo. – Ela foi irônica e eu suspirei.
- Mãe, por favor... – Ela negou com a cabeça.
- A vida é sua e você faça o que quiser, mas não culpe a pelo término do seu relacionamento. – Ela disse mais baixo. – Você errou.
- Você sabe o que é amar uma pessoa e receber esse balde de água fria? – Falei, sentindo que minha voz embargou com a altura. – Eu estava pronto para dar o próximo passo com ela, oficializar tudo, falar como time, tudo... – Puxei a respiração. – Aí isso estourou e...
- Aí você descobriu que devemos arcar com as consequências. – Ela falou calmamente, se aproximando de mim. – Antes de , antes de tudo, você escolheu participar dessa manipulação de resultados, ganhar mais dinheiro. – Ela falou e eu suspirei. – O que é irônico, pois foi o mesmo motivo que você deu para o Silvano para ficar no time, você não precisa de mais. – Engoli em seco. – O plantio é opcional, filho, mas a colheita não. – Ela levou uma mão até meu rosto.
- Eu queria que isso não tivesse acontecido. – Suspirei.
- Eu sei. – Ela falou. – Mas aconteceu, antes de , antes de tudo. – Ela falou. – Agora você precisa arcar com as consequências, filho. Não tem escolha. Eu tenho certeza de que ela gosta de você, então não deve estar sendo fácil para ela também. - Suspirei. – Por isso que eu falo: dê tempo ao tempo, não faça nenhuma besteira. – Passei as mãos no rosto.
- Eu só quero que pare de doer.
- Eu sei. – Ela disse, me puxando para um abraço. – Uma hora vai parar. Eu prometo. – Suspirei, apoiando o rosto em seu ombro, abraçando-a.

Lei
Primeiro de agosto de 2006

- Hoje é outro dia daqueles? – Virei para o lado, vendo Giulia coçando os olhos.
- É. – Suspirei. – O prazo final é hoje, só quatro jogadores avisaram que iam ficar, imagino que os outros vão avisar hoje. – Neguei com a cabeça. – Vai ser outro dia difícil.
- Gigi? – Ela perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Não, só um pessoal menos relevante. Chiellini, Zebina... – Falei.
- Isso é bom, talvez inspire os outros a ficarem também. – Neguei com a cabeça.
- Eu não quero pensar nisso. – Passei o batom nos lábios, suspirando.
- Você devia ter falado a verdade para ele, amiga. – Ela falou, apoiando o ombro no meu.
- O que eu ia dizer, Giulia? Que o vi com outra mulher?
- É... – Ela falou como se fosse óbvio.
- A gente brigou, eu pedi um tempo e ele foi rapidinho para os braços de uma modelo, ele não pensou em mim. Não pensou em meus sentimentos, não pensou em nada. Não pensaria agora também. – Suspirei.
- Ele... - Ela parou por alguns segundos e negou com a cabeça. – Esquece.
- Não consegue achar uma boa explicação, né?! Eu sei, eu tentei. Acabou, Giulia. Chega! Não posso mais fazer isso.
- Ele te fazia tão bem... - Ela acariciou meus cabelos.
- Isso que dói mais. Achava que ficaríamos juntos depois que essa bomba toda passasse, mas... – Olhei meu reflexo no espelho. – Eu estava enganada.
- Você deveria ter falado com ele, amiga. Não só do Calciopoli. – Suspirei.
- Eu não tenho forças para lidar com isso agora, eu estou exausta. Eu desisto, não posso mais lutar. – Ergui o rosto, tentando impedir as lágrimas de deslizarem pela minha bochecha.
- Mas, amiga...
- Não, Giulia. – Suspirei. – Eu não posso mais! São cinco anos nisso, não dá mais, não posso me permitir fazer isso mais. – Engoli em seco. – Ele nunca me escolheu em primeiro lugar, só ficamos juntos porque eu fui atrás dele, eu o segui. – Neguei com a cabeça. – Antes dessa, teve a outra, Vicenza, Invenza...
- Vincenza. – Ela falou.
- Isso! Ele sabia que eu gostava dele e mesmo assim foi atrás de outra...
- Não se esqueça que vocês não ficaram juntos antes porque você não quis... – Ponderei com a cabeça.
- Mas eu lutei por ele, ele...
- Você deu um fora nele em todas as situações. – Suspirei, negando com a cabeça.
- Não importa mais agora. – Falei mais baixo, guardando os itens de maquiagem na gaveta. – Eu desisto.
- Mas como vocês vão fazer isso? Vocês ainda vão trabalhar juntos, agora mais do que nunca, penso eu. – Suspirei.
- Eu não sei, nem ficamos tão próximos assim, mas vários jogadores estão em debandada por causa da Série B, ele vai dar também. Nunca que um campeão do mundo vá aceitar jogar na segunda divisão. – Ela suspirou, com o olhar visivelmente cansado.
- Você tem razão.
- E depois, eu me curo aos poucos. O trabalho está corrido, eu consigo me distrair.
- E seu coração?
- Eu não sei... Tenho que tirar o Gigi de dentro dele e tudo vai melhorar, mas eu preciso me valorizar um pouco.
- Independente da sua decisão, você sabe que eu sempre estarei aqui, certo? Longe ou perto.
- É, eu sei, amiga. – Virei para ela, dando um sorriso. – Prometo nunca mais te encher o saco com meus relacionamentos. – Ela riu fracamente.
- Eu duvido, mas eu também não me importo. – Ela me abraçou de lado e eu sorri, dando um beijo em sua cabeça.
- É melhor eu ir, quero estar lá para me despedir dos jogadores. – Falei, suspirando.
- Será que muita gente sai? – Ela perguntou.
- Não sei, tem multas que são muito caras, mas os times novos acabam arcando. – Neguei com a cabeça. – Não sei mesmo, tudo é muito novo para mim, isso mais ainda. – Ela assentiu com a cabeça.
- Me avisa, ok?! – Confirmei com a cabeça.
- Pode deixar. Almoça comigo hoje? Imagino que eu vá ver o Gigi hoje.
- Claro! Vamos no Tommasso? – Ela perguntou.
- Comida japonesa em plena terça-feira? – Ela deu de ombros. – Eu topo!
- Fechado! – Ela sorriu, me abraçando de lado. – Você já vai sair? – Ela perguntou.
- Sim, estou indo. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu vou voltar a dormir.
- A gente se vê mais tarde, não se atrase. – Falei, vendo-a voltar para o meu quarto de visitas e abanar a mão.
Terminei de me arrumar e respirei fundo, encarando meu reflexo no espelho. Seja forte, . Seja forte, para o que acontecer hoje. Ele vai anunciar a saída do time e vai ser sua oportunidade para se recriar dentro dele. Há males que vem para o bem. Males que vem para o bem.
Senti os ombros relaxarem e passei no quarto, pegando minha bolsa e saí de casa. Fui ao meu carro e segui o mesmo caminho de todos os dias, chegando no tempo habitual, parando em uma vaga perto do prédio administrativo e puxei minha bolsa, seguindo para dentro dele, cruzando-a no corpo.
Entrei no elevador por causa da preguiça matinal e subi para o quarto andar. Assim que as portas se abriram, ouvi diversas conversas e chequei meu relógio para ter certeza de que eu não estava atrasada. Não, não estava. Assim que entrei no corredor que dava para a sala da contabilidade, vi todos os jogadores do time encostados no corredor, deixando um mínimo espaço para passar. Alguns agentes também os acompanhavam.
- Ciao? – Falei, vendo os jogadores se virarem para mim. – Scusi. – Falei, andando pelo meio deles e travei ao encontrar Gigi no meio do caminho e engoli em seco, antes de passar reto, fingindo que não o vi.
- E aí, ? – Alex e Pavel eram os últimos – ou os primeiros – na longa fila.
- Oi, gente, tudo bem? – Falei rapidamente e entrei na sala, vendo que eu era a última – para variar – a chegar.
- Oi, . – Eles responderam e fui até minha mesa.
- Bom, agora que todos estão aqui... – Giorgio falou. – Scusa. – Ele falou para o pessoal de fora e fechou a porta.
- Eu perdi alguma coisa? – Perguntei.
- Não, eu acabei falando com os jogadores e os agentes, para gente organizar isso tudo hoje de manhã. Quem for ficar, já vai direto para o treino, quem for sair, a gente já encerra tudo aqui. Para isso eu vou precisar da ajuda de vocês.
- Sem problemas! – Marco falou.
- Surpreendentemente, tivemos pouca evasão, então serão 16 jogadores que vão ficar, e 14 que vão sair. – Arregalei os olhos.
- Isso é bom? – Angelo perguntou. – 16 jogadores?
- Não é perfeito, mas achei que ficaríamos com zero. – Ele disse, me fazendo rir fracamente. – Depois que resolvermos hoje, nós iremos atrás de 14, 15 jogadores para compor o elenco. Essa é a oportunidade de a gente olhar para o pessoal mais jovem... – Ele abanou a cabeça. – Enfim, vamos devagar, primeiro vamos focar aqui.
- Como fazemos? – Claudio perguntou.
- Claudio, Marcos e Lorenzo cuidam das permanências, e Angelo cuidam das saídas. – Engoli em seco. – Para as permanências, só fazer um contrato de um ano para a Série B, explicar muito bem os detalhes da mudança. E para as saídas, o jogador vai entregar um cheque e assinar a rescisão. Fechado?
- Fechado. – Liguei o computador.
- Para agilizar isso... – Ele falou, seguindo até a mesa vazia no canto da sala e pegou dois montes de papéis. – Aqui tem contratos pré-preenchidos, só precisando colocar os dados dos jogadores, e o salário vai ser o equivalente a 70 por cento do salário normal. – Os meninos do lado de lá confirmaram, começando a distribuir entre si. – E aqui tem as rescisões. – Ele entregou a pilha para mim e dividi com o Angelo na mesa ao lado. – Para isso, só colocar os dados do jogador e colocar o clipe. – Assenti com a cabeça. – Entendidos?
- Sim! – Falamos juntos.
- Beleza, vou começar pelos números da camisa, um, dois, três... – Engoli em seco. Caralho, logo de cara? – Posso liberar o pessoal?
- Me sinto na liberação para o vestibular. – Claudio falou e gargalhamos.
- Tipo isso... – Giorgio falou e seguiu até a porta, me fazendo respirar fundo. – Dai, ragazzi. – Ele falou no corredor. – Vamos fazer uma força-tarefa para resolver o problema de todo mundo e liberar todos vocês e nós para isso, beleza? – Ele falou e eu peguei a caneta. – Pessoas que vão ficar no time, as três mesas da direita. Quem vai sair, as duas mesas da esquerda. Caso tenha dúvidas, eu estarei na mesa do fundo. – Ele falou e suspirei. – Vamos organizar em ordem da camisa, ok? Então, começamos por Buffon, Birindelli, Chiellini e quando um sair, o outro vai entrando. Combinado?
- Combinado. – Eles responderam e engoli em seco.
Gigi demorou para aparecer um pouco, por estar no meio do corredor e seu olhar encontrou com o meu por alguns segundos, me fazendo prender a respiração. Ele seguiu pelo centro da sala e imaginei que ele fosse preferir ir para Angelo, mas pela minha surpresa, ele foi falar com Marcos, me deixando de boca aberta.
ELE IA FICAR? COMO?
Por um momento eu entrei em surto, sentindo minha respiração ficar mais acelerada e não sabia se ficava feliz ou triste. Feliz por ele não estar fugindo depois de ajudar nessa sujeirada toda, e talvez triste por saber que eu não poderia fugir de meus problemas ou meus sentimentos. Teria que enfrentar, trabalhando com ele e encontrando-o esporadicamente. Teria que realmente separar o profissional do pessoal e foi como se, mais uma vez na minha vida, eu precisasse amadurecer mais rápido.
Gigi, Birindelli, Chiellini e Kovac, acabaram indo para a mesa permanência, os primeiros a vir para mim e para Angelo foram o francês Vieira, o brasileiro Emerson e o louco Ibrahimovic, eu não tinha intimidade com nenhum dos três, mas demos um rápido abraço e um até logo. O primeiro e terceiro iriam para a Internazionale e o segundo para o Real Madrid.
Del Piero, Pavel, Balzaretti, Camoranesi, Trezeguet e o novato Marchisio também optaram por ficar. Imagina minha felicidade por saber que meu capitão é realmente sensacional e ficaria com esse time que era tão importante para ele? Além de Pavel e Trezeguet que eram um dos estrangeiros com mais gols no time e Camoranesi que era um campeão do mundo assim como Gigi e Del Piero? Era sensacional. Confesso que havia ficado muito feliz pelos meus conhecidos, recebendo acenos e piscadelas quando eles saíam.
Criscito, Mutu, Zambrotta, que havia sido um dos responsáveis pelo escândalo, e Blasi, optaram por sair. Só sabia de Mutu que iria para a Fiorentina e Zambrotta para o Barcelona, não achava boas trocas, mas o primeiro time da minha vida havia sido a Juventus, sabia que sempre os protegia.
Triste foi quando Lilian Thuram parou em minha mesa, dando um sorriso de lado e eu só consegui me levantar e abraçá-lo. Doeu me despedir de Lilian. Sabia que aquilo não era um adeus, era um até logo, ainda mais ele indo para o Barcelona, sabia que nos encontraríamos em algumas ocasiões, jogos da Champions ou da Europa League, mas doeu me despedir dele. Ele e Trezeguet eram as melhores pessoas que eu tinha conhecido na minha vida.
- Foi muito bom te conhecer. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Você também. Você é a pessoa mais especial que eu já conheci. – Ele disse e assenti com a cabeça. – Me liga, ok?! O que precisar, me liga. – Rimos juntos.
- Pode deixar. Você também, talvez seja mais fácil para você me achar. – Ele me abraçou fortemente, me fazendo suspirar.
- Não sei o que aconteceu com vocês dessa vez, mas não deixa isso te abalar, ok?! – Ele sussurrou. – Você é uma mulher linda, inteligente, especial, vai longe aqui. – Assenti com a cabeça.
- Você também, se cuida e venha nos visitar, ok?!
- Vou tentar. – Ele deu um beijo em minha testa.
- Manda um beijo para Karine, Marcus, Képhrem... – Ele confirmou.
- Será dado. – Ele disse, me abraçando mais uma vez e saindo da sala.
Bonnefoi, Giannichedda, Oliveira, Abbiati, Scarzanella e Rodruíguez também foram embora. Zalayeta, Zebina, Paolucci e o novato De Ceglie ficaram. E o último que eu não achava que ia embora, foi o último a aparecer em minha frente: Fabio Cannavaro.
- Eu estou surpresa. – Falei e ele suspirou.
- Eu não posso fazer isso, . – Assenti com a cabeça.
- Sua vida, suas decisões, sua cabeça. – Falei e ele passou a mão em sua careca.
- Você parece decepcionada comigo.
- Um pouco, confesso. Principalmente depois de ver o Gigi ficando. Aquilo foi surpresa. – Ele suspirou.
- Como estão vocês dois? – Ele perguntou e eu dei de ombros.
- Acabou agora, Fabio. – Ele assentiu com a cabeça.
- Quem sabe com o passar dos anos? Vocês são novos, estão magoados e...
- Não fala isso, Fabio, por favor. – Falei. – Entendo o que quer dizer, mas está cedo ainda. – Ele confirmou com a cabeça. – E você diz como se fosse muito velho, né?!
- Eu tenho 33... – Arregalei os olhos.
- É, você é velho. – Rimos juntos.
- Quem escuta os mais velhos nunca se dá mal. – Ri fracamente.
- E me escuta quando eu digo que você precisa aprender algo com essa história toda. – Falei e ele confirmou com a cabeça.
- Pode deixar. – Ele me puxou para um abraço e eu sorri, sentindo meu corpo inclinado para abraçá-lo.
- Manda um beijo para Dani, Christian, Martina e Andrea.
- Pode deixar. – Ele sorriu. – Sucesso para você, você merece tudo isso e mais um pouco. – Assenti com a cabeça.
- Quem sabe você não volta um dia? Quando estivermos decolando? – Ele riu fracamente.
- Quem sabe? Você comandando isso tudo?
- Opa, mas é claro. – Fui irônica.
- Se cuida, garota. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Você também. – Ele falou e eu me sentei novamente, quando o vi sair.
Vi que a fila tinha finalmente acabado e chequei sete rescisões em minha mão e sabia que a tristeza precisava durar pouco, pois agora precisávamos urgente de pessoas no elenco e a janela de transferências fecharia em cinco dias. Além de que, claro, não podíamos fazer grandes investimentos.
- Bom, acho que é isso. – Giorgio falou e suspirando. – Obrigado a todos.
- Acho que deu certo. – Marco falou.
- É, mais ou menos. – Giorgio disse. – Eu vou checar todos esses contratos e revisar, assinar, depois alguém se importa em fazer o trabalho de chato de scanear e arquivar?
- Eu faço! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Logo trago de volta. – Ele disse, saindo da sala.
- Eu preciso de um banheiro. – Falei, me levantando e saí da sala, seguindo de volta para a área dos elevadores e passando por ela.
- ! – Virei para o lado, vendo Gigi, Pavel e Alex parados e o primeiro havia me chamado.
- O quê? – Perguntei, vendo-o se aproximar à uma distância segura de mim.
- Eu vou ficar. – Ele falou.
- Eu vi. – Falei, cruzando os braços.
- Espero que não tenha problema e...
- Acho que somos grandes o suficiente para separar as coisas. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Sim... – Ele suspirou. – Só queria que você soubesse.
- O quê? – Perguntei.
- Eu decidi fazer o que é certo. – Ele falou, dando um pequeno sorriso e eu assenti com a cabeça, retribuindo.
- Isso é muito bom. – Falei e ele olhou para trás quando ouviu o elevador chegar.
- A gente se vê por aí. – Confirmei com a cabeça.
- Até mais. – Falei e vi entrar com Del Piero e Pavel e suspirei quando a porta se fechou.
- “Acho que somos grandes o suficiente para separar as coisas...” – Falei com uma voz fina, baixa e sarcástica. – Você é muito trouxa, . Idiota, idiota, burra, idiota! – Bati na minha cabeça. – Argh! Eu preciso esquecer esse homem. – Grunhi e voltei a caminhar para o banheiro, apesar que internamente eu estava sentindo um pequeno orgulho dele.

Lui
16 de setembro de 2006

Nosso primeiro jogo na Série B havia sido um tanto estranho. Havia sido em Rimini, uma cidade há 450 quilômetros daqui de Turim, na altura de Florença, ainda considerado Norte aqui da Itália, para jogar contra o time da cidade.
Eu realmente não sabia o que esperar. Sempre joguei no Parma, que é um time que nunca havia sido relegado, então eu nunca soube o que era jogar em uma segunda divisão. Confesso que havia até certo preconceito sobre isso, mas eu não podia fazer igual Fabio e Zambrotta e abandonar o barco. Pensei sim, não vou mentir, sabia da redução salarial, sabia da perda de glamour, sabia da possibilidade de não ser convocado mais para a Nazionale, sabia de tudo, mas também sabia que havia errado e que precisava compensar de alguma maneira.
Além de que era somente um ano, nós ganhávamos a Série A, seria fichinha ganhar a Série B, ainda mais depois que a punição foi reduzida só para menos nove pontos, não 30, como era inicialmente. Daquela forma seria impossível chegar na Série A novamente em um ano.
Mas ficar, acabou tendo um efeito positivo para mim em diversos níveis. Primeiro profissional, os jornais só falavam de como “os campeões do mundo haviam optado por ajudar a Juventus”, eu havia conseguido me manter sob os holofotes da mídia de uma forma muito boa, inclusive depois que a felicidade da vitória da Copa acabou. Como também pessoais, meus pais e minhas irmãs ficaram bem orgulhosos de mim, além de . Não consigo esquecer o olhar de surpresa dela quando eu fui para o lado das permanências durante a reunião com a contabilidade ou o sorriso que ela tentou esconder quando eu falei para ela que queria fazer o certo.
Sei o que está pensando, por que eu me preocupava com depois de tudo o que havia acontecido entre a gente? Eu não tinha uma resposta correta para isso, mas, de alguma forma, eu queria que ela sentisse orgulho de mim, que tirasse a imagem desse monstro fraudador que ela tinha sobre mim. Realmente não sei. Eu fiquei perdido quando ela oficializou o ponto final entre nós, suas palavras “não existe mais ‘nós’” ainda rondavam minha cabeça, mas eu precisava seguir em frente. Sendo rápido demais ou não, eu acabei encontrando Alena em algumas outras situações e as coisas estão caminhando devagar.
Ela é modelo e tem a minha idade, então existem muitas diferenças entre ela e , além da lingerie. Histórias, realidades, empregos, responsabilidades, mas eu tinha que esquecer a , trabalhar com ela e vê-la frequentemente, nem se fosse chegando ou saindo do time, não ajudava, mas eu gostava de acreditar que um dia depois do outro as coisas melhoravam.
Agora voltando ao nosso primeiro jogo, tudo estava muito estranho, nós estávamos quietos, a equipe técnica era nova, então ainda não tinha aquela intimidade toda, mas quando chegamos em Rimini, todo esse medo da Série B sumiu. Eles tinham um estádio adequado para jogo, apesar da capacidade de somente 10 mil pessoas, eles tinham torcedores apaixonados e estavam até felizes por estarmos lá, apesar que eu acreditava que muitos queriam que a gente se ferrasse, como dizem: a Juventus você ama ou odeia. E era verdadeiro demais.
Assim que o juiz apitou o início de jogo, parece que as coisas destravaram um pouco e começamos a agir como um time. Tivemos pouco mais de um mês para treinar, sendo que 50 por cento do time havia saído, além de muitos que subiram do setor juvenil para compensar as vendas. Ainda acho que isso causou nossa eliminação da Coppa Italia na terceira rodada, o que era mais um vexame para somar às nossas últimas conquistas.
Na verdade, talvez eu tenha falado isso cedo demais. Abrimos o placar contra o Rimini aos 60 minutos, gol de Matteo Paro, um dos novatos do time, mas eu acabei saindo do gol em antecipado e eles empataram aos 74 minutos. Acho que nunca vi uma comemoração tão longa, pelo menos eu soube que valia alguma coisa ainda.
O jogo acabou assim, com agora menos oito pontos na tabela. Esperava que as coisas melhorassem ao longo das semanas, ou seria tudo mais complicado. Na Série B, eram 42 rodadas, 42 jogos, diferente da Série A que são 38, mas em compensação, não tínhamos outras coisas para nos preocupar, pois não tínhamos outras competições para jogar. Mas, apesar disso tudo, os treinos continuavam pesados e a dedicação teria que ser redobrada, pois precisávamos colocar um ponto final nisso o mais rápido possível.
Na semana seguinte, jogamos contra o Vicenza em casa. Apesar de já estarmos acostumados à primeira semana, agora teríamos que nos acostumar a um estádio novo. Com o Delle Alpi fechado para a construção do nosso futuro estádio, nossa nova casa agora é o Stadio Olimpico de Turim, então tudo estava realmente diferente e precisávamos nos acostumar às diversas mudanças ao longo do tempo.
Quando saímos para treinar no Olimpico, percebemos que nossa torcida estava lá por nós. O estádio estava quase lotado, com torcedores com as conhecidas bandeiras e cartazes, e uma recepção muito calorosa. Ali nosso campeonato começou de verdade, ali percebemos que éramos capazes de tudo, por causa do apoio da nossa torcida.
Com o apoio de nossa torcida, fomos destravando aos poucos. Trezeguet abriu o placar no final do primeiro tempo e Del Piero aumentou no começo do segundo. Minutos depois do gol de Alex, eu levei um. Eles conseguiram passar pela defesa e eu não consegui... Bem, estar em dois lugares ao mesmo tempo, explicando em termos fáceis.
O jogo acabou dessa forma, agora estávamos há menos cinco pontos de começar a realmente contar os pontos de modo positivo. Era ridículo pensar como esses pontos passavam em minha cabeça, eu costumava começar a me preocupar com os pontos lá pela trigésima rodada, onde a pressão começava a ficar maior e parecia que tudo acabava indo contra. Podíamos estar ganhando o campeonato inteiro, mas era no final que surgiam derrotas para times que eram lanterna no campeonato ou a empatar jogos em várias levas.
Parecia que agora tudo tinha que ser feito de forma meticulosa, tudo teria que ser muito bem pensado, não poderíamos mais fazer as coisas a esmo e esperar que desse certo no final. Precisava dar e ninguém de fora precisava nos lembrar disso, tínhamos que acordar pensando nisso, jogar pensando nisso e dormir pensando nisso para realmente não ter surpresas no fim da temporada. Nenhuma, não podia ter.
Quando o juiz apitou o fim de jogo, foi inevitável não levar o rosto para a direção de onde ficaria no Delle Alpi, claro que ela não estaria exatamente no mesmo lugar, mas eu assumo que a procurei. Ela e sua amiga louquinha, mas não as encontrei, mas esperava que ela estivesse em algum lugar, realmente torcendo por mim.
Ninguém apareceu no vestiário dessa vez, nem o presidente novo, gerente esportivo ou gerente da contabilidade, não sabia se tinha alguma mágoa pelo que tinha acontecido, mas acabamos o jogo, terminamos de nos arrumar e voltamos para Vinovo, peguei meu carro e fui direto para casa.
Era estranho chegar em casa depois de um jogo após a última temporada. Eu não fui para casa de esperar por ela e ela com certeza não estava me esperando aqui. Tudo estava estranho e tudo era recente ainda. Começava a perguntar se isso um dia passaria.
É claro que passaria, eu só precisava parar de querer as coisas para ontem. Isso eu sabia que era um defeito meu, mas era inevitável.
Dei uma olhada no relógio, vendo que estava perto das oito e fui preparar algo para comer. Pene ao molho marinara e atum era a única coisa que eu realmente sabia cozinhar e, como não estava no pique para pensar em alguma coisa diferente, acabei ficando nele mesmo. Enquanto eu comia, uma mensagem chegou, me fazendo suspirar.
“Ei, Gigi, estava pensando em te visitar amanhã, está de folga?” – Vi o nome de Alena e suspirei.
Deus, como isso era difícil! Nunca pensei que fosse alguém que pensasse com a cabeça de cima, com certeza era mais feliz quando colocava a de baixo para funcionar e ela estava sentindo falta de um pouco de ação. Soltei um alto suspiro, abanando todos os pensamentos e memórias e deixei que a parte do meu cérebro irresponsável cuidasse disso um pouco.
“Estou sim, pode vir. Te espero”.
Era sensato fazer isso? Talvez não, mas eu não precisava de sensatez agora, precisava de ação.

Lei
18 de novembro de 2006

Ouvi um barulho ficando cada vez mais alto e franzi o rosto, abrindo um olho devagar, sentindo a claridade entrando pela janela. Percebi que era meu celular tocando e empurrei a coberta de cima de meu corpo e inclinei meu corpo para fora da cama, passando a mão na escrivaninha e encontrei o aparelho.
- Ah, Giulia! – Reclamei, apertando o verde e colocando-o na orelha. – Ciao.
- Ei, cadê você? – Ela perguntou.
- Em casa, por quê?
- Porque eu estou tocando faz uns 15 minutos e nada. – Franzi os olhos, me sentando devagar na cama.
- Já vou abrir. – Falei.
- Ok, abre logo, ‘tá frio! – Ela falou e eu suspirei, desligando a ligação.
Joguei a coberta para fora e me levantei, calçando as pantufas e deslizei pelo corredor do meu apartamento e fui até a cozinha, apertando o interfone, liberando a entrada de Giulia e abri a porta de casa para ela entrar, não contando nem dois minutos até o feito.
- Ciao! – Ela falou, animada, carregando diversas coisas.
- O que aconteceu agora? – Perguntei.
- Nossa! O que aconteceu aqui? Alguém morreu? – Ela perguntou, entrando em casa e seguindo até a mesa, enquanto eu fechei a porta.
- Não, eu estava dormindo. – Falei, vendo que ela havia trazido salgadinhos, pipoca e uma caixa da padaria aqui perto, deveriam ser cannoli.
- Mas por quê?
- É sábado, está frio e não tem o que fazer.
- Mas e o jogo? Não vai ver? – Ela seguiu até minha televisão, ligando-a e eu suspirei.
- Eu não quero ver jogo, Giulia. E nem venha me perguntar o porquê. – Ela encontrou o canal e logo vi o jogo já em andamento.
- Eu sei o porquê, mas você escolheu isso, amiga. – Revirei os olhos. – Ok, serei a amiga legal, mas você não pode misturar as coisas, primeiro que você trabalha para o time, segundo que você prometeu torcer para ele. Aqui, vamos torcer para ele.
- Não precisa ser tão liberal, internamente eu torço por ele, sabe? – Dei um sorriso sarcástico e ela revirou os olhos. – Pelo time.
- Vem cá, já faz... – Ela parou para pensar. – Quatro meses, ainda dói muito?
- Só dói quando eu o vejo ou vejo algo relacionado a ele. – Falei e foi sua vez de dar um sorriso sarcástico.
- Scusi. – Ela disse e eu abanei a mão.
- Eu tenho esperança de que uma hora isso vai passar, sabe? E que a talvez possamos seguir de onde paramos.
- E quando vai ser isso? – Ela perguntou. – Quando você finalmente se esquecer dele?
- Se isso acontecer antes, melhor, mas seria quando parasse de doer mesmo e quando todas as lembranças pararem de me atormentar mesmo. – Suspirei, pegando o maior pacote de batata chips e segui até o sofá.
- Vai passar, amiga. – Sorri, assenti com a cabeça. – Enquanto isso... – A interrompi.
- Você faz a pipoca e o chocolate quente. – Falei, me jogando nele e ela sorriu.
- É para já! – Ela falou animada e eu ri fracamente.
Tentei me situar um pouco no jogo e era contra o AlbinoLeffe fora de casa, em Bérgamo. O jogo já passava dos 20 minutos. Fiquei ouvindo os comentaristas falarem do desempenho baixo ou alto da Juventus na temporada e sabia que havíamos empatado somente dois jogos de 11 e nenhuma derrota, o que era muito bom para nosso caminho de volta para a Série A. Estávamos em primeiro lugar na tabela e esperava que continuasse assim.
- Como está aí? – Giulia gritou.
- Zero a zero, o Albino sei lá das quantas está indo para o contra-ataque. – Falei, abrindo a batata e coloquei a mão no saco, tirando algumas.
Observei o número 14 do outro time cortar a defesa da Juventus, fazendo Balzaretti erguer a mão em sinal de impedimento, mas, enquanto isso rolava, o resto da defesa parou, mas o 14 não. Quase dentro da pequena área e sozinho, Gigi – naquele uniforme cinza horrível, devo mencionar – saiu do gol e se jogou na bola, mandando para frente. É, mas nessa, o número 14 parecia um carro desgovernado, voando pelos ares pelo contato.
- Falta do Gigi! – Falei alto, vendo o juiz se aproximar e levantar o cartão vermelho para ele. – O QUÊ? – Me mexi rápido no sofá. – Buffon expulso. – Gritei.
- O quê? – Giulia apareceu correndo da cozinha.
Além da expulsão, o juiz ainda deu pênalti para o AlbinoLeffe. A câmera focou em Gigi e eu respirei fundo, vendo-o visivelmente em choque com isso. Observei seu cabelo um pouco mais cumprido e pressionei meu lábio com isso. Ele não discutiu, não brigou e ainda saiu rindo, incrédulo com tudo. O replay passou e foi dado como se Gigi tivesse causado a queda do outro jogador, parecia que não.
- Não é causa para expulsão. – Giulia falou.
- Eu acho também, mas... – Dei de ombros, ouvindo o comentarista falando do primeiro cartão vermelho na carreira de Gigi.
- O primeiro vermelho? Cara! – Giulia falou, rindo. – Parabéns, Gigi, o primeiro e na Série B. – Ri fracamente, vendo Deschamps tirar Bojinov da linha e colocar Mirante no lugar para bater o pênalti.
É claro que foi gol e os jogadores comemoraram a conquista. Revirei os olhos, enchendo a boca de batatas e Giulia voltou para dentro, voltando a fazer barulho com minhas panelas e utensílios de cozinha.
- Você viu o negócio do Ballon d’Or? – Ela perguntou, sua voz um pouco abafada.
- Comentaram lá no trabalho. Fabio ganhou, né?! – Falei.
- Sim, mas você viu sobre o Gigi? – Ela perguntou.
- Ganhou de melhor goleiro. – Falei, suspirando. – Era meio óbvio, qual é.
- Isso sim, mas ele ficou em segundo em votação. – Ela disse colocando a cabeça para fora da cozinha. – Imagina? Um goleiro ganhar um Ballon d’Or?
- Seria legal mesmo. – Suspirei, olhando para a televisão. – Mas o Gigi ganhou tudo esse ano. Luva de ouro e seleção Copa do Mundo, o IFFHS, vai ganhar o Oscar del Calcio agora em janeiro. É sempre assim em ano de Copa. – Falei.
- Ele merece, vai, amiga. – Ela disse.
- Eu sei que merece, é só difícil mesmo. – Suspirei. – Parece uma pessoa totalmente diferente da que eu conheci.
- Talvez seja. – Virei o rosto para a cozinha. – E isso nem sempre é algo ruim. – Ponderei com a cabeça.
- É, talvez. – Suspirei.
- Você é uma pessoa totalmente diferente de quem eu conheci lá em 99. – Sorri. – E acho que você só melhorou.
- Agradeço, amiga. – Ri fracamente, vendo-a sair da cozinha e me entregar um balde de pipoca.
- E aí, o que faremos nas férias? Vai tirar férias? – Suspirei.
- Só em janeiro ou fevereiro, o pessoal pediu se eles podiam tirar em dezembro por ter filhos e tudo mais, falei que tudo bem.
- A gente podia ir para o Sul, né?! Porque nesse frio não dá para querer ir para praia, não. – Rimos juntas.
- Você que manda, amiga, estou sem ideias. – Suspirei.
- Por que não vamos para Palermo? – Ela perguntou, voltando com duas canecas fumegantes.
- Fazer o quê lá? – Perguntei.
- Você sabe muito bem o quê. – Ela disse, se sentando ao meu lado e eu suspirei. – Minha mãe me lembrou disso esses dias, já faz 17 anos, , há quanto tempo você não volta lá?
- 11 anos. – Suspirei, dando um pequeno gole no líquido achocolatado.
- Então! – Ela disse. – Podíamos ir lá, ver a cidade que você nasceu, podemos ir ao cemitério para você ficar um pouco com eles, contar as novidades incríveis da sua vida. – Suspirei.
- Eu não sei, amiga. A última vez que eu fiz isso, eu tinha 14 anos, acho. Ao invés de voltar para o orfanato da escola, fiquei lá com eles um pouco.
- Eu imagino que seja triste, mas acho que você não pode perder essa conexão com eles. – Assenti com a cabeça.
- Eu vou pensar, ok?! – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Não acho que estou em um bom momento da minha vida para isso, quero contar felicidades para ele, não tristezas.
- Quando você quiser, podemos pegar o carro e fazer uma road trip...
- Uma road trip até Palermo, Giulia? Você está louca? – Falei, ouvindo-a rir. – São mais de 1500 quilômetros, qual é. Vai umas 17 horas de viagem, sem contar as paradas.
- Ok, talvez tenha exagerado, mas seria legal! – Ela disse, me fazendo rir. – Eu, você, a estrada... – Ponderei com a cabeça.
- Talvez, mas podemos ir para um lugar mais perto, né?! Mônaco, Marselha, Montpellier, Genebra ou Berna, até Zurique.
- Eu estava pensando em algo mais sentimental, ok?! Com algum significado. – Ri fracamente.
- Agradeço, amiga, mas acho que preciso de férias para esquecer da vida um pouco, não me lembrar mais ainda dos motivos que me levaram a ter algumas decisões da minha vida. – Ela assentiu com a cabeça.
- Você não começa a falar besteira, pelo amor de Deus. – Ela falou, dramática. – Você fez escolhas ótimas na sua vida.
- É, eu sei, mas quando paro para pensar, tipo agora, fico pensando se fiz o certo.
- O quê?
- Fugir, largar minha avó, bem ou mal ela ainda era minha única parente.
- Fez! – Ela disse rapidamente. – Olha o quanto você conquistou, amiga. Com ela você nunca teria se formado com honras em uma das melhores faculdades do país, começado a trabalhar no maior time da Itália, que está na Série B, mas faz parte... – Rimos juntas. – E feito várias conquistas pessoais. Carro próprio, apartamento no seu nome... – Assenti com a cabeça. – Isso com 25 anos e 17 dias. – Sorri.
- Obrigada, amiga. – Falei, apoiando a cabeça em seu ombro.
- Sempre que você precisar de um choque de autoestima, é só me chamar. – Ela falou e eu sorri, suspirando.
Voltei os olhos para a televisão e seguimos acompanhando o jogo que finalizaria em 1x1, com gol de Palladino, nosso novo número 20, aos sete minutos do segundo tempo. Não que fosse o ideal, mas empate era sempre melhor do que derrota, ainda mais após aquela expulsão de Gigi. Pelo menos Mirante não havia levado mais gols e aguentou bem até o fim. Agora era só esperar pelo próximo jogo em casa.
- A gente deveria ir em um jogo, nunca fui no Olimpico. – Giulia disse ao meu lado.
- Não. – Falei.
- Por quê? – Revirei os olhos.
- Você sabe o porquê. Ainda está cedo.
- Ok, vou levar isso como um “ainda não”, mas só lembre-se que ingresso para Série B é mais barato que da Série A, uma contadora me disse... – Revirei os olhos.
- Eu tenho ingressos de graça, não começa. – Falei.
- Mas e se...
- Giulia! – E repreendi.
- Ok, ainda não. – Ela disse, me fazendo rir e passei meu braço livre pelos seus ombros, puxando-a para perto de mim.

Lui
15 de dezembro de 2006

Acenei para o porteiro quando ele liberou minha entrada em Vinovo e desci pela rua principal, vendo o ônibus que nos levaria para o jogo já estacionado no lugar de sempre. Parei em uma das vagas livres e achei estranho ao não encontrar o grupo amontoado de sempre, somente um assistente técnico. Será que eu estava atrasado? Era quase seis horas, o jogo seria só 20:45, tinha quase três horas para isso e não demorávamos muito para chegar ao Olimpico.
Peguei minha mochila no banco de trás e tranquei o carro, jogando a chave na mochila e a mochila nas costas e atravessei o largo e lotado estacionamento até Matteo. Era sexta-feira, os funcionários não deveriam ter ido embora ainda, isso explicava um pouco o estacionamento lotado ainda.
- Ciao, Matteo. – Falei, cumprimentando-o.
- Ciao, Gigi. – Ele disse.
- Cadê o pessoal? Já no ônibus?
- Não, ainda não. Estão pedindo para todo mundo ir para o campo lá do fundo, eles têm um aviso para dar. – Ele falou.
- Mah... Algo aconteceu? – Perguntei.
- Sei tanto quanto você. – Ele falou. – Estou só indicando o local. – Ele marcou algo em sua prancheta e imaginei ser meu nome. – Logo vou.
- Beleza! – Falei, fazendo um toquinho com ele e segui pela lateral do prédio que estava em construção ao lado do campo. Puxei o zíper do moletom para cima, sentindo o vento gelado passar pelo meu corpo.
Estávamos com um fim de ano com neve, o que acabava sendo positivo de várias formas, mas para treinar estava cada vez mais difícil, ainda mais que muitos de nossos treinos estavam sendo no Olimpico por causa da reforma aqui em Vinovo. Só os campos de baixo estavam funcionando, mas eles recebiam as categorias de base.
Várias pessoas seguiam pelo mesmo caminho e outros jogadores vinham atrás de mim. Assim que o campo se abriu para mim, achei tudo muito estranho. Parecia que todos os funcionários da Juventus estavam ali. Os holofotes do campo estavam ligados e as pessoas estavam acumuladas ali.
- Ei, Gigi. – Vi Pavel e parei ao seu lado.
- Sabe o que aconteceu?
- Não, o pessoal da comunicação está vindo e checando toda hora se todos já chegaram, mas estão realmente juntando todo mundo, até os funcionários. – Ele falou.
- Estranho. – Falei e abaixei a mochila do ombro, colocando na grama esbranquiçada.
Observei as pessoas se aproximando e dei uma olhada rápida no pessoal. Meus olhos pararam em e em engoli em seco ao vê-la em volta de outros dois funcionários da contabilidade. Ela, como todo mundo, estava encapotada com diversas peças de roupas de frio e tinha um gorro enfiado em sua cabeça que quase deixavam só seus olhos de fora, devido à gola alta.
Fazia muito tempo que eu não a via e eu não conseguia evitar que um sorriso andasse pelos meus lábios. Eu já estava em outra, vivendo uma nova história de amor, mas não conseguia esquecer da nossa história e como tudo havia acabado de forma tão injusta. Eu já havia analisado isso de todas as formas, tentado me punir também de diversas formas, mas eu só podia deixar a vida passar.
Talvez ela me perdoasse um dia, talvez ela voltasse a não fugir de mim em toda oportunidade e talvez ela conseguisse olhar em meus olhos sem aquele tom de pesar, sabe? Mas eu sabia que esse dia não era hoje. Quando ela percebeu que eu a olhava, ela me encarou por alguns segundos, fez um movimento com a cabeça e eu retribuí, vendo-a voltar a falar com um dos dois homens que estavam com ela, me fazendo engolir em seco.
- Ainda não a esqueceu? – Ouvi Trezeguet perguntar, nem percebendo que ele havia chegado.
- Parou de doer, mas... – Suspirei. – É difícil esquecer o que passamos.
- Eu sei que é difícil dizer isso, mas dê tempo ao tempo. – Ele falou. – É a única coisa certa.
- Eu sei, mas acho que as coisas nunca mais serão como eram. Nem como quando estávamos juntos e nem antes disso. – Engoli em seco, observando-a por mais alguns segundos antes de virar o rosto.
- Dê tempo ao tempo. – Ele repetiu e rimos juntos.
- Como você consegue ser assim? – Perguntei.
- Como?
- Você tem minha idade e é tão melhor evoluído. – Ele riu fracamente.
- Sei lá! – Ele deu de ombros, me fazendo rir.
- Buona notte! Buona notte! – Virei o rosto para Michele, gerente de comunicação do time.
- Buona notte! – Respondemos quase em coro.
- Obrigado por se juntarem aqui hoje. – Ele falou. – Tivemos um acidente aqui hoje e gostaria que todos ficassem sabendo, antes que saia na imprensa. Somos um time família, então prezamos que todas as informações sejam repassadas para vocês antes de ir para fora. – Ele falou.
- Acidente? – Franzi os olhos e parecia que todos estavam iguais.
- Essa manhã, dois jogadores da sub-18, caíram no lago congelado aqui de Vinovo... – Arregalei os olhos, vendo as conversas entre si começarem e virei o rosto rapidamente para que havia entrado em estado de choque. Mais essa não. – Ragazzi, ragazzi! – Ele falou algo, nos fazendo ficar em silêncio de novo. – Companheiros dizem que eles estavam indo recuperar uma bola e o gelo estava fino, acabou quebrando e eles caíram. – Engoli em seco.
- Dio mio! – Pavel falou ao meu lado.
- Seus nomes eram Alessio Ferramosca, de 17 anos, e Riccardo Neri, de 16. – Ele suspirou. – Suas famílias foram as primeiras a serem notificadas, o inquérito já foi aberto. Outros companheiros tentaram socorrê-los, mas só foi possível resgatá-los com a ajuda dos bombeiros. – Mordi meu lábio inferior. – Infelizmente, eles não sobreviveram devido às baixas temperaturas da água.
- Dio mio! – Suspirei, levando as mãos até a cabeça.
- Nós já notificamos a Federazione, então hoje, nosso jogo contra o Cesena está suspenso até segunda ordem. – Ele falou e eu engoli em seco. – Eu só gostaria de pedir para vocês enviarem orações para eles e suas famílias, independentemente de sua religião. No próximo jogo faremos uma homenagem e, como vai ser fora, sei que nem todos estarão presentes, mas quem puder participar, fica o pedido. – Ele fez uma pausa. – Ah, com isso, nossa festa de Natal, que seria amanhã, vai ser adiada para a próxima semana, podendo ser cancelada. – Assenti com a cabeça. – Agora, gostaria de pedir um minuto de silêncio para eles...
Enquanto as pessoas mantinham a cabeça baixa em homenagem aos dois, eu olhei para . Era a segunda tragédia que acontecia no time em seis meses, não chegamos a falar de Pessotto pessoalmente depois que eu voltei, mas seu olhar perdido mostrava mais um baque que ela não deveria passar. Não que ela tivesse alguma coisa a ver com isso, mas eu a conhecia o suficiente para saber que ela não deixaria aquilo passar nada.
- Grazie a tutti! – Ele falou e as pessoas começaram a se dissipar.
- Bom, acho que vamos para casa agora. – Trezeguet falou.
- Eu logo vou. – Falei, desviando de algumas pessoas e me aproximei de , vendo seus colegas apertarem seus ombros e se afastarem, deixando-a no mesmo lugar que antes. – ...
- Ei... – Ela falou, virando o rosto para mim, passando a mão nos olhos.
- Você está bem? – Perguntei e encontrei seus olhos úmidos.
- Eu não sei... – Ela falou fracamente, a boca sendo abafada pela gola alta do casaco. – Como... Como isso acontece? – Ela perguntou, me fazendo pressionar os lábios.
- Eu não sei. – Falei, suspirando.
- Eles eram crianças... – Ela suspirou. – Jogando bola.
- Às vezes acontece algumas coisas na vida que não conseguimos entender. – Falei.
- Eu só penso na dor que eles devem ter sentido... – Assenti com a cabeça, vendo-a passar as mãos nos olhos novamente, me contendo de fazer o mesmo. – Isso aconteceu embaixo dos nossos olhos...
- Você vai ficar bem? – Engoli em seco.
- Eu sempre fico. – Ela disse, virando o olhar para mim e assenti com a cabeça.
- Você sabe que ainda pode contar comigo, certo? – Falei fracamente, tomando cuidado com as palavras.
- Eu sei. – Ela disse. – E agradeço. – Ela puxou a respiração. – Você também... – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Tem algo que eu possa fazer por você? – Perguntei.
- Eu tenho uns trabalhos para terminar ainda, o cancelamento desse jogo bagunçou algumas coisas. – Assenti com a cabeça. – Depois devo jantar na Giulia, seus parentes vieram para o Natal.
- Vai passar o Natal com eles? – Perguntei.
- Sim, sem férias para mim esse ano. – Ela disse e confirmei com a cabeça.
- ? – Virei o rosto, vendo um de seus colegas a chamando. – Não vem?
- Um minuto. – Ela disse, se virando para mim novamente. – Eu tenho que ir. – Ela disse e eu confirmei com a cabeça.
- A gente se vê por aí. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
- Sim. – Ela disse, seguindo até seu colega e suspirei logo em seguida.
Olhei para o campo quase vazio e podia ver ao fundo o lago que Michele havia falado. Quantas vezes nós não descemos para aquele lado para nos refrescar um dia de calor? Nunca havíamos ido no frio, mas com certeza até isso mudaria para os próximos anos.
Peguei minha mochila no chão, colocando-a de volta nas costas, sentindo-a gelada e segui os funcionários. Muitos seguiram de volta para os prédios administrativos e os jogadores seguiram para seus carros enquanto outros paravam para conversar. Eu só conseguia pensar em ir para casa. Meus planos hoje eram jogar e dormir logo em seguida, talvez eu devesse permanecê-los. Ficar em casa sozinho um pouco, pensando em como a vida pode ser finita. Um dia estávamos aqui e no próximo podíamos não estar. Era mais um motivo para não desperdiçar os momentos, mesmo os menores deles.



Capitolo quindici

Lei
30 de dezembro de 2006 • Trilha SonoraOuça

- Que dia para fazer, hein?! – Giulia falou assim que entrou no carro e eu suspirei.
- Semana passada não tinha clima ainda, mas aí já estava fechado com todos os fornecedores e não fazer acabaria saindo mais caro do que fazer, então... – Dei de ombros. – Festinha de ano novo.
- Pelo menos já vamos aquecendo o buchinho para amanhã. – Ela falou e eu neguei com a cabeça.
- Eu só vou fazer uma média com meu chefe, Giulia. Não estou no pique para isso, toda vez que eu penso naqueles meninos, eu fico super depressiva. – Falei, colocando o carro em movimento novamente.
- Mas você está bem, não está? – Ela perguntou.
- Estou, mas esse ano foi tão bagunçado para mim. – Neguei com a cabeça. – Comecei muito bem com o Gigi, aí termino sem o Gigi e com três acidentes super pesados no time? Ah não! – Suspirei. – Eu costumo aguentar bem desastres, baseado na minha vida, mas não tantos assim.
- Falou com a sua psicóloga do que houve? – Ela perguntou.
- Falei sim, estamos nos falando uma vez por mês desde o negócio do Gigi, aí fiquei sem ir, aí veio o acidente do Pessotto, estou tentando manter uma constância só para não pirar. – Ela suspirou.
- Se te faz bem, é a melhor coisa que você pode fazer. – Ela disse. – Se precisar de dinheiro, já sabe.
- Valeu, amiga, mas o time me deu um belo bônus de fim de ano pela forma que eu lidei com as coisas do Calciopoli, apesar de eu não estar gastando mais do que ganho, veio em uma boa hora. – Falei.
- Tem que ter alguma vantagem, aquela época foi loucura! – Ela disse, me fazendo rir fracamente.
- Pior que eu nem consigo comemorar o fim do ano, pois ainda tem seis meses de temporada. É quase como se eu comemorasse o fim do ano em julho. – Ela riu fracamente.
- Pensa bem, suas férias estão chegando. – Ela disse.
- Fevereiro, fevereiro... – Mentalizei, ouvindo-a rir.
- Por que você escolheu fevereiro? – Ela perguntou.
- Tem menos jogos. Serão só três. Em compensação março tem cinco, é muita coisa para rolar ao mesmo tempo. – Ela ponderou com a cabeça.
- É, menos mal. – Ela disse, dando de ombros.
Ficamos em silêncio o resto da viagem de volta para Vinovo, somente ouvindo meu novo álbum do Justin Timberlake e logo chegamos no local de sempre. Saí do carro, colocando meu casaco em cima da calça jeans e da blusa de manga comprida que eu usava, além de outras peças por baixo, o frio estava sensacional esse ano.
- Nós entramos, damos um olá para o pessoal e saímos assim que o novo presidente fizer o discurso, ok?! – Falei, andando em direção à entrada.
- Que pressa é essa? – Giulia perguntou e eu suspirei.
- Eu não quero ver o Gigi, mas aposto que disso eu não vou ter como fugir.
- Por quê? – Ela perguntou.
- As festas de Natal do time são um momento importante para gente. – Falei, suspirando. – Foram, né?! – Suspirei.
- Se você se sente assim, amiga, por que você finalmente não se abre com ele? Foda-se que ele vai se sentir acuado com tudo isso, se você, que viu a cena, está disposta a perdoá-lo, joga a bola para ele e deixa ele decidir isso. – Ela falou.
- Eu já pensei nisso, mas eu tenho uma teoria... – Suspirei.
- Qual? – Ela perguntou.
- Que ele está com outra já. – Falei, subindo as escadas.
- Como?
- Primeiro: ele não simplesmente levaria qualquer uma para entrar no vestiário de uma final de Copa do Mundo. E se eu paro para analisar a imagem que eu vi melhor, suas irmãs estavam lá rindo com eles. Ou seja, elas conhecem essa pessoa. – Falei.
- É, isso é um tanto suspeito mesmo. – Ela disse.
- Segundo: lembra aquele dia que eu falei que o encontrei no drive thru do McDonalds? – Ela assentiu com a cabeça. – Tinha mais alguém no carro.
- Ok, então, se você estiver certa... – Entreguei os dois convites para a mulher da entrada.
- Buona notte.
- Buona notte. – Ela respondeu sorrindo e senti a diferença de temperatura.
- Se eu estiver certa, não vai adiantar de nada eu falar com ele. – Disse e ela franziu os lábios.
- Mas você ainda gosta dele? – Ela perguntou.
- Eu não sei. – Falei honestamente. – Eu gosto de lembrar do que tivemos, mas não fico pensando nele mais como antes. Quando ele vem falar comigo, eu sinto saudades... – Suspirei. – Acho que é normal.
- Sim, acho também. Foi algo bom na sua vida. – Suspirei.
- Sim, foi, mas vou deixar isso para lá, não vale a pena. – Ela confirmou com a cabeça.
- Precisamos marca urgentemente uma renovação para você. Cabelos, unhas, massagens, banho de loja. – Ri fracamente.
- Já sei onde usar o meu bônus. – Gargalhamos.
- Bom, podemos gastar com psicóloga ou com roupas, você decide.
- É tentador. – Sorrimos. – Pode marcar.
- Mesmo? – Ela perguntou.
- Não é o que dizem? Ano novo, vida nova? – Dei de ombros. – Vamos ver o que vai rolar. – Falei, encontrando meu chefe, Angelo e Lorenzo.
- Combinado, então. – Ela disse.
- Eu vou lá cumprimentar o pessoal.
- Eu vou pegar uma bebida para me esquentar. – Ela falou. – Quer algo?
- Só uma água mesmo. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- ! – Meu chefe falou e eu me aproximei, cumprimentando-o e depois Angelo e Lorenzo.
- Tudo bom, gente? – Perguntei.
- Na medida do possível. – Giorgio falou.
- É, aqui também. Pensei muito em não vir.
- Nem fala. – Angelo falou. – Não tem clima.
- Não. – Suspirei. – Mas como passaram o Natal? – Perguntei.
- Ah, o de sempre. – Lorenzo falou. – Comendo demais, bebendo demais... – Eles riram.
- Depois reclamando que comeu e bebeu demais. – Falei e eles confirmaram rindo. – Eu vou dar uma volta, gente.
- Vai lá! – Eles falaram e eu os abracei mais uma vez, antes de começar a andar pelo salão, mas não foi possível dar quatro passos, pois Giulia já apareceu em minha frente.
- Aqui está! – Ela disse, me estendendo a garrafa de água.
- Valeu. – Falei, abrindo-a e dando um gole.
- Vamos por ali? – Ela perguntou, apontando para atrás de mim.
- Vou lá dar um oi para os jogadores, eles ficam ali perto do bar. – Falei, sentindo-a me puxar pelos ombros.
- Não, eles não estão lá. – Ela falou e eu franzi os olhos, vendo-a tentar desviar.
Inclinei o corpo um pouco para o lado, desfocando de seus olhos e vi a maioria dos jogadores perto do bar. Alex, Pavel, Trezeguet, Camoranesi, Chiellini, um pessoal mais novo e Gigi. A maioria acompanhado com esposas e namoradas.
- Eu estava certa, não?! – Perguntei, voltando a olhar para ela.
- Estava. – Ela disse fracamente.
- É a mesma mulher? – Perguntei e ela respirou fundo, olhando para cima.
- Sim. – Ela falou e foi minha vez de olhar para cima e evitar que as lágrimas saíssem de meus olhos.
- Você está bem? – Ela perguntou e eu suspirei.
- É inevitável pensar se por acaso ele não estava com ela enquanto ele estava comigo. – Engoli em seco.
- Ah não, amiga. – Ela falou. – Ele não faria isso.
- Eu não sei. – Neguei com a cabeça. – Tudo é muito suspeito, todas as ações dele, a intimidade deles na final... – Suspirei. – Foi muito rápido.
- Você quer ir? – Ela perguntou.
- Sim, mas eu quero que ele me veja antes. – Falei.
- Tem certeza, amiga? – Ela perguntou.
- Ele precisa saber que eu não sou idiota, Giulia.
- Tudo bem, mas ele não sabe que você terminou com ele por causa dela... – Suspirei.
- Sim, mas a questão não é essa. É ele ter ficado com ela enquanto estava comigo. – Dei de ombros.
- Você não vai fazer barraco, vai? – Ela perguntou.
- Eu sou mulher de fazer barraco? Se fosse para fazer um eu já teria feito na final, né?! – Falei, revirando os olhos e ela riu fracamente. – E eu prezo pelo meu trabalho, só não quero que ele ache que eu sou tonta.
- E o que você vai fazer? – Ela perguntou.
- Desejar um bom Natal e um bom ano novo. – Falei, dando um sorriso e entreguei minha garrafa para ela.
- Ah, meu Deus! – Ela sussurrou e eu segui em direção ao bar.
Os jogadores estavam em um semicírculo, só pela altura e pelas mãos entrelaçadas na mulher ao seu lado, sabia que Gigi estava de costas para mim. Respirei fundo, sentindo as mãos geladas uma na outra e fiquei aliviada quando Trezeguet me viu, não precisaria puxar papo com ninguém.
- Ah, ! – Ele falou, animado, abrindo os braços para mim e todos os rostos se viraram para mim.
- Trezeguet! – Falei, abraçando-o e ele me ergueu alguns centímetros do chão, me fazendo rir.
- Como você está? – Ele perguntou.
- Bem e vocês? – Del Piero me abraçou em seguida.
- Tudo bem. – Sonia sorriu, me abraçando. – Meio sem clima.
- É, estávamos falando isso. – Abracei Pavel por último e me contive e acenar para o resto da roda, inclusive dar um sorriso muito do falso em direção a Gigi que me olhava.
Olhei para a mulher ao seu lado e fiquei feliz pela gola alta do casaco, pois a saliva desceu raspando. Eu não tinha a capacidade de saber se aquela era a mesma mulher que eu havia visto na final da Copa, mas tinha que assumir que ela era muito bonita e um mulherão. Cabelos castanhos, lisos, roupas coladas, apesar do frio, bota de cano alto com um salto finíssimo e uma maquiagem muito bem-feita em seu rosto. Cara de modelo.
- Como foi o Natal? – Alex perguntou.
- O mesmo de sempre. – Dei de ombros. – Muita comida, muita bebida, dormir tarde... – Eles riram.
- Passou aqui mesmo? – David perguntou.
- Ah, passei, não tive folga esse ano.
- Que beleza, hein?! – Beatrice, esposa de Trezeguet, falou ironicamente.
- Nem sempre dá para ganhar. – Rimos fracamente. – Bom, gente, eu estou indo, feliz ano novo para todos vocês.
- Mas já vai? – Camoranesi perguntou.
- Só vim fazer uma média com meu chefe, os familiares da Giulia chegaram e nem queria que a gente saísse. Estamos fazendo capellini o dia inteiro. – Eles riram.
- Aonde vamos? – Mauro perguntou, andando em minha direção.
- Colle della Maddalena, se quiser aparecer lá. – Eles riram. – Bom ano novo, gente.
- Para você também, ! – Eles falaram e eu acenei rapidamente.
Senti os olhares de Gigi se movimentarem conforme eu andava e dei um aceno com a cabeça, antes de desviar, seguindo em direção até Giulia novamente. Tirei a garrafa de água de sua mão e virei-a toda em um gole só, respirando fundo.
- Como foi? – Giulia perguntou.
- Quando vai ser nossa ida no salão? – Perguntei.
- Eu vou marcar ainda, mas pode ser em breve, por quê?
- Eu preciso de uma mudança radical. – Suspirei.
- Vai fazer ciúmes nele? – Ela perguntou.
- Não tinha pensado, mas talvez sirva também. – Respirei fundo.
- E o que você pensou?
- Que eu preciso me valorizar mais. – Engoli em seco. – Aquela mulher pode ser bonita, mas eu também sou, só preciso melhorar minha autoestima.
- Vestida para matar? – Ela perguntou.
- É, algo assim... – Dei de ombros.
- Ligo assim que virar o ano. – Ela falou.
- Ok, agora vamos embora. Prefiro ficar fazendo capellini com a sua avó do que engolir isso. – Falei.
- Ela já deve ter ido dormir, aposto. – Ela falou.
- Podemos só ir embora? – Perguntei, vendo-a rir e entrelaçou o braço no meu.
- Vamos! Vamos! – Ela disse, começando a andar comigo.

Lui
Nove de janeiro de 2007

- Parece que você não quer ir. – Alena falou, se sentando na cama e eu suspirei.
- Não queria. – Falei, pegando um paletó azul escuro e vestindo-o por cima da camisa social da mesma cor.
- Então, por que viemos? – Ela perguntou, rindo fracamente. – Podíamos ter ficado em Turim. – Soltei um suspiro, dando uma última olhada no espelho.
- Eles são os donos da Juventus, Lena. – Falei, me aproximando dela. – Eu não podia deixar de vir, estávamos aqui do lado.
- Vai ter mais alguém do time? – Ela perguntou.
- Não sei, honestamente. – Ela passou as mãos em minha cintura, me trazendo para perto de si.
- A gente vai um pouco, você faz um social, depois voltamos. Precisamos voltar para Turim amanhã cedo mesmo, não dá para enrolar muito.
- É o jeito... – Rimos juntos e inclinei meu corpo para frente, colando nossos lábios rapidamente.
- Vamos! Você está demorando mais do que eu para se arrumar hoje. – Sorri e ela se levantou.
- Eu faço isso quando não quero ir! – Falei, vendo-a rir, negando com a cabeça.
- Chega de enrolar, então. – Ela me abraçou pela cintura, alcançando meus lábios rapidamente.
- Só vou colocar o relógio. – Falei e ela confirmou com a cabeça.
Segui até a mesa onde estava meus acessórios e os coloquei rapidamente e dei uma última olhada no espelho, precisava dar uma cortada nos cabelos, mas não seria agora. Precisava lembrar quando voltasse para casa. Coloquei a carteira e o celular nos bolsos de dentro do paletó e segui para a antessala do quarto. Alena me esperava.
Ela sorriu ao me ver e estendi a mão para ela, sentindo-a entrelaçar os dedos e saímos do quarto, puxando a porta. Fomos até o elevador, chamando-o e logo descemos até o lobby. Entreguei o ticket para o valet e em poucos minutos meu carro estava na porta. Abri a porta para Alena entrar e dei a volta nele, entrando do lado do motorista.
Dirigimos até a Galleria Alessandro Bagnai, uma galeria de arte onde seria o jantar do Lapo e do John Elkann, os donos da Juventus. Não sabia se eram exatamente donos, apesar do time ser de suas famílias, mas com certeza são quem possuem a maioria das ações do time. A escolha do presidente não afetava os donos do time, não sabia como era decidido, mas envolvia alguma votação entre os acionistas majoritários.
Não sabia exatamente o motivo desse jantar, alguma festa de ano novo, alguma coisa assim. Eu estava de férias na minha cidade e recebi o convite, eu podia não aceitar e fingir que estava mais longe, mas eu ainda tinha uma conta com o time e gostaria de limpá-la o mais rápido possível. Aposto que não seria pior do que os desfiles e eventos da TV que a Alena queria que eu fosse. Só esperava encontrar alguém conhecido lá para não ter que ficar puxando o saco dos Elkann.
Quando chegamos na Galleria, um valet abriu a porta para mim e tinha alguns fotógrafos do lado de fora. Dei a volta, vendo Alena já do lado de fora. Estendi minha mão para ela, sentindo-a segurar e entramos na Galleria. Os flashes reduziram com toda certeza, mas Alena era uma modelo, então eu tinha que me acostumar com toda atenção. Além de que havíamos começado a sair juntos somente há quatro meses, então a imprensa adorava ficar em cima.
Confesso que nessas horas sentia saudades de . Manter tudo às escondidas, em seu apartamento ou no meu, tendo somente a companhia um do outro. É, fazia muita falta, comparado com a total atenção que eu tinha com Alena sempre. Mas a vida muda, né?! Sei que se tivesse me perdoado quando eu voltasse, nós assumiríamos e talvez tivesse a atenção também, mas ela não era famosa, talvez não fosse tão ruim assim.
Dentro da Galleria, tinha alguns fotógrafos também, mas não estavam focados na gente. Tinha três mesas grandes muito bem arrumadas. Algumas pessoas já ocupavam os lugares e outras ainda andavam pela galeria, vendo a exposição. Eu dei uma rápida olhada por cima e não consegui identificar nenhum outro jogador ainda, mas encontrei Lapo.
- Gigione! – Ele falou, me abraçando e dando uns tapinhas em minhas costas. – Que bom que pode vir.
- Eu que agradeço pelo convite. – Falei, tentando dar meu melhor sorriso e ele me sacudiu pelos ombros. Lapo sempre teve cara de louco.
- Conhece a Alena, minha namorada? – Virei para ele.
- É um prazer conhecê-la, senhorita. – Ele falou, cumprimentando Alena, que sorriu.
- O prazer é meu. Bela exposição. – Ela falou.
- Grazie, grazie! – Ele falou, sorrindo.
- Gigi. – Virei para o lado, vendo John, o mais normal dos dois irmãos.
- Ciao, come stai? – Perguntei, cumprimentando-o, que sorriu.
- Bene, bene! – Ele falou, dando um tapinha em meu peito. – Obrigado por vir.
- Sem problemas. – Falei, sorrindo.
- Colocamos você perto do David na mesa da direita. – Ele falou.
- Trezeguet está aqui?
- Sim, já sentou. – Ele falou e senti um alívio passar pelo meu corpo quando ele falou isso. Talvez o jantar nem seria tão ruim.
- Vamos lá? – Perguntei para Alena que sorria para algo que Lapo falava.
- Claro, claro! – Ela falou, visivelmente aliviada por se livrar dali.
- Aproveitem! – Lapo e John falaram quase juntos e sorrimos.
Segui com Alena pelo evento, vendo alguns atores e cantores conhecidos tanto da Itália como de outros países e achei importante o evento, mas não passava de um jantar em homenagem a uma exposição. Eu nunca fui muito de museus, somente quando eu precisei ir em um, o que acabou sendo a melhor escolha da minha vida, mas no geral, não era grande apreciador das artes.
- Gigione! – Trezeguet falou quando me viu e dei um abraço nele, sentindo-o dar um tapinha em minhas costas. – Ainda bem que você veio, achei que ficaria largado aqui.
- Pensei a mesma coisa. – Sussurrei para ele, ouvindo-o rir e segui cumprimentando Beatrice, sua esposa.
- Oi, Gigi, como está? – Ela perguntou.
- Tudo bem e contigo? – Falei, vendo-a assentir com a cabeça.
- Por que vocês não sentam juntos e eu e a Alena ficamos do lado de cá? Aposto que teremos mais o que conversar. – Virei para Alena, que sorriu, dando um rápido beijo em meu rosto e seguiu para o lado de lá de Beatrice e eu me sentei ao lado de David.
- Então, como estão as férias? – Ele perguntou.
- Acabaram, né?! – Rimos juntos. – Fui para casa, fiquei por lá mesmo, Turim está muito frio.
- Nem fala! – Ele riu fracamente. – Eu fui para Rouen também, juntaram todos os irmãos, primos, sabe como é...
- Bem sei! Família grande... – Rimos juntos e peguei o cardápio em cima da mesa, dando uma rápida olhada nas opções de jantar. Aceitava algo mais simples hoje, mas ficaríamos nos pratos chiques, pelo menos.
- Onde é o primeiro jogo? – Ele perguntou, pegando um pedaço de pão.
- Mântua, fora de casa. – Suspirei.
- Mon Dieu, são uns nomes que eu nunca nem ouvi. – Rimos juntos.
- Tem muita coisa que até eu que sou daqui, nunca ouvi, mas é legal conhecer os cantos novos. – Falei e ele confirmou com a cabeça, dando uma olhada no local.
- Hum, Gigi? – Ele perguntou e eu virei o rosto para ele.
- O quê? – Olhei seu rosto que parecia que havia visto um fantasma e o vi engolir em seco. – Alô!
- É melhor se você olhar para aquela direção... – Ele falou, virando meu rosto para o lado direito e procurei com o olhar entre as pessoas o que ele estava vendo.
Encontrei primeiro Lapo e John e percebi que, junto deles, estava Giorgio, gerente da contabilidade, depois para Giovanni Gigli, novo presidente do time e não achei nada estranho. Ampliei minha visão, encontrando uma mulher acompanhando-os, me fazendo franzir os lábios.
Não sabia o que Trezeguet queria dizer, mas ela era muito bonita. O corpo em um vestido preto simples, que ia até os joelhos e era colado em seu corpo, modelando-o, e um sobretudo branco que tinha o mesmo cumprimento do vestido. As pernas com uma meia-calça da mesma cor do vestido e nos pés um sapato de salto alto.
Subi os olhos novamente, vendo os cabelos loiros quase platinados escorrer em ombros em suas costas enquanto Lapo dava um grande abraço nela e engasguei quando consegui ver seu rosto. Era ! Cazzo! Ela tinha uma bonita maquiagem no rosto e um batom vermelho, o qual ela fazia questão de pressionar um no outro e umedecê-los com a língua, me fazendo sentir meu pênis querer despertar dentro da calça.
Merda!
Como isso tinha acontecido? Eu tinha visto-a há 10 dias escondendo o corpo dentro de um moletom pesado e os cabelos dentro de um gorro enfiado em sua cabeça, o rosto com sua tradicional maquiagem simples e agora ela estava aqui? O cabelo mais claro do que antes, com longas ondas que pareciam que eles eram mais longos do que antes. O corpo já esguio delineado dentro do vestido e aqueles lábios... Como eu queria beijá-los.
- Aquela é...
- É. – Trezeguet falou, passando o braço pelos meus ombros e eu fechei os olhos.
- O que aconteceu? – Perguntei, levando a mão até meu pênis por cima da calça, feliz pelas toalhas longas.
- Eu tenho uma teoria... – Ele falou.
- Qual? – Perguntei, vendo-a conversar com John Elkann.
- Vingança. – Ele disse.
- Mas por quê? – Perguntei.
- E eu sei? Mas ela conseguiu. – Ele gargalhou ao meu lado e eu virei o rosto para ele.
- Eu estou ficando excitado, caramba. – Sussurrei para ele que franziu os lábios, gargalhando em seguida.
- Tão rápido assim? – Ele me zoou e eu franzi os lábios, virando para ele.
- Não tem graça! – Falei quase em um rosnado.
- Ah, com certeza tem! – Ele riu fracamente. – E eles estão vindo para cá.
Observei Giorgio, Giovanni e saírem de perto dos Elkann e eles começaram a andar pelo corredor em frente a nós e eu só conseguia implorar para eles não virem até nós e que eles não quisessem sentar nos lugares vazios em nossa frente. Cazzo! O que ela estava fazendo aqui? Estávamos em Florença, não em Turim. Quase cinco horas de viagem, caramba. Ela queria me dar um ataque cardíaco, é isso? Merda!
- Ragazzi! – Giovanni falou, parando em nossa frente e sorri, vendo ao fundo.
- Ciao, ciao! – Trezeguet falou e me restringi ao sorriso.
- Gigione, Trezegol! – Giorgio falou e encontrei o olhar de , me fazendo engolir em seco. – Se divertindo?
- Sim, claro! – Trezeguet fez menção em se levantar e o segurei. Se ele se levantasse, eu seria obrigado a fazer o mesmo.
- Bom evento! – Ele falou, seguindo atrás de Giorgio.
- E aí, garota? – Trezeguet falou para e apertei minha mão em sua perna, como eu queria ter unhar grandes agora.
- E aí, gente? Se divertindo muito, imagino. – Ela falou, irônica e rimos juntos.
- Super! – Ele falou e ela virou o rosto para Beatrice, acenando para ela e a esposa de David se levantou e se debruçou sobre a mesa para ambas se abraçarem. O vestido de subiu e eu apertei a perna de Trezeguet mais forte.
- Para de fazer isso! – Ele sussurrou para mim e eu suspirei.
- Saudades de você. – Beatrice falou.
- Eu também, vamos combinar algo. – falou.
- Aparece lá em casa. – Beatrice falou e confirmou com a cabeça.
- Claro, vamos combinar. – Ela falou. – Você deve ser Alena, certo? – falou e eu pressionei os olhos fortemente.
- Sou sim. – Alena falou, sorrindo.
- Prazer te conhecer. – falou, dando um sorriso que eu quase acreditei ser real.
- Você estava na festa de Natal, não? – Ela perguntou.
- Sim, estava. Você estava lá? – Ela perguntou no seu maior tom de ironia e pressionei a mão em meu pênis.
- Sim, estava. – Ela sorriu.
- Desculpe, eu fui tão rápido naquele dia que nem percebi. – falou e sabia que era mentira, ela fez questão de olhar bem para mim.
- Tudo bem. – Alena sorriu.
- Você mudou seu cabelo, não? – Beatrice falou.
- Ah, clareei um pouco, ano novo, vida nova... – Elas riram juntas.
- Você está um arraso. – sorriu, piscando.
- Deixa eu ir, gente, estou só de acompanhante hoje. – Ela falou, acenando para nós quatro e mandou um beijo claramente para David, mas posso fingir que era para mim?
- Divirta-se! – Beatrice falou.
- Até parece! – falou, rindo e seguiu em direção a seu chefe novamente.
- Eu vou matá-la. – Falei, respirando fundo.
- Como está aí? – David perguntou.
- Eu preciso de um banheiro. – Falei baixo, respirando fundo.
- Toma... – Ele me entregou seu casaco que estava pendurado na cadeira e enrolei-o, colocando em frente ao quadril, me levantando. – Pensa nela, vai mais rápido. – Ele sussurrou e bati a mão em sua cabeça, ouvindo-o gargalhar.
- Já volto. – Anunciei rapidamente e segui em direção à placa do banheiro, me distraindo rapidamente das pessoas.
Olhei rapidamente para ela novamente, bem chamativa com aquele casaco branco e engoli em seco. Sabe aquela frase: dificilmente você se ferra ao ouvir seus pais? Ou algo relativo assim? Agora eu havia entendido isso. Merda! Eu deveria ter esperado a raiva passar e ir falar com ela, como minha mãe havia dito. Agora eu estava aqui, precisando me aliviar no banheiro de uma galeria super chique só porque a decidiu levar a sério a frase “ano novo, vida nova”!
CAZZO!
Se arrependimento matasse, eu já estava sete palmos abaixo da terra.
Eu só precisava saber se ela havia me perdoado, talvez tivesse alguma esperança. Eu só preciso resolver isso daqui antes, com calma e pressa. Muita pressa.

Lei
10 de abril de 2007 • Trilha SonoraOuça

- Isso é engraçado. – Marco comentou e eu franzi a testa.
- O quê? – Eu e outros dois comentamos.
- Pensei alto de novo? – Ele comentou e rimos juntos.
- Aparentemente sim. – Angelo falou.
- Agora compartilha. – Falei, movimentando a cadeira para fora da linha do computador.
- Temos jogos até dia 10 de junho, acho que é a primeira vez que temos jogos tão longe na temporada. – Ele falou.
- Eu percebi isso hoje também. – Lorenzo falou. – Nem quando chegamos na final foi tão tarde assim.
- É porque tem mais times, não? – Comentei.
- Não sei, na verdade, deve ter alguma relação com a Copa do Mundo, data FIFA, coisas assim, porque eles jogaram na sexta, vão jogar hoje e depois no sábado de novo, são três jogos em 11 dias, acaba dando quase na mesma do que um jogo por semana. – Marco falou.
- Pelo menos dessa vez vamos ter algo para fazer. – Claudio falou. – Normalmente ficamos até dia 12, 15 só encerrando contas e especulando transferências.
- Esse ano vai ser uma loucura, vocês vão ver. – Comentei. – Com a temporada acabando mais tarde, e praticamente garantido que a gente suba para Serie A de novo, o time vai querer fazer uma reformulação incrível no time.
- Esperamos que sim, e com uma mudança de técnico. O Deschamps vai rodar. – Marco falou.
- É, eu li algumas coisas no jornal mesmo. – Claudio falou e assenti com a cabeça junto.
- Problemas com a administração, não? – Comentei.
- Vai saber, mas não deve ser fácil agradar os cinco mais poderosos do time, tenho a impressão de que o Giorgio é o mais de boa. – Lorenzo falou.
- E acaba sendo o mais importante, né?! – Marco disse. – Se ele não libera a grana, os acionistas não fazem nada, o presidente não faz nada, o diretor geral não faz nada, nem o diretor esportivo faz nada.
- É por isso que é tão importante que a gente saiba do que rola na parte esportiva também. – Lorenzo falou. – A gente tem que saber em quem vale à pena investir. – Ponderei com a cabeça.
- Olhar anos-luz lá atrás para investir em uma pessoa que vai entrar de forma barata para o time, mas pode ser vendida com um valor incrível, além de deixar frutos aqui dentro. – Falei.
- Exatamente. – Claudio falou.
- Mas acho que os jogadores que vieram para a Série B, muitos podem ficar. Ok, é a Sárie B, na teoria é para ser mais fácil para um time que está acostumado com a Série A, mas dá para aproveitar muita gente. – Angelo falou.
- Além do pessoal que optou por ficar, né?! – Falei.
- Ah, os que optaram por ficar, posso te garantir que Giorgio vai fazer o que for preciso para mantê-los aqui. – Marco disse. – O time tem uma dívida eterna com eles, principalmente Alex, Gigi e Camoranesi que foram campeões do mundo. – Ponderei com a cabeça, preferindo me abster de qualquer comentário que incluísse Gigi no time.
- Um dia de cada vez, né?! – Rimos juntos.
- Ciao, ragazzi. – Virei o rosto para a porta, vendo Giorgio entrando.
- Ciao, Giorgio. – Falamos juntos e voltei a focar na minha planilha de março aberta, com os repasses dos jogos de março.
- , pode me dar uma ajuda aqui? – Ele perguntou.
- Claro! – Falei, empurrando minha cadeira e me levantei, ouvindo meus sapatos baterem contra o piso.
Nunca achei que um salto alto fazia tanta diferença. Quando eu apareci com eles pela primeira vez, todo mundo me olhou como se eu tivesse feito alguma plástica, claro que os cabelos mais claros e a maquiagem um pouco mais do que só lápis de olho e batom cor de boca ajudaram também. Não esqueço a cara de surpresa de Gigi naquele evento em Florença que Giorgio pediu para que eu o acompanhasse.
Gostei muito por sinal. Não dele ter babado por mim, ok, gostei sim, ver sua boca literalmente cair por mim foi algo incrível, principalmente com sua namorada modelo – literal – do lado. Acho que isso não aconteceu nem quando estávamos juntos, mas estava falando sobre o pedido de Giorgio para mim.
Ele estava realmente gostando de me ter por perto, claro que eu sabia que era a mais jovem do departamento, a única que era analista, enquanto todos os outros já eram coordenadores, mas Giorgio estava realmente sendo minha escada para a profissão. Não sabia meu futuro no time, mas eu, com certeza, estava criando uma ótima rede de relacionamentos que eu sabia que valeria para alguma coisa no futuro. Seja mudar de emprego, crescer no time, o que fosse.
- O que posso ajudar, Giorgio? – Perguntei, seguindo-o até sua sala.
- Você pode entregar esses papéis lá para o Danielle? É o fechamento de março, ficou faltando uns números e só conseguimos finalizar agora. – Ele me entregou um calhamaço de papéis.
- Claro! – Peguei, colocando-o em meus braços. – Ele precisa assinar e devolver algo?
- Ele vai entregar a confirmação de sempre assinada. – Confirmei com a cabeça.
- Mais alguma coisa? – Perguntei.
- Não, só isso. Estou na correria aqui. – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça.
Eu podia falar que a falta de estagiários acabava me irritando, pois eu tinha que fazer todo o trabalho simples do setor, mas eu até que gostava, acabava conhecendo literalmente todo mundo, quase todo mundo, de quase todos os setores, isso entrava no que eu falei ali em cima, rede de relacionamentos, e a minha só estava crescendo.
Segui até o elevador, esperando-o chegar e entrei, apertando o botão do térreo, batucando o pé no chão enquanto aguardava. Assim que ele abriu, ouvi as vozes ficarem mais altas e vi a luz do fim do corredor aberta, deixando o sol das três horas entrar me cegar por alguns segundos.
- Você deve estar de brincadeira comigo. – Ouvi a voz alta de Alex e desacelerei o passo.
Os jogadores deveriam estar na sala de espera. Tinha jogo às 17:30, eles logo iriam para o Stadio Olimpico. Desde que eles voltaram das férias, acabaram usando essa sala do primeiro andar para esperar pelo ônibus e afins, principalmente pela reforma aqui do CT ainda não ter sido finalizada e eles estarem usando os campos dos subs.
- Não estou. – Ouvi a voz de Gigi.
- Você vai ser pai? – Parei de andar imediatamente, engolindo em seco.
- Aparentemente sim. – Gigi falou e puxei a respiração fortemente.
- Não foi você que disse que estava pensando em terminar com ela? – Reconheci a voz de Trezeguet.
- Foi. – Gigi falou novamente. – Acho que essa ideia acabou de ir para o buraco, não?!
- Que merda, cara! – Ouvi outra voz irreconhecível.
- E agora?
- O que quer dizer com isso? – Gigi perguntou. – Ela está grávida, o que eu vou fazer? Assumir o filho, ficar com ela, continuar como se nunca tivesse pensado em terminar.
- Isso é fodido, cara! – Pavel falou.
- Eu sei. – Gigi falou, respirando fundo. – Dio! Eu vou ser pai, eu só tenho 29 anos. Eu sei que muitos de vocês têm a minha idade ou são mais novos, mas não esperava ser pai com 29 anos.
- De quantos meses ela está? – Alex perguntou.
- Um mês e pouco. – Ele falou.
- A pergunta talvez pareça um tanto estúpida, mas você nunca ouviu falar de camisinha? – Umas risadinhas foram ouvidas ao fundo.
- Engraçadinho! – Gigi falou. – Ouvi sim e não fico sem, mas pelo jeito acidentes acontecem.
- Bom, Gigi, nem sei que conselho te dar, real, mas pensa pelo lado positivo. Você vai ser pai, é uma felicidade na vida. – Alex falou com seu jeitão de capitão de sempre. – E a Alena é uma mulher legal, bonita, sexy... – Eles riram e eu revirei os olhos. – Vocês se dão bem.
- Mas estamos juntos há sete meses. – Ele falou e eu coloquei os dedos para contar, estamos em abril, isso era em setembro ou outubro... Isso já me aliviava, quer dizer que não teve nada enquanto estava comigo.
- Mas você já a conhecia antes. – Trezeguet falou.
- Eu fiquei com ela umas duas ou três vezes em agosto de 2005 quando eu estava passando por aquela fase de depressão, mas eu me afastei assim que eu e a começamos a dar certo... CAZZO! – Ele gritou, me assustando e dei um passo para trás por precaução. – Se arrependimento matasse...
- Você está falando muito essa frase. – Trezeguet falou.
- Porque eu me arrependo de muitas coisas. – Gigi falou, irritado. – De ter participado daquela merda de manipulação de resultados, se isso não tivesse acontecido, aposto que a estaria comigo ainda. Da Alena aparecer na final da Copa do Mundo e eu deixar o relacionamento surgir para fazer ciúmes na , agora eu vou ter um filho com uma mulher que eu não tenho certeza se amo. – Engoli em seco.
- Primeiro de tudo, respira fundo. – Pavel falou. – Por mais triste que foi, não só para você, como para o time inteiro, a faz parte do seu passado, a manipulação de resultados também, estamos enfrentando isso de cabeça erguida. Você pelo menos ficou para ajudar, o Fabio e o Zambrotta deram no pé... – Ele fez uma pausa. – Agora sobre você e a Alena, não é tão mal, vai...
- Não, não é, mas é diferente. – Ele suspirou alto. – Não é como a , por exemplo... – Mordi meu lábio inferior.
- Ok, ok! – Alex falou. – O que acabamos de falar da ?
- É parte do meu passado, eu sei. Odeio isso, mas eu sei.
- Então não adianta comparar as duas, você nunca vai conseguir comparar as duas. – Alex falou. – Agora olha para frente e aproveita o que você tem aí. Você não está ficando mais novo também. – Eles riram.
- Mas temos que concordar que você se afundou em outro relacionamento cedo demais. – Trezeguet falou. – Eu sei bem disso...
- É, eu percebi isso tarde demais, mas eu estava irritado, nervoso e...
- Fez merda! – Umas três vozes falaram.
- É...
Puxei a respiração forte, sentindo o impacto da quantidade de informação que eu tinha conseguido em cinco minutos e eu estava estática. Eu sabia que não era uma pessoa muito altruísta, então eu estava feliz por ele estar infeliz no relacionamento dele e ainda se lembrar de mim, comparar ao que nós éramos, mas frustrada por sua namorada estar grávida.
Dio mio, ela está grávida! Gigi seria pai.
Eu não tinha como processar essa informação. Eu estava triste, irritada, com raiva dele, principalmente confusa por saber que ele a conheceu durante aquele momento horrível dele, mas parou quando ficou comigo. Além de ela ter aparecido na comemoração da Copa do Mundo, mas isso ainda estava mal explicado. Como assim ela apareceu e eles não estavam juntos desde outubro ou novembro de 2005? Minha cabeça doía e eu só queria sair correndo dali.
Abanei a cabeça, apertando a têmpora com a mão livre e olhei para os documentos em minhas mãos. Eu ainda tinha que entregar. Respirei fundo, olhando para a última porta do fim do corredor e fechei os olhos, apertando-os fortemente. Passei os dedos leves em meus olhos, vendo o preto do rímel sair um pouco na ponta dos dedos e sabia que eles estavam úmidos. Limpei-os levemente e passei a língua levemente pelos lábios, sentindo-os secos.
Deixei que alguma coragem surgisse dentro de mim e voltei a andar pelo corredor, ouvindo meus saltos baterem contra o piso de madeira e senti quando meu corpo ficou exposto à sala, consequentemente a quem estava na sala e tentei fazer minha melhor cara de paisagem quando passei por eles.
- ? – Ouvi a voz de Pavel e virei o rosto, reconhecendo ele, Gigi, Alex, David, Chiellini, Camoranesi e Marchisio.
- Ciao, ragazzi! – Falei, parando na porta de Danielle. – O que estão fazendo aqui?
- Esperando para ir para o jogo. – Alex veio em minha direção, dando um rápido beijo em minha bochecha e eu sorri. – Você?
- Documentação para o Danielle. – Apontei para porta.
- Trabalhando muito? – Ele perguntou e Trezeguet veio em minha direção também, me dando um de seus abraços de urso.
- Beh, vocês estão ganhando... – Eles riram e olhei para Gigi que parecia querer se fundir com a poltrona.
- Espero que isso seja algo bom! – Pavel gritou.
- Até demais! – Dei um sorriso, forçando para que ele não saísse falso. – Beh, eu tenho que... – Apontei para a porta.
- Claro! – Eles falaram e dei duas batidas na porta antes de entrar.
- Ei, ! – Danielle falou e eu fechei a porta, seguindo até sua mesa.
- Documento do Giorgio para você. De março. – Falei.
- Ah, perfeito, preciso arquivar isso logo. – Ele falou, pegando o calhamaço de papel e assinou a capa de todas, assinando e me entregou de volta.
- Tudo certo? – Perguntei.
- Tudo sim! – Ele falou. – Qualquer problema eu te chamo aqui de volta. – Rimos juntos.
- Claro! – Sorri. – Um bom dia para você.
- Para você também. Grazie! – Ele disse.
- Prego! – Falei, abrindo a porta novamente, vendo os jogadores mudarem a posição rapidamente ao me verem e eu franzi a testa. – Vocês estão bem?
- Sim...
- Tudo bem. – Eles falaram.
- Ok... – Falei, puxando a porta. – Hoje o jogo é contra o Napoli, não é?
- É sim. – Pavel falou.
- Metam pelo uns cinco neles, ok?! – Falei e eles riram.
- Pode deixar! – Alex falou, rindo.
- Vingança? – David perguntou.
- Alguma rivalidade com o time que deveríamos saber? – Pavel perguntou e Gigi tinha um sorriso nos lábios.
- É mais uma rivalidade com a cidade de Nápoles mesmo... – Dei de ombros. – A gente desconta como pode.
- Faço um para você hoje. – Camoranesi falou e rimos juntos.
- Viu?! Olha que amigo. – Falei, ouvindo-os rirem e voltei a andar. – Bom jogo, gente! Até a próxima.
- Não suma! – Alex falou e assenti com a cabeça, sumindo pelo corredor.
Assim que eu entrei no elevador, senti meus ombros doerem com a tensão e, quando ele abriu no quarto andar novamente, eu praticamente saí correndo para a sala da contabilidade e peguei minha bolsa no canto da mesa, voltando para o corredor e seguindo até o banheiro. Me tranquei em uma cabine, me sentando em um vaso sanitário e peguei meu telefone, discando o número de Giulia rapidamente.
- Atende! Atende! – Falei rapidamente, respirando fundo.
- Materiais de construção Vitale, boa tarde. – Ouvi sua voz desanimada.
- Giulia? – Perguntei.
- Eu! – Ela falou.
- O Buffon vai ser pai. – Falei rapidamente.
- O quê? , é você? – Ela perguntou.
- Sou... – Falei em um tom de gemido. – Ele vai ser pai, Giulia.
- O quê? Hum?
- Aquele filho da puta vai ser pai, Giulia! Eu o ouvi falando com o pessoal que a Alena está grávida. – Engoli em seco. – Ele só tinha um trabalho, Giulia, só um trabalho!
- Calma, amiga, respira fundo. – Ela falou.
- Manter o amiguinho dele dentro das calças! – Falei, irritada.
- Respira fundo. – Ela falou e eu tentava obedecer, mas as lágrimas já começavam a cair e a ficha tinha finalmente caído.
- E sabe o que é pior? Ele disse que ainda lembra de mim, que a conhece antes de me conhecer, que ela apareceu de surpresa na Copa e que estava pensando em terminar com ela...
- ! – Ela gritou meu nome. – Informação demais e rápido demais. – Ela falou, me fazendo suspirar. – Primeiro você se acalma.
- Eu estou tentando. – Puxei um pouco do papel higiênico, passando embaixo de meus olhos delicadamente.
- Você vai terminar seu expediente e ir direto para minha casa, ok?!
- Ok... – Gemi baixo.
- E se recomponha, mulher! Já falei para parar de chorar por causa desse babaca. – Puxei a respiração, soltando-a fortemente com a boca.
- Eu estou tentando... – Falei baixo.
- Tente com mais força. – Ela disse. – Eu vou desligar, meu pai está me dando aquele olhar. – Ela disse. – E te ligo do meu celular logo mais. – Ela sussurrou o final e eu dei um pequeno sorriso. – Mas respira fundo, amiga, às vezes isso é aquilo que estamos buscando para mudar um pouco a vida. – Ela falou em seu tom normal. – Vai ficar tudo bem, eu prometo.
- Já te disse que você é a melhor amiga do mundo?
- Amiga não, irmã. – Ela falou e eu sorri. – Aguarda uns minutinhos.
- Eu preciso voltar para sala, posso dormir contigo hoje? – Perguntei.
- Claro! Eu nunca vou negar isso. – Suspirei. – O Gianni e o Pietro estão com saudades de você também. – Assenti com a cabeça, puxando a respiração, sentindo o nariz entupido.
- Eu saio do trabalho e vou direto aí para sua casa.
- Beleza, eu te espero. – Ela disse. – Eu te amo, ok?! – Ela disse.
- Eu também te amo. – Falei, desligando o celular.
Guardei-o na bolsa novamente e suspirei, olhando para cima, esperando que as últimas lágrimas caíssem. Passei o papel higiênico delicadamente pelo meu rosto, esperando que aquilo não detonasse toda minha maquiagem e suspirei alto.
Se recomponha, . Só mais um tropeço na sua vida.
Abanei a cabeça, colocando alguns fios soltos do rabo de cavalo atrás da orelha e saí da cabine, feliz pelo banheiro ainda vazio e fui até a pia. Me olhei no espelho, jogando o papel higiênico fora e sacudi a cabeça. Se recomponha e volte para realidade. Para sua realidade. Sua realidade sem Gianluigi Buffon.
Não deveria ser tão difícil.

Lui
26 de maio de 2007 • Trilha SonoraOuça

Assim que o juiz apitou, finalizando nosso jogo de 2x0 contra o Mantova, tudo aconteceu de forma diferente de quando ganhávamos a Série A. Para começar que o alívio era palpável no ombro de todos os jogadores, palpável a ponto de realmente não estarmos preocupados com os últimos dois jogos da temporada, pois sabíamos que havíamos cumprido nosso feito.
Além disso, a festa já havia sido em Arezzo na semana passada, quando ganhamos dos times da casa por 5x1. Com a promoção para a Série A garantida com 82 pontos, fizemos questão de dar uma longa e demorada volta olímpica usando camisas com o escrito “B...astA” como uma clara afronta à Federazione, por somente relegar a Juventus depois de todo escândalo do Calciopoli que envolveu seis times, vários dirigentes e jogadores, além de poderosos da própria FIGC.
Eu sei que estava incluído nisso, mas eu me arrependo muito por tudo o que eu causei, tendo a verdadeira noção de que eu fui somente um por cento de tudo isso, talvez até menos, mas eu sabia reconhecer meus erros e fico feliz por ter conseguido cumprir o feito e ajudado o time a subir para a Série A, e em primeiro lugar.
Com isso garantido e nada a dever para a Série B, ninguém parecia honestamente feliz com a vitória e em receber o prêmio no Olimpico de Turim. Os torcedores estavam gritando e nos apoiando, como sempre, mas dava para sentir que toda a provocação estava direcionada aos juízes do Calciopoli. Faixas com frases “Vocês não vão conseguir nos derrubar” ou “A Juve não cai fácil” e até mesmo “FIGC máfia” eram só alguns dos exemplos que consegui ler tremulando pelo estádio.
Durante o jogo, os gols feitos por Pavel e Trezeguet foram comemorados quase como os pênaltis na final da Copa do Mundo. O estádio ia abaixo e os jogadores se aproximavam das câmeras para provocar os árbitros. Garanto que nada disso havia sido combinado com antecedência, pois chegamos no estádio e Del Piero só pediu uma coisa: vencer.
Já tínhamos garantido o título mesmo, mas havia sido fora de casa, e hoje nossa torcida queria comemorar conosco, então precisava ser um show bonito. E foi! Isso eu posso garantir. Fomos com os titulares para o campo e com todos os jogadores que se dispuseram a ficar no time durante a relegação, com exceção de Camoranesi que estava se recuperando de uma pequena lesão na coxa, mas ele também estava no banco conosco.
Fizemos uma grande partida, demos algumas provocadas quando havia necessidade, recebemos nossas medalhas de Mariella Scirea, viúva de Gaetano Scirea, um dos grandes capitães da Juventus que morreu em um acidente de carro em 89, e recebemos o prêmio. Não posso nem dizer que o prêmio foi erguido, pois não foi. Nós não gritamos, nós não festejamos, somente aplaudimos, ouvindo os gritos e buzinas da torcida. Nem passar o prêmio de mão em mão e fazer a volta olímpica fizemos.
Os jogadores mais novos, que nunca tinham ganhado nada, estavam felizes pelo prêmio, mas para gente tinha um tom amargo na boca, não era a mesma coisa. Para finalizar nossa festa, Del Piero fez um discurso bem provocante, agradecendo aos jogadores que ficaram para ajudar nessa conquista, agradecendo aos torcedores que nos abandonaram e agradecendo pelos que verdadeiramente acreditaram em nós quando falamos que seria somente um ano. Agradeceu ao Alessio e Riccardo, os dois jogadores que faleceram em dezembro no lago, pois estavam conosco naquela conquista. Agradeceu pela temporada, mas estávamos prontos para começar, pois sempre estaríamos com a Juve.
E foi isso!
Tiramos uma foto em grupo para deixar registrado e seguimos para dentro. Os fotógrafos queriam algumas fotos, mas deixamos a festa e entramos para o vestiário. Agora faltava a parte mais importante: entregar esse prêmio para os dirigentes e cumprir nossa promessa. Colocar o “basta” na história.
Assim que chegamos ao vestiário, eu, Del Piero, Pavel, Trezeguet, Camoranesi e Chiellini tomamos banho e nos trocamos com rapidez. Deschamps já havia falado conosco no começo do jogo que sairia do time e não apareceu para um segundo adeus quando voltamos para o vestiário. Não é como se precisássemos, o trabalho de todos estava feito, só jogaríamos os dois últimos jogos para cumprir tabela, pois se não tivesse a multa, a gente nem apareceria em campo.
Enquanto os outros jogadores se trocavam, Del Piero pegou o prêmio e nós seis saímos do vestiário com nossos pertences e seguimos para fora do vestiário, até o estacionamento do mesmo. Uma van nos esperava, além do ônibus. Parecia um pouco afrontoso, por assim dizer, entregar esse prêmio rápido para os dirigentes e todos do alto escalão que foram atingidos ou acabaram ficando irritados pela situação toda do Calciopoli, mas muito não foi nossa culpa, até eu que tinha culpa, podia falar isso. Então só queríamos encerrar e ir para nossas férias de forma mais rápida possível. Além de tentar passar uma borracha nesse ano.
Beh, talvez eu nem pudesse colocar muito, apesar de tudo, da relegação, punições, multas, encrencas e tal, acabou que tudo havia dado certo. Os jogos de dia de semana ou de sábado, acabaram permitindo que eu passasse mais tempo com a minha família. Podíamos almoçar juntos no domingo sem me preocupar em pesar ou me atrasar para a saída do jogo.
Por bem ou por mal, eu estava esperando um filho que chegaria em dezembro ou janeiro do ano que vem, não que fosse algo que eu desejasse, mas acabou me aproximando de Alena de uma forma até que positiva. Era estranho ver sua barriga crescendo e saber que tinha um mini eu que faria parte da minha vida para sempre. Mais ainda, era já amar essa criança sem que eu ao menos a tivesse visto.
Visto-o, na verdade. No último ultrassom já conseguimos ver que era um menino, isso acabou me deixando mais feliz ainda. Era besteira falar, mas acho que todo homem desejava ter um menino, quase da mesma proporção que mulheres gostariam de ter meninas, pelo menos Alena havia falado que queria ter uma menina e minhas irmãs já haviam mencionado isso em seus relacionamentos.
Não estava perfeito, mas as coisas melhorariam cada dia mais.
Eu precisava ser grato por esse ano. Eu comecei com muita raiva e irritabilidade, achando que tudo estava remando contra meus planos, meus desejos e minhas ideias, mas acabou que terminamos a temporada de forma muito boa, batendo recorde de pontos na Série B, te garanto que sem manipulação de resultados, pelo menos não do meu lado, e agora eu tinha somente uma decisão para fazer: se ficava ou se aceitava algumas ofertas do ano passado que ainda estavam válidas.
Meu agente insistia que eu pensasse em alguma coisa, que eu parasse de folgar, mas ele não entendia a pressão que havia sido esse ano e como conseguimos conquistar tanta coisa. Eu mesmo consegui aprender muitas coisas e só podia ser grato por todos que me ajudaram durante esse momento. Sim, todos. Por bem ou por mal.
Então, quando me perguntassem se eu iria ficar, minha resposta era sim, com toda certeza. Por mais que eu quisesse sair, eu não poderia nunca me mudar agora, a Alena estava grávida, já havia sido difícil fazer sua mudança para minha casa, imagina me mudar para outra cidade, quiçá para outro país. Talvez em outra oportunidade. Eu elevaria minha carreira novamente e sabia que, tendo um bom desempenho, as ofertas voltariam.
Chegamos em Vinovo e era por volta das 18:30 de um sábado, então tinha pouquíssimos carros no estacionamento e poucos fãs ainda esperando do lado de fora. Nós seis saímos da van, com Alex carregando o prêmio e entramos no prédio administrativo, esperando o elevador.
- Acho que todos concordamos com a mesma coisa, certo? – Alex perguntou.
- Eu vou ficar. – Falei.
- Eu também. – Trezeguet falou.
- Eu também. – Camoranesi falou.
- Eu também. – Chiellini falou.
- Eu também. – Pavel falou.
- Estamos de acordo, então. – Alex falou e entramos no elevador, apertando o botão do último andar.
- Vai ser uma surpresa para eles. – Mauro falou.
- O acordo era ficar para ajudar a voltar para Série A, conseguimos. – Pavel falou.
- Agora queremos o scudetto de novo. – Falei.
- Com certeza. – Alex falou e as portas do elevador se abriram.
Alex foi na frente e caminhamos pelo corredor, ouvindo nossos tênis chiarem ao deslizarem pelo piso do andar da presidência e Alex respirou fundo quando bateu na porta de Gigli, nosso presidente. Sabia quem esperar lá. Os cinco grandes do time. Presidente, vice, gerente de contabilidade, gerente geral e gerente esportivo.
Mas não foram só eles que encontramos quando entrei. Além dos cinco, sentados na longa mesa de reunião, tinha mais cinco pessoas em pé, espalhadas em volta deles. E uma delas eu conhecia muito bem. Era sábado, ela não deveria estar ali e ela estava linda.
- Sera, ragazzi. – Gigli foi o primeiro a falar e assentimos com a cabeça.
- Não esperávamos vocês tão cedo. – O chefe de falou e Alex colocou o troféu em cima da mesa.
- Queríamos acabar logo com isso. – Ele falou.
- Pois bem... – Gigli falou, apoiando os braços na mesa. – Acho que eu esperava que o time inteiro estivesse aqui, mas sei como isso é especialmente importante para vocês. – Ele falou. – Esse ano não foi fácil, foi totalmente atípico para todos nós, eu me tornei presidente sem nenhum preparo para a Série B e, mesmo assim, todos conseguimos passar por isso. – Suspirei, cruzando os braços e tentando desviar o olhar de . – Nós conversamos aqui e somos gratos por vocês por tudo o que fizeram.
“Todos mesmo, incluindo o pessoal da contabilidade que acabou defendendo todas as bolas que foram surgindo para eles, por isso eles estão aqui também. A acabou encontrando um pequeno erro que acabou crescendo nas proporções que nem ela esperava e todos fomos afetados por isso. Vocês, eles, nós... Seremos sempre gratos a todo o pessoal da contabilidade, principalmente a ela, por dar a cara a tapa em todas as situações. Passar pelos problemas do Pessotto, do Alessio, do Riccardo e ainda conseguir superar essa bagunça que foi para todos nós”.
- Nós conversamos com eles e chegamos a um bônus bem razoável para todos eles, pois muitos fizeram muito mais do que só horas extras. Eles viveram pela Juventus, deram o sangue pela gente, a mentalidade, o psicológico, foi muito mais do que só o tempo e sabemos que dinheiro não compra tudo, mas ajuda, então oferecemos isso a eles. – Ele respirou fundo. – A vocês seis, nós sabemos que dinheiro não é algo muito valioso para vocês, todos nessa sala sabem quanto cada um ganha, então não precisamos ficar de formalidades. Então, concordamos em liberar a saída de todos vocês, caso assim desejem, sem multa e sem taxa de transferência, para onde quer que vocês queiram ir. – Arregalei os olhos e virei rapidamente para Alex. – Nós rasgamos o contrato e vocês saem por essa porta livres para fazer o que desejarem.
- Acho que eles não esperavam por isso. – Ouvi a voz de e ergui o rosto para seus lábios rosados que fizeram com que eu mordesse os meus.
- Fui pego de surpresa. – Alex falou e eu concordei com a cabeça. – Nem sei o que dizer, na verdade, alguém se habilita? – Rimos juntos.
- Acho que, como o senhor disse, foi um ano atípico sim, mas gosto de acreditar que tudo de ruim que acontece com a gente, traz uma lição também. – Falei, ponderando com a cabeça. – Teve pontos negativos, mas acabou tendo pontos positivos também. – Meus colegas concordaram com a cabeça. – Eu não posso dizer pelos meus companheiros de time, mas eu estive com a Juventus em momentos muito bons desde que eu entrei aqui em 2001, e tive momentos ruins, mas que serviram como grande aprendizado para mim. – Senti os olhos de em cima de mim. – Então, colocando na balança, eu poderia dizer que vi tudo no time, ganhei e perdi, mas eu quero ajudar a ganhar de novo. – Um pequeno sorriso se formou nos lábios de . – Então, eu quero continuar no time e ajudar a ganhar um novo scudetto. Só assim eu vou poder dizer que vi de tudo.
- Eu não poderia ter dito melhor. – Alex falou. – Eu vou ficar também.
- Eu também. – O resto do pessoal falou.
- Eu não esperava por isso. – O chefe de falou. – Vocês querem ficar com a gente?
- Sim. – Falamos juntos e ele sorriu, rindo fracamente.
- Não é só por um novo título, isso pode demorar um, dois, três anos para vir. – Giorgio falou.
- Sim, pode. – Trezeguet falou. – Mas acho que o que o Gigi quis dizer, é que a Juve é uma família, e nunca abandonamos nossa família. – Confirmei com a cabeça.
- É! – Falei, sorrindo.
- Confesso que estou emotivo. – Gigli se levantou da ponta de mesa. – Estou confuso, mas muito feliz por isso. Acho que podemos finalmente comemorar alguma coisa. – Sorrimos e ele estendeu a mão para Alex, cumprimentando-o e passou por cada um de nós, até chegar em mim. – Grazie, ragazzi.
- Prego. – Falamos juntos.
- Não preparamos nada para essa ocasião, só se brindarmos com café. – O pessoal riu.
- Acho que precisamos descasar. Esse ano foi pesado para todo mundo. – Pavel falou. – Deixaremos os brindes para o próximo scudetto, que tal? – Concordamos com a cabeça.
- Combinado. – Eles falaram e assenti com a cabeça quando eles começaram a sair e vi fazer o mesmo gesto para mim e dar um pequeno sorriso, levando a mão ao peito.
Saímos da sala, todos com sorrisos risonhos no rosto e gargalhávamos quando nos encarávamos novamente, fazendo com que o som no elevador ecoasse. Era loucura! Estranho, mas completamente louco.
- Acho que eles nos pegaram de surpresa e nós os pegamos de surpresa. – Mauro falou.
- Foi muito estranho, cara! – Alex falou.
- Alguém perdeu uma oportunidade de sair de graça aí?
- A minha multa é gigantesca, mas eu estava no meu último ano mesmo, vou ter que renovar agora. – Falei.
- Goleiro mais caro da história, né?! – Chiellini falou.
- É, beh... – Gargalhamos.
- O que fazemos agora? – Pavel perguntou.
- Como assim? – Saímos do elevador, seguindo para o lado de fora do prédio.
- Esperamos o resto do time voltar ou podemos ir para casa? – Ele perguntou.
- Não pensei nessa opção, jurava que fosse demorar mais. – Alex falou.
- Beh, eu não tenho nada para fazer. – Chiellini falou.
- Eu ainda tenho algumas horas, como se estivesse no jogo ainda. – Disse, dando de ombros.
- Jogar conversa fora? – Mauro se sentou no rodapé da calçada e nos entreolhamos, sentando junto dele.
- Para ficar melhor, só faltava um vinho. – Trezeguet falou.
- Mas é muito chique! Eu estava aceitando uma cerveja. – Mauro falou, nos fazendo gargalhar.
- Ah, vocês são ralés demais, fala sério. – Ele falou, me fazendo negar com a cabeça.
- O vinho não sei se toparia, mas algo para comer eu estou aceitando. – Falei, virando o rosto quando ouvi alguns passos mais fortes baterem no chão e vi e seus saltos saírem do prédio com os outros membros da contabilidade.
- ! – Trezeguet falou, animado, esticando a mão para ela.
- Parabéns, gente! – Ela falou, segurando a mão de Trezeguet e ficando atrás dele.
- Pelo o quê? – Perguntamos um tanto juntos.
- Por fazerem o que é certo. – Ela disse, sorrindo e seu olhar passou por mim. – Eu estou feliz.
- Por isso? – Pavel perguntou.
- Por tudo, na verdade, mas principalmente por eu ter meus cinco, agora seis... – Ela virou para Chiellini. – Jogadores favoritos por mais uma temporada. – Sorrimos.
- Não dava para sair, garota. – Alex falou. – Somos uma família.
- Eu sei. – Ela sorriu. – Você me diz isso desde o primeiro dia. – Eles trocaram um sorriso cúmplice.
- O que vai fazer agora? – Ele perguntou.
- Sei lá, é sábado, mas eu trabalhei o dia inteiro, preciso de um banho e cama. – Ela falou, rindo fracamente.
- Algum compromisso? – Alex perguntou.
- Banho e cama! – Ela repetiu, nos fazendo rir.
- Fica um pouco com a gente, estou com saudades de você. – Alex falou.
- É! Você não apareceu em nenhum jogo essa temporada. – Trezeguet falou.
- Você que pensa! – Ela falou, rindo. – Eu vi o 4x2 contra o Bari, 5x0 contra o Crotone e 4x0 contra o Piacenza, só jogaço. – Ela sorriu.
- Mesmo? Eu não te vi. – Falei um tanto rápido e ela sorriu.
- Às vezes é preciso ficar só como espectadora. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Mas senta aí, fica um pouco. – Alex falou.
- Melhor não, gente. – Ela disse, pressionando os lábios.
- Eu não quero me meter, mas já faz um ano, gente. – Alex falou e desviou o olhar para ele. – Vocês vão precisar conviver de um jeito ou de outro.
- Senta, . – Falei. – Por favor. – Ela olhou para mim e podia ver sua mente trabalhando. – Pelos velhos tempos. – Ela suspirou e sua bolsa foi a primeira coisa a ir para o chão e ela se sentou entre Trezeguet e Alex.
- Só espero que não rolem as mesmas zoeiras que nos velhos tempos. Vocês judiavam de mim. – Ela disse, nos fazendo rir.
- Ah, que isso! – Trezeguet falou, passando o braço pelos ombros dela e puxando-a para perto dele e bagunçando seus cabelos.
- Ah, David! – Ela reclamou, nos fazendo rir. – Era disso que eu estava falando.
- Eu sei. – Ele disse, soltando-a e ela passou as mãos nos cabelos, ajeitando-os novamente.
- Sobre o que era o papo?
- Estamos com fome. – Fui o primeiro a falar e ela riu fracamente.
- Você está sempre com fome, mas dessa vez eu concordo. – Ela falou. – Almocei meio-dia, já podia ter me alimentado umas duas vezes nesse meio tempo. – Gargalhamos.
- Será que a gente pode pedir delivery aqui? – Mauro perguntou.
- Não sei se poderemos ficar aqui até mais tarde, mas pode. A gente vive pedindo na contabilidade quando ficamos até mais tarde. – falou.
- Mesmo? – Chiellini perguntou.
- Ficar fazendo conta até oito ou nove horas da noite, dá fome. – Abri um sorriso, vendo-a retribuir.
- O máximo que podem fazer é nos expulsar, se isso acontecer, vamos para casa de alguém. – Pavel falou e todos nos entreolhamos, arqueando os ombros.
- Por que não? – Fui o primeiro a falar e tirou o celular da bolsa, mexendo nele rapidamente.
- Ok, as opções são pizza, lanche e qualquer tipo de massa. – Ela falou. – Ah, temos gelato também, doces, padaria e...
- Vocês trabalham ou comem? – Pavel perguntou.
- Saco vazio não para em pé. – Ela falou e Mauro puxou o celular de sua mão.
- Deixa eu ver isso... – Eles riram. – Eu topo uma pizza.
- Pizza! – Falei.
- Pizza! – Pavel falou, rindo.
- Então, acho que é pizza! – Mauro falou. – Que sabor?
- Sabores, né?! – falou. – Cada um capaz de comer uma pizza sozinho, vocês jogaram e eu estou aqui desde as oito.
- Pega umas básicas aí. – Falei. – Margherita, prosciutto, napolitana...
- Ah, napolitana não. – falou e eu ri.
- O preconceito é até com a pizza? – Perguntei.
- Vindo de Nápoles? Tudo! – Ela disse e eu sorri, negando com a cabeça.
- Ok, o que mais? – Mauro falou.
- Pode ser... – Todos começaram a falar juntos e pressionou os lábios com o barulho, gargalhando e eu neguei com a cabeça, sorrindo junto dela.





Continua...



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