Capitolo novantanove
- Ah, aqui estamos de novo. – Falei, suspirando quando saí do carro.
- Você adora uma Champions, não é mesmo? – Pavel disse, me fazendo rir.
- Odeio! – Falei firme, apertando as mãos no bolso. – Ainda mais nesse frio.
- Vai nevar, pode esperar! – Ele disse.
- Eu vou congelar.
- Ah, vai ser ótimo para ficar juntinho na cama, agarradinho. – David falou e revirei os olhos.
- Ele está apaixonado demais, não? – Pavel disse.
- É uma porcaria! – Falei firme. – Nunca pensei que ficaria com inveja do David. – Falei, vendo ele e Giulia virem abraçados.
- Posso te garantir que nós três temos uma ótima solução para você! – Giulia disse e revirei os olhos. – Ciao, Pavel.
- Ciao, Giulia! – Ele sorriu.
- Ah, eu topo, só informar a parte masculina da relação, mas ok... – Falei rindo, erguendo as mãos.
- Vem, vamos entrar! – Pavel disse, indicando a cabeça e fui junto dele. – Você recebeu meu e-mail?
- Que e-mail? – Franzi a testa, andando lado a lado com ele enquanto Treze e Giulia vinham juntos um pouco mais atrás.
- Do negócio da Netflix. – Ele disse.
- Ah, primeira parte lança na sexta! – Falei, acenando para a recepcionista.
- Então, pensei de juntar o pessoal para assistir juntos, sei lá... – Pavel deu de ombros. – Algum evento no hotel mesmo, sei lá.
- Beh, teria que ver com o pessoal se rola, são só três episódios, em três horas dá para ver...
- O jogo é só domingo, talvez o Allegri libere. – Pavel disse.
- É contra o Torino... – Ele ponderou com a cabeça.
- Talvez não! – Ele disse, me fazendo rir.
- É, vamos ver, eu topo, mas só se puder vinho e a lareira acesa. – Ele riu fracamente.
- Combinado... – Paramos perto do elevador.
- Eu logo encontro vocês. – Falei para o casal amorzinho.
- Guardamos seu lugar. – Giulia disse.
- Não precisa! – Falei e eles riram. Acenei para o segurança e entrei no elevador junto de Pavel.
- Difícil aguentar o casalzinho? – Pavel perguntou.
- Ah, nem é tanto. – Neguei com a cabeça. – É só que é engraçado, sabe? – Ri fracamente. – A Giulia nunca falou dessas coisas, sabe? Ela nunca teve um namorado na faculdade, nunca falava de ninguém quando morou em Roma, e eu sempre tive minha história com o Gigi. Agora ela volta com uma criança, dá uma chance para o Treze que já está olhando para ela desde quando voltou e eles estão vendo casa juntos... – Ri fracamente. – Confesso que sinto um pouco de inveja.
- Por quê? – Ele perguntou quando a porta se abriu novamente.
- Um relacionamento simples? Fácil? Rápido? Eu ia adorar. – Suspirei.
- Mas ele também teve que esperar por ela. – Ele disse.
- Dois, três anos, não 17! – Ele fez uma careta.
- Eu vou ficar quieto! – Ele disse, andando ao meu lado.
- Chefa? – Franzi o olhar e virei para trás.
- Ah, Fer? – Sorri ao ver Fernando Llorente ali e ele abriu seu lindo sorriso para mim. – Ah, que saudades!
- Como é bom te ver! – Ele disse, me abraçando e ri fracamente, passando os braços pelos seus ombros e ele me apertou fortemente.
- Nem fala, chefa! Que saudades suas! – Sorri, sentindo-o me movimentar lado a lado.
- E como você está? – Afastei dele, vendo seu sorriso. – Ah, que saudades desse sorriso! – Ele riu fracamente.
- Ah, está tudo bem. – Ele sorriu.
- Eu não sabia que estava no Tottenham. – Apertei seu braço.
- Primeira temporada. – Ele disse. – Fui para o Sevilla, fiquei um ano, depois para o Swansea City, mais um, agora estou aqui...
- Você não consegue ficar parado, né?! – Ri fracamente.
- As temporadas não são como a gente espera! – Ele disse, ponderando com a cabeça. – Lesões, outros protagonistas...
- E a Maria? – Perguntei.
- Ela está bem, sente muita falta daqui. Diz que nenhum lugar é como aqui. – Sorrio.
- É claro que não é! – Falei, ouvindo-o rir. – E seu filho?
- Está enorme, chegando na pré-adolescência, só loucura. – Rimos juntos.
- Não tiveram outro?
- Não, acabou que não, mas vamos ver. – Sorri. – E você?
- Ah... – Bufei, negando com a cabeça. – Exatamente na mesma.
- Ah, não creio! – Ele disse.
- Estou falando sério! – Neguei com a cabeça. – Mas faz parte...
- Não, não faz, vou puxar a orelha dele... – Ele disse e segurei-o, rindo com ele.
- Por favor, não! – Ri. – Muita coisa mudou desde lá... – Suspirei.
- Não acho que mudou, não. – Rimos juntos.
- Fer... – Um do staff do Tottenham o chamou.
- Vai lá, preciso dar um olá para o pessoal! – Falei. – Se cuida, ok?!
- Você também! – Ele sorriu e me abraçou novamente.
- Foi muito bom te ver, sério! – Suspirei.
- Nem fala, chefa! – Ri fracamente.
- Vai me chamar assim até quando?
- De chefa? Para sempre! – Ele disse, dando um beijo em minha bochecha e sorri.
- Se cuida! – Falei e ele assentiu com a cabeça, acenando antes de seguir pelo túnel.
- Ah, Llorente! – Virei o rosto, vendo Gigi e Chiello ali.
- Ciao, ragazzi! – Sorri.
- Fala, chefa! – Chiello disse.
- Estava com saudades dele! – Sorri. – Fazia tempo que eu não o via.
- Fiquei surpreso também ao vê-lo aqui. – Gigi disse. – O que está fazendo aqui?
- Bom te ver também. – Falei e ele riu fracamente.
- É sempre bom te ver, null. – Ele sorriu. – É só surpresa te ver constantemente aqui.
- Vim desejar boa sorte, mas acho que fiquei conversando bastante com o Fer. – Falei, rindo em seguida.
- Ele foi falar com a gente. – Chiello disse. – Bom vê-lo.
- Sim, ótimo. – Sorri. – Só não acho que ele esteja bem. – Suspirei. – Três clubes em três anos...
- É, talvez... – Gigi disse.
- Ele continua bonitão! – Rimos juntos com Chiello.
- Ao menos isso, né?! – Dei de ombros. – Beh, ragazzi, in bocca al lupo. Façam isso por vocês, ok?!
- Sempre, chefa! – Chiello disse, me abraçando rapidamente.
- Faça seu melhor. – Falei e Gigi assentiu com a cabeça.
- Sempre. – Ele sorriu. – Quem sabe dê certo na última? – Ele disse rindo.
- Eu não vejo graça nisso. – Falei e ele riu fracamente, segurando meu rosto com as mãos e estalando um beijo em minha testa, me assustando com a aproximação.
- Eu vejo! – Ele disse sorrindo, se afastando. – Até mais.
- Até... – Suspirei, negando com a cabeça. – Ei! – Chamei-o de volta.
- O quê? – Ele se virou.
- Cadê Barza?
- Fadiga muscular! – Ele disse, fazendo careta. – Sentiu ontem.
- Ah, cazzo! – Suspirei e ele se virou.
- Chefa! – Benatia passou por mim.
- Ciao, ciao! – Sorri, abraçando-o rapidamente, depois DeSciglio. – Bom jogo!
- Grazie! – Eles sorriram e abracei Higuaín, depois Mario, seguido de Fede, então Alex, Pjanic, Sami e finalizou com Douglas, nossa escalação de hoje.
- Chefa! – Senti uma mão na base das minhas costas e virei para Marchisio, Lich e Asa.
- Ciao, ragazzi! – Abracei um a um, apertando Asa pelos ombros por fim. – Bom vê-los.
- Bom te ver também! – Eles disseram sorrindo. – Saudades de vocês.
- Também estava... Tek! – Acenei para o goleiro, vendo-o sorrir e fiz o mesmo com Ruga, Sturaro e Bentancur.
- Andiamo, null! – Allegri passou apressado como sempre.
- Andiamo, Max! – Falei, ouvindo-o rir. – Até mais, ragazzi.
- Ciao, chefa! – Eles disseram e acenei.
Esperei-os seguirem pelo túnel e depois encontrei com Pavel, Agnelli, Beppe e Paratici, cumprimentando os outros três que eu não havia visto ainda. Seguimos até o camarote, fazendo aquela rotina de sempre ao encontrar as pessoas, até conseguir finalmente entrar no camarote.
Chegando lá, a mesma coisa, Allegra, os Agnelli, os Elkann, cumprimentei um por um, parando por mais tempo com Allegra e John, até que o hino da Champions me distraiu e foi minha deixa para seguir até meu lugar com Giulia e David.
- Finalmente! – Giulia disse.
- Encontrei o Llorente lá embaixo, fiquei papeando. – Falei, rindo fracamente e eles sorriram.
- Chefa! – Desviei meu olhar, vendo Dybala um pouco mais à direita e acenei para ele.
- Achei que já tinha voltado! – Falei.
- Allegri está sendo cauteloso. – Ele disse.
- Espero que não precisemos de você! – Ele sorriu.
Como sempre, a torcida fazia lindos mosaicos em jogos de Champions, na frente eles montaram a palavra “Together”, e à direita, na Curva Sud, eles abriram um banner escrito “Crediamoci” que queria dizer “nós acreditamos”.
O jogo começou muito bom para nós, em menos de dois minutos de jogo, Pipita abriu o placar após a defesa do Tottenham dormir e deixar o espaço livre para ele. Aos oito minutos, Davies derrubou Fede dentro da área, o que deu um pênalti para gente. Higuaín cobrou lindamente, Lloris até chegou a tocar na bola, mas entrou.
Aos 26 minutos, Gigi fez uma defesa crucial, à queima-roupa, e conseguiu manter a vantagem. Aos 30 minutos também. Aos 34, ele não teve a mesma chance. O grande Harry Kane chegou sozinho, driblou nossa defesa e fez um gol bonito. Aos 45, antes do intervalo, Douglas levou um carrinho, dando mais um pênalti para gente, mas dessa vez Pipita não teve a mesma sorte, fiquei perdida se a bola foi no travessão ou se Lloris a defendeu, mas fomos para o intervalo com 2x1.
Na volta, o jogo perdeu um pouco o ritmo, Fede foi ter a primeira chance aos 57 minutos, mas Lloris defendeu. Confesso que trazê-lo para Juve foi metade pela ligação com a Manu e metade pelo seu talento, mas ele fazia jogadas sensacionais, tinha um posicionamento incrível, lapidado, teria um grande futuro aqui.
Aos 69, só para variar, uma cena da raiva de Mario, após a bola sair pela lateral, ele e Pjanic ficavam decidindo quem batia e o jogador do Tottenham acabou ficando no meio do caminho, quase levando uma bola na cara de Mario, mas nada de novo aí.
Aos 70 minutos, Chiello fez uma falta em Dele Ali, ou Ali fez uma falta em Chiello, ainda não tinha tanta certeza. Eriksen bateu e a bola passou rasteira por baixo da barreira. Gigi até chegou a tocar na bola, mas pela força, ela acabou quicando e foi para cima, dando o empate a eles.
Os últimos minutos foram de domínio nosso, mas a defesa do Tottenham havia aprendido, então só restou para nós esperar pelo jogo de volta em Londres e rezar para que conseguíssemos passar, porque nossa vantagem havia caído por terra, então em Londres valia tudo.
Só tinha um pequeno problema! Nunca ganhamos em Londres em jogos oficiais. As chances não eram tão boas para gente! Na verdade, eram péssimas!
- É impressão minha ou está ficando mais pesada? – Franzi os olhos ao olhar para cima.
- Está... – Pinso disse, subindo o cachecol até a boca.
- Cazzo! Acabaram de limpar o campo. – Bufei, chutando a bola com força e ela andou nem um metro, parando em seguida.
- Não dá, Gigi! – Filippi disse e joguei a bola em minha mão para Tek, andando em direção a Filippi. – A bola não rola.
- Não tem como jogar assim. – Falei, dando de ombros.
- É o que o pessoal está falando ali! – Ele indicou para a beirada do campo e vi o top cinco conversando com Allegri, além da equipe do Atalanta.
Na verdade, podia ser o top cinco, mas todos estavam com casacos pretos, cachecóis cobrindo os lábios e os cabelos brancos devido a neve acumulada que caía com força, então não dava para definir muito o rosto. Eu só conseguia ver os olhos de null para fora, além das pernas inquietas que não paravam de se mexer.
- Eu vou lá! – Falei, seguindo em direção e eles. – Leva o pessoal para dentro! – Falei alto e ele assentiu com a cabeça, seguindo falar com o assistente de Allegri.
- Eu não vejo uma forma. – Allegri disse.
- O problema é que o estádio está cheio. – A voz de null saiu abafada, mas foi óbvio ser ela.
- Para quando vai poder fazer isso? – Agnelli disse.
- Não depende da gente, tem que entrar com pedido da FIGC. – Pavel disse.
- Ciao, ragazzi.
- Ciao, Gigi! – Eles falaram juntos.
- Já decidiram o que vão fazer? – Perguntei, passando as mãos no gorro de null, sacudindo a neve.
- Acho que a decisão final precisa ser sua. – Beppe disse. – Sua e do capitão da Atalanta.
- Não tem como, a bola não rola. – Falei, cruzando os braços. – Além da baixa visibilidade...
- E alguém pode ficar realmente doente se ficar aqui. – null disse, ajeitando o cachecol em sua boca e o gorro em suas orelhas. – Pelo amor de Deus, coloca um casaco! – Ela pediu.
- Eu vou falar com o árbitro. – Disse, entrando pelo túnel.
- Gigi! – Toloi, capitão da Atalanta, já estava ali. – Estávamos conversando sobre o jogo...
- A neve está mais forte, não? – O árbitro falou.
- Sim, bastante. – Um dos assistentes me entregou um casaco e eu o vesti, fechando-o até em cima. – Grazie.
- O que vocês acham? – O árbitro perguntou.
- Acho que a decisão precisa ser do senhor. – Falei e ele indicou com a cabeça, seguindo para fora e eu e Toloi fomos com ele.
Segui para fora novamente e a neve não dava trégua mesmo. Os espaços verdes que haviam sido limpos pouco antes de chegarmos ao estádio, já estavam brancos novamente e era possível sentir a chuteira afundando no gelo um pouco mais fundo do que só o superficial. As travas das chuteiras afundavam de forma fofa demais.
- Não acho que vá funcionar. – Toloi falou. – Além da pouca visibilidade, podemos nos machucar. – Ele disse, batendo os pés na neve.
- Minha única preocupação é essa, além da torcida, dá para sentir a temperatura cair. – Falei, erguendo o olhar, sentindo a fumaça da fala se dissipar rapidamente. – Temos jogos importantes em vista.
- Nós também. – Toloi disse e nos entreolhamos.
- Eu vou checar com a Federazione. – Ele disse e suspirei, abraçando Toloi de lado.
- Vai dar muito certo, né?! – Falei rindo.
- Ele vai adiar, não tem como... Simplesmente, não tem como. – Toloi disse rindo.
- Já aconteceu algo assim em um jogo nosso, mas estávamos jogando já. – Falei. – Aqui ao menos começou antes, mas a torcida...
- Nem fala, tenho um dó! – Ele disse e suspirei, dando uma olhada em volta nas arquibancadas cheias.
- Beh, vamos esperar mais um pouco para competir. – Falei rindo.
- Temos Coppa Italia na quarta-feira! – Ele disse e ri fracamente.
- È vero! – Sorri. – Espero que esteja melhor.
- Está nevando muito aqui? – Ele perguntou.
- Desde quinta-feira, mas assim só hoje. – Suspirei, esfregando minhas mãos.
- É, talvez não dê para fazer isso... – Ele riu.
- Beh, ragazzi, vamos adiar... – O árbitro voltou. – A Federazione vai passar uma nova data em breve.
- Perfeito, grazie. – Cumprimentei-o e ele assentiu com a cabeça, cumprimentando Toloi também.
- Grazie! – Toloi disse, seguindo comigo.
- Nos vemos de novo em alguns dias. – Ele disse e o cumprimentei.
- Até! – Abracei-o rapidamente, dando dois tapas em suas costas. – Se cuida!
- Você também, manda esse frio embora antes de a gente voltar! – Ele disse, me fazendo rir.
- Vamos tentar! – Sorri.
Ele seguiu de volta para o túnel e dei uma olhada para as arquibancadas lotadas e acenei para os torcedores. Alguém precisava vir avisar agora que o jogo havia sido cancelado. Suspirei ao ver null ainda na entrada do túnel e sorri, me aproximando dela.
- Milagre você estar aqui tão antes do jogo. – Falei e ela sorriu.
- Estamos em alerta desde o começo da noite. – Ela disse, passando os braços pelo meu corpo e sorri, puxando-a para perto de mim. – Estou com muito frio, desculpa.
- Eu não me importo, você sabe. – Falei, esfregando suas costas, sentindo as diversas camadas de casaco. – Com quantas roupas você está?
- Umas quatro ou cinco. – Ela disse, me fazendo rir enquanto andávamos lado a lado pelo túnel.
- Como você está viva?
- Não estou! – Ela disse rindo e passei outro braço pelo seu corpo, apertando-a mais perto de mim.
- Você deveria ficar em casa. – Falei.
- E você acha que eu não quis? – Ela disse rindo. – Posso morar há quase 20 anos em Turim, mas meu coração ainda é sulista! É quente, gosta de praia... – Sorri. – Mas adivinha quem vai ter que combinar essa alteração com a FIGC?
- Você, obviamente. – Segui para dentro do vestiário e nos separamos para passar.
- Ah, aqui está gostoso! – Ela suspirou com a diferença de temperatura, me fazendo sorrir.
- Não tinha tanta diferença em Parma, mas aqui neva mais. – Falei.
- Eu odeio neve! – Ela disse firme. – Odeio! – Ela repetiu.
- Logo vai embora, estamos chegando no meio do ano... – Segui para dentro
- Parece que nunca mais vai fazer calor... – Rimos juntos.
- Vai sim, você logo vai estar com as pernas de fora. – Pisquei e ela fez uma careta, me empurrando para dentro. – Aqui alguém com mais frio que você. – Indiquei Barza e ela riu fracamente.
- Eu sou do Sul! – Ele falou firme, me fazendo rir.
- Estamos juntos, Barza! – null disse, puxando a touca de sua cabeça, liberando os cabelos null nos ombros.
- Vão cancelar o jogo? – Paulo perguntou.
- Sim! Vão. – Falei, sentando em meu espaço.
- Vai adiar para quando? – Mario perguntou.
- Agora eu vou entrar com pedido para FIGC, tudo vai depender do jogo de vocês na Champions agora. – Falei.
- A gente passa, depois a gente resolve. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Beh, eu não sei vocês, mas estou animado que eu vou para casa! – Max falou dramático e rimos juntos.
- Eu não teria tanta pressa. – Angela disse. – Todo mundo saindo do jogo junto, a neve ainda está forte, trânsito infernal.... Todo mundo vai ficar aqui até isso melhorar. – Ela disse firme.
- Beh, se eu vou ter que ficar presa aqui... – null atravessou o vestiário. – Uma maca é minha.
- EU QUERO TAMBÉM! – Dybala saiu correndo atrás delas e outros quatro ou cinco correram atrás dela e inclinei a cabeça para a porta da fisioterapia, rindo ao ver o pessoal pular nas macas e caindo no chão.
- É, a noite vai ser longa. – Marchisio falou.
- Aposto que se a Manu estivesse aqui, ela já pediria uma pizza e resolveria nossos problemas. – Allegri disse alto.
- Eles não prestam para nada! – Angela disse.
- A Manu é... – Fede falou e ri fracamente.
- É, Fede! É! – Sorri, vendo-o coçar a nuca envergonhado.
- EU VOU LIGAR PARA ELA! – Paulo gritou.
- Ah, vai ser ótimo! – Falei, rindo fracamente.
- Ele não faria isso, faria? – Fede perguntou.
- Faria. Faria sim! – Mario disse. – Deve estar fazendo agora mesmo por sinal. – Ri fracamente.
- FEDE, VEM DAR OI PARA SUA NAMORADA.
- CALA A BOCA, PAULO! – A voz da null se sobressaiu, mais alta que a de Paulo e Fede parecia procurar algum lugar para se esconder.
- Ei, Fede! – Barza gritou, fazendo o mais novo olhar. – Sabe a intimidade?
- Uhum...
- Depois disso, é para sempre! – Ele disse, virando para mim e rimos juntos.
- Não adianta ser para sempre se ela não está aqui! – Ele disse.
- Dai, Berna! – Mario e Claudio gritaram, me fazendo rir.
- Não, mas o Paulo é amigo da Manu até hoje. Quem sabe ela não volte um dia? – Barza disse, se levantando. – Eu vou falar com ela.
- Eu já estou indo! – Falei, rindo fracamente, vendo-o sumir pela porta do fundo. – Por que não fala com ela? – Perguntei para Fede.
- Acho que não seria legal ter meu primeiro encontro com ela por uma chamada de vídeo. Acho que já está platônico o suficiente, não acha? – Ele disse e ri fracamente.
- Beh, quando quiser... Quase todo mundo tem o número dela aqui. – Me levantei rindo.
- Pode deixar! – Ele sorriu, mas seu rosto avermelhado denunciava que a brincadeira mais uma vez havia atingindo-o... Mesmo depois de dois anos.
Ouvi um barulho chato e conhecido começar a tocar e puxei uma das várias almofadas para cima de minha cabeça. Ah, qual é! É domingo! Tentei ignorar o toque, mas ele só continuava e pareceu que ficou mais alto depois que abafei o som. Bufei, jogando a almofada para o espaço vazio na minha cama e entreabri os olhos, tateando a mesa de cabeceira até entrar o aparelho. O nome não ficou legível, mas ao menos consegui deslizar o dedo e atendê-lo.
- Alô? – Falei baixo, coçando o rosto.
- Alô, null? – Franzi o rosto ao não reconhecer a voz.
- Quem é? – Perguntei, esfregando os olhos com aas costas da mão.
- Aqui é Virgina, RP da Juventus, estou ligando a pedido da Angela.
- Ah, oi, Virginia, tudo bem? – Suspirei e senti meu olhar se acostumar com a pouca claridade que entrava da janela.
- Te acordei, não foi? Me desculpe, mas é uma emergência...
- Ah, não, tudo bem, pode falar. – Me sentei na cama, deixando as cobertas caírem para minha perna.
- A Angela conseguiu me mandar uma mensagem no voo perguntando se você pode ir até Vinovo dar uma notícia ao time que está chegando de Roma...
- Eu? Por que eu? O que está acontecendo? – Perguntei, jogando os cabelos para trás.
- Você conhece o jogador Davide Astori? – Ela perguntou.
- Sim, sim! Fiorentina, Nazionale... Ele é bastante amigo do Gigi, Barza, Chiello. – Suspirei. – O que tem?
- Beh, então... – Ela soltou um longo suspiro.
- O que foi, Virginia? – Perguntei e ela suspirou.
- Ele morreu.
- O QUÊ? – Meus olhos se arregalaram e pulei da cama. – COMO ASSIM?
- Ele morreu, null! – Ela disse, suspirando. – Não sabem muito o que aconteceu, mas ele só não acordou pela manhã... Está em todos os jornais e... – Corri para a televisão na cômoda, apertando o botão.
- E os jogadores não sabem? – Perguntei rápido.
- Acho que não, Angela disse que ia tentar bloquear o Wi-Fi do avião e do ônibus, mas eles podem procurar por si só... – Suspirei.
- E ela quer que eu fale? – Perguntei, mudando de canal, encontrando a RAI, vendo a foto de Astori estampada no fundo do jornal e os dizerem “jogador da Fiorentina morre misteriosamente aos 31 anos”. – Che cazzo!
- Você tem mais amizade com os italianos, ela disse que pode ser uma boa... – Suspirei.
- Sabe onde eles estão? – Perguntei, andando até closet.
- O voo é previso para chegar as dez... – Suspirei, pegando uma calça e um moletom.
- Ok, eu vou me trocar e vou para Vinovo, não sei se é possível, mas tenta fazer com que isso chegue com calma neles, caso eles vejam as redes sociais, sei lá... – Suspirei.
- Vou tentar, null. – Ela disse.
- Obrigada por me avisar. – Falei antes de desligar o telefone.
Fiquei alguns segundos tentando assimilar a notícia enquanto as cenas de Astori passavam na televisão. Como assim Astori havia morrido? Ele é um jogador, check-up frequentemente, ele simplesmente não podia morrer assim! Eu tive poucos encontros com ele pessoalmente, mas sempre disseram muito dele que ele era um jogador incrível e um ótimo amigo. Só conseguia imaginar no pessoal, como eles ficariam com isso? Era impossível não ficar desnorteada com uma notícia dessas.
Troquei o pijama por uma calça e um camiseta, além de colocar o moletom por cima e escovei os dentes rapidamente antes de sair. Cheguei em cinco minutos em Vinovo e o ônibus não havia chego ainda. Chequei o celular e o relógio, mas os portões denunciaram a chegada do ônibus.
Eu não fazia a mínima ideia do que falar, eu não havia conseguido nem chorar, eu estava em completo choque. Um jogador não morre assim, são feitos exames e mais exames, a gente faz isso aqui no time, e Astori não era do tipo que usava drogas, ele era o tipo de capitão exemplar. Não fazia sentido! Era uma mistura de raiva com angústia.
- Ei, chefa! – Asa foi o primeiro a sair do ônibus.
- Que surpresa te ver aqui! – Allegri disse.
- Ciao, ragazzi. Buongiorno. – Falei, vendo eles descerem um a um.
- Surpresa mesmo! – Gigi disse, seguindo em minha direção e apoiou a mão em minha cintura antes de dar dois beijos.
- Caiu da cama, foi? – Paulo perguntou e ri fracamente.
- Cadê a Angela?
- Estou aqui! – Ela disse, acenando das escadas. – Recebeu minha mensagem? – Ela perguntou, se aproximando de mim.
- Recebi sim, Virginia me ligou. – Suspirei. – Eles? – Perguntei baixo.
- Acho que não viram, ninguém comentou nada. – Ela negou com a cabeça e suspirei.
- Esperava me livrar disso...
- Scusi, null, eu só me desesperei. Alguém precisava falar isso e...
- Ciao, ragazzi! A domani! – Marchisio falou.
- ESPERA AÍ! – Angela gritou, me assustando. – Ninguém se mexe. – Os jogadores que pegavam suas malas pararam surpresos.
- Calma, irritada! – Barza brincou.
- Eu quero... Falar com vocês! – Falei, sentindo minha garganta prender.
- Ah, então você está aqui por um motivo! – Pavel disse.
- É, eu não estava animada para sair da minha cama tão cedo. – Suspirei, cobrindo minha boca com um bocejo.
- O que foi, chefa? – Lich perguntou e suspirei, olhando para Gigi, Barza, Chiello, Claudio, Ruga, DeSciglio... Fede.
- Droga... – Engoli em seco lembrando que ele veio da Fiorentina.
- O que foi, null? – Gigi perguntou e suspirei.
- Isso não é fácil para eu dizer para vocês, nem gostaria de ser a responsável por dar essa notícia para vocês, mas como eu sou bem mais próxima dos italianos, a Angela achou que vocês poderiam ter uma recepção melhor comigo. – Engoli em seco. – Mas eu acho que não vai fazer diferença nenhuma. – Suspirei.
- O que foi? – Chiello perguntou.
- Isso é mais, talvez, relevante, para os italianos, mas é importante para o futebol no geral... – Senti as lágrimas finalmente aparecerem e passei os dedos embaixo do mesmo. – Hum... – Suspirei, desviando meu olhar de Fede. – Essa manhã, um jogador italiano estava se preparando para jogar a rodada do seu time... – Suspirei. – Mas ele não... – Engoli em seco, travando no meio da frase.
- Ele não acordou. – Angela disse, me fazendo relaxar e as lágrimas deslizarem os olhos com mais força.
- O quê? Como assim? – Ouvi algumas vozes.
- Ele morreu. – Falei baixo, erguendo o olhar.
- Quem é esse jogador? – Gigi perguntou firme e olhei para ele, negando com a cabeça, sentindo a respiração sair pesada e as lágrimas começaram e desfocarem seus olhos. – QUEM É? – Ele perguntou mais alto.
- As... – Suspirei, levando a mão à boca. – Astori.
- O QUÊ? – Eles gritaram e um baque me fez virar o rosto.
- FEDE! – Dybala conseguiu segurá-lo pela blusa, aliviando a queda. – Fede, acorda, cara! Acorda! – Ele começou a bater no rosto dele e os médicos seguiram em sua direção.
- Você está brincando, não é?! – Gigi, Chiello e Barza se aproximaram e eu neguei com a cabeça.
- Não... – Passei as mãos nos olhos, sentindo-os molhados. – Ele não acordou... – Minha voz saía falhada junto das lágrimas que se acumulavam em meu queixo.
- Não. Isso não pode ser verdade. Não, não! – Chiello dizia rapidamente e abracei os três fortemente. – O Davide não. Não!
- Está ok... Está ok... – Barza falou baixo. – Tudo vai ficar bem. – Ele dizia repetidamente.
- Co-como? – Gigi perguntou baixo e vi seu rosto avermelhado próximo ao meu e neguei com a cabeça. Independente ao que ele se referia, eu não tinha resposta para isso.
- Fede! – Me afastei do abraço, vendo Fede voltando a luz, piscando um pouco desnorteado ainda.
- Voltou! – Paulo disse. – Está tudo bem, cara? – Ele perguntou.
- Diga que é mentira... – Ele falou baixo e me aproximei. – O Davide não... O Davide... – Me abaixei ao seu lado, ajoelhando no chão e passei a mão em seu rosto. – Diz que é mentira... – Ele olhou fundo em meus olhos.
- Eu não posso. – Neguei com a cabeça e ele apertou a mão em meu braço antes de eu puxá-lo para mim em um abraço.
- Nã-não... Não! Não! – Ele falava repetidamente e fechei os olhos, sentindo meu coração se partir em diversos pedaços. Eles eram próximos, isso é óbvio, só ver a forma que ele e o Davide se cumprimentam quando Juventus enfrenta a Fiorentina. Eles deveriam ter uma reação quase o Barza e o Dybala têm.
- Vai ficar tudo bem, Fede! – Falei baixo. – Sinto muito...
- Não! Não! – Ele dizia e seu tom aumentava, demonstrando mais raiva do que tristeza.
- A gente está aqui por você, cara! – Paulo disse, abraçando Fede também e suspirei, me afastando devagar do italiano mais novo. – Estamos contigo...
- null... – Senti uma mão em meu ombro e virei o rosto para cima, vendo Pavel e ele me ajudou a levantar enquanto Barza, Mario e Paulo tentavam consolar Fede. – Há quanto tempo você sabe? – Ele perguntou baixo.
- Acordei com a Virginia me ligando. – Suspirei. – Angela conseguiu avisá-la. – Falei no mesmo tom.
- Quanto você sabe? – Beppe perguntou.
- Não mais do que isso... – Gigi se aproximou também com os olhos vermelhos e passei a mão em seu braço, apertando-o de lado. – Eles estavam em Udine que tinha um jogo hoje, ele não levantou, foram no quarto e parecia que ele estava dormindo... – Puxei a respiração.
- Foi no sono. – Gigi disse e assenti com a cabeça, dando um curto beijo em sua bochecha.
- O que será que foi? – Pavel disse.
- Overdose? – Paratici disse.
- Davide não era disso. – Gigi disse.
- As opções são várias, mas uma mais improvável do que a outra. – Suspirei.
- Como assim? – Gigi virou para mim.
- Vocês vivem fazendo testes médicos, Gigi. – Virei para ele, vendo as lágrimas deslizando de seus olhos. – Se foi alguma condição pré-existente, duvido que apareceu ontem. – Suspirei.
- É estranho mesmo. – Pavel disse, suspirando.
- Quanto eles eram próximos? – Indiquei Fede no chão.
- Bastante. – Gigi suspirou. – No começo ele vivia citando “Davide isso, Davide aquilo”, nas convocações eles estão sempre juntos... Já está difícil para mim, não quero nem imaginar como está para ele.
- Se precisar de alguma coisa... – Apertei seu braço, dando um rápido beijo em sua bochecha.
- Hum... – Ele gemeu.
- O que? – Perguntei e ele movimentou o braço esquerdo.
- Dei um encontrão no jogo de ontem, está meio dolorido ainda. – Ele suspirou.
- Vai fazer exame, precisamos de você. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça. – Mas tira um tempo, está bem?
- Não sei se teremos tempo para isso... – Ele suspirou.
- Eu não ligo, isso é mais importante. – Falei firme.
- Alguma novidade sobre funeral? – Chiello se aproximou novamente.
- Ainda não, acabou de ser, talvez vocês consigam mais informação com a família dele, já que eram mais próximos. – Falei e eles assentiram com a cabeça. – Contem comigo, está bem? Todos vocês. – Falei, olhando firme para os dois.
- Grazie, null. – Chiello disse e acariciei seu rosto, dando um beijo em sua bochecha, e virei para Allegri.
- Sei que temos jogo importante de Champions, mas você consegue dar um tempo para eles? – Ouvi Pavel falar baixo para o técnico e ele assentiu com a cabeça.
- Dá para dar amanhã. Voltamos na terça. – Ele suspirou. – Mas precisamos do Gigi, Barza, Chiello...
- A gente faz dar certo, Max. – Gigi disse. – Não é a primeira vez que jogaremos após um baque e não vai ser a última. – Engoli em seco e olhei para ele, assentindo com a cabeça e virei meu olhar para Fede que ainda estava no chão acolhido por diversos jogadores que ele tinha mais contato, além de Ruga e DeSciglio que ainda pareciam um tanto chocados com a notícia que receberam.
Não era fácil, não seria fácil e não melhoraria com o tempo, você só começa a se preocupar com outras coisas além da sua tristeza. Eu sei disso, infelizmente. Preferia não saber.
Senti um braço passar pela minha cintura e virei o rosto para trás, vendo Gigi me abraçar e apoiar a cabeça em meu ombro e passei meu braço em cima do dele, sentindo-o colar a cabeça na minha. Acho que por hoje eu podia dar um desconto. Só hoje.
Fazia pouco menos de quatro horas que conseguimos passar o Tottenham e seguir para as quartas de final após um jogo incrível. Com a vantagem empatada, precisávamos fazer ao menos dois gols para acabar com os gols fora de casa deles, mas o primeiro gol foi deles, do sul-coreano Son que é um jogador incrível!
Com os nervos um pouco estremecidos, conseguimos abrir o placar aos 64 minutos com um gol de incrível Higuaín e, três minutos depois, Dybala se viu sozinho com Lloris e aumentou nossa vantagem. Os últimos 20, 25 minutos nos mantiveram bem alertas com as tentativas de Son, Eriksen e Kane, inclusive Chiello e Barza fizeram defesas cruciais e sensacionais na linha, mas conseguimos finalizar com o agregado de 4x3, derrubando a vantagem deles fora de casa, e passamos!
Pena que nossa alegria durou poucos minutos. A morte de Astori ainda estava em nossa mente e saber que o funeral seria no dia seguinte não melhorou muita coisa. Ainda não sabia dizer como eu consegui me manter alerta por 90 minutos. Eles tiveram tantas chances de gol que foi difícil focar nisso e desligar de Davide um pouco, mas como Giorgio disse, Davide nos ajudou com isso.
Peguei o celular em cima da cômoda, desbloqueando o mesmo e era 3:34 ainda, eu não tinha dormido nada. null estava tentando um jatinho para gente ir para Florença e acabou que ficou eu, ela, Barza e Chiello tentando resolver isso.
null estava dormindo ao meu lado com o celular na mão, Chiello estava sentado no chão com a cabeça apoiada na parede e as pernas esticadas no tapete e Barza havia juntado três almofadas e dormia de bruços no chão também. Eu fiquei com null na cama, mas só vi as horas passarem. Primeiro observei-a dormir, estava com saudades de tê-la próximo de mim, mesmo que fosse com roupas e apoiada no travesseiro e não em meu peito. Depois ocupei as outras horas no celular até a bateria acabar.
Um toque animado e discreto me fez desviar o olhar para null, e a tela do seu celular havia acendido em uma ligação. Inclinei meu corpo para pegar o mesmo, mas ela se mexeu no mesmo tempo, colocando o telefone na orelha após abafar o som.
- Alô? – Ela disse com a voz sonolenta. – Ah, oi, Greg! – Ela mudou a fala para inglês, se levantando. – Você conseguiu? – Ergui o olhar, vendo Chiello coçar os olhos. – Ótimo, ótimo! – Ela disse. – 12? Não, está ótimo! Isso, para Florença! – null passou a mão no cabelo. – Depois você pode levá-los de volta a Turim, por minha conta. – Apertei sua perna, chamando atenção.
- Eu vou pagar isso. – Falei e ela pediu para eu esperar.
- Pode mandar para o meu e-mail, eu resolvo assim que voltar para Turim. – Ela disse. – Obrigada mesmo, Greg. Você também. – Ela suspirou, abaixando o celular em seguida.
- Ele conseguiu? – Ouvi a voz de Barza e desviei o olho para ele que também levantava e coçava os olhos.
- Sim, um jatinho para 12 pessoas. – null disse, jogando o celular na cama e esticando os braços para cima, se espreguiçando. – Ele parte as cinco. – Ela suspirou.
- Eu vou pagar por isso, null. – Virei para ela que assentiu com a cabeça. – Isso não é trabalho do time, nem você.
- Nós podíamos fazer isso, Gigi. – Ela disse. – Em nome da Juve.
- Não, não, eu faço. – Suspirei, me levantando. – Eu vou falar com Claudio e Mattia que comentaram que queriam ir.
- Allegri e Pjanic também. – Barza disse, se levantando. – Ai!
- A idade está chegando, Barza? – null brincou e ele riu fracamente.
- Já chegou, null! E você se inclui nessa. – Ela sorriu.
- Você seis meses antes! – Ela disse rindo.
- Beh, eu vou checar com o pessoal se eles vão. – Chiello disse. – Seis, né?!
- É, no aeroporto dentro da cidade. – null disse.
- Que horas são? – Chiello perguntou e olhei o celular.
- Quinze para as quatro. – Falei.
- Ok, nós precisamos correr, então. – Chiello disse.
- Vamos para o quarto e nos encontramos em até 30 minutos no lobby. – Barza disse.
- null? – Ouvi dois toques na porta e a mesma olhou para gente e Chiello, o mais próximo da porta, foi abrí-la, revelando Claudio.
- Ei! – Ele disse.
- Vocês conseguiram? – Ele perguntou e tinha a mesma cara de sono que nós quatro.
- Sim, sai as cinco. Avise quem vai que logo vamos sair. – Falei.
- Eu só tenho uma preocupação... – Allegri entrou atrás dele. – Quem vai levar o pessoal para Turim?
- Eu vou! – null disse. – Eu e Angela cuidamos disso, não se preocupem.
- Você não vai? – Perguntei, virando para ela.
- Não tem nada a ver eu ir, Gigi. – Ela negou com a cabeça, jogando os cabelos para o lado. – Eu encontrei o Astori umas duas ou três vezes, no máximo. Eu faço minha reza em casa, já vocês precisam ir.
- Ruga também quer ir. – Allegri falou.
- Ok, eu preciso do nome e número de passaporte de todo mundo. – null pegou seu celular de novo, colocando no bolso de trás da sua calça e pegou seu casaco no pé da cama. – Acho que os documentos eu tenho no celular. – Ela vestiu o casaco, abotoando e amarrando na cintura em seguida.
- Ok, vamos ver. – Suspirei. – Eu, Chiello, Barza, Claudio, Max, Ruga, Mattia...
- Alessio. – Max falou o nome de seu assistente.
- Pjanic! – Claudio disse.
- Ok, nove. – null disse, pegando o celular e digitando algo rapidamente.
- É, acho que é isso. – Falei.
- Vamos, não podemos perder tempo. – Barza disse.
- Eu vou chamar o pessoal, encontramos vocês lá embaixo. – Chiello disse, também pegando seu casaco e vestindo-o antes de sair.
- Eu só preciso pegar minha mochila. – Falei, virando para minha mochila e pegando-a na poltrona.
Puxei minha blusa para cima e procurei a social do time, a melhor que eu tinha para um tipo de evento. Teria que servir. Passei a blusa pelos braços e virei para abotoar os botões um a um.
- Gigi... – Ergui o rosto, vendo null ali. – Eu ainda estou aqui.
- Ah, ei. – Falei rindo, finalizando de fechar os botões. – Desculpa.
- Está tudo bem... – Ela deixou um sorriso. – Eu vou passar as informações para o Greg... Se precisar de alguma coisa, eu estarei por aqui...
- É madrugada, null, descansa um pouco, temos jogos importantes pela frente... – Ela suspirou.
- Que venham as quartas de final. – Ela sorriu.
- Talvez seja aquela frase: tudo dá certo no final... – Ela suspirou.
- É, talvez... – Ela esticou a mão para mim e segurei-a. – Se cuida, ok?! Manda um beijo para o Fede, ele deve estar lá. – Assenti com a cabeça, puxando-a para mim.
- Me avisa quando chegar em Turim de novo, ok?! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Nosso voo só sai meio-dia. – Ela apoiou as mãos em meu peito e assenti com a cabeça.
- Não tem problema... – Falei baixo, subindo uma mão para acariciar seu rosto.
- A gente se vê no fim de semana, provavelmente. – Ela disse e assenti com a cabeça, sentindo sua respiração próximo de meu rosto.
- Eu vou falar contigo sobre o avião...
- Eu te encaminho o e-mail, se tiver dificuldade, sabe onde me encontrar... – Ela disse, com o olhar baixo em meu peito.
- Pode deixar. – Falei, acariciando-a com a ponta do polegar.
- Beh, eu tenho que ir, você também... – Ela se afastou devagar, me fazendo suspirar. – Nos vemos no fim de semana. – Assenti com a cabeça.
- É... – Ela deu um curto sorriso antes de se virar.
Observei-a dar um rápido aceno antes de puxar a porta e suspirei. Não podia pensar nisso agora, apesar de todo o apoio dela, eu iria enterrar um amigo agora e nunca pensei que fosse fazer isso antes dos 60 ou 70 anos, ainda mais alguém quase 10 anos mais novo do que eu. Era uma dor difícil de descrever, mas precisava me manter forte para passar por mais essa.
Capitolo cento
- Vocês precisam aproveitar essa chance! – Allegri falou firme. – Vão lá fora e façam acontecer! Só um ponto nos separa do Napoli, eles perderam, agora precisamos aproveitar e ganhar! – Ele bateu a mão na mesa.
- ANDIAMO, RAGAZZI! – Gigi gritou, batendo as mãos com força.
- Andiamo, ragazzi! – Os jogadores falaram com ele, fazendo o barulho ecoar alto pelo vestiário.
- Vamos! Vamos! – Alessio falou e desviei da saída do vestiário, vendo alguns jogadores passarem pela mesma com pressa.
- Eles precisam vencer... – Agnelli sussurrou.
- Eles vão vencer. – Falei, cruzando os braços. – Eles não podem perder essa oportunidade. – Suspirei.
- Vocês dois vão pela frente e a gente fica mais para trás. – Pjanic saiu com Paulo, Higuain e Mario.
- Eu e você podemos... – A voz de Mario sumiu para fora do vestiário.
- In bocca al lupo! – Pavel falou e suspirei, vendo Gigi, Chiello e Barza saírem logo e seguida.
- Dai, ragazzi. – Falei e eles sorriram.
- Vamos destruir o Napoli para você, chefa! – Barza disse, me fazendo rir.
- Beh, a Roma já fez isso, mas se certifique de que a Atalanta não consiga vencer. – Falei e eles riram.
- Nunca! – Gigi disse e sorri, vendo-os seguirem para fora.
Esperamos que todo mundo saísse do vestiário antes de subir de volta para o camarote. Hoje estávamos jogando contra o Atalanta, aquele jogo que havia sido cancelado por causa da nevasca que caiu na cidade há pouco mais de duas semanas. Apesar de já termos jogado outros dois jogos do campeonato, seria o jogo equivalente a rodada 26 que definiria se finalmente chegaríamos em primeiro lugar na tabela.
Após um gigantesco tropeço ontem para a Roma, Napoli, que estava em primeiro lugar na tabela, havia tropeçado contra a Roma por 4x2 após 11 jogos invictos. Isso os estagnou aos 69 pontos e hoje estávamos finalmente jogando contra o Atalanta e tínhamos grandes chances de vencer e passar para 71, ficando em primeiro lugar na tabela.
Era engraçado o que algumas semanas faziam de diferença. Quando viemos jogar inicialmente, Turim estava literalmente embaixo de neve. Eu não conseguia sair sem cavar meu carro - e eu odeio fazer isso -, além da quantidade enorme de roupas que eu colocava, pois eu não conseguia esquentar meus pés e, sem esquentar meus pés, eu não fazia nada. Mas hoje o dia estava uma delícia! Estou com uma cacharréu simples, uma calça skinny e minhas botas de cano alto.
Era um ótimo dia para vencer e ficar em primeiro lugar na tabela após 28 rodadas.
Deus! De pensar que a temporada já estava quase no final novamente. Tínhamos mais uma data FIFA, as quartas da Championas e, se tudo desse certo, a semi e uma possível final, mas depois de duas, isso não me assustava mais... Ok, não me assustava até a gente passar, mas a incerteza do que vai acontecer na próxima temporada me mata.
Ouvi muito Gigi falando em aposentadoria e isso me destruía um pouco, pois, mesmo a gente não ficando juntos, era uma ótima desculpa para vê-los ao menos a cada três ou quatro dias, agora seria ele em um canto e eu no outro. Era horrível!
Ele ainda diz que está ajeitando para ficarmos juntos, mas isso não funciona mais na minha cabeça. Ele estava sendo completamente injusto comigo e com meus sentimentos, e ter coragem o suficiente para pará-lo já me dava um pouco de esperança de que eu talvez conseguisse viver sem ele... Apesar de eu não saber como é isso há quase 17 anos e nem querer.
Cheguei no camarote e os ânimos estavam um pouco melhores do que domingo. Fizemos uma homenagem para Astori e até o céu chorava pela sua partida. Gigi e Barza ainda estavam bastante afetados por isso. Na verdade, acho que isso havia atingido o tempo inteiro. Logo após a morte, a autópsia foi feita e ele morreu de um simples ataque cardíaco.
Ataque cardíaco. Em um jogador de futebol. De 31 anos. São números estranhos para uma equação. Agora isso entraria em investigação, é claro. Tinha muita coisa incerta sobre tudo. Sobre nossos jogadores, tínhamos acompanhamento psicológico e Fede foi o primeiro a aceitar, ele já estava ruim pela lesão no joelho, agora isso. Era uma situação difícil de engolir para um garoto de 23 anos.
Ao descer pelos assentos, fiz minha tradicional passagem pela família Agnelli e Elkann antes de me aproximar de Giulia e David que estavam em uma das poltronas, além de Gianni que estava largado em duas poltronas, provavelmente guardando lugar para mim.
- Ciao, ragazzi. – Falei.
- Ei, null! – Eles falaram.
- Cadê Kawan? – Perguntei e Giulia apontou para frente, me fazendo olhar para frente e ri fracamente.
Kawan estava olhando por cima da bancada, com as mãozinhas apoiadas no mesmo e os pés na ponta. Era incrível como ele estava tão grande, fazia quase um ano que ele estava conosco, ele já estava com um ano e cinco meses e crescia cada vez mais por dia.
- Vou lá. – Falei, me aproximando dele e me abaixei ao seu lado. – Oi, sapeca. – Apoiei as mãos em sua cintura, dando um beijo em sua bochecha, ouvindo-o rir.
- null! – Ele disse embolado e sorri, apertando-o entre meus braços e me levantei com ele.
- O que você está aprontando? – Distribuí vários beijos em sua bochecha, ouvindo-o gargalhar.
- A-a-ah! – Ele disse rindo. – Pala!
- Eu paro, meu amor. – Virei-o para mim, ajeitando-o em meu braço.
- O que é? – Ele apontou para o lado e virei o rosto onde as torcidas organizadas tinham os vários banners e bandeiras como sempre.
- São as homenagens para o time. – Falei, abaixando o colete que ele usava. – Você gosta?
- Uhum. – Ele disse, envolvendo as mãos em meu cabelo. – A gente pode ir?
- Lá? Não dá, amor! O jogo vai começar. – Falei, virando o corpo para frente, vendo os jogadores entrarem em posição.
- Depois?
- Depois acho que dá! – Estalei um beijo em sua bochecha. – Madrinha vai ver o que faz.
- Eba! – Ele disse rindo, sacudindo os pés.
- Vamos para o nosso lugar ver o jogo? – Perguntei.
- Vamo! – Ele disse e virei de costas, voltando para meu lugar.
- O que você estava aprontando? – Giulia falou na voz de criança quando eu me sentei e ele riu fracamente.
- Vendo! – Ele disse, apontando para a Curva Sud novamente.
- Você quer ver o jogo? – Coloquei-o em meu colo e ele se equilibrou enquanto eu segurava-o pelas mãos.
- Quelo! – Ele disse e ri fracamente.
- Meu filho vai ser herdeiro de null, fala sério. – Giulia disse rindo.
- Ah, Giu! – Falei rindo. – A madrinha trabalha em um time de futebol, o padrinho é jogador, o padrasto trabalha no time... – Rimos juntos.
- Pai! – David disse e virei o rosto para ele.
- Hum, já está nessa? – Falei e Giulia ficou envergonhada.
- Ele o chamou de pai esses dias. – Giulia disse.
- Beh, é melhor chamar o David de pai do que o Fabrizio. – Eles riram
- Eu já falei para ela que eu topo tudo. – David disse.
- Ao menos alguém aceita tudo. – Suspirei, negando com a cabeça.
- Em breve você vai ter o seu, null, aguenta! – David disse.
- Eu vou te bater! – Falei, ouvindo-o rir. – Voltando ao assunto dos times, é só uma pena para Fabrizio, né?! – Ela sorriu. – Vai perder um granata, porque eu já ganhei um juventino. – Afinei a voz enquanto falava, ouvindo Kawan rir comigo.
- Em breve até meu pai vira juventino! – Gianni disse, nos fazendo rir.
- Beh, ele já aceitou vir na festa de Natal, quem sabe ele não aceita vir aos jogos que não sejam contra o Torino?
- Vocês subestimam o senhor Vitale, sério! – David disse, me fazendo rir.
- Acredite, a gente implica com ele há anos. – Giulia disse.
- Quer vir com o pai, amore? – David disse para Kawan, esticando as mãos para ele.
- Dinda! – Kawan disse e sorri para David.
- Há! – Falei, ouvindo David rir.
- Tudo bem, duas horinhas com a Dinda, até ela gritar o primeiro gol na orelha dele. – David disse e mostrei a língua para ele, ouvindo-o rir.
Até que eu demorei para gritar gol, o primeiro saiu somente aos 29 do primeiro tempo. Apesar de dominarmos o ataque, as chances de tiro ao gol eram escassas. Com Kawan brincando em meu colo, pulando e curioso com tudo, não me deixava acompanhar completamente, mas eu estava amando que esse pequeno já estava se apaixonando por futebol. Podia ser meu filho, né?!
Aos 79, eles ganharam um cartão vermelho após dois amarelos seguidos e isso nos deu uma vantagem que foi aproveitava dois minutos depois. Após uma jogada incrível de Dybala, Matuidi fez um gol linda e simples, pena que o jogador do Atalanta De Roon ofuscou isso, já que o cara se empolgou tanto para barrar nossos jogadores que acabou rasgando a blusa de Medhi inteira. A blusa literalmente ficou só a gola.
Após bastante estresse, com Chiello e Barza tentando acalmá-los, ambos levaram cartão, Medhi trocou de blusa, Allegri fez questão de dar mais uma xingada em Medhi para não piorar e levar um segundo amarelo pela reclamação e causar uma expulsão que poderia deixá-lo fora do jogo do Milan em duas semanas.
Após a passagem dos minutos restantes, o placar finalizou em 2x0 e estávamos oficialmente em primeiro lugar na tabela com dois pontos de diferença do Napoli. Precisávamos aproveitar isso ao máximo possível. Sem mais perdas e esperar que eles tropeçassem mais vezes.
Comparei o número da casa com a mensagem no telefone e suspirei, repassando as palavras em minha cabeça e, talvez, preparando a face para um tapa. É amiga da null, aposto que elas têm várias similaridades. Dei uma rápida olhada em volta e saí do carro, seguindo em direção à porta e toquei a campainha, respirando fundo. Não esperei mais do que alguns segundos para David abrir a porta.
- Ei! – Ele disse.
- Ei, Gigi! – Ele abriu espaço. – Entra, ela está aqui! – Ele disse e passei a porta de sua casa, entrando em sua casa. – Ela está na sala...
- Você disse que eu viria? – Perguntei, abrindo o casaco que eu usava.
- Não... – Ele disse, suspirando.
- Não teve coragem de contar? – Perguntei e ele bufou, passando a mão na cabeça.
- Beh, não é algo fácil que você está me pedindo, Gigi! – Ele seguiu atrás de mim.
- Achei que pudesse adiantar algo para mim... – Ele riu fracamente.
- Eu te dou todo o apoio do mundo nessa história toda, Gigi, mas eu não tenho coragem de falar isso para ela... Pelo menos não assim... – Suspirei.
- Ok... – Acenei com a cabeça. – Me deseje sorte.
- Toda do mundo, meu amigo. – Ele deu dois tapinhas em minhas costas e seguiu à minha frente.
- Mio desidero? – Ele entrou no quarto e sorri com o chamamento de “meu desejo”.
- Papá! – A voz fina de Kawan foi ouvida.
- Vem comigo, tem alguém que quer ver a mamãe! – Ele disse e entrei na sala.
- Quem? – Giulia falou e David se afastou, deixando que ela me visse. – Gigi?
- Ei, Giulia! – Dei um curto sorriso.
- Ei! – Ela mudava o olhar de mim para David confusa. – O que está acontecendo?
- Podemos conversar? – David pegou Kawan.
- Quer comer? – Ele perguntou.
- Sim! – O mais novo disse animado.
- Já vou, amor! – Giulia disse, ajeitando o corpo que ainda estava de moletom que deveria fazer parte de seu pijama. – O que foi? – Ela cruzou os braços.
- Vai ser rápido, prometo. – Me sentei na poltrona em sua diagonal, apoiando os braços na mesma. – Eu preciso ir para Vinovo para viajar em breve.
- Tudo bem... – Ela disse confusa, franzindo os lábios. – O que acontece?
- Eu tenho algo para te dizer, mas isso não é exatamente algo legal e eu gostaria que você me ouvisse antes de fazer qualquer comentário. – Ela me olhou confusa.
- Ok... Só não entendo por que está vindo atrás de mim...
- Porque é sobre a null. – Falei calmamente e seus olhos se arregalaram por um segundo.
- O que exatamente? – Ela perguntou.
- Você sabe tudo sobre a nossa história, não sabe? – Perguntei.
- Beh... – Ela riu fracamente. – É! Tudo... Inclusive as partes interessantes... – Sorri, franzindo as bochechas em vergonha.
- Então, você deve saber que a null me pediu para escolher entre ela e...
- E a bruxa, sim! E você escolheu a bruxa... – Ela me fuzilou com o olhar. – Continue!
- Esse é o problema, Giulia, eu não escolhi a Ilaria, eu fui forçado a ficar com a Ilaria... – Ela franziu os olhos.
- O que quer dizer? – Ela riu nervosamente. – Ela está te forçando a ficar com ela? Isso é ridículo. – Suspirei, encarando-a. – Espera! O quê?
- É! – Franzi os lábios. – Saiba que eu não sinto confiança nenhuma em compartilhar isso com você, mas não posso fazer isso funcionar sem ela ter uma ajuda do outro lado...
- Fazer o que funcionar, Gigi? Ajuda de quem? – Ela falou rapidamente, se ajeitando no sofá. – O que está acontecendo?
- Simplificando para você: quando tentei terminar com a Ilaria para ficar com a null, ela me chantageou falando que, se eu não ficasse com ela, ela contaria o segredo da família de Nápoles da null e me impediria de ver meu filho. – Falei rapidamente, vendo-a arregalar os olhos.
- Calma.... – Ela se ajeitou no sofá, se colocando mais para o canto do mesmo. – AQUELA BRUXA FEZ O QUÊ? – Ela gritou e eu suspirei.
- É isso que você ouviu.
- E AINDA COLOCOU A MINHA IRMÃ NISSO? – Suspirei.
- É! – Engoli em seco.
- AH, NÃO! – Ela se levantou apressada. – A null precisa saber disso e enfiar a mão na cara daquela... – Levantei com pressa, segurando-a pelo pulso.
- Não, Giulia! – Falei firme. – Não entende que é isso que ela quer? – Abaixei seu braço devagar, ouvindo-a bufar.
- Mas ela está mexendo com a minha amiga! – Ela disse firme.
- Não, Giulia! Você não entende? Ela não está mexendo com a null, ela está mexendo comigo! – Passei a mão nos cabelos. – Você precisa me prometer que não vai contar isso para null, porque, quando você contar, eu não quero nem pensar como a Ilaria vai jogar o segredo da null na mídia. Não gosto nem de pensar... – Suspirei.
- Mas e aí?! O que ela ganha nisso? – Notei o tom de voz dela aumentar e só conseguia imaginar que com null não seria melhor do que isso...
- Ela quer aparecer. – Falei, suspirando. – Ela quer aparecer ao meu lado, conseguir atenção, foco, prestígio, ser parte dos holofotes, sei lá! E ela quer comigo!
- Ah, ótimo! Então, você está preso a ela? Para sempre, é isso? Impedir você e null de ficarem juntos e serem felizes? Ela é sádica assim?
- Giulia, por favor...
- Não, Gigi! – Ela bufou. – Eu não consigo ficar calma quando tem uma idiota empatando meu casal favorito. – Sorri, rindo fracamente.
- Aí entra onde eu preciso da sua ajuda. – Falei, suspirando. – Você só não pode falar para a null, começa aí.
- Mas se eu falar para null, a chantagem dela acaba...
- Mas aí eu não posso ver meu filho! – Falei firme com ela.
- Ela é tão bruxa a ponto de deixar você não ver seu próprio filho? – Suspirei.
- Sim... – Falei baixo.
- CAZZO, GIGI! E AÍ?! – Ela gritou e suspirei.
- Posso falar? – Perguntei, vendo-a bufar e se jogar no sofá.
- Eu tenho escolha? Você está me envolvendo nessa sua merda e eu preciso ficar quieta e...
- Giulia...
- Ok, fala. – Ela bufou, cruzando os braços.
- Eu fiz um acordo com ela. – Suspirei. – Ela quer ficar comigo enquanto eu sou relevante, então falei que vou me aposentar no fim da temporada para, até ano que vem, eu não depender mais nada dela, mas eu pre...
- O quê? Isso é sério? – Ela perguntou confusa.
- Não, é aí que eu vou chegar. – Suspirei. – Eu fiz um acordo com ela. Dois, na verdade. – Suspirei. – Eu falei que vou me aposentar e, em troca, ficamos presos até julho de 2019, mas eu não vou me aposentar. – Pressionei os lábios. – Eu vou sair da Juventus, vou para outro país, jogar um ano em outra liga, quando eu for embora, minha parte do contrato vai estar finalizada por eu estar em outro país, mas ela vai precisar cumprir. – Olhei para ela que parecia estar mais calma. – Só que, enquanto eu estiver fora, eu preciso que ela fale esse segredo, conte esse segredo para ela...
- Ah, claro! null vai adorar contar a história inteira para a sua amiguinha... – Ela falou irônica.
- Giulia, eu sei que isso não é fácil, mas eu estou literalmente desesperado, estou fazendo tudo em meu poder para proteger a null e ficar com ela.
- Mas para onde você vai? – Ela perguntou.
- Acho que para o PSG, eles me fizeram uma oferta boa, um ano, até lá eu espero que as coisas estejam resolvidas e volto.
- E se a null não quiser mais nada contigo até lá? – Soltei um logo suspiro.
- Honestamente? Seria muito bom para ela seguir em frente, mas pensando em mim, não sei se ela consegue depois de tudo, mas seria bom para eu parar de machucá-la. – Ela suspirou.
- Eu estou confusa, Gigi, tenho mais perguntas que respostas...
- Eu preciso ir para o time, tenho uma viagem ainda, mas pergunta para o David, ele sabe de tudo. – Falei baixo. – Só saiba que é pela null. Tudo o que eu fizer vai ser pela null.
- Mas e quando a Ilaria descobrir que você não vai se aposentar? – Ela perguntou.
- Nós temos um contrato assinado, Giulia, ela não vai poder desfazê-lo. – Ela ponderou com a cabeça. – Meu prazo é julho de 2019, se a null falar antes disso...
- Você se livra... – Assenti com a cabeça.
- E aí é só cumprir meu contrato no outro time. Pavel e Agnelli estão todos sabendo, está tudo combinado...
- Tudo pela null? – Ela perguntou e assenti com a cabeça.
- Para que a gente possa viver nosso amor... – Suspirei e ela sorriu, me abraçando apertado de lado, me fazendo rir fracamente. – Você só não pode falar para ela. – Pedi. – É confuso, é uma merda e eu estou me odiando ficar um ano longe dela, um ano sabendo que ela vai me odiar por tudo, um ano sabendo que eu não posso ajudá-la, mas ela pode...
- Eu vou deixar claro que não estou gostando disso, mas você tem que me prometer que vai voltar, vai fazer dar certo com ela, mesmo que ela te mate, e que vai realizar o sonho dela de ser mãe, de ter um filho seu e uma família... – Sua voz afinou e sabia que ela estava com vontade de chorar.
- Eu prometo, Giulia. – Sorri. – Mas não deixe-a parar a vida por mim, ok?! Eu e ela sabemos que um ano é muito tempo, ela precisa viver...
- Quem esperou 17, Gigi, o que é mais um? – Suspirei.
- 17 tendo-a ao meu lado todos os dias, um longe não é fácil... – Giulia suspirou.
- É, realmente... – Ela pressionou os lábios.
- Só me prometa que você vai fazer isso dar certo...
- Você vai ter que me ajudar sobre o segredo dela... – Ela suspirou.
- Eu não sei como vou fazer isso, mas vou.
- Ela precisa ter presença na mídia, sei lá, volta seu canal, entrevista ela, qualquer coisa que ela fale e dê ibope... É a null, tudo dá ibope. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu vou tentar... Quem mais sabe disso?
- A diretoria do time, Barza, Chiello, e eu vou contar para meus colegas de time, eles só não devem saber tantos detalhes, tenho medo de que vaze...
- Tudo bem, mas você vai precisar explicar tudo isso direitinho para mim, quero saber cada detalhe desse acordo com aquela bruxa, puttana, vagabunda...
- Eu sei agora, Giulia. – Suspirei. – Se eu pudesse voltar no tempo...
- Mas não pode, agora tem que ficar sofrendo isso e ainda com a minha melhor amiga na reta. – Ela bufou e suspirei. – Isso é injusto, ok?!
- Eu sei que é, mas a Ilaria também vai pagar por isso... – Assenti com a cabeça. – A infelicidade dela vai ser quando ela descobrir que não conseguiu tudo. – Pressionei os lábios e ela suspirou.
- Eu vou querer ver isso de camarote. – Rimos juntos e segurei sua mão.
- Promete que vai cuidar dela para mim? Eu estou te contando principalmente por isso... – Ela suspirou. – Eu preciso que ela tenha todo apoio quando descobrir tudo, porque eu nem tenho coragem de contar para ela... – Ela assentiu com a cabeça. – E ela vai me odiar quando descobrir...
- Eu não tenho escolha, né?! – Ela deu de ombros.
- Só cuida dela, por favor... – Ela suspirou.
- Eu vou, eu sempre cuidei, né?! – Ela deu de ombros. – Só sei que isso vai machucá-la demais, Gigi, e eu não quero minha menina machucada...
- Eu sei, Giu! Se depender de mim, vai ser a última vez. – Suspirei. – Depois eu vou passar o resto da minha vida pedindo desculpas para ela...
- Ame-a, isso já vai bastar. – Ela disse baixo. – O resto a gente resolve. – Ela suspirou. – Precisamente com um soco na fuça da Ilaria...
- Giulia...
- Depois a gente resolve isso... – Ela abanou a mão, me fazendo rir. – Mas conte comigo, Gigi, missão fazer minha amiga feliz. – Sorri.
- É o que eu mais quero nesse mundo. – Suspirei.
- Gente, vamos encerrar? – Dei dois toques no batente da porta da minha sala.
- Agora, chefa? – Sara perguntou.
- Eu estou sem serviço e já são quatro da tarde, sexta-feira, temos jogos mais tarde...
- Eu não vou esperar ela oferecer de novo! – Enrico se levantou, pegando sua mochila, me fazendo rir.
- Eu vou dar uma passada lá no CT e logo vou embora. – Falei, jogando a bolsa no ombro. – A gente se fala, gente!
- Boa noite, chefa! – Eles disseram.
- O último desliga tudo! – Falei antes de seguir pelo corredor.
Agradecia a esquentada que estava em Turim, já podia usar uma camisa de manga cumprida sem aqueles diversos casacos em meus ombros, além de que podia abandonar um pouco das botas e voltar a usar meus sapatos, de bico fino para não ficar com os dedos gelados.
Cheguei ao térreo do administrativo em Vinovo e atravessei a passos largos em direção ao CT, estávamos em data FIFA e boa parte dos jogadores estavam fora cumprindo compromissos com as suas Nazionali, mas alguns ainda continuavam aqui e podia ser uma forma de eu passar o tempo um pouco. Ao invés de entrar no prédio do time principal, eu segui pela lateral do mesmo, beirando o prédio até pisar no caminho de grama também, mas baixinho, o que não afundava os saltos.
Vi os jogadores lá no fundo além do barulho característico da bola batendo na grande ou sendo chutada que acabava sendo uma bela música para meus ouvidos. Passei pelo portão, desviando do mesmo entreaberto e vi o pessoal ali, não tinha mais do que 15 pessoas, inclusive muitos eram jovens da Primavera.
- Olha quem apareceu aqui! – Ouvi a voz de Allegri de costas para a entrada.
- Consegue enxergar atrás da cabeça e eu não sei? – Perguntei, abraçando-o de lado e ele se virou para deixar um beijo em meu rosto.
- Como você está? – Ele perguntou.
- Tudo bem e aqui? Mais calmo? – Olhei rapidamente os jogadores dispersos.
- Ah, tudo bem, tentando me virar nesses dias com a Primavera. – Ele disse.
- Ah, você gosta deles, vai! – Falei, ouvindo-o rir.
- Gosto sim, principalmente aquele ali! – Ele indicou o dedo para o campo e franzi o rosto ao tentar identificar a pessoa que ele estava indicando, até encontrar os cabelos descoloridos de Gianni.
- O Gianni? – Perguntei animada, sacudindo-o pelos ombros.
- Sim! – Ele disse rindo. – O chamei para completar o grupo.
- Ah, ele deve estar muito feliz. – Sorri. – Vou lá falar com ele.
- Vai lá... – Ele me empurrou levemente e segui para dentro do campo.
- Gianni! – Chamei-o mais alto, vendo-o se virar.
- MANA! – Ele falou animado, vindo em minha direção e abracei-o fortemente.
- Não acredito que está aqui! – Sorri, passando as mãos em seus cabelos e estalando um beijo em sua bochecha.
- Allegri chamou um pessoal e me colocou junto. – Ele disse sorrindo.
- E você está gostando? – Passei a mão em suas costas, sentindo-o me apertar pelos ombros.
- Adorando! – Ele sorriu, me fazendo rir.
- BARZA! – Virei o rosto para Allegri. – BARZA! BARZA! – Virei para Barza que estava... Em cima de Douglas Costa, socando-o. – NÃO NA FRENTE DA CÂMERA, BARZA! – Desviei o rosto, vendo o câmera de Netflix ali, me fazendo rir.
- Ah, ele vai adorar isso. – Comentei.
- Ah, com certeza! – Chiello disse.
- Oi, Chiello! – Abracei-o de lado, apoiando a cabeça em seu braço.
- Fala aí, chefa! – Ele disse.
- Não foi convocado hoje? – Perguntei.
- Estou em lesão ainda, só fazendo recuperação. – Ele ponderou com a cabeça.
- Está se lesionando demais, hein, Chiello? – Ele suspirou. – Você é novo demais para isso.
- Eu sei... – Ele bufou. – Vou melhorar.
- E Gigi? – Perguntei, suspirando. – Foi mesmo?
- Foi... – Ele negou com a cabeça. – O Di Biaggio o chamou para uma despedida... – Suspirei. – Ele aceitou ir...
- Talvez ele esteja tentando alguma forma de fechamento... – Neguei com a cabeça. – Aposentadoria e sei lá...
- É... Talvez... – Ele disse, suspirando.
- Ele fala sobre isso? – Virei para ele.
- O quê? Aposentadoria? – Assenti com a cabeça.
- Ele fala o de sempre... – Barza apareceu do nosso lado. – Oi, null. – Ele me abraçou de lado. – Ele está cansado das pessoas o chamarem de velho, mas acredita que será o mais importante... – Ele disse.
- Oi, Barza. – Deixei um beijo em sua bochecha. – Como estão as coisas?
- Tudo bem... Andando. – Ele ponderou com a cabeça.
- Nenhuma novidade com a Maddalena? – Ele jogou a cabeça para trás. – Ok, não precisa responder... – Ele sorriu.
- É passado, null. Vamos focar em frente.
- Como estão as coisas? Preparados para o jogo contra o Milan?
- Sim, claro! – Chiello disse, cruzando os braços.
- Sempre! – Barza sorriu.
- Vou reformular. – Suspirei. – Prontos para acabar com o Leo? – Eles riram.
- Ah, como ela é... – Barza me abraçou de lado.
- Ele precisa se arrepender por ter saído da Juve... – Dei de ombros.
- Talvez ele já tenha se arrependido, o Milan está em sexto na tabela, fora de uma competição europeia... – Barza deu de ombros.
- Vocês conversam com ele? – Perguntei.
- Pouco, mais com a Nazionale ou em encontros... – Chiello ponderou com a cabeça.
- Eu só conversei com ele no The Best. – Abanei a mão. – Ele estava fugindo de mim... – Eles riram.
- Ele sabe que faz besteira. – Barza disse. – Mas se arrepender?
- Leo é orgulhoso demais para isso. – Chiello disse e suspirei.
- E você, Barza? Por que bater no coitado do Douglas?
- Coitado? Ele falou que eu sou lento na inauguração da megastore! – Ele disse com a voz mais alta, me fazendo rir.
- E por isso você precisa neutralizá-lo no chão e bater nele? – Franzi a testa.
- Você sabe como o Barza é... – Chiello disse, me fazendo rir.
- É, nosso dinossaurinho! – Eles riram. – Então, o que acharam do meu irmãozinho? – Indiquei Gianni.
- É seu irmão? – Eles perguntaram juntos.
- Sim! Irmão da Giulia, um dos gêmeos! – Eles riram.
- Nossa! Faz tempo que não o via. – Chiello disse rindo.
- É! – Sorri. – Faz 19 anos em maio, vamos ver se o Allegri o aproveita melhor. –
- E o outro? – Barza perguntou.
- Faz artes plásticas nas Belas Artes de Milão. – Comentei. – Segundo ano.
- Indo bem?
- Sim, sim! – Sorri.
- RAGAZZI, VAMOS RECOMEÇAR! – Allegri disse.
- Beh, deixa eu ir, gente! Nos falamos? – Me afastei alguns passos.
- Claro! – Eles disseram, me abraçando rapidamente. – Trabalhando ou...
- Ah, estamos em meio de semestre, as coisas desaceleram um pouco, em data FIFA fica pior ainda... – Dei de ombros.
- Vai ver o jogo? – Barza perguntou.
- E eu deixei de ser trouxa? – Perguntei, me afastando alguns passos e eles riram.
- Talvez? – Chiello disse.
- É... Não! – Rimos juntos. – Bom dia para vocês! – Falei, acenando com a mão.
- Ciao, chefa! – Eles disseram, me fazendo sorrir. Caminhei para fora do campo, dando um tapinha nas costas de Allegri.
- A gente se vê, mister. – Falei.
- Ciao, null! – Ele disse e sorri para Filippi que estava atrás dele.
- Ciao, null!
- Ciao, Filippi. – Abracei-o de lado, ficando levemente na ponta dos pés para deixar um beijo em sua bochecha.
- Bom te ver. – Ele disse.
- Sempre bom te ver. – Rimos juntos. – A gente se fala!
- Até, amore! – Ele disse me fazendo sorrir.
Voltei para o estacionamento, seguindo até meu carro. Entrei no mesmo, saí de Vinovo e segui em direção à casa dos Vitale. Entrei na garagem deles, saindo junto com minha bolsa e segui pela porta dos fundos, empurrando-a devagar.
- Ciao, famiglia! – Falei, deixando minha mochila na mesa.
- Ei, já chegou? – Giovanna apareceu da sala.
- Ah, estava sem serviço, sem paciência, tem jogo mais tarde, já vim começar o fim de semana com vocês.
- Ah, que ótimo! Eu estou sozinha aqui! Estavam falando do jogo! – Gio disse, me abraçando rapidamente.
- Giulia? Kawan? – Perguntei.
- Kawan está dormindo, Giulia está com o Fabrizio, Pietro na faculdade...
- E Gianni com o time principal, o encontrei agora. – Abanei a mão.
- Mesmo? – Ela disse animada.
- Sim, chamaram para treinar com o time principal. – Ela sorriu.
- Ah, que ótimo! Ele vai vir todo animado hoje. – Ela disse sorrindo.
- Vai sim. – Sorri. – Posso tomar banho?
- Claro, vai lá! – Ela disse. – Quero comer algo? Um café?
- Sim, claro. – Falei animada. – Eu quero ver o jogo, está bem?
- Ah, é claro que sim! Seu garoto vai jogar... – Ela sorriu e suspirei.
- É isso mesmo que eu quero ver. – Suspirei. – Ver o que vai rolar.
- Vai dar tudo certo. – Ele disse, me fazendo rir.
- Espero... – Engoli em seco.
Não deu. Itália acabou perdendo de 2x0 da Argentina, o primeiro foi um erro bobo de Leo na defesa que a bola passou, não deu nem tempo de Gigi chegar nela, agora o segundo foi lindo demais, o jogador fez de fora da grande área. Mas o pior de tudo foi que, da mesma forma que contra a Suécia, tivemos grandíssimas chances, mas a bola simplesmente não levou e, o que poderia ser uma despedida da Nazionale, só confirmou o gosto amargo na boca.
Engoli em seco pouco antes dos árbitros começarem a andar e dar início aos protocolos de início de jogo. Ao meu lado estava Leo, Bonucci, ex-jogador da Juve e ex-defensor junto de Barza e Chiello à minha frente. Sei lá, era uma situação estranha. Depois de quase um ano após aquela final, após tudo o que aconteceu naquele jogo, enfrentá-lo aqui em nosso estádio era muito estranho.
Além disso, seu olhar e as poucas palavras que trocamos não me diziam que ele estava arrependido ou sentido pelo o que aconteceu, pelo contrário, sua pose me dizia que ele estava orgulhoso em estar entrando em nosso estádio novamente, sua casa por quase 10 anos, e mostrar para os torcedores e seus apoiadores de sempre que ele estava feliz em usar o vermelho do Milan e a braçadeira de capitão de forma não-merecida.
Até em seu cumprimento comigo e com os outros, parecia que ele era um jogador novo e desconhecido por todos, mas eu não conseguia pensar nisso, precisava focar no jogo e pensar na vantagem em forma de pontos que esse jogo nos daria. Seriam quatro de diferença.
Assim como faço com todos os capitães, seja de time italianos, europeus e até em meus momentos de Nazionale, eu os abraçava pelos ombros e mostrava apoio e uma boa recepção à nossa casa, então fiz o mesmo com Leo, mas tudo estava errado.
Segui para meu campo, cumprimentando meus companheiros de time, deixando Chiello, Barza e Benatia, o novo Bonucci, por último. Cumprimentei a torcida que estava atrás de mim enquanto colocava as luvas e suspirei, fazendo aquela rápida reza silenciosa por um bom jogo.
Todo Juve x Milan é pesado, seja pelo campeonato, pela Coppa Italia, pela Supercoppa e até na Champions, tem toda a rivalidade por trás, as quantidades de vitórias são maiores nossas, mas bem igualado, então nunca sabemos o que esperar, mas hoje acabou dando aquele gosto doce-amargo.
A parte boa foi que abrimos o placar. Paulino fez um lindo gol de fora da grande área não dando chance para ninguém. Aos 13 minutos, eu fiz uma defesa importante, nada de novo até aí, é claro! O jogo é assim mesmo!
O problema foi em seguida quando empataram. Em uma cobrança de falta, Leo veio para minha área para tentar cabecear, ele conseguiu, não dando chances para eu defender, foi muito à queima-roupa, mas eu me senti irritado com várias coisas naquele gol dele.
Primeiro foi a forma que ele subiu em cima de Barza e Chiello para atingir a bola, só restou para eu ajudá-los a se levantar, pois ambos realmente caíram de cara no chão. Depois foi a forma que ele comemorou. Ele pode comemorar da forma que ele quiser, mostrar lealdade ao seu time atual, mas não precisava fazer a mesma comemoração que ele fazia sempre nesse mesmo estádio. A forma que ele correu em direção a torcida...
Eu não sei, não quero parecer ingrato ou julgar qualquer um, mas isso não me parecia certo. Lembro de quando Higuaín fez seu primeiro gol contra o Napoli, depois quando Fede fez seu primeiro gol contra a Fiorentina, era uma situação diferente... Talvez diferente porque, pela primeira vez, era contra nós.
- Está tudo bem? – Perguntei quando levantei Chiello.
- É... Está! – Ele disse um tanto confuso ainda.
- Dai! Andiamo! – Barza disse também agitado. – Vamos virar isso!
O resto do primeiro tempo não teve nenhum lance comprometedor, mas dava para notar que Dybala e Higuain ficaram um pouco mais preocupados com Leo do que antes. No segundo tempo, fiz três defesas importantes e decisivas: aos 50, 55 e 57. Uma delas seguiu até com rebote após bater no travessão.
O relógio passou dos 75 minutos e a preocupação de manter somente um empate ou, pior, acabar concedendo um gol a mais, não nos fazia relaxar, mas Juan que havia entrado no lugar de Bentancur minutos antes, deu uma cabeceada que nos colocou à frente de novo. Aos 86, Chiello fez uma linda tirada de bola que nos salvou por mais alguns minutos.
Menos de um minuto, na verdade. Na volta da bola após a cobrança de escanteio, Douglas mandou para Paulo que acabou recuando para Sami que mandou beirando o gol de Donnaruma, aumentando para 3x1. Foi o que deu para fazer em 90 minutos, mas o gostinho da vitória era sempre delicioso. Poder gritar e comemorar com a torcida era sensacional.
Aos 90, eles ainda tiveram uma falta, mas eu defendi, sendo abraçado por Barza e por Chiello. Era uma sensação muito boa, é o tipo de coisa que nos dava orgulho, principalmente com nosso estádio lotado de torcedores. Quando o apito soou, foi relaxante demais.
Como de praxe, segui cumprimentar os jogadores do Milan, além de Gattuso, técnico deles, que foi ganhador do mundo comigo em 2006. Cumprimentei Leo e não disse nada, mas Chiello e Barza falaram com toda certeza, segui para Donnaruma, ele é novo e eu sabia o que era ser novo em um grande jogo, então gostava de falar algumas palavras de incentivo para ele.
Após corrermos em direção à torcida para cumprimentá-los, eu segui para dentro do vestiário. Dessa vez Sami e Juan ficaram para as entrevistas. Não era novidade Dybala fazer gol, agora os meio-campistas? Com certeza sim!
- Ah, qual é, chefa! – Vi Leo no vestiário junto de null.
- Não sou mais sua chefa, se esqueceu disso? – Ela disse, dando de ombros e seguiu para o vestiário, sendo puxada por Pavel.
- Problemas no paraíso? – Chiello cochichou para mim.
- Vindo da null? – Barza deixou as palavras em minha cabeça saírem antes e ponderei com a cabeça.
- E aí, Leo! – Falei um pouco mais alto, me aproximando e ele se virou com o olhar meio apático.
- Ei, gente! – Ele disse, passando as mãos apressadamente no rosto.
- Aconteceu algo? – Perguntei, apertando seu ombro com a mão.
- Ah, só null de sempre. – Ele abanou a mão.
- O que ela disse? – Ele perguntou.
- Disse que eu dei mancada em comemorar ao gol.
- Beh... – Eu, Chiello e Barza falamos juntos.
- Ah, vocês também? – Ele disse apressadamente, afastando minha mão de seu ombro.
- Você não cospe no prato que comeu, cara. – Barza disse, dando de ombros.
- Não falta com respeito com sua antiga casa. – Chiello disse.
- Eu penso da mesma forma que ela, Leo, desculpa. – Dei dois toques em seu ombro.
- Vocês acham que eu estou errado? – Ele disse rindo. – É só o que me faltava.
- Não finja surpresa, Leo, nunca escondemos de você. – Falei, afastando alguns passos. – Mas não é problema meu, né?! – Dei de ombros.
- Se cuida! – Barza disse e acenei para Virginia, uma da RPs que estava na porta.
- É! Até mais! – Chiello me seguiu e entrei no vestiário, sentindo a mudança de temperatura.
- Maldita língua, hein?! – Max falou antes de dar um beijo na têmpora de null.
- Até parece que algum dia eu fiquei calada sobre alguma coisa... – Ela disse, revirando os olhos e olhando para nós. – Ele me odeia?
- Não sei, mas não está feliz por isso. – Barza disse antes.
- Eu só estava com raiva, aí escapou. – Ela bufou e Barza a abraçou rapidamente.
- Você é nossa amiga, não precisa passar a mão em tudo o que a gente faz. – Lich disse da porta do vestiário.
- Eu sou amiga, não mãe! – Ela disse rindo. – Cada um cuide de si, já tem idade o suficiente para isso. – Eles riram, entrando logo em seguida.
- Ei! – Falei, me aproximando dela e ela deu um curto sorriso, apoiando a mão em meu peito e dando dois beijos em minha bochecha, me fazendo sorrir. – Não pensa nisso...
- Eu não vou. – Ela disse e franzi os olhos.
- Qual é, null. – Falei e ela riu fracamente.
- Eu vou tentar não pensar nisso. – Sorri.
- Melhor. – Acariciei sua nuca. – Está tudo bem?
- Beh... Acho que sim. – Rimos juntos.
- Não estou te vendo na fisio, já fugiu? – Ela riu fracamente.
- Não, estou fazendo as seis da manhã. – Ela fez uma careta. – Mas não devo aguentar tanto.
- É importante, null, você te...
- Eu sei! – Ela me cortou rindo. – Eu só tenho muito o que fazer e preso muito uma hora a mais de sono. – Rimos juntos. – As coisas estão voltando a ficar corridas, sabe?
- Fim de temporada, né?! – Dei de ombros.
- É e eu ainda não recebi uma ligação do Silvano, algo que você precisa me contar? – Meus olhos se arregalaram por um instante, fui pego totalmente desprevenido.
- O quê? Por quê? – Falei rapidamente, sentindo minha voz gaguejar um pouco.
- Beh, é só ver seus jogos e resultados... – Ela deu de ombros. – Você merece mais um ano, pelo menos.
- É... Acho que não vai dar...
- Por quê? Você está em forma, mostrando em campo que é bom, a idade é só um número, não? – Ela disse com um fofo sorriso no rosto e eu só consegui suspirar.
- Ainda temos alguns meses, eu vou pensar... – Ela assentiu com a cabeça.
- Ok, mas pensa com carinho. – Ela sorriu e me empurrou de leve para dentro do vestiário, me fazendo suspirar.
- Perguntas difíceis, cara? – Chiello perguntou baixo e bufei.
- Você não tem nem ideia! – Falei, ouvindo-o rir.
Capitolo cientuno
Observei o letreiro do Allianz Stadium em minha frente e soltei um longo suspiro. Vamos encarar, null. Coloquei meus saltos para andar em direção à entrada e só acenei para a recepcionista antes de entrar. Outras pessoas estavam no hall de entrada e seguiam para seus lugares. Passei a mão no capuz, abaixando e sacudindo um pouco de água em meus ombros da forte chuva lá de fora.
Eu estava muito nervosa por esse jogo. Na verdade, eu tentei ignorá-lo desde o dia do sorteio. Pegamos o Real Madrid nas quartas de final e eu só consegui lembrar da final em Cardiff no meio do ano passado. Havia sido o pior jogo da nossa carreira, pelo menos enquanto eu estou de diretora. Não conseguia lembrar de nenhum outro jogo que tivesse literalmente tirado minha alma e do restante do time.
Sacudi a cabeça com esse pensamento, pois logo eu estaria pensando em Gigi, em mim e nele, e eu não podia fraquejar agora, já estava difícil demais. Acenei para o segurança ao lado de nosso elevador e esperei-o abrir.
- Me espera! – Virei para o lado, vendo Agnelli.
- Ei, Andrea! – Falei, cumprimentando-o e trocamos um rápido beijo.
- Como está? – Ele perguntou.
- Tudo bem. – Falei, assentindo com a cabeça. – Você?
- Bem! – Ele disse, suspirando.
Ficamos em silêncio enquanto o elevador descia e logo estávamos no corredor que dava para o túnel. O ambiente estava vazio ainda, alguns jogadores do Real já chegaram ali. Ignorei-os e me esgueirei rapidamente para dentro do nosso vestiário.
O barulho lá dentro era inexistente. Eles nunca foram de fazer bagunça antes de jogo, mas era possível ouvir o pessoal discutindo as táticas do jogo entre si ou com Allegri. Hoje estava um silêncio, os únicos sons eram as travas batendo no chão e os jogadores reservas que saíam aos poucos.
- null! – Barza falou ao sair do vestiário e abracei-o fortemente.
- Bem? – Perguntei tão baixo que não tive certeza se minha voz saiu.
- Sim! – Ele assentiu com a cabeça e dei um beijo em sua bochecha.
- In bocca al lupo. – Sussurrei e ele assentiu com a cabeça.
Observei o restante do vestiário e os jogadores começaram a me abraçar ou só dar um rápido aceno conforme passava, mas Gigi continuava no vestiário, incrivelmente ocupado com suas chuteiras. Esperei até que todos saíssem, cumprimentando também Pavel, Paratici, Beppe, além de Allegri e Filippi, esse último sempre gostava de me ver. Não sabia se era por ele treinar Gigi, mas sempre senti um carinho enorme por ele.
- Andiamo, Gigi! – Allegri disse e o mesmo estava próximo de mim quando virei o rosto.
- Ei! – Sorri.
- Ei, null. – Ele soltou a respiração forte.
- Como está? – Perguntei.
- Pode colocar suas mãos no meu rosto e falar que vai dar tudo certo? – Ele disse em um tom sofrido e sorri.
- É claro! – Virei para ele e pressionei minhas mãos antes de levá-las até seu rosto. – Respira, ok?! Vai dar tudo certo! Vocês conseguem fazer isso, já fizeram antes... – Falei enquanto apertava levemente sua testa e lateral do seu rosto, desenhando seu rosto. – Foco, está bem? – Ele soltou a respiração forte, fazendo seu hálito de menta tocar meu rosto.
Ele passou as mãos em minha cintura, me puxando para si e me abraçou fortemente. Fechei os olhos, apoiando a cabeça em seu ombro e apertei-o fortemente pelas costas. Sua respiração estava forte em minha orelha.
- Gigi... – Ouvi uma voz atrás de nós e imaginei ser Cesare ou Virginia. – Precisamos ir.
- Eu estou indo. – Ele disse, afrouxando o abraço e segurei seu rosto com as mãos, sentindo a barba por fazer.
- Vai dar certo. – Falei firme e ele assentiu com a cabeça. Ele focou em mim por alguns segundos antes de deixar um longo beijo em minha testa antes de seguir para fora do vestiário.
Soltei um longo suspiro, mordendo meu lábio inferior e acabei ficando alguns segundos perdida em seus lábios em minha testa. Sacudi a cabeça e segui para fora do vestiário. Os jogadores já tinham saído e precisei agilizar meus passos para chegar no camarote. O hino começou assim que saí do elevador, ao menos não precisei dar muitos cumprimentos, pois todos já estavam em seus lugares.
Parei no bar para pegar uma dose de uísque e a virei de uma vez só, sentindo-a queimar minha garganta, isso me ajudaria a manter a sanidade pelo jogo e me aquecer do frio devido à chuva que eu peguei do carro até aqui dentro. Saí para a área externa, apertando a jaqueta contra o corpo e suspirei ao ver que Gigi e Ramos já se cumprimentavam no centro do gramado.
Estava tudo bem comigo e com a situação, até o apito soar. Não tivemos nem tempo de montar qualquer tipo de jogada e Cristiano Ronaldo já chegou, não teve chance para Gigi, pois a bola já estava dentro do gol antes dos três minutos de jogo. Estava começando da pior forma possível.
Apesar de um gol contra nós logo aos primeiros minutos, nós conseguimos atacar, pena que não conseguíamos atingir o alvo. Aos seis Dybala tentou, mas Ramos defendeu, aos 13 Bentancur tentou em um forte chute, mas eles tiraram com a cabeça. Quando a bola voltou aos 16, Gigi precisou sair do gol para defender, mas nada grave.
Aos 23, Higuain teve uma chance incrível, mas foi para fora. Aos 34, Mattia conseguiu um lindo tiro, mas a bola passou por todo mundo e acabou saindo do outro lado, ninguém conseguiu alcançar. Aos 36, quando a bola voltou, Kroos também tentou, mas a bola foi por cima.
Aos 38, quando tivemos uma chance de ataque importante com Barza, Chiello e outros na pequena área, mas após uma bagunça, a bola foi para fora. Para finalizar o primeiro tempo. Dybala, que já tinha forjado uma queda, tentou outra dentro da área, mas o árbitro percebeu a simulação e deu um amarelo.
Soltei um suspiro quando o árbitro apitou o final do primeiro tempo e olhei para cima, pedindo para um segundo tempo mais vantajoso para nós. Eles não podiam ter a vantagem justo na nossa casa! A torcida se esgoelava cantando e a gente precisava dessa ajuda para voltar melhor no segundo tempo.
- Se escondendo? – Virei, vendo Trezeguet.
- Ei, Treze! – O abracei de lado, sentindo-o dar um beijo em minha têmpora.
- Como você está? – Ele perguntou.
- Ainda estou bem. – Dei um curto sorriso, suspirando em seguida.
- Vai dar tudo certo. – Ele disse.
- Eu só penso que... – Suspirei, virando para o campo vazio. – Se for a última temporada do Gigi, ele deveria conseguir ganhar isso, não?
- O universo nem sempre funciona como queremos. – Ele deu de ombros e assenti com a cabeça.
- E como você está? Giulia?
- Ela não quis vir. – Ele negou com a cabeça. – Acabei vindo para não perder um jogão desses.
- Espero que seja. – Suspirei, pressionando os lábios. – Quem diria que você saberia mais da minha família do que eu? – Ele riu fracamente.
- Eu estou apaixonado de novo, null, faz muito tempo isso... – Ele sorriu e retribuí.
- Eu fico feliz, Treze, sério! – Apertei seu braço. – Você conseguiu se reinventar, a Giulia nunca teve um relacionamento sério, é ótimo ver vocês dois felizes. – Ele sorriu.
- E com o Kawan. – Sorri.
- Sim, com certeza. – Ele me abraçou de lado, me fazendo rir.
- Quem sabe um Trezeguet Vitale? – Virei para ele, me fazendo rir.
- Pô, null, eu já tenho 41 anos...
- Beh, eu ainda tinha esperanças de ter um filho com você sabe quem, mas... – Dei de ombros.
- Você tem um bom ponto. – Sorri.
- Se vocês quiserem, vou adorar mais um pequeno para cuidar. – Ele riu fracamente.
- E os seus? Vêm quando? – Suspirei.
- Eu não sei, talvez eu adote mesmo... Quando o Gigi se aposentar... – Dei de ombros.
- Sem chances de algum com ele? – Ele perguntou.
- Dizem que a esperança é a última que morre, mas a minha já morreu. – Dei de ombros e ele passou a mão em minha cabeça, e puxando para si e dando um beijo em meu rosto.
Os jogadores voltaram para o campo e demorou quase cinco minutos para eles se aquecerem e ter alguma chance real de gol, mas mais uma vez foi de Cristiano Ronaldo. Ele tentou um chute que acabou preso na nossa defesa e a bola acabou passando lambendo o gol de Gigi, causando um pequeno pulo em mim.
No retorno, tentamos um ataque, mas acabou com uma defesa linda de Navas, mas acabou atingindo Ramos que precisou ser atendido. Aos 56 minutos, em uma cobrança de falta nossa, Paulino cobrou e acabou esbarrando na barreira e foi para fora, mas do ângulo que eu estou, a bola foi para o gol e contive um grito junto dos torcedores.
O segundo tempo estava mais lento, parecia que tínhamos mais chances de gol, mas nada realmente chegava ao gol, quando chegava, a bola estourava para cima. Aos 63 minutos, uma saída errada de Gigi quase causou um gol. No tempo que Cristiano foi recuperar a bola, Gigi conseguiu voltar para o gol e espalmar quando Vasquez chutou.
Eu achava que isso havia sido incrível até o lance seguinte: o número dois deles recuperou a bola e mandou para a nossa grande área também onde estava Cristiano, Barza, DeSciglio e Asa. Eu pensei que Cristiano fosse cabecear quando subiu, mas ele deu uma bicicleta e, o mais surpreendente de tudo, foi que A BOLA ENTROU! A BOLA ENTROU! A PORRA DA BOLA ENTROU!
Eu estava abismada e acho que todo o estádio, porque havia sido ALGO SENSACIONAL! E o estádio inteiro achou isso, pois ele foi aplaudido por nós! ELE FOI APLAUDIDO POR NÓS APÓS FAZER UM GOL EM GIGI! QUE MUNDO É ESSE?! As maravilhas do futebol, né?!
Desviei meu olhar para Gigi e ele estava triste, mas abismado também. Acho que todo mundo estava. Bicicletas eram dadas o tempo inteiro, mas nunca com tal precisão. Gigi nem conseguiu chegar a ir na bola, ele só chutou e passou do lado de Gigi. Não sei se foi surpresa ou se não conseguiu chegar mesmo, mas foi incrível! Odiava dizer isso, pois agora estava 2x0 para eles, mas havia presenciado algo incrível de verdade.
Pessoalmente, eu não gosto da marra dele, mas não podia negar que ele era um grande jogador. Talvez grande demais para Juve? Velho demais? Caro demais? Quem sabe? Não costumava olhar para jogadores grandes, mas quem sabe?
Minha mente voltou ao normal quando, aos 66 minutos, Dybala recebeu um vermelho por chegar com os pés juntos na barriga de Carvajal. Isso havia acabado de nos complicar um pouco mais, para compensar, Allegri tirou e colocou Mario, e tirou Douglas e colocou Matuidi.
Quando achávamos que nada estava tão ruim que não podia piorar, aos 72, mais um gol. Dessa vez do brasiliano Marcelo. Cristiano fez o passe para ele que ainda driblou Gigi para colocar dentro do gol. O duvidoso foi se o gol estava válido, pois Chiello e Barza reclamaram da posição do jogador, mas o árbitro não deu.
Já era 3x0 para eles. Na nossa casa. Onde nossa torcida havia sido silenciada e agora era ocupada pela torcida madridista. Após o terceiro gol, parece que eles deram uma desacelerada, mas não reduziram as chances de gol. Aos 82 minutos, eles tentaram novamente, mas acabou seguindo para cima demais. Aos 85, Cristiano Ronaldo tentou de novo, mas subiu alto demais.
Aos 87, mais uma chance deles, dessa vez de Kovasic, mas a bola estourou no travessão. Aos 89, Ronaldo novamente, mas Gigi defendeu para o lado. Aos 90 novamente. Até eu estava querendo que esse jogo acabasse logo. Logo em seguida, Gigi e Ronaldo estavam cara a cara, mas com sorte a bola acabou indo para cima demais. Quando o juiz apitou o final de jogo, eu só consegui sair correndo para baixo.
- A gente se fala... – Disse rapidamente para David, seguindo para o fundo do camarote e só deixando o copo em minha mão no balcão, me surpreendendo por ele não ter quebrado o jogo inteiro.
- ! – A voz de Paratici se fez mais alta e desacelerei o passo para os outros quatro seguirem comigo.
- Ei, gente! – Falei, suspirando.
- Tem algo para dizer? – Agnelli perguntou.
- Não e espero que nem você. – Olhei para ele que suspirou, erguendo as mãos.
- Não acho que vai adiantar falar algo agora. – Pavel cantarolou e assenti com a cabeça.
- Nenhum pouco. – Soltei um suspiro alto.
O elevador desceu na velocidade de sempre, mas parecia bem mais lento do que eu queria. Quando as portas se abriram, fui a primeira a sair dali, dando aquela rápida olhada pelo túnel para ver se encontrava alguém. O túnel com os staffs e equipe do Real Madrid, eu fui direto para o vestiário, entrando no mesmo enquanto procurava por qualquer pessoa, mas uma em especial.
O local estava vazio ainda e me fez voltar pelo caminho de antes, finalmente encontrando os jogadores voltando cabisbaixos para o vestiário. Tentei dar um rápido abraçou ou um aperto no ombro em sinal de apoio, mas só conseguia olhar para o goleiro com os cabelos molhados e a braçadeira praticamente deslizando de seu braço. Ele ergueu o rosto para mim assim que entrou no vestiário e negou com a cabeça, eu acabei com a distância e abracei-o fortemente.
Ele soltou um longo suspiro quando o abracei e apoiou a cabeça em meu ombro, levando as mãos até minha cintura. Seu corpo estava gelado e molhado, mas não sabia dizer se era só a chuva. Passei as mãos em suas costas, subindo para sua nuca e acariciei-a devagar, sentindo os cabelos na ponta dos dedos.
Não sei dizer quando tempo se passou, mas todos os jogadores entraram no tempo em que ele se afastou devagar de mim. Levei minha mão para seu cabelo, jogando-os para trás e ele deu um curto sorriso, pressionando os lábios. Segurei seu rosto com as mãos e fiquei na ponta dos pés para alcançar sua testa.
- Eu estou aqui, ok?! – Sussurrei e ele assentiu com a cabeça.
- Eu sei. – Ele soltou um longo suspiro. – Deu tudo errado.
- Não, ainda não. – Falei, acariciando seu rosto. – Ainda temos o jogo de volta, Gigi.
- 3x0, null, é difícil recuperar isso. Não conseguimos em casa e...
- Xi! – Falei firme. – Tudo é possível no futebol, Gigi. – Dei um curto sorriso, deixando um curto beijo em sua bochecha. – Vai dar tudo certo.
- E se não der? – Ele perguntou baixo.
- Eu vou estar aqui para você. – Dei um curto sorriso e ele retribuiu antes de me abraçar novamente com força.
- Para sempre? – Ele perguntou contra minha orelha.
- É, Gigi, para sempre. – Suspirei, fechando os olhos, sentindo essas palavras doerem ao serem engolidas.
- Ei, Gigi, distraído? – Ergui o rosto, parando de mexer o pé no gramado e ergui o olhar para Mario.
- Ah, só... – Dei de ombros, suspirando.
- Preocupado? – Ele disse e ergui o olhar para ele.
- Curioso? – Ele riu, dando de ombros.
- Eu sou quieto, mas não cego. – Ele disse e bufei, mordendo o lábio inferior com força. – É sobre ela, não? – Ele indicou o olhar para fora do campo e vi null com o grupinho do top de sempre enquanto os jogadores convocados faziam o Walk Around pelo Santiago Bernabéu.
- Quanto você sabe? – Suspirei, vendo Chiello se aproximar também.
- Meu lugar no vestiário é ao seu lado, Gigi, qual é! – Ri fracamente, suspirando.
- Você sabe guardar segredo? – Perguntei baixo, me aproximando dele.
- É, dã! – Ele disse.
- É, levando em conta que não sei nada da sua vida, é no mínimo confiável. – Ele riu fracamente.
- É, mas sendo o maior goleiro da Itália, o mais velho e o que possui mais rolo no time, acho difícil você fugir disso.
- Quando isso começou, eu não era nada disso. – Suspirei, olhando para ela brigando com o vento e seus cabelos enquanto Pavel ria dela. – Éramos só... Dois tontos. Ela muito melhor do que eu, é claro. – Suspirei.
- Acho que ela sempre vai ser melhor do que todos nós, não? – Ele disse. – Ela recebe qualquer um como se fosse o irmão dela, faz com que todos se sintam parte da família e...
- Espero que sim, porque ela vai me odiar em alguns dias. Com sorte, um mês. – Soltei a respiração devagar.
- Por quê? Você vai se aposentar? – Ele perguntou.
- Não, eu vou sair. – Falei, virando para ele e seu rosto havia travado.
- O quê? – Ele disse claramente tentando conter o grito preso em sua garganta.
- Sim! – Falei, rindo fracamente. – Tudo por ela.
- Como sair do time vai ser bom para ela? – Ele perguntou confuso, rindo em seguida.
- É, eu fiquei perdido no começo. – Chiello disse e ri fracamente.
- Eu não quero dar muitos detalhes, porque já tem muitas pessoas sabendo disso e a ideia era que ninguém soubesse... – Falei, rindo fracamente. – Mas minha... – Virei para Chiello.
- Ex, né?! Por favor! – Ele disse, me fazendo rir.
- Minha ex-namorada, a mãe do meu filho mais novo, está ameaçando contar um segredo da null e eu não posso deixar isso acontecer.
- Uma chantagem? – Ele disse e virei para Chiello.
- Você está falando com Mario, não com Paulo! – Rimos juntos.
- Coitado do Paulo quando souber disso, vai me matar! – Suspirei.
- Beh, alguém precisa te matar, pode ser ele ou a null, vai saber. – Chiello deu de ombros, me fazendo rir.
- É, algo assim, Mario. – Suspirei. – Achei uma pequena brecha e vou sair e tentar resolver isso de fora. – Bufei.
- E você não encontrou outra forma? – Ele perguntou.
- Acredite, eu tentei, mas acabei entrando na dela, é a única forma disso dar certo. – Suspirei.
- E aí? – Ele perguntou, cruzando os braços, desviando o olhar para fora do campo também e acabei fazendo o mesmo, vendo que null ainda estava lá. – Você vai sair e aí?
- Volto em um ano. – Suspirei. – Espero que até lá eu consiga resolver tudo e ela me aceite de volta. – Ele riu fracamente, aumentando sua risada exponencialmente. – O quê?
- Eu sei que ela te ama incondicionalmente, eu já ouvi algumas histórias, é o maior boato em volta da Juventus, todo mundo já ouviu algum boato de vocês dois e não precisa ser no time para saber disso... – Ponderei com a cabeça.
- Milagre é isso não ter vazado na imprensa ainda. – Falei.
- Contrato de confidencialidade. – Mario disse. – Eu assinei um... Não sobre isso, mas... Enfim... – Ele abanou a mão. – Você está se segurando em algo abstrato, Gigi?
- Como assim? – Franzi a testa.
- Você vai deixá-la perdida no escuro por um ano e quer que ela te aceite de volta? – Ele disse. – É um pouco arriscado, não?
- O contrato me obriga a manter segredo dela...
- TEM UM... – Ele freou a voz. – Tem um contrato? – Ele abaixou o som.
- É pior do que você imagina, Marione! – Falei e ele bufou.
- Que merda, cara! – Ele disse.
- Mas é, eu sei que é arriscado, mas ela me esperou por 17 anos, não vou me importar em passar 17 ou mais esperando-a.
- Que merda, cara! – Ele disse, mordendo a ponta do indicador.
- É, eu sei, mas conto com a ideia de que ela ainda me ama. – Suspirei.
- Isso pode funcionar, mas ela vai ficar brava demais. – Olhei para Mario, depois para Chiello e por último para outro lado, vendo Benatia. – Eu sou curioso! – Ri fracamente.
- Que isso não saia daqui, por favor. – Suspirei. – Eu vou falar com o time quando chegar a hora, mas... Não agora, temos um jogo importante amanhã.
- Seu segredo está salvo conosco, Gigi. – Medhi disse, me fazendo assentir com a cabeça.
- Agradeço. – Suspirei. – Aceito um pouco de força e sorte também.
- Quando vai contar para ela? – Mario perguntou.
- Eu não vou, meu agente deve ligar em maio para falar que eu não vou renovar, porque ela já mandou o e-mail de renovação, mas ela acha que eu vou me aposentar...
- Oh! – Medhi disse.
- É! – Suspirei. – Eu preciso de toda sorte do mundo, eu não tenho coragem de encará-la.
- E por que não falar para ela que vai sair e, talvez, inventar outra desculpa para sua saída? – Medhi perguntou.
- Eu pensei sobre isso, mas qualquer mentira seria pior do que isso, não consigo olhar nos olhos dela e mentir que tudo vai ficar bem, como também não consigo mentir que não a amo mais, é a maior mentira de todas e eu não consigo magoá-la mais. – Suspirei.
- A gente só pode te desejar sorte mesmo, Gigi. Não vai ser fácil. – Dei um curto sorriso.
- Eu penso muito nela, mas penso muito em vocês também, espero encontrá-los de volta aqui, ela vai precisar de todo tipo de apoio durante meu ano fora e eu vou precisar de todo tipo de ajuda quando voltar.
- Aposto que ela vai entender quando você contar seus motivos. – Mario disse. – A vida dela está em risco, não?
- A carreira, o que acho que acaba sendo a mesma coisa para null. – Suspirei, vendo-a se movimentar de seu lugar. – É pesado. Não tem nada a ver com ela hoje, mas vocês sabem como as pessoas analisam fofocas de famoso.
- Sim, sabemos. – Mario disse, me fazendo suspirar.
- Vai dar certo, cara. Existem coisas que precisam acontecer para finalizarem bem, baseado no que eu ouvi sobre vocês, essa é uma delas... – Medhi disse, abaixando seu tom de voz conforme null se aproximava.
- Ciao, ragazzi. – null disse.
- Ei, chefa! – O pessoal falou junto, fazendo-a rir.
- Estou atrapalhando?
- Não, só falando do jogo de amanhã. – Chiello disse e ela soltou um longo suspiro.
- Vamos lá, né?! – Ela riu fracamente. – Gigi, Angela pediu para te chamar para coletiva.
- É, claro, vamos lá! – Falei, suspirando. – Até mais, gente!
- Ciao! – Eles falaram juntos e andei alguns passos, percebendo null ao meu lado.
- Vai comigo?
- Posso? – Ela perguntou, afundando as mãos no bolso da calça justo.
- É claro que sim. – Falei, vendo-a dar um curto sorriso.
- Como você está sobre amanhã? – Ela perguntou, abaixando a cabeça.
- Beh, muitos acham que já estamos enterrados, não? Talvez estejamos, mas vamos lutar como se ainda tivéssemos chance. – Falei e ela suspirou.
- Mesmo sem Paulo e Barza? – Ela perguntou.
- Beh, eu confio muito no Mario e no Douglas, como também tenho confiado muito no Benatia no lugar do Barza. Ele é quase tão irritado quanto... – Ela riu fracamente.
- Beh, isso eu não posso negar! – Ela sorriu. – Ambos possuem aquela calmaria externa, mas são uns demônios em campo.
- Exatamente! – Falei.
- Mas saiba que... – Ela segurou meu braço, me obrigando a parar de andar e ficou em minha frente. – Isso não te define, ok?! – Ela olhou em meus olhos.
- Aquele papo de novo, null? – Perguntei e ela suspirou, apertando as mãos em seus braços.
- Eu sei o quanto isso é importante para você, sei também que é a sua última oportunidade, mas eu prefiro você são do que enlouquecido por causa de um troféu que nem bonito é. – Rimos juntos. – Eu estou falando sério, Gigi. – Ela suspirou, erguendo uma mão para meu rosto. – Jogue com garra, com força e com paixão, mas não doe mais nada, você não precisa disso.
- Está tudo bem, null, é só outro jogo, não? – Ela riu fracamente.
- Depois de todos esses anos você acha que me engana? – Ela deu um curto sorriso e ri fracamente. – É um jogo contra o Real Madrid, eles possuem três gols de vantagem e estaremos na casa deles, eu sei que não vai ser só um jogo, Gigi. Você quer vingança. – Soltei um longo suspiro. – Falei algo de errado?
- Talvez não. – Falei, ouvindo-a rir.
- Foco, ok?! Ainda jogamos futebol, não MMA. – Ela desceu as mãos pelos meus braços, apertando minhas mãos.
- Beh, estaremos com Chiello, Benatia, DeSci e Alex na defesa. – Ela riu fracamente. – Khedira no meio-campo, Mario no ataque... Lich no banco.
- Ok, ok, eu entendi! – Ela me soltou, erguendo as mãos.
- Eu só fico no gol, nem posso fazer muita coisa. – Rimos juntos.
- Mas você me ouviu, não? Posso não ser nada sua, mas eu ainda sou seu Grilo Falante e sei que nisso você ainda me ouve. – Soltei um suspiro.
- Eu sei! – Falei firmei. – E você é muito mais do que meu Grilo Falante. – Falei, vendo-a negar com a cabeça.
- O que eu faço contigo, Buffon? – Ela suspirou.
- Começa não me chamando assim, nunca mais. – Ela riu fracamente.
- Beh, eu sei que te estressa.
- Estressa, null. Estressa. – Ela riu fracamente.
- Ah, mamãe e papai! – Franzi o rosto, virando para o lado, vendo Angela aparecer no túnel. – Vocês não estão brigando, estão? – Ela se aproximou.
- Não. – Falamos juntos, nos entreolhando.
- Ah não? Milagre! – Ela disse rindo sozinha. – Podemos ir?
- Claro! – Falamos juntos e seguimos andando lado a lado, dando risadas cúmplices enquanto Angela andava igual um soldado em nossa frente.
- Eu posso ouvir isso! – Ela disse.
- Não estamos fazendo nada! – Falei e olhei para null que também sorria, mas mantinha os lábios pressionados, escondendo o sorriso.
- Se lembra do que eu disse? – Falei firme, segurando o rosto de Gigi com as duas mãos.
- Tentar evitar que o jogo se torne em um MMA. – Ele disse e revirei os olhos, ouvindo-o rir em seguira.
- Gigi!
- Eu sei, cabeça fria, focar no jogo e mais um monte de coisas, mas eu sempre me perco nos seus olhos. – Revirei os olhos.
- Eu estarei aqui quando o jogo acabar. – Falei, abraçando-o pelos ombros e ele me abraçou pela cintura, fazendo meu corpo se arrepiar quando ele acariciava a base das minhas costas. – Independente do resultado.
- Espero que com uma vitória e uma classificação. – Ele disse e me afastei, assentindo com a cabeça.
- Vai lá! – Falei, dando um beijo em sua bochecha e me afastei alguns passos. – In bocca al lupo, ragazzi! – Falei um pouco mais alto, mantendo meu olhar nos azuis de Gigi.
- Grazie, chefa! – Eles responderam e suspirei.
- Não faça nada estúpido, ok?! – Sussurrei para Gigi que assentiu com a cabeça, deixando um curto sorriso aparecer entre sua barba. – Andiamo.
- Andiamo, ragazzi! – Ele falou mais alto, batendo palmas e suspirei, virando de costas para ele.
Dei uma rápida olhada nos outros jogadores antes de seguir para fora do vestiário. Descendo as escadas, a fileira do Real Madrid já começava a montar e eu só consegui fazer um sinal da cruz, não sei exatamente pelo quê. Ganhar o jogo? Eram três gols de vantagem, era muita coisa. Para ter uma remontada incrível e Gigi poder finalmente ganhar uma Champions? Para eles não nos destruírem mais ainda pelos próximos 90 minutos?
Eu não sei, mas muita coisa podia acontecer, e eu só conseguia pensar em Gigi. Era muito para minha cabeça de idiota apaixonada. Ele desistiu de mim, não me deu satisfação nenhuma e eu ainda me preocupo com ele. Eu sou muito idiota, eu sei.
Cheguei no camarote, já vendo os jogadores entrando em campo e me certifiquei de sentar dessa vez e fiz uma rápida reza silenciosa, ou uma breve conversa com o Senhor, mas o hino da Champions e os gritos da torcida madridista me tiraram do foco. Do lado esquerdo, um grande mosaico de um tubarão branco e as palavras “Kiev”, cidade onde seria a final desse ano, ocupavam o centro da torcida.
Nossa Juve estava um pouco diferente do outro jogo. Dybala havia levado um vermelho, então estava fora, Barza havia rompido a musculatura da barriga e, também, estava fora. Com isso ficamos com Gigi, Alex, Chiello, Benatia e DeSciglio na defesa; Matuidi, Pjanic e Khedira no meio; e Mario – voltando de uma lesão na perna, a segunda só de março -, Pipita e Douglas no ataque. Era um time forte e confiante, mas tirando Sergio Ramos na defesa, o outro lado continuava igual.
Apertei minhas mãos na poltrona durante a divisão entre campo e bola, dessa vez Gigi estava com Marcelo, segundo capitão. Gigi foi para seu lado do campo e não demorou muitos para o árbitro apitar, me fazendo suspirar.
- Forza, null! – Pavel falou ao meu lado e assenti com a cabeça.
- Fino alla fine. – Falei baixo, suspirando.
Da mesma forma do primeiro jogo, algo incrível aconteceu nos primeiros minutos de jogo. Dessa vez, nos primeiros dois minutos e conosco. Uma ação de Douglas que começou de nada, resultou em um passe para Khedira que alongou para Mario que conseguiu mandar de cabeça para o fundo do gol, deixando Navas com as mãos abanando para cima.
1x0, 3x1 no agregado. Tudo bem, faltavam três e mais 88 minutos de jogo, quem sabe? Higuain pegou a bola e não deu tempo nem para eles comemorarem, pois eles correram para reiniciar o jogo.
Aos quatro minutos, tivemos outra chance similar, dessa vez DeSciglio, Desci como era chamado pelo pessoal, fez um passe para ele, mas acabou sendo longo demais e foi para fora. Segundos depois novamente. Dava para perceber nesses poucos minutos que algo aconteceu com esse time.
Aos sete minutos, Douglas se aproximou novamente, conseguindo driblar todo mundo, Navas conseguiu dar um tapa para frente, mas Higuain estava ali e, por sorte deles, Navas continuava no chão na frente do gol e impediu a bola de entrar.
Aos 10 minutos, nosso primeiro susto, Bale, que agora não tinha certeza se estava no jogo em Turim, tentou se aproximar, deixando Benatia, Chiello, Pjanic e Alex de sobra, mas Gigi acabou conseguindo defender com sua barriga, a bola voltou para Bale, tentando mandar de calcanhar, mas acabou batendo na rede do lado de fora. Foi o tipo de defesa que eu comemorava tanto quanto um gol.
Aos 12, eles se aproximaram de novo, vários jogadores do Real se aproximaram, mas Gigi conseguiu conter de novo. Aos 14 minutos, um susto enorme, depois que Ronaldo conseguiu driblar Benatia e Desci, ele chutou, mas Gigi defendeu. Isco, que estava em sinal de impedimento, pegou o rebote e chutou para dentro do gol, mas o bandeirinha já tinha marcado.
Na hora do contra-ataque, Douglas e Mario trabalharam em uma jogada que acabou com uma tirada de Benzema dentro da grande área que quase acabou em gol contra, mas ele tirou por cima. Na cobrança de escanteio nossa, Mario se viu sozinho com Navas na frente do gol, mas o costa-riquenho conseguiu defender.
Aos 17 minutos, o árbitro deu um amarelo para Pjanic por uma segurada em Isco, mas totalmente desnecessário, já que o espanhol nem chegou a cair. Nessa mesma minutagem, Allegri tirou Desci e colocou Lich, o que me deixou confusa. Mattia estava indo bem e estávamos no primeiro tempo, que merda Max estava fazendo tão cedo?
Aos 22, Carvajal deu uma pisada em Mario e acabou levando cartão também. Mario ficou caído no chão por algum momento, mas não sabia dizer se era a firula de Mario ou se realmente ele havia sentido de novo. Quando o médico entrou em campo eu soube que era real. A Aos 25, a bola deu uma recuada e Khedira deu uma bomba que eu achei que fosse entrar, mas a bola subiu alta demais.
Aos 29, foi a vez de Mario dar o troco em Carvajal e tomou um amarelo. Aos 32, Isco se aproximou, mas recuou a bola e Kroos acabou pegando-a, ele chutou e Pjanic salvou, mas a bola ou pé de Kroos deve ter batido na cabeça de Khedira e deixou-o desmontado na grande área. Enquanto Khedira era atendido, Gigi foi comemorar com Pjanic a defesa crucial dele.
Aos 34, Isco se aproximou de novo, mas ele deixou chegar muito perto para chutar e acabou estourando em Gigi. Benatia, Chiello e Lich defenderam a bola, o suíço até caindo, mas parecia estar impedido já. Aos 36, foi a vez de Lich levar um amarelo por uma falta em Cristiano.
Aos 37, minha porcentagem de esperança subiu de 10 para 50 por cento, Lich conseguiu se aproximar da grande área pelo lado de fora, fez o passe para Mario que cabeceou DE NOVO! EU QUERIA DAR UM BEIJO NESSE CROATA! Ele não deu chances para Navas! Subiu mais do que Benzema e meteu para dentro do gol! ERA PERFEITO DEMAIS! Tínhamos mais quase 55 minutos e dois gols, faltava mais um para empatar e passar para a prorrogação ou quatro para passar direto.
Ah, a maldita esperança! Era a mesma esperança que começava a animar Gigi do outro lado e que fez o time voltar para repor a bola em campo.
Após quase 10 minutos sem lances, eles tentaram se aproximar com Cristiano, mas não acabou dando em nada. Aos 47, quase acabando a prorrogação, eles tiveram uma falta após uma entrada de Chiello em Cristiano, Kroos cobrou, mas a bola estourou no travessão e foi para fora. O primeiro tempo acabou logo após esse lance, me fazendo soltar uma longa respiração como se eu a segurasse há tempos.
- Estamos indo bem. – Pavel comentou e virei para ele, suspirando.
- É, mas eu preciso de álcool no sangue. – Suspirei, me levantando, sentindo as pernas falharem.
Depois de virar uma dose dupla de uísque, eu voltei para meu lugar um pouco mais quente e pronta para a próxima. Sabia muito bem o que o uísque faz comigo, então precisava me conter. Na volta dos jogadores, Real Madrid finalmente demonstrou medo de nós e mudou dois jogadores, tirou Bale e Casemiro e colocou Asensio e Vázquez.
O jogo recomeçou e demorou um pouco para os lances finalmente começarem. Aos 53 minutos, o primeiro lance perigoso, Cristiano tentou se aproximar, mas Benatia tirou antes de ele conseguir chutar. Na saída de bola disso, eles se aproximaram de novo, mas Chiello tirou de cabeça e Higuaín mandou para longe. A bola voltou e Gigi precisou sair para afastar a bola antes que Asensio se aproximasse.
Aos 55 minutos, Carvajal entrou em Mario e ficou no chão reclamando, mas Mario não havia feito nada para realmente ganhar alguma punição, era só mais uma reclamação do merengue. Na cobrança de falta, Khedira mandou a bola para longe.
Aos 58 minutos, Cristiano se aproximou e Lich e Benatia não conseguiram segurar a bola, mas Gigi sim, segurando-a contra seu corpo.
Aos 59, após a bola seguir por Matuidi, Mario, Pjanic e Higuain, Navas defendeu e o impedimento de Matuidi foi dado para o possível rebote de Blaise, mas ele mesmo já parou ao perceber. Aos 61, quando o ataque finalmente voltou para nós, o lance começou com Matuidi, ele passou para Alex, depois para Pjanic, depois para Lich e Douglas, de volta para área, fez um passe longo, quase irreal, para Matuidi. Estava praticamente só ele e Navas, Navas deixou a bola escapar e foi só preciso que Matuidi desse um toquinho para entrar.
- GOL! CAZZO! – Me levantei junto do top, incapaz de manter meus braços ao lado do corpo. – CAZZO! CAZZO! CAZZO!
- É GOL! É GOL! - Pavel me sacudia e eu só conseguia olhar para Gigi comemorando desesperado em direção à torcida bianconera.
A PORRA DA BOLA ENTROU! ENTROU! A BOLA ENTROU! CONSEGUIMOS ACABAR COM A VANTAGEM DELES! E EU NÃO CONSEGUIA PARAR DE GRITAR!
Agora parecia que os 28 minutos restantes seriam uma eternidade. Conseguimos fazer três, acabamos com a vantagem deles, agora a vantagem estava conosco, porque nós estávamos na casa deles, se fizéssemos mais um gol, eles precisariam de dois para passar e seria muito difícil com o ânimo afetado dos madridistas. Agora, nós não poderíamos levar nenhum ou isso afetaria tudo.
E sem contar que, com o resultado atual, teríamos prorrogação e pênalti, e eu só conseguia pensar em terminar tudo em 90 minutos, mas sem nenhuma outra surpresa! Estava sendo o dia perfeito, o jogo perfeito. Os poucos torcedores bianconeri deixavam suas vozes mais altas que dos madridistas e isso precisava manter nossa torcida empolgava.
Voltamos ao jogo e só tivemos outro lance aos 67 minutos quando Alex causou uma falta em Cristiano, levando um amarelo, o que dizia que ele perdia o próximo jogo se conseguíssemos passar. Na cobrança de falta, Asensio bateu, mas estourou na barreira e foi para cima demais. Aos 73, foi a vez de Douglas causar uma falta em Asensio e também levou um amarelo. Os ânimos estavam bem aquecidos.
Aos 75 minutos, foi a vez do Real Madrid fazer uma alteração, ele tirou Modric e colocou Kovasic, esperava que isso não mudasse nada para nós. Aos 78, quando a bola voltou para o nosso lado, Isco fez o chute que acabou desviando com Benatia, mas Gigi defendeu, comemorando com Chiello e Benatia. No retorno, Varane tentou de novo, mas a bola acabou indo para fora.
Aos 80, eles se aproximaram de novo e Chiello tirou quase fazendo um gol contra. Era óbvio que eles começariam a atacar adoidado agora nos últimos 10 minutos. Eles querendo fugir da prorrogação e nós querendo a prorrogação, qualquer minuto a mais seria melhor, mas eu preferia ainda terminar em 90 minutos.
Aos 83, foi a vez de Marcelo levar um amarelo após uma entrada em Douglas, essas mágoas estava demais. Aos 86, faltando cinco minutos para o fim, Cristiano tentou uma cabeçada a queima-roupa, mas a bola foi para cima demais. Aos 90, Benatia levou um amarelo após uma entrada em Asensio e Kroos.
Meu pé começava a bater no chão e eu não aguentava mais, só queria ouvir o apito final e acabar com esse nervosismo, mas precisávamos de um gol, só mais um, gente! A trippletta de Mario, talvez? A doppietta de Matuidi? Qualquer coisa.
Pena que aconteceu o pior. Como um péssimo epílogo de um livro.
O jogo já tinha entrado nos acréscimos com três minutos, nenhum lance real tinha acontecido desde o lance de Benatia, era tudo ou nada, mas como a sorte raramente estava com a Velha Senhora, ela também não estava agora.
Real Madrid se aproximou para tentar um último ataque, não sei quem ou como, mas só tinha Vázquez e Gigi dentro da pequena área. A última coisa que eu vi foi Benatia aparecendo, Vázquez no chão e o surto da torcida madridista. Gigi segurou a bola ao defender da cabeçada do madridista, mas o árbitro apontava para a marca de pênalti.
- AH NÃO! – Me levantei apressada.
Gigi foi direto em cima do árbitro, Gigi, Chiello, Mario, Pjanic, Khedira, Douglas, todo mundo foi em cima do árbitro. Isso não podia estar acontecendo. Eu nunca, na minha vida, tinha visto o Gigi tão irritado quanto hoje ele foi em cima do juiz e eu só estava com medo de alguma coisa dar errado.
- Sai daí! Sai daí! – Falava baixo enquanto Mario, o briguento do time, tentava afastá-lo de perto do juiz. – Sai, Gigi! Sai daí!
Minhas suspeitas foram confirmadas quando o árbitro PUTTANO levantou o cartão para Gigi. Isso não mudou nada, pois foi aí que Gigi, e o resto do time foi em cima do árbitro, mas Gigi começou a sair de campo. Eu não queria ver mais nada, eu simplesmente dei às costas e saí correndo para o vestiário.
Meus pés andavam mais rápido que minha mente, então não tive capacidade de esperar pelo elevador, empurrei a porta de emergência e segui para baixo correndo, ouvindo meus saltos baterem com força nos degraus, principalmente quando eu pulava dois, três em uma passada só.
Empurrei com força a saída de emergência, me vendo no mesmo túnel que dava para o elevador e me perdi na localização por alguns segundos até enxergar nosso brasão e seguir em direção ao vestiário. Antes de entrar, já ouvi alguns gritos e algumas batidas e, quando entrei, vi que Gigi era o causador disso, sendo a única pessoa no vestiário.
- Gigi! Gigi! – Me aproximei dele, puxando-o pela manga da camisa. – GIGI! – Chamei-o firme, vendo-o virar o rosto com os olhos arregalados para mim.
- Ah, null! – Ele me abraçou com força, apertando o rosto em meu ombro e passei meus braços em sua cintura. – Deu tudo errado! Deu tudo...
- Xi! Xi! Olha para mim! Passou! Já passou! – Falei rapidamente, me perdendo em minhas palavras e seus olhos azuis molhados olharam para mim. – Acabou! – Falei, segurando seu rosto com as mãos, sentindo minha respiração acelerada. – Eu estou aqui. Acabou.
- Me desculpe... – Ele disse e neguei com a cabeça.
- Você não precisa pedir desculpas... – Fui interrompida com seus lábios colando nos meus.
Eu fiquei entorpecida por alguns segundos, mas eu sentia falta daquilo e, na minha cabeça estúpida, ele precisava disso. Suas mãos correram agilizadas pelo meu corpo e ele deu alguns passos para trás, me prensando contra a parede mais próxima. Desci minhas mãos para seus braços, sentindo minha mão apertar a braçadeira que havia ficado em seu braço.
Nossos lábios se mexiam com urgência e suas mãos exploravam meu corpo como se fosse a primeira vez de novo. Suas mãos foram para minhas pernas, me puxando pela parte de trás da coxa e erguendo meu corpo, fazendo minha saia subir e as pernas apertarem em volta de sua cintura.
Firmei minhas mãos em seus ombros, sentindo seu corpo suado, mas eu não me importei com mais nada naquele momento, só queria aproveitar isso um pouco mais. Gigi mordiscou meus lábios, passando a língua neles logo em seguida e pressionou os lábios novamente, deixando sua língua adentrar meus lábios mais uma vez. Suguei sua língua para dentro e prendi minhas mãos na gola de sua blusa, mantendo seu corpo próximo do meu.
- CAZZO! – Me assustei, colocando os pés no chão quando uma voz alta e alguns respingos nos atingindo de um squeeze ali perto e virei o rosto para porta, vendo Benatia e outros entrarem irritados.
Tínhamos perdido o pênalti.
- AFFACULO ESSE ÁRBITRO!
- PUTTANO!
Empurrei Gigi pelo ombro para longe, puxando minha saia para baixo e ergui o olhar para Gigi que pressionava os lábios avermelhados um no outro e eu não queria nem saber como estava meu batom. Ele deu um curto sorriso, ajeitando sua blusa e mordi meu lábio. Acho que a raiva os deixou cegos por alguns segundos.
Desviei meu corpo, entrando no banheiro e segui em direção ao banheiro, vendo meus cabelos bagunçados e o batom sumido da boca, além da blusa completamente para fora da saia e torta. Soltei um longo suspiro, engolindo em seco e me assustei com um reflexo no espelho, me obrigando a olhar para trás, vendo Filippi ali.
- Eu vi! – Ele disse, dando um sorriso e levei a mão ao rosto, me escondendo, ouvindo-o rir. – Amor que chamam, né?!
- Sai daqui, Claudio! – Falei, ouvindo-o rir fracamente e suspirei.
Me olhei no espelho novamente e vi o pequeno sorriso em meus lábios que só sumiu quando coloquei o rosto dentro da piada para lavá-lo, mas tinha certeza de que ele continuaria ali quando eu me levantasse novamente.
Ouvi as batidas na porta se sobressaírem enquanto eu desligava as manoplas do chuveiro e puxei a toalha do box. As batidas não seguiram, mas se fosse quem eu imaginava, elas voltariam logo em seguida. Passei rapidamente a toalha no rosto, esfregando-a nas costas rapidamente antes de enrolar na cintura e deslizar para fora do banheiro.
- Quem é? – Falei um pouco mais alto, sacudindo os cabelos molhados.
- Quem você acha? – null respondeu e bufei antes de entreabrir a porta.
- Entra. – Falei, voltando para o banheiro. – O que você quer? – Pergunte desanimado.
- Primeiro eu quero saber como você está. – Ela disse, escondida antes da porta.
- Irritado ainda, mas melhor. – Falei, desviando o olhar do espelho da pia para vê-la caminhar pelo quarto com os pés no chão.
- Extravasou seus pensamentos? – Ela perguntou, batucando suas unhas perfeitamente pintadas de preto no móvel que rodeava o quarto.
- Já está viralizando? – Perguntei, seguindo para fora do quarto, me aproximando dela.
- É claro! – Ri fracamente.
- Acha que eu fiz errado? – Me aproximei dela, pegando minha calça de moletom que estava ao lado de sua mão, sentindo o cheiro do seu perfume a poucos centímetros de mim antes de me afastar.
- Beh, entendo sua raiva, acho que todos estávamos com aquilo preso na garganta, mas você poderia ter usado outras palavras... – Sua voz falhou um pouco e virei o rosto, vendo-a desviá-lo rapidamente. – Dizer que alguém tem uma lata de lixo no lugar do coração é, no mínimo...
- Poético? – Brinquei, rindo fracamente e passei a toalha nos cabelos. Seu olhar travou sobre mim, descendo o olhar sobre meu corpo e aquela mordida forte em seus lábios me diziam tantas coisas que me sentia mal em chamá-la novamente. – null?
- Me desliguei, né?! – Seus olhos se ergueram para mim novamente.
- Um pouco. – Sorri e ela suspirou.
- É, poético. – Ela voltou ao assunto, sacudindo a cabeça. – Mas um tanto maldoso também. – Ela puxou seu celular, começando a ler algo. – O time deu tudo, mas um ser-humano não pode vir destruir os sonhos assim em uma remontada incrível com uma situação duvidosa. Claramente ele não tem um coração no peito, ele tem uma lata de lixo. Além disso, se você não tem coragem de entrar em um campo desses, em um estádio desses, você pode sentar na plateia com sua esposa e filhos e beber algo e comer batatinhas. Você não pode acabar com os sonhos de uma equipe...
- Eu entendi! – A interrompi. – Eu falei isso! Não nego. – Bufei. – Eu aguento qualquer sanção que eles possam fazer, mas você vai ver, aquele lance não vai ser revisado, não tem o cazzo do VAR, não foi pênalti, null... – Movimentei as mãos em sua direção. – Não foi! Poderíamos entrar com um processo contra isso e...
- E o que, Gigi? – Ela segurou minhas mãos. – Alguma vez algum processo para volta de resultado adiantou? Pavel vai preparar um, tenho certeza, mas não é assim que funciona! Nunca funcionou. – Suspirei alto. – E vocês fizeram o jogo perfeito, Gigi. Eu vi as imagens do pênalti, foi ridículo vê-los comemorando uma vitória por causa de um pênalti. Eles não fizeram nada o jogo inteiro.
- Mas passaram! – Falei alto, bufando em seguida e negando a cabeça antes de se sentar na cama. – Não é justo. – Bufei.
- Eu sei que não, não concordo muito com esses dois jogos, gols de vantagens e afins, mas são as regras, temos duas opções: aceitá-las ou não... – Sua voz foi ficando mais próxima. – Mas você está nessa há anos para concordar.
- Eu só estou bravo. – Joguei a toalha para o lado. – É como um apagão, sabe? – Ergui o rosto para ela. – Eu não lembro do Benatia, eu só lembro da bola na minha mão e do juiz apontando para a marca do pênalti.
- O que você disse para o juiz, Gigi? – Ela perguntou. – Passou como um flash para mim também, mas você deve ter dito algumas coisas bem feias para ele.
- Eu não lembro muito, mas sei que falei em italiano, estava muito irritado para tentar usar o inglês. – Suspirei.
- Você o mandou ir cagar, não? – Ri fracamente, erguendo o olhar para ela que estava próxima de mim. – Foi o que deu para ler no vídeo.
- E mais outras coisas, mas foram ofensas juvenis, prometo. – Ela negou com a cabeça, levando as mãos em meus cabelos, me fazendo sorrir.
- A UEFA vai cair matando, Gigi. Ainda bem que da parte disciplinar não sou eu quem cuido. – Ri fracamente, erguendo as mãos para sua cintura, abraçando-a fortemente.
- Sem multa dessa vez? – Perguntei, apoiando a cabeça em sua barriga, sentindo suas carícias.
- Não... Beh, a não ser que a UEFA te multe, aí a gente passa para você, obviamente.
- Ah, obviamente. – Falei rindo fracamente. – Viu? – Falei automaticamente.
- O quê? – Ela perguntou.
- Eu me acalmo contigo. – Suspirei. – Nem me lembro mais do que aconteceu.
- Eu sei, eu sempre soube. – Ela disse baixo. – Mas eu não vou voltar a isso de novo. O motivo disso não ser mais frequente é você. E eu não estou aqui para falar disso. – Engoli em seco.
- Eu sei, é mais uma constatação para mim mesmo. – Suspirei, apertando-a mais fortemente, querendo aproveitar esse momento ao máximo.
- Entendi...
- Você pode ficar aqui comigo essa noite? – Perguntei baixo.
- Você vai tentar me beijar? – Ela perguntou, me fazendo rir.
- Talvez? – Ergui o olhar, vendo-a sorrir.
- Gigi!
- Só se você quiser. – Falei, vendo-a morder o lábio inferior. – Mas acho que, depois de mais cedo, depois de tanto tempo sem seus beijos, eu me contento só em te abraçar... Isso eu posso?
- É, acho que você pode. – Sorri. – Mas acho que você que me beijou. – Ergui meu corpo, rindo fracamente.
- Pode até ser, mas você retribuiu. – Rimos juntos.
- Eu rasguei outra saia, isso sim! – Ela mostrou a lateral da saia aberta na costura, me fazendo rir.
- Você precisa parar de usar esse tipo de saia. – Falei, apoiando os braços para trás na cama.
- Ah, agora a culpa é minha? – Ela empurrou minha cabeça de leve para trás. – Eu te abraço e dá nisso? – Ela disse em um tom mais afinado e deslizei o corpo para trás, deitando na cama.
- Já foram quantas vezes, duas? – Perguntei, tirando um travesseiro da pilha que eu montei e coloquei um ao meu lado.
- Deve ter acontecido mais. – Ela disse, dando a volta na cama. – Vou começar a usar saia godê depois disso.
- Eu não tenho ideia do que seja. – Falei, vendo-a se sentar de costas para mim.
- Saia rodada. Vou parecer uma jovem de 20 anos de novo. – Ela girou o corpo para dentro da cama, se deitando ao meu lado.
- Eu me lembro. – Suspirei. – Mas tenho que dizer que prefiro a gente hoje.
- Eu não. – Ela negou com a cabeça. – Na época achávamos que tínhamos problemas, hoje temos de verdade. Se tivéssemos sido menos idiotas, não estaríamos assim hoje.
- É, mas também poderíamos nem estarmos aqui hoje. – Virei meu corpo para ela. – Entre altos e baixos, eu sempre te tive e sei que sempre vou ter...
- Olha o assunto de novo, Gigi. – Ela disse e suspirei.
- Eu sei, me desculpe. – Pressionei os lábios. – Um cara pode sonhar, não?
- É a única coisa que me mantém viva. – Sorri, levando uma mão à sua cintura e achei melhor mudar de assunto.
- O que estava falando antes? Da sua saia?
- Eu estava dizendo que meu armário acaba afetado por culpa sua.
- Confesso que foi bem menos do que eu queria, devo dizer. – Falei, mordendo o lábio inferior e ela bateu em meu ombro, me fazendo gargalhar.
- Eu não lembro de muitas situações... Selvagens. – Ela disse, me fazendo rir.
- Tivemos algumas, alguns botões perdidos, lugares inapropriados, pessoas inclusas no momento...
- Pessoa, só foi uma, e ele odeia falar disso. – Sorri.
- Quem sabe ele não se divirta mais agora que está solteiro? – Falei, vendo-a ponderar com a cabeça.
- Espero que sim, ele merece! – Suspirei. – Ele só precisa sair um pouco do seu casulo.
- Beh, o amor acontece de formas estranhas e inesperadas. Quem sabe? – Falei, levando minha mão para dentro de sua blusa, acariciando sua barriga levemente, sentindo-a contrair.
- É, quem sabe... – Suspirei. – Gigi... – Parei o movimento.
- Sim?
- Estou com sono. – Ela disse em um gemido e sorri.
- Quer se trocar e dormir mais confortável? – Perguntei, erguendo o corpo.
- Você tem roupa aqui? – Ela franziu o rosto.
- Sim, um moletom extra a gente sempre tem. – Me levantei, afastando minha mão dela e fui até minha mochila.
- Ao menos eu compenso minhas saias rasgadas pelas suas roupas. – Ela disse e eu ri, puxando uma calça de treino e uma camisa.
- Aqui! – Estiquei-a, vendo-a se levantar rapidamente.
- Já volto! – Ela tirou as peças da minha mão e seguiu para o banheiro.
Ri fracamente, observando-a tirar sua roupa pelo reflexo do espelho e neguei a cabeça, me afastando dali antes que acabasse me atiçando e eu sabia que nada aconteceria hoje, mesmo se eu quisesse. Apesar de não gostar, eu precisava dar esse espaço para ela, principalmente sabendo que hoje era um presente. Ela me odiaria até o fim da temporada que seria em menos de 40 dias.
Voltei para a cama, dessa vez puxando as cobertas e me enfiando embaixo delas. Ouvi alguns barulhos dentro do banheiro ainda e logo ela saiu, deixando suas roupas ao lado de minhas coisas no móvel.
- Você está linda. – Falei sorrindo. – Melhor do que com a saia. – Comentei, vendo-a jogar seus cabelos para o lado.
- Mesmo sem mostrar minhas curvas? – Ela disse rindo, se aproximando da cama e estiquei o cobertor para ela entrar.
- Eu sei onde elas estão. – Sorri, vendo-a entrar embaixo delas. – Cada uma delas.
- Ah, você sabe? – Ela disse, rindo fracamente e a cobri novamente.
- Sim, é claro! – Levei minha mão para sua barriga novamente, procurando para adentrar embaixo do tecido. – Ainda lembro que sente cócegas do lado esquerdo... Aqui está sua cintura... – Falei, deslizando a mão pelo seu corpo. – Aqui seu quadril... – Abaixei a mão em sua virilha, sentindo-a contrair o corpo. – A cicatriz do câncer... – Falei baixo. – Você tem uma pinta próxima do seu umbigo... – Deslizei a mão. – Outra embaixo do seio direito... – Ergui meu olhar para seu rosto, vendo-a morder o lábio inferior. – Se eu subir mais eu encontro seus seios e algumas marquinhas nele...
- É, pode parar. – Ela disse rapidamente, colocando a mão em cima da minha, me fazendo rir. – E você acertou tudo.
- Além de uma marca de catapora na altura da calcinha. – Ela virou o rosto rápido para mim, me fazendo sorrir.
- Eu te odeio. – Ela disse, me fazendo rir e segurei um “eu te amo”.
- Eu não. – Me aproximei dela, colando os lábios em sua bochecha, mas ela me empurrou segundos depois.
- O que eu disse sobre beijar? – Ela brigou comigo.
- Achei que fosse na boca. – Falei apressado, erguendo as mãos.
- É, mas na bochecha desce para boca e... Não! – Ela disse firme e gargalhei.
- Ok, mamãe! – Falei, inclinando meu corpo para trás e apertei o botão da luz. – Vamos dormir, então, antes que eu termine meu quebra-cabeças em você.
- Esse jogo é chato. – Ela disse, me fazendo rir.
- Por quê? – Voltei meu braço para sua barriga, por cima da blusa, aproximando meu corpo do seu e ela segurou minha mão fortemente.
- Tirando duas pintinhas no peito do lado esquerdo, uma na axila esquerda, duas perto do pescoço, a cicatriz no ombro direito e a das costas, só sobra o caminho da felicidade. – Ela disse, me deixando em choque por alguns segundos. – Gigi? Dormiu?
- Você sabe... – Falei, ouvindo-a rir fracamente.
- Dois podem jogar esse jogo, Gigi. – Ri fracamente, ouvindo sua risada próxima de meu rosto.
- E o que é caminho da felicidade? – Perguntei, franzindo a testa.
- Nem te conto... – Foi minha vez de contrair a barriga quando sua mão gelada me tocou e senti sua cabeça apoiar em meu ombro. – É só... – Ela começou a deslizar o indicador pelo caminho de pelos que trilhava meu peito até meu umbigo e sumia dentro da calça. – Um caminho, sabe? – Ri fracamente, entendendo qual felicidade ela se referia.
- Entendi. – Levei minha mão para sua cintura.
- Você está melhor? – Ela perguntou. – De hoje?
- Eu sempre estou bem contigo, null. – Suspirei. – Você recarga minhas energias, faz eu me sentir melhor. – Suspirei, levando minha mente novamente para quando tudo isso acabar. – Vai ser perfeito... – Falei baixo, suspirando.
- Boa noite, Gigi. – Ela disse baixo.
- Boa noite, mi amore. – Falei baixo, apertando-a contra mim.
Capitolo centodue
- Pelo menos não foi nos acréscimos. – Travei os dentes, virando o rosto devagar para o lado, vendo Pavel, Agnelli e John Elkann olharem para mim e relaxei o rosto, voltando o rosto para o campo.
Depois de 89 minutos, Koulibaly conseguiu fazer um gol em Gigi. O único gol do jogo provavelmente, já que o assistente levantou a placa de só mais três. Isso nos mantinha em primeiro lugar na tabela, mas depois do empate do Crotone na quarta-feira e agora isso, nos atrasava mais um pouco no fechamento do scudetto.
Sobrava somente um ponto, era desesperador, mas era um tanto irônico pensar que ganhamos na casa deles e agora perdemos na nossa. Ser o Napoli também não me ajudava, pois eu odeio a cidade, acabo odiando o time, beh... Acontece.
Assim que o juiz apitou, os napolitanos no estádio seguiram comemorando. Eu sentia um alívio em meu corpo, esse jogo teve de tudo: brigas, cartões, gol impedido, só faltou uma expulsão, mas se ficássemos mais três minutos, provavelmente ia rolar e era muito cedo para brincar com isso de novo depois do que aconteceu em Madrid.
Segui atrás do top cinco, três, na verdade. Beppe e Fabio não tinham subido hoje. Eu não estava muito animada em descer e encontrar o clima de luto no vestiário, mas fazia tempo que eu estava contendo Agnelli de falar algumas coisas irritadas para os jogadores e eu continuaria fazendo isso hoje.
Chegamos ao túnel e o ambiente estava calmo, como sempre. Alguns jogadores entravam de volta, os napolitanos ainda deveriam estar comemorando e eu realmente não estava a fim de fazer compras no centro do país para a próxima temporada. Desviei de algumas pessoas, mas parei na frente do vestiário junto de Pavel e Agnelli.
- O que você está pensando? Me deixa entrar! – Agnelli falou para Marchisio.
- Não! – Ele disse firme e toquei o ombro de Agnelli, vendo Higuain, Dybala, Claudio e Alex Sandro parados na porta enquanto nós três, Allegri e Landucci, seu assistente técnico, bufavam do lado de fora.
- Che cazzo está acontecendo, Claudio? – Me aproximei.
- Vocês não vão entrar! Simples assim! – Ele disse firme e olhei em seus olhos.
- O que está acontecendo, Claudio? – Perguntei firme, ouvindo alguns gritos lá dentro em resposta e os quatro se entreolharam. – Alguém fala nessa porra?
- Não! E vocês não vão entrar! – Dybala disse.
- Escuta aqui, garoto! – Estiquei o dedo para Dybala, não faça eu me arrepender de contratar os três! – Virei para Claudio. – É motim agora?!
- É! – Ele disse firme e ri fracamente.
- Marchisio, Marchisio.
- Eles estão irritados pelo resultado do jogo! – Allegri disse.
- Você fica quieto! – Claudio disse firme.
- EI! EI! – Virei para ele. – É o poste mijando no cachorro agora? – Falei firme. – CHE CAZZO! – Gritei. – Você não vai sair? – Olhei firme para ele.
- Ainda não! – Ele disse, com os braços apoiados no batente.
- Então, por 12 anos de amizade, você me perdoe por isso. – Empurrei-o pelo ombro, vendo-o se desequilibrar nos pés e passei pelo corredor de entrada.
- ! – Ele tentou me puxar de volta e desviei o corpo dele, dando um tapa em sua mão.
- Você que me aguarde, Claudio! – Falei firme, ouvindo os gritos aumentarem e entrei no vestiário, vendo poucos jogadores ali dentro e os gritos obviamente eram de Gigi e Medhi.
- VOCÊ FEZ DE NOVO! ISSO NÃO É UMA FALTA DE POSIÇÃO SIMPLES, É UM ERRO QUE RESULTA NUM GOL AOS 90 MINUTOS! – Gigi esbravejava.
- E VOCÊ VAI FICAR ME CULPANDO POR ISSO ATÉ QUANDO? PORQUE VOCÊ PERDEU A PORCARIA DA CHAMPIONS? NÃO É SÓ VOCÊ QUE QUER GANHAR ISSO! – Medhi retornava e Gigi logo retrucou.
Olhei em volta e parte do staff estava lá dentro, além de Barza, Chiello, Ruga, Sami, Mario, Douglas, Tek e Lich. Ninguém falava nada, só parecia assistir ao circo pegar fogo há sei lá quanto tempo, mas Gigi e Medhi estavam suados e as veias nas gargantas aumentadas.
- QUE PORRA É ESSA? – A voz de Pavel se sobressaiu antes da minha e ambos olharam para nós.
- Quem deixou eles entrarem? – Gigi perguntou.
- AH, QUE BONITO, SENHOR BUFFON! – Falei sarcasticamente. – O QUE É ISSO? MOTIM AGORA? – Falei firme, me aproximando dele. – PERDE A PORRA DE UM JOGO E SOLTA OS CACHORROS EM CIMA DO MEDHI? – Empurrei-o pelo peito. – E VOCÊS? – Virei para os outros jogadores calados em seus lugares. – ELE FALA E É ISSO? – Senti minha garganta arder com a força. – BUFFON VIROU DEUS AGORA?! TE GARANTO QUE NÃO VAI NASCER UMA AURÉOLA NA SUA CABEÇA!
- !
- FOI UMA PERGUNTA RETÓRICA! – Cortei Gigi.
- null... – Agnelli tocou meu ombro e respirei fundo.
- Scusi, isso é contigo! – Falei, me afastando do centro do vestiário.
- Não, pode continuar, na verdade, mas se acalma. – Ele pediu baixo.
- Ok! – Respirei fundo, virando para eles novamente. – O que está acontecendo? – Olhei fixamente para Gigi por alguns segundos, desviando de Medhi e dos outros, vendo o silêncio se instalar no vestiário. – Ah, ótimo, agora ninguém fala. – Bufei, dando mais uma olhada no vestiário e vi uma mão discreta ser levantada no meio do pessoal, como uma criança de 10 anos faria. – Fede! – Falei e diversos rostos se ergueram para ele.
- Você não...
- CALA A BOCA, GIANLUIGI! – Gritei mais uma vez.
- Deixa quieto. – Fede disse e foquei em Gigi novamente, vendo seus olhos azuis quase faiscarem em minha direção.
- Você, comigo, agora! – Falei firme, fechando minha mão em torno de sua blusa e puxei-o alguns passos até perceber que ele estava me acompanhando enquanto soltava bufadas.
Não sabia onde me esconder de quase 40 homens com o capitão do time, então entrei na sala de Allegri e esperava que o som abafasse o suficiente, porque não tinha mais para onde fugir. Assim que ele entrou, fechei a porta e passei a tranca.
- CHE CAZZO! – Gritei irritada, virando para Gigi que tinha os braços cruzados.
- Estou de castigo agora? – Ele perguntou.
- É melhor você abaixar esse tom de cara irritado para cima de mim ou eu mexo no seu salário! Faltam só dois, mas me certifico de você não ter nunca mais! – Falei firme, cruzando os braços. – Que merda, Gigi! O que aconteceu? Nem quando você era novo eu te vi com esse tipo de pose, juntou o time para atacar o coitado?
- Ele não é coitado e você está fazendo uma tempestade em copo d’água, null, não é a primeira vez e não é a última que algo assim acontece. – Ele disse.
- Ah, bom saber que você já fez isso antes, que ótimo capitão você é, né?! – Falei sarcasticamente, rindo em seguida.
- Ser capitão nunca foi só apoiar e parabenizar, tem a parte dura também! Eu nunca quis isso...
- NÃO ACEITASSE! – Falei alto. – ELES IMPEDIRAM O ALLEGRI DE ENTRAR NO VESTIÁRIO! – Meu tom de voz aumentava. – Impediram o SEU PRESIDENTE de entrar no vestiário! – Suspirei. – Não sei quantas vezes isso aconteceu, mas eu estou em choque! – Falei, soltando uma risada sem graça.
- Você não tem vindo muito aqui mesmo, não é?! – Ele disse sarcástico.
- AH, E POR CULPA DE QUEM? – Virei para ele. – Fácil falar dos outros e sentar no próprio rabo, né?! – Bufei, negando com a cabeça. – Você não respondeu minha pergunta. O que ele fez? O que o Max fez?
- Você quer a lista por ordem cronológica ou alfabética?
- Eu quero que você tire essa ironia da sua boca ou eu vou tirar com um soco e, para mim, você não é o grande e intocável Gianluigi Buffon. – Falei, vendo-o bufar. – Vai ser lindo um homem de 40 anos precisar de aparelho, né?! Eu devo quebrar a mão, mas vai ser bom! – Falei, frisando as palavras conforme eu falava.
Ele bufou alto, jogando a cabeça para trás e levou as mãos às têmporas, massageando-as fortemente. Senti minha respiração ficara cada vez mais calma conforme ele tirava seu tempo e imaginava que tudo isso não passava de um surto após uma vitória importante.
- Você não vai falar? – Perguntei. – Mesmo? Vai me deixar com essa linda imagem sua?
- Dois jogos, null. – Ele disse firme. – Dois jogos importantes com erros causado por ele. – Ele aliviou o tom de voz. – Eu estou irritado e me vejo no direito de estar.
- Ninguém está te impedindo disso, Gigi! Todo mundo está irritado, eu sei! Mas isso não é desculpa para fazer o que você fez! – Bufei. – O time inteiro pensa assim, é isso?
- Não! Claudio e Dybala estão irritados de o Max usar os jogadores em posições erradas e isso me irrita também. – Ele disse firme. – Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- Pelo amor de Deus! Eu não acredito que eu estou ouvindo isso! – Bufei. – Eu não acredito que eu presenciei isso. Era melhor ter ficado em casa, estou naqueles dias, choveu o dia inteiro, o pneu do carro furou, era Deus dizendo para eu ficar em casa. – Neguei com a cabeça, vendo-o olhar para mim.
- O quê? Não dá para se irritar mais? – Ele perguntou.
- Dá! E eu sempre te apoiei e te ajudei durante esses momentos, mas hoje não! – Ri fracamente. – Esse não é o Gianluigi que eu conheço. – Neguei com a cabeça. – O mesmo Gianluigi em que eu queria colocar a culpa no ataque contra aquele jogo da Champions de 2006 que vocês foram eliminados e você me disse que eram um time e não dava para culpar um. – Ele engoliu em seco. – O mesmo Gianluigi que me apoiou cem por cento sobre a Juve ser a minha família, meu time, meu tudo. – Bufei. – Já faz um tempo que você está estranho, Gigi, não sei por que e cansei de entender, mas eu não vou deixar você fazer isso com as pessoas, mesmo se tiver certo. – Neguei com a cabeça, vendo sua respiração acelerada.
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra, null.
- Ah, não? Me desculpe, então, mas eu te conheço há 17 anos, frequento esse vestiário há seis, eu nunca vi isso e, em cinco anos, você era o capitão! – Suspirei. – Você ainda fez todo mundo ficar quieto e pediu para o Fede, o garoto que te admira, ficar quieto! – Ri fracamente. – Olha, ver você se aposentar vai ser a pior coisa que eu vou presenciar em toda a minha vida de Juve, mas você não é eterno e os novos precisam vir. – Suspirei. – Adoraria minha Juve de 2012, 2014, mas não dá! – Falei firme. – E o seu trabalho como veterano, como capitão ou como ser-humano, é recepcioná-los bem, e você queira ou não, o Medhi está fazendo um incrível trabalho conosco com todas as lesões do Barza, do Chiello e a saída do Leo que ainda é sentida. – Suspirei. – Você está brigando com ele por causa do gol nos 90 minutos? Do pênalti que não foi pênalti em Madrid? – Ele não movimentou o rosto. – Mas você o agradeceu por todas as vezes que ele tirou a bola da sua reta? Inclusive hoje aos 75, 78, que você, com toda certeza, não conseguiria defender? – Ri fracamente. – Fica o pensamento. – Virei para porta novamente, destravando-a e ele me puxou pelo ombro.
- null...
- Não vai adiantar usar meu apelido. – Falei firme.
- Eu não quero ficar brigado contigo. – Virei meu corpo, vendo-o mais próximo de mim.
- Eu não vou ficar brigada contigo, Gigi, eu só vi uma cena horrível hoje e nunca achei que isso viesse de você! – Falei firme. – Nem do Claudio, devo dizer! Só tem cara de santo mesmo. – Ele riu fracamente.
- Talvez eu tenha exagerado...
- TALVEZ? – Falei alto, rindo fracamente. – Por favor, Gigi. O cara é de fora, outra cultura, outra realidade, está fazendo um trabalho incrível e está longe de casa, o mínimo que você pode fazer é recepcioná-lo bem. – Neguei com a cabeça. – Isso foi passar dos limites em níveis estratosféricos. – Ele engoliu em seco. – Além de que, se ele está errando, você já não acha que a cabeça dele já está sendo um enorme juiz? Você teve depressão, você sabe o que é isso. – Apoiei o dedo em seu peito. – É horrível ficar se remoendo por dentro. – Suspirei. – E você também pode dar toques depois que a raiva passar, com calma, no privado... – Neguei com a cabeça. – Não, eu estou muito decepcionada contigo...
- null, por favor... – Ele me segurou pelos ombros.
- Não só contigo, devo deixar claro, com todo mundo, mas eu te conheço há mais tempo. – Suspirei.
- Me desculpe... – Ele disse baixo, deixando um biquinho formar em seus lábios. – Eu peço desculpas para ele, faço todo mundo pedir desculpas para ti... – Ri fracamente. – Por favorzinho? – Ele distribuiu alguns beijos em meu rosto.
- Eu não gosto disso. – Falei suspirando.
- O quê? – Ele me apertou forte em um abraço.
- Meu julgamento está comprometido por causa de você, tenho certeza. – Ele riu fracamente. – Eu nem me meteria se não fosse você, aposto.
- Você é null null, amore. Você sempre se mete. – Ele disse, me fazendo rir.
- Idiota! – Falei, beliscando sua barriga, ouvindo-o rir contra meu ouvido.
- Mas eu te amo assim mesmo! – Dei um curto sorriso, suspirando.
- E eu te odeio por repetir isso. – Ele ergueu o rosto, ficando de frente para mim.
- Tudo tem um motivo, null! – Ele disse baixo, roçando os lábios nos meus e engoli em seco.
- É, e eu ainda não consigo te odiar. – Empurrei-o pela barriga, vendo-o se afastar alguns segundos.
- Eu queria muito que conseguisse. – Ele disse, passando a mão em meu cabelo.
- Está bem, agora sai! Não quero que pensem que estamos fazendo outra coisa aqui! – Empurrei-o com força, ouvindo-o rir. – E você vai falar com Medhi, agora! – Abri a porta, vendo o silêncio dentro do vestiário e saí à frente, vendo os jogadores se virarem para nós.
- Se resolveram? – Pavel perguntou.
- Isso nunca foi problema meu. – Dei de ombros, apoiando meu ombro no batente da porta.
- Nem está descabelada. – Chiello disse e empurrei-o pelo ombro, ouvindo algumas risadas curtas.
- Ok, acho que todo mundo se excedeu hoje, principalmente eu. – Gigi disse, entrando em minha frente. – Somos uma equipe, isso não deveria ter acontecido, nem comigo e com o Benatia e nem com o mister. – Ele disse, suspirando.
- Por que não acalmamos os nervos e conversamos sobre isso na segunda-feira? – Allegri falou calmo. – Fazemos uma reunião e vocês podem falar o que estão incomodados. – Assenti com a cabeça, vendo outros fazerem o mesmo.
- Quando o técnico é contratado, é apresentado um projeto... – Agnelli disse. – Esse projeto é alterado com as contratações e vendas, mas ele é aprovado todo começo de temporada. – Suspirei. – Estamos cientes e de acordo com o que está acontecendo aqui. – Ele disse calmamente.
- E vocês são uma equipe! Vocês sabem a política da null, não está feliz, vai embora! – Pavel disse e dei um curto sorriso. – Ela funciona bem para gente há anos, a ideia de isso ser uma família não é só no papel, já vi brigas sim, participei de várias também, mas não assim. E não com quem tinha uma imagem diferente na cabeça. – Virei o rosto para Alex e Paulo.
- Eu não sou coordenadora de escola que precisa pedir para vocês pedirem desculpas, cada um sabe o que fez e cada um faça o que se sentir confortável para saber, mas saibam que todos aqui... Todos! – Frisei, passando o dedo para cada um deles. – Vão ser sancionados pelo conselho de ética do time. – Respirei fundo. – Então, esqueçam o salário de maio!
- MAS, ...
- EU NÃO TIVE NADA...
- ISSO NÃO É JUSTO...
- EU NÃO QUERO SABER! – Falei firme, silenciei as vozes que vinham, majoritariamente dos mais novos. – Ele é grande, alto e velho, mas ele não manda em nada. – Apontei para Gigi, ouvindo vários risos. – Não teve um que não defendeu! – Respirei fundo. – Na verdade, Fede está livre dessa, agora os outros? Nem vem! – Falei firme.
- Ah, que merda! – Eles reclamaram.
- Eu posso ser legal e deixar vocês escolherem para que caridade vai o dinheiro. – Dei de ombros. – Gosto muito da Insuperabili e do Sant’Anna, se puder sugerir. – Dei um curto sorriso, vendo Chiello retribuir com um aceno de cabeça.
- Acho que podemos conversar sobre quem realmente teve culpa nisso... – Claudio disse e virei para ele e virei o rosto para Agnelli e Pavel que pressionaram os lábios, assentindo com a cabeça.
- Ok, espero a lista dos culpados, se tiverem coragem, segunda de manhã. – Falei, suspirando. – Posso ir? Vocês não vão se matar assim que eu sair?
- Não, mamãe! – Eles disseram e sorri, vendo Gigi rindo em minha direção.
- Boa noite para vocês. – Falei, acenando.
- Boa noite, chefa! – Eles disseram.
- Claudio, desculpa pelo empurrão! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Está tudo bem. – Ele deu um curto sorriso e dei dois toques na parede antes de sumir pelo corredor de entrada, querendo sair dali antes que desse mais dor de cabeça.
- null! – Parei na porta do vestiário quando ouvi me chamar e vi Gigi seguindo ali.
- O quê? – Perguntei, suspirando.
- Só quero te certeza de que você não está brava comigo. – Ele disse e ri fracamente.
- Eu não estou. – Suspirei. – Ainda não. – Falei, ouvindo-o rir fracamente. – Muito estresse à toa, só isso.
- Vem cá! – Ele passou os braços em meus ombros, descendo pelas minhas costas e ri fracamente.
- Você está abusando da minha boa vontade, Gigi. – Falei, ouvindo-o rir fracamente.
- Não, só quero cuidar de você e te levar para casa para compensar o que eu fiz. – Ele disse baixo e passei meus braços em sua cintura.
- Tirando gritar comigo, você não fez nada, mas eu não gostei também... – Falei, ouvindo-o rir fracamente. – Mas você tem que se desculpas com o Medhi, não comigo. – Suspirei. – Eu já falei, infelizmente, depois de certo tempo, eu estarei aqui para sempre.
- Para sempre? – Ele perguntou baixo e logo mais eu estaria com vontade de cuidar dele e levar para casa se ele continuasse com esse tom baixinho e fofo.
- É, eu sou idiota, se esqueceu? – Falei e ele riu fracamente.
- Você é não é idiota, e eu nunca vou deixar você se xingar de nada, você é perfeita. – Suspirei, rindo fracamente.
- Queria que você estivesse certo. – Suspirei. – Posso ir agora?
- Não! – Ele disse, me fazendo rir fracamente. – Eu podia te chamar para te levar para casa hoje, mas eu estou com o time, pode me levar para casa? – Ele perguntou e ri fracamente.
- Não! – Falei firme e ele se afastou devagar.
- Coração virou pedra, hein?! – Ri fracamente, segurando seu queixo.
- Você não tem noção de quanta força eu preciso para dizer isso. – Suspirei, me afastando alguns passos. – Boa noite.
- Boa noite. – Ele disse sorrindo e soltei seu rosto, mordendo meu lábio inferior antes de virar.
- Ok, enviado. – Claudio disse, erguendo o olhar e assenti com a cabeça.
- Acho que concordamos em nunca fazer algo assim de novo, né?! – Chiello disse, cruzando os braços e eu suspirei.
- Nós falamos muito desde aquele dia... – Me levantei, empurrando a cadeira para trás. – E eu ainda acho que não foi o suficiente, da minha parte, em pedir desculpas por tudo. – Virei para Medhi. – Eu deixei meus nervos falarem mais alto e acho que está misturando tudo. – Suspirei. – Acho que estou deixando meu particular afetar também... – Cocei a nuca.
- Acontece, Gigi! – Paulo disse. – Acho que todos esquecemos que isso é uma família e... Metemos os pés pelas mãos.
- Não podemos fazer isso. – Disse firme. – Somos uma família. Família brigam sim, mas eles se apoiam antes de tudo. – Suspirei. – Me desculpe pelo meu comportamento no jogo seja com o Medhi, com o Fede, com o mister... – Allegri assentiu com a cabeça. – Às coisas estão complicadas, mas acho que isso não é motivo para o que aconteceu. Não perdemos o campeonato, foi só um jogo e, mesmo se tivesse sido um campeonato, precisamos permanecer juntos para nos reerguer, puxar o colega do chão e recomeçar...
- Isso aí! – Barza disse.
- Como null disse, eu sou grande, alto, estou velho, mas isso não pode acontecer... – Os jogadores assentiram com a cabeça. – Não é com 40 anos que eu vou surtar, né?! – Alguns riram. – Fino alla fine, ragazzi. Estamos juntos.
- É! – Os gritos ficaram altos e sorri.
- Antes... – Allegri disse, impedindo o pessoal de levantar. – Antes de vocês dispersarem, acho que você precisa falar conosco, Gigi. – Franzi a testa. – Você está se incluindo no time, nos próximos planos, mas... – Ele suspirou. – Você não vai estar conosco, vai? – Virei para o lado, olhando para os jogadores sentados nas mesas quadradas do lobby do hotel.
- Alguém mais sabe? – Perguntei.
- Beh, são só boatos. – Allegri disse e suspirei, virando o olhar para Mario que assentiu com a cabeça.
- Está na hora, capitano! – Ele disse.
- Os boatos são verdadeiros? Você vai se aposentar? – Paulo perguntou e soltei um suspiro, dando uma olhada para a porta, vendo se não apareceria ninguém, depois olhei para a recepcionista que parecia estar alheia ao assunto no telefone, mas ela é família também.
- Não. – Falei, negando com cabeça para Paulo.
- Mas também não vai ficar ano que vem, né?! – Medhi perguntou e suspirei.
- Não. – Engoli em seco. – Mas eu não quero que pensem que eu estou traindo o time ou algo assim...
- Acho que depois de 17 anos, se alguém pensar assim, é um completo idiota. – Filippi disse e sorri.
- É pela null. – Barza disse e assenti com a cabeça.
- Como assim? – Higuain perguntou e puxei a respiração fortemente.
- É uma situação enorme para eu contar inteira e eu não consigo simplificar tanto, mas eu vou ficar um ano fora por causa dela. – Suspirei, focando meu olhar para a porta. – Eu a amo e preciso protegê-la. – Engoli em seco.
- Tem a ver com a bruxa da sua namorada? – Fede perguntou e algumas risadas ficaram mais altas, inclusive a minha. – Desculpe, eu não gosto dela. – Sorri.
- Está tudo bem. – Suspirei. – Ela não é mais minha namorada, mas tem uma relação sim. – Assenti com a cabeça. – Só quero que saibam que esse é meu time, essa é a minha família, mas a null vem em primeiro lugar. – Sorri. – Na verdade, de todos vocês, ela sempre veio, porque ela foi a primeira. – Eles sorriram. – E eu estou fazendo isso por ela...
- Mas ela sabe que você está fazendo isso por ela? – Filippi perguntou.
- Não e nem pode saber. – Falei firme. – Eu não sei como vai ser ano que vem, mas vocês não podem contar para ela, nem era para vocês saberem, na verdade.
- Mas vocês precisam ficar juntos! – Paulo disse bravo, se levantando. – A gente tinha esperança de ver vocês finalmente ficarem juntos! – Suspirei.
- Eu ainda espero que vocês vejam, daqui um ano, mas eu preciso resolver isso antes. – Suspirei, vendo-o pressionar os lábios. – É grande demais para ignorar.
- Você PRECISA fazer isso dar certo. – Paulo disse firme. – É o maior boato que eu ouço desde que eu entrei esse time. – Ele suspirou e sorri. – Não pode acabar assim.
- Se Deus quiser, Paulino, não vai acabar assim. – Chiello disse e dei um curto sorriso, assentindo com a cabeça. – Só vamos ter que esperar mais um ano...
- Isso não é justo! – Ele disse irritado. – Vocês são iguais aqueles casais de filmes épicos. Gigi e null, Jack e Rose, Romeu e Julieta, vocês precisam ficar juntos. – Sorri.
- Adoro que ele citou vários casais em que pelo menos um morre no final, normalmente o homem, mas ok! – Asa disse, nos fazendo gargalhar.
- Bom, ele vai embora, talvez ele morra até o fim da temporada. Vai saber. – Barza disse e olhei para ele.
- Ah, valeu, cara! – Falei, vendo-o arquear os ombros.
- Você realmente acha que ela vai ficar feliz quando souber que você está mentindo para ela há... Julho, agosto... – Ele começou a contar nos dedos. – 10 meses?
- Eu não estou mentindo, eu estou omitindo...
- É, ela vai ver da mesma forma sim. – Lich disse, me fazendo rir.
- Eu sei que vai ser difícil, sei que ela vai me odiar e talvez seja insuportável, mas eu não tive outra escolha... – Neguei com a cabeça. – Um dia eu talvez consiga contar para vocês, mas, por agora, preciso acreditar que ela ainda me ama e que vai me amar daqui um ano. – Suspirei. – E que vocês estarão aqui também...
- Um ano é muito tempo, Gigi. – Barza disse.
- Você se aquieta aí! Eu tenho 40, você pode aguentar mais um pouco. – Rimos juntos.
- Beh, agradeço você por compartilhar isso conosco, Gigi, agora vamos mudar de assunto antes que o assunto chegue? – Allegri disse.
- Da mangiare! – Pinso disse, se levantando animado e eu ri fracamente.
- Você fez a coisa certa, capitano. – Senti as mãos de Chiello apertar meus ombros e suspirei.
- Espero que sim...
- Sim... – Barza apareceu do outro lado. – Você está pensando na null, no bem-estar dela, mas você deve estar um desastre também. – Suspirei, assentindo com a cabeça. – Você vai precisar do apoio do time.
- Valeu. – Assenti com a cabeça.
- Quer almoçar? – Tek perguntou.
- Acho que eu vou subir e espairecer um pouco. – Suspirei. – Eleonora!
- Sim! – A recepcionista ergueu o rosto.
- Os quartos estão prontos? – Perguntei.
- Sempre! – Ela disse. – Quer a sua chave?
- Acho que s...
- Bem na hora! – Ruga disse, se levantando e franzi o olhar, virando o rosto para a porta do hotel, vendo null e Angela entrarem.
- null? – Perguntei.
- Ciao, ragazzi! – Ela se aproximou, acenando para alguns que ficaram jogados nos sofás e nas mesas.
- Surpresa te ver aqui. – Ela sorriu, pressionando os lábios.
- Eu... Eu recebi isso. – Ela esticou um papel em minha mão e virei-o para mim, rindo ao ver o e-mail que havíamos acabamos de enviar para ela.
- É, nós conversamos... – Falei, pressionando os lábios.
- Eu estou surpresa. – Ela disse.
- Por ter o time inteiro aqui? – Perguntei, devolvendo a lista para ela.
- Também. – Ela suspirou. – Mas eu pedi para segunda-feira, hoje é quarta. – Ri fracamente. – Vocês são péssimos com prazos, me surpreendo de não ter mais jogos atrasados. – Sorri.
- Achamos que você entenderia. – Falei. – Tivemos uma longa e honesta conversa.
- Hum, grupo de apoio? – Ela brincou.
- Você sabe que o Stefano possui pós-graduação em psicologia do esporte? – Falei e ela franziu os lábios.
- Uau! – Ela disse, me fazendo rir.
- Pode levar isso em conta. – Falei, indicando o papel.
- Beh... Eu faturei o pagamento de maio ontem... – Ela suspirou, pegando a folha e rasgando-a no meio. – Acho que podemos deixar isso para lá, não acha? – Sorri.
- Sim, chefa! – Ela também sorriu. – Resolvemos isso, mas...
- Mas? – Franzi a testa e ela se afastou alguns passos para Angela se aproximar.
- Bomba? – Perguntei e ela ponderou com a cabeça.
- Achei que sim, mas não. – Ela riu fracamente. – Inicialmente achamos que era um protesto, mas é um apoio, dos ultras.
- Eles estão aqui? – Barza perguntou.
- Sim! – null disse. – No portão externo. Eles vieram dar apoio aos próximos jogos. – Assenti com a cabeça.
- Achamos que devessem falar com eles, agradecer, sei lá... – Angela deu de ombros.
- Quem? – Perguntei.
- Seria interessante os veteranos enfrentarem isso. – Ela disse e virei o olhar para Barza que revirou os olhos.
- Viu?! Só bomba! – null sorriu.
- Apesar de tudo, lucramos bastante com os ultras... – Ela cantarolou e sorri.
- Ok, podemos ir... – Dei de ombros. – Cinco minutos?
- É mais que o suficiente! – Angela disse rindo.
- Acho que eu vou aproveitar e almoçar. – null checou o relógio.
- Ei! Não vai com a gente? – Perguntei.
- Nós só chegamos juntas. – Ela disse rindo. – Cada um cuide dos seus problemas, querido! – Ela deixou um beijo em minha bochecha e seguiu para o balcão, me fazendo rir.
- Ela te deu um beijinho, vai! Já deu forças o suficiente! – Angela disse, me cutucando na barriga e ri fracamente, levando a mão até ela com a pontada.
- E eu vou na raça! – Barza disse, caminhando em frente enquanto eu e Angela rimos juntos.
- Ei, null. – Parei ao sair do ônibus, vendo Gigi estender a mão para eu descer e eu segurei-a para descer o degrau que faltava.
- Ei. – Sorri, começando a andar para dentro do San Siro ao seu lado.
- Feliz por te ver aqui. – Ele disse e ri fracamente.
- Beh, é Juve e Inter, né?! Um jogo com necessidade de vitória... – Falei e ele assentiu com a cabeça. – Os nervos estão calmos hoje?
- Ah, o suficiente. – Ele ponderou com a cabeça e ri fracamente, atravessando os corredores do estádio.
- Eu vi você com seus meninos hoje. – Falei, desviando o olhar para ele de novo.
- É? No parque?
- Sim! – Sorri. – Eu estava voltando do mercado e vi vocês jogando bola. – Ele assentiu com a cabeça.
- É, eles ficaram comigo esses últimos dias, sem Champions consigo passar mais tempo com eles. – Assenti com a cabeça.
- Só vejo vantagens. – Falei e ele abriu um largo sorriso. – Saudade deles.
- Eles vão estar no último jogo. – Assenti com a cabeça. – Apesar que poderia ter parado conosco um pouco. – Ri fracamente.
- Beh, se eu parasse lá, provavelmente tudo de geladeira no carro ia estragar, eu perco a noção de tempo com eles... – Ele sorriu.
- E tem algum problema nisso? – Ele parou antes da entrada do vestiário e desviei do caminho.
- Não, mas tínhamos que vir para Milão...
- Ah! Detalhes! – Ele disse, me fazendo rir.
- Façam um bom jogo. – Apoiei as mãos em seus ombros e ele assentiu com a cabeça.
- Vamos dar nosso melhor. – Confirmei com a cabeça e inclinei meu rosto para dar um beijo em sua bochecha, vendo-o sorrir.
- Vai lá! – Ele assentiu a cabeça antes de deslizar para dentro do vestiário.
Observei o restante dos jogadores entrarem no vestiário e Barza e Chiello me abraçaram rapidamente antes de entrarem também. Ver jogos fora de casa era um pouco mais complicado, eu precisava vir junto de todos e esperar as duas horas de preparação, o que implicava fazer aquele social mais longo com o administrativo do outro time.
E vamos dizer que eu não gosto muito disso, muitos confundem eu ser mulher com algum interesse em cima de mim. Já faz anos, mas sempre tem algum engraçadinho novo e, depois de anos... Beh, nunca tive paciência, mas fiz da mesma forma.
Me distraí um pouco com o treino dos rapazes, já que o camarote do San Siro é na altura do gramado, então deu para passar o tempo até o horário do jogo. Era derby, contra a Inter e, depois do jogo contra o Napoli, precisávamos daquela vitória. Só sete pontos nos separam do sétimo scudetto.
Teríamos o estádio cheio hoje e tudo o que eu não queria era torcida de interista na minha orelha hoje, era um jogo que precisava dar tudo certo... Então, obviamente, eu poderia esperar por algo errado.
Durante a entrada dos jogadores, a torcida organizada deles abriu um banner com a provocação que eles nunca foram para a Serie B. Isso pode ser verdade, mas eles também não venceram o scudetto de 2005, né?!
Logo aos cinco minutos Cuadrado levou o primeiro amarelo do jogo, mas sabe aquele tipo de jogo que você fala: ah, é Inter, né?! Nesse caso a gente entende e até perdoa. Depois disso, demorou um pouco para sair jogo. Aos 12 minutos, Mario tentou de cabeça, mas acabou saindo para fora. No escanteio batido, após alguns certos e erros, Douglas conseguiu acertar uma linda bola dentro do gol, fazendo com que eu me agitasse na poltrona.
Dois minutos depois, meu croata favorito levou uma bela entrada que precisou de atendimento. Depois de vir e voltar diversas vezes, da equipe médica entrar em campo e Mario querer a cabeça de alguém, o juiz foi checar o VAR e trocou o amarelo que havia dado para Vecino por um vermelho. Isso podia vir a calhar em um jogo dessa magnitude, não podia dizer que estava triste com isso.
Depois demorou bastante para termos um lance real e, dessa vez, foi deles, mas Gigi segurou-a firme aos 30 minutos. O jogo estava ficando inteiramente entediante e acontecendo em sua maioridade no centro do campo, os únicos momentos interessantes eram onde Mario quase brigava com todo mundo e nada era melhor do que isso, né?!
Pouco antes do primeiro tempo acabar, Barza levou um amarelo após uma entrada e tenho que dizer que estava com saudades de rir de suas reclamações por cartão. Depois o árbitro ainda deu seis minutos de acréscimos pelo tempo que ficaram com Mario, a expulsão de Vecino e por aí vai...
Quando estávamos chegando aos 50 minutos, uma surpresa, mais um gol nosso de Matuidi, os interistas foram direto no juiz, talvez reclamar da falta em Higuaín dentro da grande área. Não sei o que eles estavam reclamando, pois se voltassem o lance, o pênalti era nosso e o resultado acabava dando o mesmo.
Foi para o VAR, o gol foi cancelado, mas por estar impedido. Mesmo assim fomos para o intervalo no 1x0, o que era ótimo para nós, mas meu instinto nunca está errado quando tinha derby envolvido. E eu não sei se eu ficava feliz ou triste por ter razão.
Quando voltamos, eu comecei a prestar atenção no jogador João Cancelo, defensor. Não esperava fazer compras hoje, mas ele era muito bom e eu precisaria de reforços na defesa com a aposentadoria de Gigi, mesmo com Barza e Gigi, Tek ainda não estava cem por cento para ser nosso goleiro número um, mas, segundo as más línguas, seria o que aconteceria. Só estava nervosa por ele não vir me falar isso ainda. Sei que vai ser um baque enorme, mas eu sou forte. Eu consigo.
Depois de ser rejeitada por ele, eu aguentava tudo. Beh, acho que ele não tinha coragem, da mesma forma que ele não terminou tudo comigo e achou mais fácil aceitar meu afastamento.
Aos 48 minutos, eles tentavam uma aproximação, mas Barza e Mira estavam próximos para fazer a bola chegar lenta em Gigi. Aos 52, Mario acabou fazendo uma falta em Skriniar e levou um amarelo, nada de novo até aí. Na cobrança de falta, Cancelo cobrou e foi na cabeça de Icardi, empatando o jogo.
Não posso nem reclamar, foi bonito, mas agora nossa vantagem foi embora.
Aos 59 eles tiveram outra tentativa, mas foi de longe e Gigi conseguiu segurar. Aos 61, Allegri começou a fazer alterações, tirou Sami e colocou Paulino. Aos 63, Pipita chegou quase sozinho com o goleiro da Inter, mas acabou chutando para fora... E acertando a câmera que estava atrás do gol.
Aos 65, a péssima surpresa. Perisic se aproximou pelo lado esquerdo e driblou Cuadrado que caiu, mas havia sido lance normal, então o árbitro não deu, mas entre sim e o não, todo mundo esperou por alguma coisa, mas estando livre, o interista voltou para sua jogada. Ele mandou para a pequena área e... Gol.
Tínhamos Gigi, Barza, Alex, Mario e... Ninguém da Inter. O gol havia sido de Barza que agora chutava a bola irritado de novo para dentro do gol enquanto o Inter comemorava essa vantagem novamente.
Virei o rosto para o restante do administrativo ao meu lado e parecia que todos se continham a falar alguma coisa. Tínhamos 25 minutos ainda, mas sabíamos que a pressão iria forçar cada vez mais. Aos 66, Allegri tirou Mario e colocou Fede, pernas frescas poderiam ajudar.
Aos 70, foi a vez de Douglas se aproximar, mas Handanovic a defendeu, resultando em escanteio para nós que ficou com o Inter. Aos 75, tivemos uma falta, Paulo cobrou e a bola ia perfeita, mas o goleiro pegou novamente.
Quando o jogo foi chegando ao fim, os níveis de nervosismo começaram a aumentar novamente, mas era derby, os meninos estavam com sede de vitória depois do desastre da semana passada, então, aos 87, Cuadrado empatou. E eu acho que nunca vi Barza tão surtado por isso! E o gol havia sido incrível! Panita chegou quase na linha externa do goleiro para fazer!
O mais engraçado é que foi dado como gol contra também! Achei poético.
Eu estava me conformando com um empate, faltariam ainda seis pontos, três jogos, era perigoso sim, mas os meninos queriam mais. Em uma cobrança de falta aos 88, Paulo cobrou e Higuaín, que conseguiu chegar na cara do gol, mandou de cabeça para dentro do gol.
- ISSO! – Me levantei apressada, tropeçando em meus pés.
Era isso, estávamos na frente de novo, só precisávamos manter assim pelos acréscimos e rezar para o árbitro não dar muitos minutos extras... Cinco. Não é perfeito, mas não é tão ruim, mas podia ser menos.
Os cinco minutos demoraram para passar e os gritos do Inter sumiram após o gol, Higuaín foi derrubado dentro da área deles e não foi dado pênalti, eles conseguiram um contra-ataque, mas Gigi conseguiu defender, parecia que eles sempre tentavam fazer mais nos minutos finais, mas tivemos cem minutos nesse jogo, gente, é quase um tempo de acréscimos.
Faltando um minuto para o fim, nosso banco se levantou na expectativa de um apito final, eu já estava de pé também, acompanhando os torcedores irem embora antes do final do jogo que não demorou para acabar.
GANHAMOS!
O pessoal saiu correndo para o vestiário, mas eu fiquei mais alguns minutos enquanto eles comemoravam no campo. Barza estava verdadeiramente aliviado pelos últimos dois gols, ele raramente fazia gols, quando faz, ainda é contra? Gigi não poderia estar mais feliz. Na verdade, o time inteiro está muito feliz. Era uma vitória suada, merecida e com gosto de fino alla fine.
Observei-os correr em direção à torcida e dei meia-volta, seguindo para o vestiário. Acabei chegando junto dos jogadores animados e Asa foi o primeiro a me abraçar, me fazendo sorrir. Alex veio logo em seguida, depois Juan.
- Que gol! – Falei para Panita, colando minha testa na dele e ele me apertou fortemente.
- Grazie, chefa! – Ele disse, estalando um beijo em minha bochecha e sorri.
- Chefa-a-a-a! – Paulo veio saltitando em minha direção e me abraçou, depois Douglas e Pipita entraram no abraço, me fazendo sorrir.
- Complimenti, ragazzi! – Falei sorrindo. – Foi demais!
- Foi difícil! – Higuaín disse e ri fracamente, empurrando sua cabeça para trás.
- Você resolveu, é o que importa! – Falei, vendo-o rir.
- Chefa! – Pinso disse sorrindo e ri fracamente, sentindo-o me abraçar e me tirar do chão alguns segundos.
- Ah, que abraço gostoso! – Falei rindo e senti outro abraço e era Claudio.
- Melhor abraço é do Pinso! – Claudio disse, me fazendo rir.
- Não nego! – Falei para o mais novo que sorria.
- Ei! – Virei para o lado, vendo Gigi chegando com Barza, Chiello, Benatia e Fede!
- Ei, se não é meu BBBC... BBBBC... – Franzi a testa, ouvindo-os rirem. – Me perdi! – Dei de ombros.
- Eu sou seu melhor abraço! – Gigi disse, me abraçando pela cintura e ri fracamente.
- Ah, mas é muito ciumento! – Benatia sussurrou, nos fazendo rir.
- O abraço do Pinso é aqueles abraços de urso. – Falei, segurando o queixo de Gigi. – O seu tem segundas, terceiras inten... E sobe essa mão! – Falei, sentindo sua mão deslizar pelas minhas costas e rimos juntos. – Mas é bom! – Dei um beijo em seu rosto, vendo-o sorrir. – Bom jogo!
- Por você!
- E contra o Napoli não? - Olhei para ele.
- Mah...
- Ela odeia Nápoles, cara! – Chiello disse, passando por nós e dei um beijo em seu rosto, ainda sentindo Gigi me abraçar pela cintura. – Chefa!
- Chiello! – Pisquei e depois puxei Barza com um braço. – Você fez gol! – Segurei seu rosto e ele fez uma careta.
- Mancada, null! – Ele disse, me fazendo rir.
- Com esse chegamos em cinco ou seis?
- Não conta! – Ele disse, me fazendo rir e abracei-o rapidamente.
- Gigi, me solta!
- Não! – Ele disse e ri fracamente.
- Bom jogo, Barza! – Ele assentiu com a cabeça, entrando logo em seguida. – Medhi! – Ele sorriu, dando um rápido beijo em minha bochecha. – Fede! – Ele fez o mesmo e ambos entraram no vestiário.
- Que pouca vergonha é essa? – Virei para o corredor, vendo Mario se aproximando devagar.
- De novo, Mario? – Suspirei. – Fiquei incrivelmente dependente de você! – Ele fez uma careta.
- Vou ficar bem, não vai ser nada! – Ele disse.
- Parece que teve esmagamento, cara! – O médico disse e revirei os olhos.
- É, vai ficar tudo bem mesmo. – Falei e ele bufou, entrando no vestiário.
- Mas você fez um jogo incrível! – Falei, vendo-o abanar com a mão, me fazendo rir e senti Gigi ajeitar as mãos em meu corpo.
- Você não vai me soltar? – Perguntei, virando o rosto para Gigi e afastando o rosto devagar.
- Não... – Ele sorriu e bufei.
- Ainda bem que me acostumei ao suor e gramado. – Neguei com a cabeça. – Eu preciso ir ao banheiro.
- Vamos lá! – Ele disse, girando minha cintura para porta e me abraçou novamente quando eu dei um passo, sentindo seu quadril roçar no meu.
- Eu vou pisar no seu pé e me certificar de que você fique fora até o final da temporada...
- Não seria tão mal tirar umas férias antes... – Revirei os olhos.
- Vou me certificar que você não possa ter mais filhos... – Suas mãos se soltaram rapidamente. – Grazie! – Ri fracamente.
- Você não faria isso, faria? – Ele inclinou o corpo por cima de meu ombro e ergui minha mão para seu rosto. – Só quero ter seus filhos agora...
- Você é um idiota! – Empurrei suas mãos, finalmente saindo do seu abraço, ouvindo-o rir atrás de mim.
- Obrigado por nos encontrar aqui! – Cumprimentei o entrevistador.
- Sem problemas! – Falei, vendo a entrevista montada dentro do vestiário do time.
- Pode colocar isso por dentro da sua blusa e deixar na lapela. – A produtora disse me entregando o microfone.
- Nós faremos algumas perguntas sobre a sua saída de Juve. Tudo bem? – O entrevistador disse. – Acho que não podemos mais ignorar. – Assenti com a cabeça.
- Tudo bem, acho que está na hora de falar, mas eu gostaria de pedir uma coisa.
- Claro. – Ele disse.
- Eu sei que vocês disponibilizam a imagem para o administrativo depois, mas esse em especial, vocês podem segurar até a semana que vem? – Pedi, me sentando na cadeira no centro do vestiário. – Todos sabem, mas eu ainda não oficializei minha decisão com a contabilidade, gostaria que soubessem por mim.
- Claro! Sem problemas. – Ele disse assentindo com a cabeça. – Vamos nos apressar, então, porque a diretora da contabilidade também vai ser entrevista após você. – Ri fracamente.
- É claro! – Rimos juntos.
- Ela está me devendo entrevistas desde o fim do ano! – Ele disse, me fazendo rir.
- Ah, nem me surpreendo. – Ri fracamente, ajeitando o paletó. – Ok, quando você quiser.
- Por favor, para testar o microfone, só diga seu nome.
- Eu sou Gianluigi Buffon, 40 anos, goleiro da Juventus...
- Perfeito! – Ele disse e assenti com a cabeça, virando para ele.
- Beh, Gigi, sabemos que a temporada ainda não acabou, que tem algumas coisas em aberto para você, mas como você classifica esse ano para você? Como disse, 40 anos, o maior goleiro italiano, um dos jogadores mais importantes, um dos mais vencedores... Como você avalia? – Soltei um longo suspiro.
- Beh! – Ri fracamente. – Este ano foi exaustivo... – Suspirei. – Todo dia que eu acordava, eu olhava no espelho e pensava “Gigi, como consegue se levantar com tudo o que está acontecendo nessa temporada?” – Ajeitei meu corpo. – Essa temporada foi realmente complicada por perdas e problemas pessoais, amigos... – Suspirei. – Deixa eu começar de novo.
- À vontade! – Ele disse.
- Este ano foi exaustivo, todo dia eu acordava eu me olhava no espelho e pensava “Gigi, como você consegue se levantar com tudo o que está acontecendo nessa temporada?” – Suspirei. - Ficar de fora do Mondiale, a lesão, o Real Madrid, a expulsão, a derrota do Napoli em casa, colocando o campeonato em risco, provavelmente parar de jogar no fim da temporada... – Respirei fundo. – Lidar com tudo isso é muito complicado.
- E como você se sente, pensando que, depois de 17 anos, alguém vai ocupar o seu lugar? – Ponderei com a cabeça.
- Beh, depois de um tempo, é inevitável que alguém tome meu lugar, como deve ser. – Dei de ombros. – A Juve já teve outros incríveis goleiros, incríveis de grandes conquistas. Peruzzi, Van der Saar, Zoff... Recentemente tive reservas incríveis como Neto, Tek, Neto, Pinso, Storari... – Suspirei. – É inevitável e, sabemos como as pessoas se sentem com mudanças, ninguém gosta, mas é inevitável e só podemos esperar para vir alguém tão bom ou melhor do que eu, para o time continuar campeão. – Ele assentiu com a cabeça.
- E o que você vai deixar para Juve? Se realmente decidir sair, é claro. Passei esse ano com vocês e adoraria poder excluir essa entrevista do documentário. – Ri fracamente.
- Beh, aqui vivemos fino alla fine, certo? – Dei de ombros. – Os meios justificam os fins que justificam o começo, sei lá... – Ele riu fracamente. – Agora, sobre sua pergunta... – Pressionei os lábios. – Não sei se fui o capitão que a Juve mereceu... Um capitão respeitável. – Suspirei. – Se eu representei bem o bastante essas cores e esse povo... Vou deixar esse julgamento para as pessoas. – Dei de ombros. – Agora, o que posso dizer é que a Juventus realmente me deu muito. Se eu me tornei o jogador que sou hoje, é, acima de tudo, por causa da Juventus. Sempre serei grato por isso. A todas as pessoas que eu conheci aqui, que passaram na minha vida seja staff, administrativo, jogadores mais velhos no começo, depois da mesma idade, agora mais novos, todos deixavam uma marca e isso me moldou como homem e jogador, então só tenho que agradecer.
- E como você se sente em pensar em pendurar as chuteiras? – Suspirei.
- Beh, eu sempre fui uma pessoa muito otimista, é um mundo desconhecido que eu vou precisar aprender o que eu gosto, o que eu quero fazer... – Dei de ombros. – Vai ser como abrir um diário e ter coragem de sujar a primeira página e ter coragem de arrancá-la se não gostar. Na minha idade, as pessoas costumam ficar preguiçosas, mas eu sempre fui um pouco hiperativo, então vou precisar me ocupar. – Ele riu fracamente, assentindo com a cabeça.
- E, como Gianluigi Buffon, goleiro da Juventus há 17 anos, sempre titular... – Assenti com a cabeça. – Quais são suas memórias mais marcantes? – Ele perguntou e desviei meu olhar de uma sombra que apareceu na outra porta e suspirei ao ver null apoiando no batente da porta. – O que te marca mais? Seu primeiro dia?
- Me lembro como se fosse ontem. – Suspirei. – Eu tinha 23 anos, era uma cidade diferente, um mundo diferente, mas eu já tinha 10 anos morando longe de cara. Foi incrível, a Juve tinha uma estrutura diferente e a gente se sente meio inseguro em lugares novos, né?! – Ele riu comigo. – Mas depois já encontrei o pessoal e comecei a me relaxar.
- Quem você mais se lembra desse dia? – Ele perguntou.
- Dela! – Indiquei o dedo para null.
- Ei! Eu não estou aqui! – Ela disse, me fazendo rir fracamente e o entrevistador se virou para ela rapidamente e assentiu com a cabeça quando olhou para mim novamente.
- A resposta é honesta. – Falei para ele.
- Mesmo? – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Sim! A null já trabalhava aqui quando eu vim e estava na minha transferência. Ambas nossas histórias começaram ali.
- Isso é legal! – Ele disse e ela riu fracamente. – Eu vou perguntar isso para você, mas você não era diretora naquela época?
- Ah, não! – Ela riu fracamente, se sentando na primeira poltrona do vestiário. – Eu comecei como estagiária, subi todos os degraus para chegar aqui.
- Uau! Isso é incrível! Parabéns! – Ela assentiu com a cabeça, se virando para mim.
- Parece como se fosse ontem mesmo, né?! – Ela disse e assenti com a cabeça.
- Beh, Gigi, é isso, então! – O entrevistador disse e assenti com a cabeça. – null, começamos em uns 15 minutos, tudo bem?
- Claro, sem problema! – Ela disse, se levantando e sorri, me levantando e tirando o microfone do corpo enquanto o entrevistador e o produtor saíram com a câmera. – Interrompi alguma coisa?
- Não, acabei chegando antes. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Eu vim a pé. – Ela disse.
- Do administrativo?
- É, é mais longo do que parece. – Ela disse, rindo em seguida. – A ideia do Treze de providenciar uns carrinhos de golfe nem é tão ruim. – Sorri, me aproximando dela e dei dois beijos em seu rosto, sentindo-a me abraçar pelos ombros.
- Imagino! – Falei, rindo fracamente.
- Então, o que eles perguntaram? – Ela indicou os aparelhos de gravação quando nos afastamos.
- Beh, falaram sobre a temporada. – Suspirei. – Os últimos acontecimentos, minha aposentadoria...
- Eu tenho dado sinais discretos de não querer que isso aconteça desde julho... – Ri fracamente. – Mas ainda vamos precisar falar disso, apesar de eu odiar.
- Meu contrato acaba só 30 de junho, null, Silvano vai te ligar. – Ela suspirou.
- Não estou com saudades dele. – Ri fracamente, acariciando seu rosto. – Você realmente vai fazer isso? – Ela me apertou pelos ombros. – Me abandonar depois de 17 anos? – Ri fracamente. – De verdade agora? – Suspirei.
- Não vamos falar disso agora, pode ser? Ainda temos tempo. – Ela suspirou, abaixando os braços.
- Scusi, eu só sou...
- Você não é nada. – Dei um beijo em sua testa, soltando seu rosto. – Só saiba que estou fazendo isso por você, ok?!
- Como isso pode ser sobre mim, Gigi? – Ri fracamente, levando meus lábios até sua orelha.
- Porque eu te amo. – Disse baixo, deixando um beijo no lugar, sentindo-a se arrepiar com isso e me afastei.
- Os fins justificam os meios? – Ri fracamente.
- Você pode falar assim. – Ela negou com a cabeça.
- Não inventa, Gianluigi! – Ela se afastou alguns passos. – Mas vou tentar conter minha ansiedade e esperar a ligação do Silvano. – Assenti com a cabeça. – Temos só mais 16 dias para o fim da temporada.
- Dio! – Bufei, sentindo a realidade bater e engoli em seco.
- Mudando de ideia? – Ri fracamente.
- Talvez. – Disse, vendo-a sorrir. – Mas vamos focar nos próximos jogos, sim?
- Falando nisso, acabei de falar com o Stefano... Stefano médico. – Ela disse, se sentando em um dos espaços do vestiário. – Ele acha que o Mario está fora até o fim da temporada, o teimoso quer voltar para a final da Coppa Italia. – Ri fracamente.
- Por que eu não me surpreendo? – Dei de ombros, negando com a cabeça e ela riu fracamente.
- Quando eu o contratei, eu nunca pensei que ele fosse dar tanto pelo time, sabe?
- Allegri confia muito nele. – Falei, me sentando ao seu lado.
- Ele faz por merecer, né?! – Ela deu de ombros. – Com essa lesão do jogo do fim de semana, ele atingiu 11 lesões na temporada. – Arregalei os olhos.
- Sério?
- Sério! – Ela disse firme. – E mesmo assim ele já jogou 40 jogos na temporada.
- Você está brincando! – Falei e ela negou com a cabeça.
- Não, eu conferi antes de vir para cá... – Ela suspirou. – E ainda temos quatro até o fim da temporada? Do Bologna no sábado ele vai perder, mas e a final? As duas últimas rodadas? – Ela disser indo. – Não duvido que ele melhore, jogue e capaz de fazer gol ainda. – Rimos juntos.
- Conseguimos um verdadeiro guerreiro...
- Preciso, meus guerreiros estão envelhecendo. – Ela apoiou a mão em minha perna e suspirei, passando o braço em seus ombros e puxando-a para mim.
- Vai dar tudo certo, eu prometo. – Engoli em seco.
- Como você pode ter tanta certeza? – Ela perguntou baixo.
- Eu preciso me segurar em alguma coisa, não? – Falei, ouvindo seu suspiro.
Capitolo centotre
- Deus! Olha isso. – Bufei, apontando para meu quadro de fotos.
- Você vai precisar levar isso para lá! – Sara disse e suspirei.
- São seis anos de fotos, Sara. Eu vou demorar dois anos só para colocar isso de novo. – Ela riu fracamente.
- Precisa de ajuda? – Ela disse e senti meu celular vibrar.
- Não, eu só... – Olhei o nome no aparelho “Silvano Martina”. – Eu vou atender isso, nos falamos depois?
- Claro! – Ela disse.
- Feche a porta, por favor. – Pedi e ela assentiu com a cabeça antes de sair e olhei para o aparelho, respirando fundo antes de deslizar o botão sobre o mesmo. – Ciao? Silvano?
- Oi, null, tudo bem? Se lembra de mim?
- Claro! – Falei, seguindo até minha mesa e me sentando na cadeira, sentindo minhas pernas tremerem. – Estava esperando sua ligação mesmo.
- Ah é?!
- Sim, ele não fala, você não fala, não sei se preparo a festa de aposentadoria ou se envio esse contrato para mais um ano para você. – Falei, rindo fracamente.
- Beh... Talvez... – Ele suspirou. – Uma terceira opção? – Franzi a testa, apoiando os antebraços na mesa.
- Como assim? Qual seria a terceira opção? – Falei, ouvindo sua respiração do outro lado.
- Eu sei que vocês dois têm uma história, são anos de Juventus, anos de altos e baixos, acho que por isso que ele me deixou encarregado de contar isso.
- Contar o que, Silvano? – Falei firme. – Desembucha.
- Ele vai sair da Juventus.
- O QUÊ? – Me levantei rapidamente, sentindo meus pés quase virarem com o movimento. – AQUELE PUTTANO VAI FAZER O QUÊ?
- Ele vai sair da Juve, null. – Ele soltou um longo suspiro. – Ele acha que está na hora de tentar algo novo em uma nova liga, já que ele está bem e em forma ainda.
- Ele quer isso? – Falei rindo sarcasticamente. – Aquele puttano acha isso? Você só pode estar de brincadeira. – Dei dois socos na mesa, sentindo meus olhos cegarem com as lágrimas que o embaçavam.
- Foi decisão dele, null. Também fui pego desprevenido. – Ele disse, suspirando. – Achei que ele estivesse se aposentando, mas as coisas mudaram.
- Para onde ele vai? – Perguntei firme.
- Eu não sei.
- PARA ONDE, SILVANO? – Gritei.
- Ele não se decidiu ainda, null, ele vai finalizar os trâmites com a Juventus antes de se decidir. Ele vai estar free agent, esqueceu? Ele não... Precisa te dizer isso. – Engoli em seco.
- Aquele puttano! – Falei, sentindo vontade de apertar o aparelho em minha mão até quebrar.
- Poderia cuidar dos trâmites, por favor? – Ele perguntou e suspirei.
- Onde ele está? – Perguntei firme, passando a mão livre embaixo dos olhos.
- É para estar treinando aí. – Ele disse e virei o corpo para minha sala espelhada em Vinovo, vendo os jogadores agrupados lá embaixo.
- Preciso ir! – Falei.
- Mas, null... – Desliguei o telefone, sentindo meu corpo fraquejar e caí desajeitada na poltrona.
Aquele puttano vai sair da Juventus!
Ele não vai se aposentar, ele não vai renovar, ELE VAI SAIR! ELE VAI TROCAR A JUVE POR OUTRO TIME!
ELE VAI ME TROCAR POR OUTRO TIME!
ELE NÃO TEM O DIREITO DE FAZER ISSO COMIGO!
Depois de tudo o que passamos nesse time, depois de tudo o que vivemos juntos, ele simplesmente vai sair? Assim? Sem olhar para trás? Sem olhar em meus olhos e dizer a verdade? Sem contar que ele não teve a decência de falar comigo e dizer que vai ficar com aquela... Mulher que ele chama de namorada.
É óbvio, não? Apertei os braços da poltrona.
Eu tinha razão. Ele não tem coragem de terminar com a sua namorada e vai fugir. Programou essa temporada inteira para ser sua última, deixou eu me enganar achando que seria sua aposentadoria, porque ele também não se dignou a falar que se aposentaria, e agora vai sair.
Pelo menos não podia chamá-lo de mentiroso, não por isso, pois ele nunca me falou com todas as letras de aposentadoria, não que eu me lembrasse. Ele sempre se esquivou e falou que tudo isso era por mim...
COMO ISSO É POR MIM?! Como ele tem coragem de fazer isso? Depois de tantos anos? Depois de tudo o que passamos, ele simplesmente vai embora? Vai me dar as costas? Quem é esse cara? O que ele pensa que está fazendo comigo?
Como eu fui estúpida por acreditar nisso? Nunca pensei que fosse ser aquela mulher que cai em qualquer carinho e palavras de homens bonitos, mas pelo jeito eu sou e, como mulher traída, eu devo ser a última a saber disso. Mas para isso acontecer eu deveria ser namorada dele, posto que ele nunca me deixou ter.
- CHE CAZZO! – Empurrei o porta lápis para fora da mesa, vendo o caderno cair junto e levei as mãos até o rosto, sentindo-os encharcados e respirei fundo, percebendo como minha respiração estava falhada.
Me levantei, empurrando minha cadeira com pressa e fui até meu mural de fotos e fui direto até nossa primeira foto juntos, que ficava estrategicamente no centro do quadro. Era sua festa de aniversário. Eu usava uma regata colada, jeans de cintura baixa e provavelmente deveria estar com alguma sandália baixa no pé. Ele ao menos usava um blazer por cima de sua camiseta. Ele me abraçava pela cintura e dava um beijo em minha bochecha. Puxei a mesma do elástico e virei-a, vendo sua letra elegante ali “noi per sempre – 28.01.06”.
De pensar que já haviam passado 12 anos desde aquela foto. Nós éramos, talvez, as duas pessoas mais velhas de tempo aqui no time, passamos por tantos altos e baixos e agora ele queria ir embora assim? Do nada? Não me importava mais com o time ou seus anos de ouro, eu me importava comigo! Ele é tão puttano que vai embora sem nem me encarar? Eu não deixaria isso.
Coloquei a foto de qualquer jeito, ouvindo-a cair e segui rapidamente para fora da minha sala, ouvindo os saltos baterem apressados contra o chão de mármore. Passei pelas outras salas, encontrando até algumas pessoas pelo meio do caminho, mas desviei delas ou outra pessoa levaria o esporro que estava preso na minha garganta.
- null... – Vi Pavel se aproximar.
- Agora não! – Falei rapidamente, passando por ele e empurrei a saída de emergência, descendo os degraus rapidamente, pulando dois ou três degraus de uma vez só.
Quando cheguei ao térreo, dei passadas largas pelo corredor e saí do prédio administrativo, sentindo meus olhos se fecharem rapidamente por conta do sol. Atravessei pela calçada que guia o CT em Vinovo e eu sentia que já estava correndo, me fazendo chegar rapidamente no prédio do CT.
Ao invés de cortar por dentro, eu fui por fora, encurtando o caminho e logo senti meus pés afundarem na grama pela diferença de solo. Observei os diversos jogadores espalhados pelo campo agora, alguns fazendo treino com aparelhos e outros no centro de campo ouvindo as observações de Allegri.
Olhei para a área do gol e vi Buffon, Pinsoglio e Tek em treinamento com Filippi e neguei com a cabeça. Invadi o campo sem me importar se atrapalharia e senti meus pés torcerem pelo gramado fundo. No quinto passo, os saltos ficaram para trás e eu consegui andar mais rápido em direção a Gianluigi.
- null... – Ouvi algumas pessoas me chamando, mas ignorei.
- null, você... – Ouvi Filippi me chamar, mas empurrei a bola de sua mão antes que ele a jogasse.
- Agora não! – Falei firme e cheguei perto de Gigi.
- null, o que... – Fechei minha mão e virei rapidamente em seu rosto, sentindo minha mão latejar com o feito.
- OH! – Ele reclamou.
- Oh! – Ouvi outras vozes e sacudi a mão, sentindo-a latejar.
- ME DIGA QUE É MENTIRA! – Gritei para ele, vendo-o passar a mão no rosto. – Me diga que é mentira, Gianluigi! – Falei firme, sentindo minha garganta doer com o feito e as lágrimas voltarem a cair em minha bochecha. – Me diga que você vai se aposentar! – Engoli em seco.
- null...
- DIGA! – Gritei novamente, sentindo a respiração acelerada. – Por tudo o que é mais sagrado, você seja homem uma vez na sua vida E FALA PARA MIM!
- EU NÃO POSSO! – Ele disse firme, erguendo o olhar para mim. – Eu não posso, porque eu não vou me aposentar. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
- E você não achou que eu merecesse saber disso? – Engoli em seco, passando a mão que não doía no rosto. – Que eu, a pessoa que aguentou todas as suas bombas, que te apoiou em todos os momentos, mesmo sabendo que você estava errado, que te ajudou e que te amou... – Suspirei. – Eu não mereço saber disso? Precisei saber pelo Silvano? – Senti minha respiração subir rapidamente.
- É muito mais difícil para mim do que parece, null. – Ele disse.
- NÃO É O QUE PARECE! – Gritei, respirando fundo. – Você é um covarde, Gianluigi. – Senti meus ombros relaxarem. – Você ficou comigo, tirou tudo o que podia, tirou minha alma, meu amor, meu corpo e, quando eu achei que fosse finalmente ser meu final feliz, foge? – Senti as lágrimas grossas deslizarem pela bochecha e acumular nos lábios. – Você brincou comigo... Não teve nem a decência de falar pessoalmente para mim... – Neguei com a cabeça.
- Eu nunca brinquei contigo, null. – Ele disse, tentando me segurar e desviei meu corpo para trás, negando com a cabeça. – Nada do que eu disse para você é mentira. – Ele se aproximou, segurando meus ombros. – Eu te amo! Você é a mulher da minha vida!
- PARA! – Gritei, me afastando. – Para de mentir para mim. – Engoli em seco. – Eu acreditei em você! – Falei, sentindo os lábios tremerem. – Por... Tantos anos que eu nem sei mais, eu acreditei em você. Fui uma das pessoas da nossa grande plateia que realmente acreditou que isso fosse verdade. – Neguei com a cabeça. – Mas eu só fui mais uma no seu jogo, mais um pião na sua vida. – Ri fracamente. – E eu nunca pensei que fosse ser tão trouxa assim na minha vida.
- Não fala isso, isso não é verdade...
- O QUE TEM DE TÃO DIFÍCIL EM FALAR QUE NÃO QUER MAIS UMA PESSOA? – Gritei, empurrando seu peito com as mãos, sentindo a direita doer. – Ah. – Suspirei. – Eu falei isso um milhão de vezes e você continuou insistindo. Com Vincenza, com Alena, com Ilaria! EU TENTEI! E VOCÊ VEIO ATRÁS DE MIM TODAS AS VEZES! – Apertei minha mão. – É algum fetiche estranho? Algum desejo anormal? Alguma aposta?
- Não tem nada disso, null! – Ele disse firme. – Eu te amo, eu não sei viver sem você, mas eu já fiz erros demais e preciso corrigir antes de...
- AH, ESSE PAPO DE NOVO! – Gritei. – Para! Para! Eu não quero mais ouvir! Eu não vou mais ouvir! – Engoli em seco. – Eu te dei abertura, EU FALEI CONTIGO HÁ QUATRO DIAS E VOCÊ NÃO FALOU! – Neguei com a cabeça. – E eu sempre soube que eu iria me ferrar quando tudo isso acabasse, só não sabia que seria assim... – Neguei com a cabeça.
- Isso não é o fim, null.
- É SIM! – Gritei. – Você não teve coragem de falar isso, eu tive e fui fraca mais uma vez! Deixei você se aproximar com suas brincadeiras, seus abraços e seus sorrisos, mas a única que está chorando e perdendo o pouco do respeito que sobrou sou eu! – Falei firme. – Acabou, Gianluigi! – Ergui as mãos. – Eu não quero saber, eu não quero mais esperar! – Bufei. – Eu vou viver minha vida e, graças à sua saída, sem você! – Pressionei os lábios, assentindo com a cabeça. – Chega! – Ri fracamente. – Só mais 12 dias me separam de uma nova vida. Uma vida em que nenhum dependa do outro. – Engoli em seco.
- Por favor, null, se escuta, não fala isso. Você vai se arrepender...
- Eu vou me arrepender no mesmo dia em que você se arrepender de tudo o que fez comigo. Desde aquele três de julho de 2001. Desde aquele primeiro ciao! – Engoli em seco. – Ou seja, nunca! – Neguei com a cabeça. – Porque você não é do tipo que se arrepende.
- Sim, eu sou. – Suspirei. – E você não tem noção como me dói sair, mas eu preciso! Isso tudo é por você.
- Ah, por mim! Claro! Claro! Não se preocupe! – Ri fracamente. – Agora quem quer que você saia sou eu. E pode ter certeza de que eu vou fazer todos os trâmites direitinho para garantir que você seja muito feliz onde quer que vá. – Assenti com a cabeça. – Como se fosse uma pessoa qualquer, como deveria ter sido desde o começo. – Ele soltou um longo suspiro. – Minha política sempre foi: “se quer sair, vá com Deus”, certo? Beh, vá com Deus, in bocca al lupo e qualquer besteira que você esteja esperando. – Me afastei, sentindo minhas pernas tremerem.
- null...
- NÃO! CHEGA! E NÃO ME SEGUE! – Gritei, evitando olhar para trás e caminhei de volta para fora do campo.
Eu sabia que ele estava me seguindo, eu sabia que ele alongaria essa conversa, mas eu precisei agradecer por isso, pois no nono ou décimo passo, minha pressão caiu, tudo ficou escuro e só senti meu corpo ser amparado antes de eu desmaiar.
Eu sabia que seria difícil, mas não pensei que seria tanto assim.
Foi difícil encarar todas as palavras que estavam entaladas em sua garganta por anos, perceber que eu fiz muito mais do que só magoá-la. Foi difícil ver as lágrimas descendo incansavelmente pela sua bochecha e não poder abraçá-la. Foi difícil ter a constatação que tudo seria mais difícil do que eu esperava, mas pior ainda foi vê-la desmaiar por causa de mim.
O silêncio que havia instalado no treino com seus gritos para mim foi interrompido pelos pés apressados pelo gramado para ajudá-la o mais rápido possível. Meu corpo caiu no chão com ela e parecia que eu estava travado. Meus olhos ardiam pelas lágrimas, mas eu estava preocupado com ela.
Quando Chiello a pegou no colo e entraram correndo para o prédio, eu ainda fiquei alguns minutos tentando entender o que aconteceu. Eu não me sentia no direito de estar magoado com suas palavras, eram todas verdadeiras, mas parecia que meu plano arquitetado há seis meses caiu por terra e nada mais parecia importar do que ficar com ela e me certificar se ela ficaria bem.
- Vamos, Gigi! – Filippi esticou a mão e neguei com a cabeça.
- Eu deveria ficar aqui. Me enterrar de vez. – Falei, franzindo os olhos por causa do sol.
- Não! Você começou isso sabendo que seria difícil, agora vamos finalizar para gente nunca vai vê-la chorando assim. – Ele sacudiu a mão em frente a mim e suspirei.
- Talvez eu deva ir para Paris e ficar lá! Principalmente se ela ficar feliz sem mim. – Suspirei, segurando sua mão e ele me puxou para cima.
- Você realmente acha ela vai ficar bem? Depois do que viu? – Suspirei.
- Queria muito. – Me levantei. – Mas...
- Um dia de cada vez. – Ele pressionou meus ombros. – Vamos lá...
- Não, ela não quer me ver.
- Ela não acordou ainda. Stefano vai colocar uma medicação nela e, pelo jeito, ela quebrou a mão. – Suspirei. – Como você está, falando nisso? – Ele mexeu meu ombro.
- Sei lá, não me acho no direito de estar mal.
- Ao menos ela não estava usando anel. – Ele disse, andando lado a lado para fora do campo.
- Deveria estar. – Suspirei. – Talvez deixasse alguma marca.
- Você já está na merda, Gigi, não precisa se afundar mais ainda. Ainda temos uma final, dois jogos de campeonato e precisamos de você. – Neguei com a cabeça.
- É covarde da minha parte achar que ela estava em Continassa agora? – Suspirei, entrando na parte coberta com ele.
- Não, mas aposto que, mesmo se ela estivesse, ela viria até aqui e você ainda levaria esse soco. – Ele disse pressionando os lábios em um sorriso e ri fracamente. – Dai! – Ele me empurrou para dentro.
Segui pelo corredor, vendo a maioria dos jogadores sentados no vestiário e os olhos ergueram para mim. Muitos tinham os lábios pressionados para mim e eu me sentia no meio de uma injustiça gigante. Eles sabem, eles me apoiam, mas eles também a amam.
- Como ela está? – Perguntei baixo para Barza, me aproximando da porta.
- Ela acordou, mas o Stefano deu um sossega-leão, os batimentos dela estavam muito altos. – Ele disse, suspirando. – Que bela forma dela descobrir, não? – Ele virou o rosto para mim.
- Nem fala! Estou me sentindo um monstro. – Falei e ele apertou meu ombro, me puxando para si.
- Vai ficar tudo bem. – Ele disse. – Eu prometo.
- Como pode prometer isso?
- Acho que ela deixou óbvio que te ama também, né?! Se não amasse, ela não faria isso. – Ele pressionou os lábios e suspirei.
- Por que isso não faz eu me sentir melhor? – Perguntei.
- Por tudo? Pelas palavras, pelo desmaio? – Suspirei.
- Ela vai ficar bem, Gigi. Só a pressão que caiu! – Stefano disse.
- Ela vai ficar bem? – Perguntei mais alto.
- Vai sim, ela só precisa descansar. – Ele disse. – E você senta aqui, preciso ver esse rosto aí!
- Eu estou bem. – Abanei a mão, entrando na sala médica e vi null na maca, me fazendo suspirar.
O outro médico fazia o curativo em sua mão esquerda que já estava quase inteira coberta pela gaze. Seus olhos estavam fechados, um pano estava em sua testa e as lágrimas secas ainda estavam em sua bochecha. Soltei um suspiro, sentindo as lágrimas finalmente saírem de meus olhos e levei a mão em seu rosto, acariciando-a levemente.
- Vai parar de doer, meu amor. Eu prometo. – Suspirei, sentindo algumas mãos em meus ombros e segui até a outra maca. – Tem como acabar isso antes de ela acordar?
- Ela vai ficar umas quatro horas apagada, pelo menos, por sinal, é bom chamar o Pavel para cuidar dela.
- Eu cuido. – Marchisio disse, escondido do lado do móvel. – Eu moro na frente dela.
- Eu posso falar com a família dela. – Falei, vendo Stefano escaneando meu rosto.
- A Giulia vai te dar outro soco na cara se você chamar ela aqui. – Barza disse.
- E seria tão ruim assim? – Virei para ele que riu fracamente. – Ela sabe.
- Sabe? – Assenti com a cabeça.
- Sabe. – Suspirei. – Acho que vou ligar para o Treze, sei lá.
- Respira fundo, você está irritado. Vocês precisam focar na viagem de amanhã e no jogo de quarta. – Filippi disse e bufei.
- Não só focar, como ganhar. – Max apareceu e assenti com a cabeça.
- Fino alla fine. – Suspirei.
- Você é sortudo demais. – Stefano disse. – Está limpo, sem nem sangue. – Suspirei.
- Ah, ótimo. Ao menos você podia falar que ela conseguiu quebrar uns dois dentes, cortou a parte interna da boca...
- É, não! – Ele disse. – Só ela mesmo.
- Sua boca parece que ficou meio torta, mas... – Levei a mão até o lugar, ouvindo Chiello e os outros rirem, me fazendo revirar os olhos.
- Idiota! – Ele sorriu.
- Vamos só esperar ela ficar bem. – Barza disse. – Ela é forte, ela vai ficar.
- Ela não deveria precisar, eu deveria ser forte por ela. – Suspirei.
- Você está sendo forte por ela, Gigi. – Chiello disse. – Você não estaria fazendo nada disso se não fosse por ela. É uma merda, mas tudo vai ficar bem! – Ele disse firme. – Vamos! Vamos sair daqui antes que ela acorde. – Ele me puxou pelo braço.
- Vamos levar umas boladas na cara, vai fazer você se sentir melhor. – Pinso disse da porta e eu suspirei.
Eu deveria dizer que tudo ficou bem sim, cortar o relato aqui e falar que tudo ficou bem, mas não. Ainda tinha 12 dias para o fim da temporada e muitas coisas para encarar. O pior de tudo isso, foi não vê-la no avião indo para Roma conosco no dia seguinte. Além de tudo, ainda teria que encarar a primeira final de Coppa Italia sem ela.
- Você não precisava fazer isso. – Virei para Giulia e ela puxou o freio de mão.
- Precisava sim. – Ela virou para mim. – Você é minha irmã e precisa de mim. – Ela segurou minha mão. – Agora mais do que nunca. – Pressionei os lábios, sentindo as lágrimas quererem me cegar mais uma vez nesses dois dias e ela inclinou o corpo para o lado, dando um beijo em minha têmpora. – Eu estou aqui contigo, ok?!
- Ok... – Suspirei e ela me soltou para sair pelo outro lado.
Empurrei a porta do carro e saí do mesmo, passando a mão no rabo de cavalo que Giulia havia feito em mim e vi o Stadio Olimpico de Roma em minha frente. Em cima da hora, eu optei por não vir. Estava tudo muto recente, além de que Stefano havia me dado um negócio forte na veia e eu fiquei grogue até ontem na hora do almoço, e acabei perdendo o avião.
Depois, sentando e conversando melhor com Giulia e com a minha família, que acabou ficando dividida entre quem queria matar Gigi e quem acreditava que ele deveria ter um plano maior para essa saída por ele realmente me amar, eu decidi vir. E Giulia se prontificou para vir comigo.
Eu agradeço, sei que eu não faço isso, mas preciso separar o pessoal do profissional, mesmo quando parece que eles estão se misturando e desmontando, então minha presença era exigida aqui hoje, mas era difícil me maquiar, me arrumar, colocar uma roupa bonita e sorrir em felicidade como se eu não estivesse sendo destroçada por dentro.
Quem sabe a gente não perca e eu podia voltar o bico em meu rosto?
Ok, também não. Não podíamos perder, seria a quarta Coppa Italia em quatro anos, é um feito que ninguém mais atingiu aqui na Itália e precisávamos quebrar.
Eu estava confusa dentro de mim, sabe? Eu estava brava, irritada e queria me certificar de quebrar mais ainda a cara dele, não que fosse possível, pois eu consegui quebrar três dedos com o soco que eu havia dado e seria mais uns dois meses com esse gesso no punho direito. Agora, tinha uma parte de mim que tentava deixar a raiva sumir e entender o que estava acontecendo.
Na verdade, eu só pensava nisso nos últimos dois dias. Por que ele estava fazendo isso? Por que ele está saindo da Juve? E se realmente ele está fazendo isso por mim, por quê? Eu o amo incondicionalmente há 17 anos, aguentei todas as merdas e burradas que ele fez, esperei pacientemente para ele terminar três relacionamentos por mim, e ele vai embora?
Será que meu erro foi esse? Amar demais? Não é possível, Gigi pode ser bom em esconder algumas coisas, mas ele é um livro aberto no sexo e ele disse que me ama! Ele falou com todas as palavras que me ama e não repetiria isso com todas as letras em qualquer oportunidade se não me amasse, mas tem alguma coisa errada nisso tudo, não faz sentido.
Eu preciso parar de pensar nisso, eu preciso seguir em frente! Ele vai embora, null! Acabou! É isso. Em 10 dias teríamos o último jogo da temporada que seria em casa e ele vai embora! Eu preciso ver isso como uma oportunidade!
Eu parei minha vida por uns... 10, seis ou quatro anos por ele, deixei de realizar tantas coisas por causa dele, precisava fazer isso agora. Eu sei que nunca mais vou amar ninguém como o amo, e nem quero, na verdade. Já vi que não sou uma pessoa que serve para o amor, então vou me conter em ficar sozinha o resto da vida. Depois que minha mão ficar melhor e alguns brinquedinhos, posso me resolver nessa parte, e sexo casual ainda é liberado com 36 anos, certo? O mundo mudou!
Mas eu posso realizar meu sonho de ser mãe...
É triste pensar que eu nunca vou ter um filho com ele, acho que meu sonho de ser mãe acabou aumentando para “mãe de um filho dele” e eu quase via isso como algo feito, já que ele sempre demonstrou que queria também, mas talvez me contenha em ser mãe sozinha como a Giulia. Adotar uma criança, formar minha família e organizar minha vida aos poucos. Ao menos a Juve eu sempre terei e já me acalma em diversos níveis.
Talvez eu possa resolver isso após as férias e meu pequeno momento de luto.
- Ah, você veio! – Pavel sorriu ao me ver descendo no camarote e dei um curto sorriso. – Vem cá! – Ele me abraçou e apoiei meus braços levemente em suas costas. – Como você está?
- Estou indo. – Suspirei, afastando devagar.
- Ficamos sabendo sobre tudo e... – Ele negou com a cabeça.
- Vocês sabiam? – Perguntei, sentindo essa pergunta arder minha garganta.
- Não. – Agnelli disse. – Fomos pegos desprevenidos também. – Assenti com a cabeça.
- Eu estou me sentindo como um nada, sabe? – Senti minha voz afinar devido às lágrimas e engoli em seco. – Desculpa...
- Está tudo bem, nós entendemos. – Agnelli disse e Pavel me soltou para ele me abraçar fortemente. – Estamos juntos nessa há anos, somos mais do que só o top cinco, somos uma família. – Assenti com a cabeça.
- Agradeço! Por isso eu não pude deixar de vir. A Giulia... – Olhei para trás rapidamente, vendo-a pressionar os lábios em direção aos dois. – Veio comigo.
- Não fique sozinha! Estamos aqui. – Pavel me apertou e suspirei.
- Vem, senta com a gente! – Deniz, esposa de Agnelli falou e sorri, sentindo-a me abraçar pela cintura e acariciei sua barriga.
- Como vocês estão? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça.
- Bem, bem! – Ela sorriu.
Ela entrou ao lado de Pavel, depois Andrea e eu entrei com Giulia logo atrás, ficando com os últimos dois lugares da poltrona. Não demorou muito para que os jogadores entrassem em campo com Gigi puxando a nossa fila. Além dele, Cuadrado, Barza e Benatia cuidavam da defesa, já que Chiello estava fora; Asa, Sami, Pjanic e Matuidi no meio de campo e Paulo, Douglas e Mario no ataque. Era uma escalação um pouco diferente demais do que estávamos acostumados, mas esperava que funcionasse.
Do outro lado, de todos os jogadores do Milan, só foquei em Leo. Da última vez que nos encontramos eu acabei ficando muito brava pela sua comemoração de gol dentro de casa, em compensação, havia recebido um “oi” aleatório dele no Instagram esses dias. Já não basta lidar com um Gianluigi Buffon, não lidaria com dois.
Após a cantora Noemi cantar o hino da Itália, os times se dividiram e o jogo começou finalmente. Eu estava um tanto desligada ali, só olhava para Gigi, ele estava muito bem, nem para ter quebrado a mandíbula ou um dente, talvez isso fizesse eu me sentir melhor, mas só eu me ferrei em quebrar algumas coisas mesmo. Já não basta o tornozelo e o joelho, agora Stefano vai me obrigar a fazer fisioterapia para mão quando tudo acabar. Pelo menos tinha as férias para recuperar bem.
Mesmo desligada, o jogo estava um pouco parado e bastante equilibrado. A primeira chance do jogo foi nossa aos três minutos com Sami, mas Donnaruma pegou. Aos oito, foi a vez do Milan, mas Gigi defendeu. Aos 22, nossa novamente e defesa deles. Aos 30, chance deles e defesa nova.
Estava bem equilibrado, mas precisava sair disso logo mais, não estava a fim de mais uma final de Coppa Italia com prorrogação e pênaltis. Aos 37, Mario teve uma chance incrível de cabeça, mas Donnaruma pegou. Esse Gigi II era ótimo até demais, mas uma hora iria abrir e o gol sairia. Esperava que desse lado e não do nosso.
Aos 39, eles tentam mais uma vez, mas a bola saiu demais, sem que Gigi precisasse defender. O último lance do jogo foi quase aos 46, levando em conta o minuto de acréscimo dado pelo diretor de jogo. Benatia derrubou um milanista ao tirar a bola dele na lateral esquerda de Gigi, mas o árbitro acabou o jogo antes de bater a falta. Os milanistas foram em cima do árbitro, mas Leo e Gattuso mandou todos saírem e irem para o vestiário.
Durante o intervalo, Giulia acabou pegando alguma coisa para comer e me obrigou a comer algumas pipocas e beber água, eu não estava com fome e meu nervoso não me permitia comer em jogos decisivos, mas eu estava comendo mal desde segunda-feira, entendia a preocupação dela.
Voltando para o jogo, eles começaram com um ataque melhor que o nosso, mas não foi bastante para abrir o placar, pois Gigi conseguiu defender todas as vezes. Nós também não conseguimos fazer grandes eventos, mas parecia que precisava ter alguma compensação para tudo isso.
Aos 55, tivemos um escanteio para nós, Pjanic cobrou e Dybala chutou, mas Donnaruma defendeu. Na cobrança novamente, foi a vez de Medhi levantar e cabecear para dentro do gol. 1x0. O pessoal ao meu lado gritou e comemorou, mas eu só consegui aplaudir quieta em meu canto. Era quase como se eu estivesse doente, sabe? Eu só me sentia fraca com algumas coisas, tanto que optei por um tênis sem meia hoje, não queria dar chance para ir de cara no chão sem motivo.
Aos 60 minutos, voltamos de novo. Dybala tentou um lindo chute de fora da grande área e Donnaruma precisou se esticar todo para atingir a bola. No escanteio, Dybala tentou de novo, mas dessa vez Donnaruma defendeu para frente. No minuto seguinte, quando voltamos com Douglas, ele fez o passe para Panita que, sem espaço, devolveu para Douglas que ajeitou e chutou. Donnaruma tentou se aproximar, mas a bola acabou entrando novamente.
Isso deu um gás incrível para o time. Estava 2x0 em seis minutos, era muito bom. O melhor ainda era que já estávamos perto do fim. Aos 63, Douglas tentou se aproximar novamente, mas Donnaruma aprendeu e defendeu.
Pelo menos ele defendeu para fora e tivemos outra chance de escanteio. Mario brigou com Leo para quem cabeceava e ganhou, mas Donnaruma chegou a defender, o problema foi que a bola escapou de suas mãos e Benatia aproveitou essa oportunidade para chutar entre as mãos de Donnaruma, fazendo a bola entrar em campo. 3x0 em 10 minutos.
Benatia pulou as proteções em volta do campo e foi direto para a torcida. Era bom demais para ser verdade, depois de todo desastre, talvez ainda acabemos com um saldo positivo depois da pior temporada que eu já vi na minha vida. Se eu colocar tudo o que aconteceu, acho que nunca tive tantos problemas: não-classificação para o Mondiale, morte do Astori, Champions League, a expulsão, essa indecisão de ganhar ou perder o campeonato, a saída do Gigi, lesão de diversos jogadores... Não estava sendo fácil.
Aos 72, em um lance do nosso lado, Matuidi quase fez um gol contra em uma retirada, mas a sorte foi que a bola bateu no travessão, pois Gigi não ia chegar. Durante a parada, Allegri tirou Douglas e colocou Fede.
Quando achava que esperaríamos os últimos 15 minutos só batendo bola esperando o jogo acabar, mais uma surpresa. Em uma cobrança de escanteio nossa, onde Mario e Leo logo sairiam no tapa por um precisar marcar o outro, Pjanic cobrou e a própria defesa do Milan acabou cabeceando errado e mandou para dentro do gol. Não foi Mario, não foi Barza, não foi Benatia, foi Kalinic, próprio milanista.
Depois disso, o estádio que já estava cantando vitória, aproveitou essa distância gigantesca para gritar mais alto ainda. Não estávamos em casa, mas era bom ver nossa torcida gritando e comemorando novamente.
Aos 78, Gigi trabalhou um pouco para fazer duas defesas seguidas e importantes à queima-roupa, era bom ele trabalhar, ele ia para outro time, precisava mostrar serviço para ganhar um melhor salário que estava ganhando aqui. Eu iria fazer minhas pesquisas, mas logo imaginava que ele queria ir para um time que pudesse ganhar a Champions, ele não abriria mão disso, tenho certeza, então começaria minha pesquisa por aí.
Na volta desse lance, Dybala fez um chute da nossa grande área e por pouco não entrou, o que deixou Donnaruma bem perdido com o que fazer. No retorno, mais uma chance deles, mas a bola foi para fora.
Depois de realmente só passar bola, Allegri fez outra alteração, ele tirou Paulino e colocou Pipita. Higuain vinha de lesão no tornozelo. Depois tirou Pjanic que colocou Marchisio. Falando em Claudio, estava ouvindo alguns boatos por aí e não sei não se Gigi seria a única velha guarda a sair da Velha Senhora. Precisava esperar uma temporada bem diferente. Espero ao menos que Chiello e Barza não inventem moda.
Quando o relógio chegou aos 90 minutos, o árbitro nem precisou de acréscimos, eles não fariam cinco gols em três minutos, então ele encerrou o jogo e o time inteiro correu para dentro do campo, me fazendo sorrir.
- A gente vai lá! – Pavel disse. – Você vai?
- Eu vou depois. – Falei, desviando minhas pernas do caminho. – Eu prometo que dou uma passada lá.
- Tudo bem. – Pavel acariciou meu rosto e passou com o restante do pessoal que eu só acenei com a cabeça.
Meus olhos foram direto para Gigi que abraçava os defensores, depois os goleiros reservas e logo estavam em rodinha no dentro do campo pulando e comemorando por mais uma conquista. Nossa décima terceira vitória na história na Coppa Italia.
Não demorou muito para que a cabeça de Allegri ficasse cheio de espuma de barba, tradição da Manu e o restante do top chegou ao campo para comemorar. Eu queria estar lá, por todo mundo, não por Gigi. Era minha família, meu time, isso era grande e importante. Essa gestão tinha tido um grande feito.
Eles se juntaram próximo à torcida para correr e comemorar com eles enquanto o palco para a premiação era montado. Eu estava feliz, impossível não estar com esse resultado, na verdade, mas estava feliz e era muito bom depois de toda a bagunça.
Os meninos fizeram a guarda de honra para os árbitros e o Milan receber suas medalhas. Quando chegou a nossa vez, Chiello e Asa puxaram a fila e o restante ficou esperando por alguma coisa antes de seguir com a fila, mas logo todos os jogadores foram receber suas medalhas, deixando Gigi por último.
Mas dessa vez, não foi Gigi quem ergueu a taça, ele deixou para Claudio, Barza e Lich erguerem-na. A Coppa Italia era a competição B, dificilmente o primeiro goleiro jogava, mas como Gigi havia ficado fora de alguns jogos importantes, Allegri acabou dando a chance para Gigi e Tek ficou no banco.
- É isso. – Suspirei e Giulia me apertou.
- Você está bem? – Ela perguntou.
- Sim, eu estou. – Suspirei. – Vai ser difícil, mas não posso dizer que não esperava. Qual a diferença dele aposentado e ele fora daqui? Nenhuma, ele não me escolheu de nenhum jeito.
- Vai ficar tudo bem, amiga. – Suspirei.
- Espero que sim! – Pressionei os lábios e ela me puxou para o outro lado.
- null? – Virei para o corredor.
- Pirlo? – Levantei rindo e ele sorriu.
- Ah, chefa! – Ele disse e saí da fileira para abraçá-lo. – Que bom te ver aqui.
- Eu que o diga, fiquei sabendo da sua aposentadoria. – Ele assentiu com a cabeça.
- Sim, recebeu meu convite para o jogo?
- Recebi sim, mas não sei se vou conseguir ir. – Me afastei devagar.
- Ah, por que não?
- Ah, correria de sempre, sabe?! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Nem me fala!
- Ok! Ok! Parem de graça! Quem não tomou banho, vá logo, precisamos ir embora! – Angela disse, abafando o som das batidas e cantorias no vestiário, me fazendo rir.
- AH, ANGELA! – Paulo e Douglas reclamaram.
- Ah, nada! Vamos! – Ela disse, sumindo pela porta.
- Vai demorar ainda! – Falei para Medhi e ele riu fracamente.
- Beh, ela só não precisa saber disso! – Ele disse, nos fazendo rir e virei de frente para o armário.
- Até parece que vai ser rápido. – Barza apareceu do lado, me fazendo rir.
- Mas não vamos voltar hoje, vamos? – Perguntei.
- Não, vamos para o hotel e voltamos amanhã, mas precisamos liberar o espaço antes da meia-noite. – Barza disse.
- HÁ! Desistam! – Marchisio disse e peguei o celular no vestiário, vendo que faltava cinco minutos.
- Eba! Multa! – Falei, ouvindo-os rirem.
- Beh, vamos logo antes que caia sobre nós! – Barza disse, voltando para seu local.
Peguei o terno e o sapato dentro do armário e segui para a área dos banheiros, o chão estava grudando champanhe, não seria nada fácil sair daqui sem sujar nada, mas daria para tentar. Encontrei um canto e tirei a toalha da cintura e coloquei a calça do terno. Peguei a camisa e a vesti, colocando-a para dentro da calça. Olhei para o paletó e não teria chance de eu usar isso agora, estava quente e eu acabei de sair do banho.
- ELA ESTÁ AQUI! – Me assustei com o grito de Dybala e alguns rostos saíram dos chuveiros.
- Quem? – Cuadrado perguntou e dei de ombros, vendo Fede aparecer novamente.
- null. – Ele disse, pressionando os lábios em minha direção e sumiu novamente.
- O quê? – Franzi o rosto e foi a vez de Barza aparecer. – É sério?
- É sim! – Ele disse, indicando com a cabeça para fora e sumiu logo em seguida. Calcei os chinelos novamente e segui para fora do banheiro, parando logo na porta, vendo null no centro do vestiário, abraçando Douglas.
- Fugiu do champanhe, chefa? – Paulo disse.
- Não se atreva! – Ela disse, apontando para ele.
- A sorte é que eles tiveram a capacidade de acabar com o champanhe! – Barza disse.
- Ufa, ainda bem! – Ela disse, dando um curto sorriso. – Eu ia descer antes, mas parei com Pirlo, depois com Zoff, Bettega, estava todo mundo aqui. Aí apareceu o Chie... – Ela virou o rosto para o lado e parou em mim.
Engoli em seco, sentindo minha respiração falhar por alguns segundos e ela travou igualmente. Fazia dois dias que eu não a via. Desde o dia do soco e do desmaio. Stefano acabou cuidando dela e eu precisei voltar para o treino e não a vi indo embora.
Ela estava quase igual a todo dia, a maquiagem no cabelo, a saia com a blusa, mas seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e ela estava mais baixa que Barza, então ela provavelmente estava sem salto. As olheiras estavam escondidas embaixo da maquiagem, mas os olhos ainda avermelhados. Ela ainda está chorando, isso quer dizer que ela ainda está sofrendo.
- Gigi. – Ela disse simplesmente, se virando novamente para Barza. – Apareceu o Chiello e ele me trouxe para cá.
- Achei que ela devesse ver o pessoal. – Chiello disse e ela sorriu. – Vai ficar conosco?
- Não, eu vou voltar para Turim. – Ela disse. – Só não podia passar em branco mesmo. – Ela pressionou os lábios.
- null! – Max me distraiu.
- Fala, mister! – Ela disse e ele se aproximou. – Não abraça!
- Eu já tomei banho e me troquei, por favor! – Ele disse, me fazendo rir e ambos se abraçaram. – Bom te ver aqui.
- Obrigada. Parabéns pela vitória. – Ela deu dois tapinhas em seu peito.
- Beh, agora precisamos encarar outra. – Ela suspirou.
- Mais uma vez dois jogos em Roma em dois dias diferentes, vocês deveriam ficar aqui. – Ela disse, rindo fracamente.
- Não! Precisamos treinar, não dá para ter erros. – Ele disse.
- Ah, mister! Relaxa um pouco! – Paulo disse e null negou com a cabeça.
- Vocês não vão deixar para o último jogo, né?! – Ela disse em um tom gemido.
- Não! A gente só gosta de jogar meio kamikaze! – Douglas disse.
- Ah, alguém me salva! – Ela disse, nos fazendo rir.
- Andiamo, ragazzi. Andiamo! – Max disse, fazendo o pessoal dispersar.
- Está sozinha aqui? – Barza perguntou.
- Não, eu vim com... – Ela olhou em volta. – GIULIA!
- O QUÊ? – Uma voz veio do vestiário.
- Você pode entrar, sabe? Não tem ninguém pelado. – Ri fracamente e Giulia apareceu na porta do vestiário.
- Ciao, ciao! – Ela disse.
- Para quem não conhece, essa é Giulia, ela é minha amiga-irmã! – Giulia acenou para o pessoal.
- Ei, eu te conheço! – Fede disse.
- Ela trabalhou no Le Iene, tinha um canal de pegadinhas, agora tem um de variedades. – null disse.
- Ah! Do Le Iene, certeza! – Fede disse e ela deu de ombros.
- Faz anos, mas a gente ainda aceita. – Ela sorriu. – Eu vou te esperar lá fora! – Ela disse. – Complimenti, ragazzi.
- Grazie! – Dissemos juntos.
- Gigi!
- Ah! – Virei para Angela.
- Meu Deus! Está devendo, é?! – Ela disse e ri fracamente. – Pessoal da Netflix quer falar contigo rapidinho, pode ser?
- Claro, só vou terminar de me arrumar. – Falei.
- Ok, depois pode ir para o ônibus, vou fazer eles... Ah, é você então! – Ela disse, saindo do banheiro.
- Oi, Angela! – null disse e suspirei.
Voltei para o banheiro e me sentei em um banco para colocar os sapatos sociais e precisei refazer o nó da gravata três vezes antes de ficar satisfeito com isso. O pessoal continuou saindo do banheiro e do vestiário e o barulho começava a ficar cada vez mais inexistente. Segui de volta para o vestiário e null não estava mais lá, além disso, vários também já tinham saído.
Organizei minhas coisas dentro da mochila, descartando os uniformes molhados de champanhe e coloquei a mochila nas costas antes de seguir para fora do vestiário. Caminhei sozinho em direção ao estacionamento, encontrando o pessoal fora do ônibus, outros já dentro. A clássica bagunça de sempre.
- Oh, Gigi! – Barza me chamou. – Vem logo!
- O que você está fazendo aí? – Me aproximei, deixando minha mochila perto do ônibus e segui até ele e o pessoal da Netflix.
- Eu também falei, ok?! Você não é o único relevante nesse time! – Rimos juntos e o cara da Netflix riu. Um ano e eu ainda não lembrava o nome dele.
- O que você falou de importante aí? – Me aproximei dele.
- Só umas besteiras! Sabe como é! – Ele deu de ombros, nos fazendo rir.
- Ok, ok, o que vocês querem de mim? – Perguntei, enrolando as mangas da blusa.
- Beh, depois de tudo isso, dessa vitória sensacional, dessa celebração importante, como você se sente? Acho que agora podemos falar da sua saída, né?! – Assenti com a cabeça.
- E você vai ficar aqui? – Falei para Barza.
- Não pode? – Ele disse, me fazendo rir.
- Sei lá, pode?
- Claro! – O cara disse, me fazendo rir.
- Beh... – Ri fracamente. – Depois desses anos incríveis, terminar minha história com a Juve assim foi um sonho e estou feliz em partilhar isso com Andrea e com todo mundo... – Indiquei-o ao meu lado, ouvindo-o rir. - Mas especialmente com Andrea...
- E comigo! – Gargalhamos juntos e ele me abraçou pelo ombro.
- E alguns outros... – Falei, ouvindo sua gargalhada alta.
- Somos os mais velhos, estamos felizes. – Ele disse, me fazendo rir.
- Andiamo! – Sturaro gritou do ônibus.
- Estão nos chamando no ônibus que eles querem ir embora, estão com fome.
- E vamos comemorar ainda! – Falei, indicando para a câmera.
- Vamos comemorar! – Ele disse, nos fazendo rir.
- Ok, acho que está ótimo! – O repórter disse. – Está natural!
- Ah, que desastre! Parece que eu não ensinei nada a vocês! – Franzi a testa e virei para trás, vendo Angela ali. – Andiamo, andiamo!
- Ah, está todo mundo estressado hoje! Não estou entendo mais nada! – Barza disse, me fazendo rir.
- Até parece que Angela com pressa de ir embora é alguma surpresa! – Ouvi de outro lado e virei o rosto vendo null e Giulia encostadas em um carro próximo ao nosso ônibus.
- null...
- Eu achei ótimo o que falaram! – Ela disse, descruzando os braços e desencostando do carro. – Mostra como o álcool já está bem afetado no sangue. – Ri fracamente.
- Não foi mentira, compartilhamos muitas coisas juntos, não acha? – Barza disse e ela revirou os olhos.
- Mais do que eu gostaria! – Ela disse rindo fracamente.
- Você pensou besteira! – Ele disse.
- E você não? – Ela disse e ele a abraçou, fazendo-a rir. – Você está bêbado, Barza, para!
- Eu não estou! – Ele disse rindo.
- Ele está! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- É! Agora vai! – Ela o empurrou para longe.
- Não vai conosco? – Barza perguntou.
- Hoje não! – Ela suspirou. – Eu vou para casa, vocês ainda precisam ficar mais bêbados ainda e comemorar mais ainda. – Pressionei os lábios. – Nos vemos no domingo, aqui mesmo.
- Você ainda vai me deixar falar contigo? – Perguntei e ela suspirou.
- Não se depender de mim. – Giulia disse sugestivamente e piscou logo em seguida, me fazendo suspirar. Ela estava indo bem até demais.
- Eu não sei... – null disse. – Não acho que temos mais nada para falar. – Ela ergueu sua mão engessada para tirar o cabelo do rosto e suspirei.
- Você está bem? – Perguntei.
- Mesmo? – Barza olhou para mim. – Você já foi mais esperto, cara.
- Barza! – null o empurrou para o lado. – Fisicamente sim. – Ela suspirou. – E para por aí.
- Sinto...
- Vamos embora? – Giulia disse. – Vamos perder o trem.
- É, vamos! – null disse e eu soltei um logo suspiro.
- Vocês poderiam ficar conosco e ir de avião amanhã. – Falei, colocando as mãos no bolso.
- Estou precisando de longas horas de trem para relaxar. – null deu de ombros. – Boa noite para vocês e parabéns de novo. – Ela disse e suspirei.
- Grazie. – Falei e ela seguiu para dentro do carro em que estava encostada, me fazendo suspirar.
- Ciao, ragazzi! – Giulia acenou antes de entrar também, me fazendo suspirar.
- É! Acho que não está tudo bem! – Barza disse e empurrei-o de lado.
- É, você está bêbado! Vamos lá! – Falei, puxando-o pelo ombro novamente e segui em direção ao ônibus.
Capitolo centoquattro
Já ouviu falar sobre a frase “fazer o mínimo”? Normalmente usada em sinais de ironia. Pelo menos Manu falava muito quando estava aqui e devo dizer que ela era muito boa com ironias. Beh, usando essa frase do “fazer o mínimo”, conseguimos fechar o scudetto aqui em Roma. Depois de estarmos aqui há quatro dias, precisei voltar para rezar muito que fechássemos o scudetto e fechamos... Depois de um 0x0 sem grandes acontecimentos.
Beh, é a Roma, eles estão em terceiro lugar na tabela, melhorando a cada dia, então já era esperado um jogo difícil, o que me deixou bem brava por eles deixarem o fechamento do scudetto justo contra a Roma, na casa deles, quando tínhamos deixado pontos importantes contra times como o Crotone e o SPAL.
Enfim, depois de 90 minutos com uma escalação um pouco fora do comum com Tek no gol, DeScligio e Ruga na defesa, Fede no ataque e Barza sendo o jogador mais velho, então, o capitão, seguramos o jogo no 0x0 e conseguimos o ponto necessário para fechar o scudetto! Yey? Dybala até chegou a fazer um gol aos 48, mas estava impedido, mas mesmo impedido foi o momento mais empolgante do jogo, pois sabíamos que, mesmo com um empate, o ponto estava garantido, agora ficar 90 minutos pensando que eles podiam fazer um gol e ferrar tudo, não foi nada demais, e eu costumo ser a mais empolgada do top cinco nos jogos.
Estava um pouco difícil comemorar depois dos últimos acontecimentos, os boatos de Gigi sair da Juve e não se aposentar ganharam força e Agnelli já tinha programado a coletiva de despedida dele. Eu estava em surto total ao pensar nisso e no último jogo dele, onde seria o último dia que eu o veria. Era isso de pois fim.
Mas eu não podia só focar nisso, não podia deitar em posição fetal e chorar como se fosse o fim da minha vida, - o que eu sentia que era, pois eu não conseguia enxergar minha vida na Juve sem ele na próxima temporada, parecia irreal – eu ainda cuidava das contratações do time e teria o Mondiale no meio do ano, então vários times já estavam sondando os nossos jogadores, querendo comprá-los antes da competição, mas eu não iria discutir com ninguém antes de ver os desempenhos.
Talvez seja o plano ideal para as férias: me matar de comer guloseimas enquanto assisto ao Mondiale. A Itália não vai estar mesmo, então não teria chances de eu me encontrar com Gigi nem por meio da televisão. Ah, pena que sua namorada é jornalista esportiva, mas talvez a RAI passe e os narradores da RAI sempre foram melhores que da SkySports.
E depois das férias... Apagão!
Eu não fazia a mínima ideia do que seria minha vida. Nós nunca fomos um casal, eu sei, mas parecia que eu ficava bem só de pensar que o encontraria após as férias. O bronzeado renovado, aqueles olhos azuis e lábios bem convidativos, podia não ser perfeito, mas eu sabia que o teria. Sabia que o encontraria nos jogos, no CT, no administrativo, nos jogos, na rua de casa, no mercado, no parque...
E agora eu ainda não descobri nem para onde ele iria. Que time estava procurando um goleiro de alto nível por não ter um bom o suficiente? A pergunta era fácil demais, mas nenhuma das respostas são óbvias e só consigo pensar que ele está fazendo isso para ganhar uma Champions. Ele não abandonaria 17 anos de Juve, 17 anos de confiança, para ser goleiro reserva de algum timinho europeu à toa.
Ah! Quantas perguntas eu tenho para ele! Mas eu não quero fazer essas perguntas! Saber é pior do que não saber. A curiosidade pode me matar internamente, mas não queria saber de nenhum de seus motivos. Não queria saber que ele estava fugindo de mim, não queria saber que eu havia sido só uma diversão que ele não conseguiu fugir mais depois de um momento, como também não queria saber que ele iria para outro time tentar ganhar uma Champions porque somos fracos o suficiente para isso. Eram facadas difíceis de aguentar, então, sim, eu preferia o silêncio nesse momento.
Nesse e no resto da vida, né?! Ele pode jogar por mais um ano ou dois e aí? Se ele realmente pensa que eu vou esperá-lo após essa aventura que ele quer fazer, ele está redondamente enganado.
Quando o juiz finalmente apitou, o time invadiu o campo em comemoração e, dessa vez, diferente dos outros seis anos, eu senti um aperto no peito, como quem não queria que isso acabasse. E o motivo era só um: ele.
Mas sempre foi ele, não? Talvez eu nem estivesse mais na Juve se não fosse ele. Hoje agradeço, pois não tem outro time em que eu trabalharei na vida, mas a felicidade dos sete scudetti di fila, de conseguir mais uma vez, daquele plano que fizemos no começo da temporada 2011, parece que não existe.
- Auguri, ragazzi! – Pavel disse nos abraçando e troquei rápidos abraços com o restante do top.
Era uma vitória desastrosa, mas ainda era uma vitória, e estava estampada na cara de todos, menos na minha, mas não seria a desmancha prazeres, só não me peça para ficar pulando e gritando “siamo noi, siamo noi”.
- Andiamo, andiamo! – Agnelli disse e eles seguiram rapidamente para cima.
- Parece que alguém está mais em um funeral do que em uma comemoração! – Franzi com a voz conhecida e virei meu corpo para trás.
- Alex? – Falei surpresa ao ver Del Piero e ele me abraçou fortemente. – Ah, que delícia ver um rosto conhecido aqui! – Abracei-o pelos ombros e suspirei.
- Beh, eu estava por aqui, então...
- É muito bom te ver, mesmo. – Suspirei, me afastando dele e ele levou uma mão até meu rosto, secando uma lágrima.
- É um funeral. – Ele disse e suspirei.
- Não me diga que não sabe. – Falei, vendo-o pressionar os lábios.
- Eu vi os boatos. – Ele disse e suspirei. – São verdadeiros?
- Sim, todos eles. – Ele negou com a cabeça.
- Sinto muito, null. Eu achei que vocês dois... Que ele...
- Todo mundo achou. – Ri fracamente.
- Eu sei que é ridículo eu falar isso porque a dor não vai melhorar, mas você não precisa dele! – Ele disse firme. – Você sempre foi incrível e nunca precisou dele. Tenta se recompor e fazer as coisas para você...
- A vantagem é que agora não vou ter mais desculpas. – Pressionei os lábios e ele me abraçou novamente. – Qualquer coisa você pode vir morar em Los Angeles comigo. Aposto que tem vários times que vão adorar seu poder de contratação. – Ri fracamente.
- A Juve me deu tudo, Alex. E tirou muito também, mas eu não consigo virar de costas para minha Velha Senhora, eu vou fazer o que sempre fiz de melhor: me afundar em trabalho. – Ele riu fracamente.
- Isso seria trágico se você já não o fizesse.
- Beh! – Dei de ombros, suspirando. – Em algum momento da minha vida eu não o tinha, depois eu consegui esquecê-lo por cinco anos... Talvez eu consiga de novo.
- Eu vou torcer muito por você. E não só esquecer, ser feliz mesmo. Você merece e muito! – Sorri, suspirando e me afastando devagar.
- Fico feliz em te encontrar aqui, talvez era esse empurrão que eu precisava.
- Ainda terão alguns dias difíceis, mas eu confio em você, você vai encontrar o estímulo necessário. – Suspirei.
- Obrigada! – Apertei-o novamente. – E você? Sonia, as crianças?
- Tudo bem, graças a Deus! – Ele assentiu com a cabeça.
- Manda um beijo para eles.
- Pode deixar. – Ele sorriu e deu um beijo em minha bochecha.
- Eu vou descer, acho que não consigo mais fugir. – Rimos juntos.
- Vai lá! Se cuida!
- Você também! – Sorri antes de subir os degraus novamente.
Dei uma última olhada para trás e o campo já estava vazio, apesar de ser nosso jogo de selamento de scudetto, era o último jogo da Roma dentro de casa, então eles estavam tendo a festa que teríamos na semana que vem. Além de ser um jogo normal, protocolos precisavam ser respeitados.
Os gritos de comemorações foram ouvidos do corredor do Olimpico, então treinei meu sorriso e minha cara de felicidade. Era difícil quando algumas lágrimas ainda escapavam sem querer de meus olhos, mas não era o fim do mundo, não é o fim do mundo!
- SIAMO NOI! SIAMO NOI! I CAMPIONI DELL’ITALIA SIAMO NOI! – Ri fracamente ao entrar o vestiário, ouvindo os estouros das garrafas de champanhe e não foi preciso passar mais do que a porta para ver a bagunça dos jogadores lá dentro. – SIAMO NOI! SIAMO NOI! I CAMPIONI DELL’ITALIA SIAMO NOI! – Sorri, apoiando meu ombro no batente da porta.
- CHEFA! – Paulo gritou com um lindo e largo sorriso nos lábios e me esticou a garrafa de champanhe.
- Grazie, amore! – Falei, vendo-o rir e voltar a sacudir o pouco que havia naquela garrafa, me fazendo sorrir.
- null! – Vi Chiello e abracei-o, suspirando e ele me movimentou lado a lado.
- Auguri!
- Auguri, chefa! – Ele disse e apertei-o fortemente. – Mais um pouco?
- Mais um pouco! – Falei, rindo fracamente e ele me apertou contra si, me fazendo suspirar. – Está ótimo! – Ele me soltou devagar.
- Tem mais de onde veio esse. – Rimos juntos.
- Bom saber! – Ele deu um beijo em minha bochecha.
- null! – Barza veio logo atrás e abracei-o também.
- Ah, meus amores! – Suspirei, apertando-o também e ele minha cintura. – Auguri, Barza.
- Auguri, chefa! – Ele suspirou.
- Ah, eu também quero! – Pinso disse, me fazendo rir e ele veio me abraçar.
- Ah, vocês estão molhados e grudados! – Falei rindo fracamente e não demorou muito para Paulo, Douglas, Fede, Ruga, Sturaro e outros entrarem no abraço grudento.
- Nada como um abraço gostoso e grudento! – Dybala disse, me fazendo rir.
- Vocês são incríveis! – Suspirei.
- A gente sabe! A gente sabe! – Douglas disse, me fazendo rir.
Depois me soltá-los, me senti na obrigação de passar por todo mundo, fiquei aliviada só por Gigi não estar ali. Talvez ele estivesse em entrevistas ou algo assim, mas foi bom não ter aquela pressão toda, mas sabia que uma hora ele apareceria e ele apareceu.
- DAI, GIGI! – A voz de Paulo me assustou e ergui o olhar para ele, me fazendo suspirar, mas dessa vez não era de nada, era que ele estava com aquela boina ridícula.
- Por que você faz isso consigo mesmo? – Minha voz saiu antes de meu pensamento e pressionei os lábios, vendo-o virar rapidamente os olhos até me achar.
- É comigo? – Ele perguntou.
- É! – Falei, franzindo os olhos. – Eu não deveria dizer, deveria estar cagando para o que você faz, mas porque você... – Respirei fundo. – Vocês, na verdade, gostam de ficar feios? Qual o prazer isso? – Um silêncio se formou no vestiário e só vi os olhares virando aqui e ali.
- É, gente, por quê? – A voz de Angela saiu mais alto, me fazendo rir. – É uma pergunta incrivelmente honesta!
- Obrigada! – Disse, esticando a mão e ela andou em minha direção, batendo na minha, me fazendo rir.
- Ok, agora vamos! – Angela disse, saindo do vestiário.
- Ela está contente com a resposta, eu não! – Falei, olhando para Gigi. – Tira isso! – Seu olhar em mim parecia o mesmo de quando eu tinha dado um soco na cara dele.
Ok que eu o ignorei no voo para cá, no almoço, na vinda e não pretendia falar com ele o dia inteiro, mas ele estava com a joça dessa boina o dia inteiro e chega uma hora que é preciso falar. Ou só chegou a hora que eu me irritei, nada mais.
- Pronto! – Paulo puxou a boina de sua cabeça. – SEM IRRITAR A CHEFA! – Ele disse e ri fracamente, negando a cabeça.
- É, e tirem a bebida do Paulo. – Falei, negando com a cabeça e vi Gigi rir antes de se virar e tentar recuperar sua boina, mas Paulo a jogou para Douglas e a quinta série voltou a se divertir.
Sabe quando você tem 15 anos, nunca namorou, tem aquela queda pela garota mais bonita da escola e ela fala contigo? Mesmo se for para te insultar ou algo assim, mas ela se importou a falar contigo? Foi assim que eu me senti quando ela falou da minha boina. Eu já sabia que ela não gostava quando eu a usava, mas fazia tanto tempo que eu tinha me esquecido, mas fiquei feliz por tê-la escolhido hoje.
Foi um momento rápido, claramente sarcástico, que acabou tirando uma risada de seu rosto pelo Paulo estar levemente alterado pela vitória e pelo champanhe. Mas eu queria alongar isso, eu não merecia que ela olhasse para mim, mas eu queria, nem se fosse para me socar novamente. Então, como o bom garoto de 15 anos que quer chamar atenção da menina mais bonita e incrível da escola, o que eu fiz? Coloquei a boina novamente e esperei que ela falasse comigo novamente.
Beh, mas primeiro eu precisei correr atrás do Dybala, Douglas, Fede, Sturaro e o pessoal abaixo dos 30 para recuperá-la.
Depois de tudo, demorou um pouco para gente sair daqui. A maioria do pessoal estava comemorando ainda e nem tinha ido para o banho. Até null apareceu com uma roupa diferente após alguns minutos, provavelmente tinha sido atacada por champanhe quando chegou aqui.
Após encerrar tudo aqui em Roma, comemoramos com alguns torcedores fora do Olimpico, depois fomos comemorando do Stadio Olimpico até o aeroporto, depois do voo de Roma até Turim. Mesmo com a pizza que serviram no avião, eles não paravam de cantar e confesso que até eu estava ficando incomodado um pouco. Eu sei que precisava comemorar, ano que vem eu iria para um time novo e eu seria o novato. Nós jogadores nos enturmamos rapidamente, mas é difícil chegar. Mas nada seria como a Juve, nenhum lugar seria como a Juve.
- Como alguém consegue dormir com esse barulho? – Medhi, que estava na poltrona ao meu lado do outro lado do corredor, perguntou.
- O quê? – Virei para ele.
- Como? – Ele indicou a poltrona à sua frente e inclinei o corpo para frente e vi null dormindo com o rosto tombado para o lado interno.
- Pavel disse que ela não tem dormido muito bem. – Pinso, que era um dos que ainda dançava no corredor, debruçou sobre a poltrona minha e de Medhi.
- Eu vou ter que compensar tanta coisa depois... – Suspirei. – Quantas noites não dormidas ela deve ter por minha causa? – Falei um pouco baixo, não sabendo se seu sono estava pesado ou não.
- Sem drama agora, Gigi! – Medhi disse. – Vamos lá, um mantra para você: por ela, por ela. – Ri fracamente, puxando-o pelo ombro, fazendo-o rir.
- Você é demais, Medhi! – Falei e ele sorriu.
- Vai fazer falta, capitano! – Ele falou, segurando meu braço e eu suspirei.
- CAMPIONE! CAMPIONE! OLÊ, OLÊ, OLÊ!
- Xi! – Pedi para Blaise que vinha logo atrás de Pinso. – Tem gente tentando dormir.
- Não se importe comigo! – Arregalei os olhos com a voz de null e ela logo apareceu na fileira da frente ao se levantar. – É fisicamente impossível dormir com esse barulho. – Ela jogou os cabelos para trás, suspirando. – Eu preciso do banheiro. – Ela saiu da fileira. – Scusi, scusi! – Ela disse, passando por Blaise e Pinso, seguindo para o fundo do avião.
- Será que ela me ouviu? – Perguntei.
- CHEFA! – A voz de Paulo ficou mais alta junto de sua gargalhada e ri fracamente.
- Acho que não, mesmo se ouviu, você já disse que está fazendo por ela, não? – Pinso perguntou.
- Já sim, ela só não acredita em mim. – Suspirei.
- Não é melhor ela continuar achando isso? – Pinso disse e virei o olhar para ele.
- Como assim?
- Beh, ela não acreditando em você, ela vai continuar achando que você é um puttano e você vai conseguir resolver tudo sem mais mágoas... – Pinso deu de ombros. – Ou eu posso estar bêbado e falando besteira. – Rimos juntos.
- Talvez você esteja bêbado, mas até faz sentido, ela não se importar comigo facilita o processo.
- É, algo assim. – Ele deu de ombros, me fazendo suspirar.
- Você concorda com ele? – Virei para Medhi que riu fracamente.
- Beh, Gigi, você sabe suas convicções e motivos. Vai ser muito difícil ficar esse ano fora... – Ele virou rapidamente para trás para ver se ela não estava voltando. – Mas se agarre a isso. Ela está triste, magoada e muito brava com tudo, porque ela acha que foi enganada, mas isso é bom para você...
- Como?
- Ela não ficaria assim se não te amasse. – Dei um curto sorriso.
- Só gostaria que ela falasse isso para mim. – Pressionei os lábios.
- É, mas nem sempre falar é importante, às vezes uma lágrima fala muito mais. – Ele disse e suspirei.
- Vocês tomem conta dela, por favor... – Suspirei.
- Faremos nosso melhor. – Medhi disse e assenti com a cabeça.
- Licença, Pinso. – Ouvi sua voz e virei para trás.
- Dança comigo, chefa! – Ele esticou a mão para ela que franziu os lábios, negando com a cabeça.
- Não, Pinso! – Ela disse e ele a segurou pelo braço, tentando girá-la pelo pequeno espaço do corredor, fazendo sua risada ecoar pelo avião, me fazendo sorrir. – Para, eu vou derrubar minha pizza! – Ela disse, finalmente conseguindo soltá-lo e ela parou ao lado meu e de Medhi. – Ragazzi.
- Chefa! – Medhi disse e ela virou para mim.
- Dio mio! – Ela bufou e só senti sua mão em minha boina, puxando-a de minha cabeça e jogou-a para trás.
- PEGUEI! – Sami gritou e ela deu um sorrisinho.
- Bem melhor, não acha? – Neguei com a cabeça, vendo-a atravessar o corredor com sua caixa de pizza e se sentar.
- Você vai atrás? – Pinso perguntou.
- É claro! – Falei, desafivelando o cinto e me levantei.
Depois de brigar com Sami, Mario, Pjanic e virar o verdadeiro bobinho pela segunda vez naquela noite. Quando eu voltei para o meu lugar, era como se nada tivesse acontecido, ela comia sua pizza calmamente. Suspirei, vendo-a segurar a pizza com as mãos e mordê-la e me sentei em meu lugar novamente.
O restante do voo foi calmo, mas o pessoal realmente não parou de cantar. Quando chegamos em Turim, a torcida nos esperava na frente do aeroporto, então aproveitamos para comemorar com eles por alguns minutos, gritando e cantando as músicas que cantávamos desde Roma.
Quando conseguimos sair, seguimos em direção ao hotel do time, finalmente terminando nossa viagem, agora era ir para casa, fazer mais alguns treinos e esperar o jogo de sábado... O último jogo da temporada... Meu último jogo pela Juve. Eu ainda não tinha pensado nisso, era uma situação muito estranha. Eu passei os últimos 17 anos aqui, em volta desses muros, dessas pessoas, vestindo essas cores, falando meu bom e velho italiano... Agora eu daria às costas a isso por causa de uma chantagem para proteger o amor da minha vida.
Era um motivo nobre, eu faria tudo por essa mulher, mas era horrível pensar que precisou chegar nisso. Por que eu não terminei com Alena e fiquei na minha? null e Barza nunca tiveram sintonia, acabaria de uma hora ou outra. Por que eu não esperei? Todos os momentos que nós não demos certo ou terminamos, foi por falta de espera, e agora eu precisaria compensar isso longe dela, em outro time, falando outra língua e com 40 anos nas costas.
A vida era realmente uma caixinha de surpresas e eu não gostei nada de abrir essa.
- Beh, ragazzi, temos treino amanhã na parte da tarde, por favor, tentem passar a ressaca. – Allegri disse, nos fazendo rir. – Temos um jogo difícil, mas importante, no sábado, e será bom termos todo o squad para fazer bonito e nos despedir do nosso Gigi. – Pressionei os lábios. – O campeonato está vencido, mas vamos vencer do Verona, né?! Por favor! – Rimos juntos e vi alguém saindo da roda e vi null entrando para dentro do hotel. – Amanhã, duas horas! Não se atrasem ou vou jogar na banheira gelada.
- Fechado, mister. – Falamos juntos.
- Obrigado por tudo e vamos lá!
- Eu preciso ir no banheiro. – Dybala disse, entrando correndo no hotel e rimos juntos.
- Acho que vou também. – Comentei. – Moro aqui do lado, mas... – Não demorou muito para todo mundo já ter entrado no lobby do vestiário.
- Buona notte, Eleonora! – Falei para a recepcionista.
- Ciao, ragazzi! Auguri per la vittoria! – Ela sorriu.
- Grazie! – Falamos juntos.
- Vai no jogo sábado? – Perguntei.
- Eu vou ver o que posso fazer! – Ela disse rindo fracamente.
- Vai, Paulo, não enrola! – Barza gritou e ri fracamente, me sentando em uma mesa para esperar.
- Vai demorar. – Mario disse, se apoiando na beirada da mesa.
- Eu não tenho pressa! – Falei, vendo null andar pelo local e apoiar no balcão.
- Vai ficar stalkeando? – Ele disse e ri fracamente.
- Aproveitar os últimos minutos... – Ri fracamente. – E você? Vai para casa? Descansar?
- É, acho que sim.
- Por que você não fala? – Perguntei. – Namorada, filhos, qual é a sua? – Olhei para ele.
- Tenho uma namorada... – Ele ponderou com a cabeça. – Tenho um filho...
- Você tem um filho? – Perguntei surpreso.
- Um enteado, mas é meu filho. – Sorri.
- Por que não traz para o time? Nos jogos? Você está sempre sozinho...
- Eu trago. – Ele sorriu. – Vocês só não sabem quem são... – Ele se levantou e revirei os olhos.
- Você é um homem amargurado, Mandzukic! – Ele deu de ombros.
- Pelo menos eu não tenho a pressão de um time inteiro dando palpite no meu relacionamento! – Ele disse rindo, me fazendo revirar os olhos.
- O bom é que essa pressão acabou, né, Mario? – null se aproximou da mesa. – Para mim, para ele... – Ela tinha uma tesoura na mão, me fazendo franzir a testa. – Tudo em um dia.
- O que você vai fazer com isso? – Mario perguntou antes e ela puxou a boina de minha cabeça de novo.
- Eu vou fazer... – Ela começou a cortar a boina no meio, me fazendo arregalar os olhos. – Isso! E isso... – Ela soltou uma parte, cortando a outra. – E isso! – Ela fez alguns furos antes de deixar os pedaços que sobraram cair na mesa. – Pronto! Agora estou feliz. – Ela disse e eu estava com a boca semiaberta, um tanto surpreso com isso. Não achei que uma boina causaria tudo isso, mas acho que era a raiva falando. – Você não é mais nada meu e nem do time, e eu não te devo mais nada! – Ela disse. – Buona notte, ragazzi! – Ela disse antes de se virar de volta para o balcão. – Grazie, Eleonora.
- Prego! – A recepcionista disse igualmente surpresa e parece que o silêncio se instalou no lobby.
- Ela... Ela cortou... Minha boina! – Falei surpreso, pegando os pedaços e engoli em seco.
- Fica feliz por ser só a boina e não você! – Mario disse. – Porque talvez ela queira fazer isso contigo, não com a boina...
- Ela... Ela... – Senti minha voz sumir.
- Quem disse que seria fácil, hein, Gigione? – Ele disse antes de se afastar e engoli em seco.
- Minha boina... – Suspirei.
- E eu achando que você não ia usar a punição, hein, seu puttano? – Suspirei olhando a notícia na tela do notebook sobre a suspensão de três jogos de Gigi na Champions após falar que o árbitro tinha uma lata de lixo no lugar do coração. Poético, mas desastroso.
Vai ser ótimo quando o presidente do PSG vir isso, mas ele que se foda, isso não é mais problema meu! Não fazia sentido. Gigi iria para o PSG? Para Paris? Sério? Eles estavam crescendo nos últimos anos, mas tirando o campeonato nacional e a Coupe de France, eles não tinham grande histórico de vitória. E foram eliminados nas oitavas de final da Champions League.
Se Gigi iria para Paris tentar ganhar uma Champions, ele estava fazendo uma péssima escolha! Jurava que ele iria para Barcelona, Real Madrid ou até para o Liverpool ou Manchester City, mas ele vai para França? É a prova perfeita de que algo está errado. Eu não iria perguntar, eu não quero saber as suas motivações, mas ele estava fazendo um belo de um insulto em nossos 120 anos de história ao achar que o PSG, um time com 45 anos de história, está melhor do que a gente.
Além de que eles tinham um elenco bem mediano. Tinha Thiago Silva, Marquinhos, Verratti, Cavani, Neymar, Di María, Mbappé e Dani Alves de conhecido, grandes nomes, claro, mas ele iria competir o gol com o alemão Kevin Trapp, que era vice do Neuer, mas é um grande e mais jovem nome e o francês Alphonse Areola... Eles se livrariam de um, não é possível.
Fiquei tentando fazer uma ligação com Gigi e o PSG diversas vezes, mas a única foi na pré-temporada nos Estados Unidos quando jogamos contra ele, e vencemos. Será que a conversa já estava desde aquela época? Não, não era possível. Ele não esconderia isso de mim por um ano... Beh, ele escondeu coisas tão ou mais importantes de mim ao longo de 17 anos, uma mudança para Paris não seria novidade.
Mas confesso que me dava certo conforto saber que ele estaria só aqui em Paris, não que eu queira manter contato, mas o voo para Paris é de 1:25h, é como ir daqui para Roma. Poderia... Não, você não poderia fazer nada, null. Você escolheu isso. Você escolheu se afastar, você pediu para ele esperar e ele não só não te escolheu como está fugindo.
Você não deve nada a ele.
Parecia que quanto mais palavras de apoio eu ou as pessoas falavam para mim, mas eu chorava e mais eu afundava. Essas últimas semanas já estavam corridas por causa do campeonato, mas essa última em particular, foi um desastre. Eu não conseguia parar de pensar nisso e eu chorava toda vez que pensava nisso.
Era uma sensação estranha em meu peito. Tinha a parte pessoal, tanta coisa que eu faria diferente hoje para gente ficar junto ou tentar ser mais firme e acabar com isso de vez sem chances de ficar nessa gangorra de 17 anos. Mas tem também o fato de termos dividido informações e acontecimentos profissionais por todos esses anos. Eu entrei como uma estagiária, ele era a grande contratação do time, mas foda-se, éramos dois trabalhadores novos no time e que cresceram dentro dos portões de Vinovo.
Eu estou completamente perdida, não sinto fome, mas quando sinto, parece que vou comer um elefante. Não tenho sono, mas quando durmo, poderia dormir por 24 horas direto, além da dor de cabeça constante de tanto chorar, principalmente de madrugada quando parecia que eu não poderia fazer nada. Eu só queria que isso acabasse, que esse fosse um fim de temporada normal, sabe?
Eu sei que o outro boato era se aposentar, também não consigo pensar se mudaria alguma coisa entre nós se ele realmente se aposentasse, mas eu sentia que a saída e ida para outro time fosse como uma facada nas minhas costas, como se eu fosse um fantoche durante todos esses anos. Doía e doía muito.
Parece que eu teria que entrar na minha realidade alternativa para parar de doer, mas normalmente ele estava nela e, dessa vez, ele não vai estar e eu não fazia a mínima ideia do que fazer. Parece que me agarrar no trabalho e nas pessoas que ficarem não será justo, elas não têm nada a ver com isso...
- null? – Ergui o rosto da tela, girando para a porta, vendo Pavel entrar ali.
- Ei. – Falei, suspirando.
- Estamos indo, tem certeza de que não quer ir? – Engoli em seco, negando com a cabeça.
- Não acho que tenho capacidade de fazer isso. – Pressionei os lábios, sentindo as lágrimas subirem novamente.
- Tem certeza? Vocês podem se despedir e...
- Não quero ter que dar explicações à imprensa do porquê eu dei outro soco na cara dele. – Ele deu um curto sorriso.
- Estamos indo, almoça comigo depois? – Ele perguntou e assenti com a cabeça.
- Claro, claro! – Dei um curto sorriso e vi seus lábios pressionados antes de ele fechar a porta.
Respirei fundo, tombando minha cabeça para trás e pressionei a mão no gesso, com uma enorme vontade de destruí-lo e arrancar a merda dessa lembrança dele que ficaria comigo por mais 45 dias, mas não o fiz, não poderia ficar me machucando por causa dele, eu não sou assim, não poderia fazer isso.
Eu só queria entender, sabe? Ele ficava falando “estou fazendo isso por você, por você”, mas o que isso queria dizer? Por que eu oficializei nosso término há um ano? É por isso? Ele não esperava que eu realmente fosse esperá-lo para sempre, esperava? Além de que, se ele diz que me ama de verdade e já assumiu para mim que tem medo da Ilaria, ele preferiu manter o medo ao ter que encarar aquela bruxa? Não acredito que ele não queira lutar para ser feliz. Vai viver uma vida miserável por causa dela?
Parece que eu passei 17 anos com um completo desconhecido. Suas ações não fazem sentido. Ele sair da Juve não faz sentido. O lugar dele é aqui! Foi aqui que ele passou quase tudo da sua vida. É aqui que ele cresceu, amadureceu, fez erros, casou, teve filhos, mesmo que não me envolvesse, foi aqui que ele fez tudo. Ele não podia simplesmente dar as costas para isso, por mais dor que eu estivesse sentindo em meu peito, o lugar dele é aqui. Assim como eu, ele é bianconero de coração, não só da boca para fora...
- O lugar dele é aqui... – Falei baixo, erguendo a cabeça, sentindo minha respiração falhar por alguns segundos e peguei minhas coisas na mesa e segui rapidamente para fora da minha sala. – Sandra, eles já foram?
- Acabaram de descer! – A assistente de Agnelli disse e girei o corpo, colocando meus pés para correr pelo corredor antes de descer as escadarias de Continassa.
Eu sempre estive ao seu lado, não concordava com suas ações comigo, mas nunca soubemos separar nossas vidas pessoais e profissionais, mas ele precisava se lembrar disso. O lugar dele é aqui! A Juve é seu lar, pois eu sei que é comigo e eu nunca dei, mesmo quando era insuportável encará-lo todos os dias. Eu não fugi. Ele não podia fazer isso.
- Pavel! – Gritei, vendo-o entrar na van e ele parou, virando para trás.
- Mudou de ideia? – Ele perguntou, abrindo um largo sorriso.
- Sim! Ele preciso de um do lado esquerdo agora! – Brinquei e ele sorriu, me chamando para dentro e entrei, me sentando ao lado dele.
- Está tudo bem, null? – Agnelli me perguntou, apoiando a mão em meu ombro e suspirei.
- Não vou mentir, Agnelli, não está. – Suspirei, pressionando os lábios.
- Estamos contigo! Quando te chamei para fazer parte dessa equipe, eu soube de vocês. Não sabia que aconteceria tudo o que aconteceu, mas estamos contigo. – Dei um curto sorriso.
- Obrigada, gente! Mas prometo não tentar deixar isso me afetar. – Suspirei.
- Não estou nenhum pouco preocupado com isso. – Ele disse e dei um curto sorriso.
A van precisou só sair do administrativo em Continassa e entrar na área de jogo do estádio. Ao invés de seguirmos o caminho de sempre para os jogos, fomos para a área de coletiva. Era hoje a coletiva de Gigi, hoje o mundo inteiro descobriria sobre suas reais intenções. E eu não estava nenhum pouco importando sobre as opiniões deles.
- Ciao, ragazzi! – Angela apareceu ao sair da sala. – null! Você veio! – Ela disse sorrindo.
- Sim, preciso falar com ele. – Pressionei os lábios.
- Ele está na antessala com o Allegri. – Ela disse.
- Quer ir primeiro? – Agnelli perguntou.
- Não. – Suspirei. – Podem ir, depois eu entro, se não se importarem...
- Claro, é claro! – Ele disse.
- Podem ir. – Angela disse abrindo a porta e vi dentro da sala Allegri sentado em uma cadeira e Gigi de costas, me fazendo engolir em seco.
- Não vamos demorar. – Pavel disse e assenti com a cabeça.
- Não se preocupe, agora deu coragem, eu não vou fugir. – Ele me abraçou rapidamente antes de entrar na sala e fechá-la, me fazendo suspirar.
- Você vai ficar bem? – Angela perguntou e assenti com a cabeça.
- Eu vou. – Suspirei.
- Você não vai socá-lo novamente, vai? – Ela perguntou e ri fracamente. – Assim, não tiro sua razão, mas da outra vez foi forte não ficar marcado... – Ri fracamente.
- Prometo que vai ficar tudo bem com ele, Angela. Ao menos fisicamente. – Ela suspirou.
- E você? – Ela perguntou baixo.
- Fisicamente eu também vou ficar bem... – Virei o rosto para ela que bufou baixo. – Eu vou ficar bem... Eventualmente.
- Estou aqui por você! – Ela me abraçou. – Pode contar comigo, ok?!
- Grazie, Angela, vou me lembrar. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu vou checar a coletiva, já volto. – Ela disse e assenti com a cabeça.
- Eu estarei aqui... – Abanei a mão, abraçando meu corpo, tentando manter a respiração e as lágrimas em controle.
- Eu vou perguntar isso só mais uma vez, Gigi, você tem certeza? – Pavel perguntou firme.
- Não, eu não tenho, mas eu também não tenho outra opção! – Bufei, passando as mãos nos cabelos. – Eu não estou fazendo isso porque quero, eu faço porque preciso. – Sentei novamente, sentindo meu corpo relaxar. – Vocês não estavam lá, ela desmaiou! Ela foi com tudo no chão! – Agnelli e Pavel se entreolharam. – Mais motivo do que isso, impossível, mas não dá!
- Não pode ter outra razão, e se a gente...
- Para, Andrea! – Pedi. – Nós já tivemos essa conversa antes, eu já falei com diversas outras pessoas e nada! – Engoli em seco. – Não tem saída e, mesmo se tivesse, agora é tarde, eu tenho um contrato reconhecido por um juiz com ela. Agora eu preciso ir até o fim.
- Mas a null...
- Vai ficar um desastre, eu sei! – Dei um murro na mesa. – Mas eu não tenho outra saída, por isso que eu preciso da ajuda de vocês. Ela precisa falar da vida dela.
- O que a gente precisa fazer mesmo? – Pavel perguntou.
- Ela precisa falar da vida dela. – Dei de ombros. – Ela odeia a imprensa e acho que boa parte disso é por causa da Ilaria, mas ela precisa falar. Inventem algum documentário, alguma coisa...
- Ela não falou para a Netflix? – Allegri perguntou.
- O foco não foi a vida pessoal, ela falou da temporada como todo mundo. – Pavel disse e assenti com a cabeça.
- Precisa ser algo grande, algo daqui, porque o problema é a Ilaria.
- O problema é como vamos fazer isso. Se é um segredo que nem a gente pode saber... – Agnelli disse e bufei.
- Eu sei, eu sei! Mas não adianta falar disso agora. – Neguei com a cabeça. – Vocês acompanhem a temporada, fala com a Angela, vejam um documentário, com a RAI, com algum Youtuber, com a Giulia, amiga dela, ela tem influência, sei lá! Eu não vou poder ajudar nessa parte. Eu vou ter que ficar lidando com a Ilaria.
- Ela vai descobrir com a coletiva, não? – Agnelli disse.
- Vai e eu não faço a mínima ideia como ela vai reagir, então peço cuidado nas palavras que você vai usar nessa coletiva, Agnelli, se eu conseguir adiar até o jogo, vai me ajudar muito. – Ele assentiu com a cabeça.
- Sem citar a palavra aposentadoria. – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Só que antes de você lidar com esse problema, Gigi, você vai ter que ligar com a null. Ela veio...
- O quê? – Cortei Pavel. – Ela veio?
- Sim. – Ele disse e suspirei.
- Eu não estou pronto para ela, eu não consigo mais olhar na cara dela e mentir e...
- Não vou deixar você fugir dela! – Agnelli disse. – Você pode falar o que quiser, mas ela precisa disso... – Engoli em seco.
- O problema é que eu não consigo mais olhar para ela e mentir, eu estou a um passo de contar a verdade e destruir tudo...
- Fala que você vai sair porque quer uma outra chance. – Allegri disse. – Você tem 40 anos, está em alto-nível, quer tentar algumas coisas diferentes e decidiu sair... – Ele deu de ombros.
- E o que eu falo sobre isso?
- Vocês terminaram, não? – Pavel disse. – Usa isso, que ela seguiu em frente e você não, sei lá...
- Ela não seguiu em frente, Pavel, ela fugiu de mim! Isso não é seguir em frente!
- Eu sei! – Ele disse firme. – Mas ela não sabe que você não acha isso. É o que temos. – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Vamos deixá-la entrar, quando estiver pronto, só ir para sala de coletiva... – Pavel disse e me levantei.
- Ok, deixa eu só... – Soltei a respiração devagar, movimentando as mãos e dei uma estalada no pescoço. – Ok, ok!
- Gigi, só se lembra uma coisa. – Agnelli parou em minha frente. – Estamos fazendo isso para você voltar daqui um ano. Seu lugar é aqui! Isso é só um meio para um fim, ok?!
- Não se preocupe, eu não vou desviar! – Neguei com a cabeça. – Mesmo que eu diga, eu vou voltar, só que ninguém do PSG vai saber disso. – Ele disse e esticou a mão para mim.
- Vai dar certo, prometo! – Ele disse, batendo a mão na minha e nos abraçamos. Ele me deu dois toques nas costas antes de se afastar e Pavel veio logo atrás.
- Uma última dança, Gigi! – Ele me abraçou e suspirei.
- Só mais um ano separados, Pavel. – Falei e ele riu fracamente.
- Via dar certo. – Ele me deu dois tapinhas antes de se afastar também e Allegri veio logo em seguida.
- Te vejo no treino amanhã. Vamos até o fim. – Assenti com a cabeça, sentindo-o dar dois tapinhas em meus ombros.
- Gigi! – Virei para Agnelli. – Fino alla fine. – Assenti com a cabeça.
Deixei meu corpo cair na cadeira e respirei fundo, sentindo minhas mãos suarem. Entre eles saírem e a porta se abrir de novo, não deve ter passado mais do que um minuto, mas senti que uma eternidade se passou antes de ouvir o leve gemido na porta que me fez olhar para trás. Ela não disse nada, ela andou em minha direção, se sentando na poltrona livre ao meu lado, apoiando seu celular na mesma.
- Veio tentar me convencer a ficar? – Perguntei, sentindo minha garganta arder com as lágrimas acumuladas em seus olhos.
- Não dessa vez. – Ela disse, focando os olhos em mim. – Eu tentei te fazer desistir por um ano, não vai ser agora que você vai desistir. – Ela apertou minha mão na mesa com a mão esquerda e senti seus dedos gelados.
- Veio se despedir? – A garganta doeu mais uma vez.
- Não, vim conversar com você. – Ela suspirou. – Ou melhor, agora é a hora de você ouvir. – Pressionei os lábios, assentindo com a cabeça. – Eu sei que você está indo embora por causa de mim... – Arregalei os olhos.
- null, eu...
- Xi. – Ela me calou. – Você só vai ouvir agora. – Confirmei com a cabeça. – Eu te conheço há 17 anos, há mais tempo do que muita gente nesse time e até da sua vida pessoal, então você não precisa me falar nada para que eu saiba das coisas, suas ações dizem tudo. – Ela fungou. – Então, eu sei que foi por causa daquele basta no ano passado que você decidiu sair do time. – Ela mordeu o lábio inferior quando sua voz afinou e agradeci pelo desvio do olhar. – Para ajudar, essa foi uma de nossas piores temporadas, o que deixou nossas emoções muito mais afloradas e tornou tudo mais difícil. – Sua mão engessada foi para seu rosto, limpando as lágrimas.
Eu não sabia se null era só intuitiva demais, mas, de certa forma, ela estava certa. Tudo começou com aquele basta, com o “eu te amo” e depois o basta. Era para ser algo simples de resolver, mas tudo começou a dar errado.
- Eu preciso tentar coisas novas, null... – Falei baixo, sentindo a necessidade de preencher o vazio.
- Eu não acredito em nada disso, Gigi. – Ela riu fracamente e engoli em seco. – Você tem 40 anos, qual é, vai começar a tentar coisas novas agora? Em outro time? – Ela ergueu o olhar para o meu novamente.
- Eu preciso fazer isso. – Falei, desviando meu olhar do dela.
- Ok, se é isso que você precisa para cuidar da sua sanidade mental, encaixar sua vida ou o que for, você tem todo meu apoio, sempre teve e sempre terá, você sabe disso. – Ela segurou minha mão novamente. – Mas resolva todas as suas pendências e volte para gente. E eu não digo voltar para mim, mas digo voltar para time. – Franzi o rosto.
- Por quê? – Minha voz saiu fraca.
- Você passou 17 anos da sua vida aqui, Gigi, aqui é seu lugar, aqui é seu time, aqui é sua família. Não se aposente em outro lugar. Faça todos os experimentos que você quiser, tente coisas novas, bata mais recordes, ganhe mais prêmios, faça mais erros, o que quiser, mas volte para gente. – Ela puxou a respiração novamente com a pressa que falou.
- Você estará aqui? – Perguntei, olhando para ela. – Se eu voltar...
- Eu sempre estarei aqui, Gigi. Minha vida é esse time, essas pessoas... – Ela abriu um sorriso. – Você. – Ela passou as mãos nos olhos. – Mia squadra, mia famiglia, mia Juve, se esqueceu? – Pressionei os lábios, sentindo as lágrimas me cegarem. – Eu nunca precisei ouvir você dizer que me ama para sentir isso e espero que sinta o mesmo, mas isso... Sua decisão... – Ela deu de ombros. – Não faz sentido...
- Eu não posso fazer mais isso, null... – Falei, sabendo que não fazia sentido nenhum.
- Você só poderia ter dito para mim anos atrás. – Ela achava que eu dizia sobre nós, mas não é! Por favor, null. Não é sobre isso. Não é sobre anos. Eu te amo! Eu te amo! Por favor, não me odeie! Pressionei os lábios, respirando fundo.
- Sinto muito... Mesmo. – Falei fracamente. Era a única coisa que eu podia falar para ela! Eu vou consertar isso. Eu vou parar de doer, eu prometo!
- Eu sei... – Ela disse como se pudesse ler meus pensamentos. – Mas volte para nós, ok?! Nem se for por seis meses, mas você precisa me prometer que vai encerrar sua carreira aqui. – Suspirei.
Eu não podia dar esperanças para ela, não quero que ela viva esperando por mim, apesar de eu querer viver minha vida por ela, eu quero que ela viva durante esse ano, seja incrível, realize seus sonhos, tudo, eu me encaixo na sua vida depois. De qualquer forma... Eu queria fazer promessas, mas eu não...
- Eu não posso prometer isso para você... – Minha voz saiu baixa. – Você aprendeu a viver sem mim, mesmo comigo ao seu lado, eu preciso aprender também.
- O que mudou agora, Gigi? – Ela me olhou firme.
- Nada. Eu só não posso mais fazer isso... – Engoli em seco. – Mas fico feliz que você foi conseguiu seguir em frente...
- Seguir em frente? – Sua voz aumentou. – Por acaso essa é a aparência de alguém que conseguiu seguir em frente? Se afundar em trabalho? Não ter vida pessoal? Chorar pelos cantos? Crise de ansiedade ligada o tempo inteiro? Carregar o mundo nas costas? Além de ser rejeitada pelo homem que eu amo há 17 anos? – Senti meu peito doer.
- null, eu...
- Eu não segui em frente, Gigi. Eu sobrevivi! – Ela me calou e neguei com a cabeça.
- Mas de alguma forma você conseguiu e isso já me acalma. – Era tão difícil falar quando você não tinha o que falar. – Eu vou para outro lugar, entrar em um retiro, tentar fazer outras conquistas pessoais...
- Paris não é a melhor escolha, você sabe disso. – Ela disse e ergui o olhar surpreso para ela. Como ela sabia? – Eu sei de tudo, Gigi. – Ela pressionou os lábios.
- Eu tenho que tentar, null. – Ela assentiu com a cabeça.
- Ok, mas, por favor, não vá com a desculpa de precisar de uma conquista pessoal, você não precisa mentir para mim.
- Achei que não soubéssemos mentir para o outro. – Falei e ela riu fracamente.
- Eu também achava, mas de uma forma ou outra aprendemos e foi aí que tudo começou a dar errado. – Ela soltou minha mão e inclinou o corpo na direção do meu, apoiando a mão e minha perna, fazendo meu corpo arrepiar. – Só prometa que vai se cuidar.
- Eu vou. – Falei rapidamente, tentando me afastar rapidamente dele antes que meu autocontrole acabasse.
- Eu estarei aqui de braços abertos quando você se arrepender. – Ela se levantou e respirei aliviado, virando rapidamente para ela.
- Como você pode ter tanta certeza de que eu vou me arrepender? – Perguntei rapidamente.
- Porque eu te conheço. – Ela sorriu. – Tem algo te atormentando, Gigi. Algo que eu ainda não descobri o que é. Só acho que você está tentando passar por isso de forma errada... – Suspirei. – Só te falta coragem, uma coragem que você nunca teve antes. – Fechei os olhos, chocado em como ela conseguiu me ler em 10 dias. Imagina se eu tivesse contado antes.
- Você não sabe nada, null. – Falei, abanando a cabeça.
- Beh, a vida é sua, não é mesmo? A vida, as escolhas... Agora o futuro também. Só seu! – O sarcasmo deu lugar à sua voz novamente e ela inclinou o corpo em direção ao meu, segurou meu rosto e deu um beijo em minha tesa. – Só não se esqueça que eu te amo, ok?! – Ela disse, me fazendo arregalar os olhos e o peito doer.
- Não faça isso... – Pedi em um sussurro. – Não agora...
- Falar ou não falar, não muda o sentimento. – Ela deu de ombros. – Não vai mudar nada, já tentei, não tem por que eu esconder. – Ela se levantou, soltando meu rosto. – In bocca al lupo, Gigi. – Ela pegou seu celular.
- Você vai assistir a coletiva? – Perguntei apressado.
- Não sei se aguento. Mas eu vou estar no seu último jogo... – Ela pressionou os lábios. – Porque eu preciso, não porque eu quero. Não vai ser fácil para mim. – Assenti com a cabeça, vendo-a se caminhar até a porta.
- A gente ainda se vê? – Perguntei e ela parou em frente à porta.
- Eu não sei. – Ela se virou. – Provavelmente. Sétimo scudetto di fila, é algo a se comemorar, outra Coppa Italia, sua carreira, a saída do Lich, Asa... Marchisio talvez saia também... – Ela maneou com a cabeça. – É um ciclo muito grande para não fechar. – Assenti com a cabeça. – Eu vou sentir sua falta... – Sua voz falou e pressionei os lábios, respirando fundo.
- Eu também. – Falei, vendo-a se virar novamente e senti as lágrimas arderem meus olhos. – null... – Chamei-a novamente.
- Hum...
- Me desculpe por tudo. – Falei em um sussurro.
- Me desculpe também. – Ela disse e neguei com a cabeça. Não tem por que ela pedir desculpas, quem errou sempre fui eu.
- Eu sempre vou te amar. – Falei, sabendo que ela não ia acreditar, mas talvez fosse minha última chance.
- Eu também... – Sua voz saiu falha, me fazendo virar com pressa, mas a porta bateu com força, me deixando sozinho novamente.
As lágrimas escaparam de meus olhos na mesma hora, me obrigando a colocar a mão na boca para abafar o som. Todo mundo sempre disse, ela sempre demostrou, mas ouvir isso de seus lábios, foi a coisa mais incrível da minha vida, pena que ela disse isso agora, nos 45 do segundo tempo.
Eu estava pronto!
Eu iria na outra sala, encarar aquela coletiva, responder perguntas com respostas genéricas, me despedir dos meus amigos e torcedores e voltar para ela! Seria só um ano! Eu conseguia encarar isso! Por ela! Tudo por ela! Só por ela.
- Gigi? – Ergui o rosto, vendo Angela entrar. – Está tudo bem?
- Sim... – Assenti com a cabeça, passando as mãos nos olhos. – Por ela! – Ela assentiu com a cabeça.
- Eles estão esperando você. – Ela disse, indicando a porta e respirei fundo.
- Como estou? Muito inchado?
- Um pouco, mas são 17 anos, eles entendem. – Ela apertou meu ombro e abracei-a de lado.
- Obrigado por tudo, Angela.
- Ah, não me agradece! Resolva suas merdas e volte para null, ok?! – Assenti com a cabeça, respirando fundo. – Pronto?
- Não, mas vamos lá! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Andiamo... – Ela disse mais para ela do que para mim e seguiu em direção à porta, abrindo-a. Segui pelo corredor vazio e andei até a porta, vendo Paratici, Pavel, Beppe e Chiello ali.
- Você veio! – Falei e ele me abraçou apertado.
- Achei que precisasse. – Ele disse, dando alguns tapas em minhas costas e assenti com a cabeça, respirando fundo.
- null? – Perguntei e os quatro negaram com a cabeça.
- Sinto muito. – Agnelli disse e suspirei alto.
- Vamos! Já estamos atrasados! – Angela disse, indicando a porta e Agnelli indicou a porta aberta e segui logo atrás dele.
A sala estava como sempre, não apinhada, mas com todos os jornalistas que eu já estava acostumado. Segui até o palco com Agnelli e me sentei em uma poltrona e ele logo na do lado. Virei para ele, assentindo com a cabeça e ele sorriu, me dando foça e assenti com a cabeça.
- Bem-vindos à coletiva de imprensa de Gianluigi Buffon, peço para se apresentarem antes de fazer a pergunta e, para facilitar na tradução, fazer uma pergunta de cada vez. – Angela disse. – Vamos começar com algumas palavras do nosso presidente, Andrea Agnelli. – Virei para ele que sorriu para mim, me fazendo rir fracamente enquanto eu arrumava meu microfone nervoso.
- Obrigado, bom dia a todos, bom dia também ao vice-presidente Nedved, aos diretores Marotta e Paratici e a Giorgio Chiellini que estão aqui conosco hoje. – Ele falou. – Encontrar palavras é muito difícil, então prefiro começar com números inacreditáveis. Em Serie A, Gigi jogou 639 vezes, 284, ou seja, 44 por cento foram clean sheet. – Pressionei os lábios. – Com Gigi em gol, uma partida em duas não tivemos gol. O recorde total de 974 minutos sem levar gol. Por 80 vezes, foi capitano da Nazionale em 176 presenças.
“Venceu 11 campeonatos de Serie A, um de Serie B, cinco Coppa Italia, seis Supercoppa Italiana, uma Copa UEFA, um campeonato europeu sub-21 e, principalmente, é campeão do mundo com uma Copa do Mundo. 26 troféus em 22 anos de carreira. Devo dizer que, com Gigi, ao menos um troféu ele trouxe para casa” – Ele virou para mim.
“É uma pessoa altruísta, carismática, ambicioso, tímido, leal, transparente, sincero, honesto, é um amigo e é o capitano. Esteve no paraíso e decidiu ir para o inferno antes de voltar ao paraíso, isso junto a Nedved, Trezeguet, Del Piero, Chiellini e Camo, e nós, gente da Juve, seremos eternamente gratos”.
“A temporada 2017/18 foi longa e sofrendo. Gigi, imagino que esperava diferente como nós, imaginava que, como todos, esperávamos que fosse à Rússia jogar o sexto Mondiale e tornar o único jogador a jogar seis campeonatos, ao invés disso, estava reservado Itália x Suécia, depois uma lesão que te tirou dos campos por um tempo que o impediu de bater o recorde de presenças em Serie A, viu concederam um pênalti contra nós em Madrid aos 93 minutos que impediu de vencer a Champions League e, aqui, no estádio, viu um gol de Koulibaly aos 90 minutos que poderia prejudicar o scudetto, mas depois, como todos sabemos, Gigi estava no gol no Olimpico para a quarta Coppa Italia consecutiva e, quatro dias depois, também no Olimpico, trouxe para casa o sétimo scudetto consecutivo”.
“Esses são números incríveis do meu ponto de visto. Esse ano, tirando meus familiares, foi a pessoa que mais foi lá em casa. Discutimos todas as decisões e sempre compartilhamos tudo, então, não posso deixar de contar uma coisa diferente que aconteceu. O que sabemos hoje é que Tek será nosso goleiro titular na próxima temporada e que Gigi não será mais o capitano, mas, no momento, Gigi tem propostas fora de campo e para continuar a jogar. Gigi sabe que tem meu apoio completo na decisão que ele decidir, hoje eu só posso te dizer uma coisa: obrigado. Obrigado de coração por esses 17 anos e desejo que aproveite do estádio no sábado, como tenho certeza que o estádio aproveitará você”. – Engoli em seco.
- Grazie, Gigi! Fino alla fine! – Ele disse e puxei-o para um abraço, ouvindo os aplausos tímidos.
Eu realmente não podia agradecer mais por Agnelli dar essa confiança para eu fazer tudo o que eu preciso fazer. 17 anos não são poucos, mas pedir algo assim era mais do que eu poderia pedir. Ela exigir muito mais do que anos de amizade permitiam, mas ele aceitou e aceitou porque conhece a null, sabe da nossa história e sabe o quão importante isso é para mim, mas ele havia feito sua parte, agora é comigo.
- Bene... – Falei, pigarreando, tentando engolir as lágrimas. – Depois dessa introdução, eu devo agradecer ao presidente que, além do papel institucional, é muito mais. Nesses anos, criamos uma relação de amizade e divisão, mas também de honestidade, lealdade e da luta contra a hipocrisia. Isso é algo que imagino que nos uniu em tudo. – Suspirei. – O fato dele se apresentar aqui junto do administrativo e... – Um barulho de porta me distraiu e vi null entrando pela porta lateral.
- Scusi, scusi. – Ela disse baixo, se sentando no lugar vazio ao lado de Chiello na primeira fileira e dei um curto sorriso, vendo-a pressionar os lábios e apertar a mão de Chiello no braço da poltrona.
- Eh... – Engoli em seco, sentindo um peso sair de meus ombros com sua presença. – Ao administrativo, ao meu agente, minha equipe, a Giorgione que vai receber a faixa de capitano merecidamente, e a presença de vocês, não dizendo que são um mal necessário, mas para compartilhar a notícia. – Suspirei.
“Dito isso, eu quero falar que é um dia diferente para mim, cheio de emoções, mas eu chego a esse dia com muita serenidade e felicidade que vem com uma carreira extraordinária, uma incrível que eu fui sortudo de poder dividir com tantas pessoas que me amam e que sempre cuidaram de mim para que eu pudesse realizar isso dia após dia. Graças a essas pessoas, eu sempre lutei e tentei fazer o melhor”.
- Depois disso, só posso dizer que no próximo sábado será meu último jogo com a Juventus. – Meu olhar foi direto para null que pressionava os lábios fortemente. – Eu realmente acredito que será a melhor forma de finalizar essa aventura incrível. De concluir com outras duas vitórias muito importantes e terminarei de uma forma boa com Andrea e todo o pessoal da Juventus. – null abaixou o rosto e suspirei.
“Meu medo era que o fim da minha aventura da Juventus fosse como um jogador que decaiu o rendimento, mas posso dizer que não foi assim, eu estou muito orgulhoso do fato de que com 40 anos e até sábado, eu pude representar em campo o nome da Juventus. Então essa é minha maior satisfação e eu estou aqui para dizer adeus, mas estou bem sereno e feliz por falar isso”.
“E, gostaria de terminar, agradecendo à família Juventus, pois em 2001, a Juventus pegou um talento que foi transformado em um campeão por causa do apoio que a Juventus me deu e me encorajou em termos de mentalidade. E eu acredito que se eu estou aqui com 40 anos, dando o máximo em campo, é crédito total da Juventus, de sua mentalidade e da sua filosofia que é diferente ao redor do mundo. Eu tenho certeza de que vou usar no meu futuro e atingir novos gols. Essa foi a maior lição que aprendi aqui e sempre serei grato!”
Foi difícil falar, minha voz não parava de tremer e eu quase chorei em diversos momentos, olhar para null me dava mais vontade ainda de chorar, mas, de alguma forma, vê-la aqui, me deu forças para continuar. Ela sempre fez isso e não seria diferente agora, só precisava seguir até o fim agora, mas eu não a teria em Paris e tinha certeza de que seria muito mais difícil longe do que perto.
Capitolo centocinque
- Vamos, null! Hora de levantar, tomar banho, sair da cama e... – Saí do banheiro, colocando a cabeça para fora de vi Giulia entrar nem meu quarto de mãos dadas com Kawan. – Você não está na cama?
- É sexta, eu ainda trabalho. – Falei, franzindo os olhos.
- Dinda! – Kawan veio em minha direção e me abaixei para receber um abraço dele.
- Oi, mi amore! – Abracei-o fortemente, distribuindo beijos em seu rosto e ele riu.
- Oi. – Ele disse fofo e soltei-o antes de me levantar.
- Achei que você estava de luto, sem tomar banho, mas está vestida e até maquiada. – Ri fracamente.
- Eu vou ter muito o que chorar amanhã, Giulia, mas agora eu preciso ir para o time, hoje é o último treino e eu preciso estar lá. – Voltei para o banheiro, finalizando a maquiagem.
- Você vai encontrá-lo? – Ela ergueu Kawan em minha cama e ele se jogou rindo. Ele adora minha cama.
- Provavelmente. – Suspirei.
- null... – Ela disse e engoli em seco.
- É o último treino em Vinovo, Giulia! Não dessa temporada, mas da vida, na próxima temporada tudo vai para Continassa. Eu passei 17 anos da minha vida lá... – Ela pressionou os lábios. – Nem tudo é pelo Gigi. – Ela suspirou.
- Ok, mas pelos 17 anos em Vinovo. – Ela disse, suspirando. – Mas você está bem?
- É claro que não, Giulia! – Andei até ela. – Não consegui dormir essa noite, fiquei revendo a coletiva dele, tentando achar alguma dica do que está acontecendo, mas não achei nada.
- Ok, eu entendo que isso está muito confuso e você está triste, mas não procura pelo em ovo! – Ela disse.
- É porque não é contigo, né?! – Falei, suspirando. – O que ele fala e como ele age são duas coisas diferentes! Tem algo errado aí. – Falei, voltando para o banheiro. – E eu vou descobrir o que é.
- Como? – Ela perguntou.
- Eu não sei. – Falei mais alto. – Mas alguém deve saber. E se eles acham que eu não vou buscar, eles estão completamente enganados. – Guardei as coisas nas gavetas e saí do banheiro novamente, fechando a porta.
- null em busca do segredo escondido! – Ela disse rindo. – Boa sorte, minha irmã. Janta conosco?
- Vocês não precisam ficar cuidando de mim sempre. – Falei.
- Ah, sempre não, só até você superar isso. – Ela sorriu. – Depois a gente te abandona e deixa você sozinha no mundo... – Ri fracamente.
- Você é boba! – Puxei-a e dei um beijo em sua bochecha.
- Sempre! – Ela deu de ombros. – Beh, então eu vou ajudar o papai na loja. – Ela se levantou.
- Não se preocupe, eu vou ficar bem. – Suspirei. – Eu tenho outros 23 jogadores para me abraçar e me beijar. – Ela sorriu.
- Por que você não volta com o Barza?
- Oi? – Franzi a testa, rindo em seguida.
- Beh, ele é bonito, está solteiro...
- Ah, meu Deus! Você caiu e bateu a cabeça? – Kawan gargalhou e ela olhou feio para o filho que gargalhou mais alto ainda. – Ele é meu amigo, Giulia. Já tentamos e com ou sem Gigi não teria dado certo.
- É, mas te garanto que uma coisa deu certo e...
- Só essa! E porque tinha o Gigi envolvido. – Ela riu fracamente. – Bom, vamos? Devo almoçar com o pessoal hoje, mas apareço assim que der na sua casa.
- Ok. – Ela sorriu. – Vamos, amore? – Ela falou com Kawan.
- Vamo! – Ele disse, pulando da cama.
- Não faz isso! – Eu e Giulia falamos juntas.
- Vai ficar com o braço quebrado igual da dinda! – Ela disse e rimos juntos.
- Te amo, dinda! – Ele veio em minha direção e me abaixei para abraçá-lo.
- Também te amo, meu amor. – Sorri, dando um beijo em meio a seus cachinhos e ele retribuiu em minha bochecha. – Agora, vamos! A dinda e a mamãe precisam trabalhar. E você? Vai fazer o quê? – Falei para Kawan.
- Parquinho! – Ele disse.
- Parquinho? Mas está cedo, não acha? – Falei e ele riu gostoso.
- Não tá! – Sorri, virando para Giulia.
- Vamos, seu sapeca! Dinda precisa ir trabalhar! – Giulia pegou-o no colo, apoiando em seu braço e seguiu para fora do quarto. Andei de volta para o closet e peguei minha bolsa antes de sair logo atrás, vendo ambos descerem as escadas.
- Martha, estou indo, não volto para o almoço, quando acabar, pode ir embora! – Falei, seguindo logo atrás, vendo Martha limpando as janelas da sala.
- Tudo bem, senhora. – Ela disse e sorri.
- Dá ciao para Martha. – Giulia disse.
- Ciao, tia Martha! – Kawan disse animado.
- Ciao, lindinho! – Martha disse. – Até segunda, então.
- Até, bom fim de semana para você. – Falei, acenando.
- Boa sorte. – Ela disse e puxei a respiração, assentindo com a cabeça.
- Vou precisar. – Engoli em seco antes de seguir para o fundo de casa. – Ciao, Giu.
- Ciao, mana! Nos vemos mais tarde.
- Ciao, ciao! – Kawan disse animado e mandei um beijo para ele antes de eles passarem pela porta da frente e eu pela dos fundos.
Entrei no carro e dirigi os rápidos 10 minutos até Vinovo, precisava me acostumar que temporada que vem iríamos para Continassa e minha rotina mudaria um pouco. Cheguei no CT e fui direto para o administrativo, o pessoal já estava em Continassa há tempos, mas minha sala ainda estava intacta aqui, por sinal, precisava desmontá-la e levar para lá, mas essa sala tinha tantas memórias que eu não estava pronta para lidar ainda.
Chequei rapidamente os e-mails, passei as instruções para minha equipe, aprovei algumas transferências da base e chequei com Angela os últimos gastos com a premiação de amanhã. Eu só pensava no último jogo de Gigi, mas tínhamos mais um scudetto para receber. Era um dia de festa, mas sentia que a melancolia tomaria lugar e não só de mim.
Era pouco menos de 11 horas quando consegui fechar tudo e descer. Da grande janela da minha sala, já era possível ver alguns pontos azuis chegando e acabou vindo a calhar o horário. Dei uma rápida passada no banheiro, chequei se minhas olheiras ainda estavam escondidas embaixo da grossa camada de maquiagem e retoquei o batom. Podia estar um caco internamente, mas fingiria que o externo não.
Optei em ir pelo lado externo, não tinha pressa e não tinha nenhum real compromisso, não sabia nem se o restante já estava aqui. Queria aproveitar essas ruas e esses caminhos que passei durante 17 anos da minha vida. Sabia que viria muito aqui ainda, mas tinha o lado sentimental. Cumprimentei os poucos trabalhadores que encontrei e segui para o fundo, parando rapidamente ao ver Gigi, Filippi, Tek e Pinso saindo pela porta.
- Buongiorno, ragazzi! – Falei, acenando para eles.
- Chefa! – Eles disseram surpresos.
- null… - Gigi disse e engoli em seco.
- Vai, Tek! Quem chegar por último paga o almoço! – Pinso disse antes de sair correndo e Tek entendeu o recado, correndo atrás dele e sorri.
- Discreto como uma pata de elefante. – Filippi disse, passando por mim e deixou um beijo em minha bochecha. – Como está?
- Tudo bem. – Sorri e ele seguiu pelo caminho, me deixando com Gigi.
- Achei que não te veria até amanhã. – Ele disse e cruzei os braços, seguindo ao seu lado em direção ao campo.
- Hoje é o último treino em Vinovo. – Comentei. – Teremos toda reestruturação nas férias para deixar aqui para o feminino e Continassa para o masculino. – Suspirei. – Achei que seria bom dar uma última olhada, espairecer. – Ele assentiu com a cabeça.
- Vou sentir falta daqui... – Suspirei. – Passamos muitos momentos aqui... – Sorri.
- É... São tantos que não consigo nem contabilizar. – Pressionei os lábios. – Bons e maus...
- Mais bons... – Ele virou para mim e suspirei. – Nós ainda vamos conversar antes de...
- Você quer conversar comigo? – Parei antes de chegar ao campo, virando para ele.
- Sim, eu gostaria...
- Você vai contar o que está acontecendo de verdade ou vai continuar mentindo para mim? – Ele arregalou os olhos.
- Eu não mentindo, null, eu...
- E você acabou de mentir de novo. – Ri fracamente e ele sorriu. – É melhor deixar dessa forma, Gigi. Já está difícil o suficiente para aguentar... – Dei alguns passos de costas para dentro do campo. – Mas eu vou descobrir.
- O quê? – Ele perguntou, andando em minha direção.
- Porque está fazendo isso. – Dei de ombros e ele negou com a cabeça.
- Por que acha que eu estou mentindo? – Ele cruzou os braços.
- Porque eu te conheço... – Dei alguns passos em direção a ele. – 17 anos, se esqueceu? – Dei de ombros e ele riu fracamente.
- Não, é impossível... – Assenti com a cabeça.
- Barza está fedendo a vinho... – Franzi o rosto, virando o rosto para trás, vendo Allegri. – É BAROLO OU AMARONE? – Ri fracamente, virando para Gigi novamente.
- É melhor você ir treinar, não vamos chegar a lugar nenhum assim. – Dei de ombros.
- Te vejo amanhã? – Ele perguntou.
- Talvez... Mas vou almoçar com vocês hoje.
- Eba, null de companhia para o almoço! – Max disse e ri fracamente, me aproximando dele.
- Ciao, Max! – Falei, abraçando-o de lado e ele sorriu, dando um beijo em minha bochecha.
- Está bem? – Ele perguntou e vi Gigi passando pela nossa frente para o campo.
- É... Sobrevivendo...
- Não se preocupe, titio Max estará aqui! – Ele me abraçou pela cintura, me fazendo rir.
- Vou precisar... – Suspirei. – Então, Barza está fedendo a vinho?
- Ele e o Pjanic! – Ele disse rindo.
- Exageraram nas comemorações, é?! – Ele riu.
- Quando não? – Neguei com a cabeça.
- Beh, fica conosco? – Ele perguntou.
- Claro, cadê o restante do pessoal? Me largaram aqui! – Ele riu fracamente.
- Logo chegam! Vou iniciar o treino, logo volto.
- Vai lá! – Tirei meu braço de seus ombros e ele se afastou alguns passos.
- ANDIAMO, RAGAZZI! VAMOS AGRUPAR! – Ele disse, distraindo os grupos de bobinho.
De todos os jogadores, só Fede não estava presente, ele teve uma lesão no joelho em abril e ainda estava fazendo trabalho de reabilitação, não estava aqui hoje e provavelmente não estaria relacionado para o jogo de amanhã, mas iria para a premiação. Fora ele, todos estavam.
- Vamos ao último treino do ano. – Allegri disse quando todos se juntaram. – Treino é uma palavra forte. Vamos terminar com diversão. Amanhã terminaremos da melhor maneira possível, com uma vitória. Amanhã tem que ser uma festa, uma diversão para honrar seu sacrifício. Agradeço pelas satisfações que deram como sempre e por permitir fazer meu trabalho, apesar de todos os altos e baixos. – Ele disse e o pessoal aplaudiu.
- DAI, MAX! – O pessoal começou um abraço grupal em Allegri e ri fracamente ao vê-lo tentando fugir.
- Olha quem já está aqui! – Virei de costas, vendo o restante do top chegando.
- Cheguei antes, hein?! – Falei e eles riram.
- Bom te ver aqui! – Agnelli disse. – Está melhor?
- Vocês precisam parar de falar isso. Eu estou triste, mas não é a primeira vez e eu vou sair dessa. – Ele me abraçou rapidamente e depois Pavel.
- Temos medo de outra coisa. – Pavel disse.
- Não se preocupe, já estou em contato com a minha psicóloga, volto na segunda-feira. – Suspirei. – Mas vai passar.
- Fica firme! – Beppe disse e abracei-o, me fazendo sorrir. – Você merece muito mais.
- Adoro todos vocês falando isso do maior goleiro que já tivemos, mas tudo bem... – Eles riram.
- E o maior idiota também, mas faz parte. – Beppe disse, me fazendo rir.
- Eu vou ficar bem, melhor ainda se mudaremos o assunto. – Falei e abracei Fabio em seguida.
- Beh, eu concordo. – Ele disse, me fazendo sorrir.
Sentamos no pequeno banco de reservas que tinha ali para acompanhar o treino. Eles realmente estavam se divertindo, Paulo e Douglas não paravam de zoar Barza, Gigi parecia estar se divertindo com Tek e Pinso e Allegri jogava piadas no meio do jogo falando que eles estavam bêbados das comemorações. Não pude aproveitar todas, mas aposto que eles beberam todos esses dias.
Eu tinha um buraco no peito ao pensar na saída de Gigi, passamos tantas coisas juntos e sua saída era confusa para mim. Ele fala que me ama e está fazendo isso por mim, mas não fazia sentido. E mesmo se fizesse, são 17 anos de história. Vimos e vivemos juntos as mudanças do futebol, vimos o futebol se tornar algo glamoroso, crescemos em nossas respectivas profissões e como pessoas.
Se eu colocar tudo o que vivemos juntos, eu não conseguiria me lembrar nem da metade, foram tantos, durante vários anos, com altos e baixos, brigas e beijos roubados que era injusto acabar assim. Eu sei que todo mundo se sentia dessa forma, mas se eu pensar na beleza da coisa, na beleza da vida, de tantas pessoas que vieram e foram embora, era algo esperado, não? Só esperava poder estar ao seu lado nesse final com lágrimas de orgulho, não de tristeza.
Além de Gigi, tinha quase certeza que perderia outros jogadores que faria essa dor maior ainda. A começar por Lich, um dos homens que está conosco há sete scudetti seguidos. Ele acabou perdendo espaço com Allegri com a chegada de Pjanic, Khedira e Matuidi e está querendo mais protagonismo. Ele tem só 34 anos e está em forma ainda, então amanhã sabia que me despediria dele também.
Asa era outro, ele também perdeu espaço e estava buscando outro time agora com seu final de contrato, imagino que ele continuaria na Itália, já que ele gosta muito daqui, mas não tinha certeza ainda. Howedes era outro, esse com menos valor sentimental, mas Allegri só o usou em três partidas, ele era ótimo, mas estava sem espaço.
Sturaro era outro, quando pensava nele, eu só pensava do seu rolo em Manu e como eu queria vendê-lo depois de tudo, mas ele acabou se reabilitando conosco e se tornou uma pessoa muito melhor, mas também havia perdido espaço e só tem 25 anos, merecia lugar em outro time. Além de Marchisio, as lesões difíceis deixaram-no fora de quase metade da temporada, foram quase 150 dias fora por lesões chatas de cuidar. Ele só jogou em um time em sua carreira, é de Turim e teve sua primeira chance no time principal após a relegação para Serie B, ele queria conversar, mas se resolveria na temporada seguinte.
Honestamente, acho que pessoas muito importantes teriam suas carreiras na Juve finalizadas amanhã e isso me deixava mais nervosa ainda, pois são grandes nomes, grandes amigos que talvez sejam ofuscados por Gigi. Barza também estava indeciso sobre o que fazer, mas esperava que ele pensasse com um pouco mais de lucidez antes de fazer algo impensado. Ele se lesionou nessa temporada sim, mas nada trágico e Allegri ainda confia muito nele.
É... Eu posso estar entrando em uma nova temporada desconhecida, mas ao menos eu sabia por onde começar, tentando encontrar jogadores novos para substituir lendas... Como se faz isso? Parece que meu trabalho havia sido fácil até agora. A próxima temporada guardava muitos mistérios e sabia que não seria só a falta de Gigi que eu sentiria, seria muito mais e eu não sabia se estava pronta para ela, mas eu preciso. De alguma forma eu preciso.
Só precisava passar por isso antes...
Mas eu consigo!
Quando eu acordei essa manhã, foi estranho. Parecia que todas as pessoas tinham certeza do que aconteceria com as suas vidas, menos eu. Minha família e meus filhos estavam em minha casa se arrumando para o jogo, me dando palavras de apoio e falando que eu conseguiria fazer isso, mas minha cabeça estava uma bagunça enorme, principalmente depois que a ficha caiu para null e ela começou a desconfiar das coisas.
Ela sempre foi muito inteligente, um milhão de vezes mais inteligente do que eu, e me conhecia. Por isso sempre foi tão difícil mentir para ela, era difícil conseguir fazer isso, ela sabe que eu não faria isso simplesmente por um desejo infantil de uma Champions. É um desejo sim, mas sabia que sem ela não seria a mesma coisa. Tudo não seria a mesma cosia sem ela.
Mas eu já passei isso um milhão de vezes na minha cabeça, passei boa parte da noite pensando em desistir, em falar que não dava, que eu ficaria ano que vem, mas todo mundo colocou a expectativa em mim, eu não poderia dar para trás agora. Muito menos desistir do amor da minha vida, eu preciso protegê-la e, para isso, preciso passar pelo dia de hoje.
O mundo à minha volta agia como se realmente eu fosse sair após 17 anos na Juve, após uma longa e incrível carreira, teria homenagens, premiação, depois até uma festa, mas para mim parecia uma tortura, só que eu preciso passar por isso com um sorriso no rosto, e muitas lágrimas, provavelmente.
O jogo estava marcado para as três da tarde, então eu almocei por volta das 11, fiquei com meus filhos e, pouco antes de eu sair de casa, Ilaria chegou com Leo. Eu não escondi nada da minha família, então o clima simplesmente morreu quando ela chegou, o que deixou-a mais irritada do que antes.
Depois da coletiva de sexta-feira, a primeira pessoa que me ligou foi ela, esperando que eu não estivesse fazendo nenhuma besteira. Consegui contornar a situação e falei que tive ofertas sim, o que não foi nenhuma mentira, inclusive a Juve tentando me segurar mesmo como treinador, mas eles sabem das minhas motivações e entendiam que eu precisava fazer isso. Chamei-a para ir ao jogo hoje e esperasse que ela se comportasse como um peão.
- Beh, eu estou indo para o estádio, encontro vocês mais tarde. – Falei, pegando minha mochila.
- Boa sorte, filho! – Minha mãe gritou e eu assenti com a cabeça.
- Estaremos lá quando for a hora. – Guendy disse. – Te apoiando, protegendo e achando sua decisão incrível. – Ela disse sugestivamente para Ilaria. – Porque só quem ama de verdade é capaz de fazer uma decisão altruísta dessa.
- Por que não parece? – Falei e ela me abraçou fortemente.
- Vai ficar tudo bem, irmão. – Assenti com a cabeça.
- A gente se encontra lá, papai! – Lou disse.
- Até mais, meus filhos. – Acenei e soltei um longo suspiro antes de sair de casa.
Saí de casa e passei pela casa de null, não sabia dizer se ela estava lá e, muito menos, se ela iria ao jogo hoje. Ela diz que sim, mas uma parte de mim não queria que ela fosse. Aguentar isso sendo o protagonista não estava sendo fácil, mas vê-la chorando seria mais difícil ainda. Em compensação, eu precisava vê-la mais uma vez. Precisava olhar em seus olhos, acariciar seu rosto e ter aquela carga necessária para ficar um ano sem seu sorriso, seus olhos null, seu carinho em minha nuca, até seu soco, tudo faria falta.
Cheguei em Vinovo com a festa do time, eles gritavam por mim, cantavam “C’È SOLO UN CAPITANO”, me abraçaram e fizeram rodinha em mim e, nesses 10 minutos de gracinhas, eu sabia que seria difícil. Chegar ao estádio, então, ir para o meu espaço do vestiário, ver meu nome, colocar o uniforme de treino sentir aquele aroma de lavanda, ver aquelas cores, fazer o caminho tradicional de sempre, era algo corriqueiro e diário, mas parecia que eu estaria aqui na próxima temporada fazendo tudo de novo.
- Ok, andiamo, ragazzi! – Allegri disse. – Antes de entrarmos, quero tirar dois minutinhos para falar do Gigi...
- Ah, não começa! – Falei e ele riu fracamente.
- Não, é sério! – Ele disse.
- Eu vou começar a chorar e não quero...
- Mas vai! – Ele disse rindo. – Eu sei que nada disso deve estar sendo fácil para você, creio que todos sabemos os motivos reais de você estar fazendo isso e digo que acho muito altruísta da sua parte fazer isso por ela. Eu estou aqui há quatro anos, mas a história de vocês passa gerações e é uma história bonita demais para deixar para lá... – Assenti com a cabeça. – Temos um ano à frente para saber o que vai ser de vocês dois, provavelmente um ano de surpresas para você, para ela, para a Juve, mas saiba que você tem nosso apoio, admiramos muito a sua decisão e estaremos cuidando dela até você voltar. – Assenti a cabeça, pressionando os lábios.
- Viu?! Falei que ia começar a chorar. – Senti os olhos arderem e o pessoal riu.
- GIGIONE! GIGIONE! OLÊ, OLÊ, OLÊ! – Paulo começou a cantar, me fazendo rir.
- GIGIONE! GIGIONE! OLÊ, OLÊ, OLÊ! GIGIONE! GIGIONE! OLÊ, OLÊ, OLÊ! – O pessoal começou a segui-lo, me fazendo rir.
- Apesar dessa despedida ser pelos motivos errados, Gigi... – Filippi falou acima das vozes. – Aproveite! Esse time te deu tudo...
- Inclusive um amor. – Falei e ele riu fracamente, assentindo com a cabeça.
- Dai, ragazzi! Dai! – Um dos assistentes falou e peguei minhas luvas, seguindo logo atrás do pessoal pelo túnel enquanto as vestia.
- Você precisa entrar antes! – Barza disse.
- Ah, vá a merda! – Falei rindo.
- Dai! Dai! – Ele disse e Medhi me puxou pelo ombro e Chiello e Mira me empurraram.
- Mas eu nunca entrei primeiro! – Falei rindo.
- Dai! Dai! – Ri fracamente, seguindo em frente.
- UN CAPITANO! C’È SOLO UN CAPITANO! UN CAPITANO! C’È SOLO UN CAPITANO! – Eles cantaram e segui em frente, entrando em campo e virei para trás, vendo Barza, Fede e Lich segurarem o restante do pessoal antes de entrarem atrás de mim.
A torcida organizada já estava lotada, as bandeiras que eu via há 17 anos, os banners, tudo como era nos jogos em casa. Sabia que teria isso em outro país, em outro time, todos têm, mas ser bianconero não era mais uma escolha para mim, era algo que estava em meu coração. Ver e participar de momentos importantes nesse time não foi algo simples, foi difícil, doeu, sangrou, ver as derrotas, querer desistir, tudo isso doeu muito, mas ver o que conquistamos nesses sete anos e que eu esperasse que eles continuassem mesmo sem mim, era algo indescritível. Nada seria assim, nem mesmo foi na época do Parma.
Meu treino foi diferente hoje. Eu fiz meia dúzia de alongamentos, um ou dois saltos, mas eu fui para torcida. Eu os abracei, eu chorei, um filme passou em minha cabeça e eu sabia que não estava pronto para isso. Mesmo depois de quase um ano falando e falando, eu não tinha ideia de como seria, mas havia chegado e eu não sabia como encarar isso.
Principalmente se eu for levar ao fato que, se tudo der certo, eu voltaria daqui um ano e não precisava de todas as comemorações e homenagens. Logo eu volto.
Voltei para o vestiário e vi o kit novo pendurado, a blusa era verde escura com listras mais claras e tinha o patch “UN1CO” na manga esquerda. A Juve estava fazendo diversas homenagens o dia inteiro, meus colegas de time também com diversas postagens no Instagram, mas não tive tempo e nem cabeça de ler tudo.
- Ciao, ragazzi! – Ergui meu olhar com a entrava de Agnelli e engoli em seco, esperando Pavel, Beppe e Fabio entrarem, mas claro que null não estava junto.
- Ciao, ciao! – O pessoal falou e eu suspirei, me sentando em meu espaço para recolocar as chuteiras.
- Como está, Gigi? – Agnelli se aproximou e ergui o corpo para ele.
- Beh, é um pouco difícil dizer... – Suspirei.
- Fique firme, ok?! – Ele disse, apertando meu ombro e assenti com a cabeça.
- Ela... Ela está aí? – Ele soltou um suspiro.
- Ela não chegou ainda...
- Mas, ei! São 14:35 ainda! – Pavel disse e ri fracamente.
- Valeu por tentar fazer com que eu me sinta melhor. – Ele sorriu.
- Fino alla fine, Gigi! – Ele esticou a mão e bati na dele.
Finalizei de calçar as chuteiras e vesti a segunda pele, colocando-a dentro da bermuda antes de vestir a camisa por cima e o moletom de entrada. Virei para meu espaço, deixando tudo parcialmente organizado e suspirei, me sentando novamente e batendo os pés devagar.
- Ei, Gigi. – Virei para Mario ao meu lado. – Não sei como vai ser amanhã, mas eu quero te dar um abraço. – Ele disse e sorri, me levantando. – Tudo vai dar certo, ok?! – Ele disse, me abraçando e suspirei.
- Grazie, Mario. – Dei dois tapas em suas costas. – Se cuida também, ok?!
- Pode deixar. – Ele disse sorrindo e virei para o lado, vendo Lich.
- Acho que agora você se ferrou e vai ter que abraçar todo mundo. – Ri fracamente.
- Eu não me importo. – Suspirei, abraçando-o e senti meus olhos voltarem a arder aí.
Comecei a andar pelo vestiário do meu lado direito recebendo abraços e palavras de apoio de todo mundo. Jogadores novos, velhos, staff, administrativo, todos eles vieram em minha direção. Alguns não falaram nada, outros disseram para eu resolver logo, outros disseram que eu estava fazendo a coisa certa, mas eu já estava fora de mim, meus olhos já estavam embaçados, aquela dorzinha chata de cabeça começou a atacar e não era nem três horas ainda.
- Faz dar certo, capitano! – Barza disse e assenti com a cabeça.
- Vamos lá...
- Andiamo, ragazzi! – Max disse e assenti com a cabeça, vendo os reservas saírem primeiro e suspirei.
Voltei para meu espaço novamente, pegando as luvas e respirei fundo. Apoiei minha mão no espaço vazio e passei as costas da mão livre no rosto, secando as lágrimas ali. Olhei rapidamente em volta, vendo que só tinha eu ali e abri o pequeno armário, pegando uma caixinha. Abri a mesma, pegando a corrente de ouro com a medalha de São José que null havia me dado no meu aniversário do ano passado e pendurei-a em meu pescoço, escondendo-a para dentro da roupa. Não era permitido usar nada embaixo do uniforme, mas talvez ninguém visse hoje.
Fechei o armário e fiz um sinal da cruz, pedindo que Ele mandasse luz para guiar o meu caminho. Ele seria difícil, tortuoso, mas sabia que no final daria tudo certo. Quando saí do vestiário, encontrei Virginia, uma das organizadoras, me esperando na porta.
- Vamos fingir que eu não vi, pode ser? – Ela sorriu e assenti com a cabeça, abraçando-a. – In bocca al lupo, capitano. – Ela indicou o caminho e saí do mesmo ouvindo as diversas vozes das crianças que estavam conosco. – Você pode ir ali... – Ela indicou para outro lado e franzi a testa.
- Ali? – Virei o rosto com ela para o túnel de saída e encontrei null parada ali com Lou e Dado em seu encalço.
Ela estava com calça jeans, a blusa igual a minha, tênis nos pés, pouca ou quase nenhuma maquiagem em seu rosto, os olhos vermelhos e algumas lágrimas secas em suas bochechas. Ela tinha um curto sorriso no rosto e parecia se segurar para não chorar.
- Eu não podia... – Ela negou com a cabeça. – Eu não podia deixar de vir. – Ela disse e mais lágrimas desceram de seus olhos. Cortei rapidamente nossa distância e passei meus braços em sua cintura, sentindo-a me apertar pelos ombros e apoiar o rosto em meu ombro. – Faça o que tem que fazer e volta para mim... – Ela disse baixo. – Eu não ligo, só volta...
- Eu vou, meu amor... – Falei baixo, sentindo-a apertar as mãos em minhas costas. – É tudo por você...
- Não! – Ela suspirou, se afastando devagar e passando a ponta dos dedos engessados em seus olhos. – Não explica... – Ela negou com a cabeça. – Só... Só volta. – Ela passou as mãos em meu rosto, limpando as lágrimas e assenti com a cabeça.
- Eu vou... – Suspirei, apoiando minha testa na dela. – Eu te amo... – Falei baixo. – Sempre foi você. – Olhei em seus olhos, vendo-a assentir com a cabeça e ela me empurrou devagar. – Mesmo quando ficar difícil, não se esqueça disso.
- Eu vou tentar... – Ela disse, me empurrando pelos ombros. – Agora vai! – Ela levou as mãos para o rosto novamente e suspirei. – Vai, meninos! – Ela disse para Lou e Dado.
- A gente se vê ainda? – Lou perguntou e ela pressionou os lábios.
- Espero que sim! – Ela disse, engolindo em seco e suspirei.
Puxei-a para o abraço mais uma vez e colei-a em meu corpo, deixando-a em um casulo entre meus braços. Ela apoiou o rosto na dobra do meu pescoço, fazendo sua respiração pesada causar cócegas ali.
- Temos que ir... – Ouvi a voz baixa de Virginia atrás de mim.
- Vai! Vai! – null disse se afastando. – Vai! – Ela respirou fundo e afastou dois passos. – Opa! – Ela apoiou as mãos em Dado. – Vai! – Assenti com a cabeça, vendo-a seguir até o elevador e apertar o botão. – In bocca al lupo! – Ela disse baixo e assenti com a cabeça.
- Fino alla fine! – Falei, vendo-a pressionar os lábios e desviar o olhar para o elevador antes de entrar. Seu olhar se ergueu para o meu novamente e acompanhei as portas se fecharem antes de virar para frente.
- Está bem, papá? – Lou perguntou e virei para ambos.
- Sim, agora está! – Sorri, dando as mãos para eles. – Vamos! Cadê Leo? – Perguntei e Virginia indicou.
- Com Barza! – Ela disse e suspirei, andando pelo túnel, cumprimentando o capitão e goleiro do Verona, além de sentir vários apertos em meus ombros de meus companheiros antes de ocupar o primeiro lugar.
- Forza, Gigi! – Marchisio disse e assenti com a cabeça.
- Forza, ragazzi! – Peguei Leo no colo de Barza e ele assentiu com a cabeça.
- Ciao, papá! – Ele disse.
- Ciao, amore! – Segurei-o em um braço e Lou e Dado ficaram do lado esquerdo. – Andiamo... – Falei baixo, prendendo a respiração por alguns segundos antes dos árbitros começarem a andar e eu seguir em frente para dentro de campo, pela última vez.
Pelo menos por um ano.
Sabe aqueles dias em que parece que o mundo está conspirando contra você? Hoje é um deles! Era difícil passar pelos corredores desse estádio, um dos lugares que mais devo ter vindo na vida, onde tive diversos momentos felizes e não sorrir. E eu não conseguia nem fingir, pois eu estava em frangalhos.
Desde a hora que eu acordei, isso se eu consegui dormir hoje, eu estava chorando. Era impossível não pensar que hoje eu estava perdendo o amor da minha vida. Paris é aqui do lado, eu sei, mas a sensação era de perda, de luto, como se uma parte de mim estava indo embora. Agradecia pelo jogo ser as três da tarde, eu tinha menos tempo para sofrer... Beh, ou não, né?! Até as cinco tudo já teria acabado e eu não teria mais o que fazer. Eu não sabia mais o que fazer.
Era quase duas horas e eu não estava pronta. Eu relutei em me arrumar, me trocar, fiz tudo isso na maior lentidão, pois não queria encarar isso, não queria encarar Gigi, não queria encarar esse estádio, não queria encarar este dia, mas Giulia e os meninos me ajudaram, me trouxeram até aqui e me obrigaram a me despedir propriamente.
Não sei dizer se o que aconteceu no túnel foi uma despedida decente, mas foi o suficiente para eu ouvir que ele me ama e que eu sou a mulher da vida dele mais uma vez. Isso não significava nada, pelo menos não hoje, não impediria ele de sair, não impediria o jogo e nem me impediria de chorar até a cabeça doer, mas fez meu coração ganhar um pequeno band-aid no meio de diversas facadas.
Eu não sei como ele estava se sentindo internamente, não tive coragem ou tempo de fazer essas perguntas, mas ele parecia tranquilo em sua decisão, me deixando cada vez mais confusa. E não era só ele que estava tranquilo, Andrea, Pavel, Beppe, Fabio, John e Lapo, Allegra, todos os Agnelli e afins estavam bem, por isso foi tão estranho chegar no camarote.
As pessoas me cumprimentavam como se fosse um dia normal, me abraçavam, parabenizavam pelo scudetto, pela Coppa Italia e eu me sentia uma criança que acabou de levar uma surra pelo pai e tentava parecer bem, mas não estava nada bem, meu coração não estava bem e ver Gigi entrando com seus meninos pela última vez, aquilo me quebrou de vez. Era até engraçado ver Gigi com três crianças, ele não tinha mais braço, mas meu sonho era ter mais uma criança ali... Uma nossa. Talvez uma com os cabelos null como eu, os olhos azuis como o dele, mas isso não seria mais possível.
Junto do sorriso de Gigi, a torcida organizada tinha preparado o mosaico “M7th”, mito, em homenagem ao sétimo scudetto seguido e, do lado direito, a curva sud abriu um banner de Gigi segurando o scudetto 2017/18. Segurar as lágrimas já não era possível, a curva sud raramente homenageava alguém em especial.
Todo o time entrou, todos os 23, alguns segurando seus filhos, sobrinhos e até irmãos, mas só conseguia olhar para quem puxava a fila. Após o hino, Verona fez os cumprimentos e as crianças saíram correndo até as mães que estavam na beirada, os meninos de Gigi estavam com alguém e só pensava se fosse Ilaria.
- Vamos sentar? – Treze perguntou, apertando meus ombros.
- É... – Falei baixo e me sentei em minha poltrona.
- Você quer uma água ou...
- Eu estou bem. – Virei para Treze, dando um sorriso. – Não se preocupe... – Assenti com a cabeça repetidamente e ele deu um beijo em minha testa.
- Quer ficar com a dinda? – Giulia perguntou para Kawan.
- Quelo! – Ele disse e Kawan saiu de seu colo e veio para o meu, me abraçando pelo pescoço.
- Ah, meu amor! – Senti meus olhos se encherem de lágrimas novamente e abracei-o, apertando minhas mãos em seu corpinho.
- Te amo, dinda! – Suspirei.
- Também te amo, meu amor. – Sorri, vendo Giulia por cima dos ombros dele e ela apertou minha mão antes de dar um beijo em minha têmpora.
- Estamos contigo, maninha! – Assenti com a cabeça, vendo Gianni, Pietro, Giovanna e Fabrizio na fileira de baixo e dei um curto sorriso.
É minha família mesmo. Giulia conseguiu arrastar todos, inclusive Fabrizio que dizia que nunca viria em um jogo da Juventus que não fosse contra o Torino. Ela chegou a ligar para meus parentes de Palermo, mas não era exatamente fácil pedir para pessoas com trabalhos convencionais largarem tudo para vir a um jogo no fim de maio.
A escalação de hoje misturava os novatos e os veteranos, além de Gigi, Lich, Barza, Ruga, Alex, Sturaro, Pjanic, Marchisio, Dybala, Mario e Douglas o acompanhavam. Essa mistura me fazia pensar o que aconteceria ano que vem. Dois meses e um Mondiale me dividiam da próxima temporada, dois meses e um Mondiale me dividiam da minha nova vida.
O jogo era praticamente uma formalidade, uma festa e uma homenagem para Gigi, principalmente porque o Verona ficou na zona de rebaixamento e vai para a Serie B no ano que vem. Por isso, o jogo estava mais lento, não tanto, eles tinham tantas chances de ataque como nós, tanto que a primeira defesa verdadeira do jogo foi de Gigi aos 16 minutos.
A torcida cantava, sacudia as bandeiras com homenagens a Gigi e ele parecia gostar disso. Não dava para ver seu rosto dessa distância, mas ele parecia bem, ele batia palmas, ele ia na da torcida, era confortável.
- null... – Virei para o lado, vendo Lou e Dado no corredor junto de Veronica, irmã de Gigi.
- Meninos. – Giulia pegou Kawan e virei para ambos.
- A gente veio te dar mais um abraço. – Dado disse.
- Ah, meninos! – Passei os braços nos ombros dos dois e abracei-os fortemente.
- Vai ficar tudo bem, tá? – Lou disse.
- Ah, meus meninos. – Suspirei. – Vocês são muito novos para entender...
- Não somos, null! – O mais velho disse, negando com a cabeça. – Vai ficar tudo bem. A gente promete. – Ele passou a mão em meu rosto e franzi os olhos, focando nos olhos castanhos dele.
- O que você sabe, Lou? – Perguntei, virando para Dado.
- Que ele te ama. – Ele disse e suspirei.
- Eu também sei disso. – Ambos confirmaram com a cabeça.
- Então não esquece! – Dado me abraçou e suspirei. – Um ano passa rápido.
- Muita coisa acontece em um ano, Dado.
- Mas passa rapidinho. – Ele disse e ri fracamente, olhando para Veronica.
- Eu acreditaria se fosse você. – Ri fracamente e me levantei, abraçando-a fortemente. – Vai ficar tudo bem. Aguenta só mais um pouco... – Suspirei.
- Vocês estão me deixando no escuro, é difícil aguentar dessa forma.
- Eu sei e talvez esteja te pedindo demais, mas... – Ela ponderou com a cabeça. – Um amor como esse não morre nunca. – Suspirei.
- Isso eu também já sei, e não me conforta. – Ela suspirou.
- Minha família te mandou um beijo. – Ela indicou algumas fileiras para o lado e vi Maria Stella, Adriano, Guendy, os maridos, algumas crianças e Ilaria...
- É, e eu chorando aqui. – Ela suspirou.
- Não é o que está pensando, null... – Ela negou com a cabeça.
- É por isso que ele está indo, porque eu cansei de pensar e comecei a agir. – Suspirei. – É seu irmão, não vamos brigar, mas eu não sou esse tipo de pessoa e nunca vou ser.
- Nem ele. – Ela apertou meus ombros. – Confia. – Suspirei.
- Eu vou seguir em frente, Veronica. O esperei por 17 anos, não é nem do seu direito pedir para eu esperá-lo de alguma forma... – Ela assentiu com a cabeça.
- Só acredita em mim quando digo que tudo vai ficar bem. – Ela disse e assenti com a cabeça. – A gente se vê...
- Claro. – Suspirei, abraçando-a mais uma vez.
- Nós te amamos também, está bem? – Ela sussurrou. – Se cuida.
- Vocês também. – Falei suspirando e vi Lou e Dado sorrindo para mim.
- A gente te ama. – Eles disseram e abracei ambos novamente quando me sentei, sentindo cada um dar um beijo em minha bochecha.
- Também amo vocês, meus meninos. – Suspirei e eles seguiram com Veronica que acenou uma última vez. – Alguém entendeu algo? – Virei para Giulia.
- Nenhum pouco. – Treze disse antes dela e neguei com a cabeça, suspirando.
Voltei meus olhos para o jogo e ele estava um pouco mais agitado. Aos 25, Mario teve uma chance de cabeça, mas o goleiro fez rebote e Paulo tentou novamente, mas foi para fora. Aos 30, em um escanteio, Lich, que havia oficializado sua saída, quase deu um gol contra de cabeça ao tirar a bola, me deixando verdadeiramente de olhos arregalados. No segundo escanteio, Gigi defendeu com um soco, fazendo jus ao apelido de Superman.
Aos 32, eles se aproximaram novamente e outra defesa de Gigi, mandando a bola para frente. Douglas conseguiu o ataque, mas eles defenderam. No retorno, Mario tentou novamente, mas o goleiro defendeu para cima. Aos 40, Dybala teve uma chance incrível que bateu no travessão. No rebote, Sturaro deu de cabeça com o defensor deles e caiu após choque de cabeça.
Com o jogo ficando agitado, foi possível esquecer um pouco o motivo de estar aqui. As lágrimas secaram no rosto e a respiração ficou melhor. Sabia que Allegri faria oficialmente sua última substituição e encerraria sua carreira na Juve, mas fiquei fora dos protocolos dessa vez, então não fazia a mínima ideia quando isso aconteceria.
Pouco antes do fim, Allegri tirou Sturaro pelo choque de cabeça, principalmente por ele ter dado outra segundos antes, e colocou Bentancur que perdeu um gol quase feito minutos antes do fim do primeiro tempo, mas talvez estivesse impedido.
- Beh, quem quer água? – Fabrizio se levantou com a falsa animação e ri fracamente. – Quer água? Água? – Ele começou a apontar para nós.
- Uísque? – Perguntei baixo e ele fez uma careta.
- Água! – Ele disse, me fazendo rir.
- É, isso não vai funcionar conosco. – Giulia disse, me fazendo rir.
Após os 15 minutos de intervalo, os meninos voltaram e Gigi foi para a curva sud agora, causando mais gritos daquela área do estádio. A água que já tinha ido embora devido ao meu nervosismo, serviu de brinquedinho de apertar, mas foi tirado da minha mão por Treze antes do começo do segundo tempo.
- Chato! – Falei.
- Para! – Ele disse.
- Não é porque é da família que tem intimidade, hein?! – Falei.
- Ah, não! Talvez 17 anos de amizade! – Ele disse firme e franzi os lábios.
- Tudo bem. – Suspirei.
O segundo tempo começou empolgante, aos 49 minutos, após a cobrança de um escanteio curto, Douglas tentou o chute, mas o goleiro defendeu e o rebote veio nos pés de Ruga que só precisou dar um toquinho para entrar. Após uma falta em Dybala fora da grande área deles, Mira bateu, passou por cima da barreira e entrou. Mira, né?! Foram dois gols que a torcida comemorou e senti como se fosse dos rivais.
Por volta dos 56 minutos, quando tivemos outra falta ao nosso favor, mas dessa vez o goleiro defendeu, virei meu olhar para Gigi e ele olhava para cima, pensava, parecia completamente desligado ao jogo. Queria saber o que ele estava pensando agora, o que ele sentia hoje, se fosse realmente por mim, por que ele estava fazendo isso? Eram muitas perguntas sem respostas.
Aos 62 minutos, eu senti o clima mudar. Pinso saiu do banco, o banco inteiro se levantou e Gigi se aproximou de Barza do lado direito. O telão mudou para eles e Gigi o abraçava com força, dava vários dos seus beijos estalados na bochecha e sorria. Senti meu corpo ficar em pé no automático para enxergar melhor e pressionei os lábios não conseguindo conter as lágrimas. Era agora.
Pjanic e Lich foram até ele, depois Ruga, depois Dybala, Mario, Alex, Douglas, Claudio, que acabou recebendo a abraçadeira de capitão. Meus olhos começaram a ficar embaçados com os aplausos da torcida e eu sentia que desfaleceria a qualquer momento. Eu queria dar meia volta e sair daqui, mas meus pés estavam travados no chão, como se uma cola os segurasse.
Alguém me apertou pelos ombros e me vi envolvida entre duas pessoas que me abraçavam fortemente. Eu não me importaria se isso causasse perguntas entre os acionistas ou entre meus próprios chefes, se eles soubessem, tenho certeza de que eles entenderiam.
Gigi saiu de campo e abraçou Pinso, que faria sua estreia pela Juve, eles se abraçaram fortemente e Gigi mandou-o para dentro de campo. Um corredor de honra foi montado por ele pelos jogadores do banco e pelo staff, foi quando ele abraçou Filippi que eu sabia que era o fim. Era isso.
Depois de 17 temporadas, 656 presenças, 58772 minutos em campo, 301 clean sheets, 404, talvez 405 vitórias, sua carreira na Juve estava finalizada. Desde seu primeiro jogo no dia 26 de agosto de 2001 contra o Venezia, até hoje contra o Verona. Aqui ele bateu diversos recordes pessoais e em grupo, bateu seus próprios recordes e ainda se tornou a grande lenda da Itália. Não sei o que você vai fazer, mas eu quero muito te bater de novo, nem que isso me obrigue a quebrar a outra mão.
Meu rosto virou para a família de Gigi e Dado era o que mais chorava. Na verdade, todos choravam, com exceção de sua namorada. Parecia que ela estava realmente em um jogo de comemoração, não fazia sentido eu chorar mais do que ela. Isso era... Assustador.
- Eu preciso sair daqui... – Falei baixo, tentando me desvencilhar dos braços.
- Não, você vai ficar. – Pavel, que me abraçava de um lado, disse firme. – Aguenta, minha amiga. Aguenta! – Ele disse e abaixei o rosto em seu ombro, tentando esconder as lágrimas que não cansavam de cair.
- Vamos! Vamos! – Treze disse do outro lado, me abraçando fortemente. – Forza, null! Forza!
Estar neste jogo era uma formalidade para mim. Eu até fiz algumas defesas, mas parecia que eu estava aqui só de corpo presente. Como se nada disso fosse real e alguém logo falaria que isso é só uma brincadeira.
Eu olhava para cima, via as bandeiras, as homenagens, as pessoas cantando meu nome, cantando às músicas tão conhecidas dos últimos 17 anos e eu só conseguia pensar nela. Era impossível encontrá-la no camarote, mas eu olhava diversas vezes para lá, colocava a mão acima dos olhos para abafar o sol, mas ela havia escolhido justo hoje para vir como todo mundo, e o que mais tinha na arquibancada hoje era blusa minha.
Nós conseguimos fazer dois gols no começo do segundo tempo e esperava que isso mantivesse nossa vitória, ao menos eu lembraria desse dia com algum saldo positivo. Mais um campeonato, mais um scudetto, mais uma etapa vencida. Agora viria o maior desafio de todos: viver sem ela.
Era até estranho pensar nisso, nos nossos primeiros anos, mesmo com toda atração que tínhamos, ficamos afastados, eu a via pouco e não tínhamos tanta proximidade quanto hoje. Nosso breve relacionamento em 2005/06 ainda era a melhor coisa que eu me lembrava. Éramos dois jovens inconsequentes, mas acordar ao seu lado era a melhor coisa. Até hoje, na verdade. Ver como nossos estilos, roupas, cabelos, trabalho, importância dentro do time, como tudo mudou, fez parte de quem fomos e de quem somos hoje.
Depois que terminamos, meu primeiro grande erro foi emendar com Alena um relacionamento fadado ao fracasso, agradeço pelos meus dois filhos, mas não deveria ter acontecido, eu fiz aquilo com as intenções erradas, por querer fazer ciúmes na null, mas acabei sendo surpreendido por um filho. Quando Barza entrou no time e contou o real motivo do nosso término, eu confirmei a burrice e me casei com Alena.
Foi difícil esquecê-la, tudo estava muito aquecido ainda e um pouco de felicidade em excesso e um banheiro vazio foi o suficiente para nossa história voltar à tona. Quando ela desistiu de mim por eu não escolhê-la e começou a se envolver com Barza, eu fiz o segundo erro, mas além de só magoá-la, eu magoei Alena também. Ela nunca foi o amor da minha vida, mas é a mãe dos meus filhos e merecia ao menos respeito. Após conseguir ficar com null junto de Barza, o que devo dizer como meu desespero fala alto, a perdi mais uma vez.
Depois de tantos anos, eu deveria saber que sempre acabávamos voltando um para o outro, mas eu sempre fui hiperativo, em qualquer coisa, e minha vida pessoal prova isso. Acho que por isso que eu fui colocado à prova. Para poder ficar com a mulher da minha vida, a única que ficava ao meu lado em todo momento, eu teria que esperar. Sozinho, sem ela, sem meus amigos, sem meu time, sem meus filhos próximo de mim todos os dias. Como você passa um ano dessa forma?
Eu não sei, não pensei nessa parte ainda, mas só pensava que daqui um ano, ao final da próxima temporada, eu vou estar livre e, quem sabe, com ela. Muito acontece em um ano, eu sei. Espero realmente que ela siga em frente e ainda preciso realmente fazer com que as cartas na manga de Ilaria caiam para eu poder voltar de verdade, mas esperava pelo menos que ela não me esquecesse. Se isso acontecer, eu consigo resolver.
- É agora, Gigi! – Barza disse se aproximando e vi Pinso descer do banco junto de meus colegas de time.
- Eu estou desesperado! – Falei rindo e abracei-o.
- Vai tudo bem. – Ele disse, me abraçando apertado.
- Promete que vai cuidar dela? – Perguntei.
- Melhor do que você! – Ele disse, me fazendo rir. – Quem sabe a gente não vire um casal de novo?
- Há, há! Não se atreva! – Rimos juntos e ele me apertou.
- Ok, eu faço um esforço! – Sorri. – Se cuida, cara! A gente vai te ajudar aqui. Tem um exército ao seu favor. – Ele disse e soltei um longo suspiro, ouvindo os aplausos do público.
- Grazie. Por tudo. E desculpa por várias coisas. – Ele riu fracamente.
- Sobre Rio também? – Ele disse e eu ponderei com a cabeça.
- É! Acho que não! – Ele gargalhou e vi Lich e Mira vindo em minha direção e abracei-os.
- Se cuida, capitano! – Ruga disse, me abraçando também.
- Gigione! – Paulo veio em seguida, me abraçar e as lágrimas começaram a deslizar de meus olhos. – Vai ficar tudo, a gente cuida dela.
- Grazie, Paulino! – Dei dois tapinhas em seus ombros, seguindo para Bentancur e Mario.
- No good, Gigi. – Sorri.
- No good, Marione. – Abracei-o apertado. – Se cuida.
- Dai, Gigi! – Claudio me abraçou.
- Cuida desse pessoal, Claudio!
- A gente se vira aqui! – Ele disse me abraçando. – Se cuida lá, ok?! A gente cuida dela aqui. – Assenti com a cabeça e me abaixei para tirar uma braçadeira de capitão de dentro do meião.
- É sua! – Ele sorriu, assentindo com a cabeça.
- Grazie, por tudo! – Ele me abraçou fortemente. – Amigo, capitano...
- Se cuida, garoto! – Suspirei, sentindo minhas lágrimas me cegarem.
- Gigi! – Alex disse e abracei-o apertado, dando alguns beijos em sua cabeça.
Segui para fora do campo, mas alguns jogadores do Verona também queriam se despedir, inclusive alguns velhos conhecidos. Quando cheguei na beirada do campo, Pinso me esperava e abracei-o fortemente.
- Dai, Gigi! – Ele me abraçou, girando o corpo. – A gente cuida dela! – Ele disse e sorri, empurrando-o para o campo.
Ao me virar novamente, meu time havia feito um corredor para me receber. Segui abraçando um por um, meus companheiros de campo, meu staff, meus amigos, minha família. Mia squadra, mia famiglia, mia Juve. Sempre foi e não era agora que isso mudaria. Eu poderia estar em outra cidade, outra país, trabalhando com pessoas diferentes, mas eu sempre estaria confortável em casa, aqui sempre seria o meu lugar.
Não sabia se merecia todos esses aplausos, mas eles me emocionavam. Fiz diversos erros na minha vida, mas algo eu fiz certo para merecer isso. Subi no local do banco e cumprimentei a torcida. Os aplaudi de volta, distribuindo polegares positivos para todos e funguei, sentindo as lágrimas cegarem minha vista e o nariz entupir.
Segui até meu lugar, me sentando e me entregaram uma garrafa de água. Respirei fundo e tentei curtir o jogo. Douglas saiu logo em seguida, entrando Pipita, mas era difícil. Eu só pensava em null. Tentava imaginar como seria nossa vida daqui um ano e, se tudo desse certo, ela poderia ser perfeita. Sei que não seria fácil com tanto para explicar, mas... É como dizem, não? Era uma tela em branco e talvez precisássemos de uma depois de tantos erros, mentiras, indecisões. Esperava ao menos que o amor compensasse.
- Gigi! – Olhei para baixo, vendo Angela. – Não quer ir para torcida? – Ela indicou o pessoal. – Vai fazer sua volta olímpica. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Claro, deixa eu só... Posso me recompor um pouco?
- Claro! Vai lá! – Ela disse.
- Posso ficar com sua camiseta? – Tek perguntou e virei para ele.
- Até pode, mas não essa. Essa tem dono. – Falei e ele sorriu, assentindo com a cabeça.
Desci os degraus, ouvindo os torcedores gritando e acenei com a mão, indicando que logo voltaria. Entrei pelo corredor e fui para o vestiário. Tirei a camisa que eu usava e dobrei-a junto da braçadeira. Essa tinha uma dona muito especial. Peguei outra blusa, uma do kit antigo mesmo, peguei outras diversas braçadeiras, colocando-as dentro dos meiões novamente.
Eu acabei esperando alguns minutos. Esperava que ela aparecesse aqui e pudéssemos ter um pequeno momento, nem que fosse só mais um abraço, uma forma de encerrar tudo, mas ela não apareceu e eu sentia que já tínhamos nos despedido.
Quando voltei para o campo, além de uma chuva fina, o placar havia mudado e estava 2x1, Pinso era um ótimo goleiro, podia até ser o goleiro titular, caso não tivesse questões contratuais, eram coisas que acontecia.
- Eu estarei contigo. – Angela disse e suspirei, assentindo com a cabeça.
Olhei a volta do estádio inteira e segui para minha volta olímpica. Era difícil falar com eles, dar um segundo de atenção para cada um, segurar as mãos, ver os rostos avermelhados, as lágrimas deslizando nos olhos. Eu estava mentindo para eles também. Toda a comemoração à minha carreira era real, era honesta, eu aceitava e agradecia por merecer, mas os motivos para isso eram totalmente errados.
Beh, eu precisava passar por isso, seguir em frente, não podia ficar pensando nisso em todo momento ou enlouqueceria. Qual era o mantra de Medhi mesmo? Por ela, por ela, por ela! Ok. Voltei à vida real.
Durante minha volta, quando estava me aproximando já da curva sud e diversas faixas já estavam em meus ombros, aconteceu um pênalti e deixaram para Lich, que também era o último jogo, eu odiava ver pênaltis, mas esse eu vi... E o goleiro deles defendeu. É, acontece, né?!
Me distraí quando os aplausos voltaram e foi a vez de Lich sair de campo, da mesma forma que eu, pessoal fez o corredor, o aplaudiu, fez tudo. Confesso que me sentia um pouco mal com isso, ele, Asa, Marchisio que estava comentando sobre sair, eram grandes jogadores da Juve, estavam conosco há anos, ganharam tanto, lutaram tanto e sairiam quase em silêncio do time.
O apito final foi dado e era o apito da conclusão, mas eu queria continuar aqui com a torcida, adiando esse momento só mais um pouco. Principalmente pois eu sabia que não poderia aproveitar com ela.
Capitolo centosei
- Vamos, sai daí! – Ouvi a voz de Giulia.
- Eu já vou. – Falei baixo, assoando o nariz e joguei o papel no cesto.
- Vamos, amiga! Logo vai começar a premiação. – Ela cantarolava e eu tentava fazer as lágrimas paparem de deslizar pela minha bochecha.
- Eu não quero ver...
- Mas você vai! – Giovanna disse alto. – Eu até deixo você não descer, mas você vai ver! Isso é importante para você e aposto que vai se arrepender se não participar.
- Eu não me importo. – Falei baixo, pegando outro pedaço de papel higiênico e assoei o nariz mais uma vez, limpando-o propriamente.
- É, mas a gente se importa e você vai e logo antes que eu te puxe à força. – Giulia disse.
- Giulia! – Sua mãe a repreendeu. – Eu vou esperar lá fora, não demore.
- Tudo bem. – Suspirei, passando a mão no rosto, sentindo as lágrimas já secas, talvez elas finalmente tivessem cessado e parariam de me dar dor de cabeça.
- Nossa! Não sabia que hoje era o dia que as bruxas viriam à terra. – Franzi a testa, ouvindo a voz de Giulia. – Algum virgem deve ter acendido a vela da chama preta e chamado o covil.
- Você está falando comigo? – Ouvi a voz da Ilaria e arregalei os olhos.
- Você vê outra bruxa aqui? – Segurei a risada, levando a mão à boca.
- Quem você pensa que é? – Ilaria disse e me levantei, erguendo a calça, fechando-a rapidamente.
- Eu sou seu pior pesadelo, querida! – Giulia disse e abri a porta do reservado rapidamente, encontrando ambas bem próximas.
- Opa! Estou interrompendo algo? – Perguntei, passando no meio das duas e segui até a pia.
- Hum, null. – Ilaria disse e lavei as mãos.
- Senhora D’amico. – Dei um curto sorriso, sacudindo as mãos perto dela, sentindo as gotas escaparem.
- Deveria imaginar que era sua amiga...
- Amiga não, amor. Irmã! – Giulia disse. – E muito melhor do que você que é uma ingrata e desalmada que gosta de ver a infelicidade dos outros.
- Licença? – Ilaria disse. – Você que a mandou dizer isso para mim? – Ela se virou para mim.
- Ela não precisa me pedir nada não, querida... – Empurrei Giulia novamente. – Só pela cara a gente nota o caráter das pessoas e o seu deve ser puxado igual sua cara. – Senti uma risada sair e tentei confundir com uma tosse.
- Ah, sua... – Ilaria se aproximou.
- É o quê? Vai vir para cima? Cai dentro! – Giulia disse.
- CHEGA! – Falei alto, empurrando os ombros das duas. – Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas eu não preciso de ninguém para dizer por mim o que eu penso de você. Agora se eu penso a mesma coisa do que ela, a culpa é inteiramente sua! Passar bem e boa viagem para Paris! Adeus! – Falei, empurrando Giulia. – Vamos sair daqui.
- O que você disse? – Ilaria disse e virei de costas, franzindo a testa.
- Passar bem! E até nunca mais! – Falei firme antes de passar pela porta do banheiro, empurrando Giulia. – Você está louca? – Falei, apertando seus ombros.
- Ai! Ai! Ai! – Ela reclamou, tentando se esquivar dos meus apertões.
- Você comprou briga de graça com a mulher? Eu não gosto dela e você acabou não gostando dela por mim, mas precisava chamar ela de bruxa? – Ela fingiu pensar.
- Sim! – Ela sorriu.
- Ah, Giulia! – Empurrei-a novamente. – Eu já odeio essa mulher, fujo dela para fugir da imprensa e você ainda dá motivos para ela vir em cima de mim?
- Acredite, amore, ela já tem! – Franzi a testa.
- O que isso quer dizer? – Falei e ela revirou os olhos.
- O homem dela é apaixonado por você! – Ela deu de ombros, gargalhando e entrou no camarote novamente, me fazendo bufar.
Neguei com a cabeça e voltei para meu lugar, vendo o camarote pouco mais vazio do que antes. O top, a família Agnelli e a família dos jogadores haviam descido. Era para eu estar lá embaixo também, mas preferi manter certa distância. Eu tinha conseguido parar de chorar há poucos minutos e sei que mais um abraço dele me faria desmontar novamente e acho que se eu precisasse desapegar de verdade, precisava fazer isso logo, como um band-aid e sabia que arranjaria mil e um motivos para ficar com ele, mas não podia.
Turim havia começado a chover no fim do jogo, talvez fosse a cidade de despedindo de sua grande lenda. Puttano da lenda que vai trocar Turim por Paris. Paris é uma linda cidade, não me leve a mal, mas Turim era meu lar e nada trocaria aqui.
- Ah, voltaram! – Giovanna disse.
- Você não vai acreditar o que ela fez. – Falei, suspirando.
- Eu não fiz nada! – Giulia disse e bufei.
- O que ela fez?
- Chamou a Ilaria de bruxa, na cara dela. – Falei baixo.
- O QUÊ? – Minha família disse junto.
- É! – Suspirei, negando com a cabeça.
- Você está louca, Giulia? – Treze disse.
- Ah, desculpa, estava entalado aqui. – Revirei os olhos.
- Vai dar munição para ela ainda. – Treze disse e assenti com a cabeça.
- Eu te mato se ela falar na imprensa e meu nome for citado, a última coisa que eu quero na vida é ter meu nome ligado a ela. – Ela riu fracamente.
- Ah, tudo bem, talvez eu tenha errado, mas foi gostoso, vai...
- Isso eu não posso negar. Ela só é namorada do homem que eu amo e não deve nem saber sobre nós... – Ela ponderou com a cabeça. – Mas acabo tendo um ódio gratuito por ela.
- Ah, vai ver nem é gratuito, né, amiga? – Ela disse rindo.
- O que isso quer dizer? – Virei para ela.
- AH, VAI COMEÇAR! – Gianni gritou, me distraindo e virei o rosto para a entrada.
- Eu vou mais para baixo, alguém quer ir?
- Partiu! – Gianni disse empolgado e seguimos para baixo junto da família inteira e me apoiei na marquise.
Esperava que a chuva não destruísse a comemoração. As gotas ficavam cada vez mais fortes e as mulheres que traziam as medalhas já estavam com os cabelos encharcados e escorridos. Ao menos os homens não se importam, eu acho.
Mattia foi o primeiro com o número dois, depois veio Chiello com a três. Ele foi em direção aos filhos, pegando sua menina no colo. Então veio Medhi com a quatro, depois Pjanic com a cinco, pegando Edin com ele. Em seguida veio Sami com a seis, depois Cuadrado com a sete, Claudio com a oito, seus meninos foram até ele e os acompanharam na entrega de medalhas.
Com a nove veio Pipita, com a 10 veio a nossa Joya, Paulino. Com a 11 veio Douglas, com a 12 Alex e foi então que percebi que não tínhamos um número 13. Com a 14 veio Matuidi com seus três filhos e com a 15 veio Barza com Mattia e Camilla. Esperava que ele e Chiello não me matassem, mas eu precisaria tanto deles que talvez fosse um pouco chata demais.
Com a 16, veio Pinso, que teve sua estreia hoje, com a 17 veio o introspectivo Marione, quanto ele tinha aguentado essa temporada e ainda deu tudo para o time, era loucura. Sem número 18, 19 e 20, a 21 foi Howedes, a 22 Asa, 23 Tek, 24 Ruga, depois sem 25, fomos para Lich com a 26, Sturaro com 27, depois Bentancur com a 30, depois Fede com a 33 para fechar. O namorado da Manu era bom, havia sido um bom investimento, mas as lesões nessa primeira temporada complicaram um pouco, esperava que isso melhorasse na próxima temporada.
Durante todos os jogadores eu estava bem, nosso staff e Max foram pegar as medalhas também e eu me sentia bem em ver a festa dos meninos no palco. Até que não estava. Quando eles anunciaram o número um... Foi como se meu coração quebrasse mais uma vez.
- E con il nostro numero uno, Gianluigi…
- BUFFON! – O estádio gritou junto e suspirei ao vê-lo subir com Lou e Dado.
A chuva apertava cada vez mais e todos estavam encharcados já, era um tanto irônico tudo isso, mas assim como eu, Turim também estava chorando e, também sabia que nada seria como antes.
Chiello apareceu ao seu lado com Leo no colo e Gigi deu um beijo em seu mais novo antes de pegar a taça em suas mãos. Os fogos e os papéis picados começaram a estourar no céu e grudava nos corpos molhados. Dessa vez, ao invés de soltar a taça rápido, como ele sempre fazia, ele aproveitou-a de verdade, só soltou-a quando Fede a estourou um champanhe do seu lado e ele foi o primeiro a ser atingido.
Suspirei, vendo Gigi ser atacado como sempre por seus familiares, sobrinhos ou até por parentes de outros jogadores, mas correu para a foto em grupo, deslizando na grama para comemorar com o pessoal.
Apertei meu punho engessado, lembrando da causa disso e deixei um sorriso se formar em meus lábios. Quanto vivemos aqui, Gigi! Quantos momentos de alegria, quantos momentos de tristeza... Tudo em volta desse time, desse estádio e dessas pessoas. Você vai deixar de ser bianconero, mas não acredito que consiga. Essas cores são muito difíceis de abandonar e você sabe disso.
Observei-o encontrar com sua família, abraçando todos eles e consegui encontrar Ilaria lá embaixo. Não acho que Giulia mentiu, mas também não acho que isso faça alguma diferença agora. Ele a havia escolhido, não importando o que fale. Ela estava lá embaixo comemorando com ele, não eu. E eu não me importava com os holofotes, nunca liguei, mesmo na minha posição, mas aceitaria o posto ao seu lado.
Gigi foi para perto do time, fazendo a volta olímpica e ele distribuía braçadeiras pelos quatro cantos do estádio e até entregou suas luvas para os torcedores. Ele, junto de Lich, Chiello, Barza e Marchisio tiraram a clássica foto dos jogadores que ganharam todos os scudetti e fiquei triste por saber que essa foto reduziria para dois... Se nenhum dos dois inventasse nada pelos próximos dois meses. O contrato de Barza e Chiello acabavam agora, mas outros estavam prontíssimos para ele, da mesma forma que estava com Gigi.
O mais bonito de toda a comemoração, era ver Gigi com os torcedores, de todas as idades. Crianças, adolescentes, jovens, velhos. Buffon era unânime. Não acho que exista uma pessoa na Itália ou no futebol que não goste dele. A roda enorme em volta dele era gigantesca. Foi o que Ruga disse no documentário, ele era uma figura sacra. Uma figura sacra puttana, talvez.
- Podemos ir? – Perguntei, virando para Giulia.
- Você já quer ir? – Ela perguntou e eu suspirei. – Não tem carreta ou festa ou...
- Tem tudo isso, mas não sei se vou, são só motivos para eu adiar isso. – Suspirei. – Vocês não vão me obrigar a tudo isso, vão?
- Não, acho que podemos ir. – Giovanna disse.
- Eu só quero ir para casa...
- Claro, podemos ir...
- Não! – Virei para ela. – Eu preciso ficar sozinha um pouco, por favor. – Eles bufaram.
- Isso é uma péssima ideia! – Giovanna disse.
- Uma hora vocês vão dormir e eu vou embora da mesma forma, vocês escolhem. Eu fico um tempo sozinha e nos encontramos amanhã ou eu dou perdido em vocês e não deixo vocês entrarem em casa amanhã. – Fabrizio bufou.
- Ok, é justo! – Giulia disse.
- Você não quer ver isso? – Fabrizio indicou o campo e encontrei os jogadores jogando Gigi para cima e sorri, vendo-o ser jogado algumas vezes no ar antes de parar e abraçar os jogadores responsáveis.
- Eles não vão expulsar a torcida tão cedo hoje. – Suspirei. – E normalmente já demora umas duas horas até tudo acabar.
- Você pode ir embora? – Giulia perguntou.
- Top três tem algumas vantagens. – Suspirei, dando uma última olhada em Gigi cantando com a torcida e dei de costas. – E essa é uma delas. – Passei as mãos nos olhos e subi escadas acima.
- Andiamo, ragazzi! – Angela falava, nos chamando para dentro.
- A gente já vai, meu amor! – Paulo a abraçou fortemente.
- Ah, você já está bêbado, Paulino? – Ela deu dois tapas em suas costas, obrigando-o a soltá-la.
- Ainda não! – Rimos juntos.
- Vamos! Vamos! – Ela disse irritada, puxando os jogadores para dentro e virei para meus familiares.
- Eu tenho que ir. – Falei, suspirando.
- Se divirta, mano! – Veronica me abraçou e apertei-a fortemente. – Aproveite pela última vez.
- Pode deixar. – Sorri, me desviando dela e apertei Guendy.
- A gente está contigo. – Ela sussurrou, dando um beijo em minha bochecha e se afastando.
- Nós estaremos na sua casa. – Minha mãe disse e abracei-a fortemente. – Está melhor? – Ela acariciou meu rosto e ponderei com a cabeça.
- Caiu um pouco mais a ficha.
- Vai dar certo, o pior já passou. – Ela sorriu.
- Não, mamá. O pior ainda vai começar. – Suspirei e abracei meu pai rapidamente.
- Vai lá, filho! – Sorri.
- Vocês dois, eu encontro vocês em casa mais tarde, está bem?
- A gente vai poder ir na festa? – Lou perguntou.
- Vão, mas não vão desgrudar da sua avó! – Falei firme e ele fez uma careta.
- Chato! – Ele disse e me abaixei para dar um beijo em sua cabeça e outro no de Dado.
- Vocês se cuidem e não aprontem enquanto eu estiver fora.
- Não prometemos nada! – Dado disse e revirei os olhos.
- Vai ficar de castigo! – Falei e ele fez uma careta. – E você... – Virei para Ilaria.
- Podemos conversar? – Ela deu um sorriso sarcástico e suspirei.
- Agora? Eu tenho que ir! – Falei, acariciando os cabelos de Leo que estava quase dormindo.
- Não será mais do que dois minutos. – Ela disse e se afastou de perto da minha família e bufei, seguindo para longe dos meus familiares e ela se virou para mim logo em seguida.
- Diga!
- Eu encontrei sua garota. – Ela disse, rangendo os dentes.
- Da última vez que eu chequei ela era top três do time, mas posso estar enganado. – Falei, rindo fracamente.
- Tiveram duas coisas que me deixaram com a pulga atrás da orelha...
- Seria a primeira vez. – Cocei a nuca.
- Primeiro que a amiga dela me chamou de bruxa... – Segurei a risada, colocando a mão na boca. – E você ri?
- Eu deveria sentir pena de você? – Retribuí, dando de ombros. – Nossa relação física agora é restrita ao Leo. Não pense que vou ter qualquer tipo de compaixão contigo. – Dei de ombros.
- É, mas por acaso você contou algo para alguém?
- Se eu tivesse contato, aposto que ela chegaria direto no soco, te chamar de bruxa foi bastante infantil. – Pressionei os lábios, vendo-a revirar os olhos. – Ela é melhor amiga da null, você realmente acha que ela vai gostar de mim?
- Não achei que fizesse alguma diferença para null. – Ela disse.
- Ela acha que eu te escolhi, isso não é motivo o suficiente? – Ela riu fracamente, abrindo um largo sorriso.
- Mah e falando de null, ela me desejou uma boa viagem para Paris. – Engoli em seco. – O que isso quer dizer?
- Eu não tenho a mínima ideia. – Falei, tentando manter a feição calma no rosto.
- Você vai se aposentar, não vai? – Ela pressionou meu braço e puxei-a. – Você não está mudando de time, está? – Abri um largo sorriso, rindo em seguida.
- Só entrei no seu jogo, Ilaria! – Dei de ombros, abraçando-a de lado e dei um beijo em sua cabeça. – Aproveite as férias, mi amore. Nosso relacionamento acaba em breve.
- Seu filho da... – Apertei-a fortemente. – Nós temos um contrato.
- Temos! – Sorri. – Um muito bom, por sinal. – Me afastei alguns passos. – Aproveite as férias, daqui dois meses eu e você seremos só bons conhecidos. – Sorri.
- Eu ainda posso contar o segredo dela. – Ela disse sorrindo.
- Pode sim, mas enquanto eu manter minha parte do acordo, você também precisa manter a sua... E dessa vez eu nem precisei esconder em letras miúdas. – Me afastei mais alguns passos. – A gente ainda vai conversar, mas você não pensou que eu fosse deixar você mandar na minha vida da forma que queria, achou? – Pisquei, rindo em seguida.
- Você me enganou, Gianluigi? – Ela disse chocada e dei de ombros.
- Só joguei com as suas regras. Me despedir do meu time do coração já não foi o bastante para você? Achou que ia tirar meu amor? – Sorri. – Não mesmo! – Acenei rapidamente.
- AH! – Ouvi seu grito e corri a passos rápidos para dentro do túnel.
O gosto da vitória era muito bom, mas sabia que poderia vir retaliação e realmente não queria pensar sobre isso agora, mas eu e meus advogados lemos e relemos aquele contrato diversas vezes antes de oferecer para ela e ela o assinou sem completa atenção. Eu ainda precisaria ficar um ano fora, mas eu iria livre dela e a sensação é muito boa!
- Uau, um sorriso! – Angela disse e ri fracamente, segurando o rosto da assessora e dei um beijo em sua cabeça.
- Eu estou livre, Angela! – Falei sorrindo e ela franziu os lábios.
- Posso cancelar a festa, então? – Ela disse rindo e suspirei.
- Ainda não, mas eu me livrei de um problema. – Ela riu fracamente.
- Fico feliz por você, Gigi! Mesmo. – Ela me abraçou e apertei a mais baixa fortemente.
- Você viu a null? Não a vi no camarote. – Ela suspirou.
- Ela já foi, Gigi. – Ela pressionou os lábios. – Não acho que conseguiu aguentar.
- Como ela estava? – Perguntei e ela suspirou.
- Eu não a vi, mas Pavel comentou que ela e o Trezeguet precisaram segurá-la durante sua saída. – Engoli em seco, sentindo as lágrimas aparecerem novamente.
- Eu não posso mais fazer isso, Angela.
- O quê? – Ela perguntou.
- Magoá-la. – Ela assentiu com a cabeça, apoiando a mão em meu ombro.
- Vai passar, Gigi. E veja pelo lado positivo, vai ser sua chance de se reabilitar também. Quantas besteiras você fez ao longo dos anos? Você vai poder começar do zero, ficar limpo para ela. – Assenti com a cabeça.
- É, o problema vai ser um ano sem ela...
- Beh, Paris é aqui do lado. – Ela piscou e ri fracamente. – Vamos?
- Vamos! – Falei e segui de volta para dentro do túnel.
O vestiário estava uma nojeira quando entrei, além dos papéis picados, os pés enlameados deixou o chão branco quase irreconhecível. Andei até meu espaço, pegando o moletom que haviam deixado reservado para mim e peguei minha necessaire para ir até o banheiro tomar meu banho.
- Oh, Gigi! – Vi o grupinho de Chiello, Barza e Mario na fisioterapia e me aproximei deles.
- Ciao, ragazzi.
- Como você está? – Barza perguntou e eu suspirei.
- Não foi fácil, mas foi um dia feliz, apesar de tudo. – Chiello me abraçou pelos ombros.
- Agora o plano de verdade começa, ok?! – Ri fracamente.
- Eu vou infernizar vocês. – Eles riram.
- Deixa com a gente! – Barza disse. – Sem distrações.
- Se vocês conseguirem fazer isso, eu não vou ter nem como agradecer vocês. – Falei, rindo fracamente.
- Beh, vamos chegar lá, depois a gente conversa! – Mario disse e rimos juntos.
- Eu logo apareço! – Falei e eles assentiram com a cabeça.
- NÃO SE ESQUEÇAM DE LEVAR CASACO, PODE VIR CHUVA DE NOVO! – Angela passou gritando, me fazendo pular levemente.
Eu não estava completamente animado em ficar mais duas, três ou mais horas andando pela cidade comemorando mais ainda com a torcida, mas eu sentia que merecia isso depois de aguentar esse dia e ainda ter a ajuda de null para mostrar para Ilaria que ela não mandaria mais na minha vida. Nem na minha com null.
Além disso, a não ser que eu desse uma sorte grande na segunda fase da Champions e voltasse para Turim para enfrentar a Juve ou vice-versa, o que era querer contar que muitos detalhes dariam certo, eu tinha certeza de que não os veria por um ano ou um pouco mais, então queria aproveitar só mais um pouco.
Tomei meu banho, aliviado pela água quente contra a pele gelada e apertei diversas vezes a corrente de São José que null me deu. Eu não reparei se ela estava com a dela, mas esperava que sim, porque isso que me daria forças para seguir sem ela. Isso e um pouco da boa e velha rede social, ela não era uma frequentadora assídua, mas ao menos uma vez por semana tinha uma foto sua e isso já bastava.
Saí do banheiro e só me troquei ao sair do box. Não me importei muito com a minha aparência, apesar de a Netflix participar conosco também disso e querer gravar comigo mais uma vez. Quando todos nos arrumamos, seguimos para o tradicional ônibus. Paulo e Douglas colocavam as bebidas para dentro e sabia que a noite seria longa. Sem contar uma festa que Ilaria insistiu em fazer e que eu tinha certeza de que teria mais pessoas do que eu queria.
- Andiamo, ragazzi! – Falei, chegando ao topo do ônibus.
- Andiamo, Gigi! – Fede me abraçou de lado, pulando e peguei a long neck de sua mão.
- Eu fico com isso! – Falei e ele riu fracamente.
- Eu pego outra. – Ele disse rindo e fui para o fundo do ônibus, me apoiando ali.
- Pensando? – Vi Filippi ao meu lado e suspirei.
- Um pouco.
- O que te aflige? – Ele disse e suspirei.
- O desconhecido. – Pressionei os lábios. – Ela sozinha aqui, eu sozinho lá, se ela vai me esquecer, se ela vai conhecer outra pessoa, se ela realmente vai seguir em frente... – Ele deu um curto sorriso.
- Você quer que ela siga em frente? – Suspirei.
- É difícil. Honestamente? Não. Queria que ela me esperasse para gente viver tudo o que não vivemos, mas outro lado quero que ela siga em frente. – Ele assentiu com a cabeça.
- Falando como uma pessoa que ouve sobre esse romance há uns sete ou oito anos, e acabou pegando a história inteira por alto... – Ri fracamente. – Você precisa parar de pensar nisso. É triste pensar que ela não te esqueceu até hoje, pensar que ela te tem no coração dela até agora, mas se ela aguentou até agora, por que você acha que agora ela vai seguir em frente? – Suspirei.
- Porque eu vou estar longe.
- Estar longe e ausente são duas coisas diferentes. – Ele disse. – Pensa nisso, ok?! – Assenti com a cabeça. – Agora vamos aproveitar? – Assenti com a cabeça.
- Vamos sim. – Suspirei.
- VOCÊS SENTEM FALTA DE ALGUÉM? – Angela gritou e virei para ela.
- Não, mas posso sentir do Paulo! – Barza disse, nos fazendo rir.
- Isso é maldade! – Paulo disse, fingindo um bico e rimos juntos.
- OGR e engoli em seco. Eu não conseguia movimentar meus pés. Consegui trocar de roupa, fazer uma maquiagem boa o suficiente para esconder o inchaço de meus olhos de tanto chorar, mas eu não conseguia entrar. Era uma festa que não deveria estar acontecendo, ele não deveria estar indo embora, por que eu precisava aguentar isso agora?
Senti minha respiração ficar mais pesada e eu não queria entrar em uma crise de ansiedade aqui, nem aqui e nem agora na frente de tantas pessoas estranhas. Por sinal, quem tanto viria nessa festa? Já tinha entrado tanta gente com a blusa da Juve durante os 12 minutos em que eu estava enrolando aqui que eu começava a achar que tinha mais gente que nas festas de Natais do time. Era só uma festa como das outras vezes, não? Jogadores, staff, administrativo e alguns familiares.
Era, não era?
Levei a mão até o rosto novamente, secando as lágrimas que já haviam se acumulado nos olhos e vi os dedos pretos pelo lápis de olho e passei a mão na blusa comemorativa do time. Soltei o ar devagar e ameacei dar o primeiro passo, retornando logo em seguida. Eu não consigo fazer isso, eu não...
- Precisa de uma ajuda? – Virei para trás, vendo Barza e engoli em seco.
- Eu não acho que posso fazer isso. – Falei baixo, sentindo as lágrimas deslizarem de meus olhos e ele puxou o lenço de seu paletó e me esticou.
- Aqui. Vamos juntos? – Ele disse, esticando a mão para mim e passei o lenço nos olhos antes de guardá-lo no bolso da calça jeans.
- Eu vou para casa. – Suspirei.
- Tente, null. Só alguns minutos. – Ele disse. – Depois eu deixo você ir. – Engoli em seco e assenti com a cabeça relutante, sentindo meu pescoço doer com o feito.
- Eu vou tentar... – Falei baixo e ele segurou minha mão livre.
- Vamos, amiga! Eu estou contigo. – Ele deu um beijo em minha têmpora e suspirei.
Senti meus joelhos doerem com o primeiro degrau e foi que eu percebi como o meu corpo estava tenso desde que cheguei ali. Talvez tivessem sido mais do que 13 minutos, de uma forma ou outra, parecia que eu havia levado uma surra e dessa vez nem era internamente, era externamente mesmo. Minha ansiedade estava atacando meu corpo e mostrando das formas mais estranhas possíveis. Sabia que precisava tratar antes que mais sintomas físicos aparecessem.
Barza apertou minha mão quando paramos para dar nossos nomes à recepcionista, mas não é como se fosse realmente necessário, pois ela nos liberou a passagem sem ao menos perguntar. Engoli em seco ao entrar no OGR e eu estava veramente surpresa pela quantidade de pessoas que estavam ali dentro.
Nunca tivemos uma festa de Natal tão cheia, nem as festas de comemoração do time eram tão lotadas assim. Estava difícil até de andar, quiçá chegar perto do palco montado com os troféus e um enorme bolo comemorativo. Eu sabia que Gigi era bem popular no mundo do futebol, mas não sabia que era tanto assim. Nem me surpreendia mais o fato de ele cumprimentar realmente todas as pessoas do mundo, talvez a Itália inteira estivesse aqui hoje.
- Ele está ali! – Barza indicou o palco e virei meu rosto, observando-o conversar com alguns jogadores do time e senti o choro subir à garganta de novo. – Vamos lá?
- Não! – Falei rapidamente, soltando sua mão. – Eu não... – Senti minha garganta fechar, dificultando a saliva de descer e passei o olhar pelo palco, vendo a família de Gigi, Lou, Dado, Ilaria, a última com um largo sorriso no rosto. – Eu não posso fazer isso.
- null... – Barza segurou minha mão e neguei com a cabeça.
- Me desculpe, Barza. Eu não consigo... – Falei, soltando sua mão. – Eu tenho que ir... – Dei dois passos para trás, esbarrando em uma pessoa. – Me desculpe! Me desculpe! – Falei rapidamente e segui em direção à porta.
Meus pés andaram rápidos até demais pelas escadas e senti que estava correndo. Ouvi alguém chamar meu nome, mas não me dei ao trabalho em virar para saber se era comigo mesmo, eu não conseguia ficar nem mais um segundo aqui. Encontrei meu carro no meio do estacionamento e entrei nele com pressa, ligando o carro.
Minhas mãos e pés tremiam e eu sabia que não era frio. Eu já tinha passado por isso antes e não gostava nenhum pouco. Por algum milagre eu havia conseguido ficar bem durante o jogo inteiro, mas foi só ficar sozinha que as coisas começaram a desandar, mas eu não podia depender dos outros sempre, não para isso.
Dirigi até Vinovo, pegando mais velocidade quando cheguei na estrada e tentei manter minha respiração em controle e fazer os exercícios que Tiziana me ensinou. Eles não adiantariam, mas eu sabia que era porque eu não conseguiria fazer isso. Antes de ir direto para casa, parei no mercado, fazendo os pneus cantarem quando parei e desci do mesmo apressada, puxando minha bolsa.
Entrei em direção à loja e fui diretamente para a área de bebidas, senti meu corpo recuar quando me aproximei. Fazia anos que eu não fazia isso, mas era por um bem maior. Peguei duas garrafas de Jack Daniel’s tradicional e segui em direção ao caixa. A atendente me olhou curiosa e entreguei alguns euros em sua mão.
- Fica com o troco. – Falei, colocando as garrafas em duas sacolas plásticas.
- Tenha uma boa noite. – Ela disse, me entregando a nota e guardei de qualquer jeito na bolsa antes de sair dali.
Voltei para o carro, entrando na mesma e dirigi até minha casa novamente. Estacionei o carro no fundo, me certificando de que o portão havia sido fechado e segui pela porta dos fundos. Joguei minha bolsa no mesmo e pisei em meus calcanhares para me livrar do tênis que eu usava. Levei as garrafas comigo e fui até a sala de TV.
Não me importei de ligar nenhuma luz, som ou TV, eu não queria nada que me lembrasse dele agora. Apoiei as duas garrafas na mesa de centro, tirando-as do saco e minhas mãos tiveram dificuldades em abrir a primeira garrafa. O cheiro forte atingiu minha narina e virei um primeiro gole na boca, sentindo um pequeno choque da bebida quente com meu corpo frio.
Encostei meu corpo no sofá, esticando as pernas para cima e fui sentindo meu corpo relaxar a cada longo gole dado na garrafa. Eu sentia que estava perdendo meus sentidos, mas era só isso que eu precisava, qualquer coisa que me fizesse esquecê-lo, nem que fosse por algumas horas.
A primeira garrafa não demorou a acabar e apoiei-a junto da cheia. Olhei para a outra, sentindo minha barriga borbulhar com o feito e puxei a outra junto de mim, sentindo mais dificuldade em abrir o lacre dela. Tombei meu corpo para trás novamente, dando um pequeno gole e abracei a garrafa antes de sentir meus olhos fecharem aos poucos, talvez fosse o efeito da bebida ou só o sono estava finalmente me vencendo.
- ! – Abri os olhos em susto, ouvindo barulhos altos da maçaneta e a porta se abriu com força.
- !
- ! – Fechei os olhos, sentindo a cabeça doer e vi dois vultos passando pela porta da frente.
- GIULIA, AQUI!
- Barza? – Falei baixo, sentindo suas mãos em meu corpo.
- Ah, null! – Ele puxou a garrafa de minha mão.
- Me dá!
- Não! – Ele disse firme e meu corpo virou uma boneca em seu colo.
- Traz ela aqui! – Giulia falou e senti meu corpo sair do sofá. – Ela está lúcida? – Senti um tapa em meu rosto.
- Ai... – Reclamei baixo.
- Está sim, mas uma garrafa está vazia. – Ele disse e tombei minha cabeça para trás, tentando ver aonde estava indo, mas tudo não passava de um borrão em minha visão.
- Ainda bem que você me ligou! – Ela disse. – Coloca ela aqui! – Ela disse e senti meu corpo ser colocado em uma superfície gelada.
- Ela tem algum remédio aqui? – Ele perguntou.
- Lá na cozinha, na gaveta do filtro. – Ela disse.
- Eu vou pegar. – Ele disse, saindo logo em seguida.
- Vai ficar tudo bem, null. Eu prometo. – Vi seu rosto aparecer com a luz sendo acesa, mas fechei meus olhos com força.
- Não vai! Não vai!
- Vai sim! – Ela disse firme. – Segura minha mão. – Ela disse, segurando a mão engessada e senti a água me atingir com força.
- AH! – Gritei em protesto e Giulia me abraçou fortemente. – Está gelada! Está gelada!
- Vai passar! Vai passar! – Ela disse baixo, me apertando fortemente.
O susto da água foi como um choque em meu corpo e comecei a recobrar meus sentidos devagar, o que fez as lágrimas começarem a deslizar pelo meu rosto incansavelmente. Giulia manteve seu corpo junto ao meu, protegendo o gesso pelo tempo que demorou para Barza aparecer de volta pela porta do banheiro e engoli em seco ao ver seu olhar decepcionado sobre mim.
- Me desculpe... – Falei baixo, sentindo as lágrimas deslizarem pelo meu rosto.
- Está tudo bem. – Giulia disse, apoiando a cabeça em meu ombro. – Agora está...
- Eu só não... – Barza entrou no box e desligou o chuveiro. – Eu não consigo lidar com isso.
- Você consegue. – Ele disse firme, puxando a toalha e esticou-a em cima de mim.
- Eu não quero depender de todo mundo sempre. – Falei baixo, passando a mão livre em meu rosto.
- E que mal há nisso, null? – Giulia disse. – Somos sua família, é isso que famílias fazem. – Ela me apertou perto de si.
- Mas vocês lidam comigo há tantos anos e...
- E vamos lidar por quanto for necessário. – Barza disse. – Mas você não pode fazer isso consigo mesma.
- Eu só queria esquecer... – Falei baixo e ele se sentou do outro lado.
- Tem outras formas para fazer isso. – Ele me abraçou, puxando minha cabeça para apoiar na sua. – Não tentando se matar.
- Não foi minha intenção... – Falei baixo, engolindo a saliva.
- Você tem o jogo das meninas ainda amanhã... – Giulia disse.
- O jogo do Pirlo segunda... – Barza falou.
- Eu não acho que consigo. Eu vou entrar de férias a partir de hoje. – Soltei a mão de Barza, passando-a nos olhos.
- Por que você não passa as férias comigo? – Barza disse.
- É uma boa ideia. – Giulia disse.
- Não, eu não quero ir para lugar nenhum. – Falei, sentindo a respiração normalizar.
- Nem comigo? – Barza disse, me fazendo rir fracamente. – Eu sou uma boa companhia, vai. – Sorri, puxando sua cabeça para dar um beijo em sua bochecha.
- Eu só vou te atrapalhar. – Falei, negando com a cabeça.
- Ah, vai nada! Minhas primeiras férias solteiro, acho que vai ser uma boa opção, não acha? – Suspirei.
- Aonde você vai? – Perguntei, virando para ele.
- Grécia. Com Marchisio e um pessoal... – Puxei a respiração. – Um mês sem falar sobre futebol, o que acha?
- Perfeito demais até para mim. – Ele riu fracamente.
- É uma boa ideia, amiga. – Giulia disse.
- Eu vou pensar. – Virei para ele que assentiu com a cabeça. – Mas eu estou com frio agora... – Respirei fundo.
- Consegue tomar banho sozinha? – Giulia disse, me soltando e se levantando. – Eu preparo sua cama, algo para você comer...
- Você vai contar para sua mãe o que eu fiz? – Perguntei baixo, sentindo Barza ajudar a me levantar pela cintura.
- Vou sim e vou deixar ela brigar contigo. – Suspirei. – É isso o que as famílias fazem, null.
- Eu não estou preparada para isso...
- Ninguém está. – Barza disse. – Mas vamos descobrir juntos, pode ser? – Puxei a respiração, assentindo com a cabeça.
Passei as postagens do feed, olhando as diversas homenagens e suspirei, voltando mais uma vez ao Instagram de null, ela não postava nada desde a vitória da Coppa Italia, ainda um simples “12 volte” com a bandeira da Itália. Para quem vê de fora não é nada, mas para quem sabe, era a forma dela de falar que não estava nada bem.
Suspirei e ouvi um barulho, me fazendo erguer o rosto, vendo Guendy aparecer do escuro e bloqueei o celular, ironicamente enxergando-a melhor. Ela pressionou os lábios e negou com a cabeça, me fazendo assentir com a cabeça.
- Imaginei que ela não vinha mesmo. – Falei baixo. – Eu estou só tentando adiar mais um pouco... – Ela se sentou na cadeira ao meu lado. – Adiei por tanto tempo, porque eu sabia que não seria fácil ficar sem ela... – Ri fracamente. – Se não consigo ficar sem ela assim, como eu vou fazer por um ano, mana?
- Honestamente eu não sei, mas a gente dá um jeito. – Ela disse, me fazendo suspirar. – Sempre vamos mandar alguém para você não ficar sozinho.
- Grazie, sorella! – Ela me abraçou de lado, me apertando para si.
- Sei que essa festa está acontecendo pelos motivos errados e que essas milhares de pessoas aqui é tudo por causa de Ilaria, mas muitas pessoas acreditam que sua história está acabando, muitas vieram por você. Não dá para você ficar a festa inteira escondido aqui. – Suspirei.
- Eu me sinto uma farsa, Guendy. – Neguei com a cabeça. – Fico pensando o que as pessoas vão achar quando eu voltar. Se eu voltar, né?! Eu sempre esqueço da minha idade quando falo disso. – Ela suspirou, passando a mão em meu ombro.
- A idade é um fator decisivo sim, mas no seu acordo com Agnelli você volta por um ano, nem se for de muletas... – Ri fracamente. – Espero que não precise para tanto, ainda quero aproveitar com a null do jeito certo...
- Vamos nos certificar disso, então. – Ela sorriu. – Mas não vamos nos apressar. Aproveite sua festa, vamos para Forte nas férias, fica com seus filhos, aproveite ao máximo antes de ir para Paris. Depois a vida vai acabar acontecendo de uma forma ou de outra, é um novo time, novos companheiros, uma nova cidade, novo técnico, novo estilo de treino, nova língua... – Ri fracamente. – Pensa nisso como uma colônia de férias.
- É, talvez... – Suspirei.
- A vida se ajeita, Gigi.
- E se não se ajeitar? Se daqui um ano nada tiver mudado?
- Vamos contar com a esperança um pouco, e com a boa vontade dos seus amigos que farão céus e terra para te ajudar nessa. – Assenti com a cabeça.
- De vez em quando eu paro e penso que ela nunca vai falar isso, sabe? Isso nunca vai acabar e eu que um ano é pouco. – Ela apertou minha mão.
- Um dia de cada vez, irmãozinho. Primeiro vamos encarar o hoje, depois você tem o último jogo do Pirlo, quem sabe ela não vai? – Suspirei.
- Seria muito bom para ser verdade, mas acho que não... Acho que eu a vi pela última vez e não quis acreditar.
- Da última eu chequei, vocês ainda moram na mesma rua. – Dei um curto sorriso.
- Ela é incrivelmente boa em fugir da própria casa, sabia? – Rimos juntos.
- O que eu quis dizer... – Sorri. – É que não tem como ficar triste para sempre, uma hora as coisas vão voltar ao normal e você vai conseguir raciocinar melhor, vocês podem até se encontrar por aí...
- Te contei que torço para Juve e o PSG cair no mesmo grupo na Champions? – Ela riu fracamente.
- Isso é possível? – Ela perguntou.
- Não na primeira fase. – Suspirei. – Mas quem sabe depois?
- Ah, irmãozinho! – Ela me abraçou apertado. – Você já está pensando no ano que vem. – Rimos juntos. – Eu queria tanto falar “eu te avisei”, mas... – Ri fracamente. – Eu não consigo, eu vejo o quanto você está sofrendo.
- Agradeço por isso, já está sendo difícil o suficiente. – Ela deu um beijo em meu rosto.
- Vamos tornar mais fácil, então...
- Gigi? – Ergui o rosto, franzindo o olho para a pessoa que entrava na sala. – Sou eu, Chiello.
- Ei! – Falei.
- Te espero lá fora. – Guendy disse, me dando um beijo na bochecha antes de sair.
- Eu tenho que ir, cara. – Ele disse.
- Já? Que horas são? Estou há tanto tempo aqui? – Apertei o celular, vendo que era pouco depois da meia-noite.
- Não, nem é! É só que... – Ele suspirou. – Não surta, ok?! Mas eu prometi te ajudar. – Franzi a testa.
- O quê? Por quê? O que aconteceu? – Perguntei e ele suspirou.
- Barza mandou mensagem, a null exagerou um pouco na bebida e eu vou lá dar uma força.
- O QUÊ? – Me levantei rapidamente. – Eu vou contigo!
- Gigi! – Ele me segurou pelos ombros. – Você vai ficar!
- Ela já fez isso antes, Chiello! Eu não vou ficar bem se eu não saber como ela está. – Falei firme.
- Ela está bem. – Ele mexeu no celular, virando-o para mim e vi uma foto de null dormindo. – Ela vomitou, ela comeu, tomou remédio e dormiu. – Neguei com a cabeça, pegando o celular da sua mão, vendo-a dormir no canto de sua enorme cama de casal.
- Ah, cara, de novo não! – Suspirei.
- A família dela está com ela, eu só vou dar uma força, você fica aqui!
- Eu não consigo nem sair daqui na minha própria festa, tem três mil pessoas e eu não conheço nem a metade, isso não era para estar acontecendo.
- É, mas está! Você sabia que seria difícil, agora vamos até o fim.
- Eu sabia que seria difícil, mas puta que pariu! – Falei firme. – Eu já chorei tudo o que tinha para chorar, null tentando entrar em coma alcóolico de novo, você sabe a última vez que ela fez isso? Pelo menos que eu soube? Quando ela descobriu que não poderia ter filhos. – Falei firme. – Ela praticamente tentou se matar pela dor que aquilo causou nela, se ela tentou de novo, por minha culpa!
- Gigi! Gigi! Se acalma! – Ele disse. – Está tudo bem! – Ele me segurou. – Eu vou lá e te mando outra foto dela, não vai lá, não vai fazer ela se sentir melhor. – Suspirei. – Passou! Agora olha para frente e foca!
- Como eu vou conseguir focar assim?
- Eu não sei! Mas ninguém pediu para isso estar acontecendo, nem você! Mas, de alguma forma, você conseguiu contornar essa situação por ela, agora vamos até o fim. – Senti a respiração acelerada e bufei. – Vai ficar tudo bem.
- Você promete me dar notícias? – Perguntei.
- É! Eu mando uma mensagem assim que chegar lá! – Ele disse firme.
- Isso não é justo. Ela está fazendo isso por minha culpa.
- Gigi, não adianta voltar a isso, por favor. – Suspirei. – Não queria te contar, mas achei que precisasse saber.
- Dio! Se ela está assim agora, imagina daqui um ano...
- Ninguém fica triste para sempre...
- Eu sei, mas ela vai me odiar! – Falei.
- Beh, ódio e amor sempre estiveram ligados, não? – Ri fracamente. – Vai dar certo. – Suspirei.
- Me mantenha informado.
- Tá! – Ele disse firme. – Bem, me acompanha até lá fora. – Ele esticou a mão e segurei-a, sentindo-o me puxar para cima.
- Eu não deveria ter aceitado isso. Eu não deveria ter inventado isso.
- Beh, do contrário você continuaria preso a Ilaria e sem esperança de reconquistar seu verdadeiro amor. Entre as opções, essa foi a melhor.
- Só espero que valha à pena. – Segui pelos corredores, saindo do camarote em que eu estava escondido atrás do palco.
- Ei, não foi você que disse que esperava por mais 17 anos se fosse necessário? – Ele disse, me fazendo rir.
- E espero! Só não quero realmente esperar mais 17 anos, eu vou estar com quase 60... – Ele riu fracamente.
- Beh! Uma coisa de cada vez, né?! Espera até os 41?
- E eu tenho lá outra escolha? – Falei, ouvindo-o rir.
- Ah, finalmente apareceu! – Vi Ilaria assim que sair. – Achei que fosse se esconder durante a festa inteira.
- Cala a boca! – Falei, vendo-a arregalar os olhos e abracei Chiello. – Me mantenha informado.
- Pode deixar! – Ele disse e seguiu em frente.
- Vem comigo! – Falei para Ilaria, puxando sua mão com força e subi os poucos degraus que davam para o palco. – Podemos parar um pouco? – Pedi para o DJ.
- Ragazzi! Ragazzi! Vamos parar um pouco a música para o motivo de estarmos aqui hoje! – Ele disse. – Gianluigi.
- BUFFON! – O pessoal gritou e peguei o microfone de sua mão, enquanto puxava Ilaria perto de mim. Se fosse para fazer isso do jeito certo, vamos fazer.
- Buona notte, ragazzi! – Falei. – Quero agradecer a todos que vieram aqui essa noite! Para esse dia tão especial para mim! Eu e minha família não podíamos estar mais felizes com todo o carinho de vocês... – Senti minha garganta arder com o feito. – Não vou me alongar muito, a noite é uma criança, mas quero agradecer cada um de vocês por tudo o que fizeram por mim, pelo apoio, amizade, por tudo. – Ouvi os aplausos, me fazendo sorrir.
- É isso? – Ilaria perguntou.
- É! – Sorri, entregando o microfone de volta para o DJ. – Grazie. – Virei para Ilaria novamente. – Agora vamos dançar? Aproveitar seus últimos momentos de glória?
- Você realmente acha que vai se livrar do nosso acordo?
- Ah, não. Dele não, mas de você sim! – Dei um beijo em sua cabeça e estiquei a mão para ela. – Você vem ou não? – Ela bufou e segurou minha mão.
Capitolo centosette
Estate 2018
Lei
16 de junho de 2018
- Ei, alguém resolveu aparecer! – Sorri quando Pavel apareceu na tela.
- Oi, desculpa o sumiço! – Falei e ele sorriu.
- Parece que você está melhor! – Ele disse e ri fracamente.
- Beh... – Ponderei com a cabeça. – Barza me arrastou para Grécia, é um lugar bem bonito. – Ele sorriu. – Me desapeguei um pouco de internet e celular...
- E você está bem? – Ele perguntou e apoiei o cotovelo na mesa, mexendo em meus cabelos.
- Um dia de cada vez. – Suspirei. – Queria falar contigo e com o Fabio sobre algumas ideias de transferência.
- Já está pensando nisso? – Ri fracamente.
- Eu preciso me ocupar. – Sorri. – Quer marcar depois?
- Não, pode falar! – Ele disse. – Estava vendo o jogo.
- Ah, eu estou também, Mario está jogando... – Ergui o olhar para a televisão do restaurante do hotel e levei meu olhar para atrás dele, vendo o horizonte, onde o sol tinha acabado de se pôr. – Beh, nós vamos precisar compensar em alguns lugares. Para começar o de goleiro...
- Sim, não sei se o Allegri confia tanto no Pinso para tê-lo como segundo goleiro.
- Foi o que eu imaginei também, por isso estava pensando no Perin. – Falei, pegando meu copo e dando um gole no drink.
- Do Genoa? – Ele perguntou.
- Sim, eu tenho observado-o há um tempo, o estilo dele me lembra um antigo goleiro que você conhece. – Ele riu fracamente.
- Beh, você sabe mais de goleiros do que eu, mas acho que ele é um bom nome, não?
- Tinha a opção do Alisson da Roma, mas não para segundo goleiro.
- Você confia no Tek? – Ele perguntou.
- Beh... – Ponderei com a cabeça. – Ele jogou 21 vezes, manteve 14 clean sheet, isso é ótimo, além de que ele foi treinado pelo Gigi e pelo Filippi e confio nos dois cegamente. – Ele assentiu com a cabeça. – E, também, temos um contrato para obedecer... – Ele riu fracamente.
- E o Tek está bem empolgado para pegar a número um, pelo que eu vi nas entrevistas dele...
- Não o julgo, ele tem um peso enorme nas costas, mas vale a chance. Uma hora ou outra precisaremos seguir em frente e, por bem ou mal, chegamos. – Ele assentiu com a cabeça.
- Beh, confio cegamente em você nisso. O que mais você tem? – Ele perguntou.
- Vamos ver... Pipita!
- Oh! – Ele disse e suspirei.
- É, ele deu uma decaída na última temporada, mas o Milan está interessado e talvez pode ser uma boa para um empréstimo e ver se ele melhora antes de colocá-lo de volta a Juve?
- E você tem um plano B para ele?
- Beh, levando em conta que temos Paulo, Douglas, Mario e Fede, não é como se precisássemos de mais alguém...
- Mas... – Ele disse e franzi a testa.
- Eu talvez tenha feito uma cagada. – Falei, mordendo o lábio inferior.
- O que você fez, null?
- Entrei em contato com o Cristiano Ronaldo.
- O QUÊ? – Ele gritou e puxei o fone da orelha, afastando-o alguns segundos antes de colocá-lo de novo.
- É! Eu estava triste, irritada, querendo confrontar o Gigi pela saída e acabei mandando um e-mail para o agente dele no meio da raiva. Sabe, a ideia de esfregar na cara do Gigi que podemos ganhar uma Champions sem ele...
- Que coração peludo, null! – Ele disse e ri fracamente.
- Eu sei, eu não lembrava mais disso, eu estava bêbada... – Suspirei.
- Mas... – Ele disse.
- Ele respondeu.
- O quê? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- É! – Mordi o lábio inferior. – E parece que existe um interesse mútuo... – Falei devagar.
- Cristiano Ronaldo quer vir para Juve? – Ele falou.
- Sim! E eu não sei realmente se isso é uma boa ideia, mas...
- ISSO É UMA ÓTIMA IDEIA! – Ele disse animado. – Andrea vai amar! – Ele disse.
- É, mas temos vários problemas monetários para isso, Pavel. O cara tem um salário de 40 milhões, o Real está colocando valor mínimo de 90 milhões só de transferência. A gente não tem como aguentar isso a longo prazo. – Suspirei.
- E patrocínios? – Ele disse.
- Eu não acredito que você está realmente cogitando isso...
- Você que mandou e-mail!
- Eu estava bêbada! – Falei firme. – Solitária e abandonada. – Ele riu fracamente.
- Acho que se ele demonstrou interesse, precisamos falar com os acionistas majoritários e votar, da mesma forma de sempre... – Ri fracamente.
- Eu me achei doida em cogitar isso, mas você está pior do que eu. – Ele riu fracamente.
- Beh, vamos ver, que tal? – Ele disse.
- Se a gente fizer isso, Pavel... Você sabe que muita coisa vai mudar, não sabe?
- Sei! – Ele disse. – Mas quem sabe? – Ele deu de ombros e ergui o olhar, vendo Barza andando pelo lobby do hotel. – A gente ganha só em patrocínios e venda de materiais...
- Eu tenho que ir, nos falamos melhor depois, pode ser?
- Claro, vai lá! Divirta-se!
- Você também. – Sorri antes de encerrar a ligação e tirei o fone da orelha, vendo Barza vir em minha direção. – Ei, achei que não te veria mais hoje. – Ele riu fracamente, se sentando no banco em frente ao meu.
- Ah, sei lá... – Ele disse.
- Eu te vi com aquela mulher... – Ele riu envergonhado. – Qual é, Barza. Acho que não precisamos ter vergonha desse tipo de coisa entre nós.
- Eu sei, é só... – Ele deu de ombros. – Eu não sou o tipo de cara que tem sexo casual... – Rimos juntos. – É bom, relaxa, mas eu não faço a mínima ideia do que fazer depois. – Gargalhei, jogando a cabeça para trás.
- Beh, se ela gostou, ela vai deixar o número e querer repetir, você pode querer ou não, só deixar claro que é só com esse interesse.
- Como você faz? – Ele disse e franzi a testa. – Eu te vi também, null. Não hoje, mas... – Ele disse e ri fracamente.
- Eu... – Ri fracamente. – Você vai rir.
- Não, prometo! Fala! – Ele disse.
- Eu penso que é o Gigi. – Dei de ombros e ele gargalhou alto, me fazendo negar com a cabeça. – É ridículo, eu sei, mas é ridículo eu ao menos tentar ter outra experiência, porque nada é parecido com ele, então eu acabo chorando no meu quarto pelo sexo ruim e pela falta dele... – Gargalhamos juntos.
- Ok, ok! Eu acho que estou melhor, então! – Ele disse sorrindo. – Mas como você está? Vi que pegou o notebook de novo.
- Voltando a vida devagar, mas não pesquisei sobre ele, nem nada. Só comecei a trabalhar de novo, preciso repor alguns nomes importantes... – Suspirei.
- É estranho, né?! – Ele disse. – Pensar em uma nova temporada sem Gigi, sem Lich, sem Asa...
- Preciso falar com o Claudio também...
- Já deve ter capotado. – Ele disse e neguei com a cabeça.
- Não agora, só... Talvez vamos perder dois meias e um que fazia meia e defesa, se o Marchisio sair também, eu vou precisar compensar.
- Ah, mas tem o Sami, Blaise, Mira, Rodrigo...
- Sim, Allegri talvez queira trazer um pessoal da base e isso inclui meu irmão...
- É, está feita...
- Mesmo assim. Repor lendas é horrível... – Suspirei.
- Vai dar certo, null! Confia. – Ele apoiou a mão na minha. – O que está bebendo? Aperol?
- É, mas comecei agora.
- Aceita algo para comer? – Ele perguntou.
- Vai passar sua noite comigo? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Beh, melhor com uma amiga do que com um encontro estranho. – Rimos juntos.
- Deixo você escolher, mas eu quero um prato de verdade, não comi nada ainda. – Ele riu fracamente, pegando o cardápio.
- GOL! – O pessoal à nossa volta gritou e virei para a televisão, vendo a Croácia comemorando o que pareceu ser um gol contra da Nigéria.
- Vendo o Mario?
- Sim! – Falei, rindo fracamente quando nosso atacante apareceu. – Falando em ver, viu o documentário da Netflix? Saiu da segunda parte.
- Ah, não! – Ele disse rindo. – Está bom?
- Não tive coragem de ver o último episódio ainda, bate com os últimos acontecimentos nossos.
- Sinto muito. – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Está tudo bem, um dia eu crio coragem. – Ele assentiu com a cabeça.
- Então, você quer tztziki, gyros, souvlaki, moussaka, dolmades...? – Rimos juntos.
- Barza! – Falei firme. – Grego não é uma língua que eu falo! – Disse e ele gargalhou alto.
- Ok, cadê o cardápio traduzido? – Ele virou o mesmo, rindo comigo.
Lui
20 de junho de 2018
- Ok, você me enganou, Gianluigi...
- Eu não te enganei, Ilaria. Você fez a pior coisa que poderia ter feito na vida. Você ameaçou a única mulher que eu amei de verdade, a única mulher que esteve comigo durante todos esses anos, mesmo eu errando. – Neguei com a cabeça. – Por acaso você viu ela me chantageando de algo só porque eu saí do time?
- Ela é null null, Gigi, dona do dinheiro da Juventus...
- E você é a maior jornalista esportiva da Itália. Não me venha com explicações, isso para mim não passa de ambição! – Falei firme. –Você se mostrou ser uma pessoa suja e nojenta. Nós temos um filho, você tem noção como eu me senti com isso? Já não basta eu ter feito um erro eu ainda tenho isso? – Neguei com a cabeça.
- E eu me senti usada! – Ela disse. – Como você acha que eu me senti?
- Ah, por favor! – Neguei com a cabeça. – Posso não ter feito o certo em te trair, mas você optou pelo lado mais sujo da coisa! – Bufei. – Aposto que você teve interesse nessa gravidez também.
- Gigi... – Nicola falou e eu suspirei.
- Enfim, não vou discutir suas motivações agora. Eu entrei no seu jogo, mas você realmente não pensou que ficaria por isso, achou? – Falei firme e ela bufou. – Tirando a parte da aposentadoria, as coisas continuam exatamente iguais, mas eu vou continuar jogando em Paris. – Falei firme.
- O que você ganha com tudo isso? Fugir de mim? E depois? Sair do seu time do coração...
- Isso não te interessa. – Falei firme. – A gente se encontra dia nove no fechamento de contrato do PSG, depois, se tiver algum evento, eu te chamo. – Falei, dando um curto sorriso. – Apesar de eu não precisar manter isso. – Ela bufou. – Alguma dúvida...
- Isso é injusto! Vou pedir para o meu advogado rever este contrato. – Ela disse e ri fracamente.
- À vontade, senhora, mas o último item é bem específico. – Nicola se referiu sobre a cláusula de multa.
- Seu puttano! – Ela disse firme.
- Se você tivesse feito algo só comigo, Ilaria, a gente não estaria tendo essa conversa, mas você mexeu com meu filho e com a null... – Dei um sorriso, empurrei a poltrona, me levantando. – E eu vou lutar até o fim.
- Não tem fim, Gigi. Mesmo depois que a vigência do contrato acabar, você ainda vai se ver preso em mim! – Ela disse firme.
- É o que vamos ver, mas temos um ano lá! – Sorri, esticando a mão para ela. – Um aperto de mão honesto?
- Você é hipócrita demais! – Ela se levantou.
- Só entrei no seu jogo, só que você se esqueceu que eu sei jogar! – Sorri. – E vou continuar por mais um ano! – Ela revirou os olhos, puxou o contrato da mesa e saiu pela porta.
- Não fique cantando muita vitória, Gigi, você realmente não tem mais nada. – Nicola disse mais baixo quando ela saiu.
- Eu sei, mas eu preciso ter fé que vai dar certo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Beh, e você sabe como resolver isso? – Ele falou.
- Pavel disse que ia conversar com o setor de comunicação e eles iam sugerir um documentário, algo sobre a vida das pessoas, totalmente falso é claro, mas eles vão ver se a conseguem arrastar para algum programa, algo assim antes... – Ele suspirou.
- E se ela não quiser falar? Ou se ela não falar sobre isso?
- Aí você quebra minhas pernas, Nicola, pensamento positivo, por favor. – Ele riu fracamente.
- Beh, boa sorte para você. Me ligue qualquer coisa. – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar. – Cumprimentei-o. – Obrigado por isso, não é da sua alçada, mas...
- Não, mas as motivações são realmente inspiradoras. – Ele disse. – Mostra uma imagem do Gianluigi Buffon que eu nunca tinha visto. – Sorri.
- Beh, durante anos eu lutei contra minhas vontades, fiz sempre o que era certo ou o que era bonito, mas eu nunca fui verdadeiramente feliz, Nicola. Sendo bem honesto. – Suspirei. – Meus momentos de felicidade sempre foram com null, mas ela nunca foi minha de verdade. Era para tudo ser mais fácil, mas a Ilaria optou dessa forma, então decidi lutar. – Ele assentiu com a cabeça. – Pode ser um ano de indecisão, mas pode compensar a vida inteira depois.
- Você é otimista, Gigi. Continue assim... – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu sei que tem muito o que dar errado, mas eu preciso acreditar...
- Vai dar certo! – Ele disse. – A gente se fala.
- Grazie!
- Boa sorte em Paris. – Assenti com a cabeça.
- Espero não demorar para te contatar novamente. – Apertei sua mão.
- Eu também... – Ele disse rindo e saiu da sala.
Suspirei, juntando os papéis e saí da sala também, andando pelo hotel da minha família. Fui até meu quarto e deixei o contrato dentro do cofre. Troquei a roupa por uma sunga, uma bermuda e uma camisa aberta. Calcei os chinelos e saí do quarto, seguindo para a área da piscina do hotel, encontrando minha família e meus filhos mais velhos.
- Oi, filho! – Minha mãe falou.
- Oi, gente! Demorei?
- Não, não! – Elas disseram.
- Está tudo bem? – Minha irmã perguntou.
- Ela não desiste! – Falei, suspirando. – Ela não abaixa a cabeça, queria saber realmente o que ela ganha com isso, não pode ser só fama...
- Isso não te interessa, filho, melhor não ficar pensando muito nisso. Ela é uma mulher muito ruim e hoje eu falo que você e a null deveriam ter aproveitado mais... – Eu e minhas irmãs rimos.
- Falando em null, eu acho que vou embora amanhã ou depois, quero vê-la uma última vez antes de ir para Paris procurar apartamento. – Elas suspiraram.
- Você acha que ela vai querer falar contigo? – Minha mãe perguntou.
- Eu não sei, mas eu preciso tentar. – Suspirei. – Nem se for para eu apanhar novamente. – Rimos juntos.
- Ela está em Turim? – Guendy perguntou.
- Eu vi umas fotos do Marchisio, pelo jeito ela está com eles na Grécia, mas a temporada logo começa também, ela não deve conseguir ficar longe por muito tempo. – Falei, suspirando. – Vou sondar pelo Marchisio ou pelo Barza.
- Trate-a com carinho, filho. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, mãe. – Sorri.
- O que você vai fazer com sua casa em Turim? – Veronica perguntou.
- Nada! Não vou mexer com isso agora, vou alugar um apartamento em Paris e ficar lá, é só por um ano, não quero criar raízes... – Elas assentiram. – E, também, tem os meninos, eles podem ficar lá quando quiserem.
- Vai levá-los de volta para Alena? – Ela perguntou.
- Sim, preciso devolvê-los na segunda, ela quer viajar com eles também, aproveito e vou na null. Depois preciso fazer mala e outras coisas...
- Como você está com isso? – Guendy perguntou e suspirei.
- Estou tentando levar como uma pré-temporada bem longa... – Elas riram. – Mas espero vê-la em algum evento ou...
- Vai dar certo e estaremos contigo. Ao menos uma vez por mês. – Guendy disse.
- É! Já que você optou por ir para Paris, precisamos aproveitar. – Veronica disse, me fazendo rir.
- Vou adorar receber vocês para me acalmarem um pouco. – Elas sorriram. – E eu posso vir também, no começo ano, sei lá...
- Vamos programar, maninho! – Elas sorriram e virei o rosto para a piscina, vendo meus meninos pulando.
- Beh, eu vou para piscina com eles, Ilaria tirou um dos meus meninos, mas ainda sobraram dois! – Me levantei novamente e tirei a camisa.
- Aproveita enquanto pode, meu filho! – Minha mãe disse e inclinei meu corpo para deixar um beijo em sua cabeça antes de me aproximar da beirada.
- Ok, cabe mais um nessa brincadeira? – Me sentei na beirada, colocando as pernas dentro da piscina, sentindo-a gelada. – Ah, meu Deus! – Eles riram.
- Vem, papá! Estamos brincando de Marco Polo.
- Nossa! Faz tempo, hein?! – Virei para meus cunhados.
- Vamos, Gigione, pai precisa participar! – Marco disse e pulei na piscina, sentindo meu corpo arrepiar pela água gelada.
- Ok, mas não está comigo! – Falei, ouvindo eles rirem.
- Está sim! Você que acabou de entrar! – Lou disse.
- Ah, é?! – Brinquei, jogando água nele e ele fez o mesmo junto de Dado e meus sobrinhos para jogar água em mim, me fazendo gargalhar e esconder o rosto dos jatos de água.
Lei
25 de junho de 2018
- Não fa-a-az... – Bufei. – Isso. – Suspirei ao ver Bentancur levar um amarelo e revirei os olhos.
Afundei minha mão direita no balde de pipoca e peguei com a ponta do dedo algumas antes de deixar cair na boca. Gemi quando uma entrou dentro do gesso e sacudi a mão para tirá-la pela quarta ou quinta vez só nesse jogo. Ouvi a animação do narrador se misturar com a campainha e virei o rosto para o lado.
- Pode deixar! – Martha disse, desligando o aspirador e voltei a olhar para meu gesso.
Coloquei o indicador e o médio da outra mão dentro do gesso e consegui puxar o pequeno pedaço de pipoca lá de dentro, colocando-o na boca. Mudei o balde de pipoca para outro lado para evitar fazer a mesma coisa pela milésima vez.
- Quanto está o jogo? – Franzi o rosto e virei para o lado devagar, vendo Gigi apoiado no batente da porta. Fiquei entre sorrir e xingá-lo, ele estava de jeans, camiseta e era possível ver seu bronzeado renovado.
- 2x0 para o Uruguai. – Bufei, voltando a virar para a televisão por alguns segundos. Ele não falou nada, mas até sua respiração estava me irritando. – O que está fazendo aqui? – Falei, virando para ele novamente.
- Vim me despedir.
- Ok, ciao! – Falei, virando para a televisão novamente.
- Por favor, null! Fala comigo! – Ele disse, puxando a porta de correr, fechando-a.
- O que você quer falar que você já não tenha falado? – Ajeitei meu corpo no sofá, subindo uma perna para cima dele. – Você deu as costas para gente e não me fala nem o motivo! Depois de 17 anos, você simplesmente foi embora sem me dar explicações.
- É difícil para mim, mas prometo que você vai entender no futuro. – Ele disse, se sentando no pufe onde antes estava meus pés.
- Não fala comigo como se eu fosse uma criança de cinco anos, Gigi. Me explica! – Falei firme e ele suspirou.
- Não posso, ainda não... – Neguei com a cabeça.
- Você é inacreditável. – Falei, rindo fracamente. – E o que você veio fazer aqui?
- Eu vim...
- Já não basta ter me deixado chorando na porra daquele jogo? Esfregar na minha cara que você escolheu a outra? Ou você prefere o fato de que eu tentei fazer a mesma coisa que eu fiz quando descobri o câncer? – Senti meus olhos arderem pelas lágrimas e ele segurou minhas mãos. – Porque eu fiz... Eu fiz de novo. – Minha voz afinou pelas lágrimas.
- Eu sei! Eu sei! – Ele se aproximou de mim, me abraçando pelos ombros e me trazendo para perto de si. – Chiello me disse e eu quis largar tudo por causa de você. Eu só não vim porque ele não deixou, mas fiquei te sondando a noite toda... – Ele disse contra meu ouvido.
- Eu tentei ir na sua festa... – Falei baixo, descendo minhas mãos para sua cintura. – Mas eu não consegui... – Engoli em seco. – Aí eu fiz besteira, mas a Giulia e o Barza chegaram antes do pior...
- Está tudo bem... – Ele disse baixo, me puxando para o pufe e me abraçando pela cintura e apoiando o pescoço em meu ombro. – Eu posso ir embora, mas eu vou te deixar com vários anjos...
- Eu não quero anjos, Gigi. Pelo amor de Deus! – Bufei. – Eu quero que isso pare de doer. – Puxei a respiração fortemente. – Eu achei que tivesse, eu fiquei quase um mês fora, transei com caras sensacionais, tudo para tentar te esquecer... – Ele riu fracamente.
- Você não precisa me deixar com ciúmes. – Ele disse baixo, dando um beijo em meu ombro e suspirei.
- Não adianta, nada é como você... Nós... – Suspirei. – Mas você não deveria ter vindo aqui, eu estava bem... – Falei baixo. – O que você realmente veio fazer aqui? – Virei o rosto para o lado. – Você não vai me contar o motivo de ir embora e não vai me falar porque diz que está fazendo isso por mim, então por que veio? – Ele apertou os braços em minha cintura, me colocando no meio de suas pernas.
- Eu vim porque eu queria te ver mais uma vez. – Ele disse baixo. – Queria te abraçar assim, sentir seu cheiro, ver seu sorriso... – Engoli em seco. – Passar só mais alguns minutos contigo...
- Você realmente vai me deixar no escuro? – Perguntei baixo, apoiando minhas mãos em cima da dele.
- Prometo que vai valer a pena, meu amor... – Engoli em seco.
- Isso é fodido, Gigi! – Neguei com a cabeça. – Não deveria ser difícil assim.
- Eu sei, e você não tem noção de como me arrependo de todos meus erros e de não poder voltar no tempo para ficar contigo desde 2006... – Ri fracamente. – Mas eu vou compensar.
- Como? – Virei para ele, voltando a me sentar na ponta do sofá, me soltando dele.
- Me dá um ano, só um ano... Prometo que vou voltar alguém melhor. Alguém melhor para mim, para você... – Suspirei.
- Um ano é muita coisa, Gigi.
- O que é um ano quando já perdemos 17? – Neguei com a cabeça.
- Eu sempre te tive, Gigi. De uma forma ou de outra, agora... Sem você... – Ele ergueu a mão para meu rosto, acariciando-o e apertei minha mão em sua barriga, puxando a camisa.
- Eu nunca vou te esquecer, null, mas se você conseguir... – Suspirei, vendo-o sorrir.
- Nunca... – Neguei com a cabeça. – A Juve não vai ser a mesma coisa sem você. – Ele se aproximou novamente.
- Vai sim, porque vai ter você! – Ele apoiou as mãos em minhas pernas, me deixando entre as suas. – Nossa vida sempre foi em volta desse time, amore. Não vai mudar agora. – Ele sorriu. – Eu só preciso resolver isso.
- Argh! Eu te odeio! – Falei firme.
- E eu te amo. – Ele deu um sorriso.
- Você dizer isso não ajuda em nada. – Apertei minhas mãos em sua camisa. – Não quando suas ações dizem outra coisa.
- Eu sei... – Ele suspirou. – Mas eu não podia deixar de dizer mais uma vez... Eu te amo! Eu te amo! – Suspirei. – Ganho mais um abraço, pelo menos?
- Não! – Falei firme, cruzando os braços e ele riu fracamente.
- Vai, por favor... – Ele disse baixo, se aproximando devagar.
- Você não está merecendo... – Ele passou os braços pela minha cintura, se aproximando de mim. – Depois você vai embora e eu fico triste...
- Eu também vou ficar triste, meu amor. – Ele me abraçou e deixei as mãos caírem em seus ombros. – Vou sentir muita sua falta, mas vai ficar tudo bem, eu prometo...
- Eu não acredito em você! – Falei baixo, apoiando a testa em seu ombro.
- Eu queria tanto poder pegar essa dor no seu peito e colocar em mim... – Suspirei.
- Fica! Já dói menos! – Ele acariciou meus cabelos.
- Ah, minha linda... – Ele suspirou. – Eu vou! Só me dá esse tempo. Eu preciso disso... – Engoli em seco.
- Não deve ser fácil para você também, Gigi. Dar as costas ao seu time de sempre... – Me afastei devagar e ele segurou meu rosto.
- Eu só estou pensando em você... – Ele acariciou minha bochecha. – Só quero você bem, o resto eu me ajeito... – Suspirei, sentindo-o passar a mão levemente em minhas lágrimas.
- Eu quero você comigo, só assim vou ficar bem... – Falei baixo, apertando seu peito.
- Vai tudo ficar bem, logo eu estou de volta. – Suspirei, negando com a cabeça.
- Não... – Subi as mãos para sua nuca. – Fica! Fica! – Apertei minha testa na dele fortemente.
- É melhor eu ir... – Ele acariciou meu rosto devagar. – Eu não vou querer ir depois...
- Não vai! – Falei, afastando meu rosto do seu e olhei em seus olhos azuis.
- Eu te amo, null. – Ele disse baixo, acariciando meu rosto. – Nada vai mudar isso.
- Eu não quero dizer... Não assim... – Ele deu um curto sorriso.
- Você não precisa, eu sei! – Ele segurou meu queixo, acariciando-o devagar.
- Me beija... – Pedi baixo, apoiando minha mão em cima da dele e ele aproximou nossos lábios.
- Tem certeza? – Sua voz saiu fraca, roçando nossos lábios.
- Xi... – Falei rapidamente, pressionando meus lábios nos dele, apertando minhas mãos em seus ombros, encontrando-as atrás de sua nuca.
Meu corpo entrou em êxtase quase automaticamente, me fazendo suspirar. Eu não deveria aceitar isso, não deveria cair em seus encantos novamente, mas era mais forte do que eu, tudo era mais forte do que eu quando se tratava de Gianluigi Buffon.
Nossos lábios se movimentaram com lentidão, como se fosse a primeira vez, e sua mão trilhava um caminho devagar em meu rosto, descendo pelo meu pescoço. Minha língua entrou em sua boca, sentindo-a sugar para seus lábios, movimentando-a devagar sobre a minha. Minha mão desceu devagar pelas suas costas, tentando tomar cuidado com o gesso.
Ele apertou as mãos em minha cintura e inclinei meu corpo em sua direção, pisando no chão antes de apoiar a perna na lateral esquerda de seu corpo. Nossos lábios se separaram devagar e ele deu um sorriso antes que eu fizesse o mesmo com a outra perna. Sentei em suas coxas, ficando mais próxima dele e suas mãos subiram pelas minhas costas, adentrando a regata que eu usava.
Deixei minhas mãos caírem de seus ombros, acariciando levemente a parte de trás de sua nuca e ele segurou meu queixo mais uma vez antes de colar nossos lábios. Dessa vez os movimentos ficaram mais rápidos e suas mãos passavam em meu corpo com a mesma pressa, apertando minhas costas e descenda até minha bunda.
Sua mão apertou o shortinho larguinho do pijama e inclinei meu corpo para frente, ficando um pouco mais alta do que ele e suas mãos desceram pelas minhas pernas, acariciando-as devagar, fazendo meu corpo arrepiar quando ele passou pela parte interna da minha coxa.
Nossos lábios se afastaram com curtos selinhos e levei a mão direita para seu rosto, acariciando com a ponta dos dedos e tentei gravar todas as mudanças em seu rosto. As rugas da idade, os diferentes cortes de cabelo, a barba por fazer, os olhos azuis que mudavam o tom conforme a luz, os cabelos e fios grisalhos, todas as transformações de 17 anos que me fazem amá-lo incondicionalmente.
Ele também tinha o mesmo olhar sobre mim e imaginei que estivesse fazendo o mesmo quando deixou um sorriso se formar em seus lábios. Aproximei meus lábios dos dele, colando-os mais uma vez rapidamente e deslizei minha mão sobre seu corpo, procurando a barra de sua camiseta antes de puxá-la para cima. Ele me ajudou sem dificuldades e a jogou para o lado. Ele estava bastante bronzeado, comparado a última vez, e a medalha que eu dei para ele estava em seu peito.
- Você quer continuar com isso, null? – Ele perguntou e sentei em suas pernas novamente.
- Não pergunte, eu não estou pensando direito. – Falei baixo e ele riu fracamente. – Eu só estou com saudades de você...
- Eu também. – Ele disse e afastei meu corpo para trás, me sentando no sofá e deslizando meu corpo pelo mesmo.
- Então, vem cá! – Ele sorriu, vindo em minha direção e inclinou o corpo sobre mim.
Uma perna veio para o meio das minhas e ele deitou o corpo delicadamente sobre o meu, me fazendo contrair a barriga. Seu corpo se ajeitou ao lado do meu, me deixando entre ele e o encosto. Sua mão foi para minha cintura, me puxando para si e nossos narizes se roçaram um pouco antes de ele iniciar mais um beijo.
Levei minha mão direita até sua cintura, apertando-o contra mim e ele deslizou a sua pelo meu corpo, adentrando o short. Ele apertou minha bunda e contraí o quadril em sua direção, erguendo uma perna para sua cintura, deixando meu pé roçar em sua perna devagar. Enquanto nossos lábios se movimentavam devagar, sua mão foi de encontro à minha coxa, apertando-a com firmeza e a outra acariciou minha cintura devagar.
Apertei seu ombro com a ponta dos dedos e me coloquei em cima de seu corpo. Ele sorriu quando o fiz e firmou as mãos em minha cintura. Levei minhas mãos até minha regata e puxei-a para cima, jogando-a para o lado e ele sorriu. Ele apoiou os antebraços no sofá, ficando um pouco mais alto e inclinei meu corpo para o seu, apoiando a mão boa no sofá e a outra deixei apoiada em seu ombro.
Uma mão foi para minha cintura, me apertando contra si e arrepiei quando seus lábios tocaram meu seio, me fazendo morder o lábio inferior. Passei a mão em meus cabelos, jogando-o para o outro lado e ele deu curtos beijos no local antes de começar a sugá-lo com pressa. Acariciei seu cabelo, sentindo meu corpo começar a ter pequenos espasmos com o feito e deixei que alguns suspiros escapassem de meus lábios.
- Minha mão, amore... – Falei baixo, vendo-o se afastar devagar.
- Vamos te deixar confortável. – Ele disse, apertando as mãos em minha cintura antes de se sentar também, me fazendo passar as pernas pela sua cintura e os braços em seus ombros. – Melhor?
- Sim... – Assenti com a cabeça e ele segurou minha nuca, acariciando meu queixo com o polegar antes de colar os lábios nos meus mais uma vez.
Apertei uma mão por cima de seu ombro e a outra por baixo de seu braço, apertando-o fortemente. O beijo começou a criar velocidade, fazendo a respiração sair com força entre eles e mordisquei seu lábio inferior antes de deixá-lo sugar minha língua para dentro de seus lábios. Suas mãos me apertarem com firmeza pela cintura e eu rocei meu quadril no seu, ouvindo-o gemer levemente.
Ergui meu corpo do seu, forçando o roçar de nossos corpos e ele soltou a respiração fortemente, me fazendo sorrir com o efeito que eu ainda tinha sobre ele. Ele passou a mão em minhas coxas, adentrando-as em meu short e minha calcinha por baixo e apertou minha bunda, me fazendo morder seu lábio inferior.
Notei sua ereção roçando em mim devagar e abaixei meu corpo devagar sobre o seu novamente, ouvindo-o arfar baixo. Nossos lábios se afastaram com o feito e abri os olhos devagar, observando seus olhos azuis. Minha mão desceu devagar pelo seu peito, tocando a medalhinha e dei um curto sorriso.
- Vem cá... – Ele disse baixo e suas mãos apertaram minhas pernas antes de me erguer um pouco antes de se levantar.
- Aonde você vai? A Martha está aqui! – Falei baixo, apertando minha mão em seu ombro e ele riu fracamente.
- Temos bastante espaço aqui. Só... – Ele virou o corpo. – Precisamos nos ajeitar. – Ele deitou meu corpo mais próximo do meio do sofá em L e mordi o lábio inferior ao ver sua ereção por cima da calça.
Suas mãos foram para o local e ele abriu o botão e o zíper antes de abaixá-la, me fazendo suspirar com o feito. Sua cueca branca não demorou para ter o mesmo destino e vi seu pênis ereto logo em seguida. Ele se abaixou para tirar as meias e veio em minha direção.
- É possível que você fique melhor com o tempo? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Você sempre foi linda... – Ri fracamente, vendo-o ajoelhar no sofá antes de me puxar pelas pernas. – Mas agora...
- Algumas coisas mudaram... – Sorri, sentindo-o segurar a barra do short e da calcinha, puxando ambas as peças junto.
- Só para melhor... – Ele me puxou contra si, ficando entre minhas pernas e fechei os olhos quando senti sua respiração em minha barriga.
Seus lábios tocaram-na devagar, fazendo sua barba rala roçar no local, causando arrepios pelo meu corpo. Suas mãos apertaram minhas coxas e foram descendo conforme seus lábios desciam pelo meu corpo com curtos beijos ou lambidas. Tombei a cabeça para trás quando senti sua respiração próximo à minha virilha e levei uma mão para sua cabeça e a outra para a almofada mais perto para apertar quando ele lambeu o local.
Suas mãos apertaram minhas panturrilhas e dobrei as pernas, apoiando os pés no sofá e abri as pernas, deixando uma cair no encosto e a outra quase para fora do sofá. Seus lábios roçaram em minha vagina e ele começou a sugar lentamente meu clitóris, me fazendo tombar a cabeça para trás com o feito e deixei curtos suspiros escaparam de meus lábios.
Apertei minhas mãos em seus cabelos com gel, puxando-os lentamente e os movimentos alteravam conforme suas ações ficavam mais fortes ou intensas, fazendo meus olhos literalmente se virarem de excitação. Fazia bastante tempo que isso não acontecia.
Eu realmente não sirvo para sexo casual.
Uma mão sua subiu para meu seio, apertando-o com força e a outra apertou minha coxa. Ele deslizou a língua por entre meus grandes lábios, fazendo meu corpo se contrair e deixei um gemido longo escapar de meus lábios quando ele voltou a sugar meu clitóris. Apertei minha mão em seus cabelos de novo e tombei a cabeça para trás quando ele começou a distribuir sugadas contínuas.
- Ah, Gigi... – Gemi baixo, sentindo a respiração acelerada. – Eu quero você... – Soltei a respiração forte, entreabrindo os olhos. – Eu quero... – Suspirei, tombando a cabeça para trás novamente quando o orgasmo me atingiu. – AH! – Senti meu corpo contrair e a perna fechar devagar e Gigi apertou minhas coxas, fazendo um arrepio passar pelo meu corpo. – Agora! Agora...
Minha respiração saiu falha, mas as carícias de Gigi em minha vagina reduziram. Deixei minha mão cair em minha barriga, sentindo-a contraída e Gigi se afastou de mim por alguns segundos, afundando o sofá conforme ele se movimentava.
Senti suas mãos em minhas pernas novamente e abri os olhos novamente, vendo-o me puxar para perto de si novamente e ele sorriu. Retribuí o sorriso, chamando-o com o dedo e ele inclinou o corpo no meu antes de colar nossos lábios. Levei uma mão até seu rosto, segurando-o pelo queixo e mordi seu lábio inferior quando ele pincelou minha entrada com o pênis, ajeitando-o antes de começar a me penetrar devagar.
- Ah... – Soltei um gemido baixo, deixando minhas mãos caírem em suas costas e apertei-o com a ponta dos dedos, sentindo seu pênis entrar mais apertado devido ao orgasmo anterior.
- Está tudo bem? – Ele perguntou baixo, levando as mãos para minhas costas e abri os olhos, encontrando seus olhos próximos de mim e assenti com a cabeça.
- Sim, está perfeito... – Sorri com o cansaço, segurando seu rosto com as mãos e ele deu um beijo em meus lábios.
- Minha linda. – Ele disse baixo e sorri.
Ele começou a movimentar seu pênis apertado dentro de mim, me fazendo suspirar e mordiscar meus lábios com o feito. Suas mãos me apertaram pelas costas, me erguendo um pouco e apertei minhas mãos em seus ombros. Os movimentos começaram a agilizarem aos poucos, me fazendo suspirar.
Passei as pernas em volta de sua cintura, deslizando minhas pernas na sua e ele inclinou seu corpo mais para frente, voltando meu corpo no sofá. Ele apoiou os braços no macio e fechei minhas mãos em seus punhos, tentando manter os olhos fixos nos seus, mas os movimentos dentro de mim não permitiam.
Quando ficou mais fácil para ele agilizar os movimentos, ele começou a fazer movimentos de vai e vem e meus gemidos começaram a ficar mais altos. Tombei a cabeça para trás, sentindo minha barriga contrair com o orgasmo iminente. Gigi abaixou a cabeça em minha barriga, soltando algumas arfadas mais fortes.
- Mais rápido, amore... – Falei baixo, sentindo minha respiração começar a falhar.
Gigi acelerou mais os movimentos, tirando o pênis quase inteiro antes de me penetrar com força novamente e ele levou as mãos acima da minha cabeça, me segurando pelo antebraço e focou seus olhos nos meus. Os gemidos presos em minha garganta escaparam cada vez mais altos e as estocadas de Gigi pareciam estar em sintonia.
- Vai, Gigi! Vai! – Falei baixo, suspirando, sentindo mais uma, duas, três estocadas. – AH! – Soltei um gritinho, sentindo meu corpo se contrair com o orgasmo e tombar a cabeça para frente antes de cair no sofá novamente. – Ah! Ah!
Gigi se movimentou ainda algumas vezes mais apertado dentro de mim, me fazendo morder os lábios antes de também atingir seu orgasmo. Suas mãos soltaram de meus braços devagar e ele deixou seu corpo cair sobre o meu devagar. Levei minhas mãos em seus cabelos, acariciando-o devagar e Gigi passou a mão em minha barriga, também recuperando o fôlego.
Fechei os olhos por alguns segundos e Gigi, ainda dentro de mim, virou o corpo para o lado, me deixando contra ele e o encosto novamente. Suas mãos foram para a base da minha cintura e ele colou seus lábios nos meus devagar. Abri os olhos novamente, encontrando seus olhos e deixei uma mão cair em seu rosto, me fazendo sorrir.
O beijo foi curto, já que o cansaço me venceu e deixei minha mão cair em sua cintura. Ele passou um braço embaixo de minha cabeça, me apoiando nele e a outra foi para meu rosto, me acariciando devagar.
- Eu sempre vou te amar... – Ele disse baixo, roçando nossos narizes e suspirei, apertando minha mão em seu corpo, puxando-o para mim, querendo aproveitar casa segundo possível dele aqui comigo, pois sabia que logo acabaria.
Lui
25 de junho de 2018
Eu sabia que deveria ter parado antes de tudo quando vi as lágrimas deslizarem pela sua bochecha novamente. Era mais um lacrimejado do que um choro em si, mas a ficha tinha caído para ela e para mim também. Era a última vez que teríamos um momento assim em bastante tempo, como também era a primeira vez em um ano que eu a toquei desse jeito.
Levei minhas mãos para seu rosto, passando o polegar pelas lágrimas, tentando dissipá-las e ela ergueu seus olhos null para o meu. Acariciei seu rosto, sentindo sua mão apoiar sobre a minha e levei meus lábios aos seus mais uma vez. Ela pressionou os lábios nos meus delicadamente e o gosto salgado das lágrimas entrou em contato com a minha língua, me fazendo separar lentamente e colar nossas testas.
Levei minha mão até meu pênis e tirei-o dentro de si, ouvindo-a suspirar devagar e passei as mãos nas laterais de seu corpo, puxando-a para meu peito. Ela apoiou a cabeça em meu peito, deixando a mão com o gesso fazer pequenos desenhos em meu peito e levei minha mão em cima da sua, acariciando-a devagar.
Apoiei a cabeça em uma almofada, ficando um pouco mais alto e ela ergueu o olhar para mim. A mão livre foi para seus cabelos, acariciando sua nuca lentamente e ela alinhou nossos rostos antes de colar nossos lábios por curtos segundos em beijos contínuos, deixando sorrisos se formarem em meu rosto seguidamente.
Eu quase consegui me esquecer do mundo com ela aqui, mas era olhar para a televisão ligada e ver o jogo acontecendo do Mondiale que eu sabia que estávamos na vida real e eu ainda tinha um ano longe dela... Pelo menos um ano. Em compensação, ficar aqui com ela era a melhor coisa que eu podia querer. Só nós dois, aproveitando um ao outro enquanto o mundo podia explodir lá fora.
Suas mãos apertaram em meu peito, como se quisesse nos aproximar mais ainda e deixei minhas mãos cruzarem em suas costas, apertá-la pela cintura e dei um beijo em sua cabeça, ouvindo-a suspirar e fungar.
- Você promete... – Ela disse baixo. – Que tem uma explicação para tudo isso? – Sorri. – Que você não está fazendo mais um joguinho para cima de mim?
- Prometo, amore... – Suspirei. – Isso é para gente! – Dei outro beijo em sua cabeça. – Para ficarmos juntinhos assim em breve... – Ela suspirou, fungando mais uma vez. – Viver nosso amor de verdade, sem precisar dar satisfações para ninguém...
- Você promete? – Ela repetiu e me mexi embaixo dela.
- Olha para mim... – Pedi baixo, acariciando seu rosto, vendo-a erguê-lo e apoiar as mãos em meu peito e o queixo nelas. – Eu prometo! – Falei firme. – Porque não tem outra mulher que me faça sentir assim, feliz, leve, satisfeito em todos os sentidos da palavra. – Ela riu fracamente. – Mas eu fiz muita besteira, amore! E você não tem nada a ver com isso, então não é justo eu te trazer para meus problemas, já temos os nossos, não? – Ela sorriu.
- Bastantes. – Assenti com a cabeça. – Então, para resolvermos os nossos, eu preciso resolver os meus... – Ela confirmou com a cabeça. – Então, não acredite em tudo o que você vir, amore. Só tem uma mulher que eu amo na minha vida, e ela se chama null null. – Ela riu fracamente. – E eu a amo há 17 anos... – Ela suspirou.
- Se você estiver brincando comigo, Gianluigi... – Sorri. – Eu não me importo em quebrar a outra mão ou te impossibilitar de ter filhos... – Fiz uma careta. – Piso de chuteira ainda!
- Ai! – Reclamei, ouvindo-a rir fracamente.
- Não me engana, porque eu não vou ter prazer nenhum em fazer isso. – Acariciei seu rosto.
- Nunca! – Colei meus lábios nos seus. – Isso é real, null! Eu e você. Pode parecer confuso, bagunçado e algumas ações podem ser contraditórias às minhas falas, mas isso é real. – Apertei-a contra mim. – Você é real! E não tem nada mais que eu queira nessa vida do que passar dos 40 para frente contigo. Queria passar dos 25, mas...
- Não volta para trás. – Ela suspirou. – Não podemos, não vale à pena... – Ela suspirou, passando a mão no rosto novamente. – É melhor olhar daqui para frente...
- Um ano! – Pedi, esticando o polegar e ela deu um beijo na ponta dele.
- Eu não quero isso, Gigi. – Ela tombou o corpo para o lado e se sentou no sofá. – Mas eu não tenho escolha.
Suspirei, erguendo meu corpo no sofá e passei minha mão em seu ombro, afastando os cabelos dali e dei um curto beijo. Ela virou o rosto para o lado e sorriu para mim. Apertei um braço na lateral do seu corpo e outro foi até seu rosto, acariciando-o lentamente. Meus lábios encontram os seus mais uma vez e suas mãos foram para meus ombros.
O beijo terminou em um abraço e a trouxe para o meio das minhas pernas novamente, apertando-a pelas costas. Ela se sentou em minha coxa, virando as pernas para dentro e levei minha mão até suas pernas, apertando-a próximo de mim enquanto sua mão acariciava meu peito com a medalhinha que ela deu.
Fechei meus olhos, apoiando minha cabeça na sua e deixando curtos beijos em seus cabelos enquanto as mãos acariciavam seu corpo devagar. Um grito de gol na televisão me distraiu, mas não importava quem havia feito gol em quem, só queria aproveitar mais alguns minutos com ela.
- É melhor... – null disse fraco, soltando seus braços. – É melhor você ir. – Ela passou as mãos nos olhos, respirando fundo.
- null...
- Não vai ficar melhor do que isso, Gigi. – Ela saiu do meu colo, pulando de volta para o sofá e suspirei. – Por favor, só vai...
A observei procurar suas peças de roupas e as minhas ela jogou em minha direção. Ela vestiu a calcinha, depois a blusa, enquanto eu fiquei observando-a. Soltei um suspiro, vendo-a se sentar no centro do sofá novamente e suspirei.
- Posso usar o banheiro? – Perguntei e ela indicou a porta interna.
- Tem ali! – Ela disse e peguei minhas roupas, seguindo por onde ela indicou.
Uma porta indicava a academia e a outra um banheiro, entrei no mesmo e fechei a porta. Me sentei no vaso sanitário, me livrando da camisinha e observei-a por alguns segundos, me fazendo abanar com a cabeça em seguida. Fazia um ano, eu estou triste, ela também, eu não podia exigir uma grande performance, né?!
Liguei a torneira, deixando um pouco de água cair em minhas mãos e em minha nuca. As lágrimas vieram automaticamente e respirei fundo antes de jogar mais água em meu rosto, tentando controlar. Seria difícil, seria uma merda, mas eu preciso aguentar, por ela. Por ela! Aguentar as merdas da Ilaria pelo menos até tudo acabar... Pena que podia ser um mês ou um ano, só dependia de null. E de uma forcinha extra.
Passei as mãos no rosto novamente e puxei a toalha para secar o rosto. Vesti minha roupa, tentando deixar a blusa menos amassada, mas eu iria para casa mesmo. Me encarei no espelho mais uma vez e respirei fundo. Saí do banheiro e encontrei null da mesma forma que antes, mas abraçada ao balde de pipoca e colocando uma pipoca de cada vez na boca.
- Eu vou... – Falei, coçando a nuca e ela suspirou.
- In bocca al lupo. – Ela disse, sem tirar os olhos da televisão e pressionei os lábios.
- Eu te amo. – Falei baixo e ela ergueu seu olhar para mim novamente e já vi mais lágrimas neles. – Não se esqueça nunca disso... – Ela assentiu com a cabeça, passando a mão nos olhos.
- Vai! – Ela disse. – Por favor...
Suspirei, assentindo com a cabeça e andei para perto dela mais uma vez para deixar um beijo em sua cabeça. Observei seus olhos mais uma vez e suspirei, negando com a cabeça. Não era a melhor forma, mas eu queria guardar essa imagem em minha cabeça, pois esperava que fosse a última vez que ela chorasse por mim. Abri a porta novamente e me forcei a virar o rosto.
- Ciao, Martha! – Acenei para a mesma e ela assentiu com a cabeça. – Eu volto...
- Não a deixe mais triste, por favor... – Ela pediu e suspirei.
- Não, nunca mais. – Engoli em seco e ela assentiu com a cabeça antes de eu abrir a porta e sair pela mesma.
Segui até o carro estacionado na porta e dei a volta no mesmo. Observei sua casa mais uma vez e suspirei antes de entrar. As lágrimas começaram a cair novamente e precisei puxar a respiração fortemente e criar coragem para sair daqui. Só esperava que não fosse para sempre.
- Ei, alguém resolveu aparecer! – Sorri quando Pavel apareceu na tela.
- Oi, desculpa o sumiço! – Falei e ele sorriu.
- Parece que você está melhor! – Ele disse e ri fracamente.
- Beh... – Ponderei com a cabeça. – Barza me arrastou para Grécia, é um lugar bem bonito. – Ele sorriu. – Me desapeguei um pouco de internet e celular...
- E você está bem? – Ele perguntou e apoiei o cotovelo na mesa, mexendo em meus cabelos.
- Um dia de cada vez. – Suspirei. – Queria falar contigo e com o Fabio sobre algumas ideias de transferência.
- Já está pensando nisso? – Ri fracamente.
- Eu preciso me ocupar. – Sorri. – Quer marcar depois?
- Não, pode falar! – Ele disse. – Estava vendo o jogo.
- Ah, eu estou também, Mario está jogando... – Ergui o olhar para a televisão do restaurante do hotel e levei meu olhar para atrás dele, vendo o horizonte, onde o sol tinha acabado de se pôr. – Beh, nós vamos precisar compensar em alguns lugares. Para começar o de goleiro...
- Sim, não sei se o Allegri confia tanto no Pinso para tê-lo como segundo goleiro.
- Foi o que eu imaginei também, por isso estava pensando no Perin. – Falei, pegando meu copo e dando um gole no drink.
- Do Genoa? – Ele perguntou.
- Sim, eu tenho observado-o há um tempo, o estilo dele me lembra um antigo goleiro que você conhece. – Ele riu fracamente.
- Beh, você sabe mais de goleiros do que eu, mas acho que ele é um bom nome, não?
- Tinha a opção do Alisson da Roma, mas não para segundo goleiro.
- Você confia no Tek? – Ele perguntou.
- Beh... – Ponderei com a cabeça. – Ele jogou 21 vezes, manteve 14 clean sheet, isso é ótimo, além de que ele foi treinado pelo Gigi e pelo Filippi e confio nos dois cegamente. – Ele assentiu com a cabeça. – E, também, temos um contrato para obedecer... – Ele riu fracamente.
- E o Tek está bem empolgado para pegar a número um, pelo que eu vi nas entrevistas dele...
- Não o julgo, ele tem um peso enorme nas costas, mas vale a chance. Uma hora ou outra precisaremos seguir em frente e, por bem ou mal, chegamos. – Ele assentiu com a cabeça.
- Beh, confio cegamente em você nisso. O que mais você tem? – Ele perguntou.
- Vamos ver... Pipita!
- Oh! – Ele disse e suspirei.
- É, ele deu uma decaída na última temporada, mas o Milan está interessado e talvez pode ser uma boa para um empréstimo e ver se ele melhora antes de colocá-lo de volta a Juve?
- E você tem um plano B para ele?
- Beh, levando em conta que temos Paulo, Douglas, Mario e Fede, não é como se precisássemos de mais alguém...
- Mas... – Ele disse e franzi a testa.
- Eu talvez tenha feito uma cagada. – Falei, mordendo o lábio inferior.
- O que você fez, null?
- Entrei em contato com o Cristiano Ronaldo.
- O QUÊ? – Ele gritou e puxei o fone da orelha, afastando-o alguns segundos antes de colocá-lo de novo.
- É! Eu estava triste, irritada, querendo confrontar o Gigi pela saída e acabei mandando um e-mail para o agente dele no meio da raiva. Sabe, a ideia de esfregar na cara do Gigi que podemos ganhar uma Champions sem ele...
- Que coração peludo, null! – Ele disse e ri fracamente.
- Eu sei, eu não lembrava mais disso, eu estava bêbada... – Suspirei.
- Mas... – Ele disse.
- Ele respondeu.
- O quê? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- É! – Mordi o lábio inferior. – E parece que existe um interesse mútuo... – Falei devagar.
- Cristiano Ronaldo quer vir para Juve? – Ele falou.
- Sim! E eu não sei realmente se isso é uma boa ideia, mas...
- ISSO É UMA ÓTIMA IDEIA! – Ele disse animado. – Andrea vai amar! – Ele disse.
- É, mas temos vários problemas monetários para isso, Pavel. O cara tem um salário de 40 milhões, o Real está colocando valor mínimo de 90 milhões só de transferência. A gente não tem como aguentar isso a longo prazo. – Suspirei.
- E patrocínios? – Ele disse.
- Eu não acredito que você está realmente cogitando isso...
- Você que mandou e-mail!
- Eu estava bêbada! – Falei firme. – Solitária e abandonada. – Ele riu fracamente.
- Acho que se ele demonstrou interesse, precisamos falar com os acionistas majoritários e votar, da mesma forma de sempre... – Ri fracamente.
- Eu me achei doida em cogitar isso, mas você está pior do que eu. – Ele riu fracamente.
- Beh, vamos ver, que tal? – Ele disse.
- Se a gente fizer isso, Pavel... Você sabe que muita coisa vai mudar, não sabe?
- Sei! – Ele disse. – Mas quem sabe? – Ele deu de ombros e ergui o olhar, vendo Barza andando pelo lobby do hotel. – A gente ganha só em patrocínios e venda de materiais...
- Eu tenho que ir, nos falamos melhor depois, pode ser?
- Claro, vai lá! Divirta-se!
- Você também. – Sorri antes de encerrar a ligação e tirei o fone da orelha, vendo Barza vir em minha direção. – Ei, achei que não te veria mais hoje. – Ele riu fracamente, se sentando no banco em frente ao meu.
- Ah, sei lá... – Ele disse.
- Eu te vi com aquela mulher... – Ele riu envergonhado. – Qual é, Barza. Acho que não precisamos ter vergonha desse tipo de coisa entre nós.
- Eu sei, é só... – Ele deu de ombros. – Eu não sou o tipo de cara que tem sexo casual... – Rimos juntos. – É bom, relaxa, mas eu não faço a mínima ideia do que fazer depois. – Gargalhei, jogando a cabeça para trás.
- Beh, se ela gostou, ela vai deixar o número e querer repetir, você pode querer ou não, só deixar claro que é só com esse interesse.
- Como você faz? – Ele disse e franzi a testa. – Eu te vi também, null. Não hoje, mas... – Ele disse e ri fracamente.
- Eu... – Ri fracamente. – Você vai rir.
- Não, prometo! Fala! – Ele disse.
- Eu penso que é o Gigi. – Dei de ombros e ele gargalhou alto, me fazendo negar com a cabeça. – É ridículo, eu sei, mas é ridículo eu ao menos tentar ter outra experiência, porque nada é parecido com ele, então eu acabo chorando no meu quarto pelo sexo ruim e pela falta dele... – Gargalhamos juntos.
- Ok, ok! Eu acho que estou melhor, então! – Ele disse sorrindo. – Mas como você está? Vi que pegou o notebook de novo.
- Voltando a vida devagar, mas não pesquisei sobre ele, nem nada. Só comecei a trabalhar de novo, preciso repor alguns nomes importantes... – Suspirei.
- É estranho, né?! – Ele disse. – Pensar em uma nova temporada sem Gigi, sem Lich, sem Asa...
- Preciso falar com o Claudio também...
- Já deve ter capotado. – Ele disse e neguei com a cabeça.
- Não agora, só... Talvez vamos perder dois meias e um que fazia meia e defesa, se o Marchisio sair também, eu vou precisar compensar.
- Ah, mas tem o Sami, Blaise, Mira, Rodrigo...
- Sim, Allegri talvez queira trazer um pessoal da base e isso inclui meu irmão...
- É, está feita...
- Mesmo assim. Repor lendas é horrível... – Suspirei.
- Vai dar certo, null! Confia. – Ele apoiou a mão na minha. – O que está bebendo? Aperol?
- É, mas comecei agora.
- Aceita algo para comer? – Ele perguntou.
- Vai passar sua noite comigo? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Beh, melhor com uma amiga do que com um encontro estranho. – Rimos juntos.
- Deixo você escolher, mas eu quero um prato de verdade, não comi nada ainda. – Ele riu fracamente, pegando o cardápio.
- GOL! – O pessoal à nossa volta gritou e virei para a televisão, vendo a Croácia comemorando o que pareceu ser um gol contra da Nigéria.
- Vendo o Mario?
- Sim! – Falei, rindo fracamente quando nosso atacante apareceu. – Falando em ver, viu o documentário da Netflix? Saiu da segunda parte.
- Ah, não! – Ele disse rindo. – Está bom?
- Não tive coragem de ver o último episódio ainda, bate com os últimos acontecimentos nossos.
- Sinto muito. – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Está tudo bem, um dia eu crio coragem. – Ele assentiu com a cabeça.
- Então, você quer tztziki, gyros, souvlaki, moussaka, dolmades...? – Rimos juntos.
- Barza! – Falei firme. – Grego não é uma língua que eu falo! – Disse e ele gargalhou alto.
- Ok, cadê o cardápio traduzido? – Ele virou o mesmo, rindo comigo.
- Ok, você me enganou, Gianluigi...
- Eu não te enganei, Ilaria. Você fez a pior coisa que poderia ter feito na vida. Você ameaçou a única mulher que eu amei de verdade, a única mulher que esteve comigo durante todos esses anos, mesmo eu errando. – Neguei com a cabeça. – Por acaso você viu ela me chantageando de algo só porque eu saí do time?
- Ela é null null, Gigi, dona do dinheiro da Juventus...
- E você é a maior jornalista esportiva da Itália. Não me venha com explicações, isso para mim não passa de ambição! – Falei firme. –Você se mostrou ser uma pessoa suja e nojenta. Nós temos um filho, você tem noção como eu me senti com isso? Já não basta eu ter feito um erro eu ainda tenho isso? – Neguei com a cabeça.
- E eu me senti usada! – Ela disse. – Como você acha que eu me senti?
- Ah, por favor! – Neguei com a cabeça. – Posso não ter feito o certo em te trair, mas você optou pelo lado mais sujo da coisa! – Bufei. – Aposto que você teve interesse nessa gravidez também.
- Gigi... – Nicola falou e eu suspirei.
- Enfim, não vou discutir suas motivações agora. Eu entrei no seu jogo, mas você realmente não pensou que ficaria por isso, achou? – Falei firme e ela bufou. – Tirando a parte da aposentadoria, as coisas continuam exatamente iguais, mas eu vou continuar jogando em Paris. – Falei firme.
- O que você ganha com tudo isso? Fugir de mim? E depois? Sair do seu time do coração...
- Isso não te interessa. – Falei firme. – A gente se encontra dia nove no fechamento de contrato do PSG, depois, se tiver algum evento, eu te chamo. – Falei, dando um curto sorriso. – Apesar de eu não precisar manter isso. – Ela bufou. – Alguma dúvida...
- Isso é injusto! Vou pedir para o meu advogado rever este contrato. – Ela disse e ri fracamente.
- À vontade, senhora, mas o último item é bem específico. – Nicola se referiu sobre a cláusula de multa.
- Seu puttano! – Ela disse firme.
- Se você tivesse feito algo só comigo, Ilaria, a gente não estaria tendo essa conversa, mas você mexeu com meu filho e com a null... – Dei um sorriso, empurrei a poltrona, me levantando. – E eu vou lutar até o fim.
- Não tem fim, Gigi. Mesmo depois que a vigência do contrato acabar, você ainda vai se ver preso em mim! – Ela disse firme.
- É o que vamos ver, mas temos um ano lá! – Sorri, esticando a mão para ela. – Um aperto de mão honesto?
- Você é hipócrita demais! – Ela se levantou.
- Só entrei no seu jogo, só que você se esqueceu que eu sei jogar! – Sorri. – E vou continuar por mais um ano! – Ela revirou os olhos, puxou o contrato da mesa e saiu pela porta.
- Não fique cantando muita vitória, Gigi, você realmente não tem mais nada. – Nicola disse mais baixo quando ela saiu.
- Eu sei, mas eu preciso ter fé que vai dar certo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Beh, e você sabe como resolver isso? – Ele falou.
- Pavel disse que ia conversar com o setor de comunicação e eles iam sugerir um documentário, algo sobre a vida das pessoas, totalmente falso é claro, mas eles vão ver se a conseguem arrastar para algum programa, algo assim antes... – Ele suspirou.
- E se ela não quiser falar? Ou se ela não falar sobre isso?
- Aí você quebra minhas pernas, Nicola, pensamento positivo, por favor. – Ele riu fracamente.
- Beh, boa sorte para você. Me ligue qualquer coisa. – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar. – Cumprimentei-o. – Obrigado por isso, não é da sua alçada, mas...
- Não, mas as motivações são realmente inspiradoras. – Ele disse. – Mostra uma imagem do Gianluigi Buffon que eu nunca tinha visto. – Sorri.
- Beh, durante anos eu lutei contra minhas vontades, fiz sempre o que era certo ou o que era bonito, mas eu nunca fui verdadeiramente feliz, Nicola. Sendo bem honesto. – Suspirei. – Meus momentos de felicidade sempre foram com null, mas ela nunca foi minha de verdade. Era para tudo ser mais fácil, mas a Ilaria optou dessa forma, então decidi lutar. – Ele assentiu com a cabeça. – Pode ser um ano de indecisão, mas pode compensar a vida inteira depois.
- Você é otimista, Gigi. Continue assim... – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu sei que tem muito o que dar errado, mas eu preciso acreditar...
- Vai dar certo! – Ele disse. – A gente se fala.
- Grazie!
- Boa sorte em Paris. – Assenti com a cabeça.
- Espero não demorar para te contatar novamente. – Apertei sua mão.
- Eu também... – Ele disse rindo e saiu da sala.
Suspirei, juntando os papéis e saí da sala também, andando pelo hotel da minha família. Fui até meu quarto e deixei o contrato dentro do cofre. Troquei a roupa por uma sunga, uma bermuda e uma camisa aberta. Calcei os chinelos e saí do quarto, seguindo para a área da piscina do hotel, encontrando minha família e meus filhos mais velhos.
- Oi, filho! – Minha mãe falou.
- Oi, gente! Demorei?
- Não, não! – Elas disseram.
- Está tudo bem? – Minha irmã perguntou.
- Ela não desiste! – Falei, suspirando. – Ela não abaixa a cabeça, queria saber realmente o que ela ganha com isso, não pode ser só fama...
- Isso não te interessa, filho, melhor não ficar pensando muito nisso. Ela é uma mulher muito ruim e hoje eu falo que você e a null deveriam ter aproveitado mais... – Eu e minhas irmãs rimos.
- Falando em null, eu acho que vou embora amanhã ou depois, quero vê-la uma última vez antes de ir para Paris procurar apartamento. – Elas suspiraram.
- Você acha que ela vai querer falar contigo? – Minha mãe perguntou.
- Eu não sei, mas eu preciso tentar. – Suspirei. – Nem se for para eu apanhar novamente. – Rimos juntos.
- Ela está em Turim? – Guendy perguntou.
- Eu vi umas fotos do Marchisio, pelo jeito ela está com eles na Grécia, mas a temporada logo começa também, ela não deve conseguir ficar longe por muito tempo. – Falei, suspirando. – Vou sondar pelo Marchisio ou pelo Barza.
- Trate-a com carinho, filho. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, mãe. – Sorri.
- O que você vai fazer com sua casa em Turim? – Veronica perguntou.
- Nada! Não vou mexer com isso agora, vou alugar um apartamento em Paris e ficar lá, é só por um ano, não quero criar raízes... – Elas assentiram. – E, também, tem os meninos, eles podem ficar lá quando quiserem.
- Vai levá-los de volta para Alena? – Ela perguntou.
- Sim, preciso devolvê-los na segunda, ela quer viajar com eles também, aproveito e vou na null. Depois preciso fazer mala e outras coisas...
- Como você está com isso? – Guendy perguntou e suspirei.
- Estou tentando levar como uma pré-temporada bem longa... – Elas riram. – Mas espero vê-la em algum evento ou...
- Vai dar certo e estaremos contigo. Ao menos uma vez por mês. – Guendy disse.
- É! Já que você optou por ir para Paris, precisamos aproveitar. – Veronica disse, me fazendo rir.
- Vou adorar receber vocês para me acalmarem um pouco. – Elas sorriram. – E eu posso vir também, no começo ano, sei lá...
- Vamos programar, maninho! – Elas sorriram e virei o rosto para a piscina, vendo meus meninos pulando.
- Beh, eu vou para piscina com eles, Ilaria tirou um dos meus meninos, mas ainda sobraram dois! – Me levantei novamente e tirei a camisa.
- Aproveita enquanto pode, meu filho! – Minha mãe disse e inclinei meu corpo para deixar um beijo em sua cabeça antes de me aproximar da beirada.
- Ok, cabe mais um nessa brincadeira? – Me sentei na beirada, colocando as pernas dentro da piscina, sentindo-a gelada. – Ah, meu Deus! – Eles riram.
- Vem, papá! Estamos brincando de Marco Polo.
- Nossa! Faz tempo, hein?! – Virei para meus cunhados.
- Vamos, Gigione, pai precisa participar! – Marco disse e pulei na piscina, sentindo meu corpo arrepiar pela água gelada.
- Ok, mas não está comigo! – Falei, ouvindo eles rirem.
- Está sim! Você que acabou de entrar! – Lou disse.
- Ah, é?! – Brinquei, jogando água nele e ele fez o mesmo junto de Dado e meus sobrinhos para jogar água em mim, me fazendo gargalhar e esconder o rosto dos jatos de água.
- Não fa-a-az... – Bufei. – Isso. – Suspirei ao ver Bentancur levar um amarelo e revirei os olhos.
Afundei minha mão direita no balde de pipoca e peguei com a ponta do dedo algumas antes de deixar cair na boca. Gemi quando uma entrou dentro do gesso e sacudi a mão para tirá-la pela quarta ou quinta vez só nesse jogo. Ouvi a animação do narrador se misturar com a campainha e virei o rosto para o lado.
- Pode deixar! – Martha disse, desligando o aspirador e voltei a olhar para meu gesso.
Coloquei o indicador e o médio da outra mão dentro do gesso e consegui puxar o pequeno pedaço de pipoca lá de dentro, colocando-o na boca. Mudei o balde de pipoca para outro lado para evitar fazer a mesma coisa pela milésima vez.
- Quanto está o jogo? – Franzi o rosto e virei para o lado devagar, vendo Gigi apoiado no batente da porta. Fiquei entre sorrir e xingá-lo, ele estava de jeans, camiseta e era possível ver seu bronzeado renovado.
- 2x0 para o Uruguai. – Bufei, voltando a virar para a televisão por alguns segundos. Ele não falou nada, mas até sua respiração estava me irritando. – O que está fazendo aqui? – Falei, virando para ele novamente.
- Vim me despedir.
- Ok, ciao! – Falei, virando para a televisão novamente.
- Por favor, null! Fala comigo! – Ele disse, puxando a porta de correr, fechando-a.
- O que você quer falar que você já não tenha falado? – Ajeitei meu corpo no sofá, subindo uma perna para cima dele. – Você deu as costas para gente e não me fala nem o motivo! Depois de 17 anos, você simplesmente foi embora sem me dar explicações.
- É difícil para mim, mas prometo que você vai entender no futuro. – Ele disse, se sentando no pufe onde antes estava meus pés.
- Não fala comigo como se eu fosse uma criança de cinco anos, Gigi. Me explica! – Falei firme e ele suspirou.
- Não posso, ainda não... – Neguei com a cabeça.
- Você é inacreditável. – Falei, rindo fracamente. – E o que você veio fazer aqui?
- Eu vim...
- Já não basta ter me deixado chorando na porra daquele jogo? Esfregar na minha cara que você escolheu a outra? Ou você prefere o fato de que eu tentei fazer a mesma coisa que eu fiz quando descobri o câncer? – Senti meus olhos arderem pelas lágrimas e ele segurou minhas mãos. – Porque eu fiz... Eu fiz de novo. – Minha voz afinou pelas lágrimas.
- Eu sei! Eu sei! – Ele se aproximou de mim, me abraçando pelos ombros e me trazendo para perto de si. – Chiello me disse e eu quis largar tudo por causa de você. Eu só não vim porque ele não deixou, mas fiquei te sondando a noite toda... – Ele disse contra meu ouvido.
- Eu tentei ir na sua festa... – Falei baixo, descendo minhas mãos para sua cintura. – Mas eu não consegui... – Engoli em seco. – Aí eu fiz besteira, mas a Giulia e o Barza chegaram antes do pior...
- Está tudo bem... – Ele disse baixo, me puxando para o pufe e me abraçando pela cintura e apoiando o pescoço em meu ombro. – Eu posso ir embora, mas eu vou te deixar com vários anjos...
- Eu não quero anjos, Gigi. Pelo amor de Deus! – Bufei. – Eu quero que isso pare de doer. – Puxei a respiração fortemente. – Eu achei que tivesse, eu fiquei quase um mês fora, transei com caras sensacionais, tudo para tentar te esquecer... – Ele riu fracamente.
- Você não precisa me deixar com ciúmes. – Ele disse baixo, dando um beijo em meu ombro e suspirei.
- Não adianta, nada é como você... Nós... – Suspirei. – Mas você não deveria ter vindo aqui, eu estava bem... – Falei baixo. – O que você realmente veio fazer aqui? – Virei o rosto para o lado. – Você não vai me contar o motivo de ir embora e não vai me falar porque diz que está fazendo isso por mim, então por que veio? – Ele apertou os braços em minha cintura, me colocando no meio de suas pernas.
- Eu vim porque eu queria te ver mais uma vez. – Ele disse baixo. – Queria te abraçar assim, sentir seu cheiro, ver seu sorriso... – Engoli em seco. – Passar só mais alguns minutos contigo...
- Você realmente vai me deixar no escuro? – Perguntei baixo, apoiando minhas mãos em cima da dele.
- Prometo que vai valer a pena, meu amor... – Engoli em seco.
- Isso é fodido, Gigi! – Neguei com a cabeça. – Não deveria ser difícil assim.
- Eu sei, e você não tem noção de como me arrependo de todos meus erros e de não poder voltar no tempo para ficar contigo desde 2006... – Ri fracamente. – Mas eu vou compensar.
- Como? – Virei para ele, voltando a me sentar na ponta do sofá, me soltando dele.
- Me dá um ano, só um ano... Prometo que vou voltar alguém melhor. Alguém melhor para mim, para você... – Suspirei.
- Um ano é muita coisa, Gigi.
- O que é um ano quando já perdemos 17? – Neguei com a cabeça.
- Eu sempre te tive, Gigi. De uma forma ou de outra, agora... Sem você... – Ele ergueu a mão para meu rosto, acariciando-o e apertei minha mão em sua barriga, puxando a camisa.
- Eu nunca vou te esquecer, null, mas se você conseguir... – Suspirei, vendo-o sorrir.
- Nunca... – Neguei com a cabeça. – A Juve não vai ser a mesma coisa sem você. – Ele se aproximou novamente.
- Vai sim, porque vai ter você! – Ele apoiou as mãos em minhas pernas, me deixando entre as suas. – Nossa vida sempre foi em volta desse time, amore. Não vai mudar agora. – Ele sorriu. – Eu só preciso resolver isso.
- Argh! Eu te odeio! – Falei firme.
- E eu te amo. – Ele deu um sorriso.
- Você dizer isso não ajuda em nada. – Apertei minhas mãos em sua camisa. – Não quando suas ações dizem outra coisa.
- Eu sei... – Ele suspirou. – Mas eu não podia deixar de dizer mais uma vez... Eu te amo! Eu te amo! – Suspirei. – Ganho mais um abraço, pelo menos?
- Não! – Falei firme, cruzando os braços e ele riu fracamente.
- Vai, por favor... – Ele disse baixo, se aproximando devagar.
- Você não está merecendo... – Ele passou os braços pela minha cintura, se aproximando de mim. – Depois você vai embora e eu fico triste...
- Eu também vou ficar triste, meu amor. – Ele me abraçou e deixei as mãos caírem em seus ombros. – Vou sentir muita sua falta, mas vai ficar tudo bem, eu prometo...
- Eu não acredito em você! – Falei baixo, apoiando a testa em seu ombro.
- Eu queria tanto poder pegar essa dor no seu peito e colocar em mim... – Suspirei.
- Fica! Já dói menos! – Ele acariciou meus cabelos.
- Ah, minha linda... – Ele suspirou. – Eu vou! Só me dá esse tempo. Eu preciso disso... – Engoli em seco.
- Não deve ser fácil para você também, Gigi. Dar as costas ao seu time de sempre... – Me afastei devagar e ele segurou meu rosto.
- Eu só estou pensando em você... – Ele acariciou minha bochecha. – Só quero você bem, o resto eu me ajeito... – Suspirei, sentindo-o passar a mão levemente em minhas lágrimas.
- Eu quero você comigo, só assim vou ficar bem... – Falei baixo, apertando seu peito.
- Vai tudo ficar bem, logo eu estou de volta. – Suspirei, negando com a cabeça.
- Não... – Subi as mãos para sua nuca. – Fica! Fica! – Apertei minha testa na dele fortemente.
- É melhor eu ir... – Ele acariciou meu rosto devagar. – Eu não vou querer ir depois...
- Não vai! – Falei, afastando meu rosto do seu e olhei em seus olhos azuis.
- Eu te amo, null. – Ele disse baixo, acariciando meu rosto. – Nada vai mudar isso.
- Eu não quero dizer... Não assim... – Ele deu um curto sorriso.
- Você não precisa, eu sei! – Ele segurou meu queixo, acariciando-o devagar.
- Me beija... – Pedi baixo, apoiando minha mão em cima da dele e ele aproximou nossos lábios.
- Tem certeza? – Sua voz saiu fraca, roçando nossos lábios.
- Xi... – Falei rapidamente, pressionando meus lábios nos dele, apertando minhas mãos em seus ombros, encontrando-as atrás de sua nuca.
Meu corpo entrou em êxtase quase automaticamente, me fazendo suspirar. Eu não deveria aceitar isso, não deveria cair em seus encantos novamente, mas era mais forte do que eu, tudo era mais forte do que eu quando se tratava de Gianluigi Buffon.
Nossos lábios se movimentaram com lentidão, como se fosse a primeira vez, e sua mão trilhava um caminho devagar em meu rosto, descendo pelo meu pescoço. Minha língua entrou em sua boca, sentindo-a sugar para seus lábios, movimentando-a devagar sobre a minha. Minha mão desceu devagar pelas suas costas, tentando tomar cuidado com o gesso.
Ele apertou as mãos em minha cintura e inclinei meu corpo em sua direção, pisando no chão antes de apoiar a perna na lateral esquerda de seu corpo. Nossos lábios se separaram devagar e ele deu um sorriso antes que eu fizesse o mesmo com a outra perna. Sentei em suas coxas, ficando mais próxima dele e suas mãos subiram pelas minhas costas, adentrando a regata que eu usava.
Deixei minhas mãos caírem de seus ombros, acariciando levemente a parte de trás de sua nuca e ele segurou meu queixo mais uma vez antes de colar nossos lábios. Dessa vez os movimentos ficaram mais rápidos e suas mãos passavam em meu corpo com a mesma pressa, apertando minhas costas e descenda até minha bunda.
Sua mão apertou o shortinho larguinho do pijama e inclinei meu corpo para frente, ficando um pouco mais alta do que ele e suas mãos desceram pelas minhas pernas, acariciando-as devagar, fazendo meu corpo arrepiar quando ele passou pela parte interna da minha coxa.
Nossos lábios se afastaram com curtos selinhos e levei a mão direita para seu rosto, acariciando com a ponta dos dedos e tentei gravar todas as mudanças em seu rosto. As rugas da idade, os diferentes cortes de cabelo, a barba por fazer, os olhos azuis que mudavam o tom conforme a luz, os cabelos e fios grisalhos, todas as transformações de 17 anos que me fazem amá-lo incondicionalmente.
Ele também tinha o mesmo olhar sobre mim e imaginei que estivesse fazendo o mesmo quando deixou um sorriso se formar em seus lábios. Aproximei meus lábios dos dele, colando-os mais uma vez rapidamente e deslizei minha mão sobre seu corpo, procurando a barra de sua camiseta antes de puxá-la para cima. Ele me ajudou sem dificuldades e a jogou para o lado. Ele estava bastante bronzeado, comparado a última vez, e a medalha que eu dei para ele estava em seu peito.
- Você quer continuar com isso, null? – Ele perguntou e sentei em suas pernas novamente.
- Não pergunte, eu não estou pensando direito. – Falei baixo e ele riu fracamente. – Eu só estou com saudades de você...
- Eu também. – Ele disse e afastei meu corpo para trás, me sentando no sofá e deslizando meu corpo pelo mesmo.
- Então, vem cá! – Ele sorriu, vindo em minha direção e inclinou o corpo sobre mim.
Uma perna veio para o meio das minhas e ele deitou o corpo delicadamente sobre o meu, me fazendo contrair a barriga. Seu corpo se ajeitou ao lado do meu, me deixando entre ele e o encosto. Sua mão foi para minha cintura, me puxando para si e nossos narizes se roçaram um pouco antes de ele iniciar mais um beijo.
Levei minha mão direita até sua cintura, apertando-o contra mim e ele deslizou a sua pelo meu corpo, adentrando o short. Ele apertou minha bunda e contraí o quadril em sua direção, erguendo uma perna para sua cintura, deixando meu pé roçar em sua perna devagar. Enquanto nossos lábios se movimentavam devagar, sua mão foi de encontro à minha coxa, apertando-a com firmeza e a outra acariciou minha cintura devagar.
Apertei seu ombro com a ponta dos dedos e me coloquei em cima de seu corpo. Ele sorriu quando o fiz e firmou as mãos em minha cintura. Levei minhas mãos até minha regata e puxei-a para cima, jogando-a para o lado e ele sorriu. Ele apoiou os antebraços no sofá, ficando um pouco mais alto e inclinei meu corpo para o seu, apoiando a mão boa no sofá e a outra deixei apoiada em seu ombro.
Uma mão foi para minha cintura, me apertando contra si e arrepiei quando seus lábios tocaram meu seio, me fazendo morder o lábio inferior. Passei a mão em meus cabelos, jogando-o para o outro lado e ele deu curtos beijos no local antes de começar a sugá-lo com pressa. Acariciei seu cabelo, sentindo meu corpo começar a ter pequenos espasmos com o feito e deixei que alguns suspiros escapassem de meus lábios.
- Minha mão, amore... – Falei baixo, vendo-o se afastar devagar.
- Vamos te deixar confortável. – Ele disse, apertando as mãos em minha cintura antes de se sentar também, me fazendo passar as pernas pela sua cintura e os braços em seus ombros. – Melhor?
- Sim... – Assenti com a cabeça e ele segurou minha nuca, acariciando meu queixo com o polegar antes de colar os lábios nos meus mais uma vez.
Apertei uma mão por cima de seu ombro e a outra por baixo de seu braço, apertando-o fortemente. O beijo começou a criar velocidade, fazendo a respiração sair com força entre eles e mordisquei seu lábio inferior antes de deixá-lo sugar minha língua para dentro de seus lábios. Suas mãos me apertarem com firmeza pela cintura e eu rocei meu quadril no seu, ouvindo-o gemer levemente.
Ergui meu corpo do seu, forçando o roçar de nossos corpos e ele soltou a respiração fortemente, me fazendo sorrir com o efeito que eu ainda tinha sobre ele. Ele passou a mão em minhas coxas, adentrando-as em meu short e minha calcinha por baixo e apertou minha bunda, me fazendo morder seu lábio inferior.
Notei sua ereção roçando em mim devagar e abaixei meu corpo devagar sobre o seu novamente, ouvindo-o arfar baixo. Nossos lábios se afastaram com o feito e abri os olhos devagar, observando seus olhos azuis. Minha mão desceu devagar pelo seu peito, tocando a medalhinha e dei um curto sorriso.
- Vem cá... – Ele disse baixo e suas mãos apertaram minhas pernas antes de me erguer um pouco antes de se levantar.
- Aonde você vai? A Martha está aqui! – Falei baixo, apertando minha mão em seu ombro e ele riu fracamente.
- Temos bastante espaço aqui. Só... – Ele virou o corpo. – Precisamos nos ajeitar. – Ele deitou meu corpo mais próximo do meio do sofá em L e mordi o lábio inferior ao ver sua ereção por cima da calça.
Suas mãos foram para o local e ele abriu o botão e o zíper antes de abaixá-la, me fazendo suspirar com o feito. Sua cueca branca não demorou para ter o mesmo destino e vi seu pênis ereto logo em seguida. Ele se abaixou para tirar as meias e veio em minha direção.
- É possível que você fique melhor com o tempo? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Você sempre foi linda... – Ri fracamente, vendo-o ajoelhar no sofá antes de me puxar pelas pernas. – Mas agora...
- Algumas coisas mudaram... – Sorri, sentindo-o segurar a barra do short e da calcinha, puxando ambas as peças junto.
- Só para melhor... – Ele me puxou contra si, ficando entre minhas pernas e fechei os olhos quando senti sua respiração em minha barriga.
Seus lábios tocaram-na devagar, fazendo sua barba rala roçar no local, causando arrepios pelo meu corpo. Suas mãos apertaram minhas coxas e foram descendo conforme seus lábios desciam pelo meu corpo com curtos beijos ou lambidas. Tombei a cabeça para trás quando senti sua respiração próximo à minha virilha e levei uma mão para sua cabeça e a outra para a almofada mais perto para apertar quando ele lambeu o local.
Suas mãos apertaram minhas panturrilhas e dobrei as pernas, apoiando os pés no sofá e abri as pernas, deixando uma cair no encosto e a outra quase para fora do sofá. Seus lábios roçaram em minha vagina e ele começou a sugar lentamente meu clitóris, me fazendo tombar a cabeça para trás com o feito e deixei curtos suspiros escaparam de meus lábios.
Apertei minhas mãos em seus cabelos com gel, puxando-os lentamente e os movimentos alteravam conforme suas ações ficavam mais fortes ou intensas, fazendo meus olhos literalmente se virarem de excitação. Fazia bastante tempo que isso não acontecia.
Eu realmente não sirvo para sexo casual.
Uma mão sua subiu para meu seio, apertando-o com força e a outra apertou minha coxa. Ele deslizou a língua por entre meus grandes lábios, fazendo meu corpo se contrair e deixei um gemido longo escapar de meus lábios quando ele voltou a sugar meu clitóris. Apertei minha mão em seus cabelos de novo e tombei a cabeça para trás quando ele começou a distribuir sugadas contínuas.
- Ah, Gigi... – Gemi baixo, sentindo a respiração acelerada. – Eu quero você... – Soltei a respiração forte, entreabrindo os olhos. – Eu quero... – Suspirei, tombando a cabeça para trás novamente quando o orgasmo me atingiu. – AH! – Senti meu corpo contrair e a perna fechar devagar e Gigi apertou minhas coxas, fazendo um arrepio passar pelo meu corpo. – Agora! Agora...
Minha respiração saiu falha, mas as carícias de Gigi em minha vagina reduziram. Deixei minha mão cair em minha barriga, sentindo-a contraída e Gigi se afastou de mim por alguns segundos, afundando o sofá conforme ele se movimentava.
Senti suas mãos em minhas pernas novamente e abri os olhos novamente, vendo-o me puxar para perto de si novamente e ele sorriu. Retribuí o sorriso, chamando-o com o dedo e ele inclinou o corpo no meu antes de colar nossos lábios. Levei uma mão até seu rosto, segurando-o pelo queixo e mordi seu lábio inferior quando ele pincelou minha entrada com o pênis, ajeitando-o antes de começar a me penetrar devagar.
- Ah... – Soltei um gemido baixo, deixando minhas mãos caírem em suas costas e apertei-o com a ponta dos dedos, sentindo seu pênis entrar mais apertado devido ao orgasmo anterior.
- Está tudo bem? – Ele perguntou baixo, levando as mãos para minhas costas e abri os olhos, encontrando seus olhos próximos de mim e assenti com a cabeça.
- Sim, está perfeito... – Sorri com o cansaço, segurando seu rosto com as mãos e ele deu um beijo em meus lábios.
- Minha linda. – Ele disse baixo e sorri.
Ele começou a movimentar seu pênis apertado dentro de mim, me fazendo suspirar e mordiscar meus lábios com o feito. Suas mãos me apertaram pelas costas, me erguendo um pouco e apertei minhas mãos em seus ombros. Os movimentos começaram a agilizarem aos poucos, me fazendo suspirar.
Passei as pernas em volta de sua cintura, deslizando minhas pernas na sua e ele inclinou seu corpo mais para frente, voltando meu corpo no sofá. Ele apoiou os braços no macio e fechei minhas mãos em seus punhos, tentando manter os olhos fixos nos seus, mas os movimentos dentro de mim não permitiam.
Quando ficou mais fácil para ele agilizar os movimentos, ele começou a fazer movimentos de vai e vem e meus gemidos começaram a ficar mais altos. Tombei a cabeça para trás, sentindo minha barriga contrair com o orgasmo iminente. Gigi abaixou a cabeça em minha barriga, soltando algumas arfadas mais fortes.
- Mais rápido, amore... – Falei baixo, sentindo minha respiração começar a falhar.
Gigi acelerou mais os movimentos, tirando o pênis quase inteiro antes de me penetrar com força novamente e ele levou as mãos acima da minha cabeça, me segurando pelo antebraço e focou seus olhos nos meus. Os gemidos presos em minha garganta escaparam cada vez mais altos e as estocadas de Gigi pareciam estar em sintonia.
- Vai, Gigi! Vai! – Falei baixo, suspirando, sentindo mais uma, duas, três estocadas. – AH! – Soltei um gritinho, sentindo meu corpo se contrair com o orgasmo e tombar a cabeça para frente antes de cair no sofá novamente. – Ah! Ah!
Gigi se movimentou ainda algumas vezes mais apertado dentro de mim, me fazendo morder os lábios antes de também atingir seu orgasmo. Suas mãos soltaram de meus braços devagar e ele deixou seu corpo cair sobre o meu devagar. Levei minhas mãos em seus cabelos, acariciando-o devagar e Gigi passou a mão em minha barriga, também recuperando o fôlego.
Fechei os olhos por alguns segundos e Gigi, ainda dentro de mim, virou o corpo para o lado, me deixando contra ele e o encosto novamente. Suas mãos foram para a base da minha cintura e ele colou seus lábios nos meus devagar. Abri os olhos novamente, encontrando seus olhos e deixei uma mão cair em seu rosto, me fazendo sorrir.
O beijo foi curto, já que o cansaço me venceu e deixei minha mão cair em sua cintura. Ele passou um braço embaixo de minha cabeça, me apoiando nele e a outra foi para meu rosto, me acariciando devagar.
- Eu sempre vou te amar... – Ele disse baixo, roçando nossos narizes e suspirei, apertando minha mão em seu corpo, puxando-o para mim, querendo aproveitar casa segundo possível dele aqui comigo, pois sabia que logo acabaria.
Eu sabia que deveria ter parado antes de tudo quando vi as lágrimas deslizarem pela sua bochecha novamente. Era mais um lacrimejado do que um choro em si, mas a ficha tinha caído para ela e para mim também. Era a última vez que teríamos um momento assim em bastante tempo, como também era a primeira vez em um ano que eu a toquei desse jeito.
Levei minhas mãos para seu rosto, passando o polegar pelas lágrimas, tentando dissipá-las e ela ergueu seus olhos null para o meu. Acariciei seu rosto, sentindo sua mão apoiar sobre a minha e levei meus lábios aos seus mais uma vez. Ela pressionou os lábios nos meus delicadamente e o gosto salgado das lágrimas entrou em contato com a minha língua, me fazendo separar lentamente e colar nossas testas.
Levei minha mão até meu pênis e tirei-o dentro de si, ouvindo-a suspirar devagar e passei as mãos nas laterais de seu corpo, puxando-a para meu peito. Ela apoiou a cabeça em meu peito, deixando a mão com o gesso fazer pequenos desenhos em meu peito e levei minha mão em cima da sua, acariciando-a devagar.
Apoiei a cabeça em uma almofada, ficando um pouco mais alto e ela ergueu o olhar para mim. A mão livre foi para seus cabelos, acariciando sua nuca lentamente e ela alinhou nossos rostos antes de colar nossos lábios por curtos segundos em beijos contínuos, deixando sorrisos se formarem em meu rosto seguidamente.
Eu quase consegui me esquecer do mundo com ela aqui, mas era olhar para a televisão ligada e ver o jogo acontecendo do Mondiale que eu sabia que estávamos na vida real e eu ainda tinha um ano longe dela... Pelo menos um ano. Em compensação, ficar aqui com ela era a melhor coisa que eu podia querer. Só nós dois, aproveitando um ao outro enquanto o mundo podia explodir lá fora.
Suas mãos apertaram em meu peito, como se quisesse nos aproximar mais ainda e deixei minhas mãos cruzarem em suas costas, apertá-la pela cintura e dei um beijo em sua cabeça, ouvindo-a suspirar e fungar.
- Você promete... – Ela disse baixo. – Que tem uma explicação para tudo isso? – Sorri. – Que você não está fazendo mais um joguinho para cima de mim?
- Prometo, amore... – Suspirei. – Isso é para gente! – Dei outro beijo em sua cabeça. – Para ficarmos juntinhos assim em breve... – Ela suspirou, fungando mais uma vez. – Viver nosso amor de verdade, sem precisar dar satisfações para ninguém...
- Você promete? – Ela repetiu e me mexi embaixo dela.
- Olha para mim... – Pedi baixo, acariciando seu rosto, vendo-a erguê-lo e apoiar as mãos em meu peito e o queixo nelas. – Eu prometo! – Falei firme. – Porque não tem outra mulher que me faça sentir assim, feliz, leve, satisfeito em todos os sentidos da palavra. – Ela riu fracamente. – Mas eu fiz muita besteira, amore! E você não tem nada a ver com isso, então não é justo eu te trazer para meus problemas, já temos os nossos, não? – Ela sorriu.
- Bastantes. – Assenti com a cabeça. – Então, para resolvermos os nossos, eu preciso resolver os meus... – Ela confirmou com a cabeça. – Então, não acredite em tudo o que você vir, amore. Só tem uma mulher que eu amo na minha vida, e ela se chama null null. – Ela riu fracamente. – E eu a amo há 17 anos... – Ela suspirou.
- Se você estiver brincando comigo, Gianluigi... – Sorri. – Eu não me importo em quebrar a outra mão ou te impossibilitar de ter filhos... – Fiz uma careta. – Piso de chuteira ainda!
- Ai! – Reclamei, ouvindo-a rir fracamente.
- Não me engana, porque eu não vou ter prazer nenhum em fazer isso. – Acariciei seu rosto.
- Nunca! – Colei meus lábios nos seus. – Isso é real, null! Eu e você. Pode parecer confuso, bagunçado e algumas ações podem ser contraditórias às minhas falas, mas isso é real. – Apertei-a contra mim. – Você é real! E não tem nada mais que eu queira nessa vida do que passar dos 40 para frente contigo. Queria passar dos 25, mas...
- Não volta para trás. – Ela suspirou. – Não podemos, não vale à pena... – Ela suspirou, passando a mão no rosto novamente. – É melhor olhar daqui para frente...
- Um ano! – Pedi, esticando o polegar e ela deu um beijo na ponta dele.
- Eu não quero isso, Gigi. – Ela tombou o corpo para o lado e se sentou no sofá. – Mas eu não tenho escolha.
Suspirei, erguendo meu corpo no sofá e passei minha mão em seu ombro, afastando os cabelos dali e dei um curto beijo. Ela virou o rosto para o lado e sorriu para mim. Apertei um braço na lateral do seu corpo e outro foi até seu rosto, acariciando-o lentamente. Meus lábios encontram os seus mais uma vez e suas mãos foram para meus ombros.
O beijo terminou em um abraço e a trouxe para o meio das minhas pernas novamente, apertando-a pelas costas. Ela se sentou em minha coxa, virando as pernas para dentro e levei minha mão até suas pernas, apertando-a próximo de mim enquanto sua mão acariciava meu peito com a medalhinha que ela deu.
Fechei meus olhos, apoiando minha cabeça na sua e deixando curtos beijos em seus cabelos enquanto as mãos acariciavam seu corpo devagar. Um grito de gol na televisão me distraiu, mas não importava quem havia feito gol em quem, só queria aproveitar mais alguns minutos com ela.
- É melhor... – null disse fraco, soltando seus braços. – É melhor você ir. – Ela passou as mãos nos olhos, respirando fundo.
- null...
- Não vai ficar melhor do que isso, Gigi. – Ela saiu do meu colo, pulando de volta para o sofá e suspirei. – Por favor, só vai...
A observei procurar suas peças de roupas e as minhas ela jogou em minha direção. Ela vestiu a calcinha, depois a blusa, enquanto eu fiquei observando-a. Soltei um suspiro, vendo-a se sentar no centro do sofá novamente e suspirei.
- Posso usar o banheiro? – Perguntei e ela indicou a porta interna.
- Tem ali! – Ela disse e peguei minhas roupas, seguindo por onde ela indicou.
Uma porta indicava a academia e a outra um banheiro, entrei no mesmo e fechei a porta. Me sentei no vaso sanitário, me livrando da camisinha e observei-a por alguns segundos, me fazendo abanar com a cabeça em seguida. Fazia um ano, eu estou triste, ela também, eu não podia exigir uma grande performance, né?!
Liguei a torneira, deixando um pouco de água cair em minhas mãos e em minha nuca. As lágrimas vieram automaticamente e respirei fundo antes de jogar mais água em meu rosto, tentando controlar. Seria difícil, seria uma merda, mas eu preciso aguentar, por ela. Por ela! Aguentar as merdas da Ilaria pelo menos até tudo acabar... Pena que podia ser um mês ou um ano, só dependia de null. E de uma forcinha extra.
Passei as mãos no rosto novamente e puxei a toalha para secar o rosto. Vesti minha roupa, tentando deixar a blusa menos amassada, mas eu iria para casa mesmo. Me encarei no espelho mais uma vez e respirei fundo. Saí do banheiro e encontrei null da mesma forma que antes, mas abraçada ao balde de pipoca e colocando uma pipoca de cada vez na boca.
- Eu vou... – Falei, coçando a nuca e ela suspirou.
- In bocca al lupo. – Ela disse, sem tirar os olhos da televisão e pressionei os lábios.
- Eu te amo. – Falei baixo e ela ergueu seu olhar para mim novamente e já vi mais lágrimas neles. – Não se esqueça nunca disso... – Ela assentiu com a cabeça, passando a mão nos olhos.
- Vai! – Ela disse. – Por favor...
Suspirei, assentindo com a cabeça e andei para perto dela mais uma vez para deixar um beijo em sua cabeça. Observei seus olhos mais uma vez e suspirei, negando com a cabeça. Não era a melhor forma, mas eu queria guardar essa imagem em minha cabeça, pois esperava que fosse a última vez que ela chorasse por mim. Abri a porta novamente e me forcei a virar o rosto.
- Ciao, Martha! – Acenei para a mesma e ela assentiu com a cabeça. – Eu volto...
- Não a deixe mais triste, por favor... – Ela pediu e suspirei.
- Não, nunca mais. – Engoli em seco e ela assentiu com a cabeça antes de eu abrir a porta e sair pela mesma.
Segui até o carro estacionado na porta e dei a volta no mesmo. Observei sua casa mais uma vez e suspirei antes de entrar. As lágrimas começaram a cair novamente e precisei puxar a respiração fortemente e criar coragem para sair daqui. Só esperava que não fosse para sempre.
Capitolo centotto
Stagione 2018/2019
Lei
29 de junho de 2018
O despertador tocou, mas meus olhos já estavam abertos, da mesma forma que estavam abertos há quatro dias. Encontrar Gigi foi a melhor e a pior coisa que podia ter acontecido. A melhor foi que eu o vi mais uma vez, ouvi que ele me ama mais uma vez e senti seus carinhos pela... Última vez? Espero que não, mas era o sentimento agora.
E eu consegui ficar pior do que após o jogo dele. Ter a confirmação de que ele se importa comigo, de que ele me ama, de que ele precisava ficar fora por mim, por algum motivo, só fez minha cabeça entrar mais em parafuso, mas agora eu não tinha mais gregos lindos e sensacionais para me acalmarem pelo menos por alguns minutos.
Não que o sexo fosse bom, amor sempre era mais gostoso e eu só tinha com Gigi, mas eu ao menos me distraía. Além das praias, não de que aproveitar e relaxar fosse muito a minha praia – ba dum ts – eu conseguia realmente esquecer de Turim e relaxar. Agora não. Agora eu precisava voltar a trabalhar e eu ainda não tinha a menor ideia como aguentar uma nova temporada após 17 anos sem Gianluigi Buffon para sorrir para mim, dar risos com segundas, terceiras e quartas intenções ou só ter alguém para encher o saco.
Saí da cama com preguiça e fui direto para o chuveiro, se fosse para começar uma temporada com o pé direito e tentando esquecer Gigi, eu precisaria começar cuidando de mim mesma. Tomei aquele banho completo, longo e delicioso, hidratando meus cabelos e passando creme no corpo após sair e senti o cheiro subir no ar.
Me sequei e enrolei a toalha no peito antes de voltar a andar pelo quarto. Entrei no closet e escolhi a clássica saia preta, uma regata de tecido branca e o clássico scarpin preto. Coloquei uma lingerie e voltei para o banheiro. Pendurei a toalha e fui para a pia. Peguei o secador de cabelo, colocando no máximo e usei a outra mão para fazer uma rápida escova só para abaixar os fios arrepiados.
Peguei minha maquiagem, fazendo a maquiagem diária com base, sombra em tons terrosos, lápis e um batom claro, e voltei para o quarto para vestir minha roupa. Me olhei no espelho de corpo inteiro, passando as mãos na saia e suspirei. Me sentei para calçar os sapatos e logo voltei para o closet para pegar minha bolsa no armário da entrada.
Voltei para o quarto, colocando o celular dentro da bolsa e dei uma última olhada no espelho, chegando meu sorriso e abanei a mão antes de sair. Atravessei o corredor e segui escadas abaixo, sentindo o cheiro de produto de limpeza e procurei Martha com o olhar, encontrando-a na cozinha.
- Buongiorno, Martha! – Falei.
- Buongiorno, signora! – Ela sorriu, descendo os degraus da escada. – A senhora está melhor?
- Não, mas eu não posso ficar triste pelo resto da vida... – Apoiei a bolsa na mesa. – Eu tenho que ir para o time e não sei que horas vou voltar. – Me aproximei da máquina de café, escolhendo uma cápsula e acionei-a, sentindo o cheiro do capuccino perfumar o ambiente.
- Sem problemas, senhora. – Ela disse. – Tem algo especial que quer que eu faça?
- Não, nada de novo. Depois preciso dar uma geral no meu closet, mas eu preciso organizar antes de você entrar lá... – Rimos juntas e peguei um brioche no saco da padaria que ela trazia todas as manhãs. – Já comeu?
- Já sim, grazie. – Ela sorriu e peguei um, dando uma mordida no mesmo antes de ir até a geladeira pegar minha geleia de frutas vermelhas.
- Eu sei que compenso tristeza com fome, mas eu estou realmente com fome hoje. – Bufei, equilibrando o brioche entre os dentes e fiz um pouco de força para abrir o vidro.
- A senhora precisa se alimentar melhor...
- Eu sei! Eu vou voltar para minha dieta, para o meu treino e decidi que eu vou mandar na minha vida agora. – Bufei, passando geleia antes de cada mordida do brioche.
- Faz muito bem. – Ela disse rindo e suspirei.
- Mas nada vez do dia para noite, então vamos devagar. – Falei, suspirando com o gosto da geleia no pão quente.
- O que a senhora preferir.
- Eu posso insistir mais uma vez em você parar de me chamar de senhora? – Virei para ela. – Você é só... Sete anos mais nova do que eu. – Ela riu fracamente.
- É costume, senhora. – Suspirei, revirando os olhos e virei para a xícara com meu capuccino fajuto e dei um gole no mesmo, suspirando quando queimei o lábio superior.
Deixei Martha continuar limpando as altas janelas da cozinha e tomei meu café da manhã em silêncio intercalando mordidas no meu brioche e goles no meu capuccino. Voltei para meu quarto só para escovar os dentes antes de pegar a bolsa e sair.
Essa temporada iríamos oficialmente para Continassa, mas precisava limpar minha sala, então combinei com Barza e Chiello que renovaríamos o contrato de ambos em Vinovo ainda, então seria uma ótima desculpa para eu criar vergonha na cara e esvaziar o que faltava, além de finalmente me desapegar daqui.
Entrei em Vinovo, vendo-o mais vazio, mas os carros demonstravam que algumas pessoas já estavam aqui. Fiz o caminho de sempre para minha sala e entrei no elevador que estava no térreo, seguindo até o quarto andar. Saí do mesmo e encontrei meus dois meninos ali.
- Ciao, ragazzi! – Eles se distraíram de seus celulares.
- Ei, null! – Eles disseram sorridentes e se levantaram para vir em minha direção.
- Estou atrasada? – Perguntei, abraçando Chiello antes de abraçar Barza.
- Não, são 8:12 ainda. – Chiello disse.
- É, eu estou atrasada... – Falei, rindo fracamente. – Mas eu precisava me recompor.
- Está tudo bem? – Chiello perguntou e suspirei.
- Sim, está! Um dia de cada vez. Voltar aqui me traz algumas emoções...
- Vai oficialmente se mudar para Continassa? – Barza perguntou e chamei-os com a mão, andando pelo corredor.
- Beh, talvez seja a melhor forma de deixar tudo para trás e tentar viver esse ano sem pensar nele em todo e cada momento. – Eles riram fracamente.
- Como agora? – Barza brincou e ri fracamente.
- Um passo de cada vez, Barza, por favor... – Ele riu fracamente. – Então, Chiello, como foram as suas féras? – Abri a porta da minha sala, empurrando-o para dentro.
- Ah, eu fui para Pisa, visitar minha família. Carol acha a Nina muito nova para levar em lugares movimentados. – Ele disse, entrando em minha frente.
- Ah, Chiello, mas ela precisa conhecer as maravilhas da vida. Uma praia, colocar os pés na areia, pelo menos. – Ele riu fracamente e Barza entrou logo em seguida.
- Eu tentei, mas...
- Preferiu não brigar a chefa da família? – Eles riram fracamente e vi ambos parados no meio da sala. – Vocês podem sentar. – Indiquei.
- Eu sei, é só... – Eles indicaram a mesa e franzi a testa ao ver uma caixa de presente no meio da minha mesa.
- Ai... – Suspirei, sentindo meu coração palpitar. – É dele, não é?
- Talvez... – Barza disse e apoiei a bolsa mesa antes de abrir a caixa, encontrando a blusa de seu último jogo e a braçadeira, me falei engolir em seco.
Afastei a braçadeira e puxei a blusa, a verde do kit atual e ela parecia usada, tinha algumas manchas mais escuras, além do cheiro de grama molhada. Virei a mesma e suspirei ao encontrar seu escrito dentro do número um. “Para a mulher da minha vida, a única que está comigo há 17 anos e a única que eu quero para vida inteira. Isso não é um adeus, é um até logo. Eu te amo, Gigi Buffon #1, 19/05/2018”.
Pressionei os lábios, respirando fundo e, embaixo de onde estava a blusa, uma foto nossa. Eu não sabia dizer de quando era essa foto, parecia alguma reunião pré-jogo ou algum aviso. Ele tinha o braço em meus ombros, o queixo apoiado em minha cabeça e eu segurava sua mão do outro lado. Ao nosso lado, com menos desfoque, Dybala e Chiello. Suspirei, pressionando os lábios e virei a foto, vendo sua letra novamente “nossa última valsa juntos, teremos mais momentos assim novamente e, dessa vez, o resultado não vai ser o resultado principal. Eu te amo, Gigi Buffon, 02/06/2017”.
Sorri, vendo que era a foto do Walk Around antes da final da Champions de 2017, a última vez que nós tivemos algo de verdade antes de toda essa bagunça começar. Me liguei rapidamente e deixei tudo na mesa e corri para meu quadro, encontrando uma foto jogada no chão e peguei-a, vendo a de seu aniversário em 2006 e suspirei, apertando-a contra o peito.
- Está tudo bem? – Senti a mão de Barza em meu ombro e suspirei.
- Sim, acho que sim. – Engoli em seco, pendurando a foto direito e virei para ele. – Só... Muitas dúvidas em minha cabeça. – Enfim, vamos lá que eu tenho bastante coisa para fazer hoje. – Suspirei. – Além de vocês, eu preciso firmar cinco contratos do masculino e quatro do feminino. – Voltei para a mesa, colocando tudo dentro da mesma e fechei a caixa.
- Quem tanto vem de interessante? – Chiello perguntou.
- Leonardo Spinazzola da Atalanta, Mattia Perin do Genoa como segundo goleiro, Emre Can do Liverpool, João Cancelo do Valencia e o Moise Kean vai voltar do Verona. – Suspirei.
- Nomes interessantes. – Cada um se sentou em uma cadeira.
- São novatos, mas espero que Allegri faça com proveito, Perin, Cancelo e Can não foram baratos... – Eles riram.
- Pode falar, chefa! Eu ainda sou sua melhor contratação. – Barza disse e sorri.
- Spinazzola veio por 400 mil, mas você ainda é a melhor. – Falei, vendo-o sorrir. – Ok, ragazzi, contratos de dois anos? – Abri minha gaveta.
- Não, nem vem! – Barza disse e Chiello riu. – Eu vou fazer 37 até o fim da temporada, meu nome não é Gianluigi Buffon. – Ele disse firme.
- Você só teve duas lesões leves na temporada passada, Barza, e o Allegri confia muito em você. – Ele bufou.
- Eu sei, mas eu estou velho, null, preciso analisar a cada ano, ou a cada seis meses... – Rimos juntos. – Prometo que analiso melhor lá para fevereiro, março, pode ser? – Bufei, virando para Chiello.
- Eu tenho escolha? – Perguntei.
- Não! – Eles disseram juntos.
- Agora você, Chiello, 33 anos, seis lesões na temporada passada, 81 dias fora, perdeu sete jogos, mas você é o nosso novo capitano... – Ele fechou os olhos envergonhado. – Dois anos? – Ele suspirou.
- Dio! Isso pesou agora. – Ele disse rindo.
- Você sempre foi o capitão dentro e fora de campo, Chiello. Vocês dois, na verdade. Uma braçadeira não muda nada. – Ele assentiu com a cabeça. – Vai dar tudo certo. – Ele suspirou.
- Vamos encarar, não é?! – Sorri.
- Dois anos? – Ele assentiu com a cabeça.
- Se vocês confiam em mim...
- Cegamente! – Falei.
- Então vamos lá! – Ele bateu as mãos e sorri.
- Beh, agora vamos para a parte mais legal? Quanto vocês desvalorizaram?
- Ah! – Eles reclamaram, tombando as cabeças para trás, me fazendo rir.
Lui
Seis de julho de 2018
- Gigi, quando quiser! – Silvano falou e assenti com a cabeça.
Respirei fundo, me olhando no espelho e engoli em seco. Na minha cabeça tudo estava muito confuso ainda, vir para Paris não foi uma escolha com base no melhor time, na melhor equipe ou com chances reais de ganhar uma Champions League, apesar de achar que poderia dar certo de alguma forma. Paris foi escolhida principalmente pela proximidade com Turim. Não que eu pretendesse voltar sempre para lá, o PSG confiou em mim para um projeto e mostrar amor ao antigo clube ou a uma mulher em especial não deveria ser visto com bons olhos por eles, mas não teve nenhum outro motivo de aceitar Paris além desse.
E digo que tive um pouco de arrependimento quando comecei a aprender francês. Mon Dieu, que língua difícil! O inglês eu já achava um bicho de sete cabeças, mas o francês? Gente! Alguém me dá um soco! Mas esperava que seis meses com três horas por dia de aulas me ajudassem a comunicar e falar com meus companheiros. Tirando Verratti, não tinha outros italianos, então ficar na minha língua materna seria impossível.
Mas aqui estamos, testes médicos e assinatura de contrato. Seria estranho fazer esses procedimentos em um lugar que não fosse o J-Medical ou com null presente, mas eu só precisava respirar fundo diversas vezes, olhar nossa foto em minha carteira, apertar a medalhinha que ela me deu e pensar que tudo daria certo. Por ela.
- Ok, vamos lá! – Falei, puxando a camisa para baixo e ele assentiu com a cabeça, indicando a porta.
Eu tinha alugado um apartamento no centro de Paris, próximo à Torre Eiffel, sempre achei esse lugar sensacional e seria bom para eu relaxar um pouco, pena que eu não pensei direito quando escolhi aqui. O lugar, apesar de turístico, era calmo, ficava dentro de um condomínio, então eu conseguiria me manter em segredo aqui, mas igual Vinovo, o CT do PSG também não ficava dentro de Paris, ele ficava há 30 quilômetros em uma cidade chamada Saint-Germain-en-Laye. Apesar de boa parte do percurso ser na estrada, ainda demoramos quase 30 minutos para chegar lá.
O PSG era um time com bastante dinheiro, principalmente pelo seu presidente e maior investidor ser Nasser Al-Khelaïfi, um empresásio e ex-tenista catariano que estava com eles desde 2011. Era praticamente o Agnelli, tirando a parte que o time não era de sua família, ele havia comprado e causado incríveis modificações no time, inclusive monetárias, tanto que não foi muito surpresa quando ele veio com a oferta de quatro milhões. Não serei hipócrita e dizer que neguei, eu aceitei de bom grado, só não esperava que um ano fora fosse ter esse impacto monetário para quem ganhava pouco menos de três na Juve.
Chegamos ao Camp des Loges e tudo era diferente, a começar por não ter fãs na porta. Tudo bem que estávamos nas férias ainda, a temporada começaria na segunda-feira, mas os torcedores nem tinham um espaço para ficar como na entrada de Vinovo. O interno era bem bonito também, assim como Vinovo, o prédio administrativo ficava logo na entrada e os campos eram espalhados pelo local.
- Bonjour. – Um senhor falou assim que saí do carro e eu engoli em seco ao perceber que eu teria que me comunicar em francês a partir de agora. Cadê a null nessas horas?
- Bonjour, bonjour! – Cumprimentei-o e outro homem de óculos ao seu lado.
- Je suir Maurice, il est Marcel… – Ele indicou e cumprimentei o outro sorrindo. – Eu sou diretor geral e ele é nosso assessor de imprensa, viemos te receber. Prefere que falemos devagar? Falar em inglês?
- Está tudo bem... – Falei em francês, rindo fracamente. – Só peço para terem paciência comigo. – Eles sorriram.
- Fique à vontade. – Marcel falou e assenti com a cabeça.
- Vamos entrar? – Maurice indicou e entrei no prédio.
Segui junto de Silvano para dentro, vendo eles me apresentarem o prédio, indicando os espaços e percebi que Maurice era praticamente minha null, mas, diferente da Juve, o diretor geral e a contabilidade faziam o mesmo trabalho. Se funcionasse para eles, tudo bem, mas quem não gostaria de ter uma null em seu time?
- Pode se sentar! – Eles disseram e cumprimentei o fotógrafo e outros dois homens ali, me sentando na cadeira indicada. – Nós recebemos os exames antigos da Juventus, então os exames médicos são feitos depois da assinatura do contrato e já aproveitamos para fazer algumas imagens para nossas redes sociais e anunciar sua chegada, tudo bem? – Demorei um pouco para entender, assentindo com a cabeça.
- Oui, oui! – Falei, rindo fracamente.
- Prefere que eu fale em inglês sobre o contrato? – Maurice perguntou.
- Não, não! Pode falar em francês, preciso praticar. – Falei, vendo-o assentir com a cabeça.
- É um contrato de um ano, salário de quatro milhões com bônus por resultados... – Assenti com a cabeça. – Caso seja do nosso interesse, podemos estender para um segundo ano, mas isso falamos novamente ao final da temporada. – Assenti com a cabeça.
- Está ótimo! – Assenti com a cabeça.
- Bom, então vou pedir para você checar as informações novamente e assinar as duas vias. – Ele disse, girando os papéis em minha frente e suspirei.
Dei uma rápida passada pelas informações em francês no contrato e apertei minha mão algumas vezes sobre a caneta. Nada era como a Juventus e nada seria como a Juventus, talvez o Parma, mas já faz 22 anos que eu fechei com eles e não foram eles que me apresentaram o amor da minha vida, agora eu precisava só respirar fundo e seguir em frente, ficar pensando em null em 90 por cento dos meus dias não saudável e nem traria bons resultados aqui, o que era o plano com eles, eles contam comigo.
- Algum problema? – Maurice perguntou.
- Não, leitura lenta! – Falei, rindo fracamente e sorri. Assinei o contrato, vendo alguns flashes estourados em minha direção e estendi para ele novamente.
- É um prazer te ter conosco, Gianluigi! – Ele disse e apertei sua mão, sorrindo.
- Merci. – Falei, sorrindo.
- Agora vamos te levar para os exames médicos e oficializar isso, tudo bem? – Maurice disse.
- Claro, vamos lá! – Esfreguei uma mão na outra antes de me levantar.
Segui com eles por outra parte do CT, agora a parte esportiva do ambiente e eles tinham o centro médico junto com o treinamento, como era com a Juve antes do J-Medical. Lá um médico me recepcionou, também falando francês e me indicaram para uma sala.
- Você pode trocar de roupa e ficar mais confortável. – Marvel disse e assenti com a cabeça, entrando onde eles indicaram.
Um uniforme de treino do PSG me esperava e respirei fundo. Era tão difícil trocar meu preto e branco pelo azul e vermelho deles... Ou rosa e azul escuro do uniforme, me sentia honestamente traindo a minha Juventus, minha decisão no fim do ano passado e a vontade que eu estava de enfiar a mão na cara de Ilaria veio em cheio, mas eu respirei fundo e vesti a roupa, tentando parecer verdadeiramente empolgado em estar aqui. E eu precisava.
- Que tal? – Saí da sala e eles sorriram.
- Muito bom! – Silvano assentiu em minha direção.
- Esse é Emilien, nosso médico. – Maurice indicou. – Vou deixá-lo com ele e Marcel, depois conversamos mais.
- Claro! Grazie... Merci! – Falei, ouvindo-o rir e ele se afastou.
- Beh, Gigi, italiano? – O médico falou e fiquei surpreso.
- Você fala?
- Sim! Trabalhei alguns anos em Roma, acho que você vai se sentir mais confortável. – Ri fracamente.
- Um pouco, pelo menos no começo... – Ele assentiu com a cabeça.
- É, vamos fazer os exames tradicionais, depois alguns mais específicos e, por último, Marcel vai gravar um vídeo rápido contigo com o uniforme do time e nosso patrocinador de ternos.
- Claro, vamos lá! – Falei, assentindo com a cabeça.
- Você pode tirar sua blusa e se deitar, por favor. – Ele indicou a maca e tirei a blusa, pendurando-a e me deitei na maca.
Os exames foram longos e chatos, os exames básicos, depois os específicos, inclusive ressonância, raio-X, parte óssea, que eu fazia com muito menos frequência, mas era protocolo e eu estava acostumado a fazer isso ao menos duas vezes por ano... Só não com tanto foco assim.
Quando finalizamos tudo, confirmando que estava tudo bem no meu corpo de 40 anos, eles me indicaram para outra sala, agora com Marcel e sua equipe. Agora era a hora que eu renegava todo meu coração bianconero para mudar de uniforme... Por ela! Por ela!
- A ideia é fazer a divulgação da BOSS, nosso patrocínio e aproveitar e já te divulgar como nossa nova contratação. – Marcel dizia mais calmo que Maurice. – Dentro do vestiário tem um uniforme de goleiro dessa temporada, você o vista e, quando sair, você fala algo “sim, ficou bom” e depois pode falar o lema do time que é “ici c’est Paris”. – Assenti com a cabeça.
- Tudo bem.
- Em seguida, vamos te levar para o alfaiate da BOSS e gravamos a outra parte, vai ser quase como se o terno da BOSS virasse o uniforme do PSG. A mesma elegância, classe e tudo mais. – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Claro, claro! Posso ir?
- Claro! Fique à vontade. – Ele indicou o vestiário. – Pegamos suas medidas, é para estar tudo certo. – Ri fracamente.
- Vai estar, o outro uniforme serviu! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
Entrei no vestiário, vendo o uniforme verde limão e me perguntava por que eu sempre fugi dos uniformes com cores fortes, mesmo estando no kit da Juve, e minha resposta sempre era null. Tudo que não a agradava, ela fazia questão de me zoar e eu acabava mudando para internamente querer agradá-la. Mesmo a boina, essa eu fiz para provocar mesmo.
Tirei mais uma vez a calça jeans e a camiseta que eu usava e vesti o uniforme. Ajeitei a gola, escondendo o colar por dentro novamente e me olhei no espelho, mordendo meu lábio inferior. Parecia que outra pessoa estava dentro de mim. Como um irmão gêmeo do mal, ou algo similar.
Imediatamente a frase fino alla fine veio em minha cabeça e ela definia muito do que estava agora. Até o fim. Tudo pela null. Mesmo ter que usar um uniforme que nunca havia sido meu sonho ou vontade. Pior de tudo era aguentar a opinião externa, ouvir sobre o interesse monetário ou a obsessão pela Champions quando tudo não passava de uma forma de eu ficar com a mulher que eu amo para sempre.
- Posso sair? – Perguntei.
- Claro! – Marcel disse.
- Eu já saio e falo? – Perguntei.
- Pode ser! – Eles disseram.
- Só um segundo... – Outro homem falou e ajeitei as mãos nas cortinas. – Ação!
Abri as cortinas, olhando para a câmera. Passei a mão na camisa, puxando-a para baixo, fingindo que limpava as mangas e virei para a gravação, dando um sorriso.
- Está perfeito! – Falei, sorrindo e fiz um positivo com o polegar. – Ici c’est Paris! – Sorri.
- Ótimo, demais! – Marcel disse. – Você tem experiência, né?!
- Bastante! – Falei, ouvindo-o rir fracamente.
- Podemos agora passar para o alfaiate? – Ele disse.
- Claro! – Falei. – Vou assim mesmo?
- Pode ser, lá você vai trocar mesmo. Por favor! – Ele indicou e eu respirei fundo antes de seguir com ele.
Dai, Gigi! Fino alla fine!
Lei
Nove de julho de 2018
- Você não deveria chorar, você sabia que isso ia acontecer. – Lich disse e ri fracamente, abraçando-o fortemente.
- Eu sei, mas eu estou sensível! – Abracei-o pela nuca, passando a mão em meus olhos e me afastei devagar. – Eu vou sentir tanta falta de vocês! – Abracei Asa do outro lado, suspirando. – Sentir tanta falta de te usar de apoio... – Asa riu fracamente.
- A gente também vai sentir sua falta, chefa! Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Eu sei, eu sei. Você eu ainda vou encontrar, agora o Lich... – Soltei-o devagar, passando as mãos nos olhos.
- Beh, você sempre pode ir para Inglaterra... – Ri fracamente.
- Eu sei, mas eu vou sentir muita falta de vocês! Sete anos, seis anos... – Neguei com a cabeça. – Eu sou péssima para despedidas, vocês sabem...
- Como você está, falando nisso? – Lich perguntou, apoiando a mão em meu ombro e suspirei.
- Beh, já faz quase dois meses, preciso seguir em frente. – Dei um curto sorriso e eles assentiram com a cabeça.
- Acho que eu e todo mundo já falamos isso, mas... – Cortei Asa.
- Eu sei, eu sei, eu não preciso dele, eu sou incrível, bonita e sei lá mais o que... – Eles riram.
- Fica bem, está bem?! – Asa me abraçou mais uma vez e apertei-o fortemente.
- Vocês também. Desejo muita sorte para vocês. – Ele se afastou em seguida e abracei Lich. – Que vocês consigam se reencontrar em outros times e sejam tão bem-sucedidos como foram aqui... – Eles deram curtos sorrisos.
- Você também, chefa! A gente se encontra por aí! – Lich disse e assenti com a cabeça.
- Sim, esperarei ansiosamente por isso. – Sorri, recebendo um beijo de cada vez antes de eles irem em direção à porta.
Soltei um suspiro, vendo as duas caixas com blusas em cima da minha mesa junto das diversas fotos do meu quadro que finalmente estavam aqui em Continassa, só faltava eu terminar de colocar na parede. Já gostava da minha sala em Vinovo, mas essa em Continassa estava incrível!
- Então, posso entrar? – Virei para porta, vendo Pavel e sorri.
- Ei, olha quem chegou! – Me aproximei dele e abracei-o.
- E olha quem tirou o gesso! – Ele disse e ri fracamente, estendendo a mão direita.
- Bem, só ficou feio o bronzeado, né?! – Passei a mão na linha que dividia o tom natural e o tom bronzeado, ouvindo-o rir fracamente.
- Beh, passar as férias com isso não deve ter sido fácil. – Ele disse, me fazendo rir.
- Passar até que foi, o problema foi aproveitar as férias com isso...
- Ah, eu não preciso saber disso. – Ele disse rindo. – Então, como você está?
- Ah, estou bem, por quê? – Franzi a testa e ele suspirou.
- Anunciaram o Gigi no PSG. – Suspirei.
- É, fiquei sabendo que era hoje, ele terminou a parte contratual na sexta-feira. – Falei. – Tem foto?
- Ah, tem, mas... – Ele suspirou enquanto eu dava a volta na mesa para me sentar e peguei o celular, entrando no meu Instagram.
- Mas... – Ele disse, suspirando e esperei o aplicativo carregar e, como se pudesse ler nossa mente, a primeira publicação era disso. A primeira foto de Gigi sozinho, depois com o presidente do time e a última...
- Ela? – Virei para ele que assentiu com a cabeça. – Eu sou muito idiota mesmo.
- Não, null, não tem nada disso!
- Como não? – Fechei o aplicativo, deixando o celular bater na mesa com um baque. – Ele muda de time, me abandona, fala mil e uma mentiras na minha orelha, faz eu me sentir a mulher mais especial do mundo e se apresenta ao time novo com ela? – Falei, tentando controlar meu tom de voz. – Eu sou uma completa idiota, Pavel.
- Você não é, null! – Ele disse. – Você só é apaixonada por um cara...
- Que não me ama e que tem o dom de me fazer cair nas gracinhas dele... – Pressionei os lábios. – Mais uma vez... – Soquei a mesa três vezes conforme falava.
- Você deveria ouvir o lado dele antes de criar histórias...
- EU OUVI! – Falei alto, suspirando. – E ele fala que eu sou a mulher da vida dele, que está fazendo isso por mim e blá, blá, blá. O NARIZ DELE! – Bufei. – Ele foi embora porque eu cansei de ser feita de trouxa, porque eu falei que não aceitaria mais essa relação nossa dele com uma namorada, ele não gostou e aí fica inventando essa história inteira que é por mim e blá, blá, blá. Não é! E eu cansei! – Bufei. – Chega! Chega! E chega!
- Aconteceu alguma coisa nas férias?
- O quê? NÃO! – Falei firme. – Mas chega, Pavel! Chega! – Bufei. – Eu vou atrás dos meus sonhos, meus desejos e ele que vá para o quinto dos infernos. – Falei e ele pressionou os lábios. – Mas imagino que tenha vindo aqui por outro motivo.
- Ah, os jogadores estão chegando, vamos lá para o CT? – Ele perguntou.
- Claro! Eu preciso relaxar. – Suspirei. – Antes que eu quebre alguma coisa.
- Se você quebrar, você mesma vai ter que pagar! – Ele disse, me fazendo rir fracamente.
- Você falou com Lich e Asa?
- Sim, os vi mais cedo, mas eu sempre sou visto como o vilão, null, você é a chefa legal! – Ri fracamente.
- Beh, você não abraça ninguém como eu, vai! – Passei a mão em seus ombros, seguindo com ele para fora da sala e ele ri fracamente.
- Não, até eu gosto do abraço da null. – Ele me abraçou, me fazendo rir.
Seguimos pelas escadas até o térreo e fomos caminhando em direção ao CT. O prédio principal e a entrada do CT eram de lados contrários, mas o estacionamento era uma ótima forma de cortar caminho, estacionamento esse que tinha até lugar marcado dessa vez e eu amava. Beh, pelo menos para o administrativo principal e os jogadores.
- Então, está tudo certo com o Cristiano Ronaldo? – Ele perguntou e eu bufei.
- Está, só falta ele vir assinar o contrato, mas eu ainda acho uma péssima ideia. – Falei.
- Mas foi você quem deu a ideia!
- E eu imediatamente falei que seria ruim! – Falei. – Especialmente por quatro anos.
- Beh, os acionistas gostaram da ideia, então...
- Os acionistas não entendem do jogo em si, você vai ver, vai dar problema! – Bufei, negando com a cabeça.
- Ah, você está sendo pessimista, mas vou levar em conta que você está triste. – Ele disse e revirei os olhos.
- Você sabe do que eu estou falando, Pavel. Você viu as exigências dele. Eu vou adorar falar que eu assinei com Cristiano Ronaldo, mas também vou me odiar se eu estiver certa... – Ele bufou.
- Ah, que mal pode acontecer?
- Os outros jogadores, que literalmente dão sangue por esse time, se sentirem lesados e quiserem sair? – Virei para ele.
- Beh, tem outros que querem vir, dá tudo certo... – Revirei os olhos.
- Me surpreendo do seu apego sentimental! – Falei sarcasticamente.
- É um time, null, jogadores vêm e vão. Jogadores que ficam 10 ou mais anos em um time são raros e você se apega demais a eles.
- Inclusive a você, né?! – Falei, virando para ele. – Pode não estar jogando, mas adorou voltar para cá depois da sua aposentadoria. – Ele revirou os olhos.
- Hum, estão brigando? – Agnelli falou quando chegamos na linha do campo.
- Ah, só mostrando minhas preocupações para Pavel...
- Cristiano? – Ele disse e eu suspirei.
- Sim! Eu acho que vai dar muito errado. – Falei.
- E eu acho que vai dar muito certo. – Pavel disse e Agnelli riu.
- Beh, vamos descobrir, caso não dê certo, você o vende... – Agnelli disse e ri fracamente.
- Ah, claro! Não acho que tenha outro time louco o suficiente para pagar o salário de 30 milhões dele. – Falei, rindo fracamente.
- null, se acalma! – Ele disse. – Você fez isso, agora quer fugir?
- Eu estava bêbada! – Virei para ele.
- Pelo menos você contratou o maior jogador da atualidade, null, imagina se tivesse mandando mensagem para o Gigi? – Agnelli disse e revirei os olhos.
- Hilário! Hilário! Mas acho que preferia. – Suspirei.
- Ciao, ragazzi! – Virei para trás, vendo meus italianos favoritos se aproximarem.
- Ciao! – Sorri e Barza foi o primeiro a me abraçar.
- Ei, você está aqui! – Ele disse e sorri. – Como está?
- Tudo bem e contigo? – Abracei Chiello em seguida.
- Está tudo bem. – Eles disseram, depois abracei Claudio, Fede, Alex, Pjanic, Pinso, Ruga, DeSciglio, além de dar abraços menos efusivos nos novatos.
- Que diferença um corte de cabelo, hein, Bernardeschi? – Passei a mão em seus cabelos ralos e ele riu.
- Falei que estava melhor! – DeSci disse, nos fazendo rir.
- Grazie, chefa! – Fede disse, me fazendo sorrir.
- É, queria eu ter essa evolução em dois meses. – Sorri e eles riram.
- Como se precisasse! – Claudio disse e abracei-o de lado.
- Então, o que acharam? – Agnelli perguntou, indicando o CT.
- Ficou demais! – Pinso disse e me abraçou de lado. – Esse cantinho é só nosso?
- É! – Falei, rindo em seguida. – Tratem com carinho, porque não foi barato! – Falei, ouvindo- eles rirem.
- É, melhor avisar o Dybala quando ele chegar! – Pjanic falou, me fazendo rir.
- Vamos começar, ragazzi! – Allegri falou, vindo atrás de nós e sorri. – Todo mundo embaixo da tenda, vamos começar com alongamento. – Ele passou a mão em minha cintura, dando um abraço. – Está tudo bem?
- Sim, mister, está! – Sorri, vendo-o cumprimentar os outros.
- ANDIAMO, RAGAZZI! TEMOS MUITO O QUE FAZER ANTES DE VIAJAR! – Allegri disse, seguindo animadamente pelo campo aberto, me fazendo rir fracamente.
- Ao menos alguém está empolgado. – Falei e Chiello riu.
- Vamos nos empolgar também, né?! – Barza disse. – Nos falamos depois?
- Com certeza. – O senti beijar minha têmpora antes de seguir para o campo.
- Vai viajar conosco? – Ele perguntou, se virando.
- Nem vem! – Falei, ouvindo-o rir antes de seguir. – Tenho muita coisa para resolver aqui.
- Vamos começar outra temporada, ragazzi? – Agnelli disse.
- Sim. – Falamos juntos e suspirei.
- Uma temporada calma e sem problemas. – Falei e eles riram.
- É, vamos começar antes! – Agnelli deu dois toques em meu ombro e virou para trás. Fiz o mesmo e vi Beppe e Fabio chegando também.
Lui
Nove de julho de 2018
- Ok, estou pronta! – Ilaria falou saindo de seu quarto.
- Ah! – Lou tombou a cabeça para trás sem paciência e Dado nem desviou o olhar de seu joguinho de mão. – Ela tem que ir com a gente mesmo? Achei que a ideia de Paris era para ela...
- Louis! – O repreendi e ele voltou a olhar para seu celular, bufando em seguida.
- Ok, vamos conversar! – Falei firme, me aproximando dela. – Você vai lá como minha namorada, você não vai falar nada, nem se te perguntarem. Você vai acompanhar a apresentação, tirar fotos, quando eu for para o treino, você vai embora e o Leo vai ficar comigo até a semana que vem quando vamos para pré-temporada. Capisci?
- Não mesmo! Quem vai ficar com os meninos? – Ela disse rindo sarcasticamente.
- Minha família está chegando. – Falei. – E é bom você aceitar ou nem hoje você vai. – Sorri e ela bufou.
- Esse não foi o acordado, Gianluigi!
- Não? Quer reler o contrato mais uma vez? Porque não era nem para você estar aqui! – Falei firme, pegando o paletó o braço da cadeira e o vesti.
- Não mesmo! – Lou disse. – Eu quero i-i-ir, pai! – Ele falou.
- Nós já vamos. – Suspirei. – Entendido? – Virei para Ilaria. – Nenhuma palavra ou vamos mudar a posição de jogo e você vai ser a chantageada.
- Você é bom demais para isso.
- É, e eu me envolvi contigo, que ironia, não?! – Sorri. – E falavam que eu era ruim por trair a Alena... – Bufei. – Ok, andiamo, ragazzi! – Virei para os meninos que já estavam com cachecóis do PSG nos pescoços. – Você também. – Falei, esticando minha mão para Ilaria.
Ela deu um sorriso antes de segurar e fechei os dedos antes que ela quisesse entrelaçá-los, já estava difícil o suficiente acompanhar sua presença ao meu lado, também não precisava exagerar. Nós quatro entramos no elevador e só era possível ouvir o som dos jogos dos meninos.
- Senhor Buffon. – Marcel, a nova Angela, estava no térreo do prédio.
- Bonjour, Marcel. – Usei o francês, Ilaria não sabia, então era só uma das formas que eu podia irritá-la. – Achei que fosse te encontrar no estádio.
- Sim, mas nossos torcedores mais apaixonados...
- Ultras! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Sim, eles vieram até aqui! – Ele disse, abrindo a porta que dava para fora e ouvi várias buzinas.
- Como eles descobriram? – Perguntei, rindo fracamente.
- Bom, todo time tem isso, né?! – Ele disse rindo e assenti com a cabeça. – Podemos ir?
- Claro! Claro! Esses são meus filhos Louis e David. – Os apresentei e ambos ergueram suas cabeças quando citei seus nomes.
- E ela? – Ele indicou Ilaria. – Esposa?
- Não, nunca! – Falei, rindo fracamente. – Vamos?
- Claro! Claro! – Ele indicou. – O carro já os espera.
- Vamos, meninos! – Indiquei-os.
- O que ele disse? – Ilaria perguntou.
- Ele adorou seu cabelo! – Falei, sorrindo para ela antes de seguir logo atrás deles.
Diversas motos estavam paradas no meio da rua, algumas parando o trânsito, e elas buzinavam alto, seguravam bandeiras do time e tinham sinalizadores em mãos. Parecia minha entrada na Juve há 17 anos. Eles buzinaram quando saí e acenei com as mãos enquanto meus meninos tiravam fotos.
- S'il vous plait... – Marcel indicou e esperei que meus meninos entrassem, depois Ilaria para eu entrar, além de Marcel que também entrou, cabendo os cinco confortavelmente. Eu e Marcelo na frente e meus meninos com Ilaria ao lado. – Chegando lá no estádio nós vamos encontrar o presidente Nasser, ele vai te apresentar ao estádio, vocês tirarão fotos, depois terá uma pequena coletiva... – Assentia com a cabeça devagar conforme eu entendia as informações.
- Giusto.
- Depois você terá uma entrevista rápida para nossas redes sociais com outra assessora e, por último, te levaremos para o CT para fazer um treino, conhecimento de companheiros de time, coisas que você já deve star acostumado.
- Sim, sim! – Ri fracamente. – Mas normalmente eu era o veterano, nunca o novato. – Ele assentiu com a cabeça.
- Sim, sim, mas nesse mundo de futebol acaba que todos vocês já se conhecem, não? – Ele disse, desviando o olhar de seu celular.
- Acaba que sim, mas ligas diferentes, algumas coisas mudam. – Assenti com a cabeça, desviando para a janela onde os motociclistas nos seguiam buzinando e sacudindo as bandeiras.
Diferente do CT, eu ficava próximo ao estádio, cerca de 10 minutos de carro, do outro lado do rio Sena. Eu sou um apaixonado por futebol, não só um jogador, então eu era verdadeiramente apaixonado por tudo que esse mundo nos proporciona, inclusive estádio e o Parc des Princes era realmente bonito. Desci do carro, acenando para o pessoal e Marcel me indicou a entrada e fui até lá, encontrando Maurice.
- Bonjour, Buffon.
- Gigi, por favor. – Falei, cumprimentando-o e ele assentiu com a cabeça.
- Por aqui, vamos, Gigi? – Assenti com a cabeça e o segui.
Acompanhava os corredores e as decorações do estádio realmente surpreso. O azul e vermelho do PSG estavam em todo lugar, igual o preto e branco da Juventus, mas infelizmente essas cores não me davam o mesmo aconchego da Juve. Entramos em uma sala e o presidente Nasser estava lá.
- Ah, Buffon! – Ele disse animado e sorri, andando em sua direção.
- Presidente Nasser, que prazer! – Cumprimentei-o ao modo italiano com dois beijos e ele retribuiu.
- Só Nasser ou Nass. – Ele disse rindo e assenti com a cabeça. – Beh, o que está achando de Paris? De tudo?
- É magnífico. – Falei e ele sorriu.
- Fico feliz que esteja bem. – Ele indicou o caminho. – Já explicaram para ti como vai ser tudo hoje?
- Sim, já, Marcel estava me explicando. – Falei.
- O francês ainda é um pouco complicado?
- Aprendendo melhor na prática! – Ele assentiu com a cabeça.
- É, não foi um idioma fácil quando vim para cá, mas tudo se aprende, não?! – Ele riu fracamente.
- Sim, com toda certeza. – Andei com ele pelos corredores.
- Bom, aqui é o Parc des Princes, estádio exclusive do PSG, igual era o seu antigo...
- Sim, sim... – Assenti com a cabeça.
- Além do estádio, na frente temos um prédio de trabalho compartilhado onde acontecem alguns eventos do time, que também é da nossa propriedade. – Ele ia falando conforme andávamos. – Aqui é onde a mágica acontece... – Ele entrou no vestiário e olhei surpreso.
Diferente da Juve que era um corredor largo e tinha outra salas, esse era uma enorme sala com uma grande mesa quadrada no centro e os espaços individuais para cada jogado. Na Juve cada jogador tinha um armário espaçoso, aqui era grudado e atrás da cadeira tinha um armário e abaixo algumas prateleiras.
- Aqui será o seu, número um. – Ele indicou e vi a camisa verde limão que usei no jogo a primeira vez ali.
- Muito bonita! – Sorri.
- Ainda é um pouco estranho, não? – Nasser falou e ri fracamente.
- Para quem ficou 17 anos em um mesmo time, é um pouco sim, mas é só questão de costume. – Ri fracamente, vendo-o sorrir.
- Não se preocupe! O importante é você ter aceitado esse desafio, as coisas se ajeitam. – Ele disse. – Te colocamos ao lado do Verratti, são amigos, certo?
- Sim, sim, da nazionale italiana. – Sorri. – Um grande amigo!
- Ele estava empolgado com a sua chegada. – Rimos juntos.
- Vai ser bom ter ao menos um conhecido aqui. – Ri fracamente.
- O time não mudou muito desde aquela pré-temporada no ano passado. – Ele disse. – Mas estamos em janela de transferências, sabe como funciona, né?! – Ri fracamente.
- Com toda certeza!
- Bom, vamos para o estádio tirar algumas fotos? Depois voltamos aqui. – Ele disse.
- Claro, vamos lá! – Falei.
- Sua esposa e seus filhos estão lá. – Ele disse e contive em fazer alguma piadinha ou desmentir para o presidente, não precisava e nem deveria entrar em detalhes. Passamos pelo túnel de entrada do vestiário e vi meus meninos e Ilaria ali.
- Aqui é bem legal, pai! – Dado disse.
- Vocês estão felizes? – Perguntei e eles sorriram.
- Só se você estiver. – Sorri, bagunçando os cabelos de Lou.
- Vamos tirar umas fotos comigo depois com a sua família? – Nasser disse e sorri.
- São Louis, David e Ilaria. – Apresentei-os.
- Ciao! – Ilaria abriu um largo sorriso, cumprimentando e meus meninos só conseguiram manter a boa educação que Alena havia dado a eles.
Segui logo atrás dele e pisei na grama. Dei uma rápida olhada pelo estádio, admirando sua beleza e suspirei. Era algo incrível mesmo. Neguei com a cabeça sozinho e ri fracamente, eu estava arranjando diversos motivos para não gostar daqui, mas era tudo bonito, tudo perfeito, um time bem estruturado, ótimo elenco... Claro que não era a minha Juventus e nunca seria, nunca teria aquele calor no coração, aquele acolhimento interno de Vinovo, dos meus colegas e companheiros, mas eu precisava parar de achar motivos para desgostar, ainda faltava 10 meses, muita coisa pode acontecer até maio do ano que vem e eu teria que chegar lá.
- Aqui, Gigi! – Nasser esticou minha blusa e peguei-a seguindo com ele até mais o meio do campo, vendo os diversos fotógrafos e estiquei a blusa, vendo-o pegar do outro lado. – Bienvenue a Paris, Gigi! – Ele disse e sorri, virando para os fotógrafos.
- Merci... – Ergui o olhar para cima, olhando para o céu azul e suspirei. É, agora que o desafio começa de verdade, Gigi.
O despertador tocou, mas meus olhos já estavam abertos, da mesma forma que estavam abertos há quatro dias. Encontrar Gigi foi a melhor e a pior coisa que podia ter acontecido. A melhor foi que eu o vi mais uma vez, ouvi que ele me ama mais uma vez e senti seus carinhos pela... Última vez? Espero que não, mas era o sentimento agora.
E eu consegui ficar pior do que após o jogo dele. Ter a confirmação de que ele se importa comigo, de que ele me ama, de que ele precisava ficar fora por mim, por algum motivo, só fez minha cabeça entrar mais em parafuso, mas agora eu não tinha mais gregos lindos e sensacionais para me acalmarem pelo menos por alguns minutos.
Não que o sexo fosse bom, amor sempre era mais gostoso e eu só tinha com Gigi, mas eu ao menos me distraía. Além das praias, não de que aproveitar e relaxar fosse muito a minha praia – ba dum ts – eu conseguia realmente esquecer de Turim e relaxar. Agora não. Agora eu precisava voltar a trabalhar e eu ainda não tinha a menor ideia como aguentar uma nova temporada após 17 anos sem Gianluigi Buffon para sorrir para mim, dar risos com segundas, terceiras e quartas intenções ou só ter alguém para encher o saco.
Saí da cama com preguiça e fui direto para o chuveiro, se fosse para começar uma temporada com o pé direito e tentando esquecer Gigi, eu precisaria começar cuidando de mim mesma. Tomei aquele banho completo, longo e delicioso, hidratando meus cabelos e passando creme no corpo após sair e senti o cheiro subir no ar.
Me sequei e enrolei a toalha no peito antes de voltar a andar pelo quarto. Entrei no closet e escolhi a clássica saia preta, uma regata de tecido branca e o clássico scarpin preto. Coloquei uma lingerie e voltei para o banheiro. Pendurei a toalha e fui para a pia. Peguei o secador de cabelo, colocando no máximo e usei a outra mão para fazer uma rápida escova só para abaixar os fios arrepiados.
Peguei minha maquiagem, fazendo a maquiagem diária com base, sombra em tons terrosos, lápis e um batom claro, e voltei para o quarto para vestir minha roupa. Me olhei no espelho de corpo inteiro, passando as mãos na saia e suspirei. Me sentei para calçar os sapatos e logo voltei para o closet para pegar minha bolsa no armário da entrada.
Voltei para o quarto, colocando o celular dentro da bolsa e dei uma última olhada no espelho, chegando meu sorriso e abanei a mão antes de sair. Atravessei o corredor e segui escadas abaixo, sentindo o cheiro de produto de limpeza e procurei Martha com o olhar, encontrando-a na cozinha.
- Buongiorno, Martha! – Falei.
- Buongiorno, signora! – Ela sorriu, descendo os degraus da escada. – A senhora está melhor?
- Não, mas eu não posso ficar triste pelo resto da vida... – Apoiei a bolsa na mesa. – Eu tenho que ir para o time e não sei que horas vou voltar. – Me aproximei da máquina de café, escolhendo uma cápsula e acionei-a, sentindo o cheiro do capuccino perfumar o ambiente.
- Sem problemas, senhora. – Ela disse. – Tem algo especial que quer que eu faça?
- Não, nada de novo. Depois preciso dar uma geral no meu closet, mas eu preciso organizar antes de você entrar lá... – Rimos juntas e peguei um brioche no saco da padaria que ela trazia todas as manhãs. – Já comeu?
- Já sim, grazie. – Ela sorriu e peguei um, dando uma mordida no mesmo antes de ir até a geladeira pegar minha geleia de frutas vermelhas.
- Eu sei que compenso tristeza com fome, mas eu estou realmente com fome hoje. – Bufei, equilibrando o brioche entre os dentes e fiz um pouco de força para abrir o vidro.
- A senhora precisa se alimentar melhor...
- Eu sei! Eu vou voltar para minha dieta, para o meu treino e decidi que eu vou mandar na minha vida agora. – Bufei, passando geleia antes de cada mordida do brioche.
- Faz muito bem. – Ela disse rindo e suspirei.
- Mas nada vez do dia para noite, então vamos devagar. – Falei, suspirando com o gosto da geleia no pão quente.
- O que a senhora preferir.
- Eu posso insistir mais uma vez em você parar de me chamar de senhora? – Virei para ela. – Você é só... Sete anos mais nova do que eu. – Ela riu fracamente.
- É costume, senhora. – Suspirei, revirando os olhos e virei para a xícara com meu capuccino fajuto e dei um gole no mesmo, suspirando quando queimei o lábio superior.
Deixei Martha continuar limpando as altas janelas da cozinha e tomei meu café da manhã em silêncio intercalando mordidas no meu brioche e goles no meu capuccino. Voltei para meu quarto só para escovar os dentes antes de pegar a bolsa e sair.
Essa temporada iríamos oficialmente para Continassa, mas precisava limpar minha sala, então combinei com Barza e Chiello que renovaríamos o contrato de ambos em Vinovo ainda, então seria uma ótima desculpa para eu criar vergonha na cara e esvaziar o que faltava, além de finalmente me desapegar daqui.
Entrei em Vinovo, vendo-o mais vazio, mas os carros demonstravam que algumas pessoas já estavam aqui. Fiz o caminho de sempre para minha sala e entrei no elevador que estava no térreo, seguindo até o quarto andar. Saí do mesmo e encontrei meus dois meninos ali.
- Ciao, ragazzi! – Eles se distraíram de seus celulares.
- Ei, null! – Eles disseram sorridentes e se levantaram para vir em minha direção.
- Estou atrasada? – Perguntei, abraçando Chiello antes de abraçar Barza.
- Não, são 8:12 ainda. – Chiello disse.
- É, eu estou atrasada... – Falei, rindo fracamente. – Mas eu precisava me recompor.
- Está tudo bem? – Chiello perguntou e suspirei.
- Sim, está! Um dia de cada vez. Voltar aqui me traz algumas emoções...
- Vai oficialmente se mudar para Continassa? – Barza perguntou e chamei-os com a mão, andando pelo corredor.
- Beh, talvez seja a melhor forma de deixar tudo para trás e tentar viver esse ano sem pensar nele em todo e cada momento. – Eles riram fracamente.
- Como agora? – Barza brincou e ri fracamente.
- Um passo de cada vez, Barza, por favor... – Ele riu fracamente. – Então, Chiello, como foram as suas féras? – Abri a porta da minha sala, empurrando-o para dentro.
- Ah, eu fui para Pisa, visitar minha família. Carol acha a Nina muito nova para levar em lugares movimentados. – Ele disse, entrando em minha frente.
- Ah, Chiello, mas ela precisa conhecer as maravilhas da vida. Uma praia, colocar os pés na areia, pelo menos. – Ele riu fracamente e Barza entrou logo em seguida.
- Eu tentei, mas...
- Preferiu não brigar a chefa da família? – Eles riram fracamente e vi ambos parados no meio da sala. – Vocês podem sentar. – Indiquei.
- Eu sei, é só... – Eles indicaram a mesa e franzi a testa ao ver uma caixa de presente no meio da minha mesa.
- Ai... – Suspirei, sentindo meu coração palpitar. – É dele, não é?
- Talvez... – Barza disse e apoiei a bolsa mesa antes de abrir a caixa, encontrando a blusa de seu último jogo e a braçadeira, me falei engolir em seco.
Afastei a braçadeira e puxei a blusa, a verde do kit atual e ela parecia usada, tinha algumas manchas mais escuras, além do cheiro de grama molhada. Virei a mesma e suspirei ao encontrar seu escrito dentro do número um. “Para a mulher da minha vida, a única que está comigo há 17 anos e a única que eu quero para vida inteira. Isso não é um adeus, é um até logo. Eu te amo, Gigi Buffon #1, 19/05/2018”.
Pressionei os lábios, respirando fundo e, embaixo de onde estava a blusa, uma foto nossa. Eu não sabia dizer de quando era essa foto, parecia alguma reunião pré-jogo ou algum aviso. Ele tinha o braço em meus ombros, o queixo apoiado em minha cabeça e eu segurava sua mão do outro lado. Ao nosso lado, com menos desfoque, Dybala e Chiello. Suspirei, pressionando os lábios e virei a foto, vendo sua letra novamente “nossa última valsa juntos, teremos mais momentos assim novamente e, dessa vez, o resultado não vai ser o resultado principal. Eu te amo, Gigi Buffon, 02/06/2017”.
Sorri, vendo que era a foto do Walk Around antes da final da Champions de 2017, a última vez que nós tivemos algo de verdade antes de toda essa bagunça começar. Me liguei rapidamente e deixei tudo na mesa e corri para meu quadro, encontrando uma foto jogada no chão e peguei-a, vendo a de seu aniversário em 2006 e suspirei, apertando-a contra o peito.
- Está tudo bem? – Senti a mão de Barza em meu ombro e suspirei.
- Sim, acho que sim. – Engoli em seco, pendurando a foto direito e virei para ele. – Só... Muitas dúvidas em minha cabeça. – Enfim, vamos lá que eu tenho bastante coisa para fazer hoje. – Suspirei. – Além de vocês, eu preciso firmar cinco contratos do masculino e quatro do feminino. – Voltei para a mesa, colocando tudo dentro da mesma e fechei a caixa.
- Quem tanto vem de interessante? – Chiello perguntou.
- Leonardo Spinazzola da Atalanta, Mattia Perin do Genoa como segundo goleiro, Emre Can do Liverpool, João Cancelo do Valencia e o Moise Kean vai voltar do Verona. – Suspirei.
- Nomes interessantes. – Cada um se sentou em uma cadeira.
- São novatos, mas espero que Allegri faça com proveito, Perin, Cancelo e Can não foram baratos... – Eles riram.
- Pode falar, chefa! Eu ainda sou sua melhor contratação. – Barza disse e sorri.
- Spinazzola veio por 400 mil, mas você ainda é a melhor. – Falei, vendo-o sorrir. – Ok, ragazzi, contratos de dois anos? – Abri minha gaveta.
- Não, nem vem! – Barza disse e Chiello riu. – Eu vou fazer 37 até o fim da temporada, meu nome não é Gianluigi Buffon. – Ele disse firme.
- Você só teve duas lesões leves na temporada passada, Barza, e o Allegri confia muito em você. – Ele bufou.
- Eu sei, mas eu estou velho, null, preciso analisar a cada ano, ou a cada seis meses... – Rimos juntos. – Prometo que analiso melhor lá para fevereiro, março, pode ser? – Bufei, virando para Chiello.
- Eu tenho escolha? – Perguntei.
- Não! – Eles disseram juntos.
- Agora você, Chiello, 33 anos, seis lesões na temporada passada, 81 dias fora, perdeu sete jogos, mas você é o nosso novo capitano... – Ele fechou os olhos envergonhado. – Dois anos? – Ele suspirou.
- Dio! Isso pesou agora. – Ele disse rindo.
- Você sempre foi o capitão dentro e fora de campo, Chiello. Vocês dois, na verdade. Uma braçadeira não muda nada. – Ele assentiu com a cabeça. – Vai dar tudo certo. – Ele suspirou.
- Vamos encarar, não é?! – Sorri.
- Dois anos? – Ele assentiu com a cabeça.
- Se vocês confiam em mim...
- Cegamente! – Falei.
- Então vamos lá! – Ele bateu as mãos e sorri.
- Beh, agora vamos para a parte mais legal? Quanto vocês desvalorizaram?
- Ah! – Eles reclamaram, tombando as cabeças para trás, me fazendo rir.
- Gigi, quando quiser! – Silvano falou e assenti com a cabeça.
Respirei fundo, me olhando no espelho e engoli em seco. Na minha cabeça tudo estava muito confuso ainda, vir para Paris não foi uma escolha com base no melhor time, na melhor equipe ou com chances reais de ganhar uma Champions League, apesar de achar que poderia dar certo de alguma forma. Paris foi escolhida principalmente pela proximidade com Turim. Não que eu pretendesse voltar sempre para lá, o PSG confiou em mim para um projeto e mostrar amor ao antigo clube ou a uma mulher em especial não deveria ser visto com bons olhos por eles, mas não teve nenhum outro motivo de aceitar Paris além desse.
E digo que tive um pouco de arrependimento quando comecei a aprender francês. Mon Dieu, que língua difícil! O inglês eu já achava um bicho de sete cabeças, mas o francês? Gente! Alguém me dá um soco! Mas esperava que seis meses com três horas por dia de aulas me ajudassem a comunicar e falar com meus companheiros. Tirando Verratti, não tinha outros italianos, então ficar na minha língua materna seria impossível.
Mas aqui estamos, testes médicos e assinatura de contrato. Seria estranho fazer esses procedimentos em um lugar que não fosse o J-Medical ou com null presente, mas eu só precisava respirar fundo diversas vezes, olhar nossa foto em minha carteira, apertar a medalhinha que ela me deu e pensar que tudo daria certo. Por ela.
- Ok, vamos lá! – Falei, puxando a camisa para baixo e ele assentiu com a cabeça, indicando a porta.
Eu tinha alugado um apartamento no centro de Paris, próximo à Torre Eiffel, sempre achei esse lugar sensacional e seria bom para eu relaxar um pouco, pena que eu não pensei direito quando escolhi aqui. O lugar, apesar de turístico, era calmo, ficava dentro de um condomínio, então eu conseguiria me manter em segredo aqui, mas igual Vinovo, o CT do PSG também não ficava dentro de Paris, ele ficava há 30 quilômetros em uma cidade chamada Saint-Germain-en-Laye. Apesar de boa parte do percurso ser na estrada, ainda demoramos quase 30 minutos para chegar lá.
O PSG era um time com bastante dinheiro, principalmente pelo seu presidente e maior investidor ser Nasser Al-Khelaïfi, um empresásio e ex-tenista catariano que estava com eles desde 2011. Era praticamente o Agnelli, tirando a parte que o time não era de sua família, ele havia comprado e causado incríveis modificações no time, inclusive monetárias, tanto que não foi muito surpresa quando ele veio com a oferta de quatro milhões. Não serei hipócrita e dizer que neguei, eu aceitei de bom grado, só não esperava que um ano fora fosse ter esse impacto monetário para quem ganhava pouco menos de três na Juve.
Chegamos ao Camp des Loges e tudo era diferente, a começar por não ter fãs na porta. Tudo bem que estávamos nas férias ainda, a temporada começaria na segunda-feira, mas os torcedores nem tinham um espaço para ficar como na entrada de Vinovo. O interno era bem bonito também, assim como Vinovo, o prédio administrativo ficava logo na entrada e os campos eram espalhados pelo local.
- Bonjour. – Um senhor falou assim que saí do carro e eu engoli em seco ao perceber que eu teria que me comunicar em francês a partir de agora. Cadê a null nessas horas?
- Bonjour, bonjour! – Cumprimentei-o e outro homem de óculos ao seu lado.
- Je suir Maurice, il est Marcel… – Ele indicou e cumprimentei o outro sorrindo. – Eu sou diretor geral e ele é nosso assessor de imprensa, viemos te receber. Prefere que falemos devagar? Falar em inglês?
- Está tudo bem... – Falei em francês, rindo fracamente. – Só peço para terem paciência comigo. – Eles sorriram.
- Fique à vontade. – Marcel falou e assenti com a cabeça.
- Vamos entrar? – Maurice indicou e entrei no prédio.
Segui junto de Silvano para dentro, vendo eles me apresentarem o prédio, indicando os espaços e percebi que Maurice era praticamente minha null, mas, diferente da Juve, o diretor geral e a contabilidade faziam o mesmo trabalho. Se funcionasse para eles, tudo bem, mas quem não gostaria de ter uma null em seu time?
- Pode se sentar! – Eles disseram e cumprimentei o fotógrafo e outros dois homens ali, me sentando na cadeira indicada. – Nós recebemos os exames antigos da Juventus, então os exames médicos são feitos depois da assinatura do contrato e já aproveitamos para fazer algumas imagens para nossas redes sociais e anunciar sua chegada, tudo bem? – Demorei um pouco para entender, assentindo com a cabeça.
- Oui, oui! – Falei, rindo fracamente.
- Prefere que eu fale em inglês sobre o contrato? – Maurice perguntou.
- Não, não! Pode falar em francês, preciso praticar. – Falei, vendo-o assentir com a cabeça.
- É um contrato de um ano, salário de quatro milhões com bônus por resultados... – Assenti com a cabeça. – Caso seja do nosso interesse, podemos estender para um segundo ano, mas isso falamos novamente ao final da temporada. – Assenti com a cabeça.
- Está ótimo! – Assenti com a cabeça.
- Bom, então vou pedir para você checar as informações novamente e assinar as duas vias. – Ele disse, girando os papéis em minha frente e suspirei.
Dei uma rápida passada pelas informações em francês no contrato e apertei minha mão algumas vezes sobre a caneta. Nada era como a Juventus e nada seria como a Juventus, talvez o Parma, mas já faz 22 anos que eu fechei com eles e não foram eles que me apresentaram o amor da minha vida, agora eu precisava só respirar fundo e seguir em frente, ficar pensando em null em 90 por cento dos meus dias não saudável e nem traria bons resultados aqui, o que era o plano com eles, eles contam comigo.
- Algum problema? – Maurice perguntou.
- Não, leitura lenta! – Falei, rindo fracamente e sorri. Assinei o contrato, vendo alguns flashes estourados em minha direção e estendi para ele novamente.
- É um prazer te ter conosco, Gianluigi! – Ele disse e apertei sua mão, sorrindo.
- Merci. – Falei, sorrindo.
- Agora vamos te levar para os exames médicos e oficializar isso, tudo bem? – Maurice disse.
- Claro, vamos lá! – Esfreguei uma mão na outra antes de me levantar.
Segui com eles por outra parte do CT, agora a parte esportiva do ambiente e eles tinham o centro médico junto com o treinamento, como era com a Juve antes do J-Medical. Lá um médico me recepcionou, também falando francês e me indicaram para uma sala.
- Você pode trocar de roupa e ficar mais confortável. – Marvel disse e assenti com a cabeça, entrando onde eles indicaram.
Um uniforme de treino do PSG me esperava e respirei fundo. Era tão difícil trocar meu preto e branco pelo azul e vermelho deles... Ou rosa e azul escuro do uniforme, me sentia honestamente traindo a minha Juventus, minha decisão no fim do ano passado e a vontade que eu estava de enfiar a mão na cara de Ilaria veio em cheio, mas eu respirei fundo e vesti a roupa, tentando parecer verdadeiramente empolgado em estar aqui. E eu precisava.
- Que tal? – Saí da sala e eles sorriram.
- Muito bom! – Silvano assentiu em minha direção.
- Esse é Emilien, nosso médico. – Maurice indicou. – Vou deixá-lo com ele e Marcel, depois conversamos mais.
- Claro! Grazie... Merci! – Falei, ouvindo-o rir e ele se afastou.
- Beh, Gigi, italiano? – O médico falou e fiquei surpreso.
- Você fala?
- Sim! Trabalhei alguns anos em Roma, acho que você vai se sentir mais confortável. – Ri fracamente.
- Um pouco, pelo menos no começo... – Ele assentiu com a cabeça.
- É, vamos fazer os exames tradicionais, depois alguns mais específicos e, por último, Marcel vai gravar um vídeo rápido contigo com o uniforme do time e nosso patrocinador de ternos.
- Claro, vamos lá! – Falei, assentindo com a cabeça.
- Você pode tirar sua blusa e se deitar, por favor. – Ele indicou a maca e tirei a blusa, pendurando-a e me deitei na maca.
Os exames foram longos e chatos, os exames básicos, depois os específicos, inclusive ressonância, raio-X, parte óssea, que eu fazia com muito menos frequência, mas era protocolo e eu estava acostumado a fazer isso ao menos duas vezes por ano... Só não com tanto foco assim.
Quando finalizamos tudo, confirmando que estava tudo bem no meu corpo de 40 anos, eles me indicaram para outra sala, agora com Marcel e sua equipe. Agora era a hora que eu renegava todo meu coração bianconero para mudar de uniforme... Por ela! Por ela!
- A ideia é fazer a divulgação da BOSS, nosso patrocínio e aproveitar e já te divulgar como nossa nova contratação. – Marcel dizia mais calmo que Maurice. – Dentro do vestiário tem um uniforme de goleiro dessa temporada, você o vista e, quando sair, você fala algo “sim, ficou bom” e depois pode falar o lema do time que é “ici c’est Paris”. – Assenti com a cabeça.
- Tudo bem.
- Em seguida, vamos te levar para o alfaiate da BOSS e gravamos a outra parte, vai ser quase como se o terno da BOSS virasse o uniforme do PSG. A mesma elegância, classe e tudo mais. – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Claro, claro! Posso ir?
- Claro! Fique à vontade. – Ele indicou o vestiário. – Pegamos suas medidas, é para estar tudo certo. – Ri fracamente.
- Vai estar, o outro uniforme serviu! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
Entrei no vestiário, vendo o uniforme verde limão e me perguntava por que eu sempre fugi dos uniformes com cores fortes, mesmo estando no kit da Juve, e minha resposta sempre era null. Tudo que não a agradava, ela fazia questão de me zoar e eu acabava mudando para internamente querer agradá-la. Mesmo a boina, essa eu fiz para provocar mesmo.
Tirei mais uma vez a calça jeans e a camiseta que eu usava e vesti o uniforme. Ajeitei a gola, escondendo o colar por dentro novamente e me olhei no espelho, mordendo meu lábio inferior. Parecia que outra pessoa estava dentro de mim. Como um irmão gêmeo do mal, ou algo similar.
Imediatamente a frase fino alla fine veio em minha cabeça e ela definia muito do que estava agora. Até o fim. Tudo pela null. Mesmo ter que usar um uniforme que nunca havia sido meu sonho ou vontade. Pior de tudo era aguentar a opinião externa, ouvir sobre o interesse monetário ou a obsessão pela Champions quando tudo não passava de uma forma de eu ficar com a mulher que eu amo para sempre.
- Posso sair? – Perguntei.
- Claro! – Marcel disse.
- Eu já saio e falo? – Perguntei.
- Pode ser! – Eles disseram.
- Só um segundo... – Outro homem falou e ajeitei as mãos nas cortinas. – Ação!
Abri as cortinas, olhando para a câmera. Passei a mão na camisa, puxando-a para baixo, fingindo que limpava as mangas e virei para a gravação, dando um sorriso.
- Está perfeito! – Falei, sorrindo e fiz um positivo com o polegar. – Ici c’est Paris! – Sorri.
- Ótimo, demais! – Marcel disse. – Você tem experiência, né?!
- Bastante! – Falei, ouvindo-o rir fracamente.
- Podemos agora passar para o alfaiate? – Ele disse.
- Claro! – Falei. – Vou assim mesmo?
- Pode ser, lá você vai trocar mesmo. Por favor! – Ele indicou e eu respirei fundo antes de seguir com ele.
Dai, Gigi! Fino alla fine!
- Você não deveria chorar, você sabia que isso ia acontecer. – Lich disse e ri fracamente, abraçando-o fortemente.
- Eu sei, mas eu estou sensível! – Abracei-o pela nuca, passando a mão em meus olhos e me afastei devagar. – Eu vou sentir tanta falta de vocês! – Abracei Asa do outro lado, suspirando. – Sentir tanta falta de te usar de apoio... – Asa riu fracamente.
- A gente também vai sentir sua falta, chefa! Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. – Ele disse e assenti com a cabeça.
- Eu sei, eu sei. Você eu ainda vou encontrar, agora o Lich... – Soltei-o devagar, passando as mãos nos olhos.
- Beh, você sempre pode ir para Inglaterra... – Ri fracamente.
- Eu sei, mas eu vou sentir muita falta de vocês! Sete anos, seis anos... – Neguei com a cabeça. – Eu sou péssima para despedidas, vocês sabem...
- Como você está, falando nisso? – Lich perguntou, apoiando a mão em meu ombro e suspirei.
- Beh, já faz quase dois meses, preciso seguir em frente. – Dei um curto sorriso e eles assentiram com a cabeça.
- Acho que eu e todo mundo já falamos isso, mas... – Cortei Asa.
- Eu sei, eu sei, eu não preciso dele, eu sou incrível, bonita e sei lá mais o que... – Eles riram.
- Fica bem, está bem?! – Asa me abraçou mais uma vez e apertei-o fortemente.
- Vocês também. Desejo muita sorte para vocês. – Ele se afastou em seguida e abracei Lich. – Que vocês consigam se reencontrar em outros times e sejam tão bem-sucedidos como foram aqui... – Eles deram curtos sorrisos.
- Você também, chefa! A gente se encontra por aí! – Lich disse e assenti com a cabeça.
- Sim, esperarei ansiosamente por isso. – Sorri, recebendo um beijo de cada vez antes de eles irem em direção à porta.
Soltei um suspiro, vendo as duas caixas com blusas em cima da minha mesa junto das diversas fotos do meu quadro que finalmente estavam aqui em Continassa, só faltava eu terminar de colocar na parede. Já gostava da minha sala em Vinovo, mas essa em Continassa estava incrível!
- Então, posso entrar? – Virei para porta, vendo Pavel e sorri.
- Ei, olha quem chegou! – Me aproximei dele e abracei-o.
- E olha quem tirou o gesso! – Ele disse e ri fracamente, estendendo a mão direita.
- Bem, só ficou feio o bronzeado, né?! – Passei a mão na linha que dividia o tom natural e o tom bronzeado, ouvindo-o rir fracamente.
- Beh, passar as férias com isso não deve ter sido fácil. – Ele disse, me fazendo rir.
- Passar até que foi, o problema foi aproveitar as férias com isso...
- Ah, eu não preciso saber disso. – Ele disse rindo. – Então, como você está?
- Ah, estou bem, por quê? – Franzi a testa e ele suspirou.
- Anunciaram o Gigi no PSG. – Suspirei.
- É, fiquei sabendo que era hoje, ele terminou a parte contratual na sexta-feira. – Falei. – Tem foto?
- Ah, tem, mas... – Ele suspirou enquanto eu dava a volta na mesa para me sentar e peguei o celular, entrando no meu Instagram.
- Mas... – Ele disse, suspirando e esperei o aplicativo carregar e, como se pudesse ler nossa mente, a primeira publicação era disso. A primeira foto de Gigi sozinho, depois com o presidente do time e a última...
- Ela? – Virei para ele que assentiu com a cabeça. – Eu sou muito idiota mesmo.
- Não, null, não tem nada disso!
- Como não? – Fechei o aplicativo, deixando o celular bater na mesa com um baque. – Ele muda de time, me abandona, fala mil e uma mentiras na minha orelha, faz eu me sentir a mulher mais especial do mundo e se apresenta ao time novo com ela? – Falei, tentando controlar meu tom de voz. – Eu sou uma completa idiota, Pavel.
- Você não é, null! – Ele disse. – Você só é apaixonada por um cara...
- Que não me ama e que tem o dom de me fazer cair nas gracinhas dele... – Pressionei os lábios. – Mais uma vez... – Soquei a mesa três vezes conforme falava.
- Você deveria ouvir o lado dele antes de criar histórias...
- EU OUVI! – Falei alto, suspirando. – E ele fala que eu sou a mulher da vida dele, que está fazendo isso por mim e blá, blá, blá. O NARIZ DELE! – Bufei. – Ele foi embora porque eu cansei de ser feita de trouxa, porque eu falei que não aceitaria mais essa relação nossa dele com uma namorada, ele não gostou e aí fica inventando essa história inteira que é por mim e blá, blá, blá. Não é! E eu cansei! – Bufei. – Chega! Chega! E chega!
- Aconteceu alguma coisa nas férias?
- O quê? NÃO! – Falei firme. – Mas chega, Pavel! Chega! – Bufei. – Eu vou atrás dos meus sonhos, meus desejos e ele que vá para o quinto dos infernos. – Falei e ele pressionou os lábios. – Mas imagino que tenha vindo aqui por outro motivo.
- Ah, os jogadores estão chegando, vamos lá para o CT? – Ele perguntou.
- Claro! Eu preciso relaxar. – Suspirei. – Antes que eu quebre alguma coisa.
- Se você quebrar, você mesma vai ter que pagar! – Ele disse, me fazendo rir fracamente.
- Você falou com Lich e Asa?
- Sim, os vi mais cedo, mas eu sempre sou visto como o vilão, null, você é a chefa legal! – Ri fracamente.
- Beh, você não abraça ninguém como eu, vai! – Passei a mão em seus ombros, seguindo com ele para fora da sala e ele ri fracamente.
- Não, até eu gosto do abraço da null. – Ele me abraçou, me fazendo rir.
Seguimos pelas escadas até o térreo e fomos caminhando em direção ao CT. O prédio principal e a entrada do CT eram de lados contrários, mas o estacionamento era uma ótima forma de cortar caminho, estacionamento esse que tinha até lugar marcado dessa vez e eu amava. Beh, pelo menos para o administrativo principal e os jogadores.
- Então, está tudo certo com o Cristiano Ronaldo? – Ele perguntou e eu bufei.
- Está, só falta ele vir assinar o contrato, mas eu ainda acho uma péssima ideia. – Falei.
- Mas foi você quem deu a ideia!
- E eu imediatamente falei que seria ruim! – Falei. – Especialmente por quatro anos.
- Beh, os acionistas gostaram da ideia, então...
- Os acionistas não entendem do jogo em si, você vai ver, vai dar problema! – Bufei, negando com a cabeça.
- Ah, você está sendo pessimista, mas vou levar em conta que você está triste. – Ele disse e revirei os olhos.
- Você sabe do que eu estou falando, Pavel. Você viu as exigências dele. Eu vou adorar falar que eu assinei com Cristiano Ronaldo, mas também vou me odiar se eu estiver certa... – Ele bufou.
- Ah, que mal pode acontecer?
- Os outros jogadores, que literalmente dão sangue por esse time, se sentirem lesados e quiserem sair? – Virei para ele.
- Beh, tem outros que querem vir, dá tudo certo... – Revirei os olhos.
- Me surpreendo do seu apego sentimental! – Falei sarcasticamente.
- É um time, null, jogadores vêm e vão. Jogadores que ficam 10 ou mais anos em um time são raros e você se apega demais a eles.
- Inclusive a você, né?! – Falei, virando para ele. – Pode não estar jogando, mas adorou voltar para cá depois da sua aposentadoria. – Ele revirou os olhos.
- Hum, estão brigando? – Agnelli falou quando chegamos na linha do campo.
- Ah, só mostrando minhas preocupações para Pavel...
- Cristiano? – Ele disse e eu suspirei.
- Sim! Eu acho que vai dar muito errado. – Falei.
- E eu acho que vai dar muito certo. – Pavel disse e Agnelli riu.
- Beh, vamos descobrir, caso não dê certo, você o vende... – Agnelli disse e ri fracamente.
- Ah, claro! Não acho que tenha outro time louco o suficiente para pagar o salário de 30 milhões dele. – Falei, rindo fracamente.
- null, se acalma! – Ele disse. – Você fez isso, agora quer fugir?
- Eu estava bêbada! – Virei para ele.
- Pelo menos você contratou o maior jogador da atualidade, null, imagina se tivesse mandando mensagem para o Gigi? – Agnelli disse e revirei os olhos.
- Hilário! Hilário! Mas acho que preferia. – Suspirei.
- Ciao, ragazzi! – Virei para trás, vendo meus italianos favoritos se aproximarem.
- Ciao! – Sorri e Barza foi o primeiro a me abraçar.
- Ei, você está aqui! – Ele disse e sorri. – Como está?
- Tudo bem e contigo? – Abracei Chiello em seguida.
- Está tudo bem. – Eles disseram, depois abracei Claudio, Fede, Alex, Pjanic, Pinso, Ruga, DeSciglio, além de dar abraços menos efusivos nos novatos.
- Que diferença um corte de cabelo, hein, Bernardeschi? – Passei a mão em seus cabelos ralos e ele riu.
- Falei que estava melhor! – DeSci disse, nos fazendo rir.
- Grazie, chefa! – Fede disse, me fazendo sorrir.
- É, queria eu ter essa evolução em dois meses. – Sorri e eles riram.
- Como se precisasse! – Claudio disse e abracei-o de lado.
- Então, o que acharam? – Agnelli perguntou, indicando o CT.
- Ficou demais! – Pinso disse e me abraçou de lado. – Esse cantinho é só nosso?
- É! – Falei, rindo em seguida. – Tratem com carinho, porque não foi barato! – Falei, ouvindo- eles rirem.
- É, melhor avisar o Dybala quando ele chegar! – Pjanic falou, me fazendo rir.
- Vamos começar, ragazzi! – Allegri falou, vindo atrás de nós e sorri. – Todo mundo embaixo da tenda, vamos começar com alongamento. – Ele passou a mão em minha cintura, dando um abraço. – Está tudo bem?
- Sim, mister, está! – Sorri, vendo-o cumprimentar os outros.
- ANDIAMO, RAGAZZI! TEMOS MUITO O QUE FAZER ANTES DE VIAJAR! – Allegri disse, seguindo animadamente pelo campo aberto, me fazendo rir fracamente.
- Ao menos alguém está empolgado. – Falei e Chiello riu.
- Vamos nos empolgar também, né?! – Barza disse. – Nos falamos depois?
- Com certeza. – O senti beijar minha têmpora antes de seguir para o campo.
- Vai viajar conosco? – Ele perguntou, se virando.
- Nem vem! – Falei, ouvindo-o rir antes de seguir. – Tenho muita coisa para resolver aqui.
- Vamos começar outra temporada, ragazzi? – Agnelli disse.
- Sim. – Falamos juntos e suspirei.
- Uma temporada calma e sem problemas. – Falei e eles riram.
- É, vamos começar antes! – Agnelli deu dois toques em meu ombro e virou para trás. Fiz o mesmo e vi Beppe e Fabio chegando também.
- Ok, estou pronta! – Ilaria falou saindo de seu quarto.
- Ah! – Lou tombou a cabeça para trás sem paciência e Dado nem desviou o olhar de seu joguinho de mão. – Ela tem que ir com a gente mesmo? Achei que a ideia de Paris era para ela...
- Louis! – O repreendi e ele voltou a olhar para seu celular, bufando em seguida.
- Ok, vamos conversar! – Falei firme, me aproximando dela. – Você vai lá como minha namorada, você não vai falar nada, nem se te perguntarem. Você vai acompanhar a apresentação, tirar fotos, quando eu for para o treino, você vai embora e o Leo vai ficar comigo até a semana que vem quando vamos para pré-temporada. Capisci?
- Não mesmo! Quem vai ficar com os meninos? – Ela disse rindo sarcasticamente.
- Minha família está chegando. – Falei. – E é bom você aceitar ou nem hoje você vai. – Sorri e ela bufou.
- Esse não foi o acordado, Gianluigi!
- Não? Quer reler o contrato mais uma vez? Porque não era nem para você estar aqui! – Falei firme, pegando o paletó o braço da cadeira e o vesti.
- Não mesmo! – Lou disse. – Eu quero i-i-ir, pai! – Ele falou.
- Nós já vamos. – Suspirei. – Entendido? – Virei para Ilaria. – Nenhuma palavra ou vamos mudar a posição de jogo e você vai ser a chantageada.
- Você é bom demais para isso.
- É, e eu me envolvi contigo, que ironia, não?! – Sorri. – E falavam que eu era ruim por trair a Alena... – Bufei. – Ok, andiamo, ragazzi! – Virei para os meninos que já estavam com cachecóis do PSG nos pescoços. – Você também. – Falei, esticando minha mão para Ilaria.
Ela deu um sorriso antes de segurar e fechei os dedos antes que ela quisesse entrelaçá-los, já estava difícil o suficiente acompanhar sua presença ao meu lado, também não precisava exagerar. Nós quatro entramos no elevador e só era possível ouvir o som dos jogos dos meninos.
- Senhor Buffon. – Marcel, a nova Angela, estava no térreo do prédio.
- Bonjour, Marcel. – Usei o francês, Ilaria não sabia, então era só uma das formas que eu podia irritá-la. – Achei que fosse te encontrar no estádio.
- Sim, mas nossos torcedores mais apaixonados...
- Ultras! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Sim, eles vieram até aqui! – Ele disse, abrindo a porta que dava para fora e ouvi várias buzinas.
- Como eles descobriram? – Perguntei, rindo fracamente.
- Bom, todo time tem isso, né?! – Ele disse rindo e assenti com a cabeça. – Podemos ir?
- Claro! Claro! Esses são meus filhos Louis e David. – Os apresentei e ambos ergueram suas cabeças quando citei seus nomes.
- E ela? – Ele indicou Ilaria. – Esposa?
- Não, nunca! – Falei, rindo fracamente. – Vamos?
- Claro! Claro! – Ele indicou. – O carro já os espera.
- Vamos, meninos! – Indiquei-os.
- O que ele disse? – Ilaria perguntou.
- Ele adorou seu cabelo! – Falei, sorrindo para ela antes de seguir logo atrás deles.
Diversas motos estavam paradas no meio da rua, algumas parando o trânsito, e elas buzinavam alto, seguravam bandeiras do time e tinham sinalizadores em mãos. Parecia minha entrada na Juve há 17 anos. Eles buzinaram quando saí e acenei com as mãos enquanto meus meninos tiravam fotos.
- S'il vous plait... – Marcel indicou e esperei que meus meninos entrassem, depois Ilaria para eu entrar, além de Marcel que também entrou, cabendo os cinco confortavelmente. Eu e Marcelo na frente e meus meninos com Ilaria ao lado. – Chegando lá no estádio nós vamos encontrar o presidente Nasser, ele vai te apresentar ao estádio, vocês tirarão fotos, depois terá uma pequena coletiva... – Assentia com a cabeça devagar conforme eu entendia as informações.
- Giusto.
- Depois você terá uma entrevista rápida para nossas redes sociais com outra assessora e, por último, te levaremos para o CT para fazer um treino, conhecimento de companheiros de time, coisas que você já deve star acostumado.
- Sim, sim! – Ri fracamente. – Mas normalmente eu era o veterano, nunca o novato. – Ele assentiu com a cabeça.
- Sim, sim, mas nesse mundo de futebol acaba que todos vocês já se conhecem, não? – Ele disse, desviando o olhar de seu celular.
- Acaba que sim, mas ligas diferentes, algumas coisas mudam. – Assenti com a cabeça, desviando para a janela onde os motociclistas nos seguiam buzinando e sacudindo as bandeiras.
Diferente do CT, eu ficava próximo ao estádio, cerca de 10 minutos de carro, do outro lado do rio Sena. Eu sou um apaixonado por futebol, não só um jogador, então eu era verdadeiramente apaixonado por tudo que esse mundo nos proporciona, inclusive estádio e o Parc des Princes era realmente bonito. Desci do carro, acenando para o pessoal e Marcel me indicou a entrada e fui até lá, encontrando Maurice.
- Bonjour, Buffon.
- Gigi, por favor. – Falei, cumprimentando-o e ele assentiu com a cabeça.
- Por aqui, vamos, Gigi? – Assenti com a cabeça e o segui.
Acompanhava os corredores e as decorações do estádio realmente surpreso. O azul e vermelho do PSG estavam em todo lugar, igual o preto e branco da Juventus, mas infelizmente essas cores não me davam o mesmo aconchego da Juve. Entramos em uma sala e o presidente Nasser estava lá.
- Ah, Buffon! – Ele disse animado e sorri, andando em sua direção.
- Presidente Nasser, que prazer! – Cumprimentei-o ao modo italiano com dois beijos e ele retribuiu.
- Só Nasser ou Nass. – Ele disse rindo e assenti com a cabeça. – Beh, o que está achando de Paris? De tudo?
- É magnífico. – Falei e ele sorriu.
- Fico feliz que esteja bem. – Ele indicou o caminho. – Já explicaram para ti como vai ser tudo hoje?
- Sim, já, Marcel estava me explicando. – Falei.
- O francês ainda é um pouco complicado?
- Aprendendo melhor na prática! – Ele assentiu com a cabeça.
- É, não foi um idioma fácil quando vim para cá, mas tudo se aprende, não?! – Ele riu fracamente.
- Sim, com toda certeza. – Andei com ele pelos corredores.
- Bom, aqui é o Parc des Princes, estádio exclusive do PSG, igual era o seu antigo...
- Sim, sim... – Assenti com a cabeça.
- Além do estádio, na frente temos um prédio de trabalho compartilhado onde acontecem alguns eventos do time, que também é da nossa propriedade. – Ele ia falando conforme andávamos. – Aqui é onde a mágica acontece... – Ele entrou no vestiário e olhei surpreso.
Diferente da Juve que era um corredor largo e tinha outra salas, esse era uma enorme sala com uma grande mesa quadrada no centro e os espaços individuais para cada jogado. Na Juve cada jogador tinha um armário espaçoso, aqui era grudado e atrás da cadeira tinha um armário e abaixo algumas prateleiras.
- Aqui será o seu, número um. – Ele indicou e vi a camisa verde limão que usei no jogo a primeira vez ali.
- Muito bonita! – Sorri.
- Ainda é um pouco estranho, não? – Nasser falou e ri fracamente.
- Para quem ficou 17 anos em um mesmo time, é um pouco sim, mas é só questão de costume. – Ri fracamente, vendo-o sorrir.
- Não se preocupe! O importante é você ter aceitado esse desafio, as coisas se ajeitam. – Ele disse. – Te colocamos ao lado do Verratti, são amigos, certo?
- Sim, sim, da nazionale italiana. – Sorri. – Um grande amigo!
- Ele estava empolgado com a sua chegada. – Rimos juntos.
- Vai ser bom ter ao menos um conhecido aqui. – Ri fracamente.
- O time não mudou muito desde aquela pré-temporada no ano passado. – Ele disse. – Mas estamos em janela de transferências, sabe como funciona, né?! – Ri fracamente.
- Com toda certeza!
- Bom, vamos para o estádio tirar algumas fotos? Depois voltamos aqui. – Ele disse.
- Claro, vamos lá! – Falei.
- Sua esposa e seus filhos estão lá. – Ele disse e contive em fazer alguma piadinha ou desmentir para o presidente, não precisava e nem deveria entrar em detalhes. Passamos pelo túnel de entrada do vestiário e vi meus meninos e Ilaria ali.
- Aqui é bem legal, pai! – Dado disse.
- Vocês estão felizes? – Perguntei e eles sorriram.
- Só se você estiver. – Sorri, bagunçando os cabelos de Lou.
- Vamos tirar umas fotos comigo depois com a sua família? – Nasser disse e sorri.
- São Louis, David e Ilaria. – Apresentei-os.
- Ciao! – Ilaria abriu um largo sorriso, cumprimentando e meus meninos só conseguiram manter a boa educação que Alena havia dado a eles.
Segui logo atrás dele e pisei na grama. Dei uma rápida olhada pelo estádio, admirando sua beleza e suspirei. Era algo incrível mesmo. Neguei com a cabeça sozinho e ri fracamente, eu estava arranjando diversos motivos para não gostar daqui, mas era tudo bonito, tudo perfeito, um time bem estruturado, ótimo elenco... Claro que não era a minha Juventus e nunca seria, nunca teria aquele calor no coração, aquele acolhimento interno de Vinovo, dos meus colegas e companheiros, mas eu precisava parar de achar motivos para desgostar, ainda faltava 10 meses, muita coisa pode acontecer até maio do ano que vem e eu teria que chegar lá.
- Aqui, Gigi! – Nasser esticou minha blusa e peguei-a seguindo com ele até mais o meio do campo, vendo os diversos fotógrafos e estiquei a blusa, vendo-o pegar do outro lado. – Bienvenue a Paris, Gigi! – Ele disse e sorri, virando para os fotógrafos.
- Merci... – Ergui o olhar para cima, olhando para o céu azul e suspirei. É, agora que o desafio começa de verdade, Gigi.
Continua...
Nota da autora: Oi, gente! Demorei para aparecer aqui de novo!
Bastantes capítulos para vocês, enquanto eu vou revisando o restante!
Espero que estejam gostando!
Beijos e boa leitura!
Outras Fanfics:
Em breve!
Bastantes capítulos para vocês, enquanto eu vou revisando o restante!
Espero que estejam gostando!
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