Fanfic finalizada em setembro de 2012

Prólogo

 Aquele era um dia nublado, que por vezes ameaçava ser ensolarado. Poderia ser um dia qualquer, se fosse na semana de qualquer pessoa. Para eles não era, no entanto. Era um marco em suas vidas, o grande final delas em chave de ouro, ainda que essas tivessem apenas dezesseis anos. O que, na realidade, não lhes importava. Estavam destinados a ficar juntos desde o berço, e não importaria a imposição de seus pais para que isso não acontecesse. Nada os impediria de permanecerem lado a lado, nem mesmo a lei dos homens.

Capítulo Único

 Ela trancou a porta de seu quarto e ligou o rádio, deixando uma música tocar baixinho, como uma das vezes que sua mãe cantarolou canções de ninar para ela quando pequena. Prendeu-se tanto àquela lembrança que se esqueceu do mundo ao redor. Era tão adorável que conseguia revivê-la partes por partes enquanto olhava para sua cama. Inconscientemente, suas mãos pousaram sobre a barriga nua, aquecendo o fruto que seu amor gerara. Sentiu seus olhos arderem e seus canais lacrimais se encherem, mas não era por tristeza. Estava feliz por saber que dentro dela agora havia uma vida, um filho. Tão pequeno e frágil, tão inocente e sem conhecimento sobre o mundo exterior, sobre o terror que era o mudo que lhe esperava. O mundo que o considerava um erro. Um erro por ter sido formado em um ato de amor; um erro por ser parte do destino reservado aos seus pais; um erro simplesmente por seus pais serem jovens demais; um erro que deveria ser extinto. Porém, não deixou que a separassem de seu pequeno pedaço do céu, não permitiu que mãos maldosas se apoderassem de seu bebê. Ela o protegeria, assim como seus pais fizeram. Ela o manteria sempre sob seus braços, sob seus cuidados. E lhe ajudaria, como dissera desde o início. Estariam juntos, todos os três, pai, mãe e filho, até o fim.
 E naquela tarde estavam cumprindo o prometido. observava sua menina abraçada à própria barriga, balançando as pernas de um lado para o outro, ouvindo-a cantarolar para sua criança. Sorriu consigo em meio àquele misto de nostalgia e amor fraternal, deixando a cena continuar por longos minutos, incapaz de encerrar aquele momento tão peculiar. Caminhou até quando viu que ela havia parado seus movimentos, os braços ainda repousando sobre seu ventre sem volume. O curto intervalo de uma canção para a outra permitiu a ele que ouvisse alguns soluços. Ela chorava ainda mais baixo que as músicas que impediam o quarto de parecer um mausoléu. Ele, sentindo dor por vê-la triste, procurou consolá-la. Um abraço forte, fazendo seus braços ficarem sobre os dela, sobre a criança, foi a melhor forma que encontrou para dizê-la que estavam juntos. Contudo, não satisfeito em demonstrar seu carinho com apenas aquele abraço, depositou um beijo sobre o ombro desnudo da garota, que virou seu rosto úmido para encará-lo. Não tinha as feições completamente abatidas, tinha um sorriso nos lábios. Sorriso esse que carregava melancolia e medo. Estava claro que necessitava de apoio na decisão que tomaram, e o dava em silêncio. Não precisava dizer mais uma palavra sobre o que deveria ser feito.
 Ela compreendeu perfeitamente o recado, selando a promessa com um beijo. Deixou de dar total proteção a seu bebê, levando sua mão até o rosto de seu amado inocuamente. As lágrimas encerravam seu percurso quando alcançavam os quatro lábios que se entrelaçavam tão vagarosamente, deixando agridoce o gosto do beijo. sentiu vontade de abraçar somente a , e foi o que fez rapidamente. Laçou o pescoço do garoto, voltando a por sua boca sobre a dele com rapidez, ocasionando um aumento na velocidade com que se beijavam. A vontade dela foi transmitida para , fazendo-o apertá-la entre seus braços. O perfume de jasmim dela misturou-se ao de sândalo dele, criando uma fragrância tão entorpecente quanto a mais forte das drogas ilícitas. E em busca de se doparem com mais daquele odor, seus corpos se uniram, dando origem ao desejo de se amarem novamente. Obedecendo a ele sem questionar, os dois voltaram para a cama mais uma vez.
 Os olhares que trocavam diziam mais que todas as palavras já ditas durante os exatos dezesseis anos de suas vidas. Era apenas ele que queria; era apenas ela que queria. Podiam falar-lhes qualquer coisa, proibi-los de se verem, ameaçá-los de serem separados por oceanos de distância, que eles ignoravam. Fariam o que fosse para voltar para o mesmo ponto, para o lugar que se sentiam seguros. Voltariam quantas vezes fossem necessárias para os braços um do outro, e assim provariam a seus pais, maiores opositores de seu amor, o quanto era forte o sentimento que tinham. E não eram os comentários mal-intencionados dos colegas deles, ou de seus pais, sobre a gravidez inesperada da garota que diminuiriam uma parte sequer da vontade de continuarem como um casal. Os revés que surgiam apenas fortaleciam seus votos de lealdade, que ganhavam ainda mais força quando estavam juntos. Assim como seus votos, a determinação de que fariam valer a promessa de que permaneceriam juntos até a morte.
 A morte... Peça fundamental para que tivessem seu final feliz. Um final feliz fora do script, que corria longe do clichê. Eles e a criança. Durante toda a eternidade como uma família. Felizes para sempre. Era apenas isso que desejavam, era um pedido tão simples, e ao mesmo tempo tão absurdo quando posto em pauta com seus pais. Para os e os , não tinha cabimento duas crianças cuidarem de mais uma, não era bem visto pela sociedade, atravancaria o futuro dos dois, era crueldade distorcer uma vida tão promissora como as deles. Cruéis eram eles ao pensar assim! A palavra distorcer machucava só de ouvir, tamanha a renegação à criança que passava. Aos olhos dos jovens pais, a vinda de seu filho apenas acresceria a felicidade que teriam. Eles queriam passar por todas as preocupações que qualquer casal passa. Eles queriam ser um casal “de verdade”, com a bênção da igreja e registro em cartório. Porém, só em cogitar sugerir a ideia, tinham repreensões, censuras e reprovações de todas as partes. Estavam em um círculo de aparências, ser diferente criava falsidade, boicotes e o pior: preconceito. Poderiam suportar a tudo, mas saber que seriam apontados sempre como um caso anormal os faziam desistir de voltar a suas rotinas, mesmo que não fosse a melhor coisa a se fazer. Os acontecimentos desencadeados pela gravidez estavam dilacerando os sonhos de e , e, sem sonhos para se apegarem, eles se deixavam abater pouco a pouco. Perderam motivos para continuarem a seguir seus caminhos. Entraram em profundo desalento, onde nem mais sorrisos conseguiam ser verdadeiros, de tanta languidez que tinham. Viram naquele momento que só tinham um ao outro, e somente a eles que a criança poderia recorrer. Desesperança foi o primeiro sintoma para que chegassem àquele dia. Aquele dia seria a salvação de suas almas, a redenção, o descanso em paz.
 Não foi difícil para arrumarem a chave para o desfecho. Apenas algumas encenações para os supervisores da instituição que frequentavam, duas ou três mentiras bem ensaiadas e um vidro de material para estudo. A oportunidade lhes esperava de braços abertos: tinham todas as tardes livres para ficarem a sós, fosse na residência dela ou dele. Precisavam apenas escolher onde concretizariam o quase feito. Por insistência dele, o local seria o quarto dela, onde tiveram seu primeiro momento de amor carnal. E onde tinham o último.
 Após deleitarem-se da última relação, vestiram-se novamente com as roupas debaixo. levantou-se da cama para buscar o elixir dentro de sua mochila, deixando sentada sobre a cama, olhando-o com a mesma felicidade nostálgica de antes; as pernas cruzadas, uma sobre a outra; as mãos sobre o abdômen, que era acariciado pelas mesmas; o sorriso triste e seguro de si. Ela queria ser feliz, queria estar junto de seu garoto, mas não queria apelar para a última saída. Todavia, já não tinha mais forças para lutar. Estava conformada com a ideia, e se assegurava de que nada daria errado com fé. Era tarde para revogar. O componente que lhes conduziriam para o tempo infinito estava próximo, chegava às suas mãos em segundos. A garota então o segurou firme, apertando o vidro escuro entre os dedos. sentou-se ao seu lado, abraçando-lhe, indicando que poderia dar o último passo. Ela concordou em silêncio, assentindo. Beijou os lábios de seu namorado pela última vez, mas não em despedida. Almejava apenas ter o gosto de misturado ao amargo do veneno. Obtendo o que queria, ela logo desenroscou a tampa do recipiente, ingerindo parte do líquido após um olhar embargado de lágrimas. Entregou a garrafa a , deitando-se novamente, deixando correr abaixo todas as mágoas que tinha acumulado até aquele instante. Seria a última vez que derramaria suas lágrimas por culpa de alguém, dali em diante não haveria motivos para entristecer-se.
ouviu mais uma vez sua namorada chorar. Partia-lhe o coração ver a angústia em que ela se encontrava. Mas todo aquele martírio estava para acabar em pouco tempo. Tudo iria acabar. E recomeçar. De uma nova maneira, em um novo lugar, com o antigo amor, tão forte e derradeiro que sobreviveria até o sobrenatural. Bastava terminar de beber o veneno que segurava em sua mão suada. Seu olhar se prendeu ao fundo da garrafa, extraindo um por um os pensamentos que rondavam sua mente. Quando essa estava completamente vazia, a garrafa finalmente chegou à boca do garoto. Ele deitou-se ao lado de sua garota, abraçando-a pelas costas, deixando suas mãos – agora completamente livres – sobre o ventre dela. Sentiu os dedos fracos e úmidos dela cobrindo os seus. Deixou uma lágrima grossa escorrer de um olho para o outro, unindo-se a outra antes de alcançar a fronha do travesseiro. Era a primeira e única vez que ouviria seu pranto, que sentiria que ele se deixava vulnerável aos tormentos que os assombravam.
 Os dois sentiam enorme fraqueza, o sangue já não corria mais com toda a vitalidade de minutos atrás. Seus corações resistiam, tentando inutilmente exercer suas funções. Doía sentir cada pulsação dentro do peito sem forças. Respirar era tão inútil quanto tentar abrir os olhos. Entretanto, ainda faltava uma última ação a ser feita. Três palavras, que formavam uma pequeníssima frase de significado imenso, quase megalomaníaco:
– Eu amo vocês. – Foi o que conseguiu sussurrar. Seu corpo tinha o peso de uma bigorna, nem as pálpebras se aguentavam erguidas. Seus ouvidos ouviam apenas o barulho de seu interior.
– Eu também – soprou em seus últimos restos de vida. Apertou a ponta dos seus dedos com o máximo de força que juntou, sentindo seu amado fazer o mesmo. Ele conseguira ouvir. E naquele instante não haveria mais nada para se preocuparem. Não ousavam pensar que estavam morrendo. Estavam chegando ao fim, ao novo início. Estavam libertando-se de todos os sentimentos ruins que os prendiam sempre ao chão; deixando seus corpos fatigados e todo o terror do mundo para buscarem a felicidade eterna; iniciando um novo período de paz, alegria, amor. Um período em que permaneceriam juntos, todos os três, pai, mãe e filho. Agora além do fim.

Epílogo

 Pela manhã, o jornal noticiava o acontecido com palavras duras, retirando qualquer resquício de paixão da atitude que eles tiveram. A manchete era fria, acusava-lhes de serem loucos apenas com o impacto que causava com toda a máscara que criava sobre o caso. “Na tarde de ontem, , foi encontrado um casal de adolescentes mortos dentro de um quarto na área nobre da cidade. , 16, e , 16, estavam deitados lado a lado, seminus, em uma cama de solteiro. Ao que aponta as circunstâncias, trata-se de um duplo suicído, agravado a duplo suicídio e homicídio doloso pelo fato de a adolescente estar grávida de seu namorado. No criado-mudo havia um vidro de Cianureto e uma carta contendo as explicações para tal ato desumano:

Não esperamos que nos perdoem por fazermos isso. Nós também não os perdoamos por nos obrigarem a matar nosso próprio filho. Mesmo assim, quero que saibam que é com os corações apertados que eu e deixamos esse mundo. Estávamos cansados de toda a hipocrisia dos nossos colegas de classe, desgastados de todas as constantes brigas que tínhamos com os senhores e com os pais dele. Queríamos apenas ser uma família. E seremos de agora em diante, não importa a maneira como aconteça. Estamos em paz, estamos felizes... Estamos juntos. E não há absolutamente nada que nos separe, pois até a morte conseguimos vencer. Tudo isso porque acreditamos no nosso amor. Queríamos que vocês tivessem feito o mesmo, pois assim esse problema seria evitado. De qualquer forma, obrigada por tudo que fizeram em minha vida. Conhecer em exatos dois anos atrás, naquele imprevisto com as festas de aniversário, foi o melhor presente que eu poderia ter ganhado. Nós amamos os senhores e os , nunca duvidem disso.
    Com carinho,
      e



FIM



Nota da autora: Mais uma short que comecei no meu período crítico sem internet rs A história foi super inspirada em uma fic super linda (Murder Living) e na maior história de amor (Romeu e Julieta). Ouvir Falling Away With You - Muse seguidas vezes também ajudou bastante na vontade de escrever hihi :B
Não sei vocês, mas eu acabei chorando quando reli. E não foi de emoção, foi de raiva de mim mesma. Tinha partes que deviam ser lindas, mas caguei no pau escrevendo -_-' Me sinto meio idiota por isso. Enfim, não tenho muito pra dizer, só que não me batam por escrever um duplo suicídio .-. Ah, e pedir que comentem, claro! É super-ultra-mega-hiper-importante que me digam o que acharam. E isso não é um tipo de chantagem pra arrumar comentários rs Well, queria agradecer a quem leu e dar um agradecimento especial a Marii², por ter aceitado betar esse cocô mesmo sem saber nada da história. MUITO obrigada, migs, mesmo *-* Espero que não tenha se assustado quando percebeu sobre o que era a fic RS
Ah! Se interessar, há também uma reescritura slash de FAWY (mas claro que não tem ninguém grávido rere), o link tá logo no final.
Então é isso. Se forem furnicar, usem camisinha; se não usarem, comprem pílula do dia seguinte; se não funcionar, não se matem RS
Até a próxima :D
xxo Abby

Nota da beta: OK, eu já estava totalmente emo.tiva, e a Fabi ainda me fez chorar por essa fanfic, PQP ><'
Mas tudo bem... Porque vale a pena chorar. Vale a pena chorar quando cada palavra te toca de um jeito especial.
Abs, você é uma escritora incrível, e eu tenho que te agradecer... Agradecer pela confiança e pelo carinho. Porque se não fosse por essa família da qual fazemos parte, sinto que eu não seria completa!
E se você falar de novo que Falling Away With You é um cocô, vou te matar. E não vai ser com vidrinho de veneno, vou pegar minha Glock e -QQQ
Erros? Ignorem a Abby, e mandem e-mail para MIM, em marii.hurtado@gmail.com, thaaaanks!
Beijos!
Marii-Marii

P.S.: Essa música não é linda demais, Senhor? D: Muse (L)






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