contador free

[ 41 ] – Drunken plots hatched to jump it

🎵 Ouça aqui:
Red Light Indicates Doors are Secured - Arctic Monkeys

"Você não viu que ela era linda?
Ela era inacreditável."

— Parece que ele não se machucou muito.
Candice semicerrou os olhos por trás dos óculos escuros na direção do maknae, que saltava da grande van preta junto com Taehyung e Jimin e recebia a rajada forte de vento no cabelo recém cortado, deixando o rosto parcialmente à mostra graças à máscara preta que ele e todos os outros usavam. Ou quase todos.
Yoongi remexeu uma última vez na mochila aberta, levantando o queixo para olhar na direção que ela avaliava.
— É porque você não o viu no primeiro dia — murmurou, voltando a verificar se tinha pegado seu carregador de telefone. Previsivelmente, Candice se virou pra ele. — Sim, eu não te mandei nenhuma foto e você ainda está brava com isso, já entendi.
— É uma imagem que eu não poderia recusar — ela sorriu falsamente e cruzou os braços, afundando mais no banco do seu novo Buick Lacrosse. Os garotos pareciam longe demais de onde ela estava estacionada perto da área de embarque, e ainda mais longe de olhos curiosos. Candice demorou a acreditar quando Yoongi tinha dito que conhecia um jeito de chegar ao avião sem passar por todos os flashes e os acenos do aeroporto, mas ele parecia ter bons contatos. Nada como ser famoso e rico na Coreia do Sul.
Olhar e falar sobre Jeon Jungkook naquela jaqueta preta e seus jeans escuros da Balenciaga escondendo com maestria o restante dos hematomas no olho direito também era uma forma de Candice se dispersar do fato de que, infelizmente, um ovni não tinha sido avistado e abduzido toda a Califórnia para que usassem de bom motivo para o cancelamento do Grammy. Ou talvez apenas um adiamento. Só enquanto trocavam o lugar do evento, tentavam uma comunicação extraterrestre e todas essas coisas.
Desejo de merda, ela sabia. Mas eram 4 dias e… droga, ela já estava com saudade dele. Queria aproveitar que estava no banco do motorista e travar todas as portas, pisar no acelerador e ir embora dali. Ela nunca faria isso, mas queria. Também nunca falaria isso, mas sentia. Olhava pra ele naquele jeitinho calmo e concentrado enquanto procurava suas coisas, colocava tudo no lugar, revisava um milhão de vezes seus pertences e implorava para os deuses que cancelassem sua saudade, então!
Mas ver Min Yoongi subindo no palco do Grammy, um sonho que já tinha compartilhado um milhão de vezes com ela, tornava aquele sentimento sufocante um pouco menos brutal. Mesmo com todas as fofocas ainda rolando e sua vida virando de cabeça pra baixo na última semana, Candice Chaperman teria orgulho de contar daquele feito para quem quisesse ouvir. Sabe o gato que fez um rap alucinante no Grammy? Meu namorado!
O que tem uma carinha julgadora de tédio? Meu namorado!
O que te destruiria com palavras? Meu namorado!
Ela amava aquela denominação! Soava como música sempre que se lembrava dela.
Quando ele, enfim, suspirou e balbuciou um “pronto, está tudo aqui”, Candice sentiu o estômago afundar, mas o mandou embora com um sorriso. Viu o telefone dele vibrar e o nome de Namjoon piscar na tela e soube que estava na hora. Ele imediatamente bloqueou a chamada e se inclinou para ela sobre o câmbio, beijando-a da mesma forma que beijou quando acordaram na mesma cama de manhã.
— Vou morrer de saudades de você — Yoongi disse em cima de sua boca, e Candice a mordeu de leve. Sempre fazia isso. Aplacava a vontade de agarrá-lo como uma maluca em lugares que podiam ser vistos. — E sobre a viagem, eu acho que ainda podemos…
— Não dá, gatinho. Já disse que vou trabalhar — ela estalou um beijo rápido em seus lábios, sem tirar o sorriso do rosto, mas logo revirando os olhos de volta para o volante. Yoongi abriu a boca para protestar, mas entendia a atitude. Era mais uma das dezenas de coisas que precisavam conversar e se adequar diante da nova realidade.
Fugir de tudo era a primeira coisa que Yoongi queria fazer quando voltasse para Seul, porque em alguns dias era quando o trabalho realmente iria começar pra valer. Álbum novo, coreografias novas, publicidades, conteúdo, fotos, agenda mais do que lotada. Queria aproveitar Candice, queria se isolar com ela em uma ilha, queria ir pra qualquer lugar do mundo em que só tivesse os dois. Sabia que ela queria a mesma coisa, mas esse querer foi brutalmente impedido por todas as notícias. Por todo o caos. Por toda a pressão que ele sabia que ela devia estar passando na empresa e que não o contaria de jeito nenhum.
Fazer uma simples viagem a Jeju agora parecia um ato um tanto perigoso para Candice, mesmo que Yoongi oferecesse um milhão de garantias. Ainda assim, para ela não valia o risco. Não enquanto ele estivesse tão em alta e os dois pudessem sair prejudicados por causa daquilo.
Era o preço odioso e repugnante que Candice estava tendo que pagar por ser a namorada de um astro.
Mas ele estava tentando. Yoongi era discreto por natureza, enquanto Candice prezava sempre por uma boa dose de exposição, e ter os papéis invertidos estava sendo um desafio. Ela não gostava de se segurar quando amava alguém como estava amando ele, mas precisava ser inteligente naquele contexto. Tinha um plano em mente, um que estava em andamento, mas enquanto isso… precisava encontrar alguma forma de não entrar naquele avião junto com ele e esquecer de suas funções.
Candice suspirou e voltou a beijá-lo, dessa vez com um pouco mais de força e sensualidade, marcando até a alma do sujeito. Yoongi expirou quando se separou dela, sorrindo abobado, deslizando os dedos pelo cabelo loiro refletindo o sol batendo no capô, forçando os braços e pernas a alcançarem a maçaneta e saírem para fora.
Era sempre assim, poucas palavras e muito sentimento. Muita coisa subentendida. Candice nunca pensou que se relacionaria com alguém que não precisasse dizer eu te amo o tempo inteiro. Que encontraria uma pessoa que soubesse, simplesmente soubesse. Ela era alguém que gostava de grandes gestos, apreciava a paixão de um homem, queria ver até que ponto iriam. Mas não com ele. Min Yoongi tinha transformado Candice Chaperman. Reduziu a tempestade a uma garoa. Fez ela gostar do pequeno, do simples. Gostou de não fazer tudo sozinha, de deixar ele participar nas decisões que ela tomava no coração. Era o seu ponto de desaceleração. E agora ele estava indo embora, em direção àquele avião gigantesco, um pontinho quase sumindo enquanto outro se aproximava.
Não.
Um pontinho vestido de preto, agora sem máscara e qualquer coisa que Candice pudesse usar para confundi-lo, andando pé ante pé com aquelas botas pesadas na direção exata de seu Buick.
Ela rapidamente franziu o cenho e olhou para os lados. Os demais carros estavam muito afastados entre si, e não tinha motivo para ele seguir para o carro dela se quisesse ir na direção de outro. Só porque ela estava na sombra? Mal tinha sol! O céu estava nublado, feio, rançoso. Por que ele estava vindo?
Quando ele chegou perto do vidro da janela do motorista e bateu com os dois dedos, Candice pensou em encontrar uma maneira de não responder. Era a hora certa de pisar na embreagem e dizer que estava atrasada. Mas ele bateu de novo e ela não teve escolha a não ser bufar e abrir uma metade.
— Jungkook — ela abriu seu melhor sorriso sarcástico, em um falso cumprimento. — Que prazer. Posso ajudar?
— Bom te ver também, Chaperman — ele abriu o mesmo sorriso, quase idêntico, mas com menos farpas. No fundo, ele também era uma daquelas pessoas que simplesmente sabia das coisas. Os dois falavam a mesma língua. — Podemos conversar por um minuto?
Ela quase fez uma careta. Sabia exatamente sobre o que ele queria falar. Sabia de quem. E por mais que imaginasse o que deveria ter acontecido na noite de ontem, quando usou o poder que tinha em mãos e o entregou – um endereço que apontou setas gigantes na direção de sua melhor amiga –, não queria ouvir a história por ele. Não queria saber que ele havia conseguido o que queria e que estava repensando tudo agora, que tinha se enganado, e graças a Deus que Candice estava perto de um mercado para levar sorvete de chocolate e muitos doces pra consolar .
— Acho que você precisa pegar um avião — ela desconversou, e Jungkook balançou a cabeça.
— Ainda temos tempo. Por favor, Candice.
Ela olhou para ele através do vidro. Não havia muita carga de arrogância e brutalidade que tinha geralmente naquela postura de bad boy de araque que ele carregava por aí. Só agora ela reparava na mudança do corte de cabelo e nos novos piercings, o que o deixava mais bonito, o que a fazia pensar em sendo fraca imediatamente.
Candice suspirou e revirou os olhos. Não tinha jeito. Desfez o cinto de segurança e saiu, recostando-se na porta de cor vinho reluzente.
— Os seus 60 segundos estão correndo. Desembucha.
Jungkook passou uma mão rápida pelo cabelo e puxou o ar antes de dizer:
— Pedi em namoro.
A frase andou lenta até o entendimento de Candice. Se arrastou ao longo de todo aquele pavilhão do aeroporto até que ela fizesse uma careta e quase engasgasse um:
— É o quê?
— Você ouviu. Passamos a noite juntos ontem e pedi ela em namoro hoje de manhã. Queria que você soubesse disso.
Candice abriu e fechou a boca, e suas costas já não estavam mais reclinadas na carroceria do Buick. Não sabia se estava chocada, irritada ou muito chocada. Como assim? Que tipo de ferimento esse cara teve? Yoongi não tinha feito a fofoca direito?
A irritação a deixou agitada. Candice deu um passo à frente e Jungkook imediatamente levantou os dois braços em rendição.
— Espera. Se você for me bater de novo, pode não fazer isso no rosto, por favor? Vou aparecer na TV.
Candice franziu o cenho e emitiu um ruído evasivo. Não tinha se aproximado por isso, ou achava que não porque oras, nem estava com sua bolsa Prada que era perfeita para a defesa de uma mulher que andava sozinha na rua. Mas Jungkook parecia certo de que ela faria isso em qualquer outro lugar de seu corpo, e ainda estava ali, sem se afastar. Pronto para o golpe. Determinado a recebê-lo.
Pelo menos na hora de punhos entrarem em jogo, ele não era nada covarde. Já em outras situações…
— Você a pediu em namoro? E passaram a noite juntos? A noite toda? Mas como… Não, esquece — ela balançou as mãos na frente do rosto, lembrando-se do aviso que dera a si própria sobre buscar ser poupada de detalhes quando envolvia Jungkook e . — Não quero saber dos pormenores. Como não me disse isso? A que horas você a levou pra casa? Como conseguiu convencê-la a confiar em você? Como você… — Candice parou a frase no meio quando o viu desviar os olhos automaticamente para o chão, cabisbaixo. A névoa da raiva tinha se dissipado um pouco à medida que ela falava, e Candice notou que ele não tinha nenhum sorriso quando disse que pediu em namoro. Não estava comemorando e nem nada — Espera, ela aceitou o seu pedido?
Jungkook soltou um suspiro triste, de cão abandonado. Um tipo de coisa que fez Candice ficar apreensiva e um tanto… menos brava.
— Não — ele respondeu com um dar de ombros. Seu olhar era resoluto, sem esconder absolutamente nada da loira. — Na verdade, ela não respondeu. Disse que era uma questão delicada e que precisava de um tempo pra pensar. Eu entendo o lado dela, eu só…
Ele abriu a boca, mas terminou a frase com uma expiração forte pelo nariz, largando todo o ar frustrado preso nos pulmões. Não conseguia dizer pra Candice que talvez ela estivesse certa o tempo todo e que realmente achava que ele não era confiável. Que por mais que gostasse dele, não considerava um relacionamento com ele um bom negócio. Que ele realmente tinha fodido com tudo e que não merecia uma segunda chance, como a loira sempre acreditou.
Ainda assim, Candice estava um pouco… impressionada? Chocada? tinha dito não para Jeon Jungkook, o cara que ela estava perdidamente apaixonada?
Bem, um “tempo” não era um não definitivo, mas Candice entendia a expressão um pouco triste de Jungkook. Entendia a tensão da incerteza e em como ela tinha o poder de materializar os piores cenários, mas teria muitas coisas a explicar para ela em casa. Muitas mesmo.
Os 60 segundos já tinham se transformado em 380 quando Candice limpou a garganta e trocou o peso de uma perna pra outra, agora se sentindo ridiculamente encabulada com a situação.
— Ahm, eu… acho que não esperava por isso. Por que você está me contando isso?
— Porque estou apaixonado por ela — Jeon admitiu com tranquilidade, encarando Candice através daqueles olhos minguados. — Porque ela se tornou uma parte muito importante e especial da minha vida e sei que ela ocupa o mesmo lugar na sua. Talvez até mais, muito mais. Sei o que você significa pra ela e por isso achei justo te colocar por dentro das minhas intenções. Ou pedir a sua benção, caso prefira interpretar assim.
Candice ficou imóvel até soltar uma risada perplexa, esperando que ele dissesse que estava brincando. Não apenas pela cafonice, mas porque… porque tinha sido nobre. Cafona e nobre, as duas coisas que mexiam com Candice Chaperman a ponto de deixá-la constrangida e nervosa, e ela tinha a terrível mania de rir quando estava nervosa.
— Você… isso é sério? — perguntou. Jungkook continuava com a mesma expressão, serenamente sóbrio, achando de repente mais fácil de encará-la depois de ter exposto a ligação em comum que tinham em relação ao outro: . Candice notou a mesma coisa e foi parando de sorrir — Ah, isso é sério.
Ele assentiu, agora sorrindo de canto.
— Nunca falei tão sério na vida.
E talvez fosse verdade, mas Candice sentiu a pele ferver. Um mundo de panoramas passou pela sua cabeça como um jato e um deles era a imagem que teve de chorando naquela manhã em que ele deixou sua casa, a imagem dela encolhida na sala há 3 dias atrás e os sons de soluços e mais lágrimas ecoando através das paredes do quarto dela durante muitas e muitas ocasiões. Ela não era idiota, sabia que Jungkook estava envolvido na maioria ou em todas essas situações, sendo o motivo principal ou apenas as sequelas.
— Provavelmente você já sabe, mas não gosto de você, Jungkook — Candice voltou a cruzar os braços, avaliando-o de mais perto. — Se for pra ser totalmente sincera, não confio de você. Ainda me lembro do jeito que tratou naquele camarim e em todas as outras situações onde você enchia a boca pra falar merda dela a quem quisesse escutar. Pra mim, você não passa de um moleque mimado que achou nela uma oportunidade perfeita de negar a si mesmo o fato da sua ex namorada ter te dado um pé e te colocado um chifre do tamanho daquele avião para um planeta inteiro ver, coisa que já era esperada de alguém que vai embora e te deixa pra trás sem mais nem menos. Acompanhei seu relacionamento de perto, ou o máximo que consegui porque não sou idiota e sei que nunca vamos conhecer as relações de verdade, mas escrevi sobre isso, escrevi sobre você e escrevi sobre Ali, porque também trabalhei na merda de uma revista de fofoca. Você parece ter se esquecido desse fato quando só focava em , que foi a única pessoa nessa história toda que nunca quis se aproveitar da sua exposição — ela trincou os dentes, e lançou um sorriso enviesado para Jungkook. — Se me permite dizer, só pelo material superficial que rodou por aí de você e Ali em seus anos dourados, já dava pra ver que a Miss Vicky tinha duas caras, e que uma delas iria cair e se revelar mais cedo ou mais tarde. Não acredito em traições por impulso, e sinceramente, acho que acordar com enfeites na testa foi o menor dos seus problemas com Ali. Afinal, o que são eles perto de toda a merda que ela fez dentro da sua cabeça?
Jungkook permaneceu quieto. A cada vez que tentava falar algo, Candice falava na frente, uma verdade mais desagradável do que a outra. Não queria contar a ela que estava correta, mas seu rosto um pouco pasmo e contorcido dizia isso abertamente.
— É exatamente por isso que me preocupo. Não ligo para o que você pensa de mim, eu ligo para o que você faz com ela. E quero muito acreditar que você foi um filho da puta como sempre, que achou um novo jeitinho sádico de se aproveitar de , mas…
— Mas eu me apaixonei por ela. Muito. E acredite, também fiquei surpreso, também fiquei puto e também rejeitei isso. Mas você, mais do que ninguém, sabe que isso era inevitável — ele respirou solenemente, levantando os ombros. — É a , Candice. Você sabe.
Candice apertou os lábios, engolindo o próprio tom amargo, sendo duramente calada por aquele brilho ofuscante no par de olhos dele. É claro. Jeon Jungkook era idiota, mas não tanto. Estava externando a mesma coisa que ela pensou a vida inteira, ou a parte da vida em que dividia com : era impossível. Ela era linda, apaixonante, profundamente apaixonante. Era feita de detalhes que pouca gente se dispunha a reparar. Candice a via exatamente assim, e sabia que esse era o motivo do porquê era tão fechada, segregada. Era muito rara, diferente, pra poucos olhos e pouco entendimento. Ela notou essa mesma visão nos olhos de Jungkook, e isso embrulhou seu estômago. Roubou suas reações.
Um minuto inteiro se passou até Candice umedecer os lábios e desviar os olhos para o avião antes de voltar a encará-lo, soltando as palavras a contragosto:
é parte da minha família, Jungkook.
— Eu sei — ele assentiu.
— E eu sou a família dela. A única família — frisou, se lembrando de quando cruzou com aquele amontoado de cabelos naquela salinha de espera quente de Los Angeles, sentindo uma simpatia quase cósmica por ela na mesma hora.
Jungkook assentiu mais uma vez.
— Eu sei.
— Sou capaz de coisas bizarras pela minha família. Terríveis — ela levantou um dedo, mas não parecia nada ameaçadora. Os ombros estavam mais relaxados, a cabeça estava mais pendida e a postura corajosa dele enquanto assentia e aceitava todas as suas palavras a tirava um pouco do salto. — Conheço 24 formas diferentes de arrancar o seu pintinho com muita, muita dor! Sei fazer bombas caseiras com meus próprios produtos de cabelo, sei juntar grampos até fazerem uma espada, sei a profundidade que uma unha consegue penetrar na pele, manipulo um salto alto como manipulo uma faca, sei descobrir senhas em fechaduras eletrônicas e, principalmente, sei escrever uma manchete de fofoca muito convincente. Resumindo, sei como fazer você se arrepender de ter nascido — ela estufou o peito e cruzou ainda mais os braços, tentando parecer imponente e até conseguindo até certo ponto. Mas Jungkook sorriu ainda mais por isso, absorvendo tudo quase como se estivesse grato.
— Eu sei.
Candice quase bufou. Sabia que tinha usado o tom certo e a postura certa, mas no fim… não queria assustá-lo de verdade. Só queria… ver. Ver de novo se aquilo que viu há minutos atrás era verdade, ver se ele não fugiria com tamanhas complicações, mas Jungkook quebrou sua percepção com aquele sorriso e aceitação. Se chegasse ao ponto de magoar , ele mesmo bateria na porta de Candice e se ofereceria para as punições. Aceitaria sem dar um pio. Imploraria por mais.
Ele tinha entendido. Absolutamente tudo.
Pela primeira vez, Candice Chaperman se constrangeu e se retraiu diante do amor de um homem. E nem foi um amor para ela, mas para uma parte dela, o que era igualmente importante.
Ela desviou os olhos e coçou a garganta, um pouco encabulada.
— Então… não se esqueça.
E se voltou para o carro, fugindo daqueles olhinhos apaixonados que a faziam automaticamente se perguntar por que não tinha dito sim automaticamente?
Jungkook deu um passo para o lado quando ela arrancou com o carro com força da vaga, seguindo na direção da saída a uma velocidade além da permitida. Sorriu quando se viu sozinho, um sorriso que era um pouco de alívio por estar com os dentes e a pele no mesmo lugar e um sorriso de paz por todas as ameaças de Candice, tendo certeza absoluta de que era uma garota de muita sorte.

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Jungkook foi o último a entrar no avião particular, desabando na poltrona individual como se soltasse uma tonelada de pedras dos ombros. Ele fechou os olhos, massageando as têmporas com os cinco dedos, pensando em quantas horas conseguiria dormir enquanto aquela frase terrível de ocupasse sua cabeça.
Eu preciso pensar.”
Terrível. Ele não queria se sentir tão frustrado, mas depois da noite que tiveram e de tudo que falaram, frustração era uma reação mais do que lógica.
Quando perguntado, ele dissera apenas que estava cansado e que queria dormir, o que fazia sentido para quem tinha passado horas e mais horas no estúdio nos últimos dias, mas cantar e tocar uma guitarra não o tinham extinguido tanto quanto atravessar a cidade até o aeroporto pensando o tempo todo que, até quando tentava consertar as coisas, conseguia estragá-las ainda mais.
Ele achou que estava atrasado! Que já devia ter ouvido todas as suas declarações e o seu eu te amo há semanas, talvez 1 mês. Agora se perguntava se não tinha sido rápido demais?! Se tinha metido os pés pelas mãos, colocado a carroça na frente dos bois, dado um pulo maior do que a perna, qualquer coisa assim.
Um tapa rápido em seu ombro o fez abrir os olhos, topando com Yoongi e seu headphone ao redor do pescoço.
— E então? O que ela disse?
Jungkook suspirou, bagunçando um pouco o cabelo.
— Minha namorada ainda não sabe se quer namorar comigo. E a sua namorada praticamente ameaçou cortar o meu “pintinho” fora com uma tesoura de manicure.
Yoongi abriu um sorriso cintilante, segurando uma gargalhada.
— Então você foi muito bem.
Jungkook assentiu e riu pelo nariz.
— É. Metade do caminho garantido. Mas a parte do pintinho foi um pouco pesada, caso ela fale de novo…
— Você não vai falar do seu pintinho pra minha namorada, Jungkook. Eu também tenho uma tesoura de manicure — Yoongi sorriu sem mostrar os dentes e deu dois tapinhas no ombro do mais novo antes de recolocar seus fones e seguir para a própria poltrona.
Jeon riu fraco e ajeitou a postura no assento, ouvindo as vozes baixas e altas ao redor dos outros membros, staffs, agentes, pilotos e todas as pessoas que pareciam realmente animadas de cruzar um oceano para o maior evento de suas carreiras. No fundo, Jungkook também estava feliz, mas estava cansado demais para demonstrar isso. Depois de longos minutos em que olhou para o teto do jato sem pensar em nada, virou a cabeça para observar o lado de fora, notando o céu ainda mais escuro e feio do que quando tinha acordado naquela manhã, adiantando uma chuva da pesada que não demoraria muito para cair.
Ele puxou o telefone do bolso da frente e olhou a previsão do tempo. Só começaria a chover quando ele estivesse bem longe da Coreia, mas a preocupação não era ele. Jungkook gostava da chuva, iria adorar observar a tempestade que fosse enquanto fumava um cigarro no seu quintal. Mas outra pessoa não gostava, e isso de repente o deixou… apreensivo. Trouxe ideias que pareceram malucas e geniais.
Ele discou os números na mesma hora que o piloto avisou da decolagem. O barulho de “tuuu, tuuu” da chamada durou quase dois minutos até Nitro atendê-lo com uma voz grogue:
Você sabe que dia é hoje?
Jungkook revirou os olhos, virando-se para a janela novamente.
— Eu sei. É seu dia de acordar ao meio-dia.
E que horas são?
— Preciso de um favor — ele interrompeu, vendo as aeromoças se aproximando para mandá-lo desligar o telefone. — Preciso que você consiga uma coisa pra mim antes das 5 da tarde. E escreva um bilhete.
Nitro bufou forte do outro lado da linha, com certeza preparando-se mentalmente para o que viria.
Vou cuspir na sua cara da próxima vez que te ver, garoto. Pode falar.

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Se continuasse jogando aquele chaveiro para o alto insistentemente como estava fazendo, alguma hora ele cairia bem no seu olho. Poderia ser na testa, no nariz, em qualquer lugar. Talvez ela mal sentiria, e não reclamaria, já que tudo que estava sendo capaz de sentir era a ansiedade torturante dos segundos no relógio que pareciam não avançar de jeito nenhum.
Já tinha mandando uma infinidade de mensagens para Candice, o que era no mínimo incomum para . Já tinha caminhado pelo apartamento inteiro, tentado assistir TV, estudar, organizar louças, limpar o chão e nada da amiga pisar em casa. Às vezes, nem sabia se queria mesmo perguntar a ela alguma coisa. Só queria… precisava falar. Precisava se livrar daquele fato aberto na cozinha de Jungkook que estava explodindo sua cabeça.
Namorada. Minha nossa, ele tinha dito com todas as letras, em todas as línguas que sabia falar. Por favor, seja minha namorada, .
Se seu travesseiro tivesse pernas, já teria se mandado daquele apartamento há horas, de tanto que foi esmagado e torturado com os gritos da garota. Estava feliz, eufórica, desesperada, perdida. Era tanta coisa se amontoando dentro dela que não achava vazão para acalmar, descarregar. Repetia a frase pra si mesma e essa frase explodia um zilhão de vezes por segundo, a deixava em combustão. Tinha tentado respirar e se distrair, mas a palavrinha sempre voltava: namorada. É o que você é. Achei que não tinha dúvidas.
A fechadura finalmente fez barulho, tirando da falsa concentração que estava tendo em qualquer reality show da TV. Ela passou para o outro lado da sala com uma agilidade surpreendente, fincando-se no batente da porta assim que Candice colocou a cabeça para dentro.
— Porra, ! — a loira grunhiu com o susto, jogando os saltos de qualquer jeito no hall. — Tá ignorando completamente que eu sou mais velha do que você e não gosto de cardiologistas. O que tá fazendo parada aí?
— Onde você estava? — arfou, sacudindo as duas mãos. — Te mandei milhares de mensagens, você disse que não iria trabalhar hoje!
Candice estreitou os olhos.
— Você me mandou 6 mensagens.
— São milhares para mim — retrucou ela. Candice contorceu os lábios e concordou. — Eu preciso te contar uma coisa. Na verdade… eu nem sei por onde começar a te contar essa coisa. Eu juro, Candy, antes de mais nada, eu preciso que você não…
— Jungkook te pediu em namoro.
Candice suspirou enquanto parava com a boca aberta. A loira enfiou as chaves do carro no porta chaves ao lado da porta e finalmente adentrou no apartamento, sem um pingo de perplexidade pelo fato.
sim estava perplexa, abismada. Com os olhos arregalados, se virou para Candice, praticamente correndo até ela, que agora largava a bolsa na mesinha de centro e se jogava no sofá.
— Como você sabe disso? — exasperou. Candice deu de ombros.
— Porque ele me contou.
Ele te contou? — se jogou ao lado dela no estofado, ainda chocada. — Ele te contou?! Como ele pode ter te contado?
— Ele não é tão medroso assim — Candice ameaçou rir, mas parecia muito indelicado fazer isso quando ainda tinha aqueles olhos abismados. — Fui levar o Yoongi no aeroporto, ele estava lá e fez o favor de ofuscar o pouquinho do meu sol pra me chamar pra uma conversinha. Me contou tudo.
abriu e fechou a boca até conseguir dizer:
Tudo?
— Você me entendeu. Agora… — ela se virou de corpo todo para , estreitando os olhos e aproximando o tronco para ela — O que eu não entendo é por que você disse não pra ele?
franziu o cenho.
— Eu não disse não.
— Se não disse um sim, então é um não, . O talvez é sempre um não.
— Não. Não é assim… — choramingou, desviando os olhos rapidamente de Candice e abraçando o próprio corpo para jogar as pernas para cima do sofá de novo. Tinha ficado naquela posição desde que chegou, tensionando os músculos e repassando toda a noite anterior, junto com aquela manhã de sonho e surpresas. — Não é que eu não queira. Não é que eu tenha dito não. Eu só… — ela bufou, passando as duas mãos pelo rosto — Eu não estava esperando.
— É claro que não estava, ninguém está preparada para receber declarações e essas coisas fofas e ridículas que despertam coisas que podem nos fazer sair feridas — Candy deu de ombros, e estreitou os olhos para ela. — Não foi uma previsão macabra, é sério. Só a constatação de uma insegurança feminina. Olha pra mim! Fiquei histérica quando Yoongi me pediu em namoro, você viu. Perto de mim, você até parece uma garota normal.
— Só que nada disso é normal, Candy — voltou a ficar agitada, gesticulando com braços e mãos nervosamente — Não pra mim. Nunca pensei em namorar um idol. Pelo amor de Deus, eu nunca tive um namorado! Nem de mentirinha, nem por 1 semana. E se eu não souber de nada? E se existirem padrões no meio disso tudo que eu não consiga me identificar? E se ele ver que não sirvo pra isso? O que eu vou fazer? O que eu vou…
, respira — Candice agarrou a mão de antes que fosse parar no cabelo mais uma vez e o bagunçasse ainda mais. Era difícil ver aquela imagem de em pura agonia e falta de controle. Fazia Candice se sentir na posição de ponto de equilíbrio, o que era um absurdo completo e um erro, então precisava fazer voltar a si. — Precisamos de cerveja.
não contestou. Candice já estava ficando de pé, correndo até a cozinha e enchendo os braços de pelo menos 5 garrafas de Labatt, muito geladas como ela já as deixava preparadas quando o fim de semana se aproximava. Cinco era um número perfeito – 2 para cada uma e a última seria dividida entre a dupla para um resultado justo. pegou a garrafa gelada que Candice a estendeu antes mesmo da loira se sentar e entornou um grande gole.
— Tudo bem, vamos por partes: você quer ser a namorada dele? Tirando toda essa parte dos rótulos e dos dogmas de um relacionamento padrão. Estou perguntando se você quer namorar com Jeon Jungkook.
— É lógico que eu quero namorar com ele, Candy! — arranhou a resposta, agitando-se. — Eu amo ele! É óbvio, é matemático que eu queira ser a namorada dele, parece a decisão mais certa que eu vou tomar, mas… — ela tombou a cabeça no encosto do sofá, entristecendo a expressão novamente — Talvez… não agora. Não com tudo isso acontecendo.
— O quê está acontecendo? — Candice levantou uma sobrancelha. Logo depois, disse: — Ah, você tá falando da rinha de machos na sala do Mingyu onde seu futuro namorado quebrou o nariz do seu ex-affair? Devo dizer, , não tem vida mais emocionante do que a sua.
— Candy! — arregalou os olhos, e logo depois torceu a sobrancelha em dúvida. — Eu nem sabia que tinha sido na casa do Mingyu.
— Seu namorado conta tudo para o meu namorado, que não conta nada pra ninguém, mas faz esse esforço por mim. É com isso que tá preocupada? Porque se for, fala sério, , você mesma disse que deixou as coisas claras com o Jaehyun, por que então…
— Não é só isso, Candy — balançou a cabeça, respirando fundo. — Sei que aparentemente tive só uma noite com Jaehyun, mas ele… As coisas que ele fez por mim, Candice, enquanto eu estava aqui com Jungkook, eu…
Candice se aproximou de no sofá, agora mais confusa do que nunca.
— Do que está falando? O que Jaehyun fez por você além de um boquete gostoso?
piscou os olhos por um minuto, um pouco atônita por não ter contado aquela parte para Candice ainda. Como não tinha contado isso?!
Não era tão difícil assim achar a resposta. Era só olhar para os últimos três dias para saber que a cabeça de nunca estava no presente, nunca estava na situação onde seu corpo estava, e toda aquela tristeza e culpa não a deixariam ficar trazendo ainda mais preocupação para a cabeça. Mas agora, depois do choque elétrico da noite passada, de tudo que Jungkook voltou a despertar na garota, parecia que tinha finalmente voltado ao mundo real, reencontrando todos os seus problemas pendentes e questões um tanto… difíceis de encarar.
Existia um risco tremendo de Candice jogar aquela garrafa quase cheia entre os dedos na primeira parede que encontrasse, mas não se importou. Contou tudo, da parte do encontro onde Jaehyun deixou claro o que esteve fazendo do outro lado do mundo e porquê estava fazendo, ouvindo os dentes de Candice se fecharem mais a cada minuto, até a parte em que explanava tudo isso para Jungkook e ouvia sua resposta assertiva e a promessa sobre protegê-la.
Quando finalmente terminou a história, a garrafa continuou nas mãos de Candice, mas os dedos estavam brancos e rígidos, usando o vidro como um estepe para não socar alguma coisa.
— Preciso de um cigarro — disse ela, por fim, tateando a bolsa jogada no chão. fez uma careta.
— Eu não gostaria disso…
— Eu também não, mas o que você quer que eu faça agora, depois de ouvir tudo isso? — a loira se colocou de pé e escancarou a primeira janela, afastando o vasinho de plantas avulso que tinha colocado ali por uma questão decorativa, puxando um isqueiro mini de algum lugar da terra.
abriu a boca.
— Há quanto tempo você esconde isso aí? — ela parecia perplexa, talvez pela quinta vez no dia. Candice acendeu o cigarro e balançou o braço para dispersar a fumaça.
— Desde que você ameaçou ligar para o meu pai se eu não parasse.
— Eu vou ligar para o seu pai!
— Podemos voltar ao seu problema, por favor, ? Tem ideia do que acabou de dizer? Você disse que Ali Dalphin está te procurando!
— Ela estava me procurando, Candy. Jaehyun disse que…
— Isso não importa! Essa demônia teve coragem de dirigir até aquele antro só pra poder saber o seu nome. Depois de tanto tempo. Por que uma celebridade como ela voltaria ao lugar que manchou sua reputação? Isso é coisa de gente maluca, de gente que não tem mais nada a perder — disse ela, voltando a tragar com força, com uma expressão aborrecida e ao mesmo tempo indignada. — Como James pode fazer isso?
— Entregar a Hilary? Você achou mesmo que ele…
— Que poderia apontar pra você? Sim. Não ele, talvez, porque fala sério, não espero nada de bom daquele boçal. Mas a gente se lembra bem daquela ruiva esquelética, e se ela foi colocada na frente do alvo de Ali de graça, isso não pode ter terminado assim. Fala sério, eu não deixaria que terminasse assim.
— Candy, ele disse com todas as letras que foi isso que aconteceu — deu de ombros, sem forças para pensar em outras possibilidades como certamente a mente de Candice estava fazendo no momento. — Ele foi com Ali, ela falou com James e voltou com o nome de Hilary. E não fez nada contra ela, não fez nada de nada. Voltou para o hotel, foi embora, não sabemos mais. Acabou. Acha mesmo que se Ali tivesse descoberto alguma coisa, já não teria feito algo? Já não estaria aqui?
Os olhos dela minguaram na mesma hora com a ideia, e afogou aquele pico de medo com mais um gole da bebida. Candice afastou mais um montante de fumaça, liberando as cinzas da guimba no mesmo vasinho, olhando para a amiga com os olhos semicerrados e reflexivos.
— Eu não sei. Isso tá muito esquisito — ela balançou a cabeça. Em seguida, voltou a olhar para — E por que ela voltaria por isso? Se quisesse te ferrar, podia fazer isso com uma ligação. Uma denúncia e o número da LA Parker e pronto, descobririam seu tempo de serviço. Mesmo que eles não façam questão dos paparazzis assinarem um contrato, o que sempre achei um absurdo…
— Ela não voltaria só por isso, Candy — respondeu cabisbaixa, apoiando o queixo nos joelhos. — Ela voltaria por ele. Voltaria pra ficarem juntos de novo. Ela… Ela disse isso para o Jaehyun.
Candice permaneceu impassível ali, de pé ao lado da janela, entendendo e captando talvez o maior dos motivos do porquê aquele sim não tinha saído da boca de na cozinha de Jungkook naquela manhã. Era uma pirâmide de vários medos: medo da exposição, da privação de atividades comuns, cuidado exacerbado com privacidade, preocupações chulas sobre nunca ter tido um relacionamento, encarar as coisas ficando ainda mais sérias e várias dessas questões que partiam de apenas uma: ele ainda a amava?
O que Jungkook faria com a imagem de Ali Dalphin novamente na sua panorâmica? O que faria se ela aparecesse, se quisesse ficar? Se mostrasse arrependimento e todas essas coisas?
Candice não tinha pensado nisso. Por incrível que pareça, aquele fedelho tinha conseguido conquistá-la em uma conversa de 6 minutos. Candice tinha uma capacidade absurda de ler as pessoas, porque desde sempre precisava convencê-las a respondê-la, e fazerem isso da forma mais sincera possível. Sabia tirar uma verdade aqui e outra lá de alguém, usava a boa aparência e boa lábia pra isso, não se importava se alguém iria viver ou morrer com a culpa de ter se aberto demais com a loira bonita que segurava um gravador e decidia seus destinos com um teclado, mas Jungkook não precisou de nada disso para falar. Para mostrar. Estava ali, naqueles olhos e naquela postura muito mais do que todas as palavras que ele disse. Não deixou espaço pra Candice duvidar.
Mas não era assim, nunca foi. lia os ambientes, o céu, a terra, o mar, os animais. Procurava elementos escondidos nas paisagens, as mensagens que a natureza e o próprio mundo passavam. Era mais profunda do que a superficialidade das pessoas, tinha uma beleza interior ofuscante e sentia mais do que via. Nas pessoas, via o lado de fora enquanto Candice via o lado de dentro, sugando os elementos que queria. não. Isso a incapacitava como juíza dos sentimentos de outras pessoas.
Ela revirou os olhos, puxando sua cerveja escorada no peitoril da janela e afundando o cigarro no vaso, voltando para o sofá.
— Você não tem nada a ganhar se ficar se comparando com aquela Vicky Francesa, . Isso só vai foder sua mente, te deixar pesada, te colocar em um pesadelo.
— Eu não estou me comparando com ela…
— Se não está se comparando, está se rebaixando, o que é pior ainda — salientou Candice, pegando em uma das mãos da amiga — , você é linda. Sei que isso é óbvio e já cansei de repetir, e sei que esse deve ser tipo apenas um dos milhares de motivos do porquê Jungkook se apaixonou por você, mas você precisa acreditar mais em si mesma. Não sobre ser linda, mas sobre o que ele sente por você. Sei que a gente fica insegura quando sabemos do passado do cara, ainda mais você que praticamente estava lá em algum momento, mas a Ali, bom… ela foi uma completa miserável com ele, e não concordo com a forma como ele lidou com isso, mas ser traído é uma merda. Eu sei disso. Fiquei bêbada e dancei em cima de 50 mesas diferentes de pubs diferentes depois daquele idiota do Porsche, o que me faz uma cópia igualmente ruim de Jeon Jungkook, mas a coisa é que passou. Você não pode negar que hoje ele está muito mais… feliz — Candice fez uma careta. Ainda era difícil associar uma imagem simpática de Jungkook na sua cabeça, uma imagem em que ele era feliz, educado e não ofendia pessoas gratuitamente por aí.
bufou forte, sem mudar a fisionomia derrotada, deixando agora aqueles sentimentos saírem sem vergonha.
— Eles nunca conversaram, Candy — disse ela, enrolando a ponta do cabelo em um dedo. — Eles nunca terminaram oficialmente. Eu nunca tinha pensado nisso até hoje de manhã, e concordo que ela ir embora e cortar a comunicação seja autoexplicativo, mas eu não… eu não acredito em superações de coisas mal resolvidas. Não acredito que merda jogada pra debaixo do tapete suma de um dia para o outro. Eu não…
Não foi assim comigo, ela quis dizer antes da voz quebrar. Veja o que aconteceu com minha mãe. Com aquelas pessoas, como sempre acontece quando me acham e me ligam. Antes do momento, eu sempre acho que superei. Que estou livre, que nada vai me abalar. Mas no mesmo instante em que ouço a voz deles, tudo volta de novo. Assim como tudo voltou da última vez. Assim como me destruiu e me afundou. Porque, no fundo, eu ainda acreditava. Ainda torcia. Ainda sofria…
Candice parecia estar vendo os pensamentos de passearem pela sala. Rapidamente, a loira balançou a cabeça em negativa várias vezes, chegando mais perto de .
— Ei, não foi de um dia para o outro. Você me escondeu sua putaria com Jungkook por dois meses, e quando me contou, vocês já estavam apaixonados. Como você pode…
— Eu não sei quando ele se apaixonou por mim.
— Que se dane, a partir do momento em que ele disse, é porque não estava sentindo nada mais forte do que isso. É porque já era um caminho sem volta pra ele, . Aquele moleque conseguiu me convencer. Tenho certeza que deve estar recitando poeminhas apaixonados nesse exato momento enquanto cruza o oceano — Candice puxou a cerveja de novo e bebeu, e não viu o rosto de corar minimamente. — Falando nisso, gostei do novo corte de cabelo. Vai ficar muito bom em todas as capas que pretendo exigir que ele faça.
— Que capa?
— As capas da Vogue que ele me deve depois de eu ter revelado sua localização ontem — ela deu de ombros, inocentemente. estreitou os olhos e a olhou sem acreditar. — Eu sei, não precisa me agradecer. Eu que deveria te dizer obrigada, aliás. Quando você disser o seu sim depois que ele voltar, ele vai estar muito animado e energizado para passar um dia inteiro em um estúdio. Já até consigo imaginar os cenários.
Ela suspirou sonhadora, enquanto desviava os olhos, novamente angustiados.
, por Deus, melhora essa cara! Você não pode invalidar todas as coisas que passou com Jungkook, por mais que eu não saiba a dimensão delas. Devem ser no mínimo relevantes para te colocar onde está hoje, e pra fazer ele melhorar tanto. Não sou boa com conselhos, mas nessa hora vou agir como a voz da razão: se você quer, agarra. Nada é mais forte do que vocês. Basta você querer.
queria dizer que concordava. Sabia do que sentia, entendia mais ou menos onde tinha começado, sabia onde queria terminar as coisas. Traçava várias rotas na mente, fazia uma teia de possibilidades que sempre terminavam no mesmo lugar: na cama, nos braços dele, no beijo dele e no jeito como a olhou naquela chuva. No jeito como a olhou debaixo daquelas luzes vermelhas, no jeito como sorriu pra ela quando fez amor com cada parte de . Era ali que queria ficar e se afundar, que queria se abrir e deixar ele entrar, que queria passar o resto da vida, por mais que nunca tenha pensado em resto da vida para nada além de fotografia. Mas estava tão apaixonada, tão louca por ele, que a ideia não soava como absurda, soava como óbvia.
— Não estou invalidando nada, Candy. Nunca vou saber explicar as coisas que passei com Jungkook. Eu só… — ela bagunçou novamente o cabelo, afundando o rosto nos joelhos. — Ele brigou com Jaehyun por minha causa, eles não são mais amigos por minha causa, ele e Ali ainda podem conversar e… E…
— E ele ainda escolheu você — Candice deu de ombros, levantando uma sobrancelha. — , desde quando nós, garotas, somos o único motivo de despertar a ira de garotos? Essa fábula de dois caras brigando por causa de uma mulher é uma balela total. Eles não brigam por ela, brigam por eles. Por ego ou por alguma dor. Por ciúme ou por derrota. Você até pode ter sido o pivô da discussão, mas chegar ao ponto que chegaram significou mais uma tonelada de coisas que não cabe mais a você. Jaehyun não se sentiu traído, se sentiu injustiçado, porque quis dar uma de Robin Hood no exterior sem ninguém saber e não se tocou do espaço que estava deixando para trás. Ele achou que você esperaria e tudo bem pensar isso, mas tudo aconteceu como aconteceu e você não tem culpa porque também não esperava, nem fazia ideia. A partir do momento em que ele não deu um retorno, você tomou uma decisão lógica de desistir e foi isso. Nós não temos tempo pra ficar tentando adivinhar o que os outros estão pensando ou fazendo por aí, ninguém tem — Candice suspirou e quis imediatamente outro cigarro. A expressão de estava começando a mudar, se tornando mais atenta. — Esses dois são amigos há muito tempo, . Devem conhecer podres um do outro que nem fazemos ideia, assim como devem se amar em um nível que também não fazemos ideia. Com a cabeça quente, ninguém avalia nada direito, e eles sabem onde erraram e onde podiam ter consertado, mas você… é injusto que você se sinta culpada. Você foi apenas a superfície para tudo que eles deviam ter guardado um sobre o outro e sobre eles mesmos durante tanto tempo. Esse espaço não é seu. Essas questões não são suas.
— Não acho que eles vão voltar a ser amigos se eu aparecer namorando o Jungkook — insistiu na careta desanimada, segurando a cerveja perto da boca, tomando um gole lento.
— Bom, e quem garante que vão fazer as pazes se você não namorá-lo? Esqueceu do que eu disse sobre não despertarmos esse tipo de coisa? Eles têm problemas mais profundos para resolver entre si. Se não estiverem dispostos a isso, o que você pode fazer? Não pega essa bagagem pra você, . Não tenta carregar a cruz mais pesada em uma situação onde todos erraram em algum ponto. Promover uma auto-penitência não vai te dar uma vantagem na hora de entrar no paraíso.
riu um pouco, completamente inesperado e repentino. Candice a imitou, parecendo aliviada por ver aquele sorriso desbravar aquela expressão carrancuda e triste, e jogou as longas pernas para cima da mesinha de centro.
— Além disso, namorar uma celebridade fica mais fácil quando você tira o peso dessa palavra. Não pense nos números dele, nas fotos, no holofote, na profissão… não pense em nada disso. Só pensa nele, no nome dele e em tudo que ele é quando estão juntos. Se precisar, invente um nome para se referir a ele toda vez que pensar em fazer algum plano. Eu faço isso com Yoongi. Nos dias normais, eu vou comprar lingeries e depois tomar um sorvete com o senhor MY.
explodiu em uma gargalhada estrondosa, quase engasgando com o líquido gelado na garganta, atirando uma almofada em Candice enquanto a loira se defendia, levantando os dois braços na frente do rosto. “Como vai ser o nome do Jungkook?”, ela disse enquanto se levantava antes que mais uma almofada pegasse em sua testa, e precisou correr até a cozinha quando se atreveu a imitar um casal se beijando perto da janela.
O assunto pesado não existia mais, ou nada pesava o suficiente quando e Candice estavam se divertindo. Com mais um brinde, as duas se jogaram no sofá depois de alguns minutos de uma guerra desordenada de almofadas e suspiraram para o teto, sentindo a paz de estarem em casa.

・ ❬📸💔❭ ・


Candice estava roncando no sofá quando o céu imitou o barulho, rosnando ainda mais forte do que ela, acompanhado de um clarão que iluminou toda a extensão de Seongdong-gu.
tremeu os ombros de susto, acordando sobressaltada no tapete. Uma fisgada na cabeça a fez gemer com frustração, olhando ao redor com lentidão, o raciocínio completamente grogue. Não se lembrava de como tinha ido parar ali. Lembrava de se deitar ao lado de Candice naquele sofá apertado, de encontrar uma posição boa no ombro da amiga, mas fez a péssima escolha de se deitar na beirada. E sempre se esquecia de como Candice era espaçosa.
Além disso, havia algo muito estranho na frente da sua vista embaçada. A TV ainda estava ligada em algum programa aleatório, com o volume no mínimo, passando apenas imagens de um outro reality show. A mesinha de centro estava lotada de mais garrafas de cerveja, o dobro ou triplo das que se lembrava de ver nos braços de Candice, e entendeu porque sua cabeça estava doendo, mas ao mesmo tempo… ela não sentia mais nada no resto do corpo. Sua cabeça girava, seus dedos se moviam com lerdeza. Ainda estava bêbada, mas faria um favor a si mesma e iria para a cama para se livrar daquela…
Mais um trovão a fez soltar um grunhido e encolher a cabeça nos joelhos. Merda, eles pareciam estourar em ecos no seu cérebro tão lerdo. Piorava a situação, piorava o medo. Não adiantava abraçar Candice naquele sofá minúsculo e ela não aguentava a loira de 1,77 no colo para levá-la ao quarto. Ao mesmo tempo, não queria ficar sozinha lá. Então, sem escolha alguma, deixaria aquela leseira levá-la ao sono de novo e dormiria ali mesmo, embaixo de Candice, abraçada aos joelhos e deixar o álcool fazer o serviço. Fim de jogo. Que a chuva viesse e passasse como uma imaginação.
Mas antes que pudesse colocar seu plano em prática, um “triiim triiim” estridente encheu a casa, assustando-a de novo, soando acima do som macabro dos trovões.
bufou e se apoiou na mesinha para se colocar de pé, cambaleando até o interfone ao lado da geladeira, sentindo os olhos mais pesados e a cabeça mais zonza.
— Alôoo — ela arrastou a palavra, apoiando os ombros na parede gelada, não conseguindo manter o corpo totalmente ereto.
Senhorita ? — a voz do senhor Ryu, sempre tão enfática e educada, ganhou um tom de incerteza. — É a senhorita ?
— Oi, senhor Ryu — ela abriu e fechou a boca devagar, igualmente tornando a frase longa demais. — O que houve? Dessa vez, não tem nenhum bandido no prédio.
Bandido? — ele perguntou. ouviu a palavra em sílabas.
— É. Caras de preto com tatuagens que parecem bandidos ou delinquentes. Não chamei nenhum deles, senhor Ryu. Eu juro… Juro por Deus. Por Buda. Qual é a sua religião?
O homem ficou em silêncio por um tempo, e imitou a posição, a mente se fechando cada vez mais. Não sabia se era o sono ou o porre. Não sabia se estava bêbada demais ou cansada demais. O sangue escorregava por dentro dela sem pressa nenhuma.
Por fim, o porteiro coçou a garganta e tentou dizer, com a voz mais plácida possível:
Senhorita , chegou uma encomenda pra você há 1 hora atrás. O rapaz da transportadora disse que te avisou por SMS, mas como você não desceu, tomei a liberdade de colocar o pacote na sua porta. Precisa de alguma ajuda com ele?
— Pacote? — teve uma vontade anormal de rir. Não sabia se era por causa da voz dele que soou um pouco engraçada na palavra. Não sabia se era pelo absurdo de ela ter um pacote quando não comprava nada… há anos. — O senhor Ryu me deu um pacote? Que fofo…
Não, eu não te dei um pacote, senhorita — o homem logo se corrigiu, e dava pra ver que balançava a cabeça. — Disse que a senhorita recebeu um pacote que coloquei na sua porta. Ele parece um pouco pesado, se precisar…
— Ah, eu não acredito. Ele é muito prestativo mesmo, o senhor Ryu. Não precisava — ela riu com gosto, embolando as palavras do homem do outro lado da linha, que insistia na negativa do que ela dizia — Diz pra ele que eu agradeço. Eu não esperava, que fofo. Muito obrigada.
Senhorita, não…
afundou o telefone no gancho, um sorrisinho preguiçoso pegando quase toda a sua face. Ela balançou a cabeça para se colocar ereta de novo e saltitou com um ou dois tropeços para a porta da frente, batendo com o dedinho na quina de uma cadeira e xingando pesarosamente até enfim alcançar a maçaneta e abri-la, topando com uma caixa parda retangular bem em cima do tapete de boas vindas.
encarou aquela coisa por 2, 5 até 8 minutos até a conversa com o senhor Ryu formar uma linha de raciocínio pertinente. Qualquer traço de felicidade bêbada desapareceu de seu semblante e foi substituído por curiosidade enquanto se abaixava e trazia a caixa para dentro, fechando a porta com o pé.
Fez muito barulho, assim como os trovões lá fora estavam balançando a cidade inteira, e nem assim Candice Chaperman movia um único dedinho sequer.
apoiou a caixa na mesa, raspando os dedos no papel que a revestia. Não era tão grande, mas era pesada, e por um milagre ela não a deixou cair com a zonzeira insistente. Parecia uma má ideia tentar carregá-la pra outro lugar, então ela apenas puxou o laço meio torto em cima e se livrou do papel, encontrando a caixa em sua cor branca de papelão e a tampa igualmente um pouco torta, com um bilhete quadrado azul em cima.
Para .
Só isso. Um grande mistério da quinta série.
Ela puxou a tampa da caixa. E precisou parar e respirar e forçar a mente a tentar entender o que era aquilo.
Tinham 3 coisas, uma em cima da outra, organizadas em meio a alguns cabos presos por fitas e outros em volta dos próprios aparelhos. A primeira coisa que viu, por cima de tudo, foram fones. Um enorme headphone preto que era maior do que sua cabeça, com o cabo pendendo quase para fora da caixa. Depois dele, um aparelho retangular e médio, com linhas retas de saída de som e alguns botões largos na superfície chamaram a atenção. Parecia uma fita cassete gigante, algo muito antigo e muito raro. Em cima desse aparelho, uma protuberância transparente não informou a nada exatamente. Não sabia para o que ela serviria. O aparelho estava enrolado em seu próprio cabo de energia, e precisaria dar um jeito de não machucá-los quando fosse separá-los.
Por fim, ao lado dos fones e do aparelho cassete, um envelope preto estava guardado na vertical e quando o tocou, sentiu algo duro e ao mesmo tempo frágil, estreitando os olhos para enxergar as palavras escritas com caneta amarelada.
Aperte o X. Se quiser trocar a playlist, aperte o C. Mas acho que você vai gostar da primeira.
sentiu um furioso frio na barriga. Quase se sentiu sóbria de novo, abrindo o envelope com pressa até encontrar lá dentro um CD e… um outro bilhete.
A parte do CD a deixou perplexa por um minuto inteiro, até puxar o outro bilhete e quase desfalecer quando leu o que tinha nele.

Vi na previsão do tempo que a chuva não vai pegar leve essa semana, e já que não vou estar aí pra te distrair, espero que esse presente ajude você a dormir melhor. E ajude também pra quando você quiser fugir desse mundo por algum tempo.

‘Tô com saudade (eu sei que acabei de ir).
Amo você (eu sei que você sabe, mas agora não consigo parar de repetir).
Jungkook

PS: isso não é uma tática pra ganhar pontos para o meu sim, mas caso queira considerar, não sou maluco de não me aproveitar. Prometo que comigo, não importa o tempo lá fora, você sempre vai dormir bem (e ouvir música boa).


soltou o ar tão forte e tão alto que seria capaz de acordar qualquer sono comum. O de Candice Chaperman não foi atingido, mas o vizinho certamente se remexeu na cama. Ela colocou a mão na boca, se sentindo ainda mais tonta e mais presa no chão, firme, aposturada. Não sabia o que dizer. Enfiou o rosto naquele pedaço de papel e soltou um gritinho, o mais histérico e baixo que conseguiu, sentindo tudo dentro de si remexer, dar cambalhota, o coração pular como pipoca, a pele ficar quente como brasa. Teve que morder a boca para segurar o grito e o sorriso, um baita sorriso que a fez dar um pulinho no próprio lugar e abraçar a carta como se fosse uma adolescente.
Deus do céu, ela nem estava entendendo o que era aquilo na caixa direito, mas já estava tão feliz por ter o nome dele que poderia ser qualquer coisa. Poderia nem funcionar. Estava tão alegre e contente que não importava, e sentia que ele a despertaria aquela mesma felicidade várias vezes nos próximos dias, nos próximos meses e anos.
Como ele não queria angariar pontos? Ele nem precisava disso! Já tinha seu coração, já tinha tudo dela!
fincou os pés, sorrindo abobada, jogando tudo dentro do pacote até pegá-lo por baixo, com o maior cuidado que conseguiu, e erguer a caixa para o quarto, escorando-se em uma ou outra parede até conseguir colocá-la na cama e se sentar.
pensou em não mexer, mas não conseguiria dormir com aquela coisa do seu lado, aquele presente dele que a deixava em polvorosa. Ela pegou o aparelho maior, se desfazendo de seus cabos com mais lentidão que o normal e o apoiando do outro lado da cama, ligando-o na tomada. Nada aconteceu. Ela enxergou o X e as demais letras nas teclas grandes, e viu mais um botão lateral que a lembrava de um CD player portátil antigo que encontrava nas lojas de 1,99 do Brasil. Quando tocou nele, a superfície fez um barulho empoeirado de “nheeec” e se abriu, revelando o espaço do CD, o qual pulou para buscar e colocar no lugar certo.
Apertou o X. Na mesma hora, um som mínimo escapou das linhas retas acústicas do som, iniciando a melodia característica de Valentina.
From the first time I looked in your eyes, I knew that I would find a way to make you mine…
riu sozinha. Quase gargalhou, se remexeu de felicidade. As entranhas se contorceram de prazer, o travesseiro recebeu um grito. O que estava acontecendo? Ela estava bêbada e um cara, já no outro lado do mundo, decidiu que era a hora perfeita de mexer com ela? De fazer sua pele arder? De deixá-la boba, patética, insanamente apaixonada?
Que miserável.
Passada a euforia, puxou os fones e desembolsou o cabo, entendendo de repente toda a intenção dele, elevando ainda mais seu deleite. Procurou a entrada P2 e os conectou, colocando-os em volta da cabeça e… vedando tudo. Sendo transportada para outro mundo, outro universo. O universo onde a melodia calma e consagrada de Daniel melhorava tudo, mudava tudo, pesava ainda mais seus olhos.
ficou parada por um tempo, deixando duas músicas passarem enquanto era tomada pelo choque do que estava vendo ou ouvindo. Tinha sono, tinha cansaço, tinha a fraqueza da embriaguez, mas tinha felicidade, saudade demais daquele cara. encarou os botões largos, encarou o bilhete, passou os dedos por toda aquela estrutura até chegar novamente no círculo transparente em cima de tudo, enxergando agora uma pequena fita branca embaixo dele, escrita em letras bem minúsculas: “elemento especial”.
Tinha um botão ao lado do elementos especial. apertou.
E de repente, uma luz forte atravessou seu rosto até ir parar no teto. E o teto se transformou na via láctea.
levou um susto. Cada mísera galáxia nadou no pé direito daquele quarto, trocando eventualmente de verde para rosa, azul, laranja, vermelho, amarelo… todas as cores primárias e secundárias se enredando e brilhando com um jogo de luzes incrível, quase idênticos aos do quarto dele, deixando-a abismada e sem reação, roubando até mesmo seus sorrisos.
engoliu em seco. Não sabe por quanto tempo ficou ali, olhando o teto, ainda ouvindo a música soando no fone. Não sabia nem o que estava sentindo direito. De repente, era tão real e tão poderoso que ela não quis mexer. Quando ele tinha pensado numa coisa dessas? E tudo porque ela não gostava da chuva? Era algo tão… poético. Carinhoso. Tão amoroso.
Ela manteve o olhar nas estrelas por um longo momento até se levantar e cambalear para a cozinha, onde tinha deixado seu telefone e voltar novamente para o quarto, fechar a porta, apagar a luz e se enfiar debaixo da coberta, olhando para cima e atestando que… estava acontecendo. Aquele pedacinho dele estava mesmo ali, com ela, em um momento que poderia ser particularmente ruim, mas que Jungkook tinha o poder de fazê-lo desaparecer.
Ah, Deus, ele era tão, tão lindo. Tão gentil, tão perfeito, mais do que ela imaginou. Estava com tanta saudade dele e nem sabia que era capaz de sentir algo assim. sentiu os olhos pesarem de novo. Aquelas luzes tinham o poder de levá-la para o universo dos sonhos. Sem saber que horas eram, ela tateou o celular em volta da cama e digitou algo meio grogue, sonolenta, pensando em um agradecimento. Algo fofo que o dissesse como ele era criativo e genial. Como ela estava feliz pelo presente. Como ele era…
— Você é tão sacana — ela se viu dizendo para algum ponto da tela do telefone, mas não estava vendo direito. A cabeça estava pendida no travesseiro e os olhos piscavam com lentidão — Tão, tão… Lindo. Ai, droga, você é muito lindo. Isso te torna um sacana, porque ser lindo e ser carinhoso comigo não ajuda em nada, Jeon Jungkook. Não ajuda em merda nenhuma, principalmente porque… Porque eu, bom… Eu tô com tanta saudade de você. É sério, não tenho mais como esconder isso, eu senti saudade sua no mesmo instante que saí do seu carro, e isso é injusto porque você tinha que viajar e eu ainda estava processando o fato de você me querer como namorada, mas que se dane, eu queria que você estivesse aqui. Queria tanto que você estivesse aqui, queria tanto abraçar você, beijar você, sentir o seu cheiro. Nossa, o seu cheiro! Puta merda! O seu cheiro é tão gostoso. Ele é tão único, exclusivo, tão feito pra você. Eu sinto o seu cheiro no meu quarto, eu sinto o seu cheiro na minha roupa, eu nunca lavei a sua camiseta e eu não tô nem aí sobre o que você pensa disso, mas ela é o meu novo pijama, e o seu cheiro… Eu não sei, acho que ele nunca vai sair de mim. Igual o seu beijo. Seu desgraçado, você sabe beijar. Como alguém que não beija ninguém pode beijar tão bem? Como pode deixar alguém tão louca? Eu… Eu sonhei com ele hoje, eu vou sonhar com você me beijando, bem mais do que você me fodendo, porque quando você me beija eu meio que esqueço do resto, então eu quero te beijar. Muito. Várias vezes. Te beijar e sentir o seu gosto, que é outra coisa surpreendente, porque…

— … ele é doce e selvagem, tem uma textura e um gosto que queimam a minha língua, o que é hilário porque você é fumante e tudo mais, e eu deveria jogar os seus cigarros fora, mas de algum jeito, eles se misturam no seu gosto e tudo fica tão.. alucinante. Céus, você é alucinante, tão lindo, Jungkook. Infeliz, você é lindo demais. Eu te odeio por não ter me beijado antes, por não ter me deixado sentir isso. Tudo em você me atrai, tudo em você tira o meu chão. Quando você sorri, eu acho que vou entrar em combustão. Sabe aquela bomba que quase fodeu com o Tony Stark no primeiro homem de ferro? Você colocou uma coisa dessas em mim e a cada dia fico mais perdida, na beira da morte. Não sei mais o que estou falando, só queria dizer que… quanto custa uma passagem para Los Angeles mesmo? Não que eu queira muito voltar, aí também deve estar chovendo e não amo muita coisa nessa cidade pra fazer turismo, mas eu amo você e amo Daniel Caesar. Fiquei sabendo que ele vai tocar no Grammy, e ah… ele está tocando aqui, agora mesmo, Hold Me Down. If you love me baby let me hear you say it, I know I'm your favorite. First you love me then you leave me in the basement, I know I'm your favorite… Eu amo essa parte… Será que invadir o Grammy é a mesma coisa do VMA? Você deixaria um sinal pra eu saber qual é o seu camarim? Prometo não ir com nenhuma câmera dessa vez, mas talvez outros levem… e tirem fotos… não odeie eles, se tirarem fotos… começou outra música boa, o botão X… (um bocejo)... você fica tão lindo de terno… você fica tão lindo em… qualquer coisa… eu te amo tanto…
— Jungkook!
Jungkook tomou um susto descarado quando teve o fone de ouvido arrancado com brutalidade repentina, tirando a voz bêbada de do seu tímpano.
— Porra, que susto — o garoto puxou o fone de volta, sentindo o coração bater ainda mais rápido do que já estava, quando se ausentou do mundo naqueles minutos. — O que foi, Jimin?
O amigo franziu o cenho. Havia algo pouco familiar na expressão dele, olhando para Jungkook e a penteadeira à sua frente várias vezes.
— Você tá legal?
— Depois desse susto, já não tenho certeza. Por que?
— Tava sorrindo sozinho olhando pra esse espelho. Parecia o coringa.
Jungkook revirou os olhos e bufou quando guardou os fones sem fio nos bolsos e fechou a conversa de . Nem precisava verificar naquele espelho para saber que seu rosto devia estar colorido de vermelho vivo. Ele ainda sentia a pele se esticando um pouquinho com o sorriso que não o deixaria por nada nesse mundo. Não enquanto aquela mensagem de áudio dela ainda estivesse ali.
— Eu já tô indo — ele murmurou, se levantando para arrumar o aparelho de som grudado na parte de trás do jeans escuro, ajeitando também os aparelhos in-ear nos ouvidos e os fios que atravessavam seu abdômen por baixo da camiseta do Pink Floyd de manga larga. Jimin ainda estava olhando para ele, reparando naquelas bochechas coradas e no sorriso de maníaco alegre que pegava de um canto da sala a outro com um pouco de… medo. Vai saber. Parecia que não o reconhecia de verdade — Você viu minha pulseira?
— Não. Você tá legal? — Jimin segurou em seu ombro quando Jungkook passou por ele.
O maknae juntou as sobrancelhas, sem entender a pergunta. Jimin o encarava como se tentasse ler sua mente.
— Eu já disse que sim. Só vou ficar mais legal ainda com a minha pulseira — ele respondeu como se fosse óbvio, conseguindo se esquivar de Jimin e intencionalmente fugindo de mais perguntas. Sabia que tinha quase derretido e pulado daquela cadeira do camarim umas cinco vezes desde que o áudio dela começou, e mesmo que tenha ficado mais de 2 minutos parado no final até que ele ouvisse a respiração dela ressoando um sono profundo, ainda assim parecia música. Parecia lindo, parecia a melhor coletânea que ele já havia escutado. Ainda mais com a última frase que ela havia soltado.
Eu te amo tanto…
Porra, como isso era bom. Como era impossível que ele deixasse de sorrir. Como estar apaixonado te fazia querer conquistar o mundo, ser o melhor no que já era bom, evoluir nos mínimos detalhes. Se resolvesse seguir Hoseok e tirasse cartas de tarô no meio da calçada da fama, era impossível que saísse algo que não fosse uma bênção completa. Era assim que ele se sentia: abençoado. Feliz de novo. Esperançoso pra caralho.
A bendita pulseira estava na mesma mesinha onde recebeu os cuidados padrões de maquiagem e penteado, junto com os outros anéis e colares. Jungkook colocou cada um deles e se voltou para Jimin, passando um braço pelo ombro do amigo e puxando-o na direção da porta já meio aberta.
— Vamos. Temos que fingir algumas gargalhadas das piadas do Jimmy Fallon.

・ ❬📸💔❭ ・


— Por que você deixou ela escolher o lugar mesmo?
Candice rosnou no ouvido direito de . A garota apenas suspirou e revirou os olhos de novo.
— Eu já falei, ela disse que conhecia um lugar temático. Você queria que eu recusasse?
Pelo olhar esbugalhado de Candice, deveria sim recusar! Onde já se viu? Um lugar temático para assistir ao Grammy Music Awards?
Pelo jeito como Yoona estava feliz e animada, era apenas uma questão de interpretação. O pequeno pub estava longe de se parecer com um bar propriamente dito, e mesmo se fosse, não convenceria com tantas meninas na faixa dos 17 anos entulhando o lugar. pensou a princípio que, independentemente da lotação ou não, seria tranquilo se sentar e apreciar as apresentações na projeção gigantesca acima de um balcão, que era sim digno de um cinema. No entanto, tristemente, o escândalo das adolescentes seria um empecilho para que ela ouvisse qualquer coisa da premiação, já que qualquer flash dos meninos, por mínimo que fosse, já as tirava do eixo.
Candice remexia no seu drink com brutalidade, fuzilando um grupo de garotas logo à frente que acharam uma boa ideia pesarem a maquiagem para tentar se parecer com pessoas que podem pedir uma gim tônica, e a canadense não se importaria nem um pouco com isso se elas não estivessem tão… animadas. Gritando. Jogando guardanapos para o alto. Obstruindo a visão de uma Candice que não podia simplesmente sair se exibindo em um lugar público.
Talvez esse fosse o motivo de seu estresse: ter que prender o cabelo naqueles dois coques acima da cabeça e usar um lápis de olho ao invés de delineado e estar com uma máscara a postos caso qualquer rosto lá na frente decidisse reparar no seu. Se não fosse a namorada agora oficial de um dos caras que apareceriam na TV logo mais, ela abriria o espaço necessário entre aquelas pessoas com apenas um olhar e duas frases. Candice era muito boa em autoridade.
— Posso falar com elas, se quiser — Gook Doo se ofereceu com uma educação hesitante, sem saber realmente se saberia fazer o que propôs. Seus ombros se elevaram com a sugestão, a postura ficando mais confiante a cada semana que se passava, mas às vezes, quando olhava diretamente para Candice, ainda dava pra ver os resquícios de sua submissão à loira.
A cabeça de Yoona se virou imediatamente para ele assim que abriu a boca, exibindo aquele brilho um tanto… esquisito no olhar desde que ele passou pela porta da frente com Candice.
— Não precisa, elas parecem ser aquele grupinho de merda que praticam bullying nos doramas sem distinção de idade — disse Candice, levando o canudo entre os dentes e sorvendo uma quantidade enorme de líquido. Todos na mesa se viraram para olhá-la. — O que foi? Andei pesquisando essa questão cultural. Apesar de eu não concordar que deva existir uma obediência quase cega à pessoas mais velhas, como se mais idade significasse mais sabedoria, eu não discordo que adolescentes não tem nada na cabeça e deveriam no mínimo não gritar quando alguém mais velho pede que não gritem. Fala sério, não sei como conseguem conviver consigo mesmos com tanta aliena… — ela parou quando viu a sobrancelha de Yoona arquear, e um pouco da de Gook Doo também — Nada contra, gente. A cultura é ótima, a comida é ótima, a obediência é maneira. Viva os idosos!
escondeu o rosto em uma mão, raspando os tênis nos calcanhares de Candice com um pequeno chute até erguer o queixo e apontar para o telão.
— Vai começar.
Ela bateu uma palminha e se ajeitou na cadeira desconfortável, abrindo um sorriso automático. Todos, igualmente animados, não repararam no quanto suas bochechas coraram. Mais cedo, tinha ignorado completamente as perguntas de Yoona sobre o seu “sim” imediato ao convite de assistir ao Grammy em um bar. Normalmente, para coisas que não envolviam trabalho ou reuniões, sempre se esperava um não de ; a resposta estava sempre na ponta da língua. Mas daquela vez, ela não demorou absolutamente nada para aceitar. Yoona ficou extremamente satisfeita, e logo deu a ideia do lugar temático e aparentemente escondido da massa de fãs frenéticas, o que acabou sendo um enorme equívoco.
Para começo de conversa, a única coisa que se parecia minimamente com o motivo da reunião da noite era uma faixa feita de cartolina escrita Grammy Music Awards BTS em letras garrafais com glitter acima do balcão, e o público… bom, não eram exatamente jovens de 25 a 30 anos.
Desde que Candice entrara no carro, já teve a sensação de que as coisas não seriam exatamente como Yoona dizia porque Yoona tinha a mania de se empolgar demais com ideias, não com fatos. Por sorte, ela tinha conseguido uma mesa mais afastada da aglomeração, que cantava um show imaginário, e tinha empanturrado Candice com homus e bolachas quase como um pedido de desculpas não verbal, enquanto fazia a mesma coisa com Gook Doo, apesar de que aparentemente por outros motivos.
sabia que ela tinha se interessado nele, só não sabia como. Não naquela situação. A combinação do cheiro de alho e da mastigação das bolachas era incrivelmente irritante.
Mas o anúncio do BTS tirou a mente de daquela mesa extremamente engraçada e disfuncional e a concentrou no grande jogo de luzes que antecipava a entrada dos sete rapazes no palco. Roupas pretas com detalhes cinzentos e alguns retoques em brilho foram avistados quando eles iniciaram a performance já cheios de energia, com a batida característica de Fake Love.
o procurou imediatamente. Como sempre, Jungkook passeava pelo centro mais vezes do que os outros, deixando a música guiá-lo, estampando o carisma notório, e naquela noite em especial, parecia extremamente brilhante e atraente. O terno era justo no corpo e uma fenda descia até quase no meio da barriga, o que deixou … excitada. Não havia outro jeito para reagir, ficou extremamente embasbacada em como ele estava lindo. Terrivelmente lindo, absurdamente lindo. A sensualidade do colar grosso descendo pelo peito nu era alarmante, um abuso sem fim. O pensamento de arrancar aqueles botões e lamber aquele peito exposto era um dos mais quentes e perturbadores que ela tivera em dois dias de pensamentos quentes e perturbadores.
Porque até vestido com suas camisetas pretas de banda e calças largas no programa do Jimmy Fallon do dia anterior, também se viu em um estado de frenesi e hipnose enquanto o assistia na frente do laptop, sendo golpeada com aquela saudade desgraçada e demorando a acreditar que tinha algum poder de senti-la. Que ele estava sentindo a mesma coisa. Que ele queria tocá-la tanto quanto ela queria tocá-lo naquele momento.
Infelizmente, a primeira coisa que achou lógica a se fazer após acordar de sua bebedeira e ver que havia deixado uma mensagem de áudio de 6 minutos, onde 3 eram simplesmente ela dormindo, foi desligar o telefone e não tocar nele pelo resto do dia. Sabia que, no fundo, não deveria ficar com vergonha disso. Afinal, ele tinha rido e dito que foi a coisa mais inesperadamente fofa que tinha recebido em muito tempo, mas isso não melhorava nada. não conseguia pensar em sequer trocar cumprimentos com ele pelo menos por 24 horas. Não apenas pelo constrangimento de ter dormido. Não apenas porque estava bêbada e balbuciou coisas nada a ver.
Mas sim porque disse que o amava pela primeira vez em voz alta e isso aconteceu por uma mensagem de voz.
Enquanto ele tinha rasgado uma tempestade para isso.
tinha vontade de usar um taser em si mesma quando se lembrava.
Mesmo assim, lá estava ela, esquecendo que tinha ignorado a mensagem do cara totalmente maravilhoso no telão e precisando se segurar para não soltar um gritinho sequer que Candice tanto estava reclamando das outras garotas na frente, crendo que só dessa maneira poderia engolir todos os suspiros que queria dar. As luzes batiam e quebravam sobre ele, seguidas pela infâmia de um sorriso que não deixava seu rosto. Jungkook estava sorrindo como nunca, e não se lembrava se isso fazia parte da coreografia, que ia desde os movimentos até as expressões faciais. O sorriso dele era quase inocente, totalmente confiante e se abria e fechava devagar igual fazia quando estava amarrado entre as pernas dela no banco de trás do seu carro.
quase corou de novo, e desta vez mordeu a bochecha para não sorrir sozinha. Como se não bastasse ter de suportar aquelas lembranças estando sozinha no quarto, agora precisava se lembrar delas justo na multidão.
A apresentação se seguiu de mais uma música e, então, todos na plateia tinham algo a expressar na fisionomia. pensou que muitos não conseguiriam esconder o desgosto disfarçado, ou o estranhamento natural de suas próprias bolhas sendo perfuradas, mas os sorrisos… pareciam verdadeiros. As sobrancelhas arqueadas também. A dinâmica da câmera voando sobre a plateia revelou muitas reações onde artistas renomados e os vencedores antigos do grande prêmio estavam no mínimo estupefatos e com as atenções grudadas no palco e nos sete rapazes que mostraram, no mínimo, uma vertente diferente de uma tradição. Abriram um rombo na caixinha da academia que muitos pensariam que morreriam com as mesmas ideias e conduta.
Em seu sorriso de agradecimento, reparou em Namjoon e em como vasculhou o lugar inteiro em um milésimo de segundos antes de deixar o palco. O líder do grupo já havia dito que sua intenção não era matar todos os ideais de um legado em apenas uma noite, em apenas 1 ano. Já estava preparado para o que viria, já estava feliz pelo que estava sendo e acontecendo. Mas agora, eles tinham chegado. Eles mostraram algo diferente, algo a ser visto. E seria apenas o começo.
Yoona estava batendo palmas junto com as meninas quando os sete sumiram por trás do palco, e estaria pronta para repreendê-la se não estivesse imitando. Aplaudindo feliz para um telão de projeção, uma coisa tão inimaginável que ela precisou que Candice a cutucasse com os ombros e erguesse as duas sobrancelhas para ela antes de ver a loira começar a rir, fazendo abaixar as mãos e a cabeça, totalmente envergonhada.
— Pode torcer para o seu namorado, não tem nada de errado nisso — ela zombou no ouvido de , que a afastou com o ombro e puxou seu drink laranja da mesa, voltando-se para a tela. Agora, uma mulher muito elegante subia ao palco com outro homem de terno, segurando placas retangulares que adiantavam o momento de anunciação dos vencedores de uma categoria. Com um discurso bonito, eles abriram a lista dos participantes, onde o BTS estampava um dos lugares e do qual arrancou grandes gritos do público. , sem perceber, entrelaçou os dedos nos de Candice por baixo da mesa, o coração batendo rápido como se fosse ela a concorrer a um grande prêmio. Como se a conquista, concomitantemente, fosse dela.
Yoona balançou as pernas. Gook Doo engoliu em seco e desejou que tivesse álcool no seu café gelado. Candice apertou os dedos de , pedindo perdão ao universo por ter desejado o cancelamento do evento.
E os vencedores da categoria são…

・ ❬📸💔❭ ・


Jungkook tinha passado os últimos quarenta minutos sem conseguir ver grande coisa do homem, a não ser a cor do seu casaco.
O mesmo garçom já tinha passado umas 30 vezes por ele, segurando uma bandeja onde havia uma tigela larga e rasa de cerâmica com uma coleção de um aperitivo que ele não fazia ideia do que era, mas que não se parecia com nada atrativo. Nem se Jungkook se deixasse levar por toda aquela bebida excelente e os demais destilados distribuídos livremente pela festa, ele experimentaria uma coisa daquelas. A fome não era o problema, beber e socializar também não. O problema eram suas mãos que praticamente suavam em volta daquele porta-CD quadrado, olhando para o cara alto misturado aos outros, conversando animadamente com ninguém mais, ninguém menos do que Justin Bieber.
Em outra época, o maknae estaria tendo uma síncope só de pensar em se aproximar de Bieber, um fã genuíno tendo o seu momento. Ainda mais naquele contexto, onde os dois estavam na lista de indicações do maior prêmio da música, o que os tornava quase iguais, duas pessoas no mesmo degrau, quer goste ou não. No entanto, naquela situação específica, naquela noite entre tantas, Jungkook não estava interessado em chegar perto de Justin Bieber. Estava interessado no cara ao lado dele.
— Ele vai embora e você ainda não vai ter se mexido — Taehyung murmurou atrás de suas costas, repetindo o mesmo que tinha dito há 20 minutos atrás. Jungkook revirou os olhos, nem se dando ao trabalho de levar um susto. O amigo se colocou ao seu lado, balançando seu copo de vidro médio com líquido âmbar.
— Ele tá muito ocupado — Jungkook respondeu, mesmo sabendo que era ridículo. As pessoas que rodeavam o artista já tinham saído, voltado, saído, voltado, trocado de grupo, andado e andado, sem compromisso nenhum com a conversa que acontecia — Talvez daqui uns 10 minutos…
— Você tá com vergonha de pedir um autógrafo? Sério? — Taehyung ergueu uma sobrancelha sarcástica. — É só um autógrafo, JK. Não é uma ameaça com tesouras e facas. Hoseok já se meteu entre a Lady Gaga e a Sabrina Carpenter, e eu juro que vi o Jimin se engraçando com a Tate McRae, e alguém me disse que Olivia Rodrigo adoraria ter uma conversinha comigo, mesmo que ela seja nova demais. Acha mesmo que alguém vai ligar de escrever seu nome em um CD?
— Eu sei. É que… — ele suspirou e olhou para o álbum de capa azul nas mãos. Tinha comprado aquilo assim que pousou na cidade, tinha feito um plano para conseguir o que queria, mas agora que ele estava ali… Parecia com um pouco de medo de dar errado. — Ah, que se foda. Vou nessa.
Taehyung riu, dando um tapinha no ombro do amigo.
— Vai lá. Vou ficar aqui torcendo pra você não fazer xixi nas calças.
Jungkook ergueu o dedo do meio quando respirou fundo e se embrenhou no meio das pessoas, famosos de todas as partes do mundo, do gênero pop à música clássica, todos rindo e se divertindo entre si, misturando línguas e experiências, sem se importar com as barreiras que a própria premiação levantava.
No exato momento em que Jungkook chegou há 5 metros do sujeito, Justin e Hailey já estavam se retirando com mais 3 pessoas, restando apenas ele e um outro cara, um músico de sua banda, consideravelmente alto e consideravelmente sinistro.
Era agora. Era ele.
— Daniel?
Talvez sua voz tenha soado um tanto fraca e pequena demais para um ambiente com uma música tão alta, mas teve tonalidade suficiente para que o homem à sua frente se virasse para trás e topasse com o rapaz.
Em um minuto quase infinito, Daniel Caesar encarou Jeon Jungkook de cima a baixo até estreitar os olhos e reconhecê-lo.
— Oh. E aí, tudo bem?
O cantor estendeu uma mão para Jungkook, que piscou os olhos nervosamente até aceitar o cumprimento, se livrando um pouco do nó na garganta, um nó tão atado que parecia um assassinato iminente. Os anéis que Daniel usava apertaram seus dedos, e Jungkook torceu para segurar o CD com força para não ter que buscar um extra.
— Tudo bem. Estou muito bem.
— É Jungkook, não é? Vocês são o BTS — ele girou o dedo para todos os lados sem direção, sorrindo com uma leveza que só poderia vir de toda a fumaça que estava ao seu redor. — Vocês mandaram muito bem hoje. Eram a apresentação mais esperada se foram colocados por último. Sinto muito pelo resultado da categoria.
Jungkook balançou a cabeça em negativa, sem deixar de sorrir.
— Qualquer resultado valeria a pena pra gente. Já é uma honra estar aqui.
— É assim que se fala — o homem deu um tapinha simpático no ombro de Jungkook, e ergueu o outro dedo para levar um cigarro Elegance à boca. — Mas e a festa? Tá gostando?
Jungkook assentiu, levantando os ombros, sentindo de repente um impulso de ser o mais sincero possível quando disse:
— É mais simples do que eu pensei que seria.
Daniel sorriu.
— Espere até as 3 da manhã — ele riu, e Jungkook o imitou da mesma maneira, porque o cara devia ter alguma propriedade no que falava. Ainda que Daniel Caesar nunca tenha sido um nome na lista da Academia, ele era um nome na lista de quase todos os presentes do lugar. Um tesouro escondido americano que preferia se manter nas sombras para continuar observando sem ser observado. A não ser naquela noite… — O que é isso na sua mão?
Jungkook ergueu o CD para mais perto da luz e Daniel franziu o cenho para enxergar, arqueando as sobrancelhas quando distinguiu a capa de NEVER ENOUGH e dirigiu seu olhar para o garoto de novo.
— Me pegou. Sou um fã. Um grande fã.
Daniel abriu um sorriso largo, que praticamente abraçava Jungkook, deixando a fenda entre os dentes à mostra enquanto ele passava o cigarro de um dedo para o outro.
— Caramba, cara, que massa. Fiquei sem jeito, muito obrigado — ele estendeu a mão para pegar o álbum, tateando um dos bolsos. — Você quer uma assinatura?
Jungkook assentiu imediatamente.
— Quero muito, se puder. Mas não é pra mim. Quero levar um autógrafo.
Daniel riu e tateou os bolsos pelo lado de fora, estalando a língua de frustração logo depois.
— Acho que eu não tenho uma caneta aqui… Benny, uma caneta — ele virou a cabeça para o grandalhão atrás, que imediatamente sacou uma caneta permanente do bolso da frente da jaqueta coach, deixando Jungkook um pouco mais aliviado. — Então, qual nome eu escrevo?
Jungkook sorriu satisfeito, e respondeu:
. Escreva .
Daniel assentiu e logo estava deslizando a caneta pela capa de acrílico, parando por um segundo para perguntar:
— Sua namorada?
Ele mordeu o lábio, segurando a resposta que realmente queria dar e esboçando um sorrisinho envergonhado.
— Ela é quase.
Daniel riu alto, e se voltou para a sua capa.
— Então já sei o que escrever.

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Pelo tempo que Jungkook esteve examinando aquele CD enquanto ele e Jimin seguiam pela avenida na van preta e discreta, podia-se pensar que ele tinha, de algum modo, virado um zumbi. Ninguém iria julgá-lo caso ele também estivesse fora de suas faculdades mentais. Era só olhar para os bancos de trás para saber. Taehyung e Hoseok estavam dormindo um no ombro do outro, e Namjoon resmungava coisas ininteligíveis, bêbadas e sem sentido, enquanto Jin usava óculos escuros e ria do líder. Eram quase 5 da manhã. Nenhum deles parecia muito bem.
Até mesmo Jungkook, que tinha bebido um pouco a mais depois de driblar seu medo de tietar e se esbaldou em várias doses de Johnnie Walker distribuídas de graça, aproveitando um destilado aqui ou outro ali, seguindo os palpites de Jimin e de um cara que tinha acabado de conhecer chamado Jack Harlow. Jungkook não era dado a suposições, mas acreditou que iria encontrá-lo de novo no futuro, e tinha algo a ver sobre aprender a jogar xadrez.
Se continuasse bebendo, seu destino provavelmente estava fadado a ser o mesmo de Taehyung, que precisou ser segurado para não constranger o grupo, ainda que várias pessoas estivessem piores ainda. Era estranho ver tanta celebridade embaixo do mesmo teto fazendo coisas normais de gente normal, como vomitar no vaso de plantas artificiais perto do banheiro ou desmaiar ao lado da mesa de som. Coisas que Jungkook, há sete anos atrás e sem muitas expectativas de fama, achava completamente inimaginável até estar no mesmo lugar.
Por incrível que pareça, ele estava mais ligado e animado do que nunca, ainda que o restante estivesse morto. Olhava para o CD, para as palavras de Daniel e em seguida, olhava para o celular, para as mensagens que ela tinha mandado. Várias mensagens, às vezes com 2 ou 3 linhas, às vezes uma palavra apenas, mas muitas mensagens. Ele precisava sugar os lábios para dentro para não deixar tão na cara que estava sorrindo, mas era impossível quando passava o olho em uma a uma:

: Eles não sabem de nada
Quer dizer, claro que eles sabem, mas não sabem o quanto vocês são ótimos. O quanto são esforçados e o quanto são incríveis
Então, é, eles não sabem de merda nenhuma
A maioria dos indicados cantou como se estivessem passando por um sacrifício, foi doído de ver
Não é uma indireta ao conceito da Lady Gaga, é sério
Eu gosto da Lady Gaga. Ela poderia ter pelo menos sorrido mais ao receber o prêmio, mas eu gosto dela
Gosto muito mais de você
De vocês*
O grupo que foi indicado, né
Com certeza vcs ganham na próxima
Pode me dizer se quiser conversar. Se não quiser também, finja que eu não disse nada. Eu acho que não saberia o que dizer direito
Quero dizer, vc não é a Candice, acho que pintar as unhas e fazer skin care não funcionariam com você
Quer assistir Rambo na volta? O último filme é horrível, mas qual da franquia não é?
O primeiro é bom, desculpa, já me corrigi
Me liga se quiser conversar
Me liga se não quiser também

Ela provavelmente não fazia ideia se ele ligaria ou não, mas Jungkook amou. Amou cada mensagem, amou cada devaneio, imaginou ela dizendo cada letra. O jeitinho de já tinha penetrado na sua mente, fazendo um coração adormecido como o dele bater tão forte mesmo em uma situação em que deveria estar, no mínimo, reflexivo. Sentir-se desse jeito era um presente, um prêmio do Divino por alguma boa ação de Jungkook na vida, alguma que já deve ter existido.
Falar que a amava foi a coisa mais certa que tinha feito até hoje. Escutar isso de volta foi a resposta de que seus maiores medos não tinham o poder de alterar a realidade.
Ele era bom. Ela era espetacular. E isso era compatível, era certo, era decente. Jungkook sentia picos de felicidade intermináveis em cada ponto do corpo, esfregando-se em seus dedos e punhos para que ele mandasse uma mensagem para ela em resposta.
Ele até começou a digitar, sem realmente prestar atenção no que era, até que um peso inesperado caiu em seu colo e ele pulou de susto no escuro, virando a cabeça para o lado.
— Porra, cara — xingou, bloqueando o telefone e puxando o CD para mais perto. — Quase estragou o autógrafo.
— Blá-blá-blá — rebateu Jimin, os olhos quase fechando naquela poltrona desconfortável enquanto ajeitava os pés em cima das coxas do maknae — É um autógrafo da Ariana por acaso? Achei que já tinham até uma foto juntos… eu até tentei, mas aquele cara cheio de tatuagens do lado dela me assustou… e teve também a… como é mesmo o nome dela? Gracie… essa mesma… O Hoseok adorou ela. Pegou o número dela, eu acho, enquanto eu…
Jungkook suspirou e deixou que o amigo falasse, ou reclamasse do que queria enquanto o motorista fazia uma curva lenta no último quarteirão do hotel. Ele segurava a direção com uma mão enquanto comia algumas bolachas com a outra, o que apenas seria possível se Kim Namjoon estivesse totalmente apagado e nenhum dos agentes estivesse presente, mas tudo bem. Em poucos minutos, a van já estava estacionando nos fundos do grande Moxy Downtown, e Jungkook empurrou as pernas de Jimin para baixo assim que os primeiros seguranças abriram as portas de correr.

Estava quente em Los Angeles naquele dia.
Para agravar a situação, nem o hotel e nem o local do evento ficavam pertos da praia, assim como nenhum dos compromissos que Jungkook teve até aquele dia. Isso era uma merda, por um lado. Sem conseguir dormir, ele quis muito dar uma escapada daquelas quatro paredes de revestimento liso, entrar em um carro alugado, ouvir algum tipo de CD de sons da natureza em batida trance no rádio e dirigir até o primeiro fiapo de mar que encontrasse, registrando-o com seu telefone e enviando pra ela. Tentaria tirar de vários ângulos, pegar o máximo que conseguiria pegar. Ela provavelmente tiraria melhores, mas o que valia era a intenção.
Sabia que tinha saudades da praia. Sabia que, provavelmente, era a única coisa que sentia falta em Los Angeles. Apesar de ter vivido ali por longos 4 anos, apenas um ritual desastroso tinha sido o suficiente para minar qualquer escassa lembrança boa.
Mas ele não podia sair. Tinha uma agenda para cumprir com o grupo ainda naquele dia pós Grammy, e sumir de repente pela cidade estrangeira significaria sua morte pelas linhas militares dos bastidores do Bangtan, vulgo Kim Namjoon. Os outros iriam resolver seus próprios problemas para tentar acordar e se manter inteiros para um dia longo de entrevistas e algumas fotos, mas naquele momento, Jungkook estava elétrico. Se sentia meio bêbado, meio sóbrio. Não sabia que horas eram, mas o sol já ia nascer. E de repente, pensou que seria uma boa ideia ver o que tinha no frigobar do quarto.
Achou uma boa ideia se servir de Suntory Whisky na caneca larga de vidro. Achou melhor ainda enchê-la de gelo.
Também achou genial pegar o violão disponibilizado no quarto. Achou uma merda ter que afinar cada corda por quase 10 minutos.
Finalmente, parecia uma boa hora para voltar a ler a mensagem dela. Ele estava tentando se controlar porque se lesse demais, poderia ligar pra ela. Fazer uma chamada de vídeo, atrapalhar um possível sono ou horário de trabalho. Que horas eram mesmo na Coreia? Cedo demais para dizer que a amava – de novo? Tarde demais pra dizer que ela era linda?
Muito cedo pra dizer que já queria ir embora?
O tempo era uma incógnita naquela mente cheia de whiskey e fogos de artifício, mas Jungkook não conseguia dormir. Não podia sair, não queria tocar sozinho, não queria falar para as paredes. Queria ouvidos, queria dizer o que sentia, pegar todas aquelas palavras dela e transformar em uma espécie de circularidade.
E foi então que ele se sentou na mesa perto da janela larga do chão ao teto e ligou a transmissão ao vivo.
Por algum motivo, Jungkook pensou que não daria em nada. Mas então, os números começaram a subir e a subir e a subir e ele começou a sorrir, puxando a caneca para mais perto.
— Caramba… Quantas pessoas acordadas — ele franziu o cenho e bebeu um gole, arrumando o cabelo na frente da tela. Os comentários eram tão frenéticos que simplesmente não valia a pena tentar lê-los. Ele tentou, mas logo desistiu. — Vocês não dormem? Que horas são aí agora? Na Coreia, eu quero dizer. Será uma hora boa pra ter bastante gente já acordada?
Ele sorriu de canto, bebendo mais um pouco. Deviam existir comentários sobre isso no meio de toda aquela bagunça, mas ele não estava se importando.
— Ah, é, o resultado do Grammy… — disse ele, ajeitando-se na cadeira enquanto circulava uma mão pelo pescoço, agora livre da gravata, com a camisa social branca aberta até o peito. — Não fica chateada com isso. Estamos muito, muito felizes com isso de qualquer jeito. Ser pioneiros em tantas coisas nesse mundo nos últimos dois anos tem sido uma verdadeira aventura. Muitas delas deixam de importar, mas ao mesmo tempo várias importam ainda mais. Perder é uma dessas coisas que não tem mais esse peso. Já perdemos muitos prêmios desde a nossa estreia, e ganhamos o dobro disso, então fica tranquila. Estamos bem — ele olhou diretamente para a câmera, sem saber direito o que estava fazendo, só seguindo com o que queria. — Eu me importo mais se você está bem. O que você fez ontem, o que fez anteontem, o que fez desde que eu fui embora. O que você está pensando. Nossa, como eu queria saber o que você está pensando — ele riu, e os comentários disparavam como balas. Ele movia os olhos vez ou outra para eles, mas não captava nada — Inclusive, eu quero assistir ao último Rambo. Perdi todo o respeito pelo personagem depois do 3, mas a memória afetiva faz estragos na gente. O que você achou de Rambo 3? Poderíamos ver tudo de novo, se você quiser. Podíamos ver Rocky Balboa e fazer comparações, apesar de não terem nada em comum. Podemos julgar qual os melhores mocinhos do povo e os melhores mocinhos do governo. Só pra constar, o Rambo tá longe de ser um mocinho, ele tá mais pra um maluco anti-herói que deceparia a garganta de uma velhinha caso ela o desse um susto com a bengala. E falando em decepar, também tem alguns filmes de terror e mistério que eu adoraria assistir com você. Nada muito grave, só aqueles com cenas péssimas com músicas altas pra dar um susto e eu ter a desculpa de pegar na sua mão. No máximo, um grito de leve pra você esconder o rosto no meu ombro. Eu me importo com a capacidade de dormir à noite, então não seria nada pesado. Tenho uma lista inteira pra te mostrar, são tantas coisas… — ele riu novamente, pegando mais um gole da bebida. Talvez tenha ficado um pouco preocupado da língua embolar um pouco, mas também não se importava. Ele parou e analisou o copo, agora menos da metade, girando-o na mesa. — Tá quase amanhecendo aqui e eu acho que vai ser um dia irado lá fora. Aqui tem praias, mas infelizmente não vou poder ir em nenhuma delas. Caso fosse, faria questão de registrar para o Golden Closet. E pra você, é claro. Guardo um pedaço de cada país que eu pisei na minha Nikon, o que é engraçado, porque Jimin diz que ela só serve pra pesar ainda mais a mala porque às vezes nem tiro ela da bolsa, mas tudo bem. Eu gosto de estar preparado para esses impulsos, eu me importo com isso. Me importo com isso há tanto tempo que não vai mudar em nada no resto da vida. Às vezes eu penso nessa passagem de dias, meses, anos e é como se eu estivesse fazendo uma corrida de atletismo. Corro, pulo, dou uma pirueta, chego cansado ao fim de um round e quando olho pra trás… não me lembro do caminho que eu percorri. Só andei, só corri, só foquei na chegada e não aproveitei. Não registrei. É daí que eu decidi fazer alguma coisa. Vou ficar velho um dia e quando olhar pra trás, quero me lembrar exatamente de onde eu estava hoje. Do que eu estava fazendo. Com quem eu queria estar. Onde eu queria estar. E — ele levantou a caneca, olhando diretamente para a câmera de novo — Eu queria estar em outro fuso horário. Mas eu sinto que o tempo, esse fenômeno que eu considerei meu inimigo mais cruel, está ao nosso favor. Ele quer que aconteça tanto quanto eu.
Jungkook sorriu para um ponto específico da tela, e os números continuavam a crescer exponencialmente. 4 milhões se transformou em 5 em um espaço de milissegundos. Em sua visão um pouco turva, pareciam apenas números, nada demais. Era difícil ter a dimensão daquele tanto de pessoas quando elas estavam escondidas atrás de códigos. No entanto, elas eram apenas a plateia. Os patinhos de borracha que serviam como espectadores imaginários de uma palestra.
Ele mordeu o canto da boca inconscientemente, tamborilando os dedos enquanto inclinava a cabeça.
— Acho que a única coisa que eu registrei aqui desde que cheguei foi a guacamole que a chef do hotel garantiu que era a melhor do mundo. Eu nunca tinha comido guacamole, e agora fico pensando como vou viver sem isso quando voltar. Você acha que eu consigo fazer uma guacamole em casa? É mais uma das tantas coisas que precisamos fazer juntos. Eu fiz uma lista, ela está por aqui… — ele olhou para baixo debilmente até sorrir e puxar o violão apoiado ao lado, colocando-o no colo — A lista também inclui cantar pra você. Só que eu fiquei pensando em como você já me viu cantar um milhão de vezes e falar cantar pra você pode soar um pouco arrogante, mas… eu realmente fiz algo pra te mostrar. De verdade — ele riu pelo nariz, recostando-se para trás na cadeira um pouco reclinável. — E tudo bem, você pode não acreditar ou achar que é muito rápido ou escancarado, mas eu tô amarrado firme o suficiente nisso para garantir que sim. E tecnicamente eu disse que não ia tocá-la agora porque iria esperar… ser de verdade. Mas, ah… — ele riu novamente, mexendo em algumas cordas aleatórias — Tá sendo de verdade pra caralho.
Jungkook ouviu a vibração de seu telefone do outro lado da mesa, movendo o aparelho por milímetros pela madeira. A notificação apontava o nome de Lee Jungjae, seu agente, o qual ele prontamente desligou porque sabia exatamente o motivo da chamada. Precisava se apressar. O garoto se empertigou na cadeira e limpou a garganta:
— Isso aqui é… uma coisa que eu fiz nos últimos dias, não tinha compromisso nenhum e a princípio eu não sabia o que fazer com ela, mas… a coisa é que é sua. Quem tem que decidir isso é você — ele deu de ombros e, após deixar mais um grande gole descer pela garganta e secar a caneca, ele se voltou para a câmera e mordeu o lábio. — Eu não tinha um nome pra ela, mas um tecladista desbocado me disse que se chama Azul escuro. Não importava muito no começo, mas agora eu gostei. É genial. É pra você. É de mim.
Ele desceu os dedos pelo violão, trazendo a lembrança daquela melodia criada nos intervalos com Jaehyeon, sabendo que talvez estivesse errando e se esquecendo de alguns detalhes técnicos, mas mesmo assim suspirou e cantou:

Eu tenho visto a solidão em meu quarto
Estou cobrindo meu coração partido com novas tatuagens
Pequenas telas azuis e cigarros
Eu acho que não vou mais para Seul
Sem saber como é estar lá, mas não correr para a sua porta

(I've seen loneliness in my room
I'm covering my broken heart with new tattoos
Little blue screens and cigarettes
I don't think I'm going to Seoul anymore
Not knowing what it's like to be there but not run to your door)

Essa cidade está partindo meu coração, sim, ela está partindo meu coração
Ela vai me curar, depois me deixar em pedaços
Essa cidade me fez mergulhar de cabeça
Então por essa noite, eu vou ficar longe
Porque eu morreria se te visse
Mas morreria ainda mais se não te visse lá

(This city is breaking my heart, yes, it's breaking my heart
She'll heal me, then leave me in pieces
This city made me dive head first
So for tonight, I'll stay away
'Cause I would die if I saw you
But I would die even more if I didn't see you there)


Tudo que vejo são tons de azuis
Como a minha camisa que você gosta
E eu lembro da noite tirando seu vestido
Seu rosto em minha panorâmica
Uma memória azul escura

(All I see are shades of blue
Like my shirt you like
And I remember the night taking off your dress
Your face in my panorama
A dark blue memory)


Ela deixa seu perfume por todo o meu corpo
Oh, mas as flores não tem mais cheiro de verão
Preso em suas fotografias
E se eu não conseguir te tirar da minha mente?
E se minhas estações não mudarem?

(She leaves her perfume all over my body
Oh, but the flowers don't smell like summer anymore
Trapped in your photographs
What if I can't get you out of my mind?
What if my seasons don't change?)


Essa cidade está partindo meu coração, sim, ela está partindo meu coração
Ela vai me curar, depois me deixar em pedaços
Essa cidade me fez mergulhar de cabeça
Então por essa noite, eu vou ficar longe
Porque eu morreria se te visse
Mas morreria ainda mais se não te visse lá

(This city is breaking my heart, yes, it's breaking my heart
She'll heal me, then leave me in pieces
This city made me dive head first
So for tonight, I'll stay away
'Cause I would die if I saw you
But I would die even more if I didn't see you there)


Acho que vou ficar na tristeza
Vendo sua vida passar por imagens distantes
Pensando no que eu posso fazer
No que posso dizer
Pra te convencer
A ficar

(I think I'll be sad
Seeing your life pass through distant images
Thinking about what I can do
What can I say
To convince you
To stay)
[1]


Ele terminava a música e completava com alguns “lá lá la” ou “na na na” apenas para manter os dedos no violão e ajustar uma parte ou outra da melodia ainda em forma, mas que já tinha sido suficiente para capturar as agora 6 milhões de pessoas on-line. O telefone dele se agitou em mais uma ligação, uma desesperada, mas que Jungkook ignorou novamente. Só o que te importava era aquela música e os olhares esporádicos que lançava para a tela, como se esperasse que ela estivesse assistindo. Como se torcesse por isso.
E do outro lado do mundo, quase tinha uma síncope.
Ela não estava presente desde que a transmissão tinha começado, mas estava ali agora, no final, naquela música extremamente linda, tocante e… dela?
Ele estava mesmo falando com ela?
Parecia uma verdade tão absurda que não deveria nem ser cogitada, mas lá estava , abraçando os joelhos em cima da cama enquanto ainda estava tentando acordar direito e entender o que ele estava fazendo. Na noite anterior, tinha voltado para casa depois do pub e se retirou para o canto mais distante do seu quarto para tentar fazer um trabalho, mas aquele anúncio não saía de sua cabeça. Começou a mandar mensagens pra ele como louca, desta vez torcendo para que ele respondesse. Sabia da clássica after party que existia depois do evento, e imaginava que os rapazes estariam lá, mas ainda assim… como ele estava se sentindo?
se viu passando menos tempo lendo artigos sobre novos modelos químicos de revelação de imagens e mais tentando solucionar o que Jungkook estaria pensando naquela hora?
Desistiu dos estudos por um tempo, perdendo o sono com a falta de resposta, mas logo engatou no próprio cansaço da torcida e as bebidas de mais cedo e dormiu..
Acordou espontaneamente sabe-se lá que horas da madrugada e ainda estava tentando voltar ao mundo real quando pegou o celular e viu a mensagem de Yoona com uma única palavra: LIVE!!!
apertou no link que ela enviou. E o restante do cansaço desistiu de se espalhar e simplesmente evaporou.
achou que estava sonhando. Ela ouviu tudo e absorveu tudo, mas não podia acreditar em tudo porque ele não era tão maluco assim, era? Era?!
Quando ele apareceu com o violão, foi a sua ruína. Ela podia sentir o celular vibrando com as mensagens de Candice, e certamente as redes sociais estavam pegando fogo naquele momento, mas Jungkook colocou em uma redoma, em um mundo só deles. Ela adentrou nessa bolha suave de declarações e deixou que os problemas saíssem pelas laterais da casa. não sabia se sorria, se ria, ou talvez chorava. Azul escuro não parecia uma música alegre, mas ainda era romântica. Ainda era real. Ainda era sobre eles.
E quando ele parou de tocar e tamborilou os dedos mais uma vez, torcendo o pescoço para ajeitar a postura e ficando em silêncio por um tempo, ele se voltou para a tela, dizendo:
— Se você me disser que está boa, eu lanço ela na hora. Ou não lanço. Já disse que você vai decidir isso, não tá na minha alçada. Mas se essa não te convencer… — ele deslizou os dedos novamente pela corda, esboçando uma careta como se tentasse lembrar de algo — O nome da outra estava aqui na cabeça agora mesmo… ela é perfeita para o que eu preciso. Army, cantem essa comigo. Cantem bem alto para que possam ouvir lá de Seul. Provavelmente é a primeira e última vez que vou cantar isso, mas é por uma boa causa. Se chama Say Yes, repito: Say Yes to Heaven.
E de repente, Jeon Jungkook estava cantando Lana Del Rey em uma live com 6 milhões de pessoas.
apenas ficou parada ali, na beira da cama, encarando aquela tela com choque, com um pouco de horror, com um sorriso torto e uma risada engasgada, com tudo acontecendo ao mesmo tempo, principalmente quando ele sempre olhava diretamente para a câmera e acentuava a voz nas partes do “Say Yes”.

Give peace a chance
Let the fear you have fall away

I've got my eye on you
I've got my eye on you

Say yes to heaven
Say yes to me
Say yes to heaven
Say yes to me

Não dava pra acreditar. Mas também não havia porque não acreditar. Em todo o histórico de Jeon Jungkook, ele nunca tinha feito nada assim. Não era algo que estava tentando esconder, não era algo que se importava se fossem especular. Que fizessem isso, ele não se esconderia. Queria e estava anunciando para o mundo. Tirou seu coração da jogada. Avisou a quase 7 milhões de pessoas, que avisariam a mais 10, que ele não estava mais disponível. Bastava aceitar.
E aquilo mexeu com de forma monstruosa. O sorriso e a postura confiante dele transtornaram sua mente, derreteram todas aquelas questões que expôs no sofá com Candice. O medo de tantas coisas, tantas possíveis situações que se transformaram em nada diante daquele carinha sorridente tocando um violão enquanto cantava algo que ninguém esperava que cantasse.
Qual o intuito de não se entregar de vez a isso? Ele a amava. Tinha tanta certeza disso que dava pra ver no brilho ínfimo da córnea direita. Dava pra sentir quando passava perto, quando tocava nele. Dava pra ver até pela respiração. Gente apaixonada era assim; cheirosa de amor. Exalava aquela bagunça toda por aí, esbarrava até em quem não estava perto. Por uma tela pequena de um telefone, milhões de pessoas souberam que o ídolo mais cobiçado do momento estava apaixonado. Por alguém. Alguma sortuda espalhada pelo mundo que recebia o baque como todas as outras.
Mas o impacto trouxe confiança, certeza e coragem. Trouxe tudo que precisava e necessitava alcançar para dar aquele passo.
E assim, sorrindo e suspirando sozinha, já sabia exatamente a resposta que daria ao pedido dele.

[1]composição autoral de Luana Andrade.


[ 42 ] – I hope you're holding hands by New Year's Eve

🎵 Ouça aqui:
Only Ones Who Know - Arctic Monkeys

"Em um lugar estrangeiro, a graça salvadora era o sentimento
De que era o coração dela que ele estava roubando
﹝...﹞
E mesmo que de alguma forma nós pudéssemos ter
Lhe mostrado o lugar que você queria
Bem, eu tenho certeza que você poderia ter feito isso um pouco
Melhor por conta própria
﹝...﹞
Mas todas essas pequenas promessas, elas não significam muito
Quando há memórias a serem feitas
E eu espero que vocês estejam de mãos dadas nesse Réveillon
Eles tornaram fácil demais acreditar
Que o romance verdadeiro não pode ser alcançado hoje em dia."

Aquela não podia ser .
Era o que as poucas pessoas que a conheciam estavam se contorcendo ao reparar. Até mesmo Candice, rainha das atenções e dos comentários extravagantes, estava um pouco sobressaltada ao encarar a amiga flutuando em tantas… coisas. Em detalhes marcantes que a tornavam quase irreconhecível, ao mesmo tempo em que a deixavam no extremo da melhor versão de .
— Você sempre foi tão gostosa assim? — Wonnie soltou, a língua funcionando há anos luz do cérebro, fazendo com que Yoona lhe uma cotovelada quase imediata. A garota gemeu e arregalou os olhos, enquanto não teve nenhuma reação significativa. — D-digo, isso não é uma ofensa, não que eu não tenha pensado que você não era gostosa, porque honestamente, você é linda, , e eu juro que isso não é um flerte, eu só…
— Tá tudo bem, Wonnie — abriu um sorriso simpático, mas fez o possível para esconder a queimação na bochecha. Em um impulso, olhou por sobre o ombro só para ter certeza de que a altura de Candice e as pilastras daquele pub subterrâneo a escondiam do restante das pessoas, que poderiam ou não estar reparando na mesma coisa.
achou que não, mas não tinha levantado o queixo e o rosto direito para avaliar ao redor e verificar a informação. Quando tinha saído do Buick de Candice naquela noite e topado com Yoona esperando na calçada, a amiga deu um pulo tão rápido e afobado para perto dela, olhando-a de cima a baixo com uma palidez quase doente antes de começar a fazer milhões de perguntas sobre seu visual que se sentiu um pouco acuada. Como se tivesse sido abordada por um animal selvagem. Sensação nada acolhedora.
Ao mesmo tempo, se sentia lisonjeada. Sabia porque Yoona elogiou tanto, assim como Seojun, assim como todos os conhecidos e alguns desconhecidos elogiavam apenas com os olhos aquelas coxas de fora e a perna quase inteira escondida por uma bota preta com um salto quadradinho, harmonizando perfeitamente com a saia em estampa xadrez e a blusa de manga fina e longa que era igualmente preta. teve que espantar Candice do quarto antes que a loira a obrigasse a usar alguma coisa que aparecesse seu umbigo, e conseguiu vencer a batalha. Que viagem. Já não bastava aquela saia tão curta?
Mas a saia era apenas um detalhe. O ponto principal estava na bota, aquela coisa enorme que precisou de apenas um momento para decidir comprar assim que a viu na vitrine no dia anterior. Parecia perfeita para o convite de socialização com pessoas da alta gama do entretenimento que, por acaso, eram amigos dos 7 rapazes que estavam desembarcando na Coreia naquele exato instante, trazendo histórias e recordes, um legado muito mais importante do que um prêmio de prateleira.
Aquela bota era o artifício perfeito para o evento. Era perfeito para um sim. mal podia esperar.
Ela balançava as pernas sem perceber e olhava vez ou outra para a porta, esperando qualquer vislumbre dele. Já estava na terceira opção de drink que Candice tinha gritado para os barmans, homens simpáticos e exclusivos que já tinham dito um milhão de vezes que só estavam ali por ser uma ocasião especial.
Muito especial. queria que o tempo passasse mais rápido, que parasse de moleza. Não queria mandar uma mensagem para ele para perguntar onde estava porque queria surpreendê-lo, e Candice se irritaria com ela de verdade se perguntasse pelas informações de Yoongi mais uma vez. Ele já disse que estão vindo, dá pra você ter um pouco de paciência?
Ter paciência quando você estava planejando aceitar o pedido de namoro do cara que você amava? Difícil. Difícil pra caralho. deveria ter trazido um caderninho de palavras cruzadas, ou então sua câmera-protótipo, qualquer coisa que tirasse seus olhos um pouco da porta.
O pequeno trânsito de pessoas indo e vindo na entrada consistia de alguns poucos funcionários que se lembrava, principalmente dançarinos e staffs, e, surpreendentemente, cidadãos comuns sem o estigma de celebridades globalmente conhecidas como se esperava. Wonnie segurava com ainda mais força a taça de martini nas mãos, e tinha perdido as contas de quantas vezes ela mencionou ter visto Kim Mingyu rondando por aí, pulando de rodinha em rodinha como a perfeita borboletinha social que era.
— Não me lembrem depois se eu passei do lado dele e não reparei. Vou me martirizar pelo resto da vida — disse ela, com um pequeno gemido sôfrego.
— Três vezes até agora, e acabou de dar 23:00. Sou eu quem vou te dizer tudo isso amanhã — Yoona provocou, com um sorrisinho em deboche. Wonnie estreitou os olhos e controlou a língua para não soltar um palavrão.
— Da próxima vez que a senhora Song quiser ler as cartas do ex marido morto dela pra você, eu não vou te salvar.
— Você é minha assistente, você deve…
— Sou assistente da , e ela já tomou nota de tudo que não devo aceitar dentro das minhas obrigações, inclusive de resolver problemas que não são meus. Assim posso passar a ignorar o que acontece ao redor sem ter medo de perder o emprego — Wonnie deu de ombros, e Yoona soltou uma risada um pouco perplexa. — Não é, ? — a garota se virou para o lado, encontrando e sua cabeça insistente para a entrada. — !
— Oi? — tremeu os ombros em um lapso de susto, ajeitando a postura e encontrando todos os pares de olhos virados em sua direção. — Desculpe, o que você estava dizendo, Wonnie?
A garota de cabelos coloridos suspirou.
— O que você tanto olha pra porta? Eu estava dizendo que a senhorita Gong quer me roubar de você, mas já expliquei que os processos seletivos da Hybe são bem firmes e de qualidade, eles não estão apenas preocupados com formações e currículos cheios, eles dão valor a soft skills e possuem um programa de treinamento intenso. Se ver alguém que passou por tudo isso dentro do escritório, aí vai saber que a funcionária é boa e vai te servir bem, ela não precisa de mim para…
— Eles chegaram — Yoona arfou com força, e e Candice se viraram para a entrada no mesmo segundo.
A aglomeração intensa de cabeças impediu qualquer distinção dos rostos recém chegados. achou ter visto a pontinha do cabelo de Taehyung, mas foi um lapso de segundos antes de ele ser engolfado pela multidão, que não os afogaram em flashes, mas fizeram isso na forma de abraços e gritos. A população da festa se tratava de amigos, e não esperava que fossem reunir tantos deles, mas estava tudo bem. Ela só precisava vê-lo.
Ela conseguiu olhar para ele quando Jungkook emergiu do abraço de um homem grandalhão, sorrindo como nunca e brilhando em piercings e joias espalhadas pelas orelhas, dedos e pescoço. O coração de deu uma pirueta tão violenta e seu peito foi tomado por uma queimação tão forte que, por um momento, ela nem sabe se estava mesmo olhando pra ele. Só conseguiu ficar parada, focalizando a imagem de Jungkook como a única no recinto, ignorando os demais que o envolviam, vendo aquele sorriso aberto e sentindo-se grata por estar viva. Ele estava sorrindo tanto! O casaco Leather Jacket que usava por cima de uma regata branca combinava com seus jeans escuros, e o coturno Balenciaga fechava todo o visual com chave de ouro. Estava lindo, mais lindo do que quando tinha ido. não conseguia pensar em outra coisa quando o viu. Apenas: vou fazer isso, é claro que vou. Preciso fazer isso.
Como telepatia, assim que o pensamento se completou, Jungkook virou a cabeça naturalmente para o lado quando se desvencilhou de outro abraço e a encontrou, parada perto de um dos stands do bar junto com as outras garotas, mas emitindo para Jungkook a mesma coisa: só existia ela. Um holofote gigante em cima de sua cabeça e todo o resto ficando escuro.
Ele parou do mesmo jeito, sendo sugado pela imagem de , sentindo o peito comprimir e doer, mas uma dor de saudade. De ver o objeto de desejo justamente no momento em que não podia tê-lo, tocá-lo. Jungkook se concentrou no seu rosto por um tempo indeterminado até descer os olhos e vê-la naquela roupa, vê-la naquelas botas e assumir um brilho feroz no olhar, um brilho de desespero e lascívia, um brilho de quase morte. Parecia que o tinha atingido com uma flecha à distância. Ele a viu abrindo um sorrisinho mínimo de canto e erguer timidamente a mão para um tchauzinho, e quis poupar o trabalho de um cumprimento, precisava poupar, precisava imediatamente tocá-la!
O caminho de volta para Seul tinha sido recheado das palavras nobres de Namjoon, promessas de trabalho pesado e encorajamento para os próximos anos. O líder não os deixou remoer o resultado por mais de 1 hora; tinham plena certeza de que acrescentariam mais prêmios como aquele ou tão bons quanto no seu histórico enquanto estivessem vivos e lúcidos para fazerem o seu melhor. A viagem longa foi tomada de silêncio logo depois, e desde o instante em que Jungkook inclinou a cabeça para trás na poltrona e levantou os pés para a frente, pensou em e no seu desejado sim. Pensou no silêncio dela depois que ele a agradeceu pelas palavras por mensagens, pensou em ligar para ela e repetir tudo que tinha dito na live caso ela não tivesse visto, pensou em mandar mais algum presente, pensou, pensou, pensou. Acima de tudo, seus dedos e sua pele desejavam a garota com a qual ele passara uma noite inteira enroscado há dias antes, e um medo fantasma insistia em se enredar em seus músculos, avisando-o de que ela poderia não ser a mesma quando a encontrasse novamente em Seul. Que tudo aquilo não tinha passado de um sonho, que Deus tinha sido generoso com um canalha como ele e o deixado experimentar uma pontinha do paraíso por pura misericórdia, mas que isso não anulava as coisas que tinha feito. As mentiras que tinha dito, ainda que tivessem sido, em certo ponto, inocentes e sem má intenção.
Jungkook pensou em tudo isso. Temeu tudo isso. Pensou, debilmente, que caso o pior acontecesse, teria alguns dias antes de voltar ao estúdio com os rapazes e começar a produção de verdade. Poderia ir à Busan, poderia até ir ao Egito. Sua mãe era uma boa conselheira, e ele até já a chamou de médium porque conseguia adivinhar exatamente o que ele estava sentindo só de olhar para ele. Às vezes, era um alívio morar longe dela, mas às vezes era uma desgraça. Ele se esquecia que sentia falta dela, da sua família inteira. Se esquecia com tanto trabalho. Mas, se fosse para honrar o clichê da vida do jovem adulto, caso seu coração fosse partido em definitivo, ele precisaria de um colo específico por pelo menos 1 semana até conseguir se aprumar.
Mas esse tipo de coisa nem passou pela cabeça de Jungkook quando viu abaixo daquelas luzes, junto com seu sorriso promissor e confiante, como se lhe desse uma resposta sem abrir a boca. Uma balbúrdia de braços e parabenizações acontecia ao seu redor, e com certeza ele estava sentindo o corpo sendo um pouco puxado, mãos alheias se enfiando em seus bolsos, em seu cotovelo, gritos invocando seu nome, mas a imagem de … Porra, implodiu dentro dele. Apagou sua mente, desfez aquele nó no estômago, tirou pesos de seus ombros. Estava linda, divinamente linda! Nem se lembrou de que em algum momento tinha feito um pedido formal para uma relação formal. Só conseguiu enxergá-la e mover os pés automaticamente para se misturar ao mesmo metro quadrado que ela, para sentir o cheiro dela, para conseguir enxergar aquele sorriso tão de perto para que não pensasse que fosse uma alucinação.
prendeu a respiração quando o viu se virar. Quando viu as botas começarem a se mexer. Se alguém estivesse falando ao seu lado, ela não ouvia. Nem pensou se podia dar atenção à ele ou não em um ambiente tão público, mas que se foda. A adrenalina queimava em seu sangue, e não havia como pará-la agora. Talvez nem precisasse emitir o sim verbalmente. Um beijo bastaria. Céus, como ela estava com saudade de um beijo! Seria capaz de testar sua capacidade de ficar sem oxigênio só pra poder beijá-lo pelo tempo que fosse preciso.
Mas no meio do caminho entre os dois corações desesperados, um outro par de botas surgiu, esses com um bico fino e bem projetado, ligado a uma enorme lona de couro preto brilhante que ia até o meio das coxas, delineando lindas pernas com uma saia tubinho a muitos centímetros acima do limite da bota e uma blusa que não deixava apenas o umbigo à mostra, mas a barriga inteira, finalizando tudo com seios fartos e bem destacados naquele tecido fino.
A mulher montada parou na frente de Jungkook como uma cobra ao bote. Ele automaticamente notou a presença e parou antes que pisasse no seu pé. E antes que ele dissesse alguma coisa – ou tivesse tempo de se surpreender com a pessoa em si –, ela já estava abrindo os braços e envolvendo os ombros dele em um abraço apertado, íntimo e… Um pouco vulgar.
Jungkook jogou os braços para o lado do corpo, um pouco desnorteado. E se esvaziou da empolgação em um piscar de olhos.

・ ❬📸💔❭ ・


sabia que precisava parar de dar atenção à outra metade do pub e se desvincular tanto do grupo que estava inserida, mas parecia mais forte do que ela. Aliás, era mais forte, a força de um trem de carga. Ela sabia que tinha se passado, pelo menos, 30 minutos corridos no relógio desde que ele tinha entrado e sido arrastado por aquelas unhas enormes pintadas de preto para o outro lado do bar mais distante, mas cada minuto se arrastava como uma eternidade. se viu tão tensa com a cena que não conseguia mais se concentrar. Cada sorriso que abria para as meninas era tão delineado, tão fraco que facilmente se rompia depois de alguns poucos segundos.
virou a cabeça para trás de novo, vendo que ele não havia mudado de lugar. Ainda estava escorado no balcão do bar, ainda estava com a mesma garrafa de cerveja gelada nas mãos, ainda estava de frente com a garota bonita que brotou do piso sem mais nem menos. A desconhecida não conseguia emitir uma frase inteira sem arrastar os dedos pelo pescoço dele, ou estrangular mais centímetros entre os dois, enquanto Jungkook sorria embaraçado e se afastava, mas não impedia que acontecesse de novo.
Na hora em que ele finalmente virou a cabeça para ela, desviou o rosto, sem conseguir esconder a irritação. Trincou os dentes e se afastou de Yoona e da história que contava sobre o dia que encontrou Jin com a suposta ex-namorada nos corredores da Hybe e partiu para a bancada de bar mais próxima, onde os rapazes com coqueteleiras estavam prontos e dispostos e misturar tudo que ela pedisse. olhou o cardápio por cima de suas cabeças e repetiu a primeira coisa que leu. Sentiu os ombros de Candice rasparem nos seus um minuto depois.
— Você parece que vai pedir um balde de gelo e triturar todos eles com os dentes.
suspirou forte, sem olhar para ela.
— Tanto faz.
— Tá deixando muito na cara.
— O que estou deixando na cara, Candice? — agora virou o rosto de perfil, as sobrancelhas franzidas de impaciência.
A loira cruzou os braços e torceu o pescoço para olhar para trás por um curto momento, apenas para direcionar sua atenção ao ponto que já estava sugando toda a concentração de desde o início. Em seguida, Candice levantou as sobrancelhas em um gesto óbvio, deixando ainda mais irritada e desconfortável.
— É sério? Quer se esconder logo de mim?
bufou na mesma hora em que o barman depositou a taça no balcão. O líquido era uma mistura de branco com amarelo, e não fazia ideia do que era até tomar um gole, sentindo um gosto tão forte que a obrigou a fazer uma careta e fechar os olhos com força.
Quando os abriu, ainda estava diante da imagem de Jungkook e da anônima conversando lá na frente, os grandes responsáveis por remexerem em partes de antes nunca identificadas.
— Quem é ela? — Perguntou de repente, mais para si mesma do que para outra pessoa. Pareceu mais um choramingo do que qualquer outra coisa.
Candice tornou a olhar para trás, mais rápido desta vez, e balançou a cabeça negativamente.
— Não faço a menor ideia. Mas o jeito com que ela pega no braço dele, significa que não acabaram de se conhecer — Candice começou a sorrir, mas o ódio que faiscou dos olhos de a impediu de continuar. — E isso não melhora em nada, tudo bem, você está certa. Eu posso perguntar ao Yoongi, talvez ele…
— Não. Não, deixa pra lá — balançou a cabeça, sentindo a culpa do sentimento desconhecido e inflamável tomar conta dela outra vez. Aquela coisa estava se espalhando como uma doença, revolvia em ondas no seu estômago, e era péssimo e terrível, piorava ainda mais quando olhava e criava histórias ainda mais terríveis. Era um pesadelo que não cabia naquele ambiente alegre de comemorações — Não vou pensar nisso agora. Vou até aquele outro bar com letreiro de fogos de artifício e pedir uma bebida com nome de comida. O que me diz?
Candice torceu a boca por um momento pelo convite, mas assentiu em seguida.
— Tudo bem, estou no meu intervalo de amassos com meu namorado mesmo. Precisamos ficar dando pausas para que não pens… — ela parou diante de mais um olhar semicerrado e um tanto magoado de . — Tudo bem, não está mais aqui quem falou. Vamos tomar a sua bebida sabor pudim, vamos. — E tomou os ombros de , levando-a para bem longe da visão do outro extremo.

・ ❬📸💔❭ ・


Jungkook ficou subitamente com medo de ter ido embora.
Da posição em que estava no lado direito do bar, ele mal sabia onde começava e terminava aquele estabelecimento. Havia tantos balcões, tantas bebidas, tantas pessoas em volta de mais pessoas que as paredes escuras e o pé direito gigante do teto eram as únicas coisas que ele conseguia distinguir fora da aglomeração. As luzes baixas limitavam sua panorâmica em poucos metros adiante, mas ele se esforçou para manter no seu campo de visão, ainda que estivesse longe. Esperando um momento mais propício para estar perto, mas a cada segundo que tentava sair…
— E ela quebrou a perna faltando 16 horas para a performance. Uma merda, mas acontece, não é? Eu não iria demiti-la por isso, mas tive uma dor de cabeça com os staffs daqueles babacas, que não pagaram a outra metade do serviço. De verdade, eu nunca tinha pensado em como seria socar a cara de alguém com 2 metros de altura. Eles me desrespeitaram, desrespeitaram meu clube, minhas… Jungkook!
Jungkook pulou de susto, virando-se para a mulher com um pouco de dúvida, esquecendo-se dela em meio à sua busca.
— Oi? — perguntou, franzindo o cenho. Ao ver as sobrancelhas dela arqueadas, o garoto soltou um suspiro forte. — Desculpa, Sunny, não ouvi o que você disse. ‘Tô procurando alguém.
— Quem você poderia estar procurando? Os garotos estão espalhados o suficiente por aí — Sunny puxou o canudo em espiral da taça, os piercings do nariz e do septo brilhando na escuridão.
— Não estou procurando eles — murmurou Jungkook, virando o queixo para a direção de Candice novamente. Ela não estava mais onde estava, nem . Isso era ruim.
— É uma garota? — Sunny entrou em seu campo de visão, puxando seus ombros. — É uma garota.
Jungkook bufou e tomou mais um gole longo da cerveja. Agora, além de ser corajoso para confrontar sobre sua resposta, precisava ser corajoso para fugir de Sunny. Dela e de suas perguntas, que o prenderiam em uma sala de interrogatório mais cedo ou mais tarde. Ela conseguia ser muito insistente e muito julgadora quando queria.
— Pra você é sempre uma garota — ele deu de ombros, tentando desconversar. O tic-tac do relógio batia no cérebro dele. podia estar em toda parte daquele lugar, podia estar olhando e interpretando coisas que não deviam ser interpretadas. A presença de Sunny sempre o deixou feliz em qualquer ocasião, mas daquela vez ele tinha uma prioridade mais urgente do que dar a devida atenção à sua amiga, que rosnaria com ódio se ele a deixasse sem explicações.
Ele ainda não queria dar explicações. Queria fatos primeiro, ver se precisaria se ajoelhar para dizer o seu tão desejado sim ou se ela o faria catar os pedacinhos de seu coração e ir chorar na banheira.
Sunny chegou ainda mais perto dele de repente, erguendo o dedo indicador na direção da pontinha de seu nariz.
— É porque você é tão louco por mulheres quanto eu. Por isso combinamos tanto, lindinho — ela desceu o dígito pela pele dele até a boca, sorrindo com naturalidade, chegando perto dos benditos lábios que, em outras raras ocasiões, porém existentes, Jungkook ficaria parado e gargalharia como se ouvisse uma piada.
Contudo, naquele momento, ele se afastou há quase dois passos e olhou para os lados com apreensão, rezando aos céus e Terra que não tenha visto uma coisa dessas, de tantas outras que já o deixariam ferrado o bastante.
— Eu te conto depois — ele depositou a garrafa em cima do balcão, batendo com a palma da mão na superfície até que algum dos homens de camiseta preta olhasse pra ele. — Ei, você. Cuida bem da minha amiga aqui, pode ser? Prepara todo o gim que tiver.
Ele abriu um sorrisinho firme e simpático para o homem, que assentiu imediatamente e começou a se deslocar do lugar. Sunny, franzindo o cenho e confusa com a atitude, agarrou o cotovelo do maknae antes que ele desse mais um passo.
— Ei. Pra onde você vai? — ela semicerrou os olhos com o comportamento. Jungkook respirou fundo.
— Eu te conto depois — repetiu devagar, se desfazendo de seus dedos com delicadeza. Lançou uma piscadinha para a garota, dando as costas à tempo de não receber mais perguntas e andou direto para onde se lembrava de tê-la visto, o coração convulsionando de saudade e agora um pouco de medo por não ter feito força o suficiente para se livrar de Sunny.
No meio do caminho, Jungkook encontrou mãos levantadas para o alto em sua direção, mais parabenizções, abraços e gritaria, aos quais ele teve sucesso em passar com rapidez e educação até enxergar o cabelo negro e escorrido da amiga de que devia ter 1,50 de altura e a outra de cabelo colorido que o encarou imediatamente com os olhos esbugalhados.
— Oi — ele cumprimentou assim que ficou a uma distância onde poderia ser ouvido, o que era perto demais para os parâmetros orientais, e ainda mais perto para funcionários e idols. — Tudo bem? Vocês viram a ?
Nenhuma das duas respondeu na hora. Com franqueza, não pareciam aptas a responder. Yoona abriu e fechou a boca por tantas vezes até achar um meio termo e paralisá-la entreaberta, enquanto Wonnie… O horror no rosto dela era a pior parte.
Jungkook arqueou as sobrancelhas, esperando, segurando a impaciência. Tudo bem que a culpa era dele por chegar tão do nada, mas fala sério!
— Gente? — Ele abriu um sorriso amarelo, decidindo se direcionar para Yoona. — Yoona, você viu a ? Viu pra onde ela foi?
O nome teve o efeito de um sacode em Yoona. A garota puxou bastante ar pelo nariz, umedecendo os lábios secos e endireitando a postura, voltando imediatamente ao estado de normalidade. Por outro lado, o rosto de Wonnie pareceu transtornado agora por outra coisa.
— Ela foi com a Candice… Ali — ela esticou o braço para a esquerda, onde as luzes piscantes de mais um quiosque levava o título de “GLOZE: beba o que você come!” — Naquela direção. Acho que foram pegar bebidas.
— Muito obrigado, você é ótima — ele deu um pequeno tapinha em seu ombro ao mesmo tempo que exibiu um sorriso largo e satisfeito, deixando a companhia das duas imediatamente. Mesmo se afastando o bastante e com a música nas alturas, Jungkook pode jurar que ouviu um grito agudo partir de suas costas com a frase: “Como Jeon Jungkook sabe o seu nome?!”
Ele não fazia ideia do quanto exatamente andou até visualizar a cabeleira loira totalmente familiar recostada no quiosque, segurando uma taça tão alta e fina que se parecia com um tubo de ensaio, onde a bebida soltava fumaça e mudava gradativamente de cor. Combinava muito com ela.
— Candice — ele arfou quando se aproximou rápido, mas não tirou um pingo de susto dela. Candice pareceu ter reconhecido a voz no mesmo instante, e assim, virou-se devagar, com os olhos entediados. Semicerrados. — Onde ela está?
Candice o olhou de cima a baixo primeiro, franziu o cenho, desfranziu, inclinou a cabeça, avaliando um estranho. Mas ela não parecia bêbada. Ela só parecia…
— “Onde ela está?” — ela afinou a voz, fazendo uma careta em seguida. — Você não está muito ocupado bem daquele lado do recinto, senhor Jeon? — ela apontou com o dedo na direção de onde ele e Sunny conversavam. Não parecia querer disfarçar em nada: nem nos gestos, nem no tom da fala.
Num primeiro momento, Jungkook trincou os dentes pela enrolação proposital, imaginando que fosse um complô da loira. Mas depois, pensando melhor, imaginou que Candice Chaperman, por mais melhor-melhor amiga coruja que fosse, não fazia nada à toa. Se sentia necessidade de acusá-lo daquele jeito, era porque tinha visto alguma coisa para isso. Alguma coisa em .
E imaginá-la estando triste ou minimamente incomodada naquele momento por causa daquilo parecia um sonho sangrento. Um pesadelo.
— Não tô ocupado, não estava acontecendo nada, vou explicar pra ela. Onde ela foi? — ele se aproximou mais da loira, os olhos sem resquício de arrogância ou aborrecimento pela enrolação. Só tinham pressa, até um pouco de desespero. Candice abriu a boca para jorrar outra sessão de reclamação, mas foi pega novamente pela essência daquela coisa escapando de Jungkook. Aquela coisa que gritava que estava apaixonado, e que não, ele não ficaria ocupado com Sunny ou com nenhuma outra nem se pudesse.
Candice revirou os olhos e suspirou.
— Acho que ela foi ao banheiro. Sinceramente, não ouvi direito, mas ela andou na direção daquela placa quadrada que está piscando em vermelho e… — Candice parou de falar quando se virou para a dita cuja, arqueando as duas sobrancelhas. — Está escrito Saída.
Jeon bufou, agora se sentindo desolado. Encarou Candice, que parecia confusa e totalmente por fora da situação, olhando para ele como quem diz “eu não sabia, juro que não sabia”. Jungkook praticamente correu na direção das luzes vermelhas na parede, os membros formigando de adrenalina, vasculhando qualquer direção que seus olhos eram capazes de pegar. Ele não tinha a menor certeza de onde estava, mas viu a porta dupla de metal abaixo da caixa vermelha escrita “Saída” ser aberta e fechada, e ao lado, mais uma entrada escura, um tipo de corredor estreito com uma pequena fila que não indicava nada, mas também não importava. Ele se voltou para a porta de saída, tentando ver alguma coisa, sentindo como se o corpo estivesse levitando, começando a ficar perdido, pensando e repensando agora em como falaria com sobre aquilo, como a faria entender…
— Jungkook?
Ele se virou imediatamente na direção da voz, que reagiu e harmonizou com todas as células do seu sangue. Ainda era muito escuro naquela parte do pub, mas estava sempre abaixo de holofotes, segundo a visão de Jungkook. O espaço todo à sua volta parecia errado diante de alguém que brilhava tanto.
Ele correu para perto dela, o coração na garganta, olhando rápido para cada ponto de seu rosto.
— Você está aqui — disse mais para si mesmo, deixando a respiração normalizar. — Achei que tinha ido embora.
— Por que? — ela entortou a sobrancelha, confusa. — Só fui ao banheiro. Fica muito ali no fundo, acho que me perdi — apontou para a direção de onde tinha vindo, o cubículo com o ápice da falta de luz na frente da pequena fila de pessoas. Por incrível que pareça, não havia quase ninguém. Tornava tudo vazio e vermelho, do jeito como uma das lembranças mais recentes dele pareciam.
Os dois ficaram parados, em silêncio, engolfados pela música que agora parecia um pouco distante e imaginária. Não se ouvia nenhum som de suas respirações indo e voltando, e Jungkook pensou que estragaria ainda mais as coisas se não falasse, mas só de olhar pra ela…
— Estava louco pra te ver — ele balbuciou em seu rosto, levando os dedos automaticamente para a pele de ; a pele do antebraço, do pulso, do cotovelo. Só precisava tocá-la. — Senti sua falta, senti pra caralho.
derreteu com o toque acompanhado das palavras. Piscou os olhos com força, um pouco desnorteados pelas bebidas em sequência, mas Jungkook eliminava qualquer indício de alucinação que ela poderia ter. A sobriedade da própria presença dele era o suficiente. O coração dela aumentou o ritmo mais do que já tinha aumentado, deixou as borboletas em disparada, a fez roçar na pele dele quase em súplica e mover seus pés para mais perto, tantas coisas, tantas coisas…
Mas se lembrou de onde estava. Se lembrou que não estava no quarto dele, com suas paredes fechadas e seu teto altíssimo. Estavam em público, em um lugar cheio de gente, e mesmo que ele a olhasse sem qualquer preocupação disso, ainda engoliu em seco e se afastou devagarzinho, olhando para os lados, raspando a visão onde ele estava antes com a garota desconhecida e torcendo a boca explicitamente. Uma nova onda de angústia explodiu sobre Jungkook, fazendo-o chegar ainda mais perto dela.
— Não é isso que você tá pensando — ele começou, gesticulando com as mãos apressadamente. — Não é nada disso. É uma amiga minha, conheço ela há muitos anos, ela estava me contando coisas sobre o trabalho, nós não…
— Uma amiga? — levantou uma sobrancelha, um pouco surpresa porque nunca, jamais, dentro ou fora da agência, tinha escutado sobre Jeon Jungkook ter uma amiga — Olha, eu não…
— É verdade, ela é uma amiga, e não diga que não preciso explicar isso porque é claro que eu preciso! Pedi pra você ser minha namorada, então eu preciso, — ele arfou com a última sentença, completamente aturdido. arregalou os olhos pela declaração; não porque tinha saído em voz tão alta, mas porque tinha sido muito determinada. Violentamente determinada.
tinha sentido uma vontade tão grande de correr para aquele balcão, de se enfiar no meio daqueles dois, de perguntar descaradamente “quem é essa?!” que mal se reconhecia. Aquele sentimento não tinha uma fonte precisa, era tão novo quanto suas botas. E parou de crescer e se desenrolar diante daqueles olhos exaltados, pedindo uma chance.
Estava com saudades dele, morrendo de saudades. Não podia mentir para Jungkook e dizer que não tinha sentido nada vendo-o de abraços e toques com a garota desconhecida, não podia começar uma relação desse jeito. E ele esperava exatamente isso, que ela falasse, porque ele já estava falando. Já estava disposto a não ir se deitar naquele dia com assuntos pendentes com , e nem nos próximos dias.
Finalmente, ela estava pronta para abrir a boca e dizer a primeira coisa que vinha na sua mente quando uma risadinha espalhafatosa surgiu das costas dele, acompanhada de unhas se enredando novamente em seu cotovelo.
— O seu amigo não entendeu nada sobre cuidar de mim. Ele me ofereceu rum com hidromel. Tenho cara de quem bebe uma coisa dessas? — Sunny balbuciou bem perto do tímpano de Jungkook, que acordou do transe que sempre acontecia quando estava na presença de e se assustou rapidamente com a chegada repentina.
Ele afastou o braço de suas unhas, olhando para de soslaio e vendo de novo o que não queria ver. A expressão cabisbaixa de insegurança, o incômodo da falta de informações, e em como isso teria o poder fácil de fazer não querer arriscar.
Jungkook debateu consigo mesmo sobre o que deveria fazer, mas nada mudava a realidade: ele amava , mas nem por isso poderia simplesmente chutar Sunny dali.
A japonesa estava observando a garota novata à sua frente com uma atenção quase divertida, deliberando internamente se a conhecia ou se ela tinha algo a ver com o afastamento de Jungkook. O rapaz bufou forte, erguendo uma palma para Sunny, falando de um jeito abatido:
, essa é a Sunny. Uma amiga minha de longa data — apresentou, e Sunny ergueu uma sobrancelha pra ele. — Ela é dançarina e tem um estúdio em Tóquio. Treinei com ela por muito tempo quando comecei. E Sunny, essa é — ele intensificou o olhar para , tentando burlar aquela parede dos olhos dela — É a melhor fotógrafa da nossa empresa. Também foi diretora de fotografia do novo álbum dos pivetes. E também é minha…
— Namorada.
Jungkook parou com a boca aberta no ar. Nem sabia mais o que iria dizer depois. A fala de tirou seu chão, levou embora toda a sua inteligência. nem estava olhando pra ele direito. Revezou a atenção entre ele e Sunny, reiterando para a japonesa aquela verdade surpreendente com um olhar firme e uma voz quase delicada.
— Sou a namorada dele — repetiu, gastando toda a cota de coragem e autoconfiança que tinha acumulado especialmente para aquele dia. Sabia que não tinha motivo nenhum para se sentir amedrontada por quem não conhecia, então burlou isso. Disse a pura e genuína verdade. — Prazer em te conhecer, Sunny.
Ela estendeu uma mão para a garota, que levou os olhos de cima a baixo de antes de soltar uma gargalhada estrondosa. Uma gargalhada que indicava explicitamente que não retribuiria o cumprimento.
— Namorada? Fala sério — Sunny riu mais um pouco, enquanto Jungkook continuava parado encarando , sem ouvir nenhum outro som em volta. — Olha, eu não acho que dar um amasso nele no escurinho de um clube te transforme automaticamente em namorada. Ainda mais para o Jungkook, que já foi vítima da síndrome de Estocolmo, acho que essas coisas não…
Sunny parou de falar quando os ombros de Jungkook esbarraram no dela para pular para o lado de em um piscar de olhos, agarrando as duas metades da bochecha dela até colocar o rosto o mais próximo possível dele. Toda a atenção de foi raptada, assim como toda a respiração dele já estava por um fio.
— Isso foi um sim? — ele perguntou em um silvo, o coração pulando da boca, a esperança piscando como uma bolha de vagalumes. — É isso? Você me deu um sim? Por favor, diz que foi um sim.
sentiu o coração inchar e quase explodir. O rosto dele tão perto, trazendo aqueles mesmos olhos e aquele mesmo cheiro, desbancava o restante de dúvidas que ela tinha no momento, eliminava as incertezas de uma vida. Aqueles mesmos olhos que a encaravam por aquele vídeo, aquela mesma boca que pediu e declarou, que cantou aquela música, que deixou claro para o mundo inteiro que já tinha a quem pertencia. Não tinha outra resposta.
sentiu o rosto pegar fogo e, sem forças para abrir a boca efetivamente, apenas balançou a cabeça em um aceno de concordância. E viu Jungkook começar a abrir o maior sorriso do mundo, que não se completou a tempo de ele puxá-la para um beijo intenso e esperado.
percebeu que preocupar-se com multidões era, na verdade, coisas de quem não estava apaixonado. De quem enfiava a razão onde ela não cabia, como no desejo imenso que ela estava de beijar Jungkook, de abraçá-lo, de ser tocada por ele. A sensação de flutuar para bem longe a dominou, os dedos indo de encontro ao pescoço dele com correntes, as mãos esbarrando na gola do casaco, a vontade de ficar ali pra sempre se enredando em todos os seus membros.
Ele mesmo teve a bondade de se afastar, talvez se lembrando de onde estava ou simplesmente querendo atestar que o que tinha ouvido não era uma alucinação.
Mas o sorriso de no meio daquelas luzes baixas não era nada nascido de sua própria cabeça. Seu cérebro não era capaz de sonhar ou de reproduzir algo tão bonito e singelo. Caralho, ela era linda! Linda! E ele a amava demais, amava tanto naquele momento que nem conseguia verbalizar isso, não conseguia deixar claro o quanto…
— Isso é sério?
Jungkook virou a cabeça para o timbre, vindo da presença praticamente esquecida do recinto. Sunny agora tinha os dois braços pendendo ao lado do corpo, olhando de um para o outro com os olhos um pouco esbugalhados demais, chocados demais.
Jungkook sorriu para ela e se afastou de , passando o braço por sua cintura e puxando-a para mais perto dele naturalmente enquanto se virava para a amiga.
— Vou refazer a apresentação: Sunny, essa é , a melhor fotógrafa dessa empresa e minha namorada.
O orgulho preencheu cada centímetro da pupila do rapaz. Sunny ainda estava rindo, achando graça, mas ele não parava de sorrir. Não tirava os dedos do quadril dela, não exibia nenhuma intenção de se afastar. O que estava acontecendo?
— Você… Tá falando sério mesmo? — A pergunta saiu mais séria desta vez, porque obviamente algo anormal estava acontecendo. Jungkook estava sofrendo algum abuso?
No entanto, o sorriso que viu cintilar dele não dizia nada além de uma resposta única:
— Muito sério.
Sunny piscou os olhos repetidas vezes, ainda com uma certa dificuldade em acreditar. Olhou bem para a garota ao lado de Jungkook, sem nenhum julgamento ou deboche desta vez. Não se lembrava de absolutamente nada dela. não era um nome listado no seu acervo de memória, e fotógrafos não eram exatamente pessoas fáceis de ter rostos estampados. Para ser franca, era bonita, se não fosse admitir que era maravilhosa com aquelas botas ilustres, e ela costumava saber quando Jungkook se envolvia com alguém tão bonita – ou tão simples, tão diferente de sua lista de lances rápidos.
Bom, estava claro que a tal não era um lance rápido.
Constatar isso fez uma lâmpada se acender no cérebro da japonesa, que ignorou o rosto um pouco corado da outra garota e se virou para Jeon com os olhos semicerrados:
— Não me diga que ela é a garota das mensagens de texto.
Jungkook crispou as sobrancelhas, sem acompanhar o raciocínio.
— Quê? — Ele pareceu preocupado por um segundo. Sunny poderia estar fazendo uma brincadeira de mau gosto, relembrando outra garota de outra época e de outra mensagem de texto apenas para mostrar o quão insatisfeita estava de ter sido deixada de lado naquela novidade bombástica da vida dele, mas a dançarina continuou:
— As mensagens do Japão. O tal casinho fixo que mal te deixou prestar atenção no festival — ela agora cruzou os braços, arqueando a própria testa para formar a expressão: “A-Há! Te peguei!” Jungkook se lembrou na mesma hora, e coçou a nuca com um risinho.
— Ela mesma.
se virou para ele com um olhar confuso, e Sunny voltou a encará-la dos pés a cabeça em uma nova inspeção, agora uma que a incluía no cenário daquela noite de julho quente em que sabia que Jungkook estava se apaixonando de novo, mas torcia para que não fosse verdade. Não por ser egoísta, mas porque ele definitivamente não era nada bom com essas coisas. Se jogaria de cabeça por alguém que, provavelmente, não tivera tempo o suficiente para avaliar se valia a pena, deixando a paixão avassaladora tomar conta de tudo. Sunny sabia que, caso desse errado novamente, o dano daquela desilusão seria mais profundo que qualquer machucado que ele já apresentara a ela depois de uma briga aleatória de rua.
Mas Sunny, dissecando interminavelmente cada pedaço de e suas reações, tentou captar qualquer indício de dissimulação ou um brilho suspeito de interesse em seus olhos, ou a mesma coisa que pescou em Ali Dalphin da primeira vez que a viu: distância. O muro que erguia entre ela e Jungkook, a postura inflexível de ser a pessoa que recebia todo o amor, muito mais amor, por ele e por ela. Procurou qualquer coisa que a fizesse duvidar de suas emoções. Fez uma vistoria rápida e bem sucinta. Começando a ficar incomodado, Jungkook estava pronto para perguntar à japonesa qual era o problema, quando Sunny começou a abrir um sorriso, os lábios se esticando tanto quanto o gato da Alice.
— Você estava certo. Ela é mesmo gostosa — comentou despojadamente, fazendo entreabrir a boca em pura surpresa e sentir o rosto queimar com ainda mais intensidade. O olhar de Sunny agora penetrava sua pele enquanto a mulher se aproximava, fitando-a como o prato principal do jantar. — Sabe, , tenho uma história longa com o seu homem, o que significa que sei exatamente das habilidades dele de bater e puxar, mas não precisa se preocupar com isso. Se ele está apaixonado, você está prestes a se tornar a garota mais exclusiva, mimada e protegida da história. Sempre achei isso muito brega, mas é o jeito dele de demonstrar que ama. E isso aqui — ela mirou novamente os dedos ao redor da cintura de e sorriu mais um pouco. — Só me diz que você já está sendo amada pra cacete. Isso é novo, mas é muito bom. Estou muito feliz com isso.
Jungkook sorriu genuinamente de seu lugar, apertando um pouco mais os dedos na curva do quadril de , que se sentiu menos intimidada por aquele olhar cortante e conseguiu levantar o canto dos lábios em um sorrisinho mais verdadeiro e relaxado. Contudo, Sunny estava se aproximando de novo, desta vez em súbito, inclinando a cabeça para sussurrar para :
— E quanto aos abraços e beijos que você presenciou hoje, não esquenta a cabeça com isso. Se quiser, posso fazer o mesmo com você.
O sorriso de Sunny se transformou em perverso, promíscuo. não soube o que responder, não soube nem para onde olhar. A proximidade da mulher voltou a ser intimidante, tornou seu rosto pálido, e ela não sabia se a dançarina falava sério ou não, mas ouviu, enfim, Jungkook estalando a língua e colocando uma palma no ombro de Sunny para afastá-la levemente de , revirando os olhos logo depois.
— Para com isso, tá assustando ela. E não, você não vai beijar minha namorada.
Sunny gargalhou com farra, o piercing da língua cintilando na escuridão daquele espaço do clube.
— Você com ciúmes é um bom sinal. E eu só queria deixar as coisas quites para todo mundo, sem maldade — recebeu uma piscadinha sedutora, deixando-a ainda mais embaraçada e constrangida. Tudo em que conseguia pensar era que nunca tinha recebido um flerte tão descarado, muito menos vindo de uma mulher. No entanto, Jungkook ao seu lado parecia estar tranquilo com o fato, sem intenções de nunca mais falar com Sunny por causa disso. — Então, já que tudo está esclarecido, acho que chegou a minha hora de ir. Não embora, é lógico. Não tenho exatamente um lar aqui em Seul, mas o meu voo é só amanhã à tarde e tenho muita cerveja para beber até lá. Talvez até aquele rum ridículo que me ofereceram. E talvez muitas visitas. Nenhuma delas na sua casa nova, gatinho — ela fingiu um suspiro de tristeza, e Jungkook segurou uma risada, balançando a cabeça pela atuação mal feita. Sunny se virou pela última vez para , esboçando um semblante um pouco mais sério. — Cuida bem dele, tá bom? A cabeça é inconsequente, mas o coração é de ouro. Ele vai cuidar bem do seu também. Não tenha dúvida disso.
E, desta vez com um sorriso sincero e amigável sem nenhuma segunda intenção, Sunny inclinou o queixo na direção de Jungkook em um cumprimento particular e deu as costas, embrenhando-se na multidão apertada há alguns metros, deixando para trás um rastro de perfume amadeirado forte misturado com álcool.
O espectro de Sunny perdurou na mente de por alguns instantes, destacando aqueles olhos firmes e palavras honestas quando disse sobre cuidar de Jungkook. percebeu que os dois eram mais próximos do que imaginava, e se sentiu tão ridícula de repente por ter sentido aquela queimação dolorosa no estômago mais cedo, a inquietude do ciúme que agora parecia tão injusto.
Ela olhou para ele ao seu lado, que já estava encarando-a antes mesmo de Sunny ir embora.
— Então, eu…
tentou, mas foi impulsionada para a frente quando ele agarrou em seus dedos e os guiou para trás da primeira coluna grossa de pedra que tinha bem ao lado da entrada escura dos banheiros. se viu mergulhada em ainda mais breu, mas era impossível não enxergá-lo estando tão perto, e impossível não sentir o cheiro dele tão disseminado naquela região.
— Jungkook, meu Deus! — ela arfou quando foi imprensada na parede, e queria parecer mais séria e firme no aviso, mas ele se achegou tanto. Ficou tão perto. A mente dela embaralhou. — Alguém pode nos ver…
— Você falou sério? — ele interrompeu com certa pressa, uma aflição ainda não eliminada — Falou sério sobre o meu sim? Ou só estava com ciúme da Sunny?
— Eu não estava… — a negação quebrou na boca de no meio do caminho. Jungkook arqueou a testa, desconfiado. Ela expirou forte e franziu os lábios para admitir: — Tá bom, eu estava com ciúmes. Eu não sabia dela, e quando vi o abraço, eu fiquei…
Ele a beijou de imediato, incapaz de conter a emoção, o agito, o fato escancarado de que estava sendo correspondido. Era bom, tão bom. Quando viu aquela expressão abatida de há alguns minutos, teve certeza de que a possibilidade de um resultado bem-sucedido de seu pedido tinha se transformado em uma linha tênue e mais improvável do que nunca. Já estava pensando em formas de fazê-la repensar, em formas de provar ainda mais o sentimento. Mas ouvi-la aceitar rebobinou todas as ideias de Jungkook, foram soltas por aí, tirou os pesos de seus ombros, abriu finalmente o caminho para uma felicidade mais completa.
Ele a agarrou com vontade, tomando sua boca com ímpeto, com uma dose de loucura ardente, passando os braços pela cintura de até que ela soltasse um gemido de excitação por entre os lábios. Porra, era demais. Sua consciência de hora e local apropriado já estava desfalcada, e ele com certeza estava mesmo louco para beijar alguém no meio de uma festa lotada, mas aquela era sua namorada! Porra…
Ele se afastou em busca de oxigênio, mas não se afastou tanto assim. Manteve os lábios em cima dos dela, manteve a troca de respiração ofegante, manteve o calor intenso que amolecia tanto as suas pernas quanto as dela.
— Não precisa falar mais nada, já entendi — Jungkook sussurrou na frente, a voz rouca e abafada, totalmente entregue. O sorrisinho dele ia até os olhos, brilhava tanto quanto o piercing de Sunny. — Então foi sério. Você é minha namorada.
revirou os olhos no meio de uma risada, mantendo as mãos em volta dos ombros dele.
— Claro que foi sério, seu idiota. Eu amo você. É óbvio que quero ser sua namorada. Quem mais seria tão imprudente a ponto de se declarar publicamente pra mim no meio de uma live?
Ele levantou uma única sobrancelha e sorriu ainda mais, dando um selinho rápido em .
— Eu sabia que você estava assistindo, eu sabia! Quer dizer, contei com aquelas gravações que colocam no YouTube depois, mas torci para que você estivesse ali — ele se aproximou para raspar o nariz no de , mordendo o lábio inferior. — Você não imagina as coisas que ainda vou fazer por você, linda. Tudo que você merece, tudo que tem direito. Amo você pra caralho, . Ouvir você dizer que é minha namorada foi melhor do que todos os prêmios que eu já ganhei.
Desta vez, ela o beijou, mais calma e menos espalhafatosa, mas igualmente despida de qualquer preocupação que o ambiente poderia trazer. Ter ele tão perto já era o suficiente para mexer com as estruturas de , mas tê-lo tão perto e dizendo coisas daquele jeito causavam mini explosões por toda a , que não se via capaz de se segurar. Estava tão, mas tão feliz. Todas as coisas que sentiu antes de soltar aquele “namorada” para Sunny desapareceram em um piscar de olhos. Parecia certo, parecia destinado. Um quebra cabeça finalmente completo. Percebeu que, talvez, ela estivesse procurando por isso por mais tempo do que ele, desejado por mais tempo do que ele, já abarrotado de suas próprias experiências e relatos, enquanto só restava a ela querer. Imaginar.
o soltou com selinhos e sorrisos, erguendo o queixo para encará-lo nos olhos e acariciar um pouco a curva de seu maxilar.
— Isso foi tão lindinho e dramático, Jeon Jungkook — ela debochou ligeiramente, arrancando uma risada dele. Repentinamente, foi se encolhendo um pouco. — Mas… Escuta, eu nunca tive um namorado. Sei que você sabe disso, mas… Se isso for uma questão…
Jungkook sorriu de um jeito felino, maléfico. viu a pura cretinice gritando naqueles olhos, o que certamente fez suas bochechas arderem de vergonha, porque aquele canalha estava se segurando para não gargalhar.
— Sério que você vai rir? — ela deu um tapinha no seu ombro, desviando os olhos. Jungkook segurou sua mão e balançou a cabeça.
— Não, não é isso. Eu só pensei que isso parece um novo acordo, não acha? — ele arqueou uma sobrancelha em escárnio — Você nunca teve um namorado, o que significa que precisa da minha ajuda. Então, vou ter que te passar uma lista de encontros, presentes, vocabulário, programas, assuntos, a vestimenta pra ir conhecer os meus pais, de como… Ai! — ele gemeu quando foi estapeado no peito, e quando deu outro no ombro, e Jungkook deixou a risada alta sair quando viu o rosto dela agora vermelho de raiva. — Tá bom, é brincadeira, é brincadeira. Calma, linda — ele puxou os dois braços de para trás de sua cintura, roubando um beijo rápido.
— Você é um idiota. Não foi nada disso que eu quis dizer — ela bufou, raivosa e envergonhada.
— Eu sei, eu sei — Jungkook sussurrou em cima de sua boca, raspando os lábios nos dela, que imediatamente se esquecia de como respirar e de como manter a postura orgulhosa. — A verdade é que vai ser uma honra ser seu primeiro namorado, . E pela graça do clichê, espero muito ser o último.
segurou o coração convulsionando no lugar, sabendo que se o deixasse agir livremente como queria, tinha o risco de não ser mais capaz de responder. A felicidade daquele momento era capaz de deixar alguém doente. Em um piscar de olhos, estavam se beijando de novo, desta vez mais lento e mais profundo, selando um pacto não dito, onde teve certeza de que tinha encontrado o que nem sabia que estava procurando por todo esse tempo. Um futuro que não era mais sozinha, com tanta dor e decepção. Um no qual ela tivesse alguém para dividir os males que viessem.
E quem diria, quem diria…
— Vamos embora daqui — ele sussurrou de novo, a voz agora estrangulada por outro desejo, um que já começava a sentir na sua cintura, despertando um fogo familiar e urgente dentro dela.
apenas assentiu, incapaz de responder verbalmente, e Jungkook entrelaçou seus dedos para se preparar para saírem, mas o primeiro feixe de luz um pouco mais forte que tocou sua pele a fez puxá-la de volta, sobressaltada.
— É melhor você ir na frente — disse ela, olhando para os lados. Jungkook franziu o cenho. — Vai ser estranho se a gente sair junto. E preciso avisar a Candice que estou indo.
— Eu vou com você…
— Não — balançou a cabeça e as mãos em negação. — Eu preciso… contar pra ela de um jeito mais calmo. Sozinha. Só me diz onde você vai estar que eu saio logo depois.
Jungkook contorceu a boca em discordância. Queria argumentar, queria deixar claro que não se importava com o fato de caminhar com ela até a saída, mas tentou se lembrar da declaração de , e que precisava ir com calma. Com ela, mais calma ainda. Então apenas suspirou e assentiu.
— Tudo bem, vou estar no estacionamento. Você já conhece o carro — ele sorriu com depravação e tomou o queixo dela para um selar forte e um tanto demorado nos lábios. — Não demora.
E sorriu antes de seguir para as luzes vermelhas da saída.
observou cada passo que ele deu até curvar no corredor e desaparecer, sentindo o corpo inteiro formigar e um sorriso enorme tomar conta do seu rosto. Sua cabeça era uma confusão de pensamentos. A última vez que a alegria tinha batido dessa forma, ela tinha conseguido seu emprego na LA Parker. Um emprego que a deixaria alugar um apartamento e fazer três refeições por dia. Foi quando Candice Chaperman aceitou dividir a casa com ela, mesmo sabendo que estava acostumada a coisas muito mais grandiosas. Era um sentimento que quase a engolia inteira, tão feliz que dava tristeza.
Assim, respirou fundo e adentrou na multidão semi iluminada, procurando o cabelo loiro de Candice Chaperman.

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Quando a Mercedes encostou no gramado do estacionamento aberto da grande mansão de Itaewon, já estava sem as botas e sem a parte de cima da blusa. Os beijos e braços de Jungkook a carregaram para dentro, e ele poderia já ser considerado um sósia do Floyd Mayweather de tão bem e firme que tinha conduzido seu corpo pelas escadas, e até mesmo quando passaram pelo batente da porta, sem se desgrudar um segundo sequer. Era como se, naquele dia em especial, precisasse muito mais dele, agora diante de uma liberdade que não tinha antes, um consentimento vitalício de que onde seus dedos tocassem, era dela. Completamente entregue.
Ele a escorou na parede logo ao lado da porta, tomando sua cintura com força, grudando seus corpos sem a intenção de permitir passagem de ar, raspando os dedos em sua pele exposta direto no fecho do sutiã de suas costas, que parecia especificamente mais complicado hoje. Jungkook parecia estar levando um golpe daquela coisa. Ele se afastou com a respiração pesada, ofegante, franzindo o cenho com ansiedade.
— Uma ajudinha? — ele riu pelo nariz, um pouco engasgado pela dificuldade. prensou os lábios e balançou a cabeça, rindo em seguida.
— Esse abre pela frente.
Jungkook piscou os olhos, sentindo-se abobado de repente.
— Ah, claro. Tanta tecnologia pra atrasar — ele bufou enquanto descia os dedos para o vale dos seios dela em busca do tal fecho que nunca tinha visto. Tinha tantos anseios, tanto tesão percorrendo o cérebro e as pernas que nem iria se tocar de mudanças nas coisas padrões. Fechos de sutiãs ficavam atrás, caramba! E aquele em especial era lindo demais, deixava os peitos de juntos e empinados, enlouqueciam ainda mais a mente de qualquer pessoa. Jungkook queria ver, tocar, lamber, enquadrar, morar ali. Levou os dedos apressados no lugar em que ela tinha dito, mas continuou não achando nada. Um suspiro forte de frustração escapou da garganta.
— Você falou sério sobre ele estar na frente ou começou uma brincadeira que eu não captei?
intensificou o olhar e, lentamente, levou as mãos até o zíper da saia, descendo-o despojadamente.
— Eu não sei do que você está falando — soprou em voz baixa, e começou a descer a peça pela coxa por uma eternidade de tempo. Isso pareceu muito mais importante para um Jungkook apressado pelos seus peitos, atiçando ainda mais seu pau já alvoroçado dentro da calça.
— Isso é algum tipo de teste? — ele buscou não choramingar, mas sua voz esmagada já dizia tudo. deixou a saia ir ao chão, revelando a calcinha de renda que combinava perfeitamente com o sutiã desgraçado, uma manobra já planejada que terminou de transtornar a mente de Jungkook.
Ela o beijou com intensidade, levando as mãos até sua camiseta, que Jungkook tratou imediatamente de puxar para cima. Sem parar de beijá-lo, levou as mãos mais rápidas para o fecho do jeans dele, que estava no lugar certo, descendo o zíper até que ele entendesse o recado e terminasse de fazê-lo. Chamas inconsistentes queimavam nos olhos do rapaz, que puxou de volta para ele com os dedos ferozes em sua bunda, mas ela o afastou, encarando-o daquele jeito sapeca e determinado, adiantando o que estava vindo.
— Deita — ela soprou em cima de sua boca, e Jungkook achou que desmaiaria. Era levado para outro mundo, outra dimensão. O traço de teimosia vivo dentro dele o fez voltar a beijá-la e agarrá-la, mas cravou as unhas em seu ombro com força, fazendo-o soltar um gemido. — Faz o que eu digo, meu bem.
Jungkook assentiu, trincando os dentes. Droga, não tinha o que fazer. Ele estava louco, afobado, queria se enterrar em mais do que nunca. Tinha um coração que não estava achando mais um jeito de ficar parado no peito, e aquela roupa que ela usava…
— Puta merda, como você tá gostosa — ele arfou, sentando-se na cama, as palavras simplesmente saindo de sua boca. — Se não tirar isso logo, vou ter um infarto, meu amor, eu juro. É urgente.
riu com escárnio, a pele inteira sendo alvo de um tremor quente e espaçado, parecido com um alarme de erupção. Só aquele olhar dele sobre ela já a deixava em ponto de bala. Incinerava cada ponto da epiderme mais superficial de sua pele. Se deixasse a racionalidade de lado, já estaria completamente nua e passando as pernas pela cintura daquele homem, se entregando ao prazer absoluto que só ele era capaz de dar, mas aquele olhar… Queria estendê-lo, intensificá-lo, espalhá-lo pelo corpo inteiro.
— Presta atenção porque só vou mostrar uma vez.
A garota levou as duas mãos para o cabelo, puxando-o para o alto para prendê-lo em um coque bagunçado no alto da cabeça, deixando alguns fios caírem livres ao lado do rosto e pela nuca. Em seguida, dedilhou a renda do sutiã na parte da frente de forma nada convencional, passando os dedos pelas costuras em preto e vermelho e parando por um tempo no mamilo quase visível pelo tecido que não era transparente o bastante, mas sobrava muito para a imaginação. Ela acariciou a região enquanto o encarava, vendo seu namorado com o maxilar trincado, a boca contorcida e o nariz deixando apenas oxigênio suficiente entrar. Um sorrisinho ladino perpetuou nos lábios de , que desta vez trouxe a outra mão para a parte mais fina do sutiã, bem no meio dos seios, até juntar os dois polegares e fazer um “clic” mínimo de abertura, dividindo-o em dois e revelando os peitos naturalmente lindos e fartos para a liberdade.
Se já não estivesse tão louco, Jungkook poderia ter pedido para que ela recolocasse e repetisse, porque não viu exatamente o que era preciso ver, não entendeu porra nenhuma do que tinha acontecido. Se ela colocasse aquilo de novo e pedisse para que ele fizesse por si mesmo, trabalharia por horas. Ele afastou esse pensamento e rezou para que não, não, por favor! A visão daqueles peitos sempre mexia demais com tudo dentro dele, desorganizava os pensamentos. Assim que o sutiã caiu ao chão, ele nem se lembrava mais se abria pela frente, por trás, pelos lados, vai saber. Só queria tocar neles, lamber até sentir a pontinha dura na sua língua, mesmo que eles já estivessem duros o suficiente naquela meia luz do quarto, o que só o deixava ainda mais alucinado.
— Então? — tirou uma mecha da frente do olho, insistindo em olhá-lo como se ele não estivesse pegando fogo. — O que você achou dele? Fácil, difícil?
A pergunta demorou para chegar efetivamente no cérebro embaralhado de Jungkook, que conseguiu abrir a boca quase paralisada para dizer:
— Eu… acho que odiei — ele levou o olhar perdido para o dela, que arqueou uma sobrancelha em desafio. — Nunca mais compra uma coisa dessas. Você tá me ofendendo se acha que vou ser minimamente inteligente na sua frente dentro de um quarto, meu bem. Aliás, não vou ser inteligente com você em momento nenhum.
não aguentou segurar uma risada alta, sentindo as partes de trás do braço formigarem quando o viu tocar no pau ereto dentro da boxer, lutando para se manter ali dentro, tão grande, grosso e esguio que ela sentia a calcinha pesar ainda mais. Seu corpo inteiro já queria levantar a bandeira branca, implorando pela redenção à Jeon Jungkook.
Mas uma parte de ainda queria provocar. Então, ela se aproximou e encostou os joelhos no colchão, bem entre as pernas dele, ainda de pé, colocando as duas mãos em seus ombros. Os músculos de Jungkook automaticamente se retesaram, seus olhos queimaram de expectativa.
— Você fez uma boa faculdade que eu sei — ela disse em voz doce e poderosa, subindo as mãos até seu pescoço — Então deve ser inteligente o bastante pra tirar uma calcinha, não deve?
O sorriso perverso brotou ao mesmo tempo que as mãos dele se mexeram rápidas e certeiras na direção da bunda dela, apertando o tecido para cima antes de enganchar os dedos nas laterais e puxá-lo para baixo devagar, revelando a visão divina e tacitamente quente da boceta dela, que exibiu um brilho ínfimo e quase discreto na luz, aumentando mais quando ela levantou um joelho para se livrar do tecido parado nos pés. Porra. Puta que pariu. Estava molhada pra um caralho.
— Puta merda… — ele não conseguia completar um único pensamento. Seus dedos se mantiveram em volta da cintura dela, encarando a boceta de frente e presenciando o pau quase sair do lugar para estrangulá-lo caso ele não a atacasse logo. Com a boca, com os dedos, tanto faz. Ela já já estaria pingando em cima dele, e Jeon Jungkook particularmente gostava de quando era na sua boca. — Deixa eu te chupar…
não respondeu. Em vez disso, puxou a boca dele para um beijo, um que desorientou a mente já letárgica de Jungkook e o deixasse suscetível a ter o corpo puxado para a outra extremidade da cama, onde finalmente estava de joelhos no colchão enquanto ele permanecia deitado, capturado. Seus braços desesperados foram em volta dela, mas a garota os afastou e sorriu no meio das respirações tontas quando disse:
— Deixa eu matar a minha saudade de você primeiro.
Ele não entendeu de primeira, mas não demorou a compreender e arder completamente quando as mãos dela foram direto para a boxer, a prisão de sua agonia, livrando-se completamente dela e deixando os olhos brilharem quando o viu saltar para fora, revelando aquele conjunto de veias demarcadas na pele clara, a glande já totalmente úmida, escorrendo por todo o comprimento até tocar nos pelos pubianos, um detalhe que mexia com toda a estrutura corporal de . Se o mundo achava que Jeon Jungkook já era tão bonito, com certeza nunca o tinham visto pelado.
fechou os dedos sobre o pau erguido, sentindo água na boca só com a ideia de levá-lo até o fundo como tinha feito antes no banheiro, sentindo a mais pura euforia de sentir seu gozo na língua, de olhar fundo nos olhos dele enquanto fazia tudo isso. Jungkook levantou o tronco para se apoiar nos cotovelos, engolindo em seco pela visão faminta de sobre seu volume, prestes a entrar em um mundo paralelo pecaminoso e muito, muito bom. A boca estava completamente seca quando ele conseguiu dizer:
— Todo seu, amor. Prometo te recompensar pra caralho depois.
não estava pensando em recompensas, mas sorriu com o lábio entre os dentes e abaixou o queixo para passar a pontinha da língua na cabeça, ainda mais úmida do que antes, arrancando um gemido pequeno e controlado de Jungkook. Ele podia dizer que conhecia o jogo e o jeito de , e que mesmo assim, nunca estava preparado para aquilo. Nunca estava pronto para quando ela abria um pouco mais a boca e o enfiava inteiro para dentro, e em como isso transtornava a mente do sujeito, tirava a força de seus braços, fazia os cotovelos não sustentarem mais nada e o tronco voltar a cair no colchão, com o peito arfando para cima e para baixo enquanto ela ia e vinha com aquele som característico de encaixe e desencaixe direto na sua garganta, um som gostoso pra caralho, pervertido pra caralho.
Mais do que isso, era praticamente diabólico a forma como ela estava propositalmente empinada enquanto sorvia seu pau inteiro, olhando para ele com um olhar quase inocente, uma característica que não saía dela por nada, não importava as loucuras que era capaz de fazer na cama. Se se empinasse daquele jeito na cara dele até o final da noite, já tinha valido tudo. Ele já estaria plenamente satisfeito com o trabalho, a política, o mundo, o universo. Da mesma forma como ela estava faminta pelo seu pau, Jungkook era faminto pela sua boceta, pelo seu gosto, inexplicável, inigualável. Que porra, não ajudava em nada ficar pensando no gosto dela enquanto era chupado daquele jeito. Seu peito subia e descia, o tesão e prazer cortava os próximos pensamentos ou falas. Nada saía de sua boca a não ser os gemidos graves e roucos, alternando entre um “Isso, linda, pra esse lado…” e um difícil “Porra, puta merd… Caral…” afastava a boca e o masturbava com as mãos em certos momentos, encarando-o com divertimento quase inocente quando perguntava “O que você estava dizendo?” enquanto tinha os lábios e a boca inteira molhadas e pingando do gosto dele.
Jungkook nunca soube descrever o tipo de paraíso e martírio que era um boquete de , não soube desde a primeira vez, quando ela foi levada por puro instinto e quase fez aquele cara com vários tipos de transa na conta quase gozar repentinamente como um menino. A boca dela parecia ser feita para o seu pau, por mais pervertido que isso soasse, e vê-la gostando tanto de enfiar, soltar, esfregar e lamber como estava fazendo, era informação demais para a mente de um pobre homem. Ele não sabe quanto tempo viajou nessa sensação sem igual quando começou a sentir o formigamento do desespero. Os pequenos tremores do desastre. Nessas horas, ele realmente precisava tocar nela. Precisava intensificar, precisava agarrar. Com o rosto contorcido de controle e os lábios duros e secos novamente, Jungkook ainda soltava gemidos espontâneos quando voltou a se apoiar nos cotovelos e esticou a mão para tocar no cabelo dela, pretendendo desfazer aquele coque que o impedia de puxá-lo, mas tomou suas mãos fora de rota e a abaixou direto nos seus peitos, onde Jungkook segurou um inteiro dentro da palma da mão, gemendo mais alto, roçando no mamilo duro que precisava dele, porra, precisava muito.
… — ele trincou os dentes em aviso, em repreensão. Se queria fazê-lo gozar logo de primeira, tinha que ter avisado. Ele não gostava de ser o primeiro, não quando podia evitar, mas também se via completamente incapaz de pedi-la para parar. A boca e a mão dela continuava, a língua raspando em todo seu comprimento, os lábios travando a cabecinha para chupá-lo até fazer barulho. Ele literalmente rosnou quando seus dedos agarraram o mamilo duro dela, liberando uma expiração tão forte que pareceu nascida do fundo de seu estômago. Pelo amor de Deus, ele estava morrendo ali! — Eu preciso… Caralho, preciso…
ergueu ainda mais os olhos para ele, afastando deliberadamente a boca da glande, raspando-a no seu queixo de forma safada e devassa, levando-o depois até as bochechas e então de volta para a boca, fazendo Jungkook paralisar até os órgãos. Era o momento em que ele literalmente não conseguia dizer mais nada, muito menos reagir, porque a visão de sua umidade molhando em todo o rosto dela o fez se perguntar se aquele avião tinha caído no meio do mar na volta para Seul e aquilo agora não passasse do pós-vida. Não importava se fosse. Ele não se importaria de ter deixado bilhões de dólares e um filhote para trás.
Finalmente, ele voltou ao mundo real quando começou a beijar sua barriga. Quanto contornou todo o seu quadril com a boca quente e raspou as unhas nas pequenas elevações de seus músculos. Quando ela dedilhou e beijou por alguns segundos a mais a tatuagem na costela, e logo depois circundou seu mamilo com a língua, fazendo-o soltar um gemido quase constrangedor. Quando chegou em seu pescoço, ele tomou a liberdade quase bruta de agarrar seu rosto com as duas mãos e puxá-la para a sua boca, provando dela lambuzada dele, juntando suas línguas em um enlace surreal, vertiginoso, obsceno, proibido para menores. Um só beijo era capaz de definir todo o resto, definir a dualidade dos dois. Ao mesmo tempo que ele a mantinha perto e acariciava seu rosto com chamego, Jungkook também dizia naquela língua furiosa e com a mão livre em sua bunda exposta tudo que pretendia fazer com . Tudo que ele inevitavelmente faria.
Quando ele estalou um tapa forte na nádega direita e apertou a região vermelha na mesma hora, fazendo gritar dentro de sua boca, ele ordenou com a voz firme e ao mesmo tempo sedutora:
— Senta bem gostosa em cima do meu pau, agora.
Aquele timbre trouxe um mar de lembranças e sensações para , que de repente derreteu e diminuiu bruscamente com somente palavras. Era a mesma sensação do início, aquela coisa forte e sem nome que a arrebatava toda vez que aquele cara simplesmente abria a boca e ordenava. parecia ter sido geneticamente modificada, ter um dispositivo implantado no corpo que respondia exclusivamente e imediatamente a ele, com uma gratidão abrasadora. Todo o seu sistema nervoso amava aquela voz. Ficaria de joelhos por ela, como estava fazendo agora, quando se posicionou em cima de seu pau e o trouxe para dentro, deslizou sobre ele tão deliciosamente que ambos fecharam os olhos e largaram um suspiro forte de alívio, a benção do encaixe finalmente acontecendo.
Mas esse tipo de encaixe sempre a deixava louca, sem controle. subiu e desceu devagar por poucos instantes até sentir a necessidade de ir mais rápido, de quicar sem parar, de absorver aquela sensação. As mãos dele agarraram sua cintura e se fecharam em sua bunda em movimento, mordendo os lábios e cravando os olhos nela, hipnotizado, ciente do espetáculo que aquilo era. A expressão não era nova para , mas a de agora tinha outro significado. Antes, ela sempre via aquela boca entreaberta na direção dela, ofegando em prazer e tesão, balbuciando alguns resquícios de ordem e coisas ininteligíveis, e a vontade de tomá-la era sempre presente e intensa, uma vontade que não poderia ser suprida. Então agora, quando inclinou as costas e o beijou, soube que esse tempo todo estava tendo apenas metade do prazer de Jeon Jungkook. Metade do calor, metade da convulsão, metade do universo. O beijo dele intensificava tudo, iluminava um quarto escuro. Ao tomar a boca dele, sentiu o impacto no corpo inteiro, que começou a se movimentar como louca, cavalgando, esfregando, rebolando, se desesperando em cada músculo.
— Ah, Deus… — arfou com sofrimento em sua boca, a mente fritando a cada segundo. — Jungkook, por…
Ele a calou com um tapa forte na outra nádega, e mordeu seu lábio inferior.
— Você não vai gozar agora — disse ele com ainda mais firmeza, retomando ao prazer sempre imediato de ver sob seu controle — Vai continuar rebolando em cima de mim até eu falar pra você parar, e… — ele puxou seu rosto para perto, mudando quase completamente a composição do olhar autoritário para algo completamente admirado — Continua me beijando. Por favor.
A palavra rasgou todo o restante de razão de , que teve a boca atacada com a voracidade do desejo, uma vertente de força bruta quase pareada com a força que as mãos dele exerciam sobre a sua bunda, ou que exerciam no seu pescoço, o que tornava tudo ainda mais gostoso e alucinante. não sabia como essas coisas tinham poder de aumentar a temperatura, mas a coisa é que aumentaram a potência de suas investidas ao quadrado, fazendo-a se esfregar nele como uma maluca depravada, choramingando em sua boca pela nuvem do orgasmo começando a se formar no seu cérebro, avisando que estavam plantando as dinamites e que explodiriam, mas não implorou. Não pediu pra gozar, por mais que estivesse ficando completamente louca! Ela puxou as costas para cima novamente, respirando ávida e tensa pela boca, fechando os olhos para viajar naquele prazer escaldante, desnorteada com o mundo ao seu redor. Sentiu o cabelo se desfazer e cair pelas costas, sentiu as mãos grandes dele saírem de sua bunda e agarrarem ambos os seios saltitantes, repetindo incansavelmente o quanto ela era gostosa, a apoteose da perfeição. sentou incontáveis vezes na posição vertical, contorcendo o rosto de angústia, perdendo o orgulho pouco tempo depois e sussurrando um “por favor” até ir perdendo lentamente a força e diminuindo o ritmo.
— Jungkook… — ela choramingou mais uma vez, sem saída. Ele, igualmente arfante e desnorteado, porém com a habilidade conveniente de fingir costume, abriu um sorriso e fechou a mão no maxilar de .
— O quê?
— Por favor…
— Por favor o quê?
— Me deixa gozar! — o pedido quase foi um grito, a agonia perscrutando cada palavra. A cintura dela ainda se movia, agora com mais tortura do que prazer. — Me deixa…
Jungkook raspou os lábios nos dela com provocação, reconhecendo que se a beijasse, desmontaria na mesma hora, assim como ele. Ainda assim, o garoto estendeu a tortura, balançando a cabeça minimamente, tentando manter a voz firme mesmo com a boceta molhada dela envolvendo seu pau.
— Ainda não, linda.
— Argh! Idiota! — grunhiu com ódio, fincando as unhas no primeiro pedaço do braço dele, se sentindo ainda mais quente com a frustração. — Eu preciso gozar, seu cretino miserável, canalha maldito, seu filho da pu…
Descendo a mão do queixo para o pescoço, Jungkook deslocou o corpo de para a outra extremidade do colchão em um único movimento ágil, deixando sua cabeça cair aos pés da cama enquanto ele tomava seu lugar por cima, exibindo um grande sorriso vitorioso e totalmente cafajeste que ela bem conhecia.
— Meu Deus, como eu amo quando você me xinga — ele mordeu os lábios de excitação quando a beijou com gosto, puxando sua língua para chupá-la lentamente. — Amo você zangada e desesperada pelo meu pau. Amolece meu coração desse jeito, meu bem.
tentou se manter inflexível, ainda com as mãos nos ombros dele, mas aquele sorriso canalha…
— E eu odeio o quanto você é delicioso — não era uma coisa fácil a ser admitida a quem detinha o controle do seu orgasmo naquela hora, mas estava desesperada. O filho da puta arrancaria qualquer verdade dela naquele estado. — O que tá esperando? Mostra o crápula que você é quando tá dentro de mim.
Um brilho quase psicótico tomou o par de olhos de Jungkook, que sabia o quanto ela queria e o quanto estava disposta a brigar por isso, e ele tinha o padrão de ser um completo miserável filho da puta nessas horas, mas aquele dia… Aquele dia, aquele lugar e aquela garota não seguiam padrões. estava mostrando que, na verdade, autorizava que Jungkook mandasse vez ou outra, quando a realidade era que ele estava ali para servi-la. Com tudo que tinha direito.
Ele riu com a ideia. Se empolgou completamente quando abriu as pernas dela e se ajeitou ali no meio.
— Você tá bem pouco ambiciosa hoje, linda — zombou, descendo os dedos para a boceta molhada dela, procurando sua entrada do paraíso. arquejou com aquele toque mínimo. — Só quer um orgasmo? Vou parar muito cedo, então.
— Cala a boca, Jeon — as palavras escapuliram de sua boca, e ela perdeu o restante da fala momentaneamente quando ele a provocou com os dedos e o pau — Deus do céu, é sério…
— O que eu quero dizer — subitamente, ele enfiou dois dedos de uma vez nas paredes molhadas e apertadas dela, vendo o corpo inteiro dela se contorcer com um urro. — É que eu não daria só um orgasmo pra minha namorada. Não depois da delícia de chupada que ela me deu.
— Qual é o seu… problema?! — conseguiu dizer em meio à névoa do prazer desgraçado que os dedos dele faziam com apenas um movimento de nada, somados com a promessa abrasadora que saía daquela boca com tanta certeza. Ela deveria sentir vergonha de ser tão facilmente manipulada desse jeito, mas ao pé de uma síncope, precisava tomar medidas drásticas — Me fode logo! Jungkook…
— Hm? — Ele levantou uma sobrancelha provocativa, ativando um ódio e uma frustração fulminantes em , que fechou os dedos na corrente fina pendendo de seu pescoço e se aproximou a milímetros de sua boca para dizer:
— Se não me foder agora, amor, você pode dar adeus para o seu pau, porque ele não vai mais serv… Ah.
gritou mais alto do que pretendia, completamente sobressaltada pela estocada forte e intensa que recebeu, ao mesmo tempo em que Jungkook travava o maxilar e voltava a deitá-la onde estava, reforçando o aperto no pescoço, olhando para ela com ainda mais fogo e selvageria nas pupilas dilatadas, loucamemte entusiasmadas com aquele novo estímulo.
— Puta que pariu… — ele arfou e estocou fundo mais uma vez, arrancando mais um grito seco de — Do que você me chamou mesmo? De amor? — Mais uma; forte, firme, bruta. Desta vez, levou a mão à boca. Jungkook soltou uma risada animada — Cacete, como isso foi bom. Gostoso, maravilhoso pra caralho — e ele investiu mais uma vez, não esperando tanto tempo para a próxima, e nem para a próxima. levou os braços para as costas dele no automático, sendo abraçada pelo cheiro incomparável, tirando-a do eixo. Aquela expressão perdida e entregue dela bagunçava a cabeça dele, transformava-o em bicho — Goza pra mim, . Não vale se segurar. Pode vir quantas vezes você aguentar.
não teve tempo de assentir ou de sequer abrir a boca. Quando deu a largada, Jungkook se enfiou completamente nela e se fundiu à num enlace apertado e vulcânico, maluco, selvagem. O ritmo foi aumentando gradativamente à medida que ela pedia por mais, que arranhava suas costas em busca de algum alívio, que implorava que ele não apenas fosse rápido, mas que a beijasse no processo. Era muito bom, finalmente, poder pedir que fosse beijada; exigir isso, se a loucura do sexo desgovernado permitisse. Jungkook beijou, mordeu, estapeou, puxou, fez o que podia com a boca e uma das mãos enquanto a outra segurava uma das pernas trêmulas de ao redor dele, que estava no meio daquela constrição gostosa enquanto sentia todos os ossos derreterem, os músculos pegarem fogo, a cabeça zonear e a pele formigar em anúncio. Nossa, aquilo era delicioso, sempre delicioso. O desespero de uma explosão sempre era uma experiência única, sempre o deixava com vontade de ajoelhar e agradecer à qualquer ser superior por ter inventado algo tão bagunçado e certo quanto sexo.
gritou e balbuciou palavras não compreendidas quando rebolou em cima do pau no meio do ritmo intenso de Jungkook, que diminuiu minimamente até conseguir ouvir o “vou gozar” e rapidamente afundar a boca em seu seio esquerdo, levando os dedos até o clitóris enquanto transtornava de tanto prazer. Tanta coisa junta que quando ela explodiu, explodiu de jeito, com muito gosto. O esguicho atingiu Jungkook e seus dedos ainda trabalhando, fazendo com que saísse mais e mais e mais, levando toda a força e sanidade de , que convulsionava em ondas, tremia, revirava os olhos, enxergava pontos brancos e pretos à frente enquanto o líquido quente e gostoso se espalhava sem direção. Já fora dela, Jungkook ficou por conta do espetáculo acontecendo, de continuar estimulando-a com os dedos e se deleitando completamente nos gritos já sem força de , ainda se remexendo agitada na cama, sem saber onde estava.
Quando acabou, enxergou o teto duplicado, as luzes amareladas se juntarem e se transformarem em lustres e os sons ao redor não passavam de ilusão de ótica. Se não estivesse tão cansada, estaria assustada com a intensidade daquilo, assustada em como agora parecia seca e sem vida, mas muito, muito realizada. Um sorrisinho ia se abrindo nos lábios fatigados sem perceber, e ela sorriu ainda mais quando ele espalhou beijos pelo seu rosto, começando no queixo, no lóbulo da orelha, na bochecha, no nariz, até terminar na testa e jogar o corpo igualmente exausto ao lado do dela, estendendo a mão para o espaço entre eles para entrelaçar seus dedos, uma atitude agora tão natural quanto respirar.
— Isso foi… — tentou completar, mas as palavras não ganhavam forma ou a maioria não servia. — Nossa, foi…
— Foda pra caralho — Jungkook resumiu com um outro sorriso gigante, acariciando seus dedos lentamente. De fora, podia parecer que ele estava até mais feliz do que ela, mais satisfeito. Ele virou a cabeça para continuar: — Surreal de gostoso. Como você se sente?
olhou pra ele e tentou pensar em uma definição novamente, mas as palavras se perdiam de novo. Parecia que tinha expelido o restante dos neurônios junto com todo aquele líquido.
— Como se eu tivesse tido 6 orgasmos de uma só vez — ela tentou levantar os ombros, mas não conseguia mexer o corpo o suficiente. Fez um movimento torto com a cabeça e riu logo depois, fazendo Jungkook rir do mesmo jeito e virar o corpo para beijá-la de leve, selinho após selinho, grudando seus narizes — Por que não fez isso comigo antes?
— Não sou eu que faço nada — ele semicerrou os olhos, tirando uma mecha dela grudada no suor da testa — O corpo é seu, o prazer é seu, o psicológico é seu. Eu só toco e estimulo, tento o meu melhor, mas se você não estiver totalmente confortável e entregue, poderia te chupar por 4 horas seguidas que não daria em nada.
— Eu sempre estive confortável e entregue pra você — virou o tronco para ele, mais devagar do que de costume, franzindo o cenho em confusão.
Ele abriu um sorrisinho meigo.
— Talvez alguma coisa mudou.
E então, se lembrou do assunto metade. Se lembrou da parte do amor, dos sentimentos, da ternura do toque e de que, mesmo quando enlouquecia e virava do avesso em cima de uma cama com Jeon Jungkook, ainda estava travada com alguma coisa, um medo fantasma que vinha da data de validade já imposta entre os dois. Medo de gostar demais, medo da imensidão que aquilo poderia ser. Achou que o prazer com ele nunca poderia atingir outros patamares, mas quando adicionaram beijos e o fazer amor na roda… Pareceu uma porta dentro de outra. Um universo dentro de outro. Maior e muito mais interessante, muito mais impactante.
olhou bem fundo nos olhos dele, que brilhavam ao mesmo tempo que estavam turvos, sem muita reação, hipnotizados e presos de novo em algum lugar do rosto dela. Percebeu que ele estava certo: era ela. A dona de seu próprio prazer, que permitia que ele a ajudasse a alcançar o céu. Que já tinha programado cada pedaço de pele a reagir a ele.
— Acho que você acabou de me deixar ainda mais apaixonada — ela soltou, igualmente presa naqueles olhos, e mais ainda quando ele riu e puxou suas mãos enlaçadas pra beijar cada um de seus dedos, aproveitando o momento, feliz e dócil como nunca o viu na vida.
— Você me deixa mais apaixonado a cada dia que passa. Cada hora, cada minuto. Sinceramente, tô com pena de você.
— Por que? — riu. Jungkook aproximou ainda mais seus rostos, envolvendo no aroma natural do que os envolvia: cranberry, sexo e hidroquinona.
— Porque não vou te deixar esquecer disso nem por um minuto, . Estou louco pra namorar com você. Namorar como se fosse a minha primeira vez também. Tudo é novo com você e isso é simplesmente surreal. O jeito como eu tô me sentindo agora… Eu juro, posso conquistar o mundo. Achei que nunca mais fosse ter esse gás.
Aquele mesmo inchaço de felicidade atingiu , alargando ainda mais seu sorriso quando o via falar daquele jeito, com aquela expressão cintilante, linda, magnética. Cada pedaço dele a fazia amá-lo ainda mais.
— Eu amo te ver assim — ela sussurrou no meio de uma frase inacabada dele, absorta demais nos traços de seu rosto. — Tão feliz e positivo. Trabalhando no que você quer. Um homem otimista é muito sexy.
Ele riu pelo nariz e balançou a cabeça, descendo os dedos para a linha dos ombros dela.
— Eu lembro da última vez que te vi feliz. Feliz de verdade — ele diminuiu o tom de voz, sabendo que estava entrando em território fechado, talvez um pouco abandonado, mas não esquecido. — Desde que entrei no seu quarto daquela vez. Desde o dia em que você chorou.
Não fazia tanto tempo assim. diminuiu o sorriso na mesma hora, mas não desviou o olhar. Não o repreendeu pela lembrança. De alguma forma, ele estava totalmente certo. Aquele dia, o dia em que tudo desmoronou, foi também o encerramento dos dias minimamente felizes de , dias esses que foram mais curtos do que o desejado.
Ela não disse nada, mas sabia o que ele estava perguntando sem verbalizar. Sabia que Jungkook não se incomodaria de ser deixado de fora da história mais uma vez, ser deixado até que ela estivesse mais pronta para revirar aquilo de novo, mas ali, naquela cama, naquele quarto, no meio de toda a intimidade exposta que ele já estava fazendo questão de mostrá-la sem se preocupar com a bagunça, se sentia mais confortável e apta a fazer a mesma coisa.
Afinal, agora ele era o seu mais. A pessoa do seu futuro.
— Eu… Fiz uma ligação.
E então, contou toda a história para ele.

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— E foi por isso que eu... apaguei.
Em algum momento da madrugada adentro, e Jungkook trocaram as posições. Agora estavam de volta à configuração normal da cabeceira, deitados um de frente para o outro, com as respirações já normalizadas e sem a necessidade de se cobrirem. Jungkook continuou com as carícias na cintura dela, especificamente na região da tatuagem Coragem em letra cursiva no quadril, apoiando o cotovelo no colchão, ouvindo a história atentamente até ser impactado pela informação principal. Seus dedos pararam conforme falava a última frase, e o cenho franzido de dúvida estava, lentamente, se tornando uma expressão de revolta.
— Eles... roubaram você?
— Tecnicamente foi só ele, mas... é. Fui uma idiota e me deixei levar. Acreditei em cada palavra que ele disse.
Jungkook ficou parado conforme absorvia a explicação, mas ela parecia ser grande e pesada demais. As mãos em foram parar no cabelo, e a cabeça balançou em negativa várias vezes, os lábios franzidos em pura frustração que se converteria em uma ira.
— Não. Meu deus, , isso é... isso é sujo. Sujo pra caralho. Era o seu dinheiro, eram as suas economias, como eles…
— Shiuu — arrastou o corpo nu para chegar mais perto do dele, pegando em sua mão agitada, que já estava pronta para bagunçar ainda mais o cabelo igualmente agitado. Ela sorriu minimamente de canto, sentindo-se uma tonelada mais leve por se abrir com ele. — Tá tudo bem agora. Achei que eu fosse morrer por ver todo o esforço dos últimos anos indo embora desse jeito, mas eu tô aqui, não tô? Viva e bem. Agora melhor do que nunca — ela beijou um dos dedos tatuados dele com um sorriso sugestivo. A expressão de Jungkook se tornou, finalmente, mais mansa, por mais que estivesse sendo incapaz de sorrir de volta — Inclusive, eu... acho que preciso te pedir desculpas. Pelas coisas que eu disse naquele dia. Eu estava um caco. Fiquei com tanto medo de trazer você pra dentro disso, pra dentro de mim, só pra te ver indo embora depois. Tive medo de tudo que tinha acontecido antes não passasse de sonho, de ilusão. Era uma possibilidade que eu não queria arriscar.
Jungkook se desfez dos últimos vincos na testa para observá-la e usou os dedos livres para acariciar seu rosto. Sabia perfeitamente que aquele momento entre os dois era mais um passo. estava colocando-o dentro de seu quarto bagunçado, e ele ainda podia ver uma pequena faísca de hesitação em sua postura ao fazer isso, como se tudo que tivessem dito e repetido ainda não fosse uma garantia firme de que aquilo ali era sério. De que era para sempre. Jungkook sabia que esse tipo de sensação não sumia de um dia para o outro, ainda mais para e todas as questões internas que aguentou e tentava superar, mas ele aproveitaria aquela chance. Aquela e várias. A hesitação dela em se abrir sobre a sua história e seus medos a deixavam numa posição de vulnerabilidade e confiança, os dois estados mais puros que alguém poderia se apresentar para outro alguém.
— E eu devia ter insistido mais pra ficar — disse ele, umedecendo os lábios, sem tirar os dedos dela. — Fiquei... completamente perdido, . Pensei em um milhão de histórias, um milhão de possibilidades, qualquer mísera coisinha pra tentar adivinhar e me acalmar, mas nada vinha. E nada chegou perto disso. Que droga, queria ter estado lá. Queria ter feito alguma coisa por você.
— Eu realmente precisei de você. Mas você não podia fazer nada a partir do momento em que eu não queria que fizesse — ela se ajeitou na cama, chegando mais perto dele — Você respeitou isso. Com seu jeito grosso e marrento, mas respeitou. Mesmo que estivesse na cara que não tinha me superado com aquela história ridícula de book do mêsversário do Bam.
— Ei! Eu estava desesperado — Jungkook arregalou os olhos em defesa, e riu com logo em seguida. — Pra você ver o quanto você me desconfigurou. Cheguei perto de querer fingir um colapso nervoso pra você ir me resgatar. Isso é muito perigoso — riu mais alto, deixando-o mais feliz e relaxado, levando em conta que agora tinha passe livre para comprar aqueles ternos combinando que viu na internet para ele e Bam e não se preocupar mais com quem faria o próximo ensaio. Eles ficariam bem nessa parte. — Mas e agora? Eles não tentaram chegar perto de você de novo, não é?
repuxou os lábios e negou com a cabeça.
— Não. Bom, eu... fiz uma queixa no banco, mas não acho que eles podem fazer muita coisa. Não é algo que eu tenha energia para insistir. Bloqueei qualquer chamada estrangeira que possa aparecer e vou tentar seguir com isso. É o que eu posso fazer por enquanto.
Ela deu de ombros e pareceu genuinamente tranquila com a decisão, mas Jungkook se empertigou no colchão, desviou os olhos para outro ponto do quarto, tentou engolir o que realmente queria dizer, mas era difícil. A história de , contada em um resumo sucinto em cima de um banquinho de pedra do parque Namsan em uma madrugada qualquer ainda mexia com ele, parecia um lembrete de que havia marcas nela que ainda fossem doloridas e talvez nunca curadas. Que ela ainda choraria muito por motivos que se forçou a esquecer. Que ali dentro daquela armadura forte e determinada, existia uma garota que tentava escalar a montanha de um passado tenebroso, onde sofreu agressão física, verbal, psicológica, que sofreu de falta de amor. Era muito difícil imaginar nesse cenário, era difícil saber que ele não podia mudar o passado. Não podia mudar os dias em que chorava com os raios e ainda se sentia com fome depois de comer um sanduíche fino de jantar. Enquanto ele, aos 13 anos, já sonhava com o estrelato, treinando no próprio quarto enquanto rabiscava desenhos para colar na parede, desejando dirigir um Audi reluzente que havia parado para olhar com um amigo depois da escola e almoçando samgyeopsal no restaurante da avó sempre que tinha vontade. Nunca nem passou pela sua cabeça não voltar para casa no fim do dia. Não houve uma ocasião sequer em que se perguntasse se teria comida na mesa ou não. Mesmo depois de anos, Jungkook sabia que tinha uma casa para se refugiar, uma família, um ponto de paz. Tinha uma mãe amorosa, um pai que gostava muito de beisebol e um irmão mais velho que brincava de bater nele até os dias de hoje. Jungkook gostava de pensar que ter todas essas coisas o ajudou a seguir em frente, o apoio que recebeu era o seu diferencial. Se não fosse por aquele sim contrariado de seus pais sobre ele querer aprender a dançar, talvez hoje ele não seria dono de uma enorme propriedade com balcões de granito e uma televisão maior do que a mesa de som de Yoongi.
Era isso. Jeon Jungkook pertencia a algum lugar. A alguns lugares. Mas, no momento, a conquista mais foda de todas tinha sido o coração de . E queria loucamente que ela se sentisse desse jeito em relação a ele também.
— Se você precisar de ajuda... calma — ele ergueu as mãos em rendição assim que ela fez a primeira careta de repreensão — Calma, não é isso. É uma ajuda mais... jurídica. Uma ajuda para recuperar o que você perdeu, não repor nada. É isso. Eu faço o que tiver ao meu alcance, . Tudo que eu puder. Por favor, pensa com carinho.
Ela quis brigar com ele. Estava pronta para fazer isso, ativar o mecanismo de defesa padrão de seu sistema, mas no fim, não conseguiu. Era muito doloroso e incômodo trazer Jungkook para os assuntos complexos de sua antiga casa e pseudo família, porque era como ir para casa de novo, de uma outra forma, e jamais queria voltar para aquilo, mas… Se sentia corajosa com Jungkook. Que não precisava ter medo, que não precisava ser atingida por aquela realidade se não quisesse. Ela não estava sozinha. Sentia isso com mais profundidade a cada minuto que passava com ele. Sentia que, em algum momento do futuro, ele seria a sua casa. Assim como Candice era, assim como suas câmeras eram. Sentia isso despertando e se expandindo dentro dela, um sentimento que não conseguia e nem podia mais ignorar.
Por isso, não brigou. Relaxou o rosto e os músculos, deixou-se entender as intenções dele e se sentiu grata por aquela preocupação. Isso valia mais do que tudo.
— Você tem muitas coisas ao seu alcance — um sorrisinho meigo acompanhou um beijo ainda mais delicado, onde ele se inebriou naquele cheiro e a abraçou pela cintura — Obrigada. Nesse momento, estou tão feliz que nem me lembro o que me falta ou já faltou. Elas não importam mais. Só o que interessa é o que eu vou ganhar daqui pra frente.
— Você vai ganhar o triplo. Quádruplo. Todas as casas decimais que existir, vai ser tão bem sucedida que vai lembrar dessa história fodida e começar a rir. Vai contar isso em uma mesa redonda no ano novo pra um bando de amigos novos e antigos na sua cobertura do centro. E todo mundo vai estar bebendo a porra de um Bollinger — riu alto. — Você vai ser gigante, . Em algum momento do futuro, vai sim. E espero muito estar nessa festa de ano novo, entrelaçando nossos pés embaixo da mesa e cochichando sobre a vida alheia das pessoas que conhecemos — ele sorriu ainda mais, e puxou o rosto dela para um beijo firme, com menos força, porque… Uma felicidade muito grande estava transbordando. Deixava-o um pouco abobado, sem rumo. Estava realmente fazendo planos com aquela mulher, e planos tão simples e cotidianos que chegava a ser um pouco assustador. Era muito diferente do que se encontrava na cabeça dele antigamente. Planos exóticos com uma garota exótica. Com Ali Dalphin, Jungkook sentia que podia ter todas as coisas. Era verdade. Mas hoje, ele via que ela mesma não estava inclusa nesse pacote. Pelo menos não inteira.
Ele se afastou devagar e a encarou com paixão, liberando um suspiro intenso.
— Sou o cara mais estúpido da face da Terra.
juntou as sobrancelhas, mas quis rir do mesmo jeito.
— Por que agora?
— Porque podia ter te beijado há tanto tempo. Podia ter vivido isso desde... sei lá, desde que eu te vi.
Ela fez uma careta.
— Hmm. Um pouco difícil. Você tinha uma namorada, me odiou à primeira vista e quebrou a minha câmera.
— Tudo bem então, desde a quinta vez que eu te vi.
Ela balançou a cabeça com divertimento. Na maioria das vezes que pensava sobre aquele fatídico dia em New York, sentia uma enorme vontade de subir até o pico do Monte Kanozan e perguntar à Buda que brincadeira bizarra era aquela de colocá-la frente a frente novamente com aquele cara, justo ele? Eram coincidências cinematográficas demais. E tudo que aconteceu depois entrava na mesma equação.
Mas o que estava vivendo hoje, ali, agora, fazia acreditar que propósitos existiam. Que ela não fazia ideia do que iria acontecer amanhã, ou na semana que vem, mas já estava grata por ter se permitido viver aquilo hoje, nem se fosse por algumas horas.
— Quando você começou? — Ela entrelaçou as pernas nas dele, aceitando o braço estendido para que ela se aninhasse. Jungkook prensou os lábios e fez uma expressão pensativa.
— Acho que desde que você me beijou — respondeu, sorrindo novamente. — Foi tão... absurdo. Foi insana a forma como eu queria correr de você e pra você ao mesmo tempo. Você ultrapassou uma linha que ninguém ultrapassa, e isso me deixou desorientado. Pensei em você todos os dias daquela semana, em muitas e muitas horas.
— Ah, para — semicerrou os olhos. — Vai me dizer que ninguém nunca te roubou um beijo?
— Sim, é exatamente o que eu estou dizendo — Jungkook arqueou uma sobrancelha e riu. entreabriu a boca, surpreendida. — Sei reconhecer quando uma garota quer me beijar, e sempre dou um jeito de me safar dessa. Você que foi… totalmente imprevisível. Me largou no meio da rua completamente maluco, o que de certa forma foi bom, porque não sei o que eu faria se você tivesse ficado.
— Hum, talvez teria gritado como se eu tivesse te ferido?
— Pode ser — ele riu alto, voltando a acariciar o rosto de com os dedos — Mas eu ia te beijar muito antes disso. Eu sabia disso. Por isso falei aquelas coisas no estúdio do Yoongi. Fui um idiota. Devia ter te beijado em cima daquela mesa ao invés de te afastar como eu fiz.
viu cada traço daquele rosto se contorcer um pouco com a declaração, e agora estava claro o quanto Jungkook não estava mais escondendo as coisas. Mesmo naquele dia, quando haviam brigado naquele estúdio, ela sabia que ele estava falando algo diferente do que seu olho dizia, o que validava que ele já sentia a mesma coisa que ela. Isso deixou um pouco mais tranquila, de certa forma. Era bom saber que o cara ao seu lado na cama naquele momento não era mais aquele que faria do possível ao impossível para continuar preso no próprio casulo.
— Eu não sei quando eu comecei — continuou, mordendo levemente o lábio inferior, acompanhando a brecha do assunto. — Talvez foi a Panasonic. Ela seria um bom exemplo — Jungkook sorriu e concordou. — Quando você me levou pra fazer uma tatuagem e comprou uma barraquinha inteira de Bungeoppang pra gente, tudo explodiu. Naquele dia eu quis tanto te beijar. Tanto.
— E não haveria a menor possibilidade de eu te impedir, porque também estava louco pra te beijar — ele sorriu em linha fina, a expressão repentinamente endurecida — Mas não era corajoso o suficiente pra isso. Sabia que ia cair de cabeça.
queria dizer que desejou muito que ele pulasse de cabeça, mas não ia se intrometer nas próprias convicções de Jungkook. Ele pareceu ter trabalhado muito duro nos últimos dias enquanto segurava a vontade de algo que não tinha a menor noção da dimensão, então apenas dedilhou o peito dele. Passou as unhas pela linha do pescoço, acompanhou o comprimento da corrente dourada e foi descendo e descendo até chegar nele. Aquele desenho médio e um tanto violento, agressivo, chamando a atenção tanto quanto toda a bagunça de desenhos no braço fechado de tatuagens.
contornou ela inteira, desde as duas extremidades do X até a borda das palavras por trás dele. Jungkook não disse nada, mas sentiu a pele arrepiar um pouco, não apenas pelo toque dela, mas pela exposição daquele desenho, que revelava um momento muito específico, um dia muito específico e um sentimento doloroso. Coragem, a mesma palavra que ela estampava no quadril, agora escrita em fonte grossa e agressiva, estilizada em old school, com o detalhe explícito das demarcações por cima dela.[1]
— Quando você fez? — ela perguntou. Jungkook travou um pouco o maxilar, mas respondeu:
— Um dia depois da nossa conversa do Covil. Quando eu descobri que estava apaixonado por você — ele suspirou em um muxoxo. o encarou, claramente esperando outra resposta. — Na bendita sexta-feira em que eu bebi mais do que bebi o ano todo. Me martirizei por não te falar naquela hora, mas sinceramente… Não sei se eu conseguiria. Não sei se adiantaria de alguma coisa. Pareceria que eu estava dizendo só pra não te perder, e não porque eu realmente queria dizer, mas daí percebi que eu quis te falar várias vezes. Mesmo que eu ainda não tivesse dado nome pra isso, sabia que eu queria te dizer alguma coisa. Que eu sentia alguma coisa. Quando soube, quis gritar isso para o mundo. Mas acabei gritando na sua caixa de voz — ele fez uma careta arrependida. balançou a cabeça em negação, mas segurou uma risada nos lábios finos.
— Aquele escândalo foi bizarro. Candice quase abriu um boletim de ocorrência, a sorte é que Yoongi impediu.
— Eu entenderia o boletim. Não posso sair fazendo merda por aí e me dar ao luxo de pensar que não vai ter consequência — ele deu de ombros, acariciando ainda mais a cintura de — Mas eu quis dizer várias vezes naquele dia. Quis fazer várias coisas. Honestamente, já queria várias coisas com você antes, mas não gostava disso. Não queria isso. E repeti pra mim mesmo que isso era sensatez, era a lógica, era o certo, mas… Só era medo. Era um monte de medo junto. Medo de que você me odiasse. Que percebesse que eu não era a coisa certa pra você. Que não acreditasse na minha palavra. Pura covardia. Por isso fiz a tatuagem — Jungkook sentiu o desenho formigar novamente, como se a agulha estivesse atravessando sua pele de novo. — Tudo bem que o álcool ajudou, e eu já tinha passado um dia inteiro no Polyc decidido a ficar bêbado, e você estava indo para o seu encontro e tudo isso pareceu ser culpa minha e do meu medo. Não fui corajoso pra te merecer. Mas agora estou decidido a ser, . Estou disposto a fazer a minha parte. Então você pode ficar tranquila.
Já fazia belos dias em que tudo que conseguia sentir era tranquilidade em relação à ele, mas esse sentimento ia aumentando, se estabilizando cada vez mais. Era tão bom ouvir isso dele, sentir que ele estava tão dentro e envolvido naquilo. tinha que segurar o coração para não explodir de felicidade. Ela mordeu o lábio e se inclinou para beijá-lo, colocando todas as coisas boas e promessas naquele ato, as mesmas que a dele, mostrando que também estava disposta a fazer sua parte, disposta a não deixá-lo ter dúvidas.
Quando se afastou, não abriu os olhos imediatamente. Deixou a testa grudada na dele, deixou a pele arrepiar pelo carinho que os dedos dele faziam nas suas costas, deixou-se só imergir no momento, sem pensar em compromissos do depois ou que não fazia ideia de que ápice da madrugada estavam.
— Quero fazer uma pergunta — disse ela, em voz baixa. Jungkook respondeu apenas um “hum?”, repentinamente sonolento. — Naquele dia do parque… quando você amarrou a fita vermelha no parapeito — ele assentiu com a lembrança. abriu os olhos para encará-lo — O que você pediu?
Jungkook ficou inexpressivo por um momento, até começar a abrir um sorrisinho sacana.
— Bom, eu só fiz isso porque o nosso amigo da portaria praticamente exigiu.
— Corta essa, Jeon — revirou os olhos, fazendo-o rir um pouco — Você ficou lá por um tempão. O que você pediu?
Jungkook diminuiu o sorriso sarcástico e esticou um dedo para afastar uma mecha de , contemplando o rosto em dúvida enquanto o braço em volta dela a puxava para mais perto. Quase podia ver seu reflexo naquelas pupilas demarcadas da garota, o que foi estranhamente bom. Não havia melhor versão dele mesmo para se admirar do que aquela de agora.
— Pedi uma coisa muito específica — respondeu ele, dando de ombros — Relacionada a mim, relacionada a você. Ainda não aconteceu, então não posso te contar. E não adianta me olhar com essa cara — ela estava começando a fazer um bico frustrado quando ele desfez a marra passeando os dedos nos seus lábios. relaxou e deixou o rosto ser puxado para mais um beijo leve, cotidiano e recheado de alguma coisa que ela não sabia dar nome ainda, aninhada no peito dele.
O beijo foi se intensificando, o pele a pele fazendo o serviço de aumentar a temperatura e conduzir os movimentos dos braços de , que se enredaram no cabelo dele, e se Jungkook pareceu estar com sono há dois minutos antes, tinha sido atingido por aquela mesma fervura em questão de segundos, apertando os dedos em volta dela, já querendo ultrapassá-la, sentindo o sangue começar a fluir ainda mais rápido, veloz, em completa loucura.
Ofegando, subiu em cima dele, que terminou o processo de ficar completamente duro e cravou as unhas em seu ombro quando afastou a boca para sussurrar:
— Agora você quer que eu sente na sua boca?
Os olhos iluminados de tesão se arregalaram por um momento e depois deram lugar ao sorriso reluzente de Jungkook, que já tinha extinguido cada gota de cansaço quando arfou um:
— Por favor.

・ ❬📸💔❭ ・


Eunwoo caminhou furtivo e silencioso através da gritaria e explosões por trás de várias camadas daquelas paredes de compensado que eram mais finas e frágeis do que pareciam. O crachá no seu pescoço balançava conforme ele apressava o passo, e o trajeto parecia uma corrida de obstáculos pelo tanto que precisou se desvencilhar de staffs correndo de um lado para o outro, seguranças conferindo reforços de estoque, maquiadores e cabeleireiros com olhares desesperados buscando soluções imediatas para um contratempo, figurinos brilhantes e iguais pendurados em uma arara que passeava pelos corredores estreitos por alguém praticamente escondido no meio de tanto glamour e, claro, a equipe técnica de manutenção que teve um dos maiores prejuízos e ainda mais trabalho do que todos os outros.
Ah, a energia de um concerto. Eunwoo sentia falta desse caos às vezes.
Quando curvou na sala que o indicaram, viu Jaehyun juntando e colocando seus pertences lentamente na mochila, sem nem se livrar do figurino da última performance, ainda um pouco molhado e grudado no corpo. Nem mesmo toda aquela chuva tinha conseguido tirar a maquiagem do seu rosto, e mesmo se tivesse, o desgraçado continuaria bonito e com aquele ar imponente de príncipe encantado.
— Não me diga que você carrega lenços umedecidos — Eunwoo fez uma careta, apoiando os ombros no batente da porta. Jaehyun ergueu a cabeça imediatamente, olhando-o através do espelho da penteadeira. — Jesus, por acaso você previu todo o aguaceiro que iria cair hoje?
Jaehyun balançou a cabeça e largou a mochila, puxando uma toalha dobrada em cima de uma cadeira.
— Acho que ninguém previu. Você não tinha ido embora?
— E perder a performance de Kick It? Acha que eu sou doido? Let me introduce you to some new thangs, new thangs, new thangs… — Eunwoo ergueu os dois braços para cima, imitando o icônico passo da música, fazendo Jaehyun o olhar por um momento e rir. — É sempre maravilhoso, caso você queira saber. Você e Taeyong naquela batidinha de mãos já virou um clássico da História Coreana.
Jaehyun riu mais um pouco, e puxou a cadeira ao lado para começar a se livrar daqueles coturnos encharcados.
— Pelo menos conseguimos apresentar essa música, mas ainda faltavam três. Certeza que a empresa vai passar uma dor de cabeça com os clientes pedindo o dinheiro de volta.
— É, tem gente que não entende que um dilúvio sinistro simplesmente não é culpa de vocês.
— É por isso que está aqui ainda? Tá com medo de dirigir nessa chuva?
— É um medo válido, você não acha?
— Acho. Mas você não veio de carro — Jaehyun arqueou uma sobrancelha, pegando Eunwoo de surpresa. Ele não se lembrava que tinha dado aquela informação mais cedo por mensagem? “Acho que vai chover, então que se foda o carro. Vou de táxi” — Fala a verdade, por que ainda tá aqui?
— Como assim? Vim dar um alô pro meu grande amigo e parabenizá-lo pelo fechamento da turnê. Vocês arrasaram, caramba. Todo aquele jogo de luzes, todos os dançarinos, aquela jogada de camisa do Taeyong…
— Eu vou pra casa, Eunwoo — Jaehyun interrompeu, a expressão impassível, enquanto terminava de tirar as botas e colocava-as ao lado da cabeceira. Em seguida, puxou os chinelos do meio de suas coisas e ficou de pé. — Não vou pra festa dele.
Eunwoo abriu e fechou a boca, se aproximando com um sorriso amarelado.
— Ah, calma aí, não é exatamente a festa dele. E eu ainda nem convidei — argumentou, mas Jaehyun apenas se virou para o espelho novamente e começou a desatar os botões da roupa molhada, sem respondê-lo. — Você não pode sair dizendo não quando eu ainda não disse nada.
— Eu sei o que você vai dizer. E já tô adiantando — Jeong deu de ombros. — Não vou sair pra comemorar nada com ou pelo Jungkook. Não quero chegar perto dele.
Eunwoo repuxou os lábios. Aquilo não estava indo na direção que pretendia.
Argh! Isso tá insuportável — ele bufou, gesticulando nervosamente com as mãos, deixando uma pequena revolta contorcer seu rosto — Olha só, eu não sei o que aconteceu direito, o Mingyu é uma pamonha que não sabe repassar nada do que vê, mas eu não duvido nada de que nenhum de vocês dois tenha falado mais do que falaram quando se socaram igual dois idiotas na casa dele, mas é uma injustiça muito grande comigo e com os outros vocês decidirem de repente que se odeiam e sair da nossa colônia sem dar explicações. Porra, qual é…
— Colônia? — Jaehyun franziu o cenho. Eunwoo semicerrou os olhos.
— Ah, você entendeu, seu desgraçado. Eu tô tentando resolver as coisas aqui. Todos nós temos trabalhos e um milhão de coisas pra fazer, vocês não deveriam estar dando ainda mais trabalho.
Jaehyun suspirou, se livrando do blazer e deixando o tórax desnudo respirar o ar quente, balançando a cabeça em negativa como se o amigo presente estivesse sendo uma criança mimada e ele estava decidido a não dar o que ele queria.
— Não tem ninguém dando trabalho, Eunwoo. Jungkook foi um completo infeliz comigo e sinceramente, não quero esse tipo de amizade. Sei que nos conhecemos desde a época de debut, mas ele foi um otário. Mentiu pra mim, mentiu sobre…
— Ele pegou sua garota, já entendi — ele interrompeu, quase esboçando uma expressão de tédio e cansaço. Tinha sido a parte principal do relato de Mingyu, e parecia ser a única que importava. Jaehyun olhou para ele com o rosto virado em perfil, abrindo a boca para retrucar a afirmação, mas logo a fechou e voltou para o espelho. Não importava o que falaria, aquela era a verdade que internalizava. era sua garota; não oficialmente, mas algum dia seria, e aquele babaca sabia disso. — Isso é uma das coisas que me deixaram puto, porque vocês dois parecem ter guardado um segredo juntos por todo esse tempo e não me incluíram na roda, e gostarem da mesma garota é um segredo do caralho, seus merdas.
Jaehyun passou um dedo pela correntinha pendendo do pescoço, ficando parado por um momento até suspirar e voltar a se concentrar na mochila. Não era necessariamente uma tentativa de ignorar Eunwoo, mas o que poderia dizer? Aquilo era mesmo um segredo, mas ele sempre tinha segredos, todos eles tinham, segredos que não afetavam a dinâmica deles em grupo, e quando isso aconteceu… Bom, não devia mais ser um segredo.
Eunwoo soltou um grande suspiro, afastando o boné para bagunçar o cabelo.
— Olha, sei que é uma situação complicada, sei que nenhum de vocês esperava isso, mas vocês precisam…
— Ele falou alguma coisa? — Jaehyun de repente perguntou, se virando rápido para o amigo. Eunwoo franziu o cenho.
— Sobre o que?
— Sobre ela. Sobre eles. Sabe se eles estão juntos?
O questionamento pareceu desesperado, um tanto horrorizado. Eunwoo passou um segundo sem entender, mas logo revirou os olhos até as órbitas e bufou.
— Não, cara, eu não sei de nada. Você me ouviu dizer que eu tô por fora, que o JK não me responde e que o Mingyu é uma porta? — Eunwoo se exasperou. Ele sabia o que era aquele olhar um pouco desolado e esperançoso de Jaehyun, mas não era isso que importava naquele momento, caramba! — Eu só sei que você acertou a cara dele e ele quebrou a sua, o que foi chocante e uma burrice tremenda. Por acaso você esqueceu que nós somos amigos?
— O que você queria que eu fizesse, Eunwoo? — Jaehyun trincou os dentes, virando-se para ele com a face endurecida, puxando a camiseta jogada de qualquer jeito na mochila. — Ele teve várias chances, dezenas de chances de me contar. Falou comigo no telefone diversas vezes durante o tempo em que eu estive fora, e transava com ela enquanto me fazia perguntas sobre as minhas intenções. Isso foi filho da puta, foi sacanagem, não chega nem perto de ser algo de amigo. E não estou nem aí se ele não sentia nada por ela, ou não queria sentir, o lance é que aconteceu e ele se infiltrou no emocional dela, fez com que ela…
— Meu Deus, você acredita mesmo que essa garota é tão indefesa assim? — Eunwoo cruzou os braços, e havia certa frustração em seu rosto — O que Jungkook pode ter feito? Apontou uma arma pra ela tirar a roupa? Usou uma fantasia do Henry Cavill pra fazê-la se apaixonar? Fala sério. Jaehyun, nós conhecemos ele. Sei que você está com raiva agora, mas Jungkook não é uma cópia do Charlie Sheen pra levar ninguém a fazer nada. Ele foi um desgraçado, não nego, mas você poderia experimentar tirar essa garota um pouco da jogada e focar no que ele fez pra você. Nas mentiras, nessa sonseira de merda que ele vacilou. Vocês deviam conversar sobre isso.
— Não vou conversar com ele — Jaehyun rebateu imediatamente, e começou a andar para a porta enquanto passava os braços pela camiseta. — Já disse tudo que eu tinha pra falar. E se ele não quer que eu use todas as palavras dele contra ele de novo, melhor que não me encontre nunca mais.
— Jaehyun… — Eunwoo choramingou, ainda mais frustrado.
— Vou trocar de roupa e sair em 10 minutos. Se quiser uma carona e ir comer japchae, pode me esperar aqui. Se não quiser… — ele suspirou no vão da porta, tamborilando os dedos na madeira — Bom, você já sabe.
E Jaehyun sumiu pelo corredor mais rápido do que a boca de Eunwoo se abrindo para mais um protesto. O rapaz grunhiu alto naquele cubículo de camarim, xingando e resmungando consigo mesmo sobre todas as coisas erradas que estavam acontecendo ao seu redor, a começar por aquele rombo tenebroso no seu círculo de melhores amigos, o laço desfeito que significava um risco para todos os demais.
Eunwoo tinha sérios problemas com coisas mal resolvidas. Não gostava de ciclos em aberto, palavras não ditas, janelas destrancadas, um prato branco no meio dos beges e etc. A ansiedade que sentiu ao saber por Mingyu da briga daqueles dois foi palpável. Não podia acontecer isso. Eles eram em cinco e em cinco tinham que permanecer.
Ele olhou rapidamente para a porta e puxou o telefone do bolso, balançando a perna até discar os números que precisava e a voz alta até desse:
Você tem 20 minutos até eu ficar chapado. O que foi? — Mingyu atendeu debaixo de uma confusão de estouros e conversas. Eunwoo suspirou alto.
— Ele não quis me ouvir. Vai chutar meu saco até eu ficar infértil se eu falar o nome do Jungkook de novo.
Ai, que merda. Espera aí — Mingyu gritou palavras incoerentes para alguém ou um grupo e a música lentamente começou a diminuir. — Eu te falei que isso ia acontecer. Já acabou o show?
— Acabou antes da hora, a chuva começou a pegar pesado.
Você ainda vem pra cá? É possível que eu ainda esteja inteiro pra te dar um oi. Ei, esse chopp é meu! — ele gritou repentinamente, o timbre quase perfurando o tímpano de Eunwoo.
— Não, vou comer com o bonitão — respondeu, com um muxoxo. — Não quero que dê a impressão de que tô escolhendo um lado, apesar de que ele não se importaria se eu fosse encher a cara com vocês, mas… Argh, Mingyu, a gente tem que resolver isso.
Já falei que a gente não tem que resolver nada. Isso não é problema nosso — Mingyu estalou a língua, e devia estar sacudindo a cabeça em negação — O JK não dá sinal de vida desde que saiu da minha casa. Fiquei sabendo que ele gravou uma música e depois já foi viajar. Fez aquela live bizarra que deixou a agência inteira de cabelo em pé e mal falou um oi comigo nessa maldita festa antes de ser agarrado pela Sunny e desaparecer. Eu não sei se ele está disposto a…
— Que se foda a vontade do JK, nossos dois melhores amigos quase quebraram a sua casa e você, como a reencarnação de uma ameba, nem conseguiu saber direito o porquê! Acha mesmo que o problema não é nosso? Nem 1%?
Eunwoo contorceu o rosto de irritação, ainda que Mingyu não pudesse ver. Talvez o momento fosse o pior de todos para tentar ter uma conversa com o amigo, que não tinha a habilidade de pensar quando estava bebendo, mas pelo menos mostrava que estava ouvindo quando respondeu:
Olha só, eu não tenho culpa se o Jeon se isolou e dispersou o assunto, e o Jaehyun desligou na minha cara quando eu perguntei alguma coisa, o que você acha que podemos fazer? Quando tem mulher no meio, as coisas ficam automaticamente mais complicadas.
Eunwoo pressionou os lábios, fechando os olhos com força, ficando em silêncio para mostrar que concordava, mas que igualmente refletia sobre uma saída. Alguma saída onde aqueles dois colocassem tudo em pratos limpos sem socar a cara um do outro.
Eunwoo abriu os olhos subitamente e arquejou com alívio.
— Tudo bem, tive uma ideia.

[1]esboço da tattoo do personagem. (Clique aqui). Ilustrado por Luana Andrade.


[ 43 ] – Curiosity becomes a heavy load, too heavy to hold

🎵 Ouça aqui:
Do Me a Favour - Arctic Monkeys

"É o início do fim, o carro subiu a ladeira
E desapareceu na curva, pergunte a qualquer um e te dirão isso
São nesses tempos em que isso tende a começar a partir-se ao meio
A começar a desmoronar, oh, apegue-se ao seu coração
﹝...﹞
E como desfazer os laços que nos amarram?
Talvez um cai fora seja gentil demais
Talvez um cai fora seja gentil demais."

Naquela manhã, acordou primeiro.
A primeira coisa que sentiu foi a região de seu maxilar se mexendo devagar, subindo e descendo em movimentos sutis, apoiado no peito nu de Jungkook, que dormia serenamente em respirações suaves e lentas.
Ela levantou a cabeça e observou. Sempre quis vê-lo dormindo e isso era um desejo um tanto estranho, secreto, guardado a sete chaves, mas legítimo. Ela não se conteve em fixar os olhos nele. Já tinha se acostumado a outra metade da cama sempre vazia de manhã, e nas poucas vezes que não encontrou, ficou tão apavorada pela quebra das regras que não tinha tempo para reparar em como ele ficava extremamente lindo enquanto fazia algo tão comum como dormir!
O braço dele atravessava os travesseiros vizinhos para que o usasse no lugar deles, uma manobra fofa e que, por incrível que pareça, não ficava tão desconfortável. sorriu por isso, porque ele parecia um pouco torto, mas dormia tão pesado e com tanta serenidade que duvidou que ele estivesse sentindo. O cabelo caía na testa, bagunçado e revolto, a correntinha se espalhava pelo ombro e o lençol deixava escapar a faixa inicial do seu quadril, cobrindo pouca coisa do volume relaxado por baixo dele, tornando tudo isso uma imagem que jamais tiraria da cabeça.
Aquele cara era seu namorado. De verdade! Só de pensar que teria a chance de examinar aquela cena várias e várias vezes dali para a frente, tinha vontade de gritar.
De repente, sair daquela cama parecia ser a pior ideia do mundo. se achegou de novo no peito dele, roçando o nariz em sua clavícula, absorvendo o cheiro incomparável, registrando a pele quente e macia, guardando as partículas da felicidade que estava sentindo. Contornou o tórax de Jungkook com a lentidão de um dedo, dedilhando cada músculo, cada pedaço de epiderme, cada desenho visível das tatuagens, da superfície posterior inteira até a cintura, notando abruptamente um fogo de tesão matutino que ela certamente deveria apagar, porque ele nem estava acordado, então… se deu o direito de enroscar ainda mais a perna na dele e esfregar as coxas por um segundo, porque porra, era difícil. Ele era lindo e gostoso como o inferno, e a noite de ontem ainda estava marcada em cada película do seu corpo. Tinha vontade de pressionar os lábios em cada ponto de Jungkook, agora mesmo, naquele minuto. Seria tão, tão bom. Candice já havia dito uma vez que sexo de manhã fazia bem pra saúde, e tinha tendência a acreditar em tudo que Candice dizia. Pelo menos relacionado a sexo.
Um tempo indefinido se passou até que Jungkook se mexesse por baixo dos dedos dela, grunhindo algo incompreensível pelo sono e virando a cabeça para o seu lado lentamente até começar a abrir os olhos.
Encontrar os dela bem ali na sua panorâmica foi condizente com uma pancada na cabeça, uma que te deixa zonzo e vendo estrelas. Jungkook piscou algumas vezes para acordar e não segurou o sorriso nascendo lento no rosto.
— Bom dia, namorado — mordeu o lábio inferior. Jungkook aumentou ainda mais o sorriso.
— Bom di… — a fala quebrou no mesmo momento em que ele sentiu as unhas dela raspando na faixa abaixo do umbigo, descendo lentamente até a ponta do lençol, trazendo um pouco de formigamento na área sensível. Ele franziu um pouco o cenho e viu as pernas dela entrelaçadas, entrelaçadas demais, enquanto descia os dedos.
Ele abriu a boca. não pensou; colou os lábios nos dele sem pedir licença, sem ter misericórdia do homem, sem esperar que ele colocasse a cabeça no lugar.
Jungkook se surpreendeu nos dois primeiros segundos, mas não era um menino tão assustado assim. Seu corpo reagiu imediatamente depois do impacto, esquentando da cabeça aos pés em um instante. O braço ao lado de envolveu suas costas ao mesmo tempo em que os dedos dela lá embaixo se transformavam em uma mão predadora, que envolveu seu pau semi desperto, acordando-o para a vida, pronto para a próxima.
— Nossa, isso estava nos seus planos? — ele perguntou quando afastou suas bocas por um instante para respirar, a voz ainda grogue da moleza, mas que se tornava firme a cada segundo que sentia o sangue correr. até iria responder, mas Jungkook teve a brilhante ideia de usar a mão livre para raspá-la na boceta dela por baixo do lençol, despertando-o de vez. — Meu Deus! — Jungkook arfou, cortando as palavras dela com um gemido, sentindo-se imediatamente duro e desnorteado. — Há quanto tempo tá assim?
— Alguns… — ela tentou dizer, mas ele não deixava. Estava acariciando seu clitóris inchado e molhado, mexendo como ela gostava, mesmo que continuasse com os olhos atentos no rosto dela, olhos perfurantes que acompanhavam um sorriso cretino — Alguns minutos.
O sorriso dele aumentou. não precisava mais masturbá-lo com aquela mão gostosa, porque ele estava mais do que duro, estava indo até a Lua. O fogo queimou em cada pupila de seus olhos quando ele puxou o queixo dela para mais um beijo arrebatador, enfiando um dedo na região completamente encharcada de .
— Devia ter me acordado mais cedo. Você tá desesperada, linda — ele sibilou em voz grave, afundando o dedo ainda mais, fazendo contrair todos os músculos. — Como vai querer?
— Tanto faz — ela soltou uma tonelada de ar preso nos pulmões. Jungkook negou com a cabeça.
— Escolhe uma posição.
— Eu não…
— Escolhe.
— Por trás.
Ele ergueu as costas pra cima de imediato, mais rápido do que e sua zonzeira de tesão podiam ter captado, e no próximo segundo, ela já estava sendo virada e curvada como uma boneca, as duas mãos dele agarrando em sua cintura para empinar sua bunda, obrigando-a a se apoiar no colchão ou na cabeceira.
— Caralho… — Jungkook soltou o ar com sofrimento quando resvalou sobre a umidade de de novo, espalhando o líquido pelo seu dedo inteiro, tascando um beijo forte em sua bunda. — Tão molhada, tão gostosa, tão cedo, meu bem.
— É uma reclamação? — ela brincou, balançando ligeiramente a bunda empinada, provocativa. Jungkook a controlou com um tapa, fazendo mais um gemido repetir.
— Não. É um agradecimento — ele se achegou entre aquelas pernas, puxou o pau já pronto para cima, mexendo na entrada de , deixando-a ainda mais louca com pouco. Ela era tão quente. E vê-la naquela posição, banhada pela luz do dia entrando por uma janela, expondo absolutamente cada dobra e cada poro, fazia Jungkook quase voltar a ter uma religião. — A ciência aprova uma boa trepada de manhã.
— A ciência é tão pervertida assim? — zombou, virando o pescoço para olhá-lo. O cabelo bagunçado da manhã estava jogado de lado, a expressão dela assanhada estava escancarada.
Já chega.
— A minha é.
E estocou forte, alto, fundo. O grito de tomou todas as quatro paredes da dimensão extensa do quarto principal da casa. Geralmente, o primeiro grito era o pior, o mais agudo, o que era proveniente do susto do primeiro contato, mas aquilo era bom demais pra parar aí. Ele puxou o emaranhado de cachos espalhados direto da nuca e apertou seu quadril até estabilizá-lo e fazer o que fazia de melhor: meteu forte, intensificou os berros, conseguiu mantê-los na mesma sonoridade que o primeiro.
Jungkook ia acordando mais a cada investida, a cada vez que gritava, sem saber se era por causa de seu pau, dos tapas que deixavam o vermelhão na pele ou do cabelo que ele tomava sem dó, mas que parecia deixá-la ainda mais louca. Ele a puxou até que ela estivesse com metade do tronco na vertical, onde passou a mão da cintura para a garganta, agarrando da mesma forma que agarrava o cabelo, metendo e metendo e metendo e metendo com uma energia que renovava, ainda que estivesse cheio de arranhões e esgotado da noite passada. Parecia ser uma memória boa, recente, mas que só servia para deixá-lo querendo mais. sempre o fazia querer mais, independentemente do que seja, e vê-la tão necessitada por ele, mexia com cada fio de consciência do sujeito. Jungkook sempre soube que mandava bem quando o assunto era sexo, mas o fazia querer se esforçar. Tentar coisas novas, ir mais fundo, dar o que ela queria, ser obediente, pensar em estratégias. Tudo para ouvi-la gritando o que estava gritando.
— Jungk- — a voz de quebrou quando ele moveu o quadril outra vez, e o grito que saiu para fora pareceu ter sido arrancado à força — Meu Deus… Jungkook, meu Deus…
Shh — ele levou a mão da garganta para o queixo, encostando o nariz na curva de seu pescoço, sem parar de arremeter. — Goza comigo.
— Mas eu tô… Ah! — ela gritou ainda mais alto, e Jungkook agradeceu por ter vizinhos seguramente longe para que não ouvissem o seu espetáculo particular. Não fazia ideia de que horas eram, mas normalmente as pessoas escolhiam a noite para arrombar a boceta de uma garota. — Eu tô quase lá! Jungkook…
— Eu também — ele declarou em uma lufada forte e quase esmagadora de ar. Estava ficando sem fôlego, as pernas bambeando, o formigamento subindo pelas coxas, se espalhando pela barriga. Porra, porra. Quando tentou mexer o dedo que estava no queixo de , sentiu a língua úmida dela tocar na pele, sugando seu dedo, lambendo-o como uma safada e fazendo Jungkook quase soltar um rosnado — Desgraçada. Gostosa.
E ele aumentou os movimentos, sem saber como, sem saber da onde ainda tinha forças, mas foi como o impulso para a linha de chegada. Em 3 minutos de puro caos, barulho, suor e gritos, ele explodiu para dentro de com força, expelindo o restante de vida inteligente que tinha, perdendo o vigor dos braços quase imediatamente enquanto fazia um som brutal com a garganta, sentindo o pau ser esmagado pelas contrações dela.
ofegava da mesma forma que ele, fechando os olhos pelo alívio, sentindo-se no céu e num mundo cor de rosa, sentindo a testa úmida dele tocar nos seus ombros, a respiração pesada e barulhenta dele esquentando sua epiderme, completamente exaurido enquanto permanecia dentro dela.
Você pode acordar comigo todo dia?, a pergunta quase saiu da boca sem vigilância de Jungkook. Ele a abriu e fechou, porque de alguma forma, sentiu a necessidade de puxar o freio. Por ora, pelo menos. Se não, ele a chamaria pra morar com ele antes do Natal.
Com a respiração se estabilizando, Jungkook contornou as curvas de com as duas mãos e ergueu uma delas para puxar seu rosto para o dele, selando um beijo lento e apaixonado até se separar e sorrir.
— Agora sim… Bom dia, meu amor.

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Se a realização tivesse um rosto, seria o de naquela manhã enquanto observava Jungkook misturando cebolinhas com molho de pimenta em um bowl, acariciava seu CD de capa azul, autografado pelo próprio Daniel Caesar, e sorria sozinha ao vê-lo cantarolando suas próprias músicas e, de quebra, algumas de Daniel também. Era uma imagem que já tinha fantasiado mais vezes do que poderia contar. Imaginava aquilo sendo comum, uma rotina diária, e o quanto esse comum nunca seria o suficiente; vê-lo com o cabelo molhado depois de um banho juntinhos, cozinhando para os dois juntinhos, falando sobre o seu dia e o que pretendia fazer com ela… Juntinhos.
Nessa última parte ela estava devendo muito, porque via ele abrir e fechar a boca e não conseguia raciocinar direito, pescava apenas partes de um todo, enquanto estava sentada na mesa com a câmera nova no colo, absorta com a figura dele passeando pelo cômodo, exibindo tudo que, ainda não tinha caído a ficha, era dela.
— Eu disse pra ele que iria fazer do mesmo jeito — Jungkook jogou alguma coisa na frigideira, que fez um chiado alto enquanto subia um aroma gostoso e diferente. — Ele não disse que daria muita merda, mas disse que alguma coisa iria acontecer. Não sei direito o que pode ser. Sinceramente, não estou pensando nisso.
Ele remexeu no que quer que fosse a comida que estava preparando, esperando uma resposta de que não veio. Levou um tempo até que ele elevasse o queixo e olhasse para ela, erguendo uma sobrancelha.
?”
Não foi de primeira que acordou, mas finalmente conseguiu piscar os olhos com fervor e encará-lo de verdade, desconcertada.
— Desculpa, eu estava te ouvindo — explicou rápido, apoiando a câmera na mesa. — Você está preocupado de posar para a revista.
Primeiro, Jungkook abriu um mísero sorrisinho sacana no canto dos lábios, satisfeito pela expressão confusa e envergonhada dela ao ser pega em flagrante. Depois, assentiu para o que ela disse, suspirando pesadamente.
— Não estou preocupado com isso. Quero mesmo dar a Candice a melhor capa da vida dela. É o mínimo que posso fazer — ele puxou um bowl de cerâmica de cima da pia de seu lado, cheio de frutas picadas, e andou na direção de , depositando a louça junto com um beijo rápido. — Eu só disse que queria esperar até o lançamento da música. Mas esse é o menor dos problemas. Posso mudar essa data e Joo Hyuk vai entender muito bem.
— E pra quando pretende mudar? — puxou um pedaço de uva verde do topo de pedaços de morango, maçã e tangerina. — Seu aniversário?
— Muito perto — ele balançou a cabeça, voltando para a frente da panela, concentrando-se nos temperos ao lado do fogão por indução. — Descobri que sou um pouco perfeccionista. Nada parece estar realmente pronto, por mais que literalmente esteja. Só quero gravá-la agora direitinho e com calma, e ter um tempo bom para as fotos, o MV, as semanas de divulgação… Essa parte já é cansativa demais.
— E qual é o conceito que você pensou?
Jungkook prensou os lábios e a encarou por um minuto antes de apagar o fogo e apoiar as duas mãos na bancada.
— Lembra quando eu cantei Suck It and See na festa da Candice?
assentiu.
— Quando você não parava de olhar pra mim?
— É, porque eu estava cantando para você, senhorita — ele arqueou uma sobrancelha com o fato óbvio, conhecido até mesmo pelos mosquitos espalhados pelo mundo. riu. — Quando eu compus Looping, pensei em fazer dela nada mais e nada menos do que um pop genérico que cairia na boca do povo, nada muito diferente ou chocante para o público que eu já tinha. Mas pensar em aparecer sozinho para esse mesmo público já me apavorava, então sei lá… Tentei pensar em várias formas de fazer isso, e percebi que a que eu já tinha arriscado e dado certo foi quando toquei com os Elfos naquela festa. E é isso, criei literalmente o meu próprio I poured my aching heart into a pop song.
Jungkook sorriu docemente e começou a, finalmente, desenformar a comida que fazia em pratos fundos, e agarrou pequenas tigelas de acompanhamento enquanto mexia na garrafa de café enquanto parou com a expressão nula, arregalando os olhos devagar.
— Você vai cantar um rock?!
Jungkook sorriu ainda mais, mordendo o lábio inferior.
— Está mais para um pop rock, mas sim, é o que vai ser.
— Vai tocar uma guitarra?
— Vou.
— Vai usar suas jaquetas e suas botas no MV?
— Ahm, eu não…
— Vai começar a andar na sua moto?
— Eu não se…
— Deus. — colocou as duas mãos na lateral do rosto, pensando nos variados cenários que aquela fase de Jungkook poderia significar. Cenários que não tinha considerado até então, ou considerado muito pouco, até porque ela não fazia parte da rotina de Jeon Jungkook como estava fazendo agora, e ele não era o tipo de pessoa que se gabava por ser bom em alguma coisa.
Mas o monstro do ciúmes rugiu dentro de uma única vez, forte e implacável, ativando fantasias que eram ridículas só de imaginar, mas também eram… chatas. Irritantes. Não havia nenhum meio de retratar aquele sentimento que fizesse aquilo doer menos.
Minha nossa, que coisa mais esquisita! estava com ciúmes de algo que nem tinha acontecido? Estava com ciúmes de ter que presenciar a cena de abraços dele com outra garota como Sunny? Estava com ciúme do assédio inevitável que ele sempre sofria? Isso era algum tipo de piada?
Jungkook estranhou a reação e puxou o máximo de recipientes que conseguiu para levá-los à mesa, puxando uma cadeira ao lado dela.
— O que houve, meu bem?
— Nada — balançou a cabeça. Já estava se recuperando. Ainda tinha o cenho franzido por aquela avalanche louca de emoções que dilacerou dentro dela, mas daí se lembrou da noite no Mavinat… E de como ele estava feliz. Realizado. À vontade. Sendo o dono da noite. Essa era a imagem que prevalecia sobre todas as outras. — Você vai se sair tão bem. Usando sua jaqueta, e as suas botas, e aquela sua guitarra cinza da Fender, e quem sabe com algumas correntes… — emitiu uma careta sem querer. Jungkook estreitou os olhos e começou a rir, virando-se para massagear atrás dos joelhos dela.
— Então é isso que está acontecendo? Tá com ciúmes?
— Eu não estou com ciúmes — ela grunhiu, e seu tom de voz havia mudado. Agora parecia indignado, e um pouco envergonhado quando ela desviou o olhar — Talvez eu fique… Eu não sei. Eu não faço ideia, Jungkook. Esqueceu o papo sobre eu nunca ter tido um namorado? Ainda mais um cara que tem 200 bilhões de curtidas no TikTok. O que você acha? Só consigo me lembrar daquela coisa louca que senti quando Sunny te abraçou daquele jeito, e ainda não sei direito o que achar disso, não sei sobre as outras que podem surgir, não sei de nada.
— Acho que você tá projetando demais suas ideias de um relacionamento no nosso relacionamento de verdade — ele deu de ombros, sem pestanejar. ficou desentendida. — Sei que ensinam por aí que as pessoas precisam se preocupar quando namoram com uma celebridade, por causa das 200 e tantas curtidas como você disse, os números, as vendas e sei lá mais o que. Mas é porque mais da metade da população não enxerga isso como é: um trabalho. Acham que somos tudo que mostramos na frente de uma câmera, que podem agir como bem entendem porque escolhemos expor nossa imagem, e isso não é verdade. Você sabe bem disso. Cantar e dançar é o meu trabalho, compor e fotografar também, com camisa ou sem camisa, até ser simpático é meu trabalho. Mas com você não estou trabalhando, linda. Esse sou eu. Acha que eu faria alguma coisa pra te deixar insegura? Acha que eu já não estou a tempo demais nisso para não saber impor limites? — ele tirou uma mecha perdida dela no ombro, fazendo murchar um pouco. Se sentiu tão idiota de repente. Sentiu como se tivesse encarnado no corpo de outra pessoa por um instante, uma pessoa que não tinha passado os últimos 3 meses convivendo com Jeon Jungkook dos bastidores para saber que ele era muito diferente da persona dos holofotes. Que foi por isso que tinha se apaixonado por ele. Por um momento, tinha mesmo pensado que deveria seguir uma receita de bolo para namorar um cara como ele. Mas aquele sorrisinho mostrou que não, isso não era assim. Eles só precisavam ser exatamente quem já estavam sendo.
Não havia mais nada a fazer a não ser dizer:
— É claro que não. Me desculpa — ela se aproximou ainda mais dele, mesmo que o espaço já fosse curto demais. o beijou com carinho, e Jungkook passou um dos braços para trás da cadeira, sentindo o restante do corpo terminar de despertar. — Essas coisas são um pouco novas pra mim, mas vou driblar esses detalhes. O que importa é você estar feliz e fazendo seu trabalho. Tenho certeza que Looping vai ser um sucesso, que qualquer coisa que você faça vai ser um sucesso.
Jungkook sorriu mais uma vez, grande a aberto, internalizando as palavras dela como um mantra, uma profecia. Antes de , nunca tinha pensado tanto em fazer algo sozinho, por ele e para ele mesmo. Sem pensar em multidões se aglomerando há um quilômetro e meio dali, esperando o próximo passo dele, aguardando qualquer mísera coisa que poderiam encontrar fora do lugar, esperando um furo, um passo em falso ou uma grande performance. Jungkook nunca se sentiu apto a lidar com todas essas coisas no ímpar, carregar todas as responsabilidades nas costas, mas notou, depois de várias reflexões sobre a conversa com Yoongi, que já estava carregando pesos demais. Pesos que ele mesmo tinha colocado, sem necessidade. Pesos que agora estavam sendo jogados na rua, um por um, gradativamente, deixando-o mais leve e mais esperançoso sobre ele mesmo e a vida no geral.
E o sorriso e, principalmente, o apoio de deixava as coisas 300% mais agradáveis.
Ele voltou a beijá-la até se lembrar do café. Então, beijou seu nariz e depois depositou colou os lábios no seu ombro, perto da clavícula, bem na área da tatuagem colorida e se levantou, voltando para a cozinha.
o observou se afastar com um sorrisinho, prestando atenção em seus passos naquela hipnose maluca que acontecia sem que ela percebesse. Quando via, já estava olhando, admirando, suspirando. Era como se ele fosse alguém diferente, não o Jungkook de meses atrás, mas um Jungkook exclusivo seu, um que estava livre de bolhas e barreiras, um que estava dando tudo o que tinha, um que pedia para ser gravado para sempre com ela.
olhou para o lado quando teve uma ideia. Na verdade, pareceu muito mais uma ideia brilhante. Um impulso de desejo. Uma materialização da voz de seu pai quando dizia “isso serve para guardar seus momentos favoritos, . É uma pausa no tempo que vai durar para sempre. Não desperdice suas pausas com qualquer coisa, ou qualquer pessoa.”
puxou a câmera de novo e a apontou na direção dele, que estava distraído enquanto pegava um pouco de açúcar e o colocava na caneca, mas o som do clique não passou despercebido. Ele logo levantou o olhar, topando com a lente em seu foco, encarando-a sem surpresa.
Por um instante, se sentiu constrangida. Um pouco criminosa também.
— É pra minha coleção pessoal. Não é nada demais. Eu só quis…
Ele balançou a cabeça em negação, um sorriso rachando o rosto inteiro.
— Você tá liberada pra tirar quantas fotos quiser, linda. De mim, do estúdio, do Bam, o que você quiser. O que eu mais quero é ser seu alvo — ele levantou os ombros, descontraído. riu, sem entender. — Não foi por causa disso que estamos aqui hoje?
Ela desejou voltar a dormir depois daquela. Dormir na cama dele e sonhar com aquele dia tenebroso em New York onde tudo aquilo tinha começado, só para modos de comparação. Um dia carregado de raiva, tristeza, rancor e tantas outras coisas ruins que hoje, ali, naquela cozinha e naquela cidade, não passavam de loucura. Ou o que acontecia hoje era uma loucura. Não dava para adivinhar que os dois terminaram ali. A quem fosse perguntado, a resposta sempre seria a mesma: Jungkook e nunca se entenderiam. Seriam arqui-inimigos, rivais, cão e gato, Marvel e DC, água e óleo, noite e dia, sol e Lua, verão e inverno para sempre. Isso sim era mais certo do que a própria morte.
Ele lhe lançou uma piscadinha e riu mais uma vez, apertando levemente a câmera no peito como para protegê-la de alguma coisa nada real que pudesse acontecer e tirar aquilo dela. Uma foto preciosa de um momento ainda mais precioso de felicidade pungente que estava congelado para sempre. se lembraria desses pequenos detalhes enquanto tivesse sanidade. Olharia aquela foto e se lembraria exatamente de que estava sentada, tomando café da manhã com seu primeiro namorado. Com o cara que mais amou na vida até seus 23 anos. Com alguém que, se sua imaginação estivesse tão sem limites, gostaria de passar o resto da vida. Sabe-se lá como. Era mais uma ideia do que um plano.
Ela pensou em respondê-lo com divertimento, mas foi interrompida pela vibração alta do telefone em cima da mesa. nem se lembrava de tê-lo trazido para baixo, mas precisava ficar atenta às horas. Quando entrou no quarto de Jungkook na noite passada, sabia que também estava entrando em um túnel vedado à prova do tempo. Ela perdia a noção da realidade, voltando a si somente com as luzes acesas ou o dia amanhecendo. Quando viu quem estava ligando, atendeu imediatamente, agora como força do hábito:
— Oi, Changmin — Jungkook precisou de dois segundos para erguer a cabeça e observar , travando todos os músculos das omoplatas. — Sim, eu sei… Ainda não fiz as contas, mas devem ter umas 30… Eu fiz alguns rascunhos, mas não comecei de verdade. A introdução vai levar algum tempo. Preciso comprar um par de chaves Allen novas para os parafusos menores e uma pinça ESD. O sistema não vai se lascar por isso — ela se calou por um momento e suspirou, ouvindo mais uma penca do discurso do babaca enquanto Jungkook apoiava as duas mãos na pia e observava sem disfarçar. — Hmm, reunião? Cafeteria? — levantou o queixo para olhá-lo agora. — Claro. Precisamos mesmo conversar. Sobre o projeto e… outras coisas também. — ela repuxou os lábios, e se ajeitou na beirada da cadeira. — Tudo bem, combinado. Até logo.
desligou e o encarou. Jungkook prendeu todos os dentes na boca e puxou as duas canecas, levando-as até a mesa e se sentando no mesmo lugar, tenso e irredutível, olhando para o tampo de madeira ao mesmo tempo que bebia um gole grande de café.
bufou, cruzando os braços.
— Sei que você quer falar alguma coisa.
— Você quer ouvir o que eu vou falar? — A voz dele estava estrangulada, nada suave como foi desde que acordou. Parecia segurar um grito, um discurso de ira. Seus olhos não estavam mais brilhando, estavam escurecidos, zangados.
Ainda assim, revirou os olhos.
— Ele é só um amigo. Preciso repetir seu poema anti-ciúmes? Acha que vou fazer algo pra te deixar inseguro?
— O problema não é você, meu bem.
— Então o problema é ele? Mas por quê? Você nem o conhece — abriu os braços em uma expiração, odiando estar na posição em que não entendia o que ele queria dizer. — E nós estamos trabalhando juntos, então você…
— Trabalhando juntos? — ele arfou e se virou. Um medo louco e repentino subiu pela sua espinha como uma aranha viva. — Como assim? Em que?
— Essa coisinha bem aqui — ela puxou a câmera nova para baixo do queixo dele — É um protótipo de uma grande corporação. Ainda não está no mercado, e eu e Changmin estamos fazendo testes prévios para apresentar aos desenvolvedores. Na verdade, eu estou fazendo os testes, ele está meio que supervisionando a coisa toda.
— Mas… — ele abriu a boca e pensou em gritar. Pensou em gastar longos minutos dizendo para ficar longe daquele canalha porque ele escondia coisas, porque ele queria sua cabeça, porque estava sendo um espião infeliz de Ali para ferrá-la com a história das fotos. Pensou tanto em dedurá-lo e implorar para não chegar há menos de mil quilômetros dele, mas no fim, diante daqueles olhos inocentes e confusos, ele não disse absolutamente nada além de um: — Como você sabe que isso é legítimo?
— O quê? — torceu ainda mais as sobrancelhas.
— Como sabe se esse negócio é de verdade? Que essa empresa o contratou, como sabe que ele te colocou nessa ou só não está usando você e seu trabalho?
baixou a câmera no colo, um pouco embasbacada pela reação desproporcional dele. Jungkook travou o maxilar e desviou os olhos, um pouco irritado e encabulado, repassando suas escolhas de palavras e vendo que tinha dito demais. Empilhado coisas demais para quem não pretendia falar a verdade ainda.
— Mas do que você está falando? — balançou as mãos, agora totalmente confusa. Jungkook continuou com os olhos na mesa e ela fechou os olhos devagar, respirando ainda mais lento. — Olha só, eu sei que você não gostou dele, sabe-se lá por qual motivo, e sei que ele também foi um perfeito idiota naquele dia, mas Changmin tem me ajudado muito nos últimos dias. Me ajudado de verdade, com coisas do trabalho. Me convidar para o test drive dessa máquina foi uma das maiores oportunidades da minha vida, Jungkook. Se der certo, vou ganhar mais do que milhares de dólares, vou ganhar reconhecimento. Já imaginou isso? É a Nikon, é o paralelo da Canon e da Kodak, são grandes marcas trabalhando juntas e eu estou prestes a ficar com o nome ali no meio. Não é incrível?
Jungkook levantou o rosto e murchou totalmente. O sorrisinho sonhador e alegre de o quebrava em mil pedaços. Era um soco de atenção para a realidade. O fazia sair da bolha de estresse no mesmo minuto. A preocupação com Ji Changmin ainda estava ali, acesa e firme, queimando mais a cada vez que se lembrava da cara do sujeito, e por mais que aquela história permanecesse estranha – muito estranha! Afinal, se ele queria ferrar com a pedido de Ali, por que estava ajudando ela? Abrindo portas? Era tão sádico a ponto de levá-la para o topo apenas para empurrá-la depois? –, Jungkook não podia negar que desejava que tudo aquilo permanecesse como está só para ver com aquele sorriso satisfeito e visionário no rosto. Tão linda, porra. Dava vontade de voltar correndo para o colchão no segundo andar. Dava vontade de fazer qualquer coisa por ela. Eliminar qualquer coisa que poderia ser uma potencial decepção ou motivo para deixá-la triste. Ele poderia começar comprando a porra da Nikon e demitindo Ji Changmin de todas as suas funções.
— Tudo bem, você está certa — ele cedeu, e ganhou um beijo apaixonado por isso. Toda a superfície de sua pele parecia ser atingida por um vento forte, uma brisa de outro mundo. — Só me promete que vai dar o benefício da dúvida pra esse cara. Sempre. E que vai ficar ciente que ele pode não ser o que você acha que ele seja.
Ainda com as mãos na lateral de seu rosto, prensou os lábios.
— Por que você tá dizendo isso?
— Porque você acabou de conhecê-lo. E ele parece ter um problema grave de coordenação motora, já que não consegue andar dois passos sem pegar na sua mão.
puxou os lábios para segurar uma risada. Jungkook revirou os olhos, sabendo o que estava por vir.
— Você está com ciúmes.

— Você está morrendo de ciúmes — ela riu mais alto agora, divertindo-se com a situação. Jungkook revirou os olhos quando ela beijou seu rosto, mas também estava segurando um sorrisinho.
— Não é só ciúmes. Mas é lógico que também tenho ciúmes, ele é um sem noção.
— Tudo bem, eu te entendo. Mas não precisa ficar com ciúmes. Agora eu sou uma mulher comprometida. E Changmin vai saber disso — ela acariciou sua bochecha mais uma vez, deslizando os olhos para o celular desbloqueado em cima da mesa — Inclusive, vai saber daqui há 3 horas. Tenho um trabalho, preciso ir.
se levantou em um jato.
— Mas e o seu café? — Jungkook questionou assim que a viu agarrar o telefone e começar a andar em direção a escada. parou no meio do caminho e se virou para ele.
— Você também não precisa ir? — Ela virou a tela do celular para ele, mostrando as horas desastrosamente cedo: 10:00.
— É mesmo — ele fez uma pequena careta, agarrando o café do tampo, o único elemento inegociável para começar o dia de fato. — Eu te levo.
Não era uma sugestão, mas não teve vontade de negar a gentileza desta vez. Apenas ficou em silêncio e aceitou, alegrando-se com o que também seria parte de sua rotina desejada: caronas com ele. Tempo com ele. Mais tempo com ele. Cada minutinho valia a pena. Nem parecia que vê-lo andar até ela e pegar na sua mão para que subissem as escadas juntos em direção à grande suíte presencial para tomarem banho e se trocarem juntos já tenha sido tão estranho e inimaginável.
Entrelaçando os dedos, ela disse no seu pescoço:
— Não deixa eu esquecer o meu CD.
Jungkook riu durante mais uma golada e depositou um beijo na sua testa.
— Não deixa eu esquecer minha jaqueta à prova de Candice.
Ela gargalhou por entre os degraus, e ainda estava rindo quando tirou a camiseta dele e entrou no chuveiro, recebendo sua companhia dois minutos depois. O tempo antes disso era para que Jungkook admirasse. Gravasse cada detalhe do cenário enquanto terminava seu café e se sentia acordado, elétrico.
Exalando felicidade, ele a beijou embaixo da água corrente, puxando-a para perto enquanto deixava as preocupações serem lavadas junto com o corpo. Quando estava com , só conseguia pensar no aqui e agora, em estender as horas, em fazer residência dentro da bolha romântica. Longe dela, os pensamentos de futuro vinham, os planos que maquinava na cabeça, as realizações que tinham a participação dela como uma das prioridades. Estava fissurado nela, feliz pra caralho, sentindo-se como um receptáculo de paz e harmonia como as mentes evoluídas do Budismo.
Mas, em qualquer brecha daquele dia e dos próximos em que Jungkook estivesse longe dela, ele se lembraria. Tomaria noção da realidade do que estava acontecendo embaixo de seu nariz, se desenrolando em algum buraco, teias de conspiração e alianças que ele conhecia, mas não sabia onde estavam, quando estavam:
Alison. Changmin. Seja lá mais quem pudesse estar envolvido nisso. Pessoas não apenas dispostas a expor um segredo que explodiria com tudo, mas que estavam dispostas a fazer isso com grande estilo. Com humilhação e sofrimento além do necessário. Pessoas que queriam um espetáculo.
Ali amava espetáculos. Especificamente, quando ela estava no controle.
E, infelizmente, nem Jungkook e nem ninguém conseguia imaginar o que estava por vir.

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Desde quando Candice podia se lembrar, plaquinhas de CEO eram seu sonho de consumo.
Era nítida a lembrança de sua mãe entrando em seu quarto à noite e vendo-a abusar de maquiagens pesadas e sapatos altos demais para uma garota que já era muito alta para a sua idade. As precocidades de Candice Chaperman nunca a deixaram se sentir excluída ou minimamente frustrada; era uma garota à frente de seu tempo, à frente da mediocridade de adolescentes e era uma mulher decidida e forte antes mesmo de crescer o suficiente para isso. Teve menos amizades do que se espera para alguém que era extremamente aberta e sorridente para a vida, porque amizade significava algo mais profundo e lapidado para Candice, um termo que ia além de convenções sociais, uma troca que era levada a sério, um comportamento incluído nela por uma família que reconhecia seu valor e deixava bem claro seus princípios sobre não manter em suas vidas pessoas que não fossem acompanhá-la pelo resto dela. Em questão de vínculos, Candice Chaperman era tudo ou nada, tão determinada por isso quanto pelas plaquinhas de CEO.
Perseguir esse objetivo foi igualmente fácil e natural, onde Candice sabia para onde estava indo e onde deveria parar para respirar, viver, se divertir. Era alguém que sabia dosar coisas, julgar as pessoas e mirar entre esses dois elementos para conseguir o que queria.
No entanto, pela primeira vez em 27 anos, Candice estava se sentindo perdida. Atordoada. Um pouco derrotada pela vida e pelas circunstâncias.
Quando entrou com os saltos Jimmy Choo na sala presidencial da Vogue Korea e bateu os olhos na plaquinha de Shin Kwang Ho, sentiu uma pontada orgulhosa no peito. Não algo que remetesse a uma inveja insolente como pintavam nos filmes, mas uma inveja ambiciosa, um lembrete do que estava fazendo ali, do outro lado do mundo, rabiscando seu nome no acervo de uma grande empresa e sendo lembrada pelos que precisavam se lembrar. Marcando seu nome para subir, porque ela com certeza iria subir. Estava claro e límpido como o céu naquele verão.
No entanto, nos últimos dias – se fosse procurar a raiz da situação, ela já estava assim nos últimos meses –, suas certezas estavam tão abaladas quanto as chuvas que cairiam dali a pouco. Nublava suas percepções. Nada estava tão certo quanto um dia tinha sido.
E esse sentimento novo era mantido em segredo, atrás de um sorriso.
Só que naquela tarde, sentada à frente da plaquinha de vidro reluzente que já brilhara em seus sonhos tantas vezes, Candice não foi capaz de sorrir. Sua reação veio dois minutos depois, travada e desnorteada:
— O que a senhora disse?
Kwang Ho continuou com os olhos abaixados em folhas de papéis avulsas, como se a informação que tivesse dado fosse insípida, irrelevante. O coração de Candice bateu ainda mais forte pela falta de resposta, que veio bem depois, quando a mulher ajeitou os óculos de gatinho no nariz e repetiu:
— Disse que você fez um ótimo trabalho com o Jungkook. Mas regras são regras — ela suspirou levemente, abaixando uma das folhas. — Você não se envolve com o BTS dentro da revista. O trabalho agora é de outra pessoa.
Candice perdeu a fala. Kwang Ho voltou a se concentrar nos relatórios, nas colunas para revisão final, nas assinaturas que precisava dar, seja lá que merda estivesse lendo. Como assim o trabalho era de outra pessoa?! Do que ela estava falando?
— M-mas… Eu não… Eu não entendo — Candice frisou a palavra, chamando novamente a atenção de Kwang Ho. — Eu mandava as propostas para ele desde que cheguei, sempre fui a responsável por isso. Ele aceitou uma das minhas ofertas, não as de quem fez antes ou depois. Conheço as novas regras que a senhora implantou, mas não acho que isso seja muito just…
— Por que implantei as novas regras, senhorita Chaperman? — Kwang Ho inclinou as costas para a frente, retirando os óculos devagar.
Candice engoliu em seco.
— Por causa do meu relacionamento.
— Ah, seja mais específica, querida. Relacionamentos são muito amplos. Você com certeza tem uma lista imensa deles.
Ela sentiu uma pontada de raiva pinicando na base da nuca. Candice expirou oxigênio devagar pelo nariz e respondeu:
— Porque estou namorando Min Yoongi.
— Isso mesmo — a mulher estalou um dedo, abrindo um sorriso enviesado. — Você é a namorada oficial e exposta de um dos homens mais famosos do mundo, sobretudo no nosso país. E acho que você já sabe como funciona o nosso país quando se trata dessas coisas, não é mesmo? — ela se aproximou ainda mais do centro da mesa, mais perto de Candice. — Loucura, senhorita Chaperman. O fanatismo daqui é uma insanidade. Se seu relacionamento fosse algo exclusivamente entre você e o rapaz, que se dane. Assim como lá fora, quando descobrimos um namoro aleatório acontecendo ao nosso lado e nos surpreendemos nos primeiros 2 segundos até lembrarmos que temos coisas para fazer. Mas aqui não. Aqui, as pessoas ficam interessadas. Obcecadas. Viram espiãs, detetives, haters, juízes do fim do mundo. Nunca é apenas você e ele. São vocês dois e o pano de fundo de vocês dois. São revirados, expostos, julgados, postos na Inquisição. Juntas, todas essas coisas podem complicar alguém, até mesmo acabar com ela. É a consequência da era da informação. E infelizmente, eu e a Vogue fazemos parte do seu background — ela deu de ombros placidamente, emitindo sua voz doce e ao mesmo tempo arrastada que fervia dentro de Candice. Fervia e depois se acalmava, se frustrava, principalmente pelo fato de Kwang Ho estar lendo a situação tão delicadamente bem. — Sei que é uma grande contradição te tirar esse editorial, já que você foi contratada justamente pela matéria que escreveu sobre esse rapaz lá na Califórnia, mas não posso arriscar a ler comentários na internet depois dizendo que manipulamos os resultados dessa capa ou que só a conseguimos porque vocês têm algum tipo de amizade. Mesmo que nem tenham de verdade. Mesmo que ele tenha sido, de fato, manipulado a estar aqui. Talvez por você, talvez pelo seu namorado. Não ligo para as razões, sinceramente. Já fizemos isso. Mas eu ligo para a credibilidade que a revista passa para as pessoas, e ter o nome de Candice Chaperman no nosso maior lançamento da temporada não vai nos dar esse efeito.
Candice não soube o que estava sentindo. Ao ver o sorrisinho plácido de Kwang Ho, como se estivesse explicando a situação o mais claramente possível para uma criança de 5 anos, ela quis se encolher em um canto. Quis se levantar e ir embora para casa e se encolher na própria cama. Quis desligar o celular e gritar, gritar muito, afastar quem tentasse chegar perto. A frustração latejante a fazia torcer os lábios para que não falassem o que não deviam. Para que ela não gritasse com Kwang Ho que, mesmo com aqueles fatos na mesa, a história ainda era arbitrária.
— Isso não… — é justo, não é justo, não é justo! — Achei que a senhora pudesse abrir uma concessão, senhora Shin. Essa capa vai render bastante lucro para a casa e pode ser a porta de entrada para outras colunas que estão na gaveta. Gook Doo, meu redator, ele mesmo estava escrevendo uma…
— Não precisa fazer isso, Chaperman — Kwang Ho balançou as mãos na frente do rosto, outra vez com o sorrisinho afetado, disposto a não levar nenhuma daquelas palavras da loira a sério. — Sei de suas verdadeiras intenções ao conseguir Jeon Jungkook para a nossa capa e te garanto que acho todas elas válidas. Você tem ambição e acho isso fantástico. Sua promoção em tempo recorde foi bastante comentada nessa empresa e uma nova abalaria toda a estrutura, todas as filiais que temos ao redor do mundo. O que também seria válido, já vamos ter o maior lucro do continente e não poderíamos deixar a responsável disso para trás, é claro. Mas repito: ser amiga dele não te isenta das regras. Pela ética da firma, você não tem o direito de se envolver nas matérias do BTS e nem de ídolos tão próximos. Mas é claro que estamos muito gratos pela sua contribuição — ela atravessou uma palma pela mesa, roçando um dedo na mão de Candice. — Vamos fazer um ótimo trabalho com ele, fica tranquila. Há muitas perguntas que uma estrela em ascensão como ele poderia responder para nós. Miyuki vai adorar lidar com ele.
Candice quis escorregar até o chão. Agora seu colchão duplo no apartamento 402 não parecia tão grande e tão confortável para passar horas sentindo raiva. Ele queimaria, afundaria seu corpo até o andar debaixo. As coisas que estava ouvindo martelavam em todos os seus músculos, e seguido daquele sorriso torcido e falso, tornava ainda mais difícil que seu temperamento sanguíneo se mantivesse quieto.
Ela queria ficar chocada, mas já estava naquele ramo há tempo demais para isso. Candice sabia da falsidade e manipulação dos bastidores. Sabia que pessoas eram usadas e descartadas o tempo todo, que mentes brilhantes tinham suas ideias roubadas e apresentadas por nomes grandiosos que só tinham isso: nomes. Candice viu tudo acontecer antes mesmo de se levantar daquela cadeira: Jungkook tirando as fotos, recebendo perguntas invasivas na sua entrevista, a equipe da redação alterando coisas que ele não disse, a matéria saindo e, surpreendentemente, o nome de Shin Kwang Ho como a idealizadora principal. A mente da operação. A pessoa que tinha organizado tudo, conseguido tudo, ganhando os pontos que seriam dela naquele conglomerado.
Miyuki uma ova. A garota tinha chegado há menos de 3 meses e ainda precisava fazer zilhões de correções por coluna. Não era inexperiente no meio editorial, mas era inexperiente com grandes empresas, com grandes exigências como as que Kwang Ho e Eunji sempre tinham. A japonesa tinha apenas o tamanho de uma adulta, mas ainda tinha um longo caminho pela frente para aprender a falar e se portar com mais firmeza. Com certeza chorava no banheiro todos os dias antes de entrar no escritório. Candice nunca reparou muito bem nela, mas sabia dessas características. Eram claras e óbvias. Como uma garota dessa lidaria com a capa mais importante do ano? O projeto que literalmente pararia toda a agência, entrando na frente de outros trabalhos abruptamente e que só iria para o mundo depois de um minucioso diagnóstico de perfeição?
No fundo, Candice também sabia a resposta. Miyuki era manipulável. Faria todo o trabalho e não receberia crédito nenhum. E não teria o menor cacife para questionar isso depois.
Candice passou uma língua nos lábios secos, sentindo os joelhos e os cotovelos doerem pelo tanto que os amassava embaixo daquela mesa.
— A senhora está certa, eu queria a promoção. Não vim até aqui pra ficar no mesmo lugar. É longe demais da minha casa — ela deu de ombros levemente, tentando controlar o tom de voz. — E atualmente, para chegar até lá mais rápido, uma boa estratégia é trabalhar com o grupo de maior sucesso do mercado, mas realmente, a ética da empresa é importante. Não posso negar — ela esmigalhou os dentes na última frase, segurando um mundo de discursos dentro de si. Viu Kwang Ho arquear uma sobrancelha e assentir devagar, sem recuar. Candice tinha certeza que ela também estava pronta caso ela decidisse surtar. Mandaria a loira embora com o maior prazer. Kwang Ho não tinha contato com absolutamente ninguém abaixo dela na hierarquia, tirando a superior de Candice, Eunji. A única pessoa que a afastava da plaquinha de CEO. A pessoa que sabia que Candice era a única daquela filial que faria um trabalho incrível e digno.
Mas, ah… Deixar Candice fazer o trabalho seria muito fácil. Seria entregar muitos pontos de graça. O problema não era o dinheiro, era o prestígio. E Candice sentia, cada vez mais, esse prestígio caindo, se encolhendo, desde que decidiu abrir seu coração depois de tanto tempo e se deixar amar e se relacionar com alguém e ser jogada para o trabalho burocrático e sem graça depois disso.
Situação de merda. Injusta pra cacete. E ela não podia fazer nada!
— Que bom que entendeu, senhorita Chaperman. Sabia que podia contar com a sua compreensão — a mulher voltou a sorrir e a recolocar os óculos, puxando as folhas novamente. — Inclusive, adorei seu artigo sobre os novos lançamentos dos sapatos Manolo Blahnik. Vamos colocá-lo nessa próxima edição, junto com o artigo de Gook Doo sobre a economia da seda no exterior.
Candice apenas assentiu, sem conseguir abrir a boca para falar alguma coisa, as palavras morrendo na garganta conforme se tocava de sua realidade sem saída. Nunca tinha se sentido tão injustiçada e impotente. Nunca tinha sentido aquela vontade de se retrair em vez de lutar pelo que achava certo. Nunca tinha topado com aquela porta chamada regras e recuado. Porque as coisas ali dentro, as coisas naquela hora, pareciam ser maiores do que ela. Se Candice Chaperman arrumasse um escândalo com Shin Kwang Ho, não perderia apenas o emprego, mas perderia todas as chances de ter outro naquela cidade. Talvez no país. Poderia ter a situação exposta e recair sobre Yoongi. Tudo agora tinha a chance de recair sobre Yoongi.
E Candice nunca pensou em fazer outra coisa a não ser aquilo: reportar. Informar. Se vestir do glamour de celebridades, ser a mosquinha no meio das conversas, apontar para os rostos expostos no mundo e dizer o que uma população precisava ouvir, mostrar o que o mundo não via sobre o óbvio das pessoas.
Jungkook seria seu foguete. A ascensão que ela queria por um longo tempo. A aproximação da plaquinha brilhante. Mas hoje não.
Por enquanto, não.
— Obrigada, senhora Shin — ela agradeceu, largando as barras da poltrona devagar, alisando o estofado para tirar a marca das unhas. — Isso é tudo?
— É sim, pode voltar para a sua sala — disse Kwang Ho, retornando à sua bolha de concentração. Candice balançou a cabeça novamente e se levantou, ajeitando o blazer rosa claro enquanto engolia o nó horrendo na garganta, sentindo o nariz queimar e a têmpora latejar, mas chorar não estava nos seus planos. Não ali, naquela sala. Não ali, naquelas paredes. Ela só precisava de um banheiro e 5 minutos. Seriam o suficiente.

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Após alguns momentos de impaciência com as edições anteriores da Vogue, que disponibilizavam sempre na página 15 os famosos quizzes de “Saiba se você será uma garota de sucesso”, ou “Ele está mesmo interessado em você?”, onde a resposta nunca era satisfatória, Jimin soltou a revista na pilha ao lado do sofá de veludo, bufando forte.
— Que baboseira! Agora se o cara não abre a porta do carro, ele não está afim dela?
Jungkook virou o quanto deu de seu rosto para encará-lo através do espelho, o que não foi muito, já que tinha a cabeça um pouco inclinada para trás enquanto sentia um lápis de maquiagem delicado passar pelo canto da pálpebra.
— Eu já falei pra você não levar isso a sério — murmurou ele, e ouviu Jimin estalar a língua.
— Como não vou levar isso a sério, JK? Essa coisa é lida por milhares de mulheres. Milhares! E tenho certeza que todas elas levam a sério.
Jungkook aproveitou o afastamento das mãos desconhecidas que o maquiavam para revirar os olhos e erguer as costas, agora recebendo outro par de mãos que ajeitavam sua roupa de seda verde que ele ainda não tinha entendido o propósito.
Jimin estava sentado com as mãos pousadas no colo, sendo alvo de olhares disfarçados das funcionárias ao redor do camarim, que eram ótimas em fingir que não ouviam e viam coisa alguma.
— Tem milhares de mulheres que também não dão a mínima pra essa porcaria de teste. Sem ofensas — ele olhou rapidamente para a garota que ajeitava seus botões, e viu o rosto dela corar avidamente, sem respondê-lo. — E o que você tem? Achei que queria vir comigo porque precisava se distrair.
— Claro que preciso. Estou num tédio sem fim até nossas reuniões do novo álbum começarem. É um grande acontecimento para se concentrar, mas enquanto isso, vou me concentrar no seu pequeno acontecimento. Aliás, na sua possível nova confusão.
Jungkook revirou os olhos e soltou um risinho.
— Jungjae te contou?
— É claro que ele me contou, mas tenho certeza que ele não contou para o Nam. Ou pra ninguém. Devo dizer, você tem mesmo o agente que merece. O cara faz literalmente tudo que você quer, e nem te dá bronca por isso. Aliás, ele nem precisa te dar bronca, já que você o manda ficar longe a maior parte do tempo. Onde ele estava mesmo até agora? Havaí? Bahamas? Bali?
— Não faço a mínima ideia. Algum lugar com praias e garotas de biquíni servindo margaritas.
— Por isso ele tá tão bronzeado. Sortudo de merda. Seria legal ter esse emprego: responder e-mails, fazer ligações e só manter a mídia longe de alguém. Fenomenal — Jimin escorregou no sofá, suspirando fracamente. Jungkook balançou a cabeça em negação, sabendo que logicamente aquele cargo não combinava com Jimin. — Você fica horrível de verde.
— Eu sei — Jungkook assentiu. Além da cor na roupa, ela também estava no bocal de uma lâmpada acima do espelho, iluminando a área de seu ombro com ainda mais verde.
— Qual é o conceito? St. Patrick’s Day? — Jimin contorceu ainda mais o rosto. Jungkook suspirou quando os braços que o cercavam deram uma folga novamente.
— Não faço a mínima ideia.
— Vão te fazer usar mocassins também igual um mauricinho que joga golfe?
— Não sei.
— Você sabe de alguma coisa, porra? — Jimin bufou e olhou furtivamente para a outra parede do camarim, reparando se alguém o ouviu. Na mesma hora, se colocou de pé e passou para o lado do amigo — Só entrou no carro e veio parar no prédio da Vogue?
Foi a vez de Jungkook suspirar alto. Pelo espelho, ele não parecia tão mal assim. Jimin era um poço de exagero. Ele só estava um pouco… diferente.
— Candice disse que eu só precisava fazer isso. Então estou aqui — respondeu.
Os olhos de Jimin cresceram e diminuíram em lapsos, dando um tempo até que ele conseguisse parar e franzir a testa inteira.
— Candice só te disse isso? Tá falando sério? Te disse pra você vestir verde caganeira e fazer cosplay de árvore de lona?
— Eu não sabia o que eu ia vestir — Jungkook tentou apaziguar, mas por dentro queria fazer uma careta de concordância. Aquela roupa não tinha apenas a cor inapropriada para Jeon Jungkook, mas também tinha forma e trejeitos errados. Não era apenas lisa e verde, era verde e estampada com detalhes de folhas naturais e tinha a textura de papel reciclado.
Aquilo tudo por uma vingança pelos últimos três meses? Jesus, ela estava brava mesmo.
— Cara, isso tá me cheirando mal — Jimin cruzou os braços e apoiou o quadril na penteadeira, torcendo o nariz para os desenhos em Jungkook e nas flores secas sobre toda a porta de acesso ao camarim. — Você se colocou livremente na mão de Candice Chaperman. Sem exigências, sem um seguro de vida. A mulher te odeia, tá lembrado?
— Estou ciente — Jungkook deu um peteleco em um pedaço de linha grossa no ombro, que se parecia muito com um ramo de planta de verdade. Jimin se manteve parado, esperando uma reação mais adequada do amigo diante daquele tipo de situação.
— E isso não te deixa preocupado? — Exasperado, ele abriu os braços, olhando rápido para a porta de entrada enquanto trincava os dentes para falar mais baixo. — Ela pode fazer você imitar um macaco, um orangotango, pode te colocar uma tanga, te vestir de cachorro quente, fazer propaganda de Viagra, sei lá. Você tem noção disso?
— Eu tenho — Jungkook suspirou e fez mais uma careta, porque a ideia de fazer um comercial para homens com disfunção erétil não lhe parecia um bom negócio, porque poderia fazer as pessoas pensarem que ele tinha o mesmo problema. De resto, ele poderia tolerar. — E eu faria.
— Como assim você faria? — Jimin parecia ainda mais pasmo. Olhou para Jungkook e esperou a risada de deboche, mas o amigo estava falando sério. Na verdade, nem precisava dizer isso; ele já estava demonstrando que tudo era pra valer só de não fazer um escândalo animalesco para tirar aquela roupa ridícula. Verde. Jungkook se dava bastante bem com a maioria das cores, mas odiava verde. — O que tá rolando?
Jungkook viu os olhos estreitados de Jimin e torceu um pouco a boca. Quis falar, assim como sempre tinha o impulso de contar quase tudo para o amigo, mas precisava deixar passar um pouco. Tinha prometido para antes que ela saísse de seu carro. Vamos manter em segredo por enquanto, tudo bem?
— Não tá rolando nada, estou só… Pagando um favor pra Candice. Talvez ela tenha pensado que preciso ser mais eclético — ele tentou ajeitar a gravata, mas não soube identificar o que era aquilo. Era alguma coisa enfeitada com penas coloridas e rendas, o que elevava o nível da caretice, e Jungkook preferiu parar de se olhar no espelho.
Quando olhou de volta para Jimin, o amigo parecia ainda mais estupefato.
— Favor? Você deve ela? Mas que história…
— Senhor Jeon? — A voz simpática e ao mesmo tempo autoritária preencheu o ar da sala, e duas mulheres estavam batucando par de saltos para dentro. Uma com muitos centímetros a mais do que a outra. — Vejo que está quase pronto. A maquiagem lhe caiu bem. Não é, Miyuki?
Miyuki era a garota de sapatos baixos e que parecia ter nada mais que 17 anos e ombros fracos. Claramente tinha conseguido ficar bonita com a ajuda de muita maquiagem e acessórios, e segurava as duas mãos com certa força na frente do quadril, tentando parecer tranquila, mas os olhos vidrados por trás dos óculos não deixavam dúvidas quanto ao seu nervosismo.
Apesar disso, quando ouviu o chamado da outra mulher, Miyuki conseguiu ajeitar a postura e descer os olhos rapidamente por Jungkook de pé. Uma outra sombra pousou no seu rosto como um todo, uma sombra de dúvida.
— Achei que usaríamos a camisa preta. E o colete…
— É claro que você está ótimo, Jungkook — a mulher elegante interrompeu a garota de imediato, aproximando-se repentinamente de Jungkook com um sorriso aberto e enérgico, deixando a outra ainda mais encabulada e nervosa. Miyuki agora não parecia não conseguir encarar Jungkook porque ele era uma celebridade gigantesca, mas porque havia algo de errado nele. Em alguma parte dele. — Vamos começar a primeira sessão em 10 minutos e logo depois vamos para a entrevista. Se quiser, trouxemos o dossiê com todas as perguntas prévias para você aprovar ou reler. Seu agente está com uma cópia também. Ele deve estar aqui depois de terminar o café no saguão. E ah, quase me esqueço, meu nome é Eunji. Sou a diretora executiva da sua campanha.
Ela estendeu uma pasta branca entre os dois, ainda sem tirar aquele sorriso confiante dos lábios. Jungkook estendeu a mão para pegá-la, virando os olhos debilmente para a garota atrás, que parecia louca para se agachar e começar a chorar.
— É um prazer, Eunji — ele disse, finalmente, sem olhá-la demais. A garota de óculos ainda o estava intrigando. — E Miyuki.
A japonesa ergueu a cabeça em um susto, mas Eunji se colocou à frente de novo:
— Caso algumas perguntas não forem boas, posso editá-las para você imediatamente. Não teremos câmeras, apenas o gravador. Nós nos concentramos nas informações do novo lançamento do grupo e do seu lançamento solo, que é uma informação passada a nós pelo seu agente. A edição da revista deve sair próximo à sua data de estreia, não se preocupe. E vou falar bem devagar, não teremos pressa.
Jungkook estava pronto para abrir a pasta quando ela falou a última frase. Seus dedos pararam no plástico grosso e se voltaram para a coreana sofisticada, franzindo o cenho em dúvida.
Você vai me entrevistar?
— Sim. A sua capa é muito especial para ficar na mão de novatas. Trouxemos pouquíssimas pessoas da equipe para esse projeto, ele precisa ser eficiente e andar rápido. É a minha especialidade — Eunji balançou a cabeça e os fios lisos do cabelo curto, sorrindo para Jungkook com o orgulho intacto. Parecia alguém que lia e relia o próprio nome em algum artigo da Vogue sempre que podia, como se a presença dela transformasse a revista em um grande sucesso da literatura americana.
A única reação de Jungkook, mais automática do que realmente consciente, foi de arquear as duas sobrancelhas em uma expressão de estranheza.
Seja o que fosse, Eunji não entendeu imediatamente. Mas com o silêncio dele, a mulher repassou a própria fala no pensamento e puxou o ar, lembrando-se de algo.
— Ah, quase ia me esquecendo! — Ela se virou um pouco para o lado e fechou a mão no punho tenso da japonesa logo atrás, puxando-a para a frente. — Essa é Miyuki Nagi, nossa nova editora. Ela está encabeçando a sua estadia, e estamos muito felizes de…
— O quê? — Jungkook pareceu ainda mais confuso. Em um lapso, olhou para Jimin ainda recostado na penteadeira, que parecia ainda mais alheio à tudo. — Encabeçando?
Eunji hesitou em sorrir, sem entender a reação do rapaz. Miyuki abaixou mais a cabeça, e talvez tenha fechado os olhos com força por um segundo.
— Sim, ela será responsável por fazer o senhor se sentir à vontade e bem quisto, além de escrever toda a sua matéria. Tudo que precisar…
Jungkook não a esperou acabar de falar. Em um segundo, largou a pasta fina em cima do tampo de cedro e olhou bem nos olhos de Eunji quando perguntou:
— Cadê a Candice?
Eunji piscou os olhos.
— Como?
— Onde está a senhorita Chaperman?
As duas se olharam. Eunji com confusão enquanto Miyuki com perturbação. Com aquele brilho de “ferrou, ferrou!”. Jungkook nem precisou olhar para ela por tanto tempo para entender tudo. Nem precisou deixar que Eunji falasse mais. Já estava na cara, estava tudo na cara. Maldito marketing.
Ele olhou para Jimin de novo pelo canto do olho, e até mesmo o amigo tinha entendido. Conseguia até mesmo imaginar a cena na cabeça: Candice, a estrangeira novata, ainda sem uma carreira sólida, dando o que falar na agência por motivos pessoais e sendo vetada de qualquer coisa que pudesse colocá-la para cima. Que pudesse lhe render mais notoriedade do que quem já estava tentando há anos.
— Ela deve estar na sala dela, no terceiro andar. Eu não entendi, senhor… — Eunji tentou explicar, mas Jungkook suspirou de cansaço, e passou uma mão levemente no rosto.
— Vim aqui a convite da senhorita Chaperman, e são as perguntas dela que vou responder. Onde ela está?
Agora as duas não pareciam mais tão confusas ou emparedadas como pareciam antes, transformando a expressão em pensativas e desesperadas. Como se estivessem em uma prova importante com tempo definido no relógio para responder.
Eunji engoliu em seco discretamente, e torceu um pouco os lábios quando se virou para o rapaz novamente, como se dar aquela resposta fosse desagradável:
— Senhor Jeon, isso não vai ser possível. Somos muito gratas à senhorita Chaperman por tê-lo convencido a aceitar ser a nossa capa, mas esse não é mais o trabalho dela. Por ética da empresa, ela não está autorizada a se envolver com o senhor e nem com os seus… colegas — ela olhou discretamente para Jimin parado logo ao lado. O rapaz automaticamente arregalou os olhos com choque indignado.
— Hã? Vocês roubaram o trabalho da Candice? — Jimin se desencostou da penteadeira. As orelhas de Miyuki ficaram escarlate. Eunji arregalou os olhos de horror.
— Não! É claro que não!
— Eu sabia que isso não era uma boa ideia — a garota japonesa murmurou consigo mesma, mas não saiu exatamente em um sussurro. Jungkook prestou atenção nela, viu aqueles olhos vidrados vasculharem o ambiente em milissegundos, como se procurasse uma rota de fuga.
— Então foram vocês que colocaram ele nessa roupa ridícula? Eu sabia que por mais que Candice não fosse com a sua cara, jamais faria isso com você — Jimin balançou um braço, um pouco agitado. Eunji ainda parecia encabulada, tentando controlar os nervos.
— A roupa é da coleção de primavera verão da Hermés, senhor Jeon. Esse editorial já estava programado para ser…
Ela parou de falar assim que o viu se desfazer de botões e tirar o blazer verde ridículo, e também aquilo que imitava uma gravata.
— Tá legal, me diz onde a Candice está — grunhiu ele, começando a sentir os picos óbvios de aborrecimento.
Eunji tentou olhar para Miyuki, mas não havia ajuda daquele lado.
— Senhor Jeon, nós não…
— Tudo bem, então me aponta a sala do seu superior, ou de quem quer que tenha tido essa ideia de merda de tirá-la do trabalho. Quero uma pequena reunião.
Ele foi sério e autoritário. Até mesmo Jimin o olhou impressionado. Ele não estava com a mandíbula cerrada como quem se prepara para dar um soco em um homem, mas também não estava calmo. Tranquilo. Sossegado. Que as mulheres soubessem disso.
Por sorte, Eunji entendia rápido. Mesmo que não quisesse entender.
— A senhora Shin está lá em cima, mas ela não recebe ninguém sem agenda. Ela não…
— Ótimo. Jimin, vem comigo — Jungkook não se preocupou em bagunçar o cabelo impecável, e começar a caminhar para a porta. — E liga para o Jungjae antes que ele acabe com todo o café instantâneo de graça do lugar. Vamos precisar dele.
— Um barraco? Adorei! — Jimin deu um risinho e puxou o celular do bolso, deslizando nas teclas enquanto acompanhava Jungkook para fora.
As outras presenças na sala não sabiam o que fazer. Eunji o viu passar por ela e abriu e fechou a boca, sentindo como se Jeon Jungkook fosse a água de um copo de vidro, e essa água estivesse escorrendo pelos seus dedos. Uma água muito importante!
— Senhor Jeon, o senhor não pode sair assim! — ela se viu falando um pouco mais alto, exasperada, virando-se para ele agora sem esconder os dentes cerrados. — Vamos começar em 7 minutos! Temos horários marcados, aluguéis em andamento, funcionários, fotógrafos terceirizados, maquiagens…
— Com todo respeito, senhorita, mas odeio que brinquem com meu tempo e disponibilidade — Jungkook parou e se virou, e nem dava para acreditar que aquela postura era realmente dele. — Vim aqui por causa de Candice Chaperman, e se não for ela a conduzir toda essa sessão, podem dar adeus a sua capa mais valiosa da primavera. Vem, Jimin.
Jungkook saiu. E Jimin sorriu para Miyuki antes de segui-lo.

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Candice nunca foi boa em jogos de computador.
Por incrível que pareça, não esperava que Gook Doo, seu ex assistente e agora seu redator, soubesse de algo sobre eles. Havia muitos motivos, sim, para relacionar aquela imagem mirrada e nerd frágil em uma poltrona confortável, com os olhos vidrados em cores berrantes e sons ensurdecedores de armas e gritaria nos fones enquanto ele bebia uma cerveja e comia salgadinho por uma noite inteira, mas é que essa imagem não estava mais ali. Gook Doo não parecia mais pertencer ao recanto nerd de qualquer universidade, e sim, ao recanto de nerds gostosos, aqueles que tinham a beleza e a inteligência finalmente equilibradas.
Candice demorou para ver essas mudanças nele, e mesmo quando viu, achou que poderia ser melhor. Não importava para ela de qualquer jeito. A partir do momento em que ele gaguejava de novo ou colocava um joguinho de paciência em seu computador, ele retornava àquela imagem simplista do garoto de óculos que tropeçava nos sapatos lustrosos de 6 meses atrás. Totalmente anti atraente.
Francamente, nada estava atraente para Candice naquele maldito dia.
— Por que eles não me deixam saltar? — Ela grunhiu em frente à tela colorida no momento exato em que seu boneco bateu em um bloco e perdeu a vida mais uma vez.
Gook Doo levantou os olhos dos papéis em cima de sua mesa, na outra extremidade da sala.
— O quê?
— Eles não me deixam saltar por cima dessa coisa flutuante. Ela não pode parar por um segundo pra eu conseguir pular pra outra? Como eles querem que eu avance se jogam esses tijolos em cima de mim? E o rio com jacarés, francamente! Não podem fazer meu boneco saber nadar? Como eles querem que eu suba de nível se existem 29 rotas de morte e 1 para a vitória! E eu não aguento mais moedas! — Candice rosnou quando apertou o teclado com a força de um soco, falando um palavrão emendado em outro, o rosto vermelho de estresse e frustração muito além de um jogo.
Gook Doo sabia disso. Faziam exatas 2 horas e 17 minutos que Candice tinha retornado da sala onde nenhum funcionário pisava e saía com o mesmo sorriso – talvez Eunji, a superior direta de Candice, mas isso já tinha tantos anos que os históricos já foram recomputados. A CEO da grande filial da Vogue carregava uma reputação quase sagrada, e mesmo que você saísse daquelas quatro paredes com uma carta de demissão, ainda se sentiria grato pela generosidade dela em fazer isso pessoalmente.
Candice achava tudo isso também. Até ir parar lá e levar um banho de água fria. Gelada, abaixo de zero. Um bloco de gelo atingindo bem no seu nariz.
Gook Doo fez o que fazia de melhor: ouviu. Ouviu direito. Falou quando precisava falar e murmurou quando precisava murmurar. Na maior parte do tempo, ficou quieto, absorvendo tudo até que Candice parasse e ele conseguisse entender. E dizer.
Mas daquela vez, ele não foi capaz de dizer nada. Não era ingênuo, mas era facilmente surpreendido quando as atrocidades de dramas de TV aconteciam bem do seu lado. Como chefes poderosas roubando seu trabalho bem na sua frente, sem o menor pudor.
Ele sentiu uma solidariedade aguda por Candice, que segurou toda a vontade louca de chorar e juntar suas coisas com maestria, com toda a sabedoria de alguém que sabia colocar a cabeça no lugar, pelo menos nos momentos cruciais. Pedir um joguinho qualquer para distraí-la foi sua melhor forma de se desligar por um minuto e não saber o que estava acontecendo porta afora de sua sala, onde sua capa magnífica e milionária de setembro estaria zanzando pelo prédio, usando as roupas, os brincos e os sapatos que ela não tinha escolhido.
Era difícil saber disso e não poder fazer nada. Seria ainda mais difícil ver.
Suspirando, ele se levantou de trás de sua mesa e andou até Candice, vasculhando sua tela em busca da dificuldade. O boneco escolhido era o mesmo de horas atrás: um híbrido de unicórnio vestido de Papai Noel, que não era nem de longe o personagem mais forte do acervo, mas sabia que Candice não considerava capacidades como atributo para se reparar. Beleza era onde seus olhos focavam primeiro. Tipos de charme que somente ela enxergava.
— A senhorita precisa pular mais rápido — explicou, com a voz paciente e mansa. — A pedra avança muito mais rápido à medida que você avança de nível, e eu avisei sobre se equipar com os tênis de propulsão. Não usou as moedas para comprá-los na lojinha?
— Aquela coisa verde e horrorosa? Não combina com o resto da roupa vermelha da Benny — Candice arqueou uma sobrancelha, acreditando no motivo plausível. Gook Doo não soube o que responder, e ela estalou a língua — Tudo bem, pode deixar, vou colocar os tênis medonhos e botar pra quebrar nessa prancha idiota. Também consigo trabalhar duro diante das adversidades, sabia? Aliás, eu trabalho duro sempre. Não vou me deixar acreditar que não só porque outras pessoas não percebem isso. Eu não…
— Senhorita Chaperman!
O grito engasgado entrou na sala na forma de uma mulher jovem com saltos ainda maiores do que os de Candice e um terninho da mesma cor que a roupa do unicórnio. Candice e Gook Doo se viraram na direção dela com susto genuíno.
— Senhorita Chaper… Candice… Você precisa vir.
— O que é isso, Soo Ah? Você está bem? — Candice se colocou de pé e andou até a secretária, colocando uma das mãos nos ombros que subiam e desciam com a respiração ofegante da mulher. — Qual é o problema, por que correu assim? Esqueceu que é asmática? Preciso ligar pra sua mãe e pedir uma bombinha extra de novo?
— Não, não! Eu estou bem! Tá tudo bem! — Soo Ah balançou as mãos em frente ao rosto espantado e pálido — Mas… Aconteceu uma coisa na sala da senhora Shin. Você precisa ir pra lá imediatamente.
— O que tem a senhora Shin? — Candice gelou por um momento. Já tinha feito sua rota até a sala da mais nova megera naquele dia, e jurou que não precisaria fazer a mesma coisa pelo resto do ano.
A secretária engoliu em seco, recuperando o fôlego aos poucos.
— Acontece que Jeon Jungkook exigiu falar com ela depois que soube que você não faria a matéria dele. Ele simplesmente… invadiu.
Candice prendeu e soltou o ar ao mesmo tempo, afastando-se de Soo Ah a um passo pequeno enquanto esbugalhava os olhos conforme a informação ia se tornando completa.
— Jungkook fez o quê?! — Ela cerrou os dentes na mesma hora, fechando as mãos em punho. Uma gota de pânico pingou no seu estômago. Cenários catastróficos estavam saindo da caixinha.
— Eu não sei exatamente o que ele foi fazer lá — Soo Ah trocou o peso de uma perna para outra, parecendo ainda nervosa. — Miyuki só me disse que ele teve uma discussão com Eunji no camarim e subiu para a sala da senhora Shin, eu não sei mais…
— Aquele filho da mãe — Candice bufou com força, olhando para os lados em busca do celular, mas não havia tempo. Quando viu, estava acenando para Gook Doo, mais como um gesto de costume do que um gesto de pedido e saiu trotando porta afora, andando o mais rápido que seus sapatos permitiam, torcendo para que Jungkook não a fizesse perder o emprego.

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Jungkook detestou o olhar dela assim que pairou no vão da sala, encarando os cabelos negros e escorridos por trás da mesa larga de vidro. Ela o vasculhou de cima abaixo com um brilho faminto, como se ele fosse um presente embrulhado e generosamente entregue em seus aposentos, um presente às suas ordens. Ela não parecia nem um pouco que gritaria pelos seguranças.
Em vez disso, ela pediu educadamente que o maknae se sentasse e que os outros dois cavalheiros – Jimin e o desligado Jungjae – se acomodassem em outro assento no canto da sala, ficando a vontade para se servirem dos biscoitos e do café o quanto quisessem. Jungjae não perdeu tempo.
Já fazia 15 minutos que Jungkook tinha repetido seu discurso claro e límpido: o trabalho era de Candice Chaperman e era apenas com ela que ele falaria. Sair fazendo as próprias regras de repente era quebra de confiança. Quebras de muitas coisas no mundo profissional.
Seja lá o que Shin Kwang Ho representava no mundo corporativo da moda, Jungkook não parecia nem um pouco intimidado pela plaquinha de CEO. Sua voz era baixa e tranquila, exigindo e reiterando coisas apenas uma vez, com firmeza, para se fazer entendido. Jungjae quis se levantar pelo menos duas vezes, porque aquele olhar taciturno no rosto de Jungkook não era lá uma atitude de muito respeito a quem estava pagando as coisas ali, mas que se dane. Ele faria o trabalho de graça se precisasse, porém se fosse para a pessoa certa.
Kwang Ho esperou que ele terminasse para abrir a boca e dizer alguma coisa, mas viu-se de repente sem uma resposta concreta, matutando em torno de uma. Estava pronta para tentar alguma coisa quando a porta se abriu repentinamente de novo, e mais gente estava entrando por ela sem mais nem menos.
— Não escute o que ele diz, senhora Shin! — Candice marchou para dentro com a respiração rápida, chamando todos os olhos para si, caminhando com determinação até a mesa da presidente. — Eu não reclamei de nada, eu juro. Não pedi uma retratação e principalmente não pedi pra me colocarem de volta — ela trincou os dentes na direção da poltrona de veludo onde Jungkook estava sentado, a mesma em que ela estava há duas horas atrás. Ele abriu um sorrisinho fino para ela.
— Bom dia, Candice.
— Bom dia coisa nenhu… Deus, que roupa ridícula é essa? — Ela arqueou as sobrancelhas com a visão agora integrada da roupa de seda reluzente e aquele penteado engomadinho e perfeito que o deixava parecendo alguém saído da Inglaterra dos anos 20 – e isso não era um elogio.
— Eu falei — Jimin murmurou na outra extremidade, balançando a cabeça em negação.
— Ela é a nossa cuidadora? — Jungjae, em sua voz extremamente elegante, olhou para a loira enquanto automaticamente consertava sua gravata.
— Chame ela assim na frente dela pra você ver o que acontece. E aí, Candice — Jimin acenou animadamente um cumprimento, fazendo-a olhar para trás e perceber sua presença. Ela se limitou a um sorrisinho discreto e voltou-se para o que interessava.
— Eu sei, a roupa é medonha. Mas pensei que era exatamente o que você queria que eu usasse: algo que destruiria minha singela reputação — Jungkook abriu um sorriso irônico. Candice riu sem humor.
— Por que eu correria o risco de perder dinheiro te colocando em uma fantasia de espiga de milho? Deixei um monte de preto, couro e ternos separados pra você. Deixei a merda de uma guitarra pra você! Tinha até câmeras antigas que peguei emprestado de , câmeras VHS ou sei lá o quê, eu daria o que o público queria. Se toca, Jungkook — ela bufou mais uma vez, pronta para exigir que ele retirasse o que disse, mas então notou aquele sorriso cafajeste e se virou para a mesa rapidamente, vendo Kwang Ho encarando-a através das lentes finas com uma expressão muito perto da repreensão.
Candice se empertigou imediatamente.
— Quero dizer, essa capa não é mais minha, eu não tenho que dizer se ela está boa ou não, ou do que ela precisa ou não. Eu sinto muito por essa situação, senhora…
— É bom que sinta, senhorita Chaperman — Kwang Ho suspirou enquanto levava os dedos para cima e abaixava os óculos lentamente para o peito. — Porque motivar uma confusão dessas com certeza não é a melhor estratégia para me fazer mudar de ideia.
Jungkook franziu o cenho. Candice arregalou os olhos de pânico.
— Não, eu não motivei nada! Eu não pedi para que ele…
— Senhor Jeon, permita-me explicá-lo novamente das nossas regras — ignorando Candice, Kwang Ho apoiou os dois antebraços no tempo, olhando para Jungkook. — A partir do momento em que Chaperman ou qualquer outra funcionária se envolve romanticamente e publicamente com uma celebridade, ela perde o direito ao vínculo profissional com essa pessoa na empresa. Estando nesse ramo há mais de 10 anos, você deve saber do que eu digo. Não estamos trabalhando para você, rapaz, e sim com você, trazendo benefícios mútuos. Que diferença faz quem redige o seu nome na matéria ou te faz algumas perguntas?
— A diferença é o mérito. Ou você acha que recebi esse convite ontem? — Ele respondeu, novamente tranquilo, novamente sem uma lasca de intimidação. — Não, senhora Shin. Recebo o seu e de mais 500 revistas todos os meses, todos os dias e várias vezes por hora. Meu agente aqui pode te confirmar essa informação. Ele sempre foi instruído a rejeitar todas, mas fiz questão de abrir uma exceção para vocês. Fiz questão de abrir um único e-mail. Adivinha qual era o nome assinado nele.
Kwang Ho inflou as narinas ao direcionar os olhos para o homem de meia idade em um terno italiano no fundo da sala, que balançava pacientemente um copinho médio de café enquanto não tirava os olhos da cena.
— Várias de nossas funcionárias mandam…
— Não me interessa. Aceitei o de Candice Chaperman e vou posar para Candice Chaperman, responder as perguntas de Candice Chaperman e usar as roupas que Candice Chaperman me disser pra usar. Se não aceitar isso, vou direto para o estacionamento e pagar a multa de quebra de contrato em um piscar de olhos. Se acha que pode mudar de ideia, então vai estar com um grande lançamento na semana que vem.
Jungkook aproximou o queixo para perto da mesa, e nada nesse mundo teria coragem de olhá-lo fundo naqueles olhos ditadores, determinados. Estava novamente naquela aura blindada de aproveitadores, o lado que a fama e o sucesso lapidaram com o passar dos anos. Não parecia nem um pouco com um jovem de 24 anos, parecia um homem arisco com 50 anos de experiências nas costas, a ameaça em pessoa, sem vestir qualquer metáfora na língua. Ele estava falando sério, e tanto Candice quanto Kwang Ho se recolheram um pouco sem notar, vivenciando um frio na espinha que passou tão rápido quanto surgiu.
Elas não podiam pensar que 10 milhões de dólares faziam alguma diferença pra ele.
Kwang Ho tamborilou os dedos em cima de um livro perfeitamente ordenado na mesa, sustentando aquele olhar gelado enquanto o seu queimava de fúria. Quem esse moleque pensava que era? Onde tinha aprendido a falar assim?
— Você é bem convencido… — ela disse com os dentes trincados e enraivecidos. Jungkook tornou a voz mais grave.
— Sou realista, senhora Shin. Joga nas ruas e espere o resultado. Está se iludindo se acha que não está trabalhando para mim — ele apoiou o dedo indicador na mesa, bem em cima do contrato ao qual assinou logo que chegou. — E eu só tenho essa exigência: ou devolve o trabalho pra Candice Chaperman ou esqueça sua melhor capa. É pegar ou largar.
Candice pensou em chiar uma repreensão para Jungkook, mas não conseguiu emitir nada. Piscou os olhos freneticamente, chocada, assustada, ainda com medo da carta de demissão, mas com muito mais medo agora de que Kwang Ho rejeitasse tudo e mandasse todos para fora. Candice já tinha ouvido falar sobre os ímpetos de coragem da CEO – que passar pela sua régua de limite era uma atitude a se tomar uma única vez, porque ela faria questão de que você nunca mais a visse na vida. Essa metáfora esclarecia bastante coisa que Candice tinha presenciado desde que se mudou para Seul, vários exemplos de ideias mal sucedidas que tinham ido parar direto no lixo. Ideais grandes vindas de pessoas grandes. Shin Kwang Ho não se intimidava, ponto. Mas Jeon Jungkook parecia um caso diferente.
Ele representava sucesso não apenas na Coreia, mas no mundo inteiro. Significava aumento em todas as partes do globo. Por mais que seu orgulho inflasse e a fizesse odiar com todas as forças ser amedrontada daquele jeito, ela estaria jogando bilhões de wons pela janela. Centenas de milhares de dólares. Um número exorbitante que mal dava para compactar.
Com isso, ela olhou para Candice de pé, a fortaleza brilhante em cima de pernas deslumbrantes, e torceu a boca antes de murmurar:
— Reúna a equipe — e um segundo depois, estava se colocando de pé, voltando a recolocar os óculos. — Faça o que ia fazer antes. Preciso fazer umas ligações e traçar metas bem impossíveis para essa capa. Veremos se você é mesmo capaz — e juntando pastas e um tablet, Kwang Ho se virou para todos com o rosto taciturno. — Agora saiam da minha sala, por favor.
Em um segundo, a mulher desapareceu por outra porta lateral à sala quadrada, deixando um silêncio vazio e profundo no cômodo.
Candice ficou imóvel, absorvendo o que tinha acabado de acontecer, tendo certeza que “traçar metas impossíveis” não esclarecia muita coisa quanto à decisão de sua chefe, mas só de não ter escutado a palavra DEMITIDA já estava de bom tamanho. Se Kwang Ho queria dizer que estava dando-a um ponto de confiança, Candice aproveitaria isso e muito.
Mal percebeu quando Jungkook se colocou de pé, afundando as mãos nos dois bolsos da calça de tecido esverdeado.
— Ela só está tentando te assustar — disse ele, chamando sua atenção. — Acredite, esse é o discurso favorito dos chefões daqui. Ela sabe que não existe metas impossíveis pra você. Então esteja pronta pra assustá-la de volta.
Candice abriu e fechou a boca. Na hora que o viu, tinha tanta coisa pra gritar, pra surtar, pra se zangar com ele naquela manhã apenas com a ideia de que ele poderia colocar tudo a perder, que fosse manchá-la para toda a agência e condená-la a nunca mais sair do lugar. Mas agora, ali, dentro daquela roupa que não lhe combinava e com aquele sorriso confiante e cafajeste, as palavras morreram na garganta. Uma simpatia tremenda por ele tomou o lugar do aborrecimento, e ela quase teve vontade de abraçá-lo. Quase.
— Lamento por isso — ela apontou para todo aquele verde, esboçando uma leve careta. Jungkook apenas deu de ombros.
— Só me mostra onde está todo o seu preto e couro que estamos resolvidos.
Ele começou a se virar para a porta. Candice umedeceu os lábios.
— Você fez uma grande estupidez — falou, cruzando os braços de forma hesitante. — Não foi nada inteligente falar com Shin Kwang Ho daquele jeito. Ela tem uma enorme influência no meio editorial, e pode fazer com que ninguém mais queira virar uma lente pra você. Mas… — ela coçou a garganta, revirando os olhos. — Ela seria mil vezes mais estúpida se fizesse isso, então obrigada. De verdade. Não pedi pra você fazer isso, mas não sou ingrata. Você foi demais.
Jungkook mostrou os dentes no próximo sorriso, um que claramente deixaria Candice furiosa por dentro e por fora, mas ela relevou. Ele tinha o direito de sorrir do jeito que quisesse hoje.
— Não foi nada, Chaperman. Só estou pagando uma dívida, lembra? E ah — Ele andou um passo e se virou novamente, inclinando-se para perto dela para sussurrar: — Também estou ajudando a família da minha namorada. Então trate de usufruir de mim o máximo que puder pra agarrar sua promoção. Agora vamos logo, ainda quero ter um encontro hoje à noite.
E a próxima coisa que viu foi Jungkook se virando para Jimin e seu agente agora debatendo sobre algo animadamente já perto da saída, agora com novos copinhos de café e biscoitinhos amanteigados. Candice ficou um tempo parada atrás deles, piscando os olhos com descrença por um minuto inteiro até soltar uma risada perplexa e descruzar os braços, empinar os ombros e desfilar para fora da sala.
— Você está certo, vamos logo — e abrindo caminho entre os rapazes, ela se virou para Jeon com um sorriso ferino: — Mas não se esqueça que, hoje, você trabalha pra mim.

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Candice: “Posso tirar a camisa do seu namorado?”
“De forma profissional, é claro”
“Os fotógrafos estão loucos por isso.”
“Esquece, Benjin está quase salivando só de olhar pra ele de couro, se vê-lo sem camisa vai rolar uma denúncia de assédio, e Deus me livre de mais problemas hoje.”

Jungkook: “Me desculpa, queria almoçar com você. Mas as coisas por aqui se complicaram mais do que pensei.”
“Relaxa, Candice vai te contar tudo depois”
“Jantar, às 8. Te pego onde você estiver.”
“Preciso ir, te ligo mais tarde.”
“Parece que não vou precisar ficar sem camisa. Só alguns botões abertos”
“Te amo”


estava digitando o eu te amo da resposta quando esbarrou em ombros largos e rígidos assim que passou pela porta do Rudy’s, um lugar que parecia não renovar a pintura nos últimos 6 anos. Ou era o típico desleixo proposital dos estabelecimentos mais badalados da cidade.
— Nossa, isso doeu — Changmin gemeu e esfregou o ombro com zombaria, fazendo revirar os olhos e rir pelo nariz.
— Muito engraçado, senhor Ji. Achei que estaria me esperando em alguma mesa.
— Você demorou a chegar. Não achei que “estou a caminho” também fosse uma metáfora pra você, e não uma realidade.
— Eu estava a caminho. Depois que saí da agência — guardou o celular nos bolsos de trás, olhando furtivamente para os lados. — Onde está a mesa? Vamos…
— Que tal sairmos daqui? — ele interrompeu, andando mais um passo para fora, flexionando os dedos para tocar na curva de seu cotovelo como sempre fazia. — O lugar tá lotado, e tentar resolver negócios com adolescentes desembalando álbuns de k-pop é um porre. Um pouco de privacidade é sempre bom.
franziu o cenho. Não apenas para o discurso, mas porque, bem, o lugar parecia normal. Não estava nem perto de lotado.
— Não tem adolescentes aqui — vasculhou o lugar rápido. Não achou nada significantemente adolescente no recinto. — E não vamos demorar. Marcaram outra reunião hoje na agência para falarem sobre a situação de pós lançamento dos garotos. Não posso nem sonhar em chegar atrasada.
— Mudar de lugar não vai nos atrasar — ele insistiu, agora pegando em sua mão completamente. — Vamos lá, tem uma cafeteria ótima aqui do lado. Quem sabe até…
— Ok, tudo bem — automaticamente afastou sua mão da dele, um pouco desnorteada. Estava notando pela primeira vez como ele sempre fazia aquilo mesmo. E que estava na hora de estabelecer alguns limites — Vamos.
tratou de andar um pouco mais rápido na frente, deixando o fotógrafo para trás com um rosto confuso. Changmin logo esqueceu e seguiu atrás dela, ajeitando a bolsa pasta nos ombros.
— E então, tá tudo bem com você? — Perguntou, com um sorrisinho simpático.
— Tudo ótimo. Tenho algumas ideias muito boas para aquele problema na iluminação que comentei com você antes.
— No dia em que um certo maknae interrompeu a nossa conversa? — Changmin levantou uma sobrancelha. olhou para ele de canto. — Ainda estou meio chateado de ter sido enxotado por aquele energúmeno para o meio da rua no meio da tempestade, e espero muito que você tenha chutado aquele babaca de…
— Não temos que falar disso — cortou, cruzando os braços na frente da barriga. — E eu gostaria que você não o chamasse assim.
Changmin teve reações imediatas e indecifráveis. Primeiro, seus olhos fitaram com desconfiança, uma desconfiança que torcia para que o que estava percebendo fosse um engano, fosse errado, do jeito que era mesmo. Mas então, quando viu que ela falou firme o bastante, a raiva queimou no estômago antes de queimar o resto do corpo. Ele se controlou para não inflar as narinas e deixar explícito sua vontade de socar uma janela de vidro.
— Ah… Então foi isso. Ele conseguiu, não é?
O sorriso era deslocado, venenoso. umedeceu os lábios.
— Conseguiu o quê?
— Ter você de volta. Colocar o time de volta em campo. Todas as metáforas do mundo para reconquistar.
parou na calçada e se virou para Changmin, piscando os olhos freneticamente, sem uma resposta pronta na ponta da língua. Negar era a primeira e correta coisa a se fazer, principalmente depois da conversa e dos avisos que compartilhou com Jungkook no carro aquela manhã, mas algo naquele olhar intenso de Changmin a pegou de surpresa. Uma intensidade que contornou toda a sua voz igualmente.
— De volta? — juntou as sobrancelhas. Ele não parecia estar supondo, como Yoona vivia fazendo, ele estava informando. Não havia um pingo de dúvida naquela frase. E ela tinha certeza que nunca contou nada para ele.
O rapaz não se mexeu por quase um minuto, contorcendo-se por dentro ao ter deixado algo que não deveria escapar, escapar.
Bom, agora as coisas já estavam declaradas.
— Acho que você ainda não entendeu como posso ser observador — disse ele, voltando a forçar um sorriso convincente. — Restava saber um nome, . Mas estava claro que você estava sendo alvo de interesse de uma grande estrela. Alguém que precisava manter segredo.
arqueou as duas sobrancelhas. Changmin estava ficando maluco? Ela guardaria segredo até mesmo se estivesse de coração partido pelo padeiro! Era uma questão além do quem, mas sim do porquê. Ela não contaria das feridas de seu coração com tantos detalhes porque isso a faria vasculhar o que não queria, como sua crença de que Jungkook não a amava.
No entanto, pensando racionalmente, não precisava ter o talento de Ji Changmin em observar pessoas para adivinhar o que se passava entre ela e Jungkook depois de toda aquela cena na cafeteria.
E talvez, em um momento de derrota onde ela não foi capaz de se lembrar do aviso de seu namorado na mesa do café da manhã – sobre confiar em Changmin, dá-lo o benefício da dúvida e blá-blá-blá –, pensou que era inútil fingir.
— É. Podemos dizer que sim. Ele me conseguiu de volta — ela disse com um levantar de ombros que encerrava o assunto, recomeçando a andar logo em seguida. — Agora vamos? Não tomei café direito e iria amar um expresso duplo.
As costas dela tomaram sua panorâmica, e Changmin ainda levou um tempo para segui-la. Levou o tempo que fosse necessário para que aquele fervor de raiva tomasse o espaço que quisesse no peito e contorcesse seu rosto sempre tão simpático em um retrato de pura fúria. Muito bem, Changmin, se acalma, se controla. Lembre-se de sorrir, sempre sorrir.
Nunca foi tão difícil sorrir. Nunca foi tão difícil segurar as pernas no mesmo lugar e não ir atrás daquele cantorzinho de merda. Porra, sempre Jeon Jungkook!
Por um momento, ele achou realmente que ela o tinha mandado embora naquele dia de chuva. Tinha visto desespero nela para se livrar dele. Tinha visto a necessidade de ficar longe, o aborrecimento pela sua presença. Achou que , por mais que sentisse o que sentisse, seria racional sobre a realidade que estava inserida. Em que planeta essa garota pensava que poderia ficar com ele? Depois de tudo, porra? Ela não pensava em consequências? Não pensava em Ali Dalphin, não pensava que o que aquele idiota sentia ainda era muito incerto? Que ele podia balançar, repensar, transtornar pela mesma loira de antes? Como pode ter se entregado a ele daquela maneira?
Ela parou de novo quando notou que estava sozinha na calçada. se virou para trás, encontrando Changmin no mesmo lugar, e um lapso do rosto retorcido em cólera passou pelo canto de seus olhos antes que ele notasse que estava sendo observado e retornasse ao que sabia fazer de melhor: sorrir.
— Está tudo bem com você? — perguntou ela, genuinamente preocupada. Changmin limpou a garganta e moveu as pernas longas em passadas largas até estar de novo ao lado dela.
— Tudo bem. Só uma enxaqueca de repente, é sempre assim na mudança de estação — ele sorriu ainda mais, inclinando a cabeça para a faixa de pedestres — Expresso duplo, então.
— E donuts de pistache — ela deu uma risadinha manhosa e seguiu adiante quando o sinal ficou verde para pedestres. De perfil, Changmin sentiu ainda mais ódio do quanto ela ficava bonita quando sorria daquele jeito e em como parecia estar, finalmente, amolecendo com ele. Se abrindo, aos poucos, nem que fosse no sorriso, nos gestos, na forma de falar. Como ele estava chegando perto! Mas agora parecia estar ainda mais longe, mais distante do que nunca.
Ele não fazia ideia de qual era o nome do que estava sentindo, mas sabia de uma única coisa: Jeon Jungkook estava brincando com fogo. E Changmin iria garantir que ele se queimasse.


[ 44 ] – Taking no chances; close, but never close enough

🎵 Ouça aqui:
All My Own Stunts - Arctic Monkeys

“O sofrimento dança devagar
Ao redor das bordas dos olhos dela
﹝...﹞
Estive assistindo filmes de caubóis em tardes melancólicas
Tingindo a solidão
Coloque seus sapatos de dança
E me mostre o que fazer
Eu sei que você tem o jeito.”

precisava concordar: os números eram impressionantes.
Mais do que isso, eram exorbitantes. Caríssimos. Chocantes. Por um momento, ela se perguntou se eram mesmo reais.
Mal estava escutando o que saía da boca de Sooyoung lá na frente, que gesticulava e sorria como ela achava que era pertinente sorrir, apertando incessantemente o botão médio do controle do projetor enquanto passava imagens e gráficos, explicando um sucesso que, honestamente, não precisava ser explicado com tantos detalhes técnicos, mas, para a coletividade daquela sala, era o esperado. Foi uma das coisas que aprendeu sobre o meio do entretenimento desde que embarcou nele: talento fazia apenas 50% do trabalho. De resto, uma boa equipe de bastidores era mais do que crucial para alavancar os números até o céu. Triplicava exponencialmente qualquer coisa com um mísero de potencial.
O TXT não tinha apenas um mísero, mas eram novos no mercado, e sabia que o triunfo inicial que tiveram no debut, há menos de 3 anos atrás, teve mais a ver com os veteranos já bem estabelecidos na empresa do que por sua qualidade em si, mas aquele lançamento atual… Ah, aquele êxito de agora, os números de agora, eram deles. Totalmente deles. Não havia necessidade de traçar nenhuma linha para ligá-los ao BTS. Eles eram um sucesso.
Yoona praticamente segurava lágrimas ao bater palmas no fim da apresentação. Lá atrás, Wonnie sentia o mesmo, apertando a prancheta que carregava para lá e para cá junto ao peito, pronta e atenta a qualquer mudança de planos ou acréscimo de atividades que ou Sooyoung dissessem, igualmente emotiva e realizada. Seojun apertou as mãos de seu colega de setor com força, aparentemente restabelecendo as pazes depois das inúmeras discussões e atritos sobre os figurinos. Os demais roteiristas, diretores, produtores, designers e assistentes gerais compartilhavam da mesma vibração.
— Eu estou nessa indústria antes mesmo de vocês nascerem, e digo com propriedade que esse é um dos melhores lançamentos da nossa marca. Esses garotos provaram essa semana que ninguém pode pará-los, e alguém vai tentar isso, podem ter certeza, mas vamos continuar seguindo em frente e mantendo nosso nome no topo. Com isso… — ela voltou a ligar o projetor, com o sorriso aumentando. — Vamos discutir sobre o repackage.
Mais uma sessão de burburinhos e, finalmente, iniciou-se a reunião mais importante do dia, a que tanto não podia se atrasar depois do encontro com Changmin. Sooyoung fez apontamentos de possíveis melhoras no material do audiovisual, apresentou ideias já pré-selecionadas de 2 ou 3 músicas novas com base em um algoritmo das redes sociais, o que os levaria para a criação de um novo conceito que, na verdade, não era tão novo assim, mas precisava ser inovador e se entrelaçar com o lançamento recente, os prazos para a divulgação em shows musicais, e tantos outros tópicos que nem percebeu o tempo passar. Tomou notas de quase tudo e, quando estava pronta para se levantar e sair no fim, ouviu a voz grave e autoritária de suas costas:
.
Sooyoung estava parada perto do projetor, e mal levantou a cabeça quando chamou. olhou de um lado para o outro, mesmo que existisse apenas ela com aquele nome, e despediu-se de Yoona com um sorrisinho antes de caminhar para a diretora.
— Pois não, senhora Kang — disse em seu melhor tom formal. Sooyoung terminou de desligar os aparelhos e ergueu as costas.
— Já conversamos sobre esse senhora, querida — a mulher abriu um sorriso enfadonho, que só se parecia assim porque sorrir não era lá muito a sua praia. murmurou um pedido de desculpas. — Espero que tenha ficado feliz com os nossos resultados de hoje. Você contribuiu muito para isso.
— Ah… — As bochechas de arderam na mesma hora. — Que isso, senh… Sooyoung. Todo mundo trabalhou muito, a vitória é de todos nós.
— Claro que é, vou fazer questão de reforçar isso com cada um deles. Mas gostaria de falar com você primeiro — ela se aproximou a um passo, entrelaçando os dedos das duas mãos à frente do colo. — Confesso que desde que você e Gong Yoona entraram na minha sala há alguns meses para uma reunião de proposta de conceito para a nossa próxima edição do TXT, passei a achar que os jovens de hoje em dia estavam ficando ousados demais. Não colocava nem um pingo de fé em vocês. Sabe, somos uma empresa grande com responsabilidades ainda maiores, e temos essa mania de pensarmos imediatamente em nomes excelentes para compor nosso time sempre que vamos iniciar um novo trabalho, mas vocês nos surpreenderam. De verdade. Parece até que vieram de anos luz do futuro.
não segurou mais o sorriso. Não era necessário. As palavras de Sooyoung a deixaram sem uma reação decente em palavras, mas o brilho de felicidade no rosto de , que já estava brilhando muito antes daquela conferência, não precisava de explicação.
— É muito bom ouvir isso, Sooyoung — respondeu ela, genuinamente grata, genuinamente aliviada. Aqueles gráficos complexos que representavam números monstruosos significavam muito para em sua primeira grande experiência como diretora de fotografia. Significava que pessoas também podiam ser parte de seu talento, que ela poderia traçar planos em cima disso e ter novos sonhos e objetivos, mesmo depois de já ter estado envolvida com coisas que provavelmente não deveria. passou tempo demais achando que não merecia sucesso, não merecia reconhecimento ou algum prestígio depois de ferrar indiretamente tantas pessoas que nem queria ferrar com sua câmera de lente angular da LA Parker. — Muito obrigada. Fizemos o nosso melhor.
— É claro que fizeram, e espero que continuem fazendo daqui pra frente — a diretora voltou a sorrir, desta vez com um brilho feroz na pupila. precisou de alguns minutos para captar a sugestão daquele sorriso. — Sei que não conversamos ainda sobre renovação de contrato, e não sei se você já estava procurando outra coisa, mas gostaríamos muito de ter você na equipe mais um pouco nesse novo projeto. Vai ser mais intimista, mais rápido, mais sigiloso, com uma divulgação diferente, mas confio muito que você vai fazer um bom trabalho, assim como a senhorita Gong.
piscou algumas vezes, abriu e fechou a boca até dizer:
— Vocês… vocês querem renovar o contrato?
— Claro que sim. Algumas coisas irão mudar e pretendemos lançar um MV de alguma B-side de surpresa, mas queremos continuar com essa mesma concepção de garotos rebeldes e góticos que não fazem apologia às drogas. Pelo menos, não tão escancaradamente — ela deu uma piscadinha ligeira para , que soltou um riso abafado. — Vamos ficar muito felizes caso você aceite. Precisamos de gente como você na equipe.
já estava balançando a cabeça em um sim, mesmo ainda estando um pouco embasbacada, sem conseguir verbalizar um agradecimento decente. Aquilo era tão bom, um conforto para a sua mente a mil por hora. Ter seu trabalho elogiado já era muito agradável, mas ser elogiado por algo que ela jamais pensou que fazia bem, era melhor ainda.
— Claro que aceito, Sooyoung. Vai ser um prazer.
— Ótimo. Vou mandar preparar os documentos e começamos os preparativos daqui há 10 dias. Os garotos vão tirar uma folga até voltarem ao estúdio de dança e todos os rituais de coreografia e voz. Não queremos nada além da excelência nessa versão — ela lhe lançou mais um sorriso e se voltou para a mesa atrás com o laptop. — Agora preciso me encontrar com a equipe financeira e fazer uma previsão de metas para essa nova etapa. Se atingirmos a margem de lucro que eu estou querendo, todos vão ganhar um belo bônus no final.
A ideia logicamente deixou mais animada, e ela se despediu de Sooyoung com alegria explícita, cruzando os corredores até o escritório da equipe de criação com pés rápidos e saltitantes. Assim que se instalou em sua mesa, tirou o telefone da primeira gaveta para anunciar as boas novas à primeira pessoa que sempre lhe vinha à cabeça.
As mesmas mensagens daquela manhã estavam ali, junto de tantas outras novas que ela não viu ou não se lembrava. se sentiu um pouco mal por isso; tinha uma inabilidade gigantesca em responder mensagens, fruto de um telefone flip que a acompanhou por toda a vida e que não era confortável nesse quesito. Deixando isso de lado, ela inclinou as costas para trás e começou a digitar:

: Você poderia tirar a camisa sim. Acha que eu não ia gostar?
Se bem que Candy me disse que isso não seria uma boa ideia porque um certo fotógrafo estava quase pulando em você, então acho que foi melhor assim.
Quero comer carne.
Tenho um motivo pra isso.
Adivinha quem vai assinar um novo contrato para um repackage?


Logo depois, Candice estava recebendo o mesmo comunicado e sorriu sozinha mais uma vez. Bloqueou o telefone, retirou os post-its rabiscados da tela do computador, já com a expectativa de substituí-los por novos para um novo projeto, fechou as planilhas e documentos abertos do relatório do teste da Nikon e verificou de novo a pasta com as fotos já catalogadas da câmera com suas descrições.
A paz dessa organização a fez perceber que nunca tinha sequer pensado na possibilidade de uma renovação de contrato, de ficar ainda mais tempo por ali. Nem sabia se pretendia ficar. Estava tão envolvida no lançamento anterior, tão concentrada em fazer direito que nada mais importava; apenas que aquela poderia ser sua primeira e única oportunidade, e por isso, tinha que dar tudo de si. Ter sido reconhecida por essa dedicação era o melhor dos pontos. Aquele já estava sendo considerado um dos melhores dias de sua vida, e ele tinha começado desde a cama de Jeon Jungkook e sua nova alcunha de namorada. Fazia qualquer um transbordar de otimismo.
Também a fez pensar no trabalho paralelo que estava levando com Changmin, e que não tinha problema em dar conta das duas coisas. Já estava fazendo isso até então. Tudo bem que agora existia um novo elemento na caderneta de que ela precisava aprender a administrar: um relacionamento. Era uma experiência nova, mas dava para manusear. Ela daria um jeito. Candice estava conseguindo lindamente, então ela também conseguiria. Jungkook também entraria em semanas frenéticas de trabalho com o lançamento de seu single, e os dois sempre poderiam se ver no fim do dia. Ou talvez no meio dele; talvez no início. não reclamaria de vê-lo todos os dias, na verdade. Torcia por isso, rezava por mais manhãs daquelas.
Mas as discussões sobre disponibilidade de tempo e encontros ficariam para depois. Até lá, ela tinha 10 dias de folga. E iria aproveitá-las o máximo que pudesse.

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— A grelha não é das melhores — Jungkook remexeu na placa de metal em cima da mesa de madeira, olhando pelas aberturas retangulares e apoiando a mão por cima para sentir o fogo crepitando, mas só sentiu a chapa fria, quase morna. Ele logo ficou frustrado e um pouco curioso. estava sentada ao seu lado, com os cotovelos apoiados no tampo enquanto sugava o segundo copo de refrigerante pelo canudinho, encarando-o com divertimento. — Acho que esqueceram de conferir o gás. E a chapa não devia estar tão arranhada.
riu pelo nariz. Ela não estava interessada na grelha, no restaurante longe do centro que tinha um aspecto intimista e confortável, no cardápio variado de carnes que custava uma fortuna, nas opções de bebidas acompanhadas de pãezinhos que ele fez questão de pedir enquanto decidia o prato principal, e muito menos em qual seria esse prato. Ela estava feliz só de estar ali, sentada ao lado dele, roçando seus pés nos dele por baixo da mesa, admirando o perfil levemente indignado dele, olhando para a churrasqueira redonda no centro da mesa como se ela tivesse lhe ofendido.
Jungkook estava um pouco aborrecido, mas ainda estava lindo. De morrer. não fazia ideia do que se tratavam as fotos que Candice o obrigou a tirar o dia inteiro, mas o cabelo arrumado para cima e as joias nos dedos, nas orelhas e no pescoço mostravam os resquícios de uma baita produção. Nem sua jaqueta coach preta desfez todo o glamour que ele exalava no momento.
Só depois de um bom tempo que ele estalou a língua e percebeu o silêncio dela. Virou-se, encontrando com o canudo entre os dentes, olhando para ele como se olhava para um programa de televisão imperdível.
— Desculpa, vou resolver isso — suspirou ele, preparando-se para se levantar. Parecia um pouco nervoso; talvez porque era seu primeiro encontro com sua namorada e ter algo minimamente errado acontecendo estremecia um pouco a sua confiança. — Quer mais alguma coisa?
balançou a cabeça que não, bem devagar. Ele franziu o cenho.
— Tem certeza? Achei que estivesse com fome.
— Eu estou com fome — ela inclinou a cabeça para a direita e sorriu. E mordeu os lábios. E deixou o brilho nos olhos ganharem um novo tipo de soberania.
Jungkook ficou parado até rir e colocar uma mão em seu joelho por debaixo daquela mesa comprida. Puxou o queixo de para um beijo rápido e murmurou um “já volto”.
ficou olhando ele se afastar, e tratou logo de sacudir a própria cabeça e tentar voltar ao mundo real, porque fala sério, estava dando muito na telha. Saindo da bolha de normalidade. Tudo bem que estava apaixonada, estava muito apaixonada, flutuando em nuvens de algodão e passeando por vales de arco íris – e claro que Jungkook não devia fazer ideia dos efeitos que provocava nas pessoas –, mas ele agora era seu namorado. Ela o veria todos os dias, e por muito mais depois disso. Agiria assim pra sempre?
Uma parte dela não se importava. Justamente por ser seu namorado, por ter roubado seu coração do jeito que roubou, se sentia totalmente livre para dizer e mostrar o que quisesse, para nunca mais esconder o que estava sentindo, mas achava, por algum raio de motivo ou por ter sido ouvinte de um dos milhares discursos de Candice sobre o assunto, que era bom se conter às vezes porque ela poderia assustá-lo. Mas qual era a graça disso? Já não tinham se sufocado demais todo esse tempo?
Não, ela não faria isso. Iria agir com moderação naquele momento só porque estavam em um lugar público e ela estava realmente com fome, mas apenas por isso. Era o mínimo que ela merecia: ser livre. Que os dois mereciam. já não via a hora de ficar sozinha com ele, de cair nos braços dele, provando do lugar mais certo e seguro do planeta Terra, confirmando para o cérebro quantas vezes fossem necessárias que ele era dela de verdade.
Ele voltou em poucos minutos junto com um garçom, que fez movimentos ágeis para trocar a churrasqueira no centro da mesa, e entendeu bem pouco do que ele dizia em voz baixa para Jungkook, já que falou muito rápido e em um dialeto diferente, um que Jungkook pareceu entender perfeitamente e que respondeu de forma simpática quando recusou a oferta de um belo prato por conta da casa. Um pouco constrangido, o rapaz de avental fez uma reverência e voltou para trás do balcão, e soube que ele exigiria um capricho a mais no pedido do idol como forma de retratação.
Jungkook era capaz de exercer autoridade, intimidação e generosidade com eficiência, tudo ao mesmo tempo, por mais incoerente que possa parecer. Na maioria das vezes, essas coisas exalavam dele sem que abrisse a boca, porque polir sua postura foi uma prioridade maior do que civilizar o vocabulário. Essa parte ele deixava para Namjoon e Yoongi, era o que combinava mais com eles. Jungkook se limitava a sorrir e tratar muito bem a grande maioria das pessoas, principalmente aquelas que nunca pisaram no seu calo, e isso as revistas de fofoca não contavam.
Pouco tempo depois, foi surpreendida pelas carnes na mesa, nas saladas variadas, nos acompanhamentos e em mais refrigerante quando o mesmo garçom depositou tudo, vergou as costas em mais um cumprimento e saiu. Jungkook rapidamente começou a juntar tudo na grelha em um gesto automático, separando a comida já pronta em um prato e entregando para , murmurando para ela os tipos de carne espalhadas, o tempo de preparo, como dobrar as folhas de perilla, colocar o gergelim e mais coisas que ela sinceramente nem ouviu direito. Um: porque estava com fome e o cheiro começou a ficar mais forte, e dois: porque ele ficava lindo explicando qualquer coisa. Principalmente explicando algo tão comum.
ainda estava comendo quando ele passou um braço por trás de sua cadeira e começou a contar sobre seu dia na Vogue. Contou coisas que fizeram arregalar os olhos, colocar a mão na boca e quase engasgar com o refrigerante Bonbon de uva umas três vezes.
— Você iria quebrar um contrato desses?! — Ainda parecia inacreditável, insolente, todas as vezes que ela repassava um cenário desses na cabeça. Jungkook apenas assentiu, tamborilando os dedos sobre a mesa ao lado da caneca larga de seu chopp.
— É, eu iria sim — ele torceu o nariz, mas não parecia arrependido. — Seria muito imprudente, eu sei, mas elas estavam roubando o trabalho da Candice. Eu não podia deixar isso acontecer, ia estender a minha dívida sem necessidade. Se eu não posasse pra ela, ela poderia ter ideia de outras coisas, e isso me apavora.
riu alto. Riu com tanto gosto que nem se virou para olhar o resto das pessoas no restaurante, que não eram muitas. O lugar era pequeno, bem pequeno, e Jungkook tinha garantido que era seguro. Ficava há algumas quadras do estúdio de Polyc, e um homem grandalhão lotado de tatuagens que lia um livro de poemas em uma mesa perto da entrada deixou claro que a clientela toda se conhecia – incluindo a Jeon Jungkook e seus amigos.
Jungkook pairou naquele sorriso por um momento. Era possível que estivesse tentando puxar na memória se já tinha cruzado com um daqueles na vida, um sorriso que estimulava uma felicidade genuína dentro dele, coisa forte que formigava seu peito e o restante do corpo, mas não achou. Era inútil. E naquele momento em especial, foi um alívio vê-la sorrir; significava que a noite não estava sendo tão desastrosa ou fora da curva.
— Ainda não acredito que vocês fizeram um acordo desses. E nunca imaginei ver Candy intimidada por alguma coisa. Ou por alguém.
— Sinceramente, nem eu. Mas a editora-chefe era muito boa em te fazer acreditar no que ela quisesse. Quase me convenceu de que era o fim da linha para Candice, mas nem ela mesma acreditava nisso. No fim de tudo, ela percebeu que precisava mais de mim do que eu dela.
assentiu, sentindo um certo tipo de orgulho, uma satisfação legítima por ver até onde o amor podia te levar. No caso de Jungkook, o levava a proteger as pessoas que amava. A família dela, a única que tinha. Então, talvez, Candice mudasse de opinião sobre seu namorado mais rápido do que ela imaginava.
O ar se movia lento em torno das mesas no restaurante, e depois de um tempo remexendo nas carnes na grelha, Jungkook começou a oferecer dezenas de opções de sobremesas para , que negou a maioria delas, mas acabou aceitando o tiramisù do cardápio, que era tão bonito pessoalmente quanto nas fotos. Ela estava se deliciando com o sabor doce dos biscoitos de champagne quando se lembrou de algo repentinamente.
— Seu aniversário! — Exclamou. Jungkook vincou a testa.
— O que tem ele?
— É na semana que vem.
Por um momento, ficou claro que ele tinha esquecido desse fato. Não parecia tão importante diante de tantas outras coisas importantes e tangíveis que estavam acontecendo naquele verão.
— Ah… Acho que perdi a noção do tempo.
— Eu também — soltou uma risadinha pelo nariz, mas logo virou o corpo para ele. — Já pensou no que vai fazer?
Quando é a sua festa? era a pergunta mais óbvia que ela deveria fazer, a que ele já devia ter escutado muitas vezes à medida que setembro se aproximava. Onde seria montada a enorme festa de aniversário de 25 anos do Golden Maknae, quais bandas ele convidaria dessa vez, quais bebidas colocaria no arsenal, quais garotas colocaria o nome na lista de convidados, quantos brindes folheados a ouro distribuiria e etc, etc, etc…
Ele olhou fixamente para ao seu lado, e não conseguiu ver ou sentir nenhum resquício do Jungkook de 24 anos que almejava por aquela bagunça.
— Não pensei em nada. Acho que não quero fazer nada, na verdade — respondeu, dando de ombros. Foi a vez de crispar as sobrancelhas. — Nada como uma festa, eu quero dizer. Esse single está tomando muito o meu tempo e eu só quero algo mais… quieto. Sem tanta gente. Sem tanta bebida diferente e o risco de acordar no porão de um restaurante cheio de poeira como da última vez.
Ela riu imediatamente, e ele já sabia o que realmente queria fazer. Sabia tanto, mas tanto. Abafava o que queria dizer porque se comprometeu a usar o freio. Engoliu a declaração de verdade, porque ela já tinha ouvido tantas, várias só naquela manhã na sua cozinha, e talvez isso pudesse fazê-la achar estranho ou se cansar rápido. Jungkook imaginava que era injusto se sentir daquele jeito, mas assim como ela estava se adaptando ao seu primeiro relacionamento, ele também estava se adaptando à uma atmosfera de liberdade, tentando se encaixar numa realidade onde pudesse falar abertamente sobre os seus sentimentos sem o medo que ela o achasse um idiota ou apressado demais.
Mas então, entrelaçando um braço no dele, umedeceu os lábios e encaixou o queixo no seu ombro.
— Posso fazer companhia pra você, se quiser — ela soprou em seu ouvido. — Faço um bolo, compro chapeuzinhos de papelão e até preparo as coxinhas. Sei que você gostou delas da última vez.
Ele vibrou em uma risada gostosa, riu das cosquinhas que a voz dela fez na sua pele e do comichão que a ideia deu no estômago. Riu por rir. Se tinha algo que ansiava para o dia 1º de setembro era passar o dia com , não importa em qual atividade. Não havia sinal de que ele fosse querer uma enorme festa naquele ano, pelo menos não imediatamente, mas não havia sinal de que fosse querer algo longe dela também. De jeito nenhum. Nada e nem ninguém mais estava tomando o posto de objeto de desejo de Jeon Jungkook no momento.
Então, se livrando um pouco daquela baboseira de freio, ele acariciou sua bochecha e murmurou:
— É o que eu mais quero.

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— Nunca achei que viveria uma situação tão esquisita como essa — Yoona sugou forte o restante da batida de limão pelo canudo, fazendo aquele barulho alto que estava começando a detestar. — Ela me abraçou, ! Kang Sooyoung me abraçou quando me pediu para continuarmos na equipe. O quanto você esperava por isso?
— Um número muito insignificante.
— Exatamente! Ninguém esperava! E puta merda, um pedido seguido de um abraço, parece que fizemos um ótimo trabalho. Até mais do que ótimo — Yoona riu mais uma vez, agora esticando os ouvidos e virando o pescoço para verificar se existiam passos avançando no corredor ao lado da cozinha pequena, e logo em seguida se inclinou para . — Mas por que ela não te abraçou também? Não me lembro de você ter cuspido nos sapatos dela ou sei lá o que.
— A sua carinha deve pedir mais um abraço do que a minha — sorriu sem mostrar os dentes e Yoona revirou os olhos, imitando a risada. Não havia nada que pudesse tirar o sorriso das duas naquele dia, honestamente. Ser promovido ainda era uma felicidade válida, em todos os cantos do mundo.
Yoona se levantou da pequena mesinha quadrada no canto do cômodo e andou até a máquina de café parada perto do vão da porta, onde se decepcionava todas as vezes pelos sachês instantâneos de qualidade abaixo do que a agência realmente podia pagar, e se decepcionava mais um segundo depois por não ter pensado em ir buscar um café do outro lado da rua como sempre fazia. No entanto, aquelas coisas pareciam mínimas hoje. Aquele era o último almoço dela e de antes de 10 dias inteiros de folga, e com ainda o anúncio de um pagamento maior, com talvez um belo bônus no final, a depender dos resultados das vendas.
Yoona não iria interromper essa comemoração por causa da falta de café de qualidade.
— Devíamos sair pra beber hoje — ela se virou para a amiga enquanto mexia o pó pronto dentro da caneca. — Aliás, devíamos experimentar as tequilas do El Diablo, em Itaewon. Dizem que você não sente nada no início, mas em três ou sete minutos já tá em outra dimensão. É perfeito pra quem está de folga, ! Podíamos chamar Wonnie e Candy, caso queiram correr o risco, e até mesmo o Gook Doo… — ela abriu um sorriso sugestivo, um tanto sacana. sabia que era uma questão de tempo até que ela tocasse no nome dele de novo – estava óbvio, até mais do que isso, depois daquela noite que assistiram o Grammy.
— Você acha mesmo que o Gook Doo é o tipo de cara que está fora da cama depois das 22:00?
— Ele já disse que é uma pessoa matinal? — Yoona levantou um ombro, voltando a se sentar na frente de , do outro lado do tampo pequeno lotado de embalagens de comida de delivery. — Se nunca disse, então é uma oportunidade de puxar o assunto. Você acha que ele vai gostar se eu puxar um assunto?
— Talvez ele fique um pouco… tímido — na verdade, queria dizer que existia uma enorme possibilidade de Cheol Gook Doo não falar uma única palavra, e que isso tornava ele e Yoona os pretendentes mais improváveis de toda a Seul: aquela que falava demais e o que falava de menos. — Mas o que você tem a perder? Vai fundo.
Yoona bateu uma palminha animada e riu enquanto comia o último pedaço do cookie da sobremesa que tinha conseguido de Wonnie há 1 hora atrás, por causa de um pedido errado. A amiga parecia muito feliz com a ideia de flertar descaradamente com Gook Doo, mesmo que o cenário montado na cabeça de dessa empreitada não tenha sido nada animador. Ela não imaginava mesmo o ex assistente de Candice curtindo uma noite de boate ao lado das garotas e muito menos se deixando levar por qualquer coisa que tivesse um cheiro um pouco mais forte do que sua colônia de lavanda. Ele provavelmente estacionaria o carro do outro lado da rua e esperaria na frente do lugar enquanto tentava encontrar uma maneira de convencer Candice a deixá-lo escapulir dali, rezando para todos os deuses que conhecia que a loira permitisse. Porque era assim que Cheol Gook Doo funcionava: devoção suprema. Um mecanismo que torcia para que alguém mudasse, ou quebrasse nele.
Talvez Yoona pudesse ajudar.
— E então? Quando podemos ir? Hoje, amanhã? Às 21:00?
— Hoje não dá — coçou a pele entre as sobrancelhas, começando a juntar os pacotes de seu almoço espalhados. — Candice quer jantar comigo pra comemorar a promoção. E preciso assinar e enviar os relatórios finais. Não quero sair de férias com trabalho pendente.
— Você sabe que tem uma assistente justamente pra isso, não sabe? — Yoona ergueu uma sobrancelha.
— Eu sinceramente espero que Wonnie não seja assistente por muito mais tempo. Ela trabalhou tanto quanto a gente, e olha que chegou depois.
— Você tá certa, aquela pirralha conquistou todo mundo, talvez seja promovida também. Mas ei, você disse que vai jantar com a Candy? E ela vai levar o Yoongi?
— Não faço a mínima ideia. Por que?
— Porque isso se chama vela. Fala sério, , sei que são amigas e tudo mais, mas nem por isso precisa se submeter a um castiçal. A não ser que…
Yoona abriu um sorriso pavorosamente maléfico, mirando um olhar semicerrado para . Não dava pra entender nada. vincou a testa, guardando os pedaços de papelão com menos pressa.
— A não ser o quê, Yoona?
— A não ser que você vá com uma companhia.
— Que companhia?
— Não sei. Aí você que precisa me dizer.
— Eu não tenho nenhuma…
— Ok, vamos parar de mentir — Yoona arrastou a cadeira para mais perto de , apoiando um cotovelo na mesa. — Quem você tá pegando às escondidas? O fotógrafo bonitão que pararia um trem de carga com o próprio corpo por você ou o idol mais gostoso do momento, com mais de 50 bilhões de views no TikTok que vive te procurando em qualquer lugar que estejam juntos?
O coração de disparou.
Por mais terrivelmente específica que fosse a descrição de Yoona, o que significava que o que devia estar escondido não estava tão escondido assim, não soube o que dizer. Aliás, não tinha que dizer nada, era um segredo. Mesmo que ela e Jungkook ainda não tenham chegado na parte detalhada da conversa onde combinavam se manteriam as coisas no sigilo ou se as pessoas mais próximas poderiam saber, já tinha decidido a resposta por si própria, e sair contando imediatamente não estava nas opções.
Porém, aquela troca intensa de olhares com Yoona naquele momento, mostrou claramente que a opção escolhida por não funcionaria com ela.
— Ahmm… Eu não sei do que você…
— Corta essa, . Seja sincera comigo antes que eu comece a pensar coisas, como que você está tirando uma casquinha dos dois. E não, eu não te julgaria por isso, muito pelo contrário. Não tô nem aí para o que pensam nesse país sobre trisal, porque se eu pudesse, logicamente adoraria dividir a cama com Ji Changmin e Jeon Jungkook em posições muito…
Yoona trincou os dentes com aflição, olhando automaticamente para a porta da cozinha e torcendo para que o timbre da voz de Yoona tenha permanecido no volume normal. Ela já convivia tanto com aquela garota que já nem sabia mais diferenciar. Mas dizer uma coisa daquelas passava do ponto do apropriado, tinha certeza. — Dá pra você falar mais baixo?
— Eu estou falando baixo.
— Então dá pra você não dizer essas coisas? Por favor?
— Eu só tô te parabenizando. Qual é, eu não vou te crucificar se for…
— Isso não é verdade. Tá legal? Não estou tirando casquinha de ninguém, Changmin é meu amigo e um colega de trabalho, estamos participando de um projeto juntos e ele às vezes diz coisas inapropriadas, mas não passa de um traço de personalidade. Acredite, ele faz isso com qualquer uma, não tem nada de especial comigo.
— E o Jungkook?
Mais um sorriso sugestivo, um sorriso claro de “te peguei”. coçou a testa mais uma vez e desviou os olhos para a bagunça.
— O que tem ele?
Dele você tirou uma casquinha — ela frisou, sem fazer uma pergunta dessa vez. continuou juntando os papéis. — Com certeza tirou. E se não tirou, tá perdendo tempo porque ele quer tirar uma casquinha de você. Qual é, isso é óbvio! Toda vez preciso responder perguntas sobre onde você está ou como você está. Acredita em mim, sou muito boa em perceber quando um cara tá a fim, , e não sei exatamente o quanto ele está afim, mas eu posso te garantir que…
— Estamos namorando.
Yoona parou no ato, com uma mão ainda se movendo no ar. Nada no mundo teria o poder de explicar à porque decidiu fazer o que fez, ou falar o que falou, e ainda não sabia se deveria sentir um alívio ou preocupação instantânea, mas esperou. Esperou Yoona piscar o quanto tinha que piscar e finalmente se aprumar, virando-se para a amiga com o rosto um pouco perplexo.
— Namorando? — perguntou com voz sóbria e nada aguda. assentiu, dando uma rápida olhada para a porta novamente.
— É, nós… começamos a namorar.
Yoona continuou na mesma posição, o que deixava ainda mais incomodada a cada segundo. Era como esperar uma bomba explodir, uma pistola furar a sua orelha, esperar o soco final de um boxeador. sabia que teria que reagir imediatamente caso ela surtasse com a novidade. Esperava que não fosse tão explosiva assim, mas com Yoona não dava pra saber. Não dava mesmo.
Mas contra todos os pensamentos e suposições de , a garota relaxou os ombros e começou a abrir um sorriso, um que ia mostrando cada vez mais dentes e se esticando até muito perto das orelhas. O tipo de sorriso de vitória ganha.
— Eu sabia — ela largou a caneca com certa força na mesa, uma que certamente chamaria a atenção. — Eu sabia! Eu te falei! Sou muito boa com essa coisa de homens! Eu sabia!
Agora as palminhas vieram, mas ao contrário do que pensou, ficou feliz por ouvi-las. Na verdade, estava feliz com a reação de Yoona e feliz por ter contado. Tornava duas coisas mais reais: o seu próprio namoro com o cara dos seus sonhos e a realidade incontestável de que Yoona tinha conquistado seu espaço na vida de . Por mais diferentes que fossem uma da outra.
— É, às vezes você acerta. Só às vezes — zombou enquanto puxava a caneca com o café ruim que Yoona tinha preparado, fazendo uma pequena careta logo em seguida.
— Caramba, acho que isso nem parece real de verdade, pra ser sincera. Você e Jungkook, meu Deus…
— Xiu! — levou o indicador para a frente dos lábios, agora mais preocupada do que nunca que a voz da amiga ecoasse por algum centímetro para fora daquele cubículo. — Você sabe que não pode contar isso pra ninguém, não sabe? Absolutamente ninguém. Nós trabalhamos na mesma empresa, o que já é perigoso por si só, e caso alguma fã…
— Eu sei, eu sei. Acha que não acompanhei todo aquele pandemônio da Candy com o Yoongi? E ela nem foi a única a passar por isso. Mas quando falamos do BTS, o buraco é mais embaixo. Envolve o mundo todo. E o Jungkook… — ela abaixou o tom em algumas oitavas, e seu sorriso diminuiu para dar lugar a uma boca contorcida. — Na verdade, com ele é bem, bem mais complicado. Tipo um zilhão de vezes mais complicado. Pobre Ali Dalphin, eu realmente tive pena dela. Imagina passar cada minuto de cada dia tendo que ler que você é anoréxica e receber ameaças de ter o carro queimado? Um horror — ela estremeceu um pouco, puxando a caneca de volta. — Então, se já embarcou nessa, vai precisar ser forte e madura. Sou a última pessoa que deseja que seu namoro vá a público. Eu amo você, caso ainda não saiba.
abriu um sorrisinho de canto para Yoona, um sorriso um pouco triste e um pouco carinhoso. Sentiu sua confiança naquela coreana malcriada aumentar ainda mais, e sentiu sua apreensão sobre o novo território que estava pisando aumentar em graus precoces. Cada vez que pensava em seu futuro com Jungkook, considerava o cenário citado por Yoona. Imaginava a si mesma na pele daquela que estampou capas de revistas e tabloides no mundo inteiro, sofrendo e tendo sua vida revistada e seus títulos esnobados por causa de um estigma, por causa de uma escolha, uma posição pessoal. Ali não tinha se recuperado bem disso, pelo visto, já que procurou uma forma de conseguir uma compensação por todo esse circo, porque se sentia mais do que lesada psicologicamente. não se via no direito de julgá-la. Mesmo que Ali conseguisse achá-la, ela duvidaria que negaria alguma coisa, como andou negando desde que pisou em Seul.
Mas aquele questionamento não ia embora quando parava e pensava nisso: ela aguentaria tudo isso? Saberia lidar com a exposição extrema, os comentários tóxicos por quem não conhecia ⅓ de sua vida, confiaria em Jungkook para passarem por isso? Conseguiria confiar? Não por ele, mas por ela mesma. Os dois passariam por isso?
Questões como essa poderiam facilmente fazer balançar sobre a sua escolha, mas daí ela se lembrava daquela manhã depois da declaração dele, e de como a olhou bem no fundo dos olhos quando prometeu que nada de ruim a aconteceria. Quando prometeu que a protegeria. Instantaneamente, ela sentia paz e tranquilidade. Os pensamentos ruins se dissipavam. As preocupações de Yoona eram válidas, mas não eram mais fortes do que a promessa de Jungkook. Não era mais forte do que os dois juntos. As coisas poderiam mudar, ou até mesmo se complicar, e mesmo assim tinha certeza que seria capaz de vencer com ele. Vencer qualquer coisa.
— Eu sabia que você se declararia pra mim antes da primeira neve — disse , levando uma palma ao peito, teatralmente debochada. — E agora? Como Candice vai reagir? Não sou autorizada a ter duas amigas.
Yoona estalou a língua e deu um tapa de leve nos ombros de , que riu um pouco mais alto do que deveria.
— Que engraçadinha. Sei que você também me ama, só não está pronta ainda pra dizer — ela revirou os olhos, mas acabou rindo também. — E por falar em amor, estou muito, muito feliz por você. Nem acredito que minha amiga é a namorada de Jeon Jungkook! Acho que já está na hora de eu começar a tratá-lo como uma pessoa normal.
— Eu também acho — deu de ombros, balançando a cabeça firmemente para que Yoona entendesse o recado mais importante: ele É uma pessoa normal. Todos eles são. Todos mesmo.
— Ok, tudo bem, eu vou tentar. É um pouco difícil se acostumar a trabalhar com caras tão gatos e famosos quando você não necessariamente trabalha mesmo com eles. Estamos apenas na base dessa pirâmide, os deuses gregos lá no Olimpo nunca veem nossos rostos ou até mesmo sabem nossos nomes. O que me deixa pensando: como vocês dois chegaram nisso? Como você ganhou esse título tão disputado estando aqui e ele lá? Existe uma passagem secreta por aqui que eu não tô sabendo?
mordeu o lábio para não rir e observou bem quando uma silhueta apareceu no vão da porta, surgindo e sumindo quase imediatamente, o que a fez endireitar as costas e começar agora a guardar a bagunça de Yoona, louca para dispersar o assunto.
— É uma longa história. Longa mesmo.
Yoona bufou e disse:
— Eu sabia que você falaria isso.
— E eu sei que você vai voltar com esse assunto mais cedo ou mais tarde — ela jogou as embalagens em uma sacola grande com o restante das suas, e arrastou a cadeira para trás. — Temos que voltar. Se acabarmos mais cedo, ainda vai dar tempo de você levar seu carro na oficina como queria.
— Ah, é. Eles precisam urgentemente mexer naquele motor. Ele não liga quando eu mais preciso — Yoona se colocou de pé atrás de , balançando o café agora quase frio. — Falando em carro, como funciona entre vocês? Ele vem te buscar todos os dias? Te leva pra sua casa ou a dele? Já te deixou dirigir a Mercedes? Ou melhor, você já entrou naquela Mercedes? Ah, que pergunta idiota, é claro que sim. É verdade que tem bancos de couro e luzes vermelhas? Tentei bisbilhotar uma vez, mas não dá pra ver nada do lado de fora da janela. E ele dirige o câmbio com uma mão só? Ele…
— Yoona — jogou as sacolas no lixo, erguendo uma sobrancelha repreensiva para a amiga. — Pessoa normal, lembra? Cara normal.
— Tudo bem, mas ele não é tão normal assim.
— É sim. Tem alguns milhões a mais na conta, é lógico, mas é normal. Agora vamos voltar — se virou para pegar a bolsa, e viu o bico inconformado de Yoona. — Tá bom, as luzes vermelhas existem. E elas piscam.
não ficou para ver a reação dela. Em um segundo, estava correndo de volta para o escritório e rindo enquanto ouvia o grito perplexo da amiga ficando para trás.

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Mesmo há vários andares acima do estacionamento privativo e subterrâneo destinado aos membros do Bangtan Boys, todos nos escritórios principais e secundários seriam capazes de ouvir o som dos pneus da Hyundai Palisade deslizando na vaga delimitada para um grande rapper caso prestassem mais atenção.
Yoongi bateu a porta com uma força inesperada e marchou para o elevador, sem saber ao certo que dia e que horas eram, mas não fazia diferença. Tinha que estar ali de qualquer forma, mesmo que Candice tenha olhado suplicante para ele naquela manhã, pedindo para que ficasse na cama, mas esse olhar veio antes da pergunta. Aquela pergunta. E veio antes da discussão que isso causou. Antes que ela começasse a subir o tom de voz e ele quisesse fazer o mesmo, o que quase nunca fazia, mas antes que perdesse a paciência e ficasse ainda mais frustrado, Yoongi decidiu sair de uma vez. Sentiu aquele ar do fim do verão queimando gelado na pele, toda a atmosfera de Seul ficando mais fresca à medida que setembro se aproximava, trazendo seu ar seco e suas folhas amareladas com ele. Yoongi sempre fazia isso: em vez de responder, preferia sair. Se afastar. Quando via a situação se desenrolando por uma direção que não planejava, era hora de tirar seu time de campo. Esfriar a cabeça. Traçar outra rota.
Ele mal olhou para a roupa que vestia, e só depois de entrar no elevador percebeu que estava usando duas meias de estampas diferentes, e também usava seu moletom preto por cima da camiseta dos Warriors, seu time de basquete favorito, e Candice já havia dito que ele não deveria misturar roxo com laranja, mas agora era tarde demais. Precisava de algumas horas longe de casa até ter vontade de voltar, o que era insano e um pouco ridículo, porque teoricamente ele poderia voltar para a sua casa, mas o caso era que não parecia apenas sua agora. Não parecia há um tempão. Não desde que tinha dado uma cópia da chave pra ela, não desde que sempre esperava e torcia para que quando chegasse, ela estivesse lá. Demorou quase 2 meses para que aquela linda colunista tivesse coragem de usar aquela chave, e agora era assim que ele se sentia: compartilhando sua vida, seu espaço, suas coisas. E não odiava isso, nem de longe.
Amava que Candice tivesse uma chave da sua casa. Amava saber que ela estaria lá. Amava saber que acordaria com ela, que escovariam os dentes juntos, tomariam o café da manhã e escutaria ela dizer que ele estava errado em comer sopa tão apimentada logo no início do dia. Amava tanto isso que o deixava angustiado de ficar sem. Angustiado por alguma coisa mudar.
Aparentemente, seus maiores receios estavam se concretizando.
Aquela havia sido a primeira noite em 3 dias que Candice havia dormido lá. E existiram outros 3 dias antes, e mais dias em que ela simplesmente… se afastava. Se distanciava. Usava uma voz suave ao telefone para dizer que estava ocupada com o trabalho e ia pra casa. E quando estavam juntos, falava de todos os assuntos, menos daquele. O elefante no meio da sala que já estava começando a se acasalar e multiplicar, tomando ainda mais espaço entre os dois.
O namoro. A exposição. As ameaças. As questões públicas e jurídicas de tudo aquilo, que por mais que Min Yoongi detestasse e estivesse explicitamente ignorando, ainda estavam ali, presentes e existentes. Candice lidou bem com a situação na primeira e na segunda semana, mas depois disso, se transformou na pessoa que, repentinamente, tinha medo de estar com ele. Medo de ser vista, observada. Logo ela, um verdadeiro ímã de atenção. A pessoa que queria ser notada, reparada. A história do namoro estava mexendo com ela mais do que admitia. E era isso que matava Yoongi por dentro: o silêncio dela. A dificuldade em simplesmente falar que estava tensa, que não gostava da situação, que tinha superestimado a própria valentia. Que simplesmente estava achando tudo uma merda! Ela podia simplesmente falar, gritar! Mas Candice ainda achava que lidar com seus inquéritos sozinha ainda era a solução.
Ainda irritado, Yoongi abriu a porta do estúdio com a mesma força automática que usou no carro, indo direto para a máquina de café e pretendendo escolher o mais forte. Logo viu que não havia o pó instantâneo e de gosto aguado de sempre, mas um pacote inteiro de Kopi Luwak ao lado de um moedor recém utilizado, exalando o cheiro forte de café de verdade por todo o ambiente fechado.
Yoongi nem precisou olhar para saber quem já estava ali.
— Você tá de chinelo? — Jungkook murmurou bem na frente da mesa de som, sentado em uma das grandes poltronas enquanto segurava o violão em cima do colo. — E tá usando uma bermuda laranja?
Yoongi não respondeu. Apenas meneou com a cabeça e encheu um copo de papel.
— Cheguei na hora certa com a pessoa certa — ironizou, tomando um grande gole do líquido, despertando seu corpo por inteiro.
— De nada pelo café. Você sabe que não vai encontrar outro igual por aqui — ele dedilhou algumas notas distraidamente, encarando Yoongi e percebendo logo aquela agitação interna, mesmo que ele estivesse com a mesma expressão mau-humorada de sempre. — Você tá legal?
— Não. E você? O que faz aqui a essa hora?
Jungkook apontou para os elementos que o rodeavam: a mesa de som, o violão, o caderno aberto ao lado do teclado, os dedos revezando das cordas à caneta, e todo o resto que eram autoexplicativos para Yoongi.
— Meio cedo pra trabalhar nisso, não acha? — Yoongi moveu os pés para perto do maknae, sentando-se na poltrona ao lado.
— Estou esperando o Joo Hyuk, ele é um pouco matinal demais. E vou almoçar com o Jungjae porque, de repente, ele se lembrou que trabalha pra mim e parece que levou uma bronca do Bang pelas fotos que eu fiz. Pelo menos ele já estava esperando por isso — ele levantou os ombros com um suspiro apático. — Mas também estou tentando ser um pouco mais organizado e pensar em tudo que tenho que fazer antes do lançamento. Tenho três reuniões marcadas para essa semana, e todas elas são para discutir qual o melhor corte de cabelo para o conceito de Looping. Ou o melhor figurino que combine com uma guitarra. Ou a melhor locação, os instrumentos, o design da capa, o jogo de luzes e blábláblá — ele revirou levemente os olhos, fazendo Yoongi rir. — É sempre a mesma coisa.
— Ossos do ofício. Você já é maduro para entender isso.
— Eu sei. Mas às vezes parece que estão complicando o simples. Não quero fazer mechas loiras no cabelo e não quero usar um suspensório enquanto toco guitarra. O que eles acham que eu sou? Um The Who do século 21? Que John Lennon não me escute, mas não sou fã número 1 da estética do rock britânico daquela década, e não quero os Elfos sendo obrigados a isso também. Eles tocam punk irlandês, pelo amor de Deus — Yoongi riu de novo, e balançou a cabeça enquanto o café caríssimo de Jungkook ia fazendo o resto do serviço de melhorar o seu humor.
— Quer mesmo que eu acredite que você tá chateado de trabalhar só por causa de umas reuniões?
Jungkook nem tentou negar ou se fazer de desentendido. Deixou um sorrisinho brotar no canto da boca, totalmente insinuante.
— Como ela está? — perguntou Yoongi, sorrindo junto com ele. Jungkook dedilhou mais umas notas automaticamente.
— Dormindo. Na minha cama — o sorriso aumentou com a lembrança da imagem fotografada na mente e no celular. , tão linda e serena, afundada nos seus lençóis e nos seus travesseiros, aproveitando seu primeiro dia de folga para fazer algo que Jungkook sabia que ela não fazia muito bem: dormir. E sabe-se lá como ela dormia antes, mas não parecia suprir o necessário, porque ele percebeu de cara que ela desaparecia do mundo quando dormia com ele, mergulhava de cabeça em um sono tão pesado que nem mesmo quando Bam subiu na cama e se aninhou ao lado dela para tomar o lugar de Jungkook, a fez perceber ou mover um músculo. Essa era a foto que estava no seu celular agora. Era a foto que ele queria colocar de papel de parede, mais do que a que tiraram no dia anterior, quando estava arrumando o cabelo molhado de pós banho e ele apontou o celular para o espelho, fazendo-a arregalar os olhos na mesma hora.
— E pelo visto isso é muito bom.
— É mais do que bom. É mágico. É maravilhoso. Todo dia tenho que me controlar pra não pedir pra ela ficar ali pra sempre, Yoongi. Fazer as malas, ou sei lá, guardar algumas coisas ali. Pedir pra ela ficar de vez. É uma situação muito crítica — ele bufou forte, esticando as costas para trás na poltrona, aliviado por ter dito tudo que tinha vontade de dizer para e que o freio não permitia. — Às vezes, fico preocupado com o que tá fazendo comigo. Às vezes, acho que nunca mais vou dormir direito se ela não dormir comigo.
Yoongi assentiu, com o olhar ainda cabisbaixo.
— Eu sei bem como é isso.
Sabia mais do que ninguém. Estava sentindo aquela coisa descontrolada por Candice há mais tempo do que pensou que fosse sentir por outra pessoa. Não existiu ninguém no histórico romântico de Min Yoongi capaz de bater de frente, servir como comparação. Aqueles cachos bem arrumados e olhos cor de cinza da canadense de quase 1,80 cuidaram para que o espaço fosse só dela.
— Bom, você não parece que tá feliz por saber disso — comentou Jungkook quando viu os olhos do amigo desfocarem de novo. — O que tá rolando?
Yoongi deu de ombros fracamente.
— Ah, cara, só… Alguns problemas. Eu e Candice não estamos no melhor momento agora.
— Vocês brigaram?
— Talvez brigar teria sido melhor. Brigar geralmente esclarece coisas, faz a outra pessoa finalmente soltar o que tá pensando, se abrir. Mas Candice parece imune às discussões. Nada do que eu faça ou pergunte faz ela falar — disse ele, balançando a cabeça, sem conseguir esconder a frustração. — Desde que dei aquela coletiva e confirmei tudo, só vejo ela ficando mais distante, mesmo que ainda esteja do meu lado. Sei que ela está preocupada com alguma coisa, passando por alguma coisa, mas ela não me fala, não expõe, me deixa de fora dos problemas dela. E não posso dizer que ela sempre foi assim, porque não foi. Pelo menos, nunca foi comigo. Mas agora, não posso chamá-la pra tomar um café fora que ela dá alguma desculpa de trabalho, ou qualquer coisa pra não ir.
E não quero pensar que possa ser algo sério, ele pensou consigo mesmo, uma preocupação escondida e não muito revirada, um pensamento afogado. Yoongi não gostava de pensar no fim das coisas, principalmente no fim de coisas que estão funcionando, mas ele e Candice… não dava pra dizer isso deles naquele momento. Yoongi não fazia ideia do que ela estava pensando sobre aquilo tudo, e isso o torturava mais do que pensar que ela poderia simplesmente desistir.
— Ela nunca te falou? — Jungkook franziu o cenho, apoiando os cotovelos no violão.
— Sobre o quê?
— Que ela está proibida de fazer matérias relacionadas a mim, você e todos os outros. Quando fui tirar as fotos, precisei arriscar minha conta bancária para não pegarem o trabalho dela.
— Eu sei disso. Quero dizer, ela me falou sobre essa regra quando confirmei o namoro, mas não parecia tão abalada naquela época. Não parecia que ficaria assim, hoje. Sei que é complicado, sei que devem estar mexendo com a cabeça dela lá, que ela deve ter ouvido coisas desagradáveis e que estão bagunçando com os planos dela, mas eu quero ajudar, Jungkook. Quero apoiar, quero que ela confie em mim. Ela acha que vou deixar alguma coisa acontecer com ela?
— Eu sei que você não vai. Tenho certeza que ela sabe também. Mas… isso é muito novo pra ela — Jungkook respondeu enquanto puxava sua própria caneca de café, bem maior que a de Yoongi, e que com certeza deveria estar sem açúcar. — A gente sabe que a Candice é forte e pode se defender sozinha, mas ter o nome estourando em cada canto do mundo e pessoas ao seu redor que você não faz ideia se estão te avaliando ou esperando a mínima oportunidade pra te derrubarem, é muito foda. Infelizmente, o peso do seu nome afeta mais a Candice do que você pode controlar, mas não é o fim. Isso não pode ser o fim, entendeu? Vocês só precisam conversar, expor tudo isso e, principalmente, você precisa mostrar segurança. Nessas situações, elas são sempre o lado mais fraco da corda, as que ficam com a parte injusta de tudo isso, com os comentários, o hate e toda essa merda. Nós sempre ficamos bem, Yoongi. Temos que garantir que a outra pessoa confie na gente, sabe? Que isso é tudo que importa.
— Eu sei disso, Jungkook, e eu tentei. Tentei conversar com ela de todas as maneiras possíveis. Tô começando a me sentir impotente, um merda, porque não consigo resolver isso.
— Você não vai resolver a situação toda, Yoongi. É impossível. Não tem como pegar as palavras que você disse de volta. Já foi. E agora, talvez, só falar não vai adiantar muita coisa.
Yoongi se segurou para não bater o pé ou chutar alguma coisa, e de quebra sair bufando como uma criança birrenta do recinto. Dizer que não podia ajudar, ou que tudo que estava fazendo estava sendo insuficiente, parecia um tiro no peito. Ele estava em conflito quase o tempo todo desde que aquela história começou, pensando e agindo o mais rápido que conseguisse para proteger a imagem de Candice de todas as formas que estavam em seu alcance, e nesse meio tempo, foi descobrindo uma nova personalidade dentro de si que não fazia ideia. Existia o Min Yoongi quieto, frio e racional, que resolvia os problemas com serenidade e diplomacia, e o Min Yoongi que tinha voluntariamente arrancado o coração e dado de bom grado para Candice Chaperman, alterando assim todos os seus comportamentos padrões pela raiz. Tudo ao seu redor não era mais sobre ele, era sobre os dois. Sua felicidade individual não importava mais se a dela não estivesse alinhada. Seus planos precisavam incluí-la, sua cama precisava do seu perfume e seu dia precisava daquele sorriso. Não dava mais pra ser tão racional quando seu coração estava em posse de outra pessoa. Não existia um estoque de paciência grande o bastante no mundo que o fizesse aguardar uma resposta que ele precisava.
Agora existia aquela versão de Min Yoongi: a que ficava desesperada no meio da noite pensando nas mudanças bruscas e sutis de Candice, sentindo-se culpado pelo estigma da fama e a impotência de não ter tanto poder sobre as adversidades quanto pensava.
— E o que você acha que eu devo fazer? — Yoongi perguntou em um fio de voz, olhando firmemente para aquele ao qual ele sabia que já tinha sentido tudo aquilo na pele, em escalas até maiores e mais angustiantes. Jungkook umedeceu os lábios e esticou os dedos, respondendo mais rápido do que esperava:
— Alguma coisa nova. Fora daqui, de toda essa rotina, de todas essas pessoas. Leva ela pra viajar, só vocês dois, se isolem um pouco de toda essa poluição e não saiam de lá até se lembrarem que vocês continuam vocês, independentemente do que digam aqui fora — ele deu de ombros, como se a questão realmente fosse tão simples assim. Antigamente, ele se martirizaria por ter tido uma ideia tão estupidamente comum e que não garantia nada, mas hoje via como uma alternativa perfeita. Yoongi estava agoniado daquele jeito porque não tinha tentado tudo. Estava ficando sem opções. E, infelizmente, ele estava precisando ficar mais corajoso e pedir para Candice fazer o mesmo.
Yoongi riu de primeira, um riso misturado com perplexidade.
— Acha que eu já não tentei isso? — ele arqueou as sobrancelhas. — Não dá, Candice não quer ir nem na esquina comigo, JK, quanto mais sair da cidade. E mesmo que aceite, vai ficar trancada em um hotel em Jeju sem ver a luz do dia e achar que trepar desenfreadamente vai resolver as coisas.
— Não resolve.
— Eu sei que não resolve.
E ele não permitiria que resolvesse mais. No fim do dia, os problemas de casal tendiam a aparecer e dar as caras em qualquer jantar, e enquanto Yoongi era o homem das resoluções, Candice estava se mostrando ser a das distrações. E Yoongi não era de ferro, mas não estava se orgulhando disso. Pelo contrário: estava ficando mais risível, mais puto, esperando o próximo anoitecer para tentar uma nova conversa, uma que ela negava veementemente, uma que soava como o fim que ele tanto não pensava.
— Tudo bem, tive uma ideia — Jungkook largou o violão para o lado da poltrona, apoiando os cotovelos agora em cima das coxas. — Podemos ir com vocês. Digo, eu e podemos ir. Tenho certeza que ela vai aceitar.
Yoongi vincou a testa.
— Nós 4? Em Jeju?
— É! Aproveitar os últimos dias do verão. Tenho certeza que quer ir à praia mas não tem coragem de pedir. É uma desculpa ótima.
O sorriso do maknae tomou todo o cubículo, o que já não estava tão difícil de acontecer porque ele andava rindo de absolutamente tudo, e sorrindo para cada detalhe de cenário. Yoongi esperou que ele dissesse que estava brincando, ou que desse mais detalhes daquele plano sem cor e sem tamanho definido.
— Tá falando sério?
— Claro que sim. Semana que vem é meu aniversário e não planejei nada, então seria uma boa. E com o tanto de trabalho que eu e você temos daqui pra frente, é uma ótima oportunidade de relaxar. E é só por um fim de semana. O que você me diz?
— Eu não sei…
— Ei, se a vai junto, Candice com certeza vai topar. Se ela tá fugindo de ficar sozinha com você e ser obrigada a conversar, não vai ter mais esse motivo. vai ajudar a convencê-la.
Yoongi abriu a boca para trazer mais um questionamento que mostrasse o quanto aquilo parecia improvável, mas o brilho nos olhos de Jungkook venceu. O amigo já parecia empolgado apenas com a ideia. Com certeza, avisaria a assim que chegasse em casa, ou até mesmo assim que Yoongi saísse daquela sala. E não tinha qualquer hesitação sobre se ela aceitaria ou não; ele sabia da resposta.
Antigamente, Yoongi sentia essa mesma certeza sobre Candice. E estava louco para voltar a sentir isso de novo.
— Você faria isso? Por mim? No dia do seu aniversário?
Jungkook balançou uma mão no ar.
— Claro que eu faria. Não é como se eu não fosse comemorar do jeito que eu queria — ele sorriu, o pensamento automaticamente voando para e seus dedos mindinhos se entrelaçando, suas pernas se enredando e sua voz no ouvido dele, transformando qualquer lugar em que estivessem em um ser vivo. — Já falei que quero fazer tudo diferente, ter experiências novas com . Ela vai ficar muito feliz e eu também. Isso já vale. Você só tem que fazer a sua parte.
Jungkook terminou e inspirou o resto de confiança que Yoongi precisava. O plano era maluco e, caso Candice não aceitasse, nada no mundo a faria mudar de ideia, nem menos , mas o que tinha a perder? Já estava perdendo muito, hesitando muito, com medo de perder todo o resto. Então, deixou-se ser levado pelo vento do impulso e expirou forte quando respondeu:
— Eu consigo. Eu consigo — balançou a cabeça em afirmativo, e logo em seguida expirou forte e piscou os olhos rapidamente. — Uau, isso foi inesperado. Você já tinha pensado numa coisa assim?
Jungkook coçou a nuca para desviar os olhos e diminuir o sorriso por um milésimo de segundo, nada que Yoongi fosse reparar demais. Essa era a dura verdade egoísta e talvez não muito romântica de suas intenções: queria levar em algum lugar legal, sim, e excepcionalmente queria que isso acontecesse naqueles dias livres, onde ela poderia relaxar e… não encontrar Changmin.
— Eu… só pensei — ele riu um pouco engasgado, um pouco estranho, o que poderia fazer Yoongi questioná-lo, mas Jungkook não estava pronto para responder. Não sabia como contaria de Changmin, Ali e toda aquela loucura, e ainda mais como ainda não tinha tido a coragem de dizer pra . — É uma boa ideia, confia em mim. As duas vão adorar.
Yoongi assentiu e confiou.
— Como vamos fazer isso exatamente?
Jungkook pressionou os lábios um no outro, pensativo.
— Você tem planos pra hoje à noite?

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O sibilar da chuva nas copas das árvores do lado de fora não assustavam mais .
Ela conteve um suspiro quando sentiu o ar quente da respiração de Jungkook em sua nuca, quando a cintura dele roçou na sua por meros 3 segundos até que conseguisse pegar uma faca grande do outro lado e voltasse para a posição de antes, agora preparando-se para picotar uma cesta de tomates. diminuiu o ritmo na sua função de descascar as batatas. Virou para ele e ficou olhando por um tempo enquanto ele explicava alguma coisa da receita, enquanto virava a cabeça e tentava se situar na cozinha que não era sua, perguntando-se porque Yoongi não simplesmente guardava os utensílios de metal e os de madeira em gavetas diferentes como qualquer pessoa normal.
O ar cheirava a terra molhada, graças às janelas grandes e largas que estavam abertas até a metade. Holly passeava entre as pernas deles enquanto Bam massacrava um brinquedo de pano, que já tinha tido todas as costuras algum dia. O cheiro da cebola, do molho de pimenta e algum outro molho já preparando no fogo fazia o cenário esquentar por dentro. Uma sensação extra sensorial de ter feito as pazes com o mundo. Como se, finalmente, depois de tantos anos percorrendo um labirinto escuro, ela encontrasse um facho de lanterna lá na frente, indicando uma companhia – ou o fim da escuridão.
Ela levantou os pés e depositou um beijo na bochecha dele. Jungkook virou e beijou sua boca. Eles riram do momento espontâneo.
— Precisa de ajuda aí? — perguntou ele, inclinando o queixo para as batatas sem casca, que estavam em um número muito menor do que as com casca.
balançou a cabeça em negativa.
— Preciso cumprir com a minha única função.
— Eu falei que você não precisava fazer.
— Mas eu quero. Já foram 4 e até agora não cortei nenhum dedo, é o meu recorde — ela deu de ombros, brincalhona. Jungkook revirou os olhos e riu, inclinando-se para mais um beijo rápido.
— Mas as raspas de limão são minhas.
— Não — ela choramingou.
— Sem choro, não vou deixar um ralador na sua mão.
— Mas eu consegui ontem.
— Você quase perdeu uma unha ontem. Então é não.
— Mas…
Jungkook passou uma mão por sua cintura, puxando-a para perto e dando um beijo no seu nariz, ainda discordando com a cabeça, mas sabendo que ela logo cederia e começaria a rir. E ela riu. E ele riu também. E aceitou ficar longe dos objetos inofensivos, porém cortantes da cozinha e aceitou que era muito melhor vigiando o fogo.
Um pouco ao longe, do outro lado do cômodo, onde a luz da lâmpada principal da cozinha não penetrava, Candice lançava a massa fresca com força no tampo da ilha, espalhando o pó da farinha e o cheiro de azeite por todo canto.
— Eles nunca cansam? — murmurou ela, um tanto perplexa e frustrada, encarando aqueles dois de risadinhas e beijinhos o tempo todo. Risadinhas e beijinhos que não paravam nunca.
Ao seu lado, Yoongi olhou na direção do novo casal e então se voltou para Candice, preparando a máquina de massa bem em cima da superfície do balcão.
— A gente era assim também, caso você não se lembre — disse ele, em um resmungo que não indicava exatamente uma reclamação. No entanto, Candice se virou para ele já com as sobrancelhas vincadas, contrapondo aquela declaração.
— Não exagera — ela voltou a espalhar a massa, e Yoongi suspirou e recostou o quadril no balcão. Daria tudo para estar exatamente daquele jeito com Candice: agarradinhos na ilha, cortando legumes enquanto provavam do que estava sendo feito, trocando beijos e rindo de qualquer coisa. Eram detalhes pequenos e, às vezes, insignificantes que só notava que estavam em falta agora. Candice era do tipo que gostava de carícias e beijos roubados, desde a primeira vez que Yoongi tinha arriscado uma dessas, quando ela apareceu na sua casa há meses atrás, engolida pela chuva intermitente do fim da primavera que encharcou seu cabelo e suas roupas, deixando-a tão linda e natural que ele sabia que jamais esqueceria seu rosto. Ela passou pelo batente, pediu desculpas pelo inconveniente e ele tocou seu cabelo. Ela continuou falando e ele tocou seus ombros. Depois, pegou na sua mão e a pediu para ficar à vontade. E desde então, as mãos e os braços dele tinham um destino certo quando estavam com ela, acontecendo tão naturalmente que ele ficaria em choque se alguém o contasse, e Candice gostava disso, gostava do toque físico, gostava de saber que estava sendo constantemente buscada por ele, em todos os aspectos.
Talvez tenha sido naquele dia que Yoongi percebeu tudo. Que entendeu que estava apaixonado por ela.
Ele tentou se aproximar para ajudar na preparação da massa e ela deixou. Tentou roubar um beijo e ela deixou. Tocou em sua cintura e ela não enrijeceu. Mas a junção de tudo era… estranha. Hesitante. Candice não estava normal e isso era uma merda. Não vai adiantar nada perguntar agora, pensou ele. Ela não vai responder e vou estragar o resto do bom humor que ela precisa ter pra cozinhar.
Durante toda a preparação do jantar, Yoongi pensou que tinha entendido o plano de Jungkook. Estava esperando a coisa começar a acontecer, de fato. No fundo, desejava que Candice pudesse voltar ao normal sem precisar do convite que estava por vir, um que ela certamente negaria, mas essa opção estava cada vez mais longe de acontecer. O que lhe restava era entregar suas armas e pegar a dos outros. Talvez pudesse dar certo. Talvez.
Quando os quatro se sentaram à mesa, notou que tinha comida até demais. Jungkook tinha dito que seria um jantar simples, nada incomum do que andava sendo seus jantares dos últimos dias – comida caseira, um chamego aqui e outro ali, conversas intermináveis sobre como tinha sido o dia e tentativas sempre frustradas de terminar a franquia de Rambo. Não porque os filmes eram ruins – o que de fato eram um pouco –, mas porque suas roupas desapareciam antes mesmo do personagem dar o primeiro soco nos vilões.
Apesar disso, a experiência de ter um namorado estava sendo mais do que satisfatória para . Sentia uma liberdade absurda ao lado de Jungkook, um espaço de conversa amplo onde podia se abrir sobre suas fobias e outros medos, um onde tinha oportunidade de explicar as técnicas mais complicadas da fotografia e via ele realmente interessado nisso, um onde podia trabalhar enquanto ele também trabalhava ao seu lado, tocando e escrevendo no estúdio, e onde ela podia, sempre, subir até o andar de cima e desabar na cama confortável da suíte master, aninhando-se no ombro dele e deixando todos os problemas para fora da porta, absolutamente todos. O quarto principal era uma redoma à prova de preocupações, de medos irracionais. A partir do momento que estava com Jungkook, eles não deixavam de existir, mas perdiam bruscamente a força e o poder. nunca queria abandonar esse lugar de manhã. Estava sempre voltando, e voltando, e voltando, até finalmente se tocar de que entendia Candice por completo agora. Compreendia o desejo maluco de se enfiar nas cobertas com ele no meio de qualquer dia da semana ou então, teria a pior insônia da história.
Essas novas experiências e a nova felicidade estavam estampadas nos rostos serenos e lívidos de Jungkook e , e pequenas minúcias tornavam isso ainda mais evidente. Ela não precisou pedir a bebida de sempre porque ele já estava pegando. Não precisou dizer que não era muito fã de alho porque ele já tinha separado. Não precisou dar a ideia da cobertura da torta de sobremesa, porque ele já tinha comprado pistache. Do outro lado da mesa, Candice só sabia ficar impressionada. Mesmo depois de tudo, ainda achava que tinha todos os motivos do mundo para ter um pé atrás com Jeon Jungkook, mas não podia negar a atenção e o cuidado que estava tendo com , e ele nem parecia se tocar disso. O cara estava respondendo as coisas na frente dela, caramba! Falaram pistache ao mesmo tempo. Falaram do alho ao mesmo tempo. Falaram até de fechar as janelas por causa da chuva ao mesmo tempo. A verdade parecia escancarada demais: existia mais alguém no mundo além dela que conhecia . Que sabia dos seus gostos. Um posto que antes era seu e somente seu.
Não é como se isso nunca fosse acontecer, mas essa pessoa ser Jeon Jungkook? Fala sério. Candice ainda achava que Mercúrio estava retrógrado, ou que ela tinha quebrado um espelho há meses atrás e os efeitos estavam aí.
Pelo menos ele faz isso no posto de namorado, pensou. Era uma das coisas que se orgulhava muito de nos últimos dias: não importava o quanto amasse aquele panaca, jamais teria se relacionado a sério com ele se as coisas continuassem como estavam.
— Isso é bem melhor do que você disse — comentou depois de alguns minutos, enrolando mais macarrão no garfo enquanto ainda tinha um pouco na boca. Jungkook sorriu pra ela imediatamente.
— É a receita da minha avó, impossível de errar ou de ficar ruim. Ela tem um restaurante em Gimhae, vou te levar lá qualquer dia desses — deu de ombros, satisfeito, enquanto a via comer mais um pouco. Era bom pra caralho ver aquilo, por alguma razão. Jungkook ponderou se o passado de estava mudando a forma como ele a via, se toda aquela história da ligação tinha quebrado e ao mesmo tempo restituído algo dentro dele, mas só sabia que agora faria de tudo pra nada faltar a ela. Nada mesmo, nunca mais. Enquanto ele estivesse aqui, ela seria amada de todos os jeitos possíveis.
também já provou várias receitas da minha avó. Você não lembra do bannock? — Candice interferiu, rosqueando o talher para também pegar um pouco do macarrão refogado. assentiu com entusiasmo, tentando sorrir ainda mastigando.
— Foi o melhor pão que eu já comi.
— Ele uniu gerações, precisa ter algum crédito mesmo — a loira riu pelo nariz, virando o rosto para Yoongi rapidamente. — Vou ver um dia na semana que vem pra fazer pra você.
Yoongi parou com a mão no hashi, agora olhando para a orelha de Candice, já que ela tinha feito o favor de se virar de novo. O olhar dela não durou meio segundo, mas por essa eternidade de tempo, ela pareceu ser a Candice de antes. A Candice de sempre. Não chegava a ser um grande consolo para tudo que ele estava ruminando, mas já era alguma coisa. Tinha que ser. Significava contentamento, um momentinho de bandeira branca em que seus astros poderiam estar em ordem.
Na mesma hora, Yoongi se virou para Jungkook, que já estava olhando pra ele com aquele olhar de “já entendi, é agora”. E então, coçou a garganta levemente antes de falar:
— Na verdade, você poderia fazer esse pão pra todos nós, Candice. Nunca pensei em provar um bannock canadense.
— Claro que não, porque você precisaria ir pra lá pra comer — ela semicerrou os olhos, como se a pergunta fosse absurda. a repreenderia se não estivesse se deliciando tanto com a comida. Jungkook apenas deu de ombros, sem ser afetado.
— Por isso temos sorte de ter você aqui, então. E vamos ter mais sorte ainda se você aceitar cozinhar.
— Não tem problema. Só precisamos de farinha, leite e um pouco de fermento, o resto é segredo de Estado. Na sua despensa deve ter.
— E se a gente não fizesse isso na minha casa? — Jungkook interrompeu. Candice parou com a boca entreaberta antes de continuar.
— Tudo bem, podemos ir lá em casa, ainda vai estar de folga e eu…
— Não, não vamos fazer isso aqui. Na cidade — Jungkook pontuou. Finalmente, veio ao mundo real e o encarou, franzindo o cenho em confusão. Candice ficou do mesmo jeito, e todos os olhares agora estavam direcionados para ele, que se sentiu um pouco intimidado, mas já tinha ido muito longe para voltar agora.
— Do que você está falando, Jeon? — Candice perguntou, e balbuciou uma coisa parecida entre as últimas mastigadas.
Jungkook lançou mais um olhar para todos na mesa e largou seus talheres.
— Estou falando que podíamos fazer uma viagem. Nós quatro.
Agora ele estava se sentindo observado para valer, por todas as coisas vivas do mundo, até mesmo por Bam e por Holly localizados um de cada lado da sala.
— Uma viagem? — puxou o seu copo de refrigerante. Jungkook assentiu.
— Você me perguntou o que eu queria fazer no meu aniversário, e bom… eu realmente não tinha nenhum plano, mas pensei bem e acho que a gente podia fazer isso. Pegar um avião, ir até Jeju, se desligar de tudo. Ir à praia — ele olhou de canto para rapidamente, e mesmo naqueles breves segundos viu o brilho em todo o rosto dela. — Coisas assim. É bem simples.
Ele virou o olho para Yoongi disfarçadamente, tentando mostrar que pronto, tinha feito sua parte, agora se vira! Jungkook passou um braço por trás da cadeira de , tentando demonstrar que a ideia tinha vindo dele e apenas dele, e que o intuito era ficar com e ponto final, nada de sub planos por baixo disso. Nada feito para ajudar um amigo.
— Você ta falando sério? — sorriu com graça e inocência, juntando as duas mãos na frente do peito enquanto se virava pra ele. Jungkook se maravilhou com aquele rosto tão feliz. Ele podia contá-la depois do verdadeiro motivo do convite, mas naquele momento, nem pensava nisso. Na verdade, mesmo se Candice negasse naquela hora, ele a levaria de qualquer jeito. Com certeza faria isso.
— Você quer passar o seu aniversário na praia só com a gente? Com mais ninguém? Sem uma festa de arromba, sem um DJ internacional, sem bebidas à torto e direita e os seus amigos famosos? — Candice ainda estava desacreditada. Aquilo não era possível.
— Qual é o problema? — Yoongi finalmente falou, avançando na direção do plano, de sustentar o convite de Jungkook, mesmo que tenha sido de uma forma meio gorgolejada. — É o aniversário dele.
— O aniversário de 25 anos do Golden Maknae é um dos eventos mais esperados no meio midiático. Qualquer equipe de jornalismo desse país está atenta nisso, mesmo que ele fosse fazer uma festa mata adentro na saída da cidade.
— Nossa. Eu nunca faria isso — Jungkook fez uma careta de asco. Candice semicerrou os olhos. — Na verdade, não vou fazer isso e nem mais nada. Geralmente eu planejo alguma coisa, mas agora eu… Acho que seria legal tirar um tempo. Sem bagunça e essas coisas — ele deu de ombros. Por mais que estivesse sendo claro, Candice ainda estava com a expressão dura, os olhos desconfiados, totalmente descrente da proposta.
Pelo amor de Deus, ele era o Golden Maknae! O idol mais famoso do mundo atualmente, o que iria alavancar as ações da Hybe em pelo menos 80% com seu lançamento solo segundo os especialistas, o cara de menos de 30 anos com um patrimônio líquido que era até difícil explicar, o jovem com a imagem mais cara do mercado. Bastava ligar para o estádio olímpico e eles lhe dariam uma noite de graça. Poderia entulhar meio mundo ali dentro, e meio mundo de pessoas importantes, que abaixariam o queixo e se colocariam de joelhos para estar perto dele. E, por mais que essas coisas assustem uma pessoa introvertida, esse não era o caso de Jungkook. Ele era alguém de festas, de agito, de abrir a boca e provar centenas de destilados de olhos fechados, alguém que se acabava e se divertia com os amigos como se não houvesse amanhã.
Agora ele queria se resguardar em uma casinha na praia às portas do outono, longe de toda a música eletrônica e o rock de ponta, e toda a cerveja e whiskey que era capaz de beber?
Conta outra!
— Olha, sei que você não se importa com essa data — Jungkook falou ao ver que a expressão no rosto dela não mudava. — Sei que meu aniversário não seria um motivo bom o bastante pra você sair da sua rotina, mas só quero passar essa data como alguém normal. Principalmente, quero passar com e sei lá, criar algumas memórias. Ela está mesmo precisando tirar umas fotos — ele olhou para a garota de soslaio, e quase teve que proteger o rosto porque os olhos de brilhavam como lanternas. — Quero as pessoas importantes pra mim nesse dia também. Você é uma delas, Candice — ele afirmou, o que fez a expressão no rosto dela automaticamente descontrair. — Você é a família da minha namorada e uma das prioridades do meu hyung. Automaticamente, faz parte da minha lista também. Quero você lá, assim como todos.
Candice relaxou os ombros, mais pelo choque das palavras dele do que pela satisfação em ouvi-las. Nem sabia direito o que sentiu. Olhou para , que parecia ter as pálpebras queimando em vermelho, assim como as bochechas, enquanto ela estendia a mão por baixo da mesa para pegar a de Jungkook e murmurava algo baixinho no ouvido dele, algo que o deixou sorrindo abobado até se virar para Candice de novo. Lentamente, a loira direcionou a atenção para Yoongi, que roçou o dedo mindinho na superfície de sua mão caída na mesa, um gesto de carinho que sempre apaziguava suas grandes reações.
— É uma boa ideia — disse ele, sem perguntar. Porque sabia que ela sabia. É uma ótima ideia, Candy.
E ali, olhando pra ele, Candice pareceu ter entendido parte da coisa. Não tudo, mas uma parte sim. Entendeu que estava diante daquilo que Yoongi já tinha feito, mas ela tinha recusado: a maldita viagem. Jeju. O maldito pedido insistente.
Ela abriu a boca antes que desistisse:
— Vocês estão malucos? — ela olhou para todos, um de cada vez. — Uma viagem? Entre nós? Os carinhas famosos e as duas namoradas quase secretas? Vocês piraram? Não sabem que tem sasaengs exclusivas por toda parte? Acham que estão mais seguros em Jeju do que aqui?
O clima pesou imediatamente. Não pelos fatos apresentados por Candice, mas pelo tom. Pela dureza na voz, uma dureza atípica e pouco utilizada por aquela fortaleza de confiança, uma dureza de medo e receio. Foi o único jeito que Candice encontrou para não ser mais honesta, mostrar o que pensava de verdade: que se dane Seul ou Jeju, ela não se sentiria segura nem se estivesse dentro de uma floresta abandonada com Yoongi. Nem se se isolassem em um bunker no alto da montanha. Nem mesmo num barquinho em mar aberto. Tinha desistido de sua grande vontade de caminhar com ele de mãos dadas em um parque à luz da tarde. Secretamente, tinha largado um monte de planos com ele. Tinha feito isso sozinha, com sofrimento e frustração, porque não suportava mais ver sua vida ser barrada e mudada por causa de um status de relacionamento.
Não que ela esperasse que fosse ser recebida no trabalho com um troféu de hastes de ouro por ter sido a premiada em alcançar o coração do rapper, mas todos os olhares, as exigências sem fundamento, o serviço burocrático e sem graça, as evidentes tentativas de boicote… Tudo isso estava minando sua personalidade, penetrando na sua cabeça e cobrindo de manchas toda a autoconfiança que sempre teve para lutar contra as injustiças que topava na vida. Ter estado na frente da grande capa de outono de Jeon Jungkook não melhorou em nada, muito pelo contrário; Kwang Ho ter deixado seu nome estampar a folha de rosto não trouxe nada além de ainda mais olhares fulminantes e mais desdém de quem estava abaixo ou acima dela, e toda a grana que se danasse. Ela até podia usar suas táticas para continuar fazendo suas matérias, mas não iria obrigar ninguém a subi-la de nível. Viveria como a diretora da seção de entretenimento para sempre, ou por um tempo bastante indeterminado.
Candice agora vivia se questionando, se julgando e repensando tudo que tinha feito até então. A culpa também fazia parte do pacote, porque sabia que não estava sendo a mesma com Yoongi, mas na verdade, não estava sendo ela mesma consigo própria.
E isso implantava um terror sem tamanho toda vez que pensava em ser vista com ele. Em dar munição para mais falatório. Em deixar que aquilo se transformasse em uma pedra em direção aos seus objetivos profissionais, mais uma das tantas que já estavam plantadas.
Sob a luz oblíqua da sala de jantar, Jungkook engoliu em seco e olhou para Yoongi, sem saber se devia ou não podia interferir.
— Desculpem, mas… É a verdade — Candice bufou forte, apoiando os cotovelos no tampo, remexendo nas pulseiras amarelas sem conseguir dizer mais nada.
Yoongi mordeu os lábios para não soltar um grunhido. Dava pra ver que não era a primeira vez que ouvia aquilo dela, que via aquela resistência. Uma resistência sem explicação, sem externar o que ela pensava. Candice tinha apenas jogado fatos ao vento, sem uma visão pessoal: vocês tem sasaengs espalhadas por toda a parte. Vocês são observados. Vocês são celebridades. Vocês são o BTS.
Beleza, foda-se! Era o que ele queria gritar, desesperadamente gritar. Essas coisas já eram conhecidas, já faziam parte do contexto de quando se conheceram, de quando se beijaram, de quando ela o chamou para irem àquele hotel na primeira noite que se encontraram sozinhos. Ela sabia de tudo quando respondeu sim ao seu pedido de namoro. Usar isso como desculpa agora era no mínimo uma contradição grave. E Candice não era o tipo de pessoa que se contradizia.
— A gente sabe se cuidar — Yoongi deixou a voz mansa sair, levando uma mão distraidamente até a nuca, bem na altura onde o capuz marrom do moletom ficava mais volumoso. — Já fizemos isso milhares de vezes, tanto Jungkook quanto os outros, não tem porquê…
— Acho que a situação não é tão cor-de-rosa assim — interrompeu ela, com teimosia. — As pessoas sabem da gente e vão procurar qualquer mínima oportunidade de ter mais conteúdos do que as fotos daquela festa, e se chegarem a nós, vão conseguir o brinde de Jungkook e . Achei que você já estivesse traumatizado o bastante nessa parte — ela grunhiu na direção de Jungkook, com uma sobrancelha arqueada em mais um tom óbvio. Era como se só ela estivesse vendo a situação de fato, vendo de verdade, enquanto os outros três estavam com vendas nos olhos.
Jungkook sentiu hesitar minimamente do seu lado, o que o deixou mais atento e apreensivo com a conversa. Ah, não. Candice não faria voltar atrás na decisão com aquele papo pessimista.
— Yoongi está certo, a gente sabe se cuidar, Candice. Não somos onipresentes, mas ser pego não é o fim do mundo. Não quando o dinheiro compra tudo. Você não é tão ingênua de pensar que já não passamos por isso uma centena de vezes — argumentou, ajeitando-se na cadeira. — Eu entendo que você pode estar assustada com seu nome em todo canto, com comentários horríveis ou até mesmo suas complicações no trabalho, mas não dê o poder a essas pessoas de controlarem a sua vida. De te colocarem medo por viver, por se divertir. É exatamente por eu ter passado por isso que não quero repetir os mesmos erros. Não vou dar o braço a torcer e viver com essa preocupação fantasma de ter olhos nas minhas costas o tempo todo, câmeras apontadas, fotos sendo tiradas. Que se dane. Se me disser que quer ir à praia, então vou levá-la à praia. Se ela disser que quer ir tomar um sorvete, vou levá-la na sorveteria mais próxima. E se ela disser que quer você junto, então vou fazer de tudo pra te convencer.
O silêncio reinou mais uma vez, e Jungkook espichou o olhar para Yoongi mais uma vez. O rosto do mais velho mostrava as veias saltadas na têmpora, a língua sendo praticamente amarrada na boca para não completar a conversa. Mesmo sem desviar os olhos de Jungkook, Candice sabia a origem daquele convite. Sabia que uma conversa a sós daqueles dois aconteceu em algum momento daquele dia, ou até mesmo antes disso. Sabia que não estava sendo justa com Yoongi, mas não queria resolver as coisas por meios de outras pessoas. Apenas pelo seu meio, no seu tempo. Mas talvez, pela primeira vez desde que tudo aquilo começou, Candice começou a questionar se não era hora de parar e recalcular algumas rotas. Se o seu jeito não estava errado.
— Qual é, Candy — soltou a mão de Jungkook e se aproximou mais da mesa, os olhos pedintes de um jeito quase irresistível. — Vamos, por favor. É a praia — os olhinhos brilharam um pouco. Aquilo era golpe baixo. — Nunca fomos à praia aqui. E daqui a pouco vai estar frio demais para irmos em qualquer outra.
Candice abriu a boca para protestar, mas o sorriso animado de era impossível de ignorar. Fazia muito tempo, um tempo incalculável que Candice não a via tão feliz, se é que já viu algo assim um dia. vivia um novo tipo de estado mental desde que disse seu sim à Jungkook, assim como ela mesma se sentia diferente desde que se entregou de vez àquela aventura romântica com Min Yoongi. E droga, quando excluía toda a parte ruim dessa relação em que estava focada nos últimos dias, via que seu maior desejo era colecionar memórias com ele, passar um tempo junto, mesmo que fosse numa praia num dia nublado, olhando o líquen peludo nas árvores e achando estrelas-do-mar laranjas nas pedras.
Parecia bom demais pra ser verdade. Um sonho distante de sua mais nova não-privacidade. Ela poderia desistir no meio do caminho.
Mas não saberia disso se não estivesse lá pra conferir.
Ela ficou em silêncio por mais uma parcela longa de tempo até suspirar forte e responder:
— Preciso ver onde guardei meu biquíni rosa — Candy puxou seu garfo novamente, recusando-se a ver o sorriso vitorioso de Yoongi ou de Jungkook. — E se eu não voltar bronzeada, vou reclamar com todos vocês até o Natal.
Ninguém se opôs. Ninguém escondeu o sorriso. Ninguém cantou uma musiquinha de vitória.
E Yoongi acariciou a coxa exposta na saia de Candice, lançando-lhe um olhar paciente e cheio de expectativa.
Vai valer a pena. Juro que vai.


[ 45 ] – The look of love, the rush of blood, the shutterbugs

🎵 Ouça aqui:
No. 1 Party Anthem - Arctic Monkeys

"Seus olhos te convidam a se aproximar
E parece que aqueles caroços na sua garganta
Que você acabou de engolir, te fizeram continuar
Vamos lá, vamos lá, vamos lá
﹝...﹞
Ela é certamente de enlouquecer
Sabendo muito bem que eu não sou
﹝...﹞
Eu só quero que você não me faça nada de bom
E você parece que poderia
﹝...﹞
Os fotógrafos amadores
O preto e branco e a subexposição de cores."

Do alto da estrada em declive, o céu e o mar se encontraram em uma paisagem impressionante.
perdeu o fôlego por um momento, fracassando em reagir com palavras ou algo mais verbal do que o som cortante que saiu da garganta. Um pássaro cantou em meio à ruminação do vento, e depois outro, e outro, até que ela entendesse o que estava acontecendo e virasse o pescoço para a janela ao lado. Gaivotas. Dezenas delas. Todas reunidas em uma faixa pequena de mar, aquela partezinha delgada que serpenteava preguiçosamente até começar a se expandir, e expandir, se alargando de encontro ao enorme oceano até se tornar parte dele. Ela ouviu o canto delas, aquela comunicação exclusiva da espécie, e se lembrou de coisas. Coisas felizes, situações em que encontrava um pouco de paz e serenidade dos pensamentos desordenados na frente da brisa do mar, com os olhos na imensidão infinita do Pacífico, trazendo sempre o chilreio dos animais. Eram a primeira coisa que se lembrava de ouvir quando chegava à praia: gaivotas, cheiro de sal e umidade.
Sorrindo, puxou a bolsa jogada no fundo do banco, tirando de lá o protótipo da Nikon, sua câmera favorita do momento e apontou a lente para fora da janela, bem no momento em que uma das aves erguia o pescoço e emitia um canto longo e agudo.
— Lindo — a voz de Jungkook veio do outro lado de seus ouvidos, sentado no banco do motorista. baixou a câmera. — Mas consigo alcançar quatro ou cinco notas a mais do que elas.
Ela riu e voltou a puxar as pernas para cima do assento. Tinha feito isso muitas vezes, incontáveis, durante as quase 6 horas de viagem. Candice tinha sido clara quanto à sua única condição: sem aviões. Sem aeroportos. Eu sei que vocês tem jatinhos particulares e toda essa besteira, mas eles ainda precisam sair de um hangar, não? E um hangar muito perto do aeroporto.
Não tiveram escolha. Yoongi e Jungkook se contentaram em ocupar o volante de dois Kia Sorento alugados e seguir viagem, mesmo que Jungkook tenha dado a ideia de irem todos no mesmo veículo. A ideia foi imediatamente travada por , que considerou Candice, naquela ocasião em especial, como iminentemente instável. Com chances grandíssimas de querer desistir de tudo e voltar para casa antes dos 2 dias. Caso ficasse louca o bastante, pegaria o único carro disponível e voltaria para Seul, mesmo sem saber o caminho. Melhor não arriscar.
O carro de Yoongi já estava a uma boa distância de Jungkook, um pontinho azul-marinho lá na frente, já longe do declive. Mas o atraso do maknae era proposital; queria ver a cara de . Diminuiu a velocidade para que ela admirasse a primeira banda de oceano visível e ouvisse o som que as cornetas de caça faziam no início do outono, das ondas nas pedras, das conversas ao longe, de garças e do próprio silêncio fleumático que vinha de tudo isso.
Se ver longe da cidade também revigorou a ele mesmo. Longe, longe, longe. Só ela e ele. Dificilmente, alguma coisa de fora importava mais do que o que estava acontecendo ali dentro.
Era 31 de agosto e prestava atenção no panorama, maravilhada e entristecida ao mesmo tempo, sentindo a beleza agridoce de estar em um lugar perfeito do qual teria de ir embora em alguma hora.
— Esse lugar já deveria estar existindo na minha parede faz tempo — sorriu enquanto passava as fotos que tinha tirado, vários cliques por segundo, algumas mais nítidas do que outras, mas todas exalando a mesma beleza. Desde que tinha se mudado, planejava seu painel de fotos. Ele foi tomando forma aos poucos, com o passar dos meses e das experiências com Candice, assim como suas novas amizades, tipo Yoona bebendo uma xícara de seus famosos chás, Wonnie com seu cabelo marcante de mechas coloridas, os rapazes do TXT rindo espontaneamente após segurarem, ao mesmo tempo, Taehyun no colo, as paredes do Covil, Gook Doo sem os óculos, Changmin e seu belo sorriso atrás de uma taça gorda de matcha latte, e Jungkook… esse último estava ganhando muito, muito espaço na parede, desde que finalmente teve coragem de pendurar suas fotos e mais liberdade para tirar novas.
Eram raras as noites que passava sem ele agora, mas quando acontecia, as fotografias aplacavam a saudade. Fazia pensar menos e se concentrar em dormir, ainda que o sono nunca era tão perfeito e satisfatório quanto era com ele.
Jungkook, por outro lado, guardava nos detalhes pessoais, nas letras que escrevia, na fita antiga da Panasonic com sua dancinha engraçada, nas fotos de seu próprio celular que tirava de momentos cotidianos, da tatuagem que fez inspirada na dela, nos ovos do café da manhã que agora vinham acompanhados de queijo, no jeito como seus dedos se entrelaçavam juntos em qualquer ocasião, e na forma contrária como parecia lidar com sua exigência em relação ao café. A única coisa que eu não faria por você seria colocar açúcar no meu café, brincou ele sobre isso.
Mas isso é muito simples!
Nada é tão simples quando se trata de café, ele retorquiu, mas depois de 2 dias, colocou uma colherzinha minúscula na bebida quando a convidou para comer um wrap em algum lugar qualquer no meio da tarde de uma quarta-feira.
Agora não tem mais nada que eu não faria por você, e tomou fazendo careta. desejava muito não perder a cabeça com todas essas demonstrações e palavras que não acabavam nunca. Às vezes se questionava se merecia tudo isso. Jungkook era capaz de tornar o céu em amarelo assim que ela desejasse que ele não estivesse tão azul, seguraria as gotas de chuva com as próprias mãos, esperaria obediente em qualquer poltrona da biblioteca Starfield enquanto lia os 3 capítulos de um livro qualquer, e de outros seis até que finalmente escolhesse algum. Era muita coisa a se acostumar, e muita coisa que ela tinha um certo medo de se adaptar. De não conseguir mais viver sem. De nunca mais voltar a ser quem era antes, aquela que sabia viver só, que aguentava qualquer coisa.
Ele pousou a mão em seu joelho e calou os pensamentos dela. guardou a câmera e fez carinho nos seus dedos, descansando a cabeça para trás enquanto via as primeiras silhuetas da cidade, os prédios mais altos e os menores ao longe, junto com o comércio e a primeira aparição de pessoas.
Logo mais à frente, uma fila de carros se estendia ao lado de uma fila de pessoas, ambos seguindo na direção de um totem e uma estrutura de pedágio. O carro de Yoongi estava há dois veículos à frente.
— O que é isso? — virou a cabeça para a fila de turistas. Mais à frente, há vários metros da aglomeração de carros, uma balsa grande e espaçosa esperava enquanto as pessoas embarcavam uma a uma. se surpreendeu. — Vamos de balsa flutuante?
— Sem avião, essa é nossa única opção — Jungkook respondeu enquanto erguia o queixo e tentava achar Yoongi por cima dos outros carros. — Mas não é menos emocionante estar no carro do que lá fora. Você ainda vai ver alguns peixes, os funcionários do porto, e talvez um ou outro maluco pulando na água por aqui porque consideram como um laguinho. É divertido, se pensar bem.
— Já tô me divertindo — ela deu de ombros, sendo absolutamente sincera. Jungkook sorriu com essa resposta. — Podemos tomar aquela bebida vermelha que você falou?
— É o Red Velvet, vende em qualquer quiosque por aqui, mas não acho que você…
— Eu vou querer, sem dar para trás. Eu garanto.
— Tudo bem, então — ele segurou uma risada enquanto passava a marcha e se aproximava da cabine do pedágio. — Mas depois não diz que eu não te avisei.

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A beleza de Jeju era tão literal quanto as fotos cinematográficas de mostravam.
Tudo que via era intrigante, fascinante, grandioso. Tinha medo de piscar os olhos e tudo se esvanecer de repente, não passar de miragem. O céu em Sehwa Beach já estava nublado quando chegaram, e o Sol não deu as caras por umas boas horas antes que a chuva já predestinada caísse. Por incrível que pareça, ficou muito bem com isso. Os pés sujos de areia combinavam com os de Jungkook, e ela aguentaria aquela água impossivelmente gelada o dia todo se ele continuasse abraçando-a daquele jeito protetor sempre que uma onda extremamente forte vinha, e continuaria por mais tempo ainda se pudesse passar as pernas pela cintura dele e beijá-lo dentro da água, sob aqueles óculos escuros que o deixavam incrivelmente sexy e que não serviam de disfarce nenhum, já que suas tatuagens estavam totalmente à mostra nos braços nus, e agora no peito e nas costas.
Ainda assim, estava tranquila. Confiava nele. Confiava neles. Mais do que nunca, precisava cuidar de seus pensamentos e não se deixar ser sabotada pelo mesmo medo de Candice. A amiga ainda parecia um pouco distante, meio avoada e apreensiva, mesmo que a praia, já pequena, estivesse vazia a não ser por eles e dezenas de colunas de pedras, mais pedras do que areia em volta. Candice tinha se esforçado para sair da casa grande e moderna em Ilha Santa com um biquíni cor-de-rosa claro e um chapéu redondo e esvoaçante, usando e abusando de lenços e óculos escuros, parecendo ainda mais montada do que normalmente estava, tudo para não correr o risco, disse ela. Passou um tempo desnecessariamente longo apenas sentada debaixo daquele guarda-sol, trocando algumas palavras com Yoongi enquanto se divertia como criança. Corria na areia, pulava na água, experimentava o Red Velvet que Jungkook tinha dito e constatando que era mesmo para profissionais de bebedeira, pegava sol e se acomodava entre as pernas de Jungkook para que ele passasse protetor solar nos seus ombros. Vez ou outra, olhava para o outro casal, e pescou risadinhas e piscadinhas quase discretas entre os dois, e percebeu que Candice ia perdendo mais adornos com o passar das horas, deixando o rosto à mostra. Estava dando certo, aparentemente. Pelo menos, sabia que Candice tinha desligado o celular e deixado o iPad no quarto.
Quando a chuva veio, foi o tempo necessário para que e Jungkook saíssem da margem e corressem para debaixo da única cobertura de lona do estabelecimento local, um quiosque completamente desabitado àquela hora da tarde, um que dava pra acreditar que também tinha sido alugado pelos dois.
— Droga — Jungkook resmungou enquanto batia os pés descalços em cima do chão de pedra, puxando pela cintura para que ela não fosse pega por nenhuma gota. — A previsão do tempo disse que iria chover só às 16:00.
Ele bufou de novo e jogou os óculos para cima do cabelo meio molhado, estreitando os olhos para enxergar uma Candice correndo enquanto segurava uma bolsa de palha gigantesca e descabida, e Yoongi tentando dar um jeito no guarda-sol, rangendo os dentes pelo vento que agora trazia areia para o seu cabelo. De repente, começou a rir.
— O que foi? — Jungkook franziu o cenho em sua direção. A chuva aumentava a cada minuto. Ela estava rindo de nervoso?
Mas balançou a cabeça em negação.
— É que… Candice deve estar decepcionada. Aqui não é nada parecido com Malibu, e todas as coisas que ela trouxe… — riu de novo, lembrando-se de ter flagrado a amiga pouco antes de saírem colocando um protetor solar na bolsa sem distribuí-lo em nenhum centímetro de pele. Seu plano era a velha estratégia de sempre: Yoongi faria o serviço. Até mesmo o tamanho da saia era proposital, feita de um crochê bávaro com bastantes furinhos para não poupá-lo da imaginação. O que significava que ela, apesar da teimosia, também estava disposta a resolverem as coisas, mesmo que para isso fosse provocá-lo até o último fio de cabelo.
contou isso para Jungkook, que explodiu em risadas do mesmo jeito, balançando a cabeça.
— Caramba, então deu tudo errado — ele suspirou, ainda decepcionado com a chuva. , com o cabelo molhado e duro do mar e o maiô azul-marinho começando a gelar o corpo, se virou para ele com um sorriso largo e indiscutível, passando os braços pelos seus ombros.
— Ei, claro que não deu errado. Nada deu errado. Por que tá falando isso?
— A chuva deu errado. Ou vai me dizer que você queria estar indo embora agora?
— E quem disse que precisamos ir embora agora?
Ele vincou a testa e sorriu, sugestiva. Em seguida, deu de ombros.
— Podemos dar uma caminhada.
— Caminhada? Na chuva? — Jungkook ainda parecia confuso. Ainda parecia meio pateta. olhou na direção do carro, onde Yoongi já ligava a direção para dar a ré e estacionar perto deles para buscá-los e tirá-los do aguaceiro.
— Não me importo com ela. Vou estar com você, não me importo com mais nada.
O sorriso dele cintilou e substituiu o Sol naquele dia nublado. Jungkook não resistiu e puxou sua nuca para perto, beijou debaixo daquela lona nada segura, misturou sua língua na dela com desejo e uma explosão de felicidade, sabendo com certeza que se ela o mandasse pular e dançar em cima daquelas pedras, ele faria sem piscar.
O carro parou logo ao lado deles, e Candice abriu um pouco da janela do passageiro para gritar um “entrem” e destravar as portas. Rapidamente, correu até a porta de trás, abriu e puxou sua mochila pequena de lá de dentro, fechando em seguida e voltando para o abrigo com Jungkook, gritando um “encontramos vocês em casa depois!” Depois, puxou-o para a chuva na direção oposta do quiosque e do mar, avançando ao longo do pequeno caminho de pedras que eles haviam seguido da primeira vez que chegaram.
Candice e Yoongi não entenderam absolutamente nada e nem tiveram tempo para isso. Por fim, atribuíram a culpa daquela loucura ao amor jovem e fresco, recente, um que ainda via enredo na água da chuva e nos riscos de pegar um resfriado pelo prazer de terem uma história para contar. Yoongi apenas levantou os ombros e deu a partida de volta para a estadia, perguntando-se em qual nível de amor lírico ele e Candice estavam.

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Seria ótimo se ele soubesse para onde estava indo.
Não tinha um plano, uma estimativa, muito menos uma ideia de onde aquela pequena trilha iria dar. Não sabia nem se era aceitável fazer o que estava fazendo: sair andando sem rumo por curvas de areia e pedras, na chuva, totalmente exposto e com os pés descalços, segurando as mãos de entre uma árvore e outra até que estivessem quase completamente escondidos por uma tonelada delas.
Mas era esse o ponto: as mãos de . O cabelo dela molhado com um pouco de areia, o maiô grudando no corpo, a bunda totalmente desenhada naquela roupa e o sorriso entusiasmado e feliz que o partia ao meio, não lhe dando outra escolha a não ser seguir. Olhar para ela tornava essa questão mais fácil, mais compulsória, sobrando para ele apenas a parte de acompanhá-la por um pedaço de vereda ainda mais estreito e torcer para que ela não soltasse sua mão. Foi bem mais fácil aceitar aquela aventura com ela do que normalmente seria caso decidisse fazer aquilo sozinho ou com outros amigos. Pensando bem, nenhum dos seus amigos gostaria de sair de perto da areia e do cooler de cerveja para se embrenhar em um espaço tão apertado e desconhecido, não importava as paisagens legais ou os tesouros que poderiam ter lá.
Mas o destino estava ficando longe, e seus pés estavam escorregando no lodo encapando as pedras lisas, e nem o mar estava mais em seu campo de visão agora. Quando ele precisou desviar de uma pilha de pedregulhos no meio do caminho, decidiu que era a hora de perguntar.
— Já tá na hora de eu saber pra onde estamos indo? — brincou, sentindo a chuva diminuir cada vez mais. balançou a cabeça em divertimento na sua frente, rindo em seguida.
— Não faço a menor ideia, mas confia em mim — ela continuou andando, seguindo um rastro de relva recentemente pisada montanha abaixo. Parecia um lugar onde as pessoas frequentavam, onde era seguro de andar. O problema maior era que os dois não conseguiam andar lado a lado, mas ele não estava reclamando. Não quando o cabelo dela balançava de um lado para o outro e não quando podia admirar mais sua bunda naquele maiô.
Nossa, ela era indiscutivelmente linda de todos os ângulos.
Mais adiante, eles chegaram no que provavelmente era a intuição de : um espaço aberto frente à imensidão do mar, grudados na costa, onde ao longe se tinha a visão de Gimnyeong Seonsegi Beach, com sua estação de moinhos de vento gigantes e mais visitantes do que em Sehwa, talvez porque a temperatura da água não ameaçava te congelar vivo e a quantidade de pedras era quase nula. Ao lado, em uma parte minúscula e talvez não muito notada por quem via aquele mar todos os dias – ou para quem achava que o mar era apenas mar –, estava o que ele tinha visto na entrada da cidade, onde as gaivotas molhavam os pés e sobrevoavam em busca de comida: o estuário imperturbável, vagueando entre as pedras dos limites do litoral, o encontro da água doce com a água salgada em um pedaço quase fechado de pélago. Jungkook respirou fundo e olhou para todos os lados ao mesmo tempo, um pouco chocado e deslumbrado.
— Uau. Eu nunca vi uma coisa dessas antes — comentou, sentindo o vento forte balançar seu cabelo desgovernadamente, agora praticamente sem chuva. — Como você sabia disso?
— Eu não sabia, mas geralmente uma praia costeira tem uma linda paisagem caso você tenha coragem de encarar a trilha. Essa até que não foi tão difícil. Você conseguiu fazer sem chinelos.
Ele olhou para os pés descalços e sujos de areia, um pouco de lama e agora com alguns fiapos verdes de toda a grama que tinha atraído pelo caminho. Ele revirou os olhos e riu, puxando a mochila de pano das costas e tirando de lá os chinelos que ela tinha guardado assim que eles estacionaram mais cedo. Ele nem se surpreendeu – não de verdade, pelo menos.
— O que eu faria sem você? — ele calçou os chinelos, que estavam um pouco escorregadios pelos pés molhados.
— Ficaria com rugas mais cedo — ela riu e o puxou para um beijo simples, mas que se transformou em um beijo profundo e minucioso, onde teve a cintura agarrada e os pés quase tirados do chão. — Você tá com gosto de sal.
— Você também — ele sussurrou em cima de sua boca, rindo pelo nariz. — É gostoso.
— É bem gostoso.
Jungkook a beijou com mais intensidade. Abaixou a mão para apertar a nádega enclausurada naquele maiô, o que já tinha feito embaixo da água antes, mas ali parecia mais real, mais acessível. Por um segundo, sentiu a mochila pesar, os ombros também, as pernas bambearem com o fogo característico se alastrando sem controle ao menor das fagulhas, sem pedir licença, como sempre era.
— Jungkook… — ela tentou dizer, e sentiu os dedos dele a apertando de novo. — Preciso tirar uma foto…
— Uhum… — ele a agarrou com mais força e mal reparou no próprio corpo sendo movido com certa lentidão entorpecente até a rocha larga e alta mais próxima, uma que esquentou as suas costas e raspou seus cotovelos, uma que deixava seu corpo ligeiramente inclinado em uma posição perfeita para sentir a cintura dele contra a sua, esmagando sua pelve com seu volume já duro, tão duro quanto todas as pedras em volta.
arfou com a sensação, o corpo inteiro estremecendo de adrenalina.
— Isso é uma péssima ideia… — ela forçou as palavras a saírem porque era o certo, era o que precisava ser, mesmo que mal tivesse forças para recusar alguma coisa.
— Eu sei — ele disse abafado na curva de seu pescoço, passando uma mão por baixo de sua coxa. — É uma ideia terrível.
— Alguém pode nos ver… — ela se interrompeu de novo ao sentir a junção de dois dedos dele roçarem entre suas pernas, calmo e pensativo, calculista, um desgraçado completo. — Alguém pode nos ver. — ela repetiu mais firme, orando, rezando para se fazer entendida.
Jungkook levantou um pouco o queixo, sem tirar os dedos do local quente onde estavam.
— E também podem não ver — ele agarrou a outra perna, prendendo-se mais à , fazendo-a soltar um gemido involuntário com a sensação inebriante do pau dele tão perto, mas tão perto.
Ela mordeu o lábio com força, se odiando por ser tão maluca e tão influenciada a cometer uma loucura daquelas, em um lugar daqueles, em uma situação daquelas. Qual era o problema dela?!
Aparentemente, seu problema era Jeon Jungkook, sempre foi.
Engolindo o orgulho e o bom senso, engoliu em seco e segurou firme nos braços dele.
— Temos que ser rápidos. Ainda preciso tirar a minha foto.
Jungkook abriu aquele sorriso que não te dava outra opção.
— Como quiser, meu amor.
E então, estava recebendo-o dentro de si depois dos dedos dele, ágeis e inteligentes, terem empurrado seu maiô para o lado antes que ela completasse uma respiração. As possíveis palavras que poderia dizer ficaram pendentes pelas estocadas intensas e animalescas, e depois outras, e outras, roubando a sanidade de e apagando sua mente por completo.
Ela levou uma mão para trás, procurando apoiar as costas enquanto ele a levantava ainda mais e metia sem pudor, sem preocupação, com um sorriso safado e cafajeste no rosto como se estivessem trepando no seu quarto, ou em uma cama qualquer. Demorou poucos segundos para que fosse levada por essa mesma vibe, por essa mesma loucura. Louco! Não havia outra palavra para descrever Jeon Jungkook naquele momento, tomando sua boca impetuosamente, agarrando sua bunda como se ela fosse desaparecer, puxando as alças do maiô de elastano para baixo para ter um visão melhor dos peitos dela livres, abocanhando um e outro com ferocidade, sentindo o gosto de sal em ambos enquanto ouvia os gemidos contidos dela, gemidos que precisavam ser abafados pela palma da sua mão.
— Nossa, como você fica gostosa nesse maiô — ele disse na voz entrecortada, concentrada demais para bater papo, mas que precisava desfocar um pouco antes que o pior acontecesse cedo demais. Com a cabeça girando, mal prestava atenção, mal sabia onde estava. A mão não aguentou e suas costas despencaram na pedra, o cabelo se misturou com ainda mais areia na rocha quente e seu corpo balançando com a força dele fazia seus ombros rasparem na superfície áspera, mas quem se importa? Já estava sentindo aquele famoso formigamento desde o dedinho do pé, o estômago virando gelo, a cabeça indo parar no fundo do mar e voltando. Não conseguia respirar direito, não conseguia manter os olhos abertos, não conseguia desvencilhar da delícia do momento. A chuva tinha parado e uma luz forte que não estava lá em cima antes ameaçou destacar toda a cena, mas ainda não se importava. Se por acaso alguém os pegasse, os problemas iam ser imensos. As pessoas eram presas por isso, em qualquer lugar do mundo! Fora o nome dele, as tatuagens dele, o rosto dele, tudo bem à mostra num episódio surpreendente daqueles. As coisas podiam ficar muito, muito feias. Mas, por incrível que pareça, a emoção de ser pega deixou ainda mais excitada. Uma euforia diferente, um frenesi de correria eletrizante. Ela pediu pra ir mais rápido, pediu pra que ele se apressasse, mas no fundo, queria se esfregar ainda mais, estimular a corrida, e se Deus era bom, que ele demorasse a chegar lá, demorasse bastante para que aquela sensação perdurasse.
No entanto, já estava perto antes mesmo que se tocasse da iminência de ser vista, e gozou como louca recostada naquela pedra, esquecendo-se do ambiente e soltando um grito seco, um que não se completou porque Jungkook a calou com a palma da mão, trincando os dentes furiosos por não poder se ajoelhar e sentir aquilo na boca, frustrado e admirado pelo lugar ao mesmo tempo, sentindo ela se apertar em torno de seu pau e deixá-lo à beira da insanidade.
— Eu… não… — ela tentou dizer, o rosto quase dopado depois de ter a mente apagada por completo, ainda sentindo ele entrando e saindo, agora mais devagar, sentindo-se trêmula e realizada como sempre. Aquela feição sempre mexia com ele, mexia até o último fio de cabelo, o fazia pensar que a vida era injusta por deixá-lo experimentar isso tão tarde. Bufando forte, ele saiu de dentro dela por um segundo só até virá-la de costas e puxar seu cabelo para que ela se empinasse.
— Jungkook! — ela grunhiu repreensiva mas, de novo, não teve tanta força, não teve valor algum. Automaticamente, já espalmava as mãos na pedra, já abaixava o tronco, já se preparava. O corpo não obedecia à mente quando sentia o pau dele raspar no lugar quente e encharcado de suas pernas, não seria capaz de se mover. Ele mordeu o lábio inferior, beijando a curva de seu pescoço com força até dar um chupão.
— Você disse pra ser rápido — murmurou ele, encaixando-se dentro dela tortuosamente devagar. — Vou fazer meu melhor.
E experimentou mais uma dose brusca daquele amor violento, quase cruel, que eram os movimentos e as investidas de Jungkook. Com o quadril entre os dedos dele, ela conseguia ficar bem firme naquela superfície, mesmo que sentisse as panturrilhas se contraindo, mesmo que mantivesse as pernas no chão por um milagre divino, um que ela tinha quase certeza de que estava mesmo acontecendo.
Controlando a respiração e os gemidos, virou a cabeça para o lado, padecendo com o corpo inteiro em chamas, visualizando um fiapo de luz atravessando as nuvens e finalmente, finalmente…
Aquele poderia ser considerado, mais tarde, como o momento mais estranho e bonito da vida de nos últimos anos. Por um segundo, um mísero segundo, ela viu a forte luz oblíqua da tarde se espalhando na superfície da água misteriosa, meio mar meio lago, formando um espelho natural que tornavam as duas coisas em uma só: céu e mar, água doce e salgada, chuva e sol.
Coisas se juntando e se transformando em uma unidade, assim como ela estava com Jungkook naquele momento.
Quando ele estava quase lá, virou o pescoço para beijá-lo. Colou seus lábios nos dele com veemência, com desejo ardente, com mais promessas silenciosas sendo feitas, com retificações de sentimentos. Não importa quanto tempo passasse, jamais tropeçaria em coincidências marcantes como a daquela paisagem com outra pessoa. Jamais iria querer ver o sol depois da chuva com outro alguém. Jamais se entregaria daquele jeito, de corpo e alma, em literalmente qualquer lugar.
jamais seria a que estava sendo naquele momento com outra pessoa. Jamais. Aquela era exclusiva dele, das loucuras com ele e por ele, a mais verdadeira que já pisou na face da Terra.
Jungkook gozou forte, explodiu em mil pedaços dentro dela, se misturou a mais uma vez de forma íntima e abundante. O coração batia tão forte que podia sair pela boca, podia escorrer pelos seus pés. A cabeça zoneou com a impetuosidade da explosão, com o impulso disso. Caralho, era bom demais. Ele encostou a testa na nuca de , que ainda acariciava a lateral do rosto dele, mesmo que estivesse olhando para a frente, encarando o mar e o voo das gaivotas, o mar que agora brilhava com a lasca de sol que venceu as nuvens.
— Amo você — ele sussurrou no seu ouvido depois de recuperar o fôlego, mordendo o lóbulo da orelha. — Amo muito.
sorriu sozinha contra o vento.
— Eu também amo você.
Ela se virou devagar na direção dele, e os dois ajeitaram as roupas em meio às risadinhas, ao triunfo de quem apronta e escapa, e Jungkook prometeu a si mesmo que pensaria em algum outro lugar inesperado para tentarem de novo. Não com tanta exposição e nem com tanto risco, mas um que ficasse gravado na memória pra sempre como aquela pedra certamente ficaria.
Ele a viu ajeitar o cabelo com pressa, subir as alças do maiô e resmungar sobre a foto, sobre aproveitar a luz e tantas coisas que se perderam por um milésimo de segundo em que ele viajou no seu rosto. Aquele rosto com aquela expressão que ele gostava desde a primeira vez que viu. O semblante que literalmente o jogava para cima dela, roubava um beijo de surpresa, trazendo-a para mais perto não com a intenção devassa de repetir a dose, mas para reforçar seu êxtase, seu fascínio por aquela garota.
Você merecia uma foto. Você e essa cara de quem acabou de gozar — ele beijou seu queixo, suas bochechas, a parte debaixo da orelha com delicadeza. riu pelo nariz, e empurrou-o levemente.
— Isso não vai acontecer. Não agora — ela furtou um selinho rápido e se afastou. — Vão ser só 5 minutos e podemos ir embora. Antes que Candice e Yoongi chamem a polícia para nos procurar.
— A Candice, você quer dizer.
— Foi exatamente o que eu quis dizer — ela sorriu e deu de ombros, andando mais um pouco para a frente até encarar de novo aquela luz exclusiva batendo na água, abrindo-se pouco a pouco até contemplar toda aquela zona do mar, dividido em temas: à esquerda agitado com ondas, à direita manso e pacífico. apontou a câmera para essa dualidade específica, genuinamente encantada com a imensidão a seus pés.
Antes de ir embora, fotografou a pedra onde tinha acabado de ter um orgasmo e fotografou Jungkook em um momento espontâneo onde ele remexia numa espécie de cestinha larga e vazia feita de folhas, repleta de pétalas de flores e outros pedaços de madeira, sem ter medo nenhum de topar com um animal venenoso ou estranho. Ele sorriu quando tentou consertar tudo de novo e não conseguiu. Click. Tentou puxar algumas folhas para fazer uma nova cestinha, mas também falhou. Click. Tentou uma terceira vez e conseguiu fazer uma réplica quase perfeita. Click. Agarrou uma flor e ofereceu-a para , tão naturalmente que ela demorou a se tocar de que era pra ela. Click. Beijou sua boca com gosto de sal e agora também com gosto de suor. Click. Convenceu-a a colocar a flor atrás da orelha, que não durou muito por causa do vento, mas ainda deu tempo para uma foto. Click. Antes de deixarem a costa e perderem o fiapo de luz do sol para sempre, jurou ter visto uma pequena, minúscula faixa de arco-íris ao longe, bem longe, onde uma nova sessão de chuva se aproximava.
Click.

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Jeon Jungkook, o Golden Maknae, vocalista principal e um dos membros mais populares do BTS, guardava um segredo terrível, perigoso e alarmante, que jamais poderia sair de sua própria cabeça, ou, mais especificamente, jamais poderia sair daquele quarto da mansão alugada em Ilha Santa.
Ele não gostava de roxo. Aliás, detestava roxo. Ainda mais naquele roxo feio e brilhante do casaco embrulhado dentro do pacote que o ofereceu assim que chegaram ao quarto no fim da tarde. A expressão no rosto dele variava de surpresa e de uma tentativa de esconder o asco. Quando viu ela sorrindo animada, se sentiu quase claustrofóbico.
— E então? — perguntou ela, entrelaçando as duas mãos na frente do tórax. — O que achou?
Estranho e artificial para se usar em qualquer lugar, ele respondeu automaticamente na mente, e se sentiu horrível por isso. Merda, mil vezes merda. Deveria mentir porque era o primeiro presente que ganhava dela?
Deveria ser honesto acima de tudo e dizer que detestou?
começou a ficar confusa com a demora na resposta, então ele puxou bastante ar pelo nariz e tentou:
— Eu… não esperava — e abriu um sorriso amarelo, tirando a roupa de dentro do pacote, constatando que ela era ainda mais feia do que imaginou que seria. Era um moletom simples, sem bolsos canguru ou capuz e poderia ter sido facilmente comprado em qualquer feirinha de Seul; não que o local da compra fizesse alguma diferença pra ele, mas aquela coisa estampada de flores secas e coloridas sobre o fundo púrpura não era algo que ele usaria por aí. Ele, Jeon Jungkook, não o Jungkook do BTS. Era com esse cara que estava namorando. — Não esperava mesmo.
Ele bem que tentou fazer essa frase significar uma coisa boa, mas Jungkook não conseguia fingir tão bem na frente de . Ela diminuiu o sorriso por alguns segundos, e ele reparou na mesma hora. Se sentiu horrível, péssimo, tremendamente babaca. Isso o desesperou.
— Você odiou, não é? — perguntou ela, em voz baixa.
— Não, amor, olha, é muito bonitinho, eu juro, e tem todas essas florzinhas, e todas…
explodiu em uma gargalhada, colocando a mão na frente da boca enquanto Jungkook ficou estático, atônito, ainda com um monte de desculpas na língua e palavras aleatórias que amenizariam sua verdadeira opinião.
— A sua cara! Tinha que ter visto a sua cara — ela riu mais uma vez, um pouco mais alto, porque ele ainda estava fazendo aquela careta de quem tinha levado uma bola no nariz.
E então ele entendeu, e revirou os olhos antes de deslizar o moletom de volta para a caixa de papelão.
— Você sabia — comentou ele, se sentindo um idiota. — Você sabia que eu iria odiar.
— Claro que eu sabia, você odeia roxo. Mas ei, ainda é um presente — ela pegou o casaco de volta, empurrando para o peito dele. — E temos um passeio daqui há 10 minutos, então trata de se vestir.
— Eu não vou sair assim — ele foi firme e direto, apavorado com a ideia de caminhar por mais de dez metros dali vestindo aquilo. — É sério, eu amo você, mas preciso ter algum direito de voto como aniversariante. Não vou usar isso.
— Você ainda não é o aniversariante, meu bem, temos mais 6 horas até isso acontecer. E vai mesmo negar de usar um presente meu? Tem certeza? — ela inclinou a cabeça para o lado, estreitando os olhos ameaçadoramente, e Jungkook sabia o que aquilo significava. Sabia muito bem.
Jesus, parecia que já vivia uma vida com essa mulher. Uma vida inteira.
Ele trincou os dentes e agarrou o moletom a contragosto e bateu palminhas leves cheias de sarcasmo.
— Parabéns, . Me transformou em um lacaio.
E se virou para entrar no banheiro. riu pelo nariz antes de dizer:
— O lacaio vai ganhar mais presentes até amanhã.
Jungkook não soube se isso era bom ou ruim.

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— Para onde eles foram? — Jungkook perguntou assim que terminou o lance de escadas até a grande sala espaçosa, estranhamente vazia e sem nenhuma sombra de Candice e Yoongi. olhou em volta igualmente.
— Não faço a menor ideia — ela deu de ombros. — Eles deviam estar aqui agora, era o combinado. Acho que vou ligar pra…
Assim que levantou a mão para levá-la à bolsa, o barulho estremeceu nos seus ouvidos, vindo de todas as partes das paredes, preenchendo aquele cômodo enorme com maestria assustadora.
Do teto, Jungkook e notaram as batidas proeminentes e muito características do que poderia ser considerado o sexo mais violento que já deve ter ouvido – e presenciado. Dava pra ouvir os gritos, o barulho de tapa contra pele, a confusão de palavrões, os pedidos intermináveis de mais, mais, mais, e o barulho rouco e constante da cama, do colchão, a junção erótica que era impossível disfarçar.
— Minha nossa — disse, chocada.
— Fala sério — Jungkook disse com asco. Ninguém quer a imagem de um amigo, ou melhor, de um de seus melhores amigos e irmão trepando de jeito nenhum. — Eles sabiam do combinado?
— Claro que sabiam — respondeu, sem olhar pra ele. — Eu mandei uma mensagem há 10 minutos, então eles… — parou quando olhou para o chão. Um horror sem tamanho tomou suas pupilas quando sentiu o tecido cor-de-rosa embolado embaixo dos pés, revelando ser uma parte do biquíni de Candice. A parte de baixo. — Ai, não acredito…
— O quê?
— Nada — o afastou com uma palma, balançando a cabeça. — Só… vamos indo na frente, eles estão se entendendo. E não encosta nesse sofá — ela apontou para o estofado em cor off-white, parecendo perfeitamente alinhado e imaculado, a não ser por duas almofadas amarelas um pouco… tortas.
Jungkook fez uma careta idêntica à primeira, pegando na mão de e conduzindo-a para fora, com os passos apressados até demais.

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Aquela noite guardava uma surpresa.
Várias surpresas juntas, tanto para Jungkook quanto para . Ainda era noite de 31 de agosto quando ele dirigiu pela cidade de Jeju, guiado por um GPS qualquer instalado no telefone para conseguir chegar até a marquise do Paradiscope, o cinema mais antigo e esquecido da cidade, escondido em uma rua de paralelepípedo apertada e majoritariamente escura. Jungkook já imaginava essa informação só de olhar para a frente do lugar, que não funcionava mais as luzes em neon, mas ainda conseguia exibir o nome da atração: Rocky I, II & III – Sessão tripla especial! De 19h às 23:30!
Jungkook olhou para antes de estacionar, as sobrancelhas se enrugando no meio da testa, sem entender absolutamente nada.
— Que lugar é esse?
— Um cinema — respondeu com entusiasmo, como se cinema fosse uma invenção totalmente nova. — Quero dizer, é só o resto do que era um cinema nos anos 80. Hoje ele fica misturado com uma loja de roupas e um sebo de antiguidades, mas ele ainda funciona. Fiz umas pesquisas ontem, e praticamente ninguém vem aqui. A não ser o público da terceira idade, mas aí é só às quartas, nas sessões dos anos 60.
Ela sorriu tanto que poderia iluminar a rua inteira. Jungkook ainda estava com a boca meio aberta, chocado com a informação, chocado com o destino, chocado com o empenho de , ainda que não pescasse nenhum motivo em especial por trás disso.
— Nossa, eu não… Não imaginei…
— Eu sei que você não imaginou. Afinal, acho que você até se esqueceu desse seu desejo. Mas no nosso primeiro encontro, você me levou a um drive-in. E quando jantamos juntos a primeira vez na sua casa, colocou Rambo na Netflix sem nem piscar. Então não foi difícil adivinhar — sorriu e estendeu a mão para pegar a dele. — Você quer um encontro clichê. Uma coisa normal, de filminho adolescente, que você nunca teve a chance de ter porque o seu trabalho vinha em primeiro lugar. E como é um dia tão especial quanto o seu aniversário, achei que já estava na hora de você finalmente ganhar esse presente.
Jungkook sentiu o ar dentro do carro parar, pesar, a música se perder. Sentiu os dedos dela roçarem nos seus com delicadeza, o sorriso dela se alargar de confiança por ter lido coisas nele que ele jamais disse. Não para ela, pelo menos. Não achou que algum dia diria de novo, pra ser honesto. Quando teve sua primeira namorada, Jungkook não podia ter tido um encontro trivial daqueles porque tinha acabado de debutar e precisava tomar cuidado. Com Ali, ele igualmente não podia porque estava começando a ter o nome difundido para fora da Ásia, um sucesso estrondoso que veio do nada, que o levou aos quatro cantos do mundo, com os olhos de fora começando a se virar e se atentar a 7 rapazes muito diferentes e talentosos entre si, e principalmente nele. O Golden Maknae. A denominação agora mundial. Ali entendeu isso mais do que ele, distribuiu recusas daquele convite sem pé nem cabeça, reforçando ainda mais em Jungkook os preços que a fama o estava obrigando a pagar.
Com , aquilo nem veio à sua cabeça, por mais que ela trouxesse de volta nele tudo que um dia já quis, tudo que um dia já foi. Mas o medo fantasma dentro dele de que as coisas se repetissem com ela, que se tornassem ainda mais destrutivas e tóxicas, não o deixava dar um passo fora da curva. Não tão rápido, tão imediatamente assim. Daria passos pequenos e seguros, mais seguros possíveis, e uma viagem à praia em um ambiente familiar e monitorável era o início disso, sem extrapolar tanto.
Mas quando viu que estava sendo tão ridiculamente transparente assim, tendo seus desejos mais ocultos totalmente explícitos diante daquela garota, Jungkook nem tinha como refutar, ou negar alguma coisa, muito menos fugir.
Parece que já vivi uma vida inteira ao lado dela, ele repetiu o pensamento, o coração inchando temerosamente. Parece que já vivemos várias vidas antes juntos.
Ele afastou sua mão e puxou sua boca, sentindo-se em êxtase, eufórico, feliz de um jeito quase desnorteante.
— Rocky, então? — ele zombou em cima de seus lábios, e passou uma língua em seu lábio inferior.
— Temos que comparar, lembra?
— Verdade, temos que comparar.
— Vamos, Jeon — ela o empurrou de leve, destrancando a maçaneta. — Hoje é dia dos mocinhos do governo.

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O silêncio periférico ressoou barulhento nos ouvidos de Jungkook.
Ao caminhar para dentro do estabelecimento com , ele de repente se sentiu inseguro. Aquele temor tinha voltado, um medo disfarçado de crença, uma que ele tinha adquirido desde os 15 anos e que era difícil se livrar dela aos 25. Aquela convicção que dizia: já era, cara. O que você pensa que está fazendo? Indo a um cinema como gente normal? Acorda, se te virem você tá ferrado! tá ferrada, vai passar por tudo aquilo de novo e bingo, vai perder ela! É isso que você quer? Volta agora!
Por um milésimo de segundo, ele andou mais devagar, quase parando, desejando abrir a boca e dizer à pra virem outro dia, pra esquecerem daquela ideia. Não dava pra confiar em tudo. Jungkook já teve muitas neuroses com perseguição antes, lá no início, quando sua agência mal tinha como se manter de pé e eles precisavam fazer tudo sozinhos, se virar sozinhos, mesmo que ainda fossem crianças que não sabiam nada de Seul. Depois de um tempo e de muito sucesso, Jungkook se sentia mais seguro para lidar com um contratempo caso acontecesse, mas só de pensar em acontecer… Ele suava frio, projetava um zilhão de coisas, lembrava de outras. Jeju era movimentada naquela época, todo mundo queria aproveitar a praia antes que ficasse frio demais para isso, e a maioria eram turistas abastados da capital, e ter muita grana significava ter poderes que ele sabia quais eram, poderes que os tornavam experientes em perseguir, em chegar de fininho, em…
— Dois ingressos para a sessão tripla, por favor — a voz de o trouxe para a realidade, e sua mente letárgica viu tarde demais ela pegando o dinheiro na bolsa e oferecendo à senhora de idade por trás de uma guarita, que olhou para os dois por quase um minuto, mas não esboçou reação alguma e logo estava baixando o queixo para contar o troco e passá-lo para de novo.
— Não temos poltronas marcadas, então podem se sentar onde bem entenderem. A pipoca e o refrigerante ficam na barraquinha do lado da sala, geralmente tem desconto se você comprar o tamanho grande. É proibido fumar, beber, colocar os pés para cima, gritar ou falar ao telefone. Abrimos a exceção dos gritos caso o filme for de terror, fora isso, mantenham a língua na própria boca — ela vasculhou o rosto dos dois por um tempo longo demais. — Nos dois sentidos.
piscou, sorriu e agradeceu quando pegou os dois retângulos de papel, e tomou a mão de Jungkook para puxá-lo para a direção indicada.
— Tá tudo bem com você? — ela perguntou ao sentir a palma da mão dele um pouco úmida. Jungkook foi arrastado para a realidade de novo, engolindo em seco depois do torpor horrendo que atravessou seu corpo inteiro diante da possibilidade de uma senhora de mais de 70 anos reconhecê-lo e ter visto .
Ele balançou a cabeça em concordância, parecendo fraco demais.
— Claro. Tá tudo bem — disse ele, olhando para os lados da forma mais discreta que pode. Ele era um hipócrita do caralho. Deixou claro para Candice naquela mesa de jantar todos os motivos do porquê não precisava sentir o que estava sentindo, para que não desistisse de viver e se divertir por causa de uma tonelada de “e se”, mas ele mesmo estava coexistindo com essa preocupação filha da puta naquele momento, quando estava com ela em público, e no caso, um público que ele não tinha planejado, que não tinha controle, como foi o lance da praia de mais cedo, como era nos restaurantes selecionados em Seul, como era quando sabia exatamente quem comandava o lugar. Hipócrita, hipócrita. Não podia contar isso pra ela, não podia sequer demonstrar ou estragaria todos os planos que ela tinha feito pra aproveitar com ele.
percebeu que ele estava estranho, mas não teve muito tempo pra pensar nisso. Ao chegarem na barraquinha designada pela senhora, toparam com um homem quase adormecido sentado em cima de uma cadeira e com os pés apoiados em outra, lendo uma revista de arquitetura ou apenas olhando as figuras dos prédios.
puxou a bolsa para pegar as últimas moedas do troco quando aquela coisa monstruosa tomou Jungkook de novo, impetuosamente.
— Deixa que eu pago — ele atropelou as palavras, puxando ela para mais atrás, fazendo o homem levantar os olhos da revista.
franziu o cenho e riu com a estranheza, achando engraçado não pelos motivos que deveria achar, e voltou para a frente da barraquinha.
— Quando uma garota te chama pra sair, deixa ela cuidar de você — ela lhe lançou uma piscadinha sexy, marota, irresistível. Repetiu exatamente a mesma coisa que ele disse naquele drive-in. Conseguiu fazê-lo esquecer do medo estúpido, da preocupação sem fundamento, quase se esqueceu até onde estava. Meu Deus, ela era linda demais. O que ele faria sem ela?
O que faria se a perdesse um dia?
fez o pedido ao vendedor, que se abaixou para pegar dois copos grandes e apontou para a máquina de refrigerante ao lado, uma padrão de refil, com vários bocais dos mais variados sabores existentes. Enquanto ele preparava a pipoca, ela se virou para Jungkook mais uma vez, ainda imóvel no mesmo lugar.
— Qual sabor você quer?
— O mesmo que o seu.
— Bom, o guaraná só tem no Brasil — brincou, e Jungkook levou um segundo para entender e conseguir soltar uma risada mais natural. — Vou pegar coca cola. Pega a pipoca.
Ele assentiu e a viu voltar para a máquina. Ele respirou fundo e forçou todos aqueles pensamentos desnecessários a irem embora, pensamentos que já teve antes e que achou que tinha superado, que superaria com , mas certos medos apenas te enganam e se escondem, ficando ocultos por tanto tempo que você acha que deixaram de existir, mas na hora H… você retrocede. Se transforma na mesma pessoa que tanto evitou ser.
O homem, novamente, não esboçou reação alguma ao vê-lo na hora de entregar o balde de pipoca grande, apesar de ter espichado mais a atenção na direção daquele moletom esquisito que o maknae usava, mas nada além disso. Jungkook acreditou piamente que ele não o reconheceu, ou que eram aquele tipo de pessoa que simplesmente não se importavam. Ele catou uma nota grande de 100,000 wons do bolso e deu na mão do sujeito quando deu as costas, agradecendo-o em voz baixa e caminhando para a outra máquina, encontrando a namorada com os dois copos de papel cheios até a borda com o líquido escuro e borbulhante da coca cola.
A passeata ansiosa e torturante de Jungkook teve fim assim que entraram no negrume da sala, e quando se sentaram nas poltronas dos fundos, Jungkook pode finalmente se acalmar e olhar ao redor, captando o telão em branco, a pipoca no meio dos dois, os refrigerantes, o cheiro de rolos de filme e o ácido nítrico bem suave no ar, e … Sua namorada, parceira, tão atenciosa e cuidadosa em todos os detalhes, abraçando uma fantasia sua que ele nunca sequer tinha se abrido sobre.
Foi ali que ele se sentiu feliz, realizado, completo. Não tinha mais nada que quisesse naquela hora, nada mesmo. Tinha tudo que queria, que precisava. Estava realizando um tipo de sonho – por mais simples, clichê e idiota que fosse. Mas sonhos eram sonhos. E naquela noite, estava se sentindo mais Jeon Jungkook do que jamais sentiu.
A tela se apagou e voltou a se acender com a intro da MGM dos anos 70, o famoso leão rugindo dentro de um círculo. A trilha sonora retumbou pelas paredes acústicas, a famosa soundtrack correndo com os créditos no início. Duas ou três pessoas entraram depois, andando bem devagar para achar um bom lugar, todas com suas pipocas e suas bebidas. Uma senhora, ainda mais idosa do que a da entrada, arrastou uma bengala para se posicionar há duas fileiras à frente de Jungkook e , e tirou um pacote de salgadinhos da bolsa grande, fazendo Jungkook segurar uma risada. O espaço era tão compacto que pareciam apenas cidadãos se reunindo em uma sala de estar. Ele se espantou por alguém nessa idade estar consumindo coisas tão artificiais, mas assim eram as pessoas. O povo no geral. As pessoas comuns que, há tanto tempo, ele não convivia, não conversava, não chegava perto. Tudo ao seu redor se tratava de números, estrelatos, títulos, nomes grandes, pessoas sendo sempre reconhecidas por outras pessoas. Não havia um único lugar que pisasse que não fosse ser observado, reconhecido, cumprimentado. Desconfiava que até se se escondesse no meio de árvores, os próprios passarinhos o dedurariam. Aquela era uma experiência que queria ter há muito tempo, que precisava ter.
entrelaçou seus dedos e ele automaticamente os puxou para cima para beijá-los. Abriu um sorriso grande para ela e se inclinou para beijar sua boca também, mas chegou para trás e balançou a cabeça em negação, apontando com queixo na direção da entrada, onde a velha senhora da bilheteria estava de olho bem aberto.
Ele mordeu o lábio e assentiu, apertando seus dedos com mais firmeza. Então, finalmente, Stallone entrou pela porta de seu apartamento e foi cumprimentar Cuff e Link* no aquário, iniciando sua aventura épica como Rocky Balboa.

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Se o cinema não tivesse horário para fechar, Jungkook teria gostado de permanecer dentro daquele escuro, com a atmosfera inalterada e perfeita com . As quase 4 horas de repetição dos eventos de Rocky passaram sem nenhum problema ou distração, ainda que a receita de bolo dos filmes fosse a mesma. Balboa começava fodido, descobria um campeonato, tinha divergências com o amor de sua vida Audrey, um evento específico virava o estopim que o colocava no ringue nos últimos 20 minutos de cada filme, ele lutava, apanhava, apanhava pra valer, e claro, ganhava com louvor, com um super cílio que o deixava sem enxergar em um dos olhos, o nariz quebrado e torto para o lado e o lábio rachado, fazendo seu discurso patriota e reiterando no final o quanto amava Audrey, sempre assistindo de casa ou longe da arena.
tentou argumentar que a entendia por querer fugir dessas coisas e tentar convencer o marido a fazer o mesmo, mas os argumentos de Jungkook provaram que ele seria um Balboa na certa. Em várias partes dos filmes, ele corrigia um golpe ou outro, dizendo que estava errado porque a posição do cotovelo estava errada, e que um movimento minúsculo fora da rota provava como as lutas eram ensaiadas e ainda mal ensaiadas, porque Tommy o tinha ensinado o verdadeiro boxe. ria e prestava atenção, achando graça por dentro, mesmo que por fora ele parecesse estar falando muito sério, mas ele não conseguia ficar sério o suficiente naquele moletom engraçado.
Mas quando ele falava assim, era muito difícil resistir à vontade de beijá-lo. E ela queria beijá-lo, queria muito, e teria feito isso se não fosse pelos olhos de águia da mulher da bilheteria, que aparecia de 5 em 5 minutos para vasculhar a sala, o que era um pouco exagerado, mas talvez aquela senhora estivesse preocupada com mais do que uns beijos na boca. Talvez com vandalismo, malfeitores e comida clandestina como a da idosa na fileira da frente. Vai saber. Mas ela estava atrapalhando um dos auges do clichê de cinema que fazia parte da lista de surpresas pra Jungkook: o beijo. Aquele momento em que o escuro e as mãos juntinhas faziam o próprio serviço. O momento que o beijo na tela deveria ser reproduzido na vida real. não conseguiu isso e ficou meramente frustrada. Tudo bem que só faziam algumas horas que tinha trepado com ele em uma pedra quente e molhada, com um pouco de areia e lodo no alto de uma praia, mas ainda assim, ela queria o beijo de cinema!
Ao subir os créditos do último filme, estava pronta para se levantar e deixar o lugar, assim como todos do recinto começaram a fazer, mas sentiu as mãos dele puxando as suas para que ela permanecesse. Dois segundos depois, mal teve tempo de virar a cabeça e perguntar alguma coisa. Foi tomada pelo beijo forte, pela mão na nuca, pelos dedos no seu cabelo, pela sua língua furiosa que desconfigurou todos os seus sentidos.
Ela o beijou de volta, entendendo parcialmente o raciocínio dele: alguém tinha que parar o filme na sala de projeção. Alguém tinha que interromper a rolagem e só poderiam fazer isso depois dos créditos extremamente demorados de antigamente. Jungkook duvidou muito que o cara da pipoca fosse querer deixar o lugar em que estava tão confortável, então só havia a outra opção óbvia. E ele aproveitou.
Aquele amasso pareceu ter durado o tempo de uma vida inteira, e só foi interrompido porque precisava respirar e um pouco de líquido escuro tinha tombado nos seus pés, expostos em uma sandália aberta. Ela arfou e se abaixou para pegar o copo de volta, totalmente desorientada.
— Temos… temos que ir — imediatamente, começou a juntar tudo, jogar os copos na tigela de pipoca, sentindo a bochecha arder sem motivo nenhum enquanto Jungkook sorria e mordia o lábio inferior daquela forma sacana de sempre, do jeito certo que a fazia ter certeza que enlouqueceria. Todo dia. Ele amava isso, amava o que causava nela, e duvidava que algum dia iria deixar de amar. Sabia a fórmula perfeita de fazê-la se apaixonar e sentir tesão todo santo dia.
Os dois finalmente se levantaram, sendo os últimos a deixarem a escuridão eterna da sala, encontrando logo depois a mesma senhora bem prostrada na saída, segurando um saco de lixo azulado e com uma expressão um tanto carrancuda. levou um susto com a presença repentina, e quase deixou cair o copo de plástico no chão.
— Se divertiram? — ela murmurou com a voz cansada e arrastada, mirando os dois com intimação. e Jungkook assentiram na mesma hora, rápido demais. — Jogue o lixo, garota, não temos a noite inteira — ela resmungou, e percebeu que a velha segurava a sacola há vários minutos. murmurou um “ah” e desculpou-se rapidamente enquanto jogava o balde e os refrigerantes, vendo-a logo em seguida fechá-lo e sair para o outro lado em meio a resmungos que se pareciam com “esses estrangeiros…”
Foi só ela se afastar para que Jungkook e começassem a rir disfarçadamente, se apressando para sair do lugar, novamente com aquela sensação eufórica de aprontar e sair ileso, a adrenalina inflando seus sistemas, uma sensação grandiosa que procuraria ser atingida mais vezes.
— Será que ela é sempre mau-humorada assim? — ela perguntou quando chegaram ao carro do outro lado da rua — Ou será que ela não gostou de mim?
— Muita gente nesse país não gosta de quem não é desse país, e geralmente tem a cara dessa senhora. Ela deve ser mais uma que pensa que tudo fora daqui é cocaína e pornografia, como se fôssemos inocentes ou coisa do tipo — ele bufou levemente enquanto se ajeitava no banco do motorista e jogava a bolsa no banco de trás.
— Então ela pensou que eu iria me ajoelhar no escurinho e chupar você por trás das poltronas?
— Tenho certeza que sim — ele riu, umedecendo os lábios — Você era o lobo mau e eu uma pobre ovelhinha nativa.
— Pobrezinha, quem sabe uma voltinha por Seul não faça ela mudar de ideia — deu de ombros e Jungkook riu de novo, encarando o relógio no painel. 23:35. Tarde demais para ir jantar e cedo demais para voltar pra casa.
— O que você quer fazer agora? — perguntou ele, acariciando o cotovelo de em gesto automático.
esperava essa pergunta. Já tinha a resposta na ponta da língua.
— Vamos em um lugar.
— A essa hora? Onde?
— Dirige em linha reta e depois vira à direita. Você vai saber quando vir.
Jungkook franziu o cenho e abriu a boca para perguntar, mas balançou o dedo indicador em negação e apenas apontou com o queixo para frente, sem perguntas.
Ele aceitou e girou a chave na ignição, dando uma última olhada pela rua antes de partir.

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Jungkook ficou parado por um tempo indeterminado, observando as luzes enfileiradas em postes de um lado para o outro, como se absorvesse a própria luz para dentro. Inspirou e expirou o ar calmo da noite, sentiu um pouco de frio que a maresia longínqua do porto de Mangjangpo fazia há mais de 20 quilômetros de distância, viu pontinhos brilhosos que se pareciam com vagalumes pairando embaixo das lâmpadas altas, mas talvez fosse apenas falha de percepção.
puxou sua mão e ele deixou-se ser guiado pela passarela semi iluminada, com o chão de paralelepípedos tortos e outros em falta, dando lugar a pedaços de folhas mortas, gramado amassado, terra escura e velhas flores. Ele arrastou os tênis por toda essa cascata da natureza, virando os olhos para todos os cantos não com a ansiedade e medo de antes, não com aquela parcela grande de preocupação em ser visto, mas sim porque… Aquela junção de tudo, as luzes fracas, os arbustos ao lado formando cercas vivas, as árvores altas e as flores ao redor, e até os falsos vagalumes…
— É lindo — ele suspirou quando finalmente pararam, soltando a mão de para conseguir passá-la pelo rosto surpreendido. — Aqui é lindo. Como você descobriu isso?
— Era o único lugar que estaria aberto depois das 21:00. E eu não queria ter que subornar outro porteiro — ela deu de ombros, sorrindo lindamente por baixo daquela claridade cinzenta e voltou a pegar a mão dele. — Mas essa não é a questão. A questão é que vamos fazer uma coisa muito importante agora.
Ela recomeçou a andar. Jungkook a acompanhou, devagar, pé ante pé, virando a cabeça para os lados em um minuto ou outro, esperando alguma coisa, alguma coisa grande. O lugar parecia gigantesco, e ele tinha se lembrado da placa presa na entrada, indicando o Camellia Forest, uma enorme propriedade com dezenas de quilômetros quadrados de árvores, muitas árvores. Uma verdadeira porção arbórea no litoral, com os arcabouços muito bem podados e que certamente lotava na primavera, quando as flores desabrochavam, criando um corredor magnífico de cerejeiras e outras espécies, coisas assim de dramas de TV, assim como se enchia de neve interminável no inverno e dava a oportunidade de casais escreverem as iniciais nos cascos das árvores ou no chão, mas ali, no fim do verão, Jungkook só estava sentindo a brisa fresca, o acolhimento dos dedos entrelaçados nos de , tendo certa dificuldade em decidir quando tomaria a iniciativa para perguntar o que ela estava tramando porque já estava se sentindo um idiota por não ter descoberto.
Porque ela claramente tinha um plano.
— Tem algum animal exótico por aqui? — ele quebrou o silêncio confortável, um pouco hesitante. — Um laguinho? Um chafariz de chocolate? Imitação da aurora boreal?
riu pelo nariz e não disse nada. Jungkook esperou uma resposta que não veio. Já estava ficando ansioso.
— Eu não sou tão bom assim pra adivinhar as coisas. Vai, me conta.
— Não tem nada pra você adivinhar.
— Claro que tem. Por que estamos caminhando nesse parque tarde da noite como se fôssemos dois adultos de meia idade com…
Ele parou de falar. A revelação pareceu estourar na sua cabeça. Antes que ele sequer externasse suas suposições, parou de andar e se virou para ele, com um sorriso ameno, acolhedor, trazendo tanto amor nos olhos que o deixou sem palavras.
— É exatamente o que estamos fazendo. Caminhando. Como um casal normal — ela indicou o queixo para as mãos entrelaçadas, dando de ombros. — Talvez o normal não seja fazer isso à meia noite, mas eu gosto de pensar que temos o nosso próprio normal. Fazer o que todo mundo faz quando não estão fazendo, sabe? Acho que você viveu tempo demais só de um lado da moeda, então quero te mostrar como seria o meu lado. Transformar em nosso. E sei que você quer momentos assim tanto quanto eu.
Um pássaro cantou ao longe, algum animal noturno deve ter se embrenhado naqueles arbustos, mas Jungkook permaneceu parado, estático, até um pouco enrubescido enquanto olhava para e sentia o coração inchar, chegar perto de explodir. Ela parecia calma, serena, com seu vestido azul de flores vermelhas e as sandálias de tiras, com maquiagem leve e agindo como uma garota qualquer de 23 anos em um encontro qualquer com seu namorado qualquer, sem ter nenhuma ideia de que estava longe de ser uma pessoa qualquer. Naquele momento, ela era muito mais do que Jungkook conseguia dizer, do que conseguia colocar em palavras. Ele se sentia um pouco idiota por não ter se tocado de suas intenções tão simples antes, mas como poderia? Ele nunca tinha vivido algo tão banal quanto aquilo para sequer pensar na possibilidade. Sempre achou que seria extremamente improvável que quisesse ter encontros daquele tipo antes de contabilizarem um tempo razoável de relacionamento, um bom tempo, suficiente para que ele tivesse arrumado todas as desculpas possíveis caso fossem pegos. Não imaginaria que ela faria tudo que estava fazendo hoje. E não imaginava que se sentiria tão bem com isso, tão seguro, tão feliz e entregue.
Ele não parou de olhar pra ela por um tempo absurdamente longo, um que estava começando a preocupar .
— Jungkook? Ei…
Ele a puxou repentinamente para perto, passando os braços pelos seus ombros até abraçá-la. Abraçá-la com força, apertando seu corpo contra o seu, marcando cada curva dela no seu esqueleto. deu um risinho contra o peito dele e o abraçou pela cintura, sentindo-se feliz pela felicidade dele. Jungkook estava sendo inundado por um tsunami de sentimentos, mas gratidão era o maior de todos eles no momento. Uma gratidão imensa por se sentir do jeito que estava: visto, valorizado, cuidado, acolhido, ouvido. Era emocionante, em certo ponto. Se sentiu tão amado que não resistiu em amá-la também, de novo e de novo, um pico forte e quase cego que seria capaz de sentir pelas batidas vibrantes do seu coração.
— Você não existe, — disse ele, ainda abraçado a ela, ainda sem saber quando iria soltá-la. — Você não existe.
se pressionou para mais perto, afastando a cabeça para depositar um beijo no seu nariz.
— Só estou deixando tudo com cara de primeira vez pra você. É a nossa primeira vez. Merecemos um pouco de banalidades estereotipadas.
Ele riu alto e beijou sua boca em um selinho calmo, forte, gostoso, absorvendo seus lábios para dentro dele, deixando-se ser levado para dentro dela também, seu próprio paraíso particular, uma pequena parcela de toda a divindade que ela era por inteiro.
— Te amo — sussurrou, e tomou a liberdade de beijar seu nariz também. — Te amo muito. Nossa, te amo demais. Acho que você precisa pegar leve porque sou muito novo pra ter um ataque do coração, e não sei se aguento mais uma dessa. É sério! — Ele sorriu de encontro ao sorriso dela, ficando perto desse jeito por outra escala longa de tempo, sentindo o vento passear pelas bochechas e o zunido de insetos nos ouvidos. — Amei isso. Amei cada detalhe. Você é linda e genial e, pra ser sincero, sou o cara mais feliz do mundo agora. Do mundo mesmo, porque em todos os lugares, só eu estou com , e é só eu que tenho o privilégio de ter o coração guardado com você.
mordeu o lábio inferior dele, beijou seu queixo, a maçã do rosto, o espaço entre as sobrancelhas, tudo com um carinho exacerbado de quem quer marcar território de um jeito nobre, de quem se sente tranquilo por ter encontrado sua outra metade e um depósito mútuo para o seu coração, reciprocidade. Intimidade entre duas pessoas era vista de longe, quem amava de cara limpa e sem preocupação, assim como era explícito quem sobrevivia de migalha, de sobras da atenção do outro. Jungkook e tinham tomado uma importante decisão de se amarem, e isso, naquele momento e naquela fase da vida, bastava. Quem diz que só amor não basta, não acredita que ele abre caminhos para todo o resto. Que amor + amor = confiança, que é igual a disposição, que é igual a esperança, paciência, honestidade, que é igual a tudo que já se conhece.
— Te amo tanto — ela soltou um suspiro pesado, guardado, um que foi quase um choro de tão expandido. — Ainda não acredito que isso tá acontecendo. Que você foi capaz disso, que eu fui capaz. Às vezes eu acordo e fico apavorada nos primeiros dois segundos que não vejo o Bam na entrada do quarto, ou não te vejo dormindo, ou não escuto o chuveiro, ou não sinto o cheiro do seu café. E quando vejo, quero voltar a dormir pra não pensar que tudo pode desaparecer, porque talvez eu não vá saber lidar com tanta sorte e felicidade na vida. Nunca tive isso. Nunca achei que teria algum dia. Não pensei que ter meus planos destruídos de um dia para o outro fossem me trazer algo tão bom, mas… — ela parou e riu fraco, pegando o rosto dele entre as mãos enquanto roçava com o dedo por trás das orelhas, no nariz dele, em qualquer pontinho do rosto. — Eu amo você, Jungkook. De verdade. Mais do que já amei alguém na vida. Você é lindo, generoso, corajoso, talentoso, determinado, sensível e a maior estrela do mundo. Está destinado a coisas muito maiores do que pensa. Eu tenho certeza disso — ela levantou os pés para beijá-lo de novo, mais rápido e com um toque a mais de ternura. — Feliz aniversário.
Jungkook mal escutou a última frase. Ainda estava preso nas palavras de , na forma como ela o olhou, com tanto carinho e amor que ele achou que seria capaz de estourar, e quando seu entendimento chegou na última proposição, ele franziu o cenho confuso e puxou seu pulso para a frente do nariz, mostrando as horas no relógio digital de pulso que ele mal usava.
00:01.
1º de setembro.
Ele sorriu. Sorriu muito, sorriu com alegria, com gratidão pela primeira vez, em muitos anos, estar completando mais um ano de vida. Pelo padrão daquela data, Jungkook estaria entrando no seu carro no dia anterior e traçado uma longa jornada na estrada para qualquer outro lugar, qualquer outro país se fosse o caso, louco para ficar bêbado e transtornado com seus amigos mais próximos e outras pessoas importantes. Um ou dois dias depois iria estacionar em Busan, abraçar seus pais, levá-los para jantar, dizer que era muito grato por tudo e voltar para a capital, sentindo-se a mesma pessoa de sempre porque não acreditava que a idade transformava algo em você. Ainda acreditava nisso.
Mas naquele 1º de setembro, Jungkook se sentia diferente, e sabia que um número não tinha nada a ver com isso, mas uma montanha de coisas que estavam relacionadas com a garota à sua frente e seu sorriso lindo. A presença de alguém que iluminava suas qualidades, sua simplicidade e seu eu de verdade, sem esconder nada, sem precisar disso. Só de estar ali, sentindo o que estava sentindo, mostrava que tomou a decisão certa no dia daquela tempestade. Valia a pena todo o resto.
Ele puxou o rosto dela pra mais perto da mesma forma que ela fez, e os dois riram enquanto estavam enclausurados nas mãos um do outro.
— Pena que você esqueceu sua câmera — ele depositou um beijinho em , contorcendo o rosto em uma careta. — Mas quero dar um jeito nisso.
Ele a soltou e se virou para trás, olhando para todos os lados possíveis no escuro até achar o que estava procurando. Em um instante, Jungkook marchou por cima dos cascalhos e das folhas mortas até uma árvore baixa, escondida entre arbustos e mais folhas ainda, esticando o braço para cima e retornando com um ponto de cor amarelado nas mãos, talvez pela virada da estação, talvez por ainda estar agarrada no verão.
sentiu o pequeno caule da flor atrás da sua orelha pela segunda vez no dia, e as pétalas grandes e arredondadas fizeram carinho na sua bochecha e na lateral do olho.
— Você é linda — ele colocou a outra mecha de para trás, sentindo o coração disparar no peito, arrepiado. — É a mulher mais linda do mundo. Quero guardar seu rosto pra sempre.
Uma frase estalou na mente de Jungkook, uma que não pensava há muito tempo, uma que já tinha tido na presença de uma vez, quando a levou ao Covil e reparou no seu rosto, livre de julgamentos internos e de ressentimentos sem sentido.
Seu rosto é o que eu quero lembrar. O corpo é o que eu quero sentir.
Existem coisas para serem lembradas e coisas para serem vividas.
Então, ele puxou o celular do bolso de trás e apontou a câmera para ela, que se sentiu repentinamente sem graça e as bochechas corando.
— Jungkook…
— Me deixa tirar essa. Por favor — ele juntou as mãos em uma súplica. — Hoje é meu aniversário.
Ela revirou os olhos pela chantagem, mas deixou um sorriso espontâneo pintar seus lábios até que ele posicionasse a câmera e clicasse. Tirou várias, uma atrás da outra, e comentou que ela estava igual à princesa Moana da Disney. Ela riu mais uma vez e virou o rosto para o lado, e mais uma foto. Mais outra e outra. Até que ele mudou a câmera e a chamou para uma foto em conjunto. Já tinham algumas várias fotos deles juntos até aquele momento, a maioria tirada de momentos íntimos, sem preparação. Daquela vez, Jungkook passou os braços por sua cintura e a puxou para perto, e automaticamente sorriu.
Antes que ele apertasse no click, ela virou o rosto para beijar sua bochecha. Na próxima, ele virou e a beijou na boca. A iluminação baixa serviu para deixar a flor do cabelo dela mais aparente, e o sorriso dele também.
— Temos que ir. Eles devem estar procurando a gente. Não sei como ainda não ligaram — disse depois da sessão, e Jungkook deu de ombros.
— Coloquei o celular no modo avião.
— Eu também — e os dois riram. Jungkook pegou na sua mão de novo e estava pronta para dar meia volta e ir para o carro, mas ele a puxou de volta.
— Ei, espera. Será que… a gente podia andar mais um pouco? Completar a rota.
viu a sinceridade quase desmedida naquele pedido. A súplica de quem ainda não queria acordar para a realidade de um sonho.
Ela concordou com a cabeça, voltando à posição original.
— Como você quiser, Jeon.
E assim, os dois fizeram o restante do trajeto a pé.

・ ❬📸💔❭ ・


Era quase 1 da manhã quando Jungkook e finalmente entraram pela porta da frente, o que fez o susto pelo “feliz aniversário!” berrado com direito a chuva de confete antes que sequer pisassem no batente soar muito mais assustador.
Jungkook pulou de susto para trás, agarrando a mão de na mesma hora, sem entender nada de imediato. O ambiente estava escuro, as janelas estavam fechadas, não havia um único barulho de grilo vindo de dentro ou fora da casa e de repente… Candice e Yoongi estavam gritando, batendo palmas, sorrindo enquanto seguravam um pequeno bolo redondo com uma vela em cima.
— Nossa, vocês demoraram pra cacete, sabem que horas são? — Candice bufou e andou na direção de Jungkook, metendo um chapéuzinho de papelão em sua cabeça com o desenho do Buzz Lightyear. — Achei que tinha dito que iam voltar à meia noite.
Ela olhou para ao dizer. A garota suspirou forte e revirou os olhos.
— Achei que vocês só iriam fingir que sumiram, e não sumir de verdade.
— A gente não sumiu.
— Eu sei, eu ouvi.
— Gente — Yoongi interrompeu antes que Candice abrisse a boca, chamando a atenção das duas. — Deixem o aniversariante passar.
percebeu que estava na frente do namorado, que olhava para as duas com as sobrancelhas franzidas em busca de entender o que estava acontecendo. Ela saiu da frente com um olhar de desculpas, puxando-o para dentro e posicionando-o diante do bolo.
— Calma aí, tudo foi um plano de vocês? — ele olhou para todos, um pouco chocado. Depois, se virou pra . — Eles nunca iriam ao cinema com a gente, não é?
Todos negaram com a cabeça.
— Nunca teve combinado, não é?
Outra negação.
— Caramba, eu nem desconfiei — ele soltou um muxoxo. Yoongi ergueu ainda mais o bolo, impaciente com o fogo da vela que descia cada vez mais.
— Sopra logo isso antes que você fique sem bolo.
— Não se esqueça de fazer um pedido! — disse Candy.
Jungkook riu pelo nariz. Olhou para , que acabava de pegar um chapéuzinho do Buzz para si mesma, olhou para Candice que parecia ter os olhos surpreendentemente brilhantes e animados, o que não se sabia se foi pela reconciliação inesperada com Yoongi ou porque amava festas e comemorações no geral – ela parecia longe, há anos luz de ter odiado o maknae algum dia –, e olhou para Yoongi, um tanto baixo e vestido de camisa branca larga, uma bermuda neutra e chinelos, usando o mesmo chapéu de papelão que estava torto nos fios negros e longos, como se tivesse lutado para não usar.
Jungkook olhou para todos. Uma vez e duas vezes sem piscar. Abaixou o queixo e soprou a vela.
Ouviu o click da câmera de no exato momento em que soltou o ar para a chama. Ouviu mais um quando Candice bateu palmas. Yoongi entregou o bolo para Jungkook e o fotografou de novo. Candice pegou a câmera e fotografou os dois juntos. A mesma Candice registrou Yoongi e Jungkook tentando cortar o bolo e se sujando de glacê. tomou propriedade da máquina mais uma vez e programou em cima de uma mesa para os 4. Fizeram poses engraçadas, poses sérias e poses românticas. e Candice se abraçaram em uma foto enquanto Yoongi e Jungkook passavam um braço pelo ombro do outro. Candice passou um braço pelo cotovelo de Jungkook enquanto riam de alguma piada que uma foto não revelava. franzia o cenho para Yoongi como se ele tivesse reclamado de algo que ela não concordava, e isso poderia ser muito bem o recheio do bolo. Sorrisos, poses, espontaneidade, tropeços, caretas, sujeira, a nova Nikon de pegou tudo.
E Jungkook tinha certeza de que aquele era o melhor aniversário de sua vida.
— Ei, tá na hora — Yoongi bateu em seu ombro depois de 40 minutos de comemorações. O maknae franziu o cenho, ainda mastigando um pedaço de bolo — Sua live de aniversário. Ordens da empresa.
Jungkook se colocou de pé num salto, os olhos saltando das órbitas.
— Puta merda, a live! — ele engoliu a massa de chocolate com força, batendo as mãos em cima da mesa de centro para se livrar das migalhas.
— Uma live agora? — Candice perguntou.
— Para o resto do mundo, o horário tá perfeito. E é uma tradição.
— É, por mais que eu odeie ela agora — Jungkook murmurou, mas não parecia sério o suficiente. Não parecia que odiava de verdade essa parte do trabalho. Não odiava. Apenas queria ignorar por um momento, postergar as felicitações públicas para estender as felicitações de quem realmente importava, ali, naquela sala ampla de um casarão.
Ele puxou o celular do bolso e o ligou, virando-se para Yoongi.
— Trouxe o violão?
Ele assentiu, porque era lógico que tinha levado.
— Beleza, vou para o deck — ele se virou para seguir para os fundos, mas parou em no meio do caminho, que ainda segurava um pratinho com um pedaço de bolo pela metade e uma carinha de cachorro abandonado. — Desculpe por sair assim, linda, prometo que vou ser rápido.
imediatamente relaxou os ombros e sacudiu a cabeça.
— Não se preocupe. Vou guardar o seu bolo — e se aproximou dele para sussurrar: — E vou te esperar na cama.
Jungkook não disse nada. Só sorriu, e sorriu e sorriu até beijar o sorriso dela com o seu.
— Amo você. Obrigado por isso — ele se virou de repente, colocando a mão nos cabelos loiros de Candice, que estava sentada no sofá com seu pratinho, e bagunçou-os como se ela fosse um cachorro. — Obrigado você também, Candy.
— Pra você ainda é Candice! — ela rosnou, empurrando a mão dele para longe do seu cabelo. Jungkook riu alto.
— Já era, agora somos família, aceita de uma vez — ele deu de ombros e começou a se afastar na direção do deck, arrumando e bagunçando o cabelo ao mesmo tempo, achando uma boa posição no meio dos móveis de madeira que fornecesse uma boa luz e vedasse qualquer ruído.
Antes de abrir a transmissão e antes que Yoongi aparecesse com seu violão, Jungkook se viu diante da câmera frontal e percebeu que ainda estava usando o moletom roxo capenga e proposital de . Imediatamente, teve o impulso de arrancá-lo, mas então parou, lembrou de todos os lugares em que esteve com ele e o deixou ali, bem alinhado, transformando-o em uma das peças mais especiais de sua vida.
Jeon Jungkook tinha 25 anos. E se sentia, finalmente, vivo e feliz de novo. Pronto para viver.
Pronto para conquistar o mundo.


To be continued...

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