Última atualização: 23/12/2017

Capítulo 1

4 de Julho. Essa era uma das minhas datas favoritas no ano e o segundo feriado favorito, perdendo apenas para o Natal.
Eu me considero uma verdadeira patriota, não apenas por carregar o nome de meu país, como, principalmente, pelo enorme amor que floresci por minha nação através das histórias que minha vó me contava quando eu era criança, sobre a época que meu avô serviu ao Exército, na guerra do Vietnã.
Sendo assim, todo ano, nesta mesma data, eu vestia o meu top cropped, estampado com a bandeira dos EUA, e minha saia de tule branca e saía orgulhosamente pelas ruas de Louisville, uma pequena cidade no Colorado, até o centro da cidade, onde acontecia o festival beneficente no parque local.
Agora eu me encontrava, convencida por minha prima Georgia, em frente a uma barraca de tiro ao alvo, sem nem mesmo saber como segurar aquela espingarda.
– Eu não sei como fazer isso! – protesto.
– Só tenta, ! – ela responde.
Tento mais uma vez e não consigo me estabilizar devido ao peso da arma, e quase a deixo cair no chão.
– Você está fazendo errado – ouço uma voz masculina atrás de mim, e sinto suas mãos fortes em meus quadris, deslocando meu corpo. – Afaste mais as pernas e deixe os pés paralelos, para ter mais estabilidade – o estranho continua e eu obedeço. – Deixe a mira na altura da sua visão, apoie a coronha em seu ombro e só coloque o dedo no gatilho quando tiver certeza de que vai atirar. Respire fundo e depois solte metade do ar e, só então, atire.
Sigo cada instrução com o máximo de concentração que consegui e atiro três vezes. Ao sair do transe, percebo que exatamente três dos patinhos da barraca foram certeiramente atingidos e estavam caídos. Largo a arma sobre o balcão, solto um grito de empolgação e, devido ao momento de euforia, jogo meu corpo sobre a figura desconhecida que se encontrava atrás de mim.
Após me dar conta do que havia acabado de acontecer, afasto–me do rapaz, já sentindo meu rosto corar, e abro a boca algumas vezes, na tentativa de encontrar algum modo de me desculpar, porém a única frase que consegui formular foi:
– Prazer, sou – estendo–lhe a mão.
– ele aperta minha com uma expressão divertida. – Sabe, seu nome é bem peculiar.
– Aquela é minha prima Georgia – aponto para a garota atrás de mim, que dá "tchauzinho". – e ela tem uma irmã chamada California. Então acho que podemos concluir que minha família é altamente patriota – digo e ambos rimos. – Como posso agradecer ao gentil cavaleiro pela ajuda?
– Tem tempo para um cachorro–quente? – ele pergunta prontamente.
Olho para minha prima, em uma pergunta muda se eu deveria aceitar ou não, e ela balança a cabeça, afirmando, e sorri marota.
– Claro, por que não? – respondo e me reaproximo do balcão da barraca.
Resgato minha bolsa transversal preta, o escolhido prêmio pelos patinhos derrubados, uma boneca bailarina de pelúcia, e me despeço de Georgia.
– Então... – inicio, caminhando ao lado do homem. – Como você aprendeu a atirar? Não vai me dizer que é um bandido ou terrorista – digo, com o semblante falsamente horrorizado e ele ri.
– Sirvo ao Exército Militar dos Estados Unidos da América – responde, provocando–me um arregalar de olhos.
Só então percebo que seu corpo forte e atlético estava coberto por camisa branca com um símbolo, ao lado esquerdo do peito, de uma estrela amarela e branca dentro de um quadrado preto com a legenda U.S. Army.
– Oh... Isso explica muita coisa – concluo, fazendo–o sorrir.
Oh, Deus, e que sorriso.
Chegamos finalmente à barraquinha de cachorro–quente e cada um pediu o seu e, ao final, ofereço–me para pagar, pois lhe devia um favor. Caminhamos até um banco próximo e nos sentamos.
– Você deve sentir orgulho do que faz, não é? – comento e sinto seus olhos azuis sobre mim – Digo, servir ao nosso país. Deve ser uma grande honra.
– Considerando que é praticamente algo passado por gerações na minha família e meu sonho desde moleque, sim, eu sinto muito orgulho de servir ao meu país – ele dá uma mordida em seu sanduíche. – E você?
– O que tem eu? – rebato após morder um pedaço do meu.
– O que você faz?
– Sou bailarina – respondo com um sorriso.
– Isso explica muita coisa – ele aponta para a pequena boneca em meu colo, fazendo–me rir, divertida.
E então engatamos em uma conversa sobre nossas vidas e respectivas famílias e profissões, enquanto comíamos nossos cachorros-quentes.
O tempo passou tão rápido que me assusto ao olhar para o relógio e constatar que estava quase na hora dos fogos começarem e nós estávamos muito longe de onde eles eram lançados. Levanto–me assustada.
– Ai, não! Nós vamos perder a queima de fogos! – digo, apreensiva.
– Não vamos, não – o rapaz se levanta e segura a minha mão – Sei de um lugar ótimo de onde podemos ver.
nos guia por um caminho, até então desconhecido por mim, e quando dou por mim já estávamos subindo um pequeno morro ao lado do parque.
Ele para e se senta no chão, puxando–me junto. Olho para frente e observo que tínhamos a visão panorâmica da cidade dali de cima.
– Uau – exclamo, maravilhada – É lindo! Como nunca vim aqui antes?
– Eu costumava vir brincar com meus amigos aqui quando era criança. Agora venho para observar a cidade e pensar.
Balanço a cabeça, em forma de compreensão, e volto a admirar a cidade, esperando que os fogos comecem.
– Sabe, eu quero muito fazer uma coisa... – volto minha atenção para , que coçava a nuca, parecendo estar aflito. – Mas não sei se você vai querer e eu não quero te desrespeitar...
Uma fagulha de compreensão passa sobre o meu cérebro e eu sorrio, achando fofa a sua preocupação.
– Se você está se referindo a me beijar, não precisava nem me pedir – respondo e ele me olha assustado.
Logo a compreensão se apossa de seu rosto, ele sorri e um brilho diferente preenche seu olhar.
Sinto sua palma quente sobre meu rosto e me perco no intenso mar azul que eram seus olhos, enquanto seu rosto se aproximava do meu.
E, em poucos segundo, seus lábios estavam sobre os meus, misturando nossos gostos e sentimentos.
Sinto, pela primeira vez na vida, as famosas borboletas no estômago e ouço o barulho dos fogos começando. Sorrio em meio ao beijo.
Não existia momento mais perfeito.
– Feliz 4 de julho, . – ele sorri.
– Feliz 4 de julho, – repito, também sorrindo.
envolve meus ombros com seu braço, abraçando–me, e juntos admiramos as pequenas luzes coloridas preencherem o céu estrelado.
De repente, lembro–me de algo e emito uma risada, fazendo–o me olhar confuso.
– O que foi? Há algo errado?
– Não, é que eu lembrei de que, quando eu era pequena, minha vó costumava contar histórias para mim antes de dormir e uma dessas histórias era sobre um soldadinho de chumbo e uma bailarina de papel. É uma história linda, embora seja um pouco melancólica.
– Eu conheço essa história. Isso é bem... Curioso e inusitado.
– Talvez seja apenas o destino – deduzo e ele assente com a cabeça.
Esperamos os fogos acabarem e voltamos para o parque, e eu arrasto para todos os brinquedos. Fomos à montanha–russa, à roda gigante, ao carrinho bate–bate, ao chapéu mexicano, ao navio pirata, ao trem fantasma, à torre de queda–livre e, acredite se quiser, até ao carrossel.
Também aproveitamos para ir ao circo e comemos algumas besteiras.
Quando saímos do parque, já estava quase amanhecendo e só fomos embora mesmo porque já estavam fechando.
se oferece para me levar em casa, o que aceito de bom grado, um vez que havia perdido minha carona.
Adentramos sua picape branca, liga o rádio. Estava tocando uma playlist de músicas patriotas e no momento tocava um rock antigo intitulado American Girl, performance de Tom Petty & The Heartbreakers, se não me falha a memória.
– a essa altura do campeonato acho que tenho liberdade o suficiente para lhe dar um apelido – tamborilava no volante e balançava a cabeça no ritmo da música, enquanto entoava a letra de maneira pouco afinada.
Eu só sabia rir de sua performance de falso rockstar e acompanhá–lo em algumas estrofes.
Estava tão distraída me divertido que só reparo que já havíamos chegado quando para o carro.
Um silêncio enorme se instala entre nós.
Eu não queria sair dali, da aura divertida e aconchegante que havíamos criado.
Não queria que a noite acabasse.
– Bom, chegamos. – Ele aponta o inevitável.
– Pois é... – Suspiro.
Eu não sabia o que fazer. Não sabia se apenas lhe dava boa noite ou lhe dava um beijo ou, o mais covarde de todos, simplesmente abria a porta do carro e saía correndo.
sanou todas as minhas dúvidas quando levou sua mão até minha nuca e puxou meu rosto de encontro ao seu, beijando–me.
Sinto sua língua entrar em contato com a minha e, mais uma vez, senti aquela sensação de borboletas no estômago.
Droga, o que esse cara está fazendo comigo?
Eu sentia que esse beijo era diferente do anterior. Ele continha saudades sem nem mesmo termos nos separados ainda, a despedida que ambos não conseguíamos por em palavras e, principalmente, o desejo de que aquela noite se repetisse por muitas outras vezes.
Afastamo–nos, porém ficamos perto o suficiente para sentir a respiração um do outro.
– Boa noite, – ele sussurra, mais uma vez inundando–me com o abundante índigo de seus olhos.
– Boa noite, – sussurro de volta e ele sorri.
– Nunca me chamaram assim antes. Eu gostei.
– Serei a única a usá–lo então – digo em tom pomposo, provocando–lhe uma gargalhada.
Recolho meus pertences e pulo para fora do carro antes que me descontrolasse e pedisse para ele ficar.
Caminho em direção à porta de minha casa, enquanto vasculhava a bolsa atrás da chave da porta. Encontro um pequeno panfleto no fundo dela e um estalo em minha mente me faz voltar correndo em direção ao carro.
– Espera! – grito ao perceber que ele já havia ligado o carro. – Esqueci de uma coisa!
Aproximo–me e lhe entrego o papel, fita meu rosto, confuso.
– O que é isso?
– É um convite para a apresentação que vou fazer daqui a sete meses.
– Fico lisonjeado, mas confesso que eu esperava o número do seu celular ou algo do tipo.
– Olhe atrás da folha, bobinho – lanço–lhe uma piscadela, volto a caminhar em direção a minha casa e, antes que eu pudesse adentrá–la, ouço sua voz dizer:
– Vou estar na primeira fileira!
– Assim espero! – grito de volta antes de fechar a porta.
Assim que o faço, escoro–me nela e suspiro relembrando de todos os acontecimentos do dia.
É, hoje foi um dia e tanto.



Capítulo 2

Durantes os dias que se seguiram, troquei mensagens com . Em sua maioria falavam sobre coisas do cotidiano ou continham fotos engraçada e piadas tão ruim que só dois idiotas como nós dois poderiam fazer.
Toda essa intimidade que tínhamos adquirido nos últimos dias só me deixava cada dia mais ansiosa para vê-lo novamente.
E como se lesse meus pensamentos, assim que se iniciou a próxima semana, me ligou, chamando-me para sair.
Aceito, obviamente, porém lhe digo que precisava ir ao ensaio da apresentação antes, então marcamos de ele ir me buscar na Academia de Ballet.
Estava tão nervosa que acabei me distraindo e errando alguns passos, coisa que raramente acontecia, visto que eu sempre fico muito focada em tudo que faço, principalmente quando é em relação à dança.
Meus olhos encaravam o relógio constantemente, rezando para que o tempo passasse mais rápido; não porque queria me livrar do ballet e sim porque queria encontrá–lo logo.
Nunca havia ficado tão ansiosa para um encontro antes. Esse rapaz mal entrou em minha vida e já está virando– a de cabeça para baixo.
Após mais alguns minutos de agonia, o ensaio finalmente acaba. Antes que eu pudesse sair da sala, a professora me chama para conversar e diz que eu estava muito dispersa e errei coisas bobas. Peço–lhe desculpas, digo que tinha um compromisso e por isso estava ansiosa. Ela sorri, compreensiva, pede para que não se repita e me dispensa. Assinto e corro rapidamente para o vestiário. Tomo um rápido banho, visto minha melhor roupa e passo uma maquiagem leve.
No caminho até a saída da academia, encontro algumas das minhas colegas de classe. Elas me parabenizam por ser a atração principal da apresentação mais importante da academia; agradeço-lhes e confesso que estava nervosa sobre a apresentação. As meninas tentam me acalmar, dizendo que sou boa no que faço e iria me sair bem. Agradeço mais uma vez e engatamos em uma conversa sobre banalidades.
Subitamente, minhas colegas param de falar e andar e encaram um ponto fixo em nossa frente, estáticas. Ao levar meu olhar até o local que elas olhavam, entendo o motivo.
Encostado à porta dianteira do carro, com os braços cruzados, óculos escuros e um sorriso de deixar bambas as pernas de qualquer garota, estava .
Automaticamente um sorriso radiante brota em meus lábios e eu corro em sua direção, enquanto ele abre os braços e me recebe, transmitindo–me seu calor.
– Você chegou cedo. Pensei que fosse demorar mais. – Minha voz sai abafada contra seu pescoço estupidamente cheiroso.
– Se tem uma coisa que vai aprender durante a nossa convivência é que ser pontual é meu nome do meio.
– Ok então, Sr. Pontualidade. – brinco, fazendo-o rir.
De repente um estalo vem à minha mente. Ele disse "durante nossa convivência", então ele planejava levar esse pseudo-relacionamento adiante? Saber disso me deixava feliz. Muito, muito feliz.
– Suas amigas estão olhando para nós – ele sussurra – Aliás, elas estão me encarando como se eu fosse um grande e suculento pedaço de bife bem passado.
Rio de sua comparação.
– Dá um desconto, elas não estão muito acostumadas com a presença masculina. Principalmente se for bonito e hétero.
– Você acabou de admitir que eu sou bonito? – Um sorriso travesso surge no canto de sua boca, fazendo–me rolar os olhos.
– Não seja presunçoso.
– Longe de mim fazer isso! – ele levanta as mãos, como se alegasse ser inocente.
Olho de soslaio e constato que as meninas ainda olhavam em nossa direção e depois cochichavam entre si.
– Acene para elas – digo.
– O quê?
– Dá um "tchauzinho", sei lá! – viro–me de costas para , ficando do seu lado esquerdo.
Ainda sem entender, ele levanta a mão direita e a balança de um lado para o outro, sem esquecer, é claro, daquele sorriso encantador.
Ao perceberem que foram pegas, as garotas se afastam umas das outras, acenam, envergonhadas, e caminham de volta para dentro da academia.
Solto uma gargalhada, divertida com o acontecido e balança a cabeça e ri, não acreditando no que eu havia feito.
– Você é má. – ele acusa.
– Oh, querido, você ainda não viu nada! – Dou dois tapinhas em seu peito, abro a porta do passageiro e, sem ser convidada, adentro a picape. Logo ocupa o assento ao meu lado e dá partida no carro.
– Então, para onde vamos? – ele questiona.
– Pensei em uma sorveteria não muito longe daqui. É pequena e aconchegante, e eu estou morrendo de vontade de tomar sorvete – sugiro e concorda com a cabeça.
Dou as coordenadas e em menos de dez minutos já havíamos chegado.
Descemos do carro e caminhamos até o humilde estabelecimento de fachada listrada, nas cores rosa bebê e branco, que continha um letreiro escrito "Dulce's". Entramos e nos sentamos em uma mesa no canto.
O Dulce's é um dos meus lugares favoritos no mundo desde muito nova. É pequeno, simples e tem todo aquele ar de "casa da vovó". Sua decoração interna estilo retrô deixava tudo ainda mais agradável.
Logo a doce e gentil senhora caminha em nossa direção para nos atender.
¡Buenos Días, Señora Rosales! – digo em perfeito espanhol.
– Já disse para me chamar de Dulce, chica. Conheço você desde que era uma niña.
Isso era verdade. Por ser cliente assídua da sorveteria quando criança, acabei me apegando à Dona Dulce e criamos uma relação parecida com a de neta e avó. Ela é uma gentil senhora de setenta e poucos anos, imigrante do México, que se mudou para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Tudo que sei sobre espanhol e sorvete, aprendi com ela.
– E este hermoso Chico que estás contigo? ¿Eres tu novio? – ela pergunta, curiosa.
Aún no – respondo olhando para , que nos encarava como se fossemos duas alienígenas.
Dios mío! Esta juventude de hoje em dia! Na minha época só em pegar nas mãos já deveria casar.
– Acontece que os tempos mudam, Dona Dulce. Ninguém precisa mais ficar vivendo no período arcaico! – repreendo–a, nervosa.
¡Está bien! Não está mais aqui quem falou! – ela retira o pequeno bloquinho do bolso de seu avental – O que vai querer? O mesmo de sempre?
– Sim!!!! – grito empolgada, como costumava fazer quando criança. – E traga o mesmo para o meu... amigo.
– É para já!
Dulce se afasta de nós e volta para dentro da cozinha da sorveteria.
– Vocês duas são uma graça. – diz, rindo.
– Frequento isso aqui desde criança. Ela é como se fosse uma vó para mim. – explico e ele balança a cabeça, indicando que entendia.
– O que pediu?
– Deixa de ser curioso, logo você verá.
– Então... Amigo, hum?
Eu sabia que ele chegaria àquele tópico.
– Bom... Não temos exatamente uma relação, não é? Mal acabamos de nos conhecer. – comento, fingindo inocência.
– Ainda não, mas é algo que pode ser facilmente mudado. – ele pisca para mim.
Antes que eu pudesse lhe responder, a senhora Rosales se aproxima, carregando em suas mãos a bandeja com as duas tigelas grandes de Banana Split, com seis bolas de sorvete dentro. Vejo os olhos de se arregalarem automaticamente.
– Aqui está. – ela põe ambas tigelas sobre a mesa. – ¡Buen provecho!
ainda encara a sobremesa, pasmo.
– Você come tudo isso sozinha!? – assinto com a cabeça. – Eu nem sei se eu consigo! E olha que eu já comi de tudo na vida.
– Estou acostumada. – dou de ombros, dando uma colherada no doce. – Faço isso desde criança.
– Mas você não é bailarina? Não precisa ter uma dieta balanceada? – ele questiona, confuso.
– Eu até tento, mas nunca consigo. Doces e massas são uma tentação para mim. Além disso, sou o que chamam de “magra de ruim”, não engordo nem se que quiser. Sei que comer folhas como uma vaca a semana toda ou estar um quilo mais gorda não vai afetar nada o meu rendimento. O que realmente vale é o meu empenho nas aulas e nos treinos, por isso não me preocupo em ter o corpo perfeito. Sou feliz do jeito que sou.
– Fico feliz em saber disso. Você é linda e talentosa do jeito que é, não precisa mudar nada.
Sorrio, sentindo meu rosto corar por ouvi-lo falar de mim daquela forma.
– Seu rosto está sujo. – comenta.
– Onde? – digo, tentando desesperadamente limpar o meu rosto.
– Deixa que eu limpo. – ele afasta minha mão. – Aqui.
Ele leva seu polegar até o canto de minha boa, limpando-a, e depois leva-o até seus lábios rosados e perfeitamente desenhados, lambendo-o.
Eu observava a cena hipnotizada, dando o máximo de atenção a cada movimento seu que era feito. Quando meus olhos encontram com suas íris azuladas, carregadas de luxúria, um arrepio percorre minha espinha.
Oh, Deus, como eu estava louca para ter aqueles lábios grudados aos meus de novo.
– Pronto – ele conclui e sorri.
Algo dentro de mim foi atingido, fazendo-me perder o controle e largar o meu sorvete, aproximando-me de .
– Que tal a gente cortar o papo furado e ir direto para o que realmente interessa? – digo e, sem esperar resposta sua, agarra o pano da sua camisa, puxando-o para mim e grudando meus lábios aos seus.

*********


Depois daquele dia, eu e começamos a sair cada vez com mais frequência e para diversos lugares, mas, principalmente, para o cinema.
Eu sempre fui uma grande admiradora de grandes produções de Hollywood, porém o que mais me divertia eram os filmes de comédia.
Eu simplesmente adorava assistir àqueles filmes com piadas ultrapassadas e paródias que conseguiam ser melhores que o filme original.
Havia se passado exatamente um mês desde o dia que nos conhecemos e no momento havíamos acabado um filme de Jim Carrey, um dos meus comediantes favoritos.
Acabamos ficando para assistir aos créditos; sabia que eu adorava fazer, pois sempre tinha uma cena engraçada ou erros de gravação.
Mas naquele filme em especifico, nada aconteceu. A tela ficou totalmente escura, causando estranhamento em todos na sala.
De repente, um vídeo começa a rodar e percebe que nele continham fotos minhas e de . Levo minha mão até a boca, não acreditando no que estava acontecendo.
Em seguida, aparece de frente a câmera, sorrindo como sempre.
– Oi, – ele inicia. – Estou aqui hoje pagando esse mico na frente de uma sala cheia de pessoas. – Um coro de risadas é ouvido. – Para pergunta se você aceita ser mais do que só uma amiga com quem eu saio casualmente para assistir filmes de comédia e comer Banana Split. Espero que sua resposta seja sim, porque conseguir fazer isso aqui deu bastante trabalho.
Não consigo evitar a gargalhada que explode por minha garganta. O vídeo termina e as luzes se acendem.
Logo vejo se aproximar com um com as mãos nos bolsos e um sorriso tímido no rosto.
– Então... O que me diz? Você aceita ser minha namorada?
– É claro que eu aceito, seu idiota. Mas já vou avisando que como namorada eu sou muito mais chata do que como amiga.
– Tudo bem. – ele rodeia minha cintura com os braços. – Aceito qualquer condição, desde que seja você.



Capítulo 3

Em uma de nossas diversas conversas, comento com que, apesar de amar o inverno e o Natal, o outono era minha estação favorita do ano e meu sonho sempre foi ver “as cores de outono” – fenômeno que acontece nesta estação, em que as folhas perdem a clorofila e ficam amarelo– alaranjadas – de perto, e recebo a surpresa de que ele havia alugado um pequeno chalé por duas semanas, para comemorar nossos dois meses de namoro.
Feliz, arrumo minhas malas e colocamos o pé na estrada rumo à Aspen, uma cidade no nosso estado muito famosa por suas montanhas e floresta.
Enquanto adentrávamos a cidade, olho pela janela e me vejo encantada pela beleza e diversidade de cores espalhadas por entre as folhas pendentes nos galhos das aspens, árvores que originaram o nome à metrópole. Era tudo tão lindo que parecia surreal.
Ao longo dos dias que permanecemos, arrastei para todos os cantos; passeamos por todo o centro, visitamos diversos pontos turísticos, fomos ao museu e ao show de música, fizemos milhares de compras – em sua maioria roupas, porque não sou de ferro – e tiramos inúmeras fotos entre as deslumbrantes vistas que tínhamos da cidade.
Nos últimos dias de estadia, decidimos aproveitar somente a presença um do outro e ficamos apenas no chalé, saindo uma vez ou outra para o jardim quando queríamos admirar a natureza.
fez questão de preparar a comida para nós durante todos os dias que ficamos ali. Achei fofa sua atitude.
Agora estávamos deitados em uma cama improvisada de frente à lareira, depois de um maravilhoso jantar e uma longa noite de amor, entrelaçado um ao outro.
De repente se afasta, seu rosto expressava aflição, deixando–me preocupada.
, o que vou lhe dizer agora é algo muito sério, mas eu não quero que isso mude nada entre a gente, ok?
– O que houve, meu amor? – pergunto, receosa.
– Eu não disse antes porque não queria estragar a nossa viagem, mas, droga, não posso mais esconder is...
! – corto–o. – Fala logo!
Ele suspira, se senta de frente para mim, segura em minhas mãos e olha diretamente em meus olhos.
– Durante a nossa viagem, eu recebi um comunicado dizendo que a situação no Iraque está muito ruim e eles estão precisando de reforços o mais rápido possível.
Me perco em pensamentos, tentando assimilar e digerir as palavras que ele havia dito, e quando a realidade me atinge, sinto um aperto no estômago, um nó na garganta e lágrimas se acumularem em meus olhos.
– Isso quer dizer que... – minha voz sai em um fio.
– Eu terei que ir para lá. – completa; sua voz embebida de tristeza.
Eu sabia que essas seriam suas palavras, mas ouvi-las em voz alta doía milhões de vezes mais.
Sem que eu pudesse me controlar, sinto o soluço subir pelo meu peito e o choro rolar pelas maçãs do meu rosto. me envolve com seus braços, na tentativa de me confortar, porém eu sabia que não seria suficiente. Não dessa vez.
– Por favor, não chora, . – Sinto seus dedos afagarem levemente meus cabelos – Não importa o que aconteça, eu sempre voltarei para você. Antes eu não tinha motivos para voltar, minha vida era totalmente dedicada a servir minha pátria, mas agora eu tenho você e nada nem ninguém vai impedir de ficarmos juntos.
Ele afasta nossos corpos e leva suas mãos até o meu rosto, passeando seus polegares sobre minhas bochechas e limpando os vestígios das lágrimas que estavam por ali.
– Eu prometo. Você confia em mim? – ele pergunta, mirando profundamente o meu olhar com o seu. Anuí com a cabeça. – Ótimo. Então nada mais importa.
beija minha testa e volta a me abraçar, transmitindo-me seu calor e segurança.
– Tenho um presente para você – digo, depois de um tempo. – Dois, na verdade.
permite que eu me afaste dos seus braços e caminhe até minha mala, de onde tiro uma caixinha preta. Volto a me aproximar, lhe entrego o objeto e sento-me no chão, observando-o desembrulhar o presente, em expectativa.
Ele abre a pequena caixa e resgata de dentro dela a corrente prateada, que carregava um pingente retangular, com as bordas arredondadas, gravado com a bandeira dos Estados Unidos da América.
– Minha vó me deu essa corrente quando eu ainda era criança. Pertenceu ao meu avô na época que ele serviu ao Exército e funcionou como uma grande motivação; um lembrete de onde ele pertencia e para onde deveria voltar. Ela me disse para entregá-la somente nas mãos da única pessoa que eu quiser que esteja sempre comigo e que sempre volte para mim. Quero que seja um lembrete para você também.
Um sorriso carregado de sentimentos ilumina sua face.
– Não preciso de um lembrete, pois eu sei, com todo o meu coração, que eu sempre, sempre voltarei para você. Mas eu adorei, de verdade. – aproxima o seu rosto do meu, dando-me um selinho – Obrigado.
Sorrio de volta, feliz por ele ter gostado.
– E esse é o segundo presente... – Levo minhas mãos até minha nuca, abrindo o pequeno fecho do cordão e afasto-o do meu pescoço. – Sei que é bem infantil, mas eu ganhei isso quando fiz minha primeira apresentação de dança e tem sido meu amuleto da sorte desde então.
Deposito o cordão juntamente com a pequena bailarina, com uma pedra azulada em sua tiara, na palma de sua mão.
– Para lhe dar sorte e fazê-lo lembrar de mim sempre que olhar para ela.
Ele sorri mais uma vez, agradecido, e pede para que eu colocasse ambos os presentes em volta de seu pescoço. Eu o faço e em seguida sento-me de costas para , ele passa seus braços ao meu redor, apertando-me contra seu peito.
– Também tenho um presente para você.
estica o braço e resgata de cima do criado mudo uma caixinha branca, enquanto eu observava a cena com curiosidade.
Ele entrega a caixa em minhas mãos e eu rapidamente desfaço seu embrulho, cheia de ansiedade.
Ao abrir a caixa, tenho a surpresa de encontrar um pequeno coração de cor grafite dentro dela. Apanho-o e abro seu fecho lateral, descobrindo duas fotos minhas com , uma em cada banda do coração aberto.
– Mandei fazer isso para lembrá-la de que não importa aonde quer que eu esteja, meu coração sempre estará aqui, com você, na América.
Ele segura o objeto em minhas mãos, virando sua parte traseira e revelando os dizeres “feito na América” gravados no metal.
Automaticamente lágrimas se acumulam em meus olhos, porém eu me recusava a chorar. Aquele não era momento para lágrimas e sim para sorrisos e felicidade, pois eu era a garota mais sortuda do mundo.
– É lindo, eu amei! Obrigada! – abraço-o pelo pescoço, transmitindo-o toda a minha alegria.
Voltamos à posição anterior e eu faço sinal para que ele colocasse o colar em torno da minha garganta. Ele o faz e logo em seguida deposita um beijo em minha nuca, arrepiando-me.
Permanecemos assim por alguns minutos, apenas aproveitando a presença e o calor um do outro em meio aquele silêncio repleto de palavras não ditas.
– Quanto tempo ainda temos até você ir? – questiono.
– Alguns dias, eu acho.
– Então... – viro-me de frente para e apoio minhas mãos em seus ombros, empurrando seu corpo para traz e ficando por cima dele. – Vamos aproveitar até o último segundo que nos restar – completo antes de grudar meus lábios nos seus.

********


Quatro dias haviam se passado desde o nosso último dia de viagem e no momento nos encontrávamos no aeroporto, durante a inevitável despedida.
Eu tentei não chorar, porém era praticamente impossível. A vontade de agarrá-lo e nunca mais soltar e o aperto em meu peito cresciam cada vez mais a cada instante que se passava.
– Prometa que vai voltar. Prometa que nada irá lhe acontecer – digo em meio a lágrimas e soluços. – Prometa!
– Eu prometo. Eu prometi que estaria na primeira fileira da sua apresentação, não foi? E assim estarei.
– Eu não quero que você vá. Eu nã... – um soluço escapa pela minha garganta.
me envolve em um abraço, apertando-me em seus braços.
– Lembre-se do que eu lhe disse: Eu sempre voltarei para você e meu coração sempre estará com você.
Aperto-o mais contra mim, na tentativa de que, de algum modo, meu gesto fizesse ele ficar.
– Eu te amo, .
– Eu também te amo, .
Ele cobre minha boca com a sua, em um beijo desesperado e carregado de todos os tipos de sentimentos: Saudades, medo, aflição, incerteza, mas, principalmente, amor.
Tento afastar da minha mente o pensamento de que aquele poderia ser o nosso último beijo, para sempre.
Seu nome é chamado e ele se afasta de mim; sem uma palavra, apenas um olhar. Um olhar com a promessa de que voltaríamos a nos ver em breve.
Seguro com força o pequeno coração pendurado em meu pescoço e observo-o se afastar, levando consigo grande parte de mim.

********


O primeiro mês desde a partida de fora o mais difícil. O aperto de saudade em meu peito aumentava a cada instante, tornando-se insuportável. O choro e a tristeza me visitavam toda noite, trazendo junto as lembranças dos dias que passamos ao lado do outro.
Quando recebi sua primeira carta, uma enorme onda de alegria se apossou do meu peito. Abri-a com euforia e li cada palavra escrita com toda a atenção possível.
Ele dizia que estava com muitas saudades e não parava de pensar em mim nem por um segundo. Também contava que, apesar de todos os riscos que corria, estava feliz porque fora capaz de salvar diversos grupos de mães com crianças de serem bombardeadas.
Fico feliz por ele, pois sabia que meu namorado tinha um grande coração e gostava de ajudar as pessoas.
também pedia que eu nunca esquecesse o quanto ele me amava e que eu aguentasse firme até ele voltar.
Termino de ler a carta com um grande sorriso estampado em meu rosto e com a certeza de que no final tudo daria certo.
Respondi dizendo que igualmente morria de saudades e não via a hora de ele voltar para casa. Contei-lhe como estavam indo os ensaios e o quanto eu estava ansiosa para que o grande dia chegasse logo. Disse que lhe amava mais que tudo e que nunca se esquecesse das promessas que fizemos.
Durante os meses que se seguiram, dediquei minha total atenção aos treinos para a apresentação, explorando ao máximo minhas habilidades, com a intenção de não conseguir pensar muito sobre como estava e os perigos que ele corria. Não funcionou como eu esperava, Contudo, meu desenvolvimento como dançarina estava cada vez melhor.

Finalmente o dia tão esperado havia chegado e, para o meu total desespero, ainda não tinha dado sinal de vida. Sua carta, que normalmente chegava ao início do mês, ainda não havia chegado e já estávamos para completar a segunda semana. Tentei manter os pensamentos positivos, pois foi assim que ele me ensinou, porém, a cada segundo que o relógio marcava, minha aflição aumentava.
E para piorar a situação, era dia dos namorados e provavelmente todos que estavam ali iriam assistir a apresentação com seu companheiro ou companheira, enquanto eu nem ao menos sabia se o meu ainda estava vivo.
, querida, eu sei que é difícil, porém nós não podemos prolongar mais. Precisamos começar o espetáculo. Sei que o seu namorado, aonde quer que esteja, iria querer que você fizesse isso. Esse é o seu sonho, ; diversos olheiros das melhores academias de dança estão aqui só para ver você, então dê o seu melhor, seja por você ou pelo seu namorado, e faça eles quererem você.
Fecho os olhos e respiro fundo, anuindo com a cabeça logo em seguida.
– Sei que você consegue fazer isso. Boa sorte! – A professora me abraça, sendo acompanhadas por colegas, que também me desejam boa sorte.
Posiciono-me no meio do palco, esperando as cortinas se abrirem, e logo ouço a introdução da música de fundo, indicando que o espetáculo estava começando. Fecho os olhos, pois sabia todos os passos de cor e eu precisava pensar em coisas boas para me concentrar melhor.
Movimento meu corpo com leveza sobre a ponta dos pés, enquanto memórias saudosas pairavam em minha mente.

Era uma tarde ensolarada de verão; o céu estada azulado, poucas nuvens se faziam presentes por ali e a temperatura deveria estar por volta dos 32°C. e eu estávamos partindo rumo ao grande sítio de meus avós, no interior da cidade.
O ar refrescante entrava pelas janelas e o rádio estava ligado em uma estação qualquer, que agora tocava uma sequência de músicas pop mais pedidas. De repente se inicia a música Made In The USA, da cantora Demi Lovato, e uma ideia inusitada passa por minha mente.
– Pare o carro, quero fazer uma coisa – peço a , que me olha, confuso, porém atende.
Rapidamente abro a porta e pulo para fora do carro, seguindo em direção à caçamba na parte traseira e sendo acompanhada por meu namorado.
– O que está fazendo? – ele pergunta.
– Ajude-me a subir. - respondo, apoiando minhas mãos na traseira do carro.
Ainda desconfiado, me segura pela cintura e levanta meu corpo com tanta facilidade quanto qualquer pessoa tem para levantar uma folha de papel, sentando-me dentro do compartimento.
Levanto-me e me posiciono de frente para a caminhonete.
– Agora da partida no carro e aumenta o som.
– O quê? Você enlouqueceu? Você pode cair daí e se machucar! – ele me repreende, fazendo-me revirar os olhos.
– Pare de ser chato e agir como meu pai e faça logo, antes que a música acabe!
Ele bufa, ainda relutante, mas cumpre o que foi pedido.
Logo o carro começa a se movimentar e eu abro os braços, sentindo a brisa suave bater em meu rosto e esvoaçar meus cabelos, enquanto eu entoava a letra da música a plenos pulmões.
Subitamente o carro freia, fazendo-me cair sentada dentro da caçamba e uma onda de gargalhadas invade meu corpo enquanto eu o jogava para trás.
Ouço o barulho de subir no compartimento e se aproximar de mim.
, você tá bem? Machucou alguma coisa? – ele pergunta, preocupado e apalpando meu corpo em busca de algum machucado.
Toda aquela situação só me fazia rir ainda mais, a ponto de fazer lágrimas saírem pelos meus olhos.
Ao constatar que eu estava bem, suspira e me acompanha na risada.
– Você é louca, sabia? – ele leva suas mãos até meu rosto, afastando meus cabelos da minha linha de visão e revelando seu rosto muito próximo ao meu.
As risadas já haviam cessado e meu peito subia e descia desesperadamente devido ao esforço anterior e agora também afetado por sua proximidade.
– Mas quer saber de uma coisa? Eu também sou louco. Louco por você. – ele completa e logo pude experimentar seu gosto em minha boca.


David, meu parceiro de dança, entra em cena e sinto suas mãos em minha cintura. Ele conduz meu corpo com maestria sobre o palco, deslocando-me e rodopiando-me em uma pirueta. Seu ato me fez lembrar uma cena específica.

Estávamos no meio de setembro e nuvens escuras e acinzentadas desenhavam o céu, indicando que logo começaria a chuva de final de verão.
Havíamos saído de casa a pé e nem cogitamos em levar guarda-chuva, pois o tempo estava aparentemente bom.
Agora, corríamos de mãos dadas desesperadamente, na tentativa de escapar do temporal que em poucos instantes se iniciaria. Porém, como o previsto, foi em vão; em poucos segundos estávamos ensopados.
Continuamos a correr em busca de um lugar que nos abrigasse, mas, para o nosso completo azar, estávamos no meio do nada.
De súbito, sinto meu braço ser puxado para trás e constato que estava parado.
– O que está fazendo? Precisamos procurar um lugar para ficar! – grito, tentando fazendo com que minha voz se sobressaísse ao barulho da chuva.
– Não tem nenhum por lugar perto e já estamos encharcados. É inútil correr!
É, até que ele tem razão, penso.
puxa meu corpo para si, aproximando-nos, enlaça minha cintura com seus braços e começa a embalar nossos corpos de um lado para o outro.
– Sério que, no meio de toda essa chuva, você quer dançar? – questiono, incrédula com sua atitude.
– Se fazem isso nos filmes, por que nós também não podemos fazer? – ele rebate, com um sorriso sapeca em sua face.
Sorrio e balanço a cabeça em concordância, pois, de certo modo, ele estava certo.
segura a minha mão e gira meu corpo para longe, fazendo-me emitir uma risada.
Em seguida, volta a grudar nossos corpos e movimentá-los, como se fosse uma valsa.
– Existe coisa mais clichê do que um casal dançando na chuva? – indago.
– Tem sim – ele responde. – Um casal se beijando na chuva.
Meu namorado leva suas mãos até as dobras de meus joelhos, erguendo-me do chão até a altura de sua cintura, onde eu enrolo minhas pernas, e fazendo-me soltar um grito, surpresa.
Levo minhas mãos até o seu rosto e afasto as mechas de cabelo grudadas em sua testa, enquanto admirava seu semblante. Ele era tão lindo que conseguia me deixar sem ar.
Sem aguentar mais um segundo de espera, selo nosso momento com um beijo.


Volto à realidade quando o dançarino puxa meu corpo de volta para perto do seu e une nossas mãos, envolvendo-me em um abraço.
Meu cérebro, ainda repleto de lembranças, transporta-me novamente para outra dimensão.

– Casa comigo? – pergunta, de repente, enquanto estávamos abraçados sobre o capô de seu carro observando as estrelas. Afasto-me, encarando-o assustada.
, você enlouqueceu? Mal completamos dois meses de namoro!
– Não precisa ser exatamente agora. – suspiro, aliviada. – Sabe, depois que entrei para o exército, percebi que a vida pode ser muito curta. Em um segundo eu posso estar aqui feliz, vivo, e no outro posso não estar mais nesse mundo e eu quero passar cada segundo que ainda me resta ao seu lado.
Só em pensar na hipótese de perdê-lo e que poderia não voltar, fazia um buraco enorme se instalar em meu coração. Logo sinto um nó em minha garganta e lágrimas se acumulando em meus olhos.
– Por favor, não fale como se... – sinto algumas lágrimas quentes percorrerem meu rosto. – Como se não fosse mais voltar. Eu não suporto a ideia de te perder.
– Oh, meu amor... – ele leva uma das mãos até o meu rosto, afastando as lágrimas e acariciando-o, e sorri. – Você nunca vai me perder. Não importa onde eu estiver, meus pensamentos sempre estarão aqui, com você.
Colo meus lábios aos seus, sentindo através do beijo toda a paz e segurança que só ele conseguia me dar.
– Eu aceito – digo, por fim.
Ele sorri largo, desencadeando borboletas em meu estômago – sim, eu ainda era boba por aquele sorriso – e fazendo-me sorrir de volta, involuntariamente.
volta a grudar seus lábios sobre os meus, apaixonadamente, e eu retribuo na mesma proporção. Ele me abraça fortemente e eu enterro meu rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro inebriante.
E naquele momento, senti como se fossemos infinitos, pois, não importasse onde estivéssemos nossos corações sempre seriam um do outro.


Para finalizar o show, David suspende meu corpo na altura de seus ombros e segura cada perna minha em abertura para cada lado, girando-nos sobre o palco.
Ele me põe de volta ao chão e eu ouço uma explosão de aplausos vindos da plateia.
Decido finalmente abrir os olhos e presenciar visualmente o fruto de todo o meu esforço nos últimos meses. Quando o faço, minhas pernas automaticamente ficam bambas, fazendo com que eu necessitasse do apoio de meu colega para continuar em pé.
Abro minha boca em total perplexidade. Meus olhos simplesmente não acreditavam no que estavam vendo.
Lá estava ele. Meu , meu namorado, meu amor. Bem na primeira fileira, como prometido, vestindo seu uniforme oficial verde oliva e com todas as suas medalhas, provavelmente muito bem merecidas, penduradas em seu peito.
Ele me aplaudia e sorria radiante, orgulhoso, provocando o saltar de meu coração em meu peito.
Eu e meu colega de palco damos as mãos e fazemos reverência para o público e a cortina se fecha em seguida.
Corro apressadamente para fora do palco, em busca da escada que me daria acesso a zona da plateia. Assim que o avisto, jogo meu corpo sobre o seu, não conseguindo conter minha euforia.
– Você está aqui! Você está mesmo aqui! – digo, apertando todas as partes que alcanço em seu corpo, para verificar se ele era mesmo real.
– Sim, eu estou. – ele ri. – Assisti você desde o início na primeira fileira, como prometi. Você foi maravilhosa, meu amor, eu estou tão orgulhoso de você.
– Você não deu nenhuma notícia, a sua carta não chegou. Eu fiquei desesperada, ! Eu pensei que... Pensei que você... – um soluço escapuliu por minha garganta.
– Não, não chore, meu amor. – ele passeia seus dedos pela minha face. – Hoje não é dia para chorar e sim para comemorar. Aliás, não quero mais nenhuma lágrima nesse seu lindo rosto, apenas sorrisos.
Sorrio e envolvo sua nuca com meus braços, comprimindo-o contra mim.
– Estou tão feliz que você voltou. – confesso abafadamente contra sua pele.
– Eu sempre voltarei; não importa de onde, não importa como, porque é aqui que eu pertenço. Foi aqui que o nosso amor nasceu, na América.



FIM.




Nota da autora: Ok... Eu não sei o que dizer. Eu adorei escrever essa fanfic, me emocionei muito com ela, apesar de ser clichê (mas quem não resiste a um clichê, né?). Como vocês devem ter percebido, ela foi metade inspirada na música Made in the USA da Demi e metade no conto do Soldadinho de Chumbo (aliás, é uma história linda, todos deveriam ler) e eu espero mesmo que vocês tenham gostado. Eu não entendo muito sobre balé e nem tive muito tempo de pesquisar, então me desculpem qualquer erro.
Enfim, não esqueça de deixar um comentário dizendo o que achou da história e fazer uma autora feliz :D





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