FFOBS - My Heart Parte II, por Mayara França.

Última Atualização: 16.09.2019

Capítulo 1



Quando alguém próximo de você morre, você muda.
Um dia quando olhar para trás e perceber como sua vida era e como sua vida está, você se dá conta de que mudou e nem percebeu, que as coisas a partir da perda nunca mais foram as mesmas, você nunca mais foi o mesmo e nunca voltará a ser. É como se uma parte de vocêf fosse arrancada e uma nova peça com encaixe diferente fosse colocado.
Existem também alguns estágios que você passa sem nem se dar conta de que isso está acontecendo. São formas que sua mente usa para ajudar no enfrentamento da morte que acredite ou não: nunca vai ser completamente aceita por você. E existe mais uma coisa que é muito interessante sobre a morte. Não importa se você sabe que a morte existe e inevitavelmente vai chegar para cada um de nós, quando alguém próximo de você morre é impossível não iniciar dentro de si uma série de questionamentos sobre vida.Lembro que quando minha mãe morreu eu senti uma absurda tristeza. Uma parte de mim morreu com ela e eu não via mais sentido em viver, tanto que de uma forma inconsciente eu quase dei fim a minha vida. Lembro que quando fui morar com Paul fui encaminhado à terapia e fiz isso por um grande período de tempo. Conforme eu ia melhorando eu ia me apegando a idéia de tudo o que minha mãe tinha feito em sua vida. Ela havia casado, criado família e por alguns anos de sua existência ela havia sido muito feliz e isso me conformou de alguma forma. Mas lembro também que conforme eu ia começando a melhorar a culpa surgia em mim de forma absurda, afinal, minha mãe tinha morrido eu não deveria ter o direito de ser feliz novamente.Isso durou pouco, e logo epois disso veio a saudade. Saudade de quem ela era, de quem nós éramos juntos, saudade do seu sorriso. No lugar da enorme tristeza ficou a saudade que quando ficava muito me causava uma dor que era sempre forte e aguda, mas que também não demorava muito a passar. Era como se a peça de encaixe tivesse soltado e machucado, mas aos poucos ela ia voltando ao seu lugar.
Dentre todos os estágios que passei com a morte da minha mãe, negação foi o maior e mais duradouro estágio que vivi. Foram três longos e devastadores meses até que eu finalmente entendesse que ela havia partido e nada do que eu fizesse poderia mudar isso. Mas não havia acontecido isso com Paul, com ele estava sendo muito diferente.Com minha mãe eu esperava e sabia que ia acontecer e quando aconteceu, eu não consegui acreditar.Com ele foi de repente. Abrupto. Repentino. Injusto. Não houve negação da minha parte ao receber a notícia da sua morte, tudo o que eu sentia era uma enorme quantidade de raiva. Raiva porque eu não conseguia evitar comparar e pensar em tudo o que ele ainda tinha pra viver e fazer. Raiva por seus planos que foram interrompidos. Raiva por sua morte tão prematura. A casa era silenciosa agora, exceto pelos momentos em que o choro de preenchiam todas as lacunas vazias do silêncio gritante. A raiva estava ali, me deixando com dificuldade de pensar, dormir,sentir, de saber o que fazer. A grande realidade era que eu estava sem rumo, mas ao mesmo tempo tentando me fazer um rumo para ajudar aqueles ao meu redor que estavam precisando de mim.
Ir para a escola estava sendo um martírio. A mesa não era a mesma e não era a falta de Paul que imperava ali, ele já não pertencia àquele lugar a séculos. A falta de e sim. A primeira se negava a ir à escola, falar com alguém e até mesmo sair do seu quarto. Já havia ido inúmeras vezes até a sua casa mas fui ignorado em todas elas. Ela não queria minha ajuda. estava em casa por estar de atestado médico devido a cirurgia. Sem as duas, a mesa ficava silenciosa e estranhamente vazia e esquisita.
Estar em casa também não era mais a mesma coisa e ali sim, a falta de Paul era sufocante e foram motivos como aquele que eu havia deixado minha casa quando minha mãe morreu. Eu não acreditava que eu seria capaz de lidar com a dor e o caos que minha vida tinha se tornado dentro de um lugar tão cheio de boas lembranças e por alguns milésimos de segundos quando eu recebi a notícia da morte de Paul eu pensei em fazer a mesma coisa, mas dessa vez eu não estava sozinho. Eu não poderia deixar sozinha ali. Não pelo sentimento que eu mantinha por ela, mas pelo amor que eu mantinha por Paul. Ele não havia me deixado sozinho, então por amor à ele eu não a deixaria sozinha, pois sei que ele iria querer que alguém cuidasse dela. Pela primeira vez eu via as coisas de uma forma bem diferente e me sentia bem culpado pelo que eu havia feito meus amigos passarem três anos atrás. E dessa vez eu havia me prometido que não iria fugir, eu iria enfrentar meus medos e angústias, mesmo que isso significasse entrar todos os dias naquele apartamento e viver como se as coisas pudessem voltar ao normal, como se a vida pudesse seguir seu curso, porque ela seguiria. Logo logo as pessoas parariam de perguntar sobre Paul e sobre como os mais próximos dele estariam se sentindo. As pessoas esqueceriam de sua morte e passariam a agir como se devêssemos esquecer também. Aquele era o momento em que a dor se tornava mais aguda, quando todos pareciam esquecer menos você.
O barulho de um algo caindo no chão tirou minha mente de seus devaneios. O barulho havia vindo do quarto ao lado e eu levantei depressa para ver se estava bem. Bati na porta do seu quarto duas vezes e como não ouvi resposta abri, apenas para encontrar o mesmo vazio e a porta do banheiro fechada e a luz acesa.
, tá tudo bem? – Chamei batendo na porta. O barulho do chuveiro podia ser ouvido e por cima dele consegui ouvir a voz de .
— Preciso de ajuda, mas eu estou pelada. – Rodei meus olhos pelo quarto para encontrar a porta de seu guarda— roupa aberta. Peguei ali uma toalha e rodei a maçaneta da porta fechando os olhos antes de entrar. Eu conhecia bem aquele banheiro, afinal, ele havia sido meu por três anos, então não foi difícil tatear as cegas a parede e chegar até o Box, desligar o chuveiro e estender a toalha pra .
— Pode abrir os olhos – Sua voz estava baixa e constrangida e quando eu a encarei uma enorme e absurda onda de sentimentos tomou conta de mim. Era a primeira vez que nos encarávamos de verdade desde que havíamos nos beijado e aquela simples lembrança fez meu rosto esquentar. /
— Tá tudo bem? – agradeci quando ela desviou o olhar, pois eu pude continuar olhando pra ela sem me sentir envergonhado.
— Eu acabei escorregando por estar com um pé só – Ela falou olhando para baixo apertando a toalha ao corpo.
— Vem cá – Me abaixei e passei meus braços por seu corpo antes de ergue— la.
— Minha bunda ficou de fora – Ela falou constrangida e eu acabei soltando uma risada.
— Pode ficar tranquila que eu não estou vendo. – Tentei colocar graça na voz e não transparecer o quanto eu também estava sem graça. Só agora minha mente trabalhava sobre a questão de como seriam as coisas entre nós dali pra frente.
— Você tá com dor? Acha que machucou alguma coisa? Quer ir ao hospital? – Perguntei depois de coloca— la sobre sua cama e observei ela se prender mais ainda a toalha.
— Tô, mas é só minha perna. Tá doendo demais, mas eu acho que é porque deixei de tomar duas doses do analgésico e do anti— inflamatório por estar dormindo. Eu tomei agora e daqui a pouco deve começar a fazer efeito, se não fizer eu vou ao hospital. – Ela terminou a frase olhando em meus olhos e eu me senti um pouco mais aliviado, embora estranho. Muitas coisas estavam em aberto entre nós. Droga.
— Onde eu pego uma roupa pra você?
— Tem uma peça que eu separei ali no banheiro. – Ela jogou os cabelos pra trás e eu fui até o local buscar a roupa.
— Quer ajuda? Eu fecho o olho. Juro que não quero me aproveitar do seu corpo. – A frase "seu irmão me mataria por isso" subiu na minha garganta mas eu me obriguei a engoli— la a seco. Paul não poderia me matar porque ele estava morto.
— Eu nunca pensaria isso de você. Pelo menos não mais – Ela tentou ser irônica – E eu preciso de ajuda sim. – Ela mordeu os lábios. – Me ajude a levantar — Acenei positivamente com a cabeça, estendendo à ela meus braços para que pudesse se apoiar. Me virei de costas no momento em que ela ficou em pé e logo em seguida senti a toalha cair aos meus pés. me usava de apoio para que pudesse vestir suas roupas e eu me peguei pensando que nunca nos imaginei vivendo essa situaçãp.
— Pode se virar – Fiz o que ela pediu e percebi que estávamos muito próximos, mas nada parecia estranho. A proximidade me deu a oportunidade de olhar melhor seu rosto emagrecido, ver suas bolsas embaixo dos olhos, seu sorriso que não tomava mais seu rosto todo e agora era triste. Senti vontade de afagar seu rosto, beijar sua pele e abraça— la com toda força do mundo apenas para tentar fazer com que aquele olhar desse lugar às iris brilhosas que eu sempre admirava. Tudo nela exalava sensibilidade, mas ainda assim ela me parecia firme. Firme de uma forma que eu nunca a tinha visto antes. E absurdamente linda, o que já era seu normal. – Pode me ajudar a ir pra sala? Preciso de um lugar que não seja meu quarto. E pelo silêncio daquela TV, acredito que você precisa do mesmo. – Ela quebrou o silêncio pegando em meu braço pra que pudesse se apoiar em mim mas eu novamente passei meus braços por seu corpo erguendo— a do chão. — Não precisa ser assim — Ela revirou os olhos e reclamou que estava com a perna quebrada e não aleijada. Apenas ignorei, pois sabia que no fundo isso fazia com que ela se sentisse segura e isso era o que eu mais queria. Depois de nos posicionarmos no sofá veio o silêncio. Eu não sabia o que falar ou se deveria falar,mas pra minha surpresa ela que deu continuidade aos assuntos. — TV ou netflix?
— Você ainda pergunta? – Ela tentou sorrir de lado e então conectamos a Tv ao Netflix e optamos por ver Friends. Decidimos também pedir algo de comer e optamos por comida japonesa, já que ela não podia comer nada gorduroso por causa da perna.

Comemos e ficamos em silêncio e embora olhassemos para a TV, nenhum de nós realmente prestava a atenção ao que estava se passando ali. A mente dela assim como a minha parecia a milhas de distancia daquele apartamento pequeno. Minha mente agora vagava não só na nossa perda, mas nas nossas questões em aberto. Apenas lembrar que eu havia finalmente dito a ela tudo o que eu sentia e que ela não havia sido muito receptiva a isso me deixava extremamente sem graça e eu sentia meu rosto esquentar por estar a meio metro de distância e saber que ela sabia exatamente como eu me sentia.

— Como vão ser as coisas daqui pra frente? Como funciona a vida agora? — Ela perguntou depois de um longo período de silêncio. Embora eu já houvesse passado por aquilo todo aquele processo era novo pra mim,mas tentei a me apegar a forma como eu havia lidado com aquilo antes,para ver de se alguma forma eu conseguiria ajuda— la.
— Primeiro você vai tentar se prender a todas as formas e possibilidades de que isso realmente não está acontecendo. – Eu encarei a foto de Paul do outro lado da sala e foquei no que eu senti quando minha mãe morreu, não na raiva que eu sentia ao encarar o seu sorriso naquela foto. — Você vai ter a sensação de que você está em um filme ou em uma brincadeira de muito mau gosto e que alguém realmente tá tentando gozar com a sua cara. E então vai chegar um momento em que você vai perceber que não é um filme ou uma brincadeira, que isso realmente está acontecendo e ... e isso vai acabar com você. – Eu me virei para olhá— la e inevitavelmente me lembrei de três anos atrás, quando eu me toquei que se eu tivesse continuado da forma que eu estava minha vida iria acabar. – Você vai tentar arrumar maneiras de desacreditar ou fugir da ideia de que isso está acontecendo, mas chega um momento em que se torna inevitável e a dor é tão forte, tão forte que a sensação de que você tem é de que você não consegue respirar e isso causa tanta raiva. – Senti minha voz embargar e engoli a vontade de chorar que subia pela garganta. — A dor e a raiva parecem ser uma só dentro de você e a sensação é que parece que isso nunca vai acabar e de certa forma nunca acaba. Ela sempre vai estar aqui, mas disfarçada em forma de saudades.— Coloquei a mão em meu peito — Você vai perceber que se a pessoa estivesse viva ela não iria querer isso pra você, e a sua única alternativa vai ser se apegar a essa ideia com todas as suas forças e todos os dias pra continuar.É um processo diário,vão existir dias bons e dias ruins e as coisas vão ser bem esquisitas por um bom tempo e eu não sei o que acontece depois, porque quando eu achei que eu estava chegando nessa fase, parece que a vida apertou reset e eu to vivendo tudo de novo. Mas ao contrário do que os outros dizem, os primeiros dias não são os mais difíceis, eles são os mais fáceis. A pior parte de todas é quando parece que todo mundo já superou e você é a única pessoa que continua a viver aquilo.– Ela me encarava séria e seus olhos estavam marejados.
Nós vamos conseguir passar por isso, certo? – A pergunta dela soou como um apelo e eu segurei sua mão. Um sorriso surgiu em meu rosto pelo uso da palavra nós.
— Sim, nós vamos. – Ela mordeu os lábios em seguida.
— Como você está, ? – Seu olhar era tão sincero e preocupado que por um momento quase esqueci de responder a sua pergunta e fiquei ali, parado e encarando— a.
— Uma merda – Eu sorri e ela piscou lentamente. Eu não queria falar de mim, eu já havia passado por aquilo antes e sabia que poderia lidar com tudo o que estava acontecendo, contanto que eu fizesse a raiva passar. Mas pra ela era novo e eu sabia como era esse sentimento – Você tomou os analgésicos que horas? Você precisa ficar de olho pra tomar certinho e você tomou com o estômago vazio? Faz mal – Ela acenou com a cabeça.
— Você não precisa cuidar de mim. – Ela me olhou de uma forma diferente. – Eu estou bem. Eu estava perguntando de você.
— Alguém precisa fazer isso, então deixa fazer. – Fui sincero em minha resposta e dei de ombros.
— Alguém também precisa cuidar de você, então me deixa fazer isso. – Sua frase aqueceu meu coração de uma forma absurda e eu não consegui evitar sorrir,principalmente depois de ver seu rosto ficar vermelho. — Nós cuidaremos um do outro, eu sei que Paul iria gostar disso. – Ela voltou a olhar pra frente. – Só por favor, não some.
— Eu não vou. – Ela me encarou quando eu falei talvez pra ter certeza de que eu estava sendo sincero – Eu prometo. – Apertei mais ainda sua mão que estava entrelaçada à minha. – Eu não vou a lugar nenhum. — Ela acenou com a cabeça.
— Sabe de uma coisa? Eu nunca soube como vocês se conheceram, como aconteceu isso?
— Nós nos conhecemos na escola quando ele me defendeu de um garoto do ano dele que queria me bater porque a menina que ele namorava terminou com ele e ele acreditava que eu era o motivo – Sorri lembrando. –O garoto era atleta, todo parrudo e veio pra cima de mim depois da aula com tudo querendo me enfiar a porrada e eu nem sabia o que tinha acontecido. O Paul achou covardia esse negócio de bater primeiro e conversar depois e se colocou no meio me defendendo, mesmo não me conhecendo. Acho que ele achou injusta a desvantagem de tamanho. Eu era bem mais magro do que eu sou hoje em dia e não sabia nem bater em uma mosca, coisa que eu ainda não sei. O cara conhecia Paul a bastante tempo então resolveu deixar a história de lado, daí em diante nos tornamos amigos. Ele não saia da minha casa, completamente morava lá – Fechei os olhos com as lembranças não só dele. – ele sempre pedia a minha mãe pra inventar alguma coisa na cozinha, mas ela era péssima em qualquer coisa que envolvesse o fogão, então sempre terminávamos o dia comendo pizza e vendo algum programa besta da Discovery. As vezes ela acertava fazer biscoitos, mas eles sempre saiam queimados. – Sorri de verdade com a lembrança que já estava quase esquecida na minha mente. me encarava atenta e isso fazia meu rosto esquentar – as vezes nós íamos até a outra cidade visitar a tia Rachel, ela sempre nos dava camisinhas. Acho que ela era um pouco responsável pelo lado puta dele. – gargalhou com a informação. –Quando minha mãe ficou doente, o Paul meio que se mudou de verdade lá pra casa pra me ajudar com ela – Eu senti minha garganta começar a se fechar ao tocar no assunto.
— Foi câncer né? — Ela perguntou delicada e eu voltei a olhar pra cima sentindo a raiva dar lugar a dor, eu particularmente estava sentindo mais falta da minha mãe nos ultimos dias.
— Sim. Começou no útero e eles fizeram uma histerectomia e ficou tudo bem, mas um tempo depois ela começou a se sentir mal de novo e quando foi fazer exames descobriram que o câncer tinha dado metástase e alcançado o fígado e alguns outros órgãos. Ela já estava entrando em estágio terminal quando descobrimos, mas ainda assim tentamos de tudo para salva— l. Quando percebemos que não tinha mais jeito eu tentei aproveitar o máximo possível de tempo com ela. – Pisquei rápido tentando espalhar as lágrimas que começavam a se acumular em meus olhos – Ela amava ir pra estação de metrô e ficar sentada olhando as pessoas passarem e imaginando sobre suas vidas. – Eu ri e também. – Ela era uma pessoa estranha. Mãe, não me ouça falar isso! – Eu disse olhando pra cima – Mas ela era maravilhosa. Uma ótima mãe, com todos os defeitos e qualidades de qualquer mãe. Eu larguei a escola pra poder cuidar dela porque eu não queria deixá— la com ninguém, porque eu sabia que ninguém ia cuidar dela que nem eu. Então o Paul veio me ajudar, porque as coisas foram ficando mais difíceis. Minha mãe perdeu o cabelo, e o Paul e eu raspamos a cabeça pra ela não ficar tão triste. No final ela já não andava mais, mal falava, ela não era mais a minha mãe, ela era só a doença. – Foi impossível conter a lagrima de saudade que escorreu pelo meu peito. Há muito tempo eu nem falava sobre ela e só agora eu me dava conta do quanto eu havia sentido falta disso.
— Por isso que você não quis voltar pra casa?
— Sim. Era demais pra minha cabeça. Ela morreu do meu lado enquanto eu segurava sua mão. Os médicos me tiraram do quarto para uma tentativa de ressuscitação, mas não deu certo. Quando eles vieram me dar a notícia oficialmente eu surtei. Eu sabia que ela tinha morrido, eu estava segurando sua mão, eu vi sua ultima respiração, seu corpo ficar imóvel, a maquina parar de registrar batimentos, mas eu não conseguia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo, sabe? Eu perdi completamente meu chão, mesmo já sabendo que aquilo aconteceria. Eu não quis voltar pra escola e nem pra casa e sumi. Eu fiquei mais de um mês fora, indo de bar em bar, dormindo no carro ou na rua, bebendo, fumando e me drogando até que eu fui parar no hospital em coma alcoólico. Eu lembro que quando eu acordei no hospital a primeira coisa que eu vi foi Paul e ele estava com uma cara de mal tão grande que eu não consegui falar nada. Eu sabia que eu estava errado, que eu poderia ter sido preso ou morrido em uma das minhas inconsequências e que ele iria brigar muito comigo, mas depois de algum tempo só me olhando ele me abraçou e começou a chorar e naquele momento eu pensei que não era aquilo que minha mãe iria querer pra mim. Mas eu também não queria voltar pra casa, então o Paul alugou esse apartamento e me trouxe pra morar com ele. Seu irmão foi como um irmão pra mim, ele me ajudou e esteve do meu lado sempre.
— O Paul sempre teve esse dom. Ele sempre cuidou de mim. – Ela fez um barulho com a boca e seu queixo ficou rígido –Eu vou sentir muita falta disso. — Ela voltou a olhar a TV.
, eu sei que esse apartamento era do Paul e que eu morava com ele e quando você veio pra cá você veio pra morar com ele e não com o melhor amigo mala, então eu vou começar a procurar algum lugar pra mim.
— Do que você está falando? – Ela perguntou séria. Parecendo não entender o que eu havia dito.
— Eu morava com o Paul, . Ele não está mais aqui. É hora de me mudar. — Eu tentei entender a expressão que se apossou do seu rosto.
— Eu não vou a lugar nenhum, lembra? Você acabou de me prometer. – Ela falou como se fosse uma coisa óbvia –Essa é sua casa.
— Você tem certeza disso? Mudar pra mim não seria um problema . Não precisa ficar com remorso e achar que está me expulsando ou me deixando sem teto.
— Eu quero que você fique .– Ela falou firme – Você se mudar não é uma hipótese a ser calculada. Essa é a sua casa, assim como também é a minha e o Paul não estar mais aqui não muda nada disso.
— Ok. – Eu concordei com a cabeça e a campainha tocou. Recebemos, comemos e conversamos por horas a fio sobre coisas aleatórias. Eu sabia que Julie não queria me deixar sozinho, assim como eu não queria deixa— la sozinha, mas seus olhos estavam parecendo pesados e su fala já estava mais lenta.— Você quer ir pro seu quarto? – Perguntei e ela acenou negativamente com a cabeça.
— Não, quero ficar aqui. Na realidade eu não queria nem dormir – Ela se acomodou mais no sofá que estava aberto, fechando os olhos por alguns instantes mas reabrindo— os logo em seguida.
— Você precisa dormir, você está machucada precisa melhorar logo. – Ela piscou e seus olhos não se abriram dessa vez.
— Nós dois estamos e nós dois precisamos – Ela não disse mais nada, apenas se virou de lado se acomodando e caindo no sono.
Eu desliguei a luz e fiquei ali no escuro pensando em todas as lembranças que eu havia despertado com aquela conversa e no meio de pensamentos, emoções e sensações eu finalmente também apaguei.



Eu Olhava pro telefone buscando em mim coragem para ligar pra e perguntar como ela estava, mas eu não encontrava essa coragem em mim,ou em nada que eu pudesse procurar na minha mente. Apenas pensar em falar com ela fazia meu estômago afundar dentro de mim, pois me fazia lembrar que minha covardia tinha tirado dela a oportunidade de continuar com Paul, mesmo sabendo que eu não havia planejado nada daquilo. Minha mente vagava por horas nos mares de “e sés” sobre como todos estariam agora caso o acidente não tivesse acontecido e eu pensava muito em como e eu estaríamos, como estaria nossa relação, como estaria minha atração por ele. Eu me perguntava e criava histórias mirabolantes na minha mente de tudo o que poderia estar acontecendo conosco, da felicidade que Paul poderia estar vivendo. Meu coração doía com as imagens que minha mente criava do sorriso do meu irmão e com o choque da realidade de que eu nunca mais teria a oportunidade de presenciar aquilo de novo.
— Hey – abriu a porta da sala chegando da escola, jogou a mochila ao meu lado e se sentou na poltrona do outro lado.
Seu sorriso aberto acabou com toda minha distração. Todas as vezes que eu olhava pra ele eu começava a pensar em como eu havia tirado coragem de mim para continuar encarando— o mesmo depois de tudo o que tinha acontecido e eu havia passado a admirá— lo mais ainda por não estar me evitando ou com raiva de mim, ele tinha todo o direito de estar dessa forma, mas ele não estava. Ele estava preocupado e cuidando de mim e eu fazia todo o esforço do mundo para corresponder da mesma forma.
— Você pretende sair dessa sala em algum momento ou vai fazer dela o seu novo quarto? – Ele jogou os braços pra trás, descansando sua cabeça ali, fechando os olhos em seguida.A sala havia passado a ser o “nosso lugar”. chegava da escola e me passava as matérias que eu estava perdendo, depois por ali mesmo comíamos, conversávamos e no final do dia sempre pegávamos no sono enquanto víamos algumas coisas.

ia à escola, mas na maioria dos dias ele voltava cedo ou saia de casa tarde. Seus olhos estavam com bolsas profundas e ele parecia estar exausto. Diversas vezes eu acordava no meio da noite e percebia que ele estava acordado. Eu não falava nada, apenas observava seu rosto que parecia absorto em pensamentos, fazendo questão de não ser notada e nunca fui. Era impossível negar que minha atração por ele havia crescido. E eu não saberia explicar se isso se devia ao fato dele estar sendo tão cuidadoso ou por todas as outras coisas que haviam acontecido antes, inclusive nosso beijo.Eu era a bendita garota que ele gostava e isso dava uma sensação boa e ruim ao mesmo tempo.
– Talvez – respondi finalmente deixando o telefone de lado. — Você tem falado com a ?
— Não – Ele abriu os olhos e ergueu a cabeça. – Ela continua não querendo falar com ninguém. Eu fui lá algumas vezes mas ela não me recebeu então eu resolvi respeitar esse momento dela. Da mesma forma que em que muitas vezes ela respeitou o meu. – Ele olhava pro nada e eu detestava o fato de que estava me acostumando com aquele olhar. As vezes eu conseguia identificar nele o desespero por estar dentro daquela casa tão cheia de lembranças. O que para mim era bom, para ele não era.
— Eu queria sair um pouco antes de voltar pra escola. Espairecer um pouco a cabeça, esquecer um pouco de tudo o que está acontecendo. Sei lá. Sumir dessa realidade por alguns dias. – Eu me coloquei na mesma posição que ele: com os pés apoiados na mesinha de centro,com os braços abertos no encosto e a cabeça jogada pra trás – Você também precisa sair um pouco dessa casa, . Ficar dentro dela pode até fazer bem pra mim, mas não faz pra você. Você não precisa ficar comigo o tempo todo. – Por mais que grande parte, na realidade acho que tudo em mim não queria que ele se afastasse, eu me sentia bem com sua voz, seu sorriso, ou sua simples presença em silêncio e eu não queria que de forma alguma ele se afastasse de mim. Eu me sentia bem com ele. Meus pensamentos pareciam ficar menos tristes quando ele estava ao meu redor. Eu gostava da proximidade que estávamos desenvolvendo nos últimos dias, e isso me lembrava do motivo que havia levado nossa vida ao patamar que ela estava, e seria puro egoísmo da minha parte deixar tantas coisas em aberto entre nós sem lhe dar uma luz do que poderia acontecer dali pra frente. Eu deveria deixar de ser covarde e enfrentar de frente toda a minha situação não resolvida com . Eu devia isso à Paul.
— Eu estou bem. – Ele disse com um sorriso carinhoso nos lábios e eu senti vontade de acariciar o seu rosto. Por vezes quando eu acordava e percebia que ele ainda não tinha conseguido dormir eu me imaginava acariciando seus cabelos para tentar ajudá— lo a pegar no sono. Eu também ficava imaginando nosso beijo e como eu tinha vontade de repeti— lo e como eu queria sentir aquela sensação boa em meu peito de novo. Na realidade eu ficava imaginando se seria possível me sentir feliz que nem eu me senti por aqueles breves segundos em seus braços.
— Nenhum de nós está. – Eu suspirei alto tentando afastar tais pensamentos da minha cabeça.
— Não precisa se preocupar comigo, eu já disse isso. – Ele voltou a dizer e me encarou dessa vez. Uma das coisas que havia me chamado a atenção em desde que começamos a nos aproximar, era o fato de que ele sempre olhava em meus olhos. Isso sempre me mostrava o quanto ele estava tentando ser sincero comigo.
— Sim, eu me preocupo. Da mesma forma que Paul se preocupava da mesma forma que eu sei que todos aqueles que estão ao seu redor se preocupam com você. — Ele continuou com o mesmo sorriso no rosto e eu decidi que aquele deveria ser o momento em que deveríamos conversar. Uma das coisas que Paul gostaria de ver era eu resolvendo meus problemas mal resolvidos.
— Você não precisa.
— Sim, eu preciso. Da mesma forma que precisamos conversar. – Eu olhei pra baixo já sentindo meu rosto começar a esquentar e me ajeitei no sofá, sentando ereta. Meu coração havia se acelerado e minhas mãos começaram a suar. — Nós temos algumas coisas que acabaram ficando em aberto depois daquela noite e
, nós não precisamos falar sobre isso – Ele havia ficado totalmente sem graça.
— Mas nós precisamos. Na realidade eu preciso falar e se eu não falar agora acho que nunca vou conseguir falar – Mordi meus lábios e comecei a estalar meus dedos e ele ficou em silêncio me encarando. Olhei em seus olhos e nas inúmeras sensações que aquele olhar andava me causando nos últimos dias. Das sensações boas que por diversas vezes me faziam esquecer as coisas ruins que estavam acontecendo e não era justo deixá— lo sem nenhuma luz. Se eu queria cuidar dele da mesma forma que ele estava cuidando de mim, eu deveria preservá— lo e não magoa— lo da mesma forma que eu não queria ser magoada. Eu deveria ser sincera com ele, da mesma forma que ele estava sempre sendo sincero comigo. – Bom, vamos lá. Você disse que gostava de mim. — Ele sorriu sem graça — E isso me apavorou. De uma forma boa e ruim ao mesmo tempo, porque , você é um cara incrível! De verdade e eu aprendi a gostar de você e a te admirar, mas eu tenho uma bagagem que eu ainda insisto em carregar comigo e eu acredito que isso pode ser prejudicial se nos envolvermos. Eu amo essa amizade que estamos desenvolvendo e eu não sei se eu estou preparada a arriscá— la sabendo que você tem um sentimento e eu sinto uma atração forte que eu não sei descrever muito bem como é. Meu último relacionamento durou dois anos e eu saí muito magoada dele e eu não sei se eu me sinto preparada pra entrar em outro agora, e eu sei que você não me pediu em namoro você só disse que gostava de mim, mas te conheço a tempo o suficiente pra saber que isso não significa só se pegar por aí. – Ele abriu um sorriso fofo e xoxo ao mesmo tempo. Talvez feliz por saber que eu conhecia suas intenções e chateado por não ser positiva em relação à elas. – Eu não me sinto emocionalmente preparada para envolver mais alguém na minha bagunça, principalmente um alguém que mora comigo, e agora com tudo o que aconteceu então. – Eu estava me abrindo com de uma forma que eu não tinha nem me aberto com Paul. Eu tentava ser o mais sincera possível. – O que não significa que eu não me sinta atraída por você, porque eu me sinto. Não vou mentir sobre isso. – Eu senti meu rosto esquentar muito, principalmente depois do sorriso ladino que ele não conseguiu disfarçar. — Aquele dia foi ótimo ,mas existe um sentimento envolvido em tudo isso e a última coisa que eu quero é te magoar de alguma forma, porque mesmo sem querer você passou a ser uma pessoa importante pra mim. – O sorriso continuava ali em seu rosto, sem aparecer completamente e também sem estar disfarçado. Ele me olhava da forma mais carinhosa que ele já havia me olhado na vida e isso era bom e ruim. Bom porque me confortava saber que existia alguém que me olhasse daquele jeito e ruim, porque se ele continuasse a fazer aquilo por mais tempo eu não sei se seria capaz de resistir.
— Eu realmente não esperava ouvir nada disso. – Seu sorriso finalmente ganhou todo o rosto. – E a sua sinceridade me deixa muito feliz. O fato de gostar de você e vivermos na mesma casa não significa que eu vá fazer as coisas ficarem estranhas e te cercar por todo tempo como se você devesse me dar uma chance. Eu não vou evitar me sentir da forma que eu sinto, mas eu também não vou te forçar ou tentar fazer você se sentir do mesmo jeito. Eu só preciso que você saiba que eu juro que nunca vou tomar nenhuma atitude a não ser que você diga que sim. Eu prometo. – A forma que ele falava fazia com que meu carinho por ele só aumentasse. – Agora vamos mudar de assunto antes que a gente fique constrangido demais para continuar uma conversa. – Acabei rindo com a sua frase e me virando novamente pra frente e deixando meus olhos pararem em um porta retrato de Paul, onde ele ria abertamente em uma foto com uma bandeira dos EUA erguida. Aquela havia sido sua primeira viagem para fora do país e eu lembrava da felicidade dele por isso.
— Paul amava viajar. – Eu disse ainda encarando a foto e consequentemente fez o mesmo acompanhando meu raciocínio.
— Sim. Ele sempre ficava planejando umas coisas loucas e me propondo várias ideias malucas de viagem. Ele tinha uma filosofia que se tudo estivesse desmoronando, você deveria pegar um globo, girar e viajar pro primeiro lugar que seu dedo apontasse, sem medo de nada. Só pra sentir a adrenalina de estar vivo correndo nas suas veias.
— E ele ainda dizia: Dane— se dinheiro. – Eu fechei os olhos lembrando o meu irmão falando isso comigo assim que ele foi me buscar para morar com ele. — E ele nunca teve a oportunidade de fazer isso, É incrível como não temos controle sobre nada e não sabemos o que pode acontecer a qualquer momento— me encarou e acredito que nossos pensamentos se cruzaram naquele momento.
— Você teria coragem? – Meu coração se acelerou com a ideia. – Você está de licença e só volta pra escola em alguns dias, eu não me importo de faltar e também tenho bastante dinheiro guardado. A gente vai, passa um dia e volta. Não precisamos fazer muita coisa. – Ele continuou fazendo.
— A gente só vive aquilo que Paul sempre quis viver e não teve a oportunidade. – Eu sorri sentindo meus olhos marejarem. Eu havia prometido isso à ele quando joguei suas cinzas ao vento, que eu nunca mais deixaria as oportunidades passarem por mim. E eu não deixaria, a partir de sua morte eu estaria me apegando a todas as formas de viver como uma forma de honrar sua breve vida, Mesmo que cada movimento me doesse como se estivessem me arrancando a carne – Eu topo. — abriu um sorriso maior e se levantou quase que correndo e pegando um globo que havia ali na estante. Ele colocou o globo entre nós dois e me olhou com os olhos brilhando.
— Você tem certeza disso? — Ele perguntou e eu acenei com a cabeça.
— A vida é muito curta pra não cometermos nenhuma loucura. – Ele sorriu. Aquela era uma típica frase de Paul.
— Você aponta com o dedo e eu giro a bola, pode ser? – Acenei novamente com a cabeça e ergui o dedo encostando no globo a minha frente. – Fecha os olhos. – Eu fiz o que ele pedia e então senti o globo rodar em volta do meu dedo até que eu o parei. Uma sensação estranha de excitação percorria meu corpo, era medo e vontade ao mesmo tempo. Medo de sair de dentro daquela casa e encarar o mundo sem Paul, medo de me movimentar, de me arriscar, de fazer, de viver. Mas eu não poderia deixar nenhum medo me paralisar mais, pois meu medo idiota da vida havia tirado meu irmão de mim. Abri os olhos e olhei pro local onde meu dedo apontava e abri um breve sorriso, ainda que triste por não ter Paul pra dividir aquela alegria momentânea de cometer uma loucura.
— Pode ir arrumar suas malas, estamos indo pro Brasil.

Capítulo 2





Estávamos cometendo uma loucura!
Após viagem decidida e mochilas prontas estávamos a caminho do Brasil com um sorriso no rosto e o coração acelerado.O que estávamos fazendo era uma loucura total e idiota, mas a simples ideia de sair de dentro daquele apartamento e ir a algum lugar onde a presença de Paul não estivesse tão viva me dava uma certa sensação de alívio. Alívio pra respirar e não ser sufocado com aquela raiva horrível que tomava conta do meu peito.
e eu havíamos estipulado um plano: assistir a um único pôr do sol e voltarmos cedo para casa no dia seguinte. A forma que falávamos dava a entender que estávamos indo ali, do outro lado da cidade o que era engraçado. Estavamos indo à um país totalmente desconhecido e diferente, sem termos a menor ideia do que poderia nos acontecer, apenas para podermos apreciar uma loucura que meu amigo não poderia mais fazer. Tudo poderia dar errado, mas no final de tudo estávamos sentados na poltrona de um avião, pousando em terras estrangeiras e observando o belo céu azul e sol que começavam a nascer no horizonte. Fiz questão de lembrar à de todos os seus remédios e nós fizemos questão também de trazermos apenas uma mochila. Estavamos desembarcando no Rio de Janeiro,que havia sido a primeira cidade de destino disponível e era possível contemplar no rosto de a mesma expressão assustada, excitada e estupefada que sem sombra de dúvidas também estava no meu. Ela parecia mais leve e só por isso essa viagem já havia valido a pena. O sorriso que ela estava dando enquanto olhava pela janela e tirava fotos com seu telefone era um sorriso que eu estava com medo de nunca mais ver. Ao desembarcarmos do avião ajustamos nosso relógio para o horário local e era apenas seis e oito da manhã. Embora eu me sentisse cansado e acredito que também, conversamos e decidimos que iríamos aproveitar o máximo possível daquele dia. Teríamos tempo o suficiente pra descansar na volta pra casa.
— E agora, pra onde nós vamos? — Ela perguntou olhando através do vidro para o lado de fora. E antes mesmo que eu a respondesse a mesma abriu um sorriso. – Por favor, diga Copacabana. Eu sempre quis conhecer esse lugar. – Ela mordeu os lábios – Eu juro que se eu não tivesse com o pé quebrado eu ia procurar alguma mulher que sambasse e implorar para que ela me ensinasse. — Eu gargalhei com sua frase. – Paul sempre disse que queria conhecer essa cidade. – Ela terminou com um sorriso triste e respirou fundo, automaticamente repeti sua expressão.
— Podemos ir para Copacabana então. Já ouvi falar do lugar algumas vezes e posso tentar aprender a sambar no seu lugar. – Eu fiz uma dança sem ritmo e uma reverência exagerada e ela revirou os olhos.
— Você não tem ritmo nenhum. — Fiz cara de afetado, o que lhe arrancou um sorriso e então lhe estendi meu braço para que pudesse auxiliá— la a andar até a saída. Ao passarmos pela porta do aeroporto eu senti um calor que eu acho que nunca senti na minha vida e ao olhar para t e sua expressão pude constatar que ela sentiu o mesmo.
— Bom, parece que as pessoas não estavam brincando quando dizem que esse é um país quente. – Ela disse retirou o casaco que estava vestindo e eu parei para fazer o mesmo, Chamando em seguida um taxista.
Entramos no primeiro táxi que parou e pedimos por qualquer hotel em Copacabana. Enquanto o táxi passava por uma orla, eu babava pelo amanhecer e pela visão mesmo que distante que tive do tão famoso pão de açúcar.
, Nós poderíamos tentar visitar o que você acha? – Ela olhava pra mesma direção que eu.
— Eu acho que seria uma excelente ideia. Assim como eu também acho que deveríamos ir a praia. — Ela continuou com o sorriso aberto e ele me contagiava.Me fazia bem vê— la bem. Agora que ela já sabia que era ela a garota, eu já nem me importava mais de disfarçar a cara de idiota apaixonado. E ela parecia não se incomodar com meus olhares, muito pelo contrário, as vezes eu tbm me deparava com ela me encarando.Já estava passando a ser uma coisa natural entre a gente.
Ela havia me surpreendido com a conversa e com toda a sua sinceridade e eu havia entendido e por mais que não fosse o que eu quisesse, também não era o que eu esperava. Eu não esperava que ela falasse comigo sobre aquilo de forma nenhuma, muito pelo contrário, eu estava acreditando fielmente que ela simplesmente ignoraria, deixaria passar tudo o que tinha acontecido entre nós como se nunca nem tivesse acontecido, mas ela não havia feito isso, então eu estava feliz. Feliz e aliviado. Sua reação estava sendo totalmente diferente de tudo o que eu pudesse imaginar e o negócio era que ela estava totalmente imprevisível para mim. Por vezes eu a pegava com o olhar distante e com o queixo trincado, horas eu a pegava com os olhos cheios de água olhando pro além e em algumas outras vezes eu a pegava me encarando. Eu entendia todos aqueles sentimentos e como aquilo deveria estar sendo confuso pra ela e o meu receio sobre nossa aproximação havia passado a ser sobre o que ela pensava nutrir por mim. Nós dois estávamos passando por um momento delicado da vida, mas eu tinha certeza do meu sentimento por ela antes de tudo acontecer, ela porém não tinha certeza e talvez nem mesmo consciência de um sentimento por mim e agora que Paul havia partido tudo deveria ter ficado mais confuso e eu não queria de forma nenhuma me aproveitar de uma vulnerabilidade. Qualquer coisa que pudéssemos ter naquele momento seria extremamente impulsionado pela gama de sentimentos que eu tinha certeza que a confundiam , afinal, confundiam a mim também.
— Acabo de me tocar de uma coisa – ela se virou pra me encarar me pegando com aquela cara de bobo admirando seu sorriso, mas nem se tocando disso. Preciso comprar um biquíni.



Quando paramos em frente ao hotel o motorista disse algo que eu não nem prestei atenção, mas sim. Lembrei— me da única palavra que eu sabia em português e antes do táxi partir eu disse um “obrigada” empolgado pro taxista que riu e me deu um aceno com a cabeça. e eu havíamos cada um comprado sua própria passagem, porém quando chegamos e fomos trocar o dinheiro pela moeda local ele me deixou avisada que dali para a frente era tudo por conta dele. Entramos em um hotel bonito, com pessoas que já estavam vestidas com trajes de banho passando por nós e paramos em frente a uma recepção bonita e com mulheres muito bonitas, algumas com a pele bronzeada e eu senti uma baita inveja daquele bronzeado. Elas nos olharam com simpatia e um belo sorriso no rosto. Tudo naquele lugar era belo. Deixei que fizesse as honras e começasse a falar.
— Bom dia! Nós gostaríamos de saber se existe algum quarto disponível – perguntou , o hotel que o motorista havia nos deixado era bem em frente a praia e eu queria muito que tivesse vaga ali para que eu não precisasse procurar outro. Aquele ficava em um ponto maravilhosamente bem estruturado.
— Bom dia, senhor! Vocês não possuem nenhuma reserva? – fez um sinal negativo com a cabeça e eu já estava começando a pensar que daria merda. Rio de janeiro era uma cidade turística, nós estávamos querendo nos hospedar em frente à praia mais famosa do mundo, era óbvio que deveríamos ter cogitado a hipótese de ter tentado uma reserva, mesmo online
— Nenhuma. – Ele deu um sorriso amarelo e ela fez uma cara meio negativa para o nosso pedido.
— Nós não precisamos nem de quartos individuais. — Eu me apressei em dizer. — Você pode nos dar o que você tiver disponível aí, nós só queremos pra passar a noite mesmo. Deixaremos o país amanhã de manhã, Só queremos assistir ao pôr do sol. – A menina me olhou e eu li seu nome em seu crachá – Por favor Danielly.
— Bom, eu tenho uma suíte simples que vai ficar disponível só a partir das dez da manhã e que deverá ser ocupada de novo amanhã ao meio dia, acredito que consigo encaixar vocês lá nesse meio tempo. Mas só se vocês quiserem aguardar até as dez, é claro. – olhou o relógio que não marcava nem sete e meia da manhã ainda e eu dei de ombros.
— Vamos ficar com esse – Ele disse e batemos um high five.
— Preciso da identidade de vocês, por favor. E caso sejam menores de idade eu preciso da autorização emitida, autenticada e assinada pelos seus pais.
— Nós dois somos maiores de idade – Eu disse entregando minha identidade e sentindo meu coração acelerar. Aquela era a falsa que eu usva pra beber e entrarnas baladas com Paul. era maior de idade, eu não. Para comprarmos as passagens para o Brasil eu havia ligado pro meu pai e pedido para que ele fizesse uma autorização e antes de irmos ao aeroporto nós a pegamos. Meu pai havia achado a ideia uma loucura, mas apoiado totalmente e inclusive dito que me daria um dinheiro extra para que eu pudesse gastar. E eu havia feito ele prometer que não contaria nada a minha mãe. me olhou com os olhos arregalados e eu continuei agindo normalmente. Ele entregou sua identidade e logo em seguida seu cartão para que uma moça fizesse nosso devido check in. Ao finalizar ela nos avisou que poderíamos ocupar o quarto apenas depois das dez da manhã e nos deu algumas dicas de lugar para tomar café – além do hotel, claro – e de lojas que pudéssemos comprar algumas coisas. Nós dois optamos por tomar café no hotel e comemos de tudo. Fiquei extremamente apaixonada por pão francês e por açaí, duas coisas que se eu pudesse eu encheria a minha bolsa.
Após comermos e ficarmos enrolando um pouco na mesa de café enquanto conversávamos, riamos e imaginávamos como Paul reagiria a determinadas situações, nós seguimos para a loja de souvenir do hotel. Senti vontade de comprar quase tudo e decidi que levaria algumas lembrancinhas para algumas pessoas. Quando o relógio marcou dez horas, eu tinha embaixo do meu braço sacolas com presentes para minha mãe, Emma, Vanessa, Tom, meu pai e – ele estava ao meu lado e ainda assim não me viu comprando — E acabei levando algumas lembrancinhas também para Danny, Harry,Rose e Valerie. Eu havia comprado algumas coisas para mim também no final de tudo, afinal eu também era filha de Deus. No final do nosso tempo de espera, nós fomos conduzidos ao quarto que seria nosso. O quarto era muito bem arrumado, com uma cama de casal, uma televisão, um frigobar, um armário e uma poltrona que ficava mais a frente da cama. Joguei minha mochila ali e segui para o banheiro que era maravilhoso, com uma enorme ducha e uma banheira com hidromassagem. Me senti a diva das divas e voltei pro quarto me jogando na cama. Meu pé começava a incomodar um pouco, mesmo me servindo de apoio para andar desde o momento que saímos de casa. Acredito que isso estava acontecendo porque eu não havia me movimentado muito desde que havia engessado ele.
— Acho justo jogarmos pedra, papel e tesoura para vermos quem fica com a cama. Eu quero muito ser cavalheiro e dizer que fico no sofá, mas acho que simplesmente não vou conseguir sair daqui – que já estava jogado na cama disse e eu me virei para encará— lo. Ele estava muito perto então me afastei no limiar possível para que eu pudesse resistir a qualquer vontade que pudesse sentir na minha cabeça e bloqueei qualquer ideia de contato mais próximo com ele. Eu precisava aprender a me controlar. Meu mix de confusão emocinal estava grande demais e eu precisava afastá— lo disso antes que fizesse alguma besteira. Eu estava me sentindo vulnerável, mas o problema que minha vulnerabilidade se resumia a uma vontade absurda e específica de tê— lo ao meu lado.
, não somos crianças, podemos muito bem dividir uma cama de casal.Dividimos o sofá o tempo inteiro. Não é como se você nunca tivesse dormido com uma mulher em uma cama e em um quarto sozinho antes.
— Só aviso que se você me chutar eu vou chutar de volta. — Ele se sentou.
— Meu chute vai continuar sendo mais potente que o seu. Eu estou com um gesso – Lhe mandei uma piscadela e ele se levantou.
— Vou tomar um banho e trocar de roupa para começarmos nosso tour antes que nosso corpo esfrie e a gente fique com preguiça. – terminou sua frase já dentro do banheiro, onde se trancou.

Aproveitei esse tempo para organizar minha bolsa nova – sim, eu havia comprado uma bolsa de lado florida e linda, sim eu a pessoa sombria que quase sempre andava de preto. – com as coisas que eu havia comprado como: protetor, bronzeador, canga de praia, protetor labial, óculos escuros, chapéu e escolhi também o biquíni que usaria. saiu do banheiro um tempo depois apenas enrolado na toalha, com o cabelo molhado e gotas escorrendo por todo o seu corpo. Minha atração por ele chegou na escala mil por cento naquele momento e eu precisei engolir a seco. Eu não sabia como isso havia acontecido, mas eu havia começado a achar um cara extremamente bonito e atraente. Ele tinha um corpo mais volumoso devido aos exercícios que praticava e os anos que ele disse ter feito de luta. Ele estalou os dedos e só então me toquei que ele falava algo enquanto eu olhava pra sua barriga.

— Eu perguntei se você vai entrar agora no banheiro ou se eu troco de roupa lá? – Ele estava mexendo em sua mochila e eu fiquei sem graça por estar encarando ele como se ele fosse um pedaço de carne e me virei rápido pegando o biquíni e o vestido que eu havia separado
— Pode se trocar aqui, vou tomar um banho. – Eu respondi sem olhar para ele entrando no banheiro o mais rápido que meu gesso me permitia. Tudo o que eu precisava era de um banho frio para acalmar determinadas ideias que começaram a surgir na minha cabeça.

— Quem é você e o que fez com a que eu conheço?Acho que nunca imaginei te ver de vestido curtinho e florido – perguntou assim que saí do banheiro e eu dei uma voltinha me apoiando na parede.
— Eu comprei na lojinha lá em baixo. E isso não é um vestido, é uma saída de praia. E você já me viu com vestido na festa da Nessy – A forma como ele me olhava fazia com que eu me sentisse tão bem, que não deveria ser permitido se sentir daquela forma só com um olhar.
— Você está linda – Ele se aproximou e eu fiquei um pouco tensa, coisa que ele pareceu perceber, mas não se incomodou. Ele soltou meu cabelo bagunçando eles.– Agora você está mais do que linda. Está quase uma brasileira. – Sacudi meus cabelos para colocá— los no lugar e ele se afastou com uma expressão estranha.
— Se não fosse meu pé quebrado, eu sambaria pra você – Tentei fazer graça e dei alguns pulinhos até a cama – E então, pra onde vamos e como vamos? Pão de açúcar mesmo?
— Sim, eu já liguei pra recepção e eles me falaram que é só pegar um taxi e pedir para ele nos levar para a praia vermelha. Lá a gente pega um bondinho até o topo e podemos almoçar por lá mesmo. Me falaram que tem algumas opções de comida, lanches, lojas de souvenirs e tudo.
— Perfeito. E depois disso podemos ir à praia? Eu preciso dar um mergulho no mar. – parou com a mão no bolso e me encarando sério
— Seu pé está com gesso, você não pode entrar no mar.
— Eu tive uma ideia. A gente compra umas três daquelas sacolas de lixo pretas e então enrola pelo meu pé e depois fecha com um daqueles prendedores de plástico que lacram, igual aqueles que usam para prender a mão das pessoas nos filmes sabe? Faz umas camadas de sacola e protetor e por fim vou ter uma super proteção. Não vai ser possível conseguir passar por todas elas.
— Eu não acho que isso seja uma boa ideia. – Ele pareceu preocupado.
— Mas eu acho – Peguei minha bolsa ignorando seu pessimismo. – Se não der certo, não deu, mas a gente nunca vai saber se não tentar, Vamos?
— Se você diz assim. – Ele concordou pegando meus remédios que eu havia esquecido e me seguindo pela porta.

A recepcionista nos ajudou com o táxi e nos deu algumas dicas. Quando eu saí da porta do hotel para entrar no táxi tive a sensação de que estava entrando em uma panela fervendo e fiquei feliz por ter comprado e colocado uma roupa leve. havia feito o mesmo. Ao olhar pela janela enquanto o motorista dirigia pela orla, eu observei muitas mulheres de biquínis totalmente diferentes do que eu estava acostumado a ver na Inglaterra. Ali os biquínis eram menores e o corpo das mulheres muito mais volumosos. Não só mulheres, mas alguns homens que eu vi se exercitando na beira da praia também. Meus pensamentos voaram para os “e sés” e eu comecei a imaginar o que Paul diria ao ver aquela quantidade absurda de mulheres em trajes de banho. O percurso não demorou muito e em pouco tempo já estávamos no alto do morro admirando uma vista maravilhosa, com um sol escaldante batendo no meu corpo. e eu compramos chapéus para nos protegermos um pouco mais, afinal, éramos brancos demais. Lá em cima a variedade de pessoas era incrível. Era possível identificar pessoas que haviam subido pelo bondinho que nem nós, outras que vieram através de uma trilha pela floresta. Haviam pessoas comendo dos lanches vendidos por ali, outras com suas bolsas abertas em cima da mesa e comendo suas próprias comidas em uma espécie de piquenique. Havia um grupo que estava com um violão e eu amei a diversidade daquele lugar.

— Talvez eu esteja apaixonada – Eu disse quando e eu paramos na beira de uma das vistas.

O mar e o céu azul, a sensação absurda de se sentir plena e contemplativa. Diante daquilo tudo era impossível não ter a sensação de que em algum momento as coisas ficariam bem, que a dor sumiria e tudo começaria a dar certo. Não dava pra evitar sorrir. Eu só não sabia o porquê. As mãos de que antes amparavam meus braços aos poucos haviam descido e agora estavam entrelaçadas as minhas. Olhei de soslaio para ele sabendo que não poderia ser pega graças aos óculos escuros que usávamos e me perguntei no que ele pensava e se ele estava sentindo o mesmo formigamento na boca do estômago que eu. O peito também doía de felicidade e tristeza. Eu queria guardar aquele momento pra sempre dentro de mim, e numa tentativa que eu sei que seria falha eu peguei o celular para capturar o lugar, o momento ficaria apenas em minha memória. Dougie me enlaçou pela cintura e tiramos algumas fotos juntos, fazendo os mais diversos tipos de caretas e sorrisos. Depois de um tempo conhecendo toda a extensão da pedra resolvemos comer um pouco de açaí sentados na sombra – É claro – enquanto conversávamos aleatoriedades. Era bom conversar com ele e as coisas pareciam como antes de tudo acontecer — inclusive nosso beijo. Em determinado momento da conversa levei um susto quando meu telefone tocou e um susto maior ainda quando vi a foto da minha mãe no identificador de chamadas. Confesso que pela primeira vez em muito tempo eu revivi a sensação da expressão “não passa nem uma agulha”.
— O que foi? – perguntou curioso.
— Minha mãe – eu disse ainda com meus olhos arregalados. Ela não me ligava naquele telefone a meses, desde que eu havia saído de casa.
— Atende – me incentivou e eu respirei fundo antes de atender ao telefone
— Alô – eu disse receosa e com medo de que aquela talvez fosse a última ligação que eu fizesse na vida.
— Hey , onde você está? Eu estou na porta da sua casa. Vim ver se estava tudo bem, mas não te encontrei queria saber se você demora a voltar que ai qualquer coisa eu te espero.
— Hey mãe – foi estranho falar com ela com naturalidade. Pra mim as coisas ainda não estavam resolvidas. – Eu não volto hoje – Tentei não ter medo de falar com minha mãe, afinal aquela era minha vida.
— Onde você está? – Ela perguntou desconfiada. – Você sabe que não deveria ficar saindo de casa, você precisa repousar essa perna pra ela poder melhorar. – Mordi meus lábios. Ela não usava seu tom autoritário, ao invés disso ela parecia preocupada. Ela queria tentar melhorar nossa situação e eu não queria mentir pra não prejudicar essa ideia de mudança.
— Eu não posso te dizer, porque se eu te disser você vai surtar, nós vamos brigar e você vai estragar a graça de tudo. – Ela parou do outro lado da linha em silêncio por alguns instantes antes de falar de novo.
, eu disse que eu estou disposta a mudar, mas isso não vai depender só de mim. Eu prometo que eu não vou surtar, só me diz onde você está pra eu não ficar preocupada.
— Bom, antes que você diga alguma coisa eu quero falar que esse lugar é lindo e que você amaria conhecê— lo.
, onde você está? – Minha mãe perguntou novamente.
— Brasil. – disse por fim esperando o surto que eu imaginei que estava acontecendo do outro lado da linha, mas ele não veio. Veio só o silêncio.
— Quando vocês voltam? – ela perguntou depois de um tempo em silêncio e eu não consegui entender muito bem o seu tom de voz. E ela falou no plural, ela sabia que estava comigo, o que me fazia calcular que ela não estava tão surpresa assim com a minha viagem. Talvez antes de me ligar ela tenha ligado pro meu pai e ele informou que tínhamos viajado.
— Amanhã de manhã.
— Você está tomando seus remédios? Comendo direitinho? Tem sentido dor?
— Sim, Sim e só um pouco, mas acho que é por causa da falta de movimentação, meus dedinhos ficaram inchados, mas fora isso está tudo bem.
— Ok. – O silêncio ficou na linha de novo – E como que é ai? É bonito? Foi à praia? Como é o sol? A comida? Eu morro de vontade de conhecer esse lugar – ela disse de repente empolgada e eu me assustei e não consegui evitar rir.
— Esse lugar é lindo. As mulheres são lindas e tem umas bundas maravilhosas. O calor é absurdo, eu estou com a cara cheia de protetor solar e de chapéu. e eu ainda não fomos na praia, nesse exato momento estamos no pão de açúcar tomando açaí que é uma das melhores coisas que eu já experimentei na vida e olhando uma paisagem realmente maravilhosa. Está um lindo dia. – Eu sorria quando terminei de falar e me assustei, eu não conseguia lembrar de outra situação em que tivesse acontecido isso enquanto eu conversava com a minha mãe.
— Eu sempre quis conhecer esse país. Vocês estão no Rio de Janeiro né? Eu lembro que enquanto ainda éramos casados seu pai e eu planejamos algumas vezes fazer uma segunda lua de mel ai e nunca deu certo – ela soltou um riso amargo. – Mas quem sabe ainda podemos fazer uma viagem em família e curtirmos juntos um dia?
— Sim! Seria ótimo! Emma amaria esse lugar e tenho certeza que você também. Tem muitas coisas aqui que são a sua cara.
— Que bom. Guarda o nome do hotel que vocês estão ficando pra caso eu queira fazer uma viagem dessas eu possa ter alguma recomendação. Você está ficando em uma suíte ou em um quarto simples? Você tem dinheiro ai? Se quiser posso transferir algum pra sua conta.
— Estou em uma suíte. e eu estamos dividindo uma. O hotel é legal, é bem em frente a praia.
— Você e o estão no mesmo quarto? – Ela me interrompeu.
— Sim, estamos dividindo uma. Só vamos ficar uma noite, não tinha necessidade de gastarmos com dois quartos.
está acontecendo alguma coisa entre você e esse menino?
— Não – Eu tentei não responder rápido demais para não causar nenhum tipo de impressão errada. – Nós somos amigos – Foi estranho dizer aquela frase com olhando pra mim e eu agradeci pelo sol e pelo calor que já estava deixando meu rosto vermelho, assim o fato de eu ter ficado sem graça passou em disparada. – Não precisa se preocupar, ok? Eu estou bem. Nós estamos bem. Está tudo bem.
— Ok. Se cuida e vai me mandando noticias ta bom?
— Pode deixar.Tchau. – Desliguei o telefone e ainda me encarava.
— Ela não surtou? – Ele perguntou e eu dei graças a Deus por ele não ter reparado ou feito alguma menção ao fato de eu ter dito que éramos apenas amigos, porque na minha cabeça era isso que eu estava tentando definir que éramos. Não poderíamos ser nada além daquilo naquele momento.
— Nem um pouco – Eu disse guardando o celular e ele pareceu surpreso. — Vivendo e aprendendo que as pessoas nos surpreendem – ele olhou adiante.
— Quer experimentar ir à praia agora? Podemos ficar lá até o por do sol, depois jantarmos alguma coisa por algum restaurante antes de subirmos pra dormir.
— Por mim ótimo, mas em qual praia iremos?
— Eu dei uma pesquisada – Ele me mostrou seu celular – E eu vi que poderíamos assistir o por do sol nessa pedra chamada arpoador, então eu acredito que seria melhor para nós irmos à alguma praia ali perto. – Concordei com a cabeça.

Nós descemos pelo bondinho que pra mim havia sido a pior parte da viagem, afinal, eu detestava a ideia de estar naquele negócio transparente e no alto. Voltamos para o hotel onde guardamos algumas coisas que tínhamos comprado no meio do caminho e depois de almoçarmos e comprarmos sacolas e prendedores, seguimos para a praia. havia sido um verdadeiro cavaleiro, me levando nas costas por toda extensão de areia até chegarmos à uma cadeira e guarda— sol que tínhamos alugado. Após me sentar lá, nós começamos a colocar em prática o plano de proteger meu gesso para que eu pudesse entrar no mar. Enquanto fazíamos isso, acabamos conversando com um casal americano que estava ao nosso lado e que haviam vindo passar a segunda lua de mel ali. Eles nos recomendaram alguns restaurantes, falaram da experiência que tiveram em outras cidades do país e no final de tudo nós acabamos nos adicionando nas redes sociais. Depois da amizade estabelecida, e eu pedimos para que eles tomassem conta das nossas coisas enquanto íamos para o mar. já estava um pouco vermelho, no rosto principalmente, mesmo tento passado protetor e eu tinha certeza que já estava da mesma forma. Ao ficar só de biquíni me senti um pouco constrangida por estar exposta na frente de e ele me deu uma olhada discreta antes de olhar para o lado, o que me fez automaticamente sorrir, era bom se sentir desejada de alguma forma.
Para ir pro mar, havia pego na minha mão e eu fui dando saltinhos pela areia enquanto as pessoas olhavam pra minha perna cheia de sacola preta e riam. Preciso admitir que estava um calor da moléstia ali dentro e que eu sentia que meus dedinhos iriam derreter.
— Tem certeza disso? Você pode molhar esse gesso e tudo piorar, . – parou comigo em frente ao mar que já molhava nossos pés. A água estava gelada, mas nada insuportável.
— Eu não vou vir ao Rio de Janeiro e simplesmente não entrar no mar – Disse convencida e ele revirou os olhos.
— Eu não vou me responsabilizar por isso – Ele soltou minha mão, erguendo as duas no alto – o mar aqui é forte, então...
— Cala a boca e me ajuda a entrar logo – Eu disse pegando de volta sua mão e ele soltou um muxoxo reclamão antes de seguir comigo para dentro do mar.
As ondas eram um pouco fortes, mas nada que não desse pra aguentar. Preocupado e cauteloso, se posicionou atrás de mim apoiando suas mãos em minha cintura nua. Tentei associar o arrepio na minha espinha à água gelada que batia em meu corpo, mas eu sabia que aquela era a maior mentira que eu poderia contar. Ele era o causador das sensações boas que eu sentia no meu corpo naquele momento, do sorriso idiota que estava se formando em meus lábios conforme seu corpo se aproximava mais do meu, colando seu peito as minhas costas. Eu sabia que da parte do era cuidado, mas minha mente não entendia assim.
— Vamos ficar só por aqui, ok? — Sua voz estava absurdamente perto. E eu virei o rosto para encará— lo deixando que nossa proximidade fosse maior ainda.Seu rosto estava completamente na curva do meu pescoço e eu sentia sua barba rala e por fazer roçar em mim.
— Nos viemos aqui para vivermos uma aventura, esqueceu? — O sorriso que ele abriu estando tão perto foi tão tentador que eu quase não consegui desviar o olhar.
Eu não assumo nenhuma responsabilidade sobre isso — Eu queria que ele não estivesse falando apenas da praia. /
Ele voltou a caminhar comigo para dentro da água. Tudo o que precisávamos para não sermos arrastados era dar uma fixada do pé no chão para que a força não nos carregasse de volta pra areia. Na realidade fixava os pés dele no chão, eu fixava só um e me apoiava nele para não cair. Preciso admitir que eu estava tirando um baita proveito daquela situação.
— Eu preciso dar um mergulho, vamos mais pra frente
— Você realmente gosta de desafiar a sorte né? — Ele segurou minha cintura, me virando de frente pra ele, e pelo seu olhar percebi que ele estava doido para fazermos o mesmo. — Chegamos mais para frente e nos estabelecemos em um lugar onde nós conseguiamos ou mergulhar ou pular a onda quando ela vinha. Era bom e me ajudava. Em determinado momento, ele me puxou pra mais perto e eu cruzei minhas pernas em volta de sua cintura. A mão de Dougie se apoava em minha coxa e nossos olhares se encontraram.Cruzei meus braços por seu pescoço e me senti de volta ao quintal de Vanessa, com a neve caindo e nossos labios se encontrando. Eu sentia que estava me perdendo naquele olhar e tive certeza que sim, quando uma onda mais fort veio e nos separou. Quando dei por mim eu estava dando cambalhota dentro d’agua até que meu corpo arrastou na areia e parou por ali mesmo, jogado.
Quando eu finalmente abri o olho um dos meus seios estava quase a mostra e eu logo o tapei, olhando a minha volta e procurando com os olhos. Ele estava quase do meu lado e ria tanto que ficava quase sem ar. Eu comecei a rir também, me recuperando do susto enquanto ainda estava sentada na areia, sentindo minha bunda ralada doer.
— Nós levamos um caldo histórico – Ele disse no meio da sua gargalhada – Eu senti a minha perna virar, eu devo ter dado umas três cambalhotas e a sua perna do gesso acertou minha costela – Ele apontou o local, esfregando e fazendo cara de dor.
— Minha bunda está ralada – Eu disse ainda tentando ajeitar meu biquíni. As ondas vinham e batiam em nós e a nossa sorte era que a praia não estava muito movimentada, talvez por ser dia de semana.
— Sua perna? — Ele perguntou quando parou de rir
— Ainda não to sentindo nada. A única coisa que está me incomodando é o fato de que por estarmos sentados aqui e a onda indo e voltando minha calcinha está ficando cheia de areia – Eu revirei os olhos e ele se levantou me ajudando a fazer o mesmo em seguida.
— Quer entrar de novo? — Ele perguntou parado na minha frente e me segurando pela cintura e eu quis absurdamente beijá— lo. Usei toda minha força de vontade para não olhar seus lábios e fiz uma nota mental de tentar não sorrir feito uma idiota ao tê— lo tão próximo.
— E você ainda pergunta? – Esqueci da minha nota mental no momento em que ele abriu um enorme sorriso, com o cabelo grudado na testa e os olhos quase fechados por causa do sol. Droga, eu estava muito ferrada.


Eu carregava nas minhas costas enquanto seguíamos para a pedra chamada Arpoador. Quando ela finalmente pulou das minhas costas e eu senti um baita alívio. Eu havia carregado ela por um posto inteiro da praia e pela areia, o que estava resultando em um cansaço absurdo.
— Filha, não to dizendo que você é gorda, mas que tu é pesada é! Deve ser essa bunda!
tinha um corpo lindo. Ela não era aquele padrão de beleza que se via por ai. Ela não tinha a barriga chapada, as curvas perfeitas mas aos meus olhos ela era absurdamente linda. E tinha uma bela bunda e como ela havia citado bundas aleatórias o dia inteiro me senti na liberdade de comentar a dela. Recebi um tapa que nem o que eu recebi quando falei que ela tinha a bunda tão grande quanto a das mulheres que ela comentava e ela fez uma careta engraçada que eu repeti. Ela estendeu sua canga sobre a pedra e se sentou enquanto eu quase me joguei ali. Meu rosto, peito e costas ardiam um pouco, mas nada na medida do insuportável. Ainda fazia bastante calor, embora já fosse final de tarde e a pedra onde estávamos começava a encher mais. Um dos rapazes do quiosque onde havíamos pegado informações nos disse que as pessoas costumavam assistir ao pôr do sol ali e a bater palma em forma de agradecimento, o que eu achei extremamente legal.
— E o pé? – Perguntei apoiando meu tronco nos braços, quase me deitando e t permaneceu sentada. Logo após termos tomado mais uns três caldos, ela havia começado a sentir dor no pé e o mesmo havia começado a inchar.
— Meus dedinhos ainda estão doendo – Ela começou a mexer nos dedos – Acho que em algum momento dos trinta mil caldos que tomamos eu devo ter batido ele na areia ou alguma coisa do tipo. E ele tá um pouco úmido, acho que entrou água. – Ela fez careta.
— Eu falei que aquela era uma ideia doida. Mas pelo menos deu pra gente se divertir – Eu me sentei reto agora para lhe mostrar meu joelho ralado – E coloca se divertir nisso.
— Acredite, seu ralado ainda é melhor que o meu. – Ela fez careta e eu soube que ela estava se referindo ao ralado em sua bunda.
— Dessa vez não vou contestar. Mas quero deixar nota de que se estivesse usando um biquíni maior talvez isso não tivesse acontecido – Eu alfinetei e pisquei pra ela, jogando meu cabelo pra trás e ela desviou os olhos rápido de mim, e eu não entendi. Achei que ela iria fazer algum comentário sobre a alfinetada, mas não. Ela havia feito aqui o dia inteiro. Me olhava fixamente e logo em seguida desviava o olhar e balançava a cabeça. Ficamos sentados por longos minutos em silêncio enquanto o céu ia tomando um tom alaranjado e eu começava a viajar em pensamentos.
Eu conseguia criar na minha mente todas as coisas que Paul poderia dizer naquele momento com relação a tudo. A estar ali, a estar com ela, a estar aproveitando a vida, a estar sem ele. Era como se de alguma forma ele ainda estivesse ali do meu lado falando na minha cabeça. Era tão ruim a sensação de nunca mais, a ideia que cada dia ficava mais óbvia de que nunca mais nos veríamos e compartilharíamos pedaços da vida um do outro. Esse pensamento fez meus olhos marejarem, porque eu tinha certeza absoluta que ele adoraria estar ali. Pela primeira vez eu não senti raiva e sim tristeza que doeu em meu peito não só por ele não estar ali, mas porque naquele momento, observando a beleza daquele lugar e daquela paisagem eu me senti sozinho, mesmo com várias pessoas ao meu redor que riam,conversavam e bebiam, com ao meu lado, eu me senti extremamente sozinho e ao olhar pro lado e observar eu tive certeza que ela se sentia da mesma forma. Estávamos sozinhos dessa vez porque nosso ponto de apoio não estava mais ali. Tomei a liberdade de passar meus braços em volta de seu corpo e ela depositou sua cabeça em meu ombro, suspirando fundo. Nós dois não falamos nada, apenas ficamos ali em silencio observando o sol se pôr e a profundidade da beleza daquele lugar.
Não sei por quanto tempo ficamos daquela forma, mas quando desencostou a cabeça de meu ombro já era noite. Eu começava a sentir meus olhos pesados de cansaço e não só os olhos mas o corpo também.
— Acho melhor voltarmos pro hotel – Ela se virou para me encarar e nós continuávamos muito próximos e meus braços continuavam por cima de seus ombros. Eu quis responder ao que ela disse imediatamente, mas meu cérebro não processou muito bem uma resposta, talvez porque ela estivesse muito perto e com metade dos cabelos soltos desprendidos do coque frouxo e me encarando nos olhos. Minha única resposta natural aquela aproximação erasentir aquela coisa no meu peito que fazia meu coração se acelerar e meu rosto esquentar. Ela não desviou do meu olhar, mesmo eu estando tão perto. Ela me encarava de volta demonstrando algo que eu não sabia ler e quando meus olhos seguiram instintivamente para seus lábios eu soube que era momento de me afastar, antes que eu fizesse algo que pudesse me arrepender depois.
— Vamos. – Eu preciso de um banho e colocar alguma coisa salgada no estômago e que de preferência não seja água do mar. – Eu me desvencilhei dela me levantando e ajudando— a a fazer o mesmo. A ajudei a colocar as coisas dentro da bolsa e me virei de costas pra que ela pudesse subir novamente.
— Não precisa – Ela disse com pena de mim
— Para de palhaçada e sobe logo. Aproveita que eu to bonzinho – Ela riu subindo novamente nas minhas costas – Vamos comer algo logo antes de subirmos? Assim depois que subirmos não precisamos mais descer, fechado? — Perguntei ajeitando suas pernas em minha cintura e cuspindo seu cabelo que estava entrando na minha boca devido a sua posição com o rosto bem no meu pescoço. Aquilo era quase uma covardia comigo, ter sua respiração assim tão perto.
— Fechado – Ela disse e sacou o telefone. – Agora dá um sorriso que eu preciso registrar esse momento.




e eu havíamos jantado em um restaurante brasileiro maravilhoso e eu sem dúvidas havia incluído aquele cardápio a um dos melhores, senão o melhor que eu já havia experimentado em toda a minha vida. Depois de termos jantado, tomado açai e caminhado mais um pouco pela orla, nós agora já estávamos de volta no quarto. Eu já estava tomada banho e passava uma loção refrescante para peles queimadas que havia comprado mais cedo, quando saiu do banheiro vestindo apenas uma bermuda de pano mole e sem camisa. Ele estava sem camisa, Sem camisa e com os cabelos bagunçados. Aquilo era judiar demais de mim.Uma coisa era ele estar daquela forma em um ambiente publico, outra totalmente diferente era estar assim em um quarto com nós dois sozinhos. Era estranho, porque ficávamos sozinhos em casa o tempo inteiro e eu nunca havia me sentido daquela forma.
— E ai conseguiu secar tudo? – Ele se sentou a minha frente. Meu gesso que estava úmido e eu tinha tido a brilhante ideia de tentar secá— lo com o secador.
— Acho que sim, não molhou muito, nosso plano de proteção digamos que meio que deu certo mesmo – Ele fez um sinal vitorioso e debochado ao mesmo tempo.
— Deixa eu ver – Ele pegou minha perna com o gesso e colocou por cima das suas, passando a tocar meu gesso e a colocar dois dedos pela parte de dentro para ver se ainda estava úmido. – É parece que a Ideia do secador realmente deu certo. Ele deu dois tapinhas leves no gesso antes de erguer o rosto pra mim novamente, depositando sua mão de uma forma simples na minha coxa, mas esse simples gesto me fez arrepiar. Durante todo o dia parecia que seu simples toque estava me dando choque e despertando em mim novas e boas sensações.
— Suas costas não estão doendo não? Eu sou pesada. — Disfarcei algo que eu nem sabia que era olhando pras minhas mãos e começando a ler o rótulo do creme que havia nelas. Nunca meus sentimentos me pareceram tão palpáveis antes. Eu parecia a flor da pele quando ele chegava mais perto. Acredito que isso se devia às novas experiências, as emoções, a aventura que estavamos vivendo
— Preciso concordar que você realmente é pesada – Ele se jogou na cama com os braços abertos, fechou com olhos e respirou fundo. Me perguntei o que se passava em sua cabeça. – Mas não estão doendo não, estão só ardendo um pouco. Menos do que eu achei que estaria, confesso. Tudo graças ao seu bendito protetor solar fator trinta mil — Ele abriu os olhos pra me encarar e eu desviei meu olhar novamente para o creme.
— Isso aqui é uma loção refrescante pós sol, quer passar? – Sacudi a loção que eu tinha em mãos e ele fez um barulho positivo com a boca, erguendo o tronco e estendendo a mao para que eu lhe desse o creme.
— Vira, eu passo — Eu não sei o motivo que me levou a falar aquilo, afinal, eu sabia como eu estava me sentindo e sabia que eu deveria evitar um contato mais próximo, mas eu não queria evitar um contato próximo. Eu queria ele cada vez mais perto. Mas eu não deveria querer. Droga.
se virou e eu comecei a passar o creme em suas costas. Era bom tocar sua pele e sentir o quão quente e macia ele era. Aquele simples toque me fez lembrar como havia sido beija— lo tudo o que poderia estar acontecendo entre nós se eu não tivesse fugido naquela noite.
— Eu poderia ficar assim o dia inteiro – Sua voz me despertou e eu sorri sozinha massageando alguns pontos de suas costas e pescoço enquanto ele curtia o gesto. Mesmo tendo terminado de passar o creme, não quis quebrar o contato que estávamos tendo, aquela sensação de proximidade, de aconchego que eu não lembrava que um simples toque poderia me trazer.
— Obrigado — disse ao perceber que eu havia parado e então se virou. Voltei a colocar mais creme em minhas mãos e voltei a espalha— lo por seu peito, ombros,pescoço e seguindo pro seu rosto. Ele fechou os olhos e eu senti vontade de fazer o mesmo e me entregar aquela vontade absurda que eu estava tendo dele naquele momento. Era vontade de esquecer tudo, todos os meus medos, todas as minhas neuras, todas as minhas ansiedades e simplesmente beija— lo, sem nem pensar nas consequencias que isso poderia trazer posteriormente à nós. Quando abriu os olhos eu pensei que talvez ele pensasse a mesma coisa, seu olhar ainda era novo pra mim, era como se ele despisse cada pedaço de mim que eu sempre tentei esconder, como se ele visse tudo e nem se importasse com isso. Era bom ser olhada daquela forma, e por uns instantes de segundo eu desejei que aquela sensação em meu corpo nunca acabasse, que as batidas do meu coração não diminuissem e que a queimação que subia em minha espinha nunca cessasse. Mas isso aconteceu sór por alguns segundos, pois quando se aproximou de mim e me beijou, aquela sim foi a sensação que eu quis poder sentir pra sempre. Quando seus labios se encontraram com os meus foi diferente da primeira vez, pois agora não havia nervosismo, havia apenas vontade. Minha mão, anteriormente depositada em seu ombro se embrenhou em seu cabelo, trazendo— o para mais perto e suas mãos me envolveram pela cintura. Pode ser clichê dizer, mas nosso beijo parecia se encaixar melhor do que da última vez. Nossas boas estavam ansiosas por estarem em contato uma com a outra,nossos corpos se tocavam e a cada simples toque eu queria mais. Queria ter mais dele, dar mais de mim, ter mais de tudo aquilo que estavamos sentindo. Todo meu corpo parecia ser capaz de soltar fogos de artifícios por finalmente estar tendo aquilo que havia desejado durante todo o dia.
Nosso beijo foi intensificado e parecia que nós dois conhecíamos a muito tempo o ritmo. Sua mão acariciava a pela nua da minha cintura que estava parcialmente descoberta pela camiseta e eu sentia aquela parte do meu corpo queimar.Na realidade todo meu corpo parecia queimar em vontade conforme ele me beijava e me tocava mesmos sendo de maneira simples. Nosso beijo ia ganhando intensidade a cada segundo e meus dedos se perdiam em seus cabelos tentando trazê— lo para cada vez mais perto. Era tão intenso, verdadeiro e era absurdamente bom, mas parou. Ele finalizou o beijo mordendo meu labios e se separando de mim, colando sua testa junto a minha respirando ofegante e me olhando nos olhos.Nós dois ficamos ali no silêncio do quarto, com nossas respiações ofegantes,labios vermelhos e corações saltitantes e sem sombra de dúvidas querendo mais.
— Deveria ser proibido ter você assim tão perto de mim – Ele colocou meu cabelo pra tras da orelha e acariciou o local onde descansou sua mão. Porra , eu quero tanto você – Ele dei um sorriso torto mordendo os labios. Aquela frase foi dita com tanta verdade e intensidade que quase transformou todos os meus órgãos internos em manteira. — Sério, Meu corpo não me deixa mentir. – Ele olhou pro meio de suas pernas e eu automaticamente fiz o mesmo, observando sua excitação visível na bermuda. – Mas eu não só quero você, eu gosto de você, e você está passando por um monte de coisas, e eu também, mas eu tenho certeza dos meus sentimentos e eu não quero que algo muito desejado – Ele deu ênfase na frase — Mas extremamente impulsionado acabe te deixando confusa quanto a isso. Eu sei que se continuarmos eu não vou ser capaz de parar e acredito que você também não. E eu quero você, . Nunca pense por um momento sequer que não, mas eu só não quero você assim, desse jeito meio impulsivo. Eu quero algo sem arrependimentos depois. – Ele não precisava ter dito nada daquilo, mas o fato dele ter dito aumentou em uns 300 por cento minha auto estima, e eu mordi meus labios.Ele entendia minha confusão e melhor e mais bonito que isso: Ele respeitava ela. Eu fiquei sem saber o que falar enquanto ele continuava me olhando. E então ele levantou, seguindo em direção ao armário e tirando dali mais um edredom e um travesseiro.
— O que você está fazendo? –Eu continuava parada no mesmo lugar, tentando processar os últimos dez minutos. Eu estava impressionada e talvez encantada com aquela atitude dele de parar.
— Eu vou dormir no chão.
— han? Por que?
— Eu não sou fisicamente capaz de dormir a menos de um metro de distância de você. – Ele me olhou carinhoso e eu sorri. Sorri porque Poynter era um cara realmente legal e que não queria apenas algo físico. Ele me queria de verdade.
, podemos cada um dormir pra um lado, ou sei lá, você não precisa dormir no chão em um hotel que você está pagando, por causa disso. – Eu me levantei pegando as coisas da sua mão e jogando em cima da cama, mas ele me ignorou, voltando a pegar as coisas e a começar a forrar o chão e por fim deitar nele.
— Você está pagando pelo Hotel, não é justo que você fique deitado ai enquanto eu fico nessa cama enorme e confortável.
— Eu vou ficar bem aqui é só eu não olhar pra você – Ele disse em um tom brincalhão e mesmo sem querer eu ri.Eu já não me sentia estranha ou constrangida. Na realidade uma parte de mim se sentia muito feliz com o fato de me querer. Eu sabia que ele era virgem e que esperava que as coisas acontecessem de uma forma especial, o que significava então que ele me considerava especial o suficiente pra isso. Ele colocou um travesseiro na cabeça e eu tive uma ideia. Peguei todos os travesseiros e almofadas espalhados pela suíte do hotel e fiz um muro que dividia os lados da cama.
– eu o chamei sentada na beirada da cama o cutucando com o pé bom. – – ele ergueu a cabeça e a forma que ele me olhava... – Eu fiz um muro de travesseiros, assim você não precisa dormir no chão no quarto de hotel pelo qual você está pagando.
— Eu estou bem aqui – Ele deu um sorriso fofo e eu resolvi apelar.
— Se você não vier deitar na cama eu vou me deitar do seu lado no chão e começar a beijar seu pescoço – Eu falei em tom brincalhão e seu olhar mudou, mudança que ele tentou disfarçar cerrando os olhos e me mandando uma careta. – Bom, já que você não me da uma resposta – Eu ameacei levantar da cama e ele se sentou.
— Você realmente quer meu corpo. Eu sempre soube disso. Se controla, garota. Eu sou difícil – ele disse em ironia e se deitou do outro lado do muro de travesseiros que poderia ser desmontado com um sopro. Eu queria derrubar aquele muro de travesseiros e voltar a beija— lo, mas apenas me deitei do outro lado e apaguei a luz, tentando fazer o mesmo com a minha cabeça que estava funcionando rápido demais para que eu pudesse pegar no sono.
– eu chamei e ouvi um “hum” como resposta. – Você está dormindo?
— Não. Muita coisa na minha cabeça pra eu conseguir dormir.
— Obrigada. – Eu disse por fim e tirei os dois travesseiros que me impediam de ver o seu rosto, deixando apenas os que separavam o restante do nosso corpo – Obrigada por ter parado.
— Me desculpa por ter começado. Eu tinha te jurado que só faria alguma coisa se você me falasse que sim e eu não mantive minha promessa.
— Você não fez nada sozinho. Eu tenho essas tendências a seguir em frente e me arrepender depois e eu tenho certeza que teria acontecido isso hoje. Não que eu fosse me arrepender de ter feito algo com você mas já aconteceu antes com o Toni, Um dos meus maiores arrependimentos foi ter transado muito cedo. – virou a cabeça e me olhou com uma sobrancelha estranha. – É, eu não sou virgem, talvez agora o encanto acabe. – Eu disse irônica.
— Eu me apaixonei por você e não pelo seu hímen – Nós dois rimos da sua frase e eu senti mesmo no escuro meu rosto esquentar. Ele declarava seu sentimento por mim de uma forma tão aconchegante.
— Você provavelmente é a única pessoa de 18 anos e virgem que eu conheço e eu te admiro imensamente por isso. – Me virei de lado para poder encará— lo mesmo na escuridão e ele acendeu o abajur ao seu lado e se virou da mesma forma – É sério, é extremamente admirável o fato de você esperar pra ser especial, sabe? Eu não me arrependo de ter perdido minha virgindade com o Toni, nós ficamos juntos por dois anos, nos conhecíamos uma vida inteira e acho que seria inevitável isso acontecer. Eu me arrependo de ter feito isso cedo de mais, de não ter esperado, de não ter amadurecido a ideia, de ter simplesmente feito, sabe? – Ele me olhava prestando a atenção de verdade ao que eu falava e eu senti a necessidade de desviar o olhar, eu me sentia bem de falar o que eu estava falando e ao mesmo tempo estranha pois nunca havia falado disso com ninguém – Me desculpa, nós acabamos de nos pegar e eu estou te contando da minha experiencia com outra pessoa.
— Eu gosto de te ouvir, não esquenta. É bom saber o que já aconteceu com você. Quantos anos você tinha?
— Eu só tinha 13 anos e não sabia de nada da vida direito e sexo é bom, é ótimo mas quando acaba, acaba. Você tá ali, com uma pessoa com quem você só compartilhou tesão e nada além disso. Só que eu não sabia disso, e eu aprendi de uma forma muito dolorosa que tesão não é um sentimento, é só uma sensação. É quando ele passa que o sentimento vem e nem sempre o que você sente é agradável. Então obrigada por ter parado e não deixado que eu repetisse o mesmo erro de novo, até porque não seria justo com você. Você merece mais que isso. – Ele sorriu carinhoso e acariciou meu rosto pelos travesseiros e eu acabei fazendo o mesmo. – Eu to tão confusa, . — Abri meu coração de verdade pra ele mais uma vez. Ele fazia isso parecer normal.
— Eu sei. Mas não vamos colocar nossas sensações na frente dos nossos sentimentos, que nem você mesma falou.
— Obrigada.
— Para de agradecer. – Ele se aproximou e me deu um beijo na testa. Eu sorri e fechei os olhos. Talvez eu dormisse melhor naquela noite.




Quando eu acordei, não havia travesseiros mais entre t e eu, muito pelo contrário ela estava deitada ao meu lado, com os cabelos jogados por cima do meu rosto e uma das pernas jogadas por cima da minha e meu braço encontrava— se por cima de sua barriga. Me mexi devagar para não acordá— la e consegui lembrar do momento da noite em que acordei sentindo frio devido ao ar condicionado e com preguiça de levantar e aumentar a temperatura eu apenas tirei todos os travesseiros que me separavam de e entrei debaixo de suas cobertas, jogando a minha por cima dela também. Sorri ao olha— la dormindo ali, totalmente tranquila e inocente e fiquei imaginando qual seria sua reação ao acordar e se deparar daquele jeito. Eu queria me mover e sair dali, mas eu simplesmente não conseguia. Eu sempre havia conseguido controlar meus impulsos quando estava com outras garotas e ir devagar mas com era diferente. Todos os meus poros me faziam quere— la mais e mais e era a primeira vez na vida que eu sentia algo tão intenso daquela forma. Eu havia descoberto que não era apenas sentimento, o desejo fisico também era absurdo. Eu queria beija— la, abraça— la e explorar cada centímetro do seu corpo. Era tudo muito novo pra mim. Novo e confuso e tudo o que eu queria era o meu melhor amigo para conversar sobre as coisas que eu estava sentindo e que estavam acontecendo, mas ele não estava mais entre nós. Eu sabia que nem Paul e nem minha mãe gostariam que eu me permitisse ficar da forma que fiquei antes então eu estava lutando com todas as minhas forças contra qualquer indicio da depressão e do impulso absurdo de simplesmente me deixar levar pela dor. Eu estava lutando não apenas por eles, eu estava lutando por t também. Ela precisava de mim para guia— la nesse caminho escuro que ela estava passando, eu era o único que sabia como era estar lá, então eu me sentia na obrigação de ajuda— la, assim como eu me sentia na obrigação de ajudar Vanessa. Mas ela não queria me ver, ela não queria estar comigo, na realidade ela não queria estar com ninguém alem de si mesma e eu havia resolvido dar o espaço que ela precisava. Mas todos os dias eu fazia questão de lhe mandar algumas mensagens apenas para ela saber que eu estava ali. Tom estava com ela e me dizia que ela estava processando ainda toda a ideia. Nenhum de nós estava bem, tudo estava errado e eu acredito que cada um tem a sua própria forma de lidar com as coisas. A de Vanessa nesse momento era ficando reclusa, a de era vivendo da forma que seu irmão gostaria que ela vivesse, a de Tom era vivendo como se nada tivesse acontecido e a minha era lutando para ajudar as duas mulheres que eu mais me importava no mundo. Estava sendo difícil, mas eu sabia que de alguma forma e em alguma hora nós superaríamos isso.
— CUIDADO! — gritou acordando assustada e sentando na cama olhando pra todas as direções . Levei um susto tão grande que pulei quase caindo da cama bem longe dela. Eu estava distraído demais nos meus pensamentos.
, Hey! – eu me sentei depois do susto chegando perto dela que respirava rápido e mantinha a cabeça abaixada. – Você estava sonhando — Eu coloquei a mão em seu ombro, massageando— os e quando ela levantou a cabeça eu pude ver seus olhos marejados. – Foi só um sonho. – Eu repeti quando ela me encarou.
— Não, não foi. Foi o acidente. – Ela parecia atordoada – Eu não lembrava de como as coisas tinham acontecido mas agora eu lembrei. O caminhão, a batida, Paul – ela me olhou com os olhos arregalados e com lagrimas descendo – eu me lembro de Paul me olhando assustado antes do – ela parou de falar e eu cheguei mais perto, segurando seu rosto entre minhas mãos.
— Não pensa sobre isso. Pensa nele sorrindo, pensa nele na festa no dia anterior ou então nele fazendo alguma coisa idiota. É isso que eu faço.
— Com sua mãe?
— Sim e com ele também. Todas as vezes que a imagem da minha mãe deitada na cama do hospital vem na minha cabeça eu tento pensar nela tentando aprender a jogar guitar hero, ou nela me dando algum esporro por alguma coisa idiota. E com Paul, todas as vezes que eu lembro dele na cama do hospital eu tento pensar no dia em que nós ficamos pelados em cima da mesa na festa da Vanessa. – Ela sorriu ainda com uma lagrima escorrendo por seu rosto.
— Acho que está na hora de irmos pra casa – Ela se sentou ereta, prendendo os cabelos e olhando o relógio de cabeceira. Ainda tínhamos duas horas até precisarmos deixar ao hotel e algumas horas até o horário que tínhamos deixado nossa passagem comprada.
— Esse é o momento em que a adrenalina passa e somos atingidos pelo choque de realidade da vida de verdade que nos espera lá fora eu disse me jogando na cama e olhando pro teto e ela acabou fazendo o mesmo.
— Bem vindos de volta à vida real, sem Paul nela.
— Bem vindos de volta a nossa nova vida real.

Capítulo 3





Eu havia dormido por tantas horas seguidas que eu nem me dei ao trabalho de contar. Logo após e eu termos chegado em casa de nossa “aventura”, eu me sentia um lixo, no sentido cansado da coisa. Mas eu também me sentia leve. Mais leve do que eu havia me sentido no dia que havia jogado as cinzas do meu irmão ao vento. Agora não era uma leveza de sensação de dever cumprido, era algo mais íntimo e profundo e que eu nunca conseguiria explicar. Quando eu acordei, estava estirado no sofá assistindo vidradamente alguma coisa no NetFlix.
— Hey – Me joguei ao seu lado penteando meus cabelos com os dedos, eu ainda sentia areia nele depois de todos os caldos que havíamos tomado.
— Hey bela adormecida. – Ele sorriu carinhoso – Fui no seu quarto umas duas vezes pra ter certeza que você tava dormindo mesmo e não morta — Ele falou sério mas eu ri, me sentindo importante pela preocupação e achando ela desnecessária ao mesmo tempo.– Como está o pé? — Joguei o referido em cima da mesinha de centro e comecei a mexer meus dedinhos fazendo careta.
— Não tá doendo doendoooo, mas também não tá não doendo. Acho que realmente exagerei – Dei de ombros. Eu havia sentido bastante dor na manhã seguinte a ida à praia e meu pé havia inchado bastante. tinha até massageado meus dedinhos que estavam pra fora do gesso, que mais pareciam duas bolinhas de tão inchados. – Pelo menos meus dedinhos desincharam e pararam de parecer bolas de queijo. – Ele acenou com a cabeça e eu percebi que ele parecia cansado.
— Dormiu? – Perguntei tentando soar indiferente, mas estava começando a ficar realmente preocupada. parecia estar sempre acordado e cansado.
— Se comparado a você dormi pouquíssimo, mas dormi sim. E enquanto você dormia eu comprei algo que acho que vai te ajudar – Ele se levantou e trouxe para mim um par de muletas que estavam enroladas em jornal e com um laço feito com uma toalha rosa. – Acho que vai aliviar a pressão do seu pé e vai ser melhor pra você se locomover
— Obrigada, .
— Agora você nunca vai poder dizer que eu não te dei nada. — Cerrei os olhos reconhecendo a frase
— Você era fã de One Tree Hill?
— Sempre. Naley forever. — Ele fez uma voz afeminada e eu voltei a me reencostar no sofá.
— Agora acho que nunca devi tanto dinheiro a alguém que nem eu devo a você. – Ele revirou os olhos.
— Isso é um presente.
— Desculpa, rico. – Ele fez uma pose convencida e eu coloquei a muleta de lado, ainda não precisaria dela. – respondeu? – Ele fez um muchoco negativo e suspirou chateado.
— Não.falou que ela ainda não quer falar com ninguém . Estou respeitando esse momento dela — Ele voltou a olhar pra frente. – Mesmo sabendo que isso envolva ela me ignorar. – Ele sorriu chateado e eu percebi o quanto sentia falta dela e o quanto estava sendo difícil passar por esse momento sozinho. – Só estou sentindo falta de poder conversar com ela.
— Está acontecendo o mesmo comigo. Nunca imaginei que isso um dia pudesse acontecer. – Refleti sobre os dezessete anos da minha vida e aquilo me fez concluir que era minha primeira amiga de verdade. E eu podia com convicção aceitar que ela era de verdade e não me trairia ou me enganaria, como acontece com a maioria das amizades femininas que acabam. Ela era um ombro, um ombro pra mim e um ombro pro , aquela amiga com a qual sabíamos que podíamos contar e que sempre estaríamos ali pra ela contar conosco também. Eu sabia que esse era o meu sentimento por ela, mas não sei se ela continuaria se sentindo da mesma forma comigo. Ela poderia começar a me odiar dali pra frente, afinal, eu havia tirado dela alguém muito especial. Mas isso não deveria interferir na relação dela com , ele estava precisando dela, e se ela não estava ali, eu deveria ser o único motivo. – você deveria tentar descansar um pouco, . Você tá parecendo um zumbi.
— Já dormi um pouco por aqui mesmo. – Ele deu de ombros. — To com um pouco de insônia ultimamente, mas daqui a pouco passa. –Ele se virou pra me encarar e logo em seguida revirou os olhos — Para de me olhar desse jeito. Eu estou bem.
— Não, você não está.
— Sim, eu estou. Pelo menos na medida do possível. – Ele sacudiu a cabeça. – Quer comer alguma coisa? — Acenei positivamente com a cabeça.
— Posso fazer alguma coisa para nós dois.
— Acho melhor você evitar ficar em pé. Vamos pedir comida, é mais fácil.
— Só concordo se você deixar que eu pague. – Aquilo não era um pedido.
— Fique a vontade – Peguei o telefone e pedi comida japonesa, fazendo questão de colocar tudo o que tinha e não tinha direito no cardápio.
Comemos que nem dois bois e então comecei a ver junto com a série que ele estava maratonando, ele foi me explicando o que já havia acontecido até aquele momento e quando estávamos na metade do segundo episódio, ele caiu em um sono profundo. Eu estava começando a acreditar que a insônia dele tinha alguma referência a estar sozinho, já que ele caia no sono facilmente quando tinha companhia e novamente a ideia do quanto estava fazendo falta à ele voltou a martelar minha cabeça.

Com certa dificuldade ajeitei no sofá com coberta e travesseiro e tomando um pouco de coragem resolvi sair de casa. precisava de e ela precisava dele, não era justo ela afastá— lo por algo que havia acontecido por minha causa. Ele precisava saber como ela estava pra poder ficar bem.
Calcei sandálias simples e me vesti de uma forma decente pra poder andar na rua. Já passava das sete da noite e a rua estava menos movimentada do que costume. Usei as muletas que havia me dado para me auxiliar na caminhada e dois quarteirões depois eu já estava extremamente arrependida da decisão de ter vindo a pé.Aquela havia sido uma decisão extremamente precipitada e estúpida, mas eu estava no piloto automático quando sai de casa e simplesmente agi como sempre agia. Peguei o caminho que me levava a casa dela, sem me tocar que aquele era um caminho que eu faria tranquilamente a pé mas com meu pé bom, não se passou na minha cabeça que seria totalmente diferente com meu pé ruim e não sei o que mais doeu, a simples noção de que faltavam ainda alguns muitos quarteirões pela frente ou a ficha ter caído de que eu havia saído sem dinheiro pro taxi. Resmunguei e me xinguei mentalmente algumas vezes, mas mesmo com dor eu insisti em continuar caminhando e quando finalmente cheguei na sua casa eu estava suando e tinha a sensação de que tinha saído de casa uns três anos antes. Parei por um tempo em frente a porta pra descansar e depois de ter retomado um pouco das minhas energias eu bati na porta e aguardei alguns minutos, apenas para não obter nenhuma resposta. Eu sabia que estava ali pois seu carro estava na garagem então antes de decidir ir embora cacei por ali onde ficaria uma chave reserva até que finalmente achei escondida entre a planta que ficava bem do lado da porta de entrada.
Abri a porta e fui a passos demorados e arrastados atrás dela pelos cômodos embaixo, mas não a encontrei. Olhei pras escadas e meu pé latejou extremamente forte e eu cheguei a conclusão de que não conseguiria subir ali. Era exigir demais do meu corpo.

! – Eu gritei dali debaixo batendo a muleta no corrimão da escada – Oh ! – gritei mais alto e batendo com mais força – Eu acho bom você me responder ou descer porque eu não vou sair daqui enquanto você não sair de dentro desse quarto. – Continuei batendo – , me responda! – Me senti uma criança mimada quando está fazendo birra no mercado, mas não desisti — Eu não vou sair daqui! E eu só não vou subir porque meu pé está doendo pra caralho. Você tem que descer! Eu não tenho como voltar pra casa porque eu não trouxe dinheiro pro Taxi e graças a muleta, meu sovaco agora tá assado. – Continuei batendo, mas não obtive resposta, o que me fez suspirar derrotada. – – Eu chamei não gritando dessa vez, mas sim quase chorando de tristeza, raiva, culpa e decepção. Eu havia afastado de mim a única amiga de verdade que eu tinha conseguido fazer. – Eu sei que você tá chateada e que você não quer nos ver e eu te entendo,eu juro. Eu entendo você não querer me ver, afinal fui eu quem tirei Paul de você naquela manhã, se eu não tivesse surtado, ele provavelmente ainda estaria conosco e estaria com você e vocês estariam felizes. Eu sei disso e acredite, isso se passa na minha cabeça o tempo todo. Mas não é justo você afastar o , ele precisa de você e você precisa dele.— Suspirei derrotada, Algumas coisas ainda ficaram na minha cabeça. Eu queria dizer que eu também precisava dela e que ela também precisava de mim, que eu queria que pudéssemos passar por isso juntas e que ela pudesse confiar em mim e me usar como escudo porque éramos amigas, mas não me senti no direito de dizer isso, não quando eu sabia que eu era a responsável por ela estar daquele jeito. O barulho da porta de seu quarto sendo aberta despertou minha atenção e uma de moletom, óculos e cabelos presos apareceu na minha frente.
— O que aconteceu com você? Alguém te jogou em uma frigideira? Você parece que foi frita. – Foi a primeira coisa que ela falou me olhando com a cara estranha.
— Uma longa história – Respondi tentando me desapoiar da parede, mas minha perna doía. Por alguns momentos do trajeto eu havia forçado a perna para caminhar para poder descansar o braço e agora me arrependia amargamente disso.
— Eu não te culpo – Ela se encostou no batente ao lado da escada. – Eu não culpo você ou nem ninguém pelo que aconteceu, muito pelo contrário . Eu não tenho ficado perto de vocês porque eu sei o quanto o Paul era importante pra cada um de vocês e o quanto vocês aproveitaram cada momento que tiveram com ele e o quanto vocês demonstravam isso e Paul sabia o quanto ele era amado por vocês, mas a mesma coisa não acontece no meu caso. Eu não aproveitei, eu não demonstrei e nada disso tem a ver com a questão de tempo, porque eu tive tempo e oportunidade pra isso, eu só fui deixando de lado. Eu fui colocando outras coisas como prioridade na minha vida, eu fui colocando diversão e deixando de lado o cara que eu amava por coisas passageiras, porque eu sabia que a todo momento ele iria estar lá, mas agora ele não está mais e tudo o que eu tenho é uma única noite de lembranças boas e planos idiotas que fizemos antes de dormir e eu não acho justo incomodar vocês com meu arrependimento quando eu sou única e inteiramente culpada por isso. – Eu fiquei por alguns instantes sem saber exatamente o que dizer e processando o que ela havia dito. Ela não achava que a culpa era minha.
— Paul sabia que você o amava – Eu falei por fim – Ele sabia tanto que resolveu colocar um fim nisso de vocês estarem separados. E ele também te amava, . Eu sei disso pelas vezes que ele falou de você pra mim e pela forma que ele te olhava e eu tenho certeza que ele odiaria te ver assim: remoendo tudo o que aconteceu e se culpando por algo que não vai mais voltar. Você poderia ter aproveitado mais? Sim, poderia. Eu também poderia, também poderia ,mas nós não aproveitamos porque não sabíamos que isso acontecer –Por uns instantes eu fiquei na duvida se minha frase era pra convencer à ela ou a mim mesma mas tentei afastar tais pensamentos. Aquele era o momento em que eu deveria tentar ajudar e e deixar qualquer pensamento relacionado à mim de fora. –, você conviveu com meu irmão nos últimos anos, você conviveu com ele na época que o passou pelo luto da mãe e sabe que tudo o que ele mais queria era que tudo ficasse bem, você realmente não acha que é isso que ele espera de nós agora?
— Eu sei. – Ela abaixou a cabeça.
Nós precisamos de você. A melhor forma de passarmos por tudo isso é passarmos juntos. – Ela voltou a me encarar e desceu as escadas.
— Me desculpa – ela parou na minha frente e eu revirei os olhos.
— Só aceito suas desculpas se você me levar de volta pra casa. Meu suvaco realmente está assado – Ela riu e então me abraçou. Eu sabia que ela faria aquilo e por mais que eu detestasse que me abraçassem eu gostei de ser abraçada por ela e de principalmente abraçá— la de volta. Acho que era a primeira vez que fazíamos isso de verdade.
— Vamos. Não quero ser responsável por você ter que colocar gesso em mais uma parte do corpo – Ela parou na minha frente e se agachou – Sobe — Eu pulei em suas costas e nós duas saímos caminhando da casa e foi impossível não sentir uma dor muito forte no peito ao lembrar a última vez que eu havia saído daquela casa com alguém daquele mesmo jeito e lembrar que isso nunca mais voltaria a acontecer.



Eu estava procurando meu celular quando ouvi o barulho da porta da sala bater. Eu não sabia para onde tinha ido. Quando acordei, percebi que estava sozinho em casa e já era noite. Eu havia dormido apenas por algumas horas, mas estava com uma ótima sensação de descanso, mesmo sabendo que meu organismo precisaria de muito mais do que aquilo para descansar. Na realidade eu sentia que precisaria hibernar por meses até me sentir plenamente bem novamente, coisa que nunca aconteceria.
Já que não achava meu telefone, procurei por meus cadernos decidindo que deveria estudar. Eu estava com a minha matéria toda atrasada e precisava colocá— la em dia,caso contrário eu correria o risco de perder o ano, coisa que eu não queria que acontecesse de novo. Ouvi duas batidas na porta e gritei um entra e tomei um susto quando me virei e me deparei com e não me encarando parada ali, de calça de moletom, camiseta, cabelos presos e óculos. Ela sorriu leve e pra mim foi quase impossível simplesmente não abrir um enorme sorriso e seguir em direção à minha melhor amiga para dar e receber o abraço que eu estava precisando tanto. Ela me apertou forte quando cruzou seus braços em volta de minha cintura e eu fechei os olhos sentindo seu corpo mais magro que o normal em meus braços. Apenas aquele simples gesto demonstrava o quanto eu havia sentido falta dela e o quanto ela sentia falta de mim sem que nenhum dos dois precisasse dizer alguma coisa.

— Você parece um camarão frito – Ela disse ao se desvencilhar de mim. – Já que não disse você pode me dizer o que aconteceu com vocês?
— Longa história – Eu deixei meus livros de lado, eles já nem me pareciam mais tão importantes.
— História que eu estou disposta a ouvir comendo as duas caixas de pizza que eu deixei no balcão da sua cozinha. – Ela sorriu simples seguindo para porta
— Eu estarei muito disposto a contar – A segui pelo corredor e percebi que não estava ali e nem no seu quarto que tinha a porta aberta. – Cadê a ?
— Ela me pediu pra deixa— la na casa do pai, disse que queria dar um espaço para colocarmos as fofocas em dia e que você me atualizaria de tudo o que estava acontecendo. – se sentou no banco do balcão abrindo uma das caixas e eu peguei um refrigerante e dois copos para poder nos servir. Eu não estava com um pingo de fome, devido a quantidade de japonês que havia comido mais cedo, mas aquele era um momento que eu estava sentindo falta demais, então resolvi não ignorar a pizza.
— Ela foi até a sua casa? – Me sentei e ela fez um barulho afirmativo com a boca. – E você a atendeu? – Cerrei os olhos e ela entendeu que eu me referia as inúmeras vezes que eu havia ido lá e ela havia me ignorado.
— Ela começou a gritar que nem uma louca na minha escada que precisava de carona pra voltar pra casa, que tinha ido a pé, que o sovaco dela tava assado. Você queria que eu deixasse a bichinha lá? – Continuei com meus olhos cerrados e ela abaixou os olhos. – Ela se sente culpada, . Por tudo o que aconteceu. Ela se sente responsável pela morte do irmão e eu não poderia deixa— la pensar que eu a culpo por isso– Eu já desconfiava disso, mas agora com afirmando era diferente. – Mas ela não foi a trás de mim por isso, ela está preocupada com você.
— Eu estou bem — Disse entregando o copo à ela.— E você?
— Trabalhando isso. – Ela continuou a sorrir triste. – Mas eu não quero falar sobre isso, eu quero falar sobre tudo o que aconteceu entre vocês dois, como as coisas estão, de onde veio esse bronzeado…
— De onde você quer que eu comece?
— Bom a última informação que eu tenho de vocês é que você havia se declarado pra ela na festa. E depois disso, bom você sabe.
– As coisas não ficaram estranhas com ela sabendo que eu gosto dela, muito pelo contrário. Nós conversamos, ela disse que sente algo por mim mas que é confuso e é bem menos do que eu sinto por ela, tá mais pra uma atração do que um sentimento e então continuamos só como amigos. E numa conversa aleatória nós decidimos fazer uma loucura dessas que Paul vivia falando que queria fazer e então escolhemos um país e fomos assistir ao pôr do sol nele.
— E pra onde vocês foram?
— Brasil. Mais especificamente, Rio de Janeiro. – arregalou os olhos e eu sorri. –Foi tudo muito legal lá, por um momento esquecemos todas as coisas que estavam acontecendo nas nossas vidas e éramos só nós dois sabe? Nós rimos, nos divertimos, fomos à praia... – Eu parei de falar pensando se deveria ou não contar.
— E?
— Nós nos beijamos. Estávamos no mesmo quarto, na mesma cama, já tinha rolado um clima antes, na realidade eu tenho a sensação de que tem rolado um clima sempre, mas eu a prometi que não faria nada se ela não dissesse que sim, primeiro.
— Quando você prometeu isso?
— Quando ela veio conversar comigo sobre nós dois.– fez uma cara estranha.
— Mas mesmo assim você a beijou – Ela deu um sorriso.
— Sim. Foi muito maior do que eu. Esse sentimento é muito maior do que eu pensava, . Estávamos lá, as coisas simplesmente fluíram e quando eu vi nós dois já estávamos nos beijando, mas era diferente. Era mais intenso. Eu precisei usar o auto controle que eu nem sabia que tinha pra parar antes que as coisas ficassem mais quentes. – Eu disse a frase pensando no quanto aquilo soava absurdo.
— Como assim?
— Foi intenso, . O beijo, a forma que nos tocamos. Eu não sei te explicar, meus sentimentos tem ficado mais fortes e está começando a ficar impossível evitar, e ao mesmo tempo que ela diz que não tá pronta, e que ela não quer me magoar, ela tá sempre ali, me encarando de volta, me olhando daquela forma que eu não entendo e me fazendo ficar cada vez mais louco de vontade de beija— la e.. – ao invés de terminar minha frase eu apenas apertei meus cabelos, tentando conter o sorriso idiota que eu sentia vontade de abrir quando eu pensava naqueles simples momentos com ela.
— Como ela reagiu à essa ficada de vocês? — Eu me sentia em uma investigação ou em uma sessão de terapia com a maneira que me perguntava as coisas.
— Foi tranquilo. Ela disse que está confusa, eu sinto que ela tem tentado ser bem sincera comigo sobre isso. Ela me contou um pouco sobre o ex dela e eu vejo que o que aconteceu com eles é algo que mexeu muito com ela. Ela precisa do tempo dela agora. – sorriu
— Eu admiro tanto você, . – revirei os olhos. – Mas quero dizer que com a química que vocês tem e morando sozinhos, vai ser bem difícil se manter no “controle”.
— Já ficando difícil, . – Cocei a cabeça. Ver o tempo inteiro só fazia com que meu desejo por ela aumentasse.
— Eu não sei muito sobre a , , porque ela não me fala. Ela é fechada, mas eu sei que ela topou ir pra um acampamento que ela odiava só por minha causa. Ela também deu uma bolada na cara de uma menina só porque essa menina me acertou. Eu sei que ela não brigou comigo quando me viu vestindo a camisa que ela havia dado à Paul e eu também sei que ela andou vários quarteirões de muleta e com o pé doendo apenas porque estava preocupada com você. Eu sei que antes de tudo isso acontecer ela te encarava de volta e existem outras informações eu não posso te passar por causa do código de lealdade as amigas. Mas com tudo isso que eu sei e que ela me demonstra, eu posso afirmar com toda certeza que estou torcendo absurdamente pra vocês darem certo. Depois de tudo o que aconteceu, vocês merecem ser felizes.
— Eu estou ficando cada dia mais louco por ela. E antes era só emocionalmente, mas agora eu a beijei, eu a toquei então a coisa física também está ficando meio difícil. – riu – você ri? Você tem noção do quanto é difícil e das coisas que se passam na minha cabeça quando ela sai daquele quarto vestindo um short curto? Eu tenho respeito por ela, mas eu sou homem. Resolver esperar para transar com a garota certa não significa que eu não fico excitado ou que eu não tenho vontade. – Ela continuou rindo – Eu estou falando sério. Para de rir. Isso tudo ainda é meio novo pra mim.
— Desculpa. É que você tá tão fofo desse jeito, . – Voltei a revirar os olhos – eu acho lindo, seu respeito e a forma que seus olhos brilham quando você fala dela. Isso parece amor, hein.
— Tá maluca? – foi minha vez de rir. — Eu gosto dela, pra caramba. Mas não é amor ainda não. Pra amor falta muito.
— Falta muito, muito menos do que você pensa. –Ela acrescentou e eu continuei revirando os olhos.
— Deixa as coisas acontecerem. Se tiver que virar amor, vai virar. –Eu sorri sentindo meu rosto esquentar e meus pensamentos começarem a trabalhar a mil por hora. E se virasse?

Capítulo 4





Alguns dias se passaram desde que finalmente havia saído do quarto. Eu estava feliz de vê— la interagindo com novamente e comigo também, mas ainda sentia aquela pontada no peito de responsabilidade por ter tirado Paul dela. Era bom tê— la por perto, ali conosco e também deixava as coisas mais fáceis para e eu. Estava ficando cada vez mais difícil evitar minha atração por ele e quando estávamos sozinhos a única coisa que eu conseguia pensar era no quanto eu queria beija— lo de novo. Mas o que me assustava mesmo não era só a atração, era o sentimento que estava ali juntinho. Minha preocupação e carinho por ele pareciam apenas aumentar e por vezes a noite eu me via levantando e indo até a sala só pra poder sentar por lá com ele pois sabia que ele não conseguia dormir. Nós às vezes virávamos a noite conversando aleatoriedades, assistindo a alguma coisa na TV enquanto comíamos, ou até mesmo estudando já que havíamos ficado atrasados nas matérias. De uma forma muito discreta, eu estava cuidando dele e ele estava cuidando de mim.
Ouvi o barulho da campainha e reclamei mentalmente de quem poderia ser aquela hora de um sábado. Eu havia tirado o dia para colocar minhas matérias atrasadas em dia, voltar para escola estava sendo complicado, todos os olhares piedosos direcionados a nossa mesa, as pessoas vindo fazer perguntas,mas estávamos todos encarando as coisas juntos e nos apoiando o que tornava tudo mais fácil. Abri a porta e tomei um susto ao me deparar com minha mãe do outro lado. Eu estava totalmente descabelada e com roupas largadas, já que estava trancada dentro do meu quarto estudando.
— Hey, o que você está fazendo aqui? – Perguntei estranhando e ela entrou com um sorriso nos lábios.
— Você está com uma cor linda! Ela depositou a sacola que trazia em cima do balcão e deu uma olhada na sala e no corredor – Cadê aquele menino, o ?
— Não sei se ele está em casa. Desde a hora que eu acordei eu estou trancada dentro do meu quarto tentando colocar em dia a matéria que eu tenho atrasada – Disse por fim fechando a porta atrás de mim e caminhando em sua direção. Recebi um abraço – Que me assustou e me deixou um pouco desconfortável – E um beijo da minha mãe e me sentei no banco do balcão que ficava do lado da sala, enquanto ela contornava o mesmo e entrava na cozinha começando a tirar as coisas que tinha trazido das sacolas.
— Eu trouxe algumas coisas pra fazer o almoço pra vocês. Eu imaginei que adolescentes morando sozinhos não se dão ao trabalho de fazer comida – Ela abriu a geladeira e parou de falar – Ou talvez eu esteja errada – Ela sorriu olhando pra comida que tinha ali e eu acabei rindo também devido a sua cara engraçada.
— Eu amo cozinhar e o também, então vira e mexe a gente se reveza na cozinha pra preparar a comida – Eu disse abrindo algumas outras sacolas e encontrei ali algumas frutas, biscoitos e uma vasilha com torta de limão. Foi impossível não abrir um sorriso enorme. Ela havia lembrado.
— Acho que ainda lembro do que você gosta – ela continuava sorrindo e era estranho ver minha mãe ali daquela forma. Ela parecia outra pessoa, literalmente. Minha mãe estava vestida casual. Usando uma calça jeans, uma blusa comum e sapatilhas.
— Sim,acertou em cheio. Mas o que te trás aqui?
— Caso você não lembre, eu tinha vindo aqui alguns dias atrás mas a senhorita não estava em casa. Emma tem perguntado sobre você. Vive me perguntando quando posso trazê— la pra te ver ou quando você vai nos visitar.
— Como ela está?
— Está enorme e cada vez mais inteligente. Decidiu abandonar o ballet e quer fazer alguma luta ou tocar algum instrumento – Eu ri. Eu havia feito exatamente a mesma coisa quando tinha a idade dela.
— Teve um déjà vu, quando ela falou isso?
— Sim – Minha mãe riu. A diferença agora é que eu aprendi com os meus erros e pretendo não repeti— los. – Ela ficou parada me olhando por um tempo antes de começar a mexer nas coisas novamente, anunciando que prepararia o almoço. Perguntei se ela precisava de ajuda e ela negou, então resolvi tomar um banho antes do almoço ficar pronto. Depois de terminar e dar um jeito superficial no meu quarto para o caso da minha mãe querer entrar nele eu bati na porta do quarto de duas vezes mas não tive resposta. Bati mais uma vez e ao não ter resposta nenhuma eu entrei, encontrando ali o quarto vazio e a cama arrumada. Estranhei e voltei pro quarto pra pegar meu telefone para ligar pra ele, mas quando abria a porta do meu quarto ouvi o barulho da porta da sala sendo aberta e logo em seguida a voz dele dando um bom dia pra minha mãe que respondeu de forma simples. Segundos depois apontou no corredor suado e com o celular e os fones nas mãos.
— Hey – ele disse parando na minha frente.
— Acabei de vir do seu quarto. Ia te chamar pra almoçar.
— Eu fui correr. Eu só consigo dormir quando meu corpo chega em um nível de exaustão absurdo , e como fiquei a noite toda acordada resolvi fazer isso agora de manhã mas acabei me perdendo na hora.
— Não tomou o remédio né? – Eu havia convencido a ir no médico para ver sobre sua insônia e ele havia receitado um remédio pra dormir, que ele se negou a tomar.
— Não. Só se a situação chegar em algum nível extremo tipo: To virando Norman Bates – Ele fez graça.
— Bom, só não resolva fazer de mim uma de suas vítimas. – Eu disse me encostando na porta do meu quarto e ele se encostou na parede.
— Pode deixar. Sua mãe está aqui – Ele deu um sorrisinho que parecia sapeca – Você está sendo simpática e educada? – Eu revirei os olhos.
— Ela está tentando. E eu não quero chegar num futuro e perceber que o motivo de sermos afastadas é porque eu era orgulhosa demais pra perdoá— la.
— isso é bom. Na realidade isso é ótimo, t. Paul estaria orgulhoso de você. – Ele sorriu e eu não o encarei. Era melhor evitar encará— lo quando ele sorria.
— Vai tentar dormir ou almoçar?
— Sua mãe não parece gostar muito da minha pessoa, então eu acho que vou tentar sair, fazer alguma coisa por aí e dar um espaço pra vocês. De repente sair com a para mais tarde só deitar na cama e capotar.
— Ela não tem nada contra você. – Ele cerrou os olhos – Ela tem algo contra a filha dela de dezessete anos morar com um cara de dezoito. Só isso. Ela ainda nos vê como crianças. Crianças que na cabeça dela podem estar fazendo outras crianças. – Seu olhar foi divertido.
— Mas mesmo assim, vou deixar que você curta esse momento único da sua vida só com a sua mãe. Se precisar de alguma coisa é só gritar.
— Você precisa colocar sua matéria em dia, . Você também está todo atrasado nas lições.
— Para de se preocupar comigo – Ele disse se desencostando da parede, se aproximando e me dando um beijo na testa. – Qualquer coisa grita – ele falou antes de voltar alguns passos e entrar no banheiro. Fiquei parada no mesmo lugar com um sorriso idiota no rosto devido a atitude simples porém carinhosa de e só fui desperta de meus pensamentos quando ouvi a voz da minha mãe me chamando falando que a comida estava pronta. passou por nós alguns minutos depois se despedindo da minha mãe e me mandando uma piscadela que graças a Deus passou despercebida de minha mãe.

Nós duas almoçamos, conversamos sobre aleatoriedades e até rimos um pouco, coisa que nunca tinha acontecido. Eu mostrei à ela algumas fotos da viagem e pude notar seu corpo ficar um pouco tenso ao ver minhas fotos com e só ao ver seu olhar que eu reparei que parecíamos um casal em todas elas.

— Vocês dois tem alguma coisa? Alguma espécie de relacionamento? – Ela perguntou depois de um tempo
— Não. Somos só amigos, como eu já te disse.
— Bom, vou acreditar em você. – Ela disse com uma certa repreensão na voz.
— Você não tem outra opção. – Eu acabei sendo um pouco irônica. E minha mãe então se sentou mais séria e me olhou mais séria.
— Eu sei que da ultima vez eu estava toda errada e não acreditei em você e eu sei que eu que escolhi isso, mas eu realmente quero mudar as coisas, filha. – E eu também queria te fazer um pedido e eu não quero que você ache que o fato de ter vindo aqui tem algo a ver com o que eu vou te pedir, ou na realidade convidar a fazer. Até porque eu só recebi essa proposta ontem a tarde – Arqueei minhas sobrancelhas e pedi para que ela continuasse – Eu vou ser eleita a mulher do ano pela revista britânica de negócios. Eles me elegeram uma das mulheres mais bem sucedida de todo o reino unido e vão fazer uma edição especial de fim de ano da revista focando nas pessoas mais bem sucedidas e eles me convidaram para estar na capa. – Fiquei impressionada e feliz ao mesmo tempo. Aquilo era uma enorme conquista para minha mãe e não só pra minha mãe, mas para todas as mulheres.
— Uau! Parabéns! – Eu disse animada. – E o que eu tenho a ver com isso?
— Eles querem uma entrevista especial e uma sessão de fotos. E eu queria muito que você estivesse presente. – Parei processando a ideia de sair em uma revista como um membro de uma família normal, bem sucedida e feliz. Não me agradei da ideia de fingir.

— Eu não acho que isso seja uma boa ideia. Pelo menos eu aparecer na revista. Você deveria aparecer com a Emma – Eu recusei o pedido e pude ver a decepção no seu olhar.
— Eu sei que é pedir muito e que é até injusto dizer que é muito importante pra mim sendo que todas as coisas que eram muito importantes pra você eu deixei de lado. Mas eu vou deixar a proposta em aberto. A sessão de fotos vai ocorrer no final da semana que vem, Se você não quiser participar, sem problemas, eu não faço.
— Você não precisa deixar de fazer por minha causa. – Ela segurou minha mão.
— Se você se sente desconfortável é porque isso te magoa de alguma forma, então eu prefiro não fazer a cogitar a ideia de te magoar novamente de alguma forma. – Ela falou tão sincera que eu tive vontade de abraçá— la, mas não o fiz.
— Eu posso pensar? — Ela concordou com a cabeça.
— Fique a vontade – Ela sorriu

Minha mãe passou mais algumas horas no apartamento conversando, me dando alguns esporros, principalmente quando entrou no meu quarto e percebeu que estava uma bagunça. Ela abriu a porta do quarto de , confundindo com o de Paul e se viu forçada a elogiar a organização do mesmo e falou mais um monte de blablabla que eu ignorei. Ela também me indagou algumas vezes sobre quando eu desmontaria o quarto do Paul, mas eu ignorei todas as suas investidas nesse assunto, fazendo questão de falar de outra coisa. Eu ainda não estava preparada para aquilo.
Após minha mãe ir embora, eu não tive ânimo para voltar a estudar, então me joguei no sofá deixando a TV em canais aleatórios e iniciei uma maratona de That’s 70 show, assistir séries parecia ter se tornado minha rotina e às vezes eu me pegava pensando em todas as coisas que eu faria quando meu pé finalmente estivesse bom.
Eu estava saindo do banho e voltando a me jogar no sofá quando chegou, já era noite e eu imaginei que ele iria direto dormir. Preparei algo e comi e me assustei quando ele surgiu na sala tomado banho e arrumado.

está nos convocando pra ir pra lá. — Fiz uma careta e abracei mais as cobertas em cima de mim.
— To com preguiça. — deitei em posição fetal me sentindo uma criança birrenta e puxou as cobertas de mim.
— Você é a primeira que fica dizendo que precisamos sair mais dessa casa, mas em toda oportunidade você tenta fugir. Hoje eu não vou deixar isso acontecer. — Ele parou com uma pose séria e estendeu a mão.
— Só se eu puder ir assim — Me levantei e ele acenou com a cabeça, me olhando de cima abaixo. Eu usava uma calça de moletom, uma camisa do Queen e meias.
— Você daria uma bela mendiga. — Ele bagunçou meu cabelo e juntos então seguimos pra casa de .

Ja fazia mais de um mês desde a última vez que havíamos nos reunido ali e por mais que fosse estranho, era confortável. Era acolhedor saber que todos ali partilhavam da mesma dor e estavam se ajudando a superar.

, deixa eu te apresentar a Kate e Alana. — Tom me chamou assim que que entrei me apresentando as duas meninas que me abraçaram animadas. A primeira eu conhecia, lembrava dela como acompanhante dona festa de aniversário da . A segunda eu não fazia a mínima ideia de quem era.

Enrolei um pouco na conversa e na primeira oportunidade sai de perto dos três e me joguei no sofá onde e Hary jogavam, atrapalhando os dois em suas jogadas e ri empolgada quando percebi que havia feito isso.

— Desculpa, foi totalmente sem querer — Fiz cara de inocente e me empurrou, bagunçando meu cabelo que já estava mais do que bagunçado.
— Resolveu sair de casa vestida de mendiga? — implicou comigo e eu revirei os olhos e automaticamente procurei por pela sala. Ele havia entrado comigo nos ombros e ido ao banheiro em seguida, agora conversava come as duas meninas que estavam com ele.
— Me deixa, eu tenho uma luz própria que independe de roupa — Joguei meus cabelos pro lado e me empurrou de novo e eu o ameacei com meu gesso. — Cadê as meninas?
— Eu estou aqui — entrou na sala olhando pros quatro que conversavam perto da porta e cerrou os olhos. — Cadê aquelas vacas que ficaram de passar no mercado e trazer as coisas pra pizza?
— Valerie me ligou quando eu estava chegando pra confirmar os ingredientes e avisando que estava no mercado — se pronunciou.
— Então você que é o cozinheiro? — A menina chamada Alana perguntou com um enorme sorriso insinuante e eu parei de prestar a atenção no que ela falava e voltei a conversar com os meninos.
— Posso jogar com vocês? Já que o me obrigou a sair de casa, quero fazer algo útil. — Joguei minha perna engessada por cima da de que resmungou e peguei o controle de sua mão, começando a discutir com sobre em qual jogo competiríamos. começou a riscar meu gesso com uma caneta que ele achou jogada na mesinha ao nosso lado, dizendo que era o toque final pro meu visual de menor abandonada.
Não demorou nem uma partida antes que Valerie e Rose chegassem com as coisas do mercado e perguntou quem se candidataria a ser seu ajudante, abri a boca pra falar mas a menina nova foi mais rápida que eu, se oferecendo empolgada demais, então fiquei em silêncio.
— Vem aqui que eu preciso falar com você — surgiu que nem uma fantasma do meu lado no exato momento em que pegava o controle de minhas minhas mãos.
— Credo garota, nem parece que me viu ontem, tudo isso é saudade? — Fiz cara de deboche e ela me ajudou a levantar e me carregou pro corredor olhando a minha volta.
— Como estão as coisas entre você e ? — Ela parecia desconfiada.
— Normais? — Ela cerrou os olhos
— Vocês ficaram de novo?
— Não. — Eu comecei a olhar pro lado desconfiada também. — O que aconteceu?
— Essa Alana tá afim do . E como oacha que tu não tá dando ideia, ele resolveu dar uma de cupido e colocar ela na fita dele pra ver se o desencana logo. — Fechei a cara antes mesmo do final da frase e senti aquela pontada no peito que eu sabia muito bem o que era: ciúmes.
— Sério? Ah, legal, se o quiser ficar com ela, de boa — Menti sentindo meu rosto esquentar e minha cara fechar.
, sou eu. — me segurou pelos ombros. — , sua amiga, não precisa fingir pra mim. — Fiquei encarando por alguns minutos, antes de finalmente despejar.
— Filho da puta esse seu irmão hein — Soltei irritada — Não sabe nem o que tá rolando e sai fazendo uma merda dessas. Olha para a menina, toda gostosona e
— O gosta de você, garota! — Ela me sacudiu. — O já deu um fora nela no meu aniversário, mas ela resolveu insistir. Eu te contei isso não pra você encarar ela como competição, mas pra mostrar pra ela que já tem você no pedaço — Eu ri da forma que ela falou. — Você já tem o , . Ele já é todinho seu. Só não deixa essa menina se meter nisso. Não fui com a cara dela.
— ok.
— ok? Só isso? Ok?
— Claro que não, eu to indo ajudar o a fazer pizza agora. — Sai mancando pelo corredor com atrás de mim rindo.Só quando eu entrei na cozinha que eu realmente fui reparar na menina. Cabelos pretos, grandes e lisos, olhos escuros também, magra de um jeito que eu provelmente nunca seria e ela estava arrumada demais pra uma simples rodada de pizza com os amigos, bem tendo em comparação a minha pessoa, que estava usando calça de moletom e blusa larga.
— Querem ajuda? — Perguntei com ao meu encalço.
— Tá tudo sob controle — Ela foi a primeira a responder.
— Realmente acho que nem tem nada pra você fazer — falou mexendo a massa — Mas senta aqui e entra na conversa — Ele apontou o balcão e me jogou uma azeitona. Ele sabia que eu amava azeitonas e aquele simples gesto fez com que eu me sentisse idiota, não era um cara que precisava que eu estivesse presente pra lembrar de mim e não era aquela menina que estava ali a cinco minutos que iria mudar seu sentimento. Ele era diferente, não que nem os outros caras que eu conheci. Ele não era Toni.
— Se vocês não precisam da minha ajuda então vou voltar a jogar. — Me virei dando meia volta e sentindo aquele sorriso idiota que só Poynter conseguia colocar na minha cara. Com ele era diferente, não havia pressão ou inseguranças. Havia nós dois e a sinceridade que mantínhamos sobre nossos sentimentos. não era Toni. Eu não tinha com o que me preocupar.
— ué? — que ainda estava parada no mesmo lugar do corredor nde eu a havia deixado mexendo no telefone me olhou com uma cara de interrogação.
— Eu não preciso ficar lá. Vou voltar a jogar — Dei de ombros e voltei ao lugar de onde havia me tirado.
Quando você é traída, acredito que ocorre uma mudança em você com relação a confiança. Pelo menos ocorreu comigo, Toni e eu eramos amigos desde sempre, ele foi a primeira pessoa que gostei, a primeira pessoa com quem me relacionei, e além da questão física, havia a amizade. Muitos anos de amizade e companheirismo envolvido e quando ele me traiu eu senti que nunca mais confiaria em ninguém. Foi como se uma parede tivesse sido incinerada sem chance alguma de reconstrução. E eu acreditava piamente que isso aconteceria com todas as outras pessoas que eu conhecesse a partir daquele momento, que eu não confiaria, que eu me fecharia e não me abriria pra novas oportunidades de conhecer e confiar em alguém, mas e entraram na minha vida pra me mostrar o contrário. Que nem todo mundo era digno de desconfiança, nem todo mundo era igual e nem todo mundo iria me decepcionar. Não valeria a pena julgar a todos e me privar de todo por causa do erro de um.
— Gente, tava aqui pensando, vamos pra balada depois da pizza? — se pronunciou — Estamos ficando muito tempo só dentro de casa, precisamos sair um pouco. — Ele parecia meio inseguro com sua frase e quando ele me olhou eu entendi que ele esperava minha aprovação pra ideia, talvez ele estivesse pensando que ele iria desrespeitar a memoria do meu irmão com aquele convite, quando na realidade eu acreditava no contrário. Quando faziamos algo que eu sabia que meu irmão gostava, eu sentia como se tivessemos honrando a memoria dele e tudo o que um dia ele foi.
— Eu até acompanharia vocês, mas além de estar vestida de mendiga, meu pé não me deixaria curtir nada.
— Eu fico em casa pra fazer companhia pra . — se pronunciou e e Alana chegaram da cozinha trazendo alguns guardanapos e copos.
— Achei que eu era a companhia oficial da falou — Vocês vão pra onde pra ela precisar de companhia?
— Dei a ideia de irmos em alguma balada.
— Eu passo, to exausto. — tirou minha perna de um dos lugares do sofá e se sentou depositaado a mesma em seguida em seu colo.
, acho que a não precisa de babá então. Acho que tá mais do que na hora de você voltar a mexer essa bunda ai — passou por bagunçando seu cabelo e ela revirou os olhos.
— A gente come e vai, por mim tá fechado. — Rose que falou dessa vez.
— É bom que todo mundo vai alimentado, que ai além de economizar dinheiro, ninguém corre o risco de dar PT. — Valerie falou se levantando e procurando alguma coisa dentro da bolsa.
— Eu fico de motorista da rodada, não tô afim de beber hoje. — se ofereceu.
— Fico também sem problemas — se ofereceu mas a grande realidade era que ela não parecia nem um pouco afim de sair.
— Ótimo, então fechou? — Todos concordaram e assim seguimos a noite, comento pizza e nos despedindo logo em seguida da galera que iria curtir a noitada.
O caminho pra casa foi silencioso e esquisito, eu ficava me perguntando se havia percebido que eu fiquei "incomodada" com a presença da Alana ou se eu havia conseguido disfarçar bem, ao mesmo tempo eu sentia vontade de comentar sobre o fato dela estar afim dele e tinha medo do que poderia parecer e do que ele poderia pensar. E enquanto eu me questionava se falava ou não, já haviamos chegado em casa e eu estava jogada no sofá olhando pra TV que eu havia ligado num canal aleatório apenas pra disfarçar que eu estava totalmente pensativa e confusa.
— Você seria uma pessoa muito legal se abrisse o sofá, sabia? – parou na minha frente trocado de roupa, com um cobertos embaixo do braço fez uma cara de criança inocente que me fez ter segundas intenções com a ideia dele deitado naquele sofá comigo.
— Se eu te dissesse que eu estou extremamente confortável aqui, você acreditaria? – Eu estava deitada de lado no sofá com duas almofadas na cabeça e duas na perna.
— Então vou apelar – Ele sorriu fofo antes de tirar as duas almofadas da minha perna e se deitar no sofá comigo e na minha frente, jogando a coberta por cima de nós dois e se acomodando. Confesso que fiquei sem graça e agradeci por ele estar com as costas e não o rosto virado pra mim. Ele depositou sua cabeça no meu braço que estava estendido e suas costas encostaram— se com meu tronco. Me movimentei, chegando um pouco mais pra trás e depositei minha mão na sua cintura. Quando ele terminou de se acomodar, ficou na minha frente, então precisei subir um pouco para que minha cabeça ficasse entre seu pescoço e eu pudesse ver a TV – agora eu que estou extremamente confortável — eu não vi, mas soube que ele estava sorrindo e mesmo me odiando por isso, eu também sorri. Eu me sentia extremamente bem quando ele estava próximo.
— Infelizmente eu não posso dizer a mesma coisa – Menti e soltei uma risada e foi impossível não reparar que seu pescoço havia se arrepiado, na realidade eu estava arrepiada e provavelmente ficando louca, pois eu estava sentindo uma vontade absurda de passar a mão por seus braços, costas, cabelo, virar seu corpo pra mim e beija— lo.
— Você que quis assim, agora colha as consequências – Ele mexeu a bunda se acomodando mais ainda e pegando minha mão que estava em sua cintura e deixando— a em seu peito, me fazendo abraçá— lo. Estávamos de conchinha e por mais que a situação fosse estranha não era. Era bom. Estar com sempre era bom. Eu estava começando a preferir momentos como esse, onde podiamos ficar perto sem ter ninguém olhando, sem terenfiando uma Alana no meio sem saber de nada que estava acontecendo com a gente, mas ao mesmo tempo eu sentia raiva de mim. Se eu não queria nada com o agora, porque me incomodava tanto saber que tinha outra menina afim dele? Não era justo com ele que eu fosse egoísta a essa ponto,não era justo que eu ficasse segura do fato de que ele não daria ideia pra ela tão facil, não era justo com ele eu agir como se eu pudesse tê— lo na hora que eu quisesse e eu queria. Eu queria ele naquele exato momento, enquanto sentia seu peito subir e descer em minhas mãos. Eu queria ele, mas não devia. Eu queria ele mas tinha medo. Eu não queria querer, mas eu não conseguia evitar sentir. – Eu realmente estou na sua frente né? – ele disse depois de um tempo em silêncio, tempo esse que eu nem lembrei que a TV estava ligada.
— Sim – Disse talvez rápido demais e ele riu. Se virando de frente pra mim e logo em seguida passando por cima,se acomodando agora por trás de mim. Ele esticou o braço para que eu deitasse e passou a mão por minha cintura me puxando pra mais perto. Eu senti todo meu corpo se arrepiar e esquentar. Eu estava sentindo uma atração absurda por ele e sua respiração no meu pescoço não estava ajudando a pensar em outra coisa. Eu tinha certeza que não partia só de mim, a sala de repente parecia ter se convertido em tensão. Eu queria fazer alguma coisa mas eu estava paralisada com a ideia do dia seguinte. Do que fazer depois e de como encarar as consequências da minha atração momentânea. Resolvi mudar o canal da TV e fiquei fazendo isso aleatoriamente por um tempo até parar em um filme de comédia qualquer. Não demorou muito tempo e eu comecei a sentir o corpo de pesar ao meu lado e quando percebi ele já estava completamente adormecido, resultado da noite de insônia e do dia cansativo e agradeci mentalmente por isso. Eu queria sair dali e deixa— lo dormir quieto e confortável mas eu não conseguia. A única coisa que eu consegui fazer foi me virar para ele e encara— lo, me atrevi a mexer em seus cabelos e ele soltou um suspiro em meio ao sono pesado, o que me fez sorrir. Sorrir e praguejar ao mesmo tempo tentando entender o que diabos eu estava sentindo por Poynter.

...


Já era quase cinco da tarde e continuava dormindo pesadamente no sofá. Algumas vezes eu me aproximei dele só pra ter certeza de que ele ainda estava respirando e quando minha dúvida era descartada eu voltava a atenção aos meus cadernos. Bom, eu tentava. Meus olhos pareciam naturalmente atraídos para o ser que dormia ali, seu rosto tranquilo, sua respiração calma. Eu me perguntava quando eu havia começado a achar Poynter bonito, porque me lembro muito bem que assim que eu o conheci, eu não achava. Seus olhos se abriram e eu arregalei os meus, sentindo o enorme constrangimento por ter sido pega o encarando.

— Bom dia – Ele se espreguiçou e eu peguei o telefone só para confirmar a hora.
— Bom dia? Boa tarde, quase boa noite meu querido – Me levantei, ele ficava bonito demais quando acordava, com aquela boca inchada. Era sugestivo demais pra minha sanidade. — Já passa das cinco. – olhou assustado para a janela que já nem estava mais coberta pela cortina.
— Ual, a muito tempo eu não dormia assim porque você não me acordou?
— Você parecia que estava precisando descansar. Aparentemente esse sofá te faz dormir que nem um bebê.
— Não é o sofá, é a companhia. – Não fique sem graça, não fique sem graça: fiquei sem graça.
— Você precisa começar a sair mais de dentro dessa casa.
— Eu estou bem assim, quando eu não estiver eu te largo por aqui e vou curtir a vida sozinho pelo mundo e pelas boates da vida.
— Só não vale sair por ai pegando um monte de mulher e destruindo sua fama de bom moço. – Ele sorriu abertamente com a minha frase.
— Não precisa ficar com ciúmes – Ele não estava se referindo a esse único comentário. Ele estava falando da noite anterior. E pareceu que ele ia dizer mais alguma coisa mas se silenciou. Se levantando e se enrolando na coberta.
— Já comeu? — Acenei negativamente com a cabeça – Pede algo, vou tomar um banho.

E assim eu fiz. Enquanto eu olhava pra TV e esperava a comida e eu não conseguia parar de pensar. Pensar em todos os prós e contras caso resolvessemos ficar juntos, pensar em todas as coisas que poderiam acontecer, em como as coisas poderiam ser, em como reagiria se eu pedisse pra irmos devagar, se eu dissesse que ainda não sabia exatamente como estava me sentindo. Muitas coisas a pensar e eu não conseguia mexer nenhum músculo para tomar pelo menos uma das atitudes que eu tinha e que mudava de ideia de minuto em minuto.
Quando voltou a pizza já havia chegado e enquanto comíamos tentávamos decidir que tipo de filme assistiríamos.

— Eu não gosto desse filme. Me dá raiva, eles demoram demais pra ficar juntos. Pelo amor de Deus. — Eu falava sobre simplesmente acontece que era a escolha que queria, mesmo já tendo visto o filme outras duas vezes. Chegava a ser engraçado: eu sempre preferia os de terror enquanto ele preferia as comedias românticas.
— Mas a vida levou eles pra rumos diferentes. Isso que é lindo, mesmo tudo dando errado eles acabaram ficando juntos no final.
— Pelo amor de deus, . Não foi a vida. Foi o idiota do cara que resolveu levar a outra menina pro baile só porque ela era mais gostosa. Se ele tivesse pensado com a cabeça de cima, tudo teria sido diferente.
— Mas a própria amiga sugeriu isso.
— Ela sugeriu pra não ficar por baixo, mas na verdade ela estava morrendo de ciúmes.
— Se ela não queria que ele fosse, era só ter falado.
— Não é assim que funciona . — Eu estava quase revoltada com ele achar normal. — Eles era amigos, melhores amigos. E ela gostava dele, mas não sabia como ele se sentia, ela não queria jogar uma amizade fora por medo do que ela pudesse estar sentindo, até porque parece que nem ela mesma sabe exatamente o que ela tá sentindo. Mulheres são assim, elas ficam confusas e as vezes fazem o contrario do que deveria fazer por medo, ou insegurança ou por simplesmente tentar saber se o cara realmente tá afim ou se vai desistir de primeira, o que mostra que ele não tava tão interessado assim.
— Mulheres são confusas demais — Ele revirou os olhos. Eu tento entender, as vezes QUASE consigo mas então me perco.
— A gente só tenta se preservar. Ter o coração partido dói. Então a melhor coisa é tentar agir como se nada tivesse acontecendo. Pelo menos até ter certeza absoluta de tudo o que está acontecendo. — Aquela conversa não parecia mais ser sobre o filme.
— Não é assim que funciona, mas eu também nem poderia dizer nada sobre ciúmes. Eu não sou uma pessoa ciumenta, de qualquer forma .
— Sim, você é. – Ele se virou pra me encarar – Você é extremamente ciumenta, é só ver como você me tratava por ciúmes do Paul.
— Não era ciúme – Me defendi.
— Era sim, você tinha ciúmes porque ele me tratava como se fosse meu irmão. Admite , você me detestava por um motivo que nem você lembra mais. – Eu não podia negar que ele estava certo, mas eu também não iria admitir isso pra ele.
— Eu só te detestava porque você era implicante comigo, só isso.
— Eu continuo implicando com você até hoje. Mas você mudou e não se irrita mas que nem antes, sabe por que? Porque você não tem mais ciúmes.
— Eu só te conheci melhor e percebi que você não era um babacão, só isso. Não tem nada a ver com ciúmes – revirei os olhos.
— E quando isso aconteceu? Quando você resolveu acreditar que eu não era mais um babacão? – Não precisei buscar muito na minha mente pra saber exatamente quando isso havia acontecido. Senti meu rosto ficar vermelho da lembrança. – Anda, responde quando? — passou o braço pelo encosto do sofá ficando mais próximo a mim. Seu olhar exalava graça e curiosidade.
— Quando ao invés de me beijar dentro daquele armário quando brincamos de verdade ou consequência, você simplesmente me desafiou a te conhecer melhor. – Ele abriu um sorrisão tão fofo que eu quase me derreti. – Eu confesso que eu fiquei apavorada de entrar naquele armário porque a sussurrou pra alguém quando saímos da sala: finalmente vai ficar com alguém. Eu queria ter saído correndo dali e fiquei pensando com que cara eu iria te encarar no dia seguinte e se eu saísse, meu irmão nunca mais iria querer deixar eu participar de qualquer brincadeira porque ainda ia me ver como uma menina boba idiota que não aceita nada. Então eu simplesmente fiquei apavorada dentro daquele cubículo . Eu achei que você ia me beijar por obrigação e fazer piada depois, jogar na minha cara dizendo que tinha sido ruim, ou fazer qualquer piada idiota. Mas então você não me beijou, só me desafiou a te conhecer melhor e eu aceitei o desafio. E por causa disso eu cheguei a conclusão de que você não era um babaca
— Eu sou um cara que sempre espera os momentos certos para um beijo. – Seus olhos pararam nos meus e eu soube interpretar certinho o que ele estava querendo me dizer. Eles estavam sugestivos.
— Nisso eu preciso concordar. – Mordi meus labios sem vergonha nenhuma de encara— lo de volta. Era tão natural com ele,que eu não tinha medo de ousar. Mas ele tinha sentimentos, eu tinha sensações. E eu ficava na dúvida entre sufoar ou deixar rolar, não pensei direito, apenas aproximei meu rosto do seu e o beijei.Ele pareceu surpreso e realmente não estar esperando pela atitude, mas logo depois levou sua mão à minha nuca, se aproximando de mim e aprofundando o beijo. A forma como nossas bocas se encaixavam e se movimentavam, a sincronia das nossas línguas explorando uma à outra era algo que pra mim descreveria maravilhosamente a perfeição. Nossas respirações descompassadas,a urgência que parecia haver em casa movimento nos nossos labios e do nosso corpo, só mostrava que queria aquilo tanto quanto eu, o que não era surpresa. A química que parecia exalar de nós ainda era algo surpreendentemente novo pra mim, ele conseguia me deixar alerta só com um olhar e quanto ele me beijava era como se o simples toque de seus labios fosse uma faisca de chama e todo o meu corpo fosse gasolina. Nossos corpos se aproximaram mais no sofá apertado e meus braços se fecharam com mais vontade em volta de seu pescoço enquanto sua mão seguia pra minha cintura.A intensidade do beijo fazia meu corpo curvar sobre o braço do sofá. Eu me perdia em seu cabelo e percorria suas costas aproveitando cada centímetro do seu corpo que estava próximo de mim e fazia o mesmo, descendo sua mão pela minha barriga e assim como eu, levando sempre consigo um pedaço de pano que naquele momento pra mim não era nada bem vindo ali. Eu desejei absurdamente que ele estivesse tocando toda minha pele e não minha blusa. Foi naquele momento que eu percebi que eu queria mais intensamente do que eu pensava. Talvez juntos, chegamos a conclusão de que precisavamos de um pouco mais de ar e então começou a distribuir seus beijos pelo meu pescoço. Uma onda maior de arrepio e excitação tomou conta de mim e aquilo era novo. Era uma sensação nova a que ele estava causando no meu corpo. Eu sentia meu peito comichar e a pressão entre minhas pernas aumentar e soltei um suspiro mais alto quando sua mão alcançou meu peito, mesmo por cima do sutiã. Eu já havia transado, já havia sido tocada e explorada então a sensação pra mim talvez fosse diferente do que era pra . Embora fosse algo novo, era comum. Comum beijar, tocar, explorar, avançar. Pra ele não. Era tudo inédito. Havia sutileza e carinho na forma como ele tocou meu seio, mas também havia muita vontade na forma que sua mão me envolveu e em como ele retomou nosso beijo, dessa vez com um pouco menos de intensidade do que antes, mas parecia mais intimo, Como se já estivéssemos mais do que acostumados a fazer aquilo. mordeu meu lábio inferior e se afastou de mim apenas o suficiente para que pudesse me encarar bem nos olhos e então sorriu. Eu pensei em palavras, no que dizer, em qualquer coisa, mas pra mim o mundo naquele momento parecia significar apenas aquele sorriso e a forma que ele estava me olhando.

— Acho melhor eu parar aqui , antes que eu acabe perdendo esse meu timing pros momentos certos. — Ele não se referia mais aos beijos. Ele também queria mais, e como o ser racional que ele era, ele sabia que não seria saudável pra nos dar aquele passo naquele momento. Foi bom saber que ele se preocupava conosco ao ponto de se reservar. E então ele me deu um ultimo beijo e se afastou de mim, mas manteve seus braços por cima de meus ombros, me puxando mais pra ele e me aconchegando em seu peito, virando— se de frente pra TV.
— E então, qual filme vamos ver?

Capítulo 5





Eu já havia terminado de me arrumar e nada de . Eu havia deixado a porta do meu quarto aberta para ver quando ele saísse do seu, mas ele não havia surgido ainda. Bati na porta do seu quarto duas vezes e não obtive resposta. Chamei mais duas vezes e continuei sem resposta nenhuma. Rodei a maçaneta e meti a cara pra dentro do quarto e estava dormindo de bruços com a coberta jogada até metade de suas costas e parecendo em um sono profundo. Pensei seriamente em não chamá— lo e deixar que ele dormisse, mas tínhamos uma avaliação logo na primeira aula e ele realmente não podia perdê— la. Entrei no quarto e o cutuquei chamando bem baixo para tentar não assustá— lo, mas ele nem se mexeu. Cutuquei mais uma vez, mais forte e chamando mais alto e ele se mexeu, virando o rosto de lado e resmungando alguma coisa. Chamei mais alto agora, sacudindo seu corpo e quase rindo de suas expressões ainda sonolentas enquanto ele abria os olhos e jogava logo em seguida o travesseiro na cara.

— Cara, tipo só mais cinco minutos. – Ele falou com a voz abafada
— Não cara, vamos nos atrasar. Levanta – Eu continuei sacudindo seu corpo. Anda , levanta. – Ele continuou ignorando meu pedido, apenas resmungando algo que eu não consegui entender. Puxei o travesseiro de sua cara e ele se virou de barriga pra cima me olhando de cara feia. Seu cabelo bagunçado e seus lábios meio inchados o deixavam extremamente atraentes e eu precisei me controlar pra não morder os lábios.
— Alguém já disse que você é que nem o seu irmão? – Ele falou com a voz mais grossa que o normal e bem sonolento ainda.
— Sim. Anda levanta! – Eu falei puxando agora suas cobertas e me arrependi amargamente de ter feito aquilo. Ele estava pelado. Tão rápido quanto eu havia tirado a coberta eu a joguei de volta soltando um grito quase que automaticamente.
— Caso eu nunca tenha te dito: Eu durmo pelado – Ele falou com graça na voz enquanto eu estava extremamente sem graça. –, não é grandes coisas, literalmente – ele riu – nudez é algo natural. Não precisa ficar com vergonha até porque eu não sou o primeiro cara que você vê pelado – ele se enrolou na coberta e se levantou — Vou tomar um banho,já que eu provavelmente não vou voltar a dormir e a propósito: bom dia! – Ele chegou perto de mim pra me dar um beijo na testa e saiu do quarto me deixando parada ali olhando pro nada e sentindo meu rosto extremamente quente.



Joguei minha mochila em cima da mesa e minha cabeça por cima da mesma assim que cheguei ao pátio na hora do intervalo.
— Que cara de acabado é essa? – Valerie perguntou passando as mãos pelos meus cabelos e eu gostei do carinho. Por vezes eu havia me pego desejando que fizesse esse tipo de gesto quando eu estava por perto dela, mas ela nunca fazia. Ela às vezes parecia um boneco, travado e com os olhos arregalados e pensativa. Até mesmo depois do nosso amasso no sofá ela ainda parecia sem saber como agir e o que fazer, então resolvi nem entrar no assunto e deixar as coisas acontecerem naturalmente.
— Não é acabado — Me ergui antes que eu voltasse a dormir – Parece que todo meu sono acumulou e agora eu to assim. Sacudi a cabeça e dei alguns tapas no meu rosto. Junto da mesa estava , , Rose, e . – Essa noite eu dormi que nem uma pedra e to assim: cheio de sono ainda. — Resmunguei
— Percebemos, quase não chegou para avaliação – disse mordendo seu sanduíche.
— Graças a querida senhorita Heinlich tenho meu ponto garantido. – Olhei pra e ri, ela continuava extremamente sem graça e desviava o olhar de mim todas as vezes que eu ia falar com ela.
— O quê tá acontecendo entre vocês dois? – Rose perguntou e Valerie a lançou um olhar estranho e com exceção de , e eu, o resto parecia não estar surpreso com a pergunta e entender muito bem o que ela estava querendo dizer. Mas eu não.
— Como assim? – que perguntou.
— Vocês dois estão juntos? Isso que eu quis perguntar – Embora Rose estivesse fazendo a pergunta, Valerie era quem ficava vermelha. Eu sabia que ela nutria alguma espécie de sentimento de atração por mim, e talvez ela tivesse pedido a Rose pra fazer isso.
— Não – se apressou em responder. – De onde você tirou isso?
— Eu não ia comentar nada – começou – Mas já que estão falando, eu gostaria de dizer que eu estava me perguntando a mesma coisa. Desde antes de tudo acontecer vocês estavam próximos demais e depois que Paul morreu vocês não desgrudaram, viajaram juntos e talz e eu estava me perguntando quando vocês iriam assumir pros amigos.
— Então a é a tal garota? – Valerie finalmente falou e começou a ficar vermelha e confesso que eu também.
— Não tem nada rolando, gente. Nós moramos na mesma casa e paramos de implicar um com o outro. Só isso – Eu tentei soar indiferente.
— Nós somos apenas amigos. – Foi a segunda vez que ela usou aquela frase para falar sobre mim e o que acabava me magoando era a forma que ela afirmava aquilo, como se não houvesse nenhuma dúvida.
— É só impressão de vocês. O Máximo que já aconteceu entre t e eu foi o fato de que ela me viu pelado hoje de manhã e agora não consegue me olhar sem ficar com a cara toda vermelha. – Quando eu disse isso ficou mais sem graça do que já estava e riu alto.
— Amiga, metade desse colégio já viu o pelado. Ele ficou assim em cima de uma mesa em uma festa enquanto estava bêbado. Não precisa ficar sem graça. – revirou os olhos
— Viu, eu falei que não era grandes coisas. Em todos os sentidos – Ela continuava apenas em silêncio e extremamente sem graça. –É isso gente, nós não temos nada. Nunca tivemos e provavelmente nunca vamos ter – Vi que me lançou um olhar estranho e desviou o foco do olhar. – Não se preocupem meninas, eu continuo sendo o solteiro mais cobiçado desse colégio. – Foi impossível não notar o sorriso que Valerie deu e isso me fez sentir mal. Por que por mais que ela fosse uma menina legal, simpática, bonita e inteligente eu simplesmente não me sentia nem um pouco atraído por ela. Eu só conseguia enxergá— la como amiga. Teve uma época em que veio conversar comigo sobre os sentimentos dela, me pedindo para dar uma chance ou pelo menos pensar sobre o assunto e eu até tinha tentado olhá— la de outra forma, afinal, ela era minha amiga e poderia valer a pena, mas eu simplesmente não havia conseguido. Então todas as vezes que ela dava algum sinal de ainda ser afim de mim eu me sentia mal por saber que não poderia corresponde— la.
— Bom saber que meu par pro baile ainda está garantido – Rose fez um gesto comemorativo e eu acenei com a cabeça, lembrando da promessa e automaticamente olhando pra que não me encarava de volta. Eu poderia ficar ali, olhando pra ela a tarde toda apenas esperando que ela me olhasse de volta para que eu pudesse ver aquele sorriso sem graça que ela dava todas as vezes que percebia que eu a observava; Eu queria poder gritar aos quatro ventos daquela escola que era dela que eu gostava e era com ela que eu queria ficar. Eu queria dizer aos nossos amigos que não,Nós não éramos apenas amigos, porque amigos não se beijam, amigos não se olham da forma que nós nos olhávamos. Amigos não sentem atrações gigantescas um pelo outro ou se pegam no sofá. Eu queria dizer que eu não era só amigo, e que eu não queria ser. Que eu era apaixonado por ela e que eu sentia que ela correspondia de alguma forma, que eu poderia estar me iludindo mas que eu provavelmente não estava. Eu queria poder dizer que eu esperava sim, que nós tivéssemos algo num futuro e que eu torcia pra que esse futuro estivesse próximo e que eu queria que nesse futuro ela fosse a garota que eu levaria pro baile, que nós dançaríamos e eu seria apenas um cara sortudo levando uma linda garota ao baile. Mas isso tudo não passava de ideia na minha cabeça então apenas me limitei a dizer a Rose que o par dela estava garantido e que ela não precisaria se preocupar, afinal, e eu éramos apenas amigos.



O clima estava estranho. Muito estranho. Eu usava a desculpa de que era porque eu tinha visto pelado, mas eu sabia que o que estava fazendo com que eu me sentisse estranha era o fato de que ele tinha dito que provavelmente nunca teríamos nada. Eu não acreditava nessa realidade mais, e eu sabia que o motivo de não estarmos tendo nada era o fato de que eu não dizia ou fazia nada. Eu havia o beijado e logo em seguida dito com toda veemência: Somos apenas amigos. Eu era uma filha da puta do caramba.

— Cara — surgiu na sala — Joey me mandou uma mensagem avisando que a tá lá no bar bebada e não esta falando coisa com coisa.
— Han? Ela me mandou mensagem algumas horas atrás falando que ia ficar em casa, nem pra me chamar pra beber. Vaca!
— Você não pode beber — Ele revirou os olhos passando uma camisa pelo pescoço. — Vou lá buscar ela,tá no trabalho.
— Vou com você. Nunca vi a bêbada e ela mesma ja me disse que fica hilária. — parou me olhando sério, mas eu sabia que ele estava contendo o riso.
— Sua amiga está bêbada em um lugar aleatório e você acha isso engraçado?
— Não adianta me olhar com essa cara. Ela mesma já me disse que cansou de fazer isso, de ficar bêbada e pedir pro Joey ligar pra um de vocês ir buscar ela. — Dei de ombros e ele riu. — Sei que ela não corre perigo. Então vou junto de você, resgatar nossa amiga. — Fiz uma pose de super herói e soltou uma gargalhada tão gostosa que eu quase voei em seu pescoço para beijá— lo. Não poderia ser normal se sentir tão atraída assim por uma pessoa.
— Então vamos embora Supergirl engessada — Eu revirei os olhos e saímos ao encontro de .

Ela estava sentada na mesa do bar conversando com Joey e gargalhando quase que sozinha, já que o barman parecia nem prestar muito a atenção ao que ela falava.

— HELLO MY SHADOW SELFS — Ela gritou quando nos viu passando pela porta — já disse que até manca você fica bonita? Não sei como ainda não te jogou na parede e te deu uns agarros — Ela falou tão natural quanto a luz do dia e eu comecei a rir; Acho que estava me acostumando com o jeito de falar besteira. Olhei pra e ele revirava os olhos. — Ou talvez ele já tenha feito isso, eu onsigo sentir a tensão sexual de voês daqui.
— Bêbada em pleno dia de semana e sem mim? Você tá me decepcionando hein. — se aproximou ignorando sua fala.
— Hoje eu tô um lixo e precisava beber pra esquecer essa minha vida de merda e ficar feliz— Ele ergueu os braços — Tô a mais de um mês sem beijar na boca, vocês sabiam? Você tem noção de que isso não acontece desde que eu tinha, sei lá 14 anos? — Ela riu sem graça olhando pro copo. — Aí eu aqui,sem ânimo de fazer ou procurar qualquer coisa e vocês aí, se comendo com os olhos e sem fazer nada. Não sei como vocês aguentam! Nem eu to aguentando! — Ela bateu na mesa e contorceu os dedos, irritada.
— Bora , hora de ir pra casa. — a puxou do balcão e ela não resistiu. Eu não sei o porquê eu fui até lá, já que eu estava de muleta e nao teria como ajudar em nada, então só segui os dois até o carro rindo das frases de e por vezes fazia o mesmo. Ela alfinetava tudo e todos, falava da escola, das pessoas, de Valerie, Rose, ,e a menina com quem ele ainda estava saindo, a amiga da menina que havia ficado afim e . Ela começava a rir sozinha e eu começava a rir dela e com ela.

informou que levaria ela até a nossa casa para dormir conosco já quenão passaria a noite em casa. Na hora de descer do carro, fez xilique e precisou quase pega— la no colo para que ela saísse do veículo e caminhasse conosco para a escada. Mas empacou no segundo lance, exatamente entre o segundo e o nosso andar.

— Eu não entendo — Ela fazia gestos exagerados e engraçados. Por que? Me explica porque vocês não estão juntos? Essa merda de só amigos não funciona pra mim, eu não aceito — A bola da vez parecia agora ser meu relacionamento com .
, sério vamos subir e lá em cima a gente discute isso ok?
— Não! você já viu a forma que a fica te olhando? É obvio que você viu, você fica olhando do MESMO JEITO PRA ELA! — Ela gritou na cara do amigo. — Deixa de ser broxa e agarra essa menina,ela á te implorando pra isso. Deixa toda essa santisse de lado, para de resistir. – Eu tentei não rir, ficar brava ou séria, mas a risada saiu pelo nariz. Parte de mim concordava com o que estava dizendo. Parte de mim às vezes pensava: me beija logo, mas outra parte de mim sabia que não faria nada até que tivesse meu aval, e eu havia passado o dia inteiro me perguntando se minha atitude de beijá— lo não havia sido isso, e se minha atitude de dizer que éramos apenas amigos havia acabado com o “isso”.
falou manhoso — Você vai começar com isso? — Ele olhou pra mim — Ela sempre pega um assunto “tabu” e desembesta a falar dele quando tá bêbada. Então, ignore.
— Ignora o cacete. Tu fica nessa palhaçada também por que? Só sabe falar do . É pra lá, pra cá. Fica secando o garoto toda vida mas também não toma uma atitude. Fica nessa palhaçada de: Tô confusa. De confusa não vi nada ai não. Confusão seria se por algum momento você pensasse que não queria, mas isso não acontece – Ela balançou o dedo indicador no meu rosto, falando muito séria. – Então para de palhaçada e beija ele. – Ela cruzou os braços. – Anda! Beija ele,eu sei que tu quer.Só saio daqui depois que vocês se beijarem.
isso não vai rolar então você vai ficar aqui a noite inteira. — falou, mas eu percebi que ele estava risonho e sugestivo.
— Por que? Me expliquem o porquê eu subo as escadas tranquila, caso contrário eu me jogo no chão e nem Deus descendo do céu me tira daqui. — e eu começamos a rir da pose dela. conseguiria tirá— la dali em dois tempos,mas era engraçado ver aquilo.
— Porque a não quer, . E você sabe que eu não saio por ai beijando pessoas que não querem ser beijadas. — Eu olhei pra ele de olhos cerrados e ele deu de ombros risonho. — De acordo com ela, nós somos só amigos.
, o que você tem a dizer em sua defesa?
— Que eu nunca disse que não. — Dei de ombros e ela abriu um sorriso enorme.
— Às vezes dá vontade de pegar vocês dois colar a cabeça assim — Ela fez um gesto com as mãos — e fazer vocês beijarem. , não me decepcione. Eu quero um beijo de cinema — Me senti no ensino fundamental.
— Tá bom — Ele disse e me puxou pela cintura, me dando um beijo daqueles de tirar o folego. Vanessa deu um grito histérico e ouvi seus passos escada acima, e quando achei que Dougie ia me soltar, ele fez o contrário: encurralou meu corpo na parede e pressionou seu corpo ao meu.Não tinha nem quarenta e oito horas que eu havia experimentado aquilo mas eu havia sentido falta pra caralho. Como isso era possível? Havia tanta vontade em nós, que no corredor silencioso era possível ouvir o barulho da nossa respiraçao descompassada. A mão de Dougie desceu pela minha cintura chegando até a minha bunda, que ele apertou, aproximando mais ainda nossos corpos.
Fomos separados por um pigarro e ficamos sem graça quando o vizinho de baixo pediu licença para poder abrir sua porta. Dougie e eu subimos as escadas rindo e ao entrarmos dentro de casa encontramos joada toda torta no sofá. Ela estva sonolenta e resmungona e demorou um pouco até conseguirmos trocar a roupa de e colocá— la na cama. Ela nao parava de falar de assuntos aleatórios e dar pitaco no assunto e eu. No final de tudo, ela estava deitada em minha cama dormindo em um sono profundo. se encarregou dessa última missão enquanto eu ia pra cozinha providenciar algo para comermos.

— De manhã diz que somos apenas amigos e de noite fica sugerindo que eu te agarre no corredor?— Ele entrou na cozinha falando risonho e se apoiou no balcão. Por incrível que pareça, nenhum de nós estava sem graça.
— Eu não fiz nada. — Dei de ombros me fingindo de desentendida.
— Se eu não soubesse que meu charme é irresistível eu ficaria até magoado com você — Ele fez aquela pose convencida que nem me irritava mas, só me fazia achá— lo mais charmoso.
— Seu ego é tão grande que nem cabe nesse apartamento.
— Não posso fazer nada se sou irresistível. Você perde muitas oportunidades . — Ele falou mais sério e eu parei para encará— lo.
— Tipo essa agora de calar sua boca convencida? — Não acreditei que aquela frase saiu da minha boca. Os olhos de ficaram mais sérios ainda.
— Exatamente. — Eu ri e me virei de costas tentando não olhar pra ele para simplesmente não agarra— lo, porque eu queria muito.
— Sabe o que eu vou fazer? — Procurei algo no armário. — Eu vou sentar naquele sofá, comer esse pacote de salgadinhos e assistir That’s 70 show até pegar no sono e então dormir confortavelmente no sofá enquanto usa minha cama. — Desconversei.
— Você é uma pessoa de coração ruim, . — Senti ele se aproximar, — Ta morrendo de vontade de continuar, assim como eu. — parou atrás de mim e me abraçou pela cintura. – Mas tudo bem, eu sou um cara paciente. – Ele deu um beijo NO MEU OMBRO e ao contrário do que eu pensei que ele faria, ele me soltou. Eu estava meio que estática, porque eu realmente estava esperando que ele fosse me beijar de novo.— Se eu não fosse um cara decente eu poderia te dizer que tem uma cama quentinha e com um cara cheiroso e cheio de vontade de você bem ali no quarto ao lado.Mas como eu sou ou tento ser um cara decente, te desejo uma boa maratona — Ele me lançou um beijo e foi saindo da cozinha. — Sonhe com meu beijo, eu sem sombra de dúvidas vou dormir pensando no seu. — Ele disse antes de bater a porta do seu quarto e me deixar resmungando e revirando os olhos, sem saber se eu achava graça ou ficava irritada comigo mesma por ser tão idiota.

...


— Hey você não deveria estar em outro lugar? – me olhou surpreso quando eu abri a porta da sala e eu suspirei derrotada
— Eu não fui — Andei a passos lentos pra sala e me joguei na poltrona enquanto ainda me encarava curioso. A semana na escola havia passado correndo e quando dei por mim já era sábado, dia da entrevista da minha mãe para revista. A sessão de fotos que minha mãe havia me convidado havia começado a exatamente dez minutos. Eu havia me arrumado pra ir, acordado cedo pra ir e até mesmo avisado ao que ia. Mas depois de descer as escadas eu simplesmente não havia conseguido chamar um táxi pra ir. Eu havia ficado parada por mais de uma hora simplesmente olhando pra rua e tomando coragem pra poder ir à minha antiga casa e no final de tudo eu desisti. Eu era uma covarde, e no final de tudo eu a havia deixado na mão. Eu me sentia extremamente mal por isso. Peguei meu celular ainda sobre o olhar de e disquei o numero da minha mãe que atendeu antes mesmo de finalizar o primeiro toque.
— Desculpa. – Eu disse antes dela falar qualquer coisa –Você deveria fazer assim mesmo. Você merece, mãe. Você lutou muito pra chegar onde você está agora e eu to muito orgulhosa de você. – Foi estranho pra mim dizer aquelas palavras e eu ouvi um suspiro do outro lado. Eu achei que ela seria grossa ou impaciente mas seu tom de voz me surpreendeu. Ele veio embargado.
— Obrigada, filha. Eu te amo, embora eu não tenha demonstrado muito isso nos últimos anos. – A frase me assustou e eu não consegui dizer de volta. Ficou entalada no meio de todas as mágoas que eu havia acumulado no decorrer do tempo e então desceu garganta abaixo.
— Mande beijos pra Emma – Eu disse antes de desligar. já não estava mais a minha frente e sim na cozinha. Depois do episódio beijo na escada eu havia evitado ficar muito tempo com ele durante toda a semana e eu estava sentindo falta disso, era estranho.
— Tá tudo bem? – Ele voltou pra sala, com um copo de café e um cookie velho que deveria estar na geladeira a dias.
— Isso tá velho, . E provavelmente com um gosto horrível. – Eu não respondi a sua pergunta até porque eu não sabia muito bem a resposta.
— Não tem nada pra comer aqui em casa. Precisamos fazer compras. Tem séculos que não fazemos isso. – Ele mordeu e logo em seguida cuspiu dentro da sua xícara de café – É isso realmente está horrível.
— Bom, já que eu não fui pra minha mãe eu estou a toa em casa hoje então se quiser ir ao mercado... – Dei de ombros.
— Resolveu parar de me evitar ou só está com fome mesmo?
— Eu não estava te evitando – Respondi rápido demais e ele riu — Sim, eu estava evitando porque percebi que precisava colocar minha cabeça no lugar. Eu havia dito que não deveriamos ficar juntos, mas eu também era a pessoa que não estava sabendo ficar sem isso. Era como Vanessa havia dito, em nenhum momento dos meus medos eu duvidava se eu queria Dougie ou não,eu só duvidava se daria erto.
— Não tem problema, eu também estava te evitando. – Ele me mandou uma piscadela.
– E a propósito, é estranho te evitar porque eu já acostumei com a sua voz tagarela que não para de falar por um minuto sequer — Assumi e ele fez uma cara afetada.
— É eu causo esse efeito nas pessoas, elas sentem a minha falta. – Ele se levantou. Bom, já que não vamos mais nos evitar e vamos ir fazer compras vou me trocar. E a propósito, poderíamos almoçar fora, o que acha? Passar o resto do dia fazendo alguma coisa, temos ficado muito tempo dentro dessa casa. – Concordei com a cabeça e não evitei dizer que eu já havia dito aquilo milhões de vezes – Pode chamar alguém pra ir conosco se quiser. – Fiquei olhando pra ele, pra saber se ele estava falando aquilo apenas para que eu não me sentisse desconfortável por porque ele queria que outra pessoa realmente estivesse ali.
— Bom, eu não tenho ninguém em mente pra chamar agora, até porque não faço a mínima ideia do que a está fazendo nesse momento, então chame você se quiser. Por mim, tá bom só nós dois. – Ele acenou com a cabeça e se virou, mas não rápido o suficiente para que eu não notasse o sorriso que se formou em seu rosto.
Era bom ficar só nós dois, sem mais ninguém por perto. Era diferente quando estávamos nós dois sozinhos e quando estávamos nós dois no meio de todo mundo e eu só me toquei disso nessa semana depois de perguntarem se tínhamos alguma coisa. Eu sabia que estávamos mais próximos mas não tinha percebido que era algo notável. Eu não sabia o que as pessoas de fora viam, muito menos que elas achavam que tínhamos alguma coisa. Elas não achavam que sentia algo por mim, elas achavam que nós dois sentíamos algo um pelo outro e isso era estranho, muito estranho porque nem com Toni havia acontecido dessa forma. Ninguém nunca acreditou que tínhamos algo porque nunca aparentávamos ter, não tinha a questão de clima, ou de aparência. Nós éramos e só, enquanto com mesmo sem ser, parecia. Isso estava mexendo com a minha cabeça por não me ajudar a entender como eu me sentia em relação a tudo. Eu o queria? Sim, eu o queria. Eu estava apaixonada por ele? Essa já era uma pergunta que eu não saberia responder.



— Você viu a cara que ela estava nos olhando— Julie disse.Estavamos em um restaurante qualquer do centro da cidade
— Sim. Ela parecia que estava vendo um alien – Ao irmos ao supermercado fazer nossas compras acabamos sendo atendidos pela mesma atendente que nos atendera alguns meses atrás quando fomos fazer compras juntos pela primeira vez. Na ocasião havia machucado minha boca e na hora de passar as coisas no caixa nós começamos a brigar um com o outro, sob o olhar da atendente que não sabia o que fazer. – Eu precisei me conter pra não começar a rir da cara dela, principalmente quando você se ofereceu gentilmente para me levar nas costas e eu educadamente rejeitei alegando que você já estava com sacolas demais. Ela deve ter achado que na primeira vez estávamos drogados – ria escancaradamente mexendo na calda do sorvete que tomávamos como sobremesa. — É engraçado, sabia? Pensar no quanto as coisas mudaram. Eu gosto disso. Não só de agora, mas de antes, de tudo. Olhar pra trás e ver que quem você é agora é um pouco melhor do que você foi. Acho isso gratificante. – Ela ficou um pouco mais séria.
— Eu não acho que eu mudei tanto assim. Digo, tudo bem que antes eu era muito mais fechada e talz, mas acho que a única coisa que mudou em mim mesmo foi isso, me abrir pra conhecer novas pessoas. Fora isso, continuo sendo a mesma de antes.
— Eu não acho. Eu posso enumerar um monte de situações que se fosse a três meses atrás você agiria de um jeito e que agora você age de outro.
— Fique a vontade pra tentar.
— Você ligou pra sua mãe e se sentiu culpada por não ter ido até ela hoje. Antes de tudo acontecer, você não se dava nem ao trabalho de retornar as ligações dela. Quando você a viu no acampamento, você virou a cara e hoje você ficou preocupada por magoá— la. – Ela abaixou os olhos – Quando eu te beijei, se fosse antes você teria dado na minha cara e procurado seu irmão pra te ajudar a fazer o mesmo – Ela riu
— Por isso que você nunca me contou a forma que você se sentia? – Ela me encarou por breves segundos antes de desviar o olhar novamente pro sorvete.
— Óbvio! Você me detestava, me tratava mal em toda oportunidade, era extremamente grossa comigo imagina se eu simplesmente chegasse e falasse: Então , tu me trata super mal mas eu sou afim de você e to doido pra ter dar uns beijos,valeu? – Ela riu – Você ia me jogar da janela do apartamento. Ia achar que era alguma espécie de deboche com a sua cara e provavelmente nunca mais iria olhar na minha cara.
— E o que te deu a certeza de que naquele dia eu não ia fazer isso?
— Bom, eu te beijei – Ela ergueu os olhos com o rosto vermelho – E você me beijou de volta. Sem resistência nenhuma, então eu decidi que aquele era o momento. Ah, e porque eu também tinha sido ameaçado por Tom, Paul e . Eles disseram que se eu não contasse na festa eles fariam você saber de alguma forma. – Ri lembrando da cena. – E outra coisa que me faz ter certeza que você mudou – Resolvi continuar o assunto antes que algum clima constrangedor ficasse no ar – Você me viu pelado. Se você fosse a de antes você teria me xingado de pervertido, tarado, maníaco e todos os adjetivos pejorativos que você poderia ter encontrado quando isso aconteceu, mesmo você estando no meu quarto e puxando as minhas cobertas.
— Por que você tem que voltar nesse assunto? – Ela voltou a ficar extremamente sem graça e aquilo era engraçado de se ver. Ela ria porque não conseguia ficar sem rir e tentava não rir para não demonstrar como estava se sentindo.
— Eu só não entendo o que te deixa tão sem graça. Nudez é natural. Você provavelmente via seu ex pelado então não é nenhuma surpresa. Quando eu tiver minha casa vou andar peladão por ela e tomara que minha mulher faça o mesmo – ela balançou a cabeça.
— Com Toni e eu não era assim.
— Assim como? – Não entendi do que ela falava e ela começou a explicar.
— Cara , Toni e eu geralmente ficávamos quando ou minha mãe ia pra casa dele e eu ia junto, ou quando a mãe dele ia pra minha casa e ele ia junto. Era aquela coisa meio que escondida, então toda parte sexual do nosso relacionamento sempre foi muito, bom como eu poderia dizer: corrida. Era sempre escondido no meu quarto quando ele escapava pra lá de madrugada ou no quarto dele. Em nenhum dos dois lugares tinha tranca, então a gente estava sempre com aquela sensação de medo, sabe? De alguém aparecer, das nossas mães pegarem. A maioria das vezes era no escuro, sem tirar todas as peças de roupa. E sim, olhando pra trás agora e pensando é bem tosco perceber que eu fiquei dois anos em um relacionamento assim. Quando não era em um canto escondido nas nossas casas era no carro o que me dava mais medo ainda de filmarem ou alguma coisa do tipo.
— Vocês não saiam? – Eu estava um pouco chocado, porque sem sombra de dúvidas isso não era o que eu imaginava de um relacionamento.
— Sim, saiamos, mas não pra transar. Quando saiamos era sempre pra alguma coisa boba: ir a uma festa, coisa que acho que se fizemos umas três vezes foi muito. Ele além de estudar em uma escola diferente da minha ele era dois anos mais velho, então nossa rotina era totalmente diferente. Então a maioria das vezes nos víamos no final de semana quando dava. Quando ele conseguia escapar e eu encontrava ele em algum lugar para fazermos algo como ir ao cinema, ou comer alguma coisa. Então, a nudez masculina ainda é uma coisa que me constrange um pouco, principalmente quando é de um cara que mora comigo e eu preciso ver todos os dias – Ela tentou fazer graça. –Eu não sou muito acostumada com ela. Não por completo, a luz do dia e talz. Eu acho que na verdade Toni nunca nem me viu completamente nua no claro, não to conseguindo lembrar de nenhuma situação. – Meu queixo estava caindo. Como assim? Que cara era esse?
— Você está zoando né? — Ela sacudiu a cabeça negativamente, mas ela parecia achar normal. – Só falta você me dizer que vocês ficavam só no papai e mamãe tradicional toda santa vez – Ela soltou uma risada – Não diga, não quero ouvir uma resposta. – Eu ergui os braços e ela continuou rindo – , olha eu não sou experiente, confesso. Mas eu sei que existem formas de se tratar uma mulher e a primeira regra dessas formas é fazer com que a mulher se sinta desejada, de todas as formas. Como eu vou namorar uma menina, transar com ela e nunca nem ter visto o corpo dela direito? Não, não, isso não ta certo não. – Eu estava revoltado e morrendo de vontade de mostrar pra Julie como eu achava que ela deveria ser tratada.
— Nós éramos novos, .
— Não,isso não é certo não. Sei lá, por isso que eu nunca quis sair transando por aí. Sexo pra mim não tem que ser só físico. O emocional tem que estar ali. Não tem que ser só tesão, tem que ser desejo também, sentimento. Você mesma já falou sobre isso uma vez.
— Pois é, mas não foi. O que é um saco, porque ai eu olho pros dois últimos anos e percebo que eu estava perdendo meu tempo com um cara que não valia a pena, que estava comigo basicamente só pra me comer e que na primeira oportunidade que teve me trocou por outra. E a melhor parte é lembrar que o sexo nem era tão bom assim, então vamos parar de falar do meu relacionamento frustrante e vamos falar de alguma coisa mais interessante e que não envolva a palavra sexo e nem a palavra nudez, por favor? – Ela soltou e por mais que falasse em tom de brincadeira eu sabia que ela falava sério e isso me deu raiva e convicção de que se um dia nós tivéssemos algo, eu iria tentar fazê— la se sentir a mulher mais desejada do mundo, bom, pelo menos do meu mundo.



— Sai desse computador e vai fazer alguma coisa útil da sua vida como me ajudar e arrumar a casa – Minha mãe disse entrando no meu quarto e fechando a tela do notebook no meu colo antes mesmo que eu pudesse dizer alguma coisa.
— Eu poderia fazer alguma coisa útil da minha vida se você me deixasse sair de casa, ah, mas esqueci, você não deixa – Falei irônico e ela revirou os olhos rindo e saindo de dentro do quarto. Joguei o computador em cima da cama e desci as escadas ao seu encalço. – Mãe é só hoje.
, quantas vezes eu vou ter que te dizer que você não tem idade pra isso ainda? – Ela entrou na cozinha e eu bufei revirando os olhos, coisa que ela não viu já que estava de costas pra mim.
— Mãe, eu tenho quinze anos e é uma festa pra pessoas da minha idade. Duvido que você não ia nessas festas quando tinha a minha idade. Eu já vi suas fotos de adolescência tá? Você deveria ser terrível, mulher. – Minha mãe riu abertamente quando eu disse a frase e se debruçou na mesa prendendo os cabelos e pegando um remédio numa cestinha que tinha ali por perto.
— A pior parte é que eu era. Eu adorava sair pra dançar, às vezes beber e ficar com meus amigos na rua até de manhã. Sua vó ia atrás de mim de madrugada quando tinha percebido que eu tinha fugido pra sair. Já passei muita vergonha também, com ela correndo atrás de mim com o tamanco na mão. – Eu ri imaginando a cena. – Sabe o que sua avó costumava me dizer quando eu estava grávida de você? Que ela queria que você me desse só metade do trabalho que eu dei a ela, que ela já estaria feliz.
— Tá vendo! E eu nem trabalho te dou. Minhas notas são ótimas, e outra, se você saia na minha idade, porque eu não posso sair, não faz sentido isso.
— Era uma época diferente, . Não tinha tanta violência, e nem tantas drogas que nem hoje em dia. – A campainha tocou e eu agradeci Paul por finalmente ter chegado para me ajudar a convencê— la
— Que cara é essa? – Eu perguntei assim que abri a porta. Ele estava com a maior cara de puto que eu já havia visto ele fazer na vida. – Brigou com a ?
— Terminamos – Ele disse entrando — Na verdade ela quis terminar.
— Por que? O que aconteceu? – Eu não estava entendendo mais nada.
— Aparentemente ela é muito nova pra estar em um relacionamento tão sério. E disse que quer muito aproveitar seu tempo no colegial e que não quer que se isso não aconteça ela me culpe no futuro, porque vai ser prejudicial pro nosso relacionamento, então ela prefere terminar. – Ele estava extremamente puto e embora tentasse disfarçar estava bem magoado. – Eu briguei com opra poder ficar com ela! Eu apanhei quieto enquanto ele me xingava, fiquei meses me desculpando pra ela pegar e jogar tudo pro alto agora? — Ele suspirou alto – Bom, se ela quer curtir a vida dela então, que curta. Eu vou fazer o mesmo com a minha.
— Que foi Paul, algum bicho te mordeu? – Minha mãe surgiu na sala. Mães não possuíam o dom de serem discreta. Acho que perder a discrição era um dos pré requisitos para se tornar mãe.
e eu terminamos, tia. Agora sou o mais novo solteiro pegador da parada. A senhora precisa deixar seu filho ir a essa festa comigo. Por favor – Ele se jogou no sofá fazendo cara de pidão.
— Pra que? Pra você ensinar meu filho a usar as mulheres e a jogar fora? – Ela se sentou no sofá também e eu acabei fazendo o mesmo.
— Seu filho não é assim, tia. Bem que eu queria que ele fosse, assim eu saberia que eu iria ter um companheiro fiel, mas ele não é. Alguma coisa tá quebrada ai. – Paul tentou me zoar.
— Adoro quando vocês falam de mim como se eu nem estivesse aqui. – Revirei os olhos.
— Eu só penso que eu devo tratar as mulheres da mesma forma que eu gostaria que tratassem, sei lá minha Irmã. Você tem uma Irmã, Paul. Eu não faço ideia de como ela seja, mas se eu ficasse com ela, você ia querer que eu tratasse ela como você quer que eu trate as mulheres?
— A ainda é criança, , Não deve nem ter beijado ainda.
— Não sabia que você tinha uma irmã, Paul. Quantos anos ela tem? — minha mãe perguntou
— 14. Ainda é um bebê,tia.
— Bebê que já pode fazer outro bebê. Assim como você e o .
— Eu sempre uso camisinha, tia. Pode ficar tranquilo. A senhora sabe que se eu engravido alguém minha mãe me lança para fora de casa em dois tempos. Ela já está doida pra voltar a morar no interior, já falou que vai só esperar eu me formar no final desse ano que aí eu fico por minha conta.
— Isso é bom pra você. Vai aprender a ser independente rápido. Graças a Deus ainda falta muito pra você filho, assim eu posso ir me preparando psicologicamente pra quando você for embora e eu precisar ficar sozinha nessa casa grande.
— Mãe você precisa arrumar um namorado. Já tá na hora. Se você não tivesse passado pelo problema, poderia até me arrumar um irmãozinho ou irmãzinha – Minha mãe riu alto da minha ideia maluca. Paul e eu já havíamos tentado juntar minha mãe algumas vezes com caras aleatórios, como o professor de química por exemplo, mas nunca dava certo.
— Ok, essa é a prova de que você tá ficando muito tempo dentro dessa casa. Pode ir nessa maldita festa mas a condição é que vocês durmam aqui quando voltar pra eu ver o estado que vocês vão chegar – Paul e eu ignoramos o aviso porque estávamos comemorando na sala a nossa saída para o que era a festa mais comentada das últimas semanas nós

— CUIDADO! – Acordei no susto, sentando na cama e sentindo meu coração acelerado. Pisquei algumas vezes tentando me situar no tempo e espaço e percebi que estava dentro do meu quarto, no apartamento que eu dividia com , com as luzes acessas e um livro no meu colo. Eu provavelmente havia pego no sono enquanto lia. Sacudi a cabeça afastando os pensamentos do sonho que eu acabara de ter, eu me sentia esquisito. O sonho que era mais uma lembrança havia acontecido com tanta intensidade que eu sentia ainda como se estivesse dentro da minha antiga casa e que a qualquer momento eu poderia ouvir a risada da minha mãe e de Paul. Mas eu não estava. Coloquei o livro pro lado e só então me lembrei que o que havia me acordado havia sido um grito, um grito de . Me levantei pra ir checar para ver se estava tudo bem, mesmo sabendo que ela provavelmente tinha sonhado com o acidente. Isso estava sendo algo frequente. Bati duas vezes na porta e quando ouvi sua voz entrei no quarto que estava quase todo no escuro, com exceção do abajur ao lado da cama que estava aceso. estava sentada com as mãos no peito.
— Está tudo bem? — Perguntei me aproximando e sentando na cama ao seu lado
— Sim, eu só sonhei com o acidente de novo. Só isso. – Seus olhos estavam marejados e eu automaticamente me vi passando as mãos por seus cabelos, tentando aconchega— la.
— Tenta pensar em coisas boas, tenta pensar em lembranças boas e engraçadas dele e não no que você acabou de sonhar, faz que nem da ultima vez que isso aconteceu – Ela acenou positivamente com a cabeça se jogando pra trás, deitando na cama.
— Saco. Odeio esses sonhos que me assustam, mesmo sabendo que isso não é apenas um sonho, mesmo assim eu odeio. Odeio qualquer tipo de pesadelo. — Ela parecia uma criança com raiva, socando a cama embaixo de si e om bico enfezado.
— Na verdade me diz quem gosta? É por isso que eu não assisto filmes de terror, eu sempre fico com medo de sonhar depois e bom, dormir sozinho sempre causa um medinho depois de ver filmes de espíritos.
— Eu amo filmes de terror,mesmo sendo absurdamente cagona. Principalmente se eu tiver que dormir em frente a alguma janela sem cortina.Quando eu estava morando com a minha mãe, eu costumava ver bastante, mas sempre ficava com medo de dormir depois. Na verdade não era medo de dormir, era mais aquela apreensão sabe? Eu subia as escadas correndo, não olhava pra espelhos. Cobria os pés e a cabeça e só deixava o nariz de fora, deixava o abajur aceso, e se na madrugada eu sentisse algum medo eu corria pro quarto da Emma e ia dormir com ela.
— Você ia dormir com a sua irmã de cinco anos quando tinha pesadelos? É isso mesmo? – Eu comecei a rir da sua cara que revirou os olhos.
— Melhor do que dormir sozinha – Ela deu de ombros e caímos no silêncio.
— Bom – Me levantei da cama – Já que está tudo bem e você não sonhou com demônios que podem te pegar e te arrastar para o inferno, suponho que esteja bem pra que eu possa voltar para o meu quarto, certo? – Ela me olhou de uma forma tão diferente naquele momento, seu rosto havia ficado meio vermelho mas mesmo assim ela não havia desviado o olhar, ela apenas sorriu sem graça e parecendo tímida antes de dizer
— Ou você poderia ficar – Ela pareceu uma criança – Só se você quiser, claro. – Eu sorri com o pedido. Não havia forma plausível no mundo de negá— lo.



se deitou ao meu lado e eu senti um certo alívio quando ele fez isso, porque eu sabia que ele não sairia dali e eu gostava quando ele estava por perto. Desde que tudo havia acontecido eu havia me acostumado a tê— lo por perto e na realidade se fosse pra parar pra pensar, eu já estava acostumada com isso antes e eu já estava tendo isso antes de tudo acontecer. Nossa proximidade não era resultado da partida do meu irmão, mas uma continuidade do que estava acontecendo antes, mas só agora isso parecia mais claro na minha cabeça.
— Você também pedia pra segurar a mão da sua irmã quando ia dormir com ela? – falou debochado depois de se deitar e eu me virei de lado, encostando minhas costas na parede para poder encará— lo
— Claro que não. Eu só me enfiava lá debaixo das cobertas dela e de manhã saía dali. Era simples. – Ele se virou na mesma posição. – Desculpa ter te acordado.
— Sem problemas, eu estava sonhando com a minha mãe. Com a minha mãe e o Paul. Era mais pra uma lembrança do que um sonho.
— Sobre o que era? – Eu ficava simplesmente encantada com o brilho em seus olhos quando ele falava da mãe
— O dia em que o Paul chegou na minha casa puto porque a tinha terminado com ele. Ele realmente gostava dela.
— Sim, e é ruim saber que eles perderam tantas oportunidades só porque ela estava com medo dos próprios sentimentos. E ao mesmo tempo não tem nem como julgar, quem não faz isso?
— Eu o tempo inteiro — Ele riu irônico
— Só você? Eu não consegui ir até a minha mãe.
— A vida tem dessas coisas, conforme a gente vai amadurecendo e as coisas vão acontecendo a gente vai conseguindo enfrentar, vai ficando mais corajoso sabe? As coisas vão ficando mais fáceis
— Espero alcançar esse patamar em breve
— Eu também – Ele se acomodou debaixo das cobertas e esticou um braço, passando— o por baixo do meu pescoço e com o outro me puxou pela cintura para mais perto. Eu cruzei minhas pernas na dele e passei meus braços pela sua cintura me acomodando a ele, com seu rosto a pouquíssimos centímetros do meu Era reconfortante estar ali, havia tanta intimidade que eu não lembrava como tinha sido desenvolvida. Só aconteceu, passou a ser natural pra nós – Já que é pra dormir juntos que pelo menos seja de uma forma agradável, porque não existe nada melhor no mundo do que dormir agarradinho. – Concordei acomodando meus braços por trás de seu pescoço sem desviar por um momento o meu olhar do dele.Eu queria aquilo, aquele momento com ele, aquela proximidade, aquela sensação de comichão na minha pele quando ele a tocava, e eu sabia que queria aquilo tanto quanto eu. Eu sabia que ele estava esperando meu tempo, meu momento, minhas confusões se resolverem, que ele estava esperando por mim. Não foi surpresa quando nossos lábios se juntaram e eu não sei dizer se quem fez o movimento foi eu ou ele, só sei que era natural, espontaneo. Como se fizessemos isso sempre.
Dessa vez ao contrário das outras, era mais calmo,muito parecido com a primeira vez. O toque de nossos labbios, o carinho que ele fazia em meu rosto. Meu corpo estava em estado de alerta,mas eu de uma maneira difetente,era uma excitação nova a que eu sentia. Se eu parasse pra pensar, não era só tesão que percorria meu corpo, era um sentimento diferente. Parecido com todas as vezes que ele me olhou e sorriu e eu senti meu coração acelerar, ou quando suas palavras simples que pareciam tocar cada centímetro da minha alma. Era muito mais do que atração, muito mais do que tesão. Eu queria muito mais do que as mãos de percorrendo meu corpo, eu queria ele por inteiro,seus sentimentos, seus medos, seus anseios e angústias. Eu queria seu sorriso, sua voz, seu toque. Eu queria ele. Eu esperava por ele. Eu ansiava ele.Eu precisava dele.Me lembrei de seis meses antes, quando eu havia saído de casa e estava indo morar com Paul. Estava com meu irmão na caçamba do carro enquanto dirigia.
""você vai gostar de conhecer a todos. Acho que vocês vão se dar muito bem" meu irmão havia dito se referindo os seus amigos que ele estava ansioso por me apresentar. "menos o " eu lembro de ter feito questão de frisar e olhar pro garoto que dirigia atento a pista, totalmente aleatório a nós dois lá trás. "talvez você acabe se apaixonando por ele"
Foi o que Paul disse e mal sabia ele que naquele momento ele estava prevendo o futuro, porque era oficial. Era tão óbvio que eu me sentia idiota por não ter me tocado antes: Eu estava completamente, loucamente e totalmente apaixonada por

Capítulo 6





— Acorda! Acorda! – Eu sacudia que dormia parecendo um morto. Havíamos nos beijado por um bom tempo durante a madrugada, até que as coisas parecerem esquentar e resolvemos parar. começou a acariciar meu rosto e eu peguei no sono abraçada com ele enquanto me deliciava com aquele novo mar de sensações que eu não estava nem um pouco acostumada.
Mas agora já era manhã, eu já havia me arrumado para ir ao médico e precisava ir pra escola, mas ele era uma pessoa realmente muito difícil de ser acordado. Puxei suas cobertas de vez e ele acordou fazendo a mesma cara engraçada que ele sempre fazia, cerrando os olhos e fazendo careta.

— Você está atrasado — Eu disse e me virei de costas mais do que rápido, de repente havia surgido um enorme constrangimento ao olhá— lo deitado ali e saber exatamente o que eu sentia por ele.
— Você não vai pra escola? — Ele perguntou se levantando da cama e coçando os olhos, movimento que eu vi pelo espelho enquanto tentava me concentrar inutilmente no meu cabelo que não ficava do jeito que eu queria de maneira nenhuma.
— Tenho ortopedista hoje, provavelmente eu tire o gesso. — Fiz uma dancinha idiota fantasiando com a ideia de finalmente coçar a sola do meu pé livremente e se posicionou atrás de mim.
— Ué, e não quer que eu te leve? — Ele perguntou me olhando através do espelho e eu senti uma enorme vontade que ele me abraçasse e posicionasse sua cabeça entre meus ombros,apenas para que eu pudesse descansar a minha em seu peito e sentir sua respiração.
— Meu pai vai me levar — Me limitei a dizer e dei um sorriso simples que foi correspondido e ficamos ali, nos encarando pelo espelho parecendo dois idiotas que não sabiam muito bem o que fazer.
— Posso? — Ele sinalizou que iria me abraçar e eu acenei positivamente com a cabeça, sentindo que finalmente receberia abraço que tanto queria e fechei os olhos respirando quase que aliviada, quando senti seus braços me envolverem e seus lábios depositarem um beijo no meu ombro, subindo pelo meu pescoço e então na bochecha.
Cruzei meus braços nos seus que estavam na minha barriga e senti vontade de ficar daquela forma pra sempre, só sentindo seu peito subir e descer e sua respiração que bater em meu ombro. — Bom dia, dormiu bem? — Ele disse baixo e eu acenei com a cabeça e fiz um barulho com a boca ainda de olhos fechados. A campainha tocou me forçando a sair do transe que eu estava entrando e eu me soltei de sentindo novamente o constrangimento por me sentir tão envolvida assim. Ter consciência de estar apaixonada era uma coisa, mas estar apaixonada por uma pessoa que também está apaixonada por você é outra totalmente diferente. Seria fácil se Paul estivesse ali pra me dar conselhos e tirar da minha cabeça todas as dúvidas e medos que se passaram nela desde o momento em que abri meus olhos naquela manhã; mas ele não estava e eu precisava lidar com aquilo sozinha. Não era apenas e simplesmente engatar um romance com . Ia muito além disso: Era entender bem o que eu sentia, como isso seria, como afetaria nossa relação caso desse errado, afinal, era um alguém que eu havia aprendido a me importar e os sentimentos dele também significavam algo para mim. E se eu o magoasse? Nós morávamos juntos, não era tudo tão fácil quanto parecia. E ainda havia futuro e eu me perguntava se aquele era o melhor momento pra me deixar envolver.

A ida ao médico com meu pai foi divertida e serviu pra me lembrar o quanto eu gostava de estar com ele. Era difícil ver como ele estava abalado com tudo o que tinha acontecido e parecia ter envelhecido alguns anos em tão pouco tempo. Mas ao mesmo tempo era absurdamente bom ouvir sua risada e fechar os olhos lembrando a de Paul que era praticamente idêntica que eu quase gravei, apenas para que quando meu coração apertasse de saudade eu pudesse escutar aquele som que acalmava meu coração. Pra minha felicidade extrema, o médico decidiu que era a hora de tirarmos o gesso e eu quase dei cambalhotas de alegria. Ele me encaminhou para fisioterapia e me deu uma lista de cuidados que eu ainda tinha que tomar e me perguntou se eu estava indo ao Psicólogo, coisa que eu neguei mas anotei mentalmente que deveria procurar. Seria bom ter alguem neutro ouvindo meus problemas sem achar que eu era totalmente maluca. Ao término da consulta, meu pai pediu companhia pra ir ao shopping fazer algumas compras e então passamos parte do dia ali, andando de um lado pro outro, comprando pra ele roupas novas, ganhei algumas também o que fez minha alegria multiplicar naquele dia que estava sendo diferente e bom. Era realmente muito bom estar com meu pai, eu havia esquecido como ele era espontâneo e engraçado, Paul havia puxado ele nisso.

— Sua mãe me chamou pra passar o natal lá na casa dela – Ele disse em determinado momento da nossa conversa como se fosse algo totalmente normal e esperado e eu parei olhando bem atenta pra ele, só pra ter certeza de que era aquilo que eu tinha ouvido mesmo.
— Minha mãe? Minha? Sara? Estamos falando da mesma pessoa? — Ele soltou uma gargalhada meio anasalada e deu de ombros.
— Temos nos falado bastante desde a morte do Paul, acho que completamente todos os dias. Ela tem se preocupado bastante comigo. — Eu ainda achava estranho aquela informação.
— Tem certeza que estamos falando da minha mãe? Aquela mulher que sempre se referia à você com alguma plavra pejorativa? Achei que ela te detestasse.
meu amor, sua mãe não brigava com você por ser parecida comigo, ela brigava com você por ser parecida com ela, com quem ela era e deixou de ser. O problema dela nunca foi você, eu mesmo já te disse isso. — Dei de ombros. — E ela parece estar querendo mudar, inclusive com você.
— Percebi. Só não sei se tô muito preparada pra toda essa aproximação.
— Paul me contou o que aconteceu ano passado — Me assustei por ele saber.— Embora você não me contasse da sua vida, seu irmão sempre foi um livro aberto sobre tudo. — Abri um sorriso porque eu sabia que era a absoluta verdade.
— Acho que você indo vai ser bom. Minha mãe precisa conviver com pessoas fora do ambiente daquela escola, sabe? Pessoas normais, que façam piadas e não sejam comprometidas apenas com o sistema educacional das pessoas e nada além disso. As conversas deles me entediavam. — Revirei os olhos.
— E você também. — Fiz careta — Ela me prometeu que seríamos apenas nós esse ano, sem o restante da família, sem conselho de escola. Só nós quatro e falou que você pode até levar o se quiser. Pensei em Emma e de como eu nunca mais havia falado com ela desde que havia me mudado e percebi que eu sentia falta e que eu era uma irmã desnaturada, não deveria ser daquele jeito.
— Eu nem sei onde o costuma passar o natal pai. — Tentei desconversar, não tinha pensado na possibilidade do que fazer no natal e não queria pensar naquilo ainda.
— Desde que a mãe dele morreu ele costumava passar com o Paul na casa da Rachel. – Engoli a seco aquela informação e pensei no quanto eu sempre invejei o natal da casa da Tia Rachel. Era sempre com toda família, mesa farta, altas gargalhadas, troca de presentes e brincadeiras, enquanto na minha casa era sempre a ceia fúnebre na mesa onde as pessoas só falavam formalmente e todas pareciam totalmente infelizes em suas casas. Foi impossível não fantasiar com a ideia de Paul estar vivo e todos juntos passarmos o natal na Tia Rachel, e eu juntos. Seria incrível.
— Eu não sei, pai. — Me limitei a responder.
— Eu sei que o último natal foi um inferno pra você e que você ainda está magoada com tudo isso. Mas seria uma coisa mais íntima: você, sua mãe, Emma, e eu. Só. Pensa com carinho.
— Vou pensar, eu juro.
— A propósito, você e o ... – Ele deixou a frase no ar e eu arqueei a sobrancelha tentando entender o que ele queria dizer e se realmente ele entraria no assunto que eu estava pensando que ele entraria.
e eu...
— O que está acontecendo com vocês? E não me venha dizer nada porque eu não sou idiota. Eu vi a forma que vocês se olham. Vocês estão juntos?
— Não.
— Não? — Ele pareceu surpreso com a informação, mas também não pareceu convencido. — Não mente pra mim, . Eu sou seu pai, mentir pro pai é pecado — Soltei uma risada anasalada, porque meu pai vivia contando as histórias de quando ele aprontava com o pai dele e do quanto ele era sortudo por Deus ter lhe dado filhos calmos. – Não precisa mentir pra mim com medo do que eu vou pensar se você me disser que estão juntos e morando na mesma casa. Sei que no início eu parecia um pouco resistente à isso, mas o problema não era o , eu só queria cuidar de você.
— Não é isso, pai. Nós não estamos juntos, mas nos gostamos. É tudo muito novo ainda, e eu não sei explicar direito. O gosta de mim desde que eu vim morar aqui e eu fui me apaixonando por ele aos poucos e agora to um pouco perdida sobre o que fazer. — Suspirei.
— Por que?
— Existem muitas coisas em jogo pra arriscar um relacionamento agora e o não é um cara que só fica. Ele é mais intenso. Eu sei que ele não me magoaria, mas eu tenho medo de magoar ele. — Desabafei.
— Mas vocês já ficaram alguma vez, né?
— Sim, Inclusive antes de tudo acontecer.
— Se vocês se gostam, eu não vejo complicação nisso. A não ser que você esteja com medo de se envolver pelo que aconteceu com o Toni.
— Não é isso. — Talvez meu pai tenha colocado o dedo na ferida e eu resolvi que era hora de mudar de assunto. — Eu só não quero ter que pensar muito nessas coisas por enquanto, deixar acontecer.
— Bom – Meu pai se remexeu na cadeira parecendo constrangido e eu não consegui entender o motivo. – Acho que como seu pai eu me sinto na obrigação de dizer isso, porque vocês são jovens e moram juntos, então, cuidado com a questão sexual, filha. Eu não posso te proibir de fazer sexo, eu mesmo na sua idade estava transando por ai, seu irmão a mesma coisa, mas eu posso te aconselhar – Ele ergueu os braços — Mas se eu puder te dar um conselho: espere até que você esteja preparada ou que você saiba que é um momento especial, Ter certeza dos seus sentimentos pela pessoa. Sempre é melhor assim — Ele soou tão preocupado e atencioso que eu me peguei sorrindo. Meus pais nunca se deram ao trabalho de me mandar tomar cuidado com nada.
— Eu adoraria ter ouvido esse conselho três anos atrás quando eu comecei a namorar o Toni. – Sua expressão ficou paralisada entre: fecho a cara ou finjo um sorriso? – Mas eu prometo que eu vou ouvir seu conselho dessa vez e se as coisas começarem a acontecer eu vou ir devagar. Você só esqueceu de mandar eu me prevenir.
— Então, você e o Toni... – ele não continuou a frase – Eu não sabia que era intenso dessa forma o relacionamento de vocês. Pela forma que a sua mãe falava eu sempre achei que era só uma espécie de brincadeira que vocês queriam fazer conosco.
— Não era. Mas no final de tudo não era nem tão sério assim. Um ano atrás quando acabou eu achei que era uma das piores sensações do mundo, mas agora eu vejo que não era nada comparado a tudo o que tem acontecido ultimamente. Toni e eu foi um erro idiota de criança. Erro que custou minha virgindade, dois anos e uma fossa muito bem vivida, mas que já passou, bola pra frente. – Dei de ombros e meu pai me olhou com carinho.
— Eu estou orgulhoso da forma que você tem enfrentado as coisas, . E eu tenho certeza que onde quer que seu irmão esteja ele está orgulhoso de você.
— Bom, o importante é que ele já não está mais dentro daquela urna feia que você comprou. Ele estaria feliz em qualquer lugar que não fosse aquele. – Eu soei irônica.
— Você entende o que eu quero dizer – Eu acenei com a cabeça – Você está mais madura. A morte do Paul acabou fazendo todo mundo mudar.
— Pois é. — Eu permaneceria a mesma sem problemas se isso o trouxesse de volta pra mim.
— Sua mãe também está se esforçando. Deixa ela se aproximar.
— Ela foi na minha casa, fez a comida, conversou sobre a vida, me contou sobre um monte de coisas e eu estava lá. Eu também estou tentando.
— Ela falou sobre você na revista, você leu? – Sacodi a cabeça negativamente e ele me entregou um exemplar.— Leia quando se sentir à vontade. Emma sente a sua falta. – Acenei com a cabeça, sentindo um bolo na minha garganta ao ouvir o nome da minha irmã que eu já não via a alguns meses.
— Eu vou pensar, ok? Não prometo que vou a lugar nenhum e nem que se eu for eu vou estar no clima, mas eu vou pensar, ok? – Meu pai acenou positivamente com a cabeça, dando aquele assunto por encerrado.

Conseguimos emendar em outro assunto aleatório sobre seu trabalho e minha futura escolha de profissão. Ficamos por pelo menos mais uma hora dentro do restaurante apenas batendo papo sobre nossas vidas e eu nunca me senti tão bem perto do meu pai. Eu havia esquecido o quanto ele era uma pessoa engraçada e fácil de se estar por perto. Ao me deixar em casa, ele me lembrou de pensar direitinho sobre o convite pro natal e sobre a questão de esperar o momento certo para fazer “determinadas coisas” o que me fez rir e sentir uma coisa boa no meu estômago devido a sua preocupação e cuidado. Eu me sentia cuidada, era boa essa sensação, eu só havia me sentido assim com Paul durante a minha vida inteira.
Quando eu cheguei no apartamento estava trancado dentro do próprio quarto. Eu decidi que iria pro meu pra estudar mas gastei mais tempo pensando na vida do que estudando propriamente. Eu estava apaixonada por esse era o fato. O que fazer dali pra frente que estava consumindo minha mente e pensamentos e deixar acontecer naturalmente foi a conclusão que cheguei que seria melhor. Ver como meus sentimentos reagiriam, fluíram e evoluíram e enquanto eles se organizavam, eu tinha a oportunidade de no meio de um monte de caos, tentar fazer alguma coisa dar certo. No meio desse pensamento me lembrei da revista que meu pai me deu e folheei as páginas até achar duas fotos que davam capa à entrevista. Uma era antiga, eu tinha a idade de Emma quando foi tirada, e outra era Emma na mesma posição. Era como se eles tivessem tentado reproduzir a mesma foto. A entrevista com a minha mãe começava de forma técnica, até que acabou entrando na vida pessoal e foi aí que eu me surpreendi com um trecho da entrevista:
“Eu errei muito pra chegar onde eu estou agora, e um dos meus erros me custou um bom relacionamento com a minha filha mais velha, que hoje em dia não mora mais comigo. Eu coloquei meus negócios na frente de cuidar da minha família, me preocupei mais com as crianças dentro do colégio do que com a criança que eu tinha dentro de casa e esse é um preço que se eu pudesse voltar no tempo eu não pagaria. Tenho tentado aprender com esses erros e não reproduzir o mesmo com minha filha mais nova, mas os erros que cometi com a mais velha não podem ser desfeitos, então eu falo que não vale a pena sacrificar determinadas coisas em prol do sucesso. Por que no fim,o sucesso não compensa família."
Aquilo me fez pensar em segundas chances e oportunidades e mais propriamente em família. Minha família era uma bagunça mas ainda assim eu a tinha e estava ali nas minhas mãos a oportunidade de tentar fazer dela algo significativo pra mim. Eu ainda tinha essa oportunidade e essa chance. Eu havia prometido à Paul, que sempre que algo me desse medo e me fizesse recuar, eu iria com medo mesmo. E lidar com os meus problemas com minha mãe era fazer isso. Foi com esse pensamento que eu levantei e me encaminhei até a porta do quarto de , batendo duas vezes antes de ouvir um entra e colocar a cabeça pra dentro. Ele estava sentado na escrivaninha estudando e me olhou com os olhos cerrados, olhar esse que me fez ter vontade de sorrir e eu me lembrei da conclusão que eu havia chegado na noite anterior.

— O que você acha de passar o natal com a minha família?

Capítulo 7



Eu mal podia acreditar que estava parada em frente a casa da minha mãe depois de tanto tempo. Para alguns seis meses poderia parecer uma coisa insignificante, mas eu nunca havia ficado mais do que quinze dias longe daqueles portões. Era estranho estar ali como “visita” agora.

— Eu continuo achando que essa não é uma boa ideia — estava parado no lado do motorista e resmungando enquanto enrolava pra sair do carro, o que pra mim era até que bom, pois me dava tempo de processar.
, eu já te falei que ela não tem nada contra você. Não é você o problema, é a filha dela de dezessete anos morar com um garoto de dezoito. Ela acredita que você vai me levar pro mal caminho, me engravidar e logo em seguida sumir no mundo. Só isso. E é como diz: quando ela conhecer você, tenho certeza que vai se apaixonar.
— Você se apaixonou quando me conheceu melhor? — Ele tentou fazer uma cara sexy e eu revirei os olhos. Alguns dias tinham se passado desde que havíamos ficado e as coisas fluíram bem, estávamos atarefados com a escola e corridos. havia inventado de fazer compras de natal, o que me demandou muito tempo com ela e pouco com .
— Não se ache tanto. Vamos? Eu pulei do carro e peguei minha mochila na parte traseira e fez o mesmo ainda bufando e resmungando algo, ele parecia estranho. — — Parei na sua frente muito próximo, mas estávamos tão acostumados um com o outro que já não era mais estranho. — Você quer ir embora? — Ele franziu a testa.
— Não. — Respondeu convicto.
— Tem certeza? — Eu segurei seu rosto com minhas mãos — Se você quiser ir, não estiver se sentindo à vontade eu entendo, ok? Não precisa estar aqui só porque eu pedi. — Ele sorriu como se tivesse tendo um momento de clareza.
— Você entendeu tudo errado. — Ele sorriu de lado e abaixou um pouco a cabeça, quase grudando sua testa na minha — Você sabe que eu sou totalmente apaixonado por você, e não tenho nenhum pingo de vergonha de dizer isso, certo? — Ele não esperou minha confirmação para continuar — E sendo como eu sou, tudo o que eu queria era que sua mãe gostasse de mim, pelos motivos certos. Eu queria poder chegar aqui hoje e impressionar ela ao ponto dela sair dizendo: filha,você deveria casar com esse cara. — Eu abri um sorriso idiota e senti meu rosto quente, quando falava coisas daquele jeito, eu sentia como se ele tivesse tirando minha roupa com as palavras. — Mas ao invés disso, eu vou ter que fingir que você é só uma amiga, que eu não morro de vontade de te beijar todas as vezes que você entra no meu campo de visão. Que os últimos dias não foram uma tortura, porque você esteve longe a maior parte do tempo e que eu sou só um cara legal e não o genro que toda sogra pediu a Deus.— Ele deu de ombros. — Tudo isso porque eu quero te apoiar a tentar reconciliar sua mãe e ela saber que você esteve se pegando com o cara que mora com você e ela não gosta, não vai te ajudar nisso. — Ele deu um beijo na minha testa e saiu andando em direção a porta.
— Você é muito convencido, alguém já me disse isso?
— Já — Ele abriu um sorrisão e parou esperando que eu abrisse a porta. Eu tinha a chave e eu poderia fazer aquilo, mas eu não morava mais ali, agora eu era uma visita e era dessa forma que eu deveria me portar. Então me limitei apenas em apertar a campainha.
— Hey — Eu disse quando minha mãe abriu a porta e tentei sorrir o mais naturalmente possível. Ela abriu os braços e me abraçou calorosamente, me puxando pra dentro de casa e logo em seguida fazendo o mesmo com o .
— Eu estou tão feliz que vocês vieram –Era estranho vê— la distribuindo abraços, ela nunca abraçava. E era estranho abraçar a minha mãe porque eu não conseguia sentir aquela coisa gostosa que eu sentia quando abraçava o , ou meu pai e até mesmo . Quando eu a abraçava eu sentia um nó na minha garganta com mágoas que eu sabia que eram prejudiciais a mim e ao nosso relacionamento.— Eu estou muito feliz que você está aqui! — Ela segurou em minhas mãos sorrindo, mas eu conseguia ver em seus olhos um pouco de tristeza pelo meu abraço frio e eu não iria me culpar por isso. Entramos pela sala de espera e comecei a reparar em toda decoração natalina que já era praxe de todos os anos. Natal e eu não poderia deixar de lembrar que havia sido neste mesmo feriado no ano anterior que tudo havia começado a desandar por completo, que havia sido ali que havia sido dado o pontapé inicial para que eu saísse de casa alguns meses depois. Era esquisito voltar ali exatamente nesta data.
— Meu pai já chegou? — Perguntei entrando e entrou atrás de mim
— Ainda não. Sabe como ele está sempre atrasado. Mas pelo menos ele vai passar pelo mercado e trazer tudo o que eu preciso. — Ela revirou os olhos e riu.
— O que foi? — Cochichei tentando entender a graça.
— É que vocês duas fazem esse gesto de revirar os olhos exatamente da mesma forma. Quando sua mãe fez isso foi como se eu te enxergasse ali mais velha. — Aquilo serviu pra que eu cerrasse os olhos pra ele, mas ele não se importou.
— Eu sempre falei pra t que éramos parecidas, mas ela nunca acreditou em mim — Me surpreendi por ela estar prestando a atenção ao que falávamos e depois me senti idiota, óbvio que ela nos vigiaria o final de semana inteiro. — Somos muito mais parecidas do que ela imagina, . — Ela abriu um sorrisão e eu comecei a pensar que ela deveria estar drogada por estar sorrindo tanto assim.
— Eu preciso ir buscar a Emma na casa de uma coleguinha e já volto. Fiquem a vontade. O vai ficar no quarto de hóspedes junto com seu pai e o seu quarto está arrumado pra você. Eu não demoro, só estava esperando mesmo vocês chegarem pra ir busca— lá — Concordei com a cabeça e peguei a bolsa que eu havia colocado no chão e segui pela sala, seguindo em seguida pro segundo andar.
— Uau, a sua casa é enorme! — comentou e eu percebi que havia me esquecido disso.Ela realmente era enorme. Talvez apenas a sala equivalesse a todo o nosso apartamento. Os quadros na parede, a pintura perfeita, aquele cheiro de casa limpa. Eu simplesmente havia detestado tudo aquilo durante tanto tempo, e agora nao fazia diferença pra mim. Quando chegamos em frente a penúltima porta do corredor eu abri, e tomei um susto ao notar que o meu quarto estava ainda da mesma maneira de antes. Aquilo pra mim foi um baque enorme que quase fez com que eu caísse para trás.
— O que foi?
— Meu quarto está igualzinho. Igualzinho . Eu esqueci essa revista aqui no dia que eu arrumei as minhas coisas pra ir embora — Eu segui até a minha escrivaninha pegando a revista. — eu achei que a primeira coisa que ela fosse fazer fosse tirar todos os meus pôsteres da parede e jogar fora meus cds e — Eu parei quando olhei a parede em cima da minha cama e contemplei a minha coleção de bonecas — As minhas bonecas estão diferentes.
— Cara – disse em um tom estranho e quando eu o olhei, percebi que segurava o riso. — Você tem uma coleção de bonecas. — Ele estava boquiaberto.— Quem é você? — Eu comecei a rir da sua cara e de repente um corpo magro vestido com um vestido lilás surgiu pela porta do meu quarto gritando o meu nome e se jogou na minha direção me abraçando pela cintura.
! — Emma afundou o rosto na minha barriga.Meu deus, como ela estava grande.
— Emma — Eu falei também e assim como o abraço da minha mãe, eu não soube ser muito receptiva ao dela e dessa vez a culpa era inteiramente minha e eu deveria sim me sentir mal e culpada por isso. Eu tinha tanta raiva dela ser a predileta da minha mãe que nunca consegui ser pra ela nem metade do irmão que Paul era pra mim – Minha mãe não estava indo te buscar? – Olhei pra baixo e ouvi um soluço — Hey você está chorando? Por que você está chorando?— Aquilo me assustou pra caralho, ver a minha irmãzinha que eu não tinha me dado ao trabalho de falar nos últimos meses me abraçar chorando. Desgrudei os braços dela da minha cintura, quando percebi que ela não me soltaria e me abaixei pra ficar um pouco da sua altura. — O que aconteceu?
— Eu te amo tá? — Ela falou quando eu a encarei — Quando minha mãe falou que você tinha sofrido um acidente e ela saiu correndo pra te ver, eu fiquei com tanto medo de que você tivesse morrido e nunca mais voltasse pra casa — Ela soluçava daquela forma que crianças fazem — Com mais medo do que eu fiquei quando você foi embora e eu penteei as suas barbies, porque elas estavam feias. Eu achei que quando você voltasse você ia brigar comigo porque elas estavam fora do lugar, mas que depois ia ficar feliz porque elas estão bonitas, mas você nunca voltou. — Aquilo partiu meu coração em mil pedaços e o reconstruiu para parti— lo de novo. Eu me senti o ser humano mais filho da puta da face da terra. Eu deveria passar para Emma a mesma sensação de segurança que Paul sempre havia passado pra mim, mas eu havia falhado nisso.
— Eu to aqui agora — Falei a abraçando e sentindo meus olhos marejados. Eu sem sombra de dúvidas era o ser humano mais egoísta do mundo, Eu nunca havia feito nada pra merecer, mas a minha irmã me amava e estava chorando com medo de que um dia eu nunca mais voltasse pra casa. Eu a abracei e a apertei até que ela começasse a rir e a reclamar que eu iria quebrá— la . Quando eu ergui os olhos pra e ele estava me olhando sorrindo e com os olhos marejados, se duvidar ele começaria a chorar. Me ergui e olhei pra direção de onde as minhas barbies estavam. — As barbies estão lindas
— Tem certeza? – Ela olhou apreensiva.
— Absoluta. Emma, deixa eu te apresentar: Esse daqui é o meu amigo – Ela apertou a mão de e se apresentou a ele totalmente educada, quase como uma adulta.
— As barbies da sua irmã eram muito diferentes do que estão agora, Emma?— perguntou e eu me sentei na cama, batendo no espaço ao meu lado para que ele fizesse o mesmo e Emma subiu em cima da mesma pegando uma das minhas barbies.
— Essa daqui foi a que deu mais trabalho. O cabelo dela estava horrível e minha mãe quase me matou porque eu gastei seu condicionador pra tentar ajeitar o cabelo dela – Ela começou a contar suas histórias e nós dois ouvimos, rindo e interagindo com minha irmã que parecia extremamente mais inteligente do que da ultima vez que eu a tinha visto. Ela havia contado que estava tão ansiosa pra me ver que pediu pra mãe da colega dela trazê— la porque não queria mais esperar minha mãe ir buscá— la. Nós ficamos ali conversando até o momento em que minha mãe apareceu no quarto, nos convidando a descer e ajudar na cozinha pois ela iria preparar a ceia sozinha, coisa que ela nunca tinha feito na vida e estava tendo algumas dificuldades. Levei até o quarto em que ele ficaria e depois de estar devidamente acomodado ele desceu comigo.
— Pronto, estamos aqui do que você precisa de ajuda? – Eu disse quando cheguei à cozinha. Meu pai estava entrando pela porta de trás, trazendo um monte de sacolas e só então eu reparei em algumas outras que já estavam espalhadas por ali. –Mãe, você pretende fazer a ceia pra quantas pessoas? Trinta? – Eu ri começando a desempacotar as coisas que estavam por ali e começou a nos ajudar em silêncio, ele ainda parecia extremamente sem graça.
— Eu sei o quanto você e seu pai gostam de doce então eu talvez tenha dado uma exagerada na quantidade de coisas que pretendo fazer – Ela parecia completamente perdida.
— Oi minha filha – Meu pai voltou pra dentro da cozinha trazendo o que parecia ser a última sacola – Sua mãe me fez comprar quase o mercado inteiro – Ele me deu um beijo na testa e voltou pra abrir geladeira e pegar água. Ele havia feito aquele gesto com tanta intimidade que eu havia me perguntado se ele já havia estado ali antes mas pela cara da minha mãe não. Ela parecia assustada e feliz com a atitude dele de agir como se estivesse em casa e havia um sorriso diferente em seu rosto, um que eu nunca tinha visto.
— Tô percebendo. Mãe e quantas dessas sobremesas e até mesmo comidas que você planejou fazer, você realmente sabe fazer? – Minha mãe levou o dedo a boca e começou a rir.
— Bom, nem todas mas a internet está aí pra isso – Nós começamos a rir e ela mordeu os lábios.

e eu começamos a conversar sobre o que sabíamos fazer para podermos ajudá— la, mas ela fez questão de frisar que queria preparar tudo sozinha e que aquele era um feriado para nós descansarmos a única ajuda que ela queria era na organização. Após guardada as coisas que não precisaríamos naquele momento, começamos a nos organizar para pelo menos ajudá— la a temperar o peru. Mal tínhamos começado a fazer isso quando a campainha tocou, minha mãe pareceu surpresa e perguntou ao meu pai se ele estava esperando alguém que negou com a cabeça como se fosse a coisa mais óbvia, afinal, ele não morava ali. Minha mãe deu um grito avisando a Emma que ela atenderia a porta e saiu da cozinha resmungando algo baixo sobre pessoas que apareciam sem avisar. Ela detestava ser pega de surpresa em qualquer coisa, minha mãe era uma pessoa extremamente controladora e organizada e talvez esse tenha sido o início da nossa divergência já que eu havia puxado o meu pai no lado desorganizado e distraído. Eu conseguia lembrar das inúmeras vezes que ela havia aparecido no meu quarto e me acordado aos gritos falando que eu precisava arrumá— lo e ser organizada e mais madura e sempre cobrando coisas. Essa era a imagem que eu tinha dela durante todo o tempo que eu havia morado naquela casa, ela estava sempre me cobrando coisas, nunca me dando nada. Pelo menos nada que não fosse material. Esse pensamento mexeu comigo, porque essa era uma das mágoas que eu tinha dela, ela nunca me dava apoio, ela nunca havia demonstrado preocupação comigo, carinho ou cuidado, pelo menos não que eu pudesse perceber. Um ano atrás que tudo havia sido demonstrado da pior forma e havia sido naquela situação que eu havia chegado à conclusão de que eu não era uma pessoa amada pela minha mãe, e isso havia doído demais.
Minha mãe apareceu na cozinha com a cara branca e assustada e antes que pudéssemos falar alguma coisa ela começou a disparar as palavras.

, eu juro que eu falei pra sua tia que não era pra eles virem, que esse ano seríamos apenas nós, que eu precisava de um tempo com você. Expliquei à ela que eu queria que nada desse errado e — Minha mãe não precisava completar a frase porque eu já sabia o que estava acontecendo. Eu não conseguia entender se eu estava puta, irritada, magoada ou surpresa porque de forma nenhuma minha mãe poderia estar fingindo aquela reação de espanto e embaraço que ela estava demonstrando naquele momento. – Eu falei pra ela ir mas ela disse que não vai embora. – Fiquei um tempo processando a ideia e me olhava sem entender o que estava acontecendo.
— Ele veio também? — Perguntei e minha mãe acenou com a cabeça fazendo uma cara sofrida. Eu havia me prometido enfrentar meus medos e problemas e esse era só mais um deles, então já que era pra matar, que eu matasse logo dois coelhos com uma cajadada só.
— Tudo bem, mãe. Somos uma família, uma hora todo mundo ia ter que se reunir. — Tentei tranquilizá— la e meu pai também me olhava sério e preocupado.
, você tem certeza? Eu posso ir lá e mandar todo mundo embora, eu não sou mais da família, não fica feio pra mim. — Eu ri da posição do meu pai e dei de ombros.
— Tá tudo bem. Sério. vocês não precisam se preocupar. — Voltei a fazer o que eu fazia e minha mãe saiu da sala.
— Qual seu problema com sua tia? — cochichou do meu lado curioso.
— Você sabe!
— Não, eu não sei. Até agora eu nem sabia que você tinha uma tia. — Ele falou como se fosse óbvio.
— O problema não é ela, mas o filho dela! — Ele continuou sem entender — Toni,.
— Seu ex namorado? — Ele falou um pouco mais alto. — Vocês são primos? — Ele sussurrou como se estivesse confessando um crime, assustado e com uma expressão digna de filmes de comédia.
— Eu nunca te contei isso? – Ele acenou a cabeça negativamente.
— Você basicamente me contou nada sobre ele, na verdade — reclamou ficando emburrado e eu achei fof e percebi que ele havia ficado com ciúmes. Então fomos chamados a atenção pela voz alta da minha tia Hellen que entrava na cozinha seguida de seus dois filhos: Hanna e Toni.
— Eu sei que você provavelmente está me odiando, mas eu não poderia deixar que algo que é tradição a mais de quarenta anos fosse quebrado por um capricho adolescente – Ela entrou na cozinha esbravejando naquele tom quase hilário que só ela tinha e parou na minha frente, segurando meu rosto com suas mãos gordinhas e quentes e que tinham um dos toques que eu mais gostava. – Como você está bonita! – Ela me segurou nos braços falando daquele jeito que só ela falava e então me deu um de seus deliciosos abraços super apertados. Minha tia Hellen era uma pessoa engraçada, totalmente diferente da minha mãe. Cinco anos mais velha era mais baixa e também mais cheinha. Ao contrário de minha mãe, ela era aberta, divertida e falava as coisas na cara sem se importar com nada. Isso era o que eu mais admirava ela. –Sinto muito pelo Paul, querida. — Ela me lançou um olhar comparecido antes de me soltar. — Quem é vivo sempre aparece — Ela olhou pro meu pai se seguiu em sua direção lhe dando um abraço. — To sentindo cheiro de reconciliação no ar? — Ela falou ao soltar meu pai e minha mãe ficou absurdamente vermelha e a repreendeu. Toni e Hanna estavam parados na entrada da cozinha. Hanna como sempre mexendo no telefone, mas Toni pela primeira vez, agia como se aquele fosse um lugar totalmente desconhecido. Ele estava absurdamente sem graça e olhar pra ele fez meu coração saltar. Não era de paixão, amor ou qualquer sentimento amoroso. Era mágoa, mágoa misturada com saudade.
— Vocês dois vão ficar parados aí nessa porta parecendo dois de paus? Entrem e comprimentem as pessoas. Toni não queria vir, mas eu o obriguei. Você se lembra o que eu disse pra vocês quando descobri de vocês dois? – Eu havia pensado por um milésimo de segundo que poderíamos apenas agir como se nada tivesse acontecido, eu evitaria Toni, ele me evitava e assim passaríamos bem o nosso natal, eu só havia esquecido que minha tia desconhecia o significado da palavra descrição.
— Sim, tia eu lembro.
— Pois bem, Sara – Ela se virou pra minha mãe – Ela se lembra do que eu disse a ela quando esses dois começaram isso. Eu avisei que eles eram família e que não me interessava como aquilo iria terminar, mas que depois que terminasse eles teriam que continuar sendo família e que isso não iria mudar e que eles iriam ter que encarar as consequências, então agora eles estão lidando com isso – Ela fez um gesto engraçado com as mãos apontando pra nós dois e logo em seguida olhou para e fez uma expressão curiosa — E parece que você superou meu filho muito bem! – Ela puxou pra um abraço e o rosto dele ficou vermelho assim como eu tinha certeza de que o meu havia ficado. – Eu sou Hellen, madrinha dessa criaturinha aqui.
— Sou – Ele respondeu sendo solto e olhando pros meus dois primos que estavam por ali e mais especificamente pro de sexo masculino.
— Aqueles são meus filhos: Hanna e Toni – acenou com a cabeça pra eles – E então, sua mãe me disse que iria fazer a ceia sozinha, você realmente acredita que ela é capaz? – Minha tia disse em tom brincalhão e se aproximou mais do balcão, olhando pras coisas que tínhamos separado.
— Honestamente não. – Respondi me afastando dela e indo cumprimentar Hanna. Dei um beijo e um abraço nela e reparei seu olhar sobre . Hanna era uma adolescente chata, mimada e metida. Aquela típica patricinha nível Sarabeth. Desde pequena ela sempre se achou superior aos outros, o que fez com que eu nunca fosse próxima dela, mesmo nós duas tendo basicamente a mesma idade.
— Crianças, podem ir curtir o dia que a mamãe aqui vai ensinar a queridinha ali como se comanda uma cozinha – Minha tia disse e logo em seguida começou a expulsar todos nós da cozinha; Segui com para o segundo andar o convidando para ir até o meu quarto e só quando chegamos lá que eu consegui respirar aliviada.
— Você nunca me disse que o Toni era o seu primo – se jogou na minha poltrona e começou a mexer os meus CDs. – Sua mãe não surtou ao descobrir de vocês?
— Não, ela achava que o que tínhamos era apenas uma invenção para que ela não achasse mais que eu era sapatão. Como o Tonie eu sempre fomos muito amigos, ela acreditou que ele estava mentindo por mim.
— Sério? Mas ela chegou a ver vocês dois juntos alguma vez?
— Não, a Tia Hellen que pegou a gente se beijando e nós contamos pra ela que estávamos juntos. E ela me disse aquilo que você ouviu ali embaixo, e depois conversou com a minha mãe que levantou essa teoria. Ela só passou a acreditar no que tinha acontecido com a gente quando nós terminamos.
— E o que aconteceu com vocês? Como vocês terminaram? – Ele me encarou e era engraçado vê— lo tentar disfarçar a curiosidade.
— Ele terminou comigo, mas esqueceu de me avisar que estava terminando e então no natal do ano passado ele apareceu aqui em casa com a namorada. – A cara de foi tão engraçada que eu quase ri se não fosse algo que tivesse me deixado extremamente magoada.
— Como ele pode fazer isso?
— Eu não faço ideia. Toni era o meu melhor amigo. Eu confiava nele cegamente, tivemos uma quantidade absurdas de primeiras experiências juntas, mas pra ele nada teve significado nenhum. Ele sempre soube de todos meus medos, inseguranças e neuras mas nada disso fez com que ele pensasse em pelo menos, sei lá, me avisar sabe? Terminar comigo nem que fosse por telefone. — Eu comecei a pela primeira vez verbalizar minha mágoa e prestava totalmente a atenção. Eu sempre carreguei em mim a ideia de que eu não era o suficiente, nada no mundo me fazia tirar isso da cabeça. Eu não era boa o suficiente pra minha mãe, na escola, pros amigos. Ele e Paul eram as únicas pessoas no mundo que me faziam sentir realmente bem, agora um deles está morto e o outro me traiu. — Eu sorri amarga — Olha que delicia minha vida. — levantou os olhos pra mim e começou a falar bem sério.
— Eu poderia dizer que você tem a mim, mas você precisa entender que você não precisa de ninguém pra te fazer se sentir o suficiente, só você mesma. Você é muito melhor do que tudo isso que aconteceu e está acontecendo com você. — Ele abaixou os olhos pra minha caixa de CDs que estava em seu colo — Às vezes, eu só queria poder te dar meus olhos pra que você conseguisse se enxergar como eu te enxergo. — Ele sorriu sozinho e eu fiz o mesmo olhando pro meu reflexo no espelho do outro lado do quarto. — Eu não acredito que você gostava de My Chemical Romance — Ele mudou de assunto erguendo o CD rindo copiosamente e eu revirei os olhos iniciando uma longa discussão sobre meus antigos gostos musicais, o que de certa forma foi bom, ainda existiam algumas coisas pra processar.

Flashback


Preciso falar com você. É urgente.

Recebi a mensagem de Toni e no momento em que eu apertava o botão para retornar a ligação minha mãe entrou em meu quarto.

— Você ainda está assim? Eu já não mandei você ir tomar banho? Daqui a pouco sua tia chega, todo mundo chega e você ainda vai estar desse jeito, parecendo uma mendiga. – Ela avançou pro meu guarda roupa e o abriu sem nem mesmo pedir autorização. – , eu chamei algumas pessoas do conselho da escola pra virem pra cá e eu preciso que pelo menos uma vez na vida eles te vejam apresentáveis. Eles te veem assim todos os dias e a justificativa é o colégio,mas fora dele não tem como eles te verem assim, o que vão pensar de mim? Você vai colocar esse vestido aqui, que eu comprei a séculos mas que você nunca usou. Ok? — Eu continuava parada no mesmo lugar apenas observando enquanto ela entrava e dava ordens – Eu falei ok, . Você me ouviu?
— Ok, mãe – Ela acenou com a cabeça
— E vê se lava esse cabelo e penteia ele direito, passa algum creme pra tirar esse volume, já que não dá mais tempo de você fazer uma escova,não sei. Te quero pronta em no máximo quarenta minutos – Ela saiu do quarto seguindo pro quarto de Emma e eu apenas revirei os olhos jogando meu telefone na cama. Toni estava a caminho, então qualquer coisa que ele precisasse falar,poderia muito bem falar pessoalmente.

Eu estava terminando de me arrumar quando minha mãe entrou no quarto me avisando que minha tia havia chegado. Foi impossível não sorrir, eu estava com saudades de Toni. Três meses desde a última vez que havíamos nos visto. Ele estava no último ano, o que estava tornando cada vez mais difíceis suas vindas para minha cidade.
— Esse vestido ficou ótimo – Ela olhou pro meu corpo. Eu havia odiado profundamente aquele vestido. – Mais bonito do que o que a namorada do Toyi está usando. – No momento em que ela disse aquela frase eu senti todo o meu corpo gelar dos pés a cabeça.
— A o que?
– Toni entrou no meu quarto esbaforido e se surpreendeu ao ver minha mãe ali. Eu sentia como se tivesse acabado de levar um soco no estômago.
— A sua o que está aqui? – Eu perguntei a ele assim que seus olhos voltaram a me encarar.
— Namorada. A namorada dele está aqui. Sua tia Hellen me ligou mais cedo pra me dizer que havia convidado ela, qual o problema? Já está na hora de vocês superaram esse negócio que tiveram ou fingiram ter – Minha mãe disse não percebendo nada que estava acontecendo e saiu do quarto em seguida.
– Ele colocou a mão na cabeça – Eu posso te explicar, mas não existe explicação no mundo que vai me fazer parecer certo ou fazer você me desculpar. – Eu continuava parada no mesmo lugar, com o mesmo brinco em mãos enquanto tentava fazer minha mente entender o que estava acontecendo. Tinha um bolo subindo pela minha garganta e eu tinha certeza que eu não conseguia engoli— lo – Eu conheci uma menina numa dessas visitas que a gente faz a faculdade e nós começamos a nos encontrar. No início não era nada demais, mas eu ainda assim me sentia mal porque nós tínhamos algo, mas ao mesmo tempo era diferente. Eu gosto de você, mas eu também gosto dela. E então minha mãe a conheceu, fez o convite e ela aceitou e eu não sabia como te dizer isso, assim como eu não sabia como dizer a ela pra não vir. Eu queria te contar, eu não queria te magoar assim como eu não queria magoá— la. – Eu me sentia ridícula porque eu estava chorando. As lágrimas desciam dos meus olhos e eu me sentia a pessoa mais ridícula do mundo por estar ali sendo humilhada daquela forma. – Me desculpa – Ele se aproximou de mim com os olhos marejados e eu me afastei.
— Você poderia ter terminado comigo quando começou com ela. — Eu estava soluçando. — Ou ter me avisado, nós sempre fomos amigos, Toni pq vc só não falou? Eu achei que falássemos tudo um pro outro.
— Eu não sabia como. Eu odeio o que eu fiz e estou fazendo,
— Ela sabe que a gente já tem alguma coisa? Ou melhor, teve?
— Não. Eu não quis que ela se sentisse estranha por estar aqui e.
— Sai daqui,Toni – Eu pedi e odiei o tom que a minha voz saiu com os soluços quase cortando a frase no meio.
– Ele passou a mão pelas minhas costas e eu não contive minha raiva e gritei pra que ele saísse de perto de mim. – Me desculpa. Me desculpa mesmo. –Tudo o que passava na minha cabeça era que em dois anos juntos e dezesseis anos de amizade ele havia preferido magoar a mim e não a ela. Ela valia a pena e não eu.
— O que está acontecendo aqui? – Minha mãe voltou ao quarto furiosa. – Por que você está gritando? Tem visita lá em baixo, você sabe muito bem disso. Toni saiu do quarto no instante que minha mãe entrou e quando ele saiu eu me senti desmoronar mais ainda, meu choro silencioso se transformou em soluços fortes e minha mãe continuou parada ali, olhando pra mim como se tentasse entender o que estava acontecendo. Ela não se aproximou de mim, ou disse qualquer palavra, ela apenas ficou ali me olhando com raiva esperando por uma explicação pro meu grito.
— O que você quer que eu diga? Eu não vou descer. Eu não vou fazer papel de ridícula sentando pra jantar na minha casa e na mesma mesa onde o idiota do seu sobrinho vai estar com a namorada que ele tem e esqueceu de me comunicar que tinha e também do nosso término. – Eu disse jogando o brinco que ainda estava nas minhas mãos em cima da cama.
— Então é isso? Esse coisa de vocês não era brincadeira? Vocês realmente estavam tendo algo sério? – Ela pareceu se tocar disso apenas naquele momento. Acenei com a cabeça e quando eu achei que pela primeira vez ela iria me confortar, ela fez exatamente ao contrário. – E você vai ficar ai agora chorando que nem uma louca por causa disso? Pelo amor de Deus, ! Você deveria ter pensado antes. Você acha realmente que os caras vão querer manter algo sério com você? Andar pelas ruas com você do jeito que você costuma andar? É só olhar pra garota que o Toni trouxe que você vai ter certeza que não. Ela é o tipo de garota que os garotos na idade de vocês querem sair e era daquele jeito que você deveria ser. Você deveria usar isso pra se inspirar e se empoderar ao invés de ficar ai chorando pelos cantos – Ela usou seu tom superior pra falar, me olhando como se eu fosse a coisa mais insignificante do mundo. –Eu te avisei várias vezes que você deveria mudar,mas você não me ouviu em nenhuma delas e foi isso que aconteceu. – Eu comecei a engolir as lágrimas e os soluços que subiam na minha garganta enquanto minha mãe proferia suas palavras que me atingiam que nem chicote. Eu não conseguia entender o que me magoava mais: as palavras dela ou as palavras dele.
— Eu não vou descer. – Eu disse parando em frente ao espelho e soltando meu cabelo.
— Sim, você vai – Ela usou novamente seu tom autoritário.
— Não, eu não vou descer e sentar lá!
— Sim você vai, e sabe por que? Porque você está na minha casa e enquanto você estiver morando debaixo do meu teto e sendo sustentada por mim, você vai fazer exatamente aquilo que eu mandar – Ela falou em tom de ameaça antes de se dirigir pra porta – Você tem dez minutos.

Flashback off


— Sabia que ia te encontrar aqui — Não precisei olhar pra trás pra saber que Toni se aproximava e nem me mexi, continuei olhando pro ponto aleatório a minha frente enquanto sentia ele se sentar ao meu lado. — Tá tudo bem?
— O que você quer?— Fui curta e grossa, me virando para encara— lo e foi incrível como seus olhos escuros e cabelos caídos pela testa não tiveram absolutamente nenhum efeito em mim. Mas ainda assim trouxeram à minha memória lembranças que já estavam quase esquecidas, de nós dois brincando pela casa, nos escondendo pelos armários, sendo colocados de castigos pelas nossas mães, pulando na piscina. Toni assim como Paul agora não passava de lembranças.
— Nada — Ele disse olhando pra frente. — Sinto muito pelo Paul. Nunca tive a oportunidade de te dizer isso.
— Obrigada.
— Eu fui ao velório,mas você não estava lá. Tentei te ligar, mandei mensagem, e— mail. Mas você não retornou em nenhuma das vezes.
— O que você queria que eu fizesse? Fosse correndo chorar minhas magoas com você? Logo você?
, perdão.
— Pelo quê, exatamente?
— Por ter te traído, por ter trazido ela aqui, por tudo que aconteceu, a forma que aconteceu.
— Eu não preciso ter perdoar por isso, porque isso nem dói mais. Doeu bastante, não vou mentir. Mas o que dói hoje é olhar pra você e ver que toda aquela amizade e cumplicidade, tudo o que a gente viveu junto, não passam de lembranças mortas, que nem as que eu tenho do Paul. A diferença é que ele tá morto de verdade e você tá vivo, mas se tornou alguém que eu não quero mais perto. — Ele abaixou a cabeça — A gente cresceu junto, Toni. Trocamos segredos, reclamávamos da vida, planejávamos um futuro e eu não digo como um casal, o que mais me doeu não foi meu namorado me trair, foi meu melhor amigo. — Quando terminei finalmente o encarei e seus olhos estavam cheios de lágrimas — Por que?
— Em algum momento naquela nova vida de faculdade eu me perdi.
— Já conseguiu se achar?
— Tô tentando.
— Boa sorte com isso. — Me levantei. — Somos família, Toni. E por mais que eu já tenha desejado com todas as forças nunca mais ver a sua cara, eu sei que isso nunca vai acontecer, porque nunca deixaremos de ser uma família. Então o que eu queria te pedir é pra passarmos uma borracha em tudo o que aconteceu. Vamos só esquecer.
— Eu acho isso uma ideia excelente. — Ele abriu um sorriso e eu percebi que ele tinha entendido tudo errado.
— Eu não to falando só da nossa história como um casal, eu to falando de tudo num geral. A gente não precisa relembrar infância, momentos ou qualquer coisa que tenhamos feito juntos ou aprendido juntos e experimentado juntos. Vamos deixar o passado no passado e deixar a vida seguir. Vai ser muito mais fácil fingir que você é só um primo distante.
— Você mudou — Ele sorriu amargo e ela primeira vez em muito tempo, aquela foi uma frase que fez com que eu me sentisse bem.
— Que bom, né?
— Você tá com aquele menino?
— O nome dele é Douie. E não é da sua conta.
— Ele deve estar te fazendo bem.
— Continua não sendo da sua conta — Disse antes de sair do local onde estava e seguir novamente pro meu quarto. tinha saido com meu pai e não tinha voltado, o que significava que eu tinha um tempo livre dentro daquela casa. Resolvi ligar pra e contar o que estava acontecendo.
“Hello Bitch” — atendeu empolgada do outro lado da linha e começou a me dar varias felicitações de feliz natal, embora ainda não estivesse nem perto de meia noite. — Como estão as coisas ai?
— Normais. Eu tinha na minha cabeça tudo planejado sobre o que eu queria fazer aqui, como eu ia dizer ao que eu estava gostando dele, e então de repente Toni me brota na minha frente junto com todo o restante da família, o que significa, mais gente na casa e menos tempo pro e eu.
— Você ia dizer o que? — gritou do outro lado da linha. Aquela era a primeira vez que eu admitia em voz alta que eu estava gostando dele e havia saído de uma forma tão natural, que era como se eu estivesse dizendo que ia no mercado comprar açúcar. — Até que enfim — Ela soltou e eu comecei a contar para ela como eu estava me sentindo e consequentemente comecei a falar sobre Toni, lhe contando de verdade nossa história, minhas mágoas, inseguranças que de certa forma voltavam com a presença dele por perto e quando dei por mim, o tempo passou e já havia voltado e estava se arrumando e Emma gritava pela casa que tinha que ir tomar banho porque eu iria cachear seus cabelos.
Desliguei o telefone e fui me arrumar também, afinal, não queria estragar nada do ceia que já seria mais do que estranha.

Duas batidas na porta despertaram minha atenção enquanto eu terminava de me arrumar e gritei um entra. entrou arrumado e perfumando o quarto, se jogando na minha poltrona e carregando um pacote nas mãos.
— Sério, precisamos comprar uma poltrona dessas lá pro apartamento ou então simplesmente levar essa pra lá – Ele se esticou ativando o mecanismo que fazia a poltrona inclinar e fechou os olhos ainda com um lindo sorriso nos lábios, só que dessa vez mais aberto. Era incrível que eu olhava pra ele e queria sorrir também, e a sensação era tão instintiva que fazia meu coração se acelerar e meu rosto esquentar.
— Nós podemos roubar essa, foi meu presente de quinze anos, já que é minha eu posso fazer com ela o que eu quiser. – Ele me olhou que nem uma criança e eu acabei gargalhando da sua cara enquanto ele voltava a se sentar normalmente.
— Então enquanto não levamos ela lá pra casa, eu gostaria apenas de ficar sentado aqui esperando você terminar de se arrumar, porque sinceramente não é nada confortável ficar no mesmo quarto que seu ex namorado com cara de maluco. – Ele voltou a inclinar a cabeça e dessa vez fechou os olhos. – Principalmente depois de saber das coisas que ele te fez passar, eu honestamente não sou um cara violento, mas não consigo olhar pra ele e não sentir vontade de socá— lo.
— Não precisa se incomodar, mas obrigada de qualquer forma. Bom saber que ainda existe alguém nesse mundo disposto a defender minha honra – Ele ergueu a cabeça me lançando um olhar irônico. – Você entendeu o que eu quis dizer –Emma entrou no quarto naquele exato instante que nem um furacão e se sentou à minha frente pedindo que eu a maquiasse e penteasse seus cabelos. Eu, ela e havíamos passado grande parte da tarde ouvindo meus CDs antigos e conversando e ela parecia extremamente feliz de me ter ali.Ela havia pego um álbum de fotografias antigo para mostrar à e ele não havia perdido a oportunidade de zombar da minha cara em cada uma das fotos que tinha ali. Principalmente naquelas em que eu aparecia com meu estilo emo com camisetas de bandas emo e com cara de quem não queria ter amigos.
— Prontinho, Emma — Eu disse depois de pouco tempo. Eu não sabia como maquiar pessoas, mas Emma não precisava saber disso, então eu fiz o pouco que sabia e a pequena pareceu ficar muito satisfeita.
— Como eu estou? — Ela fez uma pose super elegante pra e diferente de mim, eu via que ela gostava de exibição, gostava de se sentir bonita e elogiada, gostava de se arrumar. Eu sempre havia feito aquilo por obrigação, então tudo parecia ser muito mais difícil do que era pra ela.
— Linda, que nem sua irmã. – Ele piscou pra ela e ela me agradeceu com um beijo estalado na bochecha antes de sair do quarto informando que terminaria de se arrumar no seu.
— Nós precisamos levar sua irmã pra passar um fim de semana com a gente! – Fiquei surpresa pela sugestão porque eu havia pensado o mesmo mas havia ficado com medo de que ele não gostasse da ideia, afinal, nem todo mundo gosta de crianças. – Ela é super fofa e educada. Quero que sua mãe me ensine a criar meus filhos. Ele se levantou da poltrona ainda com aquele embrulho nas mãos que eu estava absurdamente curiosa para saber o que era.
— Eu fui criada por ela, nunca se esqueça disso – Ele fez careta – Mas sobre Emma eu tinha pensado na mesma coisa. Vamos marcar um dia e fazer isso. –Voltei a caminhar para a penteadeira, de onde eu tinha saído para arrumar Emma e soltei meu cabelo, deixando— o cheio da forma que eu amava e minha mãe particularmente odiava. Era interessante que pela primeira vez em sua presença eu iria usa— lo daquela forma não por ela, para desafiá— la de alguma forma, mas por mim. Por que eu queria e me sentia bem daquele jeito
, eu te comprei um presente – parou atrás de mim me encarando pelo espelho, me virei para encará— lo e eu me questionando se eu conseguiria realmente dizer a ele como eu estava me sentindo.Tava tudo tão bom que eu estava com medo de estragar de alguma forma. Mas ao mesmo tempo tudo parecia tão claro na minha mente que eu não entendia o porquê de não conseguir dizer. Eu me sentia apavorada por estar apaixonada por . — Eu sei que presentes só se dão depois da meia noite que é quando é o natal. Mas eu não queria te dar na frente dos outros então vou te dar agora, ok? – Eu estava surpresa, mas não tão surpresa, afinal, eu também havia comprado um presente pra ele, mas não esperava que ele tivesse comprado algo pra mim de volta. Ele pegou minha mão e depositou o pequeno embrulho nela. Quando eu o abri me deparei com uma pequena caixinha de veludo.
eu sei que eu sou demais, que morar comigo provavelmente é uma das melhores coisas que já aconteceu na sua vida, mas somos jovens demais pra casar – Eu tentei fazer piada para disfarçar o calor que subia pelo meu rosto e ele revirou os olhos colocando as mãos nos bolsos enquanto me observava abrir a caixinha em silêncio. Sorri abobalhada quando contemplei um belo cordão de ouro que tinha como pingente um lindo medalhão com pedras. Meus olhos se encheram de lágrimas ao abri— lo e reconhecer ali uma foto que eu havia tirado com Paul a uns dois anos atrás. Nós dois parecíamos absurdamente felizes nela, havia sido uma daquelas fotos espontâneas que capturavam o momento exato de uma gargalhada. A lembrança da foto fez um bolo subir na minha garganta e eu não sabia o que era saudade e o que era o carinho que eu estava sentindo pelo naquele momento por ter tido o cuidado de escolher aquela foto. A saudade falou mais alto e desceu em forma de lágrima pelo meu rosto enquanto meu peito doeu com a lembrança daquele momento e da pessoa que eu costumava ser. Da pessoa que Paul costumava ser e da vida que costumávamos ter. Eu senti vontade de sentar e chorar por querer ter aqueles momentos de volta, mas o carinho pela delicadeza que havia tido em escolher aquela foto falou mais alto.
— Ele é lindo! – Eu consegui dizer depois de alguns segundos apenas admirando o presente. – Ele sorria de lado, parado ali na minha frente e todas aquelas sensações pareciam estar acabando com minha sanidade. Saudade, carinho, atração, paixão, Receio, Vontade. A mágoa por relembrar a humilhação passada por Toni, a sensação de que eu não era amada pela minha mãe, a falta de Paul. Estava tudo ali, junto e misturado, era como se eu pudesse cuspi— los a qualquer momento. Eu sentia que poderia pirar. – Obrigada – Eu consegui dizer e ele continuou apenas sorrindo. — Mas você não precisava ter me dado nenhum presente — Estendi o cordão à ele, me virando de costas dando a entender que eu queria que ele colocasse em mim e fiquei olhando com atenção pelo espelho enquanto ele fazia aquilo, sua delicadeza com o presente, com colocá— lo em mim, a forma como suas mãos correram pelos meus braços e envolveram minha cintura fez com que eu me aconchegasse em seus braços e esse simples contato conseguia despertar meu corpo de uma forma incrível, seu olhar que mesmo através do espelho conseguia despertar sentimentos absurdos dentro de mim e arrancar do meu rosto o mais verdadeiro sorriso, sorriso esse que eu achei que nunca mais seria capaz de dar. Era bom se sentir daquela forma, e pela primeira vez eu decidi não dar um passo pra trás e dar razão ao meu medo e insegurança e sim um passo à frente, rumo ao inesperado e desconhecido.
— Sabe , eu andei pensando no que meu irmão me disse no dia que me mudei pro apartamento e disse à ele que eu não gostava de você. — Me virei em seus braços, depositando minha mão em seu peito.
— O que Paul disse? — Ele fez uma careta engraçada e falar a frase a seguir foi tão fácil, que eu perdi todo medo do que poderia acontecer dali pra frente.
— Ele disse que eu acabaria me apaixonando por você. — Os olhos de cresceram e brilharam de uma forma totalmente diferente — E ele estava completamente certo.

Capítulo 8



Música do Capítulo: Ed Sheeran — Tenerife Sea.


Heilich havia dito que estava apaixonada por mim. Com todas as letras, se eu tinha entendido bem. Apaixonada por mim. Eu fiquei estático, deixando meu cérebro processar aquela informação com ela sorrindo em meus braços, provavelmente achando graça da cara de idiota que eu deveria estar fazendo naquele momento.
Em todos os meus pensamentos hipotéticos do futuro, tudo o que eu pensava antes de dormir, fantasiava enquanto a via rir e andar pelo colégio com agora tinham uma possibilidade de se tornar real e isso literalmente me paralisou, não sei se de medo, apreensão ou felicidade pra caralho. A garota por quem eu tinha sido apaixonada nos últimos dois anos, estava apaixonada por mim também. Eu queria sair gritando pela casa, e a primeira vontade que senti foi de ligar para Paul e falar que eu tinha conseguido.
— Você vai dizer algo? — Ela me acordou pra realidade e no momento em que eu a beijaria, Emma entrou no quarto escancarando a porta e fazendo com que nós dois nos separassemos assustados.
— Vocês são namorados? — Ela perguntou empolgada olhando pra gente
— Não — respondeu rindo e se afastando com cara de graça,era oficial, eu era um idiota. Tinha demorado séculos para conquistar a menina e agora ela provavelmente estava me achando um virjão retardado. Tudo bem que o primeiro era verdade, mas eu não era retardado, só estava chocado demais.
— Vocês parecem namorados — Ela fez uma cara de sapeca. — Ele ia te beijar, como não são namorados? — Ela cerrou os olhos.
— Isso é um segredo nosso, ok? — Eu falei fazendo um gesto de ziper na boca e ela concordou empolgada antes de batermos um high five.
— Minha mãe está chamando, a ceia já está pronta. — Ela segurou a mão de e as duas começaram a andar na minha frente. tinha um sorriso lindo e eu me aproximei ficando ao seu lado e sussurrando em seu ouvido.
— Isso ainda não acabou. — Ela me encarou mordendo os lábios.
— Não mesmo.

(...)


Todos estávamos sentados no chão da sala de estar com várias almofadas e algumas garrafas de vinho abertas ao nosso redor. Após a ceia que estava maravilhosa e foi lotada de momentos constrangedores e estranhos, seguidos de silêncios fúnebres, até que então todos começaram a relaxar e a conversar. Todos nós acabamos nos sentando juntos rendendo o assunto que havia começado na mesa. Aquela família parecia que não se reunia a anos, ou se eles se reuniam, eles não costumavam fazer aquilo daquela forma.Histórias estavam sendo lembradas e contadas pela primeira vez depois de anos, e era até bom ver Tio Joey rindo daquela forma e a aproximação que era visível dele e da Sra Heinlich.Essa por sinal, havia delicadamente insistido para que eu a chamasse de Sara, quando “sem intenção nenhuma” veio conversar comigo enquanto retirávamos a mesa do jantar. Era óbvio que ela estava tentando sondar quem eu era. Embora ela falasse educada eu ainda sentia que ela não ia totalmente com a minha cara, a forma que ela me olhava ainda fazia com que eu me sentisse um suspeito de assassinato.
Tia Hellen – ela havia insistido para que eu a chamasse daquela forma – ao contrário da irmã, provavelmente era a pessoa mais engraçada que eu havia conhecido. Ela já havia tomado algumas taças de vinho e a cada momento ficava mais solta, falando mais besteiras e sendo cada vez mais repreendida por sua irmã que ficava sem graça com as histórias que ela estava contando. Tio Joey parecia se divertir, embora às vezes ficasse distante por alguns momentos assim como também ficava e eu entendia perfeitamente os dois. Toni era um cara estranho, ele ficava encarando e quase não falava nada e além de encará— la ele me encarava de cara fechada. Talvez ele achasse de alguma forma que me intimidaria, coisa que não estava acontecendo. Sua irmã não desgrudava do celular por momento nenhum e parecia extremamente insatisfeita de estar ali. E Emma era a criança mais legal que eu já havia conhecido, ela amava e admirava de uma forma linda de se ver. Era engraçado estar ali, pois todos haviam me feito sentir tão à vontade que eu já me sentia em família. estava ao meu lado, meus braços passavam por cima de seus ombros e sua cabeça descansava no meu. Ela brincava e acariciava o cabelo de Emma que estava deitava em seu colo quase pegando no sono.

— Mas me fala sobre o que você pensa sobre família grande? – Esse era o assunto que eles estavam falando anteriormente, sobre ter família grande e o quanto isso podia ser interessante e foi a Senhora Heinlich quem me perguntou
— Eu acho simplesmente maravilhoso! – Disse talvez empolgado demais, eu já tinha bebido umas quatro taças de vinho e elas só continuavam se enchendo. — Quando eu casar eu quero ter um monte de filhos, uma casa com quintal e pelo menos três cachorros grandes. Nos feriados eu quero encher a casa de criança e ver todas elas correndo e bagunçando e quebrando tudo enquanto eu e minha esposa apenas bebemos nosso suco de laranja assistindo nossas séries prediletas no netflix – Todos começaram a rir
— Esse é um excelente plano! – A senhora Heinlich que se pronunciou — Sua família é pequena? Você não tem irmãos?– Perguntou interessada.
— Sim, sou filho único. Minha mãe também era filha única e minha avó morreu quando eu ainda era pequeno, então ficamos apenas nós dois. Quando minha mãe morreu foi um saco porque eu fiquei sozinho, acho que por isso tenho a ideia de ter muitos filhos, pra caso um dia aconteça algo comigo eles tenham em quem se amparar – A senhora Heinlich me olhou de uma forma engraçada e sua expressão era muito parecida com a de t.
— Você é órfão? Sinto muito querido. O que aconteceu com sua mãe?– Senti ficar mais tensa que eu quando tia Hellen fez a pergunta e ela repreendeu a tia pela indelicadeza. Eu apenas afaguei seu ombro dando a entender que estava tudo bem.
— Ela morreu três anos atrás. Câncer. Meu pai é vivo, mas eu não tenho nenhuma relação com ele, o que faz de mim uma pessoa quase sem família. – Disse fazendo graça e ela me olhou triste. – Mas pra mim é tudo bem, eu tenho amigos que são como minha família. Eu tive o Paul e tenho a , a . Família que eu tive oportunidade de escolher – Eu lhe mandei uma piscadela, ainda falando descontraído.
— Esse tem que ser o pensamento – Tio Joey falou – Casa cheia é o que há. Não vejo a hora de ter vários netos e mimá— los até que eles se tornem crianças insuportáveis.
— Bom, sinto muito por você pai, mas eu não quero ter filhos.
— Como assim não quer ter filhos? – Tio Joey perguntou meio frustrado.
— Porque não. Eu não sou uma pessoa empática e muito menos paciente. Eu não acho que daria uma boa mãe. Eu não daria conta de cuidar de uma criança, criar uma criança, educar uma criança. Eu seria péssima nisso.
— Eu discordo totalmente – Toni se pronunciou – Você cuidava de mim quando éramos mais novos.
— Era diferente, éramos crianças brincando não tínhamos nem noção do que fazíamos.
— Você cuidou de mim mais vezes do que eu seria capaz de contar nos últimos meses. – Eu disse voltando a beber meu vinho — Não só de mim, de também. Você se preocupou conosco, você se preocupa com as pessoas, e eu acho que essa é a primeira evidência de que você daria uma excelente mãe, porque você é uma pessoa que se importa. – As atenções da sala foram voltadas pra nós mas eu não me importei muito, não depois da forma que ela havia me olhado.
— E vocês dois? — Tia Hellen perguntou e e eu olhamos pra ela, tenho certeza que assim como eu ela também corou.
— O que tem? – perguntou se movimentando e ajeitando Emma que havia finalmente pegado no sono.
— Como começou isso de vocês dois? – ficou parada sem graça e eu comecei a rir tentando descontrair e disfarçar o quão desconfortável eu estava.
— Nós somos só amigos, Tia Hellen – Eu disse olhando pra – né? – abriu e fechou a boca algumas vezes segurando um riso antes de confirmar na maior cara de pau minha mentira.
— Sério? Eu jurava que ele era seu namorado. – A prima de finalmente se pronunciou me encarando significativa.
–Nós moramos juntos o que faz com que automaticamente nós sejamos próximos.
— Moram juntos? Pensei que estava morando com Joey – Tia Hellen falou e a Senhora Heinlich revirou os olhos o que a fez gargalhar alto. – Quem diria que minha irmã extremamente tradicional iria permitir que sua filha de dezessete anos morasse com um outro adolescente com quem ela supostamente — ela fez aspas no ar — não tem absolutamente nada. – Ela fingiu surpresa – Até que enfim você está amolecendo, pelo amor de Deus. – Tio Joey abaixou a cabeça rindo baixo e até mesmo disfarçou e riu quietinha.
— Eu continuo não sendo a favor dos dois morarem juntos porque eu não acho que eles tenham nem idade, nem maturidade e muito menos responsabilidade para isso. O que acaba me aliviando é que pelo menos o é um rapaz decente, mas eu continuo não sendo a favor.
— Bom, os jovens costumam sair de casa por volta dos 18 então eles já estão com metade do caminho andado.Mas não vou me meter nisso,nós duas temos formas diferentes de pensar. Assim como não vou me meter na vida do casal. Se eles ainda não querem assumir, deixa eles – Tia Hellen disse em tom brincalhão
— Eles são só amigos, Hellen. Pare de enxergar coisa onde não tem.
— Ela e Toni diziam a mesma coisa e isso não impediu que eles ficassem transando por dois anos bem embaixo das nossas fuças sem que a gente nem desconfiasse. – Ela bebericou mais do seu vinho e eu senti enrijecer do meu lado. A senhora Heinlich arregalou os olhos engasgando com o vinho e a sala ficou em um clima extremo tenso.
— Eles o que? – Ela perguntou sobressaltada quase como um grito. e Toni se entreolharam e foi a primeira vez que eu os vi cruzando olhares.
— Pelo amor de Deus, Sara. Depois de toda aquela confusão do ano passado você não sentou com sua filha para tentar entender o que estava acontecendo entre eles? Você ao menos sabe exatamente o que estava acontecendo entre eles? – A senhora Heinlich ficou em silêncio com o rosto ficando cada vez mais vermelho. Tia Hellen fechou o rosto em uma careta que pra mim era nova – Não me estranha o fato da sua filha ter ido viver longe de você, aparentemente você já estava longe dela a muito tempo – Ela disse em um tom ácido que foi usado propositalmente para magoar. Sara não respondeu, Tio Joey havia ficado desconfortável e parecia se encolher cada vez mais ao meu lado.
— Acho que já está tarde. — A Sra Heinlich disse se levantando. — Estamos todos cansados e começando a ficar meio bêbados. Acho que é hora de irmos dormir — Consultei o relógio e já passava das três da manhã.
— Vou levar Emma pro quarto. Essa posição ela vai acabar acordando com uma torcicolo – rompeu o silêncio que havia se formado enquanto todos se levantavam e ajeitavam na sala. Me ofereci para ajudá— la devido ao seu pé que ela não deveria fazer força e peguei Emma de seu colo, acomodando— a ao meu e seguindo pras escadas com ao meu encalço.
— Me desculpa por toda essa bagunça estranha que é a minha família — Ela disse abrindo a porta do quarto de Emma com a cara fechada. — Minha tia às vezes perde a noção do que dizer, mas tem horas que ela acerta em cheio. — Ela mordeu os lábios, desarrumando a cama para que pudesse depositar sua irmã lá.
— Sua mãe realmente nunca perguntou o que estava acontecendo entre você e o Toni? – Coloquei Emma na cama, ajeitando— a para que não acordasse no dia seguinte com torcicolo e me imaginei fazendo isso um dia com meus filhos.
— Não. Nunca. Ela nunca se importou, muito pelo contrário ela me obrigou a jantar com todos os sócios dela e eu estava uma merda, óbvio que eu não agi como se estivesse tudo normal, então quando eles foram embora ela surtou, nós brigamos feio e depois daí tudo degringolou. – Ela fez careta e cobriu a irmã e eu percebi que aquele era um assunto que embora ela tentasse disfarçar,ainda mexia muito e a magoava muito.
— Sinto muito por isso – Disse me aproximando dela e passando a mão por seu rosto.
— Hey vocês dois— Tio Joey apareceu na porta — Cada um pro seu quarto — Ele apontou pra nós dois de uma forma engraçada e revirou os olhos. — Hoje eu sou o empata foda da casa. — Ele escancarou a porta do quarto rindo. — Não acho que sua mãe reagiria muito bem se realmente percebesse o quão próximos vocês estão — Ele falou quando estávamos já a sua frente. E e eu entendemos aquilo como um sinal de alerta, acenando com a cabeça. Me despedi dela no corredor com um beijo na testa e morrendo de vontade de simplesmente voltar e não sair de perto dela, mas ao invés disso, Tio Joey passou os braços por meus ombros com um sorriso maroto.
, … — Ele deixou meu nome no ar, e então entramos no quarto que eu também dividiria com Toni e começamos a nos ajeitar para dormir.

Quase uma hora se passou e eu estava deitado olhando pro teto pensando em milhões de coisas, sem conseguir pregar o olho. Senti meu celular que estava guardado debaixo do travesseiro vibrar e abri um sorriso idiota quando percebi que era uma mensagem de .

“Dormiu,amigo?”

“Não. To aqui pensando que tem um cara que gosta de uma menina a um tempo, e hoje ela deu a entender que gosta dele também!

“Que cara de sorte hein.

“estou aqui pensando a mesma coisa, e pensando também em maneiras de ajudar esse meu amigo a falar algo pra garota, pq ele ficou parado olhando pra cara dela que nem um retardado e perdeu a excelente oportunidade e beijá— la.

“Talvez eu possa te ajudar com isso. Você acha que se a menina pedisse pra esse cara descer as escadas e encontra— la na cozinha, ele iria? Mesmo correndo o risco da mãe dela pegar e dar merda?”

“Sem sombra de dúvidas, ele já está descendo”

Me levantei fazendo todo silêncio que conseguia e desci as escadas do mesmo jeito. Eu já estava de calça de moletom e camiseta e continuava usando o mesmo vestido azul só que dessa vez com meias. Ela colocou a mão nos próprios lábios, indicando que eu deveria fazer silêncio e seguiu pro lado de fora da cozinha, iluminando o caminho com seu telefone. Havia uma piscina não muito grande naquela parte de trás do quintal e uma pequena casinha de piscina e concluí que era pra lá que estava me levando . Ela abriu a porta e entrou comigo ao seu encalço, quando acendeu a luz, pude ver seu sorriso que parecia iluminar todo o ambiente e ela jogou o telefone por cima de um pequen sofá que tinha ali.O local era simples mas aconchegante.

— Pronto, aqui estamos. — Ela cruzou os braços na frente do corpo — O que você acha que seu amigo faria se estivesse aqui?
— Ele é meio romântico, sabe? então ele provavelmente colocaria uma música que o faria lembrar do seu sorriso. — Mexi no meu telefone e escolhi a musica que mais me fazia pensar em Julie e coloquei pra tocar baixo — E então a chamaria pra dançar no meio desse cômodo, assim como fizeram na primeira vez que se beijaram.
(n/a: Se quiser, coloque a música pra tocar)
You look so wonderful in your dress
(Você está tão maravilhosa neste vestido)
I love your hair like that
(Eu amo seu cabelo desse jeito)
The way it falls on the side of your neck
(O jeito como cai ao lado de seu pescoço)
Down your shoulders and back
(E sobre seus ombros e costas)


Me aproximei dela enlaçando seu corpo com meus braços e eu não poderia dizer se as batidas que eu sentia eram as do meu coração ou do dela. Seu rosto tinha uma expressão nova pra mim, eu tinha certeza que o meu também. Era confortável pela primeira vez fazer aquele pequeno gesto, pois dessa vez eu sabia que não haveria surpresas a seguir, era como se pela primeira vez estivéssemos deixando as coisas realmente acontecerem, como sempre deveria ter sido.

We are surrounded by all of these lies
(Estamos cercados por essas mentiras)
And people who talk too much
(E pessoas que falam demais)
You got the kind of look in your eyes
(Você tem um olhar em seus olhos)
As if no one knows anything but us
(Como se ninguém soubesse de nada, só nós)



— E então eu teria que cantar a estrofe da música, porque você é tão linda que me deixa completamente sem palavras pra conseguir dizer exatamente o que eu queria dizer. “'Cause all that you are is all that I'll ever need. I'm so in love, so in love, so in love, so in love(Pois tudo o que você é, é tudo o que preciso.Estou tão apaixonado, tão apaixonado, tão apaixonado)

Eu vi seus olhos se fecharem e um sorriso maior se abrir conforme eu cantarolava pra ela. Suas mãos envolvidas em meu pescoço acariciavam meus cabelos e nossos corpos se mexiam de acordo com o ritmo da música que baixa preenchia todo ambiente. Seus cabelos balançavam e então ela voltou a abrir os olhos e colou nossas testas.

You look so beautiful in this light
(Você está tão linda sob essa luz)
Your silhouette over me
(Sua silhueta sobre mim)
The way it brings out the blue in your eyes
(O jeito como destaca o azul em seus olhos)
Is the Tenerife Sea
(É como o mar de Tenerife)
And all of the voices surrounding us here
(E todas as vozes que nos cercam aqui)
they just fade out when you take a breath
(Elas desaparecem quando você respira)
Just say the word
(Só diga a palavra)
and they'll all disappear into the wilderness
(E eles desaparecerão no deserto)


— Você me mostrou luz, quando tudo o que eu achei que restava pra mim era escuridão. — Ela disse tão segura, tão firme, tão sincera, que por uns instantes que comecei a pensar se tudo aquilo não era um sonho, ela nos meus braços, suas palavras que pareciam preencher lacunas no meu peito que eu nem sabia que estavam abertas. — Eu não sei se foi exatamente isso que fez com que eu me apaixonasse por você, talvez tenha acontecido antes, eu só sei que a ideia de estar sentindo o que eu estou sentindo me apavora, mas ao mesmo tempo, eu simplesmente não consigo evitar me sentir desse jeito e cansei de tentar evitar. — Depois de suas palavras, não precisávamos de mais nada. Nada além de um ao outro e o toque dos nossos lábios que foi diferente de todas as outras vezes em que nos beijamos. Não havia incertezas naquele momento, apenas nós dois, em um cômodo pequeno, certos de que tudo o que queríamos era um ao outro. Pela primeira vez tudo o que nos dominava era a incerteza, mesmo que o incerto estivesse bem ali, na porta esperando por nós. Éramos só nós dois e nada além disso.

And in the moment I knew you better
(E nesse momento, eu te conheci melhor)



Capítulo 9




Eu estava sentada na cadeira de balanço da varanda do segundo andar, enquanto observava o nada. Um sorriso idiota estava em meus lábios e eu achava que seria bem difícil alguém conseguir tirá— lo dali. Eu mesma já havia tentado mas sem que eu nem percebesse ele voltava ao seu lugar, discretamente até que alcançasse uma grande parte do meu rosto quando minha mente voltava para a noite anterior e para lembrança dos lábios de grudados no meu. Meu peito aquecia, meu corpo arrepiava e quando eu percebia, estava sorrindo que nem uma idiota olhando pro nada e pensando no quanto eu estava apaixonada por ele. Nós havíamos passado grande parte do tempo nos beijando e rindo que nem dois idiotas, comentando coisas mais idiotas ainda e calculando hipóteses de como Paul reagiria naquela situação. Em algum momento que nem lembro, acabamos pegando no sono e acordei quase seis da manhã e com medo de que minha mãe nos pegasse, seguimos cada um pros seus aposentos. Mas quando eu entrei no meu quarto, não consegui mais pregar os olhos. Havia algo muito bom em pensar em e repassar os momentos da noite anterior na cabeça,imaginar como as coisas seriam dali pra frente não estava me dando medo, como eu pensei que aconteceria, muito pelo contrário, acho que era exatamente aquilo que fazia com que eu não conseguisse dormir. A expectativa do que aconteceria conosco dali pra frente, então resolvi aproveitar a oportunidade de aproveitar um dos locais que eu mais amava da casa de minha mãe. A sensação de estar ali era estranha e boa. Porque ao mesmo tempo em que aquela era minha casa ela simplesmente não era mais. A lembrança da ideia de que eu não pertencia a lugar algum vinha com força em meu peito quando eu sentava ali, me fazendo lembrar como as coisas eram e perceber o quanto elas haviam mudado. Agora, eu sabia que eu não deveria pertencer nem a nada e nem a ninguém, apenas a mim mesma. A morte do meu irmão e tudo o que eu estava vivendo estavam reforçando em mim não somente essa ideia, mas a minha mudança de atitude para que essa ideia permanecesse como atitude. Sentada ali, era como se uma mistura de sentimentos de quem eu era e de quem eu estava sendo tomassem conta de mim, como se a menina que acreditava que não era importante quisesse voltar, ou melhor, era como se quem eu era quisesse brigar com quem eu fui, por ter sido tão idiota e sentimental e mostrar que eu tinha sim, ao contrário do que eu sempre acreditei, dar u grande passo sozinha, e essa passo havia sido a favor da minha felicidade; . E ao mesmo tempo que esses sentimentos loucos tomavam conta de mim, minha mente aleatoriamente se voltou pro dia da morte de Paul e uma das últimas frases que ele tinha dito pra mim: “Não acredito que vivi tempo o suficiente pra ver isso acontecer” e era impossível não sentir um gosto amargo na garganta ao constatar que ele não havia vivido na realidade, tempo o suficiente pra ver todas as coisas que haviam acontecido na minha vida e que poderiam acontecer na dele.


— Hey — Minha mãe chamou minha atenção entrando na varanda e assim como eu ela carregava em suas mãos uma xícara, a diferença é que na dela havia café — O que você está fazendo acordada essa hora? — ela se sentou na cadeira que havia quase de frente à mim e me deu um sorriso que eu não saberia julgar se era tímido ou simplesmente desconhecido pra mim.
— Só pensando na vida — Eu dei de ombros bebericando minha xícara e voltando a olhar pra frente. Eu sentia seu olhar sobre mim e eu sentia vontade de falar tantas coisas, eu senti vontade de contar à ela sobre e eu, mas não tínhamos intimidade pra isso e ela provavelmente surtaria. Eu havia pensado em ligar pra , mas embora ela fosse minha amiga, ela ainda não fazia parte do que eu estava sentindo no momento, ela não havia acompanhado grande parte dos meus problemas e ligar pra ela significava ter que contar tudo o que eu queria esquecer, eu teria que entrar em detalhes sobre muitos medos que eu ainda não queria colocar pra fora, mas que sentia que havia começado a vencer na noite anterior. Aquele era um momento estranho onde eu me sentia feliz e ao mesmo tempo sozinha.
— Você parece feliz — Minha mãe disse e continuou olhando pra frente
— Eu estou — Eu disse depois de um tempo — E você parece mais leve. — E era verdade, desde ontem antes do fatídico momento em que minha tia havia feito tudo ficar constrangedor, minha mãe parecia uma pessoa que eu não conhecia, mas pelo olhar que ela e meu pai trocaram, aquela deveria ter sido a mulher por quem ele havia se apaixonado um dia.
— Quando o Paul morreu eu fiquei com medo de nunca mais ver esse sorriso no seu rosto, você só costumava ter essa expressão no rosto quando ele estava por perto. — Fiz um barulho com a boca, embora eu estivesse pensando em Paul eu não queria ter que falar sobre Paul — É incrível que cada dia que passa você se parece mais com o seu pai. — Eu sorri com a comparação que pela primeira vez na vida não foi feita com crítica.
— É estranho ver vocês dois juntos. — ela sorriu.
— Esse seu juntos teve uma conotação que não é real — Ela me olhou de soslaio mas o sorriso ainda estava em seus lábios — Ele estava sozinho, e eu não queria vê— lo assim. Então acabamos nos aproximando um pouco. — Ela voltou a olhar pra frente como eu, parecendo se perder em pensamentos. — Eu já te disse como nos conhecemos? — Fiz um barulho negativo com a garganta e ela continuou a falar — Nós fomos apresentados por um amigo dele para irmos ao baile juntos, e fomos e ficamos juntos naquela noite mas depois disso a gente acabou se desencontrando. Nós acabamos nos encontrando por um acaso no mercado, alguns anos depois. Paul era bem pequeno e era seu primeiro final de semana com ele, e seu pai estava totalmente perdido. Eu ajudei ele com algumas coisas e a partir daquele dia a gente não se desgrudou mais. Em pouco tempo já estávamos dividindo o apartamento e resolvemos casar. Eu ajudava ele com Paul e aquela criança parecia me adorar. — Me virei para encará— la e ela tinha um sorriso enorme e um brilho diferente nos olhos — Se eu fechar meus olhos eu consigo vê— lo correndo pela casa pelado e gargalhando, porque era assim todas as vezes que eu ia tirar a roupa dele pra dar banho. — Ela fechou os olhos e quando voltou a abri— los, percebi que estavam marejados. — Ele era que nem um filho pra mim. E esse sentimento que eu tinha por ele que fez com que seu pai e eu planejássemos ter você e quando eu engravidei foi incrível a ligação que Paul teve com você desde a minha barriga. Quando ele vinha passar os finais de semana conosco, ele ficava por horas sentado do meu lado conversando com você na minha barriga e alisando ela. Ele parecia um homenzinho dizendo que iria te guardar e nunca deixar você se magoar e é incrível olhar para toda a vida dele e ver que ele honrou essa promessa. Mesmo quando ele teve que te proteger de mim. – Ela sorriu amarga. — Eu vi aquele garoto crescer e se tornar um homem responsável e carinhoso. Preocupado com você. Eu vi aquele menino me enfrentar e vi esse mesmo menino morrer e é horrível saber que isso aconteceu. E saber que ao contrário de antes, o pensamento que ele tinha sobre mim não era mais o de mãe postiça que nem ele costumava me chamar quando ele era pequeno. Ele achava que eu era uma pessoa desprezível. – Sua voz embargou – Aquele menino que corria pelado pela casa rindo, com dois dentinhos na boca não existe mais e nem o homem que ele se tornou. – Senti minha garganta fechar com suas informações. — Eu não perdi você naquele acidente, mas eu perdi o Paul que sempre foi uma pessoa muito importante pra mim, embora talvez eu nunca tenha dito isso pra ele. — Foi estranho receber todas essas informações da minha mãe, porque eu nunca tinha pensado que naquela noite ela também tinha perdido alguém. — Com ele eu não posso mais consertar as coisas,mas você ainda tá aqui.
— Eu ainda estou aqui — Eu segurei em sua mão, pela primeira vez sentindo que compartilhamos uma coisa em comum, que era a esperança de tirarmos dessa perda a oportunidade de nos tornarmos pessoas melhores.
— As coisas vão ser diferentes de agora em diante, . Eu prometo isso. — Ela deixou que uma lágrima rolasse e eu acenei com a cabeça sorrindo pra ela.
— Eu acredito em você
— Você poderia ficar mais um pouco, Eu adoraria tê— la por perto mais um dias. Você parece que trouxe vida pra essa casa de novo. — Era boa a sensação que eu estava tendo com aquela conversa, ao contrário de qualquer outra reação que eu já tivesse tido com outras conversas que tínhamos. Pela primeira vez eu queria ficar. Embora eu estivesse louca pra voltar pra casa e ficar sozinha com , eu queria ficar só um pouco mais e tentar me tornar pra Emma a pessoa que Paul havia sido pra mim.
— Eu posso fazer isso — Ela abriu um lindo sorriso e eu pude me identificar com ele antes que nós duas voltássemos a olhar para além e eu deixei que o sorriso voltasse a tomar conta de meus lábios. Agora além de feliz, eu não me sentia mais sozinha.



Quando eu acordei – de novo – eu não estava sozinho no quarto. O tal do Toni estava ali terminando de se ajeitar e me lançou um olhar estranho.

— Vocês estão juntos mesmo né? — Ele perguntou quando percebeu que eu tinha acordado. — A é uma menina de ouro, . Ela já passou por muita merda com a tia Sara,comigo e tenho certeza que com a morte do Paul, então cuida bem dela. Antes de eu fuder tudo, eu sabia que eu podia cuidar dela, mas agora não posso mais então eu espero de verdade que você honre seu papel e não dê nem metade do mole que eu dei. – Ele virou para me encarar e eu senti que aquela era uma conversa intensa demais para aquela hora da manhã, principalmente porque eu nem tinha acordado direito ainda.
— Pode deixar, cara – Me limitei a dizer isso me sentando na cama e coçando o rosto.

Tomei um banho, ajeitei minha cara e desci as escadas.A parte mais constrangedora de se estar numa casa onde você só conhece duas pessoas, é andar por ela procurando essa pessoa e não achar. Você se sente um idiota. não estava no seu quarto, não estava na sala e felizmente na cozinha eu encontrei tio Joey que bebia uma xícara de café.

— Fala bela adormecida. – Sorri feliz por encontrar alguém com quem eu tinha um pouco mais de intimidade. – Café? –Acenei positivamente com a cabeça depois de dar bom dia e ele me serviu de café e me ofereceu mais algumas coisas que eu neguei. Só o café já estava de bom tamanho.
— Foi boa a noite, filho? – A forma como ele perguntou aquilo me fez ficar no mínimo tenso. Mínimo não, eu fiquei tenso pra caralho. – Vi que você só chegou no quarto quase às sete da manhã. – Ele falou como quem não quer nada, com um sorriso no rosto, mas seu olhar deixava bem claro que ele poderia me matar sem precisar tirar um centímetro daquele sorriso. Eu quase engasguei com o café, só não engasguei porque como ele estava quente eu estava tomando com cuidado. – Eu sei que tá rolando algo entre vocês. E eu sei que você gosta da minha filha, ela me contou. É verdade mesmo? — Ele continuava sorrindo enquanto batucava na mesa com cara de psicopata.
— Sim senhor. – Entrei automaticamente no modo formal. Eu nunca havia me sentido tão tenso em toda minha vida. Se enfiassem uma faca nas minhas costas, ela provavelmente quebraria. E também estava surpreso por ter contado sobre nós pro pai dela.
— Eu sei que você é um cara legal, Eu convivi com você juntamente com meu filho e graças a Deus você não se deixou influenciar muito por ele. É por isso que eu gostaria de dizer que aprovo muito esse relacionamento de vocês. – O que eu deveria dizer agora? — Mas eu também quero deixar bem claro que se você fizer algo com a minha filha eu vou quebrar a sua linda carinha — Ele apertou minhas bochechas — Você sabe disso né ?
— Sim senhor.
— Com Toni eu tinha o código de ética da família e não pude fazer nada. Sabe como é, eu vi o moleque crescer. – Ele falava tão descontraído e sério ao mesmo tempo – Mas eu realmente aprovo e coloco fé no namoro de vocês.
— Pode deixar que se depender de mim ela vai ser mais do que bem cuidada.
– Você realmente gosta dela né? – Acenei positivamente com a cabeça me sentindo meio idiota por começar a sorrir – Paul sabia disso?
— Foi o primeiro a perceber.
— E ele aprovava?
— Digamos que ele me ameaçou, caso eu não contasse à ela como eu me sentia.Ela sempre soube como era e todas as intenções que eu tinha com sua filha.
— Aquele garoto literalmente saiu das minhas bolas – Eu ri alto com o comentário que eu não esperava e entrou na cozinha no exato momento, carregando uma xícara que ela depositou na mesa logo depois de se posicionar do meu lado.
— Do que vocês dois estão rindo, hein? – Já chegou curiosa, nem um bom dia ela deu.
estava me contando sobre como você não conseguiu resistir ao charme dele e o agarrou ontem a noite. – arregalou os olhos e seu rosto foi ficando vermelho. Tio Joey se levantou. – Eu avisei ao que se ele te magoar eu quebro a cara dele, mas filha se você magoá— lo você ta muito ferrada. Você não vai ter um, mas dois fantasmas pra te atormentar pelo resto da vida. – Eu ri da péssima piada que ele fez antes de sair da cozinha.
— O que você falou pro meu pai? – Ela perguntou se virando pra mim e eu aproveitei a deixa e que não havia ninguém na cozinha para me virar e enlaça— la pela cintura. — Só contei sobre como você me agarrou no corredor, sem nem esperar eu colocar Emma na cama e do quanto você fala do meu charme – Ela revirou os olhos e eu nos aproximei.
— Você contou pra ele sobre a gente? – Ela não estava brava.
— Não, ele deduziu pelo fato de que eu entrei no quarto às sete da manhã – Ela acenou com a cabeça e então eu a beijei, não precisava mais de clima ou enrolação, agora eu poderia simplesmente beija— la. E então ela quebrou o beijo.
— Minha mãe me pediu pra ficar mais um dias. E eu disse que sim.
— Isso é ótimo.
— Fica também. – Beijei seus lábios de leve antes de voltar a falar.
— Esse é um momento seu com a sua família, . Não vou me meter nele. Eu vou dar um pulo na casa da tia Rachel, ver como ela está e depois eu vou pra casa. Você fica aqui mais um pouco, curte a sua família. Aproveita esse momento que você nunca teve. – Ela acenou com a cabeça e nós voltamos a nos beijar. Nos separamos quando ouvimos risadas na escada, mas ninguém entrou na cozinha.
— Vamos ter bem mais disso quando eu voltar? – Ela fez sinal com os dedos pra nós dois e eu me aproximei lhe dando um selinho.

— Muito mais disso, pode ter certeza. — Concordei voltando a lhe beijar.

Estar na casa de havia sido diferente de estar na casa de qualquer outro amigo, não só pelo fato do que estava rolando entre nós, que eu agora realmente e oficialmente não saberia definir o que era. Mas porque havia um clima estranho no ar, era como se todos estivessem pisando em ovos o tempo inteiro com medo de que algum simples comentário ou alguma simples brincadeira desencadeasse algo que pudesse virar uma bola de neve e afastar a todos de novo. Era interessante ver aquilo, até porque a muito tempo eu já não tinha ideia do que era ter uma família, e eu nunca havia tido uma família grande então eu esquecia que muitas das vezes elas podem ser complicadas. Mas mesmo assim era bom ver que estava feliz. Eu queria associar essa felicidade a mim e ao tempo que havíamos ficado juntos na noite anterior e a forma que havíamos nos beijado naquela cozinha. Eu poderia ficar beijando— a o dia inteiro e tinha a sensação de que o sentimento era recíproco, mas optei por me conter um pouco. Parte de mim além de estar absurdamente feliz, também estava um pouco inseguro com o que aconteceria conosco dali pra frente, o que seriamos, como seríamos, como desenvolveríamos as coisas. Então, tentei conter a empolgação que estava aflorada na minha cara e tentar agir “na boa”, até que “em casa teremos mais disso” pudesse ser definido para alguma coisa. Um pouco da minha insegurança foi embora quando ela me pediu pra ficar e eu amei a forma como pediu aquilo sorrindo, mas não era o momento pra ficar. Aquele era o momento para apoiá— la a ficar e a enfrentar os medos e inseguranças que estar naquela casa traziam à ela. Durante o dia, tivemos muitas oportunidades de dar escapadas e todos os pequenos momentos em que tivemos juntos valeram absurdamente a pena, talvez o medo de que sua mãe nos pegasse, tivesse aumentado a empolgação de cada beijo. Havia sido assim, beijos entre assuntos aleatórios e mais beijos até que chegou o momento em que eu tive que ir embora.

Depois de sair dali segui direto pra casa de Tia Rachel e foi muito bom e triste ao mesmo tempo vê— la e tive a certeza que tomei a decisão certa de ir visitá— la.Mesmo vendo sua felicidade com a visita, não consegui ficar lá por muito tempo, era doido demais estar ali sem Paul, Então quando voltei para casa, pela primeira vez desde que Paul havia morrido eu estava sozinho de verdade.
Era muito estranho estar ali sem ele e sem . Eu sentia falta dos seus esporros desnecessários seguidos de risadas idiotas, dele bagunçando meu cabelo como se eu fosse um cachorro e falando de mim como se eu nem estivesse presente. Eu ainda não havia conseguido comer o último pedaço da pizza que havia pedido porque minha mente ainda entendia que aquele último pedaço era dele. Eu não havia convidado a estar comigo e nem mesmo fui até a sua casa porque no instante em que eu me vi naquele apartamento sozinho eu percebi que eu precisava daquele momento pra mim. Pra minha mente entender melhor o que estava acontecendo em todas as áreas da minha vida. E havia sido uma ótima decisão aproveitar aqueles dias mim. Há um bom tempo eu não tinha essa oportunidade de estar sozinho e permanecer sozinho apenas bebendo minha cerveja e olhando pras coisas e pra vida, e no meio de toda aquela solidão, eu não me sentia necessariamente sozinho. Eu senti a falta de dentro de mim de uma forma singela e gostosa, eu sentia a ansiedade por tê— la de volta ali, para saber como seríamos dali em diante, para ver no que nosso envolvimento daria. Eu pensava no que eu sentia e aproveitava aquela sensação boa enquanto me imaginava contando sobre isso pra minha mãe e para Paul. E aquilo me deu coragem pra fazer algo que a muito tempo eu queria: colocar uma foto da minha mãe da estante da sala. Era ótimo poder passar por ali e lembrar daquele sorriso todas as vezes que eu passava pela sala.
Foram quatro dias em que eu passei em casa sozinho, entendendo minha raiva e percebendo que aos poucos eu estava me livrando dela e só a saudade estava passando a existir. Meu telefone vibrou e vi que era uma mensagem de avisando que já estava voltando pra casa. Eu não poderia negar que a ideia de estar sozinho em casa com ela era algo que eu estava pensando muito, afinal eu sabia todas as coisas que poderiam acontecer, mas tentava não pensar. Meu foco era manter as coisas num nível leve até que soubéssemos exatamente o que tínhamos, já que não havíamos definido isso ainda.
Não pude nem curtir muito minha empolgação com a mensagem de , pois minutos depois recebi uma mensagem de me avisando que estava indo pra minha casa e que estava acompanhada e que eu não fugiria mais dela. Eu sabia que ela não nos deixaria em paz, ela iria querer saber todos os detalhes de tudo o que estava acontecendo e que havia acontecido entre e eu no feriado, mas sabia que estaria livre disso pelo menos por enquanto, já que ela estaria com o pessoal. Ajeitei a casa e conferi o que tinha na dispensa que poderia dar um bom lanche e não demorou muito tempo Vanesa, Tom, , , Valerie e Rose estavam jogados pela sala do apartamento, comendo algumas das besteiras que eles haviam trazido e mexendo os DVDs tentando decidir o que assistir. Era bom ter todos eles ali de volta, mesmo a falta de Paul sendo gritante.
Parecia que todos haviam decidido sentir isso em silêncio, sem fazer nenhum comentário sobre nada. Era estranho ter aquela primeira porta do corredor fechada por tanto tempo.
Eu estava conversando com quando a porta da sala se abriu e passou por ela, animada cumprimentando a todos.Contive meu sorriso e ela abriu um sorriso daqueles que mostrava todos os seus dentes quando nossos olhos se encontraram e eu me senti como quando eu a vi pela primeira vez, descendo do trem, com os cabelos bagunçados e um sorriso enorme no rosto enquanto corria em nossa direção para se jogar nos braços de Paul. Naquela época eu nem sabia que me apaixonaria tão intensamente por ela, mas no instante que eu a olhei eu sabia que ela tinha me despertado alguma coisa e quase três anos depois, ali estávamos nós. Ela abraçou forte e eu pude ver que elas cochichavam algo uma no ouvido da outra. Logo depois ela cumprimentou a todos e por último a mim com um beijo no rosto e um sorriso um pouco sem graça. Ela não sabia muito bem como reagir e nem eu. Deveríamos contar aos outros ou manter entre a gente? Fiquei com esse pensamento por um tempo, principalmente quando colocamos o filme e ela se sentou do meu lado, com uma expressão engraçada no rosto que eu sem sombra de dúvidas copiava. Quando eu passei meus braços em torno de seus ombros e ela genuinamente se aconchegou a mim eu senti uma enorme vontade de que ninguém estivesse ali, só pra que eu pudesse beijá— la livremente sem ter que me preocupar com nada. Mas como eu não tinha coragem de expulsar todo mundo dali, eu me limitei apenas a prestar a atenção no filme que se desenrolou por duas horas e então depois todos finalmente decidiram ir embora. Quando todos já estavam na porta se despedindo de mim e de , Valerie me chamou em um canto, com um embrulho em mãos e um sorriso tímido nos lábios. Eu quis cuspir no chão e sair nadando naquele momento.

— Eu te comprei um presente de natal — Ela disse talvez um pouco mais sem graça do que eu, e me estendeu o embrulho. Peguei o presente nem sei como, porque eu estava tão sem graça que nem lembrava como se movimentava os braços. Agradeci quase com um grunhido de tão baixa que minha voz saiu e ela me deu um beijo no rosto antes de sair. Abri o embrulho só depois que ela bateu a porta atrás de si, ela havia me comprado uma camisa do Darth Vader. Embora eu tivesse amado a camisa ainda estava constrangido pelo gesto, porque eu sabia exatamente a intenção que tinha por trás dele.
— Bonita a camisa — disse começando a recolher a louça espalhada pela sala e levando pra cozinha. — Você sabe que ela gosta de você, né? — Ela disse como quem não quer nada, e eu me perguntei se ali havia uma pontada de ciúmes. Joguei a camisa e o embrulho no sofá, seguindo pro mesmo cômodo que ela.
— Eu sei. Acho que todo mundo já me falou isso, menos ela. O que faz a situação ficar chata. — O que era verdade, eu nem sabia se Valerie sabia que eu sabia. — Eu não quero magoá— la, mas ela sabe que não é recíproco. — me encarou
— Por que você não fala com ela então, tenta conversar e explicar. Não sei. – Ela olhava pra mim e pra louça de uma forma estranha.
— Talvez esse tenha sido só um gesto esporádico aleatório. Se acontecer de novo eu converso com ela, eu sutilmente já dei algumas indiretas sobre nós dois, mas ela não pareceu entender muito bem.
— Como assim?
— Eu já falei que ela era como uma irmã mais nova pra mim. – fez uma careta contendo o riso – Eu sei que foi a pior coisa a se falar e sem criatividade, mas eu só queria que ela percebesse que eu não a vejo de outra forma. Ela é legal, mas eu só não consigo vê— la assim. – Julia balançou a cabeça em um aceno positivo voltando a mexer na louça, organizando tudo na pia.
Um silêncio que pela primeira vez em muito tempo foi um pouco constrangedor se instalou entre a gente e eu a observei morder os lábios e ficar parada encarando a louça ao invés de encarar a mim. Era aquilo, estávamos sozinhos dentro de casa sabendo que nada mudaria isso, afinal morávamos só nós dois e nós não estávamos sabendo ao certo como agir, afinal, agora havíamos chegado ao ‘nosso terreno’. Cocei a cabeça pensando no que falar, mas eu não conseguia imaginar nada pra falar, eu queria beijá— la mas não sabia se eu deveria simplesmente chegar e fazer isso ou perguntar se ela queria conversar, ou tentar definir o que faríamos ou seríamos dali em diante. Eu estava sem reação e começando a ficar embaraçado. Cocei a garganta sentindo uma imensa vontade de rir daquela situação.
— E então? – me encostei na bancada, cruzando os braços no peito. Ela parou na minha frente – O que a gente faz agora?
— Ainda bem que você perguntou, porque eu não sabia se eu deveria perguntar ou não. — Sua expressão de alívio foi notável – A gente conversa? Define alguma coisa? O que a gente faz? — Foi bom perceber que essa confusão simples estava com ela também e não só em mim.Aquilo foi como um sinal verde para que eu me aproximasse.
— Você quer conversar? — Eu descruzei meus braços, puxando— a para perto de mim e recebi um sorriso tímido com esse gesto. – Nós podemos conversar sobre o que você quiser. Sobre a gente, sobre os seus dias com sua mãe — Beijei seu rosto – Sobre onde você quer passar a virada de ano de amanhã – Lhe dei um selinho e ela acomodou seu corpo ao meu, cruzando os braços em volta do meu pescoço e colando nossas testas. – Ou nós podemos não conversar.
— Eu prefiro sem conversa – Ela abriu um sorriso tão lindo que eu fiquei na dúvida se a beijava ou a admirava, mas me decidi pela primeira opção. Seus lábios eram macios e doces demais pra que eu somente os admirasse. Nossos beijo era conhecido, mas a cada vez que o repetíamos ganhávamos mais intimidade, mais aconchego. Eu sentia que a cada vez que nos beijávamos, eu estava me apaixonando mais, coisa que eu não achava que seria mais possível. Era assustador se sentir dessa forma por uma pessoa, sentir que seria capaz de me entregar de verdade à ela.A ideia do que aconteceria na nossa vida dali pra frente. Eu não sabia nem o que tínhamos, mas já imaginava um futuro pra nós.Isso não deveria ser normal.

Capítulo 10





Um tempo atrás eu estava sentada dentro do meu quarto, olhando pela janela e pensando que uma das partes mais engraçadas da vida era a mudança. Naquela época, eu sentia a tristeza como se fosse uma parte de mim, uma parte que eu sentia que era bem vinda, eu acomodava ela ao meu peito e sentia dificuldade em deixá— a ir embora, eu a queria pra mim, era fácil tê— la ali comigo e usá— la como justificativa para tudo na minha vida, mas agora as coisas mudaram. Eu não saberia dizer quando e nem como, mas de alguma forma aquela tristeza não estava mais ali, não daquela forma que ela me consumia antigamente. Pela primeira vez a que eu havia sido era apenas uma lembrança estranha na minha mente de quem eu não queria me tornar de novo, porque eu não queria mais aquela tristeza que esmagava o meu peito e não me deixava ver sentido nas coisas. Eu sentia felicidade e eu queria ser feliz. Eu não estou dizendo que a tristeza havia deixado de existir, porque eu não me iludiria, ela sempre existiria, mas eu já não a abraçava como uma velha amiga que era super bem vinda. Esse mix de sentimentos entre tristeza e alegria estava me deixando um pouco confusa, afinal, eu não sabia a que associar essa nova fase de mim mesma que nem eu conhecia. Eu sentia uma excitação boa quanto a essa nova fase que e eu havíamos alcançado em nosso relacionamento. Não era dúvida para mim que eu estava apaixonada por ele, era dúvida para mim como agir em determinados momentos, como me portar, como falar, como fazer qualquer coisa, afinal, morávamos juntos e sozinhos, qualquer mínima coisa poderia gerar um clima estranho e isso estava fazendo com que eu ficasse travada em algumas coisas, como ir beijá— lo ou ser um pouco mais carinhosa. O interessante é que eu nunca tive a vontade de ser carinhosa com Toni, mas com havia simplesmente fluido, era só ele estar perto de mim que eu já queria afundar minhas mãos naqueles cabelos e trazê— lo para perto.
E falando em mão, tinha a pegada. Por saber que ele era virgem, eu havia criado na minha mente a ideia de um meio inocente e talvez até bobinho, mas seus beijos que antes já haviam me provado que não era bem assim, agora me davam a certeza de que eu estava enganada. A forma como ele segurava minha cintura, mesmo sem subir ou descer a mão de uma forma mais ousada, fazia com que eu me arrepiasse, seus beijos, a forma como ele mordia meus lábios ao nos separarmos, até mesmo a forma como ele me olhava me dava um arrepio na espinha porque ele parecia ver muito além do que só uma garota parada na frente dele. A forma como ele me olhava parecia me despir de tudo, de meus medos, minhas neuras, parte de mim sentia como se estava aos poucos me despindo de minha tristeza e isso era um pouco assustador e excitante, mas eu ainda estava travada. Eu pensava em como seria pedir conselhos a Paul sobre como agir e pensar nisso me remetia àquela data em específico em que estávamos. Todos os anos desde que eu me conhecia por gente, Paul e eu passávamos a virada do ano juntos. Aquela seria a primeira virada de ano da minha vida que eu passaria sem ele. Era nesses momentos que minha tristeza voltava, me lembrando que ela era uma velha conhecida e ainda estaria ali por um bom tempo..
— Você não está pronta ainda? — apareceu na porta do meu quarto pronto e eu ainda não havia nem começado a me arrumar. Passaríamos a virada do ano na casa de uma menina da escola que dava a maior festa de Réveillon e eu já deveria estar pronta, mas eu ainda estava pensando no que eu deveria escolher para vestir — São quase dez horas. já saiu de casa pra passar aqui e talvez ela te mate por não estar arrumada ainda. — Ele se encostou no batente e sorriu. Talvez ele não tenha se ligado da data, ou talvez ele só estivesse sendo sutil quanto a me deixar ter o meu espaço para processar isso. — Mordi meus lábios ainda olhando pro guarda roupa e tentando pensar em algo pra usar na virada do ano, mas minha cabeça só conseguia pensar que aquele era a primeira virada de ano da minha vida sem Paul. Minha mente não processava festa, nem e nem e muito menos eu, para que eu pudesse me sentir pelo menos egoísta, minha mente só processava Paul e consequentemente a última imagem que eu tinha dele, deitado naquela cama de hospital já sem vida. Minhas polaridades emocionais estavam convergindo e meu deixando em estado estático, sem saber o que fazer ou como agir e até mesmo sem vontade de me mexer— tocou meu ombro e eu sacudi a cabeça tentando afastar meus pensamentos e me concentrar no aqui e agora. .
— Eu não consigo decidir uma roupa — me afastei — vai me matar, então faz o seguinte vai com ela e eu vou depois. Você me empresta o seu carro e eu encontro vocês lá. — peguei a toalha que estava jogada em cima da minha cama parando na frente dele — Por favor, não diz não e nem insiste em me esperar, você sabe que a vai surtar e ela precisa mais de você agora do que eu. — Lhe dei um selinho sem lhe dar a oportunidade de contra argumentar e entrei no banheiro. .
— Você tem certeza? Eu posso te esperar sem problemas e a não vai surtar.
— Sim, ela vai! Não precisa, sério. Eu ainda vou lavar o cabelo, depilar as pernas, fazer sobrancelha vai demorar muito. Vai indo e eu encontro vocês lá. Até meia noite eu chego. — Respondi seguindo pro box e ligando o chuveiro sem ter nenhuma intenção de entrar nele, não naquele momento.
— Você tá bem? — Ele perguntou e eu respirei fundo.
— Sim. Vai lá. — Eu continuei parada no mesmo lugar até ouvir sua exclamação preocupada e positiva e depois de um tempo a batida da porta. deveria ter avisado a ele por mensagem que havia chegado. Só depois de ter certeza que ele havia saído que eu desliguei o chuveiro e sai do banheiro. Todos os anos Paul e eu tínhamos a tradição de passarmos o ano novo juntos. Tinha sido assim desde que eu me conhecia por gente e sempre em lugares muito variados. Às vezes com minha mãe, às vezes com Tia Rachel, na maioria com nosso pai, mas sempre juntos. Meu pai esse ano passaria o ano novo com minha mãe mas eu não queria passar essa data lá.Eu queria estar em algum lugar que me lembrasse Paul e da tradição de abrirmos nossa garrafinha de desejos e metas do ano e comentarmos sobre elas e escrevermos novas metas para lermos no ano seguinte, nós além de escrevermos metas pessoais escrevíamos um desejo para o outro e mantínhamos esse desejo em segredo, até que o ano seguinte chegasse e pudéssemos abrir a garrafa. Mas dessa vez, não haveria nada disso e aquilo estava me matando. Nossa garrafinha de metas estava guardada comigo, em cima do meu armário, dentro da minha caixa com os álbuns de fotografia e eu me perguntava se era justo ou não abri— la. Parte de mim ansiava pra saber o que Paul havia desejado pra mim o ano todo e eu gostaria de relembrar o que eu havia desejado a ele. Minha mão coçava mais do que nunca para saber se pelo menos dessa vez eu havia atingido a expectativa do meu irmão, saber se eu havia cumprido minha missão mesmo sem saber qual era ela.

Aquela era uma tradição que nós haviamos feito por anos e que pretendiamos passar para nossos filhos para que eles passassem pros nossos netos e assim por diante e não era justo para— lá ali, não era o que Paul iria querer. Peguei um banquinho para subir e puxei de cima do meu armário a caixa onde eu guardava minhas melhores lembranças, foi muito difícil mas eu consegui resistir a ideia de folhear todas as páginas de álbuns e cartas e papéis aleatórios que havia dentro daquela caixa. Ali haviam memórias que eu não queria recordar naquele momento, então me limitei a apenas pegar nossa garrafa e guardar o resto da caixa. Me joguei na cama, olhando para aquela garrafa tão pequena mas tão cheia de significado e comecei a sorrir com as lembranças que encheram minha mente, assim como as lágrimas encheram meus olhos. Arranquei a tampa da garrafa e joguei por cima da cama os papéis que estavam enrolados ali dentro. Haviam duas folhas enroladas ali dentro. Já fazia alguns anos que usávamos a mesma folha para escrever nossos desejos, podendo assim a cada ano ver o quanto nossas vontades haviam mudado e o quanto havíamos amadurecido. E sempre depois de escrevermos, trocávamos a folha, cada um escrevia seu desejo pro outro e então guardávamos a folha na garrafa, para só abri— la no ano seguinte..
A primeira folha que eu peguei foi a de Paul, eu não sabia se eu estava preparada para ver o que ele havia me desejado e saber se eu havia frustrado seu desejo ou não. Quando desenrolei a folha eu sorri com alguns pedidos riscados de anos anteriores que incluíam: pegar mais mulher, ser menos mulherengo, recuperar minha garota entre outras coisas engraçadas e sentimentais. Quando meus olhos bateram na última linha meu sorriso se alargou e eu não soube dizer se era de alegria ou tristeza, mais uma vez minhas polaridades estavam se encontrando e eu não sabia explicar muito bem o que eu estava sentindo. Paul havia escrito com sua letra bagunçada e corrida: .
Ter mais coragem pra falar com ela..
Minha mente automaticamente voou para um ano atrás e eu me lembrei que eu indaguei Paul perguntando quem era ela, ele me disse que eu a conheceria no momento certo.Não havia dúvidas pra mim de que aquela ela era e saber que ele havia partido tendo realizado aquele desejo me dava uma certa felicidade. Ao lado do seu desejo estava minha letra, um pouco mais organizada e legível do que a dele:.
Que você encontre alguém que cuide de você da mesma forma que você cuida de mim..
Um ano atrás eu estava na merda emocionalmente e o ano novo havia sido todo com Paul tentando me animar e me fazendo tentar esquecer Toni. Tudo aquilo parecia tão distante naquele momento, como se tivesse acontecido a alguns anos atrás. Toda a minha vida de agora parecia a um distância discrepante do que ela era antes e eu tinha medo de olhar aquele papel e ver que eu estava apenas iludida, que aqueles desejos e vontades que pareciam antigos eram exatamente os mesmos e que eu era exatamente a mesma pessoa. Meu telefone tocou e era uma mensagem de , perguntando onde eu estava e se eu queria que ele me buscasse. Não respondi e nem visualizei a mensagem, ao invés disso eu desenrolei o meu papel seguindo meus olhos diretamente pro ultimo desejo em minha lista e para o que Paul havia escrito ao lado dele:.
“Aprender a não depender de ninguém pra nada” .
era o que estava escrito com a minha letra. .
Entender que você não precisa estar sozinha pra nada” ..
Minhas lágrimas desceram automaticamente ao ler o desejo do meu irmão. De certa forma isso era o que ele estava sempre me dizendo e me pedindo para entender. Ele estava me mostrando que eu não precisava estar sozinha quando tudo aconteceu entre minha mãe e eu e ele me trouxe pra morar com ele, ele estava me dizendo a mesma coisa quando ele havia deixado a cama quente com nela pra poder ficar comigo em meu momento de surto. Ele estava me dizendo e me mostrando isso o tempo inteiro mas eu parecia estar cega demais para ver ou entender que eu não estava sozinha e mesmo agora com ele tendo partido eu continuava não estando sozinha. Eu tinha , eu tinha eu tinha pessoas com quem eu me importava e que eu sabia que se importavam comigo. Pessoas que estavam lotando meu telefone de mensagem enquanto eu estava sozinha naquele apartamento. A garota que e pensei que havia mudado não havia mudado, ela estava ali optando por estar sozinha quando poderia não estar. Paul mesmo não estando presente havia se feito presente naquela noite, e tudo o que eu precisava fazer era honrar o último pedido que meu irmão havia me desejado naquele papel. Era hora de mudar, e mesmo que isso doesse eu estava muito disposta a tentar.



— Nada? — apareceu ao meu lado com um copo de alguma bebida com cheiro forte. Ela estava claramente ficando bebada, sua animação estranha não condizia com o humor que ela tinha ao me pegar em casa e nem com o desânimo anterior com o ano novo.
— Oi? — guardei o telefone que eu checava de 5 em cinco minutos para ver se já tinha alguma resposta de , mas não tinha. Já passava das onze e nada dela ainda.
, Lembra do último ano novo? Você ficou semi nu em cima daquela mesa dançando bêbado, ovomitou o carro da Rose todo, Eu beijei o sabe— se lá o porquê, Valerie e também se agarraram na virada de ano e o Paul…
— Paul não estava aqui, ele nunca passou o ano novo com a gente — Eu diminui o tom de voz lembrando desse detahe e me deu um sorriso de soslaio. Aquele era um detalhe muito importante. — Paul nunca passou nenhum ano novo com a gente porque todos os anos ele passava com a . Esse costumava ser o momento deles. – Eu repeti pra mim mesmo me sentindo um idiota por não ter me atentado a isso antes. — Ela não vem. — Parei imitando seu gesto olhando pro vazio e pensando no que eu deveria fazer. Dá— la espaço ou mostrar à ela que ela não precisava estar sozinha.
— Você deveria ir, ela deve estar precisando de você nesse momento. — Minha amiga parou na minha frente, colocou a chave de seu carro em minhas mãos e me deu um abraço apertado seguido de um beijo estalado no rosto. Quando ela se soltou de mim, seus olhos estavam marejados e seu sorriso era mais do que a resposta que eu precisava — Feliz ano novo, .
— Feliz ano novo, — Eu lhe dei um beijo na testa
— Vá atrás da sua garota — Ela me deu um tapa no ombro antes de sair andando em outra direção. .

No momento em que eu iria atravessar a rua, meu carro virou a esquina e eu parei onde estava, em parte surpreso, principalmente quando estacionou ele e soltou do carro. Ela estava vestida de forma simples, calça jeans, allstar, um casaco do Paul e seus cabelos soltos. Eu ia falar algo quando ela se aproximou, mas não tive tempo já que ela simplesmente se aproximou e me beijou, eu só tive tempo de trazê— la para mais perto, retribuindo com muito gosto o gesto inesperado.
— Você pode me receber assim todas as vezes que quiser, de verdade — Eu falei quando nossos lábios se separaram e nossas testas se encontraram, levei uma das minhas mãos até o seu rosto, acariciando— a, ainda sem deixá— la se afastar de mim. Quando eu olhei em seus olhos eu percebi que eles estavam inchados e vermelhos, mas seu sorriso era largo e verdadeiro.
— Eu posso tentar, mas você sabe eu sou bipolar — Ela revirou os olhos dando de ombros. Estavamos no meio da rua e por mais que eu soubesse que deveríamos sair dali, eu só queria não ter que soltá— la em momento nenhum.
— Você tá bem? — Acariciei seu rosto, beijando— lhe levemente os lábios.
— Eu vou ficar. É o que Paul iria querer, então eu vou ficar.
— Onde você estava indo?
— Atrás de você. Você realmente achou que eu te deixaria passar a virada de ano sozinha? — Quando ela abriu um sorriso eu tive certeza de que ela tinha o sorriso mais bonito do mundo. Pelo menos do meu mundo. Um rojão estourou no céu e eu olhei pro relógio, faltava um minuto pra virada do ano.
— Obrigada por não me deixar sozinha.Sabe o que me fez mudar de ideia? — A contagem regressiva dentro de algumas casas se iniciou aos vinte. Não havia ninguém na rua além de nós dois e eu amei aquele momento de paz e felicidade. — Paul sempre me disse que deveríamos iniciar o ano fazendo aquilo que desejaríamos fazer pelo resto dele.

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As pessoas gritavam de dentro das suas casas mas suas vozes pareciam apenas uma trilha sonora pro momento que eu vivia ali com minha garota em meus braços.

– E tudo o que eu conseguia pensar era que eu queria estar com você.
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Nossos lábios se juntaram novamente e no exato momento em queos fogos começaram a explodir no céu. Mas nenhum deles conseguiria chegar perto da explosão de sensações e sentimentos que estava acontecendo dentro de mim naquele momento. Eu tinha a garota por quem eu era apaixonado em meus braços e de forma alguma eu a deixaria se afastar de mim.

— Feliz ano novo, .
— Feliz Ano Novo – .

Capítulo 11





Desde que eu havia me mudado a sala havia sido um dos meus lugares prediletos da casa. Sempre por causa do sofá fofinho e a sensação de que ele nos abraçava quando sentávamos nele. A posição dos móveis era boa e por vezes eu me sentia o Sheldon de The Big Bang Theory com o “meu lugar” ali.
Mas agora isso estava mudando, e o motivo da sala ser o meu lugar predileto da casa era e seus braços que sempre me envolviam quando estávamos juntos ali. Os beijos que ele me dava e depositava em minha testa, cabelos e pescoço, suas risadas quando fazia algum tipo de piada sobre o programa de TV que assistimos, até mesmo comer ele conseguia ter feito se tornar um ritual extremamente bom e agradável. E quando eu não estava ali perto dele, vivendo daquelas risadas e daquela sensação boa que eu sentia de mim, eu estava ansiando loucamente para estar ali. E parte de mim ainda tentava se enganar que era mais por causa da sala, e não por causa dele.
Era na sala que conversávamos, riamos, nos beijávamos e desenvolvíamos aquilo que poderíamos chamar de relacionamento. Nada havia sido definido de verdade, mas cada dia que se passava as coisas iam evoluindo entre nós. De uma forma muda nós havíamos consentido de não entrarmos um no quarto do outro, afinal, morávamos sozinhos e quarto era uma coisa bem sugestiva, com nossas camas ali, gritando pela gente. Nós não havíamos conversado sobre o assunto sexo e talvez nem precisássemos, as coisas simplesmente fluíam e isso era bom. Só precisávamos evitar um pouco mais o quarto, mas não que a sala não fosse algo sugestivo, porque era.
E a prova disso era o corpo de por cima de mim, com suas mãos percorrendo meu corpo me levando cada vez mais para perto de si, ou talvez eu o estivesse puxando cada vez mais para perto de mim, enquanto explorava suas costas nuas e suspirava alto pelo beijo rápido que dávamos. As mãos de que por um tempo eu acreditei serem inocentes, me mostravam que eu estava enganada enquanto passeavam pelas minhas coxas, nádegas e invadiam o interior da minha camiseta, mas nada além. E eu queria mais, mais do que sua mão que acariciava meu peito por baixo do sutiã e do que os beijos que ele depositava em meu pescoço. Eu não sabia o que estava fazendo comigo, mas era como se ele conhecesse cada centímetro do meu corpo que fosse me fazer suspirar mais alto ou me fazer me pressionar mais a ele. Aquela sala estava quente, ou talvez fosse só eu que estivesse em chamas. afastou a boca da minha respirando ofegante e com um sorriso extremamente safado no rosto.

— Isso daqui está muito bom – Ele afundou o rosto no meu pescoço — Mas acho que é melhor pararmos. — Ele me deu um beijo no local, seguido de um selinho e se afastou de mim. Cara, eu amava o autocontrole que ele tinha. Ele se sentou no sofá colocando uma almofada por cima do colo e jogando a cabeça para trás, fechando os olhos e sorrindo. Joguei minhas pernas por cima de seu colo, respirando fundo e rindo também, descendo minha blusa que já estava quase por cima dos meus peitos. Por mais que eu quisesse continuar nós dois sabíamos que o melhor era parar.
— Paul estaria orgulhoso do nosso auto controle — Eu comentei sarcástica e ele abriu um dos olhos.
— Não. Ele nem acreditava que a palavra autocontrole existia. — Ele pegou no meu pé, começando a massageá— lo. – Ele ia dizer que estávamos mentindo.
— Provavelmente.Acho que sim. – Olhei para a foto ao lado da TV e lembrei do sorriso do meu irmão e fiquei pensando o que ele diria se soubesse de e eu. — Você tem noção do quanto a gente é forte, moramos sozinhos e estamos a cinco dias nos pegando no sofá e não transamos, muito pelo contrário, estamos conseguindo ficar comportados. Somos um exemplo para a humanidade. — Me sentei puxando meu pé do seu colo. Parte de mim queria continuar falando sobre sexo para ver se ele mudava de ideia quanto a pararmos, mas outra parte admirava, respeitava e precisava do autocontrole que ele tinha. Nós dois ainda não havíamos conversado sobre contar aos outros, mas parecia que tínhamos chegado a um acordo mudo – mais uma vez — de mantermos nosso relacionamento que ainda não tinha um status apenas para a gente.
— Eu sempre te disse que eu era O cara – Ele fez sua pose convencido que a muito tempo eu não via e eu senti um mix de sentimentos, lembrando do que eu acreditava que ele era e a forma como eu o via agora.
— Sempre tão convencido – Eu revirei os olhos me levantando do sofá – Eu vou dormir porque ficar nesse sofá já está ficando algo perigoso demais pra mim. — Lhe dei um selinho que foi recebido com murmúrios e segui sorrindo pro quarto. Eu me sentia leve e feliz e era bom as vezes ficar apenas parada pensando e sentindo aquela sensação boa no meu peito.
Eu também me sentia aliviada por não ter tocado no assunto de falar para todo mundo, eu realmente me sentia mais confortável daquela forma, onde apenas nós dois sabíamos e não corria o risco de ninguém se meter e acabar estragando tudo. Nós não conversávamos muito sobre muita coisa e eu achava bom assim, era mais fácil simplesmente deixar acontecer. Quando eu ouvi a porta do outro lado da parede bater eu me peguei olhando pro teto, com um sorriso no rosto que eu nem sabia mais se tirava até que dormi.



A aula acontecia mas eu não conseguia prestar a atenção em nada do que estava sendo passado ali, eu sabia que aquele não era mais o colégio chique da minha mãe e que eu precisava me esforçar muito para ter boas notas tanto para cursar a faculdade que eu queria tanto para que minha mãe não encontrasse um motivo para me levar de volta pra casa, mas minha mente insistia em olhar pro maldito calendário no alto do meu caderno que me apontava qual data seria dali a dois dias. Seria o aniversário de Paul. Em dois dias Paul faria 22 anos, mas ele não estava mais ali. Eu pensava em maneiras de passar aquela data, maneiras que pudessem representar de verdade o sentimento e a homenagem que eu queria fazer a ele naquele dia. Eu estava vivendo todos os dias da minha vida de uma forma intensa, fazendo tudo aquilo que meu irmão sempre quis ou fez, eu estava honrando minha existência em prol de honrar sua breve vida e por mais que às vezes fosse uma sensação sufocadora, era bom, no final de tudo, eu sabia que de alguma forma ele estava ali comigo.
Minha mente estalou em uma das últimas conversas que eu tinha tido com meu irmão, onde estávamos todos sentados embaixo do globo de luz na festa da e um sorriso acredito que meio psicopata deve ter surgido na minha cara com a ideia maluca que se passou na minha cabeça. Comecei a torcer ansiosamente para que o sinal tocasse logo e eu pudesse reunir a todos para dizer minha ideia que eu esperava muito que fosse aprovada e quando isso aconteceu, foi engraçado ver a cara de todos eles que pareciam tão empolgados como eu.

document.write(Vanessa) falava mordendo os lábios e empolgada com a ideia. Valerie e Rose já falavam do que poderíamos ou não levar e e discutiam sobre o carro. apenas me encarava e eu não sabia se era com um olhar positivo ou não.
— Você acha que vai aceitar numa boa? – Perguntei a ele mais para puxar assunto e ele acenou com a cabeça.

— Eu to aqui pensando da última vez que planejamos fazer uma viagem dessas, viajei um pouco em pensamentos. – Ele sacudiu a cabeça – Eu acho uma excelente ideia. Eu só sinto muito por você. – Ele se desencostou do capô do carro – Não sei se você aguenta um final de semana todo sem meus beijos – Ele disse no meu ouvido. – Vamos ver se eu sou ou não um cara irresistível – Ele tacou a chave pro alto e pegou, brincando e rindo de uma forma marota e eu revirei os olhos. pegou no meu braço não me deixando pegar carona com me levando direto pro carro dela. Foi bom estar ali, a um tempo não estávamos ficando juntas, principalmente depois que e eu havíamos começado a ficarmos juntos. Assim que entramos no carro, como já era de se imaginar, ela começou a enxurrada de perguntas:
— Como vocês estão, vocês não me falam mais nada, só vivem na casa de vocês. Estão usando camisinha?
— Oi? – Comecei a rir – Não estamos transando sua louca – Respondi como se fosse a coisa mais obvia do mundo, mas no fundo no fundo, eu sabia que não era. Que duas pessoas que estavam juntas e morando na mesma casa sozinhos era sinal de altas putarias e eu me sentia extremamente feliz por saber que e eu não nos resumimos apenas a isso.
— Como assim?
— Estamos indo devagar. Não conversamos sobre isso ainda, mas as coisas simplesmente fluem entre a gente, a gente não precisa conversar. É como se chegássemos a um acordo mudo de como as coisas vão ser e simplesmente começamos a colocar em prática.
— Cuidado com isso, é bom, mas todo relacionamento precisa de diálogo saudável e claro, é assim que as coisas caminham bem. Vocês já decidiram se vão contar pro pessoal? Desde que vocês falaram que não estavam juntos a algumas semanas atrás a Valerie anda meio interessada demais no . A Rose e eu já conversamos com ela sobre isso, mas ela disse que acha que esse pode ser um bom momento para conversar com ele, mas não tem coragem. – Murchei um pouco com aquela informação. Era tão chata a situação.
vai conversar com ela. Nós percebemos as investidas que ela tem dado e o só não falou nada ainda porque não encontrou um momento certo de chamá— la para conversar sobre isso, sem que ela ache que ele está chamando ela pra um encontro ou coisa do tipo. E não, nós não conversamos ainda sobre contar ou não pro pessoal, mas eu prefiro manter isso entre a gente por enquanto. Você acha que está visível?
— Sinceramente não, já pareceu mais que vocês tinham um romance, agora vocês parecem mais tranquilos ou a gente simplesmente se acostumou em ver vocês dois sorrindo um pro outro que nem dois retardados. Sem contar que com tudo o que aconteceu, a maioria acredita que nenhum de vocês estão prontos ainda para entrar em algo, principalmente o , por toda a questão de que ele se apega demais e tal.
— Então, eu acho melhor deixar as coisas assim, não quero complicar muito, deixar as coisas acontecerem naturalmente é o melhor que a gente pode fazer. Não forçar nada, minha mãe diz que por ela está tudo bem eu morar aqui, mas eu sei que ela está esperando o primeiro deslize pra me levar de volta pra casa e eu não to muito afim. Falta pouco pro ano terminar e irmos pra faculdade e eu não sei se eu to mentalmente preparada pra comprar uma briga nessa altura do campeonato.
— Eu entendo. E nessa viagem então, pra todos os efeitos vocês são só amigos é isso?
— Somos só amigos. – Eu disse e revirou os olhos gargalhando da minha cara.
— Dá próxima vez que você for falar essa frase, vê se tira esse sorriso idiota do seu rosto.



Uma Kombi. havia ficado tão empolgado com a viagem sem planejamento e totalmente de última hora que havia alugado uma Kombi completamente caindo aos pedaços para que pudéssemos viver nossa grande aventura. Eu dei um tapa na lateral do carro bebendo minha cerveja que estava sendo tomada estrategicamente para que ninguém me pedisse para dirigir aquela geringonça.

— Me sinto em um filme de terror onde as pessoas sabem que não devem escolher aquela opção, mas mesmo assim escolhem a opção mais idiota possível pra se seguir o caminho – Joguei minha bolsa e a de no chão ao lado da porta. – Mas vou apostar em vocês.
— Esse carro tá perfeito,sinto como se fossemos a galera do Scooby Doo e estivéssemos indo resolver um mistério. – se pronunciou também jogando sua mochila e um engradado de cerveja no centro da roda que se formava conforme todo mundo chegava.
— E então, o que vamos fazer? Vamos definir alguma coisa ou simplesmente seguir a avenida ao infinito e além – fez uma pose engraçada e Valeria foi a ultima a chegar, jogando também sua mochila no chão e parando ao meu lado.
— Eu acho que poderíamos fazer uma lista. Pegar Todas as coisas que o Paul gostava ou tinha vontade de fazer e tentarmos fazer esse final de semana, sem nada planejado, só ir seguindo e fazendo o que der. – Rose sugeriu.
— Acho uma ideia perfeita.Eu tenho papel – Valerie tirou de dentro de sua mochila um pequeno caderno e uma caneta. se ofereceu para escrever então todos nós ficamos em silêncio olhando uns para os outros.
— E então? – Ela fez uma cara que eu sabia que não tinha a intenção de ser sexy mas foi, ia ser difícil passar um final de semana inteiro sem beijá— la na frente de ninguém, principalmente depois de passar a semana inteira beijando— a incansavelmente no sofá.
— Bom vamos lá. – foi o primeiro a se pronunciar. – Praia, Paul gostava muito de praia.

— Vodca – falou – Ele gostava muito de se embebedar com Vodka, acho que devemos fazer isso em nome dele.
— Karaokê – seguiu falando e todos olharam pra que estava ao lado dele,as ideias estavam surgindo em sentido anti horário.
— Sexo? – Ela falou com voz risonha e fez uma careta.
— Eu não chamei a Kate pra essa viagem então eu acho que vamos ter que pular essa parte – falou, então era Kate o nome da menina com quem ele estava ficando.
— Ui, tá sério mesmo a coisa hein – Eu falei
— Tá mesmo, a propósito a irmã dela sempre pergunta de você. Ela pergunta se você já conquistou a garota que tu tava afim, e que se você desistir é só eu avisar a ela. – Ele terminou a frase e e Valerie não me encaravam e foi engraçado a reação delas, embora a reação de Valerie ainda fosse algo que eu precisava conversar para esclarecer.
— Quem é a irmã da sua namorada e como ela sabe da minha existência?
— Alana, ela estava na festa da e veio aqui comer pizza com a gente depois e falou pra mim que chegou em você e você dispensou. – Eu não sei porque aquele assunto havia se voltado pra mim, estava tão bom falando dos planos do que fazer que Paul gostava.
— Pode falar com ela que eu estou fora do mercado. – amassei minha latinha. Eu mal lembrava da menina, apenas que ela tinha cabelos lisos e pretos e por mais que ela fosse bonita eu realmente mal tinha prestado a atenção.
— Piscina de bolinhas — falou mudando de assunto – Paul amava piscina de bolinhas e ele já me fez passar vergonha varias vezes por causa disso e de Pula pula. Já arrancamos criancinhas de dentro desses brinquedos pra gente poder brincar. Uma vez o segurança do shopping brigou com a gente por causa disso. — Ela mordeu os lábios e eu tentei fazer o máximo possível para não parecer vidrado em encará— la. Parte de mim estava ansioso para contar a todos o que estava acontecendo entre nós e que estávamos juntos, mas eu sabia que para conversar com ela sobre assumir,eu precisava falar com Valerie primeiro para evitar qualquer clima chato.
Depois de um tempo de indecisões e argumentações, todos nós estávamos dentro da van que eu tinha a certeza que quebraria, sob as risadas de e Rose que pareciam empolgadas demais ou talvez a garrafa de vodka na mão delas estivessem causando esse efeito. Valerie e Rose estavam sentadas ao meu lado e isso tornava impossível fazer qualquer tipo de piada ou gracinha com o que estava me matando de certa forma. Minha vontade era de passar os braços por seus ombros e trazê— la para mais perto que nem eu fazia todas as noites quando sentávamos para assistir TV. havia colocado um CD do All Time Low para tocar e cantávamos um pouco empolgados demais. Eu havia misturado a Vodka com a cerveja e devido ao meu histórico de merdas bêbados eu deveria parar por ali mesmo.
dirigiu por quatro horas, antes de parar a Kombi em frente as dunas da praia de Holkham. Era um belo lugar e Paul sempre havia dito o quanto tinha vontade de ir ali,mas nunca teve tempo.
Separamos algumas coisas que tínhamos levado, entre barracas, cobertores, bebidas, coisas para fazer fogueiras e biscoitos. andava pela areia chutando tudo e rindo que nem uma criança. A faixa de areia era enorme e bem no meio dela havia uma piscina natural .Demorou um pouco para conseguirmos montar todas as barracas e no final de tudo haviam quatro barracas para oito pessoas. tentei conter a animação e comecei a inventar desculpas que eu pudesse usar para poder passar a noite na barraca com , afinal, nós dois só havíamos trazido uma.
Depois de arrumar todas as coisas em seus devidos lugares eu senti uma vontade enorme de me jogar no mar, estávamos no meio do inverno mas o clima felizmente não estava em seu momento mais frio, o que não anulava o fato de estar frio. Eu usava dois casacos, e queria me jogar no mar, o que me fazia chegar a conclusão de que eu era retardado.
Fizemos uma roda e uma tentativa de fogueira que acabou sendo bem sucedida, ainda não era noite, mas era bom já termos resolvido aquilo. As meninas foram colocando cangas pelo chão para nos sentarmos e montamos alguns marshmallows que tínhamos comprado para queimar. Aos poucos todos foram sentando ali e eu já estava começando a ficar um pouco bêbado. A presença insistente de Valerie ao meu lado já estava começando a me irritar e ao que tudo indica, havia começado a ficar com ciúmes, já que na hora de se sentar, ela se sentou bem entre as minhas pernas jogando uma coberta em cima da gente. Tentei conter meu sorriso idiota e enlacei sua cintura por debaixo do tecido. Ela começou um assunto qualquer com Rose que tagarelava animada junto com ela e elas começaram a tomar junto comigo a vodca no gargalo. acendeu um cigarro também se colocando embaixo da coberta e o acompanhou. Nós conversávamos e riamos meio bêbados e por vezes eu precisava me concentrar ao máximo no que eles falavam, ao invés do cheiro do cabelo de que estava jogado em mim, ou da minha mão que por baixo da coberta acariciava sua coxa.
Eu estava absurdamente excitado e isso era idiota, já que morávamos sozinhos e eu teria todas as oportunidades do mundo para fazer tudo o que quiséssemos sem sermos atrapalhados, mas eu a queria ali, naquele momento e de uma forma absurda. pareceu perceber minha excitação já que começou a acariciar minha coxa de uma forma provocativa subindo sua mão bem pro volume no meio das minhas pernas. — , tá aqui com a gente ainda? — perguntou tacando uma lata de cerveja na minha direção.
— Tô, po. — Respondi sacudindo a cabeça e me remexendo para ficar numa posição melhor, já que meu pau duro já estava começando a doer. estava com a cara mais lavada e normal do mundo, mexendo no cós da calça que eu estava e desabotoando meu botão.
— Tá parecendo em outro mundo, cara. — completou e me olhou com uma cara engraçada, olhando logo em seguia pra , que tinha cara de paisagem.
— Foi— se a época em que o era forte pra bebida. Dizia que aguentava tudo, agora óh o bichinho ai rendido. — Ele não estava falando da bebida e percebeu isso, pois começou a rir.
— Eu estava falando sobre essas festas que vão querer fazer pra arrecadar dinheiro pra formatura. — Rose continuou o assunto.

voltou a adentrar sua mão dentro das minhas calças. Quando ela segurou meu membro, eu abaixei a cabeça pensando em todas as merdas que eu queria fazer naquele momento, mas me limitei apenas a subir minha mão por dentro de sua blusa e envolver seu seio.
Eu queria muito beijá— la e embolar minhas mãos nos seus cabelos e quando comecei a pensar que perderia o autocontrole, tirei sua mão de mim. Aquilo era demais pra minha sanidade mental. Então, apenas peguei mais uma lata de cerveja e virei quase de uma vez observando com um sorriso maldoso no rosto enquanto conversava tranquilamente com todo mundo.
que estava ao meu lado, me cutucou pelos ombros e se aproximou de mim como uma velha fofoqueira.

— Tá difícil se controlar ai? — Ele riu meio bêbado. Apenas acenei com a cabeça e ele abriu um sorrisão e me estendeu o cigarro que acabei aceitando mesmo não gostando muito de fumar. O assunto em algum momento voltou— se para Paul e as melhores experiências que cada um ali já havia tido com ele. Era gostoso relembrar mesmo que a alegria viesse acompanhada da mais sutil tristeza no final de cada frase.
— Eu me lembro o meu primeiro porre — ia dizendo — Eu não sei o que era aquilo que eu havia bebido, mas era bom, acho que Paul misturou vodca com suco de alguma coisa, pêssego eu acho e eu parecia que estava flutuando com tudo aquilo, eu andava e ficava olhando pra ele dizendo que eu estava voando. Nóse estávamos ficando escondido porque o bonito aqui não podia saber — Ela fez careta pro — E resolvemos ir à um show fora da cidade. Era uma banda pequena que fazia cover, eu nunca nem tinha ouvido falar deles na vida mas eu estava tão bêbada que fiquei gritando que nem uma louca na frente do palco e resolvi tentar subir.O Paul tentou me colocar lá mas eu nao conseguia subir, fiquei pendurada que nem uma perereca na metade do palco, com ele gritando embaixo pra que eu subisse, o vocalista me pedindo pra descer e eu rindo estagnada no mesmo lugar enquanto todo mundo olhava pra mim como se eu fosse doida. No final de tudo eu não subi no palco, nós resolvemos ir pra casa e pedimos um táxi. A gente estava tão bebado que eu não sei como o Paul deu o endereço pro cara, eu sei que a gente não conseguia abrir a porta lá de casa. — começou a rir e cerrou os olhos pra ela.
— O que aconteceu? — estava curiosa.
— Eu ouvi o barulho deles na porta, ai eu abri perguntei o que estava acontecendo e a minha pergunta parece que desengatou alguma coisa no estômago da já que a resposta dela foi vômito em cima de mim. — Todo mundo começou a rir e isso me remeteu a vez em que Paul me “iniciou” em alguma coisa
— Nossa, Paul adorava ser o primeiro a apresentar alguma merda pra alguém. Eu lembro quando a gente resolveu experimentar maconha — se virou em meu colo, me olhando curiosa e eu comecei a rir só de lembrar da história. — A gente não curtia a ideia, mas minha mãe tinha morrido, eu estava numa fossa fudida e tinha lá em casa a erva medicinal que ela usava. Então um dia aleatoriamente Paul foi até a minha casa, pegou, fizemos uns brownies, comemos e ficamos de boa. Pra mim tava tudo muito bem, até que do nada, juro pra vocês, do NADA eu comecei a rir. Mas não era só rir, eu gargalhava de chorar olhando e apontando pro nada. Eu não sei o motivo que eu ficava apontando, mas Paul cagão do jeito que era, começou a achar que o espírito da minha mãe estava ali e eu estava vendo ele. ele ficava ‘ , para de palhaçada, fala o que você tá vendo porra! É sua mãe?” — imitei a voz de Paul. — Ele começou a ficar desesperado, pedindo desculpas pro vento, falando que nunca mais iria me deixar usar drogas, pediu desculpas por ter usado a maconha dela. E quanto mais ele ficava apavorado, mas eu ria. Ele dormiu na minha cama naquela noite comigo, porque ficou com medo do que minha mãe faria com ele quando ele estivesse sozinho. — Todo mundo ria e eu me deliciava com a boa sensação da lembrança.
— Nossa eu tenho muitas histórias do Paul comigo nessas situações, mas acho que a vez mais constrangedora e engraçada foi o dia que eu precisei fazer xixi na rua e comecei a chorar porque minha xavasca tava molhada, eu fiquei inconsolável e meu irmão ficou lá, falando que poderia comprar papel higiênico se eu quisesse.
— Xavasca? — Perguntei e se virou — Parece russo. Imagina você tá lá no bem e bom e fala: gata deixa eu ver sua xavasca. — Ela revirou os olhos.
não é como se tu entendesse muito de bem e bom né? — resolveu dar uma zoada, mas eu tinha muitas histórias mirabolantes e constrangedoras de quase todos ali e eu estava bêbado.
— Verdade,mas pelo menos nunca passei nenhuma vergonha. , lembra quando o Paul precisou ir de madrugada te buscar na…
— Ok, Ok nem todo mundo precisa saber dessa história — Ele falou mais alto rindo e sacudindo os braços no ar. — Eu já vivi muitas histórias aleatórias e bêbadas com o Paul. A maioria delas envolvendo sexo, sexo, vômito e bebida, mas sem sombra de dúvidas em todas elas ele cuidava de mim.
— Teve uma vez que a gente achou que estava indo pra um menage, e que seriam duas garotas pra cada um, mas chegamos lá seríamos nós dois pra uma garota só, desistimos na hora. — falou. ficava quieto e rindo, ele sem sombra de dúvidas era o rei das histórias engraçadas.
e você? Rose? Valerie?
— Eu tenho um grande problema com a bebida chamado perda total. Eu não lembro de quase nada, na maioria das histórias que o pessoal conta eu estou presente mas nunca me lembro de estar presente. Ano novo do ano passado eu não estava presente, segundo informações eu fiquei com a Rose, mas eu realmente não lembro.
— Graças a Deus. — Ela disse. — Cara eu lembro que quando a me contou que tinha perdido a virgindade com o Paul eu fui conversar com ele e mandar ele cuidar muito bem dela e todas essas coisas que a gente sempre faz, né. Na época a tinha uma questão muito grande com os peitos, ela tinha vergonha demais e não trocava de roupa nem na minha frente e quando ela me contou que tinha deixado o Paul ver os peitos dela eu fui até ele, e falei pra ele tomar conta dela muito bem porque ela deveria gostar dele de verdade, porque nem eu nunca tinha visto os peitos dela. — engasgou e também enquanto gargalhávamos alto. ficou vermelha e quase cuspiu a bebida.
— Eu não sabia dessa história. — se pronunciou
— Eu não preciso saber da vida sexual da minha irmã, ok? — falou e as risadas foram tomando conta do lugar e cessando.

Pensar em Paul deixou todo mundo nostálgico e era como se aquelas gargalhadas tivessem sido o suficiente pra declararmos nossa noite encerrada. O sono já estava batendo e o frio também,então nos dividimos.
sugeriu que poderia dormir comigo caso se sentisse desconfortável, mas ela disse que não tinha problema. E então cada um de nós entrou em sua respectiva barraca para dormir. Pela primeira vez naquele dia eu fiquei sozinho com . Ela se deitou no escuro ao meu lado e eu sentia meu corpo latejando de vontade dela.
— Ouvi seu sussurro e nem esperei pra saber o que ela falaria depois, me virei puxando— a pra mim e então a beijei e fiz isso com vontade, sentindo ela corresponder de forma rápida. Pela primeira vez minhas mãos não foram tímidas, elas tinham necessidade de tocar explorar cada centímetro coberto e descoberto de seu corpo. completamente jogou suas pernas por cima de mim e minhas mão correram para sua bunda, invadindo sua calça de moletom e sentindo a quentura de sua pele. Logo, elas voltara a subir, levando consigo o tecido de sua blusa e procurando desesperadamente a carne volumosa dos seus seios, que eu acariciei e apertei, sentindo abafar um gemido em minha boca e gravar as unhas em minhas costas. Nosso beijo foi cortado para que eu pudesse beijar seu pescoço e minhas mãos aproveitaram para puxar seu sutiã, deixando seu seio exposto. Eu queria que tivesse luz ali pra que eu pudesse admirá— los, mas como não tinha, me contentei apenas com a ideia de prová— los, levando um seio a boca e passando minha lingua por seu mamilo. Minha mão livre, desceu novamente invadindo sua calça de moletom e não se deteve no pano da calcinha, dessa vez eu queria muito mais. mordeu meu pescoço quando eu a toquei pela primeira vez de forma intima, e eu sorri que nem um idiota naquele escuro ao perceber que ela estava molhada. Era bom saber que eu também tinha efeito nela e não somente ela em mim.
Meu desejo por era tão grande que eu quase nem conseguia pensar. Seu corpo se movimentava e com nossos corpos de lado, ela fazia o movimento de roçar na minha ereção e eu realmente acreditava que seria capaz de gozar talvez só naquela brincadeira. Suas pernas me enlaçaram pela cintura e em um espaço de segundos ela estava sentada em cima de mim, alojando minha ereção bem no meio das suas pernas. Eu soltei um gemido quando ela se ajeitou e calou minha boca com um beijo. Eu mordia seus lábios e a segurava pela nuca com uma mão enquanto a outra livre voltava a explorar seu seio descoberto. se afastou de mim e sua mão seguiu para dentro da minha calça, mas precisamente dentro da minha cueca. Ela segurou firme minha ereção e fez movimentos de vai e vem que me deram uma vontade absurda de soltar um gemido. Eu ergui meu tronco no exato momento em que ela abaixava o dela, o que resultou na forte colisão de nossas testas. Estávamos em um espaço pequeno, então quando foi para trás com o impacto da batida ela acabou caindo por cima da “parede” da barraca, levando consigo os ferrinhos que eram usados para dar sustentação e derrubando a barraca em cima de nós.
A queda fez com que soltasse um grito e eu talvez tenha soltado um urro que pode ter soado assustado, chateado, excitado ou qualquer coisa que finalizasse com ado, principalmente frustrado. Ouvimos vozes do lado de fora e principalmente a de . se movimentou se desvencilhando de mim no exato momento em que abriu a barraca. A luz da lanterna invadiu o pequeno lugar e respirei aliviado quando vi que ela tinha coberto o seio, assim como eu também tinha feito com minha ereção.Sai da barraca logo atrás dela, respirando fundo e tentando conter minha ereção, mas eu achava que nem toda aquela água do mar seria capaz de me fazer não ficar duro naquele momento. Todo mundo estava do lado de fora e eu senti uma vontade absurda de rir, mas minha testa estava doendo.

— O que aconteceu? — perguntou e foi mais rápida em responder, talvez com medo de que eu me atrapalhasse na resposta.
— Eu fui trocar de lugar com ele então me desequilibrei e cai — Ela respondeu, acho que o levantou na hora e batemos com a testa. Ela tinha a mão na testa e apontou a lanterna na sua cara, estava perfeitamente bem,linda e sexy. Espero que ninguém tenha notado seu lábio vermelho e inchado. Ele apontou a lanterna em seguida então pra mim e seu sorriso discreto me mostrava que ele sabia exatamente o que estávamos fazendo.
— Mano,tu tá com um galo — Ele riu com a lanterna na minha cara e eu cerrei os olhos. e Valerie se aproximaram e riram, talvez eu devesse estar com um vermelho enorme e talvez minha cara estivesse engraçada. Rose apareceu alguns segundos depois com uma lata de cerveja gelada.
— Estamos sem gelo, coloca isso ai — Ela pressionou a lata gelada na minha testa e eu fiz um burburinho de dor. Quando meus olhos se encontraram com os de , eu vi o sorriso que ela tinha nos lábios e acabei mordendo os meus. Droga, eu precisava absurdamente de um banho gelado.

Acordei com me dando um beijo gostoso no pescoço, abri os olhos e me espreguicei logo em seguida me lembrando que eu deveria estar horrível, descabelada, com bafo e a cara cheia de remela. Quando nos encaramos, ele estava descabelado, com o rosto um pouco inchado, a testa vermelha no lugar onde tinha um galo e um belo sorriso no rosto.
— Como você consegue ser tão linda assim de manhã? — Ele me deu um selinho antes de se levantar e seguir para fora da barraca. Na noite anterior, remontamos a barraca e chegamos ao acordo de nos comportarmos para não fazermos besteira de novo e então dormimos.
— Bom dia, Povo! — gritou do lado de fora e eu me levantei, sorrindo. Ele conseguia fazer a proeza de me deixar de bom humor de manhã. Sai da barraca e todo mundo ia fazendo o mesmo. parecia super bem humorado e seguia em direção ao mar, chutando areia como se fosse uma criança.
— Essa criatura ainda tá bêbada? — Rose perguntou prendendo o cabelo.

, você tirou a virgindade dele, é por isso que ele tá tão feliz de manhã? — perguntou rindo e eu revirei os olhos.
— Gente, precisamos de um banho — gritou a alguns metros de distância, como vamos continuar nossa viagem com todo mundo fedendo? — Ele se virou de costas rindo e tirou a camisa.
— Ele sempre quis fazer isso — apareceu dizendo e eu não entendi do que ela estava falando.Quando voltei meu olhar para de novo vi que ele havia acabado de arriar sua boxer e então começou a correr pelado em direção ao mar.
— Que bunda! — Foi tudo o que Valerie disse e eu tive que concordar mordendo meus lábios e rindo vendo o menino correr gritando em direção ao mar e se jogar nele. Eu não acreditava que estava tendo a coragem de fazer aquilo e meu queixo ficou mais caído ainda quando começou a seguir em sua direção, tirando sua bermuda, camisa e por fim sutiã.
— Vocês vão ficar parados só olhando? — Ela correu em direção ao mar apenas de calcinha e soltou alguns gritos quando entrou na água. Eu estava chocada. Eu nunca entraria no mar daquela forma, mas não por causa do mar, mas sim por vergonha de mim mesma. , e seguiram os dois. Os dois primeiros ficaram totalmente pelados e o último manteve sua cueca. Rose e Valerie seguiram a onda de deixando seus peitos a mostra, mas eu nao tive essa coragem, então entrei no mar apenas de calcinha sutiã.
Eu quis chegar perto de , mas ele estava pelado e eu simplesmente não me sentia confortável, nao com todo mundo ali. Nao principalmente depois da noite anterior e do final fatídico devido ao fato de eu ser desastrada. Aquele banho gelado estava sendo ótimo para tirar os pensamentos mirabolantes que eu estava tendo aquela hora da manhã.
Com exceção de mim, ninguém ali ficou constrangido ao sair do mar, muito pelo contrário, eles agiam como se fosse a coisa mais normal do mundo nadar pelado.Aquilo era sem sombra de dúvidas uma coisa que Paul faria. Nos trocamos e percebemos que nosso estoque de comida estava acabando assim como nosso estoque de vodka. buscou um supermercado por perto no gps e depois de arrumarmos tudo, estávamos dentro da “besta” que era como havia apelidado carinhosamente a kombi. Em pouco tempo estávamos em um supermercado comprando todos os tipos de porcaria e bebidas que se poderia imaginar. pegava todos os tipos existentes de salgadinhos e biscoitos de chocolate.

— Você sabe que isso é só como um aperitivo né?A gente deve parar para almoçar em algum lugar, então não precisa fazer um estoque porque o apocalipse zumbi não tá chegando. — Ele revirou os olhos e me mostrou a língua, pegando mais uns três pacotes de Doritos e colocando os meus braços.
— Enquanto vocês só pensam em bebida, eu gosto de estar muito bem alimentado — Ele me mandou um beijo no ar e Valerie surgiu no nosso lado. Ela parecia uma sombra atrás de e eu me perguntava se ela não se tocava, mas parecia que não.Então parei pra me perguntar, do que ela deveria se tocar? Algo no comportamento dele ainda dava esperanças pra ela. passou por nós sendo empurrada dentro de um carrinho por e quando viramos a ‘esquina” da sessão de biscoitos fazia a mesma coisa com Rose e dentro de um mesmo carrinho. Revirei os olhos e pensei em pegar um carrinho para fazer o mesmo, mas então minha mente deu um estalo em algo terrível e maquiavélico.
Peguei duas garrafas de vodka e fiz um assobio para , quando ele me olhou eu apontei com a cabeça para a saída e parece que a mente dele se remeteu a mesma coisa que eu. Ele pareceu juntar as outras pessoas e eu comecei a olhar disfarçadamente para onde estavam os seguranças.
inocentemente ainda escolhia os sabores do biscoito recheado que ele levaria e eu achava incrível e encantador a sua inocência em algumas situações. Todos já pareciam estar a postos e cientes do que faríamos. tinha uma garrafa em mãos, alguns pacotes de biscoitos e o resto do pessoal coisas aleatórias. Quando eu fiz contato visual com , pude ler em seus lábios a frase ‘ao meu sinal” e me aproximei um pouco de ainda observando atentamente quase do outro lado do corredor.
— Chamei e ele me olhou com os olhos brilhando e atento. Olhei pra que gritou um já e olhou pra trás assustado antes de voltar a olhar pra mim de volta. — CORRE!
— Comecei a correr em direção a saída e demorou a entender o que estava acontecendo até começar a correr atrás de mim.
— O que vocês estão fazendo? — Nós íamos em direção a saída e acabamos ficando pra trás com o segurança bem ao nosso encalço.
— Voltem aqui e paguem por isso. — gritava e era exatamente como havíamos previsto alguns meses atrás que aconteceria. Eu não sabia se ria, respirava ou corria. Minha barriga começou a doer e eu gargalhava alto, quase me engasgando com minha própria saliva. Quando eu olhei para trás pra ver se estava ao meu encalço, vi que ele corria mexendo na carteira e tirou ali alguma nota e jogou pro alto, antes de gritar um desculpa pro segurança que corria atrás e de nós e me acompanhar, pegando uma garrafa de vodka da minha mão e completamente pulando comigo pra dentro da Kombi que já dava partida.
— Vocês são malucos? — Ele perguntou ofegante e fechando a porta. As gargalhadas dentro do carro eram altas e o motivo das gozações eram as mesmas: e sua honestidade.


acelerou o carro ainda gargalhando e reclamou de ser o único motorista. Rose acabou assumindo o lugar e Valerie passou pra frente junto com ela, então abrimos mais uma garrafa de Vodka, ligamos o rádio e começamos a cantar ao som de ACDC que tocava em uma estação qualquer. Com as meninas na frente, e até mesmo eu havíamos ficado mais confortáveis, sem ter a questão de “a menina que gosta dele” estar olhando para gente, então ele passou um dos braços pelo meu ombro e me puxou para mais perto. Eu sentia vontade de beijá— lo e dizer pra todo mundo que estávamos juntos, eu sentia vontade de dizer a Valerie que como ele mesmo havia citado: ele estava fora do mercado e que ele era meu, todo aquele corpo, sorriso, perfume e charme eram meus. Eu sentia vontade de gritar isso ao mundo, mas uma parte de mim ainda acreditava que não era o momento, e era apenas essa parte que me fez não voltar a beijá— lo quando voltamos a nos deitar na barraca na noite passada. Eu queria ele de uma forma absurda e era algo que não era só mais emocional, era físico também. estava causando um efeito sobrenatural em mim e era ótimo embarcar naquele mar de sensações, eu só não queria expô— las.
— Gente, pra onde vamos agora? Eu tô só dirigindo sem direção, vocês poderiam me dar uma luz.
— A gente bem que poderia ir até a big one — Eu falei empolgada.
— A montanha Russa? — perguntou ficando tão animado quanto eu.
— Isso daria pelo menos quatro hora de viagem — Valerie se virou no banco da frente para nos encarar.
— Era o sonho de Paul ir naquela montanha Russa, mas nós nunca conseguimos ir. — Eu fiz bico e ela revirou os olhos pra mim, voltando a se sentar virada pra frente.
— Eu acho uma excelente ideia — jogou as pernas por cima das minhas se esticando — Dá pra gente ir revesando e cada um ir dirigindo um pouco, você não precisa dirigir sozinha Rose. — Todos então começaram a falar e a montar planos de revezamento de direção. Os que não haviam bebido, se mantiveram sem beber e mais uma vez e eu ficamos de fora da roda de revezamento, já que já havíamos dado algumas goladas na vodka. A viagem era alternada entre todos empolgados conversando, alguns cochilando e sendo pintados, silêncio total, depois cantoria. Era bom e engraçado. Recebi uma mensagem da minha mãe me perguntando se estava tudo bem e me assustei, no final de tudo ela sabia que o aniversário de Paul seria no dia seguinte e que aquilo estaria me abalando de uma forma que ela não poderia imaginar. Respondi que estava tudo bem e tirei uma foto com a cara virada para a janela, mandando pra ela e dizendo até onde eu estava indo. Ela me respondeu com um emoticon e uma foto de Emma fantasiada, falando que estava indo em alguma festa de aniversário e então nos despedimos.
Eu me sentia extremamente bem e feliz, tão bem que eu estava com medo de do nada simplesmente acontecer alguma coisa e acabar com aquilo.



— Acorda — Fui cutucada por . O carro estava parado e todo mundo estava do lado de fora olhado com uma cara preocupada.
— O que aconteceu? — Me ajeitei e limpei a baba que começava a escorrer da minha boca. riu e pulou para fora da besta, se juntando aos outros e eu fiz o mesmo. — O que aconteceu? — Repeti minha pergunta e meu irmão respondeu.
— Acho que a besta morreu. — Ele fez uma careta. Seu rosto estava suado e suas mãos sujas de graxa. Não entendi no que deve ter tentado mexer, se ele não sabe mexer em carros. Paul era quem sempre consertava e resolvia esses tipos de problemas.
— Acho que a melhor opção antes de fazermos alguma merda, é empurrarmos o carro. — se pronunciou descruzando os braços e olhando em direção pra onde iríamos antes.
— Eu avisei desde o início que isso ia acontecer — jogou o cabelo pra trás.
— Bom, como temos quatro marmanjos fortes aqui, acho que vocês não precisam de nossa ajuda — Rose disse voltando pro volante da besta — Eu direciono e vocês empurram. — começou a reclamar e Valerie pegou o GPS. O posto mais perto ficava a menos de meia hora dali, então era um percurso “tranquilo”. Os meninos começaram a se revezar empurrando a Kombi e e eu ficamos um pouco mais pra trás seguindo e conversando.
— Vocês não pretendem admitir não? Mesmo depois de ontem? — Perguntei assim que nosso assunto entrou na relação dela e de e ela fez cara de desentendida
— Dava muito bem pra perceber que vocês estavam se pegando. — Ela ficou vermelha e eu revirei os olhos. — Pelo menos eu percebi e o também, as outras meninas eu não sei, elas não comentaram nada.Rolou algo?
— Não, mas eu estava doida que tivesse rolado. — Ela mexeu no cabelo — Eu não sei o que o tá fazendo comigo, .
— Você não respondeu sobre admitir.
— Não acho que agora seja o melhor momento, não quero que ninguém fique sabendo do que está acontecendo ainda, mesmo que seja óbvio. Eu só preciso manter isso pra gente mais um pouquinho, sem complicações e sem me preocupar com nada. — Dei de ombros mesmo sabendo que conhecendo como eu conhecia, aquilo em algum momento começaria a incomodar.
— Vocês que sabem o que é melhor pra vocês. Mas preciso fazer uma simples pergunta que também serve como um alerta:Vocês tem andado com camisinha? — me olhou atônita.Eu tinha certeza que não tinha camisinhas na carteira, mesmos sabendo que era absolutamente necessário.Eu queria muito sentar com e conversar sobre todas as coisas sexuais que eu poderia lhe dar dicas e andar com camisinha quase debaixo do nariz era uma delas. — Você sabe que mais cedo ou mais tarde, e muito mais pra cedo do que pra tarde, vocês vão acabar transando. Vocês estão a flor da pele, Ju. Ontem a noite a forma que o te olhava tava me dando vontade de falar pra todo mundo sair dali pra vocês se pegarem. — Ela começou a rir. Eu sabia que ela se sentia da mesma forma, mesmo que as palavras não saissem de sua boca. tinha um jeito muito parecido com o Paul de falar as coisas sem dizer absolutamente nada. — Você também é virgem? — Precisei perguntar, afinal ela havia estado em um relacionamento por dois anos.
— Não — Ela mordeu os lábios. — E isso tá fazendo tudo mais difícil, sabia? Eu já experimentei, já sei como é, e por mais que eu queira que seja especial assim como eu sei que o quer, tem horas que eu só penso em tirar a roupa dele. Não sei como ele consegue ser tão calmo.
— Que responsabilidade — Eu ri alto — Tirar a virgindade do pequeno — Eu a empurrei pelos ombros e ela riu abertamente. — Sabe, eu já estava achando que o nunca ia transar na vida.
— Cara, eu não consigo entender porque ele valoriza tanto isso, sabe? É sexo. Tesão. Claro que ter sentimentos é muito importante e eu to começando a entender isso mais agora.Sei lá, as vezes eu acho que eu fico com raiva dele valorizar tanto isso só porque eu não sou mais virgem, e não foi especial pra mim. Eu perdi a minha de um jeito tão idiota que sei lá. — Aquela informação me deixou um pouco apreensiva.
— Eu também achava que o superestimava esse negócio de sexo com sentimento e talz, mas no dia que Paul e eu nos acertamos, quando colocamos tudo o que sentíamos pra fora e depois dormimos juntos, foi a melhor noite da minha vida, então agora eu entendo.
— Eu sei que é diferente. E isso me assusta um pouco, sabe? Ele é tão controlado, que as vezes eu fico apavorada. Quando estamos em casa, às vezes tudo que eu penso é em tudo o que poderíamos estar fazendo, e então ele se afasta, estabelece um limite e eu aceito de boa, eu sei que é o melhor. Ontem foi a primeira vez que eu vi ele perder o controle — Ela riu mordendo os lábios. — Às vezes ele é um diferente enquanto me beija, sabe? Acho que ele tem um pouco de medo de acordar o monstro. — Nós duas rimos. Vou ser sincera com você,Nesy. Eu to indo de cabeça, sabe? De verdade. Eu sei que pra ele não é só sexo. Que a virgindade pra ele é algo especial, mas ele leva todas essas coisas tão à sério que às vezes me assusta. , eu já olhei a carteira dele, ele não tem uma camisinha. Eu já comecei o anticoncepcional porque sei que vai acabar rolando e prefiro me prevenir, mas parece que ele está planejando adiar. — Ela soltou um muxoxo e eu percebi que ela estava meio bêbada, por isso estava falando tão abertamente de si.— Eu quero tanto ele, . Tanto. Não é só física, é sei lá. Eu quero beijar ele, abraçar e ficar olhando para aquela carinha de bebê dele, aquele sorriso que ele não sabe dar de olhos abertos. Eu tô tão apaixonada por ele que eu não sei nem descrever isso, . É absurdo, me consome. Eu passo a maior parte do meu tempo com e quando não estou com eu estou pensando nele e quando não estou pensando nele eu estou sonhando com ele. — Ela falou tudo tão rápido e eu comecei a rir.
— O nome disso é amor hein.— Foi tão bom e reconfortante ouvir aquilo vindo dela e saber que meu amigo era verdadeiramente correspondido.
— Não é amor. É paixão, é tesão, é desejo, é uma grande mistura de tudo. E fica tudo confuso. — Ela olhou na direção em que ria jogando os cabelos pra trás. — Eu tô perdida não tô? Tô muito ferrada. — Ela quase chorava e eu a puxei para um abraço de lado.
— Relaxa, garota. Você está em boas mãos. — Eu passei a mão pelos seus cabelos como se ela fosse um cachorrinho da mesma forma que fazíamos com e ela fez um barulho com a boca.

Emendamos em um outro assunto, mas mesmo assim continuei pensando nela e em e em como eu estava feliz por vê— los se conhecendo e se acertando. Eu entendia ela não querer admitir, eu mesma já havia estado naquela posição antes e eu não poderia falar para viver através das minhas experiências, apenas escutá— la e apoiá— la. Isso é o que amigas fazem.
Depois de uma longa caminhada, havíamos encontrado um mecânico e também conseguido um único quarto em um hotel de beira de rua completamente em frente ao parque. Com aquilo e sabendo que não iríamos dirigir pelo menos pelas próximas doze horas, todos nós estávamos liberados para beber, se embebedar e fazer todas as merdas permitidas pela lei. e eram os mais animados, devido a já terem bebido bastante vodka durante o dia e logo todos foram acompanhando o mesmo nível. Foi uma longa briga pelo banheiro e por quem dormiria em qual lugar — escolha essa que nunca foi feita, afinal não tínhamos espaço o suficiente — e então estávamos descendo para ir ao parque e a algum bar ali pelo local.
Em um determinado momento antes de chegar ao Bar, e t começaram a andar um pouco mais na frente e ele passou os braços por volta dos seus ombros, Valerie que estava ao meu lado revirou os olhos e bufou levando um beliscão de Rose que apontou discretamente para mim.

— Eu vi isso. – Falei olhando pra Rose que tentou mudar de assunto, mas Valerie estava afim de falar.
— Ele disse que estava fora do mercado, isso significa que eles estão juntos? – Ela apontou com a cabeça para que estava agora parado na frente de tentando convencê— la a alguma coisa. A forma que ele olhava para ela ali na frente daquele parque deixava óbvio pra mim que eles eram um casal.
— Não sei, se estão não me falaram nada. – Dei de ombros e Valerie bufou alto.
— Eu acho que ele a vê só como amiga, como uma substituta do Paul – Senti vontade de rir, eu poderia sentir pena de Valerie por se encher de esperanças, mas , Paul, Rose, eu e metade do mundo já havíamos falado à ela sobre o fato de vê— la apenas como amiga.Ela sabia que não era recíproco, ela via a forma como ele a tratava, mas ainda assim insistia em dar mole para ele. Era uma decisão dela, eu não apoiaria.
— Pergunta pra ele. – Adiantei meu passo me jogando nas costas do meu irmão. Eu poderia ajudar Valerie, conversar com ela e ser mais paciente, mas eu me lembrava que todas as vezes que eu era a pessoa que precisava de ajuda ela sempre dava de ombros então estava simplesmente aprendendo a fazer o mesmo.

Depois de tomarmos algumas doses, começamos a nos dividir para brincar nos brinquedos. e Rose foram em um brinquedo que rodava a uma velocidade absurda e saíram de lá vomitando, Valerie insistiu em ir em uma espécie de caça fantasmas. Fomos todos na montanha russa e gritamos horrores. t havia sido a pessoa mais engraçada do brinquedo, gritando todos os palavrões do mundo, apertando o braço de , gritando desesperada durante toda a descida e quando descemos, começou a gritar que queria ir de novo.
Fomos pelos menos mais duas vezes na montanha russa, antes que todo mundo se separasse e ficássemos apenas , , , e eu. Comemos quase todo o algodão doce de um moço antes de seguirmos para uma barraquinha de tiro ao alvo.
Ao final de tudo, quando acabamos nos reencontrando com o pessoal, eu tinha uma bolsa com ursinhos, doces, carteiras dos meninos que talvez nem se lembravam mais que tinham me dado e talvez eu fosse a mais sóbria daquele meio. Procuramos novamente um bar e estávamos sentados em volta de mesa que tinha uma garrafa de tequila no meio.
e pareciam muito mais altos do que o restante do pessoal e eu perguntei algumas vezes a eles se eles tinham se alimentado, mas fui ignorada em todas as minhas perguntas. A tensão sexual entre eles estava mais do que presente, e eu estava admirada do quanto eles estavam conseguindo se conter. Eles conversavam absurdamente perto, seus lábios quase se tocavam, cochichava no ouvido dela que sempre ria empolgada e os olhava de soslaio, dando o sorriso que eu sabia que Paul estaria dando se estivesse ali. Era como se ele dissesse: “Esse é o meu garoto.”

— Vocês parecem estar pegando fogo – Eu falei baixinho só pra que pudesse ouvir, já que ele estava ao meu lado.
— Ela está me deixando maluco. – Ele abaixou a cabeça e bateu a mesma na mesa – Mas preciso me concentrar de que aqui não é nem hora e nem momento pra nada. Estamos bem, precisamos nos definir e acertar antes de falarmos pra todo mundo. É um passo grande. – Ele voltou a erguer a cabeça.
— virei seu rosto pra mim — Quão bêbado você está? — Ele deu um sorriso meio idiota e fomos chamados a atenção por meu irmão;
— Então povo, bora fazer nosso último brinde – Meu irmão encheu os cálices que estavam ali e deu a cada um, um pedaço de limão.
— Por Paul. – Ele ergueu seu corpo e todos nós batemos nele, brindando e em seguida bebemos nossa bebida, e fizemos o ritual com sal e limão. Sacudi a cabeça colocando a língua pra fora e levantou animada, falando que iria dançar e convidando a ir com ela. Uma mini pista de dança com bastante pessoas se balançando ficava ali um pouco perto da gente. Eles não deram nem três passos pra fora longe de nós quando iniciou o assunto que eu sabia que viria.
— Eles estão juntos não estão?Aquele negócio de somos só amigos foi tudo balela. – perguntou olhando na direção onde eles estavam.
— Eles estão bêbados gente, eles moram juntos e se apegaram é só isso. – tentou dissipar, ele sabia que eles estavam juntos mesmo sem ninguém ter dito a ele, mas ele também sabia que se eles não queria contar era um problemas deles. Por isso eu amava meu irmão, ele conseguia compreender essa questão de respeitar espaço.
— Eu não sei não. falou que estava fora do mercado, depois vem aquela barraca que cai do nada, eles estão achando que a gente é idiota? – Valerie falava irritada. – Tá mais do que na cara que eles estão se pegando, ela só não deve estar querendo admitir porque deve achar que fica estranho ela estar dando pro logo depois do irmão dela ter morrido.
— Valerie! – Eu a repreendi e ela me olhou de cara feia. Eu sabia que ela estava bêbada e magoada, mas ainda assim aquilo não deveria se falar e foi como se eu compreendesse o motivo de querer esconder. Ela queria evitar exatamente aqueles tipos de comentários. – Se eles estão ou não juntos isso não diz respeito a nenhum de nós, a vida é deles e eles fazem o que quiser, para de soltar seu veneno pra cima da garota que ela não fez nada contra você – revirou os olhos.
— Só to dizendo o que todo mundo deve estar pensando.
— Eu não penso isso. – se posicionou – Na realidade eles já estavam meio grudados muito antes de Paul morrer. Lembram da festa da ? Os dois saíram juntos pro lado de fora de mãos dadas. Se eles estão juntos,transando ou fazendo qualquer coisa, eu fico muito feliz pelo finalmente ter descoberto os prazeres do sexo. — Ele falou olhando pra Valerie — E não é como se ninguém nunca tivesse te alertado que o só te vê como amiga. Ta amargurada ai atoa.
— Gente estamos bêbados, vamos relevar os assuntos – Rose tentou apaziguar.
— Se eles estão juntos que sejam muito felizes – falou voltando a beber. – Os dois merecem e eu torço muito por eles. E se eles estão acho que no momento certo nós vamos saber. – Meu irmão falou olhando pra pista de dança e começou a rir – Tipo agora. – Quando meu olhar, assim como o de todo mundo se virou para a pista pudemos contemplar e que se beijavam empolgados e apaixonados. Eu quis suspirar e ficar feliz, mas conhecendo os dois como eu conhecia e sabendo o quanto eles estavam bêbados, eu sabia que ia dar merda. Ia dar muita merda.


— À Paul — ergueu seu copo e todos nós fizemos o mesmo brindando pela breve vida do meu amigo, aquele que merecia muito mais. Pela primeira vez em muito tempo eu consegui lembrar dele e sorrir de verdade, sem toda aquela dor e raiva, embora ela ainda estivesse ali. Parte de mim era uma felicidade sem medida, uma felicidade que se resumia à e isso me assustava. As coisas me assustavam. Ela me assustava com seu comportamento imprevisível.
— Vamos dançar — Ela segurou minha mão me puxando, sem nem ao menos esperar a resposta. Eu sabia que os olhares da mesa tinha sido direcionado a nós e que nos tornamos o assunto assim que nossos ouvidos não conseguiam mais captar o assunto da mesa. Eu estava bêbado, estava bêbada, assim como metade dos nossos amigos, isso se não todos estavam bêbados.Eu havia passado completamente todo final de semana dessa forma, mas o álcool não alterava de forma nenhuma a forma como eu me sentia, como ela me fazia sentir e em como eu queria gritar aos quatro cantos de que aquela garota estava comigo. Seus braços passaram pelos meus ombros e ela me envolveu pelo pescoço, ficando mais perto. Seus cabelos jogados, seus olhos fechados e sua boca entreaberta em um sorriso enquanto ela balançava seu corpo, eu a enlacei pela cintura trazendo— a para mais perto. Seus olhos se abriram e encararam os meus e eles brilhavam, e eu sabia que não era só o álcool. Eu sabia que também era por mim e isso me deixava feliz pra caralho. Nosso corpo se movimentava de acordo com a música e ela não desviava os olhos dos meus, mas eu queria desviar os meus dos dela. Eu queria encarar seus lábios, seu corpo, eu queria beijá— la, tocá— la, senti— la, eu queria ela.Eu queria que naquele momento pudéssemos nos teletransportar pra sala do apartamento pra que eu pudesse fazer todas as coisas que eu sempre me controlava e evitava. Todo meu corpo formigava por aquela garota, esquentando em todas as partes, querendo tocá— la em todas as partes.
— Se você não parar de me olhar desse jeito eu vou ser obrigado a te beijar, sem nem me importar com que vão falar ou pensar. — Eu falei em seu ouvido e fiquei mais excitado ainda quando vi sua pele se arrepiar bem embaixo dos meus olhos.
— O que você está esperando? — Ela respondeu em um sussurro e aquilo foi a gota d'água pra mim. A puxei para um beijo, segurando sua nuca e aproximando nossos corpos o máximo que a física permitia. Minhas mãos seguiram sem pudor para suas nádegas e ela emaranhou seus dedos em meu cabelo. Estávamos no meio de uma pista de dança e embora outras pessoas fizessem o mesmo que nós por ali, eu não me sentia confortável expondo ela daquela forma.
— Vamos sair daqui? — Eu desgrudei nossas bocas e sua resposta foi segurar em minha mão e me puxar para longe dali.
— Eu estou com a chave do quarto — Ela disse quando já havíamos deixado o bar e seguimos apressados e nos agarrando pelo meio do caminho até chegar ao quarto em que todos estávamos.
A visão de tirando seu vestido e me encarando apenas de calcinha e sutiã quando entramos no quarto não me permitiu pensar em mais nada que não fosse ela. Nossos corpos voltaram a se encontrar e a cairem juntos na cama e eu me sentia afobado, empolgado e perdido. se remexeu embaixo de mim, fazendo com que nosso corpo ficasse encaixado e suas mãos seguiram para a barra da minha camisa, tirando— a e jogando para longe de nós.Minhas mãos se maravilhavam com a delicia que era o seu corpo, seus seios,sua bunda, barriga, cintura, eu beijava e explorava cada centímetro que me era permitido explorar e vibrava internamente de ansiedade e excitação todas as vezes que ela se remexia e soltava um gemido embaixo de mim. Minha mão seguiu pro fecho do seu sutiã, mas tive uma certa dificuldade com isso, então nos afastou com um sorriso diferente nos lábios.

— Esse abre pela frente — Ela desabotoou o sutiã e eu juro quis gozar apenas com aquela imagem dela seminua na minha frente. Seus seios perfeitos, seu lábio vermelho, seu olhar excitado, seu cabelo solto. Me concentrei no que eu poderia fazê— la sentir e não no que eu estava sentindo, eu queria ser capaz de despertar nela pelo menos metade das sensações que ela despertava em mim com um simples toque. Sua mão seguiu pra minha bermuda tirando— a e só quando ela já estava bem longe que eu me lembrei de algo.
— Merda — Me afastei dela que me fitou assustada — Eu não tenho camisinha — Aquela era a coisa mais idiota que eu poderia ter feito: não comprar camisinha e colocar na carteira.
— Eu tomo remédio. — Ela voltou a me beijar afobada, dessa vez empurrando meu corpo de cima do seu e se sentando em cima de mim. Aquela visão dela ali me fez gemer alto, principalmente quando ela se mexeu, e eu senti a pressão sob minha ereção da sua intimidade ainda coberta. Estávamos afobados e com pressa embora aquele não fosse exatamente o jeito que eu havia me imaginado transando com ela, eu não era humanamente capaz de simplesmente parar.
— Você trancou a porta? Não corre o risco de ninguém chegar não né? — Ela olhou pra porta insegura.
— Ninguém vai subir, . Todo mundo sabe o que a gente tá fazendo. — Eu subi minha mão até os seus seios.
— Depois precisamos arranjar uma boa desculpa pra desmentir isso. — Ela abaixou pra me beijar mas eu me afastei.
— Como assim desmentir isso? — Meu alerta soou.
— Isso. — Ela apontou pro nosso corpo — A gente arruma alguma desculpa muito boa, pra ninguém ficar perguntando depois ou enchendo o saco dizendo que a gente tá namorando — Ela deu de ombros e tentou voltar a me beijar e eu me afastei.
— Não tô conseguindo entender, — Eu me sentei ereto, com ela ainda em meu colo diminuindo ainda mais a distância entre nós, mas dessa vez não era de uma forma provocativa, uma coisa estranha estava tomando conta do meu peito no lugar da excitação que aprecia estar se esvaindo. — Qual problema dos nosso amigos saberem da gente? Pra que desmentir?
— Por que eu não quero que ninguém saiba. É desnecessário, nós não estamos namorando e não precisamos chamar a atenção pra isso agora. — Eu parei olhando pra ela tentando realmente não me sentir magoado com sua frase mas não funcionou. — eu estou completamente nua em cima de você e você quer falar sobre o que vamos contar ou nao pro pessoal? Discutir relação agora? — Eu a segurei pela cintura e a tirei de cima de mim, me afastando um pouco e ela me encarava incrédula.
— O que nós temos? — Parecia que eu nem estava mais bêbado, e parecia que ela não estava entendendo do que eu estava falando. — É sério, . Nunca conversamos ou definimos. Eu sei que eu gosto de você e você diz que gosta de mim, mas eu não consigo te entender. O exatamente você quer de mim, que eu minta e diga pros meus amigos que não temos nada depois de dormir com você?
— Eu não acredito que você vai começar isso agora — Ela levantou da cama irada, pegando seu vestido no chão.
— O que você quer de mim, ? — Eu a olhei e me senti realmente magoado quando ela abriu e fechou a boca mas não falou nada Ela parecia constrangida pelo seu corpo nu, ela estava nua fisicamente mas eu estava nu emocionalmente, ela sabia todos os meus princípios que poderiam até ser idiotas, mas eram importantes pra mim. — Você nunca diz exatamente nada. Eu só quero saber, o que nós temos?
— Eu não sei, — Ela respondeu sem me encarar e aquilo foi o suficiente pra mim.
— Eu não sou o cara que transa com uma garota só porque está com tesão, . — Eu estava puto, realmente puto e irritado e magoado — Eu achei que você já soubesse disso. — Eu não esperei que ela respondesse algo, apenas me levantei, pegando minha camisa no chão e saindo do quarto batendo a porta com toda força atrás de mim.

12



Um barulho aleatório, mas muito conhecido, ia chegando ao meu ouvido, sumindo para recomeçar logo depois, baixinho e ir aumentando até parar e começar tudo de novo.
Abri meus olhos tentando identificar onde eu estava. Eu estava jogada na cama do hotel, sozinha e dentro do quarto. A luz do sol invadia a janela e meu vestido estava completamente na minha cabeça deixando grande parte do meu corpo descoberta.
Me sentei, me ajeitando e minha cabeça doeu tanto, que parecia que meu cérebro estava solto dentro do meu crânio. Fechei os olhos e apertei minha têmpora, recapitulando tudo o que tinha acontecido na noite anterior e minha mente deu um estalo que pareceu espalhar pelo meu corpo uma sensação de desânimo e talvez tristeza. Levantei, tentando afastar tais pensamentos e o barulho do despertador continuou tocando. Peguei meu telefone consultando a hora e meu Facebook me lembrou do aniversário de Paul.
Um vídeo de comemoração não só do seu aniversário, mas de amizade de Facebook entre nós dois surgiu na minha linha do tempo e quando eu cliquei no vídeo eu senti uma enorme onda de arrependimento e remorso. Um ano atrás estávamos felizes comemorando seu aniversário e agora eu estava sozinha dentro de um quarto de hotel no meio do nada me sentindo a mulher mais idiota e oferecida do mundo.
Rejeição e constrangimento batiam forte na minha cara, mas dessa vez, eu não tinha Paul em um quarto pra acordar e me dar conselhos. Me senti idiota, babaca, imbecil e ao mesmo tempo com raiva da insegurança idiota. Eu sentia que estava certa e errada ao mesmo tempo, só não sabia qual dos dois vencia. Eu poderia não saber exatamente o que eu queria, mas eu queria ele, e achei que tinha deixado isso bem claro. Eu não me abria da mesma forma que ele fazia, mas pensava que meus gestos eram o suficiente para que ele entendesse como eu me sentia.
Fiquei um tempo só olhando pro nada e minha mente começou a vagar por onde as outras pessoas deveriam estar, afinal, eu havia dormido ali sozinha.
Tomei um banho, me troquei e me senti sozinha de uma forma que nunca tinha me sentido na vida antes, nem mesmo quando me entreguei à depressão e comecei a fazer tudo o que minha mãe queria que eu fizesse. Tentei ignorar a sensação e engolir a seco mas era um bolo muito grande e dificil de descer. No momento em que eu peguei meu telefone pra ligar pra pra saber onde eles estavam a porta se abriu e todos, inclusive entraram dentro do quarto. e riam alto de algo e eu senti meu rosto ficar vermelho quando todos ali me encararam, exceto ele.

— Aqui está você! — falou alto e sua voz assim como seu olhar pareceu preocupado.
Me senti mais sozinha ainda ao perceber que aqueles eram os amigos de , eu era a intrusa ali. Tudo o que me ligava à eles era Paul e se ele não estava mais ali não fazia sentido eu estar. Se eu não tinha meu irmão pra correr eu não tinha mais ninguém. Senti que começaria a chorar sentada ali na frente de todo mundo e mordi meu lábio. Eu queria pensar que estava doendo só por não ter Paul ali, mas meu egoísmo me fazia pensar que não ter Paul ali significava apenas que eu não tinha pra quem correr quando estivesse perdida. E eu estava. Estava perdida porque havia me rejeitado e acreditado que eu não sentia nada por ele. Estava perdida porque ele havia voltado pro quarto com todos os amigos enquanto eu havia passado a noite inteira ali sozinha. O que ele havia contado à eles?

— Finalmente é o aniversário do Paul. — falou e sua voz soou triste. — Acho que não aproveitamos tão bem quanto achamos que aproveitaríamos, né? — Ele olhou pra quando falou e o mesmo se jogou na cama ainda sem olhar pra mim.
— Pois é — Tentei ignorar o aperto em meu peito. — Acho que já comemoramos o bastante, melhor irmos pra casa. — Peguei minha mochila no meio de todas as outras e evitei contato visual com qualquer pessoa do cômodo.Não queria começar a chorar ali, não quando eu não fazia a mínima ideia do que todos eles estavam pensando sobre mim.
— Hora de irmos pra casa? — Valerie se pronunciou.
o dividem o volante, já que foram os únicos que dormiram essa noite, já que todo mundo ficou no bar com medo de atrapalhar vocês e então descobrimos que estava cada um em um canto. cerrou os olhos e eu senti meu rosto esquentar e ao mesmo tempo meu corpo relaxar. Eles então não sabiam de nada.
— Como se você tivesse mesmo incomodado, já que passou a noite toda enfiando a língua na garganta daquela garota esquisita. — Rose o empurrou pelos ombros.
— Eu realmente ainda tenho minhas dúvidas se ela realmente era uma mulher. — começou a rir.
— Me deixem. — Ele se jogou na cama. ao lado de . — Todos nós fizemos coisas que nos arrependemos noite passada. — Eu não sabia do que ele falava exatamente, mas quando ele disse aquela frase eu me vi obrigada a encarar que olhava para o telefone ignorando a presença de todos ali. Definitivamente eu havia feito coisas que havia me arrependido na noite passada.



Tá fazendo o que?
Recebi uma mensagem de . Minha cabeça doía e eu não sabia se era da ressaca ou de tanto que eu havia chorado dentro do chuveiro depois que havia chegado em casa. Minha boca estava cortada por dentro de tanto que eu a mordi tentando me controlar durante todo o caminho para casa.
Revendo pela milésima vez Greys Anatomy
Menti, pois na realidade estava deitada no meu quarto embaixo das cobertas jogando Candy Crush enquanto ouvia The Calling no Spotify.
Tá tudo bem, quer conversar?
Pensei por um tempo, pensando se valeria ou não a pena colocar tudo o que eu estava pensando pra fora pensei no que Paul me diria e no final concluí que sim. Mas como sempre eu contrariava o que poderia ser melhor pra mim, disse à ela que não.
Tudo tranquilo, só to cansada.
Eu estou na sua porta. Abre aqui.

Revirei os olhos e fui ajeitar o notebook em um episódio de Grey's para parecer que eu estava realmente vendo a série. Eu estava no apartamento sozinha, já que havia saído pouco tempo depois de termos chegado. Quando abri a porta, ela já saiu entrando e se jogando no sofá, trazendo consigo três pacotes de Doritos e um pote de sorvete. Tentei fingir animação e fui até a cozinha pegar colheres e algo para bebermos e me sentei ao seu lado vendo sua cara de curiosa que me olhava com uma cara engraçada.
Havíamos chegado em casa por volta do meio dia e havia então se trancado em seu quarto, para sair dali algumas horas depois arrumado e suponho eu que pra casa de . Ele não falou comigo, então eu não falei com ele, então a situação parecia um pouco estranha e complicada de se resolver, porque eu sabia que eu estava errada por ter dito que eu não sabia o que eu queria com ele, mesmo sabendo e demonstrando. Mas também estava com raiva dele por ainda me fazer aquele tipo de pergunta.
— O que aconteceu? — Ela perguntou e eu suspirei, eu realmente precisava conversar, mas me sentia constrangida. — Vocês pareciam bem, super animados e apaixonados, se beijaram na frente de todo mundo e então saíram. convenceu todo mundo a passar a noite no bar só pra não atrapalhar vocês, porque sabíamos o quanto vocês precisavam daquele momento, e então, quando ele resolveu ir dormir na Kombi, estava lá com um mau— humor do cão. Não quis contar o que tinha acontecido, amarrou a cara e não falou com mais ninguém. Você também parece bem chateada e ninguém entendeu nada.
, eu estava pelada em cima dele. — Fechei os olhos sentindo vergonha novamente. — E então ele quis discutir relação e acabamos brigando. — riu e eu abri os olhos por que não entendi o motivo da risada.
— Isso é tão . No momento em que vocês saíram eu sabia que ia dar merda.
— Por quê?
— Um pouco antes de vocês saírem o falou algo sobre “vocês estarem bem, só precisavam definir” e algumas coisas do tipo. é muito certinho, eu sabia que ele ia travar sem ter certeza que vocês tinham algo sério e certo antes.
— Eu não entendo o motivo disso, . Eu já entendi que não é só sexo. Vai muito além disso. Eu fiquei com medo de alguém chegar, ele falou que ninguém chegaria porque imaginariam o que estaríamos fazendo e eu disse que precisaríamos arrumar uma desculpa depois, pra ninguém falar disso. A forma como eu falei pode ter sido mal interpretada na hora, eu não lembro muito bem, eu falei que não éramos namorados ainda e não somos. Estamos nos conhecendo, sabe? Mas isso magoou ele e ele começou a me perguntar o que eu queria dele. , Eu estava com meus peitos de fora! Eu sei que eu que disse que ele podia me beijar na frente de todo mundo, eu só não esperava que ele fosse querer ter DR na hora da transa. — Falei irritada e de novo sentindo o constrangimento pela situação de ter sido deixada lá.
, ele ficou inseguro.
— Inseguro com o que, ? Eu levei ele pra conhecer minha mãe, eu disse com todas as letras que estava apaixonada por ele, disse até frases bem gays se você quer saber. Eu fui até ele no ano novo, quando tudo o que eu queria era ficar em casa me derretendo em lágrimas. Eu penso nele, fico com ele, tento demonstrar pra ele exatamente como eu me sinto, mas ele parece não perceber ou respeitar o fato de que eu não me sinto preparada pra contar pra todo mundo agora. Eu não me sinto preparada pra assumir um namoro e acabar caindo no ouvido da minha mãe, ou para assumir na frente de todo mundo sabendo que a Valerie gosta dele, sabendo que Paul não está mais aqui, sabendo que as pessoas podem começar a falar um monte de coisas, nós moramos juntos, ! Eu tenho 17 anos e moro junto com ele, eu estou aqui, eu quero tentar, isso não é o suficiente pra ele? Ele precisa espalhar pra todo mundo? — Eu terminei quase gritando de tão puta que percebi que estava.
— Você disse isso a ele?
— Não. — mordi meus lábios. — Você alguma vez disse com todas as letras como você se sente? Que nem você disse pra mim ontem, que era louca por ele e que você pensa nele e sonha com ele e quer estar com ele e os motivos que te fazem não querer assumir?
— Sim!Eu disse à ele que estava apaixonada por ele, eu usei uma frase clichê que saiu da minha boca sem que eu nem percebesse,que ele tinha trago luz pra minha vida quando eu achei que tudo era só escuridão. — Falei fazendo careta — Eu disse que queria estar com ele pelo resto do ano. O que mais ele quer?
— Que você dê à ele o motivo de não querer assumir. Só isso. Se você está tão apaixonada assim, o que eu não duvido que esteja, não faz sentido querer esconder.
— Ele conversou com você?
— Não. Mas eu conheço o . Ele é um cara que vai sempre partir pro lado emocional e não carnal,ele deve ter se sentido inseguro por esta com você ali daquela forma e não entender muito bem o motivo de desmentir, já que todo mundo havia visto. Ele é um cara que precisa que as coisas sejam ditas. Você estava nua em cima dele e disse a ele que não sabia o que queria com ele, você ficou constrangida e com raiva dele e ele estava chateado por ser sentir usado.
— Eu não querer assumir um namoro não significa não querer estar com ele, sabe? Eu só queria que ele entendesse isso.
— Eu sei. — Ela disse e eu percebi que ela me entendia mais do que dizia. — Conversa com ele, ele tá parecendo bem puto mas o é uma pessoa que não sabe ficar assim por muito tempo, ele sempre esquece que tá brigado com alguém. Daqui a pouco passa, conversa com ele, fala o que você sentiu e como você se sentiu naquele quarto. Se o problema era o que o pessoal ia pensar eles já abortaram a ideia de vocês juntos depois de hoje de manhã. Vocês vieram a viagem toda sentados um do lado do outro e sem trocar um mísero olhar, todo mundo acha que vocês voltaram a se detestar que nem antes. — Ela riu e eu me senti de certa forma aliviada.
— Vou conversar com ele — Peguei sorvete e bufei.
— Conversem e se resolvam. Minha vida tá tediosa demais então eu preciso de vocês para shippar. — Gargalhei com sua frase e ela ligou a TV.
— Cara, você quase tirou a virgindade de , isso é um marco histórico. Paul estaria tão orgulhoso de vocês dois. — Ela apertou minhas bochechas e eu revirei os olhos.
Começamos a ver televisão e deixamos em um programa qualquer da MTV e acabamos assistindo de férias com o ex. Isso serviu para que pensássemos na nossa vida como se participássemos do reality show e rendeu muitas boas risadas, onde eu acabei contando a ela mais um pouco da minha história com Toni.
Algumas horas se passaram até que entrasse pela porta e eu senti meu coração bater na boca quando meus olhos o encararam, mas ele não fez isso de volta. Ele tirou seu casaco e se jogou ao lado de no sofá, ignorando minha existência e eu me senti de volta a alguns meses atrás quando nós não nos dávamos bem e ele fazia aquilo depois que brigávamos: Chegava, se jogava ao lado de Paul e ignorava minha presença ali. Naquela época nada me incomodava, mas agora parecia que ele estava enfiando agulhas em mim.
— Pelo amor de Deus esse programa é um lixo. — Ele pegou o pote de sorvete que estava na mão de e fez um muxoxo frustrado quando viu que o pote estava vazio.
— Você tá cheirando a cerveja, não bebeu o suficiente pelo final de semana todo não? — Ela falou com ele em tom de briga e eu peguei meu telefone para mexer pra ver se passava meu incômodo por ser ignorada. — Achei que tinha dito que não ia mais beber por hoje. Os meninos ainda estão lá em casa ou já foram?
— Não sei. Não estava na sua casa. — Ele deu de ombros e eu apertei o touch do telefone com um pouco mais de força, abrindo em um joguinho qualquer e pensando em me distrair.
não era Toni que iria beber em um bar e conversar com outras mulheres só porque estávamos brigados, não sei nem porque a ideia veio na minha cabeça logo no final de sua frase,mas mordi meus lábios afastando a ideia. era diferente.
— Onde você estava? — fez a pergunta por mim e eu me levantei com minha colher suja e os sacos vazios de Doritos.
— Não é da sua conta — Ele falou em tom de deboche e recebeu um tapa recebendo uma gargalhada em seguida.
Eu queria não me sentir incomodada, mas eu me sentia, me sentia incomodada, insegura e envergonhada. Peguei algumas coisas na dispensa para fazer um brigadeiro, eu precisava me empanturrar de doce até morrer pra ver se aquela sensação de mal estar passava.
— Você me deve satisfações. Lembre— se você não deve beber sem seus amigos. Essa é uma norma que você não deve descumprir e apenas nos finais de semana — Ela falou séria e ele mudou a televisão de canal.
, brigadeiro puro ou palha italiana? — Perguntei e ouvi sussurrando pra ela brigadeiro puro antes que ela respondesse e isso me fez sorrir pelo menos um pouco, ele pareceu uma verdadeira criança e eu percebi que sutilmente sem perceber havia assumido o lugar de Paul entre nós dois.
— Brigadeiro puro — Ela gritou pra mim da cozinha e eu comecei a fazer o doce. entrou na cozinha e abriu a geladeira ao meu lado, ficando parado olhando pra dentro dela por um bom tempo. Eu quis falar alguma coisa, mas fiquei quieta porque eu sabia que eu queria perguntar onde ele estava, então mordi meus lábios com força e segurei minha vontade de gritar com ele.
fechou a geladeira e voltou pra sala se jogando ao lado de e iniciando com ela um assunto qualquer. Até que eu voltei pra sala com o doce, e ficamos por ali mesmo, comendo brigadeiro, e vendo TV. Quando ficou tarde, anunciou que iria pra casa e eu senti meu coração pesar no peito,porque eu sabia que mais uma vez eu iria ficar sozinha com .
Tudo o que eu queria era conversar e tentar acertar as coisas, eu nunca havia sentido uma vontade de fazer as pazes tão rápido com ninguém, mesmo estando com raiva. Mas maior do que a raiva era a sensação de estranheza por não ter ele me olhando ou sorrido pra mim, e meu cérebro parecia estar sentindo falta daquilo. Antes mesmo de voltar da porta onde tinha ido levar , eu já fui pro meu quarto batendo a porta do mesmo com toda força do mundo tentando mostrar com aquele gesto idiota, o quanto eu estava puta com ele.
Tomei meu banho e depois fiquei deitada na cama pensando em tudo o que tinha acontecido, eu podia fechar os olhos e pensar em qualquer outra coisa, mas minha mente não aceitava não pensar na noite anterior e em . Eu era minha maior troladora. Não sei quanto tempo fiquei pensando e pensando e pensando, até que não me aguentei e levantei, completamente marchando pro quarto ao lado.



Eu tinha acabado de subir a box pelo meu corpo quando a porta do meu quarto foi quase arrombada por que não bateu, mas sim quase derrubou a coitada da porta quando passou por ela que nem um furacão.
— Você é ridículo! — Ela gritou irritada e eu não duvidei que ela pudesse avançar pra cima de mim a qualquer momento — Eu te disse como eu me sentia, da forma mais clichê e idiota possível, eu engoli toda tristeza que eu estava sentindo no ano novo só pra poder ir lá e ficar com você e dizer que isso era o que eu queria fazer O RESTO DO ANO — Ela gritou o final da frase com o dedo em riste e eu senti vontade de rir, mas me contive. Eu deveria estar irritado com ela, mas não estava. Eu havia errado ao sair do quarto, sou emocional demais e bêbado então fico pior. Eu não deveria ter duvidado dela ou feito aquelas perguntas, na realidade eu nem deveria ter levado ela pro quarto pra começo da história. — E você vem me questionar o que eu quero, quando eu estou PELADA EM CIMA DE VOCÊ?
— Desculpa. — Eu disse coçando a cabeça e pensando que aquela era a única frase plausível que eu poderia falar pra ela.
Eu não poderia me justificar e falar que eu também estava com raiva, porque eu já não estava mais. Durante todo o dia e no caminho pra casa eu fiquei pensando no quanto eu tinha sido idiota em deixá— la sozinha no quarto, na realidade eu não deveria nem ter levado ela pro quarto. Estávamos bêbados! Aquela foi a primeira vez que eu senti meus impulsos sexuais falando mais alto do que qualquer outra parte do meu corpo e eu consegui finalmente entender o que os meninos estavam querendo dizer quando falavam que “não conseguiam se controlar”. Era forte demais.
— Desculpa? — Ela parou meio atônita e perdida, talvez em seus pensamentos mais loucos ela não tenha imaginado que eu iria acabar a discussão tão cedo assumindo meu erro. — Você não pode pedir desculpas, porque eu ainda não terminei de falar — Ela falou com o dedo em riste e senti mais vontade ainda de rir, ela realmente estava irritada. — Eu estava lá . E você achou que era só sexo. Que eu só estava querendo usar você ou sei lá o que. Eu estava pelada — O fato dela ter frizado aquela frase de novo me fez perceber que ela não estava com raiva da situação como eu estava vendo,ela estava se sentindo rejeitada e constrangida por isso, o que fez com que eu me sentisse mais idiota ainda e achasse ela um pouco idiota também.
— Parcialmente nua. — Ela cerrou os olhos. — Você acha que foi fácil pra mim sair daquele quarto e te deixar lá?Você acha que eu não quis voltar e terminar tudo o que eu sei que nós dois estávamos loucos pra fazer? Você acha que você precisa estar nua na minha frente pra que eu te deseje mais? Eu quero você, não só o seu corpo. Eu fiquei puto com você, com a forma que você disse e agi talvez que nem um idiota. Desculpa, mas você também foi. Eu estou aqui , eu gosto de você, eu quero estar com você, eu sou totalmente aberto às coisas que eu sinto,eu falo livremente disso e você é diferente de mim, não tô te pedindo pra ser igual. Mas eu estava bêbado e você mexe comigo de uma forma louca. Eu não deveria ter saído do quarto, ou ter questionado nada. Eu nem deveria ter te levado pra lá, em primeiro lugar. Mas eu levei, questionei e enfim, fizemos merda. Desculpa. — Ela cruzou os braços fazendo com que seus seios ficassem mais em evidência na camisola que ela usava. Meu olhos não conseguiam mais olhar pra sem prestar a atenção em todo o seu corpo e consequentemente, o meu reagia ao dela.
— Você não pode pedir desculpas assim. — Ela balançava a cabeça e batia os pés no chão parecendo uma menina mimada. — Eu ainda estou puta com você.
— E eu vou continuar pedindo desculpas até que você simplesmente não esteja mais — Dei de ombros. — Eu errei. Eu fiquei inseguro e confuso. Você errou, falou algo que eu sei que você não queria falar. Eu queria muito que tivesse rolado de tudo ontem, mas ao mesmo tempo eu não queria que fosse ali, que fosse daquele jeito. Eu não queria transar com você e no dia seguinte fingir pra todo mundo que nada aconteceu, ficar mentindo, quando na realidade eu só iria querer gritar pra todo mundo que tu tava comigo. Não combina comigo o comportamento que você queria que eu tivesse e você me conhece a tempo o suficiente pra saber muito bem disso. — Ela continuou em silêncio. — Por que você quer esconder? Só me explica, me dá um motivo, não precisa me fazer entender o seu motivo, eu só preciso saber que você tem um e qual é ele.
— Eu só não quero que todo mundo saiba. Eu não quero ver questionamentos, meu irmão acabou de morrer e então eu começo um namoro? — Ela falou como se fosse a coisa mais absurda. — Eu deveria estar em luto e to me divertindo.É isso o que as pessoas vão dizer, e tem minha mãe que quando souber vai surtar e querer me levar de volta pra casa dela, tem a Valerie que gosta de você e eu não me sinto preparada, . Pra assumir isso pra todo mundo, eu quero descobrir como as coisas vão fluir sabe? Sem ter nada de fora interferindo, tanta coisa aconteceu na nossa vida agora e eu só queria que isso — Ela apontou dela pra mim — Ficasse entre a gente por enquanto.
— Mas você pode falar com a e eu não posso falar com ninguém né? — Eu falei e comecei a rir e ela cerrou os olhos.
— Você pode conversar com ela também. Ou com — Ela deu de ombros.
— Então, significa que eu não estraguei tudo e a gente ainda tá de pé? — Me aproximei dela que continuou com a cara fechada.
— Eu ainda estou puta com você. — Segurei em sua cintura, trazendo ela mais pra perto.
— Eu sei. E eu quero dizer que errei e que provavelmente não vai ser a última vez que vou errar, Porque eu sou humano e é isso que a gente faz o tempo todo: merda.
— A gente ainda precisa conversar sobre sexo. — Abri um sorriso, porque eu sabia que ela estava querendo entrar naquele assunto tanto quanto eu. só não sabia se ela estava tã excitada quanto eu. Saber que ela estava ali, que estavamos sozinhos em casa e que agora nada poderia nos para dava um tesão muito grande.
— Vamos conversar então. — Eu beijei seu ombro e fui subindo meus beijos pelo seu pescoço. Eu havia ficado excitado no momento em que ela havia passado pela porta do meu quarto usando aquela camisola, e agora tudo o que eu conseguia pensar era como eu queria o corpo dela junto com o meu. — Então, do que você quer falar?



Era difícil entender o efeito que estava tendo sobre mim. Eu havia entrado dentro daquele quarto puta e agora eu nem conseguia mais pensar no motivo da minha irritação, porque a pressão entre minhas pernas não estava me deixando pensar em nada além da sua mão na minha cintura que parecia que descarregava energia no local.
— Como vamos lidar com isso? — Perguntei e ele sorriu e voltou a beijar meu pescoço.
— Acho que a gente tem que deixar as coisas irem devagar — Sua mão escorregou pra minha perna, subindo pra minha bunda e levando com ela o tecido da minha camisola. — Tem tanta coisa que a gente pode explorar e conhecer um do outro até termos certeza que não estamos compartilhando só tesão. — Sua frase me remeteu a noite em que nos beijamos no Rio de Janeiro e eu entendi o que fazia ele querer ir devagar.
— Então vamos evitar camas. — Eu disse já fechando os olhos e me entregando aquela sensação gostosa que era sentir sua mão explorando meu corpo. Era óbvio que aquilo era balela. Não conseguiríamos evitar nada. — Ele voltou a parar o rosto na frente do meu, me olhando com um olhar que era totalmente novo pra mim nas expressões de .
— Vamos evitar camas — Ele sorriu antes de me beijar.
Todo meu corpo explodiu em vontade e cruzei meus braços ao redor de seu pescoço. guiou nosso corpo pro local mais próximo, que era sua cômoda e nossos corpos se colaram totalmente quando o meu se chocou com o local.
Eu sentia sua excitação entre minhas pernas, e fiquei radiante por saber que eu não era a única que parecia estar totalmente ativa, mesmo depois de uma briga. Meu corpo respondia muito rápido a e eu tinha certeza que ele também queria mais. Sua mão subia pela lateral do meu corpo carregando minha camisola e minhas mãos também exploravam seu corpo que já estava quase despido.
Seu toque ficou mais firme quando minhas unhas deslizaram por suas costas e ele ergueu parcialmente meu corpo, me apoiando no móvel e minhas pernas se abriram, encaixando perfeitamente nossos corpos e permitindo que nossas partes íntimas fizessem contato, o que fez com que um gemido se desprendeu de minha garganta por sentir o membro duro de roçando em mim, mesmo que através do tecido de nossas roupas. Ainda não era como eu queria e nem exatamente onde eu queria, mas ainda assim era uma sensação gostosa demais pra passar desapercebida.
Ele pareceu gostar do toque também, pois o aperto de suas mãos ao redor de minha coxa e bunda se intensificaram, e a forma como sua língua explorava minha boca se tornou mais urgente. Havia muita vontade em nós dois, e aproveitar isso agora sóbria era absurdamente melhor.
Minha mão saiu de suas costas pra seguir pra dentro de sua cueca, e no momento que segurei seu membro enrijecido, mordeu meus lábios, soltando um gemido necessitado. Eu sabia que ele nunca tinha sido tocado daquele jeito, exceto pelo dia em que estávamos bêbados na praia e que para ele era uma experiência nova, então não me apressei.
Eu queria que ele aproveitasse isso sóbrio. Deslizei meus dedos, explorei, apertei, movimentei e intensifiquei. Abri os olhos para ver a expressão sôfrega de que quase se movimentava junto com minha mão e isso me fez sorrir. Sua mão antes em minha coxa, se apoiou abaixo de minha bunda e me ergueu da comoda. me levou diretamente pra cama e nossos corpos caíram afobados sob a mesma.
Eu nem me importei em que estado estava minha camisola, na realidade eu estava achando que estávamos com peças de roupa demais, embora ele estivesse só de boxer e eu de camisola. se posicionou em cima de mim e seus beijos desceram por meu colo e suas mãos despiram meus seios, a forma como ele me olhou fez com que eu procurasse atrito em seu corpo e sem sombra de dúvidas eu deixei minha calcinha em um estado lastimável.
Sua boca começou a explorar meu seio e meus quadris começaram a se movimentar com urgência procurando por contato e para auxiliar, segui minha mao para onde ela estava antes, voltando a masturba— lo enquanto ele beijava meus seios.Suas mãos se dividiam entre meus seios, coxa, bunda, cintura e conforme seu corpo ia descendo despejando rastro de beijos pelo meu eu perdia o contato com seu membro, não conseguindo mais toca— lo. Eu me sentia perdida. Eu nunca havia me sentido daquela forma, aquilo também era novo pra mim.
— Eu nunca fiz isso, você já. Você sabe do que você gosta eu não sei, então você tem que me mostrar — Ele mordeu os lábios e coçou a cabeça e eu o vi inseguro e foi lindo aquela cena.
Me sentei na cama, e tirei de vez a camisola. Minha mão seguiu pra sua boxer mas ele a segurou.
— Você tá muito apressada — Ele voltou a deitar meu corpo na cama, deitando— se por cima de mim. — E você entendeu errado o que eu quero fazer — Seu corpo voltou a descer distribuindo beijos pelos meus seios, barriga, ventre e então ele parou. — Posso? — Ele perguntou com um sorriso e minhas pernas automaticamente se abriram mais, pedindo por mais contato.
foi desajeitado em tirar minha calcinha e eu me senti constrangida quando ele olhou pro meu corpo nu. Havia luxúria, muita luxúria em seu olhar, e ele ficou parado alguns segundos apenas me olhando antes de se posicionar entre minhas pernas e seguir seus lábios pra minha intimidade. Quando ele finalmente a tocou, foi quase como se eu visse estrelinhas no céu. Dos meus lábios saiu som sem que eu nem percebesse e meu corpo se envergou querendo mais contato.
Havia insegurança, mas também havia sutileza em seu toque o que tornava tudo absurdamente mais prazeroso Minhas mãos seguiram pro seu cabelo e por vezes eu o guiava, para que ele soubesse exatamente onde tocar com sua língua. Era bom, era ótimo, era maravilhoso. Meu corpo vibrava, meu coração acelerava e tudo o que eu queria era mais e quando meu corpo explodiu em um orgasmo, eu quase não consegui me mexer. Em parte envergonhada pelo som que saiu da minha boca que eu mesma não reconheci e em parte curtindo ainda as ondas que passavam por meu corpo.
Quando abri meus olhos, me encarava esperando um retorno e eu comecei a gargalhar. Vi seu rosto ficar vermelho e ele começar a ficar sem reação e o puxei para um beijo.
— Você tá rindo porque foi bom? — Ele parou com o rosto perto do meu.
— Se eu to rindo,é porque foi ótimo. — Beijei seus lábios e ele se afastou um pouco.
— Paramos por aqui. — Ele beijou minha bochecha e meu nariz.
— Podemos continuar, você ainda tá assim — Toquei seu membro e continuei beijando seu pescoço. Ele fechou forte os olhos. — Você não quer que eu retribua? Perguntei e ele se afastou com um enorme olhar tarado.
— Não. Eu falei que iamos devagar. — Ele me deu um selinho — Só em saber que eu consegui te satisfazer, já tá otimo pra mim. — Ele se ergueu rindo e eu me joguei na cama rindo abobalhada e sentindo aquela maravilhosa sensação de leveza que um orgasmo te dá. — A única coisa que me deixara muito feliz, seria ter você dormindo aqui do meu lado. — Ele fez cara de cachorrinho que caiu da mudança e eu me sentei, pegando minha camisola e procurando minha calcinha.
— Tá bom — Coloquei as peças no meu corpo rápido e constrangida e ele se levantou — Onde você vai?
— Tomar um banho — Ele riu.

— Não vou demorar, do jeito que eu to aqui — Ele olhou pra baixo. — Não demoro mesmo. — Ele riu de si mesmo indo em direção ao banheiro e eu fiquei ali, deitada e olhando pro nada, pensando que eu nem conseguia ficar irritada com ele. A irritação havia sumido e agora tudo o que eu sentia era felicidade e uma sensação boa de completude, e não era só o sexo. Era ele. tinha a incrível habilidade de me fazer sentir absurdamente bem.

Capítulo 13




dormia um sono pesado ao meu lado, com direito a cabelos jogados por cima do meu rosto e tudo quando o despertador tocou na cabeceira da cama. Travei o telefone, me levantei e ela não mexeu um músculo.Fiquei olhando pra garota que dormia e comecei a rir sozinho lembrando da noite anterior e do fato de que eu havia sido forte pra caralho em ter resistido a transarmos de verdade, mas não havia me arrependido. Tinha certeza que se tivéssemos começado, eu teria terminado em pouquíssimo tempo, eu precisaria me acostumar mais com todo aquele contato pra não fazer feio quando fossemos transar, mas eu sabia que era algo que não conseguiríamos mais evitar.O desejo estava latente demais pra isso. Me arrumei e assim como havia planejado, finalmente voltei pra academia. Eu precisaria sair um pouco do loop: escola/casa.
Malhei e cheguei em casa já sentindo meu corpo doer, preparei meu café, me arrumei para a escola e ia chamar quando um barulho na porta chamou minha atenção. Estranhei alguém estar batendo ali aquela hora da manhã e quando abri a porta, quase cai para trás ao ver a figura do meu pai parado na minha frente com meio sorriso nos lábios.
— Oi Filho — Minha mente demorou um tempo pra processar que era ele de verdade, mesmo sabendo que era ele. Eu não o via a dois anos e ele estava um pouco diferente desde a última vez. Meu pai era um cara bonito e admito que havia puxado bastante à ele, principalmente os cabelos e o formato do rosto. Ele me encarava aparentemente ansioso e feliz e eu provavelmente fazia uma cara de bunda enorme sem entender o que ele fazia parado ali e porque estava rindo. Eu queria bater a porta na cara dele, que nem eu fazia com o telefone quando ele me ligava mas eu não consegui fazer isso. Algo muito forte dentro de mim havia começado a gritar que ele era minha única família agora no instante que eu bati meus olhos nele.
— Hey — Eu não sei quanto tempo eu demorei para que essa frase saísse da minha boca e ele abriu um sorriso maior do que o que ele já estava dando, talvez porque estivesse esperando uma batida de porta na cara e não um “Hey” totalmente inexpressivo e assustado. Ele parecia não saber o que falar depois daquilo e eu não sabia o que falar depois daquilo.
— Desculpa bater na sua porta assim, essa hora da manhã, eu sei que você tem aula, mas passei só pra saber se você quer tomar café comigo? — Ele se movimentou se graça e terminou a frase com a mão atrás da nuca. Havia tanto dele em mim, por mais que eu tentasse com toda força negar. — Isso se não for te atrapalhar, é claro.— Meu pai não estava vestido informal e eu me perguntei o que ele estaria fazendo na cidade. — Desculpa aparecer sem avisar, eu pensei em te buscar na escola e te levar pra almoçar, mas eu não sabia se você estaria na escola então resolvi arriscar e passar aqui pra te convidar pra tomar café comigo, já que você não retorna minhas ligações e nem e— mails e mensagens embora visualize todos eles. — Ele torceu os dedos e a resposta saiu de mim tão normal que eu mesmo não me reconheci
— Ok. — Voltei pra dentro do apartamento sem convidá— lo para entrar e olhei para as coisas que eu separava para tomar café. Guardei todas elas dentro da geladeira de novo e olhei pro quarto. Eu deveria acordá— la para ir para a escola, ela provavelmente havia esquecido de colocar o despertador como sempre, mas eu não queria que meu pai a visse ali, eu não queria que ela visse meu pai então apenas peguei minha mochila,minhas chaves e segui para a porta digitando uma mensagem pra avisando que eu tive que sair e depois explicaria. Meu pai desceu as escadas comigo em silêncio e ao chegar lá embaixo percebi que ele estava sem carro. Ele seguiu pro meu e só quando entramos consegui olhá— lo de verdade.
— O que você quer?
— Vamos naquela lanchonete que íamos quando você era criança? Tem um tempo que eu estava com vontade de tomar o milkshake de lá — Ele olhou ao redor do meu carro ignorando minha pergunta — Achei que você já tinha trocado ele a um tempo. Não recebeu o e— mail que eu falei que o dinheiro extra depositado na sua conta era pra você se dar um carro de presente de aniversário? Eu teria te levado pra comprar um, mas você me ignorou — Ele falava sutilmente.
— Eu não mexo naquela conta. Não faço a mínima idéia de quanto tem lá — Fui honesto e ele se assustou um pouco.
, aquele dinheiro é seu. Você pode mexer nele o quanto quiser. — Dei de ombros dirigindo em silêncio. — Logan ainda está administrando as coisas da sua mãe?— Fiz um barulho positivo com a boca. — Você lê e assina, ou você só assina as coisas sem ler? Você precisa tomar um certo cuidado com essas coisas.
Quando meus avós morreram, eles deixaram de herança para minha mãe um conjunto de lojas e imóveis alugados por toda a inglaterra, quando minha mãe morreu esse conjunto passou a ser meu, como eu era muito novo e não entendia muito bem sobre administração, eu havia autorizado meu pai a cuidar desses negócios para mim, mas quando fiz 18 anos a responsabilidade passou a ser minha, então eu respondia pela imobiliária e assinava todos os papéis referentes à ela. Eu era usado só em última opção mesmo, porque Logan, um administrador de confiança da minha mãe cuidava de toda a maioria, recorrendo a mim só para assinaturas finais mesmo.
— Tá tudo certo. Ele é de confiança. E eu sobrevivo bem com o dinheiro de lá. Não preciso mexer no seu.
— Você poderia sobreviver melhor. Como está a escola? Já decidiu que faculdade fazer?
— Estou pensando ainda. — Parei o carro em frente a lanchonete e saltamos dele. Eu estava surpreso comigo mesmo por estar respondendo as perguntas do meu pai de maneira clara e educada porque parte de mim insistia em em me lembrar que ele era minha única família agora, que minha mãe e Paul estavam mortos e que talvez aquele fosse o momento de deixar minhas mágoas de lado e dar uma chance à ele. O motivo de não sermos próximos era único e exclusivamente eu. Eu não queria tê— lo próximo. Eu não atendia suas ligações, Eu não retornava suas mensagens e e— mails. Eu recusava todos os convites para ir até a sua casa, conhecer sua nova família, eu recusava convidá— lo para fazer parte da minha vida, e talvez se eu não mudasse aquela situação, no final de tudo eu seria o único sozinho dentro dela.
— Já pensou em administração? Seria uma maravilha um dia você assumir os negócios quando eu estiver velho — Ele se sentou em uma mesa e pegou o cardápio.
— Já, mas não por sua causa — Fui sincero. — Mas as coisas ainda estão confusas, to vendo um mar de possibilidades e medicina está entre uma delas. Mesmo eu tendo perdido um ano minhas notas estão boas, então acho que essa deve ser minha primeira opção. Se não engenharia. — Escolhi o que eu sempre pedia quando eu tinha sete anos e íamos aquele local. Meu pai sorriu com meu pedido e pediu o mesmo
— Engenharia é uma boa opção também.Eu administro algumas construtoras, poderia ver alguma oportunidade em alguma delas pra você.
— Eu nem decidi o que vou fazer ainda. — Coloquei o cardápio de lado e olhei pra sua aliança na mão direita.
— Como vai o casamento?
— Não casamos ainda. Você não foi ao jantar de noivado e eu achei que seria bom conversar com você primeiro antes de casarmos. — Ele me olhou apreensivo antes de falar — Eu preciso que você esteja lá. Eu sei que você não aceita essa relação, filho. Que eu trai sua mãe que eu assumi uma familia que nao era a minha, mas eu já estou com a Celine a onze anos. Eu completamente criei seus filhos e eu queria que você tivesse feito parte disso, mas você não quis e eu insisti pouco e hoje me arrependo amargamente por isso, deveria ter insistido mais. Mas eu também não posso deixar coisas de lado porque você não aceita. Esse é o único motivo pelo qual eu ainda não tinha realizado o sonho dela de casar, mas algumas coisas estão acontecendo e eu resolvi fazer isso agora, oficializar nossa união e eu precisava muito de você lá. — Ele parecia tão sincero. — Você sabe que até mesmo sua mãe queria isso. — Ele tocou em um assunto delicado e eu engoli a seco agradecendo pela comida que havia chegado.
— Quando vai ser? — O sorriso que meu pai abriu talvez tenha mudado alguma coisa em mim, porque eu contorci meu rosto em algo que talvez tenha parecido com um sorriso.
— Próximo final de semana — Ele bebeu seu milkshake com um sorriso no rosto e eu me senti teletransportado a onze anos atrás da minha vida, onde tudo era mais fácil e feliz.
— Ok. Vou ver se consigo ir — respondi somente, ainda surpreso com minha atitude e tentando entender a mim mesmo.O cara havia traído minha mãe e ido embora, será que ele realmente merecia uma nova chance?
Meu pai continuou assuntos que me envolviam, perguntando na minha vida, da escola, meus planos pro futuro,se eu estava namorando entre outras coisas. Ele queria saber da minha vida e parecia extremamente feliz por eu o estar respondendo. Depois de deixá— lo em seu hotel eu descobri que ele havia ido até a cidade apenas para falar comigo. Fui pra escola e cheguei mais do que atrasado, eu havia passado mais de uma hora conversando com meu pai naquela lanchonete e resolvi esperar até a hora do intervalo para poder entrar na sala. Quando o sinal tocou, eu vi o pátio se encher e meus olhos se encontraram brevemente com os de que desviou de mim quando chamou sua atenção.
Eu estava sentado na mesa onde sempre sentávamos e Valerie foi a primeira a aparecer ali.

— Hey você! Onde se meteu? — Valerie se sentou do meu lado com um sorriso aberto. — estava preocupada com você — Dei de ombros e respondi um “por aí”. Ela abriu um sorriso insinuante e eu olhei de volta para a fila da lanchonete onde pegava seu lanche.
— Val, eu poderia conversar com você rapidinho longe daqui? — e Danny se aproximavam da mesa e eu achei que aquela era a deixa perfeita para conversar com Val. — Ela acenou com a cabeça e com os olhos um pouco arregalados. — Vigia minhas coisas, por favor — Pedi quando chegou e me levantei, Valerie fez o mesmo.
— Onde você estava? — perguntou e eu soltei o mesmo por ai que havia soltado minutos antes. Valerie pediu o mesmo à e nós dois seguimos para um lugar mais afastado das mesas do pátio, mais precisamente perto do muro, onde nos sentamos na grama. De lá eu conseguia ver a mesa onde todo mundo estava sentado e conseguia ver a cara emburrada de o que me fez quase rir, por pensar que talvez ela estivesse com ciúmes.Logo ela, que sempre dizia que não tinha.
— Diga — Valerie se remexeu inquieta, estalando os dedos.
— Olha, — Cocei a cabeça sem graça e sem saber muito bem o quê e como fazer — Tem um tempo que eu sei que você nutre uma espécie de sentimentos por mim. — Ela olhava para o chão — eu sei que você sabe que eu sei. — Ela soltou um é xoxo e continuou olhando pro chão. — Você é uma menina linda, inteligente, engraçada, mas é que… — Como dizer para uma garota que eu não gostava dela sem magoa— la? Era possível isso?
— Você gosta de outra garota. Eu sei, na verdade eu sempre soube. — Ela suspirou e olhou para frente, pra mesma direção que eu olhava e via os cabelos cheios de que ela havia prendido em um coque. — É ela não é? A ? — Fiquei parado olhando pra garota que estava a metros de distância e ainda assim conseguia mexer comigo de uma forma absurda.
— É.
— Acho que no fundo eu sempre soube que era ela. Você fica diferente quando ela está por perto. Você fica mais feliz. É como se o ranzinza e reclamão parasse de existir e desse lugar a um com mais sorrisos. — Eu a encarei ficando sem graça e ela parecia estar levando tudo muito bem.
— Vocês estão juntos? Essa briga toda é só pra não chamar a atenção? — Ela se referiu ao evento no hotel.
— Não. É uma situação complicada. Nós somos complicados — Eu sorri de lado.
— Obrigada por se preocupar em conversar comigo. Você é um cara decente, Poynter. Um dos poucos que ainda existem. Nunca deixe nada e nem ninguém mudar isso. — Ela me deu um beijo no rosto — Minha investidas em você acabam a partir de agora. — Ela se levantou rindo e limpando a bunda. — Agora vê se resolve as coisas com ela logo. Ela também gosta de você, isso ficou bem nítido esse final de semana, então se resolvam e aproveitem. e Paul deixaram um exemplo bem claro pra gente que nao temos todo o tempo do mundo. — Ela saiu andando em direção à mesa e eu sabia que o que ela falava, não condizia muito com o que ela pensava sobre o assunto, mas aquilo não era algo que me preocupava. Voltei a olhar pra garota emburrada que conversava com e me olhou séria quando eu voltei pra mesa e eu percebi que de todas as pessoas ao meu redor, ela era a única com quem eu queria compartilhar o que havia acontecido mais cedo e como eu estava me sentindo. Mas não tive tempo, assim que voltei pra mesa uma menina que eu sabia que fazia uma aula com ela a chamou pra terminar algum trabalho que faziam juntas e ela precisou deixar a mesa ainda me lançando olhares curiosos e furiosos, eu não sabia entender direito.
Quando o sinal tocou, resolvi que não assistiria nenhuma aula e fiquei jogado dentro do carro esperando até sair.
— O que aconteceu com você hoje? — Foi a primeira coisa que perguntou depois de bater a porta do carro. — Quando acordei você já tinha saído, depois não estava na escola, quando apareceu na escola, não apareceu em nenhuma aula e agora percebo que você ficou trancado dentro desse carro ouvindo essa música fúnebre. Tá tudo bem? — Eu ri da sua expressão preocupada e olhei ao redor do carro, mesmo sabendo que ninguém conseguiria nos ver ali, queria me certificar, antes de me inclinar e beijar . Havia conforto todas as vezes que eu fazia isso.
— Não me beija — Ela se afastou, deixando sua mão depositada em meu rosto. — Me responde. — Ela parecia preocupada.
— Meu pai apareceu lá no apartamento hoje de manhã. — Ela arregalou os olhos e embora eles estivessem curiosos, nenhuma palavra saiu de sua boca, então decidi continuar — E eu decidi dar uma chance pra ele, saímos pra tomar café juntos, conversamos um pouco e foi isso. Quando voltei não estava no clima de assistir aula porque minha cabeça estava a mil e fiquei aqui te esperando.
— E como você está? — Ela ainda estava preocupada.
— Bem. De verdade, eu estou bem. Ele é a única família que eu ainda tenho,então… — Dei de ombros. — Mas não quero fazer disso grandes coisa, ok? — Liguei o carro.
— Ok. Se você quer assim — Ela se ajeitou no banco. — E Valerie? — Ela perguntou olhando pro telefone e eu ri da sua falsa falta de interesse.
— Depois diz que não é ciumenta.Conversei com ela. Expliquei como me sinto, enfim, essas coisas. Não precisa ter ciúmes.
— Eu não tenho, não estou. — Ela sacudiu a cabeça me olhando séria mas sem graça e eu gargalhei da sua expressão. — Você falou pra ela alguma coisa sobre nós?
— Não necessariamente. Eles deduziram algumas coisas depois de sábado e bom, eu realmente não to muito interessado no que foi.
— Tem certeza? — Ela parecia ainda insegura, talvez achando que aquele assunto ainda estava me incomodando, coloquei minha mão livre em sua coxa e sorri. — Para de se preocupar com as coisas.Se você não quer assumir, não vamos assumir. Você já me deu seus motivos e eu entendo todos eles.— Ela sorriu aliviada. — Agora eu posso ganhar meu beijo?

(...)


Eu tinha tido uma tarde de sonhos malucos. E quando quero dizer malucos , eu não quero dizer malucos: eu quero dizer quentes. Bem quentes. Ter dezoito anos, morar com a “garota com que se está junto” e não transar com ela é algo bem difícil. Mesmo eu tendo sugerido em seguir devagar e mesmo eu achando que era a melhor opção pra nós dois. Mesmo eu estando inseguro pra caramba por nunca ter transado com ninguém e ela ter dois anos de experiência, nada disso fazia minha vontade dela diminuir, apenas aumentar. Principalmente depois de ter dormido uma noite com ela.Principalmente depois de tê— la visto nua e gemendo. Aquela era a imagem que eu não conseguia esquecer e a qual eu tinha sonhado a tarde inteira.
— Hey bela adormecida — apareceu na sala — Você estava dormindo tão pesado que achei que ia acabar virando a noite — Eu usava a TV pra me distrair dos meus pensamentos e senti o comichão no meio das minhas pernas no momento em que eu olhei pra ela. Ela usava uma camiseta larga e um short curto e justo que marcava bem sua bunda. Ela se aproximou, depositou um beijo leve nos meus lábios e cruzou a sala, seguindo para estante da TV e começando a procurar alguma coisa na porta que tinha ali, ela nem sabia que eu estava tendo pensamentos pervertidos com ela, mas havia ficado na pior posição possível pra minha ereção que já havia surgido nas minhas calças. Eu encarava sua bunda que era maravilhosamente linda. Não era errado, afinal eu estava com ela então tinha a total liberdade de encarar sua bunda.
— Ela se virou e fez alguma pergunta mas eu não prestei a atenção, a única coisa que eu consegui fazer foi encarar a região dos seus seios. Ela estava sem sutiã e logo a imagem dela seminua em cima de mim me voltou à memória. Puta que pariu, eu já estava totalmente excitado só de olhar pra ela. — , eu to falando com você — Puxei um almofada pro meu colo e ela se aproximou estalando os dedos e eu olhei pro seu rosto. Não fazia idéia do que ela estava falando. — Você tá prestando a atenção no que eu to dizendo? Tá tudo bem? — Ela pareceu preocupada e resolvi ser sincero sobre o que estava acontecendo.
, eu to com tesao da porra. Sério, tive uns sonhos agora que olha — Mordi minha boca olhando pra dela. — Não to no meu controle normal,então só me ignora e segue seu rumo — apontei pro quarto dela — Por que a forma como você tá me encarando agora não tá fazendo passar,ok? — Senti meu rosto queimar como o inferno quando terminei de falar e ela abriu o sorriso mais tarado que eu já havia visto ela dar e se aproximou. Merda. Merda.Merda.
— Por que você fica vermelho tão fácil? — Ela colocou uma perna de cada lado do meu corpo e se sentou no meu colo. Eu já estava mais do que excitado e eu não conseguiria me controlar que nem a noite anterior e focar apenas em dar prazer à ela.— Nós estamos juntos, . Esses pensamentos são mais do que normais.
— Mas combinamos de ir devagar. — Minhas mãos foram parar em sua cintura sem que eu nem percebesse, tocando— a por baixo do pano da camiseta e ela ajeitou suas pernas ficando mais confortável.
— A gente ainda pode ir devagar, . — Ela começou a distribuir beijos pelo meu pescoço e minhas mãos se fecharam eu sua cintura, pressionando seu corpo ao meu e permitindo que minha ereção pressionasse bem o meio de suas pernas. Meus lábios procuraram os dela, e pela primeira vez não houve nenhuma delicadeza em nosso beijo. Minha mão deslizou sentindo a pele macia das suas costas até chegar em seus seios descobertos que eu acariciei.Embora eu estivesse afobado, me beijava de uma forma lenta e totalmente nova, sua língua deslizando para minha boca fazendo cada parte do meu corpo se aquecer e excitar, sua cintura rebolando em cima da minha ereção. Soltei um gemido por isso. Eu ainda pensava que talvez devesse me conter, mas ela desceu sua mão e foi direto pra minha cueca, segurando meu membro que já estava mais do que pulsante e começando a movimentá— lo. Minha mente não pensava em mais nada a não ser ela. Suas coxas, barriga, cintura, seios e eu não hesitei em puxar sua blusa e joga— la para longe de nós. Eu precisava senti— la de verdade, sentir sua pele se encostando a minha, sentir seu gosto, seu calor. Afastei um pouco e tirei sua camisa,movimento que fez com que ela soltasse minha ereção e me demorei um pouco só para poder admirar a beleza do seu corpo, eu não cansaria nunca de fazer isso. De ver a curva perfeita dos seus seios, sua barriga que não, não era chapada mas não deixava de ser perfeita. Ela era linda, de todas as maneiras lindas. Ela me olhava com o lábio preso entre os dentes. Minha mão seguiu novamente para os seus seios e dessa vez minha boca também seguiu até eles, tentei me manter atento às reações do seu corpo, apenas para me certificar que estava fazendo a coisa certa. Ela não precisava beijar meu pescoço, arranhar minhas costas ou apertar suas pernas em torno de mim para me deixar louco, embora ela fizesse todas essas coisas. Tê— la em meus braços já me deixava louco. Eu segui pro cós de seu short e me parou. Eu queria entender o que se passava na sua mente e o que sua expressão queria me dizer, mas eu não entendi. Suas pernas a tiraram de cima de mim e ela parou em pé, parcialmente nua e com os cabelos soltos me encarando
— Minha menstruação veio hoje de manhã — Ela fez careta.
— Apenas verdadeiros piratas navegam por mares vermelhos — Eu a segurei pela cintura e beijei sua barriga. Eu realmente não me importava com aquilo e ela sorriu me afastando e então se ajoelhou na minha frente e eu senti meu pescoço esquentar mais do que já estava quente. Parte de mim quis gritar em expectativa e ansiedade ao perceber o que ela iria fazer, mas me contive. Ela abriu minhas pernas ficando ajoelhada entre elas e eu me senti uma menininha idiota apreensiva pelo que poderia acontecer a seguir. Eu era a mulherzinha daquela reação, era oficial agora.
— Mas isso não significa que não precisa ser um bom dia pra você. — Fazer sexo oral nela era uma coisa, receber sexo oral dela era outra totalmente diferente.
— Você não precisa... — Eu ia tentar terminar a minha frase mas ela deu um sorriso extremamente tarado ao puxar o cós da minha boxer. Eu me senti uma menininha prestes a ser desvirginada e gemi infantilmente quando ela me envolveu com a mão e logo em seguida me acolheu com a boca. Eu tentei manter meus olhos abertos para apreciar bem o que acontecia ali, mas a sensação era tão absurdamente gostosa que eu apenas fechei os olhos e joguei a cabeça pra trás sentindo um gemido sair de dentro da minha garganta. A princípio senti cócegas, mas logo ela começou a intensificar seus movimentos e eu me vi indo no céu e voltando. Aquilo era bom demais,eu gemia e tinha certeza que minha boca balbuciava alguma coisa, mas eu nem sabia identificar o que. Todo meu corpo parecia em êxtase e quando eu resolvi abrir os olhos e contemplei a imagem de ali, me dando todas aquelas sensações maravilhosas foi quase impossível me controlar.Eu queria fazê— la sentir tudo aquilo que eu estava sentindo,mas eu não conseguia nem me mexer direito, apenas sentir. Sentir sua boca, sua língua, seus cabelos que roçavam na minha perna. Eu estava quase chegando ao meu ápice e ela mal tinha começado
— Eu murmurei seu nome — Se você continuar eu vou — Não consegui terminar a frase porque ela parece gostar do que ouviu e intensificou seus movimentos me fazendo gemer com mais intensidade e murmurar palavras como “isso é muito bom” e ‘continua”. Aqueles sons não pareciam estar vindo de mim, pois eu sentia um torpor tão grande que parecia ser impossível falar ou fazer alguma coisa. Era diferente e milhões de vezes melhor do que eu imaginei. Eu curtia o movimento e sabia que não ia durar muito ali. tirou a boca de mim e continuou seu movimento com a mão quando percebeu que eu ia gozar, evitando que o líquido fosse em sua boca e quando a sensação do orgasmo me consumiu.Não era que nem as punhetas que eu estava acostumado a bater no chuveiro, aquilo era absurdamente melhor, era melhor pra caralho. Todo meu corpo parecia ter relaxado e me olhava de uma maneira tão sexy e satisfeita. A puxei para mim, dando— lhe um beijo e a joguei no sofá, eu precisava fazê— la sentir o que eu havia sentido.
— Eu tô menstruada, . — Ela me parou
— O quê que tem? Já falei que só verdadeiros piratas navegam em mares vermelhos — Ela gargalhou gostoso antes de me empurrar
— Eu não curto, eu fico muito sensível. — Ela se sentou e me deu um selinho — Mas fico muito feliz em ter te ajudado com seu problema — Eu puxei minha boxer, me tampando e acariciei seu rosto, beijando sua testa. — Nós temos todo o tempo do mundo para continuarmos — Ela me deu outro selinho. — Agora se vira e limpa sua sujeira, preciso encontrar um livro de Paul que eu to morrendo de vontade de reler — Ela ia se levantar para voltar à estante, mas eu a abracei por trás, puxando de volta pro sofá e beijando— a delicadamente enquanto sentia o cheiro do seu cabelo.
Senti vontade de dizer que a amava e me vi paralisado com meu próprio pensamento. Não era só pelo sexo ou pelo boquete que ela havia acabado de me fazer, era por ela, por seus olhos, seu sorriso, seu corpo, seu olhar. Eu amava cada centímetro dela. Não era mais só paixão, era amor. Merda. Eu estava muito fudido.
— O que foi? — Ela perguntou rindo quando percebeu que eu havia parado de beija— la apenas pra ficar encarando com cara de retardado — Tá me olhando como se tivesse visto fantasma.

Era amor. Droga, Droga, Droga.
Era amor.

Capítulo 14



chamou minha atenção me cutucando pela cintura e eu acordei de um transe. — Tá com a cabeça no mundo da lua hein — Ela me empurrou com o ombro e eu voltei a olhar para a quadra onde jogava. Estávamos na aula de educação física e meu time e o de havia sido o primeiro a jogar e agora apenas olhávamos. — Tá tudo bem? — Ela parecia preocupada.
— Eu a amo, . — Nessy me encarou sem entender do que eu estava falando — . Eu a amo. Sério mesmo, de verdade.
— Eu sei disso, . Todo mundo sabe disso.
— Não, não sabe. Como você pode saber se eu só percebi ontem? — Eu estava gesticulando e ela riu. — Não ri, . Ontem eu percebi que amo essa garota, tem noção disso? Eu amo a e não só amo a , eu quero casar com ela, ter filhos com ela, construir uma família com ela e ver ela envelhecendo. Você tem noção disso? Ela nem quer ter filhos, mas eu to aqui pensando em como nossa família vai ser linda e em como iremos mimar nossos netos. Meu Deus eu to fudido. — Coloquei a mão no rosto — Era pra ser uma paixão adolescente, Nessy. Ficaríamos apaixonados, viveriamos isso e conforme fosse acontecendo íamos desenvolvendo juntos pensamentos do futuro, mas agora eu to aqui, a gente nem tá namorando e eu já sei o nome dos nossos quatro filhos e dois cachorros.
, respira — Ela puxou minha mão. — Meu amigo, eu sempre te disse que a vida real era muito diferente porque a gente não conseguia controlar nossos próprios sentimentos. Não é que nem nos filmes. A gente não controla, as coisas simplesmente acontecem e a gente só toma no cu se vaselina. — Ela me empurrou pelos ombros. — Vocês vão lidar com isso, até porque acho que a ama você também, só não se deu conta disso ainda. — Vocês já transaram?Foi isso que te fez perceber que a amava, o momento pós coito?
— Não. Cara, eu tô inseguro pra cacete. — Foi horrível admitir aquilo em voz alta. — A não é virgem, ela sabe como tudo é e eu só sei de ouvir falar. Essa semana eu percebi o quanto eu sou — interrompi a frase e mordi meus lábios, eu sempre tive orgulho de ser virgem, de não ter saído por aí transando com ninguém porque eu acreditava e ainda acredito que fiz o melhor que pude. Mas agora com era diferente, eu sabia que ela era especial demais e eu queria fazer algo que fosse especial demais pra ela também. Eu queria que fosse bom.
— Você é inexperiente, . Isso é uma coisa que vocês vão evoluir juntos. Não importa se ela é virgem ou não. Você não é o Toni, sexo nunca é igual, com cada pessoa vai ser de um jeito. sexo é como andar de bicicleta, quanto mais você pratica, melhor vai ficar
— E se comigo for ruim? — Meu tom deve ter saído engraçado porque ela começou a rir. A empurrei com o ombro e ela riu mais ainda. — Eu estou falando sério, Nessy. Essa semana ela fez oral em mim e eu fiquei — Tentei buscar na minha cabeça algo que definisse o meu estado — Sem reação. — Meu corpo formigou só de lembrar e me lamentei internamente pela semana ter sido agitada e não termos tido a chance de repetir — Foi muito bom e eu só fiquei lá, parado. — continuava rindo, mas dessa vez sem fazer barulho algum.
— E você retribuiu?
— Na verdade quem começou com isso foi eu, no domingo quando fizemos as pazes. E pela reação dela, acho que foi bom.
, sexo é instinto. Você vai saber o que fazer e a hora que fazer. Só presta a atenção aos sinais dela, no corpo dela. A melhor parte você já tem, que é a vontade de satisfazê— la. — Ela piscou pra mim. — Cara nem acredito que você vai deixar de ser virgem. Isso é um marco. — Ela bateu palmas e eu rolei os olhos. — Você não precisa ter medo, . As coisas vão acontecer naturalmente. Você vai ver. — Acenei com a cabeça. — Só uma coisa:o clítoris é sempre o segredo!
— Sim senhora — Nós rimos e eu me senti um pouco mais leve de falar aquilo com alguém. — Como diria um grande pensador contemporâneo: só relaxa e goza. Você está encanado demais — O sinal tocou e uma suada veio correndo em nossa direção se jogando em cima de nós. Senti vontade de puxá— la e beijá— la, mas me lembrei que estávamos no meio de muita gente e eu tinha que disfarçar.

iria deixar em casa pois as duas queriam fazer algo antes, então eu fui da escola direto pra academia. Tentei deixar nos aparelhos toda minha ansiedade e insegurança. Era estranho me dar conta só agora que eu queria construir minha vida com a , pois parecia algo muito natural.Mas além de , a visita do meu pai também martelava a minha cabeça e nada do que eu fizesse conseguia tirá— lo dali.
Quando eu cheguei em casa, já estava ali. Ela estava distraída procurando algo dentro do armário da cozinha e uma música do The Script saia da tv. Era estranho só agora me tocar que eu queria construir uma vida com ela,quando na verdade já parecíamos estar fazendo isso. Eu já estava acostumado em chegar em casa e vê— la na cozinha inventando alguma coisa, cantando que nem uma maluca e super concentrada em seguir sua receita. Eu já havia me acostumado a entrar no seu quarto e pegar as roupas espalhadas no chão pra colocar pra lavar, caso contrário ela ficaria xingando sozinha que não tinha feito isso e não tinha mais roupa pra usar. Já parecíamos estar no futuro que minha cabeça só começou a idealizar agora.
Fiquei olhando pra e percebi o quanto de coisa eu sabia sobre ela. Eu sabia sobre seus problemas com sua mãe, seu término, seu relacionamento com Paul, sua antiga vida sexual. Havia uma lista bem grande com um bocado de coisas que eu sabia sobre ela e um bocado de coisas que eu não sabia. Mas sem sombra de dúvidas eu sabia muito mais dela do que ela sabia sobre mim, não porque eu ñão quisesse contar, mas porque eu havia evitado pensar e falar em tantas coisas que parecia que essas coisas tinham parado de fazer parte de mim.

— Que susto, praga! — gritou do outro lado da cozinha me despertando do meu transe e eu me aproximei — Quer me matar do coração, chegando em silêncio e ficando me encarando assim que nem um psicopata? Por que você sempre faz isso? — Ela fechou a cara irritada e eu entrei na cozinha. Eu estava suado, cansado mas nada físico me fazia parar de pensar que o casamento do meu pai aconteceria no dia seguinte e que eu precisava tomar a decisão de ir ou não. Se eu fosse, eu teria que sair de casa em algumas horas,pois ele tinha pedido para ir jantar com eles antes do casamento, para que eu fosse devidamente “apresentado” a todo mundo. O casamento aconteceria pela manhã do dia seguinte.
— Temos alguma forma redonda de bolo? — Ela perguntou e se voltou pro armário. A abracei por trás e ela reclamou se remexendo dizendo que eu estava suado e fedendo, mas eu não me importei, cheirei seu cabelo e sorri sabendo que aquela gama de sensações que ela me fazia sentir era única. Sabendo que eu amava aquela garota de uma forma muito nova até pra mim. Amá— la não me deixava assustado, ela perceber em algum momento que não poderíamos seguir com aquilo me assustava..Aquele era o meu medo. Mas as coisas estavam aparentemente bem para nós, havíamos nos tornado mais íntimos, talvez porque tenhamos finalmente compartilhado um pouco de intimidade de verdade. — Eu estou tentando fazer uma receita que vi na internet para nós — Ela se virou de frente começou a me empurrar, mas eu a segurei e a beijei com toda delicadeza do mundo, tentando através daquele beijo mostrá— la o quanto ela era importante pra mim e o quanto eu me importava em fazê— la feliz.
— Tá tudo bem? — Ela manteve nossas testas coladas quando finalizamos o beijo — Aquele parecia ser seu hobby predileto, saber que eu estava bem.
— Sim — Dei de ombros e me afastei. Tirei a camisa e a joguei no sofá da sala. — Eu já te falei que eu vivo do dinheiro que minha mãe deixou pra mim né? — Ela me olhou sem entender — Digo, não é só o dinheiro, como uma herança que pudesse acabar. A família da minha mãe era dona de uma grande quantidade de imóveis e quando ela morreu todos eles ficaram pra mim. A princípio meu pai administrava, mas quando eu fiz dezoito eu assumi a responsabilidade com algumas coisas. Eu não administro nada, meu pai ainda administra por mim, mas como já sou maior de idade eu que assino.No domingo a noite estava com o Logan, o cara que faz essa ponte entre meu pai e eu e me ajuda a cuidar de tudo. Ele precisava de algumas assinaturas e nos encontramos pra tomar uma cerveja. — Ela parecia compreender mas ao mesmo tempo estar confusa com aquele monte de informação, talvez ela estivesse curiosa sobre onde eu havia estado no domingo, mas conhecendo a como eu conhecia ela nunca me perguntaria. — Antes da minha mãe morrer, ela quem administrava tudo. Meu pai também é administrador, ele e minha mãe se conheceram em um estágio. — Ela me olhava atenta — Eles casaram com um ano e meio de namoro, me tiveram depois de três anos de casamento e se separaram quando eu tinha sete anos. Meu pai acabou traindo ela com a secretária e saiu de casa pra morar com ela. — Ela acenou com a cabeça, essa parte ela já sabia — Minha mãe me falava que eles tinham idéias divergentes sobre o futuro, meu pai queria uma família maior e minha mãe não. Eles não viviam muito bem, segundo ela, mas eu não tenho nenhuma lembrança ruim da minha infância com relação à eles dois. E eu nunca disse isso em voz alta, mas sempre pensei que minha mãe poderia ter cedido e ter tido outro filho porque eu amaria ter um irmão ou irmã, mas isso nunca aconteceu. Meu pai foi morar com a Celine e ela tinha três filhos eu nunca quis conhecê— los, só conheci o menino uma vez, mas nunca quis nenhum contato com eles, porque eu não fazia parte daquela família. Eu tomei as dores da minha mãe porque vi o quanto ela sofreu com o divórcio, e nunca tentei dar uma chance realmente pro meu pai.Inventava desculpas para não ir passar o final de semana com ele, e ele nem insistiu,eu só olhava ele como culpado e isso acabou nos afastando. A última vez que eu tinha visto meu pai, foi quando Paul me achou num hospital. Ele queria me levar pra morar com ele, pediu desculpas por tudo o que tinha acontecido, falou que eu deveria ter contado à ele que minha mãe estava doente, enfim, essas coisas, mas eu não quis. Eu era menor de idade e era obrigado a morar com ele, mas como eu não queria e não estava em um momento muito bom ele respeitou e depois de uma conversa com o Paul ele deixou eu ir morar com ele, com a condição de que eu manteria contato, mas eu não mantive. Não atendi ligações, respondi e— mails e nem nunca fui lá. Se ele aparecia aqui eu fugia, enfim, evitei qualquer contato com ele nos últimos três anos. — me ouvia de braços cruzados sem nem piscar e eu a amei mais ainda por dar tanta atenção aquilo, eu nunca havia falado da minha vida tão abertamente assim pra ninguém.E ninguém incluía Paul e . — Eu tenho um tio, uma tia, uma avó e alguns primos pela parte paterna. Nunca tive muito contato com a minha avó, já que nunca fiquei muito com meu pai e dos meus tios eu também sei muito pouco, mas eu tenho essa família que eu não sei quase nada deles e eles certamente não sabem nada de mim. Eles moram a 3 horas de distância daqui,onde eu também morava antes do divórcio. — Terminei e foi tão reconfortante falar dessa família que eu havia ignorado por tanto tempo.
— Por que você está me dizendo essas coisas?
— Meu pai se casa amanhã e ele veio aqui pessoalmente me pedir pra ir ao casamento.O único motivo dele estar com a Celine por 11 anos e nunca ter se casado com ela sou eu. E eu fiquei pensando: Minha mãe morreu, Paul morreu, mas eu ainda tenho essa família viva que eu posso tentar conhecer. — Ela abriu um lindo sorriso. — E eu estava pensando em ir nesse casamento. — Foi muito estranho dizer aquilo em voz alta. — E lá vai estar toda essa família que eu não tenho contato e eu queria que você fosse comigo.Você pode ir? — Mordi meus lábios sentindo a insegurança e ela se aproximou de mim enlaçando suas pernas às minhas e me abraçou.
, você foi pra minha casa comigo quando eu mesma não queria ir pra lá. Você conheceu minha família e ficou por dentro de todas as nossas confusões. Você esteve lá comigo, então é óbvio que eu vou até lá com você. — Ela me deu um selinho. — Você ainda pergunta? — Ela ia voltar a se afastar mas eu a segurei pela cintura, trazendo— a novamente para mais perto. Eu poderia tê— la ali assim comigo pra sempre. — Quando temos que ir?
— Hoje — Fiz careta e ela acenou com a cabeça. — Obrigado — Depositei um beijo em sua testa.
— Isso significa que eu não vou poder fazer minha receita né?
— Não! — Beijei seu rosto. Precisamos sair daqui à uma hora no máximo, caso contrário não chegaremos lá pro jantar.
— Você avisou a alguém que está indo? — Fiz um aceno negativo com a cabeça. Eu não queria que ninguém soubesse assim não teria problema caso eu desistisse no meio do caminho. — Ok, vou me arrumar então, e você deveria fazer o mesmo. — Ela se desvencilhou dos meus braços e caminhou pra fora da cozinha e eu segui em seu encalço, roubei um beijo dela quando ela parou na porta do seu quarto. — Eu não sei se tenho roupa pra ir à um casamento — Ela arregalou os olhos.
— A gente passa na antes de pegar a estrada e vê se ela tem algo pra te emprestar. — sai pro meu quarto.
— Voltei dois passos pra ver o sorriso em seu rosto — Estou muito feliz que você tenha decidido ir. Paul estaria muito orgulhoso de você. — Ela sorriu e entrou em seu quarto. Eu também estava alguma coisa, só não sabia se feliz era a palavra exata para descrever.



dirigia, conversava, ria e cantava mas eu sabia que ele estava mais do que tenso atrás daquele volante. Aquele era um passo mais do que importante pra ele e eu me sentia extremamente orgulhosa por aquilo, por ele ter tomado uma coragem que nem ele sabia que tinha e ter ido ver essa familia inteira com quem ele nunca manteve contato. Mas parte de mim também estava preocupada sobre como aquilo afetaria ele. As coisas nas últimas semanas estavam tão boas, a sensação no meu peito era tão boa que eu havia perdido grande parte do medo de tudo. Medo do que poderia acontecer, medo de para onde iríamos, eu estava me sentindo um pássaro que havia aprendido a voar, me sentindo livre de uma forma gostosa e grande parte do meu medo havia ido embora e dado lugar a excitação e vontade de .
Ele estava indo enfrentar um grande problema da vida dele e havia me convidado a estar com ele.E eu sentia que se aquilo o magoasse, eu também sairia ferida. Ele poderia ter pedido à pra ir com ele, eu entenderia, ela o conhecia a muito mais tempo. Mas ele havia escolhido a mim, para estar com ele naquele momento e o peso da importância e relevância que estávamos tendo um na vida do outro começou a ficar mais forte nos meus ombros e começou a tornar todo meu medo de nos assumirmos totalmente irrelevante.
Eu me perguntava o porquê, não assumir nosso relacionamento para os outros e minhas desculpas haviam ficado bobas demais pra mim. Era que nem quando eu me perguntava o porquê eu não gostava dele, eu simplesmente não conseguia achar mais uma resposta, nem um motivo plausível no meio de todos os motivos que eu tinha dado à ele. Eu me sentia tão bem e feliz, que pela primeira vez minha felicidade estava anulando meu medo.

— De acordo com o endereço que ele me mandou no e— mail, é aqui — parou o carro em frente a uma bela casa marrom de janelas brancas. Havia uma pequena varanda no Hall de entrada e um belo jardim enfeitava a frente da casa. Um caminho de pedras nos direcionava até o hall da entrada e Olhando pela lateral dava para ver que havia um grande quintal ali atrás.
— É uma bela casa. Enorme — Ele tamborilou o volante já tendo desligado o carro e mordeu os lábios. Algumas luzes estavam acesas, mas nenhuma no andar superior da casa.
— Vamos — Segurei em sua mão e ele me olhou assustado. Tentei sorrir e lhe passar força e saltei do carro, esperando ele fazer o mesmo. respirava rápido e torcia todos os dedos da sua mão,era visível que ele estava morrendo de vontade de sair dali. Eu queria perguntar se ele queria desistir, mas sentia que deveria incentivar pelo menos um pouco mais. Quando paramos em frente a porta, ele parecia que ia ter um infarto, respirava forte, suava e estava branco que nem um papel. mordia tanto os lábios que eu realmente achei que eles poderiam começar a sangrar em qualquer momento. Segurei novamente em sua mão e ele usou a que tinha livre para tocar a campainha, mas pareceu se arrepender antes mesmo de tirar o dedo do botão.
— Eu não deveria fazer isso. Vamos embora antes que alguém apareça — Ele se virou de costas e quando dava o segundo passo com sua mão presa à minha a porta de entrada se abriu. se virou e encarou a mulher alta, com os cabelos curtos e uma feição que eu não reconhecia e então seus olhos desceram de seu rosto para a sua barriga avantajada de quem provavelmente já estava nas últimas semanas de gestação. Olhei dela para , sentindo sua mão ficar mais gelada junto a minha. Ele parecia que tinha visto um fantasma.
? — Ela falou depois de um tempo estagnada. Havia um sorriso surpreso em seu rosto e ela desceu o degrau que saia da casa abrindo mais ainda o sorriso. — Eu sabia que você vinha! — Ela se aproximou mais ainda de nós e se mantinha parado no mesmo lugar encarando sua barriga sem falar nada. Pela sua cara de apavorado, aquela provavelmente era Celine sua madrasta e ele sem sombra de dúvidas não sabia da gravidez. Apertei sua mão, tentando trazê— lo à realidade e ele sacudiu a cabeça voltando a encarar seu rosto.
— Hey, Celine — Ele não retribuiu na mesma empolgação que ela, mas a mulher à minha frente pareceu não se importar.
— Eu estou tão feliz que você esteja aqui. — Ela parou com a mão na barriga e voltou o seu olhar para ela — a barriga — e ele parecia hipnotizado. Minha mente vagou rapidamente para sua fala mais cedo, quando ele citou que queria ter um irmão e isso sem sombra de dúvidas deveria estar martelando absurdamente em sua cabeça. — Vamos entrar? —
Amor, quem é na — Um senhor apareceu na porta e parou sua frase no meio abrindo um sorriso e pude ver seus olhos se enchendo de água.Não precisava de apresentações para saber que aquele era o pai de porque era simplesmente a sua cara. O mesmo sorriso cativante e formato do rosto estavam estampados ali. O Homem ficou dois segundos olhando incrédulo para antes de descer o degrau e puxá— lo para um abraço. pareceu desconfortável e eu tentei soltar minha mão da dele, para que ele pudesse retribuir melhor o gesto, mas ele não soltou. Apenas deu dois tapinhas nas costas de seu pai com a mão que estava livre. — Eu estou tão feliz que você esteja aqui, filho. — Os olhos do senhor seguiram para mim. — E vejo que trouxe companhia. — Quando ele sorriu pra mim eu consegui ver no meio daquele sorriso. — Muito Prazer, eu sou Steven — Ele estendeu a mão para me cumprimentar e eu a apertei — Você é a…
— Eu sou a , namorada do — As palavras saíram da minha boca com tanta naturalidade e numa facilidade tão absurda que eu quase me engasguei de surpresa com elas. me encarou e um meio sorriso surgiu em seus lábios que pareciam colados com cola quente.
— Muito prazer, — Ele apertou minha mão empolgado e olhou para que ainda estava em silêncio. — Vamos entrar? É uma honra muito grande receber vocês na minha casa. — Ele se posicionou quase atrás de nós talvez com medo de que fugisse, nos indicando a entrada com a cabeça e eu entrelacei melhor meus dedos aos de , dando a ele a certeza de que eu estava ali caso ele precisasse de mim. O hall da casa era decorado com cores claras e o Sr nos guiou por um corredor todo decorado com quadros e porta retratos. Entre eles eu consegui identificar uma foto de e quase soltei uma exclamação surpresa, aquela não era uma foto antiga. pareceu não perceber, na realidade ele parecia não estar nem ali.
— Crianças — O Sr entrou em uma sala de jantar chamando a atenção e três pares de olhos nos encararam. Eles pareceram um pouco surpresos mas eram educados demais para deixar transparecer totalmente e logo em seguida abriram um sorriso. Havia um menino que pelo que eu sabia já conhecia e duas meninas aparentemente gêmeas. Pela foto de na parede da sala, não estranhei elas reconhecerem de imediato. — Eu disse que talvez tivéssemos companhia pro jantar e vocês não acreditaram em mim. e , minha nora — Ele nos apresentou e eu senti meu rosto ficar absurdamente quente pela menção da palavra nora. — e , Essas são Claire, Deb e aquele é o Evan que você já conhece — Ele falou a última frase se dirigindo à .
Os três adolescentes se levantaram e nos cumprimentaram educados e risonhos. O rapaz na volta mudou seu lugar na mesa, se sentando ao lado das irmãs para que os dois lugares vagos do outro lado da mesa ficassem pra e eu. Celine seguiu para uma das pontas da mesa após colocar mais pratos ali e o Senhor parou atrás de nós com a mão espalmada em nossas costas e nos guiou para a mesa.
não tinha falado nada além do Hey Celine e feito acenos de cabeça e eu estava começando a ficar com medo de que ele se levantasse e fosse embora. Nos ajeitamos e Celine nos serviu a comida, nos apresentando o prato sempre com um sorriso no rosto. Quando ela terminou de nos servir um silêncio constrangedor ficou na mesa e para minha surpresa ele foi quebrado por , ele não parecia triste ou ressentido, muito pelo contrário ele parecia conter uma certa curiosidade.
— Você tá com quantos meses? — Sua pergunta foi direcionada à Celine.
— 37 semanas. — Eu odiava quando as grávidas respondiam daquela forma, eu sempre precisava parar pra fazer as contas, coisa que não fiz pois sabia que geralmente elas iam até 40 semanas.
— Menino ou menina? — O Sorriso que o Sr abriu era tão verdadeiro e surpreso que eu me senti emocionada. Era bom ver o nervosismo de dar lugar à curiosidade.
— Os dois! — arregalou os olhos. — São gêmeos! Ela sorriu acariciando a barriga e abriu um lindo sorriso e seus olhos pareceram marejar.
— Parabéns! — Ele exclamou mexendo na comida, tentando disfarçar algo que eu não soube identificar.
— Eu já queria ter te contado quando te vi essa semana, mas fiquei com medo disso fazer com que você não viesse. — O silêncio e as caras embaraçadas estavam ali de volta.
— Eu tô aqui agora, acho que isso que importa — parecia tentar mostrar que estava bem, mas não estava. Eu já conhecia aquele sorriso. — Que horas é o casamento amanhã? — Ele tentou mudar de assunto.
— Marcamos pras dez da manhã.
— Vai ser onde?
— Aqui mesmo, no quintal atrás. Vai ser tudo muito simples, mais como uma comemoração simbólica. — A mulher parecia tão linda com aquela barriga gigante.
— Todos vão estar aqui amanhã. Sua avó, seus tios, eles vão ficar empolgados em finalmente te rever. — O senhor começou a falar um pouco sobre a sua família e as pessoas que estariam ali no dia seguinte e prestava a atenção atentamente em todos os detalhes. O menino e as meninas também passavam algumas informações empolgados e simpáticos. Me mantive em silêncio,ouvindo e acenando com a cabeça, aos poucos parecia deixar ceder a tensão no seu corpo e voltar ao normal.
A conversa fluía de uma forma boa e eles me fizeram sentir como se eu realmente fosse parte daquela família. A forma como o Sr se referia à , como Celine e os filhos se comportavam, tudo era novo,diferente e curioso.Era totalmente diferente do que eu imaginava e não parecia surpreso com isso, e eu comecei a me questionar se ele já sabia como eles eram. Não demorou muito até que o foco da conversa se voltasse pra , eu e nossa história.
— E vocês? Estão a quanto tempo juntos? Como se conheceram? Quais são as suas intenções com meu filho? — A última pergunta foi direcionada à mim e e eu nos entreolhamos. O Sr retirava a mesa do jantar com a ajuda de uma das meninas que eu não sabia identificar quem era e colocava uma travessa de sobremesa. Ele se sentou à mesa para ouvir a resposta e parecia verdadeiramente interessado nela.
— Não estamos a muito tempo junto — Ele deu de ombros.
— Oficialmente desde o natal, inoficialmente um pouco antes disso, mas estávamos confusos demais pra admitir — Um sorriso maior tomou conta do seu rosto, e eu senti meu coração aquecer com ele. Talvez aquela fosse a primeira vez que eu admitisse que eu sentia algo por ele desde o primeiro momento,mas eu não queria afirmar isso com todas as palavras até porque era algo confuso pra mim ainda, pensar no momento em que eu havia me apaixonado por era difícil, porque era algo que eu acordei e percebi que estava acontecendo. Eu não percebi como e nem quando.
— Suas intenções com meu filho? — O Sr e tinham uma expressão tão parecida que talvez isso estava me fazendo sentir a vontade naquela casa.
— As melhores possíveis, prometo. — Ele acenou com a cabeça. Comíamos nossa sobremesa entre perguntas e resposta sobre nossas vidas e aleatoriamente fazia algumas sobre a vida deles.
— Como vocês se conheceram? — Foi uma das gêmeas que perguntou um tempo depois.
— Ela é irmã do Paul.
— Sério? — O senhor voltou a se expressar — Eu sabia que você tinha uma fisionomia conhecida, mas não imaginei que seria o Paul. E como ele ficou com esse romance? Lembro que quando eu era adolescente eu ficava muito puto quando os caras, principalmente meus amigos queriam algo com a minha irmã.
— Ele nunca teve a oportunidade de saber que estávamos juntos, mas ele acompanhou o processo principal que levava a isso, então eu acredito que se ele estivesse aqui hoje ele estaria bem feliz. — Respondi.
— Como assim? Vocês não contaram a ele ainda? — e eu nos entreolhamos com o sorriso morrendo em nossos lábios. Ele não tinha contato com então não havia como ele saber.
— Paul morreu alguns meses atrás em um acidente de carro. — respondeu e um desconforto geral tomou conta da mesa. Seu pai arregalou os olhos assustado e eu olhei pro chão. Eu odiava com todas as frases do mundo ouvir aquela frase.
— Eu… Não sabia. Nossa eu sinto muito por isso. Eu não sabia. Por isso ele não respondia mais aos meus e— mails. Eu achei que ele tinha desistido de me ajudar a me aproximar de você. — pareceu surpreso. — Seu amigo era um cara muito bom, e ele gostava muito de você. Tenho certeza que ele estaria feliz por vocês dois.
A conversa aos poucos foi atingido novamente um grau de normalidade, deixando pra trás o desconforto e no final estávamos todos conversando e rindo, com o Sr e Celine contanto um pouco de suas vidas e ouvindo atentamente. Era bom vê— lo lidando e interagindo com uma parte dele que ele tinha afundado dentro de si por tanto tempo. Eu estava extremamente feliz por .
— Vou arrumar o quarto de hóspedes pro e você se incomoda de dormir no quarto das meninas? Com a chegada dos bebês ficamos com apenas um quarto disponível para visitas. — Celine perguntou.
— Não precisa se incomodar, ela pode dormir comigo sem problema nenhum — Eu vi ela e Steven se entre— olharem e os filhos deles se entre— olharem também
— Não é incomodo nenhum. — Ela tentou desconversar, mas pareceu não ter percebido que eles eram uma “família tradicional” onde namorados não dormiam com namoradas. Eu havia vivenciado isso vendo minha mãe falar dos filhos e filhas de amigas, mas morava alguns anos com Paul e convivia com Tom e que eram irmãos que moravam longe dos pais, ou seja, ele havia ficado muito tempo sem ter essa imagem de que pais não curtem filhos adolescentes dormindo com seus pares debaixo dos seus tetos.
— Não precisa mesmo, Celine. Obrigada. e eu moramos juntos então estamos mais do que acostumados a ver a cara um do outro. — Os olhos das cinco pessoas ali se arregalaram e eu senti vontade de rir.
— Moram juntos? — Steven falou um pouco sobressaltado.
— Sim — pareceu perceber o choque deles — Nós já morávamos juntos antes de ficarmos juntos. Ela veio morar com o Paul e depois que ele morreu ficamos apenas nós dois — Steven acenou com a cabeça. Ele e celine se entreolharam de novo.
— Ok então, vocês ficam no mesmo quarto. — Ele se remexeu desconfortável. Ele não tem tranca mesmo. — As gêmeas e Evan se entreolharam de uma forma engraçada.
— Namorei a Sarah por quatro anos e ela nunca pode nem dormir aqui — Evan falou rindo — tá com sorte hein! — Ele piscou pra .
— Pai isso significa que meus namorados também vão dormir aqui? — Uma das meninas falou de forma irônica e ficou tenso na mesa ao ouvir a palavra pai saindo da boca dela.
— Isso significa que ficou muito tempo longe então ele agora tem direito a regalias. As regras continuam as mesmas pra vocês três — Celine se levantou. — não comemore, depois essas regras se aplicarão à você também — Ela passou por ele afagando seu ombro.
— Você tem sorte. — Uma das gêmeas se levantou também rindo,
— Desculpa perguntar, mas como vocês diferenciam quem é quem? — Ele fez a pergunta que estava martelando na minha cabeça e a gêmea sentada gargalhou alto.
— Eu sou Claire. Você vai aprender a diferenciar com o tempo — gostei da forma que eles estavam usando as frases insinuando que esperavam que passasse a ser presente ali.
— Eu aprendi a diferenciar pela pinta. — Steven falou. Claire tem uma pinta na ponta da sobrancelha direita — Ele apontou pra menina e Deb se aproximou.
— Ele foi o primeiro a reparar isso, acredita?
— Eu precisava reparar em algo, eu não sabia diferenciar vocês e sua mãe ainda vestia vocês iguais. — Ele sorriu. — Graças a Deus os bebês agora são de sexo diferentes. Não vou precisar passar pelo sofrimento de não saber quem é quem. — Steven se levantou e e eu fizemos a mesma coisa, ele nos guiou pela escada e corredor até onde seria o quarto onde dormiríamos, eu entrei e voltou ao carro para pegar nossas mochilas e quando finalmente voltou ao quarto e eu achei que poderíamos conversar, seu pai o chamou.



Eu sentia como se eu estivesse em choque. Um choque um pouco parecido com o que eu senti quando recebi a notícia da morte do Paul e meu corpo pareceu fazer as coisas por mim. Eu estava exatamente daquela forma. Eu falava, me movimentava e até mesmo ria, mas parecia que era outra pessoa na minha pele fazendo todas aquelas coisas enquanto eu observava de fora totalmente incrédulo. Eu estava ali. Depois de tantos anos de resistência eu finalmente estava ali. Eu havia conhecido os filhos de Celine, revisto ela e eu teria irmãos que viriam dela. Não era um único irmão ou irmã, eram dois de uma vez só e isso me trouxe uma alegria tremenda. Havia uma nova família que não era nem tão nova assim e que estava disposta a me conhecer e a me acolher e eu me sentia finalmente aliviado por ter aceitado e me dado a oportunidade de tentar viver isso. Claro que minha mente ainda gritava que Celine era a amante do meu pai e que ela havia roubado parte da vida que eu adoraria ter vivido.

— E ai, como você está? — Meu pai se sentou em seu escritório em uma poltrona e eu fiz o mesmo em outra que tinha bem na sua frente. — Por que você não me contou sobre o falecimento do Paul quando nos vimos essa semana?
— Não achei que tinha necessidade. — Meus olhos corriam pelo cômodo que tinha um quadro com uma foto estilo cartão de natal, bem na parede lateral a que eu estava. Era estranho saber que as filhas de Celine chamavam meu pai de pai, enquanto eu o chamava de Steven. E era mais estranho ainda ter percebido que haviam fotos minha pelo corredor de fotos que eu havia passado mais cedo.
— Deve ter sido muito difícil pra você, perder duas pessoas que você ama e que amavam você. Não consigo nem imaginar, eu nunca perdi ninguém. — Meus olhos que estava focados em avaliar o cômodo seguiram automaticamente para ele. — Digo, perdi sua mãe que foi importante pra mim, mas já não tínhamos contato a muito tempo quando ela se foi. Eu digo alguém presente na minha vida. — Acenei com a cabeça. Embora eu tenha olhado pra ele de forma estranha eu realmente havia entendido o que ele queria dizer e acenei com a cabeça falando isso.
— Queria te fazer um convite, sei que é precipitado e sei que falando isso corre o risco de você sair correndo daqui. Mas queria que você estivesse lá em cima comigo. Evan vai levar Celine ao Altar e as meninas são suas madrinhas. Eu estou sozinho, porque acho que esse lugar lá em cima deveria pertencer a você, mas não sei se você aceitaria. Meus amigos acharam que você nem viria, mas eu estava bem esperançoso. — Mais uma vez fui pego de surpresa com a informação e me permiti imaginar meu pai falando de mim aos seus amigos mesmo quando eu rejeitava fazer isso. Ele tinha contato com Paul e essa era outra informação nova pra mim. Toda minha raiva e mágoa pareciam pequenas diante da enorme quantidade de coisas que eu poderia desfrutar se resolvesse deixá— las de vez de lado.
O que Paul me diria?
O que minha mãe me diria?
Eles não estavam mais ali, e dessa vez seria só eu. Então antes de dar respostas, decidi perguntar. Perguntar a ele o que havia acontecido de errado com ele e com a minha mãe. Perguntar o que havia feito tudo desandar, como ele havia conhecido Celine, como foi o relacionamento deles, como foi iniciar aquela nova família, ter três novos filhos e ouvir suas respostas trouxe à mim algo reconfortante, talvez um encerramento afinal. Durante todos os anos em que meu pai tentou fazer contato e eu não quis e remói uma mágoa. E pra mim, sempre existiu um motivo. Lembro da última vez que saí com meu pai, mais de dez anos atrás. Ele havia levado Evan e eu pra passearmos e Celine estava junto. Havia sido uma tarde incrível no parque e eu tinha me divertido absurdamente. Quando cheguei em casa e comecei a contar do que tinha acontecido vi minha mãe ficando chateada e mais tarde naquele mesmo dia, eu a ouvi chorar escondida no banheiro e então a partir daquele dia, eu nunca mais quis sair com meu pai.
Ele havia errado sim, em ter tido um caso com Celine estando casado com a minha mãe e errado sim, quando saiu da nossa casa de forma repentina para iniciar uma nova vida com outra pessoa e ter me deixado um pouco de lado. Mas ele também havia se arrependido e tentado concertar isso e eu não perdoei porque sabia o quanto aquilo magoaria minha mãe.
Não me considero errado, cada um precisa do seu próprio tempo para curar suas feridas e eu havia tido o meu. Durante todos esses anos de afastamento, ele havia sido um homem extremamente feliz que tinha uma boa mulher ao seu lado que se culpava pela minha ausência.Segundo meu pai, Celine havia se culpado de verdade por tudo o que acontecia e por vezes cogitou a separação por não se sentir bem pelo que havia sido causado na minha vida e na vida de minha mãe, mas o que sentiam um pelo outro os ajudou a superar a culpa e o remorso, era estranho pensar nisso como uma “história de amor”, quando eu sabia o quanto minha mãe tinha sofrido. Ele havia criado outras três crianças e parecia ter executado muito bem essa função, já que todos os três pareciam amar e respeitar à ele. Eu havia tido meu tempo, e agora aquela parecia ser a família que eu tinha e era opção minha aceitar ou não fazer parte dela.
Olhar para o que havia acontecido com minha mãe e Paul me dava uma nova visão da vida, do quanto somos sensíveis à ela e do quanto tudo pode acontecer.
A conversa com meu pai que eu achei que duraria minutos acabou durando horas e quando eu me dei por mim, já passava das duas da madrugada. Me odiei por ter deixado tanto tempo sozinho em um lugar desconhecido e me peguei sorrindo idiota quando entrei no quarto e a encontrei dormindo desajeitada, com o celular aberto em um jogo e caído sobre o peito. Ela deveria ter pego no sono enquanto me esperava.
A ajeitei na cama de solteiro e tomei um banho , me deitando ao lado dela em seguida. Seus cabelos espalhados pelo travesseiro não me incomodavam, muito pelo contrário me traziam uma maravilhosa sensação de lar.
A puxei para mim, e ela se aconchegou em meus braços, enlaçando seus braços em volta da minha cintura e depositando seu rosto em meu peito. Beijei sua testa no escuro do quarto silencioso e sorri. As coisas poderiam ser melhores dali pra frente, melhores e diferentes.

Capítulo 15



Eu não vi quando entrou no quarto, eu só vi que quando eu acordei de madrugada eu estava envolvida por seus braços e deitada em seu peito, sentindo o subir e descer da sua respiração. Eu fiquei uns longos minutos ou talvez poucos segundos ouvindo sua respiração e sentindo sua pele junto a minha antes de pegar no sono de novo. Quando eu acordei, de verdade dessa vez, ele continuava em um sono extremamente profundo, tão profundo que eu me levantei, deixei cair meu telefone, soltei uma exclamação e ele nem se mexeu. Aproveitei o momento sozinha para tomar um banho e ajeitar meus cabelos. O relógio não marcava nem sete horas da manhã ainda, mas eu sempre preferia acordar e levantar cedo quando eu estava em um ambiente desconhecido.
— Bom dia! — Sorri para que se espreguiçava e ele me olhou com os olhos semicerrados se esticando todo na cama e fazendo um barulho engraçado com a boca.
— Bom dia! — Ele disse finalmente jogando a cabeça por cima do travesseiro e deu um sorriso. Aquele sorriso fez meu corpo todo estremecer por uma felicidade que eu ainda não sabia que existia. Minha alma sorria com ele. Era uma sensação de se tirar o fôlego.
— Acho que você deveria levantar, daqui a pouco seus parentes chegam, a casa fica agitada então acho melhor estar preparado. — Me aproximei da cama e me sentei ao seu lado fazendo um carinho em sua cabeça. Eu havia colocado apenas um vestido de mangas e curto, para poder circular decentemente pelas pessoas enquanto ainda não me arrumava para o casamento.
— Eu não quero sair daqui, quero ficar aqui! Tô bem aqui — disse fazendo careta, e abraçado ao travesseiro.
— Para de palhaçada e levanta — Eu tentei soar mandona, mas minha mão acariciou seus cabelos e o afagou, deslizando pelo seu rosto e acariciando sua bochecha.
— Eu to com muita preguiça. — Ele mordeu o lábio — E se você continuar mexendo no meu cabelo desse jeito, ai mesmo que eu não vou levantar. — Ele fechou os olhos e eu bufei risonha, retirando a mão dos seus cabelos e me preparando para me levantar, mas segurou meu braço, me puxando de volta para a cama.
— Eu não recebo nem um beijo de bom dia? Tudo bem que eu acabei de acordar e provavelmente tô com bafo mas — Não deixei ele continuar, apenas selei meus lábios aos seus de uma forma simples e abri os olhos com nossos lábios ainda colados apenas para encontrar os seus me encarando de volta.
— Vamo ficar aqui mais um pouco — Ele me puxou para deitar ao seu lado. — Ainda está cedo, a casa ta em silêncio, deve estar todo mundo dormindo, vamos voltar a fazer isso. — me enlaçou pela cintura e eu tentei ignorar o fato de que o movimento que fiz para deitar quase deixou minha bunda a mostra.
— Daqui a pouco todo mundo começa a aparecer e todos vão ficar ansiosos para poder te ver. Seria bom estar apresentável. — Ele riu, demonstrando o quanto ele simplesmente não se importava com isso.
— Você está dizendo que eu não estou apresentável? — Eu me virei de barriga para cima e ele se ergueu se apoiando no cotovelo e balançando a cabeça para jogar os cabelos para trás. — O quê mais você tem a dizer ao meu respeito, mocinha? — Ele cerrou os olhos e eu o achei absurdamente lindo. — Se você não responder a minha pergunta eu serei obrigado a te dar uma punição de vários beijos bafudos. — Ele abriu um sorriso enorme e eu fiz o mesmo, apoiando minha mão em seu peito nu.
— Desculpa, não tenho nada em minha defesa. — Dei de ombros e ele riu mais ainda começando a beijar meu rosto. — Aceito minha punição com muito grado. — Ele beijou meu pescoço, minha testa meus olhos e então finalmente minha boca.
Uma das coisas que eu estava aprendendo a amar em era o fato que ele conseguia ser inocente e provocante ao mesmo tempo. Seu beijo era da mesma forma de sempre, mas havia um quê de intensidade diferenciada no ar. Sua mão que não o apoiava seguiu para minha coxa nua me levando para mais perto dele e minha mão, antes em seu peito deslizou por seu pescoço, envolvendo— o e trazendo— o para mais perto de mim. Eu não poderia negar que meu corpo havia entrado em sinal de alerta excitação quando me dei conta que ficaríamos em um quarto sozinho, coisa que estávamos tentando evitar. Mas estava sendo difícil desde o episódio do sofá. Nós dois parecíamos em chamas e todos os nossos beijos pareciam mais intensos e o que dávamos naquele momento não era diferente. Sua mão delicadamente desceu pela minha coxa, levando consigo o pouco pedaço de tecido que cobria ali. me beijava com delicadeza e carinho, e o toque suave de sua mão na minha pele nua estava fazendo com que a pressão que se formava entre as minhas pernas não fosse nada suave.
— Nós realmente precisamos levantar? — Ele interrompeu o beijo pra me perguntar e aquele jeito inocente já não estava mais em seus olhos, muito pelo contrário. Eu conseguia ver malícia ali. Malícia e vontade que sem sombra de dúvidas estavam estampadas no meu olhar também. Minha resposta foi puxá— lo para beijá— lo novamente e seu retorno foi mais do que agradável. me puxou para ele, colando totalmente seu corpo ao meu com nossos corpos de lado.Minha perna se ajeitou no alto de sua cintura e sua mão seguiu por dentro do meu vestido, levando consigo o tecido e deixando descoberta toda a parte da minha coxa que ele explorava. Eu sentia a insegurança em cada detalhe dos seus movimentos, mas isso não significava que não era bom, muito pelo contrário. Senti— lo me tocar me fazia não entender com o que ele ficava inseguro, já que ele conseguia fazer com que todas as partes do meu corpo reagissem tão positivamente à ele, não havia uma parte que não ansiasse por , não importa se ele a havia tocado ou não. Nosso beijo foi gradativamente aumentando de ritmo principalmente quando sua mão alcançou meu seio. fez um movimento rápido se colocando por cima de mim e eu ajeitei minhas pernas pra que ele se acomodasse entre elas aumentando assim nossa zona de contato.Seu corpo era quente e firme e eu já sentia os resultados da academia por onde minha mão passeava, eu me sentia dividida entre explorar seu corpo ou emaranhar minha mão em seus cabelos, mas optei pela primeira opção simplesmente porque ele era atrativo demais para ser deixado de lado. Suas mãos faziam o mesmo comigo, trazendo ao meu corpo sensações conhecidas mas ainda assim novas. Nos separamos por breves instantes para que meu vestido saísse do meu corpo e não me senti nenhum pouco constrangida quando parou encarando com vontade meus seios cobertos pelo sutiã, muito pelo contrário, eu amava quando ele me encarava daquela forma e dessa vez, eu consegui ver em seus olhos que ele não estava decidido a parar. O grau de urgência com que ele voltou a me beijar e a forma como sua mão explorou meu seio mostrava exatamente o quanto ele queria aquilo e eu queria o mesmo. Eu enlacei sua cintura com minhas pernas, o trazendo para mais perto de mim e aproveitou a deixa para se movimentar, fazendo uma fricção gostosa entre nossas partes ainda cobertas pelo tecido fino de nossas peças íntimas. Eu queria mais dele e ele queria mais de mim e suas mãos foram ligeiras ao meu sutiã, libertando meus seios e finalmente os acariciando sem tecido algum. deixou minha boca para seguir para o meu pescoço, despertando arrepios maravilhosos que subiam pela minha espinha. Seus beijos foram fazendo o caminho dos meus seios e minha garganta emitiu um som baixo quando sua língua envolveu meus mamilos. Meu corpo se movimentava buscando mais contato com ele,algum tipo de fricção, qualquer coisa que pudesse me ajudar com aquele enorme nó que havia se formado no meu ventre. Seu rastro de beijos foi desviado dos meus seios para minha barriga, beijava e mordia de leve e eu suspirava querendo mais daquilo. Quando chegou na região do meu umbigo ele me encarou cheio de luxúria nos olhos e o sorriso que ele deu sem sombra de dúvidas aumentou a umidade entre minhas pernas e eu mordi os lábios.
— Acho que eu tenho uma nova atividade predileta. — Ele deu um sorriso maroto antes de erguer seu corpo de cima do meu e tirar minha calcinha.Sua língua voltou— se a mim, seu toque era delicado e cuidadoso, o que fazia com que a sensação fosse muito mais gostosa. Toni nunca tinha paciência pra sexo oral, já parecia ter toda paciência e cuidado do mundo, arrancando de mim suspiros e gemidos que eu nem me tocava que soltava.
— Tá bom? — Ele não estava preocupado em acabar logo, mas sim em saber se estava sendo bom pra mim e isso mexeu muito não com minha intimidade, mas sim com meu peito.
— Uhum — Respondi mordendo os lábios e meus olhos se fecharam quando ele voltou a colocar a língua em mim. Comecei a direcionar meu quadril pros lugares onde eu queria que ele tocasse e espalmou as mãos na minha bunda. Sua língua brincava comigo e eu agradecia e me perguntava mentalmente como ela sabia exatamente como fazer.Era bom, era absurdamente bom tê— lo ali fazendo aquilo, bom de uma forma que eu não lembrava ser.
Desci minha mão pro seu cabelo agarrando— o e demonstrando que eu estava gostando e muito do que eu estava recebendo. Era melhor do que a primeira vez porque agora ele parecia um pouco mais seguro. Eu sentia meu corpo começar a dar os sinais do orgasmo iminente e dos meus lábios saiu um “não para” . Eu sentia uma intimidade diferente com . Minhas mãos seguraram com mais intensidade seu cabelo e aumentou em seus movimentos em ritmo e intensidade. Eu queria tê— lo pra mim e em mim e isso acontecia de uma forma inédita na minha vida. Meu corpo explodiu em uma sensação de alívio e engoli um gemido mais longo que quis sair da minha garganta conforme eu sentia as ondas de prazer se espalharem por meu corpo,me fazendo contrair os dedos dos pés. Eu afastei , sentindo o local que ele tocava ficar sensível e ele ergueu o rosto com um olhar de interrogação que me fez soltar uma gargalhada e puxá— lo pra mim.
— Foi? — Ele parecia na dúvida e eu sorri mais ainda acenando positivamente com a cabeça. Eu sentia o formigamento pelo meu corpo e a sensibilidade que eu sempre sentia depois de um orgasmo. se deitou por cima de mim, beijando minha testa, entre meus olhos, meu nariz e finalmente meus lábios. O tesão havia dado um pouco de vasão ao carinho e eu puxei a coberta por cima de nós, o beijando lentamente. Eu queria demonstrar para ele através dos meus beijos o quanto ele era importante pra mim e que não era só sexo, era ele. Sua mão foi para minha nuca, e eu desci a minha por suas costas passando minhas unhas pela mesma e segui para o seu membro, acariciando e trazendo— o para perto de mim. Eu necessitava absurdamente dele dentro de mim.
Duas batidas rápidas na porta chamaram nossa atenção e menos de dois segundos depois o Sr entrava por ela alegre e falante.
— Bom dia, Vamos acordar pra — Sua frase morreu na sua boca e eu puxei a coberta por cima de mim, sentindo jogar todo o peso do seu corpo sobre o meu devido ao susto e apertar a coberta ao nosso redor, para garantir que nenhuma parte do meu corpo ficasse a mostra. Afundei meu rosto no pescoço de ainda com a coberta me tapando e comecei a rir. Aquela era uma ótima maneira de começar o dia.



Eu não sabia como encarar meu pai depois do fatídico flagra que eu havia passado pela manhã. Demorou um pouco até que se acalmasse de sua crise de riso e eu tentei até brigar com ela, mas acabei rindo também deixando pra lá a vergonha.
— O café está na mesa — Meu pai entrou novamente dentro do quarto sem bater na porta e dessa vez tive certeza de que ele havia feito aquilo para verificar nossa “audácia”. Eu estava terminando de vestir a blusa e estava sentada na cama mexendo no telefone.
Descemos pro café e era sete e meia da manhã. Achei estranho tomarmos café juntos sendo que um casamento aconteceria em poucas horas. Celine e as meninas estavam com coisas esquisita que eu não sabia o nome no cabelo e lenços cobrindo os mesmos. Evan parecia sonolento e meu pai parecia ter sido ligado na tomada. Pelos olhares que tomamos todos sabiam exatamente o que meu pai havia flagrado. Comemos conversando e o clima era alegre e leve na mesa. Logo após o café da manhã, todos retornaram pros seus devidos quartos para se arrumar. Algumas pessoas trabalhavam na decoração do quintal do lado de fora, algumas pessoas de um buffet também chegavam e iam ocupando a cozinha. foi “convocada” a se arrumar no quarto onde as noiva e as meninas se arrumavam e eu acabei sendo convocado também a me arrumar onde meu pai e Evan se arrumavam. Eu tinha levado apenas uma roupa mais social, nada demais.Sem sapato e nem nada. Apenas meu allstar preto e pronto. Não queria chamar muito a atenção, mesmos sabendo que o assunto “ está aqui” seria quase o tema da festa e conforme me pai reforçava isso e eu via as pessoas começarem a chegar no quintal, comecei a não me sentir preparado para estar ali, principalmente porque sabia que ele estava aguardando minha resposta sobre ser seu padrinho, então na primeira oportunidade que tive fugir, voltando a me refugiar no quarto onde e eu havíamos ficado.
— São nove e meia da manhã, o que você está bebendo? — apareceu no quarto já arrumada e eu não contive a empolgação.
— Você está absurdamente linda — Ela pegou o copo da minha mão e cheirou.
— Que susto, achei que era bebida alcoólica — Ela me devolveu o copo depois de perceber que era só água — Tá todo mundo perguntando de você. Fui apresentada a pessoas que eu não faço ideia de quem seja— Ela revirou os olhos, mas ainda conseguia perceber que estava séria. Dei de ombros voltando a olhar o quintal pela janela. — O que aconteceu? Achei que você estivesse bem com o casamento e com estar aqui — se sentou na cama e deu duas batidas ao seu lado indicando que era pra eu me sentar.
— Meu pai pediu pra que eu fosse seu padrinho. Não sei se consigo fazer isso, . É coisa demais pra minha cabeça. — Voltar a fazer contato com meu pai , Descobrir que eu teria irmãos,Ser incluído numa família que embora me tratava super bem, eu mal conhecia. Reencontrar uma família que eu nunca tinha tido contato.
— O que você tá sentindo? — Ela perguntou e eu paralisei, porque eu não sabia muito bem como lidar com os sentimentos que estavam me invadindo e eu não conseguia entender o porquê que o mais forte de todos eles era a saudade da minha mãe. Era uma saudade tão forte e esmagadora que subia pela minha garganta e me dava uma certa dificuldade em engolir.Eu estava sentindo que se eu aceitasse ser padrinho, eu estaria traindo a sua honra. O positivo que entendia que as coisas passaram, que havia conversado com o pai até altas horas da madrugada parecia ter amarelado e tudo o que eu sentia era um mix de sensação que eu mal sabia descrever o que era. — me chamou de volta pra terra, depositando sua mão na minha. — Se você quiser ir, eu posso dirigir. — Ela foi tão sincera que eu sorri, passando o braço por seus ombros e trazendo— a para perto, depositando um beijo em sua cabeça. Seu cheiro me trazia uma gostosa sensação de lar. — Eu to falando sério.
— Eu sei. — Eu olhei em seus olhos antes de beijá— la levemente.
— Mas mesmo se você fugir hoje, vai ter uma hora que você vai precisar encarar essa família toda aqui que você tem. Porque como você mesmo disse: Eles são a única família que você tem.E eu sei que você está louco pra conhecer eles, eu vi isso nos seus olhos ontem.
— Eu sei. Eu só tô pensando na minha mãe. — Foi só falar dela que minha voz embargou. — Estar aqui, bem e feliz faz com que eu sinta que estou traindo a memória dela, sabe? — Ela me olhou bem séria. — Eu deveria odiar meu pai e a Celine pelo que eles fizeram com minha mãe, por todas as vezes em que eu a vi chorar segurando uma foto dela e do meu pai juntos. Por todas as vezes que ela não quis me levar no portão porque meu pai iria chegar e ela não queria vê— lo. Eu não deveria estar aqui, apoiando esse casamento. Eu não posso subir no altar que nem ele me pediu e apoiá— lo. Não é certo. — Eu senti que a lágrima que eu estava segurando desceu e continuou séria, antes de se abaixar na minha frente e ficar cara a cara comigo.
, o que eu vou te dizer agora talvez soa grosso ou te magoe, mas quero que você saiba que eu vou falar isso, porque eu acredito que é o que o meu irmão faria. Eu sei que você ama sua mãe, eu sei que você quer ser fiel à ela, mas você tem que entender que ela se foi e que esse era um problema que dizia respeito à ela e ao seu pai. Um problema dos dois. E não seu. Você não pode bancar a esposa magoada, porque você é o filho. — Engoli seco, sabia que ela tinha razão — Agora sua mãe não está mais aqui. E onde ela estiver, eu tenho certeza que ela iria querer que você tivesse uma família, essa mesma família que um dia ela fez parte. Os problemas dela com seu pai diziam respeito à ela e ao seu pai e infelizmente ela não está mais aqui pra que eles possam resolver e se perdoarem, mas você está. Hoje você tem a chance de perdoar e começar uma nova história com essas pessoas e eu estou aqui pra te dar todo apoio, mas se você não quiser ficar eu posso dirigir. Eu sei que nós não compartilhamos sangue, mas você é família pra mim e eu posso ser a família que você precisar.,se depender de mim nunca vai ficar sozinho, ok?
— Hey — A voz de Evan chamou nossa atenção para porta. — Todo mundo está procurado por vocês. Vão descer? — Olhei pra e ela apertou minha mão, sorrindo.
— Sim, já vamos. — Me levantei, ajudando a fazer o mesmo e novamente fomos deixados sozinhos dentro do quarto.
— E então, vamos fazer isso? — Ela segurou minha mão e sorriu carinhosamente e eu percebi o quanto de força aquela garota era capaz de me dar.
— É, vamos fazer isso.

Capítulo 16





Eu dirigia de volta pra casa com cantando My Chemical Romance no meu ouvido e gargalhando com minhas expressões sofridas ao ouvir todo seu eterno amor por Gerard Way. Eu havia acabado de ter uma das experiências mais intensas da minha vida, reencontrando minha família e ainda estava um pouco em êxtase e assustado com o quanto eu havia me divertido com eles. Toquei telefone e redes sociais com meus tios e os filhos de Celine e prometi voltar pra visitar os gêmeos assim que eles nascessem. No meio do caminho, recebi uma mensagem de socorro de que estava em algum lugar e o carro dela tinha morrido e ela não tinha conseguido chamar o reboque.
Deixei em casa e fui ao encontro de que esperava meu socorro. Ela me fez várias indagações sobre o final de semana e foi bom responder aquilo de forma tranquila, sem sentir aquele peso no meu peito que eu sempre sentia quando precisava falar de algumas coisas relacionadas a minha família. Era leve agora falar sobre eles e eu me peguei sorrindo enquanto contava do final de semana e do quanto meu pai havia insistido para que passássemos o restante do dia com ele.
é claro não deixou de perguntar sobre e eu, sobre como as coisas estavam e evoluíram e eu como uma bela dama fofoqueira contei, dando detalhes de como havia sido nosso final de semana e a experiência sexual que eu havia adicionado a minha nada extensa lista de experiência. fez questão de destacar o que aconteceria dali em diante, afinal não era difícil pensar que não conseguiríamos mais nos conter, a tensão sexual estava ali, a vontade, o carinho, o tesão, a paixão. Todos os sentimentos estavam dominando e eu e a partir de agora, seria impossível não sucumbir aquilo que nós dois queríamos.
Eu já nem sabia mais se eu tinha medo ou não. Se eu estava inseguro ou não, minha vontade dela era maior do que qualquer insegurança que pudesse me fazer ficar encucado, a forma como meu corpo reagiu instantaneamente a sua presença, seu sorriso,a vontade doía fisicamente de tão intensa que ela era.
Quando eu finalmente cheguei em casa eu me sentia exausto. As luzes da sala estavam apagadas quando eu entrei e nem me dei ao trabalho de acendê— las, pensei que pudesse estar dormindo, mas ao parar na porta entreaberta de seu quarto, vi a luz dali acesa assim como a do banheiro, onde a porta estava fechada.
Era engraçado olhar seu quarto que era sempre uma bagunça ao contrário do meu. Éramos tão diferentes e iguais em algumas coisas que eu achava curioso que realmente tivéssemos nos apaixonado.
? – Chamei alto para chamar sua atenção ao ouvir o barulho do chuveiro ligado.
– Tô no banho.– Ela gritou de dentro do banheiro e o barulho da água cessou.
— Percebi – Respondi entrando no quarto com um sorriso idiota que se apossou do meu rosto ao pensar na próxima frase que eu diria. – Quer companhia? – Parei do outro lado da porta, sentindo meu coração acelerar como se eu fosse uma dama em perigo; fazia com que eu me sentisse como uma donzela indefesa sempre ansiosa pelo próximo passo. Era isso, eu estava sempre ansioso pelo próximo passo com ela, parecia que grande parte da minha vida e felicidade agora se resumiam à ela.
— Adoraria – Sua voz se fez audível e alargou o sorriso em meu rosto que ela nem via. Empurrei a porta do banheiro que estava destrancada e meu corpo reagiu imediatamente quando a primeira visão que tive foi a de nua, com os cabelos caídos sobre os ombros e um sorriso largo no rosto. Ela era linda de todas as formas que uma mulher poderia ser. Eu não me importava se ela não fosse a mulher mais linda na opinião dos outros, o que me importava era que ela era a mulher mais linda e importante do meu mundo. Ela fazia com que eu me sentisse o cara mais sortudo por tê— la ao meu lado e minha necessidade era corresponder a todas as expectativas que ela poderia criar em relação à nós.
Tirei minha blusa meio afobado, evitando perder contato visual e quase me atrapalhei para tirar a calça e a boxer, tropeçando na última quando finalmente me vi livre da peça. Segui para o Box do banheiro e a enlacei pela cintura, desfazendo seu sorriso com um beijo. O calor, a ansiedade e a excitação subiam pela minha espinha se aglomerando ao redor da minha nuca e a intensidade apenas aumentou quando depositou suas mãos ali, entrelaçando seus dedos aos meus cabelos e correspondendo ao meu beijo com afinco, na mesma intensidade que eu. Meu corpo seco se colou ao dela molhado e eu espalmei seu quadril colando nossos corpos nus, sentindo a maciez da sua pele junto a minha. afastou uma de suas mãos de mim para ligar o chuveiro atrás dela, separando em seguida nossos corpos e me olhando com um sorriso sapeca nos lábios, mordendo os mesmos.
— Te chamei para um banho – Ela deu um passo para trás e me puxou junto com ela,fazendo a água que caia bater em nós dois. Dessa vez não precisava ter pressa, pois pela primeira vez realmente tínhamos todo o tempo do mundo. Não haveria interrupções.
Peguei o sabonete líquido na lateral do Box e depositei um bocado na mão, começando a espalhar pelos ombros de que virou de costas, puxando o cabelo para si. Aproveitei a deixa para beijar seus ombros, seu pescoço e sua nuca enquanto minha mão deslizava pela lateral do seu corpo, levando consigo a espuma que ia formando. Minhas mãos deslizaram pela lateral de sua coxa e voltaram a subir por sua parte interna. Mordi os lábios sentindo meu corpo latejar quando ela fechou os olhos e suspirou, principalmente quando minhas mãos subiram pela sua barriga e alcançaram os seus seios, espalmando— os. se virou de frente à mim e me empurrou de perto dela ainda com aquele mesmo sorriso ousado nos lábios. Ela fez o mesmo que eu pegando o sabonete e começou a passá— lo pelo meu peito, descendo até minha barriga e beijou meus lábios quando suas mãos alcançaram a parte mais animada do meu corpo. Foi impossível resistir a beijá— la quando suas mãos me acariciavam e eu não resisti ao impulso de segura— la pela nuca e puxa— la para mim. Nosso beijo era desesperado e urgente e a parede pareceu virar nossa melhor amiga quando o corpo de foi pressionado à ela. Eu explorava todas as partes possíveis do seu corpo nu, espalmando, apertando, acariciando e apreciando cada centímetro descoberto. mais uma vez afastou seu corpo do meu e quando eu ia soltar um buxixo reclamão ela desligou o chuveiro atrás de si, me empurrando pelo peito para fora do banheiro.
A garota que eu amava estava me empurrando para a cama e a sensação era diferente de tudo o que eu imaginava e eu não poderia estar mais feliz por estar sentindo aquilo.
Nossos corpos se colaram novamente quando deixamos o banheiro e eu inverti os lugares, fazendo com que o corpo de estivesse por baixo do meu quando caímos sobre a cama. Nós não nos importávamos de estarmos molhados ou fazendo bagunça, na realidade pra mim nada mais além dela parecia importar naquele momento e a recíproca parecia verdadeira. Havia um sentimento muito além do tesão envolvido ali, um sentimento de verdade que parecia guiar meus movimentos, me dizendo instintivamente como agir, onde tocar, beijar e o que fazer. Suas pernas estavam entrelaçadas em minha cintura e eu parei por um instante antes de continuar o que estávamos prestes a fazer.
Eu sentia meu membro encostando na sua intimidade quente e úmida e aquela sensação era simplesmente maravilhosa demais para que eu não pudesse querer mais. abriu os olhos para me encarar. Ela mordeu meu lábio inferior, direcionando seus beijos ao ao meu pescoço e descendo suas mãos por minhas costas, arranhando o local. Seu corpo se movimentou embaixo de mim e quando eu vi, ela estava me empurrando na cama, subindo em cima de mim e posicionando suas pernas ao redor de minha cintura, enquanto sua mão segurava meu membro e o direcionava para dentro dela. Mordi meus próprios lábios tentando não soltar um gemido ansioso e me concentrando na ideia de que aquilo não poderia acabar rápido e que eu precisaria fazer ser tão bom pra ela quanto ela estava fazendo ser bom pra mim.
Seu corpo foi descendo, encaixando— se vagarosamente ao meu e eu não consegui conter o som alto que se desprendeu de minha garganta ao sentir meu membro por inteiro dentro dela associado a visão dos seus olhos fechados e lábios entreabertos que assim como os meus deixaram escapar um gemido alto deles. Eu fiquei estático, sentindo a sensação nova que meu corpo me trazia, vendo parada em cima de mim,sentido o calor do seu corpo agora unido ao meu, seus seios subindo e descendo de acordo com a respiração, os cabelos caindo nas costas. Eu poderia gozar apenas com aquela visão maravilhosa daquela mulher em cima de mim, mas me concentrei para não fazer isso, principalmente quando ela me encarou e com a expressão mais sexy do mundo e começou a se mexer. Eu queria manter meus olhos abertos para apreciar aquele momento, mas a sensação que se espalhava pelo meu corpo era tão maravilhosamente boa que eu simplesmente não consegui. Eu precisava fechar os olhos e me concentrar. Minhas mãos ficaram divididas entre acariciar seus seios ou segurar sua cintura e ao invés disso, eu as levei a sua nuca puxando— a para voltar a me beijar. A necessidade dela era uma sensação absurda que subia pela minha espinha e corria pela minha corrente sanguínea. Nosso beijo dessa vez era diferente de todas as outras vezes em que nossos lábios se tocaram. Os movimentos das nossas línguas eram urgentes e nosso beijo era entrecortado pelos gemidos que emanavam de nossa gargantas conforme os movimentos agora dos nossos corpos e não só do dela, aumentavam de intensidade. Era diferente de tudo o que eu havia ousado imaginar e as sensações que eu sentia nunca poderiam ser descritas por palavras. Era emocional e físico, me levava a um torpor que eu nunca havia imaginado sentir. Nossos corpos molhados agora de suor unidos, o quarto sendo preenchido pelo barulho dos nossos gemidos, seus seios em minhas mãos, seu cabelo em meu peito, sua boca em minha boca, todas as sensações misturadas faziam meu corpo se amarrar em um nó profundo que pareceu se desfazer por completo quando apertou mais sua perna contra mim e soltou um gemido longo, aumentando a intensidade dos seus movimentos. Minhas mãos aumentaram o aperto em sua cintura e eu senti meu corpo contrair e relaxar, com a sensação extasiante que percorria o meu corpo com o orgasmo. Ela diminuiu a intensidade dos seus movimentos até parar por completo e deixou seu corpo molhado descansar sobre o meu.

Minutos que pareceram horas se passaram com repousada sob o meu peito enquanto nossas respirações pareciam se acalmar. Meu coração batia tão acelerado que eu sentia vontade de rir de tão ridículo que aquilo parecia. Eu provavelmente estava com uma expressão de besta estampada na cara e dei graças a Deus por estar deitada no meu peito e não perceber isso. Eu brincava com seu cabelo molhado que estava absurdamente cheiroso e sua mão fazia também um carinho em mim. Eu me sentia idiotamente extasiado.
— Foi bom pra você? – Ela ergueu o rosto e apoiou o queixo no meu peito. Fingi que ri da sua pergunta clichê e não que estava rindo que nem um idiota porque tinha acabado de perder a virgindade com a garota mais linda do mundo.
— Você tá conseguindo ouvir meu coração? – Ela acenou com a cabeça. – Então você nem precisa me fazer essa pergunta – Aproximei nossos rostos lhe dando um selinho — Eu provavelmente vou ficar com esse sorriso idiota no rosto pelo resto da minha vida. – A puxei para mais perto e ela ficou deitada de lado, com meu corpo parcialmente por cima do seu. – Eu devo estar com a cara mais idiota do planeta por que a minha namorada – Disse a palavra com gosto. Ainda não tínhamos conversado sobre aquilo e paralisei por milésimos de segundos por medo dela dizer que aquilo não era real, mas ela entrelaçou nossas pernas, afundando suas mãos em meus cabelos, então me senti leve para continuar a frase. – Porque minha namorada é a garota mais linda, — Beijei seu queixo – Mais gostosa – Beijei entre seus olhos – Mais desejável – Beijei sua testa – De todo o mundo – Beijei seus lábios.
— Não se iluda, eu posso ser uma pessoa muito chata quando eu quero. Você tem a certeza de que quer seguir com isso? Quer realmente ser meu namorado? – Ela ergueu a sobrancelha. E embora falasse sério, havia leveza em sua voz.
— A única pergunta que eu tenho a fazer é se você realmente quer isso. Se você se sente pronta pra isso e se você quer assumir isso, se você não quiser podemos manter só pra nós dois. – Beijei seus lábios de novo. E ela segurou meu rosto me olhando séria.
, eu sou uma pessoa mal humorada, irritada, meio bipolar, eu me assusto fácil com as coisas e tenho a péssima tendência a fugir de tudo aquilo que me confronta e me tira da minha zona de conforto. E sou provavelmente a pessoa mais medrosa que existe na face do universo e embora eu reclame da minha mãe eu tenho a péssima mania de diversas vezes agir que nem ela. Eu quero muito embarcar nisso, principalmente depois desse final de semana incrível que tivemos. Mas eu preciso ter certeza de que você sabe quem eu sou e que não está só iludido com uma falsa imagem minha. E que você realmente está disposto a isso. — Me ergui, deixando meu corpo apoiado pelo meu cotovelo e encarei refletindo bem sobre o que ela havia acabado de falar. Eu deveria ser o cara que falaria isso, eu deveria ser a pessoa com medo, mas não, era ela. Era engraçado como as posições no nosso relacionamento pareciam se inverter em um piscar de olhos.
— Eu não estaria aqui se eu não soubesse ou não quisesse enfrentar tudo isso pra ficar com você. Eu sei quem você é, . Eu tenho sido apaixonado por você pelos últimos três anos. – Seu sorriso foi lindo e serviu para derreter totalmente meu coração. – Então você realmente aceita namorar comigo?
— Sim, eu aceito. Do modo oficial, mostrando pra todo mundo que o tão cobiçado agora é meu – Adorei o uso da palavra. Dela. Agora eu era dela, era maravilhosamente confortante ouvir aquilo. A beijei delicadamente agora, diferente da forma que havíamos nos beijado anteriormente e aos poucos meu corpo foi se posicionando estrategicamente em cima do seu.
— O que você faz comigo, garota? – Perguntei em seu ouvido vendo— a se arrepiar e sentindo meu corpo dar os primeiros sinais de excitação.
— O que você fez comigo, ? — Nossos lábios voltaram a se encontrar e nossas mãos voltaram a se explorar. – Eu gosto muito de você, . Espero que você nunca duvide disso. – E eu não duvidava. E eu a amava e eu faria com todas as minhas forças que ela acreditasse e entendesse piamente isso.

Capítulo 17





Quando eu acordei estava nu deitado ao meu lado com seus braços envolvendo minha cintura e sua respiração batendo em meu rosto. Era idiota, eu sabia mas eu estava rindo abertamente observando a linda imagem daquele cara maravilhoso dormindo ao meu lado. Me remexi na cama para poder olhar a hora e me lembrei que havia dormido de cabelo molhado envolvida em seus braços e que eu era cacheada, o que significava que minha cara não deveria estar muito apresentável, então pulei por cima dele apenas para seguir para o banheiro e fazer minha higiene, assim ele não acordaria e daria de cara comigo feia que nem um troço deitada ao seu lado. Escovei os dentes, arrumei o cabelo, fiz minha higiene íntima, afinal o local estava sendo frequentado agora e voltei a me deitar na cama depois de vestir sua camiseta e uma calcinha. acordou comigo afundando a cama ao seu lado e me puxou para si ainda dorminhoco.
— Por que você está cheirosa? — Ele abriu um dos olhos me virando de lado e colocando a mão por dentro de sua camiseta que estava cobrindo meu corpo — E como você consegue ser tão linda logo de manhã? — É eu ri que nem uma retardada, entrelaçando nossas pernas e o puxando pra mim.
— Por que você não tem bafo? — Lhe dei um beijo e ele riu abertamente fechando os olhos preguiçoso novamente.
— Por que eu sou o cara. — Ele espalmou minhas costas descendo sua mão até minha bunda e apertando o local.
— Acho que você é desses que sofre do mal das “manhãs” certo? — Passei minha perna por seu quadril diminuindo a proximidade entre nós dois e ele acariciou o local começando a beijar meu pescoço.
— Eu não sofro das manhãs, eu sofro de Heinlich . — Ele começou a depositar seus beijos por ali, beijando, sugando, mordiscando e eu fui sentindo meu corpo esquentar com seu toque. Era oficial, eu estava completamente viciada em ).

Eu tentava colocar minha blusa do uniforme ao mesmo tempo em que tentava calçar meu tênis. apareceu no meu quarto vestido e tão afobado quanto eu. Estávamos atrasados. Estávamos muito atrasados e teríamos prova no primeiro horário.
— Depois eu que sou a pessoa lerdo pra me arrumar – Ele se aproximou e me roubou um selinho seguindo até a minha cama e pegando minha mochila ali.
Eu estava com um enorme e idiota sorriso besta no meu rosto maior ainda do que o que eu tinha quando havíamos ficado na casa da minha mãe. Eu tinha tido um dos finais de semana mais maravilhosos de toda a minha vida no sentido emocional. Todos os momentos bons e engraçados que havíamos passado na casa de seu pai nem se comparavam aos momentos intensos que havíamos vivido na noite anterior enquanto eu estava em seus braços. A experiência sexual com havia sido totalmente diferente e eu entendi que talvez eu nunca estive apaixonada de verdade por Toni. Com era diferente, seus braços, seu toque, seu beijo, nosso olhar. Tudo era diferente, a intensidade era diferente e sua inexperiência não significava nada diante do que vivíamos. Eu era inexperiente naquilo também.
— A culpa é sua que ficou me distraindo andando pelado pelo meu quarto logo de manhã – Eu dei um tapa em sua bunda e mordi meus lábios contendo minha gargalhada. A bunda de era algo maravilhoso e era ótimo poder apertá— la quando bem me desse vontade.
— Não tenho culpa se sou uma pessoa extremamente sexy e ao contrário de você não tenho vergonha da minha nudez. – Ele passou por mim jogando seus braços pelo meu ombro e me puxando para fora do quarto.
Haviamos transado completamente a noite inteira, feito dois coelhos e não satisfeitos pela noite inteira, ainda resolvemos voltar ao ritmo de manhã quando acordamos e o resultado disso era o nosso atraso.Eu me sentia feliz, eu me sentia extremamente, absurdamente e loucamente feliz e não era só pela quantidade de orgasmos que eu havia tido em uma noite, era pela intimidade que nós havíamos criado, era por ele se preocupar em descobrir quais os pontos fracos do meu corpo, era pela vergonha que eu tinha de me manter nua depois que a excitação passava e ele transformava isso em uma coisa boba, fazendo questão de admirar, beijar e tocar cada parte de mim.Vou parecer repetitiva, mas preciso dizer mais uma vez: Eu estava feliz demais.

Chegamos na escola e o sinal já havia tocado, então corremos que nem desesperados para não levarmos zero na prova. me lançou um olhar de: não me esconda nada, quando eu passei por ela afobada e eu revirei os olhos sabendo que não teria escapatória. Eu teria que contar tudo à ela.
Quando o sinal tocou, completamente me arrastou corredor a fora para o banheiro querendo saber de tudo o que tinha acontecido e de todos os detalhes, inclusive os mais sórdidos e foi muito bom e aliviador contar tudo a ela. Eu nunca tinha tido uma amiga dessa forma, não só que me perguntasse sobre tudo da minha vida, mas pra quem eu também quisesse contar sobre tudo. Tentei ser breve com ela, para poder aproveitar o resto do pequeno intervalo com e contar pra todo mundo que estávamos juntos, mas não consegui, quando e eu percebemos o sinal já estava tocando e já tínhamos que seguir para a prova seguinte. Após o intervalo tivemos mais uma sequência de provas e conforme acabávamos estávamos liberados para ir embora. Fui uma das últimas a acabar e quando cheguei ao estacionamento ele já estava quase vazio e me esperava no carro.
— O pessoal está numa lanchonete aqui perto comendo, vamos? – Ele disse assim que eu entrei no carro e lhe dei um beijo.
— Claro, to morrendo de fome. — Joguei minha mochila no banco de trás e liguei o rádio em uma estação qualquer — Você contou à eles da gente? — Ele negou com a cabeça.
— Queria fazer isso com você,vai que você muda de ideia e então eu já contei pra todo mundo. E sem contar que não quero ser zoado sozinho, todo mundo ficou perguntando se minha cara de retardado era só porque eu descobri que seria irmão, ou se tinha mais alguma coisa e eu tive que passar o intervalo inteiro negando, enquanto você fofocava com .
— Não resisti, precisava contar todos os detalhes sórdidos e acabou me surpreendendo dizendo que eu não sabia de nada da vida ainda e que um dia ela iria me contar suas histórias. — riu. — Mas não quero ouvir sobre o desempenho sexual do meu irmão. — Fiz careta.
— Bom, nao vai ter só seu irmão na história. também — Abri a boca chocada com a informação — Mas isso é um segredo de estado. Eles estavam bêbados, Paul tinha ido passar o ano novo com você, ele e tinham brigado feio, e o acho que até morre se souber que eu sei disso. Ele passou semanas sem sair com a gente por sentir que tinha traído o Paul.
— Estou chocada.
— Se você está chocada imagina eu, que encontrei os dois seminus na cama. — Arregalei os olhos e começou a me contar tudo o que havia acontecido, história essa que envolvia com amnésia alcoolica e desesperada.
parou o carro em frente a uma lanchonete que tinha uma parte de vidro e já pude ver nossos amigos sentados lá dentro comendo e rindo de alguma coisa.
— E então, preparado para se assumir? — Perguntei e seu sorriso foi tão fofo que eu me contive para não agarrá— lo e tirar suas roupas ali mesmo. Desde o início era isso que queria e ver que ele estava contendo sua empolgação,me fazia perceber o quanto eu realmente era especial.
— Mais do que preparado, senhorita . – Ele beijou minha mão e desceu do carro. Entrelaçamos nossos dedos novamente quando já estávamos a caminho da entrada. Quando passamos pela porta, a mesma fez barulho como normalmente fazia e que estava virado de frente pra porta nos olhou, seus olhos seguiram pras nossas mãos entrelaçadas e se ergueram novamente pra que deu de ombros rindo. Aquilo foi o suficiente para que nosso amigo soltasse um grito batendo na mesa e apontando pra nós, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam ali.
— EU NÃO ACREDITO NO QUE EU TO VENDO!— gritou, chamando a atenção de todo mundo na mesa que virou pra nos encarar. — Esse moleque é meu herói – Ele veio correndo na direção de e se jogou no colo do mesmo, quase o derrubando no chão fazendo com que nossas mãos se soltassem. Embora eu tivesse dito que podia contar à sobre nós, ele não falou com ninguém. – Não to acreditando no que eu to vendo, vocês estão juntos mesmo? – Ele se desgrudou de dando dois tapas na cara dele e uniu novamente nossas mãos, nos dando finalmente a oportunidade de nos aproximarmos da mesa. — Caralho eu tô muito feliz.
–É de verdade? Tipo, real? — ) foi o segundo a se pronunciar. — Vocês estão juntos? Sem brigas ou quase matando um de nós por perguntar? Por que eu ainda lembro que o quase me jogou da escada quando vocês se pegaram lá no bar aquele dia e eu depois fui perguntar o que estava rolando. Então é de verdade agora? Estão juntos? – ) falava animado e atrapalhado e isso só me fez rir. Ele parecia realmente feliz por nós.
— Estamos. – Respondi achando graça das reações.
— Eu sabia, Vocês não me enganaram desde a viagem. tem andado muito felizinho. Hoje então, o moleque estava quase reluzindo de tanta felicidade. – bagunçou o cabelo de que soltou um palavrão. Rose e Valerie que não estavam ali antes, se aproximaram.
— Que estardalhaço é esse aqui? Dava pra ouvir os gritos do lá do banheiro.
e estão juntos! – Ele apontou para nós dois como se fossemos uma obra de arte e Valerie e Rose ficaram primeiro surpresas e depois acenaram a cabeça em afirmação.Todo mundo já esperava por aquilo
— Perdi meu par do baile – Rose disse com graça e nos parabenizou, se sentando em seguida. – bebia seu milkshake e ria, ela tinha tido reações parecidas mas só entre nós então era cômico ver os outros reagindo daquela maneira.
— Eu realmente achei que isso tinha acabado, sabe? Depois do aniversário e tudo o que aconteceu, nunca mais tocou no assunto e pensei que tinha morrido a ideia. Até trouxe a Alana pra ver se ele desencanava de vez — bateu na própria testa.
— Pois é, ideia bem idiota aquela. — Fechei a cara pra ele que riu sem graça e pediu desculpas.
— Mas conta como isso aconteceu? Paul teria adorado ver isso acontecendo. Eu já fiquei imaginando qual seria a reação dele quando vocês se beijaram aquele dia, agora imagina ele sabendo que vocês estavam junto? Quando no mundo iríamos imaginar que isso ia ser realmente possível? – ) continuava animado, apenas sabia do que tinha acontecido na festa e que ali tinha começado tudo.
– Aquele dia da festa todo frouxo e agora vocês dois estão aqui: JUNTOS! — continuou.
— Na realidade o Paul chegou a saber, já que tudo começou naquela festa. — Eu falei.
— EU SABIA QUE AQUELE PAPEL QUE EU TINHA TE DADO IA RESULTAR EM ALGUMA COISA. – gritou novamente batendo na mesa e eu olhei para sem entender e ele revirou os olhos.
— Se eu tivesse usado aquele papel, nós não estaríamos aqui juntos hoje. Mas ali foi só a primeira vez que ficamos. Começou ali mas não continuou ali.
— Continuou quando?— Valerie perguntou curiosa e ela parecia muito de boa com a informação. Talvez ela realmente já estivesse esperando por ela.
— Tecnicamente quando viajamos, mas oficialmente no natal. – Respondi.
— Isso foi a mais de um mês atrás. – disse – Então quando vocês ficaram lá naquele bar vocês já estavam juntos? E aquela briga toda foi DR de verdade e não arrependimento pós ressaca que nem a gente estava pensando?
— Exatamente. – concordou rindo.
— Mano... – ) parou olhando pra ele. – Vocês moram juntos. – Ele pareceu ter a percepção de algo inimaginável e olhou para e muito sério — Precisamos marcar algo só os caras pra conversar com ele. Precisamos falar sobre sexo. Se Paul estivesse aqui ele faria isso. Ele fez isso comigo, ele fez isso com o , ele passou todos os macetes, truques, mistérios do corpo feminino,TUDO. Eu não sei se ele te passaria tudo, afinal a é a irmã dele. Mas estamos aqui, mano – Ele olhou para e depois voltou a olhar para os outros meninos.Precisamos doutrinar o rapaz – Ele olhou pros outros dois garotos da mesa – Sinto que finalmente está preparado pra isso. Não to acreditando nisso! – Ele falou empolgado batendo seguidamente na mesa e eu comecei a rir.
— Vocês não precisam ensinar nada à ele, ele sabe exatamente o que fazer. – Não foi o que eu falei, mas como eu falei que fez com que os três meninos me olhassem estáticos antes de começarem a gritar, pular e se abraçar, puxando pra eles, pulando, gritando e o abraçando.
— Caralho não to acreditando nisso! — Eu gargalhava alto vendo os meninos fazendo estardalhaço e rindo. – Puta que pariu, não é mais virgem! – gritou dentro da lanchonete e algumas pessoas olhavam pra nossa mesa rindo e outras meio assustadas e eu completamente chorava de tanto rir. abraçou de novo o amigo e revirava os olhos rindo, mas vermelho que nem uma pimenta.
, você merece um troféu. – ) me entregou seu milkshake como recompensa e beijou meu rosto e eu ergui a bebida abobalhada.
— Quando isso aconteceu, como? Mano, eu ainda não to acreditando que boy, aquele que eu acreditava que ia se guardar até o casamento finalmente sucumbiu as maravilhas do sexo e agora é um mero mortal que nem nós. – se sentou, e eles foram acalmando a gritaria aos poucos, deixando sentar novamente do meu lado, todo bagunçado e com o rosto vermelho.
, como é ser um humano comum e não mais um semi— Deus? – perguntou séria e ele revirou os olhos novamente.
— Parem com essa palhaçada gente. – Ele estava absurdamente sem graça.
— Vai dizer que tu não tá deslumbrado e agora só pensa nisso? — Eu quem gargalhei alto e bateu na mesa de novo. – Tá vendo, olha o sorriso dessa mulher. Isso é cara de quem tá fazendo muito do babado – Eu comecei a rir mais alto ficando um pouco sem graça mas ao mesmo tempo entrando na pilha pra deixar sem graça, ele ficava simplesmente lindo daquela forma, era encantador,o carinho dele, o jeito dele. Ele por completo.
— Esse é um sorriso de alguém que teve uma cansativa noite e uma excelente manhã – Dei de ombros e os meninos voltaram a gritar. Eu não estava falando pra me gabar, estava falando pra poder ver sem graça. A cena era impagável.
— Ual, a noite toda, ? – Rose perguntou rindo. – era virgem também?
— Não.
— Você tirou a inocência do nosso rapaz aqui – apontou pra – Conte— nos como foi essa experiência.
o repreendeu.
— Pra que ficar vermelho desse jeito cara, você sabe que entre nós aqui não tem segredo. Se quiser alguma ajuda, alguma coisa pra melhorar a gente tá aqui. Somos as vozes da experiência. Paul fez isso com todos nós e nós podemos fazer isso com você. — revirou os olhos e eu também.
— Ele não precisa de nada disso, graças a Deus ele nasceu com um dom inato, agora para de perturbar o menino. – Eles voltaram a bater na mesa e a fazer barulho comemorando a minha informação e continuou ficando vermelho e me olhando de cara feia.
— Eu te disse que dos 18 não passava. — se pronunciou. — Agora só tomem cuidado, previnam— se e aproveite a vida.
— Pode deixar, tia! — revirou os olhos e todos nós começamos um assunto aleatório sobre a aula logo após precisar nos deixar para voltar ao trabalho.


Chegar em casa com dessa vez foi algo totalmente diferente, estava acostumado a chegar, tomar meu banho, ir pro meu quarto ou me jogar na sala até ter sono e simplesmente dormir. Agora não, agora era só passar pela porta e estarmos nós dois sozinhos que na minha cabeça vinham imagens dela nua e tudo o que eu pensava era que eu precisava de mais daquilo. Não deu nem 30 segundos que estávamos sozinhos dentro do apartamento e eu já estava absurdamente excitado e morrendo de vontade de tirar suas roupas ali mesmo na cozinha enquanto ela abria a geladeira e pegava um copo de água.
— Preciso de um banho — Ela soltou enchendo seu copo e eu esperei pra fazer o mesmo com o meu. Abri a boca pra soltar um comentário fatídico, mas ela foi mais rápida — Sozinha. — Ela sorriu e eu nos aproximei.
— Poxa — Resmunguei ficando atrás dela e começando a beijar seu pescoço ao mesmo tempo em que colava mais um pouco nossos corpos. — Eu aqui querendo você o dia inteiro e você me dispensando na primeira oportunidade. — Ela encolhia os ombros conforme ficava arrepiada e eu pensava que aquilo era um ponto pra mim, então comecei a subir minhas mãos pelo seu abdômen, seguindo até seus seios.
— Eu não estou te dispensando — Ela se virou de frente e jogou os braços em volta do meu pescoço — Eu só estou querendo que você receba o melhor, isso significa: minha pessoa, cheirosa.
— Pra mim, você já está perfeita assim. — Disse afundando novamente meu rosto em seu pescoço, eu não sabia se as coisas aconteciam pelo efeito que causava em mim ou se por instinto mesmo, mas era como se ela tivesse despertado um novo que eu não estava tendo facilidade em domar. Minha mão seguiu pra sua nuca e eu juntei nossos lábios com vontade, tentando talvez mostrar a ela a vontade que eu estava dela e pela ferocidade com a qual fui correspondido, entendi que o sentimento era recíproco. Nossas mãos nos traziam cada vez mais pra perto um do outro e eu me deliciei com o volume de sua bunda, impulsionando— a para cima e fazendo com que ela ficasse sentada na bancada da cozinha. Eu ainda me sentia inseguro sobre onde tocar, como tocar, como fazer.Minha mente ainda ficava: não se excite demais, não goze rápido, pensa no prazer dela antes do seu. Puxei sua blusa do uniforme,deixando— a apenas de sutiã e ela aproveitou e fez o mesmo com a minha blusa. O toque da pele dela na minha causava um efeito sobrenatural e quando vi, já estava desgrudando o corpo dela da bancada da cozinha e guiando — a pro quarto. separou nosso beijo para abrir e se livrar da calça jeans e eu novamente seguindo seus passos fiz o mesmo, voltando a grudar nossos corpos no beijo desesperado que dávamos, como se nunca tivéssemos feito isso. Meu corpo caiu por cima do seu na cama e me posicionei entre suas pernas. Meu quadril fez um movimento por cima do dela, apenas para mostra— la que eu já estava totalmente animado e ela gemeu entrecortado no beijo. Segui pro fecho do seu sutiã, e precisei parar o beijo porque eu simplesmente não conseguia abrir aquilo.
— Tem que fazer faculdade, pra tirar essa porra? — Reclamei e ela riu, tirando o sutiã com uma facilidade que parecia sobrenatural, deixando seus seios ali, totalmente livres pra que eu pudesse tocar, apertar, beijar e chupar e foi exatamente o que eu fiz. Suas pernas se fechavam com mais força na minha cintura dependendo da forma que eu passava a língua por seu mamilo e aproveitei a deixa pra voltar a movimentar meu quadril. Seus cabelos estavam soltos, o que me dava um tesão sobrenatural e eu tinha certeza que não conseguiria permanecer só naquela pegação por muito tempo,então deixei de dar atenção aos seus seios pra poder tirar sua calcinha e em seguida minha própria boxer. Ela sorriu quando voltei a me posicionar em cima dela e sua mão seguiu pro meu membro direcionando ele para que eu pudesse penetrá— la. Aquele primeiro gemido que ela dava quando eu entrava dentro dela era suficiente para realizar todas as minhas fantasias masculinas. Seus olhos se fechando, seus lábios entre os dentes, seu peito subindo e descendo e aquele som era quase que demais pra mim e me impediam de me movimentar por alguns segundos, pois eu precisava só apreciar aquele momento. Suas pernas se abriram mais e voltaram a se cruzar em meu quadril e com seus braços em volta do meu pescoço eu comecei a me movimentar. Havia olho no olho, lingua com lingua e gemidos abafados com chupões. A sensação de estar dentro dela era absurdamente gostosa e por vezes eu fechava o olho e pensava em outra coisa apenas pra tentar me segurar um pouco mais, caso contrário acabaria com a brincadeira rápido demais, mas então sua boca em meu pescoço e seu gemido em meu ouvido me fazia esquecer qualquer coisa que não fosse ela e que não fosse todas as sensações que seu corpo estava causando ao meu.
— Eu precisei parar, eu sentia meu membro latejando e bastaria mais uma ou duas investidas e eu estaria gozando, sem nem saber se ela estava pelo menos próxima disso. Ela abriu os olhos e me olhou sem entender — Eu não to aguentando — Fechei os olhos sentindo o calor do constrangimento misturado com a excitação latejando em meu pescoço. Ela abriu um sorriso enorme e beijou meus lábios de leve descolando um pouco nossos corpos e descendo sua mão por entre eles.
— Aguenta só mais um pouco — Ela pediu e começou a se acariciar. Seus lábios procuraram os meus e eu voltei a me movimentar, sentindo aos poucos todo a tensão do meu corpo voltar a se acumular e automaticamente a velocidade dos meus movimentos aumentar. movimentava seu quadril no mesmo ritmo que eu e um “não para” saiu de seus lábios, quando ela desfez nosso beijo e afundou seu rosto em meu pescoço, fincando ali seus dentes e provavelmente deixando uma marca pra depois. A tensão por trás do meu umbigo se tornou absurdamente mais forte e eu sabia que dessa vez não conseguiria controlar. Minha mão seguiu pra sua bunda apertando— a e um grunhido saiu da minha garganta quando gozei dentro dela. Mas continuou se movimentando, indicando que ainda não tinha chegado lá então eu continuei meus movimentos,sentindo cada centímetro do meu membro latejar, até que segundos depois senti a unha de se fincar na minha pele e um gemido um pouco mais intenso sair de sua garganta.
Sua mão saiu de entre nós e voltou ao seu local inicial, envolvendo meu pescoço e então eu abri os olhos e a beijei. Beijei com calma e ternura, enquanto esperava nossas respirações se acalmarem e só então joguei meu corpo pro lado.
— Desculpa — Eu disse olhando pro teto, sentindo raiva e constrangimento se apossando de mim.
— Pelo que? — Ela se virou de lado, deitando com a cabeça apoiada nos braços e parecendo não entender muito bem do que eu estava falando.
— Por não ter aguentado muito tempo — Coçei minha cabeça. Nos filmes, livros, séries e qualquer obra de ficção que você coloca as mãos pra ler, sempre existe a figura do cara comedor, que é absurdamente bom de cama, que só de olhar pra ele as mulheres ficam molhadas, que conseguem dar três orgamos seguidos pra mulher logo na primeira vez, e eu sei que esses caras até existem. Mas as pessoas esquecem de falar dos caras novos, daqueles que acabam de perder a virgindade, que são inseguros com o tamanho do próprio pinto e que já sentem vontade de gozar logo na primeira vez que mete. E adivinha qual desses eu sou?
, tá tudo bem. — Ela parecia surpresa.
— Não, , não está. Eu tenho que melhorar. Você só precisa ser paciente, ok? — Ela abriu um sorriso e se sentou na cama, pegando uma blusa que estava jogada no chão logo ao nosso lado e se cobrindo. — Cara, não é que nem nos filmes, sabe?
— Eu sei, — Ela falava como se realmente entendesse, mas eu duvidava que isso fosse possível. Pra mulher era sempre diferente. — É sério, . Eu sei. Quando eu comecei a transar esse foi meu primeiro pensamento: não é que nem nos filmes. — Ela revirou os olhos e eu a olhei curioso. — Tipo, pra mulher não é fácil ter um orgasmo, nem sempre você está molhada, as vezes no meio da coisa, começa a doer, arder, incomodar. Só penetração não tem tanta graça. — Aquelas eram informações novas para mim e eu me sentei puxando a coberta por cima de mim, pra cobrir parcialmente meu corpo.
— Como foi pra você? — Perguntei curioso.
— Primeiro eu achei que tinha algum problema comigo, porque eu simplesmente não conseguia sentir nada. Toda aquela excitação, aquele fogo e aquela vontade de transar sumiram quando eu estava de fato transando. Doía, ardia, incomodava. Em parte pelo fato de que eu era nova e não sabia nada sobre nada, e em parte porque eu namorava um cara que não se preocupava em fazer ser bom pra mim. — Ela revirou os olhos. — O início sempre é complicado, ninguém nasce fodão. — Ela me empurrou pelo ombro. — E você é bem melhor que a encomenda. — Revirei os olhos.
— Eu estou conseguindo fazer você sentir alguma coisa? — Eu nem sabia se eu queria ouvir a resposta, mas perguntei assim mesmo.
— Sim — Ela abriu um sorrisão.— Seu sexo oral é maravilhoso. — Seu rosto ficou absurdamente vermelho e foi minha vez de rir abertamente.
— Tem horas que eu fico perdido, sem saber o que fazer, se você tá gostando, se eu vou aguentar por muito tempo. Se eu realmente tô te dando prazer. Você acabou de falar que só penetração não tem graça, como assim?
— Comigo, não. Tem que ter algum estímulo fora isso. — Entendi agora porque sua mão seguiu para entre suas pernas enquanto estavamos transando. — As vezes, dependendo a posição, no corpo a corpo, a fricção ocorre naturalmente, mas as vezes eu preciso de ajuda dos dedinhos, por mais que esteja maravilhoso. — Sacudi a cabeça em compreensão. Eram novas e importantes informações a serem processadas. — , não importa o quanto você leia, ou veja sobre sexo. A gente só aprende mesmo, na prática. — Ela riu de uma forma sapeca e deitou sua cabeça no meu peito. — Por exemplo: filme nenhum de romance, te conta que quando você levanta, o liquido do amor sai escorrendo pelas suas pernas — Eu ri alto disso e ela fez o mesmo depositando o queixo no meu ombro e ficando olhando séria pro meu rosto. — Com você é tão bom.
— Jura? — Franzi a testa tentando acreditar que ela estava falando aquilo de verdade e não apenas para me tranquilizar.
— Juro. É como se a gente se conhecesse a tanto tempo, como se — Ela parou de falar e mordeu o lábio — É bom, . Não precisa ficar com medo.— Eu a puxei pra se aconchegar melhor em meu peito.Podia parecer besteira, mas ela havia me tranquilizado. — É diferente com a gente. — Ela falou depois de um tempo que ficamos em silencio e minha barriga já começava a roncar. — Eu não to comparando, mas quando acaba, é diferente. — Seu olhar parecia perdido em meio a um monte de pensamentos.
— Como assim?
— Quando acaba, a forma como eu me sinto — Ela se virou para olhar nos meus olhos.— É como se eu estivesse no único lugar do mundo onde eu devesse estar e se eu pudesse, eu nunca mais sairia daqui. — Eu sei que ela não disse que me amava mas eu conhecia bem o suficiente pra entender que aquela frase significava quase aquilo, e enquanto para muitos aquilo poderia parecer pouco, pra mim era como se ela tivesse acabado de falar a frase mais importante do mundo.
— Então não vá a lugar nenhum, que eu prometo que vou fazer o mesmo. — Ela sorriu abobalhada e eu beijei seu rosto, torcendo pra que de certa forma, realmente pudéssemos viver aquilo ali pra sempre.

Capítulo 18





Era sexta feira a noite e eu estava jogada no sofá da sala com uma blusa de e um short curto vendo uma maratona de New Girl que passava na TV. havia estado comigo, mas depois levantou pra fazer alguma coisa e não voltou mais. Três semanas haviam se passado desde que e eu havíamos nos assumido pra todo mundo e as coisas estavam fluindo de uma forma maravilhosa, a intimidade entre nós era algo tão natural que eu nunca conseguiria explicar como acontecia.
Olhei meu telefone que apitava, era uma mensagem de com uma foto dela pedindo minha opinião e uma blusa emprestada. Ela e Danny iria em alguma balada qualquer. Respondi e me acomodei mais ainda no meu sofá,era bom ficar daquela forma confortável dentro de casa e principalmente ter uma desculpa REAL para dar à para não sair: eu havia ficado dois dias em casa de atestado médico devido a uma infecção no ouvido e estava tomando uma série de antibióticos e tinha como recomendação médica repouso.
Quando travei o telefone não consegui pensar em Paul e que se ele tivesse vivo ele iria querer iniciar aquele final de semana cheio de comemorações, mas eu optei por manter aquela data pra mim e de preferência não falar dela com ninguém. Era meu primeiro aniversário sem ele, os tão sonhados 18 anos chegariam no dia seguinte e ao contrário do que Paul sempre planejou, não haveria uma grande festa e nós não vomitaríamos em lixeiras e voltaríamos casados com desconhecidos de Vegas. O nós nem existia mais e pra mim isso já era motivo suficiente pra não comemorar nunca mais nada e minha vida. Eu também sabia que se Paul fosse um espírito que pudesse mover coisas, ele escreveria com batom no espelho do banheiro pra eu sair de dentro de casa e viver minha vida, mas eu da minha forma estava fazendo isso. Viver pra mim ia além de fazer coisas loucas, significava enfrentar meus medos e deixar eles de lado para me permitir curtir meus sentimentos e era exatamente isso que eu estava fazendo com .

— OS GÊMEOS NASCERAM! — surgiu gritando da porta de seu quarto, todo empolgado e eu quase saltei do sofá.
— Ai caralho, que susto, Porra! — Levei a mão ao peito sentindo o mesmo acelerado. — Você sempre faz isso. Me assusta! Que merda!
— Eu sou um irmão, eu sou um irmão, porra! — Ele parou na minha frente fazendo uma dancinha hilária baseada apenas em movimentos pélvicos e ignorou minha resposta atravessada. Ele estava super empolgado e me puxava pra dançar.
— Parabéns — Lhe dei alguns selinhos e voltei a me jogar no sofá, pegando o controle que havia ido parar no chão.
— Meu pai falou pra passarmos lá no final de semana, para conhecermos eles. O que você acha? — Ele se sentou no sofá ao meu lado e eu joguei minhas pernas por cima das suas me aconchegando em uma posição confortável, mesmo sabendo que em poucos minutos ele se levantaria para ir pra academia.
— Hum, esse final de semana — Mordi o lábio pensando na desculpa que iria dar sem ter que contar pra ele que no dia seguinte era meu aniversário. Eu tinha certeza que não sabia pois eu nunca tinha contado à ele e fazia muita questão de não manter essa informação em nenhuma rede social minha. — Minha mãe disse que ia passar por aqui esse final de semana — Me lembrei da informação, mesmo achando de verdade que ela fosse dar alguma desculpa esfarrapada. — Não acredito muito que ela venha, Tava pensando que caso isso aconteça, em usar essa oportunidade pra contar a ela sobre a gente.O que você acha? — Mordi meu lábio mudando de assunto e ele deu um sorriso discreto.
— Quer fazer isso juntos ou sozinha? — Aquela pergunta me pegou de surpresa, Em momento algum eu tinha pensado que ele iria querer estar comigo quando eu fosse contar pra minha mãe. — Eu sei que falar pra ela provavelmente deve ser difícil pra você, que tem muita coisa envolvida e complicada na relação de vocês e eu até entendo se você não quiser contar, mas se quiser e tiver surtando por causa disso, podemos contar juntos. Assim acho que até mesmo ela pode encarar melhor, pra saber que minha intenção de forma alguma é bagunçar a filha dela.
— É sério isso? Você contaria a minha mãe sobre nós comigo? Tipo, eu acho que ela vai te mandar sair da sala quando falarmos e começar a gritar, perder a classe e voar pra cima de você,mas...
, o que mais eu tenho que fazer pra você entender que você não precisa fazer nada na sua vida sozinha, se você não quiser?
— Tá. — Ele ficou parada esperando que eu dissesse mais alguma coisa, mas eu não iria voltar naquele assunto . Era algo que eu precisava enfrentar e precisava fazer isso sozinha.
— Se você ainda não se sentir preparada, não esquenta a cabeça. Mas se quiser fazer, eu posso ir no próximo final de semana conhecer os gêmeos e fazemos isso juntos nesse, ok?
— Você tá aí super feliz que virou um irmão mais velho, acho que você deveria ir esse fim de semana, me viro com a minha mãe, primeiro vou ver como está o humor dela e depois vejo se conto.— Ele fez careta, não acreditando no que eu dizia. — Pode ir e ficar tranquilo,não vamos morrer se ficarmos um final de semana sem estarmos grudados. — Ele revirou os olhos e abriu um sorrisão.
A grande realidade era que embora eu tivesse dito aquilo da boca pra fora e totalmente no automático, pra mim era estranho pensar em passar um dia sequer sem estar com . Eu havia me acostumado com sua presença, sua risada e não só com o carinho que eu recebia, mas com o carinho que eu também dava. Eu tentava o máximo não comparar nada do meu relacionamento com ele, com o relacionamento que eu havia tido com Toni, mas era praticamente impossível não fazer isso. Com ,a experiência era diferente e havia feito com que eu conhecesse uma que eu sempre jurei que não existia: a carinhosa e melosa que estava naquele exato momento se aconchegando em seu colo e pedindo internamente que ele desistisse de ir pra academia só pra que eu pudesse ficar ali sem mexer. Em várias situações eu tentava me conter, assustada com meus próprios pensamentos e reações, meu pé voltava dois passos quase que automaticamente e eu começava a me perguntar se Paul estivesse vivo, eu estaria me sentindo da mesma forma, mas quando eu via, já estava ali, fazendo algo que deixava mais perto, mais próximo mais íntimo.
Parte de mim sabia e havia começado a pensar que eu deveria lidar mais com a morte de Paul, porque desde que havia acontecido eu não havia feito isso. A secretária eletrônica continuava desligada só para caso o telefone tocasse, eu não fosse obrigada a ouvir sua voz. Seu quarto continuava intocado como da última vez que ele esteve ali e minha cabeça ainda acreditava que eu estava vivendo um sonho e que em alguma hora eu fosse acordar. Todas as vezes que eu me via muito feliz com , eu pensava: É agora que eu vou acordar e saber que isso não é real, que eu nunca amei e nem fui amada desse jeito, mas a melhor parte seria perceber que meu irmão ainda estaria ali. As vezes eu também pensava que minha vida era um sonho resultado do coma em que eu estava após o acidente e Paul ainda estava vivo, e quando eu alcançasse o auge da felicidade meus familiares iriam desligar as máquinas e então tudo estaria finalizado. Eu perdia às vezes horas e horas da minha noite pensando nessas teorias ridículas enquanto dormia ao meu lado, perfeitamente abraçado a mim, como se nossos corpos fossem duas peças de quebra cabeças que perfeitamente se moldavam.
— Você pode fazer essa cara de durona ai, invocando a antiga entidade do mau humor que uma vez habitou esse seu copo, mas eu bem sei que você não consegue mais viver sem mim — me puxou para mais perto, afundando o rosto no vão do meu pescoço e soltando respiração ali. Aquilo me dava uma enorme sensação de conforto que mandava pra longe todos os meus medos e inseguranças. Uma parte de mim gritava que eu amava com todas as minhas forças, mas havia uma outra pequena parte de mim que ainda questionava se o que eu sentia por ele não era simplesmente pelo medo de ficar sozinha depois que Paul morreu. Isso martirizava minha mente todas as vezes que a frase “eu te amo” vinha em minha garganta sem minha permissão, como naquele exato momento, quase pulando pela minha língua sem minha autorização.
— Você não ia pra academia? . — Falei pra afastar os pensamentos que me deixavam meio off da realidade. — vai passar aqui antes de sair, pra pegar uma blusa emprestada. — Comentei afundando minha mão em seu cabelo e começando a fazer cafuné ali.
— Vou, tô só te explorando um pouco. — O empurrei com o ombro sibilando um “abusado” e ele se ergueu, ficando parcialmente deitado por cima de mim e com o rosto a centímetros do meu.— O que tá acontecendo com você? — Ele levou a mão ao meu rosto e perguntou sério de verdade. — Essa semana você não esteve muito bem.Tem andado pensativa, acorda de madrugada e fica olhando pro nada. Você pode conversar comigo se quiser , mas também não precisa ser comigo, pode ser com qualquer um. Só não volta a guardar todas as coisas pra você de novo.— Ele continuou acariciando meu rosto e eu senti uma vontade absurda de começar a chorar e falar o quanto eu estava sentindo falta de Paul pra desenrolar meus pensamentos embolados. Senti vontade de chorar porque havia percebido e vontade de chorar porque em algumas horas seria meu aniversário e eu não teria ninguém pra gritar e me animar me cantando parabéns a meia noite. Eram tantas coisas, tantos sentimentos e no meio de tudo, minha única certeza era que eu queria estar com .
— Eu estou bem — Minha voz embargou. — Só sentindo falta do meu irmão.
— Eu sei. — Ele uniu nossas testas — Também sinto falta dele. — Ele depositou um beijo carinhoso em meus lábios — Eu amo tudo o que a gente tem e tudo o que temos vivido, mas eu trocaria cada segundo dos últimos 3 meses só pra ter ele aqui de volta. — Me senti aliviada por saber que ele sentia o mesmo. Ele sempre sabia, ele sempre sentia, ele sempre entendia. E eram nesses exatos momentos que todas as minhas dúvidas sumiam.
— Eu te amo, . — Saiu quase sem querer, dessa vez não consegui engolir. Disse porque naquele momento sem dúvidas e confusão, quando ele demonstrava e parecia realmente entender tudo o que eu sentia e me acolher para que eu me sentisse bem, era daquela forma que eu estava me sentindo. Porque quando ele me olhava daquele jeito, com o rosto vermelho e um sorriso tímido nos lábios e eu tinha certeza que ali, naquele lugar, daquele jeito e com ele era como eu queria estar pra sempre. Nos momentos em que medo e insegurança não me dominavam, eu tinha certeza absoluta que eu o amava. — Do meu jeito e nas minhas confusões. — Completei. Ele continuava com cara de babaca. E eu comecei a ficar com vontade de rir e gritar que era uma pegadinha e sair correndo pro meu quarto,mas ele pareceu finalmente sair do seu transe e puxou meu corpo pra baixo do seu colando nossos lábios com uma urgência e ferocidade que nunca demonstrou antes. Era o mesmo beijo que me dava todos os dias: intenso, gostoso, despertando meu corpo inteiro, mas ainda assim era diferente. Ele finalizou o beijo colando nossas testas e seu olhar era novo.
— Por que você sempre rouba meus momentos? — Ele fez uma careta sofrida — Você que me pediu em namoro, sem me dar a mera oportunidade de fazer um pedido decente e agora fala que me ama assim? Sem velas? Rosas? Aerosmith tocando? — Ele gargalhou gostoso — Eu também Te amo, garota. Pra caralho.E nesse exato momento posso dizer que eu sou o cara mais feliz do mundo. Heinlich disse a palavra com A pra mim. — Ele me olhou embasbacado e eu ri do palavrão que ele não era acostumado a usar e principalmente porque ele sabia o valor que aquelas palavras tinham pra mim. — Eu amo você — Ele disse mais sério — Com todo o seu jeito e suas confusões. Eu amo cada pedacinho delas. — Ele selou nossos labios ao terminar. Era pra ser um beijo simples, mas acabamos evoluindo com toques e carícias.
A campainha tocou poucos segundos depois de seguir pro fecho de meu sutiã com a total intenção de tirá— la. Paramos e ele encarou a porta irritado.
— Estamos ocupados, volta depois. — Ele gritou voltando a me beijar e eu o empurrei rindo e sentando nossos corpos que ele insistia em querer voltar a deitar.
— A porta ta aberta, ! — Gritei e ao invés da cabeça de aparecer na porta da sala rindo e zoando que tinha nos atrapalhado, o que vi foi o cabelo perfeitamente arrumado de minha mãe, assim como sua maquiagem alinhada que se contorcia em uma feição nada satisfeita quando seus olhos alcançaram deitado por cima de mim no sofá.
Nos soltamos como se tivéssemos levado um choque, na verdade saiu de cima de mim como se eu tivesse lhe dado um choque, pulando quase pro outro lado do sofá, mas sem realmente sair de perto de mim. Repensei minha existência naquele breve segundo e pensei que era ali que minha felicidade acabaria. Era aquele o momento em que eu seria levada de volta pra casa e o conto de fadas acabaria. Olhei para e embora tivesse meio assustado, ele estava firme. Se ajeitou no sofá e procurou meu olhar.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – Minha mãe falou firme e eu reconheci naquele tom de voz o mesmo tom que ela usava comigo quando eu ainda morava com ela. Ela não estava simplesmente me fazendo uma pergunta, ela estava exigindo uma resposta. Olhei novamente pro rapaz ao meu lado, me estendia sua camisa que estava no braço do sofá e parecia absurdamente frustrado. Eu sabia que todas as suas expectativas de conversar com minha mãe e mostrar suas intenções haviam sido frustradas, só pelo seu tom dava pra saber que ela não daria oportunidade para argumentos. O tom que minha mãe usava, não fazia com que eu sentisse por ela respeito, mas medo e eu lembrei que havia prometido a Paul que nunca mais deixaria ela fazer eu me sentir daquela forma. Aquele era o momento em que eu teria de tomar as rédeas da minha própria vida.
— Hey mãe — Ajeitei minha blusa e meu cabelo me levantando do sofá — Achei que você vinha só amanhã, não avisou nada.
— Quis fazer uma surpresa, mas parece que quem foi surpreendida fui eu — Ela falou ofendida — Você ainda não me respondeu o que está acontecendo aqui.
e eu estamos namorando – Falei tentando parecer segura de mim mesma. Eu tremia, mas se quisesse autonomia eu precisava pelo menos ser firme nas minhas decisões e na comunicação delas, mesmo que por dentro eu estivesse sentindo meu coração bater a mil por hora e minha boca começando a ficar seca.
— Poderia me explicar melhor?
— Muito simples mãe, estamos namorando. Sabe? Beijando na boca, andando de mãos dadas, dormindo juntos. Namorando que nem as pessoas fazem, que nem você e meu pai fizeram um dia. – Eu não tive certeza se aquela era a resposta que deveria dar ou não.
— Desde quando isso tá acontecendo? – Minha mãe entrou na casa fechando a porta com força e falando autoritária. Foi quem respondeu
— Sra Heinlich, nós...
— Eu não estou falando com você — Ela apontou o dedo em riste para — Estou falando com minha filha e acredito que não temos nada a conversar sobre qualquer coisa que esteja acontecendo entre vocês dois, porque você pode ter certeza que isso vai acabar agora.
— Mãe, em primeiro lugar: Você não está na sua casa ou na sua escola onde você fala com as pessoas do jeito que bem quer. Você está na casa do então trate— o com mais respeito e educação. E eu realmente concordo que ele não tem nada pra conversar com vc sobre o que está acontecendo entre nós, porque diz respeito a nós.
— E você acha que eu vou deixar isso acontecer assim?
— Você não tem o que deixar, não te diz respeito. — Era a primeira vez que eu falava com ela daquela forma, de igual pra igual, e embora meu senso de educação me dissesse que era errado falar daquele jeito com minha mãe, eu pensava em e no fato de que em 6 meses morando juntos ele havia me feito sentir milhões de vezes melhor do que 17 anos morando com ela.
— Não me diz respeito? Só porque está fazendo 18 anos acha que não me deve mais satisfações? Eu venho aqui pra comemorar seu aniversário com você, abandono sei lá quantos compromissos e o que recebo é esse comportamento petulante onde você ousa dizer que sua vida não me diz respeito.
— Mãe, o que eu to te dizendo é que nós não vamos deixar de ficar juntos só porque você não simpatiza com a ideia — Abaixei meu tom sabendo que ela estava começando a fazer aquilo de inverter a situação e fazer com que eu me sentisse culpada ou errada pelo que estava acontecendo. Minha mãe olhou de mim para antes de voltar a falar.
— Logo quando eu acho que você está aprendendo, !Você sabe que esse namoro ridículo só tá acontecendo porque seu irmão morreu e você não sabe se virar sozinha né? — Suas palavras me pegaram de surpresa, elas verbalizaram algo que eu tinha medo e doeu ouvir aquilo em voz alta — Primeiro foi Toni, todo aquele grude e toda aquela situação. Depois seu irmão. E agora esse menino! Você nunca soube se virar sozinha, . Sempre dependendo de alguém, aí agora que você tem a oportunidade de crescer, da mesma forma que estava tendo antes do seu irmão te trazer pra cá, você faz isso? — Ela quase terminou a frase gritando. — É sério? Como vocês vão fazer, daqui a poucos meses vocês vão estar indo pra faculdade.Você por um acaso desistiu de tudo que você fazia questão de gritar a todos os pulmões que ia fazer não importa o quanto eu não quisesse que você fizesse? — Eu sabia exatamente do que ela estava falando e engoli a seco. Aquele era um assunto sobre o qual eu não queria falar, pensar, planejar e uma época da minha vida que eu ansiei tanto e que agora eu simplesmente não queria mais que chegasse.
— Mãe, mais uma vez isso não te diz respeito.— Eu estava sem palavras. Eu realmente acreditava que ela havia mudado, mas não. A boa e velha Sara Heinlich estava ali.
— Eu não acredito que você vai desistir de Harvard. nós trabalhamos árduo por anos, pra você ter os melhores estudos, os melhores professores, as melhores notas porque era o SEU sonho ir pra lá. Não era o meu, eu nunca quis. Mas você gritou a plenos pulmões que essa era única coisa que eu nunca tiraria de você. E agora você vai abrir mão por causa de um garoto? Uma paixãozinha adolescente idiota que começou só porque vocês perderam alguém em comum? — continuava parado no canto da sala e eu sabia que ele me olhava, mas não queria olhar de volta, pois sabia que eu estava prestes a chorar. Eu estava com raiva da minha mãe por dizer aquelas coisas na frente dele, raiva por que eu havia acabado de dizer que o amava e ela havia conseguido estragar o momento. Raiva por ela estar fazendo os sentimentos ruins que eu havia tentado a semana inteira afastar, ficarem mais intensos enquanto ela gritava comigo do outro lado da sala e eu simplesmente não fazia nada. — Não acredito que você vai me dar esse desgosto.
— Sra Heinlich, eu gostaria de pedir que a senhora se retirasse — A voz de tomou a sala de uma forma alta e firme, como eu nunca tinha ouvido antes. Minha mãe olhou pra ele assustada — Eu adoraria conversar com você educadamente, explicar minhas intenções com a sua filha da mesma forma que fiz com o Tio Joey, mas você está parada no meio da minha sala gritando com a minha namorada e desde o momento que entrou não se deu nem ao trabalho de perguntar se ela estava bem. — Ele caminhou até a porta da sala abrindo— a e indicando pra minha mãe. O olhar de surpresa em seu rosto era absurdo e ela fuzilaria com os olhos se fosse capaz.
— Com quem você pensa que está falando? — Ela aumentou o tom em algumas oitavas — Meu assunto é com minha filha e não com você.
— Ele tá certo, acho melhor a senhora ir embora. Você esqueceu que essa é a minha vida e não a sua. Cabe a mim decidir o que eu vou fazer dela e não você. Você já causou dano demais pra ter qualquer direito de opinião.
— Eu só quero o melhor pra você — Ela completamente gritou.
— Não! você quer o melhor pra VOCÊ! Você nunca pensa em mim, nunca pergunta minha opinião sobre nada, não sabe o que eu quero,não sabe do que eu gosto, o que me faz bem. Você nem acredita na minha capacidade de tomar decisões e nunca percebe o quanto ter você por perto me faz mal. É sempre assim. Nada muda!
— Achei que o passado tinha ficado no passado — Ela falou afetada, como se tivesse o direito, depois da cena que havia acabado de fazer.
— Perdoar não é esquecer, mãe. São duas coisas totalmente diferentes. E muito difíceis. Você acha que eu vou simplesmente esquecer a quantidade de vezes que você fez com que eu acreditasse que eu não era o suficiente? Que ser eu mesma era errado? Você acha que eu vou esquecer a quantidade de vezes que você fez com que eu me perguntasse o que eu tinha feito de errado pra você não gostar de mim? A quantidade de vezes que eu deixei de fazer coisas ou fiz coisas só pra tentar te agradar e nunca recebi, sei lá, um sorriso de volta. Um abraço — Coisas que estavam entaladas na minha garganta começaram a vir a tona. — Você acha que tudo isso vai ser esquecido só porque a única pessoa que conseguia desfazer tudo o que você me fazia acreditar morreu? Por que você foi boa comigo pela primeira vez em 17 anos? Por que você pediu desculpas com palavras ensaiadas?Você acha que você tem o direito de chegar aqui a hora que quer e exigir respostas? Você acha que só porque no natal ficou tudo bem, vai ficar tudo bem pra sempre? Que eu vou simplesmente esquecer tudo o que aconteceu? Eu não vou! Pela primeira vez na minha vida eu me sinto feliz, eu me sinto bem. — Eu comecei a chorar e me odiei por não conseguir ser firme — E tudo isso só está acontecendo porque eu estou longe de você. Eu to tomando minhas decisões.Em algumas horas eu faço 18 anos,mas eu sinto como se carregasse muito mais que isso nas minhas costas, mas o mais importante é que você não precisa fazer mais isso. Não é mais sua responsabilidade. Eu sei que posso fazer um monte de merda e me arrepender depois, mas pelo menos vou ter aprendido com os meus erros e não pelos erros de ninguém. Pela primeira vez minha vida não é sobre você,sobre o que você quer ou sobre te agradar, é sobre mim. E eu nunca estive tão feliz. — Eu estava com raiva, numa intensidade que talvez fosse desnecessária pro momento, mas ainda assim eu sentia.

— Como o já disse, eu acho que é melhor você ir embora. — Engoli o choro. Eu queria dizer aquilo a anos, e agora que eu havia falado, eu me sentia de volta ao sentimento que fazia doer. A sensação ruim de que eu não era importante, que nada do que eu falava, pensava ou sentia realmente importava pra ela. Aquela dor que eu já conhecia como velha amiga. — Porra, você é minha mãe, e quando eu acho que as coisas estão ficando bem entre nós, que você mudou você me mostra que eu to super errada. Me responde uma coisa, por que pra você é tão difícil ficar feliz por mim? O que foi que eu te fiz? — Ela me encarou sem palavras e aquilo só doeu mais ainda — Vai embora, por favor. Você não é bem vinda aqui. — Ela não falou mas nada. Apenas deu dois passos pra trás seguindo em direção a porta que ainda segurava.
Ela não olhou pra trás quando fechou a porta e isso fez com que todo choro que eu parecia estar engolindo viesse a tona. Às vezes, quando a gente pede uma pessoa pra ir, a gente só quer que ela fique e prove que o pensamento de que você não é importante é falso, quando você expõe um sentimento ruim, você só quer que a pessoa fique e prove que é o contrário, mas isso não aconteceu. A sensação de solidão me invadiu com tamanha força que eu não consegui engolir o soluço que subiu na minha garganta. seguiu em minha direção e eu abanei as mãos no ar tentando dizer que estava tudo bem, virando o rosto e seguindo em direção ao meu quarto tentando esconder as lágrimas que desciam e o soluço que queria subir pela minha garganta. Entrei no meu quarto, fechei a porta e me deitei na cama, sentindo meu peito doer com aquela angustiante sensação de que eu estava sozinha no mundo mais uma vez.Minha porta se abriu e eu ouvi os passos de lentos pelo chão.

, eu quero ficar sozinha, ok? — Escondi o rosto pra que ele não visse e esperei pelo barulho da minha porta fechar, mas ao invés disso, senti o colchão afundar ao meu lado e logo em seguida sua mão afagar minhas costas e me puxar para si. Senti mais vontade de chorar quando ele fez isso e mordi meu lábio com força tentando me conter.
— Esqueceu que um dia te prometi que não iria a lugar nenhum? se deitou ao meu lado e passou seus braços por mim, me puxando pra mais perto dele e começando a acariciar meus braços.Ele beijou meu ombros e ficou ali, em silêncio, deitado e abraçado comigo enquanto eu chorava com o rosto escondido dele. Eu não estava mais sozinha. E aquilo parecia a maior mistura de sentimentos do mundo. Em um minuto: sozinha, no outro tendo ali ficando mesmo quando eu pedia pra ele sair. E se minha mãe tivesse certa? Se eu tivesse com ele porque não sabia me virar sozinha?.
— Por que você não me disse que era seu aniversário? — Ele perguntou depois de um bom tempo em silêncio após meu choro passar e eu tentei ignorar a pergunta.
— Por que você entrou quando eu disse que queria ficar sozinha?
— Você é minha namorada. — Ele falou como se fosse óbvio. — Eu nunca te deixaria chorando sozinha. Não importa se você me quer ali ou não, ou até mesmo se eu for o motivo do seu choro. É bom que você entenda logo isso. — Ele deu de ombros e eu me sentei sentindo aquela coisa gostosa no peito. — Eu não queria causar briga entre você e sua mãe de novo. Me desculpa.
— Você não causou nada, .
— Estou muito orgulhoso de você, . E tenho certeza que Paul também estaria. Sorri com a frase. De alguma forma eu sabia que meu irmão nos observava e que havia um sorriso em seus lábios. — E me sentindo um péssimo namorado. — Ele sorriu fofo e eu funguei.
— Paul sempre falou dessa data. De tudo o que faríamos, todas as besteiras, a grande festa que ele faria e toda nossa comemoração. Me pareceu muito sem sentido querer comemorar, sabe? E quando percebi que nenhum de vocês sabia resolvi simplesmente deixar quieto.
— Isso é injusto! Mais um momento que você está roubando de mim! Não posso te deixar chorando aqui sozinha pra ir comprar as coisas pra te fazer um café da manhã na cama e quando você dormir provavelmente vai estar tudo fechado. — Ele fez uma cara de desespero e olhou pro relógio na cabeceira da cama que marcava oito e vinte e três da noite.— Eu tenho menos de quatro horas pra pensar em alguma coisa criativa. Meu Deus, . Você tá me matando! — Ele gritou sacudindo meus braços e eu ri.
. Você já é meu presente especial, não precisa fazer mais nada. O único presente que eu te peço é que você não vá embora.
— Eu não vou se você não for, ou melhor, Harvard? — Ele fez uma cara estranha — Você ainda tem planos de ir pra lá ou só falou aquilo pra poder calar a boca da sua mãe?Ela disse que esse era o seu sonho.
— Sim. — Me me ajeitei encostando minhas costas na parede e fez o mesmo, encostando na cabeceira da minha cama — Era meu sonho. Quando minha vida era uma merda e tudo o que eu queria era sumir daquela casa e viver em um lugar onde eu não precisasse ser cercada por minha mãe ou pessoas que trabalhassem pra ela. Quando meu irmão estava vivo e falava que embarcaria nessa loucura comigo. Eu queria mudar de país quando eu não tinha você, não tinha . Não tinha ninguém que eu amasse. Eu queria mudar de país, porque eu tinha esperança de encontrar lá tudo o que agora eu já tenho aqui, então pra mim não faz nenhum sentido abandonar isso. — Ele sorriu aliviado. — Mas eu ainda tenho muito medo, . Medo de nós dois, meus sentimentos ganham proporções que às vezes nem eu entendo.
— Eu também tenho medo, . — Fiz a incredula e ele riu. — É sério, nossa gostar de você me assusta pra caralho, porque eu não consigo controlar.Foi assim desde o início. Quando eu percebi já te amava e pensava em construir uma vida com você, sem nem fazer ideia se você queria o mesmo ou se você quer o mesmo. Ai com medo de estragar tudo eu fico me contendo.
— Como você acha que poderia estragar tudo, ?
— Sei lá, . Eu quero dizer que te amo desde que voltamos do meu pai, mas fiquei com medo de dizer e te assustar. De não me controlar e começar a falar dos nossos três filhos: Kalel, Jorel e Kara e do quanto eles serão lindos, sendo que eu sei que você nem quer ter filhos! — Fiz careta pelos nomes.
— Eu realmente não sei se quero ter filhos, mas eu também penso em um futuro pra gente, . E se um dia eu mudar de ideia, pode ter toda certeza eles não terão esses nomes.
— Eu tenho tanto medo de que você perceba que não é isso que você quer. As vezes eu fico me perguntando: Será que eu sou intenso demais? Será que eu não me preocupo demais com as coisas? Você não faz isso?
— O tempo todo. — Confessei — Tudo o que você falou agora passa na minha cabeça pelos menos umas mil vezes por dia. As vezes eu sinto medo de realmente só não conseguir ficar sozinha e me pego pensando exatamente o que minha mãe falou. E se no final eu só estive sendo a mesma menina mimada e egoísta que eu era antes de conhecer você?
— Você não é. — Ele segurou minha mão. — E eu sei disso porque nos últimos meses, ao contrário da sua mãe, eu tenho visto você todos os dias, de todos os humores e em suas melhores e piores versões. E ninguém conseguiria fingir ser esse ser humano maravilhoso que você é por tanto tempo.
— Mas e se eu estragar tudo?
— Você não vai. — Ele beijou meus lábios gentilmente. — Eu só quero que você saiba que eu to aqui pra você despejar todos os seus medos e inseguranças e pedir pra que você não esconda mais seu aniversário — Ri do pedido, com ele me puxando pra ficar entre suas pernas. — Você faz com que eu não explore minhas capacidades de excelente namorado e isso é bem frustrante.
— Você acha que isso é só um namorico adolescente, uma paixão só porque a gente perdeu alguém em comum?
, talvez você nunca admita isso pra você mesma, mas você se apaixonou por mim no dia em que entramos naquele armário e eu não te beijei. — Eu ri alto da informação. — Então, não. Eu não acho que você tá comigo só porque você perdeu alguém e não sabe se virar sozinha. O sentimento que tem entre a gente começou a acontecer bem antes disso, você só não estava preparada pra perceber ainda.
— Eu te amo, . — Disse agora totalmente sem medo,depositando minha cabeça em seu peito e sentindo aquela maravilhosa sensação de casa. estava certo, eu realmente havia começado a me apaixonar por ele ali.
— Eu também te amo, Heinlich .

Capítulo 19




— Eu estou vendo você, saia da cama de mansinho, quase silenciosamente, mas mal sabia ele que eu já estava acordada bem antes dele rolar pro lado uns dez minutos atrás, fingindo estar dormindo apenas como desculpa para poder tirar sua mão de cima da minha barriga. Havíamos esquecido de fechar as cortinas na noite anterior e o sol fraco invadia as janelas do meu quarto. Eu já estava acordada bem antes dele raiar, pensando no que tinha acontecido na noite anterior e em como eu lidaria com a minha vida a partir daquele momento. Agora eu tinha 18 anos. E eu nunca, em meus sonhos mais bizarros, eu havia imaginado que nos meus dezoito anos minha eu estaria onde estou. Mas eu tinha que ser grata por estar ali, por estar viva e por agora oficialmente ser dona do meu próprio nariz. Era engraçado como as coisas haviam mudado, e engraçado ver como eu havia aprendido a amar mudanças.
— Puta que o pariu — pisou no chão firme e eu me virei para ele, apenas para ver sua cara irritada e vermelha e então comecei a gargalhar alto. — Você não me dá a oportunidade de fazer porra nenhuma pra você. Custava fingir que estava dormindo? Ou melhor, precisa fingir não. Você vai colar essa bunda nesse colchão e não vai sair dai, e eu vou trazer café na cama pra você mesmo assim, ignorando que você está acordada e fingir que estou te acordando com café, flores que eu vou tentar roubar da planta que fica na porta do vizinho e beijos, assim como muitos desejos de feliz aniversário. — Ele fez um bico irritado e eu me sentei na cama, puxando ele para fazer o mesmo.
— Você não precisa se preocupar com isso. — Falei séria e passou a mão pelo meu rosto, tirando uma mecha de cabelo bagunçada que estava ali. Ele parecia preocupado, eu sabia o quanto ele queria fazer aquele dia especial, e era nítido em seu rosto que ele estava com medo de que eu ficasse melancólica. — Eu quero comemorar esse dia como se Paul ainda estivesse vivo e eu tenho certeza que ele não me traria café na cama. — Cerrei os olhos pra que entendeu exatamente o recado que eu queria passar e abriu um enorme sorriso que me fez rir junto. Eu realmente achei que acordaria melancólica e deprimida, mas não. Acordei bem reflexiva, mas animada. Era como se só agora eu tivesse tido a percepção de que realmente estava viva.
— Você quer comemorar como eu pensei que você quer comemorar — Ele começou a distribuir beijos pelo meu rosto, finalizando juntando nossos labios de forma delicada, mas eu queria mais, e fiz questão de demonstrar aprofundando o beijo e enlaçando meus braços em torno de seu pescoço. Não desperdiçar qualquer oportunidade de transar com o cara que você ama, sem dúvidas Paul faria isso, mas não com um cara, é claro.

(...)
e eu os encontramos com meu pai para o almoço. Meu pai estava empolgado dizendo o quanto queria me dar um carro de aniversário — Coisa que ele queria me dar a séculos mas como eu sempre ia e voltava dos lugares com minha mãe e tinha que dar satisfações à ela sobre tudo, nunca aceitei, mas dessa vez mudei de ideia. Até havia ficado empolgado com a informação, mesmo reclamado de deixar de ser meu motorista particular. Mandei uma mensagem para assim que deixamos o restaurante para irmos em alguma concessionária. Na noite anterior ela não apareceu e depois recebi uma mensagem dizendo que sua mãe tinha passado mal e ela e Tom precisaram ir correndo à casa de seus pais para saber se estava tudo bem. No caminho dentro do carro, meu pai fez a fatídica pergunta que eu não queria que ele fizesse.
— Achei que sua mãe viria passar o dia com você, ela me falou que faria isso. Ia te fazer uma surpresa.
— Ela veio — Respondi pigarreando e olhando para de soslaio. — Apareceu lá no apartamento ontem a noite, descobriu que e eu estamos juntos e surtou. — Meu pai suspirou pesado, balançando a cabeça de um lado pro outro.
— Eu vinha tentando preparar ela pra isso, sabe? Sempre que nos falávamos eu falava bem do , do quanto ele cuida de você — Meu pai o olhou pelo retrovisor e sorriu convencido, o que me fez revirar os olhos. — O quanto tudo isso estava te fazendo bem. Pensei até em contar mas não era sobre mim então decidi não fazer isso, mas esperava realmente que ela fosse surtar quando descobrisse. Sabe, eu não sei quando sua mãe se perdeu e se tornou essa pessoa controladora.
— Se você que conhece ela a vinte anos não sabe, imagina eu? — Dei de ombros e meu pai me olhou preocupado.
— Ela falou coisas pesadas pra vocês?
— Nada que eu nunca tenha escutado, sobre o quanto eu decepciono ela e bla bla bla — Meu pai bufou — Decidi que não quero mais a mesada que recebo dela. Eu já tenho 18 anos agora e preciso começar a me virar, vou procurar um emprego.
— Isso é ótimo. Vou aumentar o valor da mesada que eu te dou então, assim enquanto você não acha também não fica preocupada. Não quero que você se pressione com emprego agora que está tão perto da época de faculdade. Nós não precisamos da sua mãe se você não quiser, filha. Podemos nos virar sozinho — Gostei da forma como ele falou. — Já pensaram em qual faculdade vocês vão e como vão fazer?
— Esse ainda é um assunto a ser conversado — se pronunciou
— Quero dizer que eu quero levar vocês pra conhecer as faculdades e não aceito não como resposta.— Acenei com a cabeça e ouvi meu telefone vibrar, era uma mensagem de , dizendo que já estavam voltando pra casa e tudo não passou de um grande susto, falou pra passarmos lá mais tarde que explicava o que tinha acontecido.
— A mãe da tá bem, ela pediu para passarmos lá mais tarde que ela explica o que aconteceu. — Falei mais para que acenou com a cabeça — Você contou a ela que é meu aniversário?
— Não tive nem tempo, e você sabe que ela vai matar nós dois por isso né? Ela teria planejado uma enorme festa cheia de balões, todos os tipos variados de cerveja, gente que você nunca viu na vida e mais um monte de coisas loucas que são bem o estilo dela, né?
— Sem sombra de dúvidas. — Disse rindo mais para mim mesma — Seria bem no estilo que Paul faria se estivesse vivo. — Pensar no meu irmão naquela data não estava doendo, muito pelo contrário, estava me confortando.
— Exatamente.
A conversa morreu pois chegamos a concessionária. Meu pai opinava em qual carro eu deveria levar, dizendo suas vantagens e desvantagens. Escolhendo carros exagerados e que não eram nada a minha cara. Acabei escolhendo um carro popular, o que deixou meu pai totalmente frustrado.
— Pai, pra mim não vale a pena um carro exagerado, porque eu to sempre com o . Se precisarmos de mais espaços usamos o dele, se precisarmos de menos espaço usamos o meu.
— Aceite pelo menos uma caminhonete, que nem seu irmão tinha. — Ele falou e aquilo mexeu com meu ponto fraco e me fez sorrir, com minha mente indo automaticamente para a mesma data um ano atrás. Definitivamente eu levaria uma caminhonete.

— Isso não é justo, eu nunca reclamei de te levar em lugar nenhum — revirava os olhos no banco do passageiro e eu ria quase que descontroladamente da sua cara. Eu estava falando de como seria minha nova rotina com meu novo carro e ele apenas revirava os olhos e reclamava, que nem um velho rabugento.
— Pelo menos não cabe muita gente aqui, assim não tenho desculpas pra não levar ninguém além de você. Lhe mandei um beijo no ar e ele continuou revirando os olhos. — E se passarmos para faculdades longe um do outro, você não vai ser o único que vai poder meter o pé na estrada e ir matar a saudade do meu corpo nu.
— A grande realidade é que já não consigo mais me imaginar dormindo longe do seu corpo nu. — Ele mordeu os lábios. — Já tive uma ideia de como podemos estrear essa caminhonete — Ele me olhou malicioso e eu lhe dei um tapa, estacionando o carro em frente a casa de . Desci com ao meu encalço e parei admirando o carro que era quase igual ao que o meu irmão tinha antes. Olhei bem para a caçamba e ri.
— Pensando bem, acho que pode ser uma boa ideia — Olhei para ele que sorriu em aprovação, passando os braços por meus ombros antes de voltarmos a andar.— Já que eu quero agir como se Paul estivesse aqui, tenho que fazer coisas que ele faria. e ele sem sombra de dúvidas faria sexo na cabine daquele carro pra inaugurá— lo.
— Não duvide por um instante sequer disso. Então temos um encontro marcado para mais tarde, senhorita França?
— Sem sombra de dúvidas — Paramos na porta e eu segurei na mão de antes dele girar a maçaneta e entrar — Não diz que é meu aniversário não. Deixa isso só entre a gente, vai ficar chateada por eu não ter deixado ela me organizar uma grande festa. — revirou os olhos e se aproximou de mim, beijando levemente meus lábios e acenando com a cabeça logo em seguida. — Obrigada. — Lhe dei um selinho antes de eu mesma girar a maçaneta da porta e quase cair pra trás quando uma enorme quantidade de pessoas gritou SURPRESA!
Gritei assustada com a gritaria que me envolveu quando eu entrei no ambiente. Juro que tentei identificar a mistura de sentimentos ao ver meus amigos e meu namorado. Todas as pessoas que nos últimos meses eram importantes pra mim, gritando parabéns empolgados enquanto riam e pulavam, segurando balões. Meu coração se encheu de um sentimento tão bom que transbordou por meus olhos em forma de lágrimas. Essa era uma das vezes que eu poderia dizer na minha vida que realmente me senti amada. A sala havia sido mexida. Alguns móveis sumiram e o ambiente havia se transformado em uma espécie de pista de dança. Estava exatamente que nem no aniversário de , sem nada além de uma aparelhagem de som e de um DJ que gritava empolgado com todo mundo enquanto eu olhava embasbacada tudo.
— Você realmente achou que a gente não sabia? — sorriu abertamente me empurrando pra dentro da casa e eu ainda sentia minha garganta fechada de emoção. Eu nunca havia ganhado uma festa surpresa. Olhei para , Tom, , , Valerie e Rose que vieram correndo em minha direção e permiti que mais lágrimas descessem por meus olhos enquanto eles gritavam, sorriam e me abraçavam. Senti um soluço escapar pela minha garganta quando foi a vez de ,seus olhos também estavam úmidos.
Não era verdade o que minha mãe havia me dito. Não era verdade o que eu sempre acreditei sobre mim. Eu era importante pras pessoas agora, pessoas que iam além do meu pai e Paul. Eu estava cercada por pessoas que me amavam e que eu amava de volta. Não havia absolutamente nada de errado comigo.
Cumprimentei todos os meus amigos ainda chorando emocionada, e quando terminei de cumprimentar alguns desconhecidos, uma música já tocava agitando as pessoas que já começavam a se mexer por ali. Procurei por e e eles estavam com ,em um canto perto da escada.
— Anda, desembuchem. A quanto tempo vocês sabiam do meu aniversário? — Os três se entreolharam rindo, e foi que me respondeu.
— Seu pai me ligou semana passada, me perguntando se tínhamos alguma coisa planejada para seu aniversário, pois ele queria passar o dia com você.
me contou e achei que era melhor fingir que realmente não sabíamos. Assim poderíamos fazer uma festa surpresa pra você sem que você realmente desconfiasse de alguma coisa.
— Vocês são demais!Obrigada gente! — Abracei os três enchendo— os de beijos ao mesmo tempo. — Espera, os gêmeos realmente nasceram ou aquilo era só uma desculpa?
— Não, eles nasceram. Agora eu sou oficialmente um irmão mais velho — Ele se gabou e o deu um tapa.
— Se você soubesse o quanto isso exige responsabilidade — Ela olhou para Tom que passou os braços por seus ombros.
— Ser irmão mais velho significa que você vai ter que cuidar, proteger e amar essas crianças, e não importa o que aconteça você sempre vai estar do lado delas. — Concordei pensando em Paul e meu coração reconfortado por saber que eu havia tido um excelente irmão mais velho. Eu tive sorte de ter alguém como Paul do meu lado e de certa forma eu sabia que ele ainda estava ali comigo, sorrindo por me ver bem.
Bebemos algumas bebidas e acabamos nos dispersando no meio das pessoas. Eu não quis nada alcoólico por estar com meu carro novo que fiz questão de mostrar e contar que era meu presente para completamente todas as pessoas que estavam na festa. Eu não conhecia muita gente ali mas era divertido ver todas aquelas pessoas dançando na pista de dança improvisada, exatamente que nem na última festa que aconteceu ali. Me juntei a Tom e na pista de dança e juntos arriscamos alguns passinhos ridículos enquanto Macarena tocava. A música acabou com todos juntos na pista fazendo passinhos e foi trocada por várias outras que permanecemos dançando até que What Makes You Beautiful do One Direction começou a ecoar pelo local. deu um grito alto, que parecia ser algum código entre ele e os meninos, já que eles pareceram ficar mais empolgados ainda. passou a mão por uma mesa de madeira cheia de copos, jogando todos eles no chão e subiu ali, chamando a atenção dos demais. Tom, e o acompanharam e achei estranho a mesa não quebrar, mas pela cara dos quatro, eles já estavam mais do que acostumados a fazer aquilo. Eu não estava entendendo absolutamente nada.
— Acho que você nunca chegou a ver ou saber disso, mas todas as vezes que toca uma BoyBand, eles imitam uma BoyBand. — disse ao meu lado e eu abri a boca incrédula, vendo gritar dizendo que a primeira parte era dele. Os meninos se posicionaram de forma engraçada e começaram a fazer gestos caricatos, e embora tenha dito que aquela parte era dele, não deixou de cantar, olhando diretamente pra mim e me dando uma piscadela.

You're insecure, don't know what for
You're turning heads when you walk through the door
Don't need make— up to cover up
Beeing the way that you'are its enought


Os meninos “rodaram” trocando de lugar e foi quem assumiu a posição do meio,levando as mãos a boca como se fosse um microfone e apontando com o dedo para todo mundo que os olhava, até parar com eles em riste em minha direção.

Everyone else in the room can see it
Everyone else but you
Baby you light up my world like nobody else
The way that you flip your hair gets me overwhelmed
But when you smile at the ground it ain't hard to tell
You don't know oh oh
You don't know you're beautiful


assim como todos os meninos fizeram gestos exagerados,como de quem está sofrendo e eu não contive minha gargalhada.

If only you saw what I can see
You'll understand why I want you so desperately
Right now I'm looking at you and I can't believe
You don't know oh oh
You don't know you're beautiful oh oh
But that's what makes you beautiful


Os meninos mudaram novamente, trocando de lugar e que assumiu o “vocal” agora.

So come on, you got it wrong
To prove I'm right I put it in a song
I don't know why, you're being shy
And turn away when I look into your eyes


A troca ocorreu de novo para que assumisse o meio, mas no meio de tudo aquilo eu não conseguia desviar os olhos de e do quanto aquele sorriso me fazia bem e despertava em mim sensações que iam além de mim, eu sentia que eu não era capaz de medir esforços para vê— lo feliz. Uma parte da música onde eram apenas som de palmas começou a tocar e os meninos desceram da mesa a fim de interagir com seu público. seguiu em minha direção, me enlaçando pela cintura e depositou um beijo em meu rosto, antes de afundar o rosto em meu pescoço e cantarolar a última estrofe em meu ouvido, fazendo com que eu me sentisse a mulher mais sortuda do mundo por ter ele ao meu lado.
— Baby you light up my world like nobody else,The way that you flip your hair gets me overwhelmed,But when you smile at the ground it ain't hard to tell.You don't know oh oh.You don't know you're beautiful — Não deixei que ele finalizasse a música, apenas grudei seus lábios aos meus com urgência, querendo mostrar a ele toda gama de sentimentos que estavam dentro de mim naquele momento. Afinal, naquele momento eu sabia e me sentia sim, linda.
— Eu queria ter a capacidade mental de escrever algo desse jeito pra você — Ele disse quando nos afastamos, mantendo nossas testas grudadas — Você merece milhares de canções de amor — Sorri abobalhada — Mas como eu não tenho essa capacidade, quero fazer outra coisa. — Arqueei minha sobrancelha e ele beijou meu rosto, antes de pegar minha mão e me guiar por entre as pessoas, seguindo comigo pro final do corredor. O olhei desconfiada quando ele parou em frente a última porta e fez uma pose estranha. Era o armário onde havíamos ficado quando brincamos de verdade ou consequência a alguns meses atrás. O mesmo armário que ele me desafiou a conhecê— lo.
— Então meu presente de aniversário vai ser sexo no armário de Vassouras onde você deveria ter me beijado pela primeira vez? — Ele fez careta.
— Nossa, as vezes eu acho que você não me conhece — Ele sorriu antes de abrir a porta e me puxar pra dentro, e assim que fechou a porta ele acendeu uma luz. Não consegui não abrir a boca ao perceber que ele havia esvaziado o local e decorado ele inteiro com uma enorme variedade fotos nossas. Haviam fotos sozinhos, com nossos amigos, com minha família e inclusive fotos minhas com Paul. Havia também algumas colagens com corações vermelhos, lilás e rosa.
— Só pra deixar bem claro, esses corações foram obra de — Ele chamou minha atenção.Eu estava tão besta, tão abobalhada que eu não sabia nem o que dizer. — Bom, eu poderia te levar pros lugares mais românticos do mundo, mas nenhum desses lugares teriam tanto significado pra mim quanto esse armário. — Ele riu de uma forma fofa e eu acenei. — Foi aqui que começou a nossa história — Me aproximei colocando minhas mãos em seu peito.
— Foi aqui que você me desafiou a te conhecer e aceitar aquele desafio foi a melhor decisão que eu já tomei.
— Eu decorei tudo aqui porque eu ia dizer que te amo, mas você roubou meu momento e eu nunca consigo ser o romântico nesse relacionamento. — Eu ri abertamente
— Pode dizer de novo, eu nunca vou cansar de ouvir.
— Eu te amo , eu nunca vou cansar de dizer. Eu amo você, amo como você enfrentou tudo o que aconteceu com você nos últimos meses, amo a mulher segura e forte que você tem se tornado. Você nem percebe mas me dá forças todos os dias. Eu sei o que você pensa às vezes, e eu sei o que a sua mãe disse, mas eu preciso que você entenda que tudo o que eu sinto por você é real, É de verdade mesmo. E que eu nunca vou acreditar que você está comigo por não querer estar sozinha porque não foi assim antes. Você não estava sozinha quando procurou por mim e entrou na casa da minha mãe quando eu não consegui fazer isso.Ou quando me abraçou naquela cozinha porque sentiu que eu precisava disso. Muito pelo contrário, eu vejo você fazendo as coisas sem precisar de ninguém. Você não precisou de ninguém pra poder jogar as cinzas dele ao vento, ou pra tentar se reconciliar com a sua mãe. Você não precisou de mim pra dar um passa fora no seu ex namorado que te magoou como ninguém nunca antes fez. Muito pelo contrário, eu que preciso de você. Eu precisei de você pra me reconciliar com a minha família, eu precisei de você quando não conseguia lidar com minha raiva quando era deixado sozinho.Eu precisei de você pra tirar de casa.Desde que Paul se foi, você nunca mais precisou de ninguém além de si mesma e eu tenho visto você amadurecer e se tornar essa mulher incrível com um coração enorme mas que não enxerga isso. — Meus olhos estavam cheios de água. — Eu queria poder te dar por um único dia a habilidade de se enxergar da forma que eu te enxergo, mas como eu não posso fazer isso eu vou falar. Falar até o dia em que você vai entender e enxergar o mesmo. — Ele grudou nossas testas — Eu te amo, e sei que somos jovens, mas eu realmente espero que isso dure, que nada mude e que eu possa passar o restante da minha vida com você.
Olhei pro garoto parado a minha frente e me permiti sentir sem medo algum os sentimentos que transbordavam dentro de mim relacionados à ele.Eram muitas coisas boas e que foram evoluindo e crescendo, tornando— se até mesmo difícil de explicar. Seu sorriso escandaloso, misturado com os olhos que se fechavam ao gargalhar e o som que provavelmente havia se transformado no meu som predileto do mundo faziam com que eu e sentisse bem, leve, feliz. Era exatamente isso, felicidade. Por muito tempo eu havia tentado entender o que aquilo significava, no meio de todas as coisas que eu precisava dar significado. Eu tentava encontrar a felicidade enquanto agradava alguém, enquanto me esforçava para ser o que queriam, me esforçava para ser aceita,enquanto eu delegava para alguém a responsabilidade de me fazer feliz, sem perceber que isso não dependia de ninguém além de mim. Com eu havia explorado a ideia de ser eu mesma, e sem que eu nem soubesse, ele amou a que não estava tentando impressionar ninguém. E então, um dia eu já não estava precisando mais ser alguém que tenta o tempo inteiro agradar. Poder dizer que amava , era como tirar um peso enorme de cima de mim.Pois pela primeira vez em muito tempo eu sabia que realmente era sobre mim. Não era ninguém que estava me dizendo. Não era Paul, não era Toni, não era minha mãe.
Era eu.
Pela primeira vez ninguém me dizia, pela primeira vez eu sentia que o que eu sentia era inteiramente e totalmente sobre mim. E foi assim que eu experimentei pela primeira vez, talvez a felicidade. Era leve,era boa e literalmente me fazia feliz. Pela primeira vez eu entendia sobre o que Paul estava falando quando dizia que queria me ver feliz. Eu entendia o que ele queria dizer quando falava sobre eu me desprender dos meus medos, não era sobre não senti— los, mas não deixar eles me dominarem ao ponto de deixar de viver algo. Pela primeira vez na minha vida fez sentido todas as vezes em que ele me disse que eu precisava viver. Não era sobre fazer coisas, era sobre senti— las. Ali, dentro de um armário pequeno, no final do corredor, olhando nos olhos do garoto que tinha me visto de todas as formas que alguém poderia ser e havia escolhido ficar, eu me senti feliz. Eu estava viva. E era uma sensação totalmente absurda perceber isso.



Capítulo 20



Acordei mas não abri os olhos. Minha garganta estava seca e eu quero dizer seca mesmo, Como se eu tivesse acabado de engolir um caminhão de areia, como se eu estivesse e sem ver uma única gota de água há dias. Meus lábios estavam colados um nos outros e eu tive dificuldade de abri— los e de engolir a mínima saliva que ainda tinha em minha boca. Todo meu corpo parecia dolorido, mais ainda do que quando eu resolvi ir um dia na academia e no dia seguinte mal conseguia agachar para fazer xixi. Finalmente tomei coragem para abrir os olhos e entender o que diabos estava acontecendo e ao contrário do que eu pensei, nenhuma claridade me cegou. Eu estava em um quarto que não era meu e tudo parecia meio escuro, exceto pela luz fraca que vinha de um corredor e só quando eu estreitei meus olhos reconheci onde estava e fui invadida por uma absurda sensação de Déjà— vu. Aquilo era um quarto de hospital. Que porra estava acontecendo?
Puxei meu braço pra tentar me apoiar para levantar e um barulho de algo caindo no chão fez com que o som de passos inundasse o silêncio quase gritante do quarto.
— A voz de chegou aos meus ouvidos e quando nossos olhos se encontraram, pude perceber o quanto os seus estavam cansados. Ele parecia preocupado — Você finalmente acordou, vou chamar seus pais! — Percebi alivio em sua voz e ele fez menção de dar um primeiro passo, mas consegui segurar seu braço.
— O que aconteceu? — Minha voz quase não saiu e deu dois passos para trás. chegando até uma mesinha e pegando um copo de água e me entregando. Bebi a água como se fosse a última coisa que eu pudesse fazer da minha vida e suspirei em alívio quando senti o liquido hidratando todas as lacunas ressecadas da minha garganta. Apenas depois do segundo copo consegui olhar pra e formular uma frase novamente — O que aconteceu? — Ele tinha o semblante cansado, e parecia um pouco constrangido. — O que a gente tá fazendo aqui? Franzi o cenho sem entender porra nenhuma do que estava acontecendo.
— Sua mãe já deve estar voltando e...
,eu não quero falar com minha mãe. — Eu interrompi um pouco ríspida. Sério que depois de tudo o que tinha acontecido ele queria me colocar pra falar logo com minha mãe, e não ele? — Só me explica o que aconteceu, por favor. — Segurei suas mãos da forma que fazia quando dormíamos, entrelaçando nossos dedos e seu rosto ficou vermelho — Ontem fomos dormir bem e agora eu acordo num hospital? Teve algum acidente no sexo,foi isso? — Essa era a coisa mais lógica que poderia ter acontecido, já vi casos de pessoas que na empolgação do ato, deram com a cabeça em algum lugar e desmaiaram. Mas não respondeu, muito pelo contrário, me olhou como se estivesse com pena de mim. Ele estava distante, estranho. De repente meu cérebro começou a gritar: ALERTA, ALERTA!
— Olha quem finalmente resolveu acordar! — Eu tive um vislumbre da imagem de Paul entrando dentro do quarto e dei um grito tão alto que devo ter acordado um andar inteiro do hospital. Os dois saltaram longe assustados com o som repentino e eu me encolhi na cama, trazendo meus joelhos pro meu peito me protegendo de algo que eu nem sabia o que era.
— Tá tudo bem? — Uma enfermeira apontou no quarto nos olhando preocupada e meus olhos correram novamente para Paul. Ele tinha uma tipoia no braço e parecia um pouco confuso, embora um meio sorriso brincasse em seus lábios.
— Você não é real! — Apontei pro meu irmão ainda com um tom muito alto de voz e olhei pra que parecia bem confuso.
, tá tudo bem — Meu irmão ergueu a mão livre — Sou eu, Paul. Esse aqui é o . Você sabe quem nós somos, certo? — Paul se aproximou tentando me tocar, mas eu me afastei. Eu deveria estar drogada, ou bati com a cabeça muito forte pra estar vendo meu irmão morto. Droga, será que eu finalmente havia surtado? Sempre acreditei que um dia isso aconteceria.
— Eu olhei desesperada para ele — Eu tô vendo o Paul. Ele tá parado ali na porta — Eu senti que comecei a chorar, pois o que me olhava não era o mesmo que tinha ido deitar comigo, ele estava mais parecido com o que eu conheci antes de nós envolvemos, tímido e sem palavras.
— Paul voltou a chamar a minha atenção e eu levei as mãos ao ouvido para tentar não ouvi— lo, mas ainda assim o som de sua voz me alcançou — Nós sofremos um acidente hoje de manhã. — Ele falou com calma — Você bateu muito forte com a cabeça. — Ele se aproximou e me tocou, e seu toque era real. Muito real. Eu senti. Senti suas mãos quentes, exatamente da mesma forma que estavam quando eu as toquei pela última vez, mas dessa vez, seus olhos estavam abertos. E havia vida neles.
— Que dia é hoje? — Perguntei por esclarecimento e soltei outro grito quando meu irmão respondeu: Seis de novembro.
— Eu vou chamar um médico. Acho que tem alguma coisa errada com sua cabeça
— Não! — Gritei segurando seus braços e era real. Era real. apertei seus braços, ombros e cutuquei sua costela. Ele era real. Me joguei em seu abraço e deixei que minhas lágrimas molhassem sua camisa. Ele estava ali, eu o estava sentindo, eu sentia seu corpo quente, eu sentia sua respiração batendo no meu pescoço, seus braços apertarem meu corpo. Ele estava ali. Era real.
— Tá tudo bem,. Deve ter sido um sonho.
— Não foi um sonho! Foi um pesadelo. — Apertei mais ainda meu irmão e olhei para do outro lado. Ele não era um pesadelo, nossa história não era um pesadelo. Senti culpa, mas balancei a cabeça tentando afasta— la . — Você morreu, Paul. — Me desgrudei do meu irmão para olhar em seus olhos e ele me olhou como se eu fosse louca. — É sério, eu passei quatro meses vivendo sem você.
— Jura que você é capaz de fazer isso? — Ele riu debochado e se afastou um pouco. — E o que mais teve nesse sonho. — Ele parecia curioso e seus lábios estavam curvados em um sorriso suspeito. — Você perguntou pro o que aconteceu com bastante naturalidade e até intimidade, vocês estavam íntimos no seu sonho? — Olhei para que permanecia calado. Ele ainda era o mesmo mas ao mesmo não era. Eu mesma não me sentia a mesma.
— A gente tava namorando. Ficamos juntos depois que você se foi. — Olhei pra a expressão de que se converteu em um sorriso discreto e um olhar incrédulo.
— Ele te beija e você foge, mas aí eu morro e você corre pros braços dele? Achei que minha morte teria mais significado pra você, senhorita França. — Paul riu abertamente, olhando para nós dois.
— Não!— Quase gritei de novo — Eu senti sua falta. Todos os dias. Foi tão difícil, mas — Olhei pra e ele não estava mais ali, quase pulei de susto, porque pareceu que ele se teletransportou. Olhei para Paul que ria e se afastou se jogando no sofá e tirando a tipoia do braço.
— Eu estou brincando, . Você está vivendo exatamente do jeito que eu gostaria que você vivesse. — Senti o ar ao meu redor ficar um pouco mais quente e automaticamente minha respiração acelerou. Tudo começou a parecer mais claro e eu pisquei algumas vezes tentando entender as sensações que inundavam meu corpo — É muito bom te ver sem medos, . — Então aquele olhar terno estava ali, aquele olhar que me acalmava e sempre me fazia ter certeza que tudo ia ficar bem, junto com o sorriso mais sincero que alguém poderia dar.
— Eu não estava sonhando. — Conclui olhando ao redor e percebendo que não havia mais barulho. Era tudo silencio. — Isso aqui é um sonho. — Olhei de novo pra Paul e ele permanecia sorrindo.
Heinlich França, sempre mais inteligente do que eu penso. — Ele se aproximou de mim e me abraçou e dessa vez foi diferente. Respirei fundo sentindo aquilo que parecia tão real, mas no fundo eu sabia que não era. Fechei meus olhos e apertei meu irmão em meus braços tentando matar a saudade do seu calor e aconchego, do seu cheiro. Eu queria tê— lo para sempre ali junto comigo.

Quando abri os olhos de volta, não estávamos mais no hospital, mas sim no meio a subida do Arthur Seat. Sorri abobalhada. Eu havia me apaixonado por aquele local logo depois de assistir Um Dia pela primeira vez, era uma das minhas paisagens prediletas do Reino Unido. Paul me soltou e segurou minha mão, começando a caminhar comigo para ao pico, de onde teríamos uma bela vista da cidade.
— É muita sacanagem você aparecer pra mim assim, quase enfartei — Ele deu de ombros. Paul sempre teve um humor meio negro. — Porque eu nunca sonhei com você antes? — Perguntei olhando o horizonte. — Eu sempre achei que você estivesse com raiva de mim, por nunca ter aparecido em nenhum dos meus sonhos. Me sentia culpada
— Eu queria, mas você não estava pronta ainda. — Ele respondeu jogando seu cabelo que caia nos olhos pra trás. Era tão bom poder olha— lo.
— Você é um anjo agora? — Ele revirou os olhos com minha pergunta.
— Nao, . Eu sou um objeto do seu subconsciente que tá aqui agora porque você precisa de um fechamento. Você precisa se despedir de mim. Eu não existo.
— Mentira. — Cerrei os olhos pra ele — Você me contou que era um sonho. Ninguém conta a ninguém que é sonho no sonho.— Acusei e ele deu de ombros
— Eu nunca te disse que era um sonho, você que disse. E talvez eu seja um anjo foda pra caralho.
— Anjos podem falar palavrão?
— Eu não sou um anjo — Ele deu uma piscada — Isso é só um sonho. — Di Caprio contou pra Page que eles estavam em um sonho, em A Origem. — Fui eu quem revirei os olhos dessa vez — Você tem uns locais bem estranhos nesse seu inconsciente hein. Um dos seus locais prediletos não poderia simplesmente ser aquela praia maravilhosa que você visitou com ? — Paul odiava mato. — Tem que ser num morro pra me cansar?
— Você tá morto, não deveria se cansar — Ele levou a mão ao peito, ofendido.
— Eu tenho que fingir que sou um sonho, então no sonho eu tô vivo. E vivo eu reclamaria de mato E diria que você é esquisita demais. — Ele parou ao meu lado jogando os braços por cima do meu ombro e contemplou a vista. Ouvi ele respirar fundo antes de perguntar — Como está ?
— Ela ainda tá sofrendo. — Seu sorriso morreu.— Mas estamos cuidando dela. Você não consegue vê— la? Ou falar com ela. Ela precisa estar preparada também pra você aparecer?
— Não. — Ele respirou fundo mais uma vez. — As única pessoa que consigo ver em tempo integral são você, minha mãe e meu pai. O restante só vejo se estão com você.
— Por que? — Perguntei me sentando no chão e ele me seguiu.
— Não sei. — Ele deu de ombros. — Eu converso com minha mãe toda noite nos sonhos. Relembro nossos bons momentos, tenho tentado plantar algumas ideias e nem é tão difícil quanto nos filmes. Com meu pai eu apareço em pensamentos corriqueiros do dia. Meu momento predileto é sempre quando ele vai tomar um café. Eu faço ele lembrar de quando nós dois discutíamos sobre jovos.— Paul sorriu nostálgico — Mas com você foi diferente. Por mais que eu quisesse eu ainda não conseguia me aproximar.Ainda me faltava entender algumas coisas.
— E você entendeu? — Ele acenou positivamente com a cabeça — E você tá bem?
— Eu tô morto, . Não existe estar bem ou estar mal. A gente transcende isso.
— Não fala isso. — Ralhei
— Isso o que, que eu to morto? — Acenei com a cabeça e ele gargalhou. — Você falou isso cinco minutos atrás. Você pode me acusar e eu não?
— Exatamente.
— Não to sofrendo por isso. As coisas não são como eram antes e eu não sinto como antes. Apenas penso em vocês. Às vezes me pego curioso, mas nada comparado ao sentimento humano. — Ele ficou em silencio antes de acrescentar — Eu estou orgulhoso de você, . A garota que está sentada aqui do meu lado não parece em nada com a que me acordou desesperada aquele dia. Tô tão feliz por você e pelo . Vocês não tem noção do quanto todo mundo torcia pra vocês ficarem juntos e pra você deixar de ser chata e dar o braço a torcer.
— Todo mundo? Todo mundo quem? — Ele deu de ombros e eu arregalei meus olhos — VOCES FICAM OLHANDO TUDO? — Eu gritei e ele gargalhou tão alto que jogou a cabeça pra trás.— Os anjos veem a gente transar?
— — A gente até pode ver, mas ninguém gosta de invadir esse momento. A não ser pra interferir em algumas coisas. Você acha que eu ia ficar vendo minha irmã fudendo meu melhor amigo?— Ele fez cara de nojo — Eu vejo vocês em outros momentos, o que tem sido até difícil, já que vocês parecem dois coelhos de tanto que se comem.
— Tive a quem puxar
— Teve mesmo. — Ele olhou pro chão e começou a mexer na grama, repetindo meus gestos antes de quebrar o silêncio. — Você precisa perdoar sua mãe. — Senti meu sorriso morrer e não entendi a necessidade de entrar naquele assunto. Aquele era um momento nosso e Sara não tinha a necessidade de participar dele.
— Paul, não dá. Ela nunca
— O Perdão não tem a ver com o que ela faz, mas o que guardar isso faz com você. — Ele me interrompeu — Não to falando pra você esquecer, . To falando pra você se desprender dessas mágoas. Você é absurdamente melhor que isso. — Ele tocou minhas mãos. — Não tô falando pra você perdoar agora, tô falando pra você começar a pensar nisso. E então vai começar a acontecer que nem aconteceu com Tony, não vai ter mais peso. — Acenei com a cabeça.
— Por que você disse que eu estou pronta agora?
— Por que você quer respostas ao invés de só aproveitar o momento?
— Porque tá dormindo ao meu lado, e ele as vezes começa a roncar e me acorda e você sabe muito bem que eu não tenho a habilidade de voltar pro mesmo sonho. — Paul riu concordando.
— Você se sente segura com ele?
— Muito. — Respondi. — Mas é uma segurança diferente da que eu tinha com o Tony e até mesmo com você. Acho que é porque dessa vez eu também estou me responsabilizando, mas sem delegar, sabe? — Ele acenou com a cabeça. — Tem quanto tempo você tem olhado tudo?
— Desde o momento em que você soltou minha mão no hospital. — Me assustei. Desde sempre, então.
— E como foi?
— Foi estranho no inicio. Eu abri meus olhos e te vi aos prantos sendo carregada por e então eu me vi naquela cama. Não teve confusão na minha cabeça. Eu soube naquele momento o que tinha acontecido. Então eu fui com você. Eu fiquei lá do seu lado enquanto te abraçava até você dormir. Eu fiquei no apartamento vendo vocês se aproximarem. Nos primeiros dias era estranho, porque eu só conseguia ver o se ele estivesse com você, mas ele não estava e eu sabia que deveria me sentir preocupado com ele, mas não sentia nada. Depois me acostumei. — Ele se levantou — Quero te levar em um lugar,acho que vai ser mais fácil pra você entender. — Ele disse e se levantou, batendo na calça para tirar qualquer sujeira. Ele segurou minhas mãos para que eu me levantasse e quando terminei de fazer isso, estávamos em um enorme corredor azul, cheio de portas amarelas dos dois lados. No final do corredor havia uma única porta vermelha que eu não sabia se era de entrada ou saída.
— O que são todas essas portas? — Paul fez um gesto para que eu descobrisse por mim mesma e não contive minha curiosidade e me virei, abrindo uma das portas. Parei estagnada quando olhei o que havia ali dentro. Eu parecia ter entrado dentro de um quarto de hospital e estava sentado na cama. Aquele ali era um que eu não conhecia. Muito mais magro, abatido, olhos fundos, vermelhos e inchados e o cabelo curto quase em um corte militar. Paul gritava com ele o quanto ele era irresponsável e o quanto todo mundo tinha ficado preocupado. apenas olhava em silêncio com lagrimas caindo de seus olhos. Quando meu irmão terminou de gritar, ele sentou na cama e puxou o amigo para um abraço, chorando junto com ele. Fechei a porta ao perceber a intensidade daquela cena, e olhei para Paul que permanecia parado no mesmo lugar no corredor.
— O que é isso? — Perguntei assustada e ele colocou a mão no bolso, começando a andar pelo corredor.
— Cada uma dessas portas, significa um momento importante na minha vida. Isso que você acabou de ver foi do dia que o apareceu, depois de sumir por várias semanas. Eu realmente achei que ele estava morto, e quando ele apareceu foi uma mistura enorme de sentimentos. Acho que naquele dia eu vi que eu havia me tornado um pouco responsável por ele. — Entendi a referência e me vi curiosa sobre as demais portas.
— Posso abrir outras? — Perguntei ainda insegura.
— Eu não teria te trazido aqui se você não pudesse. — Ele sorriu. — Você é curiosa demais pra deixar passar. — Abri mais uma porta e me vi em um estádio, com Paul e meu pai gritando desesperados em uma partida de futebol. Fechei e abri outra, ali ele e tia Rachel estavam mexendo em argila na fazenda. Sorri abobalhada sentindo uma emoção totalmente diferente. Paul era um desastre com trabalhos manuais, detestava, mas ainda assim tia Rachel estava ali, ensinando ele com toda paciência do mundo as técnicas. Fechei a porta quando percebi que ia chorar.
A terceira porta que abri, a princípio me fez abrir um enorme sorriso,mesmo que a cena em si pudesse ser um pouco constrangedora. Paul e estavam sentados entrelaçados, usando apenas peças intimas. Ele a segurava entre a cintura e mantinha os lábios próximos do dela.
“Eu te amo” Ele sussurrou e ela sorriu. “Eu também te amo” Ela respondeu mas quando eles iam voltar a se beijar, uma pessoa passou por mim, me assustando. A princípio achei que era Paul entrando na lembrança mas não, era .
"Que porra é essa aqui?" Ele gritou, e Paul e se separaram assustados e nervosos.
, eu posso explicar “ Paul começou catando suas roupas, mas sua fala não foi o suficiente para impedir de empurrar para longe e acertar um soco bem no meio da cara do meu irmão.
“Minha irmã, porra" — Ele gritou enquanto Paul se levantava tentando se recuperar. gritava o nome do irmão, e quando Paul abriu a boca para falar mais uma coisa, o acertou de novo, derrubando ele no chão. Foi quem o levantou dessa vez, mas Paul não revidou. Apenas pediu pra se explicar, mas não queria explicação. Eu via a raiva e dor naquela cena, mas além disso eu via outra coisa: Mágoa.Os dois pareciam bem magoados. A cena a seguir eu nunca imaginaria acontecendo. começou a surrar meu irmão que não revidava, apenas se defendia, empurrando ele pra longe enquanto gritava desesperada. Decidi sair da cena e cruzei com que entrava as pressas no quarto gritando e puxando de cima de Paul.
— O que foi isso? — Fechei a porta atrás de mim, ainda assustada com a intensidade da cena.
— Eu te falei que esse corredor tinha as minhas memórias mais importantes, não as mais felizes.
— Eu não sabia que sua briga com tinha sido tão pesada. Como vocês conseguiram voltar ao normal depois disso?
— Eu entendi ele. Se fosse você com ele eu faria a mesma coisa. Ele não sabia as minhas intenções. Eu era mais velho, era muito nova. Eu deveria ter conversado com ele antes de tomar qualquer iniciativa. Mas enfim, o motivo dessa lembrança estar aqui não é minha briga com Tom, mas sim . — Acenei e entendi que aquela havia sido a primeira vez que eles disseram que se amavam. — Mas eu não te trouxe aqui pra vasculhar minha vida. Eu te trouxe aqui, porque tem algo que eu quero te mostrar — Ele segurou minha mão e caminhamos mais a fundo pelo corredor, chegando perto das últimas portas. Percebi que quanto mais nos distanciávamos da porta vermelha, mais antigas eram aquelas lembranças.
Paul abriu uma porta e a principio eu não reconheci nada daquele lugar. Estávamos em um quarto branco e amarelo com decorações infantis. Havia um berço na cama e ao olhar pra dentro dele não contive o sorriso que eu abri ao notar um urso lilás posicionado ali no cantinho.
— Senhor Uffus! — Olhei de novo para Paul e quando eu ia me aproximar, um menininho entrou correndo pelo quarto me assustando. Ele se pendurou no berço rápido, quase mergulhando ali e pegando o urso antes de voltar a ficar em pé e a olhar em expectativa pra porta.
"Não se preocupe Senhor Ruffus, ela vai gostar de você. E mais ainda de mim quando eu te der de presente pra ela." O menino apertou o ursinho contra o peito e sorriu alegremente para a porta. Quando me virei para olhar na mesma direção que ele, Vi meu pai entrando com um pacote todo embalado no colo, pacote esse que conclui ser uma criança. Criança essa que concluí ser eu.
"Olha quem chegou pra te conhecer" Minha mãe surgiu logo atrás do meu pai, com a aparência cansada que eu nunca tinha visto antes. Ela andava mais devagar do que o normal e se sentou em uma poltrona que havia perto da porta. Meu pai parou ao seu lado me colocando em seu colo. Paul — criança — permanecia parado no mesmo lugar com os olhos arregalados e brilhando e apertando o urso parecendo um pouco nervoso.
"E então, pronto pra conhecer sua irmã? " Meu pai disse chegando perto do menino e tocando em suas costas.
"E se ela não gostar de mim?" Ele perguntou ainda cabreiro e meu pai abriu um sorriso.
"Impossível, ela já te ama. Lembra como ela ficava quando ouvia sua voz, mesmo ainda estando dentro da barriga da tia Sara? — Paul acenou com a cabeça e meu pai começou a incentiva— lo. O menino andou ainda um pouco desconfiado e parou ao lado de minha mãe, que abaixou um pouco o braço sorrindo e com a mão livre destapou meu rosto.
"Paul, essa é — Me aproximei da cena e quase morri de amores por mim mesma. Eu estava vestido com um macacão rosa e olhava preuiçosamente pro menino na minha frente mexendo minha boca daquela forma que bebês fazem.
'Ela é linda!" — Paul exclamou e minha mãe fez sinal para que ele falasse um pouco mais baixo. "Posso encostar nela?" — Ele sussurrou.
"Só depois de lavar as mãos" — Minha mãe disse e Paul acenou com a cabeça saindo correndo e voltando menos de um minuto depois com a mão molhada e secando— a na bermuda que usava. Minha mãe se levantou da Poltrona que estava e pediu para que Paul pudesse se sentar em seu lugar.
"Eu vou poder segurar ela?" — Sua cara de criança sapeca era tão linda que me fez ter vontade de morde— lo.
"Claro. Mas você tem que ter cuidado. Não pode apertar muito — Ele acenou com a cabeça e posicionou seus bracinhos e cruzou suas pernas. Minha mãe me colocou em eu colo e Paul abriu o maior sorriso que eu poderia ver uma criança dar. Meu eu bebê se remexeu espreguiçado os bracinhos e arregalou os olhos muito séria.
"Oi . Lembra de mim?" Paul perguntou em expectativa e então eu sorri. Não parecia bem um sorriso de verdade mas tenho certeza que era um sorriso, sem dentes e misturado com uma careta. "Eu sou o seu irmão mais velho. E você me deve respeito. Eu não moro aqui, mas eu trouxe o Sr Ruffus pra te proteger quando eu não estiver. Ele vai me manter informado de tudo o que você faz e também se alguém fizer alguma coisa com você. Eu vou caçar seu inimigos e elimina— los com minha força de raio laser — O menino falou orgulhoso e eu comecei a rir me virando pra Paul que ainda me olhava parado na porta. — Mas não importa o que acontecer, eu sempre vou estar contigo, tá bom? — O menino se aproximou e beijou minha testa. Caminhei pra perto do meu irmão e quando parei ao seu lado ele passou os braços por meus ombros.
— Olhando de fora é uma família perfeita né? Observei meu pai e minha mãe que agora se aproximaram do pequeno Paul e começaram a conversar com ele.
— Olhando de fora todo mundo é. — Ele deu de ombros e me guiou de volta pro corredor.
— Por que você me mostrou isso?
— Eu não sei se alguém me deu essa missão de cuidar de você, ou se eu levei a sério essa ideia. Mas você se tornou minha missão de vida, . E parece estranho isso, mas é a realidade. Quando tudo mudou pra mim, eu sentia que não conseguia seguir em frente porque eu não sabia se você ia ficar bem. Mas agora você não precisa mais de mim. — Seus olhos brilharam e eu senti meu coração afundar dentro do peito, Era uma mistura de sentimentos. Era medo, orgulho, apreensão. — Eu parti antes de ter meu dever cumprido, mas fiquei daqui, te olhando e esperando o momento em que eu saberia que agora você estaria pronta. E então eu percebi que o que me impedia de aparecer pra você, era eu mesmo. — Ele se virou pra porta que eu não sabia se era de entrada ou saída. — Quando eu passar por aquela porta ali, tudo muda pra mim.
— Você vai esquecer?
— Não. Mas isso aqui se torna igual a todas as minhas outras lembranças. Não existe mais grau de importância. Existe só quem eu era, se torna indiferente.
— Você não vai mais olhar por mim? — Senti minha voz falhar. E ele segurou minhas mãos.
— É óbvio que eu vou olhar por você. Só que você vai deixar de ser minha missão — Ele sorriu.— E agora eu já sei que ela tá cumprida, então eu posso seguir. — Paul enxugou uma lagrima que rolou por meu rosto — , eu sempre vou estar aqui. Eu estou no vento, esqueceu? Eu estou em todo lugar — Ele sorriu e nos aproximou. — Eu achei que você precisava de um encerramento, mas quem precisava era eu. Eu ainda não estava pronto pra seguir sem me despedir de você.— Ele disse por fim — Não da pra seguir sem olhar pra você e dizer eu tive um prazer enorme em ser seu irmão. Essa era a minha missão na terra e ela se cumpriu. Eu cuidei de você e agora é hora de ir.
— Eu nunca seria quem eu sou sem você. — Abracei meu irmão sentindo um soluço estrangular minha garganta. — Obrigada, Paul. Obrigada por ter me ensinado tanto, tanto em vida tanto em morte. — O aperto do meu abraço se intensificou assim como meu choro, porque dessa vez era diferente. Nessa despedida, ele realmente estava me ouvindo. — Eu te amo. Eu te amo muito.
— Eu também te amo, .
— Paul, eu não quero que isso acabe. — Eu me prendi a ele com todas as minhas forças.
— Shi,fica calma — Ele afagou minhas costas — Tá tudo bem.— Ele se desvencilhou de mim mas manteve nossas mãos unidas. — Eu estou bem. Todos nós vamos ficar bem. — Ele sorriu e eu tentei faze o mesmo. — Diga a que eu sinto falta dele. E diga a que eu a amo. — Ele soltou minha mão e eu sabia que era a ultima vez. — Eu sempre vou estar com você.
— Eu queria que isso pudesse ser real.
— É um sonho, mas não significa que não seja real.
— Plagiando Dumbledoore, Paul?
— Talvez eu não seja um anjo, eu seja um bruxo poderoso que teve que fingir a própria morte no mundo dos trouxas pra ter tempo pra lutar a batalha das batalhas em tempo integral em Hogwarts.
— Você é ridículo. — O empurrei com os ombros. — Paul — tentei dizer mas ele apenas sorriu, dando um passo a frente e girando a maçaneta da porta principal do corredor.Todo ambiente a nossa volta foi ficando claro e a última a coisa que eu ouvi foi sua voz firme, falando comigo como se estivesse ao pé do meu ouvido “É hora de acordar”.

Abri meus olhos e dormia tranquilamente ao meu lado. Seus braços passavam em volta da minha cintura e eu fechei meus olhos novamente, respirando fundo antes de me afastar dele e levantar. Fui até o banheiro e me surpreendi ao ver rastros de lágrimas pelo meu rosto. Lavei o rosto e fiquei um tempo de frente ao espelho processando tudo o que tinha acontecido antes de sair do quarto. Desisti de voltar a deitar, minha cabeça estava cheia demais então segui pro corredor, parando em frente a primeira que parecia fechada a tempo demais. Tomei a coragem e pela primeira vez em meses girei a maçaneta.
O cheiro do perfume de Paul não estava no ar, da forma que eu achei que estaria. Ele já havia se perdido nos meses em que o quarto havia ficado fechado,e ao invés dele, eu senti meu nariz coçar pela poeira que o local vinha acumulando com o tempo.O quarto estava a mesma bagunça de sempre, com a cama bagunçada e a coberta enrolada no final do colchão, assim como uma camisa e uma cueca jogada por ali.A porta do guarda— roupa estava entreaberta e a manga de um casaco estava pendurada pro lado de fora. Paul sempre havia sido muito bagunceiro e eu nesse quesito era exatamente igual a ele. Havia um tênis jogado no chão e meias espalhadas por perto, assim como sua mochila entreaberta jogada ao lado da escrivaninha.Segui primeiro pro guarda— roupa, abrindo ele e pegando o casaco caído. Eu lembrava de Paul com ele duas noites antes do acidente, na noite em que ele havia decidido ficar em casa ao invés de sair e mandado à um encontro sem que ele mesmo soubesse. Apertei o casaco em meus braços sentindo minha visão embaçar. Uma vez eu havia lido que existe uma grande diferença entre falta e saudade.A falta era um vazio a ser preenchido e a saudade era a compreensão de que havia um vazio e nada poderia ser feito. Havia demorado, mas eu finalmente estava entendendo que Paul não era mais uma falta, um vazio que precisava ser preenchido. Ele agora era saudade. Era um amor que ficou e que nunca sairia de mim e nada no mundo além da saudade poderia preencher o vazio que ele havia deixado e eu não precisava tentar.
Me sentei na cama,olhando ao redor e embora eu soubesse que ele não estava ali, eu ainda podia sentir que ele estava, bem como no sonho de minutos atras. Era tão real. O sonho havia sido tão real.

surgiu na porta o rosto amassado e com o semblante preocupado. Ele olhou ao redor do quarto e respirou fundo antes de dar seus passos pra dentro e vir se sentar ao meu lado. Seu olhar carinhos falava mais do que qualquer palavra que ele poderia usar e seus dedos se entrelaçaram aos meus enquanto nós dois em silêncio olhávamos pro quarto bagunçado a nossa volta.
— É estranho, né? — quem quebrou o silêncio. — Antes eu sentia o tempo inteiro que parecia que Paul ia entrar a qualquer momento pela porta, gritando ou rindo de alguma coisa. Agora o apartamento, é só o apartamento.
— Não faz mais sentido. Eu disse e ele concordou soltando nossos dedos e passando os braços ao redor de meus ombros,me puxando pra mais perto dele. Por meses eu havia evitado entrar naquele quarto com medo do que a sensação de estar ali poderia fazer comigo e agora eu havia percebido que embora doesse, não era o fim do mundo. Eu poderia sobreviver. Meus olhos descansaram em . Seu sorriso era genuíno e seus olhos demonstravam nada além de carinho e preocupação. Ele me puxou para mais perto e depositou um beijo na ponta do meu nariz, ato que me fez sorrir. Eu tinha muita sorte de tê— lo ao meu lado. Respirei fundo uma ultima vez olhando novamente ao redor e tendo a certeza que eu não tinha a muito tempo, de que não importa o que viesse a acontecer, tudo ficaria bem. — , o que você acha de nos mudarmos?



Continua...



Nota da autora:OEsse capítulo provavelmente deve entrar no dia do meu aniversário (17/09) ou no dia anterior. Então me dei ele de Sim, eu saio enviando capitulos aleatórios pras pessoas.) Estamos a mais um passo do fim, e o coração tá como? Prometi que nao ia enrolar e to cumprindo a promessa.Hoje provavelmente também deve ter entrado uma fanfic nova: Younger. Quem quiser dar uma olhada. Ela é meu novo xodó. Espero que gostem
Xooxo Grupo do facebook: Histórias da Mayh.



Outras Fanfics:
My Heart (McFly / Finalizada)
My Very Crazy Life (McFly / Finalizada)
Sudden ( Especial dia do sexo)


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