Capítulo 1
abriu os olhos e encarou o teto azul. Era incrível que mesmo depois de uma semana de mudança ainda não havia se acostumado com o novo quarto, o que a fazia ficar alguns minutos tentando se localizar toda vez que acordava. Ficou deitada e viu que horas eram, constatando que ainda faltavam duas horas para seu despertador tocar. Fechou os olhos e tentou voltar a dormir, porém a ansiedade da noite anterior voltava com toda força. Hoje seria seu primeiro dia de aula em solo californiano e o nervosismo era inevitável. Certa de que não conseguiria recuperar o sono, levantou e saiu do quarto se encaminhando para a porta à frente da sua. Conhecia a irmã bem o suficiente para saber que a ansiedade também estava a atormentando. Abriu a porta devagar e encontrou sentada na ponta da cama encarando a tela do celular.
— Sabia que não era a única pagando de zumbi uma hora dessas. — ela disse, entrando no quarto e sentando do lado da irmã.
— Com certeza não! Estava rolando na cama fazia horas, sem contar que já olhei de tudo nesse celular tentando me distrair e ver se o tempo passa mais rápido — disse e apoiou a cabeça no ombro da caçula.
As duas permaneceram em silêncio encarando o nada por alguns minutos.
— Sabe, pela primeira vez eu estou com medo do que vai acontecer nessa semana. — falou o que estava guardando há dias consigo. Ela sabia que não havia pessoa melhor para se abrir do que a irmã. Mordeu o lábio e continuou a falar. — Você sabe como fico agoniada quando não tenho noção nenhuma do que vai acontecer e nunca na minha vida um tempo foi tão imprevisível. Quer dizer, e se esse intercâmbio não for tudo aquilo que imaginei?
— Não são nem dez horas e você já tá em crise? , eu sei que é meio assustador, afinal é uma mudança muito grande, mas não fica assim, eu tenho certeza que a Califórnia não irá nos decepcionar. E saiba que as vezes faz bem viver o momento sem ter nada planejado. — respondeu enquanto bagunçava levemente os cabelos da irmã.
— É, eu sei que estou me precipitando. O nervosismo tá me afetando e me deixando paranoica.
— Mais afetada do que você já é? Acho difícil. — riu, recebendo um tapa no braço como resposta. — Outh, isso doeu! Tenho uma ideia, vamos fazer um acordo.
— Ih, vindo de você não sei se posso esperar algo bom. — respondeu, vendo a irmã dar língua. Mesmo as duas brasileiras sendo gêmeas, os minutos de diferença no nascimento pareciam ter feito grande impacto, pois via realmente como uma irmã mais velha e era considerada como a caçula das duas pela mesma. Porém, diferente do esperado, nem sempre a primogênita se portava como a mais responsável das duas.
— Idiota! Não tem nada de absurdo na minha ideia, pelo contrário. Vamos fazer uma promessa de não deixar nada atrapalhar esse ano. Vamos viver intensamente todos os momentos aqui. É praticamente certeza que vamos voltar pro Brasil no fim do ano e nunca mais iremos ver as pessoas daqui, então não temos que nos preocupar com arrependimentos. Vamos fazer e falar tudo que temos vontade e tornar esse ano totalmente inesquecível. — respondeu, esticando o dedo mindinho.
— Não sei se isso é uma boa ideia. — encarou o dedo da irmã, vendo-a rolar os olhos com sua resposta.
— Qual é, ? Nós temos dezoito anos e estamos em São Francisco, não existe uma opção melhor do que essa.
— Ok! — a caçula concordou, entrelaçando seu dedo no da irmã — Mas que fique claro que não aturarei sermão caso eu faça algo de que você não se orgulhe.
— Acho mais fácil ser o contrário. — riu da falsa cara de indignação da irmã.
— Você tá muito engraçadinha pra plena seis da manhã, viu? Levanta daí e vamos nos arrumar. — saiu do quarto correndo depois de bagunçar o cabelo da irmã e ver uma almofada voando em sua direção.
Pararam em frente ao portão grande de ferro e respiraram fundo. Esse era definitivamente o início dessa nova etapa. Entrelaçaram os braços, como sempre faziam quando estavam nervosas, e entraram no prédio.
— Fala que não tem nada bizarro no meu cabelo, por favor. — disse entredentes, cutucando de leve a irmã.
— Se não for no seu cabelo provavelmente é na minha cara. — respondeu, também percebendo todos os olhares que estavam recebendo.
Os corredores não estavam tão cheios, mas as poucas pessoas restantes ali insistiam em avaliá-las com os olhos. Apressaram os passos e foram direto para a secretaria do colégio. Estiveram ali na semana passada com a sua avó para realizar a matrícula e preencher toda a papelada, porém assim como todos os alunos as duas só pegariam sua grade horária no primeiro dia de aula quando chegassem.
— Bom dia! Eu sou a e essa é minha irmã . Somos novas aqui e viemos pegar nossos horários. — a garota cumprimentou a senhora de cabelos grisalhos que estava detrás do balcão.
— Bom dia, meninas! Eu sou Beth, a coordenadora. Vocês são as brasileiras, certo? — a senhora perguntou com um sorriso simpático.
— Já estamos conhecidas assim? — perguntou, arregalando os olhos.
— Não, nem precisa se preocupar, querida. Sei disso porque o diretor me informou mais cedo de vocês e repetiu várias vezes seu sobrenome para que eu não me esquecesse de passar todas as últimas informações sobre a escola. Não é sempre que recebemos brasileiros por aqui e quando isso acontece ele sempre se preocupa em serem bem recebidos. — Beth respondeu, vendo as irmãs sorrirem amarelo. Procurou os envelopes de cada uma e as entregou. — Aqui dentro tem a grade horária de vocês, o calendário da escola, o número do armário e as informações para escolher a senha. Sabemos que nem sempre é fácil se adaptar à mudança e interagir com os outros alunos, por isso o diretor achou melhor que tivessem os mesmos horários.
— Opa, agora eu gostei. — a primogênita respondeu, pegando seu envelope e vendo a coordenadora sorrir de volta.
— Enfim, vocês têm dez minutos até o início da primeira aula. Se quiserem passar no armário antes, eles ficam no corredor à direita. Desejo, em nome da instituição, boas vindas e um ótimo ano letivo!
— Muito obrigada, Beth! Até mais. — respondeu, se encaminhando com a irmã para o corredor ao lado.
Muitos alunos já haviam ido para suas salas então o caminho até os armários foi mais tranquilo. Escolheram as senhas, guardaram as bolsas e envelopes, e ficaram só com o caderno.
— Certo, vamos ver o que nos aguarda. — a caçula disse, checando os horários e rolando os olhos ao ver qual seria a primeira aula. — Que maravilha! Matemática pra já começar no ânimo. Sala 140.
— Que sorte, não é mesmo? — perguntou, apoiando o braço nos ombros da irmã. — Vamos logo porque aposto que não será nada fácil encontrar essa sala em um prédio desse tamanho.
As três primeiras aulas já haviam terminado e agora as duas se dirigiam para o refeitório. Diferente do que imaginavam, todas as aulas tinham sido tranquilas. O professor de matemática gastou todo seu horário falando sobre seu método de ensino e suas férias passadas. Em Literatura e Química, porém as professoras fizeram questão que todos se apresentassem, rendendo vários cochichos e encaradas quando falavam serem intercambistas brasileiras. Chegaram no refeitório e deram de cara com centenas de jovens dispersos por todos os cantos. Pegaram suas bandejas com comida e sentaram na mesa livre mais afastada.
— Tudo bem que essa escola é gigante, mas isso aqui tá muito cheio! — disse.
— Nem fala. Tem gente de tudo quanto é tipo, percebeu? Estou me sentindo naqueles filmes norte americanos com os grupinhos, tipo os esportistas e as líderes de torcidas. — respondeu, apontando discretamente para a mesa mais no centro, na qual só haviam pessoas com o uniforme do time da escola.
— Se for tudo como nos filmes, espero não ter o "prazer" de conversar com as populares patricinhas. — a primogênita brincou, vendo a irmã passar os olhos distraída pelo lugar.
— Não olha agora, mas tem dois carinhas muito bonitos encarando a gente ali do lado. — sussurrou enquanto fingia ler a caixinha do suco.
— Onde? Cadê? — perguntou, virando o rosto rapidamente.
— Puta que pariu, ! Na próxima vez você fica em pé na mesa. — tentava esconder o rosto com uma das mãos.
— Para de ser chata e se endireita, porque tenho a impressão de que eles tão vindo pra cá.
— Como assim? Que que eles...
— Com licença, meninas. Se importam se sentarmos com vocês? Não tem mais mesa livre e não é como se tivéssemos muitos amigos por aqui. — um deles perguntou. Ele era e tinha olhos .
— Podem ficar à vontade. — respondeu incerta.
— Muito prazer, eu sou e ele, . — o outro disse cumprimentando-as com um aperto de mão e apontando para o amigo, que imitou o gesto.
— O prazer é nosso! Eu sou a e essa aqui é minha irmã .
— Irmã? — perguntou de olhos arregalados. — Vocês nem são tão parecidas. Achei que fossem só amigas.
— Se você diz isso agora imagina quando souber que somos gêmeas. — respondeu, rindo da expressão espantada do garoto.
— Tá brincando, né? — perguntou.
— Não! — respondeu rindo.
— Qual a graça de ter irmã gêmea se você não pode culpá-la pelas burrices sem que ninguém perceba? — perguntou.
— Ah, nesse caso a semelhança física não faz falta. A é cheia de ideias bizarras então se eu jogar a culpa nela por alguma merda as pessoas acabam sendo convencidas. — respondeu e a irmã a acertou com uma bolinha de guardanapo.
— Mais respeito, mocinha!
— Mas e aí, de onde vocês vieram? Nós moramos aqui na redondeza desde pequenos e nunca as vimos. — perguntou.
— Vocês não são irmãos também, são?
— Não mesmo, ...
— Só tá bom, . E pode chamar ela de . — disse enquanto a irmã concordava com um aceno.
— Sendo assim, nos chame de e . — ele respondeu, vendo-a sorrir simpaticamente. — Nossos pais são amigos de infância, o que consequentemente nos fez conviver juntos desde antes de nascer. No começo não éramos tão próximo, mas depois da formação da banda nos tornamos quase irmãos, se não fosse por eu ser mais bonito e inteligente...
— Quem vê até pensa. Elas não são cegas e muito menos burras, . E qualquer um nessa situação percebe que eu sou muito mais gato. — respondeu, fazendo pose e mandando beijo para o amigo enquanto as garotas riam.
— Quanta humildade! — a caçula fez piada. — Mas, eu entendi errado ou vocês têm mesmo uma banda?
— Não ache que esqueci da pergunta do , . Primeiro vocês respondem e depois nós. — respondeu e cruzou os braços sobre a mesa.
— Hm, tudo bem. Vocês nunca nos viram aqui porque chegamos do Brasil semana passada. — respondeu.
— Que irado, cara! Se não fosse pela aparência e carisma eu juraria que vocês eram norte americanas. O inglês de vocês é muito bom! — elogiou.
— Espero que o destaque da aparência seja bom! — disse rindo e explicou o motivo da pronúncia. — Nossa família paterna nasceu aqui, então nosso pai quis manter as raízes de alguma forma mesmo morando no Brasil. E a melhor forma que ele encontrou foi nos apresentando o país dele, o que incluiu aulas de inglês desde os oito anos. Sem falar que já passamos as férias duas vezes aqui com nossa avó.
— Agora tá explicado! Mesmo não conhecendo muita coisa sobre o Brasil, eu tenho muita vontade de visitar lá um dia — disse.
— Visite mesmo! Não é porque é meu país, mas é um lugar muito lindo. — fez um coração com as mãos.
— O que sei sobre o Brasil se resume em Rio de Janeiro, samba, um doce marrom que esqueci o nome e mulheres bonitas — disse de forma engraçada a palavras em português e apontou para as duas no fim da frase.
— Vou considerar isso um elogio, . E o nome do doce é brigadeiro. — explicou.
— Você tem uma visão bem "gringa" do nosso país, vamos tirar um dia para nós apresentarmos um pouco mais sobre lá pra vocês — a primogênita disse.
— Ótima ideia! Basta marca o dia e a gente aparece. — respondeu. — E como vocês vieram parar tão longe de casa?
— Ih, isso é um sonho antigo nosso. A gente sempre teve vontade de fazer intercâmbio ou uma viagem duradoura fora do país, e como é o último ano de escola nós conversamos com nossa vó e ela conseguiu convencer nossos pais a nos deixarem passar o ano aqui com ela. — respondeu.
— Sua avó é tão legal que me deu uma invejinha boa de vocês — disse, fazendo as garotas rirem. — Mesmo tendo acabado de conhecer vocês, dá pra perceber que vocês são bem legais. Espero que seja um ano incrível e que vocês se apaixonem por aqui a ponto de não quererem mais voltar pro Brasil. Assim, eu e o teremos suas companhias por mais tempo.
— Quanto galanteio! Não podemos garantir que ficaremos mais do que esse ano, mas sem dúvidas esse vai ser incrível. — disse. — Agora chega de falar de nós, contem-nos sobre a banda.
— Já tinha até esquecido! Bom, eu e o junto com mais dois amigos, que se formaram ano passado, temos uma banda chamada McFly.
— McFly de Marty McFly? — perguntou com a boca entreaberta.
— Isso mesmo! Vai dizer que você conhece ele?! Todo mundo acha que isso é nome de algum sorvete. — disse surpreso.
— É lógico que eu conheço! — respondeu animada, aumentando o tom de voz.
— Baixou a geek. Espero que ela não fique falando disso o resto do dia. — revirou os olhos.
— Shiu, ! Cara, De Volta Para O Futuro é simplesmente um dos meus filmes favoritos! Eu já perdi as contas de quantas vezes eu assisti cada um dos três. O Robert Zemeckis foi genial em tudo na produção deles.
— Bate aqui, garota! Vamos ser amigos para sempre. — esticou as mãos fazendo um high five com a caçula.
— Só faltou um pouco de gliter voando ao seu redor pra completar a cena, amiga. — disse para o amigo.
— Você sabe que eu não consigo esconder por muito tempo, amorzinho. — disse enquanto tentava agarrar o outro, fazendo as garotas rirem.
— Sai fora, !
— Okay, já deu pra entender a relação amorosa de vocês. Continua falando da McFly! E sem escândalo dessa vez, . — viu a irmã dando dedo como resposta.
— A gente formou a banda há uns quatro anos, mas antes era só zoeira na garagem do , um dos integrantes. Aí, de um ano pra cá fomos tomando mais gosto e nos dedicamos mais ainda. Hoje em dia, a gente toca em alguns barzinhos quando surge a oportunidade e pensamos em viver realmente de música. — explicou.
— Que máximo! Vocês devem ser bons então, já que estão avançando em uma carreira.
— Não é querendo nos gabar não, . Mas, a gente manda bem! — disse. — Se vocês quiserem, na próxima vez que formos tocar chamamos vocês pra verem o que acham.
— Tudo bem! — disse, sendo interrompida logo em seguida pelo sinal.
— Tava bom demais pra ser verdade. Queridas donzelas, foi um prazer inenarrável ter as vossas companhias nesse intervalo e me parte o coração ter que trocá-las por horas de tortura. Espero encontrá-las em breve — levantou e fez uma reverência exagerada ao falar.
— Faço minhas as palavras deste nobre plebeu. Até mais, belas estrangeiras! — levantou, imitando o amigo.
— Nós que agradecemos a divertida companhia, bravos cavalheiros. — ficou de pé e fez um leve aceno com a cabeça.
— Torcemos para que nosso encontro seja logo em breve! — entrou na brincadeira e os cumprimentou segurando a barra de um vestido invisível.
Os garotos se distanciaram acenando de forma exagerada e arrancando risadas das gêmeas, que logo seguiram para os corredores em busca da sala onde seria a próxima aula.
— Vovó, chegamos! — falou em voz alta assim que passou pela porta de entrada e deixou as chaves no pequeno aparador.
— Estou aqui, minhas queridas. — a senhora respondeu docemente de dentro da cozinha.
Largaram as bolsas em cima do sofá e seguiram para o próximo cômodo, encontrando uma senhora de cabelos grisalhos, vestido florido, sorriso sereno e luvas térmicas nas mãos enquanto segurava uma travessa.
— Boa tarde, Dona Katherine! — cumprimentou a vó com um beijo estalado na bochecha enquanto a mesma colocava a lasanha no centro da mesa. — Eu não sei se estou com muita fome ou se estou encantada por essa lasanha, mas não vejo a hora de mandar ela pra dentro!
— Boa tarde, meus amores. — Kath respondeu e recebeu um abraço da caçula. — Nem pense em pegar esse prato, Dona ! As duas direto para o banheiro lavar as mãos antes.
— Isso aí, vovó! Bota moral nessa esfomeada. — brincou enquanto ia lavar as mãos.
— Tá zoando da minha cara, mas se você tivesse chegado na cozinha primeiro a vovó não ia ter tempo nem de falar antes de você ter acabado de comer. — a primogênita seguiu a irmã, voltando logo depois para a cozinha e sentando à mesa com as outras duas.
— E então, como foi o primeiro dia? — a senhora perguntou, servindo a comida.
— Menos assustador do que eu imaginava. Fizemos até duas amizades com uns garotos doidinhos. — respondeu antes de dar a primeira garfada em seu prato.
— É, tivemos sorte e conseguimos enturmar um pouco. Os professores são bem legais e lá parece muito aquelas escolas de filme! — contava entusiasmada.
— Bom, se vocês já gostaram no primeiro dia imagine nos próximos. — Katherine comentou, vendo as netas sorrirem em concordância — Ah, antes que eu me esqueça, a mãe de vocês ligou aqui mais cedo pedindo para vocês ligarem para ela pela internet naquele site lá! Ela está morrendo de saudades e não aceita que vocês tenham passado o fim de semana sem entrar em contato com ela.
— Meus ouvidos já estão doendo só de imaginar o quanto vou ter que ouvir. — brincou, terminando de almoçar e entregando o prato para a irmã, que levava o dela para a pia.
— Folgada! — disse, levando a louça.
— Também te amo, sis!
— Meninas, vou dar uma saída para tentar encontrar as cortinas para os quartos de vocês. Querem ir?
— Não, tudo bem, vovó. Pode escolher qualquer uma que pra mim já está bom. — respondeu.
— Pra mim também! — a irmã completou.
— Certo. Cuidem-se e qualquer coisa é só me ligar. Vou esperar o táxi lá fora, beijos. — a senhora acenou e saiu da casa depois que as netas responderam de volta.
— E aí, vai querer encarar a fera agora? — perguntou e se jogou no sofá por cima das bolsas.
— Estou com tanta preguiça. — respondeu manhosa.
— Quando é que você não está?
— Ah, mas agora é mais! Vamos fazer assim, as duas tomam banho e daqui a meia hora a gente se encontra no meu quarto pra ligar.
— Okay! Vou banhar no banheiro da vovó pra agilizar. — a primogênita pegou a bolsa e subiu as escadas, sendo seguida pela irmã logo depois.
entrou no quarto, pegou a toalha, trocou o tênis pelo chinelo e foi para o banheiro. Para a garota os momentos em baixo do chuveiro eram sempre reflexivos, assim como acontecia quando sentava do lado da janela de algum automóvel ou antes de dormir. Enquanto a água morna escorria por seu corpo, ela respirava aliviada. Lembrou de como estava nervosa e com receio do primeiro dia de aula e riu de si mesma. A manhã havia sido totalmente diferente do que imaginara, superando suas expectativas. Afinal, teria o mesmo horário da irmã e se tudo continuasse no mesmo ritmo logo mais adicionaria duas pessoas à sua roda de amigos. Talvez o acordo com não tivesse sido má ideia mesmo.
— Olha só quem lembrou que tem pais! — a voz de Ana saiu pelos auto falantes do notebook.
— Ai, mãe! Só foram dois dias. — respondeu, revirando os olhos. As gêmeas conheciam bem o temperamento da mãe e sabiam que qualquer deixa seria o bastante para que ela reclamasse por mais algumas horas.
— Só dois dias? Desculpa se eu sinto saudades das minhas filhas, tá? - a mulher disse com a voz manhosa. — Posso saber o porquê do sumiço?
— Nós também estamos com saudades, mãe! — respondeu e suspirou fundo pensando em uma resposta prática. A verdade é que as duas haviam passado os primeiros dias de estadia chorando de saudades e quando chegou o fim de semana decidiram se distanciar um pouco pra evitar que a enxurrada de saudade voltasse. Porém, a caçula tinha consciência de que se sua mãe soubesse disso insistiria na ideia de que voltassem. — Nós aproveitamos os dois dias pra organizar os quartos e terminar de esvaziar todas as caixas...
— E quando acabamos já estava tarde demais pra entrar em contato com vocês. — ajudou a irmã à convencer a mais velha, o que não foi muito difícil já que estavam praticamente falando a verdade, com a diferença que a faxina e organização só havia durado metade de um dia.
— Tudo bem, vou aceitar dessa vez. Agora me contem as novidades! — a mãe disse, vendo as garotas contarem animadas sobre tudo de diferente da viagem. — Mesmo estando tão longes, eu fico muito feliz, minhas filhas! Dá pra ver o brilho dos olhos de cada uma daqui.
— Awn, mãe! Não me faça chorar, por favor. - disse, vendo a mulher no visor secar algumas lágrimas e sentindo o sentimento dos primeiros dias despertar.
— É, você sabe o quanto a é mole pra essas coisas. — brincou enquanto abraçava a irmã de lado. — E cadê o pai e o Josh?
— Já estão vindo. Os dois inventaram de fazer um bolo para o lanche, mas acabaram se sujando inteiros de farinha e tiveram que ir se limpar. Amor? - Ana disse, aumentando o volume na pergunta para que o marido escutasse.
— Chegamos, minhas gringas! - o homem moreno apareceu em frente a câmera com um menino no colo, ouvindo o oi animado das filhas. — Que saudade, minhas meninas. Olha só quem tá ali, pequeno.
— Nanas! Tô co xodade! — o garoto disse de forma embolada. O irmão das gêmeas tinha apenas dois anos e era o xodó delas.
— Meu amor, que saudade que as nanas tão de você! - cumprimentou o irmão com os olhos marejados.
— Pai, Josh, ai que saudade de vocês! - já não conseguia controlar a emoção e tinha lágrimas por todo o rosto. - Como vocês estão?
A conversa se prolongou por mais uma hora, até que os pais das garotas tiveram que desligar devido ao compromisso que teriam. E bastou a chamada ser finalizada para que as duas se abraçassem e caíssem no choro de verdade. Desde pequenas nunca haviam passado mais do que um fim de semana longe de sua família, e mesmo estando hospedadas na casa de alguém tão próximo, sentiam falta do aconchego de sua casinha brasileira.
— Okay, chega de chororô! Isso não faz parte do nosso acordo. — se soltou da irmã e secou o rosto, ajudando a caçula a afastar as lágrimas depois.
— Sim, mas é inevitável essa saudade. - disse entre soluços baixos. — Eu só espero que não tenhamos feito a escolha errada.
— Pode ter certeza que não, sis! Daqui uns dias estaremos acostumadas com a distância e veremos o quão foi certa essa decisão. — a primogênita levantou da cama, depositou um beijo no topo da cabeça da irmã e saiu do quarto antes de poder ouvir a fala dela em um sussurro.
— Eu espero.
— Sabia que não era a única pagando de zumbi uma hora dessas. — ela disse, entrando no quarto e sentando do lado da irmã.
— Com certeza não! Estava rolando na cama fazia horas, sem contar que já olhei de tudo nesse celular tentando me distrair e ver se o tempo passa mais rápido — disse e apoiou a cabeça no ombro da caçula.
As duas permaneceram em silêncio encarando o nada por alguns minutos.
— Sabe, pela primeira vez eu estou com medo do que vai acontecer nessa semana. — falou o que estava guardando há dias consigo. Ela sabia que não havia pessoa melhor para se abrir do que a irmã. Mordeu o lábio e continuou a falar. — Você sabe como fico agoniada quando não tenho noção nenhuma do que vai acontecer e nunca na minha vida um tempo foi tão imprevisível. Quer dizer, e se esse intercâmbio não for tudo aquilo que imaginei?
— Não são nem dez horas e você já tá em crise? , eu sei que é meio assustador, afinal é uma mudança muito grande, mas não fica assim, eu tenho certeza que a Califórnia não irá nos decepcionar. E saiba que as vezes faz bem viver o momento sem ter nada planejado. — respondeu enquanto bagunçava levemente os cabelos da irmã.
— É, eu sei que estou me precipitando. O nervosismo tá me afetando e me deixando paranoica.
— Mais afetada do que você já é? Acho difícil. — riu, recebendo um tapa no braço como resposta. — Outh, isso doeu! Tenho uma ideia, vamos fazer um acordo.
— Ih, vindo de você não sei se posso esperar algo bom. — respondeu, vendo a irmã dar língua. Mesmo as duas brasileiras sendo gêmeas, os minutos de diferença no nascimento pareciam ter feito grande impacto, pois via realmente como uma irmã mais velha e era considerada como a caçula das duas pela mesma. Porém, diferente do esperado, nem sempre a primogênita se portava como a mais responsável das duas.
— Idiota! Não tem nada de absurdo na minha ideia, pelo contrário. Vamos fazer uma promessa de não deixar nada atrapalhar esse ano. Vamos viver intensamente todos os momentos aqui. É praticamente certeza que vamos voltar pro Brasil no fim do ano e nunca mais iremos ver as pessoas daqui, então não temos que nos preocupar com arrependimentos. Vamos fazer e falar tudo que temos vontade e tornar esse ano totalmente inesquecível. — respondeu, esticando o dedo mindinho.
— Não sei se isso é uma boa ideia. — encarou o dedo da irmã, vendo-a rolar os olhos com sua resposta.
— Qual é, ? Nós temos dezoito anos e estamos em São Francisco, não existe uma opção melhor do que essa.
— Ok! — a caçula concordou, entrelaçando seu dedo no da irmã — Mas que fique claro que não aturarei sermão caso eu faça algo de que você não se orgulhe.
— Acho mais fácil ser o contrário. — riu da falsa cara de indignação da irmã.
— Você tá muito engraçadinha pra plena seis da manhã, viu? Levanta daí e vamos nos arrumar. — saiu do quarto correndo depois de bagunçar o cabelo da irmã e ver uma almofada voando em sua direção.
Pararam em frente ao portão grande de ferro e respiraram fundo. Esse era definitivamente o início dessa nova etapa. Entrelaçaram os braços, como sempre faziam quando estavam nervosas, e entraram no prédio.
— Fala que não tem nada bizarro no meu cabelo, por favor. — disse entredentes, cutucando de leve a irmã.
— Se não for no seu cabelo provavelmente é na minha cara. — respondeu, também percebendo todos os olhares que estavam recebendo.
Os corredores não estavam tão cheios, mas as poucas pessoas restantes ali insistiam em avaliá-las com os olhos. Apressaram os passos e foram direto para a secretaria do colégio. Estiveram ali na semana passada com a sua avó para realizar a matrícula e preencher toda a papelada, porém assim como todos os alunos as duas só pegariam sua grade horária no primeiro dia de aula quando chegassem.
— Bom dia! Eu sou a e essa é minha irmã . Somos novas aqui e viemos pegar nossos horários. — a garota cumprimentou a senhora de cabelos grisalhos que estava detrás do balcão.
— Bom dia, meninas! Eu sou Beth, a coordenadora. Vocês são as brasileiras, certo? — a senhora perguntou com um sorriso simpático.
— Já estamos conhecidas assim? — perguntou, arregalando os olhos.
— Não, nem precisa se preocupar, querida. Sei disso porque o diretor me informou mais cedo de vocês e repetiu várias vezes seu sobrenome para que eu não me esquecesse de passar todas as últimas informações sobre a escola. Não é sempre que recebemos brasileiros por aqui e quando isso acontece ele sempre se preocupa em serem bem recebidos. — Beth respondeu, vendo as irmãs sorrirem amarelo. Procurou os envelopes de cada uma e as entregou. — Aqui dentro tem a grade horária de vocês, o calendário da escola, o número do armário e as informações para escolher a senha. Sabemos que nem sempre é fácil se adaptar à mudança e interagir com os outros alunos, por isso o diretor achou melhor que tivessem os mesmos horários.
— Opa, agora eu gostei. — a primogênita respondeu, pegando seu envelope e vendo a coordenadora sorrir de volta.
— Enfim, vocês têm dez minutos até o início da primeira aula. Se quiserem passar no armário antes, eles ficam no corredor à direita. Desejo, em nome da instituição, boas vindas e um ótimo ano letivo!
— Muito obrigada, Beth! Até mais. — respondeu, se encaminhando com a irmã para o corredor ao lado.
Muitos alunos já haviam ido para suas salas então o caminho até os armários foi mais tranquilo. Escolheram as senhas, guardaram as bolsas e envelopes, e ficaram só com o caderno.
— Certo, vamos ver o que nos aguarda. — a caçula disse, checando os horários e rolando os olhos ao ver qual seria a primeira aula. — Que maravilha! Matemática pra já começar no ânimo. Sala 140.
— Que sorte, não é mesmo? — perguntou, apoiando o braço nos ombros da irmã. — Vamos logo porque aposto que não será nada fácil encontrar essa sala em um prédio desse tamanho.
As três primeiras aulas já haviam terminado e agora as duas se dirigiam para o refeitório. Diferente do que imaginavam, todas as aulas tinham sido tranquilas. O professor de matemática gastou todo seu horário falando sobre seu método de ensino e suas férias passadas. Em Literatura e Química, porém as professoras fizeram questão que todos se apresentassem, rendendo vários cochichos e encaradas quando falavam serem intercambistas brasileiras. Chegaram no refeitório e deram de cara com centenas de jovens dispersos por todos os cantos. Pegaram suas bandejas com comida e sentaram na mesa livre mais afastada.
— Tudo bem que essa escola é gigante, mas isso aqui tá muito cheio! — disse.
— Nem fala. Tem gente de tudo quanto é tipo, percebeu? Estou me sentindo naqueles filmes norte americanos com os grupinhos, tipo os esportistas e as líderes de torcidas. — respondeu, apontando discretamente para a mesa mais no centro, na qual só haviam pessoas com o uniforme do time da escola.
— Se for tudo como nos filmes, espero não ter o "prazer" de conversar com as populares patricinhas. — a primogênita brincou, vendo a irmã passar os olhos distraída pelo lugar.
— Não olha agora, mas tem dois carinhas muito bonitos encarando a gente ali do lado. — sussurrou enquanto fingia ler a caixinha do suco.
— Onde? Cadê? — perguntou, virando o rosto rapidamente.
— Puta que pariu, ! Na próxima vez você fica em pé na mesa. — tentava esconder o rosto com uma das mãos.
— Para de ser chata e se endireita, porque tenho a impressão de que eles tão vindo pra cá.
— Como assim? Que que eles...
— Com licença, meninas. Se importam se sentarmos com vocês? Não tem mais mesa livre e não é como se tivéssemos muitos amigos por aqui. — um deles perguntou. Ele era e tinha olhos .
— Podem ficar à vontade. — respondeu incerta.
— Muito prazer, eu sou e ele, . — o outro disse cumprimentando-as com um aperto de mão e apontando para o amigo, que imitou o gesto.
— O prazer é nosso! Eu sou a e essa aqui é minha irmã .
— Irmã? — perguntou de olhos arregalados. — Vocês nem são tão parecidas. Achei que fossem só amigas.
— Se você diz isso agora imagina quando souber que somos gêmeas. — respondeu, rindo da expressão espantada do garoto.
— Tá brincando, né? — perguntou.
— Não! — respondeu rindo.
— Qual a graça de ter irmã gêmea se você não pode culpá-la pelas burrices sem que ninguém perceba? — perguntou.
— Ah, nesse caso a semelhança física não faz falta. A é cheia de ideias bizarras então se eu jogar a culpa nela por alguma merda as pessoas acabam sendo convencidas. — respondeu e a irmã a acertou com uma bolinha de guardanapo.
— Mais respeito, mocinha!
— Mas e aí, de onde vocês vieram? Nós moramos aqui na redondeza desde pequenos e nunca as vimos. — perguntou.
— Vocês não são irmãos também, são?
— Não mesmo, ...
— Só tá bom, . E pode chamar ela de . — disse enquanto a irmã concordava com um aceno.
— Sendo assim, nos chame de e . — ele respondeu, vendo-a sorrir simpaticamente. — Nossos pais são amigos de infância, o que consequentemente nos fez conviver juntos desde antes de nascer. No começo não éramos tão próximo, mas depois da formação da banda nos tornamos quase irmãos, se não fosse por eu ser mais bonito e inteligente...
— Quem vê até pensa. Elas não são cegas e muito menos burras, . E qualquer um nessa situação percebe que eu sou muito mais gato. — respondeu, fazendo pose e mandando beijo para o amigo enquanto as garotas riam.
— Quanta humildade! — a caçula fez piada. — Mas, eu entendi errado ou vocês têm mesmo uma banda?
— Não ache que esqueci da pergunta do , . Primeiro vocês respondem e depois nós. — respondeu e cruzou os braços sobre a mesa.
— Hm, tudo bem. Vocês nunca nos viram aqui porque chegamos do Brasil semana passada. — respondeu.
— Que irado, cara! Se não fosse pela aparência e carisma eu juraria que vocês eram norte americanas. O inglês de vocês é muito bom! — elogiou.
— Espero que o destaque da aparência seja bom! — disse rindo e explicou o motivo da pronúncia. — Nossa família paterna nasceu aqui, então nosso pai quis manter as raízes de alguma forma mesmo morando no Brasil. E a melhor forma que ele encontrou foi nos apresentando o país dele, o que incluiu aulas de inglês desde os oito anos. Sem falar que já passamos as férias duas vezes aqui com nossa avó.
— Agora tá explicado! Mesmo não conhecendo muita coisa sobre o Brasil, eu tenho muita vontade de visitar lá um dia — disse.
— Visite mesmo! Não é porque é meu país, mas é um lugar muito lindo. — fez um coração com as mãos.
— O que sei sobre o Brasil se resume em Rio de Janeiro, samba, um doce marrom que esqueci o nome e mulheres bonitas — disse de forma engraçada a palavras em português e apontou para as duas no fim da frase.
— Vou considerar isso um elogio, . E o nome do doce é brigadeiro. — explicou.
— Você tem uma visão bem "gringa" do nosso país, vamos tirar um dia para nós apresentarmos um pouco mais sobre lá pra vocês — a primogênita disse.
— Ótima ideia! Basta marca o dia e a gente aparece. — respondeu. — E como vocês vieram parar tão longe de casa?
— Ih, isso é um sonho antigo nosso. A gente sempre teve vontade de fazer intercâmbio ou uma viagem duradoura fora do país, e como é o último ano de escola nós conversamos com nossa vó e ela conseguiu convencer nossos pais a nos deixarem passar o ano aqui com ela. — respondeu.
— Sua avó é tão legal que me deu uma invejinha boa de vocês — disse, fazendo as garotas rirem. — Mesmo tendo acabado de conhecer vocês, dá pra perceber que vocês são bem legais. Espero que seja um ano incrível e que vocês se apaixonem por aqui a ponto de não quererem mais voltar pro Brasil. Assim, eu e o teremos suas companhias por mais tempo.
— Quanto galanteio! Não podemos garantir que ficaremos mais do que esse ano, mas sem dúvidas esse vai ser incrível. — disse. — Agora chega de falar de nós, contem-nos sobre a banda.
— Já tinha até esquecido! Bom, eu e o junto com mais dois amigos, que se formaram ano passado, temos uma banda chamada McFly.
— McFly de Marty McFly? — perguntou com a boca entreaberta.
— Isso mesmo! Vai dizer que você conhece ele?! Todo mundo acha que isso é nome de algum sorvete. — disse surpreso.
— É lógico que eu conheço! — respondeu animada, aumentando o tom de voz.
— Baixou a geek. Espero que ela não fique falando disso o resto do dia. — revirou os olhos.
— Shiu, ! Cara, De Volta Para O Futuro é simplesmente um dos meus filmes favoritos! Eu já perdi as contas de quantas vezes eu assisti cada um dos três. O Robert Zemeckis foi genial em tudo na produção deles.
— Bate aqui, garota! Vamos ser amigos para sempre. — esticou as mãos fazendo um high five com a caçula.
— Só faltou um pouco de gliter voando ao seu redor pra completar a cena, amiga. — disse para o amigo.
— Você sabe que eu não consigo esconder por muito tempo, amorzinho. — disse enquanto tentava agarrar o outro, fazendo as garotas rirem.
— Sai fora, !
— Okay, já deu pra entender a relação amorosa de vocês. Continua falando da McFly! E sem escândalo dessa vez, . — viu a irmã dando dedo como resposta.
— A gente formou a banda há uns quatro anos, mas antes era só zoeira na garagem do , um dos integrantes. Aí, de um ano pra cá fomos tomando mais gosto e nos dedicamos mais ainda. Hoje em dia, a gente toca em alguns barzinhos quando surge a oportunidade e pensamos em viver realmente de música. — explicou.
— Que máximo! Vocês devem ser bons então, já que estão avançando em uma carreira.
— Não é querendo nos gabar não, . Mas, a gente manda bem! — disse. — Se vocês quiserem, na próxima vez que formos tocar chamamos vocês pra verem o que acham.
— Tudo bem! — disse, sendo interrompida logo em seguida pelo sinal.
— Tava bom demais pra ser verdade. Queridas donzelas, foi um prazer inenarrável ter as vossas companhias nesse intervalo e me parte o coração ter que trocá-las por horas de tortura. Espero encontrá-las em breve — levantou e fez uma reverência exagerada ao falar.
— Faço minhas as palavras deste nobre plebeu. Até mais, belas estrangeiras! — levantou, imitando o amigo.
— Nós que agradecemos a divertida companhia, bravos cavalheiros. — ficou de pé e fez um leve aceno com a cabeça.
— Torcemos para que nosso encontro seja logo em breve! — entrou na brincadeira e os cumprimentou segurando a barra de um vestido invisível.
Os garotos se distanciaram acenando de forma exagerada e arrancando risadas das gêmeas, que logo seguiram para os corredores em busca da sala onde seria a próxima aula.
— Vovó, chegamos! — falou em voz alta assim que passou pela porta de entrada e deixou as chaves no pequeno aparador.
— Estou aqui, minhas queridas. — a senhora respondeu docemente de dentro da cozinha.
Largaram as bolsas em cima do sofá e seguiram para o próximo cômodo, encontrando uma senhora de cabelos grisalhos, vestido florido, sorriso sereno e luvas térmicas nas mãos enquanto segurava uma travessa.
— Boa tarde, Dona Katherine! — cumprimentou a vó com um beijo estalado na bochecha enquanto a mesma colocava a lasanha no centro da mesa. — Eu não sei se estou com muita fome ou se estou encantada por essa lasanha, mas não vejo a hora de mandar ela pra dentro!
— Boa tarde, meus amores. — Kath respondeu e recebeu um abraço da caçula. — Nem pense em pegar esse prato, Dona ! As duas direto para o banheiro lavar as mãos antes.
— Isso aí, vovó! Bota moral nessa esfomeada. — brincou enquanto ia lavar as mãos.
— Tá zoando da minha cara, mas se você tivesse chegado na cozinha primeiro a vovó não ia ter tempo nem de falar antes de você ter acabado de comer. — a primogênita seguiu a irmã, voltando logo depois para a cozinha e sentando à mesa com as outras duas.
— E então, como foi o primeiro dia? — a senhora perguntou, servindo a comida.
— Menos assustador do que eu imaginava. Fizemos até duas amizades com uns garotos doidinhos. — respondeu antes de dar a primeira garfada em seu prato.
— É, tivemos sorte e conseguimos enturmar um pouco. Os professores são bem legais e lá parece muito aquelas escolas de filme! — contava entusiasmada.
— Bom, se vocês já gostaram no primeiro dia imagine nos próximos. — Katherine comentou, vendo as netas sorrirem em concordância — Ah, antes que eu me esqueça, a mãe de vocês ligou aqui mais cedo pedindo para vocês ligarem para ela pela internet naquele site lá! Ela está morrendo de saudades e não aceita que vocês tenham passado o fim de semana sem entrar em contato com ela.
— Meus ouvidos já estão doendo só de imaginar o quanto vou ter que ouvir. — brincou, terminando de almoçar e entregando o prato para a irmã, que levava o dela para a pia.
— Folgada! — disse, levando a louça.
— Também te amo, sis!
— Meninas, vou dar uma saída para tentar encontrar as cortinas para os quartos de vocês. Querem ir?
— Não, tudo bem, vovó. Pode escolher qualquer uma que pra mim já está bom. — respondeu.
— Pra mim também! — a irmã completou.
— Certo. Cuidem-se e qualquer coisa é só me ligar. Vou esperar o táxi lá fora, beijos. — a senhora acenou e saiu da casa depois que as netas responderam de volta.
— E aí, vai querer encarar a fera agora? — perguntou e se jogou no sofá por cima das bolsas.
— Estou com tanta preguiça. — respondeu manhosa.
— Quando é que você não está?
— Ah, mas agora é mais! Vamos fazer assim, as duas tomam banho e daqui a meia hora a gente se encontra no meu quarto pra ligar.
— Okay! Vou banhar no banheiro da vovó pra agilizar. — a primogênita pegou a bolsa e subiu as escadas, sendo seguida pela irmã logo depois.
entrou no quarto, pegou a toalha, trocou o tênis pelo chinelo e foi para o banheiro. Para a garota os momentos em baixo do chuveiro eram sempre reflexivos, assim como acontecia quando sentava do lado da janela de algum automóvel ou antes de dormir. Enquanto a água morna escorria por seu corpo, ela respirava aliviada. Lembrou de como estava nervosa e com receio do primeiro dia de aula e riu de si mesma. A manhã havia sido totalmente diferente do que imaginara, superando suas expectativas. Afinal, teria o mesmo horário da irmã e se tudo continuasse no mesmo ritmo logo mais adicionaria duas pessoas à sua roda de amigos. Talvez o acordo com não tivesse sido má ideia mesmo.
— Olha só quem lembrou que tem pais! — a voz de Ana saiu pelos auto falantes do notebook.
— Ai, mãe! Só foram dois dias. — respondeu, revirando os olhos. As gêmeas conheciam bem o temperamento da mãe e sabiam que qualquer deixa seria o bastante para que ela reclamasse por mais algumas horas.
— Só dois dias? Desculpa se eu sinto saudades das minhas filhas, tá? - a mulher disse com a voz manhosa. — Posso saber o porquê do sumiço?
— Nós também estamos com saudades, mãe! — respondeu e suspirou fundo pensando em uma resposta prática. A verdade é que as duas haviam passado os primeiros dias de estadia chorando de saudades e quando chegou o fim de semana decidiram se distanciar um pouco pra evitar que a enxurrada de saudade voltasse. Porém, a caçula tinha consciência de que se sua mãe soubesse disso insistiria na ideia de que voltassem. — Nós aproveitamos os dois dias pra organizar os quartos e terminar de esvaziar todas as caixas...
— E quando acabamos já estava tarde demais pra entrar em contato com vocês. — ajudou a irmã à convencer a mais velha, o que não foi muito difícil já que estavam praticamente falando a verdade, com a diferença que a faxina e organização só havia durado metade de um dia.
— Tudo bem, vou aceitar dessa vez. Agora me contem as novidades! — a mãe disse, vendo as garotas contarem animadas sobre tudo de diferente da viagem. — Mesmo estando tão longes, eu fico muito feliz, minhas filhas! Dá pra ver o brilho dos olhos de cada uma daqui.
— Awn, mãe! Não me faça chorar, por favor. - disse, vendo a mulher no visor secar algumas lágrimas e sentindo o sentimento dos primeiros dias despertar.
— É, você sabe o quanto a é mole pra essas coisas. — brincou enquanto abraçava a irmã de lado. — E cadê o pai e o Josh?
— Já estão vindo. Os dois inventaram de fazer um bolo para o lanche, mas acabaram se sujando inteiros de farinha e tiveram que ir se limpar. Amor? - Ana disse, aumentando o volume na pergunta para que o marido escutasse.
— Chegamos, minhas gringas! - o homem moreno apareceu em frente a câmera com um menino no colo, ouvindo o oi animado das filhas. — Que saudade, minhas meninas. Olha só quem tá ali, pequeno.
— Nanas! Tô co xodade! — o garoto disse de forma embolada. O irmão das gêmeas tinha apenas dois anos e era o xodó delas.
— Meu amor, que saudade que as nanas tão de você! - cumprimentou o irmão com os olhos marejados.
— Pai, Josh, ai que saudade de vocês! - já não conseguia controlar a emoção e tinha lágrimas por todo o rosto. - Como vocês estão?
A conversa se prolongou por mais uma hora, até que os pais das garotas tiveram que desligar devido ao compromisso que teriam. E bastou a chamada ser finalizada para que as duas se abraçassem e caíssem no choro de verdade. Desde pequenas nunca haviam passado mais do que um fim de semana longe de sua família, e mesmo estando hospedadas na casa de alguém tão próximo, sentiam falta do aconchego de sua casinha brasileira.
— Okay, chega de chororô! Isso não faz parte do nosso acordo. — se soltou da irmã e secou o rosto, ajudando a caçula a afastar as lágrimas depois.
— Sim, mas é inevitável essa saudade. - disse entre soluços baixos. — Eu só espero que não tenhamos feito a escolha errada.
— Pode ter certeza que não, sis! Daqui uns dias estaremos acostumadas com a distância e veremos o quão foi certa essa decisão. — a primogênita levantou da cama, depositou um beijo no topo da cabeça da irmã e saiu do quarto antes de poder ouvir a fala dela em um sussurro.
— Eu espero.
Capítulo 2
— A gente acabou de passar pela 126 e você disse que a sala era a 136! — reclamou com a irmã.
— Foi mal! Eu acabei me confundindo depois de ver tanta sala. Pelo menos a gente sabe onde fica, vamos correr. — respondeu e puxou a gêmea pelo braço.
As irmãs estavam a pouco mais que vinte minutos procurando pela sala onde teriam sua primeira aula e todos os corredores já haviam esvaziado, dando-as a certeza de que estavam atrasadas. Correram para o andar de baixo, onde tinham passado anteriormente, e pararam em frente à porta com a placa "126". Esperaram por alguns segundos tentando recuperar o fôlego antes de entrar.
— Tá pronta? — perguntou para a irmã enquanto arrumava o cabelo, recebendo um aceno positivo como resposta. — Okay! Eu bato e você fala.
— O que? Não faz isso, vadi... — mal teve tempo de negar, pois a irmã havia batido na porta e a empurrado para a frente assim que um senhor barrigudo apareceu. — Bom dia, professor! Desculpe o atraso, nós somos alunas novas e acabamos nos perdendo enquanto tentávamos achar a sala.
— Entrem em silêncio e vão direto para a cadeira. — o professor de história respondeu mal humorado, dando espaço para que entrassem. — Leitura da página 23.
As duas confirmaram com um aceno e foram para uma das últimas cadeiras sem prestar atenção no resto dos alunos. Sentaram uma atrás da outra e pegaram o livro. estava na metade da leitura quando foi atrapalhada por uma bolinha de papel que pousou em cima da página. Olhou para trás e encontrou e acenando para ela e sua irmã, que também perdera a concentração na leitura com a movimentação dos três.
"Sorria e comemore, você está participando da melhor aula da sua vida! (Você vai se surpreender com o bom humor e qualidade da aula a cada semana XD) xX"
abafou o riso e escreveu a resposta no verso da folha.
"Essa aula ainda nem acabou e já tô ansiosa pra próxima. (T.T) Que a força esteja conosco! xX"
Amassou o papel e arremessou a bolinha de volta para ele. leu o recado e escreveu rapidamente sua resposta. Esperou o professor olhar para o livro e jogou a bolinha, que graças à falta de coordenação do garoto, acertou a cabeça de . A primogênita leu o que estava escrito e acrescentou alguma coisa antes de passar para a irmã.
"Será preciso muito mais que força pra sobrevivermos ao carisma do ‘queridíssimo' Sr. Hansen!
P.s.: Se liga na cara de tapado do tentando ler a pg... LOL! xX"
"Vcs ñ conseguem ficar quietos, n? Ah, só pra deixar minha opinião aqui, eu realmente fiquei com medo da cara desse homem! E aquilo na bochecha dele é um bicho? X.X
P.s.: Só ñ é melhor que a cara de abandonado agr q notou q é o único fora da cv. xX"
A caçula olhou para trás e constatou o que a irmã falou. O garoto tinha uma expressão de falsa tristeza no rosto e fazia joinha pra ela, enfatizando a ironia.
— Me excluiu legal, ein? — disse apenas com o movimento dos lábios, sem som.
piscou e devolveu um sorriso sapeca. Olhou para o professor e viu que o "bicho" mencionado por era uma verruga gigante e bizarra. Escreveu no espaço que restara do papel e jogou para depois de amassá-lo.
"Bicho ou ñ, tenho crtz q aquilo tem vida própria! E antes q vc chore...Oi ! :3
P.s.: Esse Hansen tá me encarando de mais, parem de jogar essa bolinha aqui. Xx"
A garota voltou sua atenção à leitura, já que havia sido sincera ao falar que o professor a observava frequentemente entre todos os alunos. Porém, os outros três pareciam não ter levado a sério sua última anotação. Em menos de cinco minutos uma outra bolinha havia caído em sua mesa. Se assustou com o movimento e escondeu o objeto antes que o velho notasse. Bufou levemente com a insistência dos amigos e leu o recado.
"Finalmente algm lembrou de mim. <3
P.s.: Antes q vc nos abandone, aviso logo q eu e o vms estar esperando vcs na msm mesa do refeitório. Temos algo a flr com vcs. xoxo"
— Sentiram saudades? — perguntou enquanto se sentava à mesa dos dois garotos.
— Você não tem ideia do quanto! Foi muito difícil ficar sem vocês nesses últimos...quarenta minutos — respondeu, usando de ironia para brincar com a garota. Os quatro haviam tido as duas primeiras aulas juntos e se separaram apenas para o último horário antes do intervalo.
— Idiota! — a primogênita brincou, jogando seu guardanapo no .
— Ok, parou com a brincadeira, crianças! — disse enquanto tomava o guardanapo da mão dos dois que insistiam em continuar jogando um no outro. — Eu tenho um comunicado a dar!
— Ah, é! Fiquei curiosa com aquele recado do , só não insisti pra saber antes porque o professor estava de marcação. E aquela atividade do segundo horário tomou minha atenção toda. Então fala logo, porque pra você estar falando sério deve ser coisa boa. — brincou.
— Na verdade não é bem um comunicado...Tá mais pra um convite. Mas, antes preciso fazer uma pergunta. — o rapaz viu as caras impacientes das garotas e continuou. — Vocês conhecem algo aqui de São Francisco?
— Mais ou menos.... Contando com agora, tudo que conhecemos nas nossas vindas foi o aeroporto, nossa quadra e alguns restaurantes perto daqui. Sempre falta alguém com tempo e disposição pra nos levar pra passear. — respondeu.
— Ótimo! Eu e o queremos convidar vocês pra fazer um passeio no sábado. Iremos ser seus guias turísticos, apresentando tudo que há de melhor aqui, e pra finalizar o dia teremos um programa especial. — disse animado, como um apresentador de televisão.
— E o que seria esse programa especial? — perguntou com os olhos semicerrados.
— Só vão saber no dia e se forem. — respondeu, trocando olhar cúmplice com o amigo.
— É impressão minha ou o tem uma tara por deixar as pessoas curiosas? — perguntou fazendo o mesmo rir e concordar.
— Estou começando a pensar o mesmo, . Fala logo para onde vamos. — disse e cruzou os braços.
— Sem chances! — sorriu para as garotas. — Se nós falarmos vai deixar de ser surpresa.
— Exatamente! E não teria a mesma graça de deixar vocês com a pulga atrás da orelha. — disse e viu as gêmeas mandarem dedo para ele. — Que exemplo de damas.
— Vou te mostrar a dama já já, palhaço. — respondeu e jogou o guardanapo no garoto.
— Qual é a do guardanapo hoje? Toda hora alguém joga um em mim. — perguntou, cruzando os braços.
— Era isso ou o copo de suco da . — arqueou uma das sobrancelhas.
— Chega de papo furado. Vocês aceitam o convite ou não? — perguntou.
— Desde que eu não vá parar em um beco escuro cheio de gente mais doida que vocês dois, por mim tudo bem. — a primogênita disse e a irmã concordou. — A gente só precisa confirmar com nossa vó pra ver se ela não marcou outra coisa para nós.
— Tudo bem. Faz assim: trocamos telefone e de tarde vocês nos mandam uma mensagem confirmando se vão ou não. Precisamos da resposta hoje.
— Sim, senhor ! — respondeu, o entregando o celular para que ele salvasse seu número, sendo imitada pelos demais.
Depois que cada um já estava com o número dos outros três salvos, ficaram jogando conversa fora e tirando fotos no celular da caçula, o qual se recusou a devolver antes de tirar dezenas de fotos com todos.
A tarde chegava ao fim e encarava o quarto deitada na cama. A garota cochilava no sofá há poucas horas quando a irmã a acordou de uma forma exagerada alegando querer assistir um filme. Meio a contragosto, levantou e resolveu continuar a dormir em sua cama, porém como sempre acontecia, seu sono desapareceu no instante em que voltou a se acomodar. Tentando não pensar nos vários xingamentos que direcionava à irmã por a ter atrapalhado, deixou que sua mente vagasse por diversos pensamentos. Depois de alguns minutos, cogitou a ideia de procurar algo mais produtivo a fazer, mas desistiu no instante em que se deu conta do quão confortável estava.
Pegou o celular e na mesma hora se lembrou dos novos colegas. Ela e haviam realmente animado com a ideia de conhecer São Francisco com e , e mal chegaram em casa e correram para falar com a avó. De início a senhora ficou meio insegura já que nunca havia visto os dois, porém a voz doce e insistente das netas a convenceram em poucos minutos. havia encarregado a irmã de confirmar o passeio. O problema foi que acostumada a deixar as coisas para depois, acabou esquecendo de entrar em contato com eles depois do almoço e se rendeu ao sono na sala mesmo. Clicou no primeiro nome que apareceu entre os dois e digitou rapidamente a mensagem.
"Espero ñ me decepcionar com a surpresa de sábado, . Td confirmado!
xx"
Enviou e resolveu ver a galeria enquanto a resposta não chegava. Mal pode conter o riso a cada imagem. havia tirado várias fotos dos três enquanto ainda estavam distraídos, incluindo momentos em que alguém estava falando e comendo. Após as individuais começavam todas as que estavam em duplas ou os quatro juntos. Tinha de todo o jeito: as gêmeas fazendo careta, e com sorriso falsos um para o outro, os dois garotos em uma falha pose de sérios, e fazendo anteninhas um no outro e outras diversas.
A garota foi passando uma por uma e parou por mais tempo na última. Estava ela e se encarando e rindo juntos. Ela se lembrava desse momento, os dois riam de uma piada que a primogênita havia contado, e estavam tão entretidos que não viram a movimentação de . Ela observava a imagem com um sorriso nos lábios e não sabia se era pela espontaneidade ou pela beleza do garoto, mas havia gostado bastante da foto. Desviou os olhos de quando a notificação de uma nova mensagem apareceu na tela.
"Bom saber q só tá pensando na surpresa, interesseira! Haha Brincadeira, ! Ñ se preocupe, seu sábado será inesquecível! (Vc insiste no meu sobrenome msm, ein?)xx"
se assustou com a coincidência da mensagem chegar justamente naquele momento, mas logo um sorriso brotou no seu rosto ao ler o texto. Digitou a resposta e enviou para o mesmo garoto que admirava poucos segundos antes.
"Na verdade, o principal motivo é minha curiosidade. (Que por acaso vc fez questão de atiçar) Hehe Desculpa, ! As vezes acabo esquecendo...
xx"
Em menos de um minuto respondeu.
"Hmm, bom saber que é curiosa. Agora tenho uma arma contra vc XD xx"
Os dedos corriam pelas teclas cada vez mais rápido e a conversa fluía quase que instantaneamente.
"Nem ouse! Descubro todos os seus pontos fracos e me vingo. xx"
"Olha só, quem olha pra sua cara bonitinha nem imagina a maldade que esconde. hahaha xx"
Fez uma careta ao ler o "bonitinha" e respondeu a mensagem.
"Bonitinha é sacanagem! E vc n sabe de nd ainda :P"
"Desculpa, o diminutivo foi pra combinar com seu tamanho. Mas, quer dizer que é misteriosa tbm, é?"
"Quem vê pensa q vc é mega alto. Se tiver dois cm de diferença é muito! E vou deixar essa dúvida no ar pra vc refletir."
"Mais uma pra coleção 3"
"O q vc quis dizer com isso?"
"Ainda ñ sei quase nd sobre vc...Tenho mts dúvidas à seu respeito."
"Bom, vc tbm ñ é um livro aberto. Acho q estamos quites."
"Pq n mudamos isso então? Um jogo de perguntas seria o suficiente. Um pergunta e o outro responde, depois troca a ordem. Topa?"
encarou a tela pensativa. Por mais curiosa que estivesse em saber mais sobre a vida de , não poderia deixar de se sentir insegura em se expor para alguém que havia conhecido a menos de dois dias. Poderia parecer bobo seu pensamento, mas ela era sempre fora assim. Não gostava que soubessem tudo sobre si tão rápido. Estava decidida a negar a sugestão e dar boa noite quando lembrou da conversa com sua irmã no dia anterior. Talvez fosse realmente a hora de agir sem tantas avaliações, até porque ela não era obrigada a responder tudo. Sem contar que poder saber mais sobre não era má ideia. Deixou os dedos correrem pelo teclado e enviou sua resposta.
"Topo. Mas, temos a opção de n aceitar a pergunta e passar para outra. E vc faz as perguntas e responde junto comigo. Nunca sei pensar em perguntas interessantes."
"Tudo bem! Vamos começar pelas básicas: Idade?"
"Dezoito. E a sua?"
"Só um ano mais velho :3 Qual seu estilo de música preferido?"
"Pop/ pop rock...Principalmente as que me fazem querer dançar. E o seu?"
"Tirando a parte da dança, os mesmos. Comida preferida?"
"Difícil essa! Fico com chocolate <3 E a sua?"
"Pizza de calabresa <3 Hmm...uma curiosidade sobre você que eu não sei."
"Isso não é pergunta!"
"Dá na mesma!".
"Escolhe outra logo!"
"Ta ok, você quem pediu...Como anda seu coração?"
"Muito bem, obg. Faço exames td ano e nd grave apareceu."
"Ñ nesse sentido, . Falo em relação ao sentimental: tem dono? Ta sozinho? Com sdd?..."
Respirou fundo e deixou o braço pender para fora da cama por alguns segundos. Estava demorando para aquele assunto surgir na conversa. Tentou escolher a resposta e se deparou com uma dúvida interna. Por mais que estivesse solteira, apenas dois meses haviam se passado desde o término com seu ex-namorado, Pedro. Namoraram por um ano e por uma briga boba o garoto decidiu terminar. É claro que alguns dias depois ela descobriu que o motivo tinha algo bem maior, como a bunda e os peitos. Com o consolo da irmã e dos amigos a garota conseguiu superar o término e quase não pensava no babaca. Mas, agora retomar esse assunto a fez se questionar: haveria ainda algum resquício do amor que sentiu por Pedro? Fechou os olhos se entregando aos pensamentos e foi desperta pela vibração do celular. Leu a mensagem de e respondeu a primeira coisa que seus sentimentos expressaram.
"Ta viva ainda? Se quiser podemos parar. xx"
"Yeap, tava só procurando meu fone aqui na bagunça do meu quarto. E a resposta é: Sozinho e preenchido de amor próprio e dos amigos. E o seu?"
"Q resposta tocante! O meu tá confuso, cheio de sentimentos q ainda ñ consegui desvendar."
"E isso é bom ou ruim?"
"Se for destinado à pessoa q eu espero, acho q bom."
"Acho q tem alguém meio apaixonado por detrás dessa tela aí, ein."
"Apaixonado é algo mt forte... Digamos q 'interessado'."
"Coitada da garota (ou garoto[?]) q tiver q te aguentar haha"
"Ñ seja tão má, ! (n...minha experiência com o n foi das melhores)."
"Do jeito q vc fl parece até q sou uma torturadora de crianças. Ñ tenho nd de má."
levantou da cama e parou do lado da janela. Havia anoitecido sem que ela notasse e logo mais sua avó estaria a chamando para o jantar. Voltou sua mente para a confissão de em estar interessado em alguém e por alguns segundos pensou se poderia ser ela. Mesmo com pouco tempo de convívio, tinha gostado de tudo que conhecera sobre o garoto e não tinha do que reclamar. Sem falar que sua beleza era um complemento para todos os pontos positivos dele. Balançou a cabeça como quem tenta espantar os pensamentos e olhou novamente para o celular lendo a nova mensagem.
"hahaha Vc sabe q tem, ñ adianta negar!"
"Fique com suas conclusões u.u Chega de perguntas por hoje...Boa noite, ! Até amanhã."
Enviou a última mensagem e recebeu a resposta. Sorriu com as palavras do garoto e foi ao encontro da avó e da irmã ainda com o pensamento no .
"Boa noite, brasileirinha! Até!
P.s: Msm com sua maldade, suas respostas me mostraram mais um lado da q eu gostei como os outros.
xX"
— Foi mal! Eu acabei me confundindo depois de ver tanta sala. Pelo menos a gente sabe onde fica, vamos correr. — respondeu e puxou a gêmea pelo braço.
As irmãs estavam a pouco mais que vinte minutos procurando pela sala onde teriam sua primeira aula e todos os corredores já haviam esvaziado, dando-as a certeza de que estavam atrasadas. Correram para o andar de baixo, onde tinham passado anteriormente, e pararam em frente à porta com a placa "126". Esperaram por alguns segundos tentando recuperar o fôlego antes de entrar.
— Tá pronta? — perguntou para a irmã enquanto arrumava o cabelo, recebendo um aceno positivo como resposta. — Okay! Eu bato e você fala.
— O que? Não faz isso, vadi... — mal teve tempo de negar, pois a irmã havia batido na porta e a empurrado para a frente assim que um senhor barrigudo apareceu. — Bom dia, professor! Desculpe o atraso, nós somos alunas novas e acabamos nos perdendo enquanto tentávamos achar a sala.
— Entrem em silêncio e vão direto para a cadeira. — o professor de história respondeu mal humorado, dando espaço para que entrassem. — Leitura da página 23.
As duas confirmaram com um aceno e foram para uma das últimas cadeiras sem prestar atenção no resto dos alunos. Sentaram uma atrás da outra e pegaram o livro. estava na metade da leitura quando foi atrapalhada por uma bolinha de papel que pousou em cima da página. Olhou para trás e encontrou e acenando para ela e sua irmã, que também perdera a concentração na leitura com a movimentação dos três.
P.s.: Se liga na cara de tapado do tentando ler a pg... LOL! xX"
"Vcs ñ conseguem ficar quietos, n? Ah, só pra deixar minha opinião aqui, eu realmente fiquei com medo da cara desse homem! E aquilo na bochecha dele é um bicho? X.X
P.s.: Só ñ é melhor que a cara de abandonado agr q notou q é o único fora da cv. xX"
— Me excluiu legal, ein? — disse apenas com o movimento dos lábios, sem som.
piscou e devolveu um sorriso sapeca. Olhou para o professor e viu que o "bicho" mencionado por era uma verruga gigante e bizarra. Escreveu no espaço que restara do papel e jogou para depois de amassá-lo.
P.s.: Esse Hansen tá me encarando de mais, parem de jogar essa bolinha aqui. Xx"
P.s.: Antes q vc nos abandone, aviso logo q eu e o vms estar esperando vcs na msm mesa do refeitório. Temos algo a flr com vcs. xoxo"
— Sentiram saudades? — perguntou enquanto se sentava à mesa dos dois garotos.
— Você não tem ideia do quanto! Foi muito difícil ficar sem vocês nesses últimos...quarenta minutos — respondeu, usando de ironia para brincar com a garota. Os quatro haviam tido as duas primeiras aulas juntos e se separaram apenas para o último horário antes do intervalo.
— Idiota! — a primogênita brincou, jogando seu guardanapo no .
— Ok, parou com a brincadeira, crianças! — disse enquanto tomava o guardanapo da mão dos dois que insistiam em continuar jogando um no outro. — Eu tenho um comunicado a dar!
— Ah, é! Fiquei curiosa com aquele recado do , só não insisti pra saber antes porque o professor estava de marcação. E aquela atividade do segundo horário tomou minha atenção toda. Então fala logo, porque pra você estar falando sério deve ser coisa boa. — brincou.
— Na verdade não é bem um comunicado...Tá mais pra um convite. Mas, antes preciso fazer uma pergunta. — o rapaz viu as caras impacientes das garotas e continuou. — Vocês conhecem algo aqui de São Francisco?
— Mais ou menos.... Contando com agora, tudo que conhecemos nas nossas vindas foi o aeroporto, nossa quadra e alguns restaurantes perto daqui. Sempre falta alguém com tempo e disposição pra nos levar pra passear. — respondeu.
— Ótimo! Eu e o queremos convidar vocês pra fazer um passeio no sábado. Iremos ser seus guias turísticos, apresentando tudo que há de melhor aqui, e pra finalizar o dia teremos um programa especial. — disse animado, como um apresentador de televisão.
— E o que seria esse programa especial? — perguntou com os olhos semicerrados.
— Só vão saber no dia e se forem. — respondeu, trocando olhar cúmplice com o amigo.
— É impressão minha ou o tem uma tara por deixar as pessoas curiosas? — perguntou fazendo o mesmo rir e concordar.
— Estou começando a pensar o mesmo, . Fala logo para onde vamos. — disse e cruzou os braços.
— Sem chances! — sorriu para as garotas. — Se nós falarmos vai deixar de ser surpresa.
— Exatamente! E não teria a mesma graça de deixar vocês com a pulga atrás da orelha. — disse e viu as gêmeas mandarem dedo para ele. — Que exemplo de damas.
— Vou te mostrar a dama já já, palhaço. — respondeu e jogou o guardanapo no garoto.
— Qual é a do guardanapo hoje? Toda hora alguém joga um em mim. — perguntou, cruzando os braços.
— Era isso ou o copo de suco da . — arqueou uma das sobrancelhas.
— Chega de papo furado. Vocês aceitam o convite ou não? — perguntou.
— Desde que eu não vá parar em um beco escuro cheio de gente mais doida que vocês dois, por mim tudo bem. — a primogênita disse e a irmã concordou. — A gente só precisa confirmar com nossa vó pra ver se ela não marcou outra coisa para nós.
— Tudo bem. Faz assim: trocamos telefone e de tarde vocês nos mandam uma mensagem confirmando se vão ou não. Precisamos da resposta hoje.
— Sim, senhor ! — respondeu, o entregando o celular para que ele salvasse seu número, sendo imitada pelos demais.
Depois que cada um já estava com o número dos outros três salvos, ficaram jogando conversa fora e tirando fotos no celular da caçula, o qual se recusou a devolver antes de tirar dezenas de fotos com todos.
A tarde chegava ao fim e encarava o quarto deitada na cama. A garota cochilava no sofá há poucas horas quando a irmã a acordou de uma forma exagerada alegando querer assistir um filme. Meio a contragosto, levantou e resolveu continuar a dormir em sua cama, porém como sempre acontecia, seu sono desapareceu no instante em que voltou a se acomodar. Tentando não pensar nos vários xingamentos que direcionava à irmã por a ter atrapalhado, deixou que sua mente vagasse por diversos pensamentos. Depois de alguns minutos, cogitou a ideia de procurar algo mais produtivo a fazer, mas desistiu no instante em que se deu conta do quão confortável estava.
Pegou o celular e na mesma hora se lembrou dos novos colegas. Ela e haviam realmente animado com a ideia de conhecer São Francisco com e , e mal chegaram em casa e correram para falar com a avó. De início a senhora ficou meio insegura já que nunca havia visto os dois, porém a voz doce e insistente das netas a convenceram em poucos minutos. havia encarregado a irmã de confirmar o passeio. O problema foi que acostumada a deixar as coisas para depois, acabou esquecendo de entrar em contato com eles depois do almoço e se rendeu ao sono na sala mesmo. Clicou no primeiro nome que apareceu entre os dois e digitou rapidamente a mensagem.
xx"
Enviou e resolveu ver a galeria enquanto a resposta não chegava. Mal pode conter o riso a cada imagem. havia tirado várias fotos dos três enquanto ainda estavam distraídos, incluindo momentos em que alguém estava falando e comendo. Após as individuais começavam todas as que estavam em duplas ou os quatro juntos. Tinha de todo o jeito: as gêmeas fazendo careta, e com sorriso falsos um para o outro, os dois garotos em uma falha pose de sérios, e fazendo anteninhas um no outro e outras diversas.
A garota foi passando uma por uma e parou por mais tempo na última. Estava ela e se encarando e rindo juntos. Ela se lembrava desse momento, os dois riam de uma piada que a primogênita havia contado, e estavam tão entretidos que não viram a movimentação de . Ela observava a imagem com um sorriso nos lábios e não sabia se era pela espontaneidade ou pela beleza do garoto, mas havia gostado bastante da foto. Desviou os olhos de quando a notificação de uma nova mensagem apareceu na tela.
se assustou com a coincidência da mensagem chegar justamente naquele momento, mas logo um sorriso brotou no seu rosto ao ler o texto. Digitou a resposta e enviou para o mesmo garoto que admirava poucos segundos antes.
xx"
Em menos de um minuto respondeu.
Os dedos corriam pelas teclas cada vez mais rápido e a conversa fluía quase que instantaneamente.
"Olha só, quem olha pra sua cara bonitinha nem imagina a maldade que esconde. hahaha xx"
Fez uma careta ao ler o "bonitinha" e respondeu a mensagem.
"Desculpa, o diminutivo foi pra combinar com seu tamanho. Mas, quer dizer que é misteriosa tbm, é?"
"Quem vê pensa q vc é mega alto. Se tiver dois cm de diferença é muito! E vou deixar essa dúvida no ar pra vc refletir."
"Mais uma pra coleção 3"
"O q vc quis dizer com isso?"
"Ainda ñ sei quase nd sobre vc...Tenho mts dúvidas à seu respeito."
"Bom, vc tbm ñ é um livro aberto. Acho q estamos quites."
"Pq n mudamos isso então? Um jogo de perguntas seria o suficiente. Um pergunta e o outro responde, depois troca a ordem. Topa?"
encarou a tela pensativa. Por mais curiosa que estivesse em saber mais sobre a vida de , não poderia deixar de se sentir insegura em se expor para alguém que havia conhecido a menos de dois dias. Poderia parecer bobo seu pensamento, mas ela era sempre fora assim. Não gostava que soubessem tudo sobre si tão rápido. Estava decidida a negar a sugestão e dar boa noite quando lembrou da conversa com sua irmã no dia anterior. Talvez fosse realmente a hora de agir sem tantas avaliações, até porque ela não era obrigada a responder tudo. Sem contar que poder saber mais sobre não era má ideia. Deixou os dedos correrem pelo teclado e enviou sua resposta.
"Tudo bem! Vamos começar pelas básicas: Idade?"
"Dezoito. E a sua?"
"Só um ano mais velho :3 Qual seu estilo de música preferido?"
"Pop/ pop rock...Principalmente as que me fazem querer dançar. E o seu?"
"Tirando a parte da dança, os mesmos. Comida preferida?"
"Difícil essa! Fico com chocolate <3 E a sua?"
"Pizza de calabresa <3 Hmm...uma curiosidade sobre você que eu não sei."
"Isso não é pergunta!"
"Dá na mesma!".
"Escolhe outra logo!"
"Ta ok, você quem pediu...Como anda seu coração?"
"Muito bem, obg. Faço exames td ano e nd grave apareceu."
"Ñ nesse sentido, . Falo em relação ao sentimental: tem dono? Ta sozinho? Com sdd?..."
Respirou fundo e deixou o braço pender para fora da cama por alguns segundos. Estava demorando para aquele assunto surgir na conversa. Tentou escolher a resposta e se deparou com uma dúvida interna. Por mais que estivesse solteira, apenas dois meses haviam se passado desde o término com seu ex-namorado, Pedro. Namoraram por um ano e por uma briga boba o garoto decidiu terminar. É claro que alguns dias depois ela descobriu que o motivo tinha algo bem maior, como a bunda e os peitos. Com o consolo da irmã e dos amigos a garota conseguiu superar o término e quase não pensava no babaca. Mas, agora retomar esse assunto a fez se questionar: haveria ainda algum resquício do amor que sentiu por Pedro? Fechou os olhos se entregando aos pensamentos e foi desperta pela vibração do celular. Leu a mensagem de e respondeu a primeira coisa que seus sentimentos expressaram.
"Yeap, tava só procurando meu fone aqui na bagunça do meu quarto. E a resposta é: Sozinho e preenchido de amor próprio e dos amigos. E o seu?"
"Q resposta tocante! O meu tá confuso, cheio de sentimentos q ainda ñ consegui desvendar."
"E isso é bom ou ruim?"
"Se for destinado à pessoa q eu espero, acho q bom."
"Acho q tem alguém meio apaixonado por detrás dessa tela aí, ein."
"Apaixonado é algo mt forte... Digamos q 'interessado'."
"Coitada da garota (ou garoto[?]) q tiver q te aguentar haha"
"Ñ seja tão má, ! (n...minha experiência com o n foi das melhores)."
"Do jeito q vc fl parece até q sou uma torturadora de crianças. Ñ tenho nd de má."
levantou da cama e parou do lado da janela. Havia anoitecido sem que ela notasse e logo mais sua avó estaria a chamando para o jantar. Voltou sua mente para a confissão de em estar interessado em alguém e por alguns segundos pensou se poderia ser ela. Mesmo com pouco tempo de convívio, tinha gostado de tudo que conhecera sobre o garoto e não tinha do que reclamar. Sem falar que sua beleza era um complemento para todos os pontos positivos dele. Balançou a cabeça como quem tenta espantar os pensamentos e olhou novamente para o celular lendo a nova mensagem.
"Fique com suas conclusões u.u Chega de perguntas por hoje...Boa noite, ! Até amanhã."
Enviou a última mensagem e recebeu a resposta. Sorriu com as palavras do garoto e foi ao encontro da avó e da irmã ainda com o pensamento no .
xX"
Capítulo 3
encarou seu reflexo no espelho e se sentiu satisfeita com sua escolha. Vestia short jeans com meia calça preta por baixo, camiseta roxa e sua jaqueta preta. Optou por calçar o coturno preto de sempre e na cabeça uma touca beanie escura de lã. Pegou a bolsa em cima da cama e saiu do quarto parando em frente à porta da irmã e dando batidas leves.
— Já tá pronta? — perguntou depois de colocar a cabeça dentro do quarto. — Eles devem estar chegando.
— Quase. Falta só calçar o tênis. — respondeu enquanto alisava a calça skinny preta e arrumava a jaqueta kimono florida sobre a blusa branca. — Odeio me arrumar sem saber pra onde estou indo.
— Concordo plenamente! Ainda bato naqueles dois por não ter dado nenhum spoiler do dia — respondeu, semicerrando os olhos e vendo a irmã colocar o all star vermelho.
— Que tal? — a primogênita perguntou, dando uma volta em torno de si de braços abertos.
— Tá gata demais, vou até ficar com ciúmes. – disse, cruzando os braços.
— Você sabe que não precisa. Sou sua, meu amor. – se jogou em cima da irmã em um abraço.
— Sai de cima de mim, sua louca. — a caçula disse, empurrando a outra e a fazendo rir. — Chega de palhaçada, vamos descer.
— Falsa! Se declara e depois me esnoba. — brincou, saindo do quarto e descendo para sala com a irmã.
— Cedo demais pra tanto contato físico... — respondeu, sendo interrompida pelo som de buzina.
As duas saíram de casa e foram de encontro ao carro prata estacionado do lado da calçada. De dentro do automóvel saíram e sorridentes.
— Bom dia, brasileirinhas. — cumprimentou-as. — Prontas pro melhor dia da semana?
— Bom dia! — elas responderam em uníssono.
— Quero só ver se vai ser isso tudo mesmo... — disse, fazendo a irmã rir.
— Não duvide da nossa capacidade de surpreendê-las. — disse e apontou pro carro. — Vamos, quanto mais tempo parados aqui, menos tempo de diversão depois.
— Partiu! — levantou os braços em um gesto de animação, abrindo a porta do carona.
— Eu espero que você esteja apenas sendo cavalheiro, . Já basta sua companhia do meu lado todos os dias. — disse, entrando no lugar do motorista.
— Me maltrata na frente das convidadas, mas quando chega em casa é todo amores. Safado! — brincou, dando espaço para que uma das garotas passasse.
— Não chora, . Eu te entendo. Vou até te fazer companhia aqui atrás. — brincou, sentando no banco de trás enquanto a irmã sentava do lado de .
— Chupa essa, zinho! Vou ir junto com a . — disse, entrando no carro e fechando a porta.
— Primeiro, nós estamos no mesmo carro, segundo, tem uma tão bonita e legal quanto aqui do meu lado. — respondeu, dando partida.
— Não seja tímido, . Pode falar que eu sou mais maravilhosa que a . — respondeu e riu da cara da irmã.
— Vou até abaixar o vidro pra não morrer sufocada com seu ego. — respondeu.
— Tem coisa mais linda do que o amor de família? — perguntou, fazendo os três rirem.
— Agora que já estamos à caminho, vocês podem falar onde estão nos levando? — perguntou.
— Não. Quando a gente chegar vocês descobrem. — respondeu.
— Tô começando a achar que esse passeio vai ser uma furada e vamos acabar em um bairro abandonado. — disse.
— Que visão maldosa! — respondeu e sorriu, olhando-a pelo retrovisor.
— Maldade é semear a curiosidade nos outros. — respondeu depois de entender a referência na fala do garoto, vendo-o rir e ligar o carro do som.
A introdução de I Want To Break Free começou a tocar e as irmãs se encararam sorrindo. Cresceram ouvindo Queen devido à paixão do pai pela banda e aquela sempre fora uma de suas músicas preferidas. Passavam horas dançando e pulando em cima da cama ao som da voz de Freddie Mercury e sabiam cantar cada verso. aumentou o volume da música e os primeiros versos soaram alto dentro do automóvel.
— I WANT TO BREAK FREE. — as gêmeas cantaram juntas, tendo as vozes abafadas pela música alta e fazendo os dois garotos se assustarem. — I WANT BREAK FREEEE.
— DUDE, QUE ISSO? — perguntou gritando para tentar ser ouvido, e riu de dançando ao seu lado.
— FALA SÉRIO, ! ENTRA NA VIBE! — gritou, olhando para o branco traseiro sem parar de dançar. — VOCÊ TAMBÉM, !
— GOD KNOWS, GOD KNOWS I WANT TO BREAK FREE. — cantou como resposta, abaixando o vidro e colocando uma das mãos para fora da janela.
— E EU ACHANDO QUE VOCÊS ERAM NORMAIS E QUE IAM NOS ACHAR BREGASS POR ESTAR OUVINDO QUEEN... — interrompeu a fala quando as duas garotas pararam a coreografia e cantoria para encará-lo de modo sugestivo. — I'VE FALLEN IN LOVE!? — cantou, vendo-as concordar entre risos.
— UHUUL, AGORA SIM ESSE PASSEIO FICOU BOM! — gritou, empurrando-o com o corpo de modo sincronizado.
— Bem-vindas à nossa primeira parada, Lombard Street, a rua mais famosa de São Francisco! — disse, apontando para a decida em zigue-zague.
— Uou! Mesmo sendo muito bonita ainda me dá um pouco de tontura só de pensar em descer ela. — brincou, tirando duas câmeras de dentro da bolsa. — Me ajuda aqui, .
— Pra que tudo isso? — perguntou apontando para as máquinas.
— A é viciada em fotografia e leva essas filhas dela pra todo canto. Como ela mesma diz, a polaroid serve para as fotos mais marcantes e que ela quer ter no mural. E a outra é pra registrar as outras fotos. — respondeu, pendurando a câmera maior no pescoço da irmã.
— Anos de treinamento, que orgulho. — abraçou-a de lado meio desajeitada. — Um de vocês dois tira uma foto nossa pra mim.
— Melhor eu, sempre que o fica responsável por uma foto ela sai tremida. — pegou a polaroid azul e apontou pras garotas, que sorriam abraçadas em frente à rua.
— Obrigada, . Pode colocar com todo o cuidado da sua vida aqui dentro da minha bolsa. — agradeceu enquanto começava a fotografar com a outra câmera e apontou com o pé pra bolsa no chão.
— Por nada, madame.
— Acho melhor você deixar espaço pra tirar foto dos outros lugares, . Ainda temos um dia inteiro pela frente. — disse, arregalando os olhos após escutar o barulho de vários cliques seguidos.
— Isso mesmo, vamos pedir pra alguém tirar uma de nós quatro e fim. — disse, pegando a câmera e indo de encontro à uma mulher um pouco afastada dos dois.
A moça voltou já com a câmera na mão e a primogênita mandou os três se posicionarem na frente da rua com ela. Todos agradeceram pela gentileza e voltaram para o carro.
— Partiu, Fisherman's Wharf! — disse entusiasmado quando o carro entrou em movimento.
— Eu espero que como guias turísticos vocês saibam nos explicar sobre lá. Só ouvi falar do nome e mais nada. — olhou-os sugestiva.
— Pelo que conheço posso falar que é um bairro daqui que, além de ponto turístico, continua sendo o lugar onde a maioria dos pescadores moram. É lá também que fica o Pier mais conhecido de São Francisco, o Pier 39. Ah, e lá tem muitos barcos e gaivotas. — respondeu em tom refinado.
— Falando assim nem parece que você sabe das gaivotas porque uma delas deu uma aliviada no seu ombro. — contou, fazendo as garotas rirem e o amigo responder com um xingamento.
— Não fica bravo, . Você pelo menos conseguiu nos explicar sobre o lugar. — disse depois de sua crise de riso.
— Agora eu que digo: chupa essa, . — brincou, mandando beijos para o amigo antes de estacionar o carro. — Chegamos.
Os quatro desceram do carro e continuaram o passeio. Andaram por todo o píer, observaram a vista de Alcatraz, viram os leões marinhos – principal atrativo do lugar – e depois de algumas horas de fotos e caminhada pararam em um restaurante para almoçar.
— Só porque o dia tá legal, as horas estão passando rápido. — disse, fazendo bico.
— Não falei que não valia a pena duvidar da nossa capacidade? Diz aí se não somos ótimos guias. — brincou.
— É, estão aprovados. Mesmo não tendo falado antes que tinha a opção de virmos de bondinho. Eu ia amar. — respondeu, apoiando os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos.
— O problema seria pra nos locomovermos pros outros lugares que vamos depois. Ia demorar bem mais. — disse.
— Sem falar que ainda temos vários meses pela frente pra poder visitar. — disse, batucando os dedos na mesa.
— Depois marcamos o segundo passeio e apresentamos os lugares que faltaram, inclusive a ilha de Alcatraz. — disse, dando espaço para que o garçom colocasse os pratos na mesa.
— E até o fim do dia você nem vai mais lembrar do bondinho. — disse, dando uma piscadela pra primogênita.
— Droga, . Nem peço mais pra falar o próximo lugar porque sei que vai ser em vão. — revirou os olhos e começou a comer, vendo os dois garotos rirem.
— Relaxa, se não decepcionamos vocês até agora, não vai ser agora que isso vai acontecer. — disse.
— Cara, essa comida tá muito boa ou eu que tô com fome? — perguntou.
— Acho que os dois. — respondeu entre risos. — Estamos na metade da tarde também...
— Culpa da que inventou de tirar foto de cada pedra. — brincou.
— Fala isso, mas depois se eu não tiro fica reclamando que não tem recordação nenhuma.
— Sem brigas, garotas. Vamos comer logo que temos mais tempo pra aproveitar o resto. — disse e recebeu aceno positivo dos três.
— Quando eu disse que faríamos outro passeio, inclui a travessia dessa beldade de bicicleta. Só não faremos isso hoje porque vocês estão desprevenidas e jeans não é a melhor opção pra pedalar mais de dois quilômetros. — disse, diminuindo a velocidade até parar no início da ponte Golden Gate.
— Ainda bem que você tem o bom senso de pensar assim. — disse, pegando a câmera sem tirar os olhos da ponte à frente. — É mais bonita ainda pessoalmente.
— E olha que esse nem é o melhor ângulo. — disse, apertando um botão no teto do carro e fazendo com que o teto solar fosse aberto.
— Isso é permitido? — perguntou, apontando para a janela extra.
— Espero que sim. Aproveitem a vista! — disse antes das duas ficarem em pé e colocarem metade do corpo para fora do carro.
— Tô me sentindo em As Vantagens de Ser Invisível! — riu e apontou a câmera para cima quando o carro começou a ganhar velocidade e andar pela pista.
Os dois garotos abriram os vidros e aumentou o volume do som, que tocava Don't Stop Me Now. As irmãs se divertiram cantando e curtindo a vista. A primogênita esticou um dos braços e com o outro abraçou a irmã de lado, que revezava a filmagem entre a ponte, a pista e as duas. Foram quase cinco minutos de bagunça desse jeito. Até que encostou o carro no fim da ponte e as duas voltaram para dentro.
— Ta ok, depois dessa eu posso abraçar vocês por três horas seguidas. Foi muito foda! — disse animada com os cabelos altos devido o vento.
— Sem explicação! — comentou com o mesmo entusiasmo.
— Se não fosse o sorriso de vocês, esses olhos arregalados e brilhantes e esse cabelo todo bagunçado deixariam vocês assustadoras. — brincou. — Enfim, como descobrimos, de forma bem investigativa, que você gosta de foto, , achamos legal parar aqui pra vocês tirarem uma foto com a ponte de fundo.
— Arrasaram mais uma vez! — a caçula disse já saindo do carro com a câmera azul na mão.
Tiraram algumas fotos e voltaram para o carro, fazendo o trajeto de volta tão animado quanto antes, porém sem o uso do teto solar.
— Bom, agora vamos para nossa última parada antes da surpresa final. — comentou sem tirar os olhos da pista e abaixando o volume da música.
— Você devia ter deixado a Golden Gate pro final, duvido que os outros lugares superem esses minutos atrás.
— Pode até não superar, mas vai ser tão animado quanto! — respondeu com um sorriso de lado.
— Vai demorar muito pra chegar? — perguntou.
— No máximo quarenta minutos, vai depender do trânsito. Mas por enquanto tivemos sorte e não pegamos nada de engarrafamento. — disse.
— E vocês estão contando com a possibilidade de atraso para o resto da programação?
— , você acha mesmo que alguém como eu deixaria o trânsito nos atrapalhar? — perguntou com uma falsa expressão de deboche.
— Com certeza. — respondeu, fazendo os outros dois rirem.
— Por favor, queridinha. Mais respeito! — ele disse com a voz afinada e abanando o ar com a mão.
— Respeito é pra quem merece, . — entrou na brincadeira.
— Outch, podia ter dormido sem essa, . — botou pilha na zoeira.
— O que não é o seu caso, já que nem seu cachorro te dá moral. — respondeu, mandando um beijo para o amigo.
— Receba esse tapa, ! — riu, ficando de lado pra acompanhar a conversa melhor.
— E essa foi a demonstração de uma amizade verdadeira repleta de amor. — disse, aplaudindo e sendo acompanhada pela irmã.
— Uhul, show de bola. — disse.
— De nada! — disse, acenando com a mão feito princesa.
Continuaram conversando e brincando durante todo o percurso. Quando estacionou o carro, o céu estava escurecendo e a tarde terminando. desceu do automóvel e se deparou com uma praça bem iluminada, com uma estátua alta no meio.
— Nossa penúltima parada, Union Square. — apresentou, apontando para a praça à frente.
— Acho que passamos por aqui alguma vez, mas nunca chegamos a descer do carro e andar por aqui. — disse depois de atravessarem a pista.
— Passamos mesmo! — disse, se lembrando do que a irmã falou. — Dessa vez dá pra tirar foto.
— Você querendo tirar foto? Por essa eu não esperava. — ironizou.
— Para de idiotice e tira a foto pra mim. — respondeu, dando a câmera pro amigo.
— Prontinho. — disse, devolvendo a câmera pra dona. — Então, o que estão achando?
— Devo assumir que a lição de hoje foi: Não subestime e .
— Muito bem, ! — respondeu.
— Mandaram bem. High five! — disse, fazendo o cumprimento com os dois. — Próxima parada?
— Surpresa! — disse, vendo-a rolar os olhos. — Antes de mais nada temos que falar uma coisa sobre o lugar.
— É, existe uma grande chance dele não ser o melhor do dia. Mas, nossa intenção à levar vocês lá é cumprir com nossa palavra.
— Eu falei que a gente ia parar em um beco fedido. — sussurrou pra irmã de modo que eles pudessem ouvir.
— Não é pra tanto. Vocês vão conseguir se divertir. — deu uma piscadela. — Vamos, estou ansioso pela reação de vocês.
— Ezra's Bar? Tá querendo embebedar a gente, ? — perguntou depois de ler o letreiro à sua frente.
— Aí não é comigo, a opção é de vocês. — ele respondeu, abrindo a porta do estabelecimento e dando passagem para elas.
— Que que a gente ta fazendo aqui? — perguntou sem esperar por uma resposta para sair analisando todo o espaço. À primeira vista não era muito agradável, era como se tivessem jogado tudo que acharam no meio do caminho em um único lugar. Mas olhando parte por parte a imagem começou a melhorar.
A iluminação do local era composta por quadros e letreiros de led, luzes amareladas no teto e uma luz branca que era lançada no fundo. O balcão principal era de madeira, cheio de adesivos diversos e continha um quadro com todos os petiscos e preços, além de uma caixa registradora antiga. Em cima, pendurado no teto, tinha algumas bandeiras com nomes de bandas de rock clássicas. Por de trás, várias prateleiras ocupavam a parede, nelas as garrafas de bebidas diversificadas disputavam lugar com miniaturas e alguns bonecos de jogos, artistas e personagens.
Espalhado pelo meio e laterais ficavam mesas de até seis pessoas, algumas pretas, brancas e outras até foram substituídas por barris gigantes decorados. Andando mais para a frente, após o bar, do lado direito continham alguns sofás, duas sinucas vermelhas e uma jukebox colorida – que fizeram os olhos das gêmeas brilharem – e por fim, uma parede preenchida por capas de vinis diversos.
No fim do ambiente, tinha um pequeno palco com alguns microfones e instrumentos. Do lado a parte da frente de uma Kombi colorida servia de apoio para um notebook e alguns aparatos de som. Atrás do palco a parede era coberta por um telão digital, que descobriram ser o ponto de luz branca que viram da entrada. E completando a decoração algumas estátuas de ET's, super-heróis e vários pôsteres de led estavam espalhados pelo local.
— Meninas? — chamou-as de volta para a entrada. Junto dele e estavam outros três homens.
— Oi, acabamos nos distraindo. Essa decoração é o máximo. — respondeu, apontado para o seu redor.
— É tudo obra prima desse velhote aqui. Meninas, esse é o Ezra, o dono do bar e nosso amigo de longa data. Ezra, essas são e , nossas novas amigas. — os apresentou.
— Prazer, Senhor Ezra! — cumprimentou o senhor barrigudo e barbudo cheio de tatuagens, mesmo carregando a idade nos cabelos brancos e pele marcada ele transparecia a animação de um jovem. — Concordo com minha irmã, você tá de parabéns.
— De senhor já basta na idade! Se é amiga do , é minha também, então pode me chamar apenas de Ezra. — Ele respondeu simpático, sorrindo para as duas. — Valeu, garotas! Isso aqui é resultado de um trabalho de anos.
— Apresentadas ao dono, chegou a vez do resto. Garotas, esses são e , a outra metade do McFly e nossas amantes. — apresentou os amigos.
— Porque o sempre queima nosso filme na frente das mais bonitas? — um deles perguntou, revirando os olhos. — Desculpa por ele, meninas. Eu sou o !
— Ah, não se preocupe. De longe essa não foi a pior do dia. — brincou, vendo responder com um empurrão leve. — Eu sou a , ou pra ficar mais fácil.
— E eu sou a , ou , a mais bonita e mais legal das gêmeas. — a primogênita se apresentou, vendo os garotos rirem.
— A disputa entre as duas é bem acirrada. E olha, se os idiotas aqui não tivessem me contado que vocês são irmãs gêmeas eu provavelmente não acreditaria agora. — o outro disse. — Eu sou , o mais inteligente da banda.
— Essa foi a piada do dia! — brincou, fazendo todos rirem.
— Quer dizer que eles falaram de nós? Espero que tenha sido algo bom. — encarou e de olhos semicerrados.
— Sim, só coisas boas. Falaram que eram as novas amigas deles e que as trariam aqui pra assistir nosso show. — respondeu sorridente.
— Show? Então essa é a surpresa? — perguntou.
— Tcharan! — disse sorridente, dando um pulinho de braços abertos e parando na mesma pose.
— Vocês falaram que topariam nos ver tocando. Apenas juntamos a ideia do passeio com o show de hoje que surgiu essa semana. — se explicou, avaliando as expressões das garotas que permaneciam sérias.
— Desse jeito fica até difícil querer ir embora. — comentou depois de alguns minutos em silêncio, fazendo-os suspirar aliviados.
— Por um segundo eu achei que vocês nos xingariam e iriam embora. — disse.
— Música ao vivo e cerveja no mesmo lugar, quando que negaríamos? Ainda mais com os responsáveis pelo dia mais legal da semana. — respondeu, dando uma piscadela.
— Garotas, temos que passar o som antes que o bar fique mais cheio. Suponho que os garotos não tenham explicado, mas todo fim de semana tem karaokê. Nós abrimos a noite uma vez por mês com um show rápido de meia hora e o resto da noite fica disponível pros bêbados se divertirem no palco com o microfone. — explicou.
— Sério? — perguntou animada. — Que máximo!
— Máximo vai ser quando as duas forem cantar lá na frente. — disse, rindo das duas.
— Nem começou a consumir álcool e já tá bêbado, ? Vai lar passar teu som que vamos nos divertir por enquanto. — brincou, mandando beijos e puxando a irmã pra uma das mesas de sinuca.
— Gostei dessa, bem animada. — disse com um sorriso sacana, se dirigindo para o palco com os outros três que começaram a zoá-lo.
— Boa noite, galera! É com muito prazer que mais uma vez desejo as boas-vindas à todos e anuncio a banda desse sábado. Com vocês meus amigos McFly! — Ezra guardou seu microfone e deixou o palco.
— Fala, galera! O prazer de estar aqui é totalmente nosso. Ezra, tamo junto! Antes de mais nada, queremos dedicar esse show pras, de alguma forma, novas integrantes das nossas vidas. Brasileirinhas, esse show é pra vocês! Essa é Five Colours In Her Hair. — anunciou em seu microfone.
A contagem regressiva das baquetas anunciou o início da música, que preencheu o ambiente com um solo animado de guitarra antes dos primeiros versos.
She's got a lip ring and five colours in her hair,
Not into fashion but I love the clothes she wears,
Her tattoo's always hidden by her underwear.
She don't care.
As irmãs encaravam meio boquiabertas os quatro, eles eram muito bons! se entregou à música e começou a dançar de seu banco, levantando os braços e dando gritinhos animados. gritou alguns elogios e aplaudia enquanto dançava junto à irmã.
Todos em cima do palco se divertiam enquanto tocavam e cantavam, fazendo palhaçadas entre os versos e passando mais animação para o público. Algumas pessoas no bar, provavelmente os clientes fiéis, conheciam o som e cantavam alguns trechos da letra.
Everybody wants to know her name,
How does she cope with her new found fame?
Everyone asks me,
Who the hell is she?
That weirdo with five colours in her hair.
Só foi chegar no refrão para que as gêmeas ficassem de pé e dançassem para valer. Ignoraram os olhares que estavam recebendo e se permitiram curtir o ótimo som dos amigos.
No fim da música aplaudiram, gritaram e assobiaram junto com as outras pessoas. Não poderiam estar mais orgulhosas dos amigos. McFly tocou mais cinco músicas – que as fizeram dançar tanto quanto a primeira – e finalizou o show com agradecimentos e recebendo mais palmas da plateia.
— E então, aprovaram? — perguntou quando chegaram à mesa das garotas.
— Tá brincando? Somos fãs número um de vocês. — disse entre pulinhos, esticando a garrafa de cerveja. — Vamos brindar, foi um ótimo show!
— Um brinde para o futuro sucesso da McFly! — disse animada, batendo sua garrafa nas demais esticadas. — Tudo que a disse é verdade, vocês nasceram pra isso.
— Valeu, e ! A opinião de vocês é realmente muito importante pra nós. E como fãs número um, se considerem parte da família McFly. — disse.
— Ai que lindos. — fingia enxugar lágrimas.
— Mas tem um porém! — disse, aumentando o tom de voz para ser ouvido entre os comentários. — Pras duas serem aceitas de fato na nossa família, terão que passar por uma prova.
— Meu nível de sobriedade não tá cem por cento, então isso de prova não vai dar certo. — comentou, balançando a garrafa quase vazia na frente do amigo.
— Muito pelo contrário, vai é ajudar. — disse depois de entender o que o amigo iria propor.
— Manda logo qual vai ser. — disse, cruzando os braços em cima da mesa.
— Uh, tá decidida. — brincou, fazendo-os rir.
— A prova é simples, vocês terão que, juntas ou separadas, cantarem uma música lá no karaokê. — apontou para o palco onde um cara barbudo cantava Livin' On a Prayer.
— Fala que é brincadeira, por favor. — disse, sentindo a vergonha tomar conta antes mesmo de sair do seu lugar.
— Ué, cadê a confiança de antes? — perguntou, arqueando uma das sobrancelhas e vendo as duas irmãs se encararem. — É só uma música.
— Lembra do que conversamos? — perguntou de forma sugestiva para a irmã.
— Certo. Mas, você vem comigo. — respondeu, levantando e puxando a irmã entre os gritos animados dos outros quatro.
— Vê se não pira. — cochichou no ouvido da irmã quando chegavam perto do palco. Sabia que tinha um receio de ficar em frente à muita gente.
— Tudo bem, o pouco álcool que mandei pra dentro tá ajudando um pouco. — respondeu enquanto passava a lista de músicas no notebook — Antes de escolher a música, como eles não conhecem esse nosso lado, aposto duas cervejas que vão ficar com cara de palhaço.
— Aposto que só vão ficar animados. — disse, fechando sua mão na da irmã em um aperto. — Agora escolhe logo essa música, antes que alguém venha roubar nosso lugar.
— Que tal essa? — apontou para a última da lista, mordendo o lábio inferior.
— Perfeita! — respondeu, vendo a irmã selecionar a música e pegando os microfones.
Se posicionaram no centro do palco e os primeiros acordes começaram a soar.
— Só pode ser brincadeira! UHUUUUUL! — gritou animado, reconhecendo a música pela introdução.
encarou a irmã animada lembrando da aposta. A deixa para o primeiro verso chegou e a primogênita cantou.
Yo, I'll say you what I want, what I really really want
So tell me what you want, what you really really want
As gêmeas revezavam à cada estrofe de Wannabe e faziam a coreografia conhecida enquanto cantavam. Escutaram gritos animados do bar, palmas e assobios. olhou para onde os amigos estavam e encarou a irmã divertida. acompanhou o olhar e encontrou a expressão dos amigos espantados.
If you wanna be my lover, you gotta get with my friends
Make it last forever, friendship never ends
If you wanna be my lover, you have got to give
Taking is too easy, but that's the way it is
A cada estrofe as duas se soltavam e curtiam mais a apresentação. A partir da metade da música, todo o bar cantava junto com elas. voltou a encarar os amigos e os encontrou dançando animados e um ponto de luz saindo do celular de . O maldito só podia estar filmando!
So here's a story from A to Z
You wanna get with me, you gotta listen carefully
We got Em in the place who likes it in your face
We got G like MC who likes it on an
Easy V doesn't come for free
She's a real lady
And as for me, ha, you'll see
A caçula espantou qualquer resquício de vergonha para não se atrapalhar e foi para o lado da irmã, batendo sua cintura com a dela, de forma sincronizada.
Slam your body down and wind it all around
Slam your body down and wind it all around
Giravam e faziam passos com os braços de modo que continuassem a cantar mesmo com o movimento. Entre versos e danças viam algumas pessoas levantando e dançando junto com elas.
If you wanna be my lover, you gotta get with my friends
Make it last forever, friendship never ends
If you wanna be my lover, you have got to give
Taking is too easy, but that's the way it is
No fim, as duas cantaram a última estrofe juntas e pararam em uma pose bizarra, se apoiando com as costas. Agradeceram a boa recepção do público e voltaram para sua mesa.
— Dude, o que foi isso? Vocês cantam pra caralho! — disse animado, com os braços levantados para um high five com as duas.
— Porque vocês nunca falaram que cantavam desse jeito? — perguntou também cumprimentando as duas com o toque. — E ainda mandaram Spice Girls!
— Foi mito! Já quero o vídeo que o gravou e participação especial de vocês no primeiro CD do McFly. — disse entre aplausos.
— Obrigada, garotos! E sobre o canto...digamos que é um dom que cultivamos há um tempo. — respondeu envergonhada, pegando a cerveja que o garçom deixava na mesa.
— Qualquer dia nós mostramos pra vocês o nosso canal de covers. — disse e deu uma piscadela.
— Eu tenho vontade de afogar vocês nessa cerveja. Contamos sobre a banda e vocês não contaram nem que faziam vídeos. — respondeu contrariado.
— Não dá pra comparar vídeo amador com uma banda, né? Mas, não chora. A gente mostra pra vocês. — respondeu.
— Segunda-feira! E sem mais. — disse e foi no balcão do bar fazer o pedido dos petiscos.
— Esse dia foi realmente maravilhoso. Muito obrigada, garotos. — agradeceu, afastando a franja suada da frente dos olhos.
— Nós que agradecemos a presença de vocês. E mesmo com pouco tempo de convívio eu e o já consideramos vocês nossas amigas.
— Ei, antes que eu esqueça, pague a aposta! — falou baixo apenas pra irmã.
— Nem vem, deu empate! Aconteceram as duas reações. — disse.
— Af, perdi cerveja grátis.
— Vocês brindaram ao nosso favor, agora é nossa vez. — disse quando chegou à mesa, interrompendo-as e levantando sua garrafa. — Um brinde a esse ano de vocês, à nossa nova amizade e ao talento das duas brasileiras mais gatas e legais da Califórnia!
— Uhuul! — gritou ao brinde. — Agora tragam as pipocas porque a melhor parte vai começar. — completou, apontando para o palco onde um cara, demonstrando todo seu nível de embriaguez nos tropeços, pegava o microfone e começava a cantar.
Os seis passaram o resto da noite bebendo, rindo de cada apresentação, tirando fotos e curtindo o resto de um dia memorável.
— Já tá pronta? — perguntou depois de colocar a cabeça dentro do quarto. — Eles devem estar chegando.
— Quase. Falta só calçar o tênis. — respondeu enquanto alisava a calça skinny preta e arrumava a jaqueta kimono florida sobre a blusa branca. — Odeio me arrumar sem saber pra onde estou indo.
— Concordo plenamente! Ainda bato naqueles dois por não ter dado nenhum spoiler do dia — respondeu, semicerrando os olhos e vendo a irmã colocar o all star vermelho.
— Que tal? — a primogênita perguntou, dando uma volta em torno de si de braços abertos.
— Tá gata demais, vou até ficar com ciúmes. – disse, cruzando os braços.
— Você sabe que não precisa. Sou sua, meu amor. – se jogou em cima da irmã em um abraço.
— Sai de cima de mim, sua louca. — a caçula disse, empurrando a outra e a fazendo rir. — Chega de palhaçada, vamos descer.
— Falsa! Se declara e depois me esnoba. — brincou, saindo do quarto e descendo para sala com a irmã.
— Cedo demais pra tanto contato físico... — respondeu, sendo interrompida pelo som de buzina.
As duas saíram de casa e foram de encontro ao carro prata estacionado do lado da calçada. De dentro do automóvel saíram e sorridentes.
— Bom dia, brasileirinhas. — cumprimentou-as. — Prontas pro melhor dia da semana?
— Bom dia! — elas responderam em uníssono.
— Quero só ver se vai ser isso tudo mesmo... — disse, fazendo a irmã rir.
— Não duvide da nossa capacidade de surpreendê-las. — disse e apontou pro carro. — Vamos, quanto mais tempo parados aqui, menos tempo de diversão depois.
— Partiu! — levantou os braços em um gesto de animação, abrindo a porta do carona.
— Eu espero que você esteja apenas sendo cavalheiro, . Já basta sua companhia do meu lado todos os dias. — disse, entrando no lugar do motorista.
— Me maltrata na frente das convidadas, mas quando chega em casa é todo amores. Safado! — brincou, dando espaço para que uma das garotas passasse.
— Não chora, . Eu te entendo. Vou até te fazer companhia aqui atrás. — brincou, sentando no banco de trás enquanto a irmã sentava do lado de .
— Chupa essa, zinho! Vou ir junto com a . — disse, entrando no carro e fechando a porta.
— Primeiro, nós estamos no mesmo carro, segundo, tem uma tão bonita e legal quanto aqui do meu lado. — respondeu, dando partida.
— Não seja tímido, . Pode falar que eu sou mais maravilhosa que a . — respondeu e riu da cara da irmã.
— Vou até abaixar o vidro pra não morrer sufocada com seu ego. — respondeu.
— Tem coisa mais linda do que o amor de família? — perguntou, fazendo os três rirem.
— Agora que já estamos à caminho, vocês podem falar onde estão nos levando? — perguntou.
— Não. Quando a gente chegar vocês descobrem. — respondeu.
— Tô começando a achar que esse passeio vai ser uma furada e vamos acabar em um bairro abandonado. — disse.
— Que visão maldosa! — respondeu e sorriu, olhando-a pelo retrovisor.
— Maldade é semear a curiosidade nos outros. — respondeu depois de entender a referência na fala do garoto, vendo-o rir e ligar o carro do som.
A introdução de I Want To Break Free começou a tocar e as irmãs se encararam sorrindo. Cresceram ouvindo Queen devido à paixão do pai pela banda e aquela sempre fora uma de suas músicas preferidas. Passavam horas dançando e pulando em cima da cama ao som da voz de Freddie Mercury e sabiam cantar cada verso. aumentou o volume da música e os primeiros versos soaram alto dentro do automóvel.
— I WANT TO BREAK FREE. — as gêmeas cantaram juntas, tendo as vozes abafadas pela música alta e fazendo os dois garotos se assustarem. — I WANT BREAK FREEEE.
— DUDE, QUE ISSO? — perguntou gritando para tentar ser ouvido, e riu de dançando ao seu lado.
— FALA SÉRIO, ! ENTRA NA VIBE! — gritou, olhando para o branco traseiro sem parar de dançar. — VOCÊ TAMBÉM, !
— GOD KNOWS, GOD KNOWS I WANT TO BREAK FREE. — cantou como resposta, abaixando o vidro e colocando uma das mãos para fora da janela.
— E EU ACHANDO QUE VOCÊS ERAM NORMAIS E QUE IAM NOS ACHAR BREGASS POR ESTAR OUVINDO QUEEN... — interrompeu a fala quando as duas garotas pararam a coreografia e cantoria para encará-lo de modo sugestivo. — I'VE FALLEN IN LOVE!? — cantou, vendo-as concordar entre risos.
— UHUUL, AGORA SIM ESSE PASSEIO FICOU BOM! — gritou, empurrando-o com o corpo de modo sincronizado.
— Bem-vindas à nossa primeira parada, Lombard Street, a rua mais famosa de São Francisco! — disse, apontando para a decida em zigue-zague.
— Uou! Mesmo sendo muito bonita ainda me dá um pouco de tontura só de pensar em descer ela. — brincou, tirando duas câmeras de dentro da bolsa. — Me ajuda aqui, .
— Pra que tudo isso? — perguntou apontando para as máquinas.
— A é viciada em fotografia e leva essas filhas dela pra todo canto. Como ela mesma diz, a polaroid serve para as fotos mais marcantes e que ela quer ter no mural. E a outra é pra registrar as outras fotos. — respondeu, pendurando a câmera maior no pescoço da irmã.
— Anos de treinamento, que orgulho. — abraçou-a de lado meio desajeitada. — Um de vocês dois tira uma foto nossa pra mim.
— Melhor eu, sempre que o fica responsável por uma foto ela sai tremida. — pegou a polaroid azul e apontou pras garotas, que sorriam abraçadas em frente à rua.
— Obrigada, . Pode colocar com todo o cuidado da sua vida aqui dentro da minha bolsa. — agradeceu enquanto começava a fotografar com a outra câmera e apontou com o pé pra bolsa no chão.
— Por nada, madame.
— Acho melhor você deixar espaço pra tirar foto dos outros lugares, . Ainda temos um dia inteiro pela frente. — disse, arregalando os olhos após escutar o barulho de vários cliques seguidos.
— Isso mesmo, vamos pedir pra alguém tirar uma de nós quatro e fim. — disse, pegando a câmera e indo de encontro à uma mulher um pouco afastada dos dois.
A moça voltou já com a câmera na mão e a primogênita mandou os três se posicionarem na frente da rua com ela. Todos agradeceram pela gentileza e voltaram para o carro.
— Partiu, Fisherman's Wharf! — disse entusiasmado quando o carro entrou em movimento.
— Eu espero que como guias turísticos vocês saibam nos explicar sobre lá. Só ouvi falar do nome e mais nada. — olhou-os sugestiva.
— Pelo que conheço posso falar que é um bairro daqui que, além de ponto turístico, continua sendo o lugar onde a maioria dos pescadores moram. É lá também que fica o Pier mais conhecido de São Francisco, o Pier 39. Ah, e lá tem muitos barcos e gaivotas. — respondeu em tom refinado.
— Falando assim nem parece que você sabe das gaivotas porque uma delas deu uma aliviada no seu ombro. — contou, fazendo as garotas rirem e o amigo responder com um xingamento.
— Não fica bravo, . Você pelo menos conseguiu nos explicar sobre o lugar. — disse depois de sua crise de riso.
— Agora eu que digo: chupa essa, . — brincou, mandando beijos para o amigo antes de estacionar o carro. — Chegamos.
Os quatro desceram do carro e continuaram o passeio. Andaram por todo o píer, observaram a vista de Alcatraz, viram os leões marinhos – principal atrativo do lugar – e depois de algumas horas de fotos e caminhada pararam em um restaurante para almoçar.
— Só porque o dia tá legal, as horas estão passando rápido. — disse, fazendo bico.
— Não falei que não valia a pena duvidar da nossa capacidade? Diz aí se não somos ótimos guias. — brincou.
— É, estão aprovados. Mesmo não tendo falado antes que tinha a opção de virmos de bondinho. Eu ia amar. — respondeu, apoiando os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos.
— O problema seria pra nos locomovermos pros outros lugares que vamos depois. Ia demorar bem mais. — disse.
— Sem falar que ainda temos vários meses pela frente pra poder visitar. — disse, batucando os dedos na mesa.
— Depois marcamos o segundo passeio e apresentamos os lugares que faltaram, inclusive a ilha de Alcatraz. — disse, dando espaço para que o garçom colocasse os pratos na mesa.
— E até o fim do dia você nem vai mais lembrar do bondinho. — disse, dando uma piscadela pra primogênita.
— Droga, . Nem peço mais pra falar o próximo lugar porque sei que vai ser em vão. — revirou os olhos e começou a comer, vendo os dois garotos rirem.
— Relaxa, se não decepcionamos vocês até agora, não vai ser agora que isso vai acontecer. — disse.
— Cara, essa comida tá muito boa ou eu que tô com fome? — perguntou.
— Acho que os dois. — respondeu entre risos. — Estamos na metade da tarde também...
— Culpa da que inventou de tirar foto de cada pedra. — brincou.
— Fala isso, mas depois se eu não tiro fica reclamando que não tem recordação nenhuma.
— Sem brigas, garotas. Vamos comer logo que temos mais tempo pra aproveitar o resto. — disse e recebeu aceno positivo dos três.
— Quando eu disse que faríamos outro passeio, inclui a travessia dessa beldade de bicicleta. Só não faremos isso hoje porque vocês estão desprevenidas e jeans não é a melhor opção pra pedalar mais de dois quilômetros. — disse, diminuindo a velocidade até parar no início da ponte Golden Gate.
— Ainda bem que você tem o bom senso de pensar assim. — disse, pegando a câmera sem tirar os olhos da ponte à frente. — É mais bonita ainda pessoalmente.
— E olha que esse nem é o melhor ângulo. — disse, apertando um botão no teto do carro e fazendo com que o teto solar fosse aberto.
— Isso é permitido? — perguntou, apontando para a janela extra.
— Espero que sim. Aproveitem a vista! — disse antes das duas ficarem em pé e colocarem metade do corpo para fora do carro.
— Tô me sentindo em As Vantagens de Ser Invisível! — riu e apontou a câmera para cima quando o carro começou a ganhar velocidade e andar pela pista.
Os dois garotos abriram os vidros e aumentou o volume do som, que tocava Don't Stop Me Now. As irmãs se divertiram cantando e curtindo a vista. A primogênita esticou um dos braços e com o outro abraçou a irmã de lado, que revezava a filmagem entre a ponte, a pista e as duas. Foram quase cinco minutos de bagunça desse jeito. Até que encostou o carro no fim da ponte e as duas voltaram para dentro.
— Ta ok, depois dessa eu posso abraçar vocês por três horas seguidas. Foi muito foda! — disse animada com os cabelos altos devido o vento.
— Sem explicação! — comentou com o mesmo entusiasmo.
— Se não fosse o sorriso de vocês, esses olhos arregalados e brilhantes e esse cabelo todo bagunçado deixariam vocês assustadoras. — brincou. — Enfim, como descobrimos, de forma bem investigativa, que você gosta de foto, , achamos legal parar aqui pra vocês tirarem uma foto com a ponte de fundo.
— Arrasaram mais uma vez! — a caçula disse já saindo do carro com a câmera azul na mão.
Tiraram algumas fotos e voltaram para o carro, fazendo o trajeto de volta tão animado quanto antes, porém sem o uso do teto solar.
— Bom, agora vamos para nossa última parada antes da surpresa final. — comentou sem tirar os olhos da pista e abaixando o volume da música.
— Você devia ter deixado a Golden Gate pro final, duvido que os outros lugares superem esses minutos atrás.
— Pode até não superar, mas vai ser tão animado quanto! — respondeu com um sorriso de lado.
— Vai demorar muito pra chegar? — perguntou.
— No máximo quarenta minutos, vai depender do trânsito. Mas por enquanto tivemos sorte e não pegamos nada de engarrafamento. — disse.
— E vocês estão contando com a possibilidade de atraso para o resto da programação?
— , você acha mesmo que alguém como eu deixaria o trânsito nos atrapalhar? — perguntou com uma falsa expressão de deboche.
— Com certeza. — respondeu, fazendo os outros dois rirem.
— Por favor, queridinha. Mais respeito! — ele disse com a voz afinada e abanando o ar com a mão.
— Respeito é pra quem merece, . — entrou na brincadeira.
— Outch, podia ter dormido sem essa, . — botou pilha na zoeira.
— O que não é o seu caso, já que nem seu cachorro te dá moral. — respondeu, mandando um beijo para o amigo.
— Receba esse tapa, ! — riu, ficando de lado pra acompanhar a conversa melhor.
— E essa foi a demonstração de uma amizade verdadeira repleta de amor. — disse, aplaudindo e sendo acompanhada pela irmã.
— Uhul, show de bola. — disse.
— De nada! — disse, acenando com a mão feito princesa.
Continuaram conversando e brincando durante todo o percurso. Quando estacionou o carro, o céu estava escurecendo e a tarde terminando. desceu do automóvel e se deparou com uma praça bem iluminada, com uma estátua alta no meio.
— Nossa penúltima parada, Union Square. — apresentou, apontando para a praça à frente.
— Acho que passamos por aqui alguma vez, mas nunca chegamos a descer do carro e andar por aqui. — disse depois de atravessarem a pista.
— Passamos mesmo! — disse, se lembrando do que a irmã falou. — Dessa vez dá pra tirar foto.
— Você querendo tirar foto? Por essa eu não esperava. — ironizou.
— Para de idiotice e tira a foto pra mim. — respondeu, dando a câmera pro amigo.
— Prontinho. — disse, devolvendo a câmera pra dona. — Então, o que estão achando?
— Devo assumir que a lição de hoje foi: Não subestime e .
— Muito bem, ! — respondeu.
— Mandaram bem. High five! — disse, fazendo o cumprimento com os dois. — Próxima parada?
— Surpresa! — disse, vendo-a rolar os olhos. — Antes de mais nada temos que falar uma coisa sobre o lugar.
— É, existe uma grande chance dele não ser o melhor do dia. Mas, nossa intenção à levar vocês lá é cumprir com nossa palavra.
— Eu falei que a gente ia parar em um beco fedido. — sussurrou pra irmã de modo que eles pudessem ouvir.
— Não é pra tanto. Vocês vão conseguir se divertir. — deu uma piscadela. — Vamos, estou ansioso pela reação de vocês.
— Ezra's Bar? Tá querendo embebedar a gente, ? — perguntou depois de ler o letreiro à sua frente.
— Aí não é comigo, a opção é de vocês. — ele respondeu, abrindo a porta do estabelecimento e dando passagem para elas.
— Que que a gente ta fazendo aqui? — perguntou sem esperar por uma resposta para sair analisando todo o espaço. À primeira vista não era muito agradável, era como se tivessem jogado tudo que acharam no meio do caminho em um único lugar. Mas olhando parte por parte a imagem começou a melhorar.
A iluminação do local era composta por quadros e letreiros de led, luzes amareladas no teto e uma luz branca que era lançada no fundo. O balcão principal era de madeira, cheio de adesivos diversos e continha um quadro com todos os petiscos e preços, além de uma caixa registradora antiga. Em cima, pendurado no teto, tinha algumas bandeiras com nomes de bandas de rock clássicas. Por de trás, várias prateleiras ocupavam a parede, nelas as garrafas de bebidas diversificadas disputavam lugar com miniaturas e alguns bonecos de jogos, artistas e personagens.
Espalhado pelo meio e laterais ficavam mesas de até seis pessoas, algumas pretas, brancas e outras até foram substituídas por barris gigantes decorados. Andando mais para a frente, após o bar, do lado direito continham alguns sofás, duas sinucas vermelhas e uma jukebox colorida – que fizeram os olhos das gêmeas brilharem – e por fim, uma parede preenchida por capas de vinis diversos.
No fim do ambiente, tinha um pequeno palco com alguns microfones e instrumentos. Do lado a parte da frente de uma Kombi colorida servia de apoio para um notebook e alguns aparatos de som. Atrás do palco a parede era coberta por um telão digital, que descobriram ser o ponto de luz branca que viram da entrada. E completando a decoração algumas estátuas de ET's, super-heróis e vários pôsteres de led estavam espalhados pelo local.
— Meninas? — chamou-as de volta para a entrada. Junto dele e estavam outros três homens.
— Oi, acabamos nos distraindo. Essa decoração é o máximo. — respondeu, apontado para o seu redor.
— É tudo obra prima desse velhote aqui. Meninas, esse é o Ezra, o dono do bar e nosso amigo de longa data. Ezra, essas são e , nossas novas amigas. — os apresentou.
— Prazer, Senhor Ezra! — cumprimentou o senhor barrigudo e barbudo cheio de tatuagens, mesmo carregando a idade nos cabelos brancos e pele marcada ele transparecia a animação de um jovem. — Concordo com minha irmã, você tá de parabéns.
— De senhor já basta na idade! Se é amiga do , é minha também, então pode me chamar apenas de Ezra. — Ele respondeu simpático, sorrindo para as duas. — Valeu, garotas! Isso aqui é resultado de um trabalho de anos.
— Apresentadas ao dono, chegou a vez do resto. Garotas, esses são e , a outra metade do McFly e nossas amantes. — apresentou os amigos.
— Porque o sempre queima nosso filme na frente das mais bonitas? — um deles perguntou, revirando os olhos. — Desculpa por ele, meninas. Eu sou o !
— Ah, não se preocupe. De longe essa não foi a pior do dia. — brincou, vendo responder com um empurrão leve. — Eu sou a , ou pra ficar mais fácil.
— E eu sou a , ou , a mais bonita e mais legal das gêmeas. — a primogênita se apresentou, vendo os garotos rirem.
— A disputa entre as duas é bem acirrada. E olha, se os idiotas aqui não tivessem me contado que vocês são irmãs gêmeas eu provavelmente não acreditaria agora. — o outro disse. — Eu sou , o mais inteligente da banda.
— Essa foi a piada do dia! — brincou, fazendo todos rirem.
— Quer dizer que eles falaram de nós? Espero que tenha sido algo bom. — encarou e de olhos semicerrados.
— Sim, só coisas boas. Falaram que eram as novas amigas deles e que as trariam aqui pra assistir nosso show. — respondeu sorridente.
— Show? Então essa é a surpresa? — perguntou.
— Tcharan! — disse sorridente, dando um pulinho de braços abertos e parando na mesma pose.
— Vocês falaram que topariam nos ver tocando. Apenas juntamos a ideia do passeio com o show de hoje que surgiu essa semana. — se explicou, avaliando as expressões das garotas que permaneciam sérias.
— Desse jeito fica até difícil querer ir embora. — comentou depois de alguns minutos em silêncio, fazendo-os suspirar aliviados.
— Por um segundo eu achei que vocês nos xingariam e iriam embora. — disse.
— Música ao vivo e cerveja no mesmo lugar, quando que negaríamos? Ainda mais com os responsáveis pelo dia mais legal da semana. — respondeu, dando uma piscadela.
— Garotas, temos que passar o som antes que o bar fique mais cheio. Suponho que os garotos não tenham explicado, mas todo fim de semana tem karaokê. Nós abrimos a noite uma vez por mês com um show rápido de meia hora e o resto da noite fica disponível pros bêbados se divertirem no palco com o microfone. — explicou.
— Sério? — perguntou animada. — Que máximo!
— Máximo vai ser quando as duas forem cantar lá na frente. — disse, rindo das duas.
— Nem começou a consumir álcool e já tá bêbado, ? Vai lar passar teu som que vamos nos divertir por enquanto. — brincou, mandando beijos e puxando a irmã pra uma das mesas de sinuca.
— Gostei dessa, bem animada. — disse com um sorriso sacana, se dirigindo para o palco com os outros três que começaram a zoá-lo.
— Boa noite, galera! É com muito prazer que mais uma vez desejo as boas-vindas à todos e anuncio a banda desse sábado. Com vocês meus amigos McFly! — Ezra guardou seu microfone e deixou o palco.
— Fala, galera! O prazer de estar aqui é totalmente nosso. Ezra, tamo junto! Antes de mais nada, queremos dedicar esse show pras, de alguma forma, novas integrantes das nossas vidas. Brasileirinhas, esse show é pra vocês! Essa é Five Colours In Her Hair. — anunciou em seu microfone.
A contagem regressiva das baquetas anunciou o início da música, que preencheu o ambiente com um solo animado de guitarra antes dos primeiros versos.
Not into fashion but I love the clothes she wears,
Her tattoo's always hidden by her underwear.
She don't care.
As irmãs encaravam meio boquiabertas os quatro, eles eram muito bons! se entregou à música e começou a dançar de seu banco, levantando os braços e dando gritinhos animados. gritou alguns elogios e aplaudia enquanto dançava junto à irmã.
Todos em cima do palco se divertiam enquanto tocavam e cantavam, fazendo palhaçadas entre os versos e passando mais animação para o público. Algumas pessoas no bar, provavelmente os clientes fiéis, conheciam o som e cantavam alguns trechos da letra.
How does she cope with her new found fame?
Everyone asks me,
Who the hell is she?
That weirdo with five colours in her hair.
No fim da música aplaudiram, gritaram e assobiaram junto com as outras pessoas. Não poderiam estar mais orgulhosas dos amigos. McFly tocou mais cinco músicas – que as fizeram dançar tanto quanto a primeira – e finalizou o show com agradecimentos e recebendo mais palmas da plateia.
— E então, aprovaram? — perguntou quando chegaram à mesa das garotas.
— Tá brincando? Somos fãs número um de vocês. — disse entre pulinhos, esticando a garrafa de cerveja. — Vamos brindar, foi um ótimo show!
— Um brinde para o futuro sucesso da McFly! — disse animada, batendo sua garrafa nas demais esticadas. — Tudo que a disse é verdade, vocês nasceram pra isso.
— Valeu, e ! A opinião de vocês é realmente muito importante pra nós. E como fãs número um, se considerem parte da família McFly. — disse.
— Ai que lindos. — fingia enxugar lágrimas.
— Mas tem um porém! — disse, aumentando o tom de voz para ser ouvido entre os comentários. — Pras duas serem aceitas de fato na nossa família, terão que passar por uma prova.
— Meu nível de sobriedade não tá cem por cento, então isso de prova não vai dar certo. — comentou, balançando a garrafa quase vazia na frente do amigo.
— Muito pelo contrário, vai é ajudar. — disse depois de entender o que o amigo iria propor.
— Manda logo qual vai ser. — disse, cruzando os braços em cima da mesa.
— Uh, tá decidida. — brincou, fazendo-os rir.
— A prova é simples, vocês terão que, juntas ou separadas, cantarem uma música lá no karaokê. — apontou para o palco onde um cara barbudo cantava Livin' On a Prayer.
— Fala que é brincadeira, por favor. — disse, sentindo a vergonha tomar conta antes mesmo de sair do seu lugar.
— Ué, cadê a confiança de antes? — perguntou, arqueando uma das sobrancelhas e vendo as duas irmãs se encararem. — É só uma música.
— Lembra do que conversamos? — perguntou de forma sugestiva para a irmã.
— Certo. Mas, você vem comigo. — respondeu, levantando e puxando a irmã entre os gritos animados dos outros quatro.
— Vê se não pira. — cochichou no ouvido da irmã quando chegavam perto do palco. Sabia que tinha um receio de ficar em frente à muita gente.
— Tudo bem, o pouco álcool que mandei pra dentro tá ajudando um pouco. — respondeu enquanto passava a lista de músicas no notebook — Antes de escolher a música, como eles não conhecem esse nosso lado, aposto duas cervejas que vão ficar com cara de palhaço.
— Aposto que só vão ficar animados. — disse, fechando sua mão na da irmã em um aperto. — Agora escolhe logo essa música, antes que alguém venha roubar nosso lugar.
— Que tal essa? — apontou para a última da lista, mordendo o lábio inferior.
— Perfeita! — respondeu, vendo a irmã selecionar a música e pegando os microfones.
Se posicionaram no centro do palco e os primeiros acordes começaram a soar.
— Só pode ser brincadeira! UHUUUUUL! — gritou animado, reconhecendo a música pela introdução.
encarou a irmã animada lembrando da aposta. A deixa para o primeiro verso chegou e a primogênita cantou.
So tell me what you want, what you really really want
As gêmeas revezavam à cada estrofe de Wannabe e faziam a coreografia conhecida enquanto cantavam. Escutaram gritos animados do bar, palmas e assobios. olhou para onde os amigos estavam e encarou a irmã divertida. acompanhou o olhar e encontrou a expressão dos amigos espantados.
Make it last forever, friendship never ends
If you wanna be my lover, you have got to give
Taking is too easy, but that's the way it is
You wanna get with me, you gotta listen carefully
We got Em in the place who likes it in your face
We got G like MC who likes it on an
Easy V doesn't come for free
She's a real lady
And as for me, ha, you'll see
A caçula espantou qualquer resquício de vergonha para não se atrapalhar e foi para o lado da irmã, batendo sua cintura com a dela, de forma sincronizada.
Slam your body down and wind it all around
Giravam e faziam passos com os braços de modo que continuassem a cantar mesmo com o movimento. Entre versos e danças viam algumas pessoas levantando e dançando junto com elas.
Make it last forever, friendship never ends
If you wanna be my lover, you have got to give
Taking is too easy, but that's the way it is
No fim, as duas cantaram a última estrofe juntas e pararam em uma pose bizarra, se apoiando com as costas. Agradeceram a boa recepção do público e voltaram para sua mesa.
— Dude, o que foi isso? Vocês cantam pra caralho! — disse animado, com os braços levantados para um high five com as duas.
— Porque vocês nunca falaram que cantavam desse jeito? — perguntou também cumprimentando as duas com o toque. — E ainda mandaram Spice Girls!
— Foi mito! Já quero o vídeo que o gravou e participação especial de vocês no primeiro CD do McFly. — disse entre aplausos.
— Obrigada, garotos! E sobre o canto...digamos que é um dom que cultivamos há um tempo. — respondeu envergonhada, pegando a cerveja que o garçom deixava na mesa.
— Qualquer dia nós mostramos pra vocês o nosso canal de covers. — disse e deu uma piscadela.
— Eu tenho vontade de afogar vocês nessa cerveja. Contamos sobre a banda e vocês não contaram nem que faziam vídeos. — respondeu contrariado.
— Não dá pra comparar vídeo amador com uma banda, né? Mas, não chora. A gente mostra pra vocês. — respondeu.
— Segunda-feira! E sem mais. — disse e foi no balcão do bar fazer o pedido dos petiscos.
— Esse dia foi realmente maravilhoso. Muito obrigada, garotos. — agradeceu, afastando a franja suada da frente dos olhos.
— Nós que agradecemos a presença de vocês. E mesmo com pouco tempo de convívio eu e o já consideramos vocês nossas amigas.
— Ei, antes que eu esqueça, pague a aposta! — falou baixo apenas pra irmã.
— Nem vem, deu empate! Aconteceram as duas reações. — disse.
— Af, perdi cerveja grátis.
— Vocês brindaram ao nosso favor, agora é nossa vez. — disse quando chegou à mesa, interrompendo-as e levantando sua garrafa. — Um brinde a esse ano de vocês, à nossa nova amizade e ao talento das duas brasileiras mais gatas e legais da Califórnia!
— Uhuul! — gritou ao brinde. — Agora tragam as pipocas porque a melhor parte vai começar. — completou, apontando para o palco onde um cara, demonstrando todo seu nível de embriaguez nos tropeços, pegava o microfone e começava a cantar.
Os seis passaram o resto da noite bebendo, rindo de cada apresentação, tirando fotos e curtindo o resto de um dia memorável.
Capítulo 4
— Mostra logo, ! Pelo menos um dos vídeos. — se esticava por cima da sua mesa e cutucava a garota na cadeira à frente.
— Argh! Fica quieto, . Não tá vendo que tenho que me concentrar, aqui? — perguntou, se virando de lado e apontando para os papéis em cima da mesa.
Estavam as duas gêmeas e na penúltima aula do dia, Biologia. Ainda que o professor tivesse passado uma lista de exercícios para ser entregue no mesmo horário, a aula estava agradável. Pelo menos até lembrar que ainda não tinha visto o canal de covers das amigas e começar a cobrar.
— Fala sério, . Todo mundo sabe que o Sr. Thompson nunca cobra essas atividades. E eu não vou parar até você me mostrar. — respondeu, cruzando os braços.
— Caralho! Você tá falando disso desde a hora em que nos encontramos, já falamos que não vamos mostrar isso aqui. — entrou na conversa, deixando de lado suas anotações.
— Então vamos embora, agora. Aí vocês me mostram. — ameaçou levantar da sua cadeira.
— Eu não vou cabular aula por causa disso. — disse, revirando os olhos.
— Não quer mostrar aqui e não quer ir embora. Como vou ver esses vídeos então? — bufou, ignorando o olhar reprovador do garoto com quem fazia dupla, que resolvia os exercícios sozinho enquanto o loiro conversava.
— Ele não vai desistir. — disse para a irmã, apoiando a testa na mesa.
— Acho que tenho uma ideia de como resolver isso. — disse antes de se virar e encarar o garoto. — Vamos adiantar aquela tarde brasileira que havíamos comentado semana passada. Você e o vão lá pra casa hoje e além de mostrarmos a cultura brasileira também mostramos os vídeos.
— Mas como vamos fazer o brigadeiro? Não tem os ingredientes lá em casa e eu não tenho ideia de onde posso encontrar. — perguntou.
— Tinha esquecido desse detalhe... — disse pensativa. — É o seguinte, , se você encontrar alguma loja que venda os ingredientes que precisamos e conseguir levar hoje de tarde, faremos o que eu disse. Caso contrário, vamos ter que adiar tudo.
— Isso é injusto! Vocês ficaram de mostrar segunda. — disse.
— Não lembro desse trato. — disse, arqueando uma das sobrancelhas.
— Tá ok, vocês venceram. — disse, revirando os olhos. — Vou falar com o agora mesmo. É questão de honra conseguir ver o canal hoje.
— Agora tipo agora? — perguntou, vendo-o se levantar e pegar a mochila.
— Claro, quanto antes melhor. Só escreve aí o nome do que tenho que comprar. — ele disse.
encarou a irmã, que deu de ombros, e pegou o caderno para anotar os ingredientes. Entregou o papel para e em questão de segundos o mesmo havia saído da sala.
— Parece que tem alguém empolgado... — disse, rindo da pressa do amigo.
— Empolgação é pouco pra isso. — respondeu. — Já pensou no que vamos fazer de tarde?
— Tenho algumas ideias... — disse com um sorriso sacana.
— Essa cara não me engana, posso imaginar que tem zoeira no meio.
— E quando não tem? Só espero que a vovó não ache ruim termos convidado eles...
— Desde quando Dona Kath nega visita? — brincou, fazendo a irmã rir.
— Tô pra ver senhora mais sociável do que essa nossa. Mas aí, vamos terminar essa lista logo e irmos embora. — disse, voltando sua atenção para o exercício.
A caçula zapeava os canais da televisão entediada quando escutou o celular apitando. Pegou o aparelho em cima do sofá e abriu a mensagem que havia chegado.
"Chegamos até o fim do mundo pra conseguir comprar as coisas. Daqui a pouco estamos aí. xx."
riu incrédula, não imaginava que convenceria o amigo a sair na busca por algo que não conhecia apenas para honrar com a própria palavra. Respondeu com um "Ok" e subiu correndo a escada, indo em direção ao quarto da avó. Bateu na porta e esperou a confirmação da senhora para poder entrar.
— Cansou de ser antissocial? — perguntou. A primogênita estava deitada no colo da avó, a qual fazia cafuné na neta sentada na cama.
— Ah nem, fiquei com ciúmes. — fez bico e apontou para a carícia das duas enquanto se sentava na cama de pernas cruzadas.
— Nem adianta fazer essa cara, não saio daqui! — disse firme.
— Por favor, meninas. Tem Katherine para todo mundo, não precisam brigar.
— Tudo bem, vovó. Até porque a vai ter que sair daí.
— Posso saber por qual motivo? — a primogênita perguntou.
— acabou de mandar mensagem avisando que compraram as coisas, logo estarão aqui.
— E a gente duvidando do ... — disse, se levantando do colo da avó. — Vovó, não falamos antes porque achamos que ia ficar pra outro dia, mas tudo bem se nossos amigos vierem pra cá? Ficamos de apresentar como é o Brasil além do que eles sabem.
— Claro que sim, meu amor. — Kath respondeu. — Só se certifiquem de que está tudo organizado lá em baixo e vejam se precisam de algo.
— Não precisa se preocupar, vó. A gente se vira lá em baixo. Aproveita pra descansar um pouco. — disse, se levantando da cama e depositando um beijo na bochecha da senhora.
— Descansar? Minha querida, tenho um romance de trezentas páginas para terminar de ler. — Kath respondeu divertida. A senhora alimentava o hábito de ler desde muito cedo, influenciando todos os seus filhos e netos quando possível.
— Tá certo! Boa leitura, vovó. Qualquer coisa é só descer ou gritar por nós. — disse, saindo do quarto com a irmã. — Eles já estão chegando ou vão demorar um pouco?
— Para ser sincera, não sei. O só disse que tinha ido até o fim do mundo pra achar os ingredientes e que daqui a pouco chegava. — disse.
— Entendi.... Vou pegar o notebook e você vai dando uma geral na sala. Do jeito que você é aposto que deixou as almofadas todas espalhas.
— Claro que não! — disse incerta, deixando a irmã para trás e voltando à sala.
Parou na ponta da escada e olhou o cômodo, encontrando-o da maneira que havia falado. Correu para arrumar as almofadas antes que a irmã chegasse e ligou a televisão depois. A primogênita chegou e conectou o notebook à TV, para que ficasse melhor de todos verem os vídeos mais tarde.
Em poucos minutos, escutaram uma buzina e saiu da casa para checar se eram seus convidados. Abriu a porta e encontrou e saindo de um carro preto carregando duas sacolas e e acenando de dentro do automóvel.
— Hey, garotos! Estão de saída também? — cumprimentou os quatro e perguntou para os mais velhos nos bancos da frente.
— Oi, . Na verdade, só viemos dar a carona pros idiotas, íamos ensaiar antes do comentar que tinha um compromisso aqui com o e vocês. — respondeu.
— Atrapalhando o ensaio da banda por besteira, ? — perguntou com um sorriso de lado, se aproximando de todos e vendo-o confirmar animado. — Ele pelo menos convidou vocês?
— Não, mas nem precisa se preocupar. — respondeu envergonhado.
— Não vejo preocupação nenhuma, aproveita que estão aqui e fiquem com a gente. — a primogênita disse e eles se entreolharam incertos. — A não ser que tenham algo mais importante pra fazer...
— Ganhar do no vídeo game perdeu a importância depois de entrar pra rotina. — disse, rindo e saindo do carro com o amigo.
— Falando assim nem parece que você vive perdendo pro grande mestre aqui. — brincou, apontando para si.
— Não vamos entrar nessa discussão de quem é o melhor, até porque eu ganharia. — disse, vendo os amigos rolarem os olhos.
— O melhor ou não, vamos entrar. O brigadeiro não se fará sozinho aqui fora. — disse, entrando na casa e dando passagem para os outros. — Fiquem à vontade, garotos.
— Melhor não falar isso, . Da última vez o levou a sério demais e foi abrindo a geladeira e se jogando no sofá. — brincou.
— Ei, eu não fiz nada disso! — protestou, fazendo as garotas rirem.
— Sem problemas, . Desde que você não roube minha comida, tá tudo bem. — disse, pegando as sacolas com e e olhando seu conteúdo. — É, vocês realmente conseguiram tudo.
— Rodamos o mercado inteiro pra conseguir achar esse aqui. — apontou para o leite condensado dentro da sacola.
— Imaginei que seria difícil mesmo. Sentem aí, vou preparar tudo logo. — disse, indo para a cozinha.
— E aí, como vocês estão? — perguntou enquanto abria alguns links no notebook.
— Bem e você? — os quatro responderam sincronizados, rindo depois da coincidência.
— Estou bem, coral. — respondeu, rindo. — Vocês preferem começar pelo Brasil ou por nós? — VOCÊS! — respondeu animado.
— Dude, se controla. — riu da empolgação do amigo.
— Você devia ter falado isso mais cedo. Ele só me deixou em paz quando a sugeriu que vocês viessem para cá. — disse.
— Sabemos como o é quando fica curioso. — disse, bagunçando o cabelo de .
— Vocês também estão doidos pra ver, falam de mim porque tem inveja. — disse.
— Nossa, morro de inveja de você. — respondeu irônico.
— Eu sei. — disse sorridente sem perceber o sarcasmo.
— Que cheiro bom é esse? — perguntou, respirando fundo e sentindo o aroma adocicado dominar a sala.
— É o brigadeiro da . — respondeu.
— Bri o que? — perguntou, fazendo careta ao ouvir a palavra estranha.
— Bri-ga-dei-ro, um doce do Brasil. Faz parte do trato de mostrar a cultura brasileira pros meninos. — explicou e começou a rir de tentando pronunciar a palavra.
— Briguadêrô?
— Quase lá, . Repete comigo. Aliás, você três também! Os quatro juntos. Bri-ga-deeeei-ro. — falava a palavra lentamente para que eles entendessem a pronúncia.
— Brigadêêêro. — eles repetiram, ainda se embolando com algumas partes.
— É um bom começo. — riu e aplaudiu os amigos.
— Espero que o gosto seja melhor do que o nome. — brincou, fazendo os amigos rirem e concordarem.
— Tá duvidando dos meus dotes culinários, ? — perguntou, chegando na sala e sentando no chão.
— Imagina. — respondeu com sarcasmo, fazendo todos rirem e a primogênita arremessar a almofada mais próxima nele.
— Vai pagar a língua quando provar. — ela respondeu e concordou.
— Mana, eles preferem ver o canal e depois partimos para o Brasil. — explicou enquanto a irmã mexia no notebook. — O link tá aberto em uma dessas abas aí.
concordou e abriu a página do canal das irmãs, vendo a tela ser espelhada na televisão.
— Gostei da foto, só não consigo entender o que tá escrito. — disse, apontando para a foto, que era as duas irmãs com um violão e fazendo careta, e para o nome do canal.
— E desde quando você entende alguma coisa? — perguntou, rindo com os amigos e levando um pedala de volta.
— Tá em português, idiota. — respondeu. — É português, né meninas?
— Isso mesmo. Significa "As Gêmeas". — respondeu e virou para eles — Antes de mais nada, não se preocupem em ser educados e caso achem muito ruim basta avisar que tiramos.
— Nós não vamos achar ruim, vocês já cantaram na nossa frente. — disse.
— Sim, mas daquela vez estavam todos meio bêbados, não dá pra levar a sério. — disse, cruzando os braços.
— Tudo bem, por mais que eu concorde com o podem ficar tranquilas que se não gostarmos iremos falar. — disse.
— Ok. Podem escolher. — apontou para a coluna de vídeos na televisão enquanto passava as opções.
— PARA! Ali, aquele cover de Iris do Goo Goo Dolls. — apontou para o vídeo.
— Que susto, louco. Pra quê gritar desse jeito? — perguntou dando um pedala no loiro.
— Calem a boca e vamos escutar. — disse.
se encolhe no canto do sofá quando o vídeo começou a ser reproduzido. Era um dos primeiros que haviam postado. Ficou observando as expressões dos garotos ainda com vergonha por estar sendo avaliada indiretamente. Percebeu um sorriso de canto em seus rostos e se tranquilizou um pouco, mesmo já tendo cantado na frente dos quatro, havia sido em um lugar barulhento e com a ajuda de algumas cervejas. Ter um de seus vídeos, nos quais cantava com todo seu sentimento, sendo vistos por pessoas novas e que tinham experiência em música era algo que a fazia ficar tímida e com as mãos geladas.
O último segundo de música encerrou o vídeo e cancelou a reprodução automática do próximo para se virar e encarar os amigos. As gêmeas os olhavam inquietas esperando por algum comentário ou representação de suas opiniões.
— Você tinha razão, . Não dava pra levar a sério o que dissemos no sábado. — disse, vendo a garota mexer os dedos nervosa. — Vocês são muito melhores do que vimos aquele dia!
— Com certeza! Eu não sei como vocês não fizeram sucesso total!
— Vocês cantam muito!
— Vocês têm que começar a usar esse talento em uma carreira profissional!
Os quatro começaram a elogiar juntos, fazendo as duas abrirem sorrisos largos, contentes com a opinião deles. respirou aliviada e chegou a ficar tímida com tantos elogios e opiniões positivas sobre ela e sua irmã.
— Muito obrigada, garotos! Tô começando a ficar com vergonha depois dessa. — disse, escondendo o rosto nas mãos e fazendo-os rir.
— Deixa de besteira, . Não se pode ter vergonha de um talento desses. — disse, cutucando a garota para que ela levantasse o rosto.
— Deixa rolando os vídeos aí, . E conta pra gente como vocês começaram e levam pra frente o canal. — disse, vendo-a concordar.
— Na verdade começou como algo entre nós duas. Desde pequenas nós gostávamos de cantar juntas e com o passar dos anos fomos aumentando nossa paixão pela música. Eu comecei a tocar violão e a fez aulas de piano. Nossa família e amigos conheciam esse lado nosso e viviam nos chamando para cantar nas festinhas e reuniões... — deu a deixa para que a irmã continuasse a história.
— Até que dois anos atrás, nós estávamos no tédio em casa e resolvemos gravar um vídeo pelo celular para mandar pra um amigo nosso. Era aniversário dele e ele vivia pedindo que fizéssemos uma homenagem com música. Nós gravamos You've Got A Friend e mandamos pela internet para ele. Só que ele gostou tanto que resolveu postar sem ao menos nos avisar. — disse, sorrindo com as lembranças passando por sua mente.
— A gente quis matar ele! Mas quando vimos já havia mais de mil curtidas e muitos comentários e compartilhamentos. Mesmo gostando de música, nunca havíamos pensado em expandir essa paixão. Porém, depois disso muitas pessoas próximas começaram a nos motivar a continuar produzindo pelo menos os vídeos. Foi nessa hora que percebemos que éramos boas realmente. — disse e deixou a irmã completar.
— Um mês depois, criamos o canal e postamos o primeiro vídeo oficial. Postamos um por semana, só que com essa viagem ficamos algum tempo sem gravar. Enfim, com o passar do tempo o número de inscritos foi tomando uma proporção muito grande. Atualmente o canal tem mais de dois mil inscritos, nossas redes sociais são bastantes cheias, e espalhados pelo Brasil existem pessoas que se dizem nossos fãs e estão constantemente entrando em contato com nós pedindo mais e mais vídeos. — finalizou.
— Uou! Quer dizer que temos amigas famosas e não sabíamos? — perguntou boquiaberto.
— Não somos famosas. Comparando com outros cantores não somos nada. Apenas garotas que cantam em frente a uma câmera. — respondeu.
— Eu discordo. Vocês são melhores do que muita gente e só não saíram detrás das câmeras pro palco porque ainda não buscaram isso. Tenho certeza de que se vocês montassem uma banda, ou algo do tipo, iriam conquistar fãs pelo mundo todo. — disse sorrindo.
— Concordo com o . Olha só pra isso. — apontou para a televisão, onde passava as duas cantando Just The Way You Are. — O McFly poderia até fazer um show com a banda de vocês!
— Olha, acho que vocês tão começando a exagerar. Eu e a cogitamos a ideia de montar uma banda tempos atrás, mas vimos que não daria certo.
— Exatamente! — se levantou e continuou antes de ir para a cozinha. — E chega de falar de nós. Vamos pra parte interessante de verdade.
— Que-doce-é-esse?! — disse de olhos fechados com um pouco de brigadeiro dentro da boca ainda.
— Isso é o paraíso em forma sólida. — completou, levantando a colher com o brigadeiro de forma teatral.
— Esse é o herói de toda mulher durante a TPM no Brasil. — disse, rindo das expressões de e . Soltou a primeira coisa que pensou, fazendo ter uma crise de riso. — Olhando assim parece até que vocês estão sentindo prazer por um outro motivo...
— ! Você não presta. — a primogênita tinha lágrimas nos olhos de tanto rir.
— Eu não tenho concentração nem para rebater sua piada. Eu quero casar com esse doce. — respondeu, fingindo abraçar a colher.
— Tô contigo, . — concordou.
— Eu não esperava uma reação menor. Mas, até agora vocês só viram as fotos dos principais estados do Brasil e provaram o brigadeiro. Falta uma parte para conhecer um pouco mais sobre os brasileiros. — largou a colher e começou a procurar alguns links no notebook.
— E qual é? — perguntou curioso.
— A música! — ela respondeu animada, parando na frente da televisão em uma pose exagerada. — Mas o melhor de tudo é que além de escutarem as músicas vocês vão aprender a dançar!
— É O QUE? — perguntou espantado e sendo interrompido pela senhora que passava pela sala naquele momento.
— Olá, garotos! — Kath cumprimentou-os.
— Gente, essa é nossa avó Katherine. Vó, esses são , , e . — apresentou-os apontando para cada um respectivamente e vendo os garotos a cumprimentarem também.
— Por mais que as vezes sejam meio exaltadas, espero que minhas netas tenham sido boas anfitriãs. — Kath disse, fazendo os garotos rirem e as gêmeas a olharem boquiabertas.
— Dona Katherine, já está entregando nossos podres? — perguntou colocando a mão na cintura.
— Minha querida, só estou comentando o que eles já viram, inclusive a poucos minutos. — a senhora respondeu divertida e apontou para onde estava antes em uma pose exagerada.
— É isso aí, Senhora Katherine! — entrou na brincadeira e aplaudiu a mais velha com a ajuda dos amigos.
— Podem me chamar de Kath. Fiquem à vontade, vim apenas pegar algo para comer antes de voltar para minha leitura. — Katherine disse e foi para a cozinha rapidamente, subindo para o quarto depois.
— Mudei de time, vou deixar de ser fã de vocês pra ser da Kath. — brincou, vendo as gêmeas mandarem dedo juntas.
— É nesses momentos de boa educação que vejo a semelhança de vocês. — alfinetou-as.
— Quero ver esse bom humor continuar é agora. Venham para cá, tá na hora de dançar. — chamou-os para onde estava, no tapete em frente à televisão.
— Vocês estão falando sério? — perguntou com os olhos arregalados.
— Claro! Vocês que quiseram conhecer o Brasil, vamos fazer isso direito então. — respondeu divertida.
— McFly, em formação! Vamos mostrar para essas gêmeas o que é dançar! — disse, indo para o centro do tapete.
— É isso aí, ! — levantou e os outros dois o seguiu.
— Muito bem! Além dos estilos de músicas já conhecidos por vocês, no Brasil existem alguns diferentes. O primeiro vai ser o sertanejo. — explicou.
— É um estilo bastante presente em algumas regiões. Existem algumas variações dentro dele, tipo o arrocha. Então pode-se dançar em casal ou sozinho. Como estamos com uma minoria de garotas, é melhor fazer os passos individuais. — disse, vendo-os garotos meio perdidos a cada nome diferente. — Vamos pra prática que é melhor. Essa música circulou por vários lugares, talvez vocês conheçam.
A primogênita deu play na primeira música separada e automaticamente "Ai se eu te pego" começou a tocar.
— É melhor ensinar o mais fácil. — disse, começando a fazer o passo. — Passem um braço na frente da barriga, apoiem o outro cotovelo nesse braço e a cabeça na mão que está apoiada. Assim, olha.
De início os garotos ficaram apenas parados rindo, mas depois da insistência das garotas começaram a seguir os movimentos que elas faziam. Entre risadas e passos exagerados os seis seguiram até o fim da música.
— Vocês têm sorte em não depender da dança para sobreviver. — brincou, rindo dos últimos movimentos dos garotos.
— Nem vem, ok? Só preferimos não demonstrar todo o nosso dom pra vocês não se sentirem intimidadas. — disse com uma falsa cara de deboche e mão na cintura.
— Ah, não precisa se preocupar com isso. Nos prove que são bons no próximo estilo. — disse, afastando o cabelo que caía na frente dos olhos.
— E qual o próximo? — perguntou receoso.
— Tecnobrega e brega pop, são dois estilos bem próximos e como não sabemos diferenciar, vamos considerar como um só. — respondeu. — A dança desse é basicamente muita jogada de cabelo e balançar de cintura.
— Ah! Muito fácil, amiga! — disse ironicamente, afinando a voz.
— Sem reclamações e dançando! — deu play na música e voltou para o seu lugar.
"A lua me traiu" saia pelo autofalante e preenchia o ambiente. A cena não poderia ser melhor: e quase caindo a cada jogada de cabelo, e tentando, inutilmente, balançar a cintura rapidamente e as gêmeas fazendo os passos entre crises de riso.
— Esse é o melhor dia da minha vida. — secou uma lágrima, ainda rindo dos garotos.
— Engraçadinha, tá morrendo de inveja e fica disfarçando. — disse.
— Com certeza! No dia que eu aprender a rebolar que nem o minha vida estará feita. — ela respondeu.
— Dá pra passar pro próximo estilo logo? Tô no pique aqui. — disse, dando alguns pulinhos.
— Ok! Chegou a hora de sambar! — disse animada.
As garotas se concentraram em tentar ensinar o passo básico do samba, mas acabaram desistindo depois que o máximo que conseguiu foi ficar passando o peso do corpo de uma perna para outra. Apresentaram também o forró e finalmente, o mais aguardado pelas gêmeas.
— Deixamos o melhor para o final. — disse com um sorriso sapeca.
— Tô até com medo do que vem pela frente. — disse, respirando rápido devido os esforços físicos.
— Não pode ser pior do que aquele segundo. Acho que dei até um jeito no meu pescoço. — disse, colocando a mão no local.
— O estilo de agora é o funk, que pode ser resumido em rebolar, rebolar, rebolar e rebolar. — explicou, vendo a cara de assustado dos garotos.
— Coisa que quase não fizemos hoje. — disse sarcástico.
— Olha, não é tão difícil. Vamos deixar de lado a parte de descer até o chão ou rebolar de cabeça para baixo, apenas coloquem as mãos em um joelho e rebolem. Depois basta ficar passando as mãos de um joelho para o outro. — disse e riu depois de ver os olhares arregalados dos amigos à simples menção do "rebolar de cabeça para baixo".
— Se preparem para o show, queridinhas. — disse, afastando as gêmeas e deixando apenas os quatro no centro. — Solta o som!
deu play em "Cerol na mão" e presenciou a melhor parte da tarde. Diferente do que elas esperavam, os quatro conseguiram manter uma sincronia e fizeram o movimento que ensinara, mas de forma mais intensa. As gêmeas começaram a aplaudir e soltar gritinhos para os garotos, que mesmo dançando riam um do outro.
parou de dançar e puxou as duas para junto dos quatro. Deixaram de lado as separações de cada estilo e dançaram todos os passos que aprenderam, fazendo as amigas terem mais crise de risos. Aproveitaram a reprodução automática e curtiram mais algumas músicas brasileiras até que o corpo pedisse descanso. Se jogaram de qualquer jeito no tapete e recuperaram o fôlego.
— Ainda bem que eu filmei isso! — comentou naturalmente.
— Como é que é? — os cinco perguntaram juntos, erguendo parte do corpo para encarar a garota.
— Vocês acharam que eu ia perder a oportunidade de registrar essas cenas maravilhosas? Vai tudo para minha pasta de recordações. — ela respondeu, ignorando os olhares.
— Safada! Nem me avisou. — reclamou, jogando uma almofada na irmã.
— Eu achei que você tivesse visto quando liguei a webcam.... É bom que fica bem natural. — a primogênita disse, vendo a mais nova revirando os olhos.
— Nossa tarde foi maravilhosa, brasileirinhas. Mas precisamos ir. — disse depois de alguns minutos jogados no chão em silêncio, consultando o relógio e vendo as horas.
— Podem se considerar meio brasileiros depois de hoje. — brincou, ficando em pé e acompanhando os garotos até a porta.
— Não perderia essa oportunidade por nada. — saiu da casa, dando uma piscadela.
Todos se despediram e as irmãs voltaram para dentro de casa, arrumando a pequena bagunça que restara da tarde animada. Guardaram tudo e se jogaram no sofá.
— Esses garotos me divertem demais. Tivemos sorte em conhecer pessoas tão legais. — quebrou o silêncio depois de alguns minutos.
— Esses garotos ou o ? — perguntou divertida, arqueando uma sobrancelha.
— An? Tá querendo dizer o que? — perguntou, tentando parecer séria.
— Depois de dezoito anos é difícil alguma coisa sua passar batido por mim. Ou você acha que não percebi suas olhadas nele? — perguntou, vendo a irmã revirar os olhos.
— Para de viagem, . — disse e se calou. Mas percebendo a cara de quem não havia acreditado da irmã, bufou e continuou a falar. — Tá ok, fiquei olhando mesmo, e daí?
— Sabia! Quer dizer que tem alguém de olho no músico...
— Também não é pra tanto, só achei ele gato. Convenhamos que é difícil se manter concentrada com quatro gatinhos rebolando na sua frente. Eu ainda me dei o trabalho de me portar como boa moça e escolher apenas um pra admirar.
— Nossa, realmente. Depois dessa você merece um prêmio de comportamento. — ironizou e recebeu uma almofadada no rosto. — Tô de olho em vocês dois, Dona .
— Você cansa minha beleza. Vou até tomar um banho pra me recuperar. — saiu da sala e deixou a irmã rindo sozinha na sala.
— Argh! Fica quieto, . Não tá vendo que tenho que me concentrar, aqui? — perguntou, se virando de lado e apontando para os papéis em cima da mesa.
Estavam as duas gêmeas e na penúltima aula do dia, Biologia. Ainda que o professor tivesse passado uma lista de exercícios para ser entregue no mesmo horário, a aula estava agradável. Pelo menos até lembrar que ainda não tinha visto o canal de covers das amigas e começar a cobrar.
— Fala sério, . Todo mundo sabe que o Sr. Thompson nunca cobra essas atividades. E eu não vou parar até você me mostrar. — respondeu, cruzando os braços.
— Caralho! Você tá falando disso desde a hora em que nos encontramos, já falamos que não vamos mostrar isso aqui. — entrou na conversa, deixando de lado suas anotações.
— Então vamos embora, agora. Aí vocês me mostram. — ameaçou levantar da sua cadeira.
— Eu não vou cabular aula por causa disso. — disse, revirando os olhos.
— Não quer mostrar aqui e não quer ir embora. Como vou ver esses vídeos então? — bufou, ignorando o olhar reprovador do garoto com quem fazia dupla, que resolvia os exercícios sozinho enquanto o loiro conversava.
— Ele não vai desistir. — disse para a irmã, apoiando a testa na mesa.
— Acho que tenho uma ideia de como resolver isso. — disse antes de se virar e encarar o garoto. — Vamos adiantar aquela tarde brasileira que havíamos comentado semana passada. Você e o vão lá pra casa hoje e além de mostrarmos a cultura brasileira também mostramos os vídeos.
— Mas como vamos fazer o brigadeiro? Não tem os ingredientes lá em casa e eu não tenho ideia de onde posso encontrar. — perguntou.
— Tinha esquecido desse detalhe... — disse pensativa. — É o seguinte, , se você encontrar alguma loja que venda os ingredientes que precisamos e conseguir levar hoje de tarde, faremos o que eu disse. Caso contrário, vamos ter que adiar tudo.
— Isso é injusto! Vocês ficaram de mostrar segunda. — disse.
— Não lembro desse trato. — disse, arqueando uma das sobrancelhas.
— Tá ok, vocês venceram. — disse, revirando os olhos. — Vou falar com o agora mesmo. É questão de honra conseguir ver o canal hoje.
— Agora tipo agora? — perguntou, vendo-o se levantar e pegar a mochila.
— Claro, quanto antes melhor. Só escreve aí o nome do que tenho que comprar. — ele disse.
encarou a irmã, que deu de ombros, e pegou o caderno para anotar os ingredientes. Entregou o papel para e em questão de segundos o mesmo havia saído da sala.
— Parece que tem alguém empolgado... — disse, rindo da pressa do amigo.
— Empolgação é pouco pra isso. — respondeu. — Já pensou no que vamos fazer de tarde?
— Tenho algumas ideias... — disse com um sorriso sacana.
— Essa cara não me engana, posso imaginar que tem zoeira no meio.
— E quando não tem? Só espero que a vovó não ache ruim termos convidado eles...
— Desde quando Dona Kath nega visita? — brincou, fazendo a irmã rir.
— Tô pra ver senhora mais sociável do que essa nossa. Mas aí, vamos terminar essa lista logo e irmos embora. — disse, voltando sua atenção para o exercício.
A caçula zapeava os canais da televisão entediada quando escutou o celular apitando. Pegou o aparelho em cima do sofá e abriu a mensagem que havia chegado.
riu incrédula, não imaginava que convenceria o amigo a sair na busca por algo que não conhecia apenas para honrar com a própria palavra. Respondeu com um "Ok" e subiu correndo a escada, indo em direção ao quarto da avó. Bateu na porta e esperou a confirmação da senhora para poder entrar.
— Cansou de ser antissocial? — perguntou. A primogênita estava deitada no colo da avó, a qual fazia cafuné na neta sentada na cama.
— Ah nem, fiquei com ciúmes. — fez bico e apontou para a carícia das duas enquanto se sentava na cama de pernas cruzadas.
— Nem adianta fazer essa cara, não saio daqui! — disse firme.
— Por favor, meninas. Tem Katherine para todo mundo, não precisam brigar.
— Tudo bem, vovó. Até porque a vai ter que sair daí.
— Posso saber por qual motivo? — a primogênita perguntou.
— acabou de mandar mensagem avisando que compraram as coisas, logo estarão aqui.
— E a gente duvidando do ... — disse, se levantando do colo da avó. — Vovó, não falamos antes porque achamos que ia ficar pra outro dia, mas tudo bem se nossos amigos vierem pra cá? Ficamos de apresentar como é o Brasil além do que eles sabem.
— Claro que sim, meu amor. — Kath respondeu. — Só se certifiquem de que está tudo organizado lá em baixo e vejam se precisam de algo.
— Não precisa se preocupar, vó. A gente se vira lá em baixo. Aproveita pra descansar um pouco. — disse, se levantando da cama e depositando um beijo na bochecha da senhora.
— Descansar? Minha querida, tenho um romance de trezentas páginas para terminar de ler. — Kath respondeu divertida. A senhora alimentava o hábito de ler desde muito cedo, influenciando todos os seus filhos e netos quando possível.
— Tá certo! Boa leitura, vovó. Qualquer coisa é só descer ou gritar por nós. — disse, saindo do quarto com a irmã. — Eles já estão chegando ou vão demorar um pouco?
— Para ser sincera, não sei. O só disse que tinha ido até o fim do mundo pra achar os ingredientes e que daqui a pouco chegava. — disse.
— Entendi.... Vou pegar o notebook e você vai dando uma geral na sala. Do jeito que você é aposto que deixou as almofadas todas espalhas.
— Claro que não! — disse incerta, deixando a irmã para trás e voltando à sala.
Parou na ponta da escada e olhou o cômodo, encontrando-o da maneira que havia falado. Correu para arrumar as almofadas antes que a irmã chegasse e ligou a televisão depois. A primogênita chegou e conectou o notebook à TV, para que ficasse melhor de todos verem os vídeos mais tarde.
Em poucos minutos, escutaram uma buzina e saiu da casa para checar se eram seus convidados. Abriu a porta e encontrou e saindo de um carro preto carregando duas sacolas e e acenando de dentro do automóvel.
— Hey, garotos! Estão de saída também? — cumprimentou os quatro e perguntou para os mais velhos nos bancos da frente.
— Oi, . Na verdade, só viemos dar a carona pros idiotas, íamos ensaiar antes do comentar que tinha um compromisso aqui com o e vocês. — respondeu.
— Atrapalhando o ensaio da banda por besteira, ? — perguntou com um sorriso de lado, se aproximando de todos e vendo-o confirmar animado. — Ele pelo menos convidou vocês?
— Não, mas nem precisa se preocupar. — respondeu envergonhado.
— Não vejo preocupação nenhuma, aproveita que estão aqui e fiquem com a gente. — a primogênita disse e eles se entreolharam incertos. — A não ser que tenham algo mais importante pra fazer...
— Ganhar do no vídeo game perdeu a importância depois de entrar pra rotina. — disse, rindo e saindo do carro com o amigo.
— Falando assim nem parece que você vive perdendo pro grande mestre aqui. — brincou, apontando para si.
— Não vamos entrar nessa discussão de quem é o melhor, até porque eu ganharia. — disse, vendo os amigos rolarem os olhos.
— O melhor ou não, vamos entrar. O brigadeiro não se fará sozinho aqui fora. — disse, entrando na casa e dando passagem para os outros. — Fiquem à vontade, garotos.
— Melhor não falar isso, . Da última vez o levou a sério demais e foi abrindo a geladeira e se jogando no sofá. — brincou.
— Ei, eu não fiz nada disso! — protestou, fazendo as garotas rirem.
— Sem problemas, . Desde que você não roube minha comida, tá tudo bem. — disse, pegando as sacolas com e e olhando seu conteúdo. — É, vocês realmente conseguiram tudo.
— Rodamos o mercado inteiro pra conseguir achar esse aqui. — apontou para o leite condensado dentro da sacola.
— Imaginei que seria difícil mesmo. Sentem aí, vou preparar tudo logo. — disse, indo para a cozinha.
— E aí, como vocês estão? — perguntou enquanto abria alguns links no notebook.
— Bem e você? — os quatro responderam sincronizados, rindo depois da coincidência.
— Estou bem, coral. — respondeu, rindo. — Vocês preferem começar pelo Brasil ou por nós? — VOCÊS! — respondeu animado.
— Dude, se controla. — riu da empolgação do amigo.
— Você devia ter falado isso mais cedo. Ele só me deixou em paz quando a sugeriu que vocês viessem para cá. — disse.
— Sabemos como o é quando fica curioso. — disse, bagunçando o cabelo de .
— Vocês também estão doidos pra ver, falam de mim porque tem inveja. — disse.
— Nossa, morro de inveja de você. — respondeu irônico.
— Eu sei. — disse sorridente sem perceber o sarcasmo.
— Que cheiro bom é esse? — perguntou, respirando fundo e sentindo o aroma adocicado dominar a sala.
— É o brigadeiro da . — respondeu.
— Bri o que? — perguntou, fazendo careta ao ouvir a palavra estranha.
— Bri-ga-dei-ro, um doce do Brasil. Faz parte do trato de mostrar a cultura brasileira pros meninos. — explicou e começou a rir de tentando pronunciar a palavra.
— Briguadêrô?
— Quase lá, . Repete comigo. Aliás, você três também! Os quatro juntos. Bri-ga-deeeei-ro. — falava a palavra lentamente para que eles entendessem a pronúncia.
— Brigadêêêro. — eles repetiram, ainda se embolando com algumas partes.
— É um bom começo. — riu e aplaudiu os amigos.
— Espero que o gosto seja melhor do que o nome. — brincou, fazendo os amigos rirem e concordarem.
— Tá duvidando dos meus dotes culinários, ? — perguntou, chegando na sala e sentando no chão.
— Imagina. — respondeu com sarcasmo, fazendo todos rirem e a primogênita arremessar a almofada mais próxima nele.
— Vai pagar a língua quando provar. — ela respondeu e concordou.
— Mana, eles preferem ver o canal e depois partimos para o Brasil. — explicou enquanto a irmã mexia no notebook. — O link tá aberto em uma dessas abas aí.
concordou e abriu a página do canal das irmãs, vendo a tela ser espelhada na televisão.
— Gostei da foto, só não consigo entender o que tá escrito. — disse, apontando para a foto, que era as duas irmãs com um violão e fazendo careta, e para o nome do canal.
— E desde quando você entende alguma coisa? — perguntou, rindo com os amigos e levando um pedala de volta.
— Tá em português, idiota. — respondeu. — É português, né meninas?
— Isso mesmo. Significa "As Gêmeas". — respondeu e virou para eles — Antes de mais nada, não se preocupem em ser educados e caso achem muito ruim basta avisar que tiramos.
— Nós não vamos achar ruim, vocês já cantaram na nossa frente. — disse.
— Sim, mas daquela vez estavam todos meio bêbados, não dá pra levar a sério. — disse, cruzando os braços.
— Tudo bem, por mais que eu concorde com o podem ficar tranquilas que se não gostarmos iremos falar. — disse.
— Ok. Podem escolher. — apontou para a coluna de vídeos na televisão enquanto passava as opções.
— PARA! Ali, aquele cover de Iris do Goo Goo Dolls. — apontou para o vídeo.
— Que susto, louco. Pra quê gritar desse jeito? — perguntou dando um pedala no loiro.
— Calem a boca e vamos escutar. — disse.
se encolhe no canto do sofá quando o vídeo começou a ser reproduzido. Era um dos primeiros que haviam postado. Ficou observando as expressões dos garotos ainda com vergonha por estar sendo avaliada indiretamente. Percebeu um sorriso de canto em seus rostos e se tranquilizou um pouco, mesmo já tendo cantado na frente dos quatro, havia sido em um lugar barulhento e com a ajuda de algumas cervejas. Ter um de seus vídeos, nos quais cantava com todo seu sentimento, sendo vistos por pessoas novas e que tinham experiência em música era algo que a fazia ficar tímida e com as mãos geladas.
O último segundo de música encerrou o vídeo e cancelou a reprodução automática do próximo para se virar e encarar os amigos. As gêmeas os olhavam inquietas esperando por algum comentário ou representação de suas opiniões.
— Você tinha razão, . Não dava pra levar a sério o que dissemos no sábado. — disse, vendo a garota mexer os dedos nervosa. — Vocês são muito melhores do que vimos aquele dia!
— Com certeza! Eu não sei como vocês não fizeram sucesso total!
— Vocês cantam muito!
— Vocês têm que começar a usar esse talento em uma carreira profissional!
Os quatro começaram a elogiar juntos, fazendo as duas abrirem sorrisos largos, contentes com a opinião deles. respirou aliviada e chegou a ficar tímida com tantos elogios e opiniões positivas sobre ela e sua irmã.
— Muito obrigada, garotos! Tô começando a ficar com vergonha depois dessa. — disse, escondendo o rosto nas mãos e fazendo-os rir.
— Deixa de besteira, . Não se pode ter vergonha de um talento desses. — disse, cutucando a garota para que ela levantasse o rosto.
— Deixa rolando os vídeos aí, . E conta pra gente como vocês começaram e levam pra frente o canal. — disse, vendo-a concordar.
— Na verdade começou como algo entre nós duas. Desde pequenas nós gostávamos de cantar juntas e com o passar dos anos fomos aumentando nossa paixão pela música. Eu comecei a tocar violão e a fez aulas de piano. Nossa família e amigos conheciam esse lado nosso e viviam nos chamando para cantar nas festinhas e reuniões... — deu a deixa para que a irmã continuasse a história.
— Até que dois anos atrás, nós estávamos no tédio em casa e resolvemos gravar um vídeo pelo celular para mandar pra um amigo nosso. Era aniversário dele e ele vivia pedindo que fizéssemos uma homenagem com música. Nós gravamos You've Got A Friend e mandamos pela internet para ele. Só que ele gostou tanto que resolveu postar sem ao menos nos avisar. — disse, sorrindo com as lembranças passando por sua mente.
— A gente quis matar ele! Mas quando vimos já havia mais de mil curtidas e muitos comentários e compartilhamentos. Mesmo gostando de música, nunca havíamos pensado em expandir essa paixão. Porém, depois disso muitas pessoas próximas começaram a nos motivar a continuar produzindo pelo menos os vídeos. Foi nessa hora que percebemos que éramos boas realmente. — disse e deixou a irmã completar.
— Um mês depois, criamos o canal e postamos o primeiro vídeo oficial. Postamos um por semana, só que com essa viagem ficamos algum tempo sem gravar. Enfim, com o passar do tempo o número de inscritos foi tomando uma proporção muito grande. Atualmente o canal tem mais de dois mil inscritos, nossas redes sociais são bastantes cheias, e espalhados pelo Brasil existem pessoas que se dizem nossos fãs e estão constantemente entrando em contato com nós pedindo mais e mais vídeos. — finalizou.
— Uou! Quer dizer que temos amigas famosas e não sabíamos? — perguntou boquiaberto.
— Não somos famosas. Comparando com outros cantores não somos nada. Apenas garotas que cantam em frente a uma câmera. — respondeu.
— Eu discordo. Vocês são melhores do que muita gente e só não saíram detrás das câmeras pro palco porque ainda não buscaram isso. Tenho certeza de que se vocês montassem uma banda, ou algo do tipo, iriam conquistar fãs pelo mundo todo. — disse sorrindo.
— Concordo com o . Olha só pra isso. — apontou para a televisão, onde passava as duas cantando Just The Way You Are. — O McFly poderia até fazer um show com a banda de vocês!
— Olha, acho que vocês tão começando a exagerar. Eu e a cogitamos a ideia de montar uma banda tempos atrás, mas vimos que não daria certo.
— Exatamente! — se levantou e continuou antes de ir para a cozinha. — E chega de falar de nós. Vamos pra parte interessante de verdade.
— Que-doce-é-esse?! — disse de olhos fechados com um pouco de brigadeiro dentro da boca ainda.
— Isso é o paraíso em forma sólida. — completou, levantando a colher com o brigadeiro de forma teatral.
— Esse é o herói de toda mulher durante a TPM no Brasil. — disse, rindo das expressões de e . Soltou a primeira coisa que pensou, fazendo ter uma crise de riso. — Olhando assim parece até que vocês estão sentindo prazer por um outro motivo...
— ! Você não presta. — a primogênita tinha lágrimas nos olhos de tanto rir.
— Eu não tenho concentração nem para rebater sua piada. Eu quero casar com esse doce. — respondeu, fingindo abraçar a colher.
— Tô contigo, . — concordou.
— Eu não esperava uma reação menor. Mas, até agora vocês só viram as fotos dos principais estados do Brasil e provaram o brigadeiro. Falta uma parte para conhecer um pouco mais sobre os brasileiros. — largou a colher e começou a procurar alguns links no notebook.
— E qual é? — perguntou curioso.
— A música! — ela respondeu animada, parando na frente da televisão em uma pose exagerada. — Mas o melhor de tudo é que além de escutarem as músicas vocês vão aprender a dançar!
— É O QUE? — perguntou espantado e sendo interrompido pela senhora que passava pela sala naquele momento.
— Olá, garotos! — Kath cumprimentou-os.
— Gente, essa é nossa avó Katherine. Vó, esses são , , e . — apresentou-os apontando para cada um respectivamente e vendo os garotos a cumprimentarem também.
— Por mais que as vezes sejam meio exaltadas, espero que minhas netas tenham sido boas anfitriãs. — Kath disse, fazendo os garotos rirem e as gêmeas a olharem boquiabertas.
— Dona Katherine, já está entregando nossos podres? — perguntou colocando a mão na cintura.
— Minha querida, só estou comentando o que eles já viram, inclusive a poucos minutos. — a senhora respondeu divertida e apontou para onde estava antes em uma pose exagerada.
— É isso aí, Senhora Katherine! — entrou na brincadeira e aplaudiu a mais velha com a ajuda dos amigos.
— Podem me chamar de Kath. Fiquem à vontade, vim apenas pegar algo para comer antes de voltar para minha leitura. — Katherine disse e foi para a cozinha rapidamente, subindo para o quarto depois.
— Mudei de time, vou deixar de ser fã de vocês pra ser da Kath. — brincou, vendo as gêmeas mandarem dedo juntas.
— É nesses momentos de boa educação que vejo a semelhança de vocês. — alfinetou-as.
— Quero ver esse bom humor continuar é agora. Venham para cá, tá na hora de dançar. — chamou-os para onde estava, no tapete em frente à televisão.
— Vocês estão falando sério? — perguntou com os olhos arregalados.
— Claro! Vocês que quiseram conhecer o Brasil, vamos fazer isso direito então. — respondeu divertida.
— McFly, em formação! Vamos mostrar para essas gêmeas o que é dançar! — disse, indo para o centro do tapete.
— É isso aí, ! — levantou e os outros dois o seguiu.
— Muito bem! Além dos estilos de músicas já conhecidos por vocês, no Brasil existem alguns diferentes. O primeiro vai ser o sertanejo. — explicou.
— É um estilo bastante presente em algumas regiões. Existem algumas variações dentro dele, tipo o arrocha. Então pode-se dançar em casal ou sozinho. Como estamos com uma minoria de garotas, é melhor fazer os passos individuais. — disse, vendo-os garotos meio perdidos a cada nome diferente. — Vamos pra prática que é melhor. Essa música circulou por vários lugares, talvez vocês conheçam.
A primogênita deu play na primeira música separada e automaticamente "Ai se eu te pego" começou a tocar.
— É melhor ensinar o mais fácil. — disse, começando a fazer o passo. — Passem um braço na frente da barriga, apoiem o outro cotovelo nesse braço e a cabeça na mão que está apoiada. Assim, olha.
De início os garotos ficaram apenas parados rindo, mas depois da insistência das garotas começaram a seguir os movimentos que elas faziam. Entre risadas e passos exagerados os seis seguiram até o fim da música.
— Vocês têm sorte em não depender da dança para sobreviver. — brincou, rindo dos últimos movimentos dos garotos.
— Nem vem, ok? Só preferimos não demonstrar todo o nosso dom pra vocês não se sentirem intimidadas. — disse com uma falsa cara de deboche e mão na cintura.
— Ah, não precisa se preocupar com isso. Nos prove que são bons no próximo estilo. — disse, afastando o cabelo que caía na frente dos olhos.
— E qual o próximo? — perguntou receoso.
— Tecnobrega e brega pop, são dois estilos bem próximos e como não sabemos diferenciar, vamos considerar como um só. — respondeu. — A dança desse é basicamente muita jogada de cabelo e balançar de cintura.
— Ah! Muito fácil, amiga! — disse ironicamente, afinando a voz.
— Sem reclamações e dançando! — deu play na música e voltou para o seu lugar.
"A lua me traiu" saia pelo autofalante e preenchia o ambiente. A cena não poderia ser melhor: e quase caindo a cada jogada de cabelo, e tentando, inutilmente, balançar a cintura rapidamente e as gêmeas fazendo os passos entre crises de riso.
— Esse é o melhor dia da minha vida. — secou uma lágrima, ainda rindo dos garotos.
— Engraçadinha, tá morrendo de inveja e fica disfarçando. — disse.
— Com certeza! No dia que eu aprender a rebolar que nem o minha vida estará feita. — ela respondeu.
— Dá pra passar pro próximo estilo logo? Tô no pique aqui. — disse, dando alguns pulinhos.
— Ok! Chegou a hora de sambar! — disse animada.
As garotas se concentraram em tentar ensinar o passo básico do samba, mas acabaram desistindo depois que o máximo que conseguiu foi ficar passando o peso do corpo de uma perna para outra. Apresentaram também o forró e finalmente, o mais aguardado pelas gêmeas.
— Deixamos o melhor para o final. — disse com um sorriso sapeca.
— Tô até com medo do que vem pela frente. — disse, respirando rápido devido os esforços físicos.
— Não pode ser pior do que aquele segundo. Acho que dei até um jeito no meu pescoço. — disse, colocando a mão no local.
— O estilo de agora é o funk, que pode ser resumido em rebolar, rebolar, rebolar e rebolar. — explicou, vendo a cara de assustado dos garotos.
— Coisa que quase não fizemos hoje. — disse sarcástico.
— Olha, não é tão difícil. Vamos deixar de lado a parte de descer até o chão ou rebolar de cabeça para baixo, apenas coloquem as mãos em um joelho e rebolem. Depois basta ficar passando as mãos de um joelho para o outro. — disse e riu depois de ver os olhares arregalados dos amigos à simples menção do "rebolar de cabeça para baixo".
— Se preparem para o show, queridinhas. — disse, afastando as gêmeas e deixando apenas os quatro no centro. — Solta o som!
deu play em "Cerol na mão" e presenciou a melhor parte da tarde. Diferente do que elas esperavam, os quatro conseguiram manter uma sincronia e fizeram o movimento que ensinara, mas de forma mais intensa. As gêmeas começaram a aplaudir e soltar gritinhos para os garotos, que mesmo dançando riam um do outro.
parou de dançar e puxou as duas para junto dos quatro. Deixaram de lado as separações de cada estilo e dançaram todos os passos que aprenderam, fazendo as amigas terem mais crise de risos. Aproveitaram a reprodução automática e curtiram mais algumas músicas brasileiras até que o corpo pedisse descanso. Se jogaram de qualquer jeito no tapete e recuperaram o fôlego.
— Ainda bem que eu filmei isso! — comentou naturalmente.
— Como é que é? — os cinco perguntaram juntos, erguendo parte do corpo para encarar a garota.
— Vocês acharam que eu ia perder a oportunidade de registrar essas cenas maravilhosas? Vai tudo para minha pasta de recordações. — ela respondeu, ignorando os olhares.
— Safada! Nem me avisou. — reclamou, jogando uma almofada na irmã.
— Eu achei que você tivesse visto quando liguei a webcam.... É bom que fica bem natural. — a primogênita disse, vendo a mais nova revirando os olhos.
— Nossa tarde foi maravilhosa, brasileirinhas. Mas precisamos ir. — disse depois de alguns minutos jogados no chão em silêncio, consultando o relógio e vendo as horas.
— Podem se considerar meio brasileiros depois de hoje. — brincou, ficando em pé e acompanhando os garotos até a porta.
— Não perderia essa oportunidade por nada. — saiu da casa, dando uma piscadela.
Todos se despediram e as irmãs voltaram para dentro de casa, arrumando a pequena bagunça que restara da tarde animada. Guardaram tudo e se jogaram no sofá.
— Esses garotos me divertem demais. Tivemos sorte em conhecer pessoas tão legais. — quebrou o silêncio depois de alguns minutos.
— Esses garotos ou o ? — perguntou divertida, arqueando uma sobrancelha.
— An? Tá querendo dizer o que? — perguntou, tentando parecer séria.
— Depois de dezoito anos é difícil alguma coisa sua passar batido por mim. Ou você acha que não percebi suas olhadas nele? — perguntou, vendo a irmã revirar os olhos.
— Para de viagem, . — disse e se calou. Mas percebendo a cara de quem não havia acreditado da irmã, bufou e continuou a falar. — Tá ok, fiquei olhando mesmo, e daí?
— Sabia! Quer dizer que tem alguém de olho no músico...
— Também não é pra tanto, só achei ele gato. Convenhamos que é difícil se manter concentrada com quatro gatinhos rebolando na sua frente. Eu ainda me dei o trabalho de me portar como boa moça e escolher apenas um pra admirar.
— Nossa, realmente. Depois dessa você merece um prêmio de comportamento. — ironizou e recebeu uma almofadada no rosto. — Tô de olho em vocês dois, Dona .
— Você cansa minha beleza. Vou até tomar um banho pra me recuperar. — saiu da sala e deixou a irmã rindo sozinha na sala.
Capítulo 5
Ela andava tranquila pela calçada. A música explodindo alta em seus fones de ouvido a privava do silêncio rotineiro com a irmã durante o caminho de duas quadras até a escola. Passaram pela sorveteria, viraram na esquina e avistaram o grande prédio da Dynamic School. Atravessaram os portões e foram até o corredor principal. Uma semana depois do primeiro dia de aula e haviam deixado de ser novidades e a quantidade de olhares diminuíra, o que as agradava imensamente. A caçula estava abrindo seu armário quando sentiu duas mãos tampando seus olhos.
— Jura que vou ter que adivinhar quem é? — ela perguntou e sentiu a própria cabeça se movimentar em um "sim" junto com as duas mãos. — Eu espero que você não chore caso eu te confunda, sempre erro nessa brincadeira. ?
— Poxa, . Começa o dia me xingando? — perguntou depois de tirar as mãos dos olhos da garota e colocá-las na cintura.
— Tadinho do , . Ele é só uma criança. — brincou, indo abraçar .
— Quantos insultos em menos de um minuto. — respondeu, revirando os olhos. — Tamanho não quer dizer nada, tá?
— Nós sabemos, . — disse, abraçando-o e dando bom dia.
— Desse jeito fico com ciúmes. O duende aí ganha dois abraços e eu nem um bom dia sequer. — cruzou os braços e fez um bico infantil.
— Eu disse que não era para você chorar. — brincou e abraçou o garoto. — Bom dia, .
— Agora sim. Falta só mais um. — ele respondeu e abriu os braços na direção da primogênita.
— Bom dia para você também, . — desejou e abraçou-o.
— Conseguiram se recompor das dancinhas de ontem? — perguntou divertida.
— DanCINHAS? Por pouco não travei meu pescoço. — respondeu.
— E eu demorei pelo menos dez minutos para conseguir levantar da cama sem sentir dor nas costas. — disse dramático, colocando a mão na coluna.
— Vocês são muito moles. Foi um esforço de nada. — a primogênita disse, abanando o ar com a mão.
— Exatamente. O que vocês fazem nas festas? Sentam e bebem? — perguntou com uma careta.
— E conhecemos garotas. — respondeu com um sorriso malicioso. — Precisa de mais alguma coisa?
— Ninguém merece vocês. Quem vai pra festa e não dança?
— , nem tente, ok? — disse, tampando o rosto da garota com uma mão.
— Partindo para a parte importante, temos uma novidade pra vocês. — disse.
— Uma hora dessas? Manda. — disse, cruzando os braços.
— Festa sábado na casa da Claire. — disse, sorrindo e fazendo uma dancinha.
— Se você dançar com mais vontade talvez todos se juntem a você como em High School Musical, . — falou envergonhada, apontando para as pessoas que passavam encarando-os.
— Tenho algumas perguntas: Primeiro, amanhã? Segundo, quem raios é Claire? — perguntou, ignorando que tentava acertar um pedala em sua irmã.
— No outro sábado, sem ser amanhã. E é a única líder de torcida ruiva. A que está sempre com duas loiras do seu lado. — explicou.
— Acho que sei quem é. Mas ela nos convidou? Nunca nem nos falamos.
— , a escola inteira está convidada. É tradição ela dar essa festa todo ano. Como uma boas-vindas ao novo ano escolar. — respondeu.
— É, mas a gente sabe que é só desculpa pra todo mundo encher a cara e se pegar selvagemente. — disse, rindo.
— Festa nunca é demais. Eu tô dentro! — disse, levantando a mão.
— Pode contar comigo. — disse, fazendo um high five com .
O sinal tocou, fazendo com que a movimentação nos corredores aumentasse.
— Odeio não pegar todas as aulas com vocês. — disse.
— Vocês podiam nos dizer que mágica fizeram para o diretor deixar vocês juntas em todos os horários. — disse, semicerrando os olhos.
— Mágica nenhuma. Fazer o que se somos adoráveis? — brincou e fechou seu armário.
— O ar desse lugar tá diminuindo, ? Ah não, é só a humildade da me sufocando. — ironizou, fingindo estar com falta de ar.
— HÁ-HÁ! Que engraçado. — a primogênita respondeu com ironia, dando o dedo para o garoto.
— Não sei quem é o pior. — disse, pegando seu livro e fechando o armário. — Não sei vocês, mas eu tenho uma aula para assistir agora.
— Infelizmente estamos na mesma. Até mais tarde, brasileirinhas. — respondeu, seguindo seu caminho com .
— Ei, palhaça, me espera! — disse, correndo para alcançar a irmã.
andava com a irmã pelo corredor indo para a sala de artes, onde teriam seu terceiro horário. Havia tido uma aula daquela matéria na semana passada, mas nada além de apresentações e papos furados. A caçula sentou na última cadeira e viu a irmã se sentar na sua frente. Continuaram conversando até que a professora, Srtª. Madson, chegasse. Morena, magra e usando roupas largas e coloridas era a mulher que entrou apressada na sala.
— Bom dia, caros alunos. — ela disse sorridente, largando sua bolsa na mesa e recebendo uma resposta fraca. — Porque esse desânimo? É SEXTA FEIRA!
— Uhuul! — um grupinho da frente comemorou.
— Enfim, vamos para o que interessa. Sei que nem todos conhecem o funcionamento das aulas para o último ano, então tenho que explicar como será. — a professora disse, se sentando em cima de sua mesa e cruzando as pernas. — Antes de mais nada, vamos levar em conta que essa matéria irá englobar tudo que possa ser considerado arte: teatro, pintura, música, dança... Afinal, não temos instrutores próprios de cada um desses. Então, durante o ano eu irei falar sobre cada um, ensinando algumas técnicas e apresentando os nomes mais reconhecidos de cada. A turma será dividida em grupos e cada um terá que escolher alguma maneira de expor uma crítica sobre qualquer assunto que quiserem, seja apresentando uma peça curta ou uma música autoral sobre o tema. Vocês terão o resto do ano para se preparar e na última semana de aula acontecerá uma espécie de festival onde vocês, e todos os outros que estão no último ano, se apresentarão e serão avaliados por mim.
— Pode ser qualquer assunto mesmo? — uma garota próxima a perguntou.
— Sim, mas procurem temas mais sociais e que possam ser debatidos pelo grupo. Preciso que discutam o assunto e formem uma opinião racional sobre ele. — Srtª. Madson respondeu. — Mais alguma pergunta?
— Como vai funcionar a divisão dos grupos? — o garoto sentado próximo de perguntou.
— Eu pensei em fazer uma divisão pela ordem de chamada. — a professora disse e automaticamente um burburinho se formou, obrigando-a a levantar o tom de voz — EI, ACALMEM-SE. Vou deixar que vocês montem os grupos, desde que sejam com três a cinco pessoas no máximo. Hoje a aula será apenas para vocês se organizarem e começarem a pensar no tema. Qualquer coisa é só vir me perguntar.
Bastou a professora se sentar em sua cadeira para que o barulho começasse. Entre reclamações, comemorações e muito arrastar de cadeiras a maioria dos grupos se formaram. e se encaravam sem saber o que fazer.
— Vamos ficar moscando aqui até não sobrar ninguém e a professora inventar de nos separar? — sussurrou.
— Não, mas não sei quem chamar. Alguma ideia? — perguntou.
— Que tal ele? — a primogênita apontou disfarçadamente para o garoto ao lado da irmã, que rabiscava uma folha do caderno.
— Pensei nele também, mas tô com vergonha de ir falar.
— Deixa de bobeira e vai logo. — disse, empurrando a irmã no ombro.
— Ai, louca. Tô indo. — disse e se aproximou do garoto timidamente. — Com licença. Eu e minha irmã acabamos sobrando e como você tá sozinho também pensei se não aceitaria formar um trio com nós duas.
— Pode ser. — ele deu de ombros, mostrando um sorriso encantador e arrastando sua cadeira para próximo das duas.
— Bom, eu sou a e essa é a . Você é o...?
— Dylan Stockler. — ele respondeu simpático, cumprimentando-as com um aperto de mão. Seu tom de pele escuro e os cabelos pretos destacavam os olhos mel esverdeados. — Vocês são novas por aqui, né? As brasileiras...
— Isso mesmo. — respondeu sem graça, se perdendo por alguns segundos nos olhos claros do garoto. — Você estudava aqui ou é novo também?
— Desde quatro anos atrás. — Dylan respondeu com um sorriso de lado. — Mas meu único amigo daqui se mudou esse ano, então tô sobrando nas aulas.
— Oh, sei o quanto isso pode ser chato. Mas agora você faz parte do nosso time. — disse animada.
— É, nada mal. — ele respondeu divertido. — Pensaram em algo para o trabalho?
— Na verdade, não. Mas aceito qualquer coisa, desde que não seja peça ou pintura. Sou um desastre com pincéis e tenho péssima memória. — a caçula respondeu.
— Tudo bem, acho que dança também não é uma boa opção. — ele disse.
— Concordo. As melhores opções acabam sendo o vídeo e a música. O que felizmente somos familiarizadas. — disse.
— Que ótimo! Podemos trabalhar com uma junção dos dois. — ele sugeriu.
— Isso! Nos privaria de uma apresentação direta na frente de tanta gente. — disse.
— Realmente... Melhor anotarmos o que formos decidindo para não nos desviarmos depois. — ele disse.
— Anota aí, .
— Tudo eu. — a caçula revirou os olhos, fazendo-os rir e começou anotar no caderno. — E o tema?
— Acho que essa vai ser a parte mais complicada. Quer dizer, são uma infinidade de opções. — disse, apoiando o braço na mesa e a cabeça na mão.
— É, sem contar que tem que ser um assunto que consigamos debater. — Dylan concluiu, sendo seguido por um silencio no grupo.
— Tá ok. Creio que a ideia não vá cair de paraquedas agora. Podemos ir pensando durante a semana e separando o que acharmos legal, na próxima aula escolhemos dentre o que a gente trouxer. — sugeriu, quebrando o silêncio depois de um tempo.
— Por mim tudo bem. — ele disse, vendo concordar. — Bom, vamos conversar um pouco então... Quantos anos vocês tem?
— Dezoito e você? — as irmãs responderam juntas.
— Pera, vocês são gêmeas? — ele perguntou, apontando para as duas e recebendo um aceno positivo como resposta. — Legal! Sempre quis ter um gêmeo, mas o máximo que consegui foi um irmão três anos mais velho que adora perturbar minha vida.
— Tirando a diferença de idade ter uma gêmea é isso. — brincou, fazendo-o rir.
— Você está certa... Se estiver se referindo a todas as vezes que me perturba. — respondeu, vendo a irmã mandar língua para ela.
— Ok, minha intenção não era plantar a discórdia agora. Enfim, tenho dezoito também. — ele respondeu. — O que estão achando daqui?
— Daqui escola ou daqui São Francisco? — a caçula perguntou e respondeu depois que o viu dar de ombros. — Tá bem legal. A cidade é muito linda e tem sido bem receptiva com nós...
— A escola é tranquila e mesmo não tendo feito muitos amigos, não tenho mais do que reclamar. — completou.
— Que esse não seja o problema, podem me adicionar na lista de vocês. — ele respondeu, dando uma piscadela e as fazendo sorrir.
procurou puxar papo sobre o garoto e acabou se surpreendendo ao ver que havia muitos gostos em comuns com ele. Sentiu-se contente por ter conhecido mais alguém, e dessa vez por iniciativa própria. A aula seguiu tranquila com conversas e risadas para os três. O sinal soou pela sala, fazendo o barulho de cadeiras arrastadas e falatórios recomeçar. juntou seu material e foi até a porta com os dois, sem querer de fato se despedir do garoto e interromper a conversa. Seguiram até o corredor e antes que se separassem permitiu que uma ideia fosse posta em prática.
— Hey, Dylan. Se não tiver algo pra fazer, quer passar o intervalo com a gente? — perguntou, sorrindo.
estava sentada no banco de madeira que havia no jardim dos fundos de sua casa, navegando distraída pela internet em seu notebook. Desde que chegara na Califórnia ainda não havia tirado um tempo para acompanhar alguma rede social ou notícias de seus amigos brasileiros. Olhava algumas postagens aleatórias, depois de checar seus e-mails, quando sentiu o coração dar uma pulsada forte. Deu um clique e a imagem foi ampliada. "Babaca cretino, mal esperou eu ir embora." pensou enquanto olhava a foto de Pedro abraçado com uma loira peituda, a mesma que meses atrás se atracava com ele atrás do ginásio quando os encontrou. "Que a tua luz continue iluminando minha vida e nossos caminhos. Te amo!" Dizia a legenda ao lado da imagem.
— Luz? Só se for do fogo que sai debaixo dessa saia minúscula! — disse para si mesma com raiva.
Na verdade, só naquele momento percebeu que sentia raiva. Não ciúmes, não tristeza, mas raiva. Raiva por ter sido inocente ao ponto de achar que Pedro nutria o mesmo sentimento que ela há tempos atrás. Raiva por ter sido burra e demorado tanto a perceber a verdade. Fechou a foto respirando fundo e estava disposta a desligar o notebook quando uma janela de bate papo se abriu, piscando. Um sorriso de canto se projetou em seu rosto ao ler o nome e a mensagem na tela, fazendo se esquecer do sentimento de segundos antes.
diz: SUA IDIOTA, VOU TE MATAR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
diz: três semanas dps e essa é a primeira coisa q tem p/ me flr? amo você também.
diz: Fique feliz pq te privei de uma lista com mais de dez xingamentos. Entra no Skype agr. Sem mais.
está off-line.
Revirou os olhos com um sorriso no rosto e obedeceu a amiga, sabendo que era a única saída. Fez o login e atendeu o pedido de chamada que apareceu instantaneamente na tela. Esperou alguns segundos e a imagem de uma garota morena apareceu na sua frente. prendeu o riso ao perceber que a amiga tinha o semblante irritado e olhava para a câmera esperando que ela se manifestasse.
— Oi, meu amor. — disse receosa e com um sorriso forçado de orelha a orelha.
— Eu deveria ficar sem falar com você por um ano ou mais. — a garota respondeu do outro lado, cruzando os braços. — Como teve coragem de passar esse tempo todo sem dar notícias ou um sinal de fumaça sequer? Você tá entendendo que a última vez que conversei com você foi por aquelas mensagens duas horas depois de você chegar aí e só pra avisar que já estava em casa? TRÊS SEMANAS, !
— Poxa, . Me desculpa, eu estava ocupada. — respondeu pesarosa, torcendo a boca para o lado. Sabia que estava certa em ficar irritada, as duas eram amigas desde o primário e mantinham contato diariamente.
— Ocupada com suas novas amiguinhas? — perguntou, deixando claro o ciúmes que sentia.
— Não é nada disso, . — falou manhosa e respirou fundo antes de se explicar melhor, era isso ou aguentá-la com raiva por vários dias. — Não tem novas amiguinhas nenhuma, talvez alguns amigos.... Enfim, esse não é o ponto. Me desculpe de verdade por não ir atrás de você antes. Eu estava tentando me adaptar aqui com a sem deixar que a saudade atrapalhasse, e acredite isso se mostrou uma grande barreira nos primeiros dias. A ideia era ocupar a cabeça com outras coisas até acostumar com a distância, mas depois acabei ficando ocupada de verdade com a escola e tudo mais. Me desculpa, por favor. Estava e ainda estou morrendo de saudades suas.
— Você é uma babaca. Não sei porque ainda te amo. — respondeu, deixando que a expressão se amenizasse e um sorriso aparecesse tímido. — Te desculpo sim, mas desde que isso não aconteça mais.
— Pode deixar, estarei te mantendo informada com tudo todos os dias. — a caçula alargou o sorriso, feliz por ter amansado a fera. — Vamos mudar de assunto. Como você está? Quero saber como andam as coisas por aí.
— Estou legal. Mas ainda é difícil me acostumar a não ter você por perto todos os dias. — respondeu cabisbaixa, balançando a cabeça na tentativa de espantar as lágrimas que teimavam em querer aparecer. — , você tá em São Francisco e fica querendo saber daqui? Não tem nada de novo, tudo continua do jeito que você deixou. Esqueça isso e me fale daí, sobre você e principalmente sobre esses novos amigos.
— Sabia que você não deixaria passar batido. — gargalhou com o sorriso malicioso da amiga. — Eu estou bem, mesmo tendo acabado de ver a foto do casal do ano...
— Argh! Por favor me diz que você não está pensando nele. — colocou a mão na testa.
— Não. Quer dizer... — ouviu a amiga bufar e completou a frase. — Eu me peguei pensando nele esses dias, mas depois de ver essa foto a única coisa que consegui sentir foi raiva. Então acho que não sobrou resquício daquele amor platônico.
— Finalmente! Olha, se serve de ajuda ele engordou pelo menos cinco quilos desde que você foi embora. — disse, vendo a amiga gargalhar. — E o resto?
— Bom, o resto é só maravilha. Tudo parece mais bonito agora que vivo aqui, diferente das vezes que vim apenas a passeio. — falou, vendo a amiga gesticular com a mão pedindo por mais informações. — E sim, fiz novos amigos mesmo, se é o que você queria saber.
— Agora dei valor. E são bonitos? Quero fotos...
— É... Digamos que são dignos de alguns suspiros. — respondeu. — Mais tarde te mando algumas fotos que tenho pelo celular. Só não tenho do Dylan, um moreno de olhos mel claros. Nos conhecemos hoje.
— Droga, trate de criar intimidade e tirar foto dele. Estarei aguardando as outras, e ai de você se me der bolo. E continue nesse ritmo, , quero ter vários pretendentes quando eu for te visitar.
— Você não muda, né? — perguntou entre risos, vendo-a negar divertida.
— E algum deles conseguiu te fazer suspirar? — perguntou com um sorriso de lado.
— Que raios de pergunta é essa, ?
— Ah, fala sério, . Só quero saber se tem algum gatinho que possa conquistar seu coração por aí.
— Eu cheguei só tem três semanas e não é como se eu estivesse à procura disso. — respondeu tentando disfarçar um sorriso bobo, vendo a amiga a encarar com os olhos semicerrados.
— EU CONHEÇO ESSA CARA! , não tente disfarçar, sei que tem coisa no meio. Pode desembuchar agora! — apontou para ela com a boca aberta e insistiu ao ver a amiga revirar os olhos e tomar uma pose pronta para contrariar. — Nem gaste saliva se for pra tentar me convencer do contrário. Você não me engana nem a milhas de distância.
— Ai, , não tem nada de mais... — a caçula deixou a frase se perder.
— CONTA LOGO!
— Argh! Odeio você. E antes que você comece a colocar minhocas na cabeça já digo pra tirar o cavalinho da chuva. Apenas achei um dos meus novos amigos mais interessante que os outros.
— HÁ! Sabia que tinha coisa no meio. — falou com um sorriso vitorioso. — Quer dizer que temos um pretendente californiano para nossa querida brasileira?
— Não é nada disso. — revirou os olhos, ciente de que a amiga não desistiria daquela ideia. — Ele é bonito e legal, nada mais.
— Sei... E posso saber o nome do príncipe?
— Você não vale nada, garota. — mandou língua ao que a outra permaneceu com o rosto apoiado nas mãos, esperando pela resposta de sua pergunta. Sentiu um aperto no coração ao prosseguir a fala, sabia que não estava apenas se abrindo com . De certa forma estava admitindo algo que vinha negando para si há alguns dias e que não havia compartilhado nem com a irmã. — .
— O que? Fala devagar, .
— O nome dele é . Satisfeita? — bufou com a expressão vitoriosa da amiga.
— Você não imagina o quanto. — respondeu, gargalhando da amiga.
As duas continuaram conversando por mais algumas horas, tentando colocar todas as novidades das últimas três semanas em dia. Ao largar o notebook na cama, se sentiu feliz pela conversa, havia de certa forma conseguido sentir próxima de si durante aquelas horas, fazendo-a se lembrar das tardes que passavam juntas jogada em sua cama apenas conversando e fazendo brincadeiras bobas. Respirou fundo, sentindo a pontada de saudade crescer e os olhos ficarem marejados. Tentou espantar os pensamentos com outra coisa, mas nada parecia ajudar. Lembrou de umas das frases que a amiga sempre falava e soube o que fazer.
"Para curar toda ferida e tristeza, nada melhor do que sorvete."
— Não acredito que você vai me deixar ir sozinha. — disse, cruzando os braços apoiada no batente da porta e vendo a irmã jogada na cama.
— Não acredito que você acredita que vou interromper um momento importante da minha vida pra te acompanhar até a sorveteria. — respondeu sem desviar os olhos da tela do notebook.
bufou, desistindo de convencê-la e indo para fora de casa. Se não estivesse tão decidida em dar uma volta, provavelmente teria apenas dado de ombros e se juntado à sua irmã para mais uma maratona de Friends. Caminhou até a sorveteria, pela qual passa na frente todas as manhãs, tentando prestar atenção ao ambiente em volta e não se preocupar com pensamentos. Adentrou o ambiente, escutando um sininho soar ao abrir a porta e foi até o balcão. Parou em frente àquele festival de sabores e cores e pediu um sunday de chocolate e creme. Escolheu uma mesa próxima à parede de vidro, se sentou e se distraiu enquanto saboreava o doce. Em meio a algumas colheradas se pegou pensando no que dissera a mais cedo, por mais que houvesse admitido apenas que chamava mais sua atenção do que os outros, não podia deixar de considerar a opinião da amiga. Talvez seu interesse no garoto ia além de atração física, afinal ele tinha um jeito que a fazia abrir um sorriso a cada brincadeira ou troca de olhares.
— ? — deu um pulo em sua cadeira quando ouviu a voz de e o mesmo acenando na frente de seu rosto. — Estou aqui a pelo menos um minuto e você não havia percebido.
— Oh, me desculpe, . Eu tava distraída. — respondeu desconcertada por ter sido pega de surpresa, principalmente por ter sido pelo dono de seus pensamentos naquela hora.
— Tudo bem. — ele disse sorrindo e se sentando na cadeira à frente. — Está sozinha?
— Uhum. me trocou por Friends. — ela deu de ombros, vendo-o gargalhar. — E você?
— Também, mas não fui trocado por ninguém. — ele falou, dando um sorriso de lado. — Mas então, sobre o que pensava? Deve ser algo importante, você tava bastante concentrada.
encheu a boca de sorvete rapidamente, tentando ganhar tempo para pensar em alguma resposta, mas foi impedida depois que sentiu o frio percorrer todo seu corpo, fazendo-a arrepiar.
— Tenho quase certeza que foi sorvete pro meu cérebro. — disse, colocando as mãos na cabeça enquanto ria de sua situação. — Queria ver se fosse com você, palhaço.
— Desculpa, . Não consegui controlar quando vi sua cara. — respirou fundo, se recuperando do riso. — Seus pensamentos eram tão ruins assim? Pra você se afogar no sorvete...
— Não! Só.... Eram só dúvidas que passavam pela minha cabeça. — ela respondeu meio atrapalhada, desviando o olhar para o pote de sorvete.
— Dúvida simples ou daquelas que dependem de nós para serem respondidas?
— Acho que tá mais pra segunda opção. — respondeu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Se te serve de consolo, a resposta normalmente é sempre a primeira que vem na cabeça. Tipo aquelas ideias que as vezes não concordamos e tratamos como um pensamento fora de hora. — ele respondeu, fitando seus olhos e fazendo-a corar com o ato.
— É, pode ser. — ela deu de ombros e desviou o olhar para a vista ao seu lado, tentando disfarçar o calor nas bochechas que sentiu pela troca de olhares com o garoto.
— , será que você pode me ajudar com uma coisa? — ele quebrou o silêncio, perguntando receoso.
— Claro, . Do que precisa? — voltou sua atenção para o garoto.
— Estou com um impasse pra tomar uma decisão e pensei que talvez ouvir uma opinião feminina seria legal. — falou, passando a mão pelos cabelos timidamente.
— Tudo bem, manda ver. — ela falou, botando o pote de sorvete de lado e fitando-o.
— Okay. Digamos que existam duas pessoas hipotéticas. Uma delas está interessado na outra, e essa pessoa consegue perceber um possível interesse da parte da outra pelo seu modo de agir. — fazia desenho invisíveis com o dedo na mesa enquanto falava, evitando o olhar da garota. — Você acha que a primeira deveria tomar uma atitude ou esperar que a outra seja mais direta? Claro, hipoteticamente falando.
engoliu em seco, vendo-o a olhar diretamente depois de falar. "Não ache que é com você. Não seja tão ingênua. Quer dizer, você acha mesmo que seria possível? Ah, cala a boca e responde logo antes que ache que você tá brincando com a cara dele" pensou antes de falar.
— Acho que se essa pessoa hipotética consegue realmente ver um interesse da parte da outra, não custa nada tentar ao menos se aproximar mais. Pode ser que ele esteja errado, mas pode ser que esteja certo e aí esperar seria perder tempo. — ela respondeu, sorrindo no fim.
— Tem certeza? — ele perguntou duvidoso.
— A única certeza que tenho é que iremos morrer e que chocolate é amor, o resto o destino nos mostra.
— Obrigado, brasileirinha. — ele respondeu, pegando sua mão em cima da mesa e sorrindo de lado.
— Precisando estou aqui. — deu de ombros, sentindo um calor passar pela mão que o garoto segurava.
— Mas, e aí, o que você anda fazendo? — ele perguntou, recolhendo a mão e sorrindo para ela.
— Nada demais. Hoje, por exemplo, fiquei apenas passando o tempo com o notebook, aproveitando pra matar a saudade de alguns amigos.
— Nada mal se comparando que fiquei jogando vídeo game. — ele falou, fazendo-a rir.
— Dessa vez eu ganho porque tive conversas maravilhosas, mas vídeo game é sempre uma ótima opção, principalmente quando se trata de Mario Kart.
— Vai me dizer que você sabe jogar?! — ele falou divertido.
— Claro, era a campeã entre meus amigos no Brasil.
— Pago pra ver essa. Qualquer dia marcamos uma competição lá em casa, quero ver se você derrota o mestre aqui.
— Tudo bem, aproveita pra ir comprando os lenços umedecidos. Vou fazer você chorar, . — ela disse, dando uma piscadela.
— Veremos, brasileirinha. — respondeu, semicerrando os olhos. — Ei, lembrei de uma coisa. Amanhã vou ensaiar com os garotos lá na casa do , o que acha de você ir com sua irmã? Podemos jogar vídeo game depois.
— Por mim tudo bem, não tenho nada pra fazer e acho que também. — concordou animada.
— Ótimo. Eu te passo o endereço por mensagem mais tarde e explico como chegar lá.
— Fechado! — respondeu, tentando se convencer de que a animação que sentia pelo dia seguinte nada tinha a ver com o garoto a sua frente.
— Jura que vou ter que adivinhar quem é? — ela perguntou e sentiu a própria cabeça se movimentar em um "sim" junto com as duas mãos. — Eu espero que você não chore caso eu te confunda, sempre erro nessa brincadeira. ?
— Poxa, . Começa o dia me xingando? — perguntou depois de tirar as mãos dos olhos da garota e colocá-las na cintura.
— Tadinho do , . Ele é só uma criança. — brincou, indo abraçar .
— Quantos insultos em menos de um minuto. — respondeu, revirando os olhos. — Tamanho não quer dizer nada, tá?
— Nós sabemos, . — disse, abraçando-o e dando bom dia.
— Desse jeito fico com ciúmes. O duende aí ganha dois abraços e eu nem um bom dia sequer. — cruzou os braços e fez um bico infantil.
— Eu disse que não era para você chorar. — brincou e abraçou o garoto. — Bom dia, .
— Agora sim. Falta só mais um. — ele respondeu e abriu os braços na direção da primogênita.
— Bom dia para você também, . — desejou e abraçou-o.
— Conseguiram se recompor das dancinhas de ontem? — perguntou divertida.
— DanCINHAS? Por pouco não travei meu pescoço. — respondeu.
— E eu demorei pelo menos dez minutos para conseguir levantar da cama sem sentir dor nas costas. — disse dramático, colocando a mão na coluna.
— Vocês são muito moles. Foi um esforço de nada. — a primogênita disse, abanando o ar com a mão.
— Exatamente. O que vocês fazem nas festas? Sentam e bebem? — perguntou com uma careta.
— E conhecemos garotas. — respondeu com um sorriso malicioso. — Precisa de mais alguma coisa?
— Ninguém merece vocês. Quem vai pra festa e não dança?
— , nem tente, ok? — disse, tampando o rosto da garota com uma mão.
— Partindo para a parte importante, temos uma novidade pra vocês. — disse.
— Uma hora dessas? Manda. — disse, cruzando os braços.
— Festa sábado na casa da Claire. — disse, sorrindo e fazendo uma dancinha.
— Se você dançar com mais vontade talvez todos se juntem a você como em High School Musical, . — falou envergonhada, apontando para as pessoas que passavam encarando-os.
— Tenho algumas perguntas: Primeiro, amanhã? Segundo, quem raios é Claire? — perguntou, ignorando que tentava acertar um pedala em sua irmã.
— No outro sábado, sem ser amanhã. E é a única líder de torcida ruiva. A que está sempre com duas loiras do seu lado. — explicou.
— Acho que sei quem é. Mas ela nos convidou? Nunca nem nos falamos.
— , a escola inteira está convidada. É tradição ela dar essa festa todo ano. Como uma boas-vindas ao novo ano escolar. — respondeu.
— É, mas a gente sabe que é só desculpa pra todo mundo encher a cara e se pegar selvagemente. — disse, rindo.
— Festa nunca é demais. Eu tô dentro! — disse, levantando a mão.
— Pode contar comigo. — disse, fazendo um high five com .
O sinal tocou, fazendo com que a movimentação nos corredores aumentasse.
— Odeio não pegar todas as aulas com vocês. — disse.
— Vocês podiam nos dizer que mágica fizeram para o diretor deixar vocês juntas em todos os horários. — disse, semicerrando os olhos.
— Mágica nenhuma. Fazer o que se somos adoráveis? — brincou e fechou seu armário.
— O ar desse lugar tá diminuindo, ? Ah não, é só a humildade da me sufocando. — ironizou, fingindo estar com falta de ar.
— HÁ-HÁ! Que engraçado. — a primogênita respondeu com ironia, dando o dedo para o garoto.
— Não sei quem é o pior. — disse, pegando seu livro e fechando o armário. — Não sei vocês, mas eu tenho uma aula para assistir agora.
— Infelizmente estamos na mesma. Até mais tarde, brasileirinhas. — respondeu, seguindo seu caminho com .
— Ei, palhaça, me espera! — disse, correndo para alcançar a irmã.
andava com a irmã pelo corredor indo para a sala de artes, onde teriam seu terceiro horário. Havia tido uma aula daquela matéria na semana passada, mas nada além de apresentações e papos furados. A caçula sentou na última cadeira e viu a irmã se sentar na sua frente. Continuaram conversando até que a professora, Srtª. Madson, chegasse. Morena, magra e usando roupas largas e coloridas era a mulher que entrou apressada na sala.
— Bom dia, caros alunos. — ela disse sorridente, largando sua bolsa na mesa e recebendo uma resposta fraca. — Porque esse desânimo? É SEXTA FEIRA!
— Uhuul! — um grupinho da frente comemorou.
— Enfim, vamos para o que interessa. Sei que nem todos conhecem o funcionamento das aulas para o último ano, então tenho que explicar como será. — a professora disse, se sentando em cima de sua mesa e cruzando as pernas. — Antes de mais nada, vamos levar em conta que essa matéria irá englobar tudo que possa ser considerado arte: teatro, pintura, música, dança... Afinal, não temos instrutores próprios de cada um desses. Então, durante o ano eu irei falar sobre cada um, ensinando algumas técnicas e apresentando os nomes mais reconhecidos de cada. A turma será dividida em grupos e cada um terá que escolher alguma maneira de expor uma crítica sobre qualquer assunto que quiserem, seja apresentando uma peça curta ou uma música autoral sobre o tema. Vocês terão o resto do ano para se preparar e na última semana de aula acontecerá uma espécie de festival onde vocês, e todos os outros que estão no último ano, se apresentarão e serão avaliados por mim.
— Pode ser qualquer assunto mesmo? — uma garota próxima a perguntou.
— Sim, mas procurem temas mais sociais e que possam ser debatidos pelo grupo. Preciso que discutam o assunto e formem uma opinião racional sobre ele. — Srtª. Madson respondeu. — Mais alguma pergunta?
— Como vai funcionar a divisão dos grupos? — o garoto sentado próximo de perguntou.
— Eu pensei em fazer uma divisão pela ordem de chamada. — a professora disse e automaticamente um burburinho se formou, obrigando-a a levantar o tom de voz — EI, ACALMEM-SE. Vou deixar que vocês montem os grupos, desde que sejam com três a cinco pessoas no máximo. Hoje a aula será apenas para vocês se organizarem e começarem a pensar no tema. Qualquer coisa é só vir me perguntar.
Bastou a professora se sentar em sua cadeira para que o barulho começasse. Entre reclamações, comemorações e muito arrastar de cadeiras a maioria dos grupos se formaram. e se encaravam sem saber o que fazer.
— Vamos ficar moscando aqui até não sobrar ninguém e a professora inventar de nos separar? — sussurrou.
— Não, mas não sei quem chamar. Alguma ideia? — perguntou.
— Que tal ele? — a primogênita apontou disfarçadamente para o garoto ao lado da irmã, que rabiscava uma folha do caderno.
— Pensei nele também, mas tô com vergonha de ir falar.
— Deixa de bobeira e vai logo. — disse, empurrando a irmã no ombro.
— Ai, louca. Tô indo. — disse e se aproximou do garoto timidamente. — Com licença. Eu e minha irmã acabamos sobrando e como você tá sozinho também pensei se não aceitaria formar um trio com nós duas.
— Pode ser. — ele deu de ombros, mostrando um sorriso encantador e arrastando sua cadeira para próximo das duas.
— Bom, eu sou a e essa é a . Você é o...?
— Dylan Stockler. — ele respondeu simpático, cumprimentando-as com um aperto de mão. Seu tom de pele escuro e os cabelos pretos destacavam os olhos mel esverdeados. — Vocês são novas por aqui, né? As brasileiras...
— Isso mesmo. — respondeu sem graça, se perdendo por alguns segundos nos olhos claros do garoto. — Você estudava aqui ou é novo também?
— Desde quatro anos atrás. — Dylan respondeu com um sorriso de lado. — Mas meu único amigo daqui se mudou esse ano, então tô sobrando nas aulas.
— Oh, sei o quanto isso pode ser chato. Mas agora você faz parte do nosso time. — disse animada.
— É, nada mal. — ele respondeu divertido. — Pensaram em algo para o trabalho?
— Na verdade, não. Mas aceito qualquer coisa, desde que não seja peça ou pintura. Sou um desastre com pincéis e tenho péssima memória. — a caçula respondeu.
— Tudo bem, acho que dança também não é uma boa opção. — ele disse.
— Concordo. As melhores opções acabam sendo o vídeo e a música. O que felizmente somos familiarizadas. — disse.
— Que ótimo! Podemos trabalhar com uma junção dos dois. — ele sugeriu.
— Isso! Nos privaria de uma apresentação direta na frente de tanta gente. — disse.
— Realmente... Melhor anotarmos o que formos decidindo para não nos desviarmos depois. — ele disse.
— Anota aí, .
— Tudo eu. — a caçula revirou os olhos, fazendo-os rir e começou anotar no caderno. — E o tema?
— Acho que essa vai ser a parte mais complicada. Quer dizer, são uma infinidade de opções. — disse, apoiando o braço na mesa e a cabeça na mão.
— É, sem contar que tem que ser um assunto que consigamos debater. — Dylan concluiu, sendo seguido por um silencio no grupo.
— Tá ok. Creio que a ideia não vá cair de paraquedas agora. Podemos ir pensando durante a semana e separando o que acharmos legal, na próxima aula escolhemos dentre o que a gente trouxer. — sugeriu, quebrando o silêncio depois de um tempo.
— Por mim tudo bem. — ele disse, vendo concordar. — Bom, vamos conversar um pouco então... Quantos anos vocês tem?
— Dezoito e você? — as irmãs responderam juntas.
— Pera, vocês são gêmeas? — ele perguntou, apontando para as duas e recebendo um aceno positivo como resposta. — Legal! Sempre quis ter um gêmeo, mas o máximo que consegui foi um irmão três anos mais velho que adora perturbar minha vida.
— Tirando a diferença de idade ter uma gêmea é isso. — brincou, fazendo-o rir.
— Você está certa... Se estiver se referindo a todas as vezes que me perturba. — respondeu, vendo a irmã mandar língua para ela.
— Ok, minha intenção não era plantar a discórdia agora. Enfim, tenho dezoito também. — ele respondeu. — O que estão achando daqui?
— Daqui escola ou daqui São Francisco? — a caçula perguntou e respondeu depois que o viu dar de ombros. — Tá bem legal. A cidade é muito linda e tem sido bem receptiva com nós...
— A escola é tranquila e mesmo não tendo feito muitos amigos, não tenho mais do que reclamar. — completou.
— Que esse não seja o problema, podem me adicionar na lista de vocês. — ele respondeu, dando uma piscadela e as fazendo sorrir.
procurou puxar papo sobre o garoto e acabou se surpreendendo ao ver que havia muitos gostos em comuns com ele. Sentiu-se contente por ter conhecido mais alguém, e dessa vez por iniciativa própria. A aula seguiu tranquila com conversas e risadas para os três. O sinal soou pela sala, fazendo o barulho de cadeiras arrastadas e falatórios recomeçar. juntou seu material e foi até a porta com os dois, sem querer de fato se despedir do garoto e interromper a conversa. Seguiram até o corredor e antes que se separassem permitiu que uma ideia fosse posta em prática.
— Hey, Dylan. Se não tiver algo pra fazer, quer passar o intervalo com a gente? — perguntou, sorrindo.
estava sentada no banco de madeira que havia no jardim dos fundos de sua casa, navegando distraída pela internet em seu notebook. Desde que chegara na Califórnia ainda não havia tirado um tempo para acompanhar alguma rede social ou notícias de seus amigos brasileiros. Olhava algumas postagens aleatórias, depois de checar seus e-mails, quando sentiu o coração dar uma pulsada forte. Deu um clique e a imagem foi ampliada. "Babaca cretino, mal esperou eu ir embora." pensou enquanto olhava a foto de Pedro abraçado com uma loira peituda, a mesma que meses atrás se atracava com ele atrás do ginásio quando os encontrou. "Que a tua luz continue iluminando minha vida e nossos caminhos. Te amo!" Dizia a legenda ao lado da imagem.
— Luz? Só se for do fogo que sai debaixo dessa saia minúscula! — disse para si mesma com raiva.
Na verdade, só naquele momento percebeu que sentia raiva. Não ciúmes, não tristeza, mas raiva. Raiva por ter sido inocente ao ponto de achar que Pedro nutria o mesmo sentimento que ela há tempos atrás. Raiva por ter sido burra e demorado tanto a perceber a verdade. Fechou a foto respirando fundo e estava disposta a desligar o notebook quando uma janela de bate papo se abriu, piscando. Um sorriso de canto se projetou em seu rosto ao ler o nome e a mensagem na tela, fazendo se esquecer do sentimento de segundos antes.
diz: SUA IDIOTA, VOU TE MATAR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
diz: três semanas dps e essa é a primeira coisa q tem p/ me flr? amo você também.
diz: Fique feliz pq te privei de uma lista com mais de dez xingamentos. Entra no Skype agr. Sem mais.
está off-line.
Revirou os olhos com um sorriso no rosto e obedeceu a amiga, sabendo que era a única saída. Fez o login e atendeu o pedido de chamada que apareceu instantaneamente na tela. Esperou alguns segundos e a imagem de uma garota morena apareceu na sua frente. prendeu o riso ao perceber que a amiga tinha o semblante irritado e olhava para a câmera esperando que ela se manifestasse.
— Oi, meu amor. — disse receosa e com um sorriso forçado de orelha a orelha.
— Eu deveria ficar sem falar com você por um ano ou mais. — a garota respondeu do outro lado, cruzando os braços. — Como teve coragem de passar esse tempo todo sem dar notícias ou um sinal de fumaça sequer? Você tá entendendo que a última vez que conversei com você foi por aquelas mensagens duas horas depois de você chegar aí e só pra avisar que já estava em casa? TRÊS SEMANAS, !
— Poxa, . Me desculpa, eu estava ocupada. — respondeu pesarosa, torcendo a boca para o lado. Sabia que estava certa em ficar irritada, as duas eram amigas desde o primário e mantinham contato diariamente.
— Ocupada com suas novas amiguinhas? — perguntou, deixando claro o ciúmes que sentia.
— Não é nada disso, . — falou manhosa e respirou fundo antes de se explicar melhor, era isso ou aguentá-la com raiva por vários dias. — Não tem novas amiguinhas nenhuma, talvez alguns amigos.... Enfim, esse não é o ponto. Me desculpe de verdade por não ir atrás de você antes. Eu estava tentando me adaptar aqui com a sem deixar que a saudade atrapalhasse, e acredite isso se mostrou uma grande barreira nos primeiros dias. A ideia era ocupar a cabeça com outras coisas até acostumar com a distância, mas depois acabei ficando ocupada de verdade com a escola e tudo mais. Me desculpa, por favor. Estava e ainda estou morrendo de saudades suas.
— Você é uma babaca. Não sei porque ainda te amo. — respondeu, deixando que a expressão se amenizasse e um sorriso aparecesse tímido. — Te desculpo sim, mas desde que isso não aconteça mais.
— Pode deixar, estarei te mantendo informada com tudo todos os dias. — a caçula alargou o sorriso, feliz por ter amansado a fera. — Vamos mudar de assunto. Como você está? Quero saber como andam as coisas por aí.
— Estou legal. Mas ainda é difícil me acostumar a não ter você por perto todos os dias. — respondeu cabisbaixa, balançando a cabeça na tentativa de espantar as lágrimas que teimavam em querer aparecer. — , você tá em São Francisco e fica querendo saber daqui? Não tem nada de novo, tudo continua do jeito que você deixou. Esqueça isso e me fale daí, sobre você e principalmente sobre esses novos amigos.
— Sabia que você não deixaria passar batido. — gargalhou com o sorriso malicioso da amiga. — Eu estou bem, mesmo tendo acabado de ver a foto do casal do ano...
— Argh! Por favor me diz que você não está pensando nele. — colocou a mão na testa.
— Não. Quer dizer... — ouviu a amiga bufar e completou a frase. — Eu me peguei pensando nele esses dias, mas depois de ver essa foto a única coisa que consegui sentir foi raiva. Então acho que não sobrou resquício daquele amor platônico.
— Finalmente! Olha, se serve de ajuda ele engordou pelo menos cinco quilos desde que você foi embora. — disse, vendo a amiga gargalhar. — E o resto?
— Bom, o resto é só maravilha. Tudo parece mais bonito agora que vivo aqui, diferente das vezes que vim apenas a passeio. — falou, vendo a amiga gesticular com a mão pedindo por mais informações. — E sim, fiz novos amigos mesmo, se é o que você queria saber.
— Agora dei valor. E são bonitos? Quero fotos...
— É... Digamos que são dignos de alguns suspiros. — respondeu. — Mais tarde te mando algumas fotos que tenho pelo celular. Só não tenho do Dylan, um moreno de olhos mel claros. Nos conhecemos hoje.
— Droga, trate de criar intimidade e tirar foto dele. Estarei aguardando as outras, e ai de você se me der bolo. E continue nesse ritmo, , quero ter vários pretendentes quando eu for te visitar.
— Você não muda, né? — perguntou entre risos, vendo-a negar divertida.
— E algum deles conseguiu te fazer suspirar? — perguntou com um sorriso de lado.
— Que raios de pergunta é essa, ?
— Ah, fala sério, . Só quero saber se tem algum gatinho que possa conquistar seu coração por aí.
— Eu cheguei só tem três semanas e não é como se eu estivesse à procura disso. — respondeu tentando disfarçar um sorriso bobo, vendo a amiga a encarar com os olhos semicerrados.
— EU CONHEÇO ESSA CARA! , não tente disfarçar, sei que tem coisa no meio. Pode desembuchar agora! — apontou para ela com a boca aberta e insistiu ao ver a amiga revirar os olhos e tomar uma pose pronta para contrariar. — Nem gaste saliva se for pra tentar me convencer do contrário. Você não me engana nem a milhas de distância.
— Ai, , não tem nada de mais... — a caçula deixou a frase se perder.
— CONTA LOGO!
— Argh! Odeio você. E antes que você comece a colocar minhocas na cabeça já digo pra tirar o cavalinho da chuva. Apenas achei um dos meus novos amigos mais interessante que os outros.
— HÁ! Sabia que tinha coisa no meio. — falou com um sorriso vitorioso. — Quer dizer que temos um pretendente californiano para nossa querida brasileira?
— Não é nada disso. — revirou os olhos, ciente de que a amiga não desistiria daquela ideia. — Ele é bonito e legal, nada mais.
— Sei... E posso saber o nome do príncipe?
— Você não vale nada, garota. — mandou língua ao que a outra permaneceu com o rosto apoiado nas mãos, esperando pela resposta de sua pergunta. Sentiu um aperto no coração ao prosseguir a fala, sabia que não estava apenas se abrindo com . De certa forma estava admitindo algo que vinha negando para si há alguns dias e que não havia compartilhado nem com a irmã. — .
— O que? Fala devagar, .
— O nome dele é . Satisfeita? — bufou com a expressão vitoriosa da amiga.
— Você não imagina o quanto. — respondeu, gargalhando da amiga.
As duas continuaram conversando por mais algumas horas, tentando colocar todas as novidades das últimas três semanas em dia. Ao largar o notebook na cama, se sentiu feliz pela conversa, havia de certa forma conseguido sentir próxima de si durante aquelas horas, fazendo-a se lembrar das tardes que passavam juntas jogada em sua cama apenas conversando e fazendo brincadeiras bobas. Respirou fundo, sentindo a pontada de saudade crescer e os olhos ficarem marejados. Tentou espantar os pensamentos com outra coisa, mas nada parecia ajudar. Lembrou de umas das frases que a amiga sempre falava e soube o que fazer.
"Para curar toda ferida e tristeza, nada melhor do que sorvete."
— Não acredito que você vai me deixar ir sozinha. — disse, cruzando os braços apoiada no batente da porta e vendo a irmã jogada na cama.
— Não acredito que você acredita que vou interromper um momento importante da minha vida pra te acompanhar até a sorveteria. — respondeu sem desviar os olhos da tela do notebook.
bufou, desistindo de convencê-la e indo para fora de casa. Se não estivesse tão decidida em dar uma volta, provavelmente teria apenas dado de ombros e se juntado à sua irmã para mais uma maratona de Friends. Caminhou até a sorveteria, pela qual passa na frente todas as manhãs, tentando prestar atenção ao ambiente em volta e não se preocupar com pensamentos. Adentrou o ambiente, escutando um sininho soar ao abrir a porta e foi até o balcão. Parou em frente àquele festival de sabores e cores e pediu um sunday de chocolate e creme. Escolheu uma mesa próxima à parede de vidro, se sentou e se distraiu enquanto saboreava o doce. Em meio a algumas colheradas se pegou pensando no que dissera a mais cedo, por mais que houvesse admitido apenas que chamava mais sua atenção do que os outros, não podia deixar de considerar a opinião da amiga. Talvez seu interesse no garoto ia além de atração física, afinal ele tinha um jeito que a fazia abrir um sorriso a cada brincadeira ou troca de olhares.
— ? — deu um pulo em sua cadeira quando ouviu a voz de e o mesmo acenando na frente de seu rosto. — Estou aqui a pelo menos um minuto e você não havia percebido.
— Oh, me desculpe, . Eu tava distraída. — respondeu desconcertada por ter sido pega de surpresa, principalmente por ter sido pelo dono de seus pensamentos naquela hora.
— Tudo bem. — ele disse sorrindo e se sentando na cadeira à frente. — Está sozinha?
— Uhum. me trocou por Friends. — ela deu de ombros, vendo-o gargalhar. — E você?
— Também, mas não fui trocado por ninguém. — ele falou, dando um sorriso de lado. — Mas então, sobre o que pensava? Deve ser algo importante, você tava bastante concentrada.
encheu a boca de sorvete rapidamente, tentando ganhar tempo para pensar em alguma resposta, mas foi impedida depois que sentiu o frio percorrer todo seu corpo, fazendo-a arrepiar.
— Tenho quase certeza que foi sorvete pro meu cérebro. — disse, colocando as mãos na cabeça enquanto ria de sua situação. — Queria ver se fosse com você, palhaço.
— Desculpa, . Não consegui controlar quando vi sua cara. — respirou fundo, se recuperando do riso. — Seus pensamentos eram tão ruins assim? Pra você se afogar no sorvete...
— Não! Só.... Eram só dúvidas que passavam pela minha cabeça. — ela respondeu meio atrapalhada, desviando o olhar para o pote de sorvete.
— Dúvida simples ou daquelas que dependem de nós para serem respondidas?
— Acho que tá mais pra segunda opção. — respondeu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Se te serve de consolo, a resposta normalmente é sempre a primeira que vem na cabeça. Tipo aquelas ideias que as vezes não concordamos e tratamos como um pensamento fora de hora. — ele respondeu, fitando seus olhos e fazendo-a corar com o ato.
— É, pode ser. — ela deu de ombros e desviou o olhar para a vista ao seu lado, tentando disfarçar o calor nas bochechas que sentiu pela troca de olhares com o garoto.
— , será que você pode me ajudar com uma coisa? — ele quebrou o silêncio, perguntando receoso.
— Claro, . Do que precisa? — voltou sua atenção para o garoto.
— Estou com um impasse pra tomar uma decisão e pensei que talvez ouvir uma opinião feminina seria legal. — falou, passando a mão pelos cabelos timidamente.
— Tudo bem, manda ver. — ela falou, botando o pote de sorvete de lado e fitando-o.
— Okay. Digamos que existam duas pessoas hipotéticas. Uma delas está interessado na outra, e essa pessoa consegue perceber um possível interesse da parte da outra pelo seu modo de agir. — fazia desenho invisíveis com o dedo na mesa enquanto falava, evitando o olhar da garota. — Você acha que a primeira deveria tomar uma atitude ou esperar que a outra seja mais direta? Claro, hipoteticamente falando.
engoliu em seco, vendo-o a olhar diretamente depois de falar. "Não ache que é com você. Não seja tão ingênua. Quer dizer, você acha mesmo que seria possível? Ah, cala a boca e responde logo antes que ache que você tá brincando com a cara dele" pensou antes de falar.
— Acho que se essa pessoa hipotética consegue realmente ver um interesse da parte da outra, não custa nada tentar ao menos se aproximar mais. Pode ser que ele esteja errado, mas pode ser que esteja certo e aí esperar seria perder tempo. — ela respondeu, sorrindo no fim.
— Tem certeza? — ele perguntou duvidoso.
— A única certeza que tenho é que iremos morrer e que chocolate é amor, o resto o destino nos mostra.
— Obrigado, brasileirinha. — ele respondeu, pegando sua mão em cima da mesa e sorrindo de lado.
— Precisando estou aqui. — deu de ombros, sentindo um calor passar pela mão que o garoto segurava.
— Mas, e aí, o que você anda fazendo? — ele perguntou, recolhendo a mão e sorrindo para ela.
— Nada demais. Hoje, por exemplo, fiquei apenas passando o tempo com o notebook, aproveitando pra matar a saudade de alguns amigos.
— Nada mal se comparando que fiquei jogando vídeo game. — ele falou, fazendo-a rir.
— Dessa vez eu ganho porque tive conversas maravilhosas, mas vídeo game é sempre uma ótima opção, principalmente quando se trata de Mario Kart.
— Vai me dizer que você sabe jogar?! — ele falou divertido.
— Claro, era a campeã entre meus amigos no Brasil.
— Pago pra ver essa. Qualquer dia marcamos uma competição lá em casa, quero ver se você derrota o mestre aqui.
— Tudo bem, aproveita pra ir comprando os lenços umedecidos. Vou fazer você chorar, . — ela disse, dando uma piscadela.
— Veremos, brasileirinha. — respondeu, semicerrando os olhos. — Ei, lembrei de uma coisa. Amanhã vou ensaiar com os garotos lá na casa do , o que acha de você ir com sua irmã? Podemos jogar vídeo game depois.
— Por mim tudo bem, não tenho nada pra fazer e acho que também. — concordou animada.
— Ótimo. Eu te passo o endereço por mensagem mais tarde e explico como chegar lá.
— Fechado! — respondeu, tentando se convencer de que a animação que sentia pelo dia seguinte nada tinha a ver com o garoto a sua frente.
Capítulo 6
O táxi parou em frente à casa branca de dois andares e as irmãs desceram após pagar a corrida. Passaram pela pequena varanda e chegaram na entrada, apertando a campainha. Escutaram alguns barulhos vindo do lado de dentro e logo em seguida abriu a porta sorridente.
— Finalmente vocês chegaram! — cumprimentou as duas,dando espaço para que entrassem.
— A culpa foi da nossa mãe que ligou bem na hora que estávamos saindo. — explicou.
— E ela é daquelas que quer saber até qual calcinha usamos em cada dia. — a primogênita completou com um rolar de olhos, fazendo o amigo rir.
— Nesse caso, estão perdoadas. Vamos, estão todos no estúdio.
Seguiram o amigo para o quintal da casa onde, além de algumas poltronas e árvores pequenas, havia uma pequena construção no fundo do terreno. Era uma espécie de salinha improvisada, suas paredes azuis estavam descascando, a madeira da porta era completamente coberta com adesivos variados e uma pequena placa de "não perturbe" no centro, e as duas janelas tinham películas tão escuras que impossibilitavam qualquer visão de como era do outro lado.
entrou e elas o seguiram, encontrando um ambiente bem mais preparado do lado de dentro. Um ar condicionado mantinha o lugar fresco e os instrumentos e equipamentos ocupavam a maior parte da pequena sala, sobrando lugares para alguns pufes e um frigobar no canto.
— Uma salva de palmas para as nossas convidadas dessa noite! e , as brasileiras queridinhas de São Francisco. — anunciou em um dos microfones com voz de locutor, sendo seguido por uma série de assobio e palmas dos amigos.
— Muito obrigada pela recepção! É realmente uma honra poder estar aqui nesse programa. — entrou na brincadeira, acenando para uma plateia invisível com uma expressão lisonjeada.
— Isso mesmo, . Mesmo faltando nossas cinquenta toalhas brancas e nossas poltronas douradas, estamos muito felizes com o convite. — completou, fazendo todos rirem.
— Mal chegou e já quer fazer exigência? Vamos com calma, gêmeas. — disse sorridente, fazendo-as rir e indo cumprimenta-las com os amigos.
— Adorei esse lugar. — comentou, apontando ao seu redor.
— É um dos nossos maiores orgulhos. Todo o dinheiro que ganhamos nos últimos anos investimos aqui. — disse orgulhoso.
— Nós cuidamos de tudo, desde a parte de isolamento de som até o tapete. — completou.
— Até que vocês têm bom gosto. — deu uma piscadela, sorrindo.
— Não tanto quanto você, né? — respondeu, dando um sorriso de lado para a garota e fazendo os amigos explodirem em risadas.
— Essa foi péssima, ! — disse entre risos.
— Não era pra ser uma cantada. — ele respondeu de prontidão.
— Ninguém falou em cantada. — disse esperta, fazendo os amigos voltarem a rir e e se encararem envergonhados.
— Ah, calem a boca e vão ensaiar. — a primogênita tentou mudar de assunto, se jogando no pufe mais perto. Mesmo contrariados em interromper as piadas, voltaram para seus lugares e reiniciaram o ensaio. Os quatro tocavam músicas autorais e alguns covers de seu gosto, sempre repetindo pelo menos duas vezes cada uma para se livrar das falhas. assistia os amigos, se divertindo com as caretas e dancinhas deles, e acompanhando com a irmã as letras que conheciam. Mas por mais que tentasse resistir, depois de uma hora e meia de ensaio, sua atenção era sempre voltada pro de olhos à sua direita. Desde o dia anterior estava com a conversa dos dois na cabeça e se sentia extremamente estúpida por isso, estava parecendo uma pré-adolescente quando achava o garoto da sala bonitinho e não tinha coragem de falar com ele — não que fosse algo muito diferente do que estava passando.
Espantou os pensamentos da mente e percebeu que ainda estava o encarando, fazendo com que estivesse a olhando com um sorriso divertido de lado. Fez uma careta pra ele, tentando espantar a vergonha e o viu rir antes de cantar os próximos versos a encarando.
And when we're laughing, joking with each other now
(E quando nós estávamos rindo e brincando um com o outro)
I'm glad I met this girl
(Eu estou feliz que eu conheço essa garota)
Se xingou mentalmente, notando estar sorrindo bobamente para ele e voltou sua atenção para os outros amigos. mexia concentrada em algo no celular, mesmo seus pés e cabeça estando acompanhando o ritmo da música, desviando os olhos da tela quando começaram a próxima. Ela se aproximou de e colocou o aparelho na sua frente para que visse a anotação improvisada no espaço para nova mensagem. "Esquecemos de gravar o vídeo ontem e estão cobrando em todas nossas redes sociais. Faz tempo desde que atualizamos, não dá pra adiar mais. Temos que gravar hoje."
Concordou com um aceno e sussurrou que iriam assim que eles acabassem, recebendo um joinha da irmã como resposta. A ideia principal ao manter o canal atualizado era por satisfação em conseguirem mostrar seu talento para mais gente, até porque cantar e tocar para qualquer pessoa era o que mais as faziam feliz, mas depois de tanto tempo e laços criados por meio da internet o que era pra ser apenas diversão foi se tornando um compromisso mais sério. As gêmeas se pegavam chateadas algumas vezes por terem chegado a esse ponto, mas bastava ver os comentários e retornos positivos de tanta gente que esqueciam a parte ruim e se dedicavam aos vídeos. Alguns minutos depois as baquetas batiam nos pratos, finalizando a música e o ensaio dos garotos, que se jogaram de qualquer jeito no chão.
— Acho que ensaiamos tudo que estava atrasado da semana passada. — disse cansado.
— Alguma alma boa pega água pra mim no frigobar, por favor? Não consigo me mexer direito. — pediu deitado de barriga pra cima no tapete.
— Credo, vocês estavam enferrujados ou são sempre mortos? — perguntou, se levantando para pegar a garrafa de água.
— Enferrujados. — respondeu, esticando a mão para pegar um dos copos descartáveis que a amiga estendia. — Valeu, .
— Nós só precisamos de alguns minutos pra nos recuperar, aí podemos ir jogar vídeo game.
— Sem querer cortar o barato, , mas eu e a precisamos ir embora. — a primogênita avisou, vendo todos os garotos a encararem ao mesmo tempo, esperando pela explicação. — Nós nos perdemos nos compromissos e agora temos que ir gravar um vídeo pro canal antes que comecem a nos xingar de verdade, e se a gente deixar pra fazer isso muito tarde vamos acabar perdendo a noite toda pra editar e publicar.
— Mas a gente nem conversou direito.
— Eu sei, , a gente também queria ficar mais, mas estamos adiando isso tem tempo e quanto mais demorar pior vai ser. — respondeu, encarando o amigo cabisbaixo.
— Vocês vão gravar cantando, né? — perguntou, vendo as gêmeas concordarem. — Bom, o que não falta aqui é instrumento e equipamento, vocês podem tentar filmar aqui.
— É, vocês filmam pelo celular e depois podemos jogar e conversar um pouco. — disse antes que elas pudessem argumentar.
— E se não quiserem gravar nele, minha irmã tem uma câmera mais ou menos ali que deve servir. — completou, mostrando um sorriso grande para as amigas junto com os colegas.
— Vocês fazem tanta questão assim? — perguntou, tentando não rir da cara pidona dos amigos.
— Tô louco pra derrotar a no vídeo game, e acho que vai ser legal ver vocês na frente das câmeras, ainda mais cantando. — respondeu, dando uma piscadela.
— Eu ia até tentar argumentar, mas agora faço questão de ficar só pra calar a boca do no jogo. — a caçula respondeu, devolvendo a bolsa para o pufe e encarando a irmã, esperando pela reação dela.
— Precisamos de um violão e uma câmera. — ela respondeu, rendendo comemorações.
(N/A: Coloque para carregar essa música )
— Olá, pessoal! Nós estamos de volta e agora diretamente de São Francisco! — falava em português, olhando diretamente pra lente da câmera rosa à sua frente e tentando ignorar os quatro pares de olhares curiosos direcionados a ela. — Para quem não sabe, nós viemos terminar nossos estudos aqui, o que foi o motivo principal para tanto tempo sem atualização.
— Isso mesmo! Então sejam boas pessoas e nos perdoem. — completou, parando em uma pose meiga por alguns segundos. — Agora, vamos para o que interessa! A música de hoje vai ser Elephant Gun do Beirut, já que eu e a estávamos querendo fazer o cover dela há algum tempo.
— Esperamos que vocês gostem. — a caçula finalizou, fazendo sinal para que a irmã começasse a tocar.
(N/A: Dê play!)
As primeiras notas preencheram o ambiente, prendendo mais ainda a atenção dos quatro garotos. deslizava os dedos pelas cordas com maestria, balançando a cabeça levemente no ritmo e fechando os olhos para se entregar totalmente à canção. Essa fora uma das primeiras músicas que aprendeu a tocar, fazendo-a ter confiança e segurança em cada nota, como se suas mãos dançassem automaticamente pelo violão.
começou a cantar a música, se entregando junto à irmã e fechando os olhos a cada nota mais longa. A voz afinada e doce sobrepunha o som do violão de forma sutil, tornando a canção agradável ao ouvido e para ela cantar. Cada estrofe a levava para mais longe de onde estava e mais perto da sala de dança abandonada de sua antiga escola. Era para onde, no início de sua adolescência, ia diariamente apenas para ter a oportunidade de descarregar suas energias e frustações em passos mal ensaiados sem ninguém por perto para a perturbar. Sem a menor dúvida essa música fora a mais tocada no seu som velho naquele ano, talvez pelo ritmo a deixar encantada desde que ouvira pela primeira vez ou porque o som do ukulele a fazia lembrar das tardes em que seu tio tocava para ela quando ainda era criança.
Deixou que um sorriso brotasse em seu rosto quando a lembrança a atingiu em cheio e começou a acompanhar na cantoria. Abriu os olhos, encontrando sorrisos e olhares em sua direção, prestando atenção em um em especial, que retribuiu da mesma forma que foi feito algumas horas antes.
Let the seasons begin - it rolls right on
(Que comece a temporada - onde tudo é certo e errado)
Cantou sem tirar os olhos de , vendo o sorrir e concordar lentamente com um aceno, tentando não se desconcentrar da música e torcendo para que no fim o errado seja, de certo modo, o mais certo para ela.
— Para de ser mentiroso, . Todo mundo viu que você simplesmente entrou na minha frente bem no fim da corrida, é óbvio que não valeu aquela rodada. — retrucou com raiva, vendo-o rolar os olhos. Estavam na mesa de sempre do refeitório discutindo sobre quem havia sido melhor na rodada de Mario Kart de dias anteriores.
— Chega! Já fazem dois dias isso, todo mundo viu que o roubou, logo, todos sabem que deu empate no fim e VOCÊS NÃO PARAM DE BRIGAR. — falou, levantando o tom de voz quando percebeu que o amigo iria retrucar, chamando atenção de algumas pessoas que passavam por perto.
— É assim que se fala, ! Bota moral nessas crianças. — Dylan aplaudiu o amigo entre risos junto com , mas tendo que fugir do tapa que tentava dar em seu braço. Desde o dia em que haviam conversado pela primeira vez, o garoto apenas se aproximara mais, se dando de bem com todos e passando a integrar seu pequeno grupo de amigos dentro e fora da escola.
— Receberam bronca do . A que ponto chegaram, ein? — provocou, rindo da cara de tédio dos dois.
— Vou ignorar isso pra não brigar com ele. — respondeu, semicerrando os olhos para o amigo e voltando à expressão normal logo em seguida. — Já que é pra mudar de assunto, me digam se vão se matricular em alguma das atividades extras.
— Dei uma olhada na lista, mas ainda tô em dúvida. — disse, fazendo um bico com a boca.
— Tô pensando em entrar pro grupo de teatro, foi o único que achei legal pra mim. — Dy respondeu, cruzando os braços sobre a mesa.
— Quero tentar ser líder de torcida, mas tô com vergonha de ir sozinha. — a primogênita respondeu, focando o olhar na irmã.
— Você? Com vergonha? Conta outra.
— Qual o problema, ? — perguntou curioso, encarando a cara de tédio que a amiga fazia para .
— A colocou na cabeça esse negócio de líder de torcida e quer me arrastar junto de qualquer forma.
— E porque você não vai? Vai ser engraçado te ver naquelas pirâmides humanas. — perguntou divertido.
— Sem contar que vai arrasar corações com aquele uniforme. — Dy comentou com um sorriso malicioso no rosto, fazendo-a rolar os olhos.
— Isso aí, meninos! Eu quero entrar pra ter mais uma experiência diferente aqui, na nossa escola antiga não tinha isso. Não custa nada você ir comigo, , até porque você sabe que não vou desistir de te convencer. — disse, sorrindo sapeca pra irmã.
— Ninguém te merece, . — jogou uma bolinha de guardanapo na primogênita. — Depois conversamos sobre isso. E vocês, e , vão tentar alguma coisa?
— Eu queria entrar pro time de futebol só pra tirar o Jacke do posto de capitão, sabe? — respondeu, ignorando as risadas irônicas dos amigos. — Mas esse ano nós vamos nos dedicar mais nos ensaios, então um compromisso fixo assim acabaria atrapalhando.
— É, como o e o terminaram os estudos, eles estão aproveitando esse tempo livre pra correr atrás de contatos, parcerias ou estúdios que possam ajudar a banda, então esse ano vai ser mais intenso pra gente com o McFly. — continuou a explicar.
— Pelos shows que assisti de vocês em algumas festas vi que são bons, com certeza alguém vai se interessar e daqui um tempo vocês estarão decolando na fama. — Dylan sorriu, dando tapinhas no ombro dos amigos.
— Isso aí! Vou passar a guardar até os canudos e guardanapos que vocês usam pra vender na internet quando tiverem famosos. — brincou, rindo da careta de nojo do .
— Sem contar nas inúmeras groupies que vão vir atrás de nós nos entrevistar e nos odiar por sermos amigas dos ídolos delas. — entrou na brincadeira, fazendo os garotos rirem.
— E ai de vocês se deixarem a fama subir à cabeça e nos esquecerem.
— Sem chances disso acontecer, . Esqueceu que são nossas fãs número um? — deu uma piscadela.
— Até porque vamos precisar de alguém pra desviar a atenção do nosso empresário e dos repórteres quando a gente quiser dar um perdido com alguma garota. — disse com um sorriso tarado, fazendo as duas rolarem os olhos juntas.
— Nós somos fãs, não babás. — respondeu, acrescentando no rosto o mesmo sorriso do amigo. — A não ser que a gente desvie a atenção dos bonitinhos de outra forma.
— Vocês não prestam! — Dy gargalhava com as expressões dos quatro.
— Não tenta disfarçar o ciúme, Dy, eu reservo um dia pra distrair você. — respondeu divertida, arranhando o ar com a mão enquanto piscava de lado.
— Se vocês estão assim agora, imagina na festa da Claire com toda aquela gente e bebida grátis. — disse antes de o responder e todos na mesa soltarem gritinhos animados.
— Essa festa promete, amigo.
— Finalmente vocês chegaram! — cumprimentou as duas,dando espaço para que entrassem.
— A culpa foi da nossa mãe que ligou bem na hora que estávamos saindo. — explicou.
— E ela é daquelas que quer saber até qual calcinha usamos em cada dia. — a primogênita completou com um rolar de olhos, fazendo o amigo rir.
— Nesse caso, estão perdoadas. Vamos, estão todos no estúdio.
Seguiram o amigo para o quintal da casa onde, além de algumas poltronas e árvores pequenas, havia uma pequena construção no fundo do terreno. Era uma espécie de salinha improvisada, suas paredes azuis estavam descascando, a madeira da porta era completamente coberta com adesivos variados e uma pequena placa de "não perturbe" no centro, e as duas janelas tinham películas tão escuras que impossibilitavam qualquer visão de como era do outro lado.
entrou e elas o seguiram, encontrando um ambiente bem mais preparado do lado de dentro. Um ar condicionado mantinha o lugar fresco e os instrumentos e equipamentos ocupavam a maior parte da pequena sala, sobrando lugares para alguns pufes e um frigobar no canto.
— Uma salva de palmas para as nossas convidadas dessa noite! e , as brasileiras queridinhas de São Francisco. — anunciou em um dos microfones com voz de locutor, sendo seguido por uma série de assobio e palmas dos amigos.
— Muito obrigada pela recepção! É realmente uma honra poder estar aqui nesse programa. — entrou na brincadeira, acenando para uma plateia invisível com uma expressão lisonjeada.
— Isso mesmo, . Mesmo faltando nossas cinquenta toalhas brancas e nossas poltronas douradas, estamos muito felizes com o convite. — completou, fazendo todos rirem.
— Mal chegou e já quer fazer exigência? Vamos com calma, gêmeas. — disse sorridente, fazendo-as rir e indo cumprimenta-las com os amigos.
— Adorei esse lugar. — comentou, apontando ao seu redor.
— É um dos nossos maiores orgulhos. Todo o dinheiro que ganhamos nos últimos anos investimos aqui. — disse orgulhoso.
— Nós cuidamos de tudo, desde a parte de isolamento de som até o tapete. — completou.
— Até que vocês têm bom gosto. — deu uma piscadela, sorrindo.
— Não tanto quanto você, né? — respondeu, dando um sorriso de lado para a garota e fazendo os amigos explodirem em risadas.
— Essa foi péssima, ! — disse entre risos.
— Não era pra ser uma cantada. — ele respondeu de prontidão.
— Ninguém falou em cantada. — disse esperta, fazendo os amigos voltarem a rir e e se encararem envergonhados.
— Ah, calem a boca e vão ensaiar. — a primogênita tentou mudar de assunto, se jogando no pufe mais perto. Mesmo contrariados em interromper as piadas, voltaram para seus lugares e reiniciaram o ensaio. Os quatro tocavam músicas autorais e alguns covers de seu gosto, sempre repetindo pelo menos duas vezes cada uma para se livrar das falhas. assistia os amigos, se divertindo com as caretas e dancinhas deles, e acompanhando com a irmã as letras que conheciam. Mas por mais que tentasse resistir, depois de uma hora e meia de ensaio, sua atenção era sempre voltada pro de olhos à sua direita. Desde o dia anterior estava com a conversa dos dois na cabeça e se sentia extremamente estúpida por isso, estava parecendo uma pré-adolescente quando achava o garoto da sala bonitinho e não tinha coragem de falar com ele — não que fosse algo muito diferente do que estava passando.
Espantou os pensamentos da mente e percebeu que ainda estava o encarando, fazendo com que estivesse a olhando com um sorriso divertido de lado. Fez uma careta pra ele, tentando espantar a vergonha e o viu rir antes de cantar os próximos versos a encarando.
(E quando nós estávamos rindo e brincando um com o outro)
I'm glad I met this girl
(Eu estou feliz que eu conheço essa garota)
Se xingou mentalmente, notando estar sorrindo bobamente para ele e voltou sua atenção para os outros amigos. mexia concentrada em algo no celular, mesmo seus pés e cabeça estando acompanhando o ritmo da música, desviando os olhos da tela quando começaram a próxima. Ela se aproximou de e colocou o aparelho na sua frente para que visse a anotação improvisada no espaço para nova mensagem. "Esquecemos de gravar o vídeo ontem e estão cobrando em todas nossas redes sociais. Faz tempo desde que atualizamos, não dá pra adiar mais. Temos que gravar hoje."
Concordou com um aceno e sussurrou que iriam assim que eles acabassem, recebendo um joinha da irmã como resposta. A ideia principal ao manter o canal atualizado era por satisfação em conseguirem mostrar seu talento para mais gente, até porque cantar e tocar para qualquer pessoa era o que mais as faziam feliz, mas depois de tanto tempo e laços criados por meio da internet o que era pra ser apenas diversão foi se tornando um compromisso mais sério. As gêmeas se pegavam chateadas algumas vezes por terem chegado a esse ponto, mas bastava ver os comentários e retornos positivos de tanta gente que esqueciam a parte ruim e se dedicavam aos vídeos. Alguns minutos depois as baquetas batiam nos pratos, finalizando a música e o ensaio dos garotos, que se jogaram de qualquer jeito no chão.
— Acho que ensaiamos tudo que estava atrasado da semana passada. — disse cansado.
— Alguma alma boa pega água pra mim no frigobar, por favor? Não consigo me mexer direito. — pediu deitado de barriga pra cima no tapete.
— Credo, vocês estavam enferrujados ou são sempre mortos? — perguntou, se levantando para pegar a garrafa de água.
— Enferrujados. — respondeu, esticando a mão para pegar um dos copos descartáveis que a amiga estendia. — Valeu, .
— Nós só precisamos de alguns minutos pra nos recuperar, aí podemos ir jogar vídeo game.
— Sem querer cortar o barato, , mas eu e a precisamos ir embora. — a primogênita avisou, vendo todos os garotos a encararem ao mesmo tempo, esperando pela explicação. — Nós nos perdemos nos compromissos e agora temos que ir gravar um vídeo pro canal antes que comecem a nos xingar de verdade, e se a gente deixar pra fazer isso muito tarde vamos acabar perdendo a noite toda pra editar e publicar.
— Mas a gente nem conversou direito.
— Eu sei, , a gente também queria ficar mais, mas estamos adiando isso tem tempo e quanto mais demorar pior vai ser. — respondeu, encarando o amigo cabisbaixo.
— Vocês vão gravar cantando, né? — perguntou, vendo as gêmeas concordarem. — Bom, o que não falta aqui é instrumento e equipamento, vocês podem tentar filmar aqui.
— É, vocês filmam pelo celular e depois podemos jogar e conversar um pouco. — disse antes que elas pudessem argumentar.
— E se não quiserem gravar nele, minha irmã tem uma câmera mais ou menos ali que deve servir. — completou, mostrando um sorriso grande para as amigas junto com os colegas.
— Vocês fazem tanta questão assim? — perguntou, tentando não rir da cara pidona dos amigos.
— Tô louco pra derrotar a no vídeo game, e acho que vai ser legal ver vocês na frente das câmeras, ainda mais cantando. — respondeu, dando uma piscadela.
— Eu ia até tentar argumentar, mas agora faço questão de ficar só pra calar a boca do no jogo. — a caçula respondeu, devolvendo a bolsa para o pufe e encarando a irmã, esperando pela reação dela.
— Precisamos de um violão e uma câmera. — ela respondeu, rendendo comemorações.
(N/A: Coloque para carregar essa música )
— Olá, pessoal! Nós estamos de volta e agora diretamente de São Francisco! — falava em português, olhando diretamente pra lente da câmera rosa à sua frente e tentando ignorar os quatro pares de olhares curiosos direcionados a ela. — Para quem não sabe, nós viemos terminar nossos estudos aqui, o que foi o motivo principal para tanto tempo sem atualização.
— Isso mesmo! Então sejam boas pessoas e nos perdoem. — completou, parando em uma pose meiga por alguns segundos. — Agora, vamos para o que interessa! A música de hoje vai ser Elephant Gun do Beirut, já que eu e a estávamos querendo fazer o cover dela há algum tempo.
— Esperamos que vocês gostem. — a caçula finalizou, fazendo sinal para que a irmã começasse a tocar.
(N/A: Dê play!)
As primeiras notas preencheram o ambiente, prendendo mais ainda a atenção dos quatro garotos. deslizava os dedos pelas cordas com maestria, balançando a cabeça levemente no ritmo e fechando os olhos para se entregar totalmente à canção. Essa fora uma das primeiras músicas que aprendeu a tocar, fazendo-a ter confiança e segurança em cada nota, como se suas mãos dançassem automaticamente pelo violão.
começou a cantar a música, se entregando junto à irmã e fechando os olhos a cada nota mais longa. A voz afinada e doce sobrepunha o som do violão de forma sutil, tornando a canção agradável ao ouvido e para ela cantar. Cada estrofe a levava para mais longe de onde estava e mais perto da sala de dança abandonada de sua antiga escola. Era para onde, no início de sua adolescência, ia diariamente apenas para ter a oportunidade de descarregar suas energias e frustações em passos mal ensaiados sem ninguém por perto para a perturbar. Sem a menor dúvida essa música fora a mais tocada no seu som velho naquele ano, talvez pelo ritmo a deixar encantada desde que ouvira pela primeira vez ou porque o som do ukulele a fazia lembrar das tardes em que seu tio tocava para ela quando ainda era criança.
Deixou que um sorriso brotasse em seu rosto quando a lembrança a atingiu em cheio e começou a acompanhar na cantoria. Abriu os olhos, encontrando sorrisos e olhares em sua direção, prestando atenção em um em especial, que retribuiu da mesma forma que foi feito algumas horas antes.
Cantou sem tirar os olhos de , vendo o sorrir e concordar lentamente com um aceno, tentando não se desconcentrar da música e torcendo para que no fim o errado seja, de certo modo, o mais certo para ela.
— Para de ser mentiroso, . Todo mundo viu que você simplesmente entrou na minha frente bem no fim da corrida, é óbvio que não valeu aquela rodada. — retrucou com raiva, vendo-o rolar os olhos. Estavam na mesa de sempre do refeitório discutindo sobre quem havia sido melhor na rodada de Mario Kart de dias anteriores.
— Chega! Já fazem dois dias isso, todo mundo viu que o roubou, logo, todos sabem que deu empate no fim e VOCÊS NÃO PARAM DE BRIGAR. — falou, levantando o tom de voz quando percebeu que o amigo iria retrucar, chamando atenção de algumas pessoas que passavam por perto.
— É assim que se fala, ! Bota moral nessas crianças. — Dylan aplaudiu o amigo entre risos junto com , mas tendo que fugir do tapa que tentava dar em seu braço. Desde o dia em que haviam conversado pela primeira vez, o garoto apenas se aproximara mais, se dando de bem com todos e passando a integrar seu pequeno grupo de amigos dentro e fora da escola.
— Receberam bronca do . A que ponto chegaram, ein? — provocou, rindo da cara de tédio dos dois.
— Vou ignorar isso pra não brigar com ele. — respondeu, semicerrando os olhos para o amigo e voltando à expressão normal logo em seguida. — Já que é pra mudar de assunto, me digam se vão se matricular em alguma das atividades extras.
— Dei uma olhada na lista, mas ainda tô em dúvida. — disse, fazendo um bico com a boca.
— Tô pensando em entrar pro grupo de teatro, foi o único que achei legal pra mim. — Dy respondeu, cruzando os braços sobre a mesa.
— Quero tentar ser líder de torcida, mas tô com vergonha de ir sozinha. — a primogênita respondeu, focando o olhar na irmã.
— Você? Com vergonha? Conta outra.
— Qual o problema, ? — perguntou curioso, encarando a cara de tédio que a amiga fazia para .
— A colocou na cabeça esse negócio de líder de torcida e quer me arrastar junto de qualquer forma.
— E porque você não vai? Vai ser engraçado te ver naquelas pirâmides humanas. — perguntou divertido.
— Sem contar que vai arrasar corações com aquele uniforme. — Dy comentou com um sorriso malicioso no rosto, fazendo-a rolar os olhos.
— Isso aí, meninos! Eu quero entrar pra ter mais uma experiência diferente aqui, na nossa escola antiga não tinha isso. Não custa nada você ir comigo, , até porque você sabe que não vou desistir de te convencer. — disse, sorrindo sapeca pra irmã.
— Ninguém te merece, . — jogou uma bolinha de guardanapo na primogênita. — Depois conversamos sobre isso. E vocês, e , vão tentar alguma coisa?
— Eu queria entrar pro time de futebol só pra tirar o Jacke do posto de capitão, sabe? — respondeu, ignorando as risadas irônicas dos amigos. — Mas esse ano nós vamos nos dedicar mais nos ensaios, então um compromisso fixo assim acabaria atrapalhando.
— É, como o e o terminaram os estudos, eles estão aproveitando esse tempo livre pra correr atrás de contatos, parcerias ou estúdios que possam ajudar a banda, então esse ano vai ser mais intenso pra gente com o McFly. — continuou a explicar.
— Pelos shows que assisti de vocês em algumas festas vi que são bons, com certeza alguém vai se interessar e daqui um tempo vocês estarão decolando na fama. — Dylan sorriu, dando tapinhas no ombro dos amigos.
— Isso aí! Vou passar a guardar até os canudos e guardanapos que vocês usam pra vender na internet quando tiverem famosos. — brincou, rindo da careta de nojo do .
— Sem contar nas inúmeras groupies que vão vir atrás de nós nos entrevistar e nos odiar por sermos amigas dos ídolos delas. — entrou na brincadeira, fazendo os garotos rirem.
— E ai de vocês se deixarem a fama subir à cabeça e nos esquecerem.
— Sem chances disso acontecer, . Esqueceu que são nossas fãs número um? — deu uma piscadela.
— Até porque vamos precisar de alguém pra desviar a atenção do nosso empresário e dos repórteres quando a gente quiser dar um perdido com alguma garota. — disse com um sorriso tarado, fazendo as duas rolarem os olhos juntas.
— Nós somos fãs, não babás. — respondeu, acrescentando no rosto o mesmo sorriso do amigo. — A não ser que a gente desvie a atenção dos bonitinhos de outra forma.
— Vocês não prestam! — Dy gargalhava com as expressões dos quatro.
— Não tenta disfarçar o ciúme, Dy, eu reservo um dia pra distrair você. — respondeu divertida, arranhando o ar com a mão enquanto piscava de lado.
— Se vocês estão assim agora, imagina na festa da Claire com toda aquela gente e bebida grátis. — disse antes de o responder e todos na mesa soltarem gritinhos animados.
— Essa festa promete, amigo.
Capítulo 7
Parou em frente à mansão encarando as pessoas dispersas pelo jardim. Luzes coloridas saiam pelas janelas e portas da casa, e a música alta poderia ser ouvida a uma quadra de distância. Encarou a irmã ao lado e a viu dar de ombros com um sorriso no rosto antes de passar pela porta, soltou o ar pela boca e a seguiu. Se achava que haviam pessoas o suficiente no jardim mudou de ideia rapidamente assim que entrou no lugar. O cheiro de álcool e o ar abafado preencheu seus pulmões enquanto tentava se esquivar das pessoas presentes na pista de dança para alcançar a irmã. Lembrava de dizendo que a escola inteira era convidada, mas nunca pensou que ele poderia estar falando no sentido tão literal. Conseguiu chegar ao que parecia uma sala, agora transformada em um bar grande e colorido, onde as pessoas estavam mais dispersas e podiam se movimentar sem esbarrar em alguém a todo segundo. Parou ao lado de , próximo ao balcão, enquanto a mesma analisava o menu de drinks.
— Jurava que perderia um braço nessa travessia. — brincou, apontando para a pista de dança.
— Bom, faltou pouco para meu mindinho ficar dançando lá com as pessoas. — respondeu com uma careta, levantando a perna e massageando o dedo.
— Olha só quem chegou! — Dylan se aproximou das gêmeas, apoiando os braços nos ombros das duas. — Achei que ia ter que arrasar na pista e encher a cara sozinho.
— Não perderíamos essa cena por nada, Dy. — disse, sorrindo de lado.
— Hoje, a noite é uma criança, baby. — disse, pegando seu drink rosa com o barman. — Encontrou algum dos garotos?
— Não, falei com mais cedo e ele avisou que se atrasariam um pouco porque teriam que esperar levar a mãe no aeroporto. Devem estar chegando.
— e também vem? Essa Claire gosta da casa cheia. — disse com os olhos meio arregalados, percebendo o sorriso da irmã alargar com a menção dos nomes – principalmente do segundo – e dar um pulinho animada.
— Eles se conhecem desde o ano passado. E até parece que eles precisam de um convite oficial pra vir. — ele explicou.
— Pra mim quanto mais gente melhor e se for amigo é melhor ainda. — sorriu sacana, tomando um gole da bebida e ignorando o olhar da irmã.
— Juro que se eu tiver que te levar carregada bato sua cabeça na porta três vezes sem querer. — a caçula disse, vendo a irmã rolar os olhos e fazer uma careta.
— Para de ser chata uma vez na vida, . É nossa primeira festa aqui, vamos aproveitar!
— Falou e disse, . — se aproximou rápido, fazendo a primogênita dar um pulo com o susto. — Boa noite, gente bonita.
abraçou o amigo, vendo os demais se aproximarem. Cumprimentou e e foi para o lado de esperando que ele terminasse de falar com . Sentiu o aroma adocicado do perfume de e respirou fundo.
— Veja só quem está mais bonita que o normal! — disse, encarando a garota que ruborizou com o elogio.
— Você também não está nada mal, .
— Eu sei, arraso sempre. — brincou, vendo a garota rir e rolar os olhos.
— Menos, amiguinho. — respondeu, tomando um gole da cerveja e dando espaço para que os outros se juntassem em uma roda.
— Antes que vocês comecem com papos furados, vamos dar início de verdade a essa festa. Vamos brindar! — disse divertido.
— Brindar o que, louco? — perguntou, erguendo uma sobrancelha.
— Qualquer merda, . A vida, nossa amizade, mulheres gostosas, paz mundial... Tanto faz. — ele respondeu, fazendo os amigos rirem e esticarem seus copos e garrafas.
— Ao fim da babaquice do ! — brindou vingativo, sendo seguido pelos amigos entre risos enquanto apenas mandava dedo.
— Bom, amo a presença de vocês, mas chegou a hora de ir à caça. Até mais tarde, amores. — disse com um sorriso malicioso depois de alguns minutos, indo para o fundo da casa e sendo seguido por .
— Eu fico por aqui mesmo, nem comecei direito. — disse, apontando para a taça vazia e seguindo para o balcão.
— Eu também, esse foi só o esquenta. — seguiu a amiga, deixando , Dy e sozinhos.
— Não fico moscando aqui por nada. Os dois para a pista de dança comigo agora e sem reclamações. — Dylan disse, puxando os amigos pelo braço e só soltando quando já estavam no meio da aglomeração.
encarou as pessoas ao redor notando que o álcool era presença fixa ali, levando todos a dançarem de forma intensa. Sentiu as mãos de Dylan em sua cintura a mexendo um pouco e gargalhou, só então prestando atenção na música que estava tocando. Sorriu ao decifrar a letra e batida de Only Girl e começou a se movimentar. Percebeu que havia fugido dos dois antes mesmo que começassem a dançar e deu de ombros, rindo. A caçula relaxou e se aproximou de Stockler, se entregando à música. Arriscou passos ousados e diferentes sem ligar para o que achariam, dificilmente lembrariam de algo no dia seguinte. Ouviu a gargalhada do amigo quando desceu até o chão fazendo uma cara que julgava ser sexy para ele.
— Não sabia que você podia ser tão sensual, brasileirinha. — ele falou alto próximo ao ouvido de para que ela conseguisse escutar.
— Você não viu nada. — piscou divertida e o puxou pelo braço colando os dois corpos.
Dançavam juntos mesmo com a música pedindo algo mais solto, sentindo os corpos grudados se movimentarem com sincronia. Passaram mais de uma hora apenas se divertindo entre movimentos e piadas ao pé do ouvido. sorriu animada enquanto outra música começava, finalmente havia encontrado um companheiro de dança à altura e que não desistisse nas duas primeiras músicas. Puxou-o pela mão até o bar, afinal mesmo que não estivesse cansada, sentia a garganta seca implorando por algo líquido, e o suor escorrendo por suas costas.
— Grudaram você com supercola aqui ou o que? — perguntou ofegante para depois de o encontrar no mesmo lugar, próximo ao balcão.
— Acabei de voltar, estava lá fora com até sermos interrompidos.
— Podia ter ido dançar conosco, você precisava ver a mostrando sua brasilidade no rebolado e deixando todo mundo no chinelo ali. — Dylan disse, recebendo um tapa da amiga.
— Deixa de ser exagerado, Dy, não teve nada disso. Sem contar que você não fica pra trás. — retrucou, bebericando do drink que havia acabado de pegar.
— Não tente mentir, . Consegui ver o final do show daqui. — respondeu com um sorriso sacana, vendo-a arregalar os olhos levemente. — Não precisa ficar com vergonha.
— Não estou. — apertou a boca em uma linha fina, era péssima com mentiras. Viu os dois rirem de sua cara e revirou os olhos. — Vão à merda.
— Olha os modos, mocinha. — Dy implicou, vendo a caçula se virar e afastar dos dois. — Ei, vai aonde?
— Tentar achar alguém mais legal que vocês dois. — respondeu divertida antes de ir para o quintal.
Deu uma risada nasalada ao ver que noventa por cento das pessoas por ali eram casais, restando poucos solitários bêbados jogados na beira da piscina. Passou os olhos com calma pelo local, tentando encontrar a irmã. Ia dar a volta e tentar outro cômodo da casa quando viu uma garota próxima à cerca da mansão. "Tava demorando, né, Dona ?" Pensou enquanto se aproximava apenas o suficiente para confirmar suas suspeitas. Na frente daquela cerca, aos beijos com sua irmã, com certeza era . era provavelmente o motivo pelo qual fora interrompido na conversa com o amigo.
Foi para uma árvore mais distante e se apoiou, tentando decidir se arrancava a irmã de lá ou não. Provavelmente a primogênita já passava do teor sociável de álcool e não sabia se era uma boa ideia deixa-la continuar agarrando , poderia se arrepender quando estivesse sóbria. "A merda já tá feita. Eles que se entendam depois." , pensou consigo e se virou pronta pra voltar para dentro da casa, dando de cara com uma cena que a fez parar por alguns instantes antes de seguir em frente. Engoliu em seco enquanto tentava chegar até o bar e tirar da cabeça aquela vista de com uma garota.
Encostou no balcão, pedindo um drink para o barman e enfim se permitiu filtrar a nova informação. Aliás, porque isso tinha mexido tanto com ela? Por mais que tivesse admitido que poderia sim estar se sentindo atraída por , os dois não passavam de simples amigos. Sem contar que pelo que conseguira ver, ele e a garota poderiam estar tendo uma conversa sem segundas intenções. Uma conversa de amigos à olho no olho e carinho no rosto, mas ainda sim uma conversa de amigos. Respirou fundo e pegou seu drink, dando um longo gole e sentindo o gosto do álcool misturado com o morango. Não iria se levar por suas próprias conclusões sem antes ter total certeza do que estava acontecendo, e enquanto estivesse assim tudo estaria bem, ainda poderia ter uma chance com o amigo. Tomou mais um gole da bebida e se virou afim de ir procurar Dylan, sentindo um corpo colidindo com o seu ao se movimentar.
— Puta que pariu, . Que porra de susto. — praguejou com a mão no peito, fazendo gargalhar. "Que tipo de bruxaria é essa que você sempre aparece quando estou pensando logo em você?", mordeu a língua para não soltar em voz alta o que pensava.
— Então é assim que faz pra você xingar além do normal? — perguntou divertido, sem esperar por uma resposta. — Presumo que já viu o novo casal.
— O QUE? — perguntou de súbito, só faltava ele a ter pego encarando os dois.
— A e o . — respondeu assustado com a reação da amiga, podia jurar que a tinha visto indo na direção dos dois alguns minutos atrás.
— Ah, os dois. — soltou o ar aliviada. — Vi sim, reconheço aquela lá de longe. Dessa vez nem me surpreendeu.
— Nem a mim. Percebi que ia rolar algo quando os dois passaram a ignorar tudo que eu falava e se encaravam por tempo demais. — disse, dando uma risada nasalada. — Ah, antes que eu me esqueça, queria te agradecer pelo conselho da semana passada. Você estava certa.
— Estava? — perguntou, erguendo uma sobrancelha e esperando por uma explicação.
— Preferi me aproximar da pessoa e não foi nada mal. — ele disse, indicando com um aceno as duas garrafas nas mãos.
— Ah, que bom. — forçou um sorriso, tentando disfarçar sua frustação e vontade de xingar alto. Havia acabado de se alimentar de novas esperanças e agora conseguia sentir toda ela se esvaindo. Estava pronta para inventar qualquer desculpa e sair daquela situação desconfortável quando surgiu correndo e parando entre os dois.
— e o se meteram em uma discussão e caíram na piscina! — disse afobada, se virando e correndo de volta para o quintal.
suspirou aliviada e soltou um "Salva pelo gongo!" baixo, mal esperando para sair correndo de encontro com os demais, passando pela pequena aglomeração que havia se formado na beira da piscina. No centro do pequeno círculo estavam duas pessoas jogadas no chão totalmente molhadas, um tentando parecer bravo — falhando devido aos cabelos bagunçados e a boca vermelha prendendo o riso — e uma apontando o celular para a cena.
— Que baderna é essa aqui? — perguntou com um sorriso no rosto, apontando para os quatro.
— As duas princesas inventaram de mexer com as mulheres dos atletas do colégio e levaram belos empurrões. — explicou.
— E eu estou registrando isso pra poder rir mais tarde de novo. — completou, aproximando o celular de e tirando uma foto.
— Chega disso, . Vamos embora, não quero mais ficar aqui. — ele reclamou depois do flash alto atingir seu rosto.
— Eu também. Ficar aqui vai ser só pra passar mais vergonha. — disse bravo, cruzando os braços.
— Mas a gente ia embora juntos pra casa do . — disse contrariado, ainda segurando as duas bebidas.
— E ainda vamos, estão todos prontos? — perguntou, levantando e encarando os quatro, totalmente ensopado.
— Parece que a festa acabou. — deu de ombros, pegando o celular no bolso invisível do vestido. — Vou chamar nosso táxi, .
— Não! Porque vocês não vão com a gente? — perguntou e percebendo a troca de olhares entre as irmãs, tentou convence-las. — A gente se diverte mais um pouco sem que o e o acabem com nossa paciência e depois vocês voltam pra casa.
A caçula concordou, pedindo para que incluíssem Dylan nos planos, afinal se e resolvessem continuar o que faziam antes, ela não precisaria aguentar falando sobre seus planos românticos ou e bêbados xingando os atletas. Tendo todos concordado, foi atrás do amigo enquanto eles os esperavam no carro.
Entrou na cheia e quente pista de dança e forçou a vista para tentar enxergar através da fumaça e luzes coloridas. Abria passagem entre empurrões e palavrões, chegando ao lado mais isolado da sala, onde reconheceu o moreno no canto da parede se movimentando na frente de alguém que não conseguia ver. Ficou com vergonha só de pensar que teria que atrapalhar um amasso caloroso do amigo, mas nada chegou aos pés da sua surpresa ao chamar Dylan e ele se virar, possibilitando que visse um garoto loiro e com os lábios inchados encostado na parede. Agradeceu mentalmente por estar escuro, assim não conseguiriam ver o quanto estava vermelha, enquanto o amigo a encarava com as sobrancelhas erguidas e um sorriso tímido.
— Er, desculpa interromper, Dy. É só pra avisar que a gente tá indo embora pra casa do e saber se você não quer ir também. — disse rápido, tentando ignorar o garoto loiro que parecia se divertir com o constrangimento dela.
— Tudo bem, essa festa já deu o que tinha que dar. — ele respondeu, virando para dar um selinho de despedida no garoto e voltando para seu lado. — Vamos.
Foram até fora sem dizer mais nada e de braços entrelaçados para não se perderem na multidão. Pararam ao lado dos amigos, próximos ao carro, que discutiam como se organizariam para que coubessem todos em um único automóvel. Por fim, ficou decidido que e iriam na frente, no colo de , Dylan no meio e , sob muitos protestos, no colo de .
Mesmo focada em fingir estar prestando atenção na paisagem, sentia o olhar de Dylan sobre si desde a hora em que ele sentara ao seu lado. Estava ansiosa para conversar com o amigo sobre o que havia acontecido, mas sabia que seria melhor esperar que ele estivesse à vontade para iniciar o assunto.
Chegaram à casa dos e todos desceram, entrando na casa.
— Levando em conta que não vou deixar o e o molharem meu sofá, acho melhor irmos lá pra trás. Já basta o banco do carro ensopado. — disse, caminhando para os fundos da casa e sendo seguidos por todos.
— , espera. A gente pode conversar? — Dy perguntou, segurando seu braço antes de deixarem a sala.
— Claro!
— Sobre o que você viu na festa... Bom, acho que ficou claro que sou homossexual e espero que isso não seja um problema pra você, não queria que algo atrapalhasse nossa amizade. — ele disse tímido, mexendo no cabelo e esperando por uma reação da garota.
— Não tem problema nenhum, Dy. — sorriu sincera, vendo ele a encarar em dúvida, precisaria ser mais clara. Soltou a primeira coisa que pensou e não se arrependeu, principalmente ao ouvir a gargalhada do moreno. — Quer dizer, eu fiquei um pouco surpresa porque realmente achava que você fosse hétero e que quem sabe algum dia poderia ter a sorte de te beijar, afinal você é um gato, mas ta tudo numa boa pra mim.
— Acho que a gente pode dar um jeito nisso. — respondeu divertido, dando uma piscadela e fazendo-a gargalhar.
— Brincadeira à parte, eu realmente não tenho o mínimo problema com isso e caso tivesse quem estaria errada era eu. Até porque se ter um amigo é bom, ter um amigo gay deve ser maravilhoso.
— Pode ter certeza que sim. Só não espere que eu arrume seu cabelo ou faça sua maquiagem, sou péssimo nisso.
— Aguentando meus surtos e ouvindo meus dramas já está de bom tamanho. — respondeu enquanto se abraçavam, se distanciando assim que algo passou por sua mente. — Você vai manter isso em segredo ou vai contar pra eles?
— Depois da sua reação eu fiquei mais confiante, acho que não custa nada ser sincero com os amigos. — deu de ombros e a puxou para os fundos da casa, onde todos estavam jogados na grama do jardim. Precisaria aproveitar aquele momento de coragem antes que ele fosse embora. — Ei, pessoal, tenho uma notícia pra dar.
— Manda bala! — respondeu meio grogue.
— Bom, a intenção era manter isso entre as pessoas mais íntimas a mim, mas eu já sinto uma cumplicidade e confiança com todos vocês e acho que compartilhar isso só vai intensificar nossa amizade.
— Você é um criminoso procurado pela polícia? — perguntou sério de olhos arregalados, fazendo todos rirem.
— Se fosse alguns anos atrás talvez eu realmente pudesse ser considerado isso, mas desde que as pessoas começaram a aceitar nós gays de uma forma melhor nós perdemos esse título. — ele respondeu divertido sem conseguir segurar o riso ao ver a cara dos amigos, que se mantinham quietos.
— EU VOU TER UM AMIGO GAAAY! — quebrou o silêncio com um grito, pulando em cima de Dylan em um abraço. — Espera! Eu ainda vou ter chances de te dar uns beijos, né?!
— ! — chamou a atenção contrariado, rendendo algumas piadas para os amigos sobre o ciúme já ter aparecido.
— Que é? Não vou negar que achei ele bonito assim que nos conhecemos. — ela respondeu, dando de ombros e ignorando o rolar de olhos de .
— É uma pena, queridinha. Porque fui mais rápida e se ele tiver que beijar uma mulher com certeza será eu. — disse de forma despreocupada, rindo da expressão frustrada da irmã.
— Porque em vez de brigarem por alguém que gosta da mesma fruta que vocês, vocês não brigam por nós? — perguntou, apontando para os demais e as fazendo rir.
— Tá com ciúmes, ? — Dy brincou, se sentando na grama com as garotas.
— Deixando a disputa de lado, posso falar por todos nós que a gente fica muito grato pela confiança. — agradeceu.
— Já tava na hora de fazer uns amigos de verdade. — ele respondeu divertido.
— Ainda bem que você escolheu as melhores opções. — disse, fazendo todos rirem.
— Esse momento pede abraço em grupo! — pulou em cima de Dylan e da irmã, sendo seguida pelos outros. E ali, sufocada por braços e corpos em meio a risos, a felicidade a fez esquecer dos momentos chatos do dia e simplesmente querer aproveitar cada segundo com seus amigos.
— Jurava que perderia um braço nessa travessia. — brincou, apontando para a pista de dança.
— Bom, faltou pouco para meu mindinho ficar dançando lá com as pessoas. — respondeu com uma careta, levantando a perna e massageando o dedo.
— Olha só quem chegou! — Dylan se aproximou das gêmeas, apoiando os braços nos ombros das duas. — Achei que ia ter que arrasar na pista e encher a cara sozinho.
— Não perderíamos essa cena por nada, Dy. — disse, sorrindo de lado.
— Hoje, a noite é uma criança, baby. — disse, pegando seu drink rosa com o barman. — Encontrou algum dos garotos?
— Não, falei com mais cedo e ele avisou que se atrasariam um pouco porque teriam que esperar levar a mãe no aeroporto. Devem estar chegando.
— e também vem? Essa Claire gosta da casa cheia. — disse com os olhos meio arregalados, percebendo o sorriso da irmã alargar com a menção dos nomes – principalmente do segundo – e dar um pulinho animada.
— Eles se conhecem desde o ano passado. E até parece que eles precisam de um convite oficial pra vir. — ele explicou.
— Pra mim quanto mais gente melhor e se for amigo é melhor ainda. — sorriu sacana, tomando um gole da bebida e ignorando o olhar da irmã.
— Juro que se eu tiver que te levar carregada bato sua cabeça na porta três vezes sem querer. — a caçula disse, vendo a irmã rolar os olhos e fazer uma careta.
— Para de ser chata uma vez na vida, . É nossa primeira festa aqui, vamos aproveitar!
— Falou e disse, . — se aproximou rápido, fazendo a primogênita dar um pulo com o susto. — Boa noite, gente bonita.
abraçou o amigo, vendo os demais se aproximarem. Cumprimentou e e foi para o lado de esperando que ele terminasse de falar com . Sentiu o aroma adocicado do perfume de e respirou fundo.
— Veja só quem está mais bonita que o normal! — disse, encarando a garota que ruborizou com o elogio.
— Você também não está nada mal, .
— Eu sei, arraso sempre. — brincou, vendo a garota rir e rolar os olhos.
— Menos, amiguinho. — respondeu, tomando um gole da cerveja e dando espaço para que os outros se juntassem em uma roda.
— Antes que vocês comecem com papos furados, vamos dar início de verdade a essa festa. Vamos brindar! — disse divertido.
— Brindar o que, louco? — perguntou, erguendo uma sobrancelha.
— Qualquer merda, . A vida, nossa amizade, mulheres gostosas, paz mundial... Tanto faz. — ele respondeu, fazendo os amigos rirem e esticarem seus copos e garrafas.
— Ao fim da babaquice do ! — brindou vingativo, sendo seguido pelos amigos entre risos enquanto apenas mandava dedo.
— Bom, amo a presença de vocês, mas chegou a hora de ir à caça. Até mais tarde, amores. — disse com um sorriso malicioso depois de alguns minutos, indo para o fundo da casa e sendo seguido por .
— Eu fico por aqui mesmo, nem comecei direito. — disse, apontando para a taça vazia e seguindo para o balcão.
— Eu também, esse foi só o esquenta. — seguiu a amiga, deixando , Dy e sozinhos.
— Não fico moscando aqui por nada. Os dois para a pista de dança comigo agora e sem reclamações. — Dylan disse, puxando os amigos pelo braço e só soltando quando já estavam no meio da aglomeração.
encarou as pessoas ao redor notando que o álcool era presença fixa ali, levando todos a dançarem de forma intensa. Sentiu as mãos de Dylan em sua cintura a mexendo um pouco e gargalhou, só então prestando atenção na música que estava tocando. Sorriu ao decifrar a letra e batida de Only Girl e começou a se movimentar. Percebeu que havia fugido dos dois antes mesmo que começassem a dançar e deu de ombros, rindo. A caçula relaxou e se aproximou de Stockler, se entregando à música. Arriscou passos ousados e diferentes sem ligar para o que achariam, dificilmente lembrariam de algo no dia seguinte. Ouviu a gargalhada do amigo quando desceu até o chão fazendo uma cara que julgava ser sexy para ele.
— Não sabia que você podia ser tão sensual, brasileirinha. — ele falou alto próximo ao ouvido de para que ela conseguisse escutar.
— Você não viu nada. — piscou divertida e o puxou pelo braço colando os dois corpos.
Dançavam juntos mesmo com a música pedindo algo mais solto, sentindo os corpos grudados se movimentarem com sincronia. Passaram mais de uma hora apenas se divertindo entre movimentos e piadas ao pé do ouvido. sorriu animada enquanto outra música começava, finalmente havia encontrado um companheiro de dança à altura e que não desistisse nas duas primeiras músicas. Puxou-o pela mão até o bar, afinal mesmo que não estivesse cansada, sentia a garganta seca implorando por algo líquido, e o suor escorrendo por suas costas.
— Grudaram você com supercola aqui ou o que? — perguntou ofegante para depois de o encontrar no mesmo lugar, próximo ao balcão.
— Acabei de voltar, estava lá fora com até sermos interrompidos.
— Podia ter ido dançar conosco, você precisava ver a mostrando sua brasilidade no rebolado e deixando todo mundo no chinelo ali. — Dylan disse, recebendo um tapa da amiga.
— Deixa de ser exagerado, Dy, não teve nada disso. Sem contar que você não fica pra trás. — retrucou, bebericando do drink que havia acabado de pegar.
— Não tente mentir, . Consegui ver o final do show daqui. — respondeu com um sorriso sacana, vendo-a arregalar os olhos levemente. — Não precisa ficar com vergonha.
— Não estou. — apertou a boca em uma linha fina, era péssima com mentiras. Viu os dois rirem de sua cara e revirou os olhos. — Vão à merda.
— Olha os modos, mocinha. — Dy implicou, vendo a caçula se virar e afastar dos dois. — Ei, vai aonde?
— Tentar achar alguém mais legal que vocês dois. — respondeu divertida antes de ir para o quintal.
Deu uma risada nasalada ao ver que noventa por cento das pessoas por ali eram casais, restando poucos solitários bêbados jogados na beira da piscina. Passou os olhos com calma pelo local, tentando encontrar a irmã. Ia dar a volta e tentar outro cômodo da casa quando viu uma garota próxima à cerca da mansão. "Tava demorando, né, Dona ?" Pensou enquanto se aproximava apenas o suficiente para confirmar suas suspeitas. Na frente daquela cerca, aos beijos com sua irmã, com certeza era . era provavelmente o motivo pelo qual fora interrompido na conversa com o amigo.
Foi para uma árvore mais distante e se apoiou, tentando decidir se arrancava a irmã de lá ou não. Provavelmente a primogênita já passava do teor sociável de álcool e não sabia se era uma boa ideia deixa-la continuar agarrando , poderia se arrepender quando estivesse sóbria. "A merda já tá feita. Eles que se entendam depois." , pensou consigo e se virou pronta pra voltar para dentro da casa, dando de cara com uma cena que a fez parar por alguns instantes antes de seguir em frente. Engoliu em seco enquanto tentava chegar até o bar e tirar da cabeça aquela vista de com uma garota.
Encostou no balcão, pedindo um drink para o barman e enfim se permitiu filtrar a nova informação. Aliás, porque isso tinha mexido tanto com ela? Por mais que tivesse admitido que poderia sim estar se sentindo atraída por , os dois não passavam de simples amigos. Sem contar que pelo que conseguira ver, ele e a garota poderiam estar tendo uma conversa sem segundas intenções. Uma conversa de amigos à olho no olho e carinho no rosto, mas ainda sim uma conversa de amigos. Respirou fundo e pegou seu drink, dando um longo gole e sentindo o gosto do álcool misturado com o morango. Não iria se levar por suas próprias conclusões sem antes ter total certeza do que estava acontecendo, e enquanto estivesse assim tudo estaria bem, ainda poderia ter uma chance com o amigo. Tomou mais um gole da bebida e se virou afim de ir procurar Dylan, sentindo um corpo colidindo com o seu ao se movimentar.
— Puta que pariu, . Que porra de susto. — praguejou com a mão no peito, fazendo gargalhar. "Que tipo de bruxaria é essa que você sempre aparece quando estou pensando logo em você?", mordeu a língua para não soltar em voz alta o que pensava.
— Então é assim que faz pra você xingar além do normal? — perguntou divertido, sem esperar por uma resposta. — Presumo que já viu o novo casal.
— O QUE? — perguntou de súbito, só faltava ele a ter pego encarando os dois.
— A e o . — respondeu assustado com a reação da amiga, podia jurar que a tinha visto indo na direção dos dois alguns minutos atrás.
— Ah, os dois. — soltou o ar aliviada. — Vi sim, reconheço aquela lá de longe. Dessa vez nem me surpreendeu.
— Nem a mim. Percebi que ia rolar algo quando os dois passaram a ignorar tudo que eu falava e se encaravam por tempo demais. — disse, dando uma risada nasalada. — Ah, antes que eu me esqueça, queria te agradecer pelo conselho da semana passada. Você estava certa.
— Estava? — perguntou, erguendo uma sobrancelha e esperando por uma explicação.
— Preferi me aproximar da pessoa e não foi nada mal. — ele disse, indicando com um aceno as duas garrafas nas mãos.
— Ah, que bom. — forçou um sorriso, tentando disfarçar sua frustação e vontade de xingar alto. Havia acabado de se alimentar de novas esperanças e agora conseguia sentir toda ela se esvaindo. Estava pronta para inventar qualquer desculpa e sair daquela situação desconfortável quando surgiu correndo e parando entre os dois.
— e o se meteram em uma discussão e caíram na piscina! — disse afobada, se virando e correndo de volta para o quintal.
suspirou aliviada e soltou um "Salva pelo gongo!" baixo, mal esperando para sair correndo de encontro com os demais, passando pela pequena aglomeração que havia se formado na beira da piscina. No centro do pequeno círculo estavam duas pessoas jogadas no chão totalmente molhadas, um tentando parecer bravo — falhando devido aos cabelos bagunçados e a boca vermelha prendendo o riso — e uma apontando o celular para a cena.
— Que baderna é essa aqui? — perguntou com um sorriso no rosto, apontando para os quatro.
— As duas princesas inventaram de mexer com as mulheres dos atletas do colégio e levaram belos empurrões. — explicou.
— E eu estou registrando isso pra poder rir mais tarde de novo. — completou, aproximando o celular de e tirando uma foto.
— Chega disso, . Vamos embora, não quero mais ficar aqui. — ele reclamou depois do flash alto atingir seu rosto.
— Eu também. Ficar aqui vai ser só pra passar mais vergonha. — disse bravo, cruzando os braços.
— Mas a gente ia embora juntos pra casa do . — disse contrariado, ainda segurando as duas bebidas.
— E ainda vamos, estão todos prontos? — perguntou, levantando e encarando os quatro, totalmente ensopado.
— Parece que a festa acabou. — deu de ombros, pegando o celular no bolso invisível do vestido. — Vou chamar nosso táxi, .
— Não! Porque vocês não vão com a gente? — perguntou e percebendo a troca de olhares entre as irmãs, tentou convence-las. — A gente se diverte mais um pouco sem que o e o acabem com nossa paciência e depois vocês voltam pra casa.
A caçula concordou, pedindo para que incluíssem Dylan nos planos, afinal se e resolvessem continuar o que faziam antes, ela não precisaria aguentar falando sobre seus planos românticos ou e bêbados xingando os atletas. Tendo todos concordado, foi atrás do amigo enquanto eles os esperavam no carro.
Entrou na cheia e quente pista de dança e forçou a vista para tentar enxergar através da fumaça e luzes coloridas. Abria passagem entre empurrões e palavrões, chegando ao lado mais isolado da sala, onde reconheceu o moreno no canto da parede se movimentando na frente de alguém que não conseguia ver. Ficou com vergonha só de pensar que teria que atrapalhar um amasso caloroso do amigo, mas nada chegou aos pés da sua surpresa ao chamar Dylan e ele se virar, possibilitando que visse um garoto loiro e com os lábios inchados encostado na parede. Agradeceu mentalmente por estar escuro, assim não conseguiriam ver o quanto estava vermelha, enquanto o amigo a encarava com as sobrancelhas erguidas e um sorriso tímido.
— Er, desculpa interromper, Dy. É só pra avisar que a gente tá indo embora pra casa do e saber se você não quer ir também. — disse rápido, tentando ignorar o garoto loiro que parecia se divertir com o constrangimento dela.
— Tudo bem, essa festa já deu o que tinha que dar. — ele respondeu, virando para dar um selinho de despedida no garoto e voltando para seu lado. — Vamos.
Foram até fora sem dizer mais nada e de braços entrelaçados para não se perderem na multidão. Pararam ao lado dos amigos, próximos ao carro, que discutiam como se organizariam para que coubessem todos em um único automóvel. Por fim, ficou decidido que e iriam na frente, no colo de , Dylan no meio e , sob muitos protestos, no colo de .
Mesmo focada em fingir estar prestando atenção na paisagem, sentia o olhar de Dylan sobre si desde a hora em que ele sentara ao seu lado. Estava ansiosa para conversar com o amigo sobre o que havia acontecido, mas sabia que seria melhor esperar que ele estivesse à vontade para iniciar o assunto.
Chegaram à casa dos e todos desceram, entrando na casa.
— Levando em conta que não vou deixar o e o molharem meu sofá, acho melhor irmos lá pra trás. Já basta o banco do carro ensopado. — disse, caminhando para os fundos da casa e sendo seguidos por todos.
— , espera. A gente pode conversar? — Dy perguntou, segurando seu braço antes de deixarem a sala.
— Claro!
— Sobre o que você viu na festa... Bom, acho que ficou claro que sou homossexual e espero que isso não seja um problema pra você, não queria que algo atrapalhasse nossa amizade. — ele disse tímido, mexendo no cabelo e esperando por uma reação da garota.
— Não tem problema nenhum, Dy. — sorriu sincera, vendo ele a encarar em dúvida, precisaria ser mais clara. Soltou a primeira coisa que pensou e não se arrependeu, principalmente ao ouvir a gargalhada do moreno. — Quer dizer, eu fiquei um pouco surpresa porque realmente achava que você fosse hétero e que quem sabe algum dia poderia ter a sorte de te beijar, afinal você é um gato, mas ta tudo numa boa pra mim.
— Acho que a gente pode dar um jeito nisso. — respondeu divertido, dando uma piscadela e fazendo-a gargalhar.
— Brincadeira à parte, eu realmente não tenho o mínimo problema com isso e caso tivesse quem estaria errada era eu. Até porque se ter um amigo é bom, ter um amigo gay deve ser maravilhoso.
— Pode ter certeza que sim. Só não espere que eu arrume seu cabelo ou faça sua maquiagem, sou péssimo nisso.
— Aguentando meus surtos e ouvindo meus dramas já está de bom tamanho. — respondeu enquanto se abraçavam, se distanciando assim que algo passou por sua mente. — Você vai manter isso em segredo ou vai contar pra eles?
— Depois da sua reação eu fiquei mais confiante, acho que não custa nada ser sincero com os amigos. — deu de ombros e a puxou para os fundos da casa, onde todos estavam jogados na grama do jardim. Precisaria aproveitar aquele momento de coragem antes que ele fosse embora. — Ei, pessoal, tenho uma notícia pra dar.
— Manda bala! — respondeu meio grogue.
— Bom, a intenção era manter isso entre as pessoas mais íntimas a mim, mas eu já sinto uma cumplicidade e confiança com todos vocês e acho que compartilhar isso só vai intensificar nossa amizade.
— Você é um criminoso procurado pela polícia? — perguntou sério de olhos arregalados, fazendo todos rirem.
— Se fosse alguns anos atrás talvez eu realmente pudesse ser considerado isso, mas desde que as pessoas começaram a aceitar nós gays de uma forma melhor nós perdemos esse título. — ele respondeu divertido sem conseguir segurar o riso ao ver a cara dos amigos, que se mantinham quietos.
— EU VOU TER UM AMIGO GAAAY! — quebrou o silêncio com um grito, pulando em cima de Dylan em um abraço. — Espera! Eu ainda vou ter chances de te dar uns beijos, né?!
— ! — chamou a atenção contrariado, rendendo algumas piadas para os amigos sobre o ciúme já ter aparecido.
— Que é? Não vou negar que achei ele bonito assim que nos conhecemos. — ela respondeu, dando de ombros e ignorando o rolar de olhos de .
— É uma pena, queridinha. Porque fui mais rápida e se ele tiver que beijar uma mulher com certeza será eu. — disse de forma despreocupada, rindo da expressão frustrada da irmã.
— Porque em vez de brigarem por alguém que gosta da mesma fruta que vocês, vocês não brigam por nós? — perguntou, apontando para os demais e as fazendo rir.
— Tá com ciúmes, ? — Dy brincou, se sentando na grama com as garotas.
— Deixando a disputa de lado, posso falar por todos nós que a gente fica muito grato pela confiança. — agradeceu.
— Já tava na hora de fazer uns amigos de verdade. — ele respondeu divertido.
— Ainda bem que você escolheu as melhores opções. — disse, fazendo todos rirem.
— Esse momento pede abraço em grupo! — pulou em cima de Dylan e da irmã, sendo seguida pelos outros. E ali, sufocada por braços e corpos em meio a risos, a felicidade a fez esquecer dos momentos chatos do dia e simplesmente querer aproveitar cada segundo com seus amigos.
Capítulo 8
— E agora que não passo mais as tardes na sua casa ou saindo com você e a , meu pai percebeu como eu sou desocupada e disse que eu teria que encontrar alguma atividade pra fazer. — a voz de saía pelo autofalante do notebook, ecoando pelo quarto da caçula. — É claro que ele esperava por algo como aulas de reforço, curso preparatório para vestibulares, basquete, natação...
— Você praticando esportes? Nem seu pai cai nessa, , você é a pessoa mais sedentária que conheço. — riu da careta da amiga que aparecia na tela.
— Me deixe terminar! — ela esbravejou, abanando o ar com a mão. — Enfim, é claro que eu não iria escolher qualquer coisa pra ocupar meu tempo, afinal se é pra sair de casa que seja, pelo menos, por um bom motivo. Então, a cara que ele fez quando eu disse que faria aulas de bateria e dança do ventre foi simplesmente impagável!
— Não acredito, ! Tadinho do tio, você sabe que ele odeia barulheira, como vai te aguentar batendo em tambores e pratos dentro de casa? — não conseguiu conter uma gargalhada ao imaginar a cena.
— , eu não seria tão má, até porque ele recusaria comprar uma bateria pra mim por enquanto. Conversei com a professora e ela disse que eu posso ficar até duas horas depois da aula e ir nos sábados de manhã pra praticar.
— Que linda! Vê se não vai desistir no meio das aulas dessa vez. — cobrou, se lembrando de quando a amiga a abandonara durante uma aula do curso de pintura depois de não conseguir desenhar a flor no centro da tela. poderia ser aberta a novas experiências e bastante animada com elas sempre, mas bastava cinco minutos de tédio ou algum detalhe que não a agradasse para que ela desistisse de vez.
— Ei, só foi aquela vez, tá? E aquilo era uma chatice só. — ela respondeu, fazendo um bico com a boca.
— Eu avisei pra você, mas você insistiu e ainda me arrastou junto só pra me deixar sozinha depois. — retrucou incrédula, como uma mãe que repete o mesmo "eu avisei" dezenas de vezes para o filho que insiste no erro.
— Desculpa, amore, mas eu não tava aguentando. — gargalhou, fazendo a amiga não se conter e acompanhar o riso. — Vou me dedicar de verdade dessa vez, e na aula de dança do ventre também! — Olha, bateria eu até entendo, mas dança do ventre? Nunca vi você falando nisso. — fez cara de desentendida pra webcam, esperando pela explicação.
— É sempre bom tentar algo novo, né? — a morena deu de ombros, se limitando na resposta. Não que fosse necessário algo a mais, conhecia muito bem os surtos de vontades inusitadas da amiga. — Agora é sua vez de falar as novidades! Já contei todas as fofocas da escola e sobre minha ex-vida-monótona. Você não foi pra uma festa ontem?
— Fui e você nem pode imaginar o tanto de coisas que aconteceram. — a caçula puxou o travesseiro pro colo e encarou a tela do notebook, vendo se sentar corretamente na cama do outro lado.
— Não me faça perder saliva te pedindo por detalhes e tudo mais. — ela respondeu, esperando a amiga falar.
suspirou e começou a contar tudo que acontecera na noite anterior sem poupar detalhes, como sabia que gostava, desde a hora que chegaram até o momento em que pegaram um táxi na casa de para irem embora. Ao terminar se jogou de lado na cama e encarou o teto do quarto, esperando a amiga filtrar tudo e começar a falar.
— Certo, vamos por partes pra ver se eu entendi tudo. Um, preciso dizer que estou bem triste em saber que o Dylan é gay, tinha esperanças de conquistar o coração dele quando fosse aí depois que vi uma foto dele. — respondeu, conseguindo ver apenas parte do braço da amiga na imagem, mas escutando um "todas nós" como resposta. — Dois, quero as fotos que a tirou dos seus amigos pós banho de piscina. Três, chama a depois porque eu quero dar os parabéns pra ela por ser tão rápida e já ter fisgado o gringo.
— Bota fisgado nisso, você devia ter visto o beijo de despedida deles, eu poderia jurar que um dos dois sairia dali sem a língua. — brincou, voltando a se sentar a tempo de ver abafar a risada em uma almofada. — E prefiro não arriscar em ir acordar ela, se eu que mal exagerei na bebida estava com dor de cabeça imagina como deve estar por lá.
— Tudo bem, depois mando uma mensagem pra ela. Agora, o mais importante: Como assim o tava dando mole pra outra garota e você não tentou fazer nada pra passar na frente? — ela perguntou com os olhos arregalados em tom de indignação.
— Por favor, né, ? Você queria mesmo que depois de ter aconselhado ele em investir nela, mesmo sem saber, eu fosse lá tentar atrapalhar o esquema dele?
— CLARO! , você tem que aprender a ser mais esperta ou vai acabar quebrando a cara ou chupando dedo de novo.
— Tá me chamando de burra, Dona ? — perguntou, fingindo ter se chateado.
— Argh! Você sabe que não é nesse sentido. — respondeu, tentando não se irritar com a amiga desviando o foco da conversa. — Olha, porque você não fez que nem sua irmã e investiu nele de vez ontem? Era só ter beijado ele que a outra lá ia ficar pra trás.
— , você sabe que eu não sou assim que nem você e a pra essas coisas. — disse, sem conter um rolar de olhos.
— Que que tem eu? — perguntou, entrando no quarto da irmã de súbito e se jogando do lado dela.
— Olha só, parece que a princesa acordou tão bem que esqueceu até como bate na porta dos outros antes de entrar. — se recompôs do pequeno susto, dando espaço ao seu lado para a irmã sentar.
— Estou bem, mas não abusa do meu humor. — respondeu, apoiando a cabeça no ombro da caçula e prestando atenção na tela do notebook, não conseguindo controlar o grito mesmo com o resmungo da irmã. — , SUA LINDA, QUE SAUDADES!
— , SAFADA! Que saudades de você, amore. — sorriu pra imagem das amigas, sem conseguir conter a alegria de estar conversando com as duas juntas como faziam antes, mesmo que por meio virtual. — Só a fala comigo diariamente, tá bom de você aprender com ela.
— É, dessa vez você tem razão. Prometo que vou mandar mais mensagens ou aparecer mais por aqui, não posso nem pensar em deixar de lado minha companheira de loucuras. — respondeu com uma gargalhada, lembrando como a amiga sempre a acompanhava nas ideias bizarras e as duas acabavam arrastando . — Mas, e aí, sobre o que conversavam? Consegui escutar meu nome antes de entrar aqui.
— Eu estava tentando convencer a em entender que não sou corajosa como vocês, que conseguem simplesmente chegar beijando as pessoas. — respondeu, dando de ombros e rindo da cara chocada da irmã.
— Você já contou? Essa é fofoqueira, não perde tempo mesmo. — perguntou boquiaberta, fingindo estar com raiva pela atitude da caçula.
— Ela fez bem, quero estar por dentro de tudo. Inclusive, conte-nos sua versão da história, a disse também que você não falou no assunto ainda por causa da ressaca maravilhosa. — exigiu da amiga, ignorando o rolar de olhos que recebia e vendo a caçula se virar e encarar a irmã também esperando pela explicação.
— Tinha esquecido como não dá pra esconder nada de vocês. — bufou baixo e se acomodou com uma almofada antes de começar a contar. — A gente já estava trocando uns olhares quando nos encontrávamos, e ficava cada vez mais nítido que tava rolando um interesse ali. Logo que a foi pra pista com o Dy, eu resolvi dar uma volta pela casa e acabei chegando no quintal. Ele tava rindo encostado na cerca enquanto conversava com o e eu fui até eles. A gente ficou conversando e, não sei se pela bebida ou não, mas eu não conseguia desgrudar meus olhos dos dele, e ele tava da mesma maneira. Acho que foi até por isso que o sumiu de perto de nós. — ela riu ao lembrar da cena. — Enfim, quando percebemos que estávamos sozinhos ficamos meio sem graça, é claro, mas então ele começou a me elogiar e eu fui retribuindo. Bom, depois eu não aguentava mais ficar naquela enrolação e beijei ele, que retribuiu na mesma hora.
— E vocês conversaram sobre isso depois que chegamos? — perguntou.
— Ele me ligou pouco depois que eu subi pra ir dormir agora de tarde. — respondeu, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha e tentando conter um sorriso tímido. Continuou a contar a história sabendo que seria obrigada a falar mais cedo ou mais tarde. — Ele disse que tinha gostado da noite passada e quis saber se eu também, já que a gente não tava tão sóbrio pra ter certeza das coisas. Quando eu respondi que tinha curtido ele perguntou se então poderíamos continuar assim...E eu aceitei, claro.
— Quer dizer que você tem um ficante norte-americano agora? — perguntou divertida, chamando a atenção da primogênita com umas palminhas alegres.
— Nós concordamos em não rotular nada. Digamos que estamos apenas nos curtindo e divertindo. — respondeu, dando de ombros e uma piscadela, e voltando a apoiar a cabeça no ombro da irmã.
— Sabia que o era nesse seu estilo de pega e não se apega. — brincou, dando uma gargalhada quando a irmã concordou com um sorriso de lado.
— Tá vendo, ? Vê se aprende com a e não deixa o passar. — riu, encarando o olhar raivoso da amiga e o surpreso da primogênita, entendendo as reações apenas quando a última abriu a boca, fazendo-a dar um tapa na própria testa.
— ? O "nosso" , ? — perguntou sem esperar por uma resposta pra ralhar com a irmã. — Porque você não me contou? Tudo bem que eu sabia que tava acontecendo alguma coisa com você, mas não imaginava que ia ser algo assim! Que tipo de gêmea é você que não fala as coisas pra outra? Aliás, o que tá acontecendo? Vocês estão apaixonados? Querendo...
— Ai, calma, ! Uma coisa de cada vez. — esbravejou e interrompeu , vendo sibilar um pedido de desculpas na imagem. Respirou fundo, ignorando a feição fechada da irmã por ter sido cortada, e voltou a falar. — Primeiro de tudo, me desculpa por não ter comentado nada com você, mas é porque eu nem tinha certeza do que estava passando na minha cabeça. E a só sabe disso porque me pressionou demais e jogou aquele feitiço dela que faz a gente abrir a boca mesmo sem querer. — tomou fôlego e fez sinal para que as duas continuassem quietas até que ela terminasse. — Segundo, não está rolando nada do tipo entre eu e o , a única coisa que está acontecendo é que eu estou mais interessada nele de um tempo pra cá, e como não é nada demais eu tento deixar tudo guardado na minha cabeça.
— Você e essa mania de tentar diminuir ou aumentar demais seus sentimentos, . — rolou os olhos e cortou a amiga antes que a mesma retrucasse. — Seja sincera com você e aceite que você está sim gostando do ! Você mesma me disse que tinha ficado desanimada quando ele te contou que estava investindo na outra garota.
— Se a está falando, eu acredito. E pode me por a par dessa história de garota aí. — exigiu, escutando a irmã repetir a história sobre as conversas dos dois e o incidente da festa. — Se eu soubesse disso tinha jogado ela na piscina quando fui chamar vocês. E eu não acredito que você deixou isso acontecer!
— EU? — a caçula perguntou indignada, ignorando a amiga na conversa virtual que soltava um "eu disse" convencido.
— É, pelo que você me disse não dava pra ele sacar que você tá afim dele, então se você tivesse pelo menos demonstrado alguma coisa ontem ele poderia ficar menos confiante com a garota. — estalou o dedo na frente do rosto da irmã.
— Argh! Isso não importa mais, já passou, já era. — se jogou de costas na cama, escutando aumentar o tom de voz do outro lado.
— Também não é assim, né, amore? Não é como se a gente tivesse certeza de que ele ame ela.
— A tem razão, vamos esperar pra ver o que rola e aí montamos nosso plano.
— Aaah, não! Nem comecem com os planos loucos de vocês. — a caçula reclamou, escutando as gargalhadas das duas.
— Até parece que vamos perder essa oportunidade, né, ?
— Exatamente! Se prepare para entrar em ação logo logo, mana do meu coração. — a primogênita pulou em cima da caçula, beijando seu rosto mesmo com a mesma se debatendo. — Ô bicha bruta! Vou até ir atrás de um filme pra assistir pra não ter que ficar contigo.
— Não precisa apelar também, amore. — puxou a irmã pra um abraço forçado, fazendo gargalhar da cena. — E não tenta enganar a gente, tá na cara que você vai é ir ligar pro .
— Pela cara dela, acho que acertou, . — a amiga comentou, rindo dos olhos semicerrados e da boca escancarada da primogênita.
— Odeio vocês. — ela reclamou, se dirigindo pra porta do quarto e parando no meio do caminho com um sorriso sapeca no rosto. Se virou e falou alto o suficiente para atingir o microfone do notebook. — Já contou pra que você vai fazer o teste pra líder de torcida, ?
— VACA! — a irmã xingou, tentando acertar a mais velha com uma almofada enquanto ela saia do quarto aos risos. Virou o rosto lentamente e encarou a tela do notebook com cara de tédio, esperando pelo surto a vir.
— VOCÊ VAI SER LÍDER DE TORCIDA?! — disse sem conter a animação.
— Não!
— PORQUE NÃO? Lógico que você vai, você não tá nem louca de deixar essa chance passar... — começou a argumentar, fazendo rolar os olhos e xingar mentalmente por a ter botado naquele debate, que com certeza a amiga ganharia pelo cansaço.
Era início de segunda-feira e estava sentada embaixo de uma das árvores do jardim da escola, conversando com os amigos enquanto as aulas não começavam. Havia passado o domingo em casa descansando, colocando as séries amadas em dia e trabalhando em algumas músicas, nada que não a satisfizesse mais. Passou a mão pelos cabelos da irmã, que descansava a cabeça em suas pernas, totalmente deitada na grama, e acompanhou as risadas ao escutar o final da história de .
— Eu não sei o que é pior, você ter corrido do bandido que nem louco pela pista ou ter invadido uma casa que não sabia de quem era. — secou uma lágrima do canto dos olhos e tentou recuperar o fôlego depois das risadas.
— É fácil falar, queria ver se fosse você no meu lugar, Senhora . — ele deu de ombros, sorrindo vitorioso com a provocação e fazendo e Dylan rir.
— Não precisa ficar com ciúme, . — a primogênita respondeu sem desviar o olhar da copa da árvore, pressionando os lábios para prender o sorriso ao ouvir a risada irônica do garoto.
— Gente, cadê o ? — mudou de assunto depois de alguns minutos, tentando esconder a curiosidade e ansiedade (que passou despercebido menos pela irmã, que lançou um olhar divertido em sua direção). Ignorou e manteve seus olhos nos garotos à sua frente. — Ele normalmente fica com nós antes da aula.
— Ele veio comigo, mas disse que ia passar em um lugar aqui do prédio e daqui a pouco encontrava com a gente. — respondeu sem dar muita importância.
— E veio mesmo, olha ele chegando. — Dy indicou com um aceno a parte da sua frente do jardim, consequentemente de trás da caçula, deixando um sorriso malicioso pender em seu rosto. — E acho que temos novidade.
— Como assim? — apoiou o corpo nos cotovelos para ver a cena, deixando os olhos arregalarem por alguns segundos. Esse ato, por menor que tenha sido, chamou a atenção de , que conhecia bem aquela expressão e sentiu que boa coisa não estava por vir, preferindo esperar que a tal novidade aparecesse na sua frente.
— Bom dia, galera. — apareceu sorridente em seu campo de visão, ocasionando um sorriso involuntário na garota, que duraria muito mais se não fosse pelos segundos seguintes. — Essa aqui é a Karoline. Karoline, esses são , Dylan, e .
encarou a moça à sua frente e engoliu em seco, reconhecendo-a como a mesma da festa e consequentemente a "garota do amigo". Mordeu o lábio com força e tentou controlar a mistura de sentimentos que a atingia, mantendo seu olhar nos dois à sua frente e sentindo seu lado esquerdo queimar. Ela sabia que era a encarando, estudando sua reação milimetricamente numa tentativa de ler seus pensamentos, sabia também que bastava a encarar de volta para que a primogênita conseguisse as respostas que queria, por isso se manteve firme, engolindo os xingamentos que rondavam sua mente e voltando sua atenção para os amigos.
— Prazer, gente! Podem me chamar apenas de Karol, o nome completo fica só para os meus pais. — a garota foi simpática, sorrindo para eles. aproveitou a aproximação e a olhou com detalhes, tendo certeza de que ela era provavelmente a pessoa mais bonita daquela escola. Karol era negra com lábios grossos, que chamavam mais atenção para o sorriso perfeito, e traços e queixo finos que a davam um ar de menina. Porém, toda a sua inocência era compensada por seus olhos grandes e escuros, que transmitiam firmeza, e seu cabelo, ah, principalmente o cabelo. Seus fios crespos e volumosos com contraste de diferentes tons de castanhos era o que mais chamava atenção nela e que sustentava seu lado de mulher madura, sendo capaz de, somado ao seu olhar, intimidar qualquer um que estivesse por perto.
— Olá, Karol! — Dylan cumprimentou por último animado, se afastando e abrindo espaço na roda para que eles se sentassem, o que fizeram de prontidão. — Você é a representante do grupo de teatro, né?
— Sim, quer dizer, pelo menos até semestre passado sim. A cada ano eles abrem vagas para mais pessoas e fazem a votação de representante. — ela jogou a mochila no colo, cruzando os braços sobre ela.
— Aposto que você continua com o posto, ninguém seria burro de colocar alguém no lugar da melhor atriz da escola. — deu uma piscadela enquanto sorria de lado, fazendo-a rolar os olhos com um sorriso divertido.
— Vocês se conhecem há muito tempo? — perguntou curiosa, escondendo mais do que queria saber. A caçula tinha certeza que assim como ela, a irmã estava se segurando para não vasculhar totalmente a relação dos dois, o que era algo que a deixava contente, era ótimo ter uma parceira em momentos como esse.
— A Karol sempre me chamou a atenção, primeiro pela beleza, é claro, e depois pelo seu jeito. Fico observando ela nas aulas que pegamos juntos e nas apresentações do teatro desde o último semestre, mas só tive coragem de puxar conversa semana passada. — o loiro respondeu confiante e sem desviar os olhos da acompanhante.
— Você tem uma lábia forte. — ela respondeu divertida, deixando uma gargalhada ecoar pelo ambiente, ocasionando risadas nos demais e um estranho desconforto em .
— É, esse aí conquista qualquer um só abrindo a boca. — brincou, mandando um beijo pro amigo.
— , quantas vezes vou ter que dizer que nosso relacionamento tem que ser discreto? — brincou, fingindo estar com raiva.
— Desse jeito você acaba com as chances do com a Karol. — Dylan se intrometeu sem se preocupar em ser discreto, o que acabou deixando o casal com vergonha e os amigos silenciosos.
— Dy, porque a gente não vai dar uma volta, hm? — perguntou já se levantando, não aguentaria ficar por ali por mais tempo sem deixar transparecer seu nervosismo. Aquela foi a saída mais rápida que encontrou.
— An? Mas a aula vai começar daqui a pouco. — ele respondeu sem entender a ação repentina da amiga.
— Eu sei, mas eu preciso passar em um lugar antes e você não está fazendo nada, vem comigo. — ela o puxou pelo braço sem esperar por resposta, deixando os amigos para trás em poucos minutos. Continuou andando, tentando pensar em algum destino depois de sua desculpa esfarrapada e controlando a respiração que havia ficado mais rápida sem que ao menos percebesse.
— Posso saber que pressa foi essa? — ele perguntou, parando no meio do caminho e a puxando até ele para a encarar de frente, erguendo as sobrancelhas em uma expressão curiosa. — Aliás, que surto do nada foi esse?
— Não sei do que você tá falando. Só preciso passar no meu armário antes da aula pra pegar umas anotações. — ela respondeu sem conseguir manter o contato visual com o garoto, não conseguiria mentir encarando aqueles olhos claros estudando cada traço de sua expressão. Ela tinha a impressão de que Dylan conseguia enxergar sua alma só em uma troca de olhares duradoura, talvez pelo tom hipnotizante de sua íris ou pelo modo observador do amigo. De qualquer forma, era melhor não arriscar.
— Tem certeza, hum? — perguntou ainda em dúvida, algo no comportamento da garota o deixava com uma pulga atrás da orelha sobre a atitude repentina dela.
— Dy, é sério! Vamos logo antes que o sinal toque. — respondeu pela última vez, voltando a puxá-lo para dentro do prédio.
Dylan deu de ombros e se deixou ser guiado pela amiga, por mais que sentisse que havia algo que ela tentava esconder, sabia que dar espaço para ela e esperar que viesse a ele quando precisasse era a melhor escolha. Passou o braço pelos ombros de quando chegou ao seu lado e deu uma piscadela divertida, tentando transmitir mais que uma brincadeira com o ato, e bem, levando em conta o balançar de cabeça e o riso incrédulo da garota poderia dizer que ela havia entendido o recado. Não precisariam de explicações por parte dos dois, estariam ali um do lado do outro dispostos a se ajudar mesmo quando as oportunidades não fossem apontadas.
— , não sei se você percebeu, mas a única coisa que você tem que fazer é assinar seu nome nessa linha. — passou um dos braços pelos ombros da amiga, apontando para o papel a sua frente.
— Sei como funciona, só estou lutando contra essa ideia maluca e tentando forçar meu corpo a sair daqui antes que eu assine. — a caçula bufou, escutando a risada do amigo e xingando baixo atrás de si.
— , assine a porcaria do seu nome nesse papel antes que eu mesma pegue essa caneta e escreva pra você. — a primogênita ralhou brava, cruzando os braços ao seu lado.
A caçula rolou os olhos sem paciência e deixou que sua mão manuseasse a caneta, deixando seu nome completo na lista quase completa para inscrição de líderes de torcida. O arrependimento a consumia só de imaginar o teste de mais tarde.
— Você praticando esportes? Nem seu pai cai nessa, , você é a pessoa mais sedentária que conheço. — riu da careta da amiga que aparecia na tela.
— Me deixe terminar! — ela esbravejou, abanando o ar com a mão. — Enfim, é claro que eu não iria escolher qualquer coisa pra ocupar meu tempo, afinal se é pra sair de casa que seja, pelo menos, por um bom motivo. Então, a cara que ele fez quando eu disse que faria aulas de bateria e dança do ventre foi simplesmente impagável!
— Não acredito, ! Tadinho do tio, você sabe que ele odeia barulheira, como vai te aguentar batendo em tambores e pratos dentro de casa? — não conseguiu conter uma gargalhada ao imaginar a cena.
— , eu não seria tão má, até porque ele recusaria comprar uma bateria pra mim por enquanto. Conversei com a professora e ela disse que eu posso ficar até duas horas depois da aula e ir nos sábados de manhã pra praticar.
— Que linda! Vê se não vai desistir no meio das aulas dessa vez. — cobrou, se lembrando de quando a amiga a abandonara durante uma aula do curso de pintura depois de não conseguir desenhar a flor no centro da tela. poderia ser aberta a novas experiências e bastante animada com elas sempre, mas bastava cinco minutos de tédio ou algum detalhe que não a agradasse para que ela desistisse de vez.
— Ei, só foi aquela vez, tá? E aquilo era uma chatice só. — ela respondeu, fazendo um bico com a boca.
— Eu avisei pra você, mas você insistiu e ainda me arrastou junto só pra me deixar sozinha depois. — retrucou incrédula, como uma mãe que repete o mesmo "eu avisei" dezenas de vezes para o filho que insiste no erro.
— Desculpa, amore, mas eu não tava aguentando. — gargalhou, fazendo a amiga não se conter e acompanhar o riso. — Vou me dedicar de verdade dessa vez, e na aula de dança do ventre também! — Olha, bateria eu até entendo, mas dança do ventre? Nunca vi você falando nisso. — fez cara de desentendida pra webcam, esperando pela explicação.
— É sempre bom tentar algo novo, né? — a morena deu de ombros, se limitando na resposta. Não que fosse necessário algo a mais, conhecia muito bem os surtos de vontades inusitadas da amiga. — Agora é sua vez de falar as novidades! Já contei todas as fofocas da escola e sobre minha ex-vida-monótona. Você não foi pra uma festa ontem?
— Fui e você nem pode imaginar o tanto de coisas que aconteceram. — a caçula puxou o travesseiro pro colo e encarou a tela do notebook, vendo se sentar corretamente na cama do outro lado.
— Não me faça perder saliva te pedindo por detalhes e tudo mais. — ela respondeu, esperando a amiga falar.
suspirou e começou a contar tudo que acontecera na noite anterior sem poupar detalhes, como sabia que gostava, desde a hora que chegaram até o momento em que pegaram um táxi na casa de para irem embora. Ao terminar se jogou de lado na cama e encarou o teto do quarto, esperando a amiga filtrar tudo e começar a falar.
— Certo, vamos por partes pra ver se eu entendi tudo. Um, preciso dizer que estou bem triste em saber que o Dylan é gay, tinha esperanças de conquistar o coração dele quando fosse aí depois que vi uma foto dele. — respondeu, conseguindo ver apenas parte do braço da amiga na imagem, mas escutando um "todas nós" como resposta. — Dois, quero as fotos que a tirou dos seus amigos pós banho de piscina. Três, chama a depois porque eu quero dar os parabéns pra ela por ser tão rápida e já ter fisgado o gringo.
— Bota fisgado nisso, você devia ter visto o beijo de despedida deles, eu poderia jurar que um dos dois sairia dali sem a língua. — brincou, voltando a se sentar a tempo de ver abafar a risada em uma almofada. — E prefiro não arriscar em ir acordar ela, se eu que mal exagerei na bebida estava com dor de cabeça imagina como deve estar por lá.
— Tudo bem, depois mando uma mensagem pra ela. Agora, o mais importante: Como assim o tava dando mole pra outra garota e você não tentou fazer nada pra passar na frente? — ela perguntou com os olhos arregalados em tom de indignação.
— Por favor, né, ? Você queria mesmo que depois de ter aconselhado ele em investir nela, mesmo sem saber, eu fosse lá tentar atrapalhar o esquema dele?
— CLARO! , você tem que aprender a ser mais esperta ou vai acabar quebrando a cara ou chupando dedo de novo.
— Tá me chamando de burra, Dona ? — perguntou, fingindo ter se chateado.
— Argh! Você sabe que não é nesse sentido. — respondeu, tentando não se irritar com a amiga desviando o foco da conversa. — Olha, porque você não fez que nem sua irmã e investiu nele de vez ontem? Era só ter beijado ele que a outra lá ia ficar pra trás.
— , você sabe que eu não sou assim que nem você e a pra essas coisas. — disse, sem conter um rolar de olhos.
— Que que tem eu? — perguntou, entrando no quarto da irmã de súbito e se jogando do lado dela.
— Olha só, parece que a princesa acordou tão bem que esqueceu até como bate na porta dos outros antes de entrar. — se recompôs do pequeno susto, dando espaço ao seu lado para a irmã sentar.
— Estou bem, mas não abusa do meu humor. — respondeu, apoiando a cabeça no ombro da caçula e prestando atenção na tela do notebook, não conseguindo controlar o grito mesmo com o resmungo da irmã. — , SUA LINDA, QUE SAUDADES!
— , SAFADA! Que saudades de você, amore. — sorriu pra imagem das amigas, sem conseguir conter a alegria de estar conversando com as duas juntas como faziam antes, mesmo que por meio virtual. — Só a fala comigo diariamente, tá bom de você aprender com ela.
— É, dessa vez você tem razão. Prometo que vou mandar mais mensagens ou aparecer mais por aqui, não posso nem pensar em deixar de lado minha companheira de loucuras. — respondeu com uma gargalhada, lembrando como a amiga sempre a acompanhava nas ideias bizarras e as duas acabavam arrastando . — Mas, e aí, sobre o que conversavam? Consegui escutar meu nome antes de entrar aqui.
— Eu estava tentando convencer a em entender que não sou corajosa como vocês, que conseguem simplesmente chegar beijando as pessoas. — respondeu, dando de ombros e rindo da cara chocada da irmã.
— Você já contou? Essa é fofoqueira, não perde tempo mesmo. — perguntou boquiaberta, fingindo estar com raiva pela atitude da caçula.
— Ela fez bem, quero estar por dentro de tudo. Inclusive, conte-nos sua versão da história, a disse também que você não falou no assunto ainda por causa da ressaca maravilhosa. — exigiu da amiga, ignorando o rolar de olhos que recebia e vendo a caçula se virar e encarar a irmã também esperando pela explicação.
— Tinha esquecido como não dá pra esconder nada de vocês. — bufou baixo e se acomodou com uma almofada antes de começar a contar. — A gente já estava trocando uns olhares quando nos encontrávamos, e ficava cada vez mais nítido que tava rolando um interesse ali. Logo que a foi pra pista com o Dy, eu resolvi dar uma volta pela casa e acabei chegando no quintal. Ele tava rindo encostado na cerca enquanto conversava com o e eu fui até eles. A gente ficou conversando e, não sei se pela bebida ou não, mas eu não conseguia desgrudar meus olhos dos dele, e ele tava da mesma maneira. Acho que foi até por isso que o sumiu de perto de nós. — ela riu ao lembrar da cena. — Enfim, quando percebemos que estávamos sozinhos ficamos meio sem graça, é claro, mas então ele começou a me elogiar e eu fui retribuindo. Bom, depois eu não aguentava mais ficar naquela enrolação e beijei ele, que retribuiu na mesma hora.
— E vocês conversaram sobre isso depois que chegamos? — perguntou.
— Ele me ligou pouco depois que eu subi pra ir dormir agora de tarde. — respondeu, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha e tentando conter um sorriso tímido. Continuou a contar a história sabendo que seria obrigada a falar mais cedo ou mais tarde. — Ele disse que tinha gostado da noite passada e quis saber se eu também, já que a gente não tava tão sóbrio pra ter certeza das coisas. Quando eu respondi que tinha curtido ele perguntou se então poderíamos continuar assim...E eu aceitei, claro.
— Quer dizer que você tem um ficante norte-americano agora? — perguntou divertida, chamando a atenção da primogênita com umas palminhas alegres.
— Nós concordamos em não rotular nada. Digamos que estamos apenas nos curtindo e divertindo. — respondeu, dando de ombros e uma piscadela, e voltando a apoiar a cabeça no ombro da irmã.
— Sabia que o era nesse seu estilo de pega e não se apega. — brincou, dando uma gargalhada quando a irmã concordou com um sorriso de lado.
— Tá vendo, ? Vê se aprende com a e não deixa o passar. — riu, encarando o olhar raivoso da amiga e o surpreso da primogênita, entendendo as reações apenas quando a última abriu a boca, fazendo-a dar um tapa na própria testa.
— ? O "nosso" , ? — perguntou sem esperar por uma resposta pra ralhar com a irmã. — Porque você não me contou? Tudo bem que eu sabia que tava acontecendo alguma coisa com você, mas não imaginava que ia ser algo assim! Que tipo de gêmea é você que não fala as coisas pra outra? Aliás, o que tá acontecendo? Vocês estão apaixonados? Querendo...
— Ai, calma, ! Uma coisa de cada vez. — esbravejou e interrompeu , vendo sibilar um pedido de desculpas na imagem. Respirou fundo, ignorando a feição fechada da irmã por ter sido cortada, e voltou a falar. — Primeiro de tudo, me desculpa por não ter comentado nada com você, mas é porque eu nem tinha certeza do que estava passando na minha cabeça. E a só sabe disso porque me pressionou demais e jogou aquele feitiço dela que faz a gente abrir a boca mesmo sem querer. — tomou fôlego e fez sinal para que as duas continuassem quietas até que ela terminasse. — Segundo, não está rolando nada do tipo entre eu e o , a única coisa que está acontecendo é que eu estou mais interessada nele de um tempo pra cá, e como não é nada demais eu tento deixar tudo guardado na minha cabeça.
— Você e essa mania de tentar diminuir ou aumentar demais seus sentimentos, . — rolou os olhos e cortou a amiga antes que a mesma retrucasse. — Seja sincera com você e aceite que você está sim gostando do ! Você mesma me disse que tinha ficado desanimada quando ele te contou que estava investindo na outra garota.
— Se a está falando, eu acredito. E pode me por a par dessa história de garota aí. — exigiu, escutando a irmã repetir a história sobre as conversas dos dois e o incidente da festa. — Se eu soubesse disso tinha jogado ela na piscina quando fui chamar vocês. E eu não acredito que você deixou isso acontecer!
— EU? — a caçula perguntou indignada, ignorando a amiga na conversa virtual que soltava um "eu disse" convencido.
— É, pelo que você me disse não dava pra ele sacar que você tá afim dele, então se você tivesse pelo menos demonstrado alguma coisa ontem ele poderia ficar menos confiante com a garota. — estalou o dedo na frente do rosto da irmã.
— Argh! Isso não importa mais, já passou, já era. — se jogou de costas na cama, escutando aumentar o tom de voz do outro lado.
— Também não é assim, né, amore? Não é como se a gente tivesse certeza de que ele ame ela.
— A tem razão, vamos esperar pra ver o que rola e aí montamos nosso plano.
— Aaah, não! Nem comecem com os planos loucos de vocês. — a caçula reclamou, escutando as gargalhadas das duas.
— Até parece que vamos perder essa oportunidade, né, ?
— Exatamente! Se prepare para entrar em ação logo logo, mana do meu coração. — a primogênita pulou em cima da caçula, beijando seu rosto mesmo com a mesma se debatendo. — Ô bicha bruta! Vou até ir atrás de um filme pra assistir pra não ter que ficar contigo.
— Não precisa apelar também, amore. — puxou a irmã pra um abraço forçado, fazendo gargalhar da cena. — E não tenta enganar a gente, tá na cara que você vai é ir ligar pro .
— Pela cara dela, acho que acertou, . — a amiga comentou, rindo dos olhos semicerrados e da boca escancarada da primogênita.
— Odeio vocês. — ela reclamou, se dirigindo pra porta do quarto e parando no meio do caminho com um sorriso sapeca no rosto. Se virou e falou alto o suficiente para atingir o microfone do notebook. — Já contou pra que você vai fazer o teste pra líder de torcida, ?
— VACA! — a irmã xingou, tentando acertar a mais velha com uma almofada enquanto ela saia do quarto aos risos. Virou o rosto lentamente e encarou a tela do notebook com cara de tédio, esperando pelo surto a vir.
— VOCÊ VAI SER LÍDER DE TORCIDA?! — disse sem conter a animação.
— Não!
— PORQUE NÃO? Lógico que você vai, você não tá nem louca de deixar essa chance passar... — começou a argumentar, fazendo rolar os olhos e xingar mentalmente por a ter botado naquele debate, que com certeza a amiga ganharia pelo cansaço.
Era início de segunda-feira e estava sentada embaixo de uma das árvores do jardim da escola, conversando com os amigos enquanto as aulas não começavam. Havia passado o domingo em casa descansando, colocando as séries amadas em dia e trabalhando em algumas músicas, nada que não a satisfizesse mais. Passou a mão pelos cabelos da irmã, que descansava a cabeça em suas pernas, totalmente deitada na grama, e acompanhou as risadas ao escutar o final da história de .
— Eu não sei o que é pior, você ter corrido do bandido que nem louco pela pista ou ter invadido uma casa que não sabia de quem era. — secou uma lágrima do canto dos olhos e tentou recuperar o fôlego depois das risadas.
— É fácil falar, queria ver se fosse você no meu lugar, Senhora . — ele deu de ombros, sorrindo vitorioso com a provocação e fazendo e Dylan rir.
— Não precisa ficar com ciúme, . — a primogênita respondeu sem desviar o olhar da copa da árvore, pressionando os lábios para prender o sorriso ao ouvir a risada irônica do garoto.
— Gente, cadê o ? — mudou de assunto depois de alguns minutos, tentando esconder a curiosidade e ansiedade (que passou despercebido menos pela irmã, que lançou um olhar divertido em sua direção). Ignorou e manteve seus olhos nos garotos à sua frente. — Ele normalmente fica com nós antes da aula.
— Ele veio comigo, mas disse que ia passar em um lugar aqui do prédio e daqui a pouco encontrava com a gente. — respondeu sem dar muita importância.
— E veio mesmo, olha ele chegando. — Dy indicou com um aceno a parte da sua frente do jardim, consequentemente de trás da caçula, deixando um sorriso malicioso pender em seu rosto. — E acho que temos novidade.
— Como assim? — apoiou o corpo nos cotovelos para ver a cena, deixando os olhos arregalarem por alguns segundos. Esse ato, por menor que tenha sido, chamou a atenção de , que conhecia bem aquela expressão e sentiu que boa coisa não estava por vir, preferindo esperar que a tal novidade aparecesse na sua frente.
— Bom dia, galera. — apareceu sorridente em seu campo de visão, ocasionando um sorriso involuntário na garota, que duraria muito mais se não fosse pelos segundos seguintes. — Essa aqui é a Karoline. Karoline, esses são , Dylan, e .
encarou a moça à sua frente e engoliu em seco, reconhecendo-a como a mesma da festa e consequentemente a "garota do amigo". Mordeu o lábio com força e tentou controlar a mistura de sentimentos que a atingia, mantendo seu olhar nos dois à sua frente e sentindo seu lado esquerdo queimar. Ela sabia que era a encarando, estudando sua reação milimetricamente numa tentativa de ler seus pensamentos, sabia também que bastava a encarar de volta para que a primogênita conseguisse as respostas que queria, por isso se manteve firme, engolindo os xingamentos que rondavam sua mente e voltando sua atenção para os amigos.
— Prazer, gente! Podem me chamar apenas de Karol, o nome completo fica só para os meus pais. — a garota foi simpática, sorrindo para eles. aproveitou a aproximação e a olhou com detalhes, tendo certeza de que ela era provavelmente a pessoa mais bonita daquela escola. Karol era negra com lábios grossos, que chamavam mais atenção para o sorriso perfeito, e traços e queixo finos que a davam um ar de menina. Porém, toda a sua inocência era compensada por seus olhos grandes e escuros, que transmitiam firmeza, e seu cabelo, ah, principalmente o cabelo. Seus fios crespos e volumosos com contraste de diferentes tons de castanhos era o que mais chamava atenção nela e que sustentava seu lado de mulher madura, sendo capaz de, somado ao seu olhar, intimidar qualquer um que estivesse por perto.
— Olá, Karol! — Dylan cumprimentou por último animado, se afastando e abrindo espaço na roda para que eles se sentassem, o que fizeram de prontidão. — Você é a representante do grupo de teatro, né?
— Sim, quer dizer, pelo menos até semestre passado sim. A cada ano eles abrem vagas para mais pessoas e fazem a votação de representante. — ela jogou a mochila no colo, cruzando os braços sobre ela.
— Aposto que você continua com o posto, ninguém seria burro de colocar alguém no lugar da melhor atriz da escola. — deu uma piscadela enquanto sorria de lado, fazendo-a rolar os olhos com um sorriso divertido.
— Vocês se conhecem há muito tempo? — perguntou curiosa, escondendo mais do que queria saber. A caçula tinha certeza que assim como ela, a irmã estava se segurando para não vasculhar totalmente a relação dos dois, o que era algo que a deixava contente, era ótimo ter uma parceira em momentos como esse.
— A Karol sempre me chamou a atenção, primeiro pela beleza, é claro, e depois pelo seu jeito. Fico observando ela nas aulas que pegamos juntos e nas apresentações do teatro desde o último semestre, mas só tive coragem de puxar conversa semana passada. — o loiro respondeu confiante e sem desviar os olhos da acompanhante.
— Você tem uma lábia forte. — ela respondeu divertida, deixando uma gargalhada ecoar pelo ambiente, ocasionando risadas nos demais e um estranho desconforto em .
— É, esse aí conquista qualquer um só abrindo a boca. — brincou, mandando um beijo pro amigo.
— , quantas vezes vou ter que dizer que nosso relacionamento tem que ser discreto? — brincou, fingindo estar com raiva.
— Desse jeito você acaba com as chances do com a Karol. — Dylan se intrometeu sem se preocupar em ser discreto, o que acabou deixando o casal com vergonha e os amigos silenciosos.
— Dy, porque a gente não vai dar uma volta, hm? — perguntou já se levantando, não aguentaria ficar por ali por mais tempo sem deixar transparecer seu nervosismo. Aquela foi a saída mais rápida que encontrou.
— An? Mas a aula vai começar daqui a pouco. — ele respondeu sem entender a ação repentina da amiga.
— Eu sei, mas eu preciso passar em um lugar antes e você não está fazendo nada, vem comigo. — ela o puxou pelo braço sem esperar por resposta, deixando os amigos para trás em poucos minutos. Continuou andando, tentando pensar em algum destino depois de sua desculpa esfarrapada e controlando a respiração que havia ficado mais rápida sem que ao menos percebesse.
— Posso saber que pressa foi essa? — ele perguntou, parando no meio do caminho e a puxando até ele para a encarar de frente, erguendo as sobrancelhas em uma expressão curiosa. — Aliás, que surto do nada foi esse?
— Não sei do que você tá falando. Só preciso passar no meu armário antes da aula pra pegar umas anotações. — ela respondeu sem conseguir manter o contato visual com o garoto, não conseguiria mentir encarando aqueles olhos claros estudando cada traço de sua expressão. Ela tinha a impressão de que Dylan conseguia enxergar sua alma só em uma troca de olhares duradoura, talvez pelo tom hipnotizante de sua íris ou pelo modo observador do amigo. De qualquer forma, era melhor não arriscar.
— Tem certeza, hum? — perguntou ainda em dúvida, algo no comportamento da garota o deixava com uma pulga atrás da orelha sobre a atitude repentina dela.
— Dy, é sério! Vamos logo antes que o sinal toque. — respondeu pela última vez, voltando a puxá-lo para dentro do prédio.
Dylan deu de ombros e se deixou ser guiado pela amiga, por mais que sentisse que havia algo que ela tentava esconder, sabia que dar espaço para ela e esperar que viesse a ele quando precisasse era a melhor escolha. Passou o braço pelos ombros de quando chegou ao seu lado e deu uma piscadela divertida, tentando transmitir mais que uma brincadeira com o ato, e bem, levando em conta o balançar de cabeça e o riso incrédulo da garota poderia dizer que ela havia entendido o recado. Não precisariam de explicações por parte dos dois, estariam ali um do lado do outro dispostos a se ajudar mesmo quando as oportunidades não fossem apontadas.
— , não sei se você percebeu, mas a única coisa que você tem que fazer é assinar seu nome nessa linha. — passou um dos braços pelos ombros da amiga, apontando para o papel a sua frente.
— Sei como funciona, só estou lutando contra essa ideia maluca e tentando forçar meu corpo a sair daqui antes que eu assine. — a caçula bufou, escutando a risada do amigo e xingando baixo atrás de si.
— , assine a porcaria do seu nome nesse papel antes que eu mesma pegue essa caneta e escreva pra você. — a primogênita ralhou brava, cruzando os braços ao seu lado.
A caçula rolou os olhos sem paciência e deixou que sua mão manuseasse a caneta, deixando seu nome completo na lista quase completa para inscrição de líderes de torcida. O arrependimento a consumia só de imaginar o teste de mais tarde.
Capítulo 9
Sentia suas mãos suarem e a única coisa que passava em sua cabeça eram diversos xingamentos direcionados para e , responsáveis por a botarem naquela situação com seus poderes de convencimento. Já fazia alguns bons minutos que sua irmã entrara na sala e a deixara sozinha do lado de fora com outras três garotas. Agradecia por sua ausência só pelo motivo de que assim conseguia tentar se acalmar sem que ela pulasse de animação a cada segundo ao seu lado. Estava pensando no teste desde que fizera sua inscrição pela manhã, se mantendo concentrada em compreender o que devia fazer quando chegasse sua vez. Mas, a verdade era que por mais que tivesse lido quatro vezes o panfleto distribuído para as candidatas, não sabia nada além de que receberia algumas ordens para serem seguidas e que deveria usar uma roupa maleável e confortável. Encarou seu short de malha desbotado, pelo qual optara apenas porque sabia que não haveriam muitas pessoas conhecidas por ali no turno vespertino, e corrigiu o laço de seu tênis esportivo que usara poucas vezes na vida, rindo de si mesma ao lembrar de quando o comprou acreditando que iria cumprir suas metas antigas de se tornar uma pessoa menos sedentária.
Seus ombros que haviam relaxado nesse pequeno momento tornaram a se enrijecer ao escutar seu nome ser chamado quando uma garota abriu a porta. O sorriso que estava no rosto dela durante o início dos testes havia sumido, deixando apenas um olhar tedioso no lugar, provavelmente pelo cansaço depois de duas horas seguidas. Viu sair pela mesma porta com um sorriso grande nos lábios e os olhos brilhando. Preferiu não se intimidar com o provável ótimo resultado da primogênita e fez sinal para que ela esperasse em um dos bancos. Entrou na sala, descobrindo ser um dos locais de aulas de ballet, e se posicionou no centro e em frente a única mesa do local. Haviam outras cinco garotas sentadas, do outro lado da mesa, lado a lado e todas vestidas com o uniforme do time de líder de torcida da escola. Suas expressões variavam de animação para cansaço. conseguiu reconhecer Claire entre elas, tinha um sorriso simpático no rosto e foi a responsável por passar as instruções.
— Boa tarde! Primeiro, gostaria que você dissesse seu nome completo e qual ano está fazendo para que possamos confirmar na ficha. — ela deu uma pausa para escutar sua resposta e anotar algo no papel em sua mão. — Certo. Agora, a Melanie vai mostrar dois passos básicos e você terá que os repetir, tudo bem? — concordou com um aceno, não arriscaria falar muito estando tão nervosa. — Ok, boa sorte.
Melanie, a mais baixa, se levantou e veio até sua frente para fazer os passos. respirou fundo, tentando se manter concentrada em cada movimento para não ter problemas. Podia não ser muito boa em inovar em danças, mas conseguia decorar uma coreografia sem muitos esforços. O primeiro desafio era uma sequência de jogadas com os braços e um pequeno salto com eles esticados no fim. Melanie deu espaço e a caçula voltou para o centro do salão antes de começar a repeti-los. Suspirou aliviada ao conseguir se manter reta e equilibrada até o fim da execução, prendendo o pequeno sorriso satisfeito ao ver a garota se posicionar novamente e iniciar o segundo passo.
Sentiu as sobrancelhas se unirem tensionadas e o suor escorrer pelo pescoço ao ver a estrela perfeita da garota e seu movimento rápido de braço, com certeza o nível de dificuldade aumentara. Tentou não se abalar e fechou os olhos, se concentrando em todas as apresentações amadoras que fez com sua irmã nas festinhas de aniversário e em como sempre as elogiavam pelas estrelinhas, relaxando o corpo e deixando se conduzir. Quando prestou atenção de fato ao seu redor já estava na posição final e recebia os agradecimentos das juradas com um aviso de que os resultados estariam nos murais em dois dias. saiu da sala com as pernas trêmulas e uma vontade imensa de afogar o estresse passado em álcool.
Quando marcou com os amigos um encontro de noite no Ezra's Bar imaginava poder se distrair e ocupar o tempo dando boas gargalhadas, mas qual foi sua frustração quando na verdade teve que aguentar e se beijando ao seu lado e e Karol de cochichos e risadas a todo minuto. Tudo bem que estivesse tentando conquistar a garota — nem tão bem assim —, mas não achava que isso significava que teriam uma companhia a mais em todos os programas juntos. Deu mais um gole no que devia ser sua quarta cerveja em apenas uma hora, e soltou um aviso para quem quisesse ouvir, de que iria dar uma volta pelo local. O ambiente estava parcialmente cheio, mas menos barulhento do que a última vez que estivera ali. O karaokê, que só funcionava nos fins de semana, estava sendo substituído por um som ambiente bem eclético com os clipes expostos no telão em cima do palco.
Caminhou pelo salão principal e chegou até a área de sinuca, se aproximando de uma das mesas desocupadas e pegando um dos tacos. Não era nem de longe boa naquilo, mas levando em conta sua situação, qualquer coisa que a distraísse era bem-vindo. Organizou as bolas da melhor maneira que conseguiu copiar do grupo ao lado e se posicionou em frente à bola branca. Deixou o taco deslizar pelos dedos e viu a bola principal atingir de leve o conjunto colorido, fazendo apenas algumas se movimentarem de forma dessincronizada.
— Eu ia me oferecer pra te acompanhar na partida e ver você ganhando de mim, mas acho que desse jeito nem jogando sozinha você sairia como campeã. — Dylan fez piada, saindo de trás da garota e puxando um taco do organizador.
— Não se pode nascer sabendo tudo, certo? — perguntou, dando espaço para que ele fizesse sua jogada, o que resultou em uma bola encaçapada logo de primeira. — Dy, assim não tem graça! Não se pode jogar bem quando o outro é ruim de nascença, fica uma partida injusta.
— Não acredito que você já começou a chorar, . — ele atiçou, recebendo um olhar ameaçador de volta.
— Melhor não fazer piadinha, eu tenho um taco e não tenho medo de usá-lo. — ela ameaçou, fazendo menção de tentar o acertar na cabeça antes de se posicionar para a próxima tacada.
— Esse mau humor é pelo teste de líder de torcida ou pelo momento mela-cueca do possível novo casal -Karoline? — ele lançou a pergunta sem rodeios, segurando o riso ao ver a amiga se desestabilizar e errar a tacada em meio a um acesso de tosse depois do engasgo.
— Tá ficando doido, Dy? O que você tá falando? — a caçula falou depressa, sentindo o coração bater forte e desviando o olhar para o outro lado. Não podia dar mais pista além de toda sua atrapalhação segundos antes. Escutou uma bufada e pela visão periférica o viu se aproximar.
— , eu posso até não te conhecer totalmente, mas qualquer um que saiba ler mais ou menos uma pessoa consegue perceber o que tá rolando. — ele a olhou sugestivamente com a sobrancelha arqueada e continuou ao ver que ela não responderia. — Você fica encarando os dois a cada cinco segundos e mal consegue controlar um olhar mais cabisbaixo quando eles trocam carinhos. Eu não sou bobo e sei que tem alguma coisa acontecendo. Aliás, sei exatamente o que é.
Ela voltou a olhá-lo e percebeu seus olhos claros a encarando em um pedido silencioso. Sabia que Dylan era confiável e só queria a ajudar, mas era difícil admitir tudo para mais uma pessoa, sem contar a possibilidade de ter que repetir toda a história. Conseguiu perceber a mudança em sua expressão para um desanimo e...decepção? Não era uma tristeza por não saber de uma fofoca a mais ou algo assim, era mais que isso, Stockler confiara em abrir seu maior segredo e medo, só queria ser considerado leal assim como a considerava. Certo, não aguentaria deixar que Dylan achasse que não era confiável, e além do mais, se convencia de que era mais um ombro para se apoiar. Suspirou derrotada e o puxou para próximo de si pelo braço.
— Não é tão bobo quanto parece, mas não chega a servir de inspiração para novela. Nada aconteceu de um segundo para outro, mas não é hora nem lugar para falar tudo. Até que a gente se encontre para mais detalhes, serve dizer que estou apaixonada pelo meu amigo e que ele não enxerga isso porque está em uma posição parecida com uma garota superinteressante? — soltou de uma vez, fazendo uma careta no final com os olhos meio fechados.
— Ah, brasileirinha, sorte sua que me preocupo mais com você do que com histórias de romance, caso contrário já teria batido com esse taco na sua cabeça só por me fazer esperar curioso por mais detalhes. — Dy sorriu fraco, a puxando para um abraço de lado. — Não é hora também para meus conselhos de longas durações, mas basta dizer que estou aqui para te apoiar e que daremos um jeito nisso, certo?
— Não é como se pudéssemos fazer uma mágica para tudo se tornar diferente, mas obrigada pela intenção. Sei que você me reserva conselhos e ideias mais sensatas do que as que e tem me passado. — ela riu ao lembrar da conversa dias antes. — Inclusive, acabo de perceber que teria sido mais inteligente ter contado antes.
— Tudo no seu tempo, . Era até para eu ter esperado você vir de maneira espontânea a mim, mas juro que não aguentei quando vi sua cara para os dois alguns minutos antes. Não sei como a garrafa permaneceu na sua mão. — ele gargalhou ao vê-la rolar os olhos.
— Tinha muita força em meus dedos a mantendo presa ali. — ela relaxou, se deixando levar com a risada do amigo. Se sentiu mais leve em saber que tinha Dylan para fazer piada de sua situação de maneira que a conseguisse fazer rir junto em vez de lamentar. Arrumou o taco nas mãos e se posicionou ao lado da mesa. — Chega de papo furado, tá na hora de você me ensinar a jogar isso aqui direito. Tô louca pra dar umas tacadas profissionais quando for disputar com a .
— Pra derrotar a ou impressionar Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado? — Dylan a encarou com um sorriso de lado.
— Nem relações com o Lord me farão dar o braço a torcer nessa piadinha. Vem logo me ensinar antes que eu me arrependa. — ela respondeu irônica, escutando a gargalhada do amigo ao seu lado.
O álcool da noite anterior deixava suas consequências nitidamente em sua falta de paciência e dor de cabeça. As pálpebras se moviam com lerdeza, como se pressionadas por quilos de areia, a fazendo ter certeza de que cairia em sono profundo a qualquer segundo. Provavelmente a caçula deixava isso transparecer, já que a professora aumentava cada vez mais o tom de voz e desviava o olhar em sua direção a cada cinco minutos, no mínimo se preparando para a pegar no flagra. Encarou o relógio na parede, vendo que ainda estava na metade da tortura e bufou baixo, arrancando o canto do papel e escrevendo rapidamente o recado. Passou para a mesa detrás, onde a irmã estava, no momento de distração da mulher e se levantou silenciosamente, levando consigo um caderno menor e caneta. A intenção era sair da sala sem chamar a atenção e ir dar uma volta pela escola para tentar acalmar a mente, mas vacilou por um instante ao ver o olhar julgador da professora e todos os alunos a observando fechar a porta atrás de si.
Respirou aliviada e agradeceu mentalmente pela falta de comentário por parte da professora, prendendo o caderno entre os braços e seguindo para a parte externa da escola. Avisara a irmã que a estaria esperando embaixo da mesma árvore, onde costumavam ficar, quando a aula acabasse. Seguiu então o plano em passos largos e sorriu satisfeita quando conseguiu descansar a cabeça no tronco de madeira e sentir o vento fraco bater em seu rosto. O cheiro das plantas deixava o ar mais relaxante e o bem-estar se completava com alguns raios de sol fracos passando pelas folhas da copa. E, por mais que o ambiente ajudasse, sentia que precisava distrair a mente de alguma forma para se sentir melhor de fato.
Afrouxou os braços e apoiou o caderno nas pernas estendidas. A capa preta lisa era desgastada e o arame se entortava em algumas voltas, sem contar nas primeiras folhas meio amareladas que entregavam os anos de uso do objeto. Havia comprado o caderno com seus treze anos, a intenção era ocupar as páginas com suas palavras de diversas maneiras, mas desde a primeira composição não conseguira largar o amor por escrever letras de músicas. Passando as folhas devagar conseguia ver as poucas músicas que chegou a finalizar e alguns versos aleatórios nos cantos, não passavam de dez no total, mas eram seus xodós.
Chegou na última folha riscada e parou ali, arrumando o caderno e se acomodando melhor com a caneta posicionada na mão. Começou ela quando chegou em São Francisco e desde então vinha tentando finalizar, e por mais que tivesse trabalhado nela em tardes anteriores ainda não havia conseguido montar mais que dois estrofes completos. Resolveu ler o que tinha no total antes de tentar fazer alguma mudança, o que aconteceria de certo, a cada vez que avaliava alguma criação encontrava uma coisa diferente para alterar. Bendita seja sua criatividade.
It's just another sunrise on another day
(É apenas mais um nascer do sol, em outro dia)
Just another rainbow, well they're all the same
(Só mais um arco-íris, bem, eles são todos iguais)
Let me guess, a sunset followed by the moon
(Deixe-me adivinhar o pôr do sol, seguido pela lua)
I think I'm ready for something new
(Eu acho que estou pronto para algo novo)
O início era a única parte que mantivera da mesma maneira desde que escreveu. Havia sido uma das poucas vezes em que conseguia se expressar com facilidade. A estrutura da composição era seguida por uma série de rabiscos, palavras cortadas e versos bem marcados para se destacar de toda a bagunça.
I predict a summer that isn't very long
(Eu prevejo que o verão não será muito longo)
Then before you know it, we're singing christmas songs
(Então, antes que você perceba, estamos cantando canções natalinas)
I'm not saying life is boring cause it's beautiful sometimes
(Não estou dizendo que a vida é chata, porque as vezes ela é bonita)
Like the feeling when you're falling, it's like walking on the sky
(Como o sentimento quando se está caindo, é como andar sobre o céu)
There will come a morning you won't open up your eyes
(Haverá uma manhã que você não abrirá seus olhos)
But it's what you do until that day arrives
(Mas é o que você faz até esse dia chegar)
I guess I'm ready
(Suponho que estou pronto)
I think I'm ready
(Acho que estou pronto)
I hope I'm ready
(Espero que eu esteja pronto)
For something new
(Para algo novo)
Encarava a folha pensativa quando sentiu uma movimentação ao seu lado. Virou rapidamente e encontrou em pé próximo de si, fazendo seu estômago embrulhar por alguns segundos.
— Se importa se eu ficar aqui com você? — o loiro perguntou com um sorriso de lado, apontando para o pedaço de grama ao lado da garota. Ele tinha os cabelos mais bagunçados que o normal e as bochechas estavam levemente rosadas.
— Sem problemas. — ela se limitou a responder, afastando um pouco para que ele pudesse se acomodar melhor. Suas mãos seguravam o caderno com um pouco mais de força, o apertando contra o peito. Percebeu o olhar do amigo para o objeto e tentou puxar assunto. — Matando aula também?
— Não, na verdade o professor me pegou cochilando no meio da aula e me pediu educadamente para voltar a dormir fora de sua sala. — respondeu sem conseguir controlar a risada, passando a mão nos fios de cabelo envergonhado. — Eu até continuaria a repor meu sono se ele não tivesse ido pro espaço no momento em que comecei a andar. Então te vi de longe e resolvi te fazer companhia.
— Eu também estava quase dormindo na sala, mas resolvi sair para evitar o que aconteceu com você. — mordeu o lábio inferior, tentando não encarar demais o garoto para não dar tanta pista, já bastava as mãos suando.
— Entendi. Mas o que você estava aprontando? Tava superconcentrada no caderno. — não se preocupou em disfarçar a curiosidade.
— Ahn, nada demais. — sentiu as bochechas esquentarem e percebeu o olhar desacreditado do amigo. Certamente ele não acreditaria em suas desculpas esfarrapadas. Bufou baixo antes de responder. — Estava só tentando completar uma composição.
— Uma música sua? — ele perguntou animado, vendo-a concordar. Se aproximou mais, ficando a uma distância menor que dois dedos, o que a dava a oportunidade de sentir o perfume amadeirado dele. — Posso ver?
Sem conseguir pensar direito com a proximidade e o cheiro repentino, apenas concordou e permitiu que tirasse o caderno de sua mão, só então percebendo o que havia feito. Em todos esses anos só deixava a irmã ler suas composições, sua insegurança era maior que a vontade de ter outras opiniões, então ter alguém de fora avaliando uma música sua pela primeira vez a deixava tensa. Mal conseguia piscar enquanto encarava lendo cada linha da folha, tentando filtrar cada expressão e respirar diferente que pudesse dizer algo. Foram os segundos mais longos e silenciosos da sua vida e só percebeu que prendia a respiração quando suspirou aliviada ao ver o sorriso incrédulo do amigo. — , eu tenho vontade de te matar de cócegas por você esconder seu talento assim. Essa letra tá linda e tem tudo pra ser tonar uma música de sucesso. — a encarou com um sorriso grande no rosto, fazendo sentir o corpo relaxando e o estômago se revirando.
— Obrigada, . — ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, pegando de volta o caderno que ele estendia. Desviou o olhar para baixo ao perceber que ele ainda a olhava de maneira intensa. Tentou prolongar o assunto para disfarçar a timidez. — É uma pena que eu tenha travado nela, acho difícil ela ser completa algum dia.
— Você não pode deixar isso acontecer, . É como ter uma pedra preciosa em mãos e jogá-la fora, por favor, você precisa terminar ela pra que um dia o McFly até faça um cover dela. — ele a cutucou no braço, tentando chamar a atenção dela e a fazer compreendê-lo como queria.
— Se você faz tanta questão de ver essa letra crescendo, posso ter uma ideia melhor.. — o olhou sapeca, desviando a atenção para o caderno e arrancando a folha sob o olhar atento do amigo. Sabia reconhecer seus limites e ideias, de nada adiantaria manter aquela letra guardada e se forçar a termina-la. Estendeu a folha com a composição para ele e deu uma risada ao ver a cara surpresa do amigo quando entendeu qual seria sua ideia. — Pode pegar pra você, aceite como um presente e faça dela a grandiosa música que você idealiza.
— Eu não posso aceitar, . Como músico sei a importância que uma criação tem. — ele empurrou devagar sua mão de volta, negando levemente com a cabeça e fazendo a amiga rolar os olhos.
— Por favor, . Eu sei que você poderá ter mais sucesso com ela do que eu. Apenas me prometa que poderei escutar ela em algum show grande do McFly, quando vocês forem mundialmente conhecidos e você já tiver se esquecido de mim. — deu um risinho de lado e colocou o papel nas mãos do amigo, sorrindo satisfeita quando ele aceitou e guardou a folha com cuidado.
— Muito obrigado pelo presente, . Pode deixar que cumprirei essa promessa e de jeito nenhum esquecerei de você. Você pode até fugir ou me deixar de lado, mas nunca vai sair da minha memória. Minha primeira melhor amiga. — ele depositou um beijo em sua testa, sem perceber o peso de suas últimas palavras na expressão da amiga, que tentava manter o sorriso firme no rosto e engolir a decepção. — E tem mais, vou te presentear também. Que tal se a gente sair para pedalar perto da Golden Gate como eu havia dito em sua primeira semana aqui?
— Claro! Vai ser ótimo. — a caçula concordou ainda sem jeito, parecia que havia levado um balde de água fria em sua cabeça segundos atrás e tentava se recompor. Agradecia mentalmente por ser um pouco lerdo e não ter percebido sua mudança de humor, que devia ser perceptível para quem a observasse por alguns minutos.
— Legal, a gente marca depois, agora, preciso ir. — ele se levantou, batendo levemente na calça para tirar os pedaços de grama que grudaram por ali. Se abaixou para depositar um beijo na bochecha da amiga e foi se distanciando. — Foi ótimo conversar com você, fazia tempo que não tínhamos um tempo só nosso. Vê se volta a me mandar mensagens, nem que seja pra falar bobeira. Tchau, .
— Pode deixar! Tchau, .
Respirou fundo ao ver o amigo se distanciando cada vez mais. Era incrível como podiam compartilhar de um mesmo sentimento — sentia muita falta das horas de conversas que tinham a sós — de maneiras tão diferentes. Jogou o caderno ao seu lado e dobrou as pernas, usando de apoio para a cabeça, que naquele momento fazia questão de repetir aquele "melhor amiga" repetida vezes. A realidade podia ser cruel, e nessas horas só restava saber lidar com ela.
Seus ombros que haviam relaxado nesse pequeno momento tornaram a se enrijecer ao escutar seu nome ser chamado quando uma garota abriu a porta. O sorriso que estava no rosto dela durante o início dos testes havia sumido, deixando apenas um olhar tedioso no lugar, provavelmente pelo cansaço depois de duas horas seguidas. Viu sair pela mesma porta com um sorriso grande nos lábios e os olhos brilhando. Preferiu não se intimidar com o provável ótimo resultado da primogênita e fez sinal para que ela esperasse em um dos bancos. Entrou na sala, descobrindo ser um dos locais de aulas de ballet, e se posicionou no centro e em frente a única mesa do local. Haviam outras cinco garotas sentadas, do outro lado da mesa, lado a lado e todas vestidas com o uniforme do time de líder de torcida da escola. Suas expressões variavam de animação para cansaço. conseguiu reconhecer Claire entre elas, tinha um sorriso simpático no rosto e foi a responsável por passar as instruções.
— Boa tarde! Primeiro, gostaria que você dissesse seu nome completo e qual ano está fazendo para que possamos confirmar na ficha. — ela deu uma pausa para escutar sua resposta e anotar algo no papel em sua mão. — Certo. Agora, a Melanie vai mostrar dois passos básicos e você terá que os repetir, tudo bem? — concordou com um aceno, não arriscaria falar muito estando tão nervosa. — Ok, boa sorte.
Melanie, a mais baixa, se levantou e veio até sua frente para fazer os passos. respirou fundo, tentando se manter concentrada em cada movimento para não ter problemas. Podia não ser muito boa em inovar em danças, mas conseguia decorar uma coreografia sem muitos esforços. O primeiro desafio era uma sequência de jogadas com os braços e um pequeno salto com eles esticados no fim. Melanie deu espaço e a caçula voltou para o centro do salão antes de começar a repeti-los. Suspirou aliviada ao conseguir se manter reta e equilibrada até o fim da execução, prendendo o pequeno sorriso satisfeito ao ver a garota se posicionar novamente e iniciar o segundo passo.
Sentiu as sobrancelhas se unirem tensionadas e o suor escorrer pelo pescoço ao ver a estrela perfeita da garota e seu movimento rápido de braço, com certeza o nível de dificuldade aumentara. Tentou não se abalar e fechou os olhos, se concentrando em todas as apresentações amadoras que fez com sua irmã nas festinhas de aniversário e em como sempre as elogiavam pelas estrelinhas, relaxando o corpo e deixando se conduzir. Quando prestou atenção de fato ao seu redor já estava na posição final e recebia os agradecimentos das juradas com um aviso de que os resultados estariam nos murais em dois dias. saiu da sala com as pernas trêmulas e uma vontade imensa de afogar o estresse passado em álcool.
Quando marcou com os amigos um encontro de noite no Ezra's Bar imaginava poder se distrair e ocupar o tempo dando boas gargalhadas, mas qual foi sua frustração quando na verdade teve que aguentar e se beijando ao seu lado e e Karol de cochichos e risadas a todo minuto. Tudo bem que estivesse tentando conquistar a garota — nem tão bem assim —, mas não achava que isso significava que teriam uma companhia a mais em todos os programas juntos. Deu mais um gole no que devia ser sua quarta cerveja em apenas uma hora, e soltou um aviso para quem quisesse ouvir, de que iria dar uma volta pelo local. O ambiente estava parcialmente cheio, mas menos barulhento do que a última vez que estivera ali. O karaokê, que só funcionava nos fins de semana, estava sendo substituído por um som ambiente bem eclético com os clipes expostos no telão em cima do palco.
Caminhou pelo salão principal e chegou até a área de sinuca, se aproximando de uma das mesas desocupadas e pegando um dos tacos. Não era nem de longe boa naquilo, mas levando em conta sua situação, qualquer coisa que a distraísse era bem-vindo. Organizou as bolas da melhor maneira que conseguiu copiar do grupo ao lado e se posicionou em frente à bola branca. Deixou o taco deslizar pelos dedos e viu a bola principal atingir de leve o conjunto colorido, fazendo apenas algumas se movimentarem de forma dessincronizada.
— Eu ia me oferecer pra te acompanhar na partida e ver você ganhando de mim, mas acho que desse jeito nem jogando sozinha você sairia como campeã. — Dylan fez piada, saindo de trás da garota e puxando um taco do organizador.
— Não se pode nascer sabendo tudo, certo? — perguntou, dando espaço para que ele fizesse sua jogada, o que resultou em uma bola encaçapada logo de primeira. — Dy, assim não tem graça! Não se pode jogar bem quando o outro é ruim de nascença, fica uma partida injusta.
— Não acredito que você já começou a chorar, . — ele atiçou, recebendo um olhar ameaçador de volta.
— Melhor não fazer piadinha, eu tenho um taco e não tenho medo de usá-lo. — ela ameaçou, fazendo menção de tentar o acertar na cabeça antes de se posicionar para a próxima tacada.
— Esse mau humor é pelo teste de líder de torcida ou pelo momento mela-cueca do possível novo casal -Karoline? — ele lançou a pergunta sem rodeios, segurando o riso ao ver a amiga se desestabilizar e errar a tacada em meio a um acesso de tosse depois do engasgo.
— Tá ficando doido, Dy? O que você tá falando? — a caçula falou depressa, sentindo o coração bater forte e desviando o olhar para o outro lado. Não podia dar mais pista além de toda sua atrapalhação segundos antes. Escutou uma bufada e pela visão periférica o viu se aproximar.
— , eu posso até não te conhecer totalmente, mas qualquer um que saiba ler mais ou menos uma pessoa consegue perceber o que tá rolando. — ele a olhou sugestivamente com a sobrancelha arqueada e continuou ao ver que ela não responderia. — Você fica encarando os dois a cada cinco segundos e mal consegue controlar um olhar mais cabisbaixo quando eles trocam carinhos. Eu não sou bobo e sei que tem alguma coisa acontecendo. Aliás, sei exatamente o que é.
Ela voltou a olhá-lo e percebeu seus olhos claros a encarando em um pedido silencioso. Sabia que Dylan era confiável e só queria a ajudar, mas era difícil admitir tudo para mais uma pessoa, sem contar a possibilidade de ter que repetir toda a história. Conseguiu perceber a mudança em sua expressão para um desanimo e...decepção? Não era uma tristeza por não saber de uma fofoca a mais ou algo assim, era mais que isso, Stockler confiara em abrir seu maior segredo e medo, só queria ser considerado leal assim como a considerava. Certo, não aguentaria deixar que Dylan achasse que não era confiável, e além do mais, se convencia de que era mais um ombro para se apoiar. Suspirou derrotada e o puxou para próximo de si pelo braço.
— Não é tão bobo quanto parece, mas não chega a servir de inspiração para novela. Nada aconteceu de um segundo para outro, mas não é hora nem lugar para falar tudo. Até que a gente se encontre para mais detalhes, serve dizer que estou apaixonada pelo meu amigo e que ele não enxerga isso porque está em uma posição parecida com uma garota superinteressante? — soltou de uma vez, fazendo uma careta no final com os olhos meio fechados.
— Ah, brasileirinha, sorte sua que me preocupo mais com você do que com histórias de romance, caso contrário já teria batido com esse taco na sua cabeça só por me fazer esperar curioso por mais detalhes. — Dy sorriu fraco, a puxando para um abraço de lado. — Não é hora também para meus conselhos de longas durações, mas basta dizer que estou aqui para te apoiar e que daremos um jeito nisso, certo?
— Não é como se pudéssemos fazer uma mágica para tudo se tornar diferente, mas obrigada pela intenção. Sei que você me reserva conselhos e ideias mais sensatas do que as que e tem me passado. — ela riu ao lembrar da conversa dias antes. — Inclusive, acabo de perceber que teria sido mais inteligente ter contado antes.
— Tudo no seu tempo, . Era até para eu ter esperado você vir de maneira espontânea a mim, mas juro que não aguentei quando vi sua cara para os dois alguns minutos antes. Não sei como a garrafa permaneceu na sua mão. — ele gargalhou ao vê-la rolar os olhos.
— Tinha muita força em meus dedos a mantendo presa ali. — ela relaxou, se deixando levar com a risada do amigo. Se sentiu mais leve em saber que tinha Dylan para fazer piada de sua situação de maneira que a conseguisse fazer rir junto em vez de lamentar. Arrumou o taco nas mãos e se posicionou ao lado da mesa. — Chega de papo furado, tá na hora de você me ensinar a jogar isso aqui direito. Tô louca pra dar umas tacadas profissionais quando for disputar com a .
— Pra derrotar a ou impressionar Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado? — Dylan a encarou com um sorriso de lado.
— Nem relações com o Lord me farão dar o braço a torcer nessa piadinha. Vem logo me ensinar antes que eu me arrependa. — ela respondeu irônica, escutando a gargalhada do amigo ao seu lado.
O álcool da noite anterior deixava suas consequências nitidamente em sua falta de paciência e dor de cabeça. As pálpebras se moviam com lerdeza, como se pressionadas por quilos de areia, a fazendo ter certeza de que cairia em sono profundo a qualquer segundo. Provavelmente a caçula deixava isso transparecer, já que a professora aumentava cada vez mais o tom de voz e desviava o olhar em sua direção a cada cinco minutos, no mínimo se preparando para a pegar no flagra. Encarou o relógio na parede, vendo que ainda estava na metade da tortura e bufou baixo, arrancando o canto do papel e escrevendo rapidamente o recado. Passou para a mesa detrás, onde a irmã estava, no momento de distração da mulher e se levantou silenciosamente, levando consigo um caderno menor e caneta. A intenção era sair da sala sem chamar a atenção e ir dar uma volta pela escola para tentar acalmar a mente, mas vacilou por um instante ao ver o olhar julgador da professora e todos os alunos a observando fechar a porta atrás de si.
Respirou aliviada e agradeceu mentalmente pela falta de comentário por parte da professora, prendendo o caderno entre os braços e seguindo para a parte externa da escola. Avisara a irmã que a estaria esperando embaixo da mesma árvore, onde costumavam ficar, quando a aula acabasse. Seguiu então o plano em passos largos e sorriu satisfeita quando conseguiu descansar a cabeça no tronco de madeira e sentir o vento fraco bater em seu rosto. O cheiro das plantas deixava o ar mais relaxante e o bem-estar se completava com alguns raios de sol fracos passando pelas folhas da copa. E, por mais que o ambiente ajudasse, sentia que precisava distrair a mente de alguma forma para se sentir melhor de fato.
Afrouxou os braços e apoiou o caderno nas pernas estendidas. A capa preta lisa era desgastada e o arame se entortava em algumas voltas, sem contar nas primeiras folhas meio amareladas que entregavam os anos de uso do objeto. Havia comprado o caderno com seus treze anos, a intenção era ocupar as páginas com suas palavras de diversas maneiras, mas desde a primeira composição não conseguira largar o amor por escrever letras de músicas. Passando as folhas devagar conseguia ver as poucas músicas que chegou a finalizar e alguns versos aleatórios nos cantos, não passavam de dez no total, mas eram seus xodós.
Chegou na última folha riscada e parou ali, arrumando o caderno e se acomodando melhor com a caneta posicionada na mão. Começou ela quando chegou em São Francisco e desde então vinha tentando finalizar, e por mais que tivesse trabalhado nela em tardes anteriores ainda não havia conseguido montar mais que dois estrofes completos. Resolveu ler o que tinha no total antes de tentar fazer alguma mudança, o que aconteceria de certo, a cada vez que avaliava alguma criação encontrava uma coisa diferente para alterar. Bendita seja sua criatividade.
(É apenas mais um nascer do sol, em outro dia)
Just another rainbow, well they're all the same
(Só mais um arco-íris, bem, eles são todos iguais)
Let me guess, a sunset followed by the moon
(Deixe-me adivinhar o pôr do sol, seguido pela lua)
I think I'm ready for something new
(Eu acho que estou pronto para algo novo)
(Eu prevejo que o verão não será muito longo)
Then before you know it, we're singing christmas songs
(Então, antes que você perceba, estamos cantando canções natalinas)
I'm not saying life is boring cause it's beautiful sometimes
(Não estou dizendo que a vida é chata, porque as vezes ela é bonita)
Like the feeling when you're falling, it's like walking on the sky
(Como o sentimento quando se está caindo, é como andar sobre o céu)
There will come a morning you won't open up your eyes
(Haverá uma manhã que você não abrirá seus olhos)
But it's what you do until that day arrives
(Mas é o que você faz até esse dia chegar)
(Suponho que estou pronto)
(Acho que estou pronto)
I hope I'm ready
(Espero que eu esteja pronto)
For something new
(Para algo novo)
Encarava a folha pensativa quando sentiu uma movimentação ao seu lado. Virou rapidamente e encontrou em pé próximo de si, fazendo seu estômago embrulhar por alguns segundos.
— Se importa se eu ficar aqui com você? — o loiro perguntou com um sorriso de lado, apontando para o pedaço de grama ao lado da garota. Ele tinha os cabelos mais bagunçados que o normal e as bochechas estavam levemente rosadas.
— Sem problemas. — ela se limitou a responder, afastando um pouco para que ele pudesse se acomodar melhor. Suas mãos seguravam o caderno com um pouco mais de força, o apertando contra o peito. Percebeu o olhar do amigo para o objeto e tentou puxar assunto. — Matando aula também?
— Não, na verdade o professor me pegou cochilando no meio da aula e me pediu educadamente para voltar a dormir fora de sua sala. — respondeu sem conseguir controlar a risada, passando a mão nos fios de cabelo envergonhado. — Eu até continuaria a repor meu sono se ele não tivesse ido pro espaço no momento em que comecei a andar. Então te vi de longe e resolvi te fazer companhia.
— Eu também estava quase dormindo na sala, mas resolvi sair para evitar o que aconteceu com você. — mordeu o lábio inferior, tentando não encarar demais o garoto para não dar tanta pista, já bastava as mãos suando.
— Entendi. Mas o que você estava aprontando? Tava superconcentrada no caderno. — não se preocupou em disfarçar a curiosidade.
— Ahn, nada demais. — sentiu as bochechas esquentarem e percebeu o olhar desacreditado do amigo. Certamente ele não acreditaria em suas desculpas esfarrapadas. Bufou baixo antes de responder. — Estava só tentando completar uma composição.
— Uma música sua? — ele perguntou animado, vendo-a concordar. Se aproximou mais, ficando a uma distância menor que dois dedos, o que a dava a oportunidade de sentir o perfume amadeirado dele. — Posso ver?
Sem conseguir pensar direito com a proximidade e o cheiro repentino, apenas concordou e permitiu que tirasse o caderno de sua mão, só então percebendo o que havia feito. Em todos esses anos só deixava a irmã ler suas composições, sua insegurança era maior que a vontade de ter outras opiniões, então ter alguém de fora avaliando uma música sua pela primeira vez a deixava tensa. Mal conseguia piscar enquanto encarava lendo cada linha da folha, tentando filtrar cada expressão e respirar diferente que pudesse dizer algo. Foram os segundos mais longos e silenciosos da sua vida e só percebeu que prendia a respiração quando suspirou aliviada ao ver o sorriso incrédulo do amigo. — , eu tenho vontade de te matar de cócegas por você esconder seu talento assim. Essa letra tá linda e tem tudo pra ser tonar uma música de sucesso. — a encarou com um sorriso grande no rosto, fazendo sentir o corpo relaxando e o estômago se revirando.
— Obrigada, . — ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, pegando de volta o caderno que ele estendia. Desviou o olhar para baixo ao perceber que ele ainda a olhava de maneira intensa. Tentou prolongar o assunto para disfarçar a timidez. — É uma pena que eu tenha travado nela, acho difícil ela ser completa algum dia.
— Você não pode deixar isso acontecer, . É como ter uma pedra preciosa em mãos e jogá-la fora, por favor, você precisa terminar ela pra que um dia o McFly até faça um cover dela. — ele a cutucou no braço, tentando chamar a atenção dela e a fazer compreendê-lo como queria.
— Se você faz tanta questão de ver essa letra crescendo, posso ter uma ideia melhor.. — o olhou sapeca, desviando a atenção para o caderno e arrancando a folha sob o olhar atento do amigo. Sabia reconhecer seus limites e ideias, de nada adiantaria manter aquela letra guardada e se forçar a termina-la. Estendeu a folha com a composição para ele e deu uma risada ao ver a cara surpresa do amigo quando entendeu qual seria sua ideia. — Pode pegar pra você, aceite como um presente e faça dela a grandiosa música que você idealiza.
— Eu não posso aceitar, . Como músico sei a importância que uma criação tem. — ele empurrou devagar sua mão de volta, negando levemente com a cabeça e fazendo a amiga rolar os olhos.
— Por favor, . Eu sei que você poderá ter mais sucesso com ela do que eu. Apenas me prometa que poderei escutar ela em algum show grande do McFly, quando vocês forem mundialmente conhecidos e você já tiver se esquecido de mim. — deu um risinho de lado e colocou o papel nas mãos do amigo, sorrindo satisfeita quando ele aceitou e guardou a folha com cuidado.
— Muito obrigado pelo presente, . Pode deixar que cumprirei essa promessa e de jeito nenhum esquecerei de você. Você pode até fugir ou me deixar de lado, mas nunca vai sair da minha memória. Minha primeira melhor amiga. — ele depositou um beijo em sua testa, sem perceber o peso de suas últimas palavras na expressão da amiga, que tentava manter o sorriso firme no rosto e engolir a decepção. — E tem mais, vou te presentear também. Que tal se a gente sair para pedalar perto da Golden Gate como eu havia dito em sua primeira semana aqui?
— Claro! Vai ser ótimo. — a caçula concordou ainda sem jeito, parecia que havia levado um balde de água fria em sua cabeça segundos atrás e tentava se recompor. Agradecia mentalmente por ser um pouco lerdo e não ter percebido sua mudança de humor, que devia ser perceptível para quem a observasse por alguns minutos.
— Legal, a gente marca depois, agora, preciso ir. — ele se levantou, batendo levemente na calça para tirar os pedaços de grama que grudaram por ali. Se abaixou para depositar um beijo na bochecha da amiga e foi se distanciando. — Foi ótimo conversar com você, fazia tempo que não tínhamos um tempo só nosso. Vê se volta a me mandar mensagens, nem que seja pra falar bobeira. Tchau, .
— Pode deixar! Tchau, .
Respirou fundo ao ver o amigo se distanciando cada vez mais. Era incrível como podiam compartilhar de um mesmo sentimento — sentia muita falta das horas de conversas que tinham a sós — de maneiras tão diferentes. Jogou o caderno ao seu lado e dobrou as pernas, usando de apoio para a cabeça, que naquele momento fazia questão de repetir aquele "melhor amiga" repetida vezes. A realidade podia ser cruel, e nessas horas só restava saber lidar com ela.
Capítulo 10
Se já não havia sido fácil ter a confirmação de que a considerava apenas uma amiga horas antes, pior ainda era ter que aguentar os carinhos que ele trocava com Karol na mesma mesa durante o intervalo. Desde que a garota havia sido apresentada, os dois se mostravam cada vez mais próximos e se preocupava cada vez menos em esconder seu interesse. se concentrava em seu sanduíche, transformando cada mordida em longos minutos de apreciação. Pelo menos assim conseguia manter seus olhos e mente focados em algo que não fosse o casal ao seu lado ou as piadas sobre que os amigos soltavam.
— Posso saber qual o motivo desse silêncio todo? — perguntou baixo em seu ouvido, deixando a conversa em grupo de lado e a tirando de seu devaneio.
— Só estou me deliciando com esse lanche maravilhoso. Você devia tentar, é melhor do que socar a comida goela a baixo toda vez. — fez piada, tentando desviar o foco da pergunta.
— Muito engraçadinha você, mas sabe do que tô falando. Tem um tempo que eu percebi que toda vez que nos reunimos você fica no seu canto calada. E você era sempre a primeira a fazer piada ou a iniciar a conversa. — ele arqueou uma sobrancelha, a desafiando a negar o que acabara de falar. Vendo que ela apenas murchou os ombros e desviou o olhar, deu um sorriso de lado e repetiu a pergunta. — O que tá pegando?
A caçula engoliu em seco tentando pensar em uma resposta, sabia que não chegava nem a ser uma opção contar a verdade a . Ainda que os dois fossem amigos, ele era muito mais próximo de , o que só aumentaria a chance de a história chegar ao ouvido do outro. O que não era nem de longe o que ela queria. Porém, também não queria mentir para o amigo, gostava demais dele e sabia que a preocupação era verdadeira. Respirou fundo e deixou as verdades limitadas no ar.
— Ah, aconteceram umas coisas pessoais que me deixaram meio pensativa esses dias, mas nada demais, logo passa.
— Tomara, . Sinto falta das nossas brincadeiras juntos. Você é umas das poucas garotas que embarca nas minhas ideias idiotas sem me julgar. — ele confessou, dando uma risada e a abraçando de lado.
— Deve ser porque somos dois lerdos palhaços. — ela deu de ombros, soltando uma gargalhada que o fez rir junto. — Mas se quer saber, acho que existe uma garota que embarcaria mais ainda nas suas ideias e ainda te ajudaria a planejar elas.
— Jura? — ele a encarou com os olhos arregalados, sem conseguir conter o sorriso de lado que apareceu. — E posso saber quem seria essa pretendente à minha esposa?
— Uma amiga minha.... Qualquer dia boto vocês dois pra conversar. — deu uma piscadela divertida, encarando o olhar curioso do amigo. Já fazia tempo que reparava nas semelhanças de e , principalmente no quesito animação, e se perguntava se seria má ideia agir como cupido para os dois. Mesmo que não desse certo, poderia ser divertido. Estava prestes a falar um pouco sobre a amiga para atiçar a curiosidade de quando seus pensamentos foram interrompidos.
— O que os bonitos tão conversando aí, ein? — Dylan perguntou, chamando a atenção do resto do grupo para os dois.
— Tava só combinando com a o dia que a gente vai sair pra se beijar. — piscou pra amiga, escutando a risada dos amigos.
— Fala sério, . Até parece que a ia querer você. — ironizou, negando com a cabeça enquanto encarava os dois.
— Ciúmes, ? — se intrometeu em desafio, erguendo uma sobrancelha e prendendo o riso. fez uma careta, lançando um olhar debochado de volta.
— Só acho sacanagem alimentar as ilusões do , ele é só um garotinho. A é moça centrada, vai namorar e beijar só quando casar. — ele deu de ombros, soltando uma risada fraca sem perceber o desconforto da amiga.
Por algum motivo que não soube entender naquele momento, ela ficou brava com . Brava pelos comentários. Brava por ele ser lerdo o suficiente para não perceber a situação entre ela e ele. Ele havia acabado de afirmar que a considerava uma amiga, estava de romance com Karol e ainda queria se intrometer assim? É claro que não passava de brincadeira, mas e se ela realmente resolvesse ficar com ? Qual o mal nisso? Sentindo o estômago borbulhar e se concentrando em não deixar sua frustação nítida em suas feições, respondeu antes que pudesse se defender.
— Vamos com calma, . Posso ser centrada e ainda assim querer dar uns beijos quando tiver vontade. Não precisa se preocupar que do eu cuido. — deu um sorriso irônico e uma piscadela, passando o braço pelo ombro do e beijando sua bochecha.
— Uoooooooou! — Dylan deu um grito contido, batendo palmas e gargalhando com . — Cuidado que ela está poderosa.
— É, , melhor você ficar na sua. — até Karol, que já se sentia à vontade no círculo, entrou na onda.
— Não está mais aqui quem falou. — ele respondeu, erguendo as mãos na altura da cabeça e mantendo o olhar fixo em .
Ela se privou do contato e resolveu continuar a conversa com , antes que todos caíssem em um silêncio estranho. Ainda que gostasse de , se sentia bem melhor naquele minuto e nem mesmo ele poderia a fazer se sentir culpada pela alfinetada repentina.
— Hey, mana. — deu duas batidas na porta aberta do quarto da irmã, chamando sua atenção para fora do livro que lia. — Vai passar o dia jogada aí mesmo?
— Não seria má ideia, mas tava pensando em te chamar pra dar uma volta. Faz tempo que não rola um programa só nosso, o que acha? — perguntou, deixando o livro de lado e sorrindo animada para a irmã.
— Ah, tá, pode ser. — respondeu com um sorriso fraco, passando a mão pelos cabelos.
— Se não quiser ir tudo bem, você não parece muito animada. — a caçula disse, dando de ombros. Havia percebido no olhar da primogênita que aquela não era uma ideia que passaria por sua cabeça naquele dia, e mesmo que ela tentasse a enganar com aquele sorriso fraco, não deixaria de notar.
— Não, não é isso. — suspirou fraco, desviando o olhar e explicando timidamente o motivo. — me chamou para ir no cinema.
— Uuuuh, a coisa tá ficando séria, ein?! — respondeu de forma divertida, prendendo o riso ao ver rolar os olhos e se preparar para retrucar. Sabia que ela se negava a aceitar que estava embarcando em um possível relacionamento sempre que isso acontecia, colocando sua pose de desapegada acima de qualquer sentimento que poderia vir a sentir. Era a armadura que havia encontrado para não se machucar. Depois de tantas histórias por parte da irmã e amigas sobre decepções, tinha medo de passar pela mesma situação. resolveu desviar o foco do assunto antes que chateasse a primogênita. — E qual o motivo do desânimo? Achei que ia gostar de sair com ele.
— E gostaria, mas também não queria ter que estragar nosso programa. Eu vim aqui pra te contar e tentar te animar a ir procurar alguma coisa pra fazer também, mas aí você veio com essas verdades sobre nunca mais termos tirado um tempo pra nos divertimos sozinhas e agora vou ter que cancelar com ele. — ela vomitou as palavras, se jogando na cama de costas ao lado da irmã.
— Awn, que coisa mais fofa ela me colocando em primeiro plano, gente. — falou para uma plateia imaginária, se jogando em cima da primogênita em um abraço ao ouvir os resmungos envergonhados dela. — Fico muito lisonjeada, mas não vou deixar você furar com o boy. Vai curtir com ele e depois nós remarcamos o nosso programinha.
— Tem certeza? — perguntou em dúvida, mas sem conseguir prender o sorriso que aparecia em sua boca.
— Mana, ou você levanta essa bunda daqui e vai se arrumar pra esse encontro agora ou eu mesma ligo pro pra resolver isso. — respondeu, gargalhando ao ver a irmã se levantar em um pulo e correr para a porta, parando no meio do caminho e se virando.
— Mas, e você? Vai ficar mofando aí? — perguntou, se apoiando no batente da porta.
— Acho que vou dar uma volta por aí, não se preocupe. Conseguirei me virar e não morrer de tédio.
— Tá certo, vou ir me arrumar e esperar ele lá fora. — se despediu, mandando beijos e correndo para o quarto.
— Não faça nada que eu não faria. — gritou antes de suspirar e pegar o celular na cama.Estava disposta a sair de casa, nem que fosse para ficar andando sem rumo, mas queria uma companhia.
Abriu a agenda de contatos no telefone e encontrou alguém que poderia resolver seu problema. Deixou os dedos correrem pela tela e enviou a mensagem.
"Parabéns! Você acaba de ser escolhido entre meus amigos para me tirar do tédio antes que eu vire parte da minha cama. xx"
Esperou alguns minutos e sentiu o celular tremer em sua mão, deslizou o dedo pela tela e leu a nova mensagem.
"Você tem dez minutos para colocar um tênis confortável e um short de malha sexy sem ser vulgar. Vai correr junto comigo. xXDy"
Não conseguiu controlar uma gargalhada ao ler as instruções e correu para trocar de roupa. Não era a pessoa mais ativa do mundo, mas ansiava tanto por um passeio ao ar livre que não se importaria de gastar um pouco mais de seu tênis esportivo naquela tarde. Terminava de vestir uma regata quando escutou o som da campainha, descendo os degraus rapidamente enquanto avisou a vó que estava saindo e seguiu para fora da casa.
O amigo esperava por ela na calçada minutos depois. Os poucos raios de sol em seu rosto e a regata destacavam mais ainda sua beleza e fazia suspirar internamente.
— Acho meio injusto ter que correr do seu lado, no final vai ser uma quase asmática, descabelada e suada do lado de um Dylan malhado e brilhoso. — brincou, dando um abraço de lado no amigo e começando a caminhar.
— Pois eu acho que essas suas pernas suadas vão conquistar mais fãs do que meu rosto. — Dy respondeu, fazendo a amiga gargalhar enquanto iam a caminho de um parque próximo. — Encontrei com e quando estava vindo pra cá, os dois estavam concentradíssimos no carro cantando uma música.
— Aqueles dois dão muito certo, espero que o não faça nada que possa estragar isso. Ou eu vou ter que estragar a cara dele. — respondeu, fazendo Dylan rir dessa vez.
— Por falar em estragar, o que foi aquela cortada que você deu no mais cedo? Eu tive muita vontade de fazer uma dancinha da vitória, mas confesso que não entendi o motivo. — ele a encarou pelo canto dos olhos, esperando por uma explicação.
— Foi incontrolável, eu só não tive paciência pra aguentar ele querendo se intrometer daquele jeito depois de ter deixado claro que eu era apenas uma amiga para ele. — a caçula desabafou, sem controlar um rolar de olhos.
— É o famoso ciúme. — Dylan respondeu enquanto começavam uma pequena corrida, escutando uma bufada brava da amiga. Haviam chegado no parque e aproveitavam a pista quase vazia para acelerar os passos. — Mas, não se preocupe. Aquela piada dele só me fez pensar que talvez ele também tenha ficado com ciúme de você.
— Não viaja, Dy. Aquilo foi só pra sacanear o . — respondeu, começando a ficar ofegante.
— Bom, pode ser que sim, mas também pode ser que não. — Stockler deu de ombros, soltando uma risada fraca ao perceber a amiga começar a ficar cansada. — Eu tô te falando isso porque sou sincero, mas não quero que você se dê esperanças. O tá se jogando de vez nessa com a Karol, e talvez seja a hora de você começar a se conformar apenas com a amizade, porque se não as cortadas como a de hoje vão ficar cada vez mais frequentes e você pode até sair machucada dessa.
— Eu queria que fosse fácil desistir desse sentimento, mas eu não consigo controlar a vontade de arrastar a Karol de perto dele e ficar em seu lugar. — confessou, dando de ombros e afastando os fios que caiam sobre os olhos. Eles corriam cada vez mais rápido e a conversa durante o exercício a deixava ofegante mesmo depois de poucos minutos.
— Eu não imaginava que estava nesse nível. — Dylan respondeu, desviando o seu olhar para a frente, parecendo estar enxergando além da vista que possuíam na sua frente. — Nesse caso, podemos tentar um plano de ataque antes de todas as chances irem embora.
— Como assim? — ela perguntou, parando de correr e apoiando os braços nos joelhos enquanto ofegava. Percebeu que o amigo continuava seguindo o caminho. — DYLAN, explica isso!
— , do jeito que as coisas andam entre aqueles dois, logo mais vão estar namorando. — ele começou a falar, voltando alguns passos e parando em frente à amiga. Passou a mão pelos cabelos, fazendo algumas gotas de suor escorrerem pelo rosto. — Então, se você acha que gosta dele de verdade, não custa nada tentar despertar um interesse nele também enquanto ainda está solteiro, porque depois não vai ter jeito.
o encarava em silêncio, tentando filtrar a ideia do amigo e decidir se era a melhor solução. Sabia que Dy estava certo ao falar que suas oportunidades estavam próximas de acabarem, então era uma questão de desistir ou correr atrás. Se fosse alguns meses antes, já teria negado de início, nunca fora fã de insistir em algo quando suas chances eram quase nulas, mas o ar de São Francisco e o acordo com tempos atrás a davam um empurrão para não se limitar.
— Eu topo. — concordou, soltando uma risada ao ver o amigo erguer os braços animado. — Mas, tenho certeza que vou sofrer ameaça de morte se eu deixar você planejar tudo sozinho. Então, é bom você ir lá para casa de noite se quiser que isso dê certo.
— Droga, acabou com meu espírito de liderança em você — Dylan respondeu, gargalhando com o dedo do meio da amiga erguido para si. Arrancou a camisa, a jogando nos ombros e voltando a correr antes de deixar seu aviso no ar. — Nosso trabalho começa agora, se o souber desse seu preparo físico horrível vai desistir até da sua amizade.
— Só não mando você ir à merda porque seria um desperdício desses seus músculos. — indicou o tanquinho de Dy ao chegar ao seu lado, escutando sua risada e seguindo o passeio com o amigo. Já conseguia imaginar o nível de plano que criariam para ela e, diferente do que pensava, sua animação era maior do que o medo.
A cena chegava a ser cômica diante de tanta bagunça. , que havia chegado a poucos minutos de seu encontro, era a mais animada, gesticulando sem parar e falando rapidamente enquanto dava voltas pelo quarto da irmã. Dylan, que passara em casa apenas para tomar banho e voltara até a casa das gêmeas, gargalhava a cada ideia nova que surgia, deitado na cama da caçula e fazendo carinho em seus cabelos. , presente por meio da chamada de vídeo no notebook apoiado em uma mesinha, filtrava as maluquices lançadas por em meio a risadas. era a mais quieta no quarto, apenas rolando os olhos para opções mais absurdas e selecionando as que conseguia levar a sério.
— Bom, acho que todos nós concordamos que o primeiro passo é se jogar nos braços do quando a Karol não estiver por perto. — disse confiante, como se fosse algo óbvio para os três.
— , SÓ VOCÊ concordou com isso. — levantou a cabeça do colo de Dylan, onde estava descansando e arremessou uma almofada na irmã.
— Af, vocês não sabem apreciar uma boa ideia. — ela respondeu, desviando do objeto e rolando os olhos.
— Até eu, que animo com essas coisas, acho isso um pouco demais. — deu sua opinião, sem conseguir controlar o riso ao ver a primogênita lhe mandando língua. — Acho que a ideia de se produzir mais para ir pra escola é a melhor até agora.
— Eu também. — Dy se pronunciou, chamando a atenção das três. — Mas também acho que só isso não vai resolver, tem que ter algo com mais atitude.
— É, o gato tem razão. — concordou, fazendo todos caírem em silêncio enquanto pensavam e Dylan mandar uma piscada convencida para ela.
Já estavam há, pelo menos, trinta minutos tentando pensar em uma maneira de chamar a atenção de e deixar, sutilmente, que ele entendesse sua vontade de ser mais que uma amiga. Parecia fácil no início, mas a frustração estava cada vez mais próxima agora que nenhuma ideia boa havia aparecido.
— JÁ SEI! — gritou, se levantando em um pulo da poltrona e quebrando a tranquilidade do ambiente em um susto nos amigos.
— Ah, não! Lá vem merda. — reclamou, afundando a cara em um travesseiro e arrancando algumas risadas. Eram raras as vezes que a irmã dava ideias que fossem realmente prováveis de acontecer.
— Olha aqui, garota, você me respeite porque eu sou mais velha. — a primogênita retrucou séria, fazendo a situação ficar ainda mais engraçada para os outros. Rolou os olhos para as risadas e explicou o que pensava depois que se calou. — Eu ouvi o reclamando de ter ido mal na prova de química, você pode falar com ele e oferecer ajuda pra estudar. Não é nada demais, mas aí você aproveita o tempo a sós e tenta se aproximar mais e agir de forma mais carinhosa com ele.
— Uou, essa eu gostei. — Dylan respondeu, batendo palmas para a amiga, que fez uma reverência exagerada.
— É, dessa vez você mordeu a língua, . — também concordou, fazendo gritar animada.
— Ah, não, gente! Mas eu não sei se quero ficar sozinha com ele assim... Eu vou ficar muito nervosa, não vou saber o que fazer, sem contar que a Karol pode aparecer e aí eu... — a caçula falava sem parar, demonstrando o nervosismo que surgia.
— , engole o choro! — a irmã chamou sua atenção, estalando os dedos rapidamente e colocando o cabelo para trás. — Você concordou em demonstrar pro seus sentimentos e não desperdiçar essa chance, então não vem querer desistir agora que nós já estamos pensando em tudo. É só você se concentrar e lembrar do que nós falarmos aqui que aí tudo dá certo.
— Okay! — ela respirou fundo, se acalmando, mas logo arregalando os olhos e voltando a chamar atenção dos amigos. — Gente, acabei de lembrar de uma coisa.
— O que foi, menina? — perguntou curiosa, se endireitando na cadeira do outro lado da tela.
— O meio que me convidou pra sair. — respondeu em tom baixo envergonhada, se preparando para o ataque que viria.
— É O QUE? — Dylan perguntou, se levantando da cama e parando em pé ao lado de . Ele, assim como as amigas, tinha os olhos arregalados e a boca entreaberta, mal piscando em espera pelos detalhes. — Explica isso direito, .
— AGORA! — se exaltou, assustando a caçula que continuava calada, encarando os três assustada.
— Ah, a gente se encontrou no jardim quando eu matava aula. — começou a contar, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, em sinal de timidez. Ela se sentia como uma criança passando por um questionário dos pais. — Ele comentou que nunca mais a gente tinha conversado sozinhos como fazíamos antes por mensagens e tal, e perguntou se eu queria ir pedalar com ele na Golden Gate, já que era um passeio que ele tinha prometido quando nos conhecemos, mas que ainda não fizemos.
— E...? — a impulsionou a continuar a explicação.
— E aí que eu aceitei, mas a gente não chegou a definir nada. — ela deu de ombros, desviando o olhar dos amigos.
— Isso muda um pouco as coisas. — Dy comentou, voltando a se sentar na cama e observando as três. Todas com o olhar distante, provavelmente maquinando sobre a situação.
— Sim, mas vai depender da o destino das coisas serem boas ou ruins. — quebrou o silêncio, direcionando o olhar para a caçula, que se ergueu da cama ao escutar seu nome.
— Como assim? — perguntou confusa e sentindo o nervosismo voltar só de imaginar a responsabilidade sobre si. — Vamos rever isso aí, não dá pra confiar tudo em mim. Vocês sabem que sou um desastre pra essas coisas.
— A tem razão. — ficou de pé, com o semblante iluminado, havia conseguido acompanhar o raciocínio da amiga. — Mana, se você só aceitar esse convite e sair com ele, pro vai ser só mais um passeio bobo com a amiga. Agora, se você já demonstrar alguma coisa quando estiverem estudando e depois for pra esse passeio, ele, provavelmente, vai ficar mais atento às suas falas e gestos. Aí é só você dar mais umas indiretas e o plano estará parcialmente concluído.
— Parcialmente concluído? — a caçula perguntou confusa.
— Às vezes, eu acho que a é irmã do . Quanta lerdeza. — Dy fez piada, rindo da amiga o dando dedo.
— , faz isso que a disse. Depois, vamos esperar o entender o que você tá transmitindo e reagir a isso, dependendo do resultado nós pensamos no resto. — explicou com calma, tranquilizando a amiga. — Conseguiu entender tudo?
— Acho que sim. — ela suspirou, se jogando de costas na cama e ouvindo a frase que faria seu estômago revirar pelas próximas horas.
— Ótimo, agora, é plano em ação! — concluiu, fazendo um high five com Dylan e arrancando gritinhos de animação do amigo e de .
Estavam todos incrivelmente mais animados do que , que apenas repetia mentalmente que tudo daria certo e que, provavelmente, não conseguiria desistir a partir daquele momento — os amigos nunca permitiriam. Agora, seu foco era , querendo ou não.
— Posso saber qual o motivo desse silêncio todo? — perguntou baixo em seu ouvido, deixando a conversa em grupo de lado e a tirando de seu devaneio.
— Só estou me deliciando com esse lanche maravilhoso. Você devia tentar, é melhor do que socar a comida goela a baixo toda vez. — fez piada, tentando desviar o foco da pergunta.
— Muito engraçadinha você, mas sabe do que tô falando. Tem um tempo que eu percebi que toda vez que nos reunimos você fica no seu canto calada. E você era sempre a primeira a fazer piada ou a iniciar a conversa. — ele arqueou uma sobrancelha, a desafiando a negar o que acabara de falar. Vendo que ela apenas murchou os ombros e desviou o olhar, deu um sorriso de lado e repetiu a pergunta. — O que tá pegando?
A caçula engoliu em seco tentando pensar em uma resposta, sabia que não chegava nem a ser uma opção contar a verdade a . Ainda que os dois fossem amigos, ele era muito mais próximo de , o que só aumentaria a chance de a história chegar ao ouvido do outro. O que não era nem de longe o que ela queria. Porém, também não queria mentir para o amigo, gostava demais dele e sabia que a preocupação era verdadeira. Respirou fundo e deixou as verdades limitadas no ar.
— Ah, aconteceram umas coisas pessoais que me deixaram meio pensativa esses dias, mas nada demais, logo passa.
— Tomara, . Sinto falta das nossas brincadeiras juntos. Você é umas das poucas garotas que embarca nas minhas ideias idiotas sem me julgar. — ele confessou, dando uma risada e a abraçando de lado.
— Deve ser porque somos dois lerdos palhaços. — ela deu de ombros, soltando uma gargalhada que o fez rir junto. — Mas se quer saber, acho que existe uma garota que embarcaria mais ainda nas suas ideias e ainda te ajudaria a planejar elas.
— Jura? — ele a encarou com os olhos arregalados, sem conseguir conter o sorriso de lado que apareceu. — E posso saber quem seria essa pretendente à minha esposa?
— Uma amiga minha.... Qualquer dia boto vocês dois pra conversar. — deu uma piscadela divertida, encarando o olhar curioso do amigo. Já fazia tempo que reparava nas semelhanças de e , principalmente no quesito animação, e se perguntava se seria má ideia agir como cupido para os dois. Mesmo que não desse certo, poderia ser divertido. Estava prestes a falar um pouco sobre a amiga para atiçar a curiosidade de quando seus pensamentos foram interrompidos.
— O que os bonitos tão conversando aí, ein? — Dylan perguntou, chamando a atenção do resto do grupo para os dois.
— Tava só combinando com a o dia que a gente vai sair pra se beijar. — piscou pra amiga, escutando a risada dos amigos.
— Fala sério, . Até parece que a ia querer você. — ironizou, negando com a cabeça enquanto encarava os dois.
— Ciúmes, ? — se intrometeu em desafio, erguendo uma sobrancelha e prendendo o riso. fez uma careta, lançando um olhar debochado de volta.
— Só acho sacanagem alimentar as ilusões do , ele é só um garotinho. A é moça centrada, vai namorar e beijar só quando casar. — ele deu de ombros, soltando uma risada fraca sem perceber o desconforto da amiga.
Por algum motivo que não soube entender naquele momento, ela ficou brava com . Brava pelos comentários. Brava por ele ser lerdo o suficiente para não perceber a situação entre ela e ele. Ele havia acabado de afirmar que a considerava uma amiga, estava de romance com Karol e ainda queria se intrometer assim? É claro que não passava de brincadeira, mas e se ela realmente resolvesse ficar com ? Qual o mal nisso? Sentindo o estômago borbulhar e se concentrando em não deixar sua frustação nítida em suas feições, respondeu antes que pudesse se defender.
— Vamos com calma, . Posso ser centrada e ainda assim querer dar uns beijos quando tiver vontade. Não precisa se preocupar que do eu cuido. — deu um sorriso irônico e uma piscadela, passando o braço pelo ombro do e beijando sua bochecha.
— Uoooooooou! — Dylan deu um grito contido, batendo palmas e gargalhando com . — Cuidado que ela está poderosa.
— É, , melhor você ficar na sua. — até Karol, que já se sentia à vontade no círculo, entrou na onda.
— Não está mais aqui quem falou. — ele respondeu, erguendo as mãos na altura da cabeça e mantendo o olhar fixo em .
Ela se privou do contato e resolveu continuar a conversa com , antes que todos caíssem em um silêncio estranho. Ainda que gostasse de , se sentia bem melhor naquele minuto e nem mesmo ele poderia a fazer se sentir culpada pela alfinetada repentina.
— Hey, mana. — deu duas batidas na porta aberta do quarto da irmã, chamando sua atenção para fora do livro que lia. — Vai passar o dia jogada aí mesmo?
— Não seria má ideia, mas tava pensando em te chamar pra dar uma volta. Faz tempo que não rola um programa só nosso, o que acha? — perguntou, deixando o livro de lado e sorrindo animada para a irmã.
— Ah, tá, pode ser. — respondeu com um sorriso fraco, passando a mão pelos cabelos.
— Se não quiser ir tudo bem, você não parece muito animada. — a caçula disse, dando de ombros. Havia percebido no olhar da primogênita que aquela não era uma ideia que passaria por sua cabeça naquele dia, e mesmo que ela tentasse a enganar com aquele sorriso fraco, não deixaria de notar.
— Não, não é isso. — suspirou fraco, desviando o olhar e explicando timidamente o motivo. — me chamou para ir no cinema.
— Uuuuh, a coisa tá ficando séria, ein?! — respondeu de forma divertida, prendendo o riso ao ver rolar os olhos e se preparar para retrucar. Sabia que ela se negava a aceitar que estava embarcando em um possível relacionamento sempre que isso acontecia, colocando sua pose de desapegada acima de qualquer sentimento que poderia vir a sentir. Era a armadura que havia encontrado para não se machucar. Depois de tantas histórias por parte da irmã e amigas sobre decepções, tinha medo de passar pela mesma situação. resolveu desviar o foco do assunto antes que chateasse a primogênita. — E qual o motivo do desânimo? Achei que ia gostar de sair com ele.
— E gostaria, mas também não queria ter que estragar nosso programa. Eu vim aqui pra te contar e tentar te animar a ir procurar alguma coisa pra fazer também, mas aí você veio com essas verdades sobre nunca mais termos tirado um tempo pra nos divertimos sozinhas e agora vou ter que cancelar com ele. — ela vomitou as palavras, se jogando na cama de costas ao lado da irmã.
— Awn, que coisa mais fofa ela me colocando em primeiro plano, gente. — falou para uma plateia imaginária, se jogando em cima da primogênita em um abraço ao ouvir os resmungos envergonhados dela. — Fico muito lisonjeada, mas não vou deixar você furar com o boy. Vai curtir com ele e depois nós remarcamos o nosso programinha.
— Tem certeza? — perguntou em dúvida, mas sem conseguir prender o sorriso que aparecia em sua boca.
— Mana, ou você levanta essa bunda daqui e vai se arrumar pra esse encontro agora ou eu mesma ligo pro pra resolver isso. — respondeu, gargalhando ao ver a irmã se levantar em um pulo e correr para a porta, parando no meio do caminho e se virando.
— Mas, e você? Vai ficar mofando aí? — perguntou, se apoiando no batente da porta.
— Acho que vou dar uma volta por aí, não se preocupe. Conseguirei me virar e não morrer de tédio.
— Tá certo, vou ir me arrumar e esperar ele lá fora. — se despediu, mandando beijos e correndo para o quarto.
— Não faça nada que eu não faria. — gritou antes de suspirar e pegar o celular na cama.Estava disposta a sair de casa, nem que fosse para ficar andando sem rumo, mas queria uma companhia.
Abriu a agenda de contatos no telefone e encontrou alguém que poderia resolver seu problema. Deixou os dedos correrem pela tela e enviou a mensagem.
Esperou alguns minutos e sentiu o celular tremer em sua mão, deslizou o dedo pela tela e leu a nova mensagem.
Não conseguiu controlar uma gargalhada ao ler as instruções e correu para trocar de roupa. Não era a pessoa mais ativa do mundo, mas ansiava tanto por um passeio ao ar livre que não se importaria de gastar um pouco mais de seu tênis esportivo naquela tarde. Terminava de vestir uma regata quando escutou o som da campainha, descendo os degraus rapidamente enquanto avisou a vó que estava saindo e seguiu para fora da casa.
O amigo esperava por ela na calçada minutos depois. Os poucos raios de sol em seu rosto e a regata destacavam mais ainda sua beleza e fazia suspirar internamente.
— Acho meio injusto ter que correr do seu lado, no final vai ser uma quase asmática, descabelada e suada do lado de um Dylan malhado e brilhoso. — brincou, dando um abraço de lado no amigo e começando a caminhar.
— Pois eu acho que essas suas pernas suadas vão conquistar mais fãs do que meu rosto. — Dy respondeu, fazendo a amiga gargalhar enquanto iam a caminho de um parque próximo. — Encontrei com e quando estava vindo pra cá, os dois estavam concentradíssimos no carro cantando uma música.
— Aqueles dois dão muito certo, espero que o não faça nada que possa estragar isso. Ou eu vou ter que estragar a cara dele. — respondeu, fazendo Dylan rir dessa vez.
— Por falar em estragar, o que foi aquela cortada que você deu no mais cedo? Eu tive muita vontade de fazer uma dancinha da vitória, mas confesso que não entendi o motivo. — ele a encarou pelo canto dos olhos, esperando por uma explicação.
— Foi incontrolável, eu só não tive paciência pra aguentar ele querendo se intrometer daquele jeito depois de ter deixado claro que eu era apenas uma amiga para ele. — a caçula desabafou, sem controlar um rolar de olhos.
— É o famoso ciúme. — Dylan respondeu enquanto começavam uma pequena corrida, escutando uma bufada brava da amiga. Haviam chegado no parque e aproveitavam a pista quase vazia para acelerar os passos. — Mas, não se preocupe. Aquela piada dele só me fez pensar que talvez ele também tenha ficado com ciúme de você.
— Não viaja, Dy. Aquilo foi só pra sacanear o . — respondeu, começando a ficar ofegante.
— Bom, pode ser que sim, mas também pode ser que não. — Stockler deu de ombros, soltando uma risada fraca ao perceber a amiga começar a ficar cansada. — Eu tô te falando isso porque sou sincero, mas não quero que você se dê esperanças. O tá se jogando de vez nessa com a Karol, e talvez seja a hora de você começar a se conformar apenas com a amizade, porque se não as cortadas como a de hoje vão ficar cada vez mais frequentes e você pode até sair machucada dessa.
— Eu queria que fosse fácil desistir desse sentimento, mas eu não consigo controlar a vontade de arrastar a Karol de perto dele e ficar em seu lugar. — confessou, dando de ombros e afastando os fios que caiam sobre os olhos. Eles corriam cada vez mais rápido e a conversa durante o exercício a deixava ofegante mesmo depois de poucos minutos.
— Eu não imaginava que estava nesse nível. — Dylan respondeu, desviando o seu olhar para a frente, parecendo estar enxergando além da vista que possuíam na sua frente. — Nesse caso, podemos tentar um plano de ataque antes de todas as chances irem embora.
— Como assim? — ela perguntou, parando de correr e apoiando os braços nos joelhos enquanto ofegava. Percebeu que o amigo continuava seguindo o caminho. — DYLAN, explica isso!
— , do jeito que as coisas andam entre aqueles dois, logo mais vão estar namorando. — ele começou a falar, voltando alguns passos e parando em frente à amiga. Passou a mão pelos cabelos, fazendo algumas gotas de suor escorrerem pelo rosto. — Então, se você acha que gosta dele de verdade, não custa nada tentar despertar um interesse nele também enquanto ainda está solteiro, porque depois não vai ter jeito.
o encarava em silêncio, tentando filtrar a ideia do amigo e decidir se era a melhor solução. Sabia que Dy estava certo ao falar que suas oportunidades estavam próximas de acabarem, então era uma questão de desistir ou correr atrás. Se fosse alguns meses antes, já teria negado de início, nunca fora fã de insistir em algo quando suas chances eram quase nulas, mas o ar de São Francisco e o acordo com tempos atrás a davam um empurrão para não se limitar.
— Eu topo. — concordou, soltando uma risada ao ver o amigo erguer os braços animado. — Mas, tenho certeza que vou sofrer ameaça de morte se eu deixar você planejar tudo sozinho. Então, é bom você ir lá para casa de noite se quiser que isso dê certo.
— Droga, acabou com meu espírito de liderança em você — Dylan respondeu, gargalhando com o dedo do meio da amiga erguido para si. Arrancou a camisa, a jogando nos ombros e voltando a correr antes de deixar seu aviso no ar. — Nosso trabalho começa agora, se o souber desse seu preparo físico horrível vai desistir até da sua amizade.
— Só não mando você ir à merda porque seria um desperdício desses seus músculos. — indicou o tanquinho de Dy ao chegar ao seu lado, escutando sua risada e seguindo o passeio com o amigo. Já conseguia imaginar o nível de plano que criariam para ela e, diferente do que pensava, sua animação era maior do que o medo.
A cena chegava a ser cômica diante de tanta bagunça. , que havia chegado a poucos minutos de seu encontro, era a mais animada, gesticulando sem parar e falando rapidamente enquanto dava voltas pelo quarto da irmã. Dylan, que passara em casa apenas para tomar banho e voltara até a casa das gêmeas, gargalhava a cada ideia nova que surgia, deitado na cama da caçula e fazendo carinho em seus cabelos. , presente por meio da chamada de vídeo no notebook apoiado em uma mesinha, filtrava as maluquices lançadas por em meio a risadas. era a mais quieta no quarto, apenas rolando os olhos para opções mais absurdas e selecionando as que conseguia levar a sério.
— Bom, acho que todos nós concordamos que o primeiro passo é se jogar nos braços do quando a Karol não estiver por perto. — disse confiante, como se fosse algo óbvio para os três.
— , SÓ VOCÊ concordou com isso. — levantou a cabeça do colo de Dylan, onde estava descansando e arremessou uma almofada na irmã.
— Af, vocês não sabem apreciar uma boa ideia. — ela respondeu, desviando do objeto e rolando os olhos.
— Até eu, que animo com essas coisas, acho isso um pouco demais. — deu sua opinião, sem conseguir controlar o riso ao ver a primogênita lhe mandando língua. — Acho que a ideia de se produzir mais para ir pra escola é a melhor até agora.
— Eu também. — Dy se pronunciou, chamando a atenção das três. — Mas também acho que só isso não vai resolver, tem que ter algo com mais atitude.
— É, o gato tem razão. — concordou, fazendo todos caírem em silêncio enquanto pensavam e Dylan mandar uma piscada convencida para ela.
Já estavam há, pelo menos, trinta minutos tentando pensar em uma maneira de chamar a atenção de e deixar, sutilmente, que ele entendesse sua vontade de ser mais que uma amiga. Parecia fácil no início, mas a frustração estava cada vez mais próxima agora que nenhuma ideia boa havia aparecido.
— JÁ SEI! — gritou, se levantando em um pulo da poltrona e quebrando a tranquilidade do ambiente em um susto nos amigos.
— Ah, não! Lá vem merda. — reclamou, afundando a cara em um travesseiro e arrancando algumas risadas. Eram raras as vezes que a irmã dava ideias que fossem realmente prováveis de acontecer.
— Olha aqui, garota, você me respeite porque eu sou mais velha. — a primogênita retrucou séria, fazendo a situação ficar ainda mais engraçada para os outros. Rolou os olhos para as risadas e explicou o que pensava depois que se calou. — Eu ouvi o reclamando de ter ido mal na prova de química, você pode falar com ele e oferecer ajuda pra estudar. Não é nada demais, mas aí você aproveita o tempo a sós e tenta se aproximar mais e agir de forma mais carinhosa com ele.
— Uou, essa eu gostei. — Dylan respondeu, batendo palmas para a amiga, que fez uma reverência exagerada.
— É, dessa vez você mordeu a língua, . — também concordou, fazendo gritar animada.
— Ah, não, gente! Mas eu não sei se quero ficar sozinha com ele assim... Eu vou ficar muito nervosa, não vou saber o que fazer, sem contar que a Karol pode aparecer e aí eu... — a caçula falava sem parar, demonstrando o nervosismo que surgia.
— , engole o choro! — a irmã chamou sua atenção, estalando os dedos rapidamente e colocando o cabelo para trás. — Você concordou em demonstrar pro seus sentimentos e não desperdiçar essa chance, então não vem querer desistir agora que nós já estamos pensando em tudo. É só você se concentrar e lembrar do que nós falarmos aqui que aí tudo dá certo.
— Okay! — ela respirou fundo, se acalmando, mas logo arregalando os olhos e voltando a chamar atenção dos amigos. — Gente, acabei de lembrar de uma coisa.
— O que foi, menina? — perguntou curiosa, se endireitando na cadeira do outro lado da tela.
— O meio que me convidou pra sair. — respondeu em tom baixo envergonhada, se preparando para o ataque que viria.
— É O QUE? — Dylan perguntou, se levantando da cama e parando em pé ao lado de . Ele, assim como as amigas, tinha os olhos arregalados e a boca entreaberta, mal piscando em espera pelos detalhes. — Explica isso direito, .
— AGORA! — se exaltou, assustando a caçula que continuava calada, encarando os três assustada.
— Ah, a gente se encontrou no jardim quando eu matava aula. — começou a contar, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, em sinal de timidez. Ela se sentia como uma criança passando por um questionário dos pais. — Ele comentou que nunca mais a gente tinha conversado sozinhos como fazíamos antes por mensagens e tal, e perguntou se eu queria ir pedalar com ele na Golden Gate, já que era um passeio que ele tinha prometido quando nos conhecemos, mas que ainda não fizemos.
— E...? — a impulsionou a continuar a explicação.
— E aí que eu aceitei, mas a gente não chegou a definir nada. — ela deu de ombros, desviando o olhar dos amigos.
— Isso muda um pouco as coisas. — Dy comentou, voltando a se sentar na cama e observando as três. Todas com o olhar distante, provavelmente maquinando sobre a situação.
— Sim, mas vai depender da o destino das coisas serem boas ou ruins. — quebrou o silêncio, direcionando o olhar para a caçula, que se ergueu da cama ao escutar seu nome.
— Como assim? — perguntou confusa e sentindo o nervosismo voltar só de imaginar a responsabilidade sobre si. — Vamos rever isso aí, não dá pra confiar tudo em mim. Vocês sabem que sou um desastre pra essas coisas.
— A tem razão. — ficou de pé, com o semblante iluminado, havia conseguido acompanhar o raciocínio da amiga. — Mana, se você só aceitar esse convite e sair com ele, pro vai ser só mais um passeio bobo com a amiga. Agora, se você já demonstrar alguma coisa quando estiverem estudando e depois for pra esse passeio, ele, provavelmente, vai ficar mais atento às suas falas e gestos. Aí é só você dar mais umas indiretas e o plano estará parcialmente concluído.
— Parcialmente concluído? — a caçula perguntou confusa.
— Às vezes, eu acho que a é irmã do . Quanta lerdeza. — Dy fez piada, rindo da amiga o dando dedo.
— , faz isso que a disse. Depois, vamos esperar o entender o que você tá transmitindo e reagir a isso, dependendo do resultado nós pensamos no resto. — explicou com calma, tranquilizando a amiga. — Conseguiu entender tudo?
— Acho que sim. — ela suspirou, se jogando de costas na cama e ouvindo a frase que faria seu estômago revirar pelas próximas horas.
— Ótimo, agora, é plano em ação! — concluiu, fazendo um high five com Dylan e arrancando gritinhos de animação do amigo e de .
Estavam todos incrivelmente mais animados do que , que apenas repetia mentalmente que tudo daria certo e que, provavelmente, não conseguiria desistir a partir daquele momento — os amigos nunca permitiriam. Agora, seu foco era , querendo ou não.
Capítulo 11
O tênis branco novo no lugar do all star velho. O vestido rodado azul com estampa de pequenas âncoras no lugar da calça jeans e camiseta. A maquiagem sutil, porém, presente, no lugar da pele limpa. E, provavelmente, uma escola de samba no lugar de seu coração. poderia jurar que qualquer um que se aproximasse dela conseguiria ouvir as batidas vindas de seu peito, destruindo toda a aparência de moça segura e romântica que ajudara a arrumar. O nervosismo a consumia antes que ela repassasse mentalmente sua programação.
Havia passado dois dias desde que sentara em sua cama com os amigos para armar seu plano de ataque — a convenceu a usar esse nome. E, por mais que a ação só fosse acontecer de fato hoje, havia sido difícil o suficiente ter que trocar mensagens no dia anterior com para oferecer ajuda nos estudos e marcar o passeio. A oferta havia sido aceita com muitos agradecimentos e se iniciaria após o fim da última aula, enquanto o segundo ficara agendado para o dia seguinte. Seriam dois dias seguidos de dedicação para tentar mudar sua situação.
Andava em passos lentos pelos corredores da escola, tentando ignorar a euforia da irmã ao seu lado e alguns olhares direcionados para si. O caminho até o refeitório parecia cada vez maior e não via a hora de poder se sentar em uma cadeira e respirar calma. tagarelava sobre o resultado da seleção de líderes de torcida, que, não fosse o suficiente, seria liberado naquele intervalo. E, mesmo tendo algumas dúvidas sobre sua vaga, aquele era apenas mais um fator a se preocupar naquele dia.
Ela se aproximava da mesa onde os amigos estavam, torcendo para que tivessem desistido dos elogios disfarçados em piadinhas a respeito de sua aparência, como fizeram durante todo o início da manhã. Se largou no banco ao lado de Dylan e à frente de .
— Não vai comer nada? — Dy perguntou ao perceber que a amiga havia passado reto pela cantina, diferente de , que saía da fila com uma bandeja cheia.
— Não estou com fome. — deu de ombros, ignorando o olhar preocupado do amigo. Sua ansiedade era algo que tirava facilmente sua vontade de comer. Preferiu desviar de assunto antes que ele a convencesse de ir se alimentar. — Vocês sabem se já divulgaram os resultados dos testes?
— Ainda não, . Mas acho que daqui a pouco alguém aparece pra colocar lá no mural. — respondeu, apontando para um quadro grande na parede do fundo do refeitório enquanto mastigava um pedaço de seu sanduíche, sem se preocupar com bons modos.
— Muito nervosos? — perguntou, desviando o olhar de em uma careta e se dirigindo para as gêmeas e Dylan, que esperava por uma aprovação para o grupo de teatro.
— Sim! — respondeu com os olhos pouco arregalados, se sentando à mesa e prendendo o cabelo em um coque. Uma mania que reconhecia e que comprovava sua afirmação. — Estou apostando muita animação nessa vaga, vou precisar de algumas cachaças para superar caso não passe.
— Aposto que vocês passam, principalmente você, Dylan. Assisti seu teste e posso dizer com confiança que ninguém recusaria sua entrada. — Karol se pronunciou, sorrindo simpática para eles.
— Tomara, Karol. — Dy respondeu em um sorriso fraco, recebendo um abraço de lado de . Ele não demonstrava muita emoção diante dos resultados, mas já havia comentado que seria muito gratificante conseguir finalizar seus estudos tendo participado do grupo de teatro.
— Estou mais curiosa do que nervosa, pra falar a verdade. — mordeu o lábio inferior, dirigindo o olhar para a coordenadora entrando no refeitório e se encaminhando para o mural com papéis em mãos. Engoliu em seco e sentiu um frio na barriga bom, finalmente poderia saciar um pouco de sua ansiedade. — Mas acho que isso será resolvido agora.
— Uh, preciso ir até lá para passar as instruções para os novatos. — Karol se levantou da mesa ao avistar o que indicava. Depositou um selinho na boca de , que fez a caçula morder os lábios com força, e se distanciou após se despedir.
— Acho que vou passar mal. — levou a mão ao peito, não conseguia lidar muito bem com esses momentos anteriores a receber algum resultado, só conseguia se sentir bem depois de saber a resposta. A mulher terminava de colar os resultados no mural e algumas pessoas começavam a rodeá-la. Apoiou os cotovelos na mesa e as mãos nas laterais do rosto, bloqueando sua visão para o ambiente. — Não quero ir lá olhar.
— Não vai vomitar, . — brincou, tentando distrair a amiga. Se ela ficasse brava, pelo menos conseguiria se livrar de parte do nervosismo. Mas, ele percebeu que não havia adiantado quando a mesma apenas apoiou a cabeça na mesa e ignorou seu comentário. Levou a mão até suas costas, alisando levemente. — Se você quiser, um de nós podemos olhar pra você.
— É, talvez seja mais tranquilo ouvir a resposta de um de nós. — disse, também tentando ajudar na situação.
— Acho ótima essa ideia, também não quero ir até lá. — Dylan se intrometeu, olhando assustado para as pessoas que saíam de perto do mural com reações diferentes. parecia ter o contagiado e, agora, o garoto não conseguia mais disfarçar as mãos suadas.
— Eu vou. — respirou fundo, se apoiando na mesa e parando em pé. Era a mais calma dentre os três que dependiam do que estava escrito naquele papel, se via no dever de acabar logo com a angústia.
— Vou com você, . — se levantou, a puxando pela mão antes que ela pudesse o contrariar. Mal sabia que ela agradecia mentalmente pela companhia, além de poder estar mais próximo dele, as reações de e Dy fizeram seu coração passar a bater mais forte também.
Eles seguiram em silêncio até o final do refeitório, com a guiando pelo pequeno aglomerado, fator que fez abrir um pequeno sorriso para as mãos ainda entrelaçadas. Em poucos minutos, ela conseguiu abrir espaço o suficiente para estar à frente dos nomes das novas líderes de torcida. sentia a mão do amigo descansar em seu ombro e escutou sua voz animada dizendo que Dylan havia conseguido. Sentiu sua felicidade aumentando quando conseguiu ler também o nome de no papel, ela sorria grande ao imaginar a reação da primogênita, e seguia em procura do seu. Seu sorriso foi murchando lentamente a medida que passava de nome por nome. Eram apenas sete novas líderes de torcida e não era uma delas.
já esperava impaciente por na biblioteca quando ela chegou. A teoria de que a amiga havia ido embora e esquecido o combinado por causa do resultado negativo do teste foi para os ares e até o fez repensar tudo ao notar a expressão tranquila em seu rosto. Uma negação no time de líderes de torcida era comum, mas sempre rendia frustações, lágrimas e até escândalos para as mais inconformadas. Então, não conseguiu esconder a surpresa ao constar que a garota permanecia da mesma maneira desde que vira que seu nome não estava na lista, calma e amenizando a situação mesmo com os amigos tentando a consolar e fazendo mil lamentações segundos após seu surto animado ao saber que era a nova líder de torcida.
— Desculpe o atraso. O professor nos prendeu até que copiasse toda a matéria. — deu explicações ao se sentar ao lado do amigo e depositar seu material na mesa. Se virou para ele com um sorriso pequeno no rosto e os olhos semicerrados antes de tirar sua dúvida. — Por que tá me encarando assim?
— Assim como? — perguntou só então percebendo que tinha arqueado a sobrancelha. Relaxou a expressão e foi sincero, tomando cuidado para não frisar o ocorrido. — Achei que tivesse ido embora por...você sabe.
— Ah, , eu já disse que vocês estão vendo coisa onde não tem. — rolou os olhos e desviou a atenção para o livro que folheava. — que queria participar de verdade disso, eu só fui por insistência dela. E, também, não é como se eu não soubesse da minha falta de equilíbrio. — ela fez piada, tentando demonstrar sinceridade e descontrair o clima.
— Nesse caso... — ergueu as mãos na altura da cabeça, se rendendo com um sorriso no rosto que fez a amiga suspirar por dentro. — Mas, se serve de consolo, você não precisa disso quando já é linda e tem o talento de cantar maravilhosamente bem.
— Olha que com esses elogios eu apaixono. — a caçula aproveitou a deixa, dando uma piscadela e uma risada ao ver o amigo a encarar com a sobrancelha arqueada. Cortou o silêncio estranho que ficou e foi para o foco. — Vamos começar esse estudo. Quanto antes a gente começar, mais cedo acabaremos.
— Já tá querendo se livrar de mim, ? — fingiu estar ofendido, mas não tendo sucesso por não conseguir segurar a risada por muito tempo. O deixava surpreso a facilidade que a garota tinha de o arrancar risadas e o deixar animado, mesmo quando ele se mostrava difícil para isso.
— Longe disso, bobo. — sorriu de lado para ele, tentando seguir com o plano da maneira mais natural que conseguia. Deu de ombros ao ver que a lia atento com os olhos e tentou se explicar. — Mas tenho certeza de que você vai querer correr o mais rápido possível assim que começarmos a falar de Química.
— Argh! Só o nome me dá arrepios. — ele fez uma careta, passando a mão pelos cabelos em sinal de nervosismo. — Eu tentei de tudo pra colocar essa matéria na minha cabeça, mas foi só desastre.
— Não se preocupe, sou uma professora esforçada e te garanto que você sai daqui entendendo, pelo menos, grande parte das coisas. — respondeu antes de abrir o livro em frente ao amigo e puxar uma caneta. — Agora, chega de papo e vamos para a ação.
Os dois começaram a estudar e se perderam nos livros por horas seguidas. até poderia dizer que estava cansada de repetir inúmeras vezes a mesma explicação ou de ficar presa naquela biblioteca quando poderia estar em sua cama confortável colocando suas séries em dia, mas todos esses detalhes ficavam para trás quando ela se perdia no rosto concentrado de ao seu lado tentando resolver alguma questão. Ou como ele abria um sorriso gigante ao saber que havia conseguido acertar o equilíbrio de primeira e fazia uma dancinha totalmente dessincronizada, mas que arrancava de gargalhadas que rendiam olhares e reprovações da bibliotecária.
havia aproveitado todas as deixas que encontrara e gastado todas as cantadas infantis que envolviam química, mas a cada vez que sufocava uma gargalhada ("Gato, você é mais difícil do que equilibrar essa equação" o fez ficar vermelho e com lágrimas no canto dos olhos) ou a lembrava que era "a garota mais palhaça" que ele conhecia, ela tinha vontade de puxar seus cabelos e falar em sua cara o quão lerdo era.
— É, acho que você está pronto pra recuperar sua nota. Fim de tortura pra você, . — respondeu depois de conferir que ele havia acertado a última questão, começando a guardar os livros ao ouvir o amigo suspirar aliviado.
— Finalmente, professora. — fez piada, também recolhendo seu material e seguindo em silêncio para fora da escola com amiga. A mente dos dois parecia ter chegado ao limite de esforço e eles apreciavam aqueles minutos de paz. Os dois pararam em frente ao portão de fora, observando que não havia mais ninguém além do porteiro por ali.
— Então é isso, até amanhã, . — começou a se despedir, se aproximando do amigo, mas sendo interrompida pelo mesmo.
— Sem essa, . Não vou deixar você ir embora sozinha, o mínimo que eu posso fazer como agradecimento é te livrar dessa caminhada. — respondeu sério.
— Não precisa disso, . Sério mesmo. — a caçula tentou o convencer, não gostava de dar trabalho para os outros. E isso incluía fazer o amigo desviar de sua rota para a deixar em casa quando ela não levaria mais que dez minutos para fazer isso.
— Também tô falando sério, . Daqui a pouco escurece, nunca que vou deixar você andando por aí sozinha. Vamos logo e para de ser teimosa. — mal esperou por uma resposta, a puxando devagar pelo braço até o carro.
se deixou levar e se acomodou no banco do carona. já ligava o carro e saía do estacionamento da escola. Um CD dos Beatles rolava baixo, deixando o ambiente mais confortável. Sem que planejasse, se pegou analisando a situação e imaginando se poderia aproveitar um momento como aquele sendo mais que uma amiga para . Ali, com os dois cantarolando I Want To Hold Your Hand baixinho, ela com os pés apoiados no porta-luvas e o olhar desviando para ele diversas vezes só para ver sua expressão relaxada e os cabelos se bagunçando com o vento que entrava pela janela. Ela com certeza poderia se acostumar com aquilo, ainda mais se no fim do caminho eles pudessem sair de mãos dadas do automóvel, caminhando pelas ruas.
Teve seu pensamento cortado quando o carro parou e reconheceu sua casa do outro lado. Catou, sem pressa alguma, suas coisas, querendo adiar a despedida e se virou para o amigo.
— Muito obrigada pela carona, . Realmente não precisava. — agradeceu, colocando a alça da mochila no ombro e abrindo a porta.
— Eu que tenho que agradecer aqui, mocinha. Você conseguiu salvar minha vida e foi a melhor professora que já tive. — a elogiou, rindo ao perceber a gêmea se encolhendo envergonhada. — Eu queria poder te levar pra lanchar agora, mas vou ter que me encontrar com a Karol. Então, seu pagamento será em diversão no nosso passeio amanhã, não vai furar, ein?
— Nem que me pagassem. — brincou, tentando passar a sinceridade no olhar e ignorando ao máximo sua frustação ao imaginá-lo com Karoline. Depositou um beijo na bochecha de e saiu do carro, abaixando na altura da janela para terminar de se despedir. — Tchau, !
— Tchau, ! — ele respondeu, logo depois chamando sua atenção novamente, fazendo a garota se reaproximar do automóvel. — Antes que eu me esqueça. Brincadeiras à parte, você realmente tá muito bonita, hoje, . Mais do que o normal.
— Você me pegou agora. — a caçula se envergonhou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha ainda com os olhos levemente arregalados, mordendo o lábio inferior. — Obrigada mais uma vez!
Ela se virou e seguiu para dentro de casa antes que fizesse mais alguma coisa que a deixasse de pernas bambas de vez. sabia como a deixar desconsertada mesmo sem ter ideia disso. Parou no hall da casa, respirando devagar. Só queria um banho demorado e um tempo para filtrar tudo que havia acontecido. Pena que não sabia disso, já que apareceu como um furacão pronta para fazer a irmã reviver cada momento da tarde.
Havia passado dois dias desde que sentara em sua cama com os amigos para armar seu plano de ataque — a convenceu a usar esse nome. E, por mais que a ação só fosse acontecer de fato hoje, havia sido difícil o suficiente ter que trocar mensagens no dia anterior com para oferecer ajuda nos estudos e marcar o passeio. A oferta havia sido aceita com muitos agradecimentos e se iniciaria após o fim da última aula, enquanto o segundo ficara agendado para o dia seguinte. Seriam dois dias seguidos de dedicação para tentar mudar sua situação.
Andava em passos lentos pelos corredores da escola, tentando ignorar a euforia da irmã ao seu lado e alguns olhares direcionados para si. O caminho até o refeitório parecia cada vez maior e não via a hora de poder se sentar em uma cadeira e respirar calma. tagarelava sobre o resultado da seleção de líderes de torcida, que, não fosse o suficiente, seria liberado naquele intervalo. E, mesmo tendo algumas dúvidas sobre sua vaga, aquele era apenas mais um fator a se preocupar naquele dia.
Ela se aproximava da mesa onde os amigos estavam, torcendo para que tivessem desistido dos elogios disfarçados em piadinhas a respeito de sua aparência, como fizeram durante todo o início da manhã. Se largou no banco ao lado de Dylan e à frente de .
— Não vai comer nada? — Dy perguntou ao perceber que a amiga havia passado reto pela cantina, diferente de , que saía da fila com uma bandeja cheia.
— Não estou com fome. — deu de ombros, ignorando o olhar preocupado do amigo. Sua ansiedade era algo que tirava facilmente sua vontade de comer. Preferiu desviar de assunto antes que ele a convencesse de ir se alimentar. — Vocês sabem se já divulgaram os resultados dos testes?
— Ainda não, . Mas acho que daqui a pouco alguém aparece pra colocar lá no mural. — respondeu, apontando para um quadro grande na parede do fundo do refeitório enquanto mastigava um pedaço de seu sanduíche, sem se preocupar com bons modos.
— Muito nervosos? — perguntou, desviando o olhar de em uma careta e se dirigindo para as gêmeas e Dylan, que esperava por uma aprovação para o grupo de teatro.
— Sim! — respondeu com os olhos pouco arregalados, se sentando à mesa e prendendo o cabelo em um coque. Uma mania que reconhecia e que comprovava sua afirmação. — Estou apostando muita animação nessa vaga, vou precisar de algumas cachaças para superar caso não passe.
— Aposto que vocês passam, principalmente você, Dylan. Assisti seu teste e posso dizer com confiança que ninguém recusaria sua entrada. — Karol se pronunciou, sorrindo simpática para eles.
— Tomara, Karol. — Dy respondeu em um sorriso fraco, recebendo um abraço de lado de . Ele não demonstrava muita emoção diante dos resultados, mas já havia comentado que seria muito gratificante conseguir finalizar seus estudos tendo participado do grupo de teatro.
— Estou mais curiosa do que nervosa, pra falar a verdade. — mordeu o lábio inferior, dirigindo o olhar para a coordenadora entrando no refeitório e se encaminhando para o mural com papéis em mãos. Engoliu em seco e sentiu um frio na barriga bom, finalmente poderia saciar um pouco de sua ansiedade. — Mas acho que isso será resolvido agora.
— Uh, preciso ir até lá para passar as instruções para os novatos. — Karol se levantou da mesa ao avistar o que indicava. Depositou um selinho na boca de , que fez a caçula morder os lábios com força, e se distanciou após se despedir.
— Acho que vou passar mal. — levou a mão ao peito, não conseguia lidar muito bem com esses momentos anteriores a receber algum resultado, só conseguia se sentir bem depois de saber a resposta. A mulher terminava de colar os resultados no mural e algumas pessoas começavam a rodeá-la. Apoiou os cotovelos na mesa e as mãos nas laterais do rosto, bloqueando sua visão para o ambiente. — Não quero ir lá olhar.
— Não vai vomitar, . — brincou, tentando distrair a amiga. Se ela ficasse brava, pelo menos conseguiria se livrar de parte do nervosismo. Mas, ele percebeu que não havia adiantado quando a mesma apenas apoiou a cabeça na mesa e ignorou seu comentário. Levou a mão até suas costas, alisando levemente. — Se você quiser, um de nós podemos olhar pra você.
— É, talvez seja mais tranquilo ouvir a resposta de um de nós. — disse, também tentando ajudar na situação.
— Acho ótima essa ideia, também não quero ir até lá. — Dylan se intrometeu, olhando assustado para as pessoas que saíam de perto do mural com reações diferentes. parecia ter o contagiado e, agora, o garoto não conseguia mais disfarçar as mãos suadas.
— Eu vou. — respirou fundo, se apoiando na mesa e parando em pé. Era a mais calma dentre os três que dependiam do que estava escrito naquele papel, se via no dever de acabar logo com a angústia.
— Vou com você, . — se levantou, a puxando pela mão antes que ela pudesse o contrariar. Mal sabia que ela agradecia mentalmente pela companhia, além de poder estar mais próximo dele, as reações de e Dy fizeram seu coração passar a bater mais forte também.
Eles seguiram em silêncio até o final do refeitório, com a guiando pelo pequeno aglomerado, fator que fez abrir um pequeno sorriso para as mãos ainda entrelaçadas. Em poucos minutos, ela conseguiu abrir espaço o suficiente para estar à frente dos nomes das novas líderes de torcida. sentia a mão do amigo descansar em seu ombro e escutou sua voz animada dizendo que Dylan havia conseguido. Sentiu sua felicidade aumentando quando conseguiu ler também o nome de no papel, ela sorria grande ao imaginar a reação da primogênita, e seguia em procura do seu. Seu sorriso foi murchando lentamente a medida que passava de nome por nome. Eram apenas sete novas líderes de torcida e não era uma delas.
já esperava impaciente por na biblioteca quando ela chegou. A teoria de que a amiga havia ido embora e esquecido o combinado por causa do resultado negativo do teste foi para os ares e até o fez repensar tudo ao notar a expressão tranquila em seu rosto. Uma negação no time de líderes de torcida era comum, mas sempre rendia frustações, lágrimas e até escândalos para as mais inconformadas. Então, não conseguiu esconder a surpresa ao constar que a garota permanecia da mesma maneira desde que vira que seu nome não estava na lista, calma e amenizando a situação mesmo com os amigos tentando a consolar e fazendo mil lamentações segundos após seu surto animado ao saber que era a nova líder de torcida.
— Desculpe o atraso. O professor nos prendeu até que copiasse toda a matéria. — deu explicações ao se sentar ao lado do amigo e depositar seu material na mesa. Se virou para ele com um sorriso pequeno no rosto e os olhos semicerrados antes de tirar sua dúvida. — Por que tá me encarando assim?
— Assim como? — perguntou só então percebendo que tinha arqueado a sobrancelha. Relaxou a expressão e foi sincero, tomando cuidado para não frisar o ocorrido. — Achei que tivesse ido embora por...você sabe.
— Ah, , eu já disse que vocês estão vendo coisa onde não tem. — rolou os olhos e desviou a atenção para o livro que folheava. — que queria participar de verdade disso, eu só fui por insistência dela. E, também, não é como se eu não soubesse da minha falta de equilíbrio. — ela fez piada, tentando demonstrar sinceridade e descontrair o clima.
— Nesse caso... — ergueu as mãos na altura da cabeça, se rendendo com um sorriso no rosto que fez a amiga suspirar por dentro. — Mas, se serve de consolo, você não precisa disso quando já é linda e tem o talento de cantar maravilhosamente bem.
— Olha que com esses elogios eu apaixono. — a caçula aproveitou a deixa, dando uma piscadela e uma risada ao ver o amigo a encarar com a sobrancelha arqueada. Cortou o silêncio estranho que ficou e foi para o foco. — Vamos começar esse estudo. Quanto antes a gente começar, mais cedo acabaremos.
— Já tá querendo se livrar de mim, ? — fingiu estar ofendido, mas não tendo sucesso por não conseguir segurar a risada por muito tempo. O deixava surpreso a facilidade que a garota tinha de o arrancar risadas e o deixar animado, mesmo quando ele se mostrava difícil para isso.
— Longe disso, bobo. — sorriu de lado para ele, tentando seguir com o plano da maneira mais natural que conseguia. Deu de ombros ao ver que a lia atento com os olhos e tentou se explicar. — Mas tenho certeza de que você vai querer correr o mais rápido possível assim que começarmos a falar de Química.
— Argh! Só o nome me dá arrepios. — ele fez uma careta, passando a mão pelos cabelos em sinal de nervosismo. — Eu tentei de tudo pra colocar essa matéria na minha cabeça, mas foi só desastre.
— Não se preocupe, sou uma professora esforçada e te garanto que você sai daqui entendendo, pelo menos, grande parte das coisas. — respondeu antes de abrir o livro em frente ao amigo e puxar uma caneta. — Agora, chega de papo e vamos para a ação.
Os dois começaram a estudar e se perderam nos livros por horas seguidas. até poderia dizer que estava cansada de repetir inúmeras vezes a mesma explicação ou de ficar presa naquela biblioteca quando poderia estar em sua cama confortável colocando suas séries em dia, mas todos esses detalhes ficavam para trás quando ela se perdia no rosto concentrado de ao seu lado tentando resolver alguma questão. Ou como ele abria um sorriso gigante ao saber que havia conseguido acertar o equilíbrio de primeira e fazia uma dancinha totalmente dessincronizada, mas que arrancava de gargalhadas que rendiam olhares e reprovações da bibliotecária.
havia aproveitado todas as deixas que encontrara e gastado todas as cantadas infantis que envolviam química, mas a cada vez que sufocava uma gargalhada ("Gato, você é mais difícil do que equilibrar essa equação" o fez ficar vermelho e com lágrimas no canto dos olhos) ou a lembrava que era "a garota mais palhaça" que ele conhecia, ela tinha vontade de puxar seus cabelos e falar em sua cara o quão lerdo era.
— É, acho que você está pronto pra recuperar sua nota. Fim de tortura pra você, . — respondeu depois de conferir que ele havia acertado a última questão, começando a guardar os livros ao ouvir o amigo suspirar aliviado.
— Finalmente, professora. — fez piada, também recolhendo seu material e seguindo em silêncio para fora da escola com amiga. A mente dos dois parecia ter chegado ao limite de esforço e eles apreciavam aqueles minutos de paz. Os dois pararam em frente ao portão de fora, observando que não havia mais ninguém além do porteiro por ali.
— Então é isso, até amanhã, . — começou a se despedir, se aproximando do amigo, mas sendo interrompida pelo mesmo.
— Sem essa, . Não vou deixar você ir embora sozinha, o mínimo que eu posso fazer como agradecimento é te livrar dessa caminhada. — respondeu sério.
— Não precisa disso, . Sério mesmo. — a caçula tentou o convencer, não gostava de dar trabalho para os outros. E isso incluía fazer o amigo desviar de sua rota para a deixar em casa quando ela não levaria mais que dez minutos para fazer isso.
— Também tô falando sério, . Daqui a pouco escurece, nunca que vou deixar você andando por aí sozinha. Vamos logo e para de ser teimosa. — mal esperou por uma resposta, a puxando devagar pelo braço até o carro.
se deixou levar e se acomodou no banco do carona. já ligava o carro e saía do estacionamento da escola. Um CD dos Beatles rolava baixo, deixando o ambiente mais confortável. Sem que planejasse, se pegou analisando a situação e imaginando se poderia aproveitar um momento como aquele sendo mais que uma amiga para . Ali, com os dois cantarolando I Want To Hold Your Hand baixinho, ela com os pés apoiados no porta-luvas e o olhar desviando para ele diversas vezes só para ver sua expressão relaxada e os cabelos se bagunçando com o vento que entrava pela janela. Ela com certeza poderia se acostumar com aquilo, ainda mais se no fim do caminho eles pudessem sair de mãos dadas do automóvel, caminhando pelas ruas.
Teve seu pensamento cortado quando o carro parou e reconheceu sua casa do outro lado. Catou, sem pressa alguma, suas coisas, querendo adiar a despedida e se virou para o amigo.
— Muito obrigada pela carona, . Realmente não precisava. — agradeceu, colocando a alça da mochila no ombro e abrindo a porta.
— Eu que tenho que agradecer aqui, mocinha. Você conseguiu salvar minha vida e foi a melhor professora que já tive. — a elogiou, rindo ao perceber a gêmea se encolhendo envergonhada. — Eu queria poder te levar pra lanchar agora, mas vou ter que me encontrar com a Karol. Então, seu pagamento será em diversão no nosso passeio amanhã, não vai furar, ein?
— Nem que me pagassem. — brincou, tentando passar a sinceridade no olhar e ignorando ao máximo sua frustação ao imaginá-lo com Karoline. Depositou um beijo na bochecha de e saiu do carro, abaixando na altura da janela para terminar de se despedir. — Tchau, !
— Tchau, ! — ele respondeu, logo depois chamando sua atenção novamente, fazendo a garota se reaproximar do automóvel. — Antes que eu me esqueça. Brincadeiras à parte, você realmente tá muito bonita, hoje, . Mais do que o normal.
— Você me pegou agora. — a caçula se envergonhou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha ainda com os olhos levemente arregalados, mordendo o lábio inferior. — Obrigada mais uma vez!
Ela se virou e seguiu para dentro de casa antes que fizesse mais alguma coisa que a deixasse de pernas bambas de vez. sabia como a deixar desconsertada mesmo sem ter ideia disso. Parou no hall da casa, respirando devagar. Só queria um banho demorado e um tempo para filtrar tudo que havia acontecido. Pena que não sabia disso, já que apareceu como um furacão pronta para fazer a irmã reviver cada momento da tarde.
Capítulo 12
abriu os olhos com dificuldade, os raios de sol pareciam mirar em cheio na sua cara e deixavam a tarefa cada vez mais impossível. Se espreguiçou lentamente e tateou o colchão a procura do celular, encontrando-o na beirada da cama, sob o cobertor. Deslizou o dedo na tela e esperou os números do horário entrarem em foco na sua vista. Quando isso aconteceu, sentiu o coração pular e seus olhos se arregalarem instantaneamente. Saltou da cama, ainda encarando o celular, e rezou para que as configurações estivessem erradas e não estivesse uma hora atrasada. Mas seu medo foi confirmado ao ver a mensagem de , recebida três minutos antes.
"Bom dia, ! Só estou terminando de tomar café-da-manhã, mas daqui a dez minutos chego aí, okay?"
Sufocou um grito e começou a xingar tudo que aparecia à sua frente enquanto corria para o banheiro, arrastando a toalha e os chinelos. Os palavrões se estenderam à irmã, que a fez ficar acordada até tarde contando os detalhes do seu dia e criando suposições do que poderia ser feito nesse passeio, e a si mesma, que nunca parava com a mania de desligar o despertador sem acordar totalmente e voltava a dormir. Agora, graças a isso e ao seu azar diário, tinha poucos minutos para estar pronta e linda para seu passeio com . Algo a dizia que não teria sucesso na segunda parte.
O banho gelado foi, de longe, o mais rápido da sua vida, e despertou sua parte que se manteve dormindo mesmo depois do susto. Saiu do banheiro, encontrando uma semiacordada em sua cama a encarando e correu até o guarda-roupa, virando tudo de cabeça para baixo até encontrar a primeira roupa que desse certo com uma pedalada matutina. Vestiu o short e a regata estampada, ignorando todas as leis que diziam que não se pode fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Tentou calçar o tênis enquanto arrumava o cabelo em frente ao espelho e ignorou as perguntas quase retóricas que a irmã fazia, como "Por que você tá correndo?", "Você tá atrasada?" e "Desligou o despertador dormindo de novo?", que apenas aumentava sua irritação. Nada a tirava mais do sério do que ter que se arrumar com pressa.
Deixou a escova de dentes pender da boca apenas o tempo suficiente para pegar seus pertences e jogar dentro da mochila pequena. Pretendia comer qualquer coisa que a sustentasse até o almoço e passar uma maquiagem leve que tampasse suas olheiras, mas a buzina do lado de fora da casa acabou com suas esperanças. Correu até o espelho uma última vez, apenas para conferir se não havia vestido algo ao contrário ou deixado o cabelo muito bagunçado, e aproveitou para colocar os óculos de sol no rosto. Aquilo teria que ser o suficiente para disfarçar a cara limpa e inchada de quem havia acabado de acordar.
— Bom dia, . — cumprimentou o garoto ao se acomodar no banco do passageiro e fechar a porta do carro.
— Bom dia, . — ele respondeu sorrindo e dando partida. A garota sorriu junto ao ver como conseguia ser bonito mesmo poucas horas depois de acordar. — Preparada para tirar o corpo do sedentarismo em uma hora de bicicleta?
— Levando em conta que acordei atrasada e praticamente participei de uma maratona pra ficar pronta antes de você chegar, diria que estou preparadíssima. E você? Não tá pensando em desistir, né? — ela perguntou com ironia, tirando a mexa de cabelo que o vento arrastava para frente do seu rosto e escutando a risada alta do amigo ao ouvir seu relato sobre o início do dia.
— Nem pensar! Você não vai se livrar tão fácil de mim. — deu uma piscadela divertida antes de colocar os óculos pretos e voltar a atenção para a pista, deixando uma desconsertada encarando sua beleza e torcendo para o universo colaborar e fazer aquele dia durar mais que vinte quatro horas.
— Fala sério, . Você não vai passar o resto do dia triste por causa dessa bobeira, né? — perguntou, se aproximando com a bicicleta próximo da amiga, tentando a cutucar com o cotovelo sem perder o equilíbrio. Estavam pedalando há pouco mais que dez minutos e a garota não havia aberto a boca uma única vez.
— Não, mas ainda tô com raiva daquela garota chata. — respondeu, bufando ao escutar a gargalhada do amigo. Estava inconformada com o fato de que uma menina, mais nova que ela, havia passado na sua frente e escolhido a bicicleta azul bebê que estava de olho desde que entrara na banca de aluguéis, sobrando disponível apenas uma outra marrom que não havia graça nenhuma, de acordo com ela.
— Deixa disso, vai. É só uma bicicleta, e se quer saber essa sua é muito mais maneira. — ele tentou a convencer com um sorriso de lado antes de se afastar para desviar de um cara.
— Não concordo, mas vou superar. — não conseguiu prender o riso ao ver erguer as mãos em comemoração, voltando rapidamente para o guidão ao quase cair da bicicleta.
— Certo, mudemos de assunto então. — a encarou sem esperar por uma reposta. Ele revezava o olhar entre o caminho e a vista atrás da amiga com um tom nostálgico e o canto da boca puxado em um sorriso pequeno. — Sabe, esse passeio é uma das minhas coisas preferidas por aqui. Eu costumo pedalar o caminho todo, e até sair da rota, quando tô com a cabeça muito cheia.
— A paisagem é muito linda, não duvido que seja uma oportunidade maravilhosa pra pensar e recarregar as energias. — concordou, passando o olhar desde o parque até a orla, avaliando as demais pessoas que se divertiam por ali, inclusive um casal que se beijava tão apaixonado que dificultava entender onde começava um e terminava outro. A caçula prendeu a risada, apontando disfarçadamente com a cabeça. — Ou pra fazer um filho.
— Urgh, eu consigo ver o esôfago daquele cara. ARRUMEM UM QUARTO! — gritou para o casal, chamando a atenção dos dois e das pessoas que estavam por perto.
— ! — repreendeu o garoto com os olhos arregalados. A mulher estava a ponto de cavar um buraco para enfiar a cara, mas o homem fez menção de levantar bravo e começar a andar na direção dos dois. A caçula se assustou e fez a primeira coisa que passou por sua cabeça. — Corre, !
Os dois aceleraram as peladas, escutando alguns xingamentos do homem e costurando pelas pessoas que estavam no caminho. Eles pedalaram em alta velocidade até perderem as forças com as gargalhadas e encostaram na beirada do mirante, de frente para a vista da ponte. tinha lágrimas nos cantos dos olhos e a barriga doía de tanto rir, e a julgar pela vermelhidão no rosto de , ele também não estava muito diferente.
— Você é louco! Viu o tamanho daquele cara? Se ele te pega, te faz pagar por ter interrompido o momento maravilhoso dele. — disse surpresa após recuperar o pouco de fôlego que ainda tinha.
— Ele nem era tão grande assim. — fez uma careta, rindo ao receber um tapa fraco da amiga no ombro. Passou a mão na testa, afastando os fios de cabelo que haviam grudado por conta do suor. — Pelo menos nos divertimos, e ainda adiantamos muito do caminho.
— É... — a garota se limitou a responder, se sentindo meio tonta e fraca.
— ? Tá tudo bem? — perguntou preocupado, percebendo que seu rosto estava pálido e ela mantinha a cabeça baixa, ainda sem o responder. Se aproximou e colocou a mão de leve em seu ombro. — Você quer sentar?
— Tá tudo bem. — ela se convenceu a dizer, tentando se mostrar melhor do que sentia. Xingava mentalmente seu problema de pressão baixa e sua burrice em não ter pego qualquer coisa para comer no caminho. É claro que passaria mal com essa combinação maravilhosa de calor, estômago vazio e esforço físico. — É só uma tontura leve, daqui a pouco passa. Vamos.
— Tá louca? Não vamos sair daqui até que você melhore. Tem um banco ali, vamos sentar. — ele respondeu, apontando para um banco de ferro um pouco afastado da beirada do mirante. Insistiu ao ver a cara inconformada da amiga. — E nem adianta me encarar assim, nem mesmo esse seu olhar maligno e esse seu cabelo bagunçado vão me assustar o suficiente pra mudar de ideia.
bufou, se sentindo extremamente envergonhada pela situação e por imaginar como estaria sua aparência. No mínimo a palidez, a cara suada e o cabelo bagunçado pelo vento estavam garantidos. Puxou uma liga de tecido do bolso da mochila e prendeu o cabelo da melhor maneira que conseguiu, o que com certeza não era grande coisa. Os dois se sentaram no banco e ficaram alguns minutos quietos, apenas se recompondo e apreciando a vista à frente.
— E você? Quais passeios ou coisas costumava fazer no Brasil? — retomou o assunto que estavam antes de toda a ação, deixando a garota sem palavras por alguns segundos, pensando em uma resposta.
— Bom, eu passei minha infância e começo de adolescência numa cidade de interior, então nossa diversão era reunir os amigos na casa de alguém pra assistir filme ou na praça pra ficar conversando. Só quando fomos pra capital que comecei a sair mesmo, nada demais, só uma balada aqui e uma pizzaria ali, mas tinha um dia do mês que era sagrado. — deu uma pausa, olhando além, como se estivesse diante de sua lembrança em vez da ponte, um sorriso nostálgico preenchia sua boca. — Todo primeiro domingo, eu, meus irmãos e meus pais nos reuníamos para passar o dia inteiro juntos. A gente fazia um piquenique durante a tarde toda, tinha muita comida e eles sempre faziam eu e a cantar e tocar violão. Então, no finalzinho da tarde, nós íamos até uma parte mais afastada da cidade onde era bem alto e dava pra ver o melhor pôr do sol. A gente ficava olhando o céu em silêncio, vendo os raios saírem e as estrelas chegarem.
— Parece ótimo, de verdade. — respondeu depois de observar por um momento. Era bonito ver ela contando aquilo com tanto amor e saudade, principalmente para ele, que nunca tivera a oportunidade de ter momentos assim com a família. O dava esperança de que laços e amores familiares ainda existiam.
— E era. Acho que é uma das coisas que mais sinto falta. — ela suspirou, dando um sorriso triste, mas logo balançando a cabeça em negação. — Acho que deixei nossa conversa muito melancólica, desculpa.
— Não tem problema, gosto de te ouvir falar. — ele disse com sinceridade, a encarando sem desviar o olhar, deixando a garota tímida.
— Se não fosse pela Karol, diria que estava me cantando, Sr. . — brincou, dando uma piscadela divertida. A ideia era tentar arrancar qualquer coisa do amigo, sem se entregar totalmente, por isso abusar do tom irônico e brincalhão era sua melhor saída. Percebeu que ficou sem o que falar após dar uma gargalhada e achou melhor aproveitar a deixa. — Vocês estão num lance sério mesmo, né?
— O que acha de voltarmos para o passeio? Você já está mais corada. — perguntou, desviando de foco. Ele não demonstrava nenhuma expressão sobre a pergunta da amiga, parecia apenas ter preferido deixar o tema de lado em seus pensamentos.
— Vamos! — respondeu, demonstrando animação e tentando não deixar um clima pesado tomar conta da conversa dos dois. Era melhor não insistir por uma resposta e deixar mais à vontade. Se levantou e agradeceu mentalmente por não sentir nenhuma tontura e por estar conseguindo respirar normalmente.
Os dois pegaram as bicicletas e voltaram a pedalar com calma, mas dessa vez em silêncio, apenas aproveitando a vista e o vento fresco que corria bagunçando seus cabelos. Apenas quando percorriam a grande pista da Golden Gate, se pronunciou com a resposta da pergunta, quebrando o silêncio entre eles.
— Eu não sei se nós temos um lance sério ainda, mas sinto que não é algo distante. — manteve o olhar focado à sua frente e seu tom de voz era baixo e tímido, como se confessasse algo proibido.
— Sério? — perguntou quase em um sussurro, sentindo um aperto na boca do estômago e as mãos suarem repentinamente, não sabia nem como havia a escutado.
— Uhum — ele a encarou pelo canto do olho com receio, tentando ler sua reação. E só então percebeu pelo seu olhar que ele não era de falar sobre esse assunto. Engoliu seu nervosismo para disfarçar e erguendo a sobrancelha em uma expressão de quem havia entendido tudo, esperou por sua confissão. Ele respirou fundo e diminuiu o ritmo das pedaladas. — Pode parecer até insensível da minha parte, mas nunca tive nada sério com nenhuma outra garota na minha vida, foram sempre alguns amassos aqui e ali, mas com ela parece, finalmente, ser diferente. Parece que não faria sentindo não ter nada sério entre nós dois. E também nunca falei sobre isso com ninguém.
— Uou. — foi tudo que ela conseguir dizer diante daquela confissão. Se sentia tocada pela confiança dada ao ser a única a saber isso, mas sua decepção sufocava qualquer outra emoção. Chegava a ser egoísta não deixar que a felicidade por ele estar feliz ser maior que suas vontades, mas era incontrolável. Aproveitou que alguns fios de cabelo saiam do rabo de cavalo e caiam em seu rosto para virá-lo para o outro lado, tentando controlar sua expressão e pensamentos antes de pigarrear e manter sua pose e fazer a pergunta que tanto martelava em sua mente. — Você, hm, pensa em...você sabe...pensa em pedi-la em namoro?
— Nunca me imaginei dizendo isso, mas sim. — ele respondeu, deixando um sorriso grande tomar seu rosto. — Na verdade, estava pensando em te pedir algumas dicas de como fazer isso de maneira mais romântica, porque sou meio sem jeito pra essas coisas e como você... ?! — parou de pedalar e saltou da bicicleta ao ver que a amiga havia caído ao seu lado. Ela estava estatelada no chão com a bicicleta em cima do corpo, uma cena digna de gargalhadas se ele não tivesse visto o rasgo em seu joelho, o que o desesperou um pouco. Pouco. — Caralho! O seu joelho! Porra! Você tá sagrando! Ai, cacete! Você tá bem? Eu não sei o que fazer!
— Acho que parar de falar e me ajudar a levantar seria uma boa. — respondeu com um gemido de dor ao tentar empurrar a bicicleta e a mesma escorregar de volta em sua ferida. Se sentia ridícula pela cena que causara e irritada por tantas coisas dando errado naquele passeio. Seu sistema funcionou de maneira automática ao escutar a resposta de , primeiro o coração apertando, depois a pontada na boca do estômago e, pra completar, o choque de realidade a fazendo perder o equilíbrio e cair com tudo no chão.
— Me desculpa, não consigo pensar direito quando tô nervoso. — disse ao puxar a bicicleta e ajudar a amiga a ficar de pé. Ela dava algumas batidas na roupa, que havia sujado um pouco, e passava a mão nos cabelos bagunçados tentando se recompor e se manter firme, mas as caretas a cada movimento a entregavam. — O que aconteceu, ? Você esbarrou em alguma coisa?
— Ahn, na verdade eu não sei, acho que foi alguma pedra. — ela deu a primeira desculpa que conseguiu pensar, se sentindo mais patética ainda. O joelho sangrando ardia e os braços estavam doloridos por terem amortecido a queda. Encarou o caminho e percebeu que ainda faltava metade da ponte para percorrerem, não conseguindo conter um suspiro derrotado. Aquele encontro se distanciava cada vez mais do que imaginou.
— Hey, calma, ok? Já sei como vamos chegar lá sem que você se esforce de novo. — passou a mão em seu ombro ao entender o que ela via e pensava. Puxou as duas bicicletas para próximo deles e explicou antes que ela falasse. — Você, claramente, não pode mais pedalar e acho que caminhar isso tudo também não seria muito confortável. Então, vou te levar de carona comigo e a gente vai puxando a sua bicicleta, okay?
— Não sei se é muito confiável deixar você me levar assim. — a garota o encarou com a sobrancelha erguida em dúvida, contendo uma risada ao ver a expressão indignada de . — Tudo bem, , mas se eu cair de novo faço questão de te levar junto.
— Levando em consideração que quem caiu aqui foi você, acho que você está em uma condução mais confiável do que antes. — ele piscou divertido, dando espaço para que ela se aproximasse.
Ele estava no banco e se sentou de lado no quadro da bicicleta, sentindo o amigo passar os braços ao seu redor e posicionar as mãos no guidão. Ela ficou encarregada de segurar no mesmo lugar da sua bicicleta, para que ela fosse arrastada junto com os dois. Não era a posição e lugar mais confortável, mas sentir o corpo de por trás do seu e seus braços a rodeando fazia ficar mais fácil.
— Ainda é muito cedo ou já posso rir da sua queda? — perguntou alguns minutos depois, deixando o assunto sério para trás e prendendo a risada.
— Cedo demais, . Cedo demais...
— Ah, você tem que concordar que foi muito engraçado, ! Em um momento você estava do meu lado e, do nada, só vejo o vulto e você estatelada no chão depois. — tentava recuperar o fôlego após quase dez minutos rindo.
Os dois estavam no carro parado em frente à casa das gêmeas conversando sobre o passeio. Haviam passado um tempo no restaurante após atravessar a ponte e voltaram até o carro tomando sorvete e conversando sobre histórias da infância. havia estacionado ali há um bom tempo e eles ainda não tinham encontrado uma deixa para se despedir, já que o papo parecia sempre se renovar, de alguma forma voltando para alguma piada sobre a queda da caçula.
— Já deu, . — rolou os olhos, mas deixou um sorriso escapar em seus lábios. Tinha ficado com raiva nos primeiros minutos de provocação do amigo, mas, agora, simplesmente desistira de contrariar e só não se entregava às gargalhadas porque não daria esse gostinho a ele.
— Tá bom. Parei! — ele respirou fundo, fechando os olhos para se concentrar, mas aguentando apenas alguns segundos antes de voltar a gargalhar, fazendo a garota bufar e acertar seu ombro com um tapa. — Agora é sério, me desculpe. Seu joelho ainda tá doendo?
— Só ardendo um pouco, mas é normal, nada que um remédio não resolva. — ela tentou não se concentrar tanto no fato de que ele havia descansado a mão no seu joelho por alguns segundos para ver o corte mais de perto.
— Mas pelo menos gostou do passeio ou foi uma péssima ideia de pagamento para suas aulas?
— Claro que gostei. — "tirando a parte que me atrasei, perdi a bicicleta que queria, quase desmaiei, fiquei completamente suada e descabelada na sua frente, tive que te escutar falando sobre o quanto gosta da Karoline e ainda ter levado uma queda horrível" pensou consigo. — Não poderia ter pensado em algo melhor.
— Fico feliz. A sua performance acabou desviando nossa atenção, mas eu queria te agradecer, . — sorriu agradecido, deixando o silêncio pairar por alguns segundos antes de adotar uma pose mais séria e tímida. — Eu não costumo falar sobre assuntos tão pessoais, mas você passa uma segurança e confiança que faz com que seja fácil falar sobre qualquer coisa. Mesmo sem conselhos concretos fico agradecido por você ter me escutado e não ter feito pressão sobre nada.
— Você me pega de surpresa com essas coisas. — deu uma risada nasalada, envergonhada com o que escutou. Não era nenhum elogio direto ou declaração, mas de alguma forma as palavras do amigo esquentaram seu coração. Nada havia ocorrido como planejara e nem de perto resolveu a confusão em que estava, mas com toda a conversa que tiveram sentia que não tinha sido um dia totalmente perdido. estaria ali ao seu lado, não da maneira que queria, mas ainda sim estaria ali. Cabia a ela continuar a tentar aos poucos quando tivesse oportunidade. — Eu que fico muito grata por isso, . Eu não sou de falar as coisas tanto, mas saiba que você já é uma pessoa especial para mim. Muito. E saber que te ajudei ou ajudo de alguma forma me faz ficar feliz.
— Estamos quites e cheio de gratidão então. — ele deu uma piscadela e uma risada leve, sem provavelmente perceber as entrelinhas ou a profundidade da fala da amiga.
Eles ficaram se encarando em silêncio por alguns segundos antes de se despedir com um aceno e sair do carro. Diferente do dia anterior não entrou em casa sentindo peso nos pés e na cabeça, apenas um pequeno sentimento de conformismo.
A casa estava mais silenciosa do que o normal, o que indicava que não estava ali, já que ela era uma máquina de fazer barulho. Puxou a mochila para a frente do corpo e tateou por dentro até resgatar o celular do fundo da bolsa, onde havia o largado desde a hora que saiu de casa. O símbolo piscando na tela avisava sobre duas novas mensagens da irmã, clicou sobre ele e foi caminhando até o fundo da casa enquanto o texto carregava. Parou na soleira da porta e observou a avó sentada no banco de madeira ao celular, conversando com alguém que a fazia rir bastante. Desviou a atenção da senhora para ler o que dizia no celular, primeiro a "Tô saindo com o , vamos no cinema" que a fez rir ao ver como a irmã estava fazendo programas de casais de namorado sem que ao menos percebesse, e a segunda que a fez rir mais alto e chamar a atenção da avó "E ñ, isso ñ é um encontro de namorados. Não durma antes que eu chegue, quero saber tudo sobre hoje". Não podia negar que se divertia com a forma como as duas eram conectadas e sempre sabiam o que a outra estava pensando. Guardou o celular no bolso e foi até o banco onde a avó estava, ela havia encerrado a ligação e apenas observava a neta se acomodar ao seu lado.
— Oi, vovó! — depositou um beijo na mão da senhora, se virando para ficar sentada de frente a ela.
— Oi, minha querida. Como foi seu passeio? Você saiu cedo, nem escutei a porta bater. — Kath tinha a voz mansa e levemente curiosa.
— Foi legal... — a caçula não conseguiu disfarçar o sorriso forçado e nem se dedicou, sabia que a avó conseguia perceber a verdade de longe nas pessoas. Tanto que soltou uma risada ao ver a expressão calma de "vou esperar você contar" no rosto de Katherine. Respirou fundo e contou parcialmente sobre o que estava acontecendo. — Digamos que foi legal mesmo, só que nada saiu como eu planejava e isso me frustra um pouco, ainda que eu não queira admitir.
— Sabe, , na maioria das vezes as coisas acontecem da maneira que devem ser, só nós não percebemos isso. Pra tudo há sua hora e seu momento. Claro que é normal a gente se chatear com isso, mas é perda de tempo, querida. Quando não é pra acontecer nada do que você fizer vai adiantar, as coisas devem agir naturalmente. — ela acariciava o ombro da neta, tentando a confortar com as palavras. Chegava a ser assustador em como, mesmo sem saber do assunto, Kath falava as coisas certas para o momento. Como se ela sentisse exatamente o que a pessoa precisava ouvir.
— É, você está certa. Só preciso de um tempo pra poder lidar com isso da maneira certa. — sorriu agradecida, descansando a cabeça no encosto do banco e desviando o olhar para o jardim do quintal.
— Uma hora você consegue e se não conseguir nós damos um jeito juntas. — Kath respondeu antes de soltar uma risada surpresa e apontar para o joelho da neta. — Acredito que voltar a ter quatro anos não era uma das coisas que você planejava para hoje, certo?
— Certíssimo, Dona Katherine. E pode parar de rir, eu sei que é ridículo só de imaginar, mas já basta de piadas sobre isso.
— Tudo bem, só vou me conter porque sei que a vai fazer valer por ela e por mim durante muito tempo.
— Tenho que me preparar para isso. Agora, me conta aí quem era que tava te fazendo rir no telefone. Espero que não seja um pretendente, você sabe que tenho ciúmes.
A caçula continuou ali aproveitando o resto de fim de tarde com a avó. Era uma ótima companhia e que de alguma forma aconchegava seu coração por a lembrar de sua família que estava longe. Conversar com ela era sentir que as coisas iriam se ajeitar demorasse o tempo que for. E bem, elas iriam.
"Bom dia, ! Só estou terminando de tomar café-da-manhã, mas daqui a dez minutos chego aí, okay?"
Sufocou um grito e começou a xingar tudo que aparecia à sua frente enquanto corria para o banheiro, arrastando a toalha e os chinelos. Os palavrões se estenderam à irmã, que a fez ficar acordada até tarde contando os detalhes do seu dia e criando suposições do que poderia ser feito nesse passeio, e a si mesma, que nunca parava com a mania de desligar o despertador sem acordar totalmente e voltava a dormir. Agora, graças a isso e ao seu azar diário, tinha poucos minutos para estar pronta e linda para seu passeio com . Algo a dizia que não teria sucesso na segunda parte.
O banho gelado foi, de longe, o mais rápido da sua vida, e despertou sua parte que se manteve dormindo mesmo depois do susto. Saiu do banheiro, encontrando uma semiacordada em sua cama a encarando e correu até o guarda-roupa, virando tudo de cabeça para baixo até encontrar a primeira roupa que desse certo com uma pedalada matutina. Vestiu o short e a regata estampada, ignorando todas as leis que diziam que não se pode fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Tentou calçar o tênis enquanto arrumava o cabelo em frente ao espelho e ignorou as perguntas quase retóricas que a irmã fazia, como "Por que você tá correndo?", "Você tá atrasada?" e "Desligou o despertador dormindo de novo?", que apenas aumentava sua irritação. Nada a tirava mais do sério do que ter que se arrumar com pressa.
Deixou a escova de dentes pender da boca apenas o tempo suficiente para pegar seus pertences e jogar dentro da mochila pequena. Pretendia comer qualquer coisa que a sustentasse até o almoço e passar uma maquiagem leve que tampasse suas olheiras, mas a buzina do lado de fora da casa acabou com suas esperanças. Correu até o espelho uma última vez, apenas para conferir se não havia vestido algo ao contrário ou deixado o cabelo muito bagunçado, e aproveitou para colocar os óculos de sol no rosto. Aquilo teria que ser o suficiente para disfarçar a cara limpa e inchada de quem havia acabado de acordar.
— Bom dia, . — cumprimentou o garoto ao se acomodar no banco do passageiro e fechar a porta do carro.
— Bom dia, . — ele respondeu sorrindo e dando partida. A garota sorriu junto ao ver como conseguia ser bonito mesmo poucas horas depois de acordar. — Preparada para tirar o corpo do sedentarismo em uma hora de bicicleta?
— Levando em conta que acordei atrasada e praticamente participei de uma maratona pra ficar pronta antes de você chegar, diria que estou preparadíssima. E você? Não tá pensando em desistir, né? — ela perguntou com ironia, tirando a mexa de cabelo que o vento arrastava para frente do seu rosto e escutando a risada alta do amigo ao ouvir seu relato sobre o início do dia.
— Nem pensar! Você não vai se livrar tão fácil de mim. — deu uma piscadela divertida antes de colocar os óculos pretos e voltar a atenção para a pista, deixando uma desconsertada encarando sua beleza e torcendo para o universo colaborar e fazer aquele dia durar mais que vinte quatro horas.
— Fala sério, . Você não vai passar o resto do dia triste por causa dessa bobeira, né? — perguntou, se aproximando com a bicicleta próximo da amiga, tentando a cutucar com o cotovelo sem perder o equilíbrio. Estavam pedalando há pouco mais que dez minutos e a garota não havia aberto a boca uma única vez.
— Não, mas ainda tô com raiva daquela garota chata. — respondeu, bufando ao escutar a gargalhada do amigo. Estava inconformada com o fato de que uma menina, mais nova que ela, havia passado na sua frente e escolhido a bicicleta azul bebê que estava de olho desde que entrara na banca de aluguéis, sobrando disponível apenas uma outra marrom que não havia graça nenhuma, de acordo com ela.
— Deixa disso, vai. É só uma bicicleta, e se quer saber essa sua é muito mais maneira. — ele tentou a convencer com um sorriso de lado antes de se afastar para desviar de um cara.
— Não concordo, mas vou superar. — não conseguiu prender o riso ao ver erguer as mãos em comemoração, voltando rapidamente para o guidão ao quase cair da bicicleta.
— Certo, mudemos de assunto então. — a encarou sem esperar por uma reposta. Ele revezava o olhar entre o caminho e a vista atrás da amiga com um tom nostálgico e o canto da boca puxado em um sorriso pequeno. — Sabe, esse passeio é uma das minhas coisas preferidas por aqui. Eu costumo pedalar o caminho todo, e até sair da rota, quando tô com a cabeça muito cheia.
— A paisagem é muito linda, não duvido que seja uma oportunidade maravilhosa pra pensar e recarregar as energias. — concordou, passando o olhar desde o parque até a orla, avaliando as demais pessoas que se divertiam por ali, inclusive um casal que se beijava tão apaixonado que dificultava entender onde começava um e terminava outro. A caçula prendeu a risada, apontando disfarçadamente com a cabeça. — Ou pra fazer um filho.
— Urgh, eu consigo ver o esôfago daquele cara. ARRUMEM UM QUARTO! — gritou para o casal, chamando a atenção dos dois e das pessoas que estavam por perto.
— ! — repreendeu o garoto com os olhos arregalados. A mulher estava a ponto de cavar um buraco para enfiar a cara, mas o homem fez menção de levantar bravo e começar a andar na direção dos dois. A caçula se assustou e fez a primeira coisa que passou por sua cabeça. — Corre, !
Os dois aceleraram as peladas, escutando alguns xingamentos do homem e costurando pelas pessoas que estavam no caminho. Eles pedalaram em alta velocidade até perderem as forças com as gargalhadas e encostaram na beirada do mirante, de frente para a vista da ponte. tinha lágrimas nos cantos dos olhos e a barriga doía de tanto rir, e a julgar pela vermelhidão no rosto de , ele também não estava muito diferente.
— Você é louco! Viu o tamanho daquele cara? Se ele te pega, te faz pagar por ter interrompido o momento maravilhoso dele. — disse surpresa após recuperar o pouco de fôlego que ainda tinha.
— Ele nem era tão grande assim. — fez uma careta, rindo ao receber um tapa fraco da amiga no ombro. Passou a mão na testa, afastando os fios de cabelo que haviam grudado por conta do suor. — Pelo menos nos divertimos, e ainda adiantamos muito do caminho.
— É... — a garota se limitou a responder, se sentindo meio tonta e fraca.
— ? Tá tudo bem? — perguntou preocupado, percebendo que seu rosto estava pálido e ela mantinha a cabeça baixa, ainda sem o responder. Se aproximou e colocou a mão de leve em seu ombro. — Você quer sentar?
— Tá tudo bem. — ela se convenceu a dizer, tentando se mostrar melhor do que sentia. Xingava mentalmente seu problema de pressão baixa e sua burrice em não ter pego qualquer coisa para comer no caminho. É claro que passaria mal com essa combinação maravilhosa de calor, estômago vazio e esforço físico. — É só uma tontura leve, daqui a pouco passa. Vamos.
— Tá louca? Não vamos sair daqui até que você melhore. Tem um banco ali, vamos sentar. — ele respondeu, apontando para um banco de ferro um pouco afastado da beirada do mirante. Insistiu ao ver a cara inconformada da amiga. — E nem adianta me encarar assim, nem mesmo esse seu olhar maligno e esse seu cabelo bagunçado vão me assustar o suficiente pra mudar de ideia.
bufou, se sentindo extremamente envergonhada pela situação e por imaginar como estaria sua aparência. No mínimo a palidez, a cara suada e o cabelo bagunçado pelo vento estavam garantidos. Puxou uma liga de tecido do bolso da mochila e prendeu o cabelo da melhor maneira que conseguiu, o que com certeza não era grande coisa. Os dois se sentaram no banco e ficaram alguns minutos quietos, apenas se recompondo e apreciando a vista à frente.
— E você? Quais passeios ou coisas costumava fazer no Brasil? — retomou o assunto que estavam antes de toda a ação, deixando a garota sem palavras por alguns segundos, pensando em uma resposta.
— Bom, eu passei minha infância e começo de adolescência numa cidade de interior, então nossa diversão era reunir os amigos na casa de alguém pra assistir filme ou na praça pra ficar conversando. Só quando fomos pra capital que comecei a sair mesmo, nada demais, só uma balada aqui e uma pizzaria ali, mas tinha um dia do mês que era sagrado. — deu uma pausa, olhando além, como se estivesse diante de sua lembrança em vez da ponte, um sorriso nostálgico preenchia sua boca. — Todo primeiro domingo, eu, meus irmãos e meus pais nos reuníamos para passar o dia inteiro juntos. A gente fazia um piquenique durante a tarde toda, tinha muita comida e eles sempre faziam eu e a cantar e tocar violão. Então, no finalzinho da tarde, nós íamos até uma parte mais afastada da cidade onde era bem alto e dava pra ver o melhor pôr do sol. A gente ficava olhando o céu em silêncio, vendo os raios saírem e as estrelas chegarem.
— Parece ótimo, de verdade. — respondeu depois de observar por um momento. Era bonito ver ela contando aquilo com tanto amor e saudade, principalmente para ele, que nunca tivera a oportunidade de ter momentos assim com a família. O dava esperança de que laços e amores familiares ainda existiam.
— E era. Acho que é uma das coisas que mais sinto falta. — ela suspirou, dando um sorriso triste, mas logo balançando a cabeça em negação. — Acho que deixei nossa conversa muito melancólica, desculpa.
— Não tem problema, gosto de te ouvir falar. — ele disse com sinceridade, a encarando sem desviar o olhar, deixando a garota tímida.
— Se não fosse pela Karol, diria que estava me cantando, Sr. . — brincou, dando uma piscadela divertida. A ideia era tentar arrancar qualquer coisa do amigo, sem se entregar totalmente, por isso abusar do tom irônico e brincalhão era sua melhor saída. Percebeu que ficou sem o que falar após dar uma gargalhada e achou melhor aproveitar a deixa. — Vocês estão num lance sério mesmo, né?
— O que acha de voltarmos para o passeio? Você já está mais corada. — perguntou, desviando de foco. Ele não demonstrava nenhuma expressão sobre a pergunta da amiga, parecia apenas ter preferido deixar o tema de lado em seus pensamentos.
— Vamos! — respondeu, demonstrando animação e tentando não deixar um clima pesado tomar conta da conversa dos dois. Era melhor não insistir por uma resposta e deixar mais à vontade. Se levantou e agradeceu mentalmente por não sentir nenhuma tontura e por estar conseguindo respirar normalmente.
Os dois pegaram as bicicletas e voltaram a pedalar com calma, mas dessa vez em silêncio, apenas aproveitando a vista e o vento fresco que corria bagunçando seus cabelos. Apenas quando percorriam a grande pista da Golden Gate, se pronunciou com a resposta da pergunta, quebrando o silêncio entre eles.
— Eu não sei se nós temos um lance sério ainda, mas sinto que não é algo distante. — manteve o olhar focado à sua frente e seu tom de voz era baixo e tímido, como se confessasse algo proibido.
— Sério? — perguntou quase em um sussurro, sentindo um aperto na boca do estômago e as mãos suarem repentinamente, não sabia nem como havia a escutado.
— Uhum — ele a encarou pelo canto do olho com receio, tentando ler sua reação. E só então percebeu pelo seu olhar que ele não era de falar sobre esse assunto. Engoliu seu nervosismo para disfarçar e erguendo a sobrancelha em uma expressão de quem havia entendido tudo, esperou por sua confissão. Ele respirou fundo e diminuiu o ritmo das pedaladas. — Pode parecer até insensível da minha parte, mas nunca tive nada sério com nenhuma outra garota na minha vida, foram sempre alguns amassos aqui e ali, mas com ela parece, finalmente, ser diferente. Parece que não faria sentindo não ter nada sério entre nós dois. E também nunca falei sobre isso com ninguém.
— Uou. — foi tudo que ela conseguir dizer diante daquela confissão. Se sentia tocada pela confiança dada ao ser a única a saber isso, mas sua decepção sufocava qualquer outra emoção. Chegava a ser egoísta não deixar que a felicidade por ele estar feliz ser maior que suas vontades, mas era incontrolável. Aproveitou que alguns fios de cabelo saiam do rabo de cavalo e caiam em seu rosto para virá-lo para o outro lado, tentando controlar sua expressão e pensamentos antes de pigarrear e manter sua pose e fazer a pergunta que tanto martelava em sua mente. — Você, hm, pensa em...você sabe...pensa em pedi-la em namoro?
— Nunca me imaginei dizendo isso, mas sim. — ele respondeu, deixando um sorriso grande tomar seu rosto. — Na verdade, estava pensando em te pedir algumas dicas de como fazer isso de maneira mais romântica, porque sou meio sem jeito pra essas coisas e como você... ?! — parou de pedalar e saltou da bicicleta ao ver que a amiga havia caído ao seu lado. Ela estava estatelada no chão com a bicicleta em cima do corpo, uma cena digna de gargalhadas se ele não tivesse visto o rasgo em seu joelho, o que o desesperou um pouco. Pouco. — Caralho! O seu joelho! Porra! Você tá sagrando! Ai, cacete! Você tá bem? Eu não sei o que fazer!
— Acho que parar de falar e me ajudar a levantar seria uma boa. — respondeu com um gemido de dor ao tentar empurrar a bicicleta e a mesma escorregar de volta em sua ferida. Se sentia ridícula pela cena que causara e irritada por tantas coisas dando errado naquele passeio. Seu sistema funcionou de maneira automática ao escutar a resposta de , primeiro o coração apertando, depois a pontada na boca do estômago e, pra completar, o choque de realidade a fazendo perder o equilíbrio e cair com tudo no chão.
— Me desculpa, não consigo pensar direito quando tô nervoso. — disse ao puxar a bicicleta e ajudar a amiga a ficar de pé. Ela dava algumas batidas na roupa, que havia sujado um pouco, e passava a mão nos cabelos bagunçados tentando se recompor e se manter firme, mas as caretas a cada movimento a entregavam. — O que aconteceu, ? Você esbarrou em alguma coisa?
— Ahn, na verdade eu não sei, acho que foi alguma pedra. — ela deu a primeira desculpa que conseguiu pensar, se sentindo mais patética ainda. O joelho sangrando ardia e os braços estavam doloridos por terem amortecido a queda. Encarou o caminho e percebeu que ainda faltava metade da ponte para percorrerem, não conseguindo conter um suspiro derrotado. Aquele encontro se distanciava cada vez mais do que imaginou.
— Hey, calma, ok? Já sei como vamos chegar lá sem que você se esforce de novo. — passou a mão em seu ombro ao entender o que ela via e pensava. Puxou as duas bicicletas para próximo deles e explicou antes que ela falasse. — Você, claramente, não pode mais pedalar e acho que caminhar isso tudo também não seria muito confortável. Então, vou te levar de carona comigo e a gente vai puxando a sua bicicleta, okay?
— Não sei se é muito confiável deixar você me levar assim. — a garota o encarou com a sobrancelha erguida em dúvida, contendo uma risada ao ver a expressão indignada de . — Tudo bem, , mas se eu cair de novo faço questão de te levar junto.
— Levando em consideração que quem caiu aqui foi você, acho que você está em uma condução mais confiável do que antes. — ele piscou divertido, dando espaço para que ela se aproximasse.
Ele estava no banco e se sentou de lado no quadro da bicicleta, sentindo o amigo passar os braços ao seu redor e posicionar as mãos no guidão. Ela ficou encarregada de segurar no mesmo lugar da sua bicicleta, para que ela fosse arrastada junto com os dois. Não era a posição e lugar mais confortável, mas sentir o corpo de por trás do seu e seus braços a rodeando fazia ficar mais fácil.
— Ainda é muito cedo ou já posso rir da sua queda? — perguntou alguns minutos depois, deixando o assunto sério para trás e prendendo a risada.
— Cedo demais, . Cedo demais...
— Ah, você tem que concordar que foi muito engraçado, ! Em um momento você estava do meu lado e, do nada, só vejo o vulto e você estatelada no chão depois. — tentava recuperar o fôlego após quase dez minutos rindo.
Os dois estavam no carro parado em frente à casa das gêmeas conversando sobre o passeio. Haviam passado um tempo no restaurante após atravessar a ponte e voltaram até o carro tomando sorvete e conversando sobre histórias da infância. havia estacionado ali há um bom tempo e eles ainda não tinham encontrado uma deixa para se despedir, já que o papo parecia sempre se renovar, de alguma forma voltando para alguma piada sobre a queda da caçula.
— Já deu, . — rolou os olhos, mas deixou um sorriso escapar em seus lábios. Tinha ficado com raiva nos primeiros minutos de provocação do amigo, mas, agora, simplesmente desistira de contrariar e só não se entregava às gargalhadas porque não daria esse gostinho a ele.
— Tá bom. Parei! — ele respirou fundo, fechando os olhos para se concentrar, mas aguentando apenas alguns segundos antes de voltar a gargalhar, fazendo a garota bufar e acertar seu ombro com um tapa. — Agora é sério, me desculpe. Seu joelho ainda tá doendo?
— Só ardendo um pouco, mas é normal, nada que um remédio não resolva. — ela tentou não se concentrar tanto no fato de que ele havia descansado a mão no seu joelho por alguns segundos para ver o corte mais de perto.
— Mas pelo menos gostou do passeio ou foi uma péssima ideia de pagamento para suas aulas?
— Claro que gostei. — "tirando a parte que me atrasei, perdi a bicicleta que queria, quase desmaiei, fiquei completamente suada e descabelada na sua frente, tive que te escutar falando sobre o quanto gosta da Karoline e ainda ter levado uma queda horrível" pensou consigo. — Não poderia ter pensado em algo melhor.
— Fico feliz. A sua performance acabou desviando nossa atenção, mas eu queria te agradecer, . — sorriu agradecido, deixando o silêncio pairar por alguns segundos antes de adotar uma pose mais séria e tímida. — Eu não costumo falar sobre assuntos tão pessoais, mas você passa uma segurança e confiança que faz com que seja fácil falar sobre qualquer coisa. Mesmo sem conselhos concretos fico agradecido por você ter me escutado e não ter feito pressão sobre nada.
— Você me pega de surpresa com essas coisas. — deu uma risada nasalada, envergonhada com o que escutou. Não era nenhum elogio direto ou declaração, mas de alguma forma as palavras do amigo esquentaram seu coração. Nada havia ocorrido como planejara e nem de perto resolveu a confusão em que estava, mas com toda a conversa que tiveram sentia que não tinha sido um dia totalmente perdido. estaria ali ao seu lado, não da maneira que queria, mas ainda sim estaria ali. Cabia a ela continuar a tentar aos poucos quando tivesse oportunidade. — Eu que fico muito grata por isso, . Eu não sou de falar as coisas tanto, mas saiba que você já é uma pessoa especial para mim. Muito. E saber que te ajudei ou ajudo de alguma forma me faz ficar feliz.
— Estamos quites e cheio de gratidão então. — ele deu uma piscadela e uma risada leve, sem provavelmente perceber as entrelinhas ou a profundidade da fala da amiga.
Eles ficaram se encarando em silêncio por alguns segundos antes de se despedir com um aceno e sair do carro. Diferente do dia anterior não entrou em casa sentindo peso nos pés e na cabeça, apenas um pequeno sentimento de conformismo.
A casa estava mais silenciosa do que o normal, o que indicava que não estava ali, já que ela era uma máquina de fazer barulho. Puxou a mochila para a frente do corpo e tateou por dentro até resgatar o celular do fundo da bolsa, onde havia o largado desde a hora que saiu de casa. O símbolo piscando na tela avisava sobre duas novas mensagens da irmã, clicou sobre ele e foi caminhando até o fundo da casa enquanto o texto carregava. Parou na soleira da porta e observou a avó sentada no banco de madeira ao celular, conversando com alguém que a fazia rir bastante. Desviou a atenção da senhora para ler o que dizia no celular, primeiro a "Tô saindo com o , vamos no cinema" que a fez rir ao ver como a irmã estava fazendo programas de casais de namorado sem que ao menos percebesse, e a segunda que a fez rir mais alto e chamar a atenção da avó "E ñ, isso ñ é um encontro de namorados. Não durma antes que eu chegue, quero saber tudo sobre hoje". Não podia negar que se divertia com a forma como as duas eram conectadas e sempre sabiam o que a outra estava pensando. Guardou o celular no bolso e foi até o banco onde a avó estava, ela havia encerrado a ligação e apenas observava a neta se acomodar ao seu lado.
— Oi, vovó! — depositou um beijo na mão da senhora, se virando para ficar sentada de frente a ela.
— Oi, minha querida. Como foi seu passeio? Você saiu cedo, nem escutei a porta bater. — Kath tinha a voz mansa e levemente curiosa.
— Foi legal... — a caçula não conseguiu disfarçar o sorriso forçado e nem se dedicou, sabia que a avó conseguia perceber a verdade de longe nas pessoas. Tanto que soltou uma risada ao ver a expressão calma de "vou esperar você contar" no rosto de Katherine. Respirou fundo e contou parcialmente sobre o que estava acontecendo. — Digamos que foi legal mesmo, só que nada saiu como eu planejava e isso me frustra um pouco, ainda que eu não queira admitir.
— Sabe, , na maioria das vezes as coisas acontecem da maneira que devem ser, só nós não percebemos isso. Pra tudo há sua hora e seu momento. Claro que é normal a gente se chatear com isso, mas é perda de tempo, querida. Quando não é pra acontecer nada do que você fizer vai adiantar, as coisas devem agir naturalmente. — ela acariciava o ombro da neta, tentando a confortar com as palavras. Chegava a ser assustador em como, mesmo sem saber do assunto, Kath falava as coisas certas para o momento. Como se ela sentisse exatamente o que a pessoa precisava ouvir.
— É, você está certa. Só preciso de um tempo pra poder lidar com isso da maneira certa. — sorriu agradecida, descansando a cabeça no encosto do banco e desviando o olhar para o jardim do quintal.
— Uma hora você consegue e se não conseguir nós damos um jeito juntas. — Kath respondeu antes de soltar uma risada surpresa e apontar para o joelho da neta. — Acredito que voltar a ter quatro anos não era uma das coisas que você planejava para hoje, certo?
— Certíssimo, Dona Katherine. E pode parar de rir, eu sei que é ridículo só de imaginar, mas já basta de piadas sobre isso.
— Tudo bem, só vou me conter porque sei que a vai fazer valer por ela e por mim durante muito tempo.
— Tenho que me preparar para isso. Agora, me conta aí quem era que tava te fazendo rir no telefone. Espero que não seja um pretendente, você sabe que tenho ciúmes.
A caçula continuou ali aproveitando o resto de fim de tarde com a avó. Era uma ótima companhia e que de alguma forma aconchegava seu coração por a lembrar de sua família que estava longe. Conversar com ela era sentir que as coisas iriam se ajeitar demorasse o tempo que for. E bem, elas iriam.
Capítulo 13
— Você é realmente a pessoa mais azarada que eu conheço. — tinha os olhos meio arregalados e a boca aberta após escutar todo o relato do encontro da irmã.
As gêmeas estavam largadas de pijama na cama de , com apenas a luz que vinha da janela e de um abajur as iluminando e rodeadas por doces e chocolates. Haviam preparado o ambiente e esperado a avó ir dormir para finalmente terem seu momento de irmãs. esperou até que estivessem acomodadas para contar tudo o que havia acontecido, sabia que teria que aturar piadas da irmã sobre sua queda e um sentimento de pena vindo dela por causa de toda a situação, então aproveitou a intimação de em se reunirem aquela noite para adiar o máximo possível.
— Se você não me contasse eu nunca ia saber. — revirou os olhos ao escutar o comentário, com o sentimento de frustação alfinetando seu peito.
— Desculpa. — se aproximou da irmã, a puxando para deitar em seu colo. Se ela era a razão das duas, era o coração. A caçula sempre deixava os sentimentos falarem mais alto, mesmo quando não queria. Sabia que por mais que ela mantivesse as piadas e a expressão tranquila sobre tudo, no fundo estava sofrendo pelo desandar das coisas. — Sinto muito por não ter nada saído como a gente esperava.
— Tudo bem, não é como se nós tivéssemos alguma culpa nisso. São só coisas do destino mesmo. — suspirou fundo ao perceber o tom de voz da irmã emanando compaixão, assim como havia imaginado que aconteceria, e relaxou o corpo com o cafuné que recebia, deixando que seu coração se abrisse finalmente. Se havia alguém para a escutar e entender naquele e em qualquer momento seria a irmã. — Eu realmente estou uma confusão por dentro, sabe? Tem horas que me dá muita raiva de tudo que tô sentindo e dessa relação Eu--Karol, mas então eu paro e penso que ninguém está errado e que na verdade eu só estou forçando uma porta que tá trancada. Mas eu também não faço por maldade, não quero interromper a felicidade dos dois, eu só acabo me deixando levar por esse sentimento e quando vejo já tô dando de cara na porta.
— É claro que não tem maldade, você é boa demais até quando não precisa, . Eu consigo imaginar a confusão que tá dentro de você, mas disso tudo pensa que, pelo menos, você pode dizer que tentou se aproximar e mostrar ao o que sente, mesmo sem palavras. A gente viu que não adiantou de nada, mas podia ser que isso despertasse algo nele que ele ainda não havia percebido também. Você só fez agora o que não poderia fazer quando ele já estivesse namorando, melhor ter certeza do que fez do que ficar se remoendo pelo que nunca tentou.
— Odeio admitir, mas você tá certa. Mas também não quero mais ouvir sobre nenhum plano de ataque ou o que for que envolva esse assunto, vamos deixar ele viver a vida dele e ser feliz com a Karol que eu vou seguir com minha vida e superar isso.
— Eu sempre estou certa, queridinha. E devo dizer que concordo com isso, de agora em diante a nossa gangue só vai fazer planos pra zoar com sua cara e com esse seu machucado de criancinha no joelho. — tentou segurar a risada e manter a expressão séria em brincadeira, mas não aguentou ao ver a irmã se sentar e esticar o dedo do meio.
— Me recuso a estar no mesmo ambiente que você, e Dylan quando os dois estiverem sabendo disso. Tudo bem que estou acostumada em aguentar uns tapas da vida, mas não sou obrigada a aturar os três com piadas por algo que me incentivaram a fazer.
— Calma aí, princesa. A gente incentivou o encontro, se você é destrambelhada a culpa não é nossa!
— Cadê a amorosa de segundos atrás que me amava e estava me consolando? Traz ela porque você já tá chata. — se jogou de costas no colchão, ignorando a gargalhada escandalosa da irmã. — E caso não queira acordar a vó, é melhor controlar essa risada de macaca.
— Ei! Me respeita que eu sou mais velha. — jogou o travesseiro na irmã, abafando a risada da caçula. Se esticou até o criado-mudo e puxou a mochila de lá. — Mas não podemos acordar Dona Kath mesmo, tudo bem que ela é liberal, mas acho que seria um pouco demais pra ela nos ver com isso aqui. — respondeu ao puxar uma garrafa de vodka de dentro da mochila.
— Primeiro: não acredito nisso. Segundo: como você arranjou essa garrafa? — tinha a expressão surpresa, mas com um sorriso puxado nos lábios. Pegou a garrafa da mão da irmã e colocou sobre o colchão.
— Pode acreditar. O comprou pra mim, era pra ser cachaça pra gente poder comemorar o nosso plano executado, mas só tinha vodka e o plano falhou. Então vamos ter que fazer a caipirinha com isso mesmo e beber pra afogar a frustação. — a primogênita deu de ombros em falso desinteresse, mas levantando empolgada depois para ir preparar as bebidas e escutando o comentário da irmã, que a seguia.
— Não poderia pensar em maneira melhor de começar a superar isso.
— AAAA você tem que ver essa!
— Fala baixo sua louca, desse jeito você acorda até os vizinhos. — chamou a atenção da caçula, se aproximando para conseguir ver o que tanto ela apontava para o celular, mas sem conseguir explicar graças a uma crise de riso. — "voses eh um lixo". Nossa, me senti tocada com esse comentário.
Havia algumas horas que as irmãs estavam reunidas quando resolveram matar a saudade de um hábito que tinham sempre que estavam entediadas: ler comentários de haters em seus vídeos. O ódio gratuito daquelas pessoas que nem as conheciam só as divertiam e as faziam rir por horas.
— Eles podiam pelo menos usar o básico do português ou fazer uma crítica construtiva. — a caçula comentou entre risos, parando somente para tomar mais um gole do seu terceiro drink, os efeitos do álcool já dando sinal.
— Opa, pera aí que esse daqui é interessante. — puxou o celular da irmã, ignorando seus resmungos e lendo em voz alta o comentário. — "Queridas, Gêmeas, parabéns pelo trabalho e talento, vocês mandam muito bem. Fico cada vez mais encantado a cada postagem nova, especialmente com você, (com todo respeito). Inclusive, se não for pedir muito, gostaria de ter a oportunidade de conversar com você a qualquer momento. Tenho certeza que seria adorável. Abraços". Opaaaaaa, parece que ele tá afim de alguém.
— Não vi graça nenhuma nesse. — deu de ombros, com o olhar meio alheio para seu copo vazio, mas recebendo um tapa no braço que a despertou. — Ai! Que que eu fiz?
— Para de ser lerda, não era pra ter graça. Só li porque achei muito educado esse João Paulo... — encarou a caçula com um olhar divertido e sorriso malicioso, enchendo seus copos novamente.
— Eu conheço essa sua cara...
— Sem contar que parece que ele postou esse comentário em todos os vídeos! — voltou a interrompe-la, como sempre fazia quando queria que a irmã a ouvisse mesmo sob protestos.
— , para com...
— E olha que se ele for mesmo o cara dessa foto até que não é nada mal, viu?!
— Tá bom, porra! Me devolve isso aqui. — cansou das indiretas que mais pareciam bofetadas em sua testa, puxando o celular das mãos da garota. Ela escutava a voz da irmã ao seu lado tagarelando sobre como seria engraçado se ela respondesse ele e depois descobrisse que ele é mesmo super legal como aparentava, mas estava concentrada na tela à sua frente. Deixava os dedos vagarem rapidamente e percebia que estava certa ao falar que havia comentários do mesmo tipo do tal João Paulo em várias fotos, vídeos e em suas redes sociais. Mordeu o lábio inferior, se deixando levar pela animação que o álcool em seu organismo a proporcionava e enviou uma mensagem privada ao garoto na rede social, agradecendo pelos elogios e falando que estaria à disposição dele para uma conversa. — Pronto, já pode parar de falar.
— Muito bem, agora entra no perfil dele pra gente ver as fotos com calma, vai que ele é o amor da sua vida que estava escondido esse tempo todo. Precisamos avaliar o pacote todo antes. — começava a falar mais lenta e ria ao final da risada, mesmo assim enchendo os copos para mais uma rodada de bebida.
— Pelo que estou vendo aqui tá tudo muito bem, merece até nota A, viu? — já se deixava levar totalmente pelas ideias da irmã e se declaravam verdadeiras stalkers olhando tudo que continha no perfil do garoto, ainda que houvessem poucas informações. — A gente tá super se animando, mas pode ser que ele nem responda nada e tenha feito aquele comentário apenas de brincadeira.
— Quem teria paciência em fazer uma brincadeira dessas em todos os cantos da internet em que você está? Só se for aquela garota que chamou a gente de "cabelo de palha, cara de cavalo" disfarçada. — as duas gargalharam, voltando à mesma crise de riso que tiveram ao ler o tal comentário falado pela primogênita. Tinham lágrimas nos cantos dos olhos e parte da bebida da caçula já havia caído no colchão quando foram interrompidas pelo toque vindo do celular.
As duas se encararam e avançaram o mais rápido que conseguiam em cima do celular, travando uma briga boba para ver quem o pegava primeiro. sorriu vitoriosa ao arrancar o aparelho das mãos da irmã, levantando da cama e correndo os dedos na tela para saber o que era. Sentia a presença de ao seu lado acompanhando o que via também.
— Ih, lá vem problema. — a mais velha comentou ao ler o nome de na tela. Rolando os olhos e saindo de perto da irmã. — O que ele quer?
— Ele tá falando que quarta o McFly vai tocar na inauguração de uma lanchonete perto da escola, de noite, e tá me convidando e dizendo que é muito importante que eu vá. — ela resumiu o que lia na mensagem recebida, apenas mandando um "ok!" para não o deixar totalmente sem resposta.
— Ah, o me falou mesmo sobre isso, só não sabia que sua presença era tão requisitada assim. O que será que ele quer com isso?
— Não tenho a mínima ideia. E pra falar a verdade, prefiro não pensar nisso agora, já basta tudo que aconteceu hoje. — ela deu de ombros, desviando o olhar da irmã por alguns segundos e tentando mudar de assunto antes que o clima pesasse. — E nem adiantou correr, eu falei que esse cara tava só de brinca...
foi interrompida pelo som do aparelho novamente, dessa vez sem pressa ou briga entre as duas para ver quem olhava primeiro.
— Manda o ir dormir!
— Na verdade a mensagem é do João Paulo.
— Opa, não falei que ele ia responder? — a primogênita cantou vitória e correu para seu lado, ignorando os resmungos embolados da irmã e a mandando abrir logo a notificação, só então vendo que era um convite para conversa privada na rede social. — Aceita logo!
— Calma, já tô aceitando. — confirmou o pedido e viu uma janela de bate papo se abrir, rapidamente aparecendo uma mensagem do garoto em sua tela. Não sabia se era o efeito do álcool ou realmente estava se divertindo com aquilo, mas teve que morder os lábios para conter o sorriso ao ver o primeiro balão da conversa aparecer.
João Paulo: Olá, ! Fiquei contente ao receber sua mensagem, espero que não tenha sido irônica ou que eu tenha entendido o recado errado, pois realmente acho que será um prazer poder conversar com você e quem sabe te conhecer melhor.
— O que eu respondo? — recorreu à irmã sem saber o que fazer, na verdade mal entendia o que estava acontecendo ali. Em sua cabeça era apenas mais um momento de diversão e interação com alguma pessoa nova na internet, como acontecia as vezes, mas sentia algo de diferente naquilo. A observou formar um bico na boa e colocar a mão na cintura, provavelmente pensando na melhor resposta, retomando a pose normal segundos depois.
— Primeiro diz oi pra ele também e fala que ele não entendeu errado, que você achou legal o que ele tinha falado no vídeo e por isso não viu problemas em atender ao pedido dele.
A caçula escreveu o que havia falado e enviou a mensagem, sentindo o celular vibrar e apagar segundos depois em suas mãos, provavelmente por ter esquecido de o carregar durante o dia. Jogou-o na mesinha do quarto e voltou à cama, bebendo o que restava em seu copo.
— Jura que você vai simplesmente deixar ele no vácuo desse jeito? — perguntou levemente indignada com a calma da irmã e seu olhar despreocupado.
— Estou com preguiça de ir atrás do carregador e, além do mais, eu já respondi ele, você nem sabe se ele vai falar algo. Deixa isso pra lá, tá na hora da gente fazer alguma coisa mais animada. — observou a primogênita parar de resmungar e a encarar animada com a cara que sempre fazia quando jurava ter uma ideia genial.
— Pelas minhas contas é uma da madrugada no Brasil agora, tenho certeza de que o pessoal está acordado. Não seria má ideia matar a saudade. — respondeu correndo com a gêmea para o computador e mandando dezenas de mensagem para . Algo as dizia que aquela noite duraria muito ainda.
— Então é por isso que as bonitas não me respondem? — Dylan entrou no quarto, encontrando as gêmeas dormindo amontoadas na cama cheia de embalagens de doce, lençóis e copos da noite anterior. O ambiente estava escuro e quem estivesse ali dentro duvidaria de que já passavam de meio dia. O garoto rolou os olhos ao perceber que as duas não haviam movido um dedo sequer, correndo até a janela e escancarando as cortinas, começando a bater palmas e puxar o lençol da cama segundos depois. — VAMOS ACORDAR, PRINCESAAAS! ISSO NÃO É HORA DE DORMIR, ABRE O OLHO E OLHA QUE DIA LINDO PRA VIVER.
— Se você não parar de gritar agora quem não vai viver mais dia nenhum vai ser você. — tinha a voz rouca e abafada pelo travesseiro que havia puxado para o rosto. Sentia a claridade estourando mais ainda sua vista e cabeça.
— Desliga esse sol e esse microfone agora antes que eu morra. — respondeu em um fio de voz, sem forças para ao menos esticar o braço totalmente ao levantar o dedo do meio para o amigo.
— Ninguém mandou vocês ficarem fazendo festinha até tarde. Kath me disse que veio tentar acordar vocês duas vezes e nada, ela inclusive fez uma dancinha da vitória quando eu disse que ia resolver esse problema. Então, como não gosto de desapontar, vou dar cinco segundos pra vocês levantarem a bunda dessa cama, irem tomar um banho e um remédio e estarem lindas e belas daqui a vinte minutos lá em baixo para almoçarmos juntos. — ele falou sério, aumentando o tom de voz a cada resmungo das amigas.
— Quem foi que te convidou pra cá? Vai embora, Dylan..
— Um! — começou a contar nos dedos.
— Essa sua ameaça não vai colar. — cada uma revezava em uma resposta.
— Dois! Eu juro que se eu chegar no cinco e vocês não levantarem eu volto com um balde de água.
— Você não seria tão louco.
— Três! Não duvida de mim.
— Quando sair fecha a cortina.
— Quatro! Última chance.
— E devolve o lençol.
— Cinco! Tá okay, vocês que pediram por isso. — ele saiu do quarto, sendo totalmente ignorado e retornando minutos depois com um balde grande cheio de água. — Última chance ou dou banho em vocês aí mesmo.
— Dylan, sai daqui com isso agora! — se sentou, apontando para a porta e fechando os olhos ao sentir uma pontada na cabeça e respingos de água em seu rosto, que o garoto havia espirrado por pirraça.
— Eu avisei! — ele segurou o balde com os dois braços e se aproximou da cama, fazendo menção de que jogaria toda a água, parando no meio do caminho ao ouvir os gritos das garotas.
— A GENTE TÁ INDO PORRA! — gritou brava, levantando e indo ao banheiro entre pisadas fortes.
— EU TE ODEIO, DY! — berrou ao sair do quarto, também se encaminhando para o outro banheiro.
— EU TAMBÉM AMO VOCÊS! NÃO ESQUEÇAM DE ESCOVAR OS DENTES PORQUE FIQUEI BÊBADO SÓ DE SENTIR ESSE CHEIRO. — Dy fez questão de responder divertido, gargalhando ao relembrar os segundos anteriores e escutar os xingamentos ao longe.
— Eu ainda não entendi o que o Dylan tá fazendo aqui. — comentou com a irmã, ignorando a presença do garoto no comentário apenas por pirraça. Estavam em melhor estado depois do banho, almoço e de ter tomado alguns remédios para amenizarem a ressaca, ainda que se sentisse cansada devido à hora em que foram dormir.
— Nem eu. Na verdade, eu acho que ele foi contratado pela nossa mãe para vir fazer o papel dela hoje aqui. — respondeu no mesmo tom, olhando debochada para o amigo ao escutar a risada dele.
— Não seria má ideia vir botar vocês na linha as vezes. — ele deu de ombros divertido. — Mas para o azar de vocês não foi por esse motivo, eu só estava no tédio e vim ver se vocês não queriam fazer alguma coisa, sem contar que eu precisava saber o que tinha acontecido ontem no encontro da . E ainda bem que vim, vocês nem esperaram minha presença pra falar pra .
— O assunto acabou surgindo quando a gente acordou ela de madruga e obrigou ela a conversar com a gente, aí ela disse que só ficaria e acordaria outros amigos nossos se antes a gente falasse o que tinha acontecido. — se defendeu antes que ele voltasse a brigar. Havia relatado tudo, minutos atrás, após terem terminado de almoçar e organizar a cozinha para a avó.
Ela se lembrava de ter feito as mesmas piadas sobre sua queda e de só ter parado porque havia ficado animada em reunir o antigo grupo novamente em conversa, se esquecendo até do sono que sentia. A ideia havia partido da primogênita, que convenceu aos outros dois amigos do Brasil que era sim uma ótima hora para colocarem o assunto em dia, mesmo que à distância. As gêmeas junto com , Gabriel e Matheus eram o grupo de amigos inseparáveis da escola e da vida. Porém, após a viagem haviam perdido mais o contato com os garotos e só na noite passada puderam reviver a alegria e energia que tinham juntos, tirando os longos minutos que ficaram xingando as irmãs por terem decidido socializar às quatro da manhã.
— Vou perdoar só porque vocês salvaram o meu dia ao desfilarem na minha frente com aquela cara acabada de pós ressaca. — Dy gargalhou ao lembrar da cena, ignorando o rolar de olhos das duas.
— Quem tem que perdoar alguém aqui somos nós a você, que acabou com nosso descanso. — deu um tapa leve em seu ombro, voltando a sentar no chão. Estavam os três no jardim do quintal da casa das gêmeas, Dylan e no banquinho e estendida na grama à frente.
— Vocês escutaram esse som? — ele perguntou, fazendo sinal para que as duas se calassem, sobrando apenas um bipe baixo no ar.
— É meu celular! — a caçula só então lembrou que estava com o aparelho no bolso desde o almoço, quando ele havia finalmente terminado de carregar, já que com a bagunça e lerdeza na madrugada tinha se esquecido de colocar. — Nossa, tá cheio de mensagem aqui.
— Aaaaaaa! Olha se tem alguma do João Paulo! — a primogênita levantou animada, se apoiando nos joelhos da irmã para tentar ver a tela do aparelho, mas levando um tapa no braço.
— Sai daqui, deixa que eu olho.
— João Paulo é o tal cara dos comentários de ontem? — Dy lembrou da história que elas haviam contado antes.
— Ele mesmo. E sim, ele respondeu e não foi pouco. — prendeu uma risada ao ver a sequência de mensagens dele, perguntando sobre ela e tentando iniciar uma conversa até que percebeu que ela não estava mais online, desejando apenas boa noite. — Coitado, acho que ele pensou que eu estava zoando com a cara dele.
— Eu falei pra você não deixar ele no vácuo! Responde agora pedindo desculpas e deixa de ser mal-educada. — cutucou sua perna com o pé em repetição.
— Para com isso, eu já tô respondendo!
— Vocês são insuportáveis, é toda hora uma brigando com a outra. — o garoto rolou os olhos, se jogando deitado na grama ao lado de .
— Quem disse que a gente tá brigando? Isso é só demonstração de carinho. — mandou uma piscadela, voltando a atenção para o celular e terminando de responder João antes de abrir as outras mensagens. — Olha só, a outra é do . Ele tá me cobrando informações sobre a .
— Ele conhece ela? — a olhou confusa.
— Não, mas eu falei pra ele que tinha uma amiga que era a cara metade dele e que eles precisavam se conhecer. Afinal, convenhamos que os dois dariam certinhos um com o outro.
— Super concordo! Conheço ela menos que vocês mas acho o jeito doido de pensar muito parecido com o dele também.
— O Dy tem razão. — apoiou a cabeça no peito do amigo, podendo observar melhor a irmã. Levantando de supetão segundos depois. — JÁ SEI!
— Que susto, ! — a irmã levou a mão ao peito, assustada com o grito repentino.
— Deixa de ser fresca. — ela alfinetou antes de explicar o que havia pensado. — Chama ele pra cá agora e diz que vamos resolver isso. Aí a gente faz uma vídeo chamada com a e bota os dois pra conversarem.
— Ela não vai ficar com muita vergonha e com vontade de matar vocês não? — ele perguntou em tom óbvio.
— Sim, por isso é perfeito. — concordou com a irmã, deixando os dedos vagarem pela tela em uma nova mensagem. — Tá na hora de fazer o plano de ataque versão dois.
As gêmeas estavam largadas de pijama na cama de , com apenas a luz que vinha da janela e de um abajur as iluminando e rodeadas por doces e chocolates. Haviam preparado o ambiente e esperado a avó ir dormir para finalmente terem seu momento de irmãs. esperou até que estivessem acomodadas para contar tudo o que havia acontecido, sabia que teria que aturar piadas da irmã sobre sua queda e um sentimento de pena vindo dela por causa de toda a situação, então aproveitou a intimação de em se reunirem aquela noite para adiar o máximo possível.
— Se você não me contasse eu nunca ia saber. — revirou os olhos ao escutar o comentário, com o sentimento de frustação alfinetando seu peito.
— Desculpa. — se aproximou da irmã, a puxando para deitar em seu colo. Se ela era a razão das duas, era o coração. A caçula sempre deixava os sentimentos falarem mais alto, mesmo quando não queria. Sabia que por mais que ela mantivesse as piadas e a expressão tranquila sobre tudo, no fundo estava sofrendo pelo desandar das coisas. — Sinto muito por não ter nada saído como a gente esperava.
— Tudo bem, não é como se nós tivéssemos alguma culpa nisso. São só coisas do destino mesmo. — suspirou fundo ao perceber o tom de voz da irmã emanando compaixão, assim como havia imaginado que aconteceria, e relaxou o corpo com o cafuné que recebia, deixando que seu coração se abrisse finalmente. Se havia alguém para a escutar e entender naquele e em qualquer momento seria a irmã. — Eu realmente estou uma confusão por dentro, sabe? Tem horas que me dá muita raiva de tudo que tô sentindo e dessa relação Eu--Karol, mas então eu paro e penso que ninguém está errado e que na verdade eu só estou forçando uma porta que tá trancada. Mas eu também não faço por maldade, não quero interromper a felicidade dos dois, eu só acabo me deixando levar por esse sentimento e quando vejo já tô dando de cara na porta.
— É claro que não tem maldade, você é boa demais até quando não precisa, . Eu consigo imaginar a confusão que tá dentro de você, mas disso tudo pensa que, pelo menos, você pode dizer que tentou se aproximar e mostrar ao o que sente, mesmo sem palavras. A gente viu que não adiantou de nada, mas podia ser que isso despertasse algo nele que ele ainda não havia percebido também. Você só fez agora o que não poderia fazer quando ele já estivesse namorando, melhor ter certeza do que fez do que ficar se remoendo pelo que nunca tentou.
— Odeio admitir, mas você tá certa. Mas também não quero mais ouvir sobre nenhum plano de ataque ou o que for que envolva esse assunto, vamos deixar ele viver a vida dele e ser feliz com a Karol que eu vou seguir com minha vida e superar isso.
— Eu sempre estou certa, queridinha. E devo dizer que concordo com isso, de agora em diante a nossa gangue só vai fazer planos pra zoar com sua cara e com esse seu machucado de criancinha no joelho. — tentou segurar a risada e manter a expressão séria em brincadeira, mas não aguentou ao ver a irmã se sentar e esticar o dedo do meio.
— Me recuso a estar no mesmo ambiente que você, e Dylan quando os dois estiverem sabendo disso. Tudo bem que estou acostumada em aguentar uns tapas da vida, mas não sou obrigada a aturar os três com piadas por algo que me incentivaram a fazer.
— Calma aí, princesa. A gente incentivou o encontro, se você é destrambelhada a culpa não é nossa!
— Cadê a amorosa de segundos atrás que me amava e estava me consolando? Traz ela porque você já tá chata. — se jogou de costas no colchão, ignorando a gargalhada escandalosa da irmã. — E caso não queira acordar a vó, é melhor controlar essa risada de macaca.
— Ei! Me respeita que eu sou mais velha. — jogou o travesseiro na irmã, abafando a risada da caçula. Se esticou até o criado-mudo e puxou a mochila de lá. — Mas não podemos acordar Dona Kath mesmo, tudo bem que ela é liberal, mas acho que seria um pouco demais pra ela nos ver com isso aqui. — respondeu ao puxar uma garrafa de vodka de dentro da mochila.
— Primeiro: não acredito nisso. Segundo: como você arranjou essa garrafa? — tinha a expressão surpresa, mas com um sorriso puxado nos lábios. Pegou a garrafa da mão da irmã e colocou sobre o colchão.
— Pode acreditar. O comprou pra mim, era pra ser cachaça pra gente poder comemorar o nosso plano executado, mas só tinha vodka e o plano falhou. Então vamos ter que fazer a caipirinha com isso mesmo e beber pra afogar a frustação. — a primogênita deu de ombros em falso desinteresse, mas levantando empolgada depois para ir preparar as bebidas e escutando o comentário da irmã, que a seguia.
— Não poderia pensar em maneira melhor de começar a superar isso.
— AAAA você tem que ver essa!
— Fala baixo sua louca, desse jeito você acorda até os vizinhos. — chamou a atenção da caçula, se aproximando para conseguir ver o que tanto ela apontava para o celular, mas sem conseguir explicar graças a uma crise de riso. — "voses eh um lixo". Nossa, me senti tocada com esse comentário.
Havia algumas horas que as irmãs estavam reunidas quando resolveram matar a saudade de um hábito que tinham sempre que estavam entediadas: ler comentários de haters em seus vídeos. O ódio gratuito daquelas pessoas que nem as conheciam só as divertiam e as faziam rir por horas.
— Eles podiam pelo menos usar o básico do português ou fazer uma crítica construtiva. — a caçula comentou entre risos, parando somente para tomar mais um gole do seu terceiro drink, os efeitos do álcool já dando sinal.
— Opa, pera aí que esse daqui é interessante. — puxou o celular da irmã, ignorando seus resmungos e lendo em voz alta o comentário. — "Queridas, Gêmeas, parabéns pelo trabalho e talento, vocês mandam muito bem. Fico cada vez mais encantado a cada postagem nova, especialmente com você, (com todo respeito). Inclusive, se não for pedir muito, gostaria de ter a oportunidade de conversar com você a qualquer momento. Tenho certeza que seria adorável. Abraços". Opaaaaaa, parece que ele tá afim de alguém.
— Não vi graça nenhuma nesse. — deu de ombros, com o olhar meio alheio para seu copo vazio, mas recebendo um tapa no braço que a despertou. — Ai! Que que eu fiz?
— Para de ser lerda, não era pra ter graça. Só li porque achei muito educado esse João Paulo... — encarou a caçula com um olhar divertido e sorriso malicioso, enchendo seus copos novamente.
— Eu conheço essa sua cara...
— Sem contar que parece que ele postou esse comentário em todos os vídeos! — voltou a interrompe-la, como sempre fazia quando queria que a irmã a ouvisse mesmo sob protestos.
— , para com...
— E olha que se ele for mesmo o cara dessa foto até que não é nada mal, viu?!
— Tá bom, porra! Me devolve isso aqui. — cansou das indiretas que mais pareciam bofetadas em sua testa, puxando o celular das mãos da garota. Ela escutava a voz da irmã ao seu lado tagarelando sobre como seria engraçado se ela respondesse ele e depois descobrisse que ele é mesmo super legal como aparentava, mas estava concentrada na tela à sua frente. Deixava os dedos vagarem rapidamente e percebia que estava certa ao falar que havia comentários do mesmo tipo do tal João Paulo em várias fotos, vídeos e em suas redes sociais. Mordeu o lábio inferior, se deixando levar pela animação que o álcool em seu organismo a proporcionava e enviou uma mensagem privada ao garoto na rede social, agradecendo pelos elogios e falando que estaria à disposição dele para uma conversa. — Pronto, já pode parar de falar.
— Muito bem, agora entra no perfil dele pra gente ver as fotos com calma, vai que ele é o amor da sua vida que estava escondido esse tempo todo. Precisamos avaliar o pacote todo antes. — começava a falar mais lenta e ria ao final da risada, mesmo assim enchendo os copos para mais uma rodada de bebida.
— Pelo que estou vendo aqui tá tudo muito bem, merece até nota A, viu? — já se deixava levar totalmente pelas ideias da irmã e se declaravam verdadeiras stalkers olhando tudo que continha no perfil do garoto, ainda que houvessem poucas informações. — A gente tá super se animando, mas pode ser que ele nem responda nada e tenha feito aquele comentário apenas de brincadeira.
— Quem teria paciência em fazer uma brincadeira dessas em todos os cantos da internet em que você está? Só se for aquela garota que chamou a gente de "cabelo de palha, cara de cavalo" disfarçada. — as duas gargalharam, voltando à mesma crise de riso que tiveram ao ler o tal comentário falado pela primogênita. Tinham lágrimas nos cantos dos olhos e parte da bebida da caçula já havia caído no colchão quando foram interrompidas pelo toque vindo do celular.
As duas se encararam e avançaram o mais rápido que conseguiam em cima do celular, travando uma briga boba para ver quem o pegava primeiro. sorriu vitoriosa ao arrancar o aparelho das mãos da irmã, levantando da cama e correndo os dedos na tela para saber o que era. Sentia a presença de ao seu lado acompanhando o que via também.
— Ih, lá vem problema. — a mais velha comentou ao ler o nome de na tela. Rolando os olhos e saindo de perto da irmã. — O que ele quer?
— Ele tá falando que quarta o McFly vai tocar na inauguração de uma lanchonete perto da escola, de noite, e tá me convidando e dizendo que é muito importante que eu vá. — ela resumiu o que lia na mensagem recebida, apenas mandando um "ok!" para não o deixar totalmente sem resposta.
— Ah, o me falou mesmo sobre isso, só não sabia que sua presença era tão requisitada assim. O que será que ele quer com isso?
— Não tenho a mínima ideia. E pra falar a verdade, prefiro não pensar nisso agora, já basta tudo que aconteceu hoje. — ela deu de ombros, desviando o olhar da irmã por alguns segundos e tentando mudar de assunto antes que o clima pesasse. — E nem adiantou correr, eu falei que esse cara tava só de brinca...
foi interrompida pelo som do aparelho novamente, dessa vez sem pressa ou briga entre as duas para ver quem olhava primeiro.
— Manda o ir dormir!
— Na verdade a mensagem é do João Paulo.
— Opa, não falei que ele ia responder? — a primogênita cantou vitória e correu para seu lado, ignorando os resmungos embolados da irmã e a mandando abrir logo a notificação, só então vendo que era um convite para conversa privada na rede social. — Aceita logo!
— Calma, já tô aceitando. — confirmou o pedido e viu uma janela de bate papo se abrir, rapidamente aparecendo uma mensagem do garoto em sua tela. Não sabia se era o efeito do álcool ou realmente estava se divertindo com aquilo, mas teve que morder os lábios para conter o sorriso ao ver o primeiro balão da conversa aparecer.
João Paulo: Olá, ! Fiquei contente ao receber sua mensagem, espero que não tenha sido irônica ou que eu tenha entendido o recado errado, pois realmente acho que será um prazer poder conversar com você e quem sabe te conhecer melhor.
— O que eu respondo? — recorreu à irmã sem saber o que fazer, na verdade mal entendia o que estava acontecendo ali. Em sua cabeça era apenas mais um momento de diversão e interação com alguma pessoa nova na internet, como acontecia as vezes, mas sentia algo de diferente naquilo. A observou formar um bico na boa e colocar a mão na cintura, provavelmente pensando na melhor resposta, retomando a pose normal segundos depois.
— Primeiro diz oi pra ele também e fala que ele não entendeu errado, que você achou legal o que ele tinha falado no vídeo e por isso não viu problemas em atender ao pedido dele.
A caçula escreveu o que havia falado e enviou a mensagem, sentindo o celular vibrar e apagar segundos depois em suas mãos, provavelmente por ter esquecido de o carregar durante o dia. Jogou-o na mesinha do quarto e voltou à cama, bebendo o que restava em seu copo.
— Jura que você vai simplesmente deixar ele no vácuo desse jeito? — perguntou levemente indignada com a calma da irmã e seu olhar despreocupado.
— Estou com preguiça de ir atrás do carregador e, além do mais, eu já respondi ele, você nem sabe se ele vai falar algo. Deixa isso pra lá, tá na hora da gente fazer alguma coisa mais animada. — observou a primogênita parar de resmungar e a encarar animada com a cara que sempre fazia quando jurava ter uma ideia genial.
— Pelas minhas contas é uma da madrugada no Brasil agora, tenho certeza de que o pessoal está acordado. Não seria má ideia matar a saudade. — respondeu correndo com a gêmea para o computador e mandando dezenas de mensagem para . Algo as dizia que aquela noite duraria muito ainda.
— Então é por isso que as bonitas não me respondem? — Dylan entrou no quarto, encontrando as gêmeas dormindo amontoadas na cama cheia de embalagens de doce, lençóis e copos da noite anterior. O ambiente estava escuro e quem estivesse ali dentro duvidaria de que já passavam de meio dia. O garoto rolou os olhos ao perceber que as duas não haviam movido um dedo sequer, correndo até a janela e escancarando as cortinas, começando a bater palmas e puxar o lençol da cama segundos depois. — VAMOS ACORDAR, PRINCESAAAS! ISSO NÃO É HORA DE DORMIR, ABRE O OLHO E OLHA QUE DIA LINDO PRA VIVER.
— Se você não parar de gritar agora quem não vai viver mais dia nenhum vai ser você. — tinha a voz rouca e abafada pelo travesseiro que havia puxado para o rosto. Sentia a claridade estourando mais ainda sua vista e cabeça.
— Desliga esse sol e esse microfone agora antes que eu morra. — respondeu em um fio de voz, sem forças para ao menos esticar o braço totalmente ao levantar o dedo do meio para o amigo.
— Ninguém mandou vocês ficarem fazendo festinha até tarde. Kath me disse que veio tentar acordar vocês duas vezes e nada, ela inclusive fez uma dancinha da vitória quando eu disse que ia resolver esse problema. Então, como não gosto de desapontar, vou dar cinco segundos pra vocês levantarem a bunda dessa cama, irem tomar um banho e um remédio e estarem lindas e belas daqui a vinte minutos lá em baixo para almoçarmos juntos. — ele falou sério, aumentando o tom de voz a cada resmungo das amigas.
— Quem foi que te convidou pra cá? Vai embora, Dylan..
— Um! — começou a contar nos dedos.
— Essa sua ameaça não vai colar. — cada uma revezava em uma resposta.
— Dois! Eu juro que se eu chegar no cinco e vocês não levantarem eu volto com um balde de água.
— Você não seria tão louco.
— Três! Não duvida de mim.
— Quando sair fecha a cortina.
— Quatro! Última chance.
— E devolve o lençol.
— Cinco! Tá okay, vocês que pediram por isso. — ele saiu do quarto, sendo totalmente ignorado e retornando minutos depois com um balde grande cheio de água. — Última chance ou dou banho em vocês aí mesmo.
— Dylan, sai daqui com isso agora! — se sentou, apontando para a porta e fechando os olhos ao sentir uma pontada na cabeça e respingos de água em seu rosto, que o garoto havia espirrado por pirraça.
— Eu avisei! — ele segurou o balde com os dois braços e se aproximou da cama, fazendo menção de que jogaria toda a água, parando no meio do caminho ao ouvir os gritos das garotas.
— A GENTE TÁ INDO PORRA! — gritou brava, levantando e indo ao banheiro entre pisadas fortes.
— EU TE ODEIO, DY! — berrou ao sair do quarto, também se encaminhando para o outro banheiro.
— EU TAMBÉM AMO VOCÊS! NÃO ESQUEÇAM DE ESCOVAR OS DENTES PORQUE FIQUEI BÊBADO SÓ DE SENTIR ESSE CHEIRO. — Dy fez questão de responder divertido, gargalhando ao relembrar os segundos anteriores e escutar os xingamentos ao longe.
— Eu ainda não entendi o que o Dylan tá fazendo aqui. — comentou com a irmã, ignorando a presença do garoto no comentário apenas por pirraça. Estavam em melhor estado depois do banho, almoço e de ter tomado alguns remédios para amenizarem a ressaca, ainda que se sentisse cansada devido à hora em que foram dormir.
— Nem eu. Na verdade, eu acho que ele foi contratado pela nossa mãe para vir fazer o papel dela hoje aqui. — respondeu no mesmo tom, olhando debochada para o amigo ao escutar a risada dele.
— Não seria má ideia vir botar vocês na linha as vezes. — ele deu de ombros divertido. — Mas para o azar de vocês não foi por esse motivo, eu só estava no tédio e vim ver se vocês não queriam fazer alguma coisa, sem contar que eu precisava saber o que tinha acontecido ontem no encontro da . E ainda bem que vim, vocês nem esperaram minha presença pra falar pra .
— O assunto acabou surgindo quando a gente acordou ela de madruga e obrigou ela a conversar com a gente, aí ela disse que só ficaria e acordaria outros amigos nossos se antes a gente falasse o que tinha acontecido. — se defendeu antes que ele voltasse a brigar. Havia relatado tudo, minutos atrás, após terem terminado de almoçar e organizar a cozinha para a avó.
Ela se lembrava de ter feito as mesmas piadas sobre sua queda e de só ter parado porque havia ficado animada em reunir o antigo grupo novamente em conversa, se esquecendo até do sono que sentia. A ideia havia partido da primogênita, que convenceu aos outros dois amigos do Brasil que era sim uma ótima hora para colocarem o assunto em dia, mesmo que à distância. As gêmeas junto com , Gabriel e Matheus eram o grupo de amigos inseparáveis da escola e da vida. Porém, após a viagem haviam perdido mais o contato com os garotos e só na noite passada puderam reviver a alegria e energia que tinham juntos, tirando os longos minutos que ficaram xingando as irmãs por terem decidido socializar às quatro da manhã.
— Vou perdoar só porque vocês salvaram o meu dia ao desfilarem na minha frente com aquela cara acabada de pós ressaca. — Dy gargalhou ao lembrar da cena, ignorando o rolar de olhos das duas.
— Quem tem que perdoar alguém aqui somos nós a você, que acabou com nosso descanso. — deu um tapa leve em seu ombro, voltando a sentar no chão. Estavam os três no jardim do quintal da casa das gêmeas, Dylan e no banquinho e estendida na grama à frente.
— Vocês escutaram esse som? — ele perguntou, fazendo sinal para que as duas se calassem, sobrando apenas um bipe baixo no ar.
— É meu celular! — a caçula só então lembrou que estava com o aparelho no bolso desde o almoço, quando ele havia finalmente terminado de carregar, já que com a bagunça e lerdeza na madrugada tinha se esquecido de colocar. — Nossa, tá cheio de mensagem aqui.
— Aaaaaaa! Olha se tem alguma do João Paulo! — a primogênita levantou animada, se apoiando nos joelhos da irmã para tentar ver a tela do aparelho, mas levando um tapa no braço.
— Sai daqui, deixa que eu olho.
— João Paulo é o tal cara dos comentários de ontem? — Dy lembrou da história que elas haviam contado antes.
— Ele mesmo. E sim, ele respondeu e não foi pouco. — prendeu uma risada ao ver a sequência de mensagens dele, perguntando sobre ela e tentando iniciar uma conversa até que percebeu que ela não estava mais online, desejando apenas boa noite. — Coitado, acho que ele pensou que eu estava zoando com a cara dele.
— Eu falei pra você não deixar ele no vácuo! Responde agora pedindo desculpas e deixa de ser mal-educada. — cutucou sua perna com o pé em repetição.
— Para com isso, eu já tô respondendo!
— Vocês são insuportáveis, é toda hora uma brigando com a outra. — o garoto rolou os olhos, se jogando deitado na grama ao lado de .
— Quem disse que a gente tá brigando? Isso é só demonstração de carinho. — mandou uma piscadela, voltando a atenção para o celular e terminando de responder João antes de abrir as outras mensagens. — Olha só, a outra é do . Ele tá me cobrando informações sobre a .
— Ele conhece ela? — a olhou confusa.
— Não, mas eu falei pra ele que tinha uma amiga que era a cara metade dele e que eles precisavam se conhecer. Afinal, convenhamos que os dois dariam certinhos um com o outro.
— Super concordo! Conheço ela menos que vocês mas acho o jeito doido de pensar muito parecido com o dele também.
— O Dy tem razão. — apoiou a cabeça no peito do amigo, podendo observar melhor a irmã. Levantando de supetão segundos depois. — JÁ SEI!
— Que susto, ! — a irmã levou a mão ao peito, assustada com o grito repentino.
— Deixa de ser fresca. — ela alfinetou antes de explicar o que havia pensado. — Chama ele pra cá agora e diz que vamos resolver isso. Aí a gente faz uma vídeo chamada com a e bota os dois pra conversarem.
— Ela não vai ficar com muita vergonha e com vontade de matar vocês não? — ele perguntou em tom óbvio.
— Sim, por isso é perfeito. — concordou com a irmã, deixando os dedos vagarem pela tela em uma nova mensagem. — Tá na hora de fazer o plano de ataque versão dois.
Capítulo 14
sentiu o vento fresco bater em suas pernas ao sair do carro, arrumando o vestido solto que usava. Passou na frente do automóvel e entrelaçou o braço com do amigo, entrando juntos na lanchonete que estava cheia para a festa de inauguração. O ambiente era muito jovem, cheio de cores alegres e música ambiente animada, além disso sua decoração um pouco retrô dava maior aconchego ao local.
— Consegue achar algum conhecido? — Dylan perguntou enquanto vagavam pelo ambiente, tentando encontrar os amigos em alguma das mesas. O garoto havia sido sua salvação na noite, pois conseguira o carro do pai emprestado e a dera uma carona, evitando que fizesse o caminho a pé sozinha. estava com desde cedo e provavelmente tinha chegado junto com ele.
— Ali! — apontou para a mesa mais próxima do palco improvisado. A irmã estava sentada lá junto com Karol.
Os dois se aproximaram, costurando entre as demais mesas e pessoas, e ocuparam duas das outras cadeiras. A mesa era consideravelmente grande e tinha uma plaquinha de reserva em cima.
— Estamos chiques assim? — Dy fez graça após todos se cumprimentarem, apontando para a placa.
— Isso aí é por causa dos meninos, o dono fez questão de reservar o lugar para eles aproveitarem depois do show. Aí como não somos menos importantes, eles contaram com nossa presença na mesa também. — deu uma piscadela divertida, empurrando a irmã pelo ombro para chamar sua atenção. — Achei que não ia vir mais, vocês demoraram.
— Culpa do Dy que demorou horas pra arrumar o cabelo. — apontou para o amigo, que rolou os olhos e deu de ombros.
— Pelo menos valeu a pena, fiquei gato.
— Seu ego me sufoca as vezes. — ela retrucou, desviando de um tapa no braço entre risadas. — Mas cadê as estrelas da noite?
— Vocês chegaram bem em cima da hora, eles já estão se preparando para entrar. O show deve começar a qualquer momento. — Karol finalmente se pronunciou, apontando para o palco onde um homem bem vestido se aproximava do microfone. — Não falei?
— Boa noite, pessoal! — o homem tinha a voz grave e conseguiu calar a pequena multidão em poucos segundos. Parecia estar bastante nervoso, pois não parava de mexer nas mãos um segundo enquanto falava, ainda que o sorriso em seu rosto fosse grande. — É com muita felicidade que dou as boas-vindas a todos ao novo local de diversão, conversa e muita comida boa da cidade. Esta é a noite de inauguração da minha, mas também de vocês, lanchonete Delood! — palmas e assobios preencheram o local, além de alguns gritinhos dos mais animados. — E, para dar início oficialmente à essa festa e animar nossa noite, convido ao palco a banda McFly!
As pessoas gritaram animadas, batendo palmas e assobiando alto com a presença dos garotos no palco. Grande maioria dos presentes na lanchonete eram estudantes de sua escola e reconheceram a banda. Os demais se deixavam levar pela animação geral. viu logo de primeira entrar animado e se posicionar, ele sorria com a energia do local e desviou o olhar por alguns segundos à mesa, lançando um aceno para eles. parecia mais nervoso do que nas outras apresentações que havia assistido, ele não se movimentava tanto e tinha um sorriso congelado no rosto. fez questão de mandar um beijo para assim que se posicionou com o instrumento, antes de puxar o toque inicial da música.
Ela reconheceu a melodia de Get Over You e cantou baixinho em companhia a eles, havia aprendido grande parte das músicas após assistir a algumas apresentações e ensaios. O público começou a levantar e dançar ao som da música, deixando que a animação falasse mais alto. também se levantou, puxando , Dy e até Karol para dançarem juntos. Ela queria aproveitar a noite e tentar esquecer por alguns segundos o real motivo de estar ali. Não havia se esquecido um minuto sequer do que havia falado ao convidá-la e pensar em silêncio em qual seria o porquê para ele querer tanto sua presença a fazia se corroer em curiosidade e ansiedade. Ainda que estivesse seguindo a própria decisão de tentar superar o sentimento e toda a confusão em sua cabeça, não podia negar que aquele pequeno gesto a estava atrapalhando e desviando seus pensamentos para outro rumo.
Escutou a música ser finalizada e ir até o microfone, agora com a expressão mais tranquila e o sorriso no rosto mais animado e menos assustador que antes.
— Boa noite, galera! Estamos muito felizes com o convite para estar aqui, esperamos que vocês gostem do show e aproveitem como estão fazendo. Vamos fazer dessa noite uma das melhores para ficar eternizada na Delood pelos próximos anos. A próxima é Five Colours In Her Hair. — ele finalizou antes de gritos mais altos invadirem o ambiente, provavelmente por ser a música mais conhecida no McFly, afinal já haviam apresentado ela na escola muitas vezes.
A energia era contagiante e cada vez mais o público da lanchonete aumentava. Garçons e garçonetes passavam com sacrifício entre as pessoas para servir bebidas e aperitivos, além disso sorvete de graça era distribuído no balcão principal. sentia o calor aumentar no ambiente e aproveitou para ir pegar o sorvete enquanto os garotos faziam uma pausa para beber água entre a terceira e quarta música da noite. Escutou os acordes de That Girl começarem quando ainda estava na fila e bufou irritada ao ver que a maioria das pessoas parecia ter tido a mesma ideia que ela naquele minuto.
Quando finalmente conseguiu seu pequeno pote de sorvete, sentiu um arrepio na espinha ao escutar seu nome sendo chamado naquela voz rouca no microfone. Pediu licença entre pisadas nos pés e empurrões para chegar ao seu lugar, podendo ver posicionado em frete ao pedestal a procurando com o olhar. Fez um sinal tímido com a mão, sentindo dezenas de olhares sobre si, inclusive os curiosos da irmã e dos amigos.
— Aí está você! — retomou a fala, ignorando alguns burburinhos das pessoas que se dispersavam com o fim da música. Ele puxou um banquinho alto e se sentou, posicionando melhor o microfone e afastando os fios suados do rosto antes de continuar. — Queria pedir a atenção de vocês e especialmente dessa garota aqui na frente. Sei que a energia aqui tá alta, mas a música que vamos tocar agora é um pouco mais calma. Há alguns dias eu recebi um presente muito especial e finalmente vou poder retribuí-lo. , muito obrigado e é com muito carinho que dedico pra você. Essa se chama Something New.
(N/A: Coloque para tocar essa música )
sentia o coração batendo nos ouvidos, as mãos suavam ao redor do copinho de sorvete e não conseguia desgrudar os olhos arregalados do garoto. Sabia que estava sendo observada pelos outros, mas sua atenção não saía daqueles olhos . O toque sutil do violão iniciou o acústico agradável, harmonizando perfeitamente com a voz aveludada de .
It's just another sunrise on another day
(É apenas mais um nascer do sol, em outro dia)
Just another rainbow, well they're all the same
(Só mais um arco-íris, bem, eles são todos iguais)
Let me guess, a sunset followed by the moon
(Deixe-me adivinhar o pôr do sol, seguido pela lua)
I think I'm ready for something new
(Eu acho que estou pronto para algo novo)
It's just another love song about another girl
(É apenas mais uma canção de amor sobre outra menina)
Just another movie where they save the world
(É apenas mais um filme onde eles salvam o mundo)
And every rollercoaster does a looptyloop
(Cada montanha-russa faz um looptyloop)
I guess I'm ready for something new
(Eu acho que estou pronto para algo novo)
O escutar cantando o que era originalmente seus sentimentos e pensamentos era uma das sensações mais estranhas e maravilhosas que havia sentido. Não pôde ignorar inclusive o aperto em seu coração ao notar o novo verso sobre alguma garota. Os dois mantinham uma ligação de olhares que nem mesmo a concentração de em não errar uma nota atrapalhava.
I'm not saying life is boring just predictable sometimes
(Não estou dizendo que a vida é chata, algumas vezes ela é previsível)
When you know the end of every other line is gonna rhyme
(Quando você sabe que o final de cada linha vai rimar)
After every eight you're always gonna find a nine
(Após cada oito estamos sempre a encontrar um nove)
February second will be cold outside
(Fevereiro será frio lá fora)
I predict a summer that isn't very long
(Eu prevejo um verão que não é muito longo)
Then before you know it, we're singing christmas songs
(Então, antes que você perceba, estamos cantando canções natalinas)
Then we get another april, may, and june
(Então, temos outro Abril, Maio e Junho)
I think I'm ready for something new
(Eu acho que estou pronto para algo novo)
Era incrível o que ele havia feito com a música, a cada verso tinha mais certeza de que aquele havia sido o melhor presente que já tinha dado a alguém. Agora, com a música pronta e tocando em seus ouvidos, não poderia a imaginar de forma melhor. O sorriso em seu rosto estava provavelmente assustador à vista dos demais, extremamente grande e feliz, acompanhando o sorriso de lado de .
I'm not saying life is boring cause it's beautiful sometimes
(Não estou dizendo que a vida é chata, porque as vezes ela é bonita)
Like the feeling when you're falling, it's like walking on the sky
(Como o sentimento quando se está caindo, é como andar sobre o céu)
There will come a morning you won't open up your eyes
(Haverá uma manhã que você não abrirá seus olhos)
But it's what you do until that day arrives
(Mas é o que você faz até esse dia chegar)
You wanna touch a mountain or taste a waterfall
(Você quer tocar uma montanha ou saborear uma cachoeira)
You only have to see one, then you've seen them all
(Você só tem que ver um, então você verá todos)
I'm gonna bet tomorrow that the sky is blue
(Vou apostar amanhã que o céu é azul)
I guess I'm ready
(Suponho que estou pronto)
I think I'm ready
(Acho que estou pronto)
I hope I'm ready
(Espero que eu esteja pronto)
For something new
(Para algo novo)
Não conteve uma risada ao ver a solução encontrada por ele para sua indecisão pelos últimos versos, largando o copo com o que havia restado de sorvete derretido na mesa e aplaudindo com força e gritando alto junto com o público ao final da canção. Seu coração se embaralhava em sentimentos e sua mente travava uma luta interna com pensamentos sobre o que havia acabado de acontecer e tudo que tinha pensado e decidido dias antes sobre não pressionar a mesma porta. Respirou fundo e se sentou, não aguentando as pernas trêmulas enquanto escutava ao fundo o McFly anunciar a última música. Desviou o olhar por alguns segundos até e soube. Podia não ter certeza de muitas coisas, mas naquele momento tinha certeza de que estava terrivelmente ferrada.
— Estou conseguindo ver a fumaça saindo da sua cabeça. — sussurrou, se aproximando da irmã. Dylan fez o mesmo do outro lado.
— Eu ainda estou completamente impactado com aquilo. Parecia que vocês dois estavam dentro de uma bolha só de vocês, ele não desviou o olhar nenhum minuto, todo mundo conseguia ver.
— Até a Karol? — arregalou os olhos levemente, abaixando o tom de voz.
— Não sei se ela chegou a perceber alguma coisa especificamente em você, mas ela com certeza notou a energia de vocês dois, mas não pareceu se importar ou interpretar da nossa maneira. Ela agiu do mesmo jeito em todo o show.
— Você ficou olhando pra ela o show todo? — o observou sem entender.
— Não posso fazer nada se ela ficou exatamente no caminho entre meus olhos e um ruivo maravilhoso da outra mesa. — ele respondeu debochado, fazendo as amigas revirarem os olhos divertidas.
— Pausa na minha crise apenas para dizer que você é muito descarado. — comentou, recebendo um empurrão no ombro do amigo, voltando ao assunto enquanto brincava com a colherzinha do seu sorvete. — Eu não sei o que pensar direito sobre isso, mas parece que meu coração vai explodir.
— Não sei, . Eu fiquei bem chocada na hora e pensei inclusive que a gente podia estar errada quando vi a sintonia de vocês, mas ainda pode ser apenas uma dedicatória para uma amiga e nada mais. — deu de ombros, tão confusa quanto a irmã para interpretar o que havia acontecido.
— Mas também pode ser que ele tenha caído na real e percebido finalmente os sinais de que vocês são o par perfeito.
— Vai com calma, Dy. — bufou baixo, se nem seus conselheiros sabiam o que pensar imagine ela.
— Quem vai ter que ter calma é você, baby. Agora é a hora da verdade.
Ele a cutucou em baixo da mesa, fazendo sinal para que ela olhasse para cima. levantou o olhar, encontrando os amigos vindo em direção à mesa. Eles conversavam animados entre si, cumprimentando algumas pessoas que os paravam para parabenizar pelo show, era notável a alegria em seus rostos. Se aproximaram e ocuparam as cadeiras restantes na mesa. logo fez questão de sentar ao lado de e a puxar para um beijo animado que fez todos gritarem piadinhas e jogarem bolinhas de guardanapos. não parava de dizer que estava tão animado que poderia vomitar, fazendo e Dylan se afastarem rapidamente de sua cadeira. Só então percebeu que não estava entre eles, muito menos ao lado de Karoline. Sentiu uma mão pousar em seu ombro e desviou o olhar, encontrando o amigo em pé ao seu lado.
Suas bochechas estavam levemente vermelhas e o cabelo suado, mas mesmo assim ele ainda estava incrivelmente lindo, principalmente devido à expressão tímida e as mãos escondidas nos bolsos.
— E então, gostou? — não esperou que ela levantasse ou o cumprimentasse para fazer a pergunta que parecia estar martelando em sua mente.
— Você realmente tem dúvidas sobre isso? — retrucou após o dar um abraço demorado, ignorando os resmungos do garoto sobre estar todo suado. Ela não ligava, muito menos quando ainda podia sentir o perfume dele tão próximo. — Você me pegou totalmente de surpresa e eu ainda tô em choque.
— A primeira vez que o McFly apresentasse essa música não poderia não ter a sua presença e eu não podia deixar de dedicar ela pra você, afinal você é a grande responsável por ela. — ele deu de ombros, sorrindo inocente, sem saber que sua resposta havia ocasionado uma fisgada no estômago da garota e uma chuva de pensamentos de "então foi só por isso?".
— Muito obrigada, de verdade! Essa música não poderia ter parado em mãos melhores, ficou tudo lindo. — ela engoliu o bolo que se formou em sua garganta, ignorando a gritaria em sua mente e sorrindo agradecida. — Nunca vou me arrepender de ter te entregado ela.
— Quem agradece sou eu, . — ele depositou um beijo em sua bochecha antes de atender aos chamados dos amigos e ir se sentar à mesa, ao lado de Karol.
A caçula se sentiu extremamente tola por deixar que uma parte sua se enganasse mais uma vez ao imaginar que aquela porta pudesse estar se abrindo minimamente. A porta estava fechada e trancada à sete chaves provavelmente.
João Paulo: ainda está em aula?
: sim! Em uma incrivelmente chata por sinal.
João Paulo: e existe alguma que não seja chata? Ainda bem que já passei por essa fase.
— Tá conversando com a ? — a interrompeu de supetão, fazendo-a se assustar e deixar o celular cair. Por sorte o professor estava muito distraído em preencher o quadro completamente com anotações.
— Que susto, ! — o deu um tapa leve no braço após pegar o aparelho de volta, retomando a digitação no celular e esquecendo de responder o amigo por um momento, mas se virando para ele com um sorriso malicioso no rosto depois. — Por que você quer saber? Tá afim de mandar um beijo pra ela?
— Não seria má ideia. — ele subiu as sobrancelhas rapidamente, lançando um sorriso de lado e se entregando às risadas depois junto com a amiga.
A verdade é que, desde que as gêmeas haviam colocado os dois para conversarem na internet eles haviam ficado próximos, assim como esperava. passou muito tempo reclamando por ter pego ela de surpresa e ter colocado eles pra conversarem logo quando ela tava descabelada e com cara de sono e que nunca perdoaria as amigas por terem feito ela passar vergonha na frente do cara mais bonito e legal que ela já tinha visto. É claro que ela esqueceu tudo isso depois que pegou seu telefone e passaram a conversar melhor. A garota falava inclusive sobre ir morar com elas ou das amigas o arrastarem para o Brasil. Ele havia achado a ideia ótima.
— É uma pena então, porque estou conversando é com o JP.
— Você ainda tá de papo com esse cara? — deixou a expressão de alegria de lado, se mostrando mais sério do que o normal.
— Sim e essa cara tem nome, e é João Paulo. — bufou baixo, voltando à conversa no celular.
Havia contado sobre o garoto para os amigos quando começaram a ficar mais próximos e conversar com mais frequência, mas todos desde o início, com exceção de — nem tanto, já que ela parecia cada vez mais se deixar levar pela opinião da maioria, pois dizia que achava que seria tudo uma brincadeira — falavam sobre ele ser um impostor ou estuprador disfarçado, que ela não devia conversar sobre sua vida com um desconhecido e todos esses papos de "pai". estava cansada das mesmas reclamações e da insistência dos amigos, sendo que falara que não pararia de conversar com João Paulo.
O garoto estava se mostrando cada vez mais uma ótima pessoa e companhia, mesmo que apenas à distância. Uma distância não tão grande, na verdade, após alguns dias de conversa havia descoberto que ele era brasileiro mas morava em Carmel-by-the-Sea, uma cidade a alguns quilômetros de São Francisco, há três anos — desde que o pai havia aposentado e procurava um lugar melhor para descanso com a família. Ele havia se mudado para Califórnia quando tinha apenas dez anos. Essa coincidência em não estarem tão longes tinha sido um dos motivos apresentados pelos amigos para o julgarem como perigoso e mentiroso, mas antes mesmo João Paulo falara que havia encontrado o canal devido ao compartilhamento de pessoas presentes em suas redes sociais que moravam em São Francisco, chamando a sua atenção ao ver que as protagonistas dos vídeos eram na verdade brasileiras.
— Não precisa ficar brava, só estou preocupado, . — amenizou o tom de voz, se aproximando mais da amiga. Ele havia aproveitado a falta de , que estava doente, para ocupar seu lugar como parceiro de laboratório da caçula e se livrar de seu parceiro chato.
— Eu sei, mas eu falei que não precisa. — ela suspirou, deixando o aparelho de lado para juntar os materiais e se virar para o garoto. O sinal para o intervalo havia tocado e estavam todos saindo da sala. — , eu sei quando estou correndo perigo, e não é esse o caso. Eu só quero manter uma amizade que gosto sem que todo mundo fique apedrejando ou brigando comigo a todo momento. Acredita em mim, ele é legal.
— Está bem. — ele passou um braço por seus ombros, a guiando pela multidão e indo em direção à mesa em que o resto dos amigos estavam. — Só me prometa que se você ver que esse João Paulo tá agindo estranho você vai me falar.
— Poder deixar. — ela revirou os olhos, sem conter um sorriso divertido por ter convencido pelo menos uma pessoa.
— E também que você não irá me trocar por JP nenhum. — afinou a voz ao falar o apelido do garoto, arrancando uma risada da amiga, mas se mantendo sério no pedido. Eles chamaram a atenção dos outros amigos, mas continuaram conversando.
— Não se preocupe, seu lugar no meu coração tá super bem guardado. — gargalhou com a cara convencida do amigo, o abraçando de lado.
— Conseguiram sobreviver à mais uma aula no laboratório? — Karol perguntou aos dois divertidas, segurando na mão do namorado, que tinha o braço passado em seus ombros. Sim, namorado.
Fazia pouco mais de um mês que estava namorando com a garota, o pedido havia acontecido exatamente uma semana após a inauguração da Delood. A surpresa de não tinha sido tão grande, afinal não esquecera as confissões do amigo no dia que saíram, mas não podia negar que a queda que seu coração sofrera não foi pequena. Mesmo tantos dias depois ela ainda sentia um aperto no peito ao ver os dois juntos, mas aprendia a cada dia a controlar seu sentimento e, principalmente, suas expressões quando estavam no mesmo ambiente.
— Com muito sacrifício sim, mas eu sofri mais que a . Ela passou a aula toda no celular. — acusou a amiga, lançando um olhar semicerrado para ela.
— Não vou confirmar que não sofri, mas também não nego a segunda acusação. — ela retrucou divertida, dando de ombros. — O importante é que a aula acabou e que ninguém provavelmente vai estudar pra prova de sexta pensando no jogo de sábado. Então, basta eu me esforçar um pouquinho e terei a melhor nota da turma.
— Tu é muito maquiavélica mesmo, viu?! Nem se preocupa com os amigos. — Dy balançou a cabeça em negação, fingindo estar desapontado.
— Ta falando isso só porque não vai poder fazer o mesmo. Ninguém deixa de estudar pra prova de matemática do Hubens, sendo antes de jogo ou até antes da vinda do Papa. — alfinetou, gargalhando ao ver o garoto responder com o dedo do meio.
— Eu acho que vou ser uma das pessoas que vai ser passado pela . Parece que quanto mais eu estudo menos eu sei, então vou parar de me dar o trabalho de ainda parar pra ler esses livros. — bufou contrariado, rolando os olhos ao ouvir as risadas dos amigos.
— Foca no jogo de sábado e em todas as líderes de torcida e se anima, amigo. — brincou, lançando uma piscadela divertida.
— E você foca aqui ó. — Karol fingiu estar brava, fazendo sinal de que estava de olho no namorado.
— Vou seguir seu conselho mesmo, . Por mais que quem eu queira de verdade esteja tão longe. — lançou um olhar significativo para , ela sabia o que ele queria dizer.
— Calma, , sua hora vai chegar e ela vai trazer a junto. — a caçula o abraçou de lado, voltando a zoar o garoto junto com Dylan, que sabia da nova relação dos dois.
podia não ter o amor correspondido que tanto queria, mas se sentia extremamente feliz por ter por perto amigos que a fazia tão bem. Era em momentos simples como aquele, de risada e brincadeiras, que ela ficava grata por aquele intercâmbio e pelo acaso que havia cruzado seus caminhos.
— Consegue achar algum conhecido? — Dylan perguntou enquanto vagavam pelo ambiente, tentando encontrar os amigos em alguma das mesas. O garoto havia sido sua salvação na noite, pois conseguira o carro do pai emprestado e a dera uma carona, evitando que fizesse o caminho a pé sozinha. estava com desde cedo e provavelmente tinha chegado junto com ele.
— Ali! — apontou para a mesa mais próxima do palco improvisado. A irmã estava sentada lá junto com Karol.
Os dois se aproximaram, costurando entre as demais mesas e pessoas, e ocuparam duas das outras cadeiras. A mesa era consideravelmente grande e tinha uma plaquinha de reserva em cima.
— Estamos chiques assim? — Dy fez graça após todos se cumprimentarem, apontando para a placa.
— Isso aí é por causa dos meninos, o dono fez questão de reservar o lugar para eles aproveitarem depois do show. Aí como não somos menos importantes, eles contaram com nossa presença na mesa também. — deu uma piscadela divertida, empurrando a irmã pelo ombro para chamar sua atenção. — Achei que não ia vir mais, vocês demoraram.
— Culpa do Dy que demorou horas pra arrumar o cabelo. — apontou para o amigo, que rolou os olhos e deu de ombros.
— Pelo menos valeu a pena, fiquei gato.
— Seu ego me sufoca as vezes. — ela retrucou, desviando de um tapa no braço entre risadas. — Mas cadê as estrelas da noite?
— Vocês chegaram bem em cima da hora, eles já estão se preparando para entrar. O show deve começar a qualquer momento. — Karol finalmente se pronunciou, apontando para o palco onde um homem bem vestido se aproximava do microfone. — Não falei?
— Boa noite, pessoal! — o homem tinha a voz grave e conseguiu calar a pequena multidão em poucos segundos. Parecia estar bastante nervoso, pois não parava de mexer nas mãos um segundo enquanto falava, ainda que o sorriso em seu rosto fosse grande. — É com muita felicidade que dou as boas-vindas a todos ao novo local de diversão, conversa e muita comida boa da cidade. Esta é a noite de inauguração da minha, mas também de vocês, lanchonete Delood! — palmas e assobios preencheram o local, além de alguns gritinhos dos mais animados. — E, para dar início oficialmente à essa festa e animar nossa noite, convido ao palco a banda McFly!
As pessoas gritaram animadas, batendo palmas e assobiando alto com a presença dos garotos no palco. Grande maioria dos presentes na lanchonete eram estudantes de sua escola e reconheceram a banda. Os demais se deixavam levar pela animação geral. viu logo de primeira entrar animado e se posicionar, ele sorria com a energia do local e desviou o olhar por alguns segundos à mesa, lançando um aceno para eles. parecia mais nervoso do que nas outras apresentações que havia assistido, ele não se movimentava tanto e tinha um sorriso congelado no rosto. fez questão de mandar um beijo para assim que se posicionou com o instrumento, antes de puxar o toque inicial da música.
Ela reconheceu a melodia de Get Over You e cantou baixinho em companhia a eles, havia aprendido grande parte das músicas após assistir a algumas apresentações e ensaios. O público começou a levantar e dançar ao som da música, deixando que a animação falasse mais alto. também se levantou, puxando , Dy e até Karol para dançarem juntos. Ela queria aproveitar a noite e tentar esquecer por alguns segundos o real motivo de estar ali. Não havia se esquecido um minuto sequer do que havia falado ao convidá-la e pensar em silêncio em qual seria o porquê para ele querer tanto sua presença a fazia se corroer em curiosidade e ansiedade. Ainda que estivesse seguindo a própria decisão de tentar superar o sentimento e toda a confusão em sua cabeça, não podia negar que aquele pequeno gesto a estava atrapalhando e desviando seus pensamentos para outro rumo.
Escutou a música ser finalizada e ir até o microfone, agora com a expressão mais tranquila e o sorriso no rosto mais animado e menos assustador que antes.
— Boa noite, galera! Estamos muito felizes com o convite para estar aqui, esperamos que vocês gostem do show e aproveitem como estão fazendo. Vamos fazer dessa noite uma das melhores para ficar eternizada na Delood pelos próximos anos. A próxima é Five Colours In Her Hair. — ele finalizou antes de gritos mais altos invadirem o ambiente, provavelmente por ser a música mais conhecida no McFly, afinal já haviam apresentado ela na escola muitas vezes.
A energia era contagiante e cada vez mais o público da lanchonete aumentava. Garçons e garçonetes passavam com sacrifício entre as pessoas para servir bebidas e aperitivos, além disso sorvete de graça era distribuído no balcão principal. sentia o calor aumentar no ambiente e aproveitou para ir pegar o sorvete enquanto os garotos faziam uma pausa para beber água entre a terceira e quarta música da noite. Escutou os acordes de That Girl começarem quando ainda estava na fila e bufou irritada ao ver que a maioria das pessoas parecia ter tido a mesma ideia que ela naquele minuto.
Quando finalmente conseguiu seu pequeno pote de sorvete, sentiu um arrepio na espinha ao escutar seu nome sendo chamado naquela voz rouca no microfone. Pediu licença entre pisadas nos pés e empurrões para chegar ao seu lugar, podendo ver posicionado em frete ao pedestal a procurando com o olhar. Fez um sinal tímido com a mão, sentindo dezenas de olhares sobre si, inclusive os curiosos da irmã e dos amigos.
— Aí está você! — retomou a fala, ignorando alguns burburinhos das pessoas que se dispersavam com o fim da música. Ele puxou um banquinho alto e se sentou, posicionando melhor o microfone e afastando os fios suados do rosto antes de continuar. — Queria pedir a atenção de vocês e especialmente dessa garota aqui na frente. Sei que a energia aqui tá alta, mas a música que vamos tocar agora é um pouco mais calma. Há alguns dias eu recebi um presente muito especial e finalmente vou poder retribuí-lo. , muito obrigado e é com muito carinho que dedico pra você. Essa se chama Something New.
(N/A: Coloque para tocar essa música )
sentia o coração batendo nos ouvidos, as mãos suavam ao redor do copinho de sorvete e não conseguia desgrudar os olhos arregalados do garoto. Sabia que estava sendo observada pelos outros, mas sua atenção não saía daqueles olhos . O toque sutil do violão iniciou o acústico agradável, harmonizando perfeitamente com a voz aveludada de .
(É apenas mais um nascer do sol, em outro dia)
Just another rainbow, well they're all the same
(Só mais um arco-íris, bem, eles são todos iguais)
Let me guess, a sunset followed by the moon
(Deixe-me adivinhar o pôr do sol, seguido pela lua)
I think I'm ready for something new
(Eu acho que estou pronto para algo novo)
It's just another love song about another girl
(É apenas mais uma canção de amor sobre outra menina)
Just another movie where they save the world
(É apenas mais um filme onde eles salvam o mundo)
And every rollercoaster does a looptyloop
(Cada montanha-russa faz um looptyloop)
I guess I'm ready for something new
(Eu acho que estou pronto para algo novo)
O escutar cantando o que era originalmente seus sentimentos e pensamentos era uma das sensações mais estranhas e maravilhosas que havia sentido. Não pôde ignorar inclusive o aperto em seu coração ao notar o novo verso sobre alguma garota. Os dois mantinham uma ligação de olhares que nem mesmo a concentração de em não errar uma nota atrapalhava.
(Não estou dizendo que a vida é chata, algumas vezes ela é previsível)
When you know the end of every other line is gonna rhyme
(Quando você sabe que o final de cada linha vai rimar)
After every eight you're always gonna find a nine
(Após cada oito estamos sempre a encontrar um nove)
February second will be cold outside
(Fevereiro será frio lá fora)
I predict a summer that isn't very long
(Eu prevejo um verão que não é muito longo)
Then before you know it, we're singing christmas songs
(Então, antes que você perceba, estamos cantando canções natalinas)
Then we get another april, may, and june
(Então, temos outro Abril, Maio e Junho)
I think I'm ready for something new
(Eu acho que estou pronto para algo novo)
Era incrível o que ele havia feito com a música, a cada verso tinha mais certeza de que aquele havia sido o melhor presente que já tinha dado a alguém. Agora, com a música pronta e tocando em seus ouvidos, não poderia a imaginar de forma melhor. O sorriso em seu rosto estava provavelmente assustador à vista dos demais, extremamente grande e feliz, acompanhando o sorriso de lado de .
(Não estou dizendo que a vida é chata, porque as vezes ela é bonita)
Like the feeling when you're falling, it's like walking on the sky
(Como o sentimento quando se está caindo, é como andar sobre o céu)
There will come a morning you won't open up your eyes
(Haverá uma manhã que você não abrirá seus olhos)
But it's what you do until that day arrives
(Mas é o que você faz até esse dia chegar)
You wanna touch a mountain or taste a waterfall
(Você quer tocar uma montanha ou saborear uma cachoeira)
You only have to see one, then you've seen them all
(Você só tem que ver um, então você verá todos)
I'm gonna bet tomorrow that the sky is blue
(Vou apostar amanhã que o céu é azul)
I guess I'm ready
(Suponho que estou pronto)
I think I'm ready
(Acho que estou pronto)
I hope I'm ready
(Espero que eu esteja pronto)
For something new
(Para algo novo)
Não conteve uma risada ao ver a solução encontrada por ele para sua indecisão pelos últimos versos, largando o copo com o que havia restado de sorvete derretido na mesa e aplaudindo com força e gritando alto junto com o público ao final da canção. Seu coração se embaralhava em sentimentos e sua mente travava uma luta interna com pensamentos sobre o que havia acabado de acontecer e tudo que tinha pensado e decidido dias antes sobre não pressionar a mesma porta. Respirou fundo e se sentou, não aguentando as pernas trêmulas enquanto escutava ao fundo o McFly anunciar a última música. Desviou o olhar por alguns segundos até e soube. Podia não ter certeza de muitas coisas, mas naquele momento tinha certeza de que estava terrivelmente ferrada.
— Estou conseguindo ver a fumaça saindo da sua cabeça. — sussurrou, se aproximando da irmã. Dylan fez o mesmo do outro lado.
— Eu ainda estou completamente impactado com aquilo. Parecia que vocês dois estavam dentro de uma bolha só de vocês, ele não desviou o olhar nenhum minuto, todo mundo conseguia ver.
— Até a Karol? — arregalou os olhos levemente, abaixando o tom de voz.
— Não sei se ela chegou a perceber alguma coisa especificamente em você, mas ela com certeza notou a energia de vocês dois, mas não pareceu se importar ou interpretar da nossa maneira. Ela agiu do mesmo jeito em todo o show.
— Você ficou olhando pra ela o show todo? — o observou sem entender.
— Não posso fazer nada se ela ficou exatamente no caminho entre meus olhos e um ruivo maravilhoso da outra mesa. — ele respondeu debochado, fazendo as amigas revirarem os olhos divertidas.
— Pausa na minha crise apenas para dizer que você é muito descarado. — comentou, recebendo um empurrão no ombro do amigo, voltando ao assunto enquanto brincava com a colherzinha do seu sorvete. — Eu não sei o que pensar direito sobre isso, mas parece que meu coração vai explodir.
— Não sei, . Eu fiquei bem chocada na hora e pensei inclusive que a gente podia estar errada quando vi a sintonia de vocês, mas ainda pode ser apenas uma dedicatória para uma amiga e nada mais. — deu de ombros, tão confusa quanto a irmã para interpretar o que havia acontecido.
— Mas também pode ser que ele tenha caído na real e percebido finalmente os sinais de que vocês são o par perfeito.
— Vai com calma, Dy. — bufou baixo, se nem seus conselheiros sabiam o que pensar imagine ela.
— Quem vai ter que ter calma é você, baby. Agora é a hora da verdade.
Ele a cutucou em baixo da mesa, fazendo sinal para que ela olhasse para cima. levantou o olhar, encontrando os amigos vindo em direção à mesa. Eles conversavam animados entre si, cumprimentando algumas pessoas que os paravam para parabenizar pelo show, era notável a alegria em seus rostos. Se aproximaram e ocuparam as cadeiras restantes na mesa. logo fez questão de sentar ao lado de e a puxar para um beijo animado que fez todos gritarem piadinhas e jogarem bolinhas de guardanapos. não parava de dizer que estava tão animado que poderia vomitar, fazendo e Dylan se afastarem rapidamente de sua cadeira. Só então percebeu que não estava entre eles, muito menos ao lado de Karoline. Sentiu uma mão pousar em seu ombro e desviou o olhar, encontrando o amigo em pé ao seu lado.
Suas bochechas estavam levemente vermelhas e o cabelo suado, mas mesmo assim ele ainda estava incrivelmente lindo, principalmente devido à expressão tímida e as mãos escondidas nos bolsos.
— E então, gostou? — não esperou que ela levantasse ou o cumprimentasse para fazer a pergunta que parecia estar martelando em sua mente.
— Você realmente tem dúvidas sobre isso? — retrucou após o dar um abraço demorado, ignorando os resmungos do garoto sobre estar todo suado. Ela não ligava, muito menos quando ainda podia sentir o perfume dele tão próximo. — Você me pegou totalmente de surpresa e eu ainda tô em choque.
— A primeira vez que o McFly apresentasse essa música não poderia não ter a sua presença e eu não podia deixar de dedicar ela pra você, afinal você é a grande responsável por ela. — ele deu de ombros, sorrindo inocente, sem saber que sua resposta havia ocasionado uma fisgada no estômago da garota e uma chuva de pensamentos de "então foi só por isso?".
— Muito obrigada, de verdade! Essa música não poderia ter parado em mãos melhores, ficou tudo lindo. — ela engoliu o bolo que se formou em sua garganta, ignorando a gritaria em sua mente e sorrindo agradecida. — Nunca vou me arrepender de ter te entregado ela.
— Quem agradece sou eu, . — ele depositou um beijo em sua bochecha antes de atender aos chamados dos amigos e ir se sentar à mesa, ao lado de Karol.
A caçula se sentiu extremamente tola por deixar que uma parte sua se enganasse mais uma vez ao imaginar que aquela porta pudesse estar se abrindo minimamente. A porta estava fechada e trancada à sete chaves provavelmente.
João Paulo: ainda está em aula?
: sim! Em uma incrivelmente chata por sinal.
João Paulo: e existe alguma que não seja chata? Ainda bem que já passei por essa fase.
— Tá conversando com a ? — a interrompeu de supetão, fazendo-a se assustar e deixar o celular cair. Por sorte o professor estava muito distraído em preencher o quadro completamente com anotações.
— Que susto, ! — o deu um tapa leve no braço após pegar o aparelho de volta, retomando a digitação no celular e esquecendo de responder o amigo por um momento, mas se virando para ele com um sorriso malicioso no rosto depois. — Por que você quer saber? Tá afim de mandar um beijo pra ela?
— Não seria má ideia. — ele subiu as sobrancelhas rapidamente, lançando um sorriso de lado e se entregando às risadas depois junto com a amiga.
A verdade é que, desde que as gêmeas haviam colocado os dois para conversarem na internet eles haviam ficado próximos, assim como esperava. passou muito tempo reclamando por ter pego ela de surpresa e ter colocado eles pra conversarem logo quando ela tava descabelada e com cara de sono e que nunca perdoaria as amigas por terem feito ela passar vergonha na frente do cara mais bonito e legal que ela já tinha visto. É claro que ela esqueceu tudo isso depois que pegou seu telefone e passaram a conversar melhor. A garota falava inclusive sobre ir morar com elas ou das amigas o arrastarem para o Brasil. Ele havia achado a ideia ótima.
— É uma pena então, porque estou conversando é com o JP.
— Você ainda tá de papo com esse cara? — deixou a expressão de alegria de lado, se mostrando mais sério do que o normal.
— Sim e essa cara tem nome, e é João Paulo. — bufou baixo, voltando à conversa no celular.
Havia contado sobre o garoto para os amigos quando começaram a ficar mais próximos e conversar com mais frequência, mas todos desde o início, com exceção de — nem tanto, já que ela parecia cada vez mais se deixar levar pela opinião da maioria, pois dizia que achava que seria tudo uma brincadeira — falavam sobre ele ser um impostor ou estuprador disfarçado, que ela não devia conversar sobre sua vida com um desconhecido e todos esses papos de "pai". estava cansada das mesmas reclamações e da insistência dos amigos, sendo que falara que não pararia de conversar com João Paulo.
O garoto estava se mostrando cada vez mais uma ótima pessoa e companhia, mesmo que apenas à distância. Uma distância não tão grande, na verdade, após alguns dias de conversa havia descoberto que ele era brasileiro mas morava em Carmel-by-the-Sea, uma cidade a alguns quilômetros de São Francisco, há três anos — desde que o pai havia aposentado e procurava um lugar melhor para descanso com a família. Ele havia se mudado para Califórnia quando tinha apenas dez anos. Essa coincidência em não estarem tão longes tinha sido um dos motivos apresentados pelos amigos para o julgarem como perigoso e mentiroso, mas antes mesmo João Paulo falara que havia encontrado o canal devido ao compartilhamento de pessoas presentes em suas redes sociais que moravam em São Francisco, chamando a sua atenção ao ver que as protagonistas dos vídeos eram na verdade brasileiras.
— Não precisa ficar brava, só estou preocupado, . — amenizou o tom de voz, se aproximando mais da amiga. Ele havia aproveitado a falta de , que estava doente, para ocupar seu lugar como parceiro de laboratório da caçula e se livrar de seu parceiro chato.
— Eu sei, mas eu falei que não precisa. — ela suspirou, deixando o aparelho de lado para juntar os materiais e se virar para o garoto. O sinal para o intervalo havia tocado e estavam todos saindo da sala. — , eu sei quando estou correndo perigo, e não é esse o caso. Eu só quero manter uma amizade que gosto sem que todo mundo fique apedrejando ou brigando comigo a todo momento. Acredita em mim, ele é legal.
— Está bem. — ele passou um braço por seus ombros, a guiando pela multidão e indo em direção à mesa em que o resto dos amigos estavam. — Só me prometa que se você ver que esse João Paulo tá agindo estranho você vai me falar.
— Poder deixar. — ela revirou os olhos, sem conter um sorriso divertido por ter convencido pelo menos uma pessoa.
— E também que você não irá me trocar por JP nenhum. — afinou a voz ao falar o apelido do garoto, arrancando uma risada da amiga, mas se mantendo sério no pedido. Eles chamaram a atenção dos outros amigos, mas continuaram conversando.
— Não se preocupe, seu lugar no meu coração tá super bem guardado. — gargalhou com a cara convencida do amigo, o abraçando de lado.
— Conseguiram sobreviver à mais uma aula no laboratório? — Karol perguntou aos dois divertidas, segurando na mão do namorado, que tinha o braço passado em seus ombros. Sim, namorado.
Fazia pouco mais de um mês que estava namorando com a garota, o pedido havia acontecido exatamente uma semana após a inauguração da Delood. A surpresa de não tinha sido tão grande, afinal não esquecera as confissões do amigo no dia que saíram, mas não podia negar que a queda que seu coração sofrera não foi pequena. Mesmo tantos dias depois ela ainda sentia um aperto no peito ao ver os dois juntos, mas aprendia a cada dia a controlar seu sentimento e, principalmente, suas expressões quando estavam no mesmo ambiente.
— Com muito sacrifício sim, mas eu sofri mais que a . Ela passou a aula toda no celular. — acusou a amiga, lançando um olhar semicerrado para ela.
— Não vou confirmar que não sofri, mas também não nego a segunda acusação. — ela retrucou divertida, dando de ombros. — O importante é que a aula acabou e que ninguém provavelmente vai estudar pra prova de sexta pensando no jogo de sábado. Então, basta eu me esforçar um pouquinho e terei a melhor nota da turma.
— Tu é muito maquiavélica mesmo, viu?! Nem se preocupa com os amigos. — Dy balançou a cabeça em negação, fingindo estar desapontado.
— Ta falando isso só porque não vai poder fazer o mesmo. Ninguém deixa de estudar pra prova de matemática do Hubens, sendo antes de jogo ou até antes da vinda do Papa. — alfinetou, gargalhando ao ver o garoto responder com o dedo do meio.
— Eu acho que vou ser uma das pessoas que vai ser passado pela . Parece que quanto mais eu estudo menos eu sei, então vou parar de me dar o trabalho de ainda parar pra ler esses livros. — bufou contrariado, rolando os olhos ao ouvir as risadas dos amigos.
— Foca no jogo de sábado e em todas as líderes de torcida e se anima, amigo. — brincou, lançando uma piscadela divertida.
— E você foca aqui ó. — Karol fingiu estar brava, fazendo sinal de que estava de olho no namorado.
— Vou seguir seu conselho mesmo, . Por mais que quem eu queira de verdade esteja tão longe. — lançou um olhar significativo para , ela sabia o que ele queria dizer.
— Calma, , sua hora vai chegar e ela vai trazer a junto. — a caçula o abraçou de lado, voltando a zoar o garoto junto com Dylan, que sabia da nova relação dos dois.
podia não ter o amor correspondido que tanto queria, mas se sentia extremamente feliz por ter por perto amigos que a fazia tão bem. Era em momentos simples como aquele, de risada e brincadeiras, que ela ficava grata por aquele intercâmbio e pelo acaso que havia cruzado seus caminhos.
Capítulo 15
O ginásio estava abarrotado de gente. Finalmente o campeonato de basquete das escolas iria começar e logo com o clássico mais aguardado de todos. The Tigers contra Red Falcons, o último sendo os donos da casa. As arquibancadas se dividiam em massas amarelas e vermelhas. Havia gente andando e conversando por todo o canto, até mesmo alguns pais e adoradores do jogo se aventuravam naquele caldeirão de jovens inquietos. A energia da competição pairava no ar aumentando consideravelmente a ansiedade de todos. Aquela era uma das épocas mais aguardadas pelos alunos, era um dos únicos momentos em que as diferenças ficavam de lado e todos se uniam para gritar pelo seu time.
Havia gente vagando pelas escadas, procurando por companheiros, conversando, comendo e alguns mais espertos faziam apostas sobre o resultado do jogo. se sentia extremamente contagiada pela animação das pessoas ao seu redor, ainda que não fosse muito próxima de esportes. Não contente em já estar vestindo uma blusa vermelha, fez questão de deixar que e Dylan fizessem marcas com tinta da mesma cor em suas bochechas, assim como todos eles estavam, e conseguiu de último momento a bandeirinha com o desenho do falcão vermelho.
Ainda esperando pelo início do jogo, pôde ver a irmã andando de um lado para o outro na beira da quadra, o nervosismo da primeira apresentação como líder de torcida estampado em seu rosto. soltou uma risada fraca ao ver que a gêmea percebeu sua encarada e não se preocupou em disfarçar o dedo do meio esticado, claramente entendendo que ela ria de sua situação. A sintonia das duas permitia que com um simples olhar pudessem compreender os pensamentos uma da outra. E naquele caso, sabia que a caçula agradecia por não estar no seu lugar e se divertia em vê-la nervosa, já que era algo que acontecia poucas vezes.
— Eu não aguento mais esperar! — reclamou pela terceira vez em poucos minutos. De longe era o mais animado de todos. Vestia a camisa do time e era um dos que tentava puxar algum grito de torcida toda hora.
— Eu também não, mas se você não parar com isso vou socar essa pipoca toda na sua boca. — Karol revirou os olhos cansada da ladainha do namorado, arrancando alguns risos e frases de apoio dos demais. Ela era igualmente fanática pelo basquete e fizera questão de arrastar todos bem cedo para o ginásio, apenas para garantir que ficariam no melhor lugar.
— A tá com uma cara de quem vai desmaiar. — Dylan comentou após ver a amiga começar a se aquecer. — O podia ter vindo pra acalmar ela com uns beijos antes, né?
— Ele teve que ajudar o pai na loja hoje. — defendeu o amigo, entrando na conversa após se sentir desconfortável com os beijos de e Karol ao seu lado. Praguejava por ter se sentado logo no lugar da "vela" do casal.
— Não se preocupem, ela fica nervosa só de início. Quando chegar a hora mesmo ela se concentra e se entrega tanto que fica difícil de acreditar que estava prestes a morrer momentos antes. — explicou aos dois, experiente no assunto, e enchendo a boca de pipoca para segurar o xingamento ao ver o casal indesejado descontando a ansiedade nos lábios uns dos outros. Ainda se remoía por dentro a cada vez que os via de carícias, mas preferia se convencer de que se importava menos diariamente.
— E porque o não veio? — Dy alongou a conversa, querendo distrair a amiga ao perceber por onde seus olhos tinham passado.
— Na verdade, ele disse que ia vir. Só deve estar atrasado como sempre. — deu de ombros, passando a procurar o companheiro de banda por entre as pessoas que chegavam.
deixou de prestar atenção nas piadas e suposições dos amigos sobre o atraso de ao sentir o celular vibrar em seu bolso. Puxou o aparelho e abriu a nova mensagem de JP.
"Bom dia, ! Sei que está no jogo, mas não esqueça de me mandar a foto que me prometeu porque sei que vou ganhar. Já estou na correria do emprego, mas assim que conseguir te ligo. XoxoJP"
Não conseguiu conter o sorriso no rosto ao ler a menção sobre a foto. Os dois passaram mais uma noite conversando e em algum momento a garota comentou sobre o jogo do dia seguinte. Ele, apenas por pirraça e brincadeira, apostara que o time adversário iria ganhar. Ela, mesmo sem conhecer o histórico do time de sua escola, entrou na onda e aceitou a aposta, jurando que os Red Falcons sairiam como vencedores. A decisão pelo prêmio havia sido sugerida no mesmo momento por João Paulo. O ganhador teria que enviar uma selfie para o outro. até insistiu em entender o porquê da sua escolha, mas ele apenas dizia que seria bom ver uma imagem da garota que não fosse aquelas mesmas da rede social. Sem ânimo para pensar em algo melhor e ciente de que não seria de todo mal ver mais alguma foto dele, ela concordou.
Voltou à realidade ao escutar o alvoroço das arquibancadas aumentar e perceber que o jogo iria começar, se apressou em guardar o aparelho no bolso, anotando mentalmente que responderia após a partida — não que sentisse que se esqueceria tão fácil de conversar com ele. Levantou do banco, acompanhando a torcida, e viu as apresentações e chamados dos times começar. Primeiro os adversários. Foram necessários poucos minutos para que os jogadores estivessem na quadra com suas expressões concentradas, se esforçando para ignorar as provocações dos colegas de escola de .
Finalmente começou a ser anunciando o time da casa. viu se encaminhar para o centro da quadra junto com as demais líderes de torcida e iniciarem uma coreografia bem ensaiada com jogadas de braço, saltos e muito chacoalhar de pompom. , assim como a irmã avisara antes, tinha a expressão confiante no rosto e não passava nem um pingo de nervosismo. Ela, inclusive, parecia mais segura que as demais novatas no momento da pirâmide humana. gritou alto o nome da primogênita e bateu palmas, digna de dar orgulho para a mãe que faria o mesmo em seu lugar no fim da apresentação. Os amigos entraram na onda e ajudaram a fazer a homenagem vergonhosa para , que desviou o olhar e preferiu fingir que não era a responsável por aquilo.
O time entrou em quadra, animando mais ainda a torcida. Os jogadores estavam mais felizes que os adversários e fizeram questão de aplaudir a energia da torcida, pedindo por mais gritos com gestos de mãos. E bem, não bastaram cinco segundos para que os alunos realizassem o pedido e a pressão sobre o outro time aumentasse. Poucos minutos depois, o juiz soou o apito e o a partida se iniciou.
— , desfaz essa cara brava. Pensa que pelo menos não foi uma derrota. — deu um peteleco em seu braço, chamando sua atenção para eles. O garoto parecia estar com a mente em outro lugar após tantos xingamentos e reclamações seguidas sobre o empate do jogo. Após uma decisão unânime, estavam todos na Delood para comerem e passarem um tempo juntos, já que a partida havia acabado cedo e ainda tinham tempo livre da manhã.
— Mesmo assim! Seria muito mais fácil começar o campeonato na frente do que ter que correr atrás depois. — ele bufou baixo, parecendo desistir de argumentar e passando a comer sua batata frita.
— Vamos mudar de assunto! — Dylan aumentou o tom de voz, conseguindo atrair os olhares de todos da mesa, dando um sorriso de lado e apontando para a primogênita. — Como o fato da ter ficado super gostosa com esse uniforme.
— Ei! Mais respeito, por favor! Assim fico com ciúmes. — fez um bico na boca, puxando a irmã mais para perto e a prendendo em um abraço.
— Achei que você namorava com o e não com a . — fez piada, ignorando a língua que a caçula o mandava.
— Na verdade, eu não namoro ninguém. — se defendeu, finalmente conseguindo se soltar dos braços da irmã e rolando os olhos ao ouvir as risadas dos amigos.
— O me parece bem comprometido. — alfinetou com um sorriso no rosto, mantendo o tom sincero em sua fala. — Eu, que o conheço há alguns anos, nunca vi ele desse jeito.
— O tem razão. — também se intrometeu.
— Achei que o assunto era minha gostosura. — tentou desviar do assunto ao ver que aprofundavam a conversa. De longe, aquele era o assunto que menos queria debater na roda de amigos.
— Apenas dê o braço a torcer e concorde que vocês dois parecem sim um casal de namorados. — insistiu, se divertindo com a falta de paciência da amiga.
— Nunca! — ela respondeu de pirraça, rolando os olhos e voltando sua atenção para a taça de milk shake.
— Nunca diga nunca! — entrou na conversa, largando o celular e tentando controlar a ansiedade de falar logo com João Paulo.
— Até tu, quenga? — reclamou, retomando ao português para usar o adjetivo carinhoso com a irmã.
— Do que você chamou ela? — Karol a encarou confusa, arrancando uma risada da garota.
— Ah, foi só um elogio.
— Quenga é você. — respondeu também em português, esticando o dedo do meio para a primogênita, arrancado alguns gritinhos dos amigos.
— Tá okay, já deu pra ver que elogio mesmo não foi. Ensina logo aí o que é. — Dylan pediu, sendo seguido pelos demais.
— Isso, ensina as palavras bonitas aí.
— Já pensou se elas estão é nos xingando e a gente aqui fazendo papel de bobo? — Bem que poderia, .
se perdeu na conversa bagunçada dos amigos ao sentir o celular vibrar em seu colo. O nome JP piscava na tela e a sua animação parecia ter aumentado consideravelmente ao ler. Se levantou da cadeira, ignorando alguns olhares dos amigos e se encaminhou para fora da lanchonete, se encostando na parede mais afastada longe do barulho. Deslizou o dedo na tela e aceitou a ligação.
— Alô? — ela escutou a voz masculina rouca do outro lado da linha falando em português, sentindo uma pequena fisgada no estômago.
— Olá, você! — respondeu a primeira coisa que lhe veio à mente, se sentindo tímida em estar falando pela primeira vez por telefone com o rapaz, normalmente só utilizavam mensagens de textos e no máximo alguns áudios.
— E então, está esperando o que para me mandar a foto? — ele também tinha a voz contida, mas se esforçava para se soltar, fazendo piada.
— Na verdade, nós dois estávamos enganados. Deu empate. — não conteve uma gargalhada ao escutar os resmungos falsamente exagerados de JP. — Ah, qual é? Você não perdeu lá muita coisa.
— Fale por você, senhorita. — João Paulo respondeu, restando um silêncio constrangedor por alguns segundos entre eles. Ele suspirou alto e voltou a falar. — Preciso dizer que estou frustrado, acho que merecemos um prêmio de consolação por esse empate.
— Tipo o que? — ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, focando o olhar em seu tênis.
— Tipo um encontro.
Ela sentiu a garganta se fechar levemente ao escutar a sugestão de João Paulo. Não podia negar que se divertia muito com ele, mas pensar em o encontrar pessoalmente ainda dava certo receio. Afinal, quantas histórias já havia escutado sobre casos como esse que não tinham acabado bem? Sem contar na pequena pulga que os amigos colocaram atrás de sua orelha. Era bem pequena, mas existia ainda que ignorasse.
— Não sei se é uma boa ideia ainda...
— Poxa, claro que é, . A gente já se fala há um bom tempo, não vejo a hora de poder te encontrar realmente. — JP contrapôs, amansando a voz ao perceber que a garota não relutava. — Por favor. De coração.
— Você tá jogando muito baixo.
— Que nada, é só um pedido sincero de um amigo que quer muito te conhecer e que vai ficar extremamente decepcionado caso não aconteça, mas tudo bem.
— Olha só, ainda diz que não é jogo baixo. — afinou a voz em falsa indignação, soltando uma risada ao escutar a gargalhada do outro lado, mas sendo interrompida por um chamado e uma cutucada em seu ombro. — Só um segundo, JP.
Se virou rapidamente, abaixando o celular com a entrada de voz tampada e encontrou parada atrás de si a encarando com o cenho franzido.
— O que foi? — perguntou inocente, mordendo o lábio ao ver a primogênita rolar os olhos e cruzar os braços.
— Vim ver se tinha acontecido algo, você saiu do nada da mesa. Mas pelo que pude ouvir já entendi que você tá aí perdendo tempo com aquele cara. — ela respondeu séria, bufando baixo quando a irmã apenas desviou o rosto rolando os olhos. Não seria sua cara feia que a impediria de falar dessa vez, não aguentava mais guardar para si o que achava daquilo tudo. — Olha, , sei que venho tentando te alertar aos poucos, mas já tá passando dos limites. Como você ainda tá falando com esse cara?
— Como assim, ? Você foi a primeira a me convencer a falar com ele, não venha com sermão para cima de mim agora. — argumentou em indignação, se aproximando mais da primogênita para não aumentar o tom de voz e correr o risco de ser ouvida do outro lado da ligação, ainda que estivesse tampando a entrada de voz com uma das mãos.
— Não jogue em mim a responsabilidade de você ser louca e ficar contando tudo da sua vida pra ele, o que aconteceu naqueles dias era para ser apenas uma brincadeira. Você escolheu levar isso pra frente. — ao contrário não se preocupou em manter o tom baixo, já elevando a voz ao ver que a caçula rebatia suas falas.
— Quem te garante que estou falando tudo pra ele? E mesmo assim, e se eu estiver? O problema é meu, o amigo é meu e você não tem nada que tá se metendo. — a caçula respondeu e algumas pessoas que passavam por ali já tinham suas atenções desviadas para a briga das duas.
— É claro que você tá, eu te conheço, . Meio mundo de palavras bonitas e você já tá se abrindo pra pessoa. Sem contar que você acha que é apenas um amigo, mas já para pensar no que ele acha? E não me venha com esse papo de menininha mimada, se eu tô falando é porque me preocupo e sei que esse seu principezinho aí pode ser na verdade alguém mal intencionado e que vai te fazer mal e que você está deixando.
— Menininha mimada? Quem você pensa que é pra tá falando assim comigo, ? Eu não te chamei momento nenhum, não pedi para se preocupar ou se meter nas minhas coisas. E digo mais, se você me conhecesse como fala saberia que essa amizade com o JP não vai me fazer mal, muito pelo contrário, está me ajudando muito mais do que você ou qualquer um que vem me perturbando com esse assunto o mês inteiro.
— Quer saber? Faz o que você quiser, . Mas se lembre desse momento e de que eu te avisei, porque eu vou torcer pra tudo acabar bem como você pensa, mas se eu estiver certa não adianta vir chorar pro meu lado depois. — cuspiu as palavras de uma vez com mágoa, ficando alguns minutos em silêncio parada em frente a gêmea, esperando por uma reação ou mais alguma resposta.
— Não vai acontecer. — sentiu um bolo se formar em sua garganta, mas ignorou e puxou o celular de volta à orelha, fazendo questão de encarar a irmã enquanto respondia o garoto. — Oi, JP. Eu topo encontrar com você, basta me falar o dia, local e horário e estarei lá.
fechou a cara, negando com a cabeça em silêncio antes de se afastar em passos largos, entrando na lanchonete e saindo segundos depois carregando sua bolsa. ainda conseguiu escutar João Paulo comemorar e prometer enviar a organização do encontro por mensagem antes de desligar. Sentia o peito apertar ao ver a irmã se afastando, a raiva de minutos antes se dissipando e restando apenas o medo das consequências daquela briga e do que poderia ou não acontecer.
Havia gente vagando pelas escadas, procurando por companheiros, conversando, comendo e alguns mais espertos faziam apostas sobre o resultado do jogo. se sentia extremamente contagiada pela animação das pessoas ao seu redor, ainda que não fosse muito próxima de esportes. Não contente em já estar vestindo uma blusa vermelha, fez questão de deixar que e Dylan fizessem marcas com tinta da mesma cor em suas bochechas, assim como todos eles estavam, e conseguiu de último momento a bandeirinha com o desenho do falcão vermelho.
Ainda esperando pelo início do jogo, pôde ver a irmã andando de um lado para o outro na beira da quadra, o nervosismo da primeira apresentação como líder de torcida estampado em seu rosto. soltou uma risada fraca ao ver que a gêmea percebeu sua encarada e não se preocupou em disfarçar o dedo do meio esticado, claramente entendendo que ela ria de sua situação. A sintonia das duas permitia que com um simples olhar pudessem compreender os pensamentos uma da outra. E naquele caso, sabia que a caçula agradecia por não estar no seu lugar e se divertia em vê-la nervosa, já que era algo que acontecia poucas vezes.
— Eu não aguento mais esperar! — reclamou pela terceira vez em poucos minutos. De longe era o mais animado de todos. Vestia a camisa do time e era um dos que tentava puxar algum grito de torcida toda hora.
— Eu também não, mas se você não parar com isso vou socar essa pipoca toda na sua boca. — Karol revirou os olhos cansada da ladainha do namorado, arrancando alguns risos e frases de apoio dos demais. Ela era igualmente fanática pelo basquete e fizera questão de arrastar todos bem cedo para o ginásio, apenas para garantir que ficariam no melhor lugar.
— A tá com uma cara de quem vai desmaiar. — Dylan comentou após ver a amiga começar a se aquecer. — O podia ter vindo pra acalmar ela com uns beijos antes, né?
— Ele teve que ajudar o pai na loja hoje. — defendeu o amigo, entrando na conversa após se sentir desconfortável com os beijos de e Karol ao seu lado. Praguejava por ter se sentado logo no lugar da "vela" do casal.
— Não se preocupem, ela fica nervosa só de início. Quando chegar a hora mesmo ela se concentra e se entrega tanto que fica difícil de acreditar que estava prestes a morrer momentos antes. — explicou aos dois, experiente no assunto, e enchendo a boca de pipoca para segurar o xingamento ao ver o casal indesejado descontando a ansiedade nos lábios uns dos outros. Ainda se remoía por dentro a cada vez que os via de carícias, mas preferia se convencer de que se importava menos diariamente.
— E porque o não veio? — Dy alongou a conversa, querendo distrair a amiga ao perceber por onde seus olhos tinham passado.
— Na verdade, ele disse que ia vir. Só deve estar atrasado como sempre. — deu de ombros, passando a procurar o companheiro de banda por entre as pessoas que chegavam.
deixou de prestar atenção nas piadas e suposições dos amigos sobre o atraso de ao sentir o celular vibrar em seu bolso. Puxou o aparelho e abriu a nova mensagem de JP.
Não conseguiu conter o sorriso no rosto ao ler a menção sobre a foto. Os dois passaram mais uma noite conversando e em algum momento a garota comentou sobre o jogo do dia seguinte. Ele, apenas por pirraça e brincadeira, apostara que o time adversário iria ganhar. Ela, mesmo sem conhecer o histórico do time de sua escola, entrou na onda e aceitou a aposta, jurando que os Red Falcons sairiam como vencedores. A decisão pelo prêmio havia sido sugerida no mesmo momento por João Paulo. O ganhador teria que enviar uma selfie para o outro. até insistiu em entender o porquê da sua escolha, mas ele apenas dizia que seria bom ver uma imagem da garota que não fosse aquelas mesmas da rede social. Sem ânimo para pensar em algo melhor e ciente de que não seria de todo mal ver mais alguma foto dele, ela concordou.
Voltou à realidade ao escutar o alvoroço das arquibancadas aumentar e perceber que o jogo iria começar, se apressou em guardar o aparelho no bolso, anotando mentalmente que responderia após a partida — não que sentisse que se esqueceria tão fácil de conversar com ele. Levantou do banco, acompanhando a torcida, e viu as apresentações e chamados dos times começar. Primeiro os adversários. Foram necessários poucos minutos para que os jogadores estivessem na quadra com suas expressões concentradas, se esforçando para ignorar as provocações dos colegas de escola de .
Finalmente começou a ser anunciando o time da casa. viu se encaminhar para o centro da quadra junto com as demais líderes de torcida e iniciarem uma coreografia bem ensaiada com jogadas de braço, saltos e muito chacoalhar de pompom. , assim como a irmã avisara antes, tinha a expressão confiante no rosto e não passava nem um pingo de nervosismo. Ela, inclusive, parecia mais segura que as demais novatas no momento da pirâmide humana. gritou alto o nome da primogênita e bateu palmas, digna de dar orgulho para a mãe que faria o mesmo em seu lugar no fim da apresentação. Os amigos entraram na onda e ajudaram a fazer a homenagem vergonhosa para , que desviou o olhar e preferiu fingir que não era a responsável por aquilo.
O time entrou em quadra, animando mais ainda a torcida. Os jogadores estavam mais felizes que os adversários e fizeram questão de aplaudir a energia da torcida, pedindo por mais gritos com gestos de mãos. E bem, não bastaram cinco segundos para que os alunos realizassem o pedido e a pressão sobre o outro time aumentasse. Poucos minutos depois, o juiz soou o apito e o a partida se iniciou.
— , desfaz essa cara brava. Pensa que pelo menos não foi uma derrota. — deu um peteleco em seu braço, chamando sua atenção para eles. O garoto parecia estar com a mente em outro lugar após tantos xingamentos e reclamações seguidas sobre o empate do jogo. Após uma decisão unânime, estavam todos na Delood para comerem e passarem um tempo juntos, já que a partida havia acabado cedo e ainda tinham tempo livre da manhã.
— Mesmo assim! Seria muito mais fácil começar o campeonato na frente do que ter que correr atrás depois. — ele bufou baixo, parecendo desistir de argumentar e passando a comer sua batata frita.
— Vamos mudar de assunto! — Dylan aumentou o tom de voz, conseguindo atrair os olhares de todos da mesa, dando um sorriso de lado e apontando para a primogênita. — Como o fato da ter ficado super gostosa com esse uniforme.
— Ei! Mais respeito, por favor! Assim fico com ciúmes. — fez um bico na boca, puxando a irmã mais para perto e a prendendo em um abraço.
— Achei que você namorava com o e não com a . — fez piada, ignorando a língua que a caçula o mandava.
— Na verdade, eu não namoro ninguém. — se defendeu, finalmente conseguindo se soltar dos braços da irmã e rolando os olhos ao ouvir as risadas dos amigos.
— O me parece bem comprometido. — alfinetou com um sorriso no rosto, mantendo o tom sincero em sua fala. — Eu, que o conheço há alguns anos, nunca vi ele desse jeito.
— O tem razão. — também se intrometeu.
— Achei que o assunto era minha gostosura. — tentou desviar do assunto ao ver que aprofundavam a conversa. De longe, aquele era o assunto que menos queria debater na roda de amigos.
— Apenas dê o braço a torcer e concorde que vocês dois parecem sim um casal de namorados. — insistiu, se divertindo com a falta de paciência da amiga.
— Nunca! — ela respondeu de pirraça, rolando os olhos e voltando sua atenção para a taça de milk shake.
— Nunca diga nunca! — entrou na conversa, largando o celular e tentando controlar a ansiedade de falar logo com João Paulo.
— Até tu, quenga? — reclamou, retomando ao português para usar o adjetivo carinhoso com a irmã.
— Do que você chamou ela? — Karol a encarou confusa, arrancando uma risada da garota.
— Ah, foi só um elogio.
— Quenga é você. — respondeu também em português, esticando o dedo do meio para a primogênita, arrancado alguns gritinhos dos amigos.
— Tá okay, já deu pra ver que elogio mesmo não foi. Ensina logo aí o que é. — Dylan pediu, sendo seguido pelos demais.
— Isso, ensina as palavras bonitas aí.
— Já pensou se elas estão é nos xingando e a gente aqui fazendo papel de bobo? — Bem que poderia, .
se perdeu na conversa bagunçada dos amigos ao sentir o celular vibrar em seu colo. O nome JP piscava na tela e a sua animação parecia ter aumentado consideravelmente ao ler. Se levantou da cadeira, ignorando alguns olhares dos amigos e se encaminhou para fora da lanchonete, se encostando na parede mais afastada longe do barulho. Deslizou o dedo na tela e aceitou a ligação.
— Alô? — ela escutou a voz masculina rouca do outro lado da linha falando em português, sentindo uma pequena fisgada no estômago.
— Olá, você! — respondeu a primeira coisa que lhe veio à mente, se sentindo tímida em estar falando pela primeira vez por telefone com o rapaz, normalmente só utilizavam mensagens de textos e no máximo alguns áudios.
— E então, está esperando o que para me mandar a foto? — ele também tinha a voz contida, mas se esforçava para se soltar, fazendo piada.
— Na verdade, nós dois estávamos enganados. Deu empate. — não conteve uma gargalhada ao escutar os resmungos falsamente exagerados de JP. — Ah, qual é? Você não perdeu lá muita coisa.
— Fale por você, senhorita. — João Paulo respondeu, restando um silêncio constrangedor por alguns segundos entre eles. Ele suspirou alto e voltou a falar. — Preciso dizer que estou frustrado, acho que merecemos um prêmio de consolação por esse empate.
— Tipo o que? — ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, focando o olhar em seu tênis.
— Tipo um encontro.
Ela sentiu a garganta se fechar levemente ao escutar a sugestão de João Paulo. Não podia negar que se divertia muito com ele, mas pensar em o encontrar pessoalmente ainda dava certo receio. Afinal, quantas histórias já havia escutado sobre casos como esse que não tinham acabado bem? Sem contar na pequena pulga que os amigos colocaram atrás de sua orelha. Era bem pequena, mas existia ainda que ignorasse.
— Não sei se é uma boa ideia ainda...
— Poxa, claro que é, . A gente já se fala há um bom tempo, não vejo a hora de poder te encontrar realmente. — JP contrapôs, amansando a voz ao perceber que a garota não relutava. — Por favor. De coração.
— Você tá jogando muito baixo.
— Que nada, é só um pedido sincero de um amigo que quer muito te conhecer e que vai ficar extremamente decepcionado caso não aconteça, mas tudo bem.
— Olha só, ainda diz que não é jogo baixo. — afinou a voz em falsa indignação, soltando uma risada ao escutar a gargalhada do outro lado, mas sendo interrompida por um chamado e uma cutucada em seu ombro. — Só um segundo, JP.
Se virou rapidamente, abaixando o celular com a entrada de voz tampada e encontrou parada atrás de si a encarando com o cenho franzido.
— O que foi? — perguntou inocente, mordendo o lábio ao ver a primogênita rolar os olhos e cruzar os braços.
— Vim ver se tinha acontecido algo, você saiu do nada da mesa. Mas pelo que pude ouvir já entendi que você tá aí perdendo tempo com aquele cara. — ela respondeu séria, bufando baixo quando a irmã apenas desviou o rosto rolando os olhos. Não seria sua cara feia que a impediria de falar dessa vez, não aguentava mais guardar para si o que achava daquilo tudo. — Olha, , sei que venho tentando te alertar aos poucos, mas já tá passando dos limites. Como você ainda tá falando com esse cara?
— Como assim, ? Você foi a primeira a me convencer a falar com ele, não venha com sermão para cima de mim agora. — argumentou em indignação, se aproximando mais da primogênita para não aumentar o tom de voz e correr o risco de ser ouvida do outro lado da ligação, ainda que estivesse tampando a entrada de voz com uma das mãos.
— Não jogue em mim a responsabilidade de você ser louca e ficar contando tudo da sua vida pra ele, o que aconteceu naqueles dias era para ser apenas uma brincadeira. Você escolheu levar isso pra frente. — ao contrário não se preocupou em manter o tom baixo, já elevando a voz ao ver que a caçula rebatia suas falas.
— Quem te garante que estou falando tudo pra ele? E mesmo assim, e se eu estiver? O problema é meu, o amigo é meu e você não tem nada que tá se metendo. — a caçula respondeu e algumas pessoas que passavam por ali já tinham suas atenções desviadas para a briga das duas.
— É claro que você tá, eu te conheço, . Meio mundo de palavras bonitas e você já tá se abrindo pra pessoa. Sem contar que você acha que é apenas um amigo, mas já para pensar no que ele acha? E não me venha com esse papo de menininha mimada, se eu tô falando é porque me preocupo e sei que esse seu principezinho aí pode ser na verdade alguém mal intencionado e que vai te fazer mal e que você está deixando.
— Menininha mimada? Quem você pensa que é pra tá falando assim comigo, ? Eu não te chamei momento nenhum, não pedi para se preocupar ou se meter nas minhas coisas. E digo mais, se você me conhecesse como fala saberia que essa amizade com o JP não vai me fazer mal, muito pelo contrário, está me ajudando muito mais do que você ou qualquer um que vem me perturbando com esse assunto o mês inteiro.
— Quer saber? Faz o que você quiser, . Mas se lembre desse momento e de que eu te avisei, porque eu vou torcer pra tudo acabar bem como você pensa, mas se eu estiver certa não adianta vir chorar pro meu lado depois. — cuspiu as palavras de uma vez com mágoa, ficando alguns minutos em silêncio parada em frente a gêmea, esperando por uma reação ou mais alguma resposta.
— Não vai acontecer. — sentiu um bolo se formar em sua garganta, mas ignorou e puxou o celular de volta à orelha, fazendo questão de encarar a irmã enquanto respondia o garoto. — Oi, JP. Eu topo encontrar com você, basta me falar o dia, local e horário e estarei lá.
fechou a cara, negando com a cabeça em silêncio antes de se afastar em passos largos, entrando na lanchonete e saindo segundos depois carregando sua bolsa. ainda conseguiu escutar João Paulo comemorar e prometer enviar a organização do encontro por mensagem antes de desligar. Sentia o peito apertar ao ver a irmã se afastando, a raiva de minutos antes se dissipando e restando apenas o medo das consequências daquela briga e do que poderia ou não acontecer.
Capítulo 16
Respirou fundo mais uma vez, passando as mãos pela calça jeans em uma tentativa fracassada de esquentá-las. O coração batia tão forte que podia sentir a vibração em todo o corpo. Não devia estar tão nervosa, mas a mistura de timidez do primeiro encontro com o amigo, o medo do inesperado e a pressão psicológica que e os amigos haviam feito não deixava outra saída senão a deixar à beira de um colapso. Por falar nos últimos, a situação não era das melhores.
Desde o dia do jogo, quase duas semanas antes, as gêmeas não se falavam ou sequer aguentavam ficar na presença uma da outra, a barreira de orgulho e mágoa estremecendo a cada dia que passava. Isso só piorava tudo, havia se arrependido da briga horas depois e sentia o peso no coração aumentando sempre que a via distante ou se pegava desejando estarem próximas para compartilhar algum comentário ou fofoca. A primogênita não parecia estar diferente, vez ou outra a pegava a encarando ou abrindo e fechando a boca rapidamente como se tivesse que controlar alguma fala. Ela inclusive procurava passar menos tempo em casa, participando de todos os ensaios extras das líderes de torcida ou simplesmente saindo porta a fora para algum lugar fora de seu conhecimento. A avó ficava dividida entre as duas, sem de fato saber o motivo de tudo aquilo.
Nem mesmo a relação com os amigos estava boa, todos perceberam de imediato o desentendimento das duas. De início, tentaram amenizar a situação ou não se intrometer, mas depois de tanto clima ruim na mesa do refeitório eles simplesmente desistiram e fizeram várias tentativas de uni-las novamente ou pelo menos trocar alguma palavra. Não deu certo. A solução encontrada foi passar a ignorá-las sempre que o clima pesava, mas mesmo sem tomar partido sabia que eles só não estavam da mesma maneira que porque não se viam no direito, mas ainda escutou boas reclamações e puxões de orelha quando souberam o motivo da briga.
Agora ela estava ali, sozinha em um táxi a caminho de um restaurante distante do centro prestes a encontrar João Paulo. O rapaz havia feito a viagem até São Francisco no dia anterior apenas para se conhecerem. até tentou argumentar e o convencer a adiar para quando ele tivesse realmente alguma outra coisa para fazer na cidade. Entretanto, JP fez questão de deixar claro que não era esforço nenhum para ele e que não aceitava mais mudar a data.
Sentiu a respiração normalizando ao sair do carro e ver que o ambiente era tranquilo e com várias pessoas, não se sentiria sozinha — pelo menos não fisicamente. Checou o relógio uma última vez apenas para confirmar que não estava atrasada. Atravessou a rua e se informou com o recepcionista sobre a reserva no nome de João Paulo, assim como ele havia pedido que fizesse. Foi guiada para dentro do restaurante, podendo perceber a decoração rústica do ambiente. O recepcionista apontou para a mesa mais distante onde um rapaz estava sentado de costas e se distanciou. chegou a sentir as pernas darem um leve tremor antes de caminhar em direção à mesa.
— Espero não estar atrasada. — falou quando já estava ao lado do rapaz apenas para iniciar a conversa, ciente que estava bem pontual, o que indicava que ele havia chegado ainda mais cedo.
— De maneira alguma! — João Paulo levantou sorridente, retomando o costume brasileiro e depositando dois beijos em sua bochecha antes de se sentarem um de frente ao outro. — Confesso que estava ansioso demais para aguentar esperar no hotel até o horário.
sorriu amarelo, se sentindo extremamente tímida e sem saber o que falar. A sensação era de que estavam acabando de se conhecer, ainda que já tivessem conversado como amigos de longa data e pudesse reconhecer algumas características físicas. O cabelo castanho só estava pouco mais claro do que nas fotos, diferente de seus olhos que eram igualmente azuis claros. Além disso, sua barba estava maior e seu sorriso finalmente aparecera, bem bonito, diga-se de passagem, já que em seus perfis estava sempre sério.
Ela conseguiu perceber que ele também estava nervoso, mexendo nas mãos em cima da mesa e desviando o olhar para o ambiente. Sua mente maquinava em trabalhar os detalhes e tentar perceber algo de suspeito no rapaz que dava razão aos alertas de seus amigos e irmã, mas tudo parecia perfeitamente normal.
— Isso é muito estranho. A gente tá parecendo dois desconhecidos, sendo que já nos falamos por meses. — João Paulo soltou em uma risada fraca, quebrando o gelo entre os dois e relaxando os ombros ao ver que a amiga soltava o ar e concordava com a cabeça.
— Ainda bem que não era só eu que estava pensando nisso. — ela confessou entre uma risada fraca antes de caírem novamente no silêncio. Coçou a garganta e resolveu tentar agir naturalmente. — Já conhecia esse restaurante?
— Sim, vim algumas vezes nas minhas visitas aqui para São Francisco, nunca me decepcionou então espero que te agrade também.
— O ambiente é bem legal. — observou a decoração ao seu redor, sentindo o olhar do rapaz em si.
— Como está sua irmã? Ainda sem falar com você? — ele entrou no assunto, cruzando os braços na mesa e a encarando com atenção.
— Sim... Tá meio difícil. — foi sincera, mas se sentiu desconfortável com o olhar do rapaz, como se tentasse ler além de sua expressão ou até mesmo mostrasse que conseguiria ver a verdade por trás de suas palavras caso necessário. Passou a mão pela nuca, sorrindo fraco e desviando a atenção para a toalha da mesa.
— Uma hora as coisas vão se acertar, . — João Paulo abriu um sorriso após usar o apelido, querendo amenizar o peso da conversa que havia se instalado por alguns segundos.
— Eu espero, mas vamos falar de coisa boa. Afinal, finalmente nos conhecemos, JP. — também usou o apelido, tentando aproximar a conversa ao nível de conforto e leveza do contato por celular. Apoiou o cotovelo na mesa, descansando o rosto na mão e consequentemente ficando um pouco mais próxima do rapaz.
— Sim, depois de você correr de mim por mais de um mês. — fez piada com um tom de sinceridade, a encarando sugestivamente em um sorriso torto.
— Ah, não seja mau! Não estava fugindo de você, apenas esperando o tempo certo.
— Certo, vou fingir que não. — a encarou divertido antes de fazer a sugestão. — O que acha de fazermos o pedido logo?
— É uma ótima ideia.
— Alguém me explica de novo porque tivemos que vir socados em um único carro porque eu ainda não estou convencido. — tentava empurrar de seu colo, se sentindo altamente desconfortável por estar naquele carro com outras sete pessoas quando a capacidade claramente não era essa.
— A já explicou mil vezes que é pra gente passar mais despercebido. — Dylan rolou os olhos, também empurrando , que a cada vez caía mais para o seu lado. Haviam pego o carro de para seguir o táxi de e encontrar o lugar onde iria.
— Acho que a gente devia ter deixado o em casa então porque essa bunda grande dele só tá atrapalhando, e pela cara dele acho que tá prestes a peidar. — entrou na onda, só não o empurrando também para o lado de Dylan porque Karol em seu colo dificultava grandes movimentos.
— , se você peidar eu vou...
— CALA A BOCAAAA! Tá todo mundo apertado então para de me culpar, se tiver achando ruim vai embora. E eu não vou peidar, todo mundo sabe que quem fica soltando aquelas bufas fedidas é o e não eu. — o garoto interrompeu emburrado, sem controlar o que falava e arrancando risadas de todos, menos de .
— Sorte sua que está no meio do banco, . Caso contrário te jogava pela janela agora mesmo. — retrucou, fechando a expressão e ameaçando estapear o amigo.
— Gente, agora é sério. — Karol chamou a atenção de todos ao perceber que batucava nas pernas no banco da frente, séria e sem prestar muita atenção na bagunça que faziam. — Vocês têm certeza de que a entrou lá?
A garota apontou para o restaurante do outro lado da praça pela janela do carro.
— Sim, eu vi quando ela saiu do táxi e foi pra lá. — respondeu séria, soltando um suspiro longo depois. — Olha, não é obrigação de nenhum de vocês estarem aqui, nem mesmo minha depois da briga que tivemos.
— , a é nossa amiga e sua irmã, é claro que é nossa obrigação estarmos aqui cuidando dela mesmo quando na verdade a maioria só quer bater na cabeça dela. E claro que na obrigação não estava incluído ficar parcialmente sem ar durante todas as horas, mas a gente aguenta. — esticou a mão o quanto conseguia, o que consequentemente apertou entre ele e o banco, e passou levemente pelo ombro da amiga.
— Certo. Então está na hora do plano. — ela soltou uma risada ao se virar no banco e observar a situação dos cinco atrás, sorte a dela e de que haviam corrido para garantir os lugares da frente.
— E qual é? — Dylan se apoiou na porta e ficou de lado para conseguir ver todos, ou pelo menos os que não estavam sendo sufocados por outros.
— Ahn...Não sei. — sorriu amarelo, recebendo uma série de bufadas e xingamentos de volta. — Calma aí, cambada! Vamos pensar agora.
— E se a gente entrar lá, se sentar em uma mesa atrás deles, nos escondermos atrás dos cardápios e caso ele faça algo, VRÁ! Pulamos em cima dele. — sorria abobado com a sugestão, realmente acreditando no potencial de seu plano.
— Para de ser burro, cara! — chamou sua atenção, dando um pedala em sua cabeça. — Vai que os cardápios são pequenos e não nos tampe totalmente?
— Sério que esse foi o único problema que você viu? — o encarou com tédio, rolando os olhos com os demais do carro quando ele a olhou sem entender.
— Você tá ferrada com um namorado desses, ! — brincou, aproveitando que tinha Karol a sua frente para a proteger dos tapas da amiga.
— Não somos namorados! — e responderam simultaneamente, fazendo todos lançarem olhares duvidosos para eles.
— Tá okay, gente. Vamos focar. — Karol chamou a atenção, afastando as mechas de cabelo de seu rosto, empurrava para a frente sem querer. — Temos que levar em consideração que podemos estar errados e esse cara ser uma boa pessoa, então o plano tem que contar com uma parte de desistência, para que nem a , nem o tal cara percebam que estamos ou estivemos aqui.
— Concordo! Acho mais fácil a gente se esconder em algum lugar aqui por fora e esperar eles saírem pra ver o que acontece. É só a gente ficar parcialmente perto, assim conseguimos ver tudo e agir caso precise. — Dylan completou o plano, gesticulando para a praça ao lado do carro.
— Acho que podemos nos dividir. Um grupo fica atrás daquele carro lá de um lado do restaurante. Outro fica naquela banca de revista do outro lado. E alguma dupla fica aqui atrás desse chafariz. — sugeriu, indicando os lugares.
— E a gente pode se comunicar pelo celular. Fazemos ligações entre nós para que os três grupos se mantenham em contato. Assim, a gente consegue agir juntos. — finalizou, vendo todos concordarem em acenos.
— Cara, estou me sentindo em uma missão impossível. — esfregou as mãos, sorrindo grande e sendo de longe o mais animado de todos.
— Está decidido então. Vamos fazer as divisões e nos espalhar, eles podem demorar horas pra sair, mas também podem sair daqui a poucos minutos. — apressou todos, começando a se separarem e saírem do carro.
— Eu não acredito que você acordou o cara! — tinha lágrimas no canto dos olhos de tanto rir.
— É claro que sim! Ele tava quase babando no meu ombro e ainda tínhamos uma hora de viagem. — João Paulo se defendeu, acompanhando a garota nas risadas.
Os dois já haviam se alimentado e provado da sobremesa, estando agora apenas conversando e contando histórias esquisitas de suas vidas. O desconforto havia ido embora e eles falavam naturalmente, melhor ainda do que quando estavam apenas nas mensagens. se sentia feliz por ter cedido e o encontrado pessoalmente, também com uma pontinha de orgulho apitando por conseguir provar - mesmo que só para si por enquanto - que estava certa sobre JP. Ele era exatamente como falara, educado, simpático e engraçado.
— Quer comer mais alguma coisa? — ele questionou após o garçom retirar os pratos.
— Está doido? Você pediu um mundo de comida, JP! — riu, arregalando os olhos em tom de piada.
— Okay, posso ter exagerado um pouquinho. — rolou os olhos com um sorriso de lado. Conferiu as horas no celular e o guardou no bolso. — O que acha de darmos uma volta lá fora? Tem uma praça legal.
— Vamos! Preciso andar pra não morrer sufocada depois de tanta comida.
— Vocês estão vendo eles? Câmbio desligo. — brincava com o telefone na chamada com .
— , isso não é um walk talk, para com essa merda de câmbio. — Dylan deu um pedala em sua cabeça.
— Ain, grosso. — o mais novo reclamou, voltando o celular para a orelha e escutando os resmungos de . — Que que é?
— O tá falando aqui que a e o cara estão saindo do restaurante. — informou também em uma ligação no celular.
Eles haviam se dividido da forma de que , Dylan e ficassem juntos, escondidos na banca de revista, e atrás do chafariz, bem na reta da entrada do restaurante, e e Karol espremidos atrás de algumas árvores da praça. Fizeram as ligações nos celulares e estavam se comunicando por elas, ou pelo menos tentando.
— Estou conseguindo ver. A está com ele mesmo. — Dylan confirmou, observando os dois ao longe por cima de uma revista qualquer que segurava.
— , eles vão passar por vocês agora, se mantenham bem escondidos. — informou sério no celular, ignorando o rolar de olhos de .
— , eu não sei se a gente deve agir, pelo menos daqui eles parecem estar se dando bem. — respondeu ao amigo pelo telefone.
— , você tá me deixando sem ar desse jeito. — Karol tirou o celular do ouvido para reclamar com o namorado, que a empurrava cada vez mais contra a árvore para conseguir acompanhar e João Paulo que passavam por eles sem que percebessem.
— Desculpe. — ele sussurrou, se afastando ao que os outros dois se distanciaram.
— Oi, . — ela voltou à ligação sem muita paciência, agora conseguindo observar os dois ao longe. e O-Cara-Da-Internet haviam se sentado em um banco à frente do chafariz, o mesmo o qual o outro casal se escondia do outro lado. — Não dá pra ver muito bem daqui por causa das pessoas, mas parecem que eles estão se dando bem. Talvez estivéssemos errados.
— , dá pra parar de palhaçada? Ou você fala comigo ou conversa com os caras aí, os dois ao mesmo tempo eu não entendo nada. — revirou os olhos, perdendo a paciência com a bagunça que o amigo fazia na ligação. — Certo, também concordo com o , vamos apenas observar, acho que não vai ser preciso interferir. também concorda.
Ele observou a namorada gesticular, sem perder a atenção na conversa com , e avisar que estava combinado de todos se manterem em suas posições e apenas aguardar um sinal de agir ou de ir embora.
— Karol, preciso que vá me dando mais detalhes sobre o que eles estão fazendo, essa estátua ridícula maldita tá atrapalhando a porra da nossa visão e eles ainda estão de costas. — praguejou, xingando e ignorando o olhar arregalado que a lançava. Haviam pego o pior lugar, queria estar com os dois olhos em cada movimento da irmã e de João Paulo, mas nada estava colaborando, nem mesmo suas costas que doíam por conta da posição.
— tá dizendo que os dois estavam até rindo, mas agora parece que a conversa tá mais séria e que tem que tirar essa revista de macho pelado da cara dele, espera, o quê? — repetia tudo que falava no celular, acabando não percebendo quando o amigo desviara da conversa para falar algo com os que estavam com ele. Viu tirar a expressão brava do rosto e prender um riso o encarando divertida ao que ele apenas rolou os olhos tímido, voltando a atenção à conversa. — , seu babaca, presta atenção e tira o foco dessa revista. Continua falando o que tá acontecendo.
— O que ele tá falando? Eu não tô entendendo mais nada. A Karol começou a discutir com o do outro lado e simplesmente esqueceu do nosso plano, eu só consigo escutar ela chamando ele de idiota. — a garota começou a se desesperar vendo que nada estava saindo como planejavam, sacudindo pelos ombros para que ele explicasse o motivo de estar tão sério na ligação.
— Parece que ele tá tentando se aproximar dela, mas ela não tá mais tão sorridente. — ele respondeu o mais rápido que pôde tentando organizar mentalmente tudo que acontecia.
— É o que? — se exaltou, se levantando e tendo que ser puxada pelo garoto rapidamente. Nunca havia a visto tão brava antes.
— Não é melhor a gente chegar mais perto? Sei que o combinado foi apenas observar das nossas posições, mas se a gente precisar agir, daqui vai demorar muito até chegarmos lá. Cada segundo é valioso em uma missão. — sugeriu sério, se apoiando nas costas de , que estava agachado ao lado de um carro estacionado na frente da banca. Também havia desistido de manter uma conversa detalhada com depois que o dito cujo apenas o mandou esperar e voltou a uma possível discussão com a namorada.
— Pela primeira vez no dia, concordo com o . Seria melhor todo mundo se juntar à e o , é o local mais perto. — Dylan apontou para o grande chafariz, ainda segurando a tal revista de homens pelados que reclamava na ligação.
— , porra! Fica calmo, a gente vai dá um jeito de chegar aí, não faz nada. Tchau. — avisou, já sem um pingo de paciência pra tanta desorganização e finalizou a chamada, se virando para os dois. — Posso saber como vocês sugerem que façamos isso? Sem contar que essa DR do e da Karol só vai acabar quando passarmos lá pra acordar eles.
— Vocês são muito amadores, até parecem que não assistem filmes. É só a gente ir abaixados e por detrás dos carros e pessoas da rua. Conseguimos passar na árvore que o casal-fora-de-hora está e de lá vamos todos até o chafariz, por trás. — explicou sério, só então percebendo os olhos arregalados e as sobrancelhas erguidas dos outros dois. Nem parecia a mesma pessoa que havia sugerido ideias péssimas no começo do dia. — O quê?
— Nada, cara. Só vamos logo.
sentiu o estômago revirar e um arrepio passar por sua espinha, piscando os olhos levemente e encarando JP ao seu lado. A mente tentava processar o mais rápido possível o que acabara de escutar.
— Como assim você acha que sente algo a mais por mim, JP? — ela soltou um riso nervoso, torcendo para que tivesse interpretado errado. Em que momento mesmo haviam passado das piadas para esse assunto?
— Ah, , é que você não é como outras amigas que já tive. Você faz tudo ser leve e fácil, eu não sei explicar o que sinto, só sei que é algo bom e forte, diferente do que senti por qualquer outra amiga. — ele deu de ombros sem se intimidar, se aproximando mais um pouco e passando o braço por seus ombros.
Ela suspirou leve, ainda sem realmente entender o que o rapaz falava, mas agradecendo mentalmente por ele não ter despejado uma declaração de amor ou um discurso que a chamasse de amor da sua vida, isso era tudo que não precisava no momento. Sorriu sem jeito, voltando a se sentir meio desconfortável devido à proximidade que estavam. Ainda era estranho acostumar com aquele contato pessoal e físico de alguém que até pouco tempo não tinha rosto e que mesmo assim conhecia há poucos meses. Sentiu ele passar a mão por sua pele descoberta do ombro e preferiu se afastar um pouco, aproveitando o espaço do banco, puxando as mexas de cabelo e arrumando-as em um coque para disfarçar.
— Mas então, você vai ficar no hotel hoje ou vai passar mais alguns dias por aqui? — preferiu mudar de assunto, apoiando o cotovelo no encosto do banco e ficando de frente para ele.
— Bom, aí vai depender da sua vontade, . — João Paulo sorriu divertido, dando de ombros.
— Posso saber o porquê? — ficou levemente confusa, sem entender o significado de sua fala.
— Como assim? Agora, que você é minha acompanhante vou deixar escolher nossos cronogramas. — ele explicou sem entender o motivo da confusão da garota para algo que já estava óbvio. — Você vai ficar comigo a partir de agora.
— Eu não acredito. Eu não acredito. Puta que pariu. Puta que pariu. — repetia baixo para si, colocando as mãos na cabeça e observando levemente desesperada todos os outros amigos se aproximarem a tropeços, empurradas e reclamações dela e . — O que porra vocês estão fazendo aqui?
— Oi pra você também tá, ?!
A bagunça estava oficialmente feita. Eram sete jovens amontoados atrás de um chafariz, uns em cima dos outros, sussurrando ao mesmo tempo e mais chamando atenção do que passando despercebidos. e Karol ainda se encaravam contrariados e tentavam encerrar a discussão boba que haviam iniciado quando ainda estavam na árvore graças à falta de paciência da garota. bufava bravo por ser o único focado do bonde que havia chegado. só abria a boca para sugerir ideias que lembrava de filmes e Dylan o tentava controlar. apenas encarava todos perdido e assustado com o que estava acontecendo ao que surtava.
— O que vocês estão fazendo aqui? — ela teve que controlar a voz para não gritar, repetindo a pergunta.
— Como assim? Eu falei pro que a gente tava vindo. Ninguém tava se falando direito. — explicou irritado também.
— E daqui podemos atacar de perto. — sorriu esperto, sem perceber os rolares de olhos.
— Vocês só esqueceram que daqui não dá pra ver nada! Como vamos saber que é hora de agir? — ela sorriu irônica, bufando ao que todos a encararam atônitos.
— Bem, talvez podemos ter esquecido esse pequeno detalhe. — Dylan sorriu amarelo.
— Em vez de ficar aqui de papinho, devíamos apenas prestar atenção no que tá acontecendo. Olha lá, eles saíram do banco e parece que… — apontou, perdendo a fala ao dar mais atenção a cena, só então percebendo que não era de toda boa.
— Eu vou matar aquele cara! — ralhou ignorando os pedidos dos amigos e saindo correndo com fogo nos olhos.
— João Paulo, solta o meu braço. — pediu tentando conter o medo que sentia naquele momento. Havia se levantado de supetão ao entender o que o rapaz havia falado e perceber que era sério.
— , fica calma. Eu não tô entendendo porque você tá nervosa assim. Nós dois sabíamos que você ia comigo, achei até que você iria trazer sua mala, mas não me incomodei já que temos um tempo para passar em sua casa e pegar. Ou se preferir eu compro tudo novo pra você. — JP vomitou as palavras de uma vez, se mantendo calmo e em uma expressão serena, acreditando em cada frase que saía de sua boca.
— Você é louco? Eu não vou a lugar nenhum com você. — o encarou horrorizada, percebendo o olhar vidrado e seu sorriso irônico. Fez força e tentou puxar o braço, mas o aperto dele apenas se intensificou em seu pulso, a desesperando. — Me solta, agora! Você tá me machucando!
— , fica quieta. — João Paulo se aproximou mais ainda, segurando seu outro braço e falando baixo perto de seu rosto. — Nós não queremos chamar atenção das pessoas, então cala a boca e só vem comigo.
— Eu não vou! Você tem problema! Me solta ou eu começo a gritar. — sentia seus olhos marejarem e a boca começar a tremer.
— Se você gritar vai ser pior para você. — ele falava contido, mas seu tom de voz já variava e transparecia a raiva. Puxou-a para mais perto. — Vamos, antes que você me faça passar mais vergonha e...
— SOLTA ELA AGORA SEU CANALHA! — apareceu de supetão, gritando e socando o rapaz.
— , porra. — ralhou, também se aproximando e percebendo o que estava acontecendo, deixando de lado a garota e partindo para cima do rapaz. — Ei, solta ela!
— faz alguma coisa! — Dylan empurrou o amigo, que apenas encarou a todos com os olhos arregalados e jogou em seu lugar.
Só então percebeu que todos os outros também estavam ali, se aproximando e tentando resolver a situação. Sentiu um respiro de alívio em seu peito e aproveitou que os garotos avançavam em cima de João Paulo para se soltar e correr para os braços da irmã sem ao menos pensar.
— Me soltem! — ele se debatia, tentando livrar os braços dos de , e , parando ao ver que de nada adiantava e se dirigindo a . — O que tá acontecendo, ?
— Não me chame de . — ela respondeu entredentes, mantendo a distância entre eles. O nojo pelo garoto subindo na garganta. Sentiu os braços de a envolverem. — Você é completamente maluco! Eu achava que você era alguém legal, mas é um psicopata. Vai embora daqui e não me procure mais.
— Eu sou maluco? Você que é, garota esquisita. Tava te fazendo um favor, ia te dar uma vida melhor do que essa sua e você arma esse circo. — João Paulo parou de controlar a raiva e despejou em cima da garota.
— Lava essa sua boca pra falar da minha irmã. Quem você pensa que é? Ela não precisa de você pra ter uma vida melhor, a que ela tem já é ótima. — a primogênita deixou a caçula de lado e se aproximou a passos rápidos do rapaz, ficando cara a cara com ele.
— Quem é você pra falar que ela tem uma vida ótima sendo que mal fala com ela há semanas. — ele atiçou, rindo irônico ao ver que a garota havia se calado instantaneamente.
Dylan não aguento por muito tempo mais, o estava matando ver com cara de quem estavas prestes a chorar e puta da vida. Se aproximou sem dizer nada e antes que alguém pudesse pensar já havia dado um soco no estômago de João Paulo.
— Dá o fora daqui antes que eu quebre essa sua cara de mauricinho. E nunca mais, repito, NUNCA MAIS se aproxime ou tente falar com a ou eu vou te encontrar e acabar com sua raça. — ele despejou as palavras, fazendo sinal para que o soltassem e o empurrou pelo peito. — Vaza.
João Paulo abriu a boca para reclamar, mas fechou rapidamente, lançando um olhar raivoso para antes de se distanciar e correr até o carro do outro lado da rua, arrancando com ele para longe dali. Houve um suspiro coletivo e então todos se viraram para encarar a caçula. sentia um turbilhão de sentimentos naquele momento e mal pôde controlar quando algumas lágrimas começaram a escorrer por seus olhos. A vergonha de ter colocado todos naquela situação, e até si mesma, a fazia querer fugir dos amigos e se esconder. Viu que todos faziam menção de se aproximar, mas deu um passo para trás, levantando a mão. Suspirou tentando controlar as lágrimas, inutilmente, e falou com a voz trêmula.
— Me desculpem por isso, eu sei que a culpa é minha e ninguém...
— , nem tente, okay? — foi quem se pronunciou, tomando a frente e abraçando-a enquanto passava a mão por seus cabelos. Seu corpo era um pouco maior que o da amiga e a tampava consideravelmente, mas os amigos não se preocuparam e se juntaram ao abraço.
Eles permaneceram ali por alguns segundos sem falar nada, apenas se apoiando como amigos realmente fazem. agradecia mentalmente por não ter que tocar no assunto tão imediatamente, sua mente ainda trabalhava para filtrar o que de fato tinha ocorrido e tentava se livrar das imagens do que poderia ter acontecido se eles não houvessem aparecido.
Se separaram longos segundos depois e começaram a caminhar até o carro, só queriam sair daquele lugar o mais rápido possível e esquecer as horas anteriores. diminuiu o passo ao ver que a irmã era uma das últimas e esperou que estivesse lado a lado para segurar seu braço e a parar, deixando que os outros tomassem distância delas sem perceber.
— Você estava certa. Eu realmente sou uma idiota louca e provavelmente uma garotinha mimada também. Sei que não tenho o direito de me lamentar com você, afinal você mesmo havia me avisado disso antes, mas só queria me desculpar. A culpa é toda minha. — falou de uma vez, mantendo o olhar baixo e passando as mãos pelos braços que ainda latejavam. Sentiu o coração apertar ao notar o silêncio da irmã se prolongando e a encarou com os olhos marejados.
— Vamos esquecer todas aquelas baboseiras que falei, foi coisa de momento. Você não é nada disso, , e muito menos tem culpa do que aconteceu. O único culpado é esse João Paulo, ele sim é idiota louco. E você sempre vai poder se lamentar, chorar ou até xingar quando quiser comigo, vou tá aqui por você mesmo quando você não merece muito. — deu um sorriso de lado, arrancando um da caçula também. O coração das duas se aquecia a cada segundo, quebrando a barreira de orgulho que havia se instalado. Se aproximou dela e abraçou com força. — Eu vou sempre te proteger, mana. Amo você demais pra deixar que algo nos separe.
— Você está me fazendo chorar mais ainda. — respondeu com a voz abafada pelo pescoço da irmã, as lágrimas escorriam por felicidade e seu sorriso aumentava ao escutar a risada da primogênita. — Muito obrigada por ser a melhor do mundo. E você sabe que te amo, né?
— Claro que sim, eu sou uma pessoa ótima, qualquer um que passe um mero tempo comigo já me ama. — ela soltou em falso convencimento apenas para fazer parar de chorar e se concentrar apenas nos risos. Entrelaçaram os braços e passaram a caminhar devagar até o carro. — Agora, nós vamos para casa tomar um chocolate quente para acalmar os ânimos, passar alguma coisa nesse braço pra não ficar dolorido e dormir de conchinha porque estava morrendo de saudade.
— Não poderia pensar em algo melhor!
— Eu queria só saber se é cedo demais ou já posso rir do morrendo de medo de segurar o babaca.
Elas seguiram para o carro, encontrando com os demais já acomodados — na medida do possível — e seguiram para casa. O conforto parecia estar no coração de todos, tanto por terem conseguido ajudar, quanto por ser ajudada. O caminho foi alegre, repleto de comentários divertidos sobre os bastidores daquele plano, e mesmo com pouco espaço sobrando, dentro do carro estava mais do que presente o sentimento de amizade entre aqueles oito jovens.
Desde o dia do jogo, quase duas semanas antes, as gêmeas não se falavam ou sequer aguentavam ficar na presença uma da outra, a barreira de orgulho e mágoa estremecendo a cada dia que passava. Isso só piorava tudo, havia se arrependido da briga horas depois e sentia o peso no coração aumentando sempre que a via distante ou se pegava desejando estarem próximas para compartilhar algum comentário ou fofoca. A primogênita não parecia estar diferente, vez ou outra a pegava a encarando ou abrindo e fechando a boca rapidamente como se tivesse que controlar alguma fala. Ela inclusive procurava passar menos tempo em casa, participando de todos os ensaios extras das líderes de torcida ou simplesmente saindo porta a fora para algum lugar fora de seu conhecimento. A avó ficava dividida entre as duas, sem de fato saber o motivo de tudo aquilo.
Nem mesmo a relação com os amigos estava boa, todos perceberam de imediato o desentendimento das duas. De início, tentaram amenizar a situação ou não se intrometer, mas depois de tanto clima ruim na mesa do refeitório eles simplesmente desistiram e fizeram várias tentativas de uni-las novamente ou pelo menos trocar alguma palavra. Não deu certo. A solução encontrada foi passar a ignorá-las sempre que o clima pesava, mas mesmo sem tomar partido sabia que eles só não estavam da mesma maneira que porque não se viam no direito, mas ainda escutou boas reclamações e puxões de orelha quando souberam o motivo da briga.
Agora ela estava ali, sozinha em um táxi a caminho de um restaurante distante do centro prestes a encontrar João Paulo. O rapaz havia feito a viagem até São Francisco no dia anterior apenas para se conhecerem. até tentou argumentar e o convencer a adiar para quando ele tivesse realmente alguma outra coisa para fazer na cidade. Entretanto, JP fez questão de deixar claro que não era esforço nenhum para ele e que não aceitava mais mudar a data.
Sentiu a respiração normalizando ao sair do carro e ver que o ambiente era tranquilo e com várias pessoas, não se sentiria sozinha — pelo menos não fisicamente. Checou o relógio uma última vez apenas para confirmar que não estava atrasada. Atravessou a rua e se informou com o recepcionista sobre a reserva no nome de João Paulo, assim como ele havia pedido que fizesse. Foi guiada para dentro do restaurante, podendo perceber a decoração rústica do ambiente. O recepcionista apontou para a mesa mais distante onde um rapaz estava sentado de costas e se distanciou. chegou a sentir as pernas darem um leve tremor antes de caminhar em direção à mesa.
— Espero não estar atrasada. — falou quando já estava ao lado do rapaz apenas para iniciar a conversa, ciente que estava bem pontual, o que indicava que ele havia chegado ainda mais cedo.
— De maneira alguma! — João Paulo levantou sorridente, retomando o costume brasileiro e depositando dois beijos em sua bochecha antes de se sentarem um de frente ao outro. — Confesso que estava ansioso demais para aguentar esperar no hotel até o horário.
sorriu amarelo, se sentindo extremamente tímida e sem saber o que falar. A sensação era de que estavam acabando de se conhecer, ainda que já tivessem conversado como amigos de longa data e pudesse reconhecer algumas características físicas. O cabelo castanho só estava pouco mais claro do que nas fotos, diferente de seus olhos que eram igualmente azuis claros. Além disso, sua barba estava maior e seu sorriso finalmente aparecera, bem bonito, diga-se de passagem, já que em seus perfis estava sempre sério.
Ela conseguiu perceber que ele também estava nervoso, mexendo nas mãos em cima da mesa e desviando o olhar para o ambiente. Sua mente maquinava em trabalhar os detalhes e tentar perceber algo de suspeito no rapaz que dava razão aos alertas de seus amigos e irmã, mas tudo parecia perfeitamente normal.
— Isso é muito estranho. A gente tá parecendo dois desconhecidos, sendo que já nos falamos por meses. — João Paulo soltou em uma risada fraca, quebrando o gelo entre os dois e relaxando os ombros ao ver que a amiga soltava o ar e concordava com a cabeça.
— Ainda bem que não era só eu que estava pensando nisso. — ela confessou entre uma risada fraca antes de caírem novamente no silêncio. Coçou a garganta e resolveu tentar agir naturalmente. — Já conhecia esse restaurante?
— Sim, vim algumas vezes nas minhas visitas aqui para São Francisco, nunca me decepcionou então espero que te agrade também.
— O ambiente é bem legal. — observou a decoração ao seu redor, sentindo o olhar do rapaz em si.
— Como está sua irmã? Ainda sem falar com você? — ele entrou no assunto, cruzando os braços na mesa e a encarando com atenção.
— Sim... Tá meio difícil. — foi sincera, mas se sentiu desconfortável com o olhar do rapaz, como se tentasse ler além de sua expressão ou até mesmo mostrasse que conseguiria ver a verdade por trás de suas palavras caso necessário. Passou a mão pela nuca, sorrindo fraco e desviando a atenção para a toalha da mesa.
— Uma hora as coisas vão se acertar, . — João Paulo abriu um sorriso após usar o apelido, querendo amenizar o peso da conversa que havia se instalado por alguns segundos.
— Eu espero, mas vamos falar de coisa boa. Afinal, finalmente nos conhecemos, JP. — também usou o apelido, tentando aproximar a conversa ao nível de conforto e leveza do contato por celular. Apoiou o cotovelo na mesa, descansando o rosto na mão e consequentemente ficando um pouco mais próxima do rapaz.
— Sim, depois de você correr de mim por mais de um mês. — fez piada com um tom de sinceridade, a encarando sugestivamente em um sorriso torto.
— Ah, não seja mau! Não estava fugindo de você, apenas esperando o tempo certo.
— Certo, vou fingir que não. — a encarou divertido antes de fazer a sugestão. — O que acha de fazermos o pedido logo?
— É uma ótima ideia.
— Alguém me explica de novo porque tivemos que vir socados em um único carro porque eu ainda não estou convencido. — tentava empurrar de seu colo, se sentindo altamente desconfortável por estar naquele carro com outras sete pessoas quando a capacidade claramente não era essa.
— A já explicou mil vezes que é pra gente passar mais despercebido. — Dylan rolou os olhos, também empurrando , que a cada vez caía mais para o seu lado. Haviam pego o carro de para seguir o táxi de e encontrar o lugar onde iria.
— Acho que a gente devia ter deixado o em casa então porque essa bunda grande dele só tá atrapalhando, e pela cara dele acho que tá prestes a peidar. — entrou na onda, só não o empurrando também para o lado de Dylan porque Karol em seu colo dificultava grandes movimentos.
— , se você peidar eu vou...
— CALA A BOCAAAA! Tá todo mundo apertado então para de me culpar, se tiver achando ruim vai embora. E eu não vou peidar, todo mundo sabe que quem fica soltando aquelas bufas fedidas é o e não eu. — o garoto interrompeu emburrado, sem controlar o que falava e arrancando risadas de todos, menos de .
— Sorte sua que está no meio do banco, . Caso contrário te jogava pela janela agora mesmo. — retrucou, fechando a expressão e ameaçando estapear o amigo.
— Gente, agora é sério. — Karol chamou a atenção de todos ao perceber que batucava nas pernas no banco da frente, séria e sem prestar muita atenção na bagunça que faziam. — Vocês têm certeza de que a entrou lá?
A garota apontou para o restaurante do outro lado da praça pela janela do carro.
— Sim, eu vi quando ela saiu do táxi e foi pra lá. — respondeu séria, soltando um suspiro longo depois. — Olha, não é obrigação de nenhum de vocês estarem aqui, nem mesmo minha depois da briga que tivemos.
— , a é nossa amiga e sua irmã, é claro que é nossa obrigação estarmos aqui cuidando dela mesmo quando na verdade a maioria só quer bater na cabeça dela. E claro que na obrigação não estava incluído ficar parcialmente sem ar durante todas as horas, mas a gente aguenta. — esticou a mão o quanto conseguia, o que consequentemente apertou entre ele e o banco, e passou levemente pelo ombro da amiga.
— Certo. Então está na hora do plano. — ela soltou uma risada ao se virar no banco e observar a situação dos cinco atrás, sorte a dela e de que haviam corrido para garantir os lugares da frente.
— E qual é? — Dylan se apoiou na porta e ficou de lado para conseguir ver todos, ou pelo menos os que não estavam sendo sufocados por outros.
— Ahn...Não sei. — sorriu amarelo, recebendo uma série de bufadas e xingamentos de volta. — Calma aí, cambada! Vamos pensar agora.
— E se a gente entrar lá, se sentar em uma mesa atrás deles, nos escondermos atrás dos cardápios e caso ele faça algo, VRÁ! Pulamos em cima dele. — sorria abobado com a sugestão, realmente acreditando no potencial de seu plano.
— Para de ser burro, cara! — chamou sua atenção, dando um pedala em sua cabeça. — Vai que os cardápios são pequenos e não nos tampe totalmente?
— Sério que esse foi o único problema que você viu? — o encarou com tédio, rolando os olhos com os demais do carro quando ele a olhou sem entender.
— Você tá ferrada com um namorado desses, ! — brincou, aproveitando que tinha Karol a sua frente para a proteger dos tapas da amiga.
— Não somos namorados! — e responderam simultaneamente, fazendo todos lançarem olhares duvidosos para eles.
— Tá okay, gente. Vamos focar. — Karol chamou a atenção, afastando as mechas de cabelo de seu rosto, empurrava para a frente sem querer. — Temos que levar em consideração que podemos estar errados e esse cara ser uma boa pessoa, então o plano tem que contar com uma parte de desistência, para que nem a , nem o tal cara percebam que estamos ou estivemos aqui.
— Concordo! Acho mais fácil a gente se esconder em algum lugar aqui por fora e esperar eles saírem pra ver o que acontece. É só a gente ficar parcialmente perto, assim conseguimos ver tudo e agir caso precise. — Dylan completou o plano, gesticulando para a praça ao lado do carro.
— Acho que podemos nos dividir. Um grupo fica atrás daquele carro lá de um lado do restaurante. Outro fica naquela banca de revista do outro lado. E alguma dupla fica aqui atrás desse chafariz. — sugeriu, indicando os lugares.
— E a gente pode se comunicar pelo celular. Fazemos ligações entre nós para que os três grupos se mantenham em contato. Assim, a gente consegue agir juntos. — finalizou, vendo todos concordarem em acenos.
— Cara, estou me sentindo em uma missão impossível. — esfregou as mãos, sorrindo grande e sendo de longe o mais animado de todos.
— Está decidido então. Vamos fazer as divisões e nos espalhar, eles podem demorar horas pra sair, mas também podem sair daqui a poucos minutos. — apressou todos, começando a se separarem e saírem do carro.
— Eu não acredito que você acordou o cara! — tinha lágrimas no canto dos olhos de tanto rir.
— É claro que sim! Ele tava quase babando no meu ombro e ainda tínhamos uma hora de viagem. — João Paulo se defendeu, acompanhando a garota nas risadas.
Os dois já haviam se alimentado e provado da sobremesa, estando agora apenas conversando e contando histórias esquisitas de suas vidas. O desconforto havia ido embora e eles falavam naturalmente, melhor ainda do que quando estavam apenas nas mensagens. se sentia feliz por ter cedido e o encontrado pessoalmente, também com uma pontinha de orgulho apitando por conseguir provar - mesmo que só para si por enquanto - que estava certa sobre JP. Ele era exatamente como falara, educado, simpático e engraçado.
— Quer comer mais alguma coisa? — ele questionou após o garçom retirar os pratos.
— Está doido? Você pediu um mundo de comida, JP! — riu, arregalando os olhos em tom de piada.
— Okay, posso ter exagerado um pouquinho. — rolou os olhos com um sorriso de lado. Conferiu as horas no celular e o guardou no bolso. — O que acha de darmos uma volta lá fora? Tem uma praça legal.
— Vamos! Preciso andar pra não morrer sufocada depois de tanta comida.
— Vocês estão vendo eles? Câmbio desligo. — brincava com o telefone na chamada com .
— , isso não é um walk talk, para com essa merda de câmbio. — Dylan deu um pedala em sua cabeça.
— Ain, grosso. — o mais novo reclamou, voltando o celular para a orelha e escutando os resmungos de . — Que que é?
— O tá falando aqui que a e o cara estão saindo do restaurante. — informou também em uma ligação no celular.
Eles haviam se dividido da forma de que , Dylan e ficassem juntos, escondidos na banca de revista, e atrás do chafariz, bem na reta da entrada do restaurante, e e Karol espremidos atrás de algumas árvores da praça. Fizeram as ligações nos celulares e estavam se comunicando por elas, ou pelo menos tentando.
— Estou conseguindo ver. A está com ele mesmo. — Dylan confirmou, observando os dois ao longe por cima de uma revista qualquer que segurava.
— , eles vão passar por vocês agora, se mantenham bem escondidos. — informou sério no celular, ignorando o rolar de olhos de .
— , eu não sei se a gente deve agir, pelo menos daqui eles parecem estar se dando bem. — respondeu ao amigo pelo telefone.
— , você tá me deixando sem ar desse jeito. — Karol tirou o celular do ouvido para reclamar com o namorado, que a empurrava cada vez mais contra a árvore para conseguir acompanhar e João Paulo que passavam por eles sem que percebessem.
— Desculpe. — ele sussurrou, se afastando ao que os outros dois se distanciaram.
— Oi, . — ela voltou à ligação sem muita paciência, agora conseguindo observar os dois ao longe. e O-Cara-Da-Internet haviam se sentado em um banco à frente do chafariz, o mesmo o qual o outro casal se escondia do outro lado. — Não dá pra ver muito bem daqui por causa das pessoas, mas parecem que eles estão se dando bem. Talvez estivéssemos errados.
— , dá pra parar de palhaçada? Ou você fala comigo ou conversa com os caras aí, os dois ao mesmo tempo eu não entendo nada. — revirou os olhos, perdendo a paciência com a bagunça que o amigo fazia na ligação. — Certo, também concordo com o , vamos apenas observar, acho que não vai ser preciso interferir. também concorda.
Ele observou a namorada gesticular, sem perder a atenção na conversa com , e avisar que estava combinado de todos se manterem em suas posições e apenas aguardar um sinal de agir ou de ir embora.
— Karol, preciso que vá me dando mais detalhes sobre o que eles estão fazendo, essa estátua ridícula maldita tá atrapalhando a porra da nossa visão e eles ainda estão de costas. — praguejou, xingando e ignorando o olhar arregalado que a lançava. Haviam pego o pior lugar, queria estar com os dois olhos em cada movimento da irmã e de João Paulo, mas nada estava colaborando, nem mesmo suas costas que doíam por conta da posição.
— tá dizendo que os dois estavam até rindo, mas agora parece que a conversa tá mais séria e que tem que tirar essa revista de macho pelado da cara dele, espera, o quê? — repetia tudo que falava no celular, acabando não percebendo quando o amigo desviara da conversa para falar algo com os que estavam com ele. Viu tirar a expressão brava do rosto e prender um riso o encarando divertida ao que ele apenas rolou os olhos tímido, voltando a atenção à conversa. — , seu babaca, presta atenção e tira o foco dessa revista. Continua falando o que tá acontecendo.
— O que ele tá falando? Eu não tô entendendo mais nada. A Karol começou a discutir com o do outro lado e simplesmente esqueceu do nosso plano, eu só consigo escutar ela chamando ele de idiota. — a garota começou a se desesperar vendo que nada estava saindo como planejavam, sacudindo pelos ombros para que ele explicasse o motivo de estar tão sério na ligação.
— Parece que ele tá tentando se aproximar dela, mas ela não tá mais tão sorridente. — ele respondeu o mais rápido que pôde tentando organizar mentalmente tudo que acontecia.
— É o que? — se exaltou, se levantando e tendo que ser puxada pelo garoto rapidamente. Nunca havia a visto tão brava antes.
— Não é melhor a gente chegar mais perto? Sei que o combinado foi apenas observar das nossas posições, mas se a gente precisar agir, daqui vai demorar muito até chegarmos lá. Cada segundo é valioso em uma missão. — sugeriu sério, se apoiando nas costas de , que estava agachado ao lado de um carro estacionado na frente da banca. Também havia desistido de manter uma conversa detalhada com depois que o dito cujo apenas o mandou esperar e voltou a uma possível discussão com a namorada.
— Pela primeira vez no dia, concordo com o . Seria melhor todo mundo se juntar à e o , é o local mais perto. — Dylan apontou para o grande chafariz, ainda segurando a tal revista de homens pelados que reclamava na ligação.
— , porra! Fica calmo, a gente vai dá um jeito de chegar aí, não faz nada. Tchau. — avisou, já sem um pingo de paciência pra tanta desorganização e finalizou a chamada, se virando para os dois. — Posso saber como vocês sugerem que façamos isso? Sem contar que essa DR do e da Karol só vai acabar quando passarmos lá pra acordar eles.
— Vocês são muito amadores, até parecem que não assistem filmes. É só a gente ir abaixados e por detrás dos carros e pessoas da rua. Conseguimos passar na árvore que o casal-fora-de-hora está e de lá vamos todos até o chafariz, por trás. — explicou sério, só então percebendo os olhos arregalados e as sobrancelhas erguidas dos outros dois. Nem parecia a mesma pessoa que havia sugerido ideias péssimas no começo do dia. — O quê?
— Nada, cara. Só vamos logo.
sentiu o estômago revirar e um arrepio passar por sua espinha, piscando os olhos levemente e encarando JP ao seu lado. A mente tentava processar o mais rápido possível o que acabara de escutar.
— Como assim você acha que sente algo a mais por mim, JP? — ela soltou um riso nervoso, torcendo para que tivesse interpretado errado. Em que momento mesmo haviam passado das piadas para esse assunto?
— Ah, , é que você não é como outras amigas que já tive. Você faz tudo ser leve e fácil, eu não sei explicar o que sinto, só sei que é algo bom e forte, diferente do que senti por qualquer outra amiga. — ele deu de ombros sem se intimidar, se aproximando mais um pouco e passando o braço por seus ombros.
Ela suspirou leve, ainda sem realmente entender o que o rapaz falava, mas agradecendo mentalmente por ele não ter despejado uma declaração de amor ou um discurso que a chamasse de amor da sua vida, isso era tudo que não precisava no momento. Sorriu sem jeito, voltando a se sentir meio desconfortável devido à proximidade que estavam. Ainda era estranho acostumar com aquele contato pessoal e físico de alguém que até pouco tempo não tinha rosto e que mesmo assim conhecia há poucos meses. Sentiu ele passar a mão por sua pele descoberta do ombro e preferiu se afastar um pouco, aproveitando o espaço do banco, puxando as mexas de cabelo e arrumando-as em um coque para disfarçar.
— Mas então, você vai ficar no hotel hoje ou vai passar mais alguns dias por aqui? — preferiu mudar de assunto, apoiando o cotovelo no encosto do banco e ficando de frente para ele.
— Bom, aí vai depender da sua vontade, . — João Paulo sorriu divertido, dando de ombros.
— Posso saber o porquê? — ficou levemente confusa, sem entender o significado de sua fala.
— Como assim? Agora, que você é minha acompanhante vou deixar escolher nossos cronogramas. — ele explicou sem entender o motivo da confusão da garota para algo que já estava óbvio. — Você vai ficar comigo a partir de agora.
— Eu não acredito. Eu não acredito. Puta que pariu. Puta que pariu. — repetia baixo para si, colocando as mãos na cabeça e observando levemente desesperada todos os outros amigos se aproximarem a tropeços, empurradas e reclamações dela e . — O que porra vocês estão fazendo aqui?
— Oi pra você também tá, ?!
A bagunça estava oficialmente feita. Eram sete jovens amontoados atrás de um chafariz, uns em cima dos outros, sussurrando ao mesmo tempo e mais chamando atenção do que passando despercebidos. e Karol ainda se encaravam contrariados e tentavam encerrar a discussão boba que haviam iniciado quando ainda estavam na árvore graças à falta de paciência da garota. bufava bravo por ser o único focado do bonde que havia chegado. só abria a boca para sugerir ideias que lembrava de filmes e Dylan o tentava controlar. apenas encarava todos perdido e assustado com o que estava acontecendo ao que surtava.
— O que vocês estão fazendo aqui? — ela teve que controlar a voz para não gritar, repetindo a pergunta.
— Como assim? Eu falei pro que a gente tava vindo. Ninguém tava se falando direito. — explicou irritado também.
— E daqui podemos atacar de perto. — sorriu esperto, sem perceber os rolares de olhos.
— Vocês só esqueceram que daqui não dá pra ver nada! Como vamos saber que é hora de agir? — ela sorriu irônica, bufando ao que todos a encararam atônitos.
— Bem, talvez podemos ter esquecido esse pequeno detalhe. — Dylan sorriu amarelo.
— Em vez de ficar aqui de papinho, devíamos apenas prestar atenção no que tá acontecendo. Olha lá, eles saíram do banco e parece que… — apontou, perdendo a fala ao dar mais atenção a cena, só então percebendo que não era de toda boa.
— Eu vou matar aquele cara! — ralhou ignorando os pedidos dos amigos e saindo correndo com fogo nos olhos.
— João Paulo, solta o meu braço. — pediu tentando conter o medo que sentia naquele momento. Havia se levantado de supetão ao entender o que o rapaz havia falado e perceber que era sério.
— , fica calma. Eu não tô entendendo porque você tá nervosa assim. Nós dois sabíamos que você ia comigo, achei até que você iria trazer sua mala, mas não me incomodei já que temos um tempo para passar em sua casa e pegar. Ou se preferir eu compro tudo novo pra você. — JP vomitou as palavras de uma vez, se mantendo calmo e em uma expressão serena, acreditando em cada frase que saía de sua boca.
— Você é louco? Eu não vou a lugar nenhum com você. — o encarou horrorizada, percebendo o olhar vidrado e seu sorriso irônico. Fez força e tentou puxar o braço, mas o aperto dele apenas se intensificou em seu pulso, a desesperando. — Me solta, agora! Você tá me machucando!
— , fica quieta. — João Paulo se aproximou mais ainda, segurando seu outro braço e falando baixo perto de seu rosto. — Nós não queremos chamar atenção das pessoas, então cala a boca e só vem comigo.
— Eu não vou! Você tem problema! Me solta ou eu começo a gritar. — sentia seus olhos marejarem e a boca começar a tremer.
— Se você gritar vai ser pior para você. — ele falava contido, mas seu tom de voz já variava e transparecia a raiva. Puxou-a para mais perto. — Vamos, antes que você me faça passar mais vergonha e...
— SOLTA ELA AGORA SEU CANALHA! — apareceu de supetão, gritando e socando o rapaz.
— , porra. — ralhou, também se aproximando e percebendo o que estava acontecendo, deixando de lado a garota e partindo para cima do rapaz. — Ei, solta ela!
— faz alguma coisa! — Dylan empurrou o amigo, que apenas encarou a todos com os olhos arregalados e jogou em seu lugar.
Só então percebeu que todos os outros também estavam ali, se aproximando e tentando resolver a situação. Sentiu um respiro de alívio em seu peito e aproveitou que os garotos avançavam em cima de João Paulo para se soltar e correr para os braços da irmã sem ao menos pensar.
— Me soltem! — ele se debatia, tentando livrar os braços dos de , e , parando ao ver que de nada adiantava e se dirigindo a . — O que tá acontecendo, ?
— Não me chame de . — ela respondeu entredentes, mantendo a distância entre eles. O nojo pelo garoto subindo na garganta. Sentiu os braços de a envolverem. — Você é completamente maluco! Eu achava que você era alguém legal, mas é um psicopata. Vai embora daqui e não me procure mais.
— Eu sou maluco? Você que é, garota esquisita. Tava te fazendo um favor, ia te dar uma vida melhor do que essa sua e você arma esse circo. — João Paulo parou de controlar a raiva e despejou em cima da garota.
— Lava essa sua boca pra falar da minha irmã. Quem você pensa que é? Ela não precisa de você pra ter uma vida melhor, a que ela tem já é ótima. — a primogênita deixou a caçula de lado e se aproximou a passos rápidos do rapaz, ficando cara a cara com ele.
— Quem é você pra falar que ela tem uma vida ótima sendo que mal fala com ela há semanas. — ele atiçou, rindo irônico ao ver que a garota havia se calado instantaneamente.
Dylan não aguento por muito tempo mais, o estava matando ver com cara de quem estavas prestes a chorar e puta da vida. Se aproximou sem dizer nada e antes que alguém pudesse pensar já havia dado um soco no estômago de João Paulo.
— Dá o fora daqui antes que eu quebre essa sua cara de mauricinho. E nunca mais, repito, NUNCA MAIS se aproxime ou tente falar com a ou eu vou te encontrar e acabar com sua raça. — ele despejou as palavras, fazendo sinal para que o soltassem e o empurrou pelo peito. — Vaza.
João Paulo abriu a boca para reclamar, mas fechou rapidamente, lançando um olhar raivoso para antes de se distanciar e correr até o carro do outro lado da rua, arrancando com ele para longe dali. Houve um suspiro coletivo e então todos se viraram para encarar a caçula. sentia um turbilhão de sentimentos naquele momento e mal pôde controlar quando algumas lágrimas começaram a escorrer por seus olhos. A vergonha de ter colocado todos naquela situação, e até si mesma, a fazia querer fugir dos amigos e se esconder. Viu que todos faziam menção de se aproximar, mas deu um passo para trás, levantando a mão. Suspirou tentando controlar as lágrimas, inutilmente, e falou com a voz trêmula.
— Me desculpem por isso, eu sei que a culpa é minha e ninguém...
— , nem tente, okay? — foi quem se pronunciou, tomando a frente e abraçando-a enquanto passava a mão por seus cabelos. Seu corpo era um pouco maior que o da amiga e a tampava consideravelmente, mas os amigos não se preocuparam e se juntaram ao abraço.
Eles permaneceram ali por alguns segundos sem falar nada, apenas se apoiando como amigos realmente fazem. agradecia mentalmente por não ter que tocar no assunto tão imediatamente, sua mente ainda trabalhava para filtrar o que de fato tinha ocorrido e tentava se livrar das imagens do que poderia ter acontecido se eles não houvessem aparecido.
Se separaram longos segundos depois e começaram a caminhar até o carro, só queriam sair daquele lugar o mais rápido possível e esquecer as horas anteriores. diminuiu o passo ao ver que a irmã era uma das últimas e esperou que estivesse lado a lado para segurar seu braço e a parar, deixando que os outros tomassem distância delas sem perceber.
— Você estava certa. Eu realmente sou uma idiota louca e provavelmente uma garotinha mimada também. Sei que não tenho o direito de me lamentar com você, afinal você mesmo havia me avisado disso antes, mas só queria me desculpar. A culpa é toda minha. — falou de uma vez, mantendo o olhar baixo e passando as mãos pelos braços que ainda latejavam. Sentiu o coração apertar ao notar o silêncio da irmã se prolongando e a encarou com os olhos marejados.
— Vamos esquecer todas aquelas baboseiras que falei, foi coisa de momento. Você não é nada disso, , e muito menos tem culpa do que aconteceu. O único culpado é esse João Paulo, ele sim é idiota louco. E você sempre vai poder se lamentar, chorar ou até xingar quando quiser comigo, vou tá aqui por você mesmo quando você não merece muito. — deu um sorriso de lado, arrancando um da caçula também. O coração das duas se aquecia a cada segundo, quebrando a barreira de orgulho que havia se instalado. Se aproximou dela e abraçou com força. — Eu vou sempre te proteger, mana. Amo você demais pra deixar que algo nos separe.
— Você está me fazendo chorar mais ainda. — respondeu com a voz abafada pelo pescoço da irmã, as lágrimas escorriam por felicidade e seu sorriso aumentava ao escutar a risada da primogênita. — Muito obrigada por ser a melhor do mundo. E você sabe que te amo, né?
— Claro que sim, eu sou uma pessoa ótima, qualquer um que passe um mero tempo comigo já me ama. — ela soltou em falso convencimento apenas para fazer parar de chorar e se concentrar apenas nos risos. Entrelaçaram os braços e passaram a caminhar devagar até o carro. — Agora, nós vamos para casa tomar um chocolate quente para acalmar os ânimos, passar alguma coisa nesse braço pra não ficar dolorido e dormir de conchinha porque estava morrendo de saudade.
— Não poderia pensar em algo melhor!
— Eu queria só saber se é cedo demais ou já posso rir do morrendo de medo de segurar o babaca.
Elas seguiram para o carro, encontrando com os demais já acomodados — na medida do possível — e seguiram para casa. O conforto parecia estar no coração de todos, tanto por terem conseguido ajudar, quanto por ser ajudada. O caminho foi alegre, repleto de comentários divertidos sobre os bastidores daquele plano, e mesmo com pouco espaço sobrando, dentro do carro estava mais do que presente o sentimento de amizade entre aqueles oito jovens.
Capítulo 17
— Fico feliz em ver que as duas estão próximas de novo, seja lá qual o real motivo do que aconteceu, não aguentava mais ver vocês se torturando daquela maneira. — Kath soltou o comentário ao ver as netas sentadas lado a lado na mesa enquanto almoçavam. Elas se entreolharam, sentindo a consciência pesar por terem deixado seu desentendimento afetar a mais velha, mesmo quando se esforçaram para que não ocorresse ao ocultarem os reais motivos de tudo.
— Nós também estamos felizes, vovó. E pode ficar despreocupada que faço questão de ficar bem coladinha na de agora em diante. — mandou uma piscadela para Kath e puxou a irmã para um abraço desajeitado de lado, mesmo a contragosto da caçula.
— Eu entendi isso, não precisa tentar tirar meu pulmão à força, . — fez piada, exagerando na expressão de alívio ao sentir ela a soltando. Voltou a atenção para seu prato quase vazio e ignorou o olhar da irmã pesando em si. Aliás, a mais velha já estava tornando aquilo um costume.
havia percebido desde que chegaram em casa, que estava preocupada. O questionamento sobre como estava se sentindo só se encerrou quando respondeu que estava bem e não iria mais falar naquilo, seguindo para seu quarto e indo dormir. Porém, a primogênita não conseguia se controlar por completo, então mesmo mantendo as perguntas para si, continuava lançando olhares preocupados em sua direção a todo momento, como se quisesse se certificar que ela não começaria a chorar a qualquer momento.
Conhecendo a si mesma, sabia que as chances daquilo acontecer eram grandes. A angústia que havia sentido nos últimos momentos sozinha com JP ainda fazia um bolo se formar em sua garganta. Mas, maior que isso, era a decepção e tristeza em saber que havia sido enganada por alguém que confiara e que considerava já como amigo. Entretanto, a pontinha de raiva que sentia de si mesma por ter caído na lábia dele a fazia se impedir de perder tempo demonstrando qualquer sofrimento. Poderia até ter seus momentos de fraqueza, desde que estivesse sozinha. Aquela história deveria ter um fim e não mais atingir qualquer outra pessoa.
Levantou da mesa com o prato na mão, desviando do olhar da primogênita e indo até a pia lavar a louça.
— Não quero ver mais ninguém triste nessa casa!
— Se depender da gente será só alegria, vovó. — falou para ela, mas tomou a resposta como uma promessa pessoal. Virou o rosto para lançar um sorriso para a mais velha e uma piscadela para a irmã. respondeu com um aceno e sorriso de lado, compreendendo o que ela pensava.
— Inclusive, acho que devíamos aproveitar o pedido do para voltar com essa alegria com tudo. — se aproximou da pia depositando os outros dois pratos, ignorando o rolar de olhos que a caçula lhe lançava.
Ainda naquele dia, assim que acordaram, recebeu uma mensagem de pedindo que se reunissem, afirmando que tinham muitos motivos para tentar se animar e se recuperarem. sabia que a faria bem ir, mas não sabia se estava preparada para se mostrar completamente bem para todos.
— é aquele seu namorado, querida? — Kath desviou do foco, continuava sentada à mesa para manter a conversa enquanto as duas organizavam a cozinha. Tinha um semblante brincalhão nos lábios enquanto encarava a neta com uma expressão exagerada de indignação e escutava a gargalhada de .
— Viu só? Só você tá se iludindo, . — colocou mais lenha na fogueira sem segurar o riso, soltando uma reclamação ao sentir o tapa da gêmea em seu braço.
— Quem te contou isso, vovó? Não acredite em tudo que a diz. — se apoiou de costas na bancada, cruzando os braços e quase completando a postura infantil com um bico nos lábios.
— Ora, ninguém me contou, mas acredito que sou inteligente o suficiente para saber que quando duas pessoas se falam diariamente, saem juntas sozinhas constantemente e ainda se beijam a cada vez que se encontram, são considerados namorados! — ela espalmou as mãos na mesa e encarou a primogênita em um desafio silencioso de que discordasse dela.
— Pois fique sabendo que namoro não se resume a isso e que e eu estamos apenas curtindo a amizade de um jeito diferente. E você, Dona . — se virou séria de supetão para a irmã, que ainda ria da conversa. — Esteja pronta daqui uma hora porque nós vamos sim.
— As vezes acho que é minha mãe quem está aqui e não a . — comentou contrariada com a avó quando a gêmea saiu do cômodo.
— Devia ter aproveitado para correr enquanto eu distraía ela. — Kath riu do comportamento das duas, sentindo a alegria preencher seu coração ao ver as netas conversando e se provocando novamente como sempre faziam.
As adentraram a Delood passando o olhar pelo local até reconhecerem os amigos na mesa que já se tornava frequente por eles. Se aproximaram percebendo que todos estavam presentes, com exceção de uma pessoa.
— Onde está Karol? — perguntou após cumprimentar a todos e se sentarem. ainda se acomodava na cadeira entre e mas percebeu os olhares trocados entre todos os garotos.
— Ela não vem hoje... — foi vago no comentário com os olhos fixos em , como se fizesse uma pergunta silenciosa.
— Pode falar, eu estou bem e não vai ser segredo pra ninguém daqui um tempo mesmo. — o garoto deu de ombros e voltou a atenção para o ambiente ao redor, sentindo o silêncio pesar por alguns segundos. Não havia nem se esforçado para ser mais convincente ao se dizer bem.
— e Karol terminaram. — falou de uma vez impaciente. — É o que?
ignorou a reação exagerada da irmã e voltou os olhos para o amigo ao seu lado. Ele permanecia calado e com o olhar vago enquanto os garotos se revezavam para explicar a história que ele já devia ter contado antes. Ao que parecia, o casal não andava em uma fase boa há alguns dias. As brigas por bobeiras se tornaram mais frequentes e suas maneiras de pensar e gostos diferentes se tornaram maiores do que os aspectos mais agradáveis do relacionamento. A gota d'água havia acontecido no dia anterior, quando ainda estavam enrolados na história de -JP e começaram a discutir por algo tão bobo que nem ao menos recordava o início da discussão.
O que era algo pequeno, entretanto, continuou e tomou proporções maiores quando se viram sozinhos na casa da garota. Karoline se dizia saturada e não se privou de falar tudo que estava a incomodando. Em resumo, fora uma briga longa, noite a dentro, que resultou nos dois cansados e concordando que a melhor decisão por enquanto era se manter afastados.
mordeu o lábio inferior quando terminou de ouvir a história e percebeu o semblante triste do amigo. Nunca fora feliz com o namoro dos dois, mas não podia negar que estava a matando ver o resultado recente daquele término em . Ignorou o assunto diferente que se iniciava na mesa e aproximou a cadeira da dele, tocando seu braço momentaneamente para chamar sua atenção.
— Não sei se você quer falar sobre isso, mas preciso saber pelo menos como você está. De verdade. — seu tom de voz foi baixo, para que apenas ele escutasse, mas o suficiente para que ele se virasse e a encarasse.
— Podemos ir lá fora? — bastou que ela acenasse em concordância para que levantasse e fosse a passos lentos para fora. Apenas lançou um olhar significativo para todos da mesa e o seguiu, sentindo o olhar intenso de Dylan e em suas costas.
O sol forte atingiu seus olhos ao sair da lanchonete e levou a mão na altura das sobrancelhas enquanto procurava pelo amigo. Viu que ele a esperava do outro lado da pista em pé em baixo de uma árvore. Atravessou rápido e parou ao seu lado em silêncio, sabia que deveria dar espaço para que ele falasse quando e o que quisesse. continuou em silêncio e foi andando devagar até que virassem em uma rua sem movimento e se sentassem no meio fio. Minutos depois pôde escutar sua voz.
— Eu realmente não sei como estou, mas acredito que seja algo entre "normal" e "muito mal". — ele cruzou os braços e apoiou nos joelhos, soltando uma risada nasalada. Encarou-a com os olhos fixos e suspirou alto, tomando coragem para falar o que estava sentindo. — Na verdade, a única coisa que eu sei é que, por mais que não estivesse às mil maravilhas, eu não esperava que chegasse ao fim tão rápido. Eu pensei que a gente ia se unir mais, tentar passar por essa fase e estarmos bem daqui uns dias, mas ela tava muito certa dessa decisão, . Eu não consegui ir contra quando ela começou a apresentar dezenas de motivos para me convencer que esse era o certo. Naquela hora, com ela chorando na minha frente, minha cabeça uma bagunça depois de tanto tempo brigando, para mim também era o certo a se fazer. Mas, agora, sentindo o que estou sentindo, eu já não tenho certeza de nada.
— É difícil até encontrar algo pra te dizer, . — respirou fundo, buscando algo na mente que pudesse ajudar o amigo de alguma forma. Sabia que naquele momento nada poderia ser levado em consideração e que devia agir como a amiga que ele estava precisando. Desviou o olhar e começou a mexer nos dedos em distração. — Relacionamentos por si só não são fáceis, mas os fins conseguem superar totalmente. Eu me lembro do que você falou naquele dia em que saímos. Sei que o que sente por ela é algo verdadeiro e intenso e sentimentos assim não desaparecem do nada. Karol é uma boa pessoa e acredito que também goste de você, mas as vezes a rotina e fatores externos atrapalham mesmo. Vocês poderiam ter ido pelo caminho que você falou, lutando pelo relacionamento e para passar por essa fase, mas talvez não fosse o mais fácil. Talvez isso desgastasse mais ainda o laço dos dois e vocês poderiam acabar de maneira pior, mais brigados. Desse modo pode ter sido melhor sim, por mais que você não concorde tanto agora, mas pense que pelo menos vocês ainda podem conversar como amigos. Não será a mesma coisa, mas pelo menos não anula a chance de vocês voltarem a discutir sobre o assunto ou estarem próximos.
— Você pode estar certa. Aliás, provavelmente está mesmo, mas deve entender que é bem difícil aceitar e entender isso quando ainda está tão recente, né? — os olhos se fixaram nos seus como se perguntasse se não estava errado.
— É claro que entendo, . Olha, o único término de relacionamento sério pelo qual passei foi uma experiência bem pior, acredite. E eu sobrevivi e estou muito melhor do que antes. Posso não entender até hoje os motivos, mas aceito que aquilo devia acontecer de qualquer maneira para somar mais uma barreira da construção de quem eu sou hoje. Por enquanto, apenas tente se manter afastado de grandes reflexões sobre esse assunto e se distraia. Quando estiver se sentindo melhor, aí sim, pare e pense. Tenho certeza de que vai conseguir enxergar com mais clareza e quem sabe aceitar e entender tudo que passou.
se manteve em silêncio apenas absorvendo tudo que havia escutado. Não sabia o que queria escutar naquele momento, mas depois de todo o discurso de , sentiu que era o que ele precisava. Ainda sem dizer nada, sentiu os braços da garota cobrirem seus ombros em um abraço meio sem jeito.
— Vai ficar tudo bem, você vai ver. — deu um leve aperto em seus ombros, pedindo por um olhar de volta. Recebeu alguns segundos depois e sorriu ao ver que ele concordava em um aceno. Sabia bem que cutucar as feridas nunca eram boas opções e que devia seguir o próprio conselho e o ajudar a se distrair, por isso tratou de encerrar o assunto. — Agora que eu já gastei minha cota de conselhos e que não vou conseguir falar bonito assim por algumas semanas, acho que devemos voltar antes que todos comam e não deixem nada pra gente.
— Você realmente falou bonito, até me assustei um pouco. Não estou acostumado. — riu fraco, deixando que o ambiente ficasse mais leve e soltando um gemido ao sentir o tapa da gêmea em seu braço. — Mas muito obrigado. De verdade, você é demais, .
— Não me agradeça, me pague um sorvete e está tudo certo. — deu uma piscadela e um sorriso de lado antes de se levantar e passar a mão no short.
— Isso eu não vou nem negar. — também levantou, mas segurou o braço da amiga para impedir que voltassem a andar de volta à lanchonete. — Antes de irmos, só preciso me certificar de algo.
— Pode falar. — prendeu o lábio entre os dentes, sentindo o olhar dele pesar no seu e um arrepio atravessar sua espinha rapidamente.
— Como você está? — soltou a pergunta e percebeu que ela havia entendido o sentido dela. abanou a mão rapidamente e se preparava para falar qualquer coisa que encerrasse o assunto, mas cortou-a antes. — Nem tente me enganar, . Posso estar abalado, mas percebi seu jeito quando chegou. E havia comentado que disse que estava tendo que a convencer em vir.
— Essa rede de fofoca vai fazer a língua de vocês caírem. — ela revirou os olhos, bufando baixo e apenas escutando a risada de . Naquele dia estaria feliz até se ele risse de sua cara, desde que pudesse ver o sorriso em seu rosto constantemente. Apenas respirou fundo e deixou que o desabafo saísse, sabia que ele não desistiria enquanto não escutasse a verdade. — Eu estou bem, só não completamente. Ainda com um pouco de raiva de mim. Ainda com um pouco de tristeza em perder alguém que já tinha se tornado importante. Mas, no geral, estou bem.
— Certo, eu acabei de me lembrar que não sou bom com conselhos como você. — levou a mão até o cabelo, bagunçando os fios com um olhar envergonhado. Puxou a garota para um abraço de lado antes que ela se distanciasse novamente. — Eu sei que você é uma pessoa inteligente e vai conseguir superar isso melhor do que qualquer outro em seu lugar, mas apenas lembre-se de que não teve culpa em nada, okay? Coisas assim fogem do nosso controle e você não deve sentir raiva de si mesma só por ter tido uma boa atitude em acreditar em alguém.
— Sim, só devemos dizer para nós mesmos que ficaremos bem e em algum momento se tornará uma verdade total. — sorriu de canto, tentando passar segurança em suas palavras com um pequeno aperto em sua mão.
— Olha, isso aí dá até música, sabia?
— Podemos trabalhar nisso!
Os dois voltaram a andar em passos lentos, aproveitando para conversar sobre coisas bobas e curtir a companhia um do outro que os fazia tão bem. A conversa havia sido rápida, mas com palavras e confortos suficientes para aquecer o coração por aquela tarde.
Após retornarem até a lanchonete e reencontrarem com os amigos, a grande quantidade de pessoas no estabelecimento influenciou para que saíssem e fossem para o lugar mais próximo onde poderiam ficar mais à vontade. Por isso, estavam todos espalhados pelos sofás e tapete da sala das gêmeas pouco tempo depois.
— Ei, vocês excluídos aí! Será que dá pra socializar com todo mundo? — Dylan chamou a atenção de e , que estavam debruçados sobre um caderno e comentando coisas entre si sem participar da conversa com os demais.
— Estamos trabalhando em uma música. — lançou a explicação sem ao menos tirar os olhos das anotações que fazia no caderno. Ele e haviam dado corda para o comentário de quando ainda estavam sozinhos e começaram a juntar alguns versos que surgiam espontaneamente. Era apenas uma distração, mas estava dando tão certo que o garoto se empolgou e resolveu estruturar tudo que tinham para finalizar.
— Uh, isso é interessante. Música nova nunca é demais. — se sentou melhor na almofada, arrumando a postura e se virando para os dois. , que descansava a cabeça em suas pernas, bufou baixo e também se sentou.
— Concordo! — sorriu animado com a ideia de poder aumentar o repertório do McFly. — Mostra pra gente como tá ficando.
— Ela está no começo ainda. E não se animem tanto, está me ajudando, então a letra é mais minha e dela do que da banda. — explicou paciente.
— Ei! É claro que a música é do McFly! Estou apenas te aconselhando com uma ou duas palavras, mas não quero nada além do meu nome junto do compositor naqueles sites de letras quando a banda estiver famosa. — sorriu para passar confiança no que estava falando.
— Se a falou, então tá falado! — se intrometeu antes que retrucasse. Correu e se sentou ao lado da amiga, passando um braço por cima de seus ombros e cutucando . — Vamos, cantem logo o que tem aí.
— Mas não tem ritmo ainda, só letra. — a caçula explicou, dando um peteleco na testa de .
— Então apenas leiam e pare de nos matar de curiosidade! — falou em tom autoritário, recebendo apoio dos demais.
— Bom, tem aqui o que pode ser o refrão da música. — pegou o caderno e leu o que estava escrito. — When you're down and lost along the way. Oh just tell yourself: I, I'll be ok.
— E tem uns versos soltos também que faltam estruturar direito, tipo esse: Now things are only getting worse and you need someone to take the blame. When your lover's gone there's no one to share the pain. — ficou levemente vermelho, sabendo que todos entenderiam o significado daquele trecho.
— E isso aqui, que acho que poderia ficar bom como o início da música: When everything is going wrong and things are just a little strange. It's been so long now you've forgotten how to smile. — leu as últimas anotações, passando os olhos pelos amigos e encontrando expressões animadas.
— Cara, isso tá muito bom! — foi o primeiro a comentar, sem conseguir conter o sorriso.
— Eu achei muito bonito, dá pra sentir o sentimento das palavras só de vocês lerem. — Dylan sorriu de lado para a amiga, entendendo que parte da melancolia daquela criação também saíra dela.
— Concordo com o Dy! E acho que quando tiver finalizada vai ser daquelas que fazem todo mundo chorar. — agarrou a almofada do sofá, fingindo que lágrimas caíam de seus olhos.
— Pra mim, essa letra tá quase pronta. Talvez precise de uma nova estrofe ou de alguns versos repetindo, tipo o do refrão, e já estará pronta pra receber a melodia.
— O tá certo. — foi o último a falar, passando a mão pelo cabelo pensativo. — Só acho que nós devíamos surpreender e colocar uma melodia animada pra contrapor com a letra. Até porque na letra fala que você deve ficar bem, então nada melhor do que já ir animando.
— Meninas, podem nos emprestar o violão? — cortou o silêncio segundos depois, recebendo um aceno positivo das e olhares ansiosos dos amigos. Sabiam que aquela música seria finalizada naquela noite.
— Eu não acredito que acabei de presenciar a criação de um hit do McFly! — Dy bateu palmas animado após a música terminar.
e haviam conseguido finalizar a letra com a empolgação de todos ao seu redor. A noite foi seguindo, as pizzas chegaram e entre uma fatia e outra a melodia foi desenvolvida no violão das e no sofá da Dona Kath, que havia ficado tão animada quanto os demais.
— Eu tô apaixonada. — também acompanhou as palmas, cruzando as pernas no sofá e chamando atenção de todos. — Eu acho, inclusive, que as pessoas deviam ouvir logo ela.
— Eu também! — ficou em pé sem conter a animação.
— Mas onde a gente vai tocar ela? Não temos shows tão cedo e não acho que essa música vá fazer o estilo do público do Ezra. — deu de ombros sem conseguir pensar em nada. Todos ao redor continuaram quietos, martelando o que tinham escutado.
— GENTE! — deu um salto, também ficando em pé no centro da sala e assustando todos, principalmente que não se privou de lhe tacar uma almofada. — Desculpa, é que eu tive uma ideia muito boa!
— Tenho até medo. — soltou uma risada fraca, apoiando as costas no sofá. Havia sentado no tapete minutos antes.
— Eu também, vindo de quem vem... — fez piada apenas pelo prazer de irritar o garoto momentaneamente.
— Eu tô falando sério! — ele retrucou.
— Só desembucha de uma vez, . — pediu.
— Porque não aproveitamos a época de Halloween em que estamos e fazemos uma festa temática? E em vez de som, o McFly se apresenta!
— E não é que a ideia é boa mesmo? — se animou também, ficando ao lado do amigo para ajudar a convencer os demais, que ainda estavam pensativos. — Não precisa ser algo grande, né? Nós podemos fazer algo tipo um luau pra poucas pessoas, mas aí mantemos o tema e assim podemos nos divertir fantasiados também.
Todos se entreolharam por um momento, dando o braço a torcer para a ideia e permitindo que sorrisos animados tomassem seus rostos.
— Eu nem me lembro qual foi a última vez que disse não para uma festa. — Dy deu de ombros.
— Eu me lembro, mas pra essa eu voto sim! — respondeu sabendo que aquele evento iria tirar de vez os sentimentos ruins que restaram em si. A primogênita concordou.
— Tô com a !
Só faltava se pronunciar, estavam todos o encarando ansiosos em silêncio. Aquela parecia ser a chance perfeita para festejarem sem motivo e voltar as coisas para os trilhos, principalmente para a gêmea caçula e . Alguns segundos depois, o silêncio foi cortado.
— Bom, parece que teremos muito trabalho pela frente. Temos uma festa para organizar! — respondeu e um coro de comemoração preencheu o ambiente. Estava decidido, iriam fazer a melhor festa de Halloween do ano.
— Nós também estamos felizes, vovó. E pode ficar despreocupada que faço questão de ficar bem coladinha na de agora em diante. — mandou uma piscadela para Kath e puxou a irmã para um abraço desajeitado de lado, mesmo a contragosto da caçula.
— Eu entendi isso, não precisa tentar tirar meu pulmão à força, . — fez piada, exagerando na expressão de alívio ao sentir ela a soltando. Voltou a atenção para seu prato quase vazio e ignorou o olhar da irmã pesando em si. Aliás, a mais velha já estava tornando aquilo um costume.
havia percebido desde que chegaram em casa, que estava preocupada. O questionamento sobre como estava se sentindo só se encerrou quando respondeu que estava bem e não iria mais falar naquilo, seguindo para seu quarto e indo dormir. Porém, a primogênita não conseguia se controlar por completo, então mesmo mantendo as perguntas para si, continuava lançando olhares preocupados em sua direção a todo momento, como se quisesse se certificar que ela não começaria a chorar a qualquer momento.
Conhecendo a si mesma, sabia que as chances daquilo acontecer eram grandes. A angústia que havia sentido nos últimos momentos sozinha com JP ainda fazia um bolo se formar em sua garganta. Mas, maior que isso, era a decepção e tristeza em saber que havia sido enganada por alguém que confiara e que considerava já como amigo. Entretanto, a pontinha de raiva que sentia de si mesma por ter caído na lábia dele a fazia se impedir de perder tempo demonstrando qualquer sofrimento. Poderia até ter seus momentos de fraqueza, desde que estivesse sozinha. Aquela história deveria ter um fim e não mais atingir qualquer outra pessoa.
Levantou da mesa com o prato na mão, desviando do olhar da primogênita e indo até a pia lavar a louça.
— Não quero ver mais ninguém triste nessa casa!
— Se depender da gente será só alegria, vovó. — falou para ela, mas tomou a resposta como uma promessa pessoal. Virou o rosto para lançar um sorriso para a mais velha e uma piscadela para a irmã. respondeu com um aceno e sorriso de lado, compreendendo o que ela pensava.
— Inclusive, acho que devíamos aproveitar o pedido do para voltar com essa alegria com tudo. — se aproximou da pia depositando os outros dois pratos, ignorando o rolar de olhos que a caçula lhe lançava.
Ainda naquele dia, assim que acordaram, recebeu uma mensagem de pedindo que se reunissem, afirmando que tinham muitos motivos para tentar se animar e se recuperarem. sabia que a faria bem ir, mas não sabia se estava preparada para se mostrar completamente bem para todos.
— é aquele seu namorado, querida? — Kath desviou do foco, continuava sentada à mesa para manter a conversa enquanto as duas organizavam a cozinha. Tinha um semblante brincalhão nos lábios enquanto encarava a neta com uma expressão exagerada de indignação e escutava a gargalhada de .
— Viu só? Só você tá se iludindo, . — colocou mais lenha na fogueira sem segurar o riso, soltando uma reclamação ao sentir o tapa da gêmea em seu braço.
— Quem te contou isso, vovó? Não acredite em tudo que a diz. — se apoiou de costas na bancada, cruzando os braços e quase completando a postura infantil com um bico nos lábios.
— Ora, ninguém me contou, mas acredito que sou inteligente o suficiente para saber que quando duas pessoas se falam diariamente, saem juntas sozinhas constantemente e ainda se beijam a cada vez que se encontram, são considerados namorados! — ela espalmou as mãos na mesa e encarou a primogênita em um desafio silencioso de que discordasse dela.
— Pois fique sabendo que namoro não se resume a isso e que e eu estamos apenas curtindo a amizade de um jeito diferente. E você, Dona . — se virou séria de supetão para a irmã, que ainda ria da conversa. — Esteja pronta daqui uma hora porque nós vamos sim.
— As vezes acho que é minha mãe quem está aqui e não a . — comentou contrariada com a avó quando a gêmea saiu do cômodo.
— Devia ter aproveitado para correr enquanto eu distraía ela. — Kath riu do comportamento das duas, sentindo a alegria preencher seu coração ao ver as netas conversando e se provocando novamente como sempre faziam.
As adentraram a Delood passando o olhar pelo local até reconhecerem os amigos na mesa que já se tornava frequente por eles. Se aproximaram percebendo que todos estavam presentes, com exceção de uma pessoa.
— Onde está Karol? — perguntou após cumprimentar a todos e se sentarem. ainda se acomodava na cadeira entre e mas percebeu os olhares trocados entre todos os garotos.
— Ela não vem hoje... — foi vago no comentário com os olhos fixos em , como se fizesse uma pergunta silenciosa.
— Pode falar, eu estou bem e não vai ser segredo pra ninguém daqui um tempo mesmo. — o garoto deu de ombros e voltou a atenção para o ambiente ao redor, sentindo o silêncio pesar por alguns segundos. Não havia nem se esforçado para ser mais convincente ao se dizer bem.
— e Karol terminaram. — falou de uma vez impaciente. — É o que?
ignorou a reação exagerada da irmã e voltou os olhos para o amigo ao seu lado. Ele permanecia calado e com o olhar vago enquanto os garotos se revezavam para explicar a história que ele já devia ter contado antes. Ao que parecia, o casal não andava em uma fase boa há alguns dias. As brigas por bobeiras se tornaram mais frequentes e suas maneiras de pensar e gostos diferentes se tornaram maiores do que os aspectos mais agradáveis do relacionamento. A gota d'água havia acontecido no dia anterior, quando ainda estavam enrolados na história de -JP e começaram a discutir por algo tão bobo que nem ao menos recordava o início da discussão.
O que era algo pequeno, entretanto, continuou e tomou proporções maiores quando se viram sozinhos na casa da garota. Karoline se dizia saturada e não se privou de falar tudo que estava a incomodando. Em resumo, fora uma briga longa, noite a dentro, que resultou nos dois cansados e concordando que a melhor decisão por enquanto era se manter afastados.
mordeu o lábio inferior quando terminou de ouvir a história e percebeu o semblante triste do amigo. Nunca fora feliz com o namoro dos dois, mas não podia negar que estava a matando ver o resultado recente daquele término em . Ignorou o assunto diferente que se iniciava na mesa e aproximou a cadeira da dele, tocando seu braço momentaneamente para chamar sua atenção.
— Não sei se você quer falar sobre isso, mas preciso saber pelo menos como você está. De verdade. — seu tom de voz foi baixo, para que apenas ele escutasse, mas o suficiente para que ele se virasse e a encarasse.
— Podemos ir lá fora? — bastou que ela acenasse em concordância para que levantasse e fosse a passos lentos para fora. Apenas lançou um olhar significativo para todos da mesa e o seguiu, sentindo o olhar intenso de Dylan e em suas costas.
O sol forte atingiu seus olhos ao sair da lanchonete e levou a mão na altura das sobrancelhas enquanto procurava pelo amigo. Viu que ele a esperava do outro lado da pista em pé em baixo de uma árvore. Atravessou rápido e parou ao seu lado em silêncio, sabia que deveria dar espaço para que ele falasse quando e o que quisesse. continuou em silêncio e foi andando devagar até que virassem em uma rua sem movimento e se sentassem no meio fio. Minutos depois pôde escutar sua voz.
— Eu realmente não sei como estou, mas acredito que seja algo entre "normal" e "muito mal". — ele cruzou os braços e apoiou nos joelhos, soltando uma risada nasalada. Encarou-a com os olhos fixos e suspirou alto, tomando coragem para falar o que estava sentindo. — Na verdade, a única coisa que eu sei é que, por mais que não estivesse às mil maravilhas, eu não esperava que chegasse ao fim tão rápido. Eu pensei que a gente ia se unir mais, tentar passar por essa fase e estarmos bem daqui uns dias, mas ela tava muito certa dessa decisão, . Eu não consegui ir contra quando ela começou a apresentar dezenas de motivos para me convencer que esse era o certo. Naquela hora, com ela chorando na minha frente, minha cabeça uma bagunça depois de tanto tempo brigando, para mim também era o certo a se fazer. Mas, agora, sentindo o que estou sentindo, eu já não tenho certeza de nada.
— É difícil até encontrar algo pra te dizer, . — respirou fundo, buscando algo na mente que pudesse ajudar o amigo de alguma forma. Sabia que naquele momento nada poderia ser levado em consideração e que devia agir como a amiga que ele estava precisando. Desviou o olhar e começou a mexer nos dedos em distração. — Relacionamentos por si só não são fáceis, mas os fins conseguem superar totalmente. Eu me lembro do que você falou naquele dia em que saímos. Sei que o que sente por ela é algo verdadeiro e intenso e sentimentos assim não desaparecem do nada. Karol é uma boa pessoa e acredito que também goste de você, mas as vezes a rotina e fatores externos atrapalham mesmo. Vocês poderiam ter ido pelo caminho que você falou, lutando pelo relacionamento e para passar por essa fase, mas talvez não fosse o mais fácil. Talvez isso desgastasse mais ainda o laço dos dois e vocês poderiam acabar de maneira pior, mais brigados. Desse modo pode ter sido melhor sim, por mais que você não concorde tanto agora, mas pense que pelo menos vocês ainda podem conversar como amigos. Não será a mesma coisa, mas pelo menos não anula a chance de vocês voltarem a discutir sobre o assunto ou estarem próximos.
— Você pode estar certa. Aliás, provavelmente está mesmo, mas deve entender que é bem difícil aceitar e entender isso quando ainda está tão recente, né? — os olhos se fixaram nos seus como se perguntasse se não estava errado.
— É claro que entendo, . Olha, o único término de relacionamento sério pelo qual passei foi uma experiência bem pior, acredite. E eu sobrevivi e estou muito melhor do que antes. Posso não entender até hoje os motivos, mas aceito que aquilo devia acontecer de qualquer maneira para somar mais uma barreira da construção de quem eu sou hoje. Por enquanto, apenas tente se manter afastado de grandes reflexões sobre esse assunto e se distraia. Quando estiver se sentindo melhor, aí sim, pare e pense. Tenho certeza de que vai conseguir enxergar com mais clareza e quem sabe aceitar e entender tudo que passou.
se manteve em silêncio apenas absorvendo tudo que havia escutado. Não sabia o que queria escutar naquele momento, mas depois de todo o discurso de , sentiu que era o que ele precisava. Ainda sem dizer nada, sentiu os braços da garota cobrirem seus ombros em um abraço meio sem jeito.
— Vai ficar tudo bem, você vai ver. — deu um leve aperto em seus ombros, pedindo por um olhar de volta. Recebeu alguns segundos depois e sorriu ao ver que ele concordava em um aceno. Sabia bem que cutucar as feridas nunca eram boas opções e que devia seguir o próprio conselho e o ajudar a se distrair, por isso tratou de encerrar o assunto. — Agora que eu já gastei minha cota de conselhos e que não vou conseguir falar bonito assim por algumas semanas, acho que devemos voltar antes que todos comam e não deixem nada pra gente.
— Você realmente falou bonito, até me assustei um pouco. Não estou acostumado. — riu fraco, deixando que o ambiente ficasse mais leve e soltando um gemido ao sentir o tapa da gêmea em seu braço. — Mas muito obrigado. De verdade, você é demais, .
— Não me agradeça, me pague um sorvete e está tudo certo. — deu uma piscadela e um sorriso de lado antes de se levantar e passar a mão no short.
— Isso eu não vou nem negar. — também levantou, mas segurou o braço da amiga para impedir que voltassem a andar de volta à lanchonete. — Antes de irmos, só preciso me certificar de algo.
— Pode falar. — prendeu o lábio entre os dentes, sentindo o olhar dele pesar no seu e um arrepio atravessar sua espinha rapidamente.
— Como você está? — soltou a pergunta e percebeu que ela havia entendido o sentido dela. abanou a mão rapidamente e se preparava para falar qualquer coisa que encerrasse o assunto, mas cortou-a antes. — Nem tente me enganar, . Posso estar abalado, mas percebi seu jeito quando chegou. E havia comentado que disse que estava tendo que a convencer em vir.
— Essa rede de fofoca vai fazer a língua de vocês caírem. — ela revirou os olhos, bufando baixo e apenas escutando a risada de . Naquele dia estaria feliz até se ele risse de sua cara, desde que pudesse ver o sorriso em seu rosto constantemente. Apenas respirou fundo e deixou que o desabafo saísse, sabia que ele não desistiria enquanto não escutasse a verdade. — Eu estou bem, só não completamente. Ainda com um pouco de raiva de mim. Ainda com um pouco de tristeza em perder alguém que já tinha se tornado importante. Mas, no geral, estou bem.
— Certo, eu acabei de me lembrar que não sou bom com conselhos como você. — levou a mão até o cabelo, bagunçando os fios com um olhar envergonhado. Puxou a garota para um abraço de lado antes que ela se distanciasse novamente. — Eu sei que você é uma pessoa inteligente e vai conseguir superar isso melhor do que qualquer outro em seu lugar, mas apenas lembre-se de que não teve culpa em nada, okay? Coisas assim fogem do nosso controle e você não deve sentir raiva de si mesma só por ter tido uma boa atitude em acreditar em alguém.
— Sim, só devemos dizer para nós mesmos que ficaremos bem e em algum momento se tornará uma verdade total. — sorriu de canto, tentando passar segurança em suas palavras com um pequeno aperto em sua mão.
— Olha, isso aí dá até música, sabia?
— Podemos trabalhar nisso!
Os dois voltaram a andar em passos lentos, aproveitando para conversar sobre coisas bobas e curtir a companhia um do outro que os fazia tão bem. A conversa havia sido rápida, mas com palavras e confortos suficientes para aquecer o coração por aquela tarde.
Após retornarem até a lanchonete e reencontrarem com os amigos, a grande quantidade de pessoas no estabelecimento influenciou para que saíssem e fossem para o lugar mais próximo onde poderiam ficar mais à vontade. Por isso, estavam todos espalhados pelos sofás e tapete da sala das gêmeas pouco tempo depois.
— Ei, vocês excluídos aí! Será que dá pra socializar com todo mundo? — Dylan chamou a atenção de e , que estavam debruçados sobre um caderno e comentando coisas entre si sem participar da conversa com os demais.
— Estamos trabalhando em uma música. — lançou a explicação sem ao menos tirar os olhos das anotações que fazia no caderno. Ele e haviam dado corda para o comentário de quando ainda estavam sozinhos e começaram a juntar alguns versos que surgiam espontaneamente. Era apenas uma distração, mas estava dando tão certo que o garoto se empolgou e resolveu estruturar tudo que tinham para finalizar.
— Uh, isso é interessante. Música nova nunca é demais. — se sentou melhor na almofada, arrumando a postura e se virando para os dois. , que descansava a cabeça em suas pernas, bufou baixo e também se sentou.
— Concordo! — sorriu animado com a ideia de poder aumentar o repertório do McFly. — Mostra pra gente como tá ficando.
— Ela está no começo ainda. E não se animem tanto, está me ajudando, então a letra é mais minha e dela do que da banda. — explicou paciente.
— Ei! É claro que a música é do McFly! Estou apenas te aconselhando com uma ou duas palavras, mas não quero nada além do meu nome junto do compositor naqueles sites de letras quando a banda estiver famosa. — sorriu para passar confiança no que estava falando.
— Se a falou, então tá falado! — se intrometeu antes que retrucasse. Correu e se sentou ao lado da amiga, passando um braço por cima de seus ombros e cutucando . — Vamos, cantem logo o que tem aí.
— Mas não tem ritmo ainda, só letra. — a caçula explicou, dando um peteleco na testa de .
— Então apenas leiam e pare de nos matar de curiosidade! — falou em tom autoritário, recebendo apoio dos demais.
— Bom, tem aqui o que pode ser o refrão da música. — pegou o caderno e leu o que estava escrito. — When you're down and lost along the way. Oh just tell yourself: I, I'll be ok.
— E tem uns versos soltos também que faltam estruturar direito, tipo esse: Now things are only getting worse and you need someone to take the blame. When your lover's gone there's no one to share the pain. — ficou levemente vermelho, sabendo que todos entenderiam o significado daquele trecho.
— E isso aqui, que acho que poderia ficar bom como o início da música: When everything is going wrong and things are just a little strange. It's been so long now you've forgotten how to smile. — leu as últimas anotações, passando os olhos pelos amigos e encontrando expressões animadas.
— Cara, isso tá muito bom! — foi o primeiro a comentar, sem conseguir conter o sorriso.
— Eu achei muito bonito, dá pra sentir o sentimento das palavras só de vocês lerem. — Dylan sorriu de lado para a amiga, entendendo que parte da melancolia daquela criação também saíra dela.
— Concordo com o Dy! E acho que quando tiver finalizada vai ser daquelas que fazem todo mundo chorar. — agarrou a almofada do sofá, fingindo que lágrimas caíam de seus olhos.
— Pra mim, essa letra tá quase pronta. Talvez precise de uma nova estrofe ou de alguns versos repetindo, tipo o do refrão, e já estará pronta pra receber a melodia.
— O tá certo. — foi o último a falar, passando a mão pelo cabelo pensativo. — Só acho que nós devíamos surpreender e colocar uma melodia animada pra contrapor com a letra. Até porque na letra fala que você deve ficar bem, então nada melhor do que já ir animando.
— Meninas, podem nos emprestar o violão? — cortou o silêncio segundos depois, recebendo um aceno positivo das e olhares ansiosos dos amigos. Sabiam que aquela música seria finalizada naquela noite.
— Eu não acredito que acabei de presenciar a criação de um hit do McFly! — Dy bateu palmas animado após a música terminar.
e haviam conseguido finalizar a letra com a empolgação de todos ao seu redor. A noite foi seguindo, as pizzas chegaram e entre uma fatia e outra a melodia foi desenvolvida no violão das e no sofá da Dona Kath, que havia ficado tão animada quanto os demais.
— Eu tô apaixonada. — também acompanhou as palmas, cruzando as pernas no sofá e chamando atenção de todos. — Eu acho, inclusive, que as pessoas deviam ouvir logo ela.
— Eu também! — ficou em pé sem conter a animação.
— Mas onde a gente vai tocar ela? Não temos shows tão cedo e não acho que essa música vá fazer o estilo do público do Ezra. — deu de ombros sem conseguir pensar em nada. Todos ao redor continuaram quietos, martelando o que tinham escutado.
— GENTE! — deu um salto, também ficando em pé no centro da sala e assustando todos, principalmente que não se privou de lhe tacar uma almofada. — Desculpa, é que eu tive uma ideia muito boa!
— Tenho até medo. — soltou uma risada fraca, apoiando as costas no sofá. Havia sentado no tapete minutos antes.
— Eu também, vindo de quem vem... — fez piada apenas pelo prazer de irritar o garoto momentaneamente.
— Eu tô falando sério! — ele retrucou.
— Só desembucha de uma vez, . — pediu.
— Porque não aproveitamos a época de Halloween em que estamos e fazemos uma festa temática? E em vez de som, o McFly se apresenta!
— E não é que a ideia é boa mesmo? — se animou também, ficando ao lado do amigo para ajudar a convencer os demais, que ainda estavam pensativos. — Não precisa ser algo grande, né? Nós podemos fazer algo tipo um luau pra poucas pessoas, mas aí mantemos o tema e assim podemos nos divertir fantasiados também.
Todos se entreolharam por um momento, dando o braço a torcer para a ideia e permitindo que sorrisos animados tomassem seus rostos.
— Eu nem me lembro qual foi a última vez que disse não para uma festa. — Dy deu de ombros.
— Eu me lembro, mas pra essa eu voto sim! — respondeu sabendo que aquele evento iria tirar de vez os sentimentos ruins que restaram em si. A primogênita concordou.
— Tô com a !
Só faltava se pronunciar, estavam todos o encarando ansiosos em silêncio. Aquela parecia ser a chance perfeita para festejarem sem motivo e voltar as coisas para os trilhos, principalmente para a gêmea caçula e . Alguns segundos depois, o silêncio foi cortado.
— Bom, parece que teremos muito trabalho pela frente. Temos uma festa para organizar! — respondeu e um coro de comemoração preencheu o ambiente. Estava decidido, iriam fazer a melhor festa de Halloween do ano.
Capítulo 18
entrou primeiro na casa de e a seguiu. Pelo menos metade das pessoas convidadas já haviam chegado e vagavam por ali. Elas atravessaram a pequena aglomeração e seguiram para o quintal, onde sabiam que estava a grande concentração da festa. A casa de havia sido a escolhida justamente pelo grande tamanho de seu jardim dos fundos.
Passaram pela porta e sorriram para si, contentes em ver que estava ainda mais bonito com o céu escuro. O grupo de amigos havia passado a tarde trabalhando na decoração e preparação do local. Não era nada exagerado, mas estava muito bonito. Várias luzes pequenas haviam sido penduradas, abóboras e teias de aranha falsas decoravam pontos específicos, e até o estúdio recebera alguns pontos de luz e servira como fundo do palco improvisado onde os garotos tocariam. Além disso, espalharam alguns puffs e almofadas pelos cantos para acomodar melhor quem desejasse.
— É, nós mandamos bem! — comentou e esticou as mãos para um high five com a irmã.
— Sim, a gente se garante! Agora falta só achar o bonde. — passou os olhos pelo local sem encontrar nenhum dos amigos, parando com a mão na cintura e um bico nos lábios.
— , tá muito engraçado ficar conversando com você nessa roupa. Aliás, é engraçado ver todas essas pessoas fantasiadas e não com as roupas que vão pro colégio. — a caçula riu, apontando especificamente para um colega de laboratório vestido de marinheiro.
— Não tem nada de engraçado na minha fantasia. — a gêmea cruzou os braços incomodada.
— Eu não disse que tinha. Pelo contrário, você tá linda e ela é a sua cara. — deu uma piscadela divertida e riu fraco ao perceber que ela havia entendido o que queria dizer com o comentário.
vestia um vestido rodado curto azul com preto e um casaco marrom escuro por cima. Tinha no pescoço uma gravata preta grande de caveiras coloridas e no cabelo um pequeno chapéu marrom com uma fita laranja. Nos pés, uma botinha de salto alto e uma meia branca quase transparente até o joelho. A roupa era bem trabalhada, mas o que se destacava em sua fantasia de Chapeleiro Maluco era com certeza a maquiagem. Ela havia passado a semana toda andando para encontrar tudo que precisava e havia valido a pena. Seus olhos tinham uma sombra colorida, um azul e outro rosa, e seus cílios, somados com postiços, estavam cobertos por um rímel laranja. Além disso o blush marcava bem as laterais de seu rosto e a boca estava com um batom brilhoso. Era a versão feminina e mais sensual do papel do Johnny Deep.
— Você me acha louca? — ela perguntou fingindo surpresa.
— Você sabe que essa fala é, na verdade, da Alice, né? — alfinetou mais um pouco.
— E você sabe que devia ser uma menina mais comportada, né? — apontou divertida para o decote avantajado da irmã. Diferente dela, havia optado pelo tradicional e escolhido ser Dorothy, de O Mágico de Oz. Estava com um vestido rodado xadrez azul claro com branco e um pequeno avental branco por cima. A roupa era consideravelmente justa e, por ser tomara que caia, deixava seus seios turbinados. Além disso, calçava um salto vermelho e vestia uma meia branca fina que ia até a altura do joelho. Seus cabelos estavam divididos em duas partes amarradas baixas com laços vermelhos.
— Ei! Você me obrigou a pegar essa fantasia decotada, eu ia escolher a de mangas super fofa! — a caçula abriu a boca indignada, dando um pequeno tapa no braço da irmã ao ver que ela apenas brincava com sua cara.
— Me poupe, . Quantas vezes vou ter que te lembrar que o está solteiro e que essa festa é sua melhor chance de aproximação? — bufou baixo, rolando os olhos.
— Eu não vou nem te responder, esse assunto já me cansou. — se preparava para ignorar a mais velha, incomodada com o que fora o assunto da semana. Ela e , que também soube dos últimos acontecimentos, passaram todos os dias repetindo em sua cabeça que era a hora de voltar ao primeiro passo do plano de ataque quando ela só queria esquecer aquela ideia idiota e deixar as coisas acontecendo naturalmente. Se virou para buscar uma bebida e parou no mesmo lugar, sentindo a boca abrir levemente em surpresa ao avistar um dos amigos se aproximando.
— Você só não responde por... — também perdeu a fala momentaneamente ao se virar para o mesmo lado, mas logo um sorriso sacana tomou seus lábios, esquecendo até o debate das duas. — Como diria no Brasil: chama o bombeiro!
— Oi, garotas! — Dylan finalmente parou em frente a elas, dando abraços rápidos e as encarando confuso ao notar suas expressões. — Que cara é essa?
— Puta merda, Dylan Stockler! — soltou após alguns segundos de silêncio. Riu fraco ao notar sua cara assustada e o deu um leve tapa em seu braço. — Você tá muito gato!
Dylan vestia uma calça escura com suspensório vermelho, camisa branca justa, coturno e tinha um chapéu de bombeiro na cabeça. Seus músculos estavam tão bem marcados nas roupas que arrancaria suspiros até dos mais resistentes. Era o típico bombeiro dos sonhos de qualquer uma.
— E muito gostoso! — completou sem vergonha.
— Bom, obrigada pelos elogios. — ele riu sem graça, passando a mão no cabelo. Se recompôs do pequeno momento vergonha e parou alguns segundos para analisar as duas. Por fim, estendeu as mãos para cada uma, fazendo-as rodarem ao redor de si enquanto assoviava. — Vocês também estão de parar o trânsito, viu?!
— Obrigada, Dy. — responderam em uníssono, a caçula ficando mais envergonhada que a outra, como sempre.
— E, querida, tudo isso é pro ? — ele brincou também apontando para o decote da garota. já havia o colocado a par da situação por mensagem no dia anterior e apenas ria divertida ao seu lado, feliz em não estar sozinha.
— Olha, se mais alguém ficar falando dos meus peitos na minha cara eu vou invadir o quarto do e roupar um moletom dele. — ela cruzou os braços, incomodada com a vergonha que sentia, e ignorou as risadas dos dois.
— Desculpa, vamos nos controlar. Agora, mudando de assunto, é impressão minha ou sempre chegamos primeiro que os outros nas festas? — ele perguntou divertido, passando o braço pelos ombros delas e as guiando até uma parte mais tranquila do jardim.
— É ridículo que o esteja atrasado na própria casa. — fez piada.
— Mais ridículo que isso, talvez só aqueles quatro ali. — apontou para a porta da casa.
Estavam os quatro tão conhecidos amigos parados logo na entrada em uma pose malfeita dos Power Rangers arrancando olhares e risadas de todos. Eles pareciam contentes com a atenção e em estar divertindo todos. Vestiam o tradicional macacão justo de cor e seguravam os capacetes nas mãos.
— Eu não acredito que sou amiga deles. — riu das poses que eles faziam, como se estivessem lutando realmente.
— Eu não acredito que estou pegando o azul. — apontou para , que parecia o mais desengonçado de todos.
— E eu não acredito que a tá afim do vermelho. — Dylan se referiu a , rindo e desviando a tempo do tapa que a amiga o acertaria.
Finalmente os quatro pareceram se cansar de passar vergonha e foram até os amigos.
— Fala, meu povo! — era de longe o mais animado de todos, parecia uma criança com a fantasia preta.
— , se você sorrir mais um pouco vai deixar de ser um Power Ranger pra ser o Coringa. — provocou durante o abraço que o dava.
— Não posso fazer nada, tô realizando meu sonho de criança.
— Vulgo seu sonho atual então. — passou a mão em seu ombro, mandando uma piscadela antes de ir cumprimentar os demais. Ele era o Ranger verde. Se aproximou primeiro das garotas. — Vocês duas estão demais, hoje, ein!
— Vocês não ficaram pra trás com esse macacão justinho, viu. — respondeu divertida, dando um selinho em . — Eu sei que gosto de azul, mas precisava de tudo isso?
— Sim, foi especialmente pra você. — ele arrancou uma risada dela. — E você está maravilhosa nessa roupa.
— Ai, quanto doce vocês dois. — rolou os olhos, fingindo enjoo.
— Ora ora ora, se não temos uma garota perdida aqui. — se aproximou, passando o braço por seu ombro em um abraço desajeitado. Ele se distanciou um pouco depois e perdeu alguns segundos observando-a de cima a baixo, sem conseguir disfarçar a leve surpresa e o sorriso de canto. — Você tá linda, .
Ela sentiu as bochechas esquentando com o peso do olhar que recebia e riu fraco, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Depois desse elogio sentia que havia valido até a pena seguir os pedidos de . Os demais amigos ainda estavam juntos na roda, mas a sensação era de que estavam apenas os dois naquele momento para ela.
— Muito obrigada, . Como você está? — desviou o assunto e o encarou nos olhos, sabendo que ele entenderia o real significado da pergunta. Os dois haviam mantido contato direto por mensagem desde o dia que haviam decidido sobre a festa, conversando sobre bobeiras e ajudando com conselhos naquela fase. A caçula podia afirmar feliz que estavam mais próximos depois de tantos papos até a madrugada.
— Estou muito bem, se quer saber, . — mandou uma piscadela, transparecendo uma alegria que não estava presente alguns dias antes. — Estar com vocês me faz muito bem, principalmente passando vergonha com esses caras. — ele falou mais alto, inserindo o resto do grupo na conversa ao perceber que prestavam atenção no que dizia.
— A gente também te ama, chuchu. — se pendurou em seu pescoço, tentando beijar seu rosto antes de ser empurrado sem a menor delicadeza. — Hoje, o amorzinho tá selvagem.
— Aproveitando essa vibe amor, só queria dizer que nós fizemos um ótimo trabalho nessa festa. Daqui a pouco vocês se apresentam, está tudo lindo, não falta nada e olhem só, não para de chegar gente. — Dylan comentou, apontando para a entrada do quintal e levando a atenção de todos até lá.
Talvez por obra do destino ou apenas pela sua falta de sorte de sempre, teve que ver todos seus amigos com a atenção voltada para a porta por onde Karoline acabava de passar, quase a dando a sensação de uma entrada triunfal no momento certo. Sentiu uma pequena fisgada no estômago ao encarar e notar que ele engolia em seco e mal piscava ao analisa-la sem ao menos disfarçar.
— É impressão minha ou nós temos uma segunda Dorothy por aqui? — soltou um riso nasalado, parecendo se divertir com a situação.
Só então notou que Karol vestia uma roupa bem semelhante à sua, com exceção das mangas fofas e a falta de um decote. Era o segundo modelo da sua fantasia, aquele que havia brigado (e perdido) com para levar. Sua frustação naquele momento só seria maior se saísse de perto para ir conversar com ela. Controlou uma bufada e pressionou os lábios em uma linha fina, voltando a prestar atenção nos amigos que faziam piadas, menos , Dylan e .
— Qual a chance? — Dy se aproximou, ficando entre as gêmeas e falando baixo.
— Com a sorte que eu tenho até me surpreende que eu não tenha pensado nisso antes. — deu de ombros.
— Pelo menos você tá mais sexy. — comentou, ignorando o rolar de olhos da caçula.
— , tá tudo de boas aí? — chamou a atenção dele e do resto do grupo, que o encarou ao mesmo tempo. Alguns o olhando com medo de sua reação, outros com curiosidade.
Ele parecia ter esquecido de tudo ao seu redor e encarava a ex sem pudor, aproveitando que ela não os havia visto e ido para o outro lado até seu grupo de amigos do teatro.
— Oi? Ah, tá sim. — ele respondeu sem jeito, passando a mão pelos cabelos. Se virou novamente para o grupo e percebeu que todos ainda o olhavam com dúvida. — É sério, gente. Tá tudo bem. Só foi estranho porque é a primeira vez que a vejo desde então. Na escola consegui fugir disso.
— Vai ir conversar com ela? — quem fez a pergunta que todos estavam se controlando para não fazer. a lançou um olhar em agradecimento pela iniciativa, estava com receio da reação do amigo e mal tinha coragem de o encarar e notar provavelmente o brilho nostálgico em seus olhos.
— Não, melhor não. Hoje, a única Dorothy que quero por perto é essa aqui.
sentiu ele se aproximar e passar o braço por seu ombro, juntando seus corpos de lado. Não pôde conter o sorriso bobo que abriu em seus lábios mesmo com os gritinhos animados dos amigos. Finalmente encarou e ficou feliz em encontrar apenas um sorriso sincero e os tão queridos olhos focados nos seus.
Não sabia afirmar em qual assunto entraram depois de alguns minutos, ainda estava boba demais para prestar atenção, mas sabia que tinha a ver com começar a festa, bebidas e música.
— A próxima música que vamos tocar é bastante especial pra nós porque foi escrita em uma parceria importante e que teve a participação de nós e das nossas amigas em um momento bem único. Por isso, convidamos agora para tocar e cantar com a gente essas gêmeas maravilhosas, As . — anunciou no microfone o que já estava combinado. Havia se passado uma hora de show e toda a atenção da festa estava voltada para eles. Chegava até a ser engraçado os quatro vestidos de Power Rangers tocando e animando a todos.
As duas subiram o pequeno palco enquanto as pessoas aplaudiam, e Dylan berrava elogios, e se posicionaram junto com a banda. No mesmo dia em que I'll be ok foi escrita, o McFly havia convidado as duas para participar daquela apresentação. Foram necessários alguns dias e muito em seus pés para que aceitassem. pegou seu violão e se juntou ao microfone de segunda voz. parou ao lado de e pegou o microfone que ele estendia. Sua mão suava e estava tão gelada que chegava a incomodar, o nervosismo de estar se apresentando como cantora a consumindo. passou os olhos por todos, recebendo um pequeno aceno e iniciou a canção.
When everything is going wrong
(Quando tudo está dando errado)
And things are just a little strange
(E as coisas estão um pouco estranhas)
It's been so long now you've forgotten how to smile
(Faz tanto tempo e agora você até esqueceu como sorrir)
And overhead the skies are clear
(E o alto dos céus está limpo)
But it still seems to rain on you
(Mas ainda parece chover em você)
And your only friends all have better things to do
(E todos os seus únicos amigos têm coisas melhores para fazer)
começou a cantar e o acompanhou. Ele manteve o olhar focado no seu e se aproximou mais, dando a mão e a balançando em um pedido mudo de que se soltasse mais, a melodia era animada e não faria sentido que ela ficasse totalmente estática como estava. Ela riu fraco entre um verso e outro e começou a balançar o corpo no ritmo da música.
When you're down and lost
(Quando você está pra baixo e perdido)
And you need a helping hand
(E precisa de uma mão para te ajudar)
When you're down and lost along the way
(Quando você está pra baixo e perdido pelo caminho)
Oh just tell yourself
(Oh, apena diga a si mesmo)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
Bastou o primeiro refrão para que todos começassem a dançar junto e que e fizessem passos mal ensaiados.
Now things are only getting worse
(Agora as coisas estão só piorado)
And you need someone to take the blame
(E você precisa de alguém para levar a culpa)
When your lover's gone there's no one to share the pain
(Quando seu amante se foi e há ninguém para compartilhar a dor)
You're sleeping with the TV on
(Você está dormindo com a TV ligada)
And you're lying in an empty bed
(E está deitado em uma cama vazia)
All the alcohol in the world would never help me through it again
(Todo o álcool do mundo nunca me ajudaria nisso de novo)
Ela engoliu em seco quando percebeu que encontrou o olhar de Karol, quase na frente do palco, no verso sobre "seu amante". Percebeu também que ela o olhava de volta com um sorriso de lado triste. Karoline deu um aceno positivo quase imperceptível e se afastou um pouco mais do palco segundos depois.
When you're down and lost
(Quando você está pra baixo e perdido)
And you need a helping hand
(E precisa de uma mão para te ajudar)
When you're down and lost along the way
(Quando você está pra baixo e perdido pelo caminho)
Just try a little harder
(Tente um pouco mais)
Try your best to make it through the day
(Tente o seu melhor para superar isso durante o dia)
Oh just tell yourself
(Oh, apena diga a si mesmo)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
You're not alone (you're not alone)
(Você não está só (você não está só))
You're not alone (you're not alone)
(Você não está só (você não está só))
You're not alone
(Você não está só)
Ele se recompôs no mesmo momento e voltou a atenção para os amigos no palco. O público parecia contente com a nova música e eles, que se apresentavam, aproveitavam cada minuto lá em cima.
Just tell yourself
(Apenas fale para si mesmo)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
Oh just tell yourself
(Oh, apenas fale para si mesmo)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
Won't you tell yourself
(Você não vai falar para si mesmo?)
I...
(Eu...)
When you're down and lost
(Quando você está pra baixo e perdido)
And you need a helping hand
(E precisa de uma mão para te ajudar)
When you're down and lost along the way
(Quando você está pra baixo e perdido pelo caminho)
Try a little harder
(Tente um pouco mais)
Try your best to make it through the day
(Tente o seu melhor para superar isso durante o dia)
Oh just tell yourself
(Oh, apenas diga a si mesmo)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
— Muito obrigado, pessoal! — agradeceu por todos quando os gritos e palmas ecoaram pelo ambiente ao final da música. Tomou fôlego, ainda se recuperando da bagunça que fizeram e voltou a falar após as pessoas se controlarem — Agora, pra quem não sabe, nossas queridas têm um canal de cover na internet, então corram atrás e acompanhem elas porque elas são demais. Pra finalizar essa participação maravilhosa, vamos juntos tocar um desses covers. — mais um coro de comemorações e Dylan berrando foi ouvido. — Essa eu tenho certeza que vocês conhecem e vai ser para podermos dar uma respirada depois de tanto pular. Pra vocês, Give me Love.
(N/A: Coloque para tocar essa música pra ajudar no clima haha)
O toque sutil do violão ecoou das caixas de som, fazendo todos se calarem e entrarem em um estado mais calmo. Alguns casais se uniram em abraços, outros aproveitaram para sentar nos puffs espalhados e os demais apenas permaneceram em pé, se movimentando lentamente.
Dylan havia contido a euforia e agora filmava a apresentação em uma câmera a pedido de . Ela queria uma recordação daquele momento e de quebra teria o vídeo da semana do canal. A primogênita era a responsável pelo solo do violão e mantinha uma classe impecável enquanto os dedos deslizavam pelas cordas. Ela se manteve mais atrás junto com o resto da banda e permitiu que apenas e a irmã ficassem mais à frente. Seria apenas os dois como voz dessa vez.
respirou fundo e acertou a entrada da música. O coração que ainda estava agitado pelos minutos anteriores, agora batia devagar e forte. Estar ali já não era fácil pela falta de costume, mas se tornava ainda mais difícil com os olhos de grudados nos seus enquanto cantava aqueles versos que eram, de certa forma, tão sinceros para ela. Fechou seus olhos por alguns segundos tentando esquecer que estava na frente de tantas pessoas e apenas cantou. O estômago revirando e a sensação de que estavam a sós tomando conta.
Sentiu uma mão segurar a sua em um aperto sutil quando uniu sua voz à sua na canção. Abriu os olhos devagar e sorriu para ele, retribuindo o pequeno aperto na mão. Não sabia se ele conseguia a enxergar tão bem naquele momento, mas se esforçou para ajudar. Declarando aquelas palavras junto com ele, sentiu um arrepio correr sua espinha e o coração bater no ritmo da bateria. Se permitiu se aproximar mais e se manteve de frente para ele, não desviando o olhar ou o corpo mesmo quando apenas ele cantava.
O silêncio da plateia era absurdo e não conseguia nem imaginar como todos estavam enxergando aquela cena, se viam a energia que os envolvia assim como ela. se aproximou mais, passando a mão por sua cintura e cantou mais sutil, como um sussurro para ela. Ninguém naquele momento poderia negar o que estava acontecendo. Ela não queria pensar em como estariam suas expressões ou no que pensariam, nem mesmo sobre seus amigos que estavam tão próximos, só queria sentir e viver tudo que acontecia naquela música.
Sentiu a mão de correr das suas costas até a mão, dessa vez segurando firme e dando uma leve puxada para a fazer rodar ao redor de si. Eles dançavam passos dessincronizados apenas sendo guiados pela própria voz sem se importar. Era um momento só deles, uma conexão estabelecida naturalmente ali naquele palco.
Eles revezavam nos trechos da música e cantavam juntos em outros em uma sincronia perfeita. Nem mesmo nos dois ensaios que tiveram havia saído tão bom, e provavelmente não sairia em outras dezenas de tentativas de ensaios, o que estava os guiando ali era uma mistura de nervosismo, vergonha, cumplicidade e entrega. O pouco tempo que tiveram durante a semana parecia mostrar agora os efeitos, estampando o companheirismo que havia se formado e as chances desses sentimentos se evoluírem.
Afinal, estavam ali, quase como um casal, cantando um pedido por amor quando sabiam, mais que ninguém, que era tudo o que precisavam. As cartas estavam na mesa e dessa vez não haveria cego que deixasse passar despercebido.
Estava tão entregue que até o nervosismo diminuiu, permanecendo apenas os efeitos de em si. Ele não quebrava o contato visual e a dava esperanças de que sentia as mesmas sensações. fez questão de parar os passos e a puxar para ficarem frente a frente quando a música foi mudando de ritmo.
A melodia calma começou a ganhar velocidade e ela sentia cada batida e acorde ecoar em seus corpos enquanto o encarava. Cada um cantando um verso de "my, give me love, lover" por vez, unindo-se em uma só voz quando todos os versos se tornaram um só. Em poucos segundos, conseguiu ouvir a voz dos amigos em um coro de fundo, sustentando o ritmo da música e fazendo seus pelos se arrepiarem.
Olhou para a plateia e sua visão percorreu por todas as pequenas luzes penduradas no local. A sensação de estar entre estrelas não poderia ser maior. O brilho amarelo refletia em cima de todos e provavelmente até em seus olhos marejados pela emoção. Aquele frio na barriga que sentia por estar ali em cima era algo impagável e distante de tudo que já vivenciara e por ela passaria por aquilo muitas e muitas vezes ainda.
A música seguiu no mesmo ritmo com os dois naquela bolha tão forte que tinham feito até o final. O último verso foi cantado em meio a um sorriso largo dos dois, a felicidade e a certeza daquela química que rolou escancarada para todos.
Só alguns segundos depois os aplausos ecoaram e eles voltaram a realidade. Os amigos os encaravam mais surpresos que tudo, mas com um olhar curioso no ar. aproveitou a deixa quando agradeceu no microfone a participação das duas e anunciou a próxima música, e desceu do pequeno palco sem conseguir controlar as pernas que a levavam para a parte mais afastada do quintal.
Ela tinha certeza que as bochechas ficariam doloridas de tanto que sorria. Tinha certeza que não bastaria mais que um minuto para e Dy estarem ao seu redor com uma enxurrada de comentários. Tinha certeza de que não iria dormir com tanta euforia. Tinha certeza do que vivera poucos segundos antes. Tinha certeza que havia sentido tudo dessa vez. Tinha certeza de que o destino havia colaborado e a mostrado a porta perfeita no momento perfeito. E mais que isso, tinha certeza de que se fosse para sentir todas aquelas sensações novamente, iria atravessar essa porta e voltar a correr atrás novamente.
Passaram pela porta e sorriram para si, contentes em ver que estava ainda mais bonito com o céu escuro. O grupo de amigos havia passado a tarde trabalhando na decoração e preparação do local. Não era nada exagerado, mas estava muito bonito. Várias luzes pequenas haviam sido penduradas, abóboras e teias de aranha falsas decoravam pontos específicos, e até o estúdio recebera alguns pontos de luz e servira como fundo do palco improvisado onde os garotos tocariam. Além disso, espalharam alguns puffs e almofadas pelos cantos para acomodar melhor quem desejasse.
— É, nós mandamos bem! — comentou e esticou as mãos para um high five com a irmã.
— Sim, a gente se garante! Agora falta só achar o bonde. — passou os olhos pelo local sem encontrar nenhum dos amigos, parando com a mão na cintura e um bico nos lábios.
— , tá muito engraçado ficar conversando com você nessa roupa. Aliás, é engraçado ver todas essas pessoas fantasiadas e não com as roupas que vão pro colégio. — a caçula riu, apontando especificamente para um colega de laboratório vestido de marinheiro.
— Não tem nada de engraçado na minha fantasia. — a gêmea cruzou os braços incomodada.
— Eu não disse que tinha. Pelo contrário, você tá linda e ela é a sua cara. — deu uma piscadela divertida e riu fraco ao perceber que ela havia entendido o que queria dizer com o comentário.
vestia um vestido rodado curto azul com preto e um casaco marrom escuro por cima. Tinha no pescoço uma gravata preta grande de caveiras coloridas e no cabelo um pequeno chapéu marrom com uma fita laranja. Nos pés, uma botinha de salto alto e uma meia branca quase transparente até o joelho. A roupa era bem trabalhada, mas o que se destacava em sua fantasia de Chapeleiro Maluco era com certeza a maquiagem. Ela havia passado a semana toda andando para encontrar tudo que precisava e havia valido a pena. Seus olhos tinham uma sombra colorida, um azul e outro rosa, e seus cílios, somados com postiços, estavam cobertos por um rímel laranja. Além disso o blush marcava bem as laterais de seu rosto e a boca estava com um batom brilhoso. Era a versão feminina e mais sensual do papel do Johnny Deep.
— Você me acha louca? — ela perguntou fingindo surpresa.
— Você sabe que essa fala é, na verdade, da Alice, né? — alfinetou mais um pouco.
— E você sabe que devia ser uma menina mais comportada, né? — apontou divertida para o decote avantajado da irmã. Diferente dela, havia optado pelo tradicional e escolhido ser Dorothy, de O Mágico de Oz. Estava com um vestido rodado xadrez azul claro com branco e um pequeno avental branco por cima. A roupa era consideravelmente justa e, por ser tomara que caia, deixava seus seios turbinados. Além disso, calçava um salto vermelho e vestia uma meia branca fina que ia até a altura do joelho. Seus cabelos estavam divididos em duas partes amarradas baixas com laços vermelhos.
— Ei! Você me obrigou a pegar essa fantasia decotada, eu ia escolher a de mangas super fofa! — a caçula abriu a boca indignada, dando um pequeno tapa no braço da irmã ao ver que ela apenas brincava com sua cara.
— Me poupe, . Quantas vezes vou ter que te lembrar que o está solteiro e que essa festa é sua melhor chance de aproximação? — bufou baixo, rolando os olhos.
— Eu não vou nem te responder, esse assunto já me cansou. — se preparava para ignorar a mais velha, incomodada com o que fora o assunto da semana. Ela e , que também soube dos últimos acontecimentos, passaram todos os dias repetindo em sua cabeça que era a hora de voltar ao primeiro passo do plano de ataque quando ela só queria esquecer aquela ideia idiota e deixar as coisas acontecendo naturalmente. Se virou para buscar uma bebida e parou no mesmo lugar, sentindo a boca abrir levemente em surpresa ao avistar um dos amigos se aproximando.
— Você só não responde por... — também perdeu a fala momentaneamente ao se virar para o mesmo lado, mas logo um sorriso sacana tomou seus lábios, esquecendo até o debate das duas. — Como diria no Brasil: chama o bombeiro!
— Oi, garotas! — Dylan finalmente parou em frente a elas, dando abraços rápidos e as encarando confuso ao notar suas expressões. — Que cara é essa?
— Puta merda, Dylan Stockler! — soltou após alguns segundos de silêncio. Riu fraco ao notar sua cara assustada e o deu um leve tapa em seu braço. — Você tá muito gato!
Dylan vestia uma calça escura com suspensório vermelho, camisa branca justa, coturno e tinha um chapéu de bombeiro na cabeça. Seus músculos estavam tão bem marcados nas roupas que arrancaria suspiros até dos mais resistentes. Era o típico bombeiro dos sonhos de qualquer uma.
— E muito gostoso! — completou sem vergonha.
— Bom, obrigada pelos elogios. — ele riu sem graça, passando a mão no cabelo. Se recompôs do pequeno momento vergonha e parou alguns segundos para analisar as duas. Por fim, estendeu as mãos para cada uma, fazendo-as rodarem ao redor de si enquanto assoviava. — Vocês também estão de parar o trânsito, viu?!
— Obrigada, Dy. — responderam em uníssono, a caçula ficando mais envergonhada que a outra, como sempre.
— E, querida, tudo isso é pro ? — ele brincou também apontando para o decote da garota. já havia o colocado a par da situação por mensagem no dia anterior e apenas ria divertida ao seu lado, feliz em não estar sozinha.
— Olha, se mais alguém ficar falando dos meus peitos na minha cara eu vou invadir o quarto do e roupar um moletom dele. — ela cruzou os braços, incomodada com a vergonha que sentia, e ignorou as risadas dos dois.
— Desculpa, vamos nos controlar. Agora, mudando de assunto, é impressão minha ou sempre chegamos primeiro que os outros nas festas? — ele perguntou divertido, passando o braço pelos ombros delas e as guiando até uma parte mais tranquila do jardim.
— É ridículo que o esteja atrasado na própria casa. — fez piada.
— Mais ridículo que isso, talvez só aqueles quatro ali. — apontou para a porta da casa.
Estavam os quatro tão conhecidos amigos parados logo na entrada em uma pose malfeita dos Power Rangers arrancando olhares e risadas de todos. Eles pareciam contentes com a atenção e em estar divertindo todos. Vestiam o tradicional macacão justo de cor e seguravam os capacetes nas mãos.
— Eu não acredito que sou amiga deles. — riu das poses que eles faziam, como se estivessem lutando realmente.
— Eu não acredito que estou pegando o azul. — apontou para , que parecia o mais desengonçado de todos.
— E eu não acredito que a tá afim do vermelho. — Dylan se referiu a , rindo e desviando a tempo do tapa que a amiga o acertaria.
Finalmente os quatro pareceram se cansar de passar vergonha e foram até os amigos.
— Fala, meu povo! — era de longe o mais animado de todos, parecia uma criança com a fantasia preta.
— , se você sorrir mais um pouco vai deixar de ser um Power Ranger pra ser o Coringa. — provocou durante o abraço que o dava.
— Não posso fazer nada, tô realizando meu sonho de criança.
— Vulgo seu sonho atual então. — passou a mão em seu ombro, mandando uma piscadela antes de ir cumprimentar os demais. Ele era o Ranger verde. Se aproximou primeiro das garotas. — Vocês duas estão demais, hoje, ein!
— Vocês não ficaram pra trás com esse macacão justinho, viu. — respondeu divertida, dando um selinho em . — Eu sei que gosto de azul, mas precisava de tudo isso?
— Sim, foi especialmente pra você. — ele arrancou uma risada dela. — E você está maravilhosa nessa roupa.
— Ai, quanto doce vocês dois. — rolou os olhos, fingindo enjoo.
— Ora ora ora, se não temos uma garota perdida aqui. — se aproximou, passando o braço por seu ombro em um abraço desajeitado. Ele se distanciou um pouco depois e perdeu alguns segundos observando-a de cima a baixo, sem conseguir disfarçar a leve surpresa e o sorriso de canto. — Você tá linda, .
Ela sentiu as bochechas esquentando com o peso do olhar que recebia e riu fraco, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Depois desse elogio sentia que havia valido até a pena seguir os pedidos de . Os demais amigos ainda estavam juntos na roda, mas a sensação era de que estavam apenas os dois naquele momento para ela.
— Muito obrigada, . Como você está? — desviou o assunto e o encarou nos olhos, sabendo que ele entenderia o real significado da pergunta. Os dois haviam mantido contato direto por mensagem desde o dia que haviam decidido sobre a festa, conversando sobre bobeiras e ajudando com conselhos naquela fase. A caçula podia afirmar feliz que estavam mais próximos depois de tantos papos até a madrugada.
— Estou muito bem, se quer saber, . — mandou uma piscadela, transparecendo uma alegria que não estava presente alguns dias antes. — Estar com vocês me faz muito bem, principalmente passando vergonha com esses caras. — ele falou mais alto, inserindo o resto do grupo na conversa ao perceber que prestavam atenção no que dizia.
— A gente também te ama, chuchu. — se pendurou em seu pescoço, tentando beijar seu rosto antes de ser empurrado sem a menor delicadeza. — Hoje, o amorzinho tá selvagem.
— Aproveitando essa vibe amor, só queria dizer que nós fizemos um ótimo trabalho nessa festa. Daqui a pouco vocês se apresentam, está tudo lindo, não falta nada e olhem só, não para de chegar gente. — Dylan comentou, apontando para a entrada do quintal e levando a atenção de todos até lá.
Talvez por obra do destino ou apenas pela sua falta de sorte de sempre, teve que ver todos seus amigos com a atenção voltada para a porta por onde Karoline acabava de passar, quase a dando a sensação de uma entrada triunfal no momento certo. Sentiu uma pequena fisgada no estômago ao encarar e notar que ele engolia em seco e mal piscava ao analisa-la sem ao menos disfarçar.
— É impressão minha ou nós temos uma segunda Dorothy por aqui? — soltou um riso nasalado, parecendo se divertir com a situação.
Só então notou que Karol vestia uma roupa bem semelhante à sua, com exceção das mangas fofas e a falta de um decote. Era o segundo modelo da sua fantasia, aquele que havia brigado (e perdido) com para levar. Sua frustação naquele momento só seria maior se saísse de perto para ir conversar com ela. Controlou uma bufada e pressionou os lábios em uma linha fina, voltando a prestar atenção nos amigos que faziam piadas, menos , Dylan e .
— Qual a chance? — Dy se aproximou, ficando entre as gêmeas e falando baixo.
— Com a sorte que eu tenho até me surpreende que eu não tenha pensado nisso antes. — deu de ombros.
— Pelo menos você tá mais sexy. — comentou, ignorando o rolar de olhos da caçula.
— , tá tudo de boas aí? — chamou a atenção dele e do resto do grupo, que o encarou ao mesmo tempo. Alguns o olhando com medo de sua reação, outros com curiosidade.
Ele parecia ter esquecido de tudo ao seu redor e encarava a ex sem pudor, aproveitando que ela não os havia visto e ido para o outro lado até seu grupo de amigos do teatro.
— Oi? Ah, tá sim. — ele respondeu sem jeito, passando a mão pelos cabelos. Se virou novamente para o grupo e percebeu que todos ainda o olhavam com dúvida. — É sério, gente. Tá tudo bem. Só foi estranho porque é a primeira vez que a vejo desde então. Na escola consegui fugir disso.
— Vai ir conversar com ela? — quem fez a pergunta que todos estavam se controlando para não fazer. a lançou um olhar em agradecimento pela iniciativa, estava com receio da reação do amigo e mal tinha coragem de o encarar e notar provavelmente o brilho nostálgico em seus olhos.
— Não, melhor não. Hoje, a única Dorothy que quero por perto é essa aqui.
sentiu ele se aproximar e passar o braço por seu ombro, juntando seus corpos de lado. Não pôde conter o sorriso bobo que abriu em seus lábios mesmo com os gritinhos animados dos amigos. Finalmente encarou e ficou feliz em encontrar apenas um sorriso sincero e os tão queridos olhos focados nos seus.
Não sabia afirmar em qual assunto entraram depois de alguns minutos, ainda estava boba demais para prestar atenção, mas sabia que tinha a ver com começar a festa, bebidas e música.
— A próxima música que vamos tocar é bastante especial pra nós porque foi escrita em uma parceria importante e que teve a participação de nós e das nossas amigas em um momento bem único. Por isso, convidamos agora para tocar e cantar com a gente essas gêmeas maravilhosas, As . — anunciou no microfone o que já estava combinado. Havia se passado uma hora de show e toda a atenção da festa estava voltada para eles. Chegava até a ser engraçado os quatro vestidos de Power Rangers tocando e animando a todos.
As duas subiram o pequeno palco enquanto as pessoas aplaudiam, e Dylan berrava elogios, e se posicionaram junto com a banda. No mesmo dia em que I'll be ok foi escrita, o McFly havia convidado as duas para participar daquela apresentação. Foram necessários alguns dias e muito em seus pés para que aceitassem. pegou seu violão e se juntou ao microfone de segunda voz. parou ao lado de e pegou o microfone que ele estendia. Sua mão suava e estava tão gelada que chegava a incomodar, o nervosismo de estar se apresentando como cantora a consumindo. passou os olhos por todos, recebendo um pequeno aceno e iniciou a canção.
(Quando tudo está dando errado)
And things are just a little strange
(E as coisas estão um pouco estranhas)
It's been so long now you've forgotten how to smile
(Faz tanto tempo e agora você até esqueceu como sorrir)
And overhead the skies are clear
(E o alto dos céus está limpo)
But it still seems to rain on you
(Mas ainda parece chover em você)
And your only friends all have better things to do
(E todos os seus únicos amigos têm coisas melhores para fazer)
(Quando você está pra baixo e perdido)
And you need a helping hand
(E precisa de uma mão para te ajudar)
When you're down and lost along the way
(Quando você está pra baixo e perdido pelo caminho)
Oh just tell yourself
(Oh, apena diga a si mesmo)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
(Agora as coisas estão só piorado)
And you need someone to take the blame
(E você precisa de alguém para levar a culpa)
When your lover's gone there's no one to share the pain
(Quando seu amante se foi e há ninguém para compartilhar a dor)
You're sleeping with the TV on
(Você está dormindo com a TV ligada)
And you're lying in an empty bed
(E está deitado em uma cama vazia)
All the alcohol in the world would never help me through it again
(Todo o álcool do mundo nunca me ajudaria nisso de novo)
(Quando você está pra baixo e perdido)
And you need a helping hand
(E precisa de uma mão para te ajudar)
When you're down and lost along the way
(Quando você está pra baixo e perdido pelo caminho)
Just try a little harder
(Tente um pouco mais)
Try your best to make it through the day
(Tente o seu melhor para superar isso durante o dia)
Oh just tell yourself
(Oh, apena diga a si mesmo)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
You're not alone (you're not alone)
(Você não está só (você não está só))
You're not alone (you're not alone)
(Você não está só (você não está só))
You're not alone
(Você não está só)
(Apenas fale para si mesmo)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
Oh just tell yourself
(Oh, apenas fale para si mesmo)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
Won't you tell yourself
(Você não vai falar para si mesmo?)
I...
(Eu...)
When you're down and lost
(Quando você está pra baixo e perdido)
And you need a helping hand
(E precisa de uma mão para te ajudar)
When you're down and lost along the way
(Quando você está pra baixo e perdido pelo caminho)
Try a little harder
(Tente um pouco mais)
Try your best to make it through the day
(Tente o seu melhor para superar isso durante o dia)
Oh just tell yourself
(Oh, apenas diga a si mesmo)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
I, I'll be ok
(Eu, eu vou ficar bem)
(N/A: Coloque para tocar essa música pra ajudar no clima haha)
O toque sutil do violão ecoou das caixas de som, fazendo todos se calarem e entrarem em um estado mais calmo. Alguns casais se uniram em abraços, outros aproveitaram para sentar nos puffs espalhados e os demais apenas permaneceram em pé, se movimentando lentamente.
Dylan havia contido a euforia e agora filmava a apresentação em uma câmera a pedido de . Ela queria uma recordação daquele momento e de quebra teria o vídeo da semana do canal. A primogênita era a responsável pelo solo do violão e mantinha uma classe impecável enquanto os dedos deslizavam pelas cordas. Ela se manteve mais atrás junto com o resto da banda e permitiu que apenas e a irmã ficassem mais à frente. Seria apenas os dois como voz dessa vez.
respirou fundo e acertou a entrada da música. O coração que ainda estava agitado pelos minutos anteriores, agora batia devagar e forte. Estar ali já não era fácil pela falta de costume, mas se tornava ainda mais difícil com os olhos de grudados nos seus enquanto cantava aqueles versos que eram, de certa forma, tão sinceros para ela. Fechou seus olhos por alguns segundos tentando esquecer que estava na frente de tantas pessoas e apenas cantou. O estômago revirando e a sensação de que estavam a sós tomando conta.
Sentiu uma mão segurar a sua em um aperto sutil quando uniu sua voz à sua na canção. Abriu os olhos devagar e sorriu para ele, retribuindo o pequeno aperto na mão. Não sabia se ele conseguia a enxergar tão bem naquele momento, mas se esforçou para ajudar. Declarando aquelas palavras junto com ele, sentiu um arrepio correr sua espinha e o coração bater no ritmo da bateria. Se permitiu se aproximar mais e se manteve de frente para ele, não desviando o olhar ou o corpo mesmo quando apenas ele cantava.
O silêncio da plateia era absurdo e não conseguia nem imaginar como todos estavam enxergando aquela cena, se viam a energia que os envolvia assim como ela. se aproximou mais, passando a mão por sua cintura e cantou mais sutil, como um sussurro para ela. Ninguém naquele momento poderia negar o que estava acontecendo. Ela não queria pensar em como estariam suas expressões ou no que pensariam, nem mesmo sobre seus amigos que estavam tão próximos, só queria sentir e viver tudo que acontecia naquela música.
Sentiu a mão de correr das suas costas até a mão, dessa vez segurando firme e dando uma leve puxada para a fazer rodar ao redor de si. Eles dançavam passos dessincronizados apenas sendo guiados pela própria voz sem se importar. Era um momento só deles, uma conexão estabelecida naturalmente ali naquele palco.
Eles revezavam nos trechos da música e cantavam juntos em outros em uma sincronia perfeita. Nem mesmo nos dois ensaios que tiveram havia saído tão bom, e provavelmente não sairia em outras dezenas de tentativas de ensaios, o que estava os guiando ali era uma mistura de nervosismo, vergonha, cumplicidade e entrega. O pouco tempo que tiveram durante a semana parecia mostrar agora os efeitos, estampando o companheirismo que havia se formado e as chances desses sentimentos se evoluírem.
Afinal, estavam ali, quase como um casal, cantando um pedido por amor quando sabiam, mais que ninguém, que era tudo o que precisavam. As cartas estavam na mesa e dessa vez não haveria cego que deixasse passar despercebido.
Estava tão entregue que até o nervosismo diminuiu, permanecendo apenas os efeitos de em si. Ele não quebrava o contato visual e a dava esperanças de que sentia as mesmas sensações. fez questão de parar os passos e a puxar para ficarem frente a frente quando a música foi mudando de ritmo.
A melodia calma começou a ganhar velocidade e ela sentia cada batida e acorde ecoar em seus corpos enquanto o encarava. Cada um cantando um verso de "my, give me love, lover" por vez, unindo-se em uma só voz quando todos os versos se tornaram um só. Em poucos segundos, conseguiu ouvir a voz dos amigos em um coro de fundo, sustentando o ritmo da música e fazendo seus pelos se arrepiarem.
Olhou para a plateia e sua visão percorreu por todas as pequenas luzes penduradas no local. A sensação de estar entre estrelas não poderia ser maior. O brilho amarelo refletia em cima de todos e provavelmente até em seus olhos marejados pela emoção. Aquele frio na barriga que sentia por estar ali em cima era algo impagável e distante de tudo que já vivenciara e por ela passaria por aquilo muitas e muitas vezes ainda.
A música seguiu no mesmo ritmo com os dois naquela bolha tão forte que tinham feito até o final. O último verso foi cantado em meio a um sorriso largo dos dois, a felicidade e a certeza daquela química que rolou escancarada para todos.
Só alguns segundos depois os aplausos ecoaram e eles voltaram a realidade. Os amigos os encaravam mais surpresos que tudo, mas com um olhar curioso no ar. aproveitou a deixa quando agradeceu no microfone a participação das duas e anunciou a próxima música, e desceu do pequeno palco sem conseguir controlar as pernas que a levavam para a parte mais afastada do quintal.
Ela tinha certeza que as bochechas ficariam doloridas de tanto que sorria. Tinha certeza que não bastaria mais que um minuto para e Dy estarem ao seu redor com uma enxurrada de comentários. Tinha certeza de que não iria dormir com tanta euforia. Tinha certeza do que vivera poucos segundos antes. Tinha certeza que havia sentido tudo dessa vez. Tinha certeza de que o destino havia colaborado e a mostrado a porta perfeita no momento perfeito. E mais que isso, tinha certeza de que se fosse para sentir todas aquelas sensações novamente, iria atravessar essa porta e voltar a correr atrás novamente.
Capítulo 19
As irmãs entraram pelo portão da escola se arrastando, quase tendo certeza de que tudo ao redor estava mais barulhento e lento do que o normal. Ou talvez fosse só efeito de uma ressaca mal curada. Na verdade, estavam mais surpresas era com o fato de terem conseguido chegar até o prédio àquela hora da manhã sendo que haviam ficado até tarde no Ezra. Não duvidavam também que o resto do grupo estivesse tão ruim quanto elas. Só pararam de andar quando chegaram na sala e se jogaram de qualquer maneira nas cadeiras, prontas para voltar a dormir ali mesmo. Estavam em um acordo silencioso desde que acordaram de que ficariam caladas e quietas o máximo que pudessem para ajudar a outra.
— Desculpa, mas não tenho forças para cumprimentar ninguém. — chegou se desculpando e logo se jogou na cadeira ao lado de , apoiando os braços e encostando a cabeça para dormir.
— Eu não pretendia conversar tão cedo, mas preciso dizer que estou surpresa em ver o quieto pela primeira vez em meses. — comentou com a voz rouca apontando para o amigo e tirando uma risada fraca da irmã.
levantou mais a cabeça e passou os olhos pela sala, esperava que estivesse junto com ou logo atrás já que pegavam juntos aquela aula, mas não o encontrou.
— Onde está o ? — cutucou para acordá-lo antes que ele começasse a roncar e perdesse a oportunidade.
Pôde escutar a reclamação do amigo e quase ficou com dó por tirá-lo do descanso, mas sua curiosidade naquele momento era maior. não estava ontem no bar com eles, aparentemente porque tinha um compromisso de família em uma cidade vizinha, mas não conseguia deixar de pensar que ele a estivesse evitando depois daquele momento em cima do palco na festa, a última vez que se viram. Após o show, todos os amigos que acompanharam a cena de perto ficaram a todo momento lançando olhares curiosos e animados para os dois, finalmente percebendo algo diferente ali, pelo menos em . Eles ficaram nessa até que também percebesse e se afastasse de , mantendo a conversa mais com os rapazes. Ela só não sabia se ele havia percebido realmente o que tinha rolado ou se só ficou constrangido com os olhares. De qualquer forma, sua mente não deixava de criar mil paranoias desde então.
— Sinceramente, não faço a menor ideia, . — nem se esforçou em levantar a cabeça, fazendo com que sua voz ainda saísse abafada. Somente depois de alguns segundos em silêncio ele parecia finalmente ter processado a pergunta, virando o rosto e lançando um sorriso malicioso para amiga. — Você devia falar com ele.
— Eu? E posso saber o motivo? — se fez de desentendida, mas apenas bufou e rolou os olhos ou notar que amigo apenas deu de ombros e voltou a cochilar.
— Você devia mesmo falar com ele. — insistiu na ideia, se dando por vencida e desistindo momentaneamente do trato de não conversarem. Se virou de lado, apoiando o braço no encosto da cadeira e encarou a irmã, voltando a falar, mas dessa vez aos sussurros. — Talvez ele esteja só ocupado, mas não dá pra descartar a opção de que ele tenha estranhado aquele momento íntimo de vocês ou os olhares de todo mundo.
— Eu sei, mas não sei se tenho coragem de tratar desse assunto tão diretamente. — suspirou cansada, sendo sincera com sobre o que pensava.
— Você mesmo me disse que foi muito intenso na hora que vocês cantaram e ele falou na frente de todo mundo que preferia você a Karol na festa, acho que não tem o que temer. Mas, se realmente acha que não consegue, apenas tenta conversar sobre qualquer outra coisa, ele pode acabar entrando no assunto.
— É, acho que não custa tentar.
— Sim! E você tem que concordar que esse é o melhor momento pra algo acontecer entre vocês dois, não se afasta. — deu dois tapinhas leves em seu braço e voltou a se virar agora que a professora havia entrado na sala.
apoiou o rosto na mão e deixou o olhar se perder, voltando a mergulhar em seus pensamentos sobre aquilo. Não havia muito o que decidir, ou iria atrás ou provavelmente perderia a aproximação com o amigo e nunca saberia o que ele pensava sobre o que aconteceu. Em um pequeno gesto de coragem, puxou o celular do bolso e deixou os dedos correrem pela tela para digitar (redigitar muitas vezes também) e enviar a mensagem antes que a professora notasse.
“Estou começando a achar que você está fugindo de nós. Tudo isso é medo de ser zoado junto com os outros pelas suas fotos com aquele macacão vermelho apertado? Haha Cadê você? xx”
— , o que acha desse enquadramento? — Dylan chamou sua atenção, apontando para o visor da câmera.
Eles estavam no jardim da escola no horário da aula de artes, o último do dia, desenvolvendo o trabalho do início do semestre. Como o trabalho era para ser entregue no final do ano, eles deviam concluir pelo menos metade até o final do primeiro semestre. E, levando em consideração que faltava pouco mais que duas semanas para as férias de inverno, estavam correndo contra o tempo para adiantar o máximo possível. Parte do trabalho era a junção de vários depoimentos em vídeo sobre violência, estavam gravando o que conseguiam.
Ela se sentia mais disposta após o lanche no intervalo e por estarem no último horário. Se aproximou do amigo, vendo pelo visor o aluno do segundo ano que daria seu depoimento. Ele estava levemente desconfortável com a situação, mas manteve a palavra e continuou no mesmo lugar para ajudá-los. fez um aceno positivo para a irmã, que orientava onde o garoto deveria ficar posicionado, e se afastou novamente para Dylan iniciar a gravação. Escutou a voz do aluno iniciar sua fala e se perdeu por um momento apenas observando algumas pessoas dispersas pelo jardim aproveitando seus horários livres ou só matando aula. Com um sorriso de lado se lembrou do dia em que fugira da aula, uma das primeiras vezes, e que acabou passando o tempo com a companhia de . O mesmo dia em que o dera de presente Something New, que naquela época era apenas um protótipo de letra.
Sentiu um leve frio na barriga e não conteve o movimento de tirar o celular do bolso mais uma vez para checar se havia alguma mensagem nova. Nada. Bufou levemente e espantou os pensamentos antes que mergulhasse em algo que não queria e se virou para voltar a ajudar no trabalho. Soltou uma reclamação baixa quando sentiu algo forte bater contra o seu corpo e a assustar levemente.
— Garota, você realmente tá com a cabeça nas nuvens. — Dylan soltou a piadinha enquanto a segurava pelos braços, a ajudando a recobrar o equilíbrio após o choque dos dois.
— Você que não tem noção de espaço, eu esbarrei porque não tinha te visto. — ela mandou língua para ele antes de se recobrar. — Você não tava gravando?
— Sim, mas a tá gostando muito da função dela e parou tudo mais uma vez pra orientar o Alan. — ele rolou os olhos e se afastou para o lado, dando visão para que visse a primogênita tagarelando com o garoto, que apenas acenava em concordância desanimado.
— Coitado, daqui a pouco eu mesma dispenso ele e digo que não precisa mais. — soltou uma risada nasalada e sentiu o celular vibrar no bolso, automaticamente sacando-o o do bolso e ignorando o que o amigo falava. Abriu a mensagem e não conteve um frio na barriga ao ver que era a resposta de .
“Qm me dera eu ‘tivesse sumido por vontade própria, fui forçado! N q eu n sinta vergonha dessas fotos, mas nd dms. Cheguei mt tarde de viagem e perdi a hr, mas obg por sentir minha falta.”
— Pela cara já sei quem é. — Dylan a empurrou pelo ombro, dando uma piscadela. — Onde ele está?
— Nem consigo mais disfarçar, né, Dy? — mordeu o lábio envergonhada ao ver ele negar. Batucou com o celular entre os dedos ainda pensando no que iria responder. — Ele chegou de viagem tarde, acho que está em casa. Inclusive agradeceu por eu ter sentindo sua falta. — sentiu o rosto esquentar.
— Bom, como até ele notou isso, não faria mal você o fazer uma visita. — Dylan passou o braço por seus ombros e a guiou devagar pelo jardim, a lançando um olhar malicioso.
— O que? Tá ficando doido, Dy? — parou de uma vez, o encarando com os olhos arregalados.
— Não mesmo! O que tem de mal nisso?
— Tudo! — falou de uma vez, sentindo seus pensamentos alterados. — Quer dizer, o que ele ia pensar? Ainda mais depois daquele nosso momento no luau e da minha mensagem procurando por ele.
— Você só vai saber falando com ele. Além do mais, você tem é que aproveitar que já aconteceu tudo isso e não perder a chance de botar esse sentimento pra fora! — ele percebeu que ela estava relaxando e se deixando levar por suas ideias, apoiou as mãos em seus ombros e a olhou nos olhos. — , vai lá, diz que quis ajudar e levar as anotações da aula, conversa com ele, aproveita!
— Eu não sei... A gente tem que fazer o trabalho...
— Pode deixar que a gente cuida disso hoje, aproveita que esse é o último horário e vai logo, te dou cobertura e explico pra depois que ela fizer nosso ajudante chorar. — ele lhe lançou uma piscada divertida antes de recolher sua bolsa do chão, a jogar em seus braços e a empurrar.
não pensou muito, apenas escutou o amigo e deixou que seus pés a levassem para longe da escola e para perto de onde seu coração a chamava.
— ? — abriu a porta surpreso. Tinha os cabelos bagunçados e vestia apenas uma calça de pijama.
— Er..O-oi, . — ela respondeu em um fio de voz, sentindo suas bochechas esquentarem e as pernas bambearem momentaneamente ao vê-lo daquela maneira. Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e pressionou os lábios envergonhada.
Sentiu primeiro o arrependimento de estar ali assim que percebera que o garoto provavelmente tinha acabado de sair da cama. Em segundo uma dificuldade em se manter sã com aquele abdômen definido à sua frente. Como ninguém tinha avisado a que era contraindicado ele aparecer sem camisa e com aqueles cabelos desgrenhados na frente de alguém? Principalmente se esse alguém fosse ela.
— Hum...Você não tava na escola? — ele perguntou confuso e semicerrou os olhos, passando a mão pelos cabelos e apoiando o braço na porta. Certamente tentando entender em que momento ela havia deixado de conversar apenas por mensagem para aparecer em sua porta.
— Ah, tava sim, mas eu saí. Quer dizer, eu não tinha mais o que fazer no trabalho e tava indo pra casa, mas resolvi passar aqui pra te passar as anotações da aula. Porque você não foi. Mas se não quiser tudo bem. — ela poderia implorar naquele momento para que alguém a fizesse calar a boca. O nervosismo com certeza havia subido para sua cabeça e ela mal conseguia explicar uma coisa direito, apenas vomitando tudo de uma vez e ficando sem fôlego. — Desculpa, é melhor eu ir embora.
— Hey! Calma aí, . Não queria te assustar. — desencostou da porta e se aproximou dela, soltando uma risada nasalada enquanto cruzava os braços. — Só fiquei surpreso com sua aparição, mas com certeza quero suas anotações e também sua companhia.
— Certeza? — mordeu o lábio inferior o olhando incerta.
— Claro! Vem, vamos entrar. — ele deu espaço para que ela entrasse e depois fez o mesmo, fechando a porta.
entrou na sala da casa e continuou quieta em seu canto, mantendo as mãos nas alças da mochila enquanto esperava o amigo tomar a frente. Ainda xingava mentalmente Dylan por a ter convencido a ir ali e se culpava por ser tão boba e não conseguir agir naturalmente. Notou uma mala semiaberta largada no canto próximo ao sofá e seguiu para a poltrona que apontava, se sentando e vendo-o sentar na outra ao seu lado.
— Ignore a bagunça e as coisas jogadas pela casa. — ele falou após notar seu olhar vagando pela mala e sapatos no tapete. — Como eu disse, chegamos tarde de viagem e ninguém teve tempo ou ânimo para arrumar tudo ainda, principalmente meus pais que saíram cedo para trabalhar.
— Sem problemas! — soltou uma risada fraca e puxou a mochila para o colo, mexendo na alça enquanto falava. — Se você não quiser passar tudo pro seu caderno agora, pode ficar com o meu e me devolver amanhã.
— Você é dez, ! Se você puder deixar, eu agradeço. Estou morto de fome e acho que vou ir é fazer algo para comer agora. — e mais uma vez ele passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os levemente e fazendo segurar mais um suspiro. Céus! Ele ainda estava sem camisa e aquilo já era difícil o bastante.
— Sem problemas! Não teve nenhuma grande explicação na aula, acredito que você possa estudar bem para a prova só com isso. — se concentrou em pegar o caderno da mochila e o entregar antes que ficasse o encarando tempo demais. — Bom, e como era só isso que vim fazer, acho que já vou...
— Poxa, , achei que tivesse sentido minha falta. — rolou os olhos e depois apelou para um bico mal feito de tristeza, ainda com o canto do lábio repuxado de um sorriso. Seus olhos focaram no seu sem desviar. — Você quer tanto ir assim? Aposto que não tem nada de importante pra fazer. Fica aí comigo e vamos comer juntos.
— Não sei... — preferiu ignorar a primeira frase dele sobre sua falta para evitar mais constrangimento caso falasse demais e se mostrou indecisa mesmo com a mente gritando em "SIM". Afinal, era completamente lindo e sem camisa, sem ninguém por perto para atrapalhar, a convidando para ficar ali com ele.
— Por favor, ! Não me faça comer sozinho e triste. — ele uniu as mãos e a lançou um olhar pidão como última apelação para aquele pedido, sorrindo vitorioso ao ver que ela concordava em um aceno. Se levantou da poltrona em um pulo e indicou o cômodo de trás com a cabeça. — Muito bem! Agora, vamos para cozinha que você vai ter a honra de apreciar um grande chef em ação.
— Cuidado, ein? Quem muito fala, pouco faz. — deu uma piscada divertida e o seguiu até a cozinha.
Ela poderia agradecer por ter se coberto parcialmente com aquele avental e tampado seu peitoral, isso se ele não tivesse ficado tão charmoso quanto antes. Parecia até aquelas cenas de filmes em que a mulher acorda de uma noite maravilhosa e encontra o marido na cozinha preparando o almoço deles. Ela toparia entrar no papel de sua esposa sem pensar o contrário nem por um segundo. Se sentou no banquinho do balcão e apenas ficou apreciando o garoto andando de um lado para o outro cozinhando.
O cheiro foi tomando conta da casa e sem que se dessem conta, o tempo foi passando e entre conversa jogada fora e risadas, terminou o que estava fazendo e colocou a travessa na mesa. Agora mais à vontade, se preocupou em ajudar, pegando o suco que havia feito enquanto o amigo ainda estava no fogão e os pratos. Minutos depois, estavam os dois frente a frente na mesa prontos para comer.
— O cheiro está muito bom, mas confesso que a cara tá me assustando um pouco. — o provocou enquanto ele a servia, apontando para a travessa.
— Como ousa falar do meu brócolis? — forçou uma expressão chocada e parou momentaneamente de servir seu prato para a mandar língua. — Quero ver se continuará zoando quando provar. Pode ser a única coisa que sei fazer, mas me garanto com isso.
— Certo, não está mais aqui quem falou. — ergueu as mãos em rendição antes de pegar o talher e provar da comida. Notou os olhos atentos de em si e manteve a expressão neutra apenas para continuar a provocação, dando pausas estratégicas em sua fala. — Sabe, , nunca fui muito fã de brócolis...confesso que você mudou isso pra mim agora.
— Eu já te disse o quanto você é má? — ele perguntou após suspirar aliviado, finalmente notando que ela apenas brincava com sua cara. Aproveitou a distração dela nas risadas para provar de sua produção também, fazendo um bico com a boca e fechando os olhos por alguns segundos. — Tá realmente muito bom!
— Desculpe, não podia perder a oportunidade. — ela deu de ombros, se deliciando com mais uma garfada antes de ser sincera com o garoto. — Não poderia estar melhor. Você arrasou, .
— Obrigada, ! Seu suco também está dos melhores. — lançou uma piscadela divertida enquanto tomava um gole do líquido, segurando a risada com o rolar de olhos da gêmea.
— É, eu tenho toda uma técnica para colocar a polpa no liquidificador, sabe? Anos de aperfeiçoamento. — respondeu irônica, aproveitando para estender o momento de descontração.
Era maravilhoso se ver naquela situação. Ali, comendo e falando bobeira com o garoto que tirava seu sono e seu melhor sorriso sem mais ninguém. Apenas os dois se curtindo e tendo um momento só deles pela primeira vez, afinal não haveria conversas sobre namoradas ou pretendentes. A atenção era toda deles e só conseguia agradecer por aquilo.
A prova de que a comida estava maravilhosa veio quando em poucos minutos já haviam terminado de comer e estavam de pratos limpos, largados no tapete da sala enquanto algum filme besteirol passava na televisão. Tinham dado uma pausa até mesmo na conversa e apenas aproveitavam a preguiça pós almoço que batia depois de terem comido tão bem. sentia até seus olhos pesando e um cansaço se instalando, aproveitou a comodidade do tapete fofinho e o apoio do sofá nas costas pra acomodar melhor o pescoço em uma almofada, dessa maneira ficando com o rosto virado na direção do amigo.
parecia estar prestando realmente atenção ao filme e movimentava a mão no automático, mexendo com os fios do próprio cabelo com a mão que tinha o braço apoiado no sofá às suas costas. Ele havia colocado uma camisa de flanela após comer e ela agradeceu mentalmente pelo bem de sua sanidade. Os olhos dele piscavam devagar ao analisar as cenas que passavam e a boca permanecia sempre entreaberta, deixando seus lábios cada vez mais convidativos.
teve que controlar o impulso de levar sua mão até seus cabelos e tomar as rédeas daquele quase cafuné. Os dois estavam próximos um do outro, nada tão colado, mas ainda assim ela podia sentir o perfume que tinha se tornado seu cheiro preferido. Mordeu o lábio inferior enquanto se perdia analisando cada parte do rosto de , torcendo lá no fundo para que ele não sentisse o peso de seu olhar. Além de querer se aproximar mais, tinha vontade de poder se aconchegar em seus braços e aproveitarem literalmente juntos aquele momento. Seu lado sentimental também sentia vontade de, mais uma vez, a colocar em situação delicada e iniciar o assunto sobre os dois. Claro que seu cérebro, ainda que vacilasse as vezes, bloqueou essa ação para a sua própria segurança.
Mas a vontade não passava. Vontade de expor ali tudo que estava guardando e cada intensidade do que sentia por ele. Afinal, aquela parecia ser a hora perfeita. Seu peito se comprimia com o medo das respostas e só a força de sua imaginação em criar resultados negativos já a fez desviar o olhar para a televisão novamente.
— , posso te perguntar uma coisa?
Quase soltou um grito de agradecimento (e outro de susto) ao escutar a voz de cortar o silêncio entre os dois. Por alguns segundos não havia sido pega em flagra o encarando com cara de boba. Mal podia saber o que faria caso tal ato acontecesse. Soltou devagar e disfarçadamente o ar que prendeu com o susto e prensou os lábios, se virando para ele e apenas concordando em um aceno. Devia confessar que só com aquela pergunta um frio se instalara em sua barriga, afinal nunca vinham assuntos muito fáceis depois de frases como essa ou a famosa “Temos que conversar”. Manteve seu olhar no dele, tentando ler o que viria a frente e aguardou pela pergunta, não sem deixar de notar quando mordeu o lábio inferior rapidamente.
— Naquele dia do luau, durante nossa apresentação... — Não, não e não! Ele não ia tocar naquele assunto logo agora que ela tinha decidido adiar, né? Pôde sentir inclusive o arrepio tomar todo seu corpo, desviando o olhar das sobrancelhas levemente franzidas do garoto e respirando fundo ao ouvir sua voz retomar a fala. — Você não notou algo diferente?
— Diferente como, ? — aproveitou a inquietação do próprio corpo para se sentar melhor e tentar prolongar o assunto, voltando a olhá-lo diretamente.
— Não sei explicar direito, só sei que senti algo diferente e que foi bom. — ele se virou completamente, deixando-os bem próximos e prendendo o olhar no dela. Pôde notar que ele tinha as mãos inquietas sobre a almofada. — Sabe, , eu andei pensando sobre isso. A única conclusão que eu cheguei foi de que enquanto a gente cantava, uma conexão foi criada. Eu podia sentir ela a cada verso da música e ainda é meio estranho pra mim relembrar isso porque é difícil até de explicar, como você pode perceber.
— Eu sei do que você tá falando. — ela soltou sem pensar, se entregando com sinceridade e cautela à conversa ao notar que estava sendo sincero. Manteve o olhar em suas mãos, brincando com os dedos, para evitar se desconcentrar. — Eu também senti isso, mas preferi não tocar no assunto porque não sabia se tinha sido coisa da minha cabeça. Mas foi realmente mágico de todas as formas e até agora, só de lembrar, eu consigo sentir a intensidade de cada segundo.
— É claro que não foi coisa da sua cabeça! Eu demorei a tocar no assunto porque estava procurando uma oportunidade. E concordo, é realmente difícil de esquecer aquele momento. — continuou a olhando, ainda que ela não o olhasse de volta. A mente dele trabalhava lentamente, tentando encaixar as peças do quebra-cabeça enquanto falava. Ele percebeu que ela não insistiria no assunto por conta própria, então aproveitou para falar o que ele mesmo sentia. — Olha, , eu tentei entender a razão disso. O porquê de eu sentir isso e não sei se consegui chegar em uma conclusão certa mas eu sei que agora tenho a plena certeza de que você é alguém muito importante pra mim....
poderia sentir seu coração batendo em qualquer parte do corpo ali. Suas mãos estavam frias e os ouvidos apurados para escutar até a mínima respiração do garoto ao seu lado. Se ela já não podia esperar por essa conversa minutos atrás, mal podia imaginar o que sentia naqueles segundos anteriores ao ouvir o que ele falara. Ela queria muito saber o resto da frase. Mas mais do que isso, queria que ela trouxesse sentimentos compatíveis com o seu. Queria poder escutar que ele gostava dela tanto quanto ela gostava dele, ainda que ele não soubesse. Queria poder ter a certeza de que tudo daria certo enfim.
Ela finalmente se virou para o encarar e só então notou como estavam pertos. Não sabia se a culpa fora dos dois ou apenas de um, mas os corpos antes meio distantes estavam a milímetros de distância a ponto de poderem sentir a respiração um do outro. O silêncio se prolongou entre eles e não fez nenhuma menção de que iria se mexer ou voltar a falar. O perfume amadeirado entrava por suas narinas sem pudor e seus olhos pareciam grudados naqueles . não pôde deixar de notar também quando os dele se desviaram para sua boca, fazendo ela morder seu próprio lábio num impulso. Seu estômago revirava de forma que coubessem muito mais bichos do que borboletas voando ali. Quando finalmente sentiu seus lábios a ponto de se tocar, suas pálpebras se fecharam e...
“I'll be there for you. When the rain starts to pour”
Se algo frágil estivesse por perto naquele momento, teria se destruído tamanho o pulo que os dois deram para longe um do outro ao escutar a música se iniciando do nada. sentiu a garganta fechar e o coração disparar mais ainda. Soltou o ar de uma vez ao reconhecer o toque de seu telefone. Sem voz para se desculpar e coragem para olhar para , apenas puxou a mochila e o celular do bolso menor. Atendeu sem ao menos ler o nome de quem estaria no topo de sua lista negra depois de atrapalhar aquilo.
— Alô? — atendeu em um fio de voz, se levantando e afastando um pouco enquanto também ficava em pé rapidamente e se ocupava em levar os copos de sucos vazios para a cozinha.
— Maninha! Cadê você, ein? — escutou a voz de soar animada e teve que contar até cinco mentalmente antes que a mandasse para um lugar indevido.
— No . — foi curta e grossa na resposta, torcendo para que a ligação das duas fizesse a gêmea entender que aquele não era o momento para conversar e que provavelmente enfiaria sua cabeça na privada quando chegasse em casa.
— Eita, quase senti um arrepio aqui com esse tom de voz. Que bicho te mordeu? — soltou uma risada fraca, voltando a falar mais séria ao escutar apenas o silêncio da caçula. — Ih, já vi que o negócio foi feio. Quer falar?
— Melhor em casa. — foi breve na resposta para evitar que entendesse sobre o que se tratava. Respirou fundo, passando a mão nos cabelos e relaxou por um segundo enquanto escutava a voz da irmã.
— Ok! Vou esperar por essa conversa, mas não vou aguentar a novidade até lá. Sem contar que isso vai melhorar seu humor, que está precisando. — a primogênita soltou uma risada no final, de certo percebendo que havia algo errado com . Elas sempre sabiam. Voltou a falar após os segundos de concordância da irmã com a voz alguns bons tons mais altos. — A VAI VIR PASSAR O FINAL DO ANO COM A GENTE!
— O QUE? — não conseguiu se conter e acabou colocando a mão na boca após isso, fazendo sinal de que estava tudo bem ao notar o olhar preocupado de nela. Naquele momento até conseguiu ignorar o que havia acontecido minutos antes. — Isso é sério?
— Claro que é! Ela vem daqui algumas semanas, um dia depois de acabar nossas aulas. — se empolgou mais ainda ao notar que a irmã voltara a falar normalmente. Se empolgou tanto que começou a despejar todas as informações antes que tivesse tempo de responder direito. — Ah, e ela vai ficar até pouco depois do ano novo. A gente com certeza vai ter que planejar muita coisa, quero muita animação. Sem falar que temos que ver como vamos buscar ela no aeroporto, ela está contando com isso e disse que...
— , guarde um pouco para quando eu chegar em casa. — a caçula a interrompeu, focando em onde estava e sabendo que aquele não era o momento para passar horas no celular, ainda que essa fosse sua vontade apenas para evitar ter que lidar com o que tinha rolado.
— Ain, grossa! Mas tudo bem, continuamos quando você chegar. E falar nisso, vai demorar? A vovó está te esperando para...
— Não. Daqui a pouco chego aí. Tchau. — respondeu rápido sabendo que a gêmea voltaria a tagarelar mais e desligou sem esperar pela reclamação que viria depois. Se manteve de costas, fingindo que mexia em algo no aparelho até conseguir respirar fundo e criar coragem para encarar o constrangimento que viria.
Se virou e puxou a mochila do chão, ajudando a colocar as almofadas no lugar ainda em silêncio. Eles não se encaravam diretamente e até ele parecia desconfortável, só não tanto quanto ela.
— Er, acho que já vou, . — falou após os dois se encontrarem de frente sem mais com o que se ocupar. Manteve o celular em uma mão e ficou brincando com a alça da mochila com outra. Mordeu seu lábio ao notar ele a encarando nos olhos finalmente. — Preciso ajudar minha vó com umas coisas...
— Ahn, tudo bem. Vou aproveitar também pra repassar suas anotações pro meu caderno e pra desfazer essa mala agora. — respondeu pouco à vontade, passando a mão no cabelo rapidamente e sorrindo de lado tentando amenizar o peso do clima.
Os dois seguiram até a porta ainda calados e podia jurar que aqueles poucos metros se tornaram bons quilômetros tamanha vergonha e desconforto que sentia. Se virou para se despedir apenas quando estava a uma distância segura do amigo do lado de fora para evitar que qualquer coisa piorasse aquela situação. O sol já estava mais fraco e ela se perdeu por um segundo observando-o à luz fraca laranja. Era uma imagem digna de foto.
— Obrigada pela comida. — sorriu nervosa de lado, arrumando a mochila no ombro.
— Eu que agradeço pela preocupação. Não sei o que seria de mim nessa última prova sem suas mágicas anotações. — e ali estava o descontraído de volta. Ela só não sabia como ele conseguia se recuperar tão rápido, diferente dela que só queria correr pra casa o quanto antes.
— Não foi sacrifício nenhum. — deu uma piscada e se afastou com um aceno, vendo ele corresponder antes de voltar para dentro de casa.
Só então respirou fundo com calma e passou a controlar seu coração. Mal podia acreditar que minutos atrás estava prestes a BEIJAR o garoto com quem tanto sonhava. Melhor do que isso só se realmente tivesse acontecido. estava um misto de sentimento, era nervosismo com euforia, vergonha, surpresa por só agora filtrar realmente o recado da irmã e principalmente uma enorme vontade de bater na mais velha por a ter atrapalhado.
Sua mente trabalhava a mil, pensando no que significara aquele quase beijo e em como as coisas caminhariam depois disso. Afinal, haviam se aproximados juntos e em nenhum momento demonstrou que iria recuar o ato, o que de certa forma mexia com ela e a fez ir para casa com um largo sorriso no rosto e muita esperança no coração.
— Desculpa, mas não tenho forças para cumprimentar ninguém. — chegou se desculpando e logo se jogou na cadeira ao lado de , apoiando os braços e encostando a cabeça para dormir.
— Eu não pretendia conversar tão cedo, mas preciso dizer que estou surpresa em ver o quieto pela primeira vez em meses. — comentou com a voz rouca apontando para o amigo e tirando uma risada fraca da irmã.
levantou mais a cabeça e passou os olhos pela sala, esperava que estivesse junto com ou logo atrás já que pegavam juntos aquela aula, mas não o encontrou.
— Onde está o ? — cutucou para acordá-lo antes que ele começasse a roncar e perdesse a oportunidade.
Pôde escutar a reclamação do amigo e quase ficou com dó por tirá-lo do descanso, mas sua curiosidade naquele momento era maior. não estava ontem no bar com eles, aparentemente porque tinha um compromisso de família em uma cidade vizinha, mas não conseguia deixar de pensar que ele a estivesse evitando depois daquele momento em cima do palco na festa, a última vez que se viram. Após o show, todos os amigos que acompanharam a cena de perto ficaram a todo momento lançando olhares curiosos e animados para os dois, finalmente percebendo algo diferente ali, pelo menos em . Eles ficaram nessa até que também percebesse e se afastasse de , mantendo a conversa mais com os rapazes. Ela só não sabia se ele havia percebido realmente o que tinha rolado ou se só ficou constrangido com os olhares. De qualquer forma, sua mente não deixava de criar mil paranoias desde então.
— Sinceramente, não faço a menor ideia, . — nem se esforçou em levantar a cabeça, fazendo com que sua voz ainda saísse abafada. Somente depois de alguns segundos em silêncio ele parecia finalmente ter processado a pergunta, virando o rosto e lançando um sorriso malicioso para amiga. — Você devia falar com ele.
— Eu? E posso saber o motivo? — se fez de desentendida, mas apenas bufou e rolou os olhos ou notar que amigo apenas deu de ombros e voltou a cochilar.
— Você devia mesmo falar com ele. — insistiu na ideia, se dando por vencida e desistindo momentaneamente do trato de não conversarem. Se virou de lado, apoiando o braço no encosto da cadeira e encarou a irmã, voltando a falar, mas dessa vez aos sussurros. — Talvez ele esteja só ocupado, mas não dá pra descartar a opção de que ele tenha estranhado aquele momento íntimo de vocês ou os olhares de todo mundo.
— Eu sei, mas não sei se tenho coragem de tratar desse assunto tão diretamente. — suspirou cansada, sendo sincera com sobre o que pensava.
— Você mesmo me disse que foi muito intenso na hora que vocês cantaram e ele falou na frente de todo mundo que preferia você a Karol na festa, acho que não tem o que temer. Mas, se realmente acha que não consegue, apenas tenta conversar sobre qualquer outra coisa, ele pode acabar entrando no assunto.
— É, acho que não custa tentar.
— Sim! E você tem que concordar que esse é o melhor momento pra algo acontecer entre vocês dois, não se afasta. — deu dois tapinhas leves em seu braço e voltou a se virar agora que a professora havia entrado na sala.
apoiou o rosto na mão e deixou o olhar se perder, voltando a mergulhar em seus pensamentos sobre aquilo. Não havia muito o que decidir, ou iria atrás ou provavelmente perderia a aproximação com o amigo e nunca saberia o que ele pensava sobre o que aconteceu. Em um pequeno gesto de coragem, puxou o celular do bolso e deixou os dedos correrem pela tela para digitar (redigitar muitas vezes também) e enviar a mensagem antes que a professora notasse.
— , o que acha desse enquadramento? — Dylan chamou sua atenção, apontando para o visor da câmera.
Eles estavam no jardim da escola no horário da aula de artes, o último do dia, desenvolvendo o trabalho do início do semestre. Como o trabalho era para ser entregue no final do ano, eles deviam concluir pelo menos metade até o final do primeiro semestre. E, levando em consideração que faltava pouco mais que duas semanas para as férias de inverno, estavam correndo contra o tempo para adiantar o máximo possível. Parte do trabalho era a junção de vários depoimentos em vídeo sobre violência, estavam gravando o que conseguiam.
Ela se sentia mais disposta após o lanche no intervalo e por estarem no último horário. Se aproximou do amigo, vendo pelo visor o aluno do segundo ano que daria seu depoimento. Ele estava levemente desconfortável com a situação, mas manteve a palavra e continuou no mesmo lugar para ajudá-los. fez um aceno positivo para a irmã, que orientava onde o garoto deveria ficar posicionado, e se afastou novamente para Dylan iniciar a gravação. Escutou a voz do aluno iniciar sua fala e se perdeu por um momento apenas observando algumas pessoas dispersas pelo jardim aproveitando seus horários livres ou só matando aula. Com um sorriso de lado se lembrou do dia em que fugira da aula, uma das primeiras vezes, e que acabou passando o tempo com a companhia de . O mesmo dia em que o dera de presente Something New, que naquela época era apenas um protótipo de letra.
Sentiu um leve frio na barriga e não conteve o movimento de tirar o celular do bolso mais uma vez para checar se havia alguma mensagem nova. Nada. Bufou levemente e espantou os pensamentos antes que mergulhasse em algo que não queria e se virou para voltar a ajudar no trabalho. Soltou uma reclamação baixa quando sentiu algo forte bater contra o seu corpo e a assustar levemente.
— Garota, você realmente tá com a cabeça nas nuvens. — Dylan soltou a piadinha enquanto a segurava pelos braços, a ajudando a recobrar o equilíbrio após o choque dos dois.
— Você que não tem noção de espaço, eu esbarrei porque não tinha te visto. — ela mandou língua para ele antes de se recobrar. — Você não tava gravando?
— Sim, mas a tá gostando muito da função dela e parou tudo mais uma vez pra orientar o Alan. — ele rolou os olhos e se afastou para o lado, dando visão para que visse a primogênita tagarelando com o garoto, que apenas acenava em concordância desanimado.
— Coitado, daqui a pouco eu mesma dispenso ele e digo que não precisa mais. — soltou uma risada nasalada e sentiu o celular vibrar no bolso, automaticamente sacando-o o do bolso e ignorando o que o amigo falava. Abriu a mensagem e não conteve um frio na barriga ao ver que era a resposta de .
— Pela cara já sei quem é. — Dylan a empurrou pelo ombro, dando uma piscadela. — Onde ele está?
— Nem consigo mais disfarçar, né, Dy? — mordeu o lábio envergonhada ao ver ele negar. Batucou com o celular entre os dedos ainda pensando no que iria responder. — Ele chegou de viagem tarde, acho que está em casa. Inclusive agradeceu por eu ter sentindo sua falta. — sentiu o rosto esquentar.
— Bom, como até ele notou isso, não faria mal você o fazer uma visita. — Dylan passou o braço por seus ombros e a guiou devagar pelo jardim, a lançando um olhar malicioso.
— O que? Tá ficando doido, Dy? — parou de uma vez, o encarando com os olhos arregalados.
— Não mesmo! O que tem de mal nisso?
— Tudo! — falou de uma vez, sentindo seus pensamentos alterados. — Quer dizer, o que ele ia pensar? Ainda mais depois daquele nosso momento no luau e da minha mensagem procurando por ele.
— Você só vai saber falando com ele. Além do mais, você tem é que aproveitar que já aconteceu tudo isso e não perder a chance de botar esse sentimento pra fora! — ele percebeu que ela estava relaxando e se deixando levar por suas ideias, apoiou as mãos em seus ombros e a olhou nos olhos. — , vai lá, diz que quis ajudar e levar as anotações da aula, conversa com ele, aproveita!
— Eu não sei... A gente tem que fazer o trabalho...
— Pode deixar que a gente cuida disso hoje, aproveita que esse é o último horário e vai logo, te dou cobertura e explico pra depois que ela fizer nosso ajudante chorar. — ele lhe lançou uma piscada divertida antes de recolher sua bolsa do chão, a jogar em seus braços e a empurrar.
não pensou muito, apenas escutou o amigo e deixou que seus pés a levassem para longe da escola e para perto de onde seu coração a chamava.
— ? — abriu a porta surpreso. Tinha os cabelos bagunçados e vestia apenas uma calça de pijama.
— Er..O-oi, . — ela respondeu em um fio de voz, sentindo suas bochechas esquentarem e as pernas bambearem momentaneamente ao vê-lo daquela maneira. Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e pressionou os lábios envergonhada.
Sentiu primeiro o arrependimento de estar ali assim que percebera que o garoto provavelmente tinha acabado de sair da cama. Em segundo uma dificuldade em se manter sã com aquele abdômen definido à sua frente. Como ninguém tinha avisado a que era contraindicado ele aparecer sem camisa e com aqueles cabelos desgrenhados na frente de alguém? Principalmente se esse alguém fosse ela.
— Hum...Você não tava na escola? — ele perguntou confuso e semicerrou os olhos, passando a mão pelos cabelos e apoiando o braço na porta. Certamente tentando entender em que momento ela havia deixado de conversar apenas por mensagem para aparecer em sua porta.
— Ah, tava sim, mas eu saí. Quer dizer, eu não tinha mais o que fazer no trabalho e tava indo pra casa, mas resolvi passar aqui pra te passar as anotações da aula. Porque você não foi. Mas se não quiser tudo bem. — ela poderia implorar naquele momento para que alguém a fizesse calar a boca. O nervosismo com certeza havia subido para sua cabeça e ela mal conseguia explicar uma coisa direito, apenas vomitando tudo de uma vez e ficando sem fôlego. — Desculpa, é melhor eu ir embora.
— Hey! Calma aí, . Não queria te assustar. — desencostou da porta e se aproximou dela, soltando uma risada nasalada enquanto cruzava os braços. — Só fiquei surpreso com sua aparição, mas com certeza quero suas anotações e também sua companhia.
— Certeza? — mordeu o lábio inferior o olhando incerta.
— Claro! Vem, vamos entrar. — ele deu espaço para que ela entrasse e depois fez o mesmo, fechando a porta.
entrou na sala da casa e continuou quieta em seu canto, mantendo as mãos nas alças da mochila enquanto esperava o amigo tomar a frente. Ainda xingava mentalmente Dylan por a ter convencido a ir ali e se culpava por ser tão boba e não conseguir agir naturalmente. Notou uma mala semiaberta largada no canto próximo ao sofá e seguiu para a poltrona que apontava, se sentando e vendo-o sentar na outra ao seu lado.
— Ignore a bagunça e as coisas jogadas pela casa. — ele falou após notar seu olhar vagando pela mala e sapatos no tapete. — Como eu disse, chegamos tarde de viagem e ninguém teve tempo ou ânimo para arrumar tudo ainda, principalmente meus pais que saíram cedo para trabalhar.
— Sem problemas! — soltou uma risada fraca e puxou a mochila para o colo, mexendo na alça enquanto falava. — Se você não quiser passar tudo pro seu caderno agora, pode ficar com o meu e me devolver amanhã.
— Você é dez, ! Se você puder deixar, eu agradeço. Estou morto de fome e acho que vou ir é fazer algo para comer agora. — e mais uma vez ele passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os levemente e fazendo segurar mais um suspiro. Céus! Ele ainda estava sem camisa e aquilo já era difícil o bastante.
— Sem problemas! Não teve nenhuma grande explicação na aula, acredito que você possa estudar bem para a prova só com isso. — se concentrou em pegar o caderno da mochila e o entregar antes que ficasse o encarando tempo demais. — Bom, e como era só isso que vim fazer, acho que já vou...
— Poxa, , achei que tivesse sentido minha falta. — rolou os olhos e depois apelou para um bico mal feito de tristeza, ainda com o canto do lábio repuxado de um sorriso. Seus olhos focaram no seu sem desviar. — Você quer tanto ir assim? Aposto que não tem nada de importante pra fazer. Fica aí comigo e vamos comer juntos.
— Não sei... — preferiu ignorar a primeira frase dele sobre sua falta para evitar mais constrangimento caso falasse demais e se mostrou indecisa mesmo com a mente gritando em "SIM". Afinal, era completamente lindo e sem camisa, sem ninguém por perto para atrapalhar, a convidando para ficar ali com ele.
— Por favor, ! Não me faça comer sozinho e triste. — ele uniu as mãos e a lançou um olhar pidão como última apelação para aquele pedido, sorrindo vitorioso ao ver que ela concordava em um aceno. Se levantou da poltrona em um pulo e indicou o cômodo de trás com a cabeça. — Muito bem! Agora, vamos para cozinha que você vai ter a honra de apreciar um grande chef em ação.
— Cuidado, ein? Quem muito fala, pouco faz. — deu uma piscada divertida e o seguiu até a cozinha.
Ela poderia agradecer por ter se coberto parcialmente com aquele avental e tampado seu peitoral, isso se ele não tivesse ficado tão charmoso quanto antes. Parecia até aquelas cenas de filmes em que a mulher acorda de uma noite maravilhosa e encontra o marido na cozinha preparando o almoço deles. Ela toparia entrar no papel de sua esposa sem pensar o contrário nem por um segundo. Se sentou no banquinho do balcão e apenas ficou apreciando o garoto andando de um lado para o outro cozinhando.
O cheiro foi tomando conta da casa e sem que se dessem conta, o tempo foi passando e entre conversa jogada fora e risadas, terminou o que estava fazendo e colocou a travessa na mesa. Agora mais à vontade, se preocupou em ajudar, pegando o suco que havia feito enquanto o amigo ainda estava no fogão e os pratos. Minutos depois, estavam os dois frente a frente na mesa prontos para comer.
— O cheiro está muito bom, mas confesso que a cara tá me assustando um pouco. — o provocou enquanto ele a servia, apontando para a travessa.
— Como ousa falar do meu brócolis? — forçou uma expressão chocada e parou momentaneamente de servir seu prato para a mandar língua. — Quero ver se continuará zoando quando provar. Pode ser a única coisa que sei fazer, mas me garanto com isso.
— Certo, não está mais aqui quem falou. — ergueu as mãos em rendição antes de pegar o talher e provar da comida. Notou os olhos atentos de em si e manteve a expressão neutra apenas para continuar a provocação, dando pausas estratégicas em sua fala. — Sabe, , nunca fui muito fã de brócolis...confesso que você mudou isso pra mim agora.
— Eu já te disse o quanto você é má? — ele perguntou após suspirar aliviado, finalmente notando que ela apenas brincava com sua cara. Aproveitou a distração dela nas risadas para provar de sua produção também, fazendo um bico com a boca e fechando os olhos por alguns segundos. — Tá realmente muito bom!
— Desculpe, não podia perder a oportunidade. — ela deu de ombros, se deliciando com mais uma garfada antes de ser sincera com o garoto. — Não poderia estar melhor. Você arrasou, .
— Obrigada, ! Seu suco também está dos melhores. — lançou uma piscadela divertida enquanto tomava um gole do líquido, segurando a risada com o rolar de olhos da gêmea.
— É, eu tenho toda uma técnica para colocar a polpa no liquidificador, sabe? Anos de aperfeiçoamento. — respondeu irônica, aproveitando para estender o momento de descontração.
Era maravilhoso se ver naquela situação. Ali, comendo e falando bobeira com o garoto que tirava seu sono e seu melhor sorriso sem mais ninguém. Apenas os dois se curtindo e tendo um momento só deles pela primeira vez, afinal não haveria conversas sobre namoradas ou pretendentes. A atenção era toda deles e só conseguia agradecer por aquilo.
A prova de que a comida estava maravilhosa veio quando em poucos minutos já haviam terminado de comer e estavam de pratos limpos, largados no tapete da sala enquanto algum filme besteirol passava na televisão. Tinham dado uma pausa até mesmo na conversa e apenas aproveitavam a preguiça pós almoço que batia depois de terem comido tão bem. sentia até seus olhos pesando e um cansaço se instalando, aproveitou a comodidade do tapete fofinho e o apoio do sofá nas costas pra acomodar melhor o pescoço em uma almofada, dessa maneira ficando com o rosto virado na direção do amigo.
parecia estar prestando realmente atenção ao filme e movimentava a mão no automático, mexendo com os fios do próprio cabelo com a mão que tinha o braço apoiado no sofá às suas costas. Ele havia colocado uma camisa de flanela após comer e ela agradeceu mentalmente pelo bem de sua sanidade. Os olhos dele piscavam devagar ao analisar as cenas que passavam e a boca permanecia sempre entreaberta, deixando seus lábios cada vez mais convidativos.
teve que controlar o impulso de levar sua mão até seus cabelos e tomar as rédeas daquele quase cafuné. Os dois estavam próximos um do outro, nada tão colado, mas ainda assim ela podia sentir o perfume que tinha se tornado seu cheiro preferido. Mordeu o lábio inferior enquanto se perdia analisando cada parte do rosto de , torcendo lá no fundo para que ele não sentisse o peso de seu olhar. Além de querer se aproximar mais, tinha vontade de poder se aconchegar em seus braços e aproveitarem literalmente juntos aquele momento. Seu lado sentimental também sentia vontade de, mais uma vez, a colocar em situação delicada e iniciar o assunto sobre os dois. Claro que seu cérebro, ainda que vacilasse as vezes, bloqueou essa ação para a sua própria segurança.
Mas a vontade não passava. Vontade de expor ali tudo que estava guardando e cada intensidade do que sentia por ele. Afinal, aquela parecia ser a hora perfeita. Seu peito se comprimia com o medo das respostas e só a força de sua imaginação em criar resultados negativos já a fez desviar o olhar para a televisão novamente.
— , posso te perguntar uma coisa?
Quase soltou um grito de agradecimento (e outro de susto) ao escutar a voz de cortar o silêncio entre os dois. Por alguns segundos não havia sido pega em flagra o encarando com cara de boba. Mal podia saber o que faria caso tal ato acontecesse. Soltou devagar e disfarçadamente o ar que prendeu com o susto e prensou os lábios, se virando para ele e apenas concordando em um aceno. Devia confessar que só com aquela pergunta um frio se instalara em sua barriga, afinal nunca vinham assuntos muito fáceis depois de frases como essa ou a famosa “Temos que conversar”. Manteve seu olhar no dele, tentando ler o que viria a frente e aguardou pela pergunta, não sem deixar de notar quando mordeu o lábio inferior rapidamente.
— Naquele dia do luau, durante nossa apresentação... — Não, não e não! Ele não ia tocar naquele assunto logo agora que ela tinha decidido adiar, né? Pôde sentir inclusive o arrepio tomar todo seu corpo, desviando o olhar das sobrancelhas levemente franzidas do garoto e respirando fundo ao ouvir sua voz retomar a fala. — Você não notou algo diferente?
— Diferente como, ? — aproveitou a inquietação do próprio corpo para se sentar melhor e tentar prolongar o assunto, voltando a olhá-lo diretamente.
— Não sei explicar direito, só sei que senti algo diferente e que foi bom. — ele se virou completamente, deixando-os bem próximos e prendendo o olhar no dela. Pôde notar que ele tinha as mãos inquietas sobre a almofada. — Sabe, , eu andei pensando sobre isso. A única conclusão que eu cheguei foi de que enquanto a gente cantava, uma conexão foi criada. Eu podia sentir ela a cada verso da música e ainda é meio estranho pra mim relembrar isso porque é difícil até de explicar, como você pode perceber.
— Eu sei do que você tá falando. — ela soltou sem pensar, se entregando com sinceridade e cautela à conversa ao notar que estava sendo sincero. Manteve o olhar em suas mãos, brincando com os dedos, para evitar se desconcentrar. — Eu também senti isso, mas preferi não tocar no assunto porque não sabia se tinha sido coisa da minha cabeça. Mas foi realmente mágico de todas as formas e até agora, só de lembrar, eu consigo sentir a intensidade de cada segundo.
— É claro que não foi coisa da sua cabeça! Eu demorei a tocar no assunto porque estava procurando uma oportunidade. E concordo, é realmente difícil de esquecer aquele momento. — continuou a olhando, ainda que ela não o olhasse de volta. A mente dele trabalhava lentamente, tentando encaixar as peças do quebra-cabeça enquanto falava. Ele percebeu que ela não insistiria no assunto por conta própria, então aproveitou para falar o que ele mesmo sentia. — Olha, , eu tentei entender a razão disso. O porquê de eu sentir isso e não sei se consegui chegar em uma conclusão certa mas eu sei que agora tenho a plena certeza de que você é alguém muito importante pra mim....
poderia sentir seu coração batendo em qualquer parte do corpo ali. Suas mãos estavam frias e os ouvidos apurados para escutar até a mínima respiração do garoto ao seu lado. Se ela já não podia esperar por essa conversa minutos atrás, mal podia imaginar o que sentia naqueles segundos anteriores ao ouvir o que ele falara. Ela queria muito saber o resto da frase. Mas mais do que isso, queria que ela trouxesse sentimentos compatíveis com o seu. Queria poder escutar que ele gostava dela tanto quanto ela gostava dele, ainda que ele não soubesse. Queria poder ter a certeza de que tudo daria certo enfim.
Ela finalmente se virou para o encarar e só então notou como estavam pertos. Não sabia se a culpa fora dos dois ou apenas de um, mas os corpos antes meio distantes estavam a milímetros de distância a ponto de poderem sentir a respiração um do outro. O silêncio se prolongou entre eles e não fez nenhuma menção de que iria se mexer ou voltar a falar. O perfume amadeirado entrava por suas narinas sem pudor e seus olhos pareciam grudados naqueles . não pôde deixar de notar também quando os dele se desviaram para sua boca, fazendo ela morder seu próprio lábio num impulso. Seu estômago revirava de forma que coubessem muito mais bichos do que borboletas voando ali. Quando finalmente sentiu seus lábios a ponto de se tocar, suas pálpebras se fecharam e...
Se algo frágil estivesse por perto naquele momento, teria se destruído tamanho o pulo que os dois deram para longe um do outro ao escutar a música se iniciando do nada. sentiu a garganta fechar e o coração disparar mais ainda. Soltou o ar de uma vez ao reconhecer o toque de seu telefone. Sem voz para se desculpar e coragem para olhar para , apenas puxou a mochila e o celular do bolso menor. Atendeu sem ao menos ler o nome de quem estaria no topo de sua lista negra depois de atrapalhar aquilo.
— Alô? — atendeu em um fio de voz, se levantando e afastando um pouco enquanto também ficava em pé rapidamente e se ocupava em levar os copos de sucos vazios para a cozinha.
— Maninha! Cadê você, ein? — escutou a voz de soar animada e teve que contar até cinco mentalmente antes que a mandasse para um lugar indevido.
— No . — foi curta e grossa na resposta, torcendo para que a ligação das duas fizesse a gêmea entender que aquele não era o momento para conversar e que provavelmente enfiaria sua cabeça na privada quando chegasse em casa.
— Eita, quase senti um arrepio aqui com esse tom de voz. Que bicho te mordeu? — soltou uma risada fraca, voltando a falar mais séria ao escutar apenas o silêncio da caçula. — Ih, já vi que o negócio foi feio. Quer falar?
— Melhor em casa. — foi breve na resposta para evitar que entendesse sobre o que se tratava. Respirou fundo, passando a mão nos cabelos e relaxou por um segundo enquanto escutava a voz da irmã.
— Ok! Vou esperar por essa conversa, mas não vou aguentar a novidade até lá. Sem contar que isso vai melhorar seu humor, que está precisando. — a primogênita soltou uma risada no final, de certo percebendo que havia algo errado com . Elas sempre sabiam. Voltou a falar após os segundos de concordância da irmã com a voz alguns bons tons mais altos. — A VAI VIR PASSAR O FINAL DO ANO COM A GENTE!
— O QUE? — não conseguiu se conter e acabou colocando a mão na boca após isso, fazendo sinal de que estava tudo bem ao notar o olhar preocupado de nela. Naquele momento até conseguiu ignorar o que havia acontecido minutos antes. — Isso é sério?
— Claro que é! Ela vem daqui algumas semanas, um dia depois de acabar nossas aulas. — se empolgou mais ainda ao notar que a irmã voltara a falar normalmente. Se empolgou tanto que começou a despejar todas as informações antes que tivesse tempo de responder direito. — Ah, e ela vai ficar até pouco depois do ano novo. A gente com certeza vai ter que planejar muita coisa, quero muita animação. Sem falar que temos que ver como vamos buscar ela no aeroporto, ela está contando com isso e disse que...
— , guarde um pouco para quando eu chegar em casa. — a caçula a interrompeu, focando em onde estava e sabendo que aquele não era o momento para passar horas no celular, ainda que essa fosse sua vontade apenas para evitar ter que lidar com o que tinha rolado.
— Ain, grossa! Mas tudo bem, continuamos quando você chegar. E falar nisso, vai demorar? A vovó está te esperando para...
— Não. Daqui a pouco chego aí. Tchau. — respondeu rápido sabendo que a gêmea voltaria a tagarelar mais e desligou sem esperar pela reclamação que viria depois. Se manteve de costas, fingindo que mexia em algo no aparelho até conseguir respirar fundo e criar coragem para encarar o constrangimento que viria.
Se virou e puxou a mochila do chão, ajudando a colocar as almofadas no lugar ainda em silêncio. Eles não se encaravam diretamente e até ele parecia desconfortável, só não tanto quanto ela.
— Er, acho que já vou, . — falou após os dois se encontrarem de frente sem mais com o que se ocupar. Manteve o celular em uma mão e ficou brincando com a alça da mochila com outra. Mordeu seu lábio ao notar ele a encarando nos olhos finalmente. — Preciso ajudar minha vó com umas coisas...
— Ahn, tudo bem. Vou aproveitar também pra repassar suas anotações pro meu caderno e pra desfazer essa mala agora. — respondeu pouco à vontade, passando a mão no cabelo rapidamente e sorrindo de lado tentando amenizar o peso do clima.
Os dois seguiram até a porta ainda calados e podia jurar que aqueles poucos metros se tornaram bons quilômetros tamanha vergonha e desconforto que sentia. Se virou para se despedir apenas quando estava a uma distância segura do amigo do lado de fora para evitar que qualquer coisa piorasse aquela situação. O sol já estava mais fraco e ela se perdeu por um segundo observando-o à luz fraca laranja. Era uma imagem digna de foto.
— Obrigada pela comida. — sorriu nervosa de lado, arrumando a mochila no ombro.
— Eu que agradeço pela preocupação. Não sei o que seria de mim nessa última prova sem suas mágicas anotações. — e ali estava o descontraído de volta. Ela só não sabia como ele conseguia se recuperar tão rápido, diferente dela que só queria correr pra casa o quanto antes.
— Não foi sacrifício nenhum. — deu uma piscada e se afastou com um aceno, vendo ele corresponder antes de voltar para dentro de casa.
Só então respirou fundo com calma e passou a controlar seu coração. Mal podia acreditar que minutos atrás estava prestes a BEIJAR o garoto com quem tanto sonhava. Melhor do que isso só se realmente tivesse acontecido. estava um misto de sentimento, era nervosismo com euforia, vergonha, surpresa por só agora filtrar realmente o recado da irmã e principalmente uma enorme vontade de bater na mais velha por a ter atrapalhado.
Sua mente trabalhava a mil, pensando no que significara aquele quase beijo e em como as coisas caminhariam depois disso. Afinal, haviam se aproximados juntos e em nenhum momento demonstrou que iria recuar o ato, o que de certa forma mexia com ela e a fez ir para casa com um largo sorriso no rosto e muita esperança no coração.